A Transexualidade em Questão

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Volume, 13, n.2, Ano, 2017.

A TRANSEXUALIDADE EM QUESTÃO:
Problematizações nos contextos educacionais.

Renata Silva Pamplona1


Nilson Fernandes Dinis2

RESUMO Este artigo tem como objetivo problematizar a categoria da transexualidade, a qual
surge impulsionada pelos campos de saber-poder das ciências psiquiátricas e psicológicas. Trata-
se de um recorte de nossa pesquisa de doutorado, intitulada Pedagogias de gêneros em narrativas
sobre transmasculinidades, desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Educação/PPGE da
Universidade Federal de São Carlos/ UFSCar. O objetivo central da pesquisa se estruturou na
análise da categoria e experiências das transmasculinidades, nesse sentido, antes de analisarmos
tal categoria, retomamos o percurso da produção da transexualidade. Especificamente, nos
debruçamos a explorar o conceito de transexualidade enquanto um dispositivo tecnológico
biopolítico, engendrado pela maquinaria do sistema patriarcal e heterossexual. Compreendemos
ser fundamental que educadoras e educadores busquem problematizar o viés de produção das
diferenças sexuais e de gênero, a exemplo da transexualidade, a fim de ampliar a possibilidade de
exercerem práticas educativas plurais e não discriminatórias. Concluímos que as bases que
estabelecem a categoria da transexualidade são invenções políticas, discursivas, históricas,
culturais e sociais, realizadas intencionalmente por campos de saber específicos, os quais buscam
manter o sistema patriarcal/heterocentrado.

Palavras-chave: Transexualidade. Gênero. Educação.

TRANSEXUALITY IN QUESTION:
Problematizations in the educational contexts.

ABSTRACT This article aims to problematize the category of transsexuality, which is


driven by the knowledge-power fields of the psychiatric and psychological sciences. This
is a section of our doctoral research, entitled Pedagogies of gender in narratives about

1
Doutora em Educação pelo Programa de Pós-graduação em Educação/PPGE, Universidade Federal de
São Carlos/ UFSCAR – Brasil. E-mail: [email protected]
2
Professor associado no Departamento de Educação e no Programa de Pós-Graduação em Educação da
Universidade Federal de São Carlos/ UFSCar. E-mail: [email protected]

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transmasculinities, developed in the Program of Post-graduation in Education / PPGE at
Sao Carlos Federal University / UFSCar. The central objective of the research was
structured in the analysis of the category and experiences of transmasculinities, in this
sense, before analyzing this category, we returned to the path of transsexuality production.
Specifically, we explored the concept of transsexuality as a biopolitical technological
device, engendered by the machinery of the patriarchal and heterosexual system. We
understand that it is fundamental that educators seek to problematize the bias of the
production of sexual and gender differences, such as transsexuality, in order to increase
the possibility of practicing plural and non-discriminatory educational practices. We
conclude that the bases that establish the category of transsexuality are political,
discursive, historical, cultural and social inventions, intentionally realized by specific
fields of knowledge, which seek to maintain the patriarchal / heterocentric system.

Key-words: Transsexuality. Genre. Education

Esse artigo trata-se de um recorte do primeiro capítulo de nossa tese de doutorado,


intitulada Pedagogias de gêneros em narrativas sobre transmasculinidades3. Nosso
objetivo é realizar uma problematização da categoria transexualidade. Partimos do
pressuposto que educadoras e educadores para realizarem suas práticas de ensino, de
modo a incluir nos currículos as multiplicidades sexuais e identidades de gênero, em
específico, as transexualidades4, necessitam alargar seus conhecimentos a respeito de tais
temáticas e realidades. Nosso texto se lança nesse propósito, percorrendo o itinerário de
produção da categoria das transexualidades.
Inicialmente, sublinhamos que as pessoas transexuais, do mesmo modo que
travestis, intersexuais, dragqueens, dragkings, operam uma marca da diferença acentuada
ao romperem as convenções sociais hegemônicas, presentes na cultura ocidental, no que
se refere às atribuições tradicionais de sexo e de gênero.
Tais sujeitos transitam nos limites estabelecidos pelos preceitos de gênero, e
produzem inquietude diante de sua plasticidade e volatilidade, impressa em seu corpo.

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Pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Educação/PPGE da Universidade Federal de
São Carlos/ UFSCar, no período de 2013-2017, com apoio do CNPq.
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Buscaremos incluir o termo no plural, por compreendermos que não existe apenas uma manifestação da
transexualidade, mas múltiplas expressões.

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Não raro ocasionam temor, dúvida e espanto, desencadeando a exclamação: é homem ou
mulher?
Perante indagações dessa ordem, Berenice Bento argumenta que essas deveriam
ser reelaboradas e expressas em termos como: “O que é um homem e uma mulher? Para
que serve este lugar de gênero? Só é mulher quem tem um útero?” (BENTO, 2014, p. 49).
De modo semelhante, podemos também indagar: só se é homem quem possui pênis?
Como então qualificar os inúmeros homens que foram assignados homens em seu
nascimento, mas amputaram seu órgão genital em decorrência de doenças ou acidentes?
Esses deixam de ser homens?
Podemos falar em um homem ou mulher de verdade? Quem são e como saber?
Falar em um homem e mulher de verdade só é possível a partir do eixo estrutural do
sistema heterossexual, heterocentrado, fruto de uma concepção naturalizante que produz
a mulher como passiva, frágil, submissa, e o homem como viril, másculo, ativo. No
entanto, essa postulação dicotômica de atribuição dos gêneros e corpos sempre falha, pois,
por mais refinada que seja a produção da feminilidade ou masculinidade, não as
encontramos de forma cristalizada, essencializada e pura. Antes, há sempre um borrar de
fronteiras entre o masculino/feminino, e vice-versa. Não é possível encontrar o masculino
e o feminino original, já que esses são produzidos culturalmente e socialmente por
normatizações de gênero perpassadas por dispositivos biopolíticos que legitimam e
arquitetam as noções do ser homem e mulher.
Tais questões devem ser situadas dentro de um regime político e um sistema
biopolítico complexo, as quais necessitam ser incansavelmente desconstruídas para se
desmistificar o trabalho refinado que o sistema heterossexual processa ao produzir uma
masculinidade e uma feminilidade naturalizadas e aprisionadas na lógica de um
determinismo biológico.
Problematizaremos a categoria conceitual da transexualidade a partir desse lugar
das engrenagens tecnológicas biopolíticas, sendo assim, nos lançaremos na tentativa de
desmontar a maquinaria do sistema patriarcal e heterossexual, o qual também engendra a
noção de transexualidade e a emoldura em um viés articulado às ciências médicas e
psicológicas. Entendemos por tecnologia biopolítica o sentido dado por Beatriz Preciado,
“Isto é, como um sistema complexo de estruturas reguladoras que controlam a relação

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entre os corpos, os instrumentos, as máquinas, os usos e os usuários” (PRECIADO, 2014,
p.79).
Mais que definir a transexualidade a partir de um padrão fixo, salientamos a
necessidade de buscar compreender as experiências transexuais em suas mais distintas
nuances, em sua pluralidade e multiplicidade de apresentação e de produção realizada ao
longo do curso histórico, e das muitas influências políticas, sociais e dos saberes e poderes
vigentes.
As pessoas transexuais dissolvem a lógica causal entre sexo/gênero/orientação
sexual e remexem os lugares fixos de compreensão do universo masculino e feminino,
atribuídos de forma essencializada.
Entretanto, embora seja inviável e errôneo pensar a transexualidade em termos
universais, optaremos inicialmente, e de forma abreviada, a compreender que a
transexualidade se constitui pelo não reconhecimento do sujeito com seu sexo biológico
assignado pelo nascimento. A pessoa se reconhece em um corpo estranho, distinto
daquele que sente ser de fato seu gênero. Existe uma dimensão identitária e um conflito
com as normatizações e regulações de gênero. Uma mulher trans é aquela que nasceu em
um corpo biológico masculino e no entanto se identifica, ou se percebe, como mulher.
Um homem trans é aquele que nasceu em um corpo biológico feminino, mas se identifica
como homem, se reconhece como homem, seja, em sua personalidade, vestimentas,
estrutura psíquica, entre outras. Contudo, salientamos não haver unanimidade em relação
à nomeação da transexualidade masculina e feminina, conforme analisaremos
posteriormente.
Tal redução não significa que as experiências e vivências das pessoas trans sejam
universais, padronizadas, ou se encaixem em uma sintetização homogênea. Mais, essas
são plurais, diversas. Cada pessoa trans, seja a/o transexual feminino ou masculino, é
antes, ou, deveria ser, primordialmente pessoas humanas e, sendo assim, são constituídas
e atravessadas por diferenças, multiplicidades e devires.
Não podemos encontrar uma redução discursiva para definir ou essencializar
qualquer expressão identitária ou sexual, pois “Não existe o bissexual, a bissexual, assim
como não existe a lésbica, o homossexual, a travesti, o/a transexual, a drag queen, existem
sim, travestilidades, homossexualidades, lesbianidades, transexualidades e também
bissexualidades” (PAMPLONA, 2012, p. 51).

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Também deveria ser inexequível se falar em uma única vertente heterossexual,
pois não localizamos o/a heterossexual verdadeiro, e sim formas e vivências da
heterossexualidade, “Mesmo porque a heterossexualidade é uma tecnologia social e não
uma origem natural fundadora” (PRECIADO, 2014, p. 30), embora tenha se normatizado,
na modernidade ocidental, um padrão de heterossexualidade que é visto e desejado como
o correto e autêntico. É fácil perceber qual o esboço de homem e mulher preenche o perfil
modelo de casal heterossexual, ou seja, um casal monogâmico, de posses
econômicas/consumidores, cristão, passíveis de reprodução, magros, com corpos
saudáveis, sem deficiências e, preferivelmente, brancos.
Segundo Jorge Leite Júnior, o que sustenta a arquitetura da ideologia moderna de
gênero, a qual fundamenta a heterossexualidade compulsória e também a
heteronormatividade é “... o modelo de família heterossexual monogâmica reprodutiva
burguesa, ainda que nuançada pelos avanços e mudanças conceituais e sociais
característico das culturas ditas modernas” (LEITE JÚNIOR, 2008, p.114).
Portanto, é também, fundamentalmente, na esteira das discussões sobre gênero
que transcorreremos pelos territórios conceituais da transexualidade, uma vez que os/as
transexuais são sujeitos que transitam entre os sexos e os gêneros.
Teremos como referência central para nossa problematização, assim como para o
resgate dos percursos e origem da categoria transexualidade, os estudos de Pierre-Henri
Castel (2001), Jonathan Ned Katz (1996), Berenice Bento (2006, 2008), Jorge Leite
Júnior (2008), Judith Butler (2010) e Beatriz Preciado (2014). Buscaremos transitar entre
tais estudos com intuito de estabelecer possíveis conexões, às quais possam nos permitir
problematizar a produção da transexualidade e de seus territórios traçados.
Assim, observamos que Judith Butler (2010), ao discorrer sobre os sentidos de
gênero, evidencia que esses só se tornam possíveis mediante atos performativos, no
sentido de que a ação do gênero requer uma performance repetida dos atos do que seja
masculino ou feminino. Ou seja, só se aprende a viver em determinado núcleo de gênero,
vivenciando repetidamente rituais próprios de cada gênero. Em outras palavras, os que
foram designados em seu nascimento como meninos, não nascerão sabendo ser meninos,
antes, aprenderão com os corpos, movimentos, falas, posturas dos sujeitos masculinos
como deverá ser viver e assumir o gênero masculino. Sendo a mesma repetição
performática aplicada às mulheres e ao gênero feminino, pois, para Butler:

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Se os atributos e atos de gênero, as várias maneiras como o corpo mostra ou


produz sua significação cultural, são performativos, então não há identidade
preexistente pela qual um ato ou atributo possa ser medido; não haveria atos
de gênero verdadeiros ou falsos, reais ou distorcidos, e a postulação de uma
identidade de gênero verdadeira se revelaria uma ficção reguladora. O fato de
a realidade do gênero ser criada mediante performances sociais contínuas
significa que as próprias noções de sexo essencial e de masculinidade e
feminilidade verdadeiras ou permanentes também são constituídas, como parte
da estratégia que oculta o caráter performativo do gênero e as possibilidades
performativas de proliferação das configurações de gênero fora das estruturas
restritivas da dominação masculinista e da heterossexualidade compulsória
(BUTLER, 2010, p. 201).

Mesmo que não haja uma identidade preexistente, ou atos de gêneros verdadeiros
ou falsos, Butler destaca a estratégia de ocultação dessa performance, fazendo assim
parecer que os gêneros são naturais e essencializados. Portanto, todo sujeito que foge à
atuação esperada e desejada pela dicotomia dos gêneros passa a ser visto como abjeto,
estranho. Entre os quais, o/a transexual, pois constitui como afronta à prática legítima dos
gêneros quando não consegue manter-se nos limites designados para o seu gênero no
nascimento.
Leite Júnior realiza um importante destaque ao ponderar que a performatividade
butleriana não se trata de uma escolha voluntária de um sujeito, pois “É uma repetição
obrigatória das normas anteriores que constituem o sujeito, normas que não podem ser
descartadas por vontade própria” (LEITE JÚNIOR, 2008, p.118).
Por sua vez, Beatriz Preciado dirá que “O gênero não é simplesmente
performativo (isto é, um efeito das práticas culturais linguístico-discursivas) como
desejaria Judith Butler” (PRECIADO, 2014, p. 29). O gênero está, em sua visão, para
além da imitação.
O gênero é pura tecnologia, complexa, capaz de arquitetar, produzir, fabricar um
sexo-prostético, ou uma tecnologia sexual e, sendo assim, tanto capaz de produzir e
reiterar as dicotomias entre os corpos masculinos/femininos, como também capaz de
implodir essas mesmas barreiras, por meio de resistências.

Sua plasticidade carnal desestabiliza a distinção entre o imitado e o imitador,


entre a verdade e a representação da verdade, entre a referência e o referente,
entre a natureza e o artifício, entre os órgãos sexuais e as práticas de sexo. O
gênero poderia resultar em uma tecnologia sofisticada que fabrica corpos
sexuais (PRECIADO, 2014, p. 29).

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Beatriz Preciado analisará, ainda, que é justamente essa produção sexo-prostético
que assegurará aos gêneros masculinos e femininos sua naturalização. E toda falha
constituinte da máquina heterossexual, vista pela aproximação imperfeita do irreal
masculino e feminino “... deve se renaturalizar em benefício do sistema, e todo acidente
sistemático (homossexualidade, bissexualidade, transexualidade...) deve operar como
exceção perversa que confirma a regra da natureza” (PRECIADO, 2014, p. 30).
Percebemos nessa refinada análise, que a transexualidade, assim como expressões
não heterossexuais, é tida como desvio, erro, acidente, mas, ao mesmo tempo, necessária
para garantir e reafirmar a permanência das dicotomias de gêneros e da
heterossexualidade.
A estratégia de utilização do outro, dito como o estranho, bizarro, anormal,
portanto, indigno e abjeto, é recorrente na história da sexualidade para legitimar o dito
normal, correto, padrão, aceitável, desejável.
O pesquisador Jonathan Ned Katz (1996), em A invenção da heterossexualidade,
realiza uma desconstrução do processo de naturalização da sexualidade tida como normal,
nomeadamente, a heterossexualidade. O termo heterossexual “... teria sido criado por
volta de 1892, ou seja, depois do termo ‘homossexual’, e designava, em um primeiro
momento, o amor patológico e desmedido por pessoa do sexo oposto, só posteriormente
adquirindo o sentido de norma e de referência para a sexualidade” (PAMPLONA; DINIS,
2013, p. 6).
De forma instigante, o autor quebra aquilo que nos parece óbvio, para mostrar que
não existe nada de evidente, e sim de produções precisas. Por exemplo, questiona o
motivo de falarmos sobre a travestilidade, quando não questionamos o fato de vestirmos
roupas designadas para nosso próprio sexo. Assim, poderíamos questionar o porquê de
uma mulher usar saias, vestidos, batons, saltos. Falamos sobre raça, mas pouco sobre ser
da raça branca, e menos ainda problematizamos a normalidade e naturalidade produzida
em torno da branquitude5. Falamos muito sobre a história das mulheres e bem menos

5
Para entender a branquitude, é importante compreender a forma como se constroem as estruturas concretas
de poder em que as desigualdades raciais se ancoram. Faz-se necessário entender as formas de poder da
branquitude, onde ela realmente produz efeitos e materialidades, estabelece e gera efeitos de verdade [...]
A branquitude está relacionada a situações de privilégio e de poder, as quais conferem vantagens, prestígio
e estabelecem padrões normativos a serem seguidos pelo Outro não branco. E desse modo, a escola
privilegia de forma icônica um grupo racial branco em detrimento do negro. (SOUZA, 2016, p. 115-116)

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sobre a dos homens, a qual ganha evidência apenas nos últimos anos, com os estudos
sobre as masculinidades.
E, designadamente, destacamos as colocações do pesquisador em relação à
transexualidade, quando afirma:

Falamos sobre Transexualismo (dando-lhe esse nome) problemático, a


sensação de ser do sexo oposto, o desejo de ter o corpo do outro sexo. Não
falamos muito sobre a sensação de ser do próprio sexo (ou damos a isso um
nome) – o sexo que acreditamos ser o nosso, o que a maioria de nós deseja
conservar. Mas o fato de nos sentirmos relativamente bem com o nosso sexo e
o forte desejo de manter a nossa integridade sexual não indicam algo que
precisa ser explicado, tanto quanto o transexualismo? (KATZ, 1996, p. 26).

Katz, de maneira perspicaz, levanta questionamentos que para muitas pessoas


seriam impensáveis, pois esses desestabilizam a maquinaria do sistema sexo/gênero ao
fazer colocações simples. Ou seja, não falamos muito sobre a sensação de ser do sexo que
somos. E será que somos mesmo do sexo que acreditamos ser o nosso? Ou antes, podemos
fazer tal proposição? O fato de termos uma genitália considerada de determinado sexo é
fator mais importante que outros em nosso comportamento, corpo, afeto, emoção,
pensamento para designar nosso gênero? Por que é normal nos sentirmos bem com nosso
sexo de nascimento? Não deveríamos questionar nosso sexo, nosso gênero, como muitas
vezes questionamos o nome que nos foi dado no nascimento? Segundo Katz, a não ser
quando somos pressionados por vozes fortes e insistentes, não temos o costume de dar
nome “... à norma, ao normal e ao processo social de normalização, muito menos os
consideramos desconcertantes, objetos de estudo. A análise do anormal, do diferente e do
outro, das culturas da minoria, aparentemente tem despertado um interesse muito maior”
(ibid., p. 27).
Se tais indagações podem parecer absurdas, não são quando se trata da
transexualidade, pois aí sim, parece ser normal indagar qual razão leva uma pessoa a se
sentir em um corpo errado, desejar ser de outro gênero, diferente daquele que lhe foi
atribuído no nascimento.
De acordo com Berenice Bento “A transexualidade é uma das múltiplas
expressões identitárias que emergiram como uma resposta inevitável a um sistema que
organiza a vida social fundamentada na produção de sujeitos ‘normais/anormais’ e que
localiza a verdade das identidades em estruturas corporais” (BENTO, 2008, p. 24-25).

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Seria um equívoco, conforme aponta a pesquisadora Bento (2008), proceder a uma
investigação sobre a trajetória da transexualidade fora da perspectiva histórica em que as
identidades passam a ser prisioneiras do corpo e as condutas tornam-se medicalizadas.
Para que a transexualidade se tornasse compreensível, segundo a explicação da
verdade dos gêneros centrada na diferenciação dos corpos masculinos e femininos, foi
necessário um embate com a interpretação do isomorfismo, segundo a qual não havia
diferenciações entre um corpo feminino e outro masculino. A partir da concepção do
isomorfismo “Até meados do século XVII, os anatomistas trabalhavam com a convenção
de que existia apenas um corpo e pelo menos dois gêneros...” (BENTO, 2008, p. 24).
Somente a partir dos séculos XVIII e XIX os discursos e saberes começam a se
arquitetarem e questionarem uma nova convenção social do que é ser homem e mulher,
ou seja, o dimorfismo. Assim, “Por volta da segunda metade do século XVIII, as
diferenças anatômicas e fisiológicas visíveis entre os sexos não eram consideradas, até
que se tornou politicamente importante diferenciar biologicamente homens e mulheres,
mediante o uso do discurso científico” (BENTO, 2008, p. 25).
Em decorrência dessa diferenciação sexual entre masculinidade e feminilidade
passou-se a nomear aquelas pessoas que borravam a clareza das distinções dicotômicas
do feminino e masculino.
A denominação transexual mais recorrente e ainda utilizada na
contemporaneidade é um termo cunhado internacionalmente no século XX, a partir da
década de 1950, pelo saber médico-psiquiátrico, o qual compreende a transexualidade
como um transtorno de comportamento. Nesse viés biologizante é inevitável a associação
da transexualidade à doença mental e a uma dimensão patologizante, sendo assim,
nomeada de transexualismo. O saber médico e das ciências psicológicas, da mesma forma
que já havia patologizado a homossexualidade, irá empreender o mesmo processo com a
transexualidade. Assim, “‘Transexualismo’ é a nomenclatura oficial para definir as
pessoas que vivem uma contradição entre corpo e subjetividade. O sufixo ‘ismo’ é
denotativo de condutas sexuais perversas, como, por exemplo, ‘homossexualismo’”.
(BENTO, 2006, p. 44).
Anteriormente, em 1910, o sexólogo Magnus Hirschfeld cunha em seu livro Die
Tranvestiten, o termo transexual e transexual psíquico. É o primeiro livro onde aparecerá
tal designação, como destaca o historiador Pierre-Henri Castel (2001).

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Como se vê no título, não se trata de separar o transexualismo (a palavra figura,


de resto, inserida na expressão “transexual psíquico”) do conjunto das
perversões, mas, sobretudo, de um lado, de separar as formas de
homossexualidade, e de outro, de estabelecer que o transvestismo não é uma
prática especificamente homossexual, em via de destruir a homogeneidade
aparente da categoria de “atos contra a natureza” (CASTEL, 2001, p. 81).

Novamente o termo transexual é utilizado em 1949, por Cauldwell, conforme


aponta Bento (2006), quando esse “... publicou um estudo de caso de um transexual
masculino. Nesse trabalho são esboçadas algumas características que viriam a ser
consideradas exclusivas dos/as transexuais. Até então, não havia uma nítida separação
entre transexuais, travestis e homossexuais” (BENTO, 2006, p. 40).
Intensificam-se, assim, a partir de 1950, as publicações “que registram e defendem
a especificidade do ‘fenômeno transexual’. Essas reflexões podem ser consideradas o
início da construção do ‘dispositivo da transexualidade’” (idem). É importante destacar a
analogia realizada pela pesquisadora Berenice Bento, a partir da qual toma a noção de
dispositivo da sexualidade para se referir ao dispositivo da transexualidade. Relembramos
aquilo que Foucault compreende por dispositivo da sexualidade:

A sexualidade é o nome que se pode dar a um dispositivo histórico: não à


realidade subterrânea que se aprende com dificuldade, mas à grande rede da
superfície em que a estimulação dos corpos, a intensificação dos prazeres, a
incitação ao discurso, a formação dos conhecimentos, o reforço dos controles
e das resistências, encadeiam-se uns aos outros, segundo algumas grandes
estratégias de saber e poder (FOUCAULT, 2010, p. 116-117).

Compreender a transexualidade como um dispositivo é bastante pertinente, dada


a existência de uma proliferação de discursos circulando em torno da figura do/da
transexual, assim como a manipulação dos corpos transexuais, a exemplo das
intervenções cirúrgicas que irão ganhar notoriedade nesse momento, e reforçar a
consolidação desse dispositivo. O que é possível perceber perante:

A articulação entre os discursos teóricos e as práticas reguladoras dos corpos


ao longo das décadas de 1960 e 1970 ganhou visibilidade com o surgimento
de associações internacionais, que se organizam para produzir um
conhecimento voltado à transexualidade e para discutir os mecanismos de
construção do diagnóstico diferenciado de gays, lésbicas e travestis. Nota-se
que a prática e a teoria caminham juntas. Ao mesmo tempo em que se produz
um saber específico, são propostos modelos apropriados para o "tratamento”
(BENTO, 2006, p. 40).

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Por sua vez, Harry Benjamin, médico endocrinologista alemão radicado nos
Estados Unidos, é considerado o pai da transexualidade após a publicação de seu livro O
fenômeno transexual, em 1966, e a retomada do termo transexual utilizado por Cauldwell.
Será um personagem relevante na gama do saber específico para a produção do dispositivo
da transexualidade. Com influências de sua obra, a condição transexual passa a ser
reconhecida e submetida a tratamento médico, passando a ser admitida nas nosografias
psiquiátricas, de acordo com Castel (2001).
Para Harry Benjamim, a gênese da transexualidade se associa a uma ordem
biológica, e o dilema em que vivem as pessoas transexuais só pode ser minimizado
mediante a cirurgia de transgenitalização. Segundo Bento (2008), o endocrinologista
Benjamim forneceu as bases para o diagnóstico do “verdadeiro transexual”. Diagnóstico
que só poderá ser realizado pelo saber médico-psiquiátrico e pelo refinado nascente
dispositivo da transexualidade.
Benjamim, como mostra Bento (2006), ao propor a cirurgia como única
alternativa terapêutica possível para o tratamento dos/das transexuais, empreenderá uma
forte oposição aos profissionais da saúde mental, particularmente aos psicanalistas, uma
vez que esses eram radicalmente contrários às intervenções corporais como alternativas
terapêuticas, pois as consideravam como mutilações.
A primeira intervenção de redesignação sexual é datada de 1921, conforme afirma
Castel (2001). O cirurgião Felix Abraham, aluno de Eugen Steinach, opera
clandestinamente Rudolf, o primeiro transexual redefinido.
O procedimento cirúrgico de redesignação sexual, nomeadamente, a
vaginoplastia, é um procedimento de domínio médico desde a segunda metade do século
XIX, conforme destaca Castel (2001). Já a faloplastia, tem o início de seu
aperfeiçoamento com o médico Harold Gillies, considerado:

... um dos pais da cirurgia plástica, virtuose de sua profissão, que a havia
experimentado em 1917 em soldados mutilados. Gillies, ao qual se dirigiram
após 1919 os intersexuais, e que redigiu um manual de cirurgia urogenital
sobre esses pacientes, opera também alguns transexuais. Ele parece ter
praticado a primeira faloplastia em Laura Dillon, que se tornou Michael,
primeira militante do “direito moral” à mudança de sexo. Ele os considera
todos, como Abraham, e mesmo Daniel Stürup (que fará parte da equipe
encarregada de Goerge Jorgensen em 1952) como homossexuais e
transvestistas (CASTEL, 2001, p. 85).

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Embora exista a neofaloplastia desde 1917, no Brasil apenas em 2010 o Conselho
Federal de Medicina regulamentou o processo transexualizador para transexuais
masculinos, o qual consiste na remoção do útero, ovário e das mamas. No entanto, a
neofaloplastia, ou seja, a construção do pênis segue ainda em caráter experimental,
conforme atesta Camila de Jesus Mello Gonçalves:

A técnica cirúrgica encontra limites em si mesma, persistindo dificuldades para


a obtenção de bom resultado tanto no aspecto estético quanto no funcional, das
neofaloplastias, mesmo nos casos com boa indicação de transformação do
fenótipo feminino para o masculino (décimo primeiro Considerando da
Resolução CFM 1.955/10). Em razão do estado da técnica, neste caso, a
autorização para a realização da cirurgia ainda é dada somente a título
experimental (Resolução CFM 1.995/10, art. 2º). (GONÇALVES, 2014, p.
176).

É interessante observar como em uma época histórica de grandes avanços na área


das tecnociências, biotecnologias, tecnologias da informação atreladas à medicina,
robótica, e as constantes invenções de máquinas, terapias gênica e celular, implantes
cerebrais, entre outras inúmeras técnicas de grandiosa sofisticação e eficácia médica,
coexiste um lento avanço na intervenção cirúrgica da vaginoplastia e, especialmente da
faloplastia. Entretanto, tal lentidão contrastada com os avanços da medicina nos primeiros
anos do século XXI, não ocorre por simples acaso, antes, existe uma intencionalidade
política de manutenção e estabilização das categorias heteronormativas de sexo e gênero,
como bem delineia Beatriz Preciado.

A sofisticação da maior parte dos ramos da medicina terapêutica e da


cibernética (xenotransplantes, próteses cibernéticas visuais e auditivas etc.)
contrasta com o subdesenvolvimento das tecnologias que permitem modificar
os órgãos (faloplastia, vaginoplastia...) e as práticas sexuais (tomemos, por
exemplo, a escassa evolução do preservativo nos últimos dois mil anos). A
meta das atuais biotecnologias é a estabilização das categorias
heteronormativas de sexo e de gênero (que vai da erradicação das
anormalidades sexuais, consideradas como monstruosidades no nascimento ou
antes do nascimento, às operações no caso de pessoas transexuais)
(PRECIADO, 2014, p. 40-41).

Pioneiro nas intervenções cirúrgicas para a mudança ou definição de um único


sexo, junto ao nome de Harry Benjamim, é o nome John Money, que irá se dedicar aos
estudos da intersexualidade e as diferenças do masculino/feminino. De acordo com Bento
(2006), o psicólogo e professor de psicopediatria, John Money, nascido na Nova Zelândia,
vai para os Estados unidos para estudar casos de crianças intersexuais, na primeira clínica
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especializada em identidade de gênero, no hospital universitário de John Hopkins, na
cidade de Baltimore. Nesse local, elabora e utiliza pela primeira vez, em 1955, suas
primeiras teses sobre o conceito de gênero, apoiado na teoria dos papéis sociais do
sociólogo Tàlcott Parsons, remetendo assim às diferenças sexuais ao aprendizado
sociocultural dos papéis de masculinidade e feminilidade.
Assim, “A conclusão à qual chegava Money em 1995 não podia ser,
aparentemente, mais revolucionária: o gênero e a identidade sexual são modificáveis até
a idade de 18 meses” (PRECIADO, 2014, p.132). Entretanto, sem abandonar o crivo
biológico, responsável por coroar a supremacia da genitália como aquela que permitirá
atribuir o sexo correspondente do sujeito, ou seja, se masculino, feminino ou intersexual.
Se intersexuais, os bebês deverão se submeter às cirurgias corretivas para escolha do sexo
mais adequado, dependendo da preponderância de cada genitália e seu melhor encaixe às
normas do sistema heterocentrado.
Leite Júnior (2008), em análise dos conceitos de Butler, delineia que a filósofa
considera a tese de Money revolucionária ao afirmar que o comportamento de gênero não
é inato ao funcionamento de gênero. Entretanto, Butler ainda considera que o psicólogo
Money “... procurava manter a tradicional inteligibilidade de gênero, ou seja, que as
pessoas com pênis deveriam ser ‘masculinas’ e sentir atração afetivo-sexual por mulheres
e vice-versa” (LEITE JÚNIOR, 2008, p. 143). Assim, o saber médico e as intervenções
cirúrgicas realizadas com crianças com algum nível de intersexualidade “... visavam então
manter a lógica heteronormativa: ‘construir’ vaginas para meninas que deveriam ter uma
vida sexual com meninos e ‘pênis’ para garotos que seriam educados a desejar garotas”
(LEITE JÚNIOR, 2008, p. 143).
Por sua vez Preciado (2014), em uma análise detalhada, destaca a importância e
autoridade de Money nos anos cinquenta, para a atribuição sexual do recém-nascido e de
reconstrução sexual. De forma sarcástica, afirma que indubitavelmente podemos
considerar que “Money makes sex” (PRECIADO, 2014, p.133), ou seja, era de fato um
fabricador de sexos ao ter em suas mãos um saber-poder capaz de produzir um sexo tido
como o mais apropriado em cada circunstância, ou, em cada genitália indefinida. A
eficácia de seu modelo resulta “... da combinação estratégica de duas linguagens, de duas
epistemologias que serão utilizadas para descrever o corpo: a análise cromossômica e o
juízo estético” (PRECIADO, 2014, p.133).

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No modelo de Money, os corpos intersexuais, assim considerados por um critério
de exploração visual, serão submetidos a um longo processo de operações genitais que
transcorreram até a pré-adolescência. É minuciosa e bastante intencionada a lista de
definições para a atribuição de sexo. O tratamento observará de início a combinação
cromossômica, e outras linguagens específicas para a atribuição sexual, como:
“Clitopênis, micropênis, microfalo, pênis-clitóris”, segundo mostra Preciado (2014, p.
134).
Em sua análise, a filósofa busca argumentar como todo o processo de atribuição
sexual se dá nos parâmetros de respaldo do sistema sexo/gênero heterocentrado. Ou seja,
o recém-nascido considerado geneticamente feminino (XX) deverá suprimir qualquer
vestígio de um pênis, ainda que lhe custe a mutilação do clitóris, e mais tarde se fará a
construção do canal vaginal. Nesse caso, é inegável que a preocupação central é que essa
vagina seja capaz de receber um pênis no coito heterossexual, sem ao menos considerar
que futuramente essas meninas intersexuais pudessem ser “sapas”, segundo observa
Preciado (2014).
Em relação à atribuição sexual masculina, quando a criança é XY, a preocupação
é com o “tecido fálico”, a possibilidade de aumento do “microfalo” ou do “micropênis”,
com os critérios de “longitude”, de “tamanho” e de “aparência normal” dos genitais, ou,
como bem salienta Preciado, a preocupação é com o resultado da “política do centímetro”
(2014, p.140). Semelhante à atribuição feminina, a inquietação é que o indivíduo possa
ser capaz de ter relações heterossexuais genitais.
Caso houvesse para Money e seus colaboradores, qualquer incerteza em relação
ao tamanho e desenvoltura futura do pênis que pudessem gerar conflitos em relação à
identidade, seria preferível realizar o procedimento de vaginoplastia. O que acarretava o
fato de frequentemente a maior parte dos bebês intersexuais XX ou XY serem atribuídos
ao gênero feminino. O que nos faz concordar que “Para Money, então ‘o masculino’ não
está definido por um critério genético (possuir um cromossomo y e um x) ou pela
produção de esperma, mas por um critério estético, o fato de ter uma protuberância
pélvica ‘do tamanho apropriado’” (PRECIADO, 2014, p.140).
As postulações de Money embora tragam algum vislumbre para a inovação em
relação ao aprendizado social dos gêneros, recua em defesa da sociedade heterocentrada
quando visa à extinção da ambiguidade dos sexos por meio das intervenções cirúrgicas

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de adequação do sexo/gênero. Ou antes, teme as consequências políticas e sociais de uma
identidade de gênero ambígua e fluida, como também observou Preciado em relação às
teses de Money:

Se Money afirma que a identidade sexo/gênero é modificável até


aproximadamente os 18 meses (embora os tratamentos hormonais e cirúrgicos
prossigam inclusive depois da puberdade) não é porque não existe a
possibilidade de mudança depois dessa idade (como as operações de mudança
de sexo e de reatribuição nas pessoas transexuais suficientemente provam),
mas sim porque o discurso médico não pode lidar com as consequências
políticas e sociais da ambiguidade ou da fluidez sexual para além da tenra
infância. Por isso, segundo Money, o sexo deve ser atribuído o mais rápido
possível, o que com frequência quer dizer imediatamente, à primeira vista. E
isso, de maneira decisiva e irreversível (PRECIADO, 2014, p. 142).

Após percorrermos por algumas leituras e contribuições teóricas a respeito do


modelo de Money referente às designações de gênero para bebês intersexuais,
gostaríamos de destacar sua influência na elaboração do dispositivo da transexualidade,
pois, a transexualidade passa a ser considerada como disforia de gênero.
O termo disforia de gênero foi cunhado por John Money e Norman Fisk em 1973,
após o primeiro congresso da Harry Benjamin Association, realizado em Londres em
1969, o qual modificou seu nome em 1977 para Harry Benjamin International Gender
Dysphoria Association (HBIGDA), e consolidou-se como referência para o tratamento de
pessoas transexuais.
A designação disforia de gênero traz em seu bojo duas vertentes de produção do
saber a respeito da transexualidade. São elas: “... o desenvolvimento de teorias sobre o
funcionamento endocrinológico do corpo e as teorias que destacaram o papel da educação
na formação da identidade de gênero” (BENTO, 2006, p. 42). Tais concepções serão
centrais para a constituição do dispositivo da transexualidade e de seus desdobramentos,
como a forte ênfase dada a seu tratamento, já que a vertente biológica e médico-
psiquiátrica obtiveram maior refinamento ao operar as disputas de saber-poder. Sendo
causal a noção de que a disforia de gênero nada mais era que distúrbio, ou transtorno de
gênero, portanto, anomalia.
De acordo com Castel, a transexualidade “... figura hoje no manual-diagnóstico
publicado pela Associação Americana de Psiquiatria (DSM 4), não sob o título de
‘transexualismo’, mas como ‘distúrbio de identidade de gênero’” (CASTEL, 2001, p. 77-
78).
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Tal acontecimento apresenta consequências importantes ainda na atualidade. Por
um lado se constitui como uma defesa em relação às pessoas transexuais, e seu grande
anseio de correção de um corpo inadequado às aspirações do gênero identificado. Por
outro, constitui uma armadilha ao reafirmar um modelo dicotômico e patológico de
gênero, em um sistema heterocentrado.
Embora afirmar que uma pessoa é ou não transexual incida em uma
impossibilidade objetiva, não se caracterizou como impedimento para que a refinada
maquinaria das ciências médicas e das ciências psi6 sofisticassem procedimentos para
realizar tal determinação. Para Berenice Bento “O que assusta é perceber que tão pouco
saber, dito científico, gerou tanto poder” (BENTO, 2008, p. 119).
As pessoas que desejam se submeter ao processo transexualizador deverão aceitar,
sem quase nenhuma possibilidade de questionamento, às exigências dos centros médicos
responsáveis, e o rol de procedimentos exigidos para a redesignação sexual. “Os
protocolos irão concretizar essas obrigatoriedades quanto ao tempo de terapia, à terapia
hormonal, ao teste de vida real, aos testes de personalidade, além dos exames de rotina”
(BENTO, 2006, p. 48). Somente depois de passar pelo menos dois anos por esse
humilhante, exaustivo, e porque não desumano processo, o/a transexual, se conseguir
cumprir todas as etapas e exigências instituídas, estará apto/a ao processo
transexualizador e à cirurgia de transgenitalização.
Existe uma normatização oficial/internacional/universal que regulamenta por
meio de documentos a orientação do diagnóstico e tratamento da transexualidade. “A
HBIGDA publica regularmente as Normas de Tratamento (State of Care ou SOC) que
orientam profissionais que trabalham com transexualidade em todo o mundo. Atualmente
o SOC está em sua 6ª versão” (BENTO, 2008, p. 97).
Outros dois documentos são reconhecidos internacionalmente no tratamento da
transexualidade, o Manual de Diagnóstico e Estatísticas de Distúrbios Mentais (DSM- 4)
da Associação Psiquiátrica Americana (APA), e o Código Internacional de Doenças (10ª
Versão), ou CID-10.
Bento (2008) esclarece que esses documentos foram construídos a partir da
perspectiva da transexualidade como doença, sendo assim, como doentes, as pessoas

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Termo designado para nomear as ciências: psicologia, psiquiatria, psicanálise.

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apresentam características comuns e universais, independente de diferenças culturais,
econômicas ou sociais. Entretanto, existem algumas particularidades em cada documento,
tais como:

Para o SOC, ‘o transexual de verdade’ tem como única alternativa para resolver
seus ‘transtornos’ ou ‘disforias’, as cirurgias de transgenitalização. Já no DSM-
IV, a questão da cirurgia é apenas tangenciada, visto que sua preocupação
principal está em apontar as manifestações do ‘transtorno’ na infância,
adolescência e fase adulta. O CID-10 é o documento mais objetivo: apresenta
as características gerais e o código que deve estar presente em todos os
diagnósticos referentes ‘ao transexualismo’ (BENTO, 2008, p. 99).

A/o transexual só será assim diagnosticada/o, como uma/um transexual


verdadeira/o, primeiramente se aceitar ser nomeada/o como doente, possuidora/o de um
transtorno de gênero e, posteriormente, se lutar para obter um laudo que comprove ser
um/uma transexual verdadeiro/a. O qual na sua impossibilidade objetiva de se realizar,
ou seja, de atestar a veracidade da transexualidade, se fará a partir de um referencial
normativo passível de nomear e designar o que seja homem e mulher, segundo as normas
dicotômicas de gêneros. A respeito dessa inexistência objetiva da nomeação da
transexualidade, Bento afirma que:

Diante da transexualidade, a suposta objetividade dos exames clínicos não faz


nenhuma diferença. Nessa experiência o saber médico não pode justificar os
‘transtornos’ por nenhuma disfunção biológica, como aparentemente se
argumenta com o caso dos intersexos que devem se submeter às cirurgias para
retirar-lhes a ambiguidade estética dos genitais, conformando-os com os
corpos-sexuados hegemônicos (BENTO, 2008, p. 118).

Portanto, o transexual não deixa de recair, para além da perspectiva patologizante


de possuir um transtorno mental, no essencialismo da heterossexualidade, que postula: ou
se possui pênis ou vagina, ou se é homem ou mulher, ou se é feminino ou masculino. As
indefinições e ambiguidades são temidas e devem ser corrigidas para a adequação mais
precisa, seguindo o mesmo modelo defendido e postulado pelo psicólogo John Money.
Em outras palavras, o diagnóstico que define se o sujeito é ou não transexual se
fará em decorrência do entendimento do que seja homem e do que seja mulher.
Entretanto, como já discorremos, falar em uma mulher e homens originais, verdadeiros,
também não é uma tarefa possível, ainda que na modernidade tardia algumas postulações
tenham sido realizadas nessa direção.

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A esse respeito Katz afirma que na América, “No início do século XIX, foram
definidos ideais particulares de masculinidade e feminilidade, o que criou um culto do
homem e da mulher de verdade” (KATZ, 1996, p. 55). Tais ideais pautavam-se pela
defesa do amor verdadeiro entre um homem e uma mulher e de suas aspirações como
classe média, em especial com a reprodução. Assim, “O verdadeiro amor era um sistema
hierárquico dominado por um sentimento espiritual suficientemente forte para justificar
o casamento, a reprodução e a sensualidade, que de outra forma era pecaminosa” (KATZ,
1996, p. 56). O corpo estava a serviço do amor verdadeiro e os órgãos (vagina e pênis)
eram apenas ferramentas para a procriação, e não instrumentos de prazer. Para Katz:

Naquele tempo, considerava-se que o corpo humano constituía diretamente o


homem e a mulher de verdade, e os seus sentimentos. Não era feita qualquer
distinção entre o sexo propiciado biologicamente e a masculinidade e
feminilidade construídas socialmente. Sob o domínio do verdadeiro amor, o
corpo humano era considerado o meio de expressão. De acordo com a norma
de reprodução do início do século XIX (como na Nova Inglaterra primitiva), o
pênis e a vagina eram meios de procriação – órgãos reprodutores – não partes
prazerosas. Somente depois do casamento podiam unir-se no amor. (idem).

O que estava em jogo era a garantia do amor indissolúvel entre um homem e uma
mulher e sua capacidade reprodutiva para perpetuação da família de classe média,
especialmente para se distinguir da classe alta, considerada promíscua, e da classe baixa,
tida como vulgar e animalesca. Essa necessidade de se diferenciar como classe e fixar
seus valores permite perceber que “A criação da classe média e a invenção da
heterossexualidade caminharam de mãos dadas” (ibid., p. 52).
A capacidade reprodutiva era o instrumento de medida para saber se um homem
e uma mulher eram homem e mulher de verdade, pois “O local onde o amor era
consumado – de procriação – era o santuário do verdadeiro amor do século XIX, o lar do
homem e da mulher de verdade” (ibid., p. 56). No entanto, é preciso salientar que não há
nesse momento uma distinção entre amor romântico/apaixonado e a sensualidade, ou seu
caráter imoral enquanto desejo sexual. Assim como ainda não temos a invenção da
heterossexualidade, e tampouco a invenção da homossexualidade, que é criada
primeiramente como modelo daquilo que é o ruim, abjeto e monstruoso, para então se
criar o que o bom, normal e aceitável, ou seja, a heterossexualidade. Mas, já temos a
centralidade e importância dada à vagina e ao pênis como ferramentas centrais na
união/coito de um homem e uma mulher. Era potencialmente o ato sexual que “...

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distinguia a mulher de verdade, virtuosa, da desonrada. A abstenção do ato sexual era o
teste final do valor do homem de verdade, de seu status de cavalheiro cristão e bem-
educado” (KATZ, 1996, p. 58).
Essa importância dada ao ato sexual com a obrigatoriedade da presença de uma
vagina e de um pênis será fundamental para a emergência das categorias
homossexualidade e heterossexualidade, uma vez que:

O heterossexual e o homossexual não surgiram do nada em 1892. Aquelas duas


categorias eróticas de sexo diferenciado estavam em formação desde 1860. Na
Alemanha, na Inglaterra, na França, na Itália e na América do final do século
XIX, nossa ideia moderna e historicamente específica do heterossexual
começou a ser construída; a experiência de uma devida luxúria de sexo
diferente da classe média começou a ser publicamente nomeada e
documentada (KATZ, 1996, p. 62).

Falar em uma mulher e homem de verdade ainda não quer dizer falar em
heterossexualidade, mas certamente constrói suas bases, e contribui para forjar sua
invenção. Assim como contribui igualmente para criar a fantasia da existência de um
homem e de uma mulher originais, autênticos/as, verdadeiros/as, universais, e, portanto,
modelo para todas as culturas e épocas históricas, independentemente de suas
particularidades.
Katz, ao realizar uma genealogia da invenção da heterossexualidade, objetiva
justamente desconstruir o postulado de sua normalização como prática legítima e
superior, por reunir em um mesmo espaço a capacidade reprodutiva e o deleite erótico.
Assim, sugere que a heterossexualidade “... não é análoga ao ato sexual reprodutivo do
sexo; não é o mesmo que as diferenças sexuais; não é igual ao erotismo de mulheres e
homens” (KATZ, 1996, p. 25). Antes, assevera que a heterossexualidade não é universal,
pois se trata de um arranjo histórico particular dos sexos e de seus prazeres. Ou, em outras
palavras, “Mesmo porque a heterossexualidade é uma tecnologia social e não uma origem
natural fundadora” (PRECIADO, 2014, p. 30).
Katz argumenta que no início da invenção da categoria heterossexual o sujeito
heterossexual não era identificado e conhecido pela prática do sexo hoje considerado
normal. Era sim, visto como pervertido, devido seu apetite sexual aflorado, não inclinado
para a exclusividade da procriação. Pessoas heterossexuais eram condenadas quando se
desviam de suas obrigações reprodutivas. De tal modo “Sob a influência do velho padrão

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reprodutivo, o novo termo heterossexual a princípio nem sempre significou o normal e
bom” (KATZ, 1996, p. 31).
Ironicamente, a heterossexualidade que nasce pela contestação do ato reprodutivo,
mais tarde se reportará à própria naturalização da reprodução para rechaçar outras
configurações sexuais, como as homossexualidades, lesbianidades, transexualidades.
Decorre supor que “... a heterossexualidade se situa na esfera de natureza, biologia,
hormônios e genes – uma questão de fato fisiológico, uma verdade da carne. Apenas
secretamente ela é um valor e uma norma, uma questão de moralidade e gosto, de política
e poder” (KATZ, 1996, p. 51).
A heterossexualidade passa a se firmar como fato consolidado no final do século
XIX, assim como ser homem e mulher tornou-se sinônimo e atestado da prática
heterossexual, por meio do encontro harmonioso de seus corpos. Os gêneros e práticas
sexuais que ameaçavam essa normalidade heterossexual passam a ser tidos como
monstruosos e indesejáveis, devendo ser tratados, convertidos e curados, buscando
eliminar qualquer barreira para a identificação do homem e mulher verdadeiros, carimbos
da heterossexualidade.
A respeito da indissociabilidade entre homossexualidade e heterossexualidade
Miguel Vale de Almeida, considera que:

O que distingue a emergência do ‘homossexual’ na segunda metade do século


XIX é o facto de que então se tomou inseparável e literalmente
incompreensível sem o seu gêmeo ‘normal’, ‘o heterossexual’. Assim, a
heterossexualidade é também uma construção cujo significado depende de
modelos culturais cambiáveis. Ora, nos finais do século XX, tanto a hetero
quanto a homossexualidade foram naturalizadas (ALMEIDA, 2004, p. 93).

Se “Isso deu início a uma tradição de um século na qual o anormal e homossexual


foram apresentados como um enigma e o normal e heterossexual presumidos” (ibid., p.
66), é fácil perceber quais as linhas e conexões que antecedem a inauguração da
transexualidade enquanto categoria também inventada.
Dessa vez, a invenção tem por objetivo central a manutenção da
heterossexualidade, como podemos ver mediante as teses de Money e de suas
intervenções cirúrgicas que visam à fabricação de corpos adequados para o ato sexual
heteronormativo.

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Compreendemos que realizar uma problematização da transexualidade implica
uma tarefa substancial de desconstrução das noções e verdades arquitetadas em torno da
sociedade heterocentrada e de suas normas produzidas a partir do ideal heterossexual.
Embora não queiramos recair em mais dicotomias, ou seja,
heterossexualidade/transexualidade, não podemos deixar de evidenciar o fato de que toda
a estranheza em relação ao que é considerado diferença se funda a partir de uma lógica
decorrente de uma identidade tida como padrão e, portanto, desejada. E da depreciação
daquelas pessoas que são consideradas como estranhas e anormais.
Com isso, também não queremos nos colocar em oposição à heterossexualidade,
a qual se inclui entre uma das formas de se vivenciar uma política sexual e práticas
sexuais. O que buscamos é uma equivalência para expressões de sexualidades distintas
da heterossexual.
O que pretendemos é questionar, analisar as práticas e discursos que operam para
manutenção e produção do sistema heterocentrado. Desestabilizar as naturalizações e
essencialismo atribuídos aos corpos e aos papéis de gênero, ou seja, a forma como
socialmente cada pessoa desempenha seu gênero. Denunciar as violências
desempenhadas pelas dicotomias de gênero. Assim como a imposição e centralidade do
pênis nas práticas sexuais, e a depreciação da totalidade dos corpos em alusão aos órgãos
genitais como única garantia de satisfação orgástica nas práticas sexuais. Buscamos
defender o uso de linguagens e vivências para práticas sexuais plurais, as quais possam
circular, transitar por diferentes espaços sociais, institucionais e culturais. Em particular,
pelos espaços escolares e contextos educacionais, dado seu caráter formativo e de
necessário acolhimento das alteridades.
A filosofia de Beatriz Preciado nos inspira a pensar para além das dicotomias, e a
desejar movimentos contínuos de contestação e subversão, assim como a utilizar as
tecnologias a favor das resistências, e para o esboço de rotas de fugas capazes de produzir
territórios potencializados para o exercício de vivências sexuais estrangeiras, inomináveis
e plurais. Mediante sua proposta contrassexual, a defesa é por uma “...
contraprodutividade, isto é, a produção de formas de prazer-saber alternativas à
sexualidade moderna. [...] tecnologias de resistência, dito de outra maneira, como formas
de contradisciplina sexual” (PRECIADO, 2014, p. 22).

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Após percorrermos a trajetória da arquitetura conceitual da transexualidade,
pudemos perceber que essa surge mediante um projeto político e tecnológico de
sustentação do modelo hegemônico de feminilidade e masculinidade, o qual se constitui
de modo a manter a lógica causal entre sexo-gênero-orientação sexual. O que está em
questão é que a ordem heterocentrada se reafirma, a partir do sentido naturalizante do que
se compreende por homem e mulher assignados pelo nascimento, assegurados pela
inteligibilidade genital e biologizante, em detrimento do reconhecimento identitário dos
sujeitos.
Quando nós, educadoras e educadores, nos propomos a adentrar nesse território
político de produção das diferenças, e não nos ausentamos, ou silenciamos, perante as
minúcias que tecem as multiplicidades de gêneros e sexuais, podemos atuar como
protagonistas no enfrentamento do preconceito, discriminação e violência que permeia as
diferentes instituições, como as instituições educativas, sejam formais ou não formais.
Educadoras/es devem ser pioneiras/os em defesa das pessoas que são produzidas como
abjetas, estranhas, e postas à margem do exercício dos direitos humanos essenciais, como
o direito à educação de qualidade.
Devemos lembrar que a teia refinada que produz a transexualidade também incita
pessoas transexuais a se evadirem dos ambientes de ensino, e as leva aos guetos de uma
sociedade perversa e excludente. Uma educação que priorize as diferenças de gêneros e
sexuais deve, primeiramente, conhecer a realidade da dimensão produtiva das
homossexualidades, travestidades, lesbianidades, bissexualidades e transexualidades. O
que poderá permitir ações educacionais potencializadoras perante as experiências de
sujeitos que afirmam modos múltiplos do viver, seja em seus corpos, subjetividades,
expressões de gênero, orientações sexuais, ou explorações sexuais circunstanciais7.

Referências bibliográficas:

ALMEIDA, Miguel Vale de. A teoria queer e a contestação da categoria ‘género’. In:
CASCAIS, António Fernando. Indisciplinar a teoria: estudos gays, lésbicos e queer.
Fenda Edições, 2004, p.91-98.

BENTO, Berenice. A reinvenção do corpo: sexualidade e gênero na experiência


transexual. Rio de Janeiro: Editora Garamond, 2006.

7
Referimo-nos aqueles sujeitos que experimentam práticas não heterossexuais, ou transitam pelos gêneros,
mas não, necessariamente, se reconhecem ou se nomeiam em categorias fixas.

22
Volume, 13, n.2, Ano, 2017.

_____. O que é transexualidade. São Paulo: Brasiliense, 2008.

_____. O que pode uma teoria? estudos transviados e a despatologização das identidades
trans. Revista Florestan, n. 2, p. 46, 2014.

BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de


Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

CASTEL, Pierre-Henri. Algumas reflexões para estabelecer a cronologia do “fenômeno


transexual” (1910-1995). Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 21, nº 41, p. 77-
111. 2001.

FOUCAULT, Michel. A história da sexualidade 1: A vontade de saber. Rio de Janeiro:


Graal, 2010.

GONÇALVES, Camila de Jesus Mello. Transexualidade e direitos humanos: o


reconhecimento da identidade de gênero entre os direitos da personalidade. Curitiba:
Juruá, 2014.

KATZ, Jonathan Ned. A invenção da heterossexualidade. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996.

LEITE JÚNIOR, Jorge. Nossos corpos também mudam. Sexo, gênero, e a invenção das
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Ciências Sociais) - Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo. São Paulo: 2008.

PAMPLONA, Renata Silva. O kit anti-homofobia e os discursos sobre diversidade


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PAMPLONA, Renata Silva; DINIS, Nilson Fernandes. A moral do ressentimento e as


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SOUZA, Edmacy Quirina. Crianças negras em escolas de “alma branca”: um estudo


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Educação) - Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de São
Carlos. São Carlos: 2016.

23
Volume, 13, n.2, Ano, 2017.

24

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