Desempenho Linguístico - Sitoe - TesteLinguística
Desempenho Linguístico - Sitoe - TesteLinguística
Desempenho Linguístico - Sitoe - TesteLinguística
Marta Sitoe
1 Este texto é um excerto adaptado e retirado do original: Sitoe, Marta (2017). O desempenho linguístico dos estudantes
universitários moçambicanos na escrita: o caso da concordância nominal em número. In Monteiro, A. C.; Siopa, C.;
Marques, J. A. & Bastos, M. (orgs), Ensino da Língua Portuguesa em Contextos Multilingues e Multiculturais: Textos
Selecionados das VIII Jornadas da Língua Portuguesa, pp. 11–29. Lisboa: Porto Editora. Disponível em
https://www.wook.pt/landingpage/ofertasEbooks?a=10682803&b=45877514&c=qtmnA948UJdB5zUbLJsi7guI56M
estes podem decorrer da falta de atenção destes falantes às suas próprias produções linguísticas e
não tanto da falta de conhecimento das regras gramaticais. Contudo, Siopa (2013), num estudo
sobre o potencial do retorno corretivo escrito na solução dos problemas linguísticos em produções
escritas dos estudantes universitários moçambicanos, constatou que a concordância nominal, em
género e número, é uma das áreas em que houve maior insucesso na correção. Por outras palavras,
mesmo tendo sido alertados para a existência deste tipo de erros, os estudantes não foram capazes
de os corrigir.
Assim, na sequência destas constatações divergentes sobre os erros de concordância nominal
(Siopa, 2013; Gonçalves, 2010b), e mais particularmente sobre a concordância nominal em
número, surge a seguinte questão: Os erros de concordância nominal em número, observados em
produções escritas, semiespontâneas, de estudantes universitários, refletem a sua competência
linguística? Sabendo que, como assinala Gonçalves (2010b), as produções escritas dos estudantes
universitários “estão muito aquém das suas gramáticas mentais, e são condicionadas por uma
diversificada gama de variáveis extragramaticais que interferem no seu desempenho linguístico” (p.
84), não é possível saber se, de facto, a causa dos erros dos estudantes está na falta de
competência linguística nesta área.
Note-se que as propostas de atividades com base em exercícios estruturais sobre a
concordância (nominal, mas também verbal) parecem pressupor que os estudantes universitários
conhecem as regras gramaticais e que apenas necessitam de praticar as estruturas em que elas
devem ser aplicadas para melhorar o seu desempenho nestas áreas (Bavo, 2015; Sitoe, 2015).
Contudo, este pressuposto não foi, até agora, investigado.
Neste contexto, desenvolveu-se este estudo, com o objetivo de verificar se os erros de
concordância nominal em número observados nas produções escritas, semiespontâneas, de
estudantes universitários decorrem da falta de conhecimento das regras ou se têm uma outra
causa, decorrendo de deficiências a nível das suas competências de escrita, nomeadamente no que
respeita à execução de tarefas de revisão e edição de texto. O estudo considerou, pois, a seguinte
hipótese: “Em textos escritos semiespontâneos, produzidos por estudantes universitários, os erros
de concordância nominal em número resultam não da falta de conhecimento das regras de
concordância nominal, mas da não execução de tarefas de pós-escrita, de revisão e edição de
texto”.
A preocupação com esta área gramatical é, em parte, motivada por aspetos sociolinguísticos
a ela associados, mais concretamente a atitude dos falantes cultos perante erros de concordância. A
este respeito, sobre a realidade sociolinguística do Brasil, Vieira (2007, negrito nosso) considera
que:
Diferentemente de outros factos linguísticos, concordar ou não concordar não
constitui opção legitimada pelo registo, nem pela modalidade, nem ainda por
fatores diatópicos ou diafásicos. O fenómeno da (não) concordância é o caso
prototípico de variação que identifica, discrimina, (des)valoriza o usuário da língua
em termos sociais. Trata-se, portanto, de um traço estigmatizante na avaliação dos
usuários da língua portuguesa, aquele que codifica a desigualdade das relações
socioculturais de um povo (p. 92).