Posicionamento para Casos de AVC

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ISSN 0104-4931

Cad. Ter. Ocup. UFSCar, São Carlos, v. 21, n. 1, p. 131-139, 2013


http://dx.doi.org/10.4322/cto.2013.017

Manual de orientação de posicionamento e execução

Experiência
Relato de
de atividades da vida diária para pacientes com
acidente vascular cerebral
Natalia Cristina Thinena, Ana Claudia Fernandes Moraesb

Terapeuta ocupacional, Faculdade de Filosofia e Ciência,


a

Universidade Estadual Paulista – UNESP, Marília, SP, Brasil


b
Mestre em Educação, Faculdade de Filosofia e Ciência,
Professora substituta da Universidade Estadual Paulista – UNESP, Marília, SP, Brasil

Resumo: O objetivo deste trabalho é descrever a orientação do terapeuta ocupacional para cuidadores em
relação ao posicionamento no leito, as atividades da vida diária, transferência de posições e organização do
ambiente durante a alta hospitalar de pacientes com acidente vascular cerebral (AVC) por meio de orientação
verbal e finalizando com a entrega de um manual. Participaram do estudo 10 cuidadores. Na primeira parte do
estudo, realizou-se o levantamento das dúvidas dos cuidadores a respeito dos cuidados do paciente com AVC. Na
segunda parte foram realizadas as orientações aos cuidadores, a entrega de um manual com todas as informações
e a avaliação do respectivo manual pelos cuidadores. Na análise dos relatos dos cuidadores constatou-se que
nenhum deles tinha o conhecimento do posicionamento correto no leito, todos os entrevistados demonstraram
percepção positiva com relação ao manual e relataram que as orientações modificaram a forma de cuidar do
paciente. Assim, nos limites de análise deste estudo, foi possível concluir com o trabalho que os cuidadores
foram instruídos e orientados, tendo condições de iniciar o processo de reabilitação no domicílio.
Palavras-chave: Terapia Ocupacional, Acidente Vascular Cerebral, Cuidadores.

Manual of positioning orientation and execution of activities of daily life for


stroke patients

Abstract: The objective of this manuscript is to guide caregivers in relation to the lying position in bed, activities
of daily life (ADL), position transfer, and hospital discharge preparation of Cerebral Vascular Accident (CVA)
patients by means of verbal orientation, finalizing with the handing over of manuals. Ten caregivers participated
in the study. The methodology consisted of two phases: in the first part of the study, a survey was conducted
on caregivers’ doubts regarding the necessities of Stroke patients; in the second part, orientation was provided
to caregivers and the information manuals were handed over; caregivers were also requested to evaluate the
respective manuals. Results showed that none of the caregivers knew the correct positioning of the patient in
bed and, considering the illustrations and the objectivity of the manual, all caregivers interviewed demonstrated
positive perception regarding the manual, and reported that its guidance improved their way of caring for patients.
We conclude that caregivers have been instructed and guided, acquiring information and conditions to initiate
the rehabilitation process at home.
Keywords: Occupational Therapy, Stroke, Caregivers.

Autor para correspondência: Natalia Cristina Thinen, Faculdade de Filosofia e Ciência, Universidade Estadual Paulista,
Av. Hygino Muzzi Filho, 737, CEP 17525-900, Marília, SP, Brasil, e-mail: [email protected]
Recebido em 17/6/2009; 1ª Revisão em 5/10/2010; 2ª Revisão em 23/1/2012; Aceito em 15/5/2012.
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1  Introdução aplicar maquiagem, remover pelos do corpo), banho


(ensaboar-se, secar-se, manter as posições para
Atualmente, no Brasil estão ocorrendo várias o banho, realizar as transferência), alimentação
mudanças sociais, destacando-se o acelerado processo (ato de servir e alimentar-se ou beber), comer
de envelhecimento populacional, o aumento da (capacidade de receber alimento na boca, mastigar
expectativa de vida e a elevação do índice de doenças e engolir), vestuário (seleção de roupas e acessórios
crônicas degenerativas. Lessa (1999) relata que adequados, vestir-se e despir-se adequadamente,
doenças do sistema circulatório são causa isolada de colocar e tirar sapatos ou sandálias), controle de
mortalidade, correspondendo a 32,3% dos óbitos. esfíncteres (capacidade de controle de esfíncteres
Desse grupo, as doenças cerebrovasculares (DCV) ou utilização de equipamentos de auxílio para esse
correspondem a um terço dos óbitos anuais no Brasil controle), mobilidade funcional (realizar movimentos
de 1980 a 1995. e mudanças de posição na cama/cadeira de rodas,
As DCV incidem com maior frequência na idade transferência, deambulação funcional) cuidado
avançada, período da vida em que se observam as com equipamento pessoais (utilização e limpeza
maiores taxas de óbito e sequelas. Mas nos últimos de aparelhos auditivos, lentes de contato, órteses,
anos está crescendo a incidência na população próteses), atividade sexual (envolvimento em
jovem, devido a condições hereditárias e ao uso de atividades de contentamento sexual), uso do vaso
drogas ilícitas (PIRES; GAGLIARDI; GORZONI, sanitário (manejo de roupas, transferência, limpeza
2004). O fato das DCV atingirem pessoas em do corpo e cuidados íntimos), dormir e descansar.
idade produtiva tem um forte impacto econômico, O processo de reabilitação do paciente que sofre
representado em anos produtivos de vida perdidos, um AVC inicia-se na fase de hospitalização. As
custos de hospitalização, uso de serviços de saúde intervenções devem começar logo que o paciente
e aposentadoria precoce por invalidez (BOCCHI; estiver clinicamente estável e essa assistência imediata
ANGELO, 2005). é necessária para garantir maior recuperação das
O acidente vascular cerebral (AVC) se caracteriza funções motoras e sensório-perceptivas. A falta de
pela instalação de um déficit neurológico focal orientação quanto ao posicionamento no leito e o
repentino e não convulsivo, determinado por uma atraso no início da estimulação sensorial podem
lesão cerebral secundária a um mecanismo vascular e acarretar perdas significativas na evolução e na
não traumático; ocorre quando os vasos sanguíneos recuperação do quadro de lesão (CARVALHO, 2004).
cerebrais são bloqueados ou se rompem e são O planejamento de alta deverá começar no
classificados em dois tipos: isquêmico e hemorrágico momento da internação, com objetivos centrados na
(JOHNSTONE, 1986). necessidade de reabilitar, organizar o ambiente de vida
As principais sequelas apresentadas são a da melhor forma possível e assegurar a continuidade
hemiplegia contralateral, hemianopsia, perda visual dos cuidados após a alta. O terapeuta ocupacional em
ipsilateral, afasia, disgrafia, acalculia, agnosia, um ambiente de cuidados intensivos deverá instruir
distúrbios sensoriais, perda da propiocepção, e orientar os cuidadores para que eles colaborem
hipoestesia, negligência unilateral e apraxia (ARES, no processo de reabilitação (WOODSON, 2005).
2003). Segundo Motta e Ferrari (2004), a participação
Para autores como Rocha e Mello (2004), a da família é fundamental no processo de recuperação
intervenção do terapeuta ocupacional (TO) em do paciente durante o período de alta hospitalar. O
hospital deve promover ações que melhorem ao paciente precisa sentir-se seguro e apoiado em suas
máximo a comunicação entre o paciente, a família necessidades para que se efetivem as orientações da
e a equipe como parceiros da situação. Dessa forma, equipe multidisciplinar. O terapeuta ocupacional
o terapeuta ocupacional estará instrumentalizando o deve orientar o acompanhante, seja ele um
paciente e a família para o resgate de sua autonomia familiar cuidador ou um cuidador formal, pois
e independência nas atividades de vida diária (AVDs) esse acompanhamento irá refletir na recuperação.
e proporcionando-lhe oportunidades de escolha e O processo de reabilitação na assistência domiciliar
de tomadas de decisões. inicia-se com a compreensão e aceitação do cuidado,
Para Mello e Macini (2007), atividades de vida seguida pela empatia do cuidador, gerando
diária (AVDs) são as atividades relacionadas com o coparticipação ativa nas etapas da estabilização do
cuidado do indivíduo para com seu próprio corpo. equilíbrio da saúde e possibilitando, finalmente, a
As AVDs incluem: higiene pessoal e autocuidado reabilitação do indivíduo como um todo, corpo e
(cuidar dos cabelos e unhas, realizar limpeza oral, mente.

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A criação de manuais ocorre para facilitar o • Tratamento inicial após o derrame;


trabalho da equipe multidisciplinar na orientação • Como evitar complicações;
de pacientes e familiares no processo de tratamento,
• Reabilitação;
recuperação e autocuidado. Dispor de material
educativo e instrutivo facilita e uniformiza as • Cuidados e providências;
orientações com objetivos primários de saúde. • Úlceras de pressão;
Por outro lado, é também uma forma de ajudar
• Posicionamento no leito;
os indivíduos no sentido de entenderem melhor o
processo de saúde-doença e trilharem os caminhos • Posicionamento na cadeira e/ou no banco;
da recuperação (ECHER, 2005). • Posicionamento na cadeira de rodas;
• Cuidados e estimulação motora com o braço
2  Objetivo hemiplégico;
• Orientações para AVD – atividade de vida
Orientar e preparar os cuidadores de pacientes
com AVC para retorno ao domicílio durante o diária;
momento da alta hospitalar por meio de orientação • Transferência da cadeira para a cama;
verbal, finalizando com a entrega de um manual • Lavar o rosto e limpeza da boca;
de orientação de posicionamento e execução de
• Adaptação e/ou mudança no ambiente
atividades de vida diária.
domiciliar;
3  Método • Comunicação com o paciente;
• Referencial bibliográfico.
Este estudo foi realizado no Hospital das Clínicas
da Faculdade de Medicina de Marília (FAMEMA), 6  Procedimentos
com aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa
Envolvendo Seres Humanos, protocolo nº 352/07, Este estudo é resultado do trabalho realizado
no período de setembro a novembro de 2007. pela aluna do 4º ano de Terapia Ocupacional da
Participaram deste estudo 10 pacientes entre Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Marília
41 e 77 anos que estavam internados no Hospital para elaboração do trabalho de conclusão de curso,
de Clínicas da Faculdade de Medicina de Marília com a supervisão de um docente dessa faculdade.
e 10 cuidadores. A primeira fase do estudo foi dedicada à elaboração
do manual por meio de pesquisa bibliográfica, com
4  Materiais análise da opinião de autores que estudam o processo
de reabilitação do paciente com AVC e a coleta de
Foram utilizados os seguintes impressos para informações com os profissionais que atuam na área
a coleta de dados: Manual de orientação de de reabilitação neurológica a respeito das principais
posicionamento e execução de AVDs para paciente dificuldades, necessidades e cuidados de um paciente
com AVC (Figuras 1 e 2) e Questionário de avaliação com AVC durante sua rotina diária.
do manual (Quadro 1). Após a elaboração, o manual foi entregue ao
primeiro avaliador, formado em Terapia Ocupacional
5  Manual de orientação de e especializado em Neurologia. Após feitas as
posicionamento e execução de correções sugeridas pelo primeiro avaliador, o manual
foi encaminhado a um segundo avaliador, formado
AVDs para paciente com AVC em Fisioterapia e especializado em Neurologia.
Ambos os profissionais trabalham com a reabilitação
O manual foi elaborado com orientações seguidas de pacientes hemiplégicos.
de ilustrações para facilitar a compreensão e o
entendimento das informações. É composto por No primeiro contato com cada cuidador, a
vários assuntos e temas importantes no processo estagiária os orientou quanto a posicionamento no
de reabilitação. Segue a relação dos tópicos que leito, transferência de posições, AVDs e organização
compõem o manual: do ambiente para, bem como realizou demonstrações
práticas das atividades de reabilitação, com posterior
• Apresentação; execução pelo cuidador (repetição), sob sua supervisão.
• O que é derrame/AVC – acidente vascular Ao final, um manual de orientação foi entregue a cada
cerebral?; um, para que contassem com material de consulta e

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apoio para dar início às orientações e aos cuidados de dois dias devido às intercorrências da internação:
no domicílio. Esse atendimento individual com altas, óbitos e transferência dos pacientes.
cada cuidador teve duração média de 40 minutos.
No segundo dia de contato da estagiária, 7  Resultados e discussão
cada cuidador respondeu um questionário cujo
objetivo era avaliar o manual. O intervalo de tempo Participaram do estudo seis pacientes do sexo
disponibilizado para o familiar analisar o manual foi masculino e quatro do sexo feminino, com idade

Figura 1. Manual de orientação de posicionamento e execução de atividade de vida diária para pacientes
com acidente vascular cerebral.

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entre 41 e 77 anos (média de 63 anos) e desvio Entre os cuidadores que participaram do estudo,
padrão de 13,5. Em relação à escolaridade, três sete eram do sexo feminino e três do sexo masculino,
tinham o ensino fundamental completo e sete, com idade entre 22 e 53 anos (média de 47 anos)
incompleto. Com relação à ocorrência do AVE e desvio padrão de 15,8. Em relação ao grau de
(acidente vascular encefálico), para oito deles era a parentesco com o paciente, quatro eram filhas, um
primeira vez, para um deles era a terceira e para o filho, duas esposas, uma irmã, um sobrinho e um
último, a quarta ocorrência. genro. Quanto à escolaridade dos cuidadores: um

Figura 2. Manual de orientação de posicionamento e execução de atividade de vida diária para pacientes
com acidente vascular cerebral.

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tinha o ensino fundamental completo e dois não o Os cuidadores receberam um questionário com
tinham completado, três tinham o ensino médio 13 perguntas para avaliação do manual, que serão
completo e três não o tinham completado, o último discutidas obedecendo a sua ordem.
cuidador tinha ensino superior incompleto. Na primeira pergunta foi questionado se o cuidador
Qualificar o conteúdo do manual com pacientes sabia qual era o posicionamento correto do paciente
e familiares que já vivenciaram de alguma forma a no leito. Apenas um dos entrevistados respondeu
situação nele abordada é uma atitude necessária e um positivamente, os demais desconheciam essa informação,
ganho importante para a estagiária e para a equipe sendo essa orientação de extrema importância,
envolvida. É um momento em que tomamos conta principalmente no período de hospitalização, em que
do que realmente foi entendido (ECHER, 2005). o paciente permanece deitado no leito o dia inteiro.

Quadro 1. Questionário para avaliação do manual de AVC.


1- Antes de conhecer o manual, você sabia qual o posicionamento correto do paciente no leito?
(  ) sim (  ) não
2- Algum profissional da saúde (médico, enfermeiro, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional) fez essas
orientações?
(  ) sim (  ) não
3- Você conseguiu entender e/ou compreender o manual e colocar em prática as orientações?
(  ) sim (  ) não
4- Considerando as ilustrações, os desenhos, o conteúdo escrito, a clareza das informações e a objetividade,
você classifica o manual como:
(  ) bom (  ) regular (  ) ruim
5- As ilustrações auxiliaram na compreensão das orientações?
(  ) sim (  ) não
6- O texto está suficientemente compreensível?
(  ) bom (  ) regular (  ) ruim
7- (A) Você conseguiria realizar as orientações de posicionamento sem ter o manual para consultar?
(  ) sim (  ) não
(B) Todas as orientações?
(  ) sim (  ) não
(C) Quantas?
________________________________________________________________________________________
(D) Quais?
________________________________________________________________________________________
8- Tendo o manual em mãos, você se sente:
(  ) mais seguro para cuidar do paciente
(  ) mais esclarecido sobre o AVC
(  ) indiferente
9- As orientações do manual modificaram o seu jeito de cuidar do paciente?
(  ) sim (  ) não
10- Que orientações você considerou especialmente importantes?
(  ) Posicionamento
(  ) Transferência
(  ) Atividade de vida diária (comer, tomar banho e higiene pessoal)
(  ) Organização do ambiente
11- Dessas orientações, qual você considerou a mais importante?
________________________________________________________________________________________
12- Você recomendaria o manual a familiares de outras pessoas com AVC?
(  ) sim (  ) não
13- Que outras orientações você acha que deveriam constar no manual?
________________________________________________________________________________________

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O papel do cuidador é muito importante na Na quinta pergunta questionamos a necessidade


fase inicial para prevenir a instalação do espasmo das ilustrações para a compreensão do manual e,
muscular por meio de um bom posicionamento no segundo as respostas dos entrevistados, podemos
leito. A posição correta deve ser contrária à atitude considerar por unanimidade que as figuras ilustrativas
espástica, o que deve tornar-se um hábito na vida do são de extrema importância para o entendimento da
paciente hemiplégico (ARAÚJO; CALDAS, 1998). orientação. Considerando que a orientação escrita
Quando questionado na segunda pergunta se acompanhada pela figura ilustra, exemplifica e
algum profissional tinha passado orientações de permite uma melhor assimilação da informação.
posicionamento, o resultado obtido que apenas dois No momento da elaboração do manual, uma das
cuidadores receberam informações a respeito do principais preocupações foi utilizar uma linguagem
posicionamento. Essa informação expõe a deficiência clara e objetiva, vocabulário simples, sem utilização
no serviço de saúde de uma assistência básica que é de termos técnicos, para facilitar a compreensão
considerada fundamental. das informações e construir uma leitura atrativa,
organizada e envolvente que despertasse o interesse
Programas de reabilitação têm contribuído
do cuidador e o estimulasse a consultar o manual
significativamente para diminuir os danos causados
sempre que necessário.
pela doença porém, para que o êxito seja alcançado,
é fundamental que se iniciem o mais cedo possível Na sexta pergunta verificou-se essa preocupação
as medidas de reabilitação, como forma de garantir e, dentre as possíveis alternativas bom, regular e
uma recuperação eficaz, que deve ser iniciada assim ruim, todos os entrevistados consideraram que o
que o quadro clínico estabiliza-se (PERLINI; texto está compreensível, ou seja, todos assinalaram
FARO, 2005). a alternativa bom.
Na pergunta três, os entrevistados foram Na pergunta sete, os entrevistados foram
interrogados se conseguiram compreender o manual. questionados se conseguiriam realizar as orientações
sem ter o manual em mãos e todos responderam
Todos responderam que sim, após terem escutado
que não. Nota-se que as orientações não podem se
da estagiária a explicação de todas as orientações
restringir apenas à comunicação verbal, existe a
no manual.
necessidade da comunicação visual e impressa que
As equipes multiprofissionais que atuam em possa ser consultada em momentos de dúvidas. A
hospitais precisam estar conscientes de que a intervenção educação em saúde, para ser completa,
internação representa uma situação temporária na deve contemplar as duas formas de comunicação.
vida de seus pacientes, enquanto a família é uma
Na oitava pergunta questionamos as mudanças
instituição permanente que os assiste, sendo essencial,
emocionais e de enfrentamento que o cuidador
portanto, a orientação tendo em vista a capacitação
passou a vivenciar após estar com o manual em
das famílias para o cuidado do paciente, em especial
mãos e obtivemos oito respostas para a alternativa
no caso de doenças que possam necessitar de um mais seguro, cinco para mais esclarecido e zero para
período de reabilitação demorado como o AVC indiferente, sendo que três cuidadores assinalaram
(ANDRADE; RODRIGUES, 1999). mais de uma alternativa.
Levando em consideração a necessidade de A educação do paciente e da família é uma parte
oferecer um melhor suporte ao cuidador no domicílio integrante do processo de reabilitação desde o início,
foi elaborado o manual, para que as orientações o que torna crucial que as famílias e os pacientes
possam ser consultadas a qualquer momento. Na compreendam as alterações que ocorreram durante
pergunta quatro questiona-se aos entrevistados como o processo. Que eles possam acessar as mesmas
eles classificavam o manual dentre as alternativas informações várias vezes, para compreender todas as
bom, regular e ruim. Todos classificaram o manual alterações pelas quais estão passando no momento.
como bom. Quanto mais cedo as famílias são envolvidas nos
Um material bem escrito ou uma informação cuidados do ente querido, mais fácil compreendem
de fácil entendimento melhora o conhecimento e a e tornam-se parte do processo (PULASKI, 2002).
satisfação dos pacientes, desenvolve suas atitudes e A pergunta nove questiona os entrevistados se as
habilidades, facilita-lhes a autonomia, promove sua orientações do manual modificaram sua maneira de
adesão, torna-os capazes de entender como as próprias cuidar do paciente e todos os cuidadores responderam
ações influenciam seu padrão de saúde, favorece sua positivamente. A utilização do manual atuou sobre
tomada de decisão, enfim, é uma forma de promover o processo de modificação de comportamento e
saúde (MOREIRA; NÓBREGA; SILVA, 2003). compreensão da doença, embora cada cuidador tenha

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seu jeito próprio de cuidar, eles perceberam que era 8  Conclusão


necessário agregar e seguir as novas orientações,
modificando esse jeito anterior de se relacionar com As vantagens e os benefícios para o paciente
o paciente com AVE. são maiores, quando os familiares inicialmente
De acordo com Chagas e Monteiro (2004), as recebem após o AVC orientação e informações
orientações socioculturais das pessoas em relação sobre a reabilitação. Mas para que isso aconteça é
à saúde e ao modo de cuidar da família são ditadas necessário que os órgãos gestores da saúde pública
por sua cultura e serão, ou não, as condições em e privada invistam em programas e/ou tratamentos
que a aceitação da prestação do cuidado ao familiar precoces de reabilitação, que devem iniciar no período
doente acontece. de hospitalização. Os benefícios desse investimento
A pergunta 10 busca verificar com os cuidadores poderão ser apreciados a longo prazo.
qual orientação consideraram a mais importante. Através do manual é possível que o cuidador
Nesta pergunta obtivemos os seguintes resultados: e/ou paciente consulte possíveis dúvidas sobre as
posicionamento (7), atividade de vida diária (5), orientações dadas pelo profissional da saúde no
organização do ambiente (4), transferência (3) sendo hospital.
que alguns entrevistados assinalaram mais de uma
alternativa e, dessa maneira, percebemos uma A proposta de orientação e preparo do cuidador
preocupação um pouco maior com o posicionamento para receber o paciente com AVC no domicílio é
dos pacientes. fundamental para eliminar interrupções no processo
de reabilitação do paciente. Considerando que
Na questão 11 foi perguntado aos participantes
o ambiente domiciliar é o local onde ocorrem as
qual a orientação ele considerou a mais importante
relações interpessoais do paciente, onde ele passa
dentre todas e, como se tratava de uma pergunta
a maior parte do tempo e realiza as principais
aberta, obtivemos as seguintes respostas: organização
atividades da vida cotidiana.
do ambiente (3), transferência (2), AVDs (2),
posicionamento (2) e todas as orientações (1). Como se
trata de uma pergunta subjetiva, as respostas refletem Referências
o que cada participante considerou importante ANDRADE, O. G.; RODRIGUES, R. A. P. O cuidado
dentre todas as informações recebidas. Devemos familiar ao idoso com seqüela de acidente vascular cerebral.
considerar que todos os participantes receberam a Revista Gaúcha de Enfermagem, Porto Alegre, v. 20, n. 2,
mesma informação. p. 90-109, 1999.
Na pergunta 12 questionamos se os cuidadores ARAÚJO, T. D.; CALDAS, P. C. Posicionamento no
recomendariam o manual a familiares de outras leito. In: CALDAS, P. C. A Saúde do Idoso: A arte de
pessoas com AVC e os 10 participantes responderam cuidar. Rio de Janeiro: UFRJ, 1998. p. 164-170.
positivamente. A inexperiência no cuidar gera ARES, M. J. J. Acidente Vascular Encefálico. In:
sentimentos como insegurança, medo e culpa, TEIXEIRA, E. et al. Terapia Ocupacional na Reabilitação
situações que podem ser amenizadas pelas orientações Física. São Paulo: Roca, 2003. p. 3-15.
corretas. Torna-se compreensível que os familiares BOCCHI, S. C. M.; ANGELO, M. Interação cuidador
recomendem o manual para outros familiares que familiar-pessoa com AVC: autonomia compartilhada.
estão passando por essa situação e vivenciando os Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 10, n. 3,
mesmos sentimentos. p. 729-738, jul./set. 2005. http://dx.doi.org/10.1590/
S1413-81232005000300029
Na questão aberta de número treze foi perguntado
aos cuidadores que tipo de orientações, além das CARVALHO, L. M. G. Terapia Ocupacional na
reabilitação de pacientes neurológicos adultos. In: CARLO,
anteriores, deveriam constar no manual. Quatro
M. M. R. P.; LUZO, M. C. M. Terapia Ocupacional
pessoas não responderam essa pergunta e dos demais
Reabilitação Física e Contextos Hospitalares. São Paulo:
obtivemos as seguintes respostas: “o manual está Roca, 2004. p. 200-232.
completo” (3), “acredito que o manual está bom”
CHAGAS, N. R.; MONTEIRO, A. R. M. Educação em
(2); e “o manual está completo, mas poderia falar
saúde e família: o cuidado ao paciente, vítima de acidente
um pouco sobre alimentação” (1). vascular cerebral. Acta Scientiarm Health Sciences, Maringá,
Apenas uma pessoa sugeriu mudanças no manual, v. 26, n. 1, p. 193-204, 2004. http://dx.doi.org/10.4025/
que deveria contemplar mais informações a respeito actascihealthsci.v26i1.1663
da alimentação. Percebemos a necessidade de realizar ECHER, C. I. Elaboração de manuais de orientação para
um trabalho com equipe multidisciplinar para cuidado em saúde. Revista Latino-Americana de Enfermagem,
elaboração de um manual mais completo e que Ribeirão Preto, v.13, n. 5, p. 754-757, set./out. 2005.
atenda todas as necessidades do paciente. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692005000500022

Cad. Ter. Ocup. UFSCar, São Carlos, v. 21, n. 1, p. 131-139, 2013


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Contribuição dos Autores


Natalia Cristina Thinen e Ana Claudia Fernandes Moraes foram responsáveis pela concepção e
desenvolvimento e redação final do manuscrito.

Cad. Ter. Ocup. UFSCar, São Carlos, v. 21, n. 1, p. 131-139, 2013

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