Sexualidade, educação e mídias: Novos olhares, novas práticas
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Sexualidade, educação e mídias - Ricardo Desidério
Reitora:
Berenice Quinzani Jordão
Vice-Reitor:
Ludoviko Carnasciali dos Santos
Diretor:
Luiz Carlos Migliozzi Ferreira de Mello
Conselho Editorial:
Abdallah Achour Junior
Daniela Braga Paiano
Edison Archela
Efraim Rodrigues
Luiz Carlos Migliozzi Ferreira de Mello (Presidente)
Maria Luiza Fava Grassiotto
Maria Rita Zoéga Soares
Marcos Hirata Soares
Rodrigo Cumpre Rabelo
Rozinaldo Antonio Miami
A Eduel é afiliada à
Catalogação elaborada pela Divisão de Processos Técnicos
Biblioteca Central da Universidade Estadual de Londrina
Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)
S518
Desidário, Ricardo.
Sexualidade, educação e mídias [livro eletrônico] : novos olhares, novas práticas / [Organizador] : Ricardo Desidério. - Londrina : Eduel, 2016.
1 livro digital : il.
Vários autores.
Inclui bibliografia.
Disponível em: www.eduel.com.br
ISBN 978-85-7216-851-9
1. Sexualidade. 2.Mídia. 3. Educação. I. Desidério, Ricardo.
CDU 613.88
Direitos reservados à
Editora da Universidade Estadual de Londrina
Campus Universitário
Caixa Postal 10.011
86057-970 Londrina PR
Fone/Fax: (43) 3371-4673
e-mail: [email protected]
www.uel.br/editora
2016
Sumário
PREFÁCIO
APRESENTAÇÃO
Capítulo 1: Sexualidade
NOVAS
HOMOSSEXUALIDADES, NOVAS TECNOLOGIAS E SUBJETIVIDADES EM NEGOCIAÇÃO
ESPORTE, CORPO E SEXUALIDADE: LEITURAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO E TECNOLOGIAS
VIOLAÇÕES DE DIREITOS E SUAS REPERCUSSÕES NA SAÚDE DA MULHER: UM RELATO DE CASO
Capítulo 2: Educação
A PORNOGRAFIA E O CONTEXTO ESCOLAR
EDUCAÇÃO DIALÓGICA NA EAD: INTERFACE COM A EDUCAÇÃO SEXUAL EMANCIPATÓRIA
EDUCAÇÃO SEXUAL: PROFESSORES NÃO PODEM DOUTRINAR. PAIS E MÃES PODEM?
A WEBCONFERÊNCIA E A CRIAÇÃO DE AMBIENTE ON-LINE NÃO FORMAIS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFESSORAS EM EDUCAÇÃO SEXUAL: O CASO DA WEBEDUCAÇÃOSEXUAL2013
Capítulo 3: Mídias
EDUCAÇÃO, SEXUALIDADE E CINEMA
GÊNERO E HOMOSSEXUALIDADE NA MÍDIA: PEDAGOGIAS
DA SEXUALIDADE EM REVISTAS DIRECIONADAS AO PÚBLICO JUVENIL
DIÁLOGO SOBRE SEXUALIDADE E MÍDIA COM ADOLESCENTES: POSSIBILIDADES DE ATIVIDADES E DISCUSSÕES
MÍDIA E SEXUALIDADE: BENEFÍCIOS OU MALEFÍCIOS?
O CORPO EM CENA: GÉNERO E SEXO NA (PUBLI)CIDADE
O DISCURSO INTENCIONAL DA SEXUALIDADE NA TV: ABORDAGENS DA EDUCAÇÃO SEXUAL EM PROGRAMAS BRASILEIROS NO PERÍODO DE 1980 A 2010
PASSANDO EM REVISTA: DIFERENÇAS ENTRE MULHERES E HOMENS
PROGRAMAS DE TELEVISÃO: SUAS POSSIBILIDADES COMO OBJETOS PEDAGÓGICOS DE EDUCAÇÃO SEXUAL INTENCIONAL
SOBRE OS AUTORES
PREFÁCIO
Quando a mídia é usada para o mal...
Com satisfação, recebi o honroso convite para escrever o prefácio deste livro, organizado por Ricardo Desidério, um jovem pesquisador que tem contribuído para o fortalecimento da educação sexual enquanto campo de saber e intervenção em educação, não só por meio de seus livros, mas principalmente pela sua facilidade em usar a mídia na preparação do ambiente mental da sociedade para que esta seja receptiva à educação sexual. Ricardo escreve muitos artigos em jornal e participa de programas de televisão, mostrando o lado positivo da sexualidade e como é importante o trabalho de educação sexual nas escolas.
Não é a primeira vez que isso acontece. Em uma época em que o termo mídia nem existia, os primeiros sexólogos brasileiros usavam os meios de comunicação como instrumentos eficazmente capazes de divulgar temas de sexualidade e educação sexual. Refiro-me às primeiras décadas do século XX – 1920/1950 – período em que houve fartíssima oferta de livros, e pioneiros como os médicos José de Albuquerque e Hernani do Irajá eram autores consagrados pelo o grande público.
Albuquerque, no entanto, foi mais que um autor de livros. Em 1933, criou o Círculo Brasileiro de Educação Sexual, no Rio de Janeiro, associação que abrigou uma série de iniciativas pioneiras: eventos, publicação de um boletim e de folhetos para o grande público, palestras públicas semanais, programas de rádio e criação de cartões postais como veículos de propaganda para transmitir noções de sexologia. Em 1937, já propunha uma lei que instituísse o divórcio, defendia o controle de natalidade e argumentava sobre a importância da educação sexual.
As ações de José de Albuquerque e a obra dos pioneiros foram responsáveis pela divulgação, consolidação e aceitação da educação sexual, e em 30 anos o interesse pela temática cresceu e atingiu a comunidade escolar. Os médicos escreviam livros, davam aulas nas então Escolas Normais e formavam as professoras que, por sua vez, iam dar aulas nas escolas. Assim, o ambiente mental escolar se tornou favorável à educação sexual, ao ponto de, entre 1963 e 1969, escolas do Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte instituírem aulas de educação sexual para seus alunos. Em 1968, uma deputada do MDB, Julia Steinbruke, apresentou projeto de lei à Câmara dos Deputados propondo a implantação da educação sexual nas escolas.
Vivia o Brasil, entretanto, em um regime de exceção em que não apenas as liberdades individuais e de expressão foram suprimidas, mas também não se permitia falar de sexo. Liberdade sexual era coisa de comunista. Assim, as iniciativas pioneiras de educação sexual foram reprimidas, instaurou-se um retrocesso educacional e criou-se um vácuo de pelo menos vinte anos sem que a escola tivesse ações e intervenções em educação sexual. Ousamos dizer que os últimos 40 anos haviam sido desperdiçados por causa da repressão decorrente do Golpe de Estado de 1964. Somente com a redemocratização do país, em 1984, é que há uma retomada na caminhada da educação sexual.
Mas, voltando à reflexão sobre os meios de comunicação e sua relação com a sexualidade, se as primeiras décadas do século XX ficaram conhecidas como a Era do Rádio, os anos 1980 consolidaram a Era da Televisão. Sufocada pela censura do regime militar, a televisão fez-se livre das amarras e iniciou um curto, mas importante, período de liberdade sexual. Em 1980/81, a novela Coração alado, da Rede Globo, teve cenas de masturbação e estupro. A série Malu mulher, também da Rede Globo, de 1981, abordou temas como aborto, divórcio, homossexualidade masculina e feminina. Outra série, Amizade colorida, também de 1981 e também da Rede Globo, mostrou a prática do sexo livre e sem compromisso. A novela Dona beija, da Rede Manchete, em 1986, teve cenas de nudez. A abertura da novela Brega & chique, da Rede Globo, em 1987, mostrava um homem nu, de costas. E, em 1990, a novela Pantanal, da Rede Manchete, teve muitas cenas de mulheres nuas ao longo de seus capítulos.
Durou pouco, no entanto, essa liberdade sexual televisiva. A partir dos anos 1990, a nudez foi praticamente extinta do horário nobre, saindo da chamada novela das 8
para ser valorizada nas séries das onze da noite. Havia bastante nudez nas propagandas, o que levou à criação de um órgão chamado CONAR – Conselho Nacional de Auto Regulamentação Publicitária, uma forma de coibir
tamanha liberdade. Igualmente, era permitida a nudez frontal nos desfiles de Carnaval, mas em 1990, a Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro proibiu a genitália desnuda.
Se nas primeiras décadas do século XX o rádio era usado como um meio para divulgar propostas e ações em educação sexual, nos anos 1980 o mesmo não ocorria com a televisão, mais preocupada com a visualização de imagens de nudez como resposta a anos de censura.
Uma exceção foi o quadro Comportamento sexual, apresentado por Marta Suplicy, no programa TV Mulher, da Rede Globo, em que a orientação sexual era abordada de forma direta, sem rodeios, realmente com o objetivo de orientar as telespectadoras (no caso era um programa voltado para o público feminino) no tocante a uma vida sexual plena e consciente. Mesmo com o sucesso de audiência, o quadro foi atacado por representantes de setores obscurantistas, moralistas e antissexuais da sociedade, e retirado do ar. Porém, após uma semana de avassaladora manifestação pública de apoio ao programa, com envio de cartas, telefonemas, telegramas, realização de passeatas, apoio de organizações feministas, o quadro voltou ao ar.
Com essa breve descrição histórica, é possível que o leitor entenda como as questões de sexualidade estiveram presentes na mídia ao longo do século XX. Aumentaram significativamente no século XXI, com o advento e consolidação da internet e dos grupos sociais, e é exatamente nesse ponto que as reflexões apresentadas no livro Sexualidade, educação e mídias: novos olhares, novas práticas podem nos ajudar a traçar metas para fortalecer ações educativas e afirmativas no campo da sexualidade, gênero e educação sexual.
Primeiramente, o século XXI carece do ambiente mental escolar pró-sexual existente nos anos 1960. Penso que ainda estamos retomando a caminhada no sentido de mais uma vez prepararmos o ambiente mental (perdido com as consequências do Golpe de 1964) para acolher positivamente a educação sexual e as ações em prol da igualdade de gênero e da diversidade sexual.
Setores da sociedade brasileira, porém, têm se posicionado contra as iniciativas pró-sexuais de igualdade de gênero, combate à homofobia e educação sexual na escola, semeando uma série de conceitos equivocados e até falsos, disseminando um discurso virulento, sem nenhuma fundamentação científica ou acadêmica.
É nesse contexto que o título deste prefácio se encaixa e justifica a reflexão proposta, pois, depois da era do rádio, da magia do cinema e da era da TV, vivemos a era do Facebook, um período em que a mídia pode ser usada para o mal... Por meio das redes sociais, grupos antissexuais propagam informações distorcidas ou sem comprovação cientifica. O fundamentalismo religioso fortalece discursos apelativos que recebem uma roupagem midiática nas redes sociais e são utilizados para influenciar as multidões. Na boca de pastores e outros representantes de seitas cristãs mais radicais, discursos inflamados fazem a cabeça de milhões, que não aceitam argumentações contrárias, diferentes formas de pensar ou um modo de vida distinto daquele que é ditado por sua religião. A incitação ao preconceito é gritante, estimulada por justificativas religiosas que pululam nos programas religiosos da TV e na Internet.
Atitudes e comportamentos temporalmente mutáveis, assim como valores relativos, tornam-se verdades absolutas que não admitem opiniões contrárias àquelas estabelecidas pela religião. A diversidade não é tolerada e ignoram-se os direitos individuais, substituídos ostensivamente por uma normatização de comportamentos fundamentada na interpretação bíblica de representantes religiosos.
Se até alguns anos atrás tínhamos uma mídia com tendência progressista, estamos sendo surpreendidos pela utilização organizada, sistematizada e com objetivos definidos dos meios de comunicação de massa por parte de expressivos setores sociais que, em franco processo de deseducação sexual, têm estabelecido barreiras poderosas e eficazes para a liberalização dos costumes, chegando até ao desrespeito à cidadania e aos direitos individuais. Para onde foi o estado laico?
Este livro, portanto, trata de um tema atual de debate necessário, cuja reflexão e estudo, com certeza, contribuirão para a formação de pesquisadores/as e professores/as da área de Educação Sexual, que têm tentado compreender melhor a dimensão social e cultural das atitudes sexuais. Como os meios de comunicação de massa do século XXI são exímios formadores de opinião e preparadores do ambiente mental sexual dos espaços escolares, um livro abordando especificamente Sexualidade, educação e mídias: novos olhares, novas práticas pode levar os leitores a encontrar caminhos que os libertem do preconceito e da visão sexual limitadora e cerceadora que a sociedade lhes impinge.
Parabéns, Ricardo.
Araraquara, SP, julho de 2015
Paulo Rennes Marçal Ribeiro
Núcleo de Estudos da Sexualidade – Nusex
Coordenador do Mestrado em Educação Sexual
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
– Unesp
APRESENTAÇÃO
A educação sexual é, hoje, uma necessidade a ser efetivada, tanto nas discussões políticas quanto nas ações e consolidação de sua prática, devendo centrar-se nas crianças, nos jovens, nos adultos, nos idosos e nas pessoas com necessidades especiais. Entretanto, na articulação entre a sexualidade e o espaço da escola, há a exigência de um olhar atento a essas multiplicidades de visões, crenças e valores. Afinal, as problematizações acerca da sexualidade são infindáveis, exigindo de nós educadores, e porque não dizer de pais e/ou responsáveis, a criação de espaços para se pensar sobre a temática com responsabilidade.
Ao organizar um livro, além da gratificante e prazerosa tarefa, registramos um recado histórico ao mundo, de que é possível dividir ideias, pensamentos, inquietações, pesquisas e reflexões com um grande público. Lembro-me que estava cursando, no primeiro semestre de 2013 do doutorado, a disciplina Introdução à Sexologia e à Educação Sexual, ministrada pelo Prof. Dr. Paulo Rennes Marçal Ribeiro, no campus da Unesp/Araraquara-SP. Sempre que chegava ao final das aulas, eu retornava para Londrina e, durante o trajeto, vinham-me as reflexões e discussões levantadas a cada semana. Cada vez mais estava certo do quanto são importantes e necessários os momentos de formações continuadas e discussões sobre uma educação sexual efetiva, sistemática e contínua nas escolas, pois até mesmo em minha prática docente percebo uma carência ainda grande, entre os professores, em falar de sexualidade com seus alunos. Assim, entre as discussões da disciplina e meus pensamentos, que ainda me incomodam pela ausência de uma educação sexual efetiva nas escolas, precisava, de alguma forma, encontrar uma maneira de me aproximar desses professores e até mesmo de pais e/ou responsáveis que pudessem buscar mais uma contribuição acadêmica que possibilitasse reflexões tão importantes para a educação sexual.
Foi nesse momento que, com minha ousadia, arrisquei-me a organizar este livro. Fui pensando em alguns nomes que poderiam fazer parte dele, com a certeza das suas contribuições por meio das palavras. Sabe quando você deseja ter em um livro aquelas pessoas que foram e ainda são referências em suas pesquisas, e você, arriscando-se, faz o convite a elas e, de repente, todos são aceitos? Do frio na barriga, por tamanha responsabilidade na organização, ao imenso contentamento, várias foram as sensações que me levaram à organização e à realização desta obra.
O livro Sexualidade, educação e mídias: novos olhares, novas práticas foi pensado de forma que você possa entrar em contato com a educação sexual a partir da tríade sexualidade, educação e mídias, possibilitando, assim, reflexões acerca de conhecimentos científicos aqui elucidados – novos olhares que, ao mesmo tempo, permitam novas práticas.
Assim, no primeiro capítulo, Sexualidade
, são apresentados três textos que possibilitam pensar sobre as nuances pertencentes à vida cotidiana. No texto ‘Novas’ homossexualidades, novas tecnologias e subjetividades em negociação
, Anderson Ferrari nos apresenta um movimento que conjuga homossexualidades e internet, levando-nos a pensar que novos arranjos são possíveis a partir dessa tecnologia. Que novas formas de ser estão em jogo? Que novas homossexualidades são construídas nesse espaço virtual? São esses questionamentos, entre tantos outros, que o autor nos leva a pensar no que ele denomina de jogo entre aprisionamento realizado pelas identidades e a liberdade das práticas.
Afonso Antonio Machado, em Esporte, corpo e sexualidade: leituras do desenvolvimento humano e tecnologias
, apresenta as relações entre psicologia do esporte, corpo e tecnologias, afirmando que o avanço das tecnologias e as relações humanas sofrem mudanças nas sociedades atuais e essas alterações podem ser percebidas em todos os ambientes, principalmente no ambiente escolar e na educação física que, segundo o autor, passa por transformações tecnológicas e seus professores tentam realizar ações que validem seus princípios. Em Violações de direitos e suas repercussões na saúde da mulher: um relato de caso
, Lélia M. Reis e Maria Alves de Toledo Bruns apresentam um estudo de caso acerca da história de vida de uma mulher, (des)velando horizontes de compreensão de sua vivência de abuso sexual na infância, na interface com a violência física, psíquica e emocional, que culminaram com o desenvolvimento de um câncer de útero. As autoras nos levam a refletir sobre a construção hierárquica das relações de gênero, costumeiramente demarcadas pela violência que ultrapassa gerações.
Atrelado assim a essas temáticas, o segundo capítulo, Educação
, insere-nos amplamente no contexto educacional, possibilitando uma reflexão sobre a nossa prática. Em A pornografia e o contexto escolar
Ana Claudia Figueiredo Rebolho nos apresenta um texto que surge a partir de suas próprias inquietações, trazendo-nos um recorte recorrente à literatura, concebendo o significado das palavras sexo, sexualidade e pornografia, todas elas atreladas ao papel da escola e suas possíveis reflexões.
No texto Educação dialógica na EaD: interface com a educação sexual emancipatória
, Simone de Oliveira Ferreira e Ademilde Silveira Sartori procuram apresentar algumas considerações sobre a educação dialógica na EaD e a educação sexual dentro de uma perspectiva emancipatória. Para as autoras, a compreensão e integração desses processos educativos, bem como o papel do tutor na educação a distância, que tem a função de mediar, estão relacionados com a sexualidade humana, entendida como uma condição inerente a todo o ser humano.
Em Educação sexual: professores não podem doutrinar. Pais e mães podem?
, Mary Neide Damico Figueiró nos leva a pensar sobre a educação sexual no importante paralelo entre a escola e a família, trazendo aqui uma experiência ocorrida em um de seus cursos ministrados, em que uma mãe relatou dizer a seus filhos que é importante casar-se virgem. A autora, então, apresenta-nos o debate ocorrido na ocasião em torno da questão de gênero, no sentido de que, ao longo da história, a exigência de se casar virgem teria sido sempre relacionada às garotas e não aos garotos. Faz-nos pensar que posturas desse tipo acabam sendo levadas à sala de aula e, por esse motivo, merecem reflexão.
Já em A webconferência e a criação de ambientes on-line não formais na formação de professores e professoras em educação sexual: o caso da webeducaçãosexual2013
, Dilma Lucy de Freitas, Isabel Chagas e Marisalva Fávero descrevem um projeto de formação continuada, não formal, em sexualidade e educação sexual. Para as autoras, o projeto contribui para o conhecimento acerca do papel das tecnologias digitais na formação continuada em sexualidade e educação sexual, o que torna muito positivo para a expansão e o aprofundamento dos conhecimentos sobre as temáticas.
No terceiro capítulo, Mídias
, a tríade é formada a partir das discussões na área da sexualidade e da educação sexual na perspectiva midiática. Em Educação, sexualidade e cinema
, Célia Regina Rossi, Maria Teresa Oliveira Lima e Francisleth Pereira Battisti procuram refletir sobre o uso de filmes na sala de aula, pontuando a relação desse tipo de arte usada em situações pedagógicas pelos professores. As autoras também se preocupam em pontuar a relação da aprendizagem das crianças e dos adolescentes, possibilitada pela análise didática do cinema, bem como da construção da sexualidade, objetivando também discutir as possibilidades educativas e a mediação propiciada por essa prática cultural na escola.
No texto Gênero e homossexualidade na mídia: ‘pedagogias’ da sexualidade em revistas direcionadas ao público juvenil
, Fernanda Reis, Paulo Rennes Marçal Ribeiro e Andreza Marques de Castro Leão nos levam a pensar sobre o que eles denominam de movimentação sexualmente midiática, a partir do questionamento de como os meios de comunicação tratam as questões sexuais, considerando que, em meio ao mundo virtual das redes sociais, as revistas ainda constituem importante espaço de busca por informações e modelos. Para isso, autor e autoras trazem uma análise de treze edições de revistas juvenis, sendo elas as revistas Capricho, Atrevida e Todateen.
Em Diálogo sobre sexualidade e mídia com adolescentes: possibilidades de atividades e discussões
, Marcela Pastana e Ana Cláudia Bortolozzi Maia afirmam que a inserção da discussão sobre os meios de comunicação permite que muitos padrões transmitidos pelos materiais midiáticos possam ser reconhecidos, analisados e problematizados. Assim, considerando a importância da leitura crítica dos meios de comunicação em projetos de educação sexual, as autoras apresentam sugestões de atividades, com a descrição dos objetivos, dos procedimentos e das possíveis discussões a serem realizadas, considerando que, a partir do desenvolvimento das atividades, é possível reconhecer quais são os materiais que os/as participantes têm mais acesso e interesse. Dessa forma, promove-se o diálogo sobre esses materiais e discute-se criticamente sobre quais são os padrões presentes e como eles são reproduzidos.
No texto Mídia e sexualidade: benefícios ou malefícios
, Carla Cecarello procura avaliar benefícios e malefícios por meio do impacto emocional causado pelo apelo sexual usado no marketing com a exposição do tema sexualidade na mídia. Para tal, a autora apresenta uma breve revisão bibliográfica sobre os princípios fundamentais do uso do apelo sexual no marketing e sobre o impacto na vida de cada um.
Já em O corpo em cena: género e sexo na (publi)cidade
, Filomena Teixeira e Fernando M. Marques afirmam que a publicidade é presença insistente no cotidiano, sendo uma das atividades de comunicação mais influentes nas sociedades contemporâneas. O autor e a autora apresentam o resultado de um estudo, de natureza qualitativa, realizado no âmbito do projeto de investigação Sexualidade e Género no discurso dos media
, que desenvolveram no Centro de Investigação Didática e Tecnologia na Formação de Formadores (CIDTFF) da Universidade de Aveiro – Portugal, analisando e caracterizando o processo de construção das representações do feminino e do masculino na publi(cidade), problematizando, assim, as suas implicações socioeducativas.
Em O discurso intencional da sexualidade na TV: abordagens da educação sexual em programas brasileiros no período de 1980 a 2010
, eu, Ricardo Desidério, e Ana Cláudia Bortolozzi Maia apresentamos um resgate de discursos em programas televisivos que abordavam a temática da sexualidade durante um período de trinta anos. Buscou-se, assim, compreender se fomos ou se ainda somos contaminados pela sexualidade apresentada na televisão e quais seriam as abordagens apresentadas. Serão esses programas abordados para além da genitalidade? Que elementos de conteúdos efetivamente podem ser extraídos desses programas? Seriam eles adequados para uma educação sexual? Essas, entre outras questões, são apresentadas procurando fomentar esse debate a partir dos programas vinculados à televisão brasileira, cuja intenção era abordar o tema da sexualidade.
No texto Passando em revista: diferenças entre mulheres e homens
, Sylvia Helena dos Santos Rabello e Ana Maria de Andrade Caldeira apresentam uma análise de alguns artigos de diferentes edições da revista Mente & Cérebro, buscando identificar as visões de gênero recorrentes. Já em Programas de televisão: suas possibilidades como objetos pedagógicos de educação sexual intencional
, Elizane de Andrade e Sonia Maria Martins de Melo apresentam uma investigação dos conteúdos pedagógicos de educação sexual sobre programas de televisão, problematizando os conteúdos televisivos que produzem verdades a partir de seus enunciados e os conteúdos que circulam sobre o sexo e sobre a sexualidade. Nesse caso, as autoras perpassam a análise da primeira temporada do programa Amor & Sexo, exibida pela Rede Globo, em 2009.
Assim, ao chegar ao final deste livro, espero que ele seja mais um destacado instrumento de legitimação da necessidade institucional da escola em assumir a educação sexual. Cada texto contribuirá para as discussões/reflexões de um trabalho efetivo. E o resultado disso é esse propositivo texto de leitura que foi organizado com beleza, sensibilidade, leveza e profundidade por cada um de nós!
Ricardo Desidério
[organizador]
Capítulo 1: Sexualidade
Novas
homossexualidades, novas tecnologias e subjetividades em negociação - Anderson Ferrari
Esporte, corpo e sexualidade: leituras do desenvolvimento humano e tecnologias. - Afonso Antonio Machado