11 - PDFsam - Leitão e Gomes - Etnografia em Ambientes Digitais
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brenome dos avatares, não a identidade civil de seus criadores, e é neles que
postam fotografias desde o mundo virtual, mas amiúde seus perfis são objeto
de perseguição por parte do Facebook, sob acusação de serem fraudulentos,
e não perfis de “pessoas reais”. Embora em termos técnicos a convergência
das duas plataformas seja possível, em termos das características das socia-
lidades experienciadas em cada uma, a contradição é patente. No Facebook,
mais do que em qualquer outra plataforma digital anterior ou contemporâ-
nea, a convergência identitária é uma característica fundamental, tanto em
termos de identificação com nome e dados identitários “off-line” dos indiví-
duos quanto em termos cruzamentos com outras identidades que possam vir
a ter noutros ambientes, como o Instagram, o Flickr e o Twitter.
O Facebook é uma rede social criada em 2004, tornando-se bastan-
te popular, sobretudo a partir do ano de 2010 (MILLER, 2011), e utilizada
por cerca de 1,8 bilhão de pessoas contemporaneamente. O exemplo do uso
desse ambiente por avatares do SL é uma exceção, bem marcada enquanto
tal inclusive pelas contendas que gera, sendo a forma de socialidade mais
comum no Facebook aquela que segue a lógica imposta pela plataforma, de
convergência identitária, associação com as identidades civis dos sujeitos e
correspondência entre rede de amizades off-line e on-line. Mesmo em casos
nos quais as redes de amizades são estabelecidas em torno de interesses co-
muns específicos, não coincidindo com relações prévias off-line, como na
sociabilidade estabelecidas dentro de alguns grupos, os trânsitos entre on e
off são frequentes. É o que vem demonstrando a pesquisa que desenvolvemos
atualmente sobre sociabilidade feminina em grupos da plataforma Facebook
que giram em torno de temáticas de moda e consumo. Nesses grupos, é co-
mum que sejam organizados encontros off-line, almoços, passeios, mesmo
entre pessoas que moram em diferentes regiões do Brasil. Diante dessa di-
nâmica própria do ambiente pesquisado, o tipo de esforço etnográfico a ser
empreendido pelo pesquisador é diverso daquele descrito na seção anterior
desse artigo e, em nossa pesquisa nesses grupos, nossa etnografia se estendeu
também a encontros presenciais promovidos por nossas interlocutoras de
pesquisa nas cidades de São Paulo e Porto Alegre.
2
Cf. Beleli (2015) sobre o Tinder, Pelúcio (2016) sobre o happen, e Miskolci (2017) sobre Grindr.