Crenças Disfuncionais Pós AVC
Crenças Disfuncionais Pós AVC
Crenças Disfuncionais Pós AVC
Abstract: Stroke is one of the most common diseases in Brazilian daily life. According
to the news agency Portal Brasil (2012), 6 million people die annually from this disease,
68,000 of which in Brazil. This article intends to discuss this theme, and to learn that a
stroke affects the cognition of a victimized person and what beliefs this person may
acquire after the episode. Having as objectives: to know if and how the stroke affects the
cognitive, psychological and emotional life of the subject who is affected by this disease
and the involvement of the psychologist in this process; to understand how the subject
Introdução
O AVC conhecido como derrame cerebral, que ao contrário do que muitos
pensam, acomete pessoas de todas as idades e gêneros, é uma doença que
pode ter causas de ordem biológica e comportamental, a primeira como má-
formação vascular e a segunda, pelos hábitos comportamentais que levam o
sujeito ao desregramento na prática do uso de substâncias lícitas e ilícitas como
o tabaco, o álcool e outras drogas, além do excesso de gordura e sal que
favorece o entupimento das artérias e a elevação da pressão arterial. A diabetes
e a hipertensão estão incluídas neste grupo causal da doença, sendo esta última
o motivo mais relevante para promoção da enfermidade.
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oportunidade de uma qualidade de vida melhor, o que resulta em mais
sofrimento.
A questão que norteia este trabalho é tomar conhecimento de como um
AVC afeta a cognição de uma pessoa vítima dessa doença e como as pessoas
vivenciam suas crenças a partir desse acometimento.
O artigo foi pautado na pesquisa bibliográfica no que se refere ao tema
pesquisado, utilizando o banco de dados do Google acadêmico bem como
revistas científicas dentro desta área como scielo, bireme entre outras.
Este artigo teve como objetivo geral saber se e como o AVC afeta a vida
cognitiva, psicológica e emocional do sujeito que é acometido por essa doença
e a implicação do compreender psicólogo neste processo. E como objetivos
específicos, como o sujeito vivencia o AVC em suas relações consigo, com o
outro e com o mundo a partir de suas crenças diante dessa nova realidade e,
verificar a explicação da psicologia na assistência a este sujeito para que ele
possa ter equilíbrio emocional e psicológico em busca de encorajamento diante
dessa nova realidade.
Este artigo justifica-se pela pouca informação encontrada em livros e
artigos sobre o tema, pela falta de divulgação disponibilizada pelos meios de
comunicação controlados pela mídia e a omissão do Ministério da Saúde e das
secretarias de saúde municipais, estaduais e outros centros de saúde público ou
privado como hospitais, clínicas e dos profissionais de saúde.
Portanto, a busca do conhecimento sobre este assunto pode ser de grande
utilidade, quando feita com seriedade e respeito. Procurar conhecer os seres
humanos, a subjetividade, desejos e possibilidades dos envolvidos em todas as
esferas que circulam os fenômenos fisiológicos, psicológicos, sociais e afetivos.
A proposta de compreender o sentido da vida afetiva e mental do sujeito
que é acometido pelo AVC, provocou nossa curiosidade de fazer um estudo mais
profundo sobre a questão. Como profissional da área de psicologia, pretendo
produzir um artigo que aborda como a pessoa vitimada por esta doença lida com
este novo jeito de ser, ou seja, como a cognição pode ser afetada diante do
acometimento do quadro, trabalhando de forma intensiva, os pensamentos
disfuncionais que tem total influência sobre a maneira que o sujeito se vê, vê o
seu ambiente e o futuro
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1 Acidente Vascular Cerebral (AVC)
O AVC popularmente chamado de derrame cerebral, é uma doença que
atinge pessoas de todas as idades e gêneros. Segundo o Portal Brasil em 2014,
16 milhões de pessoas ao redor do mundo foram atingidos por esta doença que
é imprevisível quanto às sequelas deixadas. Essa imprevisibilidade ocorre
porque nem todos os acometimentos tem a mesma intensidade e acontece em
momentos diferenciados da vida.
PFRK, feminino, 72 anos, solteira, doméstica, 1º grau
incompleto destra. A paciente foi vítima de AVC de
repetição, entretanto, de causa e frequência
desconhecidas. O que resultou numa sequela motora
com Hemiplegia irreversível, laudo da fisioterapia
institucional. Atualmente a paciente apresenta um
quadro de Demência Vascular com sequela Cognitiva,
com humor depressivo, fazendo uso do medicamento
anticonvulsivante (fenobarbital de 100mg uma vez por
dia na parte noturna). (SANTOS, 2014, p. 50)
Para Lima (2007) o AVC é uma doença que acomete a sua vítima pela
morte de alguma parte do tecido cerebral, sendo classificado em isquêmico e
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hemorrágico. AVC isquêmico ocorre pela falta de sangue em determinada área
do cérebro por entupimento de uma artéria e “AVC hemorrágico: ocorre quando
há ruptura de algum vaso sanguíneo com derrame de sangue dentro do cérebro,
aumentando a pressão intracraniana e comprimindo o tecido cerebral” (LIMA,
2007).
1.1 Diagnóstico
Pinheiro (2016) afirma que a pessoa acometida por um AVC terá sintomas
variados dependendo da gravidade do acometimento que indicam a doença; há
casos que o AVC terá descrição tamanha que não dá para perceber tais
sintomas, mas alguns exercícios simples como levantar os braços, apertar as
mãos e fazer uma pequena caminhada, podem indicar o acometimento.
Continuando, Pinheiro (2016) são (sete) os sintomas mais frequentes em
uma pessoa acometida por um AVC. Neste destaque estão: 1. Fraqueza nos
membros - não é muito comum aos quatro membros concomitantemente,
porém, se ocorrer, não ocorrerá com a mesma intensidade. 2. Assimetria facial
– é o que indica como apontamento da boca em direção ao lado não paralisado.
3. Alteração da fala e do discurso – em muitos casos ocorrem a dificuldade em
falar, além da dificuldade de nomear coisas e objetos e, também de não
conseguir repetir palavras ditas por outra pessoa, mesmo reconhecendo e
compreendendo o objeto e o que está sendo dito. 4. Confusão mental – o
discurso do sujeito fica desconexo devido a desorientação de tempo, de espaço
e de local de onde a pessoa se encontra. 5. Alteração da marcha – são
modificações no seu jeito de andar ocorrendo desequilíbrios causados pelo
enfraquecimento da tonicidade em uma das pernas. 6. Crise convulsiva – Neste
caso ocorre a perda da consciência e abalos motores. 7. Coma – O coma é sinal
de AVC extenso com alto nível de gravidade e de prognóstico menos otimista.
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próximo de cada enfermidade que cada paciente porta, respaldados pelos
sintomas que cada sujeito reclama ou demonstra.
A partir do quadro apresentado pelo paciente, o médico utiliza de meios
tecnológicos para confirmação diagnóstica. “Todo paciente que apresenta um
déficit neurológico focal de início súbito que dura mais de 15-20 min deve ter
suspeita de AVC”(MESQUITA: 2009).
Continuando, Mesquita et al. (2009) são ferramentas utilizadas no
diagnóstico de AVC: a TC (tomografia computadorizada), RNM (ressonância
magnética), sendo a última mais eficiente, no entanto a dificuldade maior neste
exame, está na ausência do aparelho em muitos dos hospitais públicos. Um
terceiro exame é o Doppler transcraniano, que é fundamental para detectar a
artéria lesada.
Gagliardi (2004) o diagnóstico precoce e correto do AVC é fundamental
para que o médico possa iniciar o tratamento que certamente proporcionará mais
eficiência na recuperação ou melhora do doente, pois o sujeito vítima dessa
doença, é uma emergência médica em que o tempo implicará no seu tratamento.
Ainda Gagliardi (2004) quando confirmado o diagnóstico de AVC, é
importante que na sequência, faça exames complementares em busca do
conhecimento da causa e exames laboratoriais para orientação do médico no
direcionamento do tratamento.
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Ainda Pires et al. (2004) ao falar sobre o público jovem, aponta como
causas mais frequentes de AVC, o uso de drogas ilícitas, a má-formação e
causas hereditárias e, portanto, há diferença de causas entre o público idoso e
público jovem.
1.4 Prevenção
A falta de informações para as pessoas comuns sobre a doença e suas
causas, ainda é um grande problema para a população e essas desinformações
levam grande parte das pessoas à ociosidade preventiva. Se hábitos de vida ou
costumes inadequados que foram introduzidos na educação familiar e social
desde a infância forem modificados, também poderão diminuir efetivamente a
ocorrência da doença.
Segundo Pires et al, (2004), a redução do AVC pode se dar tranquilamente
quando prevenida a partir do conhecimento dos grupos de riscos que as pessoas
estão inseridas. Ao fazer o reconhecimento e o controle desses fatores
considerados de risco, o trabalho vai além do evitar o acometimento de um AVC,
mas também, prevenindo contra incidência de repetição. Mesquita et al. (2009)
relata que:
Carrol e Brown (2000, apud CANCELA 2008) o AVC é uma doença que
ocorre no cérebro, porém sua causa advém do aparelho circulatório. Daí a
necessidade do uso de medicamentos anti-hipertensivos arteriais e da redução
dos elevados níveis de colesterol.
O dicionário Didático (2009) se refere à prevenção como o “ato ou efeito de
prevenir (prevenir) – Advertir ou avisar (alguém) [sobre um perigo]: Ela nos
preveniu sobre os riscos desse investimento."
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Segundo, Abramczuk e Villela (2016) embora tenha ocorrido uma
diminuição no percentual de óbitos a cada 100 mil habitantes, nos casos de
morte por AVC, em se tratando de quantidade, houve um aumento nos últimos
trinta anos. Isso tem ocorrido devido ao aumento dos anos de vida que as
pessoas vêm ganhando nos últimos tempos. Estando os idosos em um grupo
maior de risco, justifica-se aí o aumento de óbitos provocados pela doença.
Ainda se referindo a Abramczuk e Villela (2016) ocorre no Brasil mais de
80 mil óbitos anualmente por doenças cerebrovasculares. E que:
O Sistema Único de Saúde (SUS) registrou no ano de
2008 cerca de 200 mil internações por AVC, que
resultaram em um custo de aproximadamente R$ 270
milhões para os cofres públicos. Desse total, 33 mil
casos evoluíram para óbito. (ABRAMCZUK E VILLELA,
2016, p. 1).
1.5 Tratamento
Mesquita et al. (2009) destaca o AVC como emergência médica e que hoje
os danos neurológicos causados por esta doença podem ser claramente
reduzidos de forma significativa se prevenir com eficácia a ocorrência de
repetição. Nesta situação destaca-se a importância do papel do enfermeiro
atuando na investigação das causas do acometimento que favorecerá
efetivamente no prognóstico final. Na emergência médica, este paciente que
necessita de reanimação será submetido a procedimentos comuns para o caso.
“Hipoxemia refratária a oxigênio suplementar, rebaixamento do nível de
consciência e inabilidade de proteção das vias aéreas são indicações de
intubação orotraqueal.” (MESQUITA et al., 2009, p. 9)
Rodrigues (2002) ressalta que além dos cuidados com a respiração,
precisa-se observar a alimentação para uma dieta adequada, seja via oral ou
sanguínea e, manter cuidados para evitar feridas e complicações infecciosas
especialmente nos pulmões. O autor destaca a importância do tratamento dos
distúrbios da coagulação sanguínea para evitar repetição do episódio de AVC.
Continuando, Rodrigues (2002) aponta que há diferenças entre as
ocorrências da doença e, há situações que medicamentos e dietas não são o
suficiente, sendo necessário, assim, intervenções cirúrgicas.
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Devemos entender que "cada caso é um caso". Alguns
podem necessitar de tratamento cirúrgico, como
drenagem de um hematoma (coágulo) ou para a
correção de uma má formação, por exemplo, um
aneurisma. (RODRIGUES, 2002, p. 9)
Mesquita et al. (2009) afirma que se trata de uma doença aguda, podendo
passar à crônica e, que é importante o controle da hipertensão arterial na
primeira fase do tratamento como prevenção secundária, pois corre o risco de
prejuízo neste primeiro momento. Essa decisão deve ser tomada pelo fato da
pressão arterial aumentada nesta fase favorecer o fluxo sanguíneo na região de
isquemia cerebral.
Ainda Mesquita et al. (2009) diz que a segunda fase do tratamento ocorre
quando o paciente está estabilizado. Neste momento o passo principal é
investigar e descobrir a (as) causa (s) que levou a pessoa ao adoecimento e a
partir dessa definição estabelecer quais escolhas terapêuticas seriam mais
indicadas.
Segundo Rodrigues (2002), quando o paciente receber alta hospitalar, o
médico responsável fará a receita dos medicamentos e as orientações
necessários para o prosseguimento do tratamento. Este autor afirma que além
disso, a família deve procurar o serviço de assistência social do hospital onde o
paciente foi atendido, para providenciar o recebimento de benefício saúde,
aposentadoria ou equivalente e também iniciar o tratamento ambulatorial; diz ele:
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Ainda sobre o tratamento, Bolognami (2000, apud SANTOS 2014, p. 43) ao
falar de reabilitação em indivíduos como ser único, diz que a reabilitação deve
ultrapassar as fronteiras da cognição e abranger as questões emocionais,
familiares e sociais, tendo a ideia de redução sobre o impacto causado pela lesão
neste ser vitimado pelo AVC e, naqueles de sua convivência.
2 Crenças disfuncionais
A pessoa quando acometida por uma doença que deixa deformidades
físicas e psicológicas, sente-se obrigado a vivenciar novos hábitos que lhe são
impostos por esse adoecer. Muitas das vezes prejudicados por não poder
realizar as atividades que antes estavam presentes no seu cotidiano ou, ao
deixar a prática dos afazeres que antes lhe era habitual, ou lhe parecia possível,
um sentimento de fragilidade o acomete, tornando-se alvo de pensamentos
invasores que a leva a condição de incapaz, devido a interpretações errôneas
que faz sobre si mesma.
Particularmente, o AVC segundo Albertini et al. (2015) além das sequelas
deixadas por ele, tem como efeito secundário implicações importantes para o
sofrimento da pessoa, podendo assim, desencadear transtorno de ansiedade ou
de humor devido às possibilidades das sequelas ativarem ou fortalecerem
crenças centrais disfuncionais, visto que em um estudo de caso realizado, pôde
ser identificado que as crenças de desamparo e desvalia foram associadas a
uma ocorrência de depressão.
Paula et al. (2008) em um estudo teórico, ao falar sobre a relação entre
depressão e disfunção cognitiva em pacientes após acidente vascular cerebral,
relata que: “A depressão tem sido detectada em 20% a 50% dos pacientes que
sofreram AVC, variando de acordo com o critério estabelecido, bem como com
a população estudada” (TERRONI et al., 2003, apud PAULA et al., 2008, p. 8).
Carota, Staub & Bogousslavsky (2002, apud PAULA, 2008) afirma que o AVC
devido às suas alterações fisiopatológicas, somadas às psicológicas, podem
ocasionar a depressão, o que foi corroborado com a pesquisa anterior.
Ainda sobre a depressão após o AVC, Gupta e colaboradores (2002, apud
SCHAFERA, 2010) afirma que é um dos transtornos neuropsiquiátricos mais
presentes na pessoa acometida por esta doença. Ghika-Schimid e
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Bougoulasslavsky (1997, apud SCHAFERA, 2010) relata que os transtornos
psiquiátricos, afetam as emoções, os pensamentos e o comportamento da
pessoa no seu dia a dia, e também trazem prejuízos efetivos na vida social e
grande influência negativa na qualidade de vida do doente e na recuperação das
suas funções motoras.
Mercante (2012) fala que a depressão é um campo aberto para que se
estabeleça na pessoa adoentada as crenças centrais, que, segundo a autora, a
partir da infância, as pessoas desenvolveriam determinadas crenças sobre si
mesmas, outros e o mundo.
A autora diz ainda que essas crenças centrais são percepções básicas e
íntimas que as pessoas dificilmente falam sobre elas. Assim, esses
pensamentos tornam-se verdades plenas. Ao captar as informações no
ambiente, a pessoa direciona a pontos isolados para obter informações que
constatam a crença central, ignorando ou eliminando dados opostos.
As crenças surgem por aprendizagem, consequentemente podem ser
corrigidas, acobertadas e fazer novas descobertas. Elas são a camada mais
importante de crença, são universais, ásperas e difusas. (MERCANTE: 2012).
As crenças centrais na sua complexidade se apresentam em dois grupos:
“de incapacidade e de não ser amado. Algumas pessoas podem ser mais
vulneráveis a uma das categorias e menos à outra”. (MERCANTE, 2012, p. 2)
Mercante (2012) exemplifica essas situações da seguinte forma: na
incapacidade, a pessoa se sente fraca e inválida. Quanto a não ser amada, a
pessoa tem pensamentos de rejeição, achando que não desperta desejo em
ninguém.
Em se tratando de crenças disfuncionais José (2009) admite que são ideias
erradas que a pessoa tem sobre conceitos relevantes. Com as crenças
disfuncionais ativadas percebemos que muitas das vezes ocorre um
pensamento “errado” e com ele um elevado sofrimento (JOSÉ:2009).
Na definição de Oliveira (2014) crenças disfuncionais ou pensamentos
disfuncionais são hipóteses, e mais.
Pensamentos ou crenças disfuncionais são suposições.
São esquemas, são base subjacente dos "deveria", de
adivinhação dos pensamentos. É como se fosse uma
máquina fotográfica cuja lente está desfocada,
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embaçada. Pensamentos ou crenças disfuncionais são
distorções cognitivas. (OLIVEIRA, 2014, p 1)
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acontecimento elevando ou diminuindo um evento, aplicando um peso
desproporcional ao acontecido. 5. Personalização - a pessoa acredita que um
ou mais eventos externos que estejam ocorrendo diz respeito a ela mesma sem
explicação lógica, e só pelo simples fato de ocorrer no seu campo perceptivo,
isso lhe pertence. 6. Pensamento absolutista - trata-se de situações dicotômicas,
que ocorrem nos apontamentos sobre a própria pessoa ou sobre o outro,
classificando as experiências em duas classes antagônicas, tudo ou nada, como
por exemplo, belo ou desajeitado, sucesso ou fiasco, maravilhoso ou
abominável.
3 Atuação do Psicólogo
Na reabilitação da pessoa acometida pelo AVC o psicólogo deve informar
e orientar o paciente e a sua família sobre as mudanças no seu comportamento
que, ocorrerá no meio familiar devido à debilidade do adoentado. Através da
Terapia Cognitivo Comportamental, que oferece uma estrutura direcionada e
colaborativa, o sujeito passa a ser orientado para vivenciar o presente, com
intuito de organizar os seus pensamentos na construção de um futuro mais
equilibrado.
Nossa serenidade não depende das situações, mas de
nossa reação diante delas. Portanto, ao intervirmos no
aqui e agora, torna-se possível provocar mudanças no
futuro. (BUDA, 563 a.c. apud RANGÉ et al., 2011, p. 21)
O terapeuta com conhecimento das técnicas que esta abordagem oferece,
pode obter resultados satisfatórios no tratamento do sujeito vitimado pela
doença. A Terapia Cognitiva Comportamental, pelas comprovações científicas a
favor da sua eficácia, tornou-se alvo de indicações para uma série de transtornos
mentais, como depressão ansiedade e outros. (RANGÉ et al., 2011, p. 23)
Ainda Rangé et al. (2011) o psicólogo deve mostrar inicialmente para o
paciente a ligação que há entre “pensamento, sentimento e comportamento”
(Rangé et al, 2011, p. 25). Compreendendo essa relação, a pessoa adoentada
abre uma porta para o tratamento, aceitando com mais tranquilidade que o que
o incomoda de fato é a maneira como ela está percebendo a si mesmo, o mundo
que o circunda, porque na verdade “o que perturba o ser humano não são os
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fatos, mas a interpretação que ele faz destes” (EPITECTO, século 1 d.c. apud
RANGÉ et al., 2011, p. 21)
O sujeito ao ser envolvido pelos pensamentos disfuncionais, ou seja,
criando uma realidade ilusória, traz um sofrimento desnecessário para si, com
isso, promovendo baixa autoestima, ocasionando isolamento pessoal, social e
familiar. Na tentativa da reversão desse quadro, o psicólogo na Terapia Cognitivo
Comportamental lança mão de diversas técnicas oferecidas por ela.
Visto a importância da flexibilidade de pensamentos disfuncionais para
pensamentos funcionais, coisa fundamental no tratamento e melhora da sua
doença, Wright et al. (2008, p. 85) afirma que para mudanças de pensamentos
disfuncionais, o questionamento Socrático está em primeiro lugar na lista de
técnicas da Teoria Cognitivo Comportamental, pelo fato deste processo ser a
espinha dorsal das intervenções cognitivas.
Considerando as dificuldades de compreensão do questionamento
socrático em relação às outras técnicas que são elaboradas com estruturas mais
direcionadas, essa técnica pode ser mais eficaz para a atividade-fim aqui
desejada (pensamentos automáticos). Entre os diversos benefícios que ela pode
oferecer, podemos citar as seguintes:
[...] intensificação da relação terapêutica, estimulação
da indagação, melhor entendimento de cognições e
comportamentos importantes e promoção do
engajamento ativo do paciente na terapia”. (WRIGHT et
al., 2008 p. 85)
Continuando, Wright et al. (2008, p. 28) a meta do questionamento
socrático é auxiliar o paciente a identificar e remodelar raciocínio desadaptativo.
Essa técnica está em indagar ao paciente, de maneira que este sinta
vontade de efetuar o questionamento. O psicoterapeuta não vai apresentar ou
informar como se realiza a terapia, a ideia é tentar trazer o paciente para dentro
do processo do conhecimento. Uma particularidade dessa técnica, é a
descoberta guiada, onde o terapeuta faz diversas indagações que instiga o
paciente a revelar modelos disfuncionais de pensamento ou comportamento.
Segundo Barros (2013) a descoberta guiada tem como finalidade ampliar
a compreensão do paciente com os procedimentos terapêuticos afastando as
possibilidades de o terapeuta estabelecer suas ideias. Através desta ferramenta
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o paciente compreende com mais clareza os caminhos que podem ser seguidos
na situação específica em que ele se encontra, além de ajudar no
autoconhecimento favorecendo a compreensão para agir em situações futuras.
A descoberta guiada é o processo de aprendizagem
primária em terapia cognitiva. Os psicoterapeutas
dirigem a descoberta tanto verbalmente, através do
questionamento socrático, quanto através da
experiência, auxiliando os clientes a planejar
experimentos os quais serão conduzidos dentro e fora
da sessão (ensaio mental, ensaio dramático e
realidade). Ambas as formas visam o
autoconhecimento. (PETROFF, 2016, p. 2)
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Considerações finais
As pesquisas são caminhos inevitáveis para o conhecimento científico,
conhecer as causas de um AVC, o seu público alvo, formas de tratamentos e
suas sequelas de ordem físicas e psicológicas é de fundamental importância
para que os profissionais de saúde física e mental, saibam lidar melhor com este
ser adoentado, reavaliando conceitos antigos e buscando novas descobertas
para melhor cuidar desse paciente e de seus familiares. Assim pensando, cabe
a Psicologia como parte da ciência, oferecer a sua contribuição nessa
caminhada em benefício do progresso geral.
Sendo o objetivo desta pesquisa conhecer o que pensa, como pensa e o
porquê desses pensamentos na pessoa acometida por um AVC, em primeiro
lugar tornou-se necessário buscar o conhecimento sobre a doença e suas
consequências cognitivas que apontaram mudanças de pensamentos a partir de
prejuízos neurológicos.
Sob a abordagem da Terapia Cognitivo-Comportamental, pôde ser
identificado pensamentos disfuncionais a partir de crenças centrais que muitas
pessoas desenvolvem no decorrer da vida.
Contudo observa-se que esse doente que apresenta formas de
pensamentos inadequadas gerados pelo prejuízo cognitivo, como consequência
de danos cerebrais e, pela depressão, que, por sua vez, é uma sequela que
influencia os comportamentos emocionais e psicológicos, passa a ter um olhar
negativado sobre a sua autoimagem, pode ser beneficiado pela TCC, que
oferece técnicas consideradas de grande valor em eficiência no tratamento.
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