Fusoes Aquisicoes v4 20190128 (1) - 2
Fusoes Aquisicoes v4 20190128 (1) - 2
Fusoes Aquisicoes v4 20190128 (1) - 2
FUSÕES E
AQUISIÇÕES
C837
Costa, Luis Guilherme Raposo Machado.
Fusões e Aquisições (M&A). / Luis Guilherme Raposo Machado.
Revisado e atualizado por Jane Elizabeth Bernardo. – Rio de Janeiro:
Grupo Ibmec Educacional, 2013.
CDD: 658.16
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
OBJETIVOS DA DISCIPLINA
Caro(a) aluno(a),
Você inicia agora uma jornada por um dos temas mais sensíveis para empresas, investido-
res institucionais, gestores de fundos de private equities e de capital de risco: as decisões em
Fusões e Aquisições (F&A).
Bons estudos!
■■ organize o seu tempo e escolha os melhores dias e horários para você estudar;
Não deixe de participar das discussões encadeadas no ambiente virtual de cada capítulo.
Elas são indispensáveis para um melhor aproveitamento do curso.
Bons estudos!
8 FUSÕES E AQUISIÇÕES
Capítulo 1
INTRODUÇÃO
OBJETIVOS DO MÓDULO
Para melhor compreensão das questões que envolvem Fusões e Aquisições, este capítulo
está dividido em:
Unidade 3 – Os tipos de arranjos econômicos e as razões que levam ao não atingimento dos
objetivos em operações de Fusão e Aquisições.
CAPÍTULO 1 11
UNIDADE 1
FUSÕES E AQUISIÇÕES: UMA INTRODUÇÃO
De modo geral, podemos dizer que Fusões e Aquisições (F&A) são operações que visam
à concentração da atividade empresarial. Esses movimentos empresariais sempre foram
observados ao longo do tempo, mas têm sido cada vez mais frequentes, com o acirramento
da concorrência e o aumento da globalização dos negócios e dos mercados.
Segundo Thomson Reuters, em 2017, o volume total dos negócios atingiu US$ 3,5 trilhões,
marcando o quarto ano consecutivo em que os volumes de negócios superaram os US$ 3
trilhões. Esse volume foi impulsionado pela maior transparência nas operações e em função
de acordos realizados em alguns segmentos como Energia, Papel e Celulose, elevando o
valor global de Fusões e Aquisições ao maior nível desde 2007.
Ainda em 2017, de acordo com o boletim da Associação Brasileira das Entidades dos Merca-
dos Financeiro e de Capitais (ANBIMA), os anúncios de F&A, ofertas públicas de aquisições
de ações (OPAs) e reestruturações societárias alcançaram o volume de R$ 138,4 bilhões.
Da mesma forma, o volume e a quantidade de transações (148 transações) permanece-
ram elevadas, como podemos observar no Gráfico 1. Veja que a maioria das negociações
envolveram empresas estrangeiras, interessadas nas condições apresentadas pelo mercado
brasileiro.
12 FUSÕES E AQUISIÇÕES
R$ bilhões Número
192,71
179,21
184,8
165,13
176
181
179
142,8
138,4
148
136,5
146
143
143
125,9
138
109,55
122,3
119
111
99
95
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
O volume de transações realizadas com capital estrangeiro atingiu R$ 63,6 bilhões, corres-
pondendo a 46% do volume total do ano. O destaque ficou com as empresas europeias, com
51% de participação, impactadas pelas negociações das seguintes gigantes: Eldorado Brasil
Celulose, com a Paper Excellence (da Holanda); e Petrobras (Campo Roncador), com a Statoil
(da Noruega) (veja a Tabela 1, na qual se encontram as dez maiores operações anunciadas
em 2017).
Beadell Resources Ltd Mineração Vale dos Reis Ltda (MVR) 1,8
CAPÍTULO 1 13
Das 643 transações, 216 tiveram seus valores divulgados, somando o total de USD 48,9,
sendo USD 11,25 superior que 2016 (USD 37,65)
Perceba que as informações contidas na tabela que acabamos de ver não incluem acordos,
fusões, cisões, joint-ventures e incorporações.
Fusão 20 18 11%
Incorporação 16 11 45%
Cisão 0 2
Fonte: PwC Brasil, 2017.
500
400
300
200
100
0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Veja que a presença do dinheiro como forma de pagamento principal nestas operações
indica que grande parte das operações são, na verdade, de aquisição de empresas, e não
de fusão.
Ainda de acordo com o boletim da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Finan-
ceiro e de Capitais (ANBIMA), divulgado em maio de 2018, o volume de operações de Fusões
e Aquisições anunciadas, no primeiro trimestre desse ano, chegaram a R$ 52,3 bilhões, cor-
respondento a um crescimento de 120% em relação ao mesmo período do ano de 2017. Esse
pode ser considerado o maior montante apurado em um primeiro trimestre, desde 2012.
Segundo Matten (1996), todas as instituições financeiras precisam ser fiscalizadas, pois, se
não houver controle por parte de órgãos reguladores, elas tendem a atuar de forma equivo-
cada na busca incessante por lucros. Afinal, quanto maior a perspectiva de lucros, maiores
serão os riscos de valores que não lhes pertencem, mas que lhes são confiados. Já tivemos
diversos exemplos em que o cliente investidor perde parte ou a totalidade de seus recursos
confiando na Instituição na qual depositou suas reservas. Risco de Liquidez, Risco de Mer-
cado, Risco de Crédito e Risco Operacional são alguns dos riscos financeiros aos quais essas
instituições estão sujeitos.
Ao final do ano de 1974, por exemplo, o mercado experimentou uma grande instabilidade
financeira, inclusive com a insolvência do Banlhaus Hersttat (Alemanha). Na época, os res-
ponsáveis pela supervisão bancária entenderam que esse era o momento para estabelecer
regras que deveriam ser respeitadas por todas as Instituições Financeiras, surgindo, assim, o
“Comitê de Basiléia”, criado com o objetivo de criar controles para dar credibilidade, mitigar
riscos e fortalecer cada vez mais o sistema bancário internacional.
UNIDADE 2
SIGNIFICADO DO TERMO, OS TIPOS DE OPERAÇÕES E RAZÕES PARA
UMA FUSÃO OU AQUISIÇÃO
O termo Fusões e Aquisições (F&A) derivou do termo, em inglês, M&A (Mergers and Acquisi-
tions), que são processos de negociações entre empresas (Pessoa Juridica) ou Pessoas Físi-
cas (cotistas) que têm interesse em negociar a participação em uma empresa.
A Figura 1 ilustra, por exemplo, a configuração societária final provável para a operação que
envolveu a United Health e a Amil S.A. As duas empresas continuaram existindo devido às
questões jurídico-regulatórias, pois é necessária a existência de pessoa jurídica constituída
no Brasil, e a United Health tem capital estrangeiro. Perceba que é comum que, em um
segundo momento, a A incorpore1 B, resultando na sobrevivência de apenas uma empresa
(A). Na verdade, esse último movimento é uma reorganização societária pós-compra que
pode otimizar a captura de sinergias e de benefícios ou créditos fiscais2. A captura de certas
sinergias somente é possível caso 100% do capital social da empresa B pertença à empresa
A ou, ainda mais profundamente, quando B deixar de existir, pois sempre haverá algum tipo
de ineficiência enquanto as duas empresas existirem.
■■ Incorporação de empresas
Operação em que uma ou mais empresas são absorvidas por outras. Portanto a empresa
incorporada desaparece, mas lembre-se de que este não é um processo simples.
1 De acordo com a Lei das S.A., artigo 227, incorporação é a operação pela qual uma ou mais sociedades são
absorvidas por outra, que lhes sucede em todos os direitos e obrigações.
2 Uma reestruturação societária também precisa ser analisada criteriosamente sob a ótica fiscal e contingencial.
Ao final, a empresa A será responsável pelos ativos e também pelos passivos de B.
18 FUSÕES E AQUISIÇÕES
■■ Cisão de empresas
Essa operação acontece quando há um rompimento, ou seja, a empresa se divide, criando
uma ou mais empresas. Parte de seus ativos podem formar outra empresa (nesse caso,
uma ou ambas podem continuar ou desistir). As novas empresas assumem as suas res-
ponsabilidades individualmente. Exemplo: A Sony anunciou, em 16/02/2012, que a sua
parceria com a Ericsson na divisão de produtos mobile estava oficialmente encerrada.
■■ Joint Venture
Operação em que se cria uma nova empresa, mas os sócios continuam a existir com
as suas operações de forma independente. Vale ressaltar que os principais direitos e
deveres da Joint Venture são definidos em contrato. Observe, que, em caso de “acordo
comercial”, não é necessária a criação de uma nova empresa. Kogut (1988) propõe que
uma JV ocorre quando uma ou mais firmas colocam uma porção de seus recursos como
uma organização legal comum.
■■ Fusão de empresas
De acordo com a Lei da S.A., artigo 228, fusão é a operação pela qual se unem duas ou
mais sociedades para formar uma nova sociedade, que lhes sucederá em todos os direi-
tos e obrigações. A figura a seguir é um exemplo de arranjo societário em fusões.
Societariamente, esse processo pode se dar por meio da criação de uma holding não ope-
racional (ver figura 2), que, em seguida, poderá incorporar as empresas operacionais (A, B e
C). Como exemplo, podemos pensar na criação da AmBev, holding que passou a controlar as
empresas dos grupos Antarctica e Brahma no final da década de 1990.
Saiba, ainda, que o conceito de fusão também é adotado em transações em que uma
empresa consolida outra em um processo semelhante ao apontado na Figura 1. A participa-
ção em B é paga com ações de A, e não em dinheiro, ou seja, a troca de ações se dá em uma
das empresas já existentes. Como exemplo, pense no caminho adotado na fusão Perdigão/
Sadia. Em um segundo momento, a subsidiária pode ser incorporada.
Agora que estudamos os tipos de operações de Fusões e Aquisições, veremos que elas
podem ser classificadas da seguinte forma:
■■ Horizontal: negócios entre empresas do mesmo ramo de atividades. Exemplo: compra
da Brasil Telecom pela Oi.
Agora veja que, dependendo de como o processo de takeover (tomada de controle) é condu-
zido, a aquisição pode ser considerada:
■■ Hostil (hostile takeover): ocorre quando uma empresa faz uma oferta de compra aos
acionistas de outra empresa, sem que haja anuência ou mesmo conhecimento do Con-
selho de Administração. Esse tipo de operação somente tem lugar em companhias de
capital aberto, com substancial grau de pulverização de seu capital3. No Brasil, são pou-
cas as empresas sem controle definido (exemplo: HRT S.A. e Lojas Renner S.A.), e elas
estão exclusivamente cotadas no Novo Mercado (BOVESPA).
3 As chamadas “corporações” não possuem controle definido. Ou seja, um grupo de acionistas reúne-se em
torno de um acordo que objetiva direcionar e liderar o desenvolvimento dos negócios.
20 FUSÕES E AQUISIÇÕES
PARE PARA
PENSAR
Saiba, ainda, de acordo com um levantamento realizado pela Economatica, que os bancos
foram os que mais pagaram dividendos JCP no ano de 2017 no Brasil, com destaque para o
ItauUnibanco, que distribuiu R$ 10,7 bilhões aos investidores nesse período – um aumento
de 38,1% em comparação a 2016. Na sequência, temos as empresas Ambev (R$ 8,8 bilhões),
Bradesco (R$ 6,3 bilhões), Santander (R$ 5,9 bilhões e Cielo (R$ 4,9 bilhões).
Ainda de acordo com a Economatica, em 2017, as 20 empresas que mais pagaram dividen-
dos na bolsa brasileira distribuíram, juntas, mais de R$ 61,8 bilhões aos seus acionistas. Esse
resultado é considerado o melhor desde o início da série histórica, em 2010. Perceba que
essas empresas têm capacidade de ir às compras e expandir seus negócios, tanto no mer-
cado nacional quanto no internacional.
CAPÍTULO 1 21
Como você pôde perceber, os setores de Energia Elétrica e os Bancos são os mais presentes
entre as 20 empresas mais lucrativas no 2° trimestre de 2018. Sob outro ponto de vista, três
empresas registraram quedas em sua lucratividade em relação ao mesmo período do ano
de 2017.
UNIDADE 3
OS TIPOS DE ARRANJOS ECONÔMICOS E AS RAZÕES QUE LEVAM AO
NÃO ATINGIMENTO DOS OBJETIVOS EM OPERAÇÕES DE FUSÕES E
AQUISIÇÕES
■■ Essas diretrizes apontam para a realização de uma operação de F&A? Por quê?
Tenha em mente que as Fusões e Aquisições podem permitir que as empresas cresçam e
mudem a natureza de seus negócios ou posição competitiva. De acordo com Peter Drucker
(1973), o pai da administração moderna, “a principal finalidade de um negócio é criar e man-
ter um cliente”. Mas, para que isso aconteça, as questões apresentadas precisam ser res-
pondidas por uma equipe de profissionais altamente qualificados, contratada com o obje-
tivo de atender aos anseios de um determinado grupo de investidores. Caso contrário, os
riscos de perdas (sejam elas de recursos, tempo, clientes, etc.) são absurdamente elevados.
4 São os acionistas que decidem o futuro das companhias. Nesse caso, agem indiretamente através do Conselho
de Administração (eleito pelos acionistas). As diretrizes estratégicas são desenhadas pelo Conselho de Adminis-
tração e detalhadas e implementadas pela diretoria – o chamado C level (CEO, CFO, COO, etc.).
CAPÍTULO 1 23
Agora teremos uma visão conceitual para o mapa das possibilidades de arranjos econômi-
cos entre empresas. O arranjo mais adequado depende, basicamente, do tempo de com-
promisso desejado e do nível de envolvimento entre as partes. No exemplo anterior,
optou-se por uma estrutura baseada em um tempo limitado e em um nível de envolvimento
baixo, pois não havia a necessidade de compartilhamento acionário.
Outro exemplo seria o caso da United Health, que tinha um grande interesse no crescente
mercado brasileiro de planos de saúde: em 2012, a United Health apresentou uma proposta
por quase 90% do capital social da Amil S.A. (ações do controlador Edson Bueno e família).
Após cinco anos (final de 2017), anunciou interesse na compra dos 10% restantes, e, atu-
almente, a proposta encontra-se em análise. A aquisição da Amil S.A. (uma das líderes do
mercado Nacional) é uma resposta direta ao Planejamento Estratégico da United Health,
que determinou uma entrada rápida e marcante, para obtenção dos melhores resultados
no menor tempo possível no mercado brasileiro. A figura a seguir detalha o nível de envolvi-
mento em uma estrutura societária em Fusões e Aquisições.
Apesar de, tradicionalmente, apenas uma parte do mapa de arranjos econômicos se encaixar
como operações de fusão ou aquisição, é interessante pensar que todos os relacionamentos
apontados têm algo da natureza de Fusões e Aquisições. Todas essas alternativas que buscam
incrementar o retorno do acionista são originárias do Planejamento Estratégico das firmas e
usam, quase sempre, conceitos e ferramentas de avaliação observadas em processos de F&A.
Alguns motivadores estratégicos relevantes podem levar à transação entre empresas e ofe-
recer benefícios aos acionistas. Vale ressaltar que, na grande maioria, os benefícios de uma
F&A para os acionistas são oriundos do somatório de distintos motivadores. Acompanhe
quais são esses motivadores:
Perceba, ainda, que, em Fusões e Aquisições, é difícil afirmar, em curto prazo, se a opera-
ção será um sucesso ou não. Para compreendermos melhor essa questão, vamos pensar
no caso do Banespa. Em 2000, o valor pago pelo banco Santander atingiu espetaculares R$
7,05 bilhões em leilão, o equivalente a um ágio de 281% sobre o preço mínimo de R$ 1,85
bilhão. O segundo colocado, o Unibanco, propôs R$ 2,1 bilhões. O Objetivo do Santander era
ampliar a sua participação no sistema financeiro nacional (de 3,1% para 5,2%), superando,
na época, o Unibanco (4%) e ficando atrás apenas do Bradesco (8,4%) e do Itaú (5,5%).
Por tudo o que estudamos até aqui, é interessante a leitura de trabalhos e estudos sobre o
tema Liderança e Organizações. Afinal, Fusões e Aquisições têm sua natureza forjada pelas
ciências exatas, mas a gestão de F&A e a captura eficaz de sinergias dependem muito da
liderança, conhecimento, bom senso e juízo de valor.
CAPÍTULO 1 27
Resumo
Este capítulo foi dedicado à introdução de conceitos fundamentais em Fusões e Aquisições,
especialmente no que tange às definições, às razões, aos motivadores estratégicos e às
incertezas sobre o sucesso dessas operações.
Por fim, vimos que as razões para o insucesso em Fusões e Aquisições são muitas e estão
associadas às lacunas de julgamento, em especial: problemas referentes ao mercado ou
a segmentos que não são antecipados; o(a) parceiro/empresa-alvo não foi corretamente
definido(a); o prêmio pago foi superavaliado em função de projeções muito otimistas; o
processo de comunicação foi mal planejado ou implementado; e o plano de integração não
foi adequadamente executado.
28 FUSÕES E AQUISIÇÕES
Capítulo 2
AVALIAÇÃO ECONÔMICO-
FINANCEIRA – UMA SOMA DE
CAPACITAÇÕES
CAPÍTULO 2 29
INTRODUÇÃO
OBJETIVOS DO MÓDULO
Para melhor compreensão das questões que envolvem Fusões e Aquisições, este capítulo
está dividido em:
UNIDADE 1
O PROCESSO EM FUSÕES E AQUISIÇÕES
De acordo com Jim Tisch (2012), CEO da Loews Corp, “comprar uma empresa é como entrar
em um quarto totalmente escuro e repleto de armadilhas”.
Ao longo deste capítulo, iremos abordar algumas das armadilhas desse “quarto escuro” des-
crito por Jim Tisch. Mas, antes disso, é importante saber como uma fusão ou aquisição é
conduzida pelas organizações. Para isso, começaremos estudando o grupo tático.
Grupo tático
Existem dois tipos de firmas: as que possuem e as que não possuem grupo tático1 para rea-
lizar as operações de F&A.
As companhias que possuem grupo tático são aquelas que participam ativamente de proces-
sos de Fusões e Aquisições. Dentre as oportunidades existentes, nem todas vão para frente.
1 Normalmente, esse grupo de profissionais lidera o processo internamente, bem como o trabalho dos assessores
externos, como advogados e auditores. Exerce também o papel de estrategista e de avaliador econômico-financeiro.
32 FUSÕES E AQUISIÇÕES
Esse grupo tático é tão importante para algumas empresas que é alocado em áreas/depar-
tamentos normalmente chamados de Estratégico, Novos Negócios ou mesmo Fusões e
Aquisições. Esse grupo pode ser liderado pela diretoria financeira e/ou estar sob a liderança
direta do CEO (presidente) ou do Chairman (presidente do Conselho de Administração) – e
mesmo que este departamento fique hierarquicamente subordinado à diretoria financeira,
funcionalmente/intelectualmente estará ligado ao Chairman. Veja a figura 1.
Chairman
Presidente do Conselho
de Administração
Diretor-geral do Presidente
Depto. de Fusões executivo
e Aquisições
2. Acordo de confidencialidade
Após o recebimento do Teaser, caso as empresas desejem obter mais informações sobre
a oportunidade apresentada, devem seguir para a próxima etapa, que é o Acordo de
Confidencialidade (Confidentiality Agreement ou NDA (Non-Disclosure Agreement)). Esse
acordo deverá ser assinado pelo possível comprador e pela parte vendedora.
Sobre o acordo de confidencialidade em si, ele é essencial, pois é importante não expor a
empresa, para não passar a ideia de fragilidade, seja para clientes, bancos, competidores
e funcionários, etc. Os compradores também não têm interesse no vazamento de infor-
mações consideradas privilegiadas, por isso o sigilo é importante. Muitas companhias
possuem ações negociadas em Bolsas de Valores, que, no Brasil, são reguladas pelas
BMF&Bovespa2 e pela CVM, entre outros órgãos reguladores. O sigilo e a confidenciali-
dade são mandatórios no processo de fusão e aquisição.
5. Memorando de Entendimento
As Non-Binding Offers (Ofertas Não Firmes) consideradas adequadas são aceitas; e seus
emissores, chamados a assinar o Memorando de Entendimento (Memorandum of Unders-
tanding – MoU). No MoU ((Memorandum of Understanding), está estabelecida a agenda das
partes interessadas em relação à oportunidade apresentada, os conceitos e as regras que
guiarão o processo. Nessa etapa, a empresa investidora poderá analisar com profundi-
dade os assuntos que dizem respeito à empresa que está em negociação. Inclui-se nesta
etapa o trabalho da diligência técnica (due diligence), que tem como objetivo estudar com
atenção, cuidado e competência as condições comerciais, contábeis, tributárias, traba-
lhistas, etc., visando evitar ou minimizar qualquer tipo de risco ou prejuízo e preparar os
investidores para uma tomada de decisão.
Como exemplo disso, temos a venda do capital total ou parcial; valores; formas de paga-
mento; assunção de passivos; esboço para a governança; cláusula de solução de confli-
tos; e validade do próprio MoU.
CAPÍTULO 2 35
6. Sala e informações
Depois da assinatura do Memorando de Entendimento, o vendedor e seus assessores
preparam a documentação, que será apresentada em dataroom, e convidam os compra-
dores que ainda estão no processo a visitá-la em período determinado. Após a visita ao
dataroom e depois de um período para a sintonia fina entre as informações requeridas
e aquelas disponibilizadas, chega-se ao momento em que os potenciais compradores
devem fazer uma Oferta Firme (Binding Offer) pela empresa.
7. Oferta Firme
A Oferta Firme marca o fim do processo de uma fusão ou aquisição, no entanto, precisa
estar em conformidade com as regras do jogo.
36 FUSÕES E AQUISIÇÕES
Além disso, uma operação de F&A deve ser conduzida no menor tempo possível em função
de alguns argumentos muito pertinentes:
■■ as negociações sempre tiram o foco dos negócios e consomem muita energia dos exe-
cutivos de categoria sênior.
■■ a operação pode gerar instabilidade nas organizações, pois as pessoas começam a espe-
cular sobre o futuro delas mesmas;
Pessoas experientes em operações de F&A indicam que o prazo médio razoável para o
fechamento de uma transação é da ordem de três a seis meses, variando em função da com-
plexidade da oportunidade, da qualidade do ativo e do apetite do comprador e do vendedor,
entre outros aspectos relevantes. Perceba que a complexidade da oportunidade pode ser
determinada pelo tamanho ou pela diversificação (exemplo: Petrobrás x Shopping Center);
pelas limitações do ativo (exemplo: empresas em processos de recuperação judicial); por
envolver acionistas minoritários; ou por necessitar de aprovação de órgãos reguladores
específicos (exemplos: CADE, BACEN, ANEEL, ANATEL, ANP, etc.).
Entretanto, é possível que as transações ocorram em prazos bem pequenos, em casos nos
quais a química entre as partes seja grande.
3 A natureza da transação pode demandar a elaboração de outros contratos, que regerão, por exemplo, o uso de
marcas e patentes ou mesmo a prestação de serviços por uma das partes. Exemplo: acordo para a distribuição
de produtos.
CAPÍTULO 2 37
↓
Acordo de confidencialidade
Envio de Informações básicas
Oferta não firme (Non-Binding Offers)
Planejamento
Memorando de Entendimento (MoU)
Diligência Técnica e Avaliação Econômico-finan-
ceira
↓
Sala de informações
Processos
Execução ⇄ de Ofertas Firme (Binding Offer)
Controle
Negociação de passivos
↓
Contratos de Compra e Venda e Acordo de
Acionistas
Conclusão
Elaboração de contratos e Fechamento da
operação
Assista ao filme Wall Street (1987, do diretor Oliver Stone), pois ele oferece
uma boa encenação do que ocorre na vida real.
INFORMAÇÃO
EXTRA
38 FUSÕES E AQUISIÇÕES
UNIDADE 2
O MODELO TRIPARTE DE AVALIAÇÃO
Para realizar uma fusão, aquisição ou outra operação com natureza semelhante, é necessá-
rio um grupo multifuncional capacitado e experiente. Esse grupo multicapacitado deve ser
formado por avaliadores, auditores e advogados que exercem funções específicas, funda-
mentais para iluminar minimamente o “quarto escuro” descrito por Jim Tisch, conforme visto
anteriormente. Tenha em mente que mesmo as empresas que possuem pessoal qualificado
internamente muitas vezes fazem uso de avaliadores externos. As razões são variadas e
vão desde a falta de “braço” até a necessidade de ter um interlocutor externo à empresa. A
figura a seguir demonstra o modelo de avaliação triparte.
Advogados
■■ assegurar que o cliente possua um entendimento claro dos riscos e dos benefícios em
cada oportunidade de negócio;
■■ atuar para que o processo se desenvolva de uma forma eficiente e em prazo apropriado;
Também há outros avaliadores que fazem parte do processo, pois, em alguns casos, há a
necessidade de avaliadores especialistas em áreas específicas, como estatísticos e atuários,
que qualificam e quantificam o equilíbrio de fundos de pensão ligados às empresas. Os
serviços desses profissionais serão sempre mandatórios quando, por exemplo, a empresa
analisada for solidária com os déficits apresentados pelo seu fundo de pensão associado. Os
resultados desse trabalho são apresentados ao grupo multifuncional para que sejam incluí-
dos na avaliação econômico-financeira.
Outro exemplo são os especialistas que avaliam os chamados Ativos Não Operacionais.
Esses ativos pertencem às empresas, mas não contribuem com a geração de receita e, mui-
tas vezes, nem com o resultado final (lucro). É o caso dos bancos, por exemplo, que retomam
CAPÍTULO 2 41
Quanto aos papéis de natureza contenciosa, são exercidos por advogados que executam
a parte jurídica da diligência técnica e:
■■ verificam a existência de riscos e passivos legais oriundos de processos judiciais e admi-
nistrativos nos âmbitos societários, civil, trabalhista/ laboral, fiscal, ambiental, etc.
■■ verificam os registros legais dos ativos, como registro de marcas e patentes, imóveis, etc.
Quanto aos papéis de natureza societária, são exercidos por advogados preocupados
com a modelagem da transação, a fim de assegurar que o modelo definido tenha respaldo
regulatório, eficiência fiscal, e sólida estrutura societária. Nesse grupo, há outros advogados
especialistas que dão corpo aos documentos societários, como o Acordo de Acionistas; e
comerciais, como o de compra e venda.
UNIDADE 3
DILIGÊNCIA TÉCNICA E SUAS IMPLICAÇÕES
A diligência técnica é muito importante para o sucesso de uma F&A. No caso do Banco Pana-
mericano, foram considerados os seus resultados históricos e perspectivas, suas ações pas-
saram a ser negociadas na Bovespa em 2007 – e, no final de 2010, logo após a entrada
da Caixa Econômica Federal (CEF) no capital do Panamericano, foi descoberta uma fraude
de R$ 2,5 bilhões que surpreendeu a todos. Segundo divulgação na época, a fraude vinha
ocorrendo há muitos anos, sendo provável que estivesse ocorrendo inclusive antes do IPO.
Observe que os números do Panamericano foram checados várias vezes ao longo do tempo:
4 O Initial Public Offering (IPO) determina o momento em que uma sociedade anônima passa a ter capital aberto
com ações negociadas em Bolsa de Valores.
CAPÍTULO 2 43
■■ os balanços anuais e trimestrais, bem como outras publicações, eram auditados anual-
mente pela empresa de auditoria Deloitte (2009/2010);
■■ o Banco Central do Brasil, órgão regulador do setor bancário, determina que os bancos
enviem suas posições diariamente, visando avaliar ou interferir em situações de stress
de liquidez de bancos;
■■ para a realização do IPO, foi necessária a elaboração de uma diligência técnica detalhada
(2007);
Sim, mas há limitações: a diligência técnica não é um trabalho adequado para identificar
fraudes. Isso requer profissionais distintos, que tenham acesso à empresa investigada de
forma ilimitada e com prazos adequados (o dataroom fica aberto apenas alguns dias).
Além disso, é importante ter em mente que as diligências de hoje em dia são compostas
pelo somatório de procedimentos pré-acordados. O auditor se responsabiliza apenas pelos
procedimentos executados, reduzindo os riscos da sua atividade. Ou seja, o escopo e a res-
ponsabilidade das firmas de auditoria estão limitados aos procedimentos executados.
Não se trata aqui de minimizar a importância dos auditores, mas de fazer um alerta para
que os profissionais, ao contratarem serviços de diligência técnica, estejam bastante atentos
ao conteúdo das propostas emitidas pelas firmas de auditoria. Adicionalmente, é impor-
tante que as decisões de compra de serviços dessa natureza sejam ponderadas também
pela qualificação da equipe de profissionais que executarão o serviço. A firma de auditoria
tem de conhecer o mercado no qual atua o seu cliente, conversar com a auditoria interna
do contratante, observar a evolução dos saldos de abertura e finais, bem como verificar se
todas as operações realizadas ao longo do tempo foram devidamente registradas.
Em prazos normais, uma diligência deveria durar de 30 a 45 dias. No entanto, os prazos para
realização dos trabalhos são preacordados entre os envolvidos na negociação. Quanto mais
atualizadas as informações, melhor será para o processo de F&A.
■■ executar uma análise histórica da apuração dos passivos fiscais e trabalhistas e dos res-
pectivos recolhimentos ou compensações;
■■ revisar os papéis de trabalho dos auditores independentes nos últimos cinco anos, espe-
cificamente no que tange às revisões efetuadas pelos especialistas tributários;
■■ revisar os papéis de trabalho dos auditores independentes nos últimos cinco anos;
UNIDADE 4
ANALISANDO OS RESULTADOS DE UMA DILIGÊNCIA TÉCNICA
Os resultados da diligência técnica são apresentados na forma de ajustes que afetam direta
ou indiretamente o patrimônio líquido, seja por meio das variações de ativos/passivos, seja
quando reduzem/aumentam o lucro.
■■ ausência de Provisões para Devedores Duvidosos (PDD): indica que a conta de clientes
está superestimada, já que toda empresa tem algum nível de inadimplência. A redução
do patrimônio líquido é a contrapartida do lançamento de uma PDD;
■■ ausência de controle do ativo imobilizado: caso a empresa não tenha as notas fiscais
para comprovar a propriedade dos ativos, estes serão excluídos das Demonstrações
Financeiras. A contrapartida é a redução do patrimônio líquido;
Perceba, com base nessa amostra, por conta de ajustes contábeis, haverá uma redução de
R$ 100 milhões no patrimônio líquido da empresa- alvo.
Veja, agora, uma amostra de itens que são apontados normalmente em diligências
técnicas nos âmbitos tributário e trabalhista/previdenciário:
■■ falta de recolhimento de ICMS: isso pode ocorrer por muitas razões, incluindo a falta de
compreensão da legislação vigente. Muitas empresas, notadamente as de menor porte,
sofrem com as limitações dos seus departamentos contábeis. Mais uma vez, a redução
do patrimônio líquido será a contrapartida caso a Receita Estadual aponte o débito;
CAPÍTULO 2 49
■■ profissionais trabalhando como Pessoa Jurídica (PJ): para diminuir a folha de pagamento,
muitas empresas adotam metodologias de contratação não permitidas pela legislação
trabalhista vigente. A contratação de funcionários via PJ é muito comum, bem como
o pagamento de comissões que não são caracterizadas como salário. Mais uma vez,
caso a empresa sofra uma fiscalização ou os profissionais recorram à justiça, a empresa
sofrerá com novos passivos. A contrapartida será a redução do patrimônio líquido.
TABELA COM VALORES HIPOTÉTICOS MÍN. (R$ MIL) MÁX. (R$ MIL)
Enquanto os temas contábeis permitem uma interpretação única sobre os valores, aspec-
tos tributários/fiscais e trabalhistas/previdenciários podem apresentar intervalos de risco/
perda. Observe que o item 1 da tabela 2 refere-se ao auto de infração, sendo, portanto, um
passivo com números estabelecidos no próprio auto, apenas não tendo sido contabilizados
até o momento da diligência técnica. Os demais itens ainda não se materializaram como
passivos, haja vista que a empresa ainda não foi fiscalizada quanto aos itens 2 e 3.
Saiba, ainda, que o relatório de diligência técnica busca apontar os valores mínimos e máxi-
mos para perda:
■■ O primeiro caso refere-se às perdas quando a empresa comunica voluntariamente aos
órgãos competentes suas práticas.
Por razões óbvias, será sempre do interesse do comprador avaliar todos os possíveis riscos
existentes (R$ 110 milhões – Tabela 2), diferentemente do vendedor (R$ 10 milhões), que
poderá alegar que sua empresa não será investigada ou denunciada – mas isso é algo que
ele não pode garantir. Portanto, a análise apresentada é uma especulação de baixíssima
50 FUSÕES E AQUISIÇÕES
ou nenhuma probabilidade. Assim, restaria apenas o auto de infração (item 1 da tabela 2).
Nesse contexto, um olhar com maior aversão aos riscos do negócio se traduzirá em passi-
vos/contingências maiores em relação ao contabilizado nas Demonstrações Financeiras. E
é preciso ter em mente que passivos/contingências maiores significam redução do preço.
Contudo, também há razões legítimas para esse comportamento do comprador. Como ele
não vive o dia a dia do ativo-alvo, suas interpretações em relação ao “quarto escuro” serão
sempre mais difíceis e arriscadas. Nesse caso, cabe outro ditado popular: “prudência e canja
de galinha não fazem mal a ninguém!”.
De fato, as divergências de visão entre as partes também se espraiam para temas que, a
princípio, poderiam parecer mais convergentes. Observe, nas tabelas (1 e 2), com aspectos
contábeis, que o ajuste 1 representa uma saída/perda de caixa efetiva; o ajuste 2 representa
uma perda estimada de caixa; e o item 3 já representa uma perda meramente contábil.
Nesse contexto, sob o ponto de vista do comprador ou do vendedor, quase tudo pode ser
justificado. No entanto, torna-se um equívoco, por parte do vendedor, receber uma diligên-
cia técnica sem que as condições de ajuste de preços não tenham sido muito bem definidas
no MoU, sob pena de a oferta vinculante ser tão firme quanto uma Non-Binding Offer. Veja
que, nesse caso, a tendência do comprador é a de criar um contexto de oferta firme para
ter acesso aos números em detalhes, mas introduzindo pequenas armadilhas a seu favor
que possam oferecer-lhe um way out confortável. Para o comprador, a falta de cuidado ao
definir as regras para a diligência técnica pode obrigá-lo a comprar algo inviável (quando os
passivos identificados são muito elevados ou inadequados ao futuro da empresa) ou limitar
o alcance de sua ferramenta investigativa.
CAPÍTULO 2 51
Em termos práticos, quando as regras do MoU não promovem uma interpretação consen-
sual pelas partes, busca-se o consenso pela via negocial. Nesse ambiente em que se pode
tudo (desde que esse tudo seja acordado entre as partes), existe, inclusive, a possibilidade
de a parte vendedora dar garantias à parte compradora para cobrir determinado passivo
que venha a se materializar no futuro, evitando, assim, o desconto de preço no presente.
Há também casos em que o vendedor não deseja reter nenhuma obrigação em relação ao
ativo vendido. É uma boa ilustração a entrada do BTG no capital do banco Panamericano.
Nessa transação, Silvio Santos, o até então controlador do banco, fazia questão de uma
venda com porteiras fechadas.
52 FUSÕES E AQUISIÇÕES
Resumo
Este capítulo foi dedicado ao conhecimento do processo de Fusões e Aquisições, seus atores
e produtos e resultados implícitos. Em termos processuais, verificamos que uma fusão ou
aquisição deve ser conduzida de maneira formal, segregada por etapas e de forma docu-
mental, para que sejam protegidos os interesses e os compromissos assumidos pelas par-
tes. Ao longo do processo, também é preciso estar atento aos prazos de execução e à confi-
dencialidade das informações trocadas.
De formal geral, as etapas em Fusões e Aquisições são: i) Teaser; ii) MOU; iii) Diligência Téc-
nica; iv) Oferta Firme; e v) Acordos para o fechamento da transação.
Também vimos que, para uma boa execução em operações de F&A, é necessário, além de
dominar o processo, conhecer o negócio e apoiar-se em capacitações específicas. O Modelo
Tripartite, composto por avaliadores, advogados e auditores, oferece um grupo multifuncio-
nal capaz de analisar a empresa-alvo em todas as suas dimensões. Todavia, aspectos relati-
vos aos prazos, aos objetivos e ao escopo de trabalho, notadamente no âmbito da diligência
técnica, podem gerar resultados que estão limitados pelos procedimentos executados.
Por fim, observamos que os resultados apontados pelo relatório de diligência podem ser de
muitas origens – contábil, fiscal, trabalhista, etc. – e podem afetar ou não a posição em caixa
da empresa-alvo, tanto na data base quanto no futuro.
Geralmente, os ajustes propostos pelo relatório de diligência técnica são negociados livre-
mente entre as partes compradora e vendedora. Eles podem inviabilizar a transação, caso
sejam muito elevados ou de natureza insustentável pela parte compradora; apresentar uma
visão já definida do risco/perda, notadamente em itens contábeis; ou apresentar uma visão
de intervalo de risco/perda (aspectos fiscais e trabalhistas, por exemplo). Em linhas gerais,
o vendedor consegue avaliar melhor os riscos de passivos e contingências por tê-los vivido.
CAPÍTULO 3 53
Capítulo 3
A IMPORTÂNCIA DA
TESE DE PROJEÇÃO, DAS
METODOLOGIAS DE AVALIAÇÃO
E DAS ALTERNATIVAS DE
FINANCIAMENTO
54 FUSÕES E AQUISIÇÕES
INTRODUÇÃO
OBJETIVOS DO MÓDULO
■■ avaliar o uso das possibilidades de financiamento em F&A pelo seu custo implícito.
Para melhor compreensão das questões que envolvem Fusões e Aquisições, este capítulo
está dividido em:
UNIDADE 1
A IMPORTÂNCIA DA TESE DE PROJEÇÃO
E DA LINGUAGEM CONTÁBIL
Ao avaliar qualquer ativo ou oportunidade de negócios, é preciso estar atento aos sinais
emitidos pela cadeia de valor e pelas variáveis-chaves do negócio, para que os resultados
não sejam prejudicados. As decisões em Fusões e Aquisições estão baseadas em um juízo
de valor ou tese de projeção. O primeiro aspecto a ser considerado na análise financeira é
se a transação faz sentido do ponto de vista estratégico para a organização.
Ficou curioso para saber mais sobre a cadeia de valor e as variáveis-chaves? Então siga em
frente!
CAPÍTULO 3 57
Cadeia de valor
Trata-se da cadeia de participantes do mercado que encontra, no valor pago pelo consumi-
dor, a soma dos seus respectivos faturamentos. Como exemplo, podemos citar o setor elé-
trico, do qual participam o governo (por meio de impostos e taxas), as geradoras de energia,
as transmissoras e as distribuidoras. Todos disputam um percentual no valor da sua conta
de luz. Cada participante tenta, com base em suas diretrizes estratégicas, avançar sobre
o terreno do outro ou convencer o consumidor a pagar mais pelos seus serviços. Outro
exemplo vem do caso da Brahma, que já na década de 1990 havia montado sua distribuição
própria visando criar valor ao acionista1.
Perceba, ainda, que fatores externos também podem causar perdas. Como exemplo disso,
podemos citar o plano do governo brasileiro que reduziu as tarifas de energia no primeiro
trimestre de 2013, alterou a cadeia de valor e reduziu a conta de energia a pagar pelo con-
sumidor. No entanto, como foi uma decisão equivocada, não demorou para que todos os
consumidores tivessem que pagar pelo prejuízo que essa medida provocou.
Variáveis-chaves
Veja, ainda, que a análise é mais complexa no caso de empresas da área de Tecnologia da
Informação, ou multidiversificadas. Como exemplo disso, podemos citar a Vale S.A., que está
presente em diversos países e é considerada uma das maiores mineradoras do mundo,
além de operar em segmentos como: energia, logística, siderurgia, etc.
Pensar nas variáveis-chaves de cada negócio é percorrer aquela que ficou conhecida como
a “fórmula da Du Pont modificada”.
1 Muitos distribuidores eram ineficientes em termos econômicos e operacionais. A Brahma beneficiou-se com o
fim desses contratos de distribuição.
2 A transmissora é obrigada a manter a linha de transmissão disponível. Caso contrário, haverá penalidades
que reduzem o faturamento previsto. Ao mesmo tempo, uma Operação e Manutenção (O&M) ineficiente pode
impactar os custos operativos e reduzir lucros.
58 FUSÕES E AQUISIÇÕES
modelo de lucro estratégico, uma forma de decompor o ROE em três macroambientes: Giro
do Ativo; Lucratividade e Alavancagem, que dizem muito sobre o passado, o presente e o
futuro provável das empresas.
Cabe ao avaliador, além do pensamento estratégico refinado, realizar uma análise criteriosa
dos balanços, pois o histórico de números e resultados das empresas é elaborado na lingua-
gem contábil.
ROE é uma ferramenta para avaliação das empresas e é um importante instrumento para
as funções do controller financeiro. Tem como objetivo mensurar quanto um investimento
(empresa) rende em determinado período de tempo em relação ao capital investido. Este é
o principal interesse do investidor/acionista, que, para aportar recursos (investir), necessita
dessas informações. Se os dados não atenderem às suas expectativas, possivelmente não
participará da negociação. Na figura a seguir, acompanhe a fórmula Du Pont modificada.
LL LL V AT
RSPL = = × =
PL V AT PL
LL LL V AT
SPL = = × = Giro de ativo (Faturamento / Ativo total)
PL V AT PL
LL LL V AT
RSPL = = ×= Lucratividade
= (Lucro líquido / Faturamento)
PL V AT PL
LL LL V AT
RSPL = = ×= Alavancagem
= (Ativo total / Patrimônio Líquido/)
PL V AT PL
LL LL V AT
RSPL = = Por×simplificação,
= o resultado dessa equação é igual ao retorno sobre o Capital empregado
PL V AT PL
(Lucro líquido / Patrimônio líquido)
LL LL V AT
RSPL = =→ Lucro
× Líquido
= / Patrimônio Líquido = RSPL → Retorno sobre o Patrimônio Líquido (em Por-
PL Vtuguês)
AT = PL
ROE → Return on Equity (em Inglês).
Aumentam as despesas
ROE Alavancagem financeiras e diminui
a margem líquida.
Quanto maior a
Lucratividade lucratividade,
melhor o resultado.
Intangível 0 0 0
Mesmo sem saber o nome da empresa ou conhecer o seu contexto atual, muitas conclusões
podem ser retiradas das demonstrações financeiras. Algumas delas denunciam, inclusive,
temas estratégicos para as companhias.
Com dívidas em bancos e com partes relacionadas que somavam cerca de R$ 1,7 bilhões
(74% do total do ativo), a empresa conseguiu reduzir o seu endividamento bruto em R$ 400
milhões (cerca de 25%) em dois anos (Tabela 2). Todavia, o pagamento de dívidas não foi o
único driver estratégico no período observado.
62 FUSÕES E AQUISIÇÕES
INFORMAÇÃO
EXTRA
Para concluir, vamos observar outras três contas contábeis que nos dirão muito. A variação
do ativo imobilizado foi mínima no período, indicando investimentos abaixo do nível de
depreciação (Tabela 1). Em paralelo, a redução na posição de caixa (Tabela 1), em associação
com a redução do capital social (Tabela 2), indica que os acionistas desejam um nível mínimo
de dividendos, mesmo diante do cenário de alavancagem mais elevada (Tabela 2).
Veja que, através das análises horizontais e verticais de Demonstrações Financeiras, ótimas
informações são reveladas sobre a estratégia da empresa, sobre o comportamento das vari-
áveis-chaves ou até mesmo sobre a cadeia de valor.
UNIDADE 2
METODOLOGIAS DE AVALIAÇÃO – COMENTÁRIOS A PARTIR DA
EXPERIÊNCIA PRÁTICA
Existem muitas metodologias de avaliação que podem ser utilizadas durante processos de
Fusão e Aquisição. Em uma negociação, as partes interessadas não são obrigadas a utilizar
a mesma metodologia. Cada lado decide como deseja avaliar suas oportunidades, exceto
quando a operação envolve OPA (Oferta Pública de Ações).
CAPÍTULO 3 63
Uma Oferta Pública de Aquisição de ações de companhia aberta (OPA) pode ocorrer nas
seguintes modalidades:
d) OPA voluntária, que vise à aquisição de ações de emissão de companhia aberta não
especificadas nas condições anteriores;
e) OPA para aquisição de controle de companhia aberta (é a OPA voluntária de que trata
o art. 257 da Lei 6.404/76);
f) OPA concorrente.
De acordo com a Instrução CVM n° 361, de 5 de fevereiro de 2002, uma Oferta Pública de
Ações (OPA) requer uma avaliação (o laudo de avaliação poderá avaliar a companhia em uma
faixa de valores mínimo e máximo, desde que a diferença entre tais preços não ultrapasse
10%) por meio de duas das seguintes metodologias:
■■ preço médio ponderado de cotação das ações da companhia-objeto na bolsa de valores
ou no mercado de balcão organizado, nos últimos 12 (doze) meses, se houver, discrimi-
nando os preços das ações por espécie e classe;
64 FUSÕES E AQUISIÇÕES
■■ valor do patrimônio líquido por ação da companhia – objeto apurado nas últimas infor-
mações periódicas enviadas à CVM;
■■ valor econômico da companhia – objeto por ação, calculado pela regra do fluxo de caixa
descontado ou por múltiplos, conforme se entender fundamentadamente mais ade-
quado ao caso da companhia, de modo a avaliá-la corretamente;
■■ valor da companhia segundo o critério de avaliação adotado pelo ofertante para a defi-
nição do preço justo, se for o caso, e se não estiver abrangido nos incisos anteriores.
Compreenda, a seguir, cada uma das metodologias normalmente utilizadas, além de suas
vantagens e desvantagens.
Esta metodologia consiste na observação das negociações realizadas com cada classe de
ações por um determinado período de tempo. Calcula-se o preço médio das ações a partir
dos volumes diários negociados em bolsa de valores ou em mercado de balcão organizado.
O período de tempo utilizado deve ser suficientemente amplo, de modo a minimizar o efeito
de eventual volatilidade. A Instrução CVM n° 361 determina o período de 12 meses como
base para o cálculo do preço médio ponderado das ações.
Esta metodologia expressa a visão contábil para o valor de uma empresa. A grande crí-
tica em adotar o valor do patrimônio líquido como referência reside no fato de que muitas
empresas possuem ativos intangíveis valiosos que, por princípio contábil, não são contabi-
lizados e, por consequência, não são usados para a valorização do patrimônio líquido. De
acordo com o estudo da Interbrand, divulgado em dezembro de 2017, o valor da marca Itaú
foi precificado em R$ 28,2 bilhões. Também pesa o fato de o patrimônio líquido representar
resultados passados, e não a expectativa futura de lucros e da geração de caixa.
CAPÍTULO 3 65
Múltiplos de valor
De forma geral, os múltiplos mais utilizados são o EBITDA e o lucro líquido. Com o EBITDA, a
relação se estabelece com o Firm Value (FV/Ebitda), pois o conceito de EBITDA não carrega
nenhum componente de capital de terceiros, portanto, nada mais justo que a compara-
ção seja feita incluindo todos aqueles que financiaram a companhia: acionistas (patrimônio
líquido) e credores (dívidas).
66 FUSÕES E AQUISIÇÕES
Com o lucro, a relação é mais intuitiva, estabelecendo-se com o valor de mercado das ações
(Preço por ação/ Lucro por ação – P/L).
EXTRA
Esta é uma metodologia de fácil entendimento, mas você deverá convencer a outra parte
da adequação do preço ofertado ou desejado. Além disso, uma grande desvantagem desta
metodologia é o fato de que os múltiplos aplicados refletem as percepções atuais de mer-
cado, o que pode implicar resultados elevados quando o mercado está superavaliado, ou
valores reduzidos quando está subavaliado. Esse descompasso torna-se um problema
quando os mercados estão voláteis ou desfavoráveis.
Esta é a metodologia mais utilizada para a avaliação de empresas, projetos e negócios que
possuam perspectiva de operação por período indeterminado. Captura o valor de todos os
ativos intangíveis, tais como marca, carteira de clientes, carteira de produtos e participação
de mercado à medida que todos esses ativos se refletem na capacidade da empresa de
gerar resultados.
CAPÍTULO 3 67
Essa metodologia estima o valor de uma empresa a partir do valor presente dos fluxos de
caixa projetados para as operações, considerados os ingressos e desembolsos previsíveis
sob a perspectiva de perpetuidade da empresa, inclusive de investimentos necessários à
manutenção e à expansão das atividades.
Essas projeções devem levar em consideração o plano de negócio estabelecido pela admi-
nistração da empresa, a dinâmica e as perspectivas para o setor de atuação, além de aspec-
tos macroeconômicos.
Dessa forma, o valor atribuído a uma companhia é igual ao valor esperado para o Fluxo de
Caixa Livre (FCL ou Free Cash Flow), sendo o Fluxo de Caixa Livre (FCL) igual ao EBITDA redu-
zido ou somado das seguintes contas:
■■ (+) depreciação e amortização, por representarem despesas não desembolsáveis.
■■ (-) aumento na necessidade de capital de giro. Imagine que seus clientes pediram um
prazo de pagamento maior. Isso significa que a empresa irá demorar mais para rece-
ber suas faturas e, assim, necessitar de um capital de giro adicional para suportar esse
aumento de prazo. Esse exemplo pode ser aplicado a todas as contas que tenham natu-
reza de capital de giro, como estoques, fornecedores, impostos a pagar, salários a pagar,
e pode ocorrer por muitas razões;
68 FUSÕES E AQUISIÇÕES
■■ (-) pagamento de imposto de renda e contribuição social sobre esse fluxo operacional;
■■ (-) investimentos em imobilizado e outros ativos que não são itens de capital de giro;
Demonstrativos
Custos/despesas Endividamento Ajustado
de resultados
Ativos e passivos
Fluxo de
Outros caixas não operacionais Valor por ação
caixa
e contigenciais
Valor presente
da perpetuidade
Perceba que a metodologia do FCD pode ser complexa, mas é qualificada para avaliar a
capacidade de a empresa gerar riqueza no futuro. O resultado do cálculo apresenta o lucro
após um ciclo de produção e ainda avalia investimentos, riscos, taxa de desconto, além do
custo de oportunidade, depreciação, entre outros, conforme a figura que acabamos de ver.
CAPÍTULO 3 69
Se considerarmos o mesmo FCF com menos capital de terceiros, teremos uma relação de
50% para cada um (capital próprio e de terceiros). Se o custo de capital próprio fosse de
12% a.a. e o custo de capital de terceiros permanecesse o mesmo, a taxa de desconto para
trazermos, a valor presente, o mesmo FCF, seria de 10% a.a., como resultado da ponderação
entre as duas modalidades de financiamento e o seu respectivo custo de capital. Veja:
A taxa de desconto para trazer o FCF, a valor presente, nada mais é do que o custo, na forma
ponderada, exigido por acionista e credores por tê-la financiado.
Sendo assim, deixamos de nos referir ao denominador desta metodologia como taxa de
desconto e passamos a chamá-lo de custo médio ponderado de capital WACC (Weighted
Average Cost Of Capital).
Veja, na figura a seguir, a sequência de passos para determinar o custo médio ponderado de
capital (WACC). Em seguida, a sua fórmula.
70 FUSÕES E AQUISIÇÕES
WACC
Custo do endividamento
Custo de capital
de terceiros (Debt)
Benefício do imposto
de renda
O Custo Médio Ponderado de Capital (WACC) compõe a metodologia FCD. É uma média pon-
derada das diferentes fontes de financiamento que a empresa utiliza, ponderadas pelo peso
de cada uma delas na sua estrutura de financiamento.
Em que:
WACC = Weighted Average Cost Of Capital = Custo Médio Ponderado de Capital
E = Total do Patrimônio Líquido ( Equity)
D = Total da Dívida (Debt)
Ke = Custo do Capital ao acionista
Kd = Custo da dívida
t = Taxa de impostos (Tax rate)
Antes de avançarmos para as questões que levam à definição do custo de capital próprio,
atente para a importância do tema fiscal impactando o custo do capital de terceiros. Como
a despesa financeira é dedutível de imposto de renda pelas empresas, o custo de capital de
terceiros não será realmente de 8% caso as operações dessa empresa estejam localizadas
no Brasil (34% de imposto de renda e contribuição social).
O custo de capital próprio é estabelecido pela teoria financeira de Capital Asset Price Model
(CAPM), que divide o risco envolvendo as empresas em duas partes: sistemático (aquele
que não é diversificável) e não sistemático (aquele que é diversificável pela composição de
portfólio).
Por fim, o valor obtido pelo desconto FCF a valor presente pelo WACC, chamado de Firm
Value, é somado aos ativos contingentes (apontados na diligência técnica), não operacionais
e às aplicações financeiras (encaradas como caixa excedente em relação às necessidades
operacionais) e subtraído do endividamento e dos passivos contingentes existentes (diligên-
cia técnica) relativos à data-base da avaliação (que deve ser sempre a mesma da diligência
contábil), de modo que se obtenha o valor de 100% das ações da empresa-alvo (Equity Value).
72 FUSÕES E AQUISIÇÕES
A partir das exigências regulatórias da CVM para a Oferta Pública de Ações (OPA), a meto-
dologia de avaliação pelo patrimônio líquido é muito pouco utilizada devido às limitações
conceituais (valor econômico x valor contábil). Em termos práticos, utiliza-se essa metodolo-
gia apenas na avaliação de empresas não operacionais (e pré-operacionais), notadamente
durante o período de investimento em ativo fixo/imobilizado.
O método, pelo valor de mercado, das ações negociadas em bolsa de valores é utilizado com
muita frequência em operações envolvendo participações minoritárias em sociedades anô-
nimas de capital aberto que tenham liquidez mínima para sustentar a análise.
A avaliação por múltiplos está por toda a parte por sua rapidez de execução e pela visão
relativa que proporciona. Há muitos anos, os relatórios de cobertura de companhias listadas
utilizam-se da análise de múltiplos para fazer suas recomendações. Os private equities (PE)
basicamente raciocinam em múltiplos, já que compram hoje para vender amanhã.
A metodologia por Fluxo de Caixa Descontado (FCD) é a mais evocada por ser uma ava-
liação mais segura. Elaborar a projeção do fluxo de caixa de uma empresa é uma atividade
que requer visão estratégica e entendimento dos números históricos. Por ser tão detalhado
e criterioso, esse processo leva, muitas vezes, de três a seis semanas para ser finalizado.
Nesse período, é possível entrevistar executivos da empresa-alvo, tomar conhecimento do
plano de negócio e discutir as limitações da empresa diante dos desafios futuros.
Tudo isso mitiga certas limitações da análise por múltiplos, entre elas:
■■ a grande quantidade de múltiplos adotados e a dificuldade de se encontrar empresas
realmente comparáveis pode levar a um intervalo de valor (valuation) bastante amplo e
indesejável;
■■ a análise por múltiplos não permite avaliar adequadamente a geração de valor oriunda
de sinergias.
74 FUSÕES E AQUISIÇÕES
Por fim, fique atento para o contexto e a estrutura da operação de fusão e aquisição e suas
consequências para o trabalho do avaliador. Algumas vezes, o objeto da avaliação ainda
não existe formalmente porque será fruto da segregação de ativos (spin off ou cisão) e inte-
gralização em outra sociedade. Outras vezes, apenas uma determinada parte do negócio é
retirada no ato da venda. Ainda que essas segregações sejam pequenas, elas não são tri-
viais e dificultam muito a abordagem da avaliação, especialmente quando não há números
detalhados sobre tais segregações. Um exemplo é o caso da avaliação do BESC, que acabou
vendido ao Banco do Brasil em 2008. Nessa transação, teve-se que avaliar o referido banco,
porém, sem considerar a folha de pagamento do Estado, que ainda estava dentro do banco.
Perceba que todos os números históricos do banco incluíam a folha do Estado.
Saiba, ainda, que a característica do ativo também pode alterar o olhar tradicional do avaliador.
Empresas do setor financeiro, bancos e segurados não devem ser avaliadas pela abordagem
do WACC (metodologia de FCD). Já que essas empresas usam o dinheiro como matéria-prima,
é preciso usar uma abordagem diferente. Nesse sentido, as avaliações por FCD de empresas
financeiras são feitas pela abordagem do custo do capital próprio (equity). As despesas finan-
ceiras e amortizações de dívida, em contrapartida do endividamento, são incluídas no fluxo
de caixa que será descontado. Nesses casos, objetiva-se o fluxo de caixa livre para o acionista.
Também no âmbito da metodologia por FCD, há o caso das concessões que possuem prazo de
vencimento e, portanto, não devem incorporar projeções em termos perpétuos.
Há outros casos de ativos ainda mais complexos (ativos biológicos de empresas, como BR
Foods, Cosan e Fibria) ou mesmo de empresas de exploração mineral que disputam áreas
a serem licitadas. Nesse último caso, é recomendado o uso de metodologias que tratem o
ativo como uma opção real.
INFORMAÇÃO
EXTRA
CAPÍTULO 3 75
UNIDADE 3
FINANCIANDO UMA AQUISIÇÃO
A partir de agora, nosso foco estará na aquisição. Vimos que uma fusão trata da união de
duas empresas por troca de ações, e a estrutura de financiamento, quando elaborada, nor-
malmente objetiva fortalecer a operação (cash in), e não o pagamento de acionistas (cash out).
Veremos, agora, como os acionistas pretendem financiar o capital requerido por meio de suas
operações/empresas (e aquisições).
Tenha em mente que o termo financiamento, empregado no parágrafo anterior, não signi-
fica empréstimo ou dívida. O termo chama a atenção para as duas alternativas que sempre
estarão sobre a mesa no momento da decisão: emitir ações ou emitir dívida?
76 FUSÕES E AQUISIÇÕES
Porém, a emissão de dívida não é uma solução óbvia, fácil e garantida, pois nem sempre
os credores estarão dispostos a conceder empréstimos nas condições desejadas pelas
empresas.
Imagine que a empresa Alfa pretende fazer uma oferta de R$ 1 bilhão por 100% das ações
da empresa Beta. Sabe-se que a dívida líquida, ou seja, a diferença entre o endividamento
financeiro total e a posição em caixa ou aplicações financeiras, de Alfa e Beta juntas, mar-
cam zero. Estima-se que o EBITDA conjunto atingirá R$ 200 milhões nos próximos 12 meses.
Com a aquisição, os executivos da Alfa e seus assessores acham provável uma emissão de
dívida a curto prazo da ordem de R$ 600 a 700 milhões (de uma maneira geral, boas com-
panhias conseguem chegar a um nível de endividamento líquido de até 3 a 4 vezes o seu
EBITDA, obtendo pressão relativa sobre taxas e prazos) a taxas competitivas, e pensam que
ainda faltará cerca de R$ 300 a 400 milhões para viabilizar a oferta. Entretanto, são infor-
mados, pelo Conselho de Administração, de que os acionistas querem a oportunidade, mas
não possuem caixa para subscrever ações de Alfa no montante necessário para atender a
oferta à Beta. Como última alternativa, os executivos sugerem uma emissão de ações (IPO),
objetivando a entrada de investidores minoritários ao valor de mercado de R$ 1 bilhão para
100% das ações (equity value). A ideia é que o mercado acionário compre cerca de 28,6%
(R$ 400MM/R$ 1.400MM. Veja que a empresa valia R$ 1 bilhão antes da capitalização. Com
a capitalização de R$ 400 milhões, Alfa passa a valer R$ 1,4 bilhão) do capital da companhia
Alfa e viabilize a oferta à Beta. O Conselho de Administração aprova os procedimentos para
abertura de capital, mas avisa que não aceitará um IPO com valor inferior a R$ 400 milhões
ou uma diluição maior que 28,6%.
Justificar o volume financeiro é mais simples, porque se trata do montante necessário para
realizar a oferta à Beta. Contudo, o tamanho da diluição representa o pulo do gato: se a
diluição for maior que a estimada, implicitamente o controlador terá vendido barato a fatia
na empresa, ou seja, vendas abaixo do preço significam aumento no custo de emissão do
equity (se um ativo possui taxa interna de retorno de 15% (taxa para a qual o VPL é zero), e,
ao vendermos o fazemos com uma taxa de desconto de 20% (WACC), o preço do ativo cairá,
CAPÍTULO 3 77
NA PRÁTICA
T = 198.918
6.723
T = 162.466 18.689
T = 157.484 T = 159.319
15.747 5.481 21.408
T = 137.097 9.904 12.730 14.992
6.240 418 T = 128.104 T = 125.060 15.191
4.396 7.214
7.008 17.655 9.750
16.158 10.446 7.152 11.793
254 16.254 9.684 9.967
7.466 8.252 2.145 17.461 3.005
17.485 2.063 15.892 3.752 766
22.652 873 4.671 26.730
13.382 1.184 31.268 6.111
3.950 9.952 17.824
175 89.996 21.107 4.782 13.132
1.450 88.165
550 75.259 13.269 1.799
19.649 70.473 9.152
64.522 60.598
50.716
Ainda de acordo com o Boletim de Mercado de Capitais, da Anbima (2018), vide figura 6, em 2017,
o País apresentou uma melhora em seu ambiente de negócios. Algumas empresas e famílias bra-
sileiras aproveitaram a redução nas taxas de juros para reduzir/adequar seus endividamentos.
3. Quase dívida ou quase ações: são produtos híbridos que podem, ao longo do tempo,
ser observados como dívida ou ações. As debêntures conversíveis em ações, muitas vezes
utilizadas pelo BNDES, são um bom exemplo de produto híbrido. Uma das vantagens é a
possibilidade de captar valores elevados e ser uma das poucas opções de financiamento
a longo prazo, mas também há desvantagens que precisam ser analisadas com atenção.
Resumo
Esse capítulo foi dedicado à importância de três aspectos cruciais em Fusões e Aquisições.
São eles:
Vimos, ainda, que existem muitas metodologias de avaliação, mas cabe ao avaliador encon-
trar aquela(s) que melhor se adapta(m) às características do ativo-alvo, ao seu contexto e à
modelagem definida para a transação. Evite o uso de metodologias que não são aderentes
ao processo/empresa, pois elas podem confundir os tomadores de decisão ou mesmo difi-
cultar a sua argumentação junto à parte contrária.
Capítulo 4
INTRODUÇÃO
OBJETIVOS DO MÓDULO
Para melhor compreensão das questões que envolvem Fusões e Aquisições, este capítulo
está dividido em:
UNIDADE 1
OS DIFERENTES TIPOS DE TAKEOVERS E O IMPACTO NO
FECHAMENTO DE F&A
Muitos autores convergem sobre as diferentes características que determinam a tomada de
controle (takeover) de uma empresa ou corporação. Como já falamos, no caso das corpora-
ções, elas podem vir na forma hostil ou amigável.
Veja que os takeovers podem ocorrer em três modalidades: aquisição, disputa por procura-
ções e fechamento de capital. A figura a seguir demonstra uma metodologia para estimar o
custo de capital próprio de uma empresa, o que inclui essas três modalidades.
Fusão ou
consolidação
Aquisição
Aquisição
de ações
Fechamento
de capital
Foi dessa forma que a InBev fez a oferta pela Anheuser-busch (AB) – ofereceram US$ 65/ação
e, depois de alguma negociação com o Conselho de Administração da AB, elevaram a oferta
para US$ 70/ação. Outros itens também perdem o uso, como a elaboração do contrato de
compra e venda, já que a compra das ações ocorre no mercado acionário.
Modalidade de Aquisição
Quando compramos somente ativos (e não ações), as atividades de diligência técnica e ela-
boração de contratos de fechamento mantêm-se inalterados, bem como a natureza operativa
dos ativos envolvidos precisa ser claramente entendida. Em alguns casos, questões operacio-
nais, contingenciais, fiscais, entre outras podem tornar o processo ainda mais complexo.
Nesses casos, por razões óbvias, o modelo Tripartite e o Processo de F&A não são aderentes.
86 FUSÕES E AQUISIÇÕES
Nesse caso, realiza-se a oferta pública de aquisição de ações (OPA), e os papéis dos minoritá-
rios serão comprados, garantindo ao ofertante uma maior participação na empresa (ocorre
quando os papeis estão baratos ou há interesse em concentrar para vender). Um exemplo
que podemos citar ocorreu em 2013, quando a Americana United Health adquiriu mais de
90% das ações da Amil para promover o fechamento do capital da empresa.
Saiba que, a princípio, não haverá a atividade de diligência técnica ou a elaboração de con-
tratos para o fechamento da transação.
UNIDADE 2
ÓRGÃOS REGULADORES E CONTRATOS PARA O
FECHAMENTO DA TRANSAÇÃO
Para contextualizar nossos estudos sobre este tema, precisamos entender que as operações
de Fusões e Aquisições precisam ser aprovadas por órgãos reguladores para que o processo
seja concluído. No Brasil, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) é o órgão
antitruste responsável por aprovar operações de F&A relevantes. O Cade é uma autarquia
federal, vinculada ao Ministério da Justiça, com sede e foro no Distrito Federal, que exerce,
em todo território nacional, as atribuições dadas pela Lei nº 12.529/2011. Tem como missão
zelar pela livre concorrência no mercado, sendo a entidade responsável, no âmbito do Poder
Executivo, não só por investigar e decidir, em última instância, sobre a matéria concorren-
cial, como também fomentar e disseminar a cultura da livre concorrência.
VOCÊ SABIA?
Em 2014, a transação entre a Kroton e a Anhanguera foi aprovada com restrições, e o fecha-
mento (closing) só ocorreu após o parecer do Cade. Nem mesmo atividades mais simples,
como o compartilhamento de informações, podem ser realizadas enquanto o Cade não se
pronuncia favoravelmente.
88 FUSÕES E AQUISIÇÕES
No primeiro semestre de 2017, a transação entre a Kroton e a Estácio foi rejeitada pelo Cade,
pois traria forte concentração no segmento da educação, o que levaria a Kroton a ser cinco
vezes maior que a segunda colocada.
Em abril de 2018, a Kroton anunciou outra compra, dessa vez da Somos Educação, operação
que ainda será analisada pelo Cade.
O Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC), que atua na defesa da livre concor-
rência, apoia-se em três ações principais:
■■ Ação preventiva: é a análise dos processos de concentração (fusões, aquisições e incor-
porações de empresas) e cooperação econômica (Joint Venture);
CAPÍTULO 4 89
Há outros órgãos regulatórios que também precisam se pronunciar em função das suas
obrigações legais e administrativas. Entre eles, destacam-se CVM, BACEN, ANP, Aneel, Ana-
tel, Anac, além da Governança Corporativa e do Conselho de Administração da Empresa.
Vamos conhecer a Governança Corporativa no Brasil?
No início dos anos 2000, a Lei das Sociedades Anônimas1 foi alterada, aumentando signifi-
cativamente a voz do acionista minoritário. Em seguida, a Comissão de Valores Mobiliários
apresentou sua cartilha sobre o tema Governança. Atualmente, a própria Bolsa de Valores
de São Paulo possui níveis de governança distintos, que garantem aos acionistas minoritá-
rios direitos superiores aos observados na Lei das Sociedades Anônimas.
■■ as empresas que assumem o compromisso de ir além das exigências mínimas são con-
sideradas empresas diferenciadas e englobam o Novo Mercado, o Nível 2 e o Nível 1.
■■ o Nível 2 tem, obrigatoriamente, práticas adicionais relativas aos direitos dos acionistas
e ao papel e à responsabilidade do Conselho de Administração;
1 Lei das Sociedades por Ações, nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, com suas alterações posteriores.
CAPÍTULO 4 91
■■ o Bovespa Mais Nível 2 foi criado em 2014 com o objetivo de atrair pequenas e médias
empresas à Bolsa. Permite a emissão de ações ordinárias (ON) e preferenciais (PN).
Alguns requisitos dos níveis de governança corporativa da Bovespa poderão ser conferidos
na tabela a seguir:
Capital Somente Ações ON e Somente ações Somente ações Ações ON e Ações Ações
social ações ON PN ON ON PN (com direi- ON e PN ON e PN
tos adicionais) (conforme (conforme
legislação) legislação)
Percentual 25% a partir 25% a partir 25% 25% ou 15%, caso 25% 25% Não há
mínimo de do 7º ano de do 7º ano de o ADTV (avarage regra
ações em listagem listagem daily trading específica
circulação volume) seja
(free float) superior a R$ 25
milhões
92 FUSÕES E AQUISIÇÕES
Ofertas Não há regra Não há regra Esforços de Esforços de dis- Esforços de Esforço de Não há
Públicas de específica específica dispersão persão acionária, dispersão dispersão regra
distribuição acionária exceto para ofer- acionária acionária específica
de ações tas ICVM 476
Com a globalização e considerando tantas ocorrências negativas com perdas financeiras signi-
ficativas em um mercado bastante competitivo, veio também o aumento no nível de exigência
dos investidores. Assim, a empresa que decide adotar com seriedade as práticas de governança
corporativa só tem a ganhar, pois cresce o interesse dos investidores, facilita-se a obtenção de
recursos (caso necessite), e a empresa passa a ser vista pelo mercado de forma diferenciada, e,
consequentemente, os seus resultados e perspectivas de crescimento aumentam.
CAPÍTULO 4 93
Acordo de acionistas
Também é importante que você saiba que o Acordo de Acionistas aborda muitos pontos
críticos, tais como:
■■ regras de não competição, visando impedir que o vendedor abra novo negócio no
dia seguinte;
Dependendo da transação, ainda podem ser necessários outros acordos. Os que regram o
uso da rede de distribuição ou o acesso à capacidade produtiva são exemplos comuns disso.
Nesta unidade. vimos a importância da presença dos Órgãos reguladores e contratos para o
fechamento da transação. Aprendemos que os órgãos reguladores têm o objetivo dar equi-
líbrio à relação entre empreendedor e consumidor e fiscalizar a atuação das empresas, inde-
pendentemente de seu ramo de atuação. Já quanto aos contratos para fechamento da
transação, permitem que o empresário reduza seus custos e evite perdas desnecessárias.
UNIDADE 3
CLÁUSULAS QUE INCENTIVAM OU LIMITAM FUSÕES E AQUISIÇÕES
O objetivo nesta Unidade, portanto, é chamar a atenção para a existência de cláusulas que
possuem como propósito facilitar, impedir ou limitar uma eventual fusão ou aquisição.
Acompanhe os tópicos a seguir.
Período de lock-up
Pode criar restrições à venda por um período determinado. Nesse período, os acionistas
(ou cotistas) não poderão alienar parte ou a totalidade de suas ações. O objetivo é garantir
que os sócios/fundadores permaneçam no negócio por algum tempo. Um exemplo disso
ocorre quando o investidor faz aporte em startups, um ramo de atividade mais recente, de
que o interessado possivelmente não tem pleno domínio, mas acredita no produto e no
crescimento da empresa.
É um mecanismo de defesa contra uma oferta hostil. Tem como objetivo evitar a concentração
de participação relevante por um determinado acionista. Vamos analisar um exemplo disso?
98 FUSÕES E AQUISIÇÕES
Imagine a seguinte situação: o Estatuto Social de uma companhia ABC determina que, caso
algum acionista compre mais de 20% de seu capital, esse acionista deverá fazer uma oferta
com ágio de 15%2 para os demais acionistas. O objetivo é que o custo adicional inviabilize
economicamente as pretensões do ofertante, limitando o potencial de ataques hostis.
Direito de preferência
Se um dos acionistas desejar alienar suas ações na companhia para terceiros, total ou par-
cialmente, ele deve, antes, oferecer essas ações aos demais acionistas. O direito de prefe-
rência não limita a fusão e aquisição, mas, sim, a entrada de um ofertante externo no capital
da companhia, sendo possível evitar que essas ações sejam vendidas para concorrentes ou
investidores que não estejam alinhados estrategicamente com o sócio não vendedor.
2 Deverá ser feita uma avaliação, a valor justo, da HRT, por empresa independente. Com base nesse Laudo de
Avaliação, o acionista com posição relevante deverá ofertar, para os demais acionistas, 115% do valor justo esta-
belecido. Também possui mecanismos para garanti-la como empresa de capital aberto.
CAPÍTULO 4 99
Se um dos sócios recebe uma oferta, o adquirente se obriga a comprar a participação dos
sócios que exigirem o direito de tag along nas mesmas condições.
Temos, aqui, uma sutileza em relação ao drag along. O direito de tag along permite que você
fique acoplado à parte vendedora, ou seja, no âmbito de uma venda, o que ele conseguir,
você também terá direito (caso seja do seu interesse, é claro).
Direito de vender ações (PUT) ou comprar ações (CALL) de um ativo, em uma data futura,
por um preço predeterminado. Geralmente tem fins especulativos ou de hedge.
As cláusulas que vimos nesta unidade podem tanto incentivar quanto limitar uma operação
de Fusões e Aquisições. Essas cláusulas foram criadas a partir da necessidade de fatos e
ocorrências que foram acontecendo ao longo dos anos. Certamente outras ainda virão –
mas o fato é que a sua existência surgiu com o propósito de facilitar, impedir ou limitar uma
eventual negociação que poderá ser desfavorável a alguma das partes envolvidas, sejam
elas: vendedor, comprador, investidor ou acionista.
Resumo
A última parte de nosso curso foi dedicada basicamente às questões inerentes ao fecha-
mento (closing) de uma transação em Fusões e Aquisições.
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CAPÍTULO 4 101
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