Depressão: o Mal Do Seculo?: Daniele Evelin Viana Pinheiro Jéssica Samantha Lira Da Costa
Depressão: o Mal Do Seculo?: Daniele Evelin Viana Pinheiro Jéssica Samantha Lira Da Costa
Depressão: o Mal Do Seculo?: Daniele Evelin Viana Pinheiro Jéssica Samantha Lira Da Costa
10.37885/200800817
RESUMO
Neste artigo, tem-se como objetivo refletir acerca da atualmente conhecida depressão.
Para tanto, discorre-se sobre como se deu o processo histórico desta psicopatologia,
abordando a questão histórica da depressão e perpassando pela melancolia, com o in-
tuito de diferenciá-las e mostrar como uma deu espaço à outra. Depressão é um termo
tão usado, contudo, é tão pouco conhecido. Trata-se de um sofrimento psíquico que
se tornou sinônimo de tristeza, este último um sentimento inerente a todos os seres
humanos. Por que atualmente as pessoas têm a necessidade de ter um diagnóstico e
de se rotular? Quais os motivos de não se falar mais em melancolia e sim em depres-
são? Este trabalho visa responder a esses questionamentos. A partir do aporte teórico
usado, a distinção entre melancolia e depressão diz respeito a retirar a questão da alma
e atribuir ao mental, visto que a psiquiatria percebeu esta questão como algo passível
de controle, logo, medicado, levando a população em geral a consumir medicamentos,
com a promessa de felicidade, pois ao tomá-los, o sofrimento desaparecerá. Portanto,
questiona-se a medicalização e patologização da subjetividade.
No livro “Depressão: da bile negra aos neurotransmissores”, Taki Cordas traça o his-
tórico do que hoje conhecemos por depressão. Mostra como se deu os primeiros conheci-
mentos deste sofrimento psíquico e como tal conhecimento fora se abrangendo e criando
novas facetas para explicá-lo. Depressão é um termo tão usado atualmente, contudo, tão
pouco conhecido. Trata-se de um sofrimento psíquico, que se tornou sinônimo de tristeza,
este último um sentimento inerente a todos os seres humanos.
Os Estados Unidos gastam, anualmente, mais de 76 bilhões em drogas psiquiátricas,
a fim de suprir o sofrimento de toda uma população. Berlinck e Fédida (2000) nos mostram
que seria insuficiente afirmar que a dissolução da depressão se deve apenas à proliferação
de antidepressivos. A crescente produção destas drogas responde a uma grande demanda
que vem acentuando, de maneira notável, a partir dos anos 70.
A depressão é hoje uma doença que assola, de forma particularmente evidente, os
países ocidentais mais ricos, atingindo não só os sistemas de saúde como a produtividade
do trabalho. Por isso, se constitui como um tema extremamente rico e instigante.
“Depressão – mal do século!” tal afirmativa parece ser mais uma daquelas frases de
efeito. Pode até ser, mas está sendo usada por muitos teóricos, em diversas áreas. Isso de-
monstra a incessante proporção que a ciência médica está tomando, visto que está ocorrendo
uma patologização do ser humano, do seu funcionamento, de seus sentimentos. Um sujeito
não pode mais sentir-se triste, que logo está ou é depressivo.
Discorre-se sobre a temática em questão, inicialmente apresentando um breve percurso
histórico, em seguida, examina-se a depressão enquanto mal do século. Por fim, trata-se
das diferenças entre depressão e melancolia. Com isto, tem-se o intuito, neste trabalho,
de questionar a patologização da vida, da subjetividade, do sofrimento, que transforma em
doença a dor de existir.
Segundo Berlinck e Fédida (2000), a melancolia tem seus estudos inaugurados por
Aristóteles, sendo este discípulo de Platão, contudo refutou as ideais de Platão e seguiu as
ideias de Hipócrates, que é conhecido como o pai da medicina, pela sua observação clínica
e delimitações das perturbações que afligiam os sujeitos.
Hipócrates conceituou as perturbações psiquiátricas em três categorias – mania, freni-
te e melancolia, fazendo descrições clínicas minuciosas e registros clínicos extremamente
completos. Para a melancolia, Hipócrates receitava uma vida regular e tranquila, sobriedade
e abstinência de todos os excessos, dieta de vegetais, continência, exercícios pouco can-
sativos e, se necessário, a sangria (COLEMAN, 1993).
Hoje, defrontamo-nos com dois grandes caminhos para abordar esse tema:
a Psicanálise e a psiquiatria biológica. A primeira falando de um desamparo
fundamental, uma complexa e problemática relação com a perda, a falta, o
vazio estrutural do ser humano; a segunda oferecendo uma explicação por uma
insuficiência biológica, um déficit neuro-hormonal, e encontrando no isolamento
de uma molécula a promessa de cura. (PERES, 2003. p.10)
Segundo Berlinck e Fédida (2000), delimitar depressão como luto talvez seja o cami-
nho mais fácil e preciso para se analisar a melancolia como uma afecção psíquica específi-
ca. Os autores ainda mostram que, em relação ao tratamento da depressão, os antidepressi-
vos podem até ser eficientes, contudo, não existem antimelancólicos. Com isso, os pacientes
saem da depressão, mas permanecem com sintomas melancólicos. O que melhor configura
a melancolia é o debate mortífero entre o EU e o SUPER-EU, implicando o sujeito na culpa,
logo, a melancolia é composta de conflito, e a depressão é um estado muito primitivo.
Ao olhar psicopatológico de base psicanalítica, tal diferenciação entre melancolia e
depressão, como uma alteração psíquica importante, está relacionada à uma estrutura
de personalidade: neurose narcísica, cujas manifestações psicopatológicas ocorrem da
elaboração anormal dos lutos – melancolia. Já a depressão advém de maneiras menos
graves de quadros neuróticos, que se apresentam em manifestações episódicas, também
relacionadas aos quadros evolutivos do desenvolvimento humano (PERES, 2003 apud
MONTEIRO; LAGE, 2007).
Para a Psicanálise, a depressão não se configura enquanto estrutura clínica. Freud
se deteve apenas à melancolia e a tratava como uma neurose narcísica, que, Segundo
Laplanche e Pontalis (2008), é uma expressão que tende hoje a desaparecer do uso psi-
quiátrico e psicanalítico, mas que nos escritos de Freud é designada como uma doença
mental, caracterizada pela retirada da libido sobre o eu. Opõe-se, assim, às neuroses de
transferência. A depressão é caracterizada como um estado se manifestando em qualquer
estrutura clínica. Ao se caracterizar depressão, é possível ver uma lentificação, insensibili-
zação da sensorialidade, em que a depressão se manifesta por apatia, tristeza e sensações
de impotência e desesperança (BERLINCK; FÉDIDA, 2000).
Acerca de uma especificação do que se caracteriza depressão, Berlinck e Fédida
(2000) conceituam depressão como um estado de vazio, de ausência, correspondendo a
um tempo parado, em que se expõe o lugar e o espaço, o fundo em relação ao qual ecoa
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com isso, almeja-se pensar criticamente acerca deste fato, principalmente os profis-
sionais da área psi, que precisam a todo custo estar atento para o objeto mais precioso de
estudo, o psíquico. Ter a noção de que sem ele, ou na anulação dele, haveria apenas a
repetição do que já é demarcado pela prática médica, que é o maciço e crescente mal em
biologizar a alma, e alma entendida no sentido filosófico, daquilo que nos anima, que dá vida.
Não se pode dar espaço para que a psicanálise perca o sentido e, consequentemente,
perca a voz. Sendo assim, a prática deve se fundamentar na escuta ao sofrimento psíquico
do sujeito e auxiliá-lo a atribuir sentido e significado a este, para que ele assim possa ela-
borá-lo e, possivelmente, destituí-lo.
6. LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J. Vocabulário de Psicanálise. São Paulo, SP: Martins Fontes,
2008.
7. MONTEIRO, K.C.C.; LAGE, A.M.V. Depressão – uma psicopatologia classificada nos manuais
de Psiquiatria. Psicologia, ciência e profissão, v. 27, n.1, mar. 2007.
8. PERES, U.T. Depressão e melancolia. Rio de janeiro, RJ: Jorge Zahar, 2003.