VOCABULÁRIO DE PSICANÁLISE Mais

Fazer download em doc, pdf ou txt
Fazer download em doc, pdf ou txt
Você está na página 1de 31

Vocabulrio de Psicanlise

LAPLANCHE E PONTALIS ORGANIZADO PROF. ELOISE

VOCABULRIO DE PSICANLISE

AB-REAO * Termo introduzido por Sigmund Freud e Josef Breuer, em 1893, para definir um processo de descarga emocional que, liberando o afeto ligado lembrana de um trauma, anule seus efeitos patognicos. AFETO * Termo que a psicanlise foi buscar na terminologia psicolgica alem e que exprime qualquer estado afetivo, penoso ou desagradvel, vago ou qualificado, quer se apresente sob a forma de uma descarga macia, quer como tonalidade geral. Segundo Freud, toda pulso se exprime nos dois registros, do afeto e da representao. O afeto a expresso qualitativa da quantidade de energia pulsional e das suas variaes. A noo de afeto assume grande importncia logo nos primeiros trabalhos de Breuer e Freud sobre a psicoterapia da histeria e a descoberta do valor teraputico da ab-reao. A origem de um sintoma histrico procurada num acontecimento a que no correspondeu uma descarga adequada (afeto coartado). Somente quando a evocao da recordao provoca a revivescncia do afeto que estava ligado a ela na origem que a rememorao encontra a sua eficcia teraputica. Da considerao da histeria resulta portanto, para Freud, que o afeto no est necessariamente ligado representao; a sua separao (afeto sem representao, representao sem afeto) garante a cada um diferentes destinos. Freud indica possibilidades diversas de transformao do afeto: Conheo trs mecanismos: 1. o da converso dos afetos (histeria de converso); 2. O do deslocamento do afeto (obsesses); e 3. O da transformao do afeto (neurose de angstia, melancolia). AGRESSIVIDADE Tendncia ou conjunto de tendncias que se atualizam em comportamentos reais ou fantassticos que visam prejudicar o outro, destru-lo, constrang-lo, humilh-lo, etc. A agresso conhece outras modalidades alm da ao motora violenta e destruidora; no existe comportamento, quer negativo (recusa de auxlio, por exemplo) quer positivo simblico (ironia, por exemplo) ou efetivamente concretizado, que no possa funcionar como agresso. A agressividade est em operao desde cedo no desenvolvimento do sujeito e sublinha o mecanismo complexo da sua unio com a sexualidade e da sua separao dela. Freud encontra a resistncia com a sua marca agressiva: ...o sujeito, at aquele instante to bom, to leal, torna-se grosseiro, falso ou revoltado, simulador. primeira vista, foi como resistncia que a transferncia surgiu a Freud, e essa resistncia deve-se em grande medida quilo a que ele chamar transferncia negativa. A clnica impe a ideia de que as tendncias hostis so particularmente importantes em certas afeces (neurose obsessiva, paranoia). A noo de ambivalncia vem exprimir a coexistncia no mesmo plano do amor e do dio. O chiste pode pr-se a servio de duas tendncias: ou um chiste hostil (que serve agresso, stira, defesa), ou ento um chiste obsceno.

Por fim o Complexo de dipo descoberto logo no incio como conjuno de desejos amorosos e hostis. Sabe-se que, na primeira teoria das pulses, as pulses sexuais tem como opostas as pulses de autoconservao. Estas, de modo geral, tem por funo a manuteno e a afirmao da existncia individual. Nesse quadro terico, a explicao de comportamentos ou de sentimentos to manifestamente agressivos como o sadismo ou o dio, por exemplo, procurado num mecanismo complexo dos dois grandes tipos de pulses. A teoria explcita de Freud a respeito da agressividade pode resumir-se assim: Uma parte da pulso de morte posta diretamente a servio da pulso sexual, onde o seu papel importante. o sadismo propriamente dito. Outra parte no acompanha esse desvio para o exterior, mantm-se no organismo, onde est ligada libidinalmente pelo auxlio da excitao sexual de que se faz acompanhar...reconhecemos a o masoquismo originrio, ergeno. AMBIVALNCIA Presena simultnea, na relao com o mesmo objeto, de tendncias, de atitudes e de sentimentos opostos, fundamentalmente o amor e o dio. Freud emprestou o termo ambivalncia de Bleuler, que o criou. Bleuler considera a ambivalncia em trs domnios. Voluntrio: o sujeito quer ao mesmo tempo comer e no comer, por exemplo. Intelectual: o sujeito enuncia simultaneamente uma proposio e o seu contrrio. Afetivo: ama e odeia em um mesmo movimento a mesma pessoa. AMNSIA INFANTIL Amnsia que geralmente cobre os fatos dos primeiros anos da vida. Freud v nela algo diferente do efeito de uma incapacidade funcional que a criana teria de registrar as suas impresses; ela resulta do recalque que incide na sexualidade infantil e se estende quase totalidade dos acontecimentos da infncia. O campo abrangido pela amnsia infantil encontraria o seu limite temporal no declnio do complexo de dipo e entrada no perodo de latncia. APOIO Termo que designa a relao original entre as pulses sexuais e as pulses de autoconservao, s vindo aquelas a se tornar independentes depois de se haverem apoiado nestas. esse processo de apoio que se prolonga, no correr do desenvolvimento psicossexual, na fase da escolha do objeto de amor, que Freud esclarece falando de um tipo de escolha objetal por apoio. O primeiro exemplo observado o da atividade oral do lactente. No prprio curso da satisfao orgnica da necessidade nutricional, obtida mediante a suco do seio materno, o seio, objeto primrio, torna-se fonte de prazer sexual, zona ergena. Efetua-se uma dissociao da qual nasce um prazer ertico, irredutvel quele que obtido unicamente pela satisfao da necessidade. Nesse momento aparece uma necessidade de repetir a atividade de suco, apesar de a satisfao orgnica ter sido alcanada, necessidade esta que vai se tornando autonomamente pulsional. Esse processo se repete em relao a todas as funes corporais a que correspondem as pulses de autoconservao, com a constituio de zonas ergenas correspondentes, anal, genital, etc. No decorrer desse processo de

diferenciao, a pulso sexual abandona o objeto externo e passa progressivamente a funcionar de modo auto-ertico. ASSOCIAO LIVRE * Mtodo que consiste em exprimir indiscriminadamente todos os pensamentos que ocorrem ao esprito, quer a partir de um elemento dado (palavra, nmero, imagem de um sonho, qualquer representao), quer de forma espontnea. ATO-FALHO * Ato pelo qual o sujeito, a despeito de si mesmo, substitui um projeto ao qual visa deliberadamente por uma ao ou uma conduta imprevistas. Tal como em relao ao lapso, Sigmund Freud foi o primeiro, a partir da Interpretao dos Sonhos, a atribuir uma verdadeira significao ao ato falho, mostrando que preciso relacion-lo aos motivos inconscientes de quem o comete. O ato falho ou acidental torna-se equivalente a um sintoma, na medida em que um compromisso entre a inteno consciente do sujeito e seu desejo inconsciente. AUTO-EROTISMO * Termo que designa um comportamento sexual de tipo infantil, em virtude do qual o sujeito encontra prazer unicamente com seu prprio corpo, sem recorrer a qualquer objeto externo. BENEFCIO PRIMRIO E SECUNDRIO DA DOENA Benefcio da doena designa de um modo geral qualquer satisfao direta ou indireta que um sujeito tira de sua doena. O benefcio primrio est ligado ao prprio determinismo dos sintomas. O benefcio primrio consiste na reduo de tenso proporcionada pelo sintoma; este, por doloroso que seja, tem por objetivo evitar ao sujeito conflitos s vezes mais penosos: o chamado mecanismo da fuga para a doena. BISSEXUALIDADE Noo que Freud introduziu na psicanlise onde todo o ser humano teria constitucionalmente disposies sexuais simultaneamente masculinas e femininas que surgem nos conflitos que o sujeito enfrenta para assumir o seu prprio sexo. A teoria da bissexualidade fundamenta-se, em primeiro lugar, em dados da anatomia e da embriologia: Um certo grau de hermafroditismo anatmico normal. Em todo o indivduo, macho ou fmea, encontram-se vestgios do aparelho genital do sexo oposto...Desses fatos anatmicos, conhecidos j h muito tempo, decorre a noo de um organismo bissexual na sua origem, que, no decurso de sua evoluo, orienta-se para a monossexualidade conservando alguns restos do sexo atrofiado. Existiria um conflito entre as tendncias masculinas e femininas que seria recalcado em todos os indivduos. O sexo que domina na pessoa teria recalcado no inconsciente a representao psquica do sexo vencido. CANIBALESCO Termo empregado por referncia ao canibalismo praticado por certos povos para qualificar relaes de objeto e fantasias que esto em correlao com a atividade oral. O termo exprime de modo figurado as diferentes dimenses da incorporao oral: amor, destruio, conservao no

interior de si mesmo e apropriao das qualidades do objeto. Fala-se por vezes de fase canibalesca como equivalente da fase oral ou, mais especialmente, como equivalente da segunda fase oral de Abraham (fase sdico-anal). CATRTICO (MTODO)* Mtodo de psicoterapia em que o efeito teraputico visado uma purgao, uma descarga adequada dos afetos patognicos. O tratamento permite ao sujeito evocar e at reviver os acontecimentos traumticos a que esses afetos esto ligados, e ab-reaglos.Historicamente, o mtodo catrtico pertence ao perodo (1880-1895) em que a terapia psicanaltica se definia progressivamente a partir de tratamentos efetuados sob hipnose. CENA ORIGINRIA OU CENA PRIMRIA Cena de relao sexual entre os pais, observada ou suposta segundo determinados ndices e fantasiada pela criana, que geralmente interpretada por ela como um ato de violncia por parte do pai. CENSURA Funo que tende a interditar aos desejos inconscientes e s formaes que deles derivam o acesso ao sistema pr-consciente-consciente. CLIVAGEM DO EGO Expresso usada por Freud para designar o fenmeno muito particular que ele v operar sobretudo no fetichismo e nas psicoses da coexistncia, no seio do ego, de duas atitudes psquicas para com a realidade exterior quando esta contraria uma exigncia pulsional. Uma leva em conta a realidade, a outra nega a realidade em causa e coloca em seu lugar uma produo do desejo. Estas duas atitudes persistem lado a lado sem se influenciarem reciprocamente. COMPLACNCIA SOMTICA Expresso introduzida por Freud para referir a escolha da neurose histrica e a escolha do rgo ou do aparelho corporal sobre o qual se d a converso. O corpo especialmente nos histricos ou determinado rgo em particular forneceria um material privilegiado expresso simblica do conflito inconsciente. COMPLEXO Conjunto organizado de representaes e recordaes de forte valor afetivo, parcial ou totalmente inconscientes. Um complexo constitui-se a partir das relaes interpessoais da histria infantil, pode estruturar todos os nveis psicolgicos: emoes, atitudes, comportamentos adaptados. COMPLEXO DE CASTRAO Complexo centrado na fantasia de castrao, que proporciona uma resposta ao enigma que a diferena anatmica dos sexos (presena ou ausncia de pnis) coloca para a criana. Essa diferena atribuda amputao do pnis na menina. A estrutura e os efeitos do complexo de castrao so diferentes no menino e na menina. O menino teme a castrao como realizao de uma ameaa paterna em resposta s suas atividades sexuais, surgindo da uma intensa angstia de castrao. Na menina, a ausncia do pnis sentida como um dano sofrido que ela procura negar, compensar ou reparar.

O complexo de castrao est em estreita relao com o complexo de dipo e, mais especialmente, com a funo interditria e normativa. COMPLEXO DE DIPO * Conjunto organizado de desejos amorosos e hostis que a criana sente em relao aos pais. Sob a forma dita positiva, o complexo apresenta-se como na histria de dipo-Rei: desejo de morte do rival que a personagem do mesmo sexo e desejo sexual pela personagem do sexo oposto. Sob a forma negativa, apresenta-se de modo inverso: amor pelo progenitor do mesmo sexo e dio ciumento ao progenitor do sexo oposto. Na realidade, essas duas formas encontram-se em graus diversos na chamada forma completa do complexo de dipo. Segundo Freud, o apogeu do complexo de dipo vivido entre os trs e os cinco anos, durante a fase flica; o seu declnio marca a entrada no perodo de latncia. revivido na puberdade e superado com maior ou menor xito num tipo especial de escolha de objeto. O complexo de dipo desempenha papel fundamental na estrutura da personalidade e na orientao do desejo humano. Para os psicanalistas, ele o principal eixo de referncia da psicopatologia; para cada tipo patolgico eles procuram determinar as formas particulares da sua posio e da sua soluo. A antropologia psicanaltica procura encontrar a estrutura triangular do complexo de dipo, afirmando a sua universalidade nas culturas mais diversas, e no apenas naquelas em que predomina a famlia conjugal. COMPULSO REPETIO Ao nvel da psicopatologia concreta, processo incoercvel e de origem inconsciente, pelo qual o sujeito se coloca ativamente em situaes penosas, repetindo assim experincias antigas sem se recordar do prottipo e tendo, pelo contrrio, a impresso muito viva de que se trata de algo plenamente motivado na atualidade. referida fundamentalmente ao carter mais geral das pulses: o seu carter conservador. evidente que a psicanlise se viu confrontada desde a origem com fenmenos de repetio. Se focalizarmos particularmente os sintomas, por um lado alguns deles so manifestamente repetitivos (rituais obsessivos, por exemplo), e, por outro, o que define o sintoma em psicanlise precisamente o fato de reproduzir, de maneira mais ou menos disfarada, certos elementos de um conflito passado ( nesse sentido que Freud qualifica, no incio da sua obra, o sintoma histrico como smbolo mnmico). De um modo geral, o recalcado procura retornar ao presente, sob a forma de sonhos, de sintomas, de atuao...o que permaneceu incompreendido retorna; como uma alma penada, no tem repouso at que seja encontrada soluo e alvio. COMPULSO, COMPULSIVO Clinicamente falando, o tipo de conduta que o sujeito levado a realizar por uma imposio interna. Um pensamento (obsesso), uma ao, uma operao defensiva, mesmo uma sequncia complexa de comportamentos, so qualificados de compulsivos quando a sua no-realizao sentida como tendo de acarretar um aumento de angstia. CONDENSAO* Um dos modos essenciais do funcionamento dos processos inconscientes. Uma representao nica representa por si s

vrias cadeias associativas. Vemos operar a condensao no sintoma e, de um modo geral, nas diversas formaes do inconsciente. Foi no sonho que melhor se evidenciou. Traduz-se no sonho pelo fato de o relato manifesto, comparado com o contedo latente, ser lacnico: constitui uma traduo resumida. CONFLITO PSQUICO Em psicanlise fala-se de conflito quando, no sujeito, ope-se exigncias internas contrrias. O conflito pode ser manifesto (entre um desejo e uma exigncia moral, por exemplo, ou entre dois sentimentos contraditrios) ou latente, podendo este exprimir-se de forma deformada no conflito manifesto e traduzir-se, particularmente, pela formao de sintomas, desordens do comportamento, perturbaes do carter, etc. a psicanlise considera o conflito como constitutivo do ser humano, e isto em diversas perspectivas: conflito entre o desejo e a defesa, conflito entre os diferentes sistemas ou instancias, conflitos entre as pulses, e por fim o conflito edipiano, onde no apenas se defrontam desejos contrrios, mas onde estes enfrentam a interdio. CONSCINCIA PSICOLGICA No sentido descritivo: qualidade momentnea que caracteriza as percepes externas e internas no conjunto dos fenmenos psquicos. Segundo a teoria metapsicolgica de Freud, a conscincia seria funo de um sistema, o sistema percepo-conscincia (Pc-Cs). Do ponto de vista tpico, o sistema percepo-conscincia est situado na periferia do aparelho psquico, recebendo ao mesmo tempo as informaes do mundo exterior e as provenientes do interior, isto , as sensaes que se inscrevem na srie desprazer-prazer e as revivncias mnsicos. Caracteriza-se pelo fato de dispor de uma energia livremente mvel, suscetvel de sobre-investir este ou aquele elemento (mecanismo da ateno). CONTEDO LATENTE Conjunto de significaes a que chega a anlise de uma produo do inconsciente, particularmente do sonho. Uma vez decifrado, o sonho deixa de aparecer com uma narrativa em imagens para se tornar uma organizao de pensamentos, um discurso, que exprime um ou vrios desejos. CONTEDO MANIFESTO Designa o sonho antes de ser submetido investigao analtica, tal como aparece ao sonhante que o relata. Por extenso, fala-se do contedo manifesto de qualquer produo verbalizada desde a fantasia obra literria que se pretende interpretar segundo o mtodo analtico. CONTRACATEXIA (ou CONTRAINVESTIMENTO) Processo econmico postulado por Freud como suporte de numerosas atividades defensivas do ego. Consiste no investimento pelo ego de representaes, atitudes, etc., suscetveis de criarem obstculo para o acesso conscincia e motilidade das representaes e desejos inconscientes.

CONVERSO Mecanismo de formao de sintomas que opera na histeria e mais especificamente na histeria de converso. Consiste numa transposio de um conflito psquico e numa tentativa de resolv-lo em termos de sintomas somticos, motores (paralisias, por exemplo) ou sensitivos (anestesias ou dores localizadas, por exemplo). O que especifica os sintomas de converso a sua significao simblica: eles exprimem, pelo corpo, representaes recalcadas. DEFESA Sigmund Freud designa por esse termo o conjunto das manifestaes de proteo do eu contra as agresses internas (de ordem pulsional) e externas, suscetveis de constituir fontes de excitao e, por conseguinte, de serem fatores de desprazer. As diversas formas de defesa costumam ser agrupadas na expresso mecanismos de defesa. DEFORMAO Efeito global do trabalho do sonho: os pensamentos latentes so transformados em um produto manifesto dificilmente reconhecvel. DESAMPARO (ESTADO DE) Termo da linguagem comum que assume um sentido especfico na teoria freudiana. Estado do lactente que, dependendo inteiramente de outrem para a satisfao das suas necessidades (sede, fome), impotente para realizar a ao especfica adequada para por fim tenso interna. Para o adulto, o estado de desamparo o prottipo da situao traumtica geradora de angstia. DESEJO Na concepo dinmica freudiana, um dos plos do conflito defensivo. O desejo inconsciente tende a realizar-se restabelecendo, segundo as leis do processo primrio, os sinais ligados s primeiras vivncias de satisfao. A psicanlise mostrou, no modelo do sonho, como o desejo se encontra nos sintomas sob a forma de compromisso. DESINVESTIMENTO Retirada do investimento que estava ligado a uma representao, a um grupo de representaes, a um objeto, a uma instncia, etc. Substrato econmico de diversos processos psquicos, e em particular do recalque. DESLOCAMENTO * Fato de a importncia, o interesse, a intensidade de uma representao ser suscetvel de se destacar dela para passar a outras representaes originalmente pouco intensas, ligadas primeira por uma cadeia associativa. Esse fenmeno, particularmente visvel na anlise do sonho, encontra-se na formao dos sintomas psiconeurticos e, de um modo geral, em todas as formaes do inconsciente. ECONMICO * Qualifica tudo o que se refere a hiptese de que os processos psquicos consistem na circulao e repartio de uma energia quantificvel (energia pulsional), isto , suscetvel de aumento, de diminuio, de equivalncias. EGO ou EU Instncia que Freud, na sua segunda teoria do aparelho psquico, distingue do id e do superego. Do ponto de vista tpico, o ego est

numa relao de dependncia tanto para com as reivindicaes do id, como para os imperativos do superego e exigncias da realidade. Embora se situe como mediador, encarregado dos interesses da totalidade da pessoa, a sua autonomia apenas relativa. Do ponto de vista dinmico, o ego representa eminentemente, no conflito neurtico, o plo defensivo da personalidade; pe em jogo uma srie de mecanismos de defesa, estes motivados pela percepo de um afeto desagradvel (sinal de angstia). Do ponto de vista econmico, o ego surge como um fator de ligao dos processos psquicos; mas, nas operaes defensivas, as tentativas de ligao da energia pulsional so contaminadas pelas caractersticas que especificam o processo primrio. A teoria psicanaltica procura explicar a gnese do ego em dois registros relativamente heterogneos, quer vendo nele um aparelho adaptativo, diferenciado a partir do id em contato com a realidade exterior, quer definindo-o como o produto de identificaes que levam formao no seio da pessoa de um objeto de amor investido pelo id. Relativamente primeira teoria do aparelho psquico, o ego mais vasto do que o sistema prconsiste-consciente, na medida em que as suas operaes defensivas so em grande parte inconscientes. EGO IDEAL ou EU IDEAL Formao intrapsquica que certos autores, diferenciando-a do ideal do ego, define como um ideal narcsico de onipotncia forjado a partir do modelo do narcisismo infantil. ELABORAO SECUNDRIA Remodelao do sonho destinada a apresenta-lo sob a forma de uma histria relativamente coerente e compreensvel. ERGENO O que se relaciona com a produo de uma excitao sexual. Este adjetivo utilizado a maior parte das vezes na expresso zona ergena, mas tambm o encontramos em expresses como masoquismo ergeno, atividade ergena, etc. EROS Termo pelo qual os gregos designavam o amor e o deus Amor. Freud utiliza-o na sua ltima teoria das pulses para designar o conjunto das pulses de vida em oposio s pulses de morte. EROTISMO URETRAL Por um lado a enurese infantil interpretada como um equivalente da masturbao. Por outro, as ligaes simblicas que podem existir entre a mico e o fogo so j apontadas. Freud escreve Conheo a ambio desmesurada e ardente dos que outrora foram enurticos. K. Abraham pe em evidncia as fantasias infantis de onipotncia que podem acompanhar o ato de mico: ...sensao de possuir um grande poder, quase ilimitado, de criar ou destruir todos os objetos. Melanie Klein sublinha a importncia dessas fantasias, particularmente as de agresso e de destruio pela urina. Identifica o papel, segundo ela ...at agora muito pouco reconhecido, do sadismo uretral no desenvolvimento da criana, e acrescenta As anlises de adultos, tal qual as anlises de crianas, puseram-me constantemente na presena de fantasias em que a

urina era imaginada como um agente de corroso, de desagregao e de corrupo, e como um veneno secreto e insidioso. Essas fantasias de natureza sado-uretral contribuem em grande medida para a atribuio inconsciente de uma funo cruel ao pnis, e para as perturbaes da potencia sexual no homem. Salientamos que diversos autores (Fenichel, por exemplo) distinguiram diferentes modalidades de prazer ligadas funo urinria (deixar correr passivamente, reter-se, etc.) ESCOLHA DE OBJETO OU ESCOLHA OBJETAL Ato de eleger uma pessoa ou um tipo de pessoa como objeto de amor. Distingue-se uma escolha de objeto infantil e uma escolha de objeto pubertria, sendo que a primeira traa o caminho da segunda. Para Freud atuam na escolha de objeto duas modalidades principais: o tipo de escolha de objeto por apoio e o tipo narcsico de escolha de objeto. O termo escolha no deve ser tomado aqui num sentido intelectualista. Evoca o que pode haver de irreversvel e de determinante na eleio do sujeito, num momento decisivo da sua histria, do seu tipo de objeto de amor. Note-se que a expresso escolha de objeto utilizada para designar quer a escolha de uma pessoa determinada (exemplo: a sua escolha de objeto incide sobre o pai), quer a escolha de certo tipo de objeto (exemplo: escolha de objeto homossexual). ESCOLHA DE OBJETO POR APOIO Tipo de escolha de objeto em que o objeto de amor eleito a partir do modelo das figuras parentais na medida em que estas asseguram criana alimento, cuidados e proteo. Fundamenta-se no fato de as pulses sexuais se apoiarem originalmente nas pulses de autoconservao. Freud fala de um tipo de escolha de objeto por apoio para contrap-la ao tipo de escolha narcsica de objeto. Freud mostrava ento como, na origem, as primeiras satisfaes sexuais apareciam por ocasio do funcionamento dos aparelhos que servem para a conservao da vida e como deste apoio originrio resulta que as funes de autoconservao indicam sexualidade um primeiro objeto: o seio materno. Mais tarde, ...a criana aprende a amar outras pessoas que ajudam no seu estado de desamparo e que satisfazem as suas necessidades; e este amor forma-se inteiramente a partir do modelo das relaes com a me que a alimenta durante o perodo de amamentao e no prolongamento dessas relaes. Freud dir: ama-se segundo o tipo de escolha de objeto por apoio: a) a mulher que alimenta; b) o homem que protege e as linhagens de pessoas substitutivas que dele descendem. ESCOLHA NARCSICA DE OBJETO Tipo de escolha de objeto que se faz com base no modelo de relao do sujeito com a sua prpria pessoa, e em que o objeto representa a prpria pessoa sob este ou aquele aspecto. A descoberta de que determinados sujeitos, particularmente os homossexuais, ...escolhem o seu objeto de amor a partir do modelo da sua

prpria pessoa para Freud o motivo mais forte que nos obrigou a admitir a existncia do narcisismo. A escolha narcsica de objeto ope-se escolha de objeto por apoio na medida em que no a reproduo de uma relao de objeto preexistente, mas a formao de uma relao de objeto a partir do modelo da relao do sujeito consigo mesmo. Nas suas primeiras elaboraes sobre o narcisismo, Freud faz da escolha narcsica homossexual uma etapa que leva o sujeito do narcisismo heterossexualidade: a criana escolheria a princpio um objeto de rgos genitais semelhantes aos seus. Mas j no caso da homossexualidade a noo de escolha narcsica no simples: o objeto escolhido a partir do modelo da criana ou do adolescente que o sujeito foi um dia, e o sujeito identifica-se com a me que outrora tomava conta dele. Freud amplia a noo de escolha narcsica e apresenta dela o quadro seguinte: Ama-se segundo o tipo narcsico: a) O que se (a prpria pessoa); b) O que se foi; c) O que se gostaria de ser d) A pessoa que foi uma parte da prpria pessoa Nos trs primeiros casos, trata-se da escolha de um objeto semelhante prpria pessoa do sujeito. No item d Freud visa o amor narcsico que a me tem pelo filho que foi outrora uma parte de sua prpria pessoa. Aqui o caso muito diferente, visto que o objeto eleito no semelhante prpria unidade do sujeito, mas sim o que lhe permite reencontrar, restaurar a sua unidade perdida. EXIBICIONISMO D-se o nome de exibicionismo perverso sexual na qual a satisfao est ligada ao fato de mostrar, de exibir suas partes genitais. O exibicionismo um dos componentes da vida pulsional, a saber, uma pulso parcial que aparece com o seu oposto, o prazer escpico, o olho correspondendo ento zona ergena pertinente. Nessa perspectiva, o exibicionismo uma regresso a uma fixao anterior da libido. A compulso exibio depende tambm estreitamente do complexo de castrao; ela afirma sem descanso a integridade do rgo genital (masculino) do interessado e repete a satisfao infantil diante da ausncia de membro do rgo feminino.

FANTASIA Roteiro imaginrio em que o sujeito est presente e que representa, de modo mais ou menos deformado pelos processos defensivos, a realizao de um desejo e, em ltima anlise, de um desejo inconsciente.

A fantasia apresenta-se sob diversas modalidades: fantasias conscientes ou sonhos diurnos; fantasias inconscientes como as que a anlise revela, como estruturas subjacentes a um contedo manifesto: fantasias originrias. FANTASIAS ORIGINRIAS Estruturas fantassticas tpicas (vida intrauterina, cena originria, castrao, seduo) que a psicanlise descobre como organizando a vida fantasstica sejam quais forem as experincias pessoais dos sujeitos; a universalidade destas fantasias explica-se, segundo Freud, pelo fato de constiturem um patrimnio transmitido filogeneticamente. FASE DO ESPELHO Segundo Lacan, fase da constituio do ser humano que se situa entre os seis e os dezoito primeiros meses: a criana, ainda num estado de impotncia e de incoordenao motora, antecipa imaginariamente a apreenso e o domnio da sua unidade corporal. Esta unificao imaginria opera-se por identificao com a imagem do semelhante como forma total; ilustra-se e atualiza-se pela experincia concreta em que a criana percebe a sua prpria imagem num espelho. A fase do espelho constituiria a matriz e o esboo do que ser o ego. FASE FLICA * Fase de organizao infantil da libido que vem depois das fases oral e anal e se caracteriza por uma unificao das pulses parciais sob o primado dos rgos genitais; mas, o que j no ser o caso na organizao genital pubertria, a criana, de sexo masculino ou feminino, s conhece nesta fase um nico rgo genital, o rgo masculino, e a oposio dos sexos equivalente oposio flico-castrado. A fase flica corresponde ao momento culminante e ao declnio do complexo de dipo; o complexo de castrao aqui predominante. FASE (ou ORGANIZAO) GENITAL Fase do desenvolvimento psicossexual caracterizada pela organizao das pulses parciais sob o primado das zonas genitais; compreende dois momentos, separados pelo perodo de latncia: a fase flica (ou organizao genital infantil) e a organizao genital propriamente dita que se institui na puberdade. FASE LIBIDINAL Etapa do desenvolvimento da criana caracterizada por uma organizao, mais ou menos acentuada, da libido sob o primado de uma zona ergena e pela predominncia de uma modalidade de relao de objeto. FASE ORAL Primeira fase da evoluo libidinal. O prazer sexual est predominantemente ligado excitao da cavidade bucal e dos lbios que acompanha a alimentao. A atividade de nutrio fornece as significaes eletivas pelas quais se exprime e se organiza a relao de objeto; por exemplo, a relao de amor com a me ser marcada pelas significaes seguintes: comer, ser comido. Abraham props subdividir-se esta fase em funo de duas atividades diferentes: suco (fase oral precoce) e mordedura (fase sdico-oral). FASE SDICO-ANAL Para Freud, a segunda fase da evoluo libidinal, que pode ser situada aproximadamente entre os dois e os quatro anos;

caracterizada por uma organizao da libido sob o primado da zona ergena anal; a relao de objeto est impregnada de significaes ligadas funo de defecao (expulso-reteno) e ao valor simblico das fezes. Vemos aqui afirmar-se o sadomasoquismo em relao com o desenvolvimento do domnio da musculatura. FASE SDICO-ORAL Segundo perodo da fase oral, de acordo com uma subdiviso introduzida por K. Abraham; caracterizado pelo aparecimento dos dentes e da atividade de morder. A incorporao assume aqui o sentido de uma destruio do objeto, o que implica que entre em jogo a ambivalncia na relao de objeto. FETICHISMO Termo criado, por volta de 1750, a partir da palavra fetiche (derivada do portugus feitio: sortilgio, artifcio). Mais tarde foi retomada pelos fundadores da sexologia para designar quer uma atitude da vida sexual normal, que consiste em privilegiar uma parte do corpo do parceiro, quer uma perverso sexual (ou fetichismo patolgico), caracterizada pelo fato de uma das partes do corpo (p, boca, seio, cabelos) ou objetos relacionados com o corpo (sapatos, chapus, tecidos etc.) serem tomados como objetos exclusivos de uma excitao ou um ato sexuais. J em 1905, Sigmund Freud atualizou o termo, primeiro para designar uma perverso sexual, caracterizada pelo fato de uma parte do corpo ou um objeto serem escolhidos como substitutos de uma pessoa, depois para definir uma escolha perversa, em virtude da qual o objeto amoroso (partes do corpo ou objetos relacionados com o corpo) funciona para o sujeito como substituto de um falo atribudo mulher, e cuja ausncia recusada por uma renegao. FIGURABILIDADE ou REPRESENTABILIDADE Exigncia a que esto submetidos os pensamentos do sonho; eles sofrem uma seleo e uma transformao que os tornam aptos a serem representados em imagens, sobretudo visuais. FIXAO O fato de a libido se ligar fortemente a pessoas ou imagos, de reproduzir determinado modo de satisfao e permanecer organizada segundo a estrutura caracterstica de uma das suas fases evolutivas. A fixao pode ser manifesta e real ou constituir uma virtualidade prevalescente que abre ao sujeito o caminho de uma regresso. FORMAO DE COMPROMISSO Forma que o recalcado assume para ser admitido no consciente, retornando no sintoma, no sonho e, mais geralmente, em qualquer produo do inconsciente. As representaes recalcadas so ento deformadas pela defesa ao ponto de serem irreconhecveis. Na mesma formao podem assim ser satisfeitos num mesmo compromisso simultaneamente o desejo inconsciente e as exigncias defensivas. FORMAO REATIVA Atitude ou hbito psicolgico de sentido oposto a um desejo recalcado e constitudo em reao contra ele (o pudor opondo-se a tendncias exibicionistas, por exemplo).

Em termos econmicos, a formao reativa um contra-investimento de um elemento consciente, de fora igual e de direo oposta ao investimento inconsciente. As formaes reativas podem ser muito localizadas e se manifestar por um comportamento peculiar, ou generalizadas at o ponto de constiturem traos de carter mais ou menos integrados no conjunto da personalidade. Do ponto de vista clnico, as formaes reativas assumem um valor sintomtico no que oferecem de rgido, de forado, de compulsivo, pelos seus fracassos acidentais, pelo fato de levarem, s vezes diretamente, a um resultado oposto ao que conscientemente visado. FORMAO SUBSTITUTIVA Designa os sintomas ou formaes equivalentes, como os atos falhos, os chistes, etc., enquanto substituem os contedos inconscientes. Esta substituio deve ser tomada numa dupla acepo: econmica, uma vez que o sintoma acarreta uma satisfao de substituio do desejo inconsciente; simblica, uma vez que o contedo inconsciente substitudo por outro segundo determinadas linhas associativas. FRUSTRAO Condio do sujeito a quem recusada, ou que recusa a si mesmo, a satisfao de uma exigncia pulsional. FUGA PARA A DOENA ou REFGIO NA DOENA Expresso figurada que designa o fato de o sujeito procurar na neurose um meio de escapar aos seus conflitos psquicos. Esta expresso foi favorecida com a difuso da psicanlise: estende-se hoje no apenas ao domnio das neuroses, mas ainda ao das doenas orgnicas em que pode ser posta em evidncia um componente psicolgico. FUSO DESFUSO ou UNIO DESUNIO Termos usados por Freud, no quadro da sua ltima teoria das pulses, para descrever as relaes das pulses de vida e das pulses de morte tal como se traduzem nesta ou naquela manifestao concreta. A fuso das pulses uma verdadeira mistura em que cada um dos dois componentes pode entrar em propores variveis; a desfuso designa um processo cujo limite redundaria num funcionamento separado das duas espcies de pulses, em que cada uma procuraria atingir o seu objetivo de forma independente. Quando Freud fala da desfuso para designar o fato de a agressividade ter conseguido quebrar todos os laos com a sexualidade. GENITAL (AMOR) Expresso muitas vezes usada na linguagem psicanaltica contempornea para designar a forma de amor que o sujeito alcanaria no aperfeioamento do seu desenvolvimento psicossexual, o que supe no apenas o acesso fase genital como tambm a superao do complexo de dipo. HISTERIA * Classe de neuroses que apresentam quadros clnicos muito variados. As duas formas sintomticas mais bem identificadas so a histeria de converso, em que o conflito psquico vem simbolizar-se nos sintomas corporais mais diversos, paroxsticos (exemplo: crise emocional com

teatralidade) ou mais duradouros (exemplo: anestesias, paralisias histricas, sensao de bola farngica, etc), e a histeria de angstia, em que a angustia fixada de modo mais ou menos estvel neste ou naquele objeto exterior (fobias). Foi ne medida em que Freud descobriu no caso da histeria de converso traos etiopatogncicos importantes, que a psicanlise pode referir a uma mesma estrutura histrica quadros clnicos variados que se traduzem na organizao da personalidade e no modo de existencia, mesmo na ausncia de sintomas fbicos e de converses patentes. Pretende-se encontrar a especificidade da histeria na predominncia de um certo tipo de identificao e de certos mecanismos (particularmente o recalque, muitas vezes manifesto), e no aflorar do conflito edipiano que se desenrola principalmente nos registros libidinais flico e oral. ID ou ISSO Uma das trs instncias diferenciadas por Freud na sua segunda teoria do aparelho psquico. O id constitui o plo pulsional da personalidade. Os seus contedos, expresso psquica das pulses, so inconscientes, por um lado hereditrios e inatos e, recalcados e adquiridos. Do ponto de vista econmico, o id , para Freud, o reservatrio inicial da energia psquica; do ponto de vista dinmico, entra em conflito com o ego e o superego que, do ponto de vista gentico, so as suas diferenciaes. IDEAL DO EGO ou IDEAL DO EU Expresso utilizada por Freud no quadro da sua segunda teoria do aparelho psquico. Instncia da personalidade resultante da convergncia do narcisismo (idealizao do ego) e das identificaes com os pais, com os seus substitutos e com os ideais coletivos. Enquanto instncia diferenciada, o ideal do ego constitui um modelo a que o sujeito procura conformar-se. IDENTIFICAO Processo psicolgico pelo qual um sujeito assimila um aspecto, uma propriedade, um atributo do outro e se transforma, total ou parcialmente, segundo o modelo desse outro. A personalidade constitui-se e diferencia-se por uma srie de identificaes. IDENTIFICAO PRIMRIA Modo primitivo de constituio do sujeito segundo o modelo do outro, que no secundrio a uma relao previamente estabelecida em que o objeto seria inicialmente colocado como independente. A identificao primria est em estreita correlao com a chamada relao de incorporao oral. A identificao primria ope-se s identificaes secundrias que vem se sobrepor a ela, no apenas na medida em que no se teria estabelecido consecutivamente a uma relao de objeto propriamente dita e seria ...a forma mais originria do lao afetivo com um objeto. Logo no incio da fase oral primitiva do indivduo, o investimento de objeto e a identificao talvez no se devam distinguir um da outra.

Esta modalidade do lao da criana com outra pessoa foi descrita principalmente como primeira relao com a me, antes de a diferenciao entre ego e alter ego estabelecer-se solidamente. Esta relao seria evidentemente marcada pelo processo da incorporao. Convm no entanto notar que, a rigor, difcil ligar a identificao primria a um estado absolutamente indiferenciado e anobjetal. IMAGO Prottipo inconsciente de personagens que orienta seletivamente a forma como o sujeito apreende o outro; elaborado a partir das primeiras relaes intersubjetivas reais e fantassticas com o meio familiar. INCESTO *- a relao sexual ou marital entre parentes prximos ou alguma forma de restrio sexual dentro de determinada sociedade. um tabu em quase todas as culturas humanas, sendo por isto considerado um tabu universal. O incesto punido como crime em algumas jurisdies, e considerado um pecado pelas maiores religies do mundo. Na maior parte dos pases ocidentais o incesto legalmente proibido mesmo que haja consentimento de ambas as partes. Variam as definies de parente prximo, e a encontra-se a dificuldade em identificar certos casos de incesto. Alm de parentes por nascimento, podem ser considerados parentes aqueles que se unem ao grupo familiar por adoo ou casamento. So consideradas incestuosas, geralmente, as relaes entre pais e filhos, entre irmos ou meio-irmos, entre tios e sobrinhos. Em alguns pases ou jurisdies, entretanto, este tipo de casamento proibido por lei, derivando da o carter incestuoso do ato, nestes casos. A procriao entre parentes prximos (inbreeding) tende a aumentar o nmero de homozigotos de determinada populao, reduzindo, portanto, a variabilidade gentica da mesma. Essa talvez uma das explicaes do tabu do incesto: o incentivo mistura gentica. Mais importante, no entanto, talvez seja o incentivo exogamia pela razo de que ela amplia as relaes positivas e sobretudo comerciais entre grupos sociais distintos. Do contrrio, no haveria a sociedade como a conhecemos, pois as famlias fechariam-se, eventualmente tornando-se um povo, uma etnia, parte. O termo tambm freqentemente utilizado para casos de abuso sexual de menores por parte de parentes. Perspectiva antropolgica dipo uma figura clssica ligada ao incesto.Em todas as sociedades o casamento regulado por regras de endogamia e de exogamia. As primeiras se referem aos casamentos dentro do grupo, e a segundo, fora do grupo. O conceito de dentro e fora bastante varivel: em alguns casos, estende-se o grupo apenas no mbito da famlia consangunea, em outros a todo um cl ou grupo lingustico. O incesto se inscreve entre as prticas endogmicas, ou

seja, o casamento (ou prtica do sexo, o que s vezes implica no mesmo) que acontece dentro do grupo. Desde mile Durkheim o problema do incesto um desafio aos antroplogos. Malinowski define o incesto como inerente s culturas humanas, pois que o aprendizado cultural s pode se dar em um ambiente familiar no qual haja um mnimo de retido e desinteresse sexual. Lvi-Strauss argumenta no mesmo sentido, porm identifica com o incesto a passagem de um estado nocultural a um estado cultural tambm pelo fato do incesto incentivar alianas (troca de mulheres entre grupos sociais distintos). O incesto pode ainda provocar o surgimento de rivalidades sexuais dentro da famlia, o que muito debilitaria a mesma.

Perspectiva psicanaltica Na anlise de Freud, o tabu do incesto e suas implicaes na vida psquica do indivduo enrazam-se na relao da criana com o seio materno. A leitura de Lacan de Freud diz que a criana, depois do complexo de dipo, passa do mundo imaginrio, em que se encontra, auto-centrada, para passar ao mundo simblico, o da cultura, determinado pela Lei, simbolizada pelo pai. A aceitao do relacionamento do pai com a me, necessariamente castrador, determina a insero da criana no mundo social.

INCONSCIENTE A) O adjetivo inconsciente por vezes usado para exprimir o conjunto dos contedos no presentes no campo efetivo da consciencia. Isto num sentido descritivo e no tpico, quer dizer, sem se fazer discriminao entre os contedos dos sistemas pr-consciente e inconsciente. B) No sentido tpico, inconsciente designa um dos sistemas definidos por Freud no quadro da sua primeira teoria do aparelho psquico. constitudo por contedos recalcados aos quais foi recusado o acesso ao sistema prconsciente-consciente pela ao do recalque. Podemos resumir do seguinte modo as caractersticas essenciais do inconsciente como sistema (ou Ics): a) Os seus contedos so representantes das pulses; b) Estes contedos so regidos pelos mecanismos especficos do processo primrio, principalmente a condensao e o deslocamento. c) Fortemente investidos pela energia pulsional, procuram retornar consciencia e ao (retorno do recalcado); mas s podem ter acesso ao sistema Pcs-Cs nas formaes de compromisso, depois de terem sido submetidos s deformaes da censura.

d) So, mais especialmente, desejos da infncia que conhecem uma fixao no inconsciente. e) A abreviatura Ics designa o inconsciente sob a sua forma substantiva como sistema; ics a abreviatura do adjetivo inconsciente enquanto qualifica em sentido estrito os contedos do referido sistema. INCORPORAO Processo pelo qual o sujeito, de um modo mais ou menos fantasstico, faz penetrar e conserva um objeto no interior do seu corpo. A incorporao constitui uma meta pulsional e um modo de relao de objeto caractersticos da fase oral; numa relao privilegiada com a atividade bucal e a ingesto de alimentos, pode igualmente ser vivida em relao com outras zonas ergenas e outras funes. Constitui o prottipo corporal da introjeo e da identificao. Ao elaborar a noo de fase oral, Freud introduziu o termo incorporao, que acentua a relao com o objeto. Freud descrevia a atividade oral sob o aspecto relativamente limitado do prazer da suco. Na incorporao misturam-se intimamente diversas metas pulsionais. Em 1915, no quadro do que ento a sua teoria das pulses (oposio entre as pulses sexuais e as pulses do ego ou de autoconservao), Freud sublinha que as duas atividades sexual e alimentar esto aqui estreitamente mescladas. No quadro da ltima teoria das pulses (oposio entre as pulses de vida e as pulses de morte), sobretudo a fuso da libido e da agressividade que posta em evidncia: Na fase de organizao oral da libido, o domnio amoroso sobre o objeto coincide ainda com o aniquilamento deste. Esta concepo ser desenvolvida por Abraham e ulteriormente por M. Klein (ver fase sdico-oral). Na verdade, esto bem presentes na incorporao trs significaes: obter um prazer fazendo penetrar um objeto em si; destruir esse objeto; assimilar as qualidades desse objeto conservando-o dentro de si. este ltimo aspecto que faz da incorporao a matriz da introjeo e da identificao. A incorporao no se limita nem atividade oral propriamente dita, nem fase oral, embora a oralidade constitua o modelo de toda incorporao. Efetivamente, outras zonas ergenas e outras funes podem ser seu suporte (incorporao pela pele, pela respirao, pela viso, pela audio). Do mesmo modo, existe uma incorporao anal, na medida em que a cavidade retal assimilada boca, e uma incorporao genital, manifestada particularmente na fantasia de reteno do pnis no interior do corpo. INSTINTO* Classicamente, esquema de comportamento herdado, prprio de uma espcie animal, que pouco varia de um indivduo para outro, que se desenrola segundo uma sequencia temporal pouco suscetvel de alteraes e que parece corresponder a uma finalidade. INTROJEO Processo evidenciado pela investigao analtica. O sujeito faz passar, de um modo fantasstico, de fora para dentro, objetos e

qualidades inerentes a esses objetos. A introjeo aproxima-se da incorporao, que constitui o seu prottipo corporal, mas no implica necessariamente uma referncia ao limite corporal (introjeo no ego, no ideal do ego, etc.). Est estreitamente relacionada com a identificao. INVEJA DO PNIS Elemento fundamental da sexualidade feiminina, e mola da sua dialtica. A inveja do pnis nasce da descoberta da diferena anatmica entre os sexos: a menina sente-se lesada com relao ao menino e deseja possuir um pnis como ele (complexo de castrao); depois, esta inveja do pnis assume, no decorrer do dipo, duas formas derivadas: desejo de adquirir um pnis dentro de si (principalmente sob a forma de desejo de ter um filho e desejo de fruir do pnis no coito. A inveja do pnis pode redundar em numerosas formas patolgicas ou sublimadas. LATNCIA (PERODO DE - )* Perodo que vai do declnio da sexualidade infantil (aos cinco ou seis anos) at o incio da puberdade, e que marca uma pausa na evoluo da sexualidade. Observa-se nele, deste ponto de vista, uma diminuio das atividades sexuais, a dessexualizao das relaes de objeto e dos sentimentos (e, especialmente, a predominncia da ternura sobre os desejos sexuais), o aparecimento de sentimentos como o pudor ou a repugnncia e de aspiraes morais e estticas. Segundo a teoria psicanaltica, o perodo de latncia tem origem no declnio do complexo de dipo; corresponde a uma intensificao do recalque que tem como efeito uma amnsia que cobre os primeiros anos -, a uma transformao dos investimentos de objetos em identificaes com os pais e a um desenvolvimento das sublimaes. LEMBRANA ENCOBRIDORA Lembrana infantil que se caracteriza ao mesmo tempo pela sua especial nitidez e pela aparente insignificncia do seu contedo. A sua anlise conduz a experincias infantis marcantes e a fantasias inconscientes. Como o sintoma, a lembrana encobridora uma formao de compromisso entre elementos recalcados e a defesa. LIBIDO DO EGO (ou DO EU) LIBIDO OBJETAL Expresses introduzidas por Freud para distinguir dois modos de investimento da libido: esta pode tomar como objeto a prpria pessoa (libido do ego ou narcsica), ou um objeto exterior (libido objetal). Existe, segundo Freud, um equilbrio energtico entre esses dois modos de investimento: a libido objetal diminui quando aumenta a libido do ego, e vice-versa. MASOQUISMO Perverso sexual em que a satisfao est ligasda ao sofrimento ou humilhao a que o sujeito se submete. Freud estende a noo de masoquismo para alm da perverso descrita pelos sexlogos, por um lado reconhecendo elementos dela em numerosos comportamentos sexuais, e rudimentos na sexualidade infantil, e por outro lado descrevendo formas que dela derivam, particularmente o masoquismo moral, no qual o sujeito, em razo de um sentimento de culpa inconsciente, procura a posio de vtima sem que um prazer sexual esteja diretamente implicado no fato.

MATERNAGEM Tcnica de psicoterapia das psicoses, e particularmente da esquizofrenia, que procura estabelecer entre o terapeuta e o paciente, de um modo ao mesmo tempo simblico e real, uma relao anloga que existiria entre uma boa me e seu filho. NARCISISMO Por referncia ao mito de Narciso, o amor pela imagem de si mesmo. NARCISISMO PRIMRIO, NARCISISMO SECUNDRIO O narcisismo primrio designa um estado precoce em que a criana investe toda a sua libido em si mesma. O narcisismo secundrio designa um retorno ao ego da libido retirada dos seus investimentos objetais. NECESSIDADE DE PUNIO Exigncia interna postulada por Freud como dando origem ao comportamento de certos sujeitos em quem a investigao psicanaltica mostra que procuram situaes penosas ou humilhantes e se comprazem nelas (masoquismo moral). O que h de irredutvel em tais comportamentos deveria, em ltima anlise, ser referido pulso de morte. NEGAO Processo pelo qual o sujeito, embora formulando um dos seus desejos, pensamentos ou sentimentos at ento recalcado, continua a defender-se dele negando que lhe pertena. NEUROSE Afeco ( sig : doena) psicognica em que os sintomas so a expresso simblica de um conflito psquico que tem razes na histria infantil do sujeito e constitui compromissos entre o desejo e a defesa. A exteno do termo neurose tem variado bastante; atualmente tende-se a reserv-lo, quando isolado, para as formas clnicas que podem ser ligadas neurose obsessiva, histeria e neurose fbica. A nosografia distingue assim neuroses, psicoses, perverses e afeces psicossomticas. NEUROSE OBSESSIVA Classe de neuroses definidas por Freud e que constituem um dos principais quadros da clnica psicanaltica. Na forma mais tpica, o conflito psquico exprime-se (sig: explica-se) por sintomas chamados compulsivos (idias obsedantes, compulso a realizar atos indesejveis, luta contra estes pensamentos e estas tendncias, ritos conjuratrios, etc. ) e por um modo de pensar caracterizado particularmente por ruminao mental, dvida, escrpulos, e que leva a inibies do pensamento e da ao. Freud definiu sucessivamente a especificidade etiopatognica da neurose obsessiva do ponto de vista dos mecanismos (deslocamento do afeto para representaes mais ou menos distantes do conflito original, isolamento, anulao retroativa); do ponto de vista da vida pulsional (ambivalencia, fixao na fase anal e regresso); e por fim, do ponto de vista tpico (relao sadomasoquista interiorizada sob a forma da tenso entre o ego e um superego particularmente cruel). PARANIA Psicose crnica caracterizada por um delrio mais ou menos bem sistematizado, pelo predomnio da interpretao e pela ausncia de

enfraquecimento intelectual, e que geralmente no evolui para a deteriorao. Freud inclui na parania no s o delrio de perseguio, como a erotomania, o delrio de cime e o delrio de grandeza. PERVERSO Desvio em relao ao ato sexual normal, definido este como coito que visa a obteno do orgasmo por penetrao genital, com uma pessoa do sexo oposto. Diz-se que existe perverso quando orgasmo obtido com outros objetos sexuais (pedofilia, bestialidade, etc.), ou por outras zonas corporais (coito anal, por exemplo) e quando o orgasmo subordinado de forma imperiosa a certas condies extrnsecas (fetichismo, voyeurismo e exibicionismo, sadomasoquismo); estas podem proporcionar, por si ss, o prazer sexual. PR-CONSCIENTE * Termo utilizado por Freud no quadro de sua primeira tpica. Distinguem-se dos contedos do sistema inconsciente na medida em que permanecem de direito acessveis conscincia (conhecimentos e recordaes no atualizados, por exemplo). O sistema pr-consciente regido pelo processo secundrio. Est separado do sistema inconsciente pela censura, que no permite que os contedos e os processos inconscientes passem para o PCs sem sofrerem transformaes. PR-EDIPIANO Qualifica o perodo do desenvolvimento psicossexual anterior instaurao do complexo de dipo; nesse perodo predomina, nos dois sexos, o apego me. PR-GENITAL Adjetivo usado para qualificar as pulses, as organizaes, as fixaes, etc, que se referem ao perodo do desenvolvimento psicossexual em que o primado da zona genital ainda no se estabeleceu. PRINCPIO DA CONSTNCIA Princpio enunciado por Freud, segundo o qual o aparelho psquico tende a manter a nvel to baixo ou, pelo menos, to constante quanto possvel a quantidade de excitao que contm. A constncia obtida, por um lado, pela descarga da energia j presente e, por outro, pela evitao do que poderia aumentar a quantidade de excitao e pela defesa contra esse aumento. PRINCPIO DO PRAZER Um dos dois princpios que, segundo Freud, regem o funcionamento mental: a atividade psquica no seu conjunto tem por objetivo evitar o desprazer e proporcionar o prazer. um princpio econmico na medida em que o desprazer est ligado ao aumento das quantidades de excitao e o prazer sua reduo. PRINCPIO DE REALIDADE Um dos dois princpios que, segundo Freud, regem o funcionamento mental. Forma par com o princpio do prazer, e modifica-o; na medida em que consegue impor-se como princpio regulador, a procura da satisfao j no se efetua pelos caminhos mais curtos, mas faz desvios e adia o seu resultado em funo das condies impostas pelo mundo exterior.

PROCESSO PRIMRIO, PROCESSO SECUNDRIO Os dois modos de funcionamento do aparelho psquico, tais como foram definidos por Freud. Podemos distingu-los radicalmente: do ponto de vista tpico, o processo primrio caracteriza o sistema inconsciente e o processo secundrio caracteriza o sistema pr-consciente-consciente. PROJEO Operao pela qual o sujeito expulsa de si e localiza no outro pessoa ou coisa qualidades, sentimentos, desejos e mesmo objetos que ele desconhece ou recusa nele. Trata-se aqui de uma defesa de origem muito arcaica, que vamos encontrar em ao particularmente na parania, mas tambm em modos de pensar normal. PROVA DE REALIDADE Processo, postulado por Freud, que permite ao sujeito distinguir os estmulos provenientes do mundo exterior dos estmulos internos, e evitar a confuso possvel entre o que o sujeito percebe e o que no passa de representaes suas, confuso que estaria na origem da alucinao. PSICANLISE Disciplina fundada por Freud e na qual podemos, com ele, distinguir trs nveis: A) Um mtodo de investigao que consiste essencialmente em evidenciar o significado inconsciente das palavras, das aes, das produes imaginrias (sonhos, fantasias, delrios) de um sujeito. Este mtodo baseia-se principalmente nas associaes livres do sujeito, que so a garantia da validade da interpretao. A interpretao psicanaltica pode estender-se a produes humanas para as quais no se dispe de associaes livres. B) Um mtodo psicoterpico baseado nesta investigao e especificado pela interpretao controlada da resistncia, da transferncia e do desejo. O emprego da psicanlise como sinnimo de tratamento psicanaltico est ligado a este sentido; exemplo: comear uma psicanlise (ou anlise). C) Um conjunto de teorias psicolgicas e psicopatolgicas em que so sistematizados os dados introduzidos pelo mtodo psicanaltico de investigao e de tratamento.

PSICONEUROSE DE DEFESA Denominao usada por Freud nos anos de 1894-96 para designar certo nmero de distrbios psiconeurticos (histeria, fobia, obsesso, certas psicoses), evidenciando nelas o papel, descoberto na histeria, do conflito defensivo. Uma vez adquirida a ideia de que em qualquer psiconeurose a defesa desempenha uma funo essencial, a expresso psiconeurose de defesa, que se justificava pelo seu valor heurstico, se apaga em favor do termo psiconeurose.

PSICOSE A psicanlise procurou definir diversas estruturas: paranoia (onde inclui de modo bastante geral as afeces delirantes) e esquizofrenia, por um lado, e, por outro, melancolia e mania. Fundamentalmente, uma perturbao primria da relao psicoses, onde a maioria dos sintomas manifestos (particularmente construo delirante) so tentativas secundrias de restaurao do lao objetal.

PULSO Processo dinmico que consiste numa presso ou fora (carga energtica, fator de motricidade) que faz o organismo tender para um objetivo. Segundo Freud, uma pulso tem a sua fonte numa excitao corporal (estado de tenso); o seu objetivo ou meta suprimir o estado de tenso que reina na fonte pulsional: no objeto ou graas a ele que a pulso pode atingir a sua meta.

PULSO DE AGRESSO Designa para Freud as pulses de morte enquanto voltadas para o exterior. A meta da pulso de agresso a destruio do objeto.

PULSO DE DOMINAO Denominao usada em algumas ocasies por Freud, sem que seu emprego possa ser codificado com preciso. Freud entende por ela uma pulso no sexual, que s secundariamente se une sexualidade e cuja meta dominar o objeto pela fora.

PULSO PARCIAL Esta expresso designa os elementos ltimos a que chega a psicanlise na anlise da sexualidade. Cada um destes elementos se especifica por uma fonte (por exemplo, pulso oral, pulso anal) e por uma meta (por exemplo, pulso de ver, pulso de dominao). As pulses parciais funcionam primeiro independentemente e tendem a unir-se nas diversas organizaes libidinais.

PULSO SEXUAL Nela se verificam eminentemente algumas das caractersticas da pulso que a diferenciam de um instinto: o seu objeto no pr-determinado biologicamente e as suas modalidades de satisfao (metas ou objetivos) so variveis, mais especialmente ligadas ao funcionamento de zonas corporais determinadas (zonas ergenas), mas suscetveis de acompanharem as

atividades mais diversas em que se apoiam. Esta diversidade das fontes somticas da excitao sexual implica que a pulso sexual no est unificada desde o incio, mas que comea fragmentada em pulses parciais cuja satisfao local (prazer do rgo). A psicanlise mostra que a pulso sexual no homem est estreitamente ligada a um jogo de representaes ou fantasias que a especificam. S ao fim de uma evoluo complexa e aleatria ela se organiza sob o primado da genitalidade e reencontra ento a fixidez e a finalidade aparentes do instinto. Do ponto de vista econmico, Freud postula a existncia de uma energia nica nas vicissitudes da pulso sexual: a libido. Do ponto de vista dinmico, Freud v na pulso sexual um plo necessariamente presente no conflito psquico: o objeto privilegiado do recalcamento no inconsciente.

PULSES DE AUTOCONSERVAO* Expresso pela qual Freud designa o conjunto das necessidades ligadas s funes corporais essenciais conservao da vida do indivduo; a fome constitui o seu prottipo. No quadro da primeira teoria das pulses, Freud contrape as pulses de autoconservao s pulses sexuais.

PULSES DE MORTE* No quadro da ltima teoria freudiana das pulses, designa uma categoria fundamental de pulses que se contrapem s pulses de vida e que tendem a reconduzir o ser vivo ao estado anorgnico. Voltadas inicialmente para o interior e tendendo autodestruio, as pulses de morte seriam secundariamente dirigidas para o exterior, manifestando-se ento sob a forma da pulso de agresso ou de destruio.

PULSES DE VIDA* Grande categoria de pulses que Freud contrape, na sua ltima teoria, s pulses de morte. Tendem a constituir unidades cada vez maiores, e a mant-las. As pulses de vida, tambm designadas pelo termo Eros, abrangem no apenas as pulses sexuais propriamente ditas, mas ainda as pulses de autoconservao.

PULSES DO EGO * No quadro da primeira teoria das pulses, as pulses do ego designam um tipo especfico de pulses cuja energia est colocada a servio do ego no conflito defensivo; so

assimiladas s pulses de autoconservao e contrapostas s pulses sexuais.

RACIONALIZAO Processo pelo qual o sujeito procura apresentar uma explicao coerente do ponto de vista lgico, ou aceitvel do ponto de vista moral, para uma atitude, uma ao, uma ideia, um sentimento, etc., cujos motivos verdadeiros no percebe; fala-se mais especialmente da racionalizao de um sintoma, de uma compulso defensiva, de uma forma reativa. A racionalizao intervm tambm no delrio, resultando numa sistematizao mais ou menos acentuada.

REALIZAO DE DESEJO Formao psicolgica em que o desejo imaginariamente apresentado como realizado. As produes do inconsciente (sonho, sintoma e, por excelncia, a fantasia) so realizaes de desejo em que este se exprime de uma forma mais ou menos disfarada.

RECALQUE ou RECALCAMENTO Operao pela qual o sujeito procura repelir ou manter no inconsciente representaes (pensamentos, imagens, recordaes) ligadas a uma pulso. O recalque produz-se nos casos em a satisfao de uma pulso suscetvel de proporcionar prazer por si mesma ameaaria provocar desprazer relativamente a outras exigncias. O recalque especialmente patente na histeria, mas desempenha tambm um papel primordial nas outras afeces mentais, assim como em psicologia normal.

RECALQUE (ou RECALCAMENTO) ORIGINRIO ou PRIMRIO Processo hipottico descrito por Freud como primeiro momento da operao do recalque. Tem como efeito a formao de um certo nmero de representaes inconscientes ou recalcado originrio. Os ncleos inconscientes assim constitudos colaboram mais tarde no recalque propriamente dito pela atrao que exercem sobre os contedos a recalcar, conjuntamente com a repulso proveniente das instncias superiores.

RECUSA ( - DA REALIDADE) Termo usado por Freud num sentido especfico: modo de defesa que consiste numa recusa por parte do sujeito em reconhecer a realidade de uma percepo traumatizante.

Este mecanismo evocado por Freud em particular para explicar o fetichismo (recusa em perceber a ausncia de pnis na mulher) e nas psicoses.

REGRA FUNDAMENTAL Regra que estrutura a situao analtica. O analisando convidado a dizer o que pensa e sente sem nada escolher e sem nada omitir do que lhe vem ao esprito, ainda que lhe parea desagradvel de comunicar, ridculo, desprovido de interesse ou despropositado.

REGRESSO A regresso uma noo de uso muito frequente em psicanlise e na psicologia contempornea; concebida, a maioria das vezes, como um retorno a formas anteriores do desenvolvimento do pensamento, das relaes de objeto e da estruturao do comportamento.

RELAO DE OBJETO Expresso usada com muita frequncia na psicanlise contempornea para designar o modo de relao do sujeito com seu mundo, relao que resultado complexo e total de uma determinada organizao da personalidade, de uma apreenso mais ou menos fantasstica dos objetos e de certos tipos privilegiados de defesa. Fala-se das relaes de objeto de um dado sujeito, mas tambm de tipos de relaes de objetos, ou em referncia a momentos evolutivos (exemplo: relao do objeto oral), ou psicopatologia (exemplo: relao de objeto melanclica).

REPRESENTANTE DA PULSO Expresso utilizada por Freud para designar os elementos ou processos em que a pulso encontra sua expresso psquica. Algumas vezes a expresso sinnima de representante-representao, em outras mais ampla, englobando tambm o afeto.

REPRESSO ** ( dvida) A) Em sentido amplo: operao psquica que tende a fazer desaparecer da conscincia um contedo desagradvel ou inoportuno: ideia, afeto, etc. Neste sentido, o recalque seria uma modalidade especial de represso. B) Em sentido mais restrito: designa certas operaes do sentido A diferentes do recalque:

a) ou pelo carter consciente da operao e pelo fato de o contedo reprimido se tornar simplesmente pr-consciente e no inconsciente; b) Ou, no caso da represso de um afeto, porque este no transposto para o inconsciente, mas inibido, ou mesmo suprimido.

RESISTNCIA * Chama-se resistncia a tudo o que nos atos e palavras do analisando, durante o tratamento psicanaltico, se ope ao acesso deste ao seu inconsciente.

RESTOS DIURNOS Na teoria psicanaltica do sonho, elementos do estado de viglia do dia anterior que encontramos no relato do sonho e nas associaes livres da pessoa que sonha; esto em conexo mais ou menos longnqua com o desejo inconsciente que se realiza no sonho.

RETORNO DO RECALCADO Processo pelo qual os elementos recalcados, nunca aniquilados pelo recalque, tendem a reaparecer e conseguem faz-lo de maneira deformada sob a forma de compromisso, como por exemplo, nos sintomas.

SADOMASOQUISMO O sadismo e o masoquismo so as duas formas, ativa e passiva, do mesmo prazer proveniente da excitao sexual ligada crueldade e ao fato de se infligir dor. O registro assim definido rene, portanto, no mesmo indivduo essas duas formas de opostos que sempre coexistem. Tambm representa o vnculo prgenital estabelecido entre duas pessoas, uma das quais assume o papel sdico e a outra o papel masoquista. Ele essencialmente inscrito e construdo na fase sdico-anal.

SEDUO (CENA DE TEORIA DA -) 1. Cena real ou fantasstica em que o sujeito (geralmente uma criana) sofre passivamente da parte de outro (a maioria das vezes um adulto) propostas ou manobras sexuais. 2. Teoria abandonada por Freud entre 1895 e 1897, e ulteriormente abandonada, que atribui lembrana de cenas reais de seduo o papel determinante na etiologia as psiconeuroses.

SENTIMENTO DE CULPA Expresso utilizada em psicanlise numa acepo muito ampla. Pode designar um estado afetivo consecutivo a um ato que o sujeito considera repreensvel, e a razo invocada pode, alis, ser mais ou menos apropriada (remorso do criminoso ou autorecriminaes aparentemente absurdas), ou ainda um sentimento difuso de indignidade sem relao com um ato determinado de que o sujeito se acuse. Por outro lado, postulado pela anlise como sistema de motivaes inconscientes que explica comportamentos de fracasso, condutas delinquentes, sofrimentos que o indivduo inflige a si mesmo, etc. Neste ltimo sentido, a palavra sentimento s deve ser utilizada com reservas, na medida em que o sujeito pode no se sentir culpado ao nvel da experincia consciente.

SUBLIMAO Processo postulado por Freud para explicar atividades humanas sem qualquer relao aparente com a sexualidade, mas que encontrariam o seu elemento propulsor na fora da pulso sexual. Freud descreveu como atividades de sublimao principalmente a atividade artstica e a investigao intelectual. Diz-se que a pulso sublimada na medida em que derivada para um novo objetivo no sexual e em que visa objetos socialmente valorizados.

SUPEREGO ou SUPEREU Uma das instncias da personalidade tal como Freud a descreveu no quadro da sua segunda teoria do aparelho psquico: o seu papel assimilvel ao de um juiz ou de um censor relativamente ao ego, Freud v na conscincia moral, na autoobservao, na formao de ideais, funes do superego. Classicamente, o superego definido como o herdeiro do complexo de dipo, constitui-se por interiorizao das exigncias e das interdies parentais.

TANATOS Termo grego (a Morte) s vezes utilizado para designar as pulses de morte, por simetria com o termo Eros; o seu emprego sublinha o carter radical do dualismo pulsional conferindo-lhe um significado quase mtico.

TRABALHO DO LUTO Processo intrapsquico, consecutivo perda de um objeto de afeio, e pelo qual o sujeito consegue progressivamente desapegar-se dele.

TRAUMA ou TRAUMATISMO PSQUICO Acontecimento da vida do sujeito que se define pela sua intensidade, pela incapacidade em que se encontra o sujeito de reagir a ele de forma adequada, pelo transtorno e pelos efeitos patognicos duradouros que provoca na organizao psquica. Em termos econmicos ( como assim?? Duvidas....), o traumatismo caracteriza-se por um afluxo de excitaes que excessivo em relao tolerncia do sujeito e sua capacidade de dominar e de elaborar psiquicamente estas excitaes.

TRS ENSAIOS SOBRE A TEORIA DA SEXUALIDADE Livro de Sigmund Freud publicado pela primeira vez em 1905. A obra dividida em trs partes. Na primeira, dedicada s aberraes sexuais, Freud introduz pela primeira vez a palavra pulso, a fim de descrever os desvios em relao ao objeto sexual, entre os quais inclui a inverso e os imaturos sexuais e animais tomados como objetos sexuais. Atravs dessa terminologia, sada do vocabulrio corrente, ele designa trs formas de comportamento sexual consideradas taras pelos mdicos do fim do sculo: a homossexualidade, a pedofilia (relao sexual entre um adulto e uma criana pr-pbere) e a zoofilia (relao sexual entre um ser humano e um animal). Para Freud trata-se de mostrar que essas aberraes, por mais diferentes que sejam umas das outras, no podem de maneira alguma ser vistas como a expresso da degenerescncia, a homossexualidade menos ainda que as outras. No apenas Freud diversifica as formas possveis da homossexualidade, como tambm faz desta um componente adquirido, e no inato, da sexualidade humana. Assim, ela pode ser diferentemente encarada conforme as culturas e os estgios de civilizao. Para ampliar ainda mais sua definio, Freud faz da homossexualidade, no captulo seguinte, uma inclinao inconsciente e universal presente em todos os neurticos, isto , em qualquer sujeito. Da esta formulao clebre, na qual ele j havia pensado em 1896: A neurose , por assim dizer, o negativo da perverso. Als, a tal ponto o negativo dela que Freud sublinha, em sua recapitulao final, de que maneira, atravs do recalque, uma pessoa pode passar de uma para a outra. Aps uma intensa atividade sexual perversa na infncia, frequentemente se produz uma reviravolta, e a neurose substitui a perverso. Nessa mesma perspectiva, Freud faz da pedofilia e da zoofilia comportamentos que se mascaram sob uma aparncia de extrema normalidade. Essas duas aberraes no esto ligadas, a seu ver, a uma doena mental, mas a um estado infantil da prpria sexualidade. Da o fato de os pedfilos e os zofilos aparecerem como indivduos

covardes, mas perfeitamente adaptados vida social burguesa ou camponesa. A continuao dessa parte dedicada a uma vasta anlise das outras perverses (fetichismo e sadomasoquismo), bem como s formas particulares de prticas erticas ligadas boca (felao, cunilngua). Todas so reintegradas por Freud no quadro geral de um funcionamento pulsional organizado em torno de um conjunto de zonas ergenas. A segunda parte do livro, a mais essencial, consiste numa exposio, a um tempo simples e divertida, das variaes da sexualidade infantil. Verdadeira matriz da teoria da libido, essa dissertao magistral, qual seriam acrescentadas diversas passagens, serve tambm para a elucidao do complexo de castrao, da idia da inveja do pnis e, por ltimo, da gnese da noo de estdio (oral, anal, flico e genital) retirada da biologia evolucionista. O componente central da organizao da sexualidade infantil continua a ser o que Freud denomina de disposio-perverso-polimorfa. Ao mostrar que as atividades infantis os tipos de suco, a masturbao, as brincadeiras com o corpo ou com as fezes, a alimentao, a defecao etc. so fontes de prazer e de autoerotismo, Freud destri o velho mito do paraso dos amores infantis. Antes dos quatro anos, a criana um ser de gozo, cruel, inteligente e brbaro, que se entrega a toda sorte de experincias sexuais, s quais renunciar ao se transformar em adulto. No que concerne a esse aspecto, a sexualidade infantil no conhece lei nem proibio, e leva em conta, para se satisfazer, todos os objetos e todos os alvos possveis. Testemunho disso, se necessrio, so as teorias fabricadas pelas crianas a propsito de sua origem: a teoria da cloaca, segundo a qual os bebs vm ao mundo pelo reto e so equivalentes s fezes, com sua variao, o parto atravs do umbigo, e a teoria do carter sdico-anal do coito parental, que faz do parto um ato de sodomia, acompanhado de uma violncia originria semelhante a um estupro. Em 1908, em Sobre as teorias sexuais das crianas, Freud acrescentaria diversas outras teorias a essas: por exemplo, a idia de que as crianas so concebidas pela urina ou pelo beijo, ou de nascem logo depois do coito, ou ainda de que os homens, tal como as mulheres, podem ter bebs. No mesmo ano, em Carter e erotismo anal Freud associaria a atividade anal ao desenvolvimento posterior das melhores qualidades espirituais no sujeito. O terceiro ensaio dedicado a um estudo da puberdade e, portanto, da passagem da sexualidade infantil para a sexualidade adulta, atravs do Complexo de dipo e da instaurao de uma escolha de objeto fundamentada, de um modo geral, na diferena entre os sexos.

Com esse livro fundamental, Freud abriu caminho para o desenvolvimento da psicanlise de crianas e para a reflexo sobre a educao sexual: insistiu, por exemplo, em que os adultos nunca mentissem para as crianas no que concerne origem delas e em que a sociedade se mostrasse tolerante para com a sexualidade em geral.

VIVNCIA DE SATISFAO Tipo de experincia originria postulada por Freud e que consiste no apaziguamento, no lactente, e graas a uma interveno exterior, de uma tenso interna criada pela necessidade. A imagem do objeto satisfatrio assume ento um valor eletivo na constituio de desejo do sujeito. Ela poder ser reinvestida na ausncia do objeto real (satisfao alucinatria do desejo) e ir guiar sempre a busca ulterior do objeto satisfatrio.

VOYEURISMO o voyeurismo uma manifestao desviante da sexualidade que implica em olhar sem ser visto a fim de obter um gozo. nos Trs ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905) que Freud aborda como psicanalista o campo das perverses e especifica em que circunstncias o prazer escpico se converte numa perverso: (a) quando se limita exclusivamente s partes genitais, (b) quando est associado superao da repugnncia (espectadores das funes excrementcias), (c) quando recalca a finalidade sexual normal, em vez de a preparar. As diferentes correntes pulsionais do ver so desviadas pelo voyeur, que procura espiar as partes genitais do outro, enquanto dissimula as dele, mas tambm almeja ser visto espiando para corresponder ao que ele cr ser o desejo de ver do outro.

ZONA ERGENA Qualquer regio do revestimento cutneo-mucoso suscetvel de se tornar sede de uma excitao de tipo sexual. De forma mais especfica, certas regies que so fundamentalmente sedes dessa excitao: zona oral, anal, uretro-genital, mamilo.

Você também pode gostar