Admin,+Art+Bjhr+354+ +dez
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DOI:10.34119/bjhrv3n6-354
RESUMO
Entende-se que o impacto da epilepsia não é determinado apenas pelos aspectos clínicos e gravidade
das crises, mas também por fatores psicológicos e sociais. A imprevisibilidade, o controle ineficaz e
o comportamento durante e após as crises convulsivas, podem causar sentimento de culpa, vergonha
e dependência, levando as pessoas com epilepsia ao isolamento, o qual reforça o estigma social
construído historicamente em torno da doença. Para uma compreensão mais ampla do estado de saúde
dessas pessoas, é fundamental realizar uma abordagem holística que vise atingir seu bem-estar físico,
psíquico e social. O objetivo dessa revisão de literatura científica é buscar a relação entre epilepsia e
depressão, evidenciando aspectos que possuem impacto direto na qualidade de vida desses pacientes.
Como material e método para pesquisa, buscamos os descritores “epilepsia”, “depressão” e “estigma
social” nos bancos de dados bibliográficos Medline, Embase, LILACS e SciELO, além de
documentos oficiais. Como resultados, encontramos que aproximadamente 30% das pessoas com
epilepsia não respondem aos fármacos antiepilépticos, tornando-se mais vulneráveis aos transtornos
depressivos, os quais possuem prevalência variando entre 15% e 60%, cerca de 17 vezes maior que
na população geral. Ensaio Clínico que acompanhou 53 crianças com epilepsia do lobo temporal
resistente a medicamentos por 5 anos, observou que o grupo cirúrgico teve um aumento significativo
no QI e melhor resultado psicossocial. Depressão e epilepsia podem compartilhar mecanismos
patogenéticos, porém na prática clínica ocorre demora injustificável em tratar o transtorno de humor.
Conclui-se que existe uma relação direta e indireta entre epilepsia e depressão. Portanto, deve-se
referenciar precocemente esses pacientes para um centro especializado com equipes
multidisciplinares para definir melhores estratégias de tratamento. É necessário promover projetos
para orientação da comunidade, visando diminuir o estigma social, além de oferecer suporte aos
familiares, aos quais são pilares fundamentais para o sucesso da abordagem desses pacientes.
ABSTRACT
It is understood that the impact of epilepsy is not only determined by the clinical aspects and severity
of the attacks, but also by psychological and social factors. Unpredictability, ineffective control and
behavior during and after seizures can cause feelings of guilt, shame and dependence, leading people
Braz. J. Hea. Rev, Curitiba, v. 3, n. 6, p. 19801-19810. nov./dez. 2020. ISSN 2595-6825
19802
Brazilian Journal of health Review
with epilepsy to isolation, which reinforces the social stigma built historically around the disease. For
a broader understanding of the health status of these people, it is essential to take a holistic approach
that aims to achieve their physical, psychological and social well-being. The purpose of this review
of the scientific literature is to seek the relationship between epilepsy and depression, highlighting
aspects that have a direct impact on the quality of life of these patients. As material and method for
research, we searched for the descriptors "epilepsy", "depression" and "social stigma" in the
bibliographic databases Medline, Embase, LILACS and SciELO, in addition to official documents.
As a result, we found that approximately 30% of people with epilepsy do not respond to antiepileptic
drugs, becoming more vulnerable to depressive disorders, which have a prevalence ranging between
15% and 60%, about 17 times higher than in the general population. Clinical trial that followed 53
children with drug-resistant temporal lobe epilepsy for 5 years, found that the surgical group had a
significant increase in IQ and a better psychosocial result. Depression and epilepsy can share
pathogenic mechanisms, but in clinical practice there is an unjustifiable delay in treating mood
disorder. It is concluded that there is a direct and indirect relationship between epilepsy and
depression. Therefore, these patients should be referred early to a specialized center with
multidisciplinary teams to define better treatment strategies. It is necessary to promote projects for
community orientation, aiming to reduce social stigma, in addition to offering support to family
members, who are fundamental pillars for the success of these patients' approach.
1 INTRODUÇÃO
Crise epiléptica resulta da alteração súbita e transitória da função cortical, decorrente de
descargas neuronais sincrônicas, excessivas e autolimitadas, expressas por mudanças no movimento,
comportamento ou emoções. A Associação Brasileira de Epilepsia (ABE) propõe a definição de
epilepsia baseada na publicação pela Liga Internacional contra a Epilepsia (ILAE) em 2005, como
um distúrbio do cérebro caracterizado pela predisposição persistente em gerar crises epilépticas e
pelas consequências neurobiológicas, cognitivas e psicossociais desta condição.
O processo em que, após um insulto cerebral agudo, alterações patológicas e fisiológicas
gradualmente ocorrem em determinadas regiões cerebrais, levando à expressão de epilepsia, é
referido como hoje como epileptogênese. A epileptogênese deve-se a um desequilíbrio entre os
mecanismos de inibição e de excitação sináptica que atuam em uma população neuronal suscetível,
levando a um estado de hiperexcitabilidade e hipersincronia. Estas alterações podem ser devido à
predisposição genética ou alterações estruturais dos circuitos neuronais, sendo mediadas por
neurotransmissores e canais iônicos (DICHTER e WEIBERG, 1997). Uma das hipóteses é que as
crises são causadas por um aumento na ativação da via que utiliza o glutamato como neurotransmissor
excitatório e/ou uma diminuição na via que utiliza o GABA como neurotransmissor inibitório
(MORIMOTO et al., 2004).
As primeiras referências sobre epilepsia surgiram em torno do ano 2000 a.C. na antiga
Babilônia, atribuindo à epilepsia caráter mágico e sagrado, pois acreditava-se que ela era a
manifestação de espíritos do mal ou a expressão do descontentamento divino. (REYNOLDS, 1996).
2 OBJETIVOS
O objetivo desse estudo é estabelecer a relação entre epilepsia e depressão, evidenciando a
importância do tratamento integral do paciente ao abordar os aspectos sociais e emocionais, os quais
possuem impacto direto na qualidade de vida.
3 MÉTODOS
Teorizamos nosso estudo a partir de bancos de dados bibliográficos da Biblioteca Virtual em
Saúde (BVS), selecionando informações para embasamento histórico e clínico até as últimas
atualizações sobre a Epilepsia, por meio de publicações da Literatura Internacional em Ciências da
Saúde (Medline), Literatura Latino Americana e do Caribeem Ciências da Saúde (LILACS),
Scientific Eletronic Library Online (SciELO ) e Excerpta Medica dataBASE (Embase), além do livro
Tratado de psiquiatria (2018) e documentos oficiais.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Mesmo após os avanços dos fármacos antiepilépticos, aproximadamente 30% dos pacientes não
respondem à terapêutica clínica, tornando-se refratários ao tratamento medicamentoso (LÖSCHER,
2002).
5 CONCLUSÃO
A partir da observação da realidade de pacientes com epilepsia refratária e dos estudos
realizados para embasamento teórico sobre a doença, podemos concluir que existe uma relação direta
e indireta entre epilepsia e depressão. Mesmo sendo difícil estabelecer com clareza a ligação
patogenética entre essas duas doenças, é importante reconhecer que causas neurológicas em comum
estão possivelmente relacionadas. Para oferecer melhor qualidade de vida para esses pacientes, deve-
se reforçar na classe médica os fatores clínicos preditores de epilepsia refratária, com o intuito de
referenciar precocemente esses pacientes para um centro especializado com equipes
multidisciplinares para definir melhores estratégias de tratamento e, consequentemente, diminuir as
taxas de morte súbita e comorbidades, como transtornos depressivos. Por fim, é necessário promover
projetos para orientação da comunidade, visando diminuir o estigma social, além de oferecer suporte
aos familiares, aos quais são pilares fundamentais para o sucesso da abordagem desses pacientes.
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