APOSTILA - PSICOPATOLOGIA II - 1o. Semestre 2017
APOSTILA - PSICOPATOLOGIA II - 1o. Semestre 2017
APOSTILA - PSICOPATOLOGIA II - 1o. Semestre 2017
FMU
APOSTILA
PSICOPATOLOGIA II
2017-1
(Revisada e Modificada)
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FMU
PSICOPATOLOGIA II
Profa. MS. Maria da Conceição Albano Ferreira
Ao longo do tempo percebem-se formas diferentes de sofrimento psíquico que se articulam entre o corpo e seus
sintomas e a configuração social.
No início do séc. XX Freud analisou pacientes histéricas e fundou uma clínica para tratamento de sofrimentos
psíquicos não determinados por uma causa orgânica, mas constituídos por uma amarração simbólica entre
linguagem e reminiscências. Não podia se afirmar que fossem, então, doenças de fato como as já conhecidas, com
começo, meio e fim e com tratamento específico visando à remissão da causa ou origem do mal. Havia sim,
sintomas que se referiam, no entanto, a estados afetivos. O entendimento de Freud sobre a histeria conjugava
espaços de realização do ser nos campos do trabalho, da família e do desejo, ou seja, a vida interior com a
experiência da vida social.
Nesse momento histórico, a histeria alastrou-se e diversas outras pessoas se reconheceram no mesmo tipo de
sofrimento.
Em outro momento da história, percebeu-se a identificação de muitas pessoas a um quadro de sofrimento chamado
de Anorexia. Um apelo de reconhecimento por essa forma de sofrer desencadeou-se. Ex.: Lady Diane, em
entrevista pública à mídia televisiva, relatou sofrer de problemas relacionados à vida pessoal e social que se
expressavam através de uma síndrome chamada anorexia. “Em Hong Kong, local protegido pela princesa e onde
havia grande admiração à sua figura, aparece concomitantemente um surto de anorexia que foi batizado de “Me
too”, ou seja, “eu também”“. Na sequência, outras formas de sofrimento vão se configurando e angariando adeptos
ou pessoas que se reconhecem no quadro clínico, como a Síndrome do Pânico, que encontra eco em grande
número de pessoas de um mesmo tempo social.
Outro tipo de neurose surgiu após a II Guerra, chamada de neuroses de caráter, em que o sujeito não reconhece o
próprio sofrimento, mas todos a sua volta sofrem. O indivíduo acredita que está tudo bem com ele, no entanto seu
modo de vida não se coaduna harmoniosamente com familiares e companheiros de trabalho e época. Ele está
perfeitamente bem, o mundo é que vai mal.
Outro tipo de ciclo, mais atual, é o sofrimento do tipo Neuroses Narcísicas. As pessoas não conseguem nomear
exatamente de quê sofrem, apenas não encontram sentido para viver. Sentem-se inadequadas ao seu tempo.
Christopher Lasch propôs a ligação desse sofrimento como expressão maior do laço social. Guy Debord (Sociedade
do Espetáculo), Baumann (Modernidade Líquida) e outros estudiosos relataram as personalidades narcísicas como
reflexos e seu tempo, o tempo do individualismo e do avanço da sociedade capitalista.
Consecutivamente aos narcísicos, aparece o crescimento das personalidades borderline, ou os pacientes em caso
limite, pessoas que desafiam os laços sociais em passagens ao ato em que atacam exatamente relações sociais, os
vínculos afetivos que as unem aos outros.
Lacan é um autor que pensa essas manifestações psíquicas e nos ajuda a realizar tratamentos ou cuidados
voltados para a minimização do sofrimento dessas pessoas. Ele, como psiquiatra, opõe-se à conceituação desse
sofrimento como doença. Para ele, tais afecções não são doenças, no entanto, ele não nega o quantum de
sofrimento vivenciado pelos seus portadores. Lacan não as considera nem doenças, tampouco mentais. Para ele
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não há provas biológicas suficientes que se liguem, como fonte ou origem desses sofrimentos, a lesões cerebrais.
Para Lacan, existem, sim, sintomas e ele os considera como tudo o que se repete, no comportamento de indivíduos,
de formas imperativas frente a determinadas situações. Também o que não é possível para o sujeito evitar,
ocasionando repetições pela privação de atos, são sintomas. Os sintomas podem ser positivos como
comportamentos que precisam ser feitos (lavar diversas vezes a mão, revisar cinco vezes se os trincos estão
fechados, etc.), ou, por outro lado, outros que não podem ser feitos: eu não posso sair à rua, eu não consigo mais
fazer tal coisa. Lacan entende que a liberdade dessas pessoas está tolhida, pois as pessoas não tem controle e
perdem fragmentos de liberdade própria.
Lacan entende o sofrimento como uma experiência universal. De um jeito ou de outro, todos sofrem em algum
momento a perda de um fragmento de sua liberdade. O que o sujeito perde quando ele “tem que” ou quando ele
“não pode” é um fragmento da sua liberdade. O sofrimento tem uma dimensão que nos toca a todos.
O que seriam então os normais? Entendidos como normalopatas, escapam das classificações dos livros de
diagnósticos psiquiátricos. Os componentes dos grupos de normais encontrados pelos pesquisadores foram
descritos como pessoas absolutamente insossas, chatas, sem aventuras, sem riscos. São pessoas que estão
excessivamente adaptadas à realidade. Qualquer coisa em suas vidas pode ser aceita e compreendida.
Em relação às pessoas que sofrem Lacan, a partir de Freud, percebe que os sintomas são reações, ou formas de
atuação, grupais em meio à experiência de certas vivências. Todo sofrimento está ligado à sua forma de expressão.
A forma como descrevemos e falamos do que sentimos muda o próprio sentimento. Para Lacan, a neurose é, assim,
um mito individual. Um neurótico, diferente da compreensão coletiva de mito, vive o seu próprio mito. O mito
individual não serve mais como mediador de trocas sociais. A psicanálise, então, atua no campo das diferentes
formas de narrativas das histórias pessoais. Freud falava em romance familiar, logo uma narrativa codificada.
Lacan, por sua vez, fundamenta na linguagem a origem do sofrimento. Lacan, em sua última fase, toma como
modelo o escritor irlandês James Joyce, autor que desmonta a forma do romance através da reinvenção da
linguagem, para pensar o sofrimento. É o estudo de outra forma de discurso.
Assim, vemos que o sofrimento se relaciona com reconhecimento, liberdade e universalização, coletiva e individual,
com narrativas, romance, mito, tragédia, teoria sexual infantil, o colapso do romance (Joyce, neologismos, narrador
flutuante). Cada forma de narrativa gera um tipo de sofrimento e, ainda, se relaciona com a permanência, com a
continuidade no indivíduo. O mesmo indivíduo permanece e se identifica com o sofrimento em sua história de vida.
Freud usa o termo mal-estar, do alemão unbehaggen – sem lugar, sem clareira. O sofrimento percorre o ser
humano através desse mal-estar, desse estado desnorteado ou desbussolado de ser.
As novas formas de sofrimento da atualidade começaram a ser descritas por Walter Benjamin. Ele observou uma
coisa simples e tremendamente nova. Ele acompanhou as pessoas que foram e voltaram da I Grande Guerra.
Essas pessoas voltavam mudas, ao contrário de outros aventureiros que contavam as histórias de seus sofrimentos
(Texto “O Narrador” Walter Benjamin). A experiência de lutar sempre foi como um tipo particular de viagem e era
contada como aventura. As formas atuais, após a I Grande Guerra, são de tal ordem traumática e sem sentido que
já não inspiram mais o relato ou a composição de narrativas. Catherine Malabu fala de uma subjetividade pós-
traumática. Freud, em seu tempo, encontrava traumas que ainda conseguiam moldar expressões verbais. O
sofrimento atual não consegue se articular em uma história contável. O paradigma desse sofrimento seria a perda
da capacidade narrativa, como a que acontece no Mal de Alzheimer. O sofredor perde laços com a memória. Os
portadores de Alzheimer perdem a capacidade de reconhecer, no próprio sofrimento, um grau de VERDADE. Assim
como o amor se faz através da linguagem e do seu relato, a narrativa molda o tipo de amor, o sofrimento atual, sem
narrativa ou história, não encontra uma hipótese de reconhecimento, um grão de verdade.
No Japão, atualmente tem sido descrita uma síndrome, oriunda da solidão e da vida tecnológica, em que a
linguagem está muito diminuída. Não é preciso falar. Poucas palavras dão conta que precisa ser comunicado.
Descrições mínimas. Não há uma elaboração da linguagem. Mutismos seletivos, alexitimia são nomes de afecções
que se aproximam do grão de verdade incontornável de cada um, e que encontram suas expressões através da
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sexualidade de cada um. O mal-estar de Freud (pulsão de morte), e o seu equivalente Real em Lacan, molda tipos
de sofrimentos que podem ser minimizados através da transformação de formas narrativas na produção de um
discurso destinado a um ouvinte específico. Por isso é importante o encontro com um ouvinte ou leitor capaz de
compreender o mito individual e estabelece uma forma de laço social que dê sentido a uma nova organização. Essa
é a função da análise.
Uma nova tribo de jovens reúne-se, em outra tribo ou grupo da atualidade, em torno da figura de zumbis. Filme: A
volta dos mortos vivos. Os zumbis não sabem que morreram, perderam sua alma e não sabem disso, eles não se
queixam, andam e tentam devorar outra pessoa (comer). Se eles devorarem a pessoas, talvez eles se salvem. Eles
procuram carne viva. Zumbi representa o que pode ser morto impunemente – walkingdeath – e assumem paralelos
com os muçulmanos em suas lutas religiosas. Esses indivíduos perderam a articulação de reconhecimento
narrativo. Primo Levy, outro autor da psicanálise, estuda pessoas que escaparam de um campo de concentração e,
depois de todo o sofrimento e luta pela sobrevivência, essas pessoas se suicidam. Muitos falam de sonhos
recorrentes.
Caso clínico: indivíduo que, em sonho, reúne a família para contar coisas que aconteceram com ele e as pessoas
começam a levantar, bocejar, sair de perto. O indivíduo perdeu o reconhecimento pela sua própria história de vida.
Atualmente sofremos como zumbis, mas também como Frankenstein. Esse outro modelo de narrativa representa
alguém que sente a vida em um corpo entalhado, que não é seu, e procura saber sua própria história. Ele tem uma
errância, é um sofrimento ligado com a insuficiência de palavras. Nada é suficiente para qualificar o tamanho do seu
sofrimento. A pessoa se sente fora do lugar em que está. Despersonificação. Filme de Woody Allen – Descontruindo
Harry – Harry sai do foco, o personagem fica nublado pela ótica da lente que o filma – este tipo de sensação chama-
se psicastenia legendária, sensação de estar fora do corpo. Tem uma coisa profundamente errada nesse corpo.
Certa vez ouvi alguém dizendo para seu irmão, depois de uma atitude diferente, incomum: “quem é você e o que
você fez com meu irmão”, essa fala mostra um não reconhecimento e evoca uma sensação de que o sistema em
que se vive está fora da ordem. Os lugares não se encaixam, os corpos não se encaixam nas almas. O Real deixa
de ser uma ordem e passa a ser uma anomia, uma desordem (Clarice Lispector, Virgínia Woolf). Uma
indeterminação que a habita a pessoa.
Outras duas formas de sofrimento estão ligadas à verdade e associadas à Baudelaire, que como poeta percebe as
coisas e os sofrimentos adiante de seu tempo. Baudelaire descreve um tipo clínico que se compraz em se
atormentar. No Brasil, um autor chamado Jessé de Souza, ao falar da classe trabalhadora, que saiu da miséria e
agora atinge outro status, aborda essa tipificação. São pessoas com senso de auto aperfeiçoamento, uma
religiosidade nova e tipo de produção nova. Essas pessoas têm novo tipo de sofrimento. O sujeito chegou lá, saiu
de uma condição extremamente adversa. Ele conseguiu isso a partir de um extremo senso de comunidade. Ele se
salvou os outros não. E o que ele faz agora com o passado? Há uma dívida tremenda em relação a um pacto que
foi quebrado e uma divisão subjetiva. São pessoas que se interditam. Toda forma de satisfação que ele puder
experimentar dói porque ele pensa nos que sofrem e não estão com eles. Há um conjunto de incertezas que
provocam uma narrativa do tipo, porque eu e os outros não? Nessas pessoas, permanece uma mística em busca
da verdade. Correlatos disso aparecem em famílias europeias que sofrem por 3 gerações com a falta de empregos
e vivem de auxílio do governo de seus países. Nas famílias americanas atuais, o medo do empobrecimento pode
provocar também a mesma sensação. O que há de mágico na riqueza? Aqui, o sofrimento é como o de Hamlet, um
fantasma que volta para cobrar a verdade. Relações de pertinência e sociabilidade precisam ser produzidas e para
isso é preciso o auto atormentamento. Qual é a minha história? Onde está o meu grão de verdade. Há um traço de
exagero “hybris” que revela um limite ultrapassado, esse tipo de sofrimento pode ser entendido como um neo-
masoquismo, a busca de uma dor que produz uma experiência de verdade.
Outro tipo de sofrimento pode ser entendido como paranoia sistêmica. Pessoas que vivem uma instituição – escola,
trabalho, clube. Foucault descreveu isso como biopolítica – Você S/A – uma relação amorosa, nesses casos, passa
a ser cálculo, benefícios e custos, quem gerar mais lucro, leva. É uma paranoia que aflora na vida em forma de
condomínio. Ambiente artificial em que tudo foi pacificado e vigoram normas próprias, faz-se um micro mundo e tudo
gira em torno das próprias leis. Boas barreiras de contenção são erguidas. Todo condomínio precisa de um síndico.
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O síndico, no entanto, tem que fazer dar certo. Há um filme da Nouvelle Vague (Godard) em que as pessoas não
podem ter sentimentos – o condomínio de Godard chama-se Alfaville, o mesmo nome, pasmem!, com que foi
batizado um condomínio conhecido em São Paulo, homenageando essa ideia. Gera-se compulsão para criar
normas e mais normas, para vigiar e controlar. O que devia ser um paraíso se torna uma prisão. Os sofrimentos
articulados com essa lógica (gramática) produzem situações como: ou vc persegue alguém ou vc é perseguido. O
Bullying é efeito da vigilância estrita a como se deve comer, vestir, perfumar, maquiar, exercitar, ler, etc. A diferença
representada pelo outro ataca minha forma de vida. A estrutura desse sofrimento estabelece que os habitantes do
condomínio tenham que ser felizes. O outro é uma ameaça à identidade completa daquele que sabe exatamente o
que é. O modelo desse sofrimento é o do Vampiro. O vampiro suga, aniquila, destrói o outro.
Pergunta: como pensar as redes sociais e o discurso que se produz nesse espaço como forma de sofrimento?
Com o surgimento das redes imaginou-se que haveria uma grande polifonia. Acreditou-se que novas vozes teriam
lugar, mas não houve isso. Ocorre ainda a solidão no espaço social em que entre 5.000 amigos não há ninguém
que queira de fato ouvir o que você tem a dizer.
Há uma perda importante de privacidade o que sufoca a possibilidade de haver intimidade. Nada mais é íntimo.
Há formações de grupos que se juntam para o mal. A possibilidade de identificação de sintomas e lógica do
condomínio propiciam segregação, bullying.
TEXTO 1
ESQUIZOFRENIA
negativos ou por dois ou mais sintomas listados no Critério A presentes em uma forma
atenuada (p. ex., crenças esquisitas, experiências perceptivas incomuns).
D. Transtorno esquizoafetivo e transtorno depressivo ou transtorno bipolar com
características psicóticas são descartados porque 1) não ocorrem episódios depressivos
maiores ou maníacos concomitantemente com os sintomas na fase ativa, 2) se episódios de
humor ocorreram durante os sintomas da fase ativa, sua duração total foi breve em relação
aos períodos ativo e residual da doença.
E. A perturbação pode ser atribuída aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex.,
droga de abuso, medicamento) ou a outra condição médica.
F. Se há história de transtorno do espectro autista ou de um transtorno de comunicação
iniciado na infância, o diagnóstico adicional de esquizofrenia é realizado somente se delírios
ou alucinações proeminentes, além dos demais sintomas exigidos de esquizofrenia, estão
também presentes por pelo menos um mês (ou menos, se tratados com sucesso).
SINTOMAS DA ESQUIZOFRENIA
1. SINTOMAS COGNITIVOS
Provavelmente os sintomas mais óbvios e mais importantes da esquizofrenia sejam
os cognitivos, os quais incluem alucinações, delírios, processos de pensamento perturbados
e inundação cognitiva.
ALUCINAÇÕES. São experiências semelhantes à percepção que ocorrem sem um
estímulo externo. São vívidas e claras, com toda a força e o impacto das percepções
normais, não estando sob controle voluntário. Podem ocorrer em qualquer modalidade
sensorial, embora as alucinações auditivas sejam as mais comuns na esquizofrenia e em
transtornos relacionados. Alucinações auditivas costumam ser vividas como vozes,
familiares ou não, percebidas como diferentes dos próprios pensamentos do indivíduo.
Em alguns contextos culturais, alucinações pode ser elemento normal de experiências
religiosa. As alucinações auditivas são as mais comuns. Elas frequentemente envolvem
ouvir vozes que comentam sobre o comportamento do indivíduo, criticam seu
comportamento ou dão ordens. As alucinações táteis e somáticas nas quais o indivíduo
imagina sensações de formigamento ou queimadura na pele ou sensações internas no corpo
também são comuns. Por fim, alucinações visuais e olfativas (ver ou sentir o cheiro de
coisas que não estão presentes) são também observadas em pessoas com esquizofrenia,
mas tais tipos de alucinações são menos comuns que os outros. É importante perceber que
para os indivíduos que as têm, as alucinações parecem ser percepções reais e os
indivíduos são incapazes de distinguir alucinações de percepções reais.
2. SINTOMAS DE HUMOR
Os humores dos indivíduos com esquizofrenia são tipicamente descritos como
“embotados”, “não modulados” ou “inapropriados”. Em outras palavras tais indivíduos não são
tão emocionalmente responsivos quanto deveriam ser a situações ambientais e
interpessoais. Ao ouvir sobre uma morte na família ou assistir a um filme muito engraçado,
por exemplo, uma pessoa com esquizofrenia pode permanecer impassível e mostrar pouca ou
nenhuma resposta emocional. No entanto, em outras situações, a mesma pessoa será
emocionalmente volátil, mas de um modo inapropriado e inconsistente com o que seria
esperado na situação. Por exemplo, ao discutir um ferimento ou algum outro assunto sério o
indivíduo pode ter um acesso de riso. De modo geral as emoções das pessoas com
esquizofrenia podem ser descritas como inapropriadas ou situacionalmente inconsistentes.
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como apresentando esquizofrenia apenas após estes outros transtornos terem sido
descartados.
É fundamental observar que a esquizofrenia não necessariamente implica em uma
inabilidade de operar eficazmente fora de um hospital. O diagnóstico requer que haja uma
deterioração a partir de um nível prévio de funcionamento, mas se as demandas sobre o
indivíduo são baixas ou não envolvem as áreas nas quais os sintomas serão disruptivos, o
indivíduo pode ser capaz de funcionar eficazmente sem que o problema seja detectado na
sociedade.
FASES DA ESQUIZOFRENIA
Considera-se que os indivíduos que sofrem de esquizofrenia passam por três fases.
Primeiro alguns pacientes passam por uma fase prodrômica na qual o funcionamento
intelectual e interpessoal começa a deteriorar. Durante esta fase, alguns comportamentos
peculiares aparecem, as emoções tornam-se inapropriadas e experiências perceptuais
incomuns começam a ocorrer. Esta fase pode durar uns poucos dias ou muitos anos. Em
casos nos quais a fase prodrômica é prolongada e o indivíduo apresenta uma trajetória
descendente insidiosa, o prognóstico de longo prazo em geral é pobre.
A segunda é a fase ativa, na qual os padrões de sintomas são nítidos e
proeminentes. Alucinações, delírios e distúrbios de pensamento e linguagem tornam-se
identificáveis e o comportamento pode tornar-se mais grosseiramente desorganizado. Em
terceiro, alguns pacientes passam por uma fase residual semelhante à fase prodrômica no
sentido em que o quadro de sintomas novamente torna-se menos claro. Sintomas como
alucinações e delírios podem ainda existir, mas são menos ativos e menos importantes para
o indivíduo. Associado ao abafamento dos sintomas está um embotamento geral ou uma não
modulação do humor e amiúde um declínio geral no desempenho intelectual. Esta
combinação de sintomas frequentemente torna impossível para o indivíduo retornar ao nível
pré-mórbido de funcionamento social e ocupacional.
Embora não seja oficialmente reconhecida como tal, há outra fase, referida como
fase crônica. Esta forma mais extrema da fase residual tende mais a ser observada em
pacientes que estiveram hospitalizados por muitos anos. O quadro de sintomas
provavelmente deve-se em grande parte aos efeitos da institucionalização de longo prazo.
Os indivíduos crônicos não apresentam muitos dos seus sintomas originais de esquizofrenia,
mas uma deterioração muito séria de habilidades sociais. Eles podem comer com as mãos,
urinar na roupa e ser completamente insensíveis às pessoas ao seu redor. É improvável que
os pacientes crônicos alguma vez serão capazes de funcionar fora do hospital. Felizmente,
o número de tais pacientes parece estar declinando. Isto ocorre provavelmente porque
agora possuímos mais tratamentos eficazes do que quando estes pacientes foram
originalmente hospitalizados e então menos pacientes deterioram a tal ponto.
TIPO CATATÔNICO
A esquizofrenia catatônica caracteriza-se por um distúrbio psicomotor. A
característica essencial da catatonia é uma perturbação psicomotora acentuada que pode
envolver atividade motora diminuída, participação diminuída durante entrevista ou exame
físico ou atividade motora excessiva e peculiar. A apresentação clínica da catatonia pode
confundir, uma vez que a perturbação psicomotora pode variar desde ausência acentuada
de resposta até agitação acentuada. A imobilidade motora pode ser grave (estupor) ou
moderada (catalepsia e flexibilidade cérea). Igualmente, a participação diminuída pode ser
grave (mutismo) ou moderada (negativismo). Comportamentos motores excessivos e
peculiares podem ser complexos (estereotipia) ou simples (agitação), podendo incluir
ecolalia e ecopraxia. Em casos extremos, a mesma pessoa pode ter aumentos e diminuições
entre atividade motora reduzida e excessiva. As características clínicas aparentemente
opostas e as manifestações variáveis do diagnóstico contribuem para falta de percepção e
redução do reconhecimento da catatonia. Durante seus estágios graves, o indivíduo pode
precisar de supervisão atenta para evitar autolesão e lesão a outros. Há riscos potenciais
decorrentes de desnutrição, exaustão, hiperpirexia (febre acima de 41º) e lesão
autoinfligida.
TIPO PARANÓIDE
Os sintomas dominantes na esquizofrenia paranoide são delírios de perseguição e
grandiosidade. Por exemplo, os pacientes podem pensar que os familiares estão conspirando
contra eles a fim de roubar uma herança há muito perdida (perseguição) que os colocaria
entre as pessoas mais ricas do mundo (grandiosidade). Os pacientes com esquizofrenia
paranóide também, às vezes têm alucinações com conteúdo persecutório ou grandioso
(exemplo, vozes que criticam ou lhes contam que eles têm talentos especiais). No entanto,
tais pacientes não apresentam desorganização de pensamentos ou comportamento. De fato,
além dos seus delírios, eles seguidamente comportam-se de modo bastante normal. É
provável que devido às suas preocupações sobre perseguição e sua necessidade de
defender seu elevado autoconceito, tais indivíduos tendem a serem ansiosos,
argumentativos e às vezes violentos quando confrontados.
TIPO RESIDUAL
Os indivíduos diagnosticados com esquizofrenia residual tiveram pelo menos um
episódio esquizofrênico no passado e presentemente alguns sinais de esquizofrenia, como
emoções embotadas, retração social, comportamento excêntrico ou transtorno de
pensamento, mas tais sintomas são geralmente abafados. Ademais, sintomas como
alucinações e delírios são infrequentes ou vagos. Embora os indivíduos com este padrão
sejam identificados como apresentando um tipo particular de esquizofrenia, em muitos
casos parece mais provável que eles apenas estejam na fase residual do transtorno geral.
a taxa de recaída foi de 19%, mas entre os pacientes que foram trocados para um placebo,
a taxa de recaída foi de 55%.
Em segundo lugar, em muitos casos, as drogas são apenas eficazes para tratar
alguns dos sintomas (principalmente sintomas positivos) ou elas reduzem, mas não eliminam
os sintomas (as alucinações podem ser menos frequentes ou menos intensas). Esta redução
parcial nos sintomas pode ser suficiente para capacitar o indivíduo a funcionar de modo
eficaz em sociedade, mas não o suficiente para eliminar a carga de lidar com os sintomas
remanescentes.
Em terceiro, nem todos os pacientes são ajudados por drogas. Neurolépticos como a
Torazina e Haldol podem ajudar aproximadamente 80% dos pacientes, e neurolépticos
atípicos como o Clozaril pode ajudar aproximadamente outros 6%, mas isto ainda deixa
aproximadamente 14% sem ajuda.
TEXTO 2
TRANSTORNO BIPOLAR
1. É uma doença;
2. Tem sinais e sintomas que podem variar muito de um momento para outro, num
mesmo paciente, ou ter muitas diferenças de uma pessoa para outra;
3. É muito comum;
4. É crônica, ou seja, não tem “cura”;
5. Tem causas biológicas (genéticas e outras) associadas a fatores ambientais;
6. Está associada a mais mortalidade, mais prejuízos, como faltas no emprego,
dificuldades em manter a produtividade no trabalho e problemas de
relacionamento interpessoal e familiar;
7. As pessoas afetadas não têm controle pleno do que pensam ou falam durante os
períodos de manifestação da doença;
8. O tratamento medicamentoso é fundamental e complexo, pois exige duas
estratégias distintas: a profilaxia (prevenção) e o tratamento dos sintomas
agudos;
9. O tratamento psicológico é fundamental para uma boa evolução no longo prazo;
10. A ausência de tratamento ou o tratamento irregular podem levar a
consequências mais funestas, principalmente no longo prazo;
11. Por fim, o tratamento adequado pode trazer uma vida praticamente normal,
principalmente se for introduzido de maneira correta nas fases iniciais da
doença.
Essa diferença de nomes ocorre por causa dos conceitos de afeto e humor, que não são
idênticos tecnicamente.
Afetos se referem às emoções de uma situação de vida imediata, como sentir alegria
quando se ganha um presente, tristeza quando se sabe que foi mal numa prova, irritação
quando algo dá errado ou medo quando alguma dor surge de repente, junto com a ideia de
poder ser uma doença grave.
Humores se referem aos estados emocionais mais prolongados, que duram horas,
dias ou semanas, e podem influenciar a forma de pensar e agir de uma pessoa.
Episódio Maníaco
A. Um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou
irritável e aumento anormal e persistente da atividade dirigida a objetivos ou da energia,
com duração mínima de uma semana e presente na maior parte do dia, quase todos os dias
(ou qualquer duração, se a hospitalização se fizer necessária).
B. Durante o período de perturbação do humor e aumento da energia ou atividade, três (ou
mais) dos seguintes sintomas (quatro se o humor é apenas irritável) estão presentes em
grau significativo e representam uma mudança notável do comportamento habitual:
1. Autoestima inflada ou grandiosidade.
2. Redução da necessidade de sono (p. ex., sente-se descansado com apenas três horas de
sono).
3. Mais loquaz que o habitual ou pressão para continuar falando.
4. Fuga de ideias ou experiência subjetiva de que os pensamentos estão acelerados.
5. Distratibilidade (i.e., a atenção é desviada muito facilmente por estímulos externos
insignificantes ou irrelevantes), conforme relatado ou observado.
6. Aumento da atividade dirigida a objetivos (seja socialmente, no trabalho ou escola, seja
sexualmente) ou agitação psicomotora (i.e., atividade sem propósito não dirigida a
objetivos).
7. Envolvimento excessivo em atividades com elevado potencial para consequências
dolorosas (p. ex., envolvimento em surtos desenfreados de compras, indiscrições sexuais ou
investi- mentos financeiros insensatos).
C. A perturbação do humor é suficientemente grave a ponto de causar prejuízo acentuado
no funcionamento social ou profissional ou para necessitar de hospitalização a fim de
prevenir dano a si mesmo ou a outras pessoas, ou existem características psicóticas.
D. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de
abuso, medicamento, outro tratamento) ou a outra condição médica.
Nota: Um episódio maníaco completo que surge durante tratamento antidepressivo (p. ex.,
medicamento, eletroconvulsoterapia), mas que persiste em um nível de sinais e sintomas
além do efeito fisiológico desse tratamento, é evidência suficiente para um episódio
maníaco e, portanto, para um diagnóstico de transtorno bipolar tipo I.
Nota: Os Critérios A-D representam um episódio maníaco. Pelo menos um episódio
maníaco na vida é necessário para o diagnóstico de transtorno bipolar tipo I.
Episódio Hipomaníaco
A. Um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou
irritável e aumento anormal e persistente da atividade ou energia, com duração mínima de
quatro dias consecutivos e presente na maior parte do dia, quase todos os dias.
B. Durante o período de perturbação do humor e aumento de energia e atividade, três (ou
mais) dos seguintes sintomas (quatro se o humor é apenas irritável) persistem,
representam uma mudança notável em relação ao comportamento habitual e estão
presentes em grau significativo:
1. Autoestima inflada ou grandiosidade.
2. Redução da necessidade de sono (p. ex., sente-se descansado com apenas três horas de
sono).
3. Mais loquaz que o habitual ou pressão para continuar falando.
4. Fuga de ideias ou experiência subjetiva de que os pensamentos estão acelerados.
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Nota: Um episódio hipomaníaco completo que surge durante tratamento antidepressivo (p.
ex., medicamento, eletroconvulsoterapia), mas que persiste em um nível de sinais e
sintomas além do efeito fisiológico desse tratamento, é evidência suficiente para um
diagnóstico de episódio hipomaníaco. Recomenda-se, porém, cautela para que 1 ou 2
sintomas (principalmente aumento da irritabilidade, nervosismo ou agitação após uso de
antidepressivo) não sejam considerados suficientes para o diagnóstico de episódio
hipomaníaco nem necessariamente indicativos de uma diátese bipolar.
Nota: Os Critérios A-F representam um episódio hipomaníaco. Esses episódios são comuns
no transtorno bipolar tipo I, embora não necessários para o diagnóstico desse transtorno.
Nota: Os Critérios A-C representam um episódio depressivo maior. Esse tipo de episódio é
comum no transtorno bipolar tipo I, embora não seja necessário para o diagnóstico desse
transtorno.
Nota: Respostas a uma perda significativa (p. ex., luto, ruína financeira, perdas por
desastre natural, doença médica grave ou incapacidade) podem incluir sentimentos de
tristeza intensos, ruminação acerca da perda, insônia, falta de apetite e perda de peso
observados no Critério A, que podem se assemelhar a um episódio depressivo. Embora tais
sintomas possam ser entendidos ou considerados apropriados à perda, a presença de um
episódio depressivo maior, além da resposta normal a uma perda significativa, deve ser
também cuidadosamente considerada. Essa decisão exige inevitavelmente exercício do
juízo clínico, baseado na história do indivíduo e nas normas culturais para a expressão de
sofrimento no contexto de uma perda.
SINTOMAS DA MANIA
Euforia
A euforia seria uma alegria excessiva e exagerada, contagiante e espontânea, que
se mantém independentemente dos acontecimentos ou da situação da vida. A pessoa com
euforia acha que tudo está excelente, que tudo vai dar certo, acha graça em tudo,
geralmente se relaciona com as pessoas com muita facilidade, até com estranhos na rua,
pode se sentir mais bonita e atraente, com mais força e poder. Nas formas mais graves,
chega a acreditar que pode ser uma pessoa famosa, como uma modelo, ou o presidente da
República. Fica a maior parte do tempo eufórica, mas pode ter momentos de mudanças
súbitas de humor, como se lembrar da morte da mãe e começar a chorar aos prantos, para
depois de alguns minutos estarem rindo de novo de qualquer outra coisa.
Irritabilidade
Em geral é deflagrada quando o paciente é contrariado por alguém ou por alguma
situação. Às vezes, fica irritado sem razão aparente, ou por pequenos contratempos que
não justificariam uma reação tão intensa ou agressiva. O paciente raramente se arrepende
por estar com a autoestima tão elevada, o que leva a problemas de relacionamento, tendo
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Autoestima elevada
O paciente se sente mais forte, inteligente, sensual, poderoso. Tem mais
criatividade, mais energia, sente sua capacidade aumentada, tem certeza de que
conseguiria fazer muito mais do que imaginava antes de entrar na fase maníaca. Com essa
autoestima elevada, pensa que está sempre certo e acabam entrando em confronto com
outras pessoas, como chefes, familiares, amigos. Acaba se envolvendo em situações
problemáticas, como comprar coisas caras e achar que terá condições de pagar, fazer
promessas impossíveis de ser cumprido, como criar uma indústria, ou eliminar a pobreza do
mundo.
HIPOMANIA
Tecnicamente a hipomania seria apenas uma fase de mania mais leve. São os mesmos
sintomas, mas menos intensos menos evidentes. Na prática, é uma fase que pode ser
considerada invisível, pois normalmente ninguém percebe nem o paciente nem os familiares
e amigos.
20
1. Transtorno Bipolar I
A característica essencial do Transtorno Bipolar I é um curso clínico caracterizado pela
ocorrência de um ou mais Episódios Maníacos ou Episódios Mistos. Com frequência, os
indivíduos também tiveram um ou mais Episódios Depressivos Maiores.
2. Transtorno Bipolar II
A característica essencial do Transtorno Bipolar II é um curso clínico marcado pela
ocorrência de um ou mais Episódios Depressivos Maiores, acompanhado por pelo menos um
Episódio Hipomaníaco. Os Episódios Hipomaníacos não devem ser confundidos com os vários
dias de eutimia (equilíbrio do humor) que podem seguir-se à remissão de um Episódio
Depressivo Maior. A presença de um Episódio Maníaco ou Episódio Misto exclui o
diagnóstico de Transtorno Bipolar II. Os indivíduos com Transtorno Bipolar II podem não
ver os Episódios Hipomaníacos como patológicos embora outras pessoas possam sentir-se
perturbadas pelo comportamento errático do indivíduo. Muitas vezes, particularmente
quando em meio a um Episódio Depressivo Maior, os indivíduos não se recordam dos
períodos de hipomania se não forem lembrados por amigos íntimos ou parentes. As
informações oferecidas por outras pessoas frequentemente são fundamentais para o
estabelecimento do diagnóstico de Transtorno Bipolar II.
21
TEXTO 3
TRANSTORNOS DEPRESSIVOS
SINTOMAS DE HUMOR
O indivíduo sente-se deprimido, “melancólico”, triste, sem esperanças,
desencorajado, “para baixo”. Amiúde, a pessoa deprimida também se sente isolada,
rejeitada e não amada. As pessoas deprimidas às vezes descrevem a si mesmas como
estando sozinhas em um buraco escuro, profundo, onde elas não podem ser alcançadas e do
qual não podem sair.
A depressão, às vezes é acompanhada de ansiedade. Este é especialmente o caso na
fase inicial ou prodrômico quando o padrão de sintomas está se formando. Durante esta
fase o indivíduo acredita que tudo está dando errado, está aborrecido e ansioso e tem
muitos pensamentos de preocupação. Nesta fase fica difícil determinar se o indivíduo está
experimentando início de depressão ou está sofrendo de um estado de ansiedade. À medida
que o tempo passa, o nível de ansiedade é reduzido e o nível de depressão aumenta.
SINTOMAS COGNITIVOS
Pelo menos seis sintomas ou processos cognitivos desempenham papéis importantes
na depressão. Primeiro, os indivíduos deprimidos têm autoestima muito baixa.
Especificamente os indivíduos deprimidos geralmente pensam que são inadequados,
inferiores, ineptos, incompetentes e em geral sem valor, além de frequentemente se
sentirem culpados por seus fracassos. Um segundo sintoma cognitivo importante é o
pessimismo. Acreditam que jamais serão capazes de resolver seus problemas e que a
tendência das coisas apenas é piorar. Em terceiro, ocorre uma redução de motivação. Uma
vez que não acreditam que terão capacidade para resolver seus problemas, os deprimidos
não veem razão para trabalhar sobre tais problemas ou buscar ajuda para superá-los. Tudo
parece perdido e sem esperanças, então não há razão para tentar. Como não trabalham
sobre seus problemas, estes não serão resolvidos, e, portanto, o acúmulo de problemas
irresolvidos pode constituir razões adicionais para a depressão. O quarto sintoma cognitivo
importante da depressão é a generalização de atitudes negativas. Pesquisas mostraram
que o grau no qual as pessoas generalizam seus problemas está relacionado ao grau de
seriedade da sua depressão. Especificamente, os indivíduos profundamente deprimidos
tenderam mais a concordar com itens como “Perceber uma falha minha me faz pensar mais
e mais sobre outras falhas” e “Quando mesmo uma coisa dá errada eu começo a me sentir
mal e imaginar se eu posso fazer bem qualquer coisa que seja”.
Exagero da seriedade dos problemas é o quinto sintoma cognitivo maior da
depressão e pode tornar-se tão extremo que o indivíduo pode desenvolver um delírio. Ou
seja, apesar de fortes evidências em contrário, o indivíduo desenvolve crenças totalmente
errôneas que são bizarras e patentemente absurdas. Por exemplo, pode acreditar que está
sofrendo de deterioração cerebral progressiva. O sexto sintoma cognitivo importante são
os processos de pensamento mais lentos. Os indivíduos deprimidos carecem de motivação
ou energia mental para pensar rapidamente e trabalhar eficazmente. Apresentam
desempenho intelectual muito pobre, sobretudo em tarefas que requerem velocidade ou
esforço em processamento, e alterações no funcionamento da memória.
SINTOMAS MOTORES
O sintoma motor mais proeminente e mais importante na depressão é o retardo
psicomotor que envolve uma redução ou lentificação do comportamento motor. As pessoas
deprimidas com frequência sentam-se com uma postura encurvada e um olhar parado,
inexpressivo. Às vezes relatam sentir-se como se estivessem com o peso do mundo sobre
22
seus ombros e simplesmente não conseguem mover-se sob tal carga. Falam muito pouco e
quando falam, é em um tom baixo.
Em contraste algumas pessoas deprimidas apresentam agitação psicomotora e são
incapazes de ficar parada. Tais pessoas são inquietas e estão constantemente se
preocupado ou andando de um lado para outro. É digno de nota que as atividades destes
indivíduos são aleatórias ao invés de focalizadas em atingir alguma meta particular, e,
assim, suas atividades não lhes rendem nada. A agitação psicomotora é muito menos
prevalente do que o retardo psicomotor.
SINTOMAS SOMÁTICOS
Os indivíduos são propensos a sofrer de uma variedade de problemas somáticos. Um
dos mais notáveis é um padrão de sono perturbado. Apresentam dificuldade para conciliar
o sono e então experimentam despertar muito cedo (por volta das 2 horas da madrugada) e
são incapazes de voltar a dormir. O despertar muito cedo parece estar associado a
depressões mais sérias e o momento do despertar precoce pode ser um índice da
profundidade da depressão. À medida que a depressão passa, o momento do despertar
muito cedo se torna cada vez mais tarde. Em alguns casos, os indivíduos começam a dormir
mais do que o usual, um efeito denominado hipersonia.
Padrões alimentares perturbados são também comuns nas depressões. Muitos
indivíduos perdem o interesse em comer e o alimento cessa de ter sabor para eles. Em
outros casos, os indivíduos deprimidos podem desejar comer e perceber que precisam
comer, mas como não dispõem da energia para prepará-las, alimentam-se de “junk food”. E
para outros, ainda, comer é a única atividade agradável na sua vida, que em outros aspectos
é sombria.
Outro sintoma somático frequentemente associado à depressão é interesse ou
impulso sexual reduzido. Este aspecto é amiúde referido como uma perda da libido.
Além dos problemas específicos associados ao sono, apetite e sexo, os indivíduos
deprimidos são mais suscetíveis a uma variedade de doenças, aparentemente em
decorrência de um prejuízo do funcionamento do sistema imunológico. Especificamente, há
evidências de que os indivíduos deprimidos produzem menos linfócitos (glóbulos brancos),
que desempenham um papel importante no combate de doenças.
Este tipo de Depressão tem uma causa fundamentalmente biológica e não existe relação
palpável ou proporcional entre o momento depressivo e as eventuais vivências
causadoras. Nela não se percebem causas externas ao sujeito.
COMORBIDADE
Um indivíduo pode sofrer de dois ou mais transtornos psicológicos ao mesmo tempo
(exemplo, depressão e abuso de substância, depressão e esquizofrenia, ansiedade geral e
fobias), assim como uma pessoa pode sofrer de dois ou mais distúrbios físicos ao mesmo
tempo (exemplo, diabete e pneumonia). A ocorrência de dois transtornos é chamada de
comorbidade. A palavra mórbido refere-se à doença, enquanto morbidade refere-se à
ocorrência de doença; então, comorbidade significa “a co-ocorrência de duas ou mais
doenças”.
Características diagnósticas
A característica essencial de um episódio depressivo maior é um período de pelo
menos duas semanas durante as quais há um humor depressivo ou perda de interesse ou
prazer em quase todas as atividades. Em crianças e adolescentes, o humor pode ser
irritável em vez de triste. O indivíduo também deve experimentar pelo menos quatro
sintomas adicionais, extraídos de uma lista que inclui mudanças no apetite ou peso, no sono
e na atividade psicomotora; diminuição de energia; sentimentos de desvalia ou culpa;
dificuldades para pensar, concentrar-se ou tomar decisões; ou pensamentos recorrentes de
morte ou ideação suicida, planos ou tentativas de suicídio. Os sintomas devem persistir na
maior parte do dia, quase todos os dias, por pelo menos duas semanas consecutivas. O
episódio deve ser acompanhado por sofrimento ou prejuízo clinicamente significativo no
funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
O humor em um episódio depressivo maior frequentemente é descrito pela pessoa
como deprimido, triste, desesperançado, desencorajado ou “na fossa”. Em alguns indivíduos
que se queixam de sentirem “um vazio”, sem sentimentos ou com sentimentos ansiosos, a
presença de um humor deprimido pode ser inferida a partir da expressão facial e por
atitudes.
A perda de interesse ou prazer quase sempre está presente, pelo menos em algum
grau. Os indivíduos podem relatar menor interesse por passatempos, “não se importar mais”
ou falta de prazer com qualquer atividade anteriormente considerada prazerosa. Os
membros da família com frequência percebem retraimento social ou negligência de
atividades prazerosas. Em alguns indivíduos, há redução significativa nos níveis anteriores
de interesse ou desejo sexual.
As alterações de apetite podem envolver redução ao aumento. Perturbações do sono
podem assumir a forma de dificuldades para dormir ou dormir excessivamente. Diminuição
da energia, cansaço e fadiga são comuns. As alterações psicomotoras incluem agitação (p.
ex., incapacidade de ficar sentado quieto, ficar andando sem parar, agitar as mãos, puxar
ou esfregar a pele, roupas ou outros objetos) ou retardo psicomotor (p. ex., discurso,
pensamento ou movimentos corporais lentificados; maiores pausas antes de responder; fala
diminuída em termos de volume, inflexão, quantidade ou variedade de conteúdos, ou
mutismo).
O sentimento de desvalia ou culpa associado com um episódio depressivo maior pode
incluir avaliações negativas e irrealistas do próprio valor, preocupações cheias de culpa ou
ruminações acerca de pequenos fracassos do passado. Muitos indivíduos relatam prejuízo
25
DESENVOLVIMENTO E CURSO
O transtorno depressivo maior pode aparecer pela primeira vez em qualquer idade,
mas a probabilidade de início aumenta sensivelmente com a puberdade. O curso do
transtorno depressivo maior é bastante variável, de modo que alguns indivíduos raramente
experimentam remissão (um período de dois meses ou mais sem sintomas ou apenas 1 ou 2
sintomas não mais do que em um grau leve), enquanto outros experimentam muitos anos com
poucos ou nenhum sintoma entre episódios discretos.
A recuperação em geral começa dentro de três meses após o início para dois em
cada cinco indivíduos com depressão maior e em um ano para quatro em cada cinco. O início
recente é um forte determinante da probabilidade de recuperação em curto prazo, e pode-
se esperar que muitos indivíduos que estiveram deprimidos por apenas alguns meses se
recuperem espontaneamente.
O risco de recorrência torna-se progressivamente mais baixo ao longo do tempo, à
medida que aumenta a duração da remissão. O risco é mais alto em indivíduos cujo episódio
anterior foi grave, em indivíduos mais jovens e naqueles que já experimentaram múltiplos
episódios. A persistência de sintomas, mesmo leves, durante a remissão é um forte
preditor de recorrência.
Muitos transtornos bipolares iniciam com um ou mais episódios depressivos, e uma
proporção substancial de indivíduos que de início parecem ter um transtorno depressivo
maior apresentará com o tempo um transtorno bipolar. O transtorno depressivo maior,
particularmente com características psicóticas, também pode fazer uma transição para
esquizofrenia, uma mudança que é muito mais frequente do que o inverso.
Características diagnósticas
A característica essencial do transtorno depressivo persistente (distimia) é um
humor depressivo que ocorre na maior parte do dia, na maioria dos dias, por pelo menos
dois anos, ou por pelo menos um ano para crianças e adolescentes. Com frequência
apresenta um início precoce e insidioso e por definição, um curso crônico.
Indivíduos com transtorno depressivo persistente descrevem seu humor como
triste ou “na fossa”. Durante os períodos de humor deprimido, pelo menos dois dos
seguintes sintomas estarão presentes: 1) apetite diminuído ou alimentação em excesso; 2)
insônia ou hipersonia; 3)baixa energia ou fadiga; 4) baixa autoestima; 5) concentração
pobre ou dificuldade em tomar decisões; 6) sentimentos de desesperança.
Como esses sintomas tornaram-se uma parte tão presente na experiência cotidiana
do indivíduo, em particular no caso de início precoce (p. e., “Sempre fui desse jeito”), eles
podem não ser relatados, a menos que diretamente investigados pelo entrevistador.
LUTO NORMAL
Ao diferenciar luto de um episódio depressivo maior, é útil considerar que, no luto,
o afeto predominante inclui sentimentos de vazio e perda, enquanto no episódio depressivo
maior há humor deprimido persistente e incapacidade de antecipar felicidade ou prazer. A
disforia no luto pode diminuir de intensidade ao longo de dias a semanas, ocorrendo em
ondas, conhecidas como “dores do luto”. Essas ondas tendem a estar associadas a
pensamentos ou lembranças do falecido. O humor deprimido de um episódio depressivo
maior é mais persistente e não está ligado a pensamentos ou preocupações específicas. A
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dor do luto pode vir acompanhada de emoções e humor positivos que não são
característicos da infelicidade e angústia generalizada de um episódio depressivo maior. O
conteúdo do pensamento associado ao luto geralmente apresenta preocupação com
pensamentos e lembranças do falecido, em vez das ruminações autocríticas ou pessimistas
encontradas no episódio depressivo maior. No luto, a autoestima costuma estar preservada,
ao passo que no episódio depressivo maior sentimentos de desvalia e aversão a si mesmo são
comuns. Se presente no luto, a ideação autodepreciativa tipicamente envolve a percepção
de falhas em relação ao falecido (p. ex., não ter feito visitas com frequência suficiente, não
dizer ao falecido o quanto o amava). Se um indivíduo enlutado pensa na morte e em morrer,
tais pensamentos costumam ter o foco no falecido e possivelmente em “se unir” a ele,
enquanto no episódio depressivo maior esses pensamentos têm o foco em acabar com a
própria vida em razão dos sentimentos de desvalia, de não merecer estar vivo ou da
incapacidade de enfrentar a dor da depressão.
TEXTO 4
TRANSTORNOS DE ANSIEDADE
4. Irritabilidade.
5. Tensão muscular.
6. Perturbação do sono (dificuldade de conciliar ou manter o sono, ou sono insatisfatório e
inquieto).
D. A ansiedade, a preocupação ou os sintomas físicos causam sofrimento clinicamente
significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas
importantes da vida do indivíduo.
E. A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., drogas de
abuso, medicamento) ou a outra condição médica (p. ex., hipertireoidismo).
F. A perturbação não é mais bem explicada por outro transtorno mental.
B. Pelo menos um dos ataques foi seguido de um mês (ou mais) de uma ou de ambas as
seguintes características:
1. Apreensão ou preocupação persistente acerca de ataques de pânico adicionais ou sobre
suas consequências (p. ex., perder o controle, ter um ataque cardíaco, “enlouquecer”).
2. Uma mudança desadaptativa significativa no comportamento relacionado aos ataques (p.
ex., comportamentos que têm por finalidade evitar ter ataques de pânico, como a esquiva
de exercícios ou situações desconhecidas).
C. A perturbação não é consequência dos efeitos psicológicos de uma substância (p. ex.,
droga de abuso, medicamento) ou de outra condição médica (p. ex., hipertireoidismo,
doenças cardiopulmonares).
D. A perturbação não é mais bem explicada por outro transtorno mental (p. ex., os ataques
de pânico não ocorrem apenas em resposta a situações sociais temidas, como no transtorno
de ansiedade social; em resposta a objetos ou situações fóbicas circunscritas, como na
fobia específica; em resposta a obsessões, como no transtorno obsessivo-compulsivo; em
resposta à evocação de eventos traumáticos, como no transtorno de estresse pós-
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Você tem um parente, talvez uma tia excêntrica, por exemplo, que nunca sai de casa? As
reuniões ou visitas familiares sempre têm de ser na casa dela? Sua tia pode não ser apenas
excêntrica e esquisita. Ela pode sofrer de um transtorno de ansiedade debilitante chamado
de transtorno de pânico com agorafobia (TPA), no qual os indivíduos experimentam
ataques de pânico graves e inesperados; eles podem achar que estão morrendo ou perdendo
o controle. Em razão do fato de nunca saberem quando um ataque pode ocorrer,
desenvolvem a agorafobia, medo e evitação de situações em que se sentiriam inseguros no
caso de um ataque ou de sintomas de pânico. Essas situações incluem aquelas das quais seria
difícil ou embaraçoso escapar para voltar para casa ou ir a um hospital. Em casos graves, as
pessoas com TPA são incapazes de deixar a casa, à vezes, por anos a fio, como à senhora M.
Características diagnósticas
Para se enquadrar nos critérios de transtorno de pânico (com ou sem agorafobia),
uma pessoa deve experimentar um ataque de pânico inesperado e desenvolver ansiedade
substancial pela possibilidade de ter outro ataque ou por implicações do ataque ou de suas
consequências. Ela deve pensar que cada ataque é sinal de morte iminente ou de
incapacitação. Alguns indivíduos não relatam preocupação sobre outro ataque, mas mudam o
comportamento de maneira que indique a angústia que os ataques lhes causam. Eles podem
evitar ir a certos lugares ou deixar de lado as obrigações domésticas por medo de que
venha a ocorrer um ataque se forem muito ativos.
calafrios e calores, suor, fraqueza e tremor. Devido aos sintomas físicos, um indivíduo que
está experimentando um ataque de pânico pode pensar que está tendo um ataque cardíaco.
Os ataques de pânico são muito assustadores. Os indivíduos que experimentam
ataques de pânico tornam-se preocupados sobre perder o controle e muitas vezes pensam
que estão “ficando loucos”; portanto, às vezes começam a evitar lugares públicos em favor
de ficar em casa, onde se sentem seguros. Se a evitação torna-se extrema, o indivíduo pode
ser diagnosticado como sofrendo de um transtorno de pânico com agorafobia ao invés de
simplesmente um transtorno de pânico. Entre os ataques o indivíduo fica frequentemente
ansioso em relação a possíveis ataques iminentes; provocando, portanto, um nível geral
elevado de ansiedade.
AGORAFOBIA.
A. Medo ou ansiedade marcantes acerca de duas (ou mais) das cinco situações seguintes:
1. Uso de transporte público (p. ex., automóveis, ônibus, trens, navios, aviões).
2. Permanecer em espaços abertos (p. ex., áreas de estacionamentos, mercados, pontes).
3. Permanecer em locais fechados (p. ex., lojas, teatros, cinemas).
4. Permanecer em uma fila ou ficar em meio a uma multidão.
5. Sair de casa sozinho.
B. O indivíduo tem medo ou evita essas situações devido a pensamentos de que pode ser
difícil escapar ou de que o auxílio pode não estar disponível no caso de desenvolver
sintomas do tipo pânico ou outros sintomas incapacitantes ou constrangedores (p. ex., medo
de cair nos idosos; medo de incontinência).
C. As situações agorafóbicas quase sempre provocam medo ou ansiedade.
D. As situações agorafóbicas são ativamente evitadas, requerem a presença de uma
companhia ou são suportadas com intenso medo ou ansiedade.
E.O medo ou ansiedade é desproporcional ao perigo real apresentado pelas situações
agorafóbicas e ao contexto sociocultural.
F. O medo, ansiedade ou esquiva é persistente, geralmente durando mais de seis meses.
G. O medo, ansiedade ou esquiva causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no
funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
H. Se outra condição médica (p. ex. doença inflamatória intestinal, doença de Parkinson)
está presente, o medo, ansiedade ou esquiva é claramente excessivo.
I. O medo, ansiedade ou esquiva não é mais bem explicado pelos sintomas de outro
transtorno mental – por exemplo, os sintomas não estão restritos a fobia específica, tipo
situacional; não envolvem apenas situações sociais (como no transtorno de ansiedade social);
e não estão relacionados exclusivamente a obsessões (como no transtorno obsessivo-
compulsivo), percepção de defeitos ou falhas na aparência física (como no transtorno
dismórfico corporal) ou medo de separação (como no transtorno de ansiedade de
separação).
sentido, a agorafobia é um medo de ficar com medo e está associado a lugares públicos
porque em tais situações o medo seria mais disruptivo e constrangedor. Seguidamente os
indivíduos com agorafobia também têm medo de ficar sozinhos porque caso comecem a
experimentar seu medo eles desejam ter alguém por perto para ajudá-los.
Em decorrência do medo associado a lugares públicos, a vida das pessoas com
agorafobia é dominada por suas tentativas de evitar contato com grandes grupos de
pessoas. Portanto, tais indivíduos podem se confinar em suas casas e aventurar-se fora
delas o menos possível. Eles não evitam multidões porque têm algum delírio ou estão
deprimidos e desejam ficar sós, mas, ao contrário, estar com muita gente os deixa
temerosos porque “algo” poderia lhes acontecer.
O termo agorafobia foi cunhado em 1871 por Westphal e, no grego original, refere-
se ao medo da praça do mercado. Esse é um termo muito apropriado porque a ágora, o
mercado público grego, era um lugar muito cheio em que havia muito alvoroço. Umas das
áreas mais estressantes para os indivíduos com agorafobia hoje são os centros comerciais,
as ágoras modernas.
3. FOBIA ESPECÍFICA.
A ansiedade de uma pessoa com fobia social não se origina de qualquer delírio
específico (por exemplo, de que os outros estão conspirando contra ela), mas, antes, de um
medo geral de que ele ou ela será criticado por comportamento inapto. Obviamente a
ansiedade social pode restringir severamente a via de uma pessoa.
O tipo mais comum de demonstração de ansiedade que a maioria das pessoas relata
é falar em público. Outras situações comuns são comer em restaurante; assinar papéis
diante de um escriturário ou, para os homens, urinar em um banheiro público.
TEXTO 5
TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO E TRANSTORNOS RELACIONADOS
Especificar se:
Com insight bom ou razoável: O indivíduo reconhece que as crenças do transtorno
obsessivo-compulsivo são definitiva ou provavelmente não verdadeiras ou que podem ou não
ser verdadeiras.
Com insight pobre: O indivíduo acredita que as crenças do transtorno obsessivo-
compulsivo são provavelmente verdadeiras.
Com insight ausente/crenças delirantes: O indivíduo está completamente convencido de
que as crenças do transtorno obsessivo-compulsivo são verdadeiras.
Relacionado a tique: O indivíduo tem história atual ou passada de um transtorno de tique.
Muitos indivíduos com TOC têm crenças disfuncionais. Essas crenças podem incluir
senso aumentado de responsabilidade e tendência a superestimar a ameaça; perfeccionismo
e intolerância à incerteza; e importância excessiva dos pensamentos (p.ex., acreditar que
ter pensamento proibido é tão ruim quanto executá-lo) e necessidade de controlá-los. Os
indivíduos com TOC variam no grau de insight que têm quanto à exatidão das crenças
subjacentes aos seus sintomas obsessivo-compulsivos. Muitos têm insight bom ou razoável
(p. ex., o indivíduo acredita que a casa definitivamente não irá ou pode ou não incendiar se o
fogão não for verificado 30 vezes). Alguns têm insight pobre (p. ex., o indivíduo acredita
que a casa provavelmente irá incendiar se o fogão não for verificado 30 vezes), e poucos
(menos de 4%) têm insight ausente/crenças delirantes (p. ex., o indivíduo está convencido
de que a casa irá incendiar se o fogão não for verificado 30 vezes). O insight pode variar
em um indivíduo durante o curso da doença. O insight mais pobre foi vinculado a pior
evolução no longo prazo. Até 30% dos indivíduos com TOC têm um transtorno de tique ao
longo da vida. Isso é mais comum no sexo masculino com início do TOC na infância. Esses
indivíduos tendem a diferir daqueles sem história de transtornos de tique nos temas dos
seus sintomas obsessivo-compulsivos, comorbidade, curso e padrão de transmissão familiar.
Caso Vicente:
Vicente Mancini, solteiro, 26 anos, foi levado para uma avalição ambulatorial por
seus pais porque eles estavam angustiados com seus sintomas. Desde os 13 anos, ele sempre
havia se preocupado com sua pele “cheia de cicatrizes”, seu cabelo “escasso”, suas orelhas
“assimétricas” e sua constituição física “magricela” e “muscularmente inadequada”. Embora
tivesse uma aparência normal, Vicente estava totalmente convencido de que era “feio e
medonho” e acreditava que as outras pessoas falavam dele e o ridicularizavam por causa de
sua aparência. Ele passava de 5 a 6 horas por dia verificando compulsivamente as áreas do
corpo das quais não gostava na frene de espelhos e de outras superfícies refletoras, como
janelas, arrumando excessivamente o cabelo para “criar uma ilusão de volume”, puxando as
orelhas na tentativa de “deixa-las parelhas” e comparando sua aparência com a de outras
pessoas. Vicente perdeu vários meses de aula quando estava no ensino médio porque estava
preocupado demais para fazer o dever de casa, se sentia obrigado a sair da sala de aula
para se olhar no espelho e constrangido demais por ser visto pelos outros. Por esses
motivos não conseguiu frequentar a faculdade. Retraiu-se socialmente e não namorava
“porque nenhuma garota iria querer namorar alguém tão feio como eu”. Ele considerava
suicidar-se frequentemente porque achava que não valia a pena viver “com essa aparência
esquisita” e porque se sentia isolado e ignorado devido à sua “feiura”. Vicente relatou
humor deprimido, anedonia, desvalia, má concentração e ideação suicida, atribuindo todos
esses sintomas às suas preocupações com a aparência. Com o sofrimento causado por sua
aparência, consumia álcool e maconha. Usava proteína em pó para “criar músculos”, mas
negou o uso de anabolizantes. Estava bem vestido, bem cuidado e usava boné. Ele não
apresentava nenhum defeito físico óbvio. Seu contato visual era escasso. Estava orientado
e sua cognição estava amplamente preservada. Seu discurso era normal e estava totalmente
convencido de que era feio, mas não tinha outros sintomas psicóticos. Acreditava que seus
“defeitos” na aparência eram reais e não atribuíveis a um transtorno psiquiátrico.
Características diagnósticas
Os indivíduos com transtorno dismórfico corporal (TDC) são preocupados com um ou
mais defeitos ou falhas percebidas em sua aparência física, que acreditam parecer feia,
sem atrativos, anormal ou defeituosa. As falhas percebidas não são observáveis ou parecem
apenas leves para outros indivíduos. As preocupações variam desde parecer “sem atrativos”
ou “não adequado” até parecer “hediondo” ou “como um monstro”. Podem focar em uma ou
mais áreas do corpo, mais comumente a pele (p. ex., percepção de acne, cicatrizes, rugas,
palidez), os pelos (p. ex., cabelo “escasso” ou pelo corporal ou facial “excessivo”) ou o nariz
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(p. ex., tamanho ou formato). As preocupações são intrusivas, indesejadas, tomam tempo e
geralmente são difíceis de resistir ou controlar.
Os comportamentos repetitivos ou atos mentais excessivos (p. ex., comparações)
são executados em resposta à preocupação. O indivíduo se sente compelido a executar
esses comportamentos, os quais não são prazerosos e podem aumentar a ansiedade e a
disforia. Os comportamentos comuns são comparar a própria aparência com a de outros
indivíduos; verificar repetidamente os defeitos percebidos em espelhos ou em outras
superfícies refletoras ou examiná-los diretamente; arrumar-se de maneira excessiva;
camuflar (aplicando maquiagem repetidamente ou cobrindo as áreas em questão com coisas
como chapéu, roupas ou cabelos); tocar as áreas em questão; fazer exercícios em excesso;
e procurar procedimentos estéticos. Arrancar a pele compulsivamente com a intenção de
melhorar os defeitos percebidos é comum e pode causar lesões cutâneas, infecções ou
ruptura de vasos sanguíneos. Esse transtorno deve ser diferenciado de um transtorno
alimentar.
3. TRANSTORNO DE ACUMULAÇÃO
Caso Wendy:
Wendy Nichols, mulher, 47 anos, solteira, encaminhada para uma equipe de saúde
mental comunitária para o manejo de uma apresentação mista de humor deprimido e
ansiedade generalizada. Ela nunca havia tomado medicamentos psiquiátricos. A história
médica de Wendy não tinha nada fora do comum. Ela morava sozinha, em um apartamento
de dois quartos, sem família nem amigos nas proximidades. Tinha diploma universitário e
trabalha durante meio expediente como auxiliar de vendas em uma loja de miudezas de
caridade. Durante o exame inicial, tinha a aparência de uma mulher bem vestida,
expressiva, coerente e cooperativa. Ela estava claramente deprimida. Queixou-se de má
concentração e dificuldade em se organizar. Negou uso inadequado de substâncias. O
clínico percebeu que a bolsa de Wendy estava cheia de contas e de outros documentos. Ao
ser indagada a respeito, ela inicialmente deu de ombros, afirmando que “carregava o
escritório com ela”. Quando o entrevistador insistiu, veio à tona que Wendy havia tido
dificuldades em descartar documentos de negócios, jornais e revistas desde que podia se
lembrar. Achava que tudo havia começado quando a mãe se livrou de todos os brinquedos
velhos quando ela tinha 12 anos. Agora, muitos anos depois, o apartamento de Wendy estava
repleto de livros, objetos de escritório, trabalhos manuais, embalagens plásticas, caixas de
papelão e todo tipo de coisas. Disse que sabia que era um pouco incomum, mas esses itens
poderiam ser úteis algum dia. Afirmou: “quem guarda, tem”. A ideia de descartar qualquer
um desses pertences lhe causava muito sofrimento. Os cômodos do apartamento de Wendy
haviam começado a se encher depois que ela completara 30 anos de idade e, no momento da
entrevista, ela tinha pouco espaço para viver. Sua cozinha estava quase totalmente tomada,
de modo que ela usava um frigobar e um forno elétrico espremido entre as pilhas de papel
acumuladas no corredor. Fazia as suas refeições na única cadeira desocupada. Á noite movia
uma pilha de papéis de cima da cama para a cadeira livre para que pudesse dormir.
Constrangida pela condição em que seu apartamento se encontrava, não contara a ninguém
sobre seu comportamento e não convidara ninguém para visitá-la nos últimos 15 anos.
Recusou a oferta do clínico de fazer uma visita à sua casa, mas ofereceu algumas fotos da
câmara de celular. As fotos mostravam móveis, papéis, caixas e roupas empilhadas do chão
até o teto. Além dos sentimentos de tristeza e solidão de longa data, bem como da
ansiedade que sofria cada vez que tentava arrumar o apartamento ou sempre que alguém
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tentava fazer amizade, Wendy negou outros sintomas psiquiátricos, incluindo delírios e
alucinações, obsessões ou outro comportamento compulsivo.
Características diagnósticas
A característica essencial do transtorno de acumulação são as dificuldades
persistentes de descartar ou se desfazer de pertences, independentemente do seu valor
real. O termo persistente indica uma dificuldade permanente em vez de circunstâncias
vitais mais transitórias que pode levar ao acúmulo excessivo, como herdar uma propriedade.
A dificuldade em descartar pertences refere-se a qualquer forma de descarte, incluindo
jogar fora, vender, dar ou reciclar. As principais razões dadas para essas dificuldades são
a utilidade percebida ou o valor estético dos itens ou um forte apego sentimental aos
pertences. Alguns indivíduos se sentem responsáveis pelo destino de seus pertences e com
frequência se esforçam muito para evitar o desperdício. O medo de perder informações
importantes também é comum. Os itens mais comumente guardados são jornais, revistas,
roupas velhas, bolsas e livros, correspondência e papelada, mas praticamente qualquer item
pode ser guardado. Não só coisas inúteis ou de valor limitado, mas muitos indivíduos juntam
e também guardam muitas coisas valiosas, as quais com frequência são encontradas em
pilhas misturadas com outros itens menos valiosos.
Os indivíduos com transtorno de acumulação guardam intencionalmente os
pertences e experimentam sofrimento quando enfrentam a perspectiva de descarta-los.
Guardar esses objetos é intencional, o que discrimina o transtorno de acumulação de outras
formas de psicopatologia que são caracterizadas pela acumulação passiva de itens ou pela
ausência de sofrimento quando os pertences são removidos.
Os indivíduos acumulam muitos itens que se empilham e obstruem áreas em uso a
ponto de sua utilização pretendida não ser mais possível. Por exemplo, o indivíduo pode não
conseguir preparar alimentos na cozinha, dormir na sua cama ou sentar em uma cadeira. Se
o espaço pode ser usado, é somente com grande dificuldade. Obstrução é definida como um
grande grupo de objetos em geral não relacionados ou marginalmente relacionados
empilhados juntos de forma desorganizada em espaços designados para outros propósitos
(p. ex., em cima da mesa, no chão, no corredor); em vez de áreas mais periféricas, como
garagens, sótãos ou porões, que às vezes ficam obstruídas nas casas das pessoas sem o
transtorno.
Em alguns casos, as áreas de estar podem estar desobstruídas devido à intervenção
de outras pessoas (p. ex., membros da família, funcionários da limpeza, autoridades locais).
Os indivíduos que foram forçados a limpar suas casas ainda têm um quadro de sintomas que
satisfaz os critérios para transtorno de acumulação, porque a ausência de obstrução deve-
se à intervenção de outras pessoas.
O transtorno de acumulação contrasta com o comportamento de colecionar, que é
organizado e sistemático, mesmo que em alguns casos a quantidade real de pertences possa
ser similar à quantidade acumulada por uma pessoa com transtorno de acumulação. A
atividade de colecionar normal não produz obstrução, sofrimento ou prejuízo típico do
transtorno de acumulação.
Os sintomas (i.e., dificuldades de descartar e/ou obstrução) devem causar
sofrimento clinicamente significativo no funcionamento social, profissional ou em outras
áreas importantes da vida do sujeito, incluindo a manutenção de um ambiente seguro para si
e para os outros.
40
Caso Zélia:
Zélia Oliver era uma mulher de 22 anos que se apresentou a seu clínico geral depois
de ler um artigo de revista sobre tricotilomania. Ela nunca havia contado a ninguém (além
de sua mãe) sobre seu hábito de arrancar o cabelo, mas a revista indicava que era uma
ocorrência razoavelmente comum e tratável. Estava pessimista quanto aos resultados, mas
ela e a mãe haviam concordado que devia buscar ajuda.
O hábito de arrancar cabelos de Zélia ocorria com maior frequência, como um
ritual, quando ela voltava do trabalho para casa. Procurava cabelos com uma textura
específica na coroa da cabeça (embora também arrancasse pelos das sobrancelhas, dos
cílios e da região púbica). Sentia um alívio imenso se o cabelo saísse com a raiz. Ela, então,
normalmente mordia a raiz do cabelo e engolia o resto. Nunca apresentou sintomas
gastrintestinais após engolir cabelo. Ela afirmou que o hábito havia começado aos 12 anos e
que nunca conhecera ninguém com comportamento semelhante.
Zélia fez um grande esforço para cessar o comportamento e, às vezes, conseguia
interrompê-lo durante vários meses. Quando o hábito retornava, ela novamente se sentia
envergonhada e com raiva de si mesma, Lenços e chapéus cobriam a área calva, mas ela
normalmente se afastava da companhia de amigos e namorados para evitar ser pega.
Mesmo quando o comportamento a desanimava, Zélia não apresentava sintomas
vegetativos de depressão. Além do medo de ser descoberta, não tinha ansiedade
proeminente. Negou obsessões, compulsões, acúmulo, tiques e preocupações com defeitos
do corpo ou em relação a ter uma doença.
Características diagnósticas
A característica essencial da tricotilomania é arrancar o próprio cabelo de forma
recorrente. Esse comportamento pode ocorrer em qualquer região do corpo em que
crescem pelos; os locais mais comuns são o couro cabeludo, as sobrancelhas e os cílios,
enquanto os menos comuns são as regiões axilar, facial, púbica e perirretal. Os locais de
onde o cabelo é arrancado podem variar com o tempo. O ato de arrancar o cabelo pode
ocorrer em breves períodos distribuídos durante o dia ou durante períodos menos
frequentes, porém mais intensos, que podem continuar por horas, e esse ato pode durar por
meses ou anos. Normalmente, o ato de arrancar cabelo leva à perda de cabelo, embora os
indivíduos com esse transtorno possam fazê-lo em um padrão bem distribuído (i.e., puxar os
fios individuais dispersos), de forma que a perda de cabelo pode não ser claramente visível,
ou então podem tentar esconder ou camuflar tal perda (p. ex., usando maquiagem, lenços ou
perucas). Os indivíduos com tricotilomania já fizeram repetidas tentativas de reduzir ou
parar o ato de arrancar o cabelo. Esse transtorno deve causar sofrimento clinicamente
significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas
importantes da vida do indivíduo. O termo sofrimento inclui afetos negativos que podem ser
experimentados pelos indivíduos que arrancam o cabelo, tais como sensação de perda de
controle, constrangimento e vergonha.
Existem evidências de vulnerabilidade genética para a tricotilomania. O transtorno
é mais comum em indivíduos com TOC e em seus parentes de primeiro grau do que na
população em geral.
41
TEXTO 6
TRANSTORNOS RELACIONADOS A TRAUMA E A ESTRESSORES
A. Exposição ou ameaça de morte, ferimento grave, violação sexual de uma das seguintes
formas:
1. Exposição direta ao evento traumático
2. Testemunhou o evento
3. Soube do evento através de um familiar ou amigo próximo (evento violento ou acidental)
4. Foi extremamente exposto a muitos detalhes do evento (ex. Bombeiros, policial) Não
inclui eventos exposto somente através de mídia eletrônica e TV.
B. Pelo menos 1 sintoma intrusivo (1/3) (Memória intrusiva e recorrente do trauma, sonhos
recorrentes, reações dissociativas tipo flashback)
C. Pelo menos 1 sintoma de evitação (1/2) (evitação de lembranças, evitação de indícios
externos que lembrem o trauma)
D. Duas ou mais alterações de humor e cognições (2/7) (incapacidade de recordar aspectos
do trauma, crenças persistentes e exageradas quanto a si mesmo, os outros ou o mundo,
Cognições distorcidas quanto às causas ou às consequências do trauma, estado emocional
negativo persistente, redução de interesse e participação em atividades relevantes,
sensação de distanciamento e afastamento de outras pessoas, incapacidade persistente de
sentir emoções positivas).
E. Dois ou mais sintomas de excitabilidade aumentada (2/5) (irritabilidade ou surtos de
raiva, comportamento autodestrutivo, hipervigilância, resposta de sobressalto exagerada,
dificuldade de concentração, dificuldade em conciliar ou manter o sono)
F. Duração superior a um mês.
G. Sofrimento significativo ou prejuízo funcional H. Não é secundário a efeito de
substância ou condição médica.
Especificar, se:
Com expressão tardia: Se todos os critérios diagnósticos não forem atendidos até pelo
menos seis meses depois do evento (embora a manifestação inicial e a expressão de alguns
sintomas possam ser imediatas).
42
experimentaram pesadelos e medo de separação. Além disso, Marcia, que foi enfaixada,
tomou anestesia e levou pontos, ficou atemorizada com quaisquer procedimentos médicos, e
até mesmo com os acontecimentos rotineiros do dia-a-dia, como cortar unhas ou tomar
banhos.
CAUSAS DO TEPT
O TEPT é o único transtorno de cuja etiologia tem-se certeza: uma pessoa
experimenta pessoalmente um trauma e desenvolve um transtorno. Entretanto, se alguém
desenvolve TEPT ou não, é uma questão complexa que envolve fatores biológicos,
psicológicos e sociais. David Foy e colaboradores concluíram que a intensidade de exposição
ao combate contribuiu para a etiologia do TEPT em um grupo de veteranos da guerra do
Vietnã, mas não contribuiu para toda ela.
Em relação a outros transtornos, carregamos nossas próprias vulnerabilidades
biológicas e psicológicas. Quanto maior a vulnerabilidade, mais propensos somos de
desenvolver TEPT. Se determinadas características acontecem na família, há uma chance
muito maior de desenvolver o transtorno.
Breslau, Davis e Andeski (1995) expuseram por meio de uma amostra aleatória
1.200 indivíduos, que características como tendência a ser ansioso e fatores como baixo
nível educacional e pertencer a determinado grupo étnico predispõem a exposição a
acontecimentos traumáticos em primeiro lugar e, por conseguinte, a um risco aumentado de
TEPT, ou seja, a personalidade e outras características, algumas delas pelo menos
parcialmente hereditárias, podem predispor uma pessoa a experimentar traumas, de modo
que ela esteja em situações (de risco) em que o trauma é provável de acontecer.
A instabilidade familiar é um fator que pode induzir a sensação de que o mundo é
um lugar perigoso e incontrolável, de maneira que não é surpreendente que os indivíduos de
famílias instáveis corram risco de desenvolver TEPT caso experimentem um trauma.
Por fim, os fatores sociais e culturais desempenham papel importante no
desenvolvimento do TEPT. Os resultados de alguns estudos são muito consistentes ao
mostrar que, se você contar com um grupo forte e apoiador é menos provável que
desenvolva TEPT após um trauma.
Por que isso? Porque somos animais sociais e ter um grupo de pessoas amorosas em
torno de nós afeta diretamente nossas respostas biológicas e psicológicas ao estresse.
TEXTO 7
TRANSTORNOS DISSOCIATIVOS
Características diagnósticas
A característica definidora do transtorno dissociativo de identidade é a presença
de dois ou mais estados de personalidade distintos ou uma experiência de possessão.
Entretanto, a manifestação ou dissimulação desses estados de personalidade variam em
função da motivação psicológica, do nível de estresse, de conflitos e dinâmicas internas e
da resiliência emocional. Períodos longos de perturbação da identidade podem ocorrer
quando pressões psicossociais são graves e/ou prolongadas. Em muitos casos de transtorno
dissociativo de identidade na forma de possessão, e em uma pequena proporção de formas
que não envolvem possessão, as manifestações de identidade alternativas são bastante
claras. A maioria dos indivíduos com transtorno dissociativo de identidade que não envolve
possessão não exibe abertamente a descontinuidade da identidade por períodos
prolongados; apenas uma minoria se apresenta ao atendimento clínico com alternância
observável de identidade.
Quando estados de personalidade alternados não são observados diretamente, o
transtorno pode ser identificado por dois conjuntos de sintomas:
1) alterações ou descontinuidade repentinas no senso de si mesmo e de domínio das
próprias ações;
2) amnésias dissociativas recorrentes.
2. AMNÉSIA DISSOCIATIVA.
Caso Irene: triste e sozinha
Irene Upton, uma professora de educação especial de 29 anos, buscou uma consulta
psiquiátrica com a queixa: “Estou cansada de sempre estar triste e sozinha”. A paciente
relatou depressão crônica e grave que não respondeu a várias tentativas com
antidepressivos e acréscimo de estabilizadores do humor. A Sra. Upton relatou que os
terapeutas anteriores se concentraram na probabilidade de trauma, mas ela descartou a
possibilidade de ter sofrido abuso; fora sua irmã mais nova quem havia relatado “toques
sexuais estranhos” por parte do pai quando a Sra. Upton tinha 13 anos. Nunca houve uma
investigação criminal, mas o pai pediu desculpas à paciente e à sua irmã como parte de uma
intervenção da Igreja e do tratamento interno para alcoolismo e “adição por sexo”. Ela
negou qualquer tipo de ressentimento sobre esses eventos. A Sra. Upton relatou poucas
lembranças de sua vida no período de 7 a 13 anos. Ela explicava sua amnésia afirmando:
“Talvez nada importante tenha acontecido é por isso que não tenho lembranças”. A Sra.
Upton descreveu ser “retraída socialmente” até o ensino médio, quando teve ótimo
rendimento escolar e participou de várias equipes e clubes. Saiu-se bem na faculdade.
Sobressaía-se em seu emprego e era considerada uma talentosa professora de crianças
autistas. Relatou dificuldade em ter intimidade com homens, além de sentir medo e nojo
intensos em relação a qualquer avanço sexual. Normalmente não dormia bem e sentia-se
cansada com frequência. Negou o uso de álcool e drogas. Durante o exame do estado
46
Características diagnósticas
A característica definidora da amnésia dissociativa é uma incapacidade de
recordar informações autobiográficas importantes que: 1) deveriam estar bem guardadas
na memória e 2) comumente seriam prontamente lembradas. A amnésia dissociativa difere
das amnésias permanentes devidas a dano neurológico ou toxicidade que impedem a
retenção ou a recordação de memórias no sentido de que é sempre potencialmente
reversível, pois a lembrança foi armazenada com sucesso.
psiquiátrica. Esse tipo de amnésia pode ser mais comum entre veteranos de guerra, vítimas
de ataque sexual e indivíduos que sofrem estresse ou conflito emocional extremo.
TEXTO 8
TRANSTORNO DE SINTOMAS SOMÁTICOS
E TRANSTORNOS RELACIONADOS
Características diagnósticas
Indivíduos com transtorno de sintomas somáticos geralmente apresentam sintomas
somáticos múltiplos e atuais que provocam sofrimento ou resultam em perturbação
significativa da vida diária, embora às vezes apenas um sintoma grave, mais comumente dor,
esteja presente. Os sintomas podem ser específicos (p. ex., dor localizada) ou
relativamente inespecíficos (p. ex., fadiga). Por vezes representam sensações ou
desconfortos corporais normais que geralmente não significam doença grave. Sintomas
somáticos sem uma explicação médica evidente não são suficientes para fazer esse
diagnóstico. O sofrimento do indivíduo é autêntico, seja ou não explicado em termos
médicos. Os sintomas podem ou não estar associados à outra condição médica. Os
diagnósticos de transtorno de sintomas somáticos e uma doença médica concomitante não
são mutuamente excludentes e com frequência ocorrem em conjunto. Por exemplo, um
indivíduo pode tornar-se gravemente incapacitado por sintomas do transtorno de sintomas
somáticos depois de um infarto do miocárdio sem complicações mesmo se o infarto em si
não resultar em nenhuma incapacidade. Se outra condição médica ou o alto risco de
desenvolver uma estiver presente (p. ex., forte história familiar), os pensamentos,
sentimentos e comportamentos associados a essa condição são excessivos. Indivíduos com
transtorno de sintomas somáticos tendem a manifestar níveis muito elevados de
preocupação a respeito de doenças. Eles avaliam seus sintomas corporais como
indevidamente ameaçadores, nocivos ou problemáticos e com frequência pensam o pior a
respeito da própria saúde. Os indivíduos geralmente sentem angústia, a qual é, sobretudo,
focada em sintomas somáticos e em seu significado. Há, com frequência, alto índice de
utilização de serviços médicos, o que raramente alivia as preocupações do indivíduo.
49
compatível com o relato do psiquiatra. O exame físico não revelou nada extraordinário.
Testes para doença de Lyme foram adiados devido ao resultado negativo de testes
anteriores. Uma triagem laboratorial padrão resultou normal, com exceção de um valor
ligeiramente baixo de hemoglobina. Ao saber do baixo teor de hemoglobina, o Sr. Castro
ficou assustado, insistiu que o caso fosse investigado mais aprofundadamente.
O Sr. Castro insiste ter uma doença incapacitante apesar de explicações mais
plausíveis. Sua insistência se mantém firme, apesar dos testes negativos, e contribui para
ansiedades crônicas com respeito à saúde e funcionamento ruim. Os sistemas anteriores de
categorização, incluindo o DSM-IV-TR considerariam o Sr. Castro “hipocondríaco”, mas o
DSM-5 assume uma abordagem diferente. Devido ao fato de que o diagnóstico de
hipocondria era considerado em parte pejorativo e evitava um relacionamento eficaz entre
médico e paciente, além de incentivar um esforço extremamente minucioso de “provar
resultados negativos”, pacientes que anteriormente seriam diagnosticados com hipocondria
agora são diagnosticados com um entre dois diagnósticos do DSM-5: transtorno de
sintomas somáticos (TSS) ou transtorno de ansiedade de doença (TAD). Os sintomas do Sr.
Castro se encaixam melhor no TAD. Embora ele apresente sintomas eventuais, normalmente
se sente saudável; o problema principal é que ele acredita ter uma doença subjacente e
organizou sua vida para evitar um suposto agravamento. O comportamento em relação ao
resultado provavelmente irrelevante do teste de hemoglobina demonstra sua
hipersensibilidade referente a qualquer indicação de agravamento da saúde.
Determinar o subtipo:
Tipo busca de cuidado: O cuidado médico, incluindo consultas ao médico ou realização de
exames e procedimentos, é utilizado com frequência.
Tipo evitação de cuidado: O cuidado médico raramente é utilizado.
A Sra. Davis apresenta um quadro crônico de episódios convulsivos que não estão
associados a achados epileptiformes no EEG. Embora não seja necessariamente incomum
que um paciente com convulsões não epilépticas (CNE) também seja diagnosticado com
ataques epilépticos, a grande maioria dos pacientes nos quais se identificou CNE não tem
necessidade de tratamento contínuo com medicamentos anticonvulsivantes.
Embora os pacientes possam ficar com raiva ao saber do diagnóstico de transtorno
conversivo, o foco da abordagem devem ser as boas notícias: que eles não serão expostos a
medicamentos ou exames desnecessários e que o tratamento – na forma de psicoterapia –
está disponível.
52
TEXTO 9
TRANSTORNOS ALIMENTARES
1. ANOREXIA NERVOSA
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS
Determinar o subtipo:
Tipo restritivo: Durante os últimos três meses, o indivíduo não se envolveu em episódios
recorrentes de compulsão alimentar ou comportamento purgativo (i.e., vômitos
autoinduzidos ou o uso indevido de laxantes, diuréticos ou enemas). Esse subtipo descreve
apresentações nas quais a perda de peso seja conseguida essencialmente por meio de dieta,
jejum e/ou exercício excessivo.
Tipo compulsão alimentar purgativa: Nos últimos três meses, o indivíduo se envolveu em
episódios recorrentes de compulsão alimentar purgativa (i.e., vômitos autoinduzidos ou o
uso indevido de laxantes, diuréticos ou enemas).
Especificar se:
Em remissão parcial: Depois de terem sido preenchidos previamente todos os critérios
para anorexia nervosa, o Critério A (baixo peso corporal) não foi mais satisfeito por um
período sustentado, porém o Critério B (medo intenso de ganhar peso ou de engordar ou
comportamento que interfere no ganho de peso), ou o Critério C (perturbações na
autopercepção do peso e da forma) ainda está presente.
Em remissão completa: Depois de terem sido satisfeitos previamente todos os critérios
para anorexia nervosa, nenhum dos critérios foi mais satisfeito por período sustentado.
COMPREENSÃO PSICODINÂMICA
Ao longo das últimas décadas, as contribuições inspiradoras de Hilde Bruch (1973,
1978, 1982, 1987) serviram como farol em meio à escuridão para os clínicos que tratam de
pacientes anoréxicos. Ela observou que a preocupação com a comida e o peso é uma
ocorrência relativamente tardia e emblemática de uma perturbação mais fundamental
relativa ao autoconceito. A maioria das pacientes com anorexia nervosa tem uma forte
convicção de que são totalmente impotentes e ineficazes. A doença muitas vezes ocorre em
“boas meninas” que passaram a vida tentando agradar aos pais, tornando-se repentinamente
teimosas e negativistas na adolescência. O corpo é muitas vezes percebido como separado
do self, como se ele pertencesse aos pais. A postura pré-mórbida representada por ser uma
menina perfeita é, normalmente, uma defesa relativa a um profundo sentimento subjacente
de desvalia.
Bruch traçou as origens do desenvolvimento da anorexia nervosa até as relações
conturbadas entre a criança e a mãe. Mais especificamente, a mãe parece cuidar da criança
de acordo com as próprias necessidades, em vez das necessidades da criança. Quando suas
iniciativas não recebem respostas de confirmação ou de validação, a criança não consegue
desenvolver um senso de self saudável. Em vez disso, a criança simplesmente percebe a si
mesma com uma extensão de sua mãe, não como um centro de autonomia em si mesma.
Bruch compreendeu o comportamento da paciente anoréxica como um esforço frenético
para ganhar admiração e validação como uma pessoa especial e única com atributos
extraordinários.
Minuchin (Minuchin et al., 1978) e colaboradores descreveram um padrão de
enredamento nas famílias de pacientes anoréxicas, no qual há uma ausência geral de
fronteiras geracionais e pessoais. Cada membro da família está extremamente envolvido na
54
vida de todos os outros membros até o ponto em que ninguém sente ter um senso de
identidade separada distinta da matriz familiar.
2. BULIMIA NERVOSA
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS
A. Episódios recorrentes de compulsão alimentar. Um episódio de compulsão alimentar é
caracterizado pelos seguintes aspectos:
1. Ingestão, em um período de tempo determinado (p. ex., dentro de cada período de duas
horas), de uma quantidade de alimento definitivamente maior do que a maioria dos
indivíduos consumiria no mesmo período sob circunstâncias semelhantes.
2. Sensação de falta de controle sobre a ingestão durante o episódio (p. ex., sentimento de
não conseguir parar de comer ou controlar o que e o quanto se está ingerindo).
B. Comportamentos compensatórios inapropriados recorrentes a fim de impedir o ganho de
peso como vômitos autoinduzidos; uso de laxantes, diuréticos ou outros medicamentos;
jejum; ou exercício em excesso.
C. A compulsão alimentar e os comportamentos compensatórios inapropriados ocorrem, em
média, no mínimo uma vez por semana durante três meses.
D. A autoavaliação indevidamente influenciada pela forma e pelo peso corporais.
E. A perturbação não ocorre exclusivamente durante episódios de anorexia nervosa.
Especificar se:
Em remissão parcial: Depois de todos os critérios para bulimia nervosa erem sido
previamente preenchidos, alguns, mas não todos os critérios, foram preenchidos por um
período de tempo sustentado.
Em remissão completa: Depois de todos os critérios para bulimia nervosa terem sido
previamente preenchidos, nenhum dos critérios foi preenchido por um período de tempo
sustentado.
TENDÊNCIAS HISTÓRICAS. Uma vez que a anorexia e a bulimia atraíram tanta atenção
ultimamente, pensa-se muito que estes são transtornos novos, mas este não é o caso. Casos
destes transtornos alimentares podem ser encontrados nos registros dos gregos antigos e
a história moderna de “meninas em jejum” começou com publicações em 1873. Mesmo assim,
os transtornos foram descritos como comuns. Mas foram incluídos nos diagnósticos de
56
histeria, neurastenia (“nervos fracos”) e sitofobia (“medo de comer”), de modo que não
atraíram atenção individual. Um estudo da incidência de anorexia em período de 50 anos
(1935-1984) em Rochester, Minnesota, revelou uma taxa estável para mulheres entre as
idades de 20 a 59 anos (Lucas et AL., 1991). Para mulheres entre 10 e 19 anos houve uma
leve queda na incidência na década de 50, e então um pequeno aumento em anos recentes.
Parte dos aumentos que estamos observando agora pode simplesmente ser uma maior
disposição para admitir os transtornos, pois os transtornos são agora reconhecidos.
TEXTO 10
TRANSTORNOS RELACIONADOS A SUBSTÂNCIAS
Uma substância é qualquer produto químico que, quando, fumado, injetado, bebido,
inalado, cheirado ou ingerido em forma de comprimidos, modifica uma ou várias funções no
SNC, produzindo efeitos psíquicos e comportamentais. São substâncias psicoativas: álcool,
maconha, cocaína, café, chá, diazepam, nicotina, heroína, etc. As substâncias psicoativas
produzem, de modo geral, uma sensação de prazer ou excitação, cuja correspondência
cerebral está vinculada às chamadas, áreas de recompensa do cérebro.
e delírios após tomar uma quantidade excessiva de uma droga. As psicoses induzidas por
substâncias duram dias ou, no máximo, semanas. Ocorrem geralmente após períodos de uso
intenso. Podem se manifestar como quadros paranóides, quadros maniatimorfos,
esquizofrenimorfos ou poliformos. São normalmente causados por cocaína (pó inalado ou
injetado ou crack fumado), anfetamínicos, alucinógenos e, mais raramente, maconha. Esta
reação é amiúde referida como psicose tóxica: o indivíduo experimenta uma psicose porque
um nível tóxico de uma droga é tomado. Os transtornos induzidos por substância podem ser
sérios, mas dissipam-se quando o efeito passa. São quadros de curta duração (horas ou, no
máximo, dias), que remitem à medida que a substância desaparece do sistema nervoso.
Esses quadros geralmente incluem rebaixamento do nível de consciência, confusão mental,
ilusões e alucinações visuais (com menos frequência auditivas), medo e perplexidade. As
substâncias que com mais frequência produzem esses quadros tóxicos são os alucinógenos
(LSD) e as anfetaminas.
ÁLCOOL
Os clínicos classificam o álcool como um depressor do sistema nervoso. Seus
efeitos variam pela quantidade que o bebedor ingere. Em pequenas quantidades tem efeitos
sedativos, levando os usuários a se sentirem relaxados. Á medida que ingerem mais álcool,
as pessoas podem começar a se sentir mais extrovertidas, autoconfiantes e desinibidas.
Quando bebem além desse ponto, os efeitos depressores se tornam evidentes, levando-as a
vivenciar sonolências, falta de coordenação física, disforia e irritabilidade. Continuar a
beber a partir daí, o que configuraria consumo excessivo, pode ser fatal na medida em que
as funções vitais do indivíduo se apagam completamente. Efeitos mais graves também
ocorrem quando há mistura de álcool com outras drogas, uma situação referida como
potencialização, significando que os efeitos das duas drogas tomadas juntas são maiores do
que o efeito de cada substância sozinha. Combinar álcool com outro depressor, por
exemplo, pode ser um desfecho fatal dessa potencialização.
O álcool afeta quase todos os sistemas orgânicos do corpo, direta ou indiretamente.
Seu uso em longo prazo pode levar a dano cerebral permanente, com sintomas de demência,
blecautes, convulsões, alucinações e dano às partes periféricas do sistema nervoso. Duas
formas de demência estão associadas com o uso pesado de álcool em longo prazo:
encefalopatia de Wernicke e síndrome de Korsakoff.
A encefalopatia de Wernicke é uma condição aguda e potencialmente reversível
envolvendo delirium, distúrbios dos movimentos oculares, dificuldade no movimento e no
equilíbrio e deterioração dos nervos periféricos para as mãos e os pés. Não é o álcool, mas
uma deficiência de tiamina (vitamina B1), que causa essa doença. O uso pesado de álcool em
longo prazo tem efeitos nocivos sobre a capacidade do corpo de metabolizar nutrientes, e
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ESTIMULANTES
A categoria de drogas chamadas de estimulantes inclui substâncias que têm um
efeito ativador sobre o sistema nervoso. Estas diferem em sua estrutura química, em seus
efeitos físicos e psicológicos específicos e em seu perigo potencial ao usuário. Os
estimulantes estão associados com transtornos que envolvem uso, intoxicação e abstinência.
1. ANFETAMINAS
A anfetamina é um estimulante que afeta tanto o sistema nervoso central quanto o
sistema nervoso autônomo. Além de despertar ou acelerar o sistema nervoso central,
também causa hipertensão arterial, frequência cardíaca elevada, apetite diminuído e
atividade física aumentada. Ela pode ser usada para propósitos médicos, como no
tratamento do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH), ou como pílula
para emagrecer. Mesmo quando usada para fins médicos, entretanto, essas drogas podem
causar dependência e ter efeitos colaterais desagradáveis ou perigosos. Conforme as doses
aumentam, os usuários podem se tornar hostis, violentos e paranoides. Também podem
vivenciar uma variedade de efeitos fisiológicos, incluindo febre, sudorese, cefaleia, visão
borrada, tontura, dor no peito, náusea, vômitos e diarreia.
A metanfetamina é uma droga estimulante viciante que está relacionada à
anfetamina, mas provoca efeitos mais intensos no sistema central. Seja tomada por via
oral, inalada, injetada ou fumada, a metanfetamina causa um “barato” ou uma sensação de
euforia e se torna viciante com muita rapidez. A superdosagem dessa substância pode
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2. COCAÍNA
A cocaína é um estimulante do sistema nervoso central altamente viciante que pode
ser cheirada, injetada ou fumada. Os usuários podem cheirar o sal cloridrato de cocaína em
pó ou dissolvê-lo em água e então injetá-la. Crack é o nome popular dado à forma de cocaína
que é processada para formar um cristal solidificado que, quando aquecido, produz vapores
que o indivíduo fuma. Os efeitos da cocaína incluem sensações de euforia, alerta, fadiga
reduzida e energia aumentada. Quanto mais rápido a corrente sanguínea absorve a droga e
a distribui para o cérebro, mais intenso é o barato do usuário. Visto que essa sensação é
relativamente curta (5 a 10 minutos), o usuário pode administrar a droga novamente em um
padrão compulsivo.
Como as anfetaminas, a cocaína aumenta a temperatura corporal, a pressão arterial
e a frequência cardíaca. Seus riscos incluem ataque cardíaco, insuficiência respiratória,
acidente vascular cerebral, convulsões, dor abdominal e náusea. Em casos raros, o usuário
pode sofrer morte súbita no primeiro uso de cocaína ou inesperadamente mais tarde.
Outros efeitos adversos sobre o corpo desenvolvem-se ao longo do tempo e incluem
alterações dentro do nariz (perda do sentido do olfato, corrimento nasal crônico e
sangramentos nasais), bem como problemas de deglutição e rouquidão. Os usuários também
podem sofrer gangrena intestinal grave devida a uma redução do fluxo sanguíneo para o
sistema digestivo. Também podem ter reações alérgicas graves e risco aumentado de
desenvolver HIV/AIDS e outras doenças transmitidas pelo sangue. Quando usam cocaína
de forma compulsiva, as pessoas podem desenvolver inquietações, irritabilidade e ansiedade
crônicas. Os usuários crônicos podem vivenciar paranoia grave na qual têm alucinações
auditivas e perdem o contato com a realidade.
3. CANNABIS
A cannabis está associada com transtornos que envolvem uso, intoxicação e
abstinência. A maconha é uma mistura de flores, hastes e folhas da planta do cânhamo
Cannabis sativa, uma planta verde, alta e frondosa que cresce em climas quentes. Embora a
planta contenha mais de 400 constituintes químicos, o ingrediente ativo principal na
maconha é o delta-9-tetraidrocanabinol (THC). O haxixe, que contém uma forma de THC
mais concentrada, deriva das resinas das flores da planta. A maconha e o haxixe que
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chegam às ruas nunca são THC puro; outras substâncias, como tabaco, são sempre
misturadas a eles. Formas sintéticas de THC são usadas para fins médicos, tais como
tratamento de asma e glaucoma redução da náusea em pacientes com câncer submetidos à
quimioterapia.
ALUCINÓGENOS
Incluídos nos transtornos por uso de alucinógenos estão sob uso e intoxicação, mas
não abstinência. Os alucinógenos são drogas que fazem a pessoa vivenciar distorções
profundas em sua percepção da realidade. Sob a influência dessas substâncias, os usuários
veem imagens, ouvem sons e têm sensações que acreditam ser reais, embora não sejam. Em
alguns casos, eles vivenciam mudanças de humor rápidas e intensas. Algumas pessoas que
usam alucinógenos desenvolvem uma condição chamada de transtorno da percepção
persistente por alucinógeno, na qual vivenciam flashbacks ou alucinações, delírios ou
alterações do humor espontâneos semelhantes às mudanças que ocorrem enquanto estão
intoxicados com a droga. Os efeitos e os riscos específicos de cada alucinógeno variam
entre as quatro principais categorias de alucinógenos.
OPIÁCEOS
Os transtornos relacionados à Opiáceos incluem uso, intoxicação e abstinência. Um
opiáceo é uma substância que alivia a dor. Muitos medicamentos prescritos legalmente
estão nessa categoria, incluindo hidrocodona, oxicodona, morfina, codeína e drogas
relacionadas. Os médicos prescrevem produtos de hidrocodona mais geral para uma
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variedade de condições dolorosas, como dor de dente e relacionada a ferimentos. Eles com
frequência usam morfina antes e após procedimentos cirúrgicos para aliviar a dor grave.
Prescrevem codeína, no entanto, para dor leve. Além de esses medicamentos serem
indicados por suas propriedades de alívio da dor, alguns deles – codeína e difenoxilato, por
exemplo – são prescritos para aliviar tosses e diarreia grave.
Quando receitados por profissionais, esses medicamentos são muito eficazes para
tratar a dor com segurança. Entretanto, devido a seu potencial para produzir euforia e
dependência física, estão entre os medicamentos prescritos mais frequentemente
abusados. Por exemplo, pessoas que abusam de oxicodona podem cheirá-la ou injetá-la, e,
como resultado, sofrer uma séria reação de superdosagem.
CAFEÍNA
Os transtornos inclusos na categoria relacionada à cafeína são intoxicação e
abstinência, mas não transtorno por uso de cafeína. A cafeína é um estimulante encontrado
no café, no chá, no chocolate, em bebidas energéticas, em pílulas de dieta e em
medicamentos para dor de cabeça. Ao ativar o sistema nervoso simpático pelo aumento da
produção de adrenalina, a cafeína incrementa o nível de energia e alerta percebido pelo
indivíduo. Também aumenta a pressão arterial e pode levar à elevação na produção de
cortisol do corpo, o hormônio do estresse. As bebidas energéticas como o Red Bull, estão
se tornando um problema crescente devido aos altos níveis de cafeína que podem conter. O
Red Bull contém 80mg de cafeína, em comparação, uma lata de Coca Cola contém 34,5 mg
de cafeína. Embora essa substância seja um aspecto tão comum da vida diária que as
pessoas tendem a não tomar conhecimento de seus perigos, a cafeína das bebidas
energéticas e de outras fontes pode levar a muitas reações adversas e se tornar uma porta
de entrada para outras formas de dependência de substâncias.
Já sendo um diagnóstico na CID-10, o DSM-5 foi o primeiro manual de psiquiatria a
incluir abstinência de cafeína como um diagnóstico. Seus sintomas incluem cefaleia, cansaço
e fadiga, insônia e sonolência, humor disfórico, dificuldade de concentração, depressão,
irritabilidade, náusea, vômitos, dores musculares e rigidez. Estima-se que a abstinência de
cafeína cause sofrimento e prejuízo significativos no funcionamento diário em 13% das
pessoas, de acordo com estudos experimentais.
INALANTES
Os inalantes são um grupo variado de substâncias que causam efeitos psicoativos
pela produção de vapores químicos. Esses produtos não são em si prejudiciais; na verdade,
são encontrados comumente em casa e no trabalho. Há quatro categorias de inalantes:
solventes voláteis (diluentes ou removedores de tintas, líquidos de limpeza a seco, gasolina,
cola e fluido de isqueiro), aerossóis (sprays que contêm propulsores e solventes), gases
(isqueiros de butano e botijões de propano, éter e óxido nitroso) e nitritos (uma categoria
especial de produtos usados como potenciadores sexuais). Os adolescentes mais jovens (de
12 a 15 anos) tendem a inalar cola, graxas de sapato, tintas gasolina e fluido do isqueiro,
enquanto os mais velhos (de 16 a 17 anos) inalam óxido nitroso e os adultos (18 anos ou
mais) são mais propensos a inalar nitritos. Na categoria dos transtornos por inalantes, os
indivíduos podem ser diagnosticados por uso ou intoxicação, mas não por abstinência.
Os efeitos de um inalante tendem a ser de curta duração: por isso, os usuários
costumam estender seu barato inalando repetidamente durante um período de várias horas.
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Essas drogas têm efeitos semelhantes ao álcool, incluindo fala arrastada, perda de
coordenação, euforia, tontura e, com o tempo, perda de inibição e controle. Os usuários
podem vivenciar sonolência e cefaleias, mas, dependendo da substância, também podem se
sentir confusos e nauseados.
Os vapores deslocam o ar nos pulmões, causando hipóxia (privação do oxigênio), que
é particularmente letal para os neurônios no sistema nervoso central. O uso de longo prazo
também pode causar a deterioração da bainha de mielina em torno d axônio, levando a
tremores, espasmos musculares e talvez dano muscular permanente. As substâncias
químicas nos inalantes também podem causar insuficiência cardíaca e morte súbita.
Apostila elaborada pela profa. Maria da Conceição A. Ferreira para fins didáticos.
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REFERENCIAS
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HOLMES, David S. Psicologia dos Transtornos Mentais. 2ª. Ed. Porto Alegre, Artmed, 1992.
BARLOW, David H. e DURAND, V. Mark. Psicopatologia: uma abordagem integrada. Revisão Técnica: Francisco B.
Assumpção Jr. São Paulo: Cengage Learning, 2011.
FRANCES, A. Fundamentos do diagnóstico psiquiátrico. Porto Alegre: Artmed, 2015.
WHITBOURNE, Susan K. Psicopatologia: perspectivas clínicas dos transtornos psicológicos. 7ª. Ed. Revisão Técnica
Francisco B. Assumpção Jr., Evelyn Kuczynski. Porto Alegre: AMGH Editora, 2015.
NOTO, Cristiano S. e BRESSAN, Rodrigo A. (Organizadores) “Esquizofrenia: Avanços no tratamento multidisciplinar”. Porto
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TUNG, Teng Chei “Enigma Bipolar: Consequências, diagnóstico e tratamento do transtorno bipolar”. São Paulo, MG Ed.,
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