Isgh Protoco Cuidado Paliativo
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CUIDADOS PALIATIVOS
|ELABORAÇÃO|
| COLABORAÇÃO |
| VALIDAÇÃO |
| FORMATAÇÃO |
| DATA |
Setembro de 2014
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|SUMÁRIO|
1. Definições e Princípios........................................................................................ 4
7. Bibliografia.......................................................................................................... 16
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| 1. DEFINIÇÕES E PRINCÍPIOS |
A Organização Mundial de Saúde (OMS, 2002) define os Cuidados Paliativos como uma abordagem que
promove a qualidade de vida de pacientes e seus familiares diante de situações que ameaçam a continuidade
da vida, através da prevenção e alívio do sofrimento. Para tal, requer a identificação precoce, avaliação e
tratamento impecável da dor e outras situações angustiantes de natureza física, psicossocial e/ou espiritual.
Um dos pilares dos Cuidados Paliativos é o trabalho multiprofissional e interdisciplinar. O foco da atenção não
é a doença a ser curada ou controlada, mas o doente, entendido como um ser biográfico, ativo, com direito
à informação e à autonomia plena para decisões a respeito do seu tratamento. A prática adequada dos
Cuidados Paliativos preconiza uma atenção individualizada ao doente e à sua família, a busca da excelência
no controle de todos os sintomas e a prevenção do sofrimento.
Segundo a médica precursora do Movimento Hospice Moderno, CicelySaunders, os Cuidados Paliativos não
são uma alternativa de tratamento, mas sim uma parte complementar e vital de todo o acompanhamento do
paciente. Desta forma, o tratamento curativo e a abordagem paliativa podem ocorrer de maneira simultânea.
À medida que a doença progride e o tratamento curativo perde o poder de oferecer um controle razoável da
mesma, os Cuidados Paliativos crescem em significado, surgindo como uma necessidade absoluta na fase
em que a incurabilidade se torna uma realidade irreversível. Esta relação pode ser representada pela figura
abaixo (FIGURA 1):
FIGURA 1: Evolução dos Cuidados Paliativos e sua relação com o tratamento curativo
Particularmente na fase final da vida, quando o processo de morte se desencadeia de forma rápida e irrever-
sível, os Cuidados Paliativos se tornam imprescindíveis e complexos. Preconiza-se, nesta fase, a atuação con-
junta de uma equipe de profissionais adequadamente treinados no controle das causas de sofrimento para
os pacientes, como também no suporte aos familiares, utilizando estratégias e técnicas de comunicação.
A atuação desta equipe tem o objetivo de dar uma atenção específica e contínua ao doente, sua família e
entorno afetivo. Isso favorece o esclarecimento da história natural da doença em curso e do seu processo
evolutivo, ao mesmo tempo em que valoriza a dignidade e a autonomia dos pacientes e representantes
legais, em harmonia com os outros princípios bioéticos (beneficência, não maleficência e justiça), com o
intuito de proporcionar alívio, prevenindo uma morte caótica e com grande sofrimento. A antecipação das
situações de crise é uma das grandes estratégias para alcançar esse objetivo.
O trabalho em Cuidados Paliativos é fundamentado em princípios claros, tendo sido publicados pela OMS
primeiramente em 1986 e reafirmados em 2002 (TABELA 1):
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Paciente terminal ou moribundo: é sugerido que se evite este termo, por ser muitas vezes estigmatizante
e capaz de gerar conflitos. É definido de maneiras diferentes pela literatura mundial: paciente portador de
doença incurável, paciente que se encontra no período compreendido entre o final do tratamento curativo
e a morte ou ainda como o paciente no período designado como processo de morte.
Paciente em processo de morte ou terminalidade: aquele que apresenta sinais de importante progressão da
doença, com prognóstico estimado em torno de seis meses de vida.
Fase final da vida: período caracterizado por rápido declínio funcional, de causa irreversível, em que o
prognóstico de vida pode ser estimado em horas ou poucos dias.
Futilidade terapêutica ou tratamento fútil: medida cuja adoção pode prolongar o sofrimento ou mesmo
acelerar a morte, não sendo efetiva para corrigir ou melhorar as condições que ameaçam a vida. Podem ser
procedimentos diagnósticos ou terapêuticos inadequados e inúteis diante da situação evolutiva irreversível
da doença e que podem causar sofrimento acrescido ao doente e à família. Não prolongam a vida e sim o
processo de morte.
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Ortotanásia: significa morte correta, ou seja, a morte pelo seu processo natural. Assim, em vez de se
prolongar artificialmente o processo de morte (distanásia), entende-se que este se desenvolve naturalmente.
A ortotanásia é conduta atípica frente ao Código Penal, pois não é a causa da morte da pessoa, uma vez que
este processo já foi irreversivelmente instalado.
Neste perfil, incluem-se os doentes em fase avançada de câncer, síndromes demenciais, doenças neurológi-
cas progressivas, sequelas neurológicas, AIDS, insuficiência cardíaca congestiva, doença pulmonar obstruti-
va crônica, insuficiência renal, insuficiência hepática e outras situações incuráveis e em progressão.
Apesar das dificuldades e dos receios que cercam os profissionais de saúde, em especial os médicos, ao
discutir o prognóstico ou terminalidade das doenças, vale salientar que este desafio não é menor ou maior
que outros como diagnosticar uma doença rara ou optar por um tratamento em lugar de outro, sabendo
que uma posição não exata poderá trazer consequências distintas para o paciente.
Este cenário já foi amplamente discutido no âmbito jurídico, sendo considerado como dever do profissional
da Medicina o comprometimento em conferir aos doentes a maior qualidade de vida possível, diante do seu
estado e dos recursos técnicos existentes.
Ainda assim, faz-se necessário o uso de critérios objetivos conforme a doença de base, que estimem um
período de sobrevida inferior a seis meses ou prejuízo importante e irrecuperável da qualidade de vida,
situações em que os Cuidados Paliativos devem ser iniciados pela equipe assistente juntamente com uma
equipe interdisciplinar (TABELA 3):
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Na Pediatria, várias são as condições que podem se beneficiarem dos Cuidados Paliativos, como as doen-
ças congênitas incompatíveis com a vida, desordens cromossômicas, desordens metabólicas, condições
cardíacas complexas, doenças neuromusculares, doenças respiratórias crônicas, pacientes portadores de
necessidades especiais (traqueostomia, oxigenioterapia, suporte nutricional por via enteral ou parenteral),
doenças oncológicas e SIDA.
Podemos dividir estas condições em quatro grupos de doenças que limitam a vida, conforme a tabela que
se segue (TABELA 4):
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Após a identificação de critérios de inclusão ou elegibilidade para os Cuidados Paliativos, é realizada uma
ampla avaliação do doente, buscando os parâmetros que apoiem de forma cuidadosa o diagnóstico do pro-
cesso de terminalidade.
A avaliação clínica do doente deve conter elementos fundamentais que possibilitem a compreensão de
quem é a pessoa doente. Deve-se identificar suas preferências e dificuldades, a cronologia da evolução de
sua doença e os tratamentos já realizados, quais as suas necessidades atuais e sintomas, o exame físico, os
medicamentos propostos, as demais decisões clínicas e a impressão a respeito da evolução, além do prog-
nóstico e as expectativas com relação ao tratamento proposto.
Os principais elementos da avaliação clínica do doente estão relacionados na tabela a seguir (TABELA 5):
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Dentre os itens acima, a avaliação funcional é fundamental para a vigilância da curva evolutiva da doença e
se constitui em elemento valioso na tomada de decisões, previsão de prognóstico e diagnóstico de termina-
lidade. Várias escalas de desempenho podem ser utilizadas:
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A Escala de Karnofsky (KPS) é uma escala de desempenho que foi inicialmente desenvolvida para avaliar a
capacidade física em pacientes oncológicos, mas que tem tido seu uso aplicado para a avaliação de outras
doenças crônicas incapacitantes:
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A abordagem dos Cuidados Paliativosvaloriza a história natural da doença, a história pessoal de vida e as
reações fisiológicas, emocionais e culturais dos pacientes e familiares diante do adoecer, o que faz com que
o plano de cuidados seja altamente individualizado e variável ao longo do tempo. Com o intuito de facilitar
a comunicação entre os diversos profissionais da equipe e orientar as linhas gerais do plano de cuidados
do paciente em um determinado momento, utilizamos a seguinte estratégia de estratificação, dividindo as
ações paliativas nas seguintes fases:
• O paciente é portador de doença que ameaça sua vida e apresenta bom status funcional (KPS ou PPS
>60%).
• Nesse momento é improvável que a morte ocorra em decorrência de sua doença de base.Em caso de
instabilidade clínica aguda, deve ser encaminhado para UTI e receber suporte avançado de vida em caso
de PCR.
• A prioridade é o tratamento curativo ou restaurativo, utilizando os princípios da beneficência e
autonomia.
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• O paciente é portador de doença que ameaça sua vida e apresenta status funcional intermediário (KPS
ou PPS entre 40-60%).
• Nesse momento é improvável que o paciente possa responder de maneira completa ou satisfatória ao
tratamento curativo. No entanto pode se beneficiar de procedimentos ou tratamentos invasivos que
proporcionem melhora de sintomas e qualidade de vida, respeitando o desejo do paciente ou de seus
representantes legais.
• Em caso de instabilidade clínica aguda, a transferência para UTI deve ser ponderada, levando-se
em consideração as condições potencialmente reversíveis, podendo ser definido limite de esforço
terapêutico.
• Prognóstico estimado em semanas a meses.
• O paciente é portador de doença que ameaça a vida e apresenta baixostatusfuncional (KPS ou PPS
<40%), sendo identificados critérios de irreversibilidade da doença de base.
• Todas as ações devem buscar a melhor qualidade de vida possível e o controle de sintomas desconfortáveis
(tratamento de infecções, correção de distúrbios hidroeletrolíticos, analgesia, etc.), utilizando os
princípios da autonomia e não maleficência.
• Não adicionar ou manter terapias fúteis. Não deve ser encaminhado para UTI, respeitando o desejo do
paciente ou de seus representantes legais.
• Prognóstico estimado em dias a algumas semanas.
O paciente é portador de doença que ameaça a vida, com baixo status funcional (KPS ou PPS <40%) e
declínio rápido e irreversível do estado geral.
Esta piora acentuada pode ser evidenciada pelo comprometimento do nível da consciência e instabilidade
cardiopulmonar.
Suspender todas as terapias fúteis, focando exclusivamente no controle de sintomas. Não deve ser
encaminhado para UTI, respeitando o desejo do paciente ou de seus representantes legais.
Prognóstico estimado em horas a poucos dias.
Em todas as fases, deve ser prestado apoio aos pacientes e familiares, abordando os diagnósticos, condutas
e prognóstico, além do controle rígido da dor e outros sintomas desconfortáveis e assistência psicossocial
e espiritual.
Os gráficos abaixo exemplificam a relação entre o tratamento curativo e paliativo nos diversos grupos de
doenças que ameaçam a vida:
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Art. 1º É permitido ao médico limitar ou suspender procedimentos e tratamentos que prolonguem a vida
do doente em fase terminal, de enfermidade grave e incurável, respeitada a vontade da pessoa ou de seu
representante legal.
§ 1º O médico tem a obrigação de esclarecer ao doente ou a seu representante legal as modalidades
terapêuticas adequadas para cada situação.
§ 2º A decisão referida no caput deve ser fundamentada e registrada no prontuário.
§ 3º É assegurado ao doente ou a seu representante legal o direito de solicitar uma segunda opinião médica.
§ 4º O médico registrará, no prontuário, as diretivas antecipadas de vontade que lhes foram diretamente
comunicadas pelo paciente.
§ 5º Não sendo conhecidas as diretivas antecipadas de vontade do paciente, nem havendo representante
designado, familiares disponíveis ou falta de consenso entre estes, o médico recorrerá ao Comitê de Bioética
da instituição, caso exista, ou, na falta deste, à Comissão de Ética Médica do hospital ou ao Conselho Regional
e Federal de Medicina para fundamentar sua decisão sobre conflitos éticos, quando entender esta medida
necessária e conveniente.
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O serviço de Cuidados Paliativos das unidades hospitalares do ISGH tem o objetivo de dar suporte às equipes
assistentes dos diversos setores dos hospitais: enfermarias clínicas e cirúrgicas, unidades de cuidados
especiais (UCE’S), unidades de terapia intensiva (UTI’s) e programas de atendimento domiciliar (PAD). A
equipe é composta por médico, enfermeiro e psicólogo, que atuam de maneira interdisciplinar.
Acompanhamento pela equipe de Cuidados Paliativos até a saída (óbito, alta pelo PAD
ou alta com retorno ambulatorial)
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| 7. REFERÊNCIAS |
Cuidado Paliativo. São Paulo: Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP);2008
Diretrizes Assistenciais do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE). Avaliação e Monitorização do Paciente
em Cuidados Paliativos. Versão eletrônica atualizada em março de 2012
Conflitos bioéticos do viver e do morrer. Organização: Rachel Moritz. Câmara técnica sobre terminalidade
da vida e cuidados paliativos do Conselho Federal de Medicina. Brasília: CFM; 2011
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