Artigo Sbre As Dimensoe Psicosociais Na Cura

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A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO DA SAÚDE NO TRATAMENTO

À PESSOA COM DOENÇA FALCIFORME EM ALAGOAS

Sidney José dos Santos1


Darcilene de Araújo Mesquita2
José Rodrigues Rocha3

Psicologia

ISSN IMPRESSO 1980-1769


ISSN ELETRÔNICO 2316-3151

RESUMO

O presente artigo refere-se a uma pesquisa de campo acerca da atuação do psicólogo da


saúde no tratamento à pessoa com doença falciforme (DF) no estado de Alagoas. Trata-se
de uma doença genética, hereditária e crônica, na qual a pessoa pode apresentar inúme-
ras complicações biológicas, psicológicas e sociais. Considerando que a linha de cuidado
deve-se seguir um viés multidisciplinar, os objetivos foram formulados a fim de descrever,
identificar, verificar e caracterizar dados que nos apontem como de fato é realizada a atu-
ação do psicólogo da saúde junto à pessoa com DF em Alagoas. Caracteriza-se como um
estudo descritivo, realizado por meio de entrevista semiestruturada com psicólogos que
atuam no hemocentro do estado de Alagoas e pessoas com DF a partir dos 11 anos de ida-
de assistidas pela mesma instituição. O estudo possibilitou uma aproximação maior com a
intensa e complexa problemática que envolve a atuação do psicólogo junto a essa pessoa.
Através dos resultados obtidos concluiu-se que a expansão dessa área de atuação e o cres-
cente número de pessoas com DF em Alagoas apontam para a necessidade de trabalhar o
aprimoramento científico da prática do psicólogo da saúde com a DF.

PALAVRAS–CHAVE

Doença Falciforme. Atuação do Psicólogo da Saúde.

Cadernos de Graduação - Ciências Biológicas e da Saúde | Maceió | v. 1 | n.3 | p. 35-56 | nov. 2013
36 | ABSTRACT

The following article refers to a field survey on the performance of the health psycholo-
gist on the treatment of people with sickle cell disease (SCD) in the state of Alagoas. It is
a genetic disease, hereditary and chronic in which the person may experience numerous
biological, psychological and social complications. Considering that the care line should
follow a multi-disciplined path, the objectives were formulated to describe, identify, verify
and characterize data that point as actually performed the psychologist health with the
person with SCD in Alagoas. It’s a descriptive study using semi-structured interviews with
psychologists working at the Alagoas State Blood Center and SCD carriers from the age of
11 attended the same institution. The study suggests a closer with intense and complex
problem that involves the psychologist along with that person. Through the obtained re-
sults, it was concluded that the expansion of this practice area and the growing number of
people with SCD in Alagoas lead to the need of scientific improvement of the practices of
the health psychologist about the SCD.

KEYWORDS

Sickle Cell Disease. Performance of the health Psychologist.

1. INTRODUÇÃO

A doença falciforme é uma doença crônica, na qual a pessoa pode apresentar inú-
meras complicações biológicas, psicológicas e sociais. A linha de cuidado à pessoa com DF
deve seguir um viés multidisciplinar onde diversos profissionais, dentre eles o psicólogo,
deverá colaborar com a melhora do bem estar e da qualidade de vida dessa pessoa. No
Brasil a doença falciforme é tida como a doença genética mais frequente no país. Segundo
acervo da Associação de Pessoas com Hemoglobinopatias de Alagoas (2008) existem mais
de 400 pessoas diagnosticadas com doença falciforme em Alagoas, porém, não há relatos
que comprovem se essas pessoas recebem tratamento psicológico, e se recebem não se
sabe como tem sido a atuação dos profissionais junto a essas pessoas.

Esta pesquisa tem como objetivo geral, descrever como é realizado o tratamento
psicológico das pessoas com doença falciforme no estado de Alagoas, inerente a realidade
da Psicologia da Saúde, enquanto práticas desenvolvidas pelos profissionais de psicologia
pertencentes às equipes multidisciplinares. Pretende-se, também, como objetivos espe-
cíficos, identificar junto às pessoas com doença falciforme, a percepção que elas têm em
relação ao tratamento psicológico oferecido por meio das instituições de saúde; verificar se
as atividades desenvolvidas pelos psicólogos das instituições pesquisadas estão atendendo
as necessidades psicossociais vivenciadas pelas pessoas com doença referida e caracterizar
os aspectos psicossociais dessas pessoas.

Ressalta-se a escassez de material teórico na literatura científica brasileira e pesquisas


realizadas pela psicologia acerca do referido tema. Isso aponta para a necessidade de mais
explorações científicas, pois a partir da revisão da literatura foi possível encontrar apenas
uma pesquisa científica na área da psicologia que investigou os aspectos psicossociais do
paciente falciforme; sendo esse estudo desenvolvido pela autora Pitaluga (2006), referência
base para a elaboração dessa pesquisa.

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Pretende-se, portanto, por meio deste estudo possibilitar a ampliação das discussões | 37
acadêmicas que resultem na atualização de conhecimento acerca do tratamento do pa-
ciente com doença falciforme no campo da psicologia da saúde. Além disso, ao identificar
se existe, e como é realizado o trabalho psicológico junto a essas pessoas, e qual a percep-
ção que elas têm em relação as suas necessidades psicológicas diante da patologia.

Busca-se promover a produção de material científico sobre o tema na área da psico-


logia da saúde, já que é escasso.

Considerando as consequências que esta patologia traz, percebe-se a necessidade de


abordar acerca da doença falciforme, sua etiologia, epistemologia, manifestações clínicas,
implicações do diagnóstico e tratamento, pois a falta de conhecimento sobre essa doença
acontece, também, em meio a profissionais da saúde, o que dificulta ainda mais a melhora
da qualidade de vida das pessoas com essa doença.

2. DOENÇA FALCIFORME (DF)

A doença falciforme caracteriza-se pela presença da hemoglobina4 S (HbS) nas he-


mácias de um indivíduo. Trata-se de uma doença genética, hereditária e crônica, uma mo-
dificação (mutação) no gene da globina (DNA) que, em vez de produzir a hemoglobina A,
produz uma hemoglobina mutante chamada S. A Hb S, em baixas concentrações de oxi-
gênio, tem como característica sofrer uma polimerização e, em consequência, a hemácia
assume um aspecto “afoiçado” ou em “meia lua”, levando à sua deformação e alteração de
suas propriedades físico-químicas da molécula de hemoglobina (BANDEIRA et al., 1999,
apud PERÁCIO 2008).

Tal fenômeno pode desencadear diversos fatores agravantes à vida desse indivíduo
o que o leva a uma demanda de inúmeras e frequentes intervenções médicas, a fim de
se controlar e prevenir as crises álgicas (crises falciformes). As próprias intervenções tera-
pêuticas favorecem os efeitos indesejáveis. O uso crônico de medicamentos utilizados no
tratamento da dor, decorrente das crises álgicas pode resultar em dependência física, perda
da eficácia analgésica e dependência psicológica (ÂNGULO, 2003, apud PERÁCIO 2008).

Existem muitas doenças falciformes, porém, a mais frequente e de maior significado


clínico é a anemia falciforme, em que o indivíduo portador é do tipo homozigoto por pos-
suir duas hemoglobinas SS, nesse caso, a criança recebe de cada um dos pais um gene para
hemoglobina S.

A doença, de origem africana, da região do Mediterrâneo, Arábia Saudita e Índia, tor-


nou-se também conhecida em países com populações afro-descendentes como os Esta-
dos Unidos e o Brasil. Pela ocorrência do grande contingente da população africana deslo-
cadas de seus países para o trabalho escravo no Brasil, a doença falciforme é tida como a
doença genética mais comum no país (BRASIL, 2009).

4 A hemoglobina é uma proteína presente nas hemácias, constituindo aproximadamente 35% de seu peso. É
um pigmento presente no sangue, responsável por transportar o oxigênio, levando-o dos pulmões aos tecidos
de todo o corpo.

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38 | De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Banco Mundial
citado em Brasil (2009), estima-se que na África nasçam cerca de 268 mil crianças por ano
com doença falciforme, sendo a Nigéria o país líder no ranking com 86.000 mil novos casos
anual. Encontra-se na mesma referência, que dados do Programa Nacional de Triagem Ne-
onatal - PNTN mostram que no Brasil nascem cerca de 3.500 crianças por ano com doença
falciforme ou 1/1.000 nascidos vivos e 200 mil portadores do traço falciforme. A incidência
da doença é maior no estado da Bahia, onde a cada 650 crianças que nascem, uma tem do-
ença falciforme, seguida pelo Rio de Janeiro (1 caso a cada 1.200 nascidos) e Minas Gerais
(1 caso a cada 1.400 nascidos) (BRASIL, 2009).

A essa doença distribui-se heterogeneamente na população, sendo mais frequente onde


a proporção de antepassados negros é maior (Nordeste) e entre negros e pardos, embora ocor-
ra também em brancos, por causa da miscigenação (BRASIL, 2002, 2006, 2007, 2009).

Observa-se que se trata de uma demanda significativa, e que estas pessoas não de-
vem ficar desassistidas em relação à vulnerabilidade quanto a possíveis complicações psi-
cológicas, dentre elas ansiedade e depressão, isso demonstra a importância da atuação
do profissional da psicologia na equipe multidisciplinar responsável pelo tratamento das
pessoas com a doença. Em Alagoas, por exemplo, o acervo da Associação de Pessoas com
Hemoglobinopatias de Alagoas (2008) informa existirem mais de 400 pessoas diagnostica-
das com doença falciforme nesse estado, sendo 40% residentes na capital e 60% residentes
no interior do estado e sendo 51% do gênero masculino e 49% do gênero feminino.

2.1 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

A doença falciforme pode manifestar-se de forma diferente em cada indivíduo, va-


riando com a idade e, sobretudo, com os cuidados que se têm para preveni-las. Pessoas
com doença falciforme apresentam sintomas diversos, dentre eles anemia crônica, icterí-
cia, crises álgicas, dactilite, infecções, priapismo, necrose avascular de fêmur e úmero, crises
de sequestro esplênico, episódios de acidente vascular cerebral, síndrome torácica aguda,
dentre outros. De acordo com Brasil (2006) e Brasil (2007), tais sintomas caracterizam-se
das seguintes formas:

Anemia crônica ocorre por conta da destruição dos glóbulos vermelhos falcizados;

A icterícia (olhos e pele amarelados) devido à destruição rápida das células, quando
essas células são destruídas é produzido um pigmento chamado bilirrubina que se o fígado
não conseguir eliminar por completo, se deposita na pele e na esclera (branco dos olhos);

A crise álgica é a complicação mais frequente da doença falciforme e comumente a


primeira manifestação. Caracteriza-se como uma dor severa nas extremidades, abdômen
e nas costas, com duração média de quatro a seis dias, podendo às vezes, persistir por se-
manas. Hipóxia (a falta de oxigênio em tecidos do corpo humano), infecção, febre, acidose
(excesso de acidez no sangue), desidratação e exposição ao frio extremo podem precipitar
as crises álgicas;

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A Dactilite ou síndrome mão-pé, geralmente é o primeiro sinal da doença, consiste | 39
em um edema doloroso localizado no dorso das mãos e pés. A região pode ficar averme-
lhada e quente. A dor é muito intensa e a criança fica extremamente irritada e com dificul-
dade nestas partes do corpo;

As Infecções constituem a principal causa de morte entre os portadores da doença


falciforme. O risco de septicemia (infecção generalizada por todo o corpo causada por bacté-
rias que infectam o sangue), meningite, pneumonias, infecções renais e osteomielites podem
provocar a morte de crianças e adultos com DF em poucas horas, no momento da crise;

Priapismo é a ereção prolongada e dolorosa do pênis sem relação com desejo sexual,
pode ocorrer em episódios breves e recorrentes ou em episódios longos. Ocorre por obs-
trução dos vasos por hemácias afoiçadas, que irrigam este órgão;

Necrose avascular de fêmur e úmero - o diagnóstico de necrose avascular da


cabeça de fêmur geralmente é feito quando o paciente queixa-se de dor persistente na
região inguinal ou nádegas. Sua maior incidência ocorre em indivíduos que possuem he-
moglobinopatia5 SS associada ou não a Alfa Talassemia6 e em pacientes com Sβo Talassemia7;

Crise de sequestro é a retenção de grande volume de sangue dentro do baço de for-


ma repentina e abrupta. É um quadro agudo e extremamente grave. Ocorre palidez intensa
com anemia aguda, prostração e aumento do abdômen;

Acidente vascular cerebral (AVC) ou Acidente vascular encefálico (AVE) apresenta


alto índice de mortalidade e morbidade. Ocorre devido á interrupção do fluxo sanguíneo
no cérebro por infarto cerebral;

Síndrome Torácica Aguda (STA) é um evento caracterizado por dor torácica, febre,
prostração e infiltrados pulmonares ao RX de tórax. Em adultos e crianças, pode ser devida
à infecção pulmonar por bactérias ou vírus ou infarto de costela.

Paiva (2007, p. 15) em consonância com os Parâmetros Curriculares Nacionais – tema


transversal saúde (1997), afirma que, assim como os fatores biológicos, o meio físico e o meio
socioeconômico e cultural, também são fatores determinantes das condições de vida das
pessoas de como elas nascem, vivem e morrem, bem como suas vivências em saúde e do-
ença. Além dos fatores genéticos, a saúde é também resultado do estilo de vida e condições
de existência do indivíduo.

Baseados nas afirmações acima serão vistas a seguir as implicações do diagnóstico


em alguns fatores da vida da pessoa com doença falciforme.

5
Doenças ocasionadas por defeitos numa proteína denominada hemoglobina, presente nas hemácias.

6
Grupo de doenças hereditárias, de distribuição mundial, causada pela deficiência de síntese de uma ou mais
cadeias alfa da hemoglobina.

7
Grupo de doenças hereditárias, de distribuição mundial causada pela deficiência de síntese de uma ou mais
cadeias beta da hemoglobina, sendo mais heterogêneas do que as do tipo alfa.

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40 | 2.2 IMPLICAÇÕES EMOCIONAIS

As manifestações psicológicas diante de um diagnóstico dão-se de acordo com as


crenças, simbologias e representações de cada pessoa. Tratando-se da doença falciforme
deve-se levar em consideração o fato dela ser uma patologia que permanece por toda vida
da pessoa. Em casos como esse, o diagnóstico pode vir acompanhado por sentimentos
de angústia, sofrimento emocional, incertezas, dificuldades e fatores estressantes que pro-
movem mudanças no bem-estar. Dentro desse contexto Pitaluga (2006, p. 3) promove a
reflexão quando afirma que:

[...], o enfermo crônico é um personagem social com necessidades


multideterminadas. Cada um possui, de acordo com a sua patologia
e especificidades, suas características próprias. O estudo das
enfermidades crônicas e do estado emocional de seus portadores
pode contribuir para uma maior compreensão sobre a doença, bem
como auxiliar o enfermo a ter uma maior sobrevida e com mais
qualidade.

Não se pode ficar indiferente ao estado emocional das pessoas com esse diagnósti-
co. Em muitos casos percebe-se uma mudança tanto no estilo e qualidade de vida, como
no trabalho e condição social, relacionados aos problemas com que esses pacientes se
defrontam. É importante que esses estejam envolvidos em atividades que lhes tragam se-
gurança, paz, harmonia para o enfrentamento do sofrimento, das incertezas e da angústia.
Ainda, de acordo com Pitaluga (2006, p. 21), o portador da doença falciforme, também,
pode apresentar episódios de ansiedade e depressão, agravando ainda mais seu quadro e
comprometendo sua qualidade de vida. A doença falciforme em si já é bastante difícil de
lidar, associada à depressão, ansiedade e outras implicações emocionais, normalmente,
tornando mais complicada a vida da pessoa.

Paiva (2007) em sua monografia intitulada “Aluno Falciforme: o paradoxo da inclusão


escolar, conhecer para melhor atender”, ressalta alguns aspectos psicológicos que carac-
terizam as implicações do diagnóstico no estado emocional da pessoa com a doença. São
eles:

Stress: causado pela instabilidade emocional de uma doença crônica


(crises dolorosas, procedimentos médicos evasivos, afastamentos da
escola, etc.); Depressão: surge, geralmente, após crise dolorosa. A
criança tende a fechar-se, tornam-se tensas, ausentes, isoladas, etc.
com isso há complicação do quadro; Insegurança: principalmente
em decorrência das crises de falcização, que levam a criança a faltar
à escola e a ficar em desvantagem em relação aos colegas, que estão
mais inteirados acerca do conteúdo; Isolamento: no geral, a criança
se vê sozinha, até mesmo sem o conforto da família, dos professores
e colegas de sala para ajudá-la. Muitas vezes a família, professores e
colegas de turma não têm informações acerca do problema, dessa
forma a criança se sente isolada com sua própria doença; Desempenho
escolar: dependerá das oportunidades de acesso a informações. A
criança, com anemia falciforme, tem o mesmo potencial que as outras
crianças, com exceção das que tiveram derrame cerebral; Relações
individuais e grupais: tornam-se deficientes, visto que não há uma

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interação mútua entre professores, pais e alunos. Com isso a criança é | 41
prejudicada, pois não consegue estabelecer uma relação de confiança
com essas pessoas, as quais poderiam trocar informações acerca do
problema, como: formas de lidar com as intercorrências e da criança
conviver com a doença; Imagem corporal: muitos portadores de
anemia falciforme chegam à adolescência infeliz e sem expectativa
de futuro, por causa de necessidades afetivas e educacionais não
satisfeitas (amor e segurança). Mesmo porque os sinais (abdômen
distendido, icterícia, baixa estatura e baixo peso) prejudicam sua
autoestima; Orientação vocacional: como os portadores de anemia
falciforme terão limitações funcionais ou anatômicas, no futuro, é
importante que tenham melhor escolaridade para que na vida adulta
possam competir no mercado de trabalho, exercendo atividades
profissionais compatíveis com as limitações do problema. (PAIVA,
2007, p. 17 e 18).

Vale ressaltar que os aspectos psicológicos citados por Paiva não ocorrem apenas em
crianças, mas em qualquer fase de desenvolvimento do indivíduo.

2.3 IMPLICAÇÕES SOCIAIS

De acordo com Pitaluga (2006), frequentemente a doença falciforme é vista como


castigo que, simultaneamente, remete tanto à ideia de doença como punição, quanto ao
agravamento de uma situação de exclusão, o que também aproxima uma noção de estig-
ma. Para os portadores da doença falciforme, a marca que a doença traz, é reforçada dupla-
mente: primeiro pela origem étnica e, segundo, por ser portador de uma patologia crônica.

A experiência da condição imposta pela doença falciforme incorpora todo o círculo


social do sujeito, a exemplo de família, amigos e companheiros de trabalho. Neste sentido,
grande parte das pessoas com que tem esse diagnóstico vivencia situações de pobreza,
onde há baixa ou ausência da escolaridade, preconceitos e estigmas, entre outras implica-
ções sociais que remetem a inúmeros fatores desfavoráveis as pessoas com essa doença,
dificultando seus planos para o futuro.

2.4 IMPLICAÇÕES ECONÔMICAS

No requisito econômico, pode-se ressaltar que de acordo com as aparições das com-
plicações e evoluções do quadro clínico, há possibilidade da redução da renda mensal,
decorrente da incapacidade para a continuidade do trabalho, devido as constantes crises,
diminuição da mobilidade física pelo fato do comprometimento de alguns membros e ór-
gãos do corpo. Nesses aspectos, vale destacar, a importância da família no apoio emocional
e no resgate do equilíbrio da vida financeira.

Outro fator que evidencia as dificuldades financeiras nos portadores da doença falcifor-
me é a baixa ou ausência da escolarização, os poucos que alcançam uma vaga no mercado

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42 | de trabalho, muitas vezes estão em atividades desfavoráveis que demandam grande esforço
físico e, consequentemente, maior consumo de oxigênio, evidenciando as complicações clí-
nicas da patologia.

2.5 IMPLICAÇÕES FÍSICO-BIOLÓGICOS

Em decorrência das manifestações clínicas advindas da doença, a imagem corporal


da pessoa é um dos fatores que demanda grande importância para a mesma, tendo em
vista que a icterícia (olhos amarelados), baixa estatura, baixo peso, sequelas pós-AVC, e de-
ficiência física por conta de complicações ósseas, levará essa pessoa a adquirir uma baixa
estima em relação a sua imagem, tornando-se alguém sem expectativa de futuro e infeliz.

De acordo com Malta e outros autores (2004, p. ?), “A linha do cuidado parte da pre-
missa da produção da saúde de forma sistêmica, a partir de redes macro e microinstitucio-
nais, em processos dinâmicos, [...] voltada ao fluxo de assistência ao beneficiário, centrada
em seu campo de necessidades”, ou seja, trata-se de linhas de ações integrais de cuidado
dentro de um plano, projeto, programa ou política pública de saúde para todos cidadãos, o
que incluem as pessoas com doença falciforme.

Dentro desse conceito, a detecção precoce da doença falciforme, realizada na tria-


gem neonatal, é primordial para se iniciar a linha de cuidado da pessoa com essa doen-
ça, proporcionando considerável diminuição nos agravos causados à vida dessas pessoas.
Com o diagnóstico confirmado, as pessoas devem ser encaminhadas para um centro de
referência de atenção de média complexidade, para o cadastro e o início da assistência
especializada. (BRASIL, 2009).

No tratamento multidisciplinar da doença falciforme devem-se incluir medidas ge-


rais e preventivas que objetivam reduzir as consequências de uma doença crônica como:
crises por vaso-oclusão, e susceptibilidade às infecções. Tais medidas são fundamentais na
terapia destes pacientes e incluem hábitos de vida saudáveis como boa nutrição, boa higie-
nização, não ter vícios (álcool, cigarro e outras drogas), buscar se envolver em atividades
sociais prazerosas e construtivas, controlar, e na medida do possível, manter a imunização
adequada, diagnóstico e tratamento precoce de infecções, manutenção de boa hidratação,
visitas periódicas a equipe de saúde para tratamento de sequelas e prevenção de outras
possíveis complicações (BRASIL, 2002, 2009).

Com essa visão, o ministério da saúde por meio da portaria GM/MS nº 2.048 de 3 de
setembro de 2009, a qual institui no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) as diretrizes
para a Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doença Falciforme e outras
Hemoglobinopatias, visam dentre outras atribuições, o atendimento à promoção da ga-
rantia da integralidade da atenção, por intermédio do atendimento realizado por equipe
multidisciplinar a qual é definida, segundo Tonetto e Gomes (2007), por aquela composta
de vários profissionais que atendem a mesma pessoa de maneira independente, objetivan-
do o bem-estar físico, mental e social. Seguindo este contexto o profissional de psicologia
deve fazer parte dessa equipe sendo ele responsável pelo bem-estar mental dessa pessoa.

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3. O PSICÓLOGO DA SAÚDE ATUANDO JUNTO À PESSOA COM DOENÇA FALCI- | 43
FORME

Deve-se considerar que os aspectos biológicos configuram apenas uma das facetas
da doença falciforme e os estudos realizados no Brasil, apresentam poucas referências às
condições psicossociais da pessoa com esta doença, oferecendo escassos subsídios dentro
do saber psicológico que pontuem a importância de considerar tais condições como fato-
res relevantes no tratamento multidisciplinar.

O psicólogo da saúde, ao atuar nesse contexto, deve trazer para o tratamento a histó-
ria de vida e doença da pessoa com tal diagnóstico, para melhor entendê-lo. É fundamental
que na atuação o psicólogo não tenha por foco apenas o diagnóstico, mas sim, sobretudo,
o que a doença representa simbolicamente para cada pessoa com a doença falciforme.

No que diz respeito à Psicologia da Saúde, neste trabalho será utilizada a definição
dada por Matarazzo (1980) que se tornou referência em diversos países; na definição ele
afirma que:

A psicologia da Saúde consiste no conjunto de contribuições


educacionais, científicas e profissionais, específicos da Psicologia,
para a promoção e manutenção da saúde, a prevenção e tratamento
das doenças, na identificação da etiologia e diagnósticos relacionados
à saúde, à doença e às disfunções associadas, bem como no
aperfeiçoamento de políticas da saúde. (MATARAZZO, 1980, p. 810)

Pessoas com doença falciforme apresentam diversos sintomas, em muitas situações


de crises essas pessoas chegam a ser hospitalizadas com frequência. Viver com essa reali-
dade, em muitos casos, não é algo simples o que pode desenvolver implicações emocio-
nais com tendência a agravar seu estado patológico. Sendo assim, a atuação do psicólogo
da saúde, no âmbito hospitalar, se torna indispensável no processo de prevenção de tais
implicações.

Diante desse contexto é relevante ressaltar a contribuição no trabalho multidisciplinar


da Psicologia Hospitalar e a integração do psicólogo com os demais membros da equipe de
saúde no atendimento ao paciente com doença falciforme, o que nos leva a refletir acerca
da diferença conceitual entre Psicologia Hospitalar e Psicologia da Saúde.

De acordo com Castro e Bornholdt (2004, p. ?), “A psicologia, denominada no Brasil de


Hospitalar, é inexistente em outros países. A aproximação ao que seria no Brasil a Psicologia
Hospitalar é denominada Psicologia da Saúde em outros países.” Porém, a Psicologia da
Saúde além de ser uma área consolidada internacionalmente, no Brasil ela está conquistan-
do cada vez mais seu espaço.

Em concordância com Matarazzo (1980), Castro e Bornholdt (2004) afirmam que o


trabalho da Psicologia da Saúde é fundamentado, principalmente, na promoção e na edu-
cação para a saúde. Seu objetivo é intervir com a população em sua vida cotidiana, antes
que haja riscos ou se instale algum problema de âmbito sanitário, capacitando a própria
comunidade para ser agente de transformação da realidade, pois aprende a lidar, controlar
e melhorar sua qualidade de vida.

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44 | Já na Psicologia Hospitalar, Castro e Bornholdt (2004) salientam que o psicólogo re-
úne conhecimentos e técnicas para aplicá-los de maneira coordenada e sistemática, visan-
do à melhora da assistência integral do paciente hospitalizado. E como se trata da doença
[crônica] já instalada, ele foca seu trabalho no restabelecimento do estado de saúde do
doente ou, ao menos, ao controle dos sintomas que prejudicam seu bem-estar, priorizando
as ações de saúde através do modelo clínico/assistencialista, deixando em segundo plano
as ações ligadas ao modelo sanitarista.

De acordo com Pitaluga (2006, p. 63) “A doença crônica é tida como uma situação
permanente e limitadora, sendo necessário que o paciente se adapte, pois ocorrem perdas
em vários aspectos tais como: físico, social, emocional, dentre outros.” Seu desenvolvimen-
to é lento e apresentam efeitos de longo prazo, difíceis de prever. A maioria dessas doenças
não tem cura, entretanto, várias delas podem ser prevenidas ou controladas por meio da
detecção precoce e tratamento adequado.

Sabendo-se hoje que a medicina, por meio do modelo biomédico ainda tem o olhar
focado na patologia e não no reestabelecimento da pessoa em todos os seus aspectos,
considerando suas crenças, representações e simbologias, conforme o modelo holístico.
Porém seguindo este novo paradigma a equipe multidisciplinar deve reconhecer e con-
siderar os fatores psicológicos, sociais, espirituais e ambientais das pessoas com doença
falciforme, pois estão articulados aos fatores biológicos. Cada pessoa deve ser analisada e
tratada de forma individual, devido a sua história de vida, por isso, o processo de enfrenta-
mento da doença não é o mesmo para todos, no que se faz necessário o psicólogo como
membro da equipe multidisciplinar atuando junto a cada pessoa.

O psicólogo da saúde em atuação deverá considerar as representações e simbolo-


gias que a pessoa tem sobre a doença em geral, e a sua em particular. Por se tratar de uma
pessoa, Martins e outros autores (1996) afirmam que o doente não é um ser isolado, nem
abandona todo o seu contexto de vida depois de ser acometido pela doença, por isso o cui-
dado prestado a estes dependerá, entre outros fatores, da percepção que eles e seu grupo
familiar têm da doença e do significado que a experiência tem para eles.

Por meio da própria definição de Matarazzo sabe-se que é dever do psicólogo da saúde
trabalhar com promoção, manutenção, prevenção e tratamento, sendo necessário um olhar
holístico em relação ao indivíduo com doença crônica, e trazer para o processo de enfrenta-
mento da doença seus direitos, valores, atitudes, crenças e simbologias. Considerando ainda,
este olhar holístico, faz mister compreender o processo sócio histórico dessa pessoa.

De acordo com o paradigma da Psicologia da saúde é fundamental que em sua atu-


ação o psicólogo não tenha por foco apenas o diagnóstico, mas, também, todas as repre-
sentações que a pessoa com doenças crônicas, tais como doença falciforme, apresenta
em relação ao binômio doença/saúde, acompanhando e avaliando os processos psíquicos
dessa pessoa que tem que passar constantemente por procedimentos médicos, como:
exames, cirurgias, medicação, entre outros.

Os psicólogos da saúde estão realizando importantes avanços na


identificação das preocupações e necessidades primárias associadas
às doenças crônicas, [...]. Os psicólogos também estão obtendo
sucesso em adaptar tratamentos psicológicos para sua aplicação na
saúde, como intervenções destinadas a melhorar comportamentos
de educação para a saúde, redução de estresse, bloqueio emocional
e auto-regulação. (CASTRO, 2004 p. 399).

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Como afirma Castro, em muitos casos, as limitações e as condições geradas pelas | 45
doenças crônicas exigem da pessoa uma readaptação e uma nova forma de se relacionar
com a vida. Diante desse fato, o psicólogo ao atuar estará facilitando na ressignificação da
sua história, o que poderá implicar na sua qualidade de vida.

Pitaluga (2006, p. 2) salienta que “As doenças crônicas são as principais causas de
incapacidade, a maior razão para a demanda a serviços de saúde e respondem por parte
considerável dos gastos efetuados no setor da saúde.” Viver com essa realidade, em muitos
casos, não é encarado como algo fácil e pode estabelecer barreiras ou até mudar o modo
de ser do paciente, sem falar que as implicações emocionais tendem a ganhar tamanha
força que pode trazer complicações em seu estado patológico.

De acordo com o que já foi exposto nas implicações do diagnóstico, o indivíduo com
doença crônica, geralmente, necessita de tempo para se adaptar a um ritmo de vida dife-
renciado. Apesar de necessária, essa adaptação pode ser encarada de forma negativa, pois
segundo o tipo de patologia a pessoa terá que conviver com algumas perdas, como do
status no relacionamento social, atividades físicas, autoimagem, entre outras. O profissional
da Psicologia da Saúde por meio de sua atuação pode contribuir para uma maior compre-
ensão sobre a doença, bem como auxiliar a pessoa com doença crônica a ter um maior
tempo de vida e com mais qualidade.

Evidencia-se, ao longo deste artigo, que a atuação do psicológico da saúde deve


objetivar a promoção do bem estar biopsicossocioespirituambiental do ser com doença
crônica. É importante incluir neste apoio profissional a família e/ou cuidador do paciente.
Sendo assim, como afirma Baptista, e outros autores (2010), compete ainda ao psicólogo
avaliar questões psicológicas e sociais dos familiares, objetivando, assim, um trabalho em
equipe interdisciplinar, que envolve a avaliação de todos os aspectos, que podem estar re-
lacionado no contexto da pessoa com comprometimento crônico.

Em muitos casos os procedimentos para consultas e exames de rotinas para o acom-


panhamento da evolução da doença, ou até mesmo em momento que a pessoa com do-
ença crônica está em crise, tende a sobrecarregar a família e/ou cuidador que acompanha
todo processo, sofrendo junto com o paciente, o que leva a um desgaste físico e emocional
de toda a família, consequenciando a necessidade de atenção cuidadosa do profissional de
psicologia.

Ainda segundo Biagi e Sebastiani (2011), fatores que mobilizam sentimentos e sensa-
ções perturbadoras estão permanentemente presentes junto ao doente crônico, contudo
podem ser compreendidos e neutralizados pela atuação do psicólogo, e esta atuação pode
ser de pronta intervenção, pela sua presença constante e sua formação voltada para a in-
vestigação e análise de quadros comportamentais e situações de risco.

Portanto, ficam evidentes duas práxis fundamentais na atuação do psicólogo da saú-


de, são elas: participar como integrante da equipe de saúde no processo de cura, e colabo-
rar com a melhora do bem estar e da qualidade de vida da pessoa com doença crônica e de
sua família e/ou cuidador, considerando a saúde em um paradigma multidimensional que
envolve os aspectos biológicos, psicológicos, sociais, espirituais e ambientais.

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46 | 4. METODOLOGIA

Em busca de resposta para a questão norteadora desta pesquisa, optou-se por um


estudo descritivo. De acordo com Cervo (2007, p. 61), “A pesquisa descritiva observa, regis-
tra, analisa e correlaciona fatos ou fenômenos (variáveis) sem serem manipulados”, sendo
assim os objetivos foram formulados a fim de descrever, identificar, verificar e caracterizar
dados que apontem como de fato é realizada a atuação do psicólogo da saúde, junto à
pessoa com doença falciforme em Alagoas.

4.1 SUJEITOS

• Psicólogos que atuam no hemocentro do estado de Alagoas


• Pessoas com Doença Falciforme a partir dos 11 anos de idade assistidas pela ins-
tituição Hemocentro de Alagoas – HEMOAL. Sendo o HEMOAL regulamentado
como centro de referência para doença falciforme segundo portaria do Ministério
da Saúde nº 1018 de 1º de julho de 2005.

4.2 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

Como instrumento, nesta pesquisa, foram utilizados dois roteiros de entrevista semi
estruturada, um para pessoas com doença falciforme e o outro para os psicólogos que atu-
am junto a essas pessoas. Os mesmo foram preenchidos pelos pesquisadores e elaborados
a partir do referencial teórico.

4.3 OBJETIVOS

Geral:
Descrever como é realizado o tratamento psicológico das pessoas com doença falci-
forme no estado de Alagoas, inerente a realidade da Psicologia da Saúde, enquanto práticas
desenvolvidas pelos profissionais de psicologia pertencentes às equipes multidisciplinares.

Objetivos Específicos:
• Identificar junto às pessoas com doença falciforme, a percepção que elas têm em
relação ao tratamento psicológico oferecido através das instituições de saúde;

• Verificar se as atividades desenvolvidas pelos psicólogos das instituições pesqui-


sadas, estão atendendo as necessidades psicossociais vivenciadas pelas pessoas
com doença falciforme;

• Caracterizar os aspectos psicossociais dessas pessoas.

4.4 PROCEDIMENTOS

Segundo dados da Associação de Pessoas com Hemoglobinopatias de Alagoas (2008),


a população diagnosticada com doença falciforme é de aproximadamente 400 pessoas no
estado de Alagoas. Baseados nos dados citados faz-se necessário selecionar uma amostra
de aproximadamente 78 pessoas deste universo considerando uma margem de erro de 10
% que atenderão os parâmetros a seguir:

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• Pessoas com doença falciforme; | 47

• Atendidas pelo Hemocentro de Alagoas – HEMOAL;

• Acima de onze anos de idade, sabendo que esta idade é considerada o início da
adolescência, podendo nesta fase a pessoa responder sem intervenção do seu
cuidador, por ser um dos objetivos identificar a percepção que eles têm em rela-
ção ao tratamento psicológico.

Considerando o objetivo geral da pesquisa, e ser o HEMOAL o centro de referência


para tratamento das pessoas com DF, o instrumento com questões quantitativas e qualita-
tivas foi aplicado em cinco psicólogos que atuam no hemocentro de Alagoas, sendo este o
atual quadro de profissionais da psicologia na instituição e os únicos a prestarem assistên-
cia psicológica a essas pessoas.

O processo de análise dos dados desta pesquisa ocorreu por meio de categorização
das respostas abertas, tabulação dos dados e cálculos de frequência simples estatísticos
para as questões fechadas.

Informa-se para os devidos fins que esta pesquisa oferece apenas riscos subjetivos,
ou seja, o desconforto de rememorar emoções angustiantes em relação ao sofrimento
psíquico gerado pela patologia. As variáveis que serão pesquisadas neste trabalho estão
descritas anteriormente nos objetivos específicos.

5. RESULTADOS

5.1 INSTRUMENTOS DOS PROFISSIONAIS

A seguir serão apresentados os resultados deste estudo em duas partes. Primeiramen-


te os dados obtidos do instrumento aplicado aos profissionais psicólogos e posteriormente
os das pessoas com doença falciforme.

Os dados apontam que dos psicólogos entrevistados, apenas um foi do sexo mascu-
lino 20% e quatro do sexo feminino 80%. Os anos de formação destes variam de 10 a 32
anos, todos possuem pós-graduação 100%, sendo de linha/referencial teórico diferente.
Vale ressaltar que dentre os entrevistados apenas um é da psicologia da saúde.

Dos cinco profissionais que participaram da pesquisa, o HEMOAL conta com três
atuando na área organizacional, sendo que um deles já atendeu pessoas com DF, e dois
atendem a essa clientela no ambulatório de hematologia. Os gráficos a seguir apresentam
informações que descrevem a práxis dos três profissionais 60% que atendem ou atenderam
pessoas com doença falciforme.

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48 | Obs.: Para melhor compreensão dos resultados, os dados apresentados em todos
os gráficos deste artigo seguem o sentido horário.

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Em relação ao perfil da população atendida, 100% dos profissionais assinalaram todas | 49
as categorias correspondentes: Crianças (0 a 12 anos); Adolescente (13 a 18 anos); Adultos
em geral (acima dos 18 anos); Gestantes; e Familiares.

Ao questionar aos profissionais se eles têm pretensão de atender (ou continuar aten-
dendo) pessoas com DF, 80% afirmou que sim, pois se trata de um grupo que necessita de
atenção psicológica, e além de possuir conhecimento acerca da patologia, pretendem co-
nhecer mais o cotidiano dessas pessoas para promover saúde; 20% responderam que não,
por ter interesse em outra área de atuação.

Hoje a DF, para os profissionais entrevistados, é uma doença que precisa de cuida-
dos, 43%; uma doença crônica que não tem cura, apenas controle, 28%; uma anomalia no
sangue que impede viver com qualidade, 15%; uma hemoglobinopatia que necessita de
atenção psicossocial, 14%. Sendo assim, identificaram como as questões mais frequentes
enfrentadas por pessoas que tem DF e que necessitam serem trabalhadas pela psicologia,
as frustações 40%; autonomia e aceitação 20%; autoestima e autoimagem 20%; e luto dos
cuidadores 20%.

5.2 INSTRUMENTOS DAS PESSOAS COM DOENÇA FALCIFORME

Participaram do estudo 78 pessoas com DF assistidas no HEMOAL, das quais 41 são do


gênero masculino, 53% e 37 do gênero feminino, 47%, com idade de 11 a 47 anos. No que
se refere à escolaridade 53 % possui nível fundamental, 36 % nível médio, 10% nível superior
e 1% é analfabeto.

De acordo com os resultados a prevalência da descoberta do diagnóstico de DF foi


em momento de crise, com 79% do percentual. Em segundo apresentam as consultas de
rotina, e outras formas de diagnósticos com 9% cada. E por se tratar da mais recente forma
de diagnóstico no estado de Alagoas, o menor percentual foi o teste do pezinho com 3%.
Vale salientar que todos os entrevistados iniciaram o tratamento a partir do diagnóstico
recebido.

Através dos gráficos abaixo, serão apresentados os resultados obtidos que correspon-
dem aos objetivos específicos. Para identificar junto às pessoas com doença falciforme, a
percepção que elas têm em relação ao tratamento psicológico, foi perguntada quantos fo-
ram atendidos por psicólogos, 56 % afirmaram que sim e 44 % responderam que não foram
atendidos. Os gráficos 07, 08, 09 e 10 descrevem os respectivos resultados.

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50 |  

Os gráficos 10, 11, 12 e 13 correspondem à verificação das atividades desenvolvidas


pelos psicólogos, se estas estão atendendo as necessidades psicossociais vivenciadas pelas
pessoas com doença falciforme; ainda em relação aos objetivos específicos, para caracteri-
zar os aspectos psicossociais dessas pessoas foram utilizadas as questões apresentadas nos
gráficos 14, 15 e 16.

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  | 51

O conceito de DF para os entrevistados variou de acordo as representações e simbo-


logias dadas à patologia, sendo considerada uma doença hematológica, genética sem cura
por 25%; doença que impõe limites por 22%; doença com ideia de castigo/punição por
21%; doença controlada por tratamento por 14%; doença que não afeta a condição de vida
por 12%; e optaram por não responder 6% do percentual.

Ficaram comprovadas algumas limitações vivenciadas pelos entrevistados devido a


DF. Dentre elas as mais frequentes são as limitações físicas com 32% e psicológicas com
30%, seguidas das limitações sociais com 23% e outras 15%. Ou seja, apesar da prevalência
da busca pela medicina, os dados apontam a necessidade da intervenção do profissional
de psicologia.

6. DISCUSSÃO DOS DADOS

A partir dos resultados obtidos nesta pesquisa, percebe-se que a DF e o seu tratamen-
to causam alterações significativas na vida das pessoas diagnosticadas. Essas alterações
estão relacionadas tanto a aspectos psicossociais como físico. Visto que, diante de uma
situação de doença crônica com tratamento complexo, são geradas desordens emocionais
resultantes do processo de adaptação à nova realidade, acentuadas pelo sofrimento com a
sintomatologia da doença e das reações adversas da sua terapêutica.

Diante do contexto, espera-se que os profissionais de psicologia que atendem essa


população, devam ser devidamente capacitados tanto em nível teórico e prático, para atu-
arem em equipe multidisciplinar, a fim de trabalhar com questões específicas que vão além
das complicações biológicas, e então contribuir de forma eficaz para resolução de conflitos
emocionais envolvidos na patologia, como apontam os resultados por meio dos gráficos
03 e 12, como também conquistar cada vez mais o reconhecimento não só dessa equipe
(poucos encaminham para psicólogos), mas de todos envolvidos que necessitam dessa
praxe para uma melhor qualidade de vida (mais adesão ao tratamento). Porém, esta não foi
a realidade encontrada nos resultados da pesquisa.

Considerando os gráficos 02 e 04, ficou evidente que os psicólogos ao serem admi-


tidos na instituição pesquisada, chegam sem nenhum conhecimento da patologia a qual
irão atender o que dificulta sua atuação e pode ser um fator que desmotive a adesão

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52 | da clientela ao tratamento psicológico. Ainda, segundo esses gráficos, pode-se perceber
que apesar dos esforços relatados pelos profissionais na busca de informação a respeito
da doença, observa-se com certa preocupação a falta de estratégias para lidar com a não
adesão ao tratamento.

A desinformação acerca da DF é algo angustiador para as pessoas diagnosticadas


e seus familiares, por isso a psicoeducação apresenta alto percentual nos resultados. Na
maioria das vezes a falta de orientação sobre a doença resulta em fantasias, superproteção,
alto nível de ansiedade e estresse, como apontam os gráficos 01 e 09. De fato a psicoedu-
cação sobre a patologia se faz necessário.

Ainda assim, os gráficos 07, 08, 09 e 13 mostram que os profissionais se defrontam


com a necessidade de desenvolver novas competências a fim de promover mudanças no
descrédito de sua atuação, tendo em vista as contradições expressas das pessoas com DF
ao responderem o instrumento. Ao mesmo tempo em que as limitações psicológicas per-
dem apenas para limitações físicas, 44% dos entrevistados afirmam que não sentem neces-
sidade de atendimento psicológico.

As implicações sociais da DF são fatores debilitantes e difíceis de serem enfrentados,


embora seja uma patologia determinada geneticamente, sua evolução depende das con-
dições socioeconômicas e da qualidade de vida das pessoas, como mostra os dados do
gráfico 14.

Considerando as respostas que resultaram nos gráficos 15 e 16, observou-se que a


percepção da qualidade de vida, para os entrevistados, parece está fortemente determinada
não apenas por fatores de ordem biológica, mas psicossociais, uma vez que os tipos de pre-
conceitos mencionados interrompem ou dificultam a inserção no processo produtivo, di-
minuindo as possibilidades do convívio social. Assim, a atuação do psicólogo deve pautar-
-se nas diferentes experiências, sentimentos e comportamentos decorrentes de alterações
na capacidade na realização de uma série de atividades da vida diária, na autoestima, na
imagem corporal e nas relações com outras pessoas.

7. CONCLUSÃO

A realização do presente estudo possibilita uma aproximação maior com a intensa e


complexa problemática que envolve a atuação do psicólogo junto à pessoa com doença
falciforme. A expansão dessa área de atuação e o crescente número de pessoas com DF em
Alagoas apontam para a necessidade de trabalhar o aprimoramento científico da prática do
psicólogo da saúde com essa doença.

Como profissionais envolvidos com a temática, é de fundamental importância a con-


sideração de que a doença falciforme é uma experiência bastante complexa e individualiza-
da no sentido da sintomatologia apresentada. Se faz necessário voltar olhares, no intuito de
alcançar o planejamento e implementação de estratégias de promoção de atividades que
envolvam as problemáticas por intermédio de um protocolo de atuação.

É preciso enfatizar, também, que no processo de adaptação às limitações decorrentes


da doença, o psicólogo tem um importante papel a desempenhar. Neste processo muito
há por se fazer no sentido de que as ações levem em conta a inserção do profissional

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de psicologia na equipe multidisciplinar, pois são muitas as demandas que envolvem sua | 53
atuação. Ao atuar ele deve está à disposição da pessoa com doença falciforme, seus fa-
miliares e/ou cuidadores, como, também, à equipe de saúde preparando-a para lidar com
a condição de que o cuidado e tratamento possam não alcançar os efeitos desejados no
sentido de melhora ou regressão dos sintomas, facilitando a comunicação dessa equipe
com o paciente, frisando o entendimento e o respeito de que cada ser humano tem sua
própria identidade.

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54 | REFERÊCIAS

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Recebido em: 7 de maio de 2013


Avaliado em: 2 de junho de 2013
Aceito em: 17 de junho de 2013

Graduando do curso de Psicologia da Faculdade Integrada Tiradentes – FITS.

Graduanda do curso de Psicologia da Faculdade Integrada Tiradentes – FITS.

Professor do curso de Psicologia da Faculdade Integrada Tiradentes – FITS. E-mail: [email protected]

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