Éramos Mais Que Só Dois

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Éramos mais que só dois by Tamaracae

Summary:

Alice é uma jovem médica residente talentosa, mas com uma vida pessoal
completamente desmoronada. Após uma bebedeira acaba passando a noite com
uma desconhecida e sua intimidade é totalmente exposta no dia seguinte.

Sem perspectiva profissional em São Paulo, Alice esta de mudança para a


interiorana Silvéster. Lá conhece as irmãs Natália e Júlia Franco se envolve com
ambas acidentalmente enquanto corre atrás de sua felicidade.

Categories: Originais > Romances Characters: Nenhuma


Gênero: Ação, Aventura , Comédia, Cotidiano, Drama, Romance, Suspense
Challenges:
Series: Nenhuma
Chapters: 70 Completed: Sim Word count: 415669 Read: 339065
Published: 23/02/2012 Updated: 08/11/2012

Story Notes:

História e personagens criados por Tamaracae.

1. Capítulo 1 e 2 by Tamaracae

2. Capítulo 3 by Tamaracae

3. Capítulo 4 by Tamaracae

4. Capítulo 5 by Tamaracae

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5. Capítulo 6 by Tamaracae

6. Capítulo 7 by Tamaracae

7. Capítulo 8 by Tamaracae

8. Capítulo 9 by Tamaracae

9. Capítulo 10 by Tamaracae

10. Capítulo 11 by Tamaracae

11. Capítulo 12 by Tamaracae

12. Capítulo 13 by Tamaracae

13. Capítulo 14 by Tamaracae

14. Capítulo 15 by Tamaracae

15. Capítulo 16 by Tamaracae

16. Capítulo 17 by Tamaracae

17. Capítulo 18 by Tamaracae

18. Capítulo 19 by Tamaracae

19. Capítulo 20 by Tamaracae

20. Capítulo 21 by Tamaracae

21. Capítulo 22 by Tamaracae

22. Capítulo 23 by Tamaracae

23. Capítulo 24 by Tamaracae

24. Capítulo 25 by Tamaracae

25. Capítulo 26 by Tamaracae

26. Capítulo 27 by Tamaracae

27. Capítulo 28 by Tamaracae

28. Capítulo 29 by Tamaracae

29. Capítulo 30 by Tamaracae

30. Capítulo 31 by Tamaracae

31. Capítulo 32 by Tamaracae

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32. Capítulo 33 by Tamaracae

33. Capítulo 34 by Tamaracae

34. Capítulo 35 by Tamaracae

35. Capítulo 36 by Tamaracae

36. Capítulo 37 by Tamaracae

37. Capítulo 38 by Tamaracae

38. Capítulo 39 by Tamaracae

39. Capítulo 40 by Tamaracae

40. Capítulo 41 by Tamaracae

41. Capítulo 42 by Tamaracae

42. Capítulo 43 by Tamaracae

43. Capítulo 44 by Tamaracae

44. Capítulo 45 by Tamaracae

45. Capítulo 46 by Tamaracae

46. Capítulo 47 by Tamaracae

47. Capítulo 48 by Tamaracae

48. Capítulo 49 by Tamaracae

49. Capítulo 50 by Tamaracae

50. Capítulo 51 by Tamaracae

51. Capítulo 52 by Tamaracae

52. Capítulo 53 by Tamaracae

53. Capítulo 54 by Tamaracae

54. Capítulo 55 by Tamaracae

55. Capítulo 56 by Tamaracae

56. Capítulo 57 by Tamaracae

57. Capítulo 58 by Tamaracae

58. Capítulo 59 by Tamaracae

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59. Capítulo 60 by Tamaracae

60. Capítulo 61 by Tamaracae

61. Capítulo 62 by Tamaracae

62. Capítulo 63 by Tamaracae

63. Capítulo 64 by Tamaracae

64. Capítulo 65 by Tamaracae

65. Capítulo 66 by Tamaracae

66. Capítulo 67 by Tamaracae

67. Capítulo 68 by Tamaracae

68. Capítulo 69 by Tamaracae

69. Capítulo 70 - Parte 1 by Tamaracae

70. Capítulo 70- Parte 2 by Tamaracae

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Capítulo 1 e 2 by Tamaracae

Author's Notes:

O Capítulo esta meio grande, mas é para apresentar os personagens. Sou uma autora
que gosta de comentários e de conhecer minhas leitoras. Boa leitura! Bjos e fim na
moita!

Capitulo 1

São Paulo, Carnaval de 2012.

Rodoviária Intermunicipal da cidade. Já passava da hora do almoço. Meu ônibus para Silvéster, sim era isso
que o futuro reservava para mim, sairia em vinte minutos. A rodoviária estava lotada por conta da
movimentação do Carnaval. A minha diferença para a maioria dos viajantes é que enquanto eles voltariam
para seus lares e abandonariam as máscaras na Quarta Feira de Cinzas. Eu seria obrigada a viver
permanentemente fantasiada.

Pelo menos era assim que eu me sentia. Fantasiada, disfarçada, interpretando ser alguém que realmente não
era. Meu temperamento urbano, aberto e adiantado não condizia com aquela garota que fugia para o primeiro
buraco que se abriu. Meu nome é Alice Garcia Castro, 26 anos, médica graduada há dois anos. Ex futura
cirurgiã cardiovascular. Sim, isso mesmo, ex futura. Sempre botei fé que nossa vida nada mais é que
conseqüências de nossas ações. Hoje vejo diferente. Minhas ações que são conseqüências da vida.

Filha de um casal de médicos, financeiramente estável, comprometida com meu trabalho e com meu parceiro.
Sempre acreditei que minha vida era um conto de fadas com direito a príncipe encantando que era meu noivo
Pedro Henrique. A Disney com suas histórias de Cinderela, Branca de Neve, A Bela e a Fera junto do meu
namorado me enganaram. Pregaram uma peça em mim. Tenho certeza que se criassem um longa metragem
contado o que acontece depois do “e foram felizes para sempre...” ia estourar as bilheterias e seria muito mais
educativo e sincero com as meninas.

Eu queria ver a reação das crianças no cinema quando ouvissem a Cinderela contar que pegou o príncipe na
cama com outro como eu peguei o meu noivo com Seu personal trainner. Ou então o que elas achariam se a
Branca de Neve revelasse que após descobrir que o príncipe e o espelho mágico tem um caso, ele ainda teve
a cara de pau de ligar para o seu chefe e fazê-la infernizar a ponto de eu ter de pedir afastamendo de sua
residência como aconteceu comigo. Sim, a família do meu noivo era amicíssima do diretor geral do hospital
que eu fazia a minha residência. A pedido da mãe de Pedro Henrique, minha vida virou um inferno naquele
hospital, dobrava plantões e mais plantões, era chamada para os piores procedimentos existentes na medicina
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que me vi obrigada a afastar do caso. Ou o que teriam a dizer quando a Bela expusesse que seu querido
papai simplesmente cortou relações quando descobriu que ela e a Fera tinham se separado, como a minha
mãe fez comigo.

Sim, essa é minha vida. Peguei meu noivo na cama com seu personalidade trainner. Através da influencia de
sua família rica, Pedro Henrique conseguiu ainda me desestabelizar psicológicamente a ponto de eu pedir
afastamento da minha residência no Hospital Santa Clara na capital de São Paulo e por vingança, deve ter
feito minha caveira em qualquer outro lugar que fosse me empregar aqui na capital. Quando minha mãe soube
que terminamos, simplesmente foi contra mim.

Como eu podia deixar escapar um noivo rico e famoso feito Pedro Henrique por conta de uma
“escorregadela” daquelas? Falar sempre é fácil, afinal não foi meu pai que trocou ela por um saradão. Não foi
ela que perdeu o emprego e muito menos ela que estava com a casa entulhada de presentes de um casamento
que não ia acontecer como a minha casa estava.

Uma mulher segura, madura e adulta sofreria calada e iria sair por ai fazendo a cara da Meryl Streep no O
Diabo Veste Prada. Como sou insegura, infantil e imatura, estava há quase duas semanas no meu apartamento
chorando e me entupindo de comida. Nem sei se era tanto por Pedro Henrique ou por minha mãe, mas aquela
residência era realmente importante para mim. Se eu me tornasse residente, seria muito mais fácil conseguir
minha bolsa para estudar cirurgia cardiovascular. Desde pequena sempre sonhei em ser médica. Acho que
não saberia ser outra coisa na vida.

Segunda Feira uma semana antes do Carnaval. Já passava da meia noite. Não tinha saído de casa e meu
apartamento estava parecendo o Haiti depois do terremoto. Sem emprego, não tinha animo para nada. Certa
vez, ouvi alguém falando que “Deus não da um fardo maior do que podemos carregar.” Alguém lá dó céu
estava me confundindo com o Hi Men, tenho certeza. Além dos problemas que já tinha, mais um abacaxi
vinha para eu descascar. Este na forma da proprietária do meu apartamento, Dona Nanci. Senhora simpática
de quase setenta anos, me ligou com a seguinte informação.

- Meu neto de 18 anos vai sair do Sul para morar em São Paulo. Vou precisar do apartamento.

Corna, desempregada, rejeitada e agora sem teto. Na próxima vida vou pedir para vir Globeleza que só
samba e sorri... É não esta fácil. Após quase meia hora tentando convencer Dona Nanci a me deixar ficar no
imóvel, desliguei derrotada. Ela me deu um mês para sair e devolveria o dinheiro do depósito. Assim que
coloquei o telefone na base, alguém bateu na minha porta. Era um dos meus melhores amigos, Marquinhos.

-- Mano, você esta um lixo! – Marquinhos 1, Sutileza 0. Não me importei, até porque ele devia estar falando
a verdade. Ao olhar em volta, percebeu que minha casa, normalmente arrumadinha e com tudo no lugar
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estava uma zorra. Jogo de copos que tia Zuleika, irmã do meu pai me mandou em cima da escrivanhia. A
roupa de cama que minha madrinha diz ter feito a mão sobre a mesa, toalhas de banho que tia Brigite me
enviou embaixo da cama. – Essa casa inteira esta um lixo! Você esta parecendo eu...

Marquinhos era um babaca, mulherengo e falso machista, mais eu o amava. Apesar do seu jeito meio ogro,
ele tinha um lado doce, divertido e companheiro que escondia das pessoas. O que mais amava em
Marquinhos é que nós dois tínhamos certeza que nunca íamos dar certo como casal e portanto nunca
tentaríamos transar. Ele era praticamente o irmão mais velho que meus pais não me deram. Médico como eu,
nos conhecemos no primeiro dia do programa de internos do hospital que eu trabalhava. Em poucos meses já
nos tornamos melhores amigos.

-- Velho, daqui a pouco a fiscalização sanitária vai lacrar isso aqui com a gente dentro. Vamos sair, veste
alguma coisa enquanto vou no banheiro.

-- Não estou afim de sair... – Morgada no sofá, já com um pijama velho, não estava com nenhuma vontade
de por roupas, de ver gente. Comecei a zapear pela TV. – Olha, esta passando Como se Fosse a Primeira
Vez no vinte...

Um vestido preto de noite caiu sobre minha cara. Marquinhos 2, Sutileza 0. Ele abriu meu guarda roupa e o
escolheu por mim.

-- Eu vou no banheiro... Você tem vinte minutos para ficar comível e a gente sai... – Marquinhos 3, sutileza 0.
Grande parte das meninas ficariam sem graças com os palavreados de baixo calão do meu amigo, eu não
estava nem ai. – Vamos encontrar com Lia, Renatinha e Léo no Gritz.

-- Eu não quero sair! – Veemente contestei. – O que vocês precisam para me deixar em paz, eu tenho que
levar um tiro?

-- Se não estiver pronta em vinte minutos vou começar a usar seu banheiro sem levantar a tampa da privada!

E se trancou no meu banheiro. Na hora me ergui pensando nas consequencias. Meu pobre chão cheio de
urina.

-- Credo! Seu porco, já estou levantando! MAR-QUI-NHOS!

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Em vinte minutos estava tomada banho e pronta. Ser amiga de homem me fez aprender diversas coisas do
universo masculino, inclusive que eles odeiam esperar. Não sei se estava comível, mas gostei do resultado em
frente ao espelho. Não peguei o vestido preto que Marquinhos me sugeriu, sofisticado demais para o Gritz,
um barzinho no alto da Vila Madalena que íamos sempre. Escolhi um azul que combinava com os meus olhos
da mesma cor. Carteira grande e uma sandália não muito alta. Meus cabelos loiros deixe soltos, batiam um
pouco abaixo dos meus ombros e disfarcei minha cara amassada com maquiagem leve e lápis de olho forte
realçando os olhos.

-- E então?

-- Ficou meio Susan Boyle... Feia, mas com conteúdo. – O falso machista adorava me provocar. - O vestido
ficaria mais comível.

-- Marcos Vinicius!

-- Quem é esse?

E nós dois rimos. Era raro nos chamarmos pelo nome. Apenas Marquinhos e Allie. Em quarenta e cinco
minutos chegamos no Gritz. Assim que me viu, Lia e Léo fizeram festa. Renata deu um sorrisão ao meu amigo.
Pelo que estávamos vendo havia um climinha de paquera entre eles. Todos começaram comigo no Santa,
éramos quase como uma família.

--Conseguiu tirar a menina de casa? – Lia se admirou me cumprimentando com dois beijinhos. – Allie, se o
Marquinhos não te trouxesse eu juro que mandava por fogo naquele prédio pra você sair de lá!

-- Eu estava preocupado com você...

Léo era o oposto de Marquinhos, sempre amável e de temperamento pacífico, adorava sua amizade também.

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-- O que o Marquinhos usou pra te tirar do ninho?

-- Porquice...

-- Charme...

Marquinhos e eu dissemos ao mesmo tempo provocando uma risada geral. Eu estava precisando mesmo
deles e de beber um pouco. Quando me dei conta, já estávamos em um super papo descontraído. Renata
lembrava sobre alguns casos meus que me renderam o apelido entre os médicos de doutora Bizarra.

-- Lembra aquele cara que chegou para tirar um tumor das costas em segredo e a Allie achou que era o Didi
dos Trapalhões?

Todos riram, inclusive eu, mas a culpa não tinha sido minha. Me colocaram no caso quando o sujeito já estava
para operar, então nem vi a cara dele. Eu li o nome Renato Aragão e comentei em sigilo com a Lia enquanto
nos trocávamos vestiário.

-- Coitado, gostava tanto dele de criança. Será que mais alguém sabe?

-- Eu gostava mesmo era do Mussum. – Confessei. - Não sei se mais alguém sabe. – Eu disse enquanto
colocava a roupa cirúrgica. – Mas é pra ficar entre nós hein?! Não sai falando por ai...

-- Caiu e ficou entre nós, não se preocupa.

Lia por sua vez contou em sigilo para Léo que contou em sigilo para Marquinhos que contou em sigilo para
Rê e quando vimos caiu entre todos do hospital. Uma das chefes da enfermagem, fã do Didi até organizou
uma prece para o ator e vários fãs foram até a porta saber de notícias e fazer suas orações. Descobriram que
era o Renato Aragão errado. Não o comediante das criancinhas, mas sim um empresário discreto que na
verdade era um perigoso bandido disfarçado procuradissimo pela polícia. Por causa do meu equivoco, sua
identidade secreta foi desmascarada e Renato Aragão foi preso e ainda virou chacota da imprensa que lhe
apelidou de “bandido trapalhão”. Até hoje ele não sabe quem foi que lhe entregou a polícia, mas jura que foi
um de seus rivais.

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-- E o cara do cocô jóia?

Esse foi outro caso que caiu nas minhas mãos. Um bandido assaltou uma joalheira e levou um diamante no
valor de quase 5 milhões de reais. Devia ser do tamanho de uma moeda de um centavo. Cercado pelos
policiais, o sujeito não se deu por vencido e engoliu a pedra. Após exames, uma operação foi descartada
pelos médicos chefes devido ao seu estado de saúde um tanto crítico. O jeito era esperar sair do
naturalmente, quando ele fosse ao banheiro. O dono da joalheria tinha prometido uma grande recompensa a
quem lhe devolvesse o diamante.

Resultado: Toda manhã era uma briga entre enfermeiros e médicos para limpar o sujeito e ficar com a
recompensa . Lógico que acabei sendo a “premiada” que encontrou o diamante, mas não recebi nada de
dinheiro como pensavam que ia receber, apenas a eterna gratidão do dono da joalheria.

Como podem ver, sou desajeitada de nascença e tenho um imã para atrair a lei de Murphy. O recreio dos
meus amigos se encerrou cedo com uma notícia de um desastre que passou na TV. Engavetamento de mais
de quarenta carros na decida da serra para Santos. Com certeza o Pronto Socorro do Santa Clara estaria
cheio e teriam que trabalhar. Morri de inveja quando vi os quatro partindo. Na despedida, Marquinhos ainda
me disse.

-- Eu queria fazer você sair de casa, Allie. Desculpa por te deixar sozinha.

-- Vai lá Marquinhos, você tem que trabalhar, estão precisando de você.

O Gritz era um bar para happy hour e estavam cheio devido ao feriadão da semana. O povão estava
animado. Não me senti tão deslocada entre as rodinhas, pois conhecia alguns funcionários do Gritz e o
proprietário do bar. Não sou muito de beber, mas como não queria voltar para casa cedo, pedi um copo de
vodca pura.

-- Tem certeza? – O próprio seu Gritz, um alemão gordo e vermelhudo, que me perguntava. – Não quer nada
mais leve?

-- Gritz, vou ter que pagar mais caro para você me servir uma dose? – Eu já tinha bebido duas cervejas e
minha voz saiu meio molenga, sempre fui fraquinha para beber. – Anda, homem, não estou mais operando
ninguém mesmo!

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Finalmente o gordo senhor vermelhudo me obedeceu. Alguns casais namoravam na mesa. Uns grupinhos
começavam a se levantar, provavelmente para irem a outro lugar. A solidão que não me incomodou a
principio agora começava a pesar.

Corna, desempregada, rejeitada, sem teto e agora sem amigos. Só em pensar na minha vida, resolvi tomar
mais dois copos de vodca. Na quarta dose, Gritz achou de encrespar comigo.

-- Não vendo mais nada alcoólico para você, Alice. Chama um táxi e vai para a casa.

Dono de bar negando vender bebida para bêbado. Eu era azarada mesmo. Não faltava mais nada. Por isso
que esse país não vai para frente. Não queria perder meu tempo discutindo com ninguém.

Todo mundo não ia se encher de cachaça de sexta de carnaval até a quarta de cinzas? Eu só queria adiantar
um pouco o tempo, oras. Paguei o que devia no bar e sai. Não a procura de um táxi, mas queria bater perna.
Ver gente. Há alguns dias não saia de casa, estava um pouco enferrujada. Sei lá por quanto tempo andei, mas
só tive vontade de parar quando vi um cena um tanto inusitada. Um homem de terno e gravata expulsava de
um espécie de “salão de danças” um Jacaré e um outro que estava completamente nu. Não tinha como não
olhar.

-- Eu já disse, ele não entra assim. Tem que estar fantasiado. Isso aqui é um baile de Carnaval, não uma orgia.

-- Mas eu estou de fantasia. – O peladão tentava convencer o outro. – Nunca leu, Jorge Amado
companheiro? Dona Flor e seus dois maridos? Pois então, eu estou fantasiado de Vadinho depois de morto.

A cara do segurança do baile de Carnaval não era nada boa. Eu, bêbada morri de rir com a explicação. Já
tinha lido Dona Flor uma porção de vezes e visto a minissérie, realmente Vadinho se apresentava nu como
eles argumentavam.

-- Colega, se quiser entrar tem fantasias para aluguel aqui mesmo, senão quiser cai fora!

O Jacaré e o Vadinho, ofendidos pela falta de sensibilidade do segurança desistiram de entrar. Como disse,
não queria voltar para casa cedo. O som gostoso do local que não só tocava samba, mas também algumas
marchinhas velhas, baboseiras atuais e até musicas de discoteca dos anos 70/80/90 me atraiu. Quando dei por
mim estava alugando uma fantasia de Zorro com capa e máscara e adentrando no salão.

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Sempre fui o tipo de pessoa que era a filha obediente, aluna e profissional caxias e namorada extremamente
fiel. E o troféu que tinha ganhando por isso? Uma bela banana. Já estava tão cansada de mim mesmo que
achei que era hora de incorporar um pouco a personagem. Decidido, baixou o santo e virei Don Diego de La
Vega, identidade secreta do Zorro. Herói espanhol, sedutor, arrojado e sagaz. Já perceberam a tremenda
confusão que eu estava mais uma vez me metendo, não é?

Outro balcão, outra bebida. Não queria mais vodca, mas algo mais “Don Diego de La Vega”. Enquanto
folheava a carta de bebidas, um cabalito e uma garrafa de tequila apareceram na minha frente como num
passe de mágica.

Ao erguer meus olhos, encontrei com uns olhos de cor de avelã que tinha um brilho tão intenso que parecia
me cegar. A criatura que me estendeu o cabalito e a tequila usava um sombreiro enorme de mexicano, poncho
e um bigode fajuto tão enorme quanto o chapéu.

-- Quieres un poco de tequila, muchacha?

Corna, desempregada, rejeitada, sem teto, sem amigos e agora sendo cantada por alguém que usava poncho
e bigode.

Seu “portunhol” era tão fajuto quanto os bigodes. O timbre era um pouco rouco, bonito, doce e sensual.
Uma delicia de voz por sinal. A voz tão mole e embargada quanto a minha. O mexicano estaba tão bêbado
quanto o Zorro. Não consegui ser indiferente e ri muito do jeito meio palhaço/tosco dele. Já perceberam que
os bobos fazem meu tipo, certo? Com um gesto afirmativo com a cabeça, aceitei sua oferta. Após ele
despejar um pouco de bebida no copinho, tomei a garrafa e deixei o copinho para ele.

-- Mas que divisão mais injusta…

-- Reclame com a gerência! – E levantei os ombros como uma criança mimada. Na hora o mexicano fez um
bico tão bonitinho e uma cara de contrariada que não resisti e abri um outro sorriso brincando. – Ow, o que
foi, vai chorar?

E cai na besteira de lhe dar um apertão em sua bochecha. Só então percebi de que meu mexicano, na verdade
era mexicana. Assim como eu, ela tinha escolhido uma fantasia masculina. A observei melhor e percebi que
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seus cabelos castanhos estavam presos dentro do sombreiro. Ela era quase um palmo maior que eu e sua pele
tinha uma temperatura quente e uma suavidade que me surpreendeu. A mulher levou seus dedos ao próprio
rosto e colocou sobre os meus. Sem graça, os retirei rapidamente.

-- Desculpa, eu...

Ela deu um sorriso meio torto, não parecia chateada ou ofendida com meu gesto. Pelo Ao contrário de mim,
devia ser alguém muito seguro de si. Nem com toda bebida do mundo eu teria coragem de chegar em outra
pessoa com aquela cantada furada da tequila. E para ela tudo parecia natural. Apenas estava se divertindo.
Sei lá porque diabos me dava uma tremenda curiosidade em saber por que alguém que parecia tão divertido,
bem resolvido e de bem com a vida estaria só.

-- Quem é você?

-- Don Diego de La Vega. – Ironicamente respondi séria arrancando outro riso de sua boca. Não queria der
meu nome para ela. Com certeza não nos veríamos nunca mais. Que diferencia seria se eu fosse Alice ou Don
Diego? – E você quem é? A garota do balcão do bar?

Seus olhos me encararam um tanto confusos e por fim fez um gesto positivo com a cabeça.

-- Pode ser...

-- Interessante... E a garota do balcão do bar esta sozinha por que? – Instintivamente aproximei mais dela.
Nós conversávamos quase no pé do ouvido uma da outra por causa do som alto. – Qual é sua história?

E me afastei um pouquinho para poder encarar seus olhos. A expressão dela era um pouco reflexiva. Após
pensar por alguns segundos, uma de suas mãos puxou o meu pescoço para mais perto dela. Os dedos delas
eram longos e ela tinha uma firmeza no tato que me surpreendeu, mas não desagradou.

-- Sem história, sem passado, e nem futuro. Eu sou a garota do balcão do bar. – Ela fez uma pausa. Nesse
meio tempo aproveitei e aspirei seu perfume. Não tinha cheiro de bebida, mas sim um aroma gostoso de mato
quando molha. Engraçado, eu moro em São Paulo ma minha vida inteira, só sentia aquele cheiro quando era
criança e passei férias na cidade dos meus pais que é lá no interior, junto de um tio distante. Delicioso. Onde
será que ela arranjou mato em São Paulo? – Minha história é minha tequila que você acabou de levar embora.

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Dessa vez eu que sorri, mas sem graça. A garrafa que estava no balcão foi empurrada de volta para a
mexicana. Não queria tirar tudo que ela tinha.

-- Desculpa...

Outra sorriso e novamente a boca dela se aproximava da minha. Eu estava adorando aquela musica alta.

-- Você devia ficar mais vezes sem graça. – A encarei sem entender e ela completou. – Fica linda vermelha.

Para satisfação dela, devo ter ficado cor de vinho e quando fico sem graça, mordo os lábios sem querer. Para
disfarçar virei um copo de tequila. Apesar da careta, a bebida desceu gostoso, limpando a garganta. Um ritmo
gostoso e cheio de movimento começou a tomar conta da pista. Latino americano para combinar com a
fantasia da minha parceira de bebida. Olhei de lado e a flagrei me fitando com uma carinha meio de sapeca.

-- O que foi?

-- Não é porque você devolveu minha tequila que eu vou ser boazinha com você. – Ela se ergueu. – Vem,
vamos dançar.

Se andando eu já fazia um monte de trapalhadas, imagina dançando e bêbada? Ainda mais uma música
daquelas toda cheia de remelexos. Tragédia anunciada. Do jeito que tenho sorte, ia estar no meio da pista
derrubaria ela e ainda causaria um traumatismo craniano na coitada.

-- Nem pensar. Eu sou muito ruim dançando. – Eu tentei me safar. – é sério, poderia dar aulas de como é
dançar ruim... Não tenho senso nenhum de ritmo.

Decidida, ela se colocou na minha frente não aceitando um não como resposta e me estendeu a mão.

-- Então nós duas vamos dar uma aula de como é dançar rum para esse povo.

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Bom ela foi avisada. Minha única alternativa foi aceitar. E lá fomos nós “bailar” com os outros dançarinos da
festa. Eu sempre fui tímida. Quando ia em alguma balada ou festa, sempre ficava com aquela cara de "quem
peidou", procurando a Neosaldina na bolsa. Eu fingia que não queria nada do garçom e saia com fome e sede.
Na época que namorava com o Pedro Henrique era um inferno. Ele trabalhava como modelo desses que
fazem fotos, desfilam e é conhecido internacionalmente. Vivia sendo convidado ou ganhando essas festas. Eu
odiava e me escondia em um cantinho tentando fugir de paparazzis, mesmo assim algumas vezes saiam umas
fotos minhas em revista de fofocas, site de entretenimento ou coisas do tipo. Mas ali com a mexicana era
diferente. Quando dei por mim, estava me divertindo horrores no meio da pista, remexia os ombros, ela me
levava e as vezes deixava eu fazer o papel do homem. Aquela altura já tínhamos acabado com a José Cuervo.
Eu nunca tinha ficado tão de pileque como estava aquela hora, mas ela parecia só um pouco alegre.

-- Você mentiu para mim. – Eu disse fazendo biquinho com uma expressão magoada e com a voz super
enrolada. Ela tentou interpretar o que eu dizia. – Você me disse que dançava mal.

-- É claro que eu menti, ou você acha que eu vou ficar dando trela para desculpa de bêbada? – Me perguntou
sorrindo de maneira sedutora e divertida que já estava se tornando familiar para mim. Deu um passo para
frente. – Quer parar?

Mordi levemente meus lábios e fiz um gesto negativo. Ainda sorrindo, voltamos a dançar. O Dj esperou
acabar a faixa e trocou as musicas latinas por umas canções mais lentas, dessas de dançar colado. Não sei se
foi por causa da bebida, dança, ou pelos dois, mas meu corpo já estava quente e quando a musica lenta
começou senti que travamos um pouco por causa da diferença do ritmo. Ao olharmos em volta, vários casais
dançavam abraçados e aproveitavam para namorar. Eu não queria voltar para o balcão. Pela primeira vez
nossos olhares se encontraram. Só aquela troca de olhares me deu um tremendo arrepio na espinha, não sei
por que. Lentamente ela levantou minha máscara de zorro e pode ver meu rosto límpido e rumbro de
vergonha. Um tanto tremula, resolvi lhe dar o troco e retirei seu sombreiro e bigode.

-- Você é só uma menina...

Foi o que ela conseguiu balbuciar. Do nada me veio um estado total de lucidez e vi que mulher que estava na
minha frente não era bonita. Ela era espetacular. Por volta de uns trinta e cinco anos. Cabelos castanhos lisos,
mas com algumas ondas naturais que caiam sobre seu rosto. Um sorriso lindo, enorme, desses que pareciam
iluminar todo o rosto. Pele morena, queimada de sol. Lábios bem desenhados e cheios. Feições fortes, como
se esculpidas por canivete. O que mais chamava atenção era aqueles olhos esverdeados, grandes,
expressivos. O corpo dela era magro, mas forte. Como não notei antes que ela era tão bonita? Tirava a paz
de qualquer um que a olhasse, incluindo a minha.

Não sei como, nem quando, mas criei coragem e toquei novamente seu rosto. Ela me chamou de menina, mas
não era pensamentos de uma menina que estava tendo agora com certeza. E pelo olhar que ela me jogou

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quando pode ver quem estava por baixo de Don Diego, também não dividia esses pensamentos. Prova disso
foi à firmeza que ela teve para me puxar ao seu encontro e guiar os seus lábios ao encontro dos meus.

Capítulo 2

Não sou muito de falar palavrão, mas puta que o pariu, novamente ela me surpreendia. Estava esperando uma
boca fedendo a cigarro e bebida e ela me faz o favor de dar o melhor beijo que provei na vida. Macio, suave,
quente. Nunca tinha beijado uma mulher na vida, nem por brincadeira, nem selinho nem nada. Não imaginava
que podia ser tão delicado como minha mexicana foi comigo. Minhas pernas bambearam e se não fosse ela
me segurar pela cintura, ia para o chão. Acabei enroscando meus braços em volta do pescoço dela para não
cair e intensifiquei nosso contato. A mão dela ali na minha cintura estava querendo despertar toda a tequila
que tinha dentro de mim. Minha vontade era me separar dela com pequenos selinhos e perguntar.

-- Na minha casa ou na sua?

E voltar a beijar aquela boca perfeita. Mas minha pamonhice não me permitia fazer isso. Como sempre, eu
tinha que complicar as coisas. Abruptamente me separei de seus lábios e disse.

-- E-Eu não sou lésbica.

Essa era boa. Um beijo da mulher me derrubava mais do que uma garrafa de José Cuervo e eu ainda tinha a
cara de pau de dizer que não era lésbica. Conselho para as meninas que estão dentro do armário. Não achem
de fazer a hétero quando tiver com uma “sapa sensação” há dois centímetros da sua boca. Depois saiam por
ai aos berros dizendo que não é lésbica, tirando foto com amigo que também esta no armário, mas dá mais
pinta que o Robbert Partinson só para mamãe ficar feliz e beijando qualquer um na boca, mas nunca, nunca
dispensem uma “sapa sensação”. A carinha dela me fez sentir que fui uma tremenda filha da puta com ela por
não cortar desde o começo.

Corna, desempregada, rejeitada, sem teto, sem amigos, cantada por alguém que usava poncho e bigode e
agora também filha da puta.

-- Desculpa, eu não sou lésbica...

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Essas horas que eu me pergunto porque o cofre de desenho animado ou uma bigorna não cai na minha
cabeça. A verdade é que quando a beijei, morri de medo de querer continuar. Eu não tenho preconceito
contra gays nem lésbicas. Inclusive era amiga do Léo, apesar de ele nunca ter confessado para nenhum de
nós. Só que eu estava morrendo de medo. Agora com certeza ela me xingar de todos os nomes e nunca mais
vamos nos ver. Puta que o pariu de novo. A mulher parecia ovo de páscoa cheia de surpresas. Péssima
analogia, mas vamos em frente. Ao invés dela me praguejar com todos os palavrões que ela conhecia, minha
mexicana descansou o meu ombro. Não sei se estava cansada, ou tonta pela bebida, ou confusa pelo beijo.
Eu não tive opção a não ser abraçá-la de volta. Ela olhou nos meus olhos e sem graça eu desviei.

-- Você quer ir embora é...

Pronto, ela não sabia do que me chamar. Seria ridículo continuar mantendo aquele codinome de Don Diego
em um momento sério.

-- Alice.

-- Alice... – Ela repetiu um tanto vitoriosa por descobrir meu nome. – Você quer ir embora? Eu te deixo em
um ponto de táxi.

Assenti com um movimento de cabeça. Meu corpo queria um coisa e minha cabeça ordenava para fazer
outra. Não demorou muito para pagarmos a conta e trocarmos de roupa. Por sorte em lugares separados.
Quando cheguei com minha roupa de Zorro, ela já devolvia sua fantasia de mexicano, mas tinha uma nova
garrafa de tequila na mão. Sem aquelas roupas era ainda mais bonita. Usava uma calça preta comprida, botas
e regata branca que demarcava seu corpo bem distribuído. Na mão a garrafa cheia e na outra uma jaqueta
vermelha de couro que lhe dava um ar de motoqueira.

-- Nossa!

-- O que foi? – Ela me perguntou sorrindo, ainda tinha o mesmo riso fácil da mexicana.

-- Você é alta... – Eu disfarcei. Na verdade queria falar que era bonita, gostosa, ou algo do tipo. Mas ela era
alta mesmo, tinha no mínimo uns dez centimetros a mais que eu. Ou eu com 1,65 era baixinha demais. – Não
precisa ir embora por minha causa e...

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-- Eu sei que Don Diego de La Vega sabe se defender muito bem, mas eu só vou ficar tranqüila se ver você
entrando em um táxi, esta certo, muchacha? Eu te deixo no táxi e volto... Se você não aceitar o convite para
fugirmos para o México...

-- Você anda assistindo Thelma e Louise demais...

Rimos juntas. Ela era tão divertida como quando estava sem fantasia. Não parece ter ficado chateada com o
meu não. Eu admirava pessoas que acima de tudo sabiam respeitar. E sabe o que isso me rendeu? Mais uma
vez o troféu banana.

No dia seguinte, acordei com o irritante do celular tocando um rock tipo Ratos do Porão na minha cabeça.
Com certeza foi o desocupado do Marquinhos que trocou o toque só para me irritar.

-- Alô? Será que uma pessoa não pode mais ter uma noite de sono? Vocês querem o que para me dar paz,
que eu caia de dez andares?

Eu sabia que era o Marquinhos.

-- Minha filha, que modos são esses? Seis anos de faculdade que eu paguei, quase quinze horas de trabalho
de parto, e é assim que você fala com sua mãe?

-- Oi mamãe, desculpa. Achei que fosse o Marquinhos.

-- E só para lhe avisar, são 16 horas.

16 horas? Puta que o pariu! Que dia é hoje? Ao olhar no calendário desesperada me lembrei que estávamos
na semana de Carnaval e da bebedeira de um dia antes. Nossa, eu bebi muito. A última coisa que me lembro
foi de Lia ou Renatinha me dando um comprimido para dor de cabeça quando cheguei em casa. Só podia ser
uma delas porque eu tinha certeza que era uma mulher. E lembro também que peguei um táxi e também da
minha mexicana motoqueira.

-- O que foi que aconteceu mãe?

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-- Eu é que lhe pergunto! – Minha mãe parecia ter um ataque desses de arracar a calça pela cabeça. – Será
que você não se cansa de envergonhar a nossa família?

-- Mãe, do que a senhora esta falando?

-- E ainda se faz de desententida. Olha aqui mocinha, se você escolheu ter essa vida o problema é seu...
Agora quero o conjunto de louça que te dei de volta. Aquilo é porcelana, esta me ouvindo, Alice Garcia
Castro?

-- Mas mamãe...

-- Passar bem!

E desligou. Não entendi nada. Sei lá que diabos eu tinha feito para minha mãe, mas ela ia esperar. Primeiro
tinha que dar um jeito na minha casa e na minha vida. Ao me levantar, percebi que estava apenas de calcinha.
Eu nunca dormia apenas de calcinha. Minha cabeça pesava mais do que o André Marques do Video Show e
minha boca tinha um gosto de chão de bar. Eu nem lembrava ao certo como fiz o caminho do táxi até meu
apartamento. Eu precisava de ir ao banheiro pegar um remédio.

Meu apartamento não era muito grande, mas a zorra tinha aumentado. Um edredon e um travesseiro estavam
jogados no chão. Tropecei em uma garrafa vazia de José Cuervo e novamente minha “aventura no México”
da noite anterior. Lá estava a jaqueta vermelha dela jogada em cima de uma cadeira.

Espera, jaqueta vermelha?! Quase que desesperada, corri até a roupa e sim era dela. O perfume era o dela.
O mesmo perfume que vinha do meu banheiro. Ao me aproximar notei o barulho de chuveiro ligado. Se ela
estava lá, tomando banho e eu seminua, só tinha uma explicação. Ela havia passado a noite lá. Fechei os olhos
e me recordei vagamente de quem era a mão feminina me estendendo o remédio.

-- Isso aqui vai dar uma melhoradinha.

Nós duas estávamos dentro do táxi. Ela tinha comprado uma garrafinha de água na saída e me ofereceu o tal
“remedinho” que minha dor de cabeça sairia na hora. Com certeza havia sido dopada.

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Corna, desempregada, rejeitada, sem teto, sem amigos, cantada por alguém que usava poncho e bigode, filha
da puta, idiota e agora muito puta da vida com ela. Não ia sair barato. Quando abri os olhos, lá estava ela.
Enrolada em uma das malditas toalhas da tia Brigite.

-- Acordou melhor?

Aquela cínica, se fazendo de boa moça, compreensiva, só para me enganar. Homem fazendo mulher de idiota
acontece, inclusive já virou rotina. Agora mulher fazendo mulher? Era demais. Toda minha raiva já tinha seu
destino. Tudo parecia vermelho na minha frente e quando vi já estapeava e socava os braços dela que tentava
proteger o rosto. A sem vergonha ainda tinha coragem de se fazer de desentendida.

-- QUE É ISSO, VOCÊ É DOIDA? TEM UM PINO FROUXO?

Ela era mais forte e mais alta, mas como toda baixinha, eu também sou difícil de segurar quando me invoco.
Aos poucos conseguia empurrá-la em direção a saída.

-- AGORA EU SOU LOUCA, EU SOU MALUCA, MAS ONTEM SERÁ QUE ERA ASSIM QUE
VOCÊ ME CHAMAVA? – Outro tapa, esse bem estalado. – OU ERA AMOR, ERA BENZINHO?

-- EU NÃO SEI DO QUE VOCÊ ESTA FALANDO! – Ela ainda tinha a cara de pau de não assumir. –
VOCÊ TEM UM PINO FROUXO? QUE AMOR, QUE BENZINHO?

Juntei todas as minhas forças, abri a porta e a empurrei com tudo para fora e fechei.

-- AGORA VÊ SE LEMBRA DE QUE EU TO FALANDO...

-- AS MINHAS ROUPAS... AS MINHAS ROUPAS... OS SEUS VIZINHOS VÃO ME VER ASSIM...


– Ela gritava desesperada. Se não fosse comigo eu estaria morrendo de rir ao ver uma mulher daquelas só de
toalha se esgoelando por conta de roupas. – EU ESTOU SÓ DE TOALHA... AS MINHAS ROUPAS...

Não pensei duas vezes. Abri a porta, tomei a toalha dela e fechei de novo. Conheço tia Brigite, ia encher a

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paciência dos meus trinetos se uma daquelas toalhas sumissem.

-- EU ESTOU PELADA AQUI FORA E...

-- TEM MÃO GRANDE PRA QUE?

-- AS MINHAS ROUPAS...

Depois de quase dez minutos dessa ladainha de “as minhas roupas, os seus vizinhos...” ela foi embora. E pelo
que eu pude ver vestida com a própria pele. Não tive um pingo de remorso. Quem manda drogar os outros na
balada e se aproveitar como bem entender? Já que não podia voltar ao tempo, pelo menos me vinguei.

Agora minha preocupação era outra, tinha que dar um jeito na minha vida. Ia tentar falar com a dona do
apartamento para ver se me dava um prazo maior. Me enfiei em uma calça jeans surrada e uma blusa branca
básica e fui até a casa da dona. Era engraçado estar na rua. As pessoas me olhavam de um jeito diferente.
Primeiro o porteiro do meu prédio, seu Manoel sorria para mim de um modo enviesado. Depois encontrei
com Camélia, moça que mora em um andar acima do meu que teve bebê a pouco tempo. Quando fui brincar
com o filho dela e ela se afastou dizendo que estava com pressa. Depois foram as duas senhoras que moram
no quinto e sexto andar respectivamente. Ao dar boa tarde para as duas falaram entre si.

-- Isso é culpa de mãe que não sabe dar educação...

-- Esse mundo esta perdido mesmo. Na nossa época resolvia era na base da borrachada nas costas...

Na hora que cheguei à casa da proprietária do meu apartamento o netinho dela que veio me atender a porta.
Ele me disse que ela estava e saiu correndo atrás da vovó. Dois minutos depois voltou sozinho e disse.

-- Minha vó mandou dizer que ela não está.

Oras, por que ela não queria me receber? Sempre paguei aluguel em dia, pelo menos ela podia me atender.
Na volta duas meninas de uns quinze anos de mãos dadas deram um largo sorriso quando me viram. Um
outro sujeito acenou para mim e falou que achava lindo minha coragem pela causa. Não estava entendendo
nada. E tudo se confundiu mais ainda quando cheguei na porta do meu prédio e veio um paparazzi correndo
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em minha direção.

-- É ali, olha ela lá...

Na verdade tinham mais de dez, alguns tiraram fotos, outras perguntavam a quanto tempo estávamos juntas.
Um terceiro perguntou se eu trai Pedro Henrique. Quem me salvou foi meu casal de amigos Renata e
Marquinhos. Quando Renata se aproximou de mim e tratou de cubrir meu rosto com um casaco, um dos
fotógrafos falou.

-- Dá um beijo nela. Se eu conseguir um foto de você beijando eu dobro meu cachê.

Marquinhos logo deu um basta na imprensa com aquele jeito delicado de ser do meu amigo e conseguiu
finalmente entrar. Assim que chegamos em casas, fechei a porta com medo de ser fotografada.

-- O que esta acontecendo?

-- Nós que devíamos perguntar...

-- Perguntar?

-- O que foi que você fez? – Marquinhos me questionou sério. – Alice, ontem quando a gente saiu, o que
você fez depois?

Iiiiiiih quando Marquinhos me chamava de Alice era porque a coisa estava séria.

-- Sei lá, bebi um pouco, estava precisando relaxar...

Marquinhos então deu uma gargalhada que só queria dizer uma coisa: “Bebeu um pouco? Senta lá.” Renatinha
me encarava com uma cara de “ Fudeu tudo, mas fique calma, tudo dará certo” . Eu não sei explicar muito
bem, mas ela fazia essa cara direitinho.
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-- O que foi que aconteceu gente?

-- Allie, meu amor, você abriu sua internet, viu TV ou fez alguma coisa do tipo, hoje? – Eu não sei se estranhei
mais a pergunta ou o Marquinhos falando a palavra amor. – Allie?

-- Não que eu me lembre. O que aconteceu?

Os dois se entreolharam aflitos. Dessa vez foi Renatinha que falou.

-- Allie, você sabe a Luiza?

-- Que Luiza?

-- Luíza que esta no Canadá. – Marquinhos me ajudava.

-- Ela já voltou para o Brasil. – Renata corrigiu.

-- Mas ela ficou famosa lá na porra do Canadá. – Marquinhos rebateu impaciente. Os dois começaram uma
discussão besta que me invocou.

-- Da pra alguém falar logo o que esta acontecendo?

-- Seguinte Allie, é que tem coisas na nossa vida, que nós podemos a principio guardar em uma caixinha... –
Renata começou com uma conversa de jacaré para pato que estava me dando sono. – Eu entendo, mas tem
pessoas que não vão entender e... Mas nos estamos com você pra isso e...

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-- Renata, você entrou para alguma igreja?

-- Não.

-- Então da para deixar o evangelho para depois e contar o que esta acontecendo?

-- Tu e morenona caíram na net. – Marquinhos 4, Sutileza 0. Enquanto Renata vinha com aquela conversa
longa, Marquinhos pratico já ligava meu computador e acessava o Youtube. Quando ele virou a tela para o
meu lado, gelei. – Até agora em menos de 24 horas vocês já superaram o numero de acessos da Luiza do
Canadá no primeiro dia.

Boquiaberta, não acreditava no que estava vendo. Só podia ser uma brincadeira de mal gosto. E no fundo
era. Alguém que não faço ideia quem seja postou um vídeo de um minuto meu com a motoqueira mexicana.
Nos duas estávamos no elevador do meu prédio na mior pegação. Não dava para ver direito o rosto dela,
mas o meu ficou enquadrado perfeitamente. Após eu roubar um beijo quente e lento dela sussurrava no seu
ouvido.

-- Homem não sabe beijar não... – Ela dava um sorriso tímido e correspondia ao meu beijo com um mais
rápido e picante. – Alias eu quero aprender tudo com você essa noite! Acho que o Pedro Henrique me
desaprendeu a fazer sexo...

-- Vem cá, vem...

E outro beijo dela em mim, me jogava contra uma das paredes. Enquanto me dava uma pegada que me
deixou completamente vermelha na frente dos meus amigos. De troco baixei minha mão e dei uma apertão
delicioso em seu quadril. O vídeo estava legendado. Ainda fizeram uma versão remix com a minha voz falando
“O Pedro Henrique me desaprendeu a fazer sexo...” e outra de nós duas se pegando e em vez do áudio
original colocaram Elevador com Ana Carolina tocando.

-- Allie, quer água?

A Renatinha tem mania de achar que tudo se resolve com um copo d’água. Eu ia precisar beber no mínimo
dois oceanos inteiros para resolver aquilo.
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-- Quem viu isso?

-- Você esta bombando no Facebook.

-- Depois que o Hugo Gloss deu RT no vídeo foi para os triends topic do twitter também...

-- Do Brasil?

-- Não, o mundial. – Marquinhos comentava displicente. – O Pedro Henrique também...

-- Meu Deus, o Pedro Henrique! – Pedro Henrique era conhecido mundialmente como modelo. É claro que
um vídeo daqueles da ex com outra e ainda falando mal dele ia bombar. – A minha mãe, será que ela viu isso?
– Havia um fio de esperança. - Ela não usa muito internet...

-- Passou no Jornal Hoje da Globo.

-- Na TV também? – Me desesperei. – Onde mais que eu estou?

-- Passou no programa da Sônia Abraão. – Marquinhos comentou. - No Nelson Rubens. E tem um site aqui
fazendo enquete de “Quem era a morena que estava beijando a ex noiva do modelo Pedro Henrique Dupret?"

-- Meu Deus... – Minha vontade era entrar embaixo da cama e não sair mais. Só podia ficar embaixo da
cama mesmo. O armário algum engraçadinho deu o jeito de escancarar para minha saída. – Que vergonha...
O que eu vou fazer agora?

-- Sei lá... Eu voto em quem aqui hein Allie? – Marquinhos me questionou tranquilamente. - Ela fazia mais o
tipo Ivete Sangalo, Juliana Paes, Angelina Jolie, Angie Harmon ou Cléo Pires?

-- Ai, só homem para pensar em uma besteira dessas nessas horas... -Sabia que podia contar com a
Renatinha, que fofa, ela estava me defendendo. - Que absurdo! Não colocaram a Penelope Cruz... - Perdi a
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Renata.

-- Nenhuma dessas. Ela esta mais pra Jeniffer Lopez.

Marquinhos deu uma olhada um tanto admirado. Meu amigo estava orgulhoso de mim.

-- J. Lo? – Apontou as mãos para mim com o peito cheio, sorrindo. – Essa é a minha garota! Eternamente
seu fã Allie!

Enquanto meu amigo já se virarava para votar na tal enquente, Renatinha me encarou um tanto desconfiada.

-- Jeniffer Lopez? Mas como é humilde, não?

-- Liga não Allie, ela tá é com inveja da tua morena quente...

"Morena quente" ver meu amigo falando aquilo acho que me jogou de vez no mundo lésbico. Como o
Marquinhos conseguia ser vulgar...

-- Morena, a parte "minha" já é sua imaginação fértil. Nem sei de quem ela é... – Logo tratei de explicar. – E
também eu nem lembro direito do que aconteceu ontem... Ela me dopou...

-- O que?

-- Com Tequila... Ela me encheu de tequila e depois... Bom vocês viram...

--Ela ainda te deu tequila? - Marquinhos me perguntou com inveja. - E vocês ainda falando mal da morena...

-- A gente só viu até os beijos... – Renata comentou em um tom curioso.

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-- Que foi só o que teve... – Eu disse com pouca firmeza. – A gente não fez sexo! – Os dois me encararam
desacreditados. – Explicito não! - Dei uma olhada no monitor. Nossa, a pegada dela era boa mesmo. Sei lá
quando um homem me pegou desse jeito... Talvez em outra vida, porque nessa... Me cortei envergonhada.

Que saco, isso acontece com todo mundo. Até parece que ninguém nunca bebe e saiu fazendo besteira por ai.
Daqui um dia acontece qualquer outra coisa com um ex bbb ou com uma subcelebridade qualquer esquecem
de mim. – E sabe de uma coisa? Eu não vou mexer mais nisso… Acabou por aqui.

-- Acho que é o melhor que você faz...

-- É como diz por ai, quanto mais mexe, mais fede. – Marquinhos com sua filosofia de bar observou. – Mas
parabéns pela morena mesmo assim!

E bestamente ele se levantou, começou a rebolar e cantarolar um trecho de "Get Right- J. Lo. TRenata
levantou e acompanhou meu amigo em sua coreografia tosca. Só esses bobões pra me fazer rir nessas horas.

Eu acreditei mesmo nos primeiros dias que a história não durar muito. Como sempre, para meu azar estava
errada. Em qualquer lugar que eu ia, era reconhecida. Minha mãe não estava olhando na minha cara. Pedro
Henrique e sua assessoria pilantra estavam usando a história como desculpa para nossa separação. Não
encontrava nenhum emprego e nem apartamento. A única coisa boa é que recebi apoio dos quatro
mosqueteiros e de meu pai. Este foi um fofo. Me procurou na mesma noite e quis saber tudo. Achei que ia
levar uma bronca, mas ao contrário disso ele sorriu para mim e me disse.

-- Se eu fosse mulher e passasse uma daquelas na minha frente acho que também viraria lésbica.

Nós dois rimos, mas voltei a dizer.

-- Papai, eu não sou lésbica. - Pausa, um tanto como medo. - Quer dizer, eu não sei...

-- Eu sei o que você é. – Ele me disse olhando nos olhos. – É a minha filhinha querida que eu amo muito...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

E me colocou no colo como fazia quando eu era criança. Esse foi o único lado bom dessa história. Ele se
reaproximou de mim. A coisa ficou feia mesmo quando estava fazendo entrevista de emprego em um hospital.
Um paciente passou mal. Na hora corri para tentar ajudá-lo, mas ele se negava a ser atendido por mim, pois
não gostava de lésbicas. Quando cheguei em casa aos prantos, Léo estava lá para me visitar.

-- Calma, isso passa...

-- Léo, sabe qual é minha raiva? Tipo e se eu for? Que diferença faz? – Chorosa, molhava o ombro do meu
amigo com lágrimas. – Eu sou médica e ele é um paciente. Como você por exemplo...

-- O que tem eu? – Léo questionou confuso.

-- Tipo, imagina se um paciente se negasse a ser atendido por você só porque você é gay e... – Sem perceber
que a cara do meu amigo se transformava, continuei falando feito uma idiota. Só percebi que Léo não havia
gostado do que falei quando ele se levantou. – Léo? O que foi?

-- Você tem noção do que disse, Allie?

-- Se você tivesse um paciente que se negasse a ser atendido por você só porque você é... – Temerosa
repeti. – Gay?

Nunca tinha visto Léo assim, andava de um lado para o outro, estava furioso comigo.

-- Então é isso que você Allie? Eu sou gay?

Percebendo o tamanho da burrada que fiz, questionei só piorando as coisas.

-- E não é?

Léo nem se deu o trabalho de explicar. Apenas pegou sua mochila e jogou na minha cara.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Você é o ser mais egoísta que existe Alice Garcia Castro!

E bateu a porta do meu futuro ex apartamento com força me deixando com cara de bolinha. Mais tarde
Marquinhos que vinha me ver e destrinchar a confusão.

-- O Léo é gay, Allie?

-- E não é?

-- Allie, você é cega? O cara arrasta um caminhão por você, como ele é gay, ow fera?

-- O Léo?

-- Alice, pelo amor de Deus, você nunca nem sequer pensou na hipótese do Léo ser todo “inho” com você
por que ele é apaixonado?

O Marquinhos perguntava como se não soubesse que eu era meio lerda.

-- Alô Prazer, meu nome é Alice Slow Motion! – Eu respondi um tanto atordoada com aquela revelação. Eu
gostava do Léo, mas como se ele fosse um irmão. Ou irmã, sei lá. - Você é todo “inho” comigo e não é
apaixonado por mim, é?

-- Não. E eu não sou todo “inho” com você. Acabei de te chamar de Fera.

Aquele dia a coisa desandou de vez, estava mal mesmo. Passei quase a noite toda chorando. Marquinhos
como um bom amigo ficou ali comigo.

-- Você tem que seguir sua vida. Seguir sua parada. E você sabe qual é tua parada?

-- Medicina.
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-- Então... Se você fizer o que você faz de melhor, o resto se ajeita...

-- Em São Paulo ninguém vai dar emprego para mim.

-- E quem disse que só existe médico em São Paulo, sua besta?

Aquela noite, Marquinhos me abraçou e nunca mais esqueci as palavras dele. No dia seguinte, como se fosse
um combinado do destino, meu pai me ligou. Eu tinha conseguido um emprego. Mas era para ser Clínico
Geral em um hospital do interior de São Paulo, sua cidade natal, Silvéster. A cidadezinha que falei que
cheirava a mato molhado. Na hora acabei aceitando. Em menos de cinco dias me livrei das minhas coisas,
entreguei meu apartamento e fiz as malas. A parte mais difícil foi se despedir de Lia, Renata e Marquinhos.
Léo não queria me ver.

Dei uma olhada no relógio, hora de embarcar. Meti minha mochila nas costas e subi no ônibus com coragem.
Quando me sentei, ajeitei minhas coisas e joguei a “agora” minha jaqueta vermelha de couro para me cobrir.
As outras roupas dela acabei jogando no lixo. De tanta raiva esqueci de ver seu nopme na identidade que
acabou parando na lixeira também. Não faz mal. Apenas queria esquecer aquela história.

-- Até logo São Paulo.

E cerrei os olhos com esperança de que Silvéster fizesse minha sorte mudar. Estava pensando, a Disney devia
parar de produzir filmes sobre princesas e produzir algo sobre mulheres de verdade que correm atrás do seu
destino que pode ser um príncipe ou não para inspirar nossas menininhas. O sono bateu, estava há três horas
do meu destino.

End Notes:

O que acharam?

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Capítulo 3 by Tamaracae

Author's Notes:

Olá meninas. Adorei os comentários. Pelo jeito gostaram da Alice, né? =*

Boa leitura!

Capítulo 3

Na vida descobri duas coisas interessantes sobre mudanças: há pessoas que morrem de medo que de mudar e
outras que temem que as coisas não mudem. Como tudo em minha vida ainda não descobri de que lado faço
parte.

Acordei com um barulho de alguém mastigando algo ao meu lado. A viagem toda me sentei sozinha. Na ultima
parada, estava cochilando e alguém que embarcou deve ter ocupado o lugar vago. Ao abrir os olhos, me
deparei com um garotinho de uns doze anos de idade. Gordinho e bochechudo. Parecia filho do Quico do
Chaves. Uma pessoa muito simpática. Enfiava o dedo no nariz, voltava a comer salgadinho e sorria. Dava um
cutucão na orelha, voltava a comer salgadinho e um novo sorriso. Deu uma coçada embaixo do braço, meteu
mais um pouco de salgadinho na boca e sorriu outra vez. E também era sociável. Chegou a me oferecer
salgadinho que educadamente neguei. Mais meia hora de estrada esburacada e bunda dolorida e chegamos à
cidade.

A rodoviária evidentemente era menor que a de São Paulo, mas sempre dando aquela mesma impressão de
que a cidade toda estava de partida ou De chegada. Assim que botei os pézinhos para fora do ônibus inspirei
o ar com apetite. Droga, o cheiro de mato molhado não estava presente como na minha infância e agora na
minha jaqueta vermelha. O gordinho infectou meu nariz com seu isoporzitos, só pode ser isso. Mas tirando
isso, Silvéster parecia ter parado no tempo.

Tudo igual como há vinte anos. As mesmas casinhas, os mesmos bancos da praça, me atreveria dizer que até
as mesmas pessoas. Só que envelhecidas, lógico, afinal passaram vinte anos. Em poucos metros, localizei um
ponto de táxis. Um automóvel bem velhinho veio rolando até onde eu estava. Dei o endereço do meu tio
Afrânio irmão de meu pai, onde me hospedaria a principio e então resolvi relaxar e curtir a paisagem.

Não sou muito boa de memória, mas estava conseguindo identificar e relembrar cada ponto de Silvéster. A
pracinha central era onde tia Guida, mulher de meu tio sempre vinha me trazer para brincar com a prima
Silvinha, nós temos a mesma idade. Aquela sorveteria da esquina servia uma deliciosa casquinha de Papaya
com Cassis, não encontrei nenhum igual em São Paulo. Lembro que gastei minha mesada toda das férias ali.
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Lá adiante vi um pedaço do Rio Silvester. Meu primo Marcelo, três anos mais velho que eu, caiu
acidentalmente e foi salvo por uns meninos mais velhos que estavam por ali. Depois disso tia Guida nem
deixava a gente chegar perto da água se nao fosse chuveiro elétrico. Não pensei que ia gostar tanto de rever
Silvéster. É talvez um pouco de contato maior com minha família me faça bem.

Quando o taxista foi se aproximando da rua de trás da igrejinha de nossa senhora do Carmo, onde morava tio
Afrânio, senti um nó na minha garganta. Ali realmente o tempo parecia não passar. Exceto pela pintura e
restauração da casa. De resto tudo era igual. Os mesmos pedregulhos na calçada, a luminária quebrada em
frente à casinha rosa. Pelo retrovisor, dei um olhada no motorista. Eu tinha quase certeza que era o mesmo
senhor que me trouxe da outra vez.

-- Desculpe a curiosidade, mas há muito tempo que o senhor é taxista?

-- Quarenta anos.

Assenti com a cabeça, ele me deu um sorriso e o retribui. Após pagar a corrida ainda me ajudou a descer
com as malas. Já passava das três e meia da tarde. Um cheiro gostoso de comida brincou com as minhas
narinas e reconheci o aroma dos famosos bolinhos de chuva de tia Junia, tia do tio Afrânio e do meu pai. Com
três palmas secas, anunciei minha chegada. Cheguei até lembrar uma canção antiga do Roberto Carlos, era
mais ou menos assim:

Eu voltei, agora pra ficar,


Porque aqui, aqui é o meu lugar
Eu voltei, pras coisas que eu deixei,
Eu voltei, eu voltei

- Tia! Eu cheguei!

Um cachorrinho vira lata, todo marrom veio brincar comigo na beirada do portão. Não era possível. Será
aquele o mesmo cachorro que eu e Silvinha recolhemos da rua? Qual era o mesmo o nome dele? Batata!
Não, devia ser algum filhotinho dele. Essa era a única explicação. Em passos lentos, ouviu um barulho de
molho de chaves na porta.

Fui abrindo a porta devagar,


Mas deixei a luz entrar primeiro
Todo meu passado iluminei,

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

E entrei
Meu retrato ainda na parede,
Meio amarelado pelo tempo
Como a perguntar por onde andei,
E eu falei

Meu Deus! A própria Tia Junia veio me abrir a porta. Como estava velhinha. Os cabelos com mãos e mais de
mãos de tinta branca. Seus olhos envoltos em uma névoa. Ela que era tão alta na minha infância hoje é
corcunda e menor que eu. Ali também estavam os óculos de armação grossa e seu inseparável avental de
cozinha.

- Meu Deus, é você, você! Minha Quequinha!

- Tia!

Onde andei!
Não deu para ficar
Porque aqui!
Aqui é meu lugar
Eu voltei!
Pr'as coisas que eu deixei
Eu voltei!...

Ela desceu dois degraus da pequena escadaria e eu subi dois. Nós encontramos nomeio do caminho. Não
tenho palavras para descrever como soou familiar aquele abraço. Ao lhe dar dois beijinhos no rosto senti
aquele macio de sua pele que parecia ser feita de algodão doce.

- Mas como você cresceu menina! – Como todo tia que se preze me deu aquele apertão esticador de
bochechas. – Minha Quequinha, lembra que a tia te chamava assim?

- É?

- É... Quequinha da titia... Vamos entrando.

Enfiei as alças da minha bagagem nos ombro e entrei. Os móveis estavam em ordens um pouco diferentes,
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mas nada que eu não reconhecesse. Em uma das paredes um mural cercado de fotos de família.

-- Olha aqui, você...

Aquela foto era bem antiga, eu devia ter meses. Eu estava ali, sobre uma cama, cochilando preguiçosamente.
Meus pais nunca tinham me mostrado aquela foto na vida. Essa distância tinha que acabar uma hora.

- Esse aqui você sabe quem é, não sabe?

E me mostrou uma foto preta e branca de um barbudo de boina. Não fazia a mínima ideia de quem se tratava.
Minha memória era péssima.

- Che Guevara?

- Quequinha, é seu primo Zano!.

Pra mim era o Che Guevara.

-- O primo Zano? Nossa...

Meu Deus, não fazia ideia quem era esse primo, mas não queria decepcionar tia Junia. Ela me deu um sorriso
terno. Animada com a sessão nostalgia vi uma foto de um sujeito meio aloirado de olhos claros, não tive
duvida.

- E esse tia, é que primo? – Coloquei a foto na altura do meu rosto. – Temos os mesmos olhos. Puxei a ele.

- Não filha, esse foi presidente da república. Médici, quando era mais jovem. Sem vergonha. – Alice chutou e
pra fora, como sempre. - Seu tio que guardava foto desse porqueira. Deixa isso ai, vem comer bolinho de
chuva!

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Quando dei por mim, já passava das seis da tarde. Tia Junia me perguntava sobre parentes que eu não
lembrava e lhe perguntei sobre primas que ela disse não reconhecer. Talvez fosse a idade. Achei estranho só
estar ela em casa.

- E os outros tios, não moram mais aqui? Cade o tio Afrânio?

- Seus tios compraram um casarão lá no centro tão todos lá. Já tão cheio de netinhos. E você, e os
namorados?

Não é possível. Se existisse uma escala de perguntas constrangedoras em família “E os namorados?” devia
estar em primeiro lugar. É mal de tia velha perguntar isso? Perguntar das minhas contas ninguém quer.

- Indo... – Respondi com um sorriso amarelo. Por outro lado era até bom sinal ela ter perguntado. Significava
que não tinham visto o vídeo. Pelo menos espero. – O bolinho esta uma delícia tia.

- Quer mais um bolinho, Quequinha?

Fiz um gesto negativo. Estranho. Não me lembro dessa mulher me chamando de Quequinha. Que esquisito!
Ainda mais a tia Junia que era tão ranzinza com as crianças.

- Tia, eu queria descansar um pouco. Mais tarde quero ver se bato um pouco perna para rever Silvéster.

A senhora me olhou um tanto intrigada.

- Quequinha, você vai para Silvéster?

Dessa vez a intrigada era eu. Será que tinha Junia estava variando ou algo do tipo?

- Não tia, eu estou em Silvéster. – Disse sorrindo. – Aqui é Silvéster não é?

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- Nao. - Congelei. - Silvester é a próxima cidade. Aqui é Serro Azul.

- Serro Azul?

Minha cabeça começou a girar em volta de um maldito nome: Serro Azul? Então...

- A senhora não é tia Junia?

- Tá louca garota? -Ela me respondeu subitamente. – Meu nome é Fortunata! – Ela baixou os olhos e me
encarou desconfiada. – Qual é seu nome?

Não pensei duas vezes, voei sobre minha mala e sai correndo desesperada daquela casa que eu desconhecia.
O cachorro me estranhou e ainda tentou avançar sobre mim. Não queria ficar nem mais um minuto naquela
cidade estranha cheia de gente esquisita.

- QUEQUINHA! Não quer levar bolinho?

Eu voltei!
Agora prá ficar
Porque aqui!
Aqui é meu lugar
Eu voltei pr'as coisas
Que eu deixei
Eu voltei!...

Quando cheguei na rodoviária, já passava das oito da noite. Tentei voltar a pé, mas eu era nova naquela
porcaria de cidade e me perdi umas três vezes tentando acertar o caminho. Meu celular tocou. Marquinhos.

- E ai mano, já falando caipires? – Meu amigo perguntou propositalmente puxando o R para me provocar,
mas não estava nem ai, me preocupava muito mais em como chegar em Silvéster. - Allie?

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- Marquinhos, aconteceu uma coisa aqui. Eu estou meio ocupada aqui, depois eu te ligo.

- O que foi, Allie? Vou ficar preocupado.

Ao começar destrinchar a história toda, meu amigo dava gargalhadas aos montes. Ainda fez questão colocar
no viva voz para Lia e Renatinha participarem da minha mais nova “aventura” através de conferência.

- Pede pra dormir na tia Fortunata, Quequinha!

- Alice, puta que o pariu! Alzheimer aos 26 anos é a primeira vez que eu vejo. – Lia era outra que chorava de
rir. - Pelo menos pegou bolinho de chuva pra levar ate a rodoviária?

- Não tem graça, bando de palhaço. Não encontrei passagem para Silvéster.

- Você não esta só a uma hora de Silvéster? – Renatinha me questionou. – Por que você não vai de táxi ou
aluga um carro?

- Renatinha, te amo! – Bestamente esqueci do táxi que peguei para ir até a casa da tia errada e nem pensei
nisso. – Quando casar o Marquinhos é todo seu!

E desliguei já correndo para o ponto dos táxis. Felizmente havia um ainda. Enquanto eu metia a mão em uma
maçaneta, uma outra mulher já entrou dando seu destino. Porcaria! E lá se foi mais de meia hora e nada de
aparecer outro veículo para me levar. Fui até um guardinha e pedi informação sobre aluguel de carros.

- Não moça, só tem aluguel de carros na outra cidade que lá é maior que aqui.

- Que cidade?

- A senhora conhece Silvéster?

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Achei que um dia conheci. Não era possível que tudo dava errado para mim. Devo ter dançando o pagodinho
da Amarelinha com os doze apóstolos em cima da mesa da Santa Ceia. Não é possível.

- Ja tentou carona no fretado?

-Como assim?

- Silvéster tem muita republica de estudante por causa das faculdades e passa uns ônibus fretados aqui na
estrada. As vezes alguma para e da carona para a moça.

Bom pior que tá não fica, não é mesmo?

Em dez minutos achei a estrada. O guardinha só não me disse o quanto era escuro e deserto. Quer saber, do
jeito que eu ando mais fácil eu assaltar alguém do que ser assaltada. A ultima que veio abusar de mim acabou
pelada no meio da rua. Tentei parar dois ônibus, mas eles vinham em um velocidade tão grande que pareciam
até não me enxergar. Para ajudar, começou a chover e umas vacas que estavam pastando do outro lado da
estrada acharam de passar bem onde eu estava. Uma delas achou de ficar parada bem ao meu lado. O rabo
da vaca batia na perna e dava cosquinhas. Me afeiçoei a ela.

- Ai Renatinha será que não vai passar ninguém para me tirar daqui? - Não resisti e batizei com o nome da
minha amiga. - Eu estou com medo de ficar sozinha.

Renatinha mugiu como se eu pudesse entender o que ela estava dizendo.

-- Obrigada Renatinha, nunca vou esquecer disso.

Um barulho de motor veio da estrada. Acho que nunca vou esquecer aquela cena de tão em choque que
fiquei na hora. Renatinha achou de atravessar logo quando uma caminhonete preta, tipo Hylux ia passar. Foi
tudo muito rápido. O motorista, tentando desviar de Renatinha jogou com tudo a caminhonete para o outro
lado e acabou que o carro girou. Escapou da pista.

Capotou uma, duas e parou na terceira vez. Atravessei correndo e fui ver o carro. Estava de cabeça para
baixo. Ouvi alguns gritos de criança. Um garoto de uns nove anos se debatia dento do carro. Impulsivamente
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corri até ele e o ajudei a sair pela janela. Ele estava com alguns hematomas da batida, mas pelo jeito nada
grave.

- Mi- minha...

Ele tentou se levantar para correr. Não deixei. Com dificuldade e tremendo de frio e medo, corri de volta para
o carro. Encontrei a pessoa de quem ele devia estar se referindo. Uma mulher de uns 32 anos. Não consegui
ver seu rosto por inteiro, pois o cabelo estava na frente. A mulher desacordada presa no cinto. Me estiquei
toda e finalmente consegui desplugar o cinto da fivela. Aos poucos puxei a mulher para fora do carro. Como
médica, sei que não deveria ter mexido, mas a qualquer momento ela poderia explodir junto com o motor. Ela
era maior e mais forte que eu o que me dificultava. O menininho veio me ajudar.

- Garoto, você esta machucado e...

- Não, eu estou bem... A minha...

- Eu não conheço nada aqui... – O garoto era minha única salvação. - Você sabe o número de algum hospital
aqui por perto?

- Sei, minha tia trabalha lá.

Joguei meu celular nas maos dele e em poucos segundos o garoto parecia desenrolar uma ambulância ou algo
do tipo. Enquanto ele lidava com o socorro, corri até minha bolsa, tirei uma camisa velha e limpei o sangue
que escorria de sua cabeça.

- Eu não devia ter tirado você dali.

O garoto já estava junto de nós duas. Só foi dizer isso para o carro dela pegar fogo. Alguma coisa estava
vazando. A qualquer hora ia explodir. Só tive ação de puxar o garoto para perto de mim e nós dois cobrimos
ela. Ao levantar a cabeça, notei que estávamos salvos do fogo que logo seria controlado pela chuva.

- Será que ela vai acordar?

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Só então parei para olhar em seu rosto. Sabe aquelas crianças de novela? Ele era lindo. Parecia ser simpático
e muito bem articulado. Fora que tinha alguma coisa familiar nele.

- Ela desacordou com a pancada, mas vamos fazer de tudo para ela voltar. Eu vou cuidar dela. - Peguei em
sua mão e ele me deu um sorriso agradecido. – Qual é o nome da mamãe?

Ele me olhou um tanto confuso e por fim disse.

- Ela não é minha mãe. É minha tia Nat.

- Vamos ver... – Delicadamente me aproximei do ouvido dela. - Nat, Nat... Esta me ouvindo Nat?

Ainda com os olhos fechados ela parecia murmurar alguma coisa para nossa felicidade.

- Viu, a gente vai fazer os exames e vamos cuidar dela direitinho. A ambulância já esta vindo?

- Não, eu fiz melhor.

- O que você fez?

Não deu tempo de responder, fomos interrompidos pelo barulho estrondoso que vinha do céu. Ao olhar para
cima me deparei com um “helicóptero Pronto-Socorro” com o logotipo do hospital Alonso Franco estampado
em uma das portas. Eu fiquei quase duas horas sair daquele fim de mundo de carona e em três minutos o
garoto me arranjou um helicoptero. Assumo, ele sambou na minha cara de salto 15.

- Ah, falei que fiz melhor! Eles chegaram.

Enquanto o menininho fazia sinais com as mãos, senti algo subir pelo meu dedo mindinho. Achando que era
algum bicho de mato, dei um grito e puxei minha mão. Só então notei que a mulher calmamente abria os olhos.
Seus dedos haviam procurado os meus.
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- Nat? – Questionei um tanto temerosa. - Tudo bem?

Ela abriu e fechou os olhos dando a entender que podia me interpretar perfeitamente. Deixei minha mão
escorregar e novamente seus dedos encostaram-se aos meus.

End Notes:

Inté o próximo capítulo!

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Capítulo 4 by Tamaracae

Author's Notes:

Boa leitura!!! Obrigada pelo carinho nos comentários

Capítulo 4

O toque da ponta dos seus dedos era de uma suavidade sem tamanho. Bom sinal ela ter conseguido mexer as
próprias mãos. Sua sensibilidade pelo que eu tinha visto não corria riscos. Estranho. Ao encarar aqueles olhos
castanhos da mulher que estava deitada sobre o gramado, novamente voltei a pensar em mudança e conclui:
Não tem importância se sou do time dos que tem medo de mudar, ou tem medo que as coisas nunca mudem.
Elas nunca serão as mesmas de qualquer maneira, pouco importando se tenho medo ou não. Simplesmente
acontecem. Nat parecia ter “acontecido” na minha vida. E eu na vida dela.

- Nat, você consegue falar?

- Natália. – Calmamente ela me respondeu. – Meu nome é Natália.

Não pude deixar de sorrir. Criatura mais marrenta. Eu toda preocupada com seu estado de saúde e ela ainda
tinha cabeça para me corrigir. Natália devia ser alguém muito reservada e Nat só usava para amigos íntimos.
Metida!

-Natália, seu sobrinho já chamou o socorro. Eles estão vindo.

Não me enganei com o garoto. Assim que o helicóptero conseguiu pousar, ele correu de encontro aos
paramédicos que vinham com a maca e os primeiros socorros. Do helicóptero desceu também uma mulher
toda de branco, negra e gordinha. Ela devia ter um metro e meio, mas o olhar era desses sargentões de
exercito que metiam medo em todos os soldados. O mais engraçado era que ela tinha uma bunda grande,
meio tanajura e andava toda se arrastando. O garotinho foi correndo ao seu encontro, ela parecia
preocupada.

- João, você esta bem, o que aconteceu?

- A moça estava na pista, ela viu tudo e me ajudou a socorrer a tia Nat. Ela vai ficar bem, não vai?
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- Ok, já fez sua boa ação de hoje. – A gordinha deu um chamado a um rapaz também de branco. – Examine
o João.

A cara de João não foi nada boa. Ele estava adorando brincar de ser o doutor.

-- Mas tia...

A gordinha meteu as mãos na cintura e fez uma carranca que até eu a obedeceria. Por fim João acabou indo
ser examinado pelo tal médico. Um dos paramédicos terminava de colocar o colar cervical em Natália. Eu
voltei a prestar atenção nela. Apesar de parecer bem e ser até um pouco grosseira, eu tinha que fazer um
exame neurológico de praxe. Voltei a me agachar próximo a eles.

- Natália, eu preciso te fazer umas perguntas.

- Estou meio ocupada para responder agora. – Pela força do coice deve ter a marca da ferradura na minha
cara até hoje. – Cade o João?

Meu juramento médico a impedia de mandá-la para o quinto dos infernos e falar meia dúzia de palavrões pela
grosseria. Era a minha real vontade. Salvei a vida da mulher, custava ela colaborar? Apenas procurei
paciência e voltei a perguntar.

- Você pode me dizer qual seu nome completo?

- Natália Fran e... Que isso importa agora?. – Contrariada me respondeu. – Cadê o João?

- Que dia é hoje?

- Por que você não olha no calendário? – Ela me rebateu. - Cadê o João?

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Não aconteceu nada com sua cabeça no acidente de tão dura que era. Mulherzinha chata. Mulherzinha é
bondade minha, porque de mulherzinha ela não era nada. O que tinha de mala tinha de bonita. Negra, cabelos
naturalmente ondulados batendo nos ombros. Os olhos cor de café e as feições que tinham algo de felina
arisca. Usava um terninho desses sociais que realçava ainda mais sua beleza e uma calça preta que salientava
as pernas bem feitas e o quadril bem desenhado. Não era possível. A mexicana despertou a Cássia Eller que
eu guardava dentro de mim mesmo. A mulher sofreu um acidente e eu de olho em suas pernas.

A sargentão tanajura veio até nós duas.

- O que esta acontecendo?

- Estou tentando fazer um exame neurológico, mas preciso da cooperação da paciente.

Ela me encarou desconfiada. Isso que dá, aparento menos de idade que realmente tenho. A maioria das
mulheres ficariam felizes com isso. Na profissão que estou, quanto mais novinha mais aspira desconfiança.

- Você é o que?

- Médica. – Estendi a mão e me apresentei. – Alice Castro.

Minha mão ficou mais no ar do que balão cheio de gás hélio. Rejeitada pela gordinha tanajura. Calmamente
ela se aproximou da minha paciente que de paciente não tinha absolutamente nada e perguntou.

- Natália, que dia é hoje?

- 28 de fevereiro de 2012.

Não acredito. A vaca respondeu de má vontade, mas respondeu. Pra que ela seria pratica comigo se podia
complicar as coisas não é mesmo?

- Que cidade você vive?

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- Silvéster.

Silvéster. Olha o tipo de vizinhas que eu estava arranjando. Ótimo!

- Qual o nome do presidente do Brasil?

- Dilma Rousseff. Eu tenho 32 anos, faço 33 dia 29 de março. Tenho 1,73 de altura, 63 quilos. Calço 37,
visto 38 e a cor da minha calcinha é branca. Será que agora vocês acreditam que eu estou consciente?

A gordinha apenas fez um gesto de censura sorrindo meio de lado.

- O que aconteceu com você no carro?

- Eu estava voltando com o João para Silvéster e do nada surgiu essa vaca no meio da estrada.

- Eu só queria chegar em Silvéster. Nao precisa ofender. Desci na cidade errada, não tinha mais ônibus e...

- Suponho que ela esta falando da outra vaca, doutora.

A sargentão tanajura arrancava mais gargalhas de Natália as minhas custas. Eu estava sobrando, não tinha
nada para fazer ali, fui dar uma olhada em João.

- E ai amiguinho? Alguma coisa grave?

Me agachei até altura dele para poder encará-lo.

- Não. Só esse corte aqui. – E me mostrou um pequeno corte próximo ao pulso que já tinha levado pontos. –
Vai ficar cicatriz?
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Eu tinha uma cicatriz de pontos por causa de um pequeno acidente de carro com meu pai. Devia ter a idade
dele, o carro de trás colidiu com o nosso. Apesar de estar com o cinto, bati a cabeça no painel do veículo.
Ergui minha franja e mostrei a ele um pequeno corte que ficava próximo a raiz dos meus cabelos, quase
imperceptível.

- Acidente de carro. Na escola todo mundo vai invejar que eu tenho cicatriz. Eu menti para minhas colegas
que foi caindo a cavalo. Que ele estava muito bravo e meu pai pediu para eu domar. - Nos dois rimos.- Tinha
que ver a cara delas. Todo mundo morto de inveja.

Ele me encarou de um jeito meio divertido.

- Se eu falar que foi andando de moto você confirma?

Dei um sorriso e fiz um gesto afirmativo. Ele era familiar, mas não lembrava Natália.

- So se voce disser que era eu que estava na sua garupa. Seu nome e João, ne?

- Meu nome é João!

- Alice, prazer!

E assim conquistei meu segundo amigo na minha nova cidade. Natália já havia sido removida para dentro do
helicóptero. A polícia chegava para ouvir o relato sobre o acidente. Enquanto isso eu conversava com João.
Era muito esperto mesmo e simpático. Descobri que tinha 10 anos, estava na quarta série, era muito tagarela e
gostava de medicina. Com certeza não puxou a titia no quesito simpatia.

- João, nós vamos levantar vôo.

A sargentão já estava se preparando para entrar no helicóptero e fez um sinal para ele vir. Dei um beijo em
seu rosto.

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- Vai lá e cuida da titia direitinho.

- Você não vai com a gente?

- Melhor não. Sua tia não gostou de mim.

- Por favor... Eu tenho medo de altura.

Quando olhei para sua carinha, percebi que estava mentindo. Não era seu perfil ter medo de altura.

- João, é mentira sua...

- É... – Ele confirmou. – Mas eu finjo que tenho medo pra você ir segurando minha mão.

E quando vi João me puxava decidido para dentro do helicóptero com minha bagagem e tudo.

A viagem foi feita em poucos minutos. A maioria do tempo João conversava com a tia, mas não soltou a
minha mão. Apesar dela ser grosseira comigo e com os paramédicos, percebi que ela tinha um carinho
enorme pelo garoto. Carinho de mãe. O nome da sargentão tanajura era Heloíza Duarte, mas todos a
chamavam de Duarte. Ela trabalhava como residente no hospital Alonso Franco. Logo pousamos no heliponto
do hospital e finalmente eu pisava em solo ‘silvésteriano.”

Sabe aquelas cidades cenográficas de interior de novela das seis que aparece na Globo toda bonitinha e bem
pintada? Esqueçam. Silvéster não tinha nada daquilo apesar de inegavelmente ser interiorana.

A primeira coisa que me surpreendeu, essa positivamente foi o hospital. Eles ofereciam um cuidado enorme
aos seus pacientes. Os funcionários e alunos recém saídos do curso de medicina e enfermagem que queriam
aprender também estavam bem servidos de equipamentos de ultima geração e boa infra estrutura para
trabalhar.

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A verdade é que aceitei o trabalho e viajei para Silvéster as cegas de tão desesperada que fiquei para me
livrar da situação que estava. Não pesquisei nada sobre a cidade. Se tivesse pesquisado saberia que a cidade
esta entre uma das que mais investem em saúde no país e a primeira no estado de São Paulo. Silvester ficava
entre duas das estradas mais perigosas do país, fora o grande numero de fazendas que a cercavam. Isso quer
dizer além de receber um numero alto de acidentes de trânsito ainda tinha que prevenir e remediar
trabalhadores rurais. Ainda havia os estudantes da republica que freqüentavam a faculdade local, superlotando
o lugarejo. E eu na minha ignorância de bicho urbanóide acreditei que encontraria uma estrutura típica de
postinho de saúde misturado com cenário de novela das seis.

- Bom, esta todo mundo entregue. Será que estou liberada para ir?

João havia sido encaminhado para pediatria a pedido da tia para fazer exames mais detalhistas enquanto
Natália era acomodada em um dos quartos. Duarte abriu a boca para me liberar, mas foi cortada por Natália.

- Espera doutora, é assim que você age nas suas consultas?

- Assim como?

- Abandona seu paciente no meio da consulta? – Ela me perguntou de um jeito provocativo. – Qual é a sua
recomendação para o meu caso?

Palhaca! Primeiro me tratou pior que cachorro, agora duvidava que eu fosse capaz de fazer um atendimento.
Minha vontade era mandar botar cianureto ou outro veneno poderoso em seu soro.

- O que foi doutora? – Ela me perguntou. – Ser namorada de modelo e depois pagar mico no Youtube leva
tanto seu tempo que não consegue mais se dedicar a medicina?

Não acredito que ela tocou nesse assunto. Porcaria de globalização Como eu poderia ter sossego se internet
existia em todo lugar? Será que tem alguma clínica médica precisando de gente para trabalhar no Alaska? Se
bem do jeito que eu sou é capaz de ser reconhecida por algum eskimó que viu o meu filme com a mexicana.
Droga!

- Você deve ser levada para fazer uma tomografia cerebral e tirar um raio X do seu tórax apesar de
aparentemente estar bem... Agora se me permite, posso fazer uma pergunta?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- A vontade.

Fiz uma pausa e usei o tom mais profissional possível.

- Você já era insuportável assim antes de bater a cabeça?

Dessa vez Duarte lançou um olhar um tanto divertido para mim, senti que ganhei respeito. Natália parecia uma
garota de dez anos contrariada, mesmo assim continuei a falar.

- Se for o caso, recomendo aulas intensivas de boas maneiras e principalmente um cursinho de como se deve
agradecer alguém que acabou de arriscar a própria vida para salvar a sua. -Outra pausa. - Sobre minha vida
pessoal, ela não lhe diz respeito, por isso me abstenho de responder. – Me virei para Duarte. – O caso é todo
seu.

E sai daquele porcaria de quarto. Ninguém mandou aquela papuda vir falar o que quer comigo. Já estava
cansada, viajei sei lá quantas horas, achei a tia errada, ela quase matou a Renatinha na estrada e ainda veio
fazer pose de gostosona? Tá ela podia ser gostosona, mas não podia ser educada uma vez na maldita da vida
dela? Já estava de saída quando vi meu amiguinho João. Eu tinha que dar um beijo nele.

- Eu já to indo para casa.

- Já? – Achei que ele ia ficar mais horas em observação, mas pelo visto estava bem mesmo. Só algumas
escoriações. – E vai me deixar sozinha nessa cidade estranha?

- Você é bem gatinha, mas tenho lição de casa para fazer... - Ele me disse de um jeito charmoso. Eu tinha
certeza que eu conhecia aqueles seus trejeitos. – Você vai ficar na casa de quem?

- Do meu tio Afrânio.

- Legal, você é sobrinha do prefeito Afrânio Castro?

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Por essa nem eu esperava. Tanto tempo sem ver tio Afrânio. Meu pai que acertou minha vinda para Silvéster.
Na ultima vez que vi meu tio eu tinha apenas seis anos.

- É do prefeito. – Respondi ainda confusa com as informações, mas não queria deixar transparecer que era
uma tapada completa. – Bom, será que a gente se vê por ai?

- Se você é sobrinha do prefeito, com certeza. Bom, eu tenho que ir. – Me deu outro beijo no rosto. – Tchau!

- Tchau!

Quando eu era criança, Silvéster não passava de um pequeno lugarejo com seu comérciozinho local e diversas
fazendas e chácaras em volta. Pela janela do táxi pude ver que a administração de meu tio tinha feito muito
bem para a cidade. Não podia ser grande como Campinas, Ribeirão Preto ou São José dos Campos, mas
tinha lá o seu progresso. Muitos barzinhos e muitos, mas muitos jovens. Os tais estudantes da republica
espalhados pelas ladeiras do centro da cidade. Um dos points era a quadra poliesportiva municipal que ficava
ao lado de um pista de skate. Pelo que o taxista falou, a casa do meu tio não era muito longe.

Depois que desci do táxi entendi que a “casa” era eufemismo do taxista e de tio Afrânio. Localizada no alto de
uma das ladeiras, a construção era uma mansão de dois andares que devia ter uns dez quartos e caber mais
de quinze apartamentos iguais ao que eu alugava em São Paulo. Fora toda área de lazer com direito a uma
piscina enorme. Meus pais são classe média. Nasci do lado de cá dos trilhos, não podia falar que tive uma
infância pobre ou nada disso. Na verdade minha família devia ser classificada como burguesa. Agora uma
casa daquelas só vi mesmo em cinema. Até me senti envergonhada de entrar na sala no estado que eu estava,
toda cheia de lama e molhada por causa da chuva que tomei para tirar a dondoca do carro. A primeira pessoa
que me viu, minha prima Silvinha, pouco se importou se eu parecia ter saído de um chiqueiro.

-- ALICEEEEEEEE! - Me agarrou com força. - QUE SAUDADE!

Eu adorava Silvinha apesar de tanto tempo longe dela. Minha prima tinha se transformado em uma mulher
bonitona e simpática apesar de manter a mesma cara de menina. Gostei de receber aquele abraço. Silvinha
era alguns meses mais nova que eu, seria legal ter alguém da minha idade por perto. E como toda boa
jornalista, profissão que escolheu para o desespero de meu tio, era bem falante e sempre tinha assunto novo.

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Como eu disse, alguém legal de se ter por perto.

- Vinte anos!

Tia Guida era conhecida como uma anfitriã de primeira, esperava algo caprichado, mas não tão caloroso
como foi. Só primo Marcelo que não morava mais em Silvéster e sim com a esposa em Brasília que não
compareceu no jantar que fizeram para mim. De resto estavam todos ali. Tia Guida, tio Afrânio, tia Junia,
Silvinha com Anderson, seu namorado. Muito gostosa comida e a recepção. Após esperarem eu sair do
banho, jantamos. Há muito tempo eu não sabia o que era refeição em família. Ninguém tocou no vídeo e
aquele noite senti que finalmente estava tomando algum rumo na vida.

No dia seguinte acordei cedo. Silvinha prometeu passear comigo assim que acabássemos o café e eu estava lá
a espera dela. Vinte anos sem se ver, mas a simpatia da minha prima parecia fazer que era só vinte minutos.
Em menos de quatro horas voltávamos a ser melhores amigas quando como éramos crianças. De tarde ela
veio trazer meu lanche no quarto pessoalmente.

- Olha, eu vou acostumar com essa mordomia toda. – Comentei enquanto mordia um pedaço de bolinho de
chuva que queimou minha boca. – AIIIIII.

- Cuidado, esta quente! – Jura, Silvinha? - Alice, você é a mesma trapalhona de sempre. – E me jogou um
pano de prato na cara. Pelo jeito estava arrumando uma substituta para as sutilezas do Marquinhos. – Vem
cá, vê uma roupa bem legal que a gente vai sair a noite. Bem gatinha que hoje eu quero companhia...

- Você que me dá o negócio fervendo e a culpa é minha? - “ Eu quero companhia” dá onde ela estava
tirando tanto fogo da caçarola se ela estava namorando? – E o Anderson?

Silvinha deu uma risada.

- O Anderson é outra história. Só para papai ficar feliz!

- Como assim Silvinha?


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Conheço aquela garota, pela cara dela estava aprontando uma das grandes e doida para me contar. Eu disse
que Silvinha tem uma lingua que não cabe na boca.

- Alice, teu gaydar esta desligado?

- Ãh?

- Ãh?! – A bestalhona da minha prima imitava minha boca aberta. – O Anderson não é meu namorado. A
gente só... Encena para o meu pai... Você sabe, meu pai é legal, mas só pensa em política. Não ia aceitar
assim que nem o teu pai...

- Silvinha, você é bonita, divertida, inteligente, encenar pra que? – Inocentemente perguntei. – Você pode
arranjar um namorado legal de verdade... - Silvinha deu uma risada. - Que foi?

- Eu sou bi, sua burra!

Eu vivia com héteros demais em São Paulo, para mim as coisas tinham que ser desenhadas.

- Bi o que? Bipolar, Biscate, Bicampeã Paulista... Bi...

- Sexual... - Minha prima falou com a boca cheia.

E ainda riu da minha cara de pamonha. Ela era tão feminina, tão mulher e... E eu que sou uma idiota mesmo
achando que toda mulher que é gay ou bissexual precisa andar feito um caminhoneiro. Silvinha bisexual. Na
infância eu lembro que a gente sempre brigava para ver quem era o “papai” quando ia brincar de casinha, mas
por essa não esperava.

- VOCÊ É BI?

Sem querer meu tom de voz saiu alto. Acho que me ouviram lá em São Paulo.
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- Fala mais alto que meu pai não escutou lá da prefeitura Alice! E que cara de surpresa é essa? – Minha prima
me olhou em um tom sério e disse preocupada. – Allie, você acha que eu estou te paquerando?

- Que nojo, a gente é praticamente irmã!

- Eca, Allie! Credo... Isso é blasfemia...

Dessa vez eu que ri. Nojento mesmo! Argh... Eu vi ela de fraldas. Ela me encarou com um olhar curioso
enquanto eu ainda ria pela surpresa.

- Que foi?

- Você é bi!

- Você não é?

Pronto, a filha da mãe me pegou. Era? Não sabia responder. Depois que fiquei com a mexicana, me deu muita
raiva dela. Mas por outro lado me senti liberta. E às vezes me pegava sonhando com o vídeo do elevador. O
beijo dela no meu pescoço. Os lábios encontrando com os meus no salão. As mãos dela passeando pelo meu
corpo e as minhas pelo seu corpo. Instintivamente toquei meus lábios com os dedos.

- Que foi? – Minha prima perguntou. A cara de pau me conhecia direitinho. – Lembrou da tua morena?

E mais uma vez protagonizei uma videocassetada. Na hora minha xícara de chá caiu molhando todo meu colo
e a cama do quarto de hóspedes. Fui me levantar e derrubei toda a bandeja com bolachas, pães, leite,
chocolate e tudo mais no colchão. Que diabos que esse povo inventou que morena é minha agora? Silvinha se
contorcia de tantas gargalhadas.

- Ui, assim você me mata! Quando você me ver... Eu deixo acender, outra vez aquela chama... – Silvinha
cantarolou o comecinho de Sinais de Fogo para me provocar. - Ela que te deixa assim? É tão boa ? Olha,
você esta até vermelha! Não quer conversar, não? Quem é ela? Me conta! Nem da pra ver o rosto dela no

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vídeo... Como ela é?

- Silvinha!

- O que?

- Respira! - Dessa vez rimos juntas. - Ai, ela é o que você viu. A morena do elevador. – Respondi fingindo
estar com raiva da minha prima. Mas na verdade a raiva maior era de mim que nem o nome dela sabia. –
Satisfeita?

- Alice, quem é ela?

- Você vai me deixar em paz se eu me negar a falar?

Sorridente ela fez um sinal de negativo que não agüentei e ri. Contei toda a história, desde o término com meu
noivo até o momento que decidi me mudar para Silvéster.

- E foi isso! Entendeu porque não suporto falar nela?

- Não. Por causa dela você tem uma nova casa, um novo emprego e esta mais próxima da sua família.

- E qual é a sugestão, que eu mande flores em agradecimento por ela ter me drogado?

- Não. Me mande para ela. Nua! – Dei uma gargalhada de sua deslavada cara de pau. – Se você não quer...

A ultima frase me deu um certo incomodo.

- Esse é o problema. Você quer...

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- Silvinha, não tem o que fazer não?

- Tenho. Assim que sair daqui vou bater uma matéria e mandar para meu editor. – Levantou da cama. – Mas
antes, preciso saber, você vai sair comigo e com o Anderson hoje?

-Pra que?

- Conhecer pessoas... Você não conhece ninguém na cidade.

Ahaaa! Peguei ela!

- Conheci sim. Insuportável por sinal, mas conheci.

- De quem você esta falando?

- Sabe a médica que se acidentou que eu te contei ontem? O nome dela é Natália. Acho que vai ser minha
colega de trabalho.

Minha prima me olhou de um jeito assustado como se eu tivesse acabado de dar um tapa na cara da minha
mãe. Até parou de me ajudar a juntar os "restos mortais" do meu lanche da tarde.

- Que foi?

- A Doutora Natália? Do hospital Alonso?

- É, essa nojentinha mesmo! Conheci ela e não gostei.

- Alice, você me disse ontem que chamou a médica de grossa e mal educada. Por acaso essa médica é a
Natália?- Fiz um gesto afirmativo. - Alice Castro, a Natália é...

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- Não quero saber. Não quero ouvir falar daquela mulher...

- Mas Alice...

- Eu já te falei que não quero saber, Silvinha. Por favor!

- Esta bem! – Minha prima aceitou minha decisão. – Mas você sair com a gente hoje?

Se eu dissesse que não ia adiantar?

- Vou pensar...

- Ok!

Silvinha fechou a porta e em seguida reabriu.

- Se eu te arranjar uma mexicana bem bonita, você diz que sim? - E a palhaça fechou a porta antes de eu
conseguir acertar o pano de prato que ataquei de volta na cara dela.

Quer saber de uma coisa, segunda feira vou começar a trabalhar. Eu vou! É só um passeio. O que pode ter
demais?

End Notes:

E então, o que acharam da Natália? E a Silvinha? Bjooos!

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Capítulo 5 by Tamaracae

Author's Notes:

http://www.youtube.com/watch?v=7dtfBxUTXRY&ob=av2e - Keith Urban - Long


Hot Summer

Música do capítulo

Capitulo 5

- Silvinha, você esta lembrada da minha condição, não é?

- Prima, que graça vai ter se você não beber um pouquinho? – Silvinha era enrolada, ainda não tinha decidido
que roupa iria pra tal festa. Eu já tinha me enfiado em um vestido curtinho por causa do calor e botas de cano
baixo. Silvinha terminava de se ajeitar na frente do espelho, achei melhor repassar os combinados da noite. –
Na chácara da mãe do Bruno eles tem uma pinguinha tão boa...

- Silvia, faça o juramento.

-- Mas Alice...

-- O juramento...

Meio contra sua vontade minha prima ergueu a mão direita.

- Eu juro e prometo que não vou deixar minha prima encostar em uma gota de álcool. E se ela tentar quebrar
sua promessa, eu quebro a cara dela. – Contrariada. – Satisfeita?

Vocês podem achar que é criancice minha, exagero, mas o nome disso é precaução. Aquela era apenas minha
segunda noite na cidade e eu iria conhecer pessoas novas, provavelmente futuros novos amigos e colegas. Eu

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queria ser eu mesmo, Alice. Não sou psicóloga, mas estou começando a desenvolver uma certa teoria sobre
porres e bebidas. Quando estamos de pileque, assumimos novas personalidades. De preferência
personalidades famosas. Sou prova viva disso, mas tenho outros exemplares.

Meu amigo Marquinhos é um deles. Quando estava bêbado, normalmente baixava algum desenho animado no
Marquinhos. O ultimo que lembro foi quando ele assumiu a Dory de Procurando Nemo e tentou falar
“baleiês” com uma gordinha que estava sentada ao nosso lado quando voltávamos para a casa de metrô. Nem
preciso falar que quase apanhamos da moça que se ofendeu. Renata, minha amiga de São Paulo era outra. Ela
bebia e virava a Hebe Camargo. No dia do aniversário dela fomos para o Gritz, após duas garrafas de vinha
ela já tentou dar selinho em meio bar e estava chamando todo mundo de gracinha. Lia já era mais perigosa.
Se tornava suicida. Após ter uma briga feia com o pai e mandar uma garrafa de uísque inteira para dentro,
minha amiga foi em frente a quadra da Gaviões da Fiel em Itaquera e cantava em ato e bom som: “Salve o
tricolor paulista, amado clube brasileiro...” Léo e Marquinhos tiveram que tira-la dali a força.

Obs: Caro(A) leitor(A) favor desconsiderar o teor intelectual desse parágrafo e deixo bem claro que essa não
é parte mais nobre e que temos mais orgulho de nossas vidas. Grata, Alice.

Como ia dizendo, estava com medo de beber e descer a Bruna Surfistinha feat Angela Rô Rô que veio da
ultima vez e um novo vídeo meu fosse parar na internet. Se com tequila eu já tinha feito tudo aquilo, com pinga
eu viraria atriz pornô. Decidido, não vou beber.

Quando desci já passava das dez. Anderson estava lá na sala fazendo seu papel de namoradinho-para-
mamãe-e-papai ver. Eu tinha conversado bem pouco com ele no jantar de um dia antes, mas em três minutos
de papo com ele e minha tia Guida, percebi que também era gay. Dizem que tem mãe que é cega. A minha tia
devia ser também surda e muda. O Anderson dava tanta pinta que meu gaydar tocava Bad Romance quando
falava com ele. Tia Guida adorou quando soube que íamos sair os três juntos.

-- Alice, o Anderson tem tantos amigos, você vai adorar conhecê-los. Uns meninos tão educados. – Meninos,
sacaram? Ela fez questão de frisar. Meninos, do latim: “você é hétero, minha sobrinha.” – Um mais bonito que
o outro.

Eu não sabia se era gay ou não e não pretendia tirar as duvidas aquela noite, mas fiquei incomodada com
aquele comentário. Não só por mim, mas também pela minha prima e pelo Anderson. É, acho que abracei a
causa em favor deles. Mesmo chateada, tive que me manter calada, a casa era do marido dela. Acho que já
tenho que começar a procurar algo para mim nessa cidade.

- Eu tenho certeza que ela vai adorar meus amigos, dona Guida.

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Educadamente Anderson falou e me mandou um sorriso um tanto debochado do tipo. “Tira o cavalhinho da
chuva, mona! São todos gays” e eu devolvi com um sorriso do tipo “pode ficar com eles, amiga! ” E ocupei
minha boca tomando o chá servido após o jantar. Alguns minutos depois, minha prima desceu. Silvinha,
cachorra, pegou um vestido da minha mala! Nos despedimos dos tios e fomos embora.

No carro, evidentemente o ambiente era descontraído, lá ninguém precisava usar disfarces. Foi bom ter
aceitado a cartona de Anderson, pois acabei o conhecendo melhor. Jornalista como minha prima, se
conheceram na faculdade e era dois anos mais velho que eu e Silvinha, tinha 28. Extrovertido e simpático,
sempre dava um jeito de me botar no assunto dos dois. O mais engraçado e que ele e Silvinha rivalizavam a
toda hora, mas uma rivalidade sadia de melhores amigos.

- Alice, antes da chata da sua prima entrar na faculdade, todos os homens do prédio de Jornalismo só tinham
olhos para mim! Eu era praticamente a Patrícia Poeta da faculdade!

- Re-cal-que de tia velha! – Silvinha se divertia. - Só isso que eu digo!

No banco de trás eu também ria horrores. As vezes o papo era mais sério. Eles falavam coisas de Silvéster e
eu de São Paulo, sobre meu trabalho como médica. Anderson emendava com uma piada besta e voltávamos
a rir. Agradeci silenciosamente por ter os dois por perto. Seria muito pior estar em uma cidade quase que
desconhecida para mim e sem ninguém para me fazer companhia. A conversa pulou de profissão para
relacionamentos. Os dois me confessaram que a festa que estavam indo era de um rapaz que Anderson estava
de olho, mas ele era totalmente hétero e novinho, apenas 23 anos.

- E você vai mesmo assim?

- Claro, as festas na chácara da dona Bibi são famosas. Ainda mais que ela não vai estar! – Anderson me
respondeu já pegando um caminho de estrada de terra e dando uma gargalhada. – Você vai ver...

- Quem é dona Bibi?

- Mãe do Bruno. Bruno é o hétero da nossa amiga iludida ao lado. – Silvinha me explicou. – Mas ela esta
viajando. Relaxa...

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Já vi que meu amigo Murphy dava a cara de novo. Não sou pessimista, mas tinha tudo para dar errado. Bom,
se no final da noite a mãe do tal do Bruno não chegar, mandar a policia prender todo mundo e eu terminar
meus dias detida como companheira de cela de uma presa a cara do Maguila e ser obrigada a lavar as
calcinhas dela para não apanhar, por mim tudo bem.

- Ow, esta no fantástico mundo de Alice? – Minha prima me interrompeu. – O Anderson te fez um pergunta.

- Que pergunta?

- Deixou muitas sandálias em São Paulo?

Inocentemente respondi:

- Não, elas estão vindo com a minha mudança. A Silvinha até me ofereceu uma dela emprestada, mas
calçamos números diferentes, resolvi vir de bota mesmo.

Anderson e minha prima se entreolharam de rabo de olho e deram uma senhora-gargalhada cheia-de-apetite
da minha face.

- O que foi?

- Alice, ele esta falando de outras sandálias. – Silvinha entre risos conseguiu dizer. – Sandálias do tamanho
daquela tua morena do elevador...

E mais risadas. Eu precisava tatuar na minha testa que a morena não era minha para as pessoas entenderem?

- Não! Só teve aquela sandália e ficou em São Paulo.

- Não se preocupa. – Anderson, de olho na estrada que ficava cada vez mais barrenta, me disse. – Eu tenho
certeza que nesse churrasco do Bruno vai estar cheio de sandálinhas para você. Com essa carinha...

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- O que tem minha cara?

- Ai, a modesta... – Minha prima disse revirando os olhos. -- Essa sua carinha meio nórdica, meio alemãzinha,
seu jeitinho doce... Você deve fazer muito sucesso por ai.

Dessa vez eu que ri. Eu era tão atrapalhada que acabava dando medo nas pessoas. Marquinhos vivia dizendo
que eu não era bagunceira, mas bagunçada. Qualquer coisa líquida que estivesse na minha mão caia na minha
roupa. Sem querer despenteava meu cabelo sem perceber. Saia com a bolsa aberta e nem notava. Quando
estava de óculos de grau, sempre estavam tortos, tinha uma leve gagueira quando estava nervosa ou tinha que
mentir e nunca conseguia casar os botões do jaleco com as casinhas certas de primeira. O único momento
que me dava total concentração era quando estava na mesa cirúrgica. Ali eu tinha certeza do que fazer porque
estudava muito e também porque gostava do que fazia, me sentia segura. No mais, sempre fui empurrando as
coisas com a barriga, acumulando decisões. Não lembro de ser um sucesso em lugar nenhum fora das
cirurgias.

- Quem dera... – Foi o que consegui balbuciar. - Vocês viajam...

- Ela faz sucesso e nem sabe... – Anderson garantiu a minha prima enquanto manobrava o carro na porta de
uma das chácaras. – Chegamos!

Assim que soube que íamos para um churrasco, minha cabeça logo pensou que passaria a noite toda ouvindo
pagode ou samba. Não que não goste, mas não era acostumada a ouvir. Novamente Silvéster me
surpreendia. O som que vinha daquela chácara no meio do condomínio fechado era um country sulista
americano e parecia ser tocada ao vivo.

- Nossa... Que musica é essa?

- É a banda da Castelo de Greyskull...

- Castelo de Greyskull?

- São de amigos nossos, os meninos batizaram a republica que eles moram assim. Agora que todo mundo se
formou e a maioria vai voltar pra sua cidade porque nao conseguiu passar na residência do Alonso Franco
estão fazendo esta festa de despedida. – Anderson me explicou. E me puxou pela mão. – Vem alemanzinha,
esta na hora de você finalmente conhecer Silvéster!
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Mal chegamos e diversas pessoas acenavam para nós. Silvinha ia apresentando seus amigos e amigas. Pelo
que vi minha prima tinha puxado a popularidade do pai prefeito. Não largava da minha mão e fazia questão de
dizer meu nome ás pessoas. Anderson era outro muito querido. Logo foi agarrado por umas duas meninas que
não largavam dele.

- Me solta, mulher, que nojo! Argh...

E a rodinha em volta dele morria de rir. Não tinha como não ficar a vontade naquela festa. Silvinha aos
poucos foi me explicando o que era aquela comemoração.

Bruno era veterano no curso de Medicina da faculdade e tinha se formado aquele ano como grande parte do
que estavam ali. Apesar de ser considerado um dos melhores alunos da faculdade pelo seu talento natural
para a profissão, os estudos nunca foram prioridade em sua vida. Aos 23 anos, queria mesmo era curtir as
farras próprias da idade. Apesar de estar quase escondido atrás dos pratos da bateria que tocava junto com a
banda da Castelo de Gruyskull, notei que ele era do tipo líder natural.

- Tem cara de doido...

- Mas o Brunão é um cara legal. Não se engane, as vezes se mete em uns rolos, até preso já foi, mas não fez
mal a ninguém.

- Ele foi preso? – Me surpreendi.

- Contravenções! - Minha prima explicava. - Uma vez quando foi andar de skate em Serro Azul, uma moça
foi atropelada e não a socorreram. O Bruno levou ela até o postinho de saúde. Nenhum médico estava
desocupado para atender, aquela burocracia, ele não pensou duas vezes, meteu o pé no armário e atendeu ele
mesmo. Preso por vandalizar posto de saúde. Agora essa ultima foi por causa do protesto da faculdade, mas
ele não foi o único que ficou pelado na colação.

- Ele foi na colação de grau pelado?

- Era um protesto por causa do aumento da mensalidade!

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E me contou outras histórias do dono da casa. Algumas divertidissimas eram lendas, mas que Bruno não
deixava ninguém desmentir. Gostei dele, me lembrava um pouco o jeito turrão e carinhoso do Marquinhos. A
aparência que me deixou encafifada. João, sobrinho de Natália quando tivesse uns vinte anos com certeza
seria a cara dele.

Muita gente bonita espalhada pela área externa e de lazer da casa. Bebida a vontade e carne também.
Algumas pessoas até aproveitavam a piscina. Sem duvida o tal do Bruno sabia dar uma festa. Meu único
temor era a mãe dele chegar.

- Silvinha, você não falou que era uma festa para os íntimos? – Questionei minha prima assim que tive
oportunidade. – Aqui deve ter mais de cem pessoas!

-- Não substime o Bruno. – Ela me retrucou já acenando para alguém que estava dentro da água. – Ele é
íntimo de todas essas pessoas.

Uma moça que vinha de dentro da casa apenas de shortinho e biquíni ao ver minha prima deu um gritinho.

-- Lolô?

-- SILVINHA, AMIGA!

Pronto. A tal da Lolô e minha prima engataram no maior papo. Primeiro achei que podia ser alguma ficante ou
até namorada da minha prima, mas pelo tratamento das duas logo vi que eram apenas amigas. E também Lolô
não tirava os olhos de um dos meninos que estava no palco que improvisaram para a banda country tocar.
Um era mais bonito que o outro, mas o meu interesse era no estilo de musica que tocavam. Diferente de tudo
que eu estava acostumada a ouvir.

Senti sede e fui atrás de um guaraná. Alias, quase missão impossível achar um guaraná em uma festa de
republica universitária. Após quase vinte minutos procurando, encontrei uma garrafinha enterrada no gelo de
um dos isopores de bebidas. Assim que coloquei a mão na garrafinha, uma outra mão, máscula e maior que
minha também pegou a mesma garrafa.

-- Desculpa!
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-- Pode pegar moça. – Era um rapaz de uns 20 anos, vestia se como a maioria ali, regata, bermuda e tênis.
Alto, do tipo atlético. Bonito. – Fica com essa para você.

E me olhou de um jeito meio incomodo. Não faltava mais nada. A ultima coisa que estava pensando na minha
vida era arranjar um “paquera” mais jovem. Já acho tão bobos os da minha idade, o que ia fazer com ele?
Silvinha graças a Deus chegou.

- A Lolô fala pelos cotovelos, nem vi você saindo.

- Vim pegar um guaraná.

- Oi Silvinha. – O rapaz disse e pela primeira vez. – Não vai me apresentar para sua amiga?

Garotão, com tanta mulher gatinha ai, justo eu? Minha prima deu uma risada divertida pela cara de pau dele e
então fez as vezes de anfitriã.

- Alice, esse é o Diogo. Centro avante do Silvéster Esporte Clube e Diogo, essa é Alice, minha prima.
Médica.

Eu estendi a mão esperando um aperto forte já que ele era todo parrudo. Ao invés disso, delicadamente
Diogo me puxou para dois beijinhos. Um deles quase no canto da minha boca. Sujeito afobado.

- Já fiz minha parte... Alice, tem uma amiga minha ali, eu vou conversar com ela... Se importa de ficar um
pouco na companhia do Diogo? – SIIIIIIIIIM! – Eu não demoro.

Minha prima apontou para sua amiga, eu saquei que ela ia demorar. A amiga era uma loirinha escultural que
deve ter passado umas três vezes na fila de distribuição de bunda quando Deus a fez. Silvinha, vaca, já vi que
ia levar perdido a noite toda.

- Claro, pode ir... O Diego me faz companhia.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Diogo. – Ele me corrigiu. - Artilheiro do time.

Lá foi minha prima toda serelepe com um sorriso do Oiapoque ao Chuí atrás da loira bunduda. Outro que
estava de sorriso fácil era o tal de Diogo. Anderson estava cercado de meninos do outro lado da piscina. O
jeito era conversar com o garotão até à hora dele desocupar.

Como disse, Diogo não era feio, pelo contrário, também não parecia antipático, falava até demais e nem era
bobo, tinha até uma mão espertinha. De dois em dois minutos eu tinha que tirar suas mãos das minhas pernas
para continuarmos a conversar. Aliás, um papo chato. Sabe esses playboys que só sabem falar do carro
deles, da conta bancária deles, do dinheiro do papai que eles ficam sentados esperando cair do céu? Então,
era isso o que ele tinha para falar. E o pior, agora ele achou de beber para se exibir. Em menos de quarenta
minutos fazia uma mistureba danada.

- Não quer nem um pouco de chope, gatinha?

- Não. – Acho que um limão devia estar menos azedo do que minha cara aquela hora. – Não quero!

Por outro lado, Anderson não saia de perto do grupinho. Minha prima e as amigas que ela me apresentou
também sumiram. Não ia fazer a solitária da festa. A banda tinha dado um descanso e agora tocava apenas
um cd do mesmo estilo da banda.

- Eles são bons mesmo. – Não pude deixar de comentar. – Você gosta desse tipo de musica?

- Eu gosto de funk. – Diogo querido, agora você zerou qualquer mínima chance comigo. – Quer dançar isso
ai?

E nem me deu tempo de responder. Quando vi aquela mão enorme já me puxava para o meio da pista de
dança e me levava em uma coreografia abrutalhada, forçando seu corpo pesado e suado contra o meu.
Porco! Eu tinha acabado de tomar banho! Ate saudade da mexicana eu senti. Ela nao era suada, tinha um
cheiro bem gostoso e umas mãos... Fora aquele sorriso enorme e o papo interessante, divertido. Eu me debati
tanto que sem querer acertei a barriga dele com força.

- AIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII!!!

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- Desculpa! – Apesar de chato e grosso, não era minha intenção machucar o menino. Diogo se encurvava de
dor.

- AAAAAAAAAIIIIIIIIIIIIII! Acho que eu estou passando mal...

- Calma Diogo, eu sou médica, deixa eu ver isso...

E cai na besteira de arrastar o idiota para um local mais reservado para tentar ver o que tinha acontecido. A
mais idiota ali era eu. Assim que paramos, ele me puxou em um movimento rápido e me tascou um beijo na
boca que fedia a cerveja enquanto a barba machucava minha boca. Eu tentava empurrá-lo, mas ele era muito
forte. Quando precisou de ar se separou de mim e então me perguntou.

- Gostou da brincadeira que eu fiz, lindinha?

Minha resposta foi um sonoro tabefe no rosto. Outro erro meu. Agora ele estava com raiva e parecia
perigoso. Me segurou com mais força ainda e roubou outro beijo, esse violento. Me dava ânsia encostar na
boca dele.

- Tá lutando por que gosta de mulher, né, sapatona? Vai aprender o que é homem de verdade agora.

Eu tentei gritar, mas não conseguia ser ouvida porque o som estava muito alto e estavamos praticamente atrás
do palco. Quando senti que ele já estava bem excitado, não pensei duas vezes. Com força de sei lá de onde
tirei, meti uma joelhada violenta entre suas pernas. A cara de dor daquele troglodita me fez bem. Quando eu
fui correr dele, dei um tropicão que torceu meu pé. Diogo aproveitou meu vacilo e tentou me puxar pelo
vestido. Como o tecido era muito leve e ele usou muita força acabou rasgando ao meio. E para completar
ainda tropecei em um dos fios caindo praticamente no meio da festa, chamando completamente a atenção
para minha pessoa.

O restante foi tudo muito rápido. Bruno tinha descido da bateria e lutava fisicamente contra Diogo que estava
visivelmente bêbado. Apesar de menor, o baterista o derrubou com uma cabeçada no peito, me lembrando a
final da copa do mundo de 2006. Novamente eu era o alvo de risadas, estava de calcinha e sutiã no meio de
um monte de desconhecidos. Minha prima devia estar no carro ou dentro da casa com a loirona bunduda e
Anderson também sumiu.

Não pensei duas vezes, me levantei e corri para o portão ouvindo todo o tipo de gracinhas que não é nem um
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pouco agradável ouvir em uma situação como essas. Só consegui parar quando quase derrubei uma pessoa
que acabava de entrar. Para não cairmos acabamos nos abraçando. Ao fundo ainda conseguia ouvir a música
do CD.

I can't sleep
Ain't no sleep a coming I'm just lying here thinking 'bout you
I'm in deep
Falling deep into the picture in my mind of everything we're gonna do
Over at the lake and odwn by the river you can feel it start to rise
Wanna jump in my car, go wherever you are
'Cause I need you by my side

- Você de novo?

De tão envergonhada que estava, só levantei a cabeça quando ouvi aquela voz conhecida. Lá estava ela,
Natália com aquele insuportável nariz em pé.

- O que você esta fazendo aqui?

Natália me encarou curiosa. Até eu fiquei curiosa. O que eu tinha a ver se ela foi convidada ou não para a
maldita da festa? Engraçado que quando ela chegou todo o burburinho tinha acabado como se fosse uma
diretora entrando em uma sala de aula.

It's gonna be a long hot summer


We should be together with your feet up on the dashboard now
Singing along with the radio it's such a beautiful sound
And when you say my name in the middle of the day
I swear I see the stars come out
And when you hold my hand in the back of my mind
I'm just a waiting on the sun to go down
The sun to go down

- Esta vendo aquele idiota ali sangrando? – Ela me questionou. Alguém tentava ajudar Bruno a se levantar. O
desgraçado do Diogo acertou uma garrafada nele e abriu seu supercílio. – Aquele cara que com certeza se
envolveu em uma briga por causa dos seus trajes e o meu irmão! A propósito, essa casa é dos meus pais!

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I wanna see
Your brown skin shimmer in the sun for the first time
I gotta be
The one who knows just what to do to you to get me that smile
One chance meeting you were walking by me on the street and I said hi
And that was the beginning of my heart spinning like these wheels in my head tonight

- E o que VOCÊ esta fazendo aqui?

I can't sleep
Ain't no sleep a coming I'm just lying here thinking 'bout you
I'm in deep
Falling deep into the picture in my mind of everything we're gonna do
Over at the lake and odwn by the river you can feel it start to rise
Wanna jump in my car, go wherever you are
'Cause I need you by my side

End Notes:

E ai, estão gostando?

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Capítulo 6 by Tamaracae

Author's Notes:

Boa leitura, muito feliz com o carinho pela Alice nos comentários meninas!That

http://www.youtube.com/watch?v=CTqabbIPfc0&ob=av2e

- How Deep Is Your Love Take a Thot

Essa musica originalmente foi gravada pelo grupo bee gees, mas essa versão é muito
boa tbm.

Take That - How Deep Is Your Lovepara quem gosta de música antiga, acho que
esta feita comigo

Capítulo 06

Quando eu pergunto o que mais pode acontecer de errado, Deus não interpreta como uma simples retórica,
mas sim como um desafio e capricha para eu não ter mais o que reclamar. Natália, com aquela cara de
investigadora policial querendo arrancar confissão de um suspeito, me encarava esperando por explicações.
Só fui salva por um gemido entrecortado vindo do coitado do Bruno.

- Esse pirralho só me apronta... – Natália murmurou para si mesmo felizmente me esquecia por alguns
minutos. Visivelmente sua chegada de alguma forma tinha constrangido os convidados. Com nenhuma
intenção de ser simpática, ela decidiu. – Acabou a festa! – Dessa vez o buburinho voltou. A maioria se
lamentando, mas ninguém com coragem suficiente de dizer algo frente a ela. – VOCÊS SÃO SURDOS OU
O QUE? – Ela voltou a cobrar fazendo as pessoas se mexerem. – CADA UM PARA OS RESPECTIVOS
LUGARES QUE NÃO DEVIAM TER SAÍDO! ANDEM!

Depois dessa o clima foi embora de vez. Nunca vi um lugar com mais de cem pessoas esvaziar em tão pouco
tempo. Enquanto Natália fiscalizava a saída dos visitantes, eu fui ver o estado do dono da casa. O corte não
parecia tão grave, mas com certeza teria que levar alguns pontos.

- Isso precisa ser lavado e suturado...

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- Não se incomoda comigo não. – Pela primeira vez Bruno me dirigia à palavra. Ele improvisou uma atadura
com um pano molhado. – Aquele idiota do Diogo te machucou?

Com a cabeça fiz um gesto negativo. Minha prima estava certa, Bruno devia ser boa pessoa. Mesmo ferido se
preocupou com uma desconhecida.

- Não. Desculpa... Eu não me apresentei, eu sou Alice, prima da Silvinha...

Simpático ele estendeu a mão.

- Bruno. Sua prima é uma amigona! Conheço ela desde criança.

- Bruno, você tem que fechar isso... Não é melhor ir para o hospi...

Antes que eu pudesse completar a frase, a voz firme e imperativa de Natália me cortava pelo meio.

- Ow garota, será que você ainda não ouviu que a festa acabou? Seus amiguinhos já foram! Tchau!

No quesito insuportável Natália só perdia para os Operadores de Telemarkting. Com aquela carinha feminina
dela era mais dura que um desses zagueiros brucutus. E o pior, ela parece fazer questão de ser assim. Eu
tenho certeza que ela deve treinar cada coice, cada ferroada, cada patada em casa em frente ao espelho antes
de sair de casa de manhã.

- Seu irmão precisa de um médico!

- Com esse imbecil eu me viro!

- Natália, dá um tempo! – Bruno retrucou enfurecido. Com o pano ainda no rosto se levantou da cadeira de
plástico que estava sentado. – Já não esta satisfeita em vir e estragar o meu sábado? Que inferno!

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Natália deu uma risada irônica e logo rebateu o irmão.

- Olha aqui garoto, eu tenho muito mais o que fazer do que estragar suas orgias! – Ela fez uma pausa e
continuou. - Acontece que a porcaria do sexto sentido da mamãe bateu e ela me ligou lá do Rio preocupada
com a casa dela. – A cara de Bruno não foi nada boa. Natália ainda prosseguia dando bronca como se fosse
ela a própria mãe do rapaz. – E pelo visto ela esta certa. Se eu não chego há tempo, aposto que essa ai era a
traçada da noite...

Os dois começaram um bate boca enorme. Como era assunto de família eu me afastei. Enquanto os irmãos
discutiam fui atrás de um telefone tentando encontrar Silvinha. Minha prima só foi atender depois de dez
toques.

- Allie?

- Silvinha, cadê você, saiu com o pessoal da festa? O carro do Anderson tá aqui mas não to vendo você e...

- QUE? ALLIE, FALA MAIS ALTO!

- O CARRO DO ANDER...

- O QUE?

A ligação estava horrível mesmo. O pior é que tive a infeliz ideia de deixar meus documentos, dinheiro e
celular na bolsa de Silvinha para não ir com muito tralha para dentro do churrasco. Ao fundo eu ouvia um
barulho que parecia ser uma cachoeira.

- SILVINHA, ONDE VOCÊ TÁ?

Não obtive resposta, mas ao fundo ouvi uma voz feminina chamando por minha prima toda animada.

- Vem Silvinha, não vai querer vir para hidro? Aqui tá tão quentinho...

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Não acredito que Silvinha achou um motel naquele fim de mundo. “Aqui tá tão quentinho...” Tão quentinho
que ela e aquela loira bunduda vão virar canja. Galinhas! Antes da minha prima voltar a linha, desliguei. Eu
sabia que na manhã seguinte quando ela aparecesse com aquele sorriso sem vergonha eu ia perdoá-la, mas na
hora estava com raiva. Anderson era outro que sumiu, como eu ia embora?

Aproveitando que estava na cozinha, me servi de um copo d’água. Será que um táxi não vinha me buscar? Ou
quem sabe Bruno não sabe o telefone do Anderson? Ainda estava maquinando uma maneira de como sair
daquele lugar quando percebi que a discussão dos irmãos agora estava na sala e havia mudado parcialmente o
tema.

- EU JÁ FALEI QUE TÔ LEGAL! – Bruno voltava rejeitar Natália. – EU POSSO CUIDAR DISSO
SOZINHO!

- E VOCÊ TEM OLHO NA MÃO PARA FAZER UMA SUTURA NA PRÓPRIA TESTA SOZINHO,
MOLEQUE? DEIXA DE SER IMBECIL, GAROTO!

Pelo pouco que percebi, a briga entre eles não era momentânea, com certeza a relação não era boa. Também,
acho que só Nossa Senhora deve ter saco para agüentar a chata da Natália. Ainda mais como irmã. Quando
cheguei na sala, Natália tentava em vão preparar os utensílios que usaria para fechar o corte da cabeça dele.
Assim como a irmã, Bruno também sabia ser arrogante não cedendo aos seus cuidados. Apesar de já ser
naturalmente contra Natália, tinha que admitir que nessa questão ela estava certa. Só tinha uma forma de
resolver.

- Bruno, eu sei que a gente mal se conhece, mas posso falar com você?

- Você quer alguma coisa?

Uma roupa, ganhar na mega sena, socar a idiota da sua irmã que fica me olhando com essa cara de que sou
indigente, voltar para casa, socar a cachorra da minha prima que me trocou por uma loira bunduda.

- Falar com você... Desculpa, mas eu não pude deixar de escutar vocês conversando lá fora...

- Não perca seu tempo sendo educada com ele. Eu já tentei várias vezes... – Outro corte de Natália. – Esse
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

animal não entende...

Ignoramos.

- Bruno, eu vi que você não gosta de dar trabalho para sua mãe. – Ele deu uma risada meio irônica, mas
continuei a falar. – Se você não quer dar trabalho, por que não cuida desse corte do jeito certo para ela não
ficar preocupada?

- Esse idiota gosta de aparecer...

Novamente Natália foi ignorada por mim.

- Você já um médico formado, se quiser eu posso fechar. – Ele me olhou com uma cara de ponto de
interrogação. – Eu sou médica também...

-- Veterinária? – Natália perguntou estudadamente provocando o irmão.

Bruno por fim fez um gesto afirmativo.

- Eu vou deixar fechar isso...

Natália já ia logo se retirar para lavar novamente as mãos e cuidar do ferimento, mas para meu deleite ele que
a cortou dessa vez.

- Ela vai fechar... – Bruno disse apontando com o queixo em minha direção. - Você não encosta a mão em
mim...

Não vou esconder de vocês, quase tive um orgasmo quando vi a cara de rejeição dela. A-do-rei. Enquanto
lavei as mãos e cuidei do corte, ela sumiu pela casa. O ambiente até ficou mais leve. Bruno era divertido,
esperto, engraçado e o melhor, descobri que ia ser meu colega de trabalho no hospital. Identifiquei alguns
elementos de João no tio. Principalmente no jeito extrovertido. Em poucos minutos já me tratava como uma

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

velha amiga. Para variar, tirava sarro da minha falta de sorte.

- Não acredito que a Silvinha ainda achou um motel por aqui!

- Tua prima é sarro!

- Ela é uma cachorra, isso sim! E o meu tio ainda cai na dela... Mentindo namoro, minha tia estava falando em
noivado.

Bruno deu uma gargalhada potente.

- Desculpa, mas imaginei o Anderson entrando de noiva com seu tio.

Outra vez rimos. Natália devia ser a maçã podre da família. E por falar na “Diaba”, só percebi a presença
dela quando uma camisa masculina atingiu meu rosto junto de ma cueca boxer que devia ser de Bruno. Pela
força que atirou a camisa ela queria mais uma cara com uma nova sutura para ser feita.

- Pode vestir isso. – Anunciou. – Estou indo embora!

E saiu trotando. Encarei Bruno a espera de uma explicação.

- Isso na linguagem da Natália é um oferecimento de carona.

- Sério?

Ele assentiu com a cabeça.

- Conheço minha irmã... Ela já ligou o carro, é melhor você correr.

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Nem esperei ele terminar a frase, já voei para fora da casa. Bruno estava certo. Ela parecia me esperar. Mas
como todo bicho custoso, precisava manter a fachada de insensível. Mansamente colocou o carro conversível
em movimento. Mas não arrancou, eu fui obrigada a dar uma corridinha e quando ela finalmente ia arrancar,
pulei dentro do lugar do carona caindo toda desajeitada.

- Obrigada pela carona, eu...

- Já disse que não precisa se fazer de educada.

Dessa vez não tinha ironia, apenas rispidez em sua fala. Enfiei a cueca de Bruno que virava um shortinho pra
mim e uma blusa xadrez de mangas cumpridas que dava mais umas duas Alices dentro. Também devia ser de
Bruno.

- O que foi? Perdeu a graça?

- Do que você esta falando?

- Ciúmes porque em dois minutos consegui fazer com seu irmão o que você queria e não conseguiu? –
Provoquei. – Será que você não se toca que nem todo mundo vai ter medo de quando você faz cara feia?

A mulher era bipolar. Achei que ela ia me empurrar do carro ou algo do tipo, no lugar disso voltou com a
risadinha irônica.

- Você não venha com essa sua psicologia de programa de TV e livrinho de auto ajuda porque não funciona.
– Fez uma pausa e então continuou a falar ainda de olho na estrada. – Eu não queria te decepcionar, mas meu
irmão não caiu na sua conversa. Ele só deixou você cuidar porque viu uma menina bonita de calcinha e sutiã
na frente dele.

As editoras de livros precisam urgente serem avisadas que nos próximos dicionários junto do significado da
palavra chato deve ser publicado uma foto da Natália. Mulher difícil.

Não quis responder a ela. A minha parte era ficar calada e em quarenta e cinco minutos estaria em casa.
Nosso silêncio foi cortado pelo ruído forte vindo do céu. Um estrondoso trovão anunciava uma forte chuva.
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Natália não precisava dizer nada. Pela atitude de fechar o teto do carro e sua cara concentrada, vi que estava
apreensiva. A chuva caia grossa e a estrada era de barro, o carro baixo atolava facilmente nas poças de lama.

- PORCARIA! MALDITA HORA QUE MINHA MÃE ME LIGOU... PORCARIA! EU FALEI PARA O
JOÃO QUE NÃO IA DEMORAR!

- Talvez em dez minutos a chuva passe... – Eu tentei com esperança de que realmente fosse apenas uma
dessas tempestades de verão. – Vamos esperar...

- Tomara que você esteja certa.

E ali ficamos, não por dez, mas quinze minutos. A blusa do irmão dela era muito fininha. Eu tentava me
proteger do vento cruzando os braços, mas parecia não funcionar.

- A gente não pode ficar aqui. Estamos ha dez minutos da cabana. – Cabana? Cabana de quem? - Isso vai
durar a noite toda, a gente vai ter que passar a noite lá!

Não é possível. Alguém lá em cima gosta de me ver em enrascada. Meu plano da noite era só sair para fazer
uma social com minha prima, voltar para casa, cuidar da bebedeira de Silvinha, reclamar da vida e dormir.
Agora eu estou no meio do nada com lugar nenhum com uma quase desconhecida de calcinha e sutiã.

- Não, eu tenho que ir pra casa.

- Você já fez rally? – Ela me perguntou um tanto furiosa. – Por que com essa lama toda é o que a gente vai
fazer... Não tem como eu dirigir por essa estrada de terra...

- Mas eu não quero passar a noite com você! – Quase gritei sem pensar. – Quer dizer... Não quero passar a
noite fora de casa...

- O problema já não é meu. O meu carro eu não coloco nessa lama...

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Enquanto disse isso já abria a porta do veículo e começou a trancá-lo. Sem alternativa, fui obrigada a sair.
São Pedro caprichou mesmo. A chuva estava muito forte. Em menos de um minuto minha camisa já estava
ensopada.

- Bom, já que você vai seguir caminho, tenha uma boa noite...

E lá foi ela pegando uma das ruelas de terra em direção a sei lá onde. Sei lá onde que devia ser mais seguro
do que ficar ali esperando um doido qualquer vir me pegar, não é mesmo? Mais uma vez estava eu correndo
atrás da mulher.

- Essa cabana é muito longe?

Outra risada dela. Natália era a rainha do riso torto.

- Desistiu de sua caminhada noturna?

Antes que pudesse abrir a boca para responder alguma coisa, um raio caiu do céu me assustado. Sem querer
enfiei meu pé na lama e quase cai para o lado. Agora as risadas eram completamente soltas. Eu arriscaria que
até dizer que bem humorada. Ainda com sorriso nos lábios ela me informou.

- Dois minutos.

Natália devia conhecer muito bem o caminho daquela cabana. Apesar de estar muito escuro e molhado, não
nos perdemos e como ela tinha me dito, em dois minutos alcançamos um chalé escondido na mata. A casa era
linda e caprichada. Tudo bem cuidado. No alpendre da casa tinha uma rede e cadeira de balanço. Aos
fundos, uma outra casinha com entrada independente, mas parecia estar vazia.

- Nossa! Essa casa é sua?

Foi minha primeira pergunta assim que ela acendeu a luz da sala me dando todo acesso a casa. Alguém de
muito bom gosto morava ali. Decoração um pouco rústica, típica de casa de campo, bonita e muito bem
cuidada. O charme da sala era uma lareira na sala.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- É da minha família. Mais precisamente da minha avó. – Ela me explicava. – Mas ninguém tem morado
aqui...

Natália tinha acabado de me falar que a casa não era sua, mas senti que meio sem querer, acabei entrando em
sua intimidade e na de sua família. Eu conhecia João, Bruno. Convenci Bruno a jogar do meu lado. Agora a
tal cabana da família dela. Pelo tom que ela utilizou, vi que a mulher prepotente tirou folga por cinco minutos
dando lugar a uma outra que na minha cabecinha avoada ainda era um incógnita.

- É bonito aqui. Quem morava?

Não me respondeu. Já entrava em um dos corredores e fez um sinal para segui-la. Assim que chegamos no
quarto, ela abriu um guarda roupa, retirou um conjunto confortável de dormir e jogou em minhas mãos junto
com uma toalha e sabonete.

- É melhor você tomar um banho logo. Do jeito que esta tremendo de frio daqui a pouco vai ter uma
hipotermia e você já me deu muito trabalho hoje... Lá no banheiro em xampu, esponja e o que mais você
precisar.

Assenti com a cabeça. Pouco estava me importando com as grosserias se ela me deixasse tomar um banho
quente. Usei o banheiro social da casa. Assim que tirei minha roupa, pude fazer uma das coisas mais
prazerosas daquela noite, sentir a água quente escorrendo por cada pedaço da minha pele. A chácara do
Bruno era tão longe que deu tempo de armar uma frente fria. Eu estava precisando daquilo mesmo.
Normalmente eu tomo banho em dez minutos, mas ali devo ter perdido uns vinte. Quando sai, eu era
praticamente outra mulher. O pijama era um shortinho preto folgado e uma blusa regata cinza grande. Seja la
quem fosse a dona da casa era bem maior que eu tambem, as roupas ficaram folgadas. As duas vezes que eu
a vi estava toda alinhada de social, não imaginava ela dormindo assim.

Cheguei a sala desprevenida, meus neurônios haviam tirado férias para Marte e eu estava viajando legal de
bobeira quando tive uma visão que fez minha heterossexualidade ir de vez para o caralho. Na verdade, não foi
à visão, mas todo o conjunto. Uma fragrância gostosa, cítrica e refrescante tomava conta da sala. Era o
perfume dela. Me arrepiava só com o cheiro. Os cabelos, recém saídos do banho formavam anéis perfeitos.
Ela estava meio de perfil, falava no celular, provavelmente com o sobrinho, mas eu não prestava atenção.
Meus olhos se prendiam nos seus lábios bem desenhados naquele rosto de simetria perfeita. O que mais me
tocou era a suavidade dos traços de seu corpo. Se fosse muda, era a mulher perfeita.

Assim que me viu na sala, ela foi tratar dos telefonemas no quarto, apenas tapou rapidamente o bocal do
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celular e disse.

- Pode ficar vontade...

E saiu para o único quarto mobiliado da casa. Ainda tinha um escritorio que devia ser um quarto e um
quartinho pouco menor que os outros dois. Quando ela deu as costas, dei uma nova olhada. A bunda da
mulher parecia desenhada de tão perfeita. Eu sei que vocês esperavam algo mais romântico como o castanho
reluzente dos seus olhos, é claro que eu olhei para isso. Os olhos dela me chamaram atenção no dia do
acidente por causa da cor e da força deles, mas é que nunca tinha notado na bunda da Natália de repente ela
estava tooooda ali.

Eu tinha que esquecer aquilo. Se o irmão que era irmão ela tratava daquele jeito, imagina o que ia fazer
comigo? Minha vida sexual/ amorosa já andava louca demais para levar mais essa. Como eu não tinha nada
para fazer ali, achei de dar uma espiada nos Cd’s e ver se encontrava alguma coisa legal. Seja lá quem fosse
que estava morando nessa casa, a pessoa tinha os mesmos gostos que o meu. Alguns Cd’s de Mpb, cantores
internacionais, bandas de rock, musica sessentista. Escolhi um do Take a Thot. Enquanto ela se desenrolava
com os problemas no quarto, eu vou resolver um outro problema com nome e sobrenome: Nosso jantar.

Na geladeira tinha tudo para se preparar uma refeição pratica. Não fui louca o bastante de me aventurar a
cozinhar. Do jeito que eu sou incendiaria a cabana em três minutos. De cozinhar mesmo eu não entendo nada,
mas sou mestre cuca no quesito “tapeações culinárias”. Em menos de cinco minutos já tínhamos o prato
principal e sobremesa. Fiz questão de colocar tudo em uma bandeja e com aqueles tampões que chefes de
cozinha usam em cima da bandeja para não estragar a surpresa do prato principal.

Eu terminava de limpar a sujeira que tinha feito, de costas para a pia, estava tão empolgada catarolando How
Deep Is Your Love que só me toquei que ela esta atrás de mim, me observando quando me virei para guardar
um prato e achei aqueles olhos castanhos fixos na minha imagem.

- AAAAAAAAAI!

I know in your eyes in the morning sun

I feel you touch me in the pouring rain

and the moment that you wander far from me


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I wanna feel you in my arms again.

O susto foi tão grande que só não derrubei o prato no ar porque ela segurou. A intenção de Natália não tinha
sido me assustar. Só estava me notando ali. Será que do mesmo jeito que eu observei ela minutos atrás? Não!
Eu precisava descartar logo essa ideia.

And you come to me on a summer breeze

keep me warm in your love then you softly leave

and it's me you need to show

how deep is your Love

Ela com certeza é do tipo que só gosta dela mesmo. O que uma mulher dessas iria querer comigo? Isso tudo
vai acabar amanhã cedo. Ela vai viver a vida dela e eu a minha. Segunda feira começaria meu novo trabalho.
É isso que fui fazer em Silvéster. Trabalhar. Meu foco tinha que se manter esse. O problema era passar uma
noite naquele lugar que quase ninguém deve saber que existe, com uma mulher daquelas e manter o foco.
Tomara que eu consiga.

Is your love, how deep is your love?

I really need to learn

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Cause we're living in a world of fools

Breaking us down

When they all should let us be

We belong to you and me.

I believe in you

you know the door to my very soul.

Your're the light in my deepest darkest hour

You're my saviour when I fall.

End Notes:

Acho que as coisas estão melhorando entre elas, não é mesmo? Mas ai, quem morava
na cabana? Um abraço meninas!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 7 by Tamaracae

Author's Notes:

Boa leitura!

Capítulo 07

Eu que sempre fui faladeira, perdi as palavras quando vi aquela mulher ali parada olhando para mim. Meu
rosto deve ter recebido umas duas mãos de tinta vermelha pela cara que a Natália fez quando ficamos frente a
frente. Antes que eu derrubasse o prato no chão, ela colocou as mãos por baixo das minhas salvando a louça
a tempo. Mãos suaves e quentes. Pele macia. Toque delicado. Do nada meu frio passou.

-- Desculpa, eu não queria te assustar. – Pela primeira vez nenhum tipo de arrogância em suas voz ou seus
gestos. – Eu só ia pedir para você aumentar um pouco o som... Eu gosto dessa

-- É... E-Eu que sou uma de-sajeitada mesmo... – Quando fico nervosa parece quer tem um gato miando
dentro da minha barriga e as palavras saem todas vacilantes. – Des-Desculpa...

-- Posso aumentar a música?

A casa era dela e ela veio pedir autorização para mim? Não disse que a mulher tinha duas personalidades?!
Com um gesto afirmativo, deixe que ela aumentasse o volume. Apesar de vê-la apenas duas vezes na vida, eu
logo percebi que Natália não parecia alguém que gostasse de se abrir facilmente para as outras pessoas. Acho
que a chuva e as outras circunstancias acabaram me empurrando para sua intimidade de maneira inesperada.
Para fugir de seus olhos, voltei a guardar a louça e para meu azar ela achou de ficar por ali. Se acomodou em
um dos bancos altos da bancada que dividia a cozinha e a sala e percebi que sutilmente ela me observava
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trabalhar.

-- Eu também gosto dessa música. – Confessei a ela com o intuito de conversar e acabar com aquele silêncio
chato. – Alias, gostei de todos os CD’s que encontrei ai. Tudo que normalmente eu escuto.

Nat me jogou um olhar meio curioso, agachou-se para dar uma olhada nos CD’S e voltou a me fitar ainda um
tanto encafifada.

-- Você é muito nova. Quase nenhum desses é da sua época.

-- Opa, desculpa senhora madura... – Não falei alfinetando, mas em tom de brincadeira mesmo que a fez rir
despreocupada. – Vou voltar ao meu Ipod e escutar Restart, satisfeita?

Nat me censurou com um gesto negativo.

-- Você é tinhosa, só estranhei como você pode curtir tanta musica que não é da sua época.

Terminei a louça. Encontrei suco em caixinha na geladeira e servi dois copos a nós duas. Aproveitei e me
sentei no outro banco ao seu lado.

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--Um amigo meu chamado Marquinhos é colecionador de vinil. A maioria eu conheci com ele, mas alguns eu
já tinha ouvido... Enfim...

Era verdade. Marquinhos e eu quando estávamos de folga perdíamos tardes inteiras indo em brechós atrás de
vinis raros para a coleção dele. Não era estranho eu chegar em seu apartamento e Marquinhos vir com um de
seus discos nas mãos me falando.

-- Você precisa ouvir isso aqui.

Natália assentiu com a cabeça. Ela parecia um pouco aérea. Resolvi continuar o papo musical para ver se
arrancava uma informação que ainda não foi dada: Quem morava ali?

-- Você tem bastante Cd, faz coleção deles?

-- Não são meus.

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-- E de quem são?

Sim, quando queria saber alguma coisa eu era um bicho chato, parecia aquelas mosquinhas que ficam em volta
fazendo ruído, insistindo, recuando e avançando. Nat, por outro lado, conseguia ser mais escorregadia que
sabonete. Os pratos tampados sobre a mesa foram a desculpa que encontrou para fugir de mim.

-- Impressão minha ou temos jantar?

-- Jantar só não e sobremesa também. – Quebrei qualquer protocolo e a puxei pela mão. A carinha dela
sorrindo meio surpresa com meu gesto tresloucado foi tudo. Ali me derreti. – Não gosto de fazer nada pela
metade...

-- Seria indelicadeza de minha parte perguntar qual é menu do dia a chef de cuisine?

Entrei no clima da brincadeira de Natália. Com um sotaque francês mais falso que ‘’caiu em você como uma
luva’’ de vendedora de roupas, anunciei:

-- A chef de cuisine oferece a todos os convidados da noite... – Natália começou a rir das minhas
palhaçadas. – O prato principal. Tcharan tchan tchan... – E fazendo suspense enorme levantei o tampão do
prato. – ‘’Pipoque de micro-ondes’’

Ela morreu de rir ao ver a travessa de pipoca de micro-ondas que eu tinha estourado. Oras, era a única coisa
que eu sabia fazer sem nenhum erro. Simples, mas é meu carro chefe. Duvido que alguém faça pipoca de

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micro ondas melhor que eu.

-- E ainda temos nossa suculenta e não menos prestigiada sobremesa. – Com o mesmo suspense e o mesmo
francês fajuto, ergui o tampão revelando o segundo prato da noite. – ‘’ Pipoque docÊ’’

Até aplausos recebi quando ergui a tigela cheia daquela pipoca vermelha cheia de groselha. Era divertido fazê-
la rir. E sei lá porque eu estava me esmerando com isso. Educamente ela puxou a cadeira para eu sentar,
cheia de salamaleques e depois ela mesmo se acomodou como se fosse participar de uma mesa com vários
talheres e infinitas regras de etiqueta.

-- Olha menina, devo confessar que não tenho palavras para traduzir o que eu estou sentindo com um jantar
desses. – Irônicamente ela disse em um tom sério. – Sinceramente, meu vocábulário é pequeno perto da
grandeza desse presente...

Antes de Natália atacar minhas pipocas, fui mais rápida. Puxei as tigelas para mim.

-- Mas quem disse que é um presente? – E perguntei com um ar de preocupação. – Natália, você acreditou
que eu ia fazer algo de graça para você?

-- Qual é seu preço, doutora?

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-- Olha, não querendo me gabar não, mas as minhas pipocas tem fama de serem muito boas... Eu não vou
entregar por qualquer coisa não... – Comentei com um ar meio dissimulado, ela me olhava sorrindo, mas
dessa vez com os olhos. Momento nenhum os tirava de mim. Aquela fixação ao mesmo tempo em que me
incomodava, fazia um bem enorme. – Eu quero o nome do dono desta cabana.

-- Você quer saber quem é?

-- É que eu estou com medo de você ter invadido uma propriedade que não é sua e daqui a pouco a polícia
esta ai... Eu tenho um nome a zelar... – Essa foi boa. Eu estava sendo conhecida como a “tarada do quarto
andar” por causa do meu vídeo no elevador que caiu na internet e ainda falava em zelo com meu nome. –
Sabe como é eu tenho uma carreira...

Natália fez um gesto afirmativo.

-- Você não vai me dar sossego enquanto não falar pra você, não é mesmo?

Dei um risinho infantil e fiz um não com a cabeça. Ela sorriu e por fim cedeu:

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-- Ok. Enquanto eu preparo algo de verdade para gente comer, eu explico para você de quem é essa cabana.
Ok?

Natália se levantou levando um pouco da pipoca. Abriu a geladeira e ia retirando algumas coisas para
preparar algo que eu ainda não sabia o que era.

-- Hey, você desfez da minha pipoca?

-- Não, mas podemos comer depois enquanto assistimos alguma coisa. – Me fitou divertida. – Pode ser?

-- Se você pretende pedir uma pizza acho que eles ainda não fazem entregas com botes, motos aquáticas ou
nada do tipo...

Natália voltou a rir.

-- E então, desistiu de saber quem é a dona da casa?

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-- Dona? Uma mulher então...

Ela me confirmou com um gesto afirmativo.

-- Minha irmã morava aqui. Os cd’s, a mobília, a decoração. Tudo dela...

-- E por que ela não mora mais?

-- Ela se foi...

Sempre quis ter mais irmãos, mas papai e mamãe acharam de “fechar a fábrica” só comigo mesmo. Quase
não ficavam em casa, uma criança já dava trabalho. Eu então... não tinham o porque tentar outra. Senti pena
quando Nat finalmente achou de falar a verdade para mim. E um pouco culpada também por insistir naquele
assunto e me intrometendo mais uma vez na família dela.

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-- Desculpa, meus pêsames.

-- Ela não morreu... Ela só foi embora... Faz dez anos que a gente não se vê.

-- Dez anos que você não fala com ela?

-- A idade do João. Dez anos.

-- Então ela é a mãe do João? – Natália mais uma vez confirmou. – E o pai dele?

Eu e minha boca grande. Em vez de me calar tinha que ficar fuçando, futucando que nem uma babaca sem
noção. Pensei que ia levar uma bordoada do tipo “O que você tem haver com isso?” Mas não foi o que ela
fez. Após colocar uma água para ferver, se sentou comigo na mesa. Seu olhar estava um tanto perdido.

-- O João não tem pai. Minha irmã morava com outra mulher. Elas resolveram ter um bebê por inseminação.
Minha irmã doou o óvulo, elas usaram o esperma de um doador anônimo e implantaram no útero da esposa
da minha irmã.

-- Sério?

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-- Sério. O João era para ser criado por duas mães. Ele foi gerado por outra mulher, mas o DNA é todo da
minha irmã.

-- Ele é tão parecido com o Bruno. Alias, por que você tratou o Bruno daquele jeito?

-- O Bruno esta naquela fase de adolescente de vinte três anos. Todo mundo tem essa fase, mas se ninguém
ficar no pé acaba virando um babacão. -- Ela me confessou. - Ele é a cara da Julia. Os irmãos se parecem...

-- Você não parece com o Bruno e nem com o João.

-- Porque eu sou adotada. Cheguei na família deles ainda bebê, minha mãe biológica me deixou na porta do
hospital.

-- Nossa, Natália...

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-- Não precisa ficar assim. O João e eles são minha família de verdade...

-- Desculpa é que eu não pensava...

-- Tudo bem... Ninguém pensa...

-- Por que sua irmã foi embora?

Quando eu vi já tinha perguntando e na hora percebi o quanto fui inconveniente.

-- Desculpa, olha você não precisa me responder... O que você esta fazendo ai?

E me levantei me colocando atrás do fogão observando ela mexer com as panelas. Pelo molho vermelho
entendi que comeríamos macarrão. Para deixar aquele clima chato que eu, idiota, impûs na nossa conversa,
achei de brincar com ela.

-- Nossa, chef de cousine, do jeito que você desfez das minhas pipocas, achei que íamos comer lagostas,
suflês... Você me decepcionou!
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-- Tá chamando meu macarrão de chinfrim?

E nós duas rimos. Sem perder seu exibicionismo, Natália me deu uma colherada de molho vermelho.

-- AIIIIIII!

-- Cuidado, esta quente!

Por que todo mundo só alerta que está quente depois que queima a boca? Enquanto eu ia atrás de um copo
d’água ela se divertia com as minhas caretas. Só eu mesmo. A mulher fez o jantar em oito minutos
tranquilamente, meu papel era só comer, fazer elogios e engolir a comida, conseguia me estrepar mais uma
vez.

-- Acho que o João leva mais jeito na cozinha do que você. – Ela me disse ainda rindo. Minha cara não
estava na da boa. – IIIIh, o que foi? Vai chorar...

-- Foi um plano seu só para eu calar minha boca, não é mesmo?

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-- Meu Deus! – Natália fez um pausa, trazia uma expressão séria no rosto que até me preocupou. – Por que
eu não tive essa ideia antes?

Nem eu aguentei e acabei rindo. Em poucos minutos estávamos jantando, eu como sempre falando pelos
cotovelos. Também, não tinha como me calar diante de um prato daqueles, há anos não comia uma
macarronada tão boa quanto aquela.

-- O que isso que você colocou no molho? Tem um gosto de...

-- Cebolinha e Manjericão. – Ela disse como se eu fosse me familiarizar logo com o nome dos ingredientes.
Coitda. Se ela falasse que botou sucrilho e granulado ali eu acreditaria da mesma forma. - Já posso largar a
medicina e virar uma dona de casa casada, gorda, cheia de filhos?

-- Não. Vou te contar uma coisinha, Natália. Existem mulheres independentes que são ótimas dona de casa.
Algumas além de sustentar os filhos e maridos ainda cozinham, como também tem donas de casa que mal
sabem o caminho da própria cozinha e deixam tudo na mão das empregadas. Século XXI, doutora.

-- WOWWW 1 á 0 para você.

Dessa vez eu até parei de comer, realmente estava assustada.

-- O que foi?

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-- Você acabou de ouvir o que disse? Você me elogiou!

-- Não foi um elogio. Eu disse que você estava certa...

-- E que admirou a minha opinião...

-- Não... Não é porque eu concordo com você em alguma coisa quer dizer que eu admiro você... Eu posso
estar pactuando com a sua ideia... Posso estar em harmonia com o que você disse... Posso...

-- Admirar a minha opinião...

-- Não foi admiração. – Ela disse não querendo se dar por vencida. – Não foi.

Nós duas acabamos a refeição. Enquanto juntava os pratos para lavar a louça, fiquei provocando
cantarolando que nem uma criança chata.

-- A Natália admirou, a Natália admirou...

Ela apenas desistiu de tentar me rebater e voltávamos a rir. Em poucos minutos guardamos a louça e fomos
atacar a pipoca. Liguei a TV e deixei no canal que estava porque passava Madagascar.
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-- A gente vai ver isso?

-- Eu gosto! – Rebati. – E larga da minha pipoca que você se desfez dela.

Em resposta, Natália deu um tapinha de leve na minha mão fazendo eu derrubar toda a pipoca de volta na
travessa e roubou a pipoca de sim. Ficou nessa besteira até a pipoca acabar. Nem conseguia prestar atenção
no filme. Agradeci mentalmente por ter encontrado com ela aquela noite. Como sempre acontecia comigo,
tudo deu errado, minha prima sumiu, virei motivo de piada, fiquei só, mas ainda bem que ela do jeito Natália
de ser me ofereceu aquela carona. Pelo menos conheci uma outra Natália mais divertida, doce e preocupada
do que a Natália do dia do acidente. Sem perceber, a encarava e sorria feito uma idiota. A própria Natália
que chamou minha atenção para esse fato e começou a rir.

-- O que foi?

-- Maior milho no dente, hein?!

-- Sério?

Até brochei quando ouvi aquilo. Sem pestanejar corri para frente de um espelho para retirar, mas ao ouvir sua
risada zombeteira, constatei que tinha caído é uma peça dela.
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-- Mas é muito panaca mesmo...

Até lágrimas, eu disse lágrimas, ela soltou enquanto gargalhava da minha cara de idiota. Não me dei por
vencida também.

-- Tem gente que não tem espelho em casa mesmo...

-- Por que você esta dizendo isso? – A filha da mãe estava com dores no abdômen de rir de mim. – O que
isso quer dizer?

-- Que se tivesse espelho olharia para a própria boca antes de achar milho no meu dente.

-- Não vou cair nessa...

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Em resposta simplesmente dei os ombros. Ela fez alguns rodeios, tentou me enrolar por uns dois minutos, mas
logo foi verificar se o dente estava sujo ou não.

-- Trouxa! Quem é a panaca agora? Ãh, ãh?

E ainda tentei jogar uma almofada no rosto nela, mas a infeliz era rápida, além de desviar com agilidade me
acertou uma bem no nariz. Nesse clima de “jardim de infância” acabamos a noite. Até que ela não era tão
insuportável. Quando olhei no relógio vi que passava das três da manhã. Escovamos os dentes, o corpo já
pedia descanso.

-- Eu vou deitar... Amanhã quero sair cedo daqui. Tenho muita coisa para fazer. – Ela me disse. Acabei
ficando um pouco entristecida. Estava gostando daquela noite. – Se quiser deitar no quarto...

-- Não, eu fico aqui no sofá mesmo. Pode deitar no quarto, Nat.

Saiu tão natural que ela não teve coragem de me repreender, corrigir nem nada.

-- Bom... Boa noite...

-- Boa noite...

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Não demorou nem três minutos. Só foi eu por cabeça no almofadão do sofá, me distrair um pouco e já estava
no mundo de morféu. Não sei por quanto tempo dormi. Um sono sem sonhos. Acordei com um forte ruído
que parecia quebrar o mundo em dois. Um raio da tempestade. Nunca fui de ter medo de chuva, mas de
raio... Quando eu fui acender a luz, a lâmpada tinha queimado ou a força acabado. Maravilha... Bom, era só
eu fechar os olhos e dormir, certo? Mas quem disse que o sono vinha?

Tratei de pensar em quinhentas coisas, operações, Silvéster, São Paulo, Silvinha, Marquinhos, meu pai pai,
minha mãe, minha morena motoqueira, Natália, bunda da Natália, motoqueira de novo, Natália mais uma vez,
Natália de moto, bunda da motoqueira e nada... Na verdade estava era tremendo de medo que outro raio
desse caísse. Olhei no relógio, ainda era quatro e meia da manhã. Estava morrendo de sono. Meus
carneirinhos já não pulavam uma cerca, faziam Le parkour e nada da porcaria do meu corpo se desligar. Eu
tremia de medo. Me enchi de coragem, com a coberta sobre os ombros, bati no quarto dela. Lá tinha um
sofázinho. Se ela não incomodasse eu dormiria ali.

-- Aconteceu alguma coisa? – Coitada, deu até dó, ela estava muito sonolenta. – Alice?

-- Tem um mosquito chato na sala... Não me deixa dormir... Posso deitar ali no sofázinho?

Ela fez um gesto afirmativo. Enquanto voltou a deitar ainda me disse:

-- Quando eu tinha medo de chuva inventava desculpas melhores do que essa para ficar no quarto da minha
irmã mais velha...

E deitou a cabeça no travesseiro. Mais cinco minutos e voltei a dormir. Ainda mais pesado que dá outra vez.
Quando acordei, ouvi um barulho estranho, como um apito de trem. Ainda ressonando olhei para a cama do
lado. Natália estava lá, sentada, tentava prender e soltar a respiração, mas nada saia no tempo certo. Meu
instinto de médica gritou mais alto e corri para auxilia-la.

-- Natália, que foi?

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Ela não conseguia responder. O cansaço e a tosse não deixavam. Compreendi logo o que era. Corri até sua
bolsa na sala, encontrei a bombinha de ar e voltei com pressa. Três bombadas de ar da bombinha e ela
voltava a controlar a respiração naturalmente. Em menos de um minuto conseguia a falar.

-- Há muito tempo eu não tinha a crise...

-- Sua asma é grave?

-- Não, é leve... Faz meses que não tenho. – Ainda estava ofegante e um pouco pálida, mas conseguia falar. –
Eu... Eu acho que tive um pesadelo... Não sei...

-- Já passou. – Quando eu vi já segurava a mão dela. Estava sentada na ponta da cama a direita. Acariciei
seus cabelos a fim de tranquiliza-la. – Já passou...

E Natália voltou a me encarar com aqueles olhos que me deixavam sem forças e completamente ruborizada.
A pergunta que martelava na minha cabecinha era: Como fomos parar assim? Eu acho que cochilei na parte
do filme que eu deixava de odiar aquela mulher para sentir uma imensa vontade de beijar sua boca. O barulho
da chuva, a luz, a temperatura, ela, tudo parecia perfeita. Naturalmente nossos rostos foram desenhando o
beijo e os lábios aproximando. Estava há dois centímetros da boca dela quando um maldito de um raio caiu
há alguns metros da barraca e quase tive uma crise de pânico. Agora ela que quase me abraçava e procurava
me tranquilizar.

-- Só foi um raio... Aqui tem muita arvore, fica calma.

-- É melhor eu tentar dormir... – Disse me desvencilhando de seus braços. A interrupção em forma de raio me
tirou qualquer coragem de seguir em frente com aquela loucura. –Desculpa...

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Enquanto eu me ajeitava nos lençóis ficamos em silêncio. Eu pensando no quase beijo. Como era gostoso o
cheirinho do hálito dela, a temperatura da pele, o abraço...

-- Ela foi embora porque a esposa morreu no parto. – Natália balbuciou um tanto perdida. – O parto do João
foi muito complicado... A gente tentou salvar a Marcinha, minha cunhada, mas não deu...

-- O João não conheceu nenhuma das mães?

-- Não. Eu que criei o João... Eu fiz de tudo... De tudo mesmo para salvar a Marcinha, mas...

-- Foi com isso que você sonhou?

Natália me fez um gesto afirmativo que me deixou ainda mais culpada. Eu não devia ter tocado naquele
assunto com ela. Eu odeio te dó das pessoas, mas ela me pareceu tão indefesa. Quando toquei na sua mão ela
fechou os dedos entre os meus com força.

-- Você disse que ela fez o parto. Sua irmã também é médica? Qual é os planos da família, monopolizar o
Alonso Franco? – Brinquei usando o nome do hospital da cidade.

-- Você não sabe mesmo quem eu sou?

-- Doutora Natália, médica. – Realmente não tinha entendido essa pergunta dela. – Por quê?

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Ela me olhou de um jeito um pouco admirado.

-- Por nada... Você quer dormir aqui comigo? A cama é grande, o sofá é tão apertado.

Irresponsavelmente fiz que sim. Já viram que não dormi quase nada. Primeiro porque estava realmente
preocupada dela ter uma nova crise. Depois cada toque que sem querer ela me dava dormindo, minha pele
parecia pegar fogo. O perfume de seus cabelos batiam direto no meu nariz. Ás vezes eu ficava admirando seu
rosto cochilando serenamente. Natália me fazia esquecer a formação rígida da minha mãe e cada vez tinha
vontade de dar vazão aos meus desejos. Experimentar de novo os lábios de uma mulher. Experimentar a
suavidade outra vez, o toque. Droga, por que eu não lembro nada de como foi com a motoqueira? Será que
ela era carinhosa? Quente como parecia? Selvagem? Maldita memória de bebum.

Ainda quando estava em São Paulo, resolvi por conta própria fazer uma pesquisa para ver realmente o que
sentia ao ver duas mulheres aos beijos. Assisti muitos vídeos na internet. Alguns filmes de temática lésbica, as
atrizes se entregavam tanto em cena que sei lá... Elas encenando pareciam ter mais prazer do que eu tinha na
vida real com homens. Estava cansada de ver, queria era experimentar...

Só fui pegar mesmo no sono ás seis. E tive um sonho esquisito. Que era serrada ao meio e duas meninas
vinham brincar comigo, cada uma com uma flor na mão. Crisântemo lilás, minha flor favorita. Uma delas devia
parecer Nat quando criança.

Acordei com o sol castigando meu rosto. Com dificuldade abri os olhos. Lá estava ele, reinando absoluto no
céu como se a chuvarada da noite anterior nem tivesse acontecido. Não sobrou uma nuvenzinha para contar
história.

-- Bom dia...

-- Sério que a chuva de ontem era só para estragar a minha chapinha? – Eu perguntei já arrancando risos de
Natália. Esfreguei meus olhos tentando acostumar com a claridade. – Que tempo mais doido!
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-- É melhor aproveitarmos... Tem mais roupas no armário, escolhe uma e vem tomar café que eu vou pegar a
estrada. Quero ver o João antes de ir para o hospital...

A toda poderosa doutora me dando bom dia. Como as coisas mudam em uma noite. Principalmente depois
de vê-la toda sensível precisando de colinho como eu vi no quarto de madrugada. Ter aquela visão só piorou
as coisas. A cada minuto eu sentia mais vontade de abraça-la de beija-la e dar carinho para Nat. Cheguei a
sala e um café da manhã de hotel me esperava com direito a torradas e chocolate quente.

-- Nossa, não precisava fazer tudo isso, eu como pouco de manhã.

-- Você se acha mesmo, hein garota! – Nat me provocou. – Eu também vou tomar café...

Enquanto fazíamos a refeição conversávamos sobre várias abobrinhas, tive que aguentar gozações sobre meu
medo de raios e quando acabamos de comer era nove e meia. No caminho de volta também conversamos
muito e Nat acabou me confidenciando que era a primeira vez que voltava a cabana depois de dez anos.

-- Minha vó era muito apegada a Júlia. Ela mantém aquilo ali como se ela fosse voltar a qualquer dia. Você
viu, ali tem comida, o caseiro vai lá umas duas vezes por semana. – Enquanto ela falava tratava de manobrar o
carro próximo ao portão de entrada da casa do meu tio. – Minha irmã praticamente se acabou quando soube
que a mulher morreu. Bebia muito. A gente nem sabe ao certo onde ela foi. Só quase oito anos depois
apareceu um colega dela de faculdade afirmando que viu minha irmã...

-- Ela estava onde?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Amazonas. Mas nem sei se é verdade... Esse amigo disse que estava em Manaus, em um congresso,
quando a viu perto de um hotel... Ela fugiu quando o reconheceu ... E minha vó acha que é assim, que
qualquer hora a Júlia vai ter um estalo na cabeça e vai voltar...

-- Só sua avó acha?

-- Do que esta falando?

-- Será que você não tem um pouquinho de esperança disso também? – Não sei de onde tirei tanta coragem,
mas perguntei. – Desculpa, eu nem te conheço direito, mas sei de uma coisa. Dez anos é tempo suficiente
para se desfazer da cópia da chave da casa da sua irmã, já que você acredita que ela não volte mais para cá...

Seu olhar era indecifrável. Eu não queria magoa-la, mas alguém precisava dizer isso e se em dez anos ninguém
teve atitude, eu teria que ter. Nós duas estávamos ali, paradas na porta do meu tio. Quem passasse por ali
poderia ver porque o teto do carro estava recolhido. Acho que nunca me senti tão valente e tão com medo
como senti naquele momento.

-- Você realmente é uma caixinha de surpresas, menina...

E abriu um dos sorrisos mais bonitos que vi na minha vida. Se ela soubesse como ficava linda sorrindo, com
certeza iria passar o dia todo assim. Alguns fios de cabelo insistiam incomodar os meus olhos, quando fui
coloca-los para trás, ela me impediu. Em um gesto delicado, ela mesmo jogou minhas mechas de cabelo para
trás e com o polegar fez um carinho no meu rosto. Não queria resistir. Calmamente fechei meus olhos curtindo
seu contato no meu rosto a convidando para o beijo. Senti sua respiração aos poucos se aproximando da
minha quando no ultimo instante ela desviou os lábios até o pé do meu ouvido e disse serena:

-- É melhor você descer, eu realmente estou com pressa.


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

No mesmo instante abri os olhos e vi que não era a mesma Natália da cabana. A grosseira metida voltava da
folga e devia estar morrendo de rir de mim por dentro. Como eu pude ser tão idiota? Ela deve ter jogado a
noite toda comigo se fazendo de agradável para se divertir as minhas custas depois. E o pior, a palha caiu
direitinho. Nem dei mais um bom dia, sai do carro e bati a porta com força.

-- Garota, espera!

-- O meu nome é Alice, entendeu? A-LI-CE!

E entrei na casa do meu tio sem ouvir mais nada que aquela idiota tinha para me dizer. Eu podia arranjar um
abecedário de defeitos para classificar aquela sonsa da Natália. Assim que cheguei na sala, lá estava tia Guida
e tia Junia.

-- Alice, menina, o que aconteceu? Você e a Silvinha não voltaram para casa, ficamos preocupadas...

Só me faltava mais essa. Eu tinha voltado à adolescência. Morando sozinha há anos, esqueci como era ter que
dar satisfações de horários quando se mora com alguém. Ainda mais para minhas tias.

-- A Silvinha dormiu no Anderson e o Bruno me ofereceu um quarto da casa dele por causa da chuva, tia.

-- O Bruno é um pouco rebelde, mas tão bom menino. - Dessa vez Tia Junia que comentou. - Conheceu a
mãe dele? E a irmã? Moça tão responsável...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Eu não precisava ficar passando por aquilo. Menti para minha tia que estava com dor de cabeça e me tranquei
no quarto. Na verdade não menti. Estava mesmo com dor de cabeça e com o estômago um pouco
embrulhado. Acho que foi a noite mal dormida. Como era domingo, ninguém veio me encher porque fiquei até
tarde na cama. Acordei quase meio dia com a barulheira de Silvinha entrando no quarto.

-- O que isso? – Perguntei mal humorada.

-- Sinta esse cheiro... Veja essa pessoa, toque nessa pele... Ouça essa voz...

-- Silvinha, vai para o inferno!

-- Sabe o que esse perfume, essa cutiz macia e bem cuidada. Sexo. SEXO! Com uma das mulheres mais
incríveis da cidade, Alice, inacreditavel...

E ainda deitou na minha cama.

-- É tua cara de pau, inacreditável!

-- Que pernas tem aquela mulher, sabe que cheiro é esse? Cheiro do acasalamento, de vida, de natureza, de...

-- Sabonete de motel barato! – A empurrei com toda força. – E sai da minha cama que você esta me
enjoando com esse cheiro! E eu ainda estou com raiva de você...
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- O que foi, eu não te deixei sozinha na festa. Não gostou do Diogo?

-- A próxima vez me deixa com um poste que dá mais certo! E o pior de tudo, eu ainda tive que passar a
noite com aquela cínica da Natália! Aquela dissimulada, aquela...

-- A Natália médica?

-- E nessa cidade tem outra? Quer saber de uma coisa, eu quero ficar trancada no meu quarto e não ver a
cara de ninguém nessa cidade. Principalmente a sua!

E sem pensar tranquei minha prima do lado de fora do quarto. Dormi o dia inteiro. Ultimamente eu estava com
muita sonolência. Não aguentei ficar muito tempo brigada com Silvinha. A noite já voltávamos as boas. Como
sempre ela rindo da minha cara. Só ficou com raiva do idiota do Diogo. Quando falei que dormir com a
Natália na cabana ela quase caiu para trás. Só ocultei que dormimos na mesma cama, do quase beijo e do
belo fora que ela me deu.

-- Alice, ela te contou sobre a Julia? Pelo que eu sei é meio assunto proibido na família deles.

-- Você conheceu essa Júlia?

--Ah... Eu era adolescente na época... Ela era porra louca que nem o irmão... Eu lembro dessa história de
gravidez entre duas mulheres, deu uma fofoca brava aqui na cdade.... Sabe como é, cabeça pequena, mas
depois ela sumiu...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Segundo a sonsa da Natália foi logo depois que o João nasceu.

-- Você fala assim dela, tem ideia de quem ela é?

-- Eu não quero saber quem é Natália e nem ouvir mais no nome dela...

-- Alice, mas...

-- Sério, Si... Vou começar a trabalhar amanhã, não quero me irritar.

Mais vinte minutos de conversa e um milhão de pedido de desculpas de Silvinha e ela foi para o quarto dela
dormir. Apesar de não sair da cama o dia inteiro, dormi pesadamente a noite. As cinco estava de pé. Seis e
meia no hospital Alonso Franco para me apresentar para o inicio do meu trabalho. Dessa vez a sorte parecia
do meu lado. Vários residentes iam iniciar aquela manhã, eu não era a única novata apesar de ser contratada
para trabalhar na parte clínica do hospital onde só há atendimentos e nada de cirurgias para o meu desgosto.

-- Você é daqui mesmo de Silvéster?

Quem me perguntou foi uma ruivinha muito bonitinha. Estava tão ansiosa quanto eu.

-- Estou morando agora, mas sou da capital. E você?

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-- Sou do Sul. Estou procurando casa, mas ta dificl de se achar.– E me confessou. - Eu estou morrendo de
medo. Falam que a chefe das cirurgias é o cão. E a residente responsável por nós também.

-- Tem que ficar calma. Eles são tão médicos quanto nós. Não esquece isso. Desculpa, qual é mesmo seu
nome?

-- Rebeca!

-- Alice, prazer.

Eu não sabia, mas Rebeca seria uma das minhas melhores amigas de toda minha vida. Em poucos minutos já
estava enturmada com os internos amigos de Rebeca. Eram três, Isa, Leandro e Rafael. Não tive coragem de
dizer a eles que eu já tinha passado por aquilo. Conversávamos animadamente quando fomos interrompidos
por doutora Duarte, a mesma que foi busca Natália no dia do acidente. Ela que seria a responsável por eles.
Duarte não parecia ser nem um pouco simpática. Até eu tive medo do discurso dela.

-- E antes que vocês comecem no programa, a diretora do conselho geral do Alonso Franco vai dar uma
palavrinha com vocês. Tinha umas vinte cabeças na minha frente. Quando finalmente consegui enxergar a tal
diretora pica das galáxias, quase tive hipotermia. Minha espinha congelou. – Nossa chefe de cirurgia, doutora
Natália Bragança Franco!

Pronto, se eu não tinha motivos para odiar Natália, acabei de arranjar um, ela era minha chefe.

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Capítulo 8 by Tamaracae

Author's Notes:

http://www.youtube.com/watch?v=vSNrBPwrINY - Eu sei Marisa Monte

Muito feliz com o carinho de vocês. Bom fim de semana a todas.

Se Duarte não conseguiu ser simpática no discurso, a agora “toda poderosa chefona” Natália Bragança
Franco não fez diferente. Com aquela cara de Capitão Nascimento que Nat sabe fazer muito bem, ela
começou a soltar as regras do jogo para os internos. As regras que eu já sabia, eram as mesmas do programa
que eu fiz em São Paulo. Em suma um interno não pode matar ninguém e absorver o máximo de aprendizado
possível. Alguns desistiriam no meio do programa, outros ficariam pelo meio do caminho, mas uma coisa era
certa, o grupo não seria o mesmo do início.

Em pensar que eu já poderia estar do lado de lá, com os outros residentes ensinando aos novatos como
Marquinhos e meus outros amigos de São Paulo já deviam estar fazendo. Se não fosse a sacanagem de Pedro
Henrique, eu já teria meus próprios novatos para ensinar e não estaria de volta na linha de largada daquela
corrida maluca.

Mais sacana que meu ex noivo só o meu destino. Como encarar Natália, a mulher que eu querendo ou não me
atraia incontestavelmente, a mulher que quase beijei, era minha chefe?! Esta certo que trabalharíamos em
setores diferentes. Ela na cirurgia e eu no atendimento clínico, mas de qualquer jeito ela era minha
encarregada, membro da diretoria. Pelo que Duarte explicou em sua apresentação, Alonso Franco, fundador
do hospital era avô materno de Natália. Ela mandava mais do que qualquer um ali dentro.

Os grupos de internos começaram a se dispersar. Confesso que morri de inveja, até perdi as contas de quanto
tempo não participava de uma operação, só lembro que a ultima foi em cirurgia plástica. Enquanto eles
retirariam tumores, restaurariam aortas e participavam de cirurgias cerebrais, eu teria que cuidar de assaduras,
torções, dor de barriga e resfriados. Casos comuns de clínica. Estava seca para mexer com bisturi.

Nada do chefe Clínico Geral aparecer. Duarte dava ordens aos outros residentes, devia ser chefe deles.
Natália logo me achou no meio da confusão de novatos. Ela estava linda. Os cachos presos em um rabo de
cavalo, brincos pequenos enfeitavam suas orelhas. Por baixo do jaleco branco usava uma blusa lilás de botão,
calça social e sapatos combinando. Será que estava com o mesmo perfume da cabana? Bom, o que me
interesse, não é, vim aqui trabalhar e não para arranjar namorada. Ela conversava com dois sujeitos que
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tinham cara de atendentes. Em um momento parecia interessada na conversa, com uma expressão
concentrada. Um segundo depois nos perdíamos uma nos olhos da outra como e um imã invisível ou uma
linha imaginária nos ligasse.

-- E ai, muito medo da ditadora ou já esta acostumada com a cara feia da minha irmã?

Nat podia ter mil defeitos, mas com certeza cara feia não era um deles. Quem me interrompeu foi Bruno com
seu entusiasmo de primeiro dia de trabalho. Ele também era interno assim como tantos outros.

-- Paciente! Esqueci que você também começava hoje! – Ele sorriu para mim gostando da brincadeira, me
cumprimentou com um beijinho no rosto e abraço. – E essa cabeça?

-- Rachei ela procurando por você.

Rimos. Bruno me lembrava mesmo Marquinhos, acho que esse era o maior fator que fazia me simpatizar com
ele de cara. Aproveito para deixar bem claro, que assim como Marquinhos, meu interesse por Bruno e ele por
mim nunca passou do campo da amizade. Junto de Rebeca, Isa, Rafael e Leandro, Bruno era interno de
Duarte e esperava ela terminar de papear com um cirurgião para começarem a fazer a ronda de pré e pós
operatório. Ficamos ali conversando sobre trabalho por uns dois minutos até nossa cortadora oficial dar o ar
de sua graça.

-- Será que você não ouviu quando falei nas regras que não era para desgrudar da sua residente? – Natália
questionou o irmão com aquela delicadeza de sargento. – Você esta vendo algum outro interno por aqui,
doutor?

-- Os internos da Duarte estão ali... – Bruno tentava se explicar. – Eu só...

-- E você não é interno dela? Esta esperando o que para ir com eles?

-- Mas Natá...

-- Chefe. Pelo menos aqui você vai fazer o que eu quero, tá me ouvindo garoto?

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Se Natália soubesse o quanto insuportável ela fica quando solta esse “garoto ou garota” ela não repetiria
nunca mais.

-- Chefe... – Bruno, quase bufando ainda tentava se explicar. – Eu...

-- Você vai fazer o que estou mandando!

A contra gosto, o coitado do Bruno foi caminhando a passos lentos para junto dos seus companheiros de
trabalho. A ruivinha me deu um aceno acompanhado de um sorriso de longe.

-- Pelo visto você é muito querida entre o corpo de funcionários do Alonso Franco, hein Alice?

-- É porque eu faço por onde. – Respondi irônica. – E não destrato ninguém a troco de nada. E é doutora
Alice, estamos no ambiente de trabalho.

-- E fora do ambiente de trabalho, você prefere ser chamada como?

-- Prefiro que nossos encontros fiquem restritos ao ambiente de trabalho.

Nem sei de onde tirava tanta segurança para enfrenta-la. Eu devia estar ficando maluca mesmo, como eu
mando uma dessas para minha chefe?

A cara que ela fez parecia que tinha levado uma picada de abelha. De tanta raiva devia estar com vontade de
tirar as calças pela cabeça, mas não me incomodei. Nat tinha que entender que ser dona do hospital não quer
dizer ser dona dos funcionários.Nem deu tempo dela abrir a boca para falar comigo. Quem me salvou foi o
chefe do Clínico Geral, ele passou e eu peguei carona com ele e tratei de me apresentar.

De acordo com o crachá, seu nome era José Freitas, conhecido pelo hospital como doutor Freitas ou doutor
Chapatin. Doutor Chapatin para quem não sabe é um personagem do Roberto Bolaños, que fazia o Chaves e
Chapolin Colorado. Doutor Chapatin aparecia de vez em quando nos episódios e doutor Freitas era a cara do
personagem, cabelos brancos como neve, óculos e bigode. O jeito amalucado no meu novo chefe casava
direito com a caduquice do personagem do Bolaños.

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A clínica tinha mais de vinte leitos e quase sempre estava cheia. O Chapatin tratava de apresentar alguns
lugares do hospital para mim.

-- Então Doralice, nosso funcionamento...

-- Não, é Alice...

Ele parou no corredor, colocou as mãos na cintura e me perguntou curioso.

-- Quem é Alice?

-- Sou eu.

-- Ah, sim, claro. – E voltamos a caminhar. – Então Helenice...

E assim fui conhecendo meu trabalho. Em menos de quinze minutos já havia pegado todo o procedimento da
clínica e suas funcionalidades para trabalhar. Nada muito diferente do que já tinha visto em São Paulo e na
faculdade.

-- Valdelice, você pode se trocar ali... É onde aqueles meninos se trocam...

-- Alice.

-- Como?

-- Alice...

-- Ah Alice... – Ele repetiu ajeitando os óculos de grau. – Mas o que aconteceu com a Alice?

-- Não, meu nome é Alice.


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-- Eu já entendi que seu nome é Janice, agora vamos Doutora Valnilce, temos muito o que fazer.

-- Mas é Alice.

Quando consegui me livrar de doutor Chapatín, entrei no vestiário para me trocar. Como os vestiários dos
hospitais de São Paulo, era masculino e feminino, cheio de armários e enorme. De acordo com o número da
minha chave, meu armário ficava no meio. Após guardar minha mochila, tirei minha blusa e comecei a por as
roupas de trabalho.

-- Aliceee!

-- Rebeca!

O armário da minha mais nova amiga era bem ao lado do meu. Ela veio todo com medo me contar sobre o
papo que Duarte teve com elas. Engraçado, também tremia que nem vara verde quando algum residente vinha
falar comigo no meu primeiro dia.

-- Uma pena a gente não ter caído no mesmo grupo.

Ela ainda não sabia que eu não era interna como eles e por infantilidade acabei não contando, sai com essa.

-- Nos encontramos no refeitório na hora do almoço.

-- Ok, me bipa e a gente se encontra.

E ficamos tricotando um pouco sobre o novo serviço, ela me falou algumas coisas do Sul, eu falei de São
Paulo. O que mais gostei de Rebeca é que ela nem falou sobre o vídeo da morena comigo. Ainda de sutiã,
fechei a porta do armário e me preparava para colocar a blusa quando me deparei com um garoto me
encarando com um sorriso divertido.

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-- Você não é a mina do Diogo? – Ele perguntou rindo. Não, Deus, mais essa não. – A doutora sutiã dos
peitinhos gostosos...

E o babaca fazia graça colocando as meias por baixo da camiseta falsificando um busco. Ainda a plateia
composta por machos riam da minha cara e se divertiam as minhas custas. Que saudade do Marquinhos, essa
hora meu amigo já estaria dando um soco na cara desse imbecil. Rebeca me protegeu com seu jaleco e
enquanto fugíamos para o banheiro eu ouvia do grupinho.

-- Doutora sutiã volta aqui!

-- Vem cá, não foge com esses peitinhos gostosos!

Como essa gente fez medicina? Será que cada vez que tinham aula de anatomia era essa palhaçada? Não
eram nada mais que peitos. Alias, porque parte dos homens tem esse comportamento infantil, para não
dizermos retardado com peitos? E não venham me dizer que é mito porque não é. Qual menina nunca foi
zuada por um grupinho na purberdade por causa dos peitos? Ou porque eram grandes, ou pequenos demais,
ou porque começaram a aparecer, qual? Homens são muito bobos mesmo. Metade da população tem peitos.
Tá certo que algumas mulheres tem belos pares, como a Kate Walsh, por exemplo. Mas são só peitos. E
agora ia ter que aguentar aqueles adolescentes tardios por conta que os tenho. Peitos.

-- Não liga.

-- Eu sei, são todos uns babacas. No almoço vou te bipar.

-- Ok!

Na clínica meu serviço não era difícil, apenas casos comuns. Nada que um dipirona, um laxante ou um anti
alérgico não resolvesse. Apesar de fácil, não era pouco. Sempre tinha alguém para ser atendido. Na faculdade
e em São Paulo eu já tinha trabalhado com atendimento, logo peguei o ritmo. Só notei que era horário de
almoço depois que fui costurar a perna de um garotão de 17 anos que caiu andando de patins. Nem precisei
bipar para a Rebeca, quando cheguei no refetório a avistei na mesa com os outros novatos da Duarte.
Comida de hospital era aquela gororoba com sal de sempre, para disfarçar o gosto ruim priorizamos a
conversa.

-- Eu preciso encontrar algum lugar para morar. – Rebeca desabafou enquanto tentava encarar a carne assada
que estava em seu prato. – Acredita que eu estou morando no ferro velho em frente a pista de skate?

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-- Ferro velho lá da pracinha do centro? – Rafa a questionou.- Nem sabia que tinha casa lá dentro.

-- Eu moro dentro de um dos carros.

Todos nós a encaramos surpresos e Rebeca tratou de explicar.

-- Eu vou tomar banho aqui, to comendo aqui, durmo aqui, por enquanto da pra aguentar, mas eu preciso
arrumar um lugar para morar.

-- Esses infernos desses estudantes que lotam tudo. – Leandro comentou raivoso. – Acredita que fizeram um
churrasco até as seis da manhã em frente a minha casa? Não deu pra dormir...

-- Eu adoro eles. – Isa confessou. – São tão estúpidos, me dão chance de trabalhar. Chegou um que pegou a
namorada com outro e engoliu cacos de vidro tentando se matar. Oito pregos, acreditam? Vou estar na
cirurgia dele! – Nós todos a encaramos. – Qual é gente, somos médicos, precisamos de doentes para
trabalhar. E você, Alice, o que chegou?

Mulher com a garganta inflamada, duas meninas com catapora, um senhorzinho com o intestino solto, gripe,
alguém querendo um atestado médico para enganar um patrão e o garotão do patins. Emocionante!

-- Quase perdi um paciente. – Bruno chegava à mesa, parecia um tanto assustado. – Duarte quase me comeu
vivo. Eu fui passar o pós operatório para o sujeito, ele estava se soltando dos aparelhos sozinho.

-- E por que ela brigou com você? – Rafa questionou. – O que era pra você fazer?

-- Porque demorei para bipar e ressuscitei o cara sozinho. Umas duas vezes eu já fiz isso fora daqui...
Quando eu vi já estava... Sabe quando se perde a noção e na hora já esta fazendo?

Isa o encarou com um ar de riso, Leandro a alfinetou.

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-- Nem vem, você entubou um cara morto! Ele não é o único!

-- Duarte falou que era pra gente aprender a fazer. – Isa rebateu . – Eu já sabia que o cara estava morto. –
Na mesa todo mundo queria rir. – Já sabia mesmo.

-- Ninguém disse o contrário. – Bruno falou um pouco mais aliviado. – Você que esta falando ai...

-- Já que o papo é falar, por que você não diz como é ser dono de hospital? – Isa devolveu maldosa. – Já
esta até salvando os outros sozinho... Não precisa de ninguém.

O clima na mesa não ficou dos melhores. Bruno saiu com a desculpa de que perdeu a fome. Eu fiquei com dó.
Meus pais são médicos, eu odiava ser comparada a eles ou que alguém deixasse entendido que eu era
superprotegida, o que não era verdade. Agora imagina o Bruno o quanto não devia sofrer de comparações
com Natália e com o próprio avô fundador do hospital.

Nem fiquei muito na mesa. Me despedi de Rebeca e fui atrás de Bruno procura-lo primeiro nos lugares mais
óbvios, vestiário, jardim, quartinho de plantão. Nada. Bipei para ele, não respondeu. Voltei para a clínica,
atendi mais algumas pessoas e quando o movimento deu uma desacelerada fui falar com a mocinha da
recepção sobre bruno. Não tinham o visto. Outra vez procurei no quartinho de plantão, vestiário e nada.
Duarte e Natália estavam conversando na porta da diretoria. Quando Duarte ameaçou sair, fui correr atrás
dela.

-- Viu o Bruno?

-- Doutora Alice, a senhora não devia estar fazendo atendimento clínico?

-- Mas eu precisava falar com o doutor Bruno antes. Ele é seu interno, Doutora Duarte.

-- Por ele ser meu interno, fica sob minha responsabilidade. Volte para clínica.

Porcaria, custava ela falar sim ou não? Talvez até esteja falando mal do Bruno para a toda poderosa
“chefinha”. Não tive outra alternativa a não ser voltar a trabalhar. Quando cheguei na clínica, Chapatin estava
lá procurando por uma mulher.
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-- Cade a doutora Clarisse? – Ele perguntou a uma das meninas da recepção. – Viu por ali...

-- É com você... – A menina me cutucou.

-- Doutora Valise, a senhora esta, vem cá, quero que a senhora cuide de uma velha amiga minha. Uma
mentora...

Gente, quem teria idade pra ser mentora desse homem? Ressuscitaram a Dercy Gonçalves?

E lá fui eu, “Clarisse” sendo arrastada pelo Chapatin. Quando chegamos no leito uma senhora que devia ter
uns oitenta e tantos anos no esperava. Cabelos tingidos de loiro, altiva, austera, e bastante lúcida, parecia
simpática.

-- Boa tarde dona...

-- Regina. – O Chapatin tratou de apresentar. – Eu quero que você conheça a nossa grande doutora Heloíse,
não é Helena... Não... Como é mesmo seu nome, minha filha?

-- Alice. – Eu tratei de me apresentar. – Doutora Alice. A senhora pode me contar como tem sentido? Se tem
alguma dor...

-- Menina, velho tem mais dor do que fio de cabelo... – Ela me disse com um ar engraçado que eu acabei
rindo. – É tanta dor, é tanto remédio é tanta pílula que a gente tem que tomar uma pílula para lembrar as
outras pílulas que tem para tomar...

E a consulta foi seguindo nesse ritmo, ela me queixou de uma dor no abdômen. Enquanto ela estava deitada
na cama hospitalar e eu apertando sua barriga, alguém veio até nosso leito.

-- Será que eu posso dar uma olhada nesse caso, doutora Alice?

Lá estava ela, Natália. Devia ter acabado de sair de alguma cirurgia. Debaixo do jaleco pude reconhecer a

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

roupa azul do centro cirúrgico. Usava uma bandana azul mais escura combinando com a roupa de dentro.

-- Doutora Natália, eu creio que não é um caso cirúrgico, acho que posso...

-- Provavelmente não, mas com essa paciente eu faço questão... – Natália me disse já tomando a frente do
caso. – Já veio espiar a nova médica, não é vovó?

Vovó? Então aquela senhora simpática na minha frente que era a dona da cabana e presidente do Conselho
do Alonso Franco? Nunca ia imaginar, ela era tão simples.

--Só assim pra eu ver vocês, não é menina? – Carinhosamente dona Regina apertava a mão de Natália que
ajudava a avó se sentar na cama. – Ela só esta sendo simpática porque acha que eu vou morrer. – A
senhorinha me confessou rindo e fazendo Natália rir. – Corta o barato dela, doutora.

-- Vem com essa não, desde que eu era pequena a senhora esta morrendo... – Nat brincou me fazendo
lembrar a Nat da cabana, toda sorridente. – Doutora Alice essa mulher aqui é uma das melhores médicas do
país, fundadora do hospital ao lado do doutor Alonso Franco.

-- Seu avô...

-- Inferno de homem... – Dona Regina confessou outra vez me fazendo morrer de rir. – Bagunceiro, vivia
deixando tudo jogado pela casa, toalha em cima da cama, garrafa d’água vazia na geladeira... Fumava... E o
pior que o desgraçado era apaixonante. Tão parecido com o Bruno... Alias, cadê esse menino, não era hoje
que ele começava a trabalhar?

Natália enrolou a avô e deu uma desculpa qualquer, mas pelo que vi, não devia saber ao certo do irmão.
Despediu da avó, mas antes de sair da sala, me chamou discretamente e falou.

-- Da um laxante para ela, isso não é nada...

-- Ela esta reclamando de dor na barriga, eu preciso de uma chapa, um raio X, um...

-- Ela sempre vem com a mesma coisa. Diz que vai morrer, que quer passar os últimos momentos com a

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gente, solta uns três puns e depois já vai para casa. Eu conheço minha avó.

-- E o Bruno?

-- Eu disse que ele não passa de um moleque! Sumiu no primeiro dia de trabalho depois de quase matar um
homem.

-- Foi difícil pra ele, quase perdeu um paciente, levou bronca da Duarte, ainda apareceu a garota que... –
Como sempre eu já estava falando o que não devia. - Deixa pra lá...

-- Que garota?

-- Deixa pra lá...

Tentei sair e voltar para minha consulta, mas a mão de ferro dela me segurou pelo braço. Só com o toque de
seus dedos senti que minha pele esquentava como se tivesse levado um choque ou algo parecido. Natália
parecia também ter se arrependido do que fez, pois afastou a mão.

-- Por que você não procura e pergunta para o seu irmão?

Eu respondi cheia de raiva. Muito mais de mim do que da atitude dela. Anda dei uma olhada para trás. Lá
estava ela me encarando. Nossos olhos continuavam a se manter em contato. Só se quebraram quando um
dos idiotas que estava no vestiário veio e me chamou de “doutora Peitinhos”, envergonhada, corri para a
clínica. Trabalhei direto até ás quatro da manhã, só parei para jantar. Meu plantão acabaria ás sete horas da
noite. Sete e meia da manhã já estava de pé atendendo mais pacientes, onze e meia parei para um café e
encontrei Rebeca.

-- E o Bruno?

-- Esta se isolando. A Duarte não dá descanso para ele. Quando ele não tem nada pra fazer nem quer ficar
perto da gente...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Perto da Isa, né?

--É o jeito dela...

Como a clínica estava tranquilo, resolvi dar uma volta para conhecer mais meu ambiente de trabalho. Não
resisti e fui à ala mais fofa do hospital. Maternidade. Eu adorava ficar espiando aquelas vitrines cheia de
bebezinhos fofos. Em São Paulo sempre ia junto com a Lia e Renatinha, a gente até brincava inventando
nomes, profissões e gostos para os bebês. Quando cheguei lá, reconheci o rapaz barbudo que espiava as
criancinhas. Bruno. Quem diria que com aquela cara de mal, encontrava consolo naquelas criaturinhas quando
estava triste. Me detive ao ver que ele estava acompanhado de Natália.

-- Você acha que é assim, Bruno, como é que você quase me mata um paciente e não quer ouvir?

-- Em algum momento eu disse que não queria ouvir? Isso não tem nada ver.

-- Então o que tem haver?

-- Você tem haver, a vovô tem haver, o seu pai tem haver, a Julia... Todo mundo espera que eu seja, sei lá...
Um grande médico... Que eu seja genial que eu... Já viu o tamanho desse hospital, Nat? Você tem capacidade
de dirigir isso. Qualquer cara que deita em uma mesa de operação esperando que a vida dele melhore, confia
na sua cabeça, na equipe que você dirige e eu... Velho, eu só... Sou um peixe no meio de tubarões... Só por
que a gente é irmão, as pessoas acham que eu não posso errar? Que eu não posso não saber fazer? Que eu...

--Ninguém falou que ia ser fácil, moleque.

-- Eu não sou moleque!

-- Enquanto se comportar feito um, fazendo o que você fez ontem, você é moleque e é assim que vou te
chamar!

E saiu sem dar a chance do irmão responder. Minha raiva por ela só aumentou. O Bruno já tinha ouvido
bronca da chefe, não era isso que ele estava precisando. Eu pensei em sair de fininho, mas como era de se
esperar, deu errado. Quando me virei para ir embora, trombei com o carrinho que trazia almoços e uma
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marmita de sopa queimou a minha mão.

-- Alice, o que você esta fazendo aqui?

Dessa vez Bruno que fazia curativo em mim. Nós dois estávamos no quarto de plantão, ele já tinha resfriado
minha mão com água e terminava o atendimento.

-- Posso te fazer uma proposta doutora?

-- IiiiiiiH lá vem...

-- Você não comenta com ninguém que me viu babando naquelas criancinhas fofas para não acabar com
minha fama de bad boy e eu invento uma história melhor para sua queimadura. Se queimar com sopa de
mandioquinha é muito...

-- Idiota, eu sei... Feito!

Eu gostava de rir com Bruno.

-- O que você esta fazendo lá? – Ele me perguntou. – Trabalhando?

-- Não, fui dar uma olhada nos bebês e... Eu ouvi você com a sua irmã...

-- A Natália é uma idiota.

-- Você devia seguir o exemplo dela.


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-- Como é? – Ele estranho. – Da Natália?

-- Você acha que pra ela também foi fácil quando ela começou aqui? E pelo que eu soube, sua outra irmã era
residente, então o que mais tinha era nego idiota para comparar as duas...

-- Quem te falou da Julia?

Quem tinha me falado era Dona Regina. Toda orgulhosa falou que os três netos quiseram seguir carreira na
medicina. Julia e Natália se formaram com uma diferença de poucos anos e a mais velha já era residente
quando foi embora.

-- Conto o milagre, mas não conto o santo. Mas isso não importa também. Olha, o meu pai e minha mãe são
médicos também... Comparação é inevitável... Só nós mesmos que não podemos cair nessa, entendeu?

Bruno terminou de cuidar da minha mão.

-- Vou pensar nisso. – Ele me deu um abraço. -Obrigado pela força!

-- E minha mão, o que posso contar para os outros?

Perguntei já me levantando.

-- Você foi salvar uma criança de um incêndio. Menina. As pessoas adoram histórias com meninas.

Fiz um gesto afirmativo e me despedi dele com um aceno. Só fui parar de trabalhar quase no fim do turno.
Estava morta. Tomei banho na ala feminina do vestiário e fui colocar minhas roupas. Lá estavam os “super
viciados” em peitos para me encher.

-- Esses caras fizeram medicina mesmo? – Rebeca me perguntou indignada. – Que bando de idiotas.

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-- Vai ver nunca viram um na vida! – Respondi irritada.

Após não sei quantos gracejos, estava para sair da sala, quando a porta se abriu e eu cai de bunda no chão. E
como nada que é ruim vem sozinho, lá estava a mão de Natália para me erguer. Não aceitei ajuda, estava com
raiva por causa do fora que levei, por causa da ignorância que ela tratou Bruno, por causa da queda. Como
uma garota mimada, levantei e fui embora sozinha ainda ouvindo as graças por causa dos meus peitos. Quinze
minutos depois eu estava do lado de fora do hospital, ainda tentando saber como voltar para casa do meu tio
quando Natália parou com o carro bem na minha frente.

-- Será que a gente pode conversar.

-- Não tenho nada para conversar com você fora do hospital.

-- Mas se trata de um caso, doutora Alice. – Seriamente ela me garantiu. – É um assunto delicado. Eu posso
explicar enquanto dou carona para a casa do seu tio.

Bom, eu estava cansada, queimada, perdida. A casa do meu tio não era muito longe, então não seria muito
esforço. Entrei no carro e afivelei o cinto. Natália ligou o rádio, tocava Marisa Monte, “Eu sei”.

Um dia eu vou estar à toa


E você vai estar na mira
Eu sei que você sabe
Que eu sei que você sabe
Que é difícil de dizer
O meu coração
É um músculo involuntário
E ele pulsa por você
Um dia eu vou estar contigo
E você vai estar na minha

Enquanto eu vou andando o mundo gira


E nos espera numa boa
Eu sei, eu sei,
Eu sei

-- Qual é o caso?

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-- É um assunto sério, não posso falar enquanto estou no trânsito. Assim que eu parar falamos.

Mais essa. O jeito era respirar fundo e curtir a música. O pior que a letra da música só me fazia lembrar da
minha situação com Natália. A Marisa Monte cantando “O meu coração é um músculo involuntário e ele
pulsa por você”. Achei a palavra certa para definir minha atração por Natália: involuntária. Quando olhei,
não reconheci as ruas de Silvéster, já subíamos uma pequena serra.

-- HEY! Cade a casa do meu tio? Esse não é o caminho! – Natália deu um pequeno sorriso. – Não tem
graça!

-- Calma, doutora Alice!

-- Você vai parar esse carro agora e eu vou descer!

-- Acho que não passam táxis e nem transporte coletivo por aqui!

-- Natália, para esse carro agora se você não quiser que eu ligue para a polícia!

Natália respirou fundo e meio contra vontade parou o carro. Ótimo, estávamos no cruzamento de nada com
lugar nenhum e só ela poderia me tirar daqui.

-- Você é uma idiota!

-- Você não pediu para parar o carro. Parei!

-- Vou sair daqui agora. – Decidida, desfivelei o cinto.

-- Espera! – Novamente ela segurou meu braço com força. Só o toque dela parecia congelar meus
movimentos. Na hora parei. – Eu não te contei sobre o que era o caso. Depois disso te levo em casa, mas
antes quero que você me escute.

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Haja paciência! Respirei fundo e por fim disse.

-- Seja rápida. Qual é o caso?

-- O caso é que eu me segurei uma noite inteira dentro daquela cabana para não te beijar e fiz um esforço
enorme para não te agarrar e te dar um beijo na frente da casa do seu tio porque o jardineiro e o porteiro
estavam de olho na gente e sua tia Guida na janela podia nos ver, agora você esta morrendo de raiva de mim
achando que eu sou uma idiota que te deu um fora, o que posso fazer para...

Ela falou como uma metralhadora, tudo de uma vez, sem respirar. Podia até ter uma crise de asma na hora, eu
até ficaria preocupada se não estivesse tão feliz e repetindo mentalmente “-- O caso é que eu me segurei
uma noite inteira dentro daquela cabana para não te beijar... O caso é que eu me segurei uma noite
inteira dentro daquela cabana para não te beijar...” ela me queria e dane-se o resto. Nem ouvi o resto.
Só parei quando ela me perguntou.

-- O que eu faço agora?

Minha resposta foi instantânea. Levemente encostei meus lábios nos seus e tomei posse de uma boca quente,
delicada e saborosa dando inicio ao nosso primeiro beijo.

End Notes:

http://www.abcles.com.br/historias/viewstory.php?sid=997 Quem se interessar, tem


esse conto que ainda estou escrevendo!

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Capítulo 9 by Tamaracae

Author's Notes:

Feliz com os comentários meninas, boa segunda pra todas!!!

“Lésbicas devem fazer cursinhos secretos de como beijar outra mulher, só pode ser isso” . A primeira
ideia que me passou pela cabeça após deixar Natália tomar a minha boca foi essa. Só não cai porque estava
sentada, senti minhas pernas perderam totalmente a força. Natália estava me presenteando com um beijo que
era cópia fiel a sua personalidade. Candente, intenso e abusado. Nossas línguas pareciam saber o toque certo
para despertar o desejo e vontade uma da outra. O afastamento foi de forma lenta e suave. Presenteei a com
pequenos selinhos antes de nos separarmos de vez. Senti um toque suave na lateral do meu rosto, Natália
fazia carinho em mim com as costas da mão. Provavelmente minhas bochechas ficaram vermelhas na hora lhe
provocando risos.

-- Alice, como você pode me tirar tanto do sério?

-- Isso foi...

-- Loucura... – Eu tratei de completar. – Natália, você é minha chefe, a gente não podia fazer isso...

-- Por que? – Ela me perguntou provocando. Quando vi lá estávamos nós duas novamente há dois
centímetros de outro beijo. – Você pretende me processar por assédio?

Agora ela que me roubou o beijo. Perfeito. Na velocidade certa, nem muito molhado e nem seco, com
volume, mas doce... Não tinha como não corresponder. Estava cansada de negar para mim mesmo o que era
mais do que óbvio: sou lésbica e estou me derretendo de desejo por essa mulher. Só me restava uma opção,
seguir em frente e me perder nas minhas ações. Não sei se ficamos por ali por cinco minutos ou cinco dias,
mas nada mais me importava. Na minha cabeça só lembrava daquela música do Cazuza “Você tem
exatamente três mil horas pra parar de me beijar/Meu bem, você tem tudo pra me conquistar...”

Beijo de mulher além de mais delicado, percebi que tinha carinho. Tanto Natália quanto a motoqueira se
preocuparam em deixar transparecer isso pelo menos. Nossa, aquelas semanas de final de fevereiro e
comecinho de março estavam me fazendo bem. Motoqueira, Léo, Diogo e agora Natália, para quem se
achava a garota sem graça da turma, dias agitados. O mais gostoso de beija-la foi sentir o busto dela roçando
nos meus e pude notar a batida acelerada de seu coração. Quando parávamos, ela também não esquecia de
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me agradar. Sua mão encostava nas minhas costas, eu gostava de tocar o rosto dela, as vezes ficava olhando
feito uma boba.

-- O que foi?

-- Estou pensando, como alguém tão chato feito você pode beijar tão bem? – A risada que ela me deu foi
diferente das outras, cheia de charme. – Natália, você me faz perder o juízo! Estou chamando a minha chefe
de chata.

-- Levando em conta que você já me chamou de grossa e sem educação, chata nem é tão grave... – Ela
começou a aplicar pequenos beijinhos até alcançar o pé do meu ouvido e me deixava com a pele toda
arrepiada. – Você esta com frio?

É claro que o arrepio da pele não por conta do tempo, mas também batia uma brisa fresca no alto daquele
morro. Natália nem esperou minha resposta e me abraçou me protegendo.

-- Melhorou...

-- É claro que melhorou. Abraço já é bom, meu ainda só pode melhorar.

-- Metida!

Natália sorriu de um jeito matreiro que me encantou. Não resisti e fiquei fazendo carinho rosto, nos ombros,
ás vezes cafuné... Ali era um local gostoso e bonito para namorar. Dava para ver grande parte da cidade e
como já anoitecia, estava tudo iluminado por luzes elétricas. Trocávamos beijos, ás vezes ela que fazia carinho
em mim, gostava de tocar na minha pele, conversávamos mais um pouco e voltávamos aos beijos, mas como
tudo na minha vida, alguma coisa tinha que dar errado. Um raio caiu em Silvéster anunciando a tempestade
que estava por vir. Só foi ouvir aquele barulho horrível que me assustei e joguei meu corpo para trás. Ela já
sabendo do meu medo de raios voltou a me abraçar.

-- Odeio março por causa dessas tempestades.

-- Calma Alice, não vai acontecer nada. – E olhou bem nos meus olhos. – Eu estou aqui com você...
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Ela passou uma segurança tão grande que deu vontade de abraça-la ainda mais. Eu lembrei do nosso quase
beijo na cabana e me tremi inteira só imaginando o que mais poderia ter acontecido se o raio não nos
interrompesse.

-- Esta com frio? Se quiser eu tenho um casaco na bolsa...

-- Está perfeito... – Era apenas o que consegui dizer. – Eu não queria estar em outro lugar do mundo agora
que não fosse aqui, pois aqui está perfeito.

Novamente ela sorria, de um jeito tão especial, mordendo levemente os lábios. Não resisti e voltei a beija-la,
sem a pressa da primeira vez. Impressionante como eu não me intimidava quando estava junto dela. Sempre
tinha a necessidade de ir mais além, ela tinha o famoso gosto de querer mais. Eu não temia em sentir o toque e
ser tocada. Não era a frígida que acreditava ser quando estava noiva. Finalmente começava a entender o
sentido da palavra prazer.

Silvinha estava certa. Talvez a motoqueira tenha melhorado minha vida me libertando de algo que eu morria de
pavor de pensar que existia: minha sexualidade. Quando alguém me interessava, eu era incapaz de tomar a
atitude primeiro de correr atrás, mas agora não sentia mais vergonha de ter desejo. Me sentia completamente
viva. E adorava o jeito que Natália me olhava, com malicia, com admiração, afeto, tudo misturado. Uma de
suas mãos entraram por baixo da minha blusa, o contato da palma direto com meu abdomem me estremeceu
e ela sentiu. Dessa vez eu li um pouco de duvida nos olhos castanhos, não sabendo se devia seguir adiante ou
não. Respondi qualquer hesitação com um gesto. Aos poucos fui erguendo minha regata branca até me
desfazer completamente da blusa.

A barreira de chefe e funcionária, novata e experiente ou qualquer outro tipo de rótulo tinha caído naquele
instante. Só existiam Alice e Natália, duas mulheres. Os lábios dela invadiram agora meu pescoço. Só de
sentir o toque de sua língua na minha pele, me arrepiei toda e dei mais espaço para explorar. De olhos
fechados, estava praticamente flutuando, para aliviar a tensão, enterrei um das minhas mãos sobre seus
cabelos e puxava levemente. A língua urgente de Nat voltava a procurar a minha quando senti algo mexendo
na minha bunda, continuei a beija-la.

-- Seu celular...

-- Anota ai, é 98...

Ela sorriu no meio do beijo e me explicou.

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-- Esta tocando... Não atende, Alice, por favor...

Porcaria, eu toda animada achando que ela tinha mão rápida e era só a porcaria do celular no bolso de trás da
minha calça. Por pura intuição achei melhor não seguir o conselho de Nat e atender. Só foi ai que percebi que
estava sentada no colo da minha chefe, seminua, nós duas dentro de um carro se pegando feito duas
adolescentes.

-- Pode ser alguém do hospital, deixa eu atender... – Nat não se importou, enquanto eu abria o celular ela
continuava me beijando o pescoço, colo e me alisando com as mãos. Claramente o intuito dela era que eu não
me estendesse na ligação. - Alô?

-- Allie, tá transando com quem?

Era Rebeca. Sim ela é do tipo que você avisa não olha agora e lá esta ela virando a cabeça e apontando o
dedo. Indiscreta ao extremo. Notaram que na minha vida só aparece gente sem noção tipo Silvinha, Renata,
Marquinhos, agora Rebeca? A língua da Natália acordava todos os meus desejos, nem tinha como disfarçar.

-- Rê, eu estou meio ocupada, vou ter que desli...

-- Espera, Allie, eu achei uma casa, você disse que queria dividir o aluguel, vai querer olhar comigo? – Natália
achou de me provocar e começou a descer com os beijos eriçando toda minha pele. – Como você quer a
casa...

Com um telhado portas e janelas. Isso era hora de alguém me ligar?

-- Nã- Não sei...

-- Allie, tem certeza que não esta transando com ninguém?

Porcaria. Nem lembro a resposta que dei, mais sei que Natália até parou com os beijos dando uma
gargalhada. Mesmo com raiva teria que atender o chamado de Rebeca, casa em Silvéster estava muito difícil
e eu não queria continuar morando no meu tio, apesar de estar bem instalada.

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-- Você tem que ir mesmo?

-- A proprietária esta me esperando com a Rê... Eu preciso ver isso... – Para convencê-la dei um beijo todo
provocativo. – Ou você quer ter que se segurar cada vez que for me beijar por causa da minha tia?

Ela correspondeu meu beijo, mas ainda protestou.

-- Avise a Rebeca que ela vai ficar um mês sem entrar em cirurgias por causa disso.

Eu adorava também esse lado bobo dela. Descemos o tal do morro toda carinhosa uma com a outra, ela
ficava me olhando meio de lado, eu como não estava dirigindo provoca fazendo carinhos nada inocentes e sua
perna a ponto de Nat me avisar.

-- Alice, eu estou dirigindo, você já acabou com um carro meu assim que nos conhecemos, quer destruir o
outro?

Nesse clima chegamos na rua onde ficava a tal casa. Aproveitando que estávamos embaixo de uma arvore
frondosa, ela roubou um beijo rápido e me advertiu.

-- Para de sorrir feito boba e tira esses coraçõezinhos de desenho animado dos seus olhos.

-- Boba!

Outro beijo e dessa vez desci. No caminho Natália também recebeu uma ligação que teria que voltar para o
hospital e estava com pressa. Logo avistei Rebeca no portão conversando com uma senhorinha.
Cumprimentei as duas com beijinhos e entramos para ver a casa. Eu adorei. Arejada, espaçosa, três quartos,
o local era bom e não ficava muito longe do hospital, aluguel barato. Eu não parava de sorrir. Bom, do jeito
que eu estava se me oferecessem um quarto e cozinha no Iraque acho que aceitaria. Rebeca que veio me
chamar atenção.

-- Estava trepando com quem?

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-- Quem disse que eu estava trepando? – Sussurrei de volta. – Que fixação!

-- E essa sorriso de “ui, tive um orgasmo” é por quê? – Eu tinha feito um dos melhores semi sexos da minha
vida e a mulher queria que eu fizesse o que? Chorasse? - Depois você vai me contar tudo.

Após quinze minutos de conversa, decidimos. Vamos ficar com a casa.

-- É bom poder confiar o imóvel para meninas tão ajustadas. – A senhorinha nos disse com um sorriso nos
lábios. – Sabe como é, eu alugava para essa meninada nova que chega na cidade, tudo sem cabeça, tudo
irresponsável. Mas vocês eu vejo que são diferentes...

-- Obrigada Dona Marieta...

-- Só que por mera formalidade eu preciso do contrato de vocês... Quando vão me trazerem.

-- Que contrato? – Eu perguntei curiosa. Pelo que eu sei, quem faz o contrato é o dono da casa e não quem
aluga. – Contrato?

-- O de união estável, filhinha... – A maternal dona Marieta me disse fazendo um carinho no rosto e tratou de
explicar. – Sua companheira me disse que estava com você...

-- Companheira?

-- É amor, aqui a gente não precisa disfarçar.

-- Eu só alugo imóveis para família e Rebeca me fez entender que vocês são uma família feliz. – Dona Marieta
sorridente me disse. – Eu vou deixar vocês à vontade.

Só esperei a velhinha sair dali para atacar Rebeca.

-- Agora a gente é uma família feliz?

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-- Você queria o que? Alice, eu estou morando dentro de um Fusca 77. E desconfio que tenho companheiros
de quarto.

-- Casal?!

-- Eu ia fazer o que?

Após muita discussão, fechamos com a mulher sobre o contrato de União Estável lembrei de minha conversa
com Bruno e sai com essa.

-- Queimou no incêndio. Só deu tempo de salvar minha irmã de seis anos. Os papéis ficaram todos... Até
queimei minha mão...

-- Coitadinha...

Em três dias poderíamos mudar. Nesses três dias aconteceu muita coisa. Vários acidentes no hospital,
apresentei Silvinha a Rebeca, sai com Bruno, reencontrei João, meu pai me ligou, comecei a embalar minhas
coisas para me mudar, assumi para Silvinha que fiquei com Natália. Sobre tudo pensei nela. Natália me
provocava uma metamorfose de sentimentos. Raiva, atração, ódio, admiração e sobretudo confusão. No dia
seguinte de nossa ficada, aguardei o dia inteiro por uma ligação dela e morri de ódio ao lembrar que não
passei o número do celular para ela. Ainda tive mais raiva quando lembrei que ela não pediu.

Nos outros dois dias, fiquei circulando pela ala cirúrgica do Alonso Franco. Só consegui me aproximar dela
uma vez e não deu certo, quando ia lhe dar um oi, Duarte chegou com notícias.

-- Natália se prepara para entrar em cirurgia. João Ninguém por volta de 22 anos sofreu um acidente de moto
e esta com suspeita de lesão na cervical. Estamos tentando achar a família.

Depois sumiu por dois dias. Minha revolta só aumentava calculando quantas vezes ela já tinha feito isso com
outras e só eu tonta cai. No final do terceiro dia, Rebeca inventou de fazermos uma reunião na nossa casa
nova. Chamamos umas quinze pessoas, só chegados mesmo, Silvinha, Bruno, Rafa, Isa, Leandro, Lolô amiga
da minha prima e alguns outros internos. Todo mundo ficou muito a vontade, mas eu não conseguia relaxar.
Tudo era muito chato sem ter ela por perto, eu sentia falta até dos coices. Se fosse um joguinho, eu entregava
meus pontos aquela hora só para declara-la campeã e acabar de vez com aquela brincadeira de gato e rato.
No meio da festinha acabei me isolando por alguns minutos e alguém foi atrás de mim: Isa.
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Isa era legal, só um pouco competitiva quando estava trabalhando, mas legal. Tinha um humor negro que eu
adorava, sabia me fazer rir e sobretudo, era bonita, muito bonita. Os cabelos escuros contrastavam com a
pele clarinha e ressaltava seus olhos verdes. Expressões doces no rosto, lembrava uma bonequinha. Quando
dei por mim, nós duas estávamos na garagem aos beijos, dentro do fusca 87 de Rebeca. Sim, a Re se apegou
tanto na porcaria do fusca que levou a carcaça dele como recordação. O beijo dela não era ruim, mas não
funcionava. Não era a mulher que eu queria. Quando nos separamos, não deu outra, Isa e eu começamos a
rir.

-- Acho que a gente é só amiga mesmo Allie!

-- Eu sei isso foi estranho.

-- Foi, foi sim.

Eu não era do tipo que gostava de ficar casualmente, mas agora aquilo fazia parte da minha vida, como se eu
estivesse participando da revolução sexual dos anos 70. Era bom, era gostoso, só não era com quem eu
queria. No dia seguinte, sábado quando fui me trocar no vestiário, alguém me puxou para um quartinho
deserto. Nem vi quem era, quando ia abrir a boca para gritar, Natália finalmente se revelou.

-- Que susto!

-- Só assim para consegui falar com você! – Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, ela me roubou um
beijo delicioso com um gosto doce. – Fiquei o dia todo presa fazendo operação, depois tive que ir pra São
Paulo e...

O bipe a chamava. Alguém a roubaria novamente de mim.

-- Eu tenho que ir, mas eu te ligo.

Dizendo isso me jogou o próprio celular nas mãos.

-- Mas o que você esta fazendo?

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-- Só assim para eu saber o número do seu celular, né fujona?! – Me deu um outro beijo e confessou. –
Fiquei morrendo de saudade de ouvir a sua voz... – E emendou um outro beijo que me tirou do sério. – Se
quiser tem os meus outros números. Me liga!

Me liga! Duas palavrinhas que pareciam mágicas para mim. “Me liga, me liga, me liga!” Ela queria ouvir minha
voz, ela sentiu saudade, ela me beijou! Engraçado como são as coisas. Eu acreditando que ela queria escapar
de mim e ela me chamando de fujona, o que a falta de comunicação não faz, não é mesmo? Agora esse não
era mais o nosso problema. “Me liga!”

Em casa, como sempre eu era alvo de sarro de Silvinha. Quando ela me viu toda boba com o celular logo
ficou cantando “Tá namorando, tá namorando” feito uma retardada, me chamando de primeira dama do
hospital entre tantas outras besteiradas, mas mais que a trollação o sentimento da minha prima era espanto.

-- Sério, nunca vi a Natália com ninguém... Tipo, ninguém assim sério, sabe, sei lá, nunca nem pensei nela
fazendo sexo...

-- E nem é pra pensar! Silvinha!

-- A gente é prima, tem que compartilhar essas coisas, Allie!

No domingo teríamos folga e Silvinha inventou de aproveitarmos a fazenda do meu tio. Rebeca foi junto com
a gente, mas assim que chegamos vi que teríamos que trabalhar. Um armário de quase duzentos quilos caiu
em cima de um dos peões da fazenda o deixando entre a vida e a morte. O acidente aconteceu na casa de
ferramentas da fazenda. Quando chegamos lá vimos sangue para tudo quanto era lado e alguns peões se
decidindo entre levantar o armário ou esperar o resgate que já estava a caminho. Minha prima sempre tão
divertida assumiu a personalidade de mulher séria e tentava controlar os ânimos da mulher e das crianças do
peão.

-- Doutora, por favor, salve Raimundo. Esse homem não pode morrer.

-- É perigoso a gente mexer... – Rebeca tentava se explicar. – O Resgate já esta a caminho se a gente
mexer...

-- Se levantar esse armário o Raimundo sangra até a morte. – Eu disse. – Beca, vê isso aqui?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Tá espetando o braço dele tipo uma pinça arterial...

-- Ele perdeu muito sangue, a gente não pode levantar isso porque ele vai sangrar até morrer, esse cara
precisa de uma Arteriotomia.

-- Arteriotomia? – Rebeca me perguntou. – Você sabe fazer?

Arteriotomia era um procedimento da cirurgia cardiovascular. Eu já tinha feito várias vezes em São Paulo
porque queria me especializar em operar coração. O problema é que só estava com uma das mãos boas, a
outra ainda tinha curativos da queimadura da sopa de mandioquinha. Não tinha como eu fazer e ele não
aguentaria o resgate chegar.

-- Quem vai ter que fazer é você Beca!

End Notes:

Rebeca faz ou não faz? Até quando vai durar essa trégua entre Nat e Alice?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 10 by Tamaracae

-- Não, Alice. – Rebeca estava com a pele tão vermelha quanto seus cabelos, buço levemente molhado de
suor, olhava desconfiada para os lados, realmente estava nervosa. – Alice, eu nunca fiz isso, eu nem sei como
fazer...

-- Eu ensino, eu já fiz, eu posso ensinar.

-- Isso. – Silvinha tentava me ajudar. – Beca, é só você seguir o comando.

-- Não, eu... O resgate já foi chamado, é só a gente manter ele acordado e...

-- Não dá tempo Rebeca. Esse cara precisa ser tratado com urgência.

Eu já imaginava que ela não ia topar, era muita pressão. Por dentro eu estava odiando ter que fazer isso.
Rebeca há duas semanas cuidava de pacientes mortos, agora era ela a própria médica. Com uma semana nem
deve ter segurado em alguma lâmina, quanto mais fazer um procedimento desses. Por outro lado, era meu
dever insistir já que eu sabia que podia salvar a vida do homem.

-- Rebeca, eu sei que você esta nervosa, que você esta com medo... Mas esse cara só tem a gente... Ele vai
morrer de qualquer jeito, a única chance da gente salvar ele é essa... Eu confio em você.

Como se precisasse tomar coragem, minha amiga encheu os pulmões de ar e por fim concordou.

-- Vamos salvar esse cara... Por onde eu começo?

Abri o estojo de instrumentos do médico da fazenda e entreguei a lâmina apropriada na mão da minha amiga
que já se higienizava e colocava luvas.

– Não é difícil, só se concentrar e prestar atenção em mim...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Rebeca assentiu mais uma vez e eu comecei a lhe dar ordens. Em poucos minutos ela já começava o
processo. Mesmo temerosa, seus movimentos eram seguros. Não se impressionou com a quantidade de
sangue e nem com a pressão que Silvinha, os peões e todo o resto vinha colocando em seu trabalho. Um
daqueles caras ao ver a ferida aberta ameaçou vomitar.

-- Tira ele daqui! Rápido!

Não pensem que só porque eu não cortei o sujeito que estava calma, morria de medo de errar em alguma
coisa. Levaram o peão embora. Tudo corria conforme o esperado para nossa sorte. Ouvimos o barulho de
sirenes e alguém veio dizer que o resgate chegava.

--Agora você tem que gentilmente pinçar a artéria...

E foi no que Rebeca fez. Justamente nessa hora, Raimundo começou a se mover desesperado. Acordava com
a dor do braço aberto.

-- Não. Não, Raimundo não se mexe.

O cara mal podia escutar a gente. Rebeca tentava ser rápido enquanto eu tentava controla-lo, em vão. Nessa
hora o resgate chegava. Isa e a própria Natália vinham junto com a equipe de paramédicos e um residente que
eu não conhecia.

-- Raimundo, você tem que parar senão a artéria vai se romper.

-- O QUE VOCÊ ESTÃO FAZENDO? – O tom que Natália usou não foi nada agradável. – EU FUI BEM
CLARA QUE ERA PARA ESPERAR O RESGATE!

Não dei ouvidos e fiz sinal para Rebeca continuar o que estava fazendo, seu trabalho. Raimundo voltou a se
mexer e agora gemia com mais força.

-- Não!

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Não era acostumada a falar muito com os pacientes quando estavam operando até porque a maioria que
operei estava desacordados. Segurei uma das mãos de Raimundo e me deitei no chão para ficar da altura de
seus olhos.

-- Eu sei que esta doendo, mas você precisa aguentar e ser forte. Eu prometi pra sua mulher que faria o
possível para te salvar, você tem que me ajudar. Se concentra em mim, vamos Raimundo!

Mesmo com dor, ele fez um positivo para mim piscando os olhos. Fiz sinal para Rebeca continuar seu serviço.
Natália esbravejava pelos cantos e eu rezando mentalmente para que rebeca não se perdesse por causa disso.
Só consegui respirar aliviada quando Rebeca verificou a pressão de Raimundo e garantiu aliviada.

-- Não temos hemorragia. – Orgulhosa ela ordenou. – Podem levantar o armário.

Não vou mentir. Eu também estava com o peito estufado de orgulho. Quando vi aquele homem ser removido
com vida e sinais estáveis, não pude deixar de sorrir satisfeita. Natália deu ordens ao residente que seguiu na
ambulância com os paramédicos. O maior perigo parecia realmente ter passado.

-- Oi! Tudo bem?

-- Tudo bem? – Ela me perguntou com um sorriso sarcástico. – Tudo bem?

-- Não esta tudo bem?

-- Você só pode estar brincando comigo, Alice. – Ela me disse em um tom que não era para ser levado como
brincadeira. – Você simplesmente ignora uma ordem minha, ignora quando eu questiono o que você esta
fazendo e você me pergunta se esta tudo bem? Sinceramente Alice, por que você não tenta carreira como
piadista?

Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, ela saiu andando. Não estava acreditando que ela agiria assim
comigo depois de termos nos acertado. Simplesmente não era justo.

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-- Você esta falando...

-- Do que acabou de acontecer, Alice... Eu dei ordens para aquela menina só manter o cara acordado,
quando eu chego aqui vocês estão fazendo um procedimento cirúrgico com o paciente acordado. – Natália
fez uma pausa, parecia irritada. – Uma interna, Alice? Você colocou a vida daquele homem nas mãos de uma
interna idiota? – Rebeca estava ao nosso lado, ela nem se preocupou em falar baixo. - Será que você pensou
na família dele, pensou nos filhos?

-- A Rebeca salvou a vida dele.

-- Você e essa menina agiram como duas garotas irresponsáveis. – Nunca tinha visto Natália tão minha chefe
como naquele momento. – Aquele homem podia ter morrido, você não tinha nada que...

-- Colocar o nome do seu hospital em risco! – Eu devolvi no mesmo tom. – É isso que você esta pensando?
Alias, deve ser só isso que você pensa vinte quatro horas por dia, não é mesmo? Com certeza deve ser a
única coisa que realmente te importa.

-- Eu me importo em fazer meu trabalho direito. Me importo em ser responsável, eu me importo em ensinar
esses garotos que saem da faculdade sem saber entubar um cara se tornarem médicos de verdade... Esse é o
meu trabalho e não o seu...

-- Doutora Natália, a senhora queira me desculpar, mas... – A coitada da Rebeca gaguejava mais que disco
arranhado. A verdade era que todo mundo agia assim só de chegar perto da doutora Natália. As únicas
pessoas que não temiam em falar no mesmo tom eram os atendentes e Doutora Duarte. – A Alice não me
obrigou a fazer nada. Eu fiz arteriotomia sozinha.

-- Vocês nem pensam sozinhos! Olha aqui garota, é bom você sumir da minha frente e vir falar comigo só
quando eu mandar se você tem algum amor na sua residência! – Rebeca correu mais rápido que o Papá
Léguas. Natália voltou a me encarar. – E você, não esqueça que sou sua chefe.

-- Não se preocupe, não vou esquecer disso por nem mais um minuto. Peguei o celular que ela tinha me
entregado. – Alias é única coisa que somos a partir de agora, patroa e empregada!

E sai deixando sozinha naquele galpão velho. Minha cara não estava das melhores, por isso tratei de me
esconder. Como se tivesse instalado um GPS na minha pele, Silvinha me encontrou em um dos meus lugares
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preferidos da fazenda. O rio que cortava o terreno, fiquei ali sentada em um pedrona que tinha na margem,
por horas, pouco me importando com os pernilongos acabando com minha pele.

-- Vim te avisar que o Raimundo esta bem e consciente. Ele quebrou uma costela, teve mais algumas fraturas,
mas vai ficar bem...

-- Que bom pra família dele.

-- E você? Como esta?

Infantilmente dei os ombros, minha prima se sentou ao meu lado.

-- A Nat não é uma pessoa fácil...

-- Silvinha, já estou na lama, não dá pra correr a parte do “Eu avisei” e você me abraçar logo?

Foi o que ela fez. Não sei quanto tempo fiquei naquele abraço, mas era bom sentir querida por alguém. Eu era
boba mesmo, só uma ficada, uns beijos e eu já estava ali toda sofrida. Nos últimos dias eu andava muito
sensível. Chorando por tudo. Chorei de raiva da Nat achando que ela estava fugindo de mim, chorei com meu
pai no telefone, chorei porque minha mãe não falou comigo, chorei vendo a novela das seis, acho que chorei
até uma topada que dei no dedo de quando eu tinha nove anos e não chorei na hora.

Droga de vida, droga de março que só chove, droga de emprego, droga de hospital que me faz lembrar a
Natália, droga de menstruação que não desce e faz parar esse chororô todo... Estava é cheia de tudo. Já
tinham se passado quatro dias do acidente de Raimundo e nada da gente se falar ou se ver, mas continuava
pensando nela. O bom de ser médico é que se trabalha muito e eu enfiava a cara no meu para distrair. Só ia
para casa quando me obrigavam a desocupar as macas e camas do hospital. A única novidade que tive essa
semana além de me mudar para a casa nova é que contei a Rebeca sobre eu e Nat. Foi na segunda feira, no
nosso primeiro dia na casa.

-- Era com ela que você estava, não é?

-- Ãh?

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-- Com a chefe. Alice, quando eu te liguei pra ver a casa, era com ela que você estava transando. – minha
cara deve ter entregado tudo de bandeja, ela veio toda animada para o meu lado. – Sabia, me conta tudo!

-- Contar o que? Não tem nada para contar!

-- Alice, eu vim de um lugar que a mais boba foge correndo de salto alto e de costas! Eu não sou burra! Era a
Nat que estava com você aquele dia! Eu vi o carro dela e logo você chegou, depois vocês tem aquela briga na
minha frente e...

-- Tá bom, era com a insuportável da Natália. Satisfeita?

-- Claro que não, me conta tudo. E com detalhes!

Desde então Rebeca virou minha confidente no assunto Natália e mulheres. Ás vezes estava atendendo
alguém ou tomando café quando chegava uma mensagem da Beca no meu bipe falando: Ela esta indo ai pra
clínica. Ou senão: Ela esta no café. Vai lá agora. Ela queria por que queria nos juntar.

-- Alice, tipo, se ela arranjar alguém para encher, vai encher menos a gente...

-- Eu já falei que ela é só minha chefe. Estou em um programa de doze passos.

-- O que?

-- Nunca ouviu falar no programa doze passos dos alcoólicos anônimos? Então entrei... Só que no meu caso
é...

-- Natálias Anônimas?

-- Me afastar de relacionamentos malucos anônimos. Meu ex noivo me traiu com uma biba tatuada, eu passei
uma noite com uma bêbada que se fantasia de mexicano. O cara que estava afim de mim, que é relativamente
normal e estável eu o decepcionei falando que era gay, a Isa a gente foi trepar e viramos uma videocassetada,

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a Natália eu nem preciso comentar... Eu vou participar de um programa doze passos para parar de sair com
gente maluca.

-- Vai em um terreiro, talvez uma mãe de santo limpe você... Só não vou porque morro de medo de bicho, fui
macumbeira por dois dias na minha vida. Colocaram uma galinha na minha frente corri do sul até aqui... Mas
eu estava assim antes de vir pra cá...

-- E agora você esta?

-- Fazendo parte do seu programa. Evitando me enfiar em confusão.

-- É isso que a gente precisa, amiga! Uma apoiando a outra, feito um time. – Nós batemos as mãos que nem
aqueles jogadores de basquete quando fazem cesta. – A gente vai ser forte.

-- Relacionamento sem confusão?

-- Relacionamento sem confusão!

Fechamos nosso acordo com um aperto de mão. Quebramos nossa promessa aquela noite mesmo de forma
involuntário. Três e meia da manhã, ouviu um barulho na minha porta. A principio achei que era sonho. Depois
vi que era pesadelo, Rebeca realmente estava na minha porta.

-- O que foi?

-- Ouvi um barulho no quintal.

-- Não é nada, volta a dormir.

-- Posso dormir aqui com você?

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Meio contra vontade, concordei. Rebeca parecia que dormir dançando mambo ou lutando UFC, toda hora se
mexia, acordei com duas mãozadas na minha cara. Dessa vez eu que ouvi o barulho. Realmente tinha alguma
coisa no quintal. Talvez um gato boêmio ou algo do tipo. Quando coloquei a cabeça no travesseiro, o barulho
voltou, dessa vez com mais força e ouvimos um gemido.

-- Eu estou com medo. Vai na frente, Allie!

-- Por que eu?

-- E por que eu?

Nossa discussão besta durou poucos minutos. Armadas de um bisturi e uma panela de pressão atravessamos
o corredor externo da casa. Deixo bem claro que a panela de pressão estava nas mãos de Rebeca que
justificou que na guerra vale tudo.

-- E agora, o que a gente faz?

-- Seu ladrão, você tá ainda ai? – Rebeca perguntou me provocando um ataque de risos. - Alice!

-- Seu ladrão?!

Continuamos em frente e logo o mistério foi desfeito. Descobrimos o gatuno dentro do fusca 77, mais bêbado
que um gambá.

-- Bruno? – Perguntamos ao mesmo tempo. – O que você esta fazendo aqui?

-- Ela tirou o meu fusca... – Ele disse com a voz pastosa. – Briguei com a minha mãe... Sai de casa...

-- Eu falei que tinha alguém dividindo o fusca comigo! Eu falei e você não acreditou, eu falei!

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-- Ótimo, você briga com a sua mãe e acha de morar na minha casa?

-- Eu vim morar no fusca!

Não ia adiantar discutir, ele estava bêbado demais. Bruno dispensou nossos cuidados e tratou de dormir no
próprio fusca. Sua sorte foi que na manhã seguinte estava de folga, mas a ressaca era sem tamanho. Deve ter
bebido um alambique inteiro pela cara que ficou. No hospital, chamei Rebeca em um canto para
conversarmos.

-- Falou com o Bruno?

-- Esta tudo resolvido.

-- Ótimo, quando ele sai de casa?

-- Não, aluguei o fusca pra ele.

-- O que? Você alugou o fusca?

-- Essa época é terrível achar vaga em Silvester, tadinho, ia deixar o menino na rua? Eu disse pra dona
Marieta que ele é seu primo e vai ficar por uns tempos lá...

-- Rebeca...

-- É só alguns dias, coitado...

O alguns dias de Rebeca pelo que eu conhecia duraria meses. Eu tinha que resolver essa situação de alguma
forma. A única saída que eu vi foi doutora Duarte. Além de funcionária de confiança, ela era amiga da família
de Bruno, poderia me dar alguma solução. No intervalo procurei falar com ela.

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-- Doutora Duarte, será que poderíamos conversar? Sabe o que aconteceu, ontem a noite eu estava com a
Rebeca no quarto e...

-- Doutora Alice, sua vida sexual com sua companheira de quarto nem é da minha conta...

Enquanto ela andava organizando algumas fichas eu ia atrás.

-- Não, doutora Duarte, é... eu e a Rebeca somos só amigas e é um assunto sobre a família Franco.

-- A família Franco?

-- Sim.

-- Algum deles esta para operar?

-- Que eu saiba não...

-- Então também não é da minha conta...

-- Espera, doutora Duarte é um assunto importante... O Bruno há alguns dias foi para minha casa e...

-- Doutora Alice, reforço a dizer que sua vida sexual não é da minha conta...

-- Não, espere... Ele chegou bêbado dizendo que saiu de casa que brigou com a mãe dele e...

Finalmente parecia ter aguçado o interesse dela.

-- A Abgail e o Bruno brigaram e ele saiu de casa?

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-- Sim, senhora...

-- Deixa eu adivinhar, você não quer manter ele dentro de casa para não ter confusões com a dona do
hospital e nem com sua chefe que por caso é irmã do Bruno, mas por outro lado não consegue colocar ele
para fora de casa porque...

-- O Bruno é meu amigo...

E então pela primeira vez vi algo inédito para mim, que eu nem sabia que existia. Duarte sorriu.

-- Aquele sorriso deles, aquele maldito sorriso cativa a gente, não é? - Saudosa. – Parece que a história se
repete, ela brigava com a mãe e acabava sempre dormindo no sofá da minha casa... Bagunceira, teimosa feito
uma mula, folgada... Mas era só dar aquele sorrisão que eu baixava a guarda... Impressionante como o Bruno
é parecido com a... – Notando que estava falando demais ela apenas se cortou e disse. – Esquece...

-- Parecido com a Julia? – Eu perguntei curiosa. – Era isso que você ia falar?

Duarte parecia surpresa, nem disfarçou me perguntando.

-- Quem te falou sobre a Júlia?

-- A gente ouve por ai... Minha prima comentou algumas coisas sobre ela... Que era parecido com um Bruno,
meio doida, mas...

-- A Julia era completamente porra louca. O Bruno é uma freira perto do que ela aprontava. Bebia, se perdia
por ai, ia presa, entrava em briga, esquentada... Sempre brigou com a mãe. Ela nunca pensava no amanhã...
Mas por outro lado... Quando dava os cinco minutos dela, era a pessoa mais doce e mais honesta do mundo.
Era capaz de mandar dez para o hospital por uma bobagem, mas jamais aprontava pelas costas, jamais se
calava diante de uma injustiça... – Novamente notou que falava demais. – O Bruno não é de ficar esquentando
lugar por muito tempo... Naturalmente ele vai embora...

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E me deixou ali sozinha. Nem sabia que Duarte poderia ser amiga de ninguém, me surpreendi. Ela tinha
acertado em cheio. Cada vez eu me envolvia mais com a família Franco. E já estava demais para o meu gosto.
Quando estava voltando para ala de atendimento, ainda cruzei com Natália, ela tinha acabado de sair de uma
operação, estava cabisbaixa. Logo atrás encontrei com Isa.

-- O que aconteceu?

-- Uma senhora com tumor maligno na cabeça... A Natália fez de tudo para salvá-la, mas tarde demais... Ela
foi dar a notícia ao marido.

-- Ela esta assim por causa da operação?

-- Não sei, ela parecia muito empenhada em salvar... Vou voltar a trabalhar.

Eu fiz o mesmo. Como estava de plantão e de madrugada o Pronto Socorro esta vazio poderia cochilar.
Quando cheguei no quartinho dos plantonistas estava cheio. Eu estava morta de sono, pelo menos uns vinte
minutos tinha que encostar. Lembrei então de um lugar que ninguém estaria para me incomodar: necrotério.
Bom, se eu não acordasse sendo preparada para entrar em um caixão, tudo bem. Quando cheguei lá, tratei de
forrar um lençol limpo em um dos bancos e deitei. Só baixar a cabeça que o sono veio. Em vinte minutos eu
acordava. Alguém tinha entrado. Na primeira instancia não reconheci. Só depois de colocar os óculos, vi que
era minha chefe com um dos cadáveres e vi que era o corpo da velhinha.

Nat chorava de forma silenciosa, sofrida, como se não pudesse fazer barulho. Pegava na mãos da velhinha,
acariciou os dedos com cuidado, se despedindo. Eu não queria ser vista, mas com minha habilidade, acabei
sem querer derrubando uma maca, fazendo Natália se virar subitamente.

-- De-Desculpa e –eu... E-E... – Ela não riu como sempre ria dos meus desastres. Estava sentindo tanta falta
do seu riso. – Tu-Tudo bem?

Ela apenas fez um gesto negativo com cabeça e me surpreendeu mais uma vez me dando um abraço e
molhando meu jaleco com lágrimas. Correspondi.

End Notes:

O que será que aconteceu, hein?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

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Capítulo 11 by Tamaracae

Author's Notes:

Obrigada pelo carinho! Boa leitura.

Capítulo 11

--Eu estou muito cansada. É isso, acho que estou cansada demais.

Foi apenas o que consegui arrancar de Natália após ela voltar a chorar silenciosamente nos meus ombros.
Como o ser humano é engraçado, para não falar complicado. Sempre quando nos sentimos fracos,
procuramos logo por uma caverna para se esconder. Não apenas por proteção, mas por vergonha de
estarmos vulneráveis. Natália achou no meu abraço uma maneira de esconder seu rosto de mim. A fraqueza é
dos defeitos que mais nos aproxima do que é literalmente ser humano escondemos e outros defeitos muito
piores do que não ser forte por vinte quatro horas não temos vergonha de exibir por ai.

Quando a abracei de volta, compreendi que inconscientemente já estava disposta a esquecer de nossa
discussão por conta do acidente do funcionário do meu tio. Comportamos feito duas crianças e nem damos o
devido valor a verdadeira salvadora daquele dia: Rebeca. O fato era esse e não podíamos mais mudar o
curso da história. Só queria ver Natália bem outra vez. Até daquele “arzinho” superior que ela exalava ao me
chamar de “garota” cheia de deboche me fazia falta.

-- Nat, eu vou pegar água pra você, e conversamos, tudo bem?

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Surpreendentemente ela aceitou minha sugestão. Para aquela cabeça dura não rebater nada era para me
preocupar. No caminho até o bebedouro, criei um milhão de versões sobre o cansaço que ela havia me dito.
Será que ela esta cansada de quem? De mim? Dos internos que a maioria só não sabem fazer trapalhadas e
ela tem que arrumar tudo. Cansada de ser médica e ela esta pensando em largar tudo para virar, sei lá...
Vendedora de artesanato no calçadão da praia? Não, Nat não faz esse tipo. Ela é do tipo de cirurgiã que só
vai largar o bisturi quando obrigarem. Cansada do João ela não esta porque adora ele. E se o cansaço for
algo relacionado com doença? Asma! É lógico, ela tem asma. Será que ela achou mais alguma coisa no
pulmão e estava escondendo de todo mundo? Que horror, coitada! Cheguei com o copo da água já
montando toda uma tragédia que Natália ocultava de todos e riria revelar só a mim. Lá estava ela, ao lado do
corpo da senhora que tinha acabado de perder.

-- Há quanto tempo você descobriu?

Ela pegou o copo d’água, agradeceu, mas nem me olhou e apenas disse.

-- Tem uns três anos, mas pelo tamanho do tumor devia ter ficado lá por no mínimo uns oito.

-- Oito anos e você nunca contou para ninguém?

-- Oito anos atrás eu estava no ultimo ano da minha residência não tinha nem ideia.

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-- Mas e esses três anos, por que você não contou para ninguém?

-- Alice, eu já te disse, segredo, orgulho. É muito difícil para algumas pessoas admitirem que estão morrendo.

-- E agora? Por que você resolveu falar?

-- Porque não tem mais nada para ser feito. Agora é preciso aceitar.

Três anos. Se a Natália não fosse morrer logo como ela estava me dizendo, eu mesmo iria mata-la. Ela é
médica, como ela simplesmente abriu mão de tratamento por três anos? Que ódio! E como ninguém que
convivendo com ela todo esse tempo não percebeu que ela tinha um tumor? Deus, eu reclamo da vida, mas se
descobrisse hoje que tinha um tumor, não ia pensar duas vezes em me tratar. Agora tudo fazia sentido, as
mudanças de humor, a falta de sensibilidade com o irmão. Bruno, maldito, egoísta, só dava trabalho, olhava
para o próprio umbigo nem para notar que a coitada estava doente.

-- Aceitar, Nat, mas você fala assim, nessa tranquilidade? Aceitar?

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-- Você acha que não é duro para mim também? – Dessa vez ela me encarou, não chorava mais, mas seu
nariz estava vermelho, a voz tristinha. – Não queria que fosse comigo. Mas o que eu posso fazer?

Não respondi, só não chorei para que ela não voltasse a chorar, mas a tomei nos meus braços novamente.
Como alguém de trinta e dois anos podia receber uma sentença daquelas? Trinta e dois. Novamente ela
apoiou a cabeça ali no meu queixo e ficou descansando seu corpo contra o meu.

-- Você esta nervosa.

-- É difícil para mim...

-- Suas pernas estão tremendo.

-- Não isso é meu bipe... – Natália disse se separando de mim gentilmente, deu uma olhada no bipe. – É a
Duarte, tenho uma consulta me esperando.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Apenas fiz um sinal de positivo. Ficamos ali, sem saber como se despedir, quando ela estava prestes a sair,
não deixei.

-- Nat, espera!

-- O que foi?

Não disse nada. Eu ia falar o que? De nada valeu minha preparação psicológica naquele momento. Só
pensava em uma coisa: Trinta e dois anos, como pode? Com as costas da minha mão, fiz um carinho em seu
rosto e a beijei. Deixei minha língua invadir docemente sua boca e só então percebi o quanto de saudade
estava de seu gosto. Enquanto a beijava, aproveitava para tocar seu rosto querendo guardar cada pedacinho
dele para mim. Novamente o bipe chato nos atrapalhava. Natália gentilmente se distanciou de mim.

-- Bom trabalho...

-- A gente continua se falando mais tarde... – Nunca tinha visto ela sorrir tão doce como daquele jeito. –
Tchau , Alice!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Logo quem foi bipada fui eu. Assim que cheguei na clínica, doutor Chapatin estava a minha espera.

-- Doutora Marize... Seu consultório é o quarto...

Nem o corrige, apenas peguei as fichas de qualquer jeito e fui para minha salinha. Droga, do que adianta fazer
seis anos de faculdade, sei lá quantos de residência, ler não sei quantos livros e aos trinta e dois você recebe a
sentença de que seus dias estão contados. Porcaria de conhecimento que agora não servia para nada. Atendi
os casos mecanicamente. Nada diferente do que estava acostumada a ver, quando tive um intervalinho, liguei
para meu pai.

-- Oi meu bebê, que saudades, e como estão as coisas ai em Silvéster?

-- Pai, eu sei. Eu já sei.

-- O que? Já sabe o que minha filha?

-- Eu sou lésbica. Lembra quando a gente teve aquela conversa em São Paulo? Então, agora eu posso falar
para o senhor com certeza. Eu gosto de mulheres.
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Como foi com Natália, podia ser comigo. E se amanhã eu soubesse que amanhã estou com um tumor e só
tivesse alguns dias de vida. Eu precisava contar. Meu pai estava sendo tão legal comigo, por intermédio dele
com a avó de Natália que consegui o trabalho, estava se preocupando tanto comigo, não seria desonesta.

-- Filha, o papai já falou que não importa o que aconteça, você continua sendo minha filhinha, lembra disso...

-- Eu sei pai é que... As vezes a gente não fala algumas coisas que ficaram para falar e – Nem consegui
terminar a frase e já abri um berreiro enorme do outro lado da linha. – Pai , eu ando muito sensível e , eu
queria que o senhor soubesse que eu te amo e...

E chorava compulsivamente. Meu pai tentava me acalmar.

-- Calma filhinha, sua mãe já teve muito disso...

-- Mamãe teve um tumor?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Não. TPM. Daqui a pouco passa, amorzinho.

Por que todo homem acha que mulher mais sensível é TPM? Ok, minha menstruação foi dar uma volta e se
atrasou, mas não era isso. Me despedi do meu pai em poucos minutos. Em casa não conseguia relaxar. Eu
queria falar com a Nat, mas não tinha seu celular e devolvi o dela no meio da briga. Na recepção do hospital
uma das mocinhas me informou.

-- Doutora Natália entrou no centro cirúrgico agora, previsão de que fique nas próximas seis horas por lá.
Quer deixar recado?

-- Não, obrigada!

Em casa não tinha muita coisa para fazer e fiquei estudando. Só fui acordar quase três horas depois, babando
em cima de um livro com a campainha zunindo nos meus ouvidos. Era Silvinha com Anderson na porta.

-- Que cara é essa?

-- A que eu tenho. Por quê?! – Ríspida, respondi e logo me censurei. Foi só saber desse tumor que fiquei
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com um medo enorme de perder todo mundo e comecei a valorizar mais as pessoas. – Desculpa Silvinha,
desculpa Anderson... Não queria ter falado isso. Alias, eu queria falar um coisa muito importante pra vocês,
obrigada por me receberem e cuidarem de mim tão bem...

Os dois se entreolharam confusos.

-- Alice, esta acontecendo alguma coisa? – Anderson perguntou. – Quer falar algo que a gente não saiba?

-- Não é que... Eu ando meio sensível mesmo...

Silvinha já foi mais direta.

-- Alice, ainda não desceu?

Não respondi. Estava tão na cara? Os dois tinham ido até em casa a trabalho. Eu nem me lembrava, mas
fiquei de dar uma entrevista para o jornal deles falando sobre perigos da automedicação e coisas do tipo.
Após quase duas horas de visita, eles foram embora. Liguei mais uma vez no hospital, mas Natália estava em
uma reunião administrativa. Resolvi esquecer um pouco essa história um fui tomar um banho decente para
relaxar. Embaixo do chuveiro notei algo diferente, meus peitos estavam maiores. Fiquei lá, distraída com eles
até ser interrompida por Rebeca entrando no banheiro.

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-- BECA!

-- Ai Allie, eu fiz medicina, quem viu uma viu todas...

Eu era toda tímida com esse lance de corpo e tal, mas eles não estavam nem ai. Rebeca era vivia desfilando
de calcinha e sutiã pela casa, volta e meia flagrava Bruno de toalha dentro do fusca ou no quintal. Uma das
vezes a toalha sumiu e Bruno dormiu só de cueca no fusca.

-- Beca, e se a gente falasse com ele?

-- Mas ai ele vai querer que a gente fique de roupa também...

-- O que é o normal de uma casa. Ele e homem, nós mulheres, esqueceu? Tem a dona Marieta também, dona
da casa...

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-- Somos um casal lésbico, esqueceu? E eu não vejo maldade...

-- Rebeca, ele é homem...

-- Eu não vejo ele assim. O Bruno tem 23 anos eu 25, ele é um bebê...

-- Grande diferença.

-- É sério, para mim ele é como nossa irmã mais nova...

Só foi ela falar isso para Bruno passar por nós duas com uma morena que os peitos iam da minha casa a outra
esquina. Ele só de toalha exibindo as pernas e o peitoral peludo todo de fora. A menina devia ser a
Robertinha, ou a Ericazinha, ou a Marcelinha, ou Bruninha, ou a Gabizinha, sei lá, sempre tinha uma “inha”
dentro do fusca.

-- Bom dia!

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-- Bom dia! – Desejamos ao mesmo tempo, esperei eles se afastarem e completei. -- Nossa irmã mais nova
precisa de um kit de depilação urgente... E pelo jeito acabou com o estoque de camisinhas da casa!

-- Olha a cara da periguete!

-- Quero ver é a cara da Marieta quando ela descobrir que a chefe da família feliz transformou o quintal dela
em um Motelmovel para a irmã mais nova peluda!

Voltando ao tempo presente, aproveitei a presença de Rebeca no banheiro e achei de tirar duvidas médicas.

-- Rebeca, o que você acha disso?

E apontei para os meus seios inchados.

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-- Se animou com a ideia de sermos um casal lésbico?

-- Não idiota, meu peito! Você não acha que cresceu?

-- É um pouco e... Ainda não desceu?

Eu sei que cidade pequena tudo vira motivo de fofoca, mas meu ciclo menstrual já não era falta de assunto
demais? Não respondi. Logo Rebeca saiu do banheiro e eu também. Antes de dormir, liguei outra vez no
hospital.

-- Eu queria falar com a Natália Franco da diretoria.

-- Ela passou aqui agora, acabou de sair. Quer deixar recado?

-- Não, obrigada.

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Minha conversa com Natália não saia da minha cabeça. E o beijo também. Será que ela só tinha dito que
queria terminar de me ver por educação? Não, ela confiava em mim e já provou isso me contando sobre o tal
do tumor. Minha noite foi mal dormida, ás vezes acordava , fiquei horas rolando e nada de consegui dormir
pesado. Eu não ia trabalhar no dia seguinte, poderia tentar dormir até tarde, mas fui despertada pelo meu
celular ás sete e meia da manhã.

-- Alô?

-- Oi Alice, sou eu João.

-- Oiiii. – João me ligando? Até me sentei na cama. – Tudo bem?

-- Comigo sim. Tem como você vir na minha casa? A minha tia acordou doente, ela quer ir trabalhar, mas ela
não esta muito bem.

Ele nem precisou repetir duas vezes, peguei o endereço, me enfiei na primeira roupa que serviu em mim, sim
Silvéster estava me engordando, e desci as escadas de casa. No café da manhã encontrei com Rebeca, Bruno
e uma das “inhas” tomando café.

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-- Alice, espera, libera ai o banheiro... Eu vou trabalhar...

-- Não enche Bruno!

Me tranquei e fui me arrumar, da um jeito na minha aparência. Do Aldo de fora ouvia a conversa dos dois.

-- Credo, toda irritadinha... – Bruno comentou com minha amiga e perguntou. - Ainda não...

Abri a porta do banheiro irritada.

-- Não, ainda não desceu, inferno! Satisfeitos?

Os dois se entreolharam confusos e Bruno me perguntou.

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-- Alice, e você esta esperando o que?

-- Esperando?

-- Pra comprar um teste de gravidez. – Rebeca falou de forma direta. – Sonolência, atraso na menstruação,
ganho de peso...

-- Peito inchado... – Bruno complementou. Dessa vez eu o encarei e encarei Rebeca de volta. Nossa irmã
mais nova ficava de olho nos meus peitos, era isso? – Estou aqui como um médico.

Não aguentei e dei uma gargalhada. Grávida? Era mais fácil a Hebe aparecer grávida do que eu. Sempre
tomei anticoncepcional com o Pedro Henrique. Não tinha como. Eles não sabiam de quem e com quem
estavam falando.

-- Ótima piada, mas eu estou com pressa, gente...

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-- Eu tenho um teste na bolsa, comprei na farmácia semana passada...

Nós três olhamos para Rebeca.

-- Beca, não era você que estava focada na profissão sem tempo para relacionamentos? – Eu perguntei.

-- E estou. – Ela me garantiu. – Menina, mas outro dia vim em um ônibus tão apertado com uns sujeitos
esquisitos atrás de mim que fiquei com medo de... Bom... Vou buscar o teste!

-- Isso é ridículo! - Eu disse ainda rindo. – Eu sou uma mulher responsável. Nunca falhei para tomar
anticoncepcional...

Rebeca vinha do quarto com a caixinha do teste, Bruno pegou de suas mãos e estendeu para mim em desafio.

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-- Tá bom, rainha da pílula, faz o teste então e tiramos a prova dos nove...

Aceitei o desafio, peguei a caixinha e fui fazer o xixi para o teste. Quando terminava de lavar as mãos, meu
celular tocava outra vez.

-- Alice, você não vem? – João me perguntou com aquele jeito manhoso de criança. - Estou enrolando ela até
você chegar...

-- Já estou saindo, beijo João!

Nem esperei para ver o resultado do teste porque sabia que daria negativo. O apartamento de Natália ficava
bem no centro da cidade em vinte minutos cheguei lá. O porteiro já me esperava.

-- O João interfonou para cá que você estava subindo, pode ir, é o décimo quinto andar.

Agradeci ao homem e subi de elevador. O prédio era bonito e todo cheio de luxo e segurança. Apertei a
campainha, achei que alguma empregada vinha me atender, mas o próprio João que apareceu na porta.

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-- Ainda bem que você chegou, vem ver como ela esta. – Antes que eu pudesse dar oi, tudo bem e os dois
tradicionais beijinhos, meu amiguinho já me puxava pela mão, ansioso para me levar até Natália. – Olha como
ela esta.

Quando vi, já estava no quarto de Nat, ela arrumada para ir trabalhar, mas parecia meio abatida mesmo, cara
de quem não dormiu muito bem.

-- Alice, você aqui?

-- É o João e...

-- Vê se ela não esta com febre...

Sorrindo, Nat apenas fez um sinal de negativo e tratou de me explicar.

-- Eu tive uma crise de asma a noite, acordei ele e agora esse moço esta todo assustado ai, mas eu estou bem.
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-- Ela esta mais quente. Não é que quem tem febre tem que ficar em casa, descansar e tomar muita água?

Por dentro morri de rir do jeito apreensivo do garoto. Ele era todo fofinho. Pelo que eu vi só moravam os dois
no apartamento, ele devia morrer de medo que acontecesse qualquer coisa com ela.

-- Resfriado bobo... – Se agachou para ficar da altura dele. – João, tem um monte de gente esperando a tia
resolver uma porção de coisas... Eu não posso simplesmente faltar no meu serviço. A Alice deve ter as coisas
dela para fazer, você não pode ficar ocupando o tempo dela assim...

-- Vamos fazer um seguinte? A temperatura do corpo normal é 36,5°, eu vou medir a febre se der mais que
36,5° a sua tia fica em casa. – Sugeri. – Pode ser?

-- Feito!

-- Alice, não posso ficar perdendo tempo. – Ela se cortou com um espirro. – É só um resfriado...

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-- Você é minha paciente agora e eu a médica. – Tratei logo de me impor. Ela parecia cansada. Eu sabia que
não era apenas um resfriado bobo, não ia obriga-la a trabalhar daquele jeito. – Você só vai estar liberada
para trabalhar se não tiver febre... João, pega o termômetro.

E lá foi ele correndo para o banheiro atrás do termômetro. Natália apenas me censurava com o olhar.

-- Você não devia dar asas para ele não. O João é abusado... E eu estou bem, Alice... Só um pouco cansada
e...

Nós duas estávamos sentadas na cama, Minha mão pequena encobriu a dela. Natália levantou os olhos para
procurar os meus e sorriu com nosso contato, em resposta fiz um carinho em seu rosto e pedi.

-- Deixa eu cuidar de você...

Ainda sorrindo, ela assentiu com a cabeça. João voltou para o quarto fazendo nós duas voltar para realidade.
Eu peguei o termômetro de suas mãos e ajeitei entre os braços de Natália.

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-- 36,5 em tia!

-- Por que você não mostra o apartamento para a Alice enquanto espero o termômetro da resultado?

-- Tá bom, vem Alice!

João era um bom anfitrião e me mostrou cada cantinho de sua casa. A decoração era límpida e de bom gosto.
Tudo muito claro, achei a cara de Natália. A janela dava uma paisagem linda para um parque cheio de árvores
com um lago bem no meio. Não sei quanto tempo fiquei ali. O quarto de João era tipicamente masculino.
Notei a paisagem do parque desenhada em uma folha de papel amarelada pendurada em um mural do quarto.

-- João, pode me buscar um copo d’água?

-- Já volto!

Enquanto ele foi buscar a água, fiquei ali, admirando o desenho. Era muito bem feito, cheio de detalhes. Ao
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lado do desenho do parque, tinha outro desenho igualmente amarelo do rosto de uma mulher. O papel era do
tamanho de meia folha de sulfite. Atrás tinha algo escrito.

“Para mulher cujo rosto sempre ficará gravado em minha cabeça e no meu coração, com muito amor, Júlia.
16-08-2001.”

Júlia. Ela que havia feito os desenhos? Como era talentosa. Devia ter perdido horas esboçando cada traço,
cada detalhe. Coisa de apaixonado mesmo. Júlia.

-- É a minha mãe. – João me disse com o coo d’água nas mãos. – É ela no desenho...

-- E a sua outra mãe desenhou, não é?

Me arrependi de ter falado aquilo. Na hora vi os olhinhos castanhos dele se entristecerem. Dez anos. Imagina
que loucura para um garotinho desse tamanho. Duas mães e na verdade não tem nenhuma. Talvez por isso
fosse bastante maduro e resolvido para sua idade, João era machucado. Na maioria do tempo se fazia de
forte como a tia, mas a ferida estava ali exposta.

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-- É, foi a Julia... Ela desenhava legal, né?

-- Eu conheci sua bisa. Ela me disse que sua mãe faz um monte de coisa legal... – E era verdade. Enquanto
estive com dona Regina, vó de Natália, ela tinha me contando várias coisas sobre Júlia. Na verdade não
parava de falar nela como se tivessem se visto na semana passada. – Mas ela não me disse nada de
desenhar...

João deu uma risada.

-- Abandonar criancinha em uma maternidade não parece legal, mas deixa quieto. Vamos ver a febre dela...

Se ele agia assim, não era eu que ia me meter, não é mesmo? Quando voltamos no quarto Natália já retirava o
termômetro, antes que ela tentasse me enganar, retirei de suas mãos.

-- 37,5. Você esta com febre.

-- Gente, isso não é febre, vocês vão levar a sério.

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Minha resposta e do João já estava combinada. Estendemos o telefone para ela desmarcar todos os
compromissos e repassar as operações do dia. Um dia de descanso pelo menos ela teria que tirar. Natália
apenas impôs a condição de João não perder aulas para ficar em casa.

-- Mas tia, quem vai cuidar de você?

-- A Alice vai ficar com a tia, pode ser, Alice?

-- Claro!

João entrou na escola no segundo horário. O motorista tratou de leva-lo. Não estávamos a sós no
apartamento, pois tinham as empregadas, mas como elas ficavam mais no andar debaixo da cobertura, era
como se estivéssemos.

-- Bom, a principio, você vai tomar essa medicação para baixar a febre... – entreguei o comprimido com
água. – E depois que tal um banho?

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-- É um programa para ser feito a duas?

-- Não senhora, nenhuma estripulia, estou aqui como sua médica, doutora Natália! Toma um banho bem
quentinho, depois eu quero conversar com você... Nós temos uma conversa para terminar, se estou bem
lembrada, certo?

-- Estou te esperando aqui.

Em meia hora, Nat estava de volta ao quarto vinha do banheiro da suíte com uma roupa mais confortável de
ficar em casa e exalava um cheirinho gostoso de lírios que provocava meu olfato.

-- Então, o que você tem para me falar doutora Alice?

-- Bom... Primeiramente quem vai falar com você agora é só Alice e não a doutora... – Revisei tudo e então
disse. – Eu queria te pedir desculpas... Eu agi mal ter discutindo com você na frente de uma interna e...

-- Nós duas agimos mal... Eu não sou acostumada a fazer muito isso, mas eu também queria te pedir
desculpas... Eu estava de cabeça quente, nervosa...
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-- Eu sei, eu entendo... – Triste pensando no tamanho do problema dela eu falei. – Agora que eu sei entendo
tudo... Por isso que eu quero cuidar de você...

-- Sabe?

-- Eu sei que você esta doente, Nat...

-- Resfriado de mudança de tempo...

-- Não é disso que eu estou falando e... – Apesar do apartamento estar praticamente vazio, eu sussurrei com
medo de que mais alguém me escutasse. – Do tumor...

-- Tumor? – Ela me perguntou com uma carinha confusa.

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-- Natália, a gente conversou isso ontem... No necrotério. Você me disse que estava cansada... Falou do
tumor...

-- Tumor da minha paciente que era uma antiga professora minha de faculdade, por causa dela eu decidir ser
neurocirurgiã... Ontem realmente eu fiquei muito mal porque não queria que ela morresse comigo na mesa.
Isso que você esta falando?

-- Mas você me disse que estava cansada e...

-- Mas é verdade... Eu ando muito cansada... Você sabe, neurocirurgia é uma área que estuda muito.
Terminei minha residência e de cara já peguei a chefia daquele hospital. A neta preferida da minha avó para
assumir aquilo sempre foi a Júlia. Tirando minha mãe, todo mundo apoiava muito que ela assumisse tudo, mas
ai deu no que deu... – Notei um pouco de mágoa em suas palavras. – A Júlia sempre foi à cigarra da família e
eu a formiga... É isso.

-- Então o seu cansaço é...

-- De acumulo de funções, de várias copisas, mas até agora eu não entendi o que o tumor da minha ex
professora e... – Ao ver a minha cara de besta Natália não conseguiu segurar e deu uma gargalhada com
apetite. – Espera ai, Alice, você acreditou que eu... – Antes de completar a frase se perdeu gargalhando da
idiota a frente dela. – Alice, você não esta achando desde ontem que eu tinha um tumor e escondi de todo
mundo, esta?

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Pela minha cara, ela já teve a resposta e partiu ao meio de tanto rir.

-- Nat, não ri, por causa desse tumor eu falei com meu pai que era lésbica, tratei sei irmão mal e... – Só
piorava a situação e a crise de risos dela aumentava. - Não tem graça!

-- Tem graça sim! Se você quiser largar medicina dou a maior força pra fazer stund up

E voltava a gargalhar de mim. Se eu não estivesse tão irritada por ter feito papel de babaca pela milionésima
vez nos meus vinte e seis anos de vida, até estaria rindo junto.

-- Que saber, Natália? Sua febre já deve até ter passado, vou voltar para minha casinha que ganho mais...

E levantei com os braços cruzados e uma carranca enorme, ela levantou atrás de me e impediu minha saída do
quarto.

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-- Nat...

-- Espera, deixa eu realizar meu ultimo desejo de moribunda...

Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, ela me calou com um beijo. Não um beijo mixuruca, mas esses
que acendem a mulher por inteira. Ensinam muito bem nesse cursinho lésbico. A boca dela estava com um
gosto fresquinho de hortelã, molhada na medida certa e me envolvia de um jeito deleitoso. Não tinha como
resistir por muito tempo e então tratei de aproveitar. Curtia cada cantinho de sua boca bem feita. Mordia de
leve, sentia a língua lutando com a minha. Ainda me beijando, ela encostou a porta do quarto.

-- Nat... – Minha voz saiu entrecortada, quase um sussurro.

-- Shiiiiiiiu... Quem vai cuidar de você sou eu agora, Alice. – Ela encostou o corpo no meu, quase me
pressionando contra a porta. Com uma das mãos, segurava minha nuca. – Agora é só nós duas...

De maneira delicada, senti seus lábios indo de encontro ao meu pescoço. Meu corpo correspondia sozinho ao
seu toque. Ela mordia de leve minha orelha, meu queixo.

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-- Você me tira do sério, garota!

Nossos lábios se encontraram de maneira doce e envolvente. Eu queria fundir meu corpo ao dela. Algumas
noites, em sonhos, eu já fantasiava estar vivendo aquele momento, sendo protagonista de uma cena de amor
com Natália. O toque, os lábios, o perfume tudo era mil vezes melhor que qualquer sonho. Nossas línguas
começaram a procurar por mais espaços e logo nosso beijo suave foi se tornando encorpado.

Ás vezes Natália se tornava um verdadeiro polvo, cheia de mãos que acordava ainda mais meu desejo. Uma
das minhas mãos desceu até sua cintura e com a outra, troquei de posição a pressionando contra a parede.
Desci beijando seu pescoço enquanto rompia o espaço entre a blusa e a pele. Sempre fui à garota tímida.
Nunca na vida pensei que proporcionar prazer poderia ser tão bom quanto receber. Minha boca beijava,
sugava cada pedaço de pele que encontrava pela frente. Meus lábios procuraram pelo colo e lógico que me
embananei toda para desprender o sutiã de Nat quase dando uma “sutiãzada” no meu próprio olho que se
salvou por pouco. Meus lábios chupavam o bico de seus seios.

Porra, agora entendi a fixação de homem por peitos, era bom e eram dois, então repeti o processo no outro,
usva minhas mãos também para fazer massagem. Quase tive um orgasmo quando ainda com boca no peito,
olhei para cima e vi olhos de Natália tensos, suplicando para que eu não parasse. Entre gemidos, ela dizia
algumas coisas que eu não entendia direito e também o meu nome. Delicadamente, ela me fez subir o rosto,
trocamos um beijo.

-- Vem para cama, eu quero você lá...

Ela falou em um tom que não precisou nem repetir. Eu era lerda, não burra. Roçando beijos ora mais suaves,
ora mais sôfregos chegamos na cama. Delicadamente ela desfez da minha camisa. Afastou-se um pouco me
dando um daqueles sorrisos sacanas que só ela sabia dar.

-- Você quer isso desde a noite da cabana, não é?

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Com um gesto de cabeça ela fez um sim.

-- Raio maldito, mas agora anda mais vai atrapalhar... Eu tenho você...

Depois que ela me disse aquilo, me entreguei totalmente. O fecho do meu sutiã que ficava na frente foi aberto.
E com gentileza, adrenalina e tesão, nos amamos. Não lembrava como era a sensação do roçar de outros
seios nos meus. Também descobri aquela manhã que adorava sentir os cabelos compridos de mulher
acariciando minha barriga quando ela beijava meu abdômen e que sentia muito mais prazer com o toque de
dedos e da língua feminina em minha cavidade me levando ao gozo muito mais facilmente. Eu também queria
presentea-la. Cuidadosamente, removi o short que ela estava usando e com movimentos cadenciados e
trocando beijos, senti o meu próprio sabor, fiz Natália se derreter na minha mão. Depois de ambas gozarem
ainda trocamos beijos, carinhos. Passei o resto da manhã e a tarde inteira naquela cama, perdi as contas de
cada coisa nova que ia me surpreendendo e quantos orgasmos ela me deu. A cada momento que ficava mais
próximo dela, entendia que nosso interesse se maquiava de tensão quando estávamos juntas. Adormeci
apoiando minha cabeça em seu ombro. Preguiçosamente abri os olhos e deparei com Nat me observando
com um sorrisinho lindo no rosto.

-- Bom dia ou boa tarde?

-- Boa noite! Seis horas! – Ela me deu um beijo suave nos lábios. – Até a noção do tempo você perdeu?

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-- Efeito Natália... – Me aconcheguei em seus braços, só de sentir as pernas dela enroscadas nas minhas,
toda minha pele parecia formigar. Fiz um carinho em seus cabelos. – Como a gente foi parar aqui, hein?

-- Não sei... O foi agora nem é tão importante... Eu só quero que você fique avisada de uma coisa. Eu não
quero parar, Alice. Você é incrível...

-- Mas você que...

Antes de eu responder, ela me calou com um beijo. Foi assim que tudo começou da outra vez. Fomos
interrompidas pelo celular de Natália.

-- Não vou atender...

-- Atende, pode ser urgente...

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Mesmo contra vontade, Natália atendeu. Pela sua cara não tinha notícias boas.

-- Claro, claro, estou indo para ai! – E desligou. – Emergência no hospital. Acidente de carro.

-- E o médico que esta substituindo você?

-- Pelo jeito é um caso mais delicado. Eu tenho que ir mesmo... Quer me esperar aqui? Dorme comigo hoje.

Fiquei atentada com o pedido, mas era melhor ir mais devagar.

-- Não, eu tenho que ir pra casa, preciso estudar algumas coisas. Só vou esperar o João para explicar que
você esta bem e vou pra casa...

Nos despedimos com dificuldade, nenhuma de nós queria sair daquele quarto. João não demorou muito para
chegar. Acabei jantando com ele e depois que adormeceu fui para minha casa. Rebeca e Bruno tinham chego
do serviço.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Boa noite, Bequinha, boa noite bebê... - Eu disse fazendo carinho no rosto dos dois. Queria contagiar Deus
e o mundo com meu bom humor após minha maratona de sexo lésbico. Os dois estavam esquisitos, já até
sabia do que se tratava. – Antes que vocês perguntem, não, ainda não desceu.

-- A gente sabe. – Minha amiga falou em um tom sério. – Alice, a gente tem uma coisa para te contar, quer
sentar.

IIIIIIh, a ultima vez que dois amigos tinham uma coisa para me contar e me mandaram sentar eu fui pega
dando malho dentro de um elevador com outra mulher. Já vi que o chumbo era grosso.

-- O que foi?

Bruno, sem rodeios, me entregou a tirinha do teste de gravidez com duas fitinhas cor de rosa desenhadas.

-- Que bonitinho, o que quer dizer isso?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Quer dizer que você esta grávida, Alice!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 12 by Tamaracae

Author's Notes:

A Alice vai ter um Alicizinho ou uma Alicizinha ou não vai? Boa leitura!

-- Allie, esta tudo bem?

--Allie, fala alguma coisa!

Minha cabeça ainda ingeria a informação. Como aqueles dois traços rosas tão pequeninos poderiam mudar
tanto a vida de alguém? Não, aquilo não estava acontecendo. Rebeca me fitava de um jeito preocupado com
medo que eu fosse por um ovo ou desmaiar a qualquer segundo.

-- Alice, fala alguma coisa, pelo amor de Deus!

Eles falaram ao mesmo tempo como se tivessem combinado. A única coisa que consegui dizer:

-- Esse teste está errado! – Os dois trocaram olhares desacreditados da minha teoria que evidentemente era
certa. – Todo mundo sabe que testes de farmácia não são confiáveis. Só pode estar errado. Como isso iria
acontecer?

-- Alice, pelo amor de Deus. – Rebeca me respondeu. – Nunca pegou um livro de ciências na vida ou ouviu a
história da sementinha e...

Bruno deu uma risadinha.

-- Você é médica, acho que dispensa explicações...

Desesperada, comecei a andar de um lado para o outro, Bruno e Rebeca me acompanhavam.

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-- Não é disso que eu estou falando é... – Me cortei, fiz uma pausa e voltei a falar. – Camisinha!
Anticoncepcional! Eu sou a rainha da pílula. Qual é a chance de alguém que usa pílula e camisinha engravidar?
0,1%?

-- A mesma de um malho no elevador virar hit de internet... – Bruno sugeriu.

Não, não, não. Eu não posso ter um bebê com o Pedro Henrique. Minha genética é ruim, sou baixinha,
míope, meu cabelo nasce com pontas duplas. O pai do Pedro é careca, a mãe dele tem estômago alto. Não
posso fazer uma maldade dessas com uma criança. Imagina daqui alguns anos o menino sofrendo bullying no
colégio por minha culpa. Meu filho ia me odiar!

-- Não, eu não estou grávida, vocês que estão errados!

Lógico que minha noite de sono foi para o espaço. Após cansar de bagunçar os lençóis da minha cama,
resolvi levantar. Me servi de um copo d’água e fui me deitar na rede, lá no alpendre da frente da casa. A noite
estava com um céu bonito, cheio de estrelas. Eu nunca fui de ter problemas com sono, mas quando estava
preocupada ele tratava de sumir. Já amanhecia quando ouvi um barulho vindo do quintal. Era o Bruno.

-- Oi!

-- Oi! – E tratei de inventar uma mentira para justificar porque estava dormindo na rede. – Mosquito chato no
meu quarto.

-- Fiquei com sede...

Apenas assenti com a cabeça. Nós dois estávamos mentindo. Assim como eu, Bruno parecia preocupado.
Na manhã seguinte ele faria sua primeira craniotomia ao lado de Natália e estava morrendo de medo de falhar
em alguma coisa ao lado da irmã. Com certeza seu sono foi embora por causa disso também.

-- Calor, né?

-- O tempo vai ficar quente, vê como o céu esta estrelado...

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-- Verdade...

Ficamos ali em silêncio por pouco tempo. Logo outro barulho nos chamava atenção. O ruído vinha da sala.
No escuro, Beca tinha trombado com uma cadeira. Assim como nós dois, foi para o alpendre.

-- Dor de cabeça...

Outra mentira. Beca estava apavorada também pelo dia seguinte. O ex namorado gaúcho que chamava Yuri
tinha ligado que viria visita-la. Só de falar com ele por telefone, Rebeca já alterava seu humor. Patricinha que
sempre de tudo na casa dos pais, não sabia como Yuri iria reagir a sua nova condição de independente.

--Sede.

-- Mosquito chato.

-- Eu sempre mentia dor de cabeça para dormir quando estava com um problema e não queria falar com
meus amigos. – Bruno a alfinetou. Ele não sabia do Yuri pois Beca só tinha falado comigo e pediu para
guardar segredo.

-- E quando eu estava preocupada, mentia para o meu pai que tinha sede e depois ia deitar no quarto dele...
Dessa vez eu que joguei o veneno para cima dele.

-- Eu mentia que tinha um mosquito chato no meu quarto quando ficava com medo e ia para o quarto do meu
irmão... – Beca direcionou para mim.

Nos entreolhamos e acabamos rindo. Como éramos bobos, nenhum dos três queria se sentir sozinho e um
estava afastando o outro por puro orgulho.

-- A Natália me odeia. – Bruno sentenciou roubando um gole d’água do meu copo. – Vai dar tudo errado
amanhã.

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-- A Natália é atendente... Os outros internos me odeiam. – Rebeca o consolou. – E o Yuri não vai mais olhar
na minha cara a partir de amanhã.

-- O Pedro Henrique me odeia e não olha na minha cara. – Peguei minha água de volta. – E se eu tiver
grávida, eu não quero olhar na minha cara amanhã.

Não sei por quanto tempo ficamos e nem como saímos dali. Só lembro que na manhã do dia seguinte acordei
no banco de trás do fusca, minha cabeça tombada no ombro da Beca que por sua vez adormeceu com a mão
enterrada na cabeleira de Bruno que dormia com a cabeça sobre suas pernas esticadas. Não deu pra ficar
admirando muito a cena, pois estava atrasada para o serviço. Cheguei ao hospital acompanhada por Bruno,
Beca estava de folga.

Assim que coloquei os pés no saguão da entrada, avistei Natália conversando com a enfermeira chefe do
quarto andar. Quando seus olhos cruzaram com os meus, ela soltou um sorrisinho por educação e veio na
nossa direção. Antes que pudesse falar comigo, Bruno foi tirar duvidas sobre a cirurgia que os dois teriam de
fazer logo de manhã. Ela apenas me cumprimentou com um “bom dia, doutora” mais sem graça do que chá de
bebê e seguiu para o centro cirúrgico. Bebê não, não podia pensar nisso, atrai!

Ai, será que ela vai fingir que nada aconteceu? Ontem ela foi tão carinhosa comigo. Beijou minha boca de um
jeito tão gostoso, falava no meu ouvido me arrepiando por inteira, agora eu virei só a doutora? Minha
cabecinha ficou martelando nisso até eu chegar à clínica. Antes de entrar para minha primeira consulta, meu
celular apitou avisando que tinha sms. Era mensagem dela:

“Bom dia Alice. Não sei o que é mais difícil, passar a noite sem você ou disfarçar que não estou doida para te
beijar de novo. Almoça comigo?”

Meu coração quase parou. Dei uma desculpa qualquer, pedi para que a doutora Célia atendesse o paciente
que estava a minha espera e fui ligar para ela.

-- Nat?

-- Alice, é melhor você dar um jeito nesse seu novo acessório. Eu achei lindo, mas as pessoas podem
estranhar um pouco.

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-- O que? – Ih, será que ela esta falando do bebê? – Que acessório.

-- Esses coraçõezinhos de desenho animado que ficam em volta de você quando eu apareço... Eu
particularmente adoro, mas...

Antes dela terminar a frase eu já estava rindo feito um boba. Primeiro pela cara de pau dela, segundo pela
minha lerdeza. Só fui capaz de perceber que estava sendo trollada depois que olhei em volta atrás dos
coraçõezinhos.

-- Chata! Eu aceito seu convite, mas com duas condições...

-- Todas que você quiser, só falar...

-- Eu quero você com aquele mesmo sorriso de ontem... E a outra condição é mais difícil...

-- Qual?

-- Você vai ser paciente com o Bruno na cirurgia...

-- Alice...

-- Nat, o bichinho esta tão nervoso, nem dormiu direito... Ele é minha irmã mais nova, eu tenho que cuidar...

-- QUE?!

Doutor Chapatin entrou no vestiário e fez um sinal para eu me apressar.

-- Depois eu te explico, tenho que desligar. Beijo amor, até almoço...

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-- Beijo minha linda...

Desliguei eufórica. Por alguns minutos até consegui esquecer dos problemas e fui fazer meu serviço na clínica.
Atendi duas senhoras, uma com pressão alta e outra com crise de labirintite, um rapaz com dor de garganta,
uma moça de uns 20 anos com uma torção no pé, um senhor com gripe intestinal. Lá estava eu, toda contente
com meu trabalho, peguei a ficha e fui chamar o próximo caso quando um sujeito entra pela porta de vidro da
clínica com uma grávida em seu colo todo ensaguentada.

-- Socorro! Socorro!

Tudo foi muito rápido. Maca correndo, grávida na maca, enfermaria. Isa que estava trabalhando aquele dia na
clínica verificava a pulsação da grávida.

-- Ela esta sem pulso! DESFIBRILADOR!

Enquanto ela fazia a massagem encima do coração, eu bipava para a obstetra, doutora Monique e corria atrás
de um desfibrilador feito uma doida, mas nada de encontrar algum. Todos deviam estar no andar cirúrgico.

-- Alice, ela esta morta, a gente tem que salvar o bebê! Cadê a Monique?

-- Descendo. O Bebê parou de mexer, vou precisar das suas mãos. – Coloquei uma das enfermeiras para
continuar a massagem que Isa estava fazendo, com o coração bombando artificialmente, o bebê ainda recebia
algum oxigênio e abria a barriga da grávida morta com o bisturi. – Nós só temos alguns segundos. Mantém o
mais aberto que você puder para eu alcançar o útero. – Alcancei a cabeça do bebê. – Retrai, retrai!

Aos poucos, com minhas mãos sujas de sangue, consegui salvar o bebê. Monique chegava.

-- Eu estava saindo de uma cezariana o que esta acontecendo e... Meu Deus...

-- Acabamos de fazer um aqui também... – Isa terminava de cortar o cordão umbilical do bebê enquanto eu
massageava seu coração com os polegares até que ele voltasse a respirar. – Prematura recém nascida por
volta de 32 semanas... Ela é minúscula...

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Doutora Monique pegou a menina do meu colo.

-- Esta cianótica. Eu assumo daqui.

Assim que consegui voltar ao meu estado normal, recebi os parabéns junto com Isa de doutor Freitas, Célia,
as enfermeiras e dos pacientes que viram toda nossa correria. Só fui olhar para a cara da grávida quando a
polícia chegou para busca-la. Devia ter uns dezesseis anos e tinha diversos ferimentos a faca.

--E eu achei que o caso mais emocionante daqui era a velhinha engasgada com a dentadura... – Isa deu uma
olhada na grávida e lamentou. – Tão novinha...

Não tinha condições de voltar ao trabalho, precisava de alguns minutos. Bebês estavam me perseguindo por
todos os lados. Eu me sentia como se carregasse uma bomba relógio na barriga e a qualquer minuto fosse
explodir. Quando dei por mim, lá estavam eles, todos com aquele choro de “vem ver como eu sou fofinho,
me leva para casa” eu estava na maternidade. Estava tão neurótica com essa ideia de ter bebês que daqui a
pouco estaria tento pesadelos com bebês gigantes tentando invadir minha casa. Não, aquele teste não podia
estar certo.

-- Doutora Alice, correto? Veio ver seu paciente?

Monique me perguntou com um sorriso nos lábios. Ela era bonita. Mais alta que eu, ruiva, olhos verdes, 36
anos. Era a primeira vez que trabalhava junto dela.

-- Na verdade é... Ela esta bem, eu não queria atrapalhar e...

-- Mas não vai, esta na incubadora. – Antes que eu pudesse ter alguma reação, ela me puxava pela mão me
levando ao setor neonatal. – Lá esta ela... Doutora Alice, tenho que confessar... Impressionada com o seu
trabalho... Soube agir bem sobre pressão, não se desesperou. – Por fora, por dentro estava dançando a
macarena de trás pra frente de tanto desespero. – Já escolheu sua especialidade?

-- Bom, eu estou trabalhando como clínico geral fazendo atendimento mesmo. Não estou na cirurgia.

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-- Mas você é uma cirurgiã. E eu gostaria muito de te ensinar...

Aquilo me encheu de orgulho. Beca, que queria se especializar em ginecologia e obstetrícia vivia dizendo que
Monique era bem rígida com os alunos.

-- Eu vou fazer avaliação para entrar como interna semana que vem.

-- Espero que você tenha muito boa sorte...

Sempre enfiei na minha cabeça que queria seguir cardiologia, mas ultimamente a minha vida anda tão mudada.
Sabe aquela história de que existem outros sabores de sorvete? Então, eu estava afim de experimentar, me
deixar seduzir. Obstetrícia, quem sabe... Na incubadora a menininha que eu havia pegado no colo minutos
antes estava ali, respirando, tentando se manter viva. Tão frágil, coitada. Monique foi chamada para outro
caso e eu fiquei ali. Não deu outra, eu também estava sensível e acabei chorando. Por ela, por medo, por
preocupação, pela grávida que morreu, por mim. Nem de mim eu consigo cuidar direito, no fundo me sinto a
garota de 16 anos, como cuidaria de um bebê?

-- Allie, menina, sabia que você estaria ai.

Quem me achou foi Beca, estava acompanhada de Isa que com certeza deduziu que eu estava. Minha
companheira de quarto me abraçou. Ela sabia que aquele caso acabaria com meu psicológico por causa da
minha situação.

-- Beca, o que você esta fazendo aqui? E o Yuri?

-- Ele é um idiota, mas não importa agora... A Isa me contou tudo e...

-- Eu tenho que saber... A gente vai descobrir isso agora. Beca, você já fez pré natal com a Monique, não é?

Minha amiga confirmou com a cabeça.

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-- Do que vocês estão falando?

-- Eu preciso entrar no consultório de ginecologia e usar a maquina de ultrassonografia, mas ninguém pode
saber. Entendido Isa? Eu tenho um plano.

-- Qual é o plano?

-- Nós vamos precisar da irmã mais nova!

Meu plano era o seguinte: Roseli, uma das enfermeiras mais antigas do hospital estaria sozinha na sala de
Monique a partir das dezesseis horas pois ela estaria operando. Bruno arrumaria um jeito de tira-la dali. Eu e
Beca entraríamos para fazer os exames e Isa ficaria de vigia na porta. Entretanto, porém, mas, todavia, antes
da minha aventura na obstetrícia, tive o almoço com a Nat. E que almoço! Uma e meia da tarde eu caminhava
tranquilamente até o vestiário quando duas mãos firmes me seguraram e arrastaram até um dos quartinhos de
plantão.

-- Comida italiana ou japonesa?

Toda vez que ela aparecia na minha frente parecia que era primeira, impossível não venera-la.

-- Brasileira mesmo! – Eu respondi já roubando um beijo da boca de Nat. Fiz um carinho em seu rosto. –
Que saudade de você... De te beijar... Você tem a boca tão doce...

-- Me beija de novo então.

Eu acho que o gostoso de ficar com a Nat era essa coisa de namorar escondido. Cada beijo, cada sorriso eu
dava um valor enorme, ficava horas pensando. Meu corpo reagia a cada toque. O perfume dela era perfeito.
Senti suas mãos passeando pelas minhas costas e as minhas exploravam todo o corpo dela. Toquei levemente
seu quadril por cima da calça.

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-- Espera, um pouco, vamos sair daqui primeiro, tudo bem? – E sussurrou em meu ouvido eriçando toda
minha pele. – Quero te levar em um lugar.

Despedimos com um beijo rápido. Primeiro ela saiu do quartinho, depois eu. Encontramos quinze minutos
depois no estacionamento. Natália já me esperava dentro do seu carro com alguns embrulhos que cheiravam a
comida. Eu ignorava o caminho que estávamos tomando, só sabia que não era o caminho de sua casa. Após
passar por algumas ruas, entramos em um estradinha de terra. Trezentos metros depois, desviamos para um
outro caminho e finalmente chegamos ao destino: Colossal motel. Não sei quanto tempo que eu não ia em um
motel, na hora meu rosto ficou vermelho e Nat percebeu.

-- Algum problema pra você?

-- Agora que você vai me achar uma menina mesmo. Problema nenhum. – Envolvi seu rosto nas minhas duas
mãos lhe dei um beijo incentivando sua atitude. – Vou adorar!

Se eu pudesse passaria o dia inteiro com ela dentro daquele quarto. Não era nada parecido com os motéis
que eu já fui, tinham bom gosto na decoração. Por outro lado, nem era na decoração que estava interessada.
Assim que entramos no quarto deixei minha boca derramar sobre a dela intensificando todo o desejo que
estava sentindo, me joguei em cima dela e nos duas caímos sobre a cama.

-- Tudo isso é saudade?

-- Muita saudade. Tenho que ficar o dia todo naquela clínica, vejo aquelas internas todas em cima de você...

-- Internas todas?

Bom, isso eu não falei, mas era verdade. Onde estava Natália havia no mínimo umas três internas em cima
dela e estavam muito mais para aprender sobre anatomia do que neurocirurgia. No vestiário eu ouvia só os
comentários.

-- Natália, não se faz de boba! Vai dizer que você não repara nelas? Ninguém te da espaço! É só... – Fiz uma
voz bem irritante. – Doutora Natália, como se faz isso? Doutora Natália, como é feito aquilo ali? Doutora
Natália...
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Antes de eu completar a ultima frase, Natália se fartava de rir.

-- E você fica parecendo um pavãozinho ali no meio, né?

-- Não se preocupa que eu dou conta de todas...

-- Cachorra!

Ainda tinha a cara de pau de zoar comigo. Ela veio tentar me beijar, dei um tapinha afastando sua mão,
fazendo charminho, mas não resisti por muito tempo. Minha língua já entrava em sua boca, as mãos dela
buscavam pelo meu corpo, quando ela me despiu, senti que não foi apenas minha roupa que retirei, mas
qualquer resistência por ela. Nossa nudez já ultrapassava a impudica. Era fácil me entregar, era fácil deseja-
la, era natural querê-la para mim como em nenhum outro relacionamento havia acontecido. Já viram que por
pouco não esquecemos a comida, não é? Mas também era difícil de lembrar qualquer outra coisa quando ela
estava por cima ou por baixo de mim, com aquela anatomia dadivosa me inundando de prazer. Quando
olhamos no relógio já passava das 15 horas. Não tínhamos muito tempo.

-- Se eu pudesse cancelava tudo para gente passar a tarde aqui. Esta tão gostoso. – Eu disse me ajeitando em
seus braços. Podia sentir a nudez, estávamos deitadas de conchinha. Ela invadia meu pescoço de um jeito que
não dava vontade nem de se mexer. – Vamos sair hoje a noite...

-- Eu não posso, tenho compromisso na casa do seu tio, esqueceu?

Completamente. Com o teste de gravidez tinha esquecido que Silvinha me chamou para um jantar na casa de
titio, só não sabia que a Nat era convidada. Droga, por que fui lembrar de gravidez? Um cheiro de comida
qualquer invadiu o quarto e me embrulhou o estômago. Era alguém do quarto ao lado que pedia serviço de
almoço. Minha caraná não foi boa e logo Nat percebeu.

-- Tudo bem?

-- Tudo. – Não foi mentira. Oficialmente eu não estava grávida. – Tudo bem.

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Eu não ia contar aquela história ridícula de teste de gravidez e que estava mexida por conta de um parto que
caiu em minhas mãos. Eu ia chegar no hospital, Beca faria a ultrassonografia em mim e eu veria que estava
errada e meteria a mão na cara de Rebeca e Bruno que me fizeram de palhaça. No horário combinado, me
encontrei com meus cúmplices no local do crime, corredor da obstetrícia.

-- Allie, isso vai dar certo? A Nat hoje foi legal comigo lá no centro cirúrgico, não vai deixar eu me estrepar
de novo com minha irmã. – Bruno me disse. Eu como toda mulher boba que esta se apaixonando só ouvi a
parte que me interessa, ela atendeu meu pedido e o tratou bem. – Alice, esta escutando?

-- Estou! Bruno, custa distrair a velha por dez minutos? Fala que esta com dor de cabeça...

-- Abdomen! – Rebeca sugeriu. – Ai ela pensa que é apendicite! É só fazer cara de dor de barriga que ela
vai, a Isa fica na porta e eu trabalho direitinho. Fechado?

-- O que estamos fazendo é algo ilegal ou coisa do tipo? – Isa perguntou. – Desculpa Allie, mas eu não gosto
de você a ponto de me sujar com a Chefe!

--Puxa saco!

-- Gente, é só por dez minutos! – Novamente Rebeca me apoiava. – Vamos ser rápidos.

Colocamos o plano em ação. Não entendi direito quando vi Bruno tentando fugir da dona Roseli, mas o
importante ele conseguiu, ela estava fora. Isa fez um sinal que poderíamos seguir em frente e ficou de vigia.
Me vi com oito anos aprontando uma travessura no colégio com medo de ser pega pela inspetora (Roseli),
professora (doutora Monique), ou diretora (Nat). Eu já estava de camisola hospitalar deitada. Beca se
preparava para começar o exame.

-- Esta pronta?

Uma das perguntas mais difíceis que respondi na minha vida. Dependendo do que mostrasse no monitor, tudo
que eu tinha planejado, toda minha vida iria para o espaço mais uma vez. Por outro lado eu não podia fugir
mais. Com um gesto afirmativo com a cabeça, autorizei minha amiga a continuar.

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Rebeca introduziu o aparelho na minha vagina. Não me falou nada, apenas sorriu ao ver o resultado na tela.
Nem precisava falar. Era um pontinho minúsculo na tela, mas lá estava ele ou ela. Por causa dele eu comia
toda aquela comida que estava comendo, meu peitos pareciam estourar, eu vivia caindo de sono e tendo
enjoo. E agora por causa dele ou dela eu estava chorando feito uma boba. Inacreditável.

-- Esta vendo aquele feijãozinho ali na tela, é o seu neném que já tem sete semanas de gestação. E deve ter o
peso de um cílio e...

Beca foi soltando diversas informações sobre o bebê, sobre sete semanas de gestão, o que eu podia fazer, o
que não podia. Não vou mentir para vocês dizendo que estava feliz, ou triste porque eu não ideia na hora. Só
sei que estava emocionada e muito, muito, muito assustada.

-- E aposto que você não ouviu metade das coisas que eu disse, não é mesmo?

Sorrindo fiz um não para minha amiga.

-- Esta com medo?

-- Muito. – Confessei ainda chorando e abracei. – Muito medo.

-- Sua boba. Eu vou cuidar de você. – Era gostoso sentir aquele abraço, como eu queria Marquinhos,
Renatinha. Léo e Lia aqui também para me abraçarem. Silvinha, Anderson. Nat. Meu Deus, Natália! Rebeca
fez um carinho em meu ventre. – E a tia vai cuidar de você também, viu feijãozinho! Vamos dar um oi para
mamãe?

-- Oi?

Eu nem parecia médica de tão avoada que estava. Com sete semanas já era possível eu escutar o
coraçãozinho do bebê. E Rebeca fez questão de me dar esse presente. Eu ainda não me sentia mamãe, acho
que ia demorar ainda para cair a ficha, mas quando ouvi não segurei um sorriso de encantamento.

-- É forte, né? Vigoroso.

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-- É... Feijãozinho é forte e vigoroso...

Não demoramos muito na sala porque logo Roseli ia aparecer. Se eu fosse consultada por Monique como
uma grávida comum acabaria nos registros do hospital e cairia nas mãos da Chefe do conselho o que
evidentemente não era de meu interesse. Isa veio ao nosso encontro.

-- Deu certo?

-- Deu! A Alice vai ser mamãe!

Já viram que passei a tarde trabalhando e recebendo paparicos das minhas duas amigas. Bruno não
apareceu mais, provavelmente foi chamado para algum caso de urgência. Bom, eu contaria em casa. Rebeca
passou à tarde na clínica comigo e bati meu ponto ás sete da noite.

-- Vamos pra casa?

-- Não, antes eu preciso ver uma pessoa. – Eu pedi. – Não vou demorar.

Voltei para o andar da maternidade. Eu precisava ver a bebê que tinha o parto de manhã da grávida morta.
Lá estava ela na incubadora. Rebeca me deixou entrar sozinha na saleta. Fiz um carinho em sua barriguinha
pequena.

-- Só vim falar que daqui uns meses você vai ganhar um amiguinho ou uma amiguinha pra você brincar. Então
a senhora trate de ficar bem forte pra ensinar bastante coisa para ele ou para ela, tá bom? A gente vai cuidar
direitinho de você e...

-- Alice?

Já estava virando rotina Monique me flagrar, eu fiquei vermelha, ela apenas sorriu.

-- Eu...

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-- É bom que ela tenha um pouco de contato humano... Pode vir quando quiser...

Fiz um gesto afirmativo e me despedi da obstetra. Chegamos em casa umas sete e meia. Ainda tinha o jantar
do titio. Só estava animada para ir por causa de Silvinha e Nat. Minha prima ia cair para trás quando
soubesse. Agora a Natália eu não imagina qual seria sua reação. Chato era que Rebeca não iria comigo.

-- A Duarte me chamou para participar de um transplante de fígado, quero estudar um pouco.

Já estava de saída quando cruzei com Bruno.

-- Meu Deus, foi assalto?! – Uma boquiaberta Rebeca questionou ao vê-lo todo unhado e rasgado. No
pescoço umas marcas de arranhão pelo pescoço. – Bruno do céu, o que fizeram com você?

-- Isso tudo é culpa sua! – O garoto estava revoltado, deu um passo na direção de Rebeca. – Sua e da sua
apendicite! Aquela tal de dona Roseli é uma... Uma... Tarada! Levantei minha blusa pra fingir a tal da sua
apendicite, ela me arrastou para um dos quartinhos de plantão e quase... Eu nunca fui tão humilhado em toda
minha vida! Velha maluca!

E seguiu para o fusca. Agora a boquiaberta era eu. Gente, a dona Roseli com aquela cara de Dona Benta,
aquela cara de vó da gente assediando os internos, quem diria.

-- Coitado dele, ai Beca, pede desculpa para o menino...

-- Ai, esse garoto vive tirando a camisa, custa ele tirar uma vez para beneficiar a gente?

Essa é a Rebeca cafetinando nossa irmã mais nova. Esqueci dos dois e peguei um taxí até a casa do meu tio.
Ensaiei um milhão de vezes como cumprimentar a Natália de maneira formal e sem abrir aquele sorriso de “oi,
vamos para o quarto”. Escolhi algo diferente do tênis e jeans que eu estava acostumada a usar no serviço.
Vestido frente única, sandália e um rabo de cavalo para tentar me fazer mais alta.

Glória que veio me atender e tia Guida fez as honras de anfitriã da casa. Assim que bati os olhos na mãe de

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Natália, dona Abgail, me questionei se Natália realmente era adotada. Fisicamente elas não se pareciam, mas
o porte, o jeito de dividir as palavras, o olhar tenso era o mesmo, sem tirar nem por. Ela ainda não tinha
chego. Cumprimentei todos e subi no quarto de Silvinha que para variar estava atrasada.

-- Silvinha!

-- Oi sua cobra, não vem me abraçar não que você me trocou por aquela Rebeca cara de salsicha!

-- Deixa de ser boba, ela te adora!

-- Só desdenho do que quero comprar. – Mandou uma piscadinha marota para mim. – Fica a dica!

A Silvinha já estava de olho na Beca a um tempo, mas a Beca é completamente hétero, sem condições.

-- Besta, presta atenção em mim, aconteceu uma coisa super inesperada e eu tenho que te contar...

-- Tá de quantos meses?

-- Que foi? Virou bruxa, olha para nossa cara e já sabe o que vamos dizer? – Silvinha deu uma risada. –
Como você sabia?

-- Tenho olho. Você deu um preenchida... Não menstruou. Esta comendo até as paredes da casa...

-- Não estou comendo tanto assim! – Eu disse enquanto filava um saco de batatinha frita que estava sobre a
cama. Virei o salzinho. – Exagerada!

-- Cheguei outro dia na sua casa, você estava com um churros em cada mão e não parava de falar em cural
de milho.

-- Aí não fala, encheu minha boca de água, sua monstra!


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-- Tá de quantos meses.

-- Quase dois!

Pronto, eu e minha prima perdemos a hora tricotando sobre gravidez, gestação, desejo de grávida e essas
coisas. O mordomo que ligou no celular da minha prima falando pra gente descer. Do alto da escada, vi minha
tia atendendo a porta e Natália entrando. Ela ainda estava mais linda que no hospital, usando um vestido
preto, quase enfartei. Minhas pernas bambearam. Quando nossos olhos se encontraram, ela sorriu para mim
discretamente e estendeu a mão.

-- Como vai doutora Alice?

-- Como vai doutora.

Devolvi no mesmo tom, não nos encaramos por muito tempo, dei um sorriso meio de lado e fui falar com o
João. Assim que tivemos uma brecha, Silvinha sussurrou no meu ouvido.

-- Vem cá, o que esta acontecendo?

-- Do que você esta falando?

-- Você e ela e esse olhar “oi, vamos para o quarto?” Disfarça, fofa!

Só a Silvinha mesmo para me fazer rir. Por dentro meu estomago pulava de cima abaixo. Natália aproveitou
que todos estavam distraídos e Silvinha espertamente subiu com João para o quarto para jogarem Xbox e
veio falar comigo, para nosso azar, tia Guida veio logo atrás dela.

-- Vocês precisam de alguma coisa?

Privacidade, serve?

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-- Não, dona Guida, eu...

-- Tia, na verdade a Natália precisa. Acredita que ela veio desprevenida e o organismo dela a pegou de
surpresa... – Foi a única coisa que me veio em mente. – Será que a senhora teria algum absorvente para
emprestar?

-- Alice?! – A cara da Natália foi uma piada essa hora, mas me mantive séria. – Eu...

-- Natália, minha tia é mulher... Não tem problema falarmos dessas coisas...

-- Claro que não... A Silvinha deve ter alguma coisa... Alice, acompanhe a doutora até o quarto da sua prima
e providencie isso.

Como diria minha avó, Batata! Sabia que tia Guida não suportaria ver um convidado passando aperto e
liberaria nós duas. Quando cheguei ao piso superior da casa, passei pelo quarto de Silvinha que estava
fechado e entrei no meu antigo quarto trazendo Nat comigo.

-- Não acredito que você disse pra sua tia que eu, eu...

-- Que foi, não menstrua não, super mulher? – Brinquei enquanto trancava o quarto. – E foi por uma boa
causa... Eu tenho uma coisa para falar com você...

É agora era hora, os olhos castanhos me encararam esperando que eu abrisse minha boquinha e eu procurava
por coragem.

-- Que foi Alice? Aconteceu alguma coisa?

End Notes:

Obrigada pelo carinho meninas! Muito feliz com vcs!

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Capítulo 13 by Tamaracae

Author's Notes:

Como prometido, notícias da Júlia!

-- É que... Eu...

Não sabia nem por onde começar. Mentalmente eu sabia tudo o que tinha para falar. Repassei a conversa
quase um milhão de vezes, já imaginando todas as falas dela e as minhas. Ali na frente de Nat, deu branco.
Repeti em silêncio e com a boca fechada minha primeira frase.

-- Natália eu estou grávida do meu ex-noivo e acho justo te contar porque quero jogar sempre limpo com
você.

Mas a minha impressão é que ela ouviria mais ou menos assim.

-- Grávida, grávida, grávida, grávida, grávida.

Respirei fundo para tomar coragem. Ao abrir minha boca, o maldito do celular de Natália nos interrompe pela
milionésima vez. Só faltava ter chegado alguém quebrado e ela ter que voltar correndo para o hospital.

-- Duarte? Pode falar... Pra eu ligar a TV em que canal? - Nos entreolhamos confusas, mas prontamente
obedeci Duarte e acionei o aparelho. – Mas você viu nome e sobrenome? O que mais falaram? – Ela
perguntava apreensiva. Pegou o controle remoto das minhas mãos e sintonizou em um telejornal. – Vou ver
aqui. Obrigada Duarte, tchau!

Assim que desligou, aumentou o volume da TV. Passava uma reportagem sobre um desastre de helicóptero
bem no meio da selva amazônica. Imagens horríveis do incêndio dos destroços do helicóptero, alguns índios
tentando apagar o fogo e ao fundo uma repórter falava:

-- O helicóptero caiu no final dessa tarde. Moradores da aldeia dos Tapaiacós lutaram para o fogo não se
alastrar. A confirmação de três vítimas fatais. O piloto do helicóptero, Helio dos Anjos, o enfermeiro Gabriel
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Dias e a terceira vítima ainda não foi identificada. Se trata de uma mulher que teve o rosto completamente
destruído e tem por volta de 35 anos. Alguns índios garante que é a médica que morava na aldeia e estava de
viagem para ir em busca de remédios. A comunidade desconfia que o helicóptero possa ter sido sabotado por
proprietários de terras vizinhas devido a brigas territoriais e desavenças com a médica da comunidade. Mais
notícias teremos ao longo da programação.

O jornal eletrônico trocava de pauta e Nat caiu sentada na cama completamente abalada. Dependendo do
caso eu também agia assim. Imagina que horror que deve ser, você ir atrás de remédio, estar trabalhando e do
nada você morre carbonizada. Para morar em um lugar como aqueles deve ter largado tudo para trás. Imagina
o sofrimento da família para reconhecer... Após um minuto de “incrível” raciocínio, entendi imediatamente o
desespero de Natália com a reportagem.

-- Júlia? – Eu balbuciei assustada – Pode ser a sua irmã dentro daquele helicóptero?

Nat fez um gesto confirmando a hipótese que eu levantei e me arrependi.

-- Minha irmã, Alice. Pode ser a Julia. – Em seu rosto vi uma mistura de medo, choque, susto, pena, revolta,
enfim, confusão. – O que eu vou dizer para minha mãe? – Ela me perguntou. – E o João e minha avó? –
Preocupada. - Alice, minha vó tem 85 anos. Ela não vai aguentar e...

-- Nat, respira, calma... A gente nem sabe se era ela mesmo. – M sentei ao seu lado, sua mão estava gelada,
cobri com a minha para esquentar. – Você não pode falar nada para ninguém sem confirmar suas suspeitas.

-- As informações batem. – Nat tentava argumentar comigo e disse em um tom de reprovação. – E minha
irmã era louca o bastante para se meter entre fogo cruzado desses índios com coronéis. A Júlia...

-- Nat, são informações que você teve em 2008. Quatro anos atrás. É muito tempo. Você não pode
simplesmente chegar para sua mãe, para sua avó, para o João e falar A Júlia morreu, mamãe foi assassinada
sem ter certeza disso. Vai ser desumano com elas...

Cabisbaixa, Nat ficou por um momento reflexiva e me disse.

-- Você tem razão. Minha avó adora a Júlia. A neta preferida...

-- Não fala assim...


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-- Eu não estou mentindo, é a verdade. Júlia sempre foi à menina dos olhos dela... O João... Eu não sei qual
vai ser a reação dele... É difícil eu falar da Julia com o João. Eu nunca sei o que passa na cabecinha dele e...

-- Ele falou comigo da Julia... – Natália levantou os olhos me encarando surpresa. – Pouco, mas falou... Ele
parecia machucado, ferido. Ele vai sofrer muito se for verdade...

Natália bufou, e então vi algo inédito em seus olhos: decepção.

-- Uma vez teve um passeio escolar e o João não pode ir porque só pai e mãe poderiam assinar a
autorização. Eu reclamei na diretoria, na coordenação. Na hora de pagar a mensalidade da escola, ninguém
nunca me disse que eu não podia pagar porque eu era mãe. Ele só tinha cinco anos. Passou a noite toda
chorando no meu colo porque não pode ir ao tal passeio. – Magoada. – Foi ai que percebi que eu não era
mãe do João. Eu podia fazer o esforço que fosse, podia ser a melhor tia do mundo, dar os melhores
brinquedos, dar carinho, dar educação, mas eu nunca ia ser mãe do João. – Sentida. – Não vou mentir pra
você, Alice. Eu tenho saudade da minha irmã. Eu gostava dela, mas eu não sei se um dia eu vou conseguir
entender o que ela fez...

-- Nat...

-- O João nasceu de duas mulheres. Literalmente ele foi à criança que não pediu pra nascer. Teve todo um
planejamento... Ela não tinha o direito de fazer isso com uma criança que não pediu pra nascer... Não pensou
na minha vó e... Ela só pensou nela e no próprio umbigo!

Abracei Nat, dei um beijo em seu rosto.

-- Você esta na sua razão... Mas cultivar rancor não vai te levar a nada. As pessoas erram... – Fiz um carinho
em seu rosto. – Você não pode contar desse acidente para as pessoas sem ter certeza... Se você procurasse
não sei, a policial de Manaus para ter alguma informação?

-- Não sobrou nada do corpo da terceira vítima, não sei se vai ter algo aproveitável para fazer um teste de
DNA. E se tiver eu não tenho material genético para fornecer.

-- O Bruno tem. Por que você não fala com ele?


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-- Não quero meter ninguém nisso.

-- Natália, ele não é ninguém. É seu irmão, meu amigo e nosso colega de trabalho. Não fala assim dele.

A cara dela não foi muito boa, mesmo assim me prometeu.

-- Vou pensar.

Nós duas ficamos caladas. Eu não tinha como falar da minha vida em uma situação daquelas. Seria egoísmo
demais. Mesmo que não me confessasse, sei que estava sofrendo. Fiz um carinho e voltei a beijar seu rosto.
Natália deu um principio de sorriso.

-- O que você queria me dizer mesmo?

-- Nada. Nada de importante. Só queria falar que fiquei feliz por você e pelo Bruno te darem certo na cirurgia
de manhã. Foi importante pra ele.

-- Só você mesmo pra aguentar o chato do Bruno...

Serenamente ela tomou os meus lábios de maneira doce. Eu já estava com saudade, não tinha ganhado nem
um beijinho desde tarde. Para me compensar, ela me deu um beijão desses de novela, com direito a língua,
mordida. Uma de suas mãos me puxou pela nunca intensificando nosso contato quando a porta se abriu.

-- Desculpe, eu não queria atrapalhar, mas a sua mãe esta procurando por você Natália. – Silvinha comentou
com um sorriso de quem tinha feito peraltice que eu conhecia desde que era pequena. – E Allie, eu preciso
falar com você.

Nat procurava um buraco para se esconder enquanto eu já maquinava mais de 300 maneiras diferentes de
matar minha priminha linda.

-- Obrigada Silvia, com licença.

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Assim que Nat desceu as escadarias, minha prima deu uma gargalhada que você ai sentado em frente ao PC
da sua casa deve ter ouvido. Garota cara de pau! Ela fechou a porta.

- WOOOOOOOOWWW Inacreditável. Essa agora saiu da série: Eu não credito que meus olhos viram isso!
– Ainda rindo da minha cara, ela caiu na minha cama. - Você é incrível!

Tem como ficar com raiva de alguém que da um a gargalhada tão gostosa como essa? Por fim acompanhei em
sua risada.

-- Incrível é você é sua cara de pau, Silvia! – Brinquei imitando Nat falando o nome da minha prima toda
séria. – Custava bater na porta?

-- E perder a chance de ver o que eu vi? Never! – Minha prima se sentou e finalmente controlava o riso. –
Mas olha que a culpa nem foi minha, a dona Abgail pediu mesmo para eu vir atrás dela. Já conheceu a chata
da sua sogra?

-- Conheci a Abgail, sogra é por sua conta.

-- Opa, desculpa, não sabia que vocês são moderninhas... Pelo jeito hoje tem, hein, Dona Alice...

Fiz um gesto negativo, voltava a me preocupar com Nat.

-- Por que não? A doutora estava tão animadinha...

-- Ela esta com problemas...

-- No hospital?

-- Não. Na família mesmo.

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-- E por falar em família, ela já sabe que vai ser papai?

Ataquei um travesseiro na minha prima.

-- Fala baixo, boca grande! Quer que todo mundo escute?

-- Alice... – Em resposta a idiota da minha prima coloquei o travesseiro por baixo da camisa fingindo ser um
barrigão de grávida e fazia caretas de enjoo. Só a besta da Silvinha para me fazer rir depois de uma conversa
tensa daquelas.

Não demoramos muito no quarto e logo descemos. Na mesa de jantar eu sentei ao lado de João e em frente à
Silvinha. Nat sentou entre dona Abgail e Tia Junia. Algumas vezes trocávamos olhares mais demorados. Meu
tio como sempre puxava o assunto para sua área, política.

-- Esse garoto que vai ser meu sucessor, ele vai ganhar, eu tenho certeza. Jovem, mas um menino de ouro.
Tadeu Neto, conhece Natália?

-- O nome não me estranho.

-- Ele mora há dois anos aqui em Silvéster. Leciona no prédio de comunicações, é coordenador do curso de
Jornalismo. – Silvinha nos situou. – Ele é muito querido pelos estudantes.

-- Esse mesmo minha filha, Tadeuzinho um rapaz gentil, inteligente, bem articulado, comunicador. O futuro de
nossa cidade.

Silvinha, João e eu estávamos fazendo campeonato para ver quem morria de tédio primeiro com aquela
conversa, por outro lado, Nat se interessou quando meu tio falou sobre a secretária de saúde.

-- Natália, as eleições estão ai, o Tadeuzinho esta montando uma equipe jovem, arrojada, de confiança vocês
dois tem perfis parecidos. Você devia discutir com ele a respeito da secretária de saúde!

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-- Secretária de saúde? – Abgail se intrometeu, parecia completamente fascinada pela ideia. – Afrânio, como
não pensamos nisso antes? A Natália é perfeita para o cargo.

-- Mãe... Eu gosto do meu trabalho no hospital. Eu sou uma cirurgiã.

-- Mas minha filha, pensa um pouco, secretária de saúde...

-- Você já trabalha com administração dentro do hospital, seria uma extensão do seu trabalho. – Tio Afrânio
continuou.

-- Sua mãe parece que se agrada bastante da ideia. – Tia Guida achou de falar. – Seria um gosto para ela...

-- Não só me agrado como não vejo outra pessoa mais merecedora do cargo do que você minha filha.

Os três ficaram falando tanto no ouvido de Natália que tentava polidamente se desvencilhar que eu me irritei.

-- Minha filha, você sabe o quão importante é isso para sua carreira?

-- Ela é uma cirurgiã, dona Abgail. – Eu me intrometi. – Sua filha tem um dom e um talento que poucas
pessoas não só nessa cidade, mas nesse país, tem. Ela salva vidas. Pra ela é muito mais importante devolver a
vida de alguém do que ocupar um cargo publico.

Falei isso tão espontaneamente que só parei de comer quando se fez silêncio e a mesa toda olhava para mim.
Natália me esboçou um sorriso nada discreto. Tia Guida tratou de puxar outro assunto para acabar com o
constrangimento da mesa. Eu devolvi o sorriso a Nat. Para implicar comigo, Silvinha me deu um chutezinho
por baixo da mesa, levantei os olhos e a encarei, minha prima fazia uma mímica de um coração batendo
apaixonado por baixo de sua camisa. Eu mostrei a língua e murmurei um imbecil. Mesmo não entendo o
contexto, João deu uma risada discreta para o meu lado.

Assim como eu, meu feijãozinho já estava cansado de ficar naquela sala ouvindo conversa chata. Arrume
qualquer desculpa e fui até o playgroud no jardim. Esta certo que a idade mental da minha prima devia ser de
um criança de seis anos, mas quem usava o playgroud eram os netos do meu tio Afrânio, filhos de meu primo
Marcelo que morava em Brasília e só aparecia em Silvester nas férias. Me acomodei em um dos balances e
fiquei ali pensando na vida. Como eu poderia ajudar Nat com essa história da Julia? Como eu vou contar para
Pedro sobre o feijãozinho? O Pedro merece saber sobre o feijãozinho? Será que é feijãozinho ou feijãozinha?
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E o meu pai? E meu programa de interno, será que vou ter que parar outra vez? Poxa se eu desistir de novo
vou conseguir ser atendente com quantos anos? 85?

-- Legal o que você falou lá na mesa. – João me interrompeu se acomodando no balanço ao lado do que eu
estava. – Minha vó ficou sem resposta.

-- A gente tem que seguir a nossa parada. – Eu expliquei a ele. – Um amigo meu de São Paulo que me
explicou isso.

-- E por que você não faz cirurgia? Sabia que hoje eu vi um pé amputado de uma mulher? O tio Bruno me
mostrou.

-- Bonito, e sua tia esta sabendo disso?

-- Eu vou ser médico, tenho que saber dessas. – Ele me respondeu de um jeito que me fez rir.

-- Médico? Já estamos decidido?

-- E lutador de MMA. Eu pensei em jogar futebol também, mas depois vai vir um monte de mulher querendo
meu sangue.

-- Seu sangue?

-- Pra fazer DNA dos filhos delas. Já viu né? Camarão que dorme a onda leva

Outra vez eu ria com João.

-- Quem te falou essas coisas?

-- Tio Bruno.

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Só o Bruno mesmo. Natália ia mata-lo ao saber que ele estava deseducando o menino. Não tinha como não
rir.

-- Você já cortou o pé de alguém?

-- Já vi cortarem um braço.

-- E coça ficar sem braço?

Ficamos ali conversando, não demorou muito e Natália vinha atrás de nós dois.

-- Ai estão vocês, fujões! João, vai se despedir das pessoas, já vamos pra casa.

João protestou um pouco, mas correu para casa obedecendo Nat. Novamente sozinhas. Fui ao seu encontro
e ganhei um abraço por trás.

-- Desculpa, eu não queria ser grossa com a sua mãe.

-- Ás vezes minha mãe ultrapassa os limites. Você saiu e ela voltou a falar sobre a secretaria.

-- E ai?

-- Ainda tenho tempo para pensar... Mas agora eu quero aproveitar meu tempo de outra forma...

Beijar os lábios de Nat estava se tornando um vício para mim. Tudo nela começava a me fascinar. Nunca
exerci tanto minha dupla personalidade como naquele momento. De um lado o anjinho falava que eu devia ser
honesta com Nat e me abrir sobre o bebê, o outro dizia que era melhor eu me manter segura como estava e
deixar o que estava rolando entre nós amadurecer. Eu era nova no mundo brejo, não sabia os caminhos de
uma relação lésbica. Estamos ficando há quase um mês entre idas e vindas. Nesse intervalo só me apareceu a
Isa, mas eu nem levei aquilo a sério, apenas me serviu como prova dos nove de que Natália era quem me
interessava. Fomos para a cama duas vezes. Se fosse com um cara diria que estamos sei lá, ficando firme...

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Agora com mulher é tudo diferente. O melhor que tinha a fazer era aproveitar aquele momento, língua dela
dentro da minha boca, suas mãos descendo pelo meu quadril enquanto as minhas enlaçavam seu pescoço.

-- Com licença e desculpa mais uma vez... – Sério a Silvinha ás vezes conseguia acordar o instinto assassino
que tinha dentro de mim. Segunda vez na noite que ela cortava a gente. Se tivesse uma terceira juro que
pagava uns caras para dar uma lição nela. Matar não que não sou assassina, mas só um susto do tipo
encapuzados, empurrões em um esquina escura, bagunçar os cabelos e levar o celular com o contato de todos
garotos e garotas dela. Ah, fala sério, quem nunca teve vontade de dar uns tapas na prima que atire a primeira
pedra. – Eu não queria interromper vocês, mas eu precisava falar com você Natália...

-- Comigo? – Nat perguntou. Na minha cabeça eu apenas suplicava: Silvinha, não pergunte quais as intenções
dela comigo, Silvinha, não pergunte quais as intenções dela comigo. – O que foi?

-- O João me disse que amanhã não vai ter aula por causa de conselho de classe, por que você não deixa ele
dormir aqui essa noite? – Minha prima perguntou com um ar travesso. – Amanhã eu vou com o Anderson
para São Paulo fazer uma matéria em um parque aquático, é super seguro, voltamos amanhã mesmo. Acho
que o João vai adorar e não vai me dar trabalho nenhum. Tem a sunga do meu sobrinho ai, ele pode usar.

Existe prima mais maravilhosa que minha? Fala sério. Eu amo a Silvinha. Sobre os tapas, o susto e o puxão de
cabelo, esqueçam. Nos entreolhamos. Eu torci para que ela entendesse que apesar de adorar João, eu
também adorava passar um tempo sozinha com ela.

-- Bom, se não vai te dar trabalho...

-- Relaxa, adoro criança! Amanhã deixo ele em casa à tardinha, ok? – Se virou para ir embora e nos deixar a
vontade, deu uns dois passos e virou novamente para trás. – Ah, Nat, bem vinda ao Lesbworld, sem juízo
hein meninas! - Jogou uma piscadinha cúmplice em nossa direção e saiu rindo toda serelepe. Não aguentamos
e também rimos.

-- Minha prima é louca...

-- Pra mim ela é maravilhosa.

Nem tivemos o cuidado para ver se tinha alguém por ali e trocamos um beijo apaixonado. O caminho para o
apê de Nat foi ótimo, como ela tinha tomado dois copos de vinho, eu fui a motorista da vez. Eu que me ferrei,
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né? Porque ela me provocou o caminho inteiro, ficava fazendo carinhos nada inocentes nas minhas pernas,
uma duas vezes veio beijar meu ombro por trás, soprava minha nuca. Em um dos sinais vermelhos beijo meus
lábios suavemente me provocando arrepios.

-- Natália franco, eu preciso levar esse carro até seu prédio. Se controle. O que puseram no seu vinho, hein?

-- Isso, coloca a culpa no vinho mesmo. – Dessa vez eu praticamente congelei. Os cinco dedos quebraram a
barreira entre o vestido e minha pele e safadamente ela subiu a mão até minha coxa. Eu revirei os olhos, eu
nem tinha me tocado e já estava excitada. Me deu uma mordidinha no lóbulo da orelha de tirar o juízo de
qualquer um. – Dirige mais rápido, Allie.

Foi a primeira vez que notei Nat me chamando pelo meu apelido, Allie. Adorei. Era sexy. Com dificuldade,
consegui manobrar o carro até a garagem. No elevador ela até tentou me beijar, mas eu descolada no assunto
consegui segurá-la. Mal abrimos a porta do apartamento e já entramos nos beijando com urgência e desejo.
Eu a puxava para mim, procurava enlaçar seu pescoço, enterrar minhas mãos em seu cabelo. Chupar seus
lábios. O gostinho do vinho ainda estava em sua boca formando um beijo delicioso. Caímos no sofá.
Instintivamente coloquei a mão na barriga preocupada.

-- O que foi?

-- Na-Nada... Vem cá, vem...

Nossas bocas se colaram famintas. Aproveitei minha pausa e me sentei sobre ela no sofá. Enquanto a beijava,
aproveitava para descer o zíper de seu vestido e desci as alças beijando, chupando cada pedaço descoberto,
adorava saber que o toque da minha língua eriçava todo seu corpo. Ao som de gemidos nos despimos
completamente em questão de segundos. As mãos de Nat circundavam o meu cóccix enquanto a boca dela
brincava com os meus seios. Eles cresceram mesmo, ela parecia pinto no lixo de tão feliz. E que boca que ela
tinha, parecia ter um mapinha secreto para achar todos meus pontos fracos. Quando dei por mim eu estava
sentada no sofá e ela beijando meu abdômen. Sua língua tocou levemente meu umbigo. Arrepiei por inteira e
deixe escapar um gemido mais alto.

-- Esta gostando?

-- Esta perfeito...

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Não me referia apenas ao carinho que ela me proporcionava, mas também a visão que tinha, Nat
deliciosamente de quatro no chão totalmente empinada me chupando. A única movimentação que eu
conseguia ter naquele instante era puxa-la pelo cabelo colocando seu rosto contra o meu sexo pulsante
propositalmente ela não aprofundava com a língua me ensandecendo. Não queria apenas curtir aquele
momento, mas também deixa-la curtir. Eu sabia que os próximos dias seriam pedreiras por conta do acidente
de helicóptero, então eu queria que ela tivesse recordações boas dos dias anteriores.

Com o apartamento completamente vazio, aproveitamos todos os cantinhos que conseguimos. No corredor
para o quarto eu dei o troco a sessão tortura que ela fez passar no sofá. Revezava entre penetra-la com os
dedos e com minha língua. Estocava forte e quando ela esta para gozar eu desacelerava o ritmo. Adorei senti-
la tremer na minha boca e cheguei ao orgasmo pela terceira vez na noite só de proporcionar prazer a ela. Já
no quarto, Nat me beijava de um jeito gostoso provando seu próprio sabor. Ela estava vermelha, ofegante,
respirava com um pouco de dificuldade. Meu Deus, a asma! Só faltava eu matar alguém fazendo sexo. Antes
de eu correr para pegar a bombinha, Nat conseguiu falar.

-- Alice você vai acabar comigo.

Eu sorri e dei um beijo bem suave em sua boca.

-- Desculpa, não era essa a intenção.

Só conseguimos dormir lá pelas quatro e meia da manhã. Na verdade nem dormi, tirei um cochilo. A Nat
falou durante o sono algumas frases desconexas. As únicas palavras que entendi foram Manaus e Júlia. Perdi
a hora velando seu sono. Eu sou muito lerda mesmo, né? Como alguém perde a hora acordada? Quando dei
por mim faltava vinte minutos para sete e ainda precisava passar em casa. Dei um selinho de leve em seus
lábios e tentei me levantar sem fazer barulho. Não deu certo devido a inexplicável atração que meu dedo
mínimo do pé tem por quinas de cama.

-- AIIIII!

-- Bom dia pra você também, Alice! – Nat abriu os olhos de maneira preguiçosa. Antes dela se levantar dei
um beijo rápido. – Que isso? Você já vai?

-- Eu tenho que chegar mais cedo hoje. Duarte me prometeu ajudar a estudar para a prova da semana que
vem. – Nat me puxou para um beijo mais demorado de despedida. – A gente se vê mais tarde?

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-- Eu te ligo.

Quando cheguei em casa era sete e quinze. Tentei correr para o banheiro encontrei com Beca na porta,
egoísta Bruno e uma das “inhas” já ocupavam e iam demorar.

-- Não acredito, toda manhã é isso! – Me queixei. – Ainda tem que ir na padaria buscar pão?

-- Aliceeee, traz um sonho pra mim, minha flor. – A “inha” me gritou do banheiro.

Gente, eu era gestante, o que aconteceu com a fila preferencial? Em quarenta minutos conseguimos nos trocar
e chegar ao hospital. Não comentei nada com Beca porque Bruno estava perto, mas quando nos despedimos,
disfarçadamente ela me passou uma bolinha de papel amassada entre as mãos. Abri o bilhetinho.

“Quero detalhes da noite. Qual foi a reação da Nat?”

Aquela perguntou ficou me martelando a manhã inteira, sorte que eu não tinha casos para atender, mas
estudava junto de Duarte para minha prova na semana seguinte. Só interrompia meus estudos quando recebia
alguma mensagem de texto de Nat, me agradeceu a noite, estava sendo super carinhosa. No almoço pensei
que nos encontraríamos, mas não deu pois ela teve um consulta para fazer e Rebeca quase me sequestrou.

-- Que susto Beca, achei que fosse um louco ou algo do tipo!

-- Quer que eu bote um ovo, Allie! Desde de manhã que estou esperando você me responder.

-- Não falei para ela.

-- Por que?

-- Eu não sei o que falar. Vou chegar pra ela e dizer o que? – Confessei. - Eu estou me sentindo um ovo de
páscoa que vem com uma surpresa dentro. Eu preciso de um tempo, Beca... Euq euro conhecer a Nat!

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-- Eu estou grávida, simples e direta.

-- Beca, vou falar assim?

-- Ué, vai fazer o que, mandar um telegrama? Quando tiver na porta da maternidade vai achar de falar?

-- Eu queria dar um tempo, entender melhor o que esta acontecendo entre nós.

Bruno se juntou a nós duas.

-- Qual o lance?

-- A Alice esta com medo de falar para namorada que esta grávida porque elas estão juntas há pouco tempo.

-- E porque ela não é minha namorada!

-- Uai, se a gata esta curtindo você, ela vai entender. Namorada sempre releva.

-- Ela não é minha namorada. Estamos só... Saindo... Ainda não sei qual é o lance com ela...

-- Leva a gata em casa.

-- Que?

-- Leva ela em casa, pra conhecer um pouco dos seus amigos, do fusca, da tua vida. – Bruno me sugeriu, ele
não fazia ideia que a “gata” era a irmã dele. – Mulher se amarra nesses lances de levar em casa.

-- Ela é reservada. – Rebeca me salvou. – Acho que não vai querer ir.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Nada ver, só vai estar nós quatro. – Bruno se virou para o meu lado. – Vou trabalhar um macarrão legal
pra gente. Diz que to esperando ela.

E saiu sem me deixar explicar nada.

-- De irmã mais nova a cunhado... – Rebeca comentou. – E ai? Você acha que a Natália toparia conhecer
teus amigos?

Não respondi. Em momento nenhum ela me falava o que tínhamos, se éramos exclusivas, sempre encontros as
escondidas. A cada minuto me sentia mais insegura. Tinha combinado de encontra-la na parte da tarde no
estacionamento, desci no horário combinando e a avistei na porta do carro me esperando. Um sujeito cruzou
comigo e vinha comendo um desses salgadinhos fedorentos de queijo. Na hora meu estômago reagiu. Me
senti mãos e me apoiei em uma das pilastras do estacionamento. Ela veio correndo me socorrer. Em poucos
minutos já estava bem e me recusando a entrar no hospital.

-- Alice, deixa de ser boba, saúde não se brinca.

-- Eu estou ótima. Só esta muito quente. E você?

-- Estive pensando em muita coisa hoje. Eu decidi uma coisa.

-- O que?

-- Eu vou pra Manaus atrás da minha irmã.

-- Quando?

-- Hoje a noite.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 14 by Tamaracae

Author's Notes:

Boa leitura!

-- Hoje á noite? – Não consegui disfarçar a surpresa em minha voz. – E suas cirurgias? E o hospital?

Minha maior vontade era perguntar: E nós? Nós eu e Natália, não eu e o meu feijãozinho. Aquela altura nem
tinha ideia se o nós em algum momento existiu para Natália.

-- Alice, eu não consigo ficar tranqüila sem saber ao certo o que pode ter acontecido. Eu não posso falar
nada com mais ninguém e eu vou acabar enlouquecendo se não souber o que aconteceu. Eu não consigo
ignorar mais.

Se eu tivesse um irmão e ele fosse dado como morto, talvez eu fizesse o mesmo. A atitude de se preocupar
com Julia mesmo após de dez anos sumida apenas aumentou minha admiração por ela.

-- Mas você não me falou sobre o hospital e as cirurgias...

-- As minhas cirurgias eu repassei as que estavam já marcadas, conversei com os pacientes, felizmente são
todas de procedimento mais comum. – Só a Natália pra achar que operar um cérebro é um procedimento
comum. – O hospital vai ficar em boas mãos. Designei a Duarte para gerenciar as cirurgias e a parte
administrativa o pessoal do conselho vai tomar conta. – Ela deu um meio sorriso. – Só espero que não se
virem tão bem e descubram que eu não sirvo pra nada.

-- Natália, eu já conheço você. Você adora que todo mundo fale que precisa de você, que não sabe que vai
viver sem você por aqui... – Ela deu uma gargalha matreira. – Não vou cair nessa, não, mocinha...

-- E você?

-- Não, acho que as pessoas daqui vivem sem mim. – Ela não agüentou meu tom sério e riu. – É verdade, não
sou uma pessoa querida.
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-- Boba, estou perguntando. Você não tem nada para me contar?

Estou grávida de um sujeito que me trocou pelo personal trainner que tem um ombro daqui até a outra
esquina, moro em uma republica estudantil que não tem estudantes, minha mãe me odeia, meu tio vai me matar
quando souber da gravidez e tenho duvidas sobre o que você e eu temos. Não, eu não podia abrir minha
boca agora. Se os deuses,o destino ou sei lá quem fizeram um helicóptero cair só para ela viajar para o outro
lado do país é porque não era hora de ocupar sua atenção com minha vida. Eu poderia esperar pó um tempo.
Vou ter que esperar por meses, o que seria mais algumas semanas?

-- Não, nada de mais, só posso te desejar boa viagem.

Com as costas de seus dedos ela delicadamente jogava meus cabelos para trás.

-- Só isso? – Notei os dentes de Nat mordendo de leve os próprios lábios, eu já sabia interpretar muito bem
aquele gesto, ela estava doida para uma despedida mais caprichada, assim como eu. – Eu achei que a gente
podia passar a tarde juntas já que vamos ficar alguns dias sem se ver...

-- Nat, eu tenho que trabalhar...

Eu tenho é que me controlar para não atacá-la aqui no estacionamento do hospital. Já basta a fama de tarada
do elevador, tarada de estacionamento já é demais. Agora sou uma mãe de família, uma reputação a zelar.
Mãe de família, meu Deus, eu tenho que me acostumar com isso. Só de ver aquela expressão de
desapontamento em seu rosto, me derreti. Já vi tudo, se eu deixasse em um mês com essa mulher ela estaria
mandando em mim mais do que o Adolph Hitler manda em filme de nazista. Por outro lado, como dizer não a
Nat? Minha resposta foi envolver seu pescoço em meus braços e puxá-la para um beijo cálido. Adeus
reputação de mãe de família, sim sou uma tarada de estacionamento.

Acabei conseguindo alguém para me cobrir na clínica, em troca ficaria no plantão de fim de semana. Assim
que entramos no carro ela me puxou para outro beijo. Jeitosa como sou, sem querer com o cotovelo toquei a
buzina do carro chamando atenção dos guardas. Me controlei para não rir quando vi a cara de Nat. Um dos
guardas veio todo valentão bater na janela para saber o que acontecia, quando ele viu Nat ficou vermelho,
vinho, azul e por fim roxo.

-- Desculpa, doutora Natália é que eu pensei ter ouvido alguma coisa e visto um movimento suspeito. – Dessa
vez quem ficou vermelha fui eu. – Mas deve ter sido algum engano.

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-- Deve ter sido não, foi um engano.

-- Positivo, positivo doutora, desculpe o incomodo mais uma vez.

Nem ouvi o que Nat respondeu, só sei que o valentão se afastou com um ar de menininha que levaram a
boneca embora e ela partiu com o carro. Não falamos nada até sair do estacionamento, mas depois não
agüentamos e tivemos uma crise de riso.

-- Alice, de uma coisa eu não posso reclamar, com você não tem rotina, cada hora uma aventura. Chuva,
raios, operação, eu quase tenho uma crise de asma no meio do sexo... Agora quase pega pelo guarda.

Decidi devolver toda a provocação que ela me fez no dia do jantar da casa do meu tio e comecei com umas
brincadeiras sem inocência nenhuma para seu lado. Levemente beijei seu pescoço e rocei minha boca pela
lateral de seu rosto.

-- Aliceee...

-- Não quer saber qual a aventura de hoje, amor?

Ela aproveitou transito lento e me deu um beijo rápido.

-- Estou doida para chegar em casa para descobrir.

-- Eu quero ir pra um lugar diferente hoje.

Natália deu um sorrisinho meio sacana.

-- Explorar novas possibilidades, gosto disso. Você quer ir aonde?

-- Para minha casa. – Minha boca voltava a procurar pela dela, mas Nat se afastou instintivamente. – Tem
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algum problema da gente ir pra minha casa?

Antes que levássemos uma multa por transar e discutir ao mesmo tempo no meio de um engarrafamento, Nat
estacionou o carro em uma ruazinha mais tranqüila.

-- Eu te fiz um pergunta.

-- Alice, o Bruno e a Rebeca são meus subordinados no hospital, esqueceu?

-- Na minha casa eles são meus amigos, o Bruno é seu irmão e você não é chefe de ninguém.

-- Falando nisso, é bom você tocar nesse do Bruno e da sua casa. – Não acreditei na cara de pau dela. - O
que o meu irmão esta fazendo morando com você?

-- Você esta mudando de assunto.

-- Pelo contrário! O assunto é o mesmo. Eu acho que um direito saber porque você e meu irmão moram
juntos.

-- O que isso tem haver com você e eu?

-- Tem haver que você divide sua casa com o maior banheiro publico da cidade, é só ter vontade que ele esta
ali esperando e eu não gosto que mexam em coisa minha.

Essa é boa, era só o que me faltava. Agora a doutora bonitona só porque é bonitona ia ficar controlando
quem entra e sai da minha e me chamando de...

-- Já que você faz tanta questão de tocar nesse assunto, dona Natália, você enche a boca para falar que não
gosta que mexam no que é seu, afinal, eu sou o que sua?

Sim, aquela era a hora de por os pingos nos is. Ela não esperava a pergunta e nem sei de onde tirei tanta
coragem e cara de pau de questioná-la. Talvez da minha indignação por aquele ciúme sem razão do Bruno.
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Não estava esperando por um pedido de namoro, mas queria por tudo as claras. Sou quem afinal? A
forasteira aventureira, a amiga com benefícios do quartinho de plantão, a piranha que dava mole para a chefe,
o caso da vez, nenhuma, ou todas as alternativas anteriores?!

-- Alice...

Salva pelo gongo. Aquele telefone estava se tornando um dos meus maiores inimigos na cidade.

-- Oi? Marisa, quanto tempo! Como você esta? Sério? Mas vai ficar onde lá? Não sabia... Bom que legal,
então pode deixar que eu te procuro por lá. Saudade também. – Nat deu uma risadinha que me azedou ainda
mais. – Até então, um beijo Máh! – E desligou. – Uma amiga, acredita que ela vai pra um congresso em
Manaus. Ela é psicóloga. Bom... Vamos para casa?

Não respondi. Se quer conversar que ligue pra Marisa, ou pra Máh! Ligar pra que, elas iam ter muito o que
conversar em Manaus. Só queria ver até onde iria aquele showzinho dela. Para não responder suas perguntas,
encostei a cabeça no vidro e fiquei me distraindo com a paisagem. Não deu outra, cochilei. Assumo, quando
o sono vem sou que nem velho, durmo em qualquer canto. Meu pai não cansa de cantar da primeira vez que
entrei para tomar banho de mar, estava pendurada em seus ombros e acabei pegando no sono. Acordei
quando o carro parou. Abri os olhos, estava em frente a minha casa.

-- Achei que você falou que iria para casa. – Eu comentei realmente surpresa. – Decidiu aproveitar suas horas
de viagem sozinha?

-- Não. Você não disse que queria que fosse na sua casa? Pois então... Vamos?

-- Não brinca comigo!

Ela era tão geniosa, só podia estar tirando sarro ou sendo irônica comigo. Natália voltou a procurar pelos
meus olhos que estavam cheio de interrogações.

-- Alice, eu vou ser bem sincera com você... Eu ainda não sei o que você é minha, mas eu adoro ficar do seu
lado. Você me faz rir, você esquece o tempo inteiro que eu sou sua chefe... – Nós duas rimos, era verdade,
eu vivia dando broncas falando o que não devia. – Você não sabe, mas tem um jeito especial de cativar as
pessoas... Eu não me importo o lugar que eu estou se eu sei que estou com você... – Outra vez os
coraçõezinhos de desenho animado deviam estar em volta de mim. – E agora vamos entrar porque senão eu
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vou te agarrar no meio da rua e me tornar o novo assunto das suas vizinhas.

Nem precisou falar duas vezes. Eu desconhecia meu poder de se materializar em outro lugar, mas quando dei
por mim já estava na sala da minha casa deixando Nat experimentar o gosto da minha boca. Bruno e Beca só
voltariam de noite mesmo, a casa era nossa. Aquele foi um dos melhores beijos que ela havia me dado.
Excitante carinhoso, forte, sensível. Eu tenho que descobrir o endereço desse cursinho secreto de beijos
lésbicos de qualquer maneira. Não sei quanto tempo nós íamos ficar sem nos ver, por isso queria aproveitar
nosso tempo da melhor maneira possível.

-- Vem, vamos subir lá para o meu quarto...

Me abraçando por trás, Nat tratava de puxar para mais perto, suas mãos invadiam por dentro da minha
camiseta e a boca tomava meu pescoço me fazendo virar os olhos. Estremeci quando senti sua língua
abafando minha nuca. Tombei levemente meu pescoço para a esquerda facilitando nosso contato.

-- Estou doida para conhecer o seu quarto.

Foi um sacrifício subir com aquela mulher grudada em mim, sacrifício que eu adorei ter passado. Não pensava
em mais nada de passado, futuro, apenas vivia o presente. Não chegamos ao meu quarto, praticamente
arrombamos a porta com todo o nosso peso contra ela. Era espantoso como ela me tirava de órbita. Eu
topava qualquer coisa que ela propusesse se fosse para ser pega daquele jeito depois. Tudo que ela falasse se
tornava lindo porque ela era linda. Natália podia me mandar para o Iraque com uma passagem só de ida, me
dar uma surra, me atropelar com uma jamanta se depois me beijasse do jeito que ela me beijava, venerasse o
meu corpo, com olhos, mãos e bocas.

Eu estava deitada na cama, apenas de calcinha, sentia o peso de Nat. Eu já tinha dado um jeito de sumir com
suas roupas, ficaram pelo chão do meu quarto e me deliciava com a visão daquela mulher com uma calcinha
branca de renda ressaltada por sua pele negra. Meus seios já tinham sido massageados por suas mãos e
depois por sua boca. Como ela podia ser tão suave e tão incisiva ao mesmo tempo. Minha barriga já estava
vermelha de tantos beijos, sugadas e lambidas que recebeu. Agora ela me torturava com a boca beijando por
cima da minha calcinha. Cachorra, estava doidinha para me chupar, mas queria me ver pedindo.

-- Natália, pelo amor de Deus! – Ela descia devagar o tecido da calcinha e soprava levemente cada pedaço
de pele que se revelava. Para acabar de vez comigo, ela tinha tomado ou experimentado algo gelado e sua
língua ainda estava em uma temperatura abaixo do normal. – Eu sei que você esta doida para me chupar...

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Ouvi um risinho zombeteiro vindo da minha carrasca.

-- Quem disse?

-- Eu estou vendo... – E estava mesmo. Seu sexo quase tocava meu rosto e a calcinha completamente
encharcada. Ergui minha cabeça, puxei a calcinha um pouco de lado e com a língua toquei de leve seu clitóris,
Nat deixou escapar um gemido que me atiçou ainda mais. – E estou sentindo...

Ficamos nesse jogo até alcançar o gozo. Uma das melhores sensações que tive e tenho na vida é quando sinto
o corpo de uma mulher se desfazendo na minha boca e em seguida conhecer aquele olhar de satisfação. Pena
que tudo que é bom dura quase nada e nossa tarde foi em um piscar de olhos. O relógio de parede marcava
cinco e meia da tarde, oito da noite ela precisava estar fora de Silvéster para pegar o vôo pra Manaus no
aeroporto de Ribeirão Preto que era o mais próximo de Silvéster. Ela estava adormecendo de um jeito tão
bonitinho na minha cama que não tive coragem de acordá-la e lhe presenteei com mais quinze minutos de sono
enquanto tomava um banho e preparava uma mesa com algo para comer.

A cozinheira oficial da casa era Rebeca, mas consegui me virar com pão, frios, refrigerante, frutas e uma caixa
de bombom que Bruno ganhou de uma das “inhas”. Alguns instantes depois, ouvi um barulho nas escadarias.
Preguiçosamente Nat vinha do quarto enrolada em um lençol.

-- Nossa, isso tudo é pra mim? Você colocou comida para um batalhão...

Na hora me lembrei de nossa manhã na cabana, ela também havia caprichado na mesa.

-- Eu também vou comer, egoísta. – Ela veio ao me encontro e roubou um beijo. – Não quero que você saia
falando por aí que se come mal na minha casa.

-- Com certeza disso eu não posso reclamar... – Demos um sorriso meio bobo, ela me roubou um beijo. –
Vem tomar banho comigo?

-- Acabei de sair do banho...

-- A gente vai ficar sem se ver, por favor... – Ela começava a me rondar feito uma gata querendo carinho. –
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Não vamos demorar...

Estava na hora de eu criar uma proteção para aquela carinha pidona dela. Lá estava eu realizando mais uma
de suas vontades. A água estava na temperatura perfeita, a Natália também. Com um beijo ela me
pressionava contra a parede do box. Tudo foi rápido demais, só observei a toalha que estava na maçaneta da
porta caindo e Beca entrando no banheiro.

-- Allie, acredita que a- AIIIIIIIIIIIIII! Desculpa, desculpa!

E saiu correndo, não por mim já que quando eu estava sozinha no chuveiro ela e Bruno entrava sem fazer
cerimônias, mas por Natália, ou melhor, pela chefe.

-- CUSTA BATER NA PORTA UMA VEZ?! – Eu berrei para Rebeca me ouvir de fora do banheiro.

-- Entendeu por que eu falei da minha casa?

Eu achei que depois da visitinha da Beca no banheiro, Natália iria mandar me matarem ou algo do tipo, mas
não é que ela surpreendeu? Quando saímos do banheiro Beca e estava na sala, em silêncio. Eu não sabia
onde enfiar minha cara perante minha amiga, mas a Nat me salvou.

-- Rebeca, desculpa a gente achou que você ia voltar mais tarde.

-- Desculpa, chefe, eu que...

Natália trocou um olhar confuso comigo e por fim falou a minha amiga.

-- Acho que depois dessa pode me chamar de Natália, ou de Nat. – Rebeca assentiu prontamente. Meio com
vontade de rir Nat e disse com voz de médica. – Eu vou subir e me trocar, enquanto isso você dá água com
açúcar para sua amiga.

Assim que ouviu a porta do meu quarto bater, Beca soltou todo o ar que tinha segurado. Ela não sabia se

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ficava constrangida ou ria da minha cara.

-- Vocês ficaram falando aquilo dela vir na minha casa para gente se conhecer melhor, ai eu coloquei ela
contra parede...

-- Não acredito...

-- Então ela falou que não tinha problema nenhum em ficar aqui em casa...

-- Não acredito... – Beca disse com vontade de rir. – Alice ela é minha, ela é nossa chefe... Todo mundo tem
medo daquela mulher...

-- Dá um desconto para ela, coitada, esta tentando.

Resumindo, no final da noite Rebeca e Natália não estava até se dando bem com direito da Nat rir das
histórias de Rebeca que assim como eu era outra vítima de Murphy?! O bom senso que faltou no episódio do
banheiro, Beca usou na nossa despedida, cumprimentou Nat com dois beijos de comadre, desejou boa
viagem e foi fazer qualquer coisa lá nos fundos da casa. Essa era a pior parte, eu já tinha me acostumado a vê
la todos os dias, tocar, abraçar, espero que essa viagem não demore muito. Eu era a única que sabia o real
motivo, para os outros, usamos a desculpa do congresso que haveria em Manaus de médicos e Psicólogos.
Por que fui lembrar da porcaria desse congresso, agora lembrei que a Máh vai estar lá. Eu sou uma idiota
mesmo, ela indo reconhecer o corpo da irmã morta e eu fazendo uma cena de ciúmes.

-- Você despediu do seu irmão?

-- Despedi, fui procurei o Bruno e me despedi dele que nem gente. Não sei se ele te falou, mas ele deve trazer
o João pra cá pra ficar com ele... – Ela respondeu de um jeito engraçado. – Você, hein, agora encasquetou
que o Bruno e eu temos que nos dar bem...

-- Você liga muito mais pra ele do que você pensa. E confia também senão não deixaria o João com ele.

-- O João gosta do tio e é mais perto pra ele ir pra escola do que a casa da minha mãe e chácara da minha
avó. – Nat deu uma olhada no relógio. – Agora eu tenho que ir mesmo. O helicóptero vai me pegar lá no
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hospital daqui a pouco e eu tenho que pegar as malas em casa.

Demos o ultimo beijo de despedida.

-- Eu vou ficar com saudade.

-- Eu também...

Mal fechei a porta e já estava me sentindo triste. Eu já era toda emocional em estado normal, grávida eu
parecia que ia explodir a qualquer momento ou de choro, ou de gargalhadas, ou de raiva, ou de desespero...
Loucura mesmo. Beca veio dos fundos com um sorriso nos lábios.

-- Achei que ia ficar diabética de tanto doce de vocês...

-- Idiota!

-- Mas eu estou feliz por você sabia. Não esperava mesmo da Nat aceitar assim ao de boa...

-- O que?

-- Sua gravidez, coisa lenta! - Rebeca me encarou. – Alice, você não contou ainda?!

-- Eu vou contar como?

-- Alice, ela vai viajar, não tem data certa para voltar.

-- Eu sei!

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Minha amiga estava agitada, andava de um lado para o outro.

-- Alice você tem que ir atrás dela e contar antes que ela embarque. Tipo, pelo que você me disse ela se abriu
e foi sincera com você...

-- Eu sei Beca, mas...

-- Não tem mas, Allie. É sério, se ela embarcar sem saber vai ser muito pior.

É por essas e outras que eu amo a Rebeca. Quando ela surta, eu puxo o balãzinho dela e trago de volta a
realidade e o mesmo ela faz comigo. O que eu estava fazendo era errado e só ia piorar se eu mesmo não
colocasse um fim. Faltava meia hora para Nat embarcar no helicóptero. M enfiei na primeira roupa que entrou
e fui que nem uma doida correndo atrás de um táxi para me levar até o heliponto. Infelizmente quando
cheguei, vi o helicóptero levantar voo e Nat ainda me viu e deu um tchauzinho, mas não deu para falar nada.
Não tinha jeito, teria que esperar os dias até que ela chegasse.

Os dias foram virando semanas e as semanas foram virando meses. Muita coisa aconteceu nesse tempo.
Passei na prova dos internos, fiz meu pré natal, descobri que estava esperando uma menina, contei para o
Bruno que estava com a Nat e ele parou de falar comigo, João veio morar com a gente, Beca começou a
namorar, senti o bebê mexer, meu pai veio me ver, briguei com meu tio Afrânio por ser mãe solteira,
encontramos vazamento na casa e tivemos que gastar com pedreiro, Silvinha saiu de casa, voltei a falar com
Bruno, Beca terminou o namoro, compramos um carrinho de bebê, uma ex namorada de Bruno apareceu e
descobrimos que ele tinha uma filhinha de quatro anos chamada Laísa, Monique adorou meu trabalho com as
grávidas, Beca e eu desconfiamos da ex namorada de Bruno e roubamos a toalhinha e a mamadeira da
criança para fazer DNA, Marquinhos veio me visitar, Rebeca ficou com Marquinhos, Laísa era filha legítima
de Bruno, Marquinhos e Bruno quase saíram no tapa e se entenderam após um bebedeira juntos, a ex
namorada de Bruno deixou Laísa com ele e foi embora, agora moramos em cinco em um casa de três quartos
e um fusca, peguei Beca e Bruno se pegando no fusca, estou com 60 quilos, engordei 7 e usando 42, os
pedreiros ainda não terminaram a obra da nossa casa. Ufa, falei que era muita coisa!

Quase dois meses sem ver Natália que não conseguia pistas de Júlia. Sobre tudo, saudade, muita saudade.
Falávamos todos os dias, mas era pouco. Acho que estamos namorando, mas não tinha certeza. Eu sentia que
ela gostava de verdade de mim, mas tinha medo de sua reação. Estava cansada desse mas atrapalhar minha
vida. Estava me sentindo mais bonita, aceitando melhor a ideia da gravidez e com uma vontade enorme de
beijar na boca, mas não tinha coragem de ficar com outra pessoa. Como toda manhã eu me colocava na
frente do espelho do meu quarto e ficava alisando minha barriga de quatro meses. Eu não ia ficar uma grávida
tão barriguda como muitas que vejo por ai, mas que meu abdômen já estava mais saliente, estava. O celular
tocou, corri para atender.

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-- Oi amor... Bom dia... Tudo bem?

--Não... Alice, deram as buscas como encerradas. – A voz de Nat estava completamente embargada, ela
chorava do outro lado da linha. – Concluíram que a médica só pode ser a Júlia. Minha irmã esta morta.

-- Sério? – Realmente eu estava sentida, acompanhei toda aquela luta. Era a única pessoa que sabia a
verdade, para todos os outros, Nat resolveu estender sua estadia em Manaus para participar de outros
congressos. – Não tem mais ninguém que possa dar informação, que...

-- Não. Eu contratei um detetive e deixei aqui, ele vai procurar, mas eu não tenho mais esperanças...

-- Nat, não sei o que te dizer...

-- Eu volto para casa amanhã. Já reservei minha passagem.

Falamos ainda mais um pouco, eu tentando disfarçar meu apavoramento. Beca que estava certa, eu devia ter
contado isso lá na casa do meu tio quando ela me perguntou pela primeira se tinha acontecido alguma coisa.
Me despedi com um beijo e fui me arrumar para trabalhar. Como estava me sentindo bem, só tinha pretensão
de parar de trabalhar depois dos sete meses, quando eu fosse fazer a prova para a próxima etapa da minha
residência. Desci as escadas.

-- Ah não, cozinha?! Não faz isso comigo!

Segunda feira era o meu dia de limpar a cozinha que para variar parecia que tinha sofrido um Tsunami. A
porta do banheiro estava aberta, Bruno quase chegava com Laísa no colo, mas João correu antes e se
trancou no banheiro.

-- João, abre ai! Tenho que levar a Laísa pra creche, eu tenho que trocar a menina!

-- Quem mandou ter filha?!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- João!

João abriu a porta colocou a cara pra fora.

-- Eu falei que era melhor ter um cachorro, ou uma bicicleta nova!

E se trancou de novo.

-- JOÃO!

No outro lado da casa, Beca lutava com um dos pedreiros.

-- Seu Jerêmias, o senhor não disse que em abril me entregava tudo pronto.

-- É que...

-- A chuva atrapalhou... – Nato, irmão de seu Jeremias e ajudante de pedreiro ajudava.

-- É foi a chuva, não sabe minha, “fia”...

Grávida de 4 meses, cirurgiã, morando com duas crianças que não são minhas e outras duas crianças que
tomam conta dessas crianças, uma escada, vários andaimes e dois pedreiros que comem mais que a gente que
é da casa. Minha única família é minha prima. Tenho uma quase namorada agora deprimida pela morte da
irmã e sem saber o que é sexo por quase dois meses, essa é minha vida, esse é o meu clube.

Em vinte minutos todos estavam na mesa tomando café.

-- Quase dois meses pra arrumar um vazamento de nada! – Rebeca ainda implicava com os pedreiros. – Um
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

absurdo!

-- Se eu fosse vocês não pagava eles tio Bruno!

-- Não pagava. – Laísa como toda criança mais nova, querendo encher o saco do primo repetia quase tudo
que ele falava.

-- Ai, vou chegar atrasado no colégio. – João ainda reclamava da reforma no banheiro. – Vou acabar
perdendo a aula!

-- Perdendo a aula!

-- Quer parar?! Tio, você comprou essa filha com defeito. Esta parecendo um papagaio!

-- Papagaio!

-- Será que dá para os dois ficarem quietinhos? Vocês são muito mal agradecidos. Vocês queriam o que, ficar
empurrando carrinho na feira pra ver se ganha algum trocado? Jogando bolinha no sinal? Só assim pra vocês
darem valor pro banheiro e pra comida de vocês!

-- Bruno, não fala assim com as crianças, amor! - Rebeca repreendeu. - Vai traumatizar os coitados!

-- Os coitados acabaram com o seu yogurt...

-- E com a bolacha também...

Bruno e eu falamos respectivamente, Rebeca virou a garrafa desacreditada.Nem uma gota!

-- Eu devia mandar tudo para o colégio interno! E MILITAR!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Pelo tom que ela usou até eu fiquei traumatizada e com medo de ser enviada para o colégio interno. E Militar!

Agora vocês me perguntem se eu trocaria a vida que estou levando agora com a vida de antes de São Paulo.
Nem morta! Apesar de tudo eu era feliz. Dei a notícia a eles que Nat voltava no dia seguinte.

-- Minha irmã vai me matar! – Bruno disfarçadamente apontou para Laísa. Jogou um copo de vitamina na
frente de João. – Toma isso!

-- Então teremos um funeral duplo. – Eu disse de olho na minha própria barriga.

-- Tio, é ruim!

-- Toma pra ficar forte. Você teve anemia!

-- Eu tinha três anos!

Bruno estava de folga e levaria as crianças para o colégio. Beca e eu seguimos para o hospital Assim que
chegamos Duarte já nos passou serviço.

-- Vocês duas vão pra emergência comigo. Outro atraso desses mando as duas ficar fazendo exame de
próstata!

-- Doutora Duarte, é que a gente foi tomar banho em casa e...

-- Doutora Alice quantas vezes eu tenho que repetir que sua vida sexual não me interessa! – tentei argumentar,
ela olhou para Rebeca. – E nem das suas parceiras!

Nos entreolhamos, antes de qualquer explicação, Duarte falava sobre o trabalho.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Dois traumas graves. Acidente de carro e um motoqueiro.

Chovia muito, usávamos capa de chuva. Em poucos segundos lá estavam duas ambulâncias esperando por
nós. Beca e Duarte pegaram o primeiro, o segundo era meu. Assim que abriram a ambulância vi uma cena no
mínimo incomum, um sujeito com uma caneta espetada na traqueia e a cara toda ensanguentada.
Acompanhando ele uma mulher de uns 35 anos, morena, alta de capacete com a viseira levantada o ajudava a
respirar através da traqueotomia improvisada.

-- UAU!!! – Rebeca voltava para me ajudar com o meu trauma. – Vocês que fizeram isso?

Realmente o cara que fez aquela traqueotomia com uma caneta precisava ser muito homem. Ele salvou a vida
do sujeito que não conseguia respirar normalmente.

-- Não. – Um dos paramédicos respondeu. – Foi ela ali...

Eu estava de costas para eles, ajudava a colocar o paciente na maca. Conferia sua ficha. José Dias de
Macedo, 52 anos.

-- Você esta bem? – Escutei Rebeca perguntar a pessoa. – Sua perna esta ferida.

-- Estou bem. Eu preciso falar com a minha irmã.

Minha espinha gelou. Eu conhecia aquela voz, estava mais ofegante e cansada que o comum, mas eu
reconheceria aquela voz rouca em qualquer lugar. Virei imediatamente para conferir, infelizmente não estava
errada. Como se fosse um fantasma de carne osso, lá estava ela na minha frente, minha motoqueira mexicana.
O cheiro forte de mato molhado invadiu minhas narinas. Não é possível que era ela. O que aquela bandida
estava fazendo aqui?

-- Como é seu nome? – Rebeca perguntou.

-- Ai, desculpa... - A motoqueira parecia realmente precisar de descanso. - Eu preciso falar com a minha irmã
Natália, meu nome é Júlia Franco.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

End Notes:

Perguntinha por curiosidade, além da Alice, vcs tem outro personagem favorito,
principal ou coadjuvante?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 15 by Tamaracae

Author's Notes:

Post extra hj pra vcs em homenagem a liderança do meu verdão querido. Te amo
Palmeiras!

Música And I love her - Beatles

http://www.youtube.com/watch?v=96YQdiMV-Jc

Ok, o mundo é pequeno, disso eu já tinha ideia, mas São Paulo também? Quantos bêbados tem em São
Paulo ainda por cima no carnaval? Eu tinha que ter dado bola justo para a irmã da mulher que eu estou afim?
Má sorte era pouco, o que eu tenho ainda não conseguiram nomear cientificamente. Não era possível.

Quando ela falou Júlia Franco, senti meu coraçãozinho azarado dar três saltos dentro do peito e minhas mãos,
lábios e costas esfriarem como se eu andasse nua no meio da rua em pleno o inverno. Rebeca já coordenava
a equipe de médicos que levava o acidentado para tirar tomografia da cabeça, ficamos a sós. Acho que ela só
não me reconheceu por causa da máscara cirúrgica que tampava metade do meu rosto, os óculos de grau e a
bandana estampada com vários tons de verde embaçavam minha fisionomia. A lembrança dos óculos fez
florescer uma esperança no fim do túnel. Meus óculos estão fracos e estou tendo uma confusão visual. Existe
pessoas que são parecidíssimas fisicamente com outras sem ter nenhum parentesco. Só podia ser isso e eu
escutei o nome errado.

-- Desculpe, qual o seu nome mesmo? Precisamos tratar dessa perna.

-- Júlia Franco, eu sou médica. Será que eu poderia falar com a Natália Franco, ela é médica daqui, minha
irmã.

Não era miragem. Ela era a mexicana motoqueira. Ao vivo, a cores e em 3d bem na minha frente.
Pessoalmente ela era mais bonita e ainda mais alta do que nas minhas lembranças. Inacreditável. São Paulo
era um ovo e eu uma piranha por acaso. Assim que ela terminou a frase seus olhos esverdeados fitaram os
meus por um instante.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Você não me é estranha.

Não deu outra. Minhas pernas congelaram e a barriga pulou de um jeito que não consegui controlar meu mal
estar. Quando vi já estava me apoiando em seu ombro. Júlia me sustentou com seus braços.

-- Opá! Emoção em me rever?

Desmaiei.

Assim que abri meus olhos, deparei com um teto branco altíssimo. Branco é a cor da paz. Paz que Natália e
agora Júlia arrancavam da minha vida. Conheço esse teto de algum lugar. Puta que o pariu, a motoqueira
mexicana, ela apareceu. Apareceu ou será que foi sonho? Afinal de contas, onde estou? Conheço aquele
rachado de massa corrida. É o teto do Pronto Socorro do hospital. Ah, já sei o que esta acontecendo. Que
loucura, eu sonhei que a motoqueira mexicana era a irmã morta da Nat e vinha parar bem na minha frente no
hospital. Na verdade estou em casa, vou acordar, ficar alisando minha filhinha dentro da barriga na frente do
espelho, brigar com quem estiver na frente para ir ao banheiro primeiro, xingar mentalmente os pedreiros por
acabarem com o café da casa e ir trabalhar. Só eu mesmo... Como a Nat vai ser irmã da motoqueira? Mais
tarde ainda vou rir com apetite de toda essa história.

Ergui para me levantar, mas meu braço estava preso no caninho que me alimentava com soro. Me internaram!
Será por que me internaram, eu estou me sentindo bem. Vai ver me internaram como louca clínica em um
hospício porque estava tendo visões da motoqueira. Mas eu não sou louca. Eu quero um médico, preciso
falar com um médico! Ali esta a campainha para chamar alguém. Pena que esta meio distante. Com um pouco
de dificuldade por causa do soro consegui encostar a ponta dos dedos na base da campainha. Quando eu
estava para apertar, a cortina que dava privacidade ao meu leito se abriu. Júlia surgiu na minha frente sanando
qualquer uma das minhas duvidas, eu não tinha sonhado nem estava tendo uma visão acordada.

-- Olha... – Leu meu nome no prontuário médico. – doutora Alice já ia me chamar? Estamos tendo
transmissões de pensamento! Será isso?– Ela disse de um jeito brincalhão enquanto examinava meus olhos
com uma laterninha e verificava se eu estava com febre. – Até agora tudo muito bom.

Aquela hora não estava para brincadeiras. Como ela aparecia e desaparecia da minha vida desse jeito sem
pedir licença nem nada e ia mudando tudo? Da ultima vez eu tive que trocar de cidade por culpa dela, agora
seria o que?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Eu quero falar com um médico, não com você.

-- Eu sou médica. – Divertida. - Você deseja falar com alguém que possa lhe explicar o que esta acontecendo
ou com um homem?

-- Eu desejo não falar com você. Alias, você é minha paciente, eu sou sua médica!

Do outro lado avistei um rosto conhecido, Isa.

-- Allie, você tinha que ver, um sarro, tua paciente veio te carregando no colo. – Isa me explicava risonha
enquanto suturava o supercílio de um sujeito. Júlia me encarou, eu estava incrédula. Ela tinha me carregado no
colo? - Se a Duarte visse que você desmaiou e foi atendida pela sua paciente acho que botava um ovo.

-- Desmaiei? – Preocupada levantei o lençol, graças a Deus nenhum sangramento. – O que aconteceu? - Júlia
continuou fazendo anotações em meu prontuário como se eu não estivesse ali. – Ow, será que dá para
responder o que aconteceu?

-- Achei que você estava esperando um médico...

-- Eu só quero saber, eu perdi o meu bebê?

Júlia deixou o prontuário sobre um dos móveis ao lado da cama, preguiçosamente se virou para a direção da
Isa e perguntou de maneira cômica. – Doutora Isadora, a senhora encontrou um bebê perdido por ai?

Isa deu uma risada. Ela conseguiu arrancar uma risada da Isa, em quase quatro meses de convivência eu
nunca tinha visto Isa rir na vida. Como ela conseguiu?

-- Não, não vi não.

-- A senhora viu? – Perguntou a uma das pacientes que era cuidada por Leandro. A velhinha gorda sorriu
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entrando na brincadeira e fez um gesto negativo. – Também não, né? – E perguntou de um a um. Finalmente
voltou a olhar para mim. Meu Deus, como eu não saquei antes, assim que conheci o João achei o rosto, seu
jeito familiar, era ela todinha. Até no modo de dividir as palavras. – É, acho que o seu bebê continua aí
dentro da sua barriga bem calminho, eu bipei a doutora Monique e ela esta descendo para dar uma olhada e...
Quem é o pai desse bebê, seu namorado, marido?

-- É-é... – Oras, o que interessava a ela? Respondi de má vontade. – Produção independente!

Ela me encarou surpresa com um meio sorriso no rosto.

-- Sério? Que moderninha... Daqui a pouco vou descobrir que fuma!

-- Da pra me explicar o que aconteceu logo?!

-- Doutora Isa, já terminou, aí? Será que poderia seguir aqui com a consulta...

-- Já, pode deixar...

Júlia entregou o prontuário a Isa, cochichou alguma coisa no ouvido dela que viu, roubou três pirulitos
destinados as crianças que iam ser atendidas no PS, entregou a minha amiga e foi embora. Isa estranhamente
sorrindo veio me perguntar.

-- Vem cá, dá onde vocês se conhecem?

-- Pare com isso, você fica péssima simpática! Dá medo de você!– Isa deu uma outra risada. – Estou falando
sério.

-- Você não respondeu a minha pergunta...

-- É... É porque não tem importância nenhuma.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Credo, que foi? – Isa apertou os olhos. – Ela é legal.

-- Desde quando você acha alguém legal, Isa?

-- Desde quando essa pessoa faz uma traqueotomia com uma caneta. Sabia que ela já esteve no Haiti?

-- Fazendo o que?

-- Ela foi cirurgiã no Médicos Sem Fronteiras. – Os olhos de Isa estavam radiantes. – Imagina o monte de
coisa legal que ela viu e vai ensinar pra gente, Alice! A Júlia a partir de agora é a minha A cara, ela tem que
ficar por aqui!

-- Muito medo de você agora! Ela é tão...

-- Por que você esta assim?

-- Porque tem alguém me enrolando para falar o que aconteceu comigo! – Perdi a paciência. – Desembucha
logo, Isa!

Isa começou a ler o prontuário e riu mais uma vez, depois leu em voz alta.

-- Paciente Alice Castro de 26 anos de idade, gestante de 18 semanas teve um mal estar passageiro e uma
leve queda de pressão após a emoção de um reencontro. Medicação: assim que terminar a bolsa de soro a
paciente deve permanecer em repouso absoluto cancelando qualquer atividade de trabalho e chupar os três
pirulitos fornecidos pelo hospital Alonso Franco para adoçar seu humor, atenciosamente doutora Júlia Franco.
04/06/2012.

Assim que a Isa terminou a leitura o PS inteiro caia na gargalhada, até os pacientes. Só não arranquei o soro
na marra e fui meter uns tapas nela porque Monique chegava para me examinar. Quem ela acha que eu sou
para me tratar feito uma criança mimada?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Bom dia, como a mamãe esta me sentindo? – Monique me perguntou daquele jeito dela sempre feliz
porque tem 36 anos um corpo de 25 e sem celulites. Odeio gente feliz. – Tudo bem?

-- Péssima!

-- Acho que vão ter que dar mais pirulitos.– Uma voz que eu não identifiquei quem era zombava de mim.
Outra gargalhada geral. – Cade a doutora Júlia?

Isa passou o verdadeiro prognóstico que Júlia tinha me receitado para as mãos de Monique. Acompanhada
por Monique e Leandro, fui fazer um ultrassom para saber se estava tudo bem com o bebê. Enquanto me
atendia, a enfermeira Roseli, tarada por internos não tirava os olhos do coitado do Leandro que devia ser a
vítima da vez. Monique fez todo o procedimento, ouvimos o coraçãozinho da neném, nada de grave tinha
acontecido, tive apenas um mal estar.

-- Ótimo, então posso me preparar para entrar no centro cirúrgico? – Perguntei a Monique. – Meu paciente
esta com uma caneta na garganta e deve passar por uma...

-- Alice, você esta suspensa das atividades de trabalho. Você teve um desmaio, esta grávida, não vão deixar
você ficar em pé por horas em uma sala de cirurgia.

Não acredito. Por causa da gravidez só me dão casos leves, agora que consegui um interessante eu estava de
fora?

-- Monique, por favor, me libera, eu estou me sentindo bem. Eu tenho poucas horas no centro cirúrgico,
preciso trabalhar.

-- Nem que eu quisesse eu poderia. Sou médica do seu bebê, oficialmente quem é sua médica é a doutora
Júlia Franco. Eu recomendo que você fique de repouso, mas se quiser entrar na cirurgia, vai ter ir atrás e pedir
a ela.

Droga, droga, droga. Após colocar minha roupa e sair do consultório de Monique, peguei meu prognóstico e
desci até o Pronto Socorro atrás de Júlia. Não estava ali.

-- Onde essa mulher se meteu?

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-- Não sei. Ela disse que ia atrás da Duarte. – Isa me contou. – Você sabia que ela e Natália são irmãs?

-- Não quero saber dela! – Rosnei enquanto chupava meu pirulito sentada em uma das camas hospitalares. –
Em pensar que tem um cara com trauma e uma caneta na garganta para ser operado e eu aqui...

-- O que você esta fazendo aqui?

-- Repousando não esta vendo? – Respondi mal humorada. – Sua cara me suspendeu das cirurgias!

-- O cara do trauma e da caneta na garganta ainda não entrou para operar?

-- Não!

-- Eu já volto!

E saiu me deixando falando sozinha. Além de tudo sou abandonada. Meu celular tocou. Silvinha. Estava
morrendo de saudade da minha prima, há dez dias não nos víamos, ela estava viajando á trabalho e só ia
voltar no final de semana.

-- Oi prima!

-- Silvinha, ainda bem que é você! Se eu não falar com alguém hoje capaz de eu ter minha filha agora!

-- O que foi?

-- Ela apareceu aqui!

-- A Nat? – Minha prima questionou curiosa. – E ai menina, o que ela falou do bebê? Ela te bateu? Vocês
brigaram? O que ela disse quando desceu do avião?

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-- Não. A Nat vem amanhã. A outra apareceu aqui no hospital hoje de manhã!

-- A outra quem? Você não me disse que tinha outra!

-- A motoqueira!

-- Espera você esta falando da motoqueira... Quando você me ver, eu deixo acender outra vez aquela chama?
– Silvinha cantarolou o trecho de Sinais de Fogo, ela sempre fazia isso quando se referia a motoqueira que
agora eu sabia que era Julia. – Ela apareceu? Pegou o nome dela? E ai como ela é?

-- Peguei!

-- Qual o nome?

Respirei fundo e por fim murmurei Júlia Franco.

-- O que?

-- Julia Franco...

-- Fala alto Alice, qual é o nome dela?

-- JÚLIA FRANCO, CACETE!

Falei tão alto que duas enfermeiras pararam para rir de mim.

-- Silvinha, me escutou?

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-- Não Alice, não deve ser esse nome. Júlia Franco é a irmã da Natália e... – Após um minuto de incrível
raciocínio de minha linda prima, ela me perguntou incrédula. – Espera, a motoqueira é a Julia irmã mais velha
da Nat? Mentira!

-- Como eu ia saber que ela era irmã da Nat?

-- Mentira!

A vaca da minha prima ainda queria rir da minha cara. Conversamos mais um pouco, Silvinha teve que
desligar, ia voltar ao trabalho. Ainda teve a cara de pau de se despedir de mim com um:

-- Beijo Dona Flor, cuida direitinho das duas maridas.

Se eu ficasse ali parada ia acabar enlouquecendo. Eu tinha que operar alguém, colocar uma patela de joelho
no lugar, fazer um parto, qualquer coisa. Eu conhecia Duarte, ela não me liberaria para operar se minha
médica não me liberasse. Não tinha jeito, fui atrás de Júlia. Bati perna atrás dela no hospital inteiro e nem
sombra.

Já estava quase desistindo, entrei para me trocar no vestiário, vi três enfermeiras cochichando entre si e rindo.
Olhei na direção que elas olhavam e lá estava ela, Júlia, de costas, só de calça terminava de se trocar. Se eu
tinha alguma duvida de que ela era a motoqueira, perdi na hora. Sabe aquelas entradinhas na cintura que toda
mulher que pratica exercícios físicos e exibem um tanquinho invejável tem? Vou confessar algo que
compartilho apenas com íntimos, tenho um fraco por entradas. Algumas mulheres enlouquecem com pernas,
outras com mãos, algumas com costas, eu tenho fascínio por entradas. E Júlia não tinha entradas, mas
verdadeiros convites em sua cintura. Lembrei do dia que a conheci em São Paulo, o molejo que me
surpreendia na hora de dançar, a proximidade de nossos corpos e respirações. Quase perdi o fôlego. Apenas
uma palavra para defini-la nesse momento: sexy.

-- Doutora Alice, tudo bem?

A voz de Júlia me chamou para a realidade, abanei minha cabeça para espantar os pensamentos nada
inocentes que começavam a surgir na minha mente.

-- Hein? – Perguntei ainda aérea. – Comigo?

-- É, esta com um olhar parado de peixe morto. – Peixe morto? Peixe morto? Não acredito que ela me
chamou de Peixe morto! – Esta tudo bem?
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-- É que... – Ela virou de frente. Meu Deus, era mil vezes melhor ao vivo, assim ficava difícil de concentrar. –
É e-eu...

Julia notou que me deixava desconsertada, se enfiou em uma regata preta que grudava em seu corpo.

-- Desculpa, aqui vocês são acostumados com mais roupa. Eu morava em uma reserva indígena. Lá eles
andam de um jeito mais confortável...

-- Você não usava roupa?

-- Quando eu queria ficar impecável usava short e um topper. - Ela me explicou dando um sorriso. – Lá o
calor passava fácil dos 35°

-- Manaus, né?

-- Nos últimos meses estava no Acre. – Me confirmou. – Eu soube que minha irmã foi para Manaus participar
de uns congressos e...

-- Julia, sua irmã foi atrás de você.

Ela me encarou surpresa.

-- O que?

-- Faz quase três meses que sua irmã foi atrás de você. - Fiz uma pausa e expliquei. – A gente viu uma
notícia sobre um atentado que uma médica de trinta e poucos anos...

-- Trinta e seis...

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-- Por ai... Uma médica desapareceu na floresta e apareceu um corpo que poderia ser o seu... Ela colocou na
cabeça que poderia ser você... Eu aconselhei que ela não alarmasse ninguém e primeiro tirasse a história a
limpo antes de contar para sua mãe e... Só eu e a Duarte sabe que ela foi atrás de você...

-- Minha mãe? – Ela riu, mas não do jeito divertido que eu me acostumei a ver, mas uma risada para disfarçar
tristeza. Fez um gesto negativo com a cabeça, seus olhos pareciam tão distantes. – Eu acho que minha mãe já
me enterrou bem antes disso... Muito antes... E... Minha mãe me acha uma bêbada...

Seus olhos desviaram dos meus.

-- Eu acho que minha família me enterrou... E...

-- Julia...

-- Dez anos... Tem dez anos que eu não falo com minha mãe. Dez anos que ninguém sabe nenhuma notícia
concreta de mim, dez anos que eu não volto para casa...

-- A Natália não enterrou você...

-- Ela fez o papel de irmã...

Nosso silêncio se quebrou com a entrada de alguém. Julia se virou e Duarte sorriu ao vê-la, colocou as mãos
na boca.

-- MEU DEUS! – Duarte abriu um sorriso cheio de dentes. Aquele hospital estava muito estranho. Rezava a
lenda que Duarte só tinha um dia de bom humor no ano, como ela também estava rindo. A surpresa só não foi
maior quando ela correu e abraçou Julia com toda força. Era engraçado vê-la tão pequenininha agarrada
naquele mulherão. – Julia, quando me falaram eu não acreditei! – Julia levou um tapinha de Duarte. – Eu não
devia olhar na sua cara, como você some por tanto tempo assim, sem dar nenhuma notícia, sem um
telefonema!

-- Continua o mesmo sargento. Me deixa em paz mulher! – As duas riram. – E não fica me jogando essa
história de dez anos na cara senão eu lembro que estou ficando velha...
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Velha, velha... Com essa cara de garota! Você tá preta!

-- Sol de Manaus! Estava explicando aí pra nossa colega doutora. – E apontou para mim. – Vem cá, vocês
tão pegando residentes do jardim de infância, olha a cara dessa menina, ela deve ter o que?

-- Catorze? – Duarte brincou comigo. Estava tudo muito esquisito.

-- Catorze é minha idade. – Júlia devolveu em um tom divertido. – A outra que olhou a minha perna tem uns
doze.

-- Falando nisso, o que aconteceu?

-- Acidente de carro, pista molhada, rodei na pista, mas nada grave... Ainda dei atendimento a minha
médica...

-- Sobre isso que eu queria falar... – Me intrometi na conversa das duas. – Eu preciso que você me libere do
repouso para entrar no centro cirúrgico.

-- Não sou sua chefe, sou sua médica. – Júlia me rebateu para o meu ódio. – E oficialmente você esta de
atestado médico.

-- O que aconteceu entre vocês duas? – Quase gelei pensando na noite da tequila, Julia me encarou de um
jeito curioso e então contou sobre meu desmaio e atendimento. – Não acredito que a sua paciente teve que
prestar atendimento doutora Alice.

-- É foi...

-- E você, pelo amor de Deus, é só aparecer uma garota bonita nesse PS que já cai no seu colo? – Meu rosto
estava cor de vinho, Júlia nem ai deu um sorriso meio sacana. – Não mudou nada.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Lei da gravidade, vou fazer o que? Pinta mulher bonita escorrega pra cá!

As duas riram e eu sem saber onde enfiar a minha cara.

-- E o João? – Duarte perguntou. – Já foi ver ele?

-- O João, Duarte? – Julia fez um gesto negativo. – Não tenho coragem.

-- Julia...

-- O que eu vou falar para esse garoto? – De repente seu tom foi agressivo, Duarte deu até um passo para
trás, mas eu percebi dor em seus olhos. A mesma dor que conheci meses atrás no quarto de João quando ele
me mostrava o desenho que ela esboçou. – O que eu tenho pra oferecer para esse garoto? Vou tentar colocar
na cabeça dele em um dia o que eu não entendi em dez anos?!

-- O que você veio fazer aqui então?

-- Eu precisa voltar... Eu tinha que ver minha cidade, tinha que encarar pra ver se eu consegui superar, eu
tinha que vir... Mas agora desestruturar a cabeça de um menino com a minha loucura é outra coisa... O que eu
vou dizer pra ele?

-- Julia, você tem dez anos de assunto com ele, pelo amor de Deus!

-- E eu vou olhar e dizer o que? Que eu fui embora porque eu sou uma fraca? Que eu perdi qualquer estrutura
psicológica pra cuidar de uma criança? – Os olhos dela se encheram de lágrimas, mas elas não escorriam pelo
rosto. - Que eu não tinha coragem de olhar no rostinho dele sabendo que fui eu que matei a mãe dele? É isso
que eu vou dizer pra um menino de dez anos de idade que eu abandonei recém nascido?! Você quer que faça
ele entender que eu me abandonei a dez anos atrás, que eu perdi qualquer vontade de viver, de sonhar... Eu
não podia por toda minha expectativa de vida em um garoto... Era muito peso para ele carregar sozinho.

Júlia podia ter sido a pior das mães, mas ali eu percebi, ela amava João. Quem carrega tristeza no olhar do
jeito que ela carrega só pode ter sofrido muito por estar longe. Amava a ponto de se afastar para não
prejudica-lo. Sua atitude pode até ter sido como foi à errada, porém foi um ato de amor, tortuoso, mas ainda
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

assim de amor.

Duarte já estava na porta para sair, tinha a operação para fazer, estava mexida com a discussão.

-- A gente vai falar disso depois, essa conversa não acabou! – Júlia fez um gesto de censura. – Júlia, nos
ainda vamos conversar!

E bateu a porta com tudo.

O corpo de Júlia parecia ter perdido a vida. Ela escorregou por trás da porta e ficou ali sentada no chão
inerte. Cabisbaixa, se encolhendo toda. Em nada me lembrou à mulher segura da noite da tequila ou a médica
que me atendeu horas atrás no pronto socorro. Ela precisava de cuidado. De conforto. Preocupada me
agachei da sua altura.

-- Júlia, Júlia... – Ela levantou os olhos surpresa, estava tão desligada do restante do mundo que esqueceu da
minha presença ali. – Tudo bem?

De forma contraditória ela me fez um gesto afirmativo, eu me levantei e trouxe um copo d’água pra ela. Júlia
bebeu de um gole só em alguns minutos ela parecia mais calma.

-- E-Eu só... Obrigada por ser tão gentil comum...

-- Imagina, eu acho que eu tenho que te pedir desculpa... Eu sou amiga da usa irmã, do seu irmão... Acho que
a gente se apresentou da forma errada. – Estendi minha mão. – Alice?

Ela envolveu suas duas mãos na minha que quase se perdia entre elas.

-- Engraçado... Droga quem me mandou queimar tanto por ai, minha memória é péssima. O jeitinho que você
pegou na minha mão agora... Eu quase lembrei da onde a gente se conhecia...

-- É melhor esquecer essa história... – Meu rosto ganhou um tom avermelhado e senti minhas bochechas
quase pegarem fogo. – A gente se conheceu hoje... É isso! - Julia me encarou de um jeito curiosa. – O que
foi?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- A gente já transou? Foi isso?

Não acredito! A mulher arruína toda minha vida, eu ainda tento relevar e ela nem lembra de mim! Mas é
claro, eu devo ter sido só mais uma noite na vida dela. Com essa cara de quem precisa de carinho e esse jeito
de menina deve ter filado quantas? Bem feito para mim! E eu anda preocupada! Sem pensar duas vezes meti
um tapa em seu rosto e sai andando. Ainda ouvi ela me gritar antes de sair.

-- Ow, isso foi um sim?

Bati a porta. Aquela idiota da Júlia não devia amar ninguém só a si mesma. Se fez algum sacrifício por João
foi por puro engano! Ela vinha logo atrás de mim.

-- Dá pra gente conversar?

-- Eu não tenho nada pra conversar com você!

-- Você que foi atrás de mim! – Júlia se lembrou. – Eu estava me trocando, quem foi atrás de mim foi você!

-- Eu quero que você me libere do repouso para Duarte me deixar entrar na cirurgia.

-- Não!

-- Mas eu estou me sentindo bem e eu preciso de horas no centro cirúrgico!

-- Já disse que não?

-- Por que não?

-- Quem tem que preocupar com suas no centro cirúrgico é a sua residente. – Com uma firmeza que me
surpreendeu ela completou. - Você teve uma queda de pressão e hoje não vai ficar horas de pé porque
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

precisa cumprir uma tabela! Eu sou sua médica, meu dever é zelar pelo seu bem estar!

-- Quem vai me impedir?

-- Se me desobedecer vai ficar um mês afastada do centro cirúrgico! E agora vai repousar que eu estou
mandando!

-- Quem é você pra mandar em mim?

- Sua médica!

Se eu ficasse naquele hospital por mais um minuto voaria no pescoço dela. Antes de sair pela sem querer lhe
dei uma ombrada que quase me fez cair no chão. Culpa dela, precisava ser tão grande? Exagerada! Sem
saída voltei para casa. Repouso. Era fácil falar já que não era ela que no dia seguinte teria que encarar Nat e
dizer estou grávida e dormi com a sua irmã. Quando deu seis da tarde, não aguentava mais de tanta
ansiedade. Liguei para Silvinha.

-- Alice?

-- Eu não suporto essa mulher. É oficial! Ela é sem vergonha, é descarada, é convencida, é mandona...

-- Boa noite prima, estou bem, não estou ocupada e posso falar, viu...

-- Desculpa é que eu estou nervosa. – Fiz uma pausa para respirar. - Amanhã a Júlia chega e eu...

-- Natália.

-- O que tem a Natália?

-- Você que trocou o nome dela com o da Júlia...


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-- Euuuu? Tá doida, Silvinha?! Eu falei Natália. Então, ela chega amanhã e eu estou nervosa e a ainda discuti
com a Júlia... Acredita, acredita que ela não lembra de mim?!

Silvinha deu uma risada.

-- Ah, então tá explicado...

-- Explicado o que?

-- Eu achei que sua raiva no fundo era medo dela estragar seu lance com a Nat, mas agora eu entendi, você
esta com raiva porque ela esqueceu de você.

-- Não!

-- Então você queria que ela se lembrasse?

-- Sim, quer dizer não! – Não sei. - Silvinha, você me bagunça a cabeça mais ainda!

-- Quem tá trocando o nome das irmãs é você... Só presta mais atenção amanhã quando ficar sozinha com a
Nat... Pensa nela e não na Julia.

Quase atravessei a linha para enforcar Silvinha do outro lado. Imagina que eu ia pensar na Júlia em uma hora
dessas. Só na mente suja da minha prima. Por telefone minha prima fazia quase que um interrogatório sobre a
Júlia.

-- Ela tem dinheiro?

-- Não sei, Silvinha, o que isso importa?

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-- Não sabe então não tem... Ela é meio comunista não é? Comunista é sexy.

-- Não sei, Silvinha! Ainda existe comunista?

-- Sua mãe vai odiar, mais comunista é sexy...

Bom, se ela era comunista eu não sei, mas sexy sem sombra de dúvidas.

-- Alice, você gosta de mulheres mais velhas...

-- Para Silvinha...

-- É verdade... Mulher mais velha também é sexy.

-- Para Silvinha! O que eu falo amanhã para a Nat?

-- Vocês nem se conheciam...

Ficamos no telefone mais alguns minutos e logo desliguei pois fiquei com medo de alguém chegar e ouvi.
Estava tão cansa que dormi no sofá e só acordei como barulho da porta da sala, Rebeca chegava do hospital.
Já passava das nove da noite e ela estava molhada de chuva.

-- Cade o povo dessa casa?

-- O Bruno é um idiota! – Beca disse. – Discutiu comigo na frente de todo mundo! Brigou com a irmã, maior
barraco.

-- Sério?

-- Fiquei com dó dela. Eu não conheço a Júlia direito, mas custava tratar ela bem?! Não quis dar um abraço,
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jogou uma porrada de coisa na cara dela... Chamou de fraca... Você não tem noção! Ele o João e a Laísa
vão dormir lá no apartamento da Nat... Preparada pra amanhã?

-- O João estava com eles? Ele encontrou com a Júlia?

-- Não, ele ainda não sabe que a Júlia voltou. O Bruno acha que é melhor nem falar porque ela vai embora de
novo e o menino vai sofrer...

Minha raiva por Julia foi amolecendo aos poucos. Ok, ela era uma idiota, mas por outro lado aquele olho
cheio de lágrimas e dor falando do filho da família, da mãe não saiam da minha cabeça. Fiz um gesto negativo
para Rebeca.

-- Ow Alice, que carinha é essa, o que aconteceu?

Puxei Rebeca para o sofá abri minha boca e desembuchei tudo. O maxilar de Beca quase parou no chão com
minha história completamente maluca cm as duas irmãs.

-- O que eu faço?

-- Não sei, Alice... Mas... Você nem conhecia a Nat, não tem nada demais... Isso nem é chifre.

-- Rebeca, eu dormi com a irmã da Nat. Isso não é chifre?

-- Não. Quando eu morava em Paris, fiquei com dois irmãos gêmeos irlandeses. - Encarei minha amiga
surpresa, não imaginava que a Beca toda certinha fosse ficar com dois ao mesmo tempo. - Qe cara essa?

-- Minha cara de choque. - Não aguentei e ri. - Você nunca me contou que era uma biscate no armário...

Nós duas rimos, Beca me rebateu.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Não sou biscate... A Europa que é um lugar moderno...- Biscate é biscate em qualquer lugar.-- Isso não é
ser biscate...

-- Isso ó que então?

- Civilização... - Ela me respondeu fazendo um sotaque francês com direito a biquinho lembrando seus tempos
em Paris.

Civilização. Pra mim é biscate. Me imaginei em frente a Nat falando:

-- Dormi com sua irmã e agora estou dormindo com você porque sou civilizada...

Só Rebeca mesmo pra me fazer rir. Acho que eu estava precisando um pouco disso. Para relaxar e relembrar
os tempos que aquela casa era só nossa, fizemos uma espécie de “noite das garotas” comemos bobagem,
ficamos vendo filme até tarde da noite e falando sobre relacionamentos, namoro, essas coisas... Rebeca subiu
para deitar ás duas da manhã. Estava chovendo muito. Liguei o rádio em um volume um pouco mais alto para
não escutar o barulho dos raios. A casa podia estar pegando fogo que Rebeca não acordaria.

Apaguei a luz do quarto e fui fechar a janela. Acordar no meio de uma inundação era o que eu menos estava
precisando na minha vida agora. Antes de fechar, dei uma olhada na pracinha que ficava em frente a minha
casa e observei um vulto em pé, completamente molhado e se encolhendo de frio embaixo de um toldo de um
dos carrinhos de lanche que ficavam ali na pracinha. A carrocinha já havia fechado expediente e o vulto usava
o toldo para se proteger da chuva forte. Em vão. Um raio caiu próximo á pracinha clareando todo o local. Foi
então que reconheci o vulto.

Meti uma capa de chuva que encontrei perdida no quintal de casa e tremendo de medo que caísse outro raio,
atravessei a pracinha com um guarda chuva enorme que mais parecia uma bengala.

-- Júlia!

Meu Deus que vontade de coloca-la no colo. Se não fosse aquele tamanhão todo poderia compara-la com
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

uma menina. De braços cruzados para tentar se aquecer, vi que seus lábios estavam trêmulos e a cor lhe
escapava.

-- Vem Júlia, vamos pra casa!

-- Não Alice, obrigada.

--Júlia, eu estou com frio, morrendo de medo que caia um raio e no meio de uma explosão hormonal, se você
não vir agora comigo eu te levo a força.

-- Alice, não quero dar trabalho. – Um dia ela me ensinou que não devia dar trela para o que os outros falam
não é mesmo? Fechei o guarda chuva e dei uma guarda chuvada em seu ombro. – AIIII! O que isso?
Enlouqueceu?

-- Vai pra casa ou não?

-- Alice!

Minha resposta foi outra guarda chuvada em seu ombro. Se precisasse amanhecer dando guarda chuvadas
nela eu amanheceria.

-- Já pra casa!

-- Tá bom! - Emburrada me respondeu. - Já estou indo!

Abri o guarda chuva e atravessamos a pracinha correndo. Assim que cheguei no alpendre, ouvi o rádio do
meu quarto tocando uma música do Beatles. And I Love her.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

I give her all my love

That's all I do

And if you saw my love

You'd love her too

I love her

She gives me everything

And tenderly

The kiss my lover brings

She brings to me

And I love her

A love like ours

Could never die

As long as I

Have you near me

Um raio caiu a metros de distancia da minha casa e instintivamente me agarrei na primeira coisa que vi.
Quando levantei meus olhos encontrei com os de Júlia me fitando de um jeito confuso e então percebi que a
abracei. A mesma chuva que me uniu a Natália na cabana agora me jogava nos braços de Júlia.

Bright are the stars that shine

Dark is the sky

I know this love of mine

Will never die

And I love her

Bright are the stars that shine

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Dark is the sky

I know this love of mine

Will never die

And I love her

End Notes:

Queria agradecer todas vocês pelo carinho, notei que Silvinha, Beca, Bruno e João
tbm estão em alta!! Um bjão e boa semana!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 16 by Tamaracae

Author's Notes:

Meninas, fiz esse capítulo caprichado pra vcs. Tenh uma notícia para dar, estou
trabalhando então provavelmente os capítulos não vão sair na mesma quantidade que
antes, até eu me readaptar vou diminuir um pouquinho o ritmo. Conto com a
compreensão de cada uma de vocês.

Meu Deus, que boca, que olhos, que mulher... NÃO! Alice, se controla ela será provavelmente sua cunhada.
Bom, dizem que cunhada não é parente... ALICE CASTRO, contenha-se. Mentalmente eu me dava broncas.
A mão dela estava indo para trás das minhas costas. Se ela me beijar eu vou empurrar com toda força. Ela vai
insistir dizendo que o que estamos fazendo não é errado ai chega a minha vez de falar que não podemos fazer
com a Natália que irmã dela e ela vem e me puxa pelos ombros e tenta invadir o meu pescoço, rasga minha
roupa e eu...

-- Posso pegar essa toalha ou você vai usar?

Quando abri os olhos, percebi que minha boca já estava entreaberta esperando pelo beijo que não veio. Alice
sua sem vergonha, toda feliz achando que seria assediada sexualmente e a moça só querendo uma toalha. Eu
tenho que achar o bar que vende juízo porque preciso de uma dose para cavalo.

-- Claro... Pode usar...

Acendi a luz da pequena área que ficava na entrada da casa e Rebeca tinha caprichosamente transformada em
uma salinha de estar ou de leitura. Só quando a vi na luz elétrica me toquei o quanto de chuva ela tomou,
estava completamente encharcada.

-- Julia vou te que te emprestar uma roupa para dormir, essa não tem condições nem com todas as toalhas do
mundo e... – Fui interrompida por uma gargalhada gostosa de Julia. – Que foi?

-- Desculpa, Alice é que você é meio... Baixinha... – Opa, além de não ter me beijado me chamou de
tampinha. Agora só deve ter uma coisa maior do que eu nessa área: Minha moral. – E eu sou meio alta...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Deve ter alguma coisa que sirva... E você não é meio alta. É muito alta... – Ela riu. Fiz um sinal para ela me
acompanhar e fui entrando pela casa. - Vem... Eu vou separar uma roupa e você toma um banho. Não repara
na bagunça dos pedreiros...

-- 1,83 de altura. Já me chamaram até para ser jogadora de vôlei... É... Você mora aqui sozinha?

-- Não. Mora uma porrada de gente. Rebeca, minha amiga, que esta dormindo lá em cima. Tua sobrinha... O
João...

Julia até parou de caminhar para me olhar curiosa.

-- O João mora aqui?

-- Provisoriamente. Não sei se te explicaram, mas a Rebeca tem um rolinho com o teu irmão... ele mora aqui
também.

Subimos as escadas em direção ao meu quarto.

-- Aaaaaah, Rebeca é a ruivinha bonitinha?

-- Exatamente. – Fiz uma pausa. – Ela me contou que você e o Bruno brigaram... Que ele foi grosseiro com
você...

-- Aquilo ali é um gorila! – Julia rebateu com um pouco de raiva. – Me viu veio logo com quatro pedras na
mão! Não nega que é filho da minha mãe... Garoto pela saco! Só queria saber como ele estava... – Ela fez
uma pausa. – Ele não esta ai, não né?

Engraçado, Julia e Natália não eram irmãs biológicamente, mas o jeito que Julia falou do Bruno me fez
recordar Nat. Xingava, brigava, mas estava sempre ali correndo atrás, preocupada, fazendo papel de irmã
mais velha.

-- Não. Só esta a Rebeca. – Entreguei um conjunto de dormir meu em suas mãos e uma calcinha. – O
banheiro é lá embaixo.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Enquanto ela tomava banho, achei que devia estar com fome. Abri a geladeira e encontrei alguns queijos, um
bolo que Rebeca tinha feito com menos de dois dias de vida e leite. Abri um saco de pão de forma e outro de
pão de queijo que ainda estava quentinho e fiz uma jarra de chocolate quente e para minha surpresa sem
metade do chocolate ficar na minha blusa como era o de costume. Será que eu caprichei demais na mesa?
Bolinhos de chuva! Tia Junia ia me matar se soubesse que tive a coragem de fazer uma mesa de café sem
bolinhos de chuva. Ela tinha me passado a receita. Dois meses morando em uma “republica” fizeram bem para
meu “crescimento curricular culinário” Já avançado da pipoca de micro ondas para os bolinhos de chuva. Ás
vezes até arriscava fazer macarrão e arroz. Estava lá, toda feliz, contente e tra-la-lá com minha cestinha de
doces fritando meu bolinho de chuva quando escuto a porta do banheiro bater e sinto aquele cheiro de mato
molhado brincando com meu nariz. Ao me virar para ver como meu conjuntinho ficou em Julia, não aguentei
tive uma crise de risos.

-- Espero que meu filho esteja mesmo dormindo em outro lugar. O garoto já deve me achar meio zureta das
ideias, me vê vestida assim vai pensar que vai ser obrigado a lidar com uma velha no meio de uma crise de
idade que se veste feito uma dançarina de lambaeróbica.

O shortinho rosa bebê que ficava solto nas minhas pernas colou na pele dela como daquelas dançarinas de
grupo de forro. Minha blusinha estampada com florzinhas tampou apenas metade de sua barriga.

-- Desculpa...

-- Pode rir... – Ela resmungou de um jeito engraçado. Se acomodou em uma das cadeiras levantou e pegou
um livro velho que tinha sentado em cima sem querer. Esse povo dessa casa também não parece que moram
na casa, mas que assalto, deixam tudo revirado por onde passam. – Viagem ao centro da terra... – Começou
a folhea-lo. – Ow, esse livro era meu!

-- O João que estava lendo. – Eu expliquei. – Ele gosta de ficção cientifica. Julio Verne.

-- Meu nome é Julia por causa do Julio Verne. Meu pai era fã. – Enquanto ela folheava o livro com um olhar
nostálgico, eu servi seu chocolate em uma xícara, ela voltou a olhar nos meus olhos. – Ele gosta de ficção
cientifica?

-- Tudo que se refere à ciência ele adora. Outro dia ele me disse que já decidiu ser médico... – Sorri ao
lembrar da cena. – E vai descobrir qual é a maior dor do mundo.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Minha vó esta por trás disso! – Julia me garantiu. – Ela faz uma chantagem emocional do cacete que vai ser
o ultimo parente que ela vai ter a chance de ser formado e tal, quando vê estamos fazendo medicina. Nessa
enterrou três maridos tirando o meu vô.– Não consegui segurar o riso. – Foi assim comigo, foi assim com a
Nat. Amanhã quando a Nat chegar você pergunte a ela. – Só de ouvir ela falar na Nat senti meu coração
gelar. – Falando na Nat, você é amiga da minha irmã? AIIIIIIIIIIII!

-- Desculpa Julia!

Deixei o chocolate cair na blusa que ela estava usando. Como sou desastrada. Minha mão virou gelatina
quando ouviu a ultima pergunta. Ia responder o que? Não, sou quase namorada da sua irmã, apesar de já ter
saído com você. Lembra? Não, não podia fazer isso. A blusa ficava tão pequena nela que fui ajuda-la a tirar.

-- Desculpa mesmo, eu sou mão furada, fiquei me distraindo e...

-- Tudo bem. – Julia me deu um sorriso meio torto. – Foi à forma mais criativa que uma mulher arrumou para
arrancar minha roupa.

E riu. Ficou claro que aquele era o jeito dela. Julia flertava com todo mundo. Mulher, homem, criança, bicho,
planta... Até com as pacientes idosas eu a vi flertando. Sabe aquele sujeito que é um sedutor nato? Pois então,
essa era Júlia. Só que ela não tinha vulgaridade em suas atitudes, palavras, era natural dela. Por que diabos eu
tinha que me importar? Por que eu tinha que ficar vermelha? Por que eu tinha que amolecer quando ela jogava
aquele olhar de Shane de The L Word que ela fazia tão bem quanto a própria Katherine Moennig? Após fazer
um bolinho com a blusa, entregou nas minhas mãos. Joguei em qualquer canto enquanto ajudava ela terminar
de se limpar.

-- Eu vou dormir aqui no sofá?

-- No meu quarto. – Meu Deus, aquilo estava ficando cada vez mais estranho. - Eu vou dormir com a Beca.
É melhor você não dormir aqui na sala porque...

-- O João e o Bruno podem chegar. – Julia concluiu e triste me fez um gesto afirmativo. – É melhor mesmo
que eles não me vejam...

-- Eu não quis dizer isso é porque eu quero evitar briga... Se eu te fizer uma pergunta meio pessoal você não
vai ficar constrangida?
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Você já me vestiu de garota lambaeróbica, tem como me constranger mais do que isso?

Eu ri. Te expulsar de casa só de toalha e depois tomar a toalha, serve Júlia?

-- É que... Por que você ficou no meio daquela chuva?

-- Minha família me ama... – Ela me disse dando um risinho para disfarçar a tristeza. – Meu irmão não quer
falar comigo, minha avó ainda não sabe que eu estou na cidade, se eu aparecer na frente de velha assim sem
preparo capaz dela ter um treco, eu fugi da Duarte senão a gente teria discutido. Minha mãe... Bom minha
mãe me deixaria na chuva de qualquer jeito e...

-- Eu conheci sua mãe... Ela é tão amorosa com a Natália.

-- Não. Ela quer controlar a vida da minha irmã, é bem diferente. Minha mãe é de barganha, só dá o amor
dela se em troca tiver o controle da sua vida. Se deixar ela quer dominar minha irmã... A Natinha que não
abra o olho dela. – Achei bonitinho ela chamando a irmã de Natinha depois de tanto tempo. – E a ultima vez
que a gente se viu não foi legal... Foi bem no meio do acidente, uma loucura e...

-- Que acidente?

-- Do parto do João. Ninguém ainda te contou?

-- Se você quiser não tocar e...

-- Não. Eu preciso falar... – Ela falou muito mais com ela do que comigo. Olhou para mim e explicou. –
Quando eu falo do acidente é porque eu sei que consegui superar... Entendeu?

Fiz um gesto afirmativo. E deixa que ela falasse. Há muito tempo que ela devia estar se segurando, ela falou
muito.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- A Marcinha, minha mulher que morreu estava com oito meses de gravidez. Eram gêmeos. Uma gravidez de
risco. A gente teve que ir para Serro Azul por causa de um rolo que teve de uma herança dela com o pai.
Minha mãe nunca aceitou que eu fosse casada com uma mulher, mas aquela época ela se aproximou da gente
por causa do neto. Ela me infernizou tanto que não era pra eu viajar que... – Os olhos de Júlia novamente se
encheram de lágrimas como no vestiário. Devia ser muito difícil mesmo para ela falar sobre aquilo tudo. – Ela
decidiu ir com a gente por causa do adiantado da gravidez da Marcinha. A Nat também foi, ela sempre
segurou mais a onda da minha mãe do que eu... Foi tudo muito rápido... Eu não lembro direito. – Sua voz saia
entrecortada. – Minha mãe começou a discutir comigo na frente da Marcinha, eu estava no volante...

-- Julia se você quiser parar de falar...

-- Veio uma carreta. – Ela me cortou decidida a ir até o fim. - Ai tudo mistura! – Fez uma pausa como se
lembrasse de alguma coisa. – Depois que o carro capotou eu consegui sair do carro. Eu não lembro como a
minha mãe a Natalia saíram daquele carro. Lembro da ambulância vindo pegar a gente e eu lutando que nem
uma maluca pra Marcinha respirar. Quando chegou no hospital o primeiro bebê já tinha morrido. Mas o
segundo ainda dava para salvar. Ela estava aguentando bem.

-- Você que fez o parto do João?

-- O garoto nasceu enorme. Tirei no muque! Só que depois que eu fiz o parto senti a mão da Marcinha
gelada, ela teve uma hemorragia interna... Me tiraram da sala... Eu estava tão louca naquele dia. Um monte de
gente que eu não sei dizer quem é falou comigo, Fiz um parto com dois dedos quebrados e... A Natinha saiu
da sala de cirurgia e veio falar comigo... Lembro até hoje dela me dizendo que fizeram tudo que podia. Que a
criança estava bem, tinha bom peso, mas que a Marcinha... Eu sei que o meu filho precisava de mim, sei de
tudo isso, mas eu não tinha nem condições de cuidar de mim... Eu enfiei na minha cabeça que matei minha
mulher. A única mulher que eu amei na vida. Fiquei esse tempo todo com essa culpa, isso pesando em cima
de mim... Eu tentei ficar com o João por uma semana... Fui esquentar água pra dar um banho, quase afoguei o
moleque porque eu me distrai. Sempre achei que fiz alguma coisa errada. Ou que virei pra brigar com minha
mãe e não desviei da carreta, ou no parto...

-- Julia, ninguém teve culpa disso. Você não pode se martirizar desse jeito. – Encurtei nossa distância, me
sentei ao lado dela. – Tragédias acontecem... E agora você voltou. O que te fez voltar?

-- Consegui fazer um parto. – Ela me confidenciou com um sorriso de orelha a orelha apesar das lágrimas
estava orgulhosa de si mesma. – Tão difícil quanto o do meu filho! Fiquei dez anos sem fazer um parto e eu
consegui! Nesses dez anos fui pra duas guerras, fui pro Haiti, fui pra Manaus tentando fugir de mim mesmo
pra ver se eu conseguia de um minuto de paz e eu só precisava de um parto.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Julia falava de um jeito tão verdadeiro que dava para imaginar ela no meio das duas guerras, do outro lado do
mundo, em Manaus. Esses meses todos pensando na mi mexicana e nunca imaginei que ela pudesse ser tão
forte e tão doce ao mesmo tempo.

-- Dois meses atrás eu fiz um parto de uma grávida que chegou morta na clínica. – Me lembrei também
emocionada, pela história dela, pela lembrança do parto que eu tinha feito. – Trinta e duas semanas. Quando
peguei aquele bebê na minha mão.

-- É mágico, né? De uma mulher gorda você tira uma outra pessoa... Eu estava no meio da floresta, num
casebre de madeira que funcionava como escola, a mulher teve o filho em cima da mesa da professora.
Quando sai daquele lugar parecia que eu ia voar de tão leve. – Dei um meio sorriso, era bonito vê-la falando
tão animada. – Tirei toda minha roupa, se pudesse tirava minha própria pele. Entrei naquele rio Crôa no meio
da floresta, pelada, fiquei com a água pelo nariz... Batia com a mão assim na superfície querendo cortar a
água no meio, sabe? Me senti viva!

-- Pelo jeito você não gosta muito de roupa.

Julia deu uma risada.

-- Perdi o costume. Os fazendeiros lá me confundiam com os índios. – Dessa vez eu que ri. – Pra eles não é
maldade não. Eu ganhei até uma tanguinha de índio. - Rindo Tenho fantasia para o carnaval.

-- Então pelo menos até o próximo carnaval você pretende ficar?

-- Maneira de dizer...

-- E por que Manaus?

-- Queria aprender um pouco da medicina dos índios. Ensinar a nossa pra eles. – Julia deu outra risada. –
Sabe que logo que eu cheguei lá, tinha uma menininha com sarampo que eu curei... O Pajé, coitado, se sentiu
desmoralizado, queria ir embora da tribo e me nomear como pajé honorária. – Eu morri de rir imaginando a
cena. – Deu uma confusão, ele só voltou depois que eu ensinei pôquer pra ele.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Você ensinou pôquer para o Pajé? Julia, isso é destruir o patrimônio nacional é...

-- O Filho da Mãe me limpava os bolsos! O que me arrancava de uísque doze anos... Dinehiro então, deve
ter aberto uma poupança e vai comprar euro. Eles não são coitadinhos não, sabem se cuidar muito bem.

Gente, estava ficando fã daquele sorriso e do jeito dela mexer no cabelo e... ALICE, a senhora esta se saindo
uma bela de um biscate. Você é uma mãe de família e precisa se comportar! Já sei o que eu tenho: Carência.
A Julia é bonita, é interessante, é muito interessante, por isso que me causa... Curiosidade. Mas no fundo é
carência da Natália. Só de pensar na Natália um outro raio caiu a metros de distancia da casa me fazendo
tremer por inteira.

-- AI QUE INFERNO!

-- Astrapofobia.

-- O que?

-- Medo de raios. Astrapafobia. – Julia me explicava. - Isso tem cura sabia?

-- Sério? Eu tenho medo de raios desde pequena, uma vez eu vi caindo um na casa da minha vizinhae peguei
trauma.

-- Sabe o que a gente fazia com as crianças lá na tribo quando tinham medo de raio?

-- Dança pra parar chuva?

-- Não. – Julia roubou três uvas da minha fruteira jogou na minha mão. – Coloca uma uva em cada mão e fica
jogando pra cima. A terceira você coloca assim na testa. – Ela deitou minha cabeça e colocou a uva na testa
para eu equilibrar. – Não deixa cair e vai repetindo seu primeiro nome de batismo por uns quinze minutos.

-- Não vou fazer uma simpatia.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- É cultura milenar da tribo dos Carorós menina. – Ela me repreendeu de um jeito que me envergonhei. -
Mais respeito com o ritual para raio!

-- Tá bom!

Quem era eu pra ofender a cultura dos Carorós, não é mesmo? Já fazia uns cinco minutos que eu estava ali
com a uva na minha testa e jogando as duas outras com as mãos. Ouvi um riso zombeteiro da Júlia. Pudera,
que cena ridícula e... Ai desculpa Carorós, sem ofensas.

-- Alice, Alice, Alice, Alice... Vem cá, todo mundo faz isso quando chove lá na tribo? Alice, Alice, Alice,
Alice...

Julia deu uma gargalhada.

-- Alice...

-- SHIIIIIIIIU não me interrompe senão para de funcionar... Alice, Alice, Alice...

-- A-li-ce!

-- Que é? – Perguntei irritada. Agora que estava sentindo a energia dos Carorós me enchendo de coragem ela
tinha que me interromper? – Fala logo...

-- O ritual para raio não existe. – Ela me confessou quase chorando de rir. As três uvas caíram no chão na
mesma hora, ainda respingou suco de uva no meu olho. – E já que estamos em época de confissões, a tribo
dos Carorós também não existe.

-- O QUE? – Perguntei indignada, Julia tentava segurar o riso sem sucesso. - E eu estou que nem uma panaca
com uma uva na testa pra que?

Ótimo, se eu quisesse largar a medicina Julia me fez descobrir uma nova vocação: boba da corte.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Eu queria fazer você distrair até a chuva passar. – Ela me explicou aos risos. – Ai inventei essa história da
tribo dos carorós e do para raio. Desculpa.

Em resposta joguei uma das uvas esmagadas em cima dela que riu me azedando mais ainda.

-- Alice...

-- Que é?! Quer rir mais um pouco, vai começar a me atacar tortas na cara e...

-- A chuva passou e você nem percebeu porque não estava prestando atenção nos raios. – Com um sorriso
besta de vitória ela completou. – Deu certo.

Até tentei abrir a boca para rebater alguma coisa, mas não é que a chuva tinha cessado mesmo e eu nem
notei? Nos encaramos e eu acabei dando a mão a palmatória e rindo também. Nunca contei a Júlia, mas
depois que eu fiz o “ritual para raio, milenar na tribo dos carorós” meu medo de raios não acabou, mas
diminuiu bastante. Quando começa a chover, ao invés de entrar em pânico e ficar tremendo de medo, me
recordo de mim mesmo com uma uva na testa, repetindo meu nome, a Julia rindo da minha cara e acabo
caindo na risada também. É funcionou.

Antes de subirmos tomei um copo d’água e notei Júlia me olhando de rabo de olho. Será que nem passando
esse tempão comigo ela se lembraria de mim? Por que eu me chateio dela não se lembrar de mim se isso só
facilitaria minha vida com a Natália? Estou cansada desse um monte de perguntas sem respostas. Subimos
juntas, ela para o meu quarto e eu para o de Rebeca.

-- Bom, é boa noite.

-- Boa noite. – Julia parou um tanto encafifada e por fim me deu um beijo no rosto. – Até amanhã.

Ela simplesmente roçou os lábios na minha bochecha. Eu dava beijos assim nas minhas amigas, na minha
prima Silvinha, por que eu tinha que encucar com aquilo?Mesmo ela tomando água há instantes atrás, senti
que estava com a boca quente. Inconscientemente protegi o lado da minha face que ela tinha deixado o beijo
com a mão e fiquei alguns segundos ali, segurando meu rosto com medo de deixar o calor do carinho escapar.
Olhei para o andar debaixo da casa e vi minha camisa suja de chocolate sobre o sofá. Eu sou uma doida
mesmo, arranquei a blusa da minha provável futura cunhada e... Lembrei! Não é a primeira vez que eu tiro a
blusa dela.
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Ow, garota, não era nem pra eu ter pego o táxi, você tem certeza?

Após sairmos do elevador e termos protagonizado o vídeo que foi um dos hits de 2012 na internet, Julia e eu
atravessamos o corredor do meu prédio dando um beijo apimentado. Uma das mãos de Julia se fechava em
volta da minha cintura, nossos lábios pareciam conectados através de um imã, sua respiração ofegante, a
pegada, a outra mão me puxando pelo pescoço intensificando nosso beijo, o toque daquele corpo forte e ao
mesmo tempo delicado sobre o meu. Quando ela me fez a pergunta não tinha condições e nem queria ter de
lhe dizer um não pela cara. Ela se separou de mim.

-- Você quer mesmo que eu entre.

Minha resposta foi incisiva. Em um movimento rápido levantei a camisa de Julia, mergulhei de volta para seus
lábios e invadimos meu antigo apartamento de São Paulo. Com um chute ela fechou a porta. Quase
enlouqueci quando as duas mãos de Julia me carregaram para cima da mesa e com o braço ela varreu os
objetos que tinha e cima do móvel. Eu pensei que ela viria para cima de mim com tudo, mas não, deu até um
passo para trás.

-- Morena, não desisti de mim agora não... Vem cá...

Ela deu uma risada muito safada. Aquela imagem dela só de sutiã preto e calça era maravilhosa. Como eu
pude me esquecer disso? Julia me deu um beijo suave desses que só provocam mais ainda ao invés de saciar
tentei puxa-la e ela não veio novamente.

-- Só vai me tocar se merecer... – Ela brincou comigo. – Alias, vamos ver que vai tocar quem primeiro.

-- Quer ver quem perde primeiro? – Provoquei. Segurei as mãos delas para o alto. – Vamos ver então...

A regra era só encostar rosto e mãos. Até então nunca tive fome pela boca de alguém como havia tido aquela
noite, eu estava adorando tudo, a suavidade e a avidez da língua dela, o fôlego que invejaria qualquer garota
de vinte anos, o controle da situação que ela parecia nunca perder. E nada da Julia tentar me puxar para ela.
Acabou que eu perdi o controle, me livrei das mãos de Julia após uns cinco minutos e desci para suas costas,
tentando desabotoar o sutiã. Julia deu um sorriso mais safado que o primeiro, delicadamente me deitou na
mesa me lançando um olhar de desejo que me senti uma presa deliciosa. Ela precisava tanto de estar comigo
naquele mo mento quanto eu precisava dela. Foi então que ela me surpreendeu me dando um beijo não só

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quente, mas também doce nos lábios e uma das mãos subia pela minha barriga e aproveitava para arrancar
minha camisa. Os lábios foram até o pé da minha orelha e sussurraram.

--Abre seus olhos... – Só a voz dela fez uma corrente elétrica passear pelo meu corpo. - Eu quero você
olhando para mim...

Quando abri meus olhos, vi aqueles olhos verdes pegando fogo e... E ai tudo voltava a ser um borrão na
minha memória de bebum. Abri as janelas do quarto de Beca para ver se o calor passava e voltei a me deitar
na cama ao seu lado.

Para variar não consegui dormir direito. Beca estava sonhando que era madrinha da bateria da Grande Rio e
só faltava sambar na cama. Eu me sentia dividia em três. Na Alice que queria acordar na manhã seguinte,
correr para os braços de Natália e tascar um beijo em sua boca desses que deixa todo mundo em volta
constrangido. A outra Alice estava doida para ir até a porta do quarto vizinho bater até Júlia atender e
perguntar como ela simplesmente se esqueceu de mim após me dar uma das melhores noites de sexo da minha
vida e a terceira Alice queria se esconder embaixo do edredon e nunca mais ter que encarar as duas irmãs de
tanto medo que eu estava. Não só por mim, mas também por elas.

Achei tão carinhoso a maneira que Julia se referiu a Natália chamando a irmã de Natinha. Provavelmente um
apelido de infância. E Nat largando toda sua vida para ir atrás da irmã? Eu não queria estragar uma amizade
tão bonita como elas pareciam ter. Peguei no sono pensando em um monte coisas. Na minha filhinha que já ia
nascer no mundo com uma mãe perigueti, no asno do Bruno que foi injusto com a irmã, se Nat ia me jogar
ácido na cara ou mandar uma jamanta passar por cima de mim depois que soubesse da minha gravidez, se eu
estava fazendo o certo em não contar para Pedro Henrique que ele ia ser pai, em João, na mesa do meu
antigo apartamento que eu entreguei sem limpar depois de ter trepado com a Julia em cima dela e
principalmente em Nat e Julia. Julia e Nat. Nat e Julia. Julia e Nat.

Acordei com o locutor da rádio Silvéster me dando um bom dia através do rádio relógio. Agora que eu
lembro, como eu vou encarar a Julia? Meu Deus, ela esta no quarto do lado. O que eu faço, dou bom dia e
despacho logo para ela não encontrar com João? E se ela não quiser sair? Será que ela se lembrou de mim
ontem? Na hora que ela me deu um beijo no rosto foi tão carinhosa, será que ela se lembrou? Sai do quarto
ensaiando um milhão de diálogos que eu e Julia teríamos assim que ela abrisse a porta. Bati três vezes e nada.
Fiz um intervalo e bati de novo. Nada mais uma vez. Abri a porta e encontrei um quarto intacto e uma cama
perfeitamente feita. Será que eu sonhei feito esse povo que cheira e bebe chá de cogumelo? Não, não era
possível. Me aproximei da cama e ali, entre os lençóis estava a prova de que não tinha enlouquecido. Aquele
cheirinho de mato era inconfundível. Levantei o travesseiro e encontrei um bilhete e uma rosa cor-de-rosa.

“Para quem esta acostumada a dormir em uma oca com goteiras e em uma rede, sua casa é um hotel de luxo.
A companhia nem se fala. Obrigada por me dar guarda chuvadas no meio da chuva, um abraço da sua amiga
meio índia.”

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Sorri sozinha ao ler o bilhete. Ela não queria me causar nenhum mal estar e foi embora sem se despedir. O
cheiro ficou ali como se Julia permanecesse uma vida inteira presa naquele quarto enrolada nos lençóis. Allias,
meus lençóis ficaram com um cheiro tão bom que quando eu percebi Rebeca estava na porta do quarto me
olhando desconfiada com um lençol no nariz. Para despistar soltei essa:

-- Sabão vagabundo, né? Deixa um cheiro de amargar.

Bruno, João e Laísa voltaram para tomar café da manhã da gente. Ou o que sobrou depois que os pedreiros
chegaram. Estava sentada ao lado de Isa e... Isa?

-- O que você esta fazendo aqui? – A mão de Isa foi direto no pão doce que eu estava paquerando desde a
fila do banheiro. – E devolve o pão de maça!

-- Ela é a nova inquilina do fusca. – Beca me esclareceu. Quase fuzilamos minha amiga pelo olhar. – Gente,
vocês acham que essa reforma vai ser paga como? Que o dinheiro vai cair do céu?

-- E a Beca falou que o contrato cobria refeições e isso inclui meu café da manhã!

-- O pão de maçã é das crianças! – Laísa reforçou arrancando o pão da mãe de Isa e entregando nas minhas.

-- Mas ela não é criança. Temos a mesma idade!

-- E eu to grávida de que? – Perguntei dando uma mordida digna no pão. - De um rinoceronte?

Alheio a nós, João sempre tão falante estava com a cara enfiada no livro que Julia tinha folheado na noite
passada. Quando ele virou a página caiu um papelzinho com algo escrito.

“A maior dor do mundo é amar e nem conhecer o rosto do seu amado.”

Evidentemente Julia não assinou, mas Bruno reconheceu a letra da irmã e percebeu que ela tinha deixado um
recado para o filho. Jogou um olhar para o meu lado e de Rebeca. Eu fingi que não entendi e sai logo para o
hospital com minha amiga. No caminho ainda cruzamos com dona Abgail, mãe de Bruno entrando em casa.
Pelo jeito a coisa ia feder. No hospital me distrai com o trabalho. Quando deu uma hora da tarde minha
neném já estava reclamando por um almoço. Encontrei com Rebeca e Isa, as duas cochichavam algo e
estavam com dinheiro na mão. Algumas enfermeiras estavam logo atrás, também com dinheiro
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-- O que vocês estão fazendo?

-- Apostando. – Isa explicou. – O helicóptero acabou de descer, a Natália deve estar desembarcando.

-- A Nat? Quero dizer, a doutora Natália? - Rebeca e Isa trocaram um olhar misterioso e sorriram. – vem cá
alguém pode me explicar o que esta acontecendo.

-- A Doutora Júlia estava atendendo no Pronto Socorro e acabou de dar o horário de almoço. Portanto ela
deve estar saindo de lá agora e vai cruzar bem ali... – Isa apontou para o centro do salão principal do hospital,
nós três estávamos bem em frente ao ponto que ela apontou. – E a Natália vai descer do elevador e ir atrás
da Duarte que esta logo ali na frente e vai parar bem ali, onde vai acontecer o duelo.

-- Que duelo?

As duas riram juntas e repetiram como se tivessem combinando.

-- Quem vai ficar com Alice? Julia ou Natália?

Impressionante essa gente, não é, invés de procurar uma operação pra fazer um paciente ou algo do tipo fica
se ocupando da vida alheia.

-- Você são ridículas!

As duas riram juntas. Isa apontou cada mão para um lado.

-- Será?

Como se tivessem ensaiado com Isa, lá vinha cada uma de um lado. Julia brincando com um dos enfermeiros
atravessava o salão distraída. Rapidamente desviei meu olhar para o outro lado e de lá caminhava Natália,
com uns papéis na mão, estava alheia.
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-- Eu vou de Nat nessa. – Rebeca confirmou. – Outro dia ela quase atacou um bisturi em cima de uma
enfermeira. Sabia que ela fez judô dos 12 aos 14 anos? – Minha amiga nos informou. – O Bruno que me
disse. Ainda faz natação por causa da asma. Técnica e condicionamento. Natzão é o futuro!

-- Grandes coisas. A Júlia é rejeitada por mãe, sumiu dez anos, foi pra duas guerras. Viveu com índio,
funciona na lei da selva. – Isa rebateu. Não acredito que minhas amigas estavam falando das duas como se
fossem dois touros bravos disputando um rodeio. - Ontem quase derrubou o javali do teu namorado. Brigar
com a irmã mais nova é fichinha pra ela! Tem porte, tem altura... Vamos lá Julião! Confiamos em você garota!

-- Eu posso mudar minha aposta pra doutora Julia? – Uma das enfermeiras questionou.

-- Não! Só os cirurgiões estão apostando.

-- Vocês são internos, escória da sociedade médica!

Meus olhos pareciam que acompanhava uma partida de ping pong. Estavam a poucos metros de distância
quando uma das recepcionistas brincou com Julia que se virou de costas. Ao virar novamente de frente
trombou com a trilha de papéis que Natália carregava nas mãos. As duas se agacharam para catar os papéis,
Natália como sempre aquele “amor” de pessoa com os funcionários.

-- Não enxerga por onde anda?!

-- Não tenho olhos na testa e... – Julia finalmente levantou a cabeça, apertou os olhos. – Natinha?

Natália rapidamente ergueu os olhos.

-- Julia?

As duas se encararam sérias.

-- É agora! – Isa exclamou confiante. – Agora o bicho pega!

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Tirou as palavras da minha mente...

End Notes:

E ai, já escolheram entre Nat e Julia?

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Capítulo 17 by Tamaracae

Author's Notes:

Muito feliz pelo carinho de vocês meninas, eu leio e tento responder todos os
comentários, mas vez ou outra um escapa ou pq meu tempo anda curto ou pq o site
as vezes não ajuda e da erro, mas leio todos com muito carinho.

Agora não tinha mais nada o que fazer. Fechei os olhos para não ver e foi pior. Minha mente fértil e
desgracenta já recriou a Guerra de Tróia. Natália enchia Júlia de tabefes que por sua vez se defendia com um
golpe de judô, capoeira ou mhuy tay destruindo o nariz perfeito da minha quase namorada. Com as mãos
fechadas eu murmurava algo em silêncio. Era uma reza. Quem me fez voltar à realidade foi a Rebeca.

-- Alice!

E sua boca abria, fechava emitia sons, mas para mim era a mesa coisa que ela estivesse falando búlgaro.
Minha atenção estava voltada a cena na minha frente. Júlia e Natália se dando um longo e afetuoso abraço.
Ninguém estranhou minha cara, pois metade do hospital parava querendo espionar o reencontro das irmãs
Franco que, como não poderia deixar de ser, além de muita emoção teve muita ironia.

-- Não acredito!

Julia deu um sorriso divertido.

-- Pode tocar, ser vivo! – Ela disse em um tom brincalhão e ao mesmo tempo imponente tão familiar de Julia.
Estendeu os braços a espera de um abraço. – Não vim te buscar. Ainda não esta vendo fantasmas não.

E entre risadas e lágrimas as duas se deixaram cair uma nos braços da outra.

-- Natinha, olha só, daqui a pouco tá cheia de cabelo branco... – Júlia comentou implicante como toda irmã
mais velha. – O que dez anos não faz, hein?!

-- Pelo menos meus cabelos estão aqui. E aquela bicho grilo que tinha cabelo quase no fim das costas que
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

atendia como minha irmã? – Era a vez de Natália alfinetar. – Quarenta anos na cara...

E se deixassem ficariam naquela briguinha de quem tem o ego maior até o outro dia. Besteira, as duas estavam
tão lindas. Natália mais jovem do que nunca e Júlia dando inveja a qualquer garotinha de vinte anos. Por
iniciativa de não sei qual das duas, ou das duas, encerram a conversa da forma mais inteligente possível, um
abraço.

-- Eu soube que você foi atrás de mim, que me deram como morta.

-- Revirei aquela floresta inteira atrás de você. Fui em cada hospital de Manaus, necrotério, delegacia, seguia
qualquer pista... – De longe percebi a voz de Natália emocionada, mas ela disfarçou bem com um sorriso
aberto que muita gente naquele hospital ainda não conhecia, mas eu já e babava cada vez que ela sorria assim.
– Eu já tinha perdido a esperança...

-- Nunca ouviu o ditado, não? Vaso ruim não quebra.

Ao meu lado Isa murmurou frustrada.

--Humpf... Parabéns bonitona, você não vale nem um soco na cara...

-- Eu disse que ela nem tinha esse borogodó todo... – Uma das enfermeiras comentou olhando para minha
cara. – Branquela, deve ser ruim de cama!

-- E vem com esse papo de que o noivo largou por outro, agora já sabemos porque...

E um burburinho sem fim sobre minha capacidade na hora H não cessava de jeito nenhum. Não faltava mais
nada, além dos meus problemas para resolver teria que lidar com isso.

-- Olha aqui, que falta de respeito de vocês. – Rebeca me defendeu. – Esta certo que estamos apostando,
mas a Alice é nossa amiga! – Rebeca era uma fofa mesmo, se colocou contra todas aquelas folgadas só pra
me defender. – E daí que ela é ruim de cama? A gente vai deixar de amar ela por causa disso? – É só elogiar
que estraga tudo, impressionante. – Problema é dela, a frígida é ela.

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Minha amiga continuava a me apoiar para meu desespero. Estava vendo a hora que Beca ia me chamar de
assexuada para me proteger.

-- Tem mulheres que acham uma certa dificuldade para sentir prazer sim e...

-- Tá bom, Beca, já me defendeu.

-- Fica quieta amiga, eu te defendo. – Beca continuava a falar com as enfermeiras. - Não é porque a Alice
não teve um orgasmo que você vão ficar humilhando a coitada e...

-- EU TIVE UM ORGASMO!

Como em um passe de mágica, todas as sirenes de ambulância pararam, as vozes se calaram, os telefones e
celulares pararam de tocar. Com o silêncio que se fez dava para se ouvir um mosquito. Todo mundo fez
aquela cara de vergonha alheia e eu aquele semblante do Chaves quando é pego falando: é tudo culpa do
professor linguiça. Julia e Nat me encaravam curiosas. Foi Julia que quebrou o silêncio.

-- Estamos muito felizes por você doutora Alice. – Virou – se para os outros. – Agora vamos voltar a
trabalhar? A chefe esta presente! – Ela disse dando um tapinha no ombro da irmã. - Por que vocês não fazem
como estão acostumados e finjam que estão fazendo algo de útil? E já que estamos em uma onda de
sinceridades, ter um orgasmo é muito menos vergonhoso do que fingir que trabalham, não é mesmo?

-- Você também esta tendo um, doutora Julia?

Um dos residentes perguntou com ar de riso.

-- Agora não, mas e você já teve alguma na vida? – Ela questionou com uma bravura que eu não conhecia. -
Foi o que eu imaginei. Agora será que tem como vocês voltarem a ser médicos? Tem vidas que dependem de
vocês!

E rapidinho a maioria começou a se movimentar. Julia é tipo de pessoa que tem um slogan estampado na
testa. Ame-o ou Deixe-o. Seu jeito despachado, aventureiro e incomum não era bem visto por médicos mais
conservadores e tradicionalistas. E acreditem o fato de ser lésbica assumida também era visto como
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empecilho para alguns “doutores”. Com certeza o residente de Julia estava no time do Deixe-o.

-- Um dos meus melhores residentes! – Natália esbravejou com a irmã. – Você, como sempre muito bem
relacionada...

-- Um dos seus melhores residentes esta deixando de salvar vidas e de ensinar outros médicos para ficar
tirando sarro de uma colega de trabalho. – Julia devolveu ríspida não aceitando a bronca da irmã. – Ele além
de médico é professor, devia dar o exemplo.

Era isso que eu queria evitar briga entre as duas, Julia e Natália se encararam de um jeito nada ameno. Duarte
com sua presença que evitou maiores confrontos naquele instante.

-- Doutora Alice, depois que a senhora acabar de palestrar sobre sua vida sexual seria possível ir pegar os
exames do paciente do quarto 125? – Duarte me questionou em um tom que quase me fez bater continência.
– Essas horas já devem estar prontos...

-- Sim senhora!

-- E você Julia, tem paciente no Pronto Socorro te esperando!

-- Com licença.

Julia se afastou, ela e Natália ainda trocaram olhares. Natália esperou uma distância segura e perguntou a
Duarte.

-- Ela esta atendendo aqui?

-- Ela pode ter fugido no meio da residência, mas sua irmã é uma grande médica. – Duarte confessou. - O PS
tem funcionado melhor depois que ela chegou.

-- Dois dias? – Natália questionou em um tom irônico. – Por incríveis dois dias a Julia já te convenceu que

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pode ser a dona do PS? – Abriu um riso debochado. – Assim é fácil ser médica. Assim é fácil ser mãe.

-- Natália!

Eu tratei de pegar os exames e entregar a Duarte e dar o retorno de consulta ao meu paciente que teria que
ser operado. Sabe quando todos os indícios apontam que você esta entrando em uma furada e mesmo assim
você segue em frente? Era assim que me sentia diante de Julia e Nat. Não só a minha relação com as duas,
mas o relacionamento entre elas era complicado, envolvia amor, disputa, ciúme, carinho. Se eu pudesse
escolher, acho que não queria ser médica. Me dou bem com crianças, daria uma ótima pedagoga. Se pudesse
escolher não queria escolher nenhuma. Como já disse, nossa vida não é feita de ações seguidas de
consequências, mas sim consequências seguidas de ações. Não estou querendo tirar o meu da seringa, mas
quando eu percebi já estava envolvida com as duas.

Natália me bipou intimando para encontra-la na sala da diretoria. Pelo tom eu ia ainda levar uma senhora
bronca por conta da briga de Julia com o residente. Terminei minha consulta e fui até a sala da diretoria. Dei
três batidas na porta.

-- Pode entrar, doutora Alice.

IIIIIh, doutora Alice? Para a Nat me chamar assim é porque o chumbo era grosso. Ainda temerosa abri a
porta e entrei. Para minha surpresa nem Duarte e nem ninguém estava lá, só Nat e de costas para mim.

--Doutora Natália, é... Des...

-- Fecha a porta.

-- Eu só queria antes de tudo explicar...

-- Fecha a porta, doutora Alice!

Obedeci.

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-- Chefe, eu só queria...

Natália me calou com um beijo recheado de afeto, desejo e saudade. Uma das minhas mãos logo tratou de
puxa-la para mais perto de mim. Dois meses sem dar um beijo na boca, sentir aquele lábio com gosto de
maça devorando os meus, suas mãos me fazendo carinho. Eu queria tanto ter me entregando totalmente
naquele abraço, mas um fato que me fazia acordar enjoada toda manhã e que daqui alguns meses estaria
chorando nos meus braços me impedia. O meu jaleco e por baixo a roupa de cirurgiã que cabia umas três de
mim conseguia disfarçar bem minha barriguinha. No máximo Nat deve ter pensando que estou mais gordinha,
mas não comentou nada. Os lábios de Nat desviaram para meu pescoço, os dedos de Nat tocaram levemente
minha nuca. Apesar de querer continuar ali, beijando sua boca o dia inteiro, me afastei.

-- Alice...

-- Eu preciso falar um assunto sério com você.

-- Mais sério do que eu te beijar? – Ela brincou enquanto me encurralava contra sua mesa de trabalho, sua
boca voltou a procurar pela minha e delicadamente eu fugi. – Alice?

-- Nós vamos ter tempo para isso depois. Primeiro eu quero conversar.

-- Conversar sobre o que?

-- Não pode ser aqui. Eu posso te encontrar a noite em casa? Eu peço para o Bruno ficar com o João.

-- Mas o Bruno não vai desconfiar e...

-- Nat, o Bruno já sabe de nós há muito tempo. – Ela me encarou um tanto surpresa. – Ele mora comigo, é
“algo mais sério” da minha melhor amiga e é meu amigo. Não podia ficar escondendo.

-- Você contou para o Bruno? Para o Bruno?

-- Acho que já passamos dessa fase de você ficar implicando com seu irmão. – A cara de Nat não foi boa,
resolvi não insistir no assunto. – Podemos falar hoje?

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-- Só com uma condição. – Nat falou comigo em um tom sério. – Eu quero um beijo.

E abriu um sorriso lindo. Não resisti e deixei nossos lábios matarem a saudade em um beijo caprichado
quando escuto um barulho de porta se abrindo e alguém nos flagrando.

-- É desculpa, mas eu bati. – Julia disse deixando minha cara completamente no chão. – Eu bipei, mas você
não respondeu. Chegou um rapaz com suspeita de fratura no crânio. A Duarte precisa de você no Pronto
Socorro, Nat.

Natália, sem graça apenas assentiu com a cabeça. Eu estava mais vermelha do que a bandeira do PT.
Normalmente eu agia melhor que a Natália nessas situações, mas ao ser flagrada por Júlia, senti um gosto
diferente e incomodo. Sem chance de me explicar, e sei lá por qual motivo eu achava que deveria me explicar,
ela partiu.

-- Droga, isso não podia ter acontecido. – Soltei sem querer. Natália me encarou. – O que foi?

-- Eu que devia estar perguntando. Se você falou com o Bruno, que problema tem a Júlia saber de nós? – Ela
me encarou curiosa. – E outra coisa, da onde vocês se conhecem?

-- É-É nós?

-- Ela te cumprimentou toda contente, te defendeu. Pegou amizade já?

-- Não é que... A Júlia dormiu em casa. Mas eu estava sozinha. – Alice, isso não ajudou muito. – Quer dizer,
o João, o Bruno e a Laísa não estava lá, mas a Beca estava. E... Ela conversou comigo. Ficamos amigas.

--Amigas?

-- Nat, ela é sua irmã. Ela me contou tanta coisa. Só foi isso.

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-- Tem certeza?

-- Se você esta em duvida, pergunte a Júlia. – Respondi irritada. – Ontem a noite só conversamos e ela
dormiu em casa. Ela não tinha para onde ir, discutiu com a Duarte. Eu fiquei com dó, foi isso.

Acompanhei Natália que rapidamente fez a consulta e me pediu para levar o paciente para a ressonância.
Quando voltei para o Pronto Socorro com meu paciente, fui bipada por Rebeca.

-- Eu estou resfriada. Você avisa a Duarte que vou embora?

-- Claro, vai lá.

Despedimos com os costumeiros beijinhos de comadre. Pela janela de vidro do Pronto Socorro reconheci
João passeando entre os leitos. Ele adorava ficar por ali, vendo o povo sendo costurado, conversando com
os pacientes. Uma garotinha de oito anos chorava por que tinha estourado o dedão jogando bola.

-- Não vai doer quase nada. – João garantiu pra amiguinha que tinha feito. – Espera ai, já volto.

E correu até o cafezinho onde uma médica estava ali de costas, puxou seu jaleco.

-- Ow, você não vai atender ela?

Julia se virou para ver quem lhe chamava e surpreendeu com aquele menininho em sua frente.

-- Engraçado... Eu conheço você de algum lugar. – Enquanto lavava as mãos para tratar da menina, os dois
conversavam animadamente tentando descobrir de onde se conheciam. – Já sei! Será que você já não foi meu
noivo em outra vida?

Eu espiava ali de camarote primeiro encontro de mãe e filho. Toda aquela história que ela tinha me contado
passou na minha cabeça como se fosse um filme e agora, como um efeito mágico eu tive o presente de
testemunhar aquele momento. Julia e João não se conheciam nem por foto. Abgail rasgou qualquer lembrança

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de Julia quando ela deixou a casa. Por sua vez Julia saiu de casa com o filho ainda bebê.

-- E se eu fosse seu noivo, você não lembraria de mim?

Dessa vez quem apertou os olhos foi Julia. Jogou um olhar doce em direção a João.

-- Não... Se você tivesse sido meu noivo, eu acho que eu nunca largaria de você. – João deu um sorriso. –
Qual é o nome da sua amiguinha?

-- Não é minha amiga não. Você acha que eu ia ser amigo de uma chorona dessas? Se machucou jogando
bola...

-- E você joga bola?

-- O Neymar joga bola. - Convencido. - Eu arraso. Você vai cuidar dela?

-- Pode deixar...

Assim que Julia se aproximou da garotinha ela abriu um novo berreiro.

-- Eu tenho medo de sangue...

-- Ah, mas eu também morro de medo de sangue. Sou desse tamanhão todo, mas dou o maior vexame,
desmaio e tudo... – Ela respondeu já lavando a ferida sem a garota perceber. – Então você vai segurar a
minha mão assim bem forte pra eu não desmaiar. Tá bom?

Assusta a menininha fez um gesto afirmativo.

-- Isso, bem forte, bem forte senão eu posso desmaiar aqui.

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Em dez minutos o pé da garota já estava limpo e costurado e ela mais calma.

-- Você cuidou direitinho dela. Eu tenho que ir pra casa.

-- Já? – Julia perguntou um tanto chateada. – Mas vem, você não me disse ainda. Qual é seu nome?

-- Você descobre sozinha. – E João tratou de explicar convencido. – Meu tio disse que mulher gosta de
homem difícil...

E saiu deixando uma sorridente Julia para trás. Sabe quando você apresenta uma pessoa para outra e percebe
que rola um clima? Foi isso que eu vi no encontro deles. Julia precisava saber que aquele garotinho do Pronto
socorro que ela brincou, apertou as bochechas, a surpreendeu era seu filho. Só que não era eu que tinha que
falar isso a ela, por isso tratei de me afastar antes dela me perguntar alguma coisa sobre João. Fugi de Julia o
quanto pude, mas no final da tarde, quando estava no centro cirúrgico com Natália auxiliando ela na cirurgia
do rapaz da fratura no crânio, ela entrou. Como todos nós, estava de bandana e máscara, mas com uma
sacola nas mãos e uma garrafinha d’água.

-- Doutora Natália, desculpa, mas eu precisava falar com a doutora Alice.

-- Eu e a doutora Alice estamos no meio de um procedimento dificílimo. Acho que sua conversa pode
esperar.

Droga, ela estava mordida por causa da nossa amizade. A Natália também era toda complicada. Se eu era
amiga do Bruno, nada mais natural que eu fosse amiga da Julia. Ainda mais depois dela ter me defendido na
frente do residente metido a besta.

-- Doutora Natália, ela esta operando há cinco horas. Eu só vim entregar as vitaminas que a doutora Rebeca
não pode entregar e fazê-la comer alguma coisa. – Pronto, estava perdida. Desde que descobri que estava
grávida, só me repassavam cirurgias que poderia ficar menos tempo em pé. Quando pegava algo mais longo,
Beca sempre me levava uma fruta para comer e água, dependendo da hora as vitaminas que Monique havia
me receitado. Como estava gripada e não podia entrar no Centro Cirúrgico, deve ter pedido a Julia para fazer
o favor. – É perigoso ela ficar tanto tempo se esforçando no estado que se encontra.

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Natália aproveitou a troca de instrumentos para me encarar.

-- Que estado que você se encontra?

-- E-E-eu...

-- Doutora Alice, que estado que você se encontra?

Julia me encarou arrependida. Enxerguei em seus olhos que foi totalmente sem querer aquela atitude. Seria
muita cara de pau minha culpa-la por alguma coisa. Quem literalmente empurrou com a barriga toda aquela
história por dois meses fui eu. Natália deu ordens para o outro médico tomar seu lugar por alguns instantes.

-- Alice, pela ultima vez o que esta acontecendo?

-- Eu estou esperando um bebê. – Respondi pausadamente tremendo mais do que vara verde. Vi susto nos
olhos de Natália. – Grávida de quase 5 meses.

-- FORA!

-- Natá...

-- VOCÊS DUAS FORA DA MINHA SALA DE CIRURGIA! ALGUÉM BIPE PARA O LEANDRO.

-- Mas o paciente é meu e...

-- DOUTORA ALICE, FORA DA MINHA SALA!

Apesar de já termos discutido algumas vezes, ela nunca tinha gritado comigo daquele jeito. Eu me sentia
horrível, odiava decepcionar pessoas que realmente me importavam. Sai do Centro cirúrgico aos prantos.

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-- Calma, ela esta nervosa, não tem ideia do que fala e...

-- Ela esta certa! Eu trai a confiança dela!

-- Eu não imaginava que ela não sabia e... Desculpa, mas a Rebeca só me pediu... Alice...

Quando eu vi estava chorando em seus braços, nós duas sentadas em uma das macas que os médicos usavam
para dormir. Me abracei a Julia e chorei tudo que estava segurando por dois meses, saudade de Natália,
medo da reação dela, medo de ser mãe, medo de estar fazendo uma residência meia boca. Julia me abraçou
carinhosamente e tentava me acalmar. Estava tão cansada de tudo que adormeci. No dia seguinte, Isa
comentou comigo que quando entrou no quartinho de plantão junto de duas enfermeiras, eu dormia abraçada
a Julia que estava praticamente atada ao meu corpo e sem se mexer para não me acordar. Com um indicador
sobre a boca fez um pedido de silêncio para não me acordarem. Abri os olhos ligeiramente quando senti seus
lábios tocando de leve minha bochecha.

-- Boa noite.

Murmurei algo e apaguei. Dormi um sono pesado. Acordei ás quatro e meia da manhã com o barulho de um
bipe vizinho. Eu precisava falar com Natália, nem que fosse a ultima coisa que eu fosse fazer em vida, eu
precisa fazer, falar com ela. Na recepção me informaram que ela terminou a cirurgia e foi para a casa. Não me
importei com o horário, me enfiei no primeiro táxi que consegui e cheguei no apartamento de Natália. Cinco
horas da manhã, apertei a campanha três vezes. A própria Natália que veio me atender, estava usando um
hobby branco de seda que valorizava seu colo. Cabelos desalinhados, cara um pouco assustada.

-- Alice?

-- Eu não vou deixar você fazer isso com a gente!

-- Alice...

-- Eu sei que você esta magoada, decepcionada, triste, com raiva, mas você tem que me escutar.

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-- Alice...

-- Nat, eu não ia estar aqui agora, na sua porta, me humilhando, implorando para você me escutar se você
não tivesse significado para mim. É ridículo uma mulher implorar sofrer? Eu não me importo. Por você eu sou
ridícula, mas por favor, me escuta!

-- Nat, o que esta acontecendo? – Uma terceira voz perguntou. Feminina. Pelo tom estava meio alcoolizada.
Foi então que espiei o interior do apartamento, roupas, jogadas, objetos fora do lugar, um perfume diferente e
doce demais na sala. Uma loira de uns 33 anos, enrolada em um lençol, mais ou menos da altura de Natália
finalmente apareceu e logo identifiquei como dona da voz. – Nat?

-- Alice, essa é a Marisa.

Parabéns Alice, se o seu intuito era fazer papel de ridícula, você conseguiu.

End Notes:

Não sei se esse capítulo ficou tão bom qto eu queria, senti que devi um pouquinho,
mas vou caprichar no próximo. Um bjão!

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Capítulo 18 by Tamaracae

Author's Notes:

Oi meninas! Muito feliz com o carinho de vcs!! Estou tentando manter pouca distância
entre os capítulos! Um bjo para todas!!

Música Clube da Esquina II http://www.youtube.com/watch?v=4RWMzcRgYsc

Conselho, leiam escutando a música, é ótima.

- Alice, espera...

Se eu não estivesse com um barrigão de cinco meses de gravidez teria decido as escadarias do prédio e
fugiria antes de Natália tentar me explicar o que não tinha explicação, mas como estava e fui obrigada a
esperar o elevador, ela teve tempo de me alcançar. Não sei se estava com mais raiva dela ou de mim mesmo.
Pela primeira vez na vida não consegui tirar o lado divertido de ter feito papel de idiota. Para piorar com a
situação e minha raiva, Nat veio com o clichê dos clichês para cima de mim.

-- Alice, não é isso que você esta pensando! – Se meus olhos dessem tiros ela estaria fuzilada naquele
momento sobre uma poça de sangue. - Quer dizer é isso que você esta pensando, mas não é bem isso!

-- VOCÊ É UMA CACHORRA! UMA CANALHA! S Ó QUE AGORA VAI ENCONTRAR


OUTRA IDIOTA PORQUE ESSA AQUI JÁ SE CANSOU DO POSTO!

-- Alice, me escuta! Não grita assim comigo, vai fazer mal para você... – Confusa. – E para o bebê... – Ah,
Natália não insiste que eu sou capaz de fazer uma besteira. – Por favor, você não pode sair daqui assim.

-- Quem disse que eu vou sair daqui assim? – Caminhei até Nat e soltei um forte tabefe em seu rosto a
surpreendendo. – E ISSO NÃO É NADA PERTO DO QUE EU ESTOU SENTINDO!

Felizmente o elevador chegou antes de Natália se explicar. Entrei naquele cubículo e apertei o zero. Quando
cheguei ao térreo, para minha surpresa, Natália já estava na porta a minha espera. Deve ter decido as escadas
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em tempo recorde. Tão recorde que eu não entendia nada do que ela queria me falar, pois Nat teve uma crise
forte de asma. A médica deu lugar à mulher traída. Voltei para o elevador junto de Natália e fui ajudando a
voltar a respirar normalmente.

-- Eu já posso ir embora?

-- Alice espera. – Ela me pediu. - Eu sei que eu agi errado com você, eu fui mesmo uma canalha, fui uma
cachorra, mas me dá uma chance de me explicar.

-- Explicar o que? Enquanto eu estava morrendo de saudade, de medo, de apreensão sem conseguir falar
com você, você curtia uma lua de mel com a sua sei lá o que em um hotel cinco estrelas em Manaus?

-- Não, não foi isso! Eu te juro que essa foi á primeira noite que eu e a Marisa... Foi à primeira noite que eu e
a Marisa ficamos. A Marisa veio comigo porque ela trabalha com psicologia do trabalho e eu a contratei para
trabalhar no hospital. – Natália tentava organizar os fatos em sua cabeça. - Depois que você me contou, eu
bebi um pouco... Não estou botando a culpa na bebida, mas eu bebi um pouco, fiquei com raiva de você,
estava me sentindo carente, quando eu vi... Quando eu vi eu estava beijando uma das minhas melhores
amigas.

-- E você acha que porque você estava se sentindo carente eu tenho que relevar? Você acha que esses dois
meses eu me senti como com você longe de mim?

-- Desculpa, mas você me assustou. – Ela me confessou. - Alice, grávida de cinco meses? – Indigesta. -
Cinco?

-- E você acha que eu não me assustei quando eu soube que esta grávida?

-- Eu sei, você se assustou, mas eu me senti... Enganada. Porra Alice, quantas vezes eu te perguntei se estava
acontecendo alguma coisa? – Nat fez uma pausa. – Por que você não me contou antes?

-- Porque eu fiquei com medo da sua reação.

-- Você acha que eu ia fazer o que?


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-- Gritar comigo na frente dos outros? Não me deixar me explicar? Me trocar por outra? – Nat envergonhada
baixou os olhos. – Eu tive medo de perder você, sabe por quê? Porque eu gosto de você, Nat e quando a
gente gosta, tem medo de perder.

-- Eu estava no meio de uma cirurgia. Não foi a melhor hora.

-- Nada justifica aquela loira peituda na sua sala. – Devolvi ríspida. - Eu confiei em você, achei que por se
envolver com alguém eu tinha mais experiência do que eu, eu poderia confiar e...

-- Mesmo se eu tivesse toda essa que você julga que eu tenho, nós começamos errado. Você não me
perguntou as regras do jogo e eu não te apresentei. Atropelamos um monte de etapas e depois nos afastamos.
Você nunca me pediu exclusividade.

E precisava? Minha cabeça funcionava da seguinte maneira,quero em troca tudo que ofereço.

-- Eu vou parar com esse jogo por aqui. – Fiz uma pausa para digerir um pouco das palavras. – Eu cansei.

Natália me encarou de um jeito que me quebrou totalmente por dentro. Querendo ou não, traída ou não eu
era apaixonada por ela e aquela hora eu tive plena certeza disso.

-- Eu acho que o nosso jogo mal começou e ainda esta longe de terminar. – Natália me jogou um sorriso
triste. – Eu sei que você esta com raiva de mim, mas eu vou esperar seu tempo e deixar passar. – Ela fez uma
pausa. - Acredite, eu não vou desistir tão faicl Alice porque eu gosto de você. Agora, se você quiser, pode ir.

Droga, por mais raiva que eu estivesse dela naquele momento, ela estava falando a verdade. Por mais que
queremos ter raiva de alguém, quando a pessoa assume o erro e fala a verdade a raiva acaba diminuindo um
pouco. Bem pouco, mas diminuí. Voltei para casa a pé e cheguei ás sete da manhã. Rebeca e Bruno tomavam
café da manhã com os pedreiros e crianças. Fugi de todos e me isolei no meu quarto. Antes de sair Bruno
bateu no meu quarto.

-- Allie, não vai trabalhar?

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-- Não.

-- Esta se sentindo mal?

-- Não.

-- E o que eu falo para Duarte?

-- Inventa qualquer coisa de grávida. – Respondi. - Inchaço!

Sempre funcionava quando queria um pouco de paz. Falava que estava com cólica, inchaço, náuseas. Não me
senti errado, mas se eu fosse trabalhar naquele estado com certeza acabaria matando alguém e era o que
menos estava precisando. Aliás, ultimamente eu sentia que mais atrapalhava do que ajudava no hospital. Era
só algum atendente me ver na sala de cirurgia para me jogar aquele olhar: “Por favor não enjoe em cima do
meu paciente”. A única que me deixava operar sem restrições era Duarte. Ela já havia passado pela mesma
experiência que a minha de engravidar no meio da residência e só parou de operar aos sete meses de
gravidez. Eu acabava ficando com as cirurgias mais fáceis e isso estava me fazendo mal, do anda passei a
questionar se serviria mesmo para ser médica após a maternidade. Senti um pulinho dentro da minha barriga,
era a “feijãozinha” que já não era mais do tamamnho de um grão de feijão tentando estabelecer contato.

-- Bebê, como você é tão pequeninha e já mexe tanto na vida da mamãe assim, hein? - Coloquei a mão
sobre minha barriga e levemente desenhei círculos com os dedos. Não sei porque, mas sempre senti que ela
acalmava quando eu fazia isso. – Por que você esta mexendo tanto, hein? Será que a mamãe tá te
machucando por que esta sofrendo e você esta dentro de mim?

Depois de uns bons dez minutos de conversa a feijãozinha achou de me dar descanso. Me obriguei a tomar
uma vitamina e um café mais reforçado porque não tinha jantado no dia anterior e voltei para o quarto
tentando me distrair. Como estava sem sono, peguuei um livro qualquer para estudar.

-- AAAAAAAAIIII!

Quase cai dura e preta de susto. Tudo foi muito rápido. Estava com a cara enfiada em uma artigo sobre
células tronco quando algo não identificado voou para dentro do meu guarda roupa que estava com a porta
aberta e soltou um urro de dor pois bateu com o corpo contra a madeira maciça. Será que ainda esta vivo
seja lá o que for?
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-- AIIIIII! – O cadáver gemeu. Cadáveres gemem? – AAAIIIIIII!

-- Você esta vivo? – Bestamente balbuciei. Ao identificar o “algo” me surpreendi. – O que você esta fazendo
aqui?

-- Eu queria falar com você, achei que tinha gente em casa e escalei o pé de manga para não bater na porta. –
Ás vezes tenho a impressão que se jogassem uma lona sobre minha vida viraria circo e se cercassem tornava-
se hospício. – AAAAI que pancada! Puta que o pariu! Tinha que deixar esse armário aberto?

Imaginei o Príncipe de Rapunzel ou Romeu escalando o galpão para encontrar com sua amada e quando
finalmente conseguisse pular a janela ele olharia para Julieta e romanticamente falaria.

-- AAAAI que pancada! Puta que o pariu! Tinha que deixar esse armário aberto?

Dei uma espiada pela janela. A Mangueira dava uma distância boa da minha janela. Só a maluca da Julia
mesmo para inventar aquilo. E se ela rachasse a cara? Acabei rindo.

-- O que foi? – Julia me perguntou divertida. – Não gostou da minha entrada triunfal? O plano era cair em pé,
mas acho que exagerei um pouco no impulso e quase destruí seu armário.

-- Adorei. – Sinceramente respondi. – Mas sabia que existe uma invenção revolucionária chamada celular?
Quando quiser falar comigo você pode me ligar e shazan, eu atendo do outro lado da linha.

-- Mim não saber o que é celular. – Julia brincou fazendo aquela voz de índio de filme americano. – Mim
quando quer falar com amigo faz sinal de fumaça.

Nós duas rimos e Julia voltou a falar com voz normal.

-- Não queria te atrapalhar.

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-- Não atrapalhou. Meu medo foi você quebrar sua cara por minha causa. – Ela deu uma nova risada. –
Brinca com isso. Tenho certeza que metade da população sapatônica brasileira viria atrás de mim querendo
quebrar a minha cara se acontecesse alguma coisa com seu rosto. Se você me ligasse evitaria o meu
apedrejamento publico e minha expulsão sumária do brejo e de quebra meu armário continuaria inteiro.

-- Ok. Mas de certa forma a culpa é sua, resolveu sair do armário e esqueceu a porta aberta.

Sair do armário e esquecer a porta aberta. Era muita “gayzisse” para uma manhã só. Ri com vontade. Estava
chateada, triste e Júlia conseguia me divertir. Era uma boba mesmo.

-- E então, o que devo a honra para essa entrada triunfal?

-- Vim te buscar para irmos trabalhar. – Ela deu uma conferida no relógio. - Já até passou da hora de sair de
casa, não é mesmo mocinha?

Dessa vez eu não ri. Não estava pronta para encarar aquele hospital e ficar cruzando com Natália de hora em
hora. Não precisei nem tocar no nome da irmã e Julia logo me entendeu. Ela abriu um sorrisão e apenas me
disse.

-- Fica tranquila, eu disse que vamos trabalhar, mas não no hospital.

Não no hospital?

-- E vamos para onde?

-- Resposta errada, você só deve falar vamos.

-- E eu vou sair assim, sem eira nem beira?

-- O principal você já sabe. Eu vou estar lá. – Nem preciso falar que o forte dos Franco não é a modéstia,
não é mesmo? – Pelo jeito não tem ninguém em casa, vou descer e tomar café. Esteja lá embaixo com uma

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roupa confortável em quinze minutos.

Era só ela fazer voz de médica que lá estava eu obedecendo. Na verdade eu não estava sozinha em casa,
Beca dormia em seu quarto, não foi trabalhar porque ainda estava com virose, mas não falei nada a Julia. Eu
não tinha nada para fazer e tampouco estava disposta a ficar em casa me entupindo de comida e chorando,
por isso aceitei o convite mesmo o destino sendo ignorado por minha pessoa. Em pouco tempo desci as
escadarias usando uma calça de ginástica que ainda me entrava, blusa e casaco de moletom mais larguinho.
Júlia me olhou de um jeito estranho.

-- Vamos?

-- Sim, sim, vamos! –Engraçado, ela parecia estar em outro lugar quando chamei sua atenção, mas não tirava
os olhos de mim.

A única certeza que tive é que íamos para um lugar distante. Julia estava motorizada com um jipe verde que
eu ignorava o dono. No banco de trás do carro havia uma mochila grande, Julia colocou um boné e tomou o
lugar do carona.

-- Você se incomoda de dirigir? Eu vou falando o caminho.

-- Você não sabe dirigir?

-- Carro eu não pego para dirigir desde... Desde o acidente da minha mulher. Quem trouxe o carro até aqui
foi um colega meu. Você se incomoda de levar?

-- Não. Afinal para onde estamos indo?

-- Deixa de ser chata garota, já disse que o mais importante você já sabe. Vai ter o privilégio de dividir
algumas horas da sua vida besta com a minha agradável companhia.

-- Não se esqueça que quem invadiu a casa alheia querendo a companhia da chata que tem uma vida besta
aqui foi você.

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Coloquei o carro em movimento.

-- Quem disse? – Irônica. - Tenho uma coisinha para confessar, estava atrás da bebê, você faz parte do
pacote sabe quando a gente compra o MC Lanche Feliz só por causa do brinquedo legal?

-- Já que estamos em fase confissões, eu confesso que você é sacal, Júlia!

Seguimos o caminho inteiro brincando, falando sobre coisas amenas. Eu falava bastante sobre São Paulo e
meus amigos. Falei também sobre Bruno, Rebeca, Isa. Julia me perguntava coisas sobre João.

-- Ele parece comigo?

-- Tem o seu jeito, mas de cara assim é o Bruno todinho.

-- Sério? Então esse garoto tem mesmo motivo pra me odiar. – Nós duas rimos. – E de filme, ele gosta?

-- A gente assiste muito série médica. Ele se amarra em House. Também gosta de séries tipo Lost, gosta de
filme de época, mitologia, RPG, gosta de vídeo game.

-- RPG? Ótimo, vou ter que fazer um cursinho para ter o que conversar com meu filho. – Dei uma risadinha. –
Capaz dele me tomar como uma selvagem. Ele pergunta de mim?

-- Diretamente não.

-- É bem meu filho mesmo. Se fosse eu , acho que fazia a mesma coisa. – Confessou. – Minha mãe me
deixou com uma semana de vida, não ia falar nada e se aparecesse mandava um bico na cara... – Ela parou o
carro próximo a uma estradinha de terra. – Chegamos na primeira parte, agora é só descer a trilha.

-- Descer a trilha?

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-- Não é nem cinco minutos de caminhada. Não vai fazer mal para o bebê.

O sol estava bem fraquinho. Julia ajeitou o boné na cabeça e fomos caminhando em silêncio. A mata parecia
se fechar cada vez mais e eu fui ficando com medo.

-- Júlia, me diz, por favor, que você não é uma serial killer que assassina grávidas.

-- Alice, não sou uma assassina. – Julia esbravejou em um tom sério para depois me jogar um olhar meio
surtado. – Só gosto de fazer o ritual do fogo com elas.

-- QUE?

Júlia deu uma risada.

-- Velho, você é muito boba! Vamos!

Em menos de quinze minutos chegamos na beirada do Ribeirão que atravessava boa parte da cidade e que
dava uma vista linda para quem estava de longe pois cortava-se entre vários penhascos.

-- Júlia, que trabalho é esse? - Perguntei confusa. Lá só tinha uma garoto por volta dos dezoito anos com um
barco. – Olha, se for brincadeira...

-- Quanto tempo você esta morando em Silvéster?

-- Três meses. Por quê?

-- E não conhece a Vila Miséria?

Não, não conhecia. Apenas de nome para falar a verdade. Diziam que Vila Miséria era um vilarejo muito
pobre que ficava na outra margem do rio que dividia Silvéster no meio. Ouvi falar do nome na época que
estava atendendo na clínica, mas nunca tinha ido até lá pessoalmente.

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-- O que nós vamos fazer em Vila Miséria?

-- Trabalhar, já disse... – Pela minha cara de interrogação Julia logo adivinhou qual seria minha próxima
pergunta. Vamos de barco, colega, quanto é a travessia? – Ela perguntou ao garoto. Barco? Ok, agora
vocês vão me chamar de caipirona, mas eu nunca tinha andando de barco na vida. E aquilo nem era um
barco, mas sim uma canoa descoberta e motorizada. Será que aguentaria ao garoto, Julia e eu? – Respira,
coisa nervosa, ele sabe controlar isso.

Quando subi naquela armação de madeira e senti a estabilidade do chão desaparecer senti um friozinho na
barriga. Sem dificuldades Julia colocou a navegação em movimento e quando dei por mim estávamos cercada
de águas por todos os lados. Eu parecia uma criança boba sorrindo, colocando minha mão na água, deixando
molhar meu próprio rosto.

O rádio de pilhas do menino tocava uma música de melodia suave e Julia parecia concentrada na paisagem do
rio, nas águas que só escutou quando eu chamei pela segunda vez.

Porque se chamava moço


Também se chamava estrada
Viagem de ventania
Nem lembra se olhou pra trás
Ao primeiro passo, aço, aço....

-- Lá em Manaus vocês usam muito o rio, né? – Perguntei brincando com a água. – Sentindo falta?

-- Sim, mas também sinto falta da cidade. É tão diferente de São Paulo, as pessoas são mais atenciosas, mais
educadas. Em São Paulo as pessoas tem pouco tempo para ser educadas. Os parques são tão bonitos,
Jardim Botânico. O Teatro Amazonas. – Saudosa. - Nunca fui de ligar muito para teatro, mas Teatro
Amazonas foi o mais bonito que eu já vi na vida. Tipo, é uma cidade como qualquer outra do Brasil com tudo
misturado, mas mesmo dentro de um shopping center lá eu me sentia parte da natureza, sabe?

Porque se chamava homem


Também se chamavam sonhos
E sonhos não envelhecem
Em meio a tantos gases
lacrimogênios
Ficam calmos, calmos, calmos
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-- Não parece que você ia muito á shopping center.

Julia me deu um sorriso.

E lá se vai mais um dia

E basta contar compasso


e basta contar consigo
Que a chama não tem pavio
De tudo se faz canção
E o coração
Na curva de um rio, rio...

-- Eu acho que virei um pouco mais índia do que os índios.

Ficamos em silêncio, apenas curtindo a melodia da canção que saia do radinho de pilhas.

E lá se vai mais um dia

E o Rio de asfalto e gente


Entorna pelas ladeiras
Entope o meio fio
Esquina mais de um milhão
Quero ver então a gente,
gente, gente...

Para minha tristeza o caminho pelo rio foi bem mais curto do que pela estrada. Em poucos minutos
alcançamos a outra margem. A primeira paisagem que vi foram de casinhas em caminho de palafitas.
Construídas provisoriamente, até portas de guarda roupa, pedaços de cômoda velha, móveis em desuso se
transformavam nas paredes das casinhas. Muitas crianças brincavam na porta de casa, a maioria de fralda,
calcinha e cueca. Tudo ali era muito pobre e miseravelmente. Me senti bem vestida demais perto das mulheres
dali. A maioria das pessoas judiadas ou pelo tempo, ou pela vida difícil que deviam levar.

-- Nossa, esta muito pior do que antes. – Julia me sussurrou.

-- Não imaginava que fosse assim... – Eu admiti ainda assustada pela penúria das casinhas. – Não mesmo...

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-- A gente tem muito o que fazer, vem...

Assim que colocamos os pés para fora do barco, aquele mundaréu de criança veio em cima de nós. Algumas
brincar, outras davam beijo, no fundo o sentimento que compartilhavam era único: carência. Pelo jeito até o
Estado esquecia deles. Julia aproveitava e brincava com os meninos e já fazia a consulta. Uma das cenas que
mais tocou aquele dia foi Julia consultando um menininho de cinco anos que tinha esquistossomose estava no
colo da mãe com uma bola de futebol.

-- Não quero tomar remédio. – O menininho dizia chorando. – É amargo...

-- Qual é seu nome?

-- Ronaldo.

-- Ronaldo. – Julia repetiu um pouco reflexiva. – Nome de craque de bola, hein garoto? Já viu o Ronaldo? –
O menininho fez um gesto afirmativo. – E você gosta de jogar bola que nem ele? – Ronaldo confirmou mais
uma vez. – Então a tia vai deixar esse remédio com a sua mãe e você toma direitinho nos horários certos que
a mamãe mandar pra barriguinha diminuir e ficar mais fácil de você driblar e fazer muito gol. Promete para a
tia?

Por fim Ronaldo assentiu com a cabeça arrancando um sorriso de Julia e outro meu. Passamos a manhã quase
toda lá, consultando não só crianças, mas também adultos, distribuindo remédios que estavam em falta e Julia
também levou alguns preservativos. Saímos com a maior galera nos dando tchau na margem do rio. A última
vez que tinha sentindo orgulho de ser médica foi após salvar aquela menininha no parto no dia em que
descobri que iria ter um bebê. Tive a mesma sensação prazerosa de quando fiz aquele parto e que a muito
tempo estava sentindo falta.

-- Você sempre fazia isso quando morava aqui?

Julia me confirmou com um gesto de cabeça.

-- Desde de criança. Meu vô pegava eu e a Natinha e trazia gente pra cá. Eu tinha uns onze anos, a Natinha
oito... – Não estava preparada para falar sobre a Natália e minha cara logo demonstrou isso. – Toquei em um
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assunto proibido?

-- Não. Só sua irmã que é uma idiota. – Falei ressentida. – Você não tem nada com isso.

-- A Natinha estava nervosa ontem... Eu conheço a minha irmã. Vocês precisam conversar.

-- Não tenho que conversar nada com ela. – E por fim revelei. - Sua irmã ficou com outra mulher.

-- O que?

-- A Natália ficou com outra mulher.

Oras, eu precisava desabafar e ela estava ali. Naquele momento já tínhamos acabado de fazer a caminho de
volta ao carro e ocupávamos nossos lugares, mas eu preferi terminar a conversa antes de pegar a estrada.
Contei toda minha conversa com Nat para Julia, ela me encarou de um jeito misterioso.

-- Eu sei que ela é sua irmã, mas é uma cachorra Julia!

Julia fez um gesto afirmativo.

-- Olha, não é querendo defender a causa não, mas a Nat... Ela se sentiu insegura. A gente esta afastada há
muito tempo, mas pelo que eu conheço da minha irmã, ela deve estar toda angustiada, sem ninguém para
conversar direito sobre o que esta passando na cabeça dela. Ela faz cara feia de brava pra gente ter medo,
mas no fundo ela só... Quando eu descobri que eu gostava de outras meninas, eu ainda era pré adolescente...
Agora nessa idade, depois de um casamento.

-- Casamento?

-- A Nat nunca te contou que foi casada? – Julia me perguntou quase me fazendo cair pra trás. – Quando eu
sai daqui ela era nova, só tinha 22 anos, estava namorando com esse cara. Era um amigo nosso. Encontrei
com ele há uns quatro... Não, cinco anos atrás em Manaus, ele estava em um hotel e estava saindo com uma

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turista, enfim... Eles já tinham separado, mas foram casados por dois anos.

-- Ela nunca tinha me contado isso...

-- E você perguntou?

Sem graça fiz um gesto afirmativo.

-- Isso não é desculpa! – Respondi com raiva. Não sei se raiva de mim ou de Nat. Agora entendia o que ela
quis dizer sobre não esclarecer regras do jogo. Sempre deixei todos os trâmites de seja lá o que for que eu
tinha com a Nat nas mãos dela por julga-la mais experiente do que eu em uma relação de mulheres e no fundo
ela devia também estar lidando com insegurança, com medo sem eu nem me tocar. Eu também sou adivinho
para saber o que passa na cabeça dela? – Repito, sua irmã é uma idiota.

-- Pode falar mal dela a vontade. Faz bem a raiva pelo menos sai.

-- Ontem eu me segurei para não quebrar aquele narizinho perfeito dela. – Julia olhou para minha e segurou o
riso. – Me segurei mesmo. Que ódio daquele nariz todo certinho...

Dessa vez Julia deu uma gargalhada com apetite da minha cara.

-- Que foi?

-- Nada. – Ela comentou rindo. – Continua ai falando.

-- Não, agora você vai falar o que é!

Julia deu uma nova gargalhada, quando estava quase conseguindo parar de rir, lembrava do que ia me contar
e voltava a rir de novo.

-- Fala logo, Julia!

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-- Não vai contar que eu te contei senão a Nat me mata!

-- Conta!

-- O nariz perfeito. – Deu uma risada. – É plástica.

-- QUE?

-- Plástica. – Julia chorava de rir. – A gente era criança e estávamos doidas pra ver uma cirurgia. Meu vô
guardava uma caixa em cima do guarda roupa que a gente jurava que era bisturi, lâmina e ela fazia o maior
mistério com aquela caixa. Eu inventei de pegar para operar as bonecas. – Eu ri já me divertindo com a
peraltice das duas. – Como estava muito alto, eu inventei de por a Nat no meu ombro e ela pegar a caixa, mas
eu era gordinha, não forte. Não aguentamos o peso, nós duas caímos em cima do berço do Bruno e a caixa
caiu na cara da Nat e ela quebrou o nariz.

Desde crianças juntas já tiravam a paz alheia. Só rindo mesmo. Eu sentia falta disso, de ter uma história com
uma irmã. O mais próximo que cheguei foram as histórias com minha prima Silvinha. O nariz perfeito era
plástica. Além de tudo, farsante de nariz.

-- Não esperava que um dia a Nat foi levada na vida...

Julia me encarou divertida.

-- Quer dizer que de mim você espera o pior?

Sempre.

-- Você nem precisa falar nada, tem cara de levada até hoje... O Bruno então...

Julia deu um sorriso que me soou como uma confissão.


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-- Eu era do tipo que saia na rua e falava com todo mundo sabe... Desde a madame até o mendigo...

-- E eu tenho certeza que gostava de falar muito mais com o mendigo...

Julia assentiu com a cabeça.

-- Era Maria Moleque, não gostava de escola, era apopular da turma, trocava o F pelo B e chamava minha
professora de tia Batmãn em vez de tia Fátima.

Nós duas rimos.

-- Eu sempre fui quietinha, até esquecia que eu era da sala. Só um outro babaca vinha falar comigo quando
queria copiar minha lição.

-- Eu era a babaca que sempre queria copiar a lição...

-- E seu vô não ralhou com vocês porque foram mexer nas lâminas e no bisturi?

-- Não tinha lâmina nem bisturi.

-- O que era então escondido?

-- A playboy da Hortênsia.

Nós duas rimos. Me preparei para dar partida no carro, mas antes Julia interrompeu meu gesto.

-- Alice, eu tenho que te falar uma coisa...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- O que?

-- Na verdade teve um pouco de interesse nesse nosso programa que eu fiz hoje.

Ih, meu Deus...

-- Interesse?

-- É, é que... Eu nem sei se eu tenho direito de te pedir isso, mas é que você é a pessoa que eu tenho mais
falado de Silvéster. Fora a Duarte.

-- O que você quer me pedir?

-- É que eu queria ver minha avó. – Ela me revelou. - Só que eu não sei se tenho coragem de ir lá sozinha.
Você pode ir comigo?

Tinha como dizer não depois daquela manhã? A casa da avó de Julia, Dona Regina era uma fazenda enorme e
linda. Quando dona Regina viu a neta achei que ela ia desmaiar, mas logo depois caiu nos braços de Julia aos
pratos ao mesmo tempo que resmungava e dava broncas.

-- Eu não devia olhar para sua cara! Ingrata! Achei que ia morrer sem rever minha neta...

-- Vem com essa não, a senhora ainda vai me enterrar, velha!

-- Velha não, velha esta sua avó! – Dona Regina cortou de um jeito engraçado. – No caso, eu! - Júlia deu
uma risada. - Olha aqui menina, respeite meus cabelos brancos. Tingidos, porém brancos.

Acabamos passando á tarde toda lá. Dona Regina era um amor de pessoa e tinha um senso de humor incrível
e como toda parenta mais velha adorava meter o bedelho na vida dos outros.

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-- Julia, mas como você esta magrinha... – Magrinha? Oi? - E essa moça bonita? – Olhou para mim. - Ela
sempre teve bom gosto para namorada...

-- Não, na verdade a senhora já me conhece, eu sou Alice...

-- Namorada dela.

-- Vó, a Alice é minha amiga.

-- Não liga. – Dona Regina disse a mim. – Meus netos tem uma dificuldade em se relacionar, mas são boas
pessoas. A Julia é um amor de garota... – Eu ri um pouco tímida. – Ela faz as besteiras dela, mas é uma boa
menina... – A Julia. – Julinha, você ainda gosta de lasanha? Vou preparar mandar uma apara o almoço.

-- Vó, não esquenta.

-- Quem vai esquentar em minha empregada... Vem cá mais pertinho da vó...

Só consegui sair da casa de dona Regina de noite. O motorista me levou até em casa. Julia ficou para dormir
na avó. Quando estávamos saindo, dona Regina comentou displicente que estava com dor no peito.

-- Pode ir minha filha, não quero te prender.

-- Endoidou, vó? Vou ficar aqui com a senhora... – Reencostou no peito de dona Regina. – O que a senhora
esta sentindo?

-- Um apertão assim, sabe? - Julia estava tão concentrada que nem observou que sua avó aproveitou para
fazer um cafuné em sua cabeça como há muito tempo não devia fazer e me mandou uma piscada cúmplice. -
Uma dor...

Cheguei em casa, Bruno colocava Laísa para dormir e Beca terminava de jantar.
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-- Finalmente, hein? Onde você passou o dia?

-- Com a Julia.

-- Trocou de vez de irmã? – Beca me perguntou rindo. – Pelo menos vamos continuar concunhadinhas!

-- Para Rebeca! A Julia e eu somos só amigas.

-- Amigas? Jura que até agora ela não lembrou de você?

-- Menina, lembrou nada. E olha que eu achei que ela estava mais sóbria que eu no dia...

-- Vai ver não te reconheceu vestida.

-- Rebeca!

-- Verdade, ué! E a Nat nisso tudo? – Lá fui eu repetir a história toda outra vez. – Filha duma...

-- Eu sei...

-- E você?

-- Acho que eu nasci pra gostar de complicação, viu?!

-- Mas e a Júlia? Nem vem com essa que ela é amiga. Eu tenho olho e sei que rola algo a mais...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Atração passa.

-- Mas ainda não passou?

-- Me deixa Beca, tive um dia cheio, vou dormir. Já jantei.

Despedi da minha amiga com um beijo no rosto tomei um banho e fui me deitar. No caminho ainda cruzei com
Bruno, dei boa noite e fui dormir. Acordei de madruga sentindo minha barriga mexer. Me sentei na cama e
senti as pernas molhadas. O lençol que minha cobria havia uma leve mancha. De sangue para meu desespero.

-- SOCORROOOOOOOOOO!

End Notes:

Bom... Agora vou fazer um papel que não costumo não fazer muito, mas... Como me
considero "mãe"de todas as minhas personagens, vou defender um pouquinho uma
das minhas filhas, a Nat... As pessoas erram gente.. Levem em consideração antes de
julgarem. kkkkkkkkkkkkk Mais uma vez obrigada pelo carinho de sempre! conto
com vcs!! bjoss!

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Capítulo 19 by Tamaracae

Author's Notes:

Meninas, não to conseguindo responder todos os comentários, mas leio todos com
muita ateção, obrigada mesmo pelo carinho, comecei a escrever essa história um
pouco desacreditada e triste, até minha auto estima mudou depois da Alice,
companhia e principalmente depois de vcs, muito obrigada mesmo!

Eu ainda estava de olhos fechados e a primeira sensação que tive foi de que meu corpo estava imerso na
água, como se eu estivesse em um rio, mar ou piscina. Estiquei minhas pernas e toquei em algo que parecia
piso, mas não era. Senti uma água quente e borbulhante acariciando todo o meu corpo dando uma sensação
incrível de prazer. Estava em uma banheira jacuzzzi de um banheiro que era totalmente oposto do banheiro da
minha casa, enorme, cheio de toalhas e tapetes felpudos, um roupão confortável para eu vestir quando saísse
do banho e um espelho enorme no teto.

Minha barriguinha de cinco meses ainda estava ali então não tinha perdido o bebê. Fiquei ali, curtindo minha
filhinha quando alguém bateu na porta. Bateram na porta do banheiro? Não era mesmo a minha casa. Cobri
meu busto com espuma do banho, relaxei ainda mais na banheira e então ordenei:

-- Pode entrar...

Quase me afoguei na água quando vi aquela cena. Isa, uniformizada de empregada doméstica e cabisbaixa
entrou trazendo uma bandeja com um balde com pedras de gelo e champanhe entrou cabisbaixa.

-- Doutora Alice, onde deixo seu pedido...

-- Isa?

-- Sua empregada... – Não estava entendendo, mas minha alma de bicha má me fez soltar uma gargalhada
quando a ouvi falar aquilo. – Deseja mais alguma coisa?

-- Você tem cirurgias hoje?

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-- Sim senhora, um transplante de coração marcado para as três.

-- Não tem mais. – Ordenei. - Agora é MEU!

-- Sim senhora!

Isa praticamente me entregando de bandejas suas cirurgias? Meu Deus,o que aconteceu com o mundo que
ninguém me disse nada? Ela saiu e me deixou só. Não fazi ideia onde fui me meter, mas não tinha o que
reclamar não. Delícia de champanhe. Outra batida na porta.

-- Pode entrar.

Não segurei a gargalhada que me subiu pelo estomago e tomou meu corpo inteiro quando Pedro Henrique, o
safado do meu ex noivo, chegou usando uma roupinha de mordomo.

-- Você?

-- Desculpe interrompe-la doutora Alice. Só queria avisar que as ajudantes de banho chegaram... Posso
manda-las entrarem?

-- Pode, pode...

Posso confessar? Amei ver o Pedro Henrique com o rabinho entre as pernas. Mais perfeito que isso só se eu
sambasse Tico Tico no Fubá em cima do caixão dele. Agora estava ansiosa mesmo era com o que viria mais.
Julia e Natália praticamente se materializaram na minha frente. As duas vestidas iguais, usavam um roupão
branco, atoalhado e felpudo. Eu parecia uma criança em um parque de diversões que não sabe se vai para a
montanha russa ou roda gigante. Fiquei ali em pé parada, esperando alguma manifestação.

-- Vocês não fazer eu escolher... Vão? – As duas trocaram um olhar cúmplice. Se elas mandassem eu
escolher, o que eu ia fazer? Fechar meus olhos e jogar “minha-mãe-mandou”? Mandar elas tirarem par ou
ímpar? Murphy é tão troll comigo que quando acha de me mandar alguém que vale a pena me manda duas
pra eu ficar mais tonta do que eu já sou. – Eu tenho que escolher, é isso?

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-- Alguém aqui falou em escolher? – Julia perguntou com aquele tom cínico que quando ela queria era mestra
em fazer. – Você perguntou, Nat?

-- Não. Você perguntou?

Julia deu um meio sorriso.

-- Também não...

-- Afinal de contas, o que vocês vieram fazer aqui? – Perguntei já cheia de tanta cobrança. – Eu vou ter que
decidir?

-- Não ouviu o paspalho do mordomo não? – Nat perguntou tirando o roupão e revelando um lingerie branca
de renda que contrastava com sua pele negra. A visão daquela mulher escultural seminua na minha frente
deslocou meu maxilar e foi parar no chão. Ainda para piorar (ou melhorar) Nat entrou na banheira, pegou um
dos sabonetinhos que estavam próximos e começou a passar no meu colo me provocando absurdamente. –
Viemos ajudar no banho.

A filha da mãe sabia como me deixar com vontade direitinho. A Julia, se você não sair desse banheiro agora
vai presenciar uma cena de sexo lésbico nesse instante e... Antes que eu pudesse pensar em perguntar onde
diabos a Julia estava, senti uma mão grande e ao mesmo tempo delicada tocar minha cintura e um corpo forte
se encaixar no meu por trás.

-- Erva doce ou chocolate? – Julia dava uma mordida de leve na minha orelha fazendo meu juízo se mudar
para Vênus. Sabe aquele sujeito(a) que sabe pegar e mandar bem? Essa era Julia. Ela usava uma lingerie
preta que cassava muito bem com seu corpo atlético. Estremeci completamente quando a língua de Julia
invadiu o meu pescoço e ela deixou os dedos escorrerem displicentemente para o meu sexo que já estava
pulsante pedindo para ser tocada. Assustada, olhei crente que Natália ia nos esbofetear ou algo parecido, mas
fui surpreendida com um beijo que estudava toda minha boca. As mãos de Natália massageavam os meus
seios e logo a boca ocupou o lugar das mãos, Julia aproveitou que irmã tinha desocupado o lugar e tomou os
meus lábios de um jeito doce e sensual me acendendo por inteira. Enlouqueci quando sentia língua de Nat
tocando meu abdômen e os lábios de Julia beijando meus ombros.

-- Ai meu Deus... Ai meu Deus... – Eu soltava em um tom quase displicente. - Aiiii meu Deus...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- ALICINHA? AI QUE BOM QUE VOCÊ ACORDOU!

Tia Junia disse com sua voz cheia de pigarro. Tia Junia? Abri os olhos e me deparei com os olhos de Tia Junia
mirando os meus por de trás daqueles óculos de lentes e armação grossa. Ao lado estava Duarte e Roseli, a
enfermeira papa interno me dando um banho de gato com uma toalhinha úmida substituindo a espuma e os
sabonetes aromatizantes do meu banho dos sonhos.

Não tinha nem Natália e nem Julia. Sim eu tive um sonho erótico com duas irmãs. Sou praticamente a ovelha
ofertada a Deus que desencadeou o ódio de Caim por Abel. Sou uma indecisa, uma depravada, sem
vergonha, mas vocês tem que me amar e me aceitar assim porque eu sou a protagonista da história e tenho
dito.

Olhei para o teto e não encontrei o espelho, mas sim o pé direito altíssimo dos quartos dos pacientes do
Alonso Franco. A pintura era marrom clarinha e estava descascada. Interessante...

-- Alice, fala alguma coisa,esta tudo bem? – Duarte me perguntou sem usar aquele tom de Capitão
Nascimento que normalmente ela usava com os internos. – Alice?

-- Tu-tudo bem... – Balbuciei ainda em depressão devido a minha realidade. – E o bebê? Perguntei
preocupada. – Eu não perdi, perdi?

Só de pensar nessa hipótese meu coração já gelou. Eu não tinha família direito, a maior parte da minha vida
vivi sozinha, minha vida amorosa era um desastre... Sempre desejei alguém para partilhar minhas alegrias,
poder apertar, amar sem ter medo agora que chegamos já tão longe minha filhinha não podia simplesmente
deixar de existir.

-- Não. – Duarte me tranquilizou com um sorriso maternal. – Agradeça aos seus amigos que te trouxeram e a
Rebeca que bipou logo para a Monique vir te atender. – Você teve um alarme falso, a Monique quando vir
pode te explicar melhor, mas a recomendação é repouso absoluto assim você não corre mais perigo.

-- Quer dizer que ela pode nascer prematura?

-- Alice, foi só uma ameaça, fica tranquila... Nós ligamos para sua prima, mas como ela estava viajando pediu
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para sua tia vir... – Roseli me disse enquanto terminava de enxugar minhas pernas. – Ficamos preocupadas,
você estava falando dormindo...

-- Chamando por Deus. – Tia Junia me disse com um sorriso angelical. – De certo estava sonhando com os
anjos...

Meu rosto ficou vermelho, Duarte me olhou com uma expressão meio cúmplice.

-- Sonhei que estava rezando... – Menti. – Dois anjos me abraçavam...

-- Eu vou deixar vocês a vontade, vamos Roseli?

-- Vamos...

Instintivamente fiquei acariciando minha barriga pedindo para minha feijãozinha segurar um pouco a onda dela
e esperar os pulmõezinhos e todos os outros órgãos se formarem corretamente para ela nascer sem nenhuma
complicação.

-- Tia, tem mais alguém do lado de fora esperando notícias ou esta só a senhora mesmo?

-- Alicinha, você é muito querida por seus amigos. Tem um rapaz e uma moça que são namoros, mas devem
ter brigado esperando por notícias suas. – Bruno e Rebeca. – Uma outra mocinha mal humorada também. –
Isa. – E aquela outra doutora importante que foi jantar na casa do seu tio, a Natália...

-- A Natália?

-- Quer que eu a chame? Achamos melhor só ficar eu aqui para você descansar, mas se quiser...

-- Não! – Respondi de imediato. - Não quero falar com ela!

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-- Alice, ela estava preocupada com você...

-- Ela é uma idiota.

-- Então você namora com uma idiota? – Minha tia me perguntou fazendo eu quase cair da cama. Não
imaginava que tia Junia estivesse tão por dentro da minha vida amorosa. Adivinhando minha surpresa ela ainda
soltou. – Você, a Silvinha são tão bobas viu... Só por que eu sou velha, vocês acham que não tenho olho? –
Ela me questionou divertida com minha cara de pamonha. – Eu estava no jardim quando aquela moça te levou
em casa no dia da chuvarada e depois vocês duas no jantar que seu tio fez pra mãe dela.

-- Desculpa tia... É que... Eu não queria chocar a senhora nem nada...

Tia Junia se acomodou em uma cadeira ao meu lado, fazia um cafuné gostoso de vó na minha cabeça
enquanto me perguntava.

-- Alice, posso te contar uma coisa?

-- Pode, tia.

-- Eu beijei uma mulher... – Cataplof! A trilha sonora dessa cena devia ser aquela música “Meu mundo
caiu...” A tia Junia? A tia Junia? A tia Junia. – Fica tranquila, não foi na semana passada... Eu tinha vinte anos.
Sabe, foi uma das sensações mais incríveis que já tive na vida, você se espanta com a delicadeza, com o
doce, com tudo não é mesmo? – Ainda sem conseguir recolher meu queixo do chão, fiz apenas um gesto
afirmativo. – E quer saber de mais uma coisa? – O que ela pode esconder mais do que isso? Será que ela
participou da formação original do Rolling Stones, foi do movimento estudantil na época da ditadura ou algo
do tipo? – Eu não fiquei só no beijo, menina eu me apaixonei... E olha que na minha época era bem mais dificil
do que com vocês... Ela era divertida, era inteligente, brigava comigo e logo estava atrás de mim... Me
amolava, tirava do sério, mas eu adorava ver o sorriso daquela diaba... Você gosta dessa Natália?

-- Eu acho que eu sou apaixonada por ela tia... – Não acredito que estava falando sobre minha vida amorosa
para minha tia de 82 anos. – Mas ela me machucou muito...

-- E a outra, a doutora sexy? – O que tá acontecendo com essas velhinhas hein? – Desculpa, mas nesse
hospital parece que não se fala em outra coisa... É Alice com a chefe bonito para cá, Alice com a doutora
sexy pra lá... Eu tenho ouvidos...
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-- A Julia é minha amiga tia... – Tia Junia me olhou de um jeito questionador. – Ok, eu sinto atração por ela,
ela é uma mulher bonita, engraçada, interessante, mas é só minha amiga.

-- Posso te contar porque eu não fiquei com essa mulher?

-- Por causa do titio?

Tia Junia fez um gesto afirmativo com a cabeça.

-- Por causa do seu tio. Apesar de eu me apaixonar, de eu gostar do beijo dela, do jeito que ela me tocava...
Não era amor... Paixão, Alice, um dia passa e atração também... Mas amor...

-- Mas o que eu faço? – Perguntei esquecendo que ela era minha tia falando como se estivesse falando com a
Rebeca ou com a Silvinha. – Eu gosto das duas, mas não consigo escolher...

-- Alice por que você toma essa responsabilidade para você? Por que você tem que escolher?

-- O que? – Minha tia estava sugerindo que eu ficasse com as duas? – Como assim?

-- Deixa as coisas acontecerem minha filha. Nunca se obrigue a ficar com uma ou com outra. Talvez a Natália
seja o amor da sua vida, talvez seja a outra, ou talvez daqui á seis meses, você pode estar morando em outro
lugar se apaixonando por outra pessoa... Alice, a única pessoa que você realmente precisa se preocupar
agora é com a sua filha, o resto... O resto minha filha vai se acertando aos poucos. – Ela me fez um carinho no
rosto. – Eu sei que conselho se fosse bom seria vendido, mas mesmo assim eu vou te dar um... Essa moça
que esta aí fora ela parece preocupada, ela amanheceu aqui, tem certeza que não quer que ela entre?

Droga, se a Natália não entrasse quem ia ficar preocupada era eu. Meio contra minha vontade fiz um gesto
afirmativo e tia Junia sorriu como se aprovasse a minha decisão.

-- Tia, espera um pouco, se a senhora já sabia de mim, da Silvinha, por que não falou antes?

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-- Vocês nunca me perguntaram nada, uai, respeitei a vontade de vocês... – Ela me deu um meio sorriso e
disse. – Vou lá chamara a moça...

Natália entrou em meu quarto com uma expressão culpa. Alias após o flagra da amiga Marisa no apartamento
essa parecia ser sua expressão rotineira. Não consegui visualizar o nariz (de plástica) em pé e nem sua altivez
tão comum, sinal de que estava cansada.

-- Tudo bem com você, Alice?

-- O que você veio fazer aqui? – Perguntei friamente. – Segundo a Duarte agora estou bem...

-- O Bruno me ligou, eu fiquei preocupada com você ou de acontecer alguma coisa com o bebê. A Duarte
contou que a Monique teve que fazer cerclagem...

-- Eu ainda não falei com a Monique, mas pelo que a Duarte me contou eu preciso fazer repouso. – Expliquei
– Eu quero te fazer um pedido...

-- O que você quiser. – Natália me garantiu segurando a minha mão. – Qualquer coisa que você me pedir...

-- Vai pra casa, Natália, por favor... Você esta cansada.

-- Não, não vou te deixar sozinha... Alice, eu sei que você esta chateada comigo... - Chateada? Eufemismo
ainda é pouco para definir esse “chateada”. – Me dá uma trégua... Me deixa ficar aqui com você...

Antes de eu responder a porta se abriu. Minha tia entrava acompanhada de Julia. Eu já estava começando era
achar que tia Junia estava querendo ver o circo pegar fogo comigo dentro. Por outro lado, quando vi a Julia
entrando por aquela porta não segurei um sorriso franco. Julia me sorriu de volta.

-- Você com a minha avó são uma quadrilha e nem vem fazer esse número de “ai estou doente”, não que eu
não caio mais. Só vim aqui por causa da bebezinha... – Ela falou daquele jeito brincalhão. Natália olhou para
nós duas, Julia cumprimentou Nat. – Como ela esta? A Duarte me explicou mais ou menos... Desculpa dona

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Junia, tudo bem com a senhora?

-- Julinha, quanto tempo! - Tia Junia apertou as bochechas de Julia com se ela tivesse seis anos de idade. -
Lembro de você ainda menina pulando o muro da minha casa pra roubar jabuticaba e amora lá do quintal...

-- Ela esta fora de perigo, precisa de repouso. – Natália respondeu friamente à irmã. – Você foi visitar a
vovó?

-- Você não vai tem que vá, garota ingrata! – Dona Regina entrava no meu quarto junto de minha tia Junia,
encheu Natália de beijos. – Vem cá, amor de vovó... - Natália deu um sorriso, Regina abraçou cada neta de
um lado. – Meus dois amores, o meu netinho lá fora salvando vidas... Faz tanto tempo que não me sinto tão
feliz assim... E a minha norinha barrigudinha, como esta?

-- Norinha barrigudinha? – Natália questionou.

-- A Alice é um mimo de garota, Natália, apareceu com a sua irmã hoje à tarde... Alice, por que você não me
disse que era sobrinha da Junia?

A coitada da Julia não sabia onde enfiar a cara.

-- Vó, a Alice é minha amiga... - Julia interrompeu.

-- AAAh! Vocês são cheia de nove horas! – Dona Regina comentou com seu jeito turrão.- Junia e eu fomos
muito amigas vocês sabiam?

-- Verdade! – Tia Junia concordou dando uma risadinha para Dona Regina. – A gente não se desgrudava,
lembra Regina, a gente ia pro cinema juntas, pra pracinha... Tomar sorvete... Banho de rio...

-- Pular carnaval... Lembra aquele carnaval que eu estava de sarongue e você foi de odalisca, Junia?

-- Oooooooh, como me lembro!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- E o banho de champanhe...

Só me faltava essa a tia Junia ter pegado a dona Regina.

-- Vóóóóó... – Julia advertiu.

-- Que é? Acha que foi a única que teve vinte anos na vida?! - Natália, Julia e eu nos segurávamos para não
rir com a bronca. - Só por que fiquei velha perdi o direito a ter juventude agora? Vem Junia, vamos tomar um
café e relembrar os bons tempos...

As duas saíram fofocando e nós três ficamos em silêncio.

-- Uma coisa muito louca passou pela minha cabeça agora... - Júlia quebrou o silêncio. - Alice, sem ofensas...
Nat, você acha que teve a possibilidade da vovó ter dado um grau na tia Junia no banho de champanhe? Mais
uma vez, com todo respeito, Alice!

Dessa vez não aguentamos e caímos as três na gargalhada só interrompemos com a chegada de Monique no
quarto para me avaliar.

-- Tudo bem, mamãe? Oiiii!!!

-- Oi Doutora Monique, quem vai me dizer se esta tudo bem é você...

-- Alice, diagnosticamos uma insuficiência uterina que até então não tinha apresentado sinal nenhum na ultra e
nem na eco... Eu precisei dar uns pontos e fazer a cerclagem...

-- Elas ainda correm perigo, doutora Monique? – Julia perguntou.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Acho que agora a gente pode respirar aliviada. Ela esta na 19º semana, esta sendo acompanhada, foi
atendida rápido... Ela precisa agora de repouso. – Monique deu um sorriso todo mole a Julia. – E pode me
chamar de Monique, Julia... Somos colegas de trabalho.

E ficou ali com um papo furado com a Julia que não tinha fim como se a Natália e eu não existíssemos. A
Monique era competente, era boa professora, parecia ser alguém interessante, mas não tinha nada ver com a
Julia. Tenho certeza que a Julia não ia se interessar por aquela patricinha passada da idade. Fora que aquele
jeito dela de falar como se todo mundo fosse bebê também me irritava. Eu tive um pouco de remorso depois
que a Monique foi embora, a Julia era livre e tinha todo o direito de querer quem bem entendesse. Não
precisava ser na minha frente, mas que ela tinha direito ela tinha...

-- Bom, vocês devem querer ficar sozinhas, só vim ver se você estava bem e já vou, tá bom?

-- Ah não Julia, fica um pouco... Espera eu pegar no sono... – Natália fitou nós duas. – Você também Nat,
fica...

As duas se entreolharam e Julia se acomodou meio sentada na minha cama. Adormeci com Julia segurando a
minha mãe e Nat velando meu sono. Não estava precisando de uma companhia romântica, mas do carinho
das duas. Sonhei que alguém me deu um beijo de leve e saiu. Acordei horas depois com três surpresas
maravilhosas, Bruno, Beca e Silvinha.

-- AAAAAAIIIII, você veio!! – Sorri ao ver minha prima. – Só assim pra vim me ver, né?

-- Vim ver minha afilhadinha!

-- Minha afilhadinha! – Rebeca corrigiu provocativa. – Eu que descobri a feijãozinha pela primeiro, nem vem!

-- Vocês se cortem para o posto de madrinha, que padrinho ela já tem! - Bruno fez um carrinho na minha
barriga. - Né feijãozinha?

-- Nem fala, Alice, cadê a cota gay de padrinho pra essa criança? - Silvinha me cobrou. - O Anderson falou
que não olha mais na sua cara se não for a "padrinha" da Feijãozinha!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

E ficaram lá me paparicando até o almoço. Devido ao repouso passei de médica para paciente do hospital, já
fazia duas semanas que meu sangramento havia acontecido e eu estava ali. O que mais me chateava é que a
maioria do tempo eu ficava deitada, só podia caminhar por poucos minutos. Em um dos meus passeios pelos
corredores, fiz uma nova amiga e famosa. Ela era uma jogadora de vôlei de destaque do time do Silvéster que
pela primeira vez participaria da Superliga, seu nome era Cíntia Rabello, 26 anos. Eu já tinha visto ela algumas
vezes pela TV, chegou a ser cotada para participar da Seleção Brasileira, mas foi cortada devido a dores no
abdômen. Ela sempre aparecia acompanhada de uma outra moça chamada Alessandra que ela chamava de
Alê. Depois de pegarmos intimidade ela me confessou:

-- Estamos juntas há três anos, mas minha família não aceita e também tem o contrato com o patrocinador,
não podemos explanar... Mas e você com as irmãs, hein?

-- Eu?

-- As enfermeiras não falam em outra coisa... – Cíntia me confessou divertida. – A Julia já tem um fã clube e a
outra?

Ela tocou justamente quando Natália passava com Isa e um outro médico explicando um caso.

-- É ela a vaca que eles estão falando?

-- É.

-- Olha... – Cíntia deu uma boa secada em Natália que me fez rir. – A vaca é premiada, hein?!

-- Cíntia, você é casada! Comporte-se!

-- O que eu vou fazer? – Sussurrou em confissão. – Adoro mulher brava...

Nós duas rimos. Aproveitávamos o tempo sem fazer nada para falar, falar e falar sobre nossas vidas fora dali.
Cíntia apesar de ser bem descarada em olhar para outras, era perdidamente apaixonada por Alessandra. As
vezes ela me parecia um pouco fechada demais, ai eu lembrava da confissão da minha mais nova amiga.

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-- Adoro mulher brava...

Nessas duas semanas minhas visitas eram constantes. Bruno, Rebeca, Isa, Laísa que estava cada vez mais
parecida com Julia, João, Silvinha, Tia Junia, Dona Regina, Natália, Duarte, até meu pai veio me ver, mas
nada de Julia. Quando eu perguntava por ela Rebeca sempre me dava à desculpa:

-- Ela anda trabalhando muito, mas te mandou um abraço.

Abraço, abraço, eu estava sentindo falta da minha amiga que fazia palhaçadas, falava mal dos outros médicos,
me fazia dormir com cafuné ou segurando minha mão, contava história de guerras, de lugares que eu não
conhecia. Não queria recados, queria a Julia, a barulheira que ela fazia me acordando quando entrava no
quarto, o ritual para me ajudar a escovar os dentes e me dar sopa na boca, as perguntas que ela me fazia
sobre João, as piadas cafajestes... Droga!

Outro dia achei de perguntar para Duarte que me confirmou que Julia andava trabalhando bastante, mas tinha
outras notícias também.

-- Alice, não vai contar á ninguém, mas ela andou perguntou para Nat sobre o João.

-- E a Nat?

-- Nunca sei se a Nat se sente feliz ou ameaçada em relação a Julia com o João, mas o Bruno é contra que
ela se apresente ao menino.

-- O Bruno é cabeça dura mesmo!

-- Mas não é só isso... O João e a Julia andam se encontrando. Os dois só não sabem que um é o outro sei
lá, por obra de Deus... Alice, você precisa ver eles dois, se adoram. O João tem o direito de saber que a
médica do PS que ele brinca, que conta história e a mãe dele.

-- Você acha que a gente deve falar pra ela?

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-- No começo achei que sim, mas depois, eu acho melhor eles se descobrirem sozinhos...

Fiquei feliz pela Júlia e ao mesmo tempo morrendo de raiva por ela não ter vindo diretamente contar as
novidades para mim. Eu podia caminhar por uns quinze minutos pelos corredores, decidi então ir ao Pronto
Socorro ver que diabos estava acontecendo com Júlia. Talvez eu tenha falado algo de errado, eu tenho boca
grande, ás vezes escapa. Cheguei e encontrei Júlia dando atendimento a uma senhora de uns setenta anos, ela
não me viu pois parecia concentrada.

-- Peguei o sem vergonha olhando para vizinha... – A senhoria de uma gargalhada alta. - Corri atrás dele o
cortiço todo com a vassoura pra quebrar a cabeça dele e não é que o paspalho se enfiou embaixo do tanque?
– Julia acompanhou a mulher na risada. – Ficou lá com a bunda entalada, teve que os bombeiros tirar... Ai
ai... Nem tive coragem de fazer nada, sabe... Ele olha pra outras, paquera, mas no final tá sempre ali... É
muito chato ser casada com homem certinho... – Ela deu uma boa olhada para Julia. – Você tem cara que dá
trabalho...

-- Que isso, a paciente fazendo uma proposta de casamento para médica? – Julia brincou me arrancando um
sorriso. – Olha que eu aceito, hein?!

-- Aaaaah, do jeito que é bonitona deve receber uma proposta por semana...

Ver a Julia atender era uma verdadeira aula. Nunca em quase três anos de medicina, tirando os seis da
faculdade, vi alguém ter tanto responsabilidade e envolvimento com os pacientes como Julia tinha. Como
pessoa ela apresentava seus defeitos, mas como médica me encantava.

-- Julia, será que eu posso falar com você? – Monique veio trazendo dois cafés. Julia deixou Leandro terminar
de atender a paciente e seguiu Monique, as duas entraram em uma salinha vazia. Monique entregou o café a
Julia. Nenhuma das duas me viram, fiquei ali parada, não conseguia escutar a conversa delas, mas vi
perfeitamente quando Monique abraçou Julia e ganhou uma massagem de leve com a ponta dos dedos nos
cabelos ruivos, Julia parecia dizer algo em seu ouvido que eu não entendia o que era e minha raiva também me
impediu de escutar.

QUE ÓDIO! Eu toda culpada achando que ela não queria me ver por ter feito algo que não devia e a
bonitona devia estar curtindo a “lua de mel” com a nova sei lá o que dela! Bem feito, Alice, você é uma tonta!
Eu ia chegar na Júlia e falar o que?

-- Por favor, troca sua namorada linda, ruiva, livre, com um útero bom e que pode te oferecer uma noite de

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sexo por uma pirralha prenha que não sabe o que quer da vida, tem um útero que mal consegue segurar uma
criança e o máximo de diversão que vocês vão ter é uma partida de biriba em um quarto de hospital.

Dei uma nova espiada, Monique tinha sumido e Júlia terminava seu café. Tentei sair da salinha discretamente,
mas como sou a Alice quase derrubei uma cadeira quando dei o segundo passo.

-- Oi Alice! Tudo bem?

-- Com você tudo ótimo, né? – Já que estava na chuva eu ia me molhar. Debochei. – Não poderia estar mais
que perfeito, não é mesmo?

-- O que foi, Alice? Você não tinha que estar de repouso.

-- Tinha, mas eu senti falta da minha amiga que me prometeu ensinar jogar pôquer e desapareceu. Pelo jeito
você arranjou um programa muito melhor, não é mesmo? A Monique que o diga...

Fui andando o mais rápido que eu podia, ou seja, uma tartaruga passaria minha frente em poucos segundos.
Julia me alcançou rápido.

-- Alice, espera... Deixa eu te explicar...

-- Você não me deve explicação nenhuma! Alias, você não me deve nada! Sinta-se livre para fazer o que
quiser com quem você bem entender!

Julia segurou meu braço com mãos de ferro e me fez virar para encarar seu rosto. A atitude dela foi tão firme
que perdi a fala e fiquei ali, boquiaberta a centimetros de seu rosto.

End Notes:

E esse sonho da Alice, hein? KKKKKKKKKKKKKKKK

Gostaram do suposto casal Vovó Regina e Tia Junia?


KKKKKKKKKKKKKKKKKK
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E a Monique é do Brejo ou não é?

Um abraço a todas!!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 20 by Tamaracae

Author's Notes:

Meninas, como estão vocês?? Desculpe a demora, mas fiquei doente desde sexta e
sem enfermeiras,rs!... Sem condições mesmo! Aí esta o capítulo quentinho!

Música do capítulo: Times Like These - Foo Fighters

Julia fitou meus olhos com uma intensidade tão forte que parecia até me encurralar em contra uma das paredes
daquele corredor. Seus olhos brilharam de uma maneira diferente. Só estivemos tão próximas assim quando
ainda éramos duas desconhecidas em São Paulo, mas agora tudo era tão diferente. Eu tinha a minha história,
ela tinha a história de vida dela e por uma pegadinha dos céus nossas histórias teimavam em se juntar.

Oras, eu só queria saber onde se enfiou aquela mulher doce, sensível e divertida que me emocionou no barco
e me fez rir do “poderoso ritual da cultura milenar da tribo dos Carorós”. Por que ela tinha que ir embora e
deixar essa Júlia, que parecia ser tão indiferente comigo, em seu lugar? Julia fez algo que até então nunca tinha
visto fazer, desviou os olhos dos meus e baixou a cabeça.

-- Alice é melhor você ir para o seu repouso. – Deu um passo para trás. – Por favor, volta para o seu quarto.

-- Julia, olha para mim... – Assim que meus dedos tocaram naquele rosto forte e delicado, me lembrei do
nosso primeiro contato em frente ao balcão quando descobri que Julia era uma mulher que usava uma fantasia
carnaval masculina. Ela voltou a olhar nos meus olhos e enxerguei um pouco de mágoa, não sei se de mim,
mas mágoa em seus olhos verdes. Meus dedos escorregaram por sua bochecha. – Por favor, me conta a
verdade...

-- O que esta acontecendo aqui?

A voz de Natália nos puxou para a realidade: Eu estava acariciando o rosto da minha provável futura cunhada
mais velha no meio da Emergência de um hospital que por acaso também era meu local de trabalho. Quando
me virei percebi que Natália ainda trazia consigo Isa e Rebeca, com certeza alguém chegou com a cabeça

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rachada e as duas estão se matando pra ver quem fica com o caso. Minhas amigas são assim, pessoas sem
alma.

-- Ela já estava voltando para o quarto, não é mesmo doutora Alice?

Eu disse para alguém que estava?

-- Não. – Decidida respondi encarando Julia. Está certo que eu não contava com plateia, mas se apareceu
não ia cancelar o show por conta disso. – Eu só saio daqui quando você me responder.

Como se estivessem assistindo a um jogo de tênis ou ping pong os olhos de Rebeca, Isa e principalmente
Natália, saltaram de Júlia para a minha direção e depois voltaram para Júlia.

-- Doutora Alice, eu acho que você esta vendo coisas de um ponto de vista diferente. – Ela me respondeu
ríspida. – Agora volte para o seu repouso senão serei obrigada a bipar para a sua médica.

Ultimamente pelo jeito ela andava muito mais que bipando só para sem vergonha da minha médica. Afinal que
diabos eu tinha feito? O pior foi encarar o olhar desconfiado de Natália para cima de mim. Ela me
acompanhou até o quarto em silêncio. Ótimo, agora nem uma das duas queria falar comigo. Deve ser a época
de caça ás Alices... Se tem uma coisa que eu odeio além do meu ex noivo, desse costume desagradável de
alguns meninos de ficar com as mãos nas partes íntimas e o doce de melado da tia Guida é deixar de
conversar com alguém.

-- Alice, o que esta acontecendo afinal? – Natália me perguntou a queima roupa quando entramos no quarto.
– Por que você e a Júlia estavam discutindo no meio do meu hospital?

Vai perguntar a ela, ué. Se eu soubesse te contava. Essa era a mais sincera verdade, quando dei por mim, vi
tudo vermelho e estávamos batendo boca. Provavelmente é ciúme de amiga. Não, nem mais minha amiga,
acho que a Júlia quer ser...

-- É só queria saber se eu fiz alguma coisa de errado com ela. – Não deixava de ser verdade. – Ela parecia
que queria ser minha amiga e...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Minha irmã sempre parece que quer ser amiga de uma garota bonita até aparece uma nova garota bonita
que ela quer ser amiga também... Esquece isso a Alice, a Júlia vai ser sempre a garotona alegria das
enfermeiras do PS. Você vai ficar bem aqui sozinha? Eu posso chamar a as ou a Rebeca pra ficar com você e
de quebra me livro de levar uma delas para o Centro Cirúrgico.

Dei uma risada lembrando como a aplicação e a dedicação das duas era um saco para quem dava aula a elas.

-- Seu dever é ensinar. – Respondi com uma ironia estudada. Natália revirou os olhos fazendo graça - Elas
são todas suas... Mas obrigada por me acompanhar até aqui.

Acho que o meu “obrigada por me acompanhar até aqui” foi interpretado de forma doce demais pela Nat.
Talvez ela tenha entendido que eu agradeci por quase aquelas duas semanas que ela estava ali comigo todos
os dias sempre que tinha tempo livre. Eu não esqueci da Marisa. Era impossível esquecer pois ela sempre
estava desfilando pelos corredores do hospital com aquela pranchetinha nas mãos. Também não perdoei, não
me convenci e muito menos esqueci os argumentos de Natália, mas resolvi dar uma trégua. O problema da
trégua era o medo de alimentar algo que eu nem sabia se poderia reconstituir. Resultado: Minha consciência
pesava mais do que um gordão de 200 quilos.

Droga, todo mundo erra uma vez na vida, por que eu não podia ser uma corna mansa e esquecer tudo? Eu
acho que eu quero ser feliz com a Nat. Eu acho que eu quero ainda ter a Júlia por perto. Eu acho que eu
quero que a minha filha nunca me pergunte quem é o pai dela. Acho que eu quero colocar silicone depois da
gravidez. Eu também acho que quero um monte coisa viu...

Natália veio se despedir com um beijo no rosto e “acidentalmente” deixou seus lábios tocarem nos meus.
Senti um gostinho familiar neles, mas me controlei e apenas murmurei um tchau seguido de um sorriso com os
olhos que foi recíproco.

Na semana seguinte fui agraciada pela Monique com minha alta médica. Meu repouso agora seria moderado.
Não, isso não quer dizer que eu estava liberada pra andar de skate, fazer o caminho de São Tiago de
Compostela a pé, dançar kuduro ou algo do tipo, mas podia passear, ficar em casa, levar uma vida de grávida
normal. Isa, Rebeca e Dona Regina, que andava me tratando como se fosse sua nora, vieram me ajudar a
recolher as coisas.

-- Eu achei ótima essa ideia da Alice ficar lá em casa, aquelas empregadas são tão chatas... – Dona Regina
me confidenciou. - Se deixar ficam o dia inteiro sem fazer nada.

-- Imagina, Dona Regina, eu não quero dar trabalho nenhum para senhora e mora tanta gente em casa, a Beca
e a Isa vão estar sempre me ajudando.
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Ela ainda não sabe?

Eu devo ter um dom para a cornice. Sempre a última a saber das coisas, perceberam? O que será dessa vez?
Rebeca e Isa se entreolharam com caras de culpadas, mas foi a Rê que veio falar comigo.

-- É Alice, amiga, tem coisas na vida que a acontece e a gente se pergunta: Deus como Isso foi acontecer?
Você me entende? - Ao meu lado Isa fez uma cara de: “Deus como isso foi acontecer?” que ela sabe fazer
como ninguém. – Mas quando vemos, páááá... Aconteceu.

Se colocassem um sujeito falando chinês na minha frente eu acho que seria mais esclarecedor. Não tinha ideia
o que estava acontecendo, mas conhecia aquele jeitinho de todo mundo sorrindo e me tratando bem, só
queria dizer uma coisa: deu merda!

-- A Isa precisa te contar uma coisa...

-- Eu?

-- Tem outra Isadora, por aqui, Isadora? É claro que é você.

-- Por que eu?

-- Você é aboletada, nem é da família...

-- E voltamos então á questão inicial, por que eu?

-- Vocês vão me contar ou não? – Eu me irritei já irritada com aquele joguinho chato de conta-você-não-
conta-você-nhém-nhém-nhém. – Isa, fala logo!

Dona Regina sorriu incentivando minha amiga falar logo. Isa deu um sorriso amarelo, se empertigou toda.

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-- Então Alice, é que nós... – Isa teve um acesso de tosses e completou. – Na casa da Dona Regina...

-- Ãh?

-- É que nós fomos... – Outro acesso de tosses. – E estamos na casa da Dona Regina.

-- QUE? Isa, fala direito!

-- Então, como eu estou dizendo, nós... – E lá vinha a maldita tosse.

-- O que esta acontecendo, abre a boca mulher!

Dona Regina tomou a frente com seu jeito despachado e tomou a responsabilidade para si.

-- Deixa que eu conto... Vocês foram despejados de casa e o Bruno levou todo mundo para a casa da Dona
Regina e... Ah... A Dona Regina sou eu...

Amanhã ia sair na Folha de Silvéster a seguinte manchete: “Grávida mata duas”. Decidido. Eu vou matar a
Rebeca e a Isa. A Silvinha pode ser uma boa mãe para minha filha e levar ela no presídio todo domingo para
me ver e depois eu pagava um psicólogo para tratar o trauma, mas que eu ia matar essas duas eu ia. O tanto
que eu falei que não era para encher aquela casa de inquilino.

-- Despejados?

-- Despejados não é bem a palavra... – Rebeca tentava consertar. – Digamos que a dona Marieta não
compreendeu o caráter comunitário da nossa casa e...

-- Despejados?

-- E ela falou se a gente não saísse processava a gente por calúnia no contrato da casa.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Processava todos nós?

-- Sim. – Isa confirmou. – Mas não se preocupe. Levamos o fusca embora ontem a noite.

-- AAAAH... Esquentar a cabeça para que? – Dona Regina perguntou. – Adoro casa cheia, minha bisnetinha
Laísa, essa outra que esta por chegar. – Será que ela pensava que era da Nat ou da Júlia? – Todo mundo
embaixo da minha asa, gosto disso!

Uma coisa eu não me queixo: minha vida não cai na rotina. Bebê, mulheres, casa nova, amigos novos,
Silvéster parecia uma correnteza de acontecimentos. Duas questões me perseguiam há algum tempo e
explodiram de vez na minha cabecinha após aquela notícia. Sem sobra de dúvidas, Bruno, Rebeca, Isa, Dona
Regina, João, Laísa, Nat e Júlia já faziam parte da minha nova família, mas será que ter o bebê em uma “casa
comunitária” seria o ideal? A outra questão era: Eu me mudando para casa da Dona Regina e morando com
um monte de gente, talvez me fizesse esconder um pouco das responsabilidades maternas. É claro que seria
bem vindo se algum dia, por exemplo, uma das empregadas trocasse as fraldas da Heleninha para mim, mas
por outro lado, eu queria ser a mãe da minha filha como Rebeca é a figura materna da Laísa desde que ela se
mudou para ficar com Bruno e a mãe, sei lá o que anda fazendo. Pensando nessas coisas decidi que precisava
de um lugar só meu e da Helena e discretamente fiquei de olho em anúncios de venda e aluguel de
apartamentos pelos jornais e na internet.

Espera, para tudo! Helena. Eu escolhi o nome da minha filha inconscientemente. Helena, sempre gostei do
nome Helena, por causa da Helena de Tróia. Será que ela tem cara de Heleninha? Soa bem, Helena Castro.
Enquanto saia pelos corredores do Alonso Franco, vários conhecidos me cumprimentavam, brincavam com a
minha barriga, perguntavam para quando seria, mas nada disso conseguia tirar da cabeça aquela palavrinha
trissílaba que estava há um tempo dentro de mim: Helena.

O tempo que passei na casa da Dona Regina (quase dois meses) foi uma verdadeira “férias de infância”.
Aquela mesa de café da manhã e da tarde enorme, cheia de compotas de doces, conversas paralelas com
“primos” e “causos” engraçados que Dona Regina fazia questão de contar entre as refeições.

-- Sabe, quando eu era moça, assim um pouco mais nova que vocês, cheguei a morar em uma Kombi, eu
tinha um apego aquela Kombi que nem vocês tem por esse Fusca. – Dona Regina confidenciou a Isa. Era 16
de junho, meu aniversário. Entenderam agora por que eu falo tanto sem pensar, não é? Geminiana. Minha
barriguinha de sete meses e meio já estava bem pontuda. – Nessa época que eu conheci meu primeiro
marido... Menina se aquela Kombi falasse...

-- Vó! – Natália chamou a atenção.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Mas o que foi agora? Você acha que eu fiz a sua mãe rezando? - Natália quase se engasgou com a
garfada de arroz. Eu me matava de rir com aquelas tiradas que só a Dona Regina sabe fazer. – Todo mundo
aqui é médico, cacete...

Falando em Natália, ela sempre estava lá para me ver e vez ou outra trazia o João com o cuidado para ele e
Júlia não se encontrarem. Pela conversa que João havia tido comigo alguns dias antes enquanto jogávamos
xadrez, percebi que ele estava cada vez mais envolvido com a mãe.

-- Qual o nome daquela médica lá do PS?

-- Tem um monte, é só você escolher...

-- A Doutora Caco Cola... Que cola todo mundo. – Júlia. Uma menina de uns seis anos apareceu no Pronto
Socorro com a perna quebrada e foi atendida por Júlia. A menina a apelidou de doutora Caco porque juntava
todos os caquinhos e colava tudo de todo mundo. Ela adorou e sempre fazia essa piadinha com as crianças
para explicar como ia tratar de seus ossos quebrados. – Ela fica lá no Pronto Socorro...

-- Por que você quer saber dela.

-- Ela é legal. Sabia que ela me paquera.

-- Ah é? Quantos anos?

-- Velha, tem uns 30.

-- Trinta é uma moça, fica quieto, garoto! – Aponto para o tabuleiro. – Sua vez.

-- Xeque!

Meti meu peão pra salvar o Rei. Ele era pequeno, mas bom. Eu era outra viciada em xadrez, só essa partida
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

estávamos jogando há três semanas.

Minha vida até que estava tranquila. Por milagre, Júlia apareceu na noite do meu aniversário e jantou conosco.
João dormiu na casa de um amiguinho e não foi. Natália como sempre estava ali presente. Aquela dedicação
já estava fazendo meu coração amolecer. Com certeza eu daria a nossa tal segunda chance que ela tanto
pediu. Daria se no dia do meu aniversário, quando me levantei da mesa para ir atrás de um guardanapo, eu
não ouvisse a discussão entre ela e Júlia que eu ouvi na cozinha.

-- VOCÊ NÃO TINHA QUE TER VINDO! – Natália gritou em alto e bom som como se falasse com um
subordinado insolente. – Quantas vezes eu tenho que repetir que não quero a Alice perto de você?

-- Aqui também é a casa da minha avó, eu moro na cabana há vinte minutos daqui, algum dia eu preciso visitar
minha avó! – Júlia rebateu irritada. – A Alice é minha amiga! Esse seu ciúme é a coisa mais idiota que eu já
vi! Eu só estou fazendo isso em consideração ao João, mas que é a coisa mais idiota que eu já vi, é! – Júlia
desabafou me deixando boquiaberta. Ela fez uma pausa como se estivessem arrependida do que falou. – Só
queria saber se ela esta bem!

-- Esta ótima, agora arruma qualquer desculpa e pode ir!

Julia revirou os olhos irritada, segurou o rosto da irmã entre as mãos e obrigou Natália a olhar em seus olhos.

-- Natália, uma coisa é você pedir para eu me afastar da Alice que sei lá porque motivo você acha que eu
estou segurando seu lance com ela, ok, me afastei, porque você me pediu, mas a minha simpatia e amizade
por ela não mudou e não vai mudar. WE eu venho visitar a minha vó quando eu quiser!

Finalmente alguém tirava essa venda preta dos meus olhos. Então era isso? Por isso aquela rispidez? Por isso
toda aquela indiferença? Me martirizei esse tempão inteiro por causa de um capricho? Uma ciumeira de irmã?
Quando as duas notaram minha presença quase caíram duras, mas eu não ia deixar as bonitonas morrerem
sem ouvir o que eu tinha a dizer.

-- VOCÊS SÃO DUAS ADOLESCENTES! SE COMPORTAM COMO SE TIVESSEM QUINZE


ANOS DE IDADE! QUEM VOCÊS DUAS PENSAM QUE SÃO PARA BRINCAR COM AS
PESSOAS DESSE JEITO?

Dona Regina não entendeu muito bem quando eu saí com Isa no meio do meu aniversário dizendo que iria
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

passar a noite no apartamento de Silvinha. Isa me levou de carro até lá. Meu plano era que minha prima me
hospedasse por um tempo por lá. Não queria ver a cara de Júlia e nem de Nat tão cedo. Para meu azar,
ainda na noite do meu aniversário, me encontraram. Sílvinha veio me acordar ás três da manhã.

--ALICE, A GENTE PRECISA CONVERSAR! ALICE!

Eu estava decidida a deixar Júlia berrando até o dia seguinte, mas Silvinha voltou a bater na minha porta.

-- ALICEEEEEEEEE! VAMOS CONVERSAR! EU SEI QUE FOI ERRADO O QUE A GENTE FEZ,
MAS ME DEIXA EXPLICAR! ALICEEEEE! EU NÃO SOU ESSA IDIOTA QUE VOCÊ ESTA
PENSANDO!

-- Alice, desce, manda ela subir, vai falar com essa mulher. Dá um jeito nisso!

-- Não quero conversar com a Júlia.

-- A minha vizinhança inteira esta conversando com a Júlia daqui a pouco! - Silvinha argumentou de cara feia.
– VAI!!

Coloquei uma roupa e desci contra vontade. Lá estava Júlia se preparando para abrir o berreiro de novo,
quando a interrompi.

-- Ow, minha prima tem vizinhos, sabia?

-- Quero que todos eles se fodam, aquela ali. – Aponta para uma quarentona que estava com a cabeça cheia
de bobs fazendo cosplay de Dona Florinda. – Esta precisando muito. – Urgentemente. - Mas você precisa me
escutar!

-- Todo mundo do prédio já te escutou. Você nem bêbada esta pra passar por um vexame desses, vai
embora que é o que eu vou fazer!

Virei Ás costas decidida a subir. Já estava quase no elevador quando ouvi Julia cantando lá de fora.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- UM ELEFANTE INCOMODA MUITA GENTE! DOIS ELEFANTES INCOMODAM,


INCOMODAM MUITO MAIS! TRÊS ELEFANTES INCOMODAM MUITA GENTE... QUATRO
ELEFANTES INCOMODAM, INCOMODAM, INCOMODAM, INCOMODAM MUITO MAIS!
CINCO ELEFANTES INCOMODAM MUITA GENTE... SEIS ELEFANTES INCOMODAM,
INCOMODAM...

-- CHEGA! Fala , sapateia, faz o que você quiser, mas para de dar escândalo no meio da rua!

Júlia deu um sorriso vitoriosa.

-- Tem um sorvete ótimo aqui na esquina, 24 horas. Quer um?

-- Você promete que vai parar de cantar essa música chata?

Outro sorriso vitorioso de Júlia seguido de uma piscada.

-- Nunca asssistiu Ghost, o outro lado da vida, não? O Patrick Shawaze canta essa música...

-- Mas eu não sou a Whoopi Goldberg e você não é um fantasma! – Retruquei. - E tira esse sorriso besta do
rosto que eu odeio você!

A sorveteria eu conhecia, era a mesma que tia Junia levava Silvinha e eu quando éramos crianças. Crianças
ainda somos, quando éramos menores.

-- Me vê duas casquinhas de morango. – Júlia pediu.

-- Na verdade eu quero de Papaya com Cassis.

-- Uma Papaya com Cassis pra ela e duas de Morango para mim.

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De madrugada Silvéster lembrava aquelas cidadezinhas pequenas devido ao silêncio e a luminosidade da


pracinha da sorveteria. Após pegarmos os pedidos, decidimos ter nossa conversa em um dos bancos da
praça para ter mais privacidade.

-- Alice, eu não sei por onde começar...

-- Pelo começo...

Júlia deu uma respirada como se fosse criar coragem.

-- Foi uma criancice nossa... Eu cheguei aqui na cidade, quase ninguém falava comigo e do nada você me
ofereceu sua casa aquela noite... Depois a gente foi se conhecendo, conhecendo mais, ficamos amigas, deu
aquele seu rolo com a Nat... Logo depois que você teve o sangramento e pediu pra eu ficar com você e com
ela no quarto, acho que ela começou a pensar isso... Eu discuti com ela várias vezes e decidi me afastar então.
A Nat gosta de você e ela merece ser feliz e você também. Se ela acha que eu estou atrapalhando...

-- Você deixou bem claro que esta pagando uma dívida. Por causa do João. Vocês me trataram como o
pagamento de uma dividida!

-- Não! – Julia me respondeu com firmeza. – Nunca, até por que, o que a Natália fez e faz pelo meu filho não
tem preço. Pela história de vida desse menino, ele tinha tudo para ser todo desestruturado, triste, cheio de
dificuldades... Mas pelo que você me diz, ele não é assim. E se ele não é assim é por causa dela.

-- Então você veio defender a sua irmã?

-- Não é o que a gente faz por irmão, amigo? Quando a gente gosta, a gente cede, faz coisas que pensa que
nunca teria coragem de fazer... Não é assim com você e a Rebeca? Como você e a Silvinha? Com você e
meu irmão? Se a Cíntia pedisse pra você se afastar da Alessandra para ela ter alguma chance, você ia dizer
não?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Nem precisava pensar muito. Claro que era. E quem diria que eu não faria isso se fosse minha irmã também?
Eu nunca tinha falado com ela da Cíntia, mesmo a distância ela prestava atenção em mim. Foi bom saber
disso. Confirmei com um sorriso e ela me jogou outro. Filha da mãe, por que tem que ter sorriso tão
cativante? O silêncio se instalou ali, apenas trocamos alguns olhares eu gostava do que lia nos olhos dela.
Instintivamente nos aproximamos.

-- CACETE!

A desastrada da dupla geralmente era eu, mas a Júlia quando pisava no tomate também caprichava. As duas
bolas de sorvete caíram de uma vez sobre seu colo manchando a blusa preta. Também que ideia! Só a Júlia
mesmo pra inventar de ter uma conversa séria com um sorvete em cada mão. Ele falou tanto que esqueceu
dos sorvetes. Parecia uma criança com as mãos e a camisa ensopada com aquela mancha rosa. Eu estava
vendo a hora que ia parir no meio da praça de tanto rir da Júlia. Quando mais ela passava o guardanapo para
limpar, mais alastrava a mancha.

Aquele clima de paz interiorano estava uma delícia. Noite linda, céu estrelado. Ao fundo só ouvia baixinho
alguém tocando violão, provavelmente algum estudante de uma das muitas repúblicas que ficavam em torno
da praça.

-- Tá rindo do que? – Júlia olhou para mim. – Não era você que me odiava...

-- Acho que te odeio um pouco menos... – Nós duas sorrimos. –Assim Júlia, coloca o guardanapo e
pressiona bem. – Apertei minha mão contra a barriga dela com o propósito de tentar salvar a blusa e para
meu azar meus dedos encontraram aquele abdômen lisinho que literalmente eu conhecia de outros carnavais. –
Mulher de 36 anos, nem sabe tomar sorvete... Acabou ficando sem nenhum.

-- Ainda tem sorvete pra caramba...

-- Onde?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Julia olhou para o meu Papaya com Cassis feito uma predadora, eu já imaginando sua intenção tentei protegê-
lo colocando para cima. Em um movimento típico de jogadores de basquete, Julia conseguiu imobilizar meu
braço e roubar uma lambida do meu sorvete que também foi para o chão.

-- Delicioso! Sabia que em algumas sociedades do Oriente Médio tomar sorvete da mesma casquinha
equivale a um casamento?

-- Quer dizer que você tratou de nos casar no Oriente Médio? Então agora acabou sua folga de alegria das
enfermeiras, viu Doutora Júlia...

-- Você ainda não aceitou. – Júlia mostrou a língua. – E acabou o meu sorvete...

-- Ainda tem um pouquinho...

-- Onde?

-- Aqui...

Abri o sorriso mais aberto que consegui e me aproximei bem de seu rosto, queria brincar com ela fingindo que
iria roubar um selinho. Com um beijo no rosto, limpei o respingo de sorvete de morango que tinha na
bochecha de Júlia. Nossos olhos se encontraram e a brincadeira tinha acabado naquele instante. O cheiro, o
toque só me provocava mais a redescobrir o gosta da boca de Júlia. Ao fundo ouvi o cara do violão tocando
bem afinado Times Like These, estava perfeito. Meu coração palpitava muito mais forte do que o comum e na
minha cabeça tudo se misturava, desejo, culpa, vontade, curiosidade, carinho.

-- Agora estamos casadas?

A voz de Júlia estava fraquinha e vinda de muito distante. Um dia a explosão teria que acontecer. E aconteceu
da forma mais óbvia e mais deliciosa possível: Entrelacei meus dedos nos cabelos de Júlia e a beijei.
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End Notes:

Quem ficou com vontade de tomar sorvete depois dessa?

Obrigada pelo carinho!!

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Capítulo 21 by Tamaracae

Author's Notes:

Boa tarde meninas! Estou melhor de saúde, orbigada pelo carinho de vocês. Vamos
ver o que a doida da Alice tá aprontando? Boa leitura!

Quando encostei levemente minha boca nos lábios de Júlia, senti-os mais gelados que o natural e um sabor
bem suave das de cassis com morango, nossos sovertes. Juntas tínhamos um gosto incrível. Ficamos trocando
pequenos beijos, como se fosse uma apresentação. Julia deu passagem e nossas línguas se encontraram.

Aquela mistura de quente e gelado só nos absorvia ainda mais. Minha memória me traiu, o beijo dela era um
milhão de vezes melhor do que eu lembrava. Não tinha pressa, só desejo, vontade de ficar ali, sentindo toda
minha língua se entregando. Uma das mãos da Julia se encaixava atrás da minha cintura e os dedos me
pressionavam levemente, de um jeito todo carinhoso, deixei escapar um pequeno gemido que a incitou mais
ainda, senti toda sua língua derretendo na minha boca com um gosto de sorvete de morango.

Minhas mãos desceram e tocaram a nuca de Júlia com suavidade e nossa pele se arrepiou por inteira.
Precisávamos de ar, nossa respiração estava descompassada. Delicadamente no separamos e sentia minha
testa colada a dela, nossos seios se pressionando e o batimento do peito mais acelerado que o normal. Júlia
demorou um pouco para abrir os olhos. Ela não desfez nosso abraço. Com a ponta dos dedos, fazia carinho
no meu rosto. Minha mão se perdia entrelaçada nas suas. Nunca pensei que ia sentir algo tão bom em ficar ali.
Nossos olhos se encontraram e ela sorriu para mim de um jeito acanhado, sorri de volta.

Eu estava parecendo uma garota ás voltas do primeiro beijo, não sabia direito o que falar, o que fazer e não
tinha mais nenhum controle sobre minhas ações. Se aquela mulher mandasse eu tirar a roupa ali, eu tirava sem
questionar. Uma de suas mãos se enterrou nos meus cabelos. Estávamos a um passo de outro beijo quando o
chato do celular de Júlia nos interrompeu. Aaaaah se eu pego filho da mãe que ligou... Se eu pego o idiota que
inventou o celular então...

-- Oi Monique! Pode falar... Não estou ocupada não...

Monique? Monique? Monique? Ela deixou de me beijar para ter todo tempo do mundo para falar com a
Monique? Eu era uma idiota mesmo. Depois de um beijo desses, eu esperando algo carinhoso, um sorriso, um
outro beijo e ela atende o celular para falar com a namorada, ou sei lá o que dela.

-- Não é assim mesmo... Pode falar...

Me levantei e sai da praça antes de Júlia notar minha ausência. Quando cheguei em frente ao prédio de
Silvinha, lembrei da Júlia acordando a vizinhança com a músiquinha do elefante e sorri tristemente. Só eu
mesmo, tinha duas e não tinha nenhuma. Eu queria o que, me arrisquei, fui, beijei e levei o tapa na cara, agora
é vida que continua, Alice...
-- Alice, espera...

-- Júlia, você não precisa me lembrar de nada. Foi só o que? Um beijo, um beijo acontece toda hora e foi
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

porque a gente estava perto muita dou e...

-- Quer me deixar falar, Alice? – Júlia segurou meus ombros e me fez calar. - Eu lembrei!

Instintivamente me calei.

-- Fantasia de Zorro, bêbada de tequila... Depois tão brava. – Júlia me deu um sorriso curto. – Tá tão
diferente, Pino Frouxo! Como queria que eu lembrasse de você?

Pino Frouxo. Só uma vez na vida ela havia me chamado assim, em São Paulo quando a expulsei do meu
apartamento só de toalha. Engraçado, parecia que esse episódio tinha passado em outra vida, mas havia
passado apenas cinco meses. Eu sempre tão faladeira perdi minha voz de tanta vergonha.

-- Parabéns! Ficou muito bem grávida. – E me confessou. – Tá linda!

-- Lembrou de tanta coisa desde que chegou...

-- Mas é que... É diferente... – Julia fez uma pausa. - Eu nem lembrava direito que tinha vindo no carnaval em
São Paulo...

-- Como uma pessoa que mora em Manaus esquece de uma viagem pra São Paulo?

-- Eu estava fugindo de Manaus... Passei por mais de dez estado em menos de dez dias.

-- Fugindo de que?

Julia deu uma risada.

-- Promete que não vai contar para ninguém?

Eu a encarei divertida.

-- O que você aprontou?

-- Lá em Manaus, eu fiquei muito amiga da filha de um fazendeiro e...

Cara de pau! Nos duas acabamos caindo na risada e Júlia acabou me contando toda história. Júlia conheceu
a filha desse fazendeiro e acabaram tendo um caso. Quando o sujeito descobriu ficou doido.

-- Quantos anos tinha essa garota?

-- Ah sei lá... Deve ter a minha idade...

-- Júlia...

-- Tá bom... Dezenove.

-- Dezenove? – Perguntei surpresa. – Dezenove? Você tirou a virgindade da garota?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Se aquela garota for virgem, eu sou uma bicicleta... – Nos duas rimos. – Tô falando sério, a menina ainda
deve ter me ensinando alguma coisa... Acabei me livrando dele. Fiquei um tempo em São Paulo e lá... A gente
se conheceu.

Era só relembrar disso e me rosto ficava vermelho.


-- Não precisa ficar assim não... – Júlia deu uma risada. – Não queria ser estraga prazeres, mas você não foi
à primeira garota que me deixou sem roupa na rua...

-- Pelo visto eu participo de uma lista extensa... Quando você lembrou?

Júlia me fitou de um jeito sem graça.

-- Quando você veio me perguntar o que estava acontecendo e a gente brigou por causa da Monique. O
jeitinho assim que você passou a mão no meu rosto e me olhou... Eu olhei nos seus olhos e lembrei da garota
mascarada de São Paulo... Como você não tocou no assunto e tem a Nat, eu achei melhor esquecer... Eu
acho que eu tenho que me desculpar com você.

-- Desculpar comigo?

Julia fez um gesto afirmativo.

-- Sim. É que a gente ficou tão próxima aí... Eu não me controlei...

Desculpa? Eu era azarada mesmo. A suposta mulher mais “fácil” da cidade se desculpava por me beijar. A
Júlia também era toda complicada, com todo mundo bastava um sorriso, um olhar e já finalizava, justo comigo
ela tinha que ser a difícil? E por ironia do destino aquela atitude parecia me atrair mais ainda. Minha vida
também é cheia de ironia viu...

-- Eu que te beijei.

-- E eu que te beijei de volta. – Júlia me devolveu de um jeito meio culpada. – E eu não podia fazer isso.

-- Por quê não? Eu não tenho nada com a Natália há meses. A gente é amiga, é muito comum acontecer
isso...

--Alice, olha nos meus olhos e diz que a sua história com a Natália acabou e que você não sente mais nada
pela minha irmã. – Júlia me cortou com uma firmeza que me surpreendeu. – Você consegue olhar pra mim e
repetir isso?

Filha da mãe, quebrou minhas pernas direitinho. É claro que eu não conseguia repetir isso porque não era
verdade. Por mais magoada que eu estivesse, eu ainda não estava completamente desata da Natália. E agora
também morria de vergonha disso. Apenas abaixei os olhos e deixei minhas lágrimas caírem. Eu sempre fui
ajuizada, nunca quis levar briga, magoar ninguém, agora me sentia um dos piores seres do mundo por estar me
metendo entre duas irmãs. E pior ainda, uma delas já sabia o que estava se passando. Júlia ergueu meus olhos
e percebi que ela também parecia emocionada. Delicadamente segurou a ponta dos meus dedos.

-- Calma, você não teve culpa de nada... Quem tem culpa disso?

-- Eu tenho culpa disso! – Afirmei chorosa. – Você não acha que eu queria conseguir chegar na Natália agora
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e falar que eu esqueci tudo? Que eu não sinto nada pela irmã dela? Que eu...

Eu nem conseguia concluir a frase que era interrompida pelo meu choro. Júlia estava ali me consolando.
Minha cabeça tombou em seu ombro.

-- Alice, você não é a única insegura da história... Eu também queria estar segura, mas não estou... Eu queria
dizer pra minha irmã que eu não acho a mulher que ela esta apaixonada atraente, mas eu acho... – Ela me
confessou. - A gente não pode continuar assim... E eu não posso fazer isso porque é traição minha...

-- Você tá com a Monique? Ou com alguém?

Júlia fez um gesto negativo.

-- Não... Eu não tive nada com a Monique...

-- Você não gosta dela?

-- Gosto. Mas eu gosto de outras pessoas também. É traição com a Natália.

-- Você ainda tem isso de não ter relacionamentos?

-- Alice, eu sou isso de não ter relacionamentos...

Eu dei um sorriso triste que Júlia me devolveu.

-- E o que a gente vai fazer?

Júlia parou por um tempo pensativa.

-- Tirando minha avó e minha sobrinha que me conheceu ontem, a Nat é a única pessoa da minha família que
mal ou bem fala comigo... Eu devo uma muita grande pra fazer isso com ela... E a Natália é minha irmã. Eu
carreguei a Nat bebê no colo... – Dessa vez quem foi cortada pelo próprio choro foi Júlia. – Eu não posso
fazer isso com ela, mas eu não ideia do que fazer... Alice, eu também não quero deixar de ser sua amiga...

Minha resposta foi um abraço apertado que eu perdi a noção de quanto tempo durou. Ter aquela conversa
com Júlia foi um dos momentos mais difíceis que passei na vida, mas pelo menos tudo estava ali em pratos
limpos. Em silêncio fizemos o caminho até o prédio da minha prima. Nos despedimos com um rápido “tchau”
seguido de um beijo no rosto.
Quando cheguei no apartamento de Silvinha, minha prima logo sacou que alguma coisa tinha acontecido, eu
também não estava a fim de fazer a Mulher Maravilha naquele momento e logo tratei de explicar.

-- Eu beijei a Júlia...

-- Mentira... E depois?

-- Depois o celular tocou e era Monique...

-- Mentira... E depois?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Depois eu to aqui e você esta parecendo um papagaio... - Retruquei chateada.

-- Vem cá, mas como aconteceu, você estavam na rua e ai, do nada?

-- Mais ou menos... Quando eu vi a gente... A gente tava no maior beijão... – Confessei nervosa de relembrar
a cena. – Foi gostoso! - Merda, essa parte não era para sair. - Droga, bonita, engraçada, interessante,
inteligente...

-- Sexy...

-- Custava a Júlia ter bafo?

Minha prima deu uma risada safada.

-- Então ela beija bem? Alice, ela tem pegada?

Senti minhas bochechas esquentarem. Pegada. Eu já tinha ouvido falar em pessoas com pegada, que sabem
chegar junto, jogam um sorriso mais sacana na hora certa, um olhar meio de lado... A Júlia acho que era
capaz de dar aulas de pegada e conquista a esses garotões e meninas que acham que beijar 300 bocas em
uma noite te faz um conquistador. Tipo, eu sei que no máximo tínhamos uma brincadeira... Mas quando ela
me beijou, quando ela sorria para mim, brincava comigo, eu me sentia a única mulher do mundo. Eu adorava
o jeito que ela me olhava, me...

-- Silvinha, ela lembrou de mim. De São Paulo... De tudo...

Boquiaberta minha prima se sentou no braço do sofá e cantarolou divertida.


-- Quando você me vê... Eu deixo acender, outra vez aquela chama...

-- Para Silvinha!

-- Para nada, bicha, agora que a história esta boa você quer que eu pare? Me conta tudo!

Era tudo que eu precisava. Alguém disposta a me ouvir e tirando os comentários safados do tipo “imagina se a
Júlia e a Nat resolvessem sair na mão, que sexy. Coloca as duas pra lutar na lama...”, Silvinha era a pessoa
para me ouvir.

-- Vem cá, essa Natália ou é muito boa de cama ou fez um chá de calcinha pesado pra você...

-- Silvinha!

-- De duas a uma ué...

-- Não é só sexo. Eu gosto da Natália. Tipo, quando ela não esta sendo prepotente e nem mal humorada e
nem mandona, ela é incrível... E ela é forte, é perseverante... Doce. Ela agora sabe e esta focada no quer.

-- E a Júlia... Tipo, ela é um prato cheio pra qualquer psicóloga, né? Traumatizada, não gosta de se envolver,
não consegue se ligar a uma mulher só... Cafajeste assumida...

-- Não... Como eu vou dizer... Ela é confiante... E tipo, meu namorado mais honesto nunca me tratou com um
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

por cento de carinho que a Júlia me trata. E a gente pensa que ela é meio sem vergonha mesmo disso de não
se envolver, mas quando ela me fala do filho, ou de Manaus, ou da Marcinha, a gente vê aquele olho cheio de
lágrima, dá uma vontade de por no colo... Ela parece ser tão apaixonada...

-- Por no colo é coisa de mãe, Alice...

-- E quando ela me beija e parece que a Terra treme, também é? Aquela olhar safado... E vem com aquela
mão enorme na minha cintura,assim, meio pegando... E a boca meio que descendo assim no pescoço... – Eu
relembrava toda mole... – Assim na nuca...

-- Ai, beijo na nuca é tudo... – Silvinha concordou comigo já toda molenga.

-- E quando vai descendo assim e da aquela arrepiozinho nas costas?

-- Ai a gente perde a paz, né?

-- Éééé... – Confidenciei quase em êxtase. Alice, não é hora de pensar nisso. – Silvinha, a gente está saindo
do foco!

-- Foco, foco! – Minha prima se recobrou se ajeitando no sofá. – Vamos manter o foco disso aqui! O que
você vai fazer da sua vida?

Antes de eu abrir a boca para responder, fui interrompida pela entrada da Isa apenas de toalha. Isa me
cumprimentou calmamente, perguntou se minha prima já ia para o quarto e já seguiu para lá com ares de
intima.

-- O que a Isa esta fazendo aqui?

-- Uai, ela veio com você. – Silvinha argumentou. – Esqueceu que ela te trouxe da casa da Dona Regina?

-- E que parte do filme que eu perdi que ela e você vapo...

-- Deixa de ser maldosa, só quis ser educada e ofereci um cafezinho enquanto você foi tomar o sorvete...

-- E seu nome virou cafezinho agora, ow oferecida?


Silvinha deu uma risada safada.

-- Ela é bonitinha... Você também devia ter oferecido um cafezinho pra Júlia quando ela te trouxe...

--A Júlia é só uma... Conhecida...

-- Conhecida?

-- E colega de trabalho e amiga...

-- Engraçado,a dona Regina também é uma amiga sua e nem por isso você tem vontade de tirar toda a roupa
dela quando vocês se encontram não é mesmo...

-- Eu... –
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E eu não tinha argumentos. Silvinha me jogou uma risada, se levantou.

-- Eu vou lá no quarto ver se minha amiga Isa não quer mais cafezinho, ok? – Jogou uma piscada cúmplice. -
Qualquer coisa é só bater lá, boa noite!

Boa noite!

Passou uma semana do meu aniversário e da minha conversa com Júlia, nesse período, não nos encontramos,
por falta de tempo mesmo, mas Júlia sempre me ligava ou eu ligava para ela. Quanto a Nat, decidi procurá-la
no hospital, como ela estava operando, lembrei de nossos encontros secretos no almoço e assim que ela saiu
da sala de operações a seqüestrei para um dos quartinhos.
-- Japonesa ou italiana?

Natália sorriu ao me ver e ao reconhecer nosso código para almoços secretos.

-- Brasileira mesmo.

Como eu não tinha casa, fui obrigada a levar a Nat para o apartamento de Silvinha mesmo. Ela estava
trabalhando e teríamos muito mais privacidade do que aqueles quartinhos de plantão. Quando ela viu a mesa
montada ficou boquiaberta.

-- Não acredito que você lembrou...

-- Pipoquê de micro-ondes... – Falei com meu falso sotaque francês. – Salgada e doce... E nem pense em me
dizer não que foi um sacrifício remanejar todas as suas cirurgias para os horários da noite...

Natália me deu um sorriso aberto.

-- Isso quer dizer?

-- Que minha raiva já passou... E eu não te odeio tanto assim...

-- É tão bom saber disso... Eu... Eu tinha guardado uma coisa para te dar, mas eu queria esperar uma data
especial e... E você promete que não vai rir?

-- Rir do que?

Natália pegou a própria bolsa, dela retirou um embrulho e me entregou.

-- Eu acho que eu sou melhor em costurar pessoas, mas eu tentei fazer sozinha... É melhor você abrir e ver...

Quando abri aquela pequena caixinha, encontrei uma das coisas mais delicadas que eu vi alguém fazer com as
próprias mãos na minha vida. Um par de botinhas e uma toquinha de lã cor de rosa do tamanho de uma recém
nascida.

-- A ideia era fazer um casaquinho, mas o primeiro que eu tentei, saiu com três braços e só serviria em um
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bebê mutante e...

-- Nat é lindo! – A abracei, não tão forte como eu queria por causa da minha barriga avantajada. – Você
mesmo que fez?

Nat me confirmou um pouco sem graça.

-- Foi á maneira que eu encontrei pra te dizer que eu gosto dessa criança que vai nascer e que eu quero muito
seu bem e o dela... – Natália colocou a mão na minha barriga. – Alice, eu me assustei quando você me disse...
Mas agora... Eu não vejo você sem essa criança...

-- Quer sentir ela?

-- Oi?

-- Quer sentir o bebê na minha barriga?

Natália fez um gesto afirmativo. Nós duas estávamos no quarto de hóspedes. Minha cama espalhada de
presentes que eu tinha ganhado de Rebeca, Silvinha, Anderson, Tia Junia, Julia, João, Bruno, Marquinhos,
Isa. Até Duarte tinha me dado umas roupinhas para o enxovalzinho da Helena e eu comprei algumas coisas
também, mas aquele era o primeiro presente que a Nat tinha me dado. Eu me sentei na cama. Ergui um pouco
a blusa de frio que estava usando e pedi para que ela aproximasse o ouvido da minha barriga.

-- Nossa, acho a bundinha da neném tá bem aqui no rosto. – Nat brincou sorrindo. – Já tem um nome?

-- Helena? Bonito...

Ela ficou ali, deitada com a cabeça no meu colo por um tempo que não calculei. Quando eu vi, Nat
adormeceu naquela posição e não tive coragem de acordá-la. Só despertou com a barulheira de Silvinha
entrando no meu quarto carregando uma banheira de bebê toda cor de rosa e cheia de brinquedinhos de
banho dentro.

-- Menina, quando eu vi essa banheirona na promoção, não resisti. Quase sai na mão com uma velha... Mas
trouxe e... – Natália abriu os olhos ainda sonolenta, minha prima continuou a falar daquele jeito que parecia ter
engolido um rádio. – Opá, desculpa, não sabia que tinha gente... Alice, você também nem pra colocar o tênis
na janela como a gente tinha combinado.

O combinado do tênis da janela era o seguinte, quando uma de nós duas estivesse com alguém e quisesse que
a outra desse um tempo na rua, era para por um par de tênis na janela evitando constrangimentos. Eu não
podia fazer sexo pois não poda fazer esforço nenhum até a neném nascer, então nunca levava ninguém para
casa. E quando eu estava na rua, sempre esquecia de olhar para a janela. Resultado: era normal eu entrar em
casa e encontrar uma bunda diferente tomando banho no banheiro, um sujeito de cuecas na porta da
geladeira, ou alguma peguete da minha prima de calcinha e sutiã.

-- Não é nada disso... A Nat só veio me visitar...

-- Falando em visita, lembrei, fui visitar a Cíntia hoje, amanhã ela tá de alta e volta pra Serro Azul...

-- Sério? Que bom! Será que da pra eu visitar ela hoje?


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Eu vou até o hospital. – Nat me informou. – Se quiser, te dou uma carona.

Aceitei de prontidão. Pelo estado avançado da minha gravidez, ficaria muito tempo sem poder ir até Serro
Azul visitar a minha amiga. No hospital agradeci Nat mais uma vez pelo sapatinho e na hora de me despedir
ela me fez uma pergunta.

-- Alice, como nós ficamos?

-- Eu ainda não sei, preciso pensar.

-- Será que até a noite você tem uma resposta?

-- O que?

-- Alice, eu não agüento mais não saber o que eu e você estamos vivendo. Eu vou ser o mais clara possível.
Eu quero ter uma relação séria, eu quero ficar com você, mas você precisa querer ficar comigo. Eu vou te
esperar hoje no Scarpan as dez da noite. Se você quer ficar comigo, eu vou estar lá...

-- Mas Nat...

-- Alice, eu estou te esperando hoje! As dez. – Natália me roubou um beijo rápido. – Tchau.

Scarpan era um bar lésbico em formato de um sapato Scarpan que minha prima tinha entrado de sócia. Minha
cabeça entrou em turbilhão. Por essa eu não esperava mesmo. Visitei Cíntia com a minha cabeça nas nuvens.
Rebeca estava lá quando entrei.

-- E a grávida mais disputada de Silvéster, como esta?

-- Dividida...

E contei a Cíntia toda minha aventura naqueles dias. Alessandra com um livro no rosto sempre esboçava um
sorriso com os comentários da namorada em relação a minha vida amorosa. Rebeca era outra que parecia
insatisfeita com o rumo de sua vida.

-- Que foi? Também brigou com o bofe? – Cíntia perguntou a minha amiga. – Gente, o que tem nessa família
Franco, hein? Será que eles não tem defeitos?

-- Fora a arrogância, a prepotência, a presunção, a teimosia? – Rebeca questionou. – É difícil!

-- Você tem um que é homem e eu com duas mulheres...

-- Odeio mulheres. – Isa nos confidenciou. – Se não fosse o sexo, não dava nem bom dia. Gostam de
complicar tudo...

-- Isso tudo por que minha prima não te ligou...

-- Eu que não liguei para sua prima, Alice...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Por que você não ligou para a prima dela? – Cíntia se interessou.

-- Acho que ela que devia me ligar...

Revirando os olhos pensei: tem bicho mais complicado do que mulher? Alessandra deu uma gargalhada.

-- Que foi amor?

-- Só você mesmo, minha linda. Ficar internada e virar conselheira amorosa das suas médicas...

-- É amorosa é perfeita, quer ver? – E puxou Alessandra para um beijo apaixonada.

-- Isso nem é mais um beijo. – Beca protestou. – Virou endoscopia!

-- Cíntia, sua metida, para de fazer inveja na gente! – Eu brinquei.

Alessandra envergonhada se separou de Cíntia com pequenos selinhos. Elas eram um casal perfeito mesmo.
Desses que só de olhar na rua a gente vê que se amam. Não tinham porque se envergonhar desse amor.

-- Inveja do que, dona Alice? – Cíntia me devolveu. – Você tem duas!

Só de pensar na hipótese, fiquei vermelha e virei alvo de piadas. Isa e Rebeca foram trabalhar e eu fiquei ali
mais um pouco. Minha visita se encerrou quando Duarte entrou com um ar de preocupado e me perguntou
pelo Bruno. Com minha negativa, saiu mais preocupada ainda. Desconfiada, encerrei logo minha visita e fui
assuntar pelo hospital encontrei Leandro com a Laísa saindo de um banheiro masculino.

-- Eu vi o pipi dele! – A menina apontava para um tio gordão que saiu do lavabo . – É pequenininho!

-- Garota!

-- Você levou a menina no banheiro masculino?

-- No feminino duas velhas me bateram e me chamaram de tarado!

-- O que você esta fazendo com a Laísa?

-- O Bruno pediu pra eu tomar conta dela e saiu feito um louco.

-- Ele brigou com a bruxa! – Laísa me confessou. - A vó Abgail gritou com ele, eu vi! Foi lá embaixo.

Ai meu Deus, o Bruno era doidão, onde será que ele se meteu? Me despedi dos dois, entrei no elevador e
atropelei uma pessoa cheia de prontuários. Dei uma lida e vi o nome Marcia Dornellas. Ao levantar o rosto
me deparei com Júlia.

-- Oi!

-- Oi!

Não tínhamos conversado mais pessoalmente depois do beijo. Usei aquele prontuário vazio como assunto.
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- É da sua esposa? Você estava atrás do prontuário dela?

-- É... Mas aconteceu uma coisa estranha...

-- O que?

-- O histórico do acidente, o prontuário , o laudo da Marcinha sumiu... Sumiu dos arquivos...

-- Essas coisas somem, Júlia... Vai ver foi isso...

-- Tinha prontuários mais antigos lá...

-- Talvez algum funcionário mais antigo saiba...

-- A Monique me disse a mesma coisa.

-- Vocês como estão?

-- Ela esta bem... Te esperando para consulta...

-- Certo...

Não via a hora daquele elevador chegar no andar, mas Murphy mais uma vez estava no meu caminho e a
porcaria do elevador achou de enguiçar. Desesperada comecei a apertar todos os números e nada.

-- DROGA DE ELEVADOR!

-- Calma! Isso é tudo é nervoso? – É. – Não consegue nem mais dividir um elevador comigo? – Ela
perguntou em um tom sério e desafiador. – Qual é o seu problema?

-- Você é convencida demais! – Respondi irritada por estar ouvindo a verdade. – Ás vezes isso incomoda!

-- Isso é o que meu rostinho bonito faz?

Ela fez questão de aproximar o rosto do meu. Droga, não foi ela que pediu desculpa e por ter me beijado, por
que aquilo agora?

-- Eu acho que você se arrependeu do que tinha feito. E que ia ficar tudo igual entre nós!

-- E eu achei que você ia me tratar da mesma forma e não que se incomodasse em ficar presa em um elevador
comigo. – Ela me rebateu com firmeza. Deu um passo para frente. – É isso que eu te causo, Alice, incomodo?
Nos duas estávamos muito próximas. Só me vinha a música na cabeça “Quando você me vê, eu deixo
acender, outra vez aquela chama...” Respirações coladas, meu peito pulava por conta da minha respiração
ofegante. Tudo girava na minha mente, a única coisa que eu tinha certeza é que não era incomodo que
sentíamos uma pela outra. O tranco do elevador praticamente me jogou nos braços de Júlia e quando a porta
se abriu, Nat viu aquela cena.

-- AAAAAH você esta ai?! – Ela perguntou furiosa antes de qualquer explicação.
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Espera Nat! – Eu tentei me explicar, mas ela me deu ouvidos.

--Minha conversa não é com você, Alice! – Nunca tinha visto ela tão nervosa em toda minha. – É com essa
ai! SE ACONTECER ALGUMA COISA COM O MEU MENINO, JULIA, EU NUNCA VOU TE
PERDOAR!

-- Ãh?! – Júlia estava tão confusa quanto eu. – Do que você esta falando?

-- DO JOÃO! - Natália berrou, todo o hospital parecia estar na porta daquele elevador para assistir a briga.
– A MAMÃE DESCOBRIU QUE VOCÊ ESTAVA NA CIDADE E VEIO PARA CÁ, ACABOU
DISCUTINDO COM O IMBECIL DO SEU IRMÃO.

- A mamãe sabe que eu estou aqui?

-- SABE! O JOÃO OUVIU TUDO E TAMBÉM SABE. JÚLIA, O SEU FILHO DESAPARECEU! AS
ROUPAS DELE SUMIRAM DE CASA!

-- QUE?

- SE ACONTECER ALGUMA COISA COM ESSE MENINO, EU NÃO VOU TE PERDOAR! VOU
ACABAR COM A SUA VIDA! O JOÃO FUGIU DE CASA DE MEDO DE VOCÊ!

End Notes:

Algum palpite do que vai aocntecer nos próximos capítulos?

Bom, se eu não "ver" vocês até domingo, boa Páscoa pra vcs, namoradas,
companheiras e famílias!! Um grande abraço a todas!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 22 by Tamaracae

Author's Notes:

Boa leitura!!

-- Tudo foi muito rápido. – Bruno insistia com o delegado. – Assim que minha mãe me viu no saguão do
hospital, ela me perguntou sobre a Júlia, disse que sabia que ela dormiu em casa... Mas eu não estava em casa
aquele dia...

Só tinha visto o Bruno chorar uma vez na vida: Quando a mãe da Laísa a deixou em casa com um bilhete
explicando que ele se tornava responsável por ela. Pelo jeito veria pela segunda vez. Nós quatro estávamos
dentro da sala da diretoria do hospital, escritório de Natália. Duarte também fazia companhia e tentava ajudar
em alguma coisa, trouxe um copo d’água para Natália que se negou a beber. Júlia estava jogada em uma das
poltronas, parecia distante dali.

-- Hey, você quer alguma coisa? – Perguntei a Júlia. Ela não parava de mexer os dedos, tinha um olhar
inquieto, uma expressão de culpa que cortava o coração. – Água, calmante, quer eu chame alguém?

-- Eu quero meu filho. – Disse com um fio de voz. – A gente esta perdendo tempo aqui...

Do outro lado, encontrei um olhar duro de Natália. Como não tivemos sucesso em acalmar as duas, Duarte e
eu resolvemos trocar de lugar. Enquanto ela assegurava a Júlia que não tinha culpa nenhuma, eu fui tentar
dialogar com Natália.

-- O João é esperto, deve estar escondido por aí... Só querendo dar susto na gente...

Natália fez um gesto negativo.

-- Pago um batalhão de empregadas, motorista particular para ele ir pra onde quiser, dou amor, dou carinho,
dou de tudo e em um mês... Um mês ela consegue acabar com tudo!

-- Nat, não fala assim!


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- É o meu garoto! O meu menino! Se ela não fosse tão covarde de ficar se escondendo da própria mãe!

-- Natália!

-- Eu estou mentindo? Se comporta feito uma adolescente, uma irresponsável!

Não sei se Júlia nos ouviu, mas parece que não. Do outro lado ela era abraçada por Duarte.

-- Criança tem dessas coisas mesmo. A Luíza, minha mais velha, gostava de pregar susto na gente. Se
escondia nesse hospital enorme... Você lembra dela?

-- Mais ou menos...

-- Quando você foi embora ela tinha a idade do Thiago, meu mais novo, dez anos... Ela volta do intercâmbio
daqui duas semanas...

-- A idade do João. – Júlia relembrou triste.

-- Júlia, é coisa de criança, você esta desacostumada, daqui a pouco ele aparece...

-- Levou roupa, Duarte... Dinheiro. Fugiu de medo de mim. Quem ele acha que eu sou? O que eu fiz com a
cabeça desse menino?

-- Júlia, ele é criança, não pode ter ido para longe!

Rebeca entrou a sala com Laísa, Bruno terminou de dar seus esclarecimentos para o delegado e as duas
foram abraçá-los. O delegado se levantou.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Quem é a mãe do menino?

As duas se levantaram na mesma hora, Natália encarou Júlia, eu fiz um sinal para ela ficar calma. Júlia se
apresentou.

-- Eu sou a mãe.

-- A senhora tem alguma foto do menor João Franco?

Júlia fez um gesto negativo. Começou mal, ela nunca teve uma foto do João.

-- Eu tinha uma aqui... – Natália respondeu. – Sumiu agora... Isso não importa... Eu trago alguma de casa.

O delegado fez um gesto afirmativo e prosseguiu conversando com Júlia.

-- Vou precisar de uma descrição física do garoto. Qual é a cor dos cabelos dele?

Júlia abriu a boca para responder e se cortou. Não sabia a cor dos cabelos.

-- Acho que são castanhos claros. – Fez uma pausa e complementou mais para si do que para o delegado. –
Eu tinha cabelos mais claros quando era criança... Depois foi escurecendo...

-- Castanhos escuros. – Natália respondeu com firmeza. – Igual assim o do meu irmão, só que o corte não é
o mesmo. Ele não gosta de raspar a cabeça, ele tem o cabelo ondulado.

O delegado fez um gesto afirmativo, voltou a encarar a Júlia.

-- Qual a cor dos olhos do seu filho?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- São claros. – Insegura. - Acho que são claros...

-- Castanhos esverdeados. – Natália respondeu. – Um pouco mais escuro do que os da minha irmã.

Novamente o delegado tomou nota.

-- Qual é a altura do garoto?

As duas se entreolharam.

-- Ela responde. – Júlia disse cruzando os braços, cabisbaixa.

-- Um e quarenta e quatro. Trinta e dois quilos. – Natália explicou. – Ele esta um pouco magro porque faz
natação e futebol, anda de skate, brinca o dia todo... Queima bastante. Ele é esperto e bem desenvolvido
para dez anos...

O delegado fez um gesto afirmativo.

-- A senhora esta dispensada. – Olhou para Natália. – Será que poderíamos falar mais alguns detalhes?

Não fiquei na sala mais tempo. Fui atrás de Júlia que saiu irritada. Com passos duros, entrou em um dos
vestiários e descontou toda sua revolta em um armário de aço com dois socos, chutou uma cadeira e
derrubou uma maca. Socou a porta do armário novamente, acho que se pudesse socaria a noite toda, segurei
seus punhos. Desse jeito ela acabaria ferindo a mão e não poderia operar nunca mais.

-- Júlia, calma, você não tem culpa!

-- Para de falar que eu não tenho culpa! – Júlia me pediu nervosa. – É claro que eu tenho culpa...

-- Júlia...
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Alice, que porcaria de mãe que eu consegui ser que não sabe a cor dos olhos do filho? – Ela perguntou um
tanto chocada. Jogou a roupa cirúrgica fora e se meteu em outra roupa. – Que porra de mãe é essa que não
sabe a cor dos cabelos do filho?

-- Júlia...

-- Então vocês têm que parar de falar que eu não tenho culpa, porque eu tenho culpa sim! – Júlia desabafou
de um jeito triste. – O garoto fugiu só de escutar o meu nome... Não suporta ficar na mesma cidade que eu...
– Limpou as lágrimas, jogou algumas coisas dentro da mochila e colocou nas costas. – Isso não pode ficar
assim!

-- Onde você vai?

-- Tomar vergonha na cara e começar a ser mãe! – Ela me respondeu com firmeza. – Vou virar a porcaria
dessa cidade de cabeça para baixo até encontrar esse garoto!

-- Júlia, a polícia já esta fazendo isso e...

-- Alice, me deixa ir! Nem que seja a ultima coisa que eu faça na vida, nem que eu encontre esse menino e
amanhã junte minhas coisas, volte para o Manaus, para o Haiti, para o inferno, para o raio que o parta, esse
menino tem que saber que eu não sou um bicho papão que veio acabar com a vida dele!

-- É assim que você pretende encontrar seu filho, sem uma preparação, sem nada? – Eu perguntei para
ganhar tempo. – Júlia, por que... Por que a gente não espera a polícia encontrar o João, ai com calma, eu te
apresento, sei como uma amiga e depois...

Júlia fez um gesto negativo.

-- Não! Não combina comigo. Demorei dez anos pra tomar essa decisão, não posso começar mentindo. –
Júlia me garantiu antes de sair da saletinha. – Ele já me odeia, não posso querer ainda por cima enganar ele. A
gente vai se conhecer assim... A seco, no tapa...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

E saiu sem me dar maiores explicações. Nem menores explicações ela deu. Quando voltei para a sala só
encontrei Isa e Laísa lá terminando de apagar as luzes.

-- Cade todo mundo?

-- A Duarte foi levar a Nat em casa para ver a tal foto do João. A Rebeca saiu atrás do Bruno que saiu atrás
do João. – Era a doida da Júlia todinho mesmo. – E os polícias foram embora...

-- Queria tanto poder ajudar...

-- Sério? Seu desejo é uma ordem! – Isa me respondeu de imediato. – LAÍSA, ACHEI ALGUÉM PARA
FICAR COM VOCÊ!

Laísa veio correndo do banheiro do escritório. Logicamente que aquela não era minha idéia de ajudar. Quase
fuzilei a Isa, Laísa não era uma criança, mas uma pestinha em forma de gente. As vezes parecia um menino e
tão Maria Moleque. Corria de um lado para o outro, usava um boné velho de João sempre virado para trás.
Sempre estava querendo comer ou um brinquedo novo, quase nunca ficava satisfeita. Por outro lado tinha
uma saúde e uma esperteza de dar inveja a qualquer. Como minha barrigona impedia de sair doida atrás de
alguém, aceitei a condição e me “auto nomeei” tutora da Laísa. Acompanhada da menina fui até a casa de Nat
saber de notícias, cheguei lá e cruzei com os polícias saindo e Júlia também chegava. Nat não fez cara boa ao
ver a irmã. Acho que era a primeira vez que elas se encontravam no apartamento de Natália.

-- O que você veio fazer aqui?

-- Nat, eu preciso conversar com você... – Júlia começou. – Você também Duarte... Vocês, o Bruno você
Alice... Conhecem o João melhor do que eu... Não tem idéia nenhuma de casa de algum amiguinho, algum
lugar secreto? Criança tem muito disso.

-- Você acha que eu não liguei? – Natália retrucou nervosa. – Você veio fazer o que aqui afinal?

-- Explorar todas as possibilidades! – Júlia retrucou. – Onde é o quarto dele?

-- Você não vai entrar no quarto dele!


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Cacete, Natália, eu preciso saber quem é esse menino, o que ele gosta pra ter uma pista para encontrar!

As próximas horas pelo jeito seriam assim. Natália batendo boca, Júlia retrucando e Duarte e eu tentando
apaziguar as coisas. Por fim Júlia foi liberada para entrar no quarto de João. Duarte resolveu se mexer
também.

-- Eu vou ligar para o Thiago, eles são amigos de escola, estão na mesma classe. Talvez ele tenha dito alguma
coisa, dado alguma dica.

Natália fez um gesto afirmativo, não parava de andar de um lado para o outro. Duarte se retirou como celular
no ouvido e eu fui para o lado de Natália com um copo d’água. Ela recusou de primeira e pediu para ficar
sozinha de um jeito ríspido.

-- Natália, será que você não entende que eu não tenho medo de quando você faz cara feia pra mim? Eu sei
que a ultima coisa que você quer agora é ficar sozinha...

Ser humano é um dos bichos mais esquisitos da face da Terra. Quando diz não é sim, quando diz sim é talvez
e quando diz talvez é não. Não se importamos em se comporta feito crianças respondonas, mas temos
vergonha de chorar feito um bebê na frente dos outros. Nat estava a ponto de chorar como se tivesse a idade
da Laísa. A única coisa que eu podia ajudá-la naquele momento era dar um beijo em sua testa, colocar o
copo d’água ao seu lado e deixá-la só para ter medo à vontade.

Duarte estava na cozinha, ainda tentando arrancar do filho qualquer pista que nos levasse a João, no quarto,
Júlia encarava o painel fixamente. Estranhamente não tinha as várias fotos de João como das vezes que eu vi,
apenas aquele dois desenhos feitos por ela.

-- Sua mulher era tão bonita...

Júlia fez um gesto afirmativo de um jeito triste.

-- Ela tinha acabado de se formar quando fiz esse desenho... Eu lembro que ela dormiu assim do meu lado na
cama... Eu consegui dar uma escapada para ir na colação de grau e de manhã tinha que voltar pra dar uma
olhada em um paciente recém operado... Ela reclamou que eu quase não tinha tempo para ela. Eu passei a
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

noite toda acordada, fazendo esse desenho... Deixei em cima da cama, assim do meu lado... Logo depois, eu
pedi pra ter o João.

-- Foi sua a idéia?

Júlia fez outro gesto afirmativo.

-- Eu tinha a sua idade, 26 anos, mas sabia que era a pessoa certa... Me espalhava muito por aí... Mas pela
Marcinha foi amor, amor mesmo... Sempre fui doida por criança, na minha cabeça nada mais lógico do que
formar uma família com ela... Alice, eu juro que não voltei pra tirar esse quarto, pra tirar essa segurança da
vida do meu filho... Não quero tomar o lugar da Natália.

Eu dei um sorriso triste e deixei meu braço escorregar sobre o ombro de Júlia. Meus olhos passearam por
alguns pôsteres do mural.

-- Você tem razão quando diz que não pode enganar seu filho. Eu tenho certeza que ele vai te adorar quando
você mostrar sua melhor parte pra ele...

Júlia deu um sorriso meio sacana.

-- Meu abdômen ou as minhas pernas?

-- Sua sinceridade, sua boba! – Eu respondi sorrindo. – Você é uma das pessoas mais sinceras que eu já vi,
não tem vergonha de dizer que se sente fraca...

Para disfarçar a tristeza, Júlia começou abrir o guarda roupa de João, procurar por alguma coisa que levasse
até ele.

-- Postêr da Sharapova... Eu também gosto dela...

-- Não sabia que você gostava de tênis...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Gosto das pernas da Sharapova. – Júlia me confessou. – Homem Aranha... - Julia pegou o boneco jogado
sobre a cama. A Marcinha leu não sei onde que era bom conversar com bebê, ai eu contava histórias do
Homem Aranha, comprei um enxoval inteiro...

-- Júlia, você escutou o que eu te disse?

-- Grande segurança posso dar a ele assumindo que sou fraca...

Não digo que ser humano é o bicho mais complicado da face da Terra? Se ela não estivesse tão amuada e
tristinha eu falaria até o dia seguinte ou a deixaria falando só, mas o que deu vontade mesmo de fazer foi me
abraçar a ela e dizer que logo logo o João apareceria e que nada ia dar errado.

-- Ele não tinha muito dinheiro, segundo a Nat, não poderia ir pra muito longe... Se eu fosse um menino de
dez anos pra onde eu iria?

-- Uma vez quando eu tinha dez anos fugi de casa... – Confidenciei. – Dormi em uma igreja...

Natália entrou no quarto e ouviu minha ultima frase.

-- Em uma igreja?

-- É. – Confirmei. – Tentei fugir pra entrar no convento. Queria virar freira.

Imaginem a freira lésbica, grávida de pai supostamente desconhecido, pegadora de família em série... Amém...
Nossa, na visão da igreja católica eu virei uma espécie de Christiane F, 13 anos, drogada e prostituida. Ou
talvez a Lindsay Lohan brasileira, que horror!

-- O João será que fugiria pra virar padre?

-- Pelo amor de Deus! – Natália disse em um tom negativo. – Fugir pra virar padre? O João? Mais fácil ele
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

fugir pra ser baterista do Mettalica ou Iron Maiden...

-- ACHEI!

Júlia sacudia um papelzinho que encontrou na gaveta, pensei que fosse alguma carta de despedida, ou algo do
tipo, mas não, para surpresa minha e de Natália não era nada escrito, mas sim desenhado. Era o parque, o
mesmo desenhado por Júlia há anos atrás, alguém tentava refazer o desenho e largou pela metade.

-- Ele gosta de desenhar, não gosta? – Júlia perguntou para nós duas não disfarçando ansiedade. – Natália,
diz que foi o João que fez isso.

-- Gosta, a vovó deu os seus desenhos pra ele por isso. Mas por que?

Júlia abriu o sorriso.

-- Olha o ponto de vista do lago, esta vendo?

-- O que tem haver isso?

-- O ponto de vista que ele tem pra desenhar só pode ser de cima. Igual o meu, e sabe de onde eu desenhei
isso?

-- De onde?

-- Daquele prédio abandonado do centrão. Só ali da pra ter essa visão.

Natália esboçou o primeiro sorriso da noite já compreendendo o raciocínio da irmã.

-- O prédio abandonado do centrão... Um excelente lugar para passar a noite. Você acha que ele pode estar
lá?
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- É um lugar...

___________________________________________________________________________

Não imaginávamos, mas Júlia havia acertado na mosca. Como eu soube? Não tenho bola de cristal e nem sou
um átomo que pode estar em dois lugares ao mesmo tempo, mas mais tarde João confirmou nossa teoria em
seu depoimento policial. Vou seguir o relato que ele deu.

João chegou naquele casarão abandonado do centro ás oito horas da noite, as primeiras horas de
desaparecido ficou ali pelo hospital procurando pela doutora “Caco Cola”. Só não foi pego por Rebeca com
quem quase trombou por muita sorte, se enfiou embaixo da cama de um dos pacientes e se escondeu ali até
de noite.

Já conhecia o casarão de outras vezes. Ia escondido ali e passava horas desenhando quando queria ficar
sozinho. Só que nunca tinha ido à noite. Pensou em ficar em outra lugar, mas a chuva chata caiu e teve que
arranjar abrigo logo. Não ficou muito tempo só. Deitado usando a mochila como travesseiro, ouviu de fora a
chuva apertar e um vento desses que uivam bater nas janelas com vidros quebrados do velho casarão dando
um ar fantasmagórico a situação. Ouviu um barulho de passos. Fechou os olhos e começou a pedir para que
não fosse nada até sentir uma mão gelada apertando seus braços.

-- O que esta fazendo aqui garoto?

Ao abrir os olhos, deparou-se com um sujeito barbudo e velho, parecendo aquela Enéas que se candidatava a
presidente da republica e gritava feito um louco na campanha eleitoral “Meu nome é Éneas”. João tentou fugir
e o braço foi apertado até machucar. Sentiu um forte cheiro de pinga vindo do homem.

-- Onde pensa que vai garoto?

-- Você esta bêbado!

-- Onde você vai?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Ele já agarrava João pelos ombros de um jeito violento. O garoto sentiu que estava em perigoso, deu um
pisão no pé, ouviu um palavrão do barbudo e saiu tentou sair correndo, mas foi agarrado pelo braço e jogado
no chão. Antes que pudesse falar algo, o homem tirou a cinta.

-- Você vai ver, moleque! Vai perder essa carinha de playboy agora mesmo!

End Notes:

Algum palpite do que vai acontecer?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 23 by Tamaracae

Author's Notes:

Desculpem só postar hj, mas a semana foi muito, muito, muito corrida! Boa leitura pra
vcs!!

-- Alice, eu já te disse que pode ser perigoso? – Júlia me questionou. – Por que você não fica em casa?

-- Alice, você esta conseguindo andar? – Nat me perguntou tão preocupada quanto Júlia. – Se você ficar em
casa a empregada pode preparar alguma coisa pra você comer, você descansa.

Ótimo, em vez de uma mulher, arranjei duas babás. Parabéns , Alice!

-- Eu já disse que vou com vocês!

-- Teimosa! – As duas disseram em um tom unido. Engraçado né? As bonitonas achavam de se unir só para
falar mal da minha pobre pessoa desprovida de sorte, não é mesmo?

Mesmo contra vontade entrei no carro de Natália e segui com as duas até o casarão do centro da cidade.
Aposto que vocês devem estar fazendo coro as duas e pensando, Alice, sua doida, para quieta com essa
barrigona de oito meses. Eu até agiria como uma grávida normal e teria um ataque de hormônios, mas seria
pior para mim. Eu não podia ficar ansiosa. Agora imaginem ficar em casa assistindo novela enquanto não
tenho notícias de nada. Literalmente ia ter um filho. Não dava para ficar esperando. E eu já tinha jantado,
tomado minhas vitaminas, andava fazendo o dever de casa de grávida direitinho.

Fizemos o caminho caladas. Nat dirigiu em tempo recorde. Em quinze minutos e estávamos no centro. Um
adorável (só que ao contrário) dilúvio achou de cair na cidade. Depois de cruzarmos com Nóe, sua arca e os
amáveis casais de bichinhos, chegamos no casarão encharcadas. Quando ouvi falarem de casarão, nunca
imaginei que fosse um casarão de verdade, mas era. Construção antiga, dessas do fim do século IXX,
maltratada pelo tempo.

-- Alguém já morou aqui? – Eu indaguei as duas. Ainda estava impressionada com a construção. – É
abandonado mesmo?

Júlia e Natália se entreolharam.

-- Já Alice, era uma pousada. – Natália me respondeu. – Mas tem uns dez anos que ninguém mora aqui.

-- Quem ia abandonar um lugar assim? – Questionei em voz alta, mas para mim mesmo do para elas. – É
enorme aqui... E já foi bonito.

Outra troca de olhares entre as irmãs, dessa vez Júlia que me esclareceu.

-- Era do pai da Marcinha. A gente se conheceu aqui. – Eu como sempre só dando bola dentro. – Vim me
hospedar aqui logo que sai de casa. A Marcinha ajudava o pai na pensão... O ex marido da Nat também
morava aqui também... Na época a gente era tudo estudante.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Natália encarou Júlia de um jeito debochado.

-- Ex marido?

-- Foi assim que o Gabriel se apresentou pra mim quando me viu em Manaus.

Natália fez um gesto negativo.

-- Não sei onde estava a minha cabeça quando aceitei morar com o Gabriel. Não passa de um moleque...

Júlia deu um sorriso e me explicou.

-- Se fosee um filme americano seria mais ou menos aqueles casais que tomam um porre, vão pra Las Vegas
e se casam. - Nat fechou a cara, Júlia continuou falando sorrindo. - Você imagina a Nat casa com um
motoqueiro do tipo cafajeste?

-- Pra você ver que não é única que fez besteira na juventude, bonitona. - Nat rebateu de um jeito
engraçado.

A conversa entre as duas se findou quando cruzamos a porta de entrada. Fora de um centro cirúrgico eu não
sou lá muito corajosa. Eu tenho medo de raios como já revelei. Não gosto muito de lugares escuros e
desconhecidos,também tenho medo de barata, rato, lacraia, lesma, caracol e dentro daquela casa velha
parecia ter um monte deles. Me senti entrando em um ecossistema. Com meus pés inchados devido ao
adiantado da gravidez, só conseguia andar com uma havaianas bem velha. Os dedinhos do meu pé já
ganhavam aquelas ruguinhas de quando fica muito tempo embaixo da água devido ao chão molhado. Ainda
bem que Júlia insistiu em trazermos lanternas. Senti algo tocando em minha perna e me agarrei na primeira
coisa que vi pela frente aos gritos. Depois vi que a primeira coisa que estava a minha frente era Júlia.

-- De- Desculpa... É que acho que alguma coisa agarrou na minha perna...

Júlia apenas fez um gesto afirmativo, Natália encarou nós duas contrariada. Parecia não ter nada ali. Outra vez
senti algo encostado na minha perna.

-- AAAAAAAAIIIII!!

-- Que foi? – Nat me perguntou preocupada.

-- Acho que alguma coisa subiu na minha perna...

-- O que, uma barata, um rato?

-- Não! – Falei desesperada. – Não é isso.

-- Vai ver é um mandruvá... – Júlia sugeriu em um tom sério.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Que?

-- Mandruvá... Um bichinho meio gosmeto que da em arvore assim, as vezes vai subindo pela perna.– Só de
pensar numa coisa desses grudando na minha pele já sentia minhas vias aéreas fechar, o coração acelerar. –
Ás vezes ele gruda em uns lugares mais quentinhos...

-- QUE?

Júlia deu uma gargalhada.

-- Respira coisa nervosa, isso só da em arvore!- Natália também se divertia junto da irmã com a minha cara.
Apesar de quase nove meses morando em Silvéster, eu ainda tinha algumas atitudes “urbanóides” demais.
Bem típica de gente que passou a vida inteira trancada em um apartamento e o máximo de natureza que tinha
de contanto era o “National Geographic” na TV a cabo. As duas, diferente de mim, cresceram em uma
fazenda. Eu achava um charme aquele jeito interiorano das duas, o sotaque, mas na hora não ri. Palhaças.
Estavam me botando medo propositalmente para eu voltar para o carro. Acertei um tapa nas costas de Júlia.
– AAAi, Alice, tem certeza que não quer voltar para o carro?

Eu ia falar qualquer coisa, mas nova mente algo atingia minha perna e me agarrei em seu ombro.

-- Tem alguma coisa aqui...

-- JOÃO? – Júlia perguntou em voz alta. – JOÃO?

-- JOÃO, SE FOR VOCÊ APARECE! – Nat complementou. – JOÃO?

Outra fisgada na perna. Bom, não foi bem uma fisgada, parecia uma pedrinha que alguém atirou na minha
perna. Dessa vez ouvimos um gemido de alguém que com certeza estava ferido. Puxei a lanterna das mãos de
Nat e iluminei a direção de onde as pedrinhas estavam vindo.

-- Meu Deus, Bruno, o que aconteceu?

Meu amigo não conseguia responder. Provavelmente a dor não deixava. Bruno estava deitado no chão, muito
ferido. Alguém havia enterrado uma garrafa cortada ao meio bem na barriga. Júlia e Nat correram em seu
socorro, eu não poderia fazer o mesmo por conta da minha barriga, usava as duas lanternas para iluminá-lo
bem.

-- Liga pra emergência. – Júlia ordenou após constatar umas manchas roxas no abdômen e Bruno, ele tremia
de frio, os lábios estavam meio arroxeados também. – Ele esta com hemorragia interna.

Enquanto Natália ligava para o hospital pedindo a UTI móvel, Júlia tirou o próprio casaco e entregou ao
irmão.

-- Ele não pode passar muito frio senão vamos ter um caso de hipotermia. – Me explicava. –Bruno, você esta
me escutando? – Bruno fez um gesto afirmativo. Bom sinal, ainda tinha consciência. – O que aconteceu?

-- Ca-Cai... – E apontou para o primeiro andar. Só então pude ver um corrimão podre da escadaria de
madeira rompido. – Vagabundo me a-acertou...
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Júlia fez um gesto afirmativo. Tentava ao máximo proteger Bruno das goteiras.

-- Você veio atrás do João?

Bruno confirmou com a cabeça.

-- E-ele escapou... – Estendeu a mão, reconheci o celular de João. – An-Antes...

-- Entendi, fica quietinho agora...

A cena era digna de um filme de terror. Um vento uivante, desses que intimida, cantava por toda a cidade. Os
raios também não davam uma trégua. A pouca iluminação dificultava o trabalho de Júlia. Nat, ainda com o
telefone no ouvido procurava saber notícias da ambulância que nunca chegava. Bruno devia estar mal mesmo.
Quando Júlia foi levantar ele se agarrou a mão dela com muita força. Desde a vinda de Júlia e a discussão dos
dois, Bruno a tratava apenas como uma médica do hospital, mas agora seus olhos imploravam pela irmã.
Natália desligou o telefone.

-- Esta o caos na cidade, uma ambulância estava vindo, morreu no caminho, estão tentando trazê-la assim. O
helicóptero não tem condições de levantar vôo com essa chuva toda. Esta muito ruim?

Júlia examinava com o estetoscópio trazido do carro.

-- Pior que muito ruim. Pelos menos duas costelas quebradas. – Sussurrou para que Bruno não ouvisse. –
Alice, cobre ele aqui...

A lona da carroceria do carro de Nat protegia Bruno da chuva, mas ele ainda estava com frio e sede,
sintomas típicos da hemorragia. Virei sua pulsação. Fraca e rápida.

-- A Rebeca já sabe?

-- Ela estava de plantão... Já deve estar sabendo...

Aquela foi a primeira vez que vi os três juntos e unidos. Compreendi que apesar de todas as brigas e
desavenças, uma bonita amizade corria entre os três. Nat também tirava a própria blusa tentando proteger
Bruno do frio. Rapidamente ele puxou a blusa sobre seu corpo.

-- Calma bebezão... Eu sei que esta doendo, mas logo a ambulância chega. – Júlia tranqüilizou. Bruno ainda
teve força para dar um sorriso. – Lembra que eu te chamava assim na frente das meninas só pra te irritar...
Bebezão! – Júlia deu um sorriso. - Você chorava de raiva... Sempre foi chorão...

Dessa vez Nat que deu um sorriso.

-- Olha quem fala...

-- O que tem eu? – Júlia questionou séria. – Nunca fui chorona...

Nat e Bruno trocaram um olhar divertido.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Só digo uma coisa... – Bruno até sorriu e falou junto com uma voz fraca. – Rei Leão...

Júlia desfez o sorriso, sem graça.

-- Lembra, Bruno? Desse tamanho já, foi levar a gente pra ver o filme no cinema e saiu chorando... – Nat
revelou divertida. – “Ai... A estrela falou com o filho...”

Bruno também riu.

-- Quinze anos na cara, quase dois metros de altura e saiu chorando da sessão do Rei Leão...

Eu também ria divertida com Júlia tentando se explicar.

-- Pô, mas foi sacanagem do tio do Simba... ele podia ter salvado o irmão... – Nós três voltamos a rir. –
Melhor que você Nat, ficou toda apaixonadinha pelo Leonardo de Caprio depois do Titanic...

-- Coisa de adolescente... Nem vem...

-- Fotos pelo quarto. – Júlia me revelou. Nunca ia imaginar que aquela Nat toda dura, um dia foi uma tietê
adolescente. Morri de rir com aquela sessão de teu passado te condena”. A Júlia imitando Nat falando toda
menininha. – Ai se eu tiver o filho vou por o nome dele de Jack... E se for mulher vai ser Rose... – Bruno
também riu. – Você também não pode falar nada não... Lembra Nat... Todo machinho, todo homenzinho, ai
teve uma apresentação de colégio...

Natália deu uma gargalhada com apetite e Bruno fechou a cara.

-- Fez cover de Sandy e Júnior... Todo boiolinha... – Gente, tem maior pagação de mico do que
apresentação de escola? Uma vez uma professora inventou da gente dançar uma música do É o Tchan para
os pais e eu, “sortuda” desde criança fui escolhida pra fazer a Carla Perez por causa dos meus cabelos
loirinhos. Resultado. Eu e uma gordinha de biquíni dançando axé. É claro que eu fazia o movimento todo
errado do dela e lógico também que meu pai filmou aquilo e mostrava pra todo mundo que fosse em casa.
Para vocês verem, meu histórico com vídeos não é muito bom. - Como era mesmo a música? – Júlia afinou
bem a voz de um jeito bem engraçado. Fez um coraçãozinho com as mãos, provavelmente imitando a
coreografia de Bruno. Nat morria de rir. – E é você chegaaaarr... Pra esse turu, turu, turu, turu, vir me
atormentar...

-- Todo viadinho lá na frente da classe... – Nat complementou ainda rindo.

-- Babaca!

-- Esse turu, turu, turu aqui dentro... E faz turu, turu, turu quando você passa...

As duas cantarolavam juntas para mexer com os brios do caçula. Júlia e Nat conseguiam ocupar o tempo
com maestria. A polícia estava atrás de João, mas agora o estado de Bruno era o que mais preocupava.
Rebeca me ligava de cinco em cinco minutos, estava vindo junto dos paramédicos, mas a água não deixava
chegarem ao centro da cidade.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Falando em João, este conseguiu se livrar das cintadas de um jeito peculiar. Deu chute bem dado no saco do
bêbado e saiu correndo do casarão velho. Se tivesse ficado lá um minuto depois, talvez encontrasse com
Bruno chegando e presenciaria a briga do tio com o barbudo. Depois de tentar atacar Bruno e levar dois
socos na cara, o bêbado confessou.

-- O pirralho escapou. Aquele diabinho não vai longe...

Bruno deu um sorriso vitorioso. Oras, se conseguiu abater o velho, João estava bem. Já ia sair quando o outro
lhe deu um empurrão, se virou tentando se defender e o velho barbudo o surpreendeu espetando sua barriga
com metade de uma garrafa de pinga quebrada. Bruno cambaleou de dor, o corte havia sido profundo.
Tentou se segurar no corrimão e este acabou cedendo. Caiu do primeiro andar da casa. Assustado, achando
que Bruno morreu na queda, o velho foi embora. Bruno avistou algo brilhando. Mesmo com dor e caído, se
arrastou até o ponto brilhante e reconheceu o celular de João.

Realmente ele esteve ali como havia imaginado. Como imaginou que João estivesse ali? Instinto. Certa vez,
Bruno contou a João que Marcinha morava ali. Talvez fosse um lugar que João se sentisse seguro. Foi atrás e
acabou encontrando o bêbado.

Alheio ao acidente com o tio, João cochilava dentro de um ônibus municipal. Não sabia o destino do ônibus,
apenas entrou para fugir do velho e acabou cochilando. Alguém lhe sacudiu os ombros. Ao abrir os olhos se
deparou com uma garota maquiada, de short curto e uma mini blusa. Não era feia, mas a maquiagem não a
favorecia.

-- Garoto, não vai descer?

-- Não, eu vou dormir aqui mesmo...

-- Mas aqui é ponto final... Tem que descer.

Não estava nos planos de João voltar para a rua. E agora também estava com medo de ir pra casa e levar
bronca. Ou senão Júlia aparecer querendo levá-lo embora. Tinha duas opções. Resolveu seguir seus planos e
dormir na rua. Desceu acompanhado da mulher. Avistou um vulto parado na esquina. Com medo de ser
assaltado ou abordado pelo tal vulto, João resolveu andar ao lado da moça. Logo ela notou que tinha
companhia.

-- Que foi garoto, esta perdido?

-- Não é que... Eu gosto de andar essa hora... – Inventou. – Você esta indo pra casa?

A mulher analisou João. Com certeza fugiu de casa. Há uns vinte anos atrás ela também havia fugido, só que
tinha uns cinco anos há mais que ele.

-- Temos alguém com fome aqui? Você quer comer alguma coisa?
-- Minha tia ensinou que não pode aceitar nada de estranhos. Meu nome é João.

-- O meu é Raquel.

-- Agora você pode me dar comida. Não somos mais estranhos.


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Raquel deu um sorriso divertida. Ficou com dó do garoto na chuva. Pelas roupas de marca, o jeito de falar,
notou que não era um desses trombadinhas nem nada parecido. Deixou entrar em seu pequeno quartinho
instalado em uma casa de cômodos de aspecto pouco familiar.

-- Você mora aqui?

-- Moro?

-- Cade seu pai?

-- Não tenho pai.

-- E sua mãe?

-- Também não tenho mãe.

-- E o seu marido?

-- Você gosta de perguntar, hein menino? – Raquel comentou rindo enquanto dividia com João a marmita que
trouxe da rua. - Também não tenho marido.

-- Deve ser legal morar sozinha né?

-- Mais ou menos. Olha, vou deixar você dormir aqui hoje, mas amanhã já não posso, tudo bem?

-- Tá bom. Amanhã eu volto para casa. – João mentiu. Sua intenção era arranjar outro lugar para ir. Talvez
fosse até o hospital atrás da doutora Caco lhe pedir abrigo. – Você não tem filho?

-- Não.

-- Por que?

Durante o jantar, João e Raquel conversaram bastante. Ela gostava de crianças, levava jeito. Quando era
pequena queria ser babá ou professora. Uma pena que a vida foi tão difícil e nunca pode realizar seu sonho de
menina. Crianças feito João não a julgavam por se sustentar fazendo programas. Nem tinham ideia para falar a
verdade e era isso que mais encantava Raquel, pessoas que mal sabiam que aquele submundo existia. João
adormeceu assistindo TV sentado em uma poltrona. Com certa dificuldade o ajeitou em um sofázinho e cobriu
seu corpo com um lençol. Dormiu a noite toda. Estava muito cansado.

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Do outro lado da cidade, os risos e lembranças de infância haviam cessado. Bruno piorava e a nada da
ambulância conseguir atravessar o aguaceiro que caia sobre Silvéster. Júlia o examinou mais uma vez.

-- Droga...

-- Que foi?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- A pressão no pulmão dele esta alta... Ele esta hipertensivo. Não da pra ficar esperando... Tem tubo e
agulha no carro?

-- Júlia, ele precisa de uma ressonância, uma tomografia,um raio X... Não da pra fazer nada sem saber como
ele esta internamente. – Natália rebateu. – A ambulância deve estar chegando.

-- Já estamos há quanto tempo aqui? – Júlia questionou preocupada. –Não da pra esperar mais.

Como médica, eu sabia que o mais certo era tirar uma fotografia interna do corpo do meu paciente para ver
seu estado físico, mas Bruno estava praticamente agonizando nos nossos pés. Por outro lado, eu sabia que
Júlia já tinha operado em situações muito piores, como guerra, terremoto, no meio da floresta. Eu confiava na
competência dela.

-- Nat, ele precisa de descomprimir o pulmão urgente...

-- Eu sei o que o meu irmão precisa, eu freqüentei a faculdade, Alice. – Eu odiava aquela mania da Nat de
dar patada em Deus e o mundo quando estava nervosa, mas acabei não falando nada naquele momento. – Eu
vou atrás da ambulância.

-- Que?

-- Eu vou atrás da ambulância, vocês fiquem aqui.

E assim ela fez, sumiu no meio daquela tempestade. Bruno ficava quieto pois doía muito o exercício de
respirar e inspirar. Ele era forte mesmo. Cair daquela altura e conseguir agüentar aquele tempo todo não era
pra qualquer um.

-- A Nat sabe se cuidar, daqui a pouco ela esta ai... – Júlia me disse como forma de consolo. – E você com a
barriga? Não quer ficar no carro?

-- Não, eu estou bem.

-- Você esta tremendo...

-- Um pouco de frio.

-- Vem cá, vem... A lona é grande... Dá nós três...

Bruno apertava a mão de Júlia como se ela passasse a vida que tinha para ele. Já tínhamos aplicado morfina,
mas a dor parecia desumana. Eu sentia o braço de Júlia roçando no meu sem querer. Ela deixava eu apoiar
minha cabeça em seu ombro para descansar. Ora ela conversa com Bruno para mantê-lo consciente, ora
ficávamos calados, trocávamos olhares. Da outra vez que estávamos tão perto assim nos beijamos. Por um
segundo me esqueci daquele drama todo, fechei os olhos e desejei que ela tomasse os meus lábios. Sou uma
egoísta, eu sei, mas aquela fase final de gravidez estava me deixando em um estado de carência de
enlouquecer qualquer cristão. Meu celular tocou me fazendo despertar.

-- Alice, estamos na rua de trás, daqui uns cinco minutos estamos ai, como ele esta? – Rebeca me perguntou
duplamente preocupada. – Tá com muita dor.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Vem o mais rápido que vocês puderem. Vou por o celular no viva voz, fala com ele.

Acionei o viva voz. Bruno sorriu ao ouvir a voz de Rebeca.

-- Amor, agüenta só mais um pouquinho, a gente já esta chegando tudo bem? Por favor, Bruno, agüenta por
mim...

Bruno murmurou algo quase incompreensivo.

-- Claro meu amor. - Nem eu entendi, como ela entendeu alguma coisa? - A gente já esta chegando.

Desliguei o telefone. Me senti envergonhada de cochilar no ombro de Júlia naquela situação. Demonstrava
fraqueza.
-- Desculpa...

Júlia não me respondeu. Apenas fez um carinho nos meus cabelos e deixou minha cabeça tombar em seu
ombro. Por mais contraditório que podia aparecer, me senti em paz ali sentadinha quase abraçada a Júlia,
embaixo daquela lona. Passaram-se mais alguns minutos e nada da ambulância. O estado de Bruno começava
piorar, talvez pela ansiedade.

-- Re-beca... – Ele murmurava guaguejando. – Be-ca...

-- Ela já esta chegando...

Nada estava ajudando mais, Júlia levantou decidida.

O que você vai fazer?

-- Vou até o carro. Eu tenho que por um tubo ai, não da pra esperar mais.

Falando assim parece ser fácil, mas o que Júlia precisava fazer era dar uma agulha no peito do irmão, sem
anestesia, com pouca iluminação e sem nenhuma previsão de quando o socorro ia chegar. Ela chegou
encharcada de chuva com os utensílios de Nat.

-- A Nat levou a chave, tive que arrombar o carro. Me ajuda aqui.

Depois de esterilizar as mãos usando água de uma garrafinha de água mineral e um isqueiro, Júlia colocou as
luvas e preparou tudo para o procedimento.

-- Estamos prontas? – Perguntei segurando a mão de Bruno.

-- Aguenta firme, ele vai apertar sua mão. – Fiz um gesto afirmativo. Júlia olhou para Bruno. – Bebezão, isso
vai doer...
Bruno fez um gesto afirmativo. Ele quase quebrou meus dedos quando ela deu a agulhada. Debatia-se feito
criança , eu tentava segurar seus braços.

-- Calma, calma, é assim mesmo! Calma! – Júlia segurava suas mãos com força tentando lhe passar
segurança. – Eu sei que esta doendo, tá doendo pra caralho, mas você tem que agüentar.
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Menos de um minuto depois ouvimos a sirene. Nat e Rebeca vinham com a UTI móvel praticamente no
muque. Rebeca, muito mais namorada do que médica chorou horrores ao ver o tubo no peito de Bruno. Não
tinha condições mesmo de passar para o outro lado. A ambulância se tornou uma sala cirúrgica móvel. Aos
comandos de Júlia, Nat e o restante dos paramédicos salvaram a vida do Bruno em uma ambulância no meio
de um temporal. Evidente que no dia seguinte, no hospital ele teve que fazer tomografias e outros
procedimentos, mas ele conseguiu chegar lá vivo e estável. Não esqueço de antes de iniciar o procedimento,
Júlia já vestida com a roupa cirúrgica, de máscara no rosto, brincando com Bruno.

-- Quem tá vivo ai levanta a mão!

Bruno ainda tendo um lapso de consciência ergueu levemente o dedo mindinho. Por debaixo da máscara senti
ela dando um sorriso.

-- Vamos lá gente, temos uma vida pra salvar!

Eram onze horas da manhã quando o atendente do caso, doutor Gusmão, veio procurar Rebeca e a família
para dar notícias. Júlia tinha saído para saber notícias de João e infelizmente voltou sem novidades.

-- Como ele esta doutor?

-- Estável, dormindo... Se não houver complicações e nem infecção por conta do primeiro atendimento, vai
para casa em dois dias.

Júlia deu um sorriso.

-- Aqui ali é um cavalo. Como pode ter a cabeça tão dura? Cair de uma altura daquelas e não quebrar a
cabeça...

-- Doutora Júlia, foi você que guiou a cirurgia na ambulância?

Júlia fez um gesto afirmativo.

-- Simplesmente surpreendente, estou boquiaberto com o seu talento. Já escolheu alguma especialidade?

Júlia o encarou surpresa assim como Rebeca e eu. Gusmão era o maior especialista em cirurgia cardiotorácica
do país em atividade. Gente de todo Brasil vinha operar com ele. Tinha artigos publicados em revistas
americanas, lembro até de Nat falando que Gusmão causava um arrombo em sua folha de pagamento de
funcionários.

-- Trauma...

-- Doutora Júlia, acho que a senhora tem talento para fazer tudo o que fizer... Esta de parabéns.

E para meu desagrado, veio internas em cardume para perguntar como foi a cirurgia, tirar dúvidas e ficar se
esfregando nela de todo jeito. Depois de desviar de seu fã clube, uma notícia nada agradável chegou em
nossos ouvidos.

-- Encontraram uma criança de aparentemente dez anos...


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-- Ferida?

-- Morta.
-- Morta?

-- Morta!

Dessa vez não me deixaram ir. E Júlia e Natália usaram da maneira mais baixa para me prenderem no
hospital. Quando tentei sair um segurança não deixou.

-- Desculpa doutora Alice, mas devido ao seu problema estão considerando perigoso a senhora sair as ruas.

-- Que meu problema?

-- Insanidade mental.

-- QUE?

-- Aqui o atestado.

Peguei a folha das mãos daquele grandalhão e lá estava. Um atestado de insanidade mental falsificado,
assinado por um psiquiatra e embaixo as duas assinaturas. Doutora Júlia e doutora Natália Franco. Não disse
que as bonitonas só se unem quando é para ser contra mim? Guardei o papel. Era bom tê-lo em minha posse.
Depois de matar as duas, usaria o própria atestado me diagnosticando como louca clínica para me inocentar
com a polícia. Silvinha me ligou com mais notícias.

-- Anunciei o sumiço do João na rádio, como você me pediu...

-- Alguém ligou?

-- Sabe quantos Joãos existe no Brasil? Olha Alice, ligou alguém de Bom Jesus da Lapa flando que o João
chegou lá.
-- Isso é onde?

-- Piauí.

-- Piauí?

-- Piauí!

Tá certo que o João era esperto, mas Piauí? Estava lá, perdida em meus pensamentos quando avistei Natália
chegando cabisbaixa. Meu Deus, só faltava... Não... Ou...

-- Alice...

-- Como foi lá?

-- Horrível. Nunca me senti tão mal em toda minha vida...


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Nat...

-- Não era ele. Mas uma criança, Alice... Podia ser o meu sobrinho... A Júlia tá arrasada...

-- Onde você vai agora?

-- Vou em casa, tomar um banho, me trocar... To me sentindo um lixo...

Como um ato de costume, trocamos um beijo rápido e Nat partiu. Eu queria ir pra casa, mas o segurança não
deixou.

-- Mas eu não sou louca... Eu tenho o direito de sair...

-- Aqui tá que a senhora tentou suicídio três vezes. Quase se jogou do décimo andar de um prédio...

Imagina, justo eu que nem de salto gostava de andar por causa da altura. Eu ia matar a Júlia. A Nat é certinha
demais pra ter inventado essa maluquice.

-- Como eu faço pra te convencer que não sou louca.

-- Só se uma das médicas liberar o atestado...

Droga, Nat tinha ido embora, só Júlia para me salvar, não tinha jeito, teria que ir atrás dela.

Ignorando nossa preocupação, João dormiu o sono dos justos e acordou disposto a continuar sua fuga. Para
isso, ironicamente precisa ir ao hospital onde praticamente toda família se encontrava. Cauteloso, entrou pela
sala de atendimento clínico. Não estava disposto a encontrar ninguém do andar cirúrgico. Para seu azar,
alguém da clínica passou mal e a chefe de cirurgia foi bipada. Nat estava descendo do elevador quando viu
aquela figura conhecida perguntando a uma das recepcionistas.

-- Viu a doutora Caco?

-- Doutora Caco?

-- É, ela fica no Pronto Socorro.

-- João?

Ao avistar a tia, João não pensou duas vezes e usou as pernas, correu o mais longe que pode, pulou o
corrimão da escadaria e já ganhava o outro andar quando caiu nos braços de alguém. Abriu um sorriso ao
reconhecer a pessoa e pulou em seu colo.

-- Doutora caco, que bom que você esta aqui, não deixa me levarem!

-- Oi, que foi anjinho?


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Natália finalmente alcançou o outro andar, apenas viu o sobrinho.

-- João, volta aqui!

Nesse momento, eu chegava com a dona Regina que tinha vindo visitar Bruno.

-- Júlia, menina, o doutor Gusmão... – Dona Regina se cortou ao avistar o bisneto nos braços da mãe. –
João?

Júlia e o menino se encararam assustados, não tinham ouvido mal. Rebeca e Isa traziam Bruno para fazer mais
exames. Abgail soube do acidente do filho e também veio visitá-lo. Vi as mãos de Júlia trêmulas. Os olhos
apertados se encheram de lágrimas. Colocou o menino no chão e se agachou para ficarem da mesma altura.

-- João?

-- Qual é seu nome?

Júlia olhou na minha direção, dona Regina lhe deu um sorriso a encorajando.

-- Ju-Júlia.

End Notes:

Vem cá, ando notando um fênomeno entre a maioria das minhas leitoras chamado
Paixonite aguda pela Júlia. A mulher tem açúcar é? Cuidado com a diabete povo,rs!!!

E então o que vocês acham que vai acontecer a seguir?

E Alice com esse namoro io io com a Nat?

Um grande abraço!!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 24 by Tamaracae

-- Você sabe quem sou eu?

Em poucos meses, eu já conhecia Júlia. A voz insegura demais, embargada, demonstrando sua fragilidade.
Mais tarde, quando ela estivesse com a cabeça mais fria e lembrasse do “primeiro” diálogo com o filho, com
certeza iria se censurar. João apertou os olhos ficando ainda mais parecido com a mãe.

-- Eu sei que é você! – João deu mais um passo para trás. Para a surpresa de todos estendeu a mão para
dona Abgail. – Vó, deixa eu ficar com a senhora?

Todos nós ficamos em choque. Não pela reação dele de ignorar Júlia, mas por não correr para junto de Nat.
Pelo menos na minha cabeça era o que parecia mais lógico. E pela cara de todo mundo, isso era o que se
passava na mente de todos.

-- João, deixa eu conversar com você... – Júlia tinha dificuldade em organizar as palavras. – Eu tenho tanta
coisa para falar e...

João fechou a cara.

-- Você? Não tenho nada para falar com você. – O tom de João era extremamente agressivo de um jeito que
eu desconhecia. – Mentirosa! Se fez passar por médica legal, minha amiga, mas eu não caio mais nessa.

-- Não, eu não sabia, eu juro que não sabia. – Júlia desesperadamente tentava se defender. – Pergunta para
sua tia Nat, o tio Bruno, a vó Regina... Eu não saia de nada e... João, eu soube de tudo só agora que você
pulou no meu colo...

-- Eu não sou seu filho. Eu quero ficar aqui, você não vai me levar para lugar nenhum...

-- Espera João, não vou fazer isso. Eu sei que sua vida é essa. Eu não posso voltar o tempo, não vou te levar
embora, não vou fazer nada que você não queira... – O garoto parecia desacreditado de suas palavras. –
João, eu sei que não tenho esse direito, mas confia no que eu estou dizendo...
-- CHEGA JÚLIA! – Dona Abgail finalmente se manifestava. – Se ainda te restou um pouco de bom senso,
se afasta desse garoto! Esquece que tem um filho porque o João nunca teve uma mãe! – Júlia a encarou
furiosa. – Ou melhor, ele teve a minha filha Natália.

Acho que tá na hora de falar para vocês um pouco sobre dona Abgail. Se não disse nada antes era porque
até agora ela teve pouca relevância na minha história. Dona Abgail, 59 anos, mãe de três filhos, filha única de
Dona Regina. Sabe aquelas madrastas ruins do filme da Disney? Essa sempre foi a impressão que Dona
Abgail fazia questão de passar para quase todos. Não herdou a simpatia e a simplicidade da mãe, olhava
quase todo mundo com carinha de nojo, salvas únicas exceções: Nat, João e Duarte.

Pelo que eu ouvia e sabia sobre a vida da família Franco, Júlia e Bruno eram os filhos preteridos pela mãe. O
motivo? Várias suposições, mas nenhum comprovado. João criado por Nat, acabou herdando o carinho e o
respeito da avó. Já Duarte... Bom só tinha uma pessoa que Duarte considerava acima de si espiritualmente:
Deus. É claro que Duarte se curvava em algumas ocasiões, mas não se deixava ser destratada e com Abgail
não era diferente. Júlia já tinha me confidenciado diversas vezes que sua relação com a mãe era difícil. Achei
que devia ser só exagero, mas depois do tom que eu ouvi do Abgail usando, enxerguei que preferência pela
outra filha não era só existente, mas também escancarada.
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Mãe, o João tem boca para se defender. – Júlia respondeu tentando se controlar. – E pelo que eu estou
vendo ele consegue fazer isso muito bem.

Abgail deu uma risada irônica.

-- Defender... Você usou a palavra certa... É isso que esse garoto deve fazer, se defender, se afastar de você!
Fugir... Agora se você tem ainda um pouco de senso, podia fazer o bom gosto de sumir como você fez nos
últimos dez anos. Eu garanto que não vai fazer falta a ninguém. – pegou na mão de João. – Vem meu filhinho,
você vai para casa da vovó...

Natália ainda correu para falar com João, mas ele estava irredutível. E sem exagero nenhum, a presença da
avó o influenciou bastante.

-- Você me enganou tia Nat...

-- João, a gente tem que conversar... – Nat procurava por calma para usar as palavras certas. – Eu queria ter
falado que ela estava aqui, mas eu...

-- Ninguém me contou a verdade. Todo mundo me enganou. Eu quero morar com a minha vó!

Seria besteira discutir com João naquele momento. Ele estava com raiva, assustado, machucado. Abgail
deixou o neto ir para o carro e foi falar com Natália.

-- Meu amor, não fica assim...

-- Mãe, ele pode me tratar desse jeito. O João esta com raiva de mim... Eu...

-- Natália, ele é criança. Eu sei que você achou que estava fazendo o melhor dando uma chance para aquela
mulher, mas... Nat, eu sei que ela é sua irmã, mas a Júlia é uma marginal... Acredite, esse menino esta coberto
de razão em não querer olhar pra cara dessa mulher.

-- Mãe, eu quero conversar com João agora...

-- Nat...

-- Aquele menino não pode sair daqui com raiva de mim! Mãe, o João é a coisa mais importante que eu tenho
nessa vida, deixa eu falar com ele... A senhora não vai ver o Bruno?

-- Eu tenho mais o que se preocupar, seu irmão sabe se cuidar muito bem sozinho...

Nunca tive tanta vontade de socar a cara de ninguém como tive de acabar com Dona Abgail. Como uma mãe
chamava todo aquele sofrimento da Júlia em marginalidade? E o Bruno. O filho dela caiu de mais de dois
metros de altura, estava todo costurado, cheio de dor e nem coragem de perguntar por ele? Aquele carinho
por Natália parecia ser mais um distúrbio clínico do que amor.

Enquanto Nat tentava falar com o sobrinho, eu fui atrás de Júlia e o restante das pessoas. Duarte, Isa e
Rebeca haviam tomado as rédeas dos serviços pendentes de Júlia. Só fui encontrá-la no quarto de Bruno.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Esse menino me odeia... Raiva, eu vi raiva nos olhos dele...

-- Júlia, você achou que ia encontrar o que? – Bruno questionou. – Dez presentes de dia das mães atrasados?

Júlia levantou os ombros. Se sentou ao lado de Bruno na cama. O olhar longe, um sorriso triste.

-- Tá pensando em que, velha?

-- Que eu devo estar ficando velha mesmo, cega, surda... Burra. O garotinho do Pronto Socorro que dava
vontade de apertar todinho de tão fofo... Que se eu pudesse, com certeza escolheria para ser meu filho... –
Júlia abriu um sorriso triste. – É sério que ele é meu filho? Como eu consegui fazer um menino daqueles? –
Emocionada. - Ele é lindo demais pra ser meu filho... Tem certeza? Por que ninguém me contou?

Bruno deu um sorriso e fez um gesto afirmativo. Júlia era muito boba mesmo. O menino a cara do Bruno, com
todo aquele jeitinho dela, como podia ser tão distraída?

-- O que eu tenho pra falar para esse garoto?

-- Júlia, a criança pergunta o que ela quer saber... Fala a verdade. Júlia, ele ouve muita coisa sobre você,
mostra quem você é...

-- Sou o que? Vou dizer o que? Que tenho uma mãe que não me chama de filha e um filho que não me chama
de mãe? Que minha vida toda cabe dentro de uma mochila? – Inconformada. – Fui pra duas guerras, me meti
no meio da floresta amazônica, Já atravessei rio cheio de piranha, enfrentei terremoto no Haiti, arma na cara
de fazendeiro e morro de medo de um menino de dez anos de idade... – Triste, com a voz um tanto
embargada. – Sabe, Bruno, não quero tomar o lugar da Nat... Eu sei que ela é mãe dele, eu não tenho o
direito de mudar isso... Por mais que eu tivesse sofrendo, eu tinha que ter pelo menos tentado...

-- Você tentou. Naquele aniversário do João de dois anos, eu sei que você apareceu. – Júlia o encarou
surpresa, até eu fiquei surpresa com aquela revelação. – A vovó expulsou as crianças e o show de palhaços
da sala, fingindo que ficou nervosa porque sujaram o sofá dela e você entrou pela porta da cozinha... Eu fiquei
embaixo da escada da sala, escondido, ouvi a conversa de vocês.

A Júlia só me contou esse episódio da vida dela, meses mais tarde. Bruno continuou falando sobre sua versão
dessa história.

-- Eu tinha voltado do banheiro e ouvi alguém falando, corri achando que era você e era... Você pediu para
vovó chamar o João.

-- Eu estava podre de bêbada...

-- Mas muito determinada do que ia fazer...

Os dois ficaram em silêncio, como se digerissem aquela informação. Minutos depois, Júlia quebrou aquele
silêncio.

-- Se você soube que um dia eu tentei voltar, por que você ficou com tanta raiva quando eu cheguei de volta?

Bruno abriu um sorriso triste.


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Depois que a vovó te convenceu a ir embora, deixar o João com a Nat e com o namorado, que ia ser
melhor para ele, eu achei que você ia me procurar... Aquela noite eu fiz a minha mala e fiquei esperando você
aparecer de madrugada no meu quarto. Eu queria embora com você! – Revoltado. - Você foi até o Gabriel,
falou pra ele cuidar bem da Nat, se cuidar e nem foi me ver! – Entristecido, Bruno relembrou. – Meu pai
morreu cedo, mamãe nunca ligou pra mim... Eu sempre fui teu filho Júlia! Você ia me ver na escola, jogava
bola comigo, me ensinou a ler, eu te dava aqueles presentes horríveis da escola de dias das mães... Me dava
tranco e me dava beijo...

Outro olhar surpreso de Júlia.

-- Eu fiquei com tanta raiva que você não me chamou pra ir embora junto...

-- Bruno, você só tinha quinze anos... Eu não tinha condição de nem cogitar isso... E...

-- E?

Júlia abriu um sorriso.

-- O Gabriel era mais velho que você, tem a minha idade, mas era doidão, sempre foi... A Nat... Ela era uma
menina responsável, séria, madura... Mas criada em cativeiro pela mamãe. Eu tinha medo da doideira do
Gabriel fosse demais pra ela... Agora você... Com quinze anos eu já te via como um homem. Você não era
mais o Bruninho, o menino que eu ficava contando história pra dormir...

-- Homem?

-- Um homem... O homem da família. Seguro, forte, destemido, determinado, independente... E bonito...


Muito bonito... Por dentro e por fora...

Bruno deu um sorriso sem graça.

-- É sério que você acha isso?

Júlia confirmou com um gesto afirmativo.


-- Sério. – Bruno deu um sorriso orgulhoso. – Mas se você me virar ás costas outra vez por achar que eu
amo você menos que a Nat ou que o João... Eu vou te dar uma surra e te deixar chorando feito uma menina...

-- Desculpa...

-- Por que?

-- Por deixar o João pensar que você era esse bicho papão todo.

-- Tirando a mamãe, ninguém nunca disse isso a ele.

-- Mas também a gente deixou de dizer...

Júlia o encarou de uma maneira entristecida e por fim se entregou aos cuidados do irmão. Não sei por quanto
tempo eles ficaram ali. Sai de perto da porta antes que os dois vissem eu espionando a conversa alheia. Fiquei
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

feliz pela Júlia estar em boas mãos. Só senti falta de abraçá-la e dar carinho como eu fazia na maioria dessas
situações. Eu estava me sentindo exausta, a barriga pesando horrores. Peguei um táxi e fui para o apartamento
de Silvinha. Nat me esperava na porta. Assim que me viu, me abraçou de um jeito de quem precisava de
carinho. Das poucas palavras que consegui arrancar dela, Nat me contou que João a culpava por não ter
contado sobre a volta de Júlia.

-- Ele me odeia Alice...

-- Nat, daqui a pouco ele vai estar com a cabeça fria e pensar direito... Deixa eu cuidar de você agora... Esta
tão cansadinha...

Nat me deu um sorriso tristonho.

-- Ei, não estamos fazendo isso errado? Não era eu que tinha que estar cuidando de você?

Minha boca percorreu os lábios de Natália de maneira serena. Na medida do possível eu tentava encaixar
meu corpo junto ao dela. Nosso beijo ganhava intensidade, desejo, aqueles meses sem sexo estavam me
pirando completamente. E o pior, teria que agüentar até o final do resguardo. Senti a língua de Nat entrando
devagar no meu pescoço e me derreti toda. Eu queria só que ela esquece um pouquinho dos problemas. A
arrastei para o banheiro e o que mais próximo podíamos fazer de sexo, tomar banho juntas. Se eu pudesse a
trancaria naquele banheiro para sempre. Como tudo que é bom não dura quase nada, logo quando estávamos
saindo do quarto e íamos deitar na cama, alguém liga no celular de Nat.

-- Iiiiih Alice, eu preciso ir, é urgente.

-- Do hospital?

-- Não, da parte do seu tio.

-- Meu tio? Aconteceu alguma coisa com ele, tia Guida ou tia Junia?

Nat me deu um sorriso.

-- Não, é uma reunião de trabalho.

-- Trabalho?

-- Lembra a proposta da secretária de saúde que ele queria que eu apoiasse o candidato dele? Resolvi
aceitar.

Aquele jantar estava tão longe na minha mente, mas eu lembrava. A ideia da Nat ficar tão próxima do meu tio
não agradou nada.

-- Política, Nat? Você não ia me contar?

-- Ia, mas esqueci. Alice, é a secretária de saúde, uma das mais importantes da cidade... – Nat me confessou
apressada, me deu um selinho rápido. – De lá eu vou para o hospital, esta bem?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Bom, eu ia fazer o que? Nem sei se meu cargo de quase namorada ainda não assumida tinha condição para
abordar um assunto particular desses. Achei que essa época ela ia se interessar em passear comigo para exibir
meu barrigão de grávida... Ah, besteira Alice... Estou tão pesada que nem consigo andar, ela tem o direito de
fazer as escolhas dela. Aproveitei o restinho de dia e organizei um pouco das coisas que levaria para a
maternidade, liguei para meu pai e fiquei imaginando a carinha da minha bebê. Aquele barrigão estava me
cansando. Eu precisava conhecer logo minha filha.

Também usei o tempo e fiquei penso em quanto o destino era duro com Júlia. Assim como João, minha filha
também não conheceria uma das partes que lhe concebeu. Eu acho que eu não tenho esse direito. Não queria
ver dez anos depois a Heleninha sofrendo por não conhecer o rosto do Pedro Henrique. As pessoas fazem
bobagens, talvez eu estivesse sendo rígida demais com ele. Talvez daqui á dez anos o Pedro Henrique
estivesse sendo a Júlia e tentando reajustar sua vida. Dormi perdida entre os vários “talvezes”.

Acordei de madrugada com Sílvinha chegando do Scarpan, o bar lésbico que ela tinha entrado de sócia para
desespero dos meus tios.

-- O brejo dorme tão tarde assim? - Perguntei. - Fecharam o bar só agora?

Sonolenta, Silvinha me respondeu sem o vigor que estava acostumada a ver na minha prima.

-- Culpa da sua querida amiga que quase acabou com o estoque de bebidas. Esse povo que acha que o
fígado é blindado...

-- O QUE? Silvinha, você deixou ela bêbada e sozinha na rua no meio da madrugada?

-- Não...

Bom, pelo menos minha prima teve cabeça de levá-la até a cabana.

- Quando eu cheguei aqui embaixo a Isa me ligou que ela estava no hospital e ia tomar a glicose... O
barbudão foi com ela...

- Que barbudão, Silvinha? – Perguntei preocupada.

- Não conheço, mas é amigo dela... Vi os dois se abraçando e tal...

- Que amigo?

- Não sei...

Bêbado abraça todo mundo. A Silvinha era doida, e se o tal amigo fosse sei lá... Um estuprador, um ladrão,
um vagabundo? Coloquei a única calça que estava me entrando, um blusão de frio, soltei o cabelos e fui com
a minha barriga atrás de um táxi para o hospital. Ligava no celular de Nat e só caixa postal. Provavelmente
desligou para dormir. Para meu azar, Becca e Isa também tinham desaparecido do Alonso Franco. Aquele
hospital nunca me pareceu tão grande. Encontrei Júlia em um dos leitos do Pronto Socorro, umas marcas
estranhas no rosto, boca machucada. Cara de quem tinha brigado. Eu tinha certeza que foi por causa de uma
vagabunda qualquer e fiquei com raiva.

Ao lado dela o tal barbudão. Mais alto que a Júlia, forte, usava uma camisa preta lisa, calça jeans escura e
coturno de motoqueiro. Colete de couro nos ombros, deviam ter a mesma idade. Cabeludo, barbudinho,
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parecia ser vocalista de uma banda de rock pauleira. Uma mistura louca de Patrick Dempsey na fase mais
peluda com motoqueiros selvagens. É bonitão!

-- Júlia?

-- O que você fazer aqui, Alice?

A voz de Júlia estava meio enrolada, ainda efeito da bebida. O sujeito encarou nos duas sem entender.

-- Vocês se conhecem? – Deu um breve sorriso, fez um gesto positivo, me mediu da cabeça aos pés. –
Bonita desse jeito, é claro que ela ia conhecer. – Sério, questionou Júlia. – Já engavidou a moça?

Eu me embananei toda para me explicar, Júlia deu um meio sorriso para o sujeito e murmurou um idiota. Ele
deu uma piscadinha cúmplice para ela e me garantiu.

-- Essa garota me ama...

O mesmo jeito cafajeste de Júlia. Cachorrão, deviam ser amigos de antigas farras.

-- O que aconteceu pra ela beber assim?

Ele deu os ombros.

-- Já encontrei com ela no bar...

Júlia estava com uma agulha de soro espetada na mão. Carinhosamente toquei em seus dedos e ela afastou
sua mão da minha.

-- Que foi, Júlia?

-- Alice, você tem que parar de fazer isso...

-- Júlia, você é minha amiga, eu...

Júlia me encarou de um jeito estranho, que ela nunca tinha encarado. Com um certo ar duro, fechado.

-- Alice, eu não quero ser sua amiga... Eu não posso. Será que você não vê que as pessoas que se
aproximam de mim eu consigo machucar, decepcionar todas elas? A minha vó, meu filho, meus irmãos... –
Quanto mais ela falava, mais entregava seu estado trêbado. Júlia praticamente cuspia as palavras em cima de
mim de um jeito dolorido. – Alice, eu sou uma rei de Midas ao contrário... Qualquer coisa que eu toque eu
consigo estragar... Você tem que ser feliz com a minha irmã... – O sujeito nos encarou surpresa. Que ódio,
que ódio! Eu toda preocupada e ela bêbada, machucada porque com certeza entrou em uma briga de olho em
uma mulher alheia e eu ali, me importando. Minha namorada provavelmente precisando de mim e eu tendo
que ouvir aqueles desaforos. Ela encarou o barbudinho. – Sabia que ela e a Nat namoram? Quer dizer,
primeiro ela saiu comigo, depois ela conheceu a Nat... Ai a gente se beijou e ela voltou com a Nat. A Nat é
uma boa pessoa para ela, não é?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Namorada? – O barbudinho me questionou surpreso.

- É, eu namoro com a Júlia, mais já sai com a Nat! – Respondi atrapalhada com toda aquela situação.

- Ela trocou tudo...

- Ela não saiu com a Nat?

- Não, ela saiu comigo e a namorada dela é a Nat...

- Tem certeza?

- Ow, vocês estão falando da minha vida... E você Júlia...

- Alice, escute os mais velhos. A sabedoria! Se afasta de mim. Vai embora! Eu só sei machucar as pessoas.
Essa é minha vida! – Agressiva. – É isso que eu consegui ser.

- Não fala besteira! – Rebati já irritada com aquele sermão descabido. – Júlia, você é uma das melhores
médicas desse hospital. Você é minha amiga! – Fiz uma pausa. – Mais que isso, você é minha melhor amiga!
– Outra pausa. – Não, mais que isso! Júlia, você é uma das melhores partes da minha vida! – Confessei. – Se
eu tive iniciativa de largar tudo, de recomeçar minha vida, foi porque eu conheci você... Júlia, com seu jeito
doce, sorrindo, brincando, você manda em mim! – Até eu mesma me surpreendi com o que tinha acabado de
falar. – E eu acho que minha vida nem existia antes de você entrar nela...

Alice, meu Deus, o que você esta fazendo? A Nat não merecia isso! Como sempre eu estava no lugar errado,
com as pessoas erradas e falando o que não devia na hora errada. O barbudinho ameaçou sair da sala, mas
Júlia não deixou.

-- Alice, eu sou só alguém inútil de uma porra de história que ninguém se interessaria em contar. Você e sua
filha merecem coisa melhor que a merda dessa vida que eu ofereço pra quem fica perto de mim! Chega desse
com quem será, com quem será que a mocinha vai ficar... Vai embora daqui!

Sai do quarto aos prantos. Nem minha gravidez ela respeitou. Estava me sentindo humilhada, triste, cansada!
Fui procurar um táxi, mas não achei nenhum no ponto. Porcaria de vida, viu! Além de tudo começou a
chover. Ali naquela chuva, sem ninguém, me senti a pessoa mais sozinha do mundo. Quando aquele vulto
apareceu na minha frente, quase cai para trás, mas respirei aliviada ao ver de quem se tratava: o barbudinho.

- Que susto que você me deu!

- Desculpa, não queria te assustar! Não mesmo! Seu nome é Alice não é?

Fiz um gesto afirmativo. O sujeito tirou uma garrafinha de bebida do bolso.

- Quer?

Era doido mesmo. Será que ele não viu minha barrigona. Achou mesmo que eu seria maluca de tomar
conhaque, uísque, vodca ou sei lá o que ele estava bebendo.

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- Não posso.

- Se incomoda se eu beber por você também?

Ai, ai... Deve ter mais doido na minha vida do que dentro de um hospício viu. Pelo menos esse era engraçado
e conseguiu me fazer sorrir em um momento triste. Ele deu umas duas goladas e fez uma careta.

- Você ainda vai pegar a estrada?

- Não, estou na pousada ali na pracinha... - E me perguntou. - Por que você esta chorando?

Não disse que era doido? Será que ele não ouviu todos os desaforos que eu levei pela cara?

- Nem te agradeci por ter trazido ela pra cá...

- Não fui eu... Foi o anjo da guarda dela... Bêbado tem santo forte... mas e você, esta chorando por quê?

Sorri concordando. O jeito amalucado dele era fofinho, engraçado.

- Porque eu sou uma idiota. - Ele deu outra golada. – Credo, você bebe tanto assim?

- Não estou bebendo por mim... É por você... Essa hora se você não estivesse grávida estaria enchendo a
cara...

Dessa vez eu ri com vontade.

- Com certeza. Meu sonho de consumo agora é uma garrafa de vodca, conhaque, vinho...

- Tequila...

- Não, tequila, não! – Rebati irritada. – Vem cá, você deixou a idiota da sua amiga com quem?

- Por que você não vai lá ver?

- Não quero ver a cara da Júlia nunca mais.

- Você vai levar aquilo a sério?

- Ela me pareceu bem clara...

Ele deu uma nova golada.

- Você quer saber o que eu acho bem claro?

- O que?

- Isso tudo que ela te disse. Conversa de mulher apaixonada. – Não escondi minha surpresa e ele continuou
expondo sua teoria. – E não é pouco não, é mulher gamadona, que esta doidinha por você... Essa raiva dela e
porque não pode expor abertamente. Mas olha o que eu vou te dizer... Isso é paixão guardada aqui ó... - Deu
uma batida no próprio peito. - O olhar dela diz isso! Essa mulher esta apaixonada, colega!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Dei um sorriso irônico.

- Você não conhece a Júlia.

Dessa vez foi ele que me deu um sorriso.

- A Júlia foi minha melhor amiga até os meus 25 anos... E olha que fomos apresentado quando eu tinha uns
seis para sete anos... Se tem alguém que conhece Júlia Franco este alguém sou eu!

- Quem é você, afinal?

Mais uma golada. Outro sorriso dele, estendeu sua mão em minha direção.

- Gabriel Dantas, novo delegado da cidade.- Apertamos as mãos. - Melhor amigo da Júlia e marido da Nat,
que você andou dando uns pegas...

Eu ter ficado amiga e estar se desabafando com o ex marido da minha namorada só queria dizer uma coisa:
Júlia não é a única que esta de porre, Deus andou virando umas e outras por ai!

End Notes:

Oi meninas. Essa semana foi muito corrida, quase que não deu pra esccrever,
problemas no trabalho, enfim... Capítulo esta ai! Alguém tem uma teoria que explique
onde a Nat estava com a cabeça quando casou com o cabeludinho?RS abraços e
bom fim de semana a todas!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 25 by Tamaracae

Author's Notes:

Oiiiii!!! Capítulo novo para vcs, achei que fiquei devendo um pouco, mas desculpa é
que essa semana o trabalho foi corrido. Dependendo dos coments ainda tem cap
extra nesse fds!! Um abraço a todas!! Bom feriadão pra vcs!

Encafifada. Só uma palavra assim, com uma pronuncia toda quebrada, para definir minha face naquele
momento. Gabriel poderia me dizer qualquer coisa naquele, momento, que era gay, que beijou a Angelina
Jolie, que era amante do Obama... Qualquer coisa e eu apenas ouviria: marido, marido, marido. Meu Deus,
ele vai quebrar minha cara. Não pior, ele vai quebrar minha cara e chutar minha barriga. Pior ainda ele vai
quebrar minha cara, chutar minha barriga e levar minha filhinha embora... Não pior...

--ALICE! Que planeta você esta, garota? Parece que vive no mundo da lua...

Quando levantei os olhos e me deparei com Rebeca me examinando em um dos leitos do Pronto Socorro,
não entendi. Diabos, ela tinha razão, eu vivia mesmo no mundo da lua. Será que foi um sonho tudo que eu vi?
Não, não pode ter sido um sonho. Eu estava molhada de chuva. Ou minha bolsa tinha estourado. Como se
adivinhasse minhas incertezas, Rebeca me esclareceu.

-- Você estava do lado de fora do hospital, parada, toda esquisita, acharam que você estava passando mal. O
que aconteceu dessa vez?

O que eu ia dizer? Rebeca, você não sabe. Lembra da Nat, minha namorada? Então, o marido dela apareceu
e meio que ficamos amigos. Por que ficamos amigos? Ah... Ele viu a Júlia, irmã da Nat, me destratando e
ficou com pena de mim. Ah, tenho mais uma coisinha pra contar... Acho que a Júlia esta apaixonada por mim.
E eu não consigo esquecer dela. Mas eu estou namorando com a Nat, viu? Na boa, já me conformei em ser a
queridinha de Murphy, agora ter um cupido vesgo ou drogado já não era demais não?

-- ALICE, VOCÊ ESTA ME ESCUTANDO?

Do jeito que ela estava gritando comigo até meus pais em São Paulo deviam estar escutando a Beca. Perdoei.
Era preocupação de amiga. Fiz um gesto afirmativo e logo fui tartar de saciar minha curiosidade.

-- Cade ele?

-- O barbudinho bonitão? Quem é ele?

Antes de eu abrir a boca, Isa se aproximou de nós duas, doida para fazer o que mais os funcionários daquele
hospital faziam: fofocar.

-- Qual é do rockeirinho quarentão? O que você estava fazendo com ele?

-- Ou melhor o que você esta fazendo aqui de madrugada parada no meio do nada? – Rebeca me cobrou. –
Vocês se conhecem de algum lugar?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Conhecendo a falta de sutileza e noção de minhas queridas amigas que ficariam ali me enchendo como se não
houvesse amanhã caso eu não falasse nada, resolvi abrir o jogo. De uma tacada só respondi:

-- É o Gabriel, marido da Nat!

-- QUE?

Ok, ele é ex marido da Nat, mas falei marido porque gosto de chocar. Como se tivessem combinando ou
ensaiado, as duas pareciam carregar a mesma pergunta no rosto: “Marido? Sério?” Na verdade a minha ficha
ainda não tinha caído. Tipo, a Nat casada com aquele cara era a mesma coisa que a Sandy dizer que ia gravar
um CD com o Ratos do Porão.

-- Mas marido, de marido mesmo? – Bestamente Isa me perguntava. – Tipo de marido e mulher?

-- A Nat que você esta falando é aquela Nat? A Nat que a gente conhece?

Segurei minha vontade de rir. Era esquisito mesmo pensar em alguém tão certinho e metódico feito a Natália
casada com aquele cara. Lembrei dela comentando para mim: coisa adolescente... Ai amor, cada furada que
nós, meros humanos nos metemos por você, seu nome deveria ser loucura. Sim, amor. Só amor pode
escolher o encontro de duas criaturas tão diferentes. Minhas amigas não tiravam o olho do forasteiro que
estava do lado de fora conversando com uma das enfermeiras. Gabriel era observado através da janela de
vidro do PS Isa com curiosidade, Rebeca admirada. A enfermeira mediu Gabriel dos pés a cabeça, ele falou
algo. Antes de partir escreveu algo, provavelmente o telefone, no celular dele, sorriu e foi embora. Gabriel
jogou uma piscadinha charmosa para a enfermeira e sorriu vitorioso.

-- Ele é praticamente a Júlia com pelos. – Isa concluiu. – Nojento!

-- É como se ela casasse com a própria irmã...

Olha quem fala... A Rebeca pegou o Bruno, nossa “irmã caçula” e peludo e ninguém a julgava. Só Deus
poderia julgar a Nat.

-- A Nat trocou mesmo esse cara por você? – Rebeca me perguntou ainda de olho em Gabriel que já trocava
olhares com uma outra mulher. – Ela só pode ser maluca, olha como ele é bonitão...

--Isso é verdade. – Confirmei. – Ele é bonitão mesmo e... – Depois de quinze minutos de incrível raciocínio
que me toquei no que ela tinha acabado de me dizer. - Beca, você esta me chamando de feia? – Ela ainda
teve a cara de pau de olhar para minha cara e ter dúvida do que responder. Muy amiga! Só não abri a boca
para reclamar porque minha preocupação era outra. - Alias, o que eu estou fazendo aqui? Eu já estava indo
embora...

Rebeca e Isa trocaram um olhar de cumplicidade que eu odiava e resolver unir forças contra mim. Enquanto
Rebeca ameaça chamar Duarte para ter uma conversa a sós comigo ( Quando a Duarte chamava algum de
nós para ter uma conversa a sós, era como se fosse ser mandado para a diretoria), Isa ainda me fazia
perguntas que eu não sabia a resposta.

-- Eles já se encontraram? O que ele veio fazer aqui?

-- Não sei, Isa...


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Eles vão voltar?

-- Não sei, Isa...

-- O que você vai fazer se eles voltarem?

-- Eu já te disse que não sei, Isa...

-- Droga, você também não sabe de nada, ow tapada!

Quem tem a Rebeca e a Isa como amiga não precisa de inimigos, vou te contar... Acabei apagando lá mesmo
no hospital, pensando nas perguntas que Isa havia me feito. Assustadoramente não me senti insegura ou
apavorada como seria meu normal. Para falar a verdade, gostei de conhecer Gabriel. Talvez foi a maneira que
o doido do destino encontrou para eu conhecer um pouco da Nat. O que martelava minha cabecinha de vento
era o que Gabriel tinha me falado sobre Júlia. Eu sentia tanta raiva e ao mesmo tempo tanta vontade de voltar
no quarto, esquecer tudo que ela me disse e permanecer ao seu lado. Acordei no dia seguinte com uma moça
me trazendo um café preto e pão para eu comer. A obstetra que estava de plantão me explicava o que
acontecia.

-- Resolvemos deixá-la aqui de observação para verificar pressão arterial e monitorar o bebê, mas parece que
esta tudo bem e você já pode ir para casa...

-- A Monique esta operando?

-- Eu não sei onde esta a doutora Monique, se quiser eu posso bipar e...

-- Não, não precisa... Esta tudo bem... Eu vou me arrumar e já vou para casa, qualquer coisa eu tenho o
número dela...

Assim que eu sai, Dona Regina me esperava na porta do meu quarto ao lado de Bruno que também já estava
de alta.

-- Alice, as meninas me contaram, você vai para minha casa.

-- Dona Regina, eu estou bem com a Silvinha e...

--Imagina, você com esse barrigão gigante sozinha, sua prima não para em casa, você vai para lá, decidido!

-- Dona Regina, mas sua família esta passando por um momento delicado e agora que o João soube...

-- O João e a Júlia vão se entender comigo. Marquei uma apresentação oficial de mãe e filho entre eles...
Cansei dessa brincadeira de gato e rato. E vai ser agora, nesse final de semana! Sabia que é o meu aniversário
no sábado?

-- Mas Dona Regina...

-- Alice, você esta carregando uma bisnetinha minha na barriga e eu quero vocês duas no meu almoço de
aniversário. Minha filha, não é todo dia que você vê alguém comemorando 319 anos...
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Até agora eu queria entender de quem dona Regina estava pensando de quem eu estava grávida, mas isso
seria assunto para depois. Sem saída, voltou a minha vaga na casa de Dona Regina. Quando estávamos
saindo do hospital, ela se tratou de por Nat a par das novidades.

-- Almoço em família? Vovó, por favor...

-- Ah... Chamei o Gabriel...

-- Que Gabriel?

-- Seu ex marido, não sabia que ele voltou?

-- QUE? – Natália parecia não acreditar em seus próprios ouvidos. – O Gabriel voltou? E a senhora chamou
ele para um almoço em família? – Dona Regina fez dois gestos afirmativos. – Vó , será que a senhora não
entende que ex é algo que já não me pertence?

-- E será que você não entende que o mundo não gira em volta do seu umbigo mocinha? – Dona Regina
devolveu no mesmo tom de Natália me fazendo rir. – Esqueceu que o Gabriel foi criado dentro da minha casa,
Natália? E pelo que eu me lembre você não franzia a cara desse jeito quando encontrava com ele dentro de
casa...

Natália me encarou sem graça e como se tivéssemos feito um acordo, não tocamos no assunto. Ela iria
trabalhar, me despedi dela com a mesma pergunta de sempre.

-- Você vai me visitar hoje?

-- Não sei, tenho uma reunião com o partido do seu tio, vou tentar ir...

Nos despedimos com um beijo no rosto. Não entendi. Dona Regina já tinha nos visto trocando selinhos, mas
ela desviou da minha boca e em seguida me deu um tchau sem graça. Assim que chegamos na casa da dona
Regina, aquela mesa enorme, típica de avó nos esperava. Bruno tinha algumas restrições para comer, eu não,
por isso me fartei. Quando contei sobre Gabriel a Bruno, ele deu um meio sorriso divertido.

-- O Gabriel delegado? Quem diria... Tantas vezes preso... É um doido.

-- Vem cá, como ele e Nat se casaram?

-- Não eu sei direito... Mas foi tudo muito rápido...

Conversamos mais um pouco e logo a chata da Rebeca nos cobrou repouso. Surpreendentemente, Bruno deu
um beijo na boca da minha amiga e carinhosamente sussurrou algo mais ou menos assim em seu ouvido.

-- Amor, não fica até tarde no hospital... Não esquece que seu namorado também é seu paciente...

E deu um sorrisinho e seguiu para o quarto. Trocamos olhares significativos. Ok, eu já tinha visto os dois se
beijando. As vezes, quando chegava em casa mais cedo, chegava até a ver um pouco mais do que eu queria
ver. O estranho não foi o beijo, mas o olhar dele sobre a Rebeca,o Bruno estava... Doce...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- O que foi isso? – Perguntei direta. - Estamos em Lua de mel?

-- Não sei... O Bruno está esquisito desde o acidente. Eu estou preocupada! Você sabe o que significa isso?

-- O que?

-- Homem quando agrada demais é outra mulher na parada! Conheço cheiro de safadeza! Ele achou que ia
morrer e me confessou no seu celular, lembra?

Eu lembrava do Bruno dizendo um monte de coisa sem sentido.

-- Tem certeza que ele te disse isso por telefone?

-- E o que mais ele iria me dizer?

-- Por que você não pergunta a ele?

Como toda teimosa de carteirinha, Beca não me ouviu. Ás vezes ela parece surda, viu. Será que ela era surda
e eu nunca notei? Ela falava alto para caramba... Já tenho os meus problemas para me preocupar. No final da
tarde, uma das empregadas da Dona Regina bateu no meu quarto avisando que tinha visita da neta da Dona
Regina.
--Pode entrar amor...
Júlia abriu a porta. Droga, eu pareço o Baggio perdendo aquele pênalti do final da copa de 94, só bola para
fora. Quando eu vi a marca no rosto dela, senti meu sangue subir. Já imaginei a pouca vergonha que deveria
ter acontecido. Júlia, bêbada, olhou para uma garotinha acompanhada e a namorada, enfurecida acertou um
soco em seu rosto. Bem feito! Quer dizer... Que bom que daqui alguns dias isso vai sair, mas bem feito!
Quem manda achar que todo mundo é Alice que cai na primeira cantada furada da garota do balcão do bar...

-- Eu não sabia que era você.

-- Alice, a gente pode conversar?

-- Eu não tenho nada para conversar com você!

-- Alice, mas eu quero falar com você... Ontem, quando...

Só de ver a Júlia ali na minha frente toda machucada com cara de choro, dava vontade de coloca-la no colo.
Inferno! Quando eu estou perto dela fico mais burra, lesa, avoada... Só queria minha vida de volta com a
minha namorada. A Júlia tinha total razão. A Nat era o melhor para mim. Ela não queria que eu saísse da vida
dela? Pois então, o que eu precisava fazer era oficializar aquilo!

-- Eu não quero saber! – Falei no tom mais agressivo que consegui, não era só a Júlia que sabia fazer cara
feia. – O que você veio fazer aqui afinal? Ontem você parecia muito decidida quando me falou aquelas coisas!

-- Ontem eu estava bêbada... Acho que eu já te ensinei que não se deve dar trela para bêbado! Alice, eu não
queria ser grossa com você, não queria dizer nada daquilo, mas...

-- Não vou tolerar você me tratando feito me tratou ontem...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Alice, eu não queria ter falado com você daquela maneira e...

-- CHEGA JÚLIA, você foi bem clara ontem! - Até eu me assustei com meu tom de voz. Ergui mais o meu
rosto para ela pode ver melhor os meus olhos e entender que respeitaria sua vontade. – Você esta
acostumada a errar, vem faz cara de coitadinha e todo mundo arreganha os dentes para você... É assim com a
sua avó, com seu irmão. Eu não sou assim... Eu digo e repito, você foi bem clara!

Júlia me deu um sorriso sarcástico, recheado de revolta e deboche.

-- Então é na minha clareza que você quer acreditar?

-- É! – Confirmei decidido de tal forma que me espantei. – É na sua clareza que eu prefiro acreditar e...

Não consegui completar minha frase. Júlia me calou da maneira mais deliciosa possível. Os lábios dela
pressionavam os meus com vigor, desejo, raiva, paixão. Umas das mãos enterrou nos meus cabelos, me
puxando para si, como se quisesse não separar de mim nunca mais, a outra me pegava pelas costas
desmoronando qualquer barreira que eu criei. Não sei o que ela fazia com aquela boca que parecia ter um
gosto refrescante o dia inteiro. Um choque gostoso tomou conta do meu corpo. Quando dei conta que aquela
mulher linda, gostosa e que me enlouquecia estava me pegando daquele jeito que eu sempre sonhei, sugando
meus lábios, beijando, mordiscando, comecei beija-la de volta. Não sei se eram os hormônios, safadeza
minha, se era “do coração”. Não sei, mas Júlia me fazia sentir viva, desejável, mulher com M maiúsculo! Meu
peito batia mais acelerado que o de costume. Ela me pressionou contra a parede, os lábios procuraram o meu
pescoço, Aquela mão enorme me jogando contra o concreto... Deixei um gemido escapar sem querer. Aquele
cheirinho tão próximo de mim, que mulher irresistível... Infelizmente, precisávamos de ar e vagarosamente nos
separamos.

Quando abri meus olhos e me deparei com os olhos de Júlia bem na minha frente, cheia de vontade de ficar ali
comigo, me afastei. Ou melhor, empurrei Júlia. Aquele rosto machucado estava me alertando apenas uma
coisa: cilada! A Júlia era incrível demais para eu achar que algum dia ela seria só minha como eu desejava. Eu
não queria ficar com alguém que cada vez que estivesse conversando com outra mulher, eu achasse que
estava marcando algo para depois. Cada vez que ela me ligasse do hospital dizendo que tinha uma cirurgia
para fazer de ultima hora, eu desconfiasse que estivesse com outra. Não adiantava eu me enganar mais. Eu
podia amar Nat, mas estava apaixonada pela irmã cafajeste dela. Se eu não cortasse aquilo iria crescer cada
vez mais. Eu precisava acabar com aquilo.
-- Vai embora, Júlia! Vai embora...

-- Alice...

-- VAI EMBORA! Você acha que eu sou quem? A vagabunda que você estava se esfregando ontem e
apanhou por causa dela? Eu sei bem o que ouvi ontem... Eu ainda tenho vergonha na cara, Júlia, agora sai do
meu quarto, por favor... Me deixa em paz...

-- Vagabunda?

-- Pra estar com a cara assim só pode ter sido por causa de uma vagabunda qualquer... Esqueceu como eu te
conheci, Júlia? Quer saber, você não precisa me dar satisfação da sua vida, eu não sou praticamente nada
sua! Me deixa sozinha, por favor...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

End Notes:

E ai, algum palpite?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 26 by Tamaracae

Author's Notes:

Oiiiis, como prometido o capítulo extra!!

Sabe aquele instante que você fala uma besteira e se arrepende no minuto seguinte? Foi isso que eu senti. Não
devia ter falado aquilo. Ela era só minha cunhada... Quem era eu pra cobrar satisfações da vida dela? Morri
de vontade de ir correndo e pedir desculpas, mas resolvi permanecer fazendo minha pose de insuportável,
assim seria mais fácil para Júlia entender que aquilo nãop poderia ir para frente. E também para eu entender
que ela nunca seria minha. Eu preferia que a Júlia desse um soco na minha cara, cuspisse em cima de mim ou
nunca mais olhasse na minha cara do que apertasse aquele olho como um cachorro que quisesse cafuné e
falasse para mim em um fio de voz.

-- Você tem razão. Eu não devo satisfação nenhuma da minha vida para você...

E saiu do quarto sem olhar para trás. Não estava acreditando na minha incompetência. Não conseguia ser feliz
com a minha namorada, Nat era maravilhosa com todos os seus defeitos e eu simplesmente não consegui ser
feliz. Era como se eu ganhasse uma Ferrari e só desse voltas pelo quarteirão andando a dez por hora. Por que
eu não conseguia usufruir daquela mulher linda que estava comigo? E do lado tinha Júlia... Meu instinto natural
era eu correr atrás dela, mas não podia fazer isso, não era certo com nenhuma de nós três envolvidas nesse
louco triângulo amoroso. Passei o resto do dia trancada no quarto com as pernas para o ar. Silvinha foi me
visitar, contei a ela o que aconteceu. Surpreendentemente, minha prima falou algo com coerência.

-- Até que ela foi calma... Se você falasse uma coisa dessas para mim já soltava os cachorros!

-- Eu preciso esquecer essa mulher, Silvinha... Mas como eu vou esquecer se ela parece que esta em todo
lugar?

-- Dá um tempo de Silvéster...

-- E a Nat?

-- Você mesmo disse que a Nat mal para em casa por causa dessa ideia doida de entrar na política...

-- Não... Ainda mais que vou ter neném daqui a pouco, eu quero a Nat perto de mim. Ela me dá segurança,
me dá carinho, me dá conforto! É o que eu quero agora...

-- Então você não precisa de conselho nenhum, ow pastel... Já se decidiu. Ai, eu que estou precisando de
uma sapa sensação na minha vida, viu... Que vem , me joga na parede, rasga minha roupa... No dia seguinte
acordo e ainda ela me deixa a conta do motel para pagar e leva minha carteira...

-- QUE?

-- Tenho fraco por cafajestes... Mal de família, prima... Me empresta a Júlia por uns dias? Eu devolvo
limpinha...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Só a doida da Silvinha para me fazer rir naquela situação. Os dias foram se passando. Cada dia era mais
difícil de por o plano “ser feliz com a Nat” em pratica. A mulher parecia bala na boca de banguela, sempre
escapando pelos lados. O estranho era que quando estávamos a sós, ou na casa da vó dela, era super
carinhosa comigo. Não era raro ela vir almoçar comigo e depois do almoço nós duas ficarmos namorando na
sombra de uma arvore no “quintal de casa”. Eu adorava esses momentos, ela alisava minha barriga e ficava
me contando sobre seus planos.

-- O seu tio e o Tadeu são muito bem cotados nas pesquisas... O problema é a área de carência, o pessoal lá
da Vila Miséria...

Sorri ao lembrar de Vila Miséria. Recordei do meu passeio de barco com Júlia e no dia seguinte, quando
estava de cama e perguntei quem iria com ela entregar os remédios da outra vez.

-- Ninguém. Acho que nenhum dos internos tirando você quer se meter com roubo de remédios do hospital...
– Ela falou em um tom displicente quando estávamos a sós no quarto do hospital. – Quer café?

Na hora eu gelei, ela tinha falado mesmo o que eu entendi.

-- Júlia, você disse roubo? Os remédios que nós distribuímos lá na Vila Miséria eram roubados? – Júlia
calmamente me confirmou assentindo com a cabeça. – Júlia, meu Deus... O que vão pensar da gente, eu...
Você e se... Eu não sou ladra!
Júlia dava mais atenção ao café do que nas minhas palavras.

-- Somos ladras sim!

-- Eu não sabia!

-- Entrei na ala onde guardam os remédios, peguei tudo que pude e guardei na mochila. Agora sabe, somos
duas gatunas! - Mexeu com colherzinha. Deu um gole no café. – Horrível, se o cara não morre pela doença,
morre pelo café. Será que é pedir demais para se tomar um café decente nesse hospital?

Agora ela me contou, pelo menos cúmplice eu estava me tornando.

-- Eu não quero saber dessa história. Você não me contou nada, não roubamos ninguém.

-- Se quiser posso usar do eufemismo e dizer que apossamos daquilo que não é nosso para se tornar nosso!

-- Ou seja, somos ladras! Se alguém souber disso... Sabia que eu posso perder minha residência e você sua
especialização?

Júlia me deu um sorriso travesso desses que chegava aquecer.

-- Relaxa, coisa nervosa, nunca brincou de Robin Hood e Lady Marion na vida?

Isso que eu e a Júlia tínhamos e eu ainda não sabia nominar me fazia falta. Ainda mais que fora da casa da
Dona Regina, eu parecia namorar a mulher invisível. Ela nunca gostava de ir em lugares públicos e quando ia
eu mal podia segurar sua mão. Nunca me chamava de amor, apenas Alice... Parecia que voltamos a namorar
escondido, mas eu não sabia. Havia algo de podre na nossa “felicidade”, mas eu não tocava no assunto e ela
também. Como boas namoradas, falávamos sobre tudo que não se referi-se a nós duas.
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

O dia do aniversário da dona Regina finalmente chegou, e como ela havia falado, resolveu fazer um grande
almoço. Churrasco na grelha, Laísa e os filhos da “peãozada” brincando na piscina. Bruno já estava melhor e
bem mais forte da operação, tomava um banho de sol. Rebeca e Isa conseguiram uma folga no hospital,
Duarte e mais alguns colegas do hospital também foram. A bruxa da dona Abgail apareceu com João. E Nat
finalmente conseguiu uma folga naquela maldita agenda. Já era quase hora do almoço quando Júlia e Gabriel
chegaram juntos. Tia Junia e dona Regina foram recebê-los.

-- Você vê Regina, como esse menino cresceu? – Tia Junia se espantava. – Quando era pequeno enjoado
para comer... Feijão só o caldinho, leite puro, nem pensar, verdura nenhuma...

-- Só bife e batata frita, batata frita e bife... A gente achava que ele ia ficar pequenininho, olha o tamanho
todo...

Gabriel deu um riso sincero e abraçou as duas.


-- Dei uma preenchida... Não é desfazendo de vocês, mulheres da minha vida, mas cadê a Nat? – Olhou para
mim e disse em tom de confidência. – Ela foge de mim só por adrenalina, eu emprestei ela pra você, mas eu e
a Nat somos feitos um para o outro, Alice! – Foi só ele falar na criatura que ela apareceu. Nat estava linda,
usando um vestido solto e óculos de sol. Até o tempo resolveu dar uma trégua naquele dia e abriu um sol
gostoso naquele finalzinho de Agosto. - Viu, só eu chamar e ela aparece... – Comentou em um tom
debochado, abriu os braços exageradamente. - Nat, amor da minha vida... Uau, você conseguiu ficar mais
gostosa do que antes? Vocês duas na cama...

--Já aprendeu a mijar no vaso sanitário direito?

Isso que eu gostava de Gabriel, ele não hipócrita. Tá certo que as vezes mandava umas que benza a Deus,
mas me fazia chorar de rir. Ele me lembrava o Marquinhos. Sei lá quantos anos sem ver o cara e a Nat tinha
que lembrar justo disso? Existe ser mais cri cri que essa mulher? Apesar da crítica, senti que havia um carinho
muito grande vindo de Gabriel. Por outro lado, Nat procurava ser sempre ríspida.

-- O que você veio fazer aqui?

-- Em Silvéster ou na sua avó?

-- Primeiramente em Silvéster?

-- Eu tive saudade de você Natinha... De nós dois...

-- Me mandasse uma carta, marcasse um “Natália Franco- saudade” pelo facebook, eu fingiria que
acreditava, curtia e acabou... Seria tão mais agradável...

-- Natinha...

-- E para de me chamar de Natinha, você não tem mais vinte anos...

O normal seria eu me irritar por ele estar cantando deslavadamente minha namorada, mas não conseguia.
Mesmo com todo aquele aspecto de ogro, Gabriel era um doce de pessoa. Só conseguia rir de cada patada
que ele levava. Tinha algo sim que martelava na minha cabeça, não em tom de preocupação, mas de
constatação. Se tem uma coisa que aprendi com a Natália é que quando ela trata mal é por que se importa.
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Se ela se importava ainda com ele, ai mesmo que eu não podia pegar birra com o Gabriel.

-- Nat, aonde você vai? – Gabriel perguntou. – Eu estou aqui...

-- Minha vida esta chata nessa sala... Vou pegar churrasco na cozinha...

-- Nem conversamos ainda... Natinha!

-- Para de me chamar de Natinha!


E lá foi o coitado atrás dela. Era estranho, mas não deixava de ser engraçado e bonito de ver os dois.
Novamente me vinha à pergunta, como esses dois se encontraram? Me esqueci de Nat quando vi uma
morena de tirar o fôlego na minha frente. A mulher estava de costas e um pouco distante de nós. Gabriel
estava ao meu lado, nem disfarçou o olhar também.

-- Deus mantenha assim...

-- Amém... – Bestificada, respondi. Eu sei que sou uma mãe de família, que tenho namorada, que sou
comprometida, mas eu não morri nem virei cega não é mesmo? Uma morena daquelas usando só uma blusa
de algodão clara e um short jeans branco com aquelas entradinha ali meio de fora e...

-- Quer coração? – Isa interrompeu meus pensamentos me estendendo uma bandeja de coração de frango. –
Que foi que os dois tão com cara que Deus desceu a terra?

-- Quem é aquela ali? – Enquanto pegava um coração na bandeja, Gabriel disfarçadamente olhava para a
morena. Isa olhou e depois voltou a nos encarar com uma cara de “Já estão bêbados?” – Aquela morena de
branco?

-- Tua cunhada, a Júlia!

-- QUE?

-- Eu , hein?! Vou servir lá fora... – Isa nos encarou. – Nojentos!

Eu estava acostumada a ver Júlia de calça sempre, aquele short branco era maldade. Tipo de levar gordinho
em regime para bomboniere. Até o Gabriel que teoricamente encarava a Júlia como homem deu o braço a
torcer. Ela estava deliciosa. O brigadeiro da festa. Gabriel deu um riso e fez um sinal para fechar a boca. Essa
abstinência forçada estava me levando à loucura. Júlia deu um abração na vó, cumprimentou minha tia com
carinho. Não tínhamos mais falado desde nossa “briga”.
Quando ela aproximou de nós, vi que então que não estava sozinha. Monique vinha logo atrás com um
capacete nas mãos. Júlia me cumprimentou com o mesmo entusiasmo que tinha para fazer sexo com homens,
ou seja, nenhum. Monique veio toda irritantemente simpática como sempre.

-- Oi mamãe, pode guardar o capacete para mim?

Virei guarda-volumes agora? Meio contra vontade levei o capcete para o quarto e voltei para a festa.Era tão
esquisito ver ela conversando com quase todo mundo de boa, rindo, tomando cerveja e eu ali sem poder
desfrutar daquela alegria. O pior era ver a Monique toda para cima dela. Assim que Júlia chegou na piscina,
Abgail chamou João para ir embora, mas dona Regina impediu que ela levasse o bisneto.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Me deixa vó Bibi, eu vou ficar... Essa ai não ficar decidindo o que eu faço

Ele ainda estava bem mexido com a história, tanto que não voltou para casa de Nat. Com Bruno as coisas
estavam mais tranquilas devido ao acidente. Nat cumprimentou João que rapidamente arrumou um jeito de
escapar da tia. Ao ver Gabriel, correu e se jogou nos braços dele.

-- TIOOOOOOOOO!

-- AAAAH, garotão! Meu Deus, como esta grande!! Vem cá, trouxe um monte de presentes!!

Sabe aquela cumplicidade de pai e filho, notei que Gabriel e João compartilhavam. Nat parecia não gostar
nada da presença do ex marido. Estava mais incomodada do que eu pelo menos.

-- Para de olhar feio para ele, amor... Assim eu vou ficar encucada... – Brinquei com ela. – Esquece um
pouco do Gabriel...
-- Pra que ele tinha que voltar? Olha... Não sei onde estava com a minha cabeça no dia que eu me aceitei
casar com o Gabriel...

Dona Regina que estava ao nosso lado deu uma gargalhada.

-- Não foi por falta de aviso... Eu adoro esse menino, mas vocês dois são tão diferentes...

Bruno também deu uma risada e confessou divertido.

-- Até que eles não faziam um casal legal... Lembra na festa de casamento? A Nat toda preocupada com os
convidados e o Gabriel cantando aquela música do filme da Gwyneth Paltrow pra Nat...

-- Bêbado em cima de uma mesa! – Nat fez questão de relembrar como se fosse à explicação para os dois
não darem certo.

-- E no dia você adorou que era a música do filme do primeiro encontro de vocês. – Bruno frisou. Para irritar
ainda mais Nat, chamou por Gabriel que estava do outro lado da piscina e cantarolou um pedacinho junto
dele. – Baby let's cruise, no way from here / Don't be confused, no way is clear / And if you want it you got it
forever... E a Nat toda menininha... Ai, ele lembrou, a nossa música. – Deu uma senhora gargalhada. – Alice,
você tem que ver a fita da festa do casamento...

-- Eu fiz questão de queimar!

Gabriel deu uma risada e complementou.

-- Amor, então só para relembrar os velhos tempos: You're gonna fly away/ Glad you're goin' my way/ I love
it when we're cruising together / The music is played for love, Cruising is made for love/ I love it when we're
cruising together… A viagem ainda esta de pé Nat, minha garupa será sempre sua!

Em resposta, Nat saiu o deixando falando sozinho. Cada detalhe que eles me contavam sobre a Nat me dava
mais curiosidade de conhecê-la. Ela andava tão distante daquilo que descreviam. Queria poder devolver
aquela leveza que parecia ter antes e durante o casamento. Talvez ela sentisse falta. Esqueci um pouco desse
assunto quando João se aproximou para jogar xadrez, a partida que estávamos há quase um mês jogando. Ele
usava o presente que tinha ganhado de Gabriel, uma camisa do Corinthians oficial autografada pelo Ronaldo.
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- O Fenômeno?

-- Legal né? Ele também me trouxe um monte de jogo, um skate irado e um colete de motoqueiro ! Você vai
adorar o tio Gabriel, ele é muito brother! Tipo, ele é grande, mas sabe brincar com coisa de criança! – Eu
sorri meio sem jeito, João me encarou preocupado. - Você não vai ficar chateada por que eu gosto do tio
Gabriel e ele já namorou a tia Nat, não é?

-- Claro que não... Falando em tia Nat, acho que esta na hora de alguém voltar a falar com ela, né? Ela não
sabia de nada...

João me encarou sem graça e por fim fez um gesto afirmativo.

-- É, eu soube... A girafona exibida me falou... E- Eu conversei um pouco com ela...

Pelo tom a tal de “girafona exibida” só poderia ser Júlia.

-- Vocês conversaram?

-- Quase agora... Foi rápido... Mas eu queria saber algumas coisas sobre a minha outra mãe... Eu queria ter
certeza que...- se cortou e então completou. - Que minha mãe não morreu no parto por minha culpa...

Morri de dó. Dos dois. Cada um culpado a si por um acidente que a fatalidade promoveu.
-- Alguém te disse isso?

-- Não, mas fiquei pensando se sei lá, ela não foi embora com raiva porque eu matei minha mãe e... Ela em
explicou que não lembra direito do acidente, mas que lembra do parto... Será que não foi mesmo a minha
culpa?

- João, você tem que confiar na palavra dela... Ela estava lá, fez o seu parto e viu tudo e...

Ele parou com olhar tão confuso que até parei o assunto.

-- Que foi?

-- Não é que você falou agora... E me passou uma coisa que eu nunca tinha pensado...

-- O que?

-- A girafona foi a primeira pessoa que me pegou no colo na vida... – E por fim João me confidenciou. – Eu
nunca tinha pensado nisso...

Nos dois ficamos calados ali, o que eu tinha para falar?

-- Eu tinha quebrado o dedo mindinho e o anelar... – Júlia surgiu sei lá de onde, só sei que tinha pegado o
finalzinho da nossa conversa. E cá para nós, surgiu na hora certa! João deixou as pedras do tabuleiro de lado
e a encarou ainda meio desconfiado. – Aquele foi o dia mais difícil da minha vida, mas por um momento foi o
mais feliz. – Júlia deu um meio sorriso e voltou a falar. – Já viu um parto como é? De uma mulher gorda, você
tira uma criança... Mais legal que tirar coelhinho de cartola. Você era tão... Tão sem defesas que eu me
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

abracei com você, você ainda não tinha nome... Proibi a Marcinha de por o teu nome de Agenor, como ela
queria, por causa do Cazuza e cantarolei uma musiquinha chamada João e Maria, que a vovó sempre cantava
antes de eu dormir... Quando eu cantei, você ficou quieto no meu colo e até dormiu esperando o resgate. Eu
não tive dúvidas. Quando me perguntaram seu nome eu disse que ia ser João.

-- Pelo menos você pode dizer por ai que me deu alguma coisa... Satisfeita?

João mexeu uma pedra deixando minha peça em xeque. Eu fugi com meu rei. Júlia analisou o tabuleiro por um
instante.

-- Vocês tão brincando há muito tempo?

-- Quem ta brincando aqui? – Perguntei preocupada ao ver que outra vez o coitado do meu rei estava com o
dele na seringa. Movi minha pedra e encarei João com firmeza. – tenho certeza que estou aqui com o futuro
campeão mundial de xadrez. Sabia que você pode estar falando com um gênio?

Júlia jogou um meio sorriso em direção a João, moveu uma pedra e meu pobre do meu rei caiu morto. Morto!
Simplesmente Xeque Mate!

-- O João não parece ser o único genial campeão de xadrez dos Francos.

Filha da mãe, eu perdi sei lá quantas horas queimando a minha cabeça com aquela partida e... Esqueci de
tudo quando João a encarou de um jeito sem graça e questionou:

-- Você não tem cara que sabe jogar xadrez...

-- Quer ver?

-- Não. Você vai deixar eu ganhar só pra parecer a mãe legal... – Retrucou. – Já te disse que você não é
minha mãe.

Júlia deu um novo sorriso com firmeza.

-- Se tem duas coisas na vida que eu não posso negar é que eu sou corinthiana e que sou tua mãe... – João
fechou a cara. – E não me olha assim não... Tarde demais, neguinho, agora só outra vida para você reclamar
com Deus, além de tudo você sou eu todinha com dez anos...

-- Você é mesmo corinthiana?

-- Que nem a tia Nat e o tio Bruno e o tio Gabriel... Eu levava direito o tio bruno pra ver jogo do Quinze de
Piracicaba com o Corinthians!
-- O tio Gabriel já me levou... Viu a camisa que ele me deu? É do Ronaldo...

Corinthiana? É Júlia, todo mundo tem seus defeitos. Eu não ligava muito para futebol, mas era palmeirense
desde pequena por influência paterna. Antes de sair ainda impliquei com os dois.
-- Bando de sem estádio!

Como se tivessem combinado, ambos me deram a língua. Impressionante como até nos gestos eram
parecidos. É para quem não queria ser filho daquela mãe, João não conseguiu disfarçar o animo quando Júlia
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

desafiou para um jogo de xadrez. Nat observou os dois e me chamou em um canto cobrando explicações.
-- Ele mal me da oi e ta jogando com ela?

-- Deixa os dois Nat, eles estão conversando! - Disfarçadamente olhamos e Júlia parecia perguntar algo
referente á camisa do Corinthians para o menino e João respondeu sorridente. – Não vai tirar essa camisa nos
próximos três meses. Acho que alguém acertou nos presentes...
-- O Gabriel tem todos os defeitos do mundo, mas sabe lidar com crianças. Nisso ele é bom.

Ali estava minha deixa.

--Só nisso ele é bom?

Natália me encarou curiosa.

-- Por que você esta falando isso?

-- Curiosidade ué... Um dia vocês foram casados. Vocês são tão...

-- Diferentes, eu sei!

Sorri com um gesto afirmativo e Nat então continuou a falar.

-- Eu acho que quando a gente é novo, o que é diferente atrai...

-- Ele não pensa assim... Acho que ele ainda sente alguma coisa.

Nat me deu um sorriso com franqueza e fez um gesto positivo.

-- O Gabriel... Eu brigo, implico, mas gosto dele. Quando ele não esta sendo medíocre o machista, ele é um
cara legal... Sabia que a gente praticamente foi criado junto?

-- Sua vó me comentou mais ou menos... Que mãe dele era babá do Bruno e ela morreu, ele não tinha com
quem ficar e ela resolveu assumi-lo.
Nat outra vez fez um gesto positivo.

-- Sabem, quando eu era adolescente, entrei em uma crise de identidade brava, ficava pensando sobre a
minha mãe... E ele me ajudava. Me ouvia... Não conta isso para ninguém, mas nos descobrimos ela...

-- Sério? Como?

-- O Gabriel é bom no que ele faz, não é a toa que virou investigador...

-- Foi ai que vocês começaram a namorar?

-- Não sei quando a gente começou a namorar. – Nat deu um sorriso. – Sabe aquele primo, aquele amigo
que você tem quando é garota e todo mundo diz que vocês são namorados e uma hora você acaba
acreditando? Foi mais ou menos assim... Meu vô já devia ter sacado que a onda da Júlia desde criança era
outra e ficava me empurrando para ele... Natinha e Bielzinho... Nosso primeiro beijo foi em um São João que
minha vó fez, nós éramos os noivos...
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

É claro que eu sabia. Eu tinha o Lucas, um coleguinha que estudou comigo desde o pré até a sétima série.
Meus pais eram amigos dos pais dele, foi o menino que dei meu primeiro beijo, em uma aula de Educação
Física. Eu mal sabia que ele precisava de nota em matemática, idiota, fiz toda lição pra ele e em
agradecimento ele me deu um selinho. Depois contou pra escola toda que eu vendia lição em troca de beijos.
Sempre tive mão podre pra homem mesmo.

-- O Gabriel é três anos mais velho, as meninas da minha classe eram todas apaixonadas por ele, aquela
carinha de “LoverBoy”* , sempre divertido, alegre, enfim... Não era difícil se apaixonar... Foi meu primeiro
tudo. – Não agüentei e dei uma risada, nunca imaginaria a Nat se casando com o primeiro namorado. Logo
ela entendeu a graça e tratou de me explicar. – Eu namorei outros caras, depois , quando o João era bebê, a
gente se reaproximou... Voltamos a namorar e decidimos morar juntos.

-- E eu quase endoidei quando soube. – Dona Regina trazendo dois pratos de comida, auxiliada por Duarte
veio se meter na nossa conversa. – A gente sabia que não ia dar certo, até bolão de quanto tempo ia durar
nós fizemos... Lembra Duarte?

Natália encarou a avó surpresa, com certeza ela não sabia dessa.

-- Claro, ganhei o primeiro prêmio. Dois e três meses, na mosca! – Outro olhar de surpresa. – Que foi?
Agora virei máquina e só posso trabalhar dentro daquele hospital? – Duarte rebateu de um jeito engraçado. -
Cada uma que vocês inventam, viu!E tratem de comer, não vi a dona grávida colocar nada na boca até
agora...

Quando voltamos a ter um pouco de privacidade, voltamos a conversar sobre nossos relacionamentos
antigos. Nunca tinha conversado sobre isso com Nat, relembrei meu primeiro beijo e ela em contou o dela,
primeiras paixões, depois Nat me confessou.

-- Quando você me deu aquele beijo no carro, lembra nosso primeiro beijo? – Confirmei com um gesto
afirmativo. – Parecia que eu estava começando a enxergar direito naquele instante...

Dei uma risada sem graça. Era a mesma sensação do meu primeiro beijo lésbico. Eu estava podre de bêbada,
mas lembrava das minhas pernas tremendo em conjunto com os lábios, minhas mãos suando e os olhos de
Júlia estudando o meu rosto, as mãos queimando a minha pele... Realmente parecia que tiraram uma venda
dos meus olhos e finalmente eu enxergava o que eu queria.

-- O que foi? – Nat me perguntou enquanto retirava os cabelos do meu rosto. – Que foi, Alice?

Uma tristeza havia tomado meu coração de uma forma que eu não conseguia explicar. Eu tinha um medo de
machucar a Nat. Ela dava patada, era grossa, mas quando ela queria, se tornava uma das pessoas mais
amáveis que eu conhecia. Precisava de cuidados, de carinho... Me abracei a ela do jeito que minha barriga
permitia.

-- Alice, você faz parte da minha vida menina... – Fez um outro carinho no meu rosto, fechei os olhos curtindo
ainda mais aquele contato que andava sendo muito difícil. – E eu quero fazer sempre parte da sua...

Se eu soubesse que aquela seria a ultima vez que ela me abraçaria ainda grávida, talvez eu passasse ali dentro
daquele quarto o dia inteiro. Dez minutos depois o telefone tocava e aquele seria o inicio do nosso término.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Amanhã vai ter um jantar do pessoal do partido com suas famílias, seu tio me ligou pra avisar...

Droga, só porque a gente ia fazer aniversário de namoro. O jeito seria eu jantar com ela já que era uma
confraternização para família e depois a chamava para dormir aqui comigo. Não seria esforço nenhum já que
o jantar seria na casa dos meus tios e se eu me sentisse cansada era só repousar no antigo quarto da minha
prima Silvinha. Infelizmente, Nat não pode dormir em casa por causa do plantão, me deu um beijo de
despedida e como de costume me disse.

-- Amanhã passo aqui antes do jantar.

Nossa reaproximação no dia anterior me deu um novo animo, trocamos mensagens de texto o dia todo. Ela
não me deu feliz aniversário de namoro porque com certeza devia estar guardando para me surpreender a
noite. Também não quis estragar a surpresa e não comentei nada. Quem não amanheceu com cara boa foi
Rebeca. Por fim ela descobriu o que Bruno tinha lhe dito na noite do acidente, pela cara de choro já imaginei
que era chumbo grosso.

-- Alice, eu vim me despedir...


-- Por que? Vocês vão para onde?

-- Eu vou embora...

-- Por que, amiga? Se aquele idiota do Bruno te traiu, eu vou bater tanto na cara dele...

-- Alice, lembra aquela noite do acidente? Eu descobri tudo!

-- Quem é a mulher?

-- Eu!

-- Quem?

-- Sou eu, Alice. A mulher sou eu! O Bruno disse que me amava! – Minha amiga dizia entre soluços. – Eu...
Eu não posso continuar...

-- Beca, mas...

-- Alice, eu não vim aqui para isso... Eu vim para trabalhar, aprender, estudar... Como eu vou virar um
obstetra de sucesso, fazer minha especialização fora do Brasil se o cara que eu amo ainda mora na casa da vó
dele? A filha dele me trata como mãe... Eu não posso continuar aqui!

-- Beca, espera, você só não esta assustada porque ele esta jogando limpo com você? Pensou direito?

-- Já é tarde demais, eu terminei com o Bruno!

-- Beca... – Lamentei de verdade, apesar da implicância adorava os dois como casal.


-- Alice, não faz um ano que estamos juntos. Moramos no mesmo lugar, trabalhamos juntos... Temos uma
criança!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Mas você ama ele, Beca...

-- Mas eu tenho medo do que vem depois... Acabou Alice...

Eu já tinha visto mulher terminar porque o cara disse que não ama mais, agora terminar porque ama é a
primeira vez. É... As três palavrinhas assustavam. Isso é para os homens ver que eles não são os únicos que
fazem besteiras na parada. A partida de Rebeca foi triste para todos nós. Dona Regina estava chateada pelo
neto, mas entendia o ponto de vista de Rebeca, Bruno se fingia de forte, mas ouvi desabafá-lo co Júlia no
celular.

-- Eu não entendo, quando a gente não fala, reclamam que querem ouvir, quando falam vão embora...

Laísa e Isa estavam inconsoláveis. A primeira por sentir falta do cuidado maternal da minha amiga, com medo
de perder a segunda mãe. Isa se fechou em luto por conta do fusca que Rebeca levou embora junto.

-- Ele não tinha nada ver, eles que são adultos que se entendam...

-- Isa, estamos falando de um fusca 87, não de uma criança!

-- Pra mim ele era uma criança! – Isa retrucou com lágrimas nos olhos. – Sabe por quantas coisas passamos
juntos?

No ranking de pegação lésbico da cidade, Isa só ficava atrás de Júlia e Silvinha. Imagino quantas coisas
devem ter mesmo passado por aquele fusca. Fora a época que Bruno e a própria Rebeca moraram lá. O
restante do meu dia, fiquei esquentando a cabeça em preparar alguma coisa especial para Nat. Sabendo que
esses jantares quase não se comia nada, decidi eu preparar algo para nós duas. Dona Regina se animou com a
idéia e sugeriu deixar a casa só para nós duas. Ela dormiria com dona Abgail, Isa estava de plantão, Bruno e
Laísa pegariam a chave com Júlia que também estaria de plantão e dormiriam na cabana. Quando chegou a
noite, Nat encontrou a fazenda toda ás escuras, só com luz de velas, ao fundo a mesma música que escutamos
juntas naquele dia da cabana: How Deep Is Your Love. Eu tinha ucidado de tudo, o presente estava embaixo
do meu travesseiro na cama. A comida eu consegui fazer com ajuda de Dona Regina, sem nenhuma acidente
para minha surpresa e tudo pareica estra no lugar. Coloquei um roupão preto de seda sem nada por baixo.
Quando ouvi o barulho do carro, fui para a porta da frente, os dois vestidos estavam ali, um rosa e um preto
para ela escolher qual seria melhor opção para acompanhá-la. Dei um beijo em sua boca totalmente
provocativo.

-- Feliz aniversário de namoro meu amor... Você acha que eu devo ir com qual?

Ela estava linda. Usava um conjuntinho cor de pérola que contrastava com sua pele e Scarpan. Uma jóia
delicada enfeitava seu pescoço. Não era por ser minha namorada não, mas ela estava gostosa demais.

-- Aniversário de namoro? – Nat me perguntou sem entender. – Alice, você vai pra onde?

Aquela cara da Nat, aquela atmosfera. Nem preciso dizer que dei furo mais uma vez não é? Eu simplesmente
entendi tudo errado. Eu não tinha sido convidada para jantar nenhum. Ao perceber a confusão que eu tinha
feito, Natália me encarou sem saber o que fazer. Dessa vez, pela cara dela não era apenas mais um dos meus
micos, vinha coisa mais grossa por ai.

-- Alice, eu tenho que te contar uma coisa...


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- O que?

-- É que... O partido não vê com bons olhos nós duas juntas e eles querem que sejamos mais discretas.

-- Mais discretas?

Natália fez um gesto afirmativo.

-- Sim, eles querem que o nosso namoro não seja descoberto pela imprensa porque é um partido que prioriza
a instituição familiar... – Eu sorri. Que brincadeira era aquela? Ela tirar das costas um presentão de dia das
namoradas, me dar um beijo na boca e dizer “rá, pegadinha”, não ia? – A principio eu fiquei meio relutante em
aceitar, mas depois, minha mãe me fez ver que eu não posso misturar minha vida profissional com a pública...

-- Você esta querendo dizer o que?

-- Que a gente não pode aparecer em público juntas ... Sabe, a maioria das pessoas aqui da cidade ainda tem
a mente muita fechada, e não vão entender a nossa relação.

-- Você esta querendo dizer que se eu quiser ficar com você, vai ter que ser escondido? Como se fossemos
duas clandestinas?

-- Alice, é minha vida política, tenta entender. Daqui há dois anos, com o apoio do seu tio, eu chego a
Deputada Estadual!

-- Nat, vai embora!

-- Alice, eu posso chegar a Secretaria de Saúde de São Paulo!

-- Nat, vai embora!

-- Alice, você vai ser esposa da mulher mais poderosa do Estado na área da Saúde!

-- Nat, daqui há dois anos eu quero estar feliz em conseguir fazer minha filha parar de usar fraldas! Eu quero
estar feliz por ela me chamar de mamãe! Eu quero estar feliz em ter salvado a vida de alguém! Eu não vou
virar uma perua que só vive em casa feito a minha tia! E não quero ver você virar o meu tio! Viver numa
mentirada! Pra que? Você tem um dom lindo, você é uma cirurgiã Nat!
Natália me encarou indignada.
-- Quer dizer que se eu não fosse cirurgiã você não se interessaria em mim?

-- Se você deixar de salvar vidas para viver nessa mentirada de partido da família e poder é claro que iria me
desinteressar! Se você me falasse que quer ser secretária pra investir em remédios, em melhores escolas
médicas, em uma medicina decente para as pessoas, eu poderia até ficar em dúvida, mas você só fala em
poder porque você só ver poder!

-- Então acabou?

-- Acabou Nat, vai embora!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Ela saiu fula da vida comigo e estava querendo mata-la. Como ela tinha coragem de se vender daquele jeito
por poder, só para ter mais gente para mandar! Não bastava um hospital, tinha que ser uma cidade! Entre
soluços, liguei para a pessoa que me socorria nas horas que eu mais precisava. Eu queria apenas sumir do
mundo.

-- Pai? Vem me buscar... Eu quero voltar pra São Paulo!

-- Alice, filha, o que esta acontecendo?

-- Vem me buscar pai, eu quero ir pra casa!

O coitado do meu pai ia dizendo sim, sim, sim desesperado, provavelmente preocupado com o avançado da
minha gravidez. Quando desliguei o telefone me senti esquisita, parecia que tinha feito xixi sem querer. Já
prevendo o que aconteceu, coloquei as mãos entre minhas pernas e senti a cabeça do bebê coroando minha
cabeça. Os pontos se romperam espontaneamente a bolsa estourou. Meu Deus! A Heleninha ia nascer!

Liguei para a cozinha e uma das empregadas veio me salvar. O resto foi tudo muito rápido, enfiaram uma
roupa em mim, me colocaram no carro e corremos para o hospital. Dei entrada acompanhada de Leandro e
ouvi alguém gritando.

-- BIPA PARA A MONIQUE!


-- A MONIQUE ACABOU DE ENTRAR PARA UMA CESARIANA DE EMERGENCIA. QUEM TA
DE PLANTÃO?

--DOUTORA JÚLIA!

Pronto, não me faltava mais nada!

-- Não, doutora Júlia não!

Logo reconheci o riso irônico.

-- Meu fã clube me chama?

-- EU QUERO A MINHA MÉDICA E... AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHH... AAAAAAIIII,


AIIIII, AAAAAAIII... – Eu nunca tinha passado por um parto na vida, as mulheres que passaram me
garantiram que não tinha dor. Mentirosas. As contrações me castigavam. Não conseguiam ver nada, só
alguém terminando de romper os pontos, um monte de mãos e em depois de uma dor mais forte um alívio. Os
gritos, o barulho de sirene, a voz de todo mundo foi cortada por um chorinho fresco e ao mesmo tempo forte.
Olhei em volta, Duarte, Rebeca e Leandro sorriam para mim. Minha neném finalmente chegava a esse mundão
louco!

-- Tarde demais. – Alguém já cortava o cordão umbilical, Júlia ergueu a coisa mais rosada e mais gostosa que
eu já tinha visto na vida. – Muito linda tua filha, Pino Frouxo!

End Notes:

Meninas, não descrevi o parto direito pq nunca passei por um, só qdo eu nasci, mas
não lembro por motivos óbvios e o meu parto foi bem mais complicado que o da
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Heleninha!! KKKKKKKK Um bjo pra todas, bom feriado!

*LoverBoy- Loverboy é um filme antigo que o Patrick Dempsey fez qdo tinha uns
vinte poucos anos, como eu comparei ele com o Gabriel, citei o filme,rs.

Pra quem não é uma idosa como eu e lembra do filme, aqui esta a foto do Dempsey
novinho,rs http://www.zapzap.com.br/Programa.aspx?id=27596&t=f

Pra quem se interessar o filme é muito engraçado e bom pra passar o tempo, acho
que um dos clássicos do final da década de 80 bjooos!!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 27 by Tamaracae

Author's Notes:

Oiiis!! Mais um cap extra!!

-- Me dá ela aqui, Júlia, por favor...

-- Faz outra para você. – Júlia brincou enquanto trazia Heleninha nos braços, embrulhada em uma mantinha
rosa clara. – Essa eu vou pegar para mim!

-- Palhaça! Dá ela aqui!

Com toda correria de parto, pós-parto, acrescentada com o término do meu namoro, até esqueci que Júlia e
eu não estávamos nos falando. Oras, e tinha como pensar em outra mulher com aquela gostosura da
Heleninha na minha cabeça? Depois de nós duas fazermos uma série de exames e Heleninha ser medida e
pesada, fui levada para o quarto. Júlia entrou logo depois, aquele seria nosso primeiro contato depois de me
darem Heleninha no colo na sala de parto para ela pegar anticorpos.

Ela era tão quentinha, rosada, chorona, cabeludinha, tão viva! É... Júlia e Nat que se estapeiem pelo segundo
lugar, a primeira mulher da minha vida estava no meu colo. A ficha ainda não tinha caído, eu tremia mais do
que vara verde, suava horrores, morrendo de medo, apenas tinha uma única certeza: eu já amava aquela
menina que me fez comer feito doida por quase nove meses. Junto de Júlia vinha uma enfermeira e Rebeca. É
claro que eu me atrapalhei toda na hora de pegar a Heleninha no colo. Comprovando que nasceu de mim e
que minha “destrambelhice” era genética, minha neném já fazia a primeira trapalhada de sua vidinha: tentou
comer um pedaço da minha camisola. Ao sentir o gosto do pano já abriu o berreiro nos fazendo rir.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- É bem tua filha mesmo, Alice! – Júlia contou de um jeito engraçado. – Sabia que ela já me batizou quando
eu fui botar a pulseirinha? Pergunta ai pra cunhadinha... Eu tenho uma paciente me esperando, daqui a pouco
eu estou aqui.

Rebeca me encarou, Júlia nem sacou que tinha cometido uma gafe. Saiu do quarto toda contente. Minha
amiga disfarçou sua tristeza me ajudando com Heleninha. Ela ainda não tinha acertado o bico do meu peito e
quase o enfiava no buraco de seu nariz. Dei um jeitinho e finalmente ela se encontrou e parou de chorar.

-- Alice, fecha essa boca! – Silvinha entrava no quarto. – Quem tem que babar é a menina! Nossa, ela é tão
linda... Tem certeza que não trocaram?

-- Recalcada! Baba na MINHA afilhada, Silvinha.

Para festa ficar completa, Cíntia apareceu, não disfarcei minha felicidade quando a vi. Só fiquei triste quando
ela me disse.

-- Larguei a Alessandra.

-- Mas vocês estavam tão bem!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Não ia dar certo, Alice! Foi melhor assim!

Outra doida com medo de viver o amor. Fiquei morrendo de dó da Alê. Ela era tão companheira. Tão
apaixonada, coitada. E as novidades de Cíntia não paravam por ai.

-- A Rebeca te contou que vou me mudar para Silvéster?

-- Você vai se mudar para Silvéster?

-- É decidi! Vida nova!

Aquilo estava estranho, mas logo esqueci, mudaram de assunto, Rebeca e Isa discutiam por algo muito
importante.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

--Eu poderia ser baleada!

--Você quer o que, Isa? Como eu ia imaginar que no meio da noite você ia tentar entrar na garagem do
prédio para roubar um carro velho? Chamei mesmo a polícia!

-- Viram? Viram como essa bárbara ignorante fala do fusca? Do meu fusca? E ainda tentou me matar!

-- Isa, menos! – Rebeca rebateu. – E você foi despejada. A Cíntia é a nova inquilina do fusca.

Isa encarou Cíntia com ódio.

-- Judas! Traira! Você nem tem amor por aquele fusca! Eu quase morri por ele! – Virou para o lado de
Rebeca. – Como você pode ser tão cruel e deixar o meu fusca na mão dessa ai?

-- Ele anda armado? – Cíntia perguntou preocupada. – Alice, você é maluca de pegar a mulher de alguém
que tem licença para andar com armas?
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- A Alice é que nem eu... Gosta de adrenalina, coisas da nossa família!

Doidas. Apesar de estar com o peito dolorido, só conseguia sorrir. Na maternidade falaram que ela era bem
parecida comigo, aloiradinha, cabelos lisinhos e arrepiados, olhos clarinhos, feições delicadas. Não sei se ela
era mesmo parecida comigo, mas para mim era perfeita.

-- Vocês estão ótimas. – Rebeca comentou fazendo um carinho no “moicano” de Helena. – Eu liguei para a
Nat, deixei recado para ela.

Droga! Nem tive tempo de avisar para minha amiga que ela não era a única recém solteira da parada. Tudo
bem que Heleninha tinha adoçado meu coração, mas eu não ia esquecer o que ela me falou de uma hora para
outra, não é mesmo? Por um instante me entristeci. Instante curto. Heleninha chorava. Mais uma vez quase
enfiou o bico do meu peito dentro do nariz... Ai Heleninha, você é minha filha mesmo, não tem como negar.

O primeiro dia de maternidade foi mais puxado do que pegar na estiva por doze horas no cais. Meus peitos
doíam cada vez que Heleninha vinha mamar. Cada vez que ela chorava eu morria de medo de ser alguma
coisa grave e estava me tornando uma neurótica achando que minha filha ia morrer de cólicas, o entra e sai de
visitas era frenético. Além de Silvinha, Bruno, Anderson, Dona Regina, Tia Guida, Tia Junia, João, os amigos
do hospital e até meu pai veio me ver. Monique também apareceu para mais exames e constatou que

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Heleninha e eu estávamos bem. Rebeca entrou no quarto no momento que eu me limpava com uma fralda de
pano. Heleninha achou de me dar uma senhora mijada na décima oitava ou décima nona mamada. Perdi as
contas. Esqueci de vez meus peitos quando vi aquele nariz vermelho de Rebeca e os olhos inchados.

-- Que foi Beca?

-- O Bruno, ele nem tá olhando na minha cara... – Minha amiga respondeu entre soluços chorando. –
Desculpa Allie, se quer que eu chame outra pessoa para ficar com você? Quer que eu ligue para a Nat de
novo?

Apenas fiz um gesto negativo.

-- Beca, eu tenho que te falar uma coisa...

-- O que?

-- Eu terminei com a Nat.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- QUE?

-- Eu terminei com a Nat... Foi horrível... Eu preparei tudo e ela...

Acabei contado toda história da noite anterior para minha amiga. Sem dúvida, Beca era a melhor pessoa para
ficar comigo aquela noite e estava precisando de mim. Dei espaço na cama e fiz sinal para ela vir deitar
comigo. Passamos a noite se dividindo entre mimos para Heleninha e falando mal de nossos respectivos pares.
Essa foi á primeira “noite das garotas” da minha filha. Até que não fui mal para mãe de primeira viagem. O
único vacilo foi no meio da madrugada, quando Heleninha começou a chorar, a peguei no colo de olhos
fechados e Estranhei, a boca dela estava peluda e parecia parada demais. Ai meu Deus, será que ela sufocou?
Apertei sua mãozinha e uma voz mecânica cantarolou.

-- Continue a nadar, continue a nadar...

Abri os olhos e percebei que peguei a “Dory” de pelúcia que Cíntia tinha comprado de presente para
Heleninha e deixado junto do bercinho e eu peguei por engano. Rebeca ria da minha cara com Heleninha nos
braços. Ela queria colo. Ai Heleninha, que m~]ae tonta que você foi arranjar! Horas depois, Rebeca dormiu
com a cabeça tombada no meu ombro, Heleninha foi para o mundo de morfeu depois de uma mamada ás
quatro da manhã.

Acordei com uma sirene de ambulância. O quarto estava em um silêncio tão grande, uma paz... do quarto era
o mp3 do meu celular, bem baixinho. Choveu de madrugada e os raios me assustaram um pouco, achei de
ouvir música. Olhei para o lado, Heleninha tinha sumido do berço. Já estava pronta para berrar: “Roubaram
minha filha” quando olho para frente e encontro Natália a embalando para dormir. Júlia estava ao lado A
neném estava quietinha com os olhos abertos e a boquinha entreaberta como se fosse bocejar. As duas
cantarolavam juntas.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- E pela minha lei, a gente era obrigada a ser feliz... E você é a princesa que eu fiz coroar,e Ra tão linda de
se admirar, que andava nua pelo meu país...

-- Outro dia vi a vovó cantando isso pra Laísa, acredita?

Nat abriu um sorriso e disse.

-- Ela cantava para mim... Até quando eu tinha uns cinco, seis anos, lembra?

Júlia fez um gesto afirmativo.

-- Eu cantava junto com ela. – As duas se entreolharam. – Você pode ser a pica das galáxias nesse hospital,
mas já vi trocarem muita fralda suja sua, Natinha!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

As duas sorriram e voltaram a cantarolar. Nat errou no final da estrofe. Júlia deu uma risada.

-- Você que me atrapalhou, palhaça!

Sorriram novamente. Pelo menos acho que não estão mais brigadas por conta do João.

E era tão linda de se admirar... Que andava nua pelo meu país... É Nat, eu querendo ou não você ainda é a
princesa que eu queria coroar e que andaria nua pelo meu país... Seria difícil desacostumar de você. Por
outro lado, eu sei que você não fez isso sozinha... Nós duas fizemos isso. Talvez nós três. Esbocei um sorriso
triste. Minha filha dormia tranquilamente no colo de Nat.

-- Nat, me dá ela. – Interrompi finalmente revelando que estava acordada. – Vou tentar fazer mamar antes de
dormir de vez...

Natália me encarou sem graça. Ainda meio sem jeito embalava Helena.

-- Desculpa, eu só ouvi o recado da Rebeca hoje de manhã. Entrei no quarto e ela estava chorando, eu
peguei no colo, era cólica... A Júlia passou pra ver como você estava.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Puta que o pariu, depois da mamada das quatro apaguei legal. Nem escutei choro nem nada. A Rebeca
provavelmente saiu no meio da noite por conta de alguma emergência. Como se pudesse ler meus
pensamentos, Júlia me tranquilizou.

-- Ás vezes acontece Alice, você teve um dia cansativo, pifou...

-- É assim mesmo. - Nat confirmou- Já aconteceu disso comigo. Ás vezes não conseguia acordar... O
Gabriel que levantava e olhava o que o João tinha. Ainda leva um tempo pra vocês se adaptarem. – Ao me
entregar Helena nos braços, Nat me encarou mais demoradamente e deu um sorriso.

-- Que foi?

-- A Heleninha. Praticamente mini você... A Monique já deu uma olhada nela?

-- Já.

Nat fez um gesto afirmativo.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Eu queria falar com você sobre ontem... – Ela estava sem graça, fez uma pausa e continuou. – Eu queria te
pedir desculpa, não devia ter falado com você daquele jeito... Não tinha esse direito.

-- Vocês querem que eu saia? Alice, se quiser eu posso levar a neném até o berçário e você conversam
mais...

-- Não. – Nat impediu. – Fica, eu quero que você seja testemunha do que eu vou falar.

Já prevendo o que viria, pedi para Júlia terminar de embalar Heleninha e nós duas ficamos livres para
conversar.

-- O que você tem para me falar...

-- Alice, por favor, eu queria que você repensasse... Eu tenho minhas ambições, não entrei nesse esquema por
poder gratuito. Eu quero melhorar a vida das pessoas e com esse poder eu sei que vou conseguir. Silvéster
pode se tornar modelo de saúde público em São Paulo ou até no país. Esse hospital é a prova disso. Nós
vivemos em um país teoricamente democrático e que a vontade da maioria conta bastante... Você sabe que
maioria não aceita a gente...

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-- Vocês tem certeza que não querem que eu saia?

-- Não! – Júlia perguntou outra vez. – Por favor, Júlia, fica! – Nat se virou para mim. – Alice, eu não quero te
perder... Eu só não te disse antes porque eu fiquei com medo de te perder... E quem gosta, quem gosta de
verdade tem medo de perder. Lembra quando você me falou isso? - Claro que eu me lembrava, foi naquela
noite horrível que a piranha da Marisa apareço na minha vida. – Alice, eu sei que eu posso te fazer feliz, eu sei
que você gosta de mim, eu...

-- Nat, eu não gosto de você. Eu te amo! – Falei em um tom sereno. Nat me encarou assustada. Júlia parou
de embalar Heleninha para me ouvir. – Amo tanto que até traição eu aguentei. Mesmo você tendo sido
extremamente escrota comigo ontem, eu não consigo ter raiva de você! Por mim eu me casava, teria filhos
com você e passaria a vida toda do seu lado... – Fiz outra pausa para que ela digerisse minhas palavras. Nat
me deu um sorriso, Júlia baixou os olhos. – Mas se tem uma coisa que eu aprendi Nat é que na vida a gente
nunca deve fazer planos...

-- Alice, eu quero você do meu lado e...

-- Fica Júlia! – Dessa vez eu que pedi com firmeza.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Há um ano atrás, se me dissessem que depois de um ano eu estaria com uma criança no colo e super feliz
mesmo ela machucando o meu peito cada vez que puxa, eu diria que era mentira. Sabe o que eu planejava há
um ano atrás? Esta me tornando uma deusa da cardiotorácica, casada com um cara que eu mal conhecia
direito e levando uma vida que eu não queria levar. Minha vida mudou em uma noite, por causa de uma
bebedeira com uma estranha vestida de mexicana me oferecendo tequila. No dia seguinte eu expulsei da
minha casa pelada porque tive medo do que poderia acontecer. – Júlia ergueu os olhos. - E hoje se ela
estivesse na minha frente, sabe o que faria? Ia agradecer, agradecer muito. Apesar de inesperado, apesar da
surpresa, ela mudou minha vida. Mudou para muito melhor.

Natália me encarou confusa.

-- Isso quer dizer?

-- Quer dizer que apesar de eu ainda desejar me casar e ter filhos com você, eu vou abrir mão dos meus
planos. E se aparecer uma mexicana me oferecendo tequila... – Júlia parecia mais ansiosa do que Nat, firmei
bem o meu olhar para cima dela. – Dessa vez eu não vou expulsa-la da minha vida com medo do que possa
acontecer.

Nat me encarou com os olhos cheios de lágrimas. Eu nuca tinha visto ela tão frágil como naquele instante. Eu
me sentia partida ao meio. Estava doendo falar aquelas coisas. Não só para Nat, mas também para Júlia. Eu
sabia que ela estava com a Monique. Tive a confirmação pela boca da própria Monique. No churrasco da
Dona Regina ela veio pergunta a mim e a Rebeca se a gente sabia o que estava acontecendo com Júlia.

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-- Ela esta tão distante e também com o sono inquieto, se mexeu a noite toda.

-- Achei que o plantão da Júlia era só amanhã. – Rebeca comentou inocente. – Ela trocou com alguém.

-- Não, eu dormi na cabana hoje.

“Uma pena que não foi comida por um bicho selvagem”, na hora pensei e logo me censurei com um gesto
negativo. Pela cara toda alegre de Monique, não só tinha sido comida, mas devorada a noite inteira pelo
“bicho selvagem”. Mais tarde a confirmação veio da forma mais dolorida possível. No finalzinho da festa,
encontrei as duas dormindo coladinhas em uma rede mais escondidinha da fazenda.

Ai coração, seu merda, era tão mais fácil quando você só bombeava meu sangue. Júlia soltou a respiração.
Engraçado, parecia que ela tinha prendido o tempo inteiro. Dane-se que eu a perdi, se ela quisesse ficar com
aquela Banana de Pijama em forma de obstetra, que ficasse, pelo menos agora ela sabia o que eu estava
sentindo.

Natália se despediu de mim com um beijo no rosto e mais uma vez garantiu que não ia desistir fácil, despediu
de Júlia e Heleninha e saiu rápido antes que voltasse a parecer fraca na minha frente. Alheia aos problemas
dos adultos, Helena dormia tranquilamente segurando o dedo de Júlia em sua mãozinha minúscula. Com
cuidado ela foi passada para o meu colo.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Alice, eu...

-- Oi, vim passar para ver como esta a mamãe e... – Monique entrou interrompendo nossa conversa. – Oi...

Monique deu um beijo bem de leve nos lábios de Júlia. Fez as perguntas de praxe, acordei Heleninha para
alguns exames e a levou para fazer o teste do pezinho, olhinho, entre outros. Nós duas ficamos muito tempo
sozinhas, logo ela foi bipada e saiu. Desconfiei que aquele bipe era desculpa e a segui. Se alguém me
perguntasse algo, diria que estava fazendo exercícios. Oras, a própria Monique me liberou para dar
caminhadas de leve. Como eu desconfiava, Júlia tomou caminho contrário ao andar cirúrgico e entrou no
quartinho do plantão. Com certeza tinha alguma enfermeira, interna a espera e...

-- Obrigada Gabriel, como ela esta?

-- Vai ficar bem... Ela esqueceu a bombinha no carro, mas resolvemos, agora vai dormir por umas horas a
Duarte deu um sossega leão dos bravos.

Minha consciência pesou horrores quando avistei Nat deitada na cama ressonando e Gabriel com a cabeça
dela em seu colo, falando algo em seu ouvido. Júlia segurava a mão da irmã com cuidado.

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-- E você e a obstetra ruivona?

-- Nada demais.

-- Que animo! – Gabriel comentou irônico. – Ruim de cama?

Júlia fez um gesto negativo.

-- Pelo contrário, eu que estou meio... Meio pra baixo...

-- O que a novinha fez contigo, hein? Chá de calcinha?

-- Olha quem fala, da uma de garanhão, pega todas e olha como acaba seu dia.

-- Parabéns para nós dois!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Duas bostas de garanhões!

E brindaram com água daqueles copinhos plásticos de hospital. Eram bobos mesmo. E eu, para variar sempre
pensando mal das pessoas. A irmã tendo uma crise de asma e eu achando que tinha mulher na parada. Voltei
para o quarto com o rabinho entre as pernas, logo Monique e Heleninha voltaram. Helena chorando horrores
pelo furinho no pé para colher sangue para os exames.

-- Alice, aparentemente sua filha esta saudável, se vocês passarem essa noite bem, amanhã depois do almoço
já podem ir para casa.

-- Doutora Monique, só um momento, eu quero saber se a Helena e eu podemos fazer uma pequena viagem
de três horas.

-- Viagem?

-- Sim. Eu vou voltar para São Paulo.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Tirando meu pai que adorou a idéia de ficar com a netinha por perto, ninguém concordou muito com a minha
vontade. Dona Regina insistia para que eu fosse para sua casa, mas eu estava decidida a voltar para São
Paulo.

-- Alice, deixa de ser teimosa. – Dona Regina insistiu comigo. – Em casa tem as empregadas para te ajudar,
eu que sou uma velha, mas ainda me lembro como trocar fraldas, a Isa, os meninos todos... A casa sem a
Rebeca já esta tão triste, agora você também...

-- Dona Regina, eu terminei com a Nat.

-- E o que a Nat tem haver com isso? – Dona Regina retrucou. – A Helena é minha bisnetinha porque eu
tenho você como neta, não por causa de Nat, oras.

Apesar dos argumentos de Dona Regina, não desfiz minha idéia. Eu precisava de novos ares. E seria bom
passar um tempo com meus pais. Minha mãe só não veio porque ficou presa em uma cirurgia, mas a netinha
parecia ter amolecido seu coração e ela voltava a falar comigo. Sai da maternidade no ultimo dia de Agosto,
com meu pai me acompanhando. Despedi de todos que só ficaram conformados com minha viagem para São
Paulo depois que garanti voltar após o término do resguardo. Júlia e Natália, me despedi das duas
formalmente e tratei de falar que teriam notícias minhas por meio de Bruno, dona Regina e as meninas,
deixando claro que precisava de um tempo só, primeiro para dedicar a maternidade e sobretudo para pensar
na minha vida.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Ao contrário do que eu previa, Heleninha não me deu trabalho nenhum. Dormiu a viagem toda e chegamos
ao apartamento dos meus pais, no coração da megalópole quando já anoitecia. Ao ver a neném nos meus
braços, minha mãe esboçou um sorriso e tratou de pega-la no colo.

-- Jorge, você não me disse que a menina parecia com a Alice?

-- Ela é a cara da Alice.

-- Imagina, é o Pedro Henrique todinha, nem precisa de DNA. – Minha mãe sempre falando o que eu quero
escutar, só que ao contrário. – Por falar nisso, mocinha, quando você vai procurar o pai dessa menina? Vai
demorar pra registrar ela?

-- Ela já foi registrada. – Entreguei a certidão de Helena para minha mãe e lá estava nome: Helena Castro.
Natural de Silvéster – SP. Mãe: Alice Garcia Castro, Pai: ...

-- Alice!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Verinha, deixa a menina!

-- Mãe, eu já concordei que vou falar com ele, agora se ele quer por o nome da filha que entre na justiça!

Apesar dos palpites impertinentes sobre minha vida, pelo menos minha mãe voltava a falar comigo. Outra
coisa me preocupava, minha primeira noite em casa com Helena. Enquanto eu colocava fraldas limpas após o
banho, cantarolava sozinha para minha filha.

-- Será que a Heleninha vai dormir? Vai ou não vai? Vaiiii! Será que a Heleninha vai deixar a mamãe dormir?
Vai ou não vai? Vaiiiii!

Na nossa primeira noite a sós quase enlouqueci. Helena não parava de chorar, já estava cheia do meu peito,
com as fraldas limpas, uma roupa confortável, no meu colo e nada de dormir, tentei massagens para cólicas,
escurecer o quarto e nada de para com o choro. Já passava das cinco da manhã, quando estava me
preparando para acordar meu pai para me levar ao hospital quando a peguei de bruços e ela soltou um
arrotão na minha cara. Primeira lição do dia: Dê valor as pequenas coisas, comemorei o arroto como se fosse
um golaço do Brasil no final de Copa do Mundo, Heleninha parou de chorar e dormiu em seguida. Estou cada
dia amando mais a Heleninha

Os dias foram se passando e para resumir, fiz uma espécie de anotações diárias sobre minha rotina com
Helena pós parto para me distrair.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

3º dia de pós parto. – Fomos ao pediatra. O doutor que nos atendeu era um velhinho que paquerava mamães,
mas atencioso. A saúde de Helena era de ferro e ainda ganhei pirulitos quando sai do consultório. Lembrei do
meu reencontro com Júlia e os pirulitos para adoçar a vida. Sou mãe de uma viciada em peitos. Estou cada
dia amando mais a Heleninha.

4º dia de pós parto – Marquinhos, Lia e Renatinha foram me visitar. Marquinhos garantiu que Helena não era
minha filha pois era bonita demais, Renatinha e Lia me fizeram um interrogatório sobre Júlia e Nat. Mamãe
reclamou que meus amigos comeram no quarto de Heleninha e deixaram farelos de bolacha no chão. Estou
cada dia amando mais a Heleninha.

6º dia de pós parto – Não consigo dormir mais do que cinco horas por dia. Vou me jogar de um prédio.
Quando ela chora e eu não consigo saber porque, da vontade de chorar junto. As vezes me pergunto: Cade a
mãe dessa menina pra vim acudir? E logo lembro que a mãe sou eu. Saudade de Silvéster. Comi pipoca e
lembrei de Nat. Heleninha gosta dos banhos de sol. Rebeca me ligou chorando, sente falta de Bruno. Minha
mãe me cobrou para falar com Pedro Henrique. Estou cada dia amando mais a Heleninha.

7º dia de pós parto – Dormi demais. Minha mãe que acordou e viu que Heleninha estava com as fraldas sujas.
Sou a pior mãe do mundo. Saudades de Júlia e do cheiro de mato molhado de Silvéster. Li em uma revista
que Cíntia vai abandonar o vôlei. Ela só pode estar enlouquecendo. Estou cada dia amando mais a Heleninha.

11º dia pós parto – O umbigo caiu. Marquinhos trocou as fraldas, ele leva jeito para pai. Vontade de tomar
um Papaya com cassis da pracinha central de Silvester. Tia Guida me ligou. Cortei o cabelo e fiz as unhas.
Sou uma nova mulher. Estou cada dia amando mais a Heleninha.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

12º dia pós parto – Minha barriga vem diminuindo cada dia, me sinto fraca e estou fazendo alongamento.
Cada vez que entro no quarto, Heleninha da uma choradinha como se me desse um oi e volta a dormir. Sinto
saudade de Rebeca, Isa, Silvinha, Cíntia, Tia Junia, Dona Regina, Gabriel e Bruno. Ligo todo dia para
Silvéster, mas não falo nem sobre Nat e nem Júlia. Estou cada dia amando mais a Heleninha.

14º dia pós parto – João me ligou e disse que voltou a morar com Nat e que estava com saudade de mim.
Acordei estranha. Heleninha pegou a chupeta. Marquinhos me deu uma máquina digital nova com filmadora.
Minha mãe me cobrou para falar com Pedro Henrique. Estou cada dia amando mais a Heleninha.

17º dia pós parto – Heleninha engoliu a chupeta. Enfiei isso na cabeça e sai correndo para o médico. Após
sete, eu disse sete, pediatras diferentes, achei a chupeta na bolsa de Renatinha. Quase a joguei de um prédio.
Estou cada dia amando mais a Heleninha.

18º dia de pós parto – Léo veio me ver. Voltamos a ser amigos. A Heleninha não gostou dele. Cortei as
unhas dela. Pensem, 20 mini unhas para eu cortar sozinha, senti orgulho de mim! Pensei em ligar para Júlia.
Silvinha me ligou, Alê foi atrás de Cíntia e ela não quis voltar. Louca! Estou cada dia amando mais a
Heleninha.

19º dia de pós parto – Estou viciada em fazer fotos e vídeos da Heleninha. Ela adora banho e odeia fitinhas
de cabelo. Laísa me ligou que ganhou duas cachorrinhas vira latas e me perguntou uma sugestão de nome, não
pensei duas vezes: Júlia e Nat. Minha mãe me cobrou para falar com Pedro Henrique. Estou cada dia amando
mais a Heleninha.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

20º dia de pós parto – Meu pai registrou Helena como sócia do Palmeiras e comprou um porquinho de
pelúcia que canta: “Quando surge o alviverde imponente...” Ela adora ouvir o porquinho cantar e fica
quietinha. Não agüento mais ouvir o hino do Palmeiras. Acho que ela já sabe que eu sou eu. Estou cada dia
amando mais a Heleninha.

21º dia de pós parto – Heleninha gosta de passear de carro. Nós duas odiamos a barulheira de São Paulo e
temos dificuldades para dormir. Dona Regina me ligou e me contou todas as fofocas de Silvéster. João e Júlia
passaram o primeiro fim de semana sozinhos na cabana. Renatinha e Lia falavam sobre namorados e me dei
conta que estou com vontade de fazer sexo. Estou cada dia amando mais a Heleninha.

22º dia de pós parto –Aniversário de Lia. Não pude ir e o aniversário foi feito aqui em casa. Heleninha dormiu
a festa toda. Léo ganhou entradas para uma peça de teatro que estou doida para ir. Helena acha que eu tenho
um pé de "Pampers" e leite "Nan" na area de lazer do prédio. Não aguento mais minha mãe perguntando se
não vou falar com Pedro Henrique. Medo de deixar Helena sozinha. Estou cada dia amando mais a
Heleninha. Pensei em sexo.

23º dia de pós parto – Heleninha passou o dia emburrada e chorando. Entrei uma crise existencial que ela não
me aceitava como sua mãe e sentia falta de um pai. No final do dia ela fez um cocozão e voltou ao normal.
Experimentei no sentindo literal a expressão "Fulano esta cagando para mim..." Estou cada dia amando mais a
Heleninha. Pensei em sexo.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

25º dia de pós parto – Heleninha adora assistir o meu DVD do Queen e não tira os olhos do Freddy Mercuri,
parece que sorri quando escuta The Temptations - My Girl e gosta das músicas da Galinha Pintadinha. Estou
cada dia amando mais a Heleninha. Pensei em sexo.

27º dia de pós parto - Helena gosta de novelas. Não perdemos nenhuma por nada neste mundo. Saudade de
Nat. Saudade de Júlia. Vontade de comer o doce de mamão da cozinheira da Dona Regina. Estou cada dia
amando mais a Heleninha. Pensei em sexo.

29º dia de pós parto – Marquinhos veio me visitar, ganhou uma mijada, Heleninha puxou sua barba e tentou
mamar no seu peito. Ela dormiu ás onze da noite e acordou só de manhã. Deus é pai. Estou cada dia amando
mais a Heleninha. Pensei em sexo.

30º dia de pós parto - Troco minha mãe por mais uma noite com oito horas de sono. Estou cada dia amando
mais a Heleninha. Pensei em sexo.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

32º dia de pós parto- Outra visita no pediatra. Mais cantadas do velhinho. Saúde e ganho de peso, ok! Mais
pirulitos. Sonhei que estava dormindo. Estou cada dia amando mais a Heleninha. Pensei em sexo.

33º dia de pós parto - Léo me convidou para ir na peça de teatro com ele. Definitivamente Heleninha não
gosta de Léo e já reconhece Marquinhos. Estou cada dia amando mais a Heleninha. Pensei em sexo.

35º dia de pós parto – Perdi dez quilos dos 14 quilos que ganhei na gravidez. Entrei em uma calça 40. Estou
cada dia amando mais a Heleninha. Pensei em sexo.

37º dia de pós parto – Heleninha acha que tem um pé de fraldas em casa. Estou cada dia amando mais a
Heleninha. Pensei em sexo.

38º dia de pós parto - Heleninha deu uma risada. Sua primeira risada. Aconteceu meio por acidente. Ela
estava no colo da Lia, fui me levantar para pegar não sei o que na cozinha, não consegui me erguer de
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primeira e cai sentada de bunda no sofá, os lábios se moveram e ela soltou um barulho engraçado, os olhos se
abriram e ela riu. Sorri de volta para ela. Ela gosta quando eu me aproximo perto dela e mostro a língua ou
dou beijinho de esquimó. Rebeca pediu para voltar, Bruno fechou a porta de casa na sua cara. Complicado.
Estou cada dia amando mais a Heleninha. Pensei em sexo.

40º dia de pós parto - Helena é forte, saúdavel, sociável e apaixonante esta com 4 quilos e 55 centimetros.
Os olhinhos estão bem azuis e não esverdeados como quando ela nasceu. Linda! Meu pai comentou comigo
sobre me mudar definitivamente para São Paulo e trabalhar no hospital que ele trabalha. Ufa, uma verdadeira
gincana chegar até aqui. Sobrevivemos aos 40 dias de resguardo. Estou cada dia amando mais a Heleninha.
Pensei em sexo.

Meu pai tocou no assunto quando almoçávamos. Minha mãe não estava em casa e Heleninha acomodada no
bebê conforto em frente à TV assistindo Chocolate com Pimenta. Ela adorava a músiquinha de abertura “
Chocolate com pimenta, paixão ciumenta, assim violenta...” Agora que ela já começava a sorrir e estava mais
espertinha, nos entendíamos melhor.

-- Não sei pai... Eu preciso pensar...

-- Então pensa com carinho, Alice... Eu tenho que ir...

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Meu pai se levantou, escovou os dentes, despediu de nós duas e saiu. Não vou mentir, meus pais foram umas
“mãos na roda” com sua experiência e minha vida em São Paulo não estava ruim apesar de eu me irritar com
algumas coisas. Alguém tocou a campainha. Com certeza meu pai havia esquecido a chave.

-- Êêêê cabeça de vento, hein, seu Jorge? Vamos abrir a porta para o vovô? – Peguei Heleninha com um dos
braços, ela adorava ir atender a porta. – Vovô?!

Destranquei a chave e ao abrir dei um passo para trás.

-- Júlia? O que você esta fazendo aqui?

-- Alice, você aqui?

E mais uma vez... Pensei em sexo.

End Notes:

E ai, gostaram da Heleninha? E os 40 dias da Alice? Alguém tem alguma sugestão o


que a Júlia foi fazer em São Paulo?
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Capítulo 28 by Tamaracae

Author's Notes:

Oiiis Meninas e meninos (se tiver algum lendo) cap frescoo!!

Música: My Girl http://www.youtube.com/watch?v=DppBhl4_fJc

Quando abri aquela porta, a última pessoa que esperava encontrar era Júlia. A minha surpresa não foi apenas
por ela estar lá, mas também por Júlia parecer pasmada em me ver. Senti um misto de alegria, medo, vontade
de abraçá-la. Para piorar a situação, o vizinho escutava Nuvem de Lágrimas, uma das músicas mais “mela
cuecas” que eu tinha ouvido na vida, mas que resumia tudo que eu estava sentindo “...Vivo inventando paixões
pra fugir da saudade, mas depois da cama, a realidade... Essa sua ausência doendo demais...” Meu Deus,
músicas românticas estão fazendo sentido! Alice, ferrou tudo.

-- E-Eu devo ter trocado os endereços, desculpa Alice... Eu... O porteiro abriu pra mim dizendo que eu podia
subir, que tinha gente no apartamento da dona Vera... – Júlia se cortou encarando Heleninha com um sorriso.
– Nossa, como ela cresceu...

Júlia falava, falava, falava e eu ali, mais estática que a porta. Não ouvia anda, apenas estava matando a
saudade de sua presença, seu cheiro, o olhar. Quem me salvou foi Heleninha berrando porque não encontrava
o meu peito. Automaticamente tirei o peito e encaixei em sua boca, e pedi para Júlia entrar em casa.

-- Mas eu me molhei um pouco, Alice, eu peguei chuva...

Molhada era apelido. Só então fui notar que Júlia estava ensopada, da cabeça aos pés, como da primeira vez
que a recebi em casa. Depois de lhe emprestar uma toalha, fechar a porta e me sentar com Heleninha no meu
colo, era a hora de sabe o que ela fazia aqui.

-- Eu vim a São Paulo atrás de uma pessoa, mas eu devo ter anotado o endereço errado, só pode ser isso...

-- Que pessoa?

-- Uma médica especializada em neurologia. O nome dela é Vera Lúcia Garcia, mas você não deve conhecer
porque ela é antiga, também especializada em cirurgia geral...

-- A minha mãe?

Outro olhar surpreso de Júlia

-- Você esta dizendo que a doutora Vera Lúcia Garcia, especializada em neurologia e cirurgia de geral é a sua
mãe?

Bom, ás vezes ela diz que eu devia ter sido trocada na maternidade ou que meu pai deve ter pegado outra
garota na porta do colégio e esquecido a filha verdadeira dela lá, mas até provar o contrário essas história
eram mentiras. Portanto, sim Vera Lúcia, para os todos apenas Vera e amigos Verinha era minha mãe.
Entendi a surpresa de Júlia. Devido minha mãe não ter me procurado, em Silvéster foram raras as vezes que
citei o nome da minha mãe e apenas me apresentava como Alice Castro. Na verdade, eu falava muito pouco
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

dos meus pais para outros médicos. Não gostava que me comparassem a eles. Por outro lado, minha mãe
usava o nome de solteira. Em seu consultório havia uma placa bem vistosa comprovando isso: Vera Lúcia
Garcia, neurocirurgiã.

-- Sim, ela é minha mãe. – Confirmei. – Por quê?

-- Alice, eu queria um favor de sua mãe.

E Júlia finalmente me deixava a ar do que estava acontecendo.

-- Lembra do prontuário médico da Marcinha que sumiu?

Me esforcei e então lembrei. Eu já tinha visto Júlia nos arquivos do Alonso Franco atrás desse prontuário. Até
mesmo no dia que ficamos presas no elevador e João havia sumido, ela estava com o envelope com o nome
de Marcinha nas mãos, mas ele estava vazio.

-- Sim, lembro.

-- Eu não encontrei ele até hoje... E fiquei encucada com isso e pedi para o Gabriel investigar de maneira não
oficial tudo que aconteceu aquele dia, o nome do dono da carreta, quem socorreu, tudo... E encontrei isso
daqui...

Júlia abriu a mochila e retirou um jornal envelhecido, olhei a data 19 de Abril de 2002, um dia depois de João
ter nascido. A notícia principal do jornal era “Acidente mata grávida e um dos bebês sobrevive”. Li a notícia
toda com atenção. O jornal tratava o caso com um sensacionalismo barato devido ao fato de Marcinha gerar
o filho de outra mulher. Pelo que Júlia já tinha me contado, as duas tiveram que enfrentar metade da cidade
lhes rejeitando devido à maneira que decidiram ter a criança. Pelas fotos dava para ver restos do carro, a
ambulância prestando socorro, pessoas em volta. Em uma das fotos reconheci Nat, com uma cara de menina
e na outra foto Gabriel, sem barba e de brinquinho, abraçado a namorada que recebia os primeiros socorros.

-- Por que você resolveu pesquisar isso agora?

-- Porque o João me perguntou sobre o acidente. Ele me pediu isso.

-- Ele te pediu?

Júlia fez um gesto afirmativo.

-- Pediu para explicar o que deu errado e se deu alguma coisa de errado mesmo. – Ela fez uma pausa, deu
um gole no copo de suco que eu havia servido. – Como eu posso explicar pra ele o que aconteceu se nem eu
sei direito? Ai eu pedi para o Gabriel investigar...

Entendi seu ponto de vista. Talvez eu fizesse a mesma coisa. Não sei ainda o que ela estava fazendo em casa,
mas se fosse para ajudar a exorcizar aquele fantasma da vida dela, eu a ajudaria. Eu sabia o quanto de
esforço ela devia estar fazendo para mexer naquela história.

-- E o que ele encontrou?

-- Os dois residentes que atenderam a Marcinha, um deles esta morto. E o médico atendente. Eu encontrei
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

registros desse médico atendente nas Clínicas, aqui em São Paulo.

Outro papel foi retirado da bolsa. Nele havia um nome escrito a mão: Caio Figueiredo Pessoa, 62 anos,
trabalhou nas Clínicas de outro de 2007 á dezembro de 2009. Especialização: Cirurgia Geral. A mesma
época que minha mãe trabalhava nas Clínicas.

-- Espera, você acha que...

-- Alice, sua mãe deve conhecer esse cara, eles trabalharam no mesmo hospital, juntos, ele estava se
especializados na mesma área. Foi uma antiga professora de faculdade da sua mãe que me deu o endereço de
vocês. Ela é reitora lá da faculdade de Medicina de Silvéster.

Antiga professora da minha mãe? Quantos ela devia ter? 13 mil?

-- Você acha que eles pode se conhecerem?

Era bem possível que ela conhecesse. Fiquei com um pouco de medo da minha mãe não ajudar. Por que não
ajudaria? Ela é minha mãe, mas tenho que confessar, ela é chata. Nunca vai com a cara dos meus amigos e
provavelmente não iria com a de Júlia. A minha parte eu iria fazer, nem que eu implorasse, mas alguma coisa
minha mãe teria que me ajudar. Disfarçando minha apreensão, dei um sorriso tentando tranqüilizar Júlia e me
acalmar.

-- Eu vou falar com ela, Júlia. Só que agora ela não esta, você encontrou nós duas sozinhas.

Júlia deu um meio sorriso e aproveitou para pegar Heleninha no colo. Nem preciso dizer que Heleninha logo
se afeiçoou ao colo da Júlia e quando tentei pegá-la de volta ameaçou a chorar. Enquanto Júlia dava a
mamadeira do meu leite para ela, ficamos conversando bobagens, botando a fofoca em dia. Júlia me contava
as novas sobre Silvéster.

-- Você ta quanto tempo aqui?

-- Cheguei ontem à noite. O Gabriel ficou no hotel dormindo, eu estava tão ansiosa...

-- Ele veio?

-- E eu consigo me livrar daquilo lá agora? – Júlia parou, me encarou e deu um sorriso. – Cabelo novo?

-- Só aparei as pontas.

-- Tá diferente.

Ela deve ter pensando: Horrível. Na verdade eu tinha feito praticamente uma reforma nos meus cabelos,
estava com uma franjinha “meio Anne Hathaway em O Diabo veste Prada”, só que como estava em casa,
deixei presos em um coque frouxo. Bem que minha mãe falou que franja era infantil demais para mim. Droga!
Pelo menos ela notou que mudei o cabelo. Com ajuda de Júlia, coloquei a Heleninha no berço para sua
sonequinha da tarde.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Alice, eu já vou indo...

Só foi ela abrir a boca que Deus ouviu minhas preces e a chuva apertou. Era o pretexto perfeito.

-- Nem pensar que você vai sair com esse tempo.

-- Alice, eu sou acostumada, sabe há quanto tempo eu piloto?

-- É , mais aqui é São Paulo, não é Silvéster não, aqui tem trânsito de verdade. Você fique ai e espere a
chuva passar. Falando nisso, você almoçou hoje?

-- Não quero te dar trabalho Alice...

-- Almoçou ou não? E eu falo almoço de verdade, arroz, salada, carne?

Nem esperei ela responder e logo tratei de colocar o estrogonofe que Elvira, nossa cozinheira tinha feito, no
prato. Durante o almoço tocamos no assunto Nat.

-- Como ela esta?

-- A Nat é fechada, você sabe. Sobre vocês ela não toca em nada comigo. E você?

-- Eu sinto saudade, mas acho que prefiro me manter fechada também sobre isso.

Ela entendeu que eu preferia não tocar no assunto. Ainda servi um pouco de sorvete de flocos e nada da
chuva dar uma brecha. Não tinha mesmo como ela sair de casa, primeiro, estava caindo o maior molho do
céu. Segundo, meus pais moravam no alto daquela ladeira perto do estádio do Morumbi, era perigoso andar
de moto naquele tempo, terceiro... Não tinha uma terceira razão, mas eu inventaria um zilhão de razões para
que ela ficasse.

-- E o Bruno, a Beca?

-- Outro cabeça dura. Garoto orgulhoso. Quando não esta trabalhando bebe feito um doido, se junta com a
Cíntia e os dois enchem a cara... Mas a gente sente que estão sofrendo sabe, eu sei o que é isso.

-- Jeito meio esquisito esse de vocês sofrerem, né? Balada, mulheres...

No mesmo instante que falei, me arrependi. Droga, eu não podia ter tido o bom gosto de ter nascido muda?
Só assim pra parar de falar besteira. Tratei de me calar. Júlia estava meio deitada de lado na minha cama, no
quarto de Heleninha, um dos braços apoiando a cabeça. Percebi que ela me acompanhava com o olhar
enquanto eu tentava fazer Heleninha dormir.

-- O que foi?

-- Nada, só estou te olhando.

Meu rosto esquentou de uma forma como se alguém tivesse encostado um ferro de passar na minha pele e

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

senti minhas bochechas se avermelharem. Minha filha, troll desde pequena, soltou uma gargalhada gostosa de
bebê e abriu e fechou os olhos como se me dissesse: “Vai besta, fala alguma coisa”.

Júlia deixou o sorvete de lado e veio para junto do berço. Assim que viu seu rosto, Heleninha balançou os
bracinhos de um jeito estabanado e sorriu como se a conhecesse há tempos.

-- Tem alguém aqui que quer ficar acordada, né mamãe? – Júlia brincou fazendo uma voz de criança.
Vagarosamente começou massagear a barriga de Heleninha com a ponta dos dedos. Aos poucos ela
começava a relaxar. – Tá gostoso, Heleninha?

-- O que você esta fazendo, desligando minha filha? – Brinquei enquanto ligava o som bem baixinho.
Descobrimos que Heleninha pegava no sono mais rápido ouvindo música. – Ela demora tanto para dormir.

Júlia deu um sorriso.

-- Massagem em bebê. Aprendi lá em Manaus.

-- Eu tenho tanto medo de machucar...

-- Vem, eu te ensino...

Júlia me puxou pela mão. Desastrada como sempre, tropecei em um puff e quase trombei com o berço. Júlia
que conseguiu me frear me puxando pela cintura e segurando minhas costas com firmeza. Para não cair me
enlacei em seu ombro e a abracei. A voz suave do cantor, a meia luz do quarto, o barulho de chuva caindo lá
fora. Tudo pareceu tão... Perfeito.

I've got so much honey


The bees envy me
I've got a sweeter song
Than the birds from the trees

-- Segurei...

Well, I guess you'll say


What can make me feel this way?
My girl
Talkin' 'bout my girl, my Girl

Do jeito que eu estava subindo pelas paredes, meu corpo logo tratou de me boicotar e entregar meu estado.
Também era judiação sussurrar no meu ouvido com aquela voz aveludada, enroscada no meu corpo. A
respiração quente batendo no meu pescoço. Senti cada pedacinho da minha pele se arrepiando e Júlia parecia
ter uma reação parecida com a minha.

Houve uma fusão de olhares que quase me matou, não tínhamos mais nenhum controle sobre nossos
movimentos respiração, nada, nossas bocas quase coladas desenhavam o beijo.

-- MAS O QUE É ISSO? ALICE, NA FRENTE DA MENINA? – Quase cai dentro do berço quando
aquela voz seca e estridente nos cortou. – Alice, minha filha, você perdeu o juízo?
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Amadas leitoras, esse ser que parece um espírito andando pela casa matando os outros de susto e que
acabou de chegar na hora e no local errado se trata de mamãe. Eu gosto da minha mãe, mas tipo, ela tinha
que chegar agora? Deus, fala sério, o que eu fiz? Eu devo ter puxado São João e São Pedro no meio da
Santa Ceia e dançado Macarena com os dois depois que todo mundo tomou o vinho. Não é possível!

-- Mã-mãe es-sa... Mã-e e...

Acho que a Heleninha conseguiria montar uma frase e eu não. Júlia se enfiou em sua jaqueta jeans enquanto
mamãe jogava um olhar de inquisidora para cima dela. Estávamos ofegantes, vermelhas, nem tinha como
disfarçar. Júlia se recompôs da maneira que conseguiu, estendeu à mão a mamãe.

-- Doutora Vera Lúcia? – Péssimo começo, minha mãe odiava ser chama de Vera Lúcia. Só faltava ela
chamar minha mãe de senhora para azedar ainda mais as coisas. – Eu estava querendo falar com a senhora
e...

Antes que ela continuasse e estragasse qualquer chance de minha mãe ajudá-la, a puxei pela mão.

-- Mãe essa é a Júlia, ela estava aqui em casa esperando a chuva passar...

-- É assim que vocês chamam agora? – Minha mãe perguntou de forma inconveniente. - Esperar a chuva
passar?

E mais uma vez eu pergunto, tipo assim, por que minha mãe tinha que voltar para casa dela? Eu estava morta
de vergonha, não de ser pega com a Júlia, mas de ser pega com alguém. Acho que minha mãe nunca tinha me
visto dar um beijo na boca na vida.

-- Não mãe, é que eu cai e ela me segurou e... E a Júlia já esta de saída porque a chuva já passou. Não é
mesmo, Júlia? – Antes que Júlia abrisse a boca a levei até o corredor do prédio para pegar o elevador. –
Mãe, a Helena esta dormindo, você dá uma olhadinha nela para mim? JÁ VOLTO!

-- Gritando desse jeito você pretende o que? – ainda deu tempo de ouvir minha mãe comentar. - Acordar a
menina?

No corredor, não tinha coragem de encarar Júlia, mas quando nossos olhos se encontraram, não aguentamos,
tivemos uma crise de risos. Nós parecíamos duas crianças pegas fazendo peraltice. Entrei no elevador e
decidi descer com ela até o saguão do prédio.

-- Desculpa Júlia, eu não tenho vergonha de você, eu quero te apresentar pra minha mãe, mas é que foi tão na
surpresa que...

-- Calma... – Júlia me jogou um sorriso sacana. – Eu entendo...

-- Minha mãe é difícil.

-- Pelo menos ela esta se importando com você.

Tá,confesso que as vezes eu penso: Deus só podia estar de porre quando descartou a fórmula do ovo para a

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

gente nascer, mas ao lembrar da dona Abgail, me envergonhei de dizer que tinha uma mãe difícil. Minha mãe
era um dos ursinhos carinhosos perto da mãe da Júlia. Apenas fiz um gesto afirmativo com a cabeça.

-- Ser mãe é mais difícil do que a gente pensa... – Júlia ainda me confessou. – Quer dizer... O João nunca vai
me ver como mãe, mas eu sei que ele é meu filho...

-- Para de besteira, Ju... Teu filho te adora.

-- Ele não sabe nem do que me chamar... Tipo quando eu estou perto sou “ow”, “você”, “essa ai”... E quando
eu estou longe é “aquela lá”. Só uma vez ele me chamou de mãe, mas foi por vacilo...

-- Ele te chamou de mãe?

-- Mais ou menos... Lembra quando ele foi te visitar na maternidade? O Bruno foi com ele. – Fiz um gesto
afirmativo. – Eu estava contando sobre o parto da Heleninha e tal... O Bruno perguntou se foi difícil, eu disse
que não e contei daquele parto que eu te disse, que fiz no meio da floresta, dentro de um casebre, disse que
eu puxei o bebê no muque. – Júlia deu um sorriso meio triste. – Quando eu terminei de contar, ele virou para
o Bruno e disse: “Irado! Já pensou quando eu contar na escola que minha mãe já fez um parto assim?” – Os
olhos de Júlia brilharam de um jeito que eu ainda desconhecia. – Logo depois ele me pediu desculpa.

-- Então nos tornamos mães no mesmo dia? – Apertei sua mão de leve. – Parabéns para nós duas.

Júlia apertou minha mãe de volta.

-- Eu sei que eu não tenho esse direito, sei que eu pisei muito na bola. Cara, mas eu daria tudo, tudo mesmo,
não pensaria duas vezes em dar qualquer coisa para ver aquele menino me chamando de mãe de novo.

-- Você vindo aqui, investigando toda essa história do acidente que mexe tanto com você, só para provar ao
João que ele não tem culpa de nada esta começando a ter esse direito sim. - afirmei tentando ser carinhosa. -
É só ter paciência Júlia. O João é novo... Você acha que filho se cria até quando?

Júlia deu os ombros de um jeito engraçado.

-- Sei lá... Até eles mandarem a gente pra pu...

Antes de Júlia completar a frase nos cortamos com novas risadas. Ela era muito boba mesmo.

-- Besta! Filho a gente cria a vida inteira. E você tem uma vida inteira pela frente com o João.

-- E será que um dia eu vou conseguir ser mãe de alguém?

-- Claro que vai. Já disse, teu filho te adora. Tem o Bruno também que voltou a te adotar como mãe e você
nem percebeu...

Júlia deu um sorriso.

-- Aquele moleque é safo demais pra precisar de uma mãe... Ele sabe se virar sozinho...

-- Ele nunca teve uma mãe, agora ele tem você...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Quando dei por mim, minha mão já acariciava o rosto de Júlia de um jeito delicado. Eu queria que existisse
uma explicação plausível para entender porque me sinto tão próxima dela e por que diabos precisamos
sempre estar em contato corporal quando estávamos juntas. Fechei levemente os olhos querendo gravar as
feições de Júlia com a ponta dos dedos. Senti seu rosto aproximando do meu. Antes de pensarmos em fazer
qualquer coisa, fomos interrompidas pelos pigarros extremamente irritantes do porteiro do prédio.
Fofoqueiro! Intrometido! Se a esposa dele não fosse empregada lá de casa e eu soubesse que ele tem três
filhos para criar, eu ia reclamar com a síndica.

-- Eu vou falar coma minha mãe hoje. Quer almoçar aqui em casa amanhã de novo? Eu não ando saindo
muito...

Antes que eu terminasse de dizer que não estava saindo muito por causa das vacinas da Heleninha, Júlia me
interrompeu.

-- Ia ser um problema sair com você assim com esse cabelo novo. – Com aquela ar meio engraçadinho, meio
safado de Doutor “McSteamy” de Greys Anatomy, ela sussurrou no pé do meu ouvido. – Todo mundo
babando por onde você passa, conseguiu ficar ainda mais linda. – Nem preciso dizer que me derreti, que
mulher não amanhã um elogio, não é? Deu um beijo no meu rosto, quase tocando na minha boca. Não um
beijo qualquer, mas estes que a mão envolvem o outro lado fazendo carinho, sabe? Como se não tivesse feito
nada demais, separou-se de mim. – Amanhã as duas?

Ainda besta com o poder de provocação daquela mulher assenti com a cabeça, Júlia me deu um tchau
displicente e saiu pelo saguão do prédio com aquele andando meio provocativo, jogando as cadeiras de um
lado para o outro. Minha boca foi quase parar no pé. Minha mente só ecoava uma frase: Assim mata mamãe!
Não sei se subi ou se levitei para o meu apartamento de tão leve que estava me sentindo. Só sei que cheguei
em casa cantarolando toda contente.

-- My girl, my, girl, my girl, my girl...

-- Alice, depois que você parar de rodopiar pela sala como se estivesse apresentando um musical da
Brodway, será que você poderia me explicar o que você estava pensando enquanto engolia aquela moça na
frente da sua filha?

Depois quando eu digo que minha mãe é um limãozinho as pessoas acham ruim, me chamam de exagerada.
Em pensar que eu dependo dela para ajudar a Júlia. Não consegui responder , pois meu celular nos
interrompeu. Será que era a Júlia?

-- Oi... – Atendi toda melosa.

-- Vem cá, as amigas sãos suas, você resolva o problema porque eu não sou obrigada. – Droga, não era a
Júlia, só a oferenda mal despachada da minha prima. – Alias, quando você volta, Alice?

-- Que foi, Silvinha?

-- O que foi? – Minha prima questionou indignada. – O que foi é que eu estou morando com duas malucas
por sua causa. Alice, eu tenho bom coração, mas as amigas são suas...
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Silvinha...

-- Não tem nada de silvinha não. Alice, onde eu vou têm elas. A Rebeca não sabe usar roupas dentro de casa
e a Cíntia estourou três descargas minhas com tanto vômito de ressaca. A gente briga o tempo inteiro. Não
tem sexo. Alice, sabe qual o nome disso? Casamento! Alice, você me casou com duas mulheres. E uma delas
é hétero!

-- Silvinha...

-- Quieta que eu não terminei! A Rebeca é maluca. Ela ficou louca. Terminou com o Bruno e agora que o
cara meteu a porta na cara dela esta fissurada nele. Tem fotos do Bruno pela minha casa toda. Incluindo uma
de tamanho real que o Bruno posou para uma campanha de cueca no ano passado e ela roubou de uma loja
no shopping. Eu abro a porta do meu quarto e a primeira visão que eu tenho é o bruno de cueca boxer
vermelha.

-- Silvinha...

-- Espera, ainda falta a Cíntia. Outra maluca. Sabe o que ela acabou de fazer nessa manhã? Um testamento.
Eu cheguei em casa e encontrei um advogado fazendo um testamento para uma mulher de 29 anos. Fora as
vezes que eu tive que ir na delegacia soltá-la por ter sido presa dirigindo em alta velocidade. Ela só não tem a
carteira apreendida porque eu tive que me humilhar para sua querida ex namorada conversar com o Gabriel e
relevar porque não sei pelo que a Cíntia esta passando.

-- A Nat?

-- E você tem outra ex, cachorra? A Nat. Depois de tudo que a gente esta tendo que engolir por causa dessa
maldita eleição do meu pai com a Nat e esse tal de Tadeuzinho, candidato a prefeito, Silvéster virou um
inferno. E a Cíntia me fez pedir um favor para Nat...

-- Do que você esta falando Silvinha?

-- Alice, esse tal candidato que o meu pai e a Nat estão apoiando é filhote de ministro. O cara mais baixo
nível que eu já vi. Ignorante, homofóbico disfarçado de bom moço...

-- E a Nat continua apoiando ele?

-- Bom, eu como filha do prefeito e jornalista estou mais por dentro das eleições que os outros. Eles estão
meio rachados, a Nat discutiu com esse Tadeuzinho algumas coisas, mas ela esta na mão dele.

-- Na mão dele?

-- É... O pai dele é Ministro, tem um tio que é deputado, outro assessor de senador, família inteira na
política... Eles tem uma grande influência para conseguir uma verba grande para investir na secretária de
Saúde que ficaria a encargo da Nat. Se ela conseguir essa verba e investir em todos os projetos que ela tem
em mente, Silvéster vai ser uma cidade status em saúde na rede pública do Brasil.

-- E o nome dela se fortaleceria em cadeia nacional...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- E o nome dela se fortaleceria em cadeia nacional. Sabe Alice, eu sinto que a Nat tem uma boa intenção
além de se privilegiar. Sinceramente, se ela investir mesmo nos planos que ela tem, a cidade não tem nada a
perder. Não é pecado ela ter um pouco de ambição, não é mesmo?

-- Meu problema com a Nat não é esse. Eu não queria viver uma mentira com ela.

--Então você fez a coisa certa. A campanha desse cara é uma das coisas mais baixas que eu já vi na política.
E olha que eu tenho um pai prefeito.

Eu até me assustava quando eu via Silvinha falar alguma coisa séria.

-- Baixo como?

-- O partido tem ligação com religiosos, desses que atacam tudo que é diferente da crença deles. Coisa de
embrulhar o estômago. Sabia que até ameaças de homofóbico o Scarpan recebeu? Outro dia jogaram um
coquetel de motolov no carro da Ingrid, minha sócia. A gente deu queixa na polícia, o Gabriel deixou dois
homens tomando conta, mas eu estou morrendo de medo. O Anderson esta falando até em se mudar de
Silvéster. Tá todo mundo exaltado por causa dessa guerra fria que esses “partido da família” esta fazendo das
eleições.

Fiquei triste com a notícia. Silvéster para mim seria sempre aquele lugar onde passei minhas férias na infância.
Onde pensei em criar minha filha para ela ter mais contato com a natureza, com as pessoas. Desanimador
receber uma informação dessas.

-- É, eu soube, a Júlia me contou por alto.

-- Tão bonitinho ela tentando com o João. Você precisa ver... Ligou para ela? Ela estava para viajar esses
dias...

-- É, ela apareceu em casa hoje.

-- QUE? Porra Alice, você também não fala nada! Conta! Ela foi atrás de você?

A Silvinha falou de um jeito como se ela tivesse me ligado feito uma pessoa comum e não como uma doida
que saiu metralhando um monte de informações no meu ouvido. Ficamos tricotando por uma boa meia hora
no telefone. Como de costume, só faltou minha prima perguntar a cor da calcinha da Júlia. Mentira, não faltou,
a Silvinha perguntou.

Me despedi da Silvinha quando ouvi o chorinho da Heleninha me chamando para a mamada. Eu amava pegar
ela no colo e fazê-la parar de chorar como em um passe de mágica. Enquanto mamava, ficava brincando com
os meus dedos, apertando entre suas mãozinhas. Ela era bem espertinha para sua idade. O bebê só começa a
pegar em qualquer coisa normalmente depois de dois meses completos. Era estranho pensar que vivi 27 anos
da minha vida sem Helena. Enquanto ela mamava eu inventava um monte de historinhas ou contando
novidades sobre o povo de Silvéster. Não era raro alguém chegar em casa e me flagrar falando com
Heleninha:

-- Sabe a tia Silvinha? Então, ela ligou para a mamãe e disse que tia Rebeca é doida e a tia Cíntia é bêbada e

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

tá vomitando toda a casa dela. Feio né neném? Você quase não gofa e a tia Cíntia fazendo uma coisa
dessas...

-- Alice, não deseduca a menina com os maus exemplos que você arranja pela rua... – Por que diabos minha
mãe sempre tem que por a culpa é mim? – Eu estou saindo, me ligaram do hospital para uma cirurgia de
emergência. Deixa eu despedir da minha neta.

Passei minha vida toda vendo meus pais assim, como flashes quando estavam fora do hospital. Minha mãe só
apareceu em casa depois do jantar. Preenchi todo esse tempo pensando na minha vida, cuidando de
Heleninha e pensando na Júlia. Me deu tanta vontade de ligar para ela, inventar qualquer bobagem só para
ficar ouvindo a voz dela. A Júlia tinha essa qualidade, ela topava ouvir qualquer papo furado como se fosse a
melhor conversa do mundo. Sorria de qualquer piada sem graça só porque eu achava engraçada.

-- Quem é ela?

Quando ouvi a voz do meu pai me perguntando, quase deixei cair o garfo do meu prato no chão. Nós dois
estávamos sentados em volta da mesa de jantar. Ele brincando com Heleninha dentro do carrinho enquanto eu
terminava meu jantar. Na verdade estava enrolando a comida, com a minha cabeça longe... Não tão longe
assim porque a Júlia estava hospedada na Barra Funda, uma meia hora de casa.

-- Ela quem pai? – Tentei disfarçar me servindo de mais salada. – Do que o senhor esta falando?

-- Da mulher que esta fazendo você pegar mais alface quando o seu prato esta parecendo uma horta de tanta
salada. – Olhei para o meu prato e realmente, estava cheio de salada, não tinha como negar, minha cabeça
estava nela mesmo. – Quem é ela?

Incrível como meu pai conseguia manter em sintonia comigo. Ele nunca foi de me dar muita atenção, mas
depois que o meu vídeo vazou na net, se tornou um dos meus heróis. Joguei um sorriso meio sem graça por
estar conversando aquelas coisas com ele.

-- Era na Júlia que eu estava pensando pai...

-- De novo você falando na doutora desnuda nessa casa, Alice? Eu pensei que ia morrer quando vi você e
aquela mulher enorme e pelada se atracando no quarto da minha neta.

Sério, qualquer hora minha mãe ia me matar do coração. Poxa, se ela quer me fazer morrer para pegar a
guarda da Heleninha de vez, me da um tiro no peito, agora ficar andando pela casa feito uma assombração e
me pregar susto era sacanagem.

-- Mãe, o nome dela é Júlia, ela estava apenas sem a jaqueta porque estava molhada e eu tropecei e ela me
segurou, foi apenas isso...

-- A doutora Júlia teve aqui? – Meu pai perguntou todo simpático, ele e Júlia se deram muito bem quando
apresentados no nascimento de Helena. – Por que você não chamou ela para jantar, Alice? Eu gosto daquela
menina e da família dela. São todos muito simpáticos. Verinha, você precisa conhecê-los, qualquer dia
podíamos combinar um almoço aqui ou lá em Silvéster.

-- Imagina... Quase tive um troço quando vi aquela suburbana com cara de arruaceira em cima da minha
família e você querendo enfiar eles aqui ou eu na casa daquela gente...
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Arruaceira eu não sei, mas suburbana a doutora Júlia não tem nada. Sabe de quem ela é neta? Regina e
Alonso Franco. Dois dos maiores nomes da medicina do Brasil que nós três vimos.

Minha mãe parou boquiaberta com a informação.

-- Ela é dona do Hospital Alonso Franco? – Calmamente fiz um gesto afirmativo com a cabeça. – O Alonso
Franco esta entre os dez melhores hospitais particulares do Brasil. E o Pronto Socorro público deles tem uma
aparelhagem comparada aos países de primeiro mundo. Eu ouvi mesmo falar que o hospital era dirigido pela
neta da Regina, é ela que é a adotadinha encontrada no lixo?

-- Mãe!

-- Não, a Júlia não é a diretora. Ela passou muitos anos fora, teve um problema grave, dez anos sumida. A
diretora é a Natália Franco, não é mesmo filha? Outra menina de excelente futuro... Uma pena que vocês
tenham terminado, Alice, gostei muito dela também.

Outra encarada da minha mãe que não estava com a cara nada boa.

-- Você trocou a diretora do hospital pela irmã problemática? Minha filha, qual é o seu problema!

-- Chega mãe! A senhora pare de falar da Júlia desse jeito. Ela é uma das médicas mais competentes que eu
já vi atender.

-- E ela que fez o parto da sua neta! E sabe a cirurgia da ambulância que outro dia você comentou
impressionada? Também foi ela...

Boa papai!

-- Esses dez anos que ela passou fora mamãe foram praticamente uma residência intensiva. Eu estava nessa
cirurgia da ambulância. É impressionante de se ver... Colou um tubo no peito do próprio irmão.

-- A Regina Franco tem um neto, uma neta diretora de hospital e você perdendo tempo com a problemática
nudista? Francamente Alice...

Sério, tipo, por que eu não nasci de um ovo?

-- Mãe, eu queria, por favor, que a senhora me escutasse com atenção. Eu tenho um favor para pedir a
senhora...

-- Favor?

-- Envolvendo a Júlia.

-- Agora tudo tem que meter a problemática nudista no meio?

Contei até 5000 em tempo recorde, respirei fundo e comecei a contar toda história da Júlia. Meu pai que só
sabia por alto ficou calado o tempo inteiro e ouviu com atenção. Quando acabei de contar tudo e explicar o
que Júlia queria, já estava preparada para ouvir um belo não da minha mãe.
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- É apenas isso, minha filha, ela quer algum contato de um ex colega meu?

-- A senhora faria isso?

-- É claro, Alice...

Eu devia ir para o inferno por cometer um pecado tão feio como pensar mal da minha mãe.

-- Mas eu tenho minhas condições Alice.

E se eu for para o inferno devo encontrar com minha mãe por lá. Quando a esmola é demais o santo tem
mesmo que abrir o olho. Quando minha mãe fala em condições, geralmente são coisas do tipo: Me traga um
dente de leão, uma passagem para Marte... Lá vinha bomba.

-- Que condições?

-- Eu vejo isso para você em um piscar de olhos, mas quero que você vá amanhã falar com Pedro Henrique
sobre a existência da Helena.

-- Verinha, o que é isso? – Meu pai cobrou indignado com a proposta dela. – Você esta chantageando a
menina usando o nome da nossa neta?

--É para o bem da Helena! - O bem que minha mãe estava de olho era na grana do Pedro, tenho certeza!- É
direito do pai saber que ela existe. A Helena é herdeira de uma fortuna. Esse menino desgraçou a carreira da
Alice, alguma consequência ele tem que pagar.

Cantei Faraoste Cabloco de trás para frente só para me distrair e não matar minha mãe. Doce ilusão minha
acreditar que ela deixaria barato algum favor para mim. Ok, em parte ela estava certa, Pedro Henrique era
uma desgraça na minha vida e tinha o direito de saber que tinha uma filha, mas só de pensar que aquele idiota
podia entrar na justiça e tentar roubar a guarda da minha filhinha, já sentia meu sangue ferver. Confusa, apenas
fiz a seguinte promessa.

-- Eu vou pensar, mãe. Amanhã te dou uma resposta.

Despedi dos dois e deixei a mesa de jantar. Perdi a fome. Complementei a alimentação de Heleninha com
uma mamadeira de leite Nan e logo ela caiu no sono. Quando fui coloca-la no berço, me lembrei de Júlia toda
carinhosa com ela. Júlia, o que eu ia dizer. Droga, por que minha mãe não podia ser legal uma vez na vida
comigo? E por que a porcaria do ex interno não podia ter trabalhado com meu pai ao invés dela? Você
também não dá uma dentro, hein Senhor? Meu celular tocou, atendi toda irritada.

-- Que é?

-- Desculpa Alice, se quiser te ligo outra hora. – Júlia me disse. Eu nem tinha visto o número no visor e sem
querer fui toda grosseira. – Alice?

-- Oi Júlia... – Tentei consertar fazendo voz de vendedora falsa. – Desculpa, eu achei que fosse a Silvinha ou
algum amigo enchendo o saco...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- E eu não sou sua amiga não, ow Pino Frouxo?


“Fale por você, por mim seria muito mais!” Ai, aquela mulher tinha que parar com essa mania de me deixar
sem graça.

-- Boba, você me entendeu, achei que fosse outra pessoa... Você esta no hotel?

-- Sim, to esperando o Gabriel sair do banho pra descer e comer alguma coisa... A gente cochilou,
acordamos agora, nem jantamos... Eu liguei pra...

-- Pra? - Júlia ficou calada do outro lado da linha. – Júlia?

Em resposta ouvi um sorriso do outro lado.

-- Você vai achar esquisito se eu falar que fiquei com saudade? – Dessa vez eu que ri. – Tipo, eu sei que não
faz nem seis horas que a gente se encontrou, mas...

-- Você não consegue ficar longe de mim... – Cantarolei em um tom bem chato só para implicar. – Por que
você gosta da minha companhia...

-- Deixa de ser convencida, Pino Frouxo. É saudade da Heleninha...

Eu perdi a noção do tempo. Por mim o Gabriel poderia morar dentro do banheiro que eu não me importaria
em ficar conversando a vida toda com ela. Quando fui me despedir, parei em frente ao espelho e me deparei
com uma mulher com a cara toda de paspalha e um sorriso de orelha a orelha. Ai, era eu mesmo. Se só por
telefone eu já fico assim, perto dela eu devo virar uma banana completa. Mas quer saber, to nem ai! Se ela
ficasse do meu lado pode me chamar de bananada que não estou nem ouvindo.

-- Vou ter que desligar. Dá um beijo na Heleninha.

-- A Heleninha tem mãe viu?

-- Sério? Então manda um beijo bem gostoso para ela...

-- Babaca...

Desliguei mais confusa do que eu já era. Que resposta eu ia dar para minha mãe?

Papai interrompeu meus pensamentos dando batidas na porta que já estava entreaberta.

-- Ainda não dormiu? Não vai aproveitar que a garotona esta te dando folga?

-- Estava falando com a Júlia no telefone. Já ia fazer isso.

-- Sei... – Meu pai falou de um jeito meio esquisito. - A Júlia...

Conhecia aquela cara, alguma coisa que ele precisava me dizer.

-- A história dela te assustou?


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Meio sem graça ele fez um gesto afirmativo.

-- Eu não conhecia tão afundo a história da Júlia. Tudo que ela passou foi muito traumático, essa mulher
carrega uma carga de emoção muito forte. – Eu já ia abrir a boca para defender Júlia de qualquer argumento
do meu pai, mas como sempre, meu velho quebrou minhas pernas. – Se ela teve força para passar por tudo
isso, eu espero que você consiga dar o valor devido que ela merece. Sobre a sua mãe, ela é uma pessoa
difícil, mas do jeito dela, ela esta fazendo isso para o seu bem.

Não agüentei, sorri e me abracei a ele.

-- Pai, o senhor não existe... Obrigada...

Papai me deu um sorriso.

-- Obrigado você. Quando eu cheguei lá e vi seus amigos, colegas de trabalho, sua prima, todo mundo te
desejando felicidades, se preocupando com você e a Heleninha, elogiando o seu trabalho, eu fiquei orgulhoso
de você porque foi á filha que eu sempre quis ter. - Papai me deu um beijo na testa como sempre fazia. –
Dorme meu anjinho, daqui a pouco a meninona ali começa a tocar o terror da madrugada.
Nos despedimos e ele encostou a porta do quarto. Antes de deitar na minha cama, fui dar uma olhada no
berço, joguei a mantinha sobre Helena, fiz um carinho bem de leve na cabecinha da minha filha.

-- Lelê, amanhã o vovô não vai trabalhar. Você vai ter que ficar com ele. A mamãe vai fazer uma coisa muito
importante. Eu vou ter que falar com o seu pai sobre você.

Dei um beijinho bem de leve na mãozinha da Heleninha e fui me deitar, morrendo de medo do que ia
acontecer no dia seguinte.

End Notes:

Meninas leitoras fãs de Um Preço do Perdão, vocês devem estar se perguntando


porque eu não posto capítulo lá e posto aqui. Não é má vontade com a outra história,
mas não é. Deixe o pen driver com os capítulos de um preço do perdão na casa da
minha avó junto com umas roupas e minha vó só deve voltar pra casa na quarta feira.
Então devo postar o capítulo entre quarta a noite e quinta da manhã. Desculpem mais
uma vez a demora.

Sobre "Éramos" tenho uma novidade para falar com vocês. Eu tive uma ideia e
gostaria da opinião de vocês. Muitas (os) de vocês são a favor do casal Nat e Alice e
muitas a favor de Alice e Júlia. Eu já tomei uma decisão de final e pensei em criar um
final alternativo. Vocês concordariam?

PS: O Final que eu decidi será o oficial, mas o alternativo foi a forma que encontrei
para matar a curiosidade e não deixar ninguém frustrado.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

PS1: Éramos ainda não esta no final, acho que a história ainda rende bastante, mas
pensei nisso agora. Deixem sua opinião ou nos coments, a moita pode me mandar e
mail: [email protected] ou mandar recado pelo twitter @tamsmartins e
aproveitar pra seguir ; )

PS2: Não sei se vcs já viram algumas novelas mais antigas que no final de cada
capítulo há um trechinho de cenas dos próximos capítulos. Cês gostariam de
implantar isso aqui?

Já viram que amanheci cheia das ideias né? KKKKKKK

Bjoooos!!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 29 by Tamaracae

Author's Notes:

Bom dia, boa tarde, boa noite!!

-- Dona Alice, a senhora aqui?

Jeff, porteiro do condomínio da casa dos pais do Pedro Henrique nem disfarçou a surpresa ao me ver.
Quando éramos noivo só estive lá duas vezes e as duas visitas foram péssimas por sinal. Se eles já não
gostavam de mim quando eu era da família, imagina agora que virei persona non grata, dentro da casa?
Capaz daquela velha e papuda da mãe dele mandar me matar. MEU DEUS! Será que Heleninha ia ficar com
papo que nem a mãe do Pedro? Eu mato ele se fizer isso com a menina.

-- Eu tenho que ter uma conversa com o Pedro, Jeff. O Tom já me disse que ele esta ai.

Tom era o assessor pessoal do Pedro. Pelo menos ele era isso na carteira de trabalho. Na pratica era um
pobre de um faz tudo que corria o dia todo fazendo as vontades da “condessa”. A única pessoa decente que
trabalhava com Pedro. Quando liguei a ele perguntando se tinha como eu marcar uma conversa com Pedro,
Tom disse que daria um jeito e deu. Cinco minutos depois me ligou e pediu para eu estar na casa dos pais
dele ás cinco horas daquela mesma tarde. Meu pai até tinha se oferecido para vir junto, mas preferi trazer
apenas Helena comigo. Já tínhamos saído de manhã e finalmente ela tomava as vacinas necessárias e já pode
passear sem tanto perigo.

-- Pode entrar.

Agradeci Jeff e dei as instruções para o motorista do táxi encontrar a casa. Aquele condomínio era enorme.
Helena, já irritada de ter que ficar no bebê conforto e de usar a fitinha no cabelo, começava a chorar. Ela
estava tão bonitinha com a fitinha e um macacãzinho azul que combinava com seus olhos. Fiz questão de leva-
la bem arrumadinha para esse povo ver que não precisamos deles para nada.

-- Lelê, já esta chegando. Moço, dobra a esquina, já é ali.

Depois de pagar uma fortuna de táxi, finalmente conseguir descer em frente à casa. O motorista me ajudou a

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

descer o carrinho no porta malas, montar o bebê conforto sobre ele e foi embora. Me identifiquei com o
segundo guarda e finalmente entrei no castelo da bruxa. Digo, na casa da minha ex sogra.

O tamanho daquela casa me assustava, a noite não sairia sozinha naquele jardim de jeito nenhum. Eu tremia
mais do que vara verde. E se a cobra da dona Cassandra, vó da neném quiser roubar a Heleninha de mim? E
se a Heleninha não gostar deles? E se eles não acreditarem em mim? Entre esses “e se” Maltide, governanta
da casa, veio me receber. Assim que viu Heleninha, seus olhos cresceram de um jeito que pareciam que iam
explodir. Nem tinha como esconder. Helena estava ficando uma mistura minha com Pedro que era evidente
sua filiação. Estacionei o carrinho e instintivamente peguei Heleninha no meu colo.

-- O Pedro não chegou?

-- Ele esta na piscina. Já foi avisado que a senhorita esta a espera dele. Aceita alguma coisa?

-- Não, obrigada.

Matilde fez um gesto afirmativo. Ela era governanta da casa há anos, viu Pedro criança. De alguma forma
percebi que ela estava tocada. Apenas para me confirmar me perguntou.

-- Alice, esse bebê?

-- Ela é minha filha, o nome dela é Helena, Matilde. O Pedro vai demorar?

Atordoada pela revelação, Matilde fez um não e seguiu para a cozinha. Dois minutos depois, Dona Cassandra
e Pedro Henrique, adentraram a sala. Ela como sempre com dezoito pedras na mão, veio me atacando, seu
sotaque francês era fortíssimo, eu me esforçava e pegava alguma coisa mais ou menos assim.

-- Olha aqui menina, depois daquele vídeo horrendo e toda exposição que você fez meu filho passar e... –
Assim como Matilde, Dona Cassandra deu um passo para trás e olhou desesperada para Pedro. – Não me
diga que você e essa tupiniquim pervertida não usavam métodos contraceptivos Pedro Henrique?

-- Tupiniquim pervertida?!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- A mamãe tem acesso à internet! – Pedro me esclareceu irritado. - Taradona do 4° andar...

-- Acesso aos sites de família! Não a página pornô!

Besta, mal sabe ela o que estava perdendo. Era tão mais animado.

-- Então avisa a mamãe que se ela me chamar de tupiniquim pervertida mais uma vez ela vai sair nos sites de
baixaria e fo-fo-ca junto com o filhinho que eu vou abrir a minha boca!

A história do saradão que peguei na cama com o Pedro Henrique ainda não tinha vazado na mídia por pura
pamonhice minha. No dia que eu peguei os dois na cama, ataquei um cinzeiro na cara do Pedro e tive que
chamar o Marquinhos para me ajudar a fechar o corte que eu tinha aberto na testa dele. Depois que saímos
do prédio, Marquinhos me mostrou umas fotos que tinha feito por celular sem que nenhum dos dois
percebessem.

-- O que eu faço com isso?

-- É teu Alice, se quiser se vingar do Mauríçola, tá ai tua chance.

Bestamente resolvi esquecer do assunto e o resto vocês já sabem. Claro que eu não ia abrir a boca e meter
minha filha no meio dos tubarões da imprensa, mas eu gostava de ver o terror estampado na cara da “família
real.”

-- O que você quer, dinheiro por causa dessa... – Pedro encarou Helena por instante. Será possível que ele
não via nada familiar nela? – Menina?

Heleninha estava no meu colo, Pedro se aproximou como se tivesse menção de pegá-la no colo. Percebi que
mais uma vez ele a encarava.

-- Você notou que ela tem os seus olhos?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Pedro subitamente se afastou.

-- Ou os seus... – Ele me devolveu ríspido. – Ou de qualquer homem que você tenha arranjado...

-- Como é?

-- Esquece, deu pra ver muito bem no vídeo que seu time é outro!

-- Olha aqui sua índia mal educada, meu filho não vai pagar nada se não houver um teste de paternidade!

Me deu tanta raiva de mim de ter dado ouvidos aquela chantagem da minha mãe e não arrancar a informação
do maldito médico a força. Eu não merecia aquela situação, Helena muito menos. Como eu podia deixar ser
humilhada por aquela gente se eu estava com a razão e ainda por cima tentando ofender o meu país?! Quem
eram eles pra me ofender?

-- Eu não quero que você faça teste nenhum. – Antes dele abrir a boca para argumentar. – Por que a minha
filha não tem pai! Sabe por que, Pedro Henrique? Porque eu nunca tive um HOMEM!

-- Quem me devolveu a aliança de noivado foi você!

-- Pega a aliança de noivado e faz o que quiser com ela, vende, derrete, faz um pingente... Já fiz minha parte...

-- Olha aqui sua...

-- E a senhora, Dona Cassandra, tem cara de limão azedo! E devia processar o seu cirurgião plástico que o
seu nariz tá igual do Mário Bros!

Coloquei Heleninha no carrinho e sai em disparada sem olhar para trás. Era muita cara de pau mesmo duvidar
que eu tinha sido infiel durante o noivado. O pior é que por me sentir humilhada comecei a chorar. Estava
andando no meio daquele condomínio gigante, sem consegui arranjar um sinal, envolta em lágrimas e com
Heleninha também aos berros porque queria colo.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Ôh neném, desculpa por ter que fazer essa roupa horrível e prender o cabelo para conhecer essa gente
babaca! A mamãe promete que não vai fazer você falar com esse idiota, viu?

Rodopiei mais do que um peru até encontrar a saída daquele presídio e prometi nunca mais meter os pés lá.
Quando Helena crescesse e falasse que a vida era dela e eu não tinha nada com isso, ela que fosse atrás do
pai. Assim que sai pela maldita daquela porta, me deparei com Júlia encostada em um carro, braços cruzados,
como se estivesse me esperando.

-- Júlia, o que você esta fazendo aqui?

-- Foi seu pai que me deu o endereço, ele falou...

Como Deus gostava de me ver em encrenca, Pedro Henrique saiu do condomínio todo irritado só porque
ouviu umas verdades. Para completar, achou de jogar toda sua estúpida macheza para cima de mim.

-- ALICE, EU NÃO ENGOLI ESSA HISTÓRIA DA MENINA SER MINHA NÃO! – Enfurecido veio
para cima de mim - QUE TIPO DE HOMEM VOCÊ ACHA QUE EU SOU QUE SAI FALANDO O
QUE QUER NA MINHA CARA?

-- O tipo que vai ter aprender a falar baixo com moça! – Júlia se intrometeu entre nós dois antes de qualquer
reação minha. – Ninguém tá gritando aqui com você, cara!

-- Júlia, por favor...

Delicadamente posei minha mão sobre o braço de Júlia, Pedro Henrique nos encarou de um jeito meio
esquisito.

-- ESPERA AI, EU VI AQUELE VÍDEO UMAS TREZENTAS VEZES. VOCÊ QUE É A SAPATA!
VOCÊ QUER ME DAR UM GOLPE E VEIO COM ESSA HISTÓRIA DE CRIANÇA PRA CIMA DE
MIM!

-- Eu já pedi pra falar baixo com a Alice!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Eu falo com essa galinha do jeito que eu quiser... E Cala boca, sua índia mal educada!

E deu um empurrão deslocando Júlia de lugar. Nem precisei abrir a boca para me defender. A resposta veio a
jato e com o peso de dedos de aço. Um cruzado de fazer neguinho ver não só as estrelas, mas toda a via
láctea de tanta dor. Pedro não caiu no chão apenas nocauteado, mas também com o nariz sangrando.

-- Um médico, preciso de um médico...

Agora ele gritava feito uma menina. A própria Júlia o atendeu na hora. Botou o osso do nariz de volta no
lugar. Em agradecimento levou um empurrão de Pedro que a fez bater no carro. Além de tudo covarde! Não
sei o que devia ter doído mais, só sei que a cara dele não foi em nenhuma das situações. E é claro que tinha
que ser tudo culpa do Chaves... Digo, da Alice!

-- ALICE, ISSO VAI FICAR CARO! – Pedro Henrique fez questão de me jurar. – VOCÊ, ESSA
GAROTA E A SELVAGEM SEM EDUCAÇÃO VÃO PAGAR MUITO CARO POR ISSO! VOU
FAZER DA SUA VIDA UM INFERNO, VOCÊ NÃO VAI TER UM MINUTO DE PAZ!

-- Alice, você esta bem? – Júlia veio me perguntar. Irritada me desvencilhei. – Alice!

-- Por favor, vamos para casa? – Pedi de forma ríspida. - Você não veio para isso?! Me leva para a casa!

-- Alice, eu só te...

-- Precisava mesmo dessa baixaria?

-- Eu fui te defender. Me defender. Aquela cara me chamou de índia mal educada.

-- E você fez alguma coisa contrária para ele não pensar isso?

Já sei o que vocês devem pensando. Alice, sua filha de uma boa mãe, a mulher podia ter apanhado por você a
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

tratando feio o mosquito do cocô do cavalo do bandido? Vejam bem, não era por maldade minha, mas fiquei
irritada pela besteira que ela tinha feito. Sim, reafirmo foi uma besteira. A maldita família do Pedro era
poderosa, prova de que conseguiram acabar com as minhas chances no mercado de trabalho em São Paulo.
E olha que São Paulo tem uma das maiores demandas de médico do país. Ok, assumo, sou uma covarde que
tem medo do ex noivo, mas agora eu tinha uma filha para pensar. E se ele acha de sei lá, pedir a guarda da
Helena? Ou pior, se ele fosse fuçar a vida de Júlia para ferrar com ela? Material com certeza não faltaria. Eu
fui lá por ela, eu sei que ela foi me defender, mas que fez o que não devia ela fez.

Quando eu digo que o Pedro Henrique é um urubu no meu ombro, uma âncora amarrada no meu tornozelo,
um chiclete grudado na sola do meu chinelo, as pessoas falavam que exagerava, mas vê se não é verdade. É
só essa cruz aparecer na minha vida para tudo voltar para trás. Julia ia dirigindo o Jeep verde escuro calada,
com a cara fechada de olho no trânsito. Eu já estava para lá de arrependida de ter soltado os cachorros.
Quando chegamos em casa, depois dela manobrar o carro para frente do prédio do meu pai e me ajudar
descer com toda a tralha de carrinho, bebê conforto, bolsa com fraldas, mamadeira, brinquedo, chupeta e
troca de roupa, ela veio se despedir de mim da forma mais fria do mundo.

-- Esta entregue!

-- Você pode me ajudar a subir com ela? – Pedi apontando Helena dormindo tranquilamente no carrinho. –
Até eu chamar o porteiro ou alguém de casa e...

Sem falar nada, Júlia pegou a bolsa e o bebê conforto das minhas mãos e eu tomei a direção do carrinho. Eu
não sabia direito o que falar, que fazer, não tinha plano nenhum, mas queria ganhar tempo para inventar
qualquer coisa. Mais uma vez ficamos mudas. Isso era raro, nós duas falávamos feito duas matracas. Abri a
porta do apartamento e fiz um sinal para Júlia me acompanhar até o quarto. Bebê conforto no lugar, ok,
bolsa, ok, carrinho, ok, agora a parte mais difícil: Helena ser retirada do carrinho e ser colocada no berço sem
perceber. Missão descumprida. Assim que a peguei no colo, ela abriu um berreiro. Júlia a pegou dos meus
braços.

-- Deixa que eu faço isso! – Ela se limitou a dizer. – Por favor...

Sem mais discussões a passei para os braços de Júlia. Ela colocou as chaves do carro sobre a mesa. Alguma
coisa me encucava naquela história.

-- Você não disse para mim que não pegava carro desde o acidente?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Júlia me encarou um tanto confusa com a pergunta. Engraçado que Helena já voltava a pegar no sono. Minha
filha estava virando uma viciada em Júlia. Liguei o rádio de baixinho como de costume para Helena dormir.

-- E eu não pegava mesmo. Mas quando seu pai me contou que você foi falar com ele por causa da sua
mãe... Sei lá, me deu na cabeça de ir atrás de vocês, pedi o endereço para ele e fui.

Não acredito que o papai teve coragem de contar a história por inteiro. Que vergonha! Júlia colocou
Heleninha no berço e seguimos para a sala.

-- Agora eu sei que não devia ter ido. -Ela me respondeu ainda rancorosa. - Não se preocupa que a índia mal
educada tá tirando a bateria dela do recuo, tá legal?

-- Júlia, eu não disse isso! -Eu a atropelei. - Você esta colocando palavras na minha boca!

-- Sem educação e mentirosa, por que você perde tanto tempo comigo?

Só uma coisa conseguia me deixar com mais tesão do que mulher. Mulher fazendo aquela cara de má e ao
mesmo tempo brava, com direito a biquinho. E desculpem a franqueza, mas se doce a Júlia já era boa,
bravinha daquele jeito era uma delícia. No rádio tocava uma música da Marina Lima. Antes de eu responder,
Júlia envolveu uma das mãos no meu rosto e de um jeito delicado, mas ao mesmo tempo com firmeza me fez
encarar seus olhos.

-- Eu te fiz uma pergunta Alice!

Não tinha mais responsabilidade sobre meus atos depois de ouvir aquela voz meio sussurrada me cobrando
explicação. Eu não sou e nem pretendo ser a super woman, santa ou qualquer coisa parecida para resistir a
Júlia. Deu um passo a frente, meu batimento cardíaco estava ofegante devido à aproximação dos nossos
corpos. Sentia os dedos de Júlia tocando levemente nos meus cabelos enquanto ainda envolvia o meu rosto.
Respirávamos juntas, no mesmo compasso.

-- Eu perco meu tempo porque quando você entra na minha vida, vira ela de cabeça pra baixo e abala
qualquer coisa que consigo construir! – Nossos lábios se roçavam suavemente, cerrei os olhos curtindo aquele
toque. – Minha cabeça fala uma coisa, mas meu corpo e coração são burros e fazem outra! Eu perco o meu
tempo porque eu me importo com você!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Alice...

Nem completar a frase conseguimos. O beijo que era inevitável aconteceu. Mas quando eu falo o beijo eu
quero dizer O BEIJO. A velocidade e a temperatura exatas. A língua entrando na minha boca e à medida que
ia descendo parecia descarregar sobre mim uma bomba impregnada de endorfina. A delicadeza que ela
passava através dos toques. Uma das mãos me puxou pela nuca, arrepiando toda minha pele provocando um
choquinho gostoso. Ela me envolvia de um jeito que eu ficava meio perdida, beijava minha boca, provocava,
se entregava, fugia com a boca e pegava assim meu rosto meio de lado e ia ate o pé da minha orelha, mordia
de leve. Sussurrava algumas coisas que eu não entendia direito e depois voltava a procurar minha boca. A
única coisa que eu podia fazer era beijar de volta.

A culpa não é minha que os lábios de Júlia eram viciantes e pareciam me colocar sobre efeito daquelas drogas
pesadas que faz as pessoas acordarem em um lugar além das nuvens, onde os problemas se derretem como
“geladinho” no verão. E vou confessar que andava querendo passar muito tempo ali... “além das nuvens...”
apesar de estar batendo um ventinho não sei de onde, estava quente. Quando uma das mãos da Júlia subiu
bem de leve pelo meu tronco, minhas pernas bambearam legal e eu fiquei toda mole. Como se adivinhasse
meus pensamentos, Júlia com apenas uma das mãos pegou uma cadeira que estava cai não cai e se sentou,
eu não me fiz de rogada e sentei no seu colo. Aquele perfume gostoso entrando meu nariz. Nossas peles se
roçando. O telefone tocou, desviei meus lábios do dela com a intenção de atender.

-- Não atende Alice... – Júlia murmurou enquanto a boca dela descia pelo meu pescoço. - Depois você vê
quem é. – A boca de Júlia subiu voltando a procurar pela minha. Foi encostando os lábios provando cada
pedaço da minha pele até chegar próximo a orelha. Uma das mãos desceu das minhas costas apertando minha
bunda de leve. Minhas mãos já davam um jeito de arranhar seus ombros. – Eu quero que você seja minha!
Você é gostosa, Alice! É cheirosa, tem cheiro de fruta... - Júlia aplicou um beijo bem na lateral do meu
pescoço me arrepiando inteirinha, deu uma mordidinha de leve no meu ombro fazendo descer uma das tiras
da minha blusa de alça. Só dela estar falando aquelas coisas me sentia pulsar por inteira. - Um cheiro que só
você tem... Alice, fica comigo... Eu quero você...

E colocou um beijo no meu pescoço enquanto uma das mãos subia minha blusa. Aquela mulher podia dar
aulas de como ser safada cachorra na cama. Com aquela voz recheada de tesão e gemidos que me quebrava
ao meio e tirava de órbita precisava me pedir duas vezes?

End Notes:

Próximo capítulo:

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Achei que o outro fazia mais o seu estilo...

-- De quem você esta falando?

-- Do Marquinhos. Ele é legal, divertido, eu ia entender... Agora esse


Mauricinho?

Dei uma risada de Júlia. Não acreditei que ela estava com ciumes do Léo.

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Então meninas, a coisa esquentou por aqui né? Pensei em fazer algo mais doce entre
elas, mas ai achei que ficaria falso demais.Tentei escrever o capítulo antes, mas não
deu mesmo. Para quem esta com saudade da Nat, vou pedir um pouco de paciência,
fica complicado escrever cenas de Silvéster sendo que a Alice esta em SP!

Um abraço a todas e todos e um feliz dia das mães as possíveis mamães que estão
lendo, as mamães das minha leitoras e logicamente a minha mamãe e a minha vovó
que é mãe duas vezes! Bjaço em todas!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 30 by Tamaracae

Author's Notes:

Oiiiiis!!! Meninas, feliz com o carinho que vcs tem pela Alice e demais personagens!
Um grande abraço a todas e bom domingo.

http://www.youtube.com/watch?v=wEvzNbwZ7W0 Lê lê lê João Neto e Frederico

Júlia respirou profundamente e deu uma leve afastada da minha boca como se quisesse dar espaço para eu lhe
dar um tapa na cara e ir embora ou seguir em frente. Nem preciso dizer que a puxei de volta na mesma hora
não dando nenhuma chance dela fugir. Apesar de estar literalmente latejando de vontade, nosso beijo foi cheio
de suavidade e carinho. Tá certo que eu sou tapada, mas não uma idiota total não é mesmo? Aquela
expressão de fome do seu rosto parecia multiplicar meu desejo por um milhão. Meu corpo derretia, minha
pele queimava a cada toque que a boca e as mãos de Júlia me proporcionavam.

As mãos de Júlia, uma nas minhas costas e outra na minha barriga, por dentro da blusa, trataram de me
desnudar da cintura para cima. Lentamente ela se livrava da minha camiseta me deixando só de sutiã preto.
Júlia parou por instante como se me contemplasse, mordeu levemente os próprios lábios e inconscientemente
passou a língua entre eles. Minha boca se encheu de água com aquele gesto tão espontâneo e ao mesmo
tempo provocativo. Nunca a expressão “comer com os olhos” me fez tanto sentido como naquele instante. Eu
não sei bem o que aquela mulher linda, cheirosa e espetacular via em mim, mas nem pensei muito sobre isso e
puxei seus lábios sobre os meus. Entre beijos, mordidas e sugadas, murmurei a Júlia.

-- Vem para o quarto, Ju... – Dei aquele beijo que mais acende do que sacia a vontade. Deixei meus lábios
tocarem somente o lábio de baixo de Júlia e sussurrei em seu ouvido. – Eu quero ser toda sua.

Minha voz saiu meio rouca e distante demais. Acho que isso deu mais o fogo a Júlia, senti gemendo alguma
coisa para mim. Todo o caminho do quarto, fizemos entre beijos. Era como se estivéssemos medindo forças,
ora eu a pressionava na parede do corredor, depois ela vinha para cima de mim e mergulhava os lábios pelo
meu corpo, mordia de leve minha nuca, me pegava pelas costas e depositava mais beijos. Quando tirei sua
regata e me deparei com um sutiã branco, meia taça, protegendo aqueles seios menores que o meu,
destacados pela cor do tecido que os envolviam, eu desci com a boca e comecei a massageá-los com as
mãos ainda com o sutiã por cima. Deixei minha língua brincar em seu colo.

-- AAAAAAI Alice...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Adoro sua pele, Ju... O seu cheiro...

Rígidos e macios. Perfeitos para preencher a minha mão, quase enlouqueci. Ela irradiava tanta força e ao
mesmo tempo tinha tanta delicadeza e feminilidade que eu dificilmente conseguia decifrá-la. Enquanto ela me
jogava contra a porta do meu quarto, me deu um beijo curto e quente ao mesmo tempo em que desabotoava
o meu sutiã com uma mão só e a outra me pegava pela cintura. Jogou ele em algum canto ignorado e também
se livrou do seu. Quando nossos peitos se tocaram, senti um choque e toda minha pele voltou se arrepiar.

Não era mais questão de escolha, eu simplesmente precisava ter aquela mulher. Eu estava cansada demais
para lutar contra qualquer impedimento. E naquele instante toda barreira era mínima perto da intensidade do
carinho e do desejo que eu sentia por Júlia. Delicadamente ela me deitou na cama e se livrou da minha calça.
Logicamente que quando fui abrir o zíper de sua calça, fiz uma trapalhada e sem querer fui com tanto sede ao
pote que o zíper beslicou um pedacinho de sua pele.

-- Aiii!!

-- Júlia, desculpa! Machucou?

Ela disfarçou com um sorriso calmo.

-- Não. Tá vendo esse cordãozinho? – Ela me explicava de maneira paciente. Puxou o cordão. – Viu, é só
puxar?

Quando puxei o cordãozinho, a calça se afrouxou e lentamente caiu revelando duas coxas bem desenhadas,
aquelas pernas de modelo de passarela enormes e uma calcinha branca, básica e percebi que já estava meio
úmida a deixando ainda mais sexy. Incrível como um gesto tão comum de puxar um cordãozinho se tornava
especial com ela. Joguei aquela maldita calça para o lado e a puxei para cima de mim. A boca dela envolvia o
meu seio de um jeito delicado, mas que dava vontade de subir nas paredes de tão gostoso. O outro ela tocava
bem de leve com as mãos. Beijava, brincava com língua, envolvia apenas os lábios me tocando de maneira
prazerosa. Perdi completamente a noção de quanto tempo ela ficou ali. Não conseguia me conter mais, gritava
, exigia, pedia pelos seus carinhos, sua pele na minha, seu corpo pesando contra o meu.

-- Jú, entre em mim, eu quero você... – Fui interrompida por um delicioso beijo na boca. Correspondi ao
beijo. – Eu quero você dentro de mim...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Quase implorei em sussurros. Júlia me encarou séria, os olhos tinham o tom de verde mais escuro
evidenciando seu desejo. Engraçado, com Júlia aprendi que sexo também tinha olhar, nunca esqueceria a
forma que ela me olhou na nossa primeira noite quando me deitou sobre a mesa. Antes de ter meu sexo
tocado, levei um banho de beijo, linguada, mordidinhas por quase todo corpo. Uma de suas mãos acariciou a
minha virilha e eu flexionei minhas pernas me oferecendo a ela. Me envolvendo com um beijo de língua, Júlia
retirou minha ultima peça de roupa, uma calcinha preta de renda.

-- Você esta uma delícia. – Ela sussurrou mordendo meu a pontinha do meu ouvido enquanto pincelava de
leve com o dedo o meu sexo que já estava um mar de gozo de tão molhado. – Gostosa!

Ela deixou os dedos entrarem de vez e me teve de todas as formas que quis, delicada, selvagem, apressada,
com capricho. Eu rebolava me desmanchando de prazer, excitada, entregue, apaixonada, intensa. O melhor
de tudo era sentir ela na mesma cadencia que a minha sem nem toca-la. Só consegui separar sua boca da
minha quando ela desceu e tocou meu clitóris com os lábios. Não comparo o prazer que senti a nada, pois
não achei medida existente para descrever o que era a boca de Júlia me chupando. Eu só queria mais e mais e
mais ainda. Puxava seu cabelo levemente a induzindo ao meu encontro e pulsava sobre sua boca. Meu corpo
começou a agir por conta própria fui me movimentando, estava tremendo quando uma sensação de prazer me
tomou por inteira. Minha respiração estava ofegante, eu completamente molhada e sentindo o sexo quente de
Júlia sobre o meu. Mais uma vez ela me surpreendia. Sempre achei que o tipo cafajeste era aquele alguém
gostava de sexo, mas não de beijo na boca, essas coisas que demonstrasse algum envolvimento afetuoso.
Júlia veio me beijando da metade da minha coxa até chegar a minha boca. Não tinha pressa, apenas desejo e
posso estar enlouquecendo, mais alguma forma de carinho. Só me restava retribuir aqueles beijos e aceitar o
fato que era apaixonada pela mulher que gostava de mim e de “outras pessoas também”.

_________________________________________________________________

Eu não conseguia pensar em nada que não fosse relacionado á Júlia e eu em São Paulo. Em outros lugares,
outras pessoas viviam outras histórias. Silvéster, por exemplo, naquela mesma noite. Era a vez de Silvinha ficar
no Scarpan. Ela e Ingrid sempre revezavam. Já passava das duas da manhã. Minha prima, por incrível que
pareça, não estava aproveitando o mundo de mulheres que assistia a uma dupla animada de Sertanejo
Universitário que tocava no salão do bar, para trabalhar. Ela terminava de escrever o editorial do Acontece
em Silvéster, programa de rádio de grande audiência no interior de São Paulo e que Silvinha tinha acabado de
entrar para equipe como apresentadora. Em seu primeiro artigo já queria meter o dedo em uma ferida que
andava bem polêmica em Silvéster, a campanha “familiar” de Professor Tadeu, candidato da situação. Em voz
alta, Silvinha revisava seu texto.

-- A loucura pelo poder de certos candidatos deveria ganhar caráter patológico. Ainda mais quando uma das
médicas mais renomadas da cidade esta no mesmo navio que...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

A porta a interrompeu, alguém batia. Era Letícia, sub gerente do Scarpan.

-- Silvinha, visita para você.

-- Mulher bonita?

Letícia deu uma risadinha curta.

-- Você devia se tratar, não pensa em outra coisa, não?

As duas riram.

-- Manda entrar.

Silvinha não se arrependeu ao ver de quem se tratava: Alessandra. A abraçou feliz da vida. Dividiam a mesma
paixão: o jornalismo e apesar de Alê ser meio fechada, minha prima conseguiu descobrir afinidades com ela e
ficaram amigas. Fora que Silvinha ainda tinha esperanças de que Cíntia voltasse para namorada e a ser a
mesma pessoa que conheceu.

-- Menina, o que você esta fazendo aqui? Tanto tempo você não me liga...

-- Ando afastada de todo mundo, Silvinha. Eu precisava conversar com você.

Silvinha fez um gesto afirmativo. Já imaginava o tema: Cíntia.

-- Claro que a gente precisa conversar. Meses de tricô para por em dia... – Silvinha brincou para desfazer
qualquer clima pesado. – Vou pedir uma bebida pra gente... Você não bebe né? Quer um suco? Energético?

-- Silvinha, não quero te dar trabalho...

-- Que trabalho para mim, você acha que eu aprendi o caminho da cozinha nesses meses, Alê? – Alessandra
deu uma risada. – Olha ai, suando feito uma inglesa na Índia... Vou pedir alguma coisa pra gente.
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Após feito os pedidos, voltaram ao assunto.

-- Eu vim te procurar aqui porque lá seu apartamento tem a Cíntia e não dar certo. Silvinha, o que aconteceu
com ela? Eu sei que você acha isso perda de tempo, acha loucura, mas eu preciso entender...

Silvinha deu um sorriso franco.

-- E você tem que ligar para o que eu acho, Alê? Quer saber mesmo que eu acho? Você não esta certa, esta
mais que certa. Se você acha que a Cíntia é a mulher da sua vida, tem que lutar por ela. E quer saber ainda o
que eu acho? Apesar de toda essa loucura, ela gosta de você. – Alessandra encarou minha prima surpresa. –
Alê, a gente tem que lutar pelo que acredita, e você acredita no seu amor por ela...

-- Ela largou o vôlei. Era o que ela mais amava fazer na vida. Se fosse só por mim, eu juro que eu entendia,
quer ficar livre, zoar, farrear, agora o vôlei? Pra quem tinha o sonho de ser campeã olímpica? – Silvinha
sentiu algo suave tocar em sua mão. – Os dedos de Alessandra tocavam os seus de maneira espontânea que
Alê nem notou.

As duas foram interrompidas. Novamente a porta. Além das bebidas, Letícia trazia novidades.

-- Você não sabe quem esta ai fora! ELA!

Silvinha levantou apressada, boquiaberta.

-- A Cléo Pires veio no meu bar?

-- Silvinha, dá pra ficar um minuto sem pensar com as partes de baixo? – Alessandra deu uma nova risada,
minha prima bufou. – A Natália tá ai fora.

-- Quem?

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-- A Natália, defensora do “campanha familiar”. Esta lá no bar.

Silvinha deu uma risada incrédula.

-- Mas é muita cara de pau, depois de atacar gente daquele jeito, vir parar aqui... Aguenta um minuto ai Alê,
eu quero ver isso com meus próprios olhos.

Quando minha prima chegou no salão, Nat estava lá, garrafinha de água nas mãos, com uma outra figura
conhecida sua: Cíntia. Aquela não era uma boa hora para Cíntia e Alessandra se cruzarem. Provavelmente
Cíntia ia descartar a namorada e depois afogar as mágoas em uma garrafa de bebida alcoólica arrependida.
Qual o assunto incomum entre Cíntia e Nat? Eu, Alice.

-- Eu tentei ligar para ela hoje, mas não me atendeu. Também vou querer o que? Deve estar com alguma
mulher de verdade e não com uma pseudo namorada que corre quando tem que assumi-la.

-- Pelo menos você assume.

-- Eu sempre assumo os meus erros. – Deu uma risada de lado. – E continuou cometendo os mesmo erros,
mas que eu assumo, assumo.

Cíntia que riu dessa vez.

-- A doutora sabe fazer piadas...

-- Quando estou triste sou engraçada. – Encarou Cíntia. – Sinal de que você vai rir bastante hoje...

Cíntia deu uma risadinha curta.

-- Vai ficar só na água?

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-- Daqui uma semana meu candidato vai concorrer ás eleições. Não é bom me verem bebendo anda
alcoólico.

Cíntia fez gesto negativo, sorriu.

-- Escoteira! – Nat deu uma risada. Sentia saudade daquilo. Não tinha ninguém para conversar, rir , falar
besteira. – Relaxa, aqui todos já odeiam você – Cíntia fez um sinal para a moça do bar. – Me vê duas
caipirinhas de morango!

Antes dos pedidos chegarem, minha prima alcançava as duas.

-- Cíntia, você precisa ir embora. A Alessandra esta aí! – Silvinha encarou Nat. – E você também precisa ir
embora.

-- Por que? A gente não fez nada demais e...

-- Porque aqui não é bem vindo quem apoia aquele louco que você e meu pai querem colocar de prefeito na
cidade. Fora as duas sacanagens que você fez com a minha prima!

-- A Alice esta bem?

-- Nat, vai embora!

Alheia a discussão das duas, Cíntia só pensava em uma coisa: “A Alessandra esta ai!” Fato, elas não podiam
se encontrar. Cíntia tinha medo de uma reaproximação da ex e acabasse contando toda a verdade que
acontecia. Alessandra não merecia viver com alguém como ela. Não merecia sofrer. Estava perdida em seus
pensamentos, quando o rosto de Alessandra encontrou com o seu. Tinha desobedecido as ordens da Silvinha
e saiu do escritório da gerência. Em um gesto automático, Alessandra sorriu ao ver sua ex namorada. Sua
expressão se transformou quando Cíntia, sem nenhuma explicação, se virou para o lado de Natália e puxou
para um beijo.

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De acordo com a minha prima um beijo digno de cinema. Surpresa pela atitude da ex jogadora de Vôlei,
Natália nada fez além de corresponder. Estava tão carente, tão cansada, não teve forças para negar carinho,
por mais inesperado que fosse. Beijou Cíntia com voracidade, fome. Quase dois meses sem beijar ninguém. A
maioria dos casais aproveitavam para namorar ao som do sertanejo universitário.

Em plena sexta feira


Fui tentar me distrair
Chegando na balada
Toda linda eu te vi

A ex jogadora a pressionou contra a parede e devolvia na mesma moeda. Silvinha, coitada, ficou mais perdida
que filho de puta em dia dos pais, não sabia se ficava ali parada, se corria atrás da Alessandra, se juntava as
duas e começava um beijo triplo. Só tomou as rédeas da situação quando viu Alê saindo correndo tentando
escapar daquela humilhação.

-- Droga, Cíntia!

Você no camarote
E eu rodado no pedaço
Caçando um jeitinho
De invadir o seu espaço

Ao sentir o toque da língua de Nat em sua boca, Cíntia estremeceu, não esperava que aquilo foi acontecer. O
plano era só afastar Alessandra, pedir desculpas a Nat e ir embora, mas é que não esperava que a outra
desse tanta veracidade a aquela encenação. O perfume dos cabelos lavados de Nat brincavam com suas
narinas, o corpo encaixado ao seu... O gosto doce dos lábios. Cíntia se lembrou então que aquilo tudo era
mentira e separou de Nat.

Não tenho grana


Não tenho fama
Não tenho carro
Tô de carona

-- Desculpa eu...

-- Só queria que a Alessandra não visse você... – Nat comentou um tanto ofegante. – Eu percebi.

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Cíntia fez um gesto afirmativo.

-- Obrigada.

-- De nada.

As duas se entreolharam mais uma vez.

Sou simples,
Mas eu te garanto
Eu sei fazer o Lê Lê Lê

Lê Lê Lê
Lê Lê Lê

Sabe aqueles momentos que dispensa palavras de tão safada que estamos? Então, Cíntia e Nat viveram mais
ou menos isso na saída da boate. Minha ex namorada puxou novamente Cíntia para sua boca e quase se
comendo publicamente as duas atravessaram o salão. Cíntia beijava o pescoço de Nat, lambia, puxava sua
boca de volta para cima da dela, com certa dificuldade por causa dos amassos, atravessaram a rua e entraram
no prédio de Silvinha que ficava na mesma praça que o Scarpan. João dormia na casa de Dona Regina, nada
impedia Nat de passar a noite ali. Sentido os beijos de Nat escorregar por suas costas, Cíntia abriu o portão
da garagem, puxou Nat pelo colarinho para dentro do Fusca.

-- Quero ver essa autoridade toda, doutora!

Cíntia levou um tapinha no rosto que quase a fez gozar.

-- Vou te mostrar quem manda aqui! – Nat falou já desabotoando a própria blusa e descendo o vestido de
Cíntia.

Se eu te pegar você vai ver

Lê Lê Lê
Lê Lê Lê
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Você jamais vai me esquecer

Lê Lê Lê
Lê Lê Lê

Se eu te pegar você vai ver

Lê Lê Lê
Lê Lê Lê

Você jamais vai me esquecer

As roupas das duas foram desaparecendo uma a uma e pelo que eu soube o “Lê, lê , lê” durou a noite toda na
garagem da Silvinha.

_________________________________________________________________

Voltando ao falar do meu “Lê lê lê” com Júlia, eu não estava acreditando naquela mulher. Como eu fiquei
vinte e seis anos da minha vida sem encostar nela? Nosso Lê lê lê era incrível. Já era a quarta ou quinta vez
na noite que nós gozávamos e nada dela pegar no sono. Só me restava uma opção, curtir aquele “parque de
diversões” pessoal, não é mesmo? Ela estava deitada na cama comigo por cima, aquelas mãos maravilhosas
de cirurgiã circundando a minha cintura, ajudando no encaixe dos nossos sexos, nos duas molhadas. Adorei
aquela posição porque podia olhar aquela carinha de safada da Júlia que me dava mais prazer. Uma das
mãos dela subiu para os meus seios, massageando devagar, joguei mais malemolência no movimento e fechei
os olhos. A outra mão de Júlia desceu e tocou meu clitóris. A puxei para um beijo, desses beijos que
começam na boca e vão descendo. Adorei sentir o biquinho de seu seio endurecendo na minha boca, a
penetrei com dois dedos até gozarmos praticamente juntas.

Cada toque, cada carinho, cada beijo que ela me dava tinha uma sensação diferente de tudo que eu havia
experimentando. A respiração de Júlia ainda estava se desacelerando. Notei que sua pele ainda estava
quente e vermelha. Júlia estava com as costas apoiada no encosto da cama. E eu? Parecia que tinha corrido
uma marota de São Paulo a Salvador. Ela acabava comigo de um jeito... De tia a Júlia só tinha idade mesmo
que o corpo e o condicionamento eram de uma garotona. E depois ficava me encarando com carinha de
menina travessa, com aquela boca linda meio entreaberta querendo mais e os olhos de fome. Quando nos
encaramos ela me deu um sorriso para variar, fiquei vermelha.

-- Não fica me olhando assim Jú. – Eu disse meio sem graça. – Devo estar uma bagunça... Toda
descabelada.

Júlia não me respondeu. Se deitou e fez um gesto para que eu me aproximasse dela. “Engatinhei” pela cama e
me deitei ao seu lado. Ela me abraçou meio de conchinha, começou a dar uns beijinhos bem de leve sobre o
meu rosto. Querendo mais daquilo, arrumei um jeito de me aninhar melhor em seu abraço. Ela soltou um beijo
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bem de leve perto da minha orelha e sussurrou no pé do meu ouvido.

-- Você fica delicia quando vem assim toda manhosa querendo carinho... – Ela falou com uma voz tão rouca
que me arrepiou todinha. Estava deitada meio de lado com ela nas minhas costas, dessa vez beijando meu
pescoço. – E o seu cabelo fica lindo depois que a gente fica junta, Alice... Você fica ainda mais linda.

Meu pobre coraçãozinho destrambelhado quase parou depois dessa. Que mulher era aquela? Inteligente,
doce, bonita, gostosa, safada, boa de cama e ainda elogiava o cabelo depois de tudo? Não consegui
responder mais nada, apenas a beijei mais uma vez e adormeci com ela massageando os meus ombros e
fazendo cafuné na minha cabeça.

________________________________________________________________

Lá em Silvéster Nat acordou com o barulho do bip do hospital. Quando abriu os olhos demorou a entender
que estava dentro de um fusca na garagem privada da minha prima. Assim como ela, Cíntia estava nua e
dormia encostada em seu ombro. Nat leu a mensagem do bip. Emergência com a dona Regina. Com cuidado,
conseguiu se destrincar do corpo de Cíntia e a deitou no banco de trás do fusca. Ao levantar, foi até o
chuveiro da garagem, tomou uma ducha e foi até as roupas de Cíntia para ver se achava algo para vestir. A
Cíntia era esportista, a maioria das roupas eram aqueles shortinhos de jogadora de vôlei, regata e tênis, as
roupas mais sofisticadas ficavam lá na Silvinha. Ignorando esse detalhe e sem condições de sair com as
próprias roupas que entrou, Nat vestiu um daqueles shortinhos. Ela não queria sair sem dizer nada a Cíntia e
ao mesmo tempo ficou com pena de acordá-la. Procurou papel e caneta pelo fusca e encontrou no porta
luvas. Quando ia escrever, percebeu que o papel era timbrado com o logotipo do hospital Alonso Franco e
estava em nome de Cíntia Rabello. Curiosa leu do que se tratava e seus olhos pareciam não acreditar no que
viam. Cíntia parecia tão...

-- HEY, O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTA FAZENDO?- Nat encarou uma Cíntia furiosa que arrancou
os papéis de suas mãos. – ISSO É MEU!

-- Cíntia você é louca? Você não contou isso para ninguém? Eu não posso acreditar que...

-- A sua irmã sabe!

-- A Júlia?

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-- A Júlia! E agora você. E você não vai contar para ninguém!

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Alheia se Júlia e Cíntia compartilhavam um segredo, acordei ás seis da manhã. Me virei para o lado prontinha
para me deparar com aquela mulher linda e nua na cama e só encontrei lençóis. Não, tudo não podia ter sido
um sonho. O perfume dela estava impregnado naquela cama. Ela deve ter acordado, se arrependido do que
fez, ter pensado na irmã e eu levei o pé na bunda do milênio. Só pode ter sido isso. Bem feito, Alice, sua
idiota, vai ouvir a porcaria desse seu coração olha no que dá! Me enfiei em um shortinho de dormir e no meu
sutiã e fui ver como Helena estava. Ela nunca ficava quietinha demais esse horário. Meu Deus, será que a
menina se matou chorando de madrugada e eu não ouvi? Meus pais de plantão no hospital e eu trepando
negligenciei a Heleninha. Abandonada e ainda pésisima mãe! Só pensando no pior cheguei no quarto com os
pulmões de fora, abri a porta como se fosse a sétima cavalaria e para minha surpresa, Heleninha já estava
acordada e dando aquelas gargalhadas deliciosas de bebê no colo de Júlia que estava na cama do quarto.

-- Alice, aconteceu alguma coisa?

Sim, eu sou uma doida, idiota com complexada, pensei. Mas não respondi. Apenas me deitei ao lado das
minhas duas mulheres. Eu gostava de ver que elas se davam bem. Heleninha parecia já conhecer Júlia e
gostava do seu colo.

-- Ela te acordou?

Júlia deu um sorriso.

-- Relaxa Alice, você acordou, ia levantar, mas eu me ofereci... Quando cheguei aqui ela estava com um
pouquinho de cólica, eu fiz massagem e passou, mas você a ouviu acordando. Assustou acordar sozinha?

Fiquei sem graça de responder. Fui salva pelo meu celular. Atendi.

-- Oi Léo.

-- Alice, desculpa a hora, eu te ligar ontem, mas acabou tendo uma operação de emergência aqui, um rolo
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

danado. Você vai no aniversário da Renatinha hoje com a gente, não vai?

Droga! Tinha me esquecido disso. Não estava com ânimo nenhum de ir para balada com amigos. Depois da
noite que tive, estava na vibe de namorar, programa a três tipo Júlia, eu e um quarto. Seria perfeito se ela não
fosse quem fosse. Bem que ela podia ir comigo nesse aniversário da Rê... Ai ela conhecia meus amigos. Não!
Não era bom eu ir fantasiando coisas. Duvido que a Júlia fosse querer fazer esse programa de conhecer
amiguinho. E eu tenho que parar de ter o coração na vagina também. É lógico que ela encararia apenas como
sexo, por mais que me doesse, eu teria que fazer isso também.

-- Vou. Eu peço para o meu pai ficar com a Helena e vou sim, Léo.

-- Ótimo, então eu te entrego os convites da peça hoje à noite. Você precisa de carona?

-- Você passa aqui e me pega? ... Ok então, Obrigada, Léo. Beijo querido.

E desliguei. Quando voltei para olhar Heleninha, Júlia me encarava de um jeito meio confuso. Não entendi.
Antes de abrirmos a boca para falar alguma coisa, Heleninha se lembrou que tem mãe e abriu a boca para
chorar querendo peito. Enquanto Heleninha mamava, Júlia ficava observando nós duas. Eu sorri meio sem
jeito.

-- O que foi?

-- O seu peito esta com um formato bonito. – Heleninha tinha terminado um peito e procurava o outro, toda
afoita como se o peito fosse criar perninhas e fugir dela, nós duas rimos. - Alguém acordou com fome.

-- Ela pegou a mamadeira, mas peito é peito, né filha?

Júlia deu uma risadinha maliciosa.

-- Eu entendo ela. – Ai, a Júlia tinha um dom de fazer piadinha safada como ninguém. E o pior era que eu
gostava e... Meu Deus, só agora que me toquei que meus peitos ainda estavam amamentando. Será que
ontem na hora... Ai que vergonha... – Que foi? - Fiz um gesto negativo. – Que foi, Alice?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Não é que ontem quando a gente... É quando você colocou a boca...

Cacete, como não falar disso sem ficar vermelha?

-- Você quer saber se ontem espirrou alguma coisa na hora. - Júlia me encarou de um jeito divertido. Droga,
ai que vergonha. – Não, Alice, não espirrou nada.

Graças a Deus! Mas se de outra vez espirrase? E se na hora saísse um pouco, o que eu ia fazer? Fiquei
pensando nisso, mas Júlia tratou de me acalmar depositando um beijo no meu ombro e me dizendo.

-- Alice, eu sou médica. Eu sou mulher e eu sei como o seu corpo esta e as reações que ele pode ter... - Ela
depositou mais um beijo, dessa vez no meu pescoço. – E se eu beijo ele assim é porque eu quero você
assim... E se espirrar... – Júlia deu os ombros de um jeito engraçado. – É apenas leite.

Não resisti e beijei sua boca. Dessa vez não tinha só desejo, mas carinho, cumplicidade. Quando nos
separamos, pedi um favor a ela.

-- Amor, vê se tem alguma coisa na geladeira para tomar café, não sei você, mas eu estou morrendo de fome.
– Júlia me deu um sorriso acanhada. – Que foi?

-- Estou morta de fome, mas fiquei sem graça. – Ela ficava tão lindinha vermelha. – Fiquei pensando, será que
a Alice vai me achar sem educação se eu falar alguma coisa, você sabe como eu sou, quando chego na minha
vó já faço o gênero parente pobre vou direto pra geladeira e depois caio na piscina, mas aqui... – A respondi
com um beijo na boca todo carinhoso, sugando, mordendo de leve. Nos separamos bem vagarosamente. –
Alice, é melhor eu ir até a cozinha senão esqueço que temos criança no ambiente e te agarro agora mesmo!

Júlia improvisou um café bem gostoso com pão, queijo, chocolate e mais algumas coisas que tinha em casa.
Depois que Coloquei Helena no berço, voltei para meu quarto e tomamos café juntas. Perdemos uma meia
hora “namorando” na cama, tomando café entre beijos, conversando, ela fazendo massagens nos meus pés,
toda carinhosa, até que o assunto aniversário da Renatinha veio em pauta.

-- Nossa, tanto tempo sem sair de casa, só a Renatinha mesmo para me tirar.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Eu vi você marcando encontro com o tal de Léo. – Júlia me disse enquanto terminava de comer um pedaço
de pão. – Que foi?

-- Não tenho encontro com o Léo. Vou sair com os meus amigos.

Júlia me encarou.

-- Seus amigos todos vem te buscar em casa?

-- Não. O Léo vai me dar carona.

-- Então é um encontro com o Léo. Esse é aquele meio Mauricinho né? O outro já falei algumas vezes por
telefone, ele é o divertido. Então esse do encontro só pode ser o Mauricinho.

Dei uma risada divertida.

-- Não é um encontro, coisa chata! – Brinquei beijando a boca dela. – Ele é meu amigo.

-- Achei que o outro fazia mais o seu estilo...

-- De quem você esta falando?

-- Do Marquinhos. Ele é legal, divertido, eu ia entender... Agora esse Mauricinho?

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Dei uma risada de Júlia. Não acreditei que ela estava com ciúmes do Léo. Nos beijamos mais uma vez.

-- Posso te provar que não é um encontro. – Dei mais um beijo em Júlia. – Quer ir com a gente para o
aniversário da Renatinha?

Li nos olhos de Júlia que ela sabia muito bem o que aquilo significava. Não era apenas um convite para ir a um
aniversário, mas seria para apresentar meus amigos, uma espécie de maneira sutil para firmar alguma coisa
entre nós duas.

-- Topa ir comigo, Júlia?

End Notes:

Cenas do próximo Cap:

-- AAAAIII!

-- Parece criança, Nat, fica quieta! - Silvinha resmungou com a bolsa de gelo. -
Que decadência viu, antes era eu que fugia de mulher casada, agora virei...

-- A amiga da amante... - Nat complementou com a voz entrecortada por causa


da dor. - AAAAAIIII SILVINHA!

-- Já falei para ficar quieta! E eu não sou sua amiga!

-- Não é possivel! Você não morava em Silvéster antes da Alice chegar aqui!
Como eu nunca reparei que você era tão chata, garota?

_________________________________________________________

E ai, Cíntia/Nat, Alice/Júlia sabem fazer um "Lê lê lê"? Não sei se todo mundo curte
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sertanejo universitário, mas eu como uma interiorana, não dispenso uma BOA música
caipira.

E ai, alguém sabe o que a Cíntia e a Júlia estão escondendo? E a Júlia, será que topa
sair de "namoradinha" da Alice para conhecer os amigos? Alguém ai imagina o que vai
acontecer?

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Capítulo 31 by Tamaracae

Author's Notes:

Oiiiiis"!

Minha sorte estava lançada. Júlia me encarou, parecia estar tranqüila. Mal sabia eu a batata quente que ela
estava prestes a soltar em minhas mãos. Na minha cabecinha recheada de insegurança, ela ia inventar algum
compromisso inadiável e eu iria levar um não pela testa.

-- Eu tenho duas condições e uma pergunta antes de aceitar. – Júlia fez uma pausa para refletir sua próxima
fala. – Eu quero levar o Gabriel, primeira condição. – Ok, nada demais e seria até legal para ela não se sentir
deslocada. Concordei no mesmo minuto. – Segunda condição, assim que você voltar para Silvéster vamos
explanar tudo que rolou para a Nat juntas. – Só dela falar no nome da irmã senti um arrepio nas costas. Deixo
bem claro que não um arrepio de prazer, mas de um pouco de medo. – Alice, eu não quero que a minha irmã
pense que esta sendo enganada. Não gosto de fazer nada pelas costas. Você me entende?

É claro que entendia. Só tinha que convencer minhas pernas pararem de tremer feito vara verde e meu
coração parar de gelar cada vez que eu pensasse em encarar Natália e dizer:

-- Oi Nat, como tem passado? Tudo bem? Também estou passando muito bem. A propósito, sua irmã é
ótima de cama.

Não, não, não. Ela ia me odiar a vida inteira. Está certo que não estávamos mais juntas, mas eu não a odiava
e nem queria vê-la afastada e com raiva de mim como se eu fosse pior ser existente do mundo. E tenho
certeza que se eu contasse o que estava acontecendo, ela ia me encarar dessa forma. Por outro lado, eu não
queria e não precisava viver escondido de ninguém. Oras, Alice, você não terminou o namoro justamente
porque queria tudo as claras? Agora você quer voltar atrás? Seria muito pior, por exemplo, se algum dia ela
pegasse nós duas na cama. Ou pior, eu dissesse um não a Júlia e ela desistisse do “sei lá o que” que estava
rolando entre nós. E ainda outra questão me esquentava a cabeça: Eu iria voltar para Silvéster?” De maneira
inteligente ela fazia ver que na verdade eu tinha um monte de dúvidas e não podia cobrar certezas de ninguém.
Dei os ombros a Júlia.

-- Desculpa...

Em resposta Júlia me fez um carinho e me abraçou.

-- Não precisa me pedir desculpa por nada minha linda, a gente não fez nada de errado, aconteceu. – Júlia
me deu um beijo nas costas fez um carinho. – Só quero deixar tudo bem claro. – Nos entreolhamos um tanto
entristecidas, ninguém fica cem por cento contente em uma situação daquelas. – Quando é esse aniversário da
Renatinha? Eu vou!

A encarei incrédula.

-- Sério?

Júlia deu os ombros.

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-- É só um aniversário. – Júlia me encarou com um risinho divertido. – AAAAAh, faltou uma ultima
pergunta...

-- O que?

-- Eu não vou atrapalhar seu encontro com o Mauricinho?

Ela usou aquele tom de quem quer implicar. Era uma boba mesmo. Eu ia conseguir me lembrar do Léo com
ela do meu lado? Em resposta lhe dei um beijo na boca entrelaçando minhas mãos em sua nuca e a puxando
para mim reacendendo nosso contato. Caímos na cama, eu por cima de Júlia e ela acabou me confidenciando
com um sorriso no rosto.

-- Beijo mais gostoso.

-- Não vai atrapalhar porque não é um encontro!

E roubei outro beijo de Júlia. Esse ainda mais intenso que o primeiro. Engraçado ela parecia estar ainda mais
fogosa que na noite anterior. As mãos agora percorriam o meu corpo conhecendo onde se devia tocar, a
boca me aplicava um beijo em um dos meus pontos fracos: nuca, as pernas começavam a se entrelaçar nas
minhas, sussurrando o que queria fazer no meu ouvido e tudo estava tomando um caminho delicioso se eu não
estivesse esquecido a maldita da porta destrancada e minha mãe não tivesse entrado sem bater no meu
quarto.

-- ALICE?!

Nem preciso dizer que a cena da minha mãe voltando para sala me praguejando cortou qualquer clima
romântico, não é mesmo? Poxa, mas também parecia que ela ficava esperando o clima esquentar pra
aparecer na nossa frente como em um passe de mágica. Depois de nós duas colocarmos as roupas, Júlia me
ajudou a levar a bandeja de café da manhã para a cozinha e teve que enfrentar o olhar de atirador de elite da
minha mãe. Trocamos umas meias palavras, a coitada da Júlia sem saber onde enfiar a cara. Logo ela
arrumou um jeito de sair antes que minha mãe soltasse um laser pelos olhos e ela virasse uma lama verde na
sala de casa. Quando fomos nos despedir, inventei de levá-la até o elevador.

-- Alguém vai ser deserdado hoje? – Júlia brincou olhando para a porta da minha casa.

-- Eu faço os olhos de “se me expulsar de casa sua neta vai para debaixo da ponte” e ela me perdoa. – Júlia
deu um sorriso e nos beijamos. – Até a noite.

-- Até a noite, Alice.

Quando voltei para a casa, já tinha traçado uma estratégia para poupar meus ouvidos do massacre materno.
Assim que botei os pés no apartamento, mamãe estava com o discurso na ponta da língua.

-- Alice, já que você insiste em jogar essa mulher na nossa cara, seria pedir demais que ela usasse roupas?
Alice, você esta me ouvindo?

-- Sim, mas tenho um assunto muito mais interessante para a senhora.

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-- Que assunto?

-- Pedro Henrique. Ontem fui falar com ele.

Golaço e de letra. Os olhos de mamãe ganharam até uma cor diferente, ela sorriu.

-- Eles te receberam?

-- Sim, agora eles sabem que a Lelê existe. Vou contar tudo para senhora.

Enquanto eu conto o desastre que foi meu reencontro com a Barbie sueca... Digo, com meu ex noivo, vocês
fiquem com o que aconteceu em Silvéster que é bem mais interessante do que minha história.
_____________________________________________________________________

-- AAAAIII!

-- Parece criança, Nat, fica quieta! - Silvinha resmungou com a bolsa de gelo. - Que decadência viu, antes era
eu que fugia de mulher casada, agora virei...

-- A amiga da amante... - Nat complementou com a voz entrecortada por causa da dor. - AAAAAIIII
SILVINHA!

-- Já falei para ficar quieta! E eu não sou sua amiga!

-- Não é possível! Você não morava em Silvéster antes da Alice chegar aqui! Como eu nunca reparei que
você era tão chata, garota?

-- É que comparado com a sua, a chatice dos outros é praticamente insignificante mesmo, Natália! – Silvinha
apertou mais a bolsa de gelo próxima ao olho esquerdo de Nat. – Vai ter um belo de um galo cantando aqui o
dia inteiro, viu? Já sei,vou por um facão no congelador, depois mete na testa, baixa na hora...

-- Silvinha eu preciso de uma tomografia, uma ressonância, uma...

-- Natália, eu tenho irmão que já brigou na rua, sou prima da topeira da Alice que vive se batendo sozinha. –
Obrigada pela parte que me toca, Silvinha. - Sabe quantos galos eu já baixei na vida? Fica ai quieta, já volto.

Sem saída, Nat pressionou a bolsa de gelo contra sua testa enquanto minha prima foi preparar a receita
caseira. Nat descansou no encosto do sofá, estava na casa de Silvinha. Enquanto encarava a tal foto de
tamanho natural de Bruno no anuncio das cuecas que Rebeca tinha roubado do shopping, Nat tratava de
relembrar o que aconteceu.

Tudo tinha sido muito rápido. O beijo, o sexo, o despertar ao lado de Cíntia, a descoberta, a discussão e o
reencontro com Alessandra. Cíntia arrancou os papéis de sua mão.

-- Você não tem o direito de falar isso para ninguém! – Cíntia advertiu, as duas discutiam na garagem de
Silvinha. – É a minha vida!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Natália a encarou com um ar incrédulo. Deu um meio sorriso.

-- Vida, isso é seu... – Encarou Cíntia mais uma vez, fez um gesto negativo. – Quer saber de uma coisa, ela
tem o direito de saber toda a verdade!

-- NAT!

-- Eu vou procurar ela agora!

Sem pensar duas vezes, Nat saiu pela porta da garagem com Cíntia logo atrás. Só foi alcançada quando
cruzada o portão de saída do edifício. Trombou com uma mulher e a quase a derrubou no chão.

-- A senhora me desculpe e... Alessandra? – Deu um sorriso por sua sorte, era com você mesmo que eu
precisava falar. Você não tem ideia do que esta acontecendo... A...

-- AAAAAAAAAAAAAH, EU NÃO TENHO IDEIA DO QUE ESTA ACONTECENDO? – O bafo de


cachaça da Alê chegava a arder os olhos de Nat. Ela não era de beber, só um copinho já deixava meio
desorientada. Agora pensem em alguém com dor de corno após uma garrafa inteira de 51 e para
complementar ainda encontra o “Ricardão” pela frente. Merda preescrita, não é mesmo? – VOCÊ ESTA
DIZENDO QUE E-EU NÃO TENHO IDEIA DO QUE TÁ ACONTECENDO? – Nat foi empurrada. –
ENTÃO ME CONTA O QUE ESTA ACONTECENDO!

Eu não digo que bêbados incorporam outras personalidades? Essa era a Alessandra incorporando o Jean
Claude Van Damme, aquele mesmo, o baixinho que batia em Deus e o mundo naqueles filmes de porrada. E a
outra era a coitada da Nat que ia ficar mais amassada que purê de batata se ninguém fizesse alguma coisa. É
claro que a gritaria de Alessandra já estava atraindo pessoas da rua e a vizinhança do prédio. E é claro que as
pessoas estavam torcendo para que a Alê descesse o pau na Nat porque o ser humano tem a natureza de não
prestar. A rodinha de pessoas já se formava para Nat não ter para onde correr, Alessandra caminhava em sua
direção a encurralando, Nat tentava escapar de todas as maneiras.

-- Espera, espera Alê, você esta nervosa... – Alessandra se armou do capacete de sua moto. – Não, espera,
solta isso aí, eu não sou de violência...

Silvinha também atraída pelo barraco logo foi se meter na multidão e viu as duas protagonistas do duelo.
Cíntia tentava acalmar Alessandra sem sucesso. Minha prima que é fã de um bom barraco lamentou, mas teve
que se meter no meio antes que a polícia parasse ali e levasse Alessandra presa.

-- Aaaaaaaaah... Primeiro a bonitona ia me contar o que aconteceu, agora ela não é de violência?

-- Alê, vai embora... – Cíntia pediu. – Você esta bêbada!

Alessandra deu um sorriso.

-- Que foi? Tá com medo de eu acertar essa moça bonita?!

-- Não Alessandra! – Silvinha gritou enquanto tentava chegar nas duas. – PUTA QUE O PARIU!

-- AAAAAAAAAIIII!

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Tarde demais. A bonitona, digo, Nat foi puxada pelo colarinho, Alessandra que era maior e mais forte lhe
acertou uma “capacetada” violenta. Na hora Nat perdeu os sentidos. Quando acordou a primeira coisa que
viu a sua frente era um rosto de cabeça para baixo. Só então notou que estava com a cabeça pousada no colo
de Silvinha.

-- Ela abriu os olhos. Não morreu não, para de rezar, Cíntia, que coisa!

A dor do galo não incomodava tanto como o conteúdo dos papéis de Cíntia. Silvinha chegou na sala e viu
Nat ali parada, olhando para o nada.

-- Nat? Esta bem?

Natália fez um gesto afirmativo e para disfarçar perguntou.

-- Por que você tem uma foto do meu irmão de cueca no meio da sala?

Silvinha ia responder, mas foi interrompida pela entrada de Cíntia que quase chorava.

-- Levaram a Alê presa!

Nat só conseguiu chegar ao hospital depois de ir a delegacia e afirmar ao delegado substituto que tudo não
passou de um engano. Não ficou por lá para assistir Alessandra ser liberada. Só desfez o engano por Cíntia.
Pelo contrário deixaria Alessandra presa. Assim que chegou ao trabalho teve lidar com as primeiras
conseqüências da ressaca.

-- Meu Deus, isso é o novo uniforme das médicas? – Duarte questionou. – Se alguém me obrigar a usar isso
eu me aposento!

Só então Natália se lembrou que estava com um shortinho , tênis e um toper de corrida de Cíntia. Esqueceu
de passar em casa para trocar de roupa.

-- Não Duarte, é que a Alessandra veio em cima de mim e...

-- Natália, sua vida sexual não me diz respeito! – Duarte respondeu naquele tom que sempre falava comigo. –
Você tem uma reunião dentro de meia hora, seria possível usar uma roupa? Acho que o conselho não vai
entender o shortinho!

Nat ordenou que alguém lhe providenciasse uma roupa enquanto cancelava todas as reuniões. Não tinha
cabeça para trabalhar no momento. Fechou-se no escritório. Se preparava para dormir no sofázinho de sua
sala quando o telefone tocou. Era titio Afrânio em pessoa.

-- Natália, quando te fiz o convite para ingressar na caminhada política, achei que estava lidando com uma
mulher e não com uma menina!

-- Do que o senhor esta falando?

-- Abra qualquer portão de notícia e veja o que sua tranqüila noite de folga que você me pediu ontem acabou
de virar! – Ao abrir o site da UOL, Nat quase caiu pra trás quando se reconheceu no meio da briga com
Alessandra e a seguinte manchete: “Apoiadora do Partido da Família Brasileira (PFB) em briga por causa de
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

mulher casada.” – Nas vésperas das eleições você me dá uma dessas?

Tudo estava perdido. Quer dizer, quase perdido. Nat ainda via uma saída.

-- Eu posso explicar!
____________________________________________________________________

Em casa, eu terminava de contar toda minha história com Pedro Henrique para minha mãe. Lógico que omiti a
parte que a Júlia estourou o nariz dele na minha frente. Como era previsível, a cara dela não era das melhores.

-- Bom, um exame de DNA eu posso conseguir fácil para você, eu tenho uma amiga que é dona de uma
clínica de reprodução assistida, eles fazem testes de DNA, é só você colher o sangue e...

-- Mãe, eu só vou fazer teste de DNA se for obrigada pela justiça!

-- Alice esse não foi nosso acordo e...

-- Foi o nosso acordo sim! – A interrompi. – E eu cumpri minha parte. O pai da sua neta já sabe que ela
existe. Agora a senhora cumpra a sua e ajude a Júlia a encontrar o maldito do médico!

Minha mãe me encarou decepcionada. Pensei que ela ia desferir um tapa ou algo do tipo quando falei no
nome da Júlia, mas surpreendentemente ela assentiu com a cabeça. Vagarosamente ela baixou os olhos.

-- Tudo bem, filha. – Fez uma pausa. – Eu vou ver se encontrou alguma pista do médico para ajudar a... –
Não sei o que ela ia falar, mas se interrompeu. – O médico para ajudar a Júlia.

Apenas fiz um gesto de agradecimento e ela saiu da sala. Estranho, mas desconfiou que era a primeira vez que
minha mãe me via como adulta. Também pudera, eu nunca a enfrentava, mesmo depois de Helena. Sozinha
sorri orgulhosa de mim.
______________________________________________________________________

-- Ela te pediu para voltar? – Silvinha perguntou a Cíntia. Minha amiga acabava de chegar da delegacia com
notícias da Alê. – Me fala , Cíntia!

-- Claro que não, né Silvinha? A mulher bêbada, barraqueira...

-- E estava enchendo o saco para soltarem a dita cuja por quê?

-- Coitada Silvinha, você deixaria ela presa? Eu gosto da Alê!

Minha prima nada respondeu, apenas contou até três mil para adquirir paciência. Já estava desconfiando que
Cíntia tinha dupla personalidade ou algo parecido. Rebeca estava saindo de casa para ir trabalhar, para variar
minha prima reclamando de tudo enquanto limpava a casa. Ajeitava um vaso de margaridas na mesa de
centro.

-- Rebeca, você precisa exorcizar o Bruno da sua vida! Não agüento mais o Bruno com essa cueca na sala
da minha casa. Sabe o que quer dizer isso?

-- Sei! Azar no amor, sorte no jogo! Sonhei com o Bruno ontem e joguei hoje de manhã na cobra. –
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Comentou enquanto destrancava a porta de casa. – O que será que deu? –

Ao abrir a porta de casa deparou com uma conhecida: Natália. Silvinha a encarou de cima abaixo.
Ironicamente comentou:

-- Deu zebra!

-- Tô indo, tchau pra quem fica!

E Rebeca fechou a porta mal cumprimentando Natália.

-- O que você quer?

-- Eu vim saber da Cíntia se... – Antes de completar a primeira frase, Nat espirrou. – Se... – Outro espirro. –
Eu vim... – Mais espirro. – Es-sas flores... Me da alergia... As... – Mais um espirro. – As flores...

Silvinha retirou o vaso cheio de margaridas da mesinha de centro da sala.

-- Pronto, pode falar...

-- Eu queria... – Nat ainda esfregava o nariz. – Queria saber como a Cíntia esta, fiquei preocupada com ela...
– Silvinha encarou minha rima de um jeito desconfiado. – Poxa Silvinha, todo mundo me olhando torto,
falando mal de mim e eu fui tirar a queixa... Não sou esses monstros que vocês estão pensando.

Pela carinha da minha prima, ela estava bem longe de pensar que Nat era um monstro. Ainda tinha raiva,
devido as pisadas de bola da Nat, mas o coração estava mais mole. Nat sorriu.

-- Que foi?

-- Você e a Alice têm os olhares parecidos...

Minha prima sorriu sem graça. Nat ainda sentia o nariz levemente irritado.

-- Vou buscar alguma coisa pra você beber... – Nat fez um gesto afirmativo. Silvinha se levantou, deu uma
olhada rápida. – Nat?

-- Que?

-- Obrigada por não ter dado queixa da Alê!

______________________________________________________________________

Enquanto isso eu ligava para Júlia para combinarmos de nos encontrar a noite, mas o telefone só dava
ocupado. Eu não sabia, mas ela falava com outra mulher.

-- Você volta quando para cá?

-- O mais rápido possível. Você esta se sentindo bem?

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-- Aconteceram umas coisas aqui...

E ficaram falando por quase meia hora.

___________________________________________________________________

-- Eu não sou muito de cozinha. – Minha prima se desculpou. – A Rebeca que mexe com o fogão...

-- Imagina, ta ótimo. – Nat elogiou experimentando um pouco do café de Silvinha. – Sabe, estou acostumada
com aquele café do Pronto Socorro que parece que é feito de chumbo. Você tem mão boa... – Silvinha deu
um sorriso para minha ex namorada. – Silvinha, eu queria te pedir um favor...

-- Tá, eu coloco uma colherinha de conhaque misturada no pó do café antes de coar. – Minha prima
confessou. - Foi a tia Junia que me ensinou, mas não diz pra ninguém porque é segredo de família.

Nat deu uma risada.

-- Obrigada, bom saber disso, mas não era sobre o café... Era sobre a Alê e a Cíntia...

-- Olha, eu como amiga vou te dar um conselho, a Cíntia esta numa fase confusa, eu sinto que esta
acontecendo alguma coisa e ela não abre pra ninguém. Todo mundo que estava envolvido com ela acaba
virando um pouco vítima da situação...

Nat assentiu com a cabeça feliz.

-- Então você concorda que eu sou vítima de tudo isso?


-- Claro!

-- Que bom, Silvinha! Então quer dizer que eu posso contar com você para afirmar a minha visão para os
jornais? Você concorda comigo?

Minha prima a encarou meio ressabiada.

-- Versão sobre o que?

-- Silvinha, eu quero que antes de tudo, você pense com maturidade. Você concorda comigo que eu não tive
culpa de nada que aconteceu, certo? – Silvinha ainda desconfiada fez um gesto afirmativo. – E você sabe que
devido ás eleições e ao cargo que eu pleiteio me tornei uma pessoa pública. Então você não se incomodaria
de reafirmar a minha versão da briga com a Alessandra pra os jornais?

Silvinha parecia confusa.

-- Que versão é essa?

-- Então... É que eu acabei de convocar uma coletiva no hospital agora para explicar que na verdade eu só fui
ajudar a separar a Alessandra da verdadeira amante da mulher dela.

-- E quem é a verdadeira amante da Cíntia?

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-- Então, é você! – Ela falou rápido e de uma vez. Bem típico de gente que faz merda e bota a culpa no outro.
Se olhar matasse acho que essas horas eu estaria preparando o pretinho básico para seguir o enterro da Nat.
– Todo mundo no meio, ninguém vai desconfiar! Falei que só tava lá para separar vocês... Ai é só você...

-- MONSTRO! – Nat se levantou pronta para correr, minha prima quase avançava em cima dela. Nervosa
Nat voltava a espirrar. Silvinha pegou uma das margaridas da mesa e colocou próximo ao seu nariz
provocando uma chuva de espirros. – CACHORRA! DISSIMULADA!
-- Silvinha, eu não posso me meter em arruaça. Vão achar o que? Que eu sou qualquer vagabundo de rua?

A cena devia ter sido até cômica, Silvinha usando a flor como defesa, Nat se fartando de espirrar, tentava
desviar sem sucesso.

-- CARA DE PAU! FALSA!

-- Silvinha, eu até que fui be... – Mais um espirro. – nevolente! – Outro espirro. – Eu podia ter... – Mais três
espirros. – Deixando a queixa. – Mais um espirro... – Silvinha se quer me matar? – Dois espirros. – Você esta
me causando uma irritação no nariz que daqui dez anos pode se tornar um tumor maligno. – Silvinha começou
a jogar as coitadas das margaridas para cima de Nat enquanto tocava ela de casa. – Tu-do bem! Não vai
colaborar? – Mais um espirro. – E-Eu vou acabar com a porcaria daquele seu bar... – Outra margarida pela
cara. – Você vai acabar no lixão! Que nem a filha do Toni Ramos da novela das nove...

-- Me rogando praga, Natália? – Começou atacar mais margaridas. Isa que chegava em casa e não entendia
nada pegou uma no ar. Silvinha atacou o vaso inteiro. – FALSA, CANALHA, SEM CARATER!

Isa fechou a porta antes que silvinha fosse terminar o serviço e matar Nat no corredor do prédio.

-- E aquela ideia de esquecer a vingança que vocês estavam planejando pra Nat e perdoá-la?

Silvinha encarou Isa decidida.

-- Mudança de planos! Pode divulgar com todas as lésbicas da cidade e região, a Natália é persona non grata
no lesbworld de Silvéster! – Minha prima decidiu. – Greve de sexo geral com ela!

Nem preciso explicar o porquê minha prima era muito querida e muito acatada pelo lesbworld de Silvéster,
não é mesmo? E foi assim que começou o boicote lésbico Todas contra Nat.
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Já toda irritada por ter levado um bolo de Júlia, me arrumei com a cara fechada. Meu pai concordou em ficar
com Heleninha a noite toda. Era a primeira vez que sairia sem ela e estava preocupada.

-- Pai, tem fraldas na gaveta.

-- Tudo bem!

-- Pai, eu tirei leite com a bomba, qualquer coisa faz uma mamadeira de Nan que ela toma.

-- Tudo bem!

-- Pai, ela gosta que brinque com os fantoches antes de dormir.


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-- Tudo bem!

-- Pai, se ela tiver cólica...

-- Alice, somos médicos e pelo que eu me lembre também já criamos uma filha. – Mamãe me repreendeu. –
Desça logo e não deixe o menino te esperando. Que coisa!
Dez e meia da noite eu desci a espera de Léo. Usava calça jeans, uma regata branca e scarpan. Nada muito
exagerado. O Léo tinha combinado comigo vinte para as onze e já tinha passado cinco minutos. Duas mãos
decididas me puxaram para um canto escuro. Abri a boca para dar um grito, mas apenas sussurrei ao ver de
quem se tratava.

-- Júlia? Mas você não me atendeu e...

Eu estava cheia de perguntas para fazer que eu nem sabia se tinha direito de fazer. Também estava irritada por
acreditar que ela ao iria. Quando fui abrir a boca para me defender, fui calada com um beijo. Que raiva que
eu tinha daquela mulher, porque ela tinha que beijar tão bem. São Paulo como sempre estava gelado, mas a
língua de Júlia parecia um fogareiro de tanto que me aquecia. Engraçado que ela colocava suavidade na boca
e as mãos não tinham pudor nenhum em passear pelo meu corpo fazendo eu sentir uma mistura doida de
anseio e fragilidade. Lógico que afrouxei e quando dei por mim minha mão já descia por suas costas, deixei
entrar em seu bolso e acabei lhe dando um apertão bem de leve na bunda. Júlia deu um sorriso.

-- Eu peguei no sono quando cheguei no hotel, por isso não te respondi. Dormir o dia todo. Quem manda
também sair com essas menininhas de vinte e poucos anos? Acordada a noite inteira e de dia fica assim,
cochilando pelos cantos, babando, dormindo... Li a mensagem com o horário e corri para cá. O Gabriel vai
pra lá direto!

O que fazer depois de uma explicação dessas? Ela me pareceu verdadeira. E eu que não ia ser louca de dar
um piti sendo que a gente não tinha nada fixo. Apenas sorri e a beijei de volta. Fomos interrompidas pela
buzina do carro de Léo anunciando sua chegada. Quando ela avistou Júlia, não escondeu a surpresa. Só não
consegui interpretar se era porque ela ia conosco ou porque ela estava linda. E estava mesmo, tinha
caprichado no visual, cabelos soltos, uma blusinha verde que ficava apertada em uns lugares e solta em outros
evidenciando aquela barriguinha chapada e a cor dos seus olhos, calça e um casaco marrom.

-- E- e não sabia...

-- Você só pode ser o Luciano! – Júlia se precipitou dando a mão ao boquiaberto Léo que fiava ainda mais
baixinho perto de Júlia que usava uma botinha de cano curto e saltinho. Irônica ela baixou os olhos. – O
grande Luciano...

-- Leonardo. – Corrigi. – O nome dele é Leonardo!

-- Leonardo, Luciano... Também é tanto cantor sertanejo que surge por ai não é mesmo? Vamos?

Léo a encarou, olhou de volta para mim um tanto confuso.

-- Va-vamos!

End Notes:
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Eu vou perguntar mais uma vez! - Nat repetiu claramente enfurecida.


Duarte estava ao seu lado tentando inspencionar seus dois internos. - Robson
Gonçalves dos Santos, 59 anos, precisa de um transplante de fígado! De quem
é esse paciente?

-- É meu! - Rebeca e Bruno falaram ao mesmo tempo. - O paciente é meu!

-- Ele roubou meu paciente!

-- Essa garota que é louca!

_________________________________________________________________

A noite pelo jeito só esta começando né? Será que aAlice e Júlia vão se comportar
direitinho? E a Nar mereceu apanhar? Alguém sabe o uqe vai dar desse boicote?
Abraços e obrigada pelo carinho de vcs!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 32 by Tamaracae

Author's Notes:

Girls,

Boa noite, bom dia, boa tarde...

Desculpem a demora, mas minha casa esta o inferno, por motivos de força maior
minha casa esta o caos com homens peludos e suados passando de uma lado para o
outro reformando o banheiro. Impossivel de escrever aqui. No serviço, uma pessoa
querida (só que ao contrário) encheu o saco do chefinho que estavamos usando os
pc's no horário de almoço e agora não podemos mais usar, ou seja, não tive onde
editar o capítulo. Agora ele esta ai, para deleite de vcs queridas amigas leitoras!!

Música http://www.youtube.com/watch?v=TFlPL5--mic&feature=related

Quando eu era garota, lembro que tinha apenas poucos amigos. Meu jeito atrapalhado, os óculos de grau,
minha falta de habilidade em atividades manuais e o desajeito natural não atraiam muitas pessoas. Na verdade,
só conversava com crianças filhos dos amigos do meu pai, alguns coleguinhas de escola e com Silvinha que
passei minha infância toda conversando através de cartinhas que eu mandava para Silvéster e ela respondia de
volta para São Paulo. Ela sempre gostou de escrever.

Minha adolescência não foi muito diferente. Apesar de perder o contato com Silvinha que tinha ido morar com
um parente de tia Guida no Rio de Janeiro, acrescentei mais algumas amizades da minha escola. No ensino
médio então, a coisa piorou, as meninas só se juntavam comigo porque minhas notas eram boas e ainda tinha
um grupinho chato de garotas liderados por uma bruaca chamada Carolina Bittencourtt que vivia pegando no
meu pé e rindo da minha cara. Posso dizer que os amigos da minha vida antes de Silvéster eram Marquinhos,
Léo, Renatinha e Lia. Por que estou falando disso? Simples, por não ter muitos amigos, nunca precisei
apresentar uns aos outros. Aquilo era novidade para mim e eu estava morrendo de curiosidade para saber o
que ia dar do encontro de Júlia e Gabriel com minha “família” de São Paulo.

Apresentação de Júlia e Léo posso dizer que foi um pouco fria por parte dele. Léo era um poço de timidez,
desses meninos que não conseguem encarar nos olhos, baixinho e calado, acho que se assustou com aquele
jeito cara de pau, boca aberta da Júlia. Ele estendeu a mão um tanto acanhado e foi puxado por ela para dois
beijinhos no rosto.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Eu sei que em São Paulo é um beijinho, mas na minha cidade são dois. – Léo sorriu meio sem graça, eu
guardei minha risadinha para mim. – Sabe Luan, a Alice me contou que você se interessa por neurocirurgia?
Minha irmã é neurocirurgiã.

-- O nome dele é Leonardo.

Corrigi em vão. O caminho inteiro até o barzinho Júlia trocava o nome do Léo com de outros cantores
sertanejos, com certeza para irritá-lo. Eu estava ao seu lado no banco carona e observei que ele estava meio
calado demais. Na verdade só abria a boca para falar assuntos relacionados ao nosso grupinho de São Paulo.
Ela folgadona, nem ai, se metia na conversa, dava seu parecer, contava outros causos e Léo logo trocava o
assunto. Quando ela estava calada e ele falando, nos encarávamos pelo retrovisor. Júlia me provocava, ás
vezes fazendo caretas como uma criança implicante, ás vezes mostrando a língua, piscava, jogava um charme.
Quando eu caia na risada ela ficava séria. Já perceberam que ela tinha tirado a noite para me atazanar, né?

Apesar daquele ataque bobo e inexplicável de ciúmes da Júlia, eu estava feliz. Ela tinha aceitado conhecer
meus amigos, apaixonada e, a curto prazo, sendo correspondida, eu rodeada de pessoas que eu gostava e
minha filhinha com alguém que eu confiava. Tudo para ser a noite perfeita. Até o trânsito de São Paulo
colaborou e em meia hora chegamos no barzinho da Vila Madalena que Renatinha marcou seu aniversário.

Assim que coloquei meus pés na rua, notei que se tratava de um bar LGBT. A Renatinha era hétero dessas
que não pode ver um par de calças pela rua, mas não estranhei. O que mais se vê hoje em balada gay são
héteros bem resolvidos a procura de diversão. Amei o ambiente. O casarão que funcionava como
estabelecimento comercial tinha três andares. O primeiro era uma espécie de boteco com sinuca e TV, no
segundo tinha apresentação de música ao vivo e o terceiro, balada e pista de dança. Fora as pessoas muito
bem apessoadas, todo mundo cheirosinho, bonitão...

-- NOJENTA! – O motoqueiro do outro lado da rua gritou enquanto desmontava de sua moto. – AQUIIII!

Ao ouvir a voz de Gabriel, percebi o quanto estava morrendo de saudade daquele doido.

-- NOJENTO! Quanto tempo!

Corremos para nos abraçar. Até me levantar no colo Gabriel me levantou e deu uma rodopiada comigo.
Imagina, eu, um ser desprovido de habilidades sendo carregada no colo. Era praticamente pedir um
traumatismo craniano, não é mesmo. Júlia apenas se divertia com nossa cumplicidade, foi cumprimentada com
um tapa na bunda e respondeu com outro. Léo não entendia nada.

-- E ai garota, que tal repetimos a dose de quando nos conhecemos e secar uma garrafa de vodca juntos? E...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Nossa, esse é seu corpo normal? – Perguntou sem tirar os olhos dos meus peitos com um risinho sacana.

-- GABRIEL! – Júlia chamou sua atenção com uma cara nada boa.

-- Léo, esse é meu amigo de Silvéster, Gabriel, ex cunhado da Júlia! – Comecei as apresentações. – Nojento,
esse é o Léo, meu amigo.

-- Logo logo vou voltar a ser cunhado dela! – Apertou a mão de Léo dando um chacoalhão nele inteiro. Júlia
deu uma risada de deboche para cima de Gabriel. – Pode rir, sua irmã me ama, cunhadinha!

Depois de apresentações, tricôs trocados e muitos abraços, finalmente entramos na fila para pegar as
comandas. Aproveitando que a fila era separada por sexo e fiquei a sós com Júlia, tratei de perguntar se
Gabriel sabia alguma coisa de nós duas.

-- Assim que cheguei no hotel ele adivinhou...

-- Adivinhou?

-- É. – E por fim me confessou. – Falou que cortava o próprio se a minha cara boa não fosse por sua causa.
– Quase morri de rir. Olhamos para Gabriel, nos entreolhamos e como se tivéssemos combinado, falamos ao
mesmo tempo. – Nojento!

Dei mais um meio sorriso, Júlia me encarou oura vez.

-- O que foi?

-- Você vai ser atacada nessa boate, do jeito que esta bonita. – Ela disse em um tom meio avaliador sacana. –
Me dá sua mão, senão vamos acabar nos perdendo.

De mãos dadas, seguimos por toda fila. Na hora de dar nossos nomes para anotar no pequeno pedaço de
papel, o jovem rapaz perguntou a Júlia.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Você e a sua namorada vão anotar tudo junto?

Ao fundo, ouvi a gargalhada de Gabriel que estava na fila ao lado com Léo. Júlia jogou o olhar para mim e
percebeu que fiquei envergonhada. Ela deu um sorriso também acanhada. Parecíamos duas garotas bobas de
12 anos que estavam vivendo as emoções do primeiro amor.

-- Pode, anotar tudo junto.

O rapaz escreveu nossos nomes, colocou umas pulserinhas vips em nós duas e finalmente fomos liberadas. Os
meninos ainda estavam na fila, tínhamos que esperar os dois. Léo não tirava os olhos da gente. Depois
daquela pinçada que levamos do menino das comandas, não conseguia falar nada. Júlia parecia mais tranquila.
Abraçou minha cintura. Fechei meus olhos e já entreabri meus lábios a espera do beijo, mas ao invés disso,
ela apenas puxou meu rosto e sussurrou no pé do meu ouvido.

-- Fica ainda mais linda com o rostinho vermelho. -- Falar bem de pertinho na orelha era o único modo de ser
compreendido com o som daquela altura. Nem preciso dizer que amei aquele pretexto para minha boca ficar
roçando pertinho de Júlia, não é mesmo? Mas a cachorra estava a fim de provocar. Júlia me puxou pela nuca,
do mesmo jeito que ela fez quando nos conhecemos e eu ainda não sabia seu nome. Seus lábios tocaram toda
a lateral do meu rosto, eu sentia a respiração dela se misturando com a minha. Quando nossas bocas estavam
bem próximas, ela sussurrou provocativa. – Não quero atrapalhar seu encontro.

E maldosamente aplicou um beijo no cantinho da minha boca roçando pontinha da língua bem de leve. A boca
dela estava doce. Antes de aprofundarmos o beijo, Júlia se afastou deixando minha boca cheia de vontade.
Ela estava fugindo propositalmente. Por outro lado estávamos em uma vibe que parecia só se tocar e tudo já
desandava para outra coisa... Só consegui sair do transe daquele semi beijo quando ouvi Gabriel falando com
o menino das comandas.

-- Pode por a minha comanda junto com do meu namorado. – Dessa vez não aguentei e dei uma senhora
gargalhada da cara impagável do Léo que não teve voz para negar. Só depois de conhecer Gabriel mais de
perto que soube dessa mania dele inventar mentiradas enormes para estranhos. – Sabe, homem meu eu gosto
de tratar bem... Sou das antigas, gosto de pagar as despesas...

Em dois minutos Gabriel já era praticamente a “rainha” da parada gay e já tinha ganhando a simpatia de todos.
Já saiu da fila com uma caipirinha ganhada de cortesia por alguém e enturmado com Deus e o mundo. Assim
que aproveitou de nós, seu lado “hétero escroto” voltou com a corda toda. Encontrar Marquinhos Lia e
Renata não foi difícil. Só coloquei o pé no segundo andar e vi três pares de mãos chacoalhando no ar
neuroticamente aos berros.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- QUEQUINHA ESTAMOS AQUI! – Os três gritaram relembrando minha desastrosa chegada em


Silvéster fake com minha tia Fortunata. Quando avistaram e Júlia, logo fui jogada para escanteio. Renata,
maluquinha, veio correndo cantando e batendo palma para si mesmo.

-- Hoje vai ter uma festa, bolo e guaraná e muitos doces para você... AAAAAAAAAAAAAAAAH Alice! –
E me deu aquele abraço de quebrar costela. – AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!

-- AAAAAAAAAAAAAAH! – Gabriel gritou junto já entrando no embalo, abraçando minha amiga que se
agarrava a ele cheia daqueles gritinhos histéricos. – PARABÉNS QUERIDA!

Júlia mais contida. Ou mais sóbria, esperou eu terminar de cumprimentar meus outros três amigos para
apresenta-la.

-- Marquinhos, Lia, Renata, essa é a Júlia. – Renata e Lia sorriram simpáticas para minha... Para a Júlia.
Marquinhos, mais observador notou que estávamos de mãos dadas e sorriu para mim. – Júlia, ela é a Rê, Lia
e esse é Marquinhos.

-- E esse é o Gabriel... – Júlia me ajudou. – Meu amigo... E aquele é o Sorocaba!

-- É Leonardo! Quantas vezes eu vou ter que eu vou ter que repetir?

Lógico que ela já ganhou a simpatia dos meus amigos pela zoada básica. Enquanto Lia cumprimentava Júlia e
Gabriel com beijinhos, Renatinha me encara cOm uma cara de “ essa é a famosa Júlia?” Na vez delas se
cumprimentarem, a amiga da onça aproveitou para me entregar.

-- Já estava na hora de eu conhecer a Júlia. Estou quase dois meses ouvindo falar de você direto...

-- Bem? – Júlia perguntou fingindo uma carinha de medo. Renatinha fechou um “zíper imaginário na boca,
sorriu e se calou sorrindo dando uma piscadinha cúmplice pra Júlia que queria dizer mais ou menos assim:
“Relaxa, a Alice esta caidinha por você...”

Marquinhos e Lia cumprimentaram os outros e finalmente nos sentamos. Era uma mesa redonda, então dava
para um ficar de frente ao outro e ver bem os rostos. Fizemos os pedidos e logo começamos a papear. Para
variar, meus amigos de São Paulo tinham a mesma quantidade de noção que o quarteto Cíntia, Rebeca,
Silvinha e Isa. Em outras palavras, nenhuma, inexistente, em falta. Na primeira oportunidade Lia tratou de
cravar.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Você é solteira, Júlia?

-- Quais são suas intenções com a Alice? – Renatinha chutou logo o pau da barraca comigo dentro. Sério, um
dia eu ainda ia matar essa menina. Meu rosto ficou mais vermelho que um morango provocando a risada de
quase todos. Júlia me encarou um tanto confusa.

-- Primeiro ela tem que me falar as intenções dela... – Olhou séria para meu lado. – Lembrando que sou moça
de família, Dona Alice. – Dessa vez todo mundo riu. Ela tinha cara de tudo, menos de moça de família. - E
não sou solteira, sou viúva e tenho um filho...

-- Fala mais de você... – Marquinhos sugeriu. – Você tem um filho?

-- Vocês estão assuntando. – Léo finalmente falou alguma coisa. - Deixa ela quieta!

-- Não, não, não... Acho importante isso da gente se conhecer! – Gabriel logo recusou. O garçom veio com
as bebidas. Vodca pra Marquinhos, Renata, Gabriel, caipirinha de morango pra Júlia, batida para Lia, Léo e
eu ficamos na água, ele porque ia dirigir e eu porque estava amamentando. – Tenho uma ideia, vamos fazer
um jogo, caiu na vez da pessoa, cada um faz um pergunta. Pode ser?

-- BOA! – Marquinhos se animou. – Garçom, empresta uma garrafa vazia...

Assim que o garçom atendeu nosso pedido, começamos o tal jogo. Léo e eu não queríamos participar. Ele
por timidez, e eu morrendo de medo das perguntas que as meninas fariam a Júlia.

-- Deixa de ser chata, Alice! – Lia disse enquanto ajeitava a garrafa no centro da mesa. - Vamos desenvolver
isso logo...

Gabriel, criador da brincadeira, ganhou o direito de girar a garrafa. O feitiço virou contra o feiticeiro e acabou
parando nele mesmo. Lia e Renatinha quase se estapearam para ver quem perguntava primeiro. Usando a
máxima “sou aniversariante e tenho direito da melhor parte do filé”, Renatinha ganhou o direito de questionar
Gabriel.

-- Você é solteiro?
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

É isso ai meninas, a “piriguetagem” dispensa sutilezas. Enquanto Gabriel se tornava o prato do dia nas mãos
das minhas amigas e nós aproveitávamos um pouquinho de nossa vida social que era quase inexistente por
conta do trabalho puxado, meus amigos de Silvéster encaravam mais um plantão da madrugada com Duarte.
Ela como sempre apresentando aquele humor de Capitão Nascimento com nós internos. Isa dormia ao lado
de Leandro e Bruno na cama de cima do quartinho de plantão quando foram acordados pela corrente de luz
elétrica.

-- Puta que o pariu... - Isa resmungou esfregando os olhos. – Cirurgia?

Vamos levantando. Leandro, você vem comigo. A Chefe esta revisando alguns pontos da clínica com a
doutora Rebeca, mas apareceu uma cirurgia de emergência, vai preparar seu paciente! Isa, os pós operatórios
da Natália são seus...

-- Doutora Natália me pediu na sala dela? – Leandro perguntou ainda incrédula. Natália odiava internos. E
residentes. E qualquer ser que respirasse. Cheguei à conclusão que tirando a família, Natália apenas gostava
de tumores cerebrais. Talvez se eu fosse um câncer um lindo inoperável ela escolhesse ficar comigo. – A
Doutora Natália?

-- E há outra chefe nesse hospital? – Duarte devolveu impaciente. – Andem, vocês precisam estar acordados
para entrar na cirurgia!

-- Espera, Doutora Duarte, e eu? – Bruno questionou. – O que eu faço? Não tem nada para mim?

Duarte encarou Bruno de cima abaixo e jogou um jaleco do pessoal de atendimento.

-- Plantão na clínica com o doutor Freitas! – Não é desmerecendo o trabalho do atendimento, mas pra quem
criava expectativa de abrir alguém e ir parar cuidando de uma dor de garganta era frustrante. A mesma coisa
que você prometer a uma criança uma ida a Disney e acabar no parquinho da esquina de casa. – Não é você
o doutor que só quer pegar cirurgias boas? Acho que ainda tem algumas coisas para aprender, doutor Bruno!

E fechou a porta deixando Bruno com Isa e Leandro no quartinho de plantão. É claro que só faltou Bruno
botar um ovo ao ver Leandro saindo para a cirurgia enquanto ele amargaria mais uma noite no 0 x 0. Já fazia
quase duas semanas que Duarte o deixava assistir cirurgias lá da galeria. Por que? Porque após o namoro,
Bruno apresentando um comportamento completamente babaca, bebendo, passando noites fora e só

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

aparecendo no hospital quando tinha uma cirurgia grande. Só voltou a ter disciplina com horários e com
bebidas depois que Júlia ameaçou pedir seu corte do programa de residência. Como punição por suas
mancadas, Duarte o colocava de molho. E pelo que todo mundo conhecia da nossa residente, aquilo era só o
começo do castigo.

-- Bruno, você não é ruim... Apenas teve tudo na mão. É leite com pera... Criado por vovô... – Isa provocou,
Bruno ia responder. – Se estivéssemos em uma guerra, seria o soldado que atira no próprio pé.

-- QUE?

-- Você não é um atirador de elite... – Leandro explicou. – Não tem mira no que quer!

--Do que vocês estão falando?

--Tem um jeito simples de você escapar do castigo, foge da Duarte...

-- Como?

Isa deu uma risada.

-- Bucha de canhão! Tem um jeito das cirurgias não passarem pela Duarte, se você atender da clínica. Lá o
responsável é o doutor Freitas... Ela não vai se indispor com o velho por sua causa! Entendeu, esperto?

Ainda pensando nos conselhos de Isa e Leandro, Bruno seguiu para clínica.

-- Isso não pode ficar só com um médico a noite inteira.


O Freitas é bom, mas já passou da idade de se aposentar, não da pra confiar nele como corpo presente aqui.
– Nat constatava enquanto Rebeca fazia anotações. Uma enfermeira caminhava ao lado das duas. Nat
aproveitou para fazer um pedido. – Menina, pode pegar um cappuccino, para mim?

-- Sou enfermeira, não garçonete! A senhora não tem mão?– Rispidamente a moça rebateu. – Com licença
doutora Rebeca...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Nat não respondeu simplesmente porque lhe faltou ação na hora. Encarou Rebeca tentando entender a atitude
grosseira da moça. Apesar de não ser função de ninguém ficar trazendo cafezinho para a bonitona, vendo
horário de reunião, onde estava á touca predileta, entre ou coisas, Natália sempre encarregava ás enfermeiras
ou internas de fazerem isso. Todas a obedeciam por medo.

-- O que deu nela?

Cinicamente, Rebeca deu os ombros. Rebeca sabia muito bem o que estava acontecendo. Era o movimento
Todas contra Nat do Lesbworld de Silvéster se espalhando. Como a Silvinha fez isso? Minha prima usou uma
estratégia mais sutil e antiga, mas não menos eficaz. O triangulo da informação, popularmente conhecido como
fofoca. Tudo começou no salão de cabeleireiro. Enquanto Cíntia e Isa faziam manicure, a cabeleireira,
Valdete, mais conhecida como a inimiga número da raiz, castigava minha prima com o secador. Elas ainda
não tinham uma vingança realmente boa planejada contra Nat.

-- Uma vez eu vi um filme que a mulher estava andando na esquina, vinha dois ninjas assim do muro... – Cíntia
tentava cooperar. – Davam uma surra nela...

-- Não... – Silvinha retrucou. – Não vamos partir pra violência física. Tem que ser alguma coisa que atinja
assim a doutora... Não é possível que essa mulher não tenha algum defeito que a gente não possa explorar...

-- Tirando a prepotência, a presunção, a teimosia, a arrogância e a vaidade? - Isa numerou. – Tá difícil...

-- Vaidade... Se a gente colasse chiclete na cadeira dela? – Cíntia inocentemente sugeriu. - Ela ia perder a
pose e...

-- Não!

--Que é isso, nós temos sete anos de idade? – Isa retrucou.

-- Não... Pelo amor de Deus... Vai Isa, pensa em alguma coisa. Tem que ser algo que essa mulher se
envergonhe, que prefira mergulhar numa piscina cheia de ácido que olhar para nossa cara...

-- Credo, Silvinha, coitada... - Cíntia rebateu.


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Valdete encarou as três, não se aguentando falou.

-- Não é do meu perfil se meter no assunto de freguesa. – Vamos fingir que acreditamos e seguir em frente
porque não se encontra uma cabeleireira boa de quebrar raiz em qualquer lugar. Mais fácil arranjar marido ou
esposa. - Mas o que aconteceu pra vocês agarrarem tanto ódio na mulher?

-- Val, você não lê jornal, não? A sem vergonha da Natália, andou com a minha prima, saia com mulheres e
agora apoiando aquele homofóbico doido pra prefeitura, tentando se fazer de assexuada.

-- Saia não. – Isa corrigiu. – Sai! Eu bem vejo o quanto demora as reuniões de trabalho com a doutora
Marisa-46.

-- Por que Marisa 46? – Cíntia inocentemente questionou.

-- É o número dos peitos dela!

-- Ela ainda sai com essa vagabunda? – Silvinha questionou indignada. – Não creio!

-- Quem é essa? – Valdete questionou já interessada no assunto.

-- Essa é a cachorra que minha prima Alice pegou com a Nat na cama. Você deve conhecer... Uma loira
peituda que tem o peito daqui até aquela porta... Aquela ali passou na fila do peito umas três vezes... Como
uma lésbica tem coragem de sair com a Nat depois do que ela anda aprontando? E... Desculpa Cíntia, você
não conta...

-- Por que? – Cíntia questionou irritada. – Não sou mulher?

-- Você estão perdendo o foco...

-- Na cama? – Val perguntou boquiaberta. – Sua prima pegou? Mas e ai, ela não fez nada?
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Silvinha deu uma risada.

-- Menina...

A conversa saiu mais ou menos assim da boca da minha prima, mas no hospital já chegou desse jeito.

-- Três! – Uma enfermeira comentava com uma das mocinhas da recepção. – Duas loiras e uma ruiva. – Fez
uma pausa para a outra, boquiaberta, digerir a informação. – A ruiva era travesti, né?! E ainda usando a
camisola da coitada da Alice.

-- A Nat estava usando a camisola?

-- ELE!

É lógico que mesmo sem querer, a vingança deu estrondo. Silvinha não pensava em tanta repercussão e não
tinha ideia do tamanho do resultado que aquilo iria dar. Todas as mulheres, homos e até héteros estavam
olhando meio torto para Nat. Acho que até sei a resposta de tanto sucesso: corna é solidária com corna.
Mulher que já sofreu por amor, quando vê outra na mesma situação se identifica, fica do lado. E a reputação
da Nat? Mais suja do que as fraldas que saiam do bumbum rosadinho da Helena.

-- Você vai ficar responsável pela hospedagem da filho da dona Maria Francuotto Gonçalves, conselheira
daqui do hospital. E esta encarregada pelo Bruno que vai auxilia-la no que foi preciso. – Minha amiga não fez
uma cara nada boa, a ultima coisa que queria era arranjar confusão com o Bruno. - Só não quero que ele
entre em cirurgias. Ela faz parte da diretoria, amiga íntima da vovó. Nada pode dar errado. Ele precisa de um
transplante de fígado, esta muito mal. Nada pode dar errado.

Rebeca encarou Nat.

-- Você quer que eu fique encarregada pelo Bruno?

Nat deu um meio sorriso.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- E tem melhor castigo para meu irmãozinho aprender? – Delegou. - Avise a ele.

Virou as costas.

-- Mas Nat.. Digo, chefe, o Bruno?

Natália parou e voltou a encarar Rebeca.

-- Se eu ouvir alguma reclamação desse caso, doutora Rebeca, a senhora aguarde conseqüências...

E seguiu seu caminho pelos corredores do hospital. Rebeca ainda avistou quando sem querer Natália esbarrou
em Monique.

-- Desculpa doutora, eu...

Em resposta Monique virou a cara e ainda resmungou.

-- Sonsa! Enganando a coitadinha da Alice grávida... Eu não sou não, Natália...

Antes de Nat conseguir formular uma resposta, Monique já saia andando.

Voltando a Rebeca... Minha amiga nada pode fazer além de lamentar seu azar e ir cumprir sua missão. Ainda
era apaixonada por Bruno. Por não agüentar mais seu destrato devido a rejeição, procurava se manter o mais
afastada possível. Como Rebeca previu a tarefa de avisar a Bruno não foi nada fácil.

-- O que? – Bruno perguntou indignado. - Quem mandou você fazer isso?

-- DROGA! – Empurrou uma cadeira com mais força. Não bastava a rejeição por si só, Nat tinha que por
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Rebeca lhe dando ordens... Para variar, minha amiga mais uma vez levou na cabeça. – Pode tirando teu time
de campo se acha que eu vou receber ordens suas, Rebeca... Eu vou cuidar do paciente sozinho!

-- Ele é meu paciente!

-- Vou agora falar com a Natália!

Lembrando da ameaça de Natália em lidar com mais conseqüências, Rebeca correu atrás de Bruno. Ele não
queria interromper sua caminhada para ouvi-la. Rebeca então apelou para uma linguagem que Bruno entendia
fácil. A ignorância. Puxou Bruno pelo jaleco e o jogou contra a parede segurando firme no colarinho de seu
jaleco. Apesar de bem mais forte, Bruno não reagiu devido à surpresa do ato.

-- CHEGA! Eu sou sua encarregada e você vai ter que me obedecer! Nós dois temos um paciente! – Rebeca
fez uma pausa. Bruno, ainda assustado não conseguia desviar seus olhos do rosto dela. – Você pode me
odiar, pode não querer olhar mais na minha cara, mas temos um paciente e vamos tratar dele! Sem Natália,
sem Duarte e sem ninguém no meio, certo? – Antes que ele pudesse responder, Rebeca o soltou. – Eu tenho
três pós operatórios doutor Gusmão para fazer e arranjar alguém para ficar no meu lugar na clínica. Vá agora
ate o quarto do paciente lhe dar boas vindas e veja se ele esta precisando de alguma coisa! Anda!

E saiu apressada, quase correndo para Bruno não perceber que estava chorando. Ele ajeitou o jaleco. Não
escondia sua insatisfação.

-- Você mexeu com o cara errado, Rebeca! Mexeu com quem não devia!

____________________________________________________________________

-- Finalmente Júlia! – Renatinha, já alegre, bateu palmas animada. A brincadeira de Gabriel havia rendido
bastante e mal ou bem estávamos nos divertido. Devido ao teor alcoólico da mesa, várias pérolas haviam sido
soltas. – Julinha, minha linda, com todo respeito viu amiga... – Não, erro meu, ela não estava alegre. Estava
bêbada. Conheço aquela cara. Daqui dois minutos ela ia dar uma gargalhada e começar a chorar. - A
pergunta que todo mundo nessa mesa quer fazer... – Lá vinha bomba para cima do meu lado. – Você e Alice
estão pensando em namorar?

Toda a coca cola que estava sobre minha garganta voltou, eu engasguei e fiquei parecendo um chafariz
soltando líquidos por todo lado. Júlia, também alegre por conta da bebida, deu um meio sorriso e me ajudou
a erguer os braços. Na boa, eu ia matar a Renata quando conseguisse parar de tossir.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Isso, ergue o braço! – Gabriel deu dois tapões nas minhas costas. – São Brás, São Brás, pra frente, pra
trás... São Brás! Melhor?

Apenas fiz um gesto afirmativo. Não estava mais engasgada. Depois daqueles tapões acho que nem mais
garganta eu tinha.

-- Julinha, você não me respondeu!

-- Para com essa besteira, Rê... – Eu disse enquanto me recompunha. Séria. – Faz pouco tempo que a gente
se conhece!

Júlia me encarou de um jeito meio curioso.

-- Na verdade a gente se conhece há quase um ano...

-- Mas não é disso que eu estou falando... – Eu tentava me explicar. Poxa, eles bêbados pareciam mais
espertos do que eu sóbria. – Estou falando em conhecer direito... Você ainda não me conhece direito... E eu
ainda não te conheço direito...

Como meus amigos adoravam me ver numa enrascada, todos calaram as conversas paralelas para ouvir o que
sairia dali. Pareciam que assistiam a uma partida de tênis e acompanhava o movimento da bolinha com os
olhos. Eu fingia serenidade, mas por dentro morria de medo de levar um fora em público. Ela fitou os meus
olhos e começou a falar.

-- Júlia foi um nome que meu pai escolheu por causa de um autor chamado Júlio Verne. Eu li em algum lugar
que o significado de Júlia quer dizer cheia de energia. Não se meu pai imaginava que eu ia virar quem eu sou,
mas acho que ele acertou no nome e eu se eu pudesse não escolheria outro. Tenho 36 anos de idade...

-- E esta tendo uma crise de idade porque daqui 4 anos vai fazer quarenta...

-- Vai se fuder Gabriel! – Nessas horas toda a mesa riu. Nunca tinha visto Júlia irritada desse jeito. Eu não
tinha notado essa crise, mas pensando bem, essa mania de cuidar do corpo, preocupada com o físico,
menininhas de 19 anos... Era coisa de crise mesmo. Só a
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Júlia para enfiar uma besteira dessas na cabeça. - Continuando... Nasci em 10 de fevereiro, no meio de um
carnaval com minha vó vestida de odalisca, acho que gosto de festa por isso... Gosto mais doce que salgado.
Sou corinthiana, não só nessa fase boa, mas na fase ruim também, gostava de um jogador que chamava
Betinho que era atacante e tinha cabelinho assim de rockeiro, votei no Lula, sou mãe de um menino de um dez
anos. Cada vez que eu encontro o João eu fico mais louca por ele. Não gosto de meia, não gosto de sapato e
só voltei a usar calcinha depois que comecei a conviver com você... Gosto do Rolling Stones, acho que tem
uma fase que eles são muito melhores que os Beatles. Música eu escuto de 95 pra lá, mas gosto desses
meninos novos do sertanejo universitário... Meu sorvete preferido é morango, gosto de peixe, massa e
empadinha... Se eu pudesse mudar alguma coisa no meu corpo queria ter mais um pouco de peito e mais
perna... Queria aprender capoeira e violão, não sigo religião nenhuma, mas acredito em Deus. Uma das coisas
que ele caprichou quando fez foi o encontro do Rio Negro com o Solimões... Acharia uma viagem legal ir a
um centro de umbanda ver um pé de dança. Gosto de uma rapidinha de vez em quando, mas sexo é um lance
maravilhoso você ter tempo de fazer... Gosto de beijar o lábio de baixo da mulher, acho uma delícia. Gosto
de mulher de salto alto, aliás, salto alto devia ser obrigatório por lei junto com saia... – Nessa hora Gabriel e
Marquinhos fizeram gestos concordando com a opinião de Júlia. E eu? Não conseguia tirar os olhos dela. –
Evidencia a batata da perna, deixa durinha e fica aquela bundinha empinadinha... Gosto mais de feijão preto
do que de feijão mulatinho. – Júlia fitou meus olhos e se aproximou de mim - Tem mais alguma coisa que você
precisa saber de mim?

Depois dessa dispensa dizer que quase todos meus amigos caíram de amores por ela não é mesmo? E eu,
completamente boba e fascinada. Se ela quisesse ficar ali a noite toda falando sobre as coisas que ela gosta,
quem era ela, eu ficaria sem pestanejar. Júlia sorriu para mim de um jeito que não tinha como sorrir de volta.
Quem me tirou do transe foi as palmas de meus amigos parabenizando Júlia por me deixar sem palavras. Não
falo que eles amam me ver em uma fria?

-- Não vale, a Júlia já respondeu tudo o que a gente já ia perguntar... – Lia brincou. – Gira a garrafa Júlia...

Júlia fez um gesto negativo e se levantou.

-- Gira vocês. – E se explicou. – Eu vou atrás da minha caipirinha que o garçom ficou de trazer e até agora
nada. – Olhou para mim. – Você vem comigo?

Fiz um gesto afirmativo e me levantei auxiliada por Júlia. A própria Lia acabou girando a garrafa que caiu na
vez de Renatinha responder. Alheia ao joguinho, eu procurava o final da fila. Júlia ignorou a fila e puxou minha
mão para outro lugar.

-- Eu preciso ir ao banheiro.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Não precisou que ela me pedisse duas vezes. Banheiro de boate GLS é sinônimo de pegação, isso é um fato
dos fatos. Do tipo dois mais dois é igual a quatro, as quinas de todas as mesas do mundo sente atração pelo
meu dedinho do pé e meu corpo embaixo de um chuveiro sempre atrai um telefonema importante para eu
atender. Mal alcançamos a porta de entrada e vimos alguns casais se pegando. Estava certo que eu estava
doida de vontade de beijá-la, mas não queria ali, queria um lugar mais cômodo.

-- Vem cá, Jú... – E inventei. - Quero te mostrar um negócio...

Para minha sorte, achei um lugar perfeito para nós. Uma sacada que tinha ao lado do banheiro e dava uma
vista linda para o luar e a parte de trás do casarão. Júlia não conteve um sorriso ao ver a surpresa.

-- Nossa, bonito aqui, acho que da pra ver até... Alice, esta me esta me escutando?

Fiz um gesto negativo.

-- Júlia, só consigo fazer uma coisa de cada vez e nesse momento eu não consigo tirar os meus olhos de você.
Obrigada por tudo...

Era raro ver Júlia acanhada, por isso ela ficava tão bonitinha com o rostinho vermelho. Ela estava sentada em
um sofázinho a varanda e eu em seu colo. Ainda bem que não tinha nenhum empata foda por ali e os casais
ainda não tinham descoberto aquele cantinho. Enquanto ela fazia um carinho no rosto escutávamos alguém
anunciando a entrada da banda no palco. Júlia fitava meus olhos de um jeito que eu estava adorando.

-- Alice, não estou te fazendo favor nenhum... Nosso filme é outro! – Seus dedos tocavam levemente minha
bochecha me fazendo um carinho no rosto. – Eu queria sair com uma mulher interessante, inteligente, bonita,
agradável... Você é tudo isso Alice... – Dei um sorriso, tímida. - E principalmente, faz uma coisa que poucas
mulheres conseguem fazer...

-- Ah Já sei... Já sei... – E sussurrei baixinho em seu ouvido ainda vermelha. – Foi ontem na hora que você
estava de lado na cama e eu dei aquela viradinha né? É que agora eu estou fazendo alongamento e... – Antes
de eu conseguir completar a frase Júlia se matava de rir. Ow gente, me matei toda, até com um pouquinho de
dor nas costas fiquei e ela rindo de mim. – Que foi?

-- Você me faz rir, Alice! E poucas mulheres conseguem fazer isso... Por isso você...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Nossa conversa foi interrompida pelo anuncio da banda que entraria no palco.

-- Relembrando sucessos dos anos 80 e 90 e com suas próprias composições... Scarfes!

Não demorou muito que o som de uns instrumentos elétricos acompanhados da voz da vocalista da banda
embalasse nossos ouvidos. A voz da moça era doce e bem agradável, a música era uma do Kid Abelha, boa
para ouvir bem acompanhada.

Júlia deu um sorriso.

-- Nossa... Essa é do meu tempo! Kid Abelha, sofá, uma garota linda assim no meu colo... De volta aos 16
anos...

Dessa vez eu que ri.

-- Que foi?

-- A gente tem nove anos de diferença de idade. Fez as contas quantos anos eu teria se você voltasse a ter 16
anos? Isso da cadeia, heih, tia Júlia...

Júlia me encarou e rapidamente efetuou as contas. Não agüentei e comecei a gargalhar. A cara de Júlia não
foi nada boa.

-- Vamos parar... Vamos parar por aqui... A conversa antes estava bem melhor!

Novamente sorri.

-- Eu tenho jeito de melhorar o assunto. Vem cá...

Puxei a boca de Júlia para cima da minha. Não sei por quanto tempo ficamos ali, trocando beijos, ela me
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

abraçava e seu corpo pressionava o meu. Eu usava os meus braços para enlaçar seu pescoço. Impressionante
como o beijo, o cheiro me deixava devastada. Quando senti aquele gosto de fruta vermelhas e seus lábios e
sua língua dentro da minha boca, não resisti e desci minhas mãos por suas costas e arrumei um jeito de
arranhar sua pele bem de leve. Júlia desceu com a boca para meu pescoço. Senti os dedos de Júlia em volta
da minha cintura, ela sussurrava algo no meu ouvido. Ao fundo a cantora continuava embalando.

Longe do meu domínio


Cê vai de mal a pior
Vem que eu te ensino
Como ser bem melhor...

Uh, eu quero você


Como eu quero
Uh, eu quero você
Como eu quero

__________________________________________________________________________

-- Eu vou perguntar mais uma vez! - Nat repetiu claramente enfurecida. Duarte estava ao seu lado tentando
inspecionar seus dois internos. - Robson Gonçalves dos Santos, 59 anos, precisa de um transplante de fígado!
De quem é esse paciente?

-- É meu! - Rebeca e Bruno falaram ao mesmo tempo. - O paciente é meu!

-- Ele roubou meu paciente!

-- Essa garota que é louca!

-- Natália, você me deu o paciente! – Rebeca argumentou. – Ele esta roubando a minha cirurgia!

Toda essa confusão estava praticamente escrita. Só na cabeça dura da Natália que daria certo juntar Rebeca
com Bruno. Quando eles estavam namorando, se ficassem juntos entravam no cio, separados brigavam.
Natália não sabia ao certo como a briga começou. Assim que chegou no quarto, Robson Gonçalves, o
paciente, estava aos berros com Rebeca.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- NÃO ENCOSTA A MÃO EM MIM! EU QUERO O DOUTOR BRUNO!

-- Calma Robson, deixa eu explicar... Eu sou responsável pelo seu caso. O doutor Bruno só esta me
acompanhando... – Robson sentado na cama tentava se afastar de Rebeca. – Calma eu...

-- Eu quero o doutor Bruno!

-- Mas ele não pode te atender. – Rebeca fez uma pausa e então explicou. – O doutor Bruno esta sendo
acompanhado por conta de algumas atitudes de indisciplina que cometeu. Eu sou responsável por ele.

Ao ouvir essa ultima parte do relato de Rebeca, Nat a interrompeu severamente.

-- Você falou para o paciente que ele estava sendo atendido por um médico com atitudes indisciplinares? –
Enfurecida. - Para o filho de uma das nossas conselheiras?

-- E-e-eu só que-queria que ele entendesse que o Bruno não podia atende-lo... – Encarou Bruno. – Estava
tudo indo bem! Ele que falou não sei o que para o paciente que não quis ser atendido por mim!

-- Eu estou falando para vocês, essa garota esta maluca! – Bruno advertiu. – Ainda vai matar alguém na
cirurgia!

-- Quem vai matar alguém na cirurgia é o médico que chega torto de bêbado!

-- CHEGA! – Duarte finalmente gritou. – Os dois suspensos!

-- QUE?

-- ISSO AQUI É UMA ESCOLA DE MÉDICOS! VOCÊS DOIS SÃO MÉDICOS! ATÉ QUE
VOLTEM A SE COMPORTAR COMO MÉDICOS OS DOIS ESTÃO SUSPENSOS!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Que?

-- Os dois saíram da escola da medicina sem saber atender um paciente! - Nat esbravejou com ambos. – A
Duarte esta certa. Uma semana sem por os pés aqui se não forem como pacientes!

-- Uma semana? – Rebeca questionou. – Mas na é justo... Se aquele cara vai receber o fígado novo foi
porque eu achei esse fígado e...

-- Se a senhora abrir a boca mais uma vez esta suspensa de fazer a prova para o segundo ano da residência!
– Natália ameaçou. Virou-se para Bruno. – E você, seu moleque, enquanto não falar o que disse ao paciente
que fez ele recusar ser atendido por ela, esta banido do andar cirúrgico. Fora a semana de suspensão!

Natália saiu sem dar a tréplica a nenhum dos dois.

-- Vão para a casa e dentro de uma semana quero dois doutores na minha frente! Eu criei dois médicos e não
dois palhaços! Andem, sumam da minha frente!

Saíram do hospital por volta das três da manhã. Sem nenhum ônibus nem táxi, teriam que fazer o caminho a
pé. Rebeca não tinha carro e Dona Regina havia fiscalizado o carro de Bruno por conta das bebedeiras.

-- Que é, vai me seguir agora? – Bruno retrucou. – Inferno!

-- A rua é publica garoto mimado! – Bruno parou de caminhar e acabou trombando com Rebeca. –
AAAAAAAI! – Deu um empurrão em Bruno. - Estúpido!

-- TÁ MUITO FOLGADA GAROTA! – Rebeca ia empurra-lo outra vez, mas Bruno foi rápido e segurou
sua mão puxado Rebeca para si. Com o punho esquerdo ela tentou soca-lo sem sucesso. A respiração dos
dois ofegantes, estavam muito próximos. – Muito folgada!

-- ME SOLTA! Tá achando o que, garoto?

-- Que quando você não esta afim mesmo empurrar com muito mais força que agora.

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E calou Rebeca com um beijo. Minha amiga não pensou duas vezes em corresponder. Sentia saudade de
Bruno. A barba rala machucando seu rosto, as mãos em seu corpo. Quando deram por si já entravam no
apartamento de Nat, onde Bruno estava eventualmente hospedado e seguiram para o quarto.

E Júlia e eu? Eu estava dando um dos melhores malhos da minha vida. Nossas línguas guerreando por
espaço,a mão enorme de Júlia puxando minhas costas. Eu a queria mais uma vez. Queria não, já estava se
tornando necessidade. Minha boca desceu invadindo seu pescoço, as unhas cravaram minhas costas com uma
vontade que não deu para segurar o gemido. Puxei levemente os cabelos de Júlia e guiei sua boca para a
minha mais uma vez. Entre beijos sussurrei que a queria. Ela foi se ajeitar melhor no sofá e quase que nós duas
caímos.

-- Opa, eu que cresci ou os sofás de hoje diminuíram? - Júlia brincou me puxando volta para o seu colo.
Trocamos mais um beijo. – Você beija tão gostoso...

Não respondi, apenas a beijei de volta. A boca dela que era incrível com aquele gosto de morango e vinha
falar que eu beijava gostoso. Estava tão perdida no tempo espaço que só consegui separar de Júlia quando
senti a mão dela batendo de leve na minha coxa.

-- Tem alguém vindo...

Maldito empata foda! Nos levantamos e já estávamos de saída quando cruzamos com a invasora de espaços.
Era uma menina de cabelos castanhos escuros, pele branquinha... Aqueles olhos, eu a conhecia de algum
lugar. Ela se despedia de alguém no celular. Assim que me viu abanou as mãos freneticamente.

-- Beijo, Tânia, te ligo mais tarde. – Desligou o aparelho. – Papá Léguas!

Ela não estava muito diferente do colegial, digamos que tinha apenas ganhado mais cara de mulher. Reconheci
pela voz de pato. Carolina Bittencourtt, a rainha das chatas, entojadas e frescas do colégio. Esta infeliz me
atazanou o colegial inteiro com apelidos como Quatro Olho, Papa Léguas por conta da minha magreza,
Garibalda, Esqueleto... Ela era o verdadeiro inferno na terra.

-- Carol?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Tá lembrada de mim? Alice, mas como você esta diferente... Reconheci pelo andado e... Sozinha?

-- Não! – Fiz questão de falar com o peito cheio de orgulho. Na época do colégio, enquanto ela trocava de
namorado como trocava de roupa, eu fazia parte do time das encalhadas. Fiz um sinal para Júlia se aproximar.
– Júlia, essa é a Carol, uma...

-- Amiga dela!

Amiga, essa é boa! Se ela soubesse de todas as vezes que eu sonhei em empurra-la na frente de um ônibus.

-- Carol essa é...

Carol abriu o maior sorriso do mundo.

-- Eu conheço ela. É a Júlia... - Júlia a encarou um tanto confusa. – Te conheci em Santos, você estava
passando uns dias por lá.

-- Nossa, isso faz tempo... – Júlia comentou meio espantada. – Foi um pouco antes do carnaval. Que
memória a sua!

-- E tem como eu esquecer o melhor sexo da minha vida? – QUE? VACA! Carol deu um sorrisinho sacana,
fez um carinho no rosto de Júlia. – Você é inesquecível, gata!

Uma pena que meu olhar não matava senão aquelas duas estariam mortas na minha frente. Mas no próximo
capítulo, todo mundo lendo de preto. Se Deus quiser a gente sai daqui direto para o enterro da Júlia.

End Notes:

Cenas do próximo capítulo.


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Alice, esse é o seu problema. - Léo bêbado praticamente cuspia as palavras


em cima de mim. - Você gosta de quem te faz de trouxa. Dando trela pra essa
ai... Alice, eu sou o cara ideal para você.

-- Léo, você é um ótimo amigo, um fofo, mas...

Antes de eu conseguir terminar Léo me agarrou e quase me engoliu com um


beijo. Eu tentei me separar, mas ele era mais forte. Quando finalmente
consegui empurrar o Léo para longe, encontrei com quatro pares de olhos
conhecidos. Júlia e Gabriel.

__________________________________________________________________

Ouviram a Alice, capítulo que vem todo mudno de preto pra encomendar a alma da
Júlia. O que vocês acham que vai dar do rolo Nat x mulheres de Silvéster?

Não gosto de soltar nada antes, mas... esse não vou resistir... Preparem os lencinhos.
Próx capítulo alguém morre...

=*

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 33 by Tamaracae

Author's Notes:

Oiiis!!! como prometi, o capítulo o mais rápido possivel!

-- E- Eu acho que... – Júlia ainda teve a pretensão de tentar se explicar.

-- Você não acha nada! – Eu rebati quase virada em um santo. Carolina me encarou com aquele sorrisinho
infeliz que ela sempre trazia. – Você não mudou nada, Carol Com licença...

-- Alice!

-- Eu fiz alguma coisa? – Cinicamente ouvi Carol perguntando a Júlia. A essa altura eu já tinha dado uns
quatro passos. – Julinha?

Na moral, já não bastasse os biscates atuais tipo Marisa, Monique e o um milhão de internas vaquinhas que
ficavam dando mole a Júlia? Deus ainda tinha que desenterrar aquela vaca do passado? Justo a chata da
Carol Bittecourt? Se ainda fosse a Roberta Mattos que também era da minha sala e era mais gente boa
comigo, mas Carol? Eu sei, sou uma infatilóide, mas que não é agradável saber que a mulher que você esta
afim já saio com sua inimiga, não é! Qualquer lugar que a gente saia vai ter uma dessas jogando o “passado
glorioso” de Júlia na minha cara?

Minha cabeça fervilhava com milhões de perguntas como aquela. A bronca não era apenas por ser a Carol
Bittecourt, mas porque aquela era a realidade de Júlia. Pelo que eu começava a perceber, estava saindo com
um “patrimônio historio lésbico” e não conseguia lidar nada bem com esse fato. Eu sou a rainha da
insegurança, aquilo nunca daria certo. Passei 26 anos da minha vida ignorando que tinha um coração, meu
lance era sexo e cabeça, mas também quando lembrei que tinha um, parecia que faziam questão de apertá-lo
todos os dias.

Antes de eu conseguir chegar ao salão, uma mão decidida me puxou para um canto. Educadamente empurrei
acreditando que era uma estranha tentando investir em mim, ela me segurou com mais força até que conseguir
ver seu rosto.

-- Calma, Alice! AIIIIII. Por que você me bateu? –Júlia perguntou massageando o ombro dolorido por conta
do tapão que levou. – Não esta vendo que sou eu?

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-- Bati por isso mesmo! Eu quero ficar sozinha!

-- A gente precisa conversar.

-- Quem? Eu você e a lagartona? – Questionei. - Por que você não vai com ela para o banheiro relembrar os
velhos tempos?

-- Será que você não ouviu que isso aconteceu antes do carnaval? Antes de eu te conhecer? Alice, isso não
teve importância nenhuma para mim... – Como ela impedia minha passagem com o corpo, eu era obrigada a
ouvir o que Júlia tinha a me dizer. Júlia tentou me fazer um carinho, tentando me beijar. Em resposta cruzei
meus braços. – Faz isso não, vem cá amor...

-- Sai! – Eu queria mesmo ficar um tempo, pelo menos um pouquinho afastada para pensar melhor. Bateu
ciúme mesmo. Eu queria entender afinal de contas o que estava acontecendo comigo. – Volta lá pra sua
amiguinha...

-- Eu mal conheço aquela mulher...

-- E tem diferença? Você cisca mesmo em qualquer terreiro!

Mal conclui minha ultima frase e ela já tinha uma resposta a para me dar. Sem desviar os olhos dos meus, Júlia
me puxou pela cintura e juntou a mim de uma maneira que me assustou. Lembrei de uma vez, quando eu ainda
era criança e sem querer levei um choque que me deu um tranco pelo corpo inteiro. Como se eu pudesse me
desfazer a qualquer momento, minhas pernas bambearam e me dependurei em seu ombro.

-- Qualquer terreiro não! Eu sou seletiva... – Sem nem piscar completou. – Eu gosto de mulher gostosa! E
peguei a mais gostosa de todas para mim... – Envolveu uma de suas mãos no meu rosto de um jeito firme, me
obrigando a encará-la. - Você, Alice!

E sua boca me puxou para um beijo que não tive forças para interromper. Aquela boca gostosa, docinha,
meio gelada, por conta da caipirinha, deliciosa. Atitude sempre me deixou caidinha e Júlia tinha de sobra. Ela
era doce, mas sabia ser impor, fazia uma carinha de invocada, apertava os olhos, um tesão que só vendo.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Ui, gamei com essa! – Uma garota que estava próxima comentou brincando com a amiga. – Uma morena
assim falando isso no meu ouvido. Nem sei como a loirinha ainda ta de pé depois dessa... Me dá uma água.

Nem eu entendi como ainda consegui ficar de pé. Na verdade só lembrei que tinha perna quando senti minha
coxa sendo fisgada pela sua mão. Apesar do vento de ar condicionado estar bem na minha direção, nossos
corpos estavam quentes. Como um garçom por nós, puxei Júlia ainda mais para dar passagem a ele e ela
acabou me encostando na parede. Depois de mais uns dois minutos se pegando, com beijos no pescoço, no
meu rosto, ela falando umas besteirinhas no meu ouvido que meu juízo veio à tona e me separei dela.

-- Volta aqui Alice, está tão gostoso... – Virei ás costas e voltei a caminhar apertando o passo. – Alice?

-- Eu vou voltar para mesa. E quero ficar sozinha.

Não deu tempo de iniciar uma discussão porque nesse momento Gabriel passava com minhas duas amigas em
direção a pista de dança. A banda começou a tocar Garota Nacional do Skank e uma boa parte da galera se
animou. Lia puxou Júlia pela mão.

-- Vocês não vão vir com a gente?

A última coisa que eu queria era dançar. Júlia me encarou a procura de uma resposta e dei os ombros. Mais
uma vez ela me olhou como se não acreditasse no meu descaso.

-- Vai você, Júlia! Eu fico na mesa!

Eu apenas disso isso, mas na verdade queria dizer mais ou menos assim.

-- Fique a um quilometro de mim até eu esquecer que aquela vaca pretérita encostou em você!

Entendeu o que eu quis dizer nas entrelinhas, Júlia concordou. Pegou um copo com bebida da mão de Gabriel
e virou fazendo uma careta.

-- Vamos para pista!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

É lógico que na hora eu me arrependi do que fiz. Só me faltava ela ir literalmente para pista e ficar com outra
na minha frente. Deus do céu, e se ela ficasse com a vaca pretérita? Não tive coragem de ir atrás deles, mas
morri de inveja ao ver Júlia e Gabriel se divertindo, ele dançando todo com aqueles passos de tiozão
propositalmente e as três se matando de rir. Eu morria de vergonha daquele papelão tosco que eu tinha
acabado de fazer, mas também estava com raiva. Resultado, cheguei na mesa emburrada. Muito mais comigo
do que com Júlia.

-- Que cara de bunda é essa? – Marquinhos veio me encher o saco. Léo estava de canto, mais esquecido do
que fruta de fim de feira. – Cadê a tua morena?

-- Esta sendo morena dos outros lá na pista!

Demos uma breve olhada e Júlia dançava com os outros três.

--O que aconteceu?

-- O que aconteceu é que parece com estou saindo com um banheiro público! Fora que eu sou uma babaca!

-- Que foi, catou ela com outra?

-- Não!

-- O que foi então, Zé?! Virei minha cara ao ver Renatinha dançando com Júlia enquanto Lia preferia Gabriel.
Marquinhos me deu um beslicão no meu braço. – AIII... Isso dói!

-- Desembucha então!

Depois daquela chuva de delicadezas tive que contar o que aconteceu. Enquanto eu falava, Marquinhos me
encarava de um jeito misterioso. Por fim disse.

-- Você é ridícula, velho!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Adoro quando as pessoas me botam para cima.

-- É sério Allie, vocês são legais juntas, nem devia perder seu tempo pensando nisso.

Sorri satisfeita com o que tinha ouvido.

-- Acha mesmo a gente legal?

-- Com certeza... Aquele beijo que ela te pressionou na parede então... Se não fosse tão seu amigo eu
poderia ter ficado excitado. – Minha pele ficou da cor de um tomate maduro. Esse beijo que Marquinhos
comentava foi bem na hora que o garçom passou e nos retiramos do caminho. Só de lembrar senti um
formigamento no canto dos lábios e meu batimento mais acelerado que o de costume. Aquelas mãos me
pegando e puxando minha cintura com firmeza... – Que é isso? Editando os melhores momentos com a
morenona? – Marquinhos deu uma gargalhada. – Gostou mesmo da coisa!

Que é isso, minha mente também virou pública agora?

-- Pense em ficar excitado que eu passo um bisturi nessa mixaria sem dó! – Tentei disfarçar. – E respeito que
o nome dela é Júlia.

-- Levanta logo dessa cadeira e vai dar um beijo na boca daquela mulher!

Na pista, Júlia continuava dançando com Gabriel e as meninas.

-- Vai você! Ela esta bem sem mim!

Marquinhos fez um gesto negativo.

-- Agora você vai ter motivo para sentir ciúme, Zé Ruela!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Eu até já sabia que Marquinhos ia aprontar. Quando ele levantava e me deixava falando sozinha com aquela
cara de “meninão peralta” é porque estava querendo atazanar alguém. E como tudo acontece com Alice,
lógico que a vítima fui eu. Marquinhos se aproximou dos quatro. Garota Nacional já estava no finalzinho e a
banda emenda com outra música que levantou de vez o público.

Nas primeiras batidas de Satisfaction, Marquinhos deu um jeito de puxar Júlia e não demorou para que
começassem a dançar juntos. Puta que o pariu, e que dança! Marquinhos, cara de pau, flertava sem disfarçar.
Para me atingir em cheio e jogar na minha cara: toma otária, olha o que esta perdendo. Júlia nem levava em
consideração a cara deslavada do meu amigo, mas se divertia ao seu lado. Requebrando, acompanhando o na
coreografia, demarcando passo, sendo sua ideal parceira. Uma parceira que eu nunca seria já que era péssima
dançando. Em um minuto eram o casal mais animado da pista. Pudera, Rolling Stones, paixão dos dois. Até
direito a plateia tiveram. Peguei metade de um copo de qualquer coisa que estava sobre a mesa e mandei para
dentro. Sorte que era ice.

-- Vou tomar um ar, Léo...

-- Posso ir com você?

Fiz um gesto afirmativo. Não queria conversar com ninguém, mas também não podia descontar minha raiva no
coitado do Léo. Raiva de mim mesmo. Por ser tão desajeitada com Júlia, por estar morrendo de raiva
sabendo que aquela vaca pretérita da Carol veio só para atazanar minha vida, raiva por não saber dançar tão
bem feito o Marquinhos. Em pouco tempo caminhando chegamos na varanda que Júlia e eu trocamos beijos.

-- Aqui da pra ver todo o bairro.

-- Verdade... – Comentei pensativa, ainda de olho no pessoal da pista de dança. – Todo o bairro.

-- Vocês brigaram? Ela fez alguma coisa para você.

Fiz um gesto negativo.

-- Não esquenta... Nada grave.

Quando terminei a frase senti dois olhos pesando sobre os meus. Pela primeira vez percebi que tinha alguma
coisa de diferente com o Léo. Sua voz estava meio molenga também.
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-- Você andou bebendo?

-- Só uísque pra aguentar você e sua namoradinha a noite toda. – Léo disse sem cerimônias. – Sério, o que
você viu nela? Vocês não tem nada ver...

Dei um meio sorriso.

-- Quando você não tive com sei lá quantos copos de uísque dentro do seu corpo discutimos, tudo bem Léo?

-- Eu não estou bêbado! – Ele me garantiu visivelmente fora de seu estado normal. – Eu sei muito bem o que
estou falando! E ela também não gosta de mim...

-- Quem sabe pelo fato de você ter sido e estar sendo um tremendo chato á noite toda? – Devolvi irritada. –
Não abriu nenhum sorriso, não brincou com ninguém, não... Não quero discutir Léo!

Eu sou uma tonta mesmo nem lembrava como aquele bate boca tinha começado.

-- -- Alice, esse é o seu problema. - Léo bêbado praticamente cuspia as palavras em cima de mim. - Você
gosta de quem te faz de trouxa. Dando trela pra essa ai... Alice, eu sou o cara ideal para você.

-- Léo, você é um ótimo amigo, um fofo, mas...

Antes de eu conseguir terminar Léo me agarrou e quase me engoliu com um beijo. Eu tentei me separar, mas
ele era mais forte. Quando finalmente consegui empurrar o Léo para longe, encontrei com quatro pares de
olhos conhecidos. Júlia e Gabriel. Droga! Por que tudo precisava parar na privada quando minha vida estava
começando a tomar um rumo. Antes que eu pudesse esboçar alguma reação senti alguém puxando meu braço
com a delicadeza de um quarto zagueiro. Léo era o pior tipo de bêbado: o chato! O grude que ficava colado.
Apertou meu braço com mais força.

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-- Vai falar o que pra tua namoradinha?

Tirei forças de não sei de onde e o empurrei. Eu estava com nojo dele. Cheirando a uísque, sendo ignorante,
me tratando mal. Justo o Léo tão fofo, tão meu amigo. Eu sentia falta daquele cara doce que morria de medo
de uma sala de cirurgia nos primeiros dias de interno como eu?

Pela primeira vez então conseguia ver Léo, um grosso, machista e covarde. Sim covarde. Tudo foi muito
rápido. Depois de ter levado o empurrão, me devolveu com muito mais força e cai sentada sobre o sofá.
Senti a mão dele vindo de direção do meu rosto, fechei os olhos esperando a dor, mas não fui atingida.
Enquanto Gabriel o imobilizava, fui puxada por Júlia e ela me protegia com os braços.

-- TUA FILHA PRECISA DE UM PAI E VOCÊ DE UM HOMEM DE VERDADE, ALICE! – Olhou


para Júlia. – Essa mulher macho não serve pra você.

Antes que Júlia perdesse a cabeça e acertasse a cara de Léo, me agarrei ainda mais em seu corpo
escondendo meu rosto em seu ombro. Júlia entendeu o recado e ficou ali comigo. Atraídos pela gritaria dos
dois homens os seguranças vieram saber o que estava acontecendo. De primeira iam levar Gabriel, mas ele
apresentou o distintivo e explicou do que se tratava. Após esclarecimentos, Léo foi levado embora por um
dos seguranças por uma portinha lateral.

-- Ele te machucou? – Gabriel perguntou a Júlia que acabou levando o tapa no meu lugar.

-- Não, foi nada...

Preocupada com ela tentei examinar seu rosto.

-- Não foi nada Alice, você quer uma água? Quer sair? - Fiz um gesto afirmativo. – Eu vou com você...

-- Eu também já estou indo, só vou...

-- Não, fica, por favor... – Pedi a Gabriel. – A Rê, o Marquinhos e a Lia ainda não sabem o que aconteceu.
Eles gostaram tanto de você... É aniversário dela. Não deixa estragar por isso. Ela vai morrer de tristeza.

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Gabriel encarou nós duas.

-- Vocês tem certeza que estão bem?

Como se tivéssemos combinado fizemos um gesto afirmativo. Por fim Gabriel concordou. Rapidamente
conseguimos atravessar o salão e Gabriel acertou a comanda de nós duas.

-- Eu te pago no hotel...

-- Relaxa com isso. – Deu um beijo no rosto de Julia. Quando foi me beijar sussurrou no meu ouvido. – Se
você quiser registrar queixa faço questão de prender aquele imbecil. Eu tenho uns amigos...

-- Não. – Decidi. – Quer dizer talvez amanhã eu pense melhor, mas agora quero ir pra casa...

Assim que ficamos a sós, me abracei mais a Júlia. Aquele tamanhão todo dela me protegia. O cheirinho de
mata me tranquilizava.

-- Você estava certa. – Eu murmurei baixinho. – Era um encontro. – Nunca tinha me sentido ao envergonhada
na minha vida por estar dando trabalho a ela. – E eu boba achando que era ciúme...

Júlia jogou um sorriso triste para o chão.

-- Era um encontro... – Envergonhada, baixei meus olhos. Júlia tocou meus dedos fazendo um carinho. – E eu
estava com ciúme de você.

Ela me olhou de um jeito que eu adorei. Dei um gole na água.

-- Júlia,eu... Eu sei que você viu o Léo me beijando, mas eu juro que...

Ela me deu um novo sorriso. Aproximou seu rosto do eu e me calou com um beijo doce e delicado, sem
aprofundar muito. A ponta de sua língua pincelava os meus lábios e eu tentava dar pequenas mordidinhas
naquela boca entreaberta para mim. Nos separamos com pequenos selinhos.
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-- Você acredita em mim?

Júlia fez um gesto afirmativo.

-- Eu vi tudo. – Fez um carinho no meu rosto, aproximou seus olhos dos meus sorrindo. – E se você me
trocasse por aquele mauricinho juro que me jogaria embaixo de um ônibus agora.

-- Convencida! – Enroscando meus braços em seu pescoço, roubei um beijo rápido. – Te adoro!

-- Agora conta uma novidade... Todo mundo me adora. Até eu me adoro! – Era muito metida mesmo. Fez
um carinho no meu rosto. – Deixa eu cuidar de você hoje?

Querem saber? Adoro com todas as letras. Provando a verdade das minhas palavras lhe dei mais um beijo.
Calmo, leve, doce. Curtia sua boa sobre a minha, mordia bem gostosinho. Minhas mãos desceram por suas
costas. Ela não fez menção alguma de que quisesse separar de mim. Desci com os lábios por seu pescoço. A
abracei ainda mais.

-- Eu não penso em nada melhor para essa noite do que estar nas suas mãos.

E encostei minha boca na dela mais uma vez. Aquele beijo era algo viciante.

Fomos interrompidas por pigarros de um homem. Gabriel.

-- Detesto interromper e acreditem é sincero... – Júlia começou a rir. Eu vermelha de vergonha. Ele falava
sério, como se quisesse dizer que era bom ficar espionando a gente dando malho. Gabriel era muito besta. –
Mas vim trazer isso aqui pra vocês. – Entregou dois capacetes e a chaves da moto dele para Júlia. – Eu vou
dormir na casa da sua amiga, ela vai me dar carona, pode levar a moto.

-- Qual amiga?

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-- Então, ainda não decidi. – Passei mal de rir com a impagável cara da Júlia para cima dele e ele, cara de
pau, respondendo a ela. – As duas opções são excelentes, você há de concordar eu preciso de uma segunda
opinião. E Então Alice?

-- Sem maldade? Vai na Lia. A Renata bebeu e ainda é afim do Marquinhos. – O que mais dava vontade de
rir é que Gabriel era sério a todo instante. Me encarava de um jeito atencioso. – Altas chances de no meio do
sexo ela começar a chorar em cima de você.

Ganhei um beijo estalado no rosto.

-- Vem cá, você está se protegendo? – Júlia questionou.

Gabriel retirou o revolver que sempre carregava consigo.

-- Que é isso? – Perguntei assustada. – Protegido no sentido de ter uma camisinha.

-- Você perguntou no sentido de ter uma camisinha? Ninguém me explica nada direito...

Sério, as caras de espanto de Júlia com as loucuras do Gabriel eram as melhores. Me davam dor de barriga
de tanto rir. Depois de nos despedirmos e Gabriel voltar para a boate, Júlia retirou o próprio casaco e me
entregou. Estava frio mesmo. Ela colocou o jaquetão de Gabriel. Lembrou até o dia que nos conhecemos,
como a beleza dela havia me impressionado.

-- Que foi?

-- Você esta linda!

Júlia sorriu meio sem graça, me roubou um beijinho gostoso.

-- Vamos?

-- Vamos!
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Como prometido não questionei. Aquele noite meu destino ficou em suas mãos.

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Em Silvéster as coisas não estavam tão frias como em São Paulo. Pelo menos na cama de Bruno e Rebeca
não. Os dois também parecia querer recuperar os quase dois meses perdidos em uma noite. As costas de
Bruno pareciam ter parecido por um ralador de tanto que foram arranhadas Poe Rebeca. Minha amiga
também levaria algumas lembranças da noite. Tinha marcas vermelhas feitas pela barba de Bruno pelo corpo
inteiro. Ainda ofegantes trocaram um beijo e Rebeca se aconchegou no peito do ex-futuro-peguete-
namorado.

-- O que deu em você? – Ela conseguiu perguntar ainda sem fôlego. Sua mão se apoiava no ombro do
namorado. – Qual é neguinho? Você inscreveu a gente numa maratona sexual e não me contou nada?

Bruno deu um sorriso.

-- Todo esse tempo separado... É saudade do teu corpo no meu. – Rebeca ergueu os olhos, uma de suas
mãos envolvia o rosto do namorado. – Branquela, o que tu fez comigo? Dois meses sem... Nenhuma mulher
deitou nessa cama comigo depois que a gente terminou Rê... Olhava pra cara de todo mundo e só via teu
rosto. Não conseguia parar de pensar em você...

Minha amiga como toda mulher besta e apaixonada se derreteu. A resposta foi a mais óbvia do mundo um
novo beijo recomeçando tudo.

No hospital, Nat não compartilhava da mesma sorte do irmão. O boicote do Lesbworld era levado tão a sério
quando esses protocolos feitos pela ONU. Ela saiu de uma cirurgia de emergência, terminava de se trocar no
vestiário. Quando estava terminando de tirar a blusa, trombou sem querer e uma das internas.

-- Ér, desculpe eu...

-- Cachorra! Por que não tenta a psicóloga peituda? – Um ponto de interrogação se fez na cara de Nat. – E
ainda teve coragem de pedir para Alice tirar o neném...
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-- Ãh?

-- Dissimulada!

E saiu sem dar maiores explicações. Nat já estava desconfiada que algo estava acontecendo. Na cirurgia as
enfermeiras não trocaram nenhuma palavra com ela. Na recepção duas pacientes lhe viraram a cara e fora que
alguém colocou tachinhas em sua cadeira no meio de uma reunião com os conselheiros do hospital. Duarte
entrou no vestiário e cruzou com a interna que tinha virado a cara para a chefe. Aproveitando que estavam a
sós, finalmente Nat podia desabafar toda sua agonia.

-- Duarte, olha para mim. – Duarte um tanto desconfiada obedeceu. – Tem alguma coisa de errada comigo?

-- Natália, pelo amor de Deus, achei que o seu complexo de ter quadril largo tinha passado aos dezessete
anos... Eu tenho o que fazer.

-- Não! Não é disso que eu estou falando! Duarte, elas não me suportam...

-- Você é a chefe delas, esta sendo paga para ser insuportável.

Duarte saiu. É talvez fosse apenas coincidências. Duarte estava certa. Amanhã riria de suas desconfianças sem
noção com apetite. Talvez precisasse de umas férias para tirar aquelas ideias loucas da cabeça. Sim, só podia
ser coisas de sua cabeça. Sim só podia ser isso. Já mais aliviada abriu o armário para pegar sua blusa e um
bicho de pelúcia caiu de seu armário. Agachou-se para pegar. Se tratava de um sapinho de pelúcia. Ou uma
sapa já que estava de lacinho. Não era dela. Coisa mais fofa, alguém tinha lhe deixado de presente?

-- Que bonitinha. – Só quando analisou melhor o presente que notou um pequeno papelzinho preso em sua
língua vermelhona de fora. Seria um bilhete do remetente? Aproximou mais os olhos e leu em voz alta. – Na-
tá-lia! Ué, mas quem amarraria meu nome na boca de um...

Só ai que Natália percebeu o teor do presente. Alguém literalmente costurou sua boca no nome de um sapo.
Assustada jogou o bicho maldito longe. Ela tinha razão. Alguma coisa de errado estava acontecendo com seu
nome!

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Nunca pensei que cruzar as ruas de São Paulo de madrugada de moto fosse tão legal. Júlia com aquela
jaqueta de couro conduzia a moto na velocidade máxima permitida. Seus cabelos escapavam do capacete e
vinham bater no meu rosto, a cada freada nossos troncos se aconchegavam de maneira gostosa, uma delícia.
Eu já estava bem mais animada, e com a adrenalina alta por não saber para onde estávamos indo. Dois caras
de carro passaram por nós duas. No sinal vermelho gritaram para Júlia.

-- GOSTOSA!

Não aguentei, levantei a viseira do meu capacete e complementei.

-- DEMAIS! – Disse dando a entender que já tinha provado e muito. – NÃO TEM NOÇÃO DE
QUANTO!

Júlia deu uma gargalhada da cara de merda dos dois e partimos com a moto. Em quinze minutos chegamos no
Flat que ela e Gabriel estavam dividindo, um prédio enorme e lindo na Barra Funda. Só isso que me lembro.
Subimos para o 20° andar de elevador, mas a parte interessante ficou por conta de quando entramos no
apartamento.

-- Gostou? – Júlia questionou.

Não consegui responder e a beijei. Ela podia me levar para um barraco na Vila Brasilândia que eu ia gostar
do mesmo jeito. Casa era tudo igual mesmo. E eu nem tinha conseguido tirar os olhos dela. Júlia me
correspondeu de forma impetuosa. Aquela língua quente e doce invadiu a minha boca. Eu joguei a jaqueta que
usava para o lado e voltei a beija-la. Com uma das mãos na cintura ela me beijou e me pegou para mais perto
de seu corpo. Acabei deixando escapar baixinho, no pé de seu ouvido.

-- Aiii que pegada mais gostosa...

Minha voz estava embargada. Eu estava era praticamente bêbada de tesão por aquela mulher. Lembrei até de
uma música da Ana Carolina: De quatro, lado, frente, verso, embaixo em pé. Isso e o que mais minha
cabecinha torta inventasse. A única certeza que eu tinha era que eu queria Júlia. Puxei com força seu
colarinho. Quando suas mãos entraram por debaixo da minha blusa e encostaram na minha pele de leve,
minha espinha se arrepiou toda. A mão dela estava meio molhada por conta do sereno da noite de São Paulo
dando um efeito delicioso de quente e frio nas minhas costas.

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-- Aaai Júlia, eu quero você... –Beijei levemente seus lábios e Joguei sua jaqueta longe. Mordi de leve dos
seus ombros enquanto ela levantava minha blusa e arrancava gemidos meus passando a mão aberta pela
minha barriga. Ela desacelerou nosso beijo. – Volta aqui amor, eu quero você, me beija...

-- Gostosa... – Ela sussurrou no meu ouvido enquanto arrancava a própria blusa. – Eu sou toda sua...

Contraditoriamente, Júlia se separou de mim e pude então analisa-la. Puta que o pariu. Congelei quando vi
aquela lingerie vinho. Como se fosse possível a deixou ainda mais gostosa. Senti minha calcinha se encharcar,
literalmente babava de tesão. A interrompi quando ela começou a tirar o cinto e tomei essa atividade para
mim. Quando aquela calça caiu e encarei a calcinha da mesma cor, de renda, com as laterais meio larguinhas,
enlouqueci. Ou melhor, enlouquecemos. Fui despida pressionada contra parede. Ela desceu coma boca,
começou a passar os lábios no pé da minha espinha dorsal e subiu com a língua retirando a minha camisa e se
livrando do meu sutiã. Na hora de tirar minha calça, ela preferiu me deitar na cama. Com a barriga para cima.
Massageou um dos meus pés com as mãos, beijou, massageou mais um pouco.

-- Ai, gostoso...

-- Pézinho tão pequenininho, tão bonitinho... Ela comentou.

Eu fechei os olhos e senti minha calça sendo puxada e jogada em um canto ignorado. Ela veio e beijou os
meus pés até a minha barriga lentamente. De maneira proposital pulou a virilha e sua boca tomou um dos meus
seios. Senti a mão de Júlia apertando a minha bunda com força. Eu não aguentei mais. Queria ela molhada
para mim. Mordi sua orelha de leve e meus dedos invadiram sua calcinha.

-- AAAAAII... Não para Alice! AAAAI Não Para!

Com ela gemendo gostoso daquele jeito é que eu não ia para mesmo. Ela estava era um mar de gozo. Quente,
molhada, deliciosa. Júlia se livrou do próprio sutiã e minha boca trabalhou em seus seios. Eu chupava, lambia
sugava e embaixo meus dedos sentiam todo aquele efeito se desfazendo entre as pernas de Júlia. Adorei tê-la
mais passivamente naquele momento. Eu dona da situação deixei minha boca beijar toda aquela barriguinha
enquanto Júlia bagunçava meus cabelos, pedindo por mais. Lentamente percorri minha boca até alcançar sua
calcinha. Fiquei admirando ainda por alguns instantes.

-- Gostou? – Ela perguntou mordendo os próprios lábios, com uma carinha mais de safada que o comum.

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-- Linda. – Dei um beijinho passando minha língua por cima. – Mas eu vou tirar ela...

Júlia abriu uma risadinha sacana. Passei minha mão por seu sexo ainda em cima da calcinha a fazendo pulsar e
então me livrei daquele pedaço de pano vinho. Ter aquela mulher para mim foi coisa de outro mundo. Senti-la
gemendo enquanto eu encostava minha boca em seu sexo era demais para minha sanidade literalmente
saborosa. Pulsava com gula pedindo por mais boca e dedos, aquele era o melhor gosto do mundo. E aquele
gemido anunciando o gozo para mim e para o restante da vizinhança? Sem palavras. Quer dizer, apenas três
palavras AH, JÚLIA, GOSTOSA!

O melhor é que aquilo só tinha sido o começo. Eu gozei sem ninguém encostar a mão no meu sexo. Eu mal
tinha tomado ar e senti aquelas mãos grandes me pegando, viajando sobre meu corpo. Ela tombou em cima
de mim de tal forma que a boca já tinha encontrado a minha e compartilhávamos o seu gosto. Quando senti
ela toda molhada raspado seu sexo com o meu enlouqueci. Pedi que ela me fodesse com força. Não
acreditava naquela mulher rebolando em cima de mim, tesão puro. Enquanto me pegava com mãos e pernas,
pressionava seu sexo contra o meu ainda vinha falar safadeza no meu ouvido, mordendo minha orelha,
chupando meu pescoço e me dando aqueles beijos na boca que me tiravam de órbita. O melhor foi gozar e
sentir a boca dela sobre a minha e saber que eu não queria mais ninguém no lugar dela.

Acabou que nem dormimos. O dia amanheceu com nós duas na cama fazendo carinho uma na outra. Ela toda
amorosa comigo, beijava minhas costas, meus ombros. Eu dei um cheiro no seu pescoço.

-- Sabia que eu amo o seu perfume? Qual é?

-- Não gosto muito de perfume, só passo desodorante. Isso é cheiro sei lá, de floresta... – Ela comentou de
um jeito engraçado. – De bicho do mato.

Sorri.

-- Então eu amo cheirinho de bicho do mato. – Fiz um carinho em seu rosto. Subi em cima de Júlia sentindo
minhas pernas entre as suas. – Me aperta, me morde e diz que não é sonho?

Júlia obedeceu deu um apertão na minha bunda, mordeu meu ombro.

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-- Viu, amor?– Começou a beijar minha boca. – É verdade... – E me deu outro beijo.

-- Mulher, você não se cansa não... – Brinquei quando vi que ela já estava era querendo recomeçar tudo de
novo. – Culpa da primeira, ela deve ter feito tão bem feito que você se viciou. - Júlia deu uma risada, me
encarou e fez uma careta curiosa. – O que foi?

-- Sabia que você lembra um pouquinho ela?

-- Ela quem?

-- A menina que foi minha primeira vez. – Júlia me confessou. – Ela era loirinha dos olhos azuis.

-- Você tinha quantos anos?

-- Quinze para dezesseis...

-- Precoce, hein?! E ela? Era a da sua idade?

Júlia sorriu e fez um gesto negativo.

-- Mais velha. Tinha 23. Médica lá do hospital, interna, depois ela foi embora de lá...

-- Foi bom?

-- Foi aquela sensação né? Nossa, aconteceu...

Eu ri. Sabia bem o que era isso. Minha primeira vez eu tinha dezoito e foi com um namoradinho, aquela coisa
de todo mundo ter feito e você não, quando eu fiz praticamente colei uma placa na janela da minha casa
“virgem nunca mais.”

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-- E a sua, foi boa?

-- Foi com um namoradinho...

-- E?

-- Senti estranha, diferente. Quando eu vi que o negócio... Voltou ao normal, achei que tinha ficado um
pedaço em mim. – Júlia deu uma gargalhada. – Não ri! Fiquei louca na época! E a tua interna, foi bom?

Júlia deu um meio sorriso.

-- Quer saber como ela fez? – Júlia puxou minha boca para junto da dela. Passou sua língua pelos meus
lábios me provocando um arrepio gostoso. – Ela começou passando a língua assim em mim...

Eu dei uma risadinha.

-- Ah é? E o que mais ela fez...

-- Fez isso aqui...

Júlia desceu com a boca pelo meu pescoço alcançando meu colo.

-- Quer saber mais?

-- Ô mulher que nasceu com fogo viu! – Eu disse já não aguentando e a puxando de volta para mim. – O que
mais?

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Bruno terminava de montar a bandeja de café da manhã para si e para Rebeca quando ouviu dois gritos
femininos vindo de seu quarto.

-- Beca?

Correu para ver o que estava acontecendo. Quando chegou no quarto, encontrou Rebeca vestindo sua blusa
com uma das inhas, as duas se estapeando.

-- VACA!

-- PIRANHA!

-- O que –que é isso? Beca? Nandinha? O que esta acontecendo aqui? Rebeca, você pode explicar o que
esta acontecendo?

Atraídas pelos gritos, Nat, que chegava do hospital, e dona Regina que dormia ao quarto ao lado foram ver o
que era aquilo e encontraram a seguinte cena, as duas se agarrando e Bruno no meio tentando separar.

-- Essa casa tá ficando cada dia mais moderna! – Dona Regina comentou surpresa. João e Laísa na porta
tentavam ver o que aconteciam, dona Regina expulsou os dois. – BRUNO!

-- O que esta acontecendo aqui? – Natália questionou desconfiada.

Finalmente Bruno conseguia separar as duas.

-- Eu não sei, cheguei já estava essa luta livre. O que aconteceu?

-- Eu estava dormindo e esse tubarão veio me atacando. – Rebeca tentava acertar Nandinha. – Fui assedia
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

sexualmente!

-- Bruno hoje é sábado, esqueceu que você combinou comigo? – Nandinha questionou. – Lembra que ia ser
de surpresa, do jeito que você gosta?

-- Como você entrou aqui? – Nat questionou.

-- Ele me deu a chave!

O sem vergonha do meu amigo nem teve tempo de ficar vermelho porque logo levou um tapão de Rebeca
pela cara.

-- CACHORRO! Nenhuma mulher por todo esse tempo! BAGACEIRO!

-- Bequinha espera e... – Levou outro tapão pela cara. Esse de Nandinha.

-- SEM VERGONHA!

As duas saíram pela porta sem dar tempo de explicações.

-- Você viram o que...

-- E ainda diz que ama a menina? – Dona Regina acertou o terceiro tapa do dia. – Vou ver como estão ás
crianças depois dessa baixaria toda.

O quarto tapa ficou a encargou de Nat.

-- Que é isso?
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Desculpa... Fez fila eu me animei... Você também, se acertou ontem e hoje já jogou tudo no ventilador...

Bruno massageava o próprio rosto.

-- Que ventilador, na turbina de avião! A Rebeca nunca mais quer olhar na minha cara!

-- Pelo menos você tem as outras... Mas e eu?

-- O que aconteceu?

Natália cautelosamente olhou para os lados e por fim confidenciou em sussurro para o irmão.

-- Abriram uma temporada de caça a Natália.

-- Que?

-- Eu não sei o que eu fiz, mas abriram uma temporada de caça a Natália!

--Você está bebendo em serviço?

Natália respirou fundo procurando paciência. Nunca pensou que chegaria a esse ponto de sua vida, desabafar
com o irmão mais novo. Por fim explicou tudo o que acontecia. Ao ouvir tudo o que tinha rolado, Bruno
soltou uma gargalhada.

-- Outro que vai dizer que eu estou ficando louca? Alguém costurou meu nome na boca de um sapo de
pelúcia e deixou no meu armário.

Bruno deu mais uma gargalhada.


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Nat, maninha, você tá sendo vítima de um boicote.

-- QUE?

-- Desculpa eu estava sabendo já, mas achei que o povo só estava falando de brincadeira. Tá rolando um
boicote feminino contra você por causa do rolo da Alice organizado pelas lésbicas da cidade... Você mesmo
não me contou que brigou com a Silvinha?

-- Espera, a Silvinha esta organizando um boicote lésbico contra mim?

-- Silvinha, Isa e Cíntia né? Aquelas três parecem irmãs siamesas...

-- E com você soube disso?

-- Umas amigas enfermeiras me contaram...

-- Isso é preconceito, isso é...

-- Nat, no máximo isso é besteira de vocês, né? Mas tem um jeito de você rever ter a situação...

-- De que jeito?

-- Nat, lembra quando a Júlia não queria levar a gente pra sair com ela e a gente tinha que ir direto na vovó
pra ela mandar a Júlia sair com a gente?

-- O que isso tem haver?

-- É como numa fase de vídeo game! Se você quer mesmo passar, tem que mirar no chefão. A gente queria
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

sair e o chefão era a vovó. O que você quer agora?

-- Que as lésbicas parem de me ver como o inimigo?

-- ISSO! E quem são os chefões que você tem que derrotar?

-- Cíntia, Isa e Silvinha?

-- Bingo, minha cara! Tenha as três na mão e você tem todas elas na mão!

É. Natália tinha que concordar que o raciocínio do irmão poderia estar certo. E já tinha um bom plano para
isso. Em agradecimento deu um beijo estalado no rosto do irmão e correu para por seu plano em ação.

_______________________________________________________________________

-- Bom dia! E ai como passaram a... – Gabriel entrou no quarto e encontrou nós duas enroladas em lençóis.
– Nem preciso perguntar se a noite foi boa.

-- GABRIEL! – Reclamei tentando esconder minha nudez com um edredon. Entrei no banheiro.

-- Pergunta sobre o sexo. – Júlia, mais a vontade pediu ao amigo.

-- Como foi o sexo?

Júlia estendeu as duas mãos.

-- DEZ!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Júlia!

Como eram bobos viu! Só conseguimos sair do flat as oito e meia. Nove horas cheguei em casa e Lelê já
estava acordada tomando mama. Júlia me trouxe de moto e fiz ela subir comigo para tomar café. Papai e
mamãe estavam em casa.

-- Ow,a mamãe esta morrendo de saudade. Vem com a mamãe!

-- Alice, eu já estou indo e...

-- Júlia, toma café conosco... – Mamãe insistiu. – Eu aproveito e já falo comm as duas sobre o médico que
vocês pediram para eu localizar.

-- A senhora encontrou ele?

-- Descobri a clínica que ele esta atendendo. – Mamãe entregou um papel com o nome da clínica para Júlia.
– Aqui esta o endereço.

-- Obrigada dona Vera, eu não sei...

-- Eu fiz pela minha filha.

Já tinham passado dois dias que mamãe tinha dado o endereço e telefone a Júlia. O tal de caio Figueiredo
parecia o médico fantasma, nunca se encontrava. Uma secretária garantiu que o homem tinha viajado. Gabriel
ligou mais tarde e desvendou à mentira, ele estava atendendo. Por algum motivo não queria ver Júlia. Nesses
dois dias não ficamos paradas, pesquisamos algumas coisas sobre esse Caio e descobrimos que era um
verdadeiro filha da mãe. Tinha terminado um casamento de 19 anos com a esposa e expulsado a coitada de
casa com uma mão na frente e outra atrás. Ainda acabou o casamento para ficar com a coleguinha da filha
que era outra pilantra. Sabia de tudo e não contou a mãe!

-- Que horror!

-- Tenho que desenrolar essa história logo. – Júlia me confidenciou. – Estou com saudade do João. Ligo para

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

ele todos os dias.

No terceiro dia decidimos ir pessoalmente à clínica. Gabriel, Heleninha, Júlia e eu ficamos fazendo
acampamento até avistarmos saindo de carro da clínica.

-- É ele! – Gabriel garantiu. – Quando eu cheguei lá no dia do acidente era ele que atendia você!

-- Esse cara esta fugindo de mim por quê? Não perde o carro dele de vista, Gabriel.

Depois de quinze minutos seguindo o carro ele entrava em um estabelecimento. Motel La Barca.

-- E agora?

-- Já sei. Gabriel, fica com a Helena e eu entro com a Júlia.

-- O que a gente vai fazer? – Júlia questionou.

-- A gente vai entrar no quarto desse cara.

-- Ele pode denunciar a gente e...

-- E se acha que ele vai querer chamar a policia estando com amante? Ir pra motel duas horas da tarde de
terça feira, só pode ser amante! Vamos? Não quer falar com o cara?

-- Vamos!

Depois de dar o lugar de motorista a Júlia e ficar com Heleninha em um bar próximo, manobramos o carro
para dentro do motel e falamos com o guarda.
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Tem um senhor esperando nós duas... Ele e é meio calvo, por volta dos 65 anos...

-- Vocês acham que eu caio nessa?

Júlia tirou da carteira 4 notas de cinquenta.

-- Qual o número do quarto?

Com o número em mãos, foi bem fácil localiza-lo.

-- A gente aperta a campainha e fala o que?

-- Sei lá, na hora a gente inventa!

Eu também não sabia o que fazer. Vacilante Júlia apertou a campainha.

-- Oi?

Não acredito! O mundo era muito pequeno. De novo o exu, a vaca pretérita da Carol na minha vida?

-- Alice? O-o que você esta fazendo aqui? – Encarou Júlia. – Oi linda, tudo bem?

-- Ah, mas é lógico que tinha que dar errado, sua mão estava no meio!

-- Garota, você virou psicopata agora? Tá me seguindo?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Entramos no quarto naquela bate boca besta de sempre. O homem não estava lá, mas ouvimos sua voz.

-- Carolzinha?

-- Arrancando dinheiro de homem casado? Você não mudou mesmo!

-- E você garota? Quem é você para falar de mim, aposto que dava para professor pra ter boa noite!

-- Não me confunda com você, ow paquita erótica!

-- Encalhada!

Sei lá quanto tempo ficamos brigando, o velho não saia do banheiro. Ouvimos um barulho de tosse, Júlia
correu para ver o que acontecia. Quando voltou parecia espantada.

-- Que foi?

-- Ele estava pelado?

Júlia se sentou na cama ainda bestificada e por fim revelou.

-- O velho...

-- O que aconteceu?

-- Ele esta morto!

-- QUE?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Não faltava mais nada. Como eu ia explicar para o restante do mundo o que eu estava fazendo com mais duas
mulheres e um velho morto dentro de uma suíte de motel?

End Notes:

Cenas do próximo capítulo:

-- Tem certeza que não é o outro velório? - Gabriel questionou enquanto eu


entrava com Heleninha no meu colo acompanhada de Júlia. - Não é por nada
não, mas no velório do lado esta mais animado... Esta certo que o contador de
piadas é um chato que conto só piadas que eu já sei, mas tem cafézinho...

-- Isso aqui tá meio vázio, não esta não, não?

Vázio era apelido, na verdade só tinha a filha do cara sentada em um canto


chorando timidamente ao lado de duas mulheres mais velhas.

-- Que horror... - Comentei. - Ai, se meu velório for essa pobreza vocês
mandam lacrar o caixão e acaba com tudo. Contrata aquelas bandas de rock
bem pesada e você Júlia, dá um cusparada na cara do Pedro Henrique na hora
que ele chegar perto do meu caixão!

-- Você acha que ele viria no seu velório?

--Aaaah e você acha que a barbie ia perder a oportunidade de vir dançar


Dancing Queen em cima do meu caixão? Fora que ele fica lindo de preto...

-- E vai ficar só a gente aqui?

-- Não. - Júlia garantiu a Gabriel. - Chamei um povo de Silvéster para


curimbar ai o tio...

________________________________________________________________

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Bom, eu disse que ia matar alguém... Ai esta...

Obrigada pelo carinho vocês, beijos e boa semana!

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Capítulo 34 by Tamaracae

Author's Notes:

Oiiiiiiiiiiiiis!

Não sei se vai dar pra postar cap fds, qualquer coisa adiantei esse ai, beijooos!

PS: Que vcs fizeram com esse cap? Na ultima olhada que dei tinha passado os 7000
clicks, sustei kkkkkkkkkkkkkkk Bjooos

Capítulo 34

-- GOSTOSA!

-- OW DELÍCIA!

-- VEM PARA O PAPAI!

O que estavam fazendo comigo era um absurdo. Uma mãe de família, com emprego fixo sem antecedentes
presa em uma delegacia de polícia. O pior não era agüentar só os detentos da cela da frente soltando
gracejos e as presas me olhando, mas ainda por cima ter que dividir cela com a aquela panicat sem fama da
Carol.

-- Eu não acredito que estou passando por isso. – Pensei em voz alta. – Não acredito.

-- Não se preocupada, benzinho. – Carol irônica me respondeu. – É tudo para mim.

-- Estou morta de inveja, querida!


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Era um absurdo o que estavam fazendo com a gente. Depois que a policia chegou ao motel junto da equipe
de resgate para tirar o velho morto, um inspetor policial chegou para fazer perguntas para Júlia.

-- A senhora encontrou a vítima como?

-- É o vê... O Doutor Figueiredo esta assim na ba-banheira.

-- E como a vítima estava?

-- O vê... A vitima estava assim pe- pelada... Nu. – Eu fiquei até com dó da Júlia. Acho que ela nunca pensou
que teria que fazer isso na vida. Ser testemunha de um cara que morreu naquelas circunstâncias. Ela parecia
uma menininha de tão assustada. Eu atrás do guarda, de frente a ela, eu tentava prender o riso. Olhei para o
lado, Carol estava na mesma situação que eu, se controlando para não rir. – A-acho que ele tinha acabado de
entrar no banho... Eu disse que precisava falar um assunto urgente e contei que minha amiga teve a ideia de
entrar no motel. Ele começou a rir... Disse que eu era muito engraçada, eu também ri e ele ficou parado assim
e morreu.

Só de imaginar a cena já veio aquele comichão no céu da boca. Disfarcei com uma tosse.

-- A vítima apresentava alguma anormalidade?

-- Ele estava...

-- Estava?

-- É animado...

-- Como?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Estava com o... Estava excitado, seu guarda!

Ah vá, não agüentamos. Minha barriga doía de tanto que eu ri com a cara de constrangida da Júlia. Carol me
acompanhou. Quando dei por mim estávamos sendo presas por desacato a autoridade. Era incontrolável, tipo
aquele riso de nervoso. Eles podiam dar desconto. Depois de colherem sangue de nós duas para fazer teste
anti drogas, fomos levadas pra celas a espera de alguém para nos tirar dali.

-- Isso é uma arbitrariedade, isso é descaso com quem paga os impostos... Isso é... – Eu tentava chamar
atenção do carcereiro. Droga, meu salto ainda achou de quebrar no meio da cela para alegria da cela da
frente. – U-UUUUUUUI, onde eu pisei? – Meu pé sentiu algo gosmento. – Pra que querer saber, Alice?!

-- Ow, faz silêncio aí! – O brutamontes que tomava conta das celas ordenou. – Só sabem gritar?

-- Sabem vírgula que essa ai esta gritando sozinha. – Carol respondeu. – Dessa vez eu sou inocente!

-- Essa ai não que eu tenho nome, querida! E vocês ouviram, né? Dessa vez!

Essa palhaçada de motel prisão levou o restante da minha parte e o comecinho da minha noite. Às sete e meia
da noite veio finalmente uma boa notícia.

-- Ow, peruas, vocês estão liberadas!

_____________________________________________________________________

Enquanto eu era liberada da delegacia, em Silvéster o Lesbworld continuava se comunicando. Silvinha


terminava de rever uns contratos de fornecedores do Scarpan quando seu celular tocou. Atendeu sem nem
olhar no visor.

-- Alô? ... Oi, você?... O que você quer? – Silvinha deu uma risada. – Olha se for trote eu... – A pessoa do
outro lado da linha a interrompeu. – Mas... – Outra interrupção. – Tá bom, ta bom... Tá... Que horas? ... Ok!
O que? Já disse que vou...
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Isa tinha acabado de chegar do hospital. Enquanto se ajeitava dentro do jaleco, falava com alguém no celular.

-- Mas eu?... Por que?... – Temerosa. – Não sei... Você o que?... Sério?... – Confusa.- Tá, pode ser... Mas
não fala para ninguém... Que horas?

João chegava da escola, entrou em casa de uniforme e flagrou Nat no telefone com alguém.

-- Amanhã então? Ok, Beijo! – Desligou o celular. Abriu os braços para João. – Não vai vir dar um beijo na
titia, lindão?

Cíntia chegava do mercado com compras de supermercado nas mãos. Na portaria cruzou com Rebeca. As
duas com o celular na mão.

-- Droga, caiu por causa do elevador! – Cintia resmungou mais para si mesma do que para minha amiga.

-- Que?

-- Nada de importante. Estava em uma ligação e cortou. Por causa do elevador...

Rebeca fez um gesto afirmativo concordando.

-- Acontece isso com o meu sempre. Também estava ligando agora entrou no elevador... Caiu!

Despediram-se. Rebeca saiu do prédio e cruzou com outra conhecida.

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-- Silvinha, você não ia ficar no Scarpan hoje?

-- Compromisso de ultima hora! – Comentou ainda ressabiada. – Não posso me atrasar.

Voltando a São Paulo, quando cheguei na porta da delegacia, encontrei Júlia, Gabriel e Heleninha a minha
espera. Como era bom pegar minha filhinha de novo no colo. Dei um beijo rápido em Júlia. Ela estava
mexendo no celular um tanto confusa.

-- Que foi?

-- A ligação caiu. Nada importante. – Júlia me explicou meio estranha. Deu um meio sorriso. – Falei que
aquele seu atestado de insanidade mental que a gente fez em Silvéster ainda servia para alguma coisa? O
delegado acreditou na hora...

-- Não sei como!

-- Digamos que o fato de você ser algemada e entrar no camburão gargalhando ajudou na nossa farsa... –
Gabriel fez questão de me explicar. – Fora os gritos na cela.

-- Eu não estava rindo!

-- Vocês fizeram o camburão parar em um bar para fazer xixi...

-- Eu não estava rindo!

-- Acharam que vocês estavam drogadas...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Ai, ai, mais uma pérola para guardar na minha vidinha de azarada. Depois de rirmos mais um pouco da
história, outro assunto me importunava.

-- Ju, agora você perdeu a testemunha... O que vai contar para o João?

-- Não sei. Acho que ele criou tanta expectativa com isso...

-- Calma, ainda temos alguma esperança! – Gabriel interferiu. – Estamos esquecendo de alguém importante.
O segundo residente que estava com ele.

-- O cara que ninguém tem pista nenhuma.

-- Eu vou encontrar alguma coisa. – Gabriel garantiu. – Ninguém desaparece, é questão de tempo e encontro.
Bom... Daqui me separo de vocês. Marquei uma bebida com a sua amiga na casa dela...

Nos despedimos dele e entramos no carro. Júlia deu partida em direção ao Morumbi. Ela ia me deixar no
apartamento dos meus pais.

-- Você dorme hoje em casa? – Perguntei manhosa torcendo para que ela dissesse sim. – Meus pais vão para
um jantar na casa de uns amigos, voltam tarde... Eu peço uma coisinha gostosa para gente comer...

Júlia aproveitou o sinal vermelho para me dar um beijo carinhoso e brincar comigo.

-- Eu sei de uma coisinha bem gostosinha que tem para comer lá na sua casa... – Ela disse em um tom
malicioso. – Uma delícia...

-- Boba!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Linda!

Para disfarçar minha vergonha, dei outro beijo em Júlia. Os carros começaram a buzinar reclamando de nossa
demora em partir. Júlia colocou o veículo em movimento. Enquanto dirigia explicava a recusa para o meu
convite.

-- Não posso. Amanhã tenho que levantar cedo. Mas se você quiser pegar a Heleninha e a gente ir para o
flat...

-- Levantar cedo?

Júlia fez um gesto afirmativo.

-- Alice, eu volto para Silvéster. Sabia que o velório e o enterro do velho vão ser lá? Vou ver se encontro
algum conhecido dele, tentar alguma pista...

Ok, eu sabia que ela não ia morar em São Paulo para sempre, mas agora que estávamos curtindo ela ia
embora? Só fazia uma semana que ela tinha chegado, mas tudo acabou sendo tão rápido e tão intenso.
Aquele clima de “estamos saindo” estava tão bom. Por outro lado, seria covardia minha cobrar alguma coisa.
Júlia nunca tinha me prometido nada e nem tinha feito menção de que queria algo mais do que “sair junto”. O
que eu queria? O filho e a família toda dela estavam lá. Só isso quebrava qualquer argumento meu. Na
verdade quem falou que ia voltar para Silvéster depois do resguardo e agora pensava romper a corda era eu.

-- Que foi? – Júlia me perguntou. – Vocês vão comigo, né? A vovó esta morrendo de saudade de você e...

-- Júlia, eu não sei se quero voltar para Silvéster. – Outro sinal vermelho. Júlia me encarou. - Antes de você
chegar eu recebi uma proposta de trabalho de um colega do meu pai. – Confidenciei. – Estou pensando em
ficar por aqui.

Ela não falou nada, mas vi por sua expressão que estava surpresa. Mais buzinas. O sinal tinha ficado aberto.
Júlia voltou a colocar o carro para locomover. No banco de trás Heleninha estava alheia aos nossos
problemas. A cada nova passagem ela abria os olhos de um jeito que eles pareciam duas bolas de gude
azuladas de tão grande. Ela amava andar de carro. Meio sentadinha no bebê conforto ela tinha acabado de
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

descobrir seus dedinhos e ficava de olho neles. Nós duas ficamos caladas como se tivéssemos feito um
acordo. Talvez ela estivesse pensando as mesmas coisas que eu. Oras, Alice, não seja tola! Você esta saindo
com a senhorita “gosto de você e gosto de outras pessoas” , não se engane. Acabou-se o que era doce.

-- Chegamos!

Se ela não tivesse me falado, acho que eu ficaria horas e mais horas “morgando” ali, olhando para o nada.

-- É chegamos... Tem certeza que não quer subir?

Júlia fez um gesto positivo.

-- Tenho. Amanhã acordo cedo.

Fiz um gesto afirmativo. Então aquela era nossa hora?

-- Tudo bem. Eu vou subir.

Júlia fez um gesto afirmativo. Após me ajudar a colocar Heleninha no carrinho de neném e entregar minhas
coisas, tinha chegado a hora de dar adeus até sei lá quando. Ela veio em cima da minha boca. Nosso beijo se
desenhou no ar, mas não tive coragem de concluí-lo. No ultimo instante fugi e beijei seu rosto.

-- Até qualquer hora.

-- Até qualquer hora Júlia!

Sorri e dei mais um beijo em seu rosto. Ainda sorrindo virei as costas e comecei a empurrar o carrinho de
Heleninha, ela também sorria. Só quando estava totalmente virada e sabia que ela não podia mais ver meu
rosto, deixe duas lágrimas silenciosas escorrerem pelo meu rosto. Duas lágrimas já anunciando minha
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

saudade. Pela porta espelhada do prédio vi que ela ainda estava lá. Assim como eu, esperou que eu virasse as
costas para deixar duas lágrimas caírem. Através dos reflexos da porta e sorrimos uma para outra. Entrei no
prédio e ela ainda estava lá.

Quando cheguei ao apartamento dos meus pais, já estava em prantos e quase caindo pelos cantos de tão
derrotada que eu me sentia. Sorte que Heleninha estava no carrinho. Talvez se estivesse no meu colo teria ido
ao chão. Meus pais já tinham saído para o tão jantar e eu podia curtir minha fossa sozinha. Liguei o rádio e a
luz da sala. Deixei Heleninha brincando dentro do carrinho e fiquei ali do lado por sei lá quanto tempo. Só
despertei quando Helena começou a chorar.

-- Que foi amorzinho? – Perguntei. Mesmo tristonha eu gostava de falar com ela estimulava bastante. – O
neném sujou a fralda? Deixa a mamãe ver a fralda...

Pelo cheirinho nem precisava ser a super mãe para saber o que tinha acontecido. Depois de tirar aquela
bomba atômica do corpo da Lelê, resolvi dar um banho nela. Enquanto eu limpava o bumbum dela, Heleninha
abria aquele berreiro de desconforto.

-- Não Heleninha... Não chora... Eu também acabei de fazer uma merda agora e já parei de chorar! – Lógico
que estava falando sobre a minha vida amorosa. – Não chora senão mamãe chora junto!

Depois de banho tomado, fraldas e roupas limpas, Heleninha era uma nova mulher. Assistimos a novela das
nove juntas. Eu sentada e ela no meu colo. Depois da mamada a sentei no carrinho e fui jantar. Me servi
apenas de um prato pequeno e suco. Na hora do suco aconteceu algo que me pegou de surpresa. Fui adoçar
com açúcar e Heleninha estendeu a mão querendo pegar a colher. Lembrei que naqueles cinco dias de
convivência com minha filha, Júlia tinha inventado uma brincadeira nova para Helena. Mexer suco com a
colherzinha. No colo de Júlia, ela entregou a colher a Heleninha e com sua ajuda mexeu no copo de suco.
Para nossa surpresa, ao ver o movimento do líquido se movendo com a locomoção da colher, Helena soltou a
gargalhada mais gostosa do mundo.

É lógico que Júlia começou a fazer isso com ela todos os dias e agora eu percebia que a espertinha queria
brincar de novo. A ajeite sentadinha no meu colo e entreguei a colher na sua mão. Lá estava ela toda bobona
rindo e balbuciando. Olhava para eu ver se eu ria, mexia no suco e ria mais outra vez. Eu toda coruja acabei
deixando minha janta de lado para ficar brincando com ela. Quase onze horas da noite, dei mais um
pouquinho do peito e Helena adormeceu como se eu soltasse Rivotril em líquido pelas tetas.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Com Heleninha dormindo e sem nada para fazer e nem ocupar minha cabeça, pensar em Júlia foi inevitável.
Sentada na sala da minha casa, eu revivia cada momento que passamos juntas. Nossas brincadeiras,
conversas, discussões bestas, discussões não tão bestas. Ela fazendo meu parto. Júlia comigo em São Paulo e
por fim a noite anterior. Júlia resolveu dar uma espécie de “reunião” no flat com os meus amigos. Marquinhos,
Renata e Lia adoraram a ideia. Acabou que formamos três casais mais Heleninha que foi comigo. Fizemos
sessão cinema, depois jogamos Banco Imobiliário e acabou todo mundo dormindo por lá esparramado cada
um em um canto. A gente não fez nada, mas amei dormir de conchinha com ela em cima daquele tapete
felpudo. Do flat. Já era de madrugada e ainda estávamos conversando.

-- Alice, esta acordada?

-- Não! – Brinquei. – Aqui é só alma dela o corpo já não responde mais! – Dei um beijinho em Júlia. – Sem
sono?

Júlia assentiu com a cabeça.

-- Aqui ainda é mais barulhento que o Centro de Silvéster.

Dei uma risadinha e acabei concordando. Depois de meses morando no interior realmente a barulheira de São
Paulo era difícil de engolir. Para Júlia devia ser pior ainda. Ela estava acostumada com aquela cabana no meio
do nada e com a reserva indígena lá no meio da Floresta Amazônica.

-- Você sente falta de Manaus?

Outro gesto afirmativo.

-- Lá é um dos lugares onde sinto em casa. Parece que ninguém vai me atingir lá... Lembra o dia que o João
voltou para casa depois de ter fugido? Que eu bebi e pedi pra você se afastar de mim?

Fiz um gesto afirmativo.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Apareceu toda machucada. Mulher de quem você olhou aquele dia, hein? – Eu brinquei. - Do Hulk?
Mãozinha pesada do sujeito...

Júlia fez um gesto negativo.

-- Tentei olhar mulher de ninguém não. Aquela noite eu fui falar com o João lá na casa da minha mãe. Além
dela não me deixar entrar, literalmente soltou os cachorros em cima de mim.

-- QUE?

-- SHIIIIU! Quer acordar o povo? Fala baixo...

-- Como literalmente sua mãe soltou os cachorros em cima de você?

-- Mandou a segurança soltar os cães de guarda. Fui fugir, acabei caindo e machucando o rosto. - Finalmente
ela me esclareceu. Que ódio da bruaca daquela mulher. Como ela podia tratar a Júlia feito bandida?
Instintivamente me abracei mais a ela. – Você acha por que o João veio me procurar depois e aceitou
conversar comigo?

-- O João viu isso? – Perguntei ainda surpresa. - Desculpa Ju, sei que é tua mãe, filha da sua avó, mas que
grande vaca! E você não me disse nada?

-- Você nunca me perguntou! - Verdade, nunca perguntei. - Eu fiquei mal aquele dia. Tua prima não queria
mais me dar bebida. Quase bati nela pra me vender uma garrafa de uísque... Acho que se o Gabriel não
tivesse aparecido naquela noite eu teria voltado para Manaus. Na mesma hora. De moto e tudo.

-- Ia embora sem despedir de ninguém? – Perguntei incrédula. – Nem de mim?

-- Você ia ficar com muita raiva? – Ela brincou fazendo carinho nos meus cabelos.
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-- Não. – Aproximei meu rosto do dela para que ela pudesse me olhar nos olhos. – Acho que iria atrás de
você.

Quando eu vi já tinha soltado. Por um instante fiquei insegura, com medo da reação de Júlia, mas logo passou,
pois ela me deu um sorriso e beijou meus lábios com carinho. Fui beijando seu pescoço até deitar a cabeça
sobre seu peito.

--E agora? Você pensa em voltar?

-- Tem João em Manaus? – Nós duas demos um sorriso. – Não tem João em Manaus, eu não tenho o que
fazer lá. Quando eu vi que eu que tinha feito aquele menino. Minha cara todinha. Aquele moleque inteligente,
esperto, saudável, engraçado, bonito... Eu não estava do lado dele quando ele começou a falar as primeiras
palavras. Nunca tirei febre dele, não estava lá no primeiro dia de escola, tirar a culpa da cabeça desse garoto
é o mínimo eu posso fazer...

-- E você esta tentando conviver com ele?

-- Primeiro estou tentando conviver comigo que já não é coisa pequena.

Dei uma risada abafada para não acordar ninguém. Literalmente não era coisa pequena.

-- Você falou que Manaus é dos lugares que te faz se sentir em casa. Quais são os outros?

-- Morei em tanto país com essa de ir trabalhar nos Médicos Sem Fronteira, vi tanto lugar, tanta gente, mas
nada como minha cabana, a casa da minha vó, aqui...

-- Aqui em São Paulo?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Aqui com você. – Sorri desarmada. Júlia ficou analisando meu rosto e por fim falou. – Você devia fazer
mais filhos. Tem muita mulher feia tendo filho por ai... Precisa contrabalancear isso...

Trocamos mais beijos. Nosso momento dispensava palavras. Encerramos nossa conversa quando ouvimos
uns sussurros do outro lado e um edredon se movimentando. Só então reconheci a voz da Lia falando para
Gabriel.

-- Vamos no banheiro, no quarto esta a neném...

-- Banheiro o que menina... – Barulho de beijo, malho sei lá. Júlia fazia sinal para eu ficar calada nos duas
queríamos rir. – Edredon aqui, tá todo mundo dormindo. Nossa, que pé gelado o seu... Deixa eu esquentar...

-- Tira o pé daí agora! – Marquinhos ordenou furioso. Os quatro dormiam lado a lado. – Qual é meu irmão?!

-- Desculpa, me confundi!

Não agüentamos e começamos a rir. Não acredito que aqueles dois estavam dando uma rapidinha com mais
quatro pessoas presentes na sala. Safados!

-- Até que é uma boa ideia...

-- Júlia!

Voltando ao tempo atual... Eu era uma idiota mesmo. Por que eu tinha que ter deixado Júlia ir embora sem
nem pelo menos dar um beijo decente? Falar uma palavra carinho? Eu era uma idiota! Olhei no relógio já
passava das duas da manhã. Helena acordou para a mamada da madrugada. As três ela voltava a dormir.
Quando entrei no quarto senti um friozinho e fui encostar a janela quando vi que estava chovendo e reconheci
aquele carro.

O carro que Júlia tinha alugado. E lá estava ela. Do mesmo jeito que a deixei quando subi. A única diferença e
que estava molhada pela água da chuva. Ela simplesmente tinha ficado lá? Fazendo o que? Não tinha a
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

mínima ideia. E também esqueci de qualquer coisa quando nossos olhares se cruzaram e encontrei aqueles
faróis verdes na minha direção. Minhas pernas tremiam, meu peito batia mais forte, mas nunca me senti tão
decidida na minha vida. Sem balançar por nenhum momento, a passos largos, sai do quarto e caminhei em
direção porta. Quando toquei na maçaneta e abri, um clichê maravilhoso de se presenciar. Júlia estava ali,
parada, pronta para tocar na minha casa.

Sem pensar duas vezes, pulei em seus braços. Enlacei minhas pernas em seu corpo e senti os braços de Júlia
circundando minha cintura me dando mais firmeza e a beijei não deixando nenhum milímetro de distância entre
nós. Com os pés fora do chão e aquele geladinho da corrente de vento eu tinha a sensação de estar voando.
Cravei minhas mãos sobre suas costas. Trocamos um olhar que me aqueceu por inteira. Seu cheiro parecia
mais forte por conta da chuva e deixei meu olfato trabalhar passando o nariz por seu pescoço e meus dedos
puxaram sua nuca intensificando nosso beijo misturando nossos cabelos e corpos.

A língua de Júlia passeava gostosamente pela minha boca, meus lábios, sentia o gosto da minha pele. Júlia só
me soltou quando entramos para meu quarto. Travávamos uma deliciosa guerra, ela via me pegava, puxava,
eu retribuía com mais intensidade. Minha boca procurava por seu corpo. Eu jogava mais e mais beijos pelo
pescoço de Júlia, lambia, chupava pouco me importando se ficaria marca ou não. Meus lábios tocaram a sua
orelha arrepiando cada pedaço de pele. O desejo fazia com que as mãos de Júlia despissem minha camisa e
massageassem o meu colo. Mesmo sendo rápida em me despir, ela conseguia ser gentil. Com as mãos e
depois com a língua ela tocava meus seios e eu já sentia a sensação de orgasmo querendo invadir o meu
corpo. Nem o shortinho de ficar em casa eu me livrei e já queria presenteá-la com meu gozo. Ela era incrível.
Acabei gemendo chamando por seu nome pedindo por mais. Ela estava presa na mesma comoção que eu. Na
mesma urgência. Júlia retirou sua própria camisa e quase rasguei as calça de tanta pressa que tive em retirá-la.
Em resposta, Júlia me encurralou contra a parede. Eu estava de costas para ela. Senti a boca de Júlia
beijando meu cóccix até chegar na nuca passeando com a língua por toda minha coluna vertebral.

-- Aiii Júlia... Eu quero...

Fui calada com um beijo na boca delicioso. Com habilidade, Júlia retirou a própria calcinha ficando nua. Eu
sentia a pulsação de seu sexo sobre meu quadril, os seios dela roçando em minhas costas e a boca revezando
entre minha nuca e minha orelha. Sem me avisar, sua mão apenas afastou minha calcinha de lado e os dedos
invadiram meu sexo. Eu estava molhada, quente, pulsante. Queria por mais, pedia sempre por mais força,
mais rapidez e notei que isso a satisfazia. Minhas mãos começaram a puxar o quadril de Júlia para o encontro
com o meu ajudando naquela dança gostosa. Não demorou muito para que gozasse e perdesse minhas forças
por completo. Acho que só não cai no chão porque o corpo de Júlia me amparava. Olhei para trás e
encontrei satisfação em seus olhos. Ela também havia gozado e estava com aquela carinha deliciosa pós sexo.

Mais uma noite em claro. Trocamos poucas palavras, nada precisava ser falado, tudo estava bem claro. Só
peguei no sono ás seis da manhã. Júlia já dormia enroscada no meu corpo. Não aproveitamos muito. As sete
Heleninha chorava querendo atenção. Júlia ameaçou levantar para pegar ela no meu quarto, mas estava tão
sonolenta que tive dó. Em um ato corajoso levantei e fui ver o que estava acontecendo.

Helena queria mamar. Eu amava amamentar. Ela já estava mais espertinha e já conseguia acompanhar com os
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olhos meus movimentos. Lelê pegava meu peito com aqueles olhos azuizinhos que pareciam pedaços de
ardósia bem abertos. Eu fazia carinho em sua cabeça e como sempre conversando com minha filha.

-- Lelê, você esta crescendo sabia? Essa roupinha já esta apertada. Acho que você vai ser alta... Não puxou
a mamãe. Quem sabe você vira jogadora de vôlei que nem a tia Cíntia, né? A tia Cíntia é bem alta, é do
tamanho da tia Júlia. Se bem que a tia Júlia é alta e não joga vôlei , né?

Ela balbuciava algo tipo:

-- AAAH

-- É as duas são altas. Você lembra da tia Cíntia? Que te deu o peixinho? - Fiz boca de peixinho. é peixinho!

-- AHAH!

-- É foi ela...

E fiquei matraqueando com a Heleninha até ela acabar de mamar e arrotar. Júlia chegou no quarto uma meia
hora depois.

-- Bom dia.

-- Bom dia. – Entrou no quarto me cumprimentou com um selinho e deu um beijo na mão de Heleninha que
estava entretida com o banho de banheira. – Ontem quando você subiu, eu fiquei pensando em nós duas. –
Ela fez uma pausa. – Você não quer ficar... Por que esta fazendo isso?

Porque aqui me sinto protegida. Porque eu fico longe de você e da sua irmã. Porque não sou tão vulnerável.
Porque eu corro menos perigo de me machucar. Porque eu tenho meus pais aqui. O que não me faltava era
motivo, mas não consegui citar um porque ela estava com razão. Eu não queria ficar. Eu adoro São Paulo,
adorei rever meus amigos, estar perto dos meus pais que estavam sendo os melhores do mundo, mas meu
lugar era Silvéster.
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-- Júlia, eu vou voltar para Silvéster com você.

Meus amigos não ficaram tristes com a notícia de que eu voltaria para o interior, mas também não ficaram
muito contentes. Minha briga com Léo acabou separando de vez ele do nosso grupo. Marquinhos e Renatinha
estavam em um louco namoro io io e a coitada da Lia sobrava.

-- Vou sentir falta de vocês... Agora que veio minhas férias, nem tenho com quem sair, quem conversar.

-- Você esta de férias, Lia? Por que não passa as férias comigo lá em Silvéster?

-- Sério?

-- Sério! Vou precisar mesmo de alguém para me levar de carro já que aqueles dois doidos vieram de moto.

-- AIII obrigada amiga! – Ela agradeceu me dando um abraço apertado. – Estava me sentindo aqueles
tomates machucados de fim de feira...

-- Deixa de ser boba, Lia, vamos arrumar suas coisas!

Decisão tomada, agora era arrumar as nossas coisas. Apenas roupas e os utensílios de Helena. Despedir dos
meus pais não foi nada fácil. Até das chatices da minha mãe eu sentiria falta, mas precisava ir. Saímos de casa
onze horas da manhã com Gabriel e Júlia seguindo o carro de Lia. As duas da tarde chegamos na agora minha
cidadezinha. Quase me derreti quando senti o cheirinho de mato.

-- Nossa, tão diferente de Sampa, né? – Lia comentou surpresa enquanto contornávamos a praça principal.
Linda, Allie, linda mesmo!

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O velório do velho estava marcado para ter inicio ás três e meia da tarde. Não deu tempo de ir até dona
Regina deixar minha mudança. Fizemos uma parada na pensão que Gabriel estava morando, tomamos banho
e fomos direto para lá.

-- Tem certeza que não é o outro velório? - Gabriel questionou enquanto eu entrava com Heleninha no meu
colo acompanhada de Júlia. - Não é por nada não, mas no velório do lado esta mais animado... Esta certo
que o contador de piadas é um chato que conto só piadas que eu já sei, mas tem cafézinho...

-- Isso aqui tá meio vázio, não esta não, não?

Vázio era apelido, na verdade só tinha a filha do cara sentada em um canto chorando timidamente ao lado de
duas mulheres mais velhas.

-- Que horror... - Comentei. - Ai, se meu velório for essa pobreza vocês mandam lacrar o caixão e acaba
com tudo. Contrata aquelas bandas de rock bem pesada e você Júlia, dá uma cusparada na cara do Pedro
Henrique na hora que ele chegar perto do meu caixão!

-- Você acha que ele viria no seu velório?

--Aaaah e você acha que a barbie ia perder a oportunidade de vir dançar Dancing Queen em cima do meu
caixão? Fora que ele fica lindo de preto...

-- E vai ficar só a gente aqui?

-- Não. - Júlia garantiu a Gabriel. - Chamei um povo de Silvéster para curimbar ai o tio... Eles já vem...
Vamos ali falar com a viúva?

Concordei e deixei Gabriel e Lia a sós.

-- Meus pêsames senhora...

-- A viúva é ela. – A senhora mais magra disse apontando para uma mais gordinha que usava óculos de fundo
de garrafa e tinha uma cara engraçada, por volta de uns 65 anos.
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-- Meus pêsames. – Júlia comentou. – Eu lamento muito...

-- Eu lamento muito pouco. Era um calhorda, um sem vergonha, me largou com uma mão adiante e outra
atrás!

-- Mamãe!

Outra vez a vontade de rir.

-- AAAAH! Pois é verdade! Vocês eram o que dele? Amigas?

-- Colegas de trabalho. – Júlia mentiu. – Meu nome é Júlia Franco, essa é a doutora Alice.

-- Eufêmia Figueiredo...

-- Então dona Eufêmia...

-- Pode me chamar de Fefê... – Mediu Júlia de cima abaixo umas duas vezes. Parou os olhos em seus olhos
verdes. – Bela...

Não acreditei que a viúva estava flertando com Júlia. Dessa vez não fiquei com ciúme, mas achei divertido.
Larguei as duas conversando, fui beber uma água e comprar uma coisa para comer, estava morta de fome.
Quando voltei lá estava boa parte dos meus conhecidos. Bruno, Rebeca, Isa, Leandro, João, Laísa, tia Guida,
tia Junia. Aiii que saudade de todos eles!

-- ALLIE!

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A Rebeca é a sem noção mais adorável do mundo. E eu também. Nos apertamos e demos um abraço de
reencontro no meio do velório que não tinha muita gente além de nós. Sem querer toquei em uma moça que
estava cabisbaixa, chorando feito uma carpideira e estava aceitando aos pêsames dos desconhecidos.

-- Ai perdão minha querida, meu pêsames...

-- Obrigada.

Só então fixei melhor em seu rosto. Era a maluca da Cíntia!

-- Cíntia? O que você esta fazendo aqui? Era seu conhecido?

-- Não! Vim porque a Júlia me chamou... – Ela comentou ainda chorosa.

Encarei Rebeca a espera de uma resposta.

-- Não conhece a Cíntia, coração de manteiga?

Por dentro eu morria de rir com os desconhecidos dando os pêsames a Cíntia e ela ali junto do caixão
aceitando sem nem conhecer o cara. Era doida mesmo! Só não tão doida quanto Gabriel que tinha arranjado
um terço de não sei de onde e começou a rezar também junto do caixão bem na ponta.

-- Eu não sabia que ele era religioso. – Comentei com Isa enquanto observava Gabriel rezando sério de olhos
fechados. – Você sabia?

-- Mamãe era religiosa. – Ele explicou interrompendo momentaneamente a reza. - Queria ser freira!

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-- Freira?

-- E desistiu quando no convento descobriram que ela estava grávida do Gabriel. – Me virei só para certificar
se era ela. Sim, a própria. Linda em um conjuntinho social preto com risca de giz e por baixo uma blusa de
botão lilás. Nat tirou os óculos escuros. – Como vai, Alice?

End Notes:

-- Conversar disso no meio de um velório?

-- Quando a gente sair daqui, podemos falar então? - Júlia questionou. - Não
quero que a Nat veja alguma coisa ou fique sabendo por terceiros.

-- Claro que não! - Concordei. - Quando ela sair daqui a gente fala...

-- Vai querer marguerita mesmo?

-- Vamos comer pizza assim? Na frente do defunto?

-- Ele é o único que não vai passar vontade, né!

___________________________________________________________________________

O que vai dar do encontro Júlia x Alice x Nat?

Pesquisa de boca de urna, o que vocês acham dos personagens secundários?

Bjos, inté!

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Capítulo 35 by Tamaracae

Author's Notes:

Oiiis, sdd de vcs meninas!!!

Um bjão pra todas e boa leitura!

Algumas pessoas descobrem que cresceram quando dormem no sofá e acordam no dia seguinte no mesmo
sofá, sem papai e mamãe para colocar no conforto da cama. Outros dizem que crescemos quando
descobrimos que nossos heróis não passam de homens normais ridiculamente fantasiados. Eu não sei dizer
quando cresci, mas descobri que não era mais a mesma quando me deparei com Natália dentro daquele
velório.

Na minha primeira chegada a Silvéster eu era apenas uma menina que de verdade nem tinha vivido um amor.
Não conhecia o real gosto de um beijo apaixonado e nem de um desgosto provocado por quem se ama.
Natália me apresentou os dois. Infelizmente ou felizmente nunca conseguiria ser imune a ela. Mas tinha alguma
coisa de diferente em nós. Como diria o poeta “Não pode ver que no meu mundo, um troço qualquer morreu,
um corte lento e profundo, entre você e eu”. Nem toda morte significa fim, mas significa mudança. Eu não tive
vontade de encher a cara da Nat de tapas e tampouco de correr, eu estava mais corajosa. Era evidente que
algo mudou.

-- Bem, Nat. E você? Como esta?A eleição já é semana que vem.

-- Confiante. Tirando o boicote da sua prima, tudo bem comigo. – Eu ri. Quando cheguei em Silvéster já
sabia do boicote. Liguei para casa de Silvinha avisando que voltaria para Silvéster, ela não estava. Isa atendeu
e contou tudo que elas tinham aprontado para cima da coitada da Natália.

-- Alice, não vai me chegar aqui e furar nosso acordo!

Inocente. Nem que eu quisesse. Depois daquela noite com Júlia estava morta de cansaço. E eu não conseguia
parar de pensar em Júlia. Tenho que me conformar que meu coração se localiza junto da vagina e pronto.

-- Esta bem, Isa.

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-- Estou falando sério, Alice. Não nos responsabilizamos pela integridade física de quem quebrar o acordo.
Não esqueça que estamos nessa para limpar sua honra também.

-- Já que vocês querem tanto limpar minha honra por que não infernizam a vida do Pedro Henrique que me
incomoda mais que a Nat?

-- Alice!

-- Eu não vou furar o boicote! Fica tranquila...

Só depois de me fazer jurar que Isa desligou o telefone. No velório eu ainda conversava com Nat. Heleninha,
nos meus braços, olhava de um lado para o outro inquieta. Nat deu um beijinho em sua mão.

– Ela esta linda! Grande...

Dei um meio sorriso.

-- Ela não puxou minha altura. Quer pegar ela um pouquinho?

-- Posso?

Inocentemente passei Heleninha para o colo de Nat. O problema é que não sabia que minha filha era uma
“revolucionariazinha” e também contribuiria com o boicote em cima da Nat. Só foi ir para as mãos da minha
ex namorada que Heleninha soltou uma bela mijada em seu colo. Eu não sabia onde enfiar a cara. Pedi zilhões
de desculpas para Nat que foi pegar uma blusa reserva no carro. Quando entrei no banheiro e encontrei
Silvinha quase morri de felicidade. Eu estava morta de saudade daquela louca.

-- Gente, como essa menina esta grande! Alice, ela tá linda! Sou eu todinha!

Nem um pouco convencida, né?

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-- Acredita que essa destrambelhada acabou de fazer xixi em cima da Nat?

-- Sério? Coisa mais linda da tia Silvinha! – Minha prima brincava com Heleninha fazendo voz de criança
enquanto eu terminava de limpar a menina. – A Heleninha é das minhas! E a dona do mundo?

-- Não fala assim dela...

-- Se acha dona do mundo mesmo...

-- Conversei com ela. Tranquilo.

Silvinha fez um gesto afirmativo. Se sentou na beira da pia e me observava terminando de abotoar as roupas
de Helena que estava sobre o fraldário do banheiro.

-- O que aconteceu Alice?

-- Na-nada.

Silvinha era uma das pessoas que mais conhecia no mundo. Incrível, mesmo quando estávamos distante ela
parecia ler minha mente. Sempre ligada no que acontecia comigo, entrava nos meus pensamentos.

-- O que esta rolando entre você e ela?

-- Eu e quem? – Tentei despistar sem sucesso algum. – A Lia é minha amiga, só rola amizade e aquele urubu
da Carol é só um chiclete que grudou no meu pé, mas já já ela volta para São Paulo. – Sim, aquela infeliz da
Carol teve a cara de pau de ir ao velório do amante e pousar de viúva com a verdadeira mulher do cara
presente. No final das contas o velório tinha duas viúvas. Três se contar com Cíntia que não parava de chorar
e já tinham alguns desconhecidos comentando que era uma segunda amante do velho. – Do que você esta
falando?

-- De quem eu estou falando, você quer dizer, né? – A Silvinha era uma praga quando queria saber de alguma

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fofoca. – Aquela morena de um e oitenta e alguma coisa, versão grande da Carmem de The L Word, de
camisa preta que esta enfeitando o velório e atende pelo nome de Júlia e não tira os olhos de você...

-- Sério? Não reparei... O que tem a Júlia?

-- É o que você vai me contar... – Maliciosa. – O que tem a Júlia?

Adiantava esconder alguma coisa? Dei um sorriso que me entregou completamente. Senti meu rosto se
avermelhar, as mãos suarem, um pouco de tremor nas pernas.

-- Nossa, o corpo falando literalmente... E ai, a propaganda enganosa ou o produto atende todas as
expectativas?

-- Supera...

Silvinha abriu um sorriso safado, tapou os ouvidos de Heleninha.

-- Todos os detalhes. Os mais sórdidos primeiro, lógico!

Chocante. Silvinha parecia que destravava um botãozinho em mim e lá estava eu contando minha aventura de
cinco dias com Júlia em São Paulo. Pedro Henrique, boate, nossas noites de sexo, ela cuidando de Heleninha
comigo, Gabriel, ela com meus amigos. Quando eu pausava, ela só falava.

-- Explica isso melhor...

E eu destrambelhava a falar outra vez. Acho que o lance de ser filha de psicóloga (apesar de não ter exercido
a profissão por conta das crises de machismo do meu tio Afrânio, tia Guida era psicóloga formada) fez
Silvinha se tornar uma boa ouvinte. Enquanto fazíamos nossa sessão divã no banheiro, o velório transcorria do
lado de fora. Tirando a filha do velho e a Cíntia, ninguém estava sofrendo pelo morto. Fefê não tirava os olhos
de Júlia que tentava escapar de n maneiras. As crianças (João, Laísa e Lasanha, filho mais novo de Duarte,
coleguinha de escola de João) estavam brincando de esconde-esconde. Rebeca dormia em uma das cadeiras
de roncar. Carol flertava com Bruno e Leandro que não saiam do velório do lado, mais tarde descobrimos o
interesse dos meninos no outro defunto.
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- O cara era estudante de Direito. DJ da faculdade. Só tem gata. – Leandro sussurrava a Júlia em tom de
confissão. – Me passa uma caneta ai que eu tenho que anotar meu telefone para umas dez...

-- Para que elas vão querer o telefone se já tem o meu? – Bruno rebatia. – Acorda, Leandro!

A discussão dos dois acabou quando Fefê passou entre eles e deu uma secada de deixar nego constrangido.
Falando em Júlia, o reencontro dela com Nat não foi nada tranquilo. As duas se cruzaram quando Nat entrava
no salão onde o caixão do morto encontrava-se exposto. Júlia foi puxada de maneira decidida pelo braço.

-- Que é isso, endoidou?

-- Eu endoidei? – Natália devolveu a pergunta com uma risada sacana. – Eu ou você com a Cíntia que
endoidaram? – Júlia nada respondeu, baixou a cabeça. – Júlia, por que você não falou nada para...

-- Como você descobriu?

-- Não interessa! Por que você esta ajudando ela com essa loucura?

-- Não estou ajudando ninguém. Júlia sussurrou irritada. - É uma escolha dela! Eu posso opinar, posso tentar
persuadir, posso argumentar, mas obrigar não posso! Você mais do que ninguém sabe as regras do jogo! Eu
não posso obrigar a Cíntia a nada!

-- Então a gente vai deixar ela... A Cíntia?

Júlia, sentida, deu os ombros.

-- Não é uma escolha minha nem sua, é dela Natália. Não posso obrigar ninguém a nada.

Quando sai do banheiro acompanhada de Silvinha e Helena, encontrei as duas trocando um abraço. Nat
descansava a cabeça no ombro de Júlia que fazia um carinho nos cabelos de Nat como se a consolasse.
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-- Ih, que aconteceu? – Perguntei muito mais para mim mesmo. Silvinha deu os ombros também dando os
ombros. Me aproximei das duas.

-- Oi Alice.

-- Oi. – Respondi ainda tentando entender aquele gesto de carinho das duas. – Aconteceu alguma coisa?

Natália e Júlia se entreolharam. Júlia que me respondeu de um jeito meio ressabiado.

-- Não! A gente só estava conversando...

-- Conversando? – Perguntei preocupada. A Júlia não seria louca de falar sobre nós para Nat no meio de um
velório. Seria? – Como assim conversando?

-- É sobre um outro assunto... – Júlia entendeu minha dúvida e tratava de esclarecer. – Uma coisa de
trabalho.

Natália que não era boba nem nada logo sacou que tinha alguma coisa cheirando mal naquela conversa minha
com Júlia. Silvinha como adorava ver o circo pegar fogo não arredou o pé dali. Estranho que ela também
parecia apreensiva com a conversa e disfarçava mexendo no celular.

-- Vocês tem outro assunto para falar comigo?

-- É... Que...

-- Depois eu quero conversar com você, Nat. – Tratei de mandar essa antes que Júlia abrisse mais a boca. –
Mas fora daqui, pode ser?

Antes que eu conseguisse obter uma resposta, fomos interrompidas pela campainha de um celular. Era o da
Nat. Mensagem.
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-- É a Duarte, preciso falar com ela. – Disse dando um sorrisinho meio de lado. – Com licença.

Não deu dois segundos que a Nat saiu e a Duarte entrou no salão. Nos cumprimentou de longe e foi falar com
Fefê. Oras, se Natália recebeu uma mensagem da Duarte meu nome não era Alice. Isso significava somente
uma coisa: alguém estava quebrando o boicote. Me virei para Silvinha e pluft, minha prima tinha desaparecido.

-- Que foi?

-- Não Júlia é que... – Eu falando com ela e Júlia fazendo anotações em um papelzinho. Não acredito! – Que
é isso, também está anotando seu telefone para as gatinhas do velório do lado?

-- Não, não é isso. É que... Alice, não sei se você percebeu, mas é que... – Sussurrou em meu ouvido. – Eu
encontrei uma pizzaria aqui do lado...

--Júlia, o que é isso? Estamos em um velório, pelo amor de Deus. Como você pensa em comida? – Fiz uma
pausa e acabei confessando. – Esta bem, eu estou varada de fome!

-- Alice, o povo aqui esta quase roendo o caixão. Conheço essa gente com fome... – Disfarçadamente
apontou para Carol. – Daqui a pouco vão atacar aquela franguinha, ninguém almoçou. Já fiz ai uma pesquisa
sobre o que povo mais ou menos quer... Você vai querer aquela de mussarela, tomate e aqueles matinhos
rasgadinhos que sempre pede?

-- Manjericão... – Corrigi. - Marguerita.

-- Isso, deixa eu falar com a Nat agora e...

Antes que ela pudesse sair a puxei pelo braço.

-- Espera, vamos conversar...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Eu tenho que perguntar para o pessoal ali se vão querer pizza de...

-- Para de pensar em comida por um segundo e me encontra daqui dez minutos lá fora.

Como combinado, dez minutos nos encontramos no jardim externo do velório. Júlia chegava com a tal listinha
na mão. Como não tinha ninguém por perto beijei Júlia. Admito, estávamos pior que fogo e gasolina, qualquer
toquezinho e dava incêndio. Ai, aproveitei mesmo. Parecia que com o passar do tempo nossos carinhos,
toques se aprimoravam. A mão de Júlia desceu por minhas costas e a minha boca provou o gosto de sua pele
quando toquei seu pescoço com os lábios. Um barulho longe de celular nos fez ter um respaldo de realidade.

-- Espera Alice, aqui não... A Nat esta ai... É melhor a gente falar com ela antes.

-- Conversar disso no meio de um velório?

-- Quando a gente sair daqui, podemos falar então? - Júlia questionou. - Não quero que a Nat veja alguma
coisa ou fique sabendo por terceiros.

-- Claro que não! - Concordei. - Quando ela sair daqui a gente fala...

-- Vai querer Marguerita mesmo?

-- Vamos comer pizza assim? Na frente do defunto?

-- Ele é o único que não vai passar vontade, né!

Meninona mesmo! Aquilo era o que mais fascinava na Júlia. Ela era forte, botava medo, pressão e se
desmanchava por conta de um menino de dez anos. Ao mesmo tempo em que ela era tão mulher, tinha algo
de moleca no jeito, nos olhos, no sorriso. Linda! Não resisti e dei mais um beijo em sua boca. Depois que nos
separamos ela sorriu para mim. Fez um carinho no meu rosto com a ponta dos dedos.

-- Eu adoro você... Cada parte de você. – Trocamos mais um beijo rápido. – Vai querer mesmo de

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marguerita?

Como podia ser tão boba? Os bobos sempre fizeram meu tipo. Ficou falando nessas tais pizzas por quase
uma hora. Morro de rir sempre que lembro do Gabriel rezando na ponta do caixão, Júlia chegando
sorrateiramente como não quer nada.

-- Ave Maria cheia de graça, o senhor é convosco, bendita sois vós... Vai querer pizza de que?

E do outro lado o louco do Gabriel de olhos fechados rezando.

-- Quatro queijos... Santa Maria mãe de Deus, rogai por nós...

--Quatro queijos... E você Nat?

-- Tem de Champignon?

Júlia fez um gesto afirmativo, começou a anotar.

-- Cham- pi... Espera, espera Nat, Champignon? Champignon é aquela porcaria que tem gosto de comida de
gato...

-- Fiscal da pizza agora? Eu quero champignon e pronto!

-- Eu vou comprar uma inteira, vai ter que comer essa merda sozinha. – Júlia advertiu. - Depois não vai ficar
enchendo o saco roubando bico da minha pizza!

-- SHIIIIIU! Vocês estão em um velório! – Cíntia repreendeu ainda sofrida pelo morto. – Júlia a minha
calabresa é sem cebola...

-- Sem cebola... – Júlia anotava. – E da dona Eufêmia é com...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Pode me chamar de Fefê, bela! – Aproximou de Júlia. - Com cebola e me carrega na azeitona...

Na hora de recolher o dinheiro para pagar as pizzas, mais confusão por causa da nota de cem que Nat tinha
entregado e Júlia não tinha troco. Mais uma vez se aproximava de Gabriel.

-- Creio em Deus pai todo poderoso, criador do céu e... É Gabriel, não querendo interromper...

-- Então não interrompa, Júlia! Creio em...

-- Você tem duas de cinquenta pra trocar?

Gabriel abriu os olhos interessado.

-- Me passa aqui esse galo...

-- Não senhor, primeiro me dá as duas de cinquenta. – Gabriel fechou a cara. - Você é cheio dessas, te dou
uma de cem e você me devolve tudo errado...

-- Que isso garota? Estou fazendo um favor... Sou um homem cristão!

-- AAAH!

E depois de discutirem Gabriel voltou a rezar enquanto Júlia foi atrás das tais pizzas. Nat aproveitou para se
aproximar enquanto eu conversava com Lia e fazia Heleninha dormir.

-- O Gabriel falou pra eu dormir na pousada com ele. Tem algum problema pra você?

-- Nenhum, Lia. Aproveita mesmo suas férias.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Assim que Lia se afastou Nat veio me perguntar.

-- Quem é essa menina?

-- Uma amiga de São Paulo, a Lia. Já te falei dela...

-- Ela esta saindo com o Gabriel?

Era inédito aquilo para mim. Não tinha só mera curiosidade na pergunta da Nat, mas algo a mais. Ela
acompanhava Lia com os olhos. Nat sempre teve dessas de guardar tudo para si e viver sempre a ponto de
uma explosão.

-- Estão. – Nat apertou mais os olhos. – Ciúme?

-- Não, sua amiga não faz o meu tipo.

-- Mas o Gabriel já fez...

-- Cinco dias com ele em São Paulo e já caiu no charme barato dele?

-- Ah, ele não é uma péssima escolha... Heavy Metal demais para mim, mas recordar é viver.

-- Pode parar com a propaganda eleitoral que esse teu candidato já perdeu há muito tempo. – Nós duas
rimos. – Mas recordar é viver, Alice? – Nat deu um meio sorriso. – Se eu não conhecesse você e não
soubesse que estava lidando com a pessoa mais desligada do mundo juraria que você estaria falando de nós.

Nat tinha razão. Eu era a pessoa mais desligada do mundo. Assim que ela terminou de falar sua observação
me arrependi de ter dito aquilo. E pelo jeito ela me conhecia muito bem porque sacou na hora.

-- Impressão minha ou um raio não cai três vezes em um mesmo lugar?


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Do que você esta falando Nat?

-- Dessa mulher que te fez me olhar com outros olhos... Quem é ela?

Eu não podia mentir. Não queria e nem devia. Mas falar assim, no meio de um velório? Sem nem conversar
com Júlia antes? Para variar Deus resolveu me ajudar um pouco e meu anjo da guarda tocou fazendo o celular
de Natália tocar. Ela deu uma olhada no visor.

-- Eu preciso atender...

Quase soltando um graças a Deus fiz um gesto afirmativo e ela se retirou da sala. Eu precisava de ajuda. Pelo
menos até Júlia voltar da tal pizzaria. Os únicos poderiam me ajudar eram Gabriel, Lia e Silvinha que sabiam
de Júlia e eu. Resolvi apelar para ele.

-- Você quer que eu faça o que?

-- Me ajuda a enrolar a Nat pelo menos até a Júlia chegar.

-- Mas eu faço o que?

-- Sei lá Gabriel, pensa em alguma coisa, rápido...

-- Por que não a tranca no banheiro?

-- Lia!

-- Ué, estou tentando ajudar.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Não, vamos pensar em outra coisa e rápido...

-- Bem rápido porque a bonitona esta vindo ai...

Pronto. Dessa vez eu estava frita.

-- Relaxa, eu tive uma ideia! Acho que vai funcionar...

Nat parou ao meu lado. Quando ela ia abrir a boca foi cortada pela voz de Gabriel que falava em alto e bom
som para todos presentes ouvir.

-- GOSTARIA DE FALAR ALGUMAS PALAVRAS...

Naquela hora quase dei um beijo na boca do Gabriel. Ele era esperto. Inventou aqueles discursos
intermináveis de velório que iriam me fazer ganhar pelo menos uns dez minutos. O único problema do plano
“infalível” do Gabriel é que ele não sabia quase nada do morto.

-- UM PAI DE FAMÍLIA EXEMPLAR! UM MARIDO DEDICADO! – Dedicado ás duas esposas,


inclusive, né Gabriel? – UM HOMEM DE BEM! – Gabriel falava em um tom eloquente desses pastores que
ficam pregando no ouvido das pessoas. Quem via até pensava que ele era amigo intimo do velho. - HOJE
MORTO ESTE IMORTAL JORNALISTA!

-- Licencinha, licencinha... – Pedi a duas desconhecidas que estavam na minha frente. Cheguei a Gabriel e
sussurrei. – Gabriel, o jornalista foi daquele primeiro velório que a gente entrou errado. Esse aqui é um
médico...

-- Médico?! Ah sim... JORNALISTA EU DIGO NO SENTIDO DE JORNADA! E QUE BELA


JORNADA MEUS SENHORES! UM HOMEM QUE PRESENCIOU TANTAS E TANTAS VEZES O
QUE? O QUE? O MILAGRE DA VIDA, O MILAGRE DO NASCIMENTO... O DOUTOR... –
Sussurou em meu ouvido. – Qual o nome do velho?

-- Figueiredo.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Eu sei lá o que deu no Gabriel, mas ele não calava a boca. Uns quinze minutos depois estava todo mundo
bocejando de sono. Só a filha do homem e Cíntia que continuavam sentidas pelo morto. Júlia finalmente
chegava com as malditas das pizzas, metade das pessoas já estava azul de fome e foram atacando as pizzas.

-- Me da um pedacinho só Júlia. Deixa de ser glutona!

-- Nem vem, sai... Sai fora que eu te dou uma raquetada! Falei que essa porcaria tinha gosto de comida de
gato, deixa minha mussarela em paz!

-- Ah você que não soube escolher o champignon! – Júlia fez um gesto negativo. Nat irritada devolveu. –
Isso, se enche ai de pizza, come, engasga daqui a pouco é você estirada ai e o Gabriel discursando...

-- O que isso? Vão ficar rogando praga aqui?– Duarte tentava apaziguar. – E Júlia eu pedi Portuguesa, de
quem é essa Calabresa com cebola?

-- Júlia, você não trouxe Catupalha? - Rebeca questionou do outro lado. - Pedi mais de seis vezes.

-- Quem pediu pizza de Alite?

Enquanto eles discutiam de quem era a pizza de quem, Gabriel terminava seu discurso que era maior que um
dos evangelhos da bíblia.

-- COMO AMIGO ÍNTIMO DESTE EXEMPLO DE HUMANIDADE, DE INTEGRIDADE, DE


CARÁTER, TENHO O DEVER OFERECER MINHAS SINCERAS CONDOLENCIAS A ESTA
AMADA VIUVA! – Deu um beijo na mão de Cíntia. – Meus pêsames!

-- Sai Gabriel, a viúva não sou eu, não... – Apontou para Fefê. – É ela!

-- Não senhora... – Carol resolveu se pronunciar. – A viúva sou eu!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Ficou aquele bate rebate para saber quem era a viúva. Gabriel, confuso, tentava entender.

-- ESPERA, ENTÃO SÃO DUAS VIÚVAS?

-- Pelo jeito... – Fefê confirmou meio a contra gosto.

Reflexivo, Gabriel fez um gesto afirmativo.

-- Então se são duas viúvas... ESTE HOMEM... ESTE HOMEM É UM BILTRE! UM SAFARDANA!
UM PATIFE! UM CALHORDA...

-- GABRIEL!

A filha do homem desandou a chorar ainda mais. Os desconhecidos começaram a discutir com a gente e o
Gabriel não parava de falar mal do morto. Por causa da confusão o pessoal do velório do lado ameaçou a
chamar a polícia sem saber que Gabriel era delegado e no final fomos todos expulsos do cemitério por
arruaça. E ainda metade das pizzas ficaram lá na sala do morto. Só consegui encontrar com Júlia e Nat meia
hora depois.

-- Vem cá, Júlia, você conseguiu pensar em outra coisa que não seja pizza e pegou alguma informação que
preste? – Eu perguntei enquanto ajeitava Heleninha no carro de Lia. - Se o cara deixou anotações em algum
lugar se...

Júlia fez um gesto negativo.

-- Estaca zero. O velho levou tudo que sabia para o caixão.

Foi à vez de Natália fazer um gesto de censura.

-- Ele sabia o que você sabe Júlia, deixa essa história quieta, não serve para nada.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Não posso. Enquanto só mexe comigo tudo bem, dou uma de durona, faço aquela cara do Clint Eastwood
em filme de faroeste, dou umas biritadas e sigo em frente, mas tem o menino. – Fez uma pausa. - Ele não
pode crescer com isso na cabeça... Não é justo para ele. E nem saudável. Não é saudável para ninguém
conviver com culpa...

Cabisbaixa, Natália apenas fez um gesto em concordância.

-- Eu sempre cuidei muito bem do João, Júlia.

Júlia assentiu com a cabeça. Fez um carinho na irmã.

-- Nada o que eu fizer vai ser suficiente para te agradecer. O que você fez por mim não tem preço. Só que
chegou a minha vez de cuidar dele também. – Deu um meio sorriso. – Não canso de conhecer cada detalhe
do João, Nat. Tão parecido comigo... Não sobrevivi duas guerras, queda de helicóptero, fome no Haiti à toa.
Hoje eu tenho certeza que eu tinha que viver para conhecer o João e para cuidar desse menino. Mesmo que
eu me machuque, mesmo que eu me quebre por inteira, eu vou ir nessa história até o fim.

Sempre enxerguei algo estranho na relação das duas em relação ao João. Nunca entendi se Natália se sentia
feliz ou ameaçada pela irmã. João era o menino que tinha três mães. Com a maternidade entendi que mãe não
é a quem gera e nem a que cria, mãe é a que dá amor. Relapsa sim, mas sem dúvida alguma Júlia tinha amor
pelo filho.

-- Só não quero que você se machuque. – Natália disse um tanto atordoada com aquele assunto. – Alice, eu
testou com tempo livre, podemos ter aquela conversa?

Eu sabia que uma hora esse dia ia chegar. Mesmo se não estivesse tendo nada com Júlia, um dia eu teria que
revelar para Natália que a irmã dela era a motoqueira fantasma que me tirou do mundo de Nárnia e abriu as
portas do meu armário. Se dissesse que não estava nervosa e um tanto mexida, seria a maior mentirosa do
mundo.

End Notes:

-- Olha aqui, a partir de agora é a doutora Alice, médica, ok? Promete que não
vai contar a ninguém?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- O que?

Bruno não falou nada. Aproveitou que estávamos sozinhos no meu quarto,
puxou o short e finalmente acabou com todo aquele mistério. Gente tanto
tempo sem ver um... Ô gente exagerada, viu! E depois de encarar aqui a
Rebeca tinha coragem de chamar ele de bebê? Boquiaberta pedi que ele
ajeitasse a bermuda antes que alguém entrasse e entendesse tudo errado.

-- Allie, isso não é...

-- Bruno, quem te passou sífilis?

__________________________________________________________________

Gostaram do capítulo?

Meninas, estou a procura de uma co autora para quem gosta de histórias policias.
Quem estiver interessada favor me mandar e mail: [email protected] ou me dar
um toque pelo twitter!

Bjooo a todas, vou tentar responder todos os comentários!

Inté!!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 36 by Tamaracae

Author's Notes:

Oiiiiiis capítulo de domingo. Durante a semana tem mais!! Um bjo pra todas!

-- Claro, eu estou indo para casa da sua avó agora, se você quiser...

Mais uma vez a tecnologia interferia no meu caminho. O celular de Natália.

--Oi?... Como?... Mas agora? Como foi?...Eu, posso, lógico... Só preciso de algumas horas para deixar meu
sobrinho na minha avó e fazer minhas malas... Ela esta estável? Ok, continua com a medicação, vou pegar o
helicóptero do hospital, em algumas horas estou ai. Tchau!

-- Aconteceu alguma coisa? – Júlia perguntou apreensiva. Ela compartilhava da mesma angústia que eu. –
Que foi, Nat?

Natália parecia muito nervosa, tentava organizar sua cabeça.

-- A Marisa... Minha...

-- O que aconteceu com ela? – Cortei para evitar mais constrangimentos.

-- Ele fez uma viagem para o Rio, tinha me pedido uns dias de folga... Chegando lá sofreu um acidente feio de
trânsito. – Até me senti mal. De tanto que eu praguejei a mulher será que Deus tinha ouvido minhas preces?
Não, sinceramente espero que não. – Ela precisa ser operada as pressas e pediu que eu ficasse com ela, só
que não tem condições de ser transferida. – Fez uma pausa. -Eu vou ter que ir para o Rio. Eu tenho que fazer
minhas malas, levar o João para vovó, tenho que...

-- Calma Nat, calma... A gente vai te ajudar. – Júlia tentava tranqüilizá-la. – Você tem condição de viajar
sozinha?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Não, isso não é problema, eu tenho que fazer minhas malas e...

-- Faz o seguinte, a Alice faz suas malas, eu arrumo as coisas do João, você passa no hospital e repassa as
coisas para a Duarte e o doutor Nelsinho. Acho que já te adianta, né?

Natália fez um gesto afirmativo. Apressamos Lia e João e deixamos Nat no hospital. Júlia, de moto, chegou
rápido na casa de Nat, quando João chegou em casa suas coisas já estavam prontas. Fiz uma mala de trocas
de roupas de uma semana para Nat e em uma hora ela estava saindo de casa para pegar o helicóptero no
hospital. Duarte organizaria as cirurgias do Alonso Franco enquanto Natália estivesse ausente. Doutor
Nelsinho ficaria responsável pela ala neurocirúrgica.

-- Eu vou cuidar dele...

-- Júlia, não força nada com ele. Sabe como ele é teimoso...

-- Então é bem meu filho, teimosa eu também sou. Vamos ver quem é mais cabeça dura. – Deu um abraço na
irmã. – Pode deixar que eu vou cuidar dele...

-- Juízo!

-- Se cuida!

E eu nisso tudo? Minha história parecia se repetir. Outra viagem impedia de ter uma conversa franca com
Natália. Depois de nos despedirmos de Natália chegou à hora de ir para a casa de dona Regina.

-- Quer ir de moto comigo, João? – Júlia perguntou. – Eu vou bem devagar.

-- Que graça tem andar de moto devagar? Assim prefiro minha bicicleta. – Atualizando resultando 1 João 0
Júlia. – Vou de carro mesmo com a Alice.

-- Tá bom, encontro vocês lá...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Você não tem casa, não? Vive enfiada na casa dos outros!

-- É o que da crescer demais... Sou espaçosa que é um horror! – Gol de Júlia, 1x1. – Até mais tarde!

Não precisei explicar para Lia o caminho porque ela seguia a moto de Júlia. João não estava de cara boa,
provavelmente por conta da presença da mãe. Júlia emparelhou a moto e mais uma vez nos ultrapassava na
estrada de terra, fez uma graça mandando um tchauzinho pra gente.

-- Essa doida vai ficar mesmo na cidade?

-- João, já faz seis meses que ela esta aqui. – Fiz uma pausa. - Não ta na hora de você dar uma quebrada
nesse gelo não? Até fim de semana juntos eu sei que você passaram.

-- Passei porque não queria brigar com a tia Nat, mas ela é uma chata! Homem não gosta de mulher grudenta.
Não sei como o tio Gabriel agüenta ela!

Dei uma risada. Ele falava como se Júlia fosse uma de suas namoradinhas de colégio.

-- Desculpa, não sabia que estava falando com um homem feito! Não esta mais aqui quem falou...

Quando chegamos à casa de dona Regina aquela tradional mesa quilométrica nos esperava. Compotas de
doces que pareciam não ter fim, muita comida e muito carinho.

-- Meu Deus, Alice, como minha bisnetinha ta linda! Que bom que você voltou...

-- Aceitei voltar, mas com aquelas condições dona Regina, é só até eu achar uma casinha e vou ajudar nas
despesas.

-- Nem pensar! Alice, você tem que me ajudar a gastar meu dinheiro todo, daqui a pouco meus netos vão
planejar meu assassinato por conta da herança...

-- Imagina vovó, a senhora já passou da idade de morrer. Tem um quarto pra mim ainda nessa casa? Senão
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

já tiro minha roupa e coloco meu biquíni aqui mesmo na sala.

-- Vai pra piscina?

--Com uma lua dessas, vovó, a senhora, acha o que? – Deu uma risada sacana. – Tenho que ficar moreninha
para enlouquecer as enfermeiras daquele Pronto Socorro amanhã. Vou ficar no meu quarto velho. Lia, Alice,
a casa de vocês...

A Júlia era boa de estratégia. Entendi o jogo dela de não voltar para a cabana. Era uma forma de ficar junto
de João. Eu que não ia reclamar. Estava gostando de ver Júlia lutando para ficar próxima do filho. E de
quebra também próxima de mim já que o quarto velho de Júlia era ao lado do meu, antigo quarto de Natália.
Meia hora depois ela saia de seu quarto. Quase morri quando a vi cruzando aquele corredor usando um toper
preto de ginástica e um shortinho da mesma cor que colava em suas coxas. Não aguentei e soltei um “fiu-fiu”
antes ela ir até a sala. De maneira cautelosa Júlia entrou no meu quarto só foi fechar a porta para relaxarmos.
Júlia me jogou contra o guarda roupa e me tascou um beijo de tirar o fôlego. Automaticamente devolvi da
mesma maneira, deixei minha língua tocar em sua boca e participar daquela coreografia perfeita com sua
língua, senti meus lábios mais pressionados.

-- Desculpa meninas, acho que é essa hora que eu levo a Heleninha para dar uma voltinha, né? – Ainda nos
beijando começamos a rir. Não é que esquecemos Lia no banheiro da suíte? – Não precisa para, já estamos
saindo...

Quando ouvimos a porta bater não aguentamos e acabamos rindo da palhaça da Lia. Deitei na cama e puxei
Júlia comigo.

-- Mulher você acha que a vida é só isso? – Ela brincou enquanto eu aproveitava para me aconchegar sobre
ela e beijar seu pescoço, ombros. – Acho que estou envolvida com uma tarada...

-- E isso, é ruim?

-- De maneira nenhuma...

Trocamos um beijo, mas não aprofundamos nosso contato. Fiquei com medo de mais alguém ver a gente ali.

-- Azar esse acidente, hein? Essa eu não esperava...


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Não pode acontecer nada com essa mulher. – E confessei. – Sabe quantas vezes eu pensei em tanta coisa
ruim que podia ter acontecido com essa mulher? Júlia se acontecer...

-- Pensa nessas coisas não. – Me deu um beijo. – Vai dar tudo certo... – Júlia comentou enquanto acariciava
meus cabelos com as mãos. Ela fez uma pausa. – Acho que a gente vai ter que guardar um tempo até ela
voltar, né? Fazer teatrinho que não temos nada.

Dei um sorriso tentando animá-la.

-- Escondidinho da tesão, amor...

Júlia sorriu, me deu um beijo e começou a fazer cócegas na minha barriga.

-- Ai ai ai, cosquinha é covardia... Para!

-- A senhora anda com muito fogo, viu? – Me roubou mais um beijo. – Não andam te satisfazendo, não?

--É mais ou menos... – Brinquei. – Regular...

-- Tá bom... – Irônica. - Devia até pedir carta de recomendação sua de tanto que anda satisfeita. – Entre
beijos ela me propôs um convite. – Vamos para piscina comigo?

-- Um pouquinho cansada da viagem. Depois eu fico um pouquinho lá com vocês...

Júlia me deu um ultimo beijo.

-- Vou esperar!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Com Heleninha tirando a soneca da tarde pude descansar um pouco. Estendi a rede na varanda e fiquei lá, de
bobeira, tomando um pouquinho de sol enquanto observava Júlia, Bruno e Lia na piscina. João estava mais
distante dos três. Quando Júlia não estava de olho, ele não tirava os olhos dela. Pendurado na borda da
piscina, Nat já havia me contado que ele tinha medo de nadar apesar de saber mergulhar bem.

-- João, você quer que eu te leve até o meio da piscina? – Júlia perguntou. – Se você...

-- Não estou pedindo nada... Tá bom aqui!

2x1 para João. Júlia fez um gesto afirmativo. Pegou uma daquelas pranchinhas de iniciantes para natação que
tinham na borda da piscina.

-- O seu tio era muito cabeça dura aprendeu a nadar com uma dessas sem ajuda de ninguém. Colocava uma
mão em cada lado e ia batendo o pé assim. – Júlia atravessou toda a extensão da piscina com a pranchinha,
fez meia volta. - A prancha te ajuda a flutuar. Quer apostar corrida comigo?

-- Você leva a sério e ganha fácil de mim, se deixa ganhar vai ser ridículo, né? Quero não!

-- Tia Júlia, brinca de cavalinho comigo na água? – Laísa pediu já se jogando nos braços de Júlia. – Me
ensina a nadar.

-- Vem brincar de tubarão com a tia.

As duas ficaram quase uma hora na água. Ela levava muito jeito com criança. Bruno e Natália também
levavam, acho que era uma qualidade especial dos Francos. João ás vezes olhava para as duas de um jeito
emburrado. Júlia saiu da água, quando passou por ele o menino virou a cara para o outro lado. Ela entrou na
casa e foi ao meu encontro na varanda.

-- João dava pra jogar de beque. Moleque só vai na minha canela... Posso ficar anos ali naquela piscina, feito
uma Vitória Régia que ele não esta nem ai.

-- Uma etapa de cada vez. Pelo menos ele esta falando com você. Já é alguma coisa...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- É, qual o placar, Júlia 1, João 325? – Júlia fez um gesto negativo. – Eu queria pelo menos o amor de amigo
sabe? Mãe eu sei que joguei tudo no saco... Não sei lidar com rejeição Alice. Dói. – Ela me confessou. -
Seduzir, jogar charme, pra mim sempre foi fácil, mas acho que agora perdi minha mão...

-- Perdeu nada, mulher... – Dei uma piscadinha marota pra ela. - Olha lá...

Não precisava nem de DNA. As atitudes entregavam que João e Júlia só podiam ser mãe e filho. Ele só
esperou Júlia entrar na casa, Bruno, Laísa e Lia se distraírem para pegar a pranchinha e imitar os movimentos
da mãe pela piscina. Teimoso. Obstinado. Praticava achando que ninguém estava vendo. Júlia abriu um
sorriso ao ver aquela cena.

-- É meu filho mesmo! - Júlia murmurou ainda pega de surpresa com aquela cena. - Não quis dar o braço a
torcer, mas me ouviu. Minha arrogância, minha cabeça dura! Aprendendo a nadar que nem eu ensinei... – Dei
um sorriso. Júlia tinha um encanto nos olhos quase infantil. – Primeira coisa que ensinei para o meu filho
depois de todos esses anos. - Sorriu de um jeito lindo, meio acanhado, mordendo os lábios. - Meu Deus!

Acho que se tivesse um terremoto naquela fazenda, Júlia nem perceberia o chão tremer. Tinha olhos apenas
para os movimentos do filho. Venerava seus movimentos na piscina, o esforço que fazia para levar a
pranchinha de uma borda a outra. Para não ser vista, ela se agachou e ficou por ali. Eu até queria ficar mais,
curtindo aquele momento com ela, mas ouvi o chorinho de Heleninha que devia ter acordado da soneca.
Levantei, dei um beijo no rosto de Júlia.

-- Eu já volto, minha linda...

O restante do dia passou de forma preguiçosa. Júlia teve que dar uma saída rápida para ver como estavam ás
coisas na cabana e Gabriel passou em casa para pegar Lia para saírem. Foi bom, pude matar saudade da
minha irmã mais nova. Só que Bruno estava diferente, com um ar meio preocupado. Depois de escapar umas
cem mil vezes ele acabou me confessando.

-- Alice, eu transei com uma mina sem camisinha e aconteceu um bagulho que eu estou meio cabreiro...

-- O que? Uma Laísa segunda temporada?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Não, nem brinca. É outra coisa também séria...

-- São gêmeos?

-- Já falei que não engravidei ninguém.

-- Então é o que?

-- Como eu vou te explicar... É que algumas coisas foram surgindo assim... E... Alice, não é de explicar, é de
ver.

-- Ver o que, criatura?

Bruno respirou fundo.

-- Olha aqui, a partir de agora é a doutora Alice, médica, ok? Promete que não vai contar a ninguém?

-- O que?

Bruno não falou nada. Aproveitou que estávamos sozinhos no meu quarto, puxou o short e finalmente acabou
com todo aquele mistério. Gente tanto tempo sem ver um... Aquele minhocão me assustou! Que gente mais...
Exagerada! E a Rebeca ainda tinha coragem de chamar o Bruno de bebê depois de encarar aquela fratura
exposta toda pela frente. Boquiaberta pedi que ele ajeitasse a bermuda antes que alguém entrasse e
entendesse tudo errado.

-- Allie, isso não é...

-- Cara, quem te passou sífilis?

E mal nós dois sabiamos que o diagnóstico da sífilis do Bruno daria origem ao começo do fim do boicote do
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Lesbworld em cima da Nat. Como isso aconteceu? Tudo por conta da covardia do meu amigo. Assim que
sua suspeita foi confirmada por mim, Bruno correu para o hospital disposto a colher o material genético
necessário para tirar a prova dos nove de vez. Saiu comm o exame pronto horas depois. Sim, ele era o
“premiado”. Atordoado, caminhava pelos corredores do Alonso Franco distraído quando trombou com
alguém e deixou seus papéis caírem. Leandro pegou os exames e viu que se tratava do laboratório
especializado no diagnóstico de DST’s.

-- Bruno?

-- Leandro? – Antes que o amigo pudesse ler seu nome no exame Bruno puxou de sua mão rapidamente. –
Dá isso aqui...

-- Cara, você tá com...

-- Não, não isso é da... Da minha irmã!

-- Da Júlia? Cara, mas a ai vai ser uma pandemia só... Todas essas enfermeiras.

O que Bruno menos queria era que aquela história se alastrasse e considerando o currículo de Júlia com o
hospital, a história se arrastaria. Ele só tinha uma saída.

-- Não conta para ninguém cara... É da Nat. A coitada teve que viajar as pressas e pediu para eu pegar o
resultado. Nem sei como contar para ela.

-- Porra!

-- É velho...Ow, shiiiu. Morreu aqui.

-- Morreu aqui, Brunão, tranquilo.

Cinco minutos depois Leandro ressuscitava a história para uma das mocinhas que tiravam raio x que contou

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

com uma amiga da pediatria que comentou por alto com uma prima enfermeira que sem querer deixou
escapar para Monique e a conversa chegou na Rebeca assim.

-- A Nat pegou sífilis e passou para a coitada da Alice.

-- Para Alice?

-- Com perigo de transmitir para criança. Coitada dessa mulher viu.

-- A Alice tem sífilis?

-- Mas a Nat que passou pra ela. Pegou do ex marido né? Por causa do piercing que ele usava...

-- Piercing, onde?

-- Lá!

-- Lá?

-- Lá!

-- Aiiiiii!

Assim que chegou em casa, Rebeca me ligou preocupadíssima. Eu estava colocando minha aérobica em dia
na esteira elétrica que tinha na academia de Bruno dentro da fazenda.

-- Alice, eu achei que era sua amiga! Por que você não me avisou de vocês duas?

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Porra, a Silvinha também tem uma língua que não cabe dentro da boca. Eu ia contar para a Beca que estava
com a Júlia, só estava esperando ficar a sós com ela.

-- Beca, não fala assim, você é minha amiga... - Ofegante, dei um gole d'água. - Eu ia te avisar sobre a Júlia.

-- Júlia? – Rebeca perguntou confusa. - Eu pensei que era amiga de vocês, ninguém me conta nada. E que
imprudência do seu Gabriel e da dona Nat, hein?!

-- O que tem a Nat?

-- Como o que tem a Nat? Vai me dizer que você não sabia que ela tá com sífilis? E por que ninguém me
falou que o Gabriel tem um piercing pendurado no bilau? - CATAPLOF! - ALICE?

Na moral, eu ia matar quem inventou essa fofoca. Primeiro que colocou meu nome no meio. Segundo porque
me custou três dias de dores lombares, nos gluteos e mancando depois de eu ter literalmente caído de bunda
da esteira de tão pasmada que fiquei com a história do piercing "lá". Fora o tanto que gastei de gelol.

Como tudo sempre pode piorar, Beca não sabia que a casa estava cheia. Silvinha estava em um dos quartos,
Isa no outro e Cíntia no banheiro. Como se fizessem parte de um coral super ensaiado, as três se perguntaram
quase ao mesmo tempo.

-- A Nat esta com sífilis?

Não esperaram nem o fim da minha conversa com Rebeca para cada uma ir atrás de seu celular e deixar um
recado nada educado na caixa postal de Nat.

-- Eu preciso falar com você! – Isa sussurrava já se “auto examinando” no quarto. – Urgente! Sobre aquela
manhã! Sífilis? Atende, Nat! – Desligou. Rediscou o número. – E que diabos leva você a querer trepar com
uma pessoa que tarracha o próprio pinto? TCHAU!

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Enrolada em uma toalha, Cíntia também discava para o número de Nat.

-- Natália, não acredito! Sífilis? Sua irresponsável. Que perigo! Não me procura nunca mais. – Desligou.
Dois segundos depois voltou a discar. – Nat, o que é sífilis? Tchau! – E desligou pela segunda vez. Não
estranhem, a Cíntia é meio... Tola! Só descobriria o motivo de sua falta de perspicácia mais para frente. Não
agüentou e discou pela terceira vez para Natália. - Nat, tipo, quando você e o Gabriel... O piercing não te
machucava? Beijo, tchau! Beijo não porque eu estou puta com você, tchau!

No outro quarto, Silvinha era mais direta.

-- Natália, eu devia te matar. Imagina se você me passou... Que coisa horrível, eu, você, a Alice, o Gabriel e
sei lá mais quem, todo mundo por ai se coçando! Ah liga logo, tchau! – Desligou. Como as outras, minha
prima também religou. – Oi Nat, sou eu Silvinha de novo. Eu queria te fazer uma pergunta. Logicamente que é
em caráter de curiosidade... O piercing é de bolinha ou argola? Tchau. – Desligou. Sozinha , pensava alto. –
Depois da Nat ainda teve aquela vez minha com a Beth, com a Clarinha, com a Ivana que voltou a namorar o
Sávio. A Denise que é amante do Sávio... - Minha prima levou as mãos á cabeça, gesto de quem estava
desesperada. – Como eu vou falar com essa gente agora? Mulher é tudo maluca, vingativa... Vem uma doida
dessas, pega um revolvér e "bum" na minha cara... Estraga até o velório. - Deu um soquinho na parede. - Tô
ferrada! Droga Nat!

Sem nem imaginar a bola de neve que isso estava virando, somente xinguei a Rebeca de todos os nomes por
não me preparar psicológicamente para uma notícias dessas e desmenti a história da sífilis. Lógico que fiz isso
sem entregar o Bruno, mas ia apertá-lo para contar a verdade a Rebeca, até porque minha amiga corria o
risco de ser contagiada já que ela e Bruno não usavam preservativo. Preservativo... Será que o piercing na
hora que o Gabriel colocava o preservativo não rasgava?

-- Tá quieta! – Júlia se sentou ao meu lado na mureta da varanda. Tínhamos acabado de jantar e eu estava lá
fora, curtindo um pouco do ar puro da fazenda. Ouvia os peões lá das casinhas deles tocando viola. –
Distraída...

-- Você acha que um piercing genital dói?

Júlia me encarou um tanto confusa.

-- Vai colocar por quê? Alice, você toda atrapalhada, tromba ai vai acabar se machucando. – . Fez uma
pausa com uma carinha linda de misericórdia. – Ela é tão bonitinha daquele jeitinho...

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Ela falou de um jeito tão engraçado e ao mesmo tempo tão sentido que não contive minha risada. Júlia
procurou meus olhos à espera de uma resposta para aquela conversa tão descabida. Não agüentei, roubei um
beijinho rápido de sua boca e por fim a tranquilizei.

-- Não vou colocar nada... Só estava pensando em uma coisa do... Deixa pra lá. – Encostei minhas costas em
seu peito e deixei meu corpo descansar sobre o dela, minha cabeça pendeu para junto de seu ombro e com a
mão pedi para que ela me abraçasse. Estava escuras, luz da varanda apagada e ninguém lá fora. Não tinha
perigo. Fiz com mão para que ela me abraçasse. – To com frio...

Júlia me deu um beijinho no ombro. Safada. Ela sabia muito bem pegar meu ponto fraco. Não só enlaçou
seus dois braços imobilizando os meus como também passou a subir com a boca para o meu pescoço, nuca...
Me aninhei melhor em seu abraço. Júlia estava olhando para o céu, acho que um pouco pensativa, ficamos
assim quietinha até que quebrei o silêncio com uma curiosidade que guardava há muito tempo.

-- Por que você foi para aquele baile? Tinha marcado com alguém lá?

-- Baile?

-- De carnaval em São Paulo.

Júlia deu uma risadinha.

-- Que foi?

-- Nada, é que engraçado... – Ela começou a explicar. Aqui assim abraçada com você eu tenho uma
sensação que te conheço há tanto tempo... Coisa de anos. E agora você falando desse baile, parece que eu fiz
36 anos outro dia...

-- Era seu aniversário naquele baile, né? – Júlia fez um gesto afirmativo. – Isso que você falou agora é
verdade. O tempo é engraçado. Você fala tanta coisa que fez em dez anos e parece que dos 16 anos meus 26
não aconteceram nada. E nesse ultimo ano agora tudo que ficou acumulado começou a acontecer... –Júlia me
deu um sorriso. – Você tem noção que em menos de um ano virei mãe, lésbica, me envolvi com duas irmãs,
joguei minha residência para o alto...
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-- Se transformou numa caipirinha linda...

-- Hey, não sou caipira!

Júlia deu uma risada. Ia me falar qualquer coisa no ouvido, suas mãos envolveram minha cintura.

-- Aaaaaaaaiiiii!

-- Ainda tá com dor? - Seus dedos pressionaram meu coccix fazendo uma espécie de massagem. O olhar de
Júlia era clínico. - Assim esta doendo ainda?

-- Não assim da vontade de ficar trancada em um quarto com você e sair só semana que vem.

Júlia sorriu. Sua boca voltou a procurar a minha. entre beijos me disse~em um tom brincalhão:

-- Não me dá ideia!

Comecei a rir e ficamos naquelas por mais uns vinte minutos. Depois tivemos que se separar para dormir. Ela
iria trabalhar cedinho e eu também tinha que começar a procurar uma casa em definitivo para mim. Deu um
beijo delicioso em Júlia querendo não me separar dela e fui para meu quarto. Heleninha já dormia, Lia tinha
saído com Gabriel e eu acabei pegando no sono. Senti a cama vazia demais. Júlia era grande, ocupava um
bom pedaço do colchão. Era bom dormir de conchinha com ela, parecia um ursão de pelúcia gostoso de
dormir abraçado. As três da manhã acordei com sede. Depois de tomar muita coragem, levantei e fui até a
cozinha atrás de água. Quando voltei para sala ouviu um barulho estranho, um choro.

-- João?

Ele não me respondeu. Acho que não tinha forças. Ao vê-lo daquele jeito me senti um tanto confusa.
Vermelho, apenas com um short de dormir, muito, muito trêmulo e nervoso. Sentado, abraçado as pernas,
escondendo seu rosto em prantos. Me aproximei do meu amiguinho.

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-- Que foi meu amor? Pesadelo?

João assentiu com a cabeça.

Bruno saiu do quarto atraído pelo barulho. Teve a mesma atitude que a minha.

-- João? - Sentou ao seu lado, passava a mãos em seus cabelos escuros. - O tio tá aqui, qualquer bicho
papão vai ralar peito com tio Brunão aqui... Que foi?

-- Vou pegar uma água...

João fez um gesto negativo.

-- Eu sonhei com a Marcinha. - ele explicava ainda entre soluços. - Eu quero a minha mãe. Chama a minha
mãe. – Nos entreolhamos confusos. João sanou nossas dúvidas com um ultimo pedido. – Eu quero a Júlia!
tio, Bruno, Alice, eu quero a Júlia. Ela foi embora pra cabana?

Bruno fez um gesto negativo. Nos três rapidamente caminhamos para o quarto de Júlia. Bruno deu dois
toques na porta. Em poucos segundos ela atendeu. A cara sonolenta, não entendia direito o que acontecia.

-- João? – Preocupada agachou junto a ele. – Aconteceu alguma coisa, você não esta se sentindo bem?

-- Posso ficar um pouco com você?

End Notes:

Cenas do próx capítulo:

-- Eu toda feliz, toda feliz acreditando que a Nat estava abrindo os olhos.
Andando com nós três! - Cíntia cruzou os braços enfurecida. - Veio me
procurar com aquela conversa de que estava se sentindo sozinha...
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Como você caiu também nessa conversa? - Isa questionou indignada. -


VACA!

-- Como nós caímos nessa conversa, né? - Cíntia corrigiu debochada. - Eu não
fui a única querida...

-- Vocês... - Silvinha garantiu de um jeito nem um pouco convincente.


Conhecia minha prima, ela estava a ponto de esfolar um, mas não admitia ser
passada para trás por outra mulher. - Eu estava só me divertindo...

-- Divertindo, divertindo... - Isa retrucou. - Estava ai toda apaixonada por


ela...

-- Você esta dentro de mim pra saber?- Minha prima devolveu irritada.

-- Não! - Cíntia devolveu. - Mas daqui de fora da para ver muito bem os
decotes que a senhora anda usando!

-- Elas são todas iguais!

_________________________________________________________________

Boa semna pra todas!!! Bjooooos!!!

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Capítulo 37 by Tamaracae

Author's Notes:

Oiiiiis

Capítulo novo, dependendo dos coments tento fazer cap extra!!!

Bjoooo e bom fds a todas

http://www.youtube.com/watch?v=Lw4h-vVkwTk Ex my love

http://www.youtube.com/watch?v=gO1VnxQ_TJw Two and a half men Abertura

http://www.youtube.com/watch?v=-UFEXw-6jCg Chora Me liga

Júlia deu um meio sorriso.

-- É claro que pode. – Abriu passagem para João. – Entra...

Ainda meio assustado João a obedeceu.

-- E-eu não consegui dormir... Quero te fazer uma pergunta.

-- Que pergunta?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

--O médico que morreu... Ele te disse que eu matei a Marcinha, não foi? Porque se eu nasci e ela morreu, ela
morreu por minha causa, não é?

Júlia nos olhou como se pedisse alguma luz. João ainda nervoso, mas não chorando mais se colocou em sua
frente. Decidido. Assim frente a frente ficava mais evidente o parentesco dos dois por meio dos gestos, o
modo como apertavam os olhos de mexer a boca. Júlia demorou ainda alguns segundos para conceber
alguma resposta.

-- Não, claro que não. – Júlia tocou em seus ombros fazendo com que ele se sentasse na cama. – A Tia Nat,
sua vó, ninguém nunca te explicou o que aconteceu?

Explicar já deviam ter explicado, lógico, mas com a convivência aprendi que criança não confia nas palavras.
Não só em palavras. Apesar de ser bem maduro e esperto para sua idade, João era apenas um menino.

-- Explicou,mas é que... A tia Nat fala que esse assunto não é de criança. E a vó Abgail...

-- E a vó Abgail?

-- Ela também não gosta de contar nada. – Fez uma pausa, um tanto constrangido. – Ela diz que você sempre
foi acostumada a correr na estrada por que andava de moto...

Sério, qual era o problema daquela mulher? Falta de amor, de dinheiro, de juventude? Por que em, tudo ela
era contra Júlia? Ela só pode ter adotado uma criança por mero engano porque uma mulher que joga uma
mãe contra um filho do jeito baixo que ela jogava não podia conseguir amar ninguém e muito menos ter um to
de carinho como ela tinha com a Nat. Bruno em silêncio fez um gesto negativo, Júlia esboçou um sorriso
debochado.

-- Eu estava acostumada a correr... Eu não seria a Júlia e minha mãe não seria minha mãe se não jogasse essa
nas minhas costas. – Pensou em voz alta. Respirou fundo tentando manter a calma. – João, a polícia consegui
medir a velocidade do carro, eu estava a 80 por hora em uma estrada, estava dentro do limite. E eu também
fiz exame e teste do bafômetro.

-- Pre ver se tinha álcool ou drogas, né?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Eu não tinha bebido e droga nunca foi minha praia. – Júlia confessou. – Só algumas vezes pegava cigarro,
mas esses de padaria mesmo, hoje nem isso. Eu gosto de cuidar do corpo...

João fez um gesto afirmativo.

-- O tio me explicou. O corpo não é o que importa mais, mas fica mais fácil a gente gostar da gente se tiver
com um corpo que faz a gente feliz. – Júlia sorriu e fez um gesto afirmativo. – E é mais fácil de correr atrás de
quem a gente quer conquistar, né?

-- Isso aí. – Completou. – E quem você conquistar?

-- Hoje ninguém. – Pensativo. – Quer dizer, só a Fernanda Lima e aquela atriz que faz a doutora Maura de
Rizzoli and Isles. – Júlia deu uma risada acompanhada por mim e por Bruno. – Mas aí quando eu tiver idade
pra sair com elas as duas vão estar passadas. – Fez uma pausa. – Vai Júlia, me fala...

-- Você não teve culpa de nada... Nem ninguém. O parto se adiantou e você não estava em posição ainda
que os nenéns ficam para nascer, com a bundinha para cima e a cabeça para baixo... Eu tive que virar você e
o outro neném no braço, mas isso não quer dizer que você tem culpa de alguma coisa...

-- Mas se minha mãe não engravidasse...

-- E deixar de ter a nossa família? – Júlia questionou. – Os meninos que a gente queria tanto? Crescendo
dentro da barriga da Marcinha, mas com o meu charme e a minha covinha no queixo? – João
espontaneamente deu o primeiro sorriso da noite demonstrando bem a tal covinha. Júlia devolveu. – Fora de
cogitação... Ela falava de vocês o tempo inteiro. Posso te mostrar uma coisa?

João fez um gesto afirmativo, Júlia se levantou e pegou em seu antigo armário uns cadernos de desenho que
pareciam estar meio amarelados pelo tempo, entregou a João. Ele começou a folhear.

-- Que são esses meninos?

-- Olhas as datas...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Tudo antes de eu nascer...

Júlia fez um gesto afirmativo.

-- Eu ficava horas desenhando, tentando acertar para saber como ia ser o rosto de vocês... Sua mãe adorava
fazer isso.

João a encarou surpreso, olhou de volta os desenhos.

-- Sério? – Outro gesto afirmativo. João se aproximou dela com o caderno, já acomodado na cama. – Me
conta mais dela!

Fiz um sinal para Bruno e saímos do quarto. Nem preciso comentar que saí de lá com um sorrisão enorme,
contente pelos dois. Bruno me acompanhou. Nos despedimos e fui deitar após pegar Heleninha do berço e
colocá-la para dormir comigo na cama, ela chorava querendo colo. Depois de inventar umas duas histórinhas,
ela dormiu e eu consegui dormir também.

No dia seguinte acordei com meu celular. Uma mensagem de Natália dizendo que voltaria no próximo dia.
Respondi perguntando sobre o estado de saúde de Marisa e voltei a dormir. Ainda estava cedo. Cinco
minutos depois Rebeca, Isa, Silvinha ou Cíntia me ligavam. Como eu sabia que era uma delas? Pelo toque
especial de celular que tinha selecionado para as minhas queridas amigas: uma mistura de cacarejos e com
aquele glu-glu-glu engraçado que as peruas fazem quando chegamos pertos elas, me lembrava das três
mosqueteiras que eram quatro.

-- Alô?

-- Alice, você esta dormindo? – Rebeca me perguntou.

-- Estou! Mais tarde te ligo, beijo, tchau!

Desliguei. Um minuto depois: CÓ-CÓ-CÓ- GLU-GLU-GLU CÓ-CÓ-CÓ GLU-GLU-GLU.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Que é inferno?

-- Alice, acorda, é um assunto importante!

-- Envolve a minha filha, sangue ou dinheiro?

-- Acho que não.

-- Então, não é importante!

-- ALICE CASTRO LEVANTA AGORA!

Tipo, quando me falaram que em fazenda a pessoa se levanta com as galinhas, não imaginava que isso
significava uma galinha ligando no seu celular ás sete da manhã. Sentei na cama.

-- É bom que alguém tenha morrido pra você me acordar a essa hora!

-- Para de falar besteira, tenho um assunto super sério pra falar. – Fez uma pausa. – Alice, ás três tem um
lance?

Que três ela estava falando, Minha Senhora? Huguinho, Zezinho e Luisinho, as três empreguetes da novela,
Rei Arthur, Lancelloti e Guinever, Chaves, Chiquinha e Quico...

-- ALICE! ACORDA! A Silvinha, a Cíntia e a Isa tem um caso?

-- QUE? – A eram dessas três. – Tem?

-- Eu estou te perguntando.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Se você mora com elas não sabe eu que vou saber. – Já que estava acordada resolvi fazer algo de útil, falar
da vida alheia. Levantei. – Mas por que isso agora?

-- Aconteceu um lance muito estranho e a moça lá do laboratório de DST do hospital veio comentar comigo.

-- O que ela falou?

-- A Cíntia, a Silvinha e Isa foram em horários diferentes fazer o exame no laboratório de DST’s.

-- Jura?

-- Juro! E mais, disse que parecia que estavam disfarçadas.

O que tinha acontecido é que meu querido “trio ternura”, querendo tirar a prova dos nove, mas evitando ser
reconhecida acabou chamando mais atenção do que o normal. Pudera, primeiro chegou Cíntia com um
cachecol e um boné para retirar sangue. Detalhe na fantasia ridícula: Para que cachecol se não estava frio? E
boné se não tinha sol? Coletou o material e foi embora parecendo bandido procurado pela policia. Quinze
minutos depois, Isa entrou no hospital com uns óculos escuro do tamanho de uma TV LED de 60 polegadas,
fez o mesmo ritual de Cíntia e foi embora. Mais meia hora e o ultimo lado do meu querido triangulo lésbico-
furão chega para fazer o exame. Silvinha, usando um lenço, se achando a Whitney Houston na ultima cena de
“O Guarda Costas” entra no laboratório, recolheram seu sangue e lá se foi minha prima chamando mais
atenção que um jogador de basquete em uma passeata de anões.

-- Elas estão estranhas.

-- Rebeca, elas são estranhas!

-- Alice, elas estão com cara de louca!

-- Tá Beca, elas são loucas, mas a gente tem que amar elas assim mesmo! Rebeca, amanhã eu posso ter um
filho desequilibrado, você pode ter então nós temos que aceita-las assim mesmo, do jeito que elas são... Que?
- ... -Ir pra ir?- ... -Quando?...- Você ta me tirando, agora? ... – Tá bom, Rebeca, mas você vai ter que ir
comigo ver esse tal apartamento. Beijo. Tchau!
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Abraça que eu ia levantar da minha cama com a gostosa da minha filha dormindo do meu lado para resolver
rolo de Silvinha, Rebeca e companhia ilimitada. Desliguei, me cobri outra vez.

CÓ-CÓ-CÓ- GLU-GLU-GLU CÓ-CÓ-CÓ GLU-GLU-GLU

-- Alo?

-- Alice, se você não levantar agora dessa cama eu viro lésbica e roubo a Júlia e a Natália de você e de
quebra me vingo do Bruno!

A Rebeca era uma vaca! Levantei na hora. Eu que não ia pagar para ver, ela com aquele puta corpão, ia
acabar era levando na cara outra vez. Resmungando finalmente levantei, coloquei Helena no berço e entrei no
banho para me arrumar para sair.

Meia hora depois eu já estava com uma cara mais apresentável. Dei mamadeira para Heleninha, banho,
troquei suas fraldas e finalmente iríamos ganhar a rua. Não sem antes um beijinho de despedida na minha
motoqueira. A porta do quarto dela estava encostada. Lentamente coloquei a cabeça dentro do quarto e sorri
ao ver aquela cena: João dormia gostosamente em sua cama. Tão bonitinho. Barulho de chuveiro ao fundo.
Ela estava no banho. Com cuidado de não acordá-lo atravessei o quarto e cheguei na porta do banheiro.
Mesmo com o chuveiro ligado, deu para escutar um fio de conversa, ela devia estar com alguém no celular.

-- Sei, sei... Mas esta tudo bem?- ... – Hoje? Tudo bem, pode ser de tarde? De manhã eu vou atender fora
do hospital, na Vila Miséria. -... – Sei, sei! Tudo bem, vou ficar te esperando. Até mais tarde. Beijo, se cuida!

Droga! Tudo bem que a gente não tinha nada conversando, mas eu sou ciumenta e pronto.

-- Alice?

-- Queria te dar um oi antes de você sair pra trabalhar. Um bom dia!

Nossa, morguei tanto ali que nem percebi quando ela me notou. Eu estava com raiva, mas não cega. Quando
me deparei com aquele mulherão enrolado em uma toalha recém saída do banho, cabelos molhados, toda
cheirosa, acabei não conseguindo disfarçar meu interesse. Júlia sorriu para mim, com cuidado Júlia trancou a
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porta e me puxou para um beijo com gostinho de menta. Gostoso, refrescante, assim como ela todo
molhadinho. Puxei a nuca de Júlia e com um braço ela acabou me erguendo e me sentando em cima da pia.
Agora estávamos quase da mesma altura. A língua de Júlia docemente descia pelos meus lábios, delícia de
mulher, sabia me tocar de maneira perfeita, mas o meu bom senso prevaleceu.

-- Aii Júlia...

-- Que foi? – Separou de mim, fez aquela carinha de safada que ela era mestre em fazer. – Desculpa, te deixei
molhada?

Ela sempre com uma piadinha cafajeste na ponta da língua. Molhada nos dois sentidos. Primeiro porque ela
tinha acabado de sair do banho, segundo porque se meu corpo ficasse normal depois daquela “raspada” no
banheiro, eu começaria acreditar que era feita de ferro.

-- Engraçadinha! Vou ter que ir na casa da Silvinha, você me dá uma carona? – Júlia fez um gesto afirmativo e
me deu um beijinho rápido. Mesmo sem encostar os lábios dela continuei enlaçando seu corpo. Com minhas
pernas abraçava sua cintura. Olhei meio de lado e encontrei seu celular ali. Lembrei da cena que encontrei
quando cheguei. – Eu vim te dar bom dia, acabei atrapalhando sua ligação, né? Eu já vou...

-- Hey, hey, que foi?

-- Nada. – Olhei outra vez no celular e percebi que ela reparou. – E você, não tem nada para me falar?

-- Tenho. Não consigo descrever como é bom dormir do lado do meu filho... – Deu um sorriso. – Ele é meio
teimoso sim, cabeça dura, mas pela primeira vez sinto que eu estou no caminho certo...

-- Foi bom ele ter vindo te procurar, né?

-- Foi, mas não é bem por isso...

E me contou como convenceu João a dormir com ela no quarto.

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A conversa dos dois já findava, mas Júlia também tinha suas perguntas ao filho.

-- Todo esse tempo você achava mesmo que culpa era sua? Que eu tinha raiva de você?

João demorou alguns segundos para formular uma resposta.

-- Não. Não fui burro esse tempo todo. – Pensativo. – Mas teve algumas horas que eu fui burro sim. – Júlia
deu um sorriso meio triste, tentou fazer um carinho na cabeça do filho. – Essa minha babaquice de agora não
vai mudar nada não. Não quero ser teu amigo. Por mim você podia ir embora. Tchau, to indo dormir. – João
ia abrir a porta do quarto, mas se deteve ao ouvir um uivo do vento. – Droga!

-- Quer dormir comigo?

-- Sou grande para dormir com você.

Júlia deu um meio sorriso.

-- Você tem medo desse barulho de noite. O quarto do seu tio Bruno que você dorme é bem de frente e pega
o vento inteiro, por isso você teve pesadelo. O teu tio vinha direto para o meu quarto por causa disso. – Fez
uma pausa. – Você ficou impressionado! Dorme aqui, a cama é grande, só fechar a janela e o barulho passa.
Engasga, engole essa, mas dorme aqui, lá você vai acordar a noite inteira.

João nada respondeu, de maneira decidida, Júlia se levantou e fechou a janela. Como por milagre o uivo do
vento desapareceu.

-- Caraca! – Disse sorrindo ainda surpreso. – Passou mesmo!

-- Viu cabeça dura! Ás vezes escutar os outros é um bom! – João, sem graça, fez um gesto afirmativo. –
Agora deita que já esta tarde!

Os dois se deitaram. Cada um pegou uma ponta da coberta.

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-- Não consigo dormir cedo de sexta para sábado. – Ele disse.

-- Eu também! – Ela confessou sorridente ao identificar algumas semelhanças suas com João. Também
quando criança custava a pegar no sono.

-- Boa noite!

-- Boa noite!

Entendi o que ela quis explicar. Enquanto ele esperneava, xingava, batia de frente, no fundo alguma coisa
estava mexendo com ele. Pior se fosse indiferente.

O relato da conversa de Júlia com João acabaram fazendo eu esquecer minha desconfiança sobre ela.
Quando vi já estávamos mais uma vez aos beijos no banheiro. Meu celular começou tocar.

CÓ-CÓ-CÓ- GLU-GLU-GLU CÓ-CÓ-CÓ GLU-GLU-GLU

-- Que isso? – Júlia perguntou confusa.

-- Deve ser a Beca, não vou me atender senão ela me mata se souber que ainda não saiu de casa.

CÓ-CÓ-CÓ- GLU-GLU-GLU CÓ-CÓ-CÓ GLU-GLU-GLU

Júlia dessa vez caiu na gargalhada.

-- Peruas e galinhas?

-- Cada contato personalizei com um toque especial que significa o que eu Cho ou o que me lembra a tal
pessoa... O do Gabriel, por exemplo, é a música de abertura de Two and a Half Men.

-- Por que?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Porque ele é praticamente o Charlie Sheen com a difereça que ele é um louco sem drogas ilícitas.

Júlia deu uma gargalhada e por fim concordou comigo.

-- E o meu, qual seria?

-- Aí é surpresa, a graça é você descobrir sozinha...

Júlia fez um gesto afirmativo.

-- Tá. Vou ver de outra pessoa... – Pensativa. - E o da Nat?

Dei um risada e não respondi, apenas acionei o toque. Menos de dois segundos a música ocupava todo o
banheiro fazendo Júlia se matar de rir.

Meu amor era verdadeiro,


O teu era pirata
O meu amor era ouro
E o teu não passava de um pedaço de lata
Meu amor era rio
E o teu não formava uma fina cascata

Depois de escutarmos a música toda, deixe o celular de lado e me abracei a ela.

-- Sou muito boba, né?

Júlia fez um gesto negativo.

-- Não. Você vive falando que se acha muito boba, muito imatura, essas coisas, mas eu adoro o seu lado
bobo. Ele faz você ser quem é... Você é divertida. Dá uma leveza em coisas que não tem natureza leve. – Fez
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um carinho no meu rosto que estava parecendo um tomate de tão vermelho. – É ingênua e inteligente ao
mesmo tempo... Doce... – Mordi os lábios sorrindo cabisbaixa, minhas bochechas deviam estar cor de rosa. –
E quando sorri e faz essas covinhas no rosto e mordi a boquinha desse jeito me deixa com uma vontade...

Nem completou a frase e me roubou um beijo me arrepiando por inteira. Deixava nossos peles e gostos se
misturarem, se tocarem de forma lenta como se concebêssemos aquele ato pela primeira vez. Minhas unhas
cravaram seus ombros querendo trazê-la todinha para mim. Desci com a mão dos ombros para as costas de
Júlia, ela gemeu algo em meu ouvido me deixando em brasa. Estava a ponto de tirar aquela toalha quando
ouvi algum barulho vindo o lado de fora. Provavelmente alguém passando pelo corredor. Foi o que bastou
para uma nova carga de bom senso me tomar.

-- As crianças estão dormindo no quarto, melhor não...

Júlia fez um gesto afirmativo.

-- Melhor mesmo, vai acordar os meninos.

Só então percebemos o teor “familiar” daquela frase. Do jeito que falamos parecia até que éramos casadas e
fazendo parte de uma família só. Ela olhou para minha cara e percebi que uma ideia parecida passou na
cabeça dela e começamos a rir de nossa afinidade. Que coisa mais, louca!

-- Nossa, me senti, sei lá... – Por fim confessei. - Casada agora.

-- E seria...

CÓ-CÓ-CÓ- GLU-GLU-GLU CÓ-CÓ-CÓ GLU-GLU-GLU

-- Oi, Beca?- ... – Puta que me pariu, mas com as três? - ... – Mas e o boicote? - ... – Tá bom, ta bom, já
estou chegando, beijo, tchau! – Desci da pia correndo para trocar de blusa já que a minha Júlia tinha molhado
toda. – Júlia, se troca logo que eu estou com pressa. Emergencia com Silvinha Isa e Cíntia.

-- Aconteceu alguma coisa?

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-- Tua irmã andou comendo todo mundo.

-- QUE?

-- Se troca, Júlia, eu vou te explicando no caminho... Anda!

Em vinte minutos Júlia estava pronta e eu com uma nova blusa. Enquanto fazemos o caminho para o centro da
cidade, vou explicando como as três descobriram a traição uma da outra.

O resultado do exame do meu querido “trio ternura” ficou pronto algumas horas depois da colheita do
material de cada uma. No primeiro horário, cada uma com seu respectivo (e ridículo) disfarce saiu de casa
com cuidado que as outras duas não flagrasse. Ás sete e quinze da manhã Cíntia foi a primeira a chegar no
balcão dos exames, a moça lhe entregou o envelope.

-- Será que a senhora não poderia ler para mim? – Cíntia pediu a mocinha. E mentiu. – É que eu não trouxe
meus óculos...

-- A senhora tem que fazer a consulta de retorno com o médico plantonista na área de ginecologia.

-- E quem é o médico?

-- Doutora Rebeca.

-- QUE?! Ai droga!

Mais meia hora depois entrou Silvinha com seu lenço na cabeça. (E de que diabo de lugar ela tirou esse lenço
horrível?). Recebia a mesma explicação da mocinha.

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-- Se consultar com a doutora Rebeca? –Irônica. – Ótimo!

Quando foi a vez de Isa, a mocinha dos exames teve que ser mais contundente.

-- Eu sou uma médica, não vou me consultar com ninguém!

-- Isa, se você não marcar a consulta não posso te devolver o exame!

-- O que? Quem disse?

-- Normas da diretoria. Quer que eu ligue para lá?

-- Porcaria! Liga para Rebeca e me marca o horário.

Rebeca já estava com a pulga atrás da orelha. Ao ligar para o hospital e saber de suas três pacientes da tarde
chegou à seguinte conclusão: elas têm um caso a três e ninguém me contou nada. Na mesa de café da manhã,
o clima de desconfiança tomou conta. Nenhuma das quatro se falavam, o único som era um sertanejo
universitário vindo da casa do vizinho. Silvinha foi pegar um ultimo pedaço de um bolo de chocolate que
Cíntia havia batido e sua mão encontrou com a de Cíntia.

-- Pode pegar!

-- Não. – Cíntia respondeu. – Todo seu...

-- Vai Cíntia, você quase não anda comendo nada...

-- Estomago sensível... – Cíntia disfarçou com um sorrisinho. – Pode pegar Silvinha...

-- Você vai querer Isadora?

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-- Por que você esta me chamando de Isadora?

-- Por que é seu nome? – Silvinha perguntou um tanto confusa.

-- E o seu nome é Silvia e a gente nunca te chama de Silvia. – Cíntia retrucou. – Você só chama a Isa de
Isadora quando esta nervosa. Por que você esta nervosa?

-- Minha vida se tornou pública agora? – Silvinha respondeu. – Se eu estou nervosa ou não é problema meu.
Você não tem seus segredinhos?Pois eu tenho os meus.

-- Que segredinhos eu tenho? – Cíntia perguntou assustada.

-- O celular que ninguém pode tocar! – Isa colocava mais lenha na fogueira.

Cíntia sorriu.

-- Olha quem fala, se move isso aqui das suas coisas, Isadora, você já fala. O que é meu tem que ser de todo
mundo?

-- E por que você também esta me chamando de Isadora?

-- Porque é seu nome, infeliz!

-- Esta nervosa, Sílvia?

As três começaram um bate boca e só se calaram com a voz de Rebeca dando fim a discussão.

-- CHEGA! – As três olharam para a ruiva assustada. – Vocês não precisam fingir que se odeiam. Eu
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descobri tudo já!

As três se entreolharam sem entender. E por fim Rebeca disse.

-- Eu já sei que vocês estão tendo um lance a três. – Mais troca de olhares entre o trio ternura. – Pra mim
ainda é meio novo... Se eu estiver sobrando, vocês podem falar, eu desço para o fusca e a Cíntia fica com
meu quarto até eu achar alguma coisa para mim e...

Cíntia, Isa e Silvinha não agüentaram e se estouraram em uma gargalhada só. Rebeca só poderia estar
enlouquecendo. Onde já se viu, as três terem um lance? Entre risos minha prima ainda perguntou.

-- Beca, dá onde você tirou essa ideia?

-- Dos exames ué... – As três olharam para Rebeca que tinha tooda atenção agora. Ao fundo, no vizinho
tocava João Bosco e Vinicius “Não era pra você se apaixonar, era só pra gente ficar, eu avisei, meu bem eu
te avisei...” – Vai dizer agora que vocês também não fizeram os exames? Foi ai que eu descobri que se vocês
estavam desconfiadas que tinham a mesma coisa na mesma época era porque só podiam ter ficado juntas.

-- Exames? – Cíntia se perguntou assustada.

-- Cíntia, vai me contar agora que você não tem consulta marcada comigo a tarde? E vocês duas também,
agora eu também estou imaginando coisas. – Rebeca deu um riso. – Estou com a cópia dos resultados aqui,
vocês ainda vão me dizer que não estão juntas e fizeram exames porque estão saindo uma com a outra? – Ou
seria a outra com a uma? – Não é isso?

-- Não... – As três se negaram ao mesmo tempo e completaram. – E fiz o exame quando eu soube que a...

Se entreolharam pasmadas, boquiabertas, simplesmente passadas agora entendendo toda aquela confusão.

Chora, me liga, implora


Meu beijo de novo
Me pede socorro
Quem sabe eu vou te salvar
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- NATÁLIA! – As três berraram em uníssono.

Chora, me liga, implora


Pelo meu amor
Pede por favor
Quem sabe um dia eu volto a te procurar

_________________________________________________________________________________

Enquanto a batata da Natália estava torrando, eu aproveitei para me despedir de Júlia. No carro ela morria de
rir com essa história do boicote e o fim que a Nat arrumou para se safar. No fundo eu também morri de rir.
Não só delas, mas também da Nat e um pouquinho de mim. A diferença da Nat para o Bruno e a Júlia é que
ela era mais discreta, apenas isso.

-- Viu o que eu te disse? – Julia constatou sorrindo. – Você sabe rir das coisas que não são feitas para rir e eu
acho isso uma qualidade tremenda.

Mandei um sorriso para ela, fiz um carinho em seu rosto.

-- Júlia, quando a gente estava no banheiro eu tive a impressão que você ia me falar alguma coisa, mas não
disse o que era por causa do celular que tocou. O que era?

Júlia fez um gesto negativo.

-- Bobagem...

-- Júlia...

-- Não é que...

CÓ-CÓ-CÓ- GLU-GLU-GLU CÓ-CÓ-CÓ GLU-GLU-GLU

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Porcaria!

-- Beca?... Já estou subindo, beijo!

Quando desliguei, Júlia terminava de se despedir de alguém também, pela expressão de seu rosto estava
preocupada.

-- Que foi?

-- Nada, eu tenho que ir agora. – Me deu um beijo na boca. – Dá um beijo nas doidinhas e fala para a Cíntia
se cuidar... – Que? – Para Isa, a Beca e a aquela candidata a marginal da Silvinha também. – Ela sempre se
referia assim a minha prima. Logicamente em tom de brincadeira, tudo por conta de tia Guida, mãe coruja,
quando Silvinha saiu de casa encasquetou na cabeça que minha prima estava mexendo com alguma transação
ilícita. Como Silvinha adora chamar atenção e ver a coitada da mãe em pânico não fez questão de desmentir e
volta e meia minha tia tentava saber o que Silvinha fazia da vida com o temor de confirmar que a filha era
realmente uma criminosa. Trocamos um ultimo beijo. – Tchau!

-- Tchau!

Quando cheguei no apartamento o clima entre elas não era nada bom. E a boquiaberta da vez ainda era
Rebeca que estava boba com o feito da Nat.

-- CACHORRA!

-- CAFAJESTE!

-- Sem vergonha! – Cíntia murmurou triste. - Eu toda feliz, toda feliz acreditando que a Nat estava abrindo os
olhos. Andando com nós três! - Cíntia cruzou os braços enfurecida. - Veio me procurar com aquela conversa
de que estava se sentindo sozinha...

-- Como você caiu também nessa conversa? - Isa questionou indignada. - VACA!

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-- Como nós caímos nessa conversa, né? - Cíntia corrigiu debochada. - Eu não fui a única querida...

-- Vocês... - Silvinha garantiu de um jeito nem um pouco convincente. Conhecia minha prima, ela estava a
ponto de esfolar um, mas não admitia ser passada para trás por outra mulher. - Eu estava só me divertindo...

-- Divertindo, divertindo... - Isa retrucou. - Estava ai toda apaixonada por ela...

-- Você esta dentro de mim pra saber?- Minha prima devolveu irritada.

-- Não! - Cíntia devolveu. - Mas daqui de fora da para ver muito bem os decotes que a senhora anda
usando!

-- Elas são todas iguais! – Isa concluiu. Olhou para Silvinha. – E que grande vergonha, hein, toda poderosa
do Lesbworld?! Faz toda essa propaganda de boicote pra afastar a concorrência?

Silvinha deu uma risada irônica.

-- Olha quem fala! Pelo menos eu não me deitei com ela pensando em cirurgias! – Fez um pausa. –
Aproveitadora!

-- É o meu futuro! E você? Tinha que ficar pagando de toda poderosa? – Isa retrucou. – Olha a chacota que
a gente vai virar por causa disso.

-- Nem fala... A dona do estabelecimento mais colorido da cidade que deita com a lésbica que se afunda no
armário. Quem vai confiar em mim?

Cíntia assustada se perguntou.

-- E se as lésbicas da cidade se revoltarem e fizerem um boicote lésbico contra gente?

-- De tanta besteira que essa menina esta ouvindo ela vai querer voltar para minha barriga. – Brinquei com
elas chegando com Heleninha nos braços. – Alguém me ajuda aqui?
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Não é querendo ser metida não, mas nossa chegada melhorou aquele clima de sair na mão que as três
estavam. Enquanto Isa veio me ajudar com o bebê conforto, Silvinha tratou de pegar Heleninha do meu colo.
Rebeca me cumprimentou rapidinho indo a caminho da cozinha para fazer uma “água com açúcar” para todo
mundo e fiquei livre para cumprimentar Cíntia. Trocamos os típicos beijinhos de comadre.

-- Nossa, como você veio com todas essas coisas?

-- A Júlia me trouxe.

Cíntia que tinha uma expressão leve fechou um pouco o cenho, não irritada, mas parecia um pouco
desconfortável. Será que foi por que eu falei na Júlia? Não, lógico que não! Que loucura a minha...

-- Ela esta bem?

-- Ótima. Te mandou um beijo e... – Cíntia colocou a mão no estômago de um jeito esquisito. – Que foi?

-- Cólica. Deve ser TPM...

-- Trouxe suco de maracujá para todo mundo... – Rebeca entrou com uma bandeja com cinco copos. – Você
não pode Heleninha... E Silvinha, a louça é sua, quero curtir minha afilhada, nada de roubar ela de mim...

-- Cuidado em Rebeca... – Isa alfinetou irônica. – A Silvinha é mestre em roubos.

-- Agora a culpa é toda minha?

Eu entendia muito bem a implicância da Isa com a Silvinha. Paixão encubada. Desde o dia que minha prima
não ligou de volta para ela essa implicância começou a surgir. Somado a raiva que estava com Nat, Isa estava
insuportável.

-- E a culpa é só minha!
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-- A Cíntia também saiu com ela, beleza?

-- Mas eu já estava saindo ela! – Cíntia rebateu irritada. Só então lembrou de minha presença na sala e
colocou a mão na boca auto censurando. – Alice, foi bem depois que vocês...

-- Tranquilo, Cíntia... A gente conversa depois sobre isso. – Olhei para as três. – Que diabos esta
acontecendo. Vocês são amigas, vão deixar se abater assim por conta de uma mulher?

-- Verdade! – Rebeca concordou. – Vocês precisam é se manter unidas! O que a Nat é perto da amizade de
vocês?

-- AH AH AH! – Heleninha também se manifestou agora no colo da madrinha enquanto dava um oi para os
peitos de Rebeca.

-- Viu, até uma criança de meses entendem que a união de vocês é muito mais forte do que a Natália. Por que
vocês não podem entender isso?

-- Culpa daquela sem vergonha da Natália! – Cíntia falou um tanto chateada. – Veio com aquele papinho de
que estava se sentindo muito só... Que não podia contar com ninguém...

-- Que podia me ensinar várias coisas... – Isa confessou. – E aprender outras comigo...

-- Toda fazendo cara de carente, aquele olhinho de cachorro na chuva. Deu uma dó. – Nós quatro encaramos
Silvinha. Era só chegar fazendo olhar de pidão e já foi? – Qual é gente, tenho coração mole mesmo... Copo
d’água e beijo na boca não se deve negar a ninguém...

-- Se eu pudesse me vingar da Natália... Fazer ela se sentir usada do mesmo jeito que eu estou me sentindo...

-- Jogada fora, feito um bagaço de laranja... – Isa concordou. – Egoísta, só pensa nela!

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-- É isso! – Silvinha deu uma risada a lá Nazaré Tedesco. – A bonitona não quer tudo? E se ela tiver que dar
contar das três?

-- Juntas? – Isa se animou. – Uma vingança juntas?

Silvinha fez um gesto afirmativo, já se juntou a Isa e Cíntia.

-- Desmoralização vergonha, sofrimento... A gente só tem que pensar em um bom ponto fraco.

-- A Nat tem asma. – Cíntia recordou. – A gente pode tentar por ácido na bombinha dela!

A Cíntia seria um talento nato dentro da máfia, nem sei porque ela perde tempo aqui no Brasil!

-- Não, ela vai morre, não quero passar minha vida na cadeia! – Silvinha rejeitou. - Ainda mais que as
bonitinhas que nem a gente logo são esfaqueadas.

-- Não seja por isso, porque não esperamos o indulto de Natal dos presos e contratamos uns cinco, seis
monstrões pra dar uma surra nela?

-- Que? Natal? – Silvinha retrucou. – Do jeito que a coisa anda até lá Natália já comeu São Paulo inteira...
Vai estar chegando no Rio de Janeiro .

-- Ah, tem o meu primo Borges...

-- O que tem ele?

-- Esta saindo da cadeia com mais dois caras... Daqui a pouco eles devem voltar pra lá mesmo.

A minha ideia de união, a principio não era bem essa. Quando falei que elas deviam se unir, pensei sei lá, em
se unir pra tomar um sorvete, pra dar uma volta no parque, mas se elas queriam se unir pra dar uma surra em
alguém, que era eu pra impedir, não é mesmo?

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Sai da casa de Silvinha já estava anoitecendo. De tarde aproveitei que Heleninha estava dormindo e deixei-a
com a Cíntia enquanto fui com minha prima ver um apartamento para alugar ali perto. Não gostei, muito
pequeno e tinha apenas um quarto. Júlia passou lá de tarde para tomar café. Como as quatro já sabiam de
nós, não tivemos problemas em ficar namorando um pouco. Meia hora depois ela teve que voltar. Depois de
uns quinze minutos notei que ela tinha esquecido o bipe do hospital em cima do sofá da minha prima.

-- Vocês ficam com a Lê rapidinho? – Cíntia brincava com Heleninha de “achou”. – Eu vou ter que levar isso
pra Júlia...

Silvinha deu uma risada.

-- E de quebra da uns beijinhos naquela morena, né?

-- Chato, né? – Debochei dela. – Já volto!

Quando cheguei no hospital, Leandro me informou que Júlia atendia na Clínica. Eu conhecia a paciente. Era
dona Gertrudes, uma senhoria de uns 70 anos que sempre baixava lá com problemas de pressão alta.

-- Sabe que ele só olha garotinha... Assim da idade de vocês... Mas eu gosto tanto daquele safado!

-- Opa, obrigada pelo garotinha... – Júlia me viu na porta da clínica, fez um gesto para que eu me
aproximasse. Ela adorava a dona Gertrudes que sempre entrava no clima de suas brincadeiras, trazia
presentinhos, tratava todos muito bem. – Dona Gertrudes, queria te apresentar uma amiga minha, cirurgiã,
doutora Alice...

-- Amiga? – Gertrude olhou para Júlia desconfiada. – Você, com essa cara, ia deixar uma belezinha dessas
escapar? Sei...

Nós três rimos, ela bem mais que nós duas

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-- E eu tenho cara de que? – Júlia perguntou curiosa.

-- De bico doce.

-- Mas olha que safada, esta vendo doutora Alice? Já esta me conhecendo...

-- Também, com esse batalhão de enfermeiras repetindo seus principais talentos por ai... – Eu provoquei me
divertindo.

-- Não estou mais com essa bola toda não...

-- Falsa quando diz isso. – Dona Gertrudes brincou. – Quem não te conhece que te compre.

Soava estranho falarmos de nossas intimidades com o paciente presente, mas era uma forma de praticar
medicina. Ela estava com o coração a ponto de explodir, através de brincadeiras, conversa paciência,
logicamente acompanhada pela medicação, ajudava a baixar a pressão da paciente. Ela se acalmava sem
notar. Por incrível que pareça que me ensinou isso foi Duarte, ela tinha uma paciência enorme quando estava
atendendo. Depois de Dona Gertrudes receber alta e atender mais duas crianças, Júlia pode falar comigo.

-- Você esta atendendo criança?

-- Mais dois pediatras foram embora... Já esta um sacrifício achar um pediatra que preste, a direção ainda
acha de cortar verba da UTI pediátrica. Acredita que hoje nesse hospital só tem um cirurgião pediátrico? –
Fez uma pausa. - Se a direção não abrir o olho...

-- Por que você esta chamando a Natália de “a direção”?

Júlia sorriu, deu os ombros.

-- Sei lá... –Júlia me abraçou aproveitando que estávamos sozinhas no quartinho de plantão. – Que foi, não
agüentou de saudade e veio me ver?

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-- Tão convencida... – Dei um beijo em sua boca. Entreguei o bipe a ela. – Esqueceu isso aqui no sofá...

Júlia fez um gesto negativo.

-- A cabeça só vem porque esta grudada no pescoço. Merece um beijinho pela boa ação do dia...

-- Um só?

Júlia aproximou os lábios do meu ouvido.

-- Se quiser dormir comigo na cabana hoje, pode ganhar mais alguma coisinha...

Só de me imginar ficar com ela naquele lugar no meio do nada sem ninguém para perturbar já me enchi de
tesão. Júlia sabia me provocar direitinho.

-- Sério?

-- Se você quiser... A gente pode ficar lá vendo filminho, eu levo alguma coisinha bem gostosa para a gente
comer... Se tiver friozinho que nem ontem até acendo a lareira...

Minha resposta foi para não haver dúvida nenhuma que sim, aceitava. Beijo seus lábios da maneira mais doce
e mais cálida que conseguia fazer. De forma lenta, passeava com a minha língua sobre sua boca, vez o outro
mordendo aqueles lábios grossos, com um gostinho que me deixava totalmente louca por ela.

_______________________________________________________________________

Por ironia do destino, bem em cima de nós um helicóptero pousava sobre a garagem do Alonso Franco. A
chegada de Natália poderia ser comparada a de Miranda Presley na Runway Magazine. Mal desceu e já
atirou casaco para um lado, bolsa para o outro, falava no celular com sei lá quem. Assim que desligou
foi avisada.

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-- Batida de carro com ônibus. Os dois rolaram ribanceira.

-- Ônibus vazio?

-- Cheio!

-- Droga! – Discou para uma de suas empregadas. – Me prepara uma troca de roupa e manda para o
hospital! - ... – Não, ainda não cheguei, me manda para o hospital do
Rio de Janeiro... É claro que é aqui para o Alonso, ow gênio! Tô com pressa!

__________________________________________________________________________

Alheias ao que estava acontecendo do lado de fora do quartinho, continuamos trocando beijos. Só
percebemos a porta se abrir e aquela mulher pasmada na nossa frente quando ouvimos sua voz ressentida.

-- O que significa isso? Júlia, Alice? Você juntas?

End Notes:

-- Então você acha mesmo Nat que pode ser essa pessoa amiga, que me
escuta, eu posso ir pra sua casa e dormir la´sem problema nenhum?

-- Cla- claro que posso, Silvinha. - Natália retrucou um tanto incomodada com
a visão da minah prima só de calcinha e sutiã na sua frente. Virou o rosto.-
Você acha o que? Que eu sou esses molequinhos de quinze anos que se tranca
no banheiro com playboy e... Claro que posso, Silvinha, sou uma mulher
madura!

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Silvinha deu um sorriso.

-- Olha pra mim, Natália. - Silvia desengarranchou a presilha do sutiã. - Posso


mesmo ficar assim na sua casa?

Nat engoliu em seco.

__________________________________________________________________

E aí, gostaram do capítulo? Cade a mulherada comentando? Bjooooooo!!!

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Capítulo 38 by Tamaracae

Author's Notes:

CAPÍTULO RE-POSTADO - FINAL INÉDITO!

(aconteceu uma confusão an hora de postar o capítulo e faltou o final, mas ai esta
reeditado, cena inédita Júlia e Alice)

Oiiis, como prometido, capítulo extra!!! Bjooos, bom começo de semana!!

Música Cruisin http://www.youtube.com/watch?v=U_HaoZ73wWg

Droga! Maldita mania de esquecer da porta! Monique mudou seu semblante da água para o vinho. A doçura
em seus olhos deu lugar a dois fuzis imaginários que nos feriam de diversas maneiras. Eu nunca tinha passado
por uma situação daquelas. Queria me defender, bater em Monique, bater em Júlia, mas meu corpo parecia
não obedecer aos comandos do meu cérebro. Junto de meu coração que parecia que ia sair pela boca, meu
cérebro, ouvidos e os olhos eram as únicas partes da minha anatomia que funcionava. Calada, assistia
Monique tentando avançar para cima de Júlia á tapas.

-- Para Monique! Que é isso? – Monique conseguiu desferir um tabefe em seu rosto causando ainda mais
irritação. – Você esta doida? Enlouqueceu? Para! Me escuta, por favor?

-- Escutar o que? Agora eu não preciso mais que você fale o nome da vagabunda que você pensava quando
estava comigo na cama! – Empurrou Júlia com tudo. Maldita paralisação que me impedia de sair correndo
dali!– Aposto que veio com essa história de terminar o namoro por causa dessa pirralha, não é mesmo?

-- Terminar? Terminar que namoro se a gente nunca começou? E quando eu fui pra São Paulo eu deixei bem
claro que só queria ser sua amiga! – Júlia conseguiu segurar os punhos de Monique. Fez que a outra
encarasse seus olhos. – Eu nunca quis nada sério com você! Eu sempre te disse que não estava procurando
nada sério e...

Monique a empurrou. Júlia era mais forte que ela, mas não quis usar de brutalidade.

-- Tenho certeza que estão juntas desde antes dela ter a neném! – Deu uma risada meio debochada de si
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

mesmo. – O jeito que você falava, a forma que você age quando esta perto dela, brincalhona, doce... – Júlia,
sem graça baixou os olhos, Monique fez um gesto negativo. – Não precisa nem dizer nada... É só notar o jeito
que vocês se olham... – Por automático procurei os olhos de Júlia. Ao vê La daquele jeito, cabisbaixa, sem
defesas, meu coração amoleceu um pouco. Só um pouquinho. Monique empurrou Júlia com mais força. Com
o dedo em riste a ameaçou. – Você e essa pirralha vão me pagar muito caro, Júlia!

E saiu batendo a porta com tudo. Ao ouvir o barulho da porta se batendo, Júlia soltou um suspiro profundo.
Jogou a cabeça para trás e deixou encostar à parede com uma expressão aliviada. Eu ajeitei minha blusa que
estava desabotoada por conta do nosso beijo de antes daquele atropelo todo e minha mão alcançou a
maçaneta para sair dali. Júlia segurou meu braço com firmeza, mas sem me machucar.

-- Espera Alice, eu quero conversar com você...

-- Sua namorada precisa muito mais de conversar com você do que eu...

Júlia deu uma risada.

-- Que foi, eu tenho cara de palhaça?

-- Alice, joguei o tempo inteiro limpo com a Monique. Nunca prometi nada para ela, nunca namorei a
Monique, só foi coisa de momento.

-- Com a Monique e aposto com metade desse andar, né? – Já que ela queria conversar, pelo menos teria
que ouvir. – Júlia, pra você sair com a pessoa, trepar com ela significa o que?

-- Sei lá, que você ainda é atraente para alguém, que não esta afim de ficar sozinho e curtindo um momento...

-- Ou seja, namorar...

-- Claro que não. Namorar é bem mais que isso. É ter prazer de verdade quando esta do lado e não só ficar
por ficar. E se divertir, rir quando esta junto. Compartilhar, dividir, ceder em um lado ou outro. Se entender só
com o olhar. – Júlia me fez sentar na maca que usávamos para tirar cochilo quando tínhamos algum tempo.
Nossos olhares se cruzaram. Sua mão cobriu a minha me deixando encabulada. – Se entender que nem
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agora...

-- Júlia, mas a Monique disse...

-- Você tem papel aí? – Ela me perguntou enquanto retirava uma caneta do jaleco. Eu só tinha um bloquinho
de post it na bolsa. – Passa para cá, isso serve.

-- Júlia as pessoas se envolvem, tem sentimentos. A Monique esta com raiva de você. Como você vai olhar
pra ela agora? Pior, como eu vou olhar pra ela agora? E a Monique não é a primeira. Quantas outras vão
aparecer? Mesmo você jogando limpo, ninguém pode escolher se envolver ou não se envolver... Júlia, você
parece uma festa open ambulante, é divertida, é alegre, incrível, mas não é feita para uma pessoa só. – Eu já
avisei que era péssima em analogias. – E eu...

E destrambelhei a matracar um monte de coisas. Só consegui parar quando Júlia colou duas folhinhas
amarelas do bloquinho de post its no meu braço esquerdo. Olhei para as folhinhas, ela havia desenhado em
cada folha uma bonequinha de palito. Uma era maior que a outra e estava ao lado de algo que identifiquei
como um “esqueleto” de bicicleta. Em volta da bonequinha maior com a bicicleta ao lado uma infinidade de
corações. Parecia desenho de uma criança de 5 anos. Dei um risada.

-- O que é isso?

-- Eu desenho melhor que isso, mas estou meio com pressa porque aconteceu um acidente grave entre um
carro e um ônibus que rolaram ribanceira abaixo e daqui dez minutos vai chegar um monte de gente
machucada pra gente consertar. – Fiz um gesto afirmativo e Júlia prosseguia com sua explicação. – Fiz de um
jeito bem fácil pra você entender. – Apontou para a folha da bonequinha menor. – Esta vendo aquela ali...

-- Estou.

-- Ela é você.

Dei uma risada.

-- Eu?
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-- É, não esta vendo a franjinha igual? E isso aqui na mão dela. – Apontou uma bolinha na mão da boneca. –
Essa é a Heleninha no seu colo.

-- Entendi...

-- Seguindo a explicação. – Apontou para outra boneca, a maior. – Essa outra aqui sou eu...

-- E isso é sua moto.

-- Isso!

Voltei a rir.

-- Interessante!

-- Continuando, aqui estamos nós duas, franjinha, moto, eu e você... Sabe por que eu desenhei um monte de
corações na minha folha? – Displicente fiz um gesto negativo ainda de olho nas folhinhas. – Porque eu estou
apaixonada por você. – Me senti como se tivesse recebido uma descarga elétrica. Toda minha pele se
arrepiou de uma forma que eu nunca tinha sentido. Ergui meus olhos achando que ia encontrar um riso irônico,
debochador, mas ao invés disso cruzei mais uma vez com seus olhos. Aqueles dois mares verdes que ao
mesmo tempo em que eram límpidos traziam uma profundeza que me provocava. Júlia era o tipo de pessoa
que os olhos falavam muito mais que a boca. Eu estava pronta para dar um salto sem redes naquele oceano
revolto. – E é assim que eu me sinto do seu lado, que eu estou me sentindo agora... Com um sorriso bobo,
com um monte de corações em volta, vivendo em um mundo paralelo a esse... Uma imagem que uma criança
é capaz de desenhar... E na minha idade isso só pode ser duas coisas, ou eu estou apaixonada ou estamos
tendo um caso de Alzheimer precoce...

-- Júlia...

-- Eu tive sim sexo com mais da metade desse hospital, com mais da metade de Silvéster, sei lá... Mas querer
ficar junto, querer acordar no dia seguinte e encontrar do meu lado só foi com você. – A minha vontade
naquele momento era pular em seu pescoço e enche-la de beijos, mas estava achando tão bonitinho ela
falando tudo aquilo. – Hoje você é a única convidada da festa open, ela se fechou só pra você. E não tem
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lugar nem pra Monique e nem pra qualquer outra mulher agora porque eu só consigo ver você na minha
frente. – Não conseguir conter um sorriso desarmado, misturado a umas lágrimas fininhas que teimavam em
escorrer pelo eu rosto. -- E como você é meio lentinha para entender que eu só quero você, eu fiz esse
desenho. Você agora vai colar na porta da geladeira, na porta do armário, no espelho do banheiro pra se
lembrar todos os dias que eu sou louca por você, sua boba... E só mais uma coisa.

Envolvendo as duas mãos no meu rosto, Júlia tocou meus lábios da maneira mais doce possível. Com a
pontinha da língua, desenhou o contorno deles como se quisesse grava-los. Minhas mãos se perderam em
seus cabelos e fiz que toda nossa paixão, querer bem explodisse em um beijo de deixar o corpo todo mole.
Senti todos os pelos do meu corpo eriçados com nosso contato, nossas respirações corriam no mesmo ritmo,
não segurei um gemido de prazer quando os lábios de Júlia começaram a procurar por minha pele.

-- Aaaai Ju...

E mais alguém nos interrompia. Dessa vez pela porcaria do bipe do hospital. Na boa, quando vão
constitucionalizar uma lei proibindo pangers e celulares na hora de dar uns beijinhos ou no sexo? Ô gente
inconveniente! Nos separamos com pequenos selinhos. Ela olhou o recado do panger.

-- As ambulâncias estão ai na porta, eu tenho que ir...

Ainda meio confusa fiz um gesto afirmativo.

-- Cla-Claro...

-- Já estava esquecendo do mais importante... – Júlia pegou o papel com o desenho dela na moto, rabiscou
alguma coisa. E colou de volta no meu braço. Deu um selinho de despedida. – Pensa, e a noite, na cabana
você me responde, tchau!

-- Tchau!

Júlia saiu do quartinho de plantão correndo. Pelo jeito a urgência era urgência mesmo. Fui espiar o que ela
havia rabiscado. Não aguentei e mais uma vez sorri. Ela havia esboçado um balãozinho desses de história em
quadrinhos com a seguinte pergunta: “Aceita me namorar? J.”

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Se naturalmente eu já era meio boba, depois daquilo virei um babaca completa. Fiquei sei lá quanto tempo
olhando e olhando aquele pedaço de papel amarelo. Alguém entrou no quartinho, era Duarte.

-- Me biparam no meu dia de folga, é bom que tenha sido algo realmente importante e... Por que você esta
com essa cara?

Dei um beijo estalado no rosto de Duarte quebrando qualquer protocolo e respondi sorridente.

-- Um carro e um ônibus rolaram ribanceira abaixo...

-- QUE?

___________________________________________________________________________

Enquanto eu saia por ai cantando e saltitando mais do que a chapeuzinho vermelho indo para casa da vovó,
meus colegas de trabalho acharam de variar um pouco e pararam de falar da vida dos outros e começaram a
fazer o que realmente importa. Salvar vidas. O tal acidente da ribanceira tinha sido realmente feio. Um ônibus
escolar com mais de trinta crianças e um carro com executivos entraram em colisão e ambos caíram pelo
morro abaixo. Muita gente chegando com feridas feias, mesmo os médicos que estavam de folga foram
convocados.

-- ENFERMEIRA?! – Júlia berrava desesperada. – CADE UMA ENFERMEIRA AQUI DO MEU


LADO?

-- SUA ENFERMEIRA NÃO É UMA IDIOTA. – Kelly, uma das enfermeiras de plantão retrucou. – ESTA
FALTANDO GENTE MESMO!

-- PARADA CARDIACA AQUI! DESFIBRILADOR! – Enquanto Duarte corria feito louca atrás de um
desfibrilador, Rebeca fazia massagem no homem manualmente. – DESFIBRILADOR!

Até a própria Nat que quase nunca ia para o atendimento veio dar uma mão de tão feia que a coisa estava.

-- AI ai ai, vou morrer, vou morrer...

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-- Vai nada... Aqui é tudo médico bom... – Júlia tentava distrair o paciente que estava com a perna quebrada
em dois lugares diferentes. – Aqui é tudo médico que não curte doença, a gente já vai logo tratando. Eu
preciso de faixa!

-- Não tem! – Natália disse enquanto terminava de despachar uma criança que tinha batido a cabeça. –
Preciso de uma tomografia. – disse a enfermeira que levava o menino. – E não tem faixa!

-- Como não tem faixa? O Hospital esta falido? - Júlia olhou em volta. Viu uma prateleira pequena vazia.
Puxou a madeira da prateleira. – Nat, me ajuda aqui, empresta o cinto!

-- Meu cinto?

-- Vai demorar mais se você tirar o sutiã! – Júlia retrucou. Nat a obedeceu. – Distrai ele ai enquanto eu
levanto a perna...

-- O senhor tem filhos? – Nat perguntou ao homem.

-- Te-tenho... AAAAAAAAAAAAAAAAAIII!

-- Calma, já desceu! – Júlia improvisava uma tala com o cinto de Nat e o pedaço de madeira. – Agora tem
história pra contar pra eles.

Quando parei na porta, reconheci Nat de costas ajudando Júlia a atender o sujeito. No meio daquele caos
todo esqueci completamente que era mulher, meu instinto médico falou mais alto e quando vi já estava
atendendo também, limpado o olho de uma menina de sete anos com soro fisiológico. Havia caco de vidros
em seus olhos e ela chorava muito.

-- Eu quero minha mãe...

-- É ruim ficar com dor longe da mãe da gente, né? – Eu tocava seu braço tentando conforta-la. Mas ela
esta ai fora, já já a gente vai ver a mamãe, tá bom?

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Não sabiamos, mas aquele acidente estava sendo transmitido em rede nacional e o Brasil inteiro estava de
olho nos trabalhos dos médicos de Silvéster. Uma desgraceira só, metade das crianças já chegavam sem vida
e a outra metade muito mal. Perdi a contas de quantas vezes ouvi.

-- Hora da morte: 17h e 53 minutos.

-- Hora da morte: 18h15 minutos.

-- Perdemos mais esse! – Júlia disse. – Hora da morte. – 19 horas!

Júlia e Natália viraram duas cirurgias juntas. Só consegui sair de lá oito da noite ainda assim porque Silvinha
me ligou que precisava trabalhar e Heleninha chorava minha falta. Lógico que no meio daquela bagunça toda
não tinha chance de falar com Nat sobre Júlia e eu. Na verdade nós três ficamos pouco mais de dez minutos
sozinhas, era uma troca de cirurgia das duas. Na verdade nem tão sozinhas assim, Gabriel estava conosco.
Um preso havia esfaqueado outro e o esfaqueado estava internado no hospital. A pedido do secretário de
segurança do Estado, ele teria que fazer plantão para que o outro não tentasse fugir. Nat aproveitava para se
interar da fofoca da sífilis.

-- Tudo mentira! Imagina o Gabriel e eu... Sei lá quanto tempo não temos nada...

-- Foi o que eu imaginei... – Júlia comentou enquanto tirava a camisa da cirurgia anterior e substituía por uma
nova. – Muita fofoca, ainda inventaram um história maluca que o Gabriel tinha um piercing genital e...

-- Nem tudo é mentira! – Gabriel tratou de esclarecer.

-- Gabriel, será que da para preservar nossa intimidade?

Ué, pelo que eu saiba a intimidade dela estava bem escancara ultimamente. Cíntia, Isa e Silvinha que o digam.
A do Gabriel então, Silvéster inteira que o diga. – Por favor...

-- Você colocou mesmo um piercing no... – Júlia se cortou ainda pasmada. Olhou para NAt – E como você

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sabe?

-- Fomos casados ué... - Se o piercing era desde o casamento, então a Nat... Como eles faziam. - Ué era
diferentoso...

-- É mais sensivel... - Gabriel garantiu. Abraçou Nat. - Novidades... Sua irmãzinha não resistiu...

-- A companhia desse chato... – Nat disse desviando de Gabriel bem humorada. – Outro dia nós saimos
juntos e nos despedimos na porta do meu prédio, foi isso...

Eu notei naquele “carinho” dos dois que Nat andava mais tolerante ao ex marido e fiquei feliz por ela e
principalmente por Gabriel. A reaproximação dos dois havia acontecido quando eu estava em São Paulo, Nat
ainda estava meio triste pelo fim de nosso namoro. Em uma das noites a sós achou de curtir sua fossa em um
bar que costumava frequentar em sua juventude com Gabriel. Uma espécie de videoke de beira de estrada.
Bem a cara dele. Quando chegou lá, sentiu que atravessou uma passagem de tempo. Como se tivessem
combinando, lá estava ele, Gabriel bebia no balcão do bar. Com um sorriso nos lábios se aproximou de
Natália.

-- Sentiu falta da gente? Uma marguerita pra relembrar os velhos tempos?

Natália sorriu.

-- Sabe pela primeira vez desde que você voltou que eu não sinto vontade de me afastar de você? – E por fim
confessou. – Legal ter você aqui! Sim, uma marguerita!

Gabriel a encarou surpreso.

-- NÃO ACREDITO! ELA FINALMENMTE, DEPOIS DE SEI LÁ QUANTOS NÃOS, FINALMENTE


UM SIM! FINALMENTE ESTA MULHER CEDEU... Sabia que não tinha perdido meu estilo...

-- Se perdeu os cabelos, o estilo é de menos, Gabriel...

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-- AIIIII... Se fosse um hoemm levava um soco na cara agora... - Natália sorriu, Gabriel masi sem jeito. -
Ow, uma marguerita aqui!

Não ficaram apenas na Marguerita, mas também dividiram uma pizza e passaram o restante da noite. Gabriel
pegou o encarte com as músicas do vídeokê.

-- Ah não, Biel, isso não...

Não dando ouvidos a Nat, Gabriel chamou o garçom e pediu para programar a música, subiu no palco muito
aplaudido.

-- Nat é a nossa música... – Natália do balcão fez um gesto negativo. Gabriel sorriu sacana, encarou bem seus
olhos. Fez um sinal para ela se aproximar... – Baby let's cruise, away from here...

O público lógico que ficou ao lado dele e fazendo uma pressão para Nat subir no palco. Mais vulnerável pelo
efeito da bebida, Nat acabou cedendo.

Don't be confused, the way is clear


And if you want it you got it forever
This is not a one night stand, baby, yeah so

Let the music take your mind


Just release and you will find
You're gonna fly away
Glad you're goin' my way
I love it when we're cruising together
The music is played for love,
Cruising is made for love
I love it when we're cruising together

Baby tonight belongs to us


Everything's right, do what you must
And inch by inch we get closer and closer
To every little part of each other ooh baby, yeah So

Let the music take your mind


Just release and you will find
You're gonna fly away
Glad you're going my way
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

I love it when we're cruising together


The music is played for love,
Cruising is made for love
I love it when we're cruising together

Cruise with me baby


Uhhhh
Uhhhh

O público se encantou com o jovem “casal” e foram muito aplaudidos. Não paravam de rir. Na garupa da
moto, Nat relembrava alguns momentos de sua história com Gabriel, primeiro encontro de verdade, as vezes
que ficava trancada no quarto por horas esperando que ele ligasse, outras vezes que ela o rejeitou. O
casamento, as brigas, os dois cuidando jun tos de João, o sexo. Na cabeça de Gabriel também passava a
mesma coisa. Prova disso quando desceram e ele perguntou.

-- Onde foi que a gente errou?

Nat deu os ombros.

-- Talvez quando eu te empurrei para a babá do João querendo que você fosse embora e quando você me
pegou com aquele o meu interno?

Gabriel fez um gesto negativo.

-- Isso foi consequência. A gente não conseguiu juntos e quando eu estou com você eu sou feliz... Sei lá Nat,
sempre quando eu olhava no teu olho eu sentia alguma coisa de errado, não sabia que era... Pra falar a
verdade, as vezes ainda sinto, mas eu sei que você é a mesma Nat de antes. - Fez um carinho em seu rosto. -
Hoje eu tive a prova.

Nat deu um beijo no rosto do ex marido.

-- Vai ver a gente é melhor como ex casal do que como casal... – Tenho que ir agora...

Nat deu os primeiros passos trôpegos, Gabriel a alcançou.

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-- A mesma fraquinha pra bebida. – Sorriu. – A “marvada” fazendo efeito... Quer que te leve lá em cima?

Natália fez um gesto afirmativo, com ajuda de Gabriel chegou ao apartamento.

-- Dorme aqui hoje? Eu sinto falta da gente vendo Tv juntos, do seu café ruim, de você estraganmdo a
surpresa e contando os finais dos filmes...

-- Sério?

Nat fez um gesto afirmativo.

-- A única coisa que realmente me irritava era a tampa da privada levantada.

Gabriel sorriu e porfim concordou. E foi o que fizeram, assistiram dois filmes juntos, dividiram a cama e
dormiram. Apenas dormiram. No dia seguinte, quando o viram
Gabriel saindo da casa da ex mulher pela manhã, a fofoca se espalhou e logo espalharam por ai que os dois
estavam juntos. Quando Gabriel me contou a história dos dois bêbados no videokê, Júlia e eu não
aguentamos e morremos de rir ao imaginar Nat naquele estado.

-- Tá bem, Gabriel, já me faz passar a cota diária de vergonha. - Natália brincou tentando se desvencilhar do
abraço dele. – Agora posso trabalhar?

-- Trabalhar mesmo, só vamos sair daqui amanhã!

Júlia tinha razão. Tirando eu que estava no finzinho da licença maternidade, boa parte dos médicos só
conseguiu sair do hospital após as duas da manhã. Nat dormiria por lá mesmo. O grande susto havia passado,
mas provavelmente um bom número de repórteres a procuraria para mais notícias do ocorrido.

Nesse meio tempo dentro do hospital, Nat conseguiu descobrir que o autor de toda confusão da sífilis era seu
querido irmão caçula. Como? Por meio da cópia de seus exames. Bruno que também havia sido convocado,
descansava após ter saído de uma cirurgia de sete horas. Ao encontrar Nat em um dos quartos de descanso,

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Bruno ficou pálido.

-- O-oi Nat, a gente precisa conversar...

Natália deu um meio sorriso.

-- O meu irmãzinho, você passando por esse problema grave no... – Se sentou ao lado dele, fez um carinho
no rosto do irmão. – Você não me contou nada por que achou que não ia entender?

-- Nat, você não se importa de nada que aconteceu...

Nat deu um sorriso.

-- Você acha que uma fofoca de trabalho é mais importante que o estado de saúde do meu irmão? – Bruno a
encarou surpreso. – Pensando nisso eu programei um tratamento especial para você...

-- Você ainda esta se preocupando comigo?

-- É lógico meu amor... – E gritou para alguém do lado de fora. – Doutora, pode entrar!

Com uma cara de nenhum amigo Rebeca entrou. Se os olhos de Rebeca disparassem tiros, Bruno era um
homem morto. Sim, Nat fez questão de contar a namorada do irmão sobre o caso especial. Rebeca trazia nas
mãos apetrechos como cera quenta e outros tipos de objetos de tortura disfarçados em produtos depilatórios.

-- Que-que é isso?

-- Conversando, eu e a Júlia chegamos a conclusão que melhor forma de você nunca mais esquecer da
maldita camisinha seria deixando a doutora Rebeca cuidar de você. A primeira fase do tratamento pela
doutora Rebeca é a raspagem de pelos do corpo inteiro.

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-- QUE?

-- Sabe como é, para matar o mal pela raiz.

Nat entregou a chave do quartinho para Beca.

-- Não esqueça dos pelos pubianos, doutora! Bom serviço!

-- Beca... – Bruno pedia misericórdia.

-- E você reza, reza muito para o meu exame estar limpo se não quiser que a depilação seja feito a pinça!

Nat bateu a porta com um sorriso nos lábios. Plenamente satisfeita com a lição que deu em Bruno para nunca
mais esquecer o preservativo.

_________________________________________________________________________

Quando Nat decidiu dormir no hospital, mal imaginava o “plantão” que teria que encarar pela frente. Uma da
manhã. Após dar seus pós operatórios nas mãos de Leandro, resolveu tirar um cochilo em sua sala. O sofá de
seu escritório era muito mais confortável do que qualquer maca daquele hospital. Trancou a porta, Fechou as
janelas, tirou os sapatos e depois a camisa. Quando começou a desabotoar a calça notou que não estava a
sós.

-- O que vocês estão fazendo aqui? – Nat perguntou pegando a camisa de volta e se vestindo rapidamente.
Silvinha esboçou um sorriso. Nat despida não era novidade para ela. – Silvinha, como você entrou aqui?

-- Oi pra você também Nat, soube que você chegou e devia estar cansada... Resolvi fazer uma visita... - Se
aproximou de Nat mirando bem em sua boca. – Para minha amiga...

-- Só como amiga? – Nat perguntou já esquecendo a médica do lado de fora do escritório, aproximou de
Silvinha tentando beija-la. – Então agora a gente é amiga... Além de outras coisas...

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Eu não digo que a minha prima é o demônio na terra? Ela estava vestida pra matar, vestidinho preto, curto,
uma calcinha minúscula, cabelos soltos e aquele sorrisão dela mega aberto. Afastou-se de Nat.

-- Amigas!

-- Amigas?

-- Sabe Nat, eu pensei nas coisas que você me disse... De se sentir sozinha... Eu também estou cansada
dessas relações vazias. – Nat não tirava os olhos do decote da minha prima. – Eu estou afim de investir em
novas relações... De amizade. – Nat outra vez tentou beijar minha prima. – Só amizade.

Natália parou um tanto confusa.

-- Amiguinha, tipo amiga?

-- É. – Silvinha respondeu displicente. – Só amigo pra não ficar com climinha... Começasse do zero.

Nat mordeu os lábios se deliciando com a visão da minha prima de Silvinha. Com as coxas de fora.

-- Se-se... Se esse jeito que você prefere... Se for o jeito que tenho para ficar perto de você...

--DÚVIDO!

-- AH, VOCÊ É MALUCA MESMO! – Nat rebateu já irritada. – PROPÕE UMA COISA E JÁ FALA
QUE VAI DAR ERRADO!

-- Eu tenho conheço, não é Natália? – Silvinha parou, cruzou os braços, jogou um olhar meio sacana. – Vai
dizer que quando você me vê não fica passando safadeza ai dentro desse teu olhinho... – Natália deu os
ombros. Silvinha mediu Nat de cima abaixo. Agora era a vez dela atacar. Aproximou do ouvido de Nat,
soprou qualquer coisa fazendo Nat sentir um calafrio. – Toparia ser minha amiga Nat?

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-- Já... Aiiii... – Outro sopro no ouvido, a voz de Nat saia bem distante. – Já-já disse que toparia...

Silvinha deu um sorriso. Começou a descer o zíper do vestido. Natália se virou para ver o que ela estava
fazendo.

-- Vamos fazer um teste... Vamos ver se você olha com sacanagem ou com olho de irmão...

Nat se virou para não atacar Silvinha.

-- Que bobagem, Silvinha. Como eu vou te olhar com olho de irmão se...

-- Aí, isso é coisa de homem das cavernas! – Terminou de tirar o vestido e se colocou de frente a Nat. --
Então você acha mesmo Nat que pode ser essa pessoa amiga, que me escuta, eu posso ir pra sua casa e
dormir lá sem problema nenhum?

-- Cla- claro que posso, Silvinha. - Natália retrucou um tanto incomodada com a visão da minha prima só de
calcinha e sutiã na sua frente. Virou o rosto.- Você acha o que? Que eu sou esses molequinhos de quinze
anos que se tranca no banheiro com playboy e... Claro que posso, Silvinha, sou uma mulher madura!

Silvinha deu um sorriso.

-- Olha pra mim, Natália. - Silvia desengarranchou a presilha do sutiã. - Posso mesmo ficar assim na sua
casa? Ser minha confidente... Esquece que eu sou fêmea a ponto de eu não ter medo do que posso
acontecer... – Nat suando frio, se segurando para não dar o braço a torcer fez um gesto afirmativo. Estava
doida de tesão por aquele conjunto de calcinha e sutiã vermelho. – Você aguenta mesmo? Não encostar um
dedo em mim?

-- Aguen- aguento! – Disse ainda meio abobada com as curvas da minha prima, quando Silvinha queria ela
sabia jogar baixo. - Aguento sim!

Silvinha deu uma risada curta, jogou os cabelos para o Aldo, aproximou bem do rosto de Nat.

-- QUE FOI NAT? FICOU BROCHA AGORA?

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E deu uma senhora risada debochada.

--FILHA DA MÃE! – Silvinha foi dando espaço para fugir de Nat que estava enfurecida. – ERA ISSO QUE
VOCÊ QUERIA!

Nat começou a correr atrás de Silvinha que contornava a mesa correndo para fugir (e atiçar) Nat ainda mais.

-- AAAII! Sai pra lá, você e sua família não sabem ser amigo de ninguém! – Nat tentou puxá-la e acabou
arrebentando seu sutiã – MAL EDUCADA! GROSSA!

-- SUA VAGABUNDA! – Nat tentava cerca-la de um lado, Silvinha ameaçava de fugir pelo outro e nessa
ficaram. – ISSO É JEITO DE QUERER VIRAR AMIGUINHA DE ALGUÉM?! – Nat pulou por cima da
mesa para surpresa da minha prima, a encurralou e virou o jogo colocando Silvinha contra a mesa. – VOCÊ
QUER ME ENLOUQUECER? QUER ME DEIXAR DOIDA?

E não deu espaço para Silvinha responder devorando seus lábios com raiva, violência e muito, muito tesão.
Silvinha prontamente correspondeu ao beijo. Mal sabia Nat que tinha mordida a isca da primeira parte da
vingança.

______________________________________________________________________

Já passava das duas da manhã quando ouvi o barulho de carro próximo à cabana. Consegui uma cópia da
chave da cabana com seu Nélio, capataz da fazenda de Dona Regina. Também foi seu Nélio que me ajudou a
acender a lareira (mesmo sendo novembro, de noite fazia um frio de congelar os ossos lá na cabana por conta
da proximidade com o Rio Silvéster) e a trazer o carrinho e o moisés de Heleninha que já dormia no quarto de
hospedes.

Quando entrei na cabana notei que Júlia havia mudado algumas coisas de lugar, comprado uns eletrônicos
novos. Ainda continuava uma decoração de bom gosto. Preparei a mesa, pedi para seu Nélio me ajudar a
colocar a lasanha no forno e depois me despedi dele. Heleninha já estava no décimo sono em seu carrinho no
escritório que agora Júlia havia transformado em um quarto que identifiquei como preparado para receber
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

João. Tomei um banho, passei os cremes que eu estava acostumada, um pouco de perfume e coloquei uma
camisolinha que tinha ganhando da Renatinha lá em Sampa.

Pelo vidro da janela observei Júlia descendo do carro. Acionei o som. Trocada de roupa, provavelmente
havia tomado banho no hospital. Os cabelos um poucos úmidos ainda, meio indisciplinados a deixando mais
sexy. Só de regata, jeans e tênis, a jaqueta jogada sobre os ombros dependura com dedos. Já tinha deixado
tudo apagado e as velas da mesa acesas. Júlia tirou a chave para destrancar a porta, mas só foi encosta-la
“tcharan” abriu. Mesmo no escuro percebi que ela deu um meio sorriso surpresa com a porta e com a mesa.
Deixou a mochila sobre o sofá e tirou os sapatos. Não querendo estragar minha surpresa, Júlia percorreu a
casa as escuras até chegar à cozinha. Estrategicamente ativei a lanterna iluminando a porta da geladeira onde
tinha colado os dois post its. Agora a bonequinha dela não era a única com coraçõezinhos, desenhos vários
em volta de mim e puxei um balãozinho com uma única palavra: quero!

Observei Júlia sorrindo. Quando ela virou para ir atrás de mim, surgi e sua frente. Mais uma vez acendi a
lanterna para ela poder me enxergar.

-- Nossa, Alice... – Sua voz saiu entrecortada, ela me mediu de cima abaixo. Eu usava apenas uma
camisolinha de seda preta, estudadamente muito curta e com alcinhas finíssimas. Por baixo apenas uma
calcinha preta de renda, transparente com alguns detalhes em rosa. Júlia me despiu com os olhos, mordendo
os lábios, com uma cara muito safada que me deixou morrendo de vontade de tê-la. – Que camisola é essa?

Dei um meio sorriso.

-- É pra minha namorada... – Eu disse enquanto desafivelava o cinto de sua calça. Enlacei seu quadril com o
cinto e a puxei para mim. – Mas você serve, vem, cá...

End Notes:

-- Senhor... - Júlia disse ainda boquiaberta, coçou a cabeça, nem sabia por
onde começar. - Como aconteceu isso?

O volume do som vindo do escritório do hospital estava no talo. Nat apenas de


calcinha e um camisão do Corinthians. Sei lá quantas garrafas de bebida
espalhadas pelo chão. Leandro tentava lhe dar um café bem forte. Ainda
alegre por conta da bebedeira Nat se levantou tropeçando veio nos
recepcionar.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Júlia, você por aqui! - Abraçou e deu um tapa na bunda de Júlia que tentava
se manter séria. A única realmente séria ali era Duarte. Rebeca e eu nos
seguravamos para não rir e Leandro estava ainda surpreso com tudo. Nat me
abraçou, achei que ia me dar um beijo n o rosto, mas roubou um selinho da
minha boca. Nossa, cheirando a vodca pura. - Alice. - Roubou um selinho de
Rebeca que acho que nunca havia beijado mulher na vida. - Bequinha! - Se
aproximou de Duarte ameaçou dar o selinho, mas desistiu ao ver a expressão
enfurecida da baixinha. No lugar deu um tapinha de leve no rosto. - Tudo
certinho?

_____________________________________________________________

oi meninas, leio cada comentário, cada ideia de vcs, algumas leitoras começaram com
a brincadeira de escalar um "elenco" para Éramos, que atrizes vcs imaginam dando
vida ao trio principal + coadjuvantes? Beijoooos!!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 39 by Tamaracae

Author's Notes:

Oiiiis!!! Espero que gostem do capítulo!! Bjooos

Pro dia Nascer Feliz http://www.youtube.com/watch?v=sB3sCbcjODE

Pintura íntima - http://www.youtube.com/watch?v=-JVQOmakfGI

Júlia sorriu com a minha resposta. Um sorriso gostoso, lindo, os lábios inferiores ficavam meio carnudos de
um jeito que me dava vontade de ficar mordendo. Simplesmente perfeita. Ela tinha jogado o casaco para o
lado, suas mãos estavam livres. De um jeito carinhoso ela bagunçava os meus cabelos com a ponta dos
dedos. A outra mão, Júlia encostava levemente sobre meu braço. Minha vontade era tomá-la e ser tomada
com a velocidade de um corredor de fórmula 1, mas me obriguei a não agir assim. Era nossa primeira vez
como namoradas de verdade. Pra que urgência? Acho que Júlia tropeçou nesse mesmo pensamento. Apesar
de enxergar em seus olhos que ela estava morta de vontade, Júlia tomou meus lábios de uma maneira suave.
Não menos quente do que eu esperava, apenas mais doce.

-- Repete o que você disse...

Fiz um carinho em seu rosto e entre beijos perguntei:

-- Que servia você?

Júlia, com a boca roçando de leve em meu rosto, me provocando e acendendo por inteira, mordeu meu
queixo levemente e me respondeu.

-- Não, a outra parte.

Sorri mais uma vez. Com ela eu sempre sorria fácil.

-- Pra quem é essa camisola? – Provoquei sussurrando em seu ouvido. Senti a pele de Júlia se eriçar só com
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

aquele contato. – É para minha namorada!

Júlia abriu um novo sorriso. Esse com terceiras, quartas, quintas e sei lá mais quantas intenções. Como pela
manhã, me ergueu com o braço e sentei sobre a pia, só que dessa vez a da cozinha. Abri minhas pernas
dando passagem para sentir seu corpo encaixado no meu. E que corpo! Que delicia era o toque dos mamilos
sobre os meus, minhas pernas enlaçando sua cintura e minhas mãos percorrendo aquelas costas maravilhosa,
arranhando com a pontinha da unha.

Ela tocou meus lábios de maneira surpreendente delicada, mas não menos excitante. Propositalmente eu tinha
ficado a noite inteira chupando bala de cereja e senti o gosto doce em nosso contato. Seu cheiro parecia
penetrar no meu corpo e ela a tomava minha boca em uma cadencia diferente que eu estava acostumada, de
maneira lenta, prolongando nosso prazer. Enquanto sua língua gostosamente umedecia os meus lábios e
buscava a minha, uma das mãos puxava meu cabelo de leve. E a outra subia devagar até encontrar a alcinha
da camisola. Sem abrir os olhos porque estávamos no meio de um beijo, Júlia desceu a alça de minha
camisola. Ela não retirou a peça, o tecido escorreu sozinho revelando a auréola rosada do meu peito. Minha
boca amoleceu mais ainda e deixei escapar um gemido alto quando senti a mão de Júlia massageando de leve
meu seio, o mamilo totalmente enrijecido.

-- AAAAAAAhhh... Con-continua...

Agora sua boca mordia levemente meu ouvido, sussurrava algumas besteiras e voltava a colar sobre meus
lábios. Sei lá por quanto tempo eu fiquei viajando em seus beijos. Quando dei por mim, minhas mãos subiam
por sua barriga para despir sua camisa. Surpresa boa, subi um pouco mais a procura do sutiã e nenhum sutiã.
Sim ela estava de regata branca e sem sutiã. Deliciosa! Safada, já estava esperando por alguma coisa desde
que chegou.

Júlia, assim como eu, louca com aquelas preliminares, me puxou e deu “A” pegada na minha cintura,
sustentando o peso do meu corpo. Achei que ia ficar só ali mesmo, voltei a beijá-la. Ela me arrancou da pia e
me carregava no colo.

--Júlia... – Eu disse surpresa enquanto enlaçava meus braços e seu pescoço e minhas pernas em sua cintura
para não cair. - Eu não sou magrinha não e...

E fui calada com um puta de um beijo delicioso, quente, molhado, recheado de desejo e vontade. Ela parecia
querer fundir nossas bocas para sempre. Senti meus lábios sendo mordiscados. Nossas línguas digladiando,
beijo desses que deixa a gente toda molhada, pegando fogo, pulsando, mas que também é recheado de
carinho. Só nos separamos quando precisei de ar. Júlia me sussurrou então.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Pô, já não te provei que não sou essas frouxas que tem por ai?

O jeito que ela falou, totalmente cafajeste me deixou ainda mais passiva. Com mais vontade de sentir sua mão
dentro de mim, me comendo com força. É claro que eu gostava da doçura, mas quando ficava com aquele
jeitinho brutal, bem de bicho selvagem me tirava do sério. Passamos pela sala ainda entre beijos. Acho que
Júlia só não varreu as coisas da mesa com o braço e me pegou ali mesmo porque viu que eu tinha arrumado
tudinho. Abriu a porta do quarto. Deu mais alguns passos e caímos na cama. Quando abri os olhos, tive uma
das melhores visões da minha vida. Aquela mulher linda, cheirosa, com aquela pele que fervia, em cima de
mim. Seus olhos estavam mais escuros. Chegavam a faiscar de desejo. E eu já falei o quanto aquele olhar
apertado dela me enlouquece, não é?

Achei que seria atacada, engolida em tempo recorde, mas não foi isso que Júlia fez. Aquela noite ela queria
me matar de tesão, eu tinha certeza. Júlia mirou meus olhos, fez um carinho no meu rosto, nos cabelos, tocou
meus lábios com a ponta dos dedos e sorrindo, de um jeito doce, me roubou um beijo mais arrastado e
desceu com a boca, começou a beijar do meu joelho até meus ombros desse jeito e assim me livrei daquela
camisola. Maravilhosa! Quando nos separamos com selinhos curtos, Júlia afastou de mim, mas não deixou
perder nosso contato pelos olhos, ela começou a desabotoar a calça e ia descer o zíper, parou um pouco e
começou a passar a mão de leve por cima da própria virilha. Só uma palavra me veio na cabeça ao vê-la se
tocando ainda por cima da calcinha: sexy.

Interrompi e tomei essa atividade para mim. Primeiro comecei devolvendo aquele roçar de lábios que ela
havia me dado lá na cozinha. Os pequenos gemidos que ela soltava era uma melodia agradável em meus
ouvidos. Meus lábios estavam bem entrosados aos seus, terminei de descer o zíper e me livrei da calça.

Eu amava ver aqueles pernões “a lá Ivete Sangalo” da Júlia expostos e saber que aquilo tudo agora era meu
só aumentava meu desejo. Ela estendeu as pernas e me acomodei em seu colo sentada. Minha namorada só
de calcinha e eu ainda com metade da camisola, rebolando sobre seu sexo. Júlia circundou minha cintura com
as suas mãos, me ajudando a soltar aos quadris enquanto sua boca explorava meu pescoço, meu colo e não
demorou muito para chegar aos meus seios. Que fome que aquela mulher estava, ela chupava gostoso, com
voracidade. Lambia os bicos e massageava de um jeito gosto, sem tirar a outra mão de minha cintura. Eu
apertava sua nuca pedindo por mais, para continuar entre outras coisas praticamente impublicáveis.

-- Aaaaai... Aiii Ju... – Aproximei minha boca de seu ouvido. – Eu quero você lá...

Júlia sorriu para mim, olhou bem nos meus olhos e sussurrou em meu ouvido.

-- Eu quero te chupar todinha, você é uma delícia Alice... – No meu ouvido. - Como você quer gozar?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Me-me chupa Júlia...

-- Vou adorar!

Ela fazia tudo aquilo e a delícia era eu? Quando ela puxou minha calcinha com a boca e deu aquela raspada
com os lábios no meu sexo, achei que ia gozar na hora, mas ela sabia me segurar. Via que eu estava quase lá,
diminuía o ritmo, esperava baixar um pouco a libido para em seguida me foder com língua e dedos de novo.
Sei lá depois de quanto tempo dessa tortura deliciosa eu cheguei ao orgasmo. E que gozada. Incrível!
Indescritível! Que mulher era essa? Ela gozou logo em seguida, sobre o meu sexo, trincando meu corpo no
dele se derretendo em um mar de gozo.

-- Você faz tão gostoso...

Enquanto eu tentava me refazer, lá vinha Júlia me pegando e me beijando de novo, mansamente, mas com um
fogo que me despertava outra vez. Só que dessa vez eu queria tomar conta da situação, eu precisava ver
aquela carinha linda que ela fazia quando estava gozando, precisava daquele olhar de satisfação. Tirei forças
sei lá de onde para tombar seu corpo e me sentar sobre ela. Júlia sorriu para mim de um jeito safado,
provocando, já ia me puxando, mas fugi.

-- Amor?

Dei um beijo em sua boca e sorri.

-- Só um minutinho, você chegou e já veio com tanta... Fome... Eu comprei um monte de coisinhas para nós...

Júlia sorriu.

-- Coisinhas?

Fiz um gesto afirmativo.

-- Já volto.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Nua mesmo corri até a sala e peguei a sacola que esqueci sobre o sofá, voltei para o quarto com um ar de
mistério. Júlia me encarou um tanto desconfiada.

-- Posso saber, mocinha, o que é isso que esta escondido atrás?

Fiz um gesto afirmativo mordendo levemente meus lábios de um jeito que eu sabia que ela gostava. Subi meio
engatinhando pela cama até me encaixar novamente entre suas pernas.

-- Pode... – Peguei a sacola e abri. – Sabe é que eu antes de vir pra cá, pensei em fazer alguma coisa
diferente entre nós... – Comecei a beijar o rosto de Júlia de um jeito manhoso, mas tentando passar um pouco
de sensualidade para minha voz. – Comprei umas coisinhas pra gente...

-- Que coisinhas? – Júlia sussurrou deliciosamente rouca em meu ouvido.

-- Passei em um sex shop e comprei umas coisinhas que eu quero usar com você...

Nossa, eu parecia ter falado uma palavra mágica e lá vinha ela com mais fogo ainda. A ideia de visitar o sex
shop, na verdade foi da Silvinha. A gente foi assim que sai do hospital, deixei Heleninha com Cíntia e fomos a
um que tinha ali do outro lado da rua. Comprei um monte de cremes de massagem, produtos perfumados,
gels, uns brinquedinhos mais quentes. Júlia com uma cara mega safada começou a explorar a sacola, mas não
deixei que ela escolhesse. Se eu que era a “dona” da brincadeira logicamente eu que começaria me divertindo.
Escolhi um gel com cheirinho que esquentava quando era esfregado. A fragrância leve começou a subir
quando depositei uma porção sobre seu colo.

-- Huuuuum... Isso é canela?

Passei minha língua por cima de seu colo escorrendo entre seus seios.

-- Aiiii...

-- Canela... – Confirmei antes de minha boca voltar a procurar seu busto. – Muito gostosa!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Passamos a noite inteira explorando a sacola. Eu nem dormi. Quando estávamos quase pegando no sono,
ouvimos o chorinho vindo do quarto vizinho. Como um relógio, sete da manhã Helena acordava querendo
mamar. Eu estava morta. Vagarosamente ergui a cabeça procurando forças para levantar. Com um esforço
subhumano, Júlia se ofereceu para ir ao meu lugar.

-- Júlia, você...

-- Deixa, deixa... – Me deu um beijinho rápido. - Já acostumei...

Heleninha ficou uns quinze minutos em cada peito. Júlia se deitou ao meu lado, observando nós duas, a
cabeça apoiada sobre um dos braços. Eu me revezava, fazia carinho na Lelê, fazia cafuné entre os cabelos de
Júlia ela cada vez mais mole.

--Assim eu vou pegar no sono... – Ela disse meio bocejando, curtindo aquele nosso contato.

-- Essa é a intenção... – Eu brinquei. – Fazer os dois bebês dormirem. – Eu brinquei. - Você trabalhou o dia
inteiro, depois ficou acordada a noite toda, deve estar cansada... Pode dormir, amor...

-- Não quero... Deixa ela ficar um pouquinho comigo?

Só foi o tempo de eu pegar um copo d’água na cozinha. Quando voltei as duas estavam dormindo. Lindas.
Não tive como conter um sorriso. Voltei com Helena para o berço e em seguida resolvi tirar o atraso do meu
sono. Deitei na cama, dei um beijinho de Júlia e adormeci pela primeira vez nos braços da minha namorada
dormindo de conchinha com ela.

______________________________________________________________________

Acordei ao meio dia. Ainda estava com sono por conta da noite em claro, mas quando olhei para o lado,
deparei com a cama vazia. Júlia já tinha levantado. Coloquei a primeira coisa que me veio em mãos (uma
camisa velha do Nirvana de dormir de Júlia que me cobria até metade das coxas) e fui até a sala. Encontrei
deitada. Toda jogada no tapete da sala com Lelê dentro do carrinho de bebê, a pequenininha já trocada, as
duas assistindo Pernalonga na TV. Júlia terminava de devorar a lasanha de ontem.

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-- Já acordou? – Júlia fez um sinal e me deu abertura para me acomodar ao seu lado. Fiz melhor, me ajeitei
entre suas pernas, descansando minhas costas em seu tronco. – Levantei devagar para você não acordar,
estava dormindo tão gostoso...

Dei um sorriso.

-- Que meninona, acordando pra ver desenho! – Provei um pedacinho da lasanha que ela veio me oferecendo
com o garfo até minha boca. – Nossa, deliciosa... Nota 10!

-- Pra combinar com a sua namorada...

-- É... – Brinquei com ela fazendo um sinal de mais ou menos. – Assim, assim...

-- Assim, assim? – Júlia perguntou insatisfeita com minha resposta. Começou a fazer cócegas na minha barriga
me provocando risadas. – Assim, assim é?

-- Para, Ju! – Dei um tapinha de leve em sua mão. – Boba!

-- Fica hoje aqui comigo?

-- Hoje não saio daqui por nada, amor. – Disse agora entregando um pedacinho de lasanha em sua boca e em
seguida roubando mais um beijinho. – Gostosa!

--Eu tenho uma coisa para te mostrar, vem aqui...

Levando Heleninha no carrinho caminhos até o lado externo da cabana. Do jardim eu podia ver a casa do
caseiro, menor que a cabana, mas lembrava uma casa de bonecas de tão bonitinha e caprichosa. Fiquei
observando a casa. Júlia me deu um beijinho nas costas.

-- Gostou?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Gostei, mas cadê o caseiro?

-- Demiti.

-- Por que?

-- Porque o caseiro que minha avó tinha contratado digamos que não ia muito de acordo com um aspecto
muito importante da minha vida: minha homossexualidade.

-- Sério?

-- Sério! Queria me levar para igreja e tudo. – Começamos a rir. – Imaginou? Mas quer saber por que estou
te contando tudo isso?

-- Por que?

-- Porque essa casa pode ser sua se você quiser. – Encarei Júlia surpresa. – Tô falando sério, idéia toda da
Dona Regina.

E começou a me explicar. Quando Júlia avisou a avó que demitiu o caseiro e que não queria outro em seu
lugar, Dona Regina teve a ideia de me colocar vizinha de Júlia já que a casa ficaria desocupada e tinha dois
quartos como eu queria. Seria a casa ideal mesmo, pequena, mas com dois quarto, não me daria trabalho de
limpar, bonitinha e ainda tudo do ladinho da minha linda!

-- Júlia, eu, eu... – Surpresa. – Ainda não sei o que dizer...

-- Diz que sim!

-- Boba! Eu posso pensar?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Só se for lá dentro dormindo de conchinha comigo... Pode ser?

E precisava me pedir duas vezes? Tudo estaria perfeito se não fosse a porcaria da minha zica. Só foi entrar na
cabana e o telefone da casa tocou nos chamando para a realidade.

-- Oi, Duarte! O que aconteceu? – Ela perguntou com uma voz preguiçosa. – Não foi outro ônibus que caiu,
né?

Oras, não tinha mais gente trabalhando nesse hospital, não? Ela tinha praticamente virado naquele turno, a
Natália como responsável bem que poderia resolver.

-- A Nat o que? – Apreensiva. – Bêbada na sala da diretoria?

Não foi preciso dizer mais nada. Em quinze minutos Júlia estava pronta para sair Confesso que fiquei tão
preocupada com Nat que firmei o pé e não abri mão de ir junto. Como era domingo e a estrada estava
limpinha, chegamos em 25 minutos no Alonso Franco. Duarte nos esperava na porta do hospital junto de
Rebeca. Acho que estava tão nervosa que nem perguntou o que Júlia e eu estávamos fazendo juntas. Em
silêncio caminhamos até a o andar cirúrgico e chegamos à ala de diretoria que era uma porta que caia em um
monte de labirintos até chegar à sala da Nat. Eu não gostava daquela sala porque era muito escondida, mas
foi esse fato que diminui um pouco o escândalo que seria aquela farra da diretora do hospital. A música estava
no ultimo.

Eu já lavei o meu carro, regulei o som


Já tá tudo preparado, vem que o brega é bom
Menina fica a vontade, entre e faça a festa
Me liga mais tarde, vou adorar, vamos nessa

Assim que a porta se abriu dando para o primeiro corredor, escutei o barulho de garrafa caindo no chão. Júlia
que estava a frente, deu um passo para trás ainda assustada com tudo.

-- Que foi? – Perguntei curiosa.

-- Senhor... - Júlia disse ainda boquiaberta, coçou a cabeça, nem sabia por onde começar. - Como
aconteceu isso?

O volume do som vindo do escritório do hospital estava no talo. Nat apenas de calcinha e um camisão do
Corinthians. Sei lá quantas garrafas de bebida espalhadas pelo chão. Leandro tentava lhe dar um café bem
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

forte. Ainda alegre por conta da bebedeira Nat se levantou tropeçando veio nos recepcionar.

Gata, me liga, mais tarde tem balada


Quero curtir com você na madrugada
Dançar, pular até o sol raiar.

-- Júlia, você por aqui! - Abraçou e deu um tapa na bunda de Júlia que tentava se manter séria. A única
realmente séria ali era Duarte. Rebeca e eu nos segurávamos para não rir e Leandro estava ainda surpreso
com tudo. Nat me abraçou, achei que ia me dar um beijo n o rosto, mas roubou um selinho da minha boca.
Nossa, cheirando a vodca pura. - Alice. - Roubou um selinho de Rebeca que acho que nunca havia beijado
mulher na vida. - Bequinha! - Se aproximou de Duarte ameaçou dar o selinho, mas desistiu ao ver a
expressão enfurecida da baixinha. No lugar deu um tapinha de leve no rosto. - Tudo certinho? Duarte... Como
você esta gata, vista sempre branco!

Gata, me liga, mais tarde tem balada


Quero curtir com você na madrugada
Dançar, pular que hoje vai rolar.

Tchê tcherere tchê tchê,


Tcherere tchê tchê,
Tcherere tchê tchê,
Tchereretchê

Olha, eu fiquei bêbada na noite de Carnaval, a Nat não parecia estar de pileque. Parecia que sei lá, saiu do
festival de Woodstok de tão com cara de doida que ela ficou. Eu nunca tinha visto ela naquele estado,
gargalhando, dando tapinha no ombro de todo, beijoqueira, mas é melhor parte foi ela abraçando, tentando
puxar Leandro para dançar e cantarolando errado “Sou simples mais eu sei fazer um lê,lê,lê... Gustavo Lima e
você...”

-- Os jornalistas estão ai na porta, o que eu faço? – Rebeca perguntou confusa. – Eles tão que tão doidos
para entrarem...

-- Manda todo mundo entrar... – Nat falava com a voz embargada. – Me solta, Júlia! Você quer parar de me
soltar? Vocês querem parar de me soltar?

Júlia respirou fundo.

-- Nat, acredita, isso é para o seu bem irmã... – E sem pensar duas vezes meteu um tapão na cara da Nat que

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

caiu completamente desacordada nos braços da irmã. Júlia pegou Nat pelas pernas e a jogou em seu ombro
como se fosse um saco de cebolas. – Duarte, se vira com os jornalistas! Rebeca, uma bolsa de soro e vou
aplicar glicose. Alice, vem comigo!

Tudo foi muito rápido e muito engraçado. Primeiro Duarte e Leandro distraindo os jornalistas e nós três
fugindo com Nat carregada e resmungando pelo caminho inteiro. Tudo estava indo perfeitamente bem até o
momento em que cruzamos com a Bruxa de Blair, digo, com dona Abgail.

-- Júlia, eu preciso falar com você...

-- Mãe, na boa, deixa a encheção pra depois, a Nat...

-- Júlia, agora! – Abgail exigiu. – Deixa essas duas levarem sua irmã para casa! – Olhou para nós duas. –
Pelos para isso elas devem ter competência!

Que ódio! Só não avancei pra cima daquela vaca à tapas porque estava segurando Heleninha no colo. Depois
de coloca-la no banco de trás e por o cinto em Nat que não parava quieta conseguimos sair do hospital. Eu
atrás com Heleninha (nunca que eu ia deixar Nat no estado que estava no mesmo banco que minha filha) e a
Nat na frente com Beca no volante.

-- A Silvinha, a Cintia e a Isa são umas cachorras! – Eu comecei a dizer. – Elas inventam as coisas olha a
merda que dá!

-- Eu gosto de cachorro!

-- Sei muito bem o tipo de cachorra que você anda gostando! – Eu adverti enquanto a segurava pelos
ombros. – Aquelas que vocês faz fiu fiu e já vem abanando o rabo...

Só foi falar isso que toda parada Nat fazia “fiu-fiu” pra alguém. Só faltava eu apanhar por essa doida mexer
com mulher casada ou algo do tipo. E era só me distrair por um segundo com Helena e lá estava ela
aprontando mais uma.

-- Alice, ela esta tentando tirar a calcinha.


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Beca, você quer se ginecologista, devia estar acostumada a ver isso!

-- A minha calcinha, Alice!

-- NAT!

Entre mortas e feridas nos salvamos todas, chegamos no apartamento de Nat em quinze minutos. Ela
dependurada em Beca e eu com Heleninha no colo. Nossa sorte é que
João estava na avó e não viu o estado da tia. É lógico que a Nat fez questão de parar e abraçar o porteiro,
lógico que fez birra para não ir no prédio e lógico que eu tive que ligar para o Gabriel me socorrer daquela
loucura. Quando ele chegou outro susto.

-- AAAAAAAAAII Que isso?

-- Gostou do meu corte novo? – Ele perguntou balançando os cabelos. – Quis fazer o corte do Wolverine.

Nat deu uma gargalhada mega gostosa.

-- Esta parecendo Dom Pedro I. – Levantou o braço e voltou a rir. – Ui, INDEPÊNDENCIA OU MORTE!
Ridículo esse cabelinho...

-- Vem Nat...

Depois de convencermos Nat a subir, Gabriel e eu ficamos com a missão de dar banho e tomarmos um junto
porque ela nos ensopou. Nat saiu do banho ainda de fogo, enrolada no roupão cantando para nós dois.

-- Tô fazendo amor com outra pessoa, mas meu coração... Vai ser pra sempre teu... O que o corpo faz... A
alma perdoa...

Nada sugestiva, não? era uma palhaça! Depois do banho a trancamos no quarto com as janelas travada. Dois
minutos e ela apagou sobre a cama. Eu, preocupada, liguei para Júlia.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Amor, ela acabou de dormir. Você vem pra cá?

-- Alice, depois a gente se fala... – Júlia me respondeu fria. – Cuida dela pra mim...

-- Júlia...

-- Só cuida dela para mim, por favor?

Resolvi relevar, era melhor deixar para conversar pessoalmente.

-- Tudo bem, beijo.

-- Beijo amor, tchau!

E desligou. Ela até tinha sido carinhosa comigo no final, mas alguma coisa estava acontecendo. Eu logo
coloquei na cabeça os tais telefonemas que ela recebia escondido. Só pensei nisso,mas o que estava
esquentando a cabeça da minha namorada e eu só fui descobrir bem depois era sua conversa com dona
Abgail.

-- Mãe, a Nat esta precisando de mim agora, e antes que a senhora me acuse de ter embebedado sua filha
preferida ou feito algo do tipo...

-- Júlia será que uma vez na vida você poderia me escutar? – Dona Abgail falou em um tom forte para ganhar
a palavra da filha. Júlia se calou. – Eu vou direto ao assunto, tem haver com a sua irmã sim!

-- Mãe eu...

-- Júlia, sua irmã corre o risco de perder o direito de atuar como médica!

-- QUE?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Eu estava chegando no hospital quando cruzei com um fiscal do Conselho Regional de Medicina de São
Paulo! Abgail parecia realmente apreensiva. – ele viu sua irmã nesse estado. Alguém denunciou sua irmã!
Imagina o que vai acontecer? Fora o escândalo que vai envolver o nome do hospital.

Uma coisa era Nat ser castigada por ter bebido demais, outra era pagar a vida inteira por conta disso. Acho
que nem o trio ternura tinha consequência que isso poderia acontecer. Só queriam mesmo causar o escândalo
de Nat bêbada para atacar a campanha política do partido familiar, não para estragar sua vida pessoal. E
vamos falar a verdade, foi a primeira vez que aconteceu aquilo. Nat não era dessas doidas que enchem a cara
e vão atender. Com poucos anos de formada e ter toda experiência que ela já tinha acumulado não era para
qualquer um. Nat era acima da média. Seria um pecado perder a carreira por conta de uma bobagem
daquelas que com certeza não iria se repetir.

-- Mãe... Mas, não tem nada que a gente possa fazer?

Abgail fez um gesto afirmativo.

-- Tem Júlia. Você sabe muito bem que cada pessoa tem seu preço... E esse maldito desse fiscal também
deve ter... – Fez uma pausa. - E você como médica podia ver isso!

-- Como?

-- Júlia, você tem todos os defeitos do mundo, mas a bobeira nunca foi um deles! – Tirou os óculos escuros.
– Você entendeu o que eu falei?

Júlia, indignada, fez um gesto afirmativo.

-- Entendi que a senhora sugeriu que eu subornasse um fiscal! – Deu um soco na parede irritada. – Suborno,
mãe?!

-- Você fala como se nunca tivesse acontecido isso nesse país! – Abgail retrucou. - Júlia, nós estamos falando
da sua irmã! É a carreira dela! Um único gesto e você pode acabar com essa ameaça!

-- Estamos falando de um crime, mãe!


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Crime? Defender a minha filha agora se tornou um crime? – Abgail questionou a filha que sorriu debochada.
– Estamos falando da sua irmã. Dá mulher que foi uma mãe para o seu filho! Ser médica é a coisa que sua
irmã mais ama na vida depois do João! Ela respira aquele hospital, Júlia!

-- Mãe...

-- Se você tem um pingo de gratidão pela sua irmã pelo menos pense nisso... – Entregou um papel na mão de
Júlia. – Eu peguei o cartão dele! Lembre Júlia, todos tem um preço, não se esqueça disso!

Júlia esperou Abgail sair. Ainda pensativa pegou o cartão e discou o número do fiscal.

Alô?

_________________________________________________________________________

Ignorando os problemas que Júlia estava passando, fiz o que ela havia me pedido, fiquei cuidando de Nat.
Rebeca foi tratar de seus afazeres. Gabriel e eu ficamos por lá, arrumando a casa e fazendo um café bem forte
para A Bela Adormecida que não era tão adormecida assim e duas horas depois deu os primeiros sinais de
vida no quarto.

Nat abriu os olhos e sentiu aquele pesar na cabeça, um gosto estranho na boca e o conteúdo do estomago
dançando o “tchu, tcha” de trás para frente. Só percebemos que ela estava acordada quando ouvimos barulho
no banheiro. Alguns minutos depois Nat apareceu com uma cara de poucos amigos.

-- O que aconteceu?

-- Você não lembra de nada? – Gabriel perguntou. – Nada da noite passada?

Como um filme que estava em uma ilha de edição, a memória de bêbada da Nat lembrava de pequenos
frames de sua noite. A chegada de silvinha, a discussão das duas, o beijo, depois Silvinha tirando um litro de
vodka da bolsa.

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-- Aqui? – Nat perguntou um tanto temerosa.

-- Só um poquinho, pra relaxar...

E então tudo virava uma bagunça cronologicamente falando. Nat não conseguia lembrar se a hora que Cíntia e
Isa chegaram já estava sem o sutiã ou com. Lembrava bem quando tentou fugir das duas, o nervoso que
passou ao saber que as três já sabiam de tudo e Isa falando para as outras duas.

-- Sabe o que acho que a Nat esta precisando, gente? – Trocaram olhares cúmplices. Cada uma veio de um
lado. – A Nat esta precisando de carinho gente...

Como combinado as três partiram para cima de Nat, cada uma de um lado e começaram a fazer cócegas
provocando um ataque de risos na minha ex namorada. Cíntia também veio fazer sua parte.

-- Tá tudo aqui o que vocês pediram...

Nat pegou as garrafas de bebida, tinha para todos os gostos, desde uísque até a perigosa tequila. Na mesma
sacola das bebidas havia mais coisa. Nat tirou o objeto.

-- Pra que esses cabides?

-- Pra gente fazer uma festa cabide, bobinha! – Cíntia brincou roubando um selinho de Nat que ainda estava
surpresa com aquele desapego das três. – Nunca participou de uma festa cabide?

-- Festa cabide?

-- Festa cabide. – Silvinha explicava enquanto suas mãos circundavam a cintura de Nat por trás. Mordiscou a
orelha de Nat. – Todo mundo entra, tira a roupa e bota no cabide...

-- Maior festão... – Isa garantiu já tirando a própria blusa e ligando o som.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Todo dia a insônia me convence que o céu


Faz tudo ficar infinito
E que a solidão é pretensão de quem fica
Escondido fazendo fita

Todo dia tem a hora da sessão coruja


Só entende quem namora
Agora "vão bora"
Estamos meu bem por um triz

Quando Nat deu por si as quatro estavam já sem roupa no maior “ninguém é de ninguém acompanhando o
refrão de Cazuza em alto e bom som:

Pro dia nascer feliz


O mundo acordar e a gente dormir, dormir
Pro dia nascer feliz
Essa é a vida que eu quis
O mundo inteiro acordar e a gente dormir

E tudo na memória de Nat virava uma bagunça só. Lembrava de alguns flashes da noite Cíntia a puxando para
um beijo na boca, depois ela participando de um vira-vira com as três a incentivando virar um copo de
“Ypioca” de vez. Silvinha a amarrando em uma cadeira e Cíntia brincando de Lap Dance com Nat enquanto
despejava uísque em sua boca.

-- Cíntia...

-- Toma mais um pouquinho, toma...

Todo dia é dia e tudo em nome do amor


Essa é a vida que eu quis
Procurando vaga uma hora aqui, a outra ali
No vai-e-vem dos teus quadris

Nadando contra a corrente só pra exercitar


Todo o músculo que sente
Me dê de presente o teu bis

Depois Isa despejando caipirinha em sua própria barriga e fazendo Nat beber. Elas brincando de verdade e

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

conseqüência e os castigos sempre envolvendo doses e mais doses de José Cuervo. Nat bebia e elas sempre
desviando. Lembrou claramente de uma das brincadeiras em que Silvinha jogou a bebida meio de lado. Elas
estavam no banheiro da saleta. Agora a música já havia mudado já tinha mudado. Paula Toller era a escolhida
da vez com “Fazer amor, de madrugada, amor com jeito de virada”

-- Primeiro a patroa , depois a empregada... Vem Silvinha!!

Silvinha jogou o conteúdo do copinho na privada...

-- Já to indo, Nat, vem... – E virou algo na boca da minha ex. – Nat fez um careta. Silvinha cantarolava
animada. – Em cima do muro, embaixo da escada...

E depois tudo virava um apagão. Lógico que a maioria das coisas ela não recordou, horas mais tarde foi
acordada por Leandro, o primeiro a encontrada após o porre. Estava só de calcinha. O garoto ainda teve a
bondade de lhe arranjar a camisa do Corinthians.

Nat não conseguia tirar as mãos do rosto de tão envergonhada do que tinha aprontado na noite anterior. Caiu
no velho “conto do pescador”, seduzido por três sereias para depois ser engolida. Eu tentei servir um café,
mas ela se negou.

-- Não quero nada Alice! Quero só esquecer isso tudo...

A casa caiu mesmo meia hora depois. Nat recebia um telefonema. Eu não ouvia o que estava sendo falado do
outro lado, mas a coisa pegou feio. Ela saiu de lá soltando fogo pelas ventas, batendo a porta e tudo mais,
arrumada para sair.

-- Aonde você vai? – Perguntei ainda surpresa. – Nat?

-- Vou matar aquela vaca da sua prima! Eu fui expulsa do partido!

-- QUE? – Perguntei ainda incrédula, mas se eu disser que infeliz era mentira. Será que finalmente aquela
babaca iria embora e a Nat implicante, chata, mas divertida, que não tinha vergonha de mim voltaria? – EU
VOU MATAR AQUELA VAGABUNDA! Acredita que ela teve o descaramento de tirar fotos e mostrar
para o presidente do partido?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Passou por mim feito um trem bala.

-- Nat, espera ai, é vagabunda,mas é minha prima... – Corri para alcançá-la. A silvinha era a ovelha colorida
da família, rejeitada pelo meu tio, se morresse eu ainda ia ter que gastar com velório, enterro, tudo sozinha. –
Nat!

______________________________________________________________________

-- Vocês têm que conversar com a Rebeca! – Bruno dizia para Isa. Esta ainda estava de ressaca com direito
a cara de noite mal dormida e tudo. – Ela é amiga de vocês! Isa, você é médica, você tem que se preocupar
com a sanidade mental da sua amiga! Ela esta andando com aquele kit de tortura que vocês chamam de cera
quente embaixo do braço, o exame dela deu limpo!

-- Em primeiro lugar, Bruno, a Rebeca não é minha amiga, é minha companheira de despesas do apartamento.
– Isa rebateu daquele jeitinho “doce” que ela sabia fazer muito bem. – Em segundo lugar, se eu fosse a
Rebeca usava cera fria que dói mais! Em terceiro lugar não é porque a Rebeca quer dar um tiro na sua cara
signifique que ela esteja desequilibrada... Em quarto lugar raspagem significa higiene e...

-- Vocês não têm outro assunto além dos pentelhos do Bruno pra falar não? – Cíntia perguntou com a mesma
cara. – E... – Antes que conseguisse completar a frase, levantou desesperada e saiu correndo para o banheiro
com uma mão na boca e outra na barriga.

-- Terceira vez que ela passa mal só da hora que cheguei aqui até agora?

-- A Cíntia? – Isa questionou despreocupada. – Já tem um tempo que ela ta assim, falei para ela procurar um
médico e nada...

-- Ela emagreceu bem... – Bruno observou. Perdeu um pouco de peito. Também um pouco de bunda... Vai
ver é bulimia...

-- Ou fígado de pinguço!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

No banheiro, Cíntia deixava a alma no vaso sanitário. Agachada, depois de conseguir parcialmente se
restabelecer discou para um número.

-- Oi, sou eu... – Controlava-se para não chorar. – Aconteceu de novo..A conversa de Bruno e
interrompida pela chegada intempestiva

A conversa de Bruno e Isa não sala foi interrompida pela chegada intempestiva minha acompanhada de Nat.
A mulher estava doida de pedra. Quase matando um. Dessa vez deixei Heleninha dormindo na casa de Nat e
pedi pra a moça da cozinha tomar conta e fui dirigindo. Nat quase derrubou a porta, Isa veio atender.

-- Sim?

-- CADÊ AQUELA VACA?! CADE A CACHORRA DA SILVINHA?! CADÊ ELA? – Tirou Isa de seu
caminho. – Não é com você que quero falar, é com aquele cachorra da Silvinha! Eu tenho certeza que ela
armou tudo isso! Desde o meu nome na boca daquela sapa minha vida andou pra trás... Eu tenho certeza que
ela tem uma bonequinha de vudu minha escondida nas coisas dela e fica espetando dia e noite! SILVINHA!

-- Que sapa?

-- A Silvinha esta de cama!

-- De cama? – Perguntei preocupada. – O que aconteceu?

-- Pergunta aí para bonita. – Isa disse apontando para Nat. – Elas inventaram ontem de fazer a posição da
borboleta!

-- Da borboleta? Elas fizeram? – Bruno perguntou surpreso e depois confessou. – Eu nunca encontrei uma
que topasse fazer...

-- Uma borboletada a noite inteira... – Isa revelou. – Sabe que eu fui tentar fazer uma vez, eu estava assim
numa sauna, menino, me deu um mau jeito na coluna, sai de maca, tiveram que chamar o resgate, uma
vergonha... Fora meses e meses de acupuntura para coluna voltar o lugar...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- O que esta acontecendo aqui? – Silvinha questionou saindo no quarto. – Será que uma mulher não pode
estar de ressaca em paz e ... Oi Nat, tudo bem!

-- SUA FALSA! SEU VUDU! – Nat começou com as gentilezas. – Saiu por ai me denegrindo, acabou com
a minha vida!

-- Denegrindo! Eu estava quieto no meu canto, foi você que veio atrás de mim e ainda inventou aquele
absurdo que eu tinha um caso com a Cíntia e criei briga com a Alessandra, saiu em todos os jornais da
cidade! SUA BRUXA!

-- VUDU!

E enquanto elas batiam boca usando Bruno como mediador, eu fui tratar de me informar com a Isa.

-- Vem cá, essa borboleta é o que?

-- Nunca ouviu falar? – Isa perguntou surpresa. – É uma posição que as pernas da mulher fica assim nos seus
ombros e ela de bruços, só que ela tem que estar erguida, não pode ser na cama! Ai os dois tem que trabalhar
assim as costas. – Que é isso, essa gente fazia sexo ou treinamento para o Cirque de Soleil? – Nunca ouviu
falar?

Fiz um gesto negativo, uma curiosidade me tomou.

-- Você acha que a Júlia já fez a... Borboleta?

-- E você acha que ela tirou aquelas costas toda trabalhada da onde? Aquilo alçi já deve ter borboletado
muito por ai...

É... Vivendo e aprendendo. Nat não matou Silvinha como prometeu, mas também não saíram de lá
amiguinhas. Bruno resolveu o impasse das duas propondo um acordo:

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Você devolve as fotos para a Nat e você desiste de vez dessa ideia louca de apoiar aquele doido
homofóbico...

-- Não sei...

A discussão das duas foi interrompida por uma ligação de Ingrid para Silvinha. Notícias ruins. Alguém tinha
atacado uma pedra no Scarpan com um bilhete ameaçando a botar fogo no bar. Aquela não seria a primeira
ameaça. Silvinha já tinha até falado com Gabriel, ele reforçou a segurança com dois policiais, mas as ameaças
não paravam.

-- Viu o que o seu querido partido familiar apóia? – Silvinha jogou a cara de Natália em um tom realmente
preocupado. – Vai precisar acontecer alguma coisa séria pra você desistir dessa ideia absurda ou vai acertar a
ideia do “Despentelhado” aí...

-- Eu não sou “despentelhado”! – Bruno rebateu irritado. – E aí, Nat?

Contrariada.

-- Tá bom, desisto da secretária, já fui expulsa do partido mesmo! – Respirou fundo. – Fecho com a idéia do
“Despentelhado”!

___________________________________________________________________

Como eu não tinha mais o que fazer ali e estava morta de cansaço, peguei minha filha na casa de Nat e fui
para o hospital buscar minha namorada que ficou por lá. Quando cheguei encontrei uma Júlia bem diferente
do que eu estava acostumada a ver, os olhos tristes, cabisbaixa, amuada. Assim que ela me viu com Heleninha
nos braços me abraçou e me deu um beijo de quem queria carinho.

-- Que foi amor? – Eu perguntei preocupada. – O que aconteceu?

-- Cansaço...

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-- Júlia, você não esta cansada. Esta triste!

Júlia fez um gesto negativo.

-- São algumas coisas que somos obrigados a fazer e não nos sentimos bem. Você vai para cabana comigo?

-- Vou pensar... – Brinquei enquanto lhe dava um beijo.

O caminho nós fizemos conversando sobre coisas triviais. Ela morreu de rir da discussão da Nat com a
Silvinha e me confessou que também ficou feliz com Nat ter desistido da política. Decidimos procurá-la no dia
seguinte para falarmos de nós. Compramos pizza e quando chegamos na cabana já havia anoitecido. Eu
coloquei Heleninha na cama e fui separar os talheres para comermos a pizza. Quando cheguei com a pizza
fatiada ela já havia adormecido.

Alguma coisa estava acontecendo. Júlia não era assim, ela podia estar cansada, mas desanimada nunca. Comi
um pedaço de pizza e me deitei na cama. De madruga senti seu braço me puxando e abraçando minha cintura.
Beijei de leve seus lábios e me encaixei em seu abraço.

-- Decidiu se vai ficar na casa, amor? – Júlia me perguntou carinhosa.

-- Tenho que ver primeiro o preço do aluguel com sua vó...

-- Aluguel, Alice?

-- Só aceito se puder pagar, não quero nada de graça!

Ela fez um gesto negativo, me roubou um beijo delicioso e voltou a dormir encaixando as pernas nas minhas.
Eu senti que até um pouco de febre ela teve a noite, já estava ficando preocupada, precisava fazer alguma
coisa.

Na manhã seguinte, acordei cedinho. Mais uma vez só. Usando a camisa do Nirvana, circulei pela casa a
procura dela e a encontrei no jardim, com o celular e uma cara de preocupada. Desligou. Quando se virou e
me viu quase pulou para trás.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Já acordou? E-Eu não queria te acordar e...

-- Pra eu não te ouvir no telefone?

-- Alice...

-- Não é isso?

-- Eu não quero te preocupar...

-- Esta fazendo isso errado. – Respondi ressentida. – O que tem afinal nesse telefone? Outra mulher?

-- Me dá um voto de confiança?

Fiz um gesto positivo.

-- Eu vou dar... – Respondi ainda ressabiada. – 24 horas.

-- Que?

-- 24 horas. Você tem 24 horas para resolver o que sei lá esta acontecendo com você e esse celular, depois
disso eu quero saber o que esta acontecendo.

-- Alice...

-- Namorada! – E a relembrei. – Dividir, compartilhar, esqueceu?

Júlia fez um gesto negativo.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Então você aceita daqui a 24 horas me contra o que esta acontecendo?

Meio contra a vontade ela aceitou minha proposta. Agora daqui a 24 horas eu saberia o que realmente
atormentava a vida de Júlia. Mal sabia eu que o problema só estava no inicio.

End Notes:

Alessandra entrou na garagem, esperaria por Cíntia o tempo que fosse, ela teria que
escuta-la. A porta do Fusca estava aberta, Alessandra se acomodou nos bancos.
Abriu o porta luvas a procura de alguma coisa para passar o tempo, encontrei alguns
papéis. Começou a ler. Os mesmo papéis que Nat havia encontrado. A mesma
surpresa em seus olhos. As mãos tremulas não deixavam sustentar o papel no ar e
acabou deixando o exame cair no chão.

Não, aquilo não podia ser verdade. Era só uma brincadeira. Cíntia era atleta. Aquilo
não podia estar acontecendo! Ou será que podia? Abaixou e pegou os papéis,
quando ergueu a cabeça seus olhos se encontraram com Cíntia que tinha acabado de
entrar.

-- Alê?

-- Você separou de mim por causa disso? Por que esta doente?

_____________________________________________________________________

E aí! E o namoro da Júlia com a Alice, o que estão achando? E a Nat? Algum palpite
o que a Cíntia tem?

Bjoooos!!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 40 by Tamaracae

Author's Notes:

Oi meninas!!! Boa noite!! Capítulo de fim de semna como prometido. Desculpe, acho
que fiquei d devendo um pouquinho de qualidade, mas aconteceram algumas coisas
que me deixaram chateada e acho que refletiu um pouco no texto.

Life is real

http://www.youtube.com/watch?v=4AY9N04K5m4

Nós duas estávamos paradas, uma de frente a outra. Eu não sabia o que dizer, mas nem precisei falar nada.
Júlia me abraçou e me beijou de um jeito carinhoso envolvendo seus braços por trás. Beijou meu rosto todo,
aproximou a boca da minha orelha.

-- Eu adoro você.

-- Então me dá um beijo?

Só foi ela aproximar a boca da minha para o meu celular tocar. Eu já estava começando a desconfiar que as
pessoas tinham um combinado com a minha operadora. Cada vez que eu aproximasse minha boca de Júlia o
empata da vez ganhava um bônus de crédito, não era possível. Pensei em não atender, mas o chato era
persistente e continuou me ligando.

-- Oi Silvinha?! - ... – Mas ela já foi para o hospital? - ... – Aaaah... Ela já foi? Tá, eu vou e fico com ela ai...
- ... – Silvinha, eu sou médica, eu sei o que fazer... -... – Tchau, fica com Deus! - ... – Desde quando você
não acredita em Deus, Silvinha?! Tchau! - Desliguei. – Eu vou ter que ir até a Silvinha. – E expliquei. – A
Cíntia passou mal de noite, foi no hospital de manhã e não esta se sentindo bem...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- O que ela esta sentindo?

-- Dor nas costas, abdominal, deve estar com resseca pós balada... – Eu disse despreocupada. – Mas vou lá
senão a Silvinha não trabalha direito...

Júlia fechou o rosto e por fim fez um gesto afirmativo.

-- Tá, eu te dou uma carona. A Cíntia esta em casa agora?

-- Ligou pra Silvinha que assim que sair do hospital e voltava pra lá, por quê?

-- Por nada! Vamos?

_____________________________________________________________________

Em menos de uma hora chegávamos ao centro de Silvéster. Júlia não ia trabalhar, mas tinha que ficar com
Nat. Eu subi para o apartamento, Isa e Rebeca estavam no hospital, Silvinha deixou a chave comigo e eu
fiquei lá tentando dar uma ordem naquela bagunça enquanto observava Heleninha brincando na cama.

Cada dia ela parecia estar mais comprida e esperta. Com quase quatro meses ela descobria algo para se
entreter por conta própria, seus próprios dedinhos das mãos e dos pés. Quando as coisas estavam muito
quietas eu dava uma espiada e lá estava ela com os dedinhos na boquinha ou brincando com os penduricalhos
do carrinho.

-- Lelê, o que você acha da gente virar vizinha da Júlia?

Ela já me reconhecia, levantava a cabeça, me acompanhava com os olhos, sorria pra mim. Ela mexeu a
cabeça como se entendesse o que eu falava.

-- Já sabe que a mamãe, é a mamãe?- Perguntei brincando com ela. Heleninha me olhou e pegou o chocalho
com a mãe. – Quer brincar com a mamãe?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Enquanto eu me distraia com Helena a espera de Cíntia, ela saia do hospital. Já pegava o caminho de casa
quando foi parada por um carro. Júlia na direção fez um sinal para que ela entrasse. Meio cautelosa Cíntia
aceitou a carona. Pararam em uma rua menos movimentada.

-- Júlia, eu não pedi...

-- Eu quero conversar com você! – Júlia a interrompeu. – Cíntia, eu não quero mais guardar... Você precisa
tratar disso!

-- Nem pensar! Eu estou bem – Júlia a encarou irritada. – E-Eu estou melhor!

-- Cíntia, isso tem tratamento e...

-- NÃO! – Rebateu. – EU NÃO QUERO TRATAMENTO EU...

-- MENTIRA! MENTIRA! – Júlia explodiu. – SE VOCÊ NÃO QUISESSE FICAR CURADA, VOCÊ
NÃO IA NO HOSPITAL! SE VOCÊ NÃO QUISESSE FICAR BOA, VOCÊ NÃO ME LIGARIA
DESESPERADA CADA VEZ QUE VOCÊ PASSA MAL! SE VOCÊ NÃO QUISESSE FICAR BOA
VOCÊ NÃO SE DESESPERARIA ACHANDO QUE TINHA PEGADO SÍFILIS DA MINHA IRMÃ! –
Sua respiração estava ofegante, estava nervosa, desesperada. – Se você não quisesse se curar por que diabos
veio me pedir ajuda?

-- Júlia, você esta...

Júlia fez um gesto negativo.

-- Eu vou contar a verdade para Alice!

-- Que? Não! Você não pode, você é minha médica, é...

-- Isso, esse é o ponto! – Segurou Cíntia pelos ombros. – Sou uma médica! Estou cansada de ver as pessoas
morrerem em minhas mãos! A minha mulher morreu em minhas mãos, meu outro filho morreu em minhas
mãos, um pai de família que saiu para trabalhar e foi atingido em um confronto entre índios e fazendeiros

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

morreu em minhas mãos! Ontem uma menina da idade do meu filho morreu nas minhas mãos! Eu estudei para
salvar vidas! – Afrouxou as mãos tentando controlar seu nervosismo. – Eu estou cansada de assistir todo
mundo morrer em minhas mãos! Você pode viver!

Finalmente desprendeu suas mãos dos braços de Cíntia. Júlia não costumava perder a calma, mas engolir um
absurdo daqueles já estava lhe tirando o sono. Uma hora iria explodir como explodiu. Entre lágrimas, Cíntia
murmurou.

-- Me leva para minha casa...

O caminho inteiro elas fizeram em silêncio. Cíntia não conseguia mais disfarçar seu choro. Já tinha atravessado
a fase do desespero da doença, da aceitação... Lembrava-se do dia que pegou os resultados do exame com
o doutor Felipe, seu médico atendente. As palavras dele, o consultório em branco, tudo virava uma mistura só
na cabeça da Cíntia. Estava sozinha, Alessandra tinha ido trabalhar não pode acompanha-la. Passou os olhos
pelo papel timbrado, repassou e nada entendia. Quando saiu do hospital olhou para todos os lados a procura
de uma direção a tomar.

Guilt stains on my pillow

Blood on ny terraces

Torsos in my closet

Shadows from my past live is real

Life is real, life is real, so real

Sleeping is my leisure

Waking up in a minefield

Dream is just a pleasure dome

Love is a roulette wheel - life is real

Life is real, life is real, oh yeah

Success is my breathing space

I brought it on myself

I will price it

I will cash it

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

O celular tocou em sua bolsa, só podia ser Alessandra. Ela tinha ficado de ligar quando Cíntia saísse do
consultório. Olhou o visor e viu a foto de Alessandra. Com os olhos cheios de lágrimas, rejeitou a chamada.
Não apenas rejeitou, mas jogou o celular com violência na primeira lixeira que viu pela frente. E correu, correu
muito, sem pensar, apenas obedecia o comando das pernas. As lágrimas do rosto se misturavam com o suor,
apenas quando sentiu se fraca parou. Parou e caiu. Ajoelhada, chorava muito, os cabelos desalinhados,
sentia-se suada, cansada, suja. Perdeu a noção de quanto tempo ficou ali.

I can take it or leave it

Loneliness is my hiding place

Breastfeeding myself

What more can I say

I have swallowed the bitter pill

I can taste it, I can taste it

Life is real, life is real, life is real

Music will be my mistres

Loving like a whore

Lennon is a genius

Living in every pore

Life is real, life is real, life is real, so real

Life is cruel

Life is a bitch

Life is real - so real

-- Cíntia? – Cíntia virou-se para o lado e então reconheceu a voz de Júlia. Só então notou onde estava,
parada no meio da avenida mais movimentada da cidade. Na calçada que dividia os dois lados, abraçada as
pernas raladas, com lágrimas nos olhos. – Cíntia, o que foi que aconteceu? – Júlia tinha encostado o carro,
veio ao seu encontro, se agachou tentando ajudá-la, Cintia evitou suas mãos. – Hey, o que aconteceu?

-- Não encosta em mim... Eu... Eu...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Calma, você quer minha ajuda? – Ainda confusa, chorando abundantemente Cíntia fez um gesto afirmativo.
– O que aconteceu?

Cíntia entregou os papéis que estavam em suas mãos. Júlia reconheceu o timbre do hospital e a letra de
doutor Felipe, seu colega de trabalho. Em poucos minutos leu o relatório feito a mão pelo amigo.

-- Cíntia... Eu...

-- Eu vou morrer... – Cíntia conseguiu murmurar antes de abraça-la. – E-eu vou morrer...

Júlia não teve opção a não ser abraçar literalmente aquela causa. Isso tudo tinha acontecido quando eu ainda
estava de barriga da Helena e se fui saber muito depois. Júlia como prometido tentou ajuda-la, mas todas as
formas de tratamentos era rejeitadas pela louca da minha amiga e assim foram se passando os meses. Cíntia
disfarçava que estava tudo bem, mas por dentro encontrava-se desesperada, por isso as medidas loucas de
abandonar a casa, abandonar Alê e o vôlei. Quando chegaram na porta do prédio de Silvinha, Júlia
estacionou o carro. Cíntia ia abrir a porta, mas Júlia a deteve.

-- Eu sei que você quer se curar...

-- Desculpa... – Cíntia abraçou minha namorada, mais uma vez chorava em seu ombro. – Desculpa...

_______________________________________________________________________

-- Gabriel, eu não quero... – Nat tentava desviar a boca da gosma verde que Gabriel trazia com uma colher
próximo a sua boca. – Já não basta vocês não me deixarem trabalhar?

-- Ué, mas se você esta resfriada não pode ir mesmo trabalhar. – João ao lado do tio forçava Nat a tomar
sopa. – Senão vai passar resfriado para os outros doentes...

-- O garoto esta certo! – Gabriel concordou. – E esse caldo verde que sua vó fez tá um delícia, toma um
pouquinho.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Resfriado, essa foi a desculpa que os dois inventaram para João não contando sobre o verdadeiro que fez Nat
ficar dois dias de calma: José Cuervo. Ainda inconformada com sua saída da vida política pela porta dos
fundos e ainda ser obrigada a ficar parada em casa, o humor de Nat não estava dos melhores. Se acomodou
na cama da melhor forma.

-- Vem cá, você se enfiou na minha casa... – Nat falava a Gabriel quando tomava o tal caldo verde. – Cadê
sua namorada, hein? A de São Paulo... A Lia? – João e Gabriel se entreolharam cúmplices. – Que foi?

-- Digamos que ela nãoconseguiu compreender muito bem o caráter da minha amizade com minha ex mulher e
precisa de um tempo para se acostumar com o nosso bom convívio...

Na verdade Lia tinha atacado um cinzeiro na cara de Gabriel ao saber que ele foi atrás da ex mulher bêbada e
dormiu no apartamento de Nat um dia depois de passarem mais uma noite juntos. João que tinha visto todo o
ataque de ciúmes da minha amiga deu uma risadinha de lado e ajudava Gabriel a alimentar Nat. O telefone da
casa tocou, João correu para atender.

-- Alô? - ... – Fala, tio... - ... – Tá, vou passar! – Entregou o telefone a Gabriel. – É o Despentelhado...

-- João... – Nat o censurou. – Respeito, ele é seu tio. Pega uma água para mim lá na cozinha, filhinho?

-- Fala, moleque... - ... – Quem? - ... Estou indo para ai agora! ... – Falou, tchau! – Desligou e explicou para
Nat. – O esfaqueado acordou, tenho que ir lá...

-- Louvado seja... – Nat brincou fingindo alívio por Gabriel ir embora. Ele foi dar um beijo em seu rosto de
despedida os dois sem querer se enroscaram e trocaram um selinho de leve. – É... Tchau!

-- Tchau!

Nat estava ali, confusa em seus pensamentos quando foi interrompida por João, trazia o copo d’água e o
telefone nas mãos.

-- É o doutor Gusmão.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Fala Gusmão... - ... – Espera, vou ver no meu celular o número dela... – Olhou para os lados e nada de
encontrar o aparelho. – Só instante, daqui a pouco eu te ligo. – Continuou a procurar o aparelho sobre a
cama. – João, viu meu celular?

-- Não.

Passou mais uns quinze minutos procurando e nada, só podia estar na casa de Silvinha. Lembrou claramente
quando tirou o celular da bolsa e depositou sobre a bancada de mármore da cozinha no meio da discussão.

-- Tia, vai sair?

-- Vou buscar meu celular na casa da prima da Alice, não demoro... A Joana ta lá na cozinha, se tiver vontade
de comer alguma coisa pede a ela...

____________________________________________________________________________

Bruno já esperava Gabriel ao lado do “esfaqueado” quando ele chegou ao hospital. Era um caso diferente
dos outros, o encontraram esfaqueado na rua e julgaram ser bandido por estar em posse de uma bolsa
feminina.

-- O nome dele é Gustavo Fernandes de Souza Júnior, profissão playboy arrumador de briga...

-- Você é da polícia agora? – Gabriel interferiou daquele jeito “dócil” que os homens acima de 5 anos gostam
de se tratar. – Sabe de alguma coisa a mais?

-- Que o pai dele também deve se chamar Gustavo...

-- Genial você , eu estou falando de... – Gabriel parou, releu o nome no papel que Bruno tinha escrito. –
Gustavo Fernandes de Souza! É o cara...

-- O que?

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-- O nome do segundo residente! Que atendeu tua irmã no acidente da Marcinha. Você pode ter achado o
filho do cara. – Bruno encarou Gabriel que exibia um sorriso de orelha a orelha. – Bom trabalho, bebezão!

________________________________________________________________________

Alessandra ficou parada ali, em frente ao prédio de Silvinha durante horas. E nada de ninguém sair de lá. O
prédio não tinha porteiro, eram dessas construções de três andares, com poucos apartamentos e com o
portão trancado a chave, somente moradores entravam. Uma menina de uns quinze anos, distraída, saiu e
apenas encostou a porta, era a brecha que precisava. Correu e entrou. As garagens ficavam lá nos fundos,
logo encontrou a do Fusca. O portão também estava só encostado.

Alessandra entrou na garagem, esperaria por Cíntia o tempo que fosse. Ela teria que escuta-la. A porta do
Fusca estava aberta, Alessandra se acomodou nos bancos. Abriu o porta luvas a procura de alguma coisa
para passar o tempo, encontrou alguns papéis. Começou a ler. Os mesmo papéis que Nat havia encontrado.
A mesma surpresa em seus olhos. As mãos trêmulas não deixavam sustentar o papel no ar e acabou deixando
o exame cair no chão.

Não, aquilo não podia ser verdade. Era só uma brincadeira. Cíntia era atleta. Aquilo não podia estar
acontecendo! Ou será que podia? Abaixou e pegou os papéis, quando ergueu a cabeça seus olhos se
encontraram com Cíntia que tinha acabado de entrar.

-- Alê?

-- Você separou de mim por causa disso? Por que esta doente?

-- Alê, me dá isso aqui é meu! E...

Lá em cima eu estava ficando preocupada com toda aquela demora da Cíntia. Só então tive a ideia de descer
e vê se ela estava no Fusca. Com Heleninha no colo desci até a garagem e escutei as duas.

-- Foi por isso? – Alessandra voltou a perguntar. As lágrimas se embaçavam no vidrinho dos óculos de grau.
Alessandra jogou os óculos longe. – Me expulsou de sua vida, jogou fora todos nossos planos, seu ouro
olímpico, nosso casamento, nosso... Eu te perguntei um milhão de vezes...

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-- EU ESTOU DOENTE! – Cíntia explodiu revoltada. – DOENTE! Eu contei para Júlia, a Natália
descobriu! Eu não quis... As coisas não deveriam ser assim, mas são! - Chorando. – Acha que eu vou estar
viva para ser campeã olímpica? – Amotinada. – Acha que daqui um ano vou estar viva para me casar com
você? – Cíntia fez um gesto negativo. – Pronto! – Chorosa. - Agora você já sabe a verdade, não era isso que
te importava? Saber o que aconteceu para seguir em frente! – Jogou os exames em cima de Alessandra. - Vai
embora!

-- Cíntia!

-- Eu quero ficar sozinha! VAI EMBORA!

Alessandra saiu apressada, fui até ela, nem precisei perguntar o que acontecia, ela foi muito direta.

-- A Cíntia esta com um tumor maligno avançado no pâncreas. Em estágio 4. O câncer se espalhou e agora
esta na cabeça! – Fez uma pausa. Era muito, muito grave o que ela estava falando para mim. Não sei de onde
tirei forças para carregar Helena nos braços. – Sua amiga acha que vai morrer em alguns meses e não quer se
tratar. – Outra pausa. Revoltada. – Vocês são médicos! – Enfurecida. – Médicos! Onde diabos vocês
estavam? Por que estão deixando-a morrer?

Acho que se eu tivesse levado um chute na cara não doer tanto quanto a ultima frase. Na minha cabeça tudo
era muito confuso. Cíntia era uma atleta, fazia exames periódicos. Sua única queixa era uma leve dor no
abdômen e dor nas costas. Sempre pensamos que era sequencias de jogos ou algo do tipo. Câncer no
Pâncreas é um dos mais difíceis de ser tratado pois geralmente é descoberto em estágio avançado. Eu fui até
a garagem, mas Cíntia me expulsou de lá.

-- Agora vocês já sabem! Me deixa sozinha Alice!

Com lágrimas nos olhos só ficava pensando o quanto aquilo era injusto. Cíntia se cuidava, era bem menos
relapsa com a saúde do que nós todas que vivíamos enfiadas dentro de hospitais. Éramos da mesma idade!
Ela era tão cheia de vida! Como pode esconder por meses aquilo da gente? E o pior, como eu não notei ?O
tanto que ela emagreceu desde que cheguei de volta de São Paulo e nada de eu me ligar! Que raiva!

-- Alice!

Lá estava ela. Júlia! Ela sabia de tudo e nem para me contar. É lógico que
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Júlia não me contou por estar presa na ética médico-paciente. Mas revoltada do jeito que eu estava,
precisava arranjar um culpado. Lógico como ela sabia e não me contou nada acabou sobrando para Júlia.
Calculando que Alê havia me contado tudo Júlia veio toda consoladora para meu lado, mas a empurrei.

-- Alice?

-- Era a Cíntia! A Cíntia! – Grosseira. – Você não poderia ter tido a decência de ter me contado?

-- Era minha paciente! – Júlia ainda tentou argumentar. – Eu tentei, eu juro que tentei, mas eu não podia
obriga-la. – Alice, você quer me escutar?

A última coisa que eu queria era escutá-la. Sai andando rápido, só queria ir embora para a casa da Dona
Regina e me trancar no meu quarto e chorar. Chorar muito! De raiva, de medo de perder a minha amiga,
minha distração em não notar que ela estava doente. Não peguei nada lá em cima, sem pensar fui direto para
a porta e acabei trombando com alguém.

-- Alice? – Nat perguntou confusa com meu estado. – O que aconteceu, você precisa de alguma coisa?

-- Me leve embora daqui.

-- O que?

-- Me leva embora daqui.

Nat fez um gesto afirmativo. Pegou Heleninha do meu colo e me ajudou a entrar no carro. Ainda avistei Júlia
vindo em direção, pelo retrovisor, mas Natália partiu com o carro deixando Júlia para trás. O caminho inteiro
eu chorava e Heleninha também não entendendo o porque daquele desespero todo. Quando chegamos no
apartamento de Nat ela me serviu um copo d’água com açúcar. Só depois disso que consegui explicar o que
acontecia.

-- É a Cíntia, Nat! A Cíntia! Nem beber ela bebia! Ela fez um testamento e eu não me toquei...

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-- Alice, a culpa não é sua nem de ninguém...

-- Eu estou acostumada com tanta loucura na minha vida! A minha amiga morrendo e eu não notei...

-- Calma , calma, ela precisa de você forte, se desesperar não vai ajudar em nada! – Fez um carinho. –
Calma, Alice...

Ela me abraçou e não sei por quanto tempo me perdi naquele abraço. Quero deixar bem claro que encarei
como um abraço de amigo. As lágrimas começaram a cessar e Nat me falava um monte de palavras
consoladoras. Em resumo, estava sendo um amor como amiga. Por fim me deu um beijo no rosto.

-- A gente vai cuidar da teimosa da Cíntia, não fica assim não. Eu vou falar com ela...

-- Você promete?

-- Dou minha palavra.

Em agradecimento dei um beijo no rosto de Nat e ela me abraçou com mais força. Ouvimos um barulho na
porta e João cumprimentando alguém. Passos e alguns segundos depois Júlia surgia na porta e flagrava aquela
cena, eu abraçada a Nat. Só então saquei a burrada que eu tinha feito. Nat alheia a condição de meu
relacionamento ainda perguntou a ela.

-- Júlia, o que você esta fazendo aqui?

End Notes:

Meninas, como eu disse, hj não estoumuito bem então suspendi as cenas dos
próximos capítulo, mas nos próximos capítulos elas vão voltar!

Um bjo pra todas vcs, obrigada pelo carinho!!! Bom FDS a todas!!

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Capítulo 41 by Tamaracae

Author's Notes:

Oiiiis Voltei!!! Bom capítulo para todas vcs e obrigada pelo carinho!!!

Gosto de todas vcs, mas esse capítulo vou dedica a leitora Juh, depois de não sei
quantas tentativas conseguiu fazer o pedido para sua "Alice" KKKKKKKKK

Bjão Juh, boa sorte e muito juízo na nova fase!!!

Quando Nat perguntou a Júlia o que ela fazia ali, tive a mesma sensação de um esgrimista resvalando sua pele
na ponta da espada do adversário. Natália tinha dado o seu “touche”, o golpe final em nós duas. Nosso
envolvimento descoberto da forma mais conturbada possível. Apenas fechei os olhos esperando m tapa,
alguma ação indignada ou algo do tipo. Ao invés disso ouvia a voz de Júlia se explicando tranquilamente.

-- A Alice saiu do prédio desesperada. – Fez uma pausa. – Só vim saber se ela estava bem. – Júlia me
encarou com seriedade. – Tudo certo, Alice? Você esta se sentindo bem...

Eu acho que meu suspiro de alívio foi tão grande que até a própria Nat pensou que eu estava passando mal.
O fato dela não agir feito uma louca e sair contando tudo assim para irmã de qualquer jeito me fez sentir ainda
mais envergonhada por conta de minha crise. Discretamente consegui me desvencilhar dos braços de Nat. Ela
estava magoada comigo e com razão. Deixei me levar pelo desespero e descontei nela toda minha revolta
pelo que o acaso tinha aprontando com minha amiga.

-- E-eu sou uma... – Não consegui completar a frase caindo em um choro compulsivo. Dei uma abraço em
Júlia que acabou me abraçando de volta mesmo chateada. – Des-descul...

-- Nat pega um copo d’água pra ela... - Nat fez um gesto afirmativo e correu até a cozinha. - Senta aqui.
Não chora assim Alice...

-- Desculpa... Eu não queria ter dito aquelas coisas para você. – Nervosa, chorando eu molhava todo seu
ombro, senti que tinha desapontado Júlia de verdade. – Eu não queria mesmo, foi...

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-- Mas você disse...

Eu disse porque sou uma anta. Porque sou uma besta, porque não quero enxergar a mulher maravilhosa que
você é, pensei. Droga, eu sou só uma tola apaixonada que não consegue raciocinar direito. Uma imatura que
mal passou da “adolescencia” e ainda não sabia filtrar suas emoções. No fundo fiz como Nat agiu comigo no
dia da Marisa. Gritei, esperneei, corri para outra e não dei chance de Júlia se explicar. Assim como odiei Nat
no dia, também me odiei naquele instante.

-- Júlia...

-- Eu fiz chá de erva cidreira. – Nat anunciou. Achei fofo vê-la carregando a bandeja com um bule fumegante
e xícaras. – Toma um pouco, vai acalmar...

Júlia deu um meio sorriso à irmã e ajudou a colocar a bandeja sobre o criado mudo e me serviu uma xícara.
Nat se sentou ao seu lado e observei as duas conversando. Acho que falavam sobre Cíntia. Pelo menos era o
que parecia. Os meus olhos começaram a pesar, a voz das duas ficaram distantes e acabei pegando no sono.
Acordei uma hora e pouco depois sozinha no quarto. Heleninha chorava, ela estava na sala, mas dava para
ouvir seu choro do outro cômodo. Ainda com a cabeça meio “dormindo”, levantei, coloquei meus sapatos e
segui até a sala. Lá estavam os três. João, Natália e Júlia acomodados confortavelmente no tapete do chão da
sala, assistiam a um jogo de futebol estrangeiro. Duas garrafas de cervejas “long neck” na mesinha de centro e
um copo de Coca Cola. Helena no colo de Nat que tentava lhe dar mamadeira.

-- Acho que ela quer peito, Nat... Pode me dar ela...

-- Você esta melhor?- João perguntou preocupado. – Você não esta doente também, né , Alice?

Júlia sorriu com apreensão do filho e explicou.

-- Só foi uma crise nervosa que ela teve. – Virou- se para o meu lado. – Mas ela parece que já esta bem... –
Se levantou. – Bom, eu tenho que ir...

-- Já? Nem terminou o jogo. – João perguntou chateado, percebeu a “mancada” que tinha dado. – Mas e
Alice?

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-- Eu tenho que ir... – Júlia falou de um jeito fofo como se estivesse doida para passar outra noite junto dele.
Olhou para o meu lado. – Acho que a Nat vai cuidar bem da Alice...

-- Não! – Respondi de imediato. – Eu vou ir também... – Nat me encarou um tanto confusa. – Me leva até
minha prima?

-- Alice, se você quiser dormir aqui...

-- Não. – Me virei para Nat. – Obrigada, Nat, mas eu tenho que ir. Eu preciso contar para Silvinha, para Isa
e para a Beca também... E quero ver se consigo falar com a Cíntia.

Com os meus argumentos, me despedi dos dois. Desci no elevador com Heleninha nos meus braços e Júlia ao
meu lado. Nos duas caladas. O único barulho era da Lele balbuciando seu “Ah ah ah” enquanto tentava puxar
um colar que eu usava achando que chocalho. No carro acabei entregando um brinquedinho em suas mãos e
ela se acabou sendo entretida. Na porta de Silvinha seria nossa separação. De lá ela seguiria para o hospital.
Eu não podia deixar que ela trabalhasse com raiva de mim.

-- Você ainda tem dez minutos pra gente conversar?

-- Tenho sim.

Fiz um gesto afirmativo. No caminho eu já tinha passado um milhão de vezes nossa conversa. Rebatido prós e
contras, analisava meu ponto de vista escutava o que ela tinha para me dizer, mas agora, ali em frente aqueles
olhos que tanto me balançavam, me senti perdida.

Cabisbaixa não sabia o que dizer e se eu tinha o direito de dizer alguma coisa. Ergui meus olhos e mais uma
vez deixei lágrimas escapar. Júlia sorriu para mim, fez um carinho em, deu um beijo na minha bochecha.

-- Eu queria ter contado pra você antes... Se eu pudesse contava pra você lá em São Paulo. E se eu pudesse
também obrigava a Cíntia a fazer o tratamento, mas eu...

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-- Você ta com raiva de mim, não esta?

Júlia fez um gesto negativo.

-- Um pouco desapontada. – Fez uma pausa. – Você não me deu chance de explicar...

-- Eu estava chocada, revoltada, triste com tudo isso sem poder fazer nada e...

-- E você acha que esses últimos quatro meses, cada vez que eu vejo a Cíntia mais magra, você acha que eu
me sinto como? –Mais uma vez baixei os olhos envergonhada. – Alice, a culpa não foi minha também... – Fez
uma pausa. – Por que você foi com a Nat?

-- Ela que me encontrou assim, eu estava me sentido perdida, triste, queria sei lá, abraçar alguém, queria
chorar em algum ombro... Não pensei em nada na hora...

Júlia fez um gesto afirmativo.

-- Não em nada mesmo. – Ressentida. - Nem em mim.

O que dizer depois dessa? Ela estava certa. Não tinha pensado em ninguém mesmo. Só em mim. Com certeza
quando eu aprontava das minhas quando e confundia o Renato Aragão bandidão com o Renato Aragão das
criancinhas, descia na casa da tia errada, ia presa as gargalhadas por causa de um velho que morreu dando
uma havia sido menos idiota do que fui com ela naquela tarde. Ainda envergonhada aceitei sua ajuda e desci
do carro. Despedimos com um beijo no rosto em silêncio e assistir Júlia ir embora.

Acompanhada por Helena, subi até o apartamento de Silvinha. Engraçado, Helena parecia saber que eu
estava triste e fazia gracinhas tentando me arrancar um sorriso. Seus dedinhos brincava no meu rosto e fingia
tossir querendo chamar minha atenção. Quando eu olhava para ver se ela estava engasgada ela dava um
gritinho alegre e sorria com os olhos como se quisesse me dizer:

-- Bobona, te peguei! Agora para de chorar e vamos brincar juntas, mamãe.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Eu bati três vezes na porta. Toda vez que eu chegava perto de uma porta ela começava a dar gritinhos se
anunciando. Ninguém veio atender. Bati mais algumas vezes e Isa finalmente apareceu. Os olhos e nariz muito
vermelhos como se estivesse resfriada. Baixou os olhos e murmurou um “entra ai”.

-- Tudo bem? – Perguntei um tanto confusa. Será que ela já sabia. – As meninas estão ai?

A atenção de Isa não estava em mim e muito menos na Helena. Ela jogava no Xbox da minha prima com o
sensor. Um “doce” de jogo por sinal. Isa era uma espécie de Zumbi que ficava dentro de um cemitério e saia
distribuindo socos e chutes na cara de uns lobisomens de três cabeças. Eu só sabia jogar Super Mário com
aquele universo todo infantil, até me afastei. Isa se movimentava com mestria, mantinha a guarda em pé e
estava à própria pugilista com aquela expressão de raiva do oponente nos olhos. Soltou um soco no queixo
que o bicho na tela da TV voou longe.

-- Silvinha saiu com a Alessandra atrás da Cíntia que sumiu. – Um chute que foi parar bem nas “partes” dos
bichos. – Rebeca foi trabalhar.

-- Sei... – Rapidamente passei para o outro da sala antes de ser confundida com o lobisomem, de três
cabeças e acabar levando um murro na cara. – Você disse que a Silvinha saiu com a Alê?

-- Saíram atrás da Cíntia que não quer falar com ninguém! – Isa me explicou, meteu um gancho em um das
caras de um outro lobisomem. Esmurrou mais dois e deu outra pancada no bicho. – E disse que não quer mis
ver a cara da Alessandra por que ela contou para gente.

-- Então você esta sabendo da Cíntia?

Isa deu uma cabeçada no peito do lobisomem.

-- Estou! A Alê contou tudo.

-- E nem com você ela quer falar? – Eu questionei. Isa era a pessoa mais próxima de Cíntia entre nós. – Isa?

-- Não sei.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- O que?

-- Não fui falar com ela.

Eu sabia que Isa era fria, agora aquele ponto era um pouco demais até para Isa.

-- Isadora, que parte você não entendeu que sua amiga esta precisando de você? – Eu questionei irritada com
aquela “indiferença” de Isa. – Você esta tentando me dizer que não se importa com a sua melhor amiga?

-- Eu? – Isa perguntou irônica, de olho na tela. – Me importar? Não. Por que eu me importaria? – Isa
perguntou agressiva enquanto espancava um dos monstros a sua frente. – Por que ela simplesmente mentiu
pra mim todas as zilhões de vezes que eu perguntei o que estava acontecendo? – Deu mais dois socos,
revoltada. - Por que ela preferiu confiar na Júlia e não me procurou? Ou por que ela se comporta feito uma
estúpida e simplesmente se negar ao tratamento? – Agora eu entendia o que estava acontecendo. Isa poderia
ser comparada a uma jarra d’água cheia até a boca, mas teimosa o bastante para se deixar derramar. Toda
aquela raiva, adrenalina e agressividade no fundo era apenas tristeza e medo. – Não, eu não me importo!

Eu tinha um milhão de argumentos para encher aquela cabeça dura da Isa, mas resolvi respeitar seu tempo.
Ouvi um barulho na porta. Silvinha entrava em casa. Olhar cansado, ombros caídos, eu conhecia bem minha
prima, estava entristecida. Engraçado, como eu consegui ficar afastada 20 anos de alguém que me conhecia
tão bem como Silvinha? Trocamos um olhar e ela me seguiu até o quarto. Fechei a porta.

-- E aí?

-- Câncer no estágio 4? – Ela me perguntou ainda entalada com aquela bomba na garganta. – Na boa, como
essa menina esta conseguindo ter cabeça pra se levantar todo dia?

-- Não faço ideia...

-- Dia horrível. O que mais pode ficar pior? – Baixei a cabeça e fingi estar prestando atenção em Heleninha
que tentava pegar meu colar outra vez. – Alice, o que você aprontou agora?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Eu?

-- Alice, te conheço... Quando você faz essa cara de merda...

Como já disse amo quando as pessoas me colocam para cima. Tá certo, dessa vez eu merecia aquele ralho.

-- Briguei com a Júlia. – Respondi envergonhada. - A Cíntia era paciente dela. E o pior, ainda a deixei
falando sozinha e fui embora com a Nat.

-- QUE?

-- Não do jeito que você esta pensando...

-- Como assim você foi embora com a Nat?

-- Aí, agora vocês estão saindo, desculpa Silvinha, eu não fiz por mal e...

-- Enlouqueceu, Alice? – Deu uma risada nervosa. – A Nat só foi diversão de um dia... Coisa pra passar um
tempo... Mas me conta o que aconteceu.

Obedeci enquanto dava a mamada de final do dia para Helena. Contei tudo, desde o pedido de namoro mais
fofo do mundo que Júlia tinha me feito até a patada que eu desferi quando descobri a doença de Cíntia.
Depois da explicação mais elogios vindo da minha querida prima.

-- Idiota! O que deu hoje em você? Comeu cocô?

-- Ai Silvinha...

-- Ai Silvinha , o cacete! Depois de dar mama para essa criança pode ir correndo atrás da sua mulher naquele
hospital. A senhorita que não gosta de relacionamentos te pede em namoro, te trata feito uma rainha, te olha
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

como se você fosse Deus na terra! O que você precisa mais pra entender que ela esta apaixonada? –
Revoltada. – Quer ganhar também o troféu de “vagina mais gostosa da cidade”? Burra!

Vagina mais o que? A Silvinha era uma doida mesmo. A doida que estava com a razão. Eu era uma burra! E
precisava encontrar palavras para me retratar com Júlia. Silvinha me deixou no quarto com os meus
pensamentos. Depois de todo ritual pós mamada, deitei Helena na cama e comecei a troca-la para dormir.
Tirei a faixinha de seu cabelo e ajeitava as meias em seu pé.

-- Que pezinho mais gostoso que a Lelê tem, mamãe! Que vontade de morder esse pezinho...

-- AAh, aaah, AAAH!

-- Eu sei, mamãe não pode morder o pézinho, mas pode dar beijinho, né? – Enchi minha filha de beijinhos,
dos pés até a barriga, Helena morria de rir. – Que bebê mais linda, que neném mais gostosa!

E fiquei me acabando em paparicos com a Lelê enquanto terminava de coloca-la para dormir. Ouvimos um
barulho de chave na porta. Helena arqueou as sobrancelhas já tendo noção de que alguém estava para
chegar. Terminei de fechar a fralda limpa da Helena.

-- Será quem é que chegou? A dindinha da Lelê? É a tia Beca? Helena sorriu. - Ou é a cabeção da tia Cíntia
que tá dodói e não quer tomar remédio?

Da sala ouvimos Silvinha falar para a pessoa que nós duas estávamos no quarto e que era pra entrar. Menos
de cinco segundos depois a porta se abria.

-- Júlia?

-- Eu estou te atrapalhando? – Ela me perguntou. – Eu fiquei preocupada com você, pedi dispensa. – Deu
mais um passo. – Eu queria saber como você esta?

-- Acho que agora com a cabeça mais fria para falar com você. Júlia...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- AAAHHH! – Heleninha nos cortou sacudindo os braços e as perninhas. Não sei como a fralda se descolou
e lá estava ela peladinha. – Aah AAAAAH!

Nós duas sorrimos.

-- Mas antes eu tenho que vestir essa criança de novo... – Respondi me divertindo com Heleninha. – Nada de
dormir peladinha...

-- Deixa que eu faço isso... – Júlia pegou meu lugar e começou a operação troca de fraldas. – A mamãe tem
razão, nada de dormir pelada... – Deu uma risada. – Mas que é gostoso, é!

-- Não ensina isso para a menina...

Eu fui ajuda-la e acidentalmente nossas mãos se encostaram. Trocamos um olhar que durou uns quarenta
segundos. Júlia baixou os olhos um tanto sem graça. Terminou de fechar a fralda.

-- Pronto, Helena... Trocadinha. Vamos nanar?

Em alguns minutos, Heleninha já ressonava em seu colo. Apaguei a luz do quarto e liguei o r Com cuidado a
depositou em cima da cama com toda proteção para que ela não caísse. Nos afastamos um pouco com
cuidado e ficamos ali ajoelhadas velando seu sono, uma do lado da outra.

-- Você gosta de cuidar dela, não é? – Eu sussurrei próximo ao ouvido de Júlia. Ela me deu um sorriso
confirmando. Nos encaramos mais uma vez. – Eu sei o quanto fui injusta com você... O que eu fiz não tem
desculpa, eu fui errada, fui fraca... – Ela não tirava os olhos de mim. Naquela escuridão só conseguia ver
aqueles dois pedaços de verde água, apertados, parecia que iam me engolir. – Eu não sou a mulher que é
incapaz de errar, que é forte que eu queria ser... – Fiz uma pausa. Minha voz saia apertada. – Aqui na sua
frente, assim do seu lado, eu me sinto do tamanho dela... – Eu disse apontando discretamente para Helena. –
E já que você cuida tão bem dela, dá tanto carinho... Eu acho que eu tenho direito de te pedir isso. Cuida de
mim também Júlia? – Ela deu aquele sorriso meio mordendo os lábios do jeito que eu amo. Seus olhos
ganharam um brilho diferente. – Eu preciso tanto de você...

Júlia respondeu ao meu pedido do jeito mais gostoso que eu conhecia. Suas mãos envolveram meu rosto e ela
me beijou a boca docemente, entre sorrisos, me dando carinho, me fazendo sentir beijada. Só Júlia mesmo
para salvar um dia tão ruim como aquele. Na hora que saímos para a sala, Isa já tinha ido para seu quarto,
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

ouvimos o barulho do joguinho de lá, Silvinha vinha do seu aposento com toalhas dobradas nas mãos e uma
blusão velho.

-- Nossa, já esta tarde... – Júlia comentou verificando o relógio. Eu iria dormir ali mesmo. Heleninha também
já tinha caído por lá. – Eu tenho que ir pra casa...

-- Imagina! - Minha prima exclamou quase que indignada. - Você esta toda cansada, ainda pegar volante,
nem pensar... Dorme com a Alice e a Helena no quarto da Rebeca, ela vai passar a noite de plantão mesmo...
E assim você participa da tocaia para a Cíntia. Vamos convencer a ela fazer o tratamento.

-- Tocaia?

-- Já esquematizei tudo, amanhã vamos todas conversar com ela. A Alê é a mulher que esta apaixonada, eu
vou fazer a amiga compreensiva junto com você Alice... O Bruno vai trazer as crianças pra fazerem olhos de
crianças e irem falar com ela, a Rebeca e a Nat vão usa a lógica e se tudo der errado chamei o Bruno...

-- E qual é o papel do Bruno?

-- O melhor que ele faz, partir pra ignorância e se precisar dar uns tapas naquela idiota! Agora vão descansar
que amanhã quero todo mundo acordado cedo. – Entregou a toalha e o camisão de dormir para Júlia. – Fica
a vontade...

-- Não quero dar trabalho...

-- Tarde demais... Te vi cansada enchi a banheira lá do lavabo preparei um banho... Aposto que você estava
doida por um. Acertei?

Júlia sorriu sem graça e fez um gesto afirmativo.

-- A casa é sua, menina...

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Júlia agradeceu mais uma vez e pegou os utensílios para banho que Silvinha havia lhe entregado. Assim que
ela se afastou minha prima veio para o meu lado.

-- Tá esperando o que criatura, que eu te leve para o banheiro no colo... Alice, você esta mais lerda que o de
costume, você não esta usando alguma droga e amamentando a menina ao mesmo tempo, esta? – Me
entregou a chave reserva do banheiro. – Vai!

Silvinha era um gênio. Um banho junto da minha namorada era tudo que eu estava precisando. Abri a porta,
Júlia já estava na banheira, tinha coberto o busto com espuma. Deu um sorriso quando me viu.

-- A água esta boa?

-- Vem cá experimentar. – Ela fez um sinal. – Esta ótima.

Suas mãos tocaram minha barriga e os dedos desabotoaram minha calça. Calmamente me despi e deixei ela
me olhar de cima abaixo. Júlia mordeu os lábios e fez um sinal para que eu entrasse logo. A água estava
mesmo uma maravilha. Só não estava melhor que nossa reconciliação. O melhor momento do meu dia foi me
acomodar em seu colo e trocamos mais beijos.

--Eu estava doida para ficar bem logo com você. – Eu confidenciei. – E eu confio em você sem você precisar
me provar nada, sem prêmio da vagina mais gostosa da cidade, sem...

-- QUE?

Droga, mania de pensar alto!

-- Nada, esquece...

Ainda rindo da minha cara, Julia me deu mais um beijo na minha boca.

-- Olha, se existisse essa premiação você seria aquela concorrente “apelona” que nem dá chances para as

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

outras, sabe? – Ela brincou mordendo a minha orelha. – Gostosa!

-- Safada!

O restante da nossa noite foi maravilhosa dormimos no quarto da Rebeca que estava no hospital trabalhando.
Não fizemos nada demais, só alguns beijinhos mesmo, eu estava triste pela Cíntia,a Lelê estava na cama e
também estávamos mortas.

O dia seguinte foi todo dedicado a Cíntia. Agora a história tinha se espalhado e todos já sabiam o que estava
acontecendo. E a cabeça dura da Cíntia estava decidida a não querer sair daquela garagem. Entramos de um
em um lá dentro e para cada um ela dava uma devida desculpa ou uma resposta para seguir em sua decisão.
Eu decidi entrar com Rebeca e Silvinha

-- Me de um, um motivo para não aceitar esse tratamento. – Rebeca cobrava de Cíntia. – Nos estamos
falando de um dos melhores centros cirúrgicos do país! E ainda tem o Centro de tratamento oncológico. –
Rebeca insistia. - Fora a sua namorada! Namorada é modo de falar, aquilo ali é uma santa! Você não pensa
na Alê, Cintia? Em vocês duas...

Cíntia deu os ombros. Aquilo já estava me dando nos nervos!

-- Cíntia, deixa de ser teimosa! Que inferno.

-- Eu não sou teimosa, será que é difícil vocês respeitarem a minha decisão?

--Quando a decisão significa você querer dar fim a sua vida, sim, é difícil! – Rebati revoltada. – Não estamos
falando como suas amigas, esqueceu que também somos médicas?

-- Se não existisse médico burro você não culparia a sua namorada por não ter guardado um segredo de uma
paciente! – Aí, essa foi bem na minha cara. Olhou para Rebeca. – E você não dispensaria seu namorado
porque ele disse que te amava!

-- Essa foi na canela, hein, Rebecão?! – Silvinha comentou debochada. Sim, Rebeca e Silvinha se tratavam
como Rebecão e Silvinhão porque eram as duas da casas que faziam serviços que geralmente sobraria para
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os homens como trocar resistência de um chuveiro, matar barata, arrumar uma torneira vazando. – Vai
deixar?

-- Esse é o ponto Silvinhão que eu queria chegar! – Rebeca se defendeu. - Não seja burra que nem eu e que
nem a tonta da Alice, valorize, se você tem um pingo de consideração pela Alessandra...

-- Eu amo a Alessandra...

-- Então prova e assina hoje sua internação.

-- Amo tanto que eu quero que ela vá embora...

Rebeca e eu estávamos a ponto de pular no pescoço de Cíntia. O celular que a salvou. Era o de Silvinha.

-- Que foi, Lia? -... – Não falta mais nada... – Silvinha tapou o bocal do telefone e informou nós duas. Gabriel
e Bruno estão na academia. A amiga precisando deles e os dois somem agora! – Voltou a falar no telefone. -
Procura os dois, sei lá, aula de boxe, judô, karatê mma... Sabe como homem é, adora esses esportes
violentos, bem ogros, que voa sangue pra todo lado e... ele estão onde? - Silvinha se levantou surpresa. – O
Bruno e Gabriel estão na aula de dança clássica?

_______________________________________________________________________

Enquanto Lia recuperava os dois para fazer parte da operação “Se trata Cíntia”, Alê tentava convencer outra
cabeça dura a aderir ao nosso apelo: Isadora.

-- Ela é sua amiga! – Alê tentava. – Isa, porque você não tenta conversar com ela?

-- Não sou boa nisso! – Isa se limitou a responder. Desferiu um soco derrubando um dos monstros na tela.
Sim, ela passou a noite e a manhã naquela porcaria de jogo e não se moveu pensando em descer para falar
com a melhor amiga. – Não contem comigo!

Lá embaixo Bruno e Gabriel chegavam esbaforidos, tinham souberam da doença da Cíntia naquele mesmo
instante. Lia não deu tempo nem dos dois trocarem de roupa, vieram usando aqueles “colans” do bale

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clássico, Gabriel ainda com uma faixinha na cabeça.

-- Olha aqui sua otária, você simplesmente não tem escolha, é se tratar ou se tratar! – Bruno entrou daquele
jeito, delicado como um primeiro volante de um time de futebol. Cíntia deu uma risada. – Que foi?

-- Nada. – Deu mais uma risada. – Mas que é isso, ensaio para virar panicat?

Gabriel também era alvo de brincadeiras.

-- Daqui a pouco a bailarina do Faustão vai querer a calça dela de volta, Gabriel... – Júlia brincou ao ver o
amigo com o uniforme de dança. – Mas ficou uma graça...

-- Preciso conversar com você...

-- Tenho que trabalhar...

-- Não vai querer ouvir o que eu descobri do residente que te atendeu, não, ow animal?

______________________________________________________________________

E de um a um levamos um não de Cíntia. No final da tarde estávamos todos no apartamento de Silvinha


tentando rever a estratégia para usar com Cíntia.

-- E se falasse com a família dela?

-- Que família? – Alessandra rejeitou. – A tia morreu e os primos se espalharam cada um para um canto.

-- Não tem uma forma jurídica de obrigar ela a fazer o tratamento? – Silvinha tentou. – A gente pode
ameaçar...

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-- Não... – Retruquei. – Cadê a Isa?

-- Desceu para trabalhar.

Isa tinha mesmo descido para trabalhar, mas não resistiu. Antes de sair do prédio se deteve alguns segundos
em frente a garagem. Na mesma hora a porta se abria, era Cíntia.

-- Mandaram você agora?

Isa fez um gesto negativo.

-- Se me mandassem eu não viria.

Cíntia a encarou surpresa.

-- Você sabe, eu não sou boa com essas coisas de amigos. De abraços, de dar bronca, as outras meninas são
muito melhores do que eu... Só que eu queria te fazer uma pergunta. Sobre vôlei. É assim que você joga vôlei
quando vai com a Silvinha e a Rebeca para o clube nos fins de semana?

-- Assim como? - Cíntia perguntou curiosa.

-- Perde o set e entrega os outros dois por que acha que não tem chance de ganhar?

-- Não. – Cíntia confessou um tanto sem graça. – Eu viro 2x1 e depois a Silvinha e a Rebeca ficam só
gritando no ouvido dos outros porque aquelas duas são péssimas de bola. – Cíntia deu um sorriso meio
entristecido. – E a gente fica assim até fazer 3x1. Mas é diferente...

-- Por que é um câncer?

-- Você achamesmo que daqui um ano eu vou estar viva?


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-- Se eu não achasse que sim você, que você vai estar viva daqui um ano fazendo as mesmas coisas estúpidas
que vive fazendo da sua vida, eu escolheria ser médica? Você acredita mesmo que toda pessoa com câncer
equivale a uma sentença de morte?

Cíntia não respondeu.

-- Não vou falar pra você o que eu acho que você deve fazer porque você já sabe o que eu, como médica
penso. – Isa fez uma ultima pausa antes de sair. – Eu só quero que você saiba, que em algumas vezes nós
também conseguimos virar o set...

-- Isa...

-- Tchau, eu tenho que trabalhar! Só lembra, Cíntia que algumas vezes nós também conseguimos virar o jogo!

Já passava das sete da noite quando a porta do apartamento se abriu. Era ela, Cíntia. Nós todos ainda
estávamos confabulando como convencê-la.

-- O que eu tenho que fazer? – Júlia e Alê que estavam lado a lado ergueram os olhos surpresas. – Eu vou
tratar o maldito...

__________________________________________________________________________

Cíntia foi internada na manhã seguinte a sua decisão. Ela pediu para passar a noite com Alessandra e elas
acabaram se reconciliando. Duarte e doutor Felipe, chefe do setor de oncologia vieram tratar dos detalhes de
sua internação e dos primeiros exames. Bruno e Isa foram os residentes que ficaram com o caso da minha
amiga e durante dois dias o caso de Cíntia foi estudado por Felipe, Duarte e Júlia.

E nós, as amigas? Visitávamos todos os dias. Novamente usando aquelas camisolas destinadas aos do Alonso
Franco, percebi como tinha perdido peso desde quando a conheci. Alê continuava sendo a namorada perfeita
que todos conhecemos, fazia suas vontades, não saia do seu lado. No final do segundo dia de internação, Alê
teve que se ausentar para resolver alguns problemas da licença que tinha pedido do trabalho e encontrei Cíntia
acompanhada de Silvinha. Rebeca tinha aproveitado uma folga em seu horário para passar no quarto e Isa
estava recolhendo sangue para mais exames.
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-- Eu trouxe umas revistas aqui pra você se distrair... Já leu aquelas, Cíntia?

-- Li, li... – Ela comentou um tanto ressabiada. – Vocês já sabem se a ale foi no banco pedir o empréstimo?

-- Empréstimo? – Rebeca estranhou. – Que empréstimo?

-- Pra pagar o tratamento. – Cíntia revelou. Nos entreolhamos confusas. Todas nós estávamos acreditando
que o dinheiro da Cíntia era de sua rescisão contratual com seu time de vôlei. – Ela ia fazer um empréstimo.

-- Cíntia, mas e o dinheiro que você ia receber do seu antigo time?

-- Ih, deu problema danado... O empresário safado não me roubou? Ele me disse que no contrato estava
escrito uma coisa e na verdade estava escrito outra... Acredita?

-- Cíntia, mas você é louca? – Silvinha cobrou preocupada. – Assinou o contrato sem ler?

Cíntia disfarçou seu desconforto folheando uma revista. Só que folheava de cabeça para baixo.

-- Li... Mas assim só passei os olhos...

E voltou a folhear a revista de cabeça para baixo outra vez. Eu já estava começando a desconfiar de uma
coisa, mas faltava ainda a prova final. Peguei as revistas de cruzadinha sobre a mesa que ela me garantiu que
já havia usado, estavam todas limpinhas. Tirei um folheto da bolsa.

-- Cíntia, faz um favor...

-- O que?

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-- Você pode ler o que está escrito aqui para mim?

Agora toda atenção das meninas estavam em nós duas. Elas me olhavam de maneira intrigada. O folheto qu
peguei era uma propaganda. Estava bem visível em letras grandes e garrafais “ Forro de Gesso”. Nervosa,
Cíntia fez um gesto afirmativo, pegou o palpezinho das minhas mãos, apertou os olhos.

-- For- “Foró” Forro do... – As meninas a encararam surpresa. Ela lia como uma criança recém alfabetizada.
– For-ró do Gés... Forró do Gerson! - Nova troca de olhares entre nós, agora todas boquiabertas. – Não é
Forró do Gerson?

Agora eu entendia o despreparo e até a inocência de Cíntia para algumas situações. Ela não sabia ler. Ou se
sabia devia ler muito mal. Falando ela não era lá muito esperta. Ás vezes dava algumas rateadas com erros de
concordância, se enganava com os significados de algumas coisas como no dia que acreditou que currículo
tinha alguma coisa haver com corrida. Agora não podia imaginar que ela não sabia ler.

-- Você não sabe ler, Cíntia? – Rebeca perguntou um tanto tocada. – É isso?

-- Sei... – Cíntia garantiu. – Quer dizer... Não é fluente assim que em vocês... Eu sei escrever meu nome...

O jeitinho que ela revelou, meio infantilizado foi tão engraçadinho que acabou que acabamos rindo
acompanhada pela própria Cíntia. E ela nos explicou.

-- Ah, eu tinha tanto treino, ás vezes não dava tempo de ir pra escola...

-- E os contratos? A Alê sabe?

-- Ela que me ensinou a escrever meu nome e lia os contratos para mim, só que esse último da rescisão eu
não mostrei pra ela e o advogado me enganou.

-- Isso não é vergonha. – Eu garanti. – E pelo menos agora você vai ter muita coisa para aprender nesse
tempão todo que vai ficar parada... E o safado desse advogado a gente vai ver o que vai fazer com ele.

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O horário de visitas se encerrou e cada uma precisava de cuidar de seus afazeres. Depois de me despedir de
Cíntia e das meninas, fui atrás de Júlia para lhe dar um beijinho de saidera. Tirando o fato que decidimos
esperar a “adrenalina” da descoberta do câncer de Cíntia que de certa forma mexeu com todos nós, para
contar a Nat que estávamos juntas.

Tudo estava indo muito bem. Ela era amorosa comigo, divertida e eu resolvi dar um deixada de lado no meu
ciúme bobo. Júlia tinha me ajudado a me mudar de vez para a “casinha de bonecas” vizinha a cabana e
estávamos mais unidas do que nunca.

-- A Júlia saiu... – Isa me informou. – Recebeu um telefonema do Gabriel e saiu feito uma louca.

-- Será que aconteceu alguma coisa?

Isa deu os ombros.

-- Se aconteceu vamos saber logo. Ligou no celular?

-- Ninguém atende!

-- Daqui a pouco deve estar estourando por ai...

-- Vou fazer um pouco de hora...

Mal poderia imagina que a frase de Isa seria na verdade uma vidência. Heleninha tinha ficado em casa com
Lia, eu precisava tratar de alguns assuntos da minha volta ao trabalho, decidi ir falar com Nat. No escritório
da diretória ela estava acompanhada de Dona Regina. Na mesa muitas fotos espalhadas.

-- O que é isso? – Perguntei surpresa ao ver Nat tão leve no ambiente de trabalho. – Nossa, quanta foto!

-- A vovó achou essa caixa de fotos antiga. – Nat me explicava sorridente. – Olha isso aqui.

Não consegui conter meu sorriso. Era um foto de Bruno com uns onze anos de idade, ainda com os cabelos
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

em forma de cuia, magrinho, moreninha.

-- Nossa, a cara do João!

-- Alice, você tem que ver essas daqui... – Dona Regina comentou me passando umas fotos. A primeira era
uma de um bebezinho lindo, gordinho de cabelos cacheados e os olhos azulzinhos da cor do céu. – Sabe
quem é?

Ainda tentou desvendar quem era fiz um gesto negativo. Nat deu uma olhada na foto, sorriu.

-- Olha, o Gabriel tem um milhão de defeitos, mas uma coisa eu tenho que falar, sempre foi bonitinho, né?

-- Vai me dizer que essa coisa fofa é o Gabriel?

-- Uma gostosura, né?! – Nat pegou outra foto. Era ela com Júlia. Deviam ter cinco e oito anos
respectivamente. Júlia só com a parte de cima do biquíni, recém saído da piscina ou de um “banho de
mangueira” dando um abração em Nat que estava fazendo um bico, irritada para variar. Não tinha como não
reconhecer as duas. Júlia com aquele mesmo sorrisão de sempre e Nat desde de pequena já era linda. – Essa
aqui sou eu...

-- A Júlia tem uma foto dessa. Uma vez ela me mostrou. – Dei uma risada. – Você sempre chatinha, né?

Nat abriu um sorrisão enorme. Se ela soubesse o quanto ficava bonita sorrindo nunca ia amarrar a cara.

-- E você não sente falta da minha chatice...

Dei um sorriso sem graça.

-- Eu já te disse Nat, quando você quer, mesmo chata você consegue ser incrível. Divertida, engraçada,
agradável...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Sabe que eu ainda penso muito em você...

-- Nat...

-- A gente podia sair... Até hoje nos devemos uma conversa. Lembra quando eu disse que você fazia parte da
minha história? – Segurou minha mão. - Eu não menti, Alice...

Fiz um gesto afirmativo.

-- Nos precisamos mesmo conversar, só que não agora... – Peguei em sua mão. – Você também faz parte da
minha história Nat, eu gosto muito, muito mesmo de você.

Oras, não era mentira. Eu gostava mesmo da Nat e muito. Queria vê-la sempre bem e feliz. Aproveitando que
estávamos a sós e dona Regina havia ido falar com doutor Freitas, trocamos um abraço e Nat deu um beijo
na minha mão.

-- Obrigada por tudo...

-- Nat, deixa de ser boba, não precisa agradecer... – Disfarcei minha comoção pegando mais fotos. Tinha
uma dela com Bruno, os dois vestidos de caipira. – Olha que gracinha, essa foto...

Pronto, ficamos lá viajando nas fotos, Nat me contando alguns “causos” de sua infância, do começo da
adolescência, dos irmãos, de Gabriel e se passou quase meia hora. Dona Regina voltou para o escritório e
pediu para que eu levasse até o carro que o motorista a esperava. Eu não fui com ela, pois ainda tinha
assuntos de trabalho para tratar com Nat. Depois de voltar do estacionamento, Lizandra, a secretaria de Nat
me informou.

-- A dona Abgail acabou de entrar e pediu para não ser interrompida.

Droga!

-- Tá bem, vou tomar um café e já volto.

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Me enchi de coragem e tomei café lá na cantina mesmo. Ainda encontrei com Alê que havia voltado do
serviço com a licença em mãos. Mais meia hora de papo e fui procurar Nat. No corredor do escritório uma
gritaria, discussão, reconheci a voz de Júlia.

-- LEANDRO, SAI DA MINHA FRENTE!

-- CALMA, JÚLIA, VOCÊ ESTA NERVOSA!

-- SAI DA MINHA FRENTE SENÃO TE FAÇO DE CHICLETE EM CIMA DESSE CARPOETE,


GAROTO! – E empurrou Leandro decidida. – NAT! SAI DAÍ AGORA!

-- Júlia... – Lisandra tentava contê-la. Quase foi jogada para o lado também.

Júlia estava irreconhecível, muito transtornada. Respiração ofegante, pulsação meio irregular. Seus olhos
chispavam de ódio e ao mesmo tempo as lágrimas escorriam por seu rosto. Confesso que na hora me deu
medo de Júlia.

-- QUE GRITARIA É ESSA? – Nat perguntou ao abrir a porta. Encarou Júlia, notou seu estado. – Você
bebeu, você se drogou ou...

-- CALA A BOCA! – Júlia ordenou com propriedade me fazendo sentir um calafrio. Afinal o que estava
fazendo. – EU QUE FAÇO PERGUNTAS AQUI! - Deu um passo a frente. – FALSA! VOCÊ NÃO
PRESTA! TRAÍRA!

-- OLHA AQUI, EU NEM SEI DO QUE SENDO ACUSADA, MAS EU CHAMO A SEGURANÇA! Eu
tenho uma reunião com dois cirurgiões plásticos depois de...

Nat não conseguiu concluir sua frase. Um soco firme de direita de Júlia a interrompeu. O sangue escorria pelo
nariz. Júlia não deixou que ela caísse. Nat foi puxada pelo colarinho.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- POR QUE VOCÊ MENTIU PRA MIM ESSE TEMPO TODO? – O rosto de Nat se transformou em
uma expressão surpresa. Júlia pegou o prontuário que estava em suas mãos e jogou em cima da irmã. – Por
que você a mamãe me fizeram acreditar que era eu que estava dirigindo o carro no dia do acidente? – Fizeram
acreditar? Não era ela que estava dirigindo o carro? – Por que vocês pagaram para o doutor Figueiredo
mentir que era eu que estava dirgindo aquele maldito carro?

End Notes:

Próximo Capítulo

-- Por que você nunca me disse a verdade? - Gabriel perguntou a Nat em um


tom sentido. - Nat, você era minha mulher... Eu tinha o direito de saber...
Isso... - Gabriel estava confuso, meio perdido. - Isso mudava tudo...

-- Mudava o que? - Nat perguntou perdendo a paciencia. - Que diferença isso


ia fazer se você soubesse ou não... Você não casaria comigo? Você não se
apaixonaria por mim nem eu por você...

-- Eu não me sentiria uma bosta de marido achando que estava casado com a
mulher mais incrivel do mundo e não conseguia fazê-la completamente feliz! -
Gabriel cuspiu ainda revoltado. - Nat, eu sei que juntos a gente se dava bem,
dentro e fora da cama, mas você acreditou que poderia mesmo ser feliz com
alguém ou sozinha carregando essa culpa por todo esse tempo? - Gabirel fez
um gesto negativo. - As coisas não são assim Natália!

-- Eu não tive escolha... - Nat finalmente deixava se abater. Chorrando ainda


tentava lutar. - Eu juro que eu não queria isso, mas eu não tive escolha...

Gabriel não respondeu. Apenas a envolveu e Nat cravou seu braços nos
ombros do ex marido deixando ser abraçada.

___________________________________________________________________

Um abraço a todas, vou tentar postar capítulo no fds, mas não prometo nada!!!
Bjooo!

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Capítulo 42 by Tamaracae

Author's Notes:

Desculpa a demora, mas me meti em uma confusão danada no fds digna de Alice,rs!
Capítulo caprichado tá aí pra compensar a demora!

http://www.youtube.com/watch?v=aO3THnuJJk0 Baby - MAllu Magalhães

Acho que nesse capítulo algumas vão amar, outras vão odiar e algumas de vcs vão
ficar com pena de Júlia.

Acho que nesse capítulo algumas vão amar, outras vão odiar e todas vcs vão ficar
com pena da Júlia. Algumas vão amar, outras vão odiar e todas vão ficar com pena
da Nat. E todas vão amar o Gabriel.

João só encontrou Júlia quase três horas depois de que ela havia saído do hospital. A noite lembrava aquela
outra noite que a obriguei entrar na minha antiga casa com “guarda chuvadas”. Também chovia muito. Não fui
eu mesmo atrás da minha namorada, pois na hora que Júlia saia do hospital e eu iria atrás dela, cruzei com
Silvinha que trazia Lelê em seu colo me informando que ela estava estranha. Só de pegá-la no colo já senti
que minha filha estava mais mole que o comum e um tanto manhosa. A levei na pediatria e depois de alguns
exames foi descoberto que Heleninha estava gripada. Me restou apelar para Bruno ir atrás de Júlia. João não
fazia ideia o que tinha acontecido, mas ouviu nossa conversa. Depois de correr mais de dez pontos da cidade
ele descobriu a mãe no andar de cima do casarão velho que havia se escondido em sua fuga.

-- Júlia!

-- João, o que você esta fazendo aqui? – Ela perguntou confusa e também preocupada. Já estava tarde.
Aquela hora João devia estar dormindo. – O que foi?

João deu os ombros um tanto perdido, não tinha ideia mesmo o que responder.
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Eu ouvi a Alice falando para o tio Bruno que você saiu correndo do hospital. – Encarou Júlia... – Você esta
triste... Muito triste... O que aconteceu?

Júlia fez um gesto afirmativo. João notou os lábios da mãe tremerem, seu estado nervoso. Desajeitadamente
tentou passar os cabelos que caiam sobre seus olhos para trás. Surpresa com o afago, Júlia o abraçou
desesperadamente. Por instinto João a abraçou de volta e ouviu Júlia murmurar em seu ouvido.

-- Eu acho que eu tive um pesadelo...

Na verdade o pesadelo de Júlia era bem real. E ainda estava lá dentro do hospital martelando no ouvido de
Nat enquanto Gabriel tratava de fazer um curativo na ex mulher.

-- Eu quero prestar queixa contra aquela delinquente! Ela quase acabou com o nariz da minha filha! – Abgail
andava de um lado para o outro, enfurecida. – E não é porque ela é sua amiguinha você pense em fazer corpo
mole, garoto, eu quero a Júlia presa e...

-- E a senhora aprenda a falar baixo que eu não sou seu genro, sou uma autoridade! – Gabriel rebateu sério. –
E um soco não é nada perto da dor que ela deve estar sentindo agora.

Eu sou totalmente contra violência, mas nisso o doido do Gabriel estava certo. A conversa que elas duas
tiveram que resultou naquela fuga desacertada de Júlia parecia ter saído mesmo de um sonho ruim. Punk pra
qualquer pessoa! Tirando Júlia a única pessoa que eu ainda tinha um pouco da minha misericórdia ali era a
Nat. Machucada ainda chorava horrores talvez lembrasse a cena de horas antes. Júlia invadindo sua sala, a
gritaria, a discussão das duas. O soco na cara e a pergunta fatal.

-- Por que vocês pagaram para o doutor Figueiredo mentir que era eu que estava dirigindo aquele maldito
carro? - Como se perdesse as forças de uma hora para outra, Júlia afrouxou a mão e soltou os colarinhos de
Nat. – Me diz, por que você ajudou essa... – Apontou dona Abgail que ainda estava na sala de Nat. – A me
enganar esse tempo todo e não me contou que era ela que estava dirigindo o carro e não eu? – Chorando
entre soluços questionou. – Me diz! Por que você concordou em mentir pra mim?

-- Júlia...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- CHEGA! – Abgail rosnou raivosa. Empurrou Júlia com força para que ela soltasse de vez de Nat. – Você
já sabe a verdade! Não era isso que você queria saber? – Ela cobrou de Júlia. – Não esta satisfeita? FUI EU
QUE DIRIGI O CARRO! FUI EU QUE DISSE PRA VOCÊ QUE ERA VOCÊ QUE ESTAVA
DIRIGINDO O CARRO! – Furiosa. – Agora para de infernizar a vida da sua irmã!

Júlia a encarou. Lembrava um bicho selvagem prestes a atacar seu inimigo. Um tigre. Um leão. Acho que até
seus dentes chegaram a ranger de leve. Eu assistia aquela cena praticamente em estado de choque. As três
tinham esquecido a presença dos não familiares (Lisandra, Leandro e eu) naquele palco e nós, não familiares
estávamos tão surpresos que viramos estátuas de pedra.

-- Mas de você eu nunca esperei nada... Quer dizer sempre esperei o pior. – Percebi os olhos de Júlia cheios
de lágrima. – Você nunca gostou de mim...

-- Você é minha filha. – Abgail respondeu impaciente. – Como eu não ia gostar?

-- Criança sente essas coisas... – Fez um gesto negativo. – Você nunca gostou de mim. Eu tinha vários
brinquedos legais. As melhores festas de aniversário da escola... As roupas que todas as meninas queriam ter,
mas você nunca gostou de mim. Nunca queria ficar comigo. Não deixava eu te beijar. Eu não lembro de você
me contando uma história, cantando alguma música junto comigo. Não lembro nem do seu colo. E quando o
Bruno nasceu e começou a crescer e ficar parecido comigo? Rejeitava o moleque sem nem esconder... –
Virou para Nat. – Mas agora você Nat... –Nat baixou os olhos, Julia mordeu os lábios e deixou as lágrimas
escorrerem. – Você sempre foi a Natinha... – Deu um sorriso. – A irmã que eu sempre sonhei. Que eu
sempre pedi. Que eu gostava de levar e esperar na porta da escola. Que corria para o meu quarto quando
acordava com medo à noite. A menininha que eu cansei de ajudar em lição, a primeira pessoa que eu contei
do primeiro beijo que eu dei em uma mulher... Sabe por que disse isso? Porque você não era a minha irmã...
Você era a minha amiga! – Nat também chorava, mas escutava tudo calada. – A melhor de todas as minhas
amigas... – Fez uma pausa. – E depois que você cresceu então? Não era mais a minha irmãzinha, mas era a
mulher que sempre me deu orgulho... – Fez uma pausa. – Sabe que eu sempre quis muito parecer com você?
Você tem ideia o que eu senti quando hoje à tarde eu fui atrás daquele maldito residente e descobri que você,
mês a mês, durante todo esse tempo, dava uma mesada para o doutor Figueiredo ficar calado? – Mais
silêncio por parte de Nat. – O carro estava acima da velocidade limite. Encontraram a motorista fumando,
dirigindo com uma mão só. Pagou médicos, policiais, paramédicos... Tudo muito bem montado, muito bem
encaixado. – Deu um meio sorriso. - Só não contava com a canalhice do doutor Figueiredo em não querer
dividir o “bicho” com os assistentes, não é? Um morreu cedo e o outro... Encontrei hoje de manhã e me
contou tudo. Quem pagar mais leva. – Desesperada. – Vocês queriam que eu carregasse a culpa de que matei
minha mulher pra me enlouquecer ou só pelo fato de eu existir? – Transtornada. - Eu já não era a filha
querida... Eu era a menos bonita entre as irmãs, a gordinha, a enjeitada, não entrei na faculdade com 17
anos... Não era um gênio... Era a bêbada vista como vagabunda que sei lá como entrou em uma faculdade...

-- Você sempre foi à neta preferida da sua avó!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Porque ela não é burra e sacava que eu fiquei sem pai nem mãe depois que o meu pai se matou. - Abgail
deu um passo para trás surpresa. Aquela também era nova pra mim e talvez até para a própria Nat. – Uma
vez eu escutei aquele médico que cuidou do câncer do meu pai, Doutor Matias, teu amante, falando que ele ia
voltar pra casa se não tivesse se matado... Que ele estava de alta, praticamente curado. – Meu pai enfiou
numa faca nos pontos da operação que ele fez pra tirar parte do estomago de desgosto. Ele sabia dos teus
amantes, sabia do teu caráter... Sabia de tudo, mãe. Eu só tinha doze anos quando descobri...

-- Por que você nunca me contou? – Nat perguntou surpresa. – Era meu pai também!

-- Porque eu não queria que você sentisse a dor que eu estava sentindo. Achei que você acreditar que seu pai
morreu de câncer ia ser muito menos doloroso. – Fez outra pausa. – Eu perdi a minha mulher, perdi um filho
naquele acidente... Tudo isso era pouco? Eu tinha mesmo que ser a assassina?

-- Ninguém nunca te chamou de assassina!

-- E ninguém nunca não me chamou também! – Júlia respondeu encarando a mãe com firmeza. –
Principalmente a senhora! Ou é mentira? – Abgail não respondeu. Encarou Nat mais uma vez. – Você tem
ideia de como eu me senti hoje?

-- Eu tentei convencer a mamãe que era errado... – Chorando. – você me recia uma... Sei lá... Uma
indenização, uma...

-- INDENIZAÇÃO? – Júlia berrou quase destruindo tudo que tinha sobre a mesa da Nat. – Indenização? –
Fez outra pausa. – Você acha que era em dinheiro que eu estava pensando? Você arrancou um pedaço de
mim, menina, porque você Nat, o Bruno e o João sempre foram um pedaço de mim que vivem fora de mim...
- Sofrida. - Parecia que eu tinha lutado sei lá quantos rounds com o Anderson Silva quando eu sai daquela
conversa com o residente. – Nat baixou novamente os olhos. – Eu estou arrasada. Eu só quero entender por
quê? –Encarou a mãe. – Não é crime bater um carro, mas é crime subornar pessoas, levantar falsos
testemunhos e... Se a vovó não tivesse feito meu parto eu ia acreditar que essa história toda era mentira e que
a filha de sangue era você! Eu tenho vergonha de ser tua irmã... – Encarou Abgail. – E graças a Deus que eu
não sou nem um pouco parecida com você!

-- Júlia...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Eu já disse tudo o que tinha que dizer...

Júlia saiu com pressa, ela chorava muito, mas não era a única arrasada. Gabriel chegava nesse momento,
quase foi derrubado por Júlia. Não tive tempo de explicar o que acontecia. A alcancei quase no final do
corredor. Fiz um carinho em suas costas. Ela nos abraçou. Soluçava de tanto chorar.

-- Eu sei que abandonar um filho não tem perdão, mas não foi por egoísmo meu, eu juro... Pode parecer
covarde, mas era dor demais que eu sentia. Eu não conseguia ficar mais dentro da minha casa, não conseguia
mais ter uma vida. Eu tenho esse jeito de porra louca, mas não teve um dia que eu não pensasse naquele
menino... Cada criança que perdi naquela aldeia, cada menino que eu levava remédio no meio de guerra, de
terremoto... Cada criança que eu tratei era no meu filho que eu estava pensando. - Chorosa. – Eu tinha medo
do meu filho olhar para mim e achar que eu matei a mãe dele... - A abracei com mais força. – Por que ela
mentiu para mim? Por que ela não me contou a verdade?

Esqueci completamente que nosso namoro ainda era “secreto” beijei seu rosto todinho e nossos lábios se
encontraram. Não aprofundei o beijo, só enrosquei minha boca na dela como se fizesse um carinho e fiquei ali,
sentindo sua testa encostada na minha, minhas lágrimas (sim, confesso que acabei chorando também)
misturada com a dela e querendo crescer para coloca-la no meu colo e consolá-la com todo carinho do
mundo.

-- Calma, meu amor, você esta com a cabeça muito quente... – Nossos olhos se encontraram. – Lava o rosto,
a gente vai para casa... – Fiz um carinho desenhando suas feições com a ponta dos meus dedos. – Eu vou
cuidar de você...

Júlia fez um gesto negativo.

-- Não... Eu acho que eu preciso ficar um pouco sozinha...

-- Júlia!

-- Desculpa, Alice... Eu estou... Minha cabeça parece que vai explodir... Eu acho que preciso ficar um pouco
quieta... – Beijou meu rosto, selou meus lábios. – Eu preciso fazer uma coisa... Eu prometo que não é
besteira...

-- Júlia...
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Depois eu vou pra casa e te encontro lá, por favor...

Por fim acabei concordando. Trocamos mais um beijo e assisti Júlia sair pela porta de entrada do Alonso
Franco. Eu precisava voltar ao escritório para pegar a minha bolsa. Cheguei no escritório e dona Abgail já
havia ido embora. Nat tinha sido levada para a enfermaria e só encontrei uma aparvalhada Lisandra.

-- Estou em choque até agora. – Não diga, Lisandra... – E a Júlia esta bem?

As pessoas tem uma base de noção não é mesmo? Como a pessoa ia estar bem se descobre que a irmã que
ela idolatrava mentiu por quase dez anos e a mãe a odeia? Ela ia estar como, saindo pra beber cerveja com os
amigos?

-- Ela quis ficar sozinha... Só vim pegar minha bolsa.

Lisandra abriu a porta do escritório e lá estava minha bolsa. Com o celular a mão , me preparava para ligar
para Silvinha quando o telefone tocou. Atendi. Era a própria Silvinha, parecia bruxa, adivinhando meus
pensamentos.

-- Alice, onde você esta?

-- Na porta do hospital, já estou indo para ai, por quê?

Silvinha não me respondeu. Alguém tocou meu braço. Me virei. Era minha prima com Helena nos braços.

-- Silvinha?

-- A Heleninha esta meio mole. Acho que ela esta meio com febre, esta quentinha...

-- Meu Deus. E ela esta sentindo mais alguma coisa?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Por que não tira o celular do ouvido e vê você mesmo? – Eu estava tão atordoada que nem desliguei o
celular da orelha depois que Silvinha se materializou na minha frente. – Alice, com três anos de idade essa
menina já vai conseguir te enrolar pra ir à balada, pelo amor de Deus, tá cada dia mais tapada!

Agora conta uma novidade, Silvinha. Heleninha passou para os meus braços. Ô Meu Deus, estava quentinha
mesmo. Não contei sobre a discussão e nem nada. Por mais que Silvinha fosse minha prima e sempre
estivesse ao meu lado aquele era um assunto muito particular.

Após fazermos a ficha de Heleninha era hora de esperar para ser atendida pelo pediatra de plantão. Silvinha
não podia ficar na sala. Nos despedimos e fiquei sozinha com minha neném que estava com uns olhinhos
tristonhos de cortar o coração. Até senti falta de sua mãozinha leve tentando brincar com meu colar e
passando no meu peito querendo mamar. Sem nada para fazer, passei um rádio para Bruno explicando mais
ou menos a situação e pedi que fosse atrás de Júlia para mim.

-- Mas elas discutiram por quê?

-- Eu te explico depois, é uma coisa delicada...

-- Esta bem, eu vou.

E desligou. Eu não podia imaginar que o rádio do Bruno estava com o viva voz ativado. Muito menos imaginar
que João ouviu a nossa conversa parcialmente e assim que soube que a mãe sumiu, pegou uma mochila e
ordenou que o motorista particular que o levava ao colégio parasse em determinados lugares para procurá-la.
O ultimo lugar foi o casarão abandonado do centro da cidade que havia sido pousada do pai da Marcinha.
Ao vê-la vulnerável naquele estado se lembrou de meses antes, os dois brincando no hospital e depois
deitados nas macas dos quartinhos de plantão descansado. Ela ainda não era Júlia, apenas a médica do
Pronto Socorro. Os dois deitados lado a lado e de repente percebeu uma tristeza nos olhos da “doutora
Caco”.

- Que foi?

- Nada... – Júlia disse de forma meio fechada que não era seu feitio. João, sabendo que não era a verdade a
encarou. – É que você deitado do meu lado aqui agora... Eu pensei em uma pessoa...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Seu namorado ou sua namorada?

Júlia sorriu e fez um gesto negativo.

- É em um carinha...

- E por que ele te deixa triste?

- Ele não me deixa triste... Eu que andei vacilando com ele. – Fez uma pausa. –É um lance meio pesado...
Uma coisa muito difícil que aconteceu comigo eu não tive culpa, mas sem querer acho que errei feio com ele
pensando que estava fazendo o certo. Não queria colocar tanta responsabilidade da minha vida nas costas
desse cara. Eu não tenho ideia como falar isso com ele... Talvez ele me odeie até o resto da vida. E mesmo
muito tempo sem vê-lo, eu amo muito esse carinha. Mesmo! Daria minha vida pela dele sem pensar duas
vezes.

João deu um sorriso triste, fez um gesto negativo.

-- Só se ele for muito trouxa de dispensar uma gata da hora feito você por causa de uma coisa que aconteceu
e você nem teve culpa... – Júlia sorriu. – Fala com ele que nem você falou comigo ... – E por fim confessou. –
Eu já fiquei todo arrepiado com você falando agora...

Um fato João não podia deixar de negar, eram parecidos. Até o lugar de refúgio era o mesmo. Não sabia
quanto tempo estava ali, abraçado com Júlia.

-- Tem haver com a minha outra mãe? – Ele perguntou. Júlia fez um gesto afirmativo. – Quer que o motorista
te leve para algum lugar?

-- Você fica aqui comigo? – Foi à vez de Júlia pedir. João fez um gesto afirmativo. Deixou ser abraçado e se
acomodou em seu colo. – Só quero ficar aqui...

-- Foi daqui que você desenhou aquele lago, não é?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Júlia assentiu com a cabeça e explicou antes de retornarem ao silêncio.

-- Aqui era o quarto de solteira da sua mãe. Já passei muitas horas aqui com ela.

João sorriu timidamente.

-- Vou ficar aqui com você...

Minha namorada sumida, minha ex com a cara arrebentada, minha amiga com câncer nos preparativos da
operação e eu tinha que ficar presa naquela maldita pediatria. Só ficava ligando para o Bruno de cinco em
cinco minutos atrás de notícias. Silvinha se despediu de mim, mas não foi embora do hospital. Se perdeu nas
inúmeras entradas e saídas do Alonso Franco e o destino achou de colocá-la bem em frente a Nat que saia
da enfermaria com a boca machucada e com um pedido de radiografia para o nariz.

-- Nat, o que aconteceu? Encontrei com a Alice agora e... – Minha prima perguntou verdadeiramente
apreensiva ao observar seu estado. – Isso na sua roupa é sangue?

-- O que você veio fazer aqui? – Nat perguntou sem esconder irritação. – Já não fiz o que você queria que eu
fizesse? Cai fora da porcaria da eleição que não deu em nada já que o candidato do seu pai perdeu. Sou a
lésbica mais odiada de Silvéster e não tenho a Secretária de Saúde, não está bom para você?

Sim, era verdade, felizmente o candidato de titio Afrânio a prefeitura de Silvéster bateu na trave e ficou em
segundo lugar. O ganhador, Fabião Melo Soares, um esquerdista, passou apertado com diferença de apenas
2% dos votos. Como Silvéster tinha mais de 100 mil eleitores na cidade a eleição teria segundo turno e o tal
Tadeuzinho, filhote de ministro, saiu no final com o rabo entre as pernas com sua “campanha familiar” do
primeiro round da guerra. Os candidatos com percentual menor que somavam quase 15% juntos estavam se
aliando ao Fabião e pelo que as pesquisas indicavam ganharia a prefeitura com uma folga de 10 %.

-- Nat, não vim aqui pra isso e nem nada... Na verdade... Olha esse nariz todo inchado... – Silvinha pegou o
algodão que estava nas mãos de Nat. Em um gesto delicado a ajudou a limpar um pouco de sangue do rosto.
– Esta doendo muito?

-- Tomei remédio. – Nat murmurou sem graça com a preocupação da minha prima. – Obrigada.
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- De nada. Você quer que eu chame alguém pra ficar aqui com você? – Silvinha terminou de fazer uso do
algodão e jogou em uma lixeira próxima. – Se quiser eu chamo a Júlia...

Natália parou o que estava fazendo, a encarou.

-- A Júlia?

-- Quer que eu ligue para ela?

--Silvinha, você é a mulher mais ridícula que eu já conheci. – Foi à vez de Silvinha paralisar o que estava
fazendo. – Pior! Você joga baixo! Não preciso mais ser chutada por ninguém! Eu tive os meus motivos para
fazer o que eu fiz! – A coitada da minha prima mais por fora do que bunda de índio, não tinha ideia do que
acontecia. – Nosso jogo acabou agora! Quer saber, tenha o bom gosto de não olhar mais na minha cara!

E saiu andando antes da minha Silvinha entender que focinho de porco não era tomada. Minha prima, irada,
resmungou em alto e bom som.

-- Sua... Sua maluca! Eu na maior das boas intenções querendo estender bandeira branca e sou ofendida
desse jeito... Vai dar lição de moral para suas negas! Faço questão de não olhar mais na cara!

-- Eu é que faço... Nasceu pra encher o saco. – Nat murmurou do outro lado se sentindo humilhada,
acreditando que Silvinha tocou no nome de Júlia propositalmente. – VUDU!

-- É uma bruxa mesmo! Se eu encontro na rua até troco de calçada e...

-- Falando sozinha, Silvinha?

-- Oi Alê! Eu...

-- Quer tomar um sorvete comigo? A Cíntia voltou da consulta com o médico agora, pegou no sono, queria
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

desenferrujar um pouco as pernas.

-- Claro!

Em menos de quinze minutos as duas alcançavam o centro da cidade. Depois de pedirem as casquinhas na
mesma sorveteria que tomávamos sorvete quando éramos crianças, voltaram a caminhar. O plano de Alê era
dar uma volta por ali mesmo, mas quando estavam na pracinha, no meio do nada foram surpreendidas pela
chuva. A garagem de Silvinha era o local mais próximo para se abrigarem. Atravessaram a praça em um pique
só. Lógico que terminaria em uma meleca danada a junção de corrida, sorvete, mas o molho de água que caia
dos céus e banhava a cidade por inteiro. Alessandra morria de rir com a preocupação de Silvinha com o
cabelo. Ela (Ale), de cabelos curtinhos não tinha esse problema em sua vida.

-- Eu devo estar horrível! Quase duas horas pra pranchar esse cabelo...

Alessandra deu uma gargalhada. Silvinha pegou as toalhas dentro do Fusca de Cíntia que agora era usado por
Alessandra. Entregou uma das toalhas para Ale.

-- Eu me preocuparia mais com a blusa... É nova?

Silvinha olhou então para sua branca, toda manchada de chocolate do sorvete e ainda uns respingos de
sangue. Provavelmente de Nat acrescentado baba da minha adorável filhinha.

-- Droga! É! – Silvinha desajeitadamente arrancava a blusa tentando salva-la (minha prima era uma louca por
roupa, dessas capazes de trocar entes queridos como eu por uma calça da Calvin Klein ou um cinto da
Chanel) Alessandra morria de rir. – Comprei ontem!

Alessandra deu uma breve risada fazendo um gesto negativo.

-- Eu vou fazer um café pra gente já que o sorvete literalmente derreteu. - Retirou os óculos de grau e jogou a
toalha de volta nos ombros de Silvinha. – Pega uma blusa minha, tem ai no porta malas!

Silvinha a obedeceu e se meteu em uma camisa xadrez de mangas dobradas. O café cheiro do café caindo na
cafeteira inebriava seu olfato. Alessandra saiu do banheiro também já trocada. Flagrou Silvinha com o olhar
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

perdido em alguns objetos pessoais como escova de dente, pente de cabelo, livros, anotações, nootbook.

-- Um café pelos seus pensamentos?

Silvinha deu um meio sorriso.

-- Estava pensando em você. – Alessandra arqueou uma das sobrancelhas. - E na sorte da Cíntia em ter você
do lado dela. É muita coragem largar tudo assim...

-- Não larguei tudo... Largaria se tivesse desistido dela antes de saber ou quando eu soube. – Se acomodou
ao lado de Silvinha. – Eu não iria ter paz se não soubesse o que estava acontecendo. Não foi coragem, foi
necessidade. Eu preciso dela ao meu lado.Posso ligar o rádio enquanto a gente toma café?

-- Claro...

Alessandra deu um meio sorriso e acionou o rádio do painel do fusca. A única coisa que funcionava de
verdade naquele carro. Silvinha se prontificou em servir as duas xícaras de cafés.

-- A Cíntia me contou sobre o empresário...

-- Sempre disse que aquele cara era safado. Coloquei advogado atrás desse filha da mãe. Ele não tinha
testemunhas e a gente pode alegar que a Cíntia não sabe ler, esta doente, alguém muito fácil de se manipular.
Tem como suspender essa documentação...

-- E no seu trabalho, como foi?

-- Bom, você sabe, eu vou sentir falta... Mas eu tenho com o que me distrair. Posso te mostrar uma coisa?

-- Pode...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Alessandra estendeu o braço e pegou o nootbook. Abriu.

-- Comecei o conto.

-- O livro que você tinha me dito?

Alessandra fez um gesto afirmativo.

-- Já esbocei dois capítulos. Quer da uma olhada.

-- Já!

O arquivo foi aberto e Silvinha começou a ler. Na verdade ela já sabia do que se tratava o conto. Era um
conto de época lésbico ambientados nos anos 50 que Alessandra já tinha lhe contado que desejava escrever.
A história era boa, sobre uma jovem que vivia de pequenos golpes e se tornava impostora de uma moça que
ela acreditava ter morrido. Na verdade a moça estava vivinha da silva e apenas interessada no dinheiro da
família enquanto a impostora se humanizava e acabava se apegando ao falso pai e se apaixonando pela noiva
de seu falso irmão.

-- Nossa Ale, esta muito bem montado, para que você escreve desenhos de tão...

Silvinha se cortou ao notar o quanto estava próxima de Alê. Culpa do Fusca que era pequeno. As duas
estavam no banco de trás, sentadas lado a lado. A cabeça de Silvinha próxima ao ombro de Alessandra.
Silêncio total. Apenas a música no rádio e a chuva se manifestavam.

-- Fica quieta!

-- O que? – Silvinha perguntou assustada.

Você precisa

Saber da piscina
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Da margarina

Da Carolina

Da gasolina

Você precisa

Saber de mim

Baby, baby

Eu sei

Que é assim

Baby, baby

Eu sei

Que é assim

-- Fica quieta! – Alessandra ordenou mais uma vez. Vagarosamente com a ponta dos dedos molhados foi
tocando o rosto de Silvinha. – Fica quieta.

Você precisa

Tomar um sorvete

Na lanchonete

Andar com gente

Me ver de perto

Ouvir aquela canção

Do Roberto

Baby, baby

Há quanto tempo

Baby, baby

Há quanto tempo

Vagarosamente aproximou seu rosto do de Silvinha e então assoprou seus olhos. Minha prima se arrepiou por

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

inteira com aquele simples gesto. Alessandra puxou um pequeno fio de cabelo caído e jogou para o lado e se
explicou.

-- Era só uma coisinha, se você se mexesse entrava nos seus olhos. – Silvinha ainda meio abobada com Alê
deu um sorriso. Só agora bem próxima que Silvinha observou que os olhos de Ale eram azuis. Combinavam
perfeitamente com seu tom de pele pálido e os cabelos bem pretos, cortados propositalmente em desalinho.
– Gostou?

-- Gostei?

-- Do conto!

-- Ah, lógico. – Minha prima respondeu um tanto confusa. – Adorei!

-- Eu vou levar para ler pra Cíntia.

-- Eu tenho certeza que ela vai amar.

Alessandra sorriu de volta, colocou os óculos novamente. Minha prima a observou por mais alguns segundo e
depois retomou a leitura querendo esquecer os problemas que ela não sabia, mas já estavam começando a
surgir.

Você precisa

Aprender inglês

Precisa aprender

O que eu sei

E o que eu

Não sei mais

E o que eu

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Não sei mais

Depois de ser examinada, o pediatra constatou que Heleninha estava com otite, como eu suspeitava, e febril.
Como médica sabia que aquele caso era um dos mais comuns de se encontrar em crianças, pequenas, mas
como mãe estava quase arrancando os cabelos de ver minha lindinha tão molinha daquele jeito. E nada de
Júlia me dar notícias. Está certo que ela não imaginava que Heleninha estivesse com febre, mas custava ela me
ligar e dizer que estava bem? Eu mesmo dei os remédios para Helena e achei de esperar a chuva estiar para
pegar o carro e voltar para minha casinha de bonecas.

Como tudo pode mudar em uma noite não é mesmo? Na noite anterior estávamos tão bem Júlia terminava de
me ajudar na mudança de casa. Estava linda usando só um shortinho velho de tecido leve e um toper,
terminava de montar um dos armários da cozinha. Heleninha já dormia em seu bercinho vindo da casa de
Dona Regina. Ela me flagrou dando uma secada enquanto terminava de guardar os alimentos dentro do
armário.

-- Que foi?

Vagarosamente me aproximei. Júlia fechou o armário e encostou na mesa da cozinha. Eu a medi de cima
abaixo, cabelos soltos, meio molhados. Os traços do corpo levemente saltados devido ao exercício que ela
estava fazendo com a mudança. Aquelas entradas ali, expostas, me convidado para algo a mais.

-- Não posso olhar?

Júlia sorriu, aproximou a boca da minha. Só olhar? – Deu uma risadinha sexy no pé do meu ouvido. Encostou
a boca me dando um beijinho de tirar qualquer juízo no pescoço. – Só olhar pode não...

E nossos lábios se entraram em um beijo cálido e envolvente. Impressionante como ela sabia me deixar com
vontade. Eu queria ela ali mesmo, de dia sem nem me importar, mas Júlia tinha planos.

-- Espera, é a primeira vez aqui na casa nova, não é?

Fiz um gesto afirmativo. Na mesma hora Júlia me pegou no colo como se eu fosse uma noiva.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Júlia!

-- Primeira vez tem que ter carregada no colo senão da azar...

Só ela mesmo. E carregado no colo, aos beijos “estreiamos” a casa nova. Depois passamos o restante da
noite comendo besteira, namorando na cama mesmo e assistindo TV. E agora não fazia ideia onde ela se
meteu e principalmente no que... Minha cabecinha torta teria preocupações a mais que isso mais rápido do
que pude imaginar. Cruzei com Nat na porta do hospital. Ela já com o raio X em mãos e um novo acessório
no rosto, um esparadrapo enorme no nariz.

-- Alice, acho que a gente tem que conversar.

-- Hoje não, Nat... Outro dia. Acho que por hoje chega. Eu já estou indo embora...

-- Por favor, fica aqui comigo...

-- Nat...

-- Eu estou me sentindo muito mal... Pedi para o Gabriel vir, ele veio, mas não pode conversar muito comigo
e ainda discutiu com a minha mãe...

-- Não tenho o que falar da sua mãe...

-- Então só me escuta... Você disse que queria me ver bem, então me escuta, por favor...

Me deu pena vê-la machucada daquele jeito. Nat errou sim, mas eu enxergava algum arrependimento em
seus olhos. Seria uma grande mentirosa se dissesse que não queria vê-la bem. Aceitei tomar café com Nat
enquanto conversávamos no escritório. Ela relatava a conversa dela com Gabriel alguns instantes atrás.
Contou a ele sobre tudo.

-- Por que você nunca me disse a verdade? - Gabriel perguntou a Nat em um tom sentido. - Nat, você era

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

minha mulher... Eu tinha o direito de saber... Isso... - Gabriel estava confuso, meio perdido. - Isso mudava
tudo...

-- Mudava o que? - Nat perguntou perdendo a paciência. - Que diferença isso ia fazer se você soubesse ou
não... Você não casaria comigo? Você não se apaixonaria por mim nem eu por você...

-- Eu não me sentiria uma bosta de marido achando que estava casado com a mulher mais incrível do mundo
e não conseguia fazê-la completamente feliz! - Gabriel cuspiu ainda revoltado. - Nat, eu sei que juntos a gente
se dava bem, dentro e fora da cama, mas você acreditou que poderia mesmo ser feliz com alguém ou sozinha
carregando essa culpa por todo esse tempo? - Gabriel fez um gesto negativo. - As coisas não são assim
Natália!

-- Eu não tive escolha... - Nat finalmente deixava se abater. Chorando ainda tentava lutar. - Eu juro que eu
não queria isso, mas eu não tive escolha...

Gabriel não respondeu. Apenas a envolveu e Nat cravou seus braços nos ombros do ex marido deixando ser
abraçada. Nat deitou o rosto em seu ombro, sentiu Gabriel beijar seus cabelos até chegar a sua orelha.

-- Por que você não teve escolha? Se a sua mãe te ameaçou te chantageou ou algo do tipo eu...

Abgail entrou no escritório. Já estava refeita do choque da conversa com a Júlia. Tinha lavado o rosto e se
arrumado outra vez.

-- Eu dei carinho pra minha filha. Eu dei educação. Amor. Sustento. Segurança. Tudo que aquela bruta
incapaz da sua amiga não fez pelo próprio filho... A minha filha somente foi grata.

-- Talvez a "bruta incapaz" seguiu o exemplo que tem em casa. Quem é a senhora para falar em ser boa mãe
ou boa filha? – Gabriel cobrou. – Tua filha pode não ser a melhor mãe do mundo, mas ela não jogou nas
costas do João a morte da mãe e do irmão dele como você fez questão de jogar na dela!

-- Olha aqui seu bêbado vagabundo, se você...

-- Se eu o que? Continuar falar a verdade? Vai fazer o que? - Gabriel ficou esperando uma resposta que não
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veio. - A senhora pare de me tratar como u menino que vive de favor na casa da sua família!

-- E você é o que por acaso?

-- Sou alguém que não abandona os iguais. O Bruno quase morreu tentando salvar teu neto, você nem pra ver
se ele estava vivo, o menino nunca soube o que ter uma mãe. – Droga, eu queria estar tanto lá para ter visto a
cara de bunda da dona Abgail essa hora. - E a tua filha, essa que você faz questão de dizer que ama, olha o
que restou dela... – Abgail encarou Nat que baixou os olhos e nada falou. - Você tem dois filhos que te
odeiam, uma que se sente em uma prisão do seu lado. – Fechou o cenho.Ninguém me disse que dava para
ativar o Gabriel nesse modo galo de briga, mas adorei essa função dele. - Até tua mãe te despreza! – Gabriel,
seu lindo, por que você não nasceu mulher e lésbica? – Antes de apontar o dedo não esquece que teu teto
também é de vidro. – Outra pausa. – E quer saber de uma coisa? A Júlia é muito mais mãe do que você...
Por trás você pode falar o que quiser, mas na minha frente a senhora não fala mal do Bruno e muito menos da
Júlia! – Deu as costas para Abgail e foi se despedir de Nat. – Se eu soubesse o que aconteceu seria
diferente... – Fez um carinho em seu rosto. – Mas isso não tem anda haver com o meu amor... Ele continua
intacto.

Despediu de Nat com um beijo na bochecha e partiu atrás de Júlia.

-- E tua mãe?

-- Minha mãe teve uma crise nervosa. – Nat me respondeu. Eu pagava para ver aquela bruxa dando ataque
de pelanca, se cortando por causa do Gabriel. – Ela teve que tomar alguns tranqüilizantes.

-- Posso te fazer um pergunta?

-- Quais foram os meus motivos.

Fiz um gesto afirmativo.

-- Alce, para as pessoas minha mãe pode aparecer alguém frio... Desumana muitas vezes... – Todas às vezes.
– Mas comigo não... Essa mulher me achou no meio do lixo hospitalar. Com fome, abandonada, com frio...
Você vai achar isso cínico e eu vou falar mesmo assim. Eu amo meus irmãos. Lembra daquele dia que você
comentou que a chave da cabana ainda estava no meu chaveiro? Eu nunca tirei de lá por que eu nunca perdi a
esperança na Júlia. Eu queria muito parecer com ela... Mesmo sendo a mais gordinha, a menos bonita e a
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

menos inteligente... Pra mim ela sempre foi incrível. Não criei o João tão parecido com ela a toa... – Deu um
meio sorriso. – O Bruno então...

-- Você é apaixonada por aquele asno de jaleco e estetoscópio.

Nat deu uma risada.

-- Ele é o meu vô todinho fisicamente, com o sorrisão do pai dele que também foi nosso pai... Eu trouxe
aquela ambulância no braço porque era a vida dele que estava em jogo... – fez uma pausa. – Mas se não
fosse minha mãe me recolher daquele lixo do hospital, eu não teria Bruno e Júlia e nem João e nem minha vó...
Minha vida não seria nada. – Emocionada. – Eu errei. Errei feio com a Júlia, mas não queria ver minha irmã
sofrer... Não mesmo. Eu não pensava que ela iria embora... Eu era muito nova, só tinha 22 anos, imatura...
Não tinha noção que rumo tudo tomaria. Não queria ter escondido isso do Gabriel. Ninguém casa para
separar. Eu queria ser feliz com ele.

-- Ele te ama.

-- Eu também amo ele... Só que é diferente do jeito que eu e você... Eu não te esqueci, Alice

-- Nat, isso não é hora e...

E antes que eu pudesse completar a minha frase fui calada com seus lábios se derramando sobre os meus.

End Notes:

Próximo capítulo:

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Sujeito esquisito... - Bruno contava a ISa e a Cíntia enquanto administrava a


medicação da minha amiga. Alessandra observava os três. - Falei mesmo...
Disse que a Rebeca era lésbica. A Rebeca não vai sair com ninguém não
senhora, ela tem que entender que o certo é a gente voltar... Que mané tal de
Serginho o que...

-- SABIA! - Rebeca entrou no quarto enfurecida. - Sabia que tinha que ter
dedo dessa mulça com um bisturi na mão! Foi você que fez minha caveira para
o Serginho? Disse que eu era lésbica, que era viciada, que eu tentei me matar
um monte de vezes?

-- E me agradeça! - Bruno retrucou. - Me agradeça! Te livrei de uma


roubada! Dizem que esse tal de Serginho é perigosissimo, mexe com tóxico´,
abusou de sei lá quantas meninas, batedor de careteira... Foi na casa de uma
amiga minha levou DVD, Lap Top, Tablet e...

-- Ele é meu irmão, coisa burra! - Deu um tapa no braço de Bruno. Cíntia, Isa
e Silvinha se seguraram para não rir. - Será que eu pego ele ainda na
rodoviária? O que eu fiz pra te merecer, sua... Oferenda mal despachada!

Saiu do quarto com cara de que ia matar "uns".

-- Espera, bequinha, oferenda também não, não precisa ofender! Como eu ia


saber que o moleque era teu irmão?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 43 by Tamaracae

Author's Notes:

http://www.youtube.com/watch?v=sBPIWTVX4jo - Maldito Rádio - Adriana


Calcanhoto

O meu Senhor, todas as mulheres são safadas ou será que só as que eu conheço? Foi o que questionei assim
que consegui entender que minha ex namorada (e agora cunhada) estava beijando a minha boca. Minha
primeira reação foi aquela básica que sempre tenho quando sei que alguma coisa ai dar errado e no final a
culpa toda vai ser da Alice. Fiquei ali que nem uma idiota “poiando” assistindo de camarote Nat
experimentando os meus lábios.

Pode soar como “sem vergonhice”, mas a culpa não foi minha. Sempre quando sou pega de surpresa parece
que meu corpo todo congela e só depois de uns dez segundos que ele tem uma reação. E daquela vez não foi
diferente. Me afastei de Nat abruptamente. Nossos olhos se encontraram e ela enxergou o susto no meu
rosto.

-- Isso não pode acontecer de novo! – Eu consegui balbuciar. - Não pode.

A Nat deve ter entendido isso aqui:

-- ​
Sa pa ka rive ankò!

Sim, ela só pode ter achado que eu falei com ela em outra língua porque lá veio ela com aquele olhar de felino
tentando atacar sua presa (Eu, Alice), mais uma vez. Dessa vez a empurrei com mais força e Nat acabou
caindo sentada no sofá.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Alice!

-- Eu já te disse que isso não pode acontecer.

-- Por que não? – Ela me perguntou. Ai Nat, minha gata, eu adoro você, mas não complica mais minha vida.
– Você não gosta de mim?

-- Gosto!

Nat deu um meio sorriso.

-- Então Alice... - Fez um carinho no meu rosto. Senhor... – Eu não sei ser tua amiga... Só consigo te
enxergar como mulher e você... Eu sei que você quer também e...

-- Nat, não dá. – Meti minhas em seus ombros para conte-la. Praticamente havia gritado aquelas palavras em
seu rosto. – Tem outra pessoa...

-- Alice, a Marisa...

-- Não é a Marisa. Sou eu! – Nat me encarou sem entender. – Eu me apaixonei por outra pessoa. – Isso
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Alice, você consegue. – Eu me apaixonei por outra mulher.

Se ela senta-se a mão na minha cara não ia doer o tanto que doeu ver o rostinho dela que já estava sofrido,
todo ferido se desfazer daquele jeito. Os olhos cheios d’água. Um tanto machucados. Que porcaria, eu não
queria fazê-la sofrer! Ainda mais depois daquela avalanche toda. Em nenhum momento bateu arrependimento
em ter ficado com Júlia (Ta batia quando ela estava assistindo jogo do Corinthians ou achava de levantar as
seis no domingo de manhã e queria me contagiar com seu bom humor e disposição matinal, ai ela ficava
insuportável, mas logo passava), mas que estava difícil passar por aquilo, estava. Dessa vez eu não precisei
empurrar Nat. Ela se afastou sozinha. Ainda meio boquiaberta se levantou do sofá.

-- Outra mulher?

Fiz um gesto afirmativo.

-- Outra mulher.

-- Você a conheceu em São Paulo, quando foi embora?

Meu Deus, Meu Deus, Meu Deus.

-- Sim e não. Eu já conhecia de São Paulo. Na verdade a gente se reencontrou... Nat deixa eu ir embora, a
chuva já passou e...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Reencontrou como?

Como eu ia explicar isso agora?

-- A gente já se conhecia antes e nos encontramos de novo, então nos reencontramos.

-- Alice, eu sei o que é um reencontro. Eu quero saber em que sentido foi esse reencontro.

Droga, precisava mesmo disso? Eu não queria mentir. Mas também não queria contar a verdade assim, a
seco. Como eu ia explicar aquilo.

-- É assim... Nos reencontramos no sentido bíblico...

Olha, esta certo que eu era a rainha do rolo, mas dessa vez eu me superei. Nem eu estava me entendendo. E
da onde eu tirei esse tal de “sentido bíblico?” Me levantei do sofá. Ajeitei minha bolsa. Heleninha ressonava
dentro do carrinho de bebê. Ela não podia me perguntar mais nada. Não ia falar na Júlia sem a mesma estar
comigo ali.

-- Nat, eu tenho que ir agora... A chuva...

-- Eu sei quem é ela! – Droga, Júlia por que você tinha que sumir agora? Minhas pernas tremeram, parecia
perder a força. Minhas mãos pareciam derreter. Senti um rombo enorme no estomago. – E a mulher do
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

vídeo, não é? Se você me disse a verdade, e eu acho que sim, só pode ser ela, pelo que eu saiba além da Isa
e de mim só teve essa bêbada do carnaval. – Mais um grande defeito meu, arranjar mulheres que são mais
inteligentes do que eu. Droga Nat, custava ter a mente do seu irmãozinho bruno e ter o raciocínio de uma
mula? – É ela, não é?

Meu queixo parecia ter despencado de dez andares. Controlei minha vontade de sair correndo com a minha
filha e chamar pela minha mãe e fiz um gesto afirmativo. Não estava mentindo. Era a mulher do vídeo.

-- É ela. – Confirmei. – Nos reencontramos e ela é...

E a porcaria do meu celular para variar me atrapalhou. Quem será que o infeliz que estava me ligando
justamente naquela hora. Dei uma olhada no visor. Júlia. Depois de mais de 300 telefonemas e sei lá quantas
horas me descabelando para saber o que acontecia finalmente algum sinal de vida. Eu tinha que atender.

-- Nat, essa ligação é importante... Eu preciso mesmo atender. Mas eu quero conversar com você sobre essa
mulher...

-- Alice, não tem o que conversar. – Ih, meu Deus, não tem o que conversar em outras palavras queria dizer o
que? Vamos direto para o pau? – Você nem conhece essa mulher direito... Só foi o que? Uma noite? Alice,
eu e você temos...

Outra vez o telefone. Júlia. Fiquei com medo de não atender. Quando eu sai no corredor atrás de Júlia, ouvi
dona Abgail falando a Nat.

-- Agora espero que a sua irmã tenha um daqueles destemperos que costuma a ter, encha a cara de cachaça,
arranje uma vagabunda qualquer e suma por mais dez anos!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

E se eu não atendesse e acontecesse o que a bruxa falou?

-- Nat, não dá pra gente conversar agora, mas eu quero falar com você amanhã. Me encontra as dez da noite,
no Scarpan?

-- No Scarpan?

-- É amanhã não abre. Me encontra lá.

-- Mas....

-- Eu tenho que atender. – Dei um beijo rápido em seu rosto. – Amanhã, hein?! Não esquece!

-- Alice...

-- Não pode passar de amanhã! Dez da noite!

Antes que ela conseguisse responder alguma coisa sai da sala e atendi o celular.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Oi, amor? Onde você esta?

-- Em casa. – Me cortou o coração escutar a voz de Júlia tão amuada. – Eu liguei pra te avisar... Não dá pra
você vir pra cá...

-- O que?

-- Passei no hospital, peguei minha moto e vim pra cá. Seu celular só dava caixa. Por que você não veio?

-- A Lelê teve febre. Esta com otite. Tive que ir para a pediatria. Sabe como aquilo esta um bagunça, né?

-- Já foi atendida?

-- Já, agora esta dormindo. Já estou indo pra casa.

-- Então, isso que eu ia te falar... A estrada esta horrível. Deu um problema na iluminação, não dá pra
enxergar nada. Foi um sacrifício pra chegar aqui. Melhor você dormir na Silvinha, amanhã eu vou e pego
vocês de carro.

-- Droga! – Resmunguei. - E você vai ficar sozinha?


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Não vou fazer nenhuma besteira, Alice. Te prometo.

-- Queria passar a noite com você, fazendo carinho... Te dando colo, beijinho...

Ouvi algo que devia ser um sorriso.

-- Não faz essa vozinha de menininha não... – Ela disse de um jeitinho fofo. – Senão eu pego essa estrada
com os olhos vendados só pra dormir agarradinha com você. Sentindo o seu cheirinho. Saudade da minha
míopezinha...

Sim, quando ela queria me encher me chamava de miopezinha. No começo eu odiava, mas depois, como toda
mulher apaixonada, eu sentia falta de ouvi-la me chamando assim. Dei um sorriso.

-- A senhora que não faça essa voz manhosa de quem esta querendo carinho senão eu que pego a estrada de
olhos vendados. - Ouvi outro riso. – Eu vou ter que desligar e ligar a para a Silvinha avisando que vou ficar
lá... Qualquer coisa você me liga...

-- Ta bom, amor... Um beijo... Dá um beijo na bebê.

-- Na bebê que esta dormindo ou que estou falando agora por telefone?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Boba!

-- Bebezão! – Júlia deu uma risadinha. - Vou desligar. Beijo, te adoro.

-- Outro, bem gostoso, linda!

Nem precisa dizer que estávamos soltando mel por todos os poros depois desse telefonema, não é? Enquanto
eu pegava um táxi para casa da minha prima, Júlia tratava de pegar lençóis e travesseiro limpo para sua
companhia da noite. Com os apetrechos em mãos atravessou o corredor da cabana e abriu a porta de seu
quarto.

-- Ow, bate na porta!

João se enrolou em um lençol. Usava apenas cueca.

-- Desculpa...

João a encarou curioso.

-- Você fica assim pela casa?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Júlia mediu sua roupa. Usava uma regata preta confortável e uma calcinha da mesma cor.

-- Assim como?

-- Confortável...

Júlia deu uma risada. João terminou de estender o novo lençol e se deitou na cama.

-- Você nunca viu uma mulher de calcinha?

-- Claro que já. – Ele garantiu fazendo Júlia ter mais vontade de rir. – Um monte...

-- Também só viu... – Júlia apagou a luz, acendeu a luminária ao lado da cama. – Não fez mais nada...

-- Quem disse? – Ele devolveu marrento. – Eu fiquei com elas... – Encheu a boca. – Com todas elas!

Júlia não agüentou e deu uma risada.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Então é melhor eu acender a luz por que essa noite estou correndo um sério perigo do Édipo me atacar... –
Jogou a coberta rapidamente sobre seu corpo de um jeito engraçado que fez João rir.- Garanhãozinho!

-- Quem é esse?

-- Esse quem?

-- Édipo.

-- Quer que eu te conte a historinha de Édipo?

-- Não, isso é coisa de neném... Só me explica porque as pessoas falam complexo de Édipo?

-- Édipo é da mitologia grega. É a história de um filho que matou o próprio pai e se casou com a mãe Jocasta.
Ele não sabia que ela era mãe dele e se apaixonou. – Júlia explicava a João. Ele não tirava os olhos dela. -
Então Freud usou essa passagem da mitologia para explicar uma passagem que geralmente acontece na
infância. É uma espécie de fixação por pessoas do sexo oposto no ambiente familiar. A Laísa, por exemplo,
ela não é mais agarrada no tio Bruno e no Gabriel do que em mim?

-- É...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- É por causa do Complexo de Édipo, é uma preferência velada dela... Quando você era menorzinho,
aposto que vivia em um grude com a tia... – Júlia ia falar Nat, mas na hora travou. João a encarou
desconfiado. – Com a sua tia? Até implicava um pouco com seus tios?

-- Mais ou menos... Mas sabe até hoje eu gosto da tia Nat. Como se fosse uma...

João se cortou, mas Júlia completou a frase dele.

-- Sua mãe. – Sem graça João fez um gesto afirmativo. – Ela tem muita sorte de ter você com ela... – Sem
graça. – Muita sorte mesmo...

-- Você e a tia Nat brigaram?

Sem graça, Júlia fez um gesto afirmativo.

-- É coisa de irmão... – Ela disse um tanto ressabiada. – Às vezes a acontece...

João sorriu.

-- E você ficou chorando feito boba por causa disso? – Júlia o encarou. – A tia Nat briga, mas ela não é
ruim... Ela vive fazendo isso com o tio Bruno, mas ele esta lá... Na casa dela... Daqui a pouco vocês fazem as
pazes. – Deu um sorrisinho e achou de trocar de assunto. – Legal a história do Édipo. Voe sabe contar bem...
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Você gosta de mitologia?

-- Um pouco, Édipo...

João deu uma risada.

-- Você pode ser gata, mas eu não me casaria com você... - Júlia deu uma risada. – E o Édipo teve filho da
Jocasta?

-- Tá doido pra que eu fique contando história pra você, não é criança! – João deu um sorrisinho matreiro, se
ajeitou melhor na cama e por fim assentiu com a cabeça. – A Jocasta se matou quando soube da verdade... E
o Édipo furou os próprios olhos.

-- Furou os próprios olhos? – João perguntou surpreso. – Viu como é furada se eu me casar com você?

Apesar do péssimo dia, Júlia adormeceu sorrindo ao ver João se entregando a ao sono tranquilamente ao seu
lado. Jogou o lençol sobre o filho, deu um beijinho em sua testa. Sua cabeça tinha montado aquela cena tantas
e tantas vezes, quem diria que agora estaria mesmo acontecendo. Deu um beliscão de leve no próprio braço.
Sim era verdade, estava acontecendo.

-- Lá se vai mais um dia... – Júlia murmurou para si mesmo antes de apagar a luz da luminária e se entregar ao
justo sono.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Cheguei na casa de Silvinha já de madrugada. Eu estava doida para contar minha conversa com a Nat para
alguém. Minha prima estava dormindo, se eu ousasse tocá-la acordaria com um humor do cão chupando
rapadura. Isa jogava Xbox na sala, era praticamente uma surda muda, apenas enxergava aqueles zumbis na
sua frente. Ale foi dormir no hospital com Cíntia. Rebeca era minha ultima chance. Achei que ela estaria
dormindo, mas quando entrei no quarto minha amiga estava no celular.

-- Ai Serginho, saudade... - ... – Pegou o endereço certinho? Beijo, coisa linda! Tchau! – Desligou. – Oi
Allie!

-- Serginho? -Perguntei curiosa.

-- Depois te conto. – Fechei a porta. – O que fez te largar da “Julinda” e vir buscar a companhia dos relés
seres feito eu?

-- Quis variar... Hoje quero uma ruiva! – Brinquei me agarrando a Beca, ela me deu uma risada, puxou minha
mão como se quisesse que eu a enlaçasse e demos uma risadinha. Isso que eu gostava de Beca, ela nunca em
nenhum momento se mostrou encanada comigo nem com as meninas, mesmo sabendo que gostávamos de
mulheres. Deitei ao seu lado após ajeitar o carrinho de Heleninha no quarto. – Lelê deu febre e ficou tarde
para voltar para casa... Otite...

-- E essa ruguinha de preocupação aí na testa é só por causa da primeira febre?

-- Não. Menina... Você não imagina o que...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- O Leandro me contou...

-- Que? – Perguntei incrédula. - Aquilo ali viu... Quando morrer é um caixão pra ele e outro para língua.
Depois dizem que mulher é fofoqueira. – Beca deu um meio sorriso. – E o que você acha?

-- Se eu te falar que eu fiquei com dó da Nat, você vai me matar?

Dei um sorriso triste e fiz um gesto negativo.

-- Eu também fiquei. E a Júlia então com aquela carinha de vira lata na chuva? – Triste. - O problema delas é
a vaca daquela mãe que fica jogando uma contra a outra. Só pode ser maluca, né? Como pode fazer tanta
diferença assim entre os filhos? Isso não é boa da cabeça não...

-- Vai ver é por causa do neném que nasceu morto.

-- Neném de quem?

-- Da dona Abgail. – E por fim me explicou. – O Bruno me disse que a mãe dele engravidou depois da Júlia e
o bebê nasceu morto. Ela estava no hospital fazendo o atestado de óbito do filho quando achou a Nat no
meio do lixo. A Duarte estava com ela. Dez anos depois de adotarem a Nat descobriram que ela estava
grávida do Bruno.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Coisa mais triste deve ser pegar um bebê morto no braço, não é mesmo? Lembro daquela menininha que
eu e a Isa fizemos o parto. A boquinha roxa, achei que ela ia morrer na minha mão... Como foi mesmo o
nome que as enfermeiras escolheram pra ela?

-- Isabela. A Belinha... Menina forte... Ainda está lá na UTI pediátrica, acredita? A mãe morta, ninguém sabe
nada da família... Coitada, vai para o juizado.

-- Espero que uma família boa mesmo que adote... Que ela tenha a sorte da Nat...

-- E ela, como esta?

-- Ela pediu para eu voltar com ela...

-- Daí?

-- Eu disse que não.

-- Daí?

-- E ela perguntou porque.


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-- Daí?

-- Por que você ta falando assim? “Daí? Daí?”

A Rebeca tinha essa mania, ela ia contar uma história. Dez por cento das palavras eram sobre a história e os
outros noventa eram ela falando “Daí, Daí”. Eu adorava encher ela com isso.

-- Você que para na melhor parte, ow Zé! – Rebeca retrucou. – Mas dai?

-- Contei pra ela que estou apaixonada por outra mulher. – Rebeca abriu a boca surpresa. – Você não vai
falar, daí?

-- Você não disse que era pra eu parar de falar? – Rebeca questionou impaciente. – Daí?

-- Ela veio para me beijar de novo e eu disse que não podia e contei que era a mulher do vídeo do Youtube.
Ela não reconheceu a Júlia

-- Ela te beijou? – Rebeca perguntou boquiaberta. – Daí guria, o que tu fez? Falou que era a Júlia?

-- Não! Vou contar amanhã.

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-- E vai contar pra Júlia que ela te beijou?

-- Ta maluca?

-- Maluca por quê?

-- Bah, guria, eu não quero que elas briguem mais! – Brinquei usando o sotaque gaúcho, todo cantado, de
Rebeca que sorriu desarmada. – Como tu custa para entender as coisas!

-- Entendi! – Beca disse também brincando com meu paulistano. Cheio de “r” e “n” por todos os lados. – As
minas de Sampa que não sabem explicar as paradas di-rei-to... – Ela falou separando bem as sílabas, igual um
paulistano nato. - Mas como a Nat descobriu que a mulher que você estava era a mesma do vídeo?

-- Porque eu falei que reencontrei a mulher. Ela raciocinou por exclusão, só fiquei com duas mulheres tirando
ela, sobrou à mulher do vídeo e a Isa... Como ela sabe que eu não me apaixonaria pela chata da Isa...

-- Eu ouvi! – Isa berrou da sala. Falei para ouvir mesmo.

-- Como eu estava dizendo, eu não me apaixonaria pela chata da Isa. – Reforcei só para irrita-la. - Só sobrou
à mulher do vídeo...

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Isa veio da sala, meteu a cara na porta de entrada.

-- Então a Júlia é a motoqueira do vídeo? – Isa deu uma risada. – Sabia que aquela tensão sexual elevada à
quadragésima potencia vinha literalmente de outros carnavais. Desde o primeiro dia que vocês se encontraram
naquela emergência eu sabia disso!

Rebeca deu uma risada. E eu repito, todas as mulheres são safadas ou só as que eu conheço? Da onde Isa e
Rebeca tiraram que eu e Júlia tínhamos tensão sexual antes de começarmos a ficar? Ainda mais em nosso
local de trabalho?

-- Do que vocês estão falando? Imagina que eu e a Júlia íamos... Sei lá... Flertar na emergência?

Mais uma risada das duas. Animada, Isa pegou uma toalha e jogou em cima de Rebeca.

-- Vai, vamos fazer... Você faz a Alice grávida e eu faço a doutora Júlia. – Rebeca com uma expressão
divertida embolou a toalha e colocou sobre a blusa imitando minha barriga de cinco meses de grávida.
Roubou meus óculos e ajeitou frouxamente sobre o próprio rosto e deram inicio a aquela patética encenação.
Júlia (Isa) estava de costas, fazia algumas anotações em uma prancheta imaginária enquanto seus olhos se
perdiam na bunda ou no decote de uma das enfermeiras imaginárias. Eu (Rebeca) vinha distraidamente
mexendo no meu panger do hospital quando sem querer trombo com Júlia e derrubo meus óculos (Filha da
mãe, Rebeca me imitava direitinho)

-- Sempre tem que ter um palhaço na frente e... – Nessa hora a sem noção da Rebeca adoçou a voz, do
mesmo jeito que eu devia fazer. – Doutora Júlia?

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Ao falar o seu nome Júlia (Isa) estufou o peito. Isa apertou os olhos e deu um sorriso meio de lado a lá Júlia.
Essa hora só não gritei alto de tanta vontade que eu tinha de rir porque era capaz de acordar a casa inteira.
Isa era bem magrinha, ainda faltava muito arroz com feijão pra chegar a Júlia, mas o olhar apertado, o jeito de
encher o peito e o sorriso estavam idênticos. Aquilo era ou não era o cúmulo do que não ter o que fazer?

-- É o que dizem por aí... Desculpa por derrubar os óculos – Júlia-Isa respondeu. Alice-Rebeca tirou os
óculos de grau, deixou uma das hastes dos óculos meio pendurada em sua boca. Não é que eu fazia isso? Os
olhos correram para a boca da outra mulher e as duas ficaram se encarando. Isa perguntou de um jeito
charmoso, fazendo até o timbre de voz meio rouco de Júlia. – Que foi, doutora Alice, nunca viu uma mulher
irresistível na sua frente?

Rebeca (Eu) quase deixava os óculos cair no chão outra vez. Isa deu uma risada sacana. Rebeca atrapalhada
voltava a ajeitar os óculos no rosto.

-- Es-Estava tu-do tão bem... – Eu tinha mesmo esse ataque de gagueira perto da Júlia. - Por que você
sempre tem que estragar tudo no final?

Isa deu uma risada, tocou de leve o rosto de Rebeca.

-- Engano seu! No final é que eu acerto tudo...

Jogou uma piscadinha e saiu andando daquele jeito que Júlia andava, quebrando as cadeiras, chamando
atenção por onde passava. Isa imitava com tanta maestria que até sua companheira de cena, Rebeca, não
agüentou e soltou uma sonora gargalhada. Isa era chata, mas eu tinha que dar a mão à palmatória, me matou
de rir “fazendo papel” de Júlia. No final de sua apresentação ela se juntou a nós duas, Rebeca tirou a falsa
barriga de grávida enquanto ainda estávamos as gargalhadas.

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-- Deus do céu... – Apontei para Isa. - Como pode nascer tão besta, hein?!

-- Nem vem, está igualzinho... – Isa rebateu. - Só faltavam se comerem na emergência...

Meus amigos passaram na fila da idiotice umas trezentas vezes. Tenho certeza. No dia seguinte acordei
cedinho para dar remédio e o peito a Heleninha e também para ir pra casa. Eu estava doida para abraçar,
beijar, da todo carinho e consolo do mundo para minha namorada. Para variar seu celular estava fora de área.
A casa de Silvinha lembrava meus tempos de república de estudantes que não tinha estudantes. Um mundo de
gente querendo usar o banheiro. Isa e Beca iam para o hospital, Silvinha também tinha uma reunião cedo com
fornecedor de bebidas, Alessandra chegava do Alonso Franco acompanhada de Bruno. Os dois com cara de
mortos.

-- A Cíntia não dormiu essa noite... – Alessandra nos explicava. – Ansiosa com a operação. E também se
queixando de dor nas costas...

-- Estou morto também. Um animal chegou lá atropelado porque se jogou embaixo de um ônibus porque a
namorada queria terminar... Dá vontade de matar um idiota desses... Tanta gente querendo ficar viva...

-- Droga. – Isa lamentou. – Adoro os estúpidos, eles não têm noção nenhuma, não tem medo de se ferrarem
todo. Sempre são as melhores cirurgias. – Chateada. – Por que nunca pego o plantão deles?

Alessandra fez um gesto negativo. Foi se servir de um pedaço de bolo, sua mão esbarrou sem querer na
xícara de Silvinha que estava ao seu lado. A blusa de Alê foi tomada por aquela mancha marrom..

-- Droga! Desculpa Ale...

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Alessandra deu uma risada.

-- Você, eu e comida já percebi que é perigo constante. - Deu uma risadinha e tirou a blusa de cima ficando
apenas com uma regata azul que realçava sua pele branquinha, os braços naturalmente torneados e os olhos. –
Não esquenta Silvinha, blusa velha...

-- Cla- Claro...

Ela gaguejou. Do mesmo jeito que eu gaguejava quando Júlia estava por perto. Alessandra estava
concentrada em sua fatia de bolo. Apenas vez ou outra desviava a atenção para escutar alguma história de
uma das meninas ou rir das babaquices do Bruno. E Silvinha não tirava os olhos dela. Não estava sorrindo
como era seu costume. Preocupante. Meus olhos encontraram com os de Silvinha que desviou de mim sem
graça. Logo desencanei daquela “coisa” estranha que rolou da parte da minha prima com Ale atraída pela
discussão de Bruno com Rebeca.

-- Aiiii! Que isso Beca? Só um pedaço de pão...

-- Contado! Esta com fome come bolacha... Se quiser tem um botequim ali na esquina que serve pão na
chapa com café com leite, três reais...

-- Credo Beca, não posso mais visitar as amigas? – Bruno perguntou chateado. – Vim te ver? – Carinhoso. –
To com saudade, branquela...

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-- Nem vem com essa conversa de branquela e neguinho, eu lembro a ultima vez o que aconteceu...

-- Vocês vão falar sobre sexo? – Silvinha questionou enquanto passava manteiga em seu pão. – Na mesa?

-- O pão na chapa na padaria me pareceu tão interessante agora. – Alê brincou arrancando risadas minhas de
Isa e Silvinha. – Nao é? E você Lelê? – Ela brincou com minha filha que estava acordada no carrinho com os
olhos bem abertos balbuciando com seu brinquedo preferido, um porquinho de pelúcia. – Vem com a tia?

-- Ah AAAAAAh AAAH!

Bruno, alheio as nossas brincadeiras mantinha uma conversa paralela com Rebeca.

-- Já vem com dezoito pedras na mão... A gente nem conversou mais... Quero ver minha namorada...

-- Que mané namorada? Eu é que não sou... – Rebeca deu um gole no suco. – E pelo que eu saiba o restante
dessa mesa é tudo lésbica...

-- Então você não sabe de nada... – Silvinha se intrometeu. – Odeio rótulos...

-- Você é bi? – Alessandra perguntou meio surpresa.


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-- Prefiro dizer que eu sou sexual...

-- Bissexuais e seus eufemismos... – Isa comentou em um tom de critica enquanto tomava café.- Sempre...

-- Algum problema? – Silvinha questionou. – Isadora?

-- Nenhum, sou muito bem resolvida com minha sexualidade!

-- O que você esta querendo dizer? – Silvinha voltou a perguntar. – Eu também sou muito bem resolvida com
minha sexualidade...

-- Ow, dá pra duas pararem? – Eu interrompi apontando para Heleninha. – Tem crianças na mesa!

Rebeca terminava de se arrumar para sair. Bruno grudado nela parecendo um carrapato.

-- Bequinha, Bequinha... Por que eu e você assim a gente não pode ficar mais juntos que nem antes? A
Heleninha esta sentindo falta dos padrinhos dela juntos. – Cara de pau do Bruno colocar minha filha no meio
daquele fogo cruzado. – A gente dava tão certo antes, agora...

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-- Vai ver foi para o espaço mesmo... – Terminava de passar perfume. – Acabou nosso axé...

Bruno não acreditava no que estava ouvindo. Apesar de todas as mulheres, tinha certeza que nenhuma ia lhe
fazer feliz como Rebeca, sua “branquela”. Só tinha que arrumar um jeito de enfiar aquilo na cabeça daquela
teimosa.

-- Que acabou axé, acabou axé, a gente virou trio elétrico agora? – Rebeca não respondeu. – Branquela, esta
me escutando?

Não estava. Minha amiga já tinha ido para seu quarto, ocupada, atendendo o celular. Com “faro aguçado”
para prever perigo na área Bruno se aproximou de Beca e só ouviu um pedaço da conversa.

-- Oi lindo! - ... – Jura? - ... – Nossa Serginho, chegou mais cedo que eu esperava... -...- Faz o seguinte, eu
tenho que passar no hospital para ver uma amiga que vai operar à tarde. Você me espera aqui em casa então?
-...- Tá bom, não vejo a hora de te ver. -... – Tchau!

E lá estava a semente do ciúme e da desconfiança plantada na cabeça do Bruno. Se escondeu no quarto de


Silvinha e esperou Rebeca sair para só então deixar se mostrar.

-- Serginho, Rebeca? Vai pensando nesse Zé Ruela...

Nós terminamos o café e cada uma foi para um lado. Eu peguei um táxi. Não ia esperar Júlia me buscar
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nada, estava morrendo de saudade e de vontade dela, não queria saber mais de ficar separada. Um táxi parou
na porta do prédio de Silvinha. Dele desceu um rapaz lindo, pouco mais jovem que eu, loirinho com os
cabelos lisos, presos naquele estilo David Beckham - e a barba aloirada por fazer. Tatuagem em um dos
braços e alto. Um pouco mais magro que Bruno. Com uma mochila nas costas e uma mala maior na mão ele
saltou do veículo de aluguel. Eu ia aproveitar o táxi, mas antes ele me parou para fazer uma pergunta.

-- Moça, desculpa, você mora nesse prédio?

-- Minha prima mora por quê?

-- A Rebeca mora ai?

-- Mora com a minha prima por quê?

-- Só queria saber... – Deu um sorriso. – Obrigado.

-- De nada...

Entrei no táxi e dei o endereço da cabana. Apesar de ficar em um lugar bem tranquilo, a cabana de Júlia fica
só há menos de dois minutos de uma das principais estradas da cidade, os taxistas não viam problemas em me
levar ou buscar lá. Só não podia imaginar que o espírito zombeteiro do Bruno fez que saiu do apartamento e
ficou escondido no prédio de olho em quem entrava e quem saia. Quando viu aquela nova figura matou a
charada que aquele era o tal Serginho. A confirmação veio ao se aproximar do interfone e ver o rapaz
tocando o número do apartamento da Silvinha.

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-- Serginho?

-- Oi?

-- É você, né cara? Que esta procurando a Beca, né? Que bom velho... – Deu um tapa no ombro tentando se
enturmar e quase desmontou o coitado do Serginho. Isso era estratégia. Conheço o Bruno, já veio jogando
marra em cima do menino. – Sabe é bom ela ter alguém por perto nessa hora difícil, né... Coitada...

-- Coitada?

-- Passar por todo esse problema que ela esta passando sozinha é barra, né? Você sabe, agora que largou os
antidepressivos... Deixa a pessoa meio perdida assim... Precisa mesmo de um ombro forte...

-- Antidepressivo?

-- O médico se viu obrigado a receitar depois das três tentativas de suicídio, coitada. Primeiro cortar os
pulsos... Depois aquele lance de tentar se atirar do prédio... E ainda teve o fogo no apartamento... A bebida
que causa isso... Depressão. – Serginho estava boquiaberto. - Ai você sabe bebida é a porta que abre para
todo o resto.

-- Todo o resto?

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-- É... As drogas... A mulher a largou. Não sei e você sabe, mas ela morava com uma tal de Silvinha,
namorada dela... Não cabe a nós julgar a sexualidade de ninguém... Mas essa Silvinha... Não presta. Pode
perguntar por ai, não tem para da com mulher nenhuma. A Beca coitada, não agüentou se afundou de vez nas
drogas, que vou te contar...

-- Drogas?

-- Agora não por causa do susto, né? Duas overdoses seguidas assusta a pessoa...

-- A Beca teve overdose?

-- Coisa horrível... E olha que eu sou médico, não me impressiono fácil, mas olha... – Mostrou o braço. – De
arrepiar, companheiro...

E lá se foi o Serginho na onda do besta do Bruno que convenceu o menino que Rebeca era a nova Amy
Winehouse. Só que sem o talento e sem a fama da verdadeira Amy. Horas mais tarde, no quarto de Cíntia,
enquanto Isa preparava sua paciente para fazer a biópsia e conferir novamente o estágio do câncer, Bruno
contava vantagens para as meninas.

-- Sujeito esquisito... - Bruno contava a Isa e a Cíntia. Alessandra observava os três. - Falei mesmo... Disse
que a Rebeca era lésbica. A Rebeca não vai sair com ninguém não senhora, ela tem que entender que o certo
é a gente voltar... Que mané tal de Serginho o que...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- SABIA! - Rebeca entrou no quarto enfurecida. - Sabia que tinha que ter dedo dessa mula com um bisturi
na mão! Foi você que fez minha caveira para o Serginho? Disse que eu era lésbica, que era viciada, que eu
tentei me matar um monte de vezes?

-- E me agradeça! - Bruno retrucou. - Me agradeça! Te livrei de uma roubada! Dizem que esse tal de
Serginho é perigosissimo, mexe com tóxico, abusou de sei lá quantas meninas, batedor de carteira... Foi na
casa de uma amiga minha levou DVD, Lap Top, Tablet e...

-- Ele é meu irmão, coisa burra! - Deu um tapa no braço de Bruno. Cíntia, Isa e Silvinha se seguraram para
não rir. - Será que eu pego ele ainda na rodoviária? O que eu fiz pra te merecer, sua... Oferenda mal
despachada!

Saiu do quarto com cara de que ia matar "uns".

-- Espera, Bequinha, oferenda também não, não precisa ofender! Como eu ia saber que o moleque era teu
irmão? – Bruno corria para alcançá-la. – Bequinha, eu me preocupo com você...

-- Minha mãe me ligou louca da vida me passando endereços de clínica de reabilitação. E ainda disse que eu
podia ser mal exemplo para o meu irmão! A gente brigou...

-- Brigou? Espera Bequinha... - Bruno segurou Rebeca pelo braço. – Você esta bem?

A resposta veio a jato. Um sonoro tabefe no rosto. As enfermeiras caíram na gargalhada.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Rebeca!

No quarto Isa fazia os últimos preparativos. Cíntia já era transferida para maca. Alê percebia sua apreensão.
Pegou na mão da namorada.

-- Vai dar tudo certo amor, é só a biópsia. Pensa em coisas positivas.

-- Com um diagnóstico desses? – Desanimada. – É difícil...

-- Pense sei lá... Que você não é o Bruno agora... – Isa brincou arrancando um singelo sorriso de Cíntia. – E
que você não namora o Bruno... – Outro sorriso, dessa vez acompanhado por Alê. – E também que se o
Bruno com esse “genialidade” consegue levantar da cama amarrar os tênis sozinho e ainda ser médico, você
quando aprender a escrever direitinho tem chances de se tornar uma nova Isaac Newton...

As duas riram para valer. Isa se distanciou um passo para Cíntia e Alê se despedirem da melhor forma.
Trocaram um beijo. Alê beijou as mãos de Cíntia.

-- Vou estar te esperando aqui.

-- Eu te amo!

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-- Idem!

Trocaram mais um beijo. Alê beijou as mãos de Cíntia e em seguida Isa teve que fazer o papel de vilã e
separar as duas. Silvinha chegou do banheiro e viu Cíntia na maca no final do corredor, já virando para seguir
até o elevador. Observou Alessandra acenar até a namorada virar a “esquina” com um sorriso nos lábios.
Depois que Cíntia e Isa sumiram, Alê desfez o sorriso e então deixou o desespero abraçar seu corpo. Tirou
os óculos de grau. As primeiras lágrimas escapavam de seu rosto. Ao perceber que era observada por
Silvinha, não se envergonhou e abraçou minha prima. Silvinha sentiu seu pescoço sendo invadido pelo rosto
de Alessandra. Ela envolveu os braços sobre o pescoço de Silvinha.

-- Não quero perder minha mulher... Silvinha eu...

As palavras saiam desordenadas. A cabeça da coitada da Alê estava uma bagunça. Silvinha a abraçou de
volta. Procurou seus olhos querendo lhe passar confiança. Má ideia. Os olhares mais uma vez se encontraram
causando um desconforto enorme na minha prima que ficou ali sem saber o que fazer. Apenas balbuciava
pedidos de calma.

O cheiro de Alessandra entrava em suas roupas. A pele encostada a sua expressava um delicadeza que
Silvinha jamais havia experimentado. Não era só a cabeça de Alê que estava uma bagunça. Silvinha tinha a
reunião com os fornecedores. Seu telefone tocou era Ingrid. Provavelmente cobrando sua presença. Quem a
salvou foi Leandro. Mesmo já liberado de sua carga horária, se prontificou a ficar com a namorada de Cíntia.
Silvinha aceitou de prontidão precisava trabalhar e precisava muito mais se afastar de Alê. Saiu do quarto,
colocou os fones de ouvido.

Não, de novo não


Não quero ouvir não
Agora não

Maldito rádio
Agora que parecia que eu ia
Deixar o falso amor lá na memória
Agora que parecia que eu ia ser agora

Minha prima entrou no elevador. Apertou o térreo. Como imaginava, o perfume de Alessandra impregnou

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

suas roupas. Podia sentir o abraço dela, a sensação do corpo magrinho junto ao seu. As mãos afundando em
seus cabelos.

Não é momento
De machucar meu coração com melodias
Maldito radio não me faça pensar nela
Volte pras notícias
Para o hit da nova novela

Maldito rádio

Não, de novo não


Não quero ouvir não
Agora não

Sua pele pegava fogo, os lábios formigavam. A porta do elevador se abriu. Silvinha de olho no painel só viu
um C de andar cirúrgico. Ao dar de cara com Natália entendeu que havia pegado o elevador que dava bem
em frente à sala de reuniões da diretoria. Nat fez menção de entrar, mas desistiu ao ver Silvinha.

-- Eu pego o próximo.

A porta do elevador estava quase se fechando. Silvinha abriu a porta e em um repente só alcançou Nat. Ela
mediu minha prima de cima abaixo. Silvinha estava diferente.

-- Você esta se sentindo bem?

Silvinha não respondeu. Apenas deu um beijo acordando todos os desejos de Nat. Tirou todo o fôlego.
Enlaçou sua cintura com as mãos a pegando com força, a levou até a sala de reuniões vazia, encurralou em um
canto livre e voltou aos beijos. Jogava a língua com vontade a procura da língua da outra. Nat, mesmo sem
entender, correspondia. Silvinha foi puxada pela gola da camisa para aprofundarem ainda mais o beijo. A mão
de Nat subiu passando pelo abdômen e seios da minha prima. Com a boca sugava o queixo de Silvinha.
Desceu com os lábios para o pescoço. A toda poderosa de lesbworld, de olhos fechados, tornava-se passiva
a cada toque. Sentiu sua blusa de botão sendo arrancada. A boca de Nat passando entre seus seios e
sugando os mamilos.

Nat estava acesa, beijava Silvinha com desejo, com ardência. Deixou a mão escorrer até a calça da outra e

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

enfiou a por dentro, brincando com a calcinha que minha prima usava. Os beijos desceram para o abdômen,
enfiou a língua dentro do umbigo arrepiando todos os pelos de Silvinha. Sentiu que estava indo bem, pois
Silvinha pedia cada vez por mais.

-- Faz logo, pelo amor Deus. Me come!

Nat a penetrou com a língua e começou a chupá-la sem cerimônias. Perdiam completamente a razão. Silvinha
soltava palavras sem nexo, enterrava a mão nos cabelos de Nat forçando-a aumentar o ritmo e ao sentir que
estava chegando ao clímax contraiu todo o corpo arqueou e sentiu o contorcer involuntariamente na boca de
Nat. Só de sentir Silvinha gozar Nat começava a ter espasmos sem ao menos tocar no próprio sexo. Deitou-
se exausta no gelado chão da sala. Silvinha a acompanhou, fechou os olhos e sentiu os dedos de Nat, ainda
com seu gosto, acariciando sua face e seus lábios. Nat foi beijá-la, mas minha prima a cortou. Sabia que com
Nat não tinha futuro. Não era disso que precisava para esquecer Alê. Silvinha se levantou ainda muda, ajeitou
sua roupa, colocou os sapatos, passou a mão pelos cabelos tentando ajeitá-los.

-- Silvinha, eu... Eu tenho uma reuniao agora e...

-- Eu também...

-- Você me liga? - Se perguntaram quase ao mesmo tempo. Silvinha então decidiu. - Uma de nós liga para a
outra...

-- Uma de nós liga...

-- Sim, um de nós...

Silvinha murmurou um tchau e saiu. Nat não acreditava que se deixou cair de novo naquela cilada da minha
prima. Arrependida deu um soco no chão, se arrumou e também saiu.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Alheia aos acontecimentos do hospital, cheguei com Heleninha na cabana em menos de quarenta minutos.
Havia um carro parado no quintal de Júlia. Eu não sabia de quem era, mas logo obtive uma resposta ao ouvir
a voz de Dona Abgail vindo de dentro da casa.

-- Isso que você faz é covardia! É irresponsabilidade, a Nat esta procurando o João.

-- Eu sou mãe do menino! – Júlia rebateu. Cheguei à sala. A cara da minha namorada não estava nada boa.
Dona Regina acompanhava as duas. – Ninguém pode me impedir de passar uma noite com o João...

-- Ele já deixou bem claro que não quer falar com você!

-- Ele esta aqui justamente para reverter isso! E não precisa dele falar. – Júlia fez uma pausa. – Dizem que eu
falo tanto que não preciso de ninguém me responda. O que é mãe? Ele não vai morar aqui não, só trouxe uma
cueca e um calção! – Debochada. - Quer também que ele traga marmita da rua pra não comer comida da
minha mão? Mãe, a senhora já jogou golfe? Devia, é um jogo interessante, demorado, bem pra gente que não
tem o que fazer feito à senhora.

-- Você quer parar de ser sempre a engraçadinha?

-- E você quer parar de me encher o saco? Que saco! Ele vai ficar aqui sim... Vou ver ele e ele vai ficar aqui
sim... Não esta fazendo nada demais. Garoto tá feliz brincando lá no quintal, curtindo minha hortinha que eu
fiz... – A Dona Regina. – Já viu a hortinha vó? Tem o pé de Jabuticaba também, tá carregado...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Júlia, não se faz de desentendida!

-- Será que vocês duas não podem entrar em um acordo? – Dona Regina perguntou dividia. – Pelo bem do
menino.

-- Não tem acordo nenhum! – Abgail retrucou. Virou para o lado de Júlia. – Eu não vou deixar você acabar
com a cabeça do meu neto! Já viu o seu tamanho para o tamanho dele?

-- Já viu o tamanho da cidade para o meu tamanho? Ele anda por onde ele quiser. Não estou prendendo
ninguém em uma coleira. Ele vem e fala comigo se ele quiser. É ele que decide! Não a senhora!

-- Ele não dormiu em casa... Sumiu, eu achei...

-- Ele deixou recado com o motorista. – Fez uma pausa. – Tanto é que você veio no endereço certo. Desfaz
essa ruga mãe, relaxa... Não vou colocar uma fantasia de homem de saco e roubar o menino de ninguém.
Foram dez anos da vida dele que se passaram também... Não se apagam dez anos assim. Não vou tirar a Nat
da vida do meu filho. – Nervosa. – Não quero o lugar de ninguém, só o meu de mãe filha da mãe que
abandonou o filho e esta tentando limpar as milhões de burradas que já fiz na vida! - Fez uma pausa. – E eu
vou ver o João até ele se encher de mim. O meu filho vai vir me ver quando ele quiser.

-- Ou até quando você puder...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Abgail... Júlia...

-- Se a senhora sonhar em me impedir de ver o João...

Foi então que percebi João vindo da cozinha, parado na porta. As mãos sujas de terra. Provavelmente
brincando na hortinha que Júlia havia montado. Júlia apertou os olhos, fechou os punhos. Eu fiquei com medo
da besteira enorme que ela estava prestes a fazer na frente do menino. Abgail sorriu satisfeita em tirar a filha
do sério. Droga Júlia, por tudo a perder agora?

-- Aíii... - Um gemido de dona Regina chamou atenção de todos nós. Ela colocou a mão no peito esquerdo. -
Aiii!

End Notes:

Cenas do próximo capítulo:

Aconcheguei nos braços da minha namorada.

-- Hoje o dia é quase todo nosso, você tem o direito de pedir o que quiser... -
Dei um beijo na boca de Júlia que sorriu. - Hoje sou sua gênia da lampada. O
que você quer?

-- Meu filho aqui comigo... - Júlia deu um sorriso. - Que nem ontem... Tinha
que ver ele me perguntando sobre mitologia grega... Brincando comigo. Me
abraçou... - Debochada. - Ele podia sei lá... Descobrir que a Nat comeu umas
cinquenta criancinhas no almoço... Minha mãe umas 80 no jantar e vir pra cá,
morar comigo...

-- Júlia, eu tenho que te falar da Nat... Ontem ela me procurou... - Júlia me


encarou um tanto desconfiada. - Nós conversamos eu falei pra ela que eu

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

estou namorando outra mulher...

-- Falou? - Júlia me perguntou surpresa. - Falou de mim?

-- Falei... - Disse meio incerta. - Quer dizer... Eu disse que estava com a
mexicana de São Paulo... Ela só não sabe que a mexicana é você... - Júlia me
encarou, percebi um olhar meio desconfortavel. - Eu vou contar tudo para
ela... Só preciso de tempo.

-- Vou te fazer uma pergunta. Quero que você seja sincera comigo... Você
ainda sente alguma coisa pela minha irmã. Por que você não disse que eu era
a mulher que você esta? Você ainda pensa nela?

_______________________________________________________________

Ois!!

Vou fazer um pouquinho papel de defensora aqui: Nat não é mocinha nem tampouco
vilã. Acho que a Nat é uma das personagens mais humanas que já consegui escrever
com suas chatices, defeitos e qualidades, por isso team Nats não a abandonem
kkkkkkkkkk... Td mundo comete erros e ela teve motivos. Bom é isso!!!

Bjãooo!

Passando aqui pra deixar o capítulo! Próximo capítulo só na segunda! Bjãooo


meninas!!

OBS: Rezem pra autora estar com o coração inteiro depois do jogo do Palmeiras de
hj,rs! Bjãooo!

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Capítulo 44 by Tamaracae

Author's Notes:

Oiiis Cap saido do forno!! Bjooos!!

-- Que exagero, Julinha... – Dona Regina advertia a neta. “Julinha” media a pressão arterial de dona Regina
com o aparelho próprio. Depois do susto que elas nos deu reclamando de dor no peito, se dependesse de
Júlia, dona Regina só sairia de casa após uma bateria de exames completa. – Eu estou ótima, não esquente...
Eu me preocupo com você. – Fez um carinho na bochecha de Júlia. – Como você esta meu anjinho?

Júlia deu uma olhada no aparelho de pressão. Também passei meus olhos de relança. 12/8. Pressão de
menina. Estava ótima.

-- A mesma vagabunda de sempre, vó. – Júlia brincou. – Sua pressão esta perfeita. Pronta para outra Dona
Regina. Mas pega leve, viu? – Debochada. – Balada nem pensar, quer diversão vai ter que se contentar um
biriba com as amigas...

-- Eu apostei com o Niemeyer e a Dercy que ia depois deles, A Dercy já foi... Nunca faço uma aposta que eu
sei que vou perder... – Disse dando uma piscadinha marota. - Logo hoje que eu tinha uma festa com as
meninas... Vou ter que telefonar e desmarcar com o DJ... – Não se enganem, esse “as meninas” eram tudo
acima dos 80 anos. João a encarou surpreso. – Que foi menino? Acha também que velha também não sabe
usar telefone? AAAAAAH! – Demos uma risadinha. Claro que o porre da minha sogra não riu. – Pois vocês
saibam que quando Pedrinho ligou o telefone no Brasil e disse alô eu que atendi do outro lado da linha!

-- Que Pedrinho?

-- Pedrinho II, o imperador. – Sim, ela estava se referindo a Dom Pedro II, aquele velho barbudão dos livros
de escola. – Foi o homem que deu o primeiro telefonema no Brasil, mas vocês não têm mais aulas de História
no colégio, não?

Júlia deu uma gargalhada, abraçou a avó.

-- Hoje eu já falei que amo você? – Dei um beijo estalado em sua bochecha. – Sua gatona!

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Já falei que eu amava essas tiradas da dona Regina? E o cuidado e carinho dos netos e bisnetos com ela
então?

Graças a Deus que o seu mal estar foi apenas passageiro. Pelo menos serviu para baixar os ânimos de mãe e
filha. Eu estava vendo a hora que a Júlia ia perder a cabeça e voar no pescoço da mãe. Dona Abgail
“agradável” como sempre começou apertar dona Regina para irem embora. João, esperto, sacou que iria
sobrar pra ele e tratou de se enfiar na cozinha com a desculpa de pegar um copo d’água. Eu fui atrás dele e
deixei Júlia tomando conta da Heleninha. Quando o encontrei na cozinha sua cara não era nada boa. Como eu
imaginava, ele não queria ir.

-- A vó Regina é legal, mas a vó Bibi só fica dando bronca... Eu pedi para o motorista avisar pra tia Nat que
eu ia dormir com a minha... Com a Júlia. Ela nem dormiu direito. – E então ele me confessou. – Eu quero ficar
aqui Alice, a Júlia disse que eu podia ficar. – Bobo, era o que ela mais queria nesse mundo. – Inventa uma
desculpa, Alice.

Desculpas não me faltavam. Eu podia dizer que ele estava indisposto, que estava doente, ligar pra Nat,
informa-la da situação e pedir pra ela derreter o coração da bruxa entre outras n situações. Achei melhor agir
de forma estratégica e diplomática. Tá certo que não era ideal, entretanto julguei que seria melhor para todos.

-- João, vai com sua avó... Deixa ela te levar pra casa da sua tia.

-- Mas eu não quero!

Era o gene da Júlia agindo. O serzinho cabeça dura.

-- João eu também quero que você fique... Mas você sabe como vai pegar pra você, pra tua mãe e pra todo
mundo se ela sair sem você daqui, não sabe? – Fiz um carinho no rosto dele tentando suavizar aquele
semblante fechado. Deu resultado. Pelo menos ele relaxou um pouco. – Tua avó esta nervosa, pode acabar
fazendo besteira... Você sabe que eu estou dizendo a verdade, não sabe?

Eu não duvidava de mais nada da dona Abgail. Estava provado por A + B que ela era louca. E se ela se
zangasse tanto com a história e arrumasse um jeito de Júlia não ver o menino através de meios jurídicos ou sei
lá que tipo de meio? Ou se ela enchesse tanto a paciência da dona Regina e a avó de Júlia passasse mal outra
vez? Com loucos não é bom pagar para ver. O melhor era deixar ela bem segura e ir comendo pelas
beiradas.

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Ainda meio contra vontade, João concordou comigo.

-- Sei... – Baixou os olhos meio envergonhado. – Eu saco a vó Bibi.

Eu fiquei feliz por João ter os olhos abertos em relação a avó. Mais feliz ainda dele ficar do lado de Júlia.
Saímos da cozinha juntos. A cara de Dona Abgail nada boa. Júlia menos ainda.

-- Você não escutou eu te chamando e...

-- Estava conversando com a Alice, vó. – Pela primeira vê ela pareceu notar minha presença na sala. –
Trocando uma ideia e é melhor ir mesmo com você.

Abgail esboçou um sorriso de vitória para cima de Júlia. Ela baixou olhos triste. João e foi se despedir da
mãe. Quando Júlia baixou o rosto ele aproveitou para sussurrar em seu ouvido.

-- Tchau Jocasta. Eu queria ficar.

Do outro lado eu ajudava Dona Regina a entrar no carro. Abgail tomou o lugar do motorista e João subiu no
carro. A janela de Abgail estava abaixada e eu próxima ela. Não é que aquela cascavel achou de jogar
veneno para cima do meu lado?

-- Você tem mais cabeça do que parece, menina... – Mandou um olhar meio de lado. Nem preciso dizer que
não gostei nada. – Não é bom nem para você e nem para sua filha se meterem no me caminho.

Que ódio! Vagabunda! Quem ela achava que era para me ameaçar a e ainda por cima tocar no nome da
minha filha? Sempre fui assim, pode me chamar até de filha da puta, mas tocou no nome da Helena viro uma
leoa mesmo! Com direito a deixar as presas bem de fora! Acho que se eu soltasse laser pelos olhos ela se
derreteria toda na minha frente. Segurei em suja mão que estava sobre o volante com firmeza. Outro momento
olho no olho com ela.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Eu não coloquei água no seu chope ainda. – Apertei os meus olhos. – Mas se eu me sentir ameaçada, eu
não vou hesitar em colocar líquidos piores. – Fechei minha mão sobre seu punho. Pausadamente dei meu
recado. – E eu não gosto que a senhora fale da minha filha.

Ela nem ousou abrir a boca. Só baixou os olhos e partiu com o carro feitou uma maluca. Eu posso até ser
meio idiota, mas sabia muito bem por minhas garrinhas de fora. Jamais ia deixar aquela ameaça velada sem
troco. Júlia não ouviu nossa conversa, mas ela não era boba. Só de ver aquela partida abrupta da “mamãe”
somada a minha cara de quem tinha levado uma ferroada de algum bicho ela concluiu que Abgail tinha me
falado alguma coisa.

-- Qual foi a “gentileza” dessa vez?

Antes de responder dei um beijo em Júlia. Doida. Ainda estava só com uma camisa e um short calcinha por
baixo. A abracei por trás e beijei suas costas.

-- Nada que valha a apena repetir.

Júlia soltou uma risadinha quando sentiu minha boca tocando seu ombro. Dei um apertão de leve na sua
bunda.

-- Aiii, que isso Alice? – Ela me perguntou divertida.

-- Vamos entrar que daqui a pouco a casa vai estar cercada de gente pra ver esse seu show todo de fora aqui
no quintal...

Nosso momento de apertão, beijinho, cheirinho e mata saudade não durou muito porque Heleninha começou
a chorar querendo peito. Eu tinha algumas coisas para fazer na minha casa também com um pouco de
urgência. Júlia então achou melhor tomar um banho enquanto eu fazia o que tinha que fazer. Trocamos um
ultimo beijo.

-- Já volto amor, fico pronta em um minuto... – Garanti.

Uma hora e meia depois de ter dado de mama, colocado Helena pra arrotar, ter checado minhas redes sociais
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na internet, ligado para o meu pai, ligado para Rebeca para saber da Cíntia e quase ser enforcada pela mesma
que estava no meio de uma DR com Bruno, tomado banho e colocado a helena para dormir, eu estava
pronta. Olhei no relógio. Ainda eram onze horas da manhã. Ainda madrugada para um feriado como era
naquele final de ano. Teria praticamente o dia inteiro para minha namorada. Coloquei Helena para dormir
quando meu celular tocou. Silvinha.

-- Oi, Allie. Você me ligou?

-- Liguei. – Confirmei a minha prima. – Hoje vocês não vão abrir mesmo o Scarpan?

-- Não. – Silvinha me garantiu. – Amanhã vamos dedetizar e o cara do veneno pediu para deixar tudo
limpinho. Já viu se eu abrir hoje, né? Então vai ficar fechado.

-- Posso te pedir um favor?

-- Diga...

-- Você me empresta a chave hoje? Eu queria conversar com a Nat sobre a Júlia... Vou arrastar a Júlia
comigo, acho melhor ser em um lugar neutro pra nós três, né?

-- Vai explanar geral? – Silvinha perguntou boquiaberta. – Mais que na hora!

-- A Júlia também acha... Você pode pedir, por favor, pra alguém deixar a chave na diretoria do hospital com
um bilhete para Nat para me encontrar lá ás 22 horas?

-- Ok, eu peço pra entregarem.

-- Obrigada. Vou ter que desligar, por a Lelê pra dormir... Beijo Si...

-- Beijo! Na filhota e naquela morena gostosa da Júlia...

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Dei uma risada.

-- Esta no viva voz... A Júlia tá aqui do meu lado...

-- Júlia? – Silvinha perguntou sem graça. Dei uma gargalhada entregando minha mentira. – Babaca! Tchau!

-- Tchau!

Desliguei. Com Heleninha no colo atravessei o quintal para casa de Júlia. Entrei pela porta de trás que estava
apenas encostada. Nenhum barulho de chuveiro, ela já devia ter saído do banho há tempos. Com cuidado
entrei no primeiro quarto. O “quarto” de João. Preparei a cama com todo cuidado para minha neném não cair
e a deixei ali. Ela devia estar morta de sono. Ficou a noite toda em um dorme-acorda por causa do incomodo
no ouvido. Fechei a janela escurecendo o cômodo, cobri minha filha, dei um beijinho de bom sono e encostei
a porta de leve.

Só depois de colocar Heleninha para dormir que observei a casa em um silêncio total. Será que Júlia tinha
saído? Sem fazer muito barulho, caminhei até o quarto de Júlia. A porta estava apenas encostada. Abri
devagar.

-- Júlia? – Sussurrei. – Você esta aí?

Ela não me respondeu. Dei um passo e entrei no quarto. Um cheiro refrescante de erva cidreira misturado
com xampu estava impregnado impregnava toda a suíte. A luz estava apagada, só a luminária da cômoda
acesa criando uma ambiente mais aconchegante. Ela estava na cama dormindo em posição fetal. Os cabelos
ainda unidos, meio despenteados, uma expressão suave no rosto, mas o que me chamou atenção foi o traje.
Júlia usava apenas uma toalha branca felpuda para cobrir sua nudez.

Aqueles pernões de fora, a toalha já meio frouxa revelando parte do seu colo. Uma delícia! Em pensar que
aquele mulherão todo era só meu. Senti minhas pernas falsearem e um formigamento subir pelas minhas coxas.
Minha boca se encheu de água, minha língua passou entre os meus lábios. Não resisti. Sem tirar meus olhos
de Júlia comecei a me despir lentamente. Deixei a calcinha e o sutiã de lado, liguei o rádio e deixei em uma
música bem suave/ romântica e me deitei ao seu lado.

Eu sentia o calor de sua pele esquentando a minha. Meus dedos começaram a passear pelo contorno de seu
tronco. Só aquele contato já me deixava toda molhada. Encaixei minhas pernas entre as suas. Ela se mexeu
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

com um sorriso nos lábios, abriu os olhos, eles também sorriam de um jeito satisfeito. As mãos de Júlia me
puxaram para seu colo e deixei meus lábios se derramar nos de Júlia.

Ela me puxou de um jeito que me dominou por completo. Suas mãos me agarraram com firmeza, mas o beijo
era delicado, suave, a língua de Júlia me tocava de um jeito que me deixava completamente entregue.
Entrelacei meus dedos em seus cabelos a puxando para cima de mim. Minhas mãos arranharam suas costas e
aproveitei para me livrar de sua toalha. A devorei com os olhos, mais água na minha boca. Júlia sorriu para
mim daquele jeito que me deixava insana, que me fazia dar conta do tamanho do desejo, do carinho e
principalmente da paixão que eu estava vivendo. Eu não queria mais nada para minha vida. Nossas bocas
voltavam a se procurar.

Encaixei justinha naquela mulher maravilhosa. Roçamos bem de leve e senti que Júlia também já estava toda
molhada. Minha cabeça pirava quando caia a ficha que eu conseguia deixar alguém naquele estado. Aquela
carinha dela jogando um olhar meio pidão e ao mesmo tempo safado para cima do meu corpo era o melhor
afrodisíaco de todos os tempos.

-- Você é um tesão, Júlia Franco... – Sussurrei entre beijos em seu ouvido. Ela gemeu baixinho. Mordi de
leve sua boca. – Eu quero você demais... – Meus dedos desceram e minha mão encontrou seus seios
deliciosos, empinadinhos crescendo com cada toque meu. Beijei todo seu rosto e mordisquei sua orelha. –
Delícia...

Nossas bocas se tocaram outra vez. Minhas mãos massageavam seus seios. Ela me pegava pela cintura e pela
nuca com aquele toque maravilhoso. Seu rosto encostava no meu com vontade, como se quisesse nunca mais
parar de me beijar. Abri os olhos por um instante e encontrei aqueles olhos verdes bem abertos enquanto sua
língua pincelava meus lábios. Dei um selinho de leve e perguntei.

-- Que foi? Por que você esta me olhando?

-- Porque você é linda. – Ela me deu um beijo de leve, nós duas sorrimos. Ela fez um carinho na minha
bochecha. – E porque eu amo essa covinha. – Era sua vez de sussurrar no pé do meu ouvido e para variar
me arrepiar dos pés a cabeça. – Me deixa doida de tesão... – Mais uma vez sorri. Ela beijou minha boca de
leve - Me faz gozar, amor?

Não precisava pedir duas vezes. Voltei a beija-la. Deixei meus lábios tocarem seu queixo e em seguida
correram para seu pescoço. Minha mão direita deixou de massagear seus seios e minhas unhas desceram por
sua barriga a arranhando de leve.

-- Aiii... – Ela deixou escapar. Sorriu me incentivando. – Arrepiou...


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Continuei em silêncio. Tombei seu corpo na cama a fazendo deitar com uns dois travesseiros na cabeça.
Sentei entre suas pernas. Seus olhos não desgrudavam de mim me inundando de prazer. Impressionante como
meus movimentos saiam seguros quando eu estava por cima dela. Voltei a massagear seus seios. Quando
toquei minha boca naquele abdômen, quase morri com a carinha que Júlia havia me feito. Totalmente
cachorra, sem pudor nenhum. Eu mesclava entre morder e chupar cada pedacinho daquela barriga. Minha
língua esculpia aquele desenho perfeito sem intervalo nenhum. Eu sentia as mãos de Júlia sobre os meus fios
loiros, ora fazendo carinho, ora pressionando contra seu abdômen. Meus cabelos tocaram levemente sua
barriga e sentia a pele de Júlia se arrepiar todinha entre os meus lábios. Não resisti ver seu busto todo eriçado
com meu toque e comecei a massagear seus seios com a boca. Minhas mãos desceram para sua coxa. Os
olhos de Júlia se apertaram e uma onda verde escura cheia de desejo invadiu os meus azuis.

-- AIIIIIII... FAZ GOSTOSO ALICE, ME... AAAAAAAH

Eu sorri pelo tom alto de sua voz fui subindo com a boca até chegar em sua boca. Dei uns três beijos
provocando-a ainda mais. Entre beijos, sorrindo, alertei.

-- Baixinho... Vai acordar a Lelê...

Foi a vez dela sorrir. Um sorriso lindo, safado, curto. Uma de suas mãos envolveu um dos lados do meu
rosto. O outro lado que ficou livre ela tomou com a boca. Primeiro beijo minha boca, depois a bochecha, meu
pescoço arrepiando toda minha espinha até chegar na orelha e sussurrar.

-- Me fode, Alllie... – Adoro quando ela fala meu apelido nessas horas, soa como uma melodia sexy. – Me
chupa gostoso...

Depois dessa minha noção foi para o espaço de vez e sem passagem de volta. Voltei a procurar sua boca
enquanto meus dedos começaram a encostar levemente sobre sua virilha. Nem precisei aprofundar o toque
para sentir o quanto ela estava gostosa, toda excitada para mim. Meus lábios foram descendo, galgando todo
aquele corpo. Ela também esquecia qualquer noção de tempo e espaço pedindo pelos meus dedos e minha
boca. Não aguentei aquela sessão de “tortura” por muito tempo. Com sua mão fazendo pressão sobre a
minha cabeça, desci com a boca. Minha língua tocou seu clitóris de forma macia e lenta, eu queria fazer de
tudo para prolongar seu prazer, seu bem estar. E também estava amando aquele gostinho maravilhoso na
minha boca. Ela rebolava sem pudor. Eu amava isso em Júlia. Ela era alta, grande, mas não era dura causando
uma impressão de feminilidade incrível.

-- Vai, chupa gostoso Alice, vai não para aaaaah... Aaahh


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Gostosa! Deliciosa!

Ela fechou os olhos e arqueou o corpo inteiro para trás enchendo toda minha boca. Eu cravei minhas mãos em
sua bunda sugando seu sexo com mais e mais violência. Só de ouvir os gemidos de Júlia gozando eu não
aguentei e senti meu desejo todo se desfazendo entre as minhas pernas. Gozei sem nem me tocar! Como era
possível até quando eu fazia o papel de mais ativa, a mulher conseguia acabar comigo daquela forma? Eu cai
sobre o corpo de Júlia vermelha e completamente exausta. Seu peito ainda batia descompassado, mas Júlia já
parecia refeita.

-- Cara, você esta gostosa demais... – Ela me disse em um tom sério. Quando comecei a entender o que
acontecia, Júlia já trocava de posição comigo, com aquele corpão todo em cima de mim sugando minhas
coxas que estavam molhadas e se aproximando da minha virilha. Não tinha forças nem para falar. Apenas
supliquei com olhos para que ela continuasse o que estava fazendo. Júlia deu uma risadinha safada. – Só um
minuto...

E saiu da cama peladinha e correu até o guarda roupa. Meu Deus, o que ela estava querendo, voltar para o
armário? Chamei por seu nome. Júlia pegou algo dentro de uma de suas jaquetas, enfiou na boca e veio
novamente para cima de mim.

-- Aaaaai... – Gemi quando ela me tocou pela primeira vez. Sua boca estava geladinha, ela devia estar
chupando halls extra forte. Misturado comigo, lógico. Meio sentada, enterrei minhas unhas em seus ombros e
me perdi por quanto tempo fui chupada. Incrível como a boca de Júlia parecia encostar na minha própria
libido. – Júlia... Jú...

Mais uma vez eu chegava ao gozo. Dessa vez foi bem forte. Tive a sensação meio que de sair de órbita e
voltar. Se Júlia não tivesse me envolvido em seus braços e me deitado sobre seu corpo talvez eu ficasse ali,
sentada, meio absorta, meio com um sorriso enorme no rosto. Só “acordei” quando nossos lábios se tocaram
docemente e as mãos de Júlia massagearam minha barriga.

-- Tudo bem?

Isso era o que mais encantava em Júlia. Ela me dava um dos orgasmos mais intensos que eu tinha na vida e
em seguida vinha aquela calmaria, como se pausasse o mundo. Era engraçado. Parecia que nosso sexo era
pauleira e pegado como um Cd do Metalica, apaixonante como uma bateria de escola de samba e em seguida

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

vinha a suavidade de uma melodia de piano. Eu amava me sentir assim.

-- Tudo ótimo... – Sorri para ela. Sua mão agora fazia carinho sobre meu rosto tocando de leve com a ponta
dos dedos. Beijei seus dedos sentindo um pouco do meu gosto. Beijei sua boca com carinho. – Uau, hein,
moça?

Júlia deu uma risada.

-- UAU! Com certeza UAU! – Trocamos mais beijinhos. – Ela começou a me fazer massagem nos ombros,
eu afagava sua barriga com as minhas mãos. – Muito interessante essa nova maneira de acordar as pessoas,
viu Dona Alice... – Trocamos mais um beijo, sorri. – Muito interessante mesmo esse novo despertador...

-- Que pessoas? – Eu perguntei sorrindo. Mais beijinhos na boca. – Isso é só para você...

Júlia mordeu de leve meu ombro, passou os dedos pela minha cintura provocando um pouco de cócegas.

-- Só pra mim? Melhor ainda...

-- Quem manda dormir tão gostosa desse jeito? Toalha é covardia, Júlia...

Ela deu uma gargalhada com apetite.

-- Que foi?

-- Feliz que ainda existe ingenuidade no mundo... – Olhei para a cara de Júlia sem entender. – Você achou
mesmo que eu estava dormindo?

E soltou uma risada linda com minha cara toda vermelha.

-- SUA CACHORRA! – Eu tentei fazer cócegas em Júlia, mas ela era mais forte, logo me dominou e veio
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

para cima de mim. – SUA...

-- Safada... – Júlia devolveu, me puxou e roubou um beijo da minha boca. – Eu adoro você. - Júlia mordeu
minha orelha, me abraçou por trás. Estávamos meio sentadas. Encostou-se à cabeceira da cama e eu em seu
peito. – Depois de me agarrar e roubar minha inocência, Alice... – Dessa vez eu que ri com exagero. – Qual é
o seu plano do dia?

Aconcheguei nos braços da minha namorada.

-- Hoje o dia é quase todo nosso, você tem o direito de pedir o que quiser... - Dei um beijo na boca de
Júlia que sorriu. - Hoje sou sua gênia da lampada. O que você quer?

-- Meu filho aqui comigo... - Júlia deu um sorriso. - Que nem ontem... Tinha que ver ele me
perguntando sobre mitologia grega... Brincando comigo. Me abraçou... - Debochada. - Ele podia sei
lá... Descobrir que a Nat comeu umas cinquenta criancinhas no almoço... Minha mãe umas 80 no
jantar e vir pra cá, morar comigo...

-- Júlia, eu tenho que te falar da Nat... Ontem ela me procurou... - Júlia me encarou um tanto
desconfiada. - Nós conversamos eu falei pra ela que eu estou namorando outra mulher...

-- Falou? - Júlia me perguntou surpresa. - Falou de mim?

-- Falei... - Disse meio incerta. - Quer dizer... Eu disse que estava com a mexicana de São Paulo...
Ela só não sabe que a mexicana é você... - Júlia me encarou, percebi um olhar meio desconfortável.
- Eu vou contar tudo para ela... Só preciso de tempo.

-- Vou te fazer uma pergunta. Quero que você seja sincera comigo... Você ainda sente alguma coisa
pela minha irmã? Por que você não disse que eu era a mulher que você esta? Você ainda pensa
nela?

Pensar na Nat? Pensava sim. Como eu pensava Na Rebeca, na Silvinha, na Isa, na Cíntia. Se eu
disser que queria o mal da Nat era mentira. Fiquei chocada/ desapontada ao saber da verdade? Sim.
Fiquei triste por não saber a verdade pela boca dela? Sim. Me senti penalizada por seus motivos?
Sim também.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Júlia, você devia conversar com a sua irmã... Ontem as duas estavam de cabeça quente e...

-- Você não me respondeu, Alice... Você pensa nela?

-- Júlia, ontem eu disse pra ela que estava apaixonada por outra mulher! – Fiz uma pausa. – Por que
você acha que eu ainda penso nela? – Júlia, você esta me escutando?

Júlia deu um sorriso meio bobo, fez uma carinha linda.

-- Você escutou o que acabou de falar?

-- Escutei! – E repeti um tanto distraída. – Que ontem eu disse para Nat que eu estava... – Só então
dei conta das minhas palavras. Eu tinha me assumido apaixonada por ela sem me notar. Ok,
assumindo o óbvio, mas vocês sabem como é mulher. E ainda mais sapa, ama uma declaração. – E
estou apaixonada...

-- Apaixonada? Sério?

-- Não! Falei isso por que estávamos sem assunto... – Retruquei de brincadeira, Júlia sorriu. –
Agora falando sério... Eu marquei hoje com a Nat no Scarpan as dez. Eu quero contar tudo de vez
pra ela, como a gente se conheceu, o nosso reencontro pra ela entender que ninguém tem culpa de
nada... E eu quer que você vá comigo...

-- Alice...

-- Júlia, sua irmã não vai sumir da face da Terra e nem de Silvéster porque vocês brigaram...

-- Bem que podia! Eu não sei se eu vou conseguir perdoar a Nat algum dia, Alice. Essa menina
meteu o pé no meu peito de um jeito... Esta doendo viu. Você não sabe como eu me segurei para não
falar ao João ontem.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Você vai falar com ele?

Júlia deu os ombros.

-- Ele adora aquela tia dele... Não queria acabar com a cabeça do meu filho. Eu acho que se eu
soubesse que eu matei a Marcinha não ia ser tão... Tão doloroso. Depois que me perdoe, mas
ontem quando minha mãe confirmou e a Nat veio me falar em indenização eu queria mesmo nunca
mais ter que falar com a Nat. Queria que ela sumisse mesmo do planeta. – Júlia falou sem pensar.
Nossos olhos se encontraram, os meus em tom de censura. Júlia baixou os olhos envergonha. –
Desculpa...

-- Você vai comigo no Scarpan hoje? – Júlia fez uma expressão um tanto contrariada. Dessa vez
usei outro truque para convencê-la. Comecei a dar beijinhos em seu pescoço e na sua boca. – Por
favor, amor... – Fiz um carinho. – A gente já tinha combinado antes... Você prometeu... Mesmo que
vocês não conversem, só...

-- Tá bom... – A premiei com um beijo na boca. – Mas que esta doendo ver a cara da Nat depois de
ontem... Esta... Vai ser difícil e... – Júlia se interrompeu, estava com uma carinha concentrada. - Ow,
essa música.

Só então prestei atenção no rádio. Tocava My Girl. A mesma música que tocava no quarto de Heleninha em
São Paulo quando íamos nos beijar e minha mãe entrou no quarto interrompendo nós duas. Eu amava aquela
música. Não me contive e a amei Júlia mais uma e mais uma e mais uma vez. Esquecemos de Nat e de quase
todo o restante do mundo e só levantamos da cama as três da tarde. Já passava das quatro quando saímos de
casa. Fomos direto para o hospital. Quando chegamos lá uma surpresa. Duarte que faria o procedimento e
não doutor Felipe, médico responsável pelo diagnóstico do câncer de Cíntia.

-- O que aconteceu com ele? – Júlia perguntou enquanto se preparava para entrar na sala de cirurgia. Lavava
as mãos ao lado de Duarte. – Não veio?

-- Um mal estar de ultima hora... – Duarte comentou um tanto ressabiada. – Avisou que estava gripado...

Júlia encarou Duarte e encontrou ironia na expressão de sua amiga.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- O doutor Felipe anda tendo muitos mal estares de ultima hora, não é mesmo?

Isso era verdade. Eu conhecia pouco do doutor Felipe. Ele era aquele residente que veio zombar da minha
cara no dia que Natália voltou de Manaus e logo bateu de frente com Júlia. Desde então os dois não
escondiam de ninguém que não se bicavam. Nas rodinhas internas do hospital ele fazia questão de falar mal de
Júlia, criticar o fato dela ser herdeira, sua amizade com os residentes do primeiro e segundo ano entre outros
fatos. A lenda dizia que Felipe fazia essas fofoquinhas, pois andava preocupado demais com o remanejamento
de funcionários do hospital. Antes de Júlia voltar, Natália e todo o restante da diretoria havia prometido a
Felipe a chefia dos residentes. Com o retorno de Júlia, Felipe andava se sentindo ameaçado demais.

Além da disputa profissional, Felipe e Júlia tinham seu “entrave” particular. Ele era ex-marido de Monique,
pediu a separação, mas ao saber que acabou sendo trocado por uma mulher não conseguiu engolir a situação.
Nas rodinhas de fofoca falavam que Monique e Felipe quebravam altos paus, pois ele queria voltar para casa
e ela não o queria mais. Inconformado ele passou a se afundar em algo extremamente perigoso para um
médico: álcool. Se fosse comprovado que Felipe estava bebendo, Nat poderia afasta-lo do caso, mas como
tudo não passava de especulação, nada poderia ser feito por enquanto. O que o tal doutor Felipe tem haver
com o caso da Cíntia? Ele era o médico “oficial” de Cíntia, responsável por diagnosticar o câncer no estágio
4. Cíntia já estava anestesiada, nós todas do lado de fora aguardando notícias. Beca chegou acompanhada do
irmão.

-- Esse é o Serginho...

-- Eu te conheço. – Eu me lembrei dele no táxi. – Cruzamos quando eu sai do prédio...

-- Claro... – Serginho me garantiu dando um sorriso claro. Heleninha estava o meu colo. – Eu lembro da
neném...

-- E a Cíntia?

-- Ninguém sai de lá, a gente não sabe de nada... –Notei que Beca estava nervosa. Mas não só pela Cíntia,
se eu conhecia minha amiga alguma coisa lhe incomodava. – Que foi?

Aproveitou que Serginho estava afastado de nós.

-- Depois eu te conto... Uns problemas com a minha mãe.


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

No outro lado da sala, Silvinha caminhava impaciente de um lado para o outro. Alessandra estava
sentada/agachada no chão do corredor com as pernas encolhidas. Não se movia. Eu acreditaria que ela
estava em estado de choque se não a visse retirando os óculos e limpando as lentes embaçadas por lágrimas.
Na cirurgia além de Duarte e Júlia estavam acompanhando também Isa e Bruno.

Duarte já tinha dado inicio ao procedimento de retirada do pâncreas. Nas primeiras imagens da
videolaparoscopia, Bruno e Isa já notaram que tinha algo estranho. Júlia foi a segunda a notar o “erro” na
imagem.

-- Doutora Duarte, você está vendo o que eu estou vendo?

Duarte sorriu por debaixo da máscara.

-- Sim doutora Júlia! Muito errada! – Virou-se para Bruno e Isa. – Sabe o que isso significa? Que enquanto
eu e Doutora Júlia vamos ressecar este tumor antes que ele de mais susto do que esta dando vocês vão
procurar a verdadeira dona desses exames! - Virou-se para Júlia. - Parece que o doutor Felipe, seu
concorrente para chefe dos residentes acaba de te passar o cargo de mão beijada.

Sim, é isso mesmo que vocês entenderam. Alguém trocou os exames de Cíntia com os de outra pessoa.
Minha amiga estava mesmo com um câncer na cabeça do Pâncreas, mas o estágio não era tão avançado
quanto parecia. Ela ainda poderia ser salva com o ressecamento do tumor aliado a quimioterapia para afastar
qualquer perigo. Só tivemos essa informação depois do fim da cirurgia. Cíntia ainda estava dormindo. Duarte
que veio falar com Alessandra.

-- Quer dizer... – Alessandra, emocionada com a notícia tentava entender os fatos. Sorrindo – Não se
espalhou?

Júlia deu um meio sorriso.

-- Pelo que foi visto lá na sala. Não.

Nem preciso comentar a festa que foi depois que soubemos da notícia. Bruno com ajuda de Alê descobriram
como houve a troca de exames. Havia sido no consultório do doutor Felipe. Os envelopes com os exames
estavam corretamente destinados a Cíntia, mas as chapas eram de outra Cíntia, essa com dois “t”s na
ortografia de seu nome. O nome estava escrito bem no cantinho, quase impossível de se ver. Júlia não tinha
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

notado a diferença a ortografia porque não imaginaria que pudesse ocorrer a troca e que a Cíntia fosse outra.
Cíntia mal sabia ler, também deixou passar em branco. Não pude deixar de notar o abraço emocionado que
Alessandra deu na minha prima.

-- Ela vai viver, Silvinha, ela viver!

A coita da Silvinha só sabia abraçar Alessandra de volto. Nossos olhares voltaram a se encontrar e
compreendi que minha prima precisava de ajuda. Assim que tivesse oportunidade a chamaria para uma
conversa. Só faltou Nat na nossa comemoração. Ela não estava lá, mas foi avisada do acontecido por Isa.
Lisandra tinha algumas informações sobre Nat:

-- Ela e o “primeiro damo” saíram de tarde, não deve mais voltar, não...

-- Tudo bem!

Gabriel andava sendo chamado de “primeiro damo” pelo hospital porque seus encontros “as escondidas” com
Nat andavam sendo cada vez mais freqüentes. Alguns diziam que os dois iam direto de lá para o motel, outros
afirmavam que Gabriel e Nat se pegavam ali na salinha dos plantonistas mesmo, mas a verdade é que os
encontros as escondidas eram sempre assim.

-- Isso, Biel! – Nat sorriu admirada. – Sabe que nenhuma mulher faz isso tão bem quanto você?

-- Aposto que não! – Gabriel garantiu. – Essas meninhas que você sai não gostam disso. Isso é coisa para se
fazer com alguém da sua idade. Ou mais velho!

-- Não gostam mesmo! Todas elas reclamam...

Gabriel terminou de puxar o pacote de papel higiênico da prateleira dos produtos de higiene pessoal. Nat
jogou o pacote no carrinho e deu um conferida na lista de compras.

-- Pegou sabonete?

-- Líquido, como você gosta!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Alguns sujeitos consideram o futebol de domingo como a hora sagrada da semana. Muitas pessoas não
perdem a novela das nove nem sobre decreto. Gabriel e Nat eram assim com supermercado. Amavam fazer
compra de mês, pesquisar preços, promoções, fazer lista de compras, um planejamento inteiro. Como Gabriel
estava com Lia e Nat com uma de nós (Ou eu, ou Isa, ou Silvinha, ou Cíntia, ou Marisa, ou sei lá mais
quem...) o encontro sempre era as escondidas. Lia acreditou que Gabriel tinha uma amante. Acho que se ela o
flagrasse de fato comendo outra mulher não seria mais irritante do que encontrar Gabriel no estacionamento
do Carrefour com a listinha de compras.

-- Lia,espera, eu posso explicar!

-- Hoje você faz supermercado com ela, amanhã ela vai estar lavando suas cuecas? – Lia questionou
enfurecida. Detalhe que morri de rir ao imaginar Nat esfregando as ceroulas do Gabriel como umbigo
encostado no tanque. – Quer saber Gabriel, essa mulher te deixa complexado, carente, deprimido e
adestrado! Estou indo embora para São Paulo!

-- Lia, espera!

-- E não vem atrás de mim, inferno!

-- Lia, eu faço então compra só de quinze em quinze dias... – Gabriel ainda tentou. – Lia!

E minha amiga entrou em um táxi. Quando Gabriel voltou ela já tinha partido para São Paulo e deixado um
bilhete de despedida.

-- Quer saber, Biel, essa menina não era mulher pra você! – Nat garantiu enquanto rolavam o carrinho pela
sessão de congelados. – Imagina, sei lá de onde essa louca tirou essa ideia que você é adestrado por mim? Eu
nunca mandei em você e... Pega dois sacos de batata congelada. – Imagina se mandasse. – Então, ela vê
coisas. Eu não sou o tipo de mulher que gosta de mandar e... Gabriel, pega outra que esse saco esta furado.

Gabriel pegou duas caixas.

-- Mulher é complicada... Desculpa, mas é tudo maluca.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Isso é mesmo.

-- Eu devia ter virado gay enquanto ainda era tempo. – Pararam. Nat foi olhar os preços das peças de carne.
– Eu daria um bom gay. Meu cabelo é bonito, sei escutar as mulheres. Vivo vendo beijos homossexuais e ajo
com naturalidade. Sou simpatizante e... Nat, você esta me ouvindo?

Nat parecia não ouvir. Esperou uma senhora que estava perto se afastar. Olhou para os dois lados, barra
limpa. Deu um sorriso meio safado. Aproximou do ex marido e sussurrou no ouvido de Gabriel.

-- Eu e a Silvinha transamos ontem na sala de reuniões do hospital. – Gabriel voltou para o rosto de Nat meio
boquiaberto. – Ela estava no elevador e veio para cima de mim, beijando minha boca... Passando os lábios
bem devagar mordendo os meus...Eu fui tirando a roupa dela. Passei a mão pelo corpo...

-- Sério?

Nat sorriu e fez um gesto afirmativo.

-- Ela estava com uma calcinha minúscula...

-- Nat... – Gabriel meio que gemeu. – E que – que cor era a calcinha?

-- Branca... Levando em conta que ela é morena, contrastava com a pele. Sem sutiã...– Nat deu uma olhada
para baixo e percebeu que o “interesse” de Gabriel pela história estava crescendo a olhos nus dentro de sua
calça e ainda por cima marcando horrores. – E você daria um péssimo gay! Esconde isso ai! Só falar em sexo
que vocês viram um bando de sub 15, viu... Coisa mais desagradavel, a gente querendo conversar sobre
nossa vida, nosso dia a dia e do nada ser obrigada a ficar andando ao lado desse terceiro braço em riste. O
mercado cheio de crianças e gente de família... Que deselegante! - E murmurou para si mesmo. - Como eu já
coloquei isso na boca?

-- Não acredito! – Gabriel pegou na geladeira um chester desses que se assa no Natal e colocou em frente a
sua calça para esconder seu “interesse” do publico. – Vou te matar... Vaca!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Natália não deu a mínima.

-- Dá um jeito nisso...

Gabriel deu um sorriso safado.

-- Aceitamos ajuda...

Nat, indignada abriu a boca tentando argumentar alguma coisa, mas foi interrompida pelo locutor do
supermercado que anunciava pelo microfone a oferta do Salmão.

-- Cacete, Salmão! Todo mundo vai atacar, metade do preço! Vem Gabriel!

Nat, volta aqui! - Tarde demais. - Você pode fugir de mim, mas não da minha imaginação no banheiro! - Isa
tinha razão. Nojento. - Nat! - Irritado, encheu a boca. - Filha de uma boa puta!

Nat saiu correndo deixando o coitado do Gabriel para trás com a incumbência de empurrar carrinho, segurar
o chester e ainda esconder seu “interesse” do público. Quando saíram do mercado foram direto para o
Scarpan.

No hospital eu despedi das meninas e acompanhei Júlia com Bruno e Leandro até o carro. Ela deu carona
para os dois até a praça onde ficava o prédio de Silvinha e o Scarpan. Quando chegamos à praça só
avistamos um clarão enorme e uma gritaria das pessoas desesperadas.

-- Esta pegando fogo no bar! - Uma senhora passou aos berros. – Alguém liga para os bombeiros!

Nos quatro nos entreolhamos surpresos. Rapidamente descemos do carro e corremos para ver o que
acontecia e no que podíamos ajudar. Ao chegar no meio da praça reconheci o prédio em formato de sapato

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

sendo consumido pelas chamas. Sim, era um incêndio no andar de cima do Scarpan. Meus olhos correram
para o relógio da praça. 22 horas! Na porta do bar eu reconheci o carro que estava estacionado. Tudo estava
acontecendo muito rápido, as pessoas correndo tentando apagar o fogo, alguém no orelhão chamando pelos
bombeiros.

-- A minha irmã esta lá dentro... – Júlia lutava para se separar dos braços de Leandro e um outro sujeito,
Bruno tentava ligar para os bombeiros também. Júlia tentava correr em direção ao prédio. Chorava,
desesperada – A Nat vai morrer lá dentro! ME SOLTA, ME SOLTA!

Nat havia chegado ao Scarpan quinze minutos antes do combinado. Acompanhada de Gabriel. Ele se
ofereceu para acompanhá-la, mas na entrada do prédio dei por falta de algo em seu bolso.

-- Preciso comprar cigarro... Eu vou ali na padaria e já volto...

-- Eu vou ficar aguardando a Alice lá dentro, me espera aqui fora.

Nat olhou no relógio. Dez para as dez. Resolveu ir ao banheiro fazer hora. Saiu do reservado e ouvi um
barulho de passos.

-- Alice?

A pessoa não respondeu. Outro barulho. Nat saiu do banheiro. Só viu aquele clarão que rapidamente tomava
boa parte do andar de cima e muita fumaça. Começou a ter um acesso de tosse. Apenas uma nesga de
caminho não era consumida pelo incêndio. Foi por esse estreito que Nat tentava escapar, mas a tosse era
persistente, agora acompanhada da falta de ar. Na bolsa estava sua salvação, a bombinha de ar, mas no meio
da fumaça não conseguia enxergar quase nada. O ataque de asma parecia mais sufocante que os outros. Com
passos incertos alcançou o corrimão da escada, mas a falta de ar dessa vez foi completa. Nat cambaleou,
pisou em falso e caiu rolando de degrau em degrau. A cabeça quicou nos ultimos dois lances da escadaria.
No andar debaixo já estava desmaiada. Ou morta.

End Notes:

-- Esse doutor Nelsinho não sabe de nada! - Júlia retrucou possessa. - Qualquer
merdinha de supercílio aberto ele já chama a Nat. - Desesperada. - EU QUERO UM
MÉDICO DE VERDADE ATENDENDO A MINHA IRMÃ!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Felipe, residente no caso veio para cima de Júlia.

-- SE VOCÊ GRITAR MAIS UMA VEZ...

-- SE VOCÊ POR ESSE DEDO NA MINHA CARA DE NOVO, VAI TER QUE
AGUENTAR A MÃO INTEIRA NO SEU... - Felipe engoliu em seco. Júlia se
cortou. - QUANDO TEM ALGUÉM MORRENDO NA MINHA FRENTE EU
PERCO O POUCO QUE TENHO EDUCAÇÃO E SE FOR A MINHA IRMÃ
EU ESQUEÇO ATÉ QUE SOU CIVILIZADA! VÃO CHAMAR OS PAIS DA
ALICE SIM!

-- Não encontramos resquício de atividade cerebral e...

-- Ela tem o direito de uma segunda opinião. Alice, pode ligar para os seus pais! -
Encarou Felipe com firmeza. - Não vou dar nada como perdido enquanto não ouvir
uma segunda opinião.

________________________________________________________________________

Como diria o velho ditado: O negócio não é pegar o príncipe ou princesa pronta, mas
beijar o sapo(a) certa pra virar príncipe.

Alguém imagina qual sapo ou sapa vai resgatar a Nat?

Até sexta!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 45 by Tamaracae

Author's Notes:

Oláaaaaaaaa Feliz dia do Rock porraaaaaa!!!

Primeiramente queria agradecer todos os comentários! A autora ainda não


respondeu por falata de tempo e problemas etílicos,rs, mãããs, li todos, muito
obrigada pelo carinho!!

Segundo, vocês leitoras adoram um mimimi... Não tem três capítulos que todo
mundo queria matar a Nat, quando eu mato, vocês que quase me matam? Vai
entender... ai ai ai...

Terceiro, cade as team Júlia aê? Tudo na moita? As Team Nat virando o jogo!
E um salve para as team Gabriel, team Silvinha e team Monique! Tamo
Junto!

Quarto, considerem esse o capítulo do fds p no fds eu quero beber até cair por
conta do verdão do meu <3

Quinto: isso não tem nada ver com a história, mas que putaria é essa do Zé
Roberto cortar a Mari e a Sassá da Seleção de Vôlei e deixar a Fabizinha e a
Natália que deve estar saltando uma gilete deitada de tanta falta de ritmo?
Que foder o Brasil beija antes, Zé!

Sexto, adoro vcs!!! Capítulo novo!!!

Do lado de fora do prédio todo aquele nervoso da espera dos bombeiros e de todo mundo segurando Bruno
e Júlia desesperados. Heleninha parecia adivinhar os maus bocados que estávamos passando e começou a
chorar. Eu só podia gritar desesperada pedindo por mais e mais pessoas para ajudar Nat a sair dali. Não
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

podíamos ter mais nada, mas ainda assim era a Nat. A turrona desconhecida que salvei a vida no meio da
estrada. A tia carinhosa, a mulher que parecia ter dupla personalidade, a Nat , oras.

Gabriel surgiu com o capacete nas mãos ao meu lado. Ao ver os gritos e o choro de Júlia, agiu rápido.
Escapou das mãos que tentavam segura-lo e seguiu até a porta do Scarpan.

-- Ela trancou a porta. – Um sujeito desconhecido. A porta do Scarpan era aquelas típicas portas de ferro de
bar, muito difícil de ser arrombada sem um pé de cabra ou uma ferramenta especifica. Nat não tinha esse
tempo. Todo andar de cima já estava consumindo pelas labaredas. – É melhor esperar os bombeiros pra tirar
a moça daí e...

-- Se não tirar agora, não precisa tirar mais. – Gabriel garantiu. Decidido enfiou o capacete na cabeça. – Abre
passagem eu vou tirar ela dai!

-- Moço o que “cê” vai fazer?

Ele não respondeu. Não com palavras. Caminhou a passos largos até a moto que estava naquele mesmo lado
da calçada. Colocou o motor para funcionar. Nessa hora todo mundo se calou tentando entender a idéia do
louco do Gabriel. Todos sabiam que ele ia tentar alguma coisa, mas ninguém imaginava que Gabriel
simplesmente ia ser maluco e heróico o bastante para atravessar uma parede.

Sim, quando eu falo atravessar a parede é no sentido literal. E foi de fato o que ele fez. Manobrou a moto até
a outra calçada, colocou o motor para funcionar e em velocidade altíssima foi de encontro com a parte
envidraçada da parede do Scarpan abrindo uma passagem se jogando montado na moto contra o vidro.
Parecia cena de filme americano. Ao invés do cowboy usar chapéu, cavalo e esporas ele estava de capacete,
moto e coturno. Mesmo caído, ferido, Gabriel, subia degraus e degraus na minha escala de conceito. Ela deu
continuação ao seu plano e seguiu para dentro do Scarpan.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Nat? – Ele perguntou enquanto se agachava tentando não ser mais atingido pela fumaça. Segurava o braço
direito dolorido. – Nat!

Nessa mesma hora Júlia e Bruno conseguiram desvencilhar das pessoas que os seguravam e correram para a
porta do Scarpan. Duas sirenes anunciavam a chegada dos bombeiros e do resgate. As sirenes foram
abafadas por um barulho maior: a explosão de um bujão de gás cheio logo após o momento que Gabriel
entrava no Scarpan. Mesmo que eu não quisesse, só consegui pensar o pior naquele momento. Fechei os
olhos assutada.

Se a cena de Gabriel invadindo o Scarpan de moto me lembrou cena de um filme, quando ele surgiu no meio
das cinzas, todo sujo e machucado carregando Nat nos braços, desfalecida, vi naquele louco um desses
heróis mitológicos, com a diferença que Gabriel era de carne e osso e estava ferido de verdade. Júlia e Bruno
correram até ele junto com o pessoal do resgate. Eu fui junto ianda com Heleninha nos braços.

-- Ela esta morta? - Ouvi alguém perguntando.

-- Respirando! – O paramédico afirmou enquanto passavam Nat na maca com cuidado e colocavam aquele
colar cervical. – Trauma no abdômen e na perna. Corte na cabeça e... PARADA CARDIACA!

Um corre corre danado. A própria Júlia tomava frente da equipe e assumia o caso ao lado de Bruno. Leandro
segurava Gabriel. Eu com minha filha em um braço tentava ajudar no que podia afastando as pessoas para ter
uma maior circulação de ar e menos apavoramento e pressão em cima de Júlia.

-- Carrega de novo! – Júlia aproximou as pás do desfibrilador no corpo de Nat. – 1,2 e vai...

Outra descarga e nada da Nat acordar. E mais uma. E mais outra. Eu já estava apavorada assim como Bruno.
Essa tensão toda durou quase cinco minutos. Júlia fazia a massagem cardíaca tentando trazer Nat de volta.
Bruno já não tinha mais psicológico para trabalhar como médico, agora era apenas um irmão arrasado sendo
consolado por Leandro. Eu já estava perdendo as esperanças. Os paramédicos já tinham até se afastado, mas
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Júlia continuava firme, crente em sua massagem como se fosse programada para ficar ali a vida toda. Ela se
agachou e sussurrou algo no ouvido de Nat como se a outra pudesse ouvi-la. Júlia falou bem baixinho e
escutei alguma coisa mais ou menos assim.

-- Vai Nat, reage! Bota esse coração para funcionar de novo! – Júlia continuou com a massagem ignorou o
apelo dos paramédicos. – Vai cacete, o Gabriel ferrou todo o braço dele por você. Vai!

-- Júlia... – Leandro deu uma espiada no relógio. – Vai dar seis minutos e...

-- Sempre foi cheia de marra, cala mais uma vez a boca desse povo. – Dessa vez Júlia agiu muito mais por
emoção. Um soco seco e dolorido entre os peitos de Nat. Não era o recomendado, mas foi o que funcionou.
Com a mão aberta sentiu o coração da irmã corresponder ao seu estimulo e bater por conta própria. –
AAAh! Voltou, voltou! AAAAAAAAH! Pegou no tranco! – Deu sorriso emocionado, acompanhada por
Bruno e os paramédicos. Feliz. – Mesma teimosa de sempre, sabia que não ia roer a corda fácil! – Prendeu a
mão entre os dedos de Nat. – Estou aqui do teu lado!

Nossa chegada-entrada no hospital foi um circo a parte. Todo mundo querendo saber o que aconteceu,
querendo ajudar. Gabriel, contra sua vontade, foi encaminhado por Bruno para fazer exames no braço
enquanto Júlia dava entrada com Nat e Duarte na sessão de tomografias. E eu fiquei encarregada de avisar as
pessoas. Primeiro liguei para Silvinha, depois pra Beca e pedi que ela avisasse dona Regina pessoalmente. Eu
não queria sair dali de jeito nenhum. Nat teria que passar por procedimento cirúrgico por conta de um dano
causado pelas duas quicadas da cabeça nos degraus da escada. Ela ainda teve um trauma abdominal e outro
na perna que seria tratado mais tarde, a prioridade no momento era com seu cérebro.

Eu estou falando tudo assim, serenamente, mas quando Silvinha chegou na sala de espera da cirurgia, eu
estava em pratos e morrendo de preocupação, medo, ansiedade. Primeiro, eu estava preocupada com a Nat
e não pensei que em tão pouco tempo passaria pelo risco de perder alguém querido de novo (Não tinha feito
nem 24 horas que Cíntia tinha saído da cirurgia). Segundo, vê-la morta nas mãos de Júlia me deu dimensão
de quanto aquelas duas já faziam parte de mim. Terceiro, com Nat fora do ar, doutor Nelsinho que iria
assumir o caso e todos sabiam, quando as coisas apertavam para valer ele apelava para Nat socorrê-lo. Fora
que Júlia também não saia da minha cabeça. Ela estava levando bem, mas eu sentia que alguma hora seu
psicológico ia para o espaço. Quinto, a culpa doía horrores em cima das minhas costas. E como aquela
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maldita da culpa pesava. O “e se” não me dava folga. A verdade era que eu marquei o encontro de Nat com
um desastre. Se ela não estivesse o Scarpan explodiria sem nenhum ferido.

-- Você passou pelo Scarpan? – Perguntei a minha prima. – Já sabe por que aconteceu?

Silvinha com uma expressão apreensiva fez um gesto negativo.

-- O Gabriel mandou a perícia técnica pra lá, mas não sei não... – Silvinha fez um gesto negativo. – Você me
conhece, sou meio avoada, mas com essas coisas de fogão eu sou paranóica... Olho tudo umas três vezes
antes de sair. Eu sou séria com essas coisas. E você sabe, quando eu falo séria, é séria mesmo.

Isso era verdade. Desde quando éramos crianças Silvinha era assim se falava vou levar a sério, levava mesmo.
Lembro da gente brincando de esconde esconde com Marcelo, meu primo mais velho, ele batendo cara
achou a gente logo. Quando foi novamente a vez dele bater cara Silvinha avisou a nós dois.

-- Agora é sério!

E saiu correndo. Silvinha só foi encontrada no dia seguinte. Tia Guida quase arrancando os cabelos de tanta
preocupação, meu tio Afrânio não sabia mais o que fazer até que noticiou seu desaparecimento. Silvinha foi
localizada na fazenda do meu tio, estava bem tratada e bem de saúde. Lembro até hoje dela afoita descendo
da viatura, os policiais correndo atrás dela, meus tios tentando pega-la no colo e minha prima batendo as
mãos na parede aos berros.

-- 1,2,3 Silvinha salva o mundo!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

E ainda olhou com aquela carinha de “me dei bem”. Peste desde criança! Ela disse que ia levar a sério e
levou. Nem preciso dizer o castigo de quase três meses sem televisão que Silvinha pegou depois dessa, não é
mesmo?

-- Alice, Si... – Era Rebeca que chegava interrompendo minhas lembranças de infância. Como eu disse, ela já
estava ciente do ocorrido. – Vim da Dona Regina agora.

-- E ai?

-- Eu tive que dar uns tranqüilizantes... Ela ficou muito nervosa. Agora esta lá com o doutor Freitas... – Fez
uma pausa. – Alguma notícia da Nat?

-- A Júlia entrou com o doutor Nelsinho para ver... – Murmurei um tanto angustiada. Rebeca vendo meu
estado abraçou meu ombro e juntou a cabeça a minha que parecia uma panela de pressão. - Droga, eu como
sempre fazendo tudo errado!

Silvinha parou o que estava fazendo para me encarar.

-- Por que? Você por acaso foi lá e explodiu o Scarpan? – Fiz um gesto negativo. – Então não tem que entrar
em paranóia!

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-- Mas Silvinha... – Eu tentava concretizar meu pensamento, chorosa. A essa altura Rebeca já tinha pegado
Heleninha do meu colo. – Deus fez com que vocês não abrissem o bar pra ninguém se ferir, ai eu vou e
marcou encontro com ela logo lá e...

-- Embabacou, Alice? – Silvinha me cobrou direta. – Agora você é médium e vai adivinhar que a Nat ia sei
lá... Rolar a escadaria do Scarpan e abrir a cabeça?

-- E você ia fazer uma coisa que outras pessoas não fariam... – Rebeca tratava de me lembrar. – Ou você
acha que todas as mulheres no mundo iam ter essa preocupação que você tem com a Nat de se explicar,
mesmo depois das duas vezes que ela mancou com você? Fora que ela comeu metade da cidade sem se
explicar pra ninguém... Ninguém teve culpa que aconteceu um acidente quando vocês iam se falar.

-- Por que você esta me chamando de metade da cidade? – Silvinha cobrou de um jeito engraçado. Ela
brincou tentando me fazer relaxar. – Pode dar nome as vacas... Silvinha, Isa, Cíntia...

-- Marisa... Alice, a Nat vai ficar bem. – Rebeca me garantiu. – E se acontecer alguma coisa, era por que
tinha que acontecer... Você não podia adivinhar nada...

Elas queriam me deixar mais calma. Eu notei isso. Por mais que Rebeca e Silvinha me falassem que a culpa
não era minha, eu não conseguia me conformar com essa idéia. Ver Gabriel todo machucado, Júlia e Bruno
aos pedaços e eu aparentemente intacta me deixava ainda mais culpada. Lógico que não queria ninguém mais
sofrendo por nada, mas sim me sentir punida.

-- Sei lá... Eu não devia ter marcado aquela conversa no Scarpan com a Nat pra falar que eu estou com a
Júlia e... – Percebi uma mudança nos rostos da minha prima e de Rebeca. – Que foi?

Rebeca fez um gesto, olhei para trás e dei de cara com Dona Abgail com uma cara nada boa. Ela não estava
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abatida, mas sim zangada. Dessa vez eu não podia falar nada. Eu queria comer meu próprio fígado.

-- Dona Abgail, a Jú...

-- Eu falei pra você não se meter no meu caminho menina! – Ela rosnou quase me empurrando. – Isso não vai
ficar barato!

Eu podia ter gritado de volta, podia ter respondido a altura, mas não tive coragem de fazer nada porque no
fundo eu achei que estava merecendo cada chute, cada pedrada que me dessem. Ela só não continuou seu
ataque para cima de mim porque a vítima preferida dela ainda não havia chegado. Júlia só saiu da sala de
tomografias quase meia hora depois. Ela tentou falar com Dona Abgail, mas não é que a louca da mulher
descontou tudo em Júlia?

-- Eu devia por você e essa vagabunda na cadeia por tentativa de assassinato da minha filha! Cadê a Duarte?
Eu quero falar com ela!

Júlia não falou nada. Apenas apontou para o corredor interno. Abgail saiu apressando para direção que Júlia
havia determinado. Só então ela aproximou de nós três. Uma expressão preocupada no rosto.

-- Fala, Júlia...

-- A gente precisa de um neuro de verdade... Esse doutor Nelsinho é esforçado, mas não dá... – Ela nos
encarou. – Não sou uma especialista em neuro, mas o negócio é bem sério. Vocês são minhas alunas aqui
dentro, tem o direito e o dever de saber o que esta acontecendo aqui. Acho que a própria Nat pegaria o caso
para ela... É complexo, difícil... Sem ela vamos precisar de alguém de fora.

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Deu um aperto no meu peito ver a Júlia sofrendo daquele jeito e saber que a Nat estava machucada e sem
ninguém por perto para ajudar.

-- Por que você não chama a tia Verinha e o tio Jorge, Alice? – Silvinha sugeriu. – Acho que dá pra usar o
helicóptero do hospital para pegar eles em São Paulo, não dá?

Júlia, esperançosa, deu um sorriso.

-- É claro que dá! Você é um gênio, Silvinha! – Só faltou ela carregar minha prima no colo. Virou-se para o
meu lado. – Você acha que os seus pais viriam?

Nem que eu fosse obrigada a mandarem seqüestrar minha família e trazer para cá a força, mas eles viriam sim.
Na verdade nem precisaria disso. Meu pai era gente boa, viria sem pestanejar, mamãe podia dar umas
escorregadelas como mãe, mas como médica era do cacete, não deixaria de atender uma paciente.

-- Claro... – Eu garanti. – Vou ligar para eles agora.

Enquanto eu caçava meu celular dentro da bolsa de bebê da Heleninha, uma das leis mais antigas do mundo
achou de ser cumprir seu papel: Nada é tão ruim que não possa ser piorado. Sim, era ele, meu bom e velho
amigo Murphy dando as caras. Oras, eu não seria Alice e Murphy não seria Murphy se nesse momento tão
ruim da minha vida ele estivesse presente. E dessa vez caprichado, tinha se manifestado na pessoa mais
arrogante e insuportável que conheço depois da família paterna da minha filha e do Chael Sonnen, era ele, o
doutor Felipe.

Não é má vontade, mas o cara era um poço de egocentrismo. Com aquele passo de quem tinha um rei e um

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governo monarca inteiro dentro do estomago, doutor Felipe já chegou nos medindo de cima abaixo. Tinha
ouvido toda nossa conversa e não gostado nem um pouco.

-- Júlia, o doutor Nelsinho esta assumindo o caso junto comigo. Eu creio que nós dois podemos dar conta
de...

-- O doutor Nelsinho é um médico esforçado, mas não é único. – Júlia retrucou. – Eu quero alguém mais
preparado acompanhando a minha irmã.

-- Mas Júlia...

-- Eu quero a opinião de um outro Neuro. Você e eu temos o mesmo conhecimento. Se duvidar o doutor
Nelsinho esta no mesmo patamar que nós dois, Felipe. – Fez uma pausa. – Quando a coisa aperta mesmo,
você sabe que é minha irmã que assume. O caso é complicado, nossa paciente pode morrer e dessa vez não
tem doutora Natália pra salvar porque ela é a paciente...

-- Mas vai pegar mal na imprensa se notíciarem que o hospital...

-- Um foda-se bem grande para a imprensa e outro para o hospital! É a minha irmã que esta lá dentro e nela
que eu estou pensando... Se a gente não tem ninguém competente com condições pra atender nós
humildemente vamos atrás! Esse doutor Nelsinho não sabe de nada! - Júlia retrucou possessa. - Qualquer
merdinha de supercílio aberto ele já chama a Nat. - Desesperada. - EU QUERO UM MÉDICO DE
VERDADE ATENDENDO A MINHA IRMÃ!

Felipe veio para cima de Júlia.

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-- SE VOCÊ GRITAR MAIS UMA VEZ...

-- SE VOCÊ POR ESSE DEDO NA MINHA CARA DE NOVO, VAI TER QUE AGUENTAR A MÃO
INTEIRA NO SEU... - Felipe engoliu em seco. Júlia se cortou. - QUANDO TEM ALGUÉM
MORRENDO NA MINHA FRENTE EU PERCO O POUCO QUE TENHO EDUCAÇÃO E SE FOR A
MINHA IRMÃ EU ESQUEÇO ATÉ QUE SOU CIVILIZADA! VÃO CHAMAR OS PAIS DA ALICE
SIM!

-- Não encontramos resquício de atividade cerebral e...

-- Ela tem o direito de uma segunda opinião. Alice, pode ligar para os seus pais! - Encarou Felipe com
firmeza. - Não vou dar nada como perdido enquanto não ouvir uma segunda opinião.

-- Mas na minha opinião, não há resquícios de atividade cerebral e...

Não agüentei e me meti.

-- Desculpa, doutor Felipe, qual é a opinião do doutor Nelsinho?

-- Ele considera que pode haver atividade cerebral, mas ainda não tem certeza.

-- Ou seja, a opinião dos dois uma é para mais outra é para menos? – Eu o questionei. Júlia entendeu meu
raciocínio e tive segurança para seguir em frente. – Mais ou menos nesse caso não existe. Ou o cérebro da
Nat esta vivo ou esta morto. – Fiz uma pausa. – Como gravidez, não existe mais ou menos grávida, esta ou
não esta. É garantido pela lei brasileira um segundo exame clínico para se tirar uma conclusão definitiva. Não
é só direito como também dever nosso fazer o segundo exame com um especialista, o que não é o seu caso. –
Peguei meu celular para discar. – Eu vou chamar os meus pais...

-- Você quem sabe. – Ele me devolveu querendo pular no meu pescoço por expor sua incompetência a
público. – Mas se pegar esse celular e discar, a responsabilidade é sua. Se não discar, é minha. – Filho da
mãe, me jogou contra parede. – O futuro da residência é seu. Você é quem decide, doutora Alice!

Ele era esperto. Jogou a batata quente em minhas mãos. Eu não me acovardar. Em resposta peguei meu
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celular e disquei sem medo. Primeiro para meu pai, telefone desligado. Depois para minha mãe. No segundo
toque ela me atendeu.

-- Alice?

Ela estava com um voz estranha, meio analada.

-- Tudo bem, mãe? – Perguntei preocupada. – Esta doente?

-- Esse tempo de São Paulo, e você? Como esta?

Eu não enrolei muito para explicar a situação até porque era urgente. Minha mãe confirmou seu auxílio e ficou
combinado do helicóptero buscá-la em duas horas. Enquanto minha mãe não chegava, eu resolvi adiantar
algumas coisas como ir saber da Cíntia, recém operada e achar alguém para tomar conta de Heleninha.
Felizmente não foi difícil. Tia Junia se ofereceu para ficar com minha neném.

-- Ai tia, a senhora caiu do céu... Ela pode chorar agora de madrugada porque...

-- Porque ela é bebê e criança chora, Alice... Pode ir! Eu fico com essa gracinha! Qualquer coisa chamo a
Guida!

Eu nem descansei, só ome um banho, troquei de roupa, tirei leite reserva para Heleninha e voltei para o
hospital. Na entrada cruzei com Alessandra. Ela tinha decido na cantina para tomar um café, Cíntia ainda
estava dormindo e ela já sabia de todo o acontecido.

-- Você acha que ela corre risco?

-- Pelo que a Júlia falou bastante. E a Cíntia?

Alessandra abriu um sorriso doce.

-- Estou contando os minutos para passar o efeito da anestesia e contar a ela.


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Não conversamos por muito tempo. Ela tinha que voltar e eu também precisa ir atrás dos meus. Cheguei no
andar cirúrgico e Rebeca e Silvinha continuavam ali, uma cochilando nos ombros da outra. Avistei Júlia
entrando em um dos vestiários e corri atrás dela. Quando entrei no vestiário nenhum sinal de Júlia.

-- Viu a médica que entrou aqui? – Perguntei a uma moça que era enfermeira.

--Esta lá no chuveiro reservado, deve estar tomando banho.

Eu segui até os reservados. O nome já dizia, reservado, mas entrei sem preocupação já que a Júlia pelada não
era novidade para mim. E infelizmente para metade do hospital. Abri a porta do reservado que estava co o
trinco quebrado.

-- Júlia, eu vim AAAAAAAAH! ... – De—Dua... De...

-- DOUTORA ALICE! – Duarte rosnou alto enquanto tentava se proteger com uma toalha. Se já não
bastasse estar com uma culpa nas costas do tamanho de um caminhão, ver minha ex namorada com a cabeça
arrebentada, minha namorada sofrendo, meus amigos todos preocupados, estar longe da minha filha, eu tinha
que terminar minha noite tendo a bela visão da minha chefe pelada. Sim, era a Duarte e não a Júlia que estava
tomando banho. Sabe aquela sensação de que você levou um tiro imaginário? Pois então, eu devo ter sido
metralhada. – DOUTORA ALICE!

Se eu não estivesse tão nervosa com a Nat, eu ia morrer de rir. Duarte com a bunda de fora, Duarte parecia
ainda mais com uma formiga tanajura. Com certeza essa entraria para a galeria das minhas pérolas. Como se
não bastasse, Júlia surgia do lado oposto do banheiro. Ela estava em outro reservado.

-- Dês-culpa, eu... Eu...Eu achei que era a Júlia, só queria...

-- Doutora Alice, quantas vezes eu vou ter que repetir a senhora que sua vida sexual me desinteressa? – Eu
tentei abrir a boca, mas fui cortada. – A senhorita me entende?

-- Sim senhora, mas é que eu...

-- Doutora Alice, se o seus planos de residência incluem protagonizar uma espécie de “Grey’s L Word” nesse
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hospital é um problema seu, mas me incluam junto. Entendidas?

-- Sim senhora, mas é que eu...

-- Posso terminar meu banho?

-- Sim senhora, mas é que eu só queria explicar... – Minha voz saiu falhada. Ela me olhou com uma cara tão
mais feia do que ela já fazia normalmente que eu nem me dei ao trabalho de continuar minha justificativa. –
Com licença...

Duarte deu aquele meio sorriso que quer dizer “suma das minhas vistas, idiota!” e então finalmente encontre
com Júlia.

-- Que foi? – Ela me perguntou confusa.

-- Nada, como esta sua irmã?

-- Na mesma!

Umas duas horas depois desse incidente, mamãe chegou, para minha surpresa sozinha. Ela estava meio
abatida. Um pouco estranha. Nós trocamos poucas palavras, ela quis examinar Nat. Como suspeitava doutor
Nelsinho, ela não teve morte cerebral, mas as batidas nos degraus da escada causaram um sangramento que
só seria interrompido com procedimento cirúrgico. Leandro outros dos residentes e eu entramos com a minha
mãe. Neurocirurgia não era a área da Júlia, ela chegou a ficar conosco no pré operatório e entrou na sala, não
queria assistir, apenas acompanhar, mas quando viu João, Bruno e Laísa assistindo nossa movimentação da
galeria, senti em seus olhos que ela precisava ficar ao lado deles.

-- Alice...

-- O seu lugar é do lado deles. Vai lá...

Foi melhor ela ter ficado com João e Bruno. Eles precisavam de união.

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-- Será que ela vai acordar um dia? – João perguntou preocupado olhando a movimentação. – Ti Bruno, e se
ela não acordar?

Bruno, um tanto zonzo procurava por alguma resposta, mas foi salvo por Júlia.

-- João, a gente não pode pensar assim... – Se acomodou na bancada e João correu para sentar ao seu lado.
– Eu não posso te prometer que a Nat vai ficar boa... – Pegou na mão dele, seus olhos estavam cheios de
lágrimas, baixou os olhos. – Eu estou morrendo de medo que ela não fique... Apesar da gente ser diferente,
de vez em quando a gente brigar, eu amo a tia Nat... E se alguma coisa acontecer com ela, eu não vou me
perdoar... Eu não posso te prometer que ela vai ficar boa, mas eu prometo que eu vou fazer o possível pra tua
tia sair dessa.

-- Palavra?

-- Palavra!

Os dois apertaram as mãos selando um acordo. Bruno assistiu em silêncio com um sorriso no rosto.

-- Tia Júlia, por que irmão briga com irmão? – Laísa perguntou com seu jeitinho manhoso. – É legal ter
irmão?

-- Não vou esconder que as vezes eu tenho vontade de jogar teu pai de um prédio... – Bruno deu uma
risadinha. – Mas é legal sim... É muito legal! Uma das melhores coisas do mundo!

-- Eu queria ter irmão. – João confessou. – O Lasanha, por exemplo, ele dava pra ser meu irmão...

Laísa se acomodou no colo de Júlia. João estava sentado ao seu lado.

-- Que nem eu e o tio Gabriel. – Júlia explicava. –Eu tenho mesmo carinho de irmão com ele, mesmo a gente
não tendo o mesmo sangue.

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-- Sabia que eu namoro com o Tio Gabriel? – Laísa falou toda assanhadinha. Bruno fechou o cenho. Júlia deu
uma risada. – Quer dizer, o meu pai não deixa eu namorar o tio Gabriel porque ele é mais velho...

-- E a senhora muito pequena pra falar em namorado! – Bruno salientou. – E não quero saber de namoro
mesmo!

-- Viu, tia? O meu amor pelo tio Gabriel é “incumpridado”...

Dessa vez os três riram e João corrigiu.

-- Incompreendido! – Rindo. – Ele não vai querer saber de você porque você é burra!

-- O tia Júlia!

As crianças logo pegaram no sono. Bruno e Júlia aproveitavam para conversar. Júlia contou toda a briga com
Nat e com dona Abgail.

-- Então a mamãe fez você carregar essa culpa esse tempo todo? – Bruno se perguntou ainda surpreso. –
Dessa vez ela pirou de vez. – Levantou-se. – Eu vou procurar a dona Abgail agora e...

-- Esquece isso! – Fez um sinal para Bruno se sentar. – O que importa pra gente agora é ali ó... Fez um sinal
apontando a mesa de cirurgia. – A gente tem que pensar é na Nat.

A cirurgia foi demorada. Era um procedimento delicado e devo que confessar que me senti melhor estando lá
dentro. Para o meu orgulho, minha mãe não perdia a calma em instante algum e ainda tinha paciência de nos
explicar tudo. Não era porque se tratava da minha mãe não, mas foi uma das cirurgias que mais aprendi. Ela
era bem melhor professora do que o doutor Nelsinho e principalmente do que o mala do doutor Felipe. No
final da cirurgia, quando Nat já tinha sido levada para a sala de recuperação, eu fui parabenizar minha mãe. A
cirurgia teve algumas complicações, Nat precisaria de outra cirurgia no abdômen e uma na perna esquerda,
mas no geral a parte neurológica correu muito bem. É claro que poderia ter alguma seqüela e tudo estava
muito recente, mas o importante é que ela já estava em um estado melhor que chegou. Quando minha mãe foi
falar com a família de Nat, as palavras que ela usou foram essas.

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-- Essas primeiras horas pós cirúrgicas são decisivas para sabermos a linha de tratamento que devemos
seguir.

-- A minha filha pode ter alguma seqüela? – Dona Abgail perguntou.

-- É muito cedo para dizer qualquer coisa... Mas o risco de ficar alguma seqüela existe...

--Tudo para vocês é muito cedo para dizer... – Dona Abgail rebateu grosseira. Já vi que Júlia tinha a quem
puxar. – Eu quero ver minha filha...

A Nat não pode ficar em um quarto, seu estado era de coma induzido. Achamos melhor sedá-la, pois Nat
não estava conseguindo respirar direito e precisou de ventilação e devido ás dores dos outros traumas. Ela
precisou ficar na UTI sendo monitorada. Só podíamos entrar de dois em dois para não usar tanto tumulto e
ficar bem quietinho. Eu deixei que Abgail e Bruno entrassem primeiro. Eu precisava tomar um banho e me
destrocar para entrar na UTI. Júlia me acompanhou até o vestiário Terminei de falar com tia Junia pelo celular
para saber de Helena e entrei. Mais uma vez cruzamos com minha mãe. Ainda não tínhamos falado direito.
Minha mãe desligou o celular, estava com o nariz vermelho e alguns lenços de papel na mão. Alguma coisa
cheirava muito mal naquela história.

-- Mãe esta tudo bem?

Eu e minha boca grande. Para que fui perguntar? Lá estava eu com minha mãe chorando nos meus braços
mais que a Heleninha quando acordava de fraldas molhadas. Minha mãe me abraçou. Tinha de fato alguma
coisa muito errada acontecendo!

-- Está tudo ótimo. – Ela afirmou. Não parecia. – Eu não preciso daquele homem para nada! – Minha mãe
reafirmou babando, molhando toda minha roupa. – Eu não preciso daquele imbecil pra nada! Se até abridor
de lata de palmito inventaram, pra que preciso do seu pai pra alguma coisa, não é meu amor? Aquele homem
horrível, asqueroso... Eu tenho a minha filhinha pra me apoiar. – Abraçou Júlia que fez um cara impagável
nessa hora. – E a minha norinha!

Amor? Filhinha? Norinha Meu Deus ela matou alguém e quer nossa ajuda para esconder o corpo! Minha mãe
me chamando de amor e filhinha assim desse jeito é por que alguma coisa de muito, muito, mas muito errado
estava acontecendo.

-- Mãe, o que o papai fez?

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-- Alice, seu pai saiu de casa.

-- QUE?!

Quase soltei aquele “UEPA” que a Vera Verão soltava na A Praça é Nossa. Meu pai era o único cristão que
agüentava minha mãe... Ela podia fazer todas as chatices do mundo e ele só dava os ombros e falava:

-- É o jeito da Verinha.

Meu pai fora de casa? Só podia ser brincadeira. Júlia que me salvou. Ela sentou minha mãe em um dos
bancos dos vestiários. Pegou um copo d’água.

-- Ér.. Dona...

-- Pode me chamar de Verinha, Júlia. – Minha mãe disse desconsolada. – Pode me chamar do que você
quiser...

-- Ér... Pois é... Então, Verinha, você não quer explicar essa história direito? Como assim o seu Jorge saiu
de casa?

Só foi falar a palavra mágica que minha mãe abriu um novo berreiro. E não falava coisa com coisa. Só depois
de muito custo conseguimos arrancar a história dela. Há alguns meses atrás meu pai teve um congresso de
trabalho e viajou sozinho para Foz do Iguassu. Quando chegou de volta do tal congresso, o comportamento
era outro. Estava estranho, menos paciente e um ia então achou de sair de casa. Dois dias depois minha mãe
descobriu que havia sido trocada por uma croupier de um cassino paraguaio que ele havia freqüentado ao
atravessar a Ponte da Amizade.

-- Seu pai acha o que? Que só eu que envelheci? – Minha mãe me perguntou chorosa. – Que a barriga dele
não cresce a cada dia que passa? E aquelas entradas então... Um casamento de 30 anos, Alice... 30 anos...

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E não conseguia completar a frase por que caia no choro e se engasgava com as palavras.

-- Calma mãe... Você tem a sua vida separada do papai. Você é uma mulher inteligente, jovial, tem a sua
profissão para se distrair...

-- Distrair como Alice? Todo lugar daquele apartamento eu olho e lembro daquele desgraçado do seu pai?! E
até pedi uma licença no serviço de dois meses para tentar me distrair... – Chorosa. – Que nem quando você
foi pra São Paulo, lembra? Que precisava pensar na sua vida? Mas quem disse que eu consigo!

-- Calma, mãe... Por que a senhora não viaja, não tira umas férias?

-- Eu ando me sentindo tão sozinha... – Esta é minha mãe sendo mãe e fazendo chantagem emocional. – Um
quarto de hotel, impessoal, sem minha família, sem minha netinha... Será que ela ainda lembra de mim?

Minha mãe era uma raposa. Ela estava doida para que eu a convidasse para ficar uns tempos em Silvéster. Eu
conheço bem a dona Vera, critica, critica, critica, mas no fundo é carente. Dependente emocional do meu pai.
Mais essa agora? Júlia fez um sinal para chamá-la para ficar em casa. Bom, não vou mentir dizendo que fiquei
mega feliz. Em uma semana de estádia eu sabia que minha mãe ia fazer da minha vida o inferno, mas fiz meu
papel de filha.

-- Mãe, quer ficar em casa?

Minha mãe era um cara de pau de primeira. Na hora parou de chorar. Deu um sorrisão enorme e um abraço
apertado.

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-- Oh minha filhinha, eu vou adorar! – Júlia disfarçadamente ria da minha cara. Deixa ela, é ela que vai ter a
sogra como vizinha. Minha mãe me deu um apertão na minha bochecha. – Não vou te dar trabalho nenhum. –
Ela vai me dar trabalho. – Vocês nem vão notar minha presença. – Nós vamos notar a presença dela todos os
dias. - Você não vai se arrepender!

Já virão tudo, né? Eu já me arrependi!

End Notes:

As cenas do próximo capítulo eu vou ficar devendo, mas prometo caprichar!

Bjooooo, bom fds!

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Capítulo 46 by Tamaracae

Author's Notes:

Meninas, obrigada pelo carinho de todas vcs!!! Durante a semana vou respondendo
os comentários. Eu machuquei a mão no sábado, estou de tala, vou escrevendo aos
pouquinhos!!

Mais uma vez obrigada pelo carinho.

-- Eu te juro que não fiz nada! – Júlia me garantiu. – Só foi sei lá... Um abraço de despedida... A Monique
veio me contar que ia embora, ela não é minha inimiga... Eu tenho o direito de saber por que você esta
fazendo isso, não tenho? – Júlia me questionou. – Por que você quer terminar comigo?

É claro que ela tinha esse direito. O difícil era encontrar uma resposta para sua pergunta. Difícil talvez porque
não existisse resposta. Eu vi seu abraço em Monique. Nada mais que um gesto de despedida de colega de
trabalho, mas foi à oportunidade que me pareceu mais ideal para cumprir a pior missão da minha vida: dar um
chute na mulher por quem eu estava perdidamente apaixonada. Íamos completar dois meses de namoro no dia
seguinte.

Um dia antes da despedida de Monique e consequentemente do término de nosso namoro, uma boa notícia,
Nat finalmente despertava após quase um mês e meio de sedação. Foi de madrugada. Eu estava dormindo na
minha casinha de bonecas com Heleninha ao lado da minha cama e recebi o telefonema de Rebeca.

-- Alice, ela acordou.

-- Que? – Na hora meu sono foi embora e ergui minha cabeça sem conter minha alegria. – Jura? Acordou
como, Beca?

-- Quase agora. – Rebeca parecia agitada, contente, um tanto nervosa. – A Dona Abgail estava dormindo
quando sentiu a mão da Nat apertando a dela. – Ela rejeitou o respirador e conseguiu falar. – Senti que
Rebeca deu um sorriso. – Adivinha qual foi a primeira coisa que ela perguntou depois de João?

-- Júlia?

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-- Alice. – Não acredito, quase dois meses dormindo e a danadinha ainda lembrou de mim. – Ela que te ver
muito.

-- Eu vou praí agora, Beca!

Nem ferrando eu ia consegui esperar amanhecer. De manhã eu teria que ir para o hospital de qualquer jeito
para me reapresentar para o meu primeiro dia de volta de licença maternidade, o que seria algumas horas
adiantada? Ainda mais em um caso tão especial como aquele. Só coloquei Heleninha que parecia ser feita de
chumbo no moisés, tomei banho, me troquei e ajeitei Heleninha no banco de trás do carro para pegar a
estrada.

-- Mamã... – Heleninha ainda sonolenta balbuciou do banco de trás do carro. Sorri. – Ma-ma...

-- Agora não da pra mamãe da mamar porque a mamãe esta dirigindo. Quando a mamãe sair do carro da o
mama pra Heleninha.

Sim, a coisa mais gostosa da minha filha com seis meses completinhos já conseguia falar mamã e mama. Nem
preciso dizer que eu era a mãe mais babona e babaca do mundo. Ela estava se desenvolvendo muito bem
para sua idade. Já dava gritinho e ria alto (principalmente depois que fazia uma nojentisse), rolava para os dois
lados, testava minha paciência jogando os brinquedos longe pra me ver buscar, aceitava muito bem a nova
alimentação com sopinhas, tinha um sono mais regulado e o melhor de tudo, amava fofocar, bater papo, jogar
conversa fora. Perdi as contas de quantas vezes flagrei Júlia e João (que agora se tornava presença frequente
na cabana) com Heleninha sentada no colo tricotando por horas. Era bem engraçado. Eles deitavam com
Heleninha sobre sua barriga e ficavam inventando assunto. Depois eu só escutava.

-- Foi mesmo Heleninha?

-- Dádádádá! Mama dadadédé! Nanana nananananana!

-- Sério?

Como se fosse o assunto mais importante do mundo ela continuava a falar em um tom compenetrado. Eu
sorria e me juntava com eles participando daquela conversa. Eram esses momentos que seguraram minha
barra esse tempo que classifico como os dias mais tristes de minha vida em Silvéster. Eu aprendi a não gostar
de hospital. Cada vez que eu entrava na UTI e via Nat toda entubada, cheia de caninhos, sofrendo, lutando
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para viver, eu sai de lá um pouquinho menos viva e mais culpada. Ficava lembrando dela passeando pelos
corredores daquele hospital, da nossa ligação e doía demais vê-la naquele estado.

Na outra ala do hospital tinha Cíntia. O câncer não tinha espalhado, mas a quimioterapia a deixava mais
debilitada. Primeiro a fadiga, cansaço, Cíntia parecia cada vez mais branca e mais magra. Depois veio às
feridinhas na boca. Ela estava lidando bem com tudo até o dia da perda dos cabelos.

Aconteceu um mês depois do acidente de Nat. Era aniversário de Alê. Estávamos todas comemorando na
casa da Silvinha com aqueles chapeuzinhos de festa de criança. Na hora de retirar o chapéu de Cíntia veio
uma mexa completa de cabelos nas mãos. Revoltada ela expulsou todo mundo do apartamento. Pediu apenas
para que Isa ficasse. Quando subimos de volta Cíntia já estava com a cabeça raspada a máquina. No dia
seguinte em atitude de apoio os meninos (Bruno, Gabriel, Lasanha e João) mudaram o visual. Bruno
descoloriu os fios, Gabriel raspou o cabelo das laterais ficando com uma cara mais doida do que o costume,
João raspou toda cabeça à máquina zero e Lasanha fez umas trancinhas a lá Vagner Love. Ficaram horríveis,
mas valeu a pena ao ver a carinha de Cíntia toda sorridente.

Em menos de uma hora, cheguei ao Alonso Franco. Heleninha já tinha voltado a cochilar na parte de trás do
carro. Protegi minha filha do sereno com uma coberta e entrei no hospital. Rebeca me esperava na porta.
Enquanto caminhávamos para UTI ela me deixava a par do quadro de Nat.

-- Alice, sua mãe examinou a Nat quase agora. A principio ela parece bem, mas você sabe, nada de muitas
novidades e...

-- Beca, eu não vou contar pra ela agora que eu estou com a Júlia. – Nem podia, não era bom Nat passar
por muitas emoções, seu quadro de saúde poderia regredir. – O melhor é esperar ela estar um pouco mais
estável.

Mamãe havia sido contratada temporariamente pela direção do hospital p/ cobrir Natália na neurocirurgia. Ela
repassou seus pacientes para amigos de confiança em São Paulo e decidiu passar uns tempos comigo em
Silvéster. Acho que é até dispensável dizer que ela reclamava de mim de cinco em cinco minutos. Acho que
ela pensava que a neta dela estava forte e saudável daquele jeito porque os vizinhos tinham pena de Heleninha
e tomavam conta dela para mim porque eu só ouvia crítica atrás de critica. Quando eu abria a boca para falar
era sempre a mesma coisa:

-- Ai ai... Eu virei uma enceradeira velha, encostada na casa dos outros... Culpa daquele velho maldito e
careca do Jorge que me da uma ninharia de pensão e me abandonou...

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Por outro lado ela parecia idolatrar Júlia. Quando eu queria uns minutos de folga inventava de mandar ela pra
casa de Júlia. Essas horas eu morria de rir, Júlia não tinha coragem de dar um breque na minha mãe e acabava
fazendo todas as vontades da dela. Minha mãe fazia seu papel de sogra e adoravelmente infernizava Júlia de
todas as maneiras possíveis como quando comprou uns tapetes horríveis para colocar na entrada na cabana.
Ou então as vezes que ela inventava de cozinhar e fazia aquelas gororobas horríveis ara Júlia, ou o dia que ela
inventou de trocar a posição dos móveis da sala da minha casa e fez
Júlia carregar uma poltrona de sei lá quantos quilos por uma tarde inteira.

Como namorada eu não tinha o que reclamar de Júlia, só que nesse tempo pouquíssimas vezes conseguíamos
ter momentos juntas. O acidente de Nat nos tirava completamente de cabeça, ainda tinha minha mãe, Júlia
havia sido promovida a chefe dos residentes, trabalhava mais que o normal e agora ela também assumia
tarefas de mãe como levar e buscar o João na escola, conferir dever de casa, participar de reuniões escolares,
educar e até dar umas broncas em João quando era preciso. Era tudo tão corrido que no final do dia
estávamos mortas. Minha mãe, uma chata de galochas ficava regulando se Júlia ia dormir em casa ou não. Ela
levava na esportiva. Algumas vezes esperava minha mãe ir para o quarto para pular a janela do meu quarto e
vir dormir comigo.

-- Só eu mesmo, depois de velha namorando o portão...

Eu beijava a boca dela.

-- Eu vou matar meu pai...

-- Deixa ela... - Ouvíamos algum barulho no corredor, geralmente era algum pigarro ou tossido da minha mãe.
– Tem que ficar comportadinha... Só no beijinho...

E ficávamos só no beijinho mesmo porque Heleninha agora dormia comigo, mas era gostoso mesmo assim. Eu
ia todos os dias visitar a Nat e ficava conversando com ela. Por mais que todo mundo me falasse que não, a
culpa ainda ficava grilando na minha cabecinha. Eu estava pensando até me procurar ajuda psicológica, apesar
de acreditar que só quando Nat acordasse e saísse andando eu me sentiria mais aliviada.

Os meus amigos estavam vivendo suas respectivas vidas. Silvinha se dividia em dirigir a reforma do Scarpan e
investigar o culpado do incêndio. Após a análise da perícia técnica o laudo veio parar nas mãos de Gabriel.

-- O incêndio foi criminoso.

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-- Criminoso?

-- Alguém espalhou álcool pelo andar de cima do Scarpan. – Gabriel explicava. – Uma das janelas de trás foi
arrombada... Não encontramos pegadas nem digitais porque a pessoa usou luvas e sapatos cirúrgicos.

-- Filhos da mãe! E DNA? – Silvinha perguntou. – Se tentasse encontrar um DNA de alguém, sei lá, cabelo
é...

-- Silvinha, Estamos em Silvéster... Isso de pegar assassino por DNA é só em CSI, até mesmo nos Estados
Unidos não é assim... A polícia de lá tem 10% de DNA de toda população americana, imagina aqui no
Brasil... – Gabriel fez um gesto negativo. – Você vai me odiar, mas eu tenho que te falar a verdade, não é
assim que vamos pegar o sujeito...

No campo amoroso minha prima continuava com sua média de 300 mulheres por dia. Mas eu percebia algo
diferente em Silvinha, ela parecia que estava saindo com as mulheres por obrigação. Uma vez conversamos e
ela me confessou que andava se sentindo vazia. Eu observava seus olhares para Alessandra, cada vez mais
intensos e demorados. Ela também visitava bastante Nat, não chorava, mas eu lia a tristeza em seus olhos. O
mal de Silvinha é que ela não gosta de que os outros percebam seus sentimentos. Eu via a confusão mental de
longe que estava se formando na cabeça da minha prima, mas nada dela querer se abrir comigo e toda vez
que eu tentava falar, sempre a mesma desculpa.

-- Alice, isso não existe, você esta vendo coisas demais.

E da parte da Alê é só via amizade mesmo. Ela parecia cada vez mais apaixonada por Cíntia. Seu carinho era
de comover, as vezes eu via Alê ensinando Cíntia a ler, cuidando para que ela não se cansasse, para que ela
tomasse os remédios no horário certo e acabava me emocionando com aquilo.

Continuando a falar sobre meus amigos, chegou a vez de contar sobre Rebeca e Bruno. Nesse período de
dois meses algumas coisas haviam mudado. Eles ensaiaram até uma volta, mas deu errado por causa de um
biquíni.

Tudo começou c/ a visita de Serginho, o irmão caçula de Rebeca. Sua vinda a Silvéster não foi apenas para
matar saudades da irmã. Assim como eu, Rebeca tinha uma mãe-problema em casa. O casamento da mãe da
Rebeca também subiu no telhado após uma viagem de segunda lua de mel que a mãe e o padrasto da Rebeca
haviam dado no maravilhoso litoral nordestino brasileiro.

-- Como é que é, Serginho? – Rebeca perguntou incrédula. – A mamãe fez o que?

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-- A mamãe decidiu sair de casa para encontrar um novo caminho para vida dela.

O novo caminho da Dona-Mamãe da Rebeca era um morenão de 22 anos que ela conheceu na praia da
Barra em Salvador. Chamava-se Kléber e era mais conhecido como Klebão da Quebradeira. Surfista e
vocalista da banda Malagueta, muito conhecida intermunicipalmente. Klebão conquistou o coração da mãe da
minha amiga após compor para ela o hit “Dancinha do sabonete, mainha”. Não precisou de mais nada. Ela
decidiu ficar de vez em Salvador.

O padrasto de Rebeca não gostou nada quando soube da história. Revoltado, o padrasto de Rebeca
descontou tudo nos filhos da ex, expulsou Serginho de casa e entrou na justiça cobrando uma dívida de
Rebeca, os últimos três meses de mensalidade do seu curso universitário. Rebeca o pagava aos poucos
depositando um dinheiro mês a mês, mas agora ele queria a quantia inteira, equivalente a uns vinte mil reais
contabilizando os juros.

-- Eu vou matar a minha mãe! – Rebeca desabafava. Estávamos na cabana. Júlia foi atrás de um copo d’água
para ela, Serginho, Silvinha e eu tentávamos tranquiliza-la. Justo agora que estava tudo dando certo entre o
Bruno e eu e... – Subitamente levantou do sofá e começou a falar de um jeito neurótico. – Eu vou interditar
minha, ela só pode ter enlouquecido, ela é uma pessoa doente, ela...

-- Calma Becca...

-- Calma, Alice? Calma , Silvinha? A Minha mãe quer o que? Virar a rainha do Band Folia? Ser eleita a nova
loira do Tchan? – Ainda existe o É o Tchan!? – Que vergonha, meu Deus... Minha mãe a musa do carnaval
de Salvador 2013... E vocês querem que eu fique calma?

Pode parecer exagero da minha amiga, mas pensando bem,eu acho que eu também não gostaria de ver minha
mãe a alegria do circuito Barra Ondina também não. Podem me chamar de careta, de antiga, mas algumas
coisas não foram feitas para nossas mães.

-- O que leva uma mulher jogar dez anos de casada fora para ir atrás de um Klebão da Quebradeira? Ela vai
ensinar esse menino a vestir fraldas...

A Rebeca é tão inocente. O que a mãe dela menos queria era ver o “menino” vestido.

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--Não sei, mulheres mais velhas as vezes tem essa fantasia de aventura pelo aumento da auto estima... As
vezes ela se sente sozinha no casamento, carente, solitária...

-- Alice, eu fui abandonada não preciso que você jogue isso na minha cara toda vez que me ver entrar em
casa. – Esta é minha mãe com inveja da crise familiar alheia tentando cavar uma crise familiar para si. Não é
exagero meu não. Minha mãe adora uma crise familiar. Até hoje quando esta tudo muito quieto assim, meio
tedioso ela abre a boca e diz: - Querem saber, eu vou votar no Kassab e pronto. -E sai andando só pra ter o
prazer de ver um bom bate boca. – Se eu atrapalho eu posso ficar sozinha, esquecida e jogada no meu
apartamento em São Paulo.

-- Por acaso a senhora esta saindo com algum Klebão da Quebradeira? – Perguntei impaciente e torcendo
para que a resposta não seja positiva. – Então não é da senhora que estou falando!

Os dias foram se passando e nada da Rebeca arranjar dinheiro para saldar a dívida. Ela negou um
empréstimo de Silvinha e de Dona Regina querendo resolver o problema com as próprias pernas. Bruno
também ofereceu dinheiro para ajuda-la, mas Rebeca rejeitou. A solução veio da maneira mais inusitada
possível, através de Anderson. Em uma visitação a minha prima ele ficou sabendo da história de Rebeca. No
dia seguinte ele ligava para ela.

-- Meu anjo de cabelos rubros, diga que você me ama e que lamenta todo dia minha homossexualidade. –
Viado é foda, né? Nada convencida. – Sou a chave de todos os seus problemas financeiros.

-- Arranjou um velho rico para me sustentar?

-- Quase isso...

-- Uma velha?

-- Não, mas envolve com esse corpitcho lindo que Deus lhe deu. Escuta minha proposta e diga se não sou seu
gênio da lâmpada realizador de desejos.

Encurtando a história, Anderson tinha um amigo que namorava um cara que era colega de um viado que
trabalhava em uma agência de modelos e estava à procura de um rosto novo para estrelar uma propaganda de
um bloqueador solar. Só que eles queriam alguém branquinho com algo diferente, quando Anderson mostrou
os cabelos vermelhos de Rebeca o tal viado se apaixonou e botou porque botou na cabeça que Rebeca era a
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sua garota do bloqueador solar. O valor do cachê das fotos seria duas vezes maior que Rebeca precisava.

-- Mas Anderson, eu não estou um pouco velha não?

-- Tenho culpa que a bicha é zarolha e se apaixonou por você? Corre aqui que ele só quer te ver
pessoalmente pra ver se é tudo isso mesmo!

Rebeca e o colega do Anderson fecharam acordo na mesma semana e dias depois Rebeca já estava trocando
momentaneamente as cirurgias pelas lentes e estúdios. O Bruno sabia que a namorada tinha feito fotos para
ganhar dinheiro de uma propaganda, mas Rebeca não tinha explicado para ninguém que a tal campanha era no
Brasil inteiro. Quando chegamos no Alonso Franco e deparamos com uma foto de Rebeca usando só a parte
debaixo de um micro biquíni vermelho e as mãos tapando os seios, toda sexy, já sabíamos o tamanho da
merda que ia dar.

-- UAU! – Foi o que Leandro conseguiu dizer. – É a Becca?

-- Nossa ela ficou... – Antes de Júlia completar a frase cruzei meus braços, pronta para fulmina-la ali mesmo.
– Menos doutora...

É eu tinha que concordar.

-- Nem um pouco doutora.

Isa chegou surpresa, meio pasmada. Virou-se para mim.

-- Como vocês fizeram isso comigo? – Nós três a olhamos com a mesma cara de interrogação. – Por que
ninguém me disse que a água de salsicha era gostosa?

-- Rebecão... – Silvinha comentava com um sorriso meio travesso. - Sempre acreditei no seu potencial.

Nem preciso dizer que o Bruno não ficou muito feliz ao ver a grande surpresa que lhe esperava. Na verdade

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ele não ficou feliz. Na verdade ele não gostou nem um pouco. Na verdade o Gabriel teve que levar ele para
delegacia por quase ter batido em dois médicos. Na verdade Gabriel quase apanhou de Bruno quando
Rebeca chegou na delegacia e Gabriel pediu para que ela autografasse uma revista com uma propaganda de
página dupla do bloqueador solar. Outra que não ficou muito feliz com a nova carreira de Beca foi Duarte. Ao
chegar e ver aquele tumulto de médicos e enfermeiros em frente ao hospital foi dar uma olhada no que
acontecia e viu o out door de Rebeca.

-- Meu Senhor, quantas vezes eu vou ter que repetir para essas meninas que a vida sexual delas não é algo de
interesse público? Nem de roupas mais elas conseguem ficar? – Ela se perguntou. Furiosa. - DOUTORA
REBECA!

Bom, essa foi nossa vida nesses dois meses...

Quando eu cheguei na UTI, graças a Deus estava vazia. Quero dizer, Dona Abgail não estava lá. Nat não
usava mais o respirador como das outras vezes e senti meu peito se encher de alegria. Ela estava de olhos
fechados, eu fiz silêncio para não acorda-la, mas como uma vez Alice sempre Alice, meu dedinho encontrou a
quina da poltrona do acompanhante fazendo um ruído.

-- A-li-ce... – Sua voz saiu bem fraquinha. Não consegui segurar minhas lágrimas. – A li...

-- Resolveu acordar, bela adormecida? – Eu brinquei enquanto procurava sua mão. – Quer dizer que você
sabe que eu sou Alice?

Meio vagarosa ela fez um gesto afirmativo.

-- Sei... Sau-dade...

-- Eu também estou com saudade de você. Muita saudade. Todo mundo esta. Já dormiu demais, menina... Tá
com saudade de quem?

-- Jú-lia... Biel... Gabriel...

Gabriel. Essa vamos ficar a vida inteira devendo a ele. Coitado. Ele saiu todo machucado do Scarpan, o
braço trincado, todo cortado de caco de vidro. Era um herói. No dia seguinte do acidente Nat deu uma
piorada, ela estava muito mal, minha mãe tinha me puxado em um canto e falado que ela estava fazendo de
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tudo, mas que era para eu me preparar para o pior. Eu entrei na UTI, fiquei segurando a mão dela por quase
meia hora. Me deu vontade de ir ao banheiro. Quando estava voltando Gabriel estava lá. Ele chorava feito um
bebê, segurava a mão dela como se pudesse passar energia, vida a Nat por aquele contato.

-- Lembra Nat, quando minha mãe morreu e eu me escondi dentro do armazém da fazenda da sua avó
porque eu não queria ir ao velório me despedir dela? - Fez uma pausa. – Você me encontrou e perguntou
porque eu estava com medo? E eu te disse porque agora eu era sozinho no mundo? – Fez outra pausa. –
Você falou que eu nunca ia ser sozinha na vida porque eu tinha você e me deu nosso primeiro beijo? – Seu
choro tinha mais força. – Eu só tinha doze anos, mas nunca esqueci disso... Não esquece disso também... Por
favor...

-- O Gabriel e a Júlia amam muito você... E o Bruno, e o João e toda sua família Eles estão com muita
saudade também.

A Júlia tinha ido ao quarto de Nat alguns minutos antes de eu chegar. As duas já tinham conversado e pelo
jeito estavam bem.

-- Por que me colocaram pra dormir? Dor...

-- Porque seu pulmão foi operado e estava meio amassado, você estava usando respirador... E por causa da
dor também. Mas agora, moça, acabou a moleza! – Dei um sorriso. – Agora é só se fortalecer para ter alta e
sair daqui. Chega de hospital. Só vai voltar aqui pra fazer fisioterapia e para infernizar a vida dos novos
residentes que entraram no começo do ano. Sabia que já é fevereiro? Sete de fevereiro, daqui três dias a
gente pode zoar com a Júlia que só vai faltar três anos pra ela virar quarentona.

Nat deu uma risada, fraquinha, acho que doía rir por causa do abdômen operado.

-- Boba! Fica aqui?

-- Fico.

Fiquei ali por mais de uma hora. Não podia ficar a noite inteira por causa da Heleninha. Eu tinha deixado ela
com a Isa. Quando voltei a procura de Isa não a encontrei, mas Júlia estava com Heleninha em seu colo a
fazendo dormir.

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-- Ow, que é isso? – Eu brinquei. – Eu te conheço pra deixar você carregar minha filha assim?

-- Conhece! – Júlia disse sorrindo e entrando na brincadeira. – Conhece cada pedacinho do meu corpo... –
Me deu um beijo. – E eu conheço cada pedacinho do seu.

-- Boba! – Devolvi o beijo. – Que Pronto Socorro é esse que os médicos estão todos parados? Esse papo
de que trabalha o tempo é só caô, viu...

Ela sorriu.

-- Nada, é sorte! Ia tirar um cochilo agora, mas vi essa coisa gostosa no colo da Isa, não resisti.

Como não tinha movimento nenhum no Pronto Socorro e eu ia entrar só daqui umas três horas, aproveitamos
para tirar um cochilo com Heleninha no quartinho de plantão. As seis me despedi de Júlia que foi com minha
mãe e Heleninha para casa. Eu teria que me apresentar para o trabalho.

Agora Bruno, Rebeca, Isa, Leandro e eu éramos residentes do segundo ano. Eu pude fazer a prova da
residência com ajuda de Duarte. Ela concordou em juntar meu tempo de residente no hospital de São Paulo
com Silvéster e pude fazer a avaliação. Passei com nota alta. Do nosso grupo só Rafa que acabou repetindo e
voltando para o primeiro ano.

Seis meses parada me deixou meio fora de forma, mas consegui dar conta a manhã inteira. Enquanto eu não
arranjava babá para Heleninha, minha mãe tomaria conta dela para mim. Só consegui parar pra almoçar duas
e meia da tarde. Meus amigos já tinham almoçado, eu estava comendo sozinha na mesa quando alguém
sentou na minha frente, levantei os olhos e dei de cara com dona Abgail.

-- A se-nho... O que a senhora...

-- Eu não tenho tempo para rodeios menina. Eu preciso falar com você e vou ser rápida. Você precisa acabar
sei lá o que tem com a Júlia...

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-- QUE?

-- Você entendeu o que eu disse. E eu preciso disso rápido.

-- A senhora bebeu? Enlouqueceu de vez?

-- Será que podemos falar em um lugar mais tranquilo?

Curiosa para saber qual era daquela maluca, concordei e sair com ela. Duarte nos emprestou a sala de
reuniões que estava vazia. Fechei a porta e me sentei.

-- A senhora seja breve... O que a senhora acha que vai conseguir de mim?

Abgail me deu um sorriso irônico.

-- Eu não acho nada menina. Eu já tenho o que quero. A Júlia nas minhas mãos. – Me entregou um envelope
com um DVD. – Será que você pode colocar isso naquela TV para mim?

Obedeci muito mais curiosa do que antes. No DVD tinha imagens boas de Júlia, ela conversava com um
homem que eu não sabia quem era. Negociava. Pelo que eu entendi, ela dava dinheiro para o tal homem. Ela
entregava um envelope a ele , ele abria conferia, fechava e depois saia de cena. Júlia baixou óculos escuros e
as imagens terminaram.

-- Isso é um... É...

-- Suborno! Crime inafiançável! Dois a oito anos no xadrez. – Abgail deu um meio sorriso. – Eu já sei que
você não é uma menina burra, não vai querer ver sua namorada na cadeia...

Minha cabeça estava muito confusa. Aquilo não era do feitio de Júlia. Pagar pelo silêncio, pela impunidade.
Me lembrei de seu olhar tristonho no dia que Nat foi encontrada bêbada e nela falando para mim que teve que
fazer algo que não lhe agradava aconselhada pela mãe.

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-- Mas foi a senhora que fez a Júlia... Foi a senhora que aconselhou, foi.... Foi para ele não denunciar a
Natália.

-- Tem alguma prova contra mim? Eu tenho imagens da Júlia negociando deste homem. Ele tem o cartão de
contatos dela e vice versa. O dinheiro saiu das mãos de quem? – Fez uma pausa. – Você larga a minha filha
ou eu entrego ela para polícia. Você decide!

Vaca, vagabunda... Aquilo não era mãe nem aqui e nem em lugar nenhum do universo. Júlia que estava certa.
A história delas estavam errada, nem Júlia nem Bruno saíram daquele monstro. Júlia podia não só perder o
direito de ser médica como ser até presa. E ela fez isso justamente para salvar Nat no dia da bebedeira. QUE
ÓDIO!

-- O que a senhora quer de mim? – Inocentemente eu perguntei. – Por que eu?

-- Sabe que eu faço essa pergunta todas as vezes que eu vejo a Natália olhando para você? Infelizmente é um
defeito da minha filha, ela não sabe escolher parceiros, você, aquele orfãozinho sujo... Mas eu não vou
questionar a Natália... Não agora que ela esta fraca, quase morreu... – Outra pausa. – Não estou pedindo
muito. – Ela só podia ser maluca. – Não quero te obrigar a ficar com minha filha... Só quero que a Júlia deixe
o caminho livre.

-- Não vou me separar dela! E se eu me separar, ela tem o João, é por ele, pela família dela que ela esta aqui.

-- E você acha que vai ter João se ela for presa? Você imagina o meu neto entrando em um presídio para
visitar a mamãe bandida? Se você não separar dela, ela vai perder não só o João como tudo que ela tem de
uma vez só. Quer falar com ela, você quem sabe, pode ligar pra ela e falar, faz como você quiser, mas a Júlia
não vai pensar duas vezes em assumir essa culpa e se jogar de vez no fundo do poço.

Isso era verdade. Por outra pessoa Júlia poderia subornar alguém, mas por ela mesmo não. Ela era muito
correta, muito autocrítica. Não era do perfil dela fazer isso. Eu estava perdida. E Júlia também. Minha
vontade era avançar em cima daquela bruxa a tapas e chutes esquecendo que ela era mais velha, que era filha
de uma mulher que eu adorava como uma mãe e qualquer outra razão. Dona Abgail concluiu sua cena me
entregando o envelope com DVD e outro cheio de provas do suborno que Júlia havia praticado.

-- Pode ficar com você... As originais estão muito bem guardadas. – Fez outra pausa. – Decida logo!

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E saiu da sala. Eu peguei o envelope com o DVD e as outras provas e levei para Ingrid, sócia de Silvinha no
bar, advogada dar uma olhada.

-- Olha, Alice... Só esse DVD é uma evidência gigante... O juíz não pode considerar como prova legal, mas...
Se isso tudo vir a tona, a Júlia esta bem encrencada. E pelo que você falou, a Nat não tem a guarda do João
de papel passado, logo quem assume o João na ausência da mãe e a dona Abgail.

Não tinha o que decidir. Eu não tinha o direito de jogar Júlia em uma cadeia e fazê-la perder o João de vez. A
bruxa estava certa, ela já tinha conseguido o que queria de mim. Aquela foi a pior tarde da minha vida seguida
da pior noite. A noite inteira passei mal com vômitos e febre. Eu pedi para minha mãe mentir que eu estava
dormindo quando Júlia foi me procurar. No dia seguinte acordei e sai cedo. Enfiei minha cara no trabalho,
mas não conseguia tirar o pensamento de Júlia.

Nosso encontro não deu para ser evitado por muito tempo. De noite era plantão dela, quando entrei no
quartinho e a vi dando o abraço de despedida em Monique que sairia do Alonso Franco, armei o escândalo.
Envergonhada pelo barraco, Júlia me levou para o terraço do hospital, inventei motivos para discutirmos e
então revelei:

-- Eu quero terminar com você.

-- Eu te juro que não fiz nada! – Júlia me garantiu. – Só foi sei lá... Um abraço de despedida... A Monique
veio me contar que ia embora, ela não é minha inimiga... Eu tenho o direito de saber por que você esta
fazendo isso, não tenho? – Júlia me questionou. – Por que você quer terminar comigo?

Não pensei em uma desculpa melhor.

-- Eu ainda amo a Nat.

End Notes:

Cenas dos próximos capítulos:

-- Eu vim de trazer um presente. - João falou em um tom divertido. - É seu


aniversário, não é Júlia?
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-- É... Mas nem precisava se preocupar, velho não ganha presente não! Não
esquenta comigo...

João deu uma risada.

-- Deixa eu te dar o presente. - Subiu no sofá e pulou no braço de Júlia lhe


dando um abraço. - Feliz aniversário, mãe!

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Capítulo 47 by Tamaracae

Author's Notes:

Ois, cap de domingoooo!! Tô triste comigo mesmo pq não to conseguindo responder


os comentários a as leitoras antiguinhas tão desaparecendo e feliz pq tem novas
aprecendo ai!!! Muito obrigada a todas suas lindas!! Adoro vcs!!!

http://www.youtube.com/watch?v=TTSPU58IpYA Adriana Calcanhoto

-- Alice, abre este quarto! – Minha mãe insistia. Eu tinha passado a chave na tranca antes dela conseguir
entrar. – Alice, o que esta acontecendo minha filha?

-- Deixa mãe, coisa minha!

-- Alice você precisa se acalmar... O que aconteceu?

-- Eu não quero me acalmar. – Eu respondi com firmeza. Com as costas das mãos enxugava minhas lágrimas
teimosas que não me abandonaram a noite inteira. –Vai embora!

Eu senti na voz da minha mãe um certo ar de preocupação, acho que ela estava disposta até a ter um
conversa de boa comigo, mas não abri a porta. Ela sabendo que eu era uma teimosa de carteirinha achou por
dom dar o tempo que eu precisava e desistiu de falar comigo àquela hora, recolheu seus pertences e foi
trabalhar. Depois eu me arrependi, mas na hora dei graças a Deus que ela me deixou sozinha. Eu estava
impaciente e machucada demais para lidar com qualquer ser humano que não fosse minha filha.

Após mamãe sair para o hospital, e sai do meu quarto. Bebi um copo d’água e segui para o quarto de
Heleninha. Ela estava no berço, de bruços, toda contente conversando com a Dory de pelúcia que tinha
ganhado no dia de “tia Cíntia”. Ela já estava conseguindo firmar os objetos nas mãozinhas e segurar nas
próprias mãos. Ela pegou um porquinho fantoche que eu sempre usava para brincar com ela e estendeu em
minha direção.

-- Mamã... DADÁ!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

--Não, a mamãe não quer brincar agora. Brinca com o peixinho... – Só foi falar peixinho e ela já começou a
apertar os lábios e fazer boca de peixinho que eu tinha ensinado. Dei um sorriso meio fraco. – Depois a gente
brinca de peixinho, a mamãe esta triste, amor... – Fiz um carinho em seu rosto. Com a voz embargada,
confidenciei a bobagem que eu tinha acabado de fazer em sã consciência. – A mamãe terminou com a tia
Júlia, Lelê... A mamãe quer a tia Júlia...

Não consegui nem completar a frase. As lembranças da nossa discussão no terraço, as palavras que me vi
obrigada dizer. Foi horrível, péssimo, horroroso.

-- Aquela mulher que dormiu do meu lado ontem, me fazendo carinho, fazendo conchinha não estava
pensando na minha irmã! A mulher que ficou esses dois meses comigo, que foi para aniversário da Renatinha
em São Paulo, que me deu carinho, me deu amor... OLHA PARA MIM ALICE! – Era o que eu mais temia
ter que encarar os olhos de Júlia. Eu fiquei com medo de encontrar raiva, mas era pior, havia decepção.
Desapontamento. Dor. – Qual é a tua Alice? Você enlouqueceu? – Ela me perguntou um tanto transtornada. –
Você esta chorando! – Fez um pausa para tentar se conter. Eu estou vendo que você esta triste, por que você
quer fazer isso? – Ela me perguntou. Se agachou (Eu estava sentada em uns caixotes velhos que sei o que
estavam fazendo ali). Segurou meu rosto. – Amor, por que você quer acabar com nós duas?

O jeito de Júlia acolher minha face com suas mãos foi de tamanha delicadeza que quase fraquejei no meu
objetivo. Aquele olhar profundo, machucado de um jeito que eu sabia cuidar bem e o lábios meio
entreabertos me convidavam para um beijo delicioso para fazer esquecer toda aquela baboseira que eu tinha
dito a ela. Cheguei a abrir a boca decidida a falar um “esquece isso tudo, eu te amo”, mas a imagem daquela
peçonhenta louca da dona Abgail não saia da minha entontecida cabeça. Eu estava morrendo de medo de que
ela chegasse as vias de fato. Eu não tinha coragem de pagar de louca para ver até que ponto ela era capaz.
Não naquele momento.

-- Acabou Júlia! – Respondi tentando ser o mais seca possível. Me ergui para afastar meu rosto do dela (mais
meio segundo tudo ia abaixo e eu estaria dando o maior beijão naquela boca gostosa) recolhi minha bolsa. –
Eu não quero mais. Passou! – Passou foi um trem por cima de você, Alice, sua tonta. – Não estou dizendo
que foi ruim, só que acabou!

Virei às costas sem coragem de encará-la. Se eu olhasse para trás tenho certeza que eu ia acabar
desmentindo tudo. Júlia com a cabeça quente com certeza iria tirar satisfações com a velha que não pensaria
duas vezes em abrir a maldita da boca e entregar os documentos ao Conselho Regional de Medicina e mais
tarde a polícia.

Já estava descendo as escadarias quando senti meu braço sendo puxado com firmeza. Não tive tempo, força
física ou psicológica e muito menos vontade de empurrar Júlia e afastá-la de mim. Não fugi e deixei que ela
pressionasse seu corpo contra o meu me jogando contra a parede com uma vontade que devia ser proibida
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

de tão boa.

Como se fosse à última atividade que fizesse antes de morrer, Júlia me deu um beijo devastador. Eu sentia
aflição, medo, adrenalina de ser pega, tudo misturado junto da excitação do beijo. Minha espinha se arrepiou
toda e meu peito batia com mais força. Impressionante como Júlia conseguia me fazer sentir a mulher mais
desejada e mais gostosa do mundo com o olhar, com o toque e com os gestos. Eu tinha direito aquela
despedida, por isso abstrai qualquer pensamento ruim principalmente envolvendo a bruaca velha da Dona
Abgail da minha cabeça e me concentrei naquela mulher linda e maravilhosa na minha frente à noite inteira. A
única prudência que tivemos foi de entrar em um dos quartinhos inutilizados do hospital e só. Se no dia
seguinte eu não precisasse esquecer de tudo o que aconteceu seria mais uma noite dos sonhos. Nossas bocas
se encaixavam de maneira perfeita, quente, fatal. As mãos de Júlia pareciam ter eletricidade e me davam um
choque gostoso a cada toque. Ela galgou beijos pelo meu corpo inteiro assim como venerei todo o seu. Eu
procurava dar tudo de mim em cada carinho, cada beijo, cada cravada em seus ombros, inspirava seu cheiro
com força, esfregava seu corpo no meu como se quisesse gravar cada célula de Júlia em mim.

Não trocamos nenhuma palavra. Acordei com o corpo atado ao dela e Júlia dormindo com uma expressão
tranqüila no rosto. Talvez acreditando que me convencido do contrário. Com a cabeça e o coração pesando
dez toneladas cada um, me desatei de Júlia com cuidado e vesti minhas roupas em silêncio. Milagrosamente
consegui sair do quarto sem trombar em nada e nem fazer um barulhão enorme.

Eu só trabalharia a noite. Peguei o carro do meu pai (que agora era meu) no estacionamento e parti para
minha casinha de bonecas. Eu não sei como eu não sofri um acidente e não capotei com aquele carro. Sorte
que Heleninha estava em casa com a mamãe. Quando cheguei em casa cruzei com minha mãe e o resto vocês
já sabem.

Já era quase uma hora da tarde quando tive coragem de me aventurar fora do quarto. Eu estava morrendo de
medo de encontrar com Júlia ou apenas ela ouvir algum barulho em casa e vir me procurar. Cheguei na sala e
joguei um olhar para os dois lados, com passos leves como se quisesse roubar a minha própria casa e
consegui alcançar na porta da cozinha. Meu pezinho direitinho já estava entrando no cômodo quando escuto
aquela voz que parecia surgir das cinzas.

-- Você vai assaltar sua própria casa?

-- MÃÃÃÃÃEEEE! – Na boa, vocês não acham que minha já esta velha demais pra ficar fazendo essa
piadinha de ficar me pregando susto se escondendo pela casa? Quero ver qualquer dia eu caio mesmo dura e
preta ai e vocês vão ter que se conformar com a Rebeca ou Isa como protagonistas da história. – Que susto!
– Eu disse ainda tentando voltar a respirar normalmente. – O tio Pepo e a tia Petrônia morreram do coração...
Eu tenho histórico na familiar...

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-- Ao contrário de você, a Julinha me falou o que estava acontecendo. Ela vai passar o dia no hospital e pediu
para eu fazer uma mala de roupas. Você me dê à chave da cabana. - Julinha? Mala de roupas? – E seu tio
Pepo morreu de atropelado. E a Petrônia não é seu sangue, só uma sirigaita que seu tio Ascânio achou de
manchar o nome da nossa família.

Sirigaita fui eu que arranjei quando achei de noiva com o Pedro Henrique. Mais essa de mala de roupa?

-- Ela pediu para entregar isso aqui. – E me deu um papel escrito à mão. Reconheci a letra de Júlia. - Cadê às
chaves reserva?

-- Embaixo do vasinho de planta da porta principal.

Minha mãe saiu atrás das tais chaves e eu fiquei com aquele bilhete nas mãos.

Amor, quando acordei hoje e não te encontrei fiquei com medo de encontrar duas notas de duas cem
reais. Por que você esta me tratando assim? A mulher que eu fiquei ontem não estava apaixonada por
outra mulher. Eu não sei o que aconteceu, mas vou te dar o tempo que você quer. Eu te adoro e já
estou com saudade. Um beijo da sua mexicana, te adoro!

Fechei o bilhete e guardei entre minhas coisas. Que vontade de ligar para o meu amor e falar que eu a adorava
também. Que inferno, por que aquela bruxa da Abgail não ia meter sua vassoura em outra freguesia? Não sai
do quarto e afasta o celular de mim o dia inteiro para não cair em tentação. A noite deixei Heleninha com
minha mãe e fui trabalhar com cara de quem estava indo para forca. Rebeca foi a primeira pessoa que notou
meu estado. Nos encontramos na hora da minha entrada do plantão. Eu colocava um papelzinho no quadro
de avisos do Alonso Franco.

-- Procuro babá de confiança para ficar com bebê de seis meses em período diurno. – Rebeca leu em voz
alta o anuncio que eu pregava. – Nossa Alice, ainda não encontrou uma babá para a Heleninha e... – Olhou
para minha cara. – Alice o que aconteceu?

-- Nada! – Eu murmurei com cara de que tinha acontecido tudo. – Esta tudo bem.

Tudo tão bem que estava com vontade de me jogar embaixo de um caminhão.

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-- Vai Alice, conta! Que cara de merda é essa? – Acho que já falei que amo quando as pessoas me botam
para cima, não? Minha cara devia estar de merda mesmo, toda vermelha e inchada de tanto choro. – Não
quer falar, então eu vou contar dos meus problemas...

-- Que problema, Rebeca? Todo mundo esta te achando linda e gostosa...

-- Pois é esse o problema. O Bruno não esta olhando na minha cara de tanta raiva... Eu virei a nova doutora
peitinhos... O Serginho esta encostado na casa da Silvinha e para não expulsarem ele de lá eu estou pagando
a parte dele, minha mãe me ligou ontem que ficou noiva, noiva Alice! E...

Fomos interrompidas pela chegada de uma sorridente Isa que apareceu com um embrulho de presente na mão
e Bruno de cara amarrada. Isa entregou o embrulho para Rebeca.

-- Mandaram para você. Hoje depois do plantão saímos juntas...

-- Ela não vai sair com você. – Bruno retrucou irritado. – Ela tem namorado, cara!

-- Ela quem decide! – Isa rebateu com firmeza. – E então Bequinha?

-- Isa, desiste! Ela é hétero!

-- Eu era até que chupei uma mulher e não sou mais! – Super assunto para se tratar no ambiente de trabalho.
– Sai, bucha de canhão! Rebeca!

Rebeca não deu ouvidos a nenhum dos dois e seguiu seu caminho. Eu que não ia ficar com aqueles dois
malucos fui atrás da minha amiga e comadre.

-- O que deu neles?

-- A Isa esta querendo sair comigo depois do out door. – O tom que a rebeca falou foi tão sério que não
aguentei e dei risada. A Isa era doida mesmo. – E o Bruno agora pegou implicância com ela.

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Só o besta do Bruno para levar a Isa a sério mesmo. Primeiro, Rebeca gostava mesmo de homens, segundo,
todo mundo sabia que Isa era cheia de fogo na traseira, só estava interessada em comer a nova gostosona do
pedaço e pronto. Paixão que todo mundo sabia que acabaria após umazinha. Continuamos caminhando em
silêncio quando ouvidos pelo circuito interno de rádio do hospital a moça da recepção dar o aviso.

-- Doutora Júlia Franco, sala de cirurgia 02 vaga. – E tornou a repetir. -- -- Doutora Júlia Franco, sala de
cirurgia 02 vaga.

Não consegui disfarçar a tristeza em meu rosto. Como seria os próximos meses da minha vida? Se só de ouvir
o nome dela eu já murchava todinha, imagine trabalhar? E morar ao lado de Júlia então?

-- Com quem você pegou a Júlia? – Rebeca me perguntou. - Com a Monique?

Antes fosse. Seria tudo tão mais fácil se eu tivesse sido tri corna. Fiz um gesto negativo.

-- Eu preciso te contar uma coisa, mas eu te conto fora daqui, quando a gente estiver saindo...

Ela concordou sem me pedir maiores explicações e seguimos com o trabalho. Rebeca acabou sendo bipada
para o acidente de trauma. E eu? Doutor Nelsinho me bipou, mamãe tinha deixado seus pacientes para que eu
fizesse pré e pós-operatórios além das visitas de rotina. Entre os pacientes da minha mãe estava Nat. Já era
perto do almoço quando entrei em seu quarto. Eu tive duas surpresas, uma boa e outra ruim. A surpresa boa
era que ela estava no quarto e sua primeira noite sem a sedação foi satisfatória. A surpresa ruim é que dona
Abgail era sua acompanhante do dia.

-- Alguma reclamação Nat?

-- Quero um médico de verdade me atendendo. – Nat brincou comigo e jogou uma piscadinha cúmplice. –
Alice, quando eu vou poder comer comida de verdade? – Ela me perguntou. – Não aguento mais esses
caninhos de soro...

-- Logo logo, não é mesmo doutora Alice? – Abgail me cobrou com um ar de deboche. – E a Júlia, você viu
ela por ai doutora? Ela passou aqui hoje de manhã, mas eu não estava, tinha saído para tomar café. Ficou
pouco...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Vaca, estava se divertindo as minhas custas.

-- Provavelmente ela ficou pouco porque sabia que a senhora logo voltaria. – Devolvi seca. – Não vi a
doutora Júlia hoje.

-- Aconteceu alguma coisa, Alice? – Nat me perguntou. - Você esta com uma cara estranha.

Não respondi. João me salvou de Nat chegando bem na hora. Não era só eu que acordei com uma cara
estranha. Ele estava sério até meio fechado, arredio.

-- Que surpresa... Dá um beijo na tia...

-- Eu preciso conversar com a senhora... – Olhou para as duas “intrusas”, no casa a bruxa e eu. – Sozinho...

-- Como sozinho? Que é isso menino, sua tia esta doente, precisando de mim! – Ela respondeu irritada. – E
eu não tenho segredos com o meu neto e muito menos com a minha filha! Eu vou ficar, doutora Alice, quando
sair pode fechar a porta e...

-- A senhora não tem seus assuntos particulares? Me deixa sozinho com a minha tia... E a senhora feche a
porta, por favor...

-- Que é isso menino? Não sabe o que educação?

-- Quem não sabe é a senhora que não respeita privacidade dos outros. – Eu tentei segurar meu riso, mas a
cara da Dona Abgail com aquele soco no estômago psicológico foi ótima. Dei um sorrisinho com apetite para
soltar uma gargalhada de uns três minutos. – Eu quero falar com a minha sobre o acidente da minha mãe. – Vi
um susto nos olhos de Abgail, acho que era o pavor de ser entregue por Nat. João continuou firme. – Eu
descobri tudo! Vocês mentiram para a Júlia... – Outro soco no estomago. Dessa vez Nat também tinha
levado. Devo confessar que me deu dó da Nat. – E pra mim também...

-- João, meu netinho... – Abgail tentou colocar a mão no ombro do neto, João desviou. – Foi aquela mulher
que pois as coisas na sua cabeça? Foi a...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Não foi ela e não interessa quem foi! – Ele rebateu dando um passo para trás. Invocado. Impressionante
como estava parecido naquela manhã. – O que interessa é que você não falou a verdade!

-- João...

-- Mãe, me deixa sozinha com o João...

-- Natália, minha filha, eu...

-- Me deixa sozinha com ele.

Dona Abgail saiu derrotada do quarto. Derrotada, mas sem perder a maldita da pose. Muito pelo contrário.
Ela parecia mil vez mais agressiva e insuportável do que antes. E lógico que tinha que sobrar para mim.

-- Avise para aquela marginal da minha filha que se ela ousar a me colocar contra o meu neto...

-- Avise e lide com consequências sozinha. Minha parte eu já fiz, terminei com ela. – Abgail deu um sorriso. –
Mas é mãe e filho, a senhora não vai conseguir envenenar o menino. A Júlia pode não ter citado a Nat
naquele vídeo e se comprometido ainda mais, mas se a senhora tentar fazer alguma coisa eu abro a minha
boca e coloco sua filha no jogo também!

Júlia não tinha citado o nome de Nat no vídeo e tenho certeza que ela não citaria se fosse interrogada. Em
outras palavras, Nat tinha se safado. Se ela tivesse falado o nome de Nat, dona Abgail não iria ter munição
para me ameaçar com medo de acabar com a carreira da filha. Como a vida não era de facilitar as coisas e os
“ses” não existem eu estava nas mãos dela. Eu não ia entregar a Nat, não tinha coragem, mas não ia deixa-la
colocar João contra a mãe. Ela não mexeu comigo, agora teria uma pedreira inteira dentro de seu sapato.

O restante do meu dia eu passei trabalhando. Não cruzei com Júlia pois ela havia pegado duas cirurgias
direta. Na terceira cirurgia do dia o paciente morreu logo no inicio do procedimento. Após algumas tentativas
de ressureição, Júlia deu o atestado.

-- Perdemos, pessoal. Hora da morte: 18 horas e 31 minutos.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Rebeca estava em sua equipe. Júlia estendeu as mãos para uma das enfermeiras lhe tirar as luvas, ela mesmo
baixou a máscara e foi se lavar. Rebeca fazia o mesmo. O olhar das duas se encontraram umas duas vezes.
Rebeca não aguentou e decidiu perguntar.

-- Você quer notícias da Alice?

-- Não. Acho que o que a doutora Monique me contou hoje já é o suficiente.

E saiu sem trocarem mais palavras, com os olhos baixos e sem brilho, segundo minha amiga.

-- O que será que a Monique falou de mim?

-- Não faço ideia. E ela já foi pra São Paulo também, nem adianta mais perguntar. Acho melhor vocês
conversarem...

Nem deu para especular muito sobre o que Monique falou ou deixou de falar porque logo fui bipada. Era
Duarte avisando para que eu fosse fazer outra visita médica a Nat. Quando cheguei no quarto, ela estava
nervosa. Graças a Deus Abgail tinha ido para casa se trocar ou infernizar a vida de outra pessoa e era Gabriel
que a acompanhava. Ele estava meio sentado na cama hospitalar, ela reencostada em seu peito, pareciam um
casal mesmo. Bonitinho-- O que foi?

-- Minha mão! – Ela não me explicou. Só ergueu a mão direita e esta começou a ter uns tremores. – Alice,
como eu vou operar assim?

Como eu disse, minha mãe teve que fazer um procedimento cirúrgico delicado em Nat. Sequelas poderiam
surgir e tudo indicava que aquele leve tremor era alguma decorrência. Nem era algo tão pesado comparando
com outras, mas para uma cirurgia um tremor daqueles nas mãos seria o decreto do fim de sua carreira. Ela
apertou os olhos de uma maneira aflita.

-- Começou a dar de alguns minutos para cá. – Gabriel me explicou. – E para, depois recomeça...

Seria ridículo eu consultar a Nat, sendo ela a especialista que era.

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-- Nat, eu posso marcar uma consulta com minha mãe... Desculpa perguntar, mas como foi sua conversa com
o João? Você passou algum nervoso?

Nat e Gabriel trocaram um olhar meio significativo e por fim ele me falou:

-- Ela discutiu com a Dona Abgail por causa do João. Quando eu cheguei ela estava chorando... Eu achei
melhor ficar um pouco aqui...

É claro que a infeliz tinha que estar envolvida.

-- Discutiram?

Nat fez um gesto afirmativo.

-- O João me procurou e perguntou sobre o acidente da mãe como você viu... Eu contei toda a verdade que
vocês dois já sabem... E ele... – Fez uma pausa. – Quando ele peitou a mãe e pediu para ela sair eu vi raiva
nos olhos daquele menino. Meu sobrinho virou um adulto na minha frente. Dez anos e nunca tinha visto o meu
menino assim! A gente conversou...

-- Ele brigou com você? Saiu daqui brigado?

-- Não... – Outra pausa. – Digamos que saiu daqui machucado. Não só por não ter contado, mas pela forma
que ele soube. Escutou uma conversa do Bruno com a Rebeca e veio me tirar satisfações. Eu expliquei meus
motivos e ele me entendeu. – Nat baixou os olhos como se fosse possível esconder as lágrimas que surgiam. –
Ele disse que talvez fizesse a mesma coisa que fiz porque ele me amava como se fosse uma mãe de verdade. –
Dei um sorriso desarmado. – Mas ele esta com raiva da avó, com razão, né? Ainda mais depois do que ele vê
o que ela anda fazendo com a Júlia... Foi embora sem falar com a vó, ela entrou aqui transtornada e a gente
acabou discutindo feio. Esse tremor pode ser psicossomático... Você passou um nervoso... De qualquer
forma eu vou marcar uma consulta com a mamãe e vamos investigar... Tudo bem?

Depois que sai do quarto, mais e mais trabalho. Cheguei em casa morta. Mamãe tinha saído para seu trabalho
e eu só tive tempo de cuidar da minha filha espera-la dormir para separar minha roupa para o dia seguinte e
poder capotar em paz. Eu pensava tanto na Júlia que chegava a doer. Ouvi uns barulhos no quintal. Eu tinha
um pouco de medo de ficar só com a Heleninha a noite, olhei pela janela e vi a luz da sala da cabana acesa e a
moto de Júlia. Não tive coragem de procura-la. Me tranquei e fui dar uma lida nos livros da mamãe para
tentar saber o que aqueles tremores de Nat significavam. Ela não procurou. Devia estar com raiva. E mim.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Meu coração só voltou a bater tranquilo quando ouvi o barulho do motor da moto funcionando e ela indo
embora.

Querendo despertar minha tristeza achei de ligar o som alto. A pior das bobagens que fiz. Começou a tocar
Adriana Calcanhoto e bateu legal aquela sensação de fossa, de casa vazia.

Eu perco o chão
Eu não acho as palavras
Eu ando tão triste
Eu ando pela sala
Eu perco a hora
Eu chego no fim
Eu deixo a porta aberta
Eu não moro mais em mim...

Eu perco as chaves de casa


Eu perco o freio
Estou em milhares de cacos
Eu estou ao meio
Onde será
Que você está agora?..

Lembrei de nós duas abraçadas em frente a casinha de bonecas, dela me carregando no colo para
“estrearmos” a casa nova, da gente fazendo a mudança das minhas coisas, ela guardando as coisas no armário
da minha cozinha,a gente assistindo filme e comendo besteiras na cama e por fim dela roubando um beijo meu
após eu colar o post it das duas bonecas que ela havia desenhado para me pedir em namoro no espelho do
banheiro do meu quarto. Não tive coragem de tirar de lá. Chequei meu e mail e duas moças mandaram
currículo pedindo vaga de babá para cuidar da Heleninha. Adormeci tarde e só acordei com a chegada da
minha mãe no dia seguinte.

-- Alice, não era para você estar já trocada? Não vai trabalhar? Você não deu banho na menina? Ela ainda
esta dormindo?

-- Droga!

Em quinze minutos tomei um banho, me troquei, tirei leite reserva e me despedi de minha mãe e de Heleninha.
No hospital mais um dia puxado de serviço e não nos cruzamos, Júlia tinha pedido uns dias de folga. No
encontrei com Cíntia que acabava de sair da quimioterapia e esperava por Alê. Apesar de meio debilitada
senti ela com alguma cor e estava usando um chapéu panamá que a deixava com uma aparência melhor.

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-- Sozinha, doida?

-- Esperando a Alê, a Isa estava comigo e foi fala com a Rebeca e... – Cíntia me encarou assustada. – Credo,
Alice? Quem foi que fez isso?

-- O que?

-- Parece que te bateram. Desculpa, Alice, mas você esta horrível. – Amo a sinceridade dos meus amigos.
Cíntia deu um sorriso triste. – E eu estou também todos esses meses e você não fala nada...

-- Deixa de ser boba, você esta ficando até mais coradinha de alguns dias para cá... – Dei um beijo em sua
mão. – Não se preocupa comigo que só foi uma noite mal dormida... Adorei o chapéu.

Cíntia me deu sorriso.

-- Presente da Alê... Me deu ontem a noite.

-- Ganha presente da namorada e faz essa cara triste?

-- Não é isso, também amei o chapéu... Mas sabe o que ela deu pra Silvinha? Um livro... – Fez uma pausa. –
Quando eu vou ganhar um livro da minha namorada? A Ale tão... Tão... Sou uma analfabeta, Alice! A Alê tão
boa, tão genial... Nem ler eu leio, Alice! E se ela arranjar sei lá... Ela bonita... Um monte de mulher pode
parecer, se apaixonar por ela...

Mal sabia ela que estava adivinhando o que acontecia bem ao seu lado. Silvinha estava no Scarpan (Em
reforma por conta do incêndio), vistoriando o trabalho dos pedreiros quando Letícia apareceu lhe informando.

-- A Alessandra esta ai te esperando lá embaixo.

-- Você falou que eu estava aqui? – Silvinha andava evitando ficar a sós com Alê! – Droga, Letícia! Te peço
mil vezes pra me ligar e...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Você sempre recebe a Alessandra! Eu digo que você não esta?

-- Não, manda subir né?!

Está certo que ela não podia parar de falar com a Ale de uma hora para outra senão ia dar na vista, mas
Silvinha não queria facilitar também. Ouviu os passos de Alê pela escadaria. Deu uma ajeitada no cabelo pelo
vidro da janela.

-- Alê?

-- Oi, te atrapalho...

-- Não, não... – Silvinha disse sorrindo. – Senta. Quer alguma coisa, um suco, uma água, um... – Alessandra
cortou Silvinha com uma risada. – Que foi?

-- Seu nariz, esta cheio de pó da construção... Licença... – Tocou de leve a ponta do nariz de Silvinha. Minha
prima não tirav aos olhos de Alê. – Bom... Eu vim trazer isso aqui PR você...

E Alê tirou uma caixinha de veludo com o anel mais bonito que Silvinha tinha visto na vida. Era delicado com
pedra de água marinha cravada ao centro.

-- Pra mim?

-- Ver... Eu vou dar de presente pra Cíntia... O que você acha?

Coitada da minha prima, né gente? Periguete tem coração. E o de Silvinha andava bem apertado ultimamente.
Minha prima deu um sorriso triste apertando os lábios entre os dentes.

-- É um anel de noivado?

Alessandra contente fez um gesto positivo.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Eu quero pedir hoje. Você acha que ela vai gostar?

-- Que mulher não gostaria Alê? – Minha prima virou os olhos para disfarçar. – É lindo... Prova para eu ver...

-- Silvinha...

-- Por favor...

Mesmo desconfortável, Alê atendeu ao pedido. O anel era lindo mesmo. Tinha ficado ótimo na Alê e tudo
daria certo se bendito anel quisesse sair.

-- Droga! Não devia ter comido tanta pizza ontem. Culpa da Isa que fica inventando gordice...

-- Calma, se entrou tem que sair... – Silvinha tentava tranquiliza-la. – É só jeito, Alê...

Nem preciso dizer que o anel não saiu e foi feito uma mobilização entre Alessandra, Letícia, Silvinha e os
pedreiros para tentar tira-lo.

-- Tenta sabão.

-- Oléo de cozinha, não tem?

-- Se quiser dar pra passar o maçarico, mas é capaz dela perder o dedo!

-- Tá maluco! – Silvinha advertiu. – Imagina sapatão sem dedo, corta uma das tuas bolas...

-- Silvinha!

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-- Verdade, ué! Arrumem outro jeito.

Silvinha acompanhada de Alessandra subiu para o banheiro e melecaram o dedo da coitada da Alê com
sabonete líquido e nada.

-- Cuspe! Meleca o dedo na tua boca e vai tentando puxar com o dente.

-- Como?

-- Deixa que eu faço!

Instintivamente Silvinha colocou o anelar de Alessandra dentro de sua boca e melecou com sua saliva por
dentro do anel. Sentiu ele amolecendo e aos poucos foi puxando entre os dentes. Alessandra a principio se
assustou com o toque, mas depois... Tinha que confessar que aquela cena inusitada era... Interessante. Seus
olhos encontraram com o de Silvinha e se sentiu envergonhada por pensar em coisas “interessantes” com ela.
Baixou os olhos. Tentou disfarçar perguntando.

-- Silvinha, você já se apaixonou por alguém? – Minha prima assustada com a pergunta engoliu em seco e
acabou vindo tudo junto a engasgando e começando um estrondoso acesso de tosse. – Silvinha? – Vermelha
Silvinha erguia os braços se debatia nervosa. – O Anel? Você engoliu o anel? – Gesto afirmativo da minha
prima. – AMBULÂNCIA! Alguém chama uma ambulância! – Ajudou a Silvinha a erguer o braço. – Isso
levanta, levanta!

Silvinha chegou ao hospital e o anel já não estava mais em sua garganta. Após um raio X encontramos o anel
já no intestino.

-- E agora, vou ter que ser aberta? – Silvinha perguntava desesperada a Bruno, seu médico atendente. – Vão
ter que fazer uma cirurgia? Vou ter que fazer um procedimento com anestesia? Eu vou morrer, eu...

-- Não... – Bruno a tranquilizou entre risos. – Só vai esperar um chamado da natureza, eu vou passar um
remedinho pra te ajudar... Mas mamão, umas fibras, ajudam no seu problema...

-- Um activia... – Eu ajudei a complementar. – Ajuda também.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Espera, eu vou ter que... – Olhou para Cíntia. – Culpa sua! Não acredito Cíntia!

-- E eu que vou ter que usar esse anel depois de passar pelo seu intestino...

Eu fiquei presa com essas doidas me distraindo um pouco, mas quando eu via estava de volta pensando na
Júlia. Ela não tinha me ligado, mandado mensagem, nada! E no dia seguinte seria aniversário dela. Eu não
sabia se ligava, ou não ligava, se procurava Júlia e esquecia de vez da bruxa da dona Abgail e falava toda a
verdade e ela que se entendesse com a bruxa da mãe até que Dona Regina me ligou resolvendo parte do meu
problema.

-- Alice, amanhã é aniversário da Julia, quero ver todo mundo na minha casa para um almoço especial... E se
virem com esses plantões para ninguém faltar!

Era o que eu precisava. Já que Júlia ignorava minhas ligações de celular e de casa, não tinha como falar com
ela. Eu tinha tomado uma decisão. Contaria toda a verdade a ela. Se ela quisesse me dar um fora por conta
do filho seria menos doloroso do que ela ficar com raiva achando que sou uma vagabunda qualquer. Tomada
à decisão tive uma noite mais tranquila de sono.

No dia seguinte acordei bem disposta, tinha trocado meu plantão com uma outra residente, podia me preparar
com calma para o almoço. Cheguei com Heleninha na casa de dona Regina por volta das treze horas. João
me esperava na porta de entrada. Veio correndo ao meu encontro.

-- Alice! Alice, posso te pedir um favor?

-- Pode.

-- Me leva na Duarte? Minha mãe esta lá, ela não vem...

-- Não vem?

-- É... A vovó insistiu, mas ela disse que não esta se sentindo bem... Me leva até lá?Eu quero dar um presente
para ela.

-- Levo claro!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Eu também queria dar o presente que tinha comprado para Júlia, pelo menos a primeira parte do presente que
era um relógio bonitão que era a cara dela. A segunda parte eu tinha planejado da gente dar uma fugida de um
fim de semana para uma cidade próxima de Serra Negra, cheguei a fazer reservas, mas acabei cancelando
com o rolo todo da dona Abgail.

O apartamento de Duarte não ficava muito longe. Em meia hora chegamos lá. Duarte anunciou nossa entrada
pelo porteiro e seguimos para o nono andar. A própria Júlia estava na porta nos esperando quando o
elevador chegou no andar. Sorriu ao ver João. Eu senti meu rosto corar quando nossos olhares se cruzaram.
Eu tinha colocado um shortinho jeans azul e um blusão branco de botão que eu sabia que ela gostava. Ela deu
um meio sorriso, mas depois apertou os olhos de um jeito que me deixou entristecida. João foi correndo ao
seu encontro e Duarte nos convidou para entrar. Ela estava mais tranquila do que no hospital. João foi o
primeiro a cumprimentar Júlia.

-- Eu vim de trazer um presente. - João falou em um tom divertido. - É seu aniversário, não é Júlia?

-- É... Mas nem precisava se preocupar, velho não ganha presente não! Não esquenta comigo...

João deu uma risada.

-- Deixa eu te dar o presente. - Subiu no sofá e pulou no braço de Júlia lhe dando um abraço. - Feliz
aniversário, mãe!

Eu já sabia que eu estava envolvida, apaixonada, mas quando Júlia olhou para João como se não acreditasse
no que ela estava falando e mordeu os lábios de forma apreensiva eu tinha certeza que era algo mais forte que
isso. Talvez fosse ali que descobri que a amava. O jeitinho dela segurando João em seus braços e depois
apertando ele com força querendo acreditar que não era um sonho.

-- Menino, você tem noção do que você falou? – Ela perguntou sorridente, brincando com ele. – Coração de
velha qualquer coisinha para, hein? Você dá uma dessas!

-- Não posso chamar minha mãe de mãe, não, ow mãe?

Os dois caíram no sofá brincando de cócegas.


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Pode, não, deve! Repete!

-- Mãe, mãe, mãe! Pará, mãe, besta!

Nem me incomodei em não ser notada. Eles estavam brincando tão felizes, tão entrosados, tão mãe e filho
que não tive coragem de interromper. Só consegui falar com Júlia depois que descemos para levar João e
Lasanha para brincarem de futebol na quadra do prédio. Ela sentou meio afastada, mas ainda assim dava para
ver os meninos, me sentei ao seu lado.

-- Agora você me conhece? – Ela me perguntou não disfarçando. – Não parecia antes de ontem...

-- Júlia, eu sei que eu fui... Eu fui uma filha da puta com você... – Ela levantou a cabeça meio assustada. – Eu
não queria ter feito aquilo... Queria me desculpar com você e te explicar o que realmente aconteceu.

-- Não precisa... As pessoas se apaixonam por outras pessoas. Só queria saber pela tua boca, não pela da
Monique.

-- Pela Monique? Mas o que...

-- Ela me contou que viu você e a Nat se beijando antes do acidente na salinha do hospital... – Droga, bem no
dia que ela e a Nat tinham brigado. Monique vaca, por que não disse também que eu me separei na mesma
hora e ainda disse que estava com outra mulher? Isso esqueceu, né? – Desde quando vocês estão juntas?

-- Não estamos juntas e não estou com a Nat desde antes da minha filha nascer... – Me aproximei dela
segurando em suas mãos. Deixei nossos olhos se encontrarem. – Você precisa acreditar em mim. A Nat me
beijou de surpresa e eu não correspondi. Pelo que a gente viveu junto, Júlia,acredita em mim e...

-- E por que você não me contou aquele dia? – Fez uma pausa. – Eu acredito em você, mas me senti
enganada. E depois você me... É difícil perdoar...

-- Não fala isso Júlia... Eu gosto tanto de você... O problema é que... Eu sou muito burra Júlia! Tenho uma

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

boa intenção de fazer uma coisa e quando estou vendo sai tudo errado... Você é minha melhor amiga, você é
uma das pessoas que eu mais confio no mundo, que eu não tenho medo de deixar minha filha que é meu bem
mais precioso, você acha que eu iria querer te machucar?

-- Isso não importa agora Alice... – Fez uma pausa. – Eu já disse que acredito em você, só não queria ter
sido a ultima, mas eu acredito em você porque eu gosto de você Alice. – Eu sorri para ela contente. – Eu
tenho uma coisa para te pedir.

-- O que?

-- Vou ficar fora por um tempo, você toma conta da minha irmã e da cabana para mim?

Um tempo? Quanto tempo? Mais dez anos?

End Notes:

-- Júlia, vem cá, e meu cara de cirurgia pediatrica, já arrumou algum?

-- Não Alice, mas tem uma amiga que falei com ela em São Paulo, deusa da
cirurgia pediátrica, ela não pensa em se mudar para Silvéster, mas ficou de
indicar uns bons nomes e ainda dar uma passada aqui nas férias da namorada
dela pra dar uma olhada em como estamos indo com as melhores na UTI
pediátrica.

Deusa da cirurgia pediatrica. Eu conhecia uma deusa da cirurgia pediátrica de


nome em São Paulo chamada Manoela Caxias, ai da Júlia me aparecer com
qualquer cirurgião porcaria e vim dizer que é deusa.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Namorada? Quem é ela?

-- Amiga minha Manoela Caxias. - E me esclareceu. - Bonitona, conheci na


época dos cirurgiões sem fronteira hétero, não é que reencontrei com ela
namorando uma mulher? - Júlia deu uma risada. - Uma policial italianinha
brava, ciumenta que só vendo... Boa gente, chamada Giovanna, você vai
gostar delas.

________________________________________________________________

Bjooos

Pra quem leu minha outra fic, O Preço do Perdão vai dar pra matar um pouquinho de
saudade de Giovanna e Manu!!! Bjos!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 48 by Tamaracae

Author's Notes:

Capítulo dedicado as grandes colegas escritoras que temos aqui no abcles, que em
fazem apaixonar por personagens, conhecer lugares que nunca imaginaria conhecer!
Pra quem não sabe hj é dia do escritor, então, parabéns a todas!

Capítulo novinho em folha, caprichei no tamanho pq não vou postar no fds.

Motivo? Segunda é meu aniversário e vou usar o FDS pra comemorar, beijos, inté!!

Como se adivinhasse minhas dúvidas, Júlia tratou de me tranqüilizar:

-- Não são mais dez anos. Coisa de um mês ou menos. Só uns cursos de atualização profissional que eu
preciso tirar em São Paulo e já estou enrolando faz um tempo. Eu passei hoje de manhã para conversar com a
Nat e eu queria levar o João. As aulas dele só começam daqui um mês O curso é só de manhã à tarde e à
noite aproveito para ficar mais um tempo com ele.

-- Você ainda esta com raiva de...

-- Estou. – Ela me confessou. – Não com raiva, mas foi uma paulada que eu não esperava. Estou assustada.
Acho que você precisa desse um mês pra pensar melhor na sua vida e eu na minha. – Baixou os olhos. –
Depois da viagem a gente vê o que faz de nós.

-- E eu posso passar o dia aqui com você hoje? Como amiga? – Para quebrar um pouco o clima pesado que
tinha ficado eu brinquei. – É minha boa ação do dia... Sei lá não queria passar por esse momento tão difícil
que é a chegada aos quarenta assim, solitária, sem ninguém. – Dessa vez surgiu aquele sorriso lindo, matreiro,
divertido e abusado que eu era fã, sincero, como se ela voltasse a se sentir a vontade comigo. Eu percebendo
o resultado ao meu favor continuei brincando. Peguei o celular e finge que estava fazendo uma entrevista. –
Então Júlia,como é se despedir da juventude?

-- Vai cagar, Alice! – Ela devolveu rindo. – Daqui três anos te respondo ainda mais gostosa do que estou
hoje! Quer apostar?

Oh meu Deus será que era possível? Ela estava um delicia enfiada em shortinho jeans com uma blusinha
branca de malhação. Se daqui a três anos melhorar vou ter que trancar essa mulher em casa. Não respondi
porque os meninos chegavam eufóricos do futebol pedindo suas camisas e as garrafinhas d’água que estavam

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

com nós duas..

-- Tá jogando bem hein moleque?! – Júlia brincava com Lasanha. Ele era bom mesmo, até em peneira desses
clubes de futebol. – Aproveita essa fase meio ruim ai do Neymar...

-- Jogo normal tia Júlia... – Lasanha respingou um pouquinho de água em João. – Esse aí que é ruim de bola
mesmo... – João fez uma carinha invocada.- Quer que eu faço um gol pra você, tia?

-- Precisa desse mel todo? Puxa saco de mãe dos outros!

-- E precisa dessa dor de cotovelo toda? Coisa ciumenta!

Não passamos o dia inteiro lá na Duarte. Decidimos passear com as crianças para comemorar os trinta e sete
anos de Júlia. Eles quiseram ir até uma festinha itinerante que estava tendo em Silvéster com brinquedos,
barraquinhas e passamos o dia inteiro lá brincando e comendo besteiras. Ainda encontramos com o Bruno
junto de Rebeca aproveitando o horário do lanche para fugirem um pouco do hospital.

Eu amava carregar Heleninha no colo, mas ela estava virando um chumbinho de tão pesada. Aproveitando
que Bruno e Rebeca resolveram treinar para ser papais e os meninos estavam distraídos brincando em uma
parede de escalação eu corri para comprar dois ingressos e decidi seguir para meu brinquedo preferido. Claro
que como toda medrosa eu amo andar de roda gigante que não faz nada e só fica girando e girando. Antes de
Júlia tentar escapar, fui mais rápida e a puxei pela mão e entramos na fila.

-- Sabia que o maior público dos parques de diversões são crianças e por isso os brinquedos são destinados
a eles, Alice? - Júlia me questionou um tanto insegura quando chegou nossa vez de embarcar naquelas gaiolas
coloridas da roda gigante. Percebi um tremor em suas pernas. – Alice, você sabe o quanto de peso cada
gaiolinha dessa agüenta? Não estou te chamando de gorda, mas é que eu sou alta e pesadinha e...

A voz de Júlia simplesmente desapareceu quando o motor começou a funcionar e a roda se movimentou para
dar o primeiro giro. Ela nem piscava, se segurava nos canos da gaiolinha como se estivesse despencando do
Everest e ela murmurava algo inaudível. Só consegui escutar um “graças a Deus” no final, não agüentei e
comecei a rir.

-- Respira... Vai dizer que você tem medo de altura?

-- Não, atravesso o Brasil de carro e moto porque gosto de criar calo na bunda com essas estradas
esburacadas. – Outra parada para mais duas pessoas entrarem. Júlia abriu os olhos apavorados. – Ih, pifou o
motor?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Ai meu Senhor... Reaja mulher! – Eu me segurava para não rir, percebi sua mão tremendo e entrelacei seus
dedos nos meus, Júlia baixou os olhos e suas bochechas ruborizaram. Que gracinha ela envergonhada! – Dá
uma olhadinha lá embaixo...

Meio desencorajada ela atendeu ao meu pedido. Já estávamos no pico mais alto da roda. As pessoas já
estavam bem pequeninhas e dava para ver uma boa parte da cidade.

-- Não é legal ver as pessoas e ficar assim pensando no que se passa na cabeça delas, na vida de cada um,
como são suas histórias?

-- É a ultima olhadinha que dou lá embaixo. Qual é idéia, me matar no dia do meu aniversário? Falta muito pra
acabar? Por que você não podia ter me dito isso no carrinho de bate bate ou no trenzinho?

Ai, sapatão não é sapatão se não for dramática, viu! Ficamos no parquinho até umas seis e meia. Ela me levou
até em casa e depois fui trabalhar. Eu respeitei sua decisão em darmos um tempo para pensar melhor. Não
era o ideal, mas era melhor que ouvir um não. Por que não falei da Dona Abgail? Eu me preparei para falar
quando ela me deixou em casa, mas simplesmente perdi a coragem quando a vi entrando na cabana com João
desmaiado de tanto sono em seu colo, após colocá-lo na cama, cheguei a ouvir Júlia sussurrar no ouvido de
seu filho.

-- Obrigada, filho. Nunca vou conseguir te dar algo maior do que o presente que você me deu hoje, mas se
alguém tentar te tirar de mim, eu juro que sou capaz de fazer uma loucura. – Fez uma pausa. – Você eu juro
que não perco jamais.

Se eu falasse o que aconteceu, tenho certeza que Júlia ia dar um senhor “chega pra lá” na velha e ia acabar se
arriscando sem saber. Ia ser sacanagem com ela e com João também. Só tinha duas formas de se safar da
Dona Abgail, ou colocando o dela na reta ou achando as tais provas mergulhando a fundo na vida dela. E foi
o que eu decidi fazer dentro daquele um mês.

Julia e João partiram dois dias depois de seu aniversário. Eu achei que ela ia embora sem se despedir de mim,
mas morri de felicidade ao encontrar os dois na minha porta. Primeiro João veio me abraçar, o enchi de
beijos, aqueles dias ele andava me matando de orgulho colocando a safada da avó no lugar dela.

-- Heleninha!

Minha mãe entrava na sala atrás Heleninha que assim que ouviu a voz dos dois veio engatinhando do corredor
até a sala. João se sentou no chão para brincar com ela, Júlia esboçou um sorriso e me perguntou.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Posso entrar? Queria ver a Heleninha... Tô com saudade dela.

-- Você não precisa pedir... – Tomei sua mão. – Vem.

Enquanto João e Heleninha brincavam no quarto e mamãe fingia qualquer coisa na sala e ficava de olho na
nossa conversa, nós duas tomamos café. Falávamos sobre assuntos triviais e algumas de trabalho, sobre a
Heleninha, sobre a cabana, ela brincava comigo, mas nada de falar de nós duas. Na hora de despedir levei os
dois até o quintal. Enchi mais uma vez João de beijos.

-- Juízo viu menino, não arranjar nenhuma namorada em São Paulo!

-- Eu não, vai que depois elas me pedem, pra fazer DNA? – Nós três caímos na gargalhada pelo tom
preocupado de João enquanto entrava no carro. - É verdade, o Leandro falou que uma menina que estava
namorando com ele pediu exame de DNA!

-- Se esse moleque me fizer virar avó antes dos 40... O que pode ser pior? As rugas ou eu virar uma
Gretchen e quando sorrir assustar as pessoas?

-- MANHÊ, VEM LOGO!

Nos entreolhamos e ela estendeu a mão para um cumprimento formal seguido de um tchau. Só não foi mais
xoxô do que minha cara esperando por coisa melhor. Obriguei-me a dar um sorriso enquanto ela dava uma
espiada pelo retrovisor e fiquei acenando tchau enquanto o carro se afastava da minha casa. Nem andaram
três metros e o motor parou de funcionar. Só podia ser a cabeça de vento da Júlia que esqueceu alguma coisa
dentro do carro. E tinha esquecido mesmo. De se despedir de mim com decência.

Júlia desceu correndo e veio me dar um abraço delicioso desses que não dá vontade de não sair nunca mais.
Eu que não sou besta me aproveitei e devolvi na mesma intensidade. Fiz um carinho em seu rosto, deixei meus
dedos desenhar suas feições.

-- Eu vou sentir sua falta... – Sussurrei em seu ouvido. Senti sua pele se arrepiando sobre meus ombros. –
Desculpa mais uma vez... Pensa com carinho nesse um mês...

Júlia deu um sorriso torto que me fazia derreter mais do que picolé no verão.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Não quero fazer outra coisa. – Abri meu melhor sorriso. – Eu não sei o que aconteceu, quando você se
sentir preparada é só me falar. – Me deu um beijo no rosto. – Eu também vou sentir sua falta...

O restante daminha noite fiquei pensando no que ela me falou e com um pouquinho mais de esperança em nós
duas.

Já tinha feito uma semana que Júlia e João haviam partido. Eu me dividia nas minhas atividades de mãe e
médica. Nessa uma semana passaram um total de quatro candidatas a babá para ficar com Heleninha. A
primeira era uma senhorinha simpaticíssima chamada Lídia que amou Heleninha assim que a viu.

-- Uma gracinha sua filha...

-- Obrigada.

-- E o pai dela? Ele chega que horas?

-- Na verdade, Dona Lídia eu crio a minha filha sozinha. O pai dela não reconheceu a Helena e eu prefiro que
ele não participe da vida da minha filha. Eu consigo arcar com a maioria das despesas necessárias, nem
financeiramente ele me banca.

-- Mas que homem safado, só soube procurar você na hora de fazer? Mas isso não é problema viu menina,
você ainda é garota, e linda, vai arranjar um bom marido que lhe banque e ainda esfregar na cara daquele
pilantra.

Como e já tinha começado a falar a verdade resolvi terminar. Oras, um dia ela ia chegar em casa e encontrar
a Júlia ou outra mulher me dando um beijo na minha boca antes de ir para o serviço, era bom eu avisá-la. Não
ia me esconder na minha própria casa.

-- Então dona Lídia, na verdade eu já namoro...

-- Viu minha filhinha, falei que você arranjava um homem bom e...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Eu namoro uma mulher.

-- Mas isso é pecado! Você é doente menina, precisa arranjar um homem e ir se tratar. Você vai criar uma
menininha inocente dessas em um antro pecaminoso! Por você não vai a uma igreja? Vai ver é espírito que
grudou em você!

Não agüentei e cai na gargalhada de tão ridícula que era aquela cena. Que mulher idiota. Eu só queria o
serviço dela, meu dinheiro não ia valer só porque eu gostava de mulher? Quanta besteira! A velhinha foi
ficando nervosa, ficando nervosa e começou a me xingar de sapatão pra baixo. Minha mãe que deu jeito de
expulsa-la de casa e dar o recado para nunca mais aparecer na minha frente.

-- ABSURDO! Nós sendo ofendidas dentro da casa por essa mulher horrível enquanto isso aquele velho
careca e barrigudo do seu pai dançando com a aquela mulherzinha.

O meu pai com sua croupier era uma espécie de “tudo culpa da Rita” para minha mãe. Problema da
babá que saiu correndo de casa, estava feliz e morrendo de orgulho demais depois que minha mae
soltou:

- Quem aquela mulherzinha pensa que é para chamar minha filha de doente e minha nora de espirito ruim?
Nem de graça quero essa mulher dentro de casa desrespeitando você e a Júlia entendido?

Ela tinha chamado a Júlia de nora.Nora! Minha mae era uma linda mesmo. A segunda babá era uma mulher
de 44 anos chamada Brenda. Não deixei nem que ela entrasse direito. Veio acompanhada dos quatro filhos
que brincavam no quintal de casa com as roupas do colégio. Um dos meninos sem querer derrubou a mochila
no chão. Quando foi se abaixar ele próprio foi ao chão com um tabefe que levou da mulher.

-- Seu idiota, tem a mão de alface?! Sujando toda essa porcaria! – O menino abriu a boca para chorar. – E
se chorar vai apanhando daqui até chegar em casa, imbecil, retardado! Não sou tua empregada não pra ficar
com o umbigo no tanque esfregando tuas coisas, imundo!– Eu estava com Heleninha no colo, me agarrei a
minha filha. Ela voltou a falar comigo. – Então, qual é o perfil mesmo de babá que a senhora quer?

Uma que não espanque crianças, a principio. Dei uma desculpa qualquer e despachei aquela louca rapidinho.
Eu que não ia deixar minha gordinha com aquela monstrenga.

A terceira babá... Na verdade não era uma candidata. Ouvi um barulho na porta de casa, fui abrir pra ver
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

quem era e encontrei Rebeca puxando Serginho pela orelha para dentro da minha casa.

-- Ele vai querer a vaga de babá!

-- Que?

-- Ele vai querer a vaga! – Rebeca repetiu. Serginho fechou a cara. – Eu não me mato naquela residência para
sustentar vagabundo! Você comeu a porcaria do danoninho, você arranje um emprego e um salário para
comprar outro danoninho! To cansada, moleque! Alice, quanto você vai pagar?

-- Mil e os direitos trabalhistas. Meu pai que vai pagar. – Respondi ainda meio abobada. – Mas ele sabe olhar
criança?

-- É pra olhar aquela menina que vive mijando nos outros? – Serginho fez um cara de nojo. – Nem morto!

A quarta babá se chamava Malu e tinha 33 anos loirinha de olhos castanhos. Sem filhos, não fumava, não
tinha problemas com lésbicas, boas referências, aceitou o horário integral e ainda por cima Heleninha gostou
dela e ela da Lelê. Decidi dar uma experiência de um dia e fui trabalhar junto com mamãe. À noite quando
voltei em casa estava tudo muito silêncio. Meu anjinho já estava dormindo e a casa impecável, nem parecia
que tinha criança. Malu me esperava na cozinha com a mesa de jantar a postos e um cheiro delicioso de
comida caseira embriagando o meu olfato.

-- Malu, você é incrível. Nem precisava dar um jeito na casa, era só para olhar a neném e... Olha, você fez
costela assada? Nossa, como esta cheirando bem isso...

-- Eu gosto de caprichar, doutora Alice...

-- Obrigada, mas pode me chamar só de Alice, doutora só no hospital... Eu vou no quarto e já te dou o
dinheiro da condução, só um minuto...

Quando voltei do quarto com o dinheiro trocado, Malu me esperava na sala. A iluminação a meia luz e ela
completamente nua com uma taça na mão. Ela sorriu para mim, sua mão direita veio pelo meu pescoço e
desceu escorrendo de maneira provocante até a barra da minha calça.

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-- Você é uma gracinha, sabia? –O que essa louca vai fazer comigo agora? Me roubou um selinho. – Uma
delicinha que vai ser minha... E vai fazer o que eu mandar...

Nessa hora me senti aquela mulher da novela que o cara chega e fala pra ela:

-- Deite, vou lhe usar...

Olhei aquela desconhecida pelada na minha frente e do nada me veio uma crise de riso monstra. O meu Deus
do céu é pecado uma mãe querer contratar uma babá para sua filha? Custa mandar alguém normal? A mulher
lá pelada na minha frente me olhava com uma expressão intrigada.

-- Desculpa, eu...

Só fui acordar na hora que a doida entortou minha cara com um tabefe monstro.

-- Palhaça!

Juntou as roupas e saiu de casa sem nem receber. Droga, lá se foi uma boa babá.

____________________________________________________________________

No dia seguinte a minha desastrosa entrevista com as babás voltei ao meu trabalho sem contratar ninguém e
fazendo o velho esquema de revezar Heleninha com minha mãe e pegando os prés e pós operatórios dela.
Nat e eu nos víamos com freqüência devido a essas visitinhas extras e nossa amizade de quando
namorávamos acabou voltando com força total.

Já disse um zilhão de vezes que ela não era minha inimiga. E eu queria der uma atenção especial a Nat por
conta de sua mão que volta e meia voltava a tremer.

Quem andava também dando uma atenção especial para Nat era Silvinha. Certo dia cheguei de surpresa no
quarto para levar um jogos para Nat se distrair e encontrei ela com minha prima, As duas meio que dividiam a
cama do hospital. Como a cama era estreita, silvinha tinha que praticamente ficar de conchinha com Nat.

-- Eu vim trazer aquele jogo mini-detetive que você tinha me falado... – Sorri achando graça da falta de jeito
das duas. – Não queria atrapalhar...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Alice, eu já estava de saída e...

-- Fica Silvinha, não queria atrapalhar, eu tenho que fazer outras coisas mesmo.

E sai do quarto ainda me divertindo com elas. minha vontade mesmo era voltar para o quarto e ficar enchendo
o saco cnatando "Tá namorando, tá namorando..." Eu acharia legal elas juntas. A retardada da Silvinha faria
Nat perceber que a vida não é só trabalho e Nat puxaria o freio de mão nos surtos da minha prima e
ficaríamos todas felizes e em família. Tudo seria perfeita se não tivesse algumas arestas.

A primeira, senti que Silvinha se aproximou de Nat após a saída do anel e Cíntia ter finalmente ficado noiva
de Alê (não me perguntem quem e como pegaram o anel de do vaso porque fiz questão de não saber dos
mínimos detalhes). Não era pecado a Silvinha tentar esquecer Alê com outra pessoa, quem poderia dizer que
ela não se apaixonaria por Nat ou que ela não era apaixonada pelas duas? O medo que eu tinha era das duas
se machucarem, mas com são maiores e vacinadas isso não cabia a mim se preocupar.

A segunda aresta era a bruaca velha que atendia pelo nome de dona Abgail. Mesmo sabendo que Nat já
estava interessada por outra, não me livrou da penitencia de ficar longe de Júlia. Mesmo eu usando o
argumento que nem eu e nem Nat estávamos mais interessadas uma na outra, ela ainda tinha uma defesa.

-- A Júlia colocou a minha filha nesse estado. Ela esta em uma cadeira de rodas, pode ficar manca pelo resto
da vida, pode não operar mais. E ela ainda esta colocando o meu neto contra mim! – Era maluca ou não era?
– Ela tem que pagar! E sua prima é uma menina volúvel... Logo ela esta com outra e mal ou bem a Natália
confia em você.

Ainda falando nessa louca, eu usava todo intervalo que eu tinha para descansar naquele hospital para me
dedicar a ela (Dona Abgail). Eu perdia horas e horas procurando em arquivos velhos, em salas vazias alguma
coisa que pudesse condene-la. Minha intuição me dizia que algo cheirava muito podre e se eu tivesse como
provar quem ela era, podia usar como moeda de troca e pegar as provas que incriminavam Júlia para mim.
Alguma coisa me dizia que aquele desprezo que ela tinha pelos filhos biológicos tinha uma explicação bem
maior do que apenas preferência. Só não sabia ainda por onde começar a desencavar.

Profissionalmente minha vida estava boa, eu era uma residente do segundo ano, ganhava elogio de meus
professores e encarregados, me interessava e tinha facilidade na maioria das áreas, mas algo estava me
grilando. Pouco antes de voltar a ativa ouvi uma conversa dos meus amigos de residência que não me saiu
mais da cabeça, eles falavam sobre as especializações que queriam seguir, todos estavam muito seguros.

-- A Nat voltando e a dona Vera atendendo aqui também vou ter as duas melhores professoras de
neurocirurgia de São Paulo. – Bruno que queria seguir os passos de Nat e ser neurocirurgião que fez a
observação.- Tenho certeza que Silvéster vira referencia nessa especialidade... Vai vim nego do Brasil inteiro
tomar aulas com a gente.

-- Pena que o “cara” da Nat sou eu, né, bucha de canhão? – Leandro devolveu presunçoso. – E ela não
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

esconde de ninguém.

-- Vocês que se matem por Nat, eu tenho o Gusmão, o Deus da cardio todos os dias me dando aula! –
Rafael disse enquanto terminava com seu almoço.

-- Mas a dona do hospital é uma obstetra, não se esqueçam. – Rebeca relembrou. – E a Dona Regina já me
garantiu que tira comida da boca dela, mas investe na maternidade e em toda UTI neonatal.

-- Grandes coisas, quem segura os pepinos e pega as melhores cirurgias daqui é a Júlia que desde sempre foi
a minha “a cara”.

Todos eles já tinham suas especialidades em mente. E eu? Quando eu morava em São Paulo pensei que
queria seguir cardio, mas depois me sentia tão... Sei lá... Falta de tesão fazendo aquilo. Duarte percebeu que
algo me incomodava e me abri com ela sobre esse lance de ainda não saber uma especialidade.

-- Alice, você ainda tem um ano para pensar nisso.

Eu não precisei de um ano para me decidir. Na verdade eu inconscientemente já tinha tomado uma decisão e
só percebi com a ajuda da minha mãe. Eu tinha me envolvido em um causa de um menino de quatro anos
chamado Maurício que precisava de uma cirurgia de emergência, pois corria o risco de perder uma das
perninhas.

O problema era que os pais eram contra a cirurgia por causa do risco e porque o menino estava assustado.
Depois de quase dez horas de negociação consegui fazer eles entenderem que era necessário e convenci o
Maurício a aceitar nossa ajuda. Graças a Deus e ao doutor Matias, cirurgião pediátrico chefe, correu tudo
bem.

-- Doutora Alice, sua cooperação no casal foi essencial. Esse menino deve a perna a você.

Dei um sorriso e acariciei Maurício que ainda dormia.

-- Ele prometeu que ia marcar um gol pra mim se ficasse com as duas pernas. – Mesmo ele ainda dormindo
me aproximei do ouvido de Maurício. -- Eu vou cobrar meu gol!

Depois do Maurício apareceram outros dois casos muito difíceis. Um desses a menina não resistiu e veio a
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óbito. É difícil olhar para os pais e falar que seu filho não vive mais. Todo mundo espera sempre o contrário,
nenhum pai se imagina enterrando o próprio filho.

-- Mas foi feito tudo, doutora Alice, as chances de...

-- Olha a Maria Eduarda foi embora com a certeza que todo mundo fez de tudo pra ela se curar.
Principalmente os pais dela que agiram da maneira mais correta e mais louvável possível. Eu tenho certeza que
ela teve um orgulho enorme de vocês.

Depois que os pais da Maria Eduarda se afastaram, mamãe veio falar comigo.

-- Você já tem uma especialidade Alice... – Fez uma pausa. – Você trata os seus pacientes como se estivesse
cuidando da sua filha, mas sabe que não é mãe deles. Consegue explicar algo que é extremamente difícil em
uma linguagem que a Heleninha entende. Tem paciência, tem firmeza para falar com os familiares, lidar com
pais... Filha, você é uma cirurgia pediátrica.

Depois que mamãe falou isso que me caiu à ficha. Eu sempre lidei muito bem com crianças, pediatria me
fascinava por conta da complexidade em lidar com os pacientes e ao mesmo tempo era divertido porque eu
falava à linguagem que eles queriam ouvir e eu me sentia competente no que fazia.

-- Ninguém mais é cirurgião pediátrico. – Isa foi a primeira a argumentar. Meus amigos e seus positivismos,
amo. – Pra que você quer pegar essa bucha?

-- Eu gostei. – Rebeca falou sorridente. – Eu ponho os bebês no mundo e Alice cria!

-- As crianças vão gostar. – Nat afirmou. Ela já estava andando de cadeira de rodas e Silvinha tinha levado
para dar uma volta pelo hospital. – Com esse sorriso da Xuxa...

-- As crianças odeiam a Xuxa. – Isa ainda argumentava. – Eu pelo menos odiava.

Sem infância! Para variar, minha sorte sempre aprontando comigo. Doutor Matias, chefe da cirurgia Pediátrica
iria se aposentar em um mês. Como não tinha ninguém altura para substituí-lo, o conselho do hospital estava
pensando em dar fim na UTI e não aceitar mais cirurgias pediátricas, ou seja, ia perder minha especialidade
antes de tê-la. Eu fui direto conversar com Deus. Quer dizer, com a Duarte que dava quase no mesmo.

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-- Se você um Deus da Cirurgia Pediátrica que queira assumir esse Vietnã mantemos ele aberto! Eu já tentei
vários, Alice, mas... Isso aqui é uma loucura, a Nat devia ganhar um prêmio. Ache alguém para por no lugar
do doutor Matias e o resto deixe comigo. Se você achar alguém até ver pra dar uma melhorada naquilo eu
consigo arranjar.

Só tinha uma pessoa que podia me ajudar a essa hora.

-- Júlia, tá muito ocupada?

-- Não. Estou passeando aqui com o João na 25, comprando umas coisas. Quer que te leve alguma coisa?

-- Quero. Um cirurgião pediátrico top de linha.

Depois de explicar meu problema para Júlia ela me prometeu que faria o possível para ajudar. Eu estava
morrendo de saudade da mina mexicana, do seu perfume, das piadas bestas, daquele sorrisão que ela dava
quando me via. Nos falávamos todo dia e pelo que eu sentia ela também sentia saudade de mim. Pelo menos
era isso que falava.

-- Eu fico passando por alguns lugares que a gente foi... Pensando no que você esta fazendo... Tá todo mundo
bem ai?

-- Tá sim...

Dias depois em um dos nossos telefonemas cobrei dela:

-- Júlia, vem cá, e meu cara de cirurgia pediátrica, já arrumou algum?

-- Não Alice, mas tem uma amiga que falei com ela em São Paulo, deusa da cirurgia pediátrica, ela não pensa
em se mudar para Silvéster, mas ficou de indicar uns bons nomes e ainda dar uma passada aqui nas férias da
namorada dela pra dar uma olhada em como estamos indo com as melhores na UTI pediátrica.

Deusa da cirurgia pediátrica. Eu conhecia uma deusa da cirurgia pediátrica de nome em São Paulo chamada
Manoela Caxias, ai da Júlia me aparecer com qualquer cirurgião porcaria e vim dizer que é deusa.

-- Namorada? Quem é ela?

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-- Amiga minha Manoela Caxias. - E me esclareceu. - Bonitona, conheci na época dos cirurgiões sem
fronteira hétero, não é que reencontrei com ela namorando uma mulher? - Júlia deu uma risada. - Uma policial
italianinha brava, ciumenta que só vendo... Boa gente, chamada Giovanna, você vai gostar delas.

Júlia e Manoela se reencontraram em uma manha ensolarada de domingo no Parque do Ibirapuera. Júlia e
João estavam empinando pipa na beirada do lago quando escutaram um burburinho mais ou menos assim:

-- NÃO! NÃO, PERIGO! PERIGO!

Os dois olharam meio surpresos e viram então do que se tratava. Um labrador amarelo fugiu de sua correia e
os donos, uma moça morena de cabelos com ondas perfeitas e um menino aloirado da mesma idade de João,
corriam atrás dele antes que pulasse dentro do lago imundo no coração do parque. Todos pararam para ver
aquela correria. O cachorro só parou quando ouviu a morena gritar:

-- SAI DAÍ!

Como em um passe de mágica o cachorro veio ao encontro de seus donos abanando o rabo todo contente.

-- Viu Pedrinho, eu falei pra sua tia que o cachorro acha que esse cachorro é maluco, ele acha que o nome
dele é Sai Daí! E... – A morena viu algo na boca do cachorro. Tentou pegar. – Não Perigo, eu não quero
brincar, mazza ferrata!

Enquanto ela lutava para tirar o objeto da boca do cachorro, uma loirinha de uns trinta e poucos anos usando
roupas de ginástica se juntou a morena e a Pedrinho. Sentou-se ao lado deles.

-- Onde você estava, tia Manu? – Pedrinho perguntou a médica loirinha. – Demorou pra alcançar a gente...

-- Me desculpando com a mãe da menina que o Perigo derrubou no chão. E... – Disse jogando a água da
garrafinha no rosto e na boca. Estava vermelha, ofegante. Manoela se cortou ao ver aquela cena inusitada.
Giovanna e Perigo simplesmente disputavam um... – Isso é um...

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Giovanna finalmente conseguiu arrancar o objeto da boca do cachorro. A italiana arregalou os olhos,
acompanhada pela boquiaberta Manoela e Pedrinho. João e Júlia assistiam tudo de camarote segurando o
riso.

-- Um pênis de borracha? Mas de quem é...

Giovanna não conseguiu concluir sua pergunta pois o dono do objeto, um senhor gordão que parecia o
Maradona lhe arrancou das mãos. As duas encararam o senhor. Ele estava acompanhado de um sujeito
magrinho, pelas alianças dava para ver que eram esposos.

-- Com licença! – Rosnou bravo e virou as costas tomando seu caminho.

Manoela e Giovanna não aguentaram e tiveram uma crise de riso. Júlia logo percebeu que se tratava de um
casal, também usavam alianças na mão esquerda. Sorriu simpatizando com a família.

-- Mais uma para dieta dele, dois tênis meus, um chinelo, o mangá do Pedrinho, o sabonete da banheira... –
Giovanna contava nos dedos os itens que Perigo já tinha devorado.

-- Aquele minha calcinha preta que tinha os coelhinhos em branco...

-- Ele comeu? Filha da mãe, adorava aquela calcinha... E a cortina horrível que minha mãe deu de casamento
continua lá intacta. As vezes penso em passar carne crua na cortina pra ver se ele come... – Manoela sorriu
revirando os olhos. Deu um beijinho em Giovanna. - Cadê o Pedrinho?

-- Brincando com o menino ali...

João logo tratou de fazer amizade com Pedrinho que comandava Perigo.

-- Siede Pericolo! – Perigo obedeceu a Pedrinho e se sentou. – Ele só não sabe parar quando esta correndo.
E fica descontrolado quando ve água porque ele gosta de nadar...

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-- Da hora... – João perguntou interessado. - E você que ensinou ele obedecer em italiano?

-- Minha tia Giovanna, ela fala italiano...

Júlia se aproximou dos meninos. Manoela que estava de olho no sobrinho logo a reconheceu.

-- Júlia?

Júlia abriu um sorriso.

-- Doutora Manoela Caxias, achei que eu envelheci tanto que não ia me reconhecer... – Manoela se levantou.
– Quanto tempo, Manu?

-- Quatro anos... Eu ia fazer 29 e você...

-- Esquece, por que todo mundo que me vê só fala isso? – Manu deu uma risada. – Vai ficar parada mesmo?
Dá um abraço aqui, não mordo não...

-- Boba!

Manu e Júlia se conheceram no ultimo ano que Júlia frequentou o Médicos Sem Fronteira. As duas ficaram
por seis meses no Haiti e depois cada uma foi para seu canto, mas se tornaram amigas. Sempre trocavam e
mails e as vezes conversavam por telefone. Manu foi uma das poucas pessoas que soube a história toda de
Júlia nesse período de dez anos. As duas foram interrompidas pelos pigarros de uma invocada Giovanna que
de braços cruzados estava à espera de uma explicação.

-- Júlia, essa é minha mulher, Giovanna. – As duas estenderam e apertaram as mãos. – Gi, essa é a Júlia, a
gente trabalhou juntas... Aquele ali é meu sobrinho Pedro.

-- Cara, invejei teu pique agora atrás do cachorro... – Júlia confessou. – Dou um desses e baixa SAMU na
hora... – Giovanna deu uma risada desarmada. João, Pedrinho e Perigo se aproximaram. – Manu, esse é o

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João... Meu filho...

-- Nem precisava falar... O menino é a tua cara. – João e Giovanna se cumprimentaram com o tradicional
tapinha nas mãos seguido de um soquinho. – Beleza?

-- Suave... Da hora teu cachorro. Você treinou sozinha?

-- É... Só que ele ainda é filhote, não entende muito bem. Tentei treinar ele com os outros cachorros no canil
da polícia, mas o Perigo não leva jeito pra cão de guarda.

-- Você é policial? – Giovanna fez um gesto afirmativo. – Que nem meu tio Gabriel, né mãe? – Virou-se para
Giovanna. Ele é delegado.

-- Tentei ser jornalista, mas tranquei a faculdade... Eu gosto de ser policial, adoro o que eu faço.

Do outro lado Pedrinho interrompia a conversa de Manoela com Júlia com uma reclamação.

-- Tia, a gente não vai almoçar? To com fome!

-- Vamos sim... Júlia, vocês almoçam com a gente em casa? Os meninos podem brincar mais com o Perigo e
na piscina também... – Júlia pensou em negar para não dar trabalho a amiga, mas João fez um gesto dizendo
que queria ir. – Não aceito um não como resposta!

-- Então está resolvido! – Júlia simplificou. – Nós vamos.

-- Então pode mos ir assim que... – Giovanna se cortou. Bronqueada. – Que esse cachorro porco parar de
lamber os pés das crianças com a boca do pênis de borracha que foi no...

Antes da policial completar a frase, Júlia e Manu rapidamente cobriram os ouvidos dos meninos. Só então
Giovanna percebeu sua gafe.

-- Desculpa! Cazzo!
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O jeito que ela falou foi tão engraçado que Júlia e Manu não agüentaram e caíram na gargalhada. O almoço
aconteceu no apartamento de Manoela que agora também era de Giovanna. Júlia e João não eram os únicos
convidados do casal. Ainda receberam a visita de mais cinco pessoas, Karina, Frajola, Beatriz, Paolo e Títila.
Júlia foi notando que a máscara arredia de Giovanna foi caindo aos poucos. Quando chegaram ao
apartamento, Giovanna já se demonstrava mais a vontade. Quem se animou com a presença dos amigos de
Manu foi Paolo. Não tirava os olhos de Júlia.

-- Santo Dio! Que bellla!

Depois do almoço e de duas garrafas de vinho todos estavam mais soltos. As mulheres aproveitavam a piscina
com os meninos enquanto Paolo e Frajola jogavam vídeo game na sala. Manu foi se aproximando de
Giovanna por trás, fazendo carinhos e aplicando beijinhos de leve no pescoço.

-- Até já sei o que é isso... – Giovanna disse a Júlia. – A louça é toda minha, né amor?

Manu sorrindo tentou fazer uma expressão indignada.

-- Você esta me chamando de interesseira...

-- Não, mas quando você chega cheia de carinho assim, fazendo charme e manha é porque alguma coisa
sobrou para mim

-- Giovanna, deixa de marra, todas sabemos que a ultima palavra é sempre sua... – Karina disse, estava na
piscina junto da namorada e de Títila, as três repetiram em coro. – Sim, Manu!

E todas explodiram em gargalhadas. Enquanto Giovanna se levantava para encarar a cozinha e as meninas
brincavam com os pequenos na água, Júlia e Manu aproveitavam para por o assunto em dia.

-- Jurava que você era filha única, Manu...

-- Eu também até o Alex me descobrir... Uma pena não ter convivido com ele... Talvez... As coisas tivessem
um destino diferente. – Filosofou um tanto tristonha. – Mas e você com o João?

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-- É uma longa história complicada, como tudo na minha vida... Mas é melhor te contar isso outra hora com
mais calma. – Fez uma pausa. – Mas sabe que eu estava precisando mesmo falar com você?

-- Precisa de ajuda com alguma coisa?

-- Preciso. Que você tire um cirurgião pediátrico chefe da sua cartola. Minha vó esta fazendo uma
remanejamento de cargo na cirurgia pediátrica devido a uma aposentadoria que vai sair e decidiu mexer com
toda estrutura e investir pesado, mas ela precisa de alguém que tome conta de tudo por lá... E você é a melhor
cirurgiã pediátrica que eu conheço e que ainda tem muita lenha para queimar...

-- Uma proposta de trabalho? – Manu fez um gesto negativo. – Eu posso tentar te arranjar alguns contatos e
até ajudar a estruturar esse projeto que sua vó pretende fazer agora largar São Paulo...

-- Eu tenho então sua ajuda com os contatos e para estrutura?

-- Isso com certeza. Posso até fazer uma visita ao hospital e conhecer a famosa Dona Regina que você fala
tanto, a Giovanna sai de férias daqui dez dias, acho que ela ia gostar de viajar para Silvéster.

-- Fechado!

_______________________________________________________________________

Enquanto Júlia batalhava pelo meu Deus da cirurgia pediátrica em São Paulo, eu fuçava o hospital inteiro atrás
de podres contra dona Abgail, mas nada aparecia. Com o passar dos dias meus amigos perceberam que eu
estava diferente, mas eu enrolava todo mundo e dizia que era só impressão. Só não consegui enrolar Cíntia.

-- Alice, você é minha amiga, esta acontecendo alguma coisa e eu quero saber o que é.

Sei lá porque achei de abrir minha boca e expliquei a chantagem toda que estava sofrendo.

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-- Alice, e você vai deixar essa mulher manipular você? Fala sério, a Nat ta com a Silvinha.

-- Eu sei.

-- E qual é teu plano?

-- Do que você esta falando.

-- Alice, não sou besta de acreditar que você esta aceitando isso quieta. O que você vai fazer?

E mais uma vez abri minha boca contando minha ideia de chantageá-la de volta.

-- Eu acho que aqui você não vai encontrar nada... Se eu pudesse te ajudar de alguma forma...

-- Não, Cíntia, assunto meu. Nem sei porque contei isso pra você...

-- É que eu faço cara de amiga doente.

-- Então você esta proibida de fazer cara de amiga doente e... Droga, bipe, emergência, eu tenho que
trabalhar.

-- Vai lá!

Eu tinha que esperar uma ambulância que chegaria com um baleado. Tudo até então normal. Já estava
anoitecendo quando cheguei do lado de fora do hospital. Primeiro ouvi uns miados, depois o barulho parecia
um choro.

-- Acho que tem um gato preso dentro do latão de lixo. – Eu comentei com o Bruno. – Se eles chegarem faz
o primeiro atendimento que eu vou tirar o bichinho dali.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Quando abri o latão, não encontrei gato nenhum, mas sim uma saca de feira. Ela se mexia e chorava. Será que
o gatinho estava ali. Ao abrir a saca, a surpresa.

-- BRUNO! – E murmurei ainda assustada, em choque com tamanha crueldade. – Uma, uma...

Bruno se aproximou de mim meio confuso.

-- Que foi? Tem algum bicho ai e... Uma...

Fiz um gesto afirmativo.

-- Uma criança. Bipa para a Duarte e para doutora Paula. Alguém jogou um bebê de poucas horas no lixo do
Alonso Franco.

O neném não parava de chorar no meu colo. Não era para menos. Estava todo sujo e parecia com fome.
Pelo tamanho era prematuro. Eu sabia que tinha nascido há poucas horas porque ainda estava com o cordão
umbilical e sujo de sangue e placenta. Era um menino, moreninho de cabelos e olhos negros. Uma gracinha.
Junto de Paula, à nova obstetra, fui dar o seu primeiro atendimento. Tivemos que deixá-lo na incubadora.

Não demorou que a história se espalhasse e toda imprensa fosse se plantar na porta do Alonso Franco atrás
de notícias. Bruno, Paula, Duarte e até tivemos que dar entrevistas falando sobre como foi achado o bebê
Duarte também avisou a polícia e Gabriel foi fazer uma visita como delegado.

-- Precisamos de um mandado de busca para ver o banco de dados do hospital. Quero alguém assistindo as
filmagens enquanto interrogo todo o pessoal da maternidade. – Ordenava a sua equipe. – Vamos trabalhar...

Os pacientes também comentaram o dia inteiro sobre o bebê achado no lixo e a conversa não demorou para
chegar nos ouvidos de Nat. A história dela se repetia. Quando cheguei ao quarto senti que Nat esta
introspectiva. Evidente que era por causa do neném.

-- Alice, me faz um favor? – Me entregou um brochezinho minúsculo prateado que ela sempre carregava em
sua bolsa, só então reparei que era um leãozinho de prata. – Você pode colocar isso na roupa dele quando
ele puder usar roupas? – E me explicou. – Foi à única coisa que minha mãe biológica deixou comigo além das
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

roupas.

-- E você vai entregar assim, Nat?

-- Deu sorte pra mim, pode ser que de sorte a ele também. – Me mandou um meio sorriso. – Ele já teve sorte
quando foi encontrado por você.

Atendi ao seu pedido e espetei o brochezinho no meu próprio bolso para não perdê-lo.

Já passava das dez da noite quando uma das recepcionistas do Alonso Franco me passou o recado.

-- Doutora Júlia ligou.

-- Obrigada, vou ligar para ela.

Tudo foi tão corrido que nem deu tempo de ligar para ela e eu estava morrendo de vontade de contar aquela
aventura maluca. Júlia também devia ter novidades sobre meu cirurgião pediátrico. Há alguns dias ela já tinha
me contado sobre a conversa com Manu e que estavam estudando alguns nomes. Liguei para o hotel e pedi
para passarem para o quarto dela.

-- Alô?

-- Eu queria falar com a Júlia. Acho que passaram o quarto errado, desculpe.

-- Não, é esse quarto mesmo. – A mulher me garantiu, acho que deu um sorriso, o barulho era parecido. – É
a Alice que esta falando, não é?

-- Quem é que esta falando?

-- A Monique... – QUE? Ela estava com a voz diferente, por isso não reconheci o mugido antes. – Quer
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

deixar recado?

Quero, fala pra Júlia não olhar nunca mais na minha cara que vou esquecer qual é a cara dela!

End Notes:

Cenas do próximo cap:

Minha mãe também era uma praga. o que ela tinha que querer mexer nas
suas bugigangas agora? Puxei a porcaria da caixa e veio tudo ao chão.

-- Merda!

Quando me agachei para pegar os objetos caídos, algo me chamou atenção.


Era um objeto minusculo que brilhava. Peguei nas minahs mãos. Um leãozinho
prateado. Enfiei a mão no meu bolso, o leãozinho da Nat, identico ao da caixa
de joias da minha mãe.

-- Mãe, a senhora comprou isso onde?

Minha mãe deu uma espiada.

-- Não comprei. Seu pai deu pra mim. Deve ter comprado aqui em Silvéster,
foi na época que a gente se via só nos fins de semana porque ele fazia
faculdade aqui e eu em Sao Paulo. Por que?

Era isso que eu queria saber. Por que o meu pai e a mãe biológica da Nat
tinham duas jóias identicas? Será que os dois leões se conheciam?

________________________________________________________________

E aí, gostaram do retorno de Manu e Giovanna?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

O que a Monique estava fazendo no quarto da Júlia? Besteirinha?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 49 by Tamaracae

Author's Notes:

capítulo extra!!! Presente pra vcs!!!!

Ela estava tripudiando em cima de mim. Falsa, biscate! Lógico que eu não ia dar o gosto de vitória para
aquela infeliz. Contei de um até mil de trás para frente em tempo recorde, respirei fundo e com a voz mais
amável possível, respondi:

-- Não querida, quando eu quiser falar com a Júlia eu ligo novamente. Deixa um beijinho para o João, tchau,
tchau!

-- Tchau!

Não desliguei meu celular. Ele simplesmente se chocou contra a parede. Gabriel que entrava na salinha de
descanso se agachou para não ser atingindo e segundos depois lá estava meu aparelho todo estabacado no
chão.

-- Que é? – Perguntei a ele visivelmente irritada. – Quer alguma coisa?

-- Adoro recepções calorosas. – Gabriel disse em um tom debochado com um sorriso leve no rosto. –
Preciso te interrogar sobre o bebê.

-- Fui bipada quando estava conversando com a Cíntia, era para eu esperar uma ambulância que estava
trazendo um baleado para cá. Quando cheguei ao lado de fora ouvi um barulho parecido com miados de gato.
O Bruno estava comigo. Abri o latão de lixo achando que o gatinho estava preso e encontrei o bebê.

-- E depois?

-- Eu fiquei nervosa, surpresa... Pedi para o Bruno bipar a Duarte e a doutora Paula. A Paula pegou o bebê
dos meus braços e confirmou o que eu tinha dito, que ele tinha poucas horas de nascimento e encaminhou ele
para o primeiro atendimento. Foi isso.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Doutora Paula é aquela insuportável da nova obstetra? A Paulinha Pamonha? – De pamonha ela não tinha
mais nada pelo jeito. Muito pelo contrário, era uma mulher que chamava atenção por onde passava. Uma
beleza incomum, filha de negro com índio, os olhos puxados, os lábios bem desenhados, os cabelos escuros e
lisinhos, a pele morena jambo e o corpo bem distribuído andavam sendo muito admirada pelos rapazes e a
mulherada do Alonso Franco. - Aquela nerdizinha chata da classe da Júlia que ficava me olhando de
narizinho torto!

Pelo que eu sabia, ela era a nova obstetra, insuportável ficou por conta do Gabriel. Eles já se conheciam,
Paula fez faculdade junto com Júlia, apesar de não participar das farras que minha namorada era presente,
conhecia Gabriel de lá. Apesar de falar bem pouco com Paula, eu gostava do jeito dela. Era aquele tipo de
pessoa que explicava tudo nos mínimos detalhes. Era inteligente, engraçada, cortês com os alunos, mas não
tratava a gente feito crianças igual à Monique que só faltava dar um chocalho na nossa mão e brincar de
“achou”. Mais tarde quando estávamos mais próximas ela me confidenciou que de primeira também não
simpatizou com Gabriel.

-- Sujeitinho arrogante. Ficou me apertando para examinar o menino logo. O mesmo moleque chato e
pretensioso de sempre!

O encontro dos dois deve ter sido engraçado. Paula era metódica, meio sem noção, Gabriel como todo bom
ariano um impaciente por natureza. Uma batida de caminhão que saia mais ou menos assim:

-- Alguma coisa fora do normal, doutora?

-- Adultor longo bem desenvolvido.

Gabriel fechou-se em uma expressão preocupada.

-- Coitado. Quanto tempo ele tem de vida?

-- Adultor longo é a parte superior da perna dele. Eu quis dizer que apesar de ser prematuro, ele tem pernas
longas. – Gabriel fechou o punho e deu um soquinho na mesa. – Ele sofre de maus tratos.

-- Desconfio que o fato de ser jogado no lixo talvez implique com isso. – Gabriel rosnou irônico. – Será que
da para me responder se ele tem alguma doença herdada dos pais?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- As doenças hereditárias são classificadas em doenças monogênicas, doenças poligênicas e doenças


cromossômicas.

-- Em português, por favor...

-- As doenças hereditárias mais comuns diabetes, hemofilia, obesidade, hipertensão, alergias, síndromes...

-- Certo, e o que ele tem?

-- Até agora nada. – Gabriel quase caiu da cadeira Por que diabos ela não falou logo no começo? – A
maioria dessas doenças se desenvolve nos primeiros anos de vida, mas pelo que eu pude constatar nos
exames, apesar dos maus tratos é um bebê saudável. – Sorriu. – Vão se tornar um garoto forte!

Depois das perguntas sobre o bebê, Gabriel me dispensou finalmente do interrogatório. Era bom porque eu
estava precisando sair por ai, me entupir de comida (já que bebida eu não podia) e ficar pensando em umas
três mil maneiras diferentes para matar Júlia. Na hora de se despedir de mim, os olhos azuis do meu amigo
detiveram no bolso do meu jaleco.

-- Da pra parar de olhar para os meus peitos? Coisa mais desagradável...

Gabriel deu uma risada.

-- São lindos e eu não tenho preconceito com peitos lésbicos, mas na verdade eu estava de olhos no broche.
Isso é da Nat. Foi à única coisa que encontraram das roupas no dia que a mãe biológica deixou ela aqui no
hospital.

Assenti com a cabeça e expliquei.

-- Ela pediu para eu colocar no bebê quando ele saísse da maternidade. Vai demorar alguns dias porque ele
precisa ganhar peso e estar mais fortinho... – Fiz uma pausa. – Desculpa perguntar, mas o que vocês
encontraram da mãe dela? Ela disse que você ajudou a...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Nada que a orgulhasse. Ele disse em um tom reflexivo. – Era uma prostituta sem família que morava na
Vila Miséria. Nem sabia quem era o pai da filha. Quando soubemos da verdade ela já tinha morrido há alguns
anos em um incêndio.

-- E a Nat comprovou que era verdade como? Tinha alguma amostra de DNA?

-- Não, mas a história se encaixava por inteira. – A campainha do rádio de Gabriel tocou. – Paulinha
Pamonha... Tenho que voltar ao trabalho.

Meu dia de trabalho tinha acabado, mas minha cabeça não tinha descanso. Eu não conseguia tirar o
pensamento de Júlia e a voz da vaca da Monique parecia impregnada nos meus ouvidos como esses perfumes
baratos de camelo que acabam dando dor de cabeça de tão ruim. Pensando em mim, pensando em mim, bela
maneira de pensar em mim, hein dona Júlia?

Em São Paulo, Júlia nem sonhava que sua batata já estava estorricada com minha pessoa. Depois de mais um
dia de curso, corrida ao lado de Manu atrás de um cirurgião pediátrico e passeios com João, ela só queria
comer qualquer besteira e dormir. Tomou um banho demorado e se enfiou no roupão felpudo que o hotel
fornecia. De cabelos levemente úmidos saiu do banheiro e deu com aquela figura em seu quarto.

-- Monique, o que você esta fazendo aqui? – Júlia pergunta confusa. – Quem mandou você subir?

João, sem graça, vinha da cozinha do flat com um copo d’água. No momento que Júlia estava no banho e ele
na cozinha rolou aquela conversa “super agradável” minha com a Monique. Ela aproveitou para tirar uma
onda de amante com a minha cara e eu cai feito uma patinha. Logo ela desligou e lógico que não falou pra
Júlia que eu liguei. E eu, besta na notei que seu mugido estava diferente por causa da cachaçada.

-- Desculpa mãe... Eu que autorizei a entrada. – E se explicou. – O moço lá debaixo disse que ela estava
insistindo muito pra falar com você e que ela estava dizendo que não estava passando muito bem...

Monique abriu um sorriso.

-- Você esta deliciosa nesse roupão... – Droga, essa fala é minha! Monique tentou levantar, mas quase caiu.
Bem feito, vaca foi feita para andar de quatro, não tenho que inventar moda de andar com duas pernas. A
evolução não chegou ainda a esse ponto. Júlia a ajudou a se equilibrar. – Tão cheirosa Julinha...

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-- Pena que não posso dizer o mesmo... – Disse se referindo ao cheiro forte de bebida que vinha da boca de
Monique. - Quer dizer que beber um alambique inteiro significa passar mal agora? - Ajudou Monique a se
sentar em uma das cadeiras e ingerir o copo d’água que João havia buscado na cozinha. – Quem te disse que
eu estava aqui?

Monique não respondeu, começou a se esfregar em Júlia que se irritou. Com a cara fechada, usou sua força
física e imobilizou seus braços. Monique soltou um gemido de prazer irritando Júlia ainda mais.

-- Da para pelo menos respeitar o meu filho? – Firme. – João, você pode ficar lá embaixo por uns minutos?

-- Mas, mãe e ela... E se ela tentar te machucar...

Júlia deu meio sorriso tentando tranqüilizar João.

-- Eu sei me defender. - Pegou a carteira, tirou uma nota de cinqüenta. – Vai no MC Donalds aqui do lado,
compra alguma coisa para nós dois comer que eu vou ter uma conversinha com a Monique rapidinho.

João fez um gesto afirmativo e obedeceu a mãe. Quando se viu a sós com Júlia, Monique tentou partir para o
ataque e se jogou para cima dela. Júlia a empurrou com força contra a parede. Estava agitada, nervosa, com
raiva. Imobilizou seus braços.

-- Aiii... Amor...

-- CHEGA! Chega de Julinha, chega de amor! Entende de uma vez por todas, acabou! Não quero mais ver a
sua cara e vê se esquece da minha! Eu tentei ser maleável, tentei ser sua amiga, mas não dá! Me deixa em
paz, cara... Olha o teu estado...

Aparecer bêbada no hotel foi a gota d’água de uma jarra que estava para transbordar há tempos. Desde
Silvéster Monique estava aprontando coisas desse tipo para mim e para Júlia. Após nos descobrir, ela
praticamente pirou. Ligava no meio da noite várias e várias vezes, seguia Júlia e teve um dia que até vimos seu
carro parado próximo a cabana de madrugada. Eu estava ficando com medo dela, até que Júlia a chamou
para uma conversa definitiva e Monique decidiu recomeçar sua vida em São Paulo.

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-- Lembra que você prometeu que não ia me perturbar mais?

Monique fez um gesto afirmativo, chorava, mas não deu o braço a torcer.

-- Droga, por que você tinha que vir pra São Paulo?

-- São Paulo é enorme, isso não nada haver... Eu quero saber como você me achou aqui?

-- Liguei para o hospital, a Lisandra me falou. – Júlia revirou os olhos irritada. – Ela é minha amiga, ela gosta
de mim e...

-- Se gostasse ela falaria o que eu vou falar pra você agora: vê se me esquece! – Fez um pausa buscando
paciência. – Monique, olha pra você, você é uma mulher linda... Inteligente, competente no que faz... Pode ter
o cara ou a mina que quiser... Eu me apaixonei por outra mulher! Enfia isso na cabeça...

-- O que aquela pirralha tem que eu não tenho? – Senso do ridículo. Frescor. Jovialidade... Eu posso operar
um milhão de coisas, mas não vou fazer isso que papai me ensinou a ser uma pessoa modesta e superior.
Monique puxou Júlia pelo colarinho e tentou beijá-la. – Fala! Me diz! É o meu corpo, é a minha idade é...

Júlia cabisbaixa fez um gesto negativo.

-- A Alice é até menos mulherão que você... - Como assim a Alice é menos mulherão que você? Me chamou
de magrela na lata assim? – Mas... Ela é linda... E quando eu estou com ela... Eu me sinto menina de novo. –
Foi à vez de Monique baixar os olhos. Júlia abriu um sorriso. - Como eu posso dizer... Parece que eu achei
meu lugar. Quando eu estou deitada com ela de conchinha e sinto o corpo todo dela no meu, o meu peito
batendo perto do ouvido dela não dá vontade de sair dali por mais nada no mundo porque eu me sinto
completa... E mesmo quando tem uma mulher linda e maravilhosa na minha frente, me querendo, não dá
vontade porque sempre que eu fecho os olhos é a imagem dela, deitada com a cabeça no meu peito, com as
pernas entre as minhas, acordando e abrindo aqueles olhinhos azuis bem devagar no mesmo tempo que sorri
formando uma covinha na bochecha é que vem na minha mente... E é a segunda imagem mais sexy do mundo.

-- Ah, tem uma primeira imagem?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Júlia fez gesto afirmativo.

-- Tem. Quando ela usa a minha camisa velha do Nirvana sem nada por baixo, os cabelos meio bagunçados e
vai de um cômodo para o outro andando na pontinha dos pés porque o chão está frio... – Ai, amor, coisa
mais linda de se falar, se eu não estivesse me ocupando de pensar nas matérias de matar você acreditando
que você e essa idiota da Monique tinham um caso, eu juro que pegava a estrada de São Paulo com a camisa
do Nirvana só pra você. – E...

-- Você ta falando isso pra que? Pra me fazer de ridícula?

-- Você já se fez de ridícula!Estou falando isso tudo pra você entender que eu estou apaixonada e não é por
você! Não tem mais espaço na minha vida para outra mulher. O máximo que eu posso ser é sua amiga e isso
não é pouco...

-- Mas Júlia...

-- Você quer que eu chame um táxi agora ou você prefere que eu ligue para um conhecido seu te levar
embora? Acabou a nossa conversa!

Monique não respondeu nada. Irritada e já mais firme puxou sua bolsa e saiu. Júlia não notou, mas quando ela
puxou a bolsa, levou o celular de Júlia junto consigo. Antes de bater a porta com tudo cruzou com João. Ele
com duas sacas do MC Donalds na mão não falou nada, só observou ela entrando no elevador fula da vida e
o mesmo se fechando levando Monique embora.

-- Saiu nervosa, hein?! – Júlia fez um gesto afirmativo. – Trouxe os lanches...

-- Obrigada... Eu tenho que me desculpar com você... Não queria que você visse isso...

-- É o preço de ter mãe gata... Todo mundo quer ser minha madrasta. – João falou de um jeito displicente,
Júlia deu uma risada enquanto desembrulhava os lanches. – Mas vem cá, ta amarradona na Alice, né? – Júlia
parou o que estava fazendo e o encarou com os olhos arregalados. – Vai dizer que vocês achavam que eu
não sabia?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Pode parecer ridículos, mas perto do João procurávamos nos fazer de boas amigas apenas. Amigas que
assistem filme juntas, que dividem guarda roupa, que trocam de roupa uma na frente da outra sem problemas,
mulher tem dessas coisas.

-- Eu queria te explicar com mais calma... A Alice e eu...

João deu uma risada.

-- Não sou burro... Eu sei que ela não esta mais com a tia Nat e eu já sabia que você gostava dela...

-- E não tem problema pra você?

João fez um gesto negativo.

-- Não, euy gosto da Alice, melhor que essa chata aí... A tia Nat pode namorar com o tio Gabriel ou com a
Silvinha, quer dizer, ainda lucro com um tio da hora... – João deu uma risada. – Mas você não me respondeu,
ta amarradona na Alice, né? Fica olhando pra ela daquele jeito...

-- Que jeito...

-- Assim... – João exagerado forçou um olhar que ele julgava ser apaixonado fazendo uma cara muito
engraçada. Júlia abriu um sorriso, para finalizar ele enfiou a mão no peito e murmurou. – Ai ai... Alice...

-- Moleque abusado! Vai limpar esse nariz sujo...

-- Que nariz sujo?

Júlia não agüentou e resolveu dar fim aquela conversa. Passou um pouquinho de molho no dedo e sujou o
nariz dele com molho.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Esse aí...

-- Boba!

Enquanto eles estavam uma boa em São Paulo, eu chegava em casa completamente morta. De cansaço, de
raiva, de tudo. Para não dizer que eu estava sendo injusta, eu liguei mais uma vez, dessa vez para o celular e
novamente a vaca da Monique me atendeu dizendo que Júlia estava dormindo. Manobrei o carro de qualquer
jeito para dentro do quintal e entrei em casa. Heleninha estava na sala, sentadinha sobre um edredon que
estava no chão explorando seus brinquedinhos. Ouvi um barulho vindo do quarto.

-- Mãe?

-- Alice, me ajuda aqui!

Ótimo! Mamãe as vezes me dava mais trabalho que a Heleninha. Cheguei no quarto e lá estava ela cai não cai
dependurada na cama tentando pegar algo em cima do meu guarda roupa.

-- Vai ficar parada olhando a mãe estabacar no chão?

-- Deixa que eu faço isso, mãe...

Minha mãe também era uma praga. O que ela tinha que querer mexer nas suas bugigangas agora? Puxei a
porcaria da caixa e veio tudo ao chão.

-- Merda!

Quando me agachei para pegar os objetos caídos, algo me chamou atenção. Era um objeto minúsculo que
brilhava. Peguei em minhas mãos. Um leãozinho prateado. Enfiei a mão no meu bolso, o leãozinho da Nat,
idêntico ao da caixa de jóias da minha mãe.

-- Mãe, a senhora comprou isso onde?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Minha mãe deu uma espiada.

-- Não comprei. Seu pai deu pra mim. Deve ter comprado aqui em Silvéster, foi na época que a gente se via
só nos fins de semana porque ele fazia faculdade aqui e eu em São Paulo. Porque?

Era isso que eu queria saber. Por que o meu pai e a mãe biológica da Nat tinham duas jóias idênticas? Será
que os dois leões se conheciam?Meus pensamentos foram interrompidos pela minha mãe que voltava a falar
mal do meu pai.

-- Tirando uma ou outra jóia como essa e vocês, aquele velho careca e barrigudo nunca me deu nada que
prestasse! Sempre foi um sovina, um unha de fome...

-- Mãe, a senhora acha que isso vale quanto?

-- Você esta precisando de dinheiro?

-- Não. Só quero saber, isso vale quanto?

-- Não sei Alice... É prata de verdade e esta mito bem conservada... Precisava levar em um avaliador.

E era o que eu ia fazer no dia seguinte. Aquilo me incomodou. Liguei para meu pai, mas seu celular estava fora
de área. Adormeci com minha cabeça a mil pensando em Júlia e no leãozinho. Só de pensar que o meu pai e
a mãe de Nat tinha algo incomum me deixava transtornada. No dia seguinte era minha folga. Acordei mamãe e
Heleninha logo cedo e fiz elas se arrumarem para sairmos.

-- Eu posso saber por que eu estou de pé as sete da manhã se só vou entrar as dez?

-- Por que eu vou deixar a senhora no hospital agora e de lá passar em outros lugares com a Heleninha.

Antes de sair de casa dei uma espiada no meu celular e encontrei umas dez chamadas perdidas de São Paulo.
Reconheci o número do telefone do flat. Não retornei. Agora a Monique não era a telefonista dela? Eu que
não ia atender. Enfiei mamãe e Lelê no carro e fui embora para o centro da cidade, eu ia passar na joalheria e
na casa da minha prima.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Minha prima já não dormia em casa há uns três dias. Quem mais notava sua ausência era Alessandra. Engana-
se quem pensa que ela estava na esbórnia ou algo parecido. Minha prima amanheceu toda encolhida em uma
poltrona de visitante do Alonso Franco. Silvinha abriu os olhos com a entra da enfermeira trazendo o café da
manhã de Nat que também acabou despertando. Ao olhar para cara da minha prima Nat deu uma risada.

-- Que foi?

-- Maior cara de sono.

Silvinha abriu um sorriso sem graça.

-- Sou uma mulher da noite... – Fez um carinho nos cabelos de Nat enquanto a ajudava com o café da manhã.
– Devia ser crime acordar a essa hora e... Que foi que esta com essa cara de tristinha? Hoje é suja alta, animo
mulher.

Nat deu um sorriso fraco.

-- Minha alta e meu ultimo café da manhã na boca, né? - Silvinha deu uma risada e ajudou Nat a limpar um
restinho de leite que tinha ficado em seus lábios com um selinho. – Não ri não, eu vou sentir falta...

-- Mimada. Eu acho que até poderia resolver sua situação...

-- Poderia...

-- Se eu fosse convidada, quem sabe amanhã não te dava um cafezinho na boca... – Deu um pedaço de pão
na boca da Nat e em seguida deu mais um beijo. – Garanto que é muito melhor que esse.

Nat deu um sorriso, tirou a bandeja do caminho e fez um sinal para Silvinha se aproximar. Minha prima já veio
toda animada, sorrindo.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Acho que eu perdi a fome... – Nat murmurou antes de puxar a boca de Silvinha para seu encontro e ser
correspondida. Minha prima deixou suas mãos passear pelas costas de Nat, se entregou e ficaram se beijando
por um tempo. Só separou de Nat quando ela precisou de ar e quase teve que pegar a bombinha. – Silvinha,
meu pulmão ainda esta meio amassado... – Deu um selinho na minha prima. Sorriu. – Mais calma...

Silvinha sorriu de volto.

-- Fica fazendo cara de brava o tempo inteiro, mas olha o sorriso lindo que você tem. – A lá não falei? TÃO
NAMORANDO, TÃO NAMORANDO, TÃO NAMORANDO... – Tão estranho... Tua mãe e meu pai
tão amigos, nossas famílias tão próximas e a gente... Sei lá, nunca se deu...

-- Você que sempre foi uma fedelha chatinha...

-- Olha quem fala... Velha ranzinza...

E de brincadeira em brincadeira a boca das duas voltaram a se encontraram. Quando dona Abgail abriu a
porta encontrou a filhinha querida no maior amasso com minha prima com direito a mão por dentro da blusa e
chupada no mordida no queixo. Silvinha quase deu um pulo da cama. Estava roxa de vergonha. Dona Abgail
se pudesse pularia em seu pescoço.

-- Sílvia, eu quero falar com minha filha a sós.

-- Licença dona Bi – Abgail... – Minha prima a chamava de dona Bibi pois era assim que meus tios tratavam a
bruxa. – Desculpa...

E saiu do quarto para deixá-la a sós. Só foi minha prima virar as costas para ser alvo de elogios da mãe de
Nat.

-- Você perdeu o juízo? Eu entendi que aquela tal de Alice foi uma novidade para você... Menina de fora da
cidade, carne nova, mais cabeça aberta que essa gentinha daqui, uma fase, ok, eu sou compreensiva entendi.
Agora a Sílvia? Nat, você pretende o que? Que cara eu vou olhar para os meus amigos?

Nat sentada na cama não acreditava que estava ouvido:


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Fase? Pelo amor de Deus, mãe... Não vale nem a pena bater boca com a senhora... Se na minha cama
deita a Silvinha, a Alice ou o Gabriel é problema meu! É da minha conta e não da sua! Eu já perdi a Alice por
causa daquela porcaria de eleição que me deixou cega, perdi o Gabriel porque eu não conseguia conviver
com a culpa esses anos que eu carregava, eu não quero perder a Silvinha! E a senhora aprenda á respeitá-la.

-- É essa a paga que eu ganho depois de todos esses anos de dedicação a você? – Abgail cobrou incrédula. -
Eu que sempre procurei ser a melhor mãe do mundo para você e...

A discussão das duas ganhou tanto volume, tanto volume que Nat acabou deixando escapar.

-- As pessoas jogam você contra mim, mas você sabe que eu sempre quis o seu melhor, que eu sempre me
preocupei com você e...

-- Será? A senhora deixou meu pai morrer de desgosto!

Abgail se calou e fechou-se em uma expressão ferida. Na hora Nat se arrependeu do que falou. Não tinha o
direito de jogar aquilo na cara da mãe.

-- Desculpa, mãe... Eu... Eu... – Baixou a cabeça. Sentiu sua mão trêmula. – Saiu sem querer. Eu... Eu...

Abgail afirmou com lágrimas nos olhos.

-- Você esta nervosa porque esta aqui... Por causa da sua mãe, porque você tem medo de não conseguir
mais andar direito... – Fez um carinho no rosto de Nat e beijou sua face. – Mas eu te perdôo minha filha, eu te
perdôo porque sei que você esta confusa e que você sabe que isso não é verdade... Não sabe?

Nat fez um gesto afirmativo.

-- É claro que sei, mãe...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Isso aqui não deve chegar há uns quinhentos reais hoje... – O moço da joalheria me afirmou. – Mas se foi
comprado há anos atrás deve ter valido uma boa nota. Esta interessada em vender?

-- Não, só queria saber mesmo o valor e se as duas eram verdadeiras.

-- Isso são. – Me deu um sorriso entregando os dois leõezinhos. – Pode considerá-los irmãos gêmeos.

Coloquei as jóias no bolso. Minha cabeça dava voltas e mais voltas. Meu pai não atendia nem por decreto o
celular. Ele tinha começado a dar aulas na faculdade, agora era dificílimo falar com ele. Eu precisava
conversar com alguém e me lembrei de Cíntia. Ela disse que estava interessada em me ajudar, ouvindo meu
desabafo já era uma grande ajuda. Quando cheguei no apartamento de Silvinha, para minha surpresa, Cíntia
parecia me esperar.

-- Ai cabeção, por que não atende a droga do celular, precisava falar com você... Te liguei um monte de
vezes.

Eu não atendi acreditando que fosse Júlia. Ela tinha me ligando mais de dez vezes entre ontem e hoje. Só
depois que vi que tinha o número de Cíntia no meio das ligações perdidas. Alessandra também estava em
casa, me serviu um suco.

-- Que foi?

-- Eu contei tudo pra Alê sobre a Dona Abgail. – Na boa, qual é a parte que ela não entendeu do “não conta
para ninguém”. – Não me mate senão eu faço a cara de amiga doente!

-- Você esta proibida!

-- Calma Alice... – Alê veio apartar. – Eu quero ajudar você e a Júlia... Sou muito agradecida por ela ter
segurado a barra da Cíntia por tanto tempo. Eu tive uma ideia que talvez ajude a gente a descobrir alguma
coisa sobre a dona Abgail... Ela é famosa na cidade. Talvez se a gente fizesse um apanhado da vida dela da
pra conseguir alguma coisa...

-- Como assim?
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Eu sou jornalista, você sabe... Fiz estágio na Folha de Silvéster, lá eles guardam jornais desde os anos 40...
A família Franco é conhecida na região... Talvez tenha alguma notícia da dona Abgail que nos sirva de pista...
E pensei também... Enquanto eu olho esses jornais antigos, você e a Cíntia podiam tentar arrancar alguma
coisa das pessoas mais antigas da cidade que conviveram com ela como a dona Regina...

-- A tia Junia... Cíntia relembrou. – Tua tia foi amiga da dona Regina... Talvez ela possa ajudar.

Minhas amigas eram ou não eram geniais? Minha vontade era dar um beijão em cada uma das duas. Cíntia
era uma fofa mesmo, doente e se preocupando comigo.

-- Não sei como agradecer vocês...

-- Sendo nossa madrinha de casamento! – Cíntia sugeriu. - Que tal?

Dessa vez não agüentei e abracei as duas. É claro que eu ia topar! Amei a proposta. Depois de tricotar sobre
o casamento, anel de noivado e demais assuntos, me lembrei do motivo da minha visita. O leãozinho. Contei
as duas toda história.

-- Posso dar uma olhada? – Alê perguntou.

-- Claro! - Passei os dois leõezinhos para as mãos de Alê. – Vê se não são idênticos...

Alê examinou, reavaliou.

-- Que foi?

-- Só um minuto.

Correu para o quarto e voltou com o nootbok nas mãos aberta em uma página da internet e uma lupa na outra
mão.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Mas esse leãozinho do computador é o mesmo das jóias... – Alê fez um gesto afirmativo sorridente por
estar cooperando. – Leão Clube de Silvéster?

-- Era um antigo clube da cidade aberto em 1905... Só quem era da alta sociedade freqüentava esse clube.
Tinha diversas competições esportivas. Boxe, judô, vôlei e remo que era o forte do clube. Em 1995 o clube
decretou falência porque as pessoas preferiam usar academias de ginástica.

-- Meu pai fez remo por muitos anos. Ele chegou a ser campeão.

Alê deu um sorriso.

-- É ai que o leãozinho entra. Esta vendo como os dois leõezinhos são idênticos ao símbolo do clube? Era um
brinde para os ganhadores junto da medalha e do troféu para equipe. Esse site tem toda história do clube.
Aqui diz que os ganhadores começaram a levar o leão para casa a partir de 1935. Seu pai deve ter ganhado
ele quando foi campeão.

Dei um sorriso desanimada.

-- Quer dizer então que minha pista é furada... Várias pessoas de Silvéster devem ter esses leõezinhos?

Outro sorriso de Alê.

-- É ai que você se engana. - Entregou a lupa em minhas mãos - Agora entendeu porque o velho Sherlock
Holmes jamais deixava sua lupa de lado. Dá uma olhada.

Me atrapalhei um pouco com o uso da lupa, mas finalmente entendi o animo da Alê. Atrás dos dois leõezinhos
estavam gravados. 29/01/1980. Sorri e conclui.

-- Dois meses antes da Nat nascer. O ano é o mesmo...

-- E não é só isso. No dia 29/01/1980 o Leão esporte Clube estava prevendo as finais do campeonato de
remo masculino e do campeonato de vôlei feminino.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Tem como ver quem fazia parte da equipe de remo masculina? – Eu perguntei.

-- Aqui. – Alê abriu uma nova página e lá encontrei meu pai, ainda gatão, em uma foto com os colegas de
equipe. Todos ainda com barriga tanquinho e cabeludos. – Teu pai é um desses?

Assenti com a cabeça.

-- É o barbudo do canto esquerdo de boné... Se era um peça única e meu pai deu o dele para minha mãe,
quer dizer que não entregou pra mãe da Nat, logo...

-- Só tu pra acreditar que você loira desse jeito é irmã da Nat... Gêmea... Você loira, ela negra, teu cabelo
liso o dela todo cacheado, você galega...

-- Filha, Brasil! Como diria Chico Buarque, loiro só se nascesse um filho da Xuxa com o Taffarel.

Alessandra interrompeu nossa conversa.

-- Mas vocês não estão se atentando a nossa descoberta. Esse leãozinho o pai da Nat deu pra mãe dela. Que
prostituta é essa que teria grana pra freqüentar um clube da alta sociedade?

-- Ou a mãe dela é uma das jogadoras de vôlei. – Cíntia sugeriu.

-- E ganharia o campeonato com um barrigão de grávida de sete meses? – Fiz um gesto negativo. – Esse
leãozinho deve ser do pai dela. – Alê abriu a foto mais uma vez. Tapei o rosto do meu pai. – Qual desses
cinco tem mais a cara de limão azedo da Nat?

End Notes:

Cenas do próximo capítulo:

-- Eu estou cansada! - Júlia esbravejou comigo. - Você me ignorou por dias


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

por causa da Monique?

-- Eu não ia adivinhar! Veja bem a minha situação... Você esta longe, eu ligo
para o seu quarto... Para o seu quarto... E ela atende... Você saiu daqui me
pedindo um tempo, eu fiquei...

-- Não é desculpa, você tinha que confiar em mim!

-- Júlia, me perdoar, eu juro que...

-- Não vai funcionar... Enquanto você der mais credito para uma maluca que
me persegue, que tenta me agarrar na frente do meu filho do que em mim não
vai funcionar. Acabou!

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Capítulo extra de presente pra vocês, viu como não sou má?! beijooos!!

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Capítulo 50 by Tamaracae

Author's Notes:

Oi, mais um cap extra!!!

Apesar da imagem estar em um resolução excelente e o rosto de todos bem visíveis, evidentemente que não
dava para responder aquela pergunta só de olhar. A verdade é que tirando meu pai, para mim eram todos
atletas e só. Talvez um ou outro detalhe me recordasse a aparência, mas eu não ia confiar nos meus olhos, por
estar sob pressão eu poderia estar vendo o que eu queria, imaginando coisas.

-- Só vejo remadores. – Alessandra confessou. –Na verdade não consigo imaginar a Nat sendo filha de
nenhum desses.

-- Olha esse aqui que gracinha... – Cíntia disse com o dedo apontado para um moreninho com os cabelos a lá
Zezé de Camargo nos anos 90. – O nariz dele é meio empinadinho... Lembra o da Nat.

-- Lembra o nariz de plástica da Nat. – Eu corrigi. – A Alê esta certa, tirando papai, são todos remadores.

Já que começamos, teríamos que fuçar até o final. Pelo menos eu fuçaria. Por que as coisas são tão difíceis
também? Eu não poderia saber quem era o pai da Nat, sei lá, por algum comportamento igual dos dois? Por
exemplo, o maior pulador de cerca dos cinco, quem era? É esse de bermuda vermelha? Então esse é o pai. A
Nat não nega a raça e estaria tudo resolvida. Mas não, tudo tem que acontecer com a Alice.

-- Alice, e teu pai não tem contato com nenhum deles? – Cíntia me perguntou. – Liga para ele.

Era uma das poucas saídas. Não consegui encerrar o assunto com as meninas por causa da chegada de
Silvinha, Rebeca e Isa. As três vinham do supermercado reclamando dos preços e Isa enchendo o saco
porque as duas bonitonas deixaram que ela carregasse as sacolas sozinhas. A nota fiscal caiu de uma das
sacolas e outra vez a conta voltou a ser tema de discussão entre elas. Alessandra apareceu com a solução em
um envelope deixado por Serginho com três notas de cem.

-- Alê, me passa esse dinheiro aqui que é relíquia! - Silvinha comentou realmente surpresa. – Se não
precisasse pagar o cartão, eu juro que mandava para o Vaticano como prova de milagre...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Finalmente se coçou... Viu, Rebeca, o que esse menino precisa é de uns “chegas para lá” de vez em
quando. Como ele apareceu com grana agora?

-- Isso que eu quero saber Isa. Até dois, três dias atrás o Serginho passava as manhãs e tardes vendo
desenho e sessão da tarde nesse sofá, da onde saiu esse dinheiro?

O semblante de Rebeca estava carregado. Parecia que tinha levado picada de abelha.

Não era por menos. Rebeca sabia o irmão que tinha e por mais que doesse seu coração, Serginho nunca foi
flor que prestasse. Nunca gostou de estudar, não parava em emprego nenhum a mãe passava a mão na
cabeça com a desculpa que Serginho era muito novo quando se separou do marido e era revoltado. Rebeca
como a irmã mais velha não devia criticá-lo. Trancou a faculdade com a desculpa de que ia se dedicar a
música, uma de suas paixões, mas vivia deitado o dia inteiro. Sempre gostou de dinheiro que vê fácil. Quando
perdeu a mamata do padrasto trocou apenas de sofá e então se mudou para Silvéster.

-- Beca, ele deve ter feito um bico qualquer pra gente parar de enchê-lo o chamando de boa vida. Você
mesmo não ficou apertando ele? - Silvinha relembrou. – Lembra que nessa passada ele foi pedir vaga lá na
oficina do Maranhão? Deve ter arranjado qualquer coisinha... Relaxa.

A oficina do Maranhão ficava há menos de duas quadras dali. Os meninos que trabalhavam na oficina vinham
jogar sinuca no horário de almoço em um boteco ali de frente e logo Serginho fez amizade com eles (quando
não estava no sofá, estava no bar). Por causa dos apertos de Rebeca, ele se viu obrigado a pedir emprego.
Maranhão deixou que ele ficasse por lá para aprender um pouco da profissão.

No primeiro dia uma senhora de meia idade, bonitona apareceu desesperada pedindo ajuda, o pneu de seu
carro tinha furado. Serginho cavalheiramente foi ajudá-la. A mulher observava aquele menino trabalhar
debaixo do sol escaldante. Serginho logo notou que era objeto de cobiça da mulher. Cinquenta e poucos
anos, bem vestida, pilotando um carro importado, era uma boa pedida. Não era a primeira vez que ele faria
aquele tipo de serviço (michê) e tinha certeza absoluta que também não era a primeira vez daquela senhora.
Na hora de receber o pagamento houve uma troca de olhares. Ela estendeu o dinheiro. Serginho sorriu,
propositalmente tirou a camisa e usou para limpar seus dedos sujos de graxa.

-- Não vou pegar nas mãos de uma senhora tão gentil com as mãos sujas... Não quero ser tomado por um
selvagem.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Foi a vez da mulher sorrir. Entre as notas Serginho encontrou um bilhete escrito as pressas com um endereço.
Passou os olhos rapidamente no papel. A mulher não tirava o foco de seu corpo, tinha certeza que ela não
escutou nada do que ele havia dito anteriormente. Nem precisou de muitas palavras. Ela foi curta e diretissima.

-- Te espero às nove horas nesse endereço. Não gosto de atrasos.

Serginho fez um gesto afirmativo.

-- E eu devo procurar por quem?

-- Abgail.

Sim, ela, a própria, minha “amada” sogra. Pois é, a toda durona, a senhora certinha preocupada com sua filha
e seu netinho não resistia a um franguinho de vinte e poucos anos. Creio eu que se ela quisesse não precisava
pagar por aquele tipo de serviço, era bonitona para 57 anos (tinha a altura, os olhos e o porte de Júlia apesar
da pele pálida), não seria difícil encontrar alguém que a quisesse. O que minha sogra gostava é que pagando
por esse serviço, tudo era muito mais prático. Como se fosse uma entrega programada, às nove da noite
Serginho apertava a campainha do flat que Abgail o esperava. Ao abrir a porta, Abgail esboçou um sorriso.

-- Pontualidade britânica. – Ela o elogiou. – Gosto disso.

Serginho a puxou para um beijo. Abagail prontamente respondeu arrastando o “menino” para o apartamento.
Ainda se beijando fecharam a porta. Serginho a jogou contra um das paredes, roçava a barba por seu
pescoço, Abgail puxava seus cabelos loiros, soltou um gemido baixo quando a boca de Serginho desceu para
sua garganta.

-- Menino... – Mais um gemido. - Como você é bom...

-- Não gosto de decepcionar... Dona...

Passaram o restante da noite juntos. No dia seguinte Serginho saia do apartamento com trezentos reais na
carteira. Abgail saiu do flat sem falar com ninguém, mas o porteiro sabia que estava contente. Atravessou o
saguão da entrada com um discreto sorriso nos lábios e parecia falar bem humorada no celular. O porteiro já
estava acostumado com aquilo. Aquele flat era um dos inúmeros imóveis de Dona Regina que
Abgail administrava. Ela sempre levava seus meninos para lá. Serginho devia ser bom no que fazia, o porteiro
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observou que ele aparecia por mais outras e outras noites, o que não era comum (minha sogra detestava
figurinhas repetidas) e só saia do apartamento no dia seguinte.

Enquanto nós especulávamos sobre os remadores possíveis pais de Nat, Abgail acordava sozinha na cama do
flat. Abriu os olhos e viu as roupas de Serginho ainda jogadas pelo quarto. Ouviu um barulho do lado de fora.
Vestiu seu hobby de seda e foi encontra-lo no terraço, dando braçadas e mais braçadas cortando as águas da
piscina. Ao avista-la na borda oposta, Serginho mergulhou até onde ela estava. Subiu no parapeito e roubou
um beijo de Abgail.

-- Você acordando cedo?

-- O dia amanheceu bonito. Resolvi praticar um pouquinho de natação. Sabia que eu competia quando era
mais novo? Até campeão já fui...

Abgail fez um carinho em seu rosto, trocaram mais alguns beijos e ela entregou as notas de cem nas mãos
dele. Dessa vez eram dez notas.

-- Abono?

-- Você vai fazer um serviço extra para mim, meu querido... – Ela fez um carinho em seu rosto. Serginho se
enrolou em uma toalha. – Quero que você fique de olho naquela menina que você divide o apartamento. A
Silvinha... Nela e na prima dela também.

-- Por quê? O que você quer com elas?

Abgail deu um sorriso.

-- Se eu não estivesse pagando bem pelo seu serviço, eu pensaria em lhe dar uma satisfação. – Deu um
sorriso. Abgail roubou mais um beijo de Serginho. – Da onde vem esse pode vir muito mais trocadinhos. É só
você ficar do meu lado.

Não precisou de mais nada para convencê-lo a fechar com ela. Não sabíamos, mas dona Abgail tinha
praticamente instalado olhos e ouvidos dela no apartamento de Silvinha. Ela recebia informações de quando
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Silvinha chegava e saia de casa, de quando falava com Nat pelo telefone e de quando eu aparecia para ver
minha prima. Após minha conversa com Alê e Cíntia sobre os pais remadores, ficou decidido duas coisas,
enquanto eu ia atrás para saber quem eles eram, Alê faria o trabalho de pesquisa com Dona Abgail e Cíntia
tentaria fuçar com Dona Regina para saber se soltava alguma coisa suspeita da velha.

De tarde Alê voltou com uma pilha de jornais velhos com notícias sobre o primeiro casamento de Dona
Abgail (Os Francos como família tradicional na cidade sempre estavam nas colunas sociais) a gravidez de
Júlia e um monte de outras coisas. Serginho reconheceu Abgail em uma das fotos e desceu para fazer seu
trabalho. Discou do celular para Abgail.

-- Tem alguma coisa estranha acontecendo, Bibi. – Fez uma pausa. – A Alê tá te investigando.

-- Quem é Alê?

-- Alessandra, namorada da Cíntia, uma das meninas daqui. A Silvinha fica meio de rabo de olho pra ela.

Abgail deu um sorriso. Então a Silvinha ficava olhando essa tal de Alê?

-- A Silvia é interessada nessa tal garota...?

-- É mais ou menos... Qualquer coisa eu te ligo. Tchau.

-- Tchau!

Abgail desligou e discou para Nat.

-- Que foi mãe?

-- Só uma dica que queria te passar minha filha, você encheu a boca para defender a Silvia, você sabe se ela
sente o mesmo por você?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- O que?

-- Nada demais minha filha... Só procure saber melhor quem é sua namorada.

E desligou. Nat tentou religar diversas vezes, mas propositalmente não atendeu. Silvinha também não atendia
ao celular. Nat tinha mordido a isca direitinho, estava com uma pulga atrás da orelha em relação a Silvinha.
Não conseguiria ficar em casa trancada repousando com aquele incomodo. Sentia sua mão trêmula, a perna
repuxando. Com dificuldade pegou a bengala que lhe servia de apoio e chamou o motorista.

-- Você pode ir pra cabana da minha irmã, por favor? Eu preciso falar com a Alice.

Na cabeça de Nat eu era a pessoa mais próxima e confidente de Silvinha. Se sua namorada tinha algum
problema eu não iria esconder dela. E com esse raciocínio seguiu para minha casinha de bonecas.

Enquanto Nat fazia o caminho para minha casa. Júlia deixava Manoela e Giovanna na pousada do centro de
Silvéster. Ela decidiu antecipar minha volta após minha recusa a atender suas chamadas. Manoela e Giovanna
vinham logo atrás seguindo o carro de Júlia. Quando pararam na pensão, Giovanna percebeu que os olhos de
Júlia pareciam aflitos.

-- Ela deve ter tido algum problema com o telefone. Só foi isso. Calma, Júlia...

-- Essas operadoras estão cada dia piores... – Manu reforçava a teoria de que eu não era uma besta e sim
que meu celular deu “tilt”. – Não vai ser nada, você vai ver...

-- Eu deixei recado com a Rebeca para ela me ligar... Vou indo meninas. Manu, vocês vão em casa hoje?

-- Claro! – Despediram-se com beijinhos. – Tchau,tchau!

-- Tchau!

Júlia voltou para o carro, antes de passar em casa ia levar João para dona Regina. Os dois se falavam por
telefone e estavam com saudade de se ver pessoalmente. Na pousada, Manu fazia a ficha das duas.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Um quarto, por favor.

-- Um para você e um para ela?

-- Não, não, um para nós duas. Um quarto de casal. – O rapaz voltou a olhar para as duas. – Moço?

-- Um quarto de casal para as duas? Mas vocês são...

-- Somos mulheres. Não tem quartos de casal? – Giovanna cobrou irritada. – Se não tiver nenhum vago
podemos procurar outro lugar.

O rapaz meio assustado com o tom da policial resolveu se mexer e preencher a ficha das duas. Enquanto
respondia as perguntas de praxe, Manoela exibia um discreto sorriso nos lábios. Impressionante como meio
mundo afinava quando Giovanna exibia um olhar de in satisfação e apertava os lábios, expressão típica de
quando algo lhe desagradava. O rapaz não só preencheu a ficha como levou a bagagem das duas para o
quarto.

-- É um bom quarto.

-- O melhor da pousada... – O rapaizinho estendeu a mão a espera de uma gorjeta, Giovanna ainda de cara
amarrada apenas lhe deu um aperto de mão. – Com licença...

-- Toda!

Ele quase saiu correndo. Giovanna esperou ele virar o corredor e então soltou uma gargalhada gostosa. Manu
sorriu fazendo um gesto negativo de reprovação.

-- Coisa feia...

-- Mamãe não acha... – Giovanna brincou enquanto abraçava Manu por trás. Aproveitou que a médica estava
com uma regata de corte nadadora e depositou alguns beijos em seus ombros. Deu umas mordidinhas

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arrancando suspiros de Manoela. Passou o nariz em seu pescoço. – Cheirosa...

Manoela tombou o pescoço para o lado esquerdo deixando uma abertura para Giovanna explorar. Sentiu os
lábios de sua mulher roçando em sua pele, as mãos fechando em torno de sua cintura.

-- Coisa feia é botar medo no menino, já você é linda... – Virou o rosto e trocaram um beijo. – Deixa eu
fechar a porta... O que os outros hóspedes vão pensar?

Trocaram mais um beijo. Ainda com os lábios colados na boca de Manu, Giovanna respondeu.

-- Que minha mulher é uma delicia e que eu sou sortuda do cacete?

Manoela sorriu, trocaram mais um beijo. As mãos de Giovanna desceram pelas costas de Manu, trocaram um
olhar significativo, cheio desejo. Giovanna ia erguer a regata da namorada, mas Manoela segurou suas mãos.

-- Amor, eu prometi pra Júlia que não ia demorar aqui na pousa, que ia encontrar com ela na cabana logo... –
Giovanna fez um bico e ganhou um beijinho. – A gente volta rapidinho e eu sou toda sua...

Giovanna não conseguiu se fechada por muito tempo, Manu a enchia de beijos e cócegas na barriga, as duas
caíram na cama. Trocaram mais alguns beijinhos e Manu se levantou, estava quente, queria um banho para se
refrescar. Giovanna a acompanhou. Não embaixo do chuveiro pois não queria atrasa-la, mas a assistia tomar
banho e aproveitava para conversarem.

-- Uma pena o Pedrinho não estar aqui... – Giovanna confessou. - Sinto tanta falta dele...

-- Daqui a pouco a gente vai estar com ele de novo. E se Deus quiser com nosso filhinho... Ou filhinha... –
Manoela deu um sorriso. – Nem acredito que finalmente o Certificado de Habilitação para Adotar saiu...
Fiquei com tanto medo de nos barrarem.

A decisão de ter um filho se deu alguns meses depois de Giovanna e Manu finalmente terem sua união civil
reconhecida pela justiça. Pelo tempo que já se conheciam e estavam juntas, Manu e Giovanna não
consideraram o tempo de união pouco para realizarem o desejo de serem mães e seguiram em frente para ver
o que ia dar. Os amigos e familiares apoiaram a ideia de prontidão. Após levarem toda a papelada para o
cadastro de adoção, escolherem o perfil da criança e passarem pela entrevista, conseguiram entrar na fila.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Acho que a gente teve sorte... – Giovanna comentou desviando os olhos de Manu. Percebeu que ela ainda
queria falar do assunto, inventou uma desculpa qualquer. - Vou ligar em casa para saber se o Perigo esta
dando trabalho a mamãe.

Deu um selinho da namorada e saiu do banheiro. Manoela sentiu algo meio confuso no ar, mas resolveu
esquecer dos problemas embaixo do chuveiro. Não podia demorar. Júlia a esperava.

__________________________________________________________________________

Eu estava em casa, terminando de desligar o telefone. Eu falava com papai. Só tinha contato com um dos
remadores, era seu colega de classe na faculdade e depois se mudou para Piracicaba. De resto não tinha
falado com mais nenhum, mas garantiu que todos estudaram na Faculdade de Silvéster e que talvez por lá eu
conseguisse alguma coisa. Tive que desligar pois ouvi um motor de carro se aproximando. Eu reconheci, era a
caminhonete de Júlia.

Eu não sabia o que fazer. Quase um mês sem vê-la. Meio peito batia mais forte cheio de saudade, mas minha
cabeça dizia outra coisa. Que ódio dessa minha mania de pensar com o coração e amar com a cabeça. Tudo
sempre acaba dando errado, como mais uma vez deu. Ela bateu na porta. Ainda meio tonta eu fui atender.

-- Júlia?

Não deu tempo nem dela me falar um oi. Júlia me puxou pela nuca e me deu um beijo maravilhoso, cheio de
carinho, me abraçando, inspirando meu cheiro e esfregando aquele perfume e aquele corpo delicioso em mim.
Nossas línguas se encontraram e sentir o sabor da saudade. Minha pele se arrepiou todinha, meu corpo
prcisava se fundir com o dela, mas sei lá porque diabos achei de escutar a porcaria da minha cabeça e me
desviei de Júlia levemente.

-- O que foi, Alice? – Júlia parecia meio tonta. – Amor, minha cabeça tá a mil. Os seus telefones estão com
defeitos? Achei que tinha acontecido alguma coisa e... Desculpa, nem te dei um oi. – E me confessou. – Eu
nem dormi a noite, fiquei preocupada achando que aconteceu alguma coisa.

-- Quem tem alguma coisa para falar é você...

Júlia ergueu os olhos e me encarou surpresa.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Não era no meu quarto de hotel que a Monique estava atendendo telefones, era?

-- Monique? – Revoltada. - A Monique falou com você?

Eu estava tão cega de raiva que não conseguia medir minhas palavras.

-- Não se preocupe, ela sabe passar recados muito bem.

Júlia fez um gesto afirmativo.

-- Se ela sabe passar recados tão bem, então ela te disse o que estava fazendo no meu quarto? – Júlia me
perguntou com um leve tom de irritação por conta das minhas insinuações. – Que eu estava tomando banho e
o João autorizou que ela subisse por que acreditou que ela estava passando mal? Ela também te passou o
recado que ela ligou para o hospital atrás de mim e sei lá quem que deu o endereço do hotel para ela? – A
essa altura eu já estava sacando o tamanho da merda que eu tinha feito. Ela tinha confiado em mim quando
Monique fez a fofoca que a Nat e eu estávamos nos beijando e eu nem dei o direito dela falar. – Ela também
te passou o recado que ela tentou me agarrar na frente do meu filho e eu quase bati nela? Ou passou o recado
que ela falei pra ela me deixar em paz que eu não conseguia pensar em outra mulher que não fosse você...

-- Eu não sabia dessas coisas... – Eu murmurei já arrependida. – Eu...

-- Eu estou cansada! - Júlia esbravejou comigo. - Você me ignorou por dias por causa da Monique?

-- Eu não ia adivinhar! Veja bem a minha situação... Você esta longe, eu ligo para o seu quarto... Para o seu
quarto... E ela atende... Você saiu daqui me pedindo um tempo, eu fiquei...

-- Não é desculpa, você tinha que confiar em mim!

-- Júlia, me perdoar, eu juro que...

-- Não vai funcionar... Enquanto você der mais credito para uma maluca que me persegue, que tenta me

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

agarrar na frente do meu filho do que em mim não vai funcionar. Acabou!

Ela tentou sair de casa, abriu a porta. Eu sei lá de onde tirei forças para puxar seu braço e detê-la.

-- Júlia, espera! – Se ela quisesse me dar um empurrão eido embora, ela teria dado. Eu senti que ela queria
me escutar. – Júlia, eu te adoro... Desculpa.

-- Desculpa? Alice, vê se entende uma coisa, eu não estou com você a toa. Eu não ia arriscar perder a minha
irmã por uma mulher qualquer, cara... Eu...

-- Júlia... – Segurei seu rosto entre minhas mãos. – Eu sei que vacilo muito com você, mas depois da minha
filha não tem nada e ninguém que eu mais me importo do que você porque eu... Eu não sei mais viver sem ter
você... – Ela fez um gesto negativo. Estava realmente magoada. – Nada tem sentido se eu estou sem você,
amor... – Senti as lágrimas de raiva das mãos de Júlia molhar minhas mãos. – Chora não, meu amor...

E com meus lábios comecei a tocar seu rosto. Júlia tentou relutar, mas acabou correspondendo ao meu beijo
deixando sua língua se derreter na minha boca. Praticamente éramos uma só de tão grudadas que estávamos.
Nossa concentração era tanta que só me dei conta que alguém havia entrado em casa quando ouvi a voz de
Nat. Instantaneamente nos separamos. Júlia apertou os olhos aflita, Nat estava boquiaberta.

-- Esse tempo inteiro vocês estão me fazendo de boba? – Ela se apoiava na bengala com firmeza. Avançou
um passo para cima de Júlia. – E EU QUE FUI FALSA COM VOCÊ? EU QUE TRAI SUA
CONFIANÇA? Você não vale nada!

E nessa hora minha cara podia até congelar fazendo aquele efeito da novela de tão apreensiva que eu estava.
Não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo comigo!

End Notes:

Cenas do próximo capítulo:

-- Da pra acreditar?

-- Calma Nat, repete de novo.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- A Alice e a Júlia na minha frente, juntas! - Minha prima apertou os olhos,


Nat cega de raiva continuava falando. - Aos beijos! As duas me enganando
esse tempo todo! Me fazendo de palhaça!

-- A Alice esta te fazendo de palhaça junto com a Júlia?

-- Você não entendeu que eu peguei as duas aos beijos?

Silvinha irritada deu um soco na parede fez um gesto negativo.

-- Eu estou aqui! - Disse batendo o dedo no próprio peito. - E dai que você
pegou as duas aos beijos se é comigo que você esta? - Fez uma pausa. - Eu
mereço o mínimo de respeito, Natália! Se estamos juntas eu mereço e...

-- Ow, você com a Alessandra? O que foi que eu vi agora? Quer respeito se de
ao respeito, Silvinha!

#Oioioi Capítulo terminou pegando fogo, não?

Quem vcs queriam ver com a cara congelada no final do próximo capítulo?
Bjoooooo!!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 51 by Tamaracae

Author's Notes:

Oiiis!!

Músicas:

Mais uma dose - Cazuza http://www.youtube.com/watch?


v=cGDvksmNmn8&feature=related

Ronda Maria Bethania http://www.youtube.com/watch?v=m1QOGybRmkQ

I Want To Know What Love Is Mariah Carey http://www.youtube.com/watch?


v=JOanECvQmZs

--Nat, espera... – Eu tentei tranqüilizá-la sabendo que seria bobagem. A Nat quando fica nervosa parece
surda. Dei um passo até ela. – Me escuta, ninguém...

Ela me afastou decidida. O punho fechado de Nat achou o rosto de Júlia e desferiu um golpe em cheio na
boca. Na hora Júlia sentiu o gosto de sangue entre os lábios. Eu fiquei meio perdida, me levantei tentando
segurar a Nat que resfolegava, as duas não paravam de bater boca. Nat ainda encontrou espaço para
empurrar Júlia no chão e se eu não a segurasse partiria para cima da irmã outra vez.

-- SOLTA ELA, ALICE, PODE SOLTAR! – Júlia se levantou, a boca ainda sangrava. – Solta!

-- NÃO FALA NO NOME DA ALICE, SUA VAGABUNDA! – Nat devolveu irritada. – PIRANHA DE
ESQUINA! FALSA! Sempre se fazendo de boa moça, de boa samaritana, mas no fundo é uma falsa! TEM
INVEJA DOS OUTROS! Tem inveja de...

-- CALA A BOCA NATÁLIA E ME ESCUTA ANTES DE TIRAR QUALQUER CONCLUSÃO!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Isso! - Eu tentava controlar as duas. – Nat, senta, deixa eu te pegar uma água e...

-- Eu já vi o que tinha que ver... QUERO PORRA NENHUMA DE ÁGUA! – Júlia já estava perdendo a
paciência com Nat, fechou os punhos. –Quero nada da casa dessa ai! Tô saindo!

E ia me deixar falando sozinha. Eu não era nem louca de deixar a Nat sair de lá sem me ouvir. Corri atrás dela
e Júlia foi atrás de mim. O barraco teria continuação lá no quintal e agora com público já que Paula chegava
junto com duas mulheres que mais tarde eu saberia ser Giovanna e Manoela. Puxei Nat pelo braço com força.
Só que coloquei força demais e ela quase desequilibrou e caiu na piscina nos fundos do quintal da casa
principal que era a cabana. Nem preciso dizer que ficou com ódio de mim, né?

-- FOI PRA ME VINGAR? – Ela me perguntou com ódio. – FOI TROCO POR CAUSA DA MARISA?
DESSA VACA DA MINHA IRMÃ POSSO ESPERAR TUDO PORQUE IRMÃ, IRMÃ, PUTARIA A
PARTE , AGORA VOCÊ, ALICE?

-- E VOCÊ É O QUE? PURITANA POR ACASO? – Devolvi. - COMEU SEI LÁ QUANTAS, MAIS
RODADA QUE VADIA EM DIA DE PAGAMENTO E VEM COBRAR ALGUMA EXPLICAÇÃO DE
MIM? EU SOU A ULTIMA PESSOA QUE VOCÊ TEM QUE COBRAR EXPLICAÇÃO!

-- O que esta acontecendo? – Paula assim como as outras duas tentavam entender. – Júlia?

-- A RODADA SOU EU? JÁ OLHOU PRA VADIA QUE VOCÊ TÁ AGORA? ISSO NEM DÁ,
DISTRIBUI!

-- NAT, você ta me ofendendo! – Júlia avisou. – Eu estava quieta, dentro de casa... Cala essa boca antes de
falar besteira...

-- Isso mesmo, vocês estão de cabeça quente. – A coitada da Manu tentava apaziguar a situação. – Estão
falando coisa demais...

-- Nat, é melhor você ir embora... – Paula ajudava Manu. – Depois você e a Júlia conversam...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Não tenho nada pra conversar com essa ai. – Olhou para mim. – Não me conformo! Joga na minha cara
que eu me comporto feio uma vadia, mas quem dá pra duas irmãs age como que?

Não sei como não sentei a mão na cara dela aquela hora.

-- Não se conforma? Júlia perguntou já cheia. Encheu a boca e falou com todas as letras. - ENTÃO ENFIA
O RABO ENTRE AS PERNAS E VAI CHORAR NO COLO DA PUTA QUE TE PARIU! QUE SACO!

Tudo foi rápido demais, Nat me tirou do caminho atropelando, me fez voar para longe das duas e empurrou
Júlia para piscina. Júlia em um gesto automático a puxou pela camisa e as duas começaram a se engalfinhar e
trocar socos, chute, puxão de cabelo, cabeçada e o que mais vocês pensarem dentro da água. Parecia
barraco de novela das oito. Quem nos salvou foi Giovanna e Gabriel que chegava e via aquela cena horrível.
Os dois também pularam na água e cada um conseguiu imobilizar uma. Júlia e Nat pareciam dois moleques de
porta de escola. Nunca tinha visto elas assim.

-- ME SOLTA! – Nat se debatia nas mãos de Giovanna que era mais ou menos da altura dela. Ela imobilizou
Nat direitinho. Gabriel do outro lado segurava Júlia que ainda se debatia. –ME SOLTA, PORRA!

-- Pode soltar, sempre foi ruim de briga. Bate parecendo uma viadinha!!

-- OW, OW OW... DÁ PRAS DUAS PARAREM? – Giovanna empurrou Nat contra uma das paredes da
piscina. Gabriel com a ajuda de Paula conseguiu arrastar Júlia para borda da piscina. – ACABOU!

-- Acabou mesmo! – Gabriel ordenou. – É sexy mulher brigando, mas vocês são irmãs, isso é nojento!

Minha cabeça estava uma panela de pressão, perdidinha da Silva. Contei com a ajuda de Manu para ir buscar
toalhas no quarto de Heleninha. Naquela confusão toda que nos apresentamos e ela conheceu minha filha.

-- Não sei onde enfiar minha cara. – Confessei. – Primeira vez que você vem na minha casa, que... Estou
morta de vergonha...

-- Imagina... Família não é família se não tiver um bom barraco. – Deu uma espiada no berço e encontrou
Heleninha dormindo. – Alice, tua filha é linda. Tua cara...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Do lado de fora os ânimos finalmente pareciam esfriar um pouco. Também depois de tanta água era
impossível que esquentassem mais. Giovanna e Gabriel trocavam de postos. Agora ele estava com a Nat
enquanto ela tratava de deixar Júlia o mais afastada possível dos dois. Só a adrenalina tinha baixado, mas a
raiva de Nat ainda era a mesma.

-- VAGABUNDA! Roubou a Alice na minha cara... Desde o primeiro dia eu sabia que tinha alguma coisa
rolando. Pedi pra Júlia sair de perto! – Gabriel aproveitou a pausa que Nat tinha feito para tirar o casaco que
vestia e colocá-lo na ex mulher. – Me fizeram de otária por um tempão...

-- Para Nat, você esta com a cabeça quente ainda... As coisas podem não ser bem assim...

Nat deu um sorriso debochado.

-- Você deve saber como as coisas são, não é? – Fez uma pausa. - Aposto que a Júlia contou pra você! –
Outra pausa. – E mais quem sabe?

Gabriel não mentiu a ela.

-- Nat, todo mundo que olhou com mais um pouquinho de atenção para as duas sabe. – Natália franziu o
cenho e se levantou com pressa. Mesmo mancando um pouco ela conseguia andar. – Gabriel correu atrás
dela e sem querer trombou em Paula. – Merda! Tem que estar sempre no caminho? O que você veio fazer
aqui?

-- Ah, eu só vim avisar que a Alice que vocês acharam mãe do bebê e... O que te interessa?! Seu grosso!

Gabriel se preparou para abrir a boca para soltar algum coice em cima de Paula, mas desistiu ao ouvir o
barulho do motor de sua moto. Na hora de descer da moto esqueceu a chave no contato atraído pela gritaria
de nós todas. Correu até a porta da sala, mas não chegou a tempo de impedir que Nat partisse com moto. Ela
puxou o acelerador com tudo. TRÊs meses sem dirigir e sei lá quantos anos sem pegar uma moto, Nat sair
daquele jeito e pegar um rodovia era praticamente uma tentativa de suicídio o que ela estava fazendo.

-- MERDA! – Correu até Paula. - Da à chave do teu carro!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Pra que?

-- Vou dar umas bandas por ai! – Explodiu. – Vou sair atrás da Nat!

Os dois entraram no carro. Gabriel deu partida. Em pouco tempo o carro ganhava velocidade.

-- Vai mais devagar... – Paula se segurava no banco com medo. – Vai dentro do limite.

-- Ai rodovia de pista dupla. Estou a cem... Limite é cento e dez...

-- No meu limite! – Paula grunhiu. – Meu limite é sessenta...

Gabriel irritado deu um soquinho no volante.

-- Eu paro o carro e você desce...

-- E vai me lagar no meio da pista pra eu ser roubada, assaltada, atropelada, molestada, seqüestrada e...
AAAAAAAAAAII!

Era Gabriel que impaciente pisava com mais força no acelerador.

Cega de raiva, Nat pilotava perigosamente. Na cabeça dela, a história da irmã ainda não tinha se fundido com
a da motoqueira. E eu? A pior espécie de galinha que a enganava enquanto ainda estávamos namorando.
Legal que o resultado de tudo sempre sai como Alice a vaca da história, não é mesmo? Nat jogou a moto
para o lado costurou dois carros e ouviu xingamentos.

-- VACA!

-- PASSA POR CIMA, PALHAÇO!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Cortou mais dois carros e pegou a via que levava para o centro da cidade.

Enquanto Nat tentava se matar e matar sei lá mais quanto no trânsito, Manu eu tentávamos cuidar de Júlia.
Ela estava com a boca cortada, uma das mãos inchada e com uma cara bem poucos amigos. Peguei a bolsa
de gelo das mãos de Manu.

-- Amor, deixa eu cuidar de você...

-- Não esquenta comigo não, Alice... Tá tudo bem... Ela te machucou? – Fiz um gesto negativo. – Nem deu
pra apresentar vocês direito, né? Alice, essa é a Manoela e a Giovanna, minhas amigas de São Paulo... Gi,
Manu, essa é minha... – Se cortou. – Essa é Alice.

Mal sinal. Ela não me chamou de namorada. Como já disse, Manu e eu já tínhamos nos apresentado por
conta própria no quarto enquanto pegávamos toalhas para as brigonas. Giovanna abriu um sorriso super
simpático e nos cumprimentamos. Deixamos Júlia e Giovanna colocarem roupas secas e depois conversamos
mais um pouco. Lógico que o assunto ainda era a briga. Agora que elas começavam a entender o que
acontecia.

-- Eu perdi a cabeça... – Júlia murmurou já sem a bolsa de gelo na boca. – A Nat não queria me escutar, veio
me ofendendo... Eu devia ter controlado mais.

-- É difícil a gente se controlar depois de um murro na cara... – Giovanna observou. – Bom... não é querendo
julgar vocês... Mas tenta ver o lado dela... Ela não sabe da história toda.

-- É... – Manu teve que concordar. – Acho que daqui um tempo vocês tem que procurar por ela... E não faz
essa cara não Júlia que eu sei que você é louca pela sua irmã...

Giovanna deu uma risada.

-- Confusão foi tanta que só fui entender que ela era a irmã agora que vocês tão explicando. – Nos todas
rimos, tinha sido uma loucura mesmo. – A moreninha... A de franjinha... Também é irmã? – Manu abriu um
sorriso divertido e encarou Giovanna com uma cara de “toma vergonha na cara”, não agüentamos e também
rimos. Giovanna vermelha, boquiaberta tentava se defender. – Eu não estava olhando pra ela não, eu só
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

queria entender a família...

-- Não estava olhando, mas até franjinha você viu, né Dona Giovanna. - Manoela deu um sorriso e um
beijinho na boca da namorada que ainda a deixou mais rubra. – Tome jeito...Só não vou ficar com raiva
porque não resisto quando você fica assim envergonhadinha...

Gostei do jeito que a Manu conduziu a conversa com a namorada. Cai pra nós, que gracinha de namorada ela
foi arranjar viu... Elas faziam um casal bonito. Se eu não estivesse toda enroscadinha na minha Júlia ia ter
problemas em ser amiga da Manu com aquela mulher do lado dela jogando aquele sotaque italiano que era um
charme na minha pobre face.

-- A Paulinha foi minha colega de faculdade, fizemos parte da residência juntas... – Júlia tratava de explicar. –
Passou um tempo trabalhando em Recife, Fortaleza e Paulo Afonso, agora ela voltou pra assumir a chefia da
maternidade e da UTI neonatal do Alonso Franco.

-- Se ela esta assumindo parte da UTI Neonatal então quem arranjarmos para assumir a chefia da cirurgia
pediátrica vai trabalhar diretamente com ela? – Manu questionou. Júlia fez um gesto afirmativo. – Seria
interessante ela participar da seleção com a gente então Júlia. E até revisara reforma da UTI pediátrica
também...

-- Acho que ela vai ajudar sim, ela estava envolvida com o caso do bebê no lixo, mas o Gabriel conseguiu
localizar a mãe dele. – Eu percebi um olhar interessado vindo de Manu. – Vocês viram reportagens do bebê...

-- Mais ou menos... – Giovanna murmurou.

-- Eu vi. Você e o Bruno acharam. Mas e ai?

-- A mãe vai ser indiciada e ela já abriu mão de todos os direitos do bebê. Ela é jovem, ninguém se
apresentou como parente dela... Depois que ele receber alta deve ir para um abrigo de menores ou orfanato
pra ser adotado.

-- Coincidência... A Giovanna e eu vamos adotar uma criança... – Manu nos confessou. - Já esta tudo
encaminhado.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- E já tá com toda documentação pronta?

-- A documentação esta, agora a gente tá na fila. Esperando para conhecer as crianças... E agora aparece
essa história desse bebê... – Interessada. - Como foi que vocês acharam ele?

Repeti toda a história que já tinha contado ao pessoal do hospital, policial e repórteres de jornal. Notei uma
tristeza nos olhos de Manu que só entendi mais tarde quando Júlia me explicou que Manu também foi adotada
por uma família.

-- Será que tem possibilidade da gente conhecer esse menino, Alice?

-- Claro, ele ainda esta em tratamento. Deve passar alguns dias no hospital.

-- Ele já tem um nome?

-- Então... A mãe disse que ele se chamaria Klemérson... – As três fizeram uma careta. – Mas como ela não
registrou e desistiu da guarda, a gente esta usando nome que o Bruno deu pra ele. Luigi.

-- Italiano. – Giovanna comentou. – Como o meu.

Júlia deu um sorriso.

-- Não é que o bebezão sabe escolher nome? Gostei. Forte! Diferente.

Foi à vez de Manu sorrir.

-- Então estou doida pra conhecer o Luigi.

Ela estava tão contente que nem notou o tom preocupado nos olhos de Giovanna. Esqueci do assunto e
ficamos conversando um pouco até que elas acharam por dom irem embora para que eu pudesse conversar
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

melhor com Júlia. Como eu já imaginava, nosso papo não foi nada ameno. Após levar as duas até o carro de
Manu, tentei discretamente fazer um carinho no rosto dela, Júlia desviou minha mão de um jeito delicado,
porém firme.

-- Júlia... Espera, antes disso tudo acontecer nós estávamos se entendendo e...

-- A gente não tem mais nada para se entender Alice. Você não confia em mim. Só estamos nos
machucando... Dando paulada uma na outra. Não é isso que eu quero pra mim e nem pra você. – Fez uma
pausa. - Como vai ser sempre? Eu digo que tenho uma cirurgia extra no hospital e você acha que eu estou
fazendo plantão com a Mariazinha? – Outra pausa. – Saio pra bater perna e você pensa que eu fui atrás da
Joaninha? – Fez um gesto negativo. – Não dá...

-- Eu confio em você. Eu acredito na sua história da Monique. Eu só fiquei cega de ódio dela, mas eu sei que
você não faria nada com o João lá e... Júlia? Tá me escutando.

Ela me encarava de um jeito sério. Fez um gesto afirmativo.

-- Estou. Só uma pergunta, se o João não estivesse ido comigo, você acreditaria em mim?

--...

-- Era só isso que eu precisava saber...

E virou as costas e saiu andando. Eu corri até a porta.

-- Espera Júlia, eu... Me dá uma outra chance. A gente viveu tanta coisa boa juntas... Deixa eu te mostrar que
eu posso ser melhor... Me perdoa Júlia... – Se ela me pedisse para eu implorar de joelhos eu não teria
vergonha de implorar. Só queria minha mulher de volta. Com a voz embargada, segurando meu choro eu falei.
– Eu faço que você quiser...

-- O que eu quiser? – Duvidosa. - Tem certeza?

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-- Tenho. Porque eu sei que se você sair por aquela porta eu vou esta perdida de vez... Me dá uma chance,
só isso que eu estou te pedindo. Não quero perder você...

-- Você que terminou comigo. Você que abriu mão de mim, disse que estava apaixonada pela Nat e... Eu não
entendo...

-- Por favor, Júlia...

Ela respirou fundo e por fim fez um gesto afirmativo.

-- Tudo bem... Você primeiro me da uma prova de que confia em mim e eu penso se posso perdoar você.
Mas não prometo nada. Certo?

-- Você não esta sendo dura demais comigo?

-- As vezes que eu relevei não deram certo. E então?

Ela era esperta. Eu não tinha outra saída.

-- Tudo bem! Pra onde você vai agora?

-- Minha vó... Vou ficar um pouco com o João... Tchau!

Tchau!

Trocamos um beijo no rosto. Eu sabia que ela não me prometeu nada, mas era o fio de oportunidade que me
restava para limpar toda lambança que eu andava fazendo nos últimos tempos. Júlia me deixou com um
sorriso nos lábios e com o rosto um pouquinho mais iluminado do que o de costume. Agora eu tinha que
arranjar uma maneira que comprovasse que eu confiava nela.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Enquanto eu colocava minha cabecinha avoada para pesar, Alê colocava nosso plano de achar um podre
contra dona Abgail em pratica. Logo cedo ela acordou, se desfez do abraço de Cíntia que dormia
tranquilamente ao seu lado e foi até a sede da Folha de Silvéster para buscar mais jornais antigos que
Caramujo, arquivista do jornal, tinha conseguido com notícias sobre os Franco e Dona Abgail.

-- Cara, é tudo isso? – Alê encarou uma oito pilhas de jornal, cada uma quase de seu tamanho. – Vou ter que
levar aos poucos e precisar de alguém pra me ajudar a ler isso... Caramujo, me ajuda a descer com uma pilha
dessas para o carro?

-- Você que manda Alê!

Chegou de volta em casa por volta das dez da manhã. No quarto Cíntia ainda dormia. Cruzou com Serginho
que seguiu para dormir em um dos quartos e se acomodou para sua leitura por ali. Leu por sei lá quantas
horas seguidas. Nada de muito importante. Já passava das quatro da tarde quando foi interrompida pelo
barulho de campainha.

-- Sou eu, Silvinha, esqueci a chave.

Alê abriu a porta e Silvinha passou por ela feito um foguete correndo e gritando que estava apertada. Alê
sorriu com as maluquices da minha prima e foi tratar de guardar os jornais para manter a discrição sobre
nossas investigações. Quando Silvinha saiu do banheiro enxugando as mãos percebeu que tinha algo diferente
na sala.

-- Cade?

-- O que?

-- Aquele monte de jornais que estavam aqui de manhã... Eram seus não eram? Uns jornais antigos... – Alê
serenamente fez um gesto negativo. – Claro que tinha Alê, eu não estou ficando maluca e... Ai um na sua mão.

Só então Alê percebeu a burrada que fez, escondeu tudo e não guardou justamente o que ela estava lendo. E
para ajudar era uma folha dupla com uma foto bem visível da dona Abgail. Alê colocou a mão para trás.

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-- Nada importante Silvinha...

-- Deixa eu ver então...

-- Não é nada! – Brincou. – Fofoqueira!

Silvinha abriu a boca tentando encontrar palavras para se defender.

-- Fofoqueira? Olha Alessandra, eu não esperava isso de você... – Alê deu uma risada. – Realmente... Eu sou
fofoqueira... – E sem aviso prévio Silvinha avançou para cima de Alê tentando arrancar o pedaço de papel a
todo custo da mão dela. As duas estvam se divertindo e minha prima fez um dos atos mais covardes que a
espécie humana é capaz de fazer: cócegas na barriga. Alê não agüentou e caiu quase desfalecida no tapete da
sala e ainda puxou minha prima. Depois desse “de volta aos sete anos de idade” só conseguiam rir. As duas
estavam cansadas por conta da “luta” corporal. Alê retirou os óculos de grau que estavam com as lentes já
embaçadas.

-- Você é covarde, Silvinha... “Cosquinha” é sacanagem...

Silvinha deu uma risada.

-- Cada um usa as armas que pode... E a fraca é você... – Foi estender o braço para finalmente pegar o jornal
que estava caído ao lado de Alê e sem querer esbarrou e caiu sobre ela. – Des-Desculpa...

-- Tu-Tudo bem...

E ficaram por alguns segundos ainda se olhando, como se estudassem o rosto uma da outra. Silvinha já estava
arrependida por conta da conseqüência daquela brincadeira. Alê se levantou e quando foi ajudar Silvinha
acabou colocando força demais e a puxando para cima de si.

-- Eu bati um monte de vezes e ninguém me atendeu, estava encostada e... – Nat se cortou ao ver aquela
cena. – O que é isso que esta acontecendo?

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-- Nta, eu cai e a Alê me ajudou a levantar e... O que aconteceu? – Silvinha perguntou surpresa ao ver o
estado de Nat. Não era por menos, ela estava molhada, rasgada, uma das mãos inchadas, o rosto vermelho e
visivelmente atordoada. - Te assaltaram?

Nat fez um gesto negativo.

-- Não. Posso falar com você sozinha?

-- Eu já estava indo para o quarto... – Alessandra se desculpou. – Licença.

Nat acompanhou Alessandra entrar no quarto com um olhar de nenhum amigo e só depois entrou e se
acomodou no sofá. Silvinha trouxe um copo d’água para namora e uma caixinha de primeiro socorros.

-- Nat, o que aconteceu? Você ta toda machucada... – Acariciou os cabelos de Nat de forma delicada e fez
com que ela se deitasse em seu colo, deu um beijo em sua boca. – Que foi que aconteceu... Não era pra ficar
em casa, descansando? Cadê a bengala, Nat?

-- Sei lá onde esta a bengala... – Levantou a cabeça do colo de Silvinha. – Soube de tudo Silvinha... Todo
mundo me fazendo de boba, de otária! Até você?

-- Do que você esta falando? – Silvinha perguntou confusa. – O que aconteceu?

-- Júlia e Alice! Juntas? – Fez um gesto negativo. – Todo mundo sabendo. Peguei as duas aos beijos...

-- Como é que é? Não estou te entendendo Natália...

Nat respirou fundo, tomou coragem e contou todo o barraco na minha casa. Silvinha ouviu todos os detalhes
atenta, com uma expressão incrédula.

-- Da pra acreditar?

-- Calma Nat, repete de novo.


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- A Alice e a Júlia na minha frente, juntas! - Minha prima apertou os olhos, Nat cega de raiva continuava
falando. - Aos beijos! As duas me enganando esse tempo todo! Me fazendo de palhaça!

-- A Alice esta te fazendo de palhaça junto com a Júlia?

-- Você não entendeu que eu peguei as duas aos beijos?

Silvinha irritada deu um soco na parede fez um gesto negativo.

-- Eu estou aqui! - Disse batendo o dedo no próprio peito. - E dai que você pegou as duas aos beijos se é
comigo que você esta? - Fez uma pausa. - Eu mereço o mínimo de respeito, Natália! Se estamos juntas eu
mereço e...

-- Ow, você com a Alessandra? O que foi que eu vi agora? Quer respeito se de ao respeito, Silvinha!

Nat não era burra. O olhar que Silvinha e Alessandra trocaram lhe explicou tudo. Entendeu o telefonema de
Abgail.

-- Nat, você escutou o que você acabou de falar agora? – Minha prima perguntou irritada. – A barbaridade
que você acabou de falar? Isso é ridículo é...

-- Então olha na minha cara e diz que não esta interessada nela, que ela não mexe com você! Que isso não
verdade! Que eu estou mentindo!

Silvinha, totalmente sem chão baixou os olhos.

-- Não é bem isso e... Não quero falar disso aqui. A Cíntia esta no quarto do Aldo, esta doente, não pode ter
emoções fortes...

-- Foi por que você ficou comigo? Por que eu fiquei doente ou pra esquecer a Alessandra?
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Silvinha sentia seu sangue ferver. Conheço minha prima, devia estar morrendo de vontade de estar Nat
todinha. Ela podia ser toda errada, mas jamais ficaria sério com alguém por pena. Também estava com raiva
por conta do estado de Nat.

-- Eu sou uma idiota mesmo, te tratando com carinho, cuidando de você e olha o que você faz... Sai na mão
com outra estando comigo. – Foi à vez de Nat ficar sem graça. – Quer saber de uma coisa Nat, você só
consegue gostar do que vê em frente ao espelho! Sai da minha casa... Não tenho vocação pra sofrer... Vai
embora!

______________________________________________________________________

Gabriel avistou sua moto na entrada do prédio de Silvinha. Estacionou o carro de Paula na vaga em frente ao
prédio e desceu para ver o estado do veículo. Sorriu ao ver que a moto estava sem um arranhão. Mesmo
saindo feito uma doida de casa, Nat chegou inteira ao seu destino. No banco carona do carro Paula estava de
cabeça baixa, com a uma mão na boca e outra na cabeça como se fosse passar mal. Gabriel correu até o
carro e cavalheiramente abriu a porta para Paula sair. Pegou uma garrafinha d’água e molhou seu rosto e os
lábios.

-- Tudo bem? - A resposta foi simples. Um bofetão no meio da cara. – AAAAAAAAAAAiii... Sua maluca!
Que foi que eu fiz agora?

-- Você acha o que , que ta na formula um? Falei pra ir a sessenta... Olha que essa tua teimosia infernal fez.
Meu estomago foi parar no cérebro. Imbecil! A gente podia ter morrido.

-- Eu falei que era pra descer do carro... – Gabriel advertiu ainda massageando o rosto. – Com a Nat
correndo feito uma doida, com perigo de morrer eu ia me preocupar com velocidade... – Deu um gole na
água. Preocupado confessou. – Se acontecesse alguma coisa com ela não ia agüentar... Já peguei a Nat
morta nos meus braços, sabia?

Paula o encarou e por fim deu um sorriso.

-- Não vai mudar nunca, né? Culpa daquele bando de mulher que vivia babando atrás de você... Elogiando
teu corpo, você acabou acreditando tanto nelas que pensa que é feito de ferro.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Gabriel deu um sorriso.

-- Não é isso... Mas é que... É pela Nat cara. No fundo ela vai ser sempre minha namoradinha. Que precisa
de ser defendida... De alguém para proteger... – Foi a vez de Paula sorrir. – Como se eu fosse um guarda
costas dela.

-- E você foi lá atrás dela?

Gabriel fez um gesto negativo.

-- Não. Eu moro lá com a Alice... – Paula fechou o rosto em uma expressão confusa. – Temos a relação mais
antiga do mundo. Patroa e empregado. Sou babá noturna da Heleninha e em troca ela deixou eu ficar no sofá
da sala... – A minha mãe não gostou muito dessa novidade, mas acabou engolindo. Podem me chamar de
doida, de maluca, mas o Gabriel foi à melhor babá que encontrei. Era limpinho, sem custos, confiável e
trocava fraldas mais rápido que aqueles mecânicos da McLaren em prova de formula um. - Depois que você
armou pra eu ser expulsou da pousada...

-- Armei nada não... Não sabia que o pervertido que ficava uivando na hora de... – Ficou vermelha. Gabriel
riu. - Você entendeu. Eu reclamei pra dona da pensão sem saber que era você... E muita gente reclamou
junto... Gabriel, ta me escutando?

-- Estou pensando aqui, Pamonha... Eu era meio doido na época, me espalhava fácil... quando a gente estava
na faculdade... Tem certeza que eu não NHOC você não? – Paula abriu a boca surpresa. – A gente já não
brincou de cachorrão por ai...

-- Grosso! – Ofendida. - Por – Por que você tem que estragar tudo no fim?

-- Quem disse? – Deu uma piscadinha cúmplice. Viu Nat sair do prédio, jogou a chave do carro nas mãos de
Paula. – É no fim que eu sempre acerto...

Paula sorriu sem graça e assistiu Gabriel se afastar. Só quando ele estava em uma distância bem segura ela
murmurou para si mesmo.

-- Era pra você ser meu acompanhante no baile de formatura da faculdade...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Do outro lado da rua, Nat era amparada por Gabriel. Ela chorava como criança.

-- Eu e minha especialidade em transformar algo legal que estava começando e que tinha chance em da certo
em uma briga de fim de feira sem sentido... Silvinha acabou comigo. Não quer me ver. – Ela estava
arrependida. – Não mereço ninguém nessa vida Gabriel... Faço tudo errado! Me leva embora pra casa... Por
favor...

Gabriel a obedeceu e foram de moto para o apartamento de Nat. Entraram no apartamento. Ela muito
abatida. Ouviu um barulho vindo do bar. Era Bruno que virava alguma bebida.

-- Êêê... Que foi?

-- Terminei com a Rebeca! – Ele respondeu com a voz embargada, com raiva. – Ela... Acredita que ela
aceitou outra campanha? Pousar de sei lá o que... – Choroso. – Nem perguntou o que eu achava. Não quero
olhar mais na cara da Beca...

Gabriel fez um gesto negativo.

-- Dá um pouco disso aí... – Nat estendeu um copinho a Bruno. – Vai que eu estou precisando!

-- Tem certeza?

-- ANDA BRUNO! Nem médica mais eu sou com essa porcaria de mão! Não opero mais ninguém! Não sou
médica, não sou nada, não tenho ninguém!

-- O que aconteceu?

-- Pegou Alice com a Júlia...

-- Mas ela não estava com a Silvinha...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Dá logo essa merda Bruno! Pega também Gabriel!

Os dois a obedeceram. Em menos de duas horas já tinham feito uma mistureba danada de vodca com uísque
e rum. Bruno já tinha apagado e ido para seu quarto. Nat, trêbada, veio trazendo mais uma dose para Gabriel
que estava deitado na cama de sua suíte.

-- Que-que é isso?

-- Catuaba! A va-ca da Jú-lia trouxe quando Che-chegou. – Gabriel fez um gesto negativo. Também já
estava de fogo. Nat sentou em seu colo colocando uma perna de cada lado. Derramou um pouco na boca de
Gabriel e limpou com a própria boca. Chupou os lábios de Gabriel. – Huuuum... Tá bom... Bebe comigo?

Gabriel confuso não acreditava naquela cena. Nat começou a jogar mais bebida pelo seu corpo causando
arrepios em sua pele. Começou a lamber a bebida.

-- Nat, você quer mesmo transar?

-- Ah, alguma coisa tem que dar certa comigo hoje, pelo amor de Deus, Gabriel... - Beijou sua boca,
arrancou sua camisa. – Você não quer?

Gabriel deu um sorriso. Precisava perguntar duas vezes? Nat ligou o aparelho de som.

Mais uma dose? É claro!


É claro que eu tô a fim
A noite nunca tem fim
Por que quê a gente é assim?

-- Vê se ao menos me engole...– Ela cantarolou enquanto fazia ele deitar na cama. Gabriel sentiu quando Nat
começou a soltar alguns movimentos insinuantes. Desfez de sua própria camisa revelando um sutiã preto
bonito. Acariciou o abdômen de Gabriel e sentiu os pelos de sua barriga se eriçarem. Pegou a garrafa de
catuaba e jogou sobre ele. – Não me mastigue assim...

Agora fica comigo


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

E não, não
Não desgruda de mim
Vê se ao menos me engole
Não me mastigue assim...

Canibais de nós mesmos


Antes que a terra nos coma
Cem gramas, sem dramas
Por que quê a gente é assim?

Não disse que quando as pessoas bebem trocam de personalidade? Essa é a Nat hétero. Amanhã isso vai dar
uma merda do tamanho do Maracanã, sim ou claro?

_____________________________________________________________________________

Em casa eu me ocupava com os meus afazeres domésticos para não enlouquecer pensando nos meus
problemas. Fui interrompida pelo telefonema de papai.

--Alice, consegui com o Ivan o contato de outros dois remadores que você me passou a foto... Pega papel e
ano o endereço. Um deles também mora em Piracicaba e o outro esta em Limeira.

Meu pai era um divo mesmo. Me ajudando a distância. Quando desliguei encontrei com um olhar fuzilador
para o meu lado. Era mamãe. Tinha chegado do serviço e deve ter ouvido meu telefonema.

-- Era aquele homem?

-- É era o meu pai...

-- Ele vai mandar o dinheiro...

-- Mãe, já conversamos sobre isso...

Meu pai insistiu em ficar responsável pelo pagamento da babá de Heleninha. Eu não gostei muito da ideia a
principio, mas acabei concordando porque precisava trabalhar. Quando consegui que Gabriel olhasse a Lelê
de graça, suspendi a ajuda de papai e minha mãe estava tiririca comigo por conta disso. Enquanto ela
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

terminava de passar a ferro um vestido meu veio tirar satisfações.

-- Alice, esse dinheiro é seu e da sua filha, ele esta gastando com aquela mulherzinha...

-- Mãe, conversei com o papai, ele ficou então de me dar de presente as passagens quando a Lelê e eu for
visitar-lo, tudo bem assim?

-- Visitar? Alice, eu não permito que você e minha neta vão ver aquele sujeitinho! Vocês estão proibidas.

-- Mãe, mas problema agora não, por favor... E eu sou maior de dezoito anos... Tenho o direito de ir e vir...
Eu liberei o Gabriel – Abri a geladeira. – Mãe, quer jantar o que? Frango ou bife...

Minha mãe não me respondeu, pigarreou e então me disse.

-- Minha filha, as coisas nessa casa vão mudar. – Fez uma pausa. - Eu tenho sido uma mãe exemplar durante
todos esses anos. Eu me matei trabalhando e cuidando da casa para te dar uma vida confortável... – Outra
pausa. - Eu quero te contar uma decisão que tomei.

-- Mãe, esse sermão todo é pra eu pedir uma pizza? – Peguei o telefone. – Meia marguerita, meia calabresa?

-- Não minha filha. Esse sermão é pra explicar que eu vou arranjar um amante.

UM O QUE? Como um amante! Ironicamente a gente nem gosta de imaginar que mãe faz sexo, como ela ia
arrumar um amante?

-- QUAL É MÃE? A senhora enlouqueceu?

-- Alice, eu renunciei muitos planos de juventude para criar você. Cumpri o meu dever. Eu acho que eu
conquistei o direito de arranjar um amante.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- A senhora? – Ela parou de passar meu vestido e foi com ele para o quarto. – Com um amante?

-- Ou dois! – E bateu a porta do quarto na minha cara. Dois? Dois? Mais que um?– Alice, eu era a mais
bonitinha da minha turma. Poderia ter virado modelo e seguido carreira. – Eu vou recomeçar de onde parei...
– Abriu a porta usando MEU vestido, toda maquiada, bonitona. – É a volta da Verinha...

-- ASSIM A SENHORA NÃO VAI A LUGAR NENHUM!

-- Eu sou maior de dezoito anos... Tenho o direito de ir e vir... – Cruzei meus braços decidida a morrer ali
impedindo que ela saísse. – Sai da frente senão não olho mais sua filha, hein?!

-- Tá bom... Já que a senhora insiste tanto... – Abri passagem. Mamãe saiu, cruzou com Rebeca que chegava
em casa, abriu os olhos surpresas ao ver mamãe. Ela podia arranjar um amante, mas ia ter regras, afinal a casa
era minha. – AI MÃE, SE VOLTAR DEPOIS DA MEIA NOITE VAI TER!

Ela nem olhou na minha cara entrou no carro e foi embora.

-- Esta acontecendo alguma coisa? – Rebeca me questionou. – Que foi?

-- Estamos arranjando um amante.

-- Um amante?

-- Ou dois!

Entrei em casa com Rebeca. Só então percebi seu olhar triste e o nariz vermelho de tanto chorar.

-- Que foi Beca?

-- Bebê terminou comigo. – Sim, o bebê era aquele javali do Bruno. – Por que eu aceitei fazer outra
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campanha sem consultá-lo.

-- De biquíni?

-- É de um creme de corpo...

-- E porque você nem conversou com ele antes? Não sabe como é, Beca... Gosta de fingir que manda e a
gente finge que obedece...

-- Alice, querem me pagar duzentos mil. É um apartamento, cacete! Não tinha nem como não aceitar.

-- Duzentos mil? – Perguntei ainda assombrada. - Tem vaga pra mim não? Tenho uma filha pra criar... Ai
duzentos mil...

-- Mas vem cá, tua cara não ta melhor que a minha, não... Que foi?

-- Além da minha mãe arranjar um amante? – Ou dois. - A Júlia terminou comigo e a Nat pegou a gente junta,
deu maior barraco... – Fiz um gesto negativo. – Acho que dessa vez chutei o pau da barraca e mandei pra
lua... Ela ta pê da vida comigo...

-- Ai, isso é macumba... Amiga a gente tem que se apoiar pra enfrentar os problemas assim de queixo
erguido.

-- Isso que apesar de tristes e aparentemente derrotada nós somos mulheres com M maiúsculo. E nada, nada
nesse mundo pode deixar nos abater... Isso é só uma fase ruim.

-- Lógico que é...

Tá, confesso que não foi assim. Nossa intenção era ficar de cabeça erguida, mas ligamos o rádio e começou a
tocar Bethânia “De noite eu rondo a cidade A lhe procurar, sem encontrar No meio de olhares espio Em
todos os bares Você não está...” Nós começamos a chorar, nos abraçamos jurando amor eterno, nos

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entupimos de brigadeiro com sucrilhos e pizza. No final da noite adormeci com Rebeca se acabando de
chorar e cantar junto com a Mariah Carey:

-- I wanna know what love is... I want you to show me... I wanna feel what love is... I know you can show
me...

Lá pelas duas da manhã acordei com a Rebeca quase em cima de mim. Heleninha chorava em seu quarto.
Levantei para ver o que era, ela estava com um pouquinho de cólica. Eu estava morrendo de cansaço. De
olhos fechados eu fazia massagens e cantava para ver se a ela voltava a pegar no sono.

-- Bicho papão, saia do telhado, deixa a Heleninha dormir sossegada...

Quando coloquei Heleninha no berço, ouvi um barulho de motor e olhei pela janela. Era a moto de Júlia. Ela
estava sozinha. Devia ter esquecido alguma coisa na cabana. Antes dela partir, eu tinha uma decisão tomada
sobre dona Abgail. Eu ia contar o que estava acontecendo. Não contei porque ela foi viajar. Agora era
diferente. Ela não queria que eu começasse a demonstrar através das minhas atitudes que eu confiava nela?
Era o que ela ia ter. Calcei meu chinelos, ajeitei meus cabelos do jeito que deu com as mãos e fui bater na
porta da cabana. Ela veio me atende.

-- Alice, aconteceu alguma coisa?

-- Aconteceu, eu preciso conversar com você.

-- Entra.

Obedeci. Me acomodei no banco da mesa, ela serviu duas xícaras de chá de erva cidreira que sabia que eu
amava e se sentou na cadeira a minha frente.

-- Que foi?

-- Sua mãe. – Júlia automaticamente fechou a cara. – Ela quer te por na cadeia Júlia.

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Pois é, chega de protelar as coisas. Não ia esconder mais nada dela. Pronto, agora pode congelar na cara da
Júlia.

End Notes:

Cenas do próximo capítulo:

-- Como é Giovanna? - Manu cobrou sem esconder sua irritação. - Você o


que?

-- Eu não sei se devemos conhecer esse bebê Manu! Não sei se é certo temos
nosso filhos assim. Você já pensou como vão ser as coisas? Eu estou com
medo!

-- Medo de que?

-- Dá gente ver uma criança, conhecer se apegar e depois um juíz vir e passar
a criança para outra pessoa! Eu não quero conhecer esse bebê por que estou
com medo!

_________________________________________________________________

Doutora Paula fazendo sucesso com mulherada nos coments, olha só... Tempo fechou
para os três irmãos Franco, né? A Júlia tá pegando pesado demais com a alice? O
que cês acham? Beijooooos!!!

Quem merece ser o próximo congelado? KKKKKKKKKKKKKKK (To amando


essa brincadeira kkkkkkkkk)

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Capítulo 52 by Tamaracae

Author's Notes:

OOOiiii!

Júlia ainda desacreditada se levantou da cadeira.

-- Ela te procurou e disse tudo isso mesmo? – Júlia em perguntou ainda intrigada. -Com todas as letras?
Alice, ela me usou para te ameaçar?

Eu não gostei de ser portadora daquela mensagem. Não mesmo. O que eu menos queria era ver Júlia sofrer
ou confusão em sua vida. Contar a ela o que estava acontecendo era jogá-la em um redemoinho de
problemas que sei lá onde teria fim. Uma pena não ter outro jeito de resolver aquilo.

Também havia outra razão e muito mais urgente de contar a verdade. Eu estava preocupada com ela. Fiquei
pensando, a cobra da Dona Abgail não vai ficar nada feliz ao saber que a filha querida tinha saído no pau com
a outra. E se ela resolvesse abrir a boca? Se eu omitisse que a bruxa tinha provas para encrencá-la quando
bem entendesse ,seria a mesma coisa que deixar Júlia caminhar em direção ao abismo com os olhos
vendados.

-- Usou. – Confirmei. Meu coração cortou ao ver os olhos de Júlia cheios de angustia, como eu comecei tinha
que terminar. – Foi naquele dia que a Nat acordou, logo quando eu voltei para trabalhar. – Baixei os olhos.
Impossível esquecer a cara arrogante daquela mostra me chantageando. – Ela foi sem rodeios. Direto no
ponto. Disse que a gente precisava terminar o que a gente tinha de uma vez porque ela não tinha tempo.

-- Ela não pode ter sido capaz, ela...

-- Ela foi Júlia. –Levantei meus ombros e por fim disse o que eu achava. – O problema não é só preferência
pela Nat, Júlia... Ela odeia você. Eu sei que tua mãe, mas alguma coisa muito grave se passa com ela porque
ela odeia a própria filha... – Fiz uma pausa e voltei a falar do assunto. – Ela pediu a Duarte para usar a sala de
conselho de reuniões e me fez assistir um DVD de você com o tal fiscal. Vocês apareciam negociando
descaradamente, mas não falam no nome da Nat. Só no hospital. Depois você entrega um envelope e pede
para ele conferir se tinha os cem mil que ele pediu e depois acaba...

Júlia jogou um cinzeiro que estava sobre a mesa. Resmungou um palavrão. Começoiu a esmurrar tudo que via

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pela frente.

-- Júlia, calma... A gente ainda tem uma chance... Acho que ela não vai agir precipitadamente. – Fiz uma
pausa, obriguei Júlia a se sentar. - Ela deve estar com essas provas há meses. Ela não vai usar isso de uma
hora para outra, cara... Júlia explodir desse jeito, meter o dedo na cara dela agora não vai adiantar nada.
Posso te fazer uma pergunta?

-- Pode.

-- Por que no dia você não me contou que subornou aquele fiscal? – Fiz uma pausa. – Você ficou com medo?

Ela usou a cabeça para negar minha suposição.

-- Não foi medo. Era vergonha. – Cabisbaixa. – Alice, eu tenho cara, o jeito de ser a maior pistoleira do
mundo, mas eu gosto de justiça. Do meu jeito acredito que sou honesta, sou verdadeira. – Olhou nos meus
olhos. – Eu tive vergonha aquele dia. Minha atitude foi errada, eu sei, mas minha intenção não era prejudicar
ninguém. Me senti péssima. Suja, não tinha coragem de me olhar no espelho... Por isso que não te contei.
Acho que eu não tinha coragem de repetir essa história para mim, trancada dentro do banheiro.

O silêncio tomou conta da sala. Eu senti que depois de tudo que ela havia me falado eu precisava dizer alguma
coisa. Peguei em sua mão, nossos olhos se encontraram.

-- Mesmo até quando você mesmo sentir vergonha de alguma atitude sua, eu não vou te julgar e não vou me
envergonhar de você. – Apertei sua mão, dei um sorriso. – Porque eu sei quem você é... Se você deixasse tua
irmã se ferrar na mão daquele cara, não seria você. Eu sei que você ta machucada, magoada comigo, mas me
deixa eu te ajudar a sair dessa? Eu vou te ajudar... Eu só precisava de um... Deu alguma coisa que me
levasse... Se eu soubesse onde ela guardou esses originais. Eu sei que ela não deve ter deixado em um lugar
só, mas com os originais na mão tudo ficaria mais fácil. Depois a gente só apagava as cópias...

-- Se você chantageasse alguém com provas, qual o lugar mais seguro? Um cofre de banco? Um esconderijo,
um...

-- Depende... – E me expliquei. – Guardaria em um lugar onde eu sabia que seria menos provável da pessoa
estar lá. Se eu chantageasse a Silvinha, por exemplo... Guardaria as provas naquela igrejinha evangélica que
tem duas ruas atrás do hospital porque saberia que lá ela nunca entraria... Vai de pessoa em pessoa. – Olhei
para Júlia. Percebi que seus olhos estavam mais claros que o de costume. Com um brilho diferente. – O que

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foi?

Júlia fez um gesto afirmativo.

-- Você pode estar certa, Alice... Tem um lugar que eu não entro nem a pau e minha mãe sabe muito bem
disso. Com certeza seria um ótimo esconderijo... A chácara.

-- Chácara?

-- A chácara que minha mãe morava quando eu nasci. Vivi lá até a morte do meu pai... Depois eu pedi pra ir
morar com a vovó... Minha vó deu aquela casa de presente de casamento pra minha mãe. Depois que ela
morreu eu fui pra minha voe ela e a Nat foram para o apartamento, mas a Nat passava mais tempo na
fazenda, por causa do Gabriel, do que no apartamento. Quando o Bruno nasceu elas se mudaram de vez pra
vovó e só saíram anos depois... Nunca mais entrei na chácara, mesmo sendo vinte minutos daqui e ainda de
propriedade da minha mãe...

A cada momento que ela falava eu me sentia mais e mais atraída por aquela história. Minha intuição gritava
que eu precisava seguir em frente. A palavra chácara martelou no meu ouvido de um jeito familiar. Fui
praticamente teletransportada para os meus primeiros dias em Silvéster, quando ainda morava com tio Afrânio
e tia Guida. Estava no quarto de hóspedes, ainda sem saber que estava grávida, falando com minha prima
sobre a médica grosseira que eu salvei na estrada e da mexicana motoqueira de São Paulo quando Silvinha
me fez o convite:

-- A chácara da mãe do Bruno tem uma pinguinha tão boa... Por que você não vai com a gente? – E logo
depois ela ainda completava. - Claro, as festas na chácara da dona Bibi são famosas. Ainda mais que ela não
vai estar!

Eu já tinha ido lá naquela chácara. Ficava mesmo há vinte minutos dali. Tanto é que depois de Nat dar a festa
por encerrado paramos na cabana da irmã desconhecida, que eu mal podia sonhar que era minha motoqueira
mexicana.

-- Júlia, eu já estive nessa chácara. – Ela me ergueu. – Foi antes de você voltar... E foi no mesmo dia que eu
conheci a cabana. Por que você não foi até lá quando voltou?

-- Só minha mãe e meus irmãos iam lá, eu não... Alguma coisa não me fazia bem naquela casa, Alice... Eu
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

sempre gostei mais da fazenda da minha vó. Tanto que eu não vou lá desde... Desde criança... – Júlia se
levantou inquieta, pegou o capacete da moto. – Eu tenho que ir lá... Só pode estar lá... Eu tenho certeza e...

-- Você vai assim? – Eu cobrei apreensiva. – Pegar a moto nesse estado? Deixa que eu vou com você,
amanhã, com calma...

-- Não, é melhor você ficar fora disso Alice, pode sobrar pra você... Conheço minha mãe, ela já mostrou que
não esta pra brincadeira. Eu resolvo isso sozinha! – Fiz um gesto negativo e bati o pé decidida. – Alice, o
melhor que você tem a fazer é cuidar da sua filha que... – Fez uma pausa. Uma expressão séria, de dúvida. –
Que esta chorando agora... Acompanhada de soluço. Alice, isso é choro emocional... Ela esta se sentindo
revoltada...

-- Revoltada? Só um minuto Júlia, já volto.

Meu Deus, que horror de mãe que eu fui ser? Minha filha com seis meses de vida se revoltando. Oras, eu
também queria o que? Um pai daqueles, a avó sai por ai arranjando amantes, o avô termina um casamento de
sei lá quantos anos por uma aventura e a mãe é uma retardada emocional. Entrei em casa e corri para o
quarto desesperada, com os pulmões de fora.

-- Filhinha, não chora assim, mamãe compra a chupeta do Patati Patata pra você e as toalhas da galinha
pintadinha e a a mamãe fica de folga só pra ficar com você e... – Fiz uma pausa e após um segundo de
brilhante pensamento percebi que Heleninha estava dormindo feito um anjo. – Ué, mas a Júlia?

Meu raciocínio foi cortado por um ruído de motor. Júlia saia com a moto sem se despedir de mim. Filha da
puta (no caso de Júlia literalmente), me enganou direitinho. Mentiu que Heleninha estava chorando e eu, besta
como sempre, fui na onda dela. Engoli o verde. Eu tinha certeza que ela foi na maldita daquela chácara. E eu?
Só podia ficar de mãos atadas já que meu carro devia estar servindo de motel para mamãe com seus dois
amantes.

______________________________________________________________________

Cíntia, ainda de olhos fechados, meio cochilando, começou a tatear algo em sua cama e só encontrou espaço
vazio. Já passava das cinco e meia da manhã e nada da Alessandra aparecer. Meio relutante abriu os olhos e
acendeu a luz da luminária do criado mudo do quarto. Onde tinha se metido?

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Sonolenta, jogou o lençol sobre seus obros e caminhou até a sala. Lá estava Alê. Os olhos cansados lutavam
para ficar abertos, ainda lia os jornais antigos. Cintia se agachou a abraçou por trás e roubou um beijo da
namorada.

-- Vem deitar, por hoje chega Alessandra, você esta cansada...

-- Eu já ia deitar... – Alessandra murmurou esfregando os olhos e ajeitando os óculos. Só estava terminando


de ler isso aqui... Olha, é a D. Abgail com a sua médica quando eram novas. Deixa eu te mostrar um
negócio...

Alessandra estendeu a mão para pegar uma folha de jornal, mas Cíntia não quis ver. Deixou as duas folhas
separadas e guardou dentro de um presente que Isa havia lhe dado: uma cartilha de alfabetização.

-- Amanhã você mostra amor, agora eu quero você deitada comigo. Quando a Alice vier aqui amanhã você
mostra o que achou dessa bruxa da Dona Abgail. – Eu iria lá na noite seguinte, tinha combinado que Alê iria
comigo para visitar os tais remadores. – Amanhã que você vão ver os cinco pais, né?

Alessandra fez um gesto afirmativo. Se ergueu e deu passos incertos. Estava tonta de sono. Cíntia fez com
que Alê passasse um dos braços em seu pescoço. Elas iam entrar no quarto, mas Alê resolveu parar no
banheiro antes.

-- Estou toda suada, suja, vou tomar um banho... – Aproveitou que o rosto das duas estava bem próximo e
trocou um beijo carinhoso com a namorada. Cíntia fez um carinho em seu rosto arrepiando Alê por completo.
– Toma banho comigo, amor?

Apesar do sono, Cíntia enxergou desejo nos olhos de Alê. Desde o começo do tratamento que não faziam
nada, apenas alguns carinhos, beijinhos. Sentia falta do corpo namorada junto do seu. Morria de vontade de
estar com a pele de Alê grudada com a sua, os olhos das duas se encontraram, Alê exibiu um sorriso
confortando a insegurança de Cíntia.

-- Eu sempre vou te achar linda meu amor. – Suas mãos encontraram a cintura de Cíntia. – E eu estou
morrendo de tesão em você assim de pijaminha... – Deu um beijinho na orelha de Cíntia a convencendo. –
Vem comigo?

Cíntia ainda acanhada fez um gesto afirmativo e sorriu aceitando o convite. De começo, Cíntia beijou Alê
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

timidamente, como se ainda não se conhecessem, mas depois deixou o contato se aprofundar. Pressionou Alê
contra porta do banheiro e aprofundaram o beijo. Jogou a blusa de Alê para o lado e então entraram no
banheiro.

Só depois de ouvir o bater da porta que Serginho acendeu a luz da cozinha e se revelou testemunha do
diálogo das duas. Esperou ouvir o barulho do chuveiro se abrindo e foi fuçar nos papéis de Alessandra. Os
jornais que ficaram ali, Serginho guardou em uma pasta. Tirou algumas fotos com o celular das pilhas dos
outros jornais e então pode dormir em seu sofá. No dia seguinte cedinho procuraria dona Bibi para lhe passar
informações.

______________________________________________________________________

As seis da manhã Nat acordava com o barulho do rádio que permanecia ligado no quarto a noite inteira. A
cabeça parecia pesar mais de dez toneladas. Sentiu um braço enlaçando sua cintura. Com certa dificuldade
abriu os olhos e encontrou a mão de Gabriel pesando sobre seu corpo. Ainda confusa tateou o próprio busto,
sim, estava nua como ele. Fechou os olhos tentando pescar qualquer lembrança da noite.

-- O que aconteceu com você, hoje, hein? – Gabriel perguntou ofegante. – Nat... Que fogo é esse? Eu... Dá
uns minutinhos...

-- Não, Biel... – Deus mais alguns beijinhos em sua boca. – Cinco é meu número da sorte, só mais uma. A
gente não precisa transar. – Sussurro no ouvido dele. – A gente pode brincar de Frajolão e Piu Piu que nem
quando a gente era casados... – Gabriel deu uma risada fazendo gesto afirmativo. – Lembra? – Afinou a voz
imitando o Piu Piu. – Huuuuum... Eu acho que eu vi um gatinho... Eu vi... Eu vi sim... – Gabriel deu uma
risada, sentiu as mãos de Nat percorrendo para baixo de seu abdômen, já voltava a se animar. – Ou será o
piu piuzinho... Ou será Frajolão?

Ele a puxou já completamente refeito pronto para outra.

É... Sábio Nelson Rodrigues que dizia “Se cada um soubesse o que o outro faz em quatro paredes, ninguém
se cumprimentava.” Nat esfregou os olhos tentando apagar todas aquelas lembranças e se levantou para um
banho gelado. Deixou Gabriel roncando com o edredon até a cabeça e foi tomar uma ducha gelada. Ligou o
chuveiro e de dentro do banheiro não viu Bruno entrar no quarto. Outro com a cara da ressaca. Sacudiu o
edredon.

-- Nat, vou deitar aqui porque a faxineira vai limpar meu quarto.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Não esperou nem a resposta e já se jogou na cama morto de sono. Gabriel sem tirar o edredon da cara
apenas enlaçou o corpo de Nat e os dois voltaram a dormir.

Em casa acordamos cedo. Rebeca e eu íamos trabalhar. Na verdade eu nem dormi ainda pensando em Júlia.
Ela não atendia o celular e nem voltava para cabana. Estávamos tomando café quando ouvi a porta. Corri
para atender a porta. Não era Júlia.

-- Giovanna?

-- Desculpa te incomodar tão cedo, Alice, mas a Manu esta ai? – Fiz com que ela entrasse. Giovanna e
Rebeca foram apresentadas. – Nós discutimos sem querer e... E ela não dormiu na pousada, não sei onde
procura-la.

-- Discutiram? – Giovanna sem graça fez um gesto afirmativo. Mas por que, Giovanna? Vocês pareciam tão
bem...

Giovanna baixou os olhos sem graça e por fim me confessou.

-- Eu disse a Manu que não quero conhecer o bebê.

A discussão das duas tinha acontecido após o jantar. Manu voltava de uma reunião no hospital com Júlia, D.
Regina, Duarte e Paula. As cinco discutiam sobre a UTI pediátrica, os gatos a serem feitos e profissionais que
poderiam ser selecionados. Após a reunião, Paula a convidou para conhecerem Luigi.

-- Eu preferia conhecer junto da Giovanna, acho que ela não me perdoaria se não estivesse presente...
Amanhã cedo vamos conhecê-lo.

Manu pegou uma carona com Duarte e foi deixada na pousada. Chegou toda animada, contando sobre o
trabalho que estava ajudando a fazer na UTI pediátrica e também sobre a visita ao bebê que iriam fazer no dia
seguinte. Giovanna tinha que falar a verdade. Não estava preparada para um passo tão grande ainda.

-- Como é Giovanna? - Manu cobrou sem esconder sua irritação. - Você o que?

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-- Eu não sei se devemos conhecer esse bebê Manu! Não sei se é certo temos nossos filhos assim. Você já
pensou como vão ser as coisas? Eu estou com medo!

-- Medo de que?

-- Dá gente ver uma criança, conhecer se apegar e depois um juiz vir e passar a criança para outra pessoa! Eu
não quero conhecer esse bebê porque estou com medo! – Fez uma pausa. – Você já pensou nessa
possibilidade? – Insegura. – Talvez devemos esperar um pouco... Talvez... – Murmurou. – Talvez... Tenha
fomos precipitadas e tudo é um erro.

-- Você não quer ter uma família comigo, é isso?

Giovanna fez um gesto negativo.

-- Quero, claro que quero... – Fez um carinho no rosto de Manu. – Mas quero uma família que seja só
nossa... Sem nenhum juiz que diga que não podemos ser mãe de nossos filhos... Me entende? Uma família,
filhos nossos mesmo.

Ao ouvir a última frase, “filhos nossos mesmo”, a expressão de Manu mudou. O que Giovanna queria dizer
com aquilo? Que filhos de criação são menos filhos de seus pais? Que talvez ela (Manoela), como filha de
criação fosse menos filha de sua família? Não esperava ouvir aquilo, não de Giovanna a quem sempre teve
total admiração e confiança. A italiana logo notou a infelicidade de sua colocação e ia tratar de se desculpar.

-- Manu, desculpa, eu...

-- Não... – Manu balbuciou ainda aturdida com o rumo da conversa. – Você... Você era a ultima pessoa que
eu esperava ouvir uma ignorância desse tipo Giovanna. O que você falou agora eu não vou esquecer, não
posso esquecer porque é ligado diretamente a quem eu sou.

Manu pegou a bolsa, jogou a carteira de documentos dentro.

-- Amor, onde você vai?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Eu não quero ficar com você hoje. – Desvencilhou a mão de Giovanna de seu braço. – E não me chama de
amor...

Saiu do quarto era quase onze horas da noite. Giovanna resolveu que talvez fosse melhor deixa-la sozinha por
um tempo. Tinha sido mesmo infeliz, Manu estava com raiva, era melhor deixar as coisas esfriarem para
conversarem mais sossegadas. As horas foram passando, passando e nada de Manu chegar. Giovanna pegou
no sono e acordou às quatro da manhã sentada no chão atrás da porta. A cama intacta, não tinha voltado
para a pousada. Só esperou amanhecer para poder começar sua busca.

A primeira pessoa que procurou foi por Júlia, como não estava em casa acabou parando na minha casa de
bonecas. E eu? Não sabia o que dizer em uma situação como aquela. Eu entendia perfeitamente o lado de
Manu e concordava que ela estivesse certa, mas dava uma peninha ver Giovanna com aquela carinha de
culpada. Rebeca quem me salvou.

-- Ela não deve ter ido para longe, calma... Você já ligou para o celular da Júlia? – Rebeca perguntou. – Vai
ver ela sabe de alguma coisa.

Júlia... Essa era outra que tomou chá de sumiço. Eu acabei nem dormindo o restante da minha madrugada.
Ligava, ligava, ligava para seu celular e nada dela me atender. Nossa apreensão ficou meio de lado com a
chegada da minha babá.

-- Bom dia...

-- Finalmente, hein, isso são horas? – Eu cobrei ao ver o estado de Gabriel que parecia ter sido atropelado
por um caminhão. – Vai querer o que de café da manhã, Engov?

-- Péssimo dia! Pelo menos começou para mim, para Nat e para sua prima. Tem café preto nessa casa, não?
– Olhou para Giovanna que estava na sala tentando ligar para Júlia e Manu, sem sucesso. –Quem é essa que
esta aqui desde ontem e ninguém me apresentou? Ela foi contratada pra enfeitar o ambiente, o que seria de um
belíssimo bom gosto ou é amiga de vocês?

-- Esposa da Manu, amiga da Júlia. A loirinha que estava aqui ontem. – Gabriel fez um gesto afirmativo. – As
duas brigaram e ela veio procurar aqui...

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-- A loirinha tá com a Pamonha no hospital, tive o desprazer de cruzar com ela agora quando fui levar o
Bruno para trabalhar.

Os olhos de Rebeca ganharam um brilho diferente.

-- O Bruno? – Gabriel fez um gesto afirmativo. – Vocês estavam juntas? Como ele esta...

-- Bem... – Gabriel disfarçou. – Mesma coisa.

Vocês sabem como é mulher, falam pra gente bem e a gente entende que o cara estão mal, falam mal e a
gente acredita que esta morrendo e assim vai. Quando queremos distorcemos por completo. Rebeca logo
desconfiou que Gabriel estava escondendo algo e começou a aperta-lo.

-- O que aconteceu com ele? Fala!

-- Nada, Rebeca... – Gabriel deu um gole no café. – Você não vai entender... Deixa pra lá...

Já disse, mulher entende o que quer. Gabriel falou “deixa pra lá” e a Beca escutou “vi ele com uma loira com
os peitos da Pamela Anderson fazendo sexo na praça principal da cidade”.

-- É outra mulher? – Gabriel se negou a responder, Beca não se fez de rogada. Enfiou uma das mãos por
baixo da blusa dele, puxou um punhado de pelos da barriga. – Fala, senão eu arranco esses pelinhos, o que
aconteceu? Quem é essa mulher?

-- AAAAAAAAAAAAAI! A gente só deu UM beijo na boca por engano... – Beijo na boca? Depois que o
Gabriel revelou isso vocês quase perderam a narradora da história (eu) engasgada com um punhado de
granola com leite de tanto que eu ria imaginando aquela cena. Gabriel e Bruno deitadinhos lado a lado de
conchinha. Gabriel se estende todo, da um beijo na boca e depois abre os olhos e se depara com a cara
barbuda do Bruno. - Sei lá quem aquele vagabundo tá saindo e se tá saindo com alguém...

Giovanna vinha da sala e após conseguir me reestabelecer, consegui contar a ela sobre Manu.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- No hospital?

-- Vai ver ela dormiu com a Paula. – Eu expliquei. – Ela mora na pousada que vocês estão hospedadas e pelo
que a Júlia me contou ontem ficaram bem amigas... Talvez tenha dormido lá...

-- Não esquenta... – Gabriel garantiu. - A Pamonha não pega nem doença...

Ele falava, falava, falava, mas devia estar doidinho pra provar daquela pamonha como meio hospital estava.
Enquanto Rebeca e Giovanna procuravam o número de rádio de Paula na genda do celular de Rebeca, eu
tratava com Gabriel de outro assunto.

-- Vem cá, você falou que a Nat teve um começo de dia péssimo. Ela e a Silvinha brigaram?

Gabriel, sério, fez um gesto afirmativo.

-- Alice... Acho que a Nat vai precisar de você, cara... Ela esta completamente arrasada!

E me contou toda a briguinha de Nat e Silvinha. Rosa, diarista da casa de Nat chegou as sete para começar a
faxina no apartamento. Ela era de confiança e já tinha as chaves da casa. Ao abrir a porta viu toda a zona que
Bruno, Nat e Gabriel tinha feito na sala na noite anterior.

-- Senhor, deve ter um encosto ruim nessa mulher... Só pode ser isso. Era tão calma, tão tranquila... De uns
meses para cá é bebida, é entra e sai de mulher... – Pegou uma calcinha jogada sobre a mesa. – Ai... Calcinha
pra todo lado. Acho que o Wando morreu e deixou todas as calcinhas das fãs para dona Natália, não é
possível e... – A campinha a interrompeu. Rosa abriu a porta. – Oi, Dona Silvinha!

-- Só Silvinha, Rosa. – Rosa deu um sorriso. – A Nat tá ai? Eu precisava falar com ela.

Rosa nem precisou responder a pergunta da minha prima. Bruno já vestido para trabalhar e Gabriel enrolado
em uma toalha de banho vinham do quarto. Os dois discutiam enquanto Gabriel pegava suas roupas.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- A culpa foi sua assim! Bruno retrucou furioso. – Eu fui dormir com a minha irmã! Acordei com essa barba
quase sufocando minha boca, veio todo me babando. – Sem querer Bruno trombou em Gabriel e quase
derramou a toalha. Sem graça. – Tem que ficar na frente?

-- Você que acordou estranho! – Gabriel retrucou. – Primeiro vem dormir de conchinha comigo, depois quer
me ver pelado... Eu sou tão sem sal, por que essa implicância comigo? Desde de criança, sempre fui sem
sal!Eu dormi com a Nat, achei que ia acordar com ela e...

Uma terceira voz vinha do corredor que ligava o restante do apartamento aos quartos. Era Nat só de roupão
e com os cabelos molhados, recém saída do banho. Tapava os ouvidos com uma ressaca maior que a
muralha da China.

-- Será que eu sou a única cristã que tem um par de orelhas nessa casa? – Nat se perguntou revoltada. – Da
pra todo mundo falar mais baixo, uma pobre mortal não pode curtir sua ressaca em paz e... Silvinha?

-- Dormiu com a Nat? – Minha prima perguntou incrédula a Gabriel. Nem esperou que ele respondesse. Se
virou para Nat. – Você não existe cara, não vai mudar nunca... Acordei disposta a por tudo em pratos limpos
para que a gente pudesse recomeçar do zero... – Debochada. – Recomeçar o que nunca existiu pra você? Eu
sou uma idiota mesmo!

Virou as costas e saiu do apartamento. Nat estava realmente confusa. Quando Silvinha a expulsou do
apartamento acreditou que estava dando fim ao namoro. Por isso a fossa, por isso a noite com Gabriel. Se
não fosse Bruno e o próprio Gabriel a incentiva-la e empurra-la para ir atrás de Silvinha, talvez ficasse ali,
ainda petrificada de susto. Só a alcançou quando o elevador já estava para descer, entrou correndo e por
sorte minha prima estava sozinha.

-- Silvinha, espera eu...

-- Você não existe! – Silvinha não deixou que ela falasse. – Eu não estou podendo olhar na sua cara! Cara,
sabe quantas noites eu fiquei naquele hospital velando teu sono com medo de você não acordar mais e eu
nunca mais ter a chance de falar com você? Claro que você não sabe, você não consegue gostar de mais
ninguém! Você só pensa em você...

-- Espera, Silvinha, ontem quando eu te falei da Alê, você me expulsou do seu apartamento, eu achei que
você tinha acabado comigo, eu estava mal... Você acha o que? – E devolveu. - Que foi legal descobrir que
você estava comigo e pensando em outra?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Silvinha fez um gesto negativo.

-- Eu não consegui dormir essa noite de tanto pensar... Minha cabeça não conseguia desligar. Quando eu
cheguei em casa de manhã, eu vi a Cíntia com a Alê saindo do banheiro. As duas felizes, acho que nunca tinha
visto alguém tão feliz como as duas como hoje de manhã... E eu não senti inveja da Cíntia. – Fez uma pausa.
– Eu senti inveja da situação... Eu entendi. O meu amor pela Alê é a mesma coisa que a minha paixão pela
minha professora de língua portuguesa que eu fazia questão de sentar na fileira da frente só para olhar melhor
nas pernas dela... Ou minha paixão pela Catherine Zetta Jones. É platônico... É idealizado e só... Mas paixão
de verdade... Carne e osso! Sangue correndo pelas veias, foi por você! – Cabisbaixa. – Quando eu vi as duas
sorridentes, felizes saindo do banho... Eu pensei em você porque eu queria um dia ter esse tipo de relação
com você... E era isso que eu vinha falar. – Sorriu tristemente. – Tarde demais pelo jeito, né? Como a Alice...
Como deve ter sido para o Gabriel ou sei lá mais quem e mais quantos! Nem sei porque eu estou falando
essas coisas.

Assim que o elevador voltou para a cobertura, Gabriel percebeu os olhos vermelhos de Nat. Cabisbaixa, foi
direto para o terraço sem fala com nenhum dos dois. Subiu e se açodou sobre a caixa d’água da piscina.
Cinco minutos depois Gabriel aparecia com um molhar de preocupação.

-- Nat?

Nat fez um gesto negativo.

-- Me deixa sozinha, por favor... – Deu uma golada na única coisa que tinha pegado na sala. Um uísque com
duas pedrinhas de gelo. Sentiu um gosto de amargo na boca. – Fica tranquilo e acalma o Bruno. Não vou me
jogar do prédio! Só quero ficar sozinha... Eu gosto de ficar aqui, sozinha! A minha vida sempre foi ser
sozinha! Me deixa sozinha que só sozinha eu sei que estou bem e não vou machucar ninguém!

-- Não fica assim, Nat. - Gabriel tentou se sentar ao lado dela. – Isso não é verdade... Você não só machuca
os outros e nem é sozinha, eu...

Nat fez um gesto negativo.

-- Gabriel... Eu machuquei você, a Alice, a Silvinha, o meu sobrinho, os meus irmãos, me machuquei... – Fez
um gesto negativo. – Até a medicina me deixou... – Olhou para sua mão direita, ainda meio trêmula. – Sabe o
que é mais legal de ser médica? É chegar no hospital, ver nego morrendo, com o baço todo de fora, osso
espetado... Ai você chega do lado dele. Ele pode estar histérico como for, mas quando pega na sua mão os

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

olhos parece que ganham um brilho novo... – Sorriu. – Parece até que você é um anjo... Por isso eu sempre
tentei ser a melhor médica possível, porque eu amava ser médica... Principalmente ser cirurgiã. – A mão ainda
persistia em tremer. – E hoje nem isso eu sou... Até as cirurgias me abandonaram e hoje é só machuco
pessoas. – Gabriel baixou a cabeça. – Por favor... Me deixa sozinha.

A Nat era uma idiota, mas era uma idiota que eu me importava horrores. Quando Gabriel terminou de me
contar o que tinha acontecido eu prometi que iria tentar arrumar uma maneira de ajuda-la. Acabei me
emocionando com a história da Nat e quem perguntou sobre como Gabriel ele encontrou Manu foi à própria
Giovanna.

-- Deixei o Bruno de moto no hospital, fui comprar o café e encontrei com as duas lá no café, falando sobre o
bebê que a Alice achou e...

Nossa conversa foi interrompida com a chegada de mamãe. Usava um salto só, o cabelo estava uma
maçaroca e com o rosto todo borrado de batom. Murmurou algo que me pareceu um bom dia, pegou o
Engov que tínhamos separado para Gabriel, o cumprimentou com um tapinha e um soquinho nos mãos e
seguiu para o quarto.

-- O que é isso? – Gabriel perguntou surpreso. - Assalto?

-- A mãe da Alice resolveu arranjar um amante.

-- Um amante? – Giovanna perguntou pasmada. – A tua mãe?

-- Ou dois!

Gabriel fez um gesto de aprovação.

-- Até que ela tá bem zerinho e... – Antes que ele continuasse a falar alguma joguei aquele de volante
carniceiro para meia de time adversário. – E... Ela esta bem, conservada... Esse cargo de amante tem alguma
exigência especial?

-- Tenta uma gracinha que eu vou presa e você sai eunuco dessa casa. - Rosnei. - Vocês já acabaram o café?
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Da pra gente ir para o hospital?

Giovanna nos seguiu de moto até o Alonso Franco. Gabriel estava de folga e poderia ficar comm Lelê durante
o dia. Assim que chegamos lá encontramos com Paula, ela colava um anuncio sobre uma paciente que
precisava de doação de sangue.

-- Não tem no banco?

-- O negativo, Alice... O mais difícil de se encontrar...

Giovanna se interessou pelo assunto.

-- O negativo? É o mesmo tipo que o meu. Eu posso doar?

Paula não escondeu o sorriso de alívio.

-- É claro Giovanna... Quer dizer, se você passar por toda nossa triagem não vejo problemas nenhum...

Duarte veio nos puxar a orelha por conta do atraso e deixamos Giovanna a sós com Paula.

-- A Manu esteve...

-- Eu encontrei com ela ontem a noite no hall da pousada... Saímos pra tomar um suco e acabei deixando ela
dormir no meu quarto, mas não pense que...

Giovanna fez um gesto negativo.

-- Eu sei que vocês não fizeram nada. Só queria saber como foi à noite dela...

-- Bem agitada... Ela quase não dormiu, teimou em vir comigo aqui para o hospital e acabou não aguentando
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e voltou para a pousada. – Paula fez uma pausa. – Ola Giovanna, eu voou dizer a verdade porque eu
simpatizei com vocês e quero que vocês se entendam... Ela esta muito decepcionada...

Giovanna fez um gesto afirmativo meio cabisbaixa. As duas caminhavam pelos corredores a procura do banco
de sangue.

-- Com razão, eu fui uma... Infeliz. – Fez uma pausa. – Não acho que se tivermos um filho adotivo será menos
nosso filho do que um natural, só que um juiz qualquer pode não ter essa mesma visão. E com o passar do
tempo até a própria criança pode sentir curiosidade em conhecer os pais biológicos. A Júlia mesmo me falou
da irmã dela que na adolescência tentou encontrar os pais e a Manu se apegou tanto na história desse neném
achado no lixo. Eu não queria fazer que nem ela e nem esse bebê sofressem. Talvez não sejamos a família
ideal para ele.

Paula fez um gesto afirmativo.

-- Eu entendo seu medo. – Fez uma pausa. – Giovanna, esse procedimento não é muito comum, mas que eu
queria te levar para você conhecer quem vai receber seu sangue. Posso?

Giovanna deu os ombros.

--Pode.

As duas caminharam mais alguns metros, pegaram o elevador e desceram na maternidade. Passaram pelos
quartos de diversas mamães, eu mesmo tinha ficado em um daqueles. Pararam na porta da UTI neonatal.
Paula fez com que Giovanna entrasse e entrou logo em seguida. Após botarem roupas especificas, as duas
seguiram até onde ficavam as incubadoras dos nenéns prematuros.

-- Giovanna, esse é o Luigi... É ele que precisa do seu sangue...

Giovanna sentiu seus olhos se encherem de lágrimas. Estava confusa, com medo, insegura, mas ao mesmo
tempo tão... Fascinada por aquele serzinho. Era minúsculo. Devia caber em uma caixa de sapato de tão
pequeno. Agachou-se e viu seu rostinho. Luigi estava acordado e de olhos abertos. Os olhos pretinhos como
duas amoras. Os cabelos apesar de poucos eram escuros também e bem cacheadinhos.

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-- Ele é tão... Frágil... Tão...

-- Forte... – Paula completou. –Pra sobreviver ao que ele sobreviveu é muito forte. E sabe o que é mais
incrível nessa história? É que ele tem os seus olhos... E vai ter os cabelos iguaizinhos o seu... Até teu sangue
daqui a pouco ele vai ter um pouquinho. – Fez uma pausa. – Eu não conheço vocês direito, mas a reação da
Manoela hoje de manhã foi igualzinho a sua... Ela também carrega os medos dela... Mas esse carinho todo
que vocês já demonstram por esse menino sem nem ao menos conhecerem já demonstram o que vocês são...
Que juiz pode ser maior que isso?

Giovanna fez gesto afirmativo. Ainda emocionada tocou com as pontas dos dedos nas pequenina mãozinha do
bebê. Deixou seus olhos se encontrarem com os do menino.

-- Luigi Lancelotti Caxias. – Sorriu. – Menino, como eu sempre quis... – Fez uma pausa. – Luigi, eu sei que a
gente começou do jeito errado... Mas eu vou fazer o certo agora. Eu vou mudar a sua vida e você vai mudar a
minha... Eu prometo!

_______________________________________________________________________

Eu tinha sido designada a operar com doutor Vinicius, na área de cirurgia plástica. Não era uma operação
difícil, mamoplástia redutora em uma jovem de 18 anos. Ao meio dia já tinha acabado todo o procedimento.
Eu estava jogando minha roupa descartável fora quando cruzei com Júlia. Ela também saia de uma cirurgia.

-- Alice, que bom, eu precisava falar com você...

Engraçado, por que não atende a porcaria do celular então?

-- Estou livre agora. Pode ser?

Júlia fez um gesto afirmativo. Passamos na cantina para pegar dois cappuccinos e dois sanduíches e seguimos
para o terraço do hospital. Por todo caminho eu percebi uma Júlia meio atordoada, olhos inquietos.

-- Júlia, aconteceu alguma coisa? – Ela fez um gesto afirmativo um tanto confusa. – O que foi?

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Nos sentamos e então Júlia começou a me explicar.

-- Eu fui até a chácara da minha mãe... Não achei nada lá, fucei tudo e nada... Mas... – Deu uma golada no
cappuccino. – Alguma coisa aconteceu lá e... Eu não lembro o que é.

-- Não lembra?

Júlia fez um gesto negativo.

-- Eu era criança ainda... Mas foi ruim... Eu lembro de... Alguém me dando um tapa no rosto. Eu devia ter o
que? Uns oito anos? – Fez uma pausa. – Depois eu lembro que eu chorava muito... Depois, não lembro de
mais nada. E foi algo importante, mas parece que minha memória não... Não funciona. Mas sabe o que é
mais louco? Meu pai e minha mãe brigavam por causa da Nat, isso eu lembro.

Nat. Esse era outro assunto que eu tinha que falar a ela.

-- Preciso falar com você sobre a Nat... – Júlia parou de comer para prestar atenção em mim. – Acho que a
Alê e eu descobrimos uma coisa importante sobre a tua irmã e eu queria saber se você acha que a gente deve
falar pra ela.

-- Descobriram o que?

-- Prováveis pais dela... Eu vou te contar tudo.

Enquanto lanchávamos, desenrolei toda história dos leõezinhos para Júlia. Em cada detalhe da história ela se
interessava por mais e mais. No fim mostrei os leõezinhos para Júlia e ela se convenceu da teoria da Alê, um
dos remadores poderia ser pai da Nat.

-- Eu consegui o endereço de dois deles... A gente vai falar com um hoje a noite. Combinei com a Alê ás oito
da noite. – Ela fez um gesto afirmativo. – É em Serro Azul. A gente volta hoje mesmo.

Depois que terminamos de lanchar, voltamos ao serviço. As sete larguei do hospital e corri para casa. Me
banhei, Gabriel já tinha deixado Heleninha pronta e trocada. Oito em ponto já esperava por Alê no carro. Ela

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chegou acompanhada de Júlia.

-- O que você esta fazendo aqui? – Perguntei a Júlia.

-- É minha irmã... Não vou ficar fora dessa de jeito nenhum.

Adiantava relutar? Seguimos para Serro Azul com Júlia enchendo o meu saco que devíamos ir com o carro
dela. Em uma hora estávamos no endereço indicado pelo colega de papai. Era uma boate.

-- Ih, será que estamos no lugar certo? – Alê se perguntou ajeitando os óculos e verificando o papelzinho com
o endereço anotado. – Vê ai, não entendo nada desse código médico que vocês chamam de letra...

-- Se eu estivesse dirigindo... – Júlia tentou argumentar.

-- Não era nem pra você estar aqui! – Eu rebati. – É aqui mesmo... Não é melhor perguntar? O nome dele é
Dirceu Mendes Gonçalves.

-- Eu pergunto. – Júlia se prontificou. Desceu do carro. –Já volto.

Em menos de dois minutos ela voltava com uma cara mais confusa do que foi.

-- Não achou o cara? – Eu perguntei.

-- Achei. – Júlia nos informou ainda surpresa – Ele trabalha aqui.

-- Garçom?

-- Gerente?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Júlia fez um gesto negativo. Estendeu um flayer da boate. Demos uma olhada rápida no panfleto. Anunciava
um show de um travesti chamado Diná Staffer que fazia apresentações de Beyoncé, Whitney Houston e Tina
Tuner.

-- Nossa, ele é bom, hein?! – E confessei. – Amo Whitney...

-- Alice, a Diná Staffer é o Dirceu.

-- QUE?

Não acredito! Dessa vez chama o livro dos recordes que eu descobri que não sou só uma puta azarada como
a pessoa mais azarada do Brasil. Se tudo desse certo eu que ia ter que contar a Nat que o pai dela era... Esta
certo que a Nat amava I Will Always Love You, mas descobrir que o pai virou a Whitney Houston era no
mínimo contundente.

Congela na cara boquiaberta da Alê depois dessa. Só pra não dizer que não damos oportunidade para os
secundários.

End Notes:

Cenas do próximo capítulo:

-- Ela e a jornalistazinha juntas? - Abgail rosnou a Serginho. Ele estava


deitado na cama. Fez um gesto afirmativo. - Em Serro Azul?

-- É... Eu vi elas combinando pelo celular e segui as duas sem elas me verem.
É sobre o pai da sua filha que estão atrás. Disso eu tenho certeza.

Abgail fez um gesto afirmativo.

-- Elas não sabem com quem estão mexendo, mas vão saber logo logo... Vou
dar um recado a elas...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Um recado? - Serginho perguntou. - Pra Alice?

-- Para Alice, pela jornalistazinha... - Abgail afirmou. - Você vai dar um susto
nessa Alessandra.

________________________________________________________

Beijooos!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 53 by Tamaracae

Author's Notes:

Oiiiis!!

Esse capítlo vou dedicar a leitora ADA Melo que me confidenciou que estava de
aniversário por esses dias!!! Um grande abraço Ada!!!!

http://www.youtube.com/watch?v=3tCnEjy8j2g - Só tinha de ser com você

http://www.youtube.com/watch?v=QMoFAr4gSus - Quando - Neri Per Caso

http://www.youtube.com/watch?v=1WJRWs4ew9A - Amor Maior - Jota Quest

Júlia e eu entramos na boate. Alessandra ficou com Heleninha no carro. O plano era que Júlia eu
convencemos Dirceu, que agora descobrimos que era Diná, conversar com a gente após sua apresentação.
Assim que entramos, percebi duas coisas, o público era mais velho e menos sofisticado do que aquela boate
da capital que fomos no aniversário de Renatinha e também com menos grana que o pessoal que freqüentava
o Scarpan.

Mais pobre, mas não menos animado. A maioria estava agitado com a voz de Katy Perry que invadia a pista.
Apesar da boate ser LGBT, muitos héteros estavam presentes. Percebi pelas gracinhas que estava sendo
obrigada a ouvir e olhares escandalosos de alguns homens. Júlia perguntou algo para um dos garçons que eu
não consegui escutar devido à música alta. Logo ela vinha com uma explicação. Sussurrou no pé do meu
ouvido.

-- Eu perguntei se já tinha sido o número da Diná. Ele falou que é daqui dez minutos.

-- Eu vou mandar uma mensagem para a Alê! – Vi o balcão de bebidas e senti sede. – Pega uma água para
mim, por favor? - Enquanto ela entrava na fila do balcão eu me afastei por alguns segundos para ligar pra Alê
pois meu celular não estava dando sinal ali nem por reza brava. Quando ela atendeu a ligação estava muito
ruim. Mesmo assim consegui passar o recado para ela aguardar dez minutos mais o tempo do show da Diná
Staffer. – Alê, a Heleninha ta quieta? Qualquer coisa se ela chorar tem mamadeira na bolsa... Ou me liga! - ...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

– Beijo, tchau!

-- Olha... Ela mamãe... – Um ruivinho brincou tentando cobrir minha mão com sua. – Está com medo gatinha?
– Ele me provocou. – Quer provar da minha mamadeira também?

-- Gatinha... – O moreninho acompanhava o outro. – De leitinho e chupeta a gente também entende. Quer ir
no banheiro com a gente pra ver?

Eu queria era enfiar a mão na cara daqueles dois, mas estava paralisada de medo. Eles não eram grandes, mas
eram dois, né? E eu ali, acuada. Só entendi que ali cantinho mais tranqüilo era um canto de pegação quando
desliguei meu celular e vi aqueles moleques na minha frente. Já estava preparando para gritar, enfiar o dedo no
olho dos dois, sair correndo ou fazer qualquer coisa quando minha salvadora chegou. Júlia trazia em suas
mãos duas garrafinhas d’água e com uma cara que me deu medo. Acho que ela estava era querendo derrubar
os dois paspalhos só com a força do pensamento. Os dois viraram para trás e toparam com os olhos verdes
chispando de raiva.

-- Ui, a gatinha mamãe ta acompanhada. – O ruivinho sorriu se aproximou dela. – A gente adora um
programa a quatro, sabia?

E sem cerimônias tentou passar as mãos nos seios de Júlia. Ela agarrou o dedo dele e torceu o braço do
menino com tanta vontade que ele parecia até ser feito de papel. Com a outra mão puxou o ruivinho baixote
pela gola da camisa.

-- Eu escutei o que vocês dois disseram e não foi nada elegante com a moça. Se eu ver vocês olhando pra ela
eu volto aqui e na próxima quebro o braço dois. - E soltou o colarinho do baixote que caiu de bunda no chão.
O outro nem ouso encará-la. Só ajudou o outro se levantar e saíram quase correndo de lá. – Fizeram alguma
coisa com você?

-- Júlia, você enlouqueceu? – Eu perguntei preocupada. – Você quase bateu no garoto!

Minha preocupação era que eles podiam reagir para cima dela ou ela simplesmente ser expulsa da boate pelos
seguranças, mas lógico que ela não interpretou assim.

-- Você estava gostando? Era isso? – Não acredito! Debochada. – Eu te atrapalhei?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Não foi nada disso que eu disse!

-- Mas foi o que pareceu!

Eu não iria bater boca no meio de uma missão secreta. Simplesmente não respondi e mais uma vez paguei o
pato. Júlia parecia estar fervilhando de ódio. Quando voltamos à pista mais galanteios. Eu nem estava tão
produzida assim, os caras que estavam altos de mais. Com a desculpa de que não queria me perder, peguei
em sua mão e ficamos assim os minutos seguintes. Devo confessar que fiquei com raiva e senti minha pele se
arrepiando todinha e quase subia pelas paredes ao ver aquela carinha invocada de Júlia. Ela ficou tão
incomodada com os olhares que o povo que acabou envolvendo os dois braços na minha cintura.

-- E com vocês, a nossa grande estrela da noite. – O DJ anunciava. - DINÁ STAFFER!

Dirceu ou Diná foi muito aplaudido. Devia ser alguém muito querido pelo público. As primeiras batidas de
Halo da Beyoncé começaram a tocar. Aproveitei e me encaixei melhor em seu corpo, as mãos de Júlia
tocaram minha barriga, ela tentou desviar, mas eu não deixei, minha mão pousou sobre a dela e ficamos
assistindo ao show naquele clima. Foi gostoso.

-- Ela é boa. – Júlia sussurrou no meu ouvido me deixou com a pele toda arrepiada. É ótima. Por isso gostam
tanto dela.

E era mesmo. Dina Staffer não fazia feio sobre o palco não. Fisicamente tinha um corpo de dar inveja aos
homens de sua idade (58/60 anos). Negro, quase dois metros de altura, um sorrisão lindo com dentes
branquíssimos (que nem os de Nat), braços tonificados, pele bem melhor tratada que a de qualquer mulher
naquela danceteria e sem um pingo de gordura no copo, o que me dava vontade de me cortar os pulsos de
inveja.

Assim que ele saiu do palco, nós (infelizmente) desfizemos o abraço e arrumamos um jeito de chegar até o
corredor que ele havia entrado. Passamos por uma porta que dava para ver que era a cozinha e por mais duas
portas. Só o encontramos no ultimo quartinho do corredor. Não usava mais o vestido da apresentação, mas
sim um penhoar branco de seda e aqueles chinos de quarto. Sem o aplique, os cabelos castanhos, repicados,
batiam em seus ombros. Júlia deu uma batidinha na porta que já estava aberta.

-- Licença, podemos falar um segundinho com você? – Júlia o interrompeu enquanto removia a maquiagem e

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

suas rugas pareciam mais expostas do que no palco. - Nós assistimos ao seu show agora... Espetacular, você
esta de parabéns, Diná! O meu nome é Júlia, ela é Alice...

-- Engraçado... – Diná me encarou e sorriu. – Seus olhos... Eles não são estranhos.

Dessa vez quem sorriu fui.

-- Acho que você conheceu o meu pai... – Diná me olhou mais demoradamente. Abri miha bolsa e tirei a foto
impressa dos remadores. – O loirinho barbudo do canto. Vocês faziam remo juntos, freqüentavam o mesmo
clube.

Ele fez um gesto afirmativo e voltou a sorrir.

-- Você é filha do Jorginho e da Vera? – Ele próprio fez um gesto afirmativo. – Esses olhos são
inconfundíveis, menina. Você parece com seu pai. Éramos muito amigos, ele é uma pessoa encantadora. Uma
pena ter perdido o contato assim... Como vocês me encontraram?

-- Meu pai conseguiu seu endereço com um outro colega seu do remo, o nome dele é Josué. – Diná fez um
gesto afirmativo. – É nós temos um assunto meio delicado para conversar com você, mas não pode ser aqui.
Tem uma amiga nossa nos esperando lá fora. Será que você se incomodaria se depois que você largasse aqui
de conversar com a gente?

-- Eu moro aqui nos fundos... Se vocês me derem vinte minutos eu posso oferecer um café a vocês. – Fez
uma pausa. – Pode ser?

E tínhamos uma opção melhor? Na verdade ele estava sendo bem mais receptivo do que imaginávamos.
Enquanto Júlia foi buscar ale e Heleninha lá fora, Diná e eu ficamos batendo papo em seu camarim. Diná era
um amor de pessoa,engraçada, dava pinta e contava uma histórias divertidíssimas de papai e mamãe. Em
cinco minutos estava minha amiga! Saímos pela portinha dos fundos e encontramos com Júlia e Alê lá fora.
Ao ver Heleninha no colo de Júlia toda engraçadinha ela enlouqueceu.

-- Linda sua filha, Alice... Vamos entrando meninas, por favor...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

A casa era simples e muito caprichosa. Diná parecia morar sozinha. Nos fez sentar, foi coar café e só depois
de nós servir que se sentou com a gente.

-- Vocês falaram que tinha um assunto a tratar comigo. O que é? – Temerosa - Aconteceu alguma coisa com
o Jorginho?

Júlia fez um gesto negativo.

-- Na verdade não. É sobre minha irmã. – Júlia explicou. – E os seus amigos de remo.

Alessandra estava com os dois leõezinhos em sua posse. Estendeu eles de frente a Diná.

-- Você ganhou um desses quando a equipe de remo de vocês ganhou aquele campeonato de 1980, não foi?
– Diná examinou e logo fez um gesto afirmativo. – Você ainda tem seu leãozinho?

-- Não entendi. – Ela nos disse. – O que a sua irmã tem haver comigo e com esses leõezinhos?

Nos entreolhamos para ver quem ia explicar e Alê tomou a frente. Muito justo já que foi ela que desenrolou
todo enigma dos leõezinhos até chegarmos aos remadores. Depois de concluir toda a explicação, Diná deu
uma risada gostosa e nos perguntou.

-- Vocês acham que eu sou pai de uma moça de 33 anos? – Outra risada debochado. – Eu posso garantir
para vocês que não. – E nos explicou. – O meu leãozinho foi parar em outro bebê sim, mas foi no meu netinho
que vai fazer dois anos.

-- Você tem neto?

-- Sim. Na verdade não de sangue, minha vizinha engravidou de um rapaz eu era casado e eu acabei
assumindo a criança no lugar dele para me casar com minha vizinha que era uma grande amiga. Eu queria sair
de casa, ela precisava de alguém pra ajudar a criança... Ai eu tive minha filha... Hoje a Elisa tem 29 anos.
Casou-se e teve um menino lindo chamado Maurício. Eu tenho até uma foto dele com o broche de leãozinho.
– Levantou-se. – Eu vou pegar lá no quarto na minha caixa de fotos. Só um minuto.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Em pouco tempo ele voltava com uma caixa cheia de fotos. Espalhou algumas fotos pela mesinha de centro e
nos mostrou a foto de um menino de uma aninho e pouco com o leãozinho grudado no peito. Sem dúvida era
igual aos outros dois.

-- Viram? Ele ficou com meu brochezinho.

Droga! Primeiro tiro pela culatra. Bom, pelo menos conheci alguém interessante e com quem meu santo havia
batido. Júlia pediu para ir ao banheiro e Alê um copo d’água. Quando Diná foi até a cozinha Alê aproveitou
para meter um dos álbuns de foto em sua mochila.

-- Alê, o que você esta fazendo? – Perguntei desesperada.

-- Fica quieta!

Júlia voltou do banheiro, nos despedimos e voltamos para casa. Deixamos Alê no apartamento das meninas.
Enquanto ela entrava prédio, Júlia me confidenciou.

-- Roubei a escova de dente dele quando fui até o banheiro. – E me explicou. – Vou mandar fazer um teste de
DNA. Vai que ele teve outro acidente de percurso e a Nat nasceu?

Nada é impossível, não é mesmo? Enquanto pegávamos o caminho para a casa de bonecas, Alessandra não
sentia o cansaço abater. Pelo contrário. Ainda guardava animo para desvendar mais mistérios. Quando
chegou ao apartamento estava tudo escuro. Passou pela cozinha, tomou um copo d’água e seguiu para sala.
Serginho dormia no sofá.

Sentou-se na escrivanhia, abriu a mochila e pegou o álbum de fotos que tinha surrupiado da casa de Diná.
Abriu a gavetinha da escrivanhia e pegou uns jornais velhos que tinha separado. Comparou as duas fotos.
Sim, era a mesma pessoa que estava pensando. Na foto do jornal, dona Abgail, grávida de sete meses de
Júlia estava acompanhada de Duarte e um cara que Alessandra não sabia quem era. Em uma das fotos do
álbum Duarte carregava um bebê de mais ou menos um ano no braço e estava junto do tal cara que estava
pousando junto com papai e os outros remadores da equipe. Alessandra entrou no Facebook, procurou o
nome de Duarte. Lá estava ela, acompanhada com o marido. O sujeito não tinha nada ver com Douglas,
esposo de Duarte, pai de Luíza e Lasanha.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Quem é você, hein, cara? – Alessandra se perguntou. – Quem é você?

-- Alê, chegou? – Cíntia perguntou lá do quarto. - Vem para o quarto amor...

Alessandra jogou o álbum e o recorte dentro da gavetinha da escrivanhia. Da sala Alê gritou a Cíntia que já
estava indo. Pegou o celular e ligou para Duarte. Caixa postal. Deixaria uma mensagem de voz.

-- Doutora Duarte, eu não sei se você lembra de mim... Eu sou namorada de uma paciente que você operou,
preciso falar com a senhora com urgência. Meu nome é Alessandra. Meu telefone é esse que vai ficar
gravado. Liga assim que escuta essa mensagem. Um abraço!

Desligou e foi para o quarto. Serginho entrou no apartamento cinco minutos depois. Ele sabia que ela tinha
chegado há pouco tempo, pois o infeliz seguiu a gente até Serro Azul. Tinha feito diversas fotos nossas, pagou
os dois meninos para mexerem comigo e mostrar que eu estava acompanhada de Júlia e quando deixamos
Alê em casa foi fuçar para saber se ela tinha encontrado alguma coisa. Foi direto no recorte de jornais que ele
sabia que estavam guardados na gavetinha. Encontrou o álbum de fotos e começou a folhear. Alessandra tinha
deixado um papelzinho para marcar a foto da Duarte. Serginho tirou mais fotos dos recortes e das outras
fotos com o celular. Fechou a gaveta. O celular de Alessandra estava lá em cima da mesa. Começou a fuçar.

-- MERDA! Tem senha!

Deixou o celular de Alê sobre a mesa e pegou o seu. Tinha uma mensagem para mandar a Abgail. “Preciso
falar com você amanhã! Bjo!”

_________________________________________________________________________

-- Alice, Alice... – A voz de Júlia vinha de muito longe. Eu estava morrendo de sono que acabei cochilando
no carona. – Acorda, minha linda... Chegamos.

Amei ter ela me chamado de minha linda, mas mesmo assim não abri meus olhos. Júlia chamou outra vez pelo
meu nome. E nada de eu criar coragem de sair dali. Gente, vida de Alice não é fácil, Brasil! Residência, cuidar
de criança, cuidar da minha mãe, ser protagonista e ainda desvendar mistério de pai alheio (queria ver leitora
aqui no meu lugar, eu ia rir de me acabar)... Ela chamou outra vez. Eu só tombei minha cabeça para o vidro
da janela e murmurei.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Me deixa aqui, Júlia... Tchau...

Ouvi que ela deu uma risadinha, me falou qualquer coisa e saiu do carro. Depois se fez silêncio. Alguns
minutos depois:

-- Vem cá... Não se acostuma com isso não que eu estou ficando velha, hein... – Júlia sussurrou quando dei
por mim senti seus braços me sustentando no ar. – Sua falsa magra... Vem deitar...

Sim, ela me carregava no colo. Nem força para protestar eu encontrava, apenas perguntei quando ela me
colocou na cama e me fez tirar as sandálias.

-- Eu estou sonhando?

Júlia sorriu. Ajudou a descer o zíper do meu vestido que ficava nas costas.

-- Sim. – Aproximou sua boca do meu ouvido mais uma vez. – E é um sonho erótico...

-- Boba...

Na escuridão do meu quarto vi aqueles dois luminosos verdes procurando pelos meus olhos. Me virei de
frente para ela. Sem enxergar quase nada eu usava e abusava dos outros sentidos para me comunicar com
Júlia. Deixei que meus dedos tocassem seu rosto bem de leve e desenhei suas feições. Meu nariz passeou
pelo seu ombro e senti as mãos de Júlia me tocando sem pressa. Ela fez um carinho em meus cabelos, desceu
com as mãos até minha nuca. Nossos lábios chegaram a se tocar bem de leve, mas fomos interrompidas pela
porcaria do celular de Júlia.

-- Oi Duarte... – Acho que fiz uma cara tão feia que ela foi atender na sala. – Viajar? Amanhã? Tudo bem, eu
vejo o que faço com as cirurgias...

Quando Júlia voltou para o quarto eu já estava contando os carneirinhos na numeração maia. Ela colocou um
short velho e uma camisa que era sua e estava na minha casa deitou-se do meu lado e dormimos de

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

conchinha. Na manhã seguinte acordei com o barulho do chuveiro e com Júlia se vestindo para trabalhar,
cantando lindamente desafinada:

-- É, você que é feita de azul, me deixa morar nesse azul, me deixa encontrar minha paz, Você que é bonita
demais, Se ao menos pudesse saber...

Não resisti. Acordei e a enchi de beijos para matar minha saudade. Ela estava linda usando calça jeans e uma
regata branca, colada ao corpo destacando o contorno do busto que eu achava lindo. Depois de mais alguns
minutos trocando beijinhos, carinhos e namorando, ela finalmente conseguia me dizer alguma coisa.

-- Eu estava morrendo de saudade... Alice, sou egoísta demais pra ver você fazendo outra pessoa feliz. – Ela
jogou um olhar que me fez tremer todinha por dentro. - E dane-se se eu tiver que fazer relatório todos os dias
pra você confiar em mim, se tiver que andar com um cinto de castidade ou andar toda roxa só porque olhei
mais de dois segundos para outra mulher que não fosse minha mãe, sobrinha, irmã ou avó... – Ué por que ela
não incluiu as primas também? Afinal, todo mundo sabe que Deus só fez as primas pra ninguém sair por ai
comendo as irmãs. Será que ela e alguma prima já... Alice! – Eu tenho que acostumar com ciúme... Deve ser
meu destino! Se o ciúme não vier de você vai vir do resto do mundo que não tem você pra eles como eu vou
ter...

-- Eu vou tentar pegar mais leve, juro que vou mostrar que confio em você... Mas você... Teu mal é esse teu
charme de cafajeste. - Júlia deu uma risada que acompanhei, trocamos um beijo. – Você esquece de ser
casca grossa e a gente acaba perdoando o que não devia perdoar... – Puxei Júlia para mais perto de mim. –
Não dá mais esses sustos em mim, não...

Ela me beijou de um jeito que arrepiou minha pele inteira. A boca estava quentinha, molhada e doce,
deliciosa. Me lembrou do nosso primeiro beijo em São Paulo de tão gostoso. Que pegada é essa, Senhor?
Deixei um gemido escapar entre beijos e Júlia mordeu meus lábios me querendo ainda mais. Eu estava pronta
para erguer a barra de sua camisa e beijar aquela mulher que era todinha minha ao som daquela sirene
maravilhosa me esquecendo completamente do trabalho e... Sirene?

-- O que isso? – Júlia perguntou separando nossos lábios. Isso só pode ser Deus sem ter o que fazer e vir
trollar com a vida da pobre da Alice para variar. – Polícia?

-- Não faço ideia...

Ao chegarmos no quintal de casa a sirene havia se desligado, minha mãe descia da viatura policia rodoviária

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

com o auxílio de dois guardas. Uma garrafa de absinto pela metade e com um colete da policia. Deu um beijo
em cada um e entrou em casa nos cumprimentando com tapinhas na bunda.

-- Me-Meninas, tudo bem? – Ela perguntou para nós enquanto dava tchauzinho para seus novos amiguinhos,
Cabo Milton e Cabo Moisés.

--Falou, tia!

-- Estava cheia de amor pra dar...

E partiram graças a Deus sem dar maiores explicações. Sorte que o fim de semana era folga da mamãe. Não
que no horário de serviço ela estivesse se comportando de maneira diferente (eu sei que é minha mãe, mas
tinha virado uma granja inteira de tão galinha que estava), no hospital ela não bebia, mas flertava horrores.

-- E e-u perdi alguma coisa? – Júlia me perguntou um tanto confusa.

-- Minha mãe esta arrumando um amante.

-- Um amante?

-- Ou dois!

Júlia fez um gesto afirmativo e então pediu para que eu não falasse com Dona Regina sobre esse assunto.

-- Você acha que ela vai implicar porque minha mãe esta em uma das casas dela e...

Júlia fez um gesto negativo.

-- Eu tenho medo é que minha vó inveje a ideia dela... E... – Júlia então em olhou de cima abaixo. Eu usava
um shortinho e a já famosa camisa do Nirvana, sem sutiã. Deu aquela encarada como se fosse me despir com
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

os olhos, mordeu os lábios. – Sabe de uma coisa?

-- O que?

-- Até que a ideia é boa? – Ela aproveitou que minha mãe já tinha entrado, me puxou com as duas mãos pelos
glúteos colando meu corpo junto do dela. Virou e me pressionou contra a parede me dando um beijo de
língua. Eu já estava pra lá de entregue. A mulher parecia um vulcão em erupção. Só nos separamos quando
precisei de ar. Ela soltou alguns beijos, mordidinhas até chegar minha orelha. – Quer ser minha amante?

E abriu aquele sorrisão de cachorra que eu amava. Minha vontade era sair gritando que linda, gostosa,
cheirosa, tesão era ela, mas eu tinha coisa mais importante para fazer como puxá-la de volta para um beijo
caprichado. Minha mãe já estava trancada no quarto com Heleninha, Gabriel tinha saído, tirei a camisa de
Júlia lá na sala mesmo. Cheguei ao quarto dependurada em seu pescoço com as pernas enlaçadas em seu
quadril. Ela tirou a minha camisa sem parar de me beijar o que fez meu tesão subir para o teto. Nossa
sincronia, a troca de olhares, os carinhos que eu dava e recebia, tudo estava perfeito e...

-- MERDA!

Encarei Júlia sem entender, o que eu tinha feito?

-- Só uma pergunta... – Júlia murmurou meio irritada, meio sem graça. – Tem algum absorvente nessa casa?

De início eu não entendi a pergunta. Só depois de muita concentração consegui ir até minha cômoda e pegar
um pacote aberto e entregar para Júlia que saiu correndo para banheiro. Na boa, Deus, por quê? Por quê?
Depois de cada uma tomar um belo de um banho frio fomos trabalhar, afinal, por mais assustador que isso
possa parecer somos o futuro do Brasil. No caminho estávamos já mais conformadas e rindo da nossa
situação. Aproveitamos também para discutir sobre nossa reconciliação.

-- Ninguém pode saber, mas dessa vez ninguém mesmo! – Júlia me advertiu. – Até a gente resolver esse lance
com minha mãe é perigoso.

Fiz um gesto afirmativo.

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-- É, não é bom a gente brincar com fogo. Você pretende fazer o que?

-- Não tenho ideia, mas vou pensar em alguma coisa. – Trocamos um beijo. – De você eu não separo! –
Outro beijo. Júlia estacionou o carro. – Eu vou almoçar hoje com João, vou ver com ele hoje onde que ele
quer ficar, vou almoçar com ele. A noite a gente pode se encontrar?

-- Em casa?

Júlia fez um gesto negativo.

-- Não... Eu te mando um torpedo falando o lugar, pode ser, amor?

-- Claro... – Ela sorriu, trocamos mais uns beijinhos. –Vou adorar! – Trocamos um ultimo beijo, eu relembrei
ela de tomar o remédio para cólica e finalmente fui trabalhar.

Se não tivemos sorte em nossa reconciliação, na noite anterior, na cabana as coisas foram bem diferentes para
Manoela e Giovanna. Antes de partimos para Serro Azul ir atrás do pai da Nat que parecia uma mãe,
Giovanna procurou Júlia no hospital. Ela contou toda sua discussão com Manu e estava disposta a pedir
perdão para a namorada, mas para isso precisaria da ajuda de Júlia.

-- Ela esta com raiva de mim, não atende minhas ligações e desliga quando escuta minha voz. Ela não quer me
ver... – Giovanna fez uma pausa. – Eu preciso que você conte uma mentira para a Manu pra ela me
encontrar...

-- Mentira?

-- Diz só que é uma reunião de trabalho, marca em algum lugar qualquer e eu vou. – Júlia não estava muito
certa se aquilo ia dar certo. - Per favore, eu tenho que me entender com minha mulher, Júlia... Eu vou ficar
desesperada sem ela...

Júlia fez um gesto afirmativo. Pegou o celular.

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-- Alô, Manu? Júlia... Eu precisava falar com você um assunto sobre a UTI pediátrica, mas não vai dar pra
ser no hospital... Será que a gente pode se encontrar aqui na cabana? – Giovanna fez um gesto afirmativo. –
Não... Não é nenhum problema com sua forma de trabalhar. Só queria te mostrar umas anotações que eu fiz
pra ver se você acha que são pertinentes. -...- Pode ser então? Tá... Então vamos marcar as nove? –
Giovanna fez um sinal de positivo com as mãos, Júlia assentiu com a cabeça. – Tudo bem, te espero aqui,
qualquer coisa liga no meu celular. - ... - Outro, tchau! – Desligou. Giovanna respirou aliviada. Júlia jogou as
chaves da cabana em seu colo. – Capricha nesse teu sotaque da Mooca que o meu que esta na reta... –
Giovanna deu uma risada com o despeito de Júlia. – A cabana é de vocês, amanhã me devolve ou deixa a
chave com a Manu e ela me entrega...

-- E você, não vem pra dormir? Não vou te atrapalhar?

Júlia fez um gesto negativo.

-- Vai não. – E completou. – Você não é a única desesperada... Também preciso me entender... Pode ficar a
vontade...

Tomaram uma cerveja e com um sorriso nos lábios Giovanna viu Júlia pegar o carro para ir encontrar com
Alê. Olhou no relógio. 18 horas. Tinha três horas para colocar seu plano em ação. O mais importante já
estava em mãos, mas tinha outros detalhes para serem revistos. Primeiro foi dar uma olhada na dispensa de
Júlia, havia quase tudo que precisava. Encomendou a entrega da comida e do vinho por telefone, foi para
cozinha preparar a sobremesa que Manoela mais gostava: Tiramisu. Sabia de cor de tantas vezes que tinha
visto Manu e sua mãe fazerem. 40 minutos e estava pronto. Depois correu para dar um jeiito nas bagunças
que a dona da Júlia com o seu João e dona Heleninha deixavam pela casa, preparou a mesa com uma toalha
linda, coisa de profissional mesmo. Quando faltava menos de uma hora para Manu chegar ela bateu em casa
desesperada.

-- Giovanna?

-- Sou uma idiota! Não fui buscar uma roupa decente para eu vestir. Minha mala ficou lá na pousa e as roupas
da Júlia ficam grandes em mim. Murmurou. – como eu preparo um jantar desses e simplesmente não tenho o
que usar?

Oras, eu acho que a Manu adoraria vê lá com aquela blusa branca meio suja de chocolate, calça e o cabelo
meio bagunçado de quem estava trabalhando, mas Giovanna parecia a mãe da insegurança. A salvação foi
uma visita ao meu armário.

-- Veste isso daqui. – Entreguei a ela um vestido preto, de noite, que estava esquecido no meu armário. Era
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

lindo e ficou ótimo nela. – Era da Nat, ela esqueceu em casa e nunca mais pegou. – Eu expliquei. – Vocês têm
mais ou menos corpo. As sandálias da Júlia acho que servem em você, não servem?

Giovanna me agradeceu com um sorriso e voltou para cabana, tomou um banho e as nove em ponto Manoela
batia na porta. Ao ver Giovanna sua vontade era de virar as costas, mas suas pernas não obedeceram ao
comando do seu cérebro. Talvez pelo espanto ao ver a decoração da casa.

A cabana por si só já era charmosa por não ter quase ninguém por perto, o friozinho, a lareira... Mas
Giovanna havia caprichado, deixado tudo a meia luz, impecavelmente arrumado, com músiquinha de fundo
(Quando- Neri Per Caso), os olhos das duas se encontraram. Giovanna sorriu. Manoela tinha que admitir,
gostava do jeito de se vestir da namorada, mas aquele vestidinho que ela havia arrumado estava de perder o
fôlego.

-- O que você esta fazendo aqui, eu combinei com a Júlia e...

-- Eu pedi para ela te ligar... – Manu ia dar o primeiro passo para trás, mas Giovanna a deteve. – Per
Favore, me espera, meu amor... Não vai sem antes me escutar. - Manoela cruzou os braços. – Manu eu sei
que o que eu falei foi uma... Uma besteira do tamanho do Maracanã... Mas você sabe que eu não penso
assim de verdade... Aspetta, ascolta me...

-- Eu tenho outra escolha para você me deixar em paz?

Giovanna sorriu e fez um gesto negativo.

-- Não. Não vou te deixar em paz se você não escutar o que eu tenho para dizer. Eu te amo e...

-- Ontem não foi o que pareceu.

-- Porque eu sou uma burra! Uma imbecil! Mas eu te amo! – Pegou nas mãos de Manu que ainda estava com
um bico. – E eu queria que você aceitasse isso aqui de mim... – Estendeu um embrulho. – Abre!

-- Você acha que um presentinho vai apagar tudo que você me disse ontem?

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Giovanna deu um sorriso.

-- Eu confio no meu bom gosto para escolher presentes! Abre!

Manu meio contrariada abriu o presente. Era um álbum de fotos de bebê. Ao abrir o álbum seus olhos se
arregalaram. Várias fotos do pequeno Luigi na maternidade. Algumas só de seu pezinho, outras da mãozinha,
algumas fotos dela (Manu) com ele em seu colo, outras de Giovanna ninando Luigi, ao lado da incubadora,
trocando suas fraldas.

-- Essas fotos?

-- As suas eu pedi para a Paula tirar hoje à tarde, quando estivesse lá visitando o Luigi... Algumas elas já
tinham dos primeiros dias que ele chegou... E as minhas... Bem... Eu tirei hoje de manhã quando eu fui
conhecer o nosso menino... – Manoela percebeu algumas lágrimas nos olhos de Giovanna. A italiana pegou
uns papéis que estava sobre a mesa, entregou a Manu. – E essaaqui é a documentação necessária para
conseguimos dar entrada na guarda provisória do nosso filho. – Manu sorriu tentando disfarçar a emoção. –
Pode demorar um mês, um ano, dez anos... Mas e o Luigi vai ser nosso. E não só porque você quer... É
porque nós queremos ser mãe desse menino. Que tem os meus olhos, mas é forte como você! – Manu
abraçou Giovanna. – Eu te amo tanto e jamais seria louca de não querer ser mãe do seu filho. – Fez um
carinho no rosto de Manu, tomou seus lábios. – Eu fiz tudo que você gosta para ver se você me perdoa mais
fácil e...

Manu calou Giovanna com seu dedo indicador.

-- Nossos filhos! Esse tempo que passamos separadas, eu fiquei pensando, eu quero muito ser mãe do Luigi...
Mas jamais jogaria a fora a chance de ter um menininho ou uma menininha crescendo na minha ou na sua
barriga. – Giovanna sorriu. – Eu que estou louca para te encher de Lancelottizinhos, Giovanna Lancelotti!

_______________________________________________________________________

Enquanto Manu e Giovanna faziam o planejamento da futura seleção italiana de futebol que pretendiam por no
mundo, Silvinha decidiu dar um rumo em sua vida. Estava saindo do Scarpan e indo para casa quando avistou
uma ambulância atravessando rumo ao Alonso Franco. Na hora lembrou de Nat. Não atendendo, mas ali
quase morrendo, chegando na ambulância após o incêndio no Scarpan. Minha prima estava no hospital

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quando Nat chegou e viu todo horror que passamos naqueles dois meses.

-- Silvinha, Silvinha... – Ela murmurou sentindo um aperto no peito, um começo de saudade. – Esquece essa
mulher! – É o melhor que você faz.

Entrou no carro, ligou o rádio e deixou na primeira estação. Tocava Jota Quest:

Eu quero ficar só
Mas comigo só
Eu não consigo
Eu quero ficar junto
Mas sozinho assim
Não é possível...

É preciso amar direito


Um amor de qualquer jeito
Ser amor a qualquer hora
Ser amor de corpo inteiro
Um amor de dentro prá fora
Um amor que eu desconheço...

Ser humano também é foda. Já tá triste, o que faz? Coloca uma música de fossa pra fuder geral de vez. Ela
não agüentava mais aquela dor, o vazio que estava sentindo. E o pior, entendioa o que Nat estava sentindo
porque elas eram parecidas. Não era a primeira vez que havia se apaixonado, pelo contrário, se apaixonava
por um ou uma diferente a cada semana. Só que agora era... Diferente!

Decidida deixou as lágrimas escorrerem, virou o volante com tudo para o lado contrário. Recebeu uns
xingamentos dos outros motoristas, não respondeu. Pisou no acelerador e só soltou quando chegou no prédio
de Natália. Deu duas buzinadas. O porteiro abriu a garagem e deixou que ela entrasse (Já conhecia o carro de
Silvinha das outras vezes que ela esteve lá) Silvinha subiu pelo elevador de serviço. Tocou diversas vezes. Do
lado de fora uma senhora de uns 15 mil anos, vizinha fofoqueira da Nat, contava tudo pra dona Abgail. Ela
espionava minha prima meio de lado. Só depois de algum ouviu passos. Nat veio atender a porta com um
conjuntinho de shortinho e blusa de alcinha branco. Recém saída do banho. Estava linda. E extremamente
sensual nos olhares da minha prima.

-- Silvinha? – Abriu um sorriso. – Tudo bem? Eu...

Quero um amor maior


Um amor maior que eu
(Que eeeeeu!)
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Quero um amor maior, yeah!


Um amor maior que eu

Nat mal conseguiu responder. Sua boca foi calada pela de Silvinha. Os lábios finos e bem desenhados da
minha prima devoram os seus com volúpia. Silvinha colocou o dedo sobre os lábios de Nat. Seus olhos
estavam cheio de lágrimas.

-- É a ultima! Não fala nada...

Então seguirei
Meu coração até o fim
Prá saber se é amor
Magoarei mesmo assim
Mesmo sem querer
Prá saber se é amor
Eu estarei mais feliz
Mesmo morrendo de dor, yeah!
Prá saber se é amor
Se é amor
Wooou!

Nat assentiu com a cabeça atendeu aos pedidos da minha prima. As bocas voltara a se procurar. Silvinha
jogou Nat para cima da mesa da cozinha, já ia arrancando sua blusa, mas não era desse jeito que Nat a
queria, não de qualquer jeito. Segurou as mãos da minha prima e fizeram todo o caminho até o quarto
somente se beijando. Os olhos quando não estava fechados, não se desviavam por nada.

Com gestos delicados e firmes, Nat entrou no quarto já livrando a minha prima de seu vestido e erguendo os
braços para que Silvinha despisse sua blusa. Nat parou por um instante, olhou o rosto de Silvinha de forma
demorada como se fosse apresentada a ela naquele momento.

Quero um amor maior


Um amor maior que eu
(Que eeeeeu!)
Quero um amor maior, yeah!
Um amor maior que eu

-- Silvinha, eu...
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Silvinha não deixou Nat responder. Voltaram a se beijar As duas agiam em perfeita sintonia. Carícias, contato
pele a pele, mordidas, gemidos, toques, arranhões, respirações ofegantes, lambidas, beijos e mais beijos,
excitação, sexo, prazer... Carinho? Amor? Chegaram ao ápice quase juntas. Nat não conseguia tirar o sorriso
do rosto. Queria fazer Silvinha deitar em seu peito, mas passado o êxtase/arrebatamento do orgasmo, Silvinha
levantou da cama, começou a recolher suas roupas e se vestir.

-- Ow, ow, Silvinha, dorme aqui! – Sem entender. – Aonde você vai?

Silvinha terminou de colocar o vestido. Subiu a calcinha.

-- Era a ultima vez. Eu te avisei. – Nat não estava acreditando naquilo. – Eu precisava da saideira, agora já
posso te esquecer.

-- Silvinha... – Nat se enrolou em um lençol. – Não faz isso... Eu gosto tanto de estar com você e...

-- MAS EU NÃO GOSTO DE VOCÊ, É MAIS FORTE DO QUE GOSTAR! – Minha prima interrompeu.
– Eu me sinto vulnerável... Me sinto sem nenhuma imunidade e isso não é bom pra mim! Não pode ser! –
Nat a encarava assustada. – Então se você quer me ver bem, se gosta um pouco de mim, me esquece! Não
corre atrás de mim porque eu não quero mais você! Eu vou tirar você da minha cabeça!

Depois dessa Nat ficou até desarmada de correr atrás de Silvinha. Ouviu o barulho da porta bater e se
afundou entre os lençóis. Só levantou horas depois. Alguém batia na porta.

-- Me deixa em paz! Não quero jantar, Bruno!

-- Sou eu tia Nat! – João falou. – Abre ai!!

Nat correu para colocar o roupão de seda. Abriu a porta e encontrou com João. Estava uniformizado, tinha
acabado de sair da escola. Só foi bater os olhos em Nat para perceber que ela estava sofrendo. Parecia
cansada, os olhos inchados, nariz vermelho. Nat deu um sorriso ao vê-lo.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Oi meu amor... – Fez um carinho em João. – Achei que você não vinha mais me ver... Saudade de você...
Tudo bem?

-- Com você pelo jeito não, né tia? – Olhou para os lados. – Se até eu que sou criança estou achando essa
casa uma zorra... E jantar? É uma hora da tarde... Tia, o que esta acontecendo? – João se sentou ao seu lado
na cama. – Você brigou com sua namorada?

-- A Silvinha que brigou comigo. Eu não briguei com ela.

--Ah... É da Silvinha que você esta falando...

-- Ué, minha namorada...

-- É que foram tantas de um ano pra cá... – Nat sorriu. – Eu faria igual o transito de São Paulo, usaria
rodízio... Não funciona as mil maravilhas, mas...

Deu um cafuné em João.

-- Eu estou ficando uma irresponsável, né? Uma idiota! – Fez um gesto negativo. – Um rastro de sofrimento...
De relacionamentos vazios e...

-- Tia, é que nem vídeo game, fito de fase... Vai passar. – Fez uma pausa. – Mas por que a Silvinha brigou
com você?

-- Porque eu fui uma vacilona com ela quando eu descobri que a Alice estava com a v... Com a Júlia. –
Baixou os olhos. – Eu... Fiz coisas e falei coisas que eu não devia ter feito... Mas agora eu acho que... Eu
acho que eu gosto dela, entende? Só que ela não quer ser mais minha namorada...

João olhou em volta.

-- Também né, tia... Não leva a mal não, mas nem eu queria namorar você assim... Dormindo até meio dia, a

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

casa tá um lixo, sem nem se importar mais em trabalhar, só fica em casa de deprê... Aposto que se fosse
homem ia ter com uma barba de uma semana por fazer... – João ralhou com ela. - Minha mãe gosta da Alice,
mas você acha que se ela relaxasse a Alice ia gostar dela? Você acha que a gata da Silvinha vai deixar
conquistar assim? – Levantou da cama. – Decidido. Vamos almoçar no shopping, você aproveita vai ao salão,
dá uma mudada no cabelo, compra umas roupas novas... – Nat o encarou surpresa. – Não é isso que mulher
gosta de fazer quando leva um pé, pra mostrar que tá por cima?

-- Ah é? – Cruzou os braços. – Posso saber como o senhor esta aprendendo sobre mulheres?

-- Cara, só de mãe eu tenho três... Você que me criou, a Júlia que sou eu todinho e a Marcinha que me
gerou... Fora as madrastas... – E começou a contar. – Olha, Alice, Cíntia, Isa, Silvinha, Doutora Marisa, A
doida da Monique, Alice...

-- Você já contou a Alice...

-- Ué... Mas ela foi com você e com a Júlia... Tô falando que a gente tem que usar o sistema de rodízio. –
Nat deu um meio sorriso. – Vamos para o shopping?

Nat fez um gesto afirmativo. João quem estava certa. Deitada naquela cama não chegaria a lugar nenhum.

_________________________________________________________________________

Júlia e eu bem, Manu e Giovanna as boas, Nat tomando finalmente um rumo em sua vida, João bem com
todas as mães, ninguém no hospital... Sabe aquela história de que quando tudo esta indo bem de mais dá até
para se desconfiar? Pois então... Eu estava me sentindo assim.

Cheguei em casa antes de Júlia. Ela tinha me mandado um torpedo como prometeu, mas não com a
mensagem que eu queria. Duarte viajando, ela teve que assumir as cirurgias de Duarte e não ia dar pra gente
se encontrar a noite. Na mensagem ela também me disse que mandou a escova de dente da Diná para uma
laboratório de DNA acompanhado deu uma amostra de sangue que Nat coincidentemente havia tirado há
alguns dias para um exame de rotina.

Sem nada marcado fui direto para casa curtir minha filhota. Mamãe tinha saído, Gabriel só esperou que eu
chegasse para sair também. Eu tinha terminado de fazer Heleninha arrotar e a deixei brincando em um
colchãozinho na sala com a Tv ligada quando escuto a campainha. Eu pensei que era Gabriel ou minha mãe
que esqueceram a chave, mais queria mesmo que fosse Júlia me fazendo alguma surpresa doida que só ela

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sabia fazer. Fui correndo abrir a porta.

-- Você?

-- Alice, posso entrar? – O cachorro do Pedro Henrique me perguntou. – Eu preciso conversar muito sério
com você.

Sabia que alguma não estava cheirando bem... Era esse caroço do Pedro Henrique se metendo no meu feijão.
O que diabos ele quer comigo agora?

_______________________________________________________________________

Enquanto eu esquentava a cabeça com a ancora do Pedro Henrique, Serginho seguia com seu trabalho de
gigôlo espião da dona Abgail. Os dois continuavam se encontrando no mesmo apartamento da primeira vez.
Serginho saindo com o bolso cada vez mais cheio e entregando informações de bandeja para a cobra.

-- Ela e a jornalistazinha juntas? - Abgail rosnou a Serginho. Ele estava deitado na cama. Fez um gesto
afirmativo. - Em Serro Azul?

-- É... Eu vi elas combinando pelo celular e segui as duas sem elas me verem. É sobre o pai da sua filha que
estão atrás. Disso eu tenho certeza.

Abgail fez um gesto afirmativo.

-- Elas não sabem com quem estão mexendo, mas vão saber logo logo... Vou dar um recado a elas...

-- Um recado? - Serginho perguntou. - Pra Alice?

-- Para Alice, pela jornalistazinha... - Abgail afirmou. - Você vai dar um susto nessa Alessandra! Essa menina
esta muito perigosa. Como ela ligou a Duarte a mãe da Natália?

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-- Não sei... Mas eu ouvi uma ligação dela pra Duarte hoje a tarde. Ela achou que eu estava dormindo e falou
da mãe da Nat. Eu tenho certeza! – Serginho fez uma pausa. – Não quero me meter nessa história de susto
em ninguém não! –

-- Me escuta primeiro...

Serginho obedeceu. Ouviu todo o plano de Abgail.

-- Não vou fazer isso! - Autoritário. – Não por merreca!

Abgail deu uma risada. Merreca era ótimo. Na ultima semana só nos pagamentos de Serginho tinha feito um
saque em sua conta pessoal de trinta mil reais. Ele não se deslumbrava como a maioria dos garotos, pelo
contrário, ambicionava mais e mais:

-- Eu quero uma Hilux SW4!

Abgail abriu a boca pasmada.

-- Menino, você enlouqueceu? Você acha que dinheiro nasce em arvore?! Você sabe quanto custa um carro
desses? – Revoltada. – Você acha que é assim, que...

-- Pra você não é nada! – Serginho retrucou. – Teus filhos tem quantas dessas? Deve ter uma porrada dessas
na garagem e...

-- A JÚLIA E A NATÁLIA SÃO UMA DAS MAIORES DA FORTUNA DESSE PAÍS JUNTAS! ESSE
HOSPITAL NÃO É NADA PERTO DO QUE ELAS HERDERAM DO PAI E DO AVÔ PATERNO! –
Abgail resmungou. – A JÚLIA PODE TER O COMPORTAMENTO DE UMA MARGINAL, MAS A
CONTA BANCARIA DELA NÃO É! E VOCÊ MENINO, É QUEM? EU DOU SEU PREÇO, EU...

-- Eu que vou fazer o serviço! – Serginho retrucou. – Posso ir até preso! Vou ter que por pelo menos um cara
na minha fita! Quero dinheiro na mão e o carro! – Abgail franziu o cenho. – Pegar ou largar!

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E ela tinha outra escolha? Fechou o preço que ele pediu. Mas teria ser bem feito.

Serginho saiu do flat com um sorriso nos lábios e parte da grana no bolso. Passou na oficina, falou com
Maranhão. Ele era o cara certo para fazer aquele tipo de serviço. Já tinha puxado alguns anos de cadeia por
sequestro. Era experiente no assunto.

-- Mas é pra dar uma coça nessa tal de Alessandra e falar o que...

Serginho fez um gesto negativo.

-- Não é bem uma coça... É um susto... Pode ter arma, mas nada de atirar, ninguém quer sujar a mão... Só
pra impressionar nego mesmo... – Maranhão assentiu com a cabeça. O dinheiro era bom. – Topa?

Rebeca chegou na oficina a tempo de ouvir a ultima frase.

-- Topa? – Olhou para o irmão. – Topa o que?

Congela no vagabundo do Serginho branco de medo de ser descoberto.

End Notes:

Cenas do próximo capítulo:

-- Eu não sei como eu perco meu tempo com um moleque feito você! - Rebeca
retrucou socando o peito de Bruno. - Como você arma um escândalo com esse
cara? Ele eé meu produtor... Ia me arrumar uma campanha em um comercial
da havaianas! TV! Sabe quanto que eu perdi nisso?

-- O meu dinheiro dá pra nós dois! O cara estava te propondo teste do sofá... -
Rebeca franziu o cenho. - Ou era mentira minha?

-- Bruno, nesse meio as pessoas flertam uma s com as outras... - Bruno a


encarou incrédulo. - Mas isso não significa que todo mundo vai pra cama com
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

todo mundo! - E alfinetou. - Não é porque a sua família pensa assim que todo
mundo age do mesmo jeito!

Rebeca tinha mexido em assunto proibido. Os Franco eram assim, eles podem
falar mal a vontade dos irmão, primos, mas vai oputra pessoa falar, ficam p.
da vida. Bruno não era diferente. Rebeca logo se arrependeu da besteira que
tinbha falado. Afinal, Dona Regina sempre lhe acolheu bem, assim como
Júlia, João e Laísa... Nat tinha seus defeitos, mas não era má pessoa... E ela
trabalhava no Alonso Franco. Simplesmente Avô materno do Bruno.

-- Bruno, desculpa eu...

-- Você nunca mais fala da minha família! - Bruno rebateu enfurecido! - Cai
fora daqui! Nunca mais quero ver a tua cara!

__________________________________________________________________

Alguém imagina quem é o próximo congelado? #oioioi

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Capítulo 54 by Tamaracae

Author's Notes:

Oiiiis, não me odeiem!!!

-- Pai? – Eu perguntei a Pedro. Estava incrédula com que ele dizia. – Agora você é pai da Helena? – Sorri
irônica. – O que você quer, Pedro? Direto ao ponto! Sem conversinha de arrependimento agora!

Já fazia uns cinco minutos que ele havia entrado na minha casa. Pedro era a ultima pessoa que esperava dar
de cara naquele momento. Ele parecia estar tranqüilo, mais calmo do que na ultima vez que nos vimos e
seguro. E eu? Instintivamente peguei Heleninha no colo e apertei entre meus braços como se alguém pudesse
arrancá-la de mim. Pai... Não me faltava mais nada! Única coisa que esse infeliz deve ter feito de bom na vida
era a Heleninha mesmo, mas isso não fez com que ele fosse pai dela!

-- Alice, depois que você saiu da minha casa aquele dia, eu fiquei preocupado com você... Mas não sabia
como procurá-la. – Cara de pau de uma figa. – Alice, eu me senti... Assustado!

-- E quando eu descobri que estava grávida você acha que eu me senti como? – Retruquei. – Você já me
achou, já viu que estamos bem, que não precisamos de...

--Alice, eu mudei! – Eu estava encostada no braço do sofá com Heleninha no meu colo. Ele se aproximou de
nós duas. – Eu juro que mudei e para melhor! – Fez uma pausa. – Eu em apaixonei por uma pessoa e... E
essa pessoa me fez refletir nas coisas que eu andei fazendo... Eu contratei um detetive, conversei com seus
amigos para achar vocês, saber como estão vivendo... Morando de favor em casa de fundos no meio do
nada, Alice? Francamente, a menina...

-- É a casa que o meu dinheiro cobre as despesas. – Adverti. – Eu trabalho muito, mas no Brasil residente
ganha salário de... De fome... Às vezes tenho que apertar, tenho que contar com a sorte, mas não esta
faltando anda para a minha filha. E também esse lugar, no meio do nada é onde eu me sinto em casa!

Nunca me imaginaria dois anos atrás falando aquilo, mas era a mais cristalina das verdades. Quando fui para
São Paulo com Heleninha eu gostei, mas faltava a sensação de estar em casa. Como dizem por ai, nada como
o cheirinho da casa da gente, não é mesmo?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Alice, como eu disse a você, eu conheci uma pessoa e quero ser feliz com ela... Casar. Ter outros filhos. A
Helena me parece ser esperta, inteligente... E se ela puxou a nós dois, logo vai querer saber do pai... Você
pode me achar um traste, um calhorda... – Estranho. Os olhos de Pedro sempre gélidos pareciam agora estar
diferentes. – Mas eu sou o pai dela e um dia ela vai querer saber quem é o pai. É direito dela ter o meu nome.
– Fez uma pausa. – A Lia me contou sobre você e aquela i... – Olha lá, já enchendo a boca para falar mal da
Júlia. Ah, lembrem de eu matar a Lia. – Sobre a Júlia... A história dela como filho e... Eu sou pai. Pra que
esperar dez anos para consertar os meus erros se eu posso consertar agora? – Ele estendeu os braços em
minha direção. Apertei Heleninha entre meus braços. – Você vai negar de eu pegar uma única vez minha filha
no colo?

Eu devia! Devia, mas não tiver coragem de dizer um vou de boca cheia na cara dele. A gente não vive falando
que essas pessoas talvez possam mudar? Quem sabe não aconteceu isso com o Pedro? Ver ele com a minha
neném no colo não foi uma das sensações mais confortáveis do mundo, mas não era direito meu provar um
direito que era da minha filha. Para eu que fui criada com pai e mãe em berço esplendido era fácil falar, agora
sentir na pele o que é não ter pai era outros quinhentos. Meu celular tocou. Era Júlia. Fui atender na cozinha e
deixei os dois a sós na sala.

-- O-Oi amor...

-- Tudo bem? – Júlia me perguntou. – Esta estranha...

-- Que coisa mais linda... Então a senhora já sabe se eu estou bem ou não pela minha voz? – Eu tentei
disfarçar meu nervosismo. Eu ia contar sobre o Pedro para ela, mas não pelo celular sabendo que ela estava
trabalhando. Verifiquei minhas unhas, ato de quando eu estava nervosa. – Tudo ótimo!

-- Tudo ótimo com a senhora olhando suas unhas com cara de “vou enfartar e nem deu tempo de marcar uma
manicure!” – Engraçado como ela sabia que era isso mesmo que eu estava pensando?! Abri a geladeira. –
IIIIIh, abriu a geladeira para pensar na vida... Assunto é sério...

Filha da mãe, agora eu tinha certeza! Ela estava me vendo de algum lugar. Olhei para os lados a sua procura,
ouvi batidas na porta da cozinha e ao abrir a porta ela me corou com um de seus sorrisos mais lindos.
Desligou o celular. Eu corri para abraçá-la.

-- Dependendo de você nosso plano de namoro secreto vai por água abaixo, não é moça? – Júlia me
perguntou enquanto eu a beijava. – Deu um pepino no hospital, mas consegui resolver na metade do tempo
que achei que ia levar... A vovó me ajudou, sabia que a velha ainda esta em forma para negociar e... – A
expressão alegre em seu rosto morreu. – O que esse cara esta fazendo aqui?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Ao me virar dei de cara com Pedro Henrique, a blusa toda mijada. Batizado por Heleninha.

-- É assim que você cuida da minha filha, Alice? – Pedro me perguntou encarando Júlia. – Larga a menina
para ficar agarrada nessa mulher?

Às vezes Deus me deixava em uma situação desconfortável tão exorbitante que minha vontade era largar tudo
e virar freira. Freira sim, ai podia ligar o foda-se pra tudo só rezar e comer, amar só a Deus e acabou. Que
horas pra Júlia aparecer de surpresa! E que horas também para o Pedro achar de ser pai de sua filha. Se
antes de conhecer o Pedro ela já não simpatizava com ele, depois daquele encontro nada elegante, agarrou
em uma raiva incontrolável. E ela não gostou nada de ver sua queridinha, sua Lelê, no colo dele.
Juridicamente poderia se falar, a Júlia não tem anda que gostar, mas no dia-a-dia Júlia, e qualquer outra
pessoa tinha bem mais direitos que Pedro Henrique.

-- Desculpa, Alice... Eu volto outra hora... – Ela tentava controlar sua raiva. – Vou deixar vocês a vontade...

E saiu sem nem escutar um terço da missa. Normalmente ela agiria de forma pólida, mas se até eu que era a
mãe da criança estava com um pé atrás com o Pedro, imagine ela... Ele só ficou lá o tempo de pegar uma
camisa de Gabriel, tirar a camisa suja e ir embora com a proposta de voltar daqui uma semana para saber o
que eu tinha decidido, fazer caminho mais fácil e ir com ele no cartório para fazer uma nova certidão de
nascimento para Heleninha ou ir pelo caminho mais confuso e ele brigar por um DNA na justiça.

Depois que Pedro foi embora, eu fui até a cabana, mas ela não estava mais em casa. Voltei para casa e
encontrei o celular de Júlia sobre minha mesa. Ela tinha esquecido.

________________________________________________________________________

-- É que... Teu irmão esta falando em um serviço ai pra fazer uma limpeza lá no andar de cima da oficina e no
ferro velho... – Maranhão disfarçou. – E eu dou uma graninha a mais para ele... Como eu vou viajar na
semana que vem ele perguntou se eu topo de deixar a chave com ele enquanto eu estiver viajando.

Rebeca inocentemente abriu um sorriso toda feliz.

-- O Serginho falando em trabalho a essa hora? – Apertou o rosto do loirinho. – É o meu irmãozinho mesmo?
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– Serginho deu uma risadinha tentando disfarçar. – Vai Mara... Deixa de ser mão de vaca e dá um dinheirinho
para o menino... Ele esta se esforçando. – Jogou uma piscadinha. – Pelos velhos tempos que eu morava no
fusca...

Maranhão fez um gesto afirmativo.

-- O dia que eu não fizer tua vontade, ruiva, pode me internar... – Olhou para Serginho. – Depois a gente fala
mais disso, garoto...

Rebeca trocou mais duas palavras com Maranhão e Serginho, depois seguiu para casa. Só tinha ido levar um
lanchinho para o irmão. Serginho voltou sorridente para a oficina.

-- E ai Mara, como a gente faz o serviço? Tu acha que...

Maranhão deu uma risada.

-- Esta maluco? A grana até é boa, mas você é verde, garoto! Quase se entregou para irmãzinha! Aposto que
vai peidar na hora... – Entregou as chaves para Serginho fechar o estabelecimento. – Você é vacilão,
moleque, vai cair logo!

Serginho fechou o cenho, mas tinha que admitir que Maranhão talvez estivesse certo. Repetiu diversas vezes
que tinha de ser mais frio. E agora precisava de um novo parceiro. Não precisou andar muito. Alguns minutos
depois Fumaça, auxiliar de Maranhão veio procurar Serginho.

-- Ow, moleque, eu vi você e o Maranhão conversando... – Discreto. – A grana é boa mesmo?

-- Pra começar dez mil na tua mão... Mas sigilo total sem nenhuma barbeiragem... Eu preciso dar um susto em
uma gatinha ai, mas não pode ter erro dela reconhecer a gente. Pode ser?

-- Pra quando?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- O mais rápido possível! – Te entrego a grana no horário do almoço! Fechado?

Fumaça sorriu.

-- Fechado, moleque!

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-- Isso não vai dar certo! – Nat sentenciou pessimista enquanto vinha da cozinha de seu apartamento com um
copo d’água. Estava com o aparelho celular de Silvinha nas mãos. – Ela não vai querer me ver...

-- Tia, já falei, joga com ela... – João garantiu enquanto se distraia em tentar acertar pipocas na boca aberta
de Bruno que dormia todo espalhado no sofá da sala. Laísa que também tinha ido com os dois no shopping
participava da brincadeira. – Agora liga e avisa que ela esqueceu o celular na mesa e diz que você vai levar
amanhã na casa dela.

Na verdade Silvinha não tinha esquecido o celular e sim sido roubada. Depois de baterem muita perna no
shopping e pegarem uma sessão de cinema, João, Natália e Laísa resolveram parar na praça de alimentação.
Assim que entraram, Laísa trombou com uma moça que quase seu prato no chão. Nat foi repreender a
sobrinha, mas perdeu a voz ao dar de cara com minha prima acompanhada de Isa, a moça que Laísa quase
derrubou o pedido no chão.

-- OOO-oi Silvinha... I—sa...

-- Oi Natália. – Silvinha desviou o olhar para as crianças. – Tudo bem com vocês?

-- Tudo ótimo. – Nat abriu um sorriso respondendo pelas crianças. Silvinha não retribuiu. Até Isa que não
tinha coração sentiu dó da Nat. – A gente ia comer agora... Vocês querem pegar uma mesa só e...

-- Não tia... A gente não quer atrapalhar elas... – João retrucou. Láisa já foi puxando Nat para uma mesa do
lado oposto das duas. – Tchau Silvinha, tchau Isa... Outra hora a gente se fala...

Após se acomodarem na mesa, Nat já veio ralhando com os sobrinhos.

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-- Por que vocês não me deixaram ela se sentar com a gente na mesa?

Laísa fez um gesto negativo.

-- Ai como mulher apaixonada é boba... Se você ficar perto dela, como vai saber o que ela sente? - Laísa
observou. Do alto dos seus recém feitos cinco anos de idade era a mulher mais madura naquela mesa. – Você
tem que ajudar...

-- E como eu vou saber o que ela sente se eu ficar longe dela?

-- Ela vai falar pra Isa. – João garantiu. – Ai fica mais fácil de entender do que vocês na mesma mesa , você
com essa cara de dor de barriga e ela fingindo que não esta nem ai...

-- E como eu vou saber o que ela falou com a Isa?

João e Laísa se entreolharam.

-- A gente dá um jeito nisso. – João reafirmou. – Fica tranqüila tia, confia na gente... Você esta no seu juízo
perfeito para saber os passos certos que tem que ser dados... – A Nat já estava desconfiando que os
sobrinhos na verdade eram dois anões de 52 e 49 anos respectivamente. – A gente sabe o que faz...

E saíram sem dar maiores explicações. Nat só observou João entrando na fila para fazer os pedidos no Mc
Donalds enquanto Laísa parava na mesa das meninas para conversar. Em quinze minutos os dois voltavam
sorridentes.

-- E ai?

-- Ela te acha uma cocó! – Laísa falou. – Eu ouvi ela falaando isso para Isa e fingindo que não falou porque
eu estava lá...

-- Cocó?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- É... Galinha... – João esclareceu.

-- Galinha é menina e menino que namora com todo mundo, tia. – Laísa explicou para não deixar dúvidas.

-- E vocês, o que falaram?

Os dois se entreolharam.

-- Nada! – João disse dando os ombros enquanto conferia os lanches.

-- Ela me chamou de galinha e ninguém me defendeu?

-- Mas ela não pediu nossa opinião. – João se explicava. – Foi uma afirmativa. Mas olha o que eu trouxe... –
Entregou o celular de Silvinha. – É da Silvinha...

-- Menino, eu vou devolver pra ela e...

-- Não! – Laísa protestou com veemência. – Liga para ela hoje à noite e fala que vai devolver amanhã... Ai
vocês vão se falar sozinha, entendeu?

Agora estava ela ali com aquele celular nas mãos. Uma coisa tinha que dar a mão à palmatória. Os meninos
tinham atitude. O problema era se aquela foi à melhor atitude. Ficou ali, pensando se ligava ou apenas
mandava entregar o celular para Silvinha por alguém. Enquanto estava perdida em seus pensamentos, João e
Laísa continuavam com a brincadeira das pipocas. Ouviram a campainha. Rosa foi atender.

-- TIA JÚLIA! – Laísa pulou do sofá para o colo de Júlia. – TIA , TIA , TIA!!

-- Que abraço gostoso que você tem... – Cumprimentou João com um tapinha e um soquinho na mão. Tinha
combinado com ele de buscá-lo no final do dia. João procurava passar três dias na casa de Júlia e o restante
da semana com Nat. Como o dia seguinte seria feriado, era a vez de Júlia levá-lo. – Tudo bem, N...
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-- João, vou buscar sua mochila no quarto. – Nat a cortou deixando bem claro que não queria conversas.
Finalmente ela tinha aceitado o fato de que nosso caso chegava ao fim com Silvinha em sua vida, mas era por
isso que iria conseguir perdoar Júlia, que naquele momento ela julgava ser a pior das cobras, facilmente.
Voltou com o uniforme de João e a mochila. Na sala as crianças se fartavam de rir. Júlia acertava uma pipoca
na boca de Bruno de primeira e ele acordou resmungando com todo mundo provocando risadas. – Te espero
aqui segunda feira, João... – Agachou-se para dar um beijo no sobrinho. – Se cuida.

-- Você também tia...

Despediram-se. Júlia desanimada com a frieza da irmã. Resolveram parar e comer uma pizza em uma pizzaria
ali do centro. João percebeu o olhar longe da mãe.

-- Fica assim não, mãe... A tia Nat já esta em outra... Logo logo vocês ficam de bem...

-- Me faz falta a amizade dela, sabia? – Cortou os pedaços de pizza. Serviu João. – Meu mal necessário.
Tinha uma música que eu não lembro se era do Cazuza ou do Ney Matogrosso que falava assim: Mil caras
vão pintar no meu caminho, todas elas rosas e espinhos... É o meu caso com a tua tia...

João fez um gesto afirmativo.

-- Quando você descobriu que não estava dirigindo o carro... Você não teve raiva dela?

Foi a vez de Júlia assentir com a cabeça.

--Eu fiquei. Fiquei muito, talvez se ela me falasse mudaria muitas coisas eu... – Os olhos de Júlia estavam
pensativos. – Ou talvez não... O que ela fez foi errado sim, mas talvez tenha sido melhor... E também, ela
acertou bem mais que errou. – Sorriu. – É só olhar para você... Inteligente, esperto, forte, educado... – João
baixou a cabeça. Ela apertou o ombro de João. Ele fez uma expressão estranha e desviou. – Não fica
envergonhado não... Mãe também foi feita pra puxar saco de filho e...

-- Não é vergonha, mãe... É um lance que eu tenho que contar para você... – Abriu o bolso da mochila.
Pegou um papel impresso e entregou a Júlia. – Lê.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Júlia obedeceu e leu atenciosamente cada palavra.

-- Advertência por agressão?- Ela perguntou realmente surpresa. – João?

--Foi com um menino da sexta série. – João tinha acabado de passar para a quinta. – Ele me provocou
primeiro... Me xingou e a gente brigou quando eu estava saindo... – Júlia fez um gesto afirmativo puxou a
blusa de João, o ombro que havia apertado e ele feito uma careta estava ralado. João explicou. – Trava da
chuteira dele...

-- Por que, João? – Júlia cobrou incisiva. – Foi por causa de futebol? De alguma menina? De...

-- Ele falou de você e da tia Nat. Disse que minha família era toda errada, chamou que vocês eram va... –
Sem graça. – Vagabundas... Não aguentei, ele estava, me perturbando há um tempão... Eu não aguentei em
enfiei a mão na cara dele.

Júlia releu o papel enviado pela diretoria da escola. Apenas registravam que João agrediu outro menino sem
nenhuma razão. É claro que ele errou em partir para violência, mas Júlia duvidava que alguém tenha
investigado o motivo da briga. Oras, João também saiu machucado da briga? Nem um chamado o outro
levaria?

-- O que aconteceu com o outro menino? Ele levou advertência?

João deu os ombros. Pelo visto nada.

-- E vocês tinham mesmo que sair na mão? – Júlia questionou. – Você tentou conversar com ele, com sua
professora, com...

-- Eu tentei conversar com ele. Com a mãe dele, quando foi levá-lo na porta do colégio, mas não deu certo.

-- Não deu certo?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Não. Ela falou que de certa maneira o filho dela estava certo. – E explicou. – Disse que eu sou muito
criança para entender alguma coisa, mas que as famílias normais um filho tem pai e mãe... Ele continuou me
xingando, xingando vocês ai eu bati a cara dele no muro.

Júlia fechou os punhos instintivamente. Na época que Marcinha engravidou o caso virou assunto na cidade e
muita gente se virou contra as duas dizendo que estavam se virando contra leis de Deus em “fabricar” um filho
entre outras baboseiras. João não merecia passar por aquilo. Ela não iria permitir que fizessem isso com a
cabeça de seu filho.

-- Você esta com raiva de mim?

Júlia fez um gesto negativo.

-- Nunca. Só não quero que você resolva mais as coisas assim. Você podia ter machucado ele sério. – Fez
uma pausa. João fechou o cenho. – João, não estou com raiva de você, mas é meu papel de mãe te falar que
bater nos outros não é certo. Esse menino. – Leu o papel. – O Tales... Não vai ser a ultima pessoa a te
importunar... Nós vivemos em um lugar onde infelizmente as mentalidades das pessoas são atrasadas, egoístas
e intrometidas... Se cada provocação, cada acontecimento desses a gente responder na base da porrada...
Qualquer dia a gente vai ficar sem ombro, João. Você não pode submeter a esse menino, mas a gente vai ter
arrumar outro jeito de resolver isso. Mas você foi homem o bastante em procurar a mãe dele para se
defender. – Sorriu. – Isso foi atitude de homem.

-- Legal! –João sorriu animado. – Posso pedir uma cerveja para o garçom?

Júlia sorriu.

-- Homem, mas nem tanto... – Olhou séria. – Se eu virar avó antes dos 40 não vou te perdoar! – Os dois
riram. – Te prometo que vou arrumar um jeito de resolver isso, tudo bem? Fechado?

João selou o acordo com um aperto de mão. Os dois pagaram a conta e saíram com o restante da pizza em
um embrulho. João percebeu que a mãe estava mais calada que o de costume, um tanto aérea.

-- Chateada comigo ou com a tia Nat?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Júlia fez um gesto negativo.

-- Não, não é chateada é que... Eu sai do hospital e fui para casa, chegando lá encontrei com a Alice e o pai
da Heleninha.

-- Pai da Heleninha? Mas ele não era brigado com a Alice?

Outro gesto afirmativo.

-- Mas agora ele quer... Arrumar o que andou fazendo de errado e... Eu me senti triste porque, porque sei
lá... Eu não consigo gostar daquele cara porque ele já tratou a Alice mal, me tratou mal. – Fez uma pausa. –
Eu estou com medo que eu não confio naquele cara e... Acho que ele não presta... Mas a Heleninha não é
minha filha e ele é o pai dela e tem direito de ver e conviver com a filha.

João segurou na mão da mãe.

-- A Alice não vai deixar ele sacanear com a Heleninha. Ela é esperta e sabe se defender, mãe... E se é direito
dele... Não adianta ficar sofrendo. – Sorriu. – O que você acha da gente detonar com essa pizza em frente à
TV? Sabe o que vai passar hoje? – Encheu a boca. – Velozes e furiosos 5!

-- Sério?

João sorriu e já correu em direção ao carro doido para chegar em casa.

-- O ultimo que chegar no carro fica com toda a louça do almoço de amanhã!

_______________________________________________________________________

Eu não vi mais Júlia aquele dia. Eles chegaram tarde e eu já estava dormindo. Acordei cedo e vi o carro dela
lá estacionado, me tranquilizei e já comecei a me arrumar para trabalhar. Ela só iria trabalhar no plantão da
noite, resolvi não tocar na sua casa para não acordá-la, mas deixei seu celular lá no alpendre. As seis e meia

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eu recebi um sms.

“Ontem não queria ter saído daquele jeito, desculpa. Quis dar privacidade para vocês e acho que errei a mão.
Estou com saudade do seu beijo, Te adoro, Júlia!”

Linda. Não consegui conter meu sorriso. Mandei outro mais apaixonado ainda. Eu estava caminhando tão
distraída que quase derrubei uma pessoa que estava em meu caminho.

-- Desculpa eu...

-- Doutora Alice... Sempre recebendo mensagens que te fazem sorrir. Resolve reassumir o cargo. A mão esta
fraquinha, tremendo, a perna meio cambeta, mas pelo menos a parte administrativa acho que dá para eu
reassumir. – Sim, era ela, Nat. Estava a própria doutora House com aquela bengala vagando pelos corredores
do hospital. Só que surpreendentemente sorria e estava bem humorada. – Um café?

-- E-Eu... Na verdade estava indo agora...

Nat sorriu.

-- Então vamos juntas. – Sorriu. – Ou já não posso mais tomar café com minhas amigas?

Amigas! Amei! Por incrível que pareça o café com minha ex my love foi bem agradável. Tão agradável que
não tive coragem em tocar em assunto de motoqueira Júlia para que a gente não brigasse. Ela por outro lado,
não se fez de rogada e me contou tudo sobre silvinha. A briga,a noite com Gabriel, a ultima vez, os conselhos
das crianças o reencontro no shopping e a devolução do celular. Sim, ela achou por dom seguir os conselhos
dos meninos e ir entregar o celular nas mãos da própria Silvinha. Esperou que ela saísse para o Scarpan e foi
atrás dela.

-- Poxa Lê, quantas vezes eu tenho que pedir para você anuncia antes quem esta ai? – Silvinha chamava
atenção de sua gerente. – O que a Nat quer?

-- Credo, bem humorada, ela disse que era só cinco minutos... Eu vou lá embaixo e dispenso então...

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-- Não... A mulher veio, também não vou tocar feito cachorro de rua... Manda a Nat subir.

Alguns minutos depois Silvinha ouviu a batida da porta e sentiu seu coração acelerar. Coração acelerou?
Fudeu prima... Continuando... Silvinha ajeitou o cabelo, se olhou no vidro da janela umas duas vezes e então
abriu a porta. Nat estava linda, vestida de social e de óculos escuros. Não aguentou e sorriu ao ver minha
prima que também não ficava para trás usando um vestidinho cinza tomara que caia. Nat tirou os óculos.

-- Oi!

-- Nat, eu não e pedi para você não me procurar porque eu quero...

Nat ergueu a mão e estendeu o celular, já estava descarregado.

-- Estava com você? – Silvinha perguntou surpresa/aliviada. – Eu procurei feito uma louca ontem a noite... E...
Eu esqueci na sua casa?

-- No shopping. E cima da mesa. As crianças que encontraram.

Silvinha baixou os olhos sem graça.

-- Quer um café?

Nat abriu um meio sorriso, vitoriosa.

-- Aceito. Eu adoro seu café. Principalmente quando... – Fez um gesto negativo. – Esquece...

-- Fala! – Silvinha exigiu. – Quando o que?

-- Quando você dava na minha boca... Que nem no hospital. – Pegou na mão de Silvinha. – Pode parecer
estranho porque o meu estado de saúde era instável... Até eu já estava entregando meus pontos, Silvinha...
Mas quando você estava comigo eu... Eu juro que não tinha medo de nada. Silvinha, eu sei que eu sou a
maior vacilona do mundo, mas me dá uma chance?
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Silvinha fez gesto negativo.

-- Tarde demais Nat.. – E confessou. – Eu vou dar um tempo de Silvéster...

Nat sentiu seu peito esvaziar todinho. Ela entendeu o significado daquela frase. Há algumas semanas atrás uma
amiga de Silvinha, a Lolô, havia parecido com uma proposta de trabalho para minha prima. A princípio ela
adorou a ideia, Era um espécie de free lance para uma revista especializa em assuntos LGBT. Minha prima
amou a ideia, mas desistiu ao saber de um pequeno detalhe: o tal jornal era americano e o contratado teria que
passar 3 meses na Califórnia. Para qualquer outra pessoa seria a chance de ouro, mas Silvinha não
interpretava desse jeito.

-- Não vou deixar a Nat sozinha agora... - A gente esta se acertando tanto...

-- Sil, eu não aceito um não. – Lolô argumentou. – Não antes de pensar direito. Você ainda tem duas
semanas para se decidir.

Depois de tudo que aconteceu entre ela e Nat, Silvinha mudou de ideia. Depois de se encontrarem no
shopping, Silvinha ligou para Lolô e acertou sua ida para os Estados Unidos. Minha prima já tinha visto
porque morou em Boston cerca de um ano quando ainda fazia faculdade, passaporte, seu inglês era
praticamente perfeito. Nada melhor que a distância física e de tempo para tirar Nat de sua cabeça. Em uma
semana minha prima tomaria um vôo para a América do Norte.

-- Oh, Nat... Não sei o que te dizer... – Confessei triste por ela. – Eu não pensava que ela fosse...

Nat fez um gesto negativo.

-- Não precisa dizer nada, Alice... - Sorriu. – Um dia ela volta... Eu sei que volta!

Voltamos a falar de assuntos corriqueiros do hospital, dos nossos amigos incomuns até que recebi uma bipada
para atender um menino que minha mãe faria a cirurgia. Eu estava pagando o café com Nat quando vi Júlia
chegar. Nat fechou a cara, se apressou a pagar a conta e foi embora se despedindo rapidamente de mim A
raiva de mim passou, mas a da Júlia estava ali, vivinha da Silva. Júlia nem olhou na minha cara. Droga, será
que ela esta pensando o que? Caminhei inquieta até a ala de cirurgia, mas logo tranqüilizei quando recebi um
sms assim:

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“Nosso namoro é secreto, subentende Alice que você deve disfarçar esse olho brilhando toda vez que me
ver”. – Esse povo dos Francos só pode ter passado na fila auto estima um milhão de vezes né? Uma se acha
a rainha da cocada preta e meus olhos brilham só quando ela aparecem (ta brilham mesmo, mas isso não quer
dizer nada), a outra a mulher diz que vai embora, manda não procurar mais e afirma que minha prima ainda vai
voltar. – “PS: Te adoro, miopizinha!”

Sorri bestamente e mandei algo ainda mais meloso. Ainda cruzei com um sujeito todo bem arrumado que com
certeza não estava doente e não era médico do hospital. Trinta e poucos anos, bonitão. Esqueci dda figura e
entrei na ala cirúrgica. A figura se tratava de Natan Barros, dono de uma das maiores agências de publicidade
do país. O que ele veio fazer no hospital? Oferecer um acordo irrecusável para nossa mais nova doutora
peitinhos, minha amiga Rebeca. Cruzei com a Becca no vestiário, ela já se trocava para sair, seu plantão tinha
acabado.

-- Marquei um jantar com o Natan. Alice, pelo que ele falou no telefone com esse dinheiro da segunda
campanha da pra eu pensar em sei lá... Financiar um imóvel.

Enquanto Rebeca fazia planos nos contando que era o tal de Natan no vestiário, Bruno arrumava um jeito de
melar com tudo. Ele já estava revoltado com o término do namoro por conta da carreira de modelo. Natan
inocentemente foi pedir justo a Bruno informações em como encontrar Rebeca.

-- O que você quer com ela? – Bruno rosnou. – Temos vários médicos aqui!

-- Mas quem me interessa é a doutora Rebeca. Aquela ruiva, hein? Brincadeira... Um corpo daqueles estudar
pra que? Devia ser sei lá... Gostosa de mídia profissional. Tenho uma proposta para ela...

-- Trabalho?

Natan sorriu.

-- Trabalho é a ultima coisa que eu penso com uma mulher daquelas... Ainda mais que ela se livro do
namorado. – Bruno o encarou curioso. – Um cara meio nada ver sabe, não queria que a menina aceitasse
mais trabalho... Não sei que essas meninas tem atração por esse tipo Fred Flintstone do século XXI, mas
agora isso não importa. Li em um site desses de fofoca que ela deu um chute no frouxão...

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Bruno espumando de raiva fez um gesto afirmativo.

-- Vem cá, e que trabalho é esse que o Mané implicava tanto?

Natan sorriu.

-- Único trabalho que essas meninas tem é tirar a roupa e deitar no sofá e...

O coitado nem completou a frase que já foi interrompida pela mão de cem toneladas do Bruno. Quando
Rebeca chegou no saguão do Alonso Franco o todo poderoso Natan estava com o nariz banhado em sangue
praguejando Deus e o mundo. Leandro e outro enfermeiro seguravam Bruno enquanto uma das enfermeiras
tentava levar Natan para o socorre. A confusão durou uns bons minutos e quando Rebeca falar com Natan
ele rasgou o contrato em milhões de pedacinhos e saiu do hospital dizendo que ia processar Bruno. Bruno por
sua vez vinha da enfermaria, a mão do soco inchada, mas querendo terminar o serviço. Rebeca obrigou a
entrarem em um dos quartinhos de plantão para acabarem com o espetáculo público.

-- Eu não sei como eu perco meu tempo com um moleque feito você! - Rebeca retrucou socando o peito de
Bruno. - Como você arma um escândalo com esse cara? Ele eé meu produtor... Ia me arrumar uma
campanha em um comercial da havaianas! TV! Sabe quanto que eu perdi nisso?

-- O meu dinheiro dá pra nós dois! O cara estava te propondo teste do sofá... - Rebeca franziu o cenho. - Ou
era mentira minha?

-- Bruno, nesse meio as pessoas flertam umas com as outras... - Bruno a encarou incrédulo. - Mas isso não
significa que todo mundo vai pra cama com todo mundo! - E alfinetou. - Não é porque a sua família pensa
assim que todo mundo age do mesmo jeito!

Rebeca tinha mexido em assunto proibido. Os Franco eram assim, eles podem falar mal a vontade dos
irmãos, primos, mas vai outra pessoa falar, ficam p. da vida. Bruno não era diferente. Rebeca logo se
arrependeu da besteira que tinha falado. Afinal, Dona Regina sempre lhe acolheu bem, assim como Júlia, João
e Laísa... Nat tinha seus defeitos, mas não era má pessoa... E ela trabalhava no Alonso Franco. Simplesmente
Avô materno do Bruno.

-- Bruno, desculpa eu...

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-- Você nunca mais fala da minha família! - Bruno rebateu enfurecido! - Cai fora daqui! Nunca mais quero ver
a tua cara!

Tudo bem que Bruno era um brucutu, mas dessa vez o cara também tinha pegado pesado demais com ele.
Estava furioso, revoltado, com ódio. Rebeca ia ensaiar um pedido de desculpas, ele chutou uma cadeira com
raiva.

-- Desculpa, Bruno, eu sei que peguei pesado e...

-- Cai fora Rebeca! Tô cansado de você! Eu prefiro morrer solteiro do que tiver na minha frente! SOME DA
MINHA VIDA!

Bruno não viu a Rebeca sair, mas escutou o estrondoso ruído da porta se batendo. Sozinho sentiu-se
acabado. Parecia que ele tinha levado um soco no rosto.

Rebeca saiu do vestiário chorando cabisbaixa. Quase derrubou a moça magrinha com quem tinha cruzado
pelos corredores do Alonso.

-- Ai moça, desculpa, eu...

Não conseguiu completar a frase pois já inundava o rosto de Alê com seu pranto. Pararam na cantina para
tomar uma água e rebeca explicou toda confusão para Alê.

-- Eu vou pegar um táxi... – Ela murmurava entre soluços. – Vou pra casa da Alice...

-- Hey, calma... Eu te levo até lá... Estou de carro.

Rebeca fez um gesto negativo.

-- Não quero dar trabalho... – Só então percebeu o quanto inusitado era Alê no hospital naquele momento. –
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O que você veio fazer aqui? A Cíntia...

Alê fez um gesto negativo.

-- Não aconteceu nada com a Cíntia... Eu só vim procurar a Duarte, mas nada de urgente... – Alê disfarçou.
– Tem certeza que quer ir para Alice?

Rebeca fez um gesto positivo.

-- Vamos, te dou uma carona...

Depois de pagarem a conta as duas entraram no carro e seguiram os caminhos para minha casinha. Atrás do
pálio cinza de Alê, uma moto não desgrudava das duas. Alê pegou a estrada principal. Conduzindo a moto
com uma mão e com o celular por dentro do capacete, Fumaça falava com Serginho.

-- Elas pegaram a rodovia, parece que estão indo para sei lá, aqueles condomínios de chácaras.

-- Devem estar indo para a cabana da Júlia. – Serginho concluiu acreditando que Alê estava com a namorada
e não com Rebeca. - Fica no caminho. Não esta muito longe daqui. Acha que consegue me encontrar perto
da pista velha?

-- Eu estou de moto, chego antes que elas!

-- Beleza moleque! Estou te esperando aqui!

Serginho desligou. Já estava em seu novo carro. Suas mãos trêmulas tocaram o cabo do revólver. Fumaça
portava um do mesmo modelo. Traçar algo é muito diferente do que falar. Alê e Cíntia eram boas pessoas,
estava sendo mais difícil do que pensava. Nervoso discou para Abgail. Quem sabe ela livrasse ele daquela
situação?

-- A gente vai fazer o negócio agora... Tem certeza que quer seguir em frente?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- Faça muito bem feito. – Infelizmente ela ordenou. – Eu paguei caro pelo serviço.

Trocaram mais algumas palavras e desligou. O cabo da arma pesava horrores em sua cintura. Só não mais
que sua consciência. Olhou no relógio. Rezou para que Fumaça não chegasse. Ele diria a Abgail que faltou
alguém para ajudá-lo, pegaria seu carro e sumiria de vez de Silvéster. Era o melhor a fazer.

_______________________________________________________________________

Já era a décima vez que Cíntia escutava a campainha. Sei lá quem estivesse na porta devia estar muito
nervoso. Agora batia praticamente derrubando a porta a com as próprias mãos.

-- Calma! – Cíntia murmurou enquanto se acertava com as chaves. Abriu a porta e deu de cara com Bruno. –
Que é isso? Vai tirar o pai da forca?

-- A Becca esta ai? – Bruno questionou já entrando no apartamento. – Eu preciso falar com ela!

Cíntia fez um gesto negativo.

-- Estou sozinha... A Isa esta trabalhando, Silvinha foi tratar de assuntos da viagem, a Alê disse que ia até o
hospital e... Bruno, você esta chorando? O que foi que aconteceu?

Engraçado. Só perguntarem “o que foi que aconteceu?” quando estamos tristes que parece que acionamos
uma torneirinha automática e choramos tudo que está entalado. Bom, pelo menos comigo foi assim. E com
Bruno parece que também é. Só foi Cíntia perguntar para ele se dependurar no ombro da minha amiga e
afogar as mágoas. Depois de um copo d’ágau e muitos pedidos de calma, Bruno conseguiu se acalmar e
contar a Cíntia sobre sua discussão com Rebeca.

-- Eu estourei com ela, peguei pesado demais... Mas cara, ela me deixa maluco! – Bruno confidenciou a
Cíntia. – Eu não consigo pensar direito... Eu me sinto inseguro, bobo... Eu falei eu te amo e ela me deixou
sozinho, terminou comigo, depois só me deu patada, quis voltar... Eu não me entendo mais. Parece que ela sei
lá... Deu nó na minha vida...

-- O nome disso é amor, seu bobo! – Cíntia brincou. – E seja mais romântico... Não é um nó.. é um laço...
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Tanta gente fala eu te amo que não quer dizer nada. Você já experimentou dizer isso para ela? Vocês já
conversaram em como se sentem?

--Eu não preciso conversar sobre isso com a Rebeca.

Cíntia fez um gesto negativo.

-- Como alguém consegue ser tão doce e tão machista ao mesmo tempo, hein? – Fez um gesto negativo.
Aproveitou a pausa e desligou o ventilador. Do nada sentiu os pelos do corpo inteiro se arrepiar. – A Rebeca
só namorou moleque, gente que fez ela sofrer... Que fez se machucar... O pai , o padrasto... Ela ficou com um
pé meio atrás com homens, mas a gente sabe... A Becca tem tanto amor dentro dela que ela não sabe o que
fazer com isso, com medo de perder ela finge que não sente nada, mas no fundo sente! – Levantou-se para
fechar a janela. O frio agora corria toda espinha e continuava a perseguir Cíntia. Ao fechar a janela, Cíntia
deu uma olhadinha no termômetro da praça em frente ao prédio de Silvinha. Vinte e seis graus temperatura
normal. – Você já conversou com ela?

-- Não vou conversar disso com a Rebeca, DR é coisa de mulher! - Bruno 1 x Sensibilidade 0. – O mais
importante eu disse! Não está bom?

-- Como alguém consegue ser tão doce e tão machista ao mesmo tempo, hein cabeça dura? – Cíntia se
perguntou. Cruzou os braços. Engraçado que Bruno parecia tão imune a todo aquele frio. – Fala pra ela... Vai
te fazer bem, vai te...

Cíntia não conseguiu completar a frase. Sentiu o peito apertar lhe causando uma dor aguda. As mãos soarem.
Bruno ainda não havia dado conta do seu estado.

-- Como foi com você? – Cíntia tentou abrir a boca, mas parecia não ter forças para mover os lábios. – Que
falou primeiro “eu te amo”, você ou Alê... Cacete, Cíntia!

Ela não escutava mais nada. Caiu no sofá desfalecido. Bruno se assustou ao tocar em sua mãos frias, passou
os dedos pelo seu pulso, havia batimentos. Suava excessivamente. Bruno pegou o celular e ligou para o
resgate.

-- Eu preciso de um resgate no edifício Olavo Bilac da Alameda Gonçalvez Morais! E bipa para a doutora
Júlia, avisa a doutora Júlia! Com urgência!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Rebeca e Alessandra estavam há poucos menos de dez quilômetros da minha casa. A Becca mais calma, as
duas em silêncio. Alê foi baixar o volume do rádio quando ouviu um barulho e em seguida sentiu o pneu
dianteiro do carro dar alguns solavancos.

-- DROGA!

-- Furou? – Rebeca despertou surpresa. – Alê?

Não tiveram tempo de saber se o pneu havia furado ou não. Dois sujos encapuzados (Serginho e Fumaça)
apareceram ao lado do carro. Alê ameaçou tocar o carro com um dos pneus furados, Fumaça deu um tiro no
pneu dianteiro ao lado de Rebeca fazendo minha amiga se encolher toda. Ele fez um sinal para abrirem a
porta. Obedeceram. Alê foi puxada pelo braço por Serginho de forma violenta. O nervosismo e a falta de luz
do local impediam que o reconhecesse. Foi empurrada com violência para o chão e levou um chute no rosto
fazendo o óculos voar longe.

-- Deixa a gente ir embora... – Alê implorou jogando as chaves do carro. Entregou a carteira. – Leva tudo,
mas deixa a gente... – Percebeu que seu agressor estava nervoso, o revolver tremia em suas mãos. – Leva o
carro, leva...

-- CALA A BOCA! – O outro tinha empurrado Rebeca com tanta força que acreditou que ela havia
desmaiado. – VOCÊ GOSTA DE ABRIR A BOCA DEMAIS. FOI COM AS DUAS SAPAS NA CASA
DAQUELE BICHA! DEPOIS TENTOU BATER VIU PRA DUARTE. – Alê levou mais um chute na boca.
Sentiu o sangue escorrer pelo nariz, as lentes dos óculos completamente quebradas. – TA APANHANDO
PORQUE SE METE ONDE NÃO DEVE! – Serginho meteu o revolver em sua cabeça. Não ia matá-la. Só
queria assustar. – SE ABRIR A BOCA DE NOVO ESTOURO OS MIOLOS!

Alê mesmo toda moída sorriu.

-- Então eu acertei? – Até para rir sentia dor. – A mãe dela é a médica, não é?

Nenhum dos dois respondeu. Serginho deu mais dois chutes em sua boca. Queriam realmente calá-la. O outro
ia lhe dar uma joelhada, mas vacilou ao sentir seu capuz repuxado revelando seu rosto. Fumaça errou, Rebeca
só estava tonta pela pancada, mas não tinha perdido os sentidos. Literalmente descoberto, Fumaça puxou o
revolver. Só então Serginho olhou para o lado e viu que a outra mulher não era Cíntia. Tentou gritar um não,

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

mas parecia ter perdido a voz. Tudo foi muito rápido. Rebeca sentiu a dor de levar um soco a seco e em
seguida sua coxa queimar muito. O sangue manchava boa parte da calça. Fumaça se preparava para o tiro de
misericórdia quando sentiu um chute no joelho.

-- Filha de uma puta! – Fumaça disparou o primeiro tiro em Alê arrancando um grito aterrorizado de Rebeca.
Acertou o abdômen. Agora que já tinha feito a burrada Fumaça iria até o fim. Mais dois tiros. Alê dessa vez
caiu gemendo de dor. – Não vai falar mais nada...

Fumaça só pensava em matar as duas. Agora eram ele ou as duas. Se a ruivinha não tivesse arrancado seu
capuz tudo estaria dando certo. Agora era matar ou ser entregue a polícia. Na hora de dar o tiro certeiro,
ouviu um barulho de carro.

-- Polícia! – Rebeca gritava. – Polícia.

Não teve coragem de olhar para trás para verificar se era a policia ou não. Apenas puxou Serginho, entregou
o capacete e fugiram de moto. Só pararam em Serro Azul. Assim que Serginho retirou o capacete levou um
safanão na cara.

-- MOLEQUE! VOCÊ NÃO PASSA DE UM BOSTA! EU TIVE QUE FAZER TUDO QUASE
SOZINHO! ELAS VIRAM A MINHA CARA! MINHA CARA! EU VOU TER QUE FUGIR!- Empurrou
Serginho. – TÁ ENTENDENDO OPW, PIRRALHO, EU...

-- Era a minha irmã! A ruiva era minha irmã... – Puxou os cabelos desesperado! – Você matou aquela filha da
puta seu corno! FALEI QUE ERA PRA SER SÓ UM SUSTO! OLHA A MERDA QUE DEU! Meu carro
ficou lá! O meu carro! Em dez minutos a polícia vai saber que carro é meu! Que merda que eu fui fazer...

Infelizmente não era a polícia e nem o resgate. Apenas um motoqueiro que passou em velocidade tão alta que
não viu as duas estiradas no chão e dois carros parados. Rebeca se arrastou até o carro e conseguiu amarrar
uma camisa de Alê para estacar o sangue de sua perna. Com muita dificuldade se ergueu, caminhou até Alê.
Ela estava acordada, com a respiração rápida e muito fraca, os olhos sem brilho e se encolhendo de frio.
Jogou seu casaco sobre Alê. Alê estava em estado cianótico.

-- A-miga, a-aguen-ta... – Sua voz saiu entrecortada. – Fir... – Foi interrompida por um toque salvador: o
celular de Alê. Estava caído embaixo do carro. Saíram com tanta pressa que não levaram o celular. – A-lô?

-- Rebeca? – Bruno perguntou surpreso. - É você?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

E congela na Rebeca que é uma das mulheres mais corajosas que eu conheci na vida.

End Notes:

Cap seguinte:

-- Isso aqui na blusa da Alessandra, esta vendo? -Giovanna perguntou a


Gabriel. - Essas marcas...

-- Parece tinta...Parece que alguem passou tinta na mão sobrou um


restinho...Est vendo? Dedos, mas sem digitais. - Gabriel coçou a cabeça. - E
pela posição da marca da pra ver que ele puxou a menina... O assaltante. -
Gabriel voltou a olhar a camisa, encarou Giovanna. - O cara estava com luvas
e as luvas com tinta fresca... Então...

Giovanna deu um meio sorriso.

-- Nosso cara é um pintor...

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Capítulo 55 by Tamaracae

- Manda subir. – Abgail ordenou um tanto consternada. Alguma coisa dizia que seria obrigada a encarar
problemas pela frente. – O que esse menino aprontou?

Abgail usava um conjunto de dormir preto de seda e uma capa por cima dando o ar de mais bruxa do que o
comum. O castelo daquela madrasta da Branca de Neve era um belíssimo apartamento na área mais nobre da
cidade, bem pertinho da mansão do meu tio ex prefeito.

Serginho nunca havia sido convidado para entrar no apartamento, só conhecia o endereço das vezes que foi
leva-la após as noitadas no flat dos encontros. Ao descer no ultimo andar do condomínio, os olhos de
Serginho se arregalaram de tão espantado que ficou com o padrão do local. No corredor do andar havia
peças finas e quadros caros. Não deu tempo de admirar muito. Logo ele foi puxado pelas mãos de ferro da
Abgail.

- Você endoidou menino? – Serginho olhou em volta, só então notou que foi arrastado pela porta de serviço e
estava na cozinha da casa de Abgail. – A empregada esta lá na sala, não quero que ela te veja aqui! O que
aconteceu? Você fez o...

Pela expressão do amante Abgail percebeu que ele estava preocupado. Tornou a perguntar o que tinha
acontecido.

- Deu tudo errado. – Murmurou. – Deu tudo errado!

Abgail sentiu a garganta secar e sorveu um gole do copo d’água. Estava impaciente. Pousou o copo d’água
que estava em sua mão sobre a mesa com força.

- Qual foi à burrada que você fez? – Impaciente. - Fala logo, garoto!

- O cara que eu arranjei para me ajudar... Ele... Deu vacilo.

- Deu vacilo?Como? O que vocês fizeram?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Serginho baixou a cabeça e murmurou a Abgail toda sua peripécia ao lado de Fumaça. A cada frase o
espanto e a revolta da dona Abgail era mais claro. No final do relato ela já havia perdido a paciência e partido
para a violência física socando o peitoral de Serginho que tentava se proteger. Aos murros ele foi levado para
a lavanderia do apartamento. Empurrou o menino contra a porta de um armário de limpeza.

- Seu imbecil! O que você e esse outro frouxo que você arrumou fizeram?! – Abgail rosnou. – Eu deixei bem
claro que era só para dar um susto na jornalista! No máximo uns tapas, chutes... Ameaçar a namoradinha que
esta pela bola sete! Agora tiro? Arma? – Serginho levou um safanão no rosto. – Já pensou se elas morrem? –
Sussurrou apreensiva. – Como eu vou me livrar de dois cadáveres embaixo da cama? Pensou nisso? VOCÊ
PENSA? Você tem ideia a merda que você afundou a gente? Que você afundou a gente no meio da merda
caso ainda não tenha notado e...

- A MINHA IRMÃ FOI BALEADA! Você não entendeu? – Preocupado. Acho que ilogicamente Serginho
gostava mesmo de Rebeca. – Ela pode estar morrendo agora e...

-Por culpa sua e do outro bosta que você arranjou! – Abgail se deteve tentando manter a cabeça no lugar. –
Esse tal de Fumaça? Cade ele?

- Foi pra casa de um tio ai em Serro Azul, mas acho que vai tentar ir para uns parentes em Mato Grosso. Ele
quer grana para ficar calado se for pego.

Abgail sabia sorrir e ser debochada.

- Meu querido, o que faz você acreditar que ele vai ficar calado se for preso? Pelos seus lindos olhos? –
Retrucou. – Essa gente diz que vai ficar calada e você, otário, parto, vai e cai! No primeiro enquadro que esse
delinquente leva você é entregue!

- Não... A mulher dele precisa da grana! Ela vai ter dois guris agora, esta com a gravidez adiantada já. Dei
toda a grana que tinha para ele... Só não dei o carro porque sai de lá correndo e nem tirei o carro de lá...
Sorte que a gente deixou a placa dele fria e o proprietário inexistente...

Abgail fez um gesto afirmativo.

- Pois é, parecia que eu estava adivinhando... Quanto vai me sair o silêncio desse cara?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- A grana é para mim também, eu vou ter que sumir depois disso e...

Abgail fez um gesto negativo.

-- Não senhor, você já fez burrada demais. Você sumir só vai levantar mais suspeitas...O rosto dele foi
descoberto, o seu não... Não tem nada que te identifique no carro, tem? – Serginho fez um gesto negativo. –
Ótimo. Você vai voltar para casa e fazer o papel de irmão desesperado enquanto eu vou agir...

Serginho não fazia ideia o que significava aquele agir de Abgail. Saiu do prédio e seguiu até o apartamento de
Silvinha onde aguardaria a noticia sobre Alê e Rebeca. Abgail tirou o pijama e foi se arrumar. Faria uma visita
ao Alonso Franco.

______________________________________________________________________

- Bruno? – Cíntia perguntou ainda tonta por causa da medicação. – O que eu estou fazendo aqui?

A cabeça de Cíntia pareci ainda dar pequenas voltas. Só tinha duas certezas: estava no Alonso Franco e
deitada em uma cama de hospital. A última coisa que lembrava era sua conversa com Bruno, depois foi fechar
a janela sentindo uma estranha friagem e tudo virou um borrão.

- Você sentiu um mal estar... – Bruno balbuciou, trazia um olhar arrasado nos olhos. Cíntia sentia que as mãos
de Bruno trêmulas. Ele envolvia os dedos nas mãos pálidas da Cíntia. – A gente fez uns exames, não
encontramos nada... Só foi uma pequena queda de pressão...

Cíntia fez um gesto afirmativo, soltou as mãos de Bruno para procurar seu celular na cômoda que ficava ao
lado da cama hospitalar.

- O que você quer, Cíntia?

- Ligar pra Alê... – Bruno baixou os olhos, Cíntia percebeu duas lágrimas grossas caindo dos seus olhos. –
Bruno, que foi? Você esta chorando... Quer que eu chame alguém, quer que...

Bruno fez um gesto negativo.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Cíntia, eu preciso te contar uma coisa... – Cíntia fez um gesto afirmativo, apreensiva. – Mas a gente tem que
ser forte...

- O que aconteceu? Bruno, não me enrola... Conta...

- Eu vou contar...

E aos poucos foi desenrolando toda a história para Cíntia. Contou do telefonema de Rebeca, seu desespero
de saber a notícia e por fim revelou a presença de Alê no local. O rostinho da Cíntia parecia se desfigurar
ouvindo as palavras de Bruno. Por fim o abraçou. Chorosa, carente, desprotegida, desesperada.

Devo confessar que quando soube da notícia por um telefonema de Júlia, eu também entrei em desespero.
Mamãe estava no hospital, Gabriel devia ir trabalhar no caso das meninas, eu queria correr para o hospital,
entrar na cirurgia das duas e não tinha com quem deixar Heleninha. Quem me deu uma luz foi Júlia pelo
telefone.

- A Manu. Será que ela ficaria?

Era uma hipótese. Liguei para Paula e expliquei tudo correndo. Manu não conhecia Alê direito, mas sabia
quem era Rebeca. Nervosa me respondeu milhares de sim e em tempo recorde chegou à cabana
acompanhada de Paula e Giovanna. Eu estava nervosa para dirigir e Giovanna se ofereceu para me levar até o
local do tiroteio. Ao chegar lá, ainda pegamos o resgate de saída. Giovanna ficou junto de Gabriel que já
coordenava o pessoal da perícia que trabalhava com aqueles roupões especiais na cena do crime tentando
encontrar pistas.

Entrei correndo na ambulância que removia Rebeca. Minha amiga balbuciava algumas coisas e estava com a
perna muito machucada. Júlia me informou que seu estado era mais complicado do que pensávamos.

- A bala passou pela artéria femoral... Acho que a Rebeca ainda tentou atender a Alê...

- E a Alê?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Também não esta fácil... Uma das balas tá alojada em um lugar muito delicado, entre os pulmões... As duas
perderam muito sangue e a Alê entrou em choque. A Duarte foi com ela...

- A Duarte? Ela voltou?

- Voltou. – Júlia olhava para o monitor observando os batimentos de Rebeca. – Droga, ela precisa de cirurgia
urgente! Se eu pego esse filho de uma puta que fez isso com elas... Júlia murmurou inconformada. – Não era
assalto, não levaram anda...

Os dois casos havia perigo de morte. Como Júlia disse, perderam muito sangue. Alê pelos três ferimentos e
Rebeca pela artéria. Eu já tinha visto vários casos de gente que é atingido em uma artéria importante e morre
em pouco tempo de tanto sangrar. Meu coração estava pequenininho em ver Rebeca toda machucada
daquele jeito (o rosto estava cheio de hematomas por causa da surra que levou e um corte mais profundo na
testa). Rebeca murmurava coisas desconexas, mas falava bastante no nome da Duarte.

- Becca, não fala nada... – Eu implorei. Naquela ambulância todo mundo estava muito nervoso, não era só
uma paciente, mas também uma colega de trabalho e para mim uma irmã que eu reencontrei depois de 26
anos. Meu coração estava saindo pela boca. – Sua teimosa, já fez tanto esforço...

Rebeca me deu um sorriso fraquinho.

- Br-uno...cuida do be-bê pra mim... A-li...

- Shiiiiu... Fica quieta. Fala nada não.

- O que ela esta falando? – Júlia se interessou.

- Pedindo pra tomar conta do Bruno pra ela.

- Pra que? – Júlia perguntou diretamente a Rebeca. – Quando você levantar daí você toma conta sozinha...
Rebeca, não sou médica que curte doença não, já vou logo tratando pra você ficar boa logo...

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Rebeca fez um sinal de não com a cabeça e nos explicou.

- Dói!

Júlia fez um carinho em seus cabelos.

- Se você me dissesse que não ia falar que você é uma mentirosa do caramba. Eu já levei bala de raspão na
perna, meio da guerra, desse tamanho todo, chorei feito criança. – Sorriu. – Vou tirar essa bala daí, em dois
tempos você vai estar fazendo o moonwalk melhor que o Michael Jackson... Vou fazer o possível para te
salvar. E... Porcaria! Rebeca, tentar manter o olho aberto... Você precisa ficar acordada... Júlia não tirava os
olhos do monitor... Vamos, Rebeca!

Na outra ambulância Isa acompanhava Alessandra, Duarte e os outros paramédicos. O estado de Alê era
semi consciente. Às vezes ela abria os olhos tentava falar alguma coisa e voltava a fechá-los. Suas mãos
continuavam frias e tremia de frio.

- Pressão, doutora Isadora?

- Dez por seis.

- Droga, só abaixa! – Duarte resmungou. – A Rebeca mesmo baleada conseguido fazer um bom trabalho. Se
ela não tivesse estacado essa hemorragia á tempo... – Fez um gesto negativo. – Esses bandidos cada vez
piores. E ainda tem gente que defende e...

Isa sentiu alguém apertando sua mão e seus olhos encontraram com os de Alê.

- Bol-so...

Isa enfiou a mão no bolso da frente de Alessandra e encontrou um pedaço de jornal, manchado de sangue.

-- O que é isso? – Duarte perguntou. Isa também não entendeu. – Alessandra?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Com dificuldade, Alessandra murmurou.

- A-li-ce. A-li...

- É pra entregar isso para a Alice?

Alessandra deu uma piscada como se assenti com a informação, não teve forças para abrir os olhos
novamente. Sentia as mãos de Isa e Duarte trabalhando sobre seu corpo, a voz da nossa residente passando
ordens aos paramédicos, mas não conseguia reagir. O corpo não obedecia às ordens do cérebro. Ainda
estava consciente quando pararam a ambulância e entraram no Alonso Franco. Murmurou um: “Cíntia”, mas
ninguém tinha ouvido.

Ao chegarmos no Alonso Francos as duas logo foram encaminhadas para o andar cirúrgico. Júlia, Duarte,
Leandro e outros colegas meus já se limpavam e colocavam novas roupas se preparando para a cirurgia. Eu
estava muito nervosa parecia que meu corpo inteiro tremia, minhas mãos suavam horrores. Fiz o ritual, mas ao
meu ver naquele estado, Duarte não pensou duas vezes em me vetar da cirurgia.

- Mas doutora...

- Preciso de médicos agora, seu psicológico esta falando mais alto. – Ela estava certa. – Você fica
responsável em ir passar notícias ao Bruno e a Cíntia.

Se lá dentro do centro cirúrgico estávamos inquietos, para quem ficava do lado de fora era muito pior. Bruno
e Cíntia não conseguiam parar em um canto só. Serginho também havia chegado e não parava de andar de
um lado para outro atrás de noticías. Ele que avisou a família. Também avisamos a família de Alê. Eles
moravam em Porto Velho, demorariam algumas horas para chegar. De quinze em quinze minutos saia para ver
como estavam os dois e Isa resolveu não entrar na cirurgia para ficar com Cíntia. Eu dei uma escapada do
centro cirúrgico e fui ligar para Paula querendo saber como estava a Heleninha.

- Então, estou aqui com a Paula, nós demos a mamadeira a ela e já trocamos para dormir. E as duas, como
estão?

- A Alessandra chegou aqui em estado de choque hipovolêmico, a Rebeca também esta em um estado
crítico... – A bala raspou em uma das artérias e ela teve uma hemorragia interna quando levou à pancada e
caiu. E a Giovanna, já chegou ai?
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- Você não disse que ela foi ver o trabalho da perícia? – Manu me questionou. – Agora ela não tem mais hora
para voltar pra casa... Olha, o Pedro Henrique ligou.

- O que ele queria?

- Não sei... Mas não me pareceu muito feliz em saber que a você não estava em casa com a Heleninha. – Só
me faltava essa, aquele infeliz controlando minha vida! – Alice, qualquer coisa liga para gente, beijo!

- Beijo!

Desliguei. Eu ia voltar ao centro cirúrgico, encontrei com Isa.

- Alice... Tem uma coisa que eu preciso te entregar. – Me estendeu o recorte de jornal todo amassado e sujo
de sangue. – A Alê pediu para te entregar, só que não teve tempo de falar o que era...

Olhei o recorte. Era uma foto antiga de D. Abgail com Duarte. As duas jovens. Ainda havia uma terceira
pessoa na foto. Só que não dava para saber quem era devido ao rosto do terceiro sujeito estava sujo com o
sangue de Alê. O que queria dizer aquilo? Agradeci Isa, na porta do centro cirúrgico meu celular apitou com
uma mensagem de que eu estava recebendo um correio de voz. Resolvi escutar acreditando que seria de
Manu ou Paula. Não era.

- Alice, sou eu... – Era a voz de Alê. – Seu celular só da caixa, eu vou passar na sua casa hoje à noite. Acho
que descobri um negócio importante sobre a Nat e a Abgail. Chama a Júlia, até mais tarde, beijo!

Oras, ela descobriu algo importante sobre a Abgail e no mesmo dia foi vítima de um atentado? Sim, vítima de
um atentado. Um ladrão comum teria levado a bolsa, o celular, carro e restante das coisas de valor. Alê tinha
levado vários chutes na boca, seria uma maneira subliminar de fazer com que ela se calasse? Minha cabecinha
começava a encaixar as peças do quebre cabeça e formavam o desenho de um rosto de bruxa como culpada.
Seria possível? Minhas dúvidas sanaram quando em uma das minhas idas a sala de espera encontrei com a
própria ali em carne e osso. Dona Abgail. Ao contrário das outras vezes ela foi muito cortês comigo e chegou
até a dar uma explicação ao Bruno do que estava fazendo ali.

- Eu vim procurar a Natália, ela me avisou que ia retornar ao trabalho hoje. Eu queria parabenizar sua irmã
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pelo retorno...

- Ela não esta, mãe. – Bruno murmurou. Estava tão desesperado que nem forças para um confronto com
Abgail ele tinha. – Deve ter ido para casa mais cedo, por que a senhora não procura ela por lá?

Abgail fez um gesto negativo.

- Não, meu filho... – Meu filho? – Não era nada de importante. Você esta nervoso, é melhor eu ficar aqui
com você...

Não precisava dizer mais nada. Sabe aquela velha história de homem safado quando chifra a esposa trata bem
porque sabe que esta pisando na bola? Pois então... Se ela estava aquele mel todo com o filho é que tinha
alguma coisa muito errada acontecendo. Nosso olhar se cruzou duas vezes. Não disfarcei minha desconfiança.
Ela apertou os olhos, eu sustentei a provocação e depois ela desviou os olhos para outro lado e levantou com
a desculpa de ir tomar um café.

_______________________________________________________________________

Quase todos os nossos amigos estavam presentes naquela sala de espera apreensivos. Quem não estava era
porque estava envolvido no caso de outra maneira. Manu e Paula me ajudando com Heleninha e Giovanna e
Gabriel atrás de pistas para encontrar os safados que tinham cometido aquela brutalidade com as duas. Só
faltavam Silvinha e Nat ali. Um doce para quem adivinhar o que ambas estavam fazendo? Lógico que estavam
juntas e quando falo juntas é juntas mesmo.

Nat sorriu ao sentir as pernas de minha prima sobre as suas. As duas já estavam nuas. Os cabelos escuros de
Silvinha caiam por seus ombros enquanto Silvinha mordiscava o pescoço de Nat. As mãos de Nat procurava
sincronizar o encaixe do corpo das duas. Afundou o nariz sobre sua pele, Nat sentiu o corpo todo se eriçar
quando a língua de Silvinha atravessou todo seu pescoço e chegou em seu queixo. Silvinha ergueu levemente
os lábios, seus olhos se cruzaram com os de Nat que sorriu, fez um carinho no rosto da minha prima. Foi à
vez de Silvinha sorrir vermelha, trocaram um beijo delicado e Silvinha deixou seu corpo relaxar sobre o de
Nat. Pousou a cabeça sobre o peito e sentiu o coração dela bater mais forte. Não teve como deixar de sorrir.

- Ai ai, nasci para ser mulher de malandro...

Nat sorriu.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Mais que romântica dona Silvia... – Minha prima franziu o nariz sorrindo. Odiava ser chamada de Silvia,
dizia que era nome de velha. Dona Silvia então. – A gente fica vendo americano, tudo tão bonitinho, tão cheio
de carinho... Isso é coisa que se diz após fazer amor com sua namorada e... – Nat se calou ao ver o sorriso
de Silvinha. – Namorada, né?

- Namorada? Tem certeza que vai agüentar esse Vietnã, doutora Natália? Se tornar a primeira dama do
Lesbworld de Silvéster? – Nat deu uma risada. – Do Scarpan? Olha... O cargo não é pra qualquer uma não,
viu...

Nat entrelaçou suas mãos na cintura de Silvinha com força.

- Tá me chamando de qualquer uma?

- Aiiii...

- Doeu?

Silvinha fez um gesto negativo.

- Foi gostoso...

E mais uma vez se entregaram ao desejo. Como elas chegaram a esse ponto? Simples, Nat encerrou seu dia
de trabalho no hospital. Trocou de roupa, tomou um banho e fez o caminho para casa. Não resistiu quando
observou o Scarpan vazio. Ainda não havia sido reinaugurado.

Silvinha da varanda do prédio em formato de sapato observava os pedreiros que trabalhava na obra do
prédio irem embora e seus olhos cruzaram com os de Nat que estacionou o carro em frente ao prédio e a
observava. Nat esperou o ultimo sair para entrar no prédio. Silvinha já estava pronto com seu um milhão de
argumentos na ponta da língua, mas desistiu quando Nat parou na sua frente e apenas disse:

- Só quero então te desejar uma boa viagem.

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- Já desejou.

- Mas não do jeito que eu quero. – silvinha foi puxada junto ao seu corpo. Sentiu a respiração de Nat
batendo em sua boca. – Assim!

O calor dos lábios de Nat tratou de esquentar o corpo inteiro da minha prima que resolveu se entregar ao
momento fechou os olhos e sentiu as mãos de Nat explorando cada parte do seu corpo, a boca sussurrando
em seu ouvido, as batidas de seu peito se transformando em solavancos. Subiram as escadarias do prédio
com cuidado até alcançarem o andar de cima.

Lá era o caixa, chapelaria e havia vários almofadões puffs e sofás usados para pegações. As roupas foram
despidas, jogadas em cantos inaugurados Nat deitou Silvinha em dos almofadões e passaram boa parte da
tarde e o comecinho da noite ali, namorando. É lógico que não escutaram os dois celulares tocando horrores
e não souberam do caso de Rebeca e Alê.

- Vem cá, você precisa mesmo viajar? – Nat perguntou a Silvinha enquanto fazia um carinho em seu rosto. –
Três meses...

- Não faz manhã assim não... –Silvinha deu um beijo em sua mais nova namorada. – Vai ser bom pra mim...
Vou ganhar experiência, mais bagagem internacional, é profissão.

Nat sorriu.

- Já estou com saudade.

Iam se entregar a um novo beijo quando Nat parou no ar. Silvinha estranhou, mas logo entendeu, também
escutou o ruído vindo da bolsa de Nat. Era o celular.

- Vai atender, pode ser importante... – Nat torceu o nariz. – Vai, Nat...

Preguiçosamente Nat leu o nome de Bruno no visor e em seguida atendeu.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Oi Bruno... - ... Nat se sentou para escutar melhor, arregalou os olhos. – Como é que é? - ... – Mas vocês
estão todos ai no hospital? - ... – E como foi isso? -...- Tá bem, ta bem... –Olhou para Silvinha... – Eu vou ver
se encontro com ela e vamos prai. Beijo e se cuida, maninho...

Desligou.

- Que foi, Nat?

- Silvinha coloca sua roupa. – Séria, preocupada. – A Alê e a Rebeca foram assaltadas e levaram um tiro...

- QUE?

- Estão no hospital. – Nat falava enquanto caminhava atrás de suas roupas. – Na cirurgia, se troca rápido...

Em poucos minutos elas chegavam juntas no hospital. Silvinha foi consolar Cíntia enquanto Nat resolveu ficar
ao lado do irmão. Bruno parecia um bebê de verdade. Com Laísa em seu colo deixava ser cuidado por Nat.

- Calma, Bruno... Ela vai ficar bem... A Júlia esta fazendo o possível! – Encarou os olhos de Bruno. – Como
irmão ela pode não ser lá essas coisas, mas como é medica a gente sabe do que ela é capaz... Calma, vai dar
certo...

- Se eu pego o filha da puta que fez isso!

Serginho que estava ao lado de Bruno baixou a cabeça.

- Bruno, tenho certeza que o Gabriel esta cuidando disso, agora se concentra aqui na Rebeca e na Alê e...
Mãe? – Nat não escondeu a surpresa ao encontrar com Abgail. – O que a senhora esta fazendo aqui?

- Eu vim ver você, minha filha, encontrei com o Bruno e resolvi ficar... Ele parecia nervoso. – Entregou uma
garrafinha d’água nas mãos dele. – Toma um pouquinho Bruno, vai te fazer bem.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Ela não me enganava fazendo o número de boa mãe. Aquele olho ruim da Dona Abgail entregava. Eu tinha
certeza que ela só estava ali querendo saber se Alê ficaria viva para contar história. Vaca! Ela me encarou
mais duas vezes e desviou o olhar. Depois levantou para ir ao banheiro. Aquela seria minha chance.

__________________________________________________________________________

Parte da estrada estava interditada com faixas amarelas. Os dois carros (o que Alessandra e Rebeca usavam
e o de Serginho) estavam parados na mesma posição. Na área interditada apenas os peritos. Todos usavam
aquelas roupas apropriadas para não infectarem a cena do crime a procura de pistas. Gabriel deu ordens ao
chefe da perícia pelo rádio, ia voltar ao seu trabalho quando viu a italianinha que freqüentava minha casa lhe
acenando da estrada. Giovanna trazia um pedaço de pano rasgado e sujo nas mãos. Ao se aproximar Gabriel
percebeu que ela usava luvas.

- Sempre trás luvas na bolsa caso se depare com uma cena de crime?

Giovanna sorriu.

- Elas ficam ao lado da minha nécessaire com o absorvente. Quero te mostrar uma coisa... Encontrei esta
blusa.- Era o casaco de Alessandra. – Os médicos retiraram quando levaram a embora...

- Alguma coisa especial?

- Isso aqui na blusa da Alessandra, esta vendo? -Giovanna perguntou a Gabriel. - Essas marcas...

- Parece tinta... Parece que alguém passou tinta na mão sobrou um restinho...Est vendo? Dedos, mas sem
digitais. - Gabriel coçou a cabeça. - E pela posição da marca da pra ver que ele puxou a menina... O
assaltante. - Gabriel voltou a olhar a camisa, encarou Giovanna. - O cara estava com luvas e as luvas com
tinta fresca... Então...

Giovanna deu um meio sorriso.

- Nosso cara é um pintor... Entregue isso para o perito e peça um teste para saber que produto é esse. Já é
uma boa pista.
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Gabriel fez um gesto afirmativo. A italiana tinha boa cabeça para coisa.

- Não foi assalto, tudo com cara de emboscada. O carro deles placa fria e de proprietário inexistente. A
madeira com pregos para furar o pneu do carro, elas foram encontradas com um bom dinheiro. A Alessandra
estava de relógio e com um IPad dentro do carro. Um bandido comum levaria isso...

- Elas tinham inimigos?

Gabriel fez um gesto negativo.

- Que eu saiba não... Mas tenho uma suspeita. Crime de ódio. As duas saíram juntas do hospital, alguém
pode ter pensão que são namoradas. –Gabriel concluiu. – Se eu conseguisse dar uma olhada nesses vídeos
da câmera de segurança hoje.

- Já teve casos de homofobia por aqui?

- O bar da prima da Alice que é LGBT foi incendiado. Investigamos e encontramos a existência de um grupo
homofóbico que prega “reeducar” a cidade. Dei voz de prisão e duas semanas depois conseguiram habeas
corpus. A gente prende e a justiça solta e... – Gabriel foi interrompido por um chamado no celular. A notícia
não era boa.

- O que foi?

- A cirurgia das duas está sendo mais complicada do que parece. – Esmorecido. – Vamos voltar ao trabalho!

________________________________________________________________________

Quando entrei no banheiro, Dona Abgail já saia do reservado e lavava as mãos. Ao me ver através do
espelho me senti fulminada por aqueles olhos apertados. Ela sorriu lavava as mãos calmamente. Eu resolvi
provocar. Peguei a nécessaire da minha bolsa e resolvi retocar meu batom.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Como a senhora mandou fazer isso? – Eu questionei. – A senhora não tem vergonha de estar posando de
boa mãe para o seu filho sabendo que foi por sua causa que a mulher que ele ama esta morrendo lá dentro?

Abgail me mediu de cima abaixo.

- Esta falando comigo, menina? – Sorriu debochada. - Nem quando eu faço meu papel de “boa mãe” eu
ganho um elogio? Francamente, das noras que meus três filhos tiveram a incompetência de me presentear
você é a mais insuportável delas. – Irônica. – Nem quando eu faço meu papel de boa mãe tenho direito a um
elogio? O Bruno sempre gostou de um drama, daqui uma semana já arranjou outra.

Vaca, ainda tinha coragem de dizer um absurdo daqueles. Droga, Alê, o que você descobriu dessa bruxa para
que eu acabasse com ela?

- E mesmo deve acontecer com a Júlia. – Baixou os olhos. – Você Alice? É esse nome, não é? É bonitinha,
é engraçadinha, é espertinha, legalzinha, muito inha junto... Logo a Júlia enjoa. Quer dizer que eu mandei
atacarem as suas duas amigas? Você tem provas? Preto no branco?

Fiz um gesto negativo.

- Não, não tenho prova e não tenho ideia como você descobriu o que a Alê sabia sobre você... – Guardei o
batom na bolsa, me virei de frente a ela. - E reconheço que em matéria de sacanagem, de pilantragem você da
de 10 a 0 em mim.

- Olha aqui, menina você fique quieta...

- CALA ESSA BOCA,PORQUE QUEM VEIO AQUI PARA FALAR SOU EU! – Pela primeira vez senti
ela me encarando atordoada. – A senhora vai cair, e vai cair feio! Eu não sou criança e não acredito nessa
historinha que o bem triunfa sobre o mal, não, até porque não existe o bem e o mal! O que me dá certeza que
a senhora vai cair é porque pode-se enganar todo mundo por quase todo o tempo, quase todo mundo por
todo tempo. Mas não pode enganar todo mundo por todo tempo! A minha segunda certeza é que eu vou
ajudar muito para te ver na cadeia que é lugar de bandida feito você. Na cadeia! – Sorri. – Aparentemente a
senhora venceu essa guerra, né? Ganhou o round! Esta ai, intocável, com sua pose de sempre, inatingível... –
Abgail abriu um sorriso como se concordasse com tudo que eu dizia. – Mas sabe onde a senhora esta de
verdade? – Sem remorso nenhum soltei minha mão e esbofeteei a bruxa com toda minha raiva. Foi tão

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

inesperado que mesmo ela sendo maior que eu, ela caiu sentada de bunda dando aqueles gritinhos de velha. –
NO CHÃO! Reza, mas reza muito para Alessandra e a Rebeca saírem dessa!

E finalmente me senti parcialmente aliviada. Indescritível o gosto de ver a bruxa no chão.

________________________________________________________________________

As salas de cirurgia de Alê e Rebeca ficavam lado a lado Tanto Duarte quanto Júlia conseguiam se ouvir
trabalhando. O caso das duas estava grave. Mais complicado que o comum, uma por causa da localização e a
outra porque havia perdido muito sangue. De um lado Júlia escutava:

- Não, não, preciso de mais sucção aqui... Cuidado! Não. Não, mais cuidado... – Ela ordenava ao residente.
- E... PARADA CARDIACA! Carrega em 200! Ela esta voltando... Carrega de novo!

Do outro lado Duarte e Leandro ouviram Júlia.

- Droga Rebeca, essa pressão não para de cair... E não, não pode perder mais sangue! Quero mais duas
bolsas, isso vai ser pouco, corre! Corre, ela vai entrar em choque de novo!

Enquanto eu voltava para a sala, havia uma correria de residentes Júlia e Duarte, uma falação de carregar em
não sei quantos, mais sucção e carregar de novo, perda de pressão. Quando cheguei à sala de espera, Júlia
saia do centro cirúrgico. Aquele olhar desolado significava alguma má notícia. Cíntia e Bruno se levantaram
juntos e de mãos dadas. Silvinha, Nat e o restante do pessoal se juntaram a nós.

- Perdemos uma delas.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 56 by Tamaracae

Author's Notes:

Oiiiis!!!

Surpresa com a quantidade de gente saindo da moita!! Aos poucos vou respondendo
de uam a uma, obrigada pelo carinho de cada uma de vcs!!!

http://www.youtube.com/watch?v=YH3ACStz-P0 - O Barquinho - Nara Leão

http://www.youtube.com/watch?v=Zi8vJ_lMxQI - Réquiem - Morzat

http://www.youtube.com/watch?v=hVItXTvIgJc - Cachorro Perigoso - Tche Garotos

http://www.youtube.com/watch?v=npDgRhgncbQ - Calling all angels - Lenny Kravitz

Os olhos de Bruno lacrimejavam, estava com o nariz vermelho, o cabelo bagunçado. Marcas de sofrimento.
Júlia o acompanhava até onde estava Rebeca. Um vidro a separava de Bruno. Ele limpou uma das lágrimas
que teimavam descer por seu rosto.

-- Como vai ser, hein?! – Bruno se perguntou.

-- Dolorido. Irreversível... Cara, eu já passei por isso. A dor é tão grande, o medo também. Parece que se
pisa em um buraco sem fundo e você não para de cair... Você vai escutando as vozes das pessoas cada vez
mais longe, os rostos de pessoas que estão perto da gente, tudo fica tão inalcançável e você se fecha para não
sentir dor. – Baixou os olhos, comovida. – Quando eu abri os olhos...

- Quando a Marcinha morreu, você saiu de casa, estava pensando em que?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Júlia fez um gesto negativo.

-- Não sei. Talvez inconscientemente em morrer junto com ela. – Limpou uma das lágrimas do irmão. –
Enchia minha cara e pegava estrada bêbada. Dias sem por nada de comer na boca, sem tomar água. Só
vodca, uísque pra baixo. Mergulhei fundo mesmo. Até cheirar eu cheirei. – Bruno ergueu os olhos surpreso. –
Foi uma vez, mas cocaína não é minha praia... Fiquei quase uma semana sem conseguir dormir. Quase
enlouqueci. Fiquei só na bebida. Me meti em encrenca de policia, cansei de passar noite em cadeia... Corria
tanto com a moto, eu fingia que tinha pressa para chegar em casa para ver meu filho. Quando eu conseguia
ficar sóbria eu me sentia toda errada. Culpada, como se a minha vida estivesse toda torta. – Outra pausa. -
Entortei tanto que quando eu dei por mim, estava metida no meio de guerra, conflito, explosão... Teve um dia
que eu me olhei no espelho de casa e vi meu pai, quando ele estava na pior fase do câncer. Se vocês me
vissem vocês pensariam que eu estava em fase de estado terminal. Cheguei pesar 53 quilos. E já estava dessa
altura toda... Eu vivi um porre de três anos, Bruno. Era dor demais que eu sentia.

-- E quando caiu a ficha?

-- Quando mandaram a gente de volta do Irã aqui para o Brasil. Eu ia para Manaus, mas o avião fez escala no
Rio de Janeiro. Era verão, finalzinho de tarde o céu estava laranja... Da janela do avião dava pra ver aquele
marzão todo brilhando... Aquelas montanhas, o Redentor, Corcovado... No avião tinha uma japonesada
doida toda animada que ia conhecer o Rio, eles cantavam aquela música “o barquinho vai, à tardinha cai...” Ai
eu notei que por mais que eu não quisesse eu tinha ficado... E ficado para viver. Eu não podia ser uma morta
em vida. E se eu quisesse morrer, eu sou médica, eu sei fazer isso melhor do que qualquer outra pessoa. No
fundo eu não queria morrer, então eu tinha que tentar seguir em frente. – Bruno fez um gesto afirmativo. Desci
no aeroporto, peguei um táxi, pedi para o motorista tocar para Ipanema. Peguei minhas coisas, joguei na
primeira pousada que encontrei e corri para praia. Primeiro entrei naquele mar lindo... Deixei a onda me
derrubar, tomei caldo, mergulhei, parecia criança quando conhece o mar. É tão mágico... Depois pedi uma
água de coco, tomei direto do coco, sem canudo, me molhando toda... Acho que eu parecia uma exilada
política de volta ao seu país. – Baixou os olhos. - Sabe Bruno, maltratei muita gente nesses dez anos minha
família, meu filho, as pessoas que gostam de mim de verdade, mas quem mais se machucou no final disso tudo
fui eu. – Fez uma pausa. – A Cíntia não pode se maltratar como eu fiz. Eu tentei salvar a Alê de tudo quanto
era jeito. A Duarte também. Eu ouvia os comandos dela da minha sala. Quando terminei de estabilizar a
Rebeca, pedi para os meninos fecharem e fui ver a Alê. Me troquei, me lavei, quando cheguei aqui, ainda
estavam tentando trazer de volta. Ficamos quase uns vinte minutos nessa, mas a bala estava em um lugar muito
delicado, muito difícil de salvar. Essa dor de perder quem a gente ama é grande... Ela vai precisar muito da
gente para sobreviver sem a Alê. – Bruno fez um gesto afirmativo. Júlia deu um tapinha leve em seu ombro. –
Cuida direitinho da tua ruiva... – Apontou com o queixo em direção a Rebeca. – Isso é o Hulk disfarçado de
patricinha, mesmo baleada ela estancou a hemorragia da Alê direitinho. Um cavalo de força. Vou beber uma
água lá fora.

Júlia seguiu pelos corredores de fora do centro cirúrgico. No meio do caminho cruzou com Nat que
provavelmente iria encontrar com Bruno. Encararam-se por alguns segundos e Nat retomou seu caminho e
chegou ao irmão. Ele ainda observava Rebeca pela vidraça. Nat apertou de leve seu ombro.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-- E ai? E a Cíntia?

-- A Silvinha, Isa e Alice saíram atrás dela... Não deve ter ido para muito longe. Bruno abraçou a cintura de
Nat, Deitou o queixo no ombro da irmã. - E a Becca, como esta?

-- A Júlia falou que ela tem que ficar aqui na UTI. Que é preciso ficar de olho nela nas próximas horas. Não
encontrou com ela quando você entrou?

-- Não quero falar com ela. Ela nem me pediu desculpa! – Bruno censurou as duas irmãs com um gesto
negativo. – Sabia que tua sogra chegou e está lá fora?

Nat e Bruno ficaram lá trocando informações sobre Rebeca. Do lado de fora apenas sobrou Serginho, dona
Sônia, mãe da Rebeca e eu. Dona Sônia era a cara de Serginho e com sotaque gaúcho mais forte do que os
dois filhos.

Isa e Silvinha foram atrás de Cíntia que saiu chorando, correndo e atropelando todo mundo quando recebeu a
notícia da boca de Júlia. Nat estava com Bruno. Gabriel e Giovanna deviam estar na delegacia, Paula com
Manu na minha casa, a bruxa da Dona Abgail deu sumiço. Eu fiquei lá fora caso algum conhecido da Alê ou
da Cíntia aparecesse eu daria informações de tudo que estava acontecendo. Tentei ligar duas vezes para
Manu, mas nada dela atender. Bom, não devia ter acontecido nada com Lelê, senão eu já estaria sabendo.
Desliguei o telefone e Júlia saiu do centro cirúrgico.

Só de olhar para Júlia eu notei o quanto ela estava cansada, atormentada, triste como todos nós. Sem
exageros, acho que cada um de nós morreu um pouquinho com Alê. Um tremendo de um soco a seco no
meio do estomago. Júlia deu uma palavrinha com a mãe de Rebeca, passou por mim reto, mas logo recebi
um sms para nos encontrarmos em dez minutos no terraço do Alonso Franco. Ela terminava de desligar o
celular quando cheguei lá em cima.

-- Eu avisei para minha vó... – Ela comentou cabisbaixa. – Pedi para ela contar ao João com calma e... Coisa
mais triste, né? – E me confessou. – Me senti tão impotente, tão...

Não deixei que ela completasse a frase e a cortei pousando meu dedo indicador e médio sobre seus lábios.
Ergui levemente meus olhos e nossos olhares se cruzaram brevemente. Duas lágrimas escorreram pela minha
pele. Em um gesto delicado ela beijou cada lado do meu rosto sorvendo meu choro. Senti seu nariz

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absorvendo meu cheiro. Achei que ela ia beijar minha boca, mas seus lábios desviaram e sussurram no pé do
meu ouvido:

-- Você pode ser a minha única ou ultima esperança de ter alguém de verdade... Eu posso algum dia até
pensar em ficar com outra pessoa, mas a mulher que sempre vou querer ter, a mulher que não sai da minha
cabeça nem quando eu estou dormindo é você porque você é a mulher dos meus sonhos, Alice... – Fez um
carinho no meu rosto e nossos olhos voltaram a se encontrar. – Quando eu vi aquela menina morrendo na
minha mão, a primeira imagem que veio era a minha naquele mesmo corredor. Me deu um sentimento de
perda tão...

-- Shiiiiiu, você não vai me perder meu amor... – Nossos lábios se tocaram de forma suave. Envolvi seu rosto
em minhas mãos. – Nunca. – E deixei que ela tomasse minha boca de uma vez em um beijo cheio de
sentimentos. Um ventinho gelado batia lá em cima e para me proteger ela me abraçou e eu praticamente entrei
no jaleco que ela usava. Não sei quanto tempo ficamos ali curtindo aquele gostinho de tristeza. Só “despertei”
quando o celular de Júlia apitou avisando que tinha mensagem.

-- É a Duarte, me dispensou do plantão... Falou que é para eu descansar... – Fez um gesto negativo. – Vou
atrás do Gabriel. Ver se ele descobriu alguma coisa desse assaltante maluco e...

-- Júlia, espera! – Refleti sobre o que eu iria falar. – Eu acho que eu sei quem fez isso! - Ela me encarou um
tanto confusa. Tomei coragem. – Tua mãe quem fez isso.

-- QUE? – Júlia sorriu debochada. – Não, minha mãe, Alice? – Fez um gesto negativo. – Alice, não! Uma
coisa é ela não gostar de mim, preferir minha irmã. Agora... Alice isso é coisa de assassino! A Alessandra esta
morta! –Ela estava agitada, andava de um lado por outro. – Pra que? Ela não teria como e nem por que fazer
isso, não teria...

Me deu uma dó dela da Nat e do Bruno essa hora. Outra vez tive que corta-la. Á medida que ia contando
sobre minhas deduções eu percebia o rosto de Júlia ia se transformando em uma expressão de desconfiança.
Enfiei a mão no meu bolso e retirei o recorte do jornal do meu avental. Minha teoria só foi aceita quando
coloquei meu celular no ouvido de Júlia com a última mensagem de Alê. Quando a gravação terminou me
bateu até arrependimento de ter mostrado a Júlia. Ela estava completamente arrasada com a hipótese. A
revolta dela dava para se ver a olhos nus. O tom do seu olhar estava mais claro do que o normal, um vinco
entre as sobrancelhas, punhos cerrados.

- ALICE SE ISSO FOR VERDADE A MINJHA MÃE É UMA... VADIA! UMA VAGABUNDA, ELA
NÃO PRESTA, ELA... – Desesperada. – Eu sai dessa mulher... Meu Deus Ela é uma...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Ela é mandante de um assassinato! – Júlia parou um tanto pasmada. – Júlia, cara, eu sei que é tua mãe, mas
olha só as evidências. A Alê leva três tiros e é assassinada por um bandido no dia que descobre algo
importante sobre a tua mãe e me avisa. Na mesma hora tua mãe vem aqui e faz papel de boa moça para o
Bruno?! Não combina com ela... Parece que... Sei lá que ela veio aqui para ter um álibi! E isso aqui? – Eu
perguntei mostrando o jornal a ela. – Isso e...

- É a Duarte? – Júlia pegou a foto das minhas mãos olhou demoradamente.

Apertou mais olhos e viu um pequeno flash passar por sua cabeça. Estava com oito anos. No quarto que
dividia com Nat que na época tinha cinco. As duas estavam dormindo na mesma cama pois Nat teve um
pesadelo e pediu para dormir com ela. Júlia se levantou da cama com um ursinho nos braços. Como era
mesmo o nome do tal ursinho? Calucho! Era esse o nome. Não gostava muito de ursinhos, mas aquele era
diferente. Presente do pai. Como sempre levantava de madrugada com vontade de usar o banheiro e o lavabo
ficava do lado oposto ao quarto o pai lhe deu Calucho para fazer companhia pelo caminho.

Foi até o banheiro com o ursinho no colo, fez xixi, lavou as mãos. No caminho de volta, ao passar pelo
escritório escutou um barulho abafado, esquisito de duas vozes. Apertou Calucho nos braços. Tentou dar
mais um passo e ouviu outra vez sussurros. Aquele casarão enorme impressionava sua mente. Imaginou que
fosse algum ladrão ou algo do tipo. A porta estava apenas encostada. Júlia tomou coragem e olhou pela
fresta. Viu um pé de um sujeito adulto. Pé de um homem negro e que devia ser alto, seu pé era grande e tinha
uma pequena marca de nascença no tornozelo. Enxergou um outro pé, esse de mulher. Reconheceu aquelas
unhas. Era sua mãe. O ladrão estava batendo em Abgail?

- Júlia, filha, o que você esta fazendo ai? – Seu pai perguntou saindo do quarto. Júlia arregalou os olhos
assustada. – Júlia?

Depois tudo se transformava em borrões e gritos. Lembrou se de que estva com a mão na mão e viu um anel
caindo e rolando pelo chão. Júlia correu assustada querendo entrar em seu quarto, mas dois braços a
seguraram com força.

- Vem Julinha, você não precisa ver isso!

Isso o que?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Júlia olhou nos olhos da mulher. Olhou para foto. Sim, era ela, pelo menos alguma coisa se lembrou. A mulher
da foto era a mesma que lhe segurou forte.

- Duarte?

Sim, era Duarte.

- O que? – Eu perguntei confusa. – Júlia, tudo bem?

Júlia fez um gesto positivo.

- Eu preciso... Eu volto, Alice! Depois eu falo com você.

E saiu me deixando mais confusa do que eu já era naturalmente. Tudo por culpa daquela bandida assassina.
Pensando na bandida assassina me dei conta de uma coisa. Oras, como ela atiraria em Rebeca e Alê quase ao
mesmo tempo e ainda encontraria uma maneira de vir para o hospital consolar o filho? Só tinha uma
explicação. Ou ela filha do Flash ou não fez tudo sozinha. Como a DC Comics ainda não tinha publicado
nenhuma história que a velha aparecesse me vi obrigada a concluir uma coisa: ela tinha um cúmplice.

___________________________________________________________________________

- CÍNTIAAAAAA! – Silvinha entrou na garagem aos berros pouco se importando com os vizinhos. –
CÍNTIAAAAAA!

Silvinha abriu a vaga onde ficava o fusca, um dos possíveis refúgios de Cíntia. Lembrou-se da vez que entrou
ali com Alê. Lá estavam as coisas dela. Cadernos de anotações, os tais jornais velhos, nootbook. A camisa
que Alê lhe emprestou no dia de sorvete estava ali, jogada sobre o painel do fusca, Silvinha pegou a camisa
aproximou de seu rosto e sentiu o perfume de Alê ainda presente.

- Não dá pra acreditar, Alê... Vou sentir tanta saudade. – Silvinha secou as lágrimas. – Eu sempre soube era
ela a mulher certa pra você... Mas eu nunca consegui saber se eu, algum dia teria a chance de ser
correspondida...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Silvinha?

Silvinha se virou para trás e encontrou uma Cíntia incrédula.

- Correspondida? Você... Você se apaixonou pela Alê?

- Cíntia, não! – Minha prima se desesperou. - Você entendeu errado, eu...

- Silvinha analfabeta de ouvido eu não sou. Você se apaixonou pela Alê? – Minha prima sem graça baixou os
olhos. Cíntia fez um gesto negativo. – Não precisa dizer mais nada...

Cíntia deu as costas para Silvinha e saiu revoltada. Ainda trombou com Isa, resmungou qualquer coisa e saiu.

- Vai atrás dela... – Silvinha implorou a Isa. – Ela descobriu que...

Assim como eu, Isa havia notado os olhares de Silvinha para cima de Alê.

- Essa merda não pode ter estourado em hora pior, Silvinha!

Isa subiu as escadarias do prédio correndo. Agora toda vizinhança já estava acordada por conta da barulheira
das três. E se dependesse de Cíntia já sabendo que Silvinha foi apaixonada por Alê. Ela já saia do
apartamento com uma mochila nas mãos e algumas roupas socadas dentro da mala.

- O que é isso?

- Não durmo na casa dessa traidora nem mais um dia! – Cíntia rosnou. – Amanhã eu venho para pegar o
resto das minhas coisas!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

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Júlia chegou na chácara de Abgail embaixo de um temporal. Deu uma espiada no relógio, Já passava das duas
da manhã. Estava exausta, tinha virado a noite anterior, esgotada física e psicologicamente. Por outro lado, se
não fosse aquela hora até a chácara da mãe para tentar lembrar o que tinha visto no quarto, enlouqueceria.
Júlia tinha cópia da chave da casa. Os caseiros deviam estar dormindo. Com cuidado desceu o descanso da
moto e seguiu encharcada para o interior da casa.

- Isso é ridículo. – Júlio murmurou para si mesmo. Encolheu os braços demonstrando medo. – Por que esse
medo?

A casa estava completamente escura. Júlia achou melhor não acionar a energia elétrica para que não alertasse
o casal de caseiros de sua chegada. O único barulho era o da água caindo sobre a calha da casa e o vento
compondo uma melodia penosa batendo nas janelas. Júlia sentiu as mãos trêmulas e as pernas resistentes em
obedecer aos comandos de seu cérebro. Lá as recordações de pareciam ganhar mais vida.

Pé ante pé Júlia atravessou a sala. Seu corpo inteiro reagia de forma tensa, como se ouvisse a angustiante e
magistral Réquiem que Morzat morreu antes de conseguir completar. O coração batia descompassado e as
mãos estavam suadas. Os “borrões” da memória invadiam sua cabeça olhos e ouvidos com mais intensidade.
Ao chegar no segundo andar da casa sentia a respiração muito mais ofegante que o comum e o medo
tentando congelar suas ações.

A voz da consciência de maneira fraca incentivava que fosse mais adiante. E a outra voz que devia lhe ordenar
que parasse não existia, por isso seguiu em frente. Não tinha mais oito anos. Aquele medo todo precisava ser
exorcizado. Afinal de contas, medo de quem e do que? Respirou fundo e continuou sua exploração pelo
andar de cima da casa. Se deteve na porta do escritório da casa. Lembrava do pai passando horas e horas
ali. Às vezes Júlia ficava com ele, em seu colo, liam juntos. O estranho era que a maior lembrança que tinha
daquele lugar era dos pés descalços do ladrão prendendo os pés de Abgail. Se a mãe foi vítima, por que
Júlia não se sentia penalizada? Muito pelo contrário, um sentimento de raiva, de asco tomava seu peito.

Não aguentou, correu para o banheiro do final do corredor e despejou toda sua aflição no vaso sanitário.
Agora ela tinha certeza que não era sonho. Algo muito tenebroso para sua cabeça de oito anos de idade tinha
acontecido naquela casa. Acendeu a luz do banheiro. Encontrou pasta de dente e uma escova ainda lacrada.
Mesmo que ninguém frequentasse a casa Abgail devia deixar ordens com os caseiros para abastecer caso
houvesse a chegada de algum hóspede de surpresa. Higienizou a boca, lavou as mãos, o rosto vermelho e saiu
do banheiro. Ao cruzar a porta de seu antigo quarto, Júlia instintivamente colocou os dedos sobre o lado
direito do rosto. Outra lembrança bem nítida foi puxada de sua memória.

- Júlinha, vem cá... – Duarte falava em um tom tentando passar serenidade. Ela estava com uma maleta de
primeiros socorros próxima. - A tia vai cuidar de você...
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Dói... – Júlia murmurou colocando a mão sobre o rosto. O cantinho do lábio sangrava. – Vai doer...

- A tia vai ter que dar um pontinho e passar remedinho para não doer. Só que você vai segurar bem forte na
minha mão para me ajudar. Não vai?

Júlia passou a mão sobre os lábios e se olhou no espelho. Estava ali, quase invisível, mas ali estava a pequena
cicatriz que Duarte havia costurado. Como tinha machucado a boca? Foi na mesma noite que o ladrão invadiu
sua casa? E o que Duarte estava fazendo lá? O anel. Lembrou-se do anel. Era uma jóia de valor. Prata com
uma pedra de rubi cravejada com diamantes em volta. O anel era tão pesado que machucou sua boca. Abgail
sempre foi chamativa com jóias. Abgail? Júlia parou por um instante. Se o anel era de Abgail, só ela poderia
estar usando. E se era ela que portava o anel, logo foi ela que atingiu sua boca. Mas por que? Por que? Só
tinha uma maneira de saber. Desceu a escada decidida e fez o retorno para o hospital.

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Por causa do temporal a perícia se viu obrigada a interromper seu trabalho na cena do crime. Gabriel
entregou a camisa manchada de tinta protegida em um plástico lacrado para o chefe da perícia e acabou
liberando sua equipe também. Com aquele aguaceiro todo não tinham condições de trabalhar. Antes de se
retirar ofereceu uma carona a Giovanna.

- Ow da Mooca, eu te dou garupa até a casa da Alice... Com esse molho todo vocês vão ter que ficar por lá
mesmo. Caiu uma torre de comunicação e fechou a saída da ponte, ou seja, sem telefone e sem passagem.

Quando Gabriel e Giovanna conseguiram chegar na minha casa, Heleninha já estava no décimo sono, mas
Manu e Paula estavam acordadas a espera de notícias. Eu aflita de um lado da cidade querendo saber como
minha filha estava e eles sem saber sobre a morte de Alê

- Só vamos saber alguma coisa amanhã... – Giovanna explicou enquanto retirava sua blusa de cima. –
Nenhum celular e nem telefone esta dando linha...

- Então? – Paula perguntou temerosa com a resposta.

- Vai ter que todo mundo dormir aqui...


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

A divisão dos quartos foi bem simples. Giovanna e Manu ficaram no quarto de Heleninha, Paula ficou no meu
e Gabriel dormiria no sofá da sala. Só foi Manu se sentar na cama para entender o porque Giovanna fez
questão de ficar no quarto com a cama de solteiro, agarrou a esposa e encaixou seu corpo no dela de modo
que dava mais umas três pessoas na cama.

- Gi, o que é isso? – Foi cortada por uma série de beijos de Giovanna a qual prontamente correspondeu.
Subiu nas pernas de Giovanna, os bustos das duas se roçaram de leve acordando o desejo de ambas. Os
lábios de Giovanna desceram por seu pescoço, uma das mãos tentou erguer a blusa de Manu. Entre gemidos
murmurou. – Não, Gi... Aqui é perigoso, alguém pode ouvir...

- Perigoso é a gente ficar subindo pelas paredes e cair de lá de cima, rapidinho, Manu... Aproveitar esse
barulhinho de chuva, no meio do nada...

- Gi... – Mais um beijo de Giovanna em seu pescoço, a mão da policial finalmente conseguiu driblar Manu lhe
arrancando mais um gemido. – Aaaii... Gi, não...

- Manu? Tá tão gostoso... Não esta sentindo a adrenalina?

- Na verdade você quis dizer endorfina, a adrenalina... – Antes de Manu tentasse lhe dar uma aula completa
sobre as diferenças de adrenalina para endorfina, Giovanna a calou com um beijo. - A neném está aqui no
quarto... – Aproximou a boca do ouvido de Giovanna. – Vamos pra cozinha... – Feliz Giovanna deu um
sorriso, sua boca desceu e mordeu o ombro de Manu. – Aiii, sua safada... Huuuuuum, mordidinha?

- Quem manda ser gostosa?

Com dificuldade as duas se levantaram da cama e fizeram o caminho até a cozinha se agarrando. Em um dos
beijos Manu esbarrou na poltrona da sala. As duas riram pelo inusitado, voltaram a se beijar até chegar à
cozinha.

Nem se deram o trabalho de acender a luz. Giovanna pressionou Manoela entre a geladeira e a parede.
Desceu com a boca até a barriga de sua namorada arrepiando toda a pele alva de Manu provocando mais
gemidos. Foi subindo com os lábios pelo abdômen. Com uma das mãos retirou a blusinha de alça da esposa,
Manu estava sem sutiã, ficou com os seios de fora. Giovanna beijou boca de Manu, uma das mãos começou a
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

massagear os seios. Manu fazendo carinho sobre os cabelos de Giovanna e pressionou para que ela descesse
com a boca. Com um sorriso nos lábios a boca de Giovanna experimentar seus seios, a pele toda se
avermelhou em contato com a língua. Giovanna aproveitou e desceu com as mãos e sentiu as coxas de Manu
molhadas, passou dos dedos por sua virilha e a penetrou com intensidade.

- Aaaaaai... Não para Gi... – Cravou as unhas na pele da esposa, mordeu seu ombro. – Não para...
Aaaaaaai... Continua...

- Gostosa... Safada...

E com a trilha sonora de “aaaaii não para Manu...” e Continua, mais, mais Gi...” Gabriel despertou. Primeiro
acreditou que estava tendo um sonho. Só depois de alguns segundos é que Gabriel percebeu que não estava
sonhando, mas sim tendo um pesadelo. A festa se realizando a menos de quinze passos dele e ninguém tinha
lhe oferecido convite para entrar. Não ia conseguir dormir com todo o barulho da “orquestra”. Só tinha uma
solução, pegou o lençol e o travesseiro e seguiu para o ultimo quarto, nos fundos da casa, o meu.

- ÊêÊÊÊêêê! Sabe bater não? – Paula perguntou enquanto terminava de se enfiar em um blusão que eu usava
para dormir. Enfiou o blusão rápido, mas não tão rápido a ponto de Gabriel ver a pontinha do que parecia ser
uma tatuagem de um tribal que começava nas fatais entradinhas e terminava no meio de sua coxa direita. –
GABRIEL?

- Mudança de planos... – Gabriel murmurou um tanto confuso. – Você fica lá na sala e eu aqui.

- Ah, por que você tem que dormir aqui? Não encheu o saco que você tinha que ficar na sala e... – Paula se
aproximou da porta e ouviu a voz de Manu. – Isso é... – Gabriel fez um gesto afirmativo, Paula abriu a boca
assustada. – Meu Deus... Ela pediu... Lá?

- Lá...

- Lá! – Paula repetiu ainda abobada.

Gabriel deu uma risada.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Tá, agora fora que eu vou ficar aqui no quarto.

- Por que?

- Se você entrar agora no meio delas você será um fetiche, se eu entro sou preso...

- Não vou!

- Eu moro na casa, com a dona fora eu sou o dono... Dá licença?

- Por isso mesmo, visita tem que ser bem tratada! – Gabriel bufou. Paula se deitou na cama. – Daqui eu não
saio! E... OW O QUE É ISSO? Não esta vendo que eu estou na cama?

Gabriel ajeitou o lençol e se deitou.

- Calma, virgenzinha... Não vou fazer nada... – Sorriu. – Paula, você acha que eu? – Debochado. – Só quero
dormir.

- E aí de você tentar fazer outra coisa! – Colocou um travesseiro entre os dois. – Eu fiz judô por dois anos...

Gabriel resmungou alguma coisa, Paula apagou a luz da luminária e fizeram silêncio. Fizeram, mas não ficaram
em silêncio. Giovanna e Manu estavam no “segundo tempo” lá no sofázinho da sala. Gabriel tentou colocar um
travesseiro no rosto, Paula virou de um lado par ao outro e nada de pegarem no sono.

- Meu Deus, mas devia ter lei contra isso... – Paula resmungou impaciente. – Com criança na casa que
horror... E... – Forçou o ouvido. Fez uma careta. – Nossa... A Manu com aquela carinha de santa, hein...

- É por isso que instituição familiar tá assim, falida! Um desrespeito com o próximo, não é? – Gabriel
concordou também se sentando na cama. Despeitado. – Uma falta de vergonha e... – Foram interrompidos
pelos barulhos da sala. Giovanna havia feito um pedido a Manu – EITA PORRA... – Gabriel ameaçou se
levantar. Só queria dar uma espiada, mas se contece com o olhar severo de Paula. Começou a se abanar. -

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Liga ai o rádio pra ver se abafa um pouco. Música é sempre bom... - Paula obedeceu. Gabriel tirou a regata
que estava usando e ficou só de cueca preta. – Calor do cacete, viu...

Cachorro, perigoso, safado, carinhoso e pronto pra te dar amor,

Louco pra fazer amor

Cachorro, perigoso, safado, carinhoso e pronto pra te dar amor,

Louco pra fazer amor

- Nem fala... – Paula tirou as almofadas e os dois lençóis que a cobriam revelando as pernas torneadas. –
Falta de moral... Imagina... – Se abanando de calor. - Não sei que graças às pessoas vem em... Sei lá... Se
entregar a esse instinto animalesco...

- Isso é coisa de gente sem civilização... – Gabriel também se abanava. – Não pode se ver sozinho com o
outro...

Gabriel foi se inclinar para pegar o controle do ar condicionado que estava na mesinha do lado de Paula, o
braço dos dois se roçaram. Paula foi olhar para ver o que estava acontecendo e deu com o rosto de Gabriel a
dois centímetros de sua boca. Os olhos se encontraram.

- Ainda bem que não somos assim... – Paula murmurou perturbada sem tirar os olhos dele. – Que nós temos
a cabeça no lugar...

- E que nos sabemos as consequências... – Gabriel balbuciou hipnotizado pela boca de Paula. – E que
sabemos que uma noite de sexo não vale o preço dessas consequencias que vem depois...

- Mesmo que a tendência do sexo for boa... – Paula deixou seus lábios roçarem de leve na barba de Gabriel.
– Mesmo se for muito boa... Nós somos dois adultos e temos auto controle de não se deixar levar por um
momento...

- Poir um único momento... – Um avançou selvagenmente sobre a boca do outro. – Mesmo se a tedencia for
muito boa...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Tô sempre atrás de um rabo de saia,

Também adoro cair na gandaia,

Eu sou assim, eu sou assim

Conquistador, amante, apaixonado,

Quero ser sempre uma mulher no meu lado

Só pra mim, só pra mim

Paula jogou as cobertas para o chão, puxou Gabriel contra seu corpo. Gabriel puxou o pescoço de Paula
intensificando o beijo. Ela enterrou as mãos em seus cabelos, cravou as unhas em suas costas. As mãos de
Gabriel já trabalhavam em desabotoar seu short.

-- Não, Gabriel! O que a gente esta fazendo?! A gente esta se entregando para um momento... Desculpa...

Eu só não sou de ninguem,

Sou como um passarinho,

Livre eu vivo voando de ninho em ninho

-- Desculpa eu, Pamonha... É que eu estava confuso...

-- Você que tem que me desculpar...

-- Não, você que tem que me desculpar...

E nesse a culpa é minha, não culpa é minha, se entregaram a mais uns três beijos.

Paula e Gabriel se separaram rapidamente, os dois bem atordoados, confusos, cheios de desejo.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Só beijo na boca?

Cachorro, perigoso, safado, carinhoso e pronto pra te dar amor,

Louco pra fazer amor

Cachorro, perigoso, safado, carinhoso e pronto pra te dar amor,

Louco pra fazer amor

- Só beijo na boca! - Gabriel confirmou se entregaram mais um beijo. Paula tirou a camisa que estava usando
revelando um sutiã meia taça vinho. Gabriel quase babou com os olhos ao vê-la daquele jeito voltaram aos
beijos. Paula resvalou propositalmente sua mão sobre a cueca de Gabriel, deixou os dedos entrem no tecido e
o acariciou.

- Só beijo na boca!

- Só beijo na boca. – As mãos de Gabriel desengancharam o fecho do sutiã de Paula. Ela estendeu a mão
para pegar sua bolsa. – A camisinha ta lá na sala...

- Eu tenho camisinha na bolsa...

Camisinha? Mas não era só beijo na boca?

Cachorro, perigoso, safado, carinhoso e pronto pra te dar amor,

Louco pra fazer amor

Cachorro, perigoso, safado, carinhoso e pronto pra te dar amor,

Louco pra fazer amor

______________________________________________________________________

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Cíntia não tinha noção que horas eram. Só sabia de duas coisas: estava muito triste e sentia muito frio. Saiu da
casa de Silvinha com umas três trocas de roupas na mochila e dinheiro, mas não queria se meter em pousada,
pensão, hotel nenhum. Não era de teto que estava precisando. Tomou chuva, andou por tempo indeterminado
e só deteve quando viu um lugar um tanto familiar para ela. O Silvéster Vôlei Clube. Ela conhecia aquele clube
como ninguém e sabia de todos os seus segredos. Inclusive que o guarda da noite nunca trancava a portinha
da lateral do clube, pois tinha preguiça de atravessar toda quadra poliesportiva. Testou a portinha. Sim, estava
aberta.

Foi ali que começou sua carreira aos 13 anos. Devia muitas coisas ao vôlei, disciplina, qualidade de vida,
dinheiro, estabilidade e principalmente, foi ali que viu Alessandra pela primeira vez. Alê era uma “foca”,
jornalista recém-saída da universidade, trabalhava na Folha de Silvéster, foi entrevistar a ponteira do Silvéster
a primeira de toda história do clube que foi convocada para a Seleção Brasileira .

Cíntia estava muito mais nervosa que Alê. Não esperava a convocação e muito menos todo aquele alarde da
imprensa local com ela. Parecia um bichinho assustado quando todas as jogadoras saíram da quadra e ficou a
sós com Alê para a entrevista.

- É... Cíntia, posso gravar?

- Vai aparecer na TV, moça? – Cíntia perguntou assustada. – Eu assim depois que sai do jogo?

Alê deu um sorriso.

- Não, é só pra eu escrever depois. – Estendeu o gravador. – Posso?

Cíntia fez um gesto afirmativo e começaram a entrevista. Cíntia sempre foi tímida, meio travada, mas se saiu
incrivelmente bem. Alê como uma boa entrevistadora conseguiu arrancar boas respostas de Cíntia focando
em seu trabalhando, ao contrário de muitos jornalistas que se preocupavam mais com quem ela estava saindo
do que seu desempenho em quadra.

Alê gostou tanto de seu trabalho que prometeu trazer o jornal para Cíntia pessoalmente. Despediram-se e
Cíntia desejou que ela não aparecesse. Imagina a vergonha, Alê ia aparecer com o jornal, ela não saberia ler e
tudo se tornaria um prato cheio para imprensa. Dois dias depois ela apareceu com o jornal e um sorriso
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

enorme no rosto. Esperou as outras jogadoras entrarem no vestiário para se aproximar de Cíntia.

- Era pra ter saído ontem, mas teria que cortar metade... Arrumei uma briga na redação por sua causa, mas
vê se não valeu a pena...

Ao estender o jornal, Cíntia se apavorou e não conseguiu disfarçar o tormento. Entre soluços revelou a
verdade. Se ale quisesse que acabasse com ela no dia seguinte. Mas não foi essa a reação de Alê.

- Pode por ai... A Cíntia da seleção é uma analfabeta...

Alê fez um gesto negativo.

- Isso é coisa que se resolve em dois tempos... – Séria. – Eu tenho uma outra coisa para resolver antes disso
e que esta me atormentando desde ontem... Mas eu não sei se devo...

- Poxa, Alessandra, o que aconteceu? Tem como eu te ajudar?

- Acho que sim... Se você pudesse...

- Como?

- Assim!

E antes que Cíntia pudesse pensar Alê já tinha colado a boca na sua de um jeito doce e terno.
Correspondeu. Interromperam o beijo quando ouviram um barulho de passos bem distante. Eram as meninas
saindo do vestiário. As duas manteram o contato pelo olhar, sorriram.

- Você pode continuar me ajudando quando sair do treino?

- Saio depois das seis. Me espera aqui!


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Alê deu um sorriso vitorioso e respondeu de forma divertida.

- Os leitores da Folha de Silvéster vão ficar felicíssimos com a notícia!

Quando Alê saiu da quadra Cíntia se arrependeu de não ter rejeitado o beijo. Além de analfabeta Alê poderia
soltar alguma dica sobre sua sexualidade no jornal. Não conseguiu treinar com tanta facilidade como estava
acostumada. Despediu-se da garota. As seis e cinco saiu do clube e lá estava Alê, encostada em seu carro,
toda arrumada, parecia esperar alguém. Cíntia ouvia o som do carro.

Calling all angels

I need you near to the ground

I miss you dearly

Can you hear me on your cloud?

All of my life

I've been waiting for someone to love

- Você já não teve o que você queria? – Cíntia perguntou irritada.

- Não. – Alê calmamente respondeu. – Você me disse que só saia as seis e quem me interessa nessa história
toda, Cíntia, é você...

All of my life

I've been waiting for something to love

Calling all angels

I need you near to the ground

I have been kneeling

And praying to hear a sound

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

All of my life

I've been waiting for someone to love

All of my life

I've been waiting for something to love

E assim começaram a ficar. Não demorou muito para que o relacionamento evoluísse para um namoro e
depois de quase dois anos resolveram morar juntas. Naquele tempo inteiro Alê não tinha se alterado em nada
em relação ao modo carinhoso de tratar Cíntia. Sempre inventado alguma coisa nova para ficarem próximas,
frequentado os jogos, buscando e levando aos treinos. A quadra era a segunda casa das duas. Olhar agora
aquela quadra escura e vazia era como se olhasse para seu interior. Era assim que estava se sentido. Um fio
de esperança lhe tocou quando escutou passos vindos da arquibancada.

Day by day

through the years

make my way

Day by day

through the years

Day by day

through the years

day by day

through the years

day by day

make my way

Day by day

through the years

day by day

day by day

- Alê?
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Chega, vamos para casa! – Era Isa. – Você esta toda molhada, esta toda encolhida de frio.

- Para casa da Silvinha eu não volto e...- Não estou sendo sua amiga aqui, mas sua médica. Não é se
arrebentando que você vai trazer a Alê de volta. – Isa rebateu com firmeza. – E... E eu como sua médica
tenho obrigação de zelar e cuidar de você. E se você não for por bem eu ligo agora para o resgate do
hospital vir te buscar e te interno. O que você prefere?

Cíntia não respondeu apenas abraçou Isa e deixou o peso de seu corpo cair sobre o dela. Isa de maneira
desajeitada correspondeu ao abraço e se obrigou a dizer alguma coisa para consola-la. Envolveu sua mão no
rosto de Cíntia.

- Cíntia, eu vou cuidar de você.

_______________________________________________________________________

Duarte estava dormindo sobre uma maca em um dos quartinhos destinados aos plantonistas. Depois do caso
de Alê, Duarte teve que entrar em mais uma cirurgia. Felizmente conseguiu salvar este. Já estava quase
dormindo quando escutou o bipe. Pensou em ignorar, mas seu bom senso falou mais alto. Sonolenta levantou,
lavou o rosto e foi atender o chamado de Júlia.

- Júlia, você ainda esta aqui? Te disse que era pra ir pra casa, olha esse olho vermelho, cheia de sono. –
Duarte bronqueou. – Qual é o caso?

- Não tem paciente nenhum. – Júlia começou a se explicar. Estava com a voz dura, expressão séria de quem
não aceitaria qualquer desculpa. – Era outra coisa que eu precisava falar com você.

- O que?

- Lembra desse corte aqui que você fechou quando eu era pequena? – Júlia perguntou apontando para uma
pequena cicatriz rente aos seus lábios, quase imperceptível. – O que aconteceu aquele dia com minha mãe e
com meu pai? – Júlia perguntou. Duarte arregalou os olhos assustada. – Esse corte foi do anel da minha mãe,
não foi? Por que ela me deu um tapa? O que aconteceu naquele dia que eu não podia ter visto.

E congela na Duarte.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

End Notes:

Cena do próximo capítulo:

- Bom... Não podia ir embora sem te deixar um presente... - Giovanna disse


estendeu um papel a Gabriel. - Pra você.

- Que é isso?

- O resultado da tinta da camisa da moça.

Gabriel leu curioso.

- Tintura usada para restauração de carros antigos? Se era isso que tinha nas
luvas do nosso cara então ele talvez trabalhe com isso. Usou a luva do
serviço.

- Não são todas oficinas da cidade que devem trabalhar com restauração de
carros. Facilita bastante...

Gabriel fez um afirmativo.

- Uma pena que você tem que ir... Fazemos um bom time. - Sorriu olhando
para os papéis. - Obrigada pelo presente, Mocca!

____________________________________________________________________

Mais uma vez obrigada pelo carinho de todas vcs e em pecial ao Brunão, minha
assessora pessoal =p ! bjo brunãooo!

Curiosidade, vcs gostam de super heróis e ficção cientifica como nos mangás?
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

bjooo!!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 57 by Tamaracae

Author's Notes:

Oiiiis!!!

O interrogatório de Júlia sobre seu passado parecia ter efeito despertador sobre Duarte. O cansaço sumiu na
hora. A dúvida era essa: o que tinha tirado o sono de Duarte, a surpresa ou medo? Se eu fosse uma jogadora
apostaria no segundo. Júlia percebeu o leve tremor nos lábios de Duarte. Seus olhos pareciam vacilantes e
tinha perdido a dureza no rosto.

- Te fiz uma pergunta.

- Não sei do que você esta falando, Júlia... Você devia ir para casa. – Ponderou. - Ficar tanto tempo aqui
não esta te fazendo muito bem.

- Não vou sair daqui enquanto você não falar o que aconteceu!

- Não aconteceu nada, Júlia! – Garantiu. A expressão de Júlia era de dúvida. – Você devia esquecer disso e
ir para casa...

- Se não aconteceu nada o que eu tenho que esquecer? – Só então Duarte percebeu seu ato falho. – Você
sabe direitinho do dia que eu estou falando, não sabe? Foi minha mãe que me deu esse tapa na boca, não foi?
Por quê?

- Vai embora!

Duarte resolveu caminhar para se livrar das perguntas, Júlia foi atrás.

- Duarte!

Nervosa, Duarte deixou os pós operatórios que trazia nas mãos caírem no chão.

- Viu o que você fez?Me deixa em paz, menina! Esquece essa história e vai viver sua vida com sua mulher e
com seu filho em paz!

Até queríamos se a bruxa da Abgail deixasse. Agora como viver em paz sabendo que a cabeça de Júlia
estava na guilhotina com a história das provas contra ela? O único jeito de nos livrarmos daquela chantagem
era ter algo maior para ser negociado. Pela reação de Abgail ao mandar matar Alessandra e agora de Duarte
ficava muito claro para Júlia que esse “algo de podre” no passado da mãe não era fruto de sua imaginação.
Respirou fundo tentando não ser afoita e atropelar tudo que diria a Duarte.

- Eu posso falar com você? Eu explico o que esta acontecendo e conversamos. – Estendeu os pós
operatórios. – Duarte?

Duarte pegou os papéis das mãos de Júlia e respondeu um tanto contrariada.

- Tudo bem, vamos para outro lugar.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Júlia, Ingrid e eu eram as únicas pessoas que sabiam da existência daquela chantagem . Duarte escolheu uma
das salas vazias do hospital. À medida que Júlia contava sua história, sentiu que Duarte amolecia e até
entendia suas razões. Entendia, mas não aprovava nosso plano. Júlia só omitiu nossas suspeitas da mãe estar
envolvida na morte de Alê e também sobre nossa busca pelos pais de Nat.

- Se você chantagear sua mãe de volta você vai estar se igualando... Vai por mimJúlia, você é muito, muito
diferente disso...

- E eu faço como? – Júlia perguntou impaciente. – Fico em casa esperando a policia bater na minha porta
com a porcaria daquelas provas? Eu posso perder meu diploma, Duarte! – Revoltada. – Posso deixar de ser
médica, posso acabar numa penitenciária e ela é minha mãe cara... Eu tenho que entender! Se eu não essa
raiva toda que ela tem eu vou pirar mais do que eu já estou!

- Esquece tua mãe, Júlia! Pega tua mulher, teu filho e some daqui, vai pra Manaus, pra qualquer outra lugar! –
Nem preciso dizer que Júlia quase avançou no pescoço de Duarte com aquela sugestão, não é? – Vai viver
tua vida e esquece essa mulher.

- Não! – Bateu a mão mesa com força. – Não dá! Eu vou viver fugindo por causa da minha mãe por quanto
tempo? Duarte, daqui a pouco estou com 40 anos na cara... Não posso mais viver assim. Estou cansada
disso! – Duarte parecia irredutível. – Por favor, me fala! O que aconteceu aquela noite?

Duarte se levantou.

- Às vezes é melhor a gente continuar na ignorância, Júlia. Eu vou voltar para o meu trabalho.

______________________________________________________________________

Contrariando todos nossos problemas e nossa tristeza, revolta e angustia em perder uma amiga querida, o dia
amanheceu lindo. A prefeitura da cidade trabalhou rapidinho para tirar a torre de celular de cima da ponte que
ligava o caminho de casa com o restante de Silvéster e pela manhã logo encontrei com Heleninha. Eu estava
morta de saudade da minha filhinha. Quando ela me viu abriu o maior sorrisão do mundo com seu único dente
que tinha acabado de nascer e com os bracinhos abertos exclamou.

- MA-MÃ! Ma MÃ!

Ai que saudade da minha gordinha. Que vontade de morder, apertar, beijar, cheirar aquela fofa! Parecia que
tínhamos passado mil anos sem se ver. Oras, era como eu me sentia cada vez que voltava do plantão e ficava
quase o dia todo longe da minha filha. Tá certo que eu não iria ficar em casa aquele dia, mas também não
ficaria longe da Lelê. Cheguei em casa com minha mãe por volta das nove da manhã. Gabriel, Paula, Manu e
Giovanna estavam tomando café e dando de comer para Heleninha. Todos com cara de que haviam
aprontado horrores na minha casa, mas não toquei no assunto com ninguém. Informei sobre a morte de Alê e
o estado de saúde de Rebeca.

- Uma pena acontecer isso com essa moça. – Paula lamentou. – E a Cíntia como esta?

- Arrasada... Gabriel, sabe se vão demorar muito para liberar o corpo dela para o velório?
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Não... Acho que não. Já sabemos a causa da morte. Agora é correr atrás do filho da puta que fez isso...
Minha esperança é tentar localizar a arma que ele usou e a Rebeca. Ela pode ajudar bastante no caso.

Enquanto eles terminavam o café, eu aproveitei para matar mais saudade da minha filha, dar um banho em nós
duas dentro do chuveiro mesmo, trocar Heleninha e me trocar para seguir de volta para o centro da cidade
atrás de Cíntia. Isa tinha me ligado e relatou que encontrou Cíntia no centro esportivo de Silvéster por
sugestão da própria Silvinha. Não conseguiu dissuadi-la da ideia de ir embora de casa.

Com alguns telefonemas, Gabriel descobriu que o corpo de Alê seria liberado no dia seguinte pela manhã.
Não foi de todo mal já que todos nós estávamos muito cansados e precisados de uma boa noite de sono. No
horário do almoço eu fui até a cidade para ver Cíntia e a trouxe para minha casa. Em uma situação daquelas
era bem melhor ter a companhia de amigos do que um quarto de pousada impessoal, não é ?

A noite o tempo continuou quente e Júlia chamou nós duas para cabana. A Cíntia estava bem tristinha, o que
era natural, mas parecia estar confortável em casa. Na cozinha eu providenciava um jantar de preguiçoso:
macarrão a bolonhesa. Quando acabei o molho aproveitei que Cíntia tirava um cochilo no quarto de João e
ele jogava vídeo game no quarto da mãe para ir lá fora. Heleninha estava no alpendre, brincando no carrinho
e Júlia ao seu lado, deitada na rede espiando a noite. Resolvi me juntas ás duas.

- Quer?

Eu perguntei a Júlia enquanto me servia de uma taça de vinho. Fazia tanto tempo que eu não bebia, mas tudo
estava tão triste e pesado que uma tacinha não iria me fazer mal.

- Quero.

Sorri. Despejei vinho na segunda taça, ela se sentou na rede para me dar espaço para sentar. Entreguei o
cálice e preferi me acomodar em seu colo. Tomamos o vinho e nos deitamos em silêncio, só trocando uns
carinhos bem de leve. A mão de Júlia brincava com os ralos pelinhos aloirados da minha coxa enquanto e
observavamos Heleninha brincar com um chocalho em forma de celular. Ela bem espertinha colocava o
chocalho na boca e ficava balbuciando coisas. Abrimos um sorriso, Júlia envolveu seus dois braços pelo meu
corpo. O sorriso dela estava triste. Beijei seus lábios de forma leve, joguei uma mecha de cabelos castanhos
que caia sobre seus olhos para trás, trocamos mais um beijo.

- Aconteceu alguma coisa que você quer me contar? – Fiz uma pausa e mais um carinho em seu rosto. –
Alguma coisa grave?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Grave não, mas acho que importante. – Júlia de um gole no vinho. – Eu voltei até a casa da minha mãe. Eu
fiquei lá, vagando, vagando... Eu lembrei de umas coisas quando eu era criança...

- Você já tinha me falado disso... Que você tinha uns oito anos, lembrou do seu pai e da sua mãe batendo
boca e depois...

- Lembrei de mais coisas! - Outro gole no vinho. - Nessa mesma noite um ladrão invadiu minha casa e atacou
minha mãe.

- Sua mãe? O que ele fez com ela?

- Não lembro. Lembro dos pés dele, mas o rosto... O rosto parece desfocado. – Foi à vez de eu sorver um
pouco de bebida da minha taça. – E sabe o que é mais estranho disso tudo? Eu fiquei com raiva dela. Tanta
raiva que ela me bateu. Um tapa no meu rosto.

- Você tem certeza disso?

- Tenho. – Apontou para uma pequena marquinha que ela tinha rente ao contorno dos lábios. – Ficou cicatriz,
ela usava um anel de rubi com diamante que meu pai tinha dado para ela e acabou sangrando. E o mais
estranho ainda, a Duarte estava lá.

- A Duarte? As duas nunca se deram.

- Não... Não foi sempre assim. Pra falar a verdade meus pais eram bem próximos da Duarte e do Inácio.
Primeiro marido da Duarte. E meu pai sempre gostou muito da Duarte, ele dizia que quando ele veio estudar
pra cá a Duarte foi à primeira amiga que ele fez em São Paulo.

- Então seu pai não é daqui?

- Não, meu pai e toda minha família paterna são do interior de Minas e Bahia lá eles tem fazenda de corte de
gado, de leite. A gente nunca teve contato com eles direito. Meu pai não quis mexer com tralhas de fazenda e
veio para cá estudar...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- E você nunca pensou em ser fazendeira, não? Sempre gostou de mato.

- Dez fazendas devem dar um trabalho do cão. – Dez? Cacete! -Quer dizer, cinco, as outras cinco são da
Nat... Então, ele gostava da Duarte, eram amigos. Minha mãe também era próxima. Não sei porque elas
brigaram. Eu procurei a Duarte pra tentar arrancar alguma coisa e sabe o que ela me disse? Que eu devia
pegar você, a Helena e o João e cair fora daqui, esquecer da minha mãe.

- A Duarte usou essas palavras mesmo? – Eu perguntei surpresa. – Que era pra gente sair da cidade?

- Foi o que ela me disse. – Júlia reafirmou. –Pega tua mulher, teu filho e falou pra gente ir pra Manaus ou
qualquer lugar que minha mãe acabaria esquecendo a gente.

Não consegui disfarçar um sorriso bobo em meu rosto.

- Então é isso? Sou tua mulher?

- Alguma dúvida? – Júlia perguntou enquanto suas mãos me puxaram para seu colo intensificando nosso
contato. Ela passou os lábios entre os meus, suas mãos faziam carinho de leve sobre meu rosto. – Essa
covinha quando você sorri e esse vinho é difícil de resistir, viu...

- É? – Eu perguntei aproximando minha boca da sua. Nós duas estávamos com os olhos abertos e bem
próximos. Entrelacei meus dedos em sua nuca e a puxei na minha direção. – Então não resiste amor... Fica
comigo!

Júlia me obedeceu. Não me puxou com urgência para cima de sua boca. Com a maior paciência do mundo
ela experimentou meu gosto como se nos beijássemos pela primeira vez, a língua escorreu pela minha boca
provocando choque e suas mãos afagavam meus cabelos e minhas costas. Senti uma contração gostosa no
abdômen e ficamos assim por poucos, porém deliciosos minutos. Logo ouvimos o barulho da porta de um dos
quarto se abrindo e nos separamos. Cíntia chegou na porta com os olhos ainda pesados e o nariz muito
vermelho de quem tinha chorado, mas agora parecia mais controlada.

- Oi gente, acabei pegando no sono. Nem conversei com vocês... Posso conversar agora?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Claro... Pode falar, Cíntia...

- E-Eu queria só agradecer vocês por me deixarem ficar aqui... Acho que vocês querem entender porque eu
sai de casa e briguei com a Silvinha, não é? – Cíntia baixou os olhos. – Eu descobri que a Silvinha...

- Cíntia, eu sabia... – Ela levantou os olhos e me olhou surpresa. – Eu já sabia que a amizade da Silvinha com
a Alê era muito especial... – Complementei. – E acho que foi isso que você descobriu, né?

Júlia estava boiando na conversa. Não devia ter notado o que rolava entre Silvinha e Alê. A voz de João do
quarto lhe chamou para jogar vídeo game. Júlia resolveu deixar nós duas a sós para que conversássemos mais
a vontade. Despediu de mim e de Lelê com um aceno, Cíntia ganhou um beijo na testa e um carinho fraternal
na cabeça.

- Você não tem que agradecer nada e vai ficar até se enjoar da cara da gente...

Cíntia tentou sorrir para retribuir o carinho e ficamos a sós.

- Quer dizer que você sabia? Todo mundo sabia?

- Não, eu sabia... Talvez a Isa também, mas não todo mundo. – Fiz um sinal para ela sentar do meu lado na
rede. – Cíntia, nunca rolou nada entre elas. A Silvinha que confundiu as coisas... Ela nunca me procurou para
falar disso, mas eu tenho certeza que ela não estava feliz. E a Alê... – Sorri tristemente com a lembrança. –
Não tinha espaço para outra mulher na vida dela que não fosse você...

Cíntia não respondeu. Apenas apoiou a cabeça no meu ombro e chorou. Deixei que chorasse bastante. Não
dizem que é um santo remédio? Só entramos depois de quase meia hora. Estávamos todos famintos.

Como Gabriel previa, no dia seguinte foi o velório e o enterro de Alessandra. O dia amanheceu cinzento.
Todo velório é triste, mas acho que pela brutalidade que Alessandra foi tirada da gente estava sendo muito
mais dolorido.

Da família dela chegaram à mãe, dois irmãos, algumas tias, primos. Certa vez ouvi Alessandra comentando
com Isa que nunca tinha falado a sua família sobre sua orientação sexual, mas pelo jeito eles sabiam e tentava
saber qual de nós era a namorada de Alê até Cíntia se apresentar como a tal. Nunca vou esquecer a dor que
vi nos olhos da mãe de Alê foi algo de dar nó na garganta, só não tinha certeza se era pelo enterro da filha ou
por arrependimento de nunca ter dado alguma brecha para ter uma conversa sincera com ela. Vários amigos
jornalistas compareceram. Inconformados com a morte da Alê jurando fazerem o impossível para pegar o
assassino.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- É o que eu mais quero nesse momento. – Cíntia garantiu junto ao caixão lacrado. – Não vou conseguir
descansar enquanto não descobrir quem foi que fez isso!

Na hora de seguir o enterro pelo menos um consolo. O coveiro terminava de colocar os tijolos sobre a
gaveta. Cíntia chorava silenciosamente de mãos dadas com a Isa. Silvinha estava próxima querendo dar um
abraço em Cíntia, mas com medo de ser rejeitada. Nat a acompanhava. O receio de Silvinha se desfez
quando Cíntia lhe estendeu a mão e puxou para um abraço apertado. Depois de alguns minutos Cíntia
quebrou o silêncio.

- Já esta sendo tão doido. – Duas lágrimas bem fininhas desceram por seu rosto. – Ficar brigada pra que?

E se abraçaram mais uma vez. Saímos do cemitério todos calados, entristecidos, trocando poucas palavras.
Um tentando apoiar o outro. Lá na porta encontramos mais jornalistas, estes estavam a trabalho. Cíntia era
uma jogadora de vôlei conhecida. Alê havia sido morta em um atentado junto de Rebeca que ficou conhecida
nacionalmente por causa da propaganda do protetor solar. É claro que o caso ia interessar a imprensa.
Silvinha tentou proteger Cíntia, mas eles só deram sossego quando ela refez a promessa na frente das câmeras
de não descansar até a elucidação do crime. Também tentaram arrancar palavras de Gabriel, delegado
responsável pela investigação do crime e Bruno como ex namorado de Rebeca. Um saco, a gente sofrendo e
aqueles urubus em cima.

Para compensar toda essa tristeza, uma notícia muito boa. Era meu dia de folga, mas de lá troquei de roupa
na casa de Silvinha e partir para o hospital para ficar de acompanhante da Rebeca. A mãe dela ficou lá a noite
toda e Serginho como homem não podia se internar junto na ala feminina. Eu me ofereci para ficar com
Rebeca. Ela já tinha ido para o quarto e estava bem machucada. Além do tiro na perna Becca tinha quebrado
o braço esquerdo, fraturado duas costelas, maxilar, escoriações e o olho inchado.

Lá no hospital cruzei com Serginho que estava saindo do horário de visitas da irmã e me fechei no quarto de
Rebeca com Heleninha. Eu estava com saudade dela e impressionada por conta do enterro de Alê, com medo
de perder mais alguém querido. Fica ali, quietinha, segurando a mão da Becca e acabei adormecendo.
Acordei com alguém brincando com a ponta dos dedos na palma da minha mão. Abri meus olhos e encontrei
com os de Rebeca bem abertos e cheios de vida para meu deleite. Minha vontade era sair por ai dando
piruetas de alegria e gritando “a Becca voltou, a Becca voltou”, mas me limitei a um sorriso, um carinho em
seu rosto e com a voz embargada querendo chorar de alegria disse a minha melhor amiga:

- Oi moça, bem vinda de volta...

- O-oi... Allie!

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Ela só balbuciava de leve por conta do efeito das drogas, havia sido sedada por conta das fortes dores, mas
era ela. A Rebeca! A boba da Rebeca, a corajosa da Rebeca, a linda da Rebeca! Eu não cabia em mim de
tanta felicidade em ser escolhida para estar ao lado dela nessa hora. Era o ânimo que precisávamos para
retomar nossas vidas.

Não dizem que depois do terremoto temos que sepultar os mortos, cuidar dos vivos e fechar os portos?
Quer injeção mais animadora do que uma menina que perdeu quase 40% de seu sangue, teve duas paradas
cardíacas na mesa de operação voltar aparentemente bem, depois de alguns dias? Resolvi fazer uma surpresa
para todo mundo e não contei a ninguém que Becca tinha acordado. Só Júlia, Leandro, Serginho e dona
Sônia sabiam. De noite quanto ela se manteve mais acordada e até balbuciando algumas palavras e
perguntando de conhecidos fiz uma surpresa para ela e as meninas

- Vai Isa, chama o povo aê, quero apresentar uma gatinha pra vocês...

Estavam todos se amontoando na frente da cam do computador querendo saber o que estava acontecendo
até que coloquei a cam do meu nootbook em Rebeca que murmurou um oi para as meninas e mandou um
tchauzinho com os dedos. Nem preciso dizer que foi uma gritaria geral de felicidade deles (Anderson também
estavam com as meninas) e de Rebeca também. Com um sorriso fraco ela mandou um beijo pra todos.

Meia hora depois eles estavam no hospital querendo vê-la, mas só puderam entrar de dois em dois e ficarem
dez minutinhos para não cansarem muito. Apenas Bruno entrou sozinho, mas ela já tinha voltado a pegar no
sono. Ele beijou sua mão, mandou as regras as favas e passou a noite ali com ela, como fosse seu
acompanhante. Ela acordou no dia seguinte com a mão atada aos dedos dele que dormia
desconfortavelmente na poltrona de acompanhante. O efeito da sedação já estava bem mais fraco do que
antes e Rebeca mais alerta. Bruno acordou e percebeu que era observado por ela.

- Oi linda...

Rebeca soltou seus dedos das mãos de Bruno.

- Bruno, vai pra casa. Você esta todo torto ai.

Bruno sorriu incrédulo.

- Não tem problema nenhum, Becca, foi ótima essa noite com você e...

- Vai para casa. – Rebeca falou em um tom glacial. Bruno não entendia o que estava acontecendo e ela achou
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de se explicar. – Eu lembro da nossa ultima conversa. Some da minha vida, lembra? – Bruno baixou os olhos.
– E isso foi que você me disse de mais doce... – Fez um gesto negativo. – Bruno, eu sou uma mulher já, tenho
26 anos... Eu podia ter morrido! Estou velha e cansada demais para ficar em uma relação que nem a gente
teve até agora... Se esse é um recomeço é melhor a gente acabar com tudo que tem de errado. Você já sabe
que eu estou bem e que não corro mais o risco de morrer por causa desse tiro. Vai embora pra sua casa que
eu vou tratar de fazer o que você me pediu e sumir da sua vida então por favor eu não quero te ver enquanto
você decidir se me quer ou se é pra eu sumir da sua vida!

- Rebeca, espera, você tem que me escutar, eu...

- Não tenho mais nada para falar com você Bruno. Vai embora.

A Rebeca... Espera a senhora sair dessa cama que loguinho do um jeito de fazer você voltar para ela. Burra!
Se mostrou irredutível na frente de Bruno e depois que ele saiu chorou quase dois oceanos. Não dá vontade
de bater?

Dez dias se passaram depois desta fatídica merda que Rebeca falou/fez. Era o dia que estava marcado para
Silvinha ir viajar. Ela pensou em cancelar a viagem por conta de Rebeca e Cíntia, mas as duas foram
irredutíveis em argumentar que Silvinha não poderia jogar aquela chance fora. Quem não estava gostando
nada daquilo era Nat. As duas estavam em um grude danado. Na despedida do apartamento de Silvinha uma
não se separava da outra.

- Eu já morei nos Estados Unidos. – Nat se perguntava pela milésima vez. - Será que eu não posso mesmo ir
junto?

- Aiii, tanto tempo longe, né Natinha? – Silvinha também fazia manha. – Você vai me ligar todos os dias?

- Será que eu vou agüentar de saudade!

- Se Britney Spears superou todo aquele ano de 2007 vocês superam esses 3 meses! - Isa não se agüentando
de tanto doce as cortou fazendo todos rir. Até Cíntia riu. – Que saco, vão fazer uma terapia! Parece
casalzinho em início de namoro.

- Somos um casalzinho em inicio de namoro.

- Essa é boa. – Isa respondeu a Nat. – Debate do dia: já se comeram 5000 mil vezes, quebraram o pau o
dobro disso e é um casal em inicio de namoro. – Mais risadas. – Ah vá! – Resmungou. - A doutora Paula vai
chegar daqui a pouco com as coisas dela ai...

- Tem certeza que não quer ficar, Cíntia?

- Não, obrigada... Aqui tem muitas lembranças... – Se cortou. – As coisas dela eu vou vendo o que faço.
Estou bem lá na Alice... E me distraio com a Heleninha, com as plantinhas da Júlia...

O que tinha acontecido entre meus hospedes e os de Silvinha era uma dança das cadeiras. Cíntia não se sentia
bem no apartamento de Silvinha e não queríamos que ela voltasse para seu apartamento que era em outra
cidade, então ela ficaria em casa. Gabriel conseguiu alugar o apartamento vizinho ao das meninas e agora
morava ao lado delas. Com a vaga da Cíntia aberta Isa resolveu a procurar uma nova inquilina e encontrou
doutora Paula.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- A Paula? – Nat perguntou preocupada. – Com o Gabriel do lado? Já pensou em fazer um esquema pay-
per-view, por umas câmeras ali no corredor e abri uma concorrente do canal Combate? Com os dois isso
aqui vai virar um mma. Estou avisando.

Inocentemente também pensávamos assim. O que sabíamos é que após aquela noite na minha casa, toda vez
que Gabriel e Paula ficavam sozinhos por mais de cinco minutos em um lugar que tive sofá, cama, banco de
carro ou chão acabava em “lê lê lê se eu te pegar você vai ver” . Era sempre a mesma história, discutiam
sobre alguma coisa e quando viam já estavam “se aquecendo para jogo”. É claro que Gabriel estava
adorando porque Paula era um mulherão, mas a única coisa que ele estranhava é que ela não cobrava nada
dele. Júlia que sem querer flagrou os dois no banheiro do cemitério no dia do enterro virou a confidente de
Gabriel.

- Vai ver ela esta fazendo isso pra não te assustar... – Júlia sugeriu. – Tem mulher que fala em coisa mais
séria e o cara já inventa uma doença terminal que só tem três semanas de vida e desaparece... Sabe como é.

- E se eu tocasse no assunto com ela? – Gabriel perguntou. – Não que eu queira ter alguma coisa mais séria
com a Pamonha... – Imagina se quisesse. Júlia segurou um riso irônico. - Mas só pra depois não dizer que eu
não avisei...

- Seria muito sincero da sua parte.

E foi o que Gabriel fez. De um jeito delicado abordou o assunto com Paula.

- Você não acha estranho Paula pessoas que misturam sexo com sentimentalismo? Coisa mais chata que tem
é mulher que acha que seu número é delivery e fica ligando toda hora, querendo ser sua dona, sabe como é...
Só porque foi uma vez acha que tem que ficar de namoradinho. A gente chama de mulher chiclete.

- Isso é carência... A maioria das mulheres tem esse comportamento por pura carência afetiva.

- Ainda bem que você é muito bem resolvida né...

- A minha relação com o Lucas é totalmente na base da confiança.

- Quem é Lucas, o evangelista?

- Meu marido, Gabriel!

O coitado do Gabriel quase morreu do coração nessa hora. A Pamonha traindo, onde esse mundo vai parar
meu Senhor?! Gabriel se levantou assustado, enrolou-se no lençol da cama hospitalar. Eles tinham acabado de
transar no necrotério (não se acanhe, essa gente é muita gente sem alma, nada para eles é impossível).

- Ma-Marido?

- É... Mas ele não mora no Brasil. Ele é biólogo e esta fazendo um trabalho lá no Alaska. A gente é casado há
o que? – Fez as contas. – Nossa, já vai dar sete anos...

- E você ficou comigo agora... Paula, eu não sabia de nada, você tinha me dito que estava pra separar!

- Separar? Tá maluco, Gabriel? Quem te contou isso?


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- Mas e nós? Quer dizer, eu achei...

- Ah... Ele sabe.

- QUE?- Assustado. - SABE, MAS ELE ESTA VINDO PARA O BRASIL? ESTA...

- Calma Biel... Não, ele só vem para o Brasil daqui há seis meses. Como eu posso te explicar... – Ergueu os
olhos procurando uma palavra. - O Lucas e eu temos um casamento sem hipocrisias e restrições dos
casamentos convencionais, você me entende?

É meu caro leitor, enquanto as Pamonhas estão tendo casamentos sem hipocrisias e restrições por ai e nós
ainda estamos se debatendo para descobrir por onde a Hello Kitty se alimenta. Essa é a vida.

- E eu sou o que nisso tudo?

- Uma peça de prazer. Mas se você quiser acabar eu vou entender...

- Imagina, sou um homem fora das convenções, Paulinha, moderno, sem hipocrisia!

O homem moderno, fora das convenções e sem hipocrisia chegou no vestiário que Júlia se trocava quase
botando um ovo:

- Aquela santa do pau oco e o evangelista dela que morram congelados na merda do Alaska! Agora putaria,
safadeza, libertinagem, devassidão mudou de nome casamento sem hipocrisias e restrições? - Devassidão?
Acho que a ultima vez que li essa palavra foi em “tieta do Agreste” para prestar vestibular pra medicina. -
PIRANHA, AQUILO ALI É UMA PIRANHA, UMA VACA,... Ainda teve a coragem de me chamar de
peça! Ela acha que eu sou o que? Uma picanha pendurada no meio do açougue que ela vem e pega quando
quer fazer um churrascão de domingo?

Depois que Gabriel conseguiu se acalmar e relatar toda história, entre risadas Júlia conseguiu fazer a seguinte
observação:

- Você é a mulher da relação de vocês!

- Ela vem, fala o que quer e nem me procura no dia seguinte?

- Ainda é chiclete!!

- Que chiclete! Quero que ela se dane! Que se exploda no meio do gelo de verde e amarelo com o
abominável evangelista das neves! E que um urso Panda engula os dois! E...

- Deixa de ser burro, animal, urso Panda vive na China, o do Alaska é Polar e... Gabriel, que calça é essa?

- Peguei primeira calça que eu vi, queria sair de lá... – Júlia fez um cara de enojada. – O cara morreu de
enfarto, nem era contagioso...

- Depois vocês ainda se perguntam como tem tanta lésbica no mundo! Porco!

E agora o destino se encarregaria de juntar Paula e Gabriel no mesmo corredor. Silvinha não era a única que
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estava para partir. Giovanna também tinha que ir embora para retornar ao trabalho. Manu ficaria mais alguns
dias até sair à guarda definitiva de Luigi e Giovanna a visitaria semanalmente. Antes de voltar a São Paulo ela
passou na delegacia querendo saber notícias do caso de Alessandra. Até aquele instante nenhuma pista boa e
a burocracia arrastava ainda mais o processo. Giovanna esperava por Gabriel quando um boy de empresa
chegou com alguns envelopes.

- A senhora é policial?

- Sim.

- A senhora pode receber isso?

Como todos estavam ocupados, Giovanna assinou a correspondência e recebeu os envelopes. Observou o
nome de Alessandra no papel timbrado. Era o resultado dos exames da mancha na camisa. Não agüentou de
curiosidade, abriu e leu. Sim, poderia ser uma boa pista. Ouviu passos pesados pela delegacia. Gabriel
chegava e ia direto para sua sala. Ela correu até ele, Gabriel a fez entrar e se sentar.

-A que devo a honra?

- Bom... Não podia ir embora sem te deixar um presente... - Giovanna disse, estendeu um papel a Gabriel. -
Pra você.

- Que é isso?

- O resultado da tinta da camisa da moça.

Gabriel leu curioso.

- Tintura usada para restauração de carros antigos? Se era isso que tinha nas luvas do nosso cara então ele
talvez trabalhe com isso. Usou a luva do serviço.

- Não são todas oficinas da cidade que devem trabalhar com restauração de carros. Facilita bastante...

Gabriel fez um afirmativo.

- Uma pena que você tem que ir... Fazemos um bom time. - Sorriu olhando para os papéis. - Obrigada pelo
presente, Mocca! – Discou um número. – Vicente? Quero uma lista de todas as oficinas que trabalham com
restauração de carros antigos de Silvéster e arredores. Se é pra hoje? É pra ontem, rapaz! Vai!

__________________________________________________________________________

Enquanto Gabriel corria atrás do bandido que matou Alessandra, Serginho dava um jeito de ajudá-lo com sua
fuga. Fumaça estava escondido na casa de um primo em uma cidade próxima de Serro Azul, mas por conta
do retrato falado que Rebeca havia fornecido aos policiais, teria que ir para mais longe e precisava de
dinheiro. Quem levava as notícias e a grana para Fumaça era sua namorada Luana. Luana era uma jovem
moradora da Vila Miséria de 17 anos. Ninguém imagina que a mocinha com aquele barrigão de grávida de
quase sete meses de gêmeos ia se arrastando para ir de encontro a um criminoso. Serginho deu cem mil nas
mãos de Luana e ficou com vinte mil, era toda a grana que tinha conseguido arrancar de Abgail naqueles dias.

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- Fala pra ele que por enquanto é isso!

- Ele pediu trezentos.

- Ele que tenha paciência!

Sua parte do dinheiro Serginho usava para se manter e manter dona Sônia em um hotel de luxo no centro do
Silvéster. Quando Rebeca ficou sabendo pela mãe que Serginho que estava arcando toda a despesa não
conseguiu disfarçar sua desconfiança.

- Esse dinheiro todo vem da oficina? Mãe, a diária daquele hotel é os olhos da cara!

- Tudo que seu irmão faz você vê defeito. Você é igualzinha ao seu pai, Rebeca!

Rebeca não deu ouvidos a mãe. Era avoada, deslumbrada demais. Alguma coisa estava acontecendo de
errado, ela só não sonhava o que era. Enquanto Rebeca ficava com suas divagações sobre Serginho, Júlia e
eu esquentávamos a cabeça tentando encontrar um furo no assassinato de Alessandra que sabíamos que tinha
a mão toda de Abgail. Não podíamos denunciá-la sem pelo menos ter evidências. Só sabíamos de uma coisa.
Ela não estava agindo sozinha, tinha algum cúmplice nessa história.

Ela ainda estava protegida pela falta de evidências, mas não dormia tranqüila. No dia seguinte que Duarte
soube que Júlia estava sendo chantageada bateu na casa de Abgail. A cobra demonstrou surpresa em vê-la.

- O que você esta fazendo aqui?

- Eu quero as provas que você tem contra a Júlia e esta usando para chantagear a Alice.

- Como é que é?

- Eu quero as provas que você tem contra a Júlia e esta usando para chantagear a Alice. E se você não me
der essas provas eu vou agora na casa da Natália e conto tudo sobre os pais dela.

- Não ia ser uma idiota completa em deixar aqui!

- Só vou esperar por um dia!

Abgail apertou os olhos e bufando de raiva foi pegar as chaves do carro. As provas não estavam em seu
apartamento. Serginho estava no quarto estranhou sua cara.

- O que foi?

- A Duarte veio pegar as provas contra a Júlia.

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Serginho já sabia de tudo.

- E você vai entregar a ela?

- As provas sim! Minha cabeça esta quente demais depois que aquela menina morreu pra pensar em fazer
outra coisa. – Pegou um pen drive. – Mas aqui está tudo digitalizado. Eu quero que você fique com isso e
guarde em um lugar seguro! Não vai fazer besteira dessa vez!

_________________________________________________________________________

- E ela esta comendo direitinho?

- Está Bruno... – Júlia murmurou. – Por que você não vai e visita a Rebeca logo!

- Por que ela pediu para eu aprece quando eu ter uma decisão de verdade... Eu tenho, mas não sei como
demonstrar. A rebeca também complica as coisas...

Os dois estavam na casa de Júlia. Cíntia ajudava Júlia a terminar o almoço.

- Você que é muito complicado e parece que não conhece a namorada que tem...

- Sabe qual é seu problema Bruno... – Júlia brincou enquanto terminava de temperar uma salada. – As
mulheres procuram príncipe e você ainda sapo... Procura ela e fala logo o que sente.

Bruno ficou pensativo nas palavras da irmã. Depois do almoço Cíntia foi procurá-lo. Ele estava sentado do
lado de fora ainda tentando arrumar uma maneira de se reaproximar da namorada e se declarar. Cíntia sentou
ao seu lado.

- Você é outra que me acha sapo?

- Não... Acho que você esta com a mulher certa, só ainda não mostrou pra ela o seu lado encantado. E a no
fundo, por mais dura que seja toda mulher queria só um pouquinho de conto de fadas na vida dela...

Bruno abriu os olhos, sorriu um tanto assustado, mas feliz com sua ideia.

- Cíntia, vou precisar da sua ajuda.

- Pra que?

- Para mostrar meu lado encantado para Becca!

E começou a contar seu plano. Cíntia que estava meio deprima até deu um sorriso e aprovou a ideia. Tinha
certeza que Becca ia amar. Nos dez dias que se passaram só se via os dois de cochichos para um lado e para
o outro. Quando chegava alguém perto os dois trocavam de assunto. Nesse meio tempo o caso de Alê deu
uns passos, mais ainda estava longe de ser solucionado. Quem deu uma cooperação grande foi o próprio
acaso. Paula acabava de voltar de uma paciente que foi socorrer em casa. Estava grávida de gêmeos e
merecia atenção especial. Eu fui junto como sua residente. Cruzamos com Júlia que colava um papel em uma
das paredes.

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- O que esse menino fez?

- Foi ele que atacou a Rebeca e a Alessandra.

Paula se assustou.

- ELE?

- Que foi, Paula?

- Alice a gente acabou de sair da casa dele. – Júlia e eu nos entreolhamos assustadas. – A menina que a gente
atendeu, a Luana, que esta grávida de gêmeos, ela é minha paciente pelo SUS, ele é pai dos bebês dela.

- Tem certeza, Paula?

Na hora que Paula ia nos responder, Laísa chegou toda esbaforida.

- O que foi?

- O papai e a Tia Becca ... – Laísa conseguiu falar. - Lá fora!

E saiu correndo para o exterior do hospital. Confusas seguimos com ela.

- Cacete, o Bruno e Rebeca também parecem cão e gato e... – Júlia se cortou boquiaberta com aquela
movimentação. – Cacete... O que é isso?

___________________________________________________________________________

Eram sete horas da noite. Horário oficial da troca de plantões causando um tumulto natural. Rebeca dormia
tão tranqüila que nem notou quando Cíntia entrou no quarto e amarrou a ponta do novelo de barbante com
um laço firme em seu anelar direito. Desenrolou o resto do novelo e jogou a bola de barbante pela janela do
primeiro andar do hospital.

Bruno já esperava pelo emaranhado de cordões lá embaixo. Pegou de primeira e saiu desenrolando o fio
pelos caminhos das pessoas até alcançar o outro lado da rua onde ficava o out door, o mesmo que ainda tinha
aquela foto enorme da Rebeca só de biquíni. O pano branco enorme que ele sei lá como havia colocado
sobre a propaganda já chamava atenção das pessoas, a movimentação do barbante fez com que todos
parassem para ver o que ia dar aquilo. Bruno atravessou a rua, já havia uma escada enorme a sua espera
encostada lá no out door.

- Ele pensou em tudo! – Murmurei admirada. – Olha que fofinho...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Ao meu lado estavam Paula e Júlia. Atraídos pelos burburinhos do povo, mas amigos chegavam. Nat, Isa,
Leandro, Manu, Duarte estavam entre eles. Dona Regina chegava acompanhada de João. Ela perguntou a
Nat.

- O que foi que seu irmão me ligou que nem um louco que era pra eu vir para o hospital? Eu já pensei em
acidente porque vocês só lembram de me chamar pra sair quando é alguma desgraça! Pra tomar uma cerveja
no bar da esquina, pra jogar um sinuca ninguém tem vó e... – Foi interrompida por um cutucão de Júlia que
apontou para o out door com um sorriso no rosto. – Ooooh... Bruno...

- Isso é coisa de mulher... – Isa murmurou não acreditando que Bruno teria neurônios suficientes para
conceber uma ideia daquelas sem ajuda. – Cíntia!

Bruno já estava lá no topo do out door. Conseguiu se equilibrar e sentou-se. Lá de baixo, Cíntia fez um gesto
afirmativo para que ele seguisse com o plano. Nervoso, Bruno deu seqüência ao seu objetivo e
vagarosamente foi puxando o barbante que tinha desenrolado por todo o chão. Aos poucos aquela cordinha
foi se erguendo do chão e se transformando em um varal com duas pontas.

Uma das pontas estava nas mãos de Bruno. A outra no quarto de Rebeca que acordou sentindo algo
pressionar de leve seu anelar direito e depois ganhar a força de um puxão. Abriu os olhos assustada e
encontrou o laço amarrado em seu dedo a forçando se levantar e seguir até a janela. Ao chegar lá viu um mar
de quase sem pessoas lá do lado de fora. A maioria de branco causando um efeito lindo contrastando com o
anoitecer. Levantou os olhos e viu o out door com o pano branco todo tapado e Bruno lá em cima. Ela estava
um pouco abaixo dele pois o quarto ficava no primeiro andar e o topo do out door batia quase no segundo.
Rebeca sorriu um tanto confusa. Seu celular tocou, ela atendeu correndo ao ver o nome do visor.

- Bruno?

- Eu não sei se vou usar as palavras certas e nem sei se tem palavras certas para isso, mas não desliga. –
Nervoso fez uma pausa. – Aquele dia no galpão eu precisei quase morrer para entender o que era óbvio. –
Rebeca assustada sentiu duas lágrimas rolarem. – E quando eu entendi isso eu me assustei tanto que precisei
botar para fora porque eu fiquei com medo de acontecer outra coisa e não dar tempo de você saber disso.
Atropelei um monte de etapas. Eu muitas vezes sou afoito com você, não sei como agir... Nós homens
Rebeca somos criados de uma maneira diferente de vocês... A maioria das pessoas, e a mídia também nos
cria para sermos machistas, não falar do que sentimos para ninguém ai quando a gente se apaixona nos
comportamos feito completos idiotas porque é um campo que não sabemos como lidar. Pode perguntar pra
qualquer cara que você conhece o Gabriel, o Leandro, teu irmão, o João... Por mais forte, mais homem que
parecemos ser... Quando encontramos uma mulher que a gente ama de verdade, viramos só garotos... –
Rebeca sorriu. – Eu não tenho mais voz para falar o resto, mas lê no out door. E se sua resposta for sim pisca
a luz do seu quarto três vezes. Beijo.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

E desligou antes que ela pudesse responder. Becca se concentrou no out door e Bruno desprendeu a ponta
do pano imenso que cobria aquele painel enorme. A tal mensagem estava pichada por spray em letras
garrafais para não deixar dúvidas a ninguém.

EU QUASE MORRI NAQUELE GALPÃO, MAS PERDI MINHA VIDA QUANDO A JÚLIA
CHEGOU NAQUELA SALA E EU ACREDITEI QUE TINHA PERDIDO VOCÊ PARA SEMPRE.
NÃO QUERO FICAR NEM MAIS UM MINUTO SEM ESTAR CASADO COM VOCÊ PORQUE
NADA TEM SENTIDO NO MUNDO SE VOCÊ NÃO FOR MINHA MULHER. CASA COMIGO?

Rebeca sorriu assustada e congela no Bruno com a cara de bobo apaixonado mais lindo do mundo.

End Notes:

Cenas do próximo capítulo:

- Entrou com o que? Pedido de guarda? - Eu perguntei enfurecida para aquela


barbie sueca na minha frente. - Você nem pai da menina é reconhecido legal,
você...

- Por pouco tempo, Alice! -- Pedro me estendeu um envelope timbrado de uma


laboratório de exames. - O DNA como a amostra do meu sangue com material
genético da Helena! Eu entrei com um pedido legal para reconhecer minha
filha e com esse pedindo a guarda dela! Eu vou criar minha filha, não sou
maluco de deixar a menina na mãe de uma desiquilibrada feito você que vive
sei lá como com aquela índia sem civilização!

_____________________________________________________________

Não sei ao certo quantos capítulos ainda vou escrever, mas Éramos esta entrando nas
"semi finais".

Bjoooos!!!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 58 by Tamaracae

Author's Notes:

Oi meninas!!

O intervalo entre Rebeca desligar o telefone e seguir até o interruptor durou pouco menos de dez segundos
para nós que estávamos de telespectadores dos dois, mas quando desceu lá de cima do out door Bruno me
jurou que esses dez segundos foram os mais longos de toda sua vida. Pelo que eu tinha visto lá de baixo ele
parecia bem nervoso mesmo. Sua apreensão foi embora quando Rebeca piscou três vezes a luz do quarto
como se gritasse:

- SIM, SIM, SIM, EU ACEITO!

Bruno não conseguia despregar o sorriso do rosto. Ainda faltava a ultima parte da surpresa. Bruno tirou do
bolso uma caixinha de veludo que entendemos que guardava a aliança/anel de noivado e deixou escorregar
pelo barbante indo parar diretamente no anelar direito de Becca. Mais tarde, já no quarto dela, todas nós
comentávamos toda aquela super produção admiradas. Cíntia, a dona da ideia e ajudante do noivo, dava
maiores detalhes dos bastidores da surpresa.

- Becca, você tinha que ver ele todo bonitinho escolhendo a aliança... – A aliança era linda. De ouro branco
com alguns detalhes bem discretos, delicado, enfim, linda! – A mulher da loja achou que a noiva era eu...

- Cíntia, obrigada... – Rebeca aproveitou para abraçá-la. – Eu amei tudo, tudo mesmo...

- Case com a Cíntia em vez do Bruno então... – Isa murmurou. – Vai Rebeca, não acabe com nossas
esperanças assim de vez...

Isa era uma boba mesmo. Nunca se conformou de Rebeca ser hétero, hétero. Para falar a verdade uma boa
parte do Lesbword de Silvéster não se conformava, mas é a vida, né? Ficamos ali parabenizando a noiva, já
brigando para ver quem seria madrinha de Rebeca quando Bruno apareceu no quarto. Ele estava com um
buque de flores, já usando a sua aliança.

- É aqui que esta acontecendo uma festa de noivado?

- Amor! - Rebeca quase pulou em seu colo. Encheu o rosto e boca de Bruno de beijos. – Eu te amo, te
amo... Foi tudo tão lindo, te amo tanto!

- Vai embora a Silvinha e agora vem vocês... – Isa revirou os olhos. – Minha diabete lá em cima, viu... Affê,
coisa mais chata.

Cíntia deu um apertão na bochecha de Isa de brincadeira.

- Coisa, mais chata, vai se olhar no espelho, vai...

- Estou com tanta saudade da minha Silvinha... – Nat confessou e resmungou com os noivos. – E vocês dois

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

parem de fazer inveja, ficam se beijando ai.

Júlia também fingiu implicar com o agarramento dos dois.

- Bruno, olha a costela da menina, me deu maior trabalho pra colocar no lugar... Vocês viu...

- Ah, duas encruadas... – Dona Regina resmungou para as netas provocando risos em todo mundo. As caras
da Nat e da Júlia de espanto com as pérolas da avó eram sempre ótimas. – Escolheram, escolheram e estão
ai titias... – Dona Regina apertou as bochechas de Bruno. - E o meu bebezinho já casando... Coisa mais
gostosa da avó...

E perdemos uma boa meia hora no “noivado” do Bruno com a Rebeca. Foi bem divertido. Rebeca fez
questão de pedir a mão de Bruno para dona Regina. Júlia, Nat e Dona Sônia ficaram lá relembrando histórias
de infância e adolescência dos dois e tudo estava correndo bem até a mãe de Rebeca contar seus planos de
ficar hospedada no hotel até o dia do casamento que eles pretendiam marcar para pouco mais de três meses.

- Mãe, a senhora vai gastar a maior grana... É melhor volta lá pra Salvador e daqui três meses a senhora volta
com o Klebão... Esse hotel é uma fortuna...

- Mas seu irmão disse que era pra eu ficar despreocupada com dinheiro.

Pela primeira vez naquela noite o sorriso deixou o rosto de Rebeca.

- O Serginho falou isso?

- Falou que pagava toda minha despesa.

Depois dessa conversa, Rebeca já era mais a mesma. É claro que estava feliz e super carinhosa com Bruno,
mas quem a conhecesse bem via preocupação nos olhos dela. Quando Serginho chegou à maioria de nós já
estava de saída. Rebeca pediu para Bruno a sós com o irmão. Lá do lado de fora dava para se ouvir vozes
ríspidas e o tom de discussão. Bruno não queria se meter na vida de Rebeca com o irmão, mas não pode
deixar de escutar Serginho acusando a irmã.

- Você nunca confia em mim! Se eu falei isso pra mamãe é que eu vou bancar ela.

- Da onde esta vindo esse dinheiro?

- Becca eu trabalho!

- Você esta me chamando de que? De burra? – Rebeca devolveu. – Serginho, esse hotel é caro! Nem o
Mranhão deve ter grana pra se hospedar lá, quanto mais você.

- Só quero dar um pouco de conforto para minha mãe! – Sonso. – Bem que a mamãe diz que você não gosta
da gente...

- Serginho não é isso... Eu me preocupo com você.

Só depois de um bom tempo Serginho saiu do quarto com uma cara nada boa. Passou reto por Bruno e foi
embora. Bruno correu para o quarto e encontrou Rebeca com aquela expressão de tormento em seu rosto.
Bruno perguntou o que era, mas já sabia da resposta:

- Estou preocupada com ele... Como esse menino vai pagar um hotel caro desses pra minha mãe? –
Questionou. – De onde veio esse dinheiro?
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- Vai ver o cara esta fazendo algum bico extra por ai... Rebeca, esquece isso. Não deve ser nada. – Abraçou
a namorada e se sentou ao lado dela. – Esquece isso...

- Tomara que você esteja certo... – Rebeca envolveu o braço de Bruno sobre os seus. – Tomara...

________________________________________________________________________

Enquanto Rebeca tentava descobrir onde ou no que o irmão estava se metendo, Júlia, Paula e eu tratávamos
do caso do assassinato de Alê sem sonhar que aqueles dois caminhos davam no mesmo lugar. Depois que
saímos do quarto de Rebeca, Júlia retomou o assunto com Paula lá no hospital. Nós três estávamos paradas
em um dos cartazes com o retrato falado de Fumaça.

- Então você tem certeza, Paula que esse cara do retrato falado é o pai do bebê da sua paciente?

- Se a Rebeca descreveu para o policial esse cara do cartaz tem chances de ser ele sim.

- Mas como você lembra dele com tanta gente que você atende, Paula? – Eu perguntei curiosa.

- Por causa da ignorância dele em tratar à namorada. – Nos entreolhamos sem entender. – Ela é jovem, tem
18 anos e teve pré eclampsia quando entrou na vigésima sétima semana de gravidez. Ela esta grávida de
gêmeos, sempre é mais arriscada se não assistida de perto. Ele estava com ela quando eu contei que ela teria
que ficar em repouso. Ele fez um escândalo tão grande, tratou a menina de uma forma tão selvagem dizendo
que se ela perdesse os filhos dele ia matar ela... E depois...

- Ele teve uma crise e a menina me confessou que ele era epilético e muito revoltado por causa disso.
Quebrou bastante coisa lá na enfermaria. A Roseli estava comigo.

- E ele se trata?

- Segundo ela, ele tinha começado a se tratar e parou porque dizia que não tinha nada.

Júlia um gesto afirmativo.

- Vamos ter que ir a delegacia. O Gabriel precisa saber dessa história.

Lá na delegacia, Gabriel estava liberando dois meninos que haviam sido presos por beber demais e desacatar
um guarda de transito. Após pagarem a fiança já ganhavam as ruas. Cruzamos com os rapazes na saída da
delegacia, eles debochando de Gabriel que nos confessou.

- Não suporto essa raça! Filhinho de papai! Mas então, o que vocês querem?

- Acho que tenho uma pista sobre o assassinato da Alessandra. – Paula murmurou, Gabriel a encarou
interessado. Fechou a porta de sua sala para que o assunto não saísse dali. – Eu acho que eu sei quem é o
cara...

Aos poucos fomos desenrolando a história para Gabriel. Ele escutava tudo atento. No final de nosso relato,
Júlia entregou uma lista a Gabriel.

- Eu fui levantar dados lá no hospital de pacientes que deram entradas com crises epiléticas nos últimos
meses. Fiz uma a varredura, tivemos sorte. Tem poucos pacientes cadastrados da faixa etária dele. Acho que
já ajuda.
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Com certeza ajuda. – Gabriel pegou o telefone e chamou por um de seus investigadores. – Quero que você
vá atrás desses três nomes: Antonio Carlos de Souza Oliveira, Marcio Andrade Ferreira e Miguel Cruz
Aurélio. Com urgência.

O investigador fez um gesto afirmativo e foi correndo começar seu trabalho. A pista parecia ter movido
Gabriel e colocou sua cabecinha louca para funcionar.

- Vocês falaram que a crise que ele deu e a briga coma mulher foi na enfermaria, não é mesmo? – Paula fez
um gesto afirmativo. – Lá tem câmeras de segurança, não tem? Eu lembro do caso do bebê que apanhamos
algumas fitas! Vamos fazer o seguinte, você vai ver os vídeos e me identificar que é o pai do bebê. Depois
passamos o vídeo para Rebeca ver, se ela me confirmar quem é ele já sei como pegar esse cara! Júlia tem
como conseguir essas fitas para mim hoje?

- Claro!

Nosso plantão já tinha acabado, mas voltamos para o hospital atrás das tais fitas. Não foi preciso de
mandado nem nada para conseguirmos as imagens. Bastou um telefonema de Nat e só faltaram nos servirem
pipoca e guaraná pra assistirmos os filmes.

-Ela esta grávida de quanto tempo?

- 33 semanas.

- Então a briga foi há briga dele com a mulher foi há quase dois meses atrás. – Júlia concluiu e falou aos
seguranças. – Queremos as fitas de janeiro desse ano, por favor...

Ficamos quase três horas assistindo as tais fitas. Pedi para minha mãe quando viesse trabalhar trouxesse minha
filha para ficar comigo enquanto assistíamos as tais fitas. Só depois de muito tempo, quando já estávamos
quase perdendo as esperanças que Paula soltou eufórica.

- É ELE! ESSE AI MESMO!

Paula, que olhos! O tal cara da crise epilética lembrava mesmo o retrato falado. Rebeca se apegou em
bastante detalhe como a pequena cicatriz bem abaixo da boca. Os lábios finos, o nariz um tanto afilado e os
olhos claros e frios. Vimos à fita umas duas vezes antes de levar para Rebeca. Ao estar de frente com seu
agressor Rebeca parecia estar intimidada. Estremecida confirmou. Era o cara mesmo. Na mesma hora o
investigador que Gabriel tinha deixado encarregado de trabalhar nos nomes já tinha conseguido alguma coisa.

- Olha, Antonio Carlos Souza de Oliveira tem muitos, ai estou trabalhando. Os outros dois já trabalhei. O tal
do Márcio Andrade é casado e trabalha em um fábrica de celulose e o outro é funileiro e pintor de carro.

- O resultado do exame da blusa da Alê deu tintura de carros restaurados. – Gabriel sorriu. – Parabéns
meninas, chegamos no cara...

- E o que você vai fazer agora? – Júlia se interessou. – Dar uma varrida nas oficinas ou...

- Eu acho que eu tenho uma ideia de como pegar esse sujeito direitinho. – Eu murmurei virei para a Pamonha.
- Se você concordar é claro...

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Eles pegaram minha isca direitinho e quiseram escutar meu plano. A principio Gabriel retrucou alegando que
Paula não era da polícia e colocando n barreiras na frente, ma s no final me deu mão a palmatória. O plano
era bom.

- Amanhã já colocamos em prática!

Passava das três da manhã quando saímos da sala de monitores das câmeras de segurança do Alonso franco.
Heleninha dormia no meu colo. Eu estava doida pela minha casa, mas tive que esperar Júlia. Duarte a tinha
chamado para uma conversa particular. Depois de quinze minutos ela voltava com uma expressão confusa e
com uma pasta nas mãos.

- Paciente difícil?

- Não, você não vai acreditar. Acabou tudo.

- Que?

- A Duarte acabou de me entregar às provas que minha mãe usava para te chantagear. – Depois dessa até
acordei. – São originais. Alice, acabou tudo, não precisamos esconder de ninguém que estamos juntas.

Ai, aquilo parecia música para os meus ouvidos. Acho que se eu não estivesse com Heleninha no colo pularia
em cima de Júlia e faria amor com ela ali mesmo no estacionamento do hospital. Ao invés disso sorri e
perguntei ainda sem entender.

- Mas como ela conseguiu.

- Se a gente achava que minha mãe tinha algum rabo preso com a Duarte, agora temos certeza. – Júlia falou
em um tom sério. – Eu só não sei se isso tem envolvimento na morta da Alessandra ou não. Agora por
questão de honra eu vou descobrir o que é!

Não gostei nada daquele tom.

- Júlia, talvez a Duarte tenha razão, é melhor você esquecer da tua mãe e...

- Não dá. É minha história Alice, não posso ficar fugindo dela.

Senti que mais pra frente aquele seria um ponto de conflito entre nós duas. Para não discutirmos achei melhor
me calar. Estávamos com o meu carro, aproximamos dele quando ouvimos um barulho estranho e depois
aqueles movimentos esquisitos vindos de lá do carro.

- Aiiiii... Minha gatona que me arranha... Tigresa!

- Aaaaaaaai...Vem meu tigrinho...

Não era imaginação nossa. Tinha alguém transando dentro do meu carro. Destravei a porta e abri com tudo.
Boquiaberta.

- MÃE?

Pra vocês terem uma ideia a Júlia que é uma das mulheres mais caras de pau que eu conheço ficou vermelha e
só soltou um sorriso tímido olhando para baixo. Minha mãe e Leandro saíram do carro ainda se vestindo. E
eu em dúvida se me jogava na frente de um ônibus ou se jogava o Leandro e com dona Verinha. Minha mãe
se pegando com meu colega de trabalho no meu carro no meio da madruga. Que mundo é esse que nossas
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mães fazem sexo e crianças de dez anos postam em seus facebooks: cansei, não vou mais correr atrás (correr
atrás de quem menina? se perdeu da sua mãe no mercado? – Sim, rotulo sentimentos alheios e não considero
que uma menina de dez anos tenha maturidade suficiente para correr atrás de alguém que não seja seu
coleguinha de pega pega), onde vamos parar?

- Alice, eu estava estudando um caso... – A doutora tigresa tentou me explicar. – E o doutor Leandro veio me
ajudar e...

- Tigresa, mãe? – Eu perguntei cruzando os braços a espera de uma explicação.

- Oras, o que eu tenho que te explicar? - Minha mãe retrucou. - E nós estamos usando camisinha!

CATAPLOFT depois dessa. Na estrada o assunto “minha mãe é uma biscate” veio à tona e eu não parava de
falar. Fiquei brava mesmo. Mãe tem que ser que nem vaca na Índia, sagrado. Júlia não tirava o sorriso dos
lábios achando graça na minha braveza. Ela me ajudou a pegar Heleninha do carro e colocamos ela para
dormir lá no quarto de João. Ele tinha ido para minha casa para jantar com Cíntia e acabou dormindo por lá.

- Júlia, você fica rindo ai, eu estou vendo a hora que minha mãe aparecer grávida. – Ai sim não me faltaria
mais nada. – Júlia, o Leandro é mais novo que eu e ela é minha mãe e... AAaiiii, Júlia?

Quando eu me virei de frente para pegar o caminho de saída do quarto de João, Júlia me surpreendeu com
um beijo que me deixou toda arrepiada. A boca dela encostou-se à minha como se estivesse me fazendo
carinho e me tocou com uma suavidade singular. Primeiro passou a língua quente umedecendo meus lábios.
Eu pensei que ela ia aprofundar nosso contato, mas não. Seus lábios desceram e os dentes abocanharem meu
queixo de forma tão delicada e ao mesmo tempo provocante que me arrancou um gemido de prazer. Mesmo
com os olhos fechados, senti que ela sorria. A mão que estava sobre minhas costas subiram se perdendo entre
meus cabelos e fui puxada para fora do quarto. Ela fechou a porta. Aproximou a boca da minha sorrindo.

- Eu quero comemorar que estou livre dessa chantagem e não quero que a Heleninha fique reclamando por ai
que me viu com a mãe dela... – Eu sorri meio desajeitada. Júlia deu um beijo no pescoço que fez revirar os
olhos toda mole. – Que fica linda quando esta bravinha... E me deixa morrendo de tesão quando esta com
raiva.

Nossos lábios se encontraram de uma forma tão gostosa que não encontro palavras para definir. Eu já tinha
provado beijos da Nat e da Isa, eram bons, mas da Júlia era um bom diferente, não sei explicar, mas quando
eu me lembrava do beijo dela, não tinha só gosto, mas também cheiro (de mato molhado) trilha sônora
(aquele barulhinho das nossas línguas se enroscando me deixava morrendo de vontade dela), tato (fechava os
olhos e sentia os dedos explorando meu corpo, ora com carinho, ora com lascividade) cor (sempre quando
estávamos para separar abria meus olhos de forma lenta e encontrava aqueles olhinhos verdes mais escuros
que o comum me olhando com fascínio), como eu disse, um bom diferente, um excelente diferente. A mesma
vagarosidade que usamos para nos beijar também foi para nos separar. Ela calmamente foi aplicando
pequenos selinhos na minha boca até ficarmos apenas trocando carinhos com a ponta dos dedos e as costas.
Sorri para ela e fiquei admirando, enchi seu rosto de beijos.

- Você não tem noção com é bom estar aqui com você... – Comecei a tocar seu rosto com minha boca
enquanto ela recuperava o fôlego. - Você tem ideia quantas mulheres queriam isso pra elas?

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- Você que não tem noção o que faz comigo, menina... – Ela disse lutando para deixar os olhos abertos
enquanto eu beijava seu rosto e mordia de leve suas bochechas. Trocamos um beijo só de lábios que só
colocam mais lenha no fogo. Deixei minha mão se fechar em sua cintura com firmeza. Júlia abriu os olhos. –
Me deixa louca... Muito mais louca do que eu pensava que alguém pudesse me deixar, Ali...

Ela mal conseguiu completar meu nome e voltei a tomar seus lábios, dessa vez com sofreguidão ela
correspondeu no mesmo compasso, quase acabamos uma com a outra em um só beijo devido ao tanto de
vontade. Cada parte do meu corpo ansiava pela pele de Júlia. As pernas sobre as minhas, minha boca
roçando por seu colo, meu corpo se perdendo em suas mãos e o que mais nossa imaginação pudesse criar. E
enquanto ficávamos se “sarrando” ali pelo corredor a danadinha da contração gostosa que cutucava meu
abdômen cada vez que nos beijávamos estava lá.

No final do segundo beijo quando abri meus olhos ela me mirava com aquele sorrisinho “cafa” que me fazia
babar por inteira a ponto de não conseguir desgrudar meus olhos de sua imagem. Meu peito já dava
solavancos de tão acelerado que estava meu batimento e a respiração estavam meio falhos. A mão por dentro
da minha blusinha encostava na minha coluna e as unhas curtas arranhavam a minha pele me provocando ainda
mais reações da minha libido.

- Alice, não me olha assim... – Ela deu um riso mega pervertido e sussurrou no meu ouvido. – Só de você me
olhar assim me deixa molhada...

- Júlia...

Nem conseguir concluir e nem se lembrar o que ia dizer quando nossas bocas se chocaram de novo. A puxei
como se quisesse fundir meu corpo ao dela. Mais um beijo e quando dei por mim sua mão já desabotoava
meu sutiã enquanto a boca me roubava um beijo faminto. No pequeno intervalo que nos separamos para
pegar um pouquinho de ar, eu fiz com que ela tirasse sua regata e ela também me livrou da minha blusa.
Alcançamos a sala eu nua da barriga pra cima e Júlia só de sutiã. Eu deixava minha mão viajar por todo
aquele corpo. Minha língua correspondia aos beijos com mais e mais voracidade, só deixei amolecer quando
nossos seios se tocaram e senti o mamilo dela bem durinho. Não tinha como esperar chegar no quarto. Fiz
com que ela se sentasse sobre a pontinha da mesa e comecei uma massagem bem mal intencionada em seus
seios. Primeiro em cima do sutiã, depois fiz com que ela tirasse e antes que minha mão fechasse sobre sua eles
parei para admirá-los. Belissimos! Júlia deu uma risadinha meio desajeitada que eu achei apaixonante e me
confessou:

- Acho eles pequenos...

- São perfeitos. – Meus dedos começaram a massageá-la. – E são lindos.

Trocamos um olhar cheio de ternura e ela então fechou os olhos com se entregasse em definitivo. Bateu
vontade de sentir seu corpo e pedi que ela deitasse na mesa. Júlia me obedeceu. Com toques suaves deixei
minha boca experimentar o sabor de sua pele, percorri por pescoço, colo, ombros até tomar seu busto para
mim. Eu estava faminta! Sem comer há horas, agora meu jantar seria ela. Enlouqueci a mulher naquela mesa.
Eu revezava em um seio, depois no outro, descia para aquela barriguinha perfeita de anos cuidados, subia e
voltava a sugar seus seios. E ela? Júlia também me tirava do sério me pressionando contra o seio dela (boba,
quem disse que eu queria fugir?), falando um monte de besteiras, gemendo deliciosamente e esticando o braço
e brincando com as mãos na minha bunda. Nosso sexo era tão gostoso que não sei como não proibiram. Ela
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

já estava pegando fogo, com a mão enterrada na minha cabeça pedindo que minha língua descesse mais.
Mordi de leve uma de suas entradinhas ela não se agüentou. Soltou um gemido que acho que dava para ser
ouvido lá da minha casa e pediu para que eu fizesse amor com ela. A partir daí perdemos qualquer tipo de
senso, juízo ou noção. Desci o zíper de sua calça e com cuidado a despi venerando cada parte de seu corpo,
me fartando com cheiro de sua lubrificação.

- Eu quero seu dedo dentro de mim, Alice, por favor...

- Eu adoro quando você me pede assim... – Eu estava de “gatinho” sobre ela. Minha boca voltava a beijar sua
barriga, passei minha língua pincelando seu umbigo de forma suave e sentido a pele morena se arrepiar
todinha. Meus dedos calmamente atravessavam sua calcinha e percebi o quanto ela estava apetitosa. Não
agüentei e tive que provar. Deixei meus lábios tocarem em sua virilha e descer de forma torturante seu clitóris.
Ela deixou um gemido escapar pela sua boca. – Você é tão macia, amor... – Sorvi um pouquinho de seu
gozo. – Tão gostosa!

Júlia sorriu. Aproveitou que minhas pernas estavam flexionadas próxima ao seu rosto. Ganhei um beijo
seguido de uma mordida de leve nas coxas. Oh mulher safada, viu, como sabia e sabe fazer gostoso. Eu com
a boca e dedos enterrados nela e ela ainda achava espaço para me dar prazer. E que chupada era aquela,
meu Senhor? De-li-ci-o-sa. Quente e suave ao mesmo tempo. De deixar o corpo trêmulo e as pernas
bambas. Gozamos duas vezes seguidas naquela posição. Não sei quanto tempo ficamos lá de bobeira. Ela
veio deitar com a cabeça para o meu lado.

- Dava pra eu pensar em me profissionalizar, né?

- Como assim? – Perguntei sem entender.

Ela riu e cantarolou.

- Morena alta, bonita e sensual Talvez eu seja a solução do seu problema...

- Onde eu fui arranjar namorada tão boba, hein? – Eu perguntei rindo enquanto trocávamos um beijo. –Onde?

- Isso, cospe no prato que acabou de comer... – Júlia disse fazendo cara de ressentimento. – Agora é assim...

- Ai que bico mais gostoso. – Me agarrei a Júlia e provei mais de sua boca. – Vem cá, vem meu banquete...
– Dei mais um beijo, agora nas suas costas. – Banquetão, tarado que eu adoro... Fica aqui comigo...

Não tive forças para sair de lá. Júlia quem corajosamente me levou para o quarto usando e abusando de
beijinhos e carinhos para me dar incentivo. Ela me deitou na cama de um jeito tão carinhoso que senti minhas
forças se renovarem a puxei para mais um beijo e lhe pedi um favor.

-Vontade de comer aquele brigadeiro que deixei na panela lá na geladeira... Pega pra mim?

Júlia deu um beijinho nos meus pés (adorava quando ela tocava neles) subiu beijando toda minha perna até
chegar à parte externa da coxa. Fiz um carinho em seus cabelos e ganhe um beijo na boca.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Já volto, amor.

Ela voltou não apenas com o brigadeiro, mas também com uma taça com morangos e uma garrafa de vinho
fechadinha. Eu sorri contabilizado qual daquelas delicias eu provaria primeiro: morangos, vinho, brigadeiro ou
Júlia? Sabe aquela história de morri e fui para o céu? Foi mais o menos assim que eu me senti. Júlia passou
um dos morangos no brigadeiro, colocou pertinho da minha boca, quando eu ia morder ela só deixou sujar
meu lábio de chocolate e comeu o morango.

- Ah é assim?

- Não, também vou comer o chocolate. – E limpou o chocolate da minha boca com a língua. – Muito
gostoso.

- É? Deixa ver então... – Peguei um pouco de brigadeiro e joguei sobre o biquinho de seu peito. Lambi o
chocolate deixando o biquinho endurecido. – Delicioso...

- Ah é?

- É... - Jogou chocolate no meu queixo, tirou com mordidinhas. - Gostosa!

- Morde, cachorrinha! - Eu brinquei. - Morde!

E ficamos nessa brincadeira por mais uma meia hora, depois tomamos banho juntas e fomos dormir quase
cinco horas da manhã. Júlia se deitou encaixando o corpo no meu e roubando minha coberta.

- Jú, devolve...

- Tá com frio coloca uma roupa... – Ela retrucou só querendo implicar comigo.

- Minha namorada peladinha e minha coberta me esquentam... Vem cá... – Comecei a beijar seu rosto. – Não
gosta mais de dormir de conchinha comigo, não? Hein, amor? – Me aninhei deitada ao seu peito. – Tá tão
quentinha... Coração batendo rápido.

- É porque eu estou perto da mulher que eu gosto. – Senti meu rosto corar. – É que fica um gracinha, toda
vermelhinha quando esta com vergonha.O teu problema é...

- O que?

- Você sabe...

- Sei o que?

- Tua namorada... - Eu sorri entrando na brincadeira. - Sou muito mais eu do que ela...

- É? Olha, fala assim dela não... A mulher é grande... Vai te quebrar em duas.

- É? - Fez uma pausa. - Por você vale a pena... - E sussurrou no meu ouvido. - Acaba com sua namorada e
fica comigo...

- Boba... Eu adoro ela...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- E eu te adoro! Agora deita aqui comigo, linda!

Eu senti uma sensação tão grande de paz ali. De que finalmente eu estava no lugar certo com a pessoa certa
na hora certa. O que era óbvio parecia finalmente estar parecendo na frente dos meus olhos. Eu descobri que
amava Júlia! Adormeci com ela fazendo carinho nos meus cabelos e sentindo sua respiração quente em meu
pescoço. No meio do cochilo acordei. Esperei minha bela estar bem adormecida e então criei coragem para
lhe confessar:

- Eu amo você, cachorrinha!

_______________________________________________________________________

- A MINHA NETA NESTE ANTRO DE PERDIÇÃO!

- NÃO SE PREOCUPE, MAMÃE! A ALICE VAI TER QUE ME EXPLICAR O QUE ESTA
ACONTECENDO! – Pedro Henrique retrucou. –ISSO NÃO VAI FICAR ASSIM!

O meu Senhor, o que acontece? Depois de uma noite tão gostosa e tão boa eu tinha que sonhar mesmo com
o mala do Pedro Henrique e sua mãe Cassandra nariz de Mário Bros? Meu outro sonho que a Júlia e eu
estávamos em lua de mel no México se enchendo de tequila, cadê? Abri os olhos mal humorada. Júlia já tinha
saído da cama.

- EU QUERO FALAR COM AQUELA TUPINIQUIM AGORA! – Ouviu a voz de Dona Cassandra.
Espera, se eu estou acordada e a voz daquele entojo esta na minha sala significa que o pesadelo é muito pior.
Eles estão aqui mesmo. – ALICE!

Droga, droga, droga! Corri para o banheiro, lavei meu rosto, me enfiei em um shortinho, um blusão de dormir
e fui até a sala ver o que estava acontecendo. Quando cheguei lá encontrei o que mais temia. Júlia de um lado
com cara poucos amigos usando um roupão desses de sair de banho, João com o uniforme da escola, Pedro
Henrique e a bruxa da Dona Cassandra medindo Júlia de cima abaixo enquanto segurava Heleninha no colo.
A cara da Heleninha também não era nada boa. Pelo jeito ela estava fazendo cocô no colo da “avó”.

- AH, FINALMENTE APARECEU, SUA IRRESPONSÁVEL! – Ela me acusou com aquele sotaque
arrogante deles. - Pedrinho querendo ver a filha e você escondendo a minha neta de mim!

Tipo, na boa, eu acho que foi Judas na outra vida. Só essa explicação pra eu merecer isso.

- Alice, eu não esperava isso de você, deixar sua casa pra me esconder da menina? – Olhou para João com
desprezo. – E ainda deixar esse trombadinha...
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- SE OFENDER MEU FILHO DE NOVO A TROMBADINHA VAI SER MINHA MÃO NO TEU
NARIZ OUTRA VEZ!

- PEDRO, JÚLIA, POR FAVOR!!- Eu tentava segurar os ânimos. Júlia cruzou os braços. Já vi que sobraria
para mim. – O que aconteceu?

- ESSA SELVAGEM ESTAVA ABUSANDO DA MINHA FILHA!

Júlia respirou fundo e João, o mais adulto entre Pedro, Dona Cassandra e Júlia resolveu me explicar o que
estava acontecendo.

- Esse cara ai bateu lá na sua casa, Alice e disse que queria ver a Heleninha porque era pai dela e precisava
levá-la para um lugar ai, eu disse que vocês não estavam em casa, que tinham dormido aqui e abri a porta
com a minha chave. Quando abri a porta minha mãe estava no meu quarto com a Heleninha no colo.

- PELADA!

- Eu estava de short e regata, esse imbecil é doente! – Júlia retrucou. – A menina com cólica, não quis te
acordar, ele entrou feito um doido, até ameaça de processo ele fez...

Eu ia matar o Pedro Henrique!

- João, leva sua mãe pra tomar café em casa, por favor?

Júlia me encarou surpresa.

- Você esta me tirando da minha casa por causa desse...

- Júlia, por favor... – Eu pedi. – Eu só quero falar com o Pedro e a Dona Cassandra sozinhos.

- A casa é de vocês!

Muito contrariada ela saiu de casa, deixei que ela levasse Heleninha com ela.

- Você só pode estar ficando louca! – Pedro rebateu. – Deixar a minha filha com essa...

- Ela é muito mais mãe da Heleninha do que você é pai! – Rebati. - E essa é a ultima vez que isso vai
acontecer, Pedro! Vocês dois vão pedir desculpas a Júlia porque as duas casas são dela e porque ofenderam
o filho dela e vão me explicar o que estão fazendo aqui! – Encarei Pedro. – Eu não ia ter um tempo para ver
que tudo mudou?

Mãe e filho se entreolharam confusos. Dona Cassandra que resolveu abrir a boca.

- Eu que apressei o Pedro, Alice... Ele precisa assumir com urgência que é pai dessa menina para abafar
com... Com esses boatos.

- Boatos? – Encarei Pedro sem entender. – Que boatos?

- Alice, há algum tempo o Pedro vem falando nessa garotinha e eu desaconselhei que ele a procurasse, mas
algumas coisas mudaram e eu peço que você se coloque em meu lugar de mãe. – Vocês entenderam alguma
coisa? Pois é, eu também não. – Vazaram umas fotos na internet de um rapaz muito parecido com o meu
Pedro, mas não era o Pedro... E nessas fotos esse rapaz esta em uma situação não aceitável com outro
menino. E estão dizendo que é o Pedro. O maior patrocinador do Pedro quer cancelar o contrato por conta
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

dessas fofocas sem fundo de verdade. – Sem fundo de verdade? Está vendo a Cláudia dona Cassandra?
Então sentá-la, junto com ela. - Como meu filho estava falando que talvez quisesse conhecer melhor a filha
dele eu achei que seria bom ele assumir a menina neste momento. E ainda achamos uma boa moça que vai
casar com o Pedro, tudo esta encaminhando muito bem, só precisamos que você vá ao cartório regularizar
essa situação.

Aquela velha nojenta falava em regularizar a situação como se falássemos de um carro com documentos em
falta. Pedro foi pego aos beijos ou fazendo sei lá o que com seu namorado e agora ele e sua querida mamãe
estava querendo usar a minha gordinha pra limpar a barra dele. Sim querido leitor, pode se afastar do
computador para vomitar desses dois.

Só não tirei aqueles dois ratos de casa a vassouradas porque não achei vassoura no momento, mas foi um
escândalo igual ou pior do que a briga da Nat com a Júlia. Pedro era tão cara de pau que até ameaças sobre
a guarda da Heleninha ele me fez.

- Vai entrar com o que? Pedido de guarda? - Eu perguntei enfurecida para aquela barbie sueca na
minha frente. - Você nem pai da menina é reconhecido legal, você...

- Por pouco tempo, Alice! -- Pedro me estendeu um envelope timbrado de um laboratório de exames.
- O DNA com a amostra do meu sangue com material genético da Helena! Eu entrei com um pedido
legal para reconhecer minha filha! Eu vou criar minha filha, não sou maluco de deixar a menina na
mãe de uma desiquilibrada feito você que vive sei lá como com aquela índia sem civilização!

- O DNA? Mas...

- No dia que eu vim aqui, peguei um pouco de cabelo da escovinha dela que estava no banheiro.

Filho de uma...

- Nos vemos no tribunal!

E os dois entraram no carro e sumiram das minhas vistas. Eu parecia aqueles desenhos animados
que soltam fumacinha pela cabeça de tanto que fervilhava de ódio. E para ajudar tudo, Júlia ficou
chateada comigo com toda razão.

Só fomos nos falar quando entramos no carro para levar João à casa de Nat e ir para a delegacia
executar meu plano para tentar pegar Fumaça no flagra. Paula e eu seriamos usadas na execução
da ideia.

- Não é arriscado demais para vocês? – Júlia perguntou a nós duas enquanto colocávamos as
escutas. – Vocês estão preparadas?

- Estou preparadíssima, nunca participei de uma missão secreta. – Paula afirmou. – Mas isso
demora muito? Ainda tenho que passar no mercado...

- Não... Vocês já sabem o que fazer, não sabem?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Paula e eu assentimos dando certeza a Gabriel e Júlia que estávamos preparadas.

Meu plano era para localizar Fumaça e para isso usaríamos Luana. Como seria feito isso? Da
maneira mais simples possível. Um menino fechado com os policiais ligaria para o celular de Luana
e avisaria que Fumaça havia pedido para lhe passar um recado, precisam se ver com urgência, mas
não era pra ela ligar de volta para o celular de Fumaça pois desconfiava que estava sendo vigiado
pela polícia e em seguida o menino desligaria o telefone.

Luana não iria arriscar em não obedecer Fumaça e iria ao encontro dele. Paula e eu estaríamos lá
na casa só para ter certeza que ela havia mordido a isca. Logo depois Gabriel e os policias a
seguiriam até o esconderijo do namorado. Usamos a desculpa da gravidez para visitá-la no barraco
em Vila Miséria. Luana não escondeu a surpresa em nos ver.

- Doutora, mas a senhora não esteve aqui ontem?

- Pré-eclâmpsia é um quadro que exige muita atenção, Luana. – Paula afirmou. – Não podemos nos
descuidar.

Enquanto Paula tratava de enrolar Luana com a conversa sobre seu estado de saúde, eu aproveita
para fixar meu olhar nas fotos. Sim,o Fumaça do vídeo era o mesmo das fotos e o mesmo covarde
que agrediu Rebeca e tirou a vida de Alê. Infeliz, ia pagar e ainda dizer a mando de quem tinha
trabalhado. De cinco em cinco minutos eu olhava no relógio e nada do menino ligar. Paula já estava
perdendo assunto com a mal encarada da Luana quando seu celular tocou. Soltei um “graças a
Deus” mentalmente. Pelo jeito era o garoto. Pela cara de Luana ele fazia seu papel direitinho e
quando perguntado se era verdade o que estava dizendo, fechou sua participação com um golpe de
mestre.

- Se não fosse verdade como eu iria ter seu telefone? – O rapaz retrucou. Tínhamos o celular de
Luana pois ela tinha fornecido o número na ficha médica do SUS que ficava lá no Alonso Franco. A
ideia aera que Luana pensasse que fosse um jovem marginal que ganhou uns trocados de Fumaça
pra passar o recado. – Ele pediu pra você levar a grana, o recado está dado e pronto!

Luana desligou o telefone e logo arrumou um jeito de nos despachar com a desculpa de um
compromisso de ultima hora. Boba, mordeu a isca. Alguns minutos depois ela saia de casa toda
arrumada e com uma sacola de feira nas mãos, com certeza parte do pagamento dos “serviços” de
Fumaça. Ela saiu de Vila Miséria, pegou um barco até a outra margem do rio, fez o caminho da
trilha e subiu até a Avenida Um para pegar uma condução coletiva. Gabriel e Júlia observavam seus
movimentos de dentro de um carro sem nenhuma descrição da policial. Em outro carro na outra
esquina mais policiais. Luana pegou um ônibus caindo aos pedaços que ia para Serro Azul. Lá em
Serro Azul pegou uma Van que tinha como destino um bairro periférico bem afastado do centro da
cidade. Caminhou algumas ruazinhas e parou em um casebre muito velho. Paula e eu ficamos em
Silvéster, mas Júlia que estava acompanhando Gabriel viu tudo. O próprio Fumaça veio atender a
porta. Ao vê-la os dois começaram a discutir e então a policia agiu. Gabriel e dois investigadores
cercaram os dois, Fumaça ainda tentou escapar, mas foi alvejado com um tiro que Gabriel aplicou
em sua canela.

- Perdeu, moleque, perdeu!

Fumaça com uma expressão de dor colocava as mãos para trás. Gabriel o imobilizou e algemou seus
pulsos.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Sou inocente, não fiz nada!

- É o que a gente vai ver. ESTA SENDO PRESO POR SUSPEITA DE HOMICÍDIO E
AGRESSÃO. – Fez um sinal para os investigadores. – Pode levar...

Luana voltou para Silvéster junto com a polícia. Chorava muito e se dizia inocente. Só foi detida por
algumas horas, pois não havia provas de que ela sabia da ligação do namorado com aqueles crimes.
Fumaça foi levado ao hospital e voltou no mesmo dia para interrogatórios. Não deu nome de
ninguém e se negou a assumir o assassinato. Devia estar recebendo uma boa grana para ficar de
boca fechada reforçando minha teoria de que só alguém poderoso devia estar atrás daquele
atentado e pagando para abafar o escândalo.

- E agora, como fica a situação dele? – Júlia perguntou a Gabriel.

- Ele já foi preso mexendo com tráfico de drogas, escapou porque o advogado era bom e conseguiu
convencer o juiz que ele era apenas usuário. Agora é diferente, vai esperar o julgamento em uma
penitenciária.

Júlia chegou em casa só depois da meia noite, um aspecto bem cansado e com um dos braços com
um curativo. Ela ainda estava irritada, percebi pela frieza de seu olhar.

- Júlia, o que foi isso?

- Na hora que o cara foi fugir, Eu estava do lado de fora do carro. Ele me empurrou eu cai e ralei o
braço no muro. Nada demais. Vou tomar um banho e dormir... Até amanhã.

- Não senhora. – Segurei pelo braço que não estava machucado. – Eu vou cuidar de você, você vai
jantar comigo e dormir na minha casa. – Júlia ia abrir a boca para falar. – Desculpa por hoje de
manhã, minha linda... Eu... – Fiz um carinho em seu rosto, dei um beijo de leve. – Eu prometo que
isso não vai se repetir. Eu odeio quando a gente fica brigada, Júlia... Deixa eu cuidar de você?

- Não podia ter escolhido pai melhor pra sua filha, não? – Ela me perguntou sorrindo. – O que é de
janta? Estou com fome... E querendo passar a noite abraçada com minha namorada.

Aquilo era música para os meus ouvidos, A Barbie sueca não conseguia ter desgraçado com a
minha vida de novo! Ergui as mãos ao céu fazendo Júlia rir, peguei sua mão e fomos para minha
casa. Eu fiz tudo que tinha planejado, dei banho no meu amor, comidinha e junto de Cíntia
comemoramos a prisão do vagabundo do Fumaça. Não sabíamos, mas naquela noite se iniciou um
período de completa paz de espírito em minha vida que durou 90 dias. Sim, haviam se passado três
meses. Tivemos alguns desentendimentos sim (como eu havia adiantado, Júlia e eu não
compartilhávamos da mesma opinião sobre a relação de Abgail e Duarte. Enquanto ela achava que
devia ir atrás para saber o que havia acontecido e como Alê chegou a encontrar a “mancha” no
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passado de Abgail, eu queria que ela esquecesse essa história e tocasse bola para frente), tirando
isso estávamos bem.

Outro inverno já se iniciava em Silvéster. Todos nós bem envolvidos com o casamento de Bruno
com Rebeca que aconteceria em menos de quinze dias. Júlia, Nat, Cíntia e eu éramos as madrinhas
e Cíntia cuidava dos preparativos da festa e da cerimônia junto de Dona Regina com entusiasmo de
uma verdadeira cerimonialista profissional. É claro que ela estava abatida e com a vida sentimental
estagnada por conta da Alê, mas seu animo estava renovando por conta de uma boa noticia: as
sessões de quimioterapia haviam acabado e Cíntia já não estava tão debilitada quanto antes. Ela se
arrumava para sair de casa e estava procurando uns papéis de aluguel de roupas quando tocaram a
campainha da minha casa. Ela atendeu a porta. Uma baixinha troncuda bem vestida que me
procurava, fui saber o que era e ela me deu um cartão.

- Intimação? Mas do que é isso?

- Um pedido de guarda da menor Helena Castro Dupret. – O infeliz do Pedro tinha conseguido
reconhecer a paternidade da filha na justiça. – A senhora pode assinar aqui?

Eu ia matar o Pedro! Infeliz. Agora que ele precisava limpar a barra e fingir que era “homem zinho”
a menina era filha dele? Me faltava palavras para definir o ódio que senti dele quando vi aquela
mulher estendeu o papel na minha frente. O que podia fazer? Assinei a via autorizando a audiência.
O juiz não tinha porque tirar Helena de mim. Ela estava com dez meses e muito bem desenvolvida
para sua idade. Já ensaiava os primeiros passinhos, engatinhava por toda casa, fazia uma sujeirada
para comer, falava mamãe e dava tchauzinho. Super familiarizada com a gente. Quando Júlia
chegou com João em casa a noite, Heleninha foi receber os dois na sala.

- DÚA! DOÃO! - E estendeu os bracinhos para o “Doão” pega-la o colo. Ela adorava ele.

Júlia cumprimentou Cíntia e veio me dar um beijo de boa noite. Fazia dois dias que não nos víamos
por conta dos plantões. Eu contei a ela sobre Pedro e lógico que ela não gostou da novidade. O jogo
dele era baixo demais. Ficamos namorando um pouco na rede quando João veio da sala com alguns
envelopes nas mãos.

- Mãe, isso chegou lá na cabana, guardei na minha mochila e esqueci de te entregar, toma...

Eram alguns envelopes de contas para pagar. João voltou correndo para casa, Júlia deu uma olhada
nos envelopes.

- Cacete, João também... Conta de 3 meses atrás... Olha quando isso aqui vai ser de juros e... Isso
aqui? Nossa... – Surpresa. – Tanta coisa acontecendo até tinha me esquecido disso.

- O que?
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Lembra a escova de dente que eu peguei lá na casa da Diná? Aquele dia que eu fui buscar o João
na casa da Nat aproveitei e peguei a escova de dente dela e mandei para um laboratório. Só pra não
ficar com aquelas dúvidas chatas na cabeça sabe... O resultado do exame saiu e eu nem vi...

Fiz um gesto negativo.

- Nem precisa, né? Só olhar pra Diná e vê que ele não é...

- Alice! – Júlia estava boquiaberta. – Deu positivo! – Assustada. – As salivas das duas escovas
compartilham do mesmo material genético. – Fez uma pausa. – Nós encontramos a família da Nat!

E congela na minha cara depois dessa.

End Notes:

-Mãe, trezentos mil? A senhora fez o que, trocou de carro, comprou uma casa? - Nat
perguntou a Abgail. - Nos ultimos três meses a senhora esta gastando o dobro do que
gastava antes...

- É um fundo de investimentos que uma amiga minha, a Letícia, você conhece ela. -
Nat fez um gesto afirmativo. - Então, o marido dela que é corretor me sugeriu investir
e... Natália, que cara é essa, você adora a comida da cozinheira daqui de casa.

- Muito puxada no alho, cominho... - Natália afastou o prato de comida. - Me


embrulho o estômago. Mas voltando a falar do nosso assunto mãe, é bom a senhora
rever seus gastos... Por favor né?

Ainda ficaram um tempo conversando sobre as finanças da família até que Nat viu
que já estava na sua hora. Despediu-se de Abgail e foi embora do apartamento.
Assim que a filha saiu, Abgail correu para telefonar a Serginho.

- Não posso te dar mais dinheiro!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 59 by Tamaracae

Author's Notes:

Olá meninas!!! Buenas...

Música sugerida pela Brunao Cezário, minha assessora particular:

http://www.youtube.com/watch?v=V1GNDX5Z9bs Collide

Sugestão II: Leiam asequencia Final do capítulo com :


http://www.youtube.com/watch?v=hVItXTvIgJc Cachorro Perigoso

Por mais que o tempo passe, que sejamos adultos, pais e mães de família, alguns aspectos não mudam e
agimos como se ainda tivéssemos seis anos de idade. Quando Júlia abriu aquele exame de DNA e me contou
sobre o resultado a primeira vontade que tive foi de gritar pela minha mãe e correr para o colo do meu pai.

Eu estava cansada daqueles problemas da vida adulta. Como eu ia contar a Nat que encontrei seu pai
verdadeiro? Era um assunto muito particular que só dizia respeito à vida dela. Agora com aquele papel nas
mãos, minha cabeça começava a pesar horrores e pela primeira vez senti que talvez fosse melhor deixar essa
história morta enterrada como estava antes de eu chegar em Silvéster. Ai, ai saudade do tempo que minha
maior preocupação era saber se no dia seguinte estaria sol para eu brincar no playground do prédio dos meus
pais. Júlia me olhou e percebeu que algo me deixava pouco a vontade. Pegou em minha mão fazendo um
carinho e me perguntou:

- O que aconteceu?

- Não sei... – Ergui meus ombros. - Talvez a gente não tenha feito o que é certo... – Júlia me encarou sem
entender. – Talvez a gente não devia ter mexido nisso. Era uma história da sua irmã e não nossa... Como a
gente vai contar isso a ela?

- Do começo, Alice... Não pensa assim, pensa por outro lado... Se fosse você no lugar da Nat, você não
gostaria de sei lá... Pelo menos saber como era o rosto do seu pai? Saber se você tem os olhos dele? Se sua
mão é parecida com a mão da sua mãe? – Assenti. – Então...

- Mas é a história de vida dela, a gente talvez não devia ter se metido.

- Agora não dá pra voltar no tempo e também tudo foi acontecendo. Alice, você ia enlouquecer se não tirasse

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

a limpo a histórias dos leõezinhos acreditando que a Nat sei lá, podia ser sua irmã por parte de pai. Foi pelos
leõezinhos que chegamos à Diná. Não era só a história dela... Também tinha um pedaço da sua história
envolvida ai. – Carinhosamente ela começou a beijar meu rosto até chegar à minha boca, me deu um selinho
mais demorado. – Sabia que você é incrível?

- Júlia...

- Incrível sim, você se preocupa com os sentimentos da minha irmã, em não ver ela sofrer é amiga, gosta dela
de verdade mesmo depois dela de magoar duas vezes. – Eu sorri sem graça. Ela fez um carinho em meus
cabelos e jogou meus olhos. – Isso é nobre e uma das coisas que eu mais admiro em você é sua riqueza de
sentimentos.

- Júlia vamos fazer uma coisa?

- O que?

- Parar com essa história de pai da Nat? – E continuei. – Você entrega isso pra ela e deixamos ela resolver
isso sozinha.

- Tudo bem. Posso te dar um abraço agora?

- E desde quando você precisa me pedir? – Eu perguntei feliz por ela ter concordado comigo. – Vem cá...

Nos abraçamos e ficamos algum tempo assim. Era bom ouvir aquilo de sua boca, foi como um abraço não só
no meu corpo, mas também na minha alma. Só nos separamos quando os papéis que estavam no colo de
Júlia caíram no chão. Me agachei, juntei os papéis e comecei com a leitura. Algo estava muito errado naquele
resultado.

- Júlia, você leu isso tudo?

- Não, só li o que esta grifado em amarelo que é o resultado. Aqui. – Apontou para o grifado em amarelo. -
Por quê?

- Olha isso aqui. – Júlia leu e arregalou os olhos, estava tão surpresa quanto eu. – Aqui esta dizendo que os
cromossomos das duas escovas são “xx”. A escova que você pegou era usada por uma mulher e certamente
não era da Diná.

- Definitivamente não era da Diná... Mas olha como os materiais das duas se encaixam. Você sabe o que quer
dizer isso, não sabe? – Júlia fez um gesto afirmativo, estava um tanto confusa. – Não é melhor a gente levar
pra mais alguém ver isso aqui pra gente ter certeza?

- Daqui esses papéis. Eu sei quem é perita nesse tipo de assunto. Troca de roupa que a gente vai sair.

Em menos de uma hora nós e nossas crias (João e Heleninha) já estávamos na porta do Alonso Franco. João
foi procurar Nat lá na diretoria enquanto nós três fomos em direção a maternidade procurar o especialista que
sanaria com nossas suspeitas. Ela, Paula Pamonha. Por sorte a encontramos desocupada, estava com Manu e
Cíntia que tinha ido ao hospital para as meninas provarem a amostra de bem casados que tia Júnia insistiu em
fazer para o casamento de Rebeca.

- Virei fera nisso de ler teste de paternidade... O que tem de mãe que aparece pedindo pra eu falar o

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

resultado para os pais dos bebês. – E nos garantiu. - Já li mais DNA que o Ratinho... De acordo com o
exame nós podemos concluir que... – Paula ajeitou os óculos e pegou um papel da mesa. – Bata as claras em
neve, depois acrescente as gemas sem pele e o açúcar, acrescente a farinha delicadamente e... – Nos
entreolhamos assustadas. – Aaaah, essa é a receita dos bem casados de doce de leite da Tia Júnia. – Agora
entendo o porquê do Pamonha. – Já comeram o de chocolate?

- Paula, e o exame?

- Ah sim... – Paula pegou o papel certo dessa vez e analisou enquanto terminava com seu bem casado. – De
acordo com esse exame e o material genético fornecido ao laboratório, a Natália tem uma meia irmã.

Nova troca de olhares entre nós cinco. Em um gesto automático voltamos a falar do casamento como se
tivéssemos feito um acordo para que ninguém tocasse naquele assunto com alguém de fora. Logo que
trocamos de assunto ouvimos batidas na porta. Era Duarte. Não sei se Paula, Manu ou Cíntia perceberam,
mas quando Paula abriu a porta e Duarte apareceu, ela e Júlia trocaram um olhar mais demorado e havia um
clima estranho por volta da nossa chefa residente.

- Doutora Paula, uma mulher com apendicite aguda esta grávida de 26 semanas. Será que poderia entrar
comigo na cirurgia?

- Me troco em dois minutos.

Paula se despediu de nós. Duarte mais uma vez mirou Júlia e em seguida saiu da sala. Nos despedimos das
meninas e pegamos as crianças e resolvemos comer ali pelo centro mesmo em uma pizzaria. Na primeira
oportunidade que ficamos sozinhas voltamos a tocar no assunto.

- O que você vai fazer? – Eu perguntei curiosa. – Amanhã a gente vai encontrar com a Nat na prova do
vestido. Você vai falar com ela?

- Eu tenho que ir mesmo nessa prova de vestido? – Júlia perguntou irritada. Cíntia tinha inventado das
meninas todas (Júlia, Nat, Isa, Manu, Paula, Giovanna, Laísa, Rebeca, Ingrid, sócia de Silvinha, Heleninha,
Duarte, mamãe, Dona Regina, Tia Júnia e eu) fazerem o vestido do casamento no mesmo costureiro. Eu
achava gostoso e divertido aquele mundo de mulher se trocando junto, fofocando, só faltava mesmo à
doidinha da Silvinha que estava chegando de viagem para a bagunça ficar completa. O que era divertido para
mim era um martírio para Júlia que tinha declarado guerra ao costureiro, Ernani Vildomar, mas que preferia
ser chamado de Nani. – Aquela cara é o demônio, ele não gosta de mim e fica espetando minha bunda de
propósito...

- Júlia, eu te fiz uma pergunta sobre sua irmã, da pra você me responder?

- Não te respondi porque eu não tenho ideia do que fazer. - Ela me confessou. - A Nat não esta olhando na
minha cara... Como eu vou falar isso para ela? – Júlia se questionava. – E...

- E?

- Bobeira minha...

- Fala...

- A Nat tem uma irmã. – Fez um gesto negativo, baixou os olhos. – Ela tem uma irmã de sangue, que talvez
seja parecida com ela... Que talvez tenha outros irmãos e ela esta com raiva de mim... – Triste. – Será que ela
ainda vai me considerar uma irmã?
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Não consegui deixar de sorrir com aquela pergunta.

- Júlia, pode não parecer agora, mas a Nat não é só sua irmã. Ela também é sua amiga e você faz parte dela
como ela deve fazer de você. E por mais que vocês duas sejam cabeça dura em não querer conversarem uma
com a outra... – Júlia fez um bico, esta irredutível em sua decisão de esperar a Nat vir falar com ela. – Vocês
se amam... – Botei uma pausa na conversa. – Você percebeu que a Duarte...

- Ela ouviu.

- É, ela ouviu...

No dia seguinte tudo normal, deixei João na escola e fui trabalhar. Minha mãe ficaria com Heleninha. No
hospital estava tudo bem corrido eu tinha que ficar de olho na grávida do apendicite e nos outros pacientes de
Duarte que estavam em pós operatório e ainda fui bipada para uma emergência junto com Isa. Um sujeito
tinha chegado com um pepino enfiado lá e o pepino quebrou ao meio. Um corre corre danado entre acalmar o
entalado, conter o bando de “fi fis” que ficavam na porta assuntando sobre o entalado. Ai também aparece
cada coisa nessa emergencia que dá medo. E ainda tinha que agüentar Cíntia ligando de cinco em cinco
minutos.

- Ela parece ser a noiva, fica me ligando pra saber do vestido toda hora...

- Também Isa, você vai de preto no casamento?

- É uma cor como outra qualquer...

- Isa, você esta vendo um véu de viúva...

- Vocês ao acham que eu devo expressar de alguma forma meu luto pela decisão da Rebeca?

- Isa o que acontece? – Eu provoquei. – Você esta chata porque esta sem mulher ou esta sem mulher porque
é chata e... – Vaca, me beliscou. – Isso dói.

- Bem feito!

- Cuidado, hein! Minha namorada é grande!

Falando nela, só encontrei com Júlia tarde da noite no apartamento de Silvinha junto das outras meninas e da
costureira. Enquanto Cíntia lutava com uma das ajudantes de Nani no quarto para apertar o vestido de
Rebeca, Júlia e Nani protagonizavam um combate lá na sala. Era engraçado que ele era baixinho, meio
gordinho e todo cheio de dar pinta enquanto Júlia fazia aquela cara de invocada e achava tudo que ele
escolhia quente, “piniquento” ou desconfortável. Júlia estava em cima de um banquinho e ele com seus
alfinetezinhos matadores. Nós morríamos de rir, parecia aquele filme do Miss Simpatia quando enfiam a
Sandra Bullock no meio das misses.

- AIIIII!!! – Um alfinete havia entrado em um lugar indevido. – Minha coxa!

- Minha bela, quantas vezes eu tenho que te pedir para juntar essas pernas? – Nani se perguntou nervoso.
Ajeitou seus óculos de aros grossos e vermelho no rosto. – Júlia!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-Mas elas nasceram separadas! Eu não tive culpa... – Nani ergueu os olhos e enfiou de novo o alfinete pouco
se importando com a carranca de Júlia. – AAAAIII!!! Eu desisto, eu desisto... chama a Silvinha pra
madrinha... Eu desisto e... – Nani enfiou a mão no decote de Júlia para ajustar seus seios. – Ow, ow, ow, que
é isso? – Ofendida. - Folgado!

Nossa “noite das meninas” foi interrompida com a chegada de Gabriel. Com uma péssima notícia.

- Me passaram agora, uma fuga em massa da penitenciaria de Porto Feliz. – Outra cidadezinha próxima a
Silvéster. – Conseguiram pegar a maioria dos presos, mas dez fugiram... O Fumaça estava entre eles!

- Que perigo! – Nani disse boquiaberta admirando Gabriel. Agarrou ao braço dele. – Me protege, seu
polícia?

- Dá licença, estamos tendo um assunto sério! – Júlia retrucou com Nani, virou-se para Gabriel. – Você acha
que ele pode ir procurar à namorada?

- Ela é nossa única pista! Mandei dois homens irem até a casa que ele estava, tem mais dois lá na Vila Miséria
e vou fazer uma ronda pela cidade agora.

- Eu posso ir junto?

- E o vestido? – Nani se intrometeu e quase levou um safanão pela cara. – Acho que você já pode tir ar, esta
liberada.

Conhecendo Júlia como eu conhecia já imaginava que seria besteira eu pedir para ela não ir com Gabriel, para
ela deixar a policia resolver as coisas. Arrastei Júlia até o quarto para nos despedirmos com mais privacidade.
Depois de colocar sua roupa não resisti e abracei minha namorada com medo que acontecesse alguma coisa.

- Eu te amo tanto... – Murmurei entre um dos beijos propositalmente para ela não me escutar. – Tanto...

- Que foi? – Ela me perguntou sem entender. – O que você disse?

- Disse para tomar cuidado... Se cuida, tá bom?

Por mais óbvio que fosse, ainda não estava preparada para me declarar, embora sentisse necessidade de
externar meu sentimento. Sei lá, no mundo de hoje todo mundo fala eu te amo sem querer dizer nada e três
dias depois esta com um novo alguém. E eu tinha medo de assustá-la como aconteceu com Bruno e Rebeca.
Queria guardar uma ocasião especial. Quando eu caia em um ato falho e deixava escapar sem querer fingia
que disse outra coisa. Ela também nunca tinha me dito abertamente, sei lá, achei melhor esperar... Trocamos
mais uns beijinhos e lá foi ela com Gabriel. Os dois passaram a noite rondando a cidade Gabriel notou que
Júlia estava mais contida que o costume e logo perguntou o que estava acontecendo.

- Biel, posso te fazer uma pergunta?


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Pode!

- Como você e a Nat encontraram aquela mãe dela antes de vocês se casarem?

Isso fazia muito tempo. Nat tinha apenas dezesseis anos e Gabriel dezenove para vinte.

- A gente não sabia por onde começar e fomos perguntar para os funcionários do hospital, para o pessoal que
trabalhava na casa dos seus pais quando a Nat nasceu e um peão da fazenda me contou que uma vez ouviu
uma conversa do teu pai com a Duarte falando que ele descobriu que uma prostituta jogou um bebê no lixo e
que veio procurar ele para pedir dinheiro e não entrar na justiça passando a guarda desse bebê para os avôs
maternos dela e tirar dos seus pais.

- O bebê era a Nat?

- Evidente que sim...

- E como chegaram nessa prostituta?

- Júlia, a gente tem a mesma faixa etária... – Riu. – Não se faça de santa, antes da Marcinha você e eu
sabíamos muito bem ter acesso a zona da cidade... Eu comecei a fazer perguntas sobre o caso do bebê
jogado no lixo até chegar a essa mulher... Ela não era mais prostituta, quando conseguimos o endereço dela
descobrimos que ela morreu em um incêndio em casa dois meses depois que a Nat nasceu...

- Conseguiram como?

- Conseguimos o contato de uma amiga dela.

- E essa amiga contou a vocês que ela tinha engravidado da Nat?

- Elas tinha ficado mais de um ano sem se falar porque essa amiga que era vizinha dela tinha ido viajar para
casa da mãe e ficou lá por esse tempo. Em uma das cartas ela contou que estava esperando um bebê. A
história se encaixava. Não deu pra gente comprovar isso com um DNA porque a Nat precisaria de uma
autorização especial da sua mãe porque era menos de idade e a mulher estava completamente carbonizada.
Nem as digitais sobraram. – Concluiu. –Mas por que você esta me perguntando isso?

- Por que eu encontrei uma meia irmã da Nat por parte de pai. – Gabriel arregalou os olhos assustado. – Só
pode ser por parte de pai...

- Mas como você encontrou?

-Por causa daquele leãozinho que a Nat sempre carrega com ela, lembra? – Gabriel fez um gesto afirmativo. –
Então segura essa história que eu vou te contar...

Aos poucos Júlia foi explicando todo processo que passamos para encontrar Diná e mostrou a ele o exame
positivo.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Mas quem é essa mulher?

- Eu fiquei pensando. Só pode ser a filha de criação dele. Ela deixa a escova na casa do pai e eu devo ter
pegado a escova errada que no fundo era a certa. Eu lembro que ele me disse que a filha dele tinha 29 anos.
Quatro anos há menos que a Nat. Se essa mulher morreu dois meses depois que teve o bebê ela não pode ser
mãe dessa menina, então ela são meia irmãs por parte de pai...

Gabriel sorriu.

- Quer dizer que a Nat, com toda aquela seriedade, aquele jeito de senhora de si poderia ter um pãe? –
Dessa vez ele gargalhou. – Essa eu pagava pra ver... A Nat filha da Beyoncé... Quem diria...

Júlia riu.

- Sabe, ele parece ser gente boa... Às vezes a gente precisa disso na vida, uma agitada, purpurina. Pra Nat
não ia ser ruim não. Mas tem mais coisas. A Duarte sabe de alguma coisa e não quer me contar.

- Como assim?

- A Alessandra aquele dia foi no hospital só pra procurar a Duarte. E a Alessandra tinha descoberto alguma
coisa importante, ela só não teve tempo de contar.

- Como você sabe disso?

- A Alê ligou pra Alice no dia... Não foi tentativa de assalto aquilo... A Alessandra morreu por queima de
arquivo. A Rebeca só apanhou, sei lá... Por que estava no lugar errado e na hora errada. Esse Fumaça esta
protegendo alguém e a gente precisa saber quem é... Rápido antes que essa pessoa arruma um jeito de
escapar... Por isso me promete Gabriel, você vai pegar esse moleque, não vai?

Gabriel fez um gesto afirmativo.

- Agora é questão pessoal também... Eu devo isso pra você, pra Alice, pra Nat, pro bruno, pra Rebeca e pra
Cíntia. Cedo ou tarde esse moleque e quem tiver junto com ele vai cair... Mas eu estive pensando, eu lembro
da casa daquela mulher amiga da mãe da Nat, a gente pode passar lá também pra vê se consegue alguma
coisa.

- Pode ser!

Os dois chegaram em casa só de manhã. Rodaram a cidade a noite inteira e nenhum vestígio do Fumaça. Júlia
não tinha nem condições de ir trabalhar. Mais uma vez deixei João no colégio e fui para o hospital. Voltei às
sete da noite e a casa de Júlia ainda estava fechada. Não me preocupei, Cíntia tinha passado por lá e Júlia
tinha acordado para almoçar e depois voltou a dormir. Sono acumulado de tantos plantões que andava
virando.

Eu corria pela casa juntando as bagunças de Heleninha e de minha mãe a espera de Taís Dornelles, advogada
especializada em vara de família que eu tinha contratado para cuidar do processo da minha filha. Eu já tinha
visitado seu escritório diversas vezes e Taís já me representava legalmente na causa. Ela ia lá em casa pois
faltava eu assinar uma via para fazer não sei o que e ela tinha me avisado de ultima hora. Como eu estava
morta de cansaço, minha advogada fez a gentileza de ir até lá com a tal via.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Taís era uma mulher bonita, tinha por volta de 36 anos, mas parecia ser menos. Descendente de orientais
seus olhos rasgadinhos e o cabelo escuro e bem cortado combinavam perfeitamente com seu jeito vestir
impecável e o modo contido. O currículo recheado de causas ganhas foi o que me motivou a aceitar seus
serviços.

Ela chegou por volta de sete e meia em casa já que o papelzinho pra eu assinar nas mãos. Quando ela entrou
na sala que tinha carrinho para um lado, cheia de forros de edredons para Heleninha não cair no outro,
brinquedos, mamadeira e chupeta sobre a mesa parecia uma nobre entrando na favela. Sorri com a minha
comparação. Antes de Silvéster minha cara era tão impecável.

- Não nota a bagunça Taís... Você aceita um café?

- Eu vou aceitar...

Enquanto bebíamos o café fiquei conversando alguma coisa sobre o caso e também sobre Silvinha e Ingrid já
que ela era amiga das meninas. No meio da conversa fui interrompida por Heleninha que tentou ficar de pé
quase derrubou uma das cadeiras da mesa. Peguei ela no colo para tentar fazer passar o susto, mas Heleninha
só se calou quando sua queridinha entrou em casa. Júlia estava com um baby dool de dormir escuro de
elanca, pela cara de sono tinha acabado de acordar.

- DUÁ, DUÁ!

Eu já estava acostumada em ver aquele mulherão da Júlia usando quase nada ou nada quando estávamos
sozinhas, mas a coitada da Taís não. O rosto dela de amarelo passou para rubro. Júlia desligada nem
percebeu o efeito que tinha causado na mulher. Logo ela pegou Heleninha no colo e veio me cumprimentar
com um selinho mais demorado. A Taís já sabia que eu tinha uma namorada, mas saber é bem diferente de
ver, né?

- Taís essa é a Júlia, minha namorada... – Taís não sabia se estendia as mãos, o que fazia, mas Júlia resolveu
seu problema lhe dando dois beijinhos de comadre. – Júlia essa é a advogada...

- A Alice tinha me falado de você, sobre o caso da Heleninha...

- E... Ela também me disse sobre você... – Os olhos de Taís mediram Júlia de cima a abaixo. – Sobre a
namorada...

- Eu estava tirando umas dúvidas aqui com a Taís sobre o processo... – Júlia estava sentada ao meu lado,
segurava minha mão. - Tem problema ela ficar junto, Taís?

- Não, nenhum...

Taís demorou menos de meia hora com nós duas. Ela estava inquieta e comentou que a temperatura tinha
esquentado. Júlia e eu distraídas só percebemos que ficamos de mãos dadas o tempo todo no final da visita.
Julguei que foi por isso que ela não tirava os olhos de Júlia. Droga, eu tinha avisado que tinha uma namorada,
só faltava ter problemas daquele tipo com a advogada que ia me defender.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Você acha que ela se incomodou ou algo do tipo? – Eu perguntei a Júlia.

- Sabe que eu acho? – Júlia me deu um beijo. – Que ela achou a gente um casal lindo! Agora podemos
jantar? Estou morta de fome e quero te contar um negócio que o Gabriel me contou sobre a Natália... – Me
abraçou por trás e deu uma mordidinha na minha orelha. – A cachorrinha esta com fome...

Eu dei uma risada.

- Antes de eu mudar pra cá você tinha casa, fazia comida, que é isso agora, hein?

- Arranjei uma empregueti e... – Dei um beliscão em seu braço. – AIIII... Antes era melhor tratada.

- E menos folgada também. Senta ai e vai me contando o que você soube da Nat enquanto eu termino de
fazer o jantar.

_____________________________________________________________________________

Nat nem sonhava o que acontecia em sua volta. Enquanto investigávamos seu passado ela tratava de
trabalhar. Com a viagem de Silvinha, Nat voltou a ser a mesma focada no hospital que era antes de nos
conhecermos. No dia seguinte seria sua primeira cirurgia após o acidente. Os tremores nas mãos já tinham
desaparecido há cerca de dois meses. Tinha estudado o caso e tudo parecia estar ao seu favor. Antes de
voltar a se dedicar a área médica, Nat resolveu dar uma boa organizada nas planilhas de orçamento do
hospital e também em suas contas pessoais. Nat notou que em uma das contas pessoas havia um rombo sem
explicações. Imediatamente pediu que Lisandra ligasse para seu administrador.

- Alô, Medeiros? - ... – Oi, é a Natália Franco Albuquerque. - ... – Será que você poderia me dar uma
explicação sobre um saque de uma conta conjunta que eu tenho com a minha mãe? O valo do saque? – Nat
olhou para o monitor do computador onde estava aberto seu extrato bancário. – Cento e cinqüenta mil reais.
- ... – É, foi esse o valor do ultimo mês e em Abril e Março também teve alguns saques que eu não me
recordo de ter feito. - ... – Não, como eu não recordaria de gastar quase trezentos mil reais em três meses? –
Natália perguntou irritada. – Você pode conferir isso? - ...- É para isso que você é pago, meu caro... - ... –
Não, isso é tudo!

E desligou. Agora digam se não é a Miranda Prisley todinha?

Depois de alguns minutos o eficiente e amedrontado Medeiros retornava para Natália.

- Como é? Abgail Franco, minha mãe fez todos esses saques? - ... - Tem certeza? - ... – Ok Medeiros, boa
noite!

O semblante de Nat fechou em um tom atormentado. Essa conta Nat tinha criado com o intuito de deixar
Abgail independente do dinheiro de Dona Regina. Nat colocou dois milhões de sua própria herança paterna
na conta de presente para mãe em alguma situação emergencial, será que Abgail vivia essa situação? Olhou no
relógio, passava das nove. Decidiu dar seu expediente como encerrado, saiu do Alonso Franco e guiou o
carro até o apartamento da mãe. Ao ver que Nat foi visitá-la e iria jantar com ela, a bruxa da minha sogra até
fingiu que era gente e abraçou Natália com carinho.

- Que saudade de você minha filha... Que abraço gostoso que você tem...
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Mãe deixa de ser exagerada, vim semana passada aqui. Eu precisava conversar com a senhora. Pode ser?

- Claro minha filha, o que foi? – Nat ia falar o que era, mas Abgail a impediu. – Só um minuto, vou pedir pra
empregada servir o jantar.

Em quinze minutos a mesa estava pronta. Abgail e Nat eram servidas, mas a conversa na era nada amena.
Pouco antes da empregada servir a comida, Nat começou a perguntar de forma delicada a mãe sobre o
dinheiro, Abgail não gostou do assunto, mas por fim revelou que andava perdendo muito dinheiro com
investimentos e fez um pedido a Nat. Trezentos mil reais.

-Mãe, trezentos mil? A senhora fez o que, trocou de carro, comprou uma casa? - Nat perguntou a Abgail. -
Nos últimos três meses a senhora esta gastando o dobro do que gastava antes...

- É um fundo de investimentos que uma amiga minha, a Letícia, você conhece ela. - Nat fez um gesto
afirmativo. - Então, o marido dela que é corretor me sugeriu investir e... Natália, que cara é essa, você adora
a comida da cozinheira daqui de casa.

- Muito puxada no alho, cominho... - Natália afastou o prato de comida. - Me embrulhou o estômago. Mas
voltando a falar do nosso assunto mãe, é bom a senhora rever seus gastos... Por favor né?

Ainda ficaram um tempo conversando sobre as finanças da família até que Nat viu que já estava na sua hora.
Despediu-se de Abgail e foi embora do apartamento. Assim que a filha saiu, Abgail correu para telefonar a
Serginho.

- Não posso te dar mais dinheiro!

- Como não? – Serginho perguntou desesperado. Estava no boteco de frente a casa da irmã. Se afastou da
mesa de sinuca. – Garanti pra minha mãe que ia dar uma grana pra ela quando fosse votar pra...

- Seu moleque idiota será que você não percebe que esta acontecendo? – E explodiu. – A Natália esta
desconfiada! Ela veio me perguntar como eu gastei tanta grana assim da noite para o dia!

- Você não vive jogando que tem apartamento, que tem carro, que tem...

- E como eu vou vender um apartamento em dia se eu não consegui vender em três meses? As únicas poucas
pessoas que tem dinheiro no inferno dessa cidade são da minha família! Será que você não percebeu?
Eu preciso de tempo pra fazer um imóvel virar dinheiro...

- O maluco esta com a faca no meu pescoço... A Luana outro dia veio me pedir mais grana, não vai dar pra
eu segurar sozinho por muito tempo não!

- Eu pedi um dinheiro pra Nat, ela não me prometeu nada, mas vai me arranjar!

Os dois trocaram mais algumas palavras e desligaram. Serginho tomou a saidera e resolveu fazer uma visita a
Dona Sônia no hotel que estava hospedado. Dona Sônia percebeu seu jeito apreensivo, mas nada comentou.
Na saída do hotel uma surpresa nada agradável.

- E ai Serginho? – Dona Sônia entrava pela recepção. Fumaça com um boné enterrado no rosto e de barba
feita a observou. – Coroa nova? Trazendo na porta... Namoradinha?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Fumaça? Na-Nada ver...

- É a mamãe, né? – Sorriu. – Melhor, posso dar uma conferida. – Bem gostosinha! – Serginho apertou os
olhos. – Vem, preciso conversar contigo...

Ainda receoso, Serginho acompanhou Fumaça até o ferro velho da cidade.

- E-Eu não sabia que tu tinha saído da cadeia...

- É, se eu dependesse de você ainda estava lá... Mas quem tem amigos tem tudo! Sabe o que é isso,
Serginho? Amigos?

- O QUE TU QUER?

Fumaça puxou Serginho pelos colarinhos e lhe aplicou um soco no estômago fazendo curvá-lo de dor. Levou
outro puxão pelo colarinho e caiu contra um carro.

- O QUE EU QUERO? O QUE EU QUERO? MINHA GRANA! QUERO 150 PILA PRA FUGIR! –
Fumaça rosnou irado. – SE EU NÃO TE ENTREGUEI ATÉ AGORA FOI POR CAUSA DA LUANA E
DOS MEUS DOIS MOLEQUES, MAS SE EU NÃO VER A GRANA EU VOLTO PARA O INFERNO
E TE ARRASTOU JUNTO.

- Eu não tenho a grana... – Outro murro na boca. – Eu não tenho a grana agora... Me da uns dias... Só mais
uns dias. – Outro murro. – Prometo que te dou uma grana alta.

- E vai dar mesmo! Sabe por quê? Porque você não passa de um otário, de um bosta! – Serginho foi se
levantar e Fumaça acertou o pé em seu peito. – Não esquece que eu sei onde tua mãe e tua irmãzinha putinha
gostosa que me entregou moram! VACILÃO DE MERDA!

Bem feito! Agora rebola sozinha malandro. Se não fosse pela coitada da rebeca e a inocente da dona Sônia
eu estaria era comemorando essa sova. Quem mandou se meter com um sete um? Serginho demorou meia
hora para se recompor e chegar em casa. Estava com um corte na boca. Isa foi a primeira que viu sua
chegada.

- Tua irmã e a Cíntia vão te matar, vai estragar o álbum do casamento.

- Fui assaltado! Só não diz nada pra Rebeca não, ela não precisa se preocupar e... – Serginho se cortou e
ouviu um barulho do quarto que Manu ocupava (Rebeca e Bruno tinham finalmente comprado um
apartamento juntos e saíram da casa de Silvinha, Manu então ficou com o quarto que era dela e saiu da
pousada a convite de Paula), parecia que estavam arrastando a cama, fazendo uma festa ou algo do tipo. –
Que é isso?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- A italiana dela. – Dava para se ouvir o quanto as duas estavam com saudade uma da outra de lá da sala.
Mais uma vez Giovanna voltava a fazer propostas indecorosas a Manu. Foi à vez de Serginho e Isa se
surpreenderem. Boquiabertos exclamaram ao mesmo tempo pegando o sotaque cantando de Giovanna
emprestado. – Mamma mia!

Quem sofria também com os ruídos do quarto de Manu era Paula não conseguia dormir de jeito nenhum.
Também estava irritada por outros motivos. Depois de se revirar sete vezes consecutiva pela cama
simplesmente desistiu de dormir ali. Pegou seu lençol e travesseiro e tocou no apartamento de Gabriel que era
ao lado.

- Deixa eu adivinhar? – Gabriel perguntou. – Manu e Giovanna?

- Aqui também?

- Minha parede é vizinha com a delas...

- E se a gente falasse com elas?

- E se pedisse a fórmula pra elas? – Gabriel sugeriu fazendo cara de cafajeste. - Quer saber, eu não vou me
estressar... – Percebeu que o bico da Pamonha talvez fosse por outro motivo. – Aconteceu alguma coisa?

- É que... Acho que você tem razão e se explicou. - Estou com um pouco de inveja delas... – Gabriel encarou
sem entender. – Hoje é meu aniversário de casamento... O Lucas achou que estaria no Brasil, mas ele tinha
compromissos lá no Alaska.

- E só por causa disso você vai deixar de comemorar o seu aniversário de casamento? Quer saber? Vamos
sair agora! – Paula o encarou surpresa. – Você tem um aniversário de casamento pra comemorar. Coloca
uma roupa bonita, em meia hora te espero lá embaixo...

- Gabriel...

- Faz o que eu estou dizendo, mulher...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Paula obedeceu ás ordens de Gabriel com uma sorriso nos lábios. Em menos de meia hora o esperava na
portaria do prédio com as chaves do carro na mão. Gabriel desceu com os capacetes.

- Mas a gente vai de moto? Você nunca me levou de moto pra lugar nenhum...

- E alguma vez você pediu? – Gabriel perguntou com um sorriso nos lábios. – Eu sei que você odeia balada,
quer ir pra outro lugar?

- Não sei o que a gente vai encontrar aberto agora, essa hora os restaurantes já fecharam todos...

- Então você quer comer e beber bem? Precisa falar mais nada...

Gabriel e Paula pararam com a moto e meia hora depois pararam em frente a um buffet que produzia uma
festa dessas enormes de debutantes. Gabriel mostrou o distintivo policial e conseguiu entrar na festa ao lado
de Paula sem maiores problemas. Estava bem na hora dos parabéns. O nome da debutante estava escrito em
um telão gigante: Larissa. É claro que o cara de pau do Gabriel era um dos mais animados em cantar os
parabéns e chegou até a puxar o “Com quem será...” para a aniversariante. Logo conseguiu duas taças de
champanhe, entregou uma delas a Paula.

-Isso é abuso de poder usar seu distintivo para...

- Viu, nem me importo de ir contra lei se for pra te dar uma festa de aniversário de casamento. – Paula sorriu
desarmada. – Eu sou o cara, não é? Pode falar...

- Você é louco! Penetra?

- Se o cara entra de penetra na sua festa, deixa... Se ele foi sem ser convidado é que ele esta muito a fim de
curtir... – Outro sorriso de Paula. – Pelo menos era essa teoria que a Júlia e eu usávamos para não ter
sentimento de culpa quando fazíamos coisas desse tipo na festa dos outros. Paula ainda sorrindo fez um gesto
negativo. Eram doidos mesmo! Olharam em volta, o lugar era lindo, um campo enorme com um lago bem no
meio. - Fala a verdade, valeu a pena, né? – Os dois brindaram. Gabriel olhou em seus olhos. – Feliz
aniversário de casamento, Pamonha... Posso te fazer uma pergunta? – Paula fez um gesto afirmativo. – Por
você tinha tanta raiva de mim...

Paula sorriu de um jeito triste.

- Trauma de juventude ainda... No meu baile de formatura da faculdade, você tinha prometido ir comigo na
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

festa e não apareceu porque a Nat teve uma briga com a mãe e você quis ficar do lado dela... Eu não entrei
no baile e sempre fiquei pensando como teria sido se você fosse. Aquela época não dava nem pra concorrer
com ela... Era covardia comigo...

- Nunca achei isso. – Paula ergueu os olhos. – Sabe porque eu nunca tinha chamado você pra sair e nem
nada? Achava você inteligente demais, séria demais e eu... Quando você me chamou pra sair sei lá, parecia
que estava me pedindo um milhão de dólares... E quer saber? Hoje é covardia com a Nat concorrer com
você... Você ficou linda, Paula...

Só saíram da festa ás três e meia da manhã. Ainda estacionaram a moto e admiraram o nascer do sol de uma
das margens do Rio. Ás seis da manhã se despediam na porta de casa. O prédio estava um completo silêncio
apenas o radio de um apartamento ligado bem baixinho. Gabriel apurou os ouvidos e identificou a música.

The dawn is breaking

A light shining through

You're barely waking

And I'm tangled up in you

Yeah

But I'm open, you're closed

Where I follow, you'll go

I worry I won't see your face

Light up again

- Valeu.

- O que?

Even the best fall down sometimes

Even the wrong words seem to rhyme

Out of the doubt that fills my mind

I somehow find, you and I collide

I'm quiet, you know


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

You make a first impression

I've found I'm scared to know

I'm always on your mind

- A pena! – Gabriel sorriu. – Melhor aniversário de casamento da minha vida! – Gabriel se aproximou do de
Paula para beija-la. No ultimo instante Paula desviou o rosto e deu um demorado beijo em sua bochecha. –
Obrigada, você foi um amigão...

Deu um novo sorriso e começou a procurar as chaves do apartamento na bolsa, mas foi interrompida por um
beijo de Gabriel sobre seus lábios. Violento, agressivo e doce. Correspondeu na mesma intensidade,
enlaçando o pescoço dele. Só se separaram ao ouvirem barulho de passos na escada, com um sorriso nos
lábios se despediram. Gabriel em seu apartamento com um sorriso nos lábios e com a mão sobre a boca
como se segurasse o beijo.

Even the best fall down sometimes

Even the stars refuse to shine

Out of the back you fall in time

I somehow find, you and I collide

Don't stop here

I've lost my place

I'm close behind

Na cozinha do apartamento de Silvinha, Paula cruzou com Giovanna que havia acordado com sede.

- Seu celular tocou a madrugada toda... Acho que era o Lucas. Não deixou ninguém dormir...

- Irônico você falar em deixar alguém dormir, né dona Giovanna?! – Paula brincou avermelhando o rosto de
Giovanna. – E deixa o Lucas pra lá, se ele quiser liga de novo... – Feliz deu um beijo estalado no rosto de
Giovanna. – Buon giorno, Giovanna!

E foi para o quarto toda contente cantarolando um trechinho da música que tocava no rádio do vizinho.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Even the best fall down sometimes

Even the wrong words seem to rhyme

Out of the doubt that fills your mind

You finally find, you and I collide

You finally find

You and I collide

You finally find

You and I collide

_______________________________________________________________________

Apesar da noitada, Gabriel junto de Júlia ainda acharam tempo para irem juntos atrás da tal ex vizinha da mãe
morta de Nat. Eu só fui saber dessa história a noite quando pedimos para Cíntia fica com João e Heleninha e
fomos ver um presente de casamento para Bruno e Rebeca em uma loja lá no meio do centro da cidade.
Como eles não colocaram lista em uma loja especifica ficamos batendo perna até entrarmos em uma magazine
bem grandona que tinha de tudo desde comida até roupas de festa passando por brinquedos, eletrônicos,
livros, CDs.

- Já trabalhei aqui quando era mais nova... – Júlia me contava. – Como eu fazia faculdade em perigo integral
eu ficava aqui a noite tomando conta da loja... – Júlia pegou um carrinho de compras. - O dono era um
antigo colega do meu vô.

- Júlia você ainda não me disse o que foi fazer com o Gabriel de tarde... – Andávamos com o carrinho pelos
corredores de comida da loja. Peguei leite em pó, papinha e mais algumas coisas que faltavam. – Vocês não
foi com ele atrás do Fumaça de novo, foi?

- Não... – Ela baixou os olhos sem graça. – A gente foi atrás da vizinha da mãe da Nat...

- Vizinha da mãe da Nat? Júlia, você não me prometeu?

- Eu concordei, mas eu não prometi. – Joguei dois pacotes de fraldas no carrinho. Ela percebeu meu olhar de
raiva. – Você não quer nem escutar o que a gente descobriu?

- Não sei se é certo...

- É? Então escuta... Chegamos lá no tal endereço, era em Serro Azul. A mulher não mora mais lá, a família

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

internou ela em um asilo meio afastado da cidade... Sorte que uma vizinha dessa vizinha tinha o endereço e o
nome completo dela e nos passou. A gente chegou no asilo e pediu para falar com ela.

- E deixaram?

- Com o distintivo da policia o Gabriel consegue abrir muitas portas. Essa tal de Dona Laíla foi internada
porque tem Alzheimer e os filhos não quiseram saber...

- Então não adiantou nada?

- Pelo contrário. Alice, a Nat não é filha de prostituta nenhuma. – Virei meu rosto na direção dela. – Daquela
pelo menos não é...

- Como assim não é?

- A mulher tem Alzheimer, mas felizmente parecia estar consciente. E sabe o que ela disse quando contamos a
história da Nat? Que essa tal prostituta que se chamava Denise Ramares de Souza tinha ficado grávida uns
dois anos antes da Nat nascer, teve complicações, perdeu o bebê e tiveram que retirar o útero dela. Se ela
não tinha útero, como ela ia ter a Nat?

- E como vocês chegaram nessa mulher? – Júlia repetiu toda conversa que havia tido com Gabriel de tarde. -
E vocês vão confiar na memória de uma mulher com Alzheimer?

- Tem registro em um hospital de Serro Azul sobre o caso. Esta tudo lá. A história da mulher bate. – Abri
minha boca surpresa, ok, por essa eu não esperava. – Alice e tem mais coisa, só que ela começou a falar
nada com nada teve uma crise e me expulsou com o Gabriel de lá... A enfermeira dessa dona Laíla disse que
é assim. Ela passa algumas horas consciente, depois sai fora do ar por dia e depois volta... Eu deixei meu
telefone com ela caso a mulher volte a falar... E eu vou com o Gabriel falar com a Diná amanhã...

- Júlia...

- Também envolve a filha dele. Ela tem uma meia irmã... A Duarte te comentou alguma coisa sobre ontem?

- Não...

- Tá no olho dela... Ela sabe de alguma coisa e não quer me contar. – Entramos na sessão de roupas.
Observamos umas lingeries, camisolas de dormir bonitinhas, tinha uma camisola cor de grafite, meio
transparente embaixo, curtinha e com o bojo todo feito em renda. Simplesmente linda. – Alice, é teu número,
olha...

- Linda, né?

- Por que você não experimenta?

- Tem que comprar o presente do Bruno e da Becca... - Júlia pegou a camisola e deu na minha mão com uma
carinha daqueles cachorros que ficam em frente à máquina de frango assado na porta das padarias, ela me fez
rir. – Daqui a pouco a loja esta fechando...

- Rapidinho...
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Não consegui dizer nãoi aquela carinha pidona. Dei um beijo rápido em minha namorada, peguei a camisola
de suas mãos e fui até o provador. Tirei minha roupa, o sutiã e vestia camisolinha. Ela batia um pouco acima
das minhas coxas e minha calcinha preta de renda tinha combinado com ela. Eu tinha cortado os cabelos
naquela semana, ele estavam batendo na altura do ombro e tinham ganhado um pouco de volume me dando
um ar mais de mulher. Eu senti a porta daquela micro cabine se abrir e quase berrei de susto. Sorte que perdi
a voz quando vi que se tratava de Júlia. Ela me deu um sorriso lindo ao me olhar com a camisolinha. Sua boca
procurou pela minha e dei passagem a sua língua. Trocamos beijos ali por uns dois minutos e a razão veio
bater na minha cabeça.

- Júlia se te pegam aqui...

- Qualquer coisa, vim te ajudar... – O timbre da voz dela estava meio falho, eu conhecia aqueles olhos bem e
já sabia que quando escureciam daquele jeito era seu desejo falando mais alto. Ela deu aquele sorrisinho
cachorro que me matava de tesão. Mordeu minha orelha quase me fazendo subir pelas paredes e sussurrou.
– Quando eu vi essa camisola logo pensei: “Júlia, você tem que arrumar um jeito de tirar ela da Alice”...
Gostosa...

- Você não pensa em outra coisa não, sua safada? – E entre beijos murmurei. – Linda...

E lá voltei eu para o cantinho da cabine com Júlia pressionando o corpo sobre o meu. Da onde tirar forças
para dizer não, senhor?

_______________________________________________________________________

- Nat, da pra parar de ser chata e uma vez na vida me escutar? – Duarte cobrou impaciente e ordenou a uma
das enfermeiras. – Prepara uma das máquinas de ultrassom.

- Eu estou ótima Duarte... Só foi um enjoo passageiro. Também esse café do hospital estraga o estomago de
qualquer um. Eu tenho minha primeira cirurgia para voltar a fazer e... – Paula chegou na sala. – Chamaram a
Paula aqui, pra que? Gente, irritação estomacal existe.

- Tudo bem, então a doutora Paula e eu vamos ver seu estomago.

Depois de tanta insistência Nat concordou em fazer a ultrassonografia.

- Isso é ridículo, viu! Eu podia estar salvando vidas agora...

Enquanto Nat se preparava para o exame, uma figura conhecida descia de um táxi na porta do hospital tinha
acabado de chegar na cidade. Silvinha nem se deu ao trabalho de deixar suas malas em casa. Voltou dois dias
antes do previsto para fazer surpresa a namorada. Assim que entrou no Alonso Franco encontrou com
Lisandra, secretária de Natália.

- Silvinha!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Oi Li, tudo bem? – As duas deram beijinhos de comadres. – Sabe onde eu posso encontrar a Nat?

- Lá no consultório da Paula, esta lá com a Duarte junto.

- Obrigada!

Despediram-se e Silvinha pegou o elevador e apertou o andar da maternidade acreditando que Nat estava
atendendo algum paciente. Mal sabia ela o que lhe esperava. Silvinha subiu por um elevador e Gabriel entrou
no Alonso, outro que encontrou com Lisandra, se informou com ela onde poderia encontrar Paula, carregava
um buque de flores. Tinha descoberto com Manu que Paula adorava lírios.

- Lá no consultório. Ela esta lá com a Nat e com a Duarte.

- Obrigado.

E subiu para o andar da maternidade.

_______________________________________________________________________

Não sei quanto tempo eu fiquei com Júlia naquele provador de roupas. Só sei que quando a razão voltou a
minha cabeça eu estava sentada sobre as pernas dela sem forças para me levantar. Apenas levantei a cabeça
de seus ombros e perguntei.

- Que horas são...

- Tá cedo... – Peguei no pulso de Júlia, passava das dez. – Deve estar começando a novela agora...

- Júlia dez e doze...

- QUE?

Desesperada enfiei minha roupa de qualquer jeito, Júlia também tentava se ajeitar, abri a cortina do provador,
tudo apagado. Não, não, não, aquilo não estava acontecendo comigo.

- Júlia, não vai me dizer que...

- A gente esta presa na loja...

_______________________________________________________________________

- Vocês vão ver, isso é comida. – Terminavam de passar o gel na barriga de Nat. Paula começou a dar as
primeiras passeadas com o censor do aparelho de ultrassom e umas manchinhas apareceram no monitor. – Só
pode ser comida e... Silvinha? Amor...

- Nat? Amor, achei que você estava atendendo, aconteceu alguma coisa? – Silvinha correu para junto de Nat.
– Te machucaram, te...

- Não, eu que comi alguma coisa que não me fez bem e... – Nat olhou para o monitor boquiaberta. Duarte
também tinha levado um susto mas em seguida sorriu. – Eu estou grávida?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Silvinha arregalou os olhos e encarou Paula surpresa.

- Isso é um bebê?

- Não é um bebê! – Paula garantiu. Respiraram aliviadas. – São dois bebês.

- Dois bebês? - Silvinha e Nat se perguntaram ao mesmo tempo. Dois bebês? - De dez semanas. -

Dois? – Nat perguntou tão surpresa que se sentou. –Dez semanas? Mas... – Começou a fazer as contas
desesperadas. – Não... Não... Aquele energúmeno, aquele imbecil, aquele cafajeste do Gabriel não...

- E são bebês univitelinos!

E o energúmeno, imbecil e cafajeste chegava na sala. Todo contente sem nem saber o chumbo grosso e em
dose dupla que estava por vir. Ele só ouviu Paula comentando que os bebês nasceriam idênticos.

- E ai? Quem vai ter bebê?

Ao ver Nat já de pé com a camisola do hospital o sorriso de Gabriel se desfez. Ela o fulminava com o olhar.
Paula e Silvinha faziam o mesmo, como se combinassem as três deram um passo à frente.

- Calma, será que alguém pode me explicar o que esta acontecendo?

E congela no trio Silvinha, Nat e Pamonha se preparando para dar o famoso “Parabéns ao papai” para o
Gabriel.

End Notes:

Cenas seguintes:

- Que é isso menino? - Abgail perguntou ofendida. - Esta duvidando de mim?

-Cinco mil? - Serginho se irritou. - Isso aqui mal da para pagar as despesas da
minha mãe naquele hotel. Você prometeu a grana!

_____________________________________________________________

- Eu já disse que preciso de uns dias.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Meio contrariado Serginho enfiou o dinheiro. Escondida em um dos pilares da


construção Luana tirava fotos de toda aquela conversa dos dois. Abgail falou
mais alguma coisa a Serginho e se despediu dele. Luana tirou uma ultima foto
e foi conferir as imagens. Em pelo menos três fotos saia bem nitido o rosto de
Abgail. Mesmo de óculos escuros dava para reconhece-la.

- Descobri tua fonte, Serginho! Acabou o jogo moleque!

______________________________________________________________

_____________________________________________________________

Então meninas, nas minhas conta vou escrever éramos até o cap 70. Entramos na reta
final, beijooos!! Alguém ai já tem sugestões de finais aos personagens preferidos?
Bjoooo!!!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 60 by Tamaracae

Author's Notes:

Bom... No ultimo capítulo alcancei uma marca que nunca pensei que ia conseguir com
esse: conto 1000 coments e um pouquito mais!!! Obrigada, obrigada, e mais uma vez
obrigada, agradeço a cada um de vocês o carinho, a atenção e a paciencia que vocês
tem comigo! Assim como a Alice, a Júlia, a Nat e todos os outros personagens que
descrevi aqui são especiais pra vcs, cada uma de vcs tbm são especiais para eles e eu
tenho autoridade para falar isso porque conheço muito bem todos eles. Mais uma vez,
obrigada!

Capítulo 60 esta ai, bjooooos!!!

AAAAAAAh pra quem não sabe hj é dia do irmão, então vou dedicar o capítulo as
minhas irmãs de coração Paulinha Pires e Bruna Cezário. Deus só não botou a gente
na mesma casa pq sabia que uma mãe só não ia dar contar das três =p

E Cap dedica também a Mari, autora do ilésimo comentáriooo

bjooo!!

___________________________________________________________________________

Músicas do cap:

Robocop Gay - Mamonas Assassinas <3 http://www.youtube.com/watch?


v=H45_xz9-Bg8

Acima do sol - Skank - http://www.youtube.com/watch?v=iQfienoYHFE

Raindrops keep on my head - B.J Thomas http://www.youtube.com/watch?


v=ZIqxnYZZNB8

This Year's Love do David Gray - http://www.youtube.com/watch?v=wGtYgb4c2j0

- EU TO PRESA AQUI DENTRO! – Eu procurava berrar com toda a força dos meus pulmões no meio da
loja. – SOCORRO! EU ESTOU PRESA E...

- Alice, não grita! – Júlia me repreendeu.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Era só o que me faltava, eu tenho pavor dessas coisas de ficar trancada. O que você quer?– Eu perguntei
desesperada. – Que eu tenha uma crise de claustrofobia com educação? SOCORRO!

- Daqui a pouco vai estar cheio de polícia ai achando que a gente vai assaltar a loja... – Júlia retrucava
enquanto tentava ligar o celular. – Porcaria também, essa bateria que cai em uma hora... Cadê teu celular?

- Bateria também caiu... – Eu rosnei irritada com aquela situação. Dei um tapa em seu braço. – Culpa do teu
fogo desgraçado! Viu o que você fez?

Júlia deu uma risada de deboche recheada de raiva.

- AAAAAH... E agora eu fiz tudo sozinha? Não lembro da senhora no provador relutando comigo não... –
Júlia pegou um pacote de bolachas da prateleira, abriu. – E os telefones são todos trancados a chave, pode
esquecer... – Júlia guardou o celular. – E o João e a Lelê com a Cíntia? Eles ficaram lá no apartamento da
Silvinha esperando a gente...

- Meu Deus, as crianças e... Você esta comendo coisa da loja? Júlia!

- Quando destrancarem a gente eu pago... – Júlia me argumentou com aquele jeitão de criança dela. – Vou
ficar morrendo de fome com uma loja inteira pra gente? – Ela me estendeu o pacote. - Quer?

Um tanto amedrontada peguei uma bolacha. Discutimos mais alguns minutos e ela sumiu dizendo que ia tentar
arrumar um jeito de tentar arrombar a porta. Eu fiquei vagando pela loja sozinha, passei pela sessão de roupas
inteira, eletrodomésticos, abri um pacote de pipoca doce e desci para o segundo andar e só encontrei Júlia
meia hora depois na parte de brinquedos. Eu toda preocupada e a bonitona brincando de acertar cestas de
basquete.

- Nossa, vai encontrar uma maneira muito eficaz de sair daqui jogando bola.

- Só amanhã.

- Que?

- Só tem como sair daqui amanhã... Tentei abrir aquela porta de tudo quanto é jeito... – Júlia me garantiu. –
Vamos ter que esperar a loja abrir amanhã cedo... Eu desliguei o alarme e as câmeras do sistema de
segurança pra não disparar lá na caixa de força...

- E você fala na maior calma? – Eu perguntei possessa. – A gente vai ter que passar a noite aqui... A gente...
Júlia... – Ela me abraçava por trás, dava beijinhos nos meus ombros. – Para... Você já viu no que deu... Para
amor... Estou preocupada com as crianças...

Júlia se sentou no chão e me fez sentar entre suas pernas.

- Não precisa se preocupar. Achei um orelhão ali chegando nos banheiros, acabei de ligar pra Cíntia e ela
disse que vai dormir na Silvinha com os meninos... A Isa esta lá com ela e vai ajudar, amanhã de manhã
quando abrirem a loja, a gente passa lá e pega eles.

- Liga para o Gabriel, quem sabe ele consegue soltar a gente com alguns policiais e...

- Eu liguei para ele. O Gabriel esta com uns problemas particulares para resolver... Não vai poder vir...

- Que problemas?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Eu vou te contar... – Júlia deu um meio sorriso. - Você vai cair para trás.

- Com o que?

- Vou ser titia de novo.

Eu me virei assustada. Será que a Rebeca estava grávida? Júlia começou a me contar a história que de fato
começava com a chegada de Bruno na delegacia.

- GABRIEL, VOCÊ É MALUCO OU O QUE? - Bruno esbravejou. – A Duarte me ligou contando uma
história torta que minha irmã esta grávida e foi presa. O que aconteceu? – Seus olhos desceram por Gabriel. –
Você está todo rasgado, arranhado, amassado...

Bom, em alguns lugares do mundo classificariam o que aconteceu como algo chamado barraco, em outros
povos dava-se o nome de arranca rabo ou quebra pau. Nas três hipóteses o importante é saber que o Gabriel
apanhou.

- As três estão malucas. Elas endoidaram de vez, elas... – Gabriel ainda procurava se refazer do susto. – Eu
devia ter virado gay enquanto dava tempo, viu... Mulher tudo maluca... Parecia que eu era torcedor do
Palmeiras no meio da Gaviões da Fiel... Elas estão desequilibradas. Tem certeza que é para mandar soltar
elas?

- Claro que é... – Bruno garantiu. – O que aconteceu?

- A doida da sua irmã se juntou com a louca da Paula e aquele macho da Silvinha... A Silvinha é um macho,
ela me deu uma cotovelada no peito agora que eu acho que quebrou um osso... – Bruno encarou Gabriel
assustado. – Elas querem me matar. Eu vou contar o que aconteceu...

Gabriel ainda confuso tentava colocar os fatos em ordem. Chegou no hospital todo feliz e contente com flores
para a Paula quando cruzou com as três e viu aquele quadro. Ele pediu a confirmação se Nat estava grávida
ou não. Elas começaram a falar ao mesmo tempo com ele e ele pediu três vezes para falarem uma de cada de
cada vez. As três começaram a bater boca entre si e Gabriel tentou intervir mais uma vez sem sucesso, só
calaram quando ele deu o grito fatal.

- OW, COM TODO MUNDO CACAREJANDO AO MESMO TEMPO NÃO DA PRA ENTENDER!

- COMO É QUE É? – Natália perguntou enfurecida, já trocada de roupa, jogou as flores para o lado. –
CACARENJANDO?

- VOCÊ ME CHAMOU DE QUE? – Paula perguntou dando uma ombrada e deslocando Gabriel de lugar.
Gabriel a encarou surpreso fez um gesto negativo, mas já era tarde demais – GALINHA?

- GALINHA É A MÃE... – Silvinha foi a primeira a largar na competição de quem dava mais bolsadas em
Gabriel. – SEU CACHORRO, SEM VERGONHA, CAFAJESTE...

A partir daí Gabriel só viu bolsa pela cara, chute na canela, puxão de cabelo, empurrão. Em outras palavras
deram um pau doido no coitado. Nem explicação ele teve direito de receber. Para sair vivo dessa a única
solução que o pobre Gabriel teve foi levar as três em cana por desacato a autoridade. Para vocês vêem como
eu sou azarada, quando é meu plantão nunca acontece nada desse tipo. Depois de contar a história toda e
levar um sermão de Bruno Gabriel ordenou que o carcereiro soltasse as três da cela.

- Depois não vai dizer que eu não avisei que elas estão malucas.
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Imagina Gabriel, você que não sabe lidar com mulher, tem que usar de psicologia. – Bruno afirmou. - Você
é brucutu ignorante que não entende nada de sensibilidade e... – Nat, Silvinha e Paula chegam à sala de
Gabriel escoltadas por um carcereiro. – Ow, Nat, minha irmãzinha... AIIIII... –Bruno mal teve tempo de
pensar e já levou um safanão da Nat pela cara. – Nat?

- Você estava lá, custava ter me impedido de fazer essa besteira? – Irada. – INUTIL!

Nat saiu pela porta, Bruno não teve tempo de respirar e foi à vez de experimentar o peso da mão de Silvinha.

- Tinha que ter acabado com todo estoque de camisinha da casa junto com a Rebeca? – Enraivecida. –
EGOÍSTA!

Silvinha foi a segunda que saiu. Paula fechou com chave de ouro dando o terceiro tapa no assustado Bruno.

- E ainda veio com papinho que a Nat nunca foi pareô pra mim, CACHORRO!

- Doutora Paula? – Bruno perguntou sem entender. – A Nat é minha irmã! Eu...

Paula parou, apertou os olhos.

- Bruno é você? Menino, estou chamando Silvio Santos de Cauã Reymond... Perdi minha lente de contato,
não enxergo um palmo na frente do nariz... Desculpa. – Caminhou até Gabriel que levou o tapa. - GALINHA,
SEM VERGONHA! Vê o que dá jogar mel de flor em flor feito um beija flor?! VÁDIO!

- Vocês falam como se eu tivesse feito os filhos sozinho. O Bruno viu, eu estava quieto no meu canto, ela que
me atacou, ela que veio em cima de mim... Eu fui praticamente violentado... – Levou um tapa no ombro. –
AAIIIII!

- VIROU DONZELO AGORA? – Rosnou. – SEU PIRANHO!- Paula saiu e voltou correndo. – Oh, se
encontrarem minha lente inteira alguém guarda pra mim...

Do lado de fora de fora da delegacia à briga entre Silvinha e Nat pegava fogo.

- Mas eu usei camisinha... – Nat tentava argumentar. – Silvinha...

- NÃO REPETE MAIS O MEU NOME! NATÁLIA, EU NÃO QUERO SABER DE VOCÊ NOS
PRÓXIMOS DOIS MILÊNIOS, EU QUERO VOCÊ HÁ UNS 10 MIL QUILOMETROS DE MIM...

- Foi um ato impensado... Eu acho que foi na hora que a gente foi subir a escada e...

- Você disse que foi UM ato impensado naquele, eu já listei uns seis atos impensados que você me relatou da
hora que a gente saiu da delegacia até agora! Mentirosa de uma figa, galinha, piranha... – Não vou listar tudo
que saiu uma fauna inteira da boca da Silvinha. - ACABOU!

- Mas Silvinha...

- NÃO É ISSO QUE EU QUERO PARA A MINHA VIDA NATÁLIA, SERÁ QUE DÁ PARA VOCÊ
SUMIR DELA? ACABOU! VAI SER FELIZ COM TEU MARIDINHO E TEUS FILHOS!

É claro que o pobre do Gabriel teve que pagar por mais essa e teve trezentos objetos atirados em sua direção
enquanto ele tentava apaziguar a situação.

- Nat, me escuta, me escuta... Gêmeos... Eu adoro criança, você adora criança. – Desviou de um
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

grampeador. – Eu vou ser um bom pai, eu vou ensinar eles a não jogar lixo no chão, a respeitar a natureza... –
A lixeira voou por cima da mesa. - Eu já pensei até nos nomes... Olha... Se for dois meninos pode se chamar
Gabriel Miguel e Miguel Gabriel. Se for duas meninas pode ser Gabriela e Gabriele. – Um caderno passou
rente sua cabeça. – E se for um casal Gabriel e Gabriela. NAT, EU NÃO FIZ ESSES BEBÊS SOZINHO!
QUER PARAR DE ME ATACAR COISAS? – Levou um tapa no braço. – AAAIIII!

- Além de me engravidar você quer o que? – Paula voltava à delegacia. Alguém tinha encontrado sua lente. –
Que eu gere uma dupla sertaneja universitária?

- Gabriel Miguel e Miguel Gabriel é ridículo. – Bruno opinou. Gabriel cruzou os braços irritado. – Teu nome é
Gabriel Miguel?

- Mamãe gostava de anjos. – Gabriel se explicou. – E não é ridículo.

- Claro que é... E você sabe que é. – Paula guardava a lente na caixinha. – Seria a mesma coisa que eu me
chamasse Paula Paola, ela Natália Natalie e ele Bruno Breno...

Ou se eu me chamasse Alice Alicia.

- Eu não estou podendo olhar pra sua cara... – Nat soltava fogo pelas ventas. – E se vier com esses nomes
ridículos para o um e o dois eu digo a eles que o pai deles morreu!

Um e dois? Ela chamou os filhos de um e dois? Essa e a Nat que conhecemos. No final da história meus olhos
pareciam duas bolas de gude de tão arregalados que estavam.

- Meu Deus... E o coitado do Bruno apanhou de inocente na história toda? – Júlia fez um gesto afirmativo. -
Olha como eu sou azarada... Podendo acontecer uma coisas dessas com o safado do Pedro Henrique, um
monte de louca dar uns tapas na cara dele, mas não... Ele lá de boa no castelo da Barbie... – Júlia sorriu e fez
um gesto negativo. Eu me aproximei dela. – Então a gente só vai sair daqui amanhã?

- Provavelmente sim... – Trocamos um beijo. – Mais calma?

- Agora sabendo da minha filha estou... Tem nada pra fazer aqui dentro? – Subíamos para o terceiro andar.
Era o setor de eletro. – Ta sem energia nenhuma? Coisa mais sem graça...

- Não, só desliguei o alarme e as câmeras, mas acho que o resto esta funcionando... – Júlia ligou um aparelho
de som na tomada. – A luzinha acendeu... Tá funcionando.

Apertei o botão e a rádio que estava sintonizada era aquelas de canções de outras décadas. Logo reconheci
as batidas da música. Eu amava! Júlia pelo jeito também porque ela abriu um sorrisão de orelha a orelha e
como se combinássemos surtamos ao mesmo tempo:

- ROBOCOP GAY! – E começamos a cantarolar. - E hoje estou tão eufórico... Com mil pedaços biônicos...
Ontem eu era católico... Ai, hoje eu sou um GAY!!!

Na boa, quem consegue ficar adulto ao som de Mamonas Assassinas? Não precisou de mais nada para
aflorar ainda mais as duas crianças de dentro de nós. Começamos a pular, dançar, inventar coreografias (uma
mais bizarra que a outra) rebolar na hora do “piri piri piri” ... Júlia inventou de se vestir igual o Dinho se vestia
colocando um monte de roupa nada ver junto com Pantufa, eu morrendo de rir daquela idiotice a acompanhei.
Em outras palavras, soltamos a louca que havia em nós.

- A música do Pedro Henrique... – Não resisti, foi mais forte do que eu.
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- A tua música... – Júlia me devolveu e cantarolou apontando para si mesmo. - Um ser humano fantástico...
Com poderes titânicos... Foi uma morenA simpáticA... Por quem me apaixonei...

Depois disso não tinha mais como fazer a franga voltar para o armário, né? A música acabou, mas a rádio era
boa, só velharia. Enquanto não estávamos dançando, comendo, mexendo nos brinquedos, andamos de patins
e bicicleta pelos corredores, aproveitávamos para conversar. Algumas coisas mais sérias, outras
engraçadíssimas sobre nossa infância, nossa vida mesmo. Olhei no relógio, já passava das duas e meia da
manhã. Eu me sentia despida por completo ali naquelas três horas de conversa. Parecia que eu era a pessoa
que mais a conhecia no mundo e ela a mim. Comecei a compreender o sentido da palavra afinidade.

- Vai sua vez... – Eu cobrei dela. – Me conta algum segredo seu que quase ninguém sabe...

- Não sei, Alice... Não lembro quase de nada...

- Por favor... – Eu pedi com cara de cachorrinho abandonado. – Já te contei que eu achava que era adotada
quando era criança... – Júlia sorriu e fez um gesto negativo. Eu era meu pai todinha, só na minha cabeça
mesmo. – Por favor...

- Eu não posso engravidar. – Seus olhos se baixaram de um jeito que me deixou entristecida e que me deu
vontade de colocá-la no colo. – Eu tentei engravidar antes do João, mas foi diagnosticado que meu sistema
imunológico rejeita o espermatozóide como se ele fosse um intruso. A médica diagnosticou e sugeriu que a
gente usasse a Marcinha como minha barriga de aluguel. A Marcinha não era minha parente, mas ela entendeu
que éramos uma família e por causa do parecer médico dela conseguimos o direito de registrar o João com o
nome das duas mães. Nem minha avó e nem meus irmãos sabem disso. – Ela sorriu para mim como se
quisesse espantar sua tristeza. – Sua vez... Outro segredo que eu não sei... E esse bem escondidinho mesmo...

Dei um beijo em Júlia e me afastei.

- Onde você vai?

- Já volto.

Corri para o segundo andar. Sim eu tinha visto um lá. Precisaria daquele instrumento para revelar o meu
segredo. Em quinze minutos o deixei tinindo e subi com ele pendurado em meu pescoço. Júlia estava ali,
sentada no chão, quietinha me esperando. Assim como eu já havia tirado boa parte das roupas que havia
experimentado e agora só usava sua própria roupa, calça jeans, blusa branca de manga longa e tênis, achava
lindo quando ela se vestia assim, só basicamente, ficava com mais cara de menina. Ela sorriu ao me ver.

- O que é isso?

- Você não pediu um segredo bem escondidinho? – Eu perguntei, me sentei ao lado dela em posição de lótus.
Ajeitei o violão que tinha buscado e afinado lá embaixo, ela me encarou surpresa – Então, está ai meu
segredo...

Fechei meus olhos para me concentrar e deixei meus dedos escorrerem de forma suave pelas cordas do
violão extraindo os primeiros da música que eu tinha escolhido. Quando eu era adolescente vivia enfurnada
dentro de casa e meti na minha cabeça que tinha que aprender a fazer alguma coisa legal para não ficar só
perdendo meu tempo. Primeiro pensei em surfar, mas como as ondas do Lago do Ibirapuera nunca subiram,
eu resolvi testar um passatempo mais paulistano e comprei um violão. Aos poucos comecei a soltar minha voz.

Uh! Uh! Uh! Uh! Uh!


Uh! Uh! Uh! Uh! Uh!
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Uh! Uh! Uh! Uh! Uh!


Uh! Uh! Uh! Uh! Uh!

Assim ela já vai


Achar o cara que lhe queira
Como você não quis fazer
Sim, eu sei que ela só vai
Achar alguém pra vida inteira
Como você não quis...

Tão fácil perceber


Que a sorte escolheu você
E você cego, nem nota
Quando tudo ainda é nada
Quando o dia é madrugada
Você gastou sua cota...

Eu não posso te ajudar


Esse caminho não há outro
Que por você faça
Eu queria insistir
Mas o caminho só existe
Quando você passa...

Uh! Uh! Uh! Uh! Uh!


Uh! Uh! Uh! Uh! Uh!

Não tive coragem de abrir os olhos. Eu morria de vergonha de cantar, seu eu abrisse com certeza iria
gaguejar. Ainda mais que era a primeira vez que eu estava cantando alguma coisa para alguém que realmente
tinha um significado importante na minha vida. Eu procurava me concentrar na letra da música para não perder
o rebolado e fazer feio na frente dela.

Se a sorte lhe sorriu


Porque não sorrir de volta
Você nunca olha a sua volta
Não quero estar sendo mau
Moralista ou banal
Aqui está o que me afligia...

Um dia ela já vai


Achar o cara que lhe queira
Como você não quis fazer
Sim, eu sei que ela só vai
Achar alguém pra vida inteira
Como você não quis...

Uh! Uh! Uh! Uh! Uh!


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Uh! Uh! Uh! Uh! Uh!


Uh! Uh! Uh! Uh! Uh!
Uh! Uh! Uh! Uh! Uh!
Uh! Uh! Uh! Uh! Uh!
Uh! Uh! Uh! Uh! Uh!

Aos poucos fui finalizando minha apresentação e tomando confiança para abrir os olhos. Quando me deparei
com aqueles olhos verdes risonhos, ternos e doces senti minha voz apertar e conclui improvisando um último
verso.

Eu queria insistir
Mas o caminho só existe
Quando você passa... Júlia Só quando você passa...

Uh! Uh! Uh! Uh! Uh!


Uh! Uh! Uh! Uh! Uh!

Eu era só afinadinha no violão e Acima do Sol é uma música para iniciantes, mas aos olhos de Júlia parecia
que eu tinha apresentado a nona sinfonia de Beethoven. Deixei o violão de lado. Um tanto sem jeito eu olhei
pra ela e disse:

- Eu sei tocar violão...

Júlia envolveu suas mãos em meu rosto de um jeito delicado, mas que me obrigava a olhar em seus olhos.
Seus dedos contornaram os lados do meu rosto. Suavemente ela deixou os lábios tocar meu rosto, senti uma
lagrima bem fininha percorrendo o meu rosto e percebi que era dela, fechei meus olhos e pude sentir o corpo
inteiro de Júlia atado ao meu. Baixinho ela falou no meu ouvido.

- Obrigada...

- Sua boba... Uma música facinha dessas...

- Não é pela música. – Júlia sorriu. – Obrigada por isso, por... Fazer parte da minha vida... Por deixar eu
fazer parte da sua...

- Besta... – Sorri tocada por estar ouvido aquelas coisas. – Hoje nossa vida é praticamente uma coisa só... –
Nossos olhares se cruzaram. Só então eu percebi que eu estava sentada em seu colo. Minhas pernas
contornavam sua cintura, minha boca há três centímetros de seus lábios. Não ia resistir. Estava pouco me
importando se estávamos em um lugar publico ou em casa, isso não tinha relevância nenhuma naquele
momento. Senti um arrepio com aquela troca de olhares e roçando minha boca na de Júlia eu pedi:

- Faz amor comigo, agora.

- Aqui?

Meus olhos se fecharam, assenti com a cabeça e deixei que meus lábios se misturassem aos seus. Nos
levantamos a procura de um lugar pra nos duas. Ali perto havia algumas espreguiçadeiras. Entre beijos a

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arrastei até lá. Júlia se sentou e me puxou com tanta vontade que a espreguiçadeira não agüentou e se
desmontou levando nos duas ao chão. Entre risadas ela se perguntou.

- AAAAAAI Nos filmes americanos nunca aconteceu isso... Por quê?

- Acho que cadeira de americano que é resistente...

Júlia sorriu e olhou nos meus olhos. Ela me levantou e ali do lado encontramos a sessão de colchões. Júlia
pegou o primeiro da pilha, jogou no chão eu me sentei. Ela se sentou ao meu lado, tomou meus lábios da
forma mais doce e provocativa possível, sua mão subiu pela minha barriga me fazendo sentir aquela contração
gostosa. Entre beijos Júlia conseguiu murmurar:

- Ou nosso amor que é forte.

Sem duvida após aquela noite eu cheguei que a conclusão que a segunda hipótese era a correta. Nosso amor
era forte em todos os sentidos. Devastava-me por completa, mas o prazer e a plena sensação de estar viva
recompensavam tudo. De olhos fechados experimentei a sensação de deixar cada parte do meu corpo ser
despida e tomada pelas mãos e lábios da minha namorada. Provei o melhor sabor do mundo quando ela me
beijava a boca. O nosso sabor. Parecíamos estar um transe. Era algo como uma melodia envolvente, com
ritmos variados para não enjoar e infinita. Nos levamos a exaustão mutuamente e sabíamos disso. Eu estava
deitada sobre ela, sentia seu clitóris molhado, ainda roçando em mim. Já devia estar amanhecendo. Ficamos
alguns minutos quietas até ela quebrar o silêncio.

- Eu nunca pensei que pudesse ser tão... - Ela sorriu meio perdida. - Transcendental? Gostoso? Completo?
Tão...

- Eu sei... – Murmurei quase morta de cansaço. – Nada foi parecido com isso Júlia... – Eu disse abismada.
Sempre era muito bom, excelente, mas daquela faltava palavras para descrever. – Nem na primeira vez e... –
Me cortei. – Quer dizer... A primeira, primeira eu não lembro... – Júlia me encarou surpresa. – Nunca fui de
beber, aquele dia eu tomei sei lá... Duas garrafas de tequila...

- Tequila? – Júlia me perguntou surpresa. Sorriu. – Alice, você estava amamentando. Acho que a Heleninha
tinha feito um mês. Como você bebeu tequila?

- Não... Aquela primeira vez. – Sem graça eu relembrei. - No carnaval.

Dessa vez não foi um sorriso discreto, mas uma gargalhada mega gostosa. Eu fiquei sem entender.

- Alice, você achou mesmo que a gente tinha transado naquele dia? – A encarei surpresa. – Sério?

- Mas... Você e eu... O que aconteceu aquele dia? Eu lembro da gente subindo no apartamento, depois na
mesa e... – Fiz uma pausa. – Lembro que você pediu para que eu abrisse os olhos...

Júlia se sentou. Ela estava com aqueles peitinhos lindos descobertos me atentando, um sorriso no rosto meio
encabulado. E começou a contar.

Como eu me lembrava eu estava deitada sobre a mesa. Ela tinha ganhado nosso jogo e poderia me tocar

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como quiser, seus lábios experimentavam os meus, elas se afastou para descer com a boca em meu colo e
pediu para eu abrir os olhos. A obedeci quando vi aquele mar verde, revolto de desejo e me senti um tanto
insegura e com medo, ela desviou o olhar, voltou a me encarar e interrompeu nosso beijo. suas mãos
desprendaram do meu corpo. Eu a queria, mas não acreditava e nem sabia o que estava por vir daquela
desconhecida.

- Morena?

- É melhor você se cobrir... - Ela pediu não tirando os olhos dos meus e entregando uma camisa. - Antes que
me arrependa do que estou fazendo. - Sorriu. - Por favor, se cubra porque a tentação é demasiada.

- Você não quer? eu fiz algo de errado, estava ruim ou...

Ela sorriu e fez um gesto negativo.

- Você nunca esteve com outra mulher antes, não, é? Não sabe o que você é capaz de fazer com uma mulher
como eu, menina... - Baixei os olhos envergonhada. ela levantou me queixo e fez encara-la. - Eu quero você,
mas sem esse medo no olhar e essa insegurança... Não é vergonhoso ter sua primeira vez, é especial. E como
um dia foi especial pra mim, eu quero que seja também para você, eu quero que você lembre... Eu vou ficar
aqui até amanhã... Ai conversamos. - Sorri tímida, mas agradecida por ela não ter me forçado a nada. Ela me
deu um selinho carinhoso, fez um carinho na minha nuca. - É melhor ir se deitar...

- Você não vem?

Júlia fez um gesto afirmativo.

- Vou, mas antes preciso refrescar minhas ideias... - Só então percebi o quanto ela estava... Quente. Sorri
bestamente não acreditando que provoquei aquilo tudo. - Me dê um tempinho...

Júlia entrou no banheiro e eu liguei o som para tentar descontrair o ambiente, tocava Raindrops keep falling on
my head, ouvi o barulho de água na torneira, ela lavava o rosto enquanto falava de frente ao espelho se dando
tapinhas de leve no rosto.

- Ah ai, ai... Honestidade depois de velha... Você só pode esta ficando louca, Júlia... Precisada de mais
tequila, no mínimo!

Depois de alguns minutos ela voltava para o quarto e forrava o edredon no chão. Eu morta de sono tirei meu
sutiã e joguei quase em cima dela que murmurou algo como "me de força, Senhor" me deu boa noite e dormiu.
O dia seguinte vocês já sabem o que aconteceu.

Meus Deus, eu lembrava do edredon e do travesseiro no chão, mas nunca ia imaginar... Ao saber daquele
gesto me encantei ainda mais. Júlia, a cafajeste mais doce que conheci em toda minha vida. Então minha
primeira ves lésbica tinha sido com a Nat. Que doideira!

- Por que você nunca me disse?

- E você me perguntou? - Trocamos um sorriso. Ela fez gesto negativo. - Já sabe outro segredo meu...

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Ela me abraçou com mais força, procurou meus olhos. Lá no fundo da loja eu escutava o rádio ligado.
Acabava a sessão de músicas bizarras e agora tocava baladas mais românticas. Reconheci This Year's Love
do David Gray.

- Acho que aquela noite eu já estava perdida e nem sabia... – Sorri. – Você tem noção de como você
revolucionou a minha vida, menina? – Envolveu mais uma vez as mãos no meu rosto. – Eu redescobri tanta
coisa, Alice, se torna redundante demais eu ficar jogando palavras para te dizer o que é óbvio, que eu...

- Eu te amo...

Saiu na mesma hora, como se estivéssemos ensaiado. Eu sorri aliviada, não sei se mais aliviada de ouvir ou de
falar. Trocamos um sorriso e nos abraçamos. Aquele momento dispensava qualquer palavra. Nossos olhares,
nosso coração batendo juntinhos, minhas mãos trêmulas, a pele quente já dizia tudo. Ainda nuas deitamos uma
no peito da outra e ficamos assim por um bom tempo. Só depois de um bom tempo Júlia me perguntou:

- Por que você não vai lá pra casa?

- Hoje à noite você não tem plantão?

Júlia sorriu.

- Você é filha da confusa com sem jeito mesmo...- Ela deu uma risadinha. - Alice, estou te chamando para
morar comigo, pra gente virar mulher e mulher de vez... – Ergui meus olhos surpresa. Ela sorriu. – Você quer?

Meu sorriso que era grande foi de uma esquina a outra do quarteirão. E precisava dizer duas vezes?

_______________________________________________________________________

Já passava das oito da manhã quando ouvimos os primeiros ruídos. Já estávamos vestidas e escondidas atrás
de uma coluna da construção esperando o momento certo. Júlia eu já tínhamos deixado uma boa quantia
(acho que até maior) do que gastamos lá em um dos caixas, mas a bagunça nós não tivemos pique para ajeitá-
la toda (não repitam isso em casa, criança) um rapaz abriu a porta da loja ouvimos as vozes dos vendedores e
alguém falando com outra pessoa.

- Droga, esqueci as câmeras e o alarme desligado.

Só foi esperar isso e corremos feito duas loucas pela primeira porta aberta que dava para rua e estava vazia.
Acho que corremos umas duas quadras e só paramos porque tivemos um ataque bobo de risos pensando em
tudo que aprontamos aquela noite. Às nove já estávamos na porta da casa de Silvinha. Humor da minha prima
estava pior que o do Dick Vigarista.

- Ela proibiu de falar as palavras gêmeos, Gabriel e Nat a menos de dois quilômetros dela, ela não disse pra
gente o que aconteceu, mas nem precisa dizer, quando acontece isso só pode ser mulher. Não tem erro. M-
U-L ... – Cíntia parou no ar. – Isa, mulher é com LI igual Natália ou LH?

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- LH. – Silvinha corrigiu do quarto enquanto eu matava saudade da minha Heleninha. – E eu ouvi você falar
daquela cachorra!

Cíntia tapou a boca assustada. Isa sorriu e soprou um pouquinho de leite em pó sobre Cíntia como se
quisesse dizer “Cíntia mais sem jeito” e voltou a tomar seu café. Contamos a história da gravidez da Nat e elas
ficaram boquiabertas, porém risonhas como nós. Outro emburrado entrou na cozinha com uma xícara de leite
vazia e restos de farelo de pão no prato. Também tinha escutado a história dos gêmeos. João, murmurou um
bom dia e foi pegar mais leite.

- Estamos com raiva de alguém? – Júlia perguntou ao filho.

- Não, esta tudo ótimo. Comigo, com a Isa, com a Cíntia, com a tia Nat e esses filhos dela ai que ela arrumou
agora... – Resmungou enciumado. – Ela deve estar muito feliz, o tio Gabriel então...

- Ow, que declaração de amor pela tia, hein... Tudo isso é ciúme? Eu que também vou ficar com ciúme da
Nat, mas é com você. – João continuou emburrado, só o tempo ia melhorar aquela cara. – Coisa mais linda...

- Para mãe...

Quem chegou logo atrás de nós foi Rebeca para pegar umas caixas de objetos pessoais seu que estava na
garagem do fusca. Desci com ela, Cíntia e Isa para ajudar.

- Deixa que eu pego isso, Cíntia... – Isa se ofereceu tomando uma ultima caixa, que era a maior e mais pesada
porque estava cheia de livros de medicina para si. – Está pesado...

- Então eu te ajudo...

- Não precisa não... – Isa colocou a caixa sobre o ombro. – Eu agüento sozinha

Rebeca não deixou passar em branco e sussurrou para mim.

- Nossa, a Isa esta prestativa, né? Olha o tamanho dessa caixa – E provocou Isa. – Meu sonho é ter um
homem desses em casa pra carregara as coisas para mim... Você que esta bem servida, Cíntia...

- Não coloca esperança no coração da menina... – Cíntia mostrou a língua entrando na brincadeira. – O
Isidoro é só meu!

Isidoro? Rimos, até a própria Isa riu para nossa surpresa.

- Isidoro? Só não é pior que Gabriel Miguel...

- ALICE, EU OUVI VOCÊ FALAR NO NOME DO GABRIEL... – Silvinha gritou da janelade seu quarto.

- OUVIU? – Eu calmamente perguntei. – PROBLEMA SEU, AGORA PARA DE SE COMPORTAR


FEITO UMA IDIOTA E VAI FALAR COM A NAT...

Em resposta a idiota da minha prima fechou a janela do qarto da minha cara. Falava, Falava, falava, mas ela

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estava fazendo a mesma coisa que a Nat tinha feito comigo quando soube da minha gravidez.

- Ela virou a nova Nat... – Cíntia comentou como se adivinhasse meus pensamentos.

- Ah, deixa essa duas... – Isa retornou ao outro assunto. – Viu Rebeca... Tem que queira e... Cíntia, deixa
isso, depois eu pego!

- Desculpa, Isidoro...

Bom, era só brincadeira, mas eu tinha que admitir que a Isa estava mesmo mais prestativa. Apesar da Cíntia
estar mais fortinha ela sempre pegava os pesos mais pesados das mãos dela e ordenava que ela fizesse algo
leve. Quando Isa foi ajeitar uma das caixas no porta malas do carro encontrou um envelope pardo e entregou
a Rebeca. Rebeca abriu e arregalou os olhos.

- Tem dois mil reais aqui. Quem esta dormindo no Fusca? – Esse dinheiro não é meu.

- Teu irmão!

Rebeca fechou o envelope preocupada.

- Que foi?

- Estamos no meio do mês, como esse menino conseguiu esse dinheiro todo?

Não sonhávamos, mas da fonte surgiu os dois mil reais já estava saindo um novo pagamento. Abgail e
Serginho se encontraram logo cedo. Ela tinha conseguido se desfazer de algumas jóias e levantado parte de
um dinheiro para se manter. Encontraram-se na porta do flat, dessa vez não subiram. Ela desceu do carro,
trocaram algumas palavras. O que Serginho não imaginava é que havia sido seguido por Luana, namorada de
Fumaça. Há tempos ela tinha curiosidade de saber da onde saia tanto dinheiro e eventualmente ela começou a
persegui-lo. Parte da grana que ele dava a ela ficava com Fumaça, mas a outra metade guardava para si para
qualquer casualidade. Nessa brincadeira já conseguia 50 mil, mas acreditava que poderia ter algo a mais.
Abgail entregou com a quantia, Serginho abriu para conferir.

- Que é isso menino? – Abgail perguntou ofendida. – Esta duvidando de mim?

-Cinco mil? – Serginho se irritou. – Isso aqui mal da para pagar as despesas da minha mãe naquele hotel.
Você prometeu a grana!

- Eu já disse que preciso de uns dias.

Meio contrariado Serginho enfiou o dinheiro. Escondida em um dos pilares da construção Luana tirava fotos
de toda aquela conversa dos dois. Abgail falou mais alguma coisa a Serginho e se despediu dele. Luana tirou
uma ultima foto e foi conferir as imagens. Em pelo menos três fotos saia bem nítido o rosto de Abgail. Mesmo
de óculos escuros dava para reconhecê-la.
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Descobri tua fonte, Serginho! Acabou o jogo, moleque!

Mais algumas fotos, nossa modelo Abgail entrou no carro e Luana apertou seu triunfo entre as mãos.

- Agora eu saio da lama...

______________________________________________________________________

Eu e Júlia nos separamos no caminho de casa. Ela levou João para escola e avisou que tinha sair com Gabriel,
eu cheguei em casa por volta das onze da manhã com Heleninha no colo. Mamãe estava de folga e cozinhava
um dos meus pratos prediletos: carne assada recheada. Minha mãe não gostava muito de ir pra cozinha, mas a
carne assada dela era de lamber os beiços. Ela tinha voltado de São Paulo há poucos dias, finalmente ela e
meu pai decidiram vender o apartamento. A seu pedido fui até a hortinha de Júlia roubar um pouco de alecrim
para o molho da carne e encontrei com uma ótima surpresa.

- OOOOWW, E AI CABEÇUDA?!

- MARQUINHOS? – Não pensei duas vezes em me jogar no colo daquele doidão, meses sem vê-lo. Só
nos falávamos por Facebook e telefone. – AAAAAI QUE SURPRESA BOA, SEU LINDO!

- Voltou a gostar de homem? – Ele brincou comigo devido ao abraço apertado. – Larga do meu pé chulé!
Cadê a gostosa da tua mulher?

Eu estava morrendo de saudade dele. A vida do Marquinhos tinha virado de cabeça para baixo. Da ultima vez
que nos vimos ele e Renatinha tinham até falado em casamento, mas depois que Lia voltou para São Paulo.
Tudo tinha mudado, Marquinhos percebeu que Renatinha estava cada dia mais distante e Lia mais estranha e
depois de dois meses veio a descoberta fatal. Renatinha e Lia estavam tendo um caso. Os três estavam
arrasados. Beberam e terminaram em um ménage à trois. Marquinhos não quis continuar no meio das duas e
agora eram só amigos. Eu entrei em casa acompanhada dele toda feliz.

- MÃE, AI, OLHA SÓ QUEM ENCONTREI LÁ... – Eu gritava toda contente. Deixei Marquinhos entrar,
dei um tapinha em seu peito. Vivíamos tendo essas brincadeiras de lutinha. – GRANDE MARQUINHOS!
MÃE, VOCÊ LEMBRA DO MARQUINHOS, NÉ?

A divisão da cozinha e a sala da minha casa era tipo sala americana, então dava para todos nós se falar sem
problema nenhum.

- Oi...

- E aí?

Eu tratei de empurrar Marquinhos para um sofá.

– GRANDE MARQUINHOS... – Já joguei uma cerveja na mão de Marquinhos, ele abriu e eu o empurrei
para o sofá de novo, acho que até derramei um pouquinho de cerveja na camisa dele. - OLHA O
MOLEQUE! Senta ai Marquinhos... MÃE VOCÊ NÃO VAI ACREDITAR... O APELIDO DESSE
SUJEITO NO SANTA CLARA ERA CHAMADA... ELE PEGA MULHER POR ORDEM
ALFABÉTICA. – O coitado do Marquinhos tentou se levantar pela terceira vez. Eu estendi um prato com
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

petiscos e o empurrei para o sofá de novo. Alguns petiscos caíram do prato. – MÃE ESSE CARA PIRA A
MULHERADA, ELE É O BICHO! A mulherada parecia cachorra atrás dele...

- Que isso, Allie... – Ele disse um tanto desconfortável. – Estou em outra, regenerei...

- Regenerou... O que foi você entrou em um convento? – O empurrei de novo para o sofá. – AAAAAH
MOLEQUE QUE SAUDADE! – Fui até a cozinha pegar uma água para mim. – Chegou na hora exata
Marquinhos, minha mãe esta preparando um almoço de responsa, ela quer me apresentar o novo namorado
dela...

Mamãe saiu da cozinha e veio até a sala já retirava o avental. Colocou a travessa de carne sobre sua mesa.

- Pois é, não minha filha... – Mamãe deu um meio sorriso. – Alice, Marcos... Marcos, Alice...

Marquinhos se sentou à mesa ocupando seu lugar.

- Leva mal não, Allie... – Aquele desclassificado do Marquinhos teve o descaramento de me falar. – Eu estou
curtindo um love com a tua mãe...

Como assim curtindo um love? E minha mãe agora foi feita para curtir love? Com um... Patife daquele? Eu já
tinha me acostumado com ela ir pra balada todo fim de semana, ok. Ela chegar em casa no horário que eu
estava saindo para trabalhar, ok! Arranjar um namorado, ok! Agora o Marquinhos de meu padrasto? Eu ia
interditar minha mãe!

- Mãe, a senhora esta maluca? – Eu cobrei, caminhava atrás dela. – A senhora esta curtindo um love com
esse vagabundo? Esse galinha, esse...

- Que isso, Allie... Tua coroa é gente fina...

Não sei o que deu em mim, mas parecia que colocaram um véu vermelho sobre meus olhos. Aquilo não ia
ficar assim nem fodendo!

- EU QUERO O TELEFONE DA TUA MÃE! – Eu corri pra partir a cara dele. - ME DÁ O TELEFONE
DA TUA MÃE! – Marquinhos conseguiu pular pela janela, eu pulei atrás dele. – EU TAMBÉM TENHO
DIREITO DE CURTIR UM LOVE COM A TUA MÃE! VOCÊ CURTE COM A MINHA QUE EU
CURTO COM A TUA, O “RAPÁ”!

- A-LI-CE! – Mamãe veio me segurar. – ALICE!

Não pensem que por causa desse “incidente” o cachorro do Marquinhos não voltou para minha casa. A gente
não ficou brigado, mas eu deixei bem claro se ele fizesse minha mãe sofrer eu capava ele. Às vezes ainda tinha
que agüentar esse babaca querendo dar uma de meu pai para tirar onda da minha cara. Era bem assim.

- Mãe vou sair com a Júlia...

- Vocês duas sozinhas? – Marquinhos se intrometia. – Negativo!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Vai merda, Marquinhos!

- Verinha... Tem que dar mais educação a essa garota!

Ele voltou, mas no dia seguinte, quem chegou logo em seguida foi Taís com novidades sobre o caso de
Heleninha. Marcaram a data para o julgamento. Ótimo, assim eu me livrava daquele infeliz do Pedro Henrique
de vez. Ela já estava de saída na porta quando distraidamente trombou com Júlia. Só não caiu porque as
mãos fortes da minha namorada a seguraram pelos ombros.

- E- Eu...

- Esse degrauzinho... – Júlia se referia eu degrauzinho da minha porta. – Craque em derrubar pessoas,
machucou?

Sem desviar os olhos de Júlia, Taís fez um gesto negativo.

- Não... – Taís sorriu para Júlia. – Licença...

Eu levei Taís até o carro e ela me fez algumas perguntas sobre Júlia e acabamos caindo no assunto João. Eu
lógicamente quis saber o que aquilo tinha haver com caso.

- Bom, todas pessoas próximas a Heleninha serão analisadas.

- Então ela vai estar bem próxima. Ontem ela me chamou pra gente morar juntas.

- E você não acha arriscado demais, Alice ir morar junto com uma mulher que abandonou um menor agora
que você esta na disputa da guarda da sua filha.

- A Júlia não abandonou ninguém porque quis, ela julgou que era o melhor para o filho dela e ela deixou com
alguém responsável.

- Uma irmã que na época tinha acabado de concluir a faculdade e estava com 22 anos de idade.

- O João ficou sobre a tutela da Dona Regina. – Eu interferi. – A Nat quis levar ele para casa porque ela se
apegou no menino como um filho, mas a responsável legal do João sempre foi a Júlia e ela o deixou com a
avó porque sabia que a Dona Regina tinha melhores condições psicológicas de cuidar de uma criança do que
ela. Esta fora de cogitação me separar da Júlia.

- Não pedi pra você separar. Apenas seja mais cautelosa. A acusação pode explorar essa história. Se fosse
você apenas aguardaria mais um pouco para tomar qualquer decisão com calma...

Ok, se eu fosse pensar por esse lado, cautela não faz mal a ninguém. Assim que Taís saiu, Júlia veio me
perguntar se eu queria já ver como íamos fazer para mudar minhas coisas para a outra causa. Conversei com
ela sobre esse assunto de ter cautela, mas não citei o nome de Taís pois vi que ela não tinha gostado do
assunto e a ultima coisa que eu precisava era minha advogada e minha namorada se estranhando.

- Mas é você que esta pedindo a guarda da Heleninha, não sou eu... Alice, você é uma mãe exemplar.

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Qualquer juiz vai olhar pra sua filha e dar a guarda a você e...

- Só um pouco de cuidado, Júlia... E é até melhor a gente começar a ver isso depois que a audiência passar,
ai da pra termos atenção total. – Dei um beijinho em sua boca... – Por favor, amor...

- Tudo bem... Se você diz...

- E essa cara de preocupada?

- Eu fui até a casa da Diná com o Gabriel... – Encarei Júlia, eu falei tanto pra ela não se meter mais nisso. –
Alice... É minha família.

- E ele? Sabe quem é o pai biológico da filha dele?

Júlia fez um gesto negativo.

- Eu vou te contar o que aconteceu...

Gabriel e Júlia chegaram à casa de Diná no inicio da tarde. Ele recebeu os dois do mesmo modo amistoso
daquela noite. Depois de um cafezinho as visitas, Júlia e Gabriel revelaram o motivo da visita. Diná ficou
pasmada, mesmo assim não deixou de ser gentil.

- A Elisa sempre quis ter uma irmã... Agora...

- Posso ver uma foto dela? – Gabriel pediu. Diná entregou uma porta retrato da filha. Júlia e Gabriel sorriram
ao ver a imagem da moça. – Nossa, os olhos e o cabelo da Nat... As duas lembram bastante...

- Dizem que menina puxa o pai, né? – Diná deu um gole em seu café. – Como eu disse, não sei quem é esse
homem...

- Não lembra nada dele?

- Eu tinha entrado na equipe de remo há pouco tempo, aquela foi minha primeira competição e fizemos com
um técnico interino porque o treinador tinha se contundido jogando bola... – E esclareceu. – O treinador da
equipe era o homem que tinha caso com a mãe da Elisa. – Se nos vimos três vezes foi muito... Eu tinha fotos
dele, mas o álbum sumiu... Estou assustado ainda com essa história. Posso ver de novo uma foto da sua irmã?
– Pediu a Júlia. Júlia abriu uma foto de Nat no IPad, muito mais nítida que a outra que levamos. Os olhos de
Diná ganharam um brilho inesperado. – Tão parecida com minha Elisa... Médica?

- Trabalho no hospital da nossa família. Médica das boas!

- Temos dois filhos agora... – Gabriel disse com um sorriso. – Eu fui marido da Nat...

Diná ainda ficou um tempo apreciando fotos de Nat e por fim sentenciou:

- Linda, muito linda sua irmã!

- Você e sua filha se dão bem?


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- A Elisa tem uma personalidade difícil. – E então é irmã da Nat, fechou certinho. – Às vezes é mandona de
mais...

Gabriel e Júlia sorriram.

- Ela teve a quem puxar... – Júlia explicou. – Mas... Não tem nada mesmo desse homem que o senhor se
lembre?

- Ele tinha um fusca verde abacate 77 e o apelido era BR-3 entre os remadores porque ele era fã do Tony
Tornado... – Júlia e Gabriel sorriram. – Quase nada como vocês podem ver... Nem sei se esse homem esta
vivo.

Trocaram mais algumas palavras e se despediram de Diná. Depois de alguns segundos Diná fez um rabo no
cabelo, vestiu-se de Dirceu e saiu de casa com destino ao Alonso Franco, claro sem Júlia e Gabriel saber.
Ficou a tarde inteira ali parado na porta. Já estava perdendo as esperanças quando trombou com uma moça
que derrubou café em sua roupa.

- Desculpe...

- Imagina... – Diná olhou furtivamente, reconheceu o rosto. – Natália?

Natália o encarou surpresa.

- Você me conhece?

Diná pensou em milhares de coisas para se dizer, mas saiu com essa.

- Eu fui colega do seu pai, meu nome é Di-Dirceu... Acho que você não esta lembrada de mim. – Diná fez um
gesto negativo se auto censurando. Não devia ter ido lá. Lembrou de Gabriel e Júlia comentando que Nat era
alguém difícil. Diná foi movido por curiosidade. Natália era tão parecida com Elisa e a tanto tempo que ela
não o procurava. – Desculpa mais uma vez... Eu já estava indo embora, mande lembranças a todos e...

- Não, o senhor toma um café comigo? – Diná o encarou surpreso. – Um cappuccino? Um amigo do meu pai
não pode sair daqui sem pelo menos um café...

Feliz, Diná fez um gesto afirmativo e aceitou a companhia de Nat. Tomaram café na sala da diretoria e
papearam por uma boa meia hora. Diná maquiava bem os assuntos, mas se interessou em conhecer Nat,
estava saiu do escritório completamente encantado e surpreso com a última frase de Nat:

- Dirceu, volte mais vezes. Eu sempre bom rever amigos do meu pai...

Olhou no relógio sete da noite.

Sete da noite era o horário das trocas de plantão. Júlia bateu o ponto no relógio e foi se trocar, saiu do
vestiário com um rabo de cavalo nos cabelos e jaleco. Observou Duarte em um dos corredores, parecia se
esconder de alguém e estava de costas para Júlia. Júlia se aproximou sorrateira e reconheceu o homem. Era

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Diná. Vestido de Dirceu, mas era Diná. Ele pegou o elevador e Duarte respirou aliviada. Ao se virar deu de
cara com Júlia.

- Vamos parar com essa brincadeira de gato e rato? – Júlia cobrou. – Da onde você conhece esse cara?

- Que cara vocês estão falando? – Nat que estava no corredor para vistoriar uns residentes tinha ouvido a
pergunta de Júlia. A cara de espanto de Duarte. – Duarte?

E congela na Nat.

End Notes:

Cenas do próximo capítulo:

- Um presente de casamento? - Cíntia perguntou sem entender. - Pra mim?

Rebeca fez um gesto afirmativo e explicou.

- Um tio meu que não pode vir e mandou essa viagem de Lua de Mel, uma
semana em Salvador sem saber que a gente já tinha planejado a viagem pra
Disney... Ai pra não perder a viagem eu sugeri para o Bruno dar de prersente
a você. A Isa te acompanha, ela vai entrar de férias amanhã... Você ajudou
tanto a gente com o pedido, com a fetsa, com...

- Eu organizei o seu chá... - Isa fez questão de lembrar a Rebeca.

- Isa um bolo recheado com strippers não é bem um chá de cozinha... - Rebeca
retrucou, Cíntia sorriu. Eu achei super show de bola o chá da Rebeca,
principalmente na hora que as strippers que eram um casal tiveram um DR no
meio da festa, bem melhor que os chás tradicionais. - Mesmo assim você vai
também... - Virou-se para Cíntia. - E ai, Cíntia, você aceita? Vou me casar em
três horas..

- Ai da tempo de você desistir...

- Cala boca, Isa... - Cíntia retrucou. Virou-se para Rebeca. - Eu aceito. A


gente vai viajar sim pra Salvador para a Lua de Mel! - Isa encarou Cíntia. -
Do Bruno e da Rebeca...

_____________________________________________________________________

Bom, venho por meio desta avisar que esta todas convidadas para o casamento do
Bruno Rebeca, preparem o longuinho e as colegas solteiras favor não bater com o
cotovelo na cara, dar rasteira, socar ou fazer algum tipo de trapaça com a sapa do

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

lado só pra pegar o buque da noiva. Quem vocês acham que pega? Bjooooos!!!

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Capítulo 61 by Tamaracae

Author's Notes:

Oiiis

Músicas:

http://www.youtube.com/watch?v=O040xuq2FR0 She - Elvis Costelo

http://www.youtube.com/watch?v=CUEUwy-gSLM&feature=related Vai lá Vai lá -


Fundo de Quintal

Na cabeça de Duarte a voz despretensiosa de Natália vinha de muito longe, distorcida como se ela estivesse
falando em “baleiês” e lhe tirava a paz. Paz, uma sensação praticamente desconhecida de Duarte após Júlia
por na cabeça a investigação do passado da irmã. Duarte se sentia completamente atordoada só em cruzar
com o olhar da minha namorada pelo hospital. Ela que sempre acreditou na volta por cima de Júlia agora
desejava que ela pegasse João e sua moto e sumisse por mais dez anos até esquecer de vez aquela história.
Tudo seria perfeito se não houvesse um porém: Júlia não estava mais disposta a fugir.

- E então Duarte, te fiz uma pergunta... – Nat voltou a cobrá-la. Júlia deu um meio sorriso maldoso. – Que
história é essa de gato e rato? De que vocês estão falando.

Júlia e Duarte se entreolharam, por fim Júlia abriu a boca.

- Vai doutora Heloísa Duarte, conte tudo que você sabe, a doutora Natália com certeza vai querer ouvir essa
história. – Sorriu. – Conta pra ela Duarte sobre nossa brincadeira de gato e rato...

- Do que vocês estão falando? – Nat se impacientou.

Duarte fuzilou Júlia com os olhos, virou-se para Natália.

- Nada de importante. Eu pensei ter visto um antigo conhecido meu, mas não era a pessoa quem pensei ter
visto. Só isso, doutora Natália.

Nat fez um gesto negativo.

-Que história é essa de gato e rato?

- Frutos da imaginação da mente fértil e quixotesca da sua irmã. – Júlia devolveu o olhar nada amigável a
Duarte. – Agora vamos voltar a trabalhar? Somos médicas e nosso lugar é junto de nossos pacientes. Já
verificou seus pós operatórios hoje, doutora Júlia? Eu preciso voltar ao meu trabalho, com licença...

Duarte saiu deixando as duas a sós. Não por muito tempo. Como Nat não falava com ela, Júlia logo ficou
sem companhia para suas divagações. Ela aproveitou que estava sozinha e correu na tentativa de alcançar
Diná no estacionamento. Em vão. Um dos seguranças informou que viu homem ir embora. Júlia invocada (e

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deliciosa) estava a ponto de explodir de raiva. Duarte mais uma vez descredenciava fatos que ela tinha certeza
que eram verídicos. Fatos que pertenciam a sua família. Não pode se lamentar por muito tempo. Logo
encontrei com ela. Nem tivemos tempo de um beijinho nem nada. Apenas avisei:

- Criança com múltiplas fraturas na emergência.

- Caiu?

- Espancada pelo pai com uma barra de ferro.

- Filho de uma puta!

Nós duas entramos em cirurgia e felizmente conseguimos salvar a menina de onze anos que havia levado uma
surra do pai por ter sido descoberta enquanto experimentava seu primeiro beijo. A cirurgia demorou horas
porque a menina perdeu muito sangue e quase ficou na mesa duas vezes. Depois mais dois casos que
entramos juntas na cirurgia. Aquele dia trocamos poucas palavras que não fosse trabalho devido à correria na
emergência. Chegamos em casa praticamente mortas.

Depois daquele entrave entre Júlia e Duarte quinze dias seguiram tranqüilos até a véspera do casamento de
Rebeca e Bruno. Devido à proximidade do casamento acho que Júlia resolveu dar uma trégua em suas
investigações.

Gabriel também não tocou mais no assunto por causa de suas primeiras responsabilidades como pai de
primeira viagem. Só foi saber que ia ser mãe que Nat começou a se tornar a mais desejosa dos seres humanos
e telefonava para Gabriel correr atrás de seus pedidos.

- Nat, trouxe algodão doce como você pediu...

- Huuuum... Tudo bem e... – Nat colocou a mão na boca. – Aaah não Gabriel, embrulhou meu estomago...
Me deu uma vontade de comer pamonha...

- Pamonha? – Gabriel perguntou incrédulo. – Nat, ontem eu trouxe Piracicaba inteira pra você comer e você
disse que não estava podendo sentir o cheiro de pamonha...

- NÃO GRITA COMIGO... – Chorosa, irritante. – Gabriel, eu estou sensível!

Eu não vou julgar a Nat porque fiz muito disso com o Bruno quando engravidei da Heleninha. E quando eu fui
visita-la para saber tudo sobre o 1 e o 2 é lógico que fiz questão de mima-la muito. No fim da visita ela sorriu
e veio me dizer.

- Era isso que você esperava de mim quando estava grávida da Helena, né?

- Apesar de tudo, Nat, você foi uma boa companheira pra mim e foi muito bom enquanto durou. – Trocamos
um beijo no rosto eu brinquei com a barriguinha dela. – E a senhora trate de não pegar muito pesado naquele
hospital que quero esses dois feijõezinhos brincando muito com a minha filha...

Ainda falando em Nat e do Gabriel, Silvinha liberou o nome dos dois para serem pronunciados em sua
presença, é claro com a condição de serem pronunciados para Gabriel e Nat serem mal falados. A Nat tentou
fazer as pazes com minha prima quatro vezes e duas vezes só saiu viva por causa dos bebês, nas outras quase
teve que operar o nariz pela segunda vez por conta da porta que Silvinha meteu em sua cara.

Rebeca, Bruno, Cíntia, Isa e Dona Regina estavam envolvidissimos com os últimos preparativos do

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

casamento. Alguém tinha deixado escapar para imprensa que a modelo do filtro solar , Rebeca Martins, ia se
casar e vários jornais ficavam em cima dos noivos e dos amigos querendo saber fofocas sobre a festa,
enchendo o nosso saco. Nesse tempo também Giovanna e Manu conquistaram a guarda provisória de Luigi e
ele finalmente recebia alta do hospital. Manu só ficariam mais duas semanas entre a gente para esperar a
aberturar da UTI Neonatal e Pediátrica para poder voltar a São Paulo com sua missão cumprida. Quem
lucrou com essa história toda foi Paula e eu. As duas convidaram Júlia e eu para um jantar, acreditamos que
era só um programa a quatro, típicos de casais amigos, quando chegamos lá Giovanna me estendeu o
presente enquanto servia o vinho.

- Eu quero você Alice e a Paula como madrinhas do nosso primeiro filho... – Júlia e eu nos entreolhamos
surpresas. Abri um sorriso de orelha a orelha, eu nunca tive um afilhado. Luigi sairia do hospital no dia
seguinte. – Alice se não fosse você ter achado aquele menino a gente nunca teria conhecido o Luigi e se não
fosse a Paula me fazer enxergar a “testa dura” que eu estava sendo, eu nunca ia conseguir ser mãe do meu
filho... Ninguém melhor que vocês para cuidar dele em nossa ausência. – Você aceita?

- Eu-Eu... – Eu estava tão nervosa que atrapalhei todos meus pensamentos. – O que é “testa dura”?

As três sorriram com meu jeito infantil, ganhei um beijinho da minha namorada que estava feliz por mim e Júlia
me salvou.

- É claro que essa doidinha aceita, Giovanna... Já viu o sorrisão dela agora?

Esse jantar aconteceu um dia antes do casamento. No dia seguinte acordei com um pouquinho de dor de
cabeça por causa do vinho, mas a noite havia sido ótima. Depois da comida, Giovanna se animou em pedir
mais uma garrafa de vinho e no meio da garrafa já estava meio de pileque. Ela começou a soltar uns beijinhos
e uns carinhos mais travessos em Manu. Júlia e eu inspiradas por elas também começamos a nos provocar
por baixo da mesa. Pagamos a conta e na saída do restaurante, Júlia inventou de caminharmos até um parque
que tinha por ali perto.

- É lindo, vocês vão adorar...

Estávamos todas no carro de Manu, em quinze minutos chegamos ao tal parque que realmente era lindo de
noite devido às luzes de um lago que tinha por ali. Movidas pelo romantismo do lugar os carinhos entre os
casais começaram a ficar mais intensos. Quando dei por mim tinha esquecido completamente de Giovanna e
Manu e estava dando malho com Júlia em um dos banquinhos de concreto a beira do lago. Nossa troca de
olhares naquele dia estava tão clara que parecia que queríamos nos decifrar só com aquele contato. Os dedos
de Júlia desceram pelo rosto e ela desenhou minhas feições.

- O que você faz comigo, hein menina? – Sorri. - Olha eu aqui, quase 40 anos na cara dando uma de
adolescente...

- Você vive me chamando de menina, mas já se olhou no espelho... – Júlia sorriu desarmada. – Esse olhar,
esse sorriso... – Trocamos um beijo. – Ficou louca com esse jeitinho de garota com esse corpão de mulher...

- AAAAh, só o corpo interessa?

Fiz um gesto negativo.

- A aparência veio só pra coroar o resto... – Sorrimos. Olhei em seus olhos. – Apaixonei por você usando
poncho e bigode... – E provoquei mordendo seus lábios bem devagar. – Menina...

E nos entregamos a um novo beijo. Manu e Giovanna? As duas estavam lá no carro também se curtindo. Só
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

chegamos em casa de madrugada, com a libido tão alta que eu sentia que a qualquer momento podia explodir.
Descemos do carro, puxei Júlia pelo pescoço intensificando nosso beijo, mordi a boca dela com um pouco de
força, ouvi seu gemido de prazer. Deliciosa. Uma das mãos se fechou sobre minhas costelas e meu deu aquela
pegada que me fazia revirar os olhos. Ela desceu com a boca pelo meu queixo, deu umas mordidinhas que me
tirou do sério, subiu com boca até morder meu ouvido e perguntou como eu queria.

- Eu quero rebolar pra você... No seu colo...

- Safada...

- Gostosa!

Seguimos direto para o quarto porque João agora morava de vez com a gente e aquele dia Lasanha também
dormia em casa. A Heleninha estava com meu pai. Ele tinha chegado para me visitar a dois dias e tinha pedido
para passar a noite com ela para matar a saudade. Dormi às cinco da manhã. Acordei com o barulho da porta
se abrindo e Júlia entrava com uma bandeja de café da manhã linda, cheia de bolachas, pães, chocolate e
gordices que eu amava. Chitãozinho e Xororó, dois gatos vira-latas que apareceram no meu quintal e que eu
resolvi adotá-los acompanhavam elaC com certeza em busca de comida. Sorri ao ver a quantidade de comida
da bandeja.

- Cafézinho na cama? O que eu fiz, hein...

- Não posso mimar minha namorada nem um pouquinho? – Ela perguntou enquanto beijava minha boca com
um gostinho de menta. Júlia usava só um shortinho de dormir uma blusinha branca, aquele shortinho velho
mexia comigo me despertava de uma forma... Deixei meus dedos escorregarem de leve para dentro da perna
do short e acariciarem sua coxa. – A-Alice?

- Shiiiu, só quero fazer amor com você mais um pouquinho.

Coloquei a bandeja com o café da manhã no criado mudo ao lado, dei um “chispa” ao Chitãozinho e Xororó
e tranquei a porta. Voltei a me ocupar do que estava fazendo. Beijei seus lábios de forma doce enquanto a
masturbava. Ao sentir que estava chegando ao orgasmo ela tomou minha boca com paixão, sua língua se
derreteu sobre a minha de um jeito delicioso que me fez perder a noção de tempo e espaço e só fui recuperá-
la depois de uma hora quando estava nua, quase cochilando entre os braços de Júlia e João junto com
Lasanha nos chamou de volta a realidade com toques na porta.

- AI TIA JÚLIA, CORRE AQUI, OS NAMORADOS DA MÃE DA ALICE VÃO SAIR NA MÃO!

- CORRE MÃE!

Namorados da mãe da Alice? Meu Deus, se a Alice sou eu os namorados eram da minha mãe. Em menos de
dez segundos nos vestimos e corremos para apagar aquele incêndio. Ao chegar no quintal da minha casa uma
cena patética entre Leandro e Marquinhos.

- SAI CARA, NÃO SABE PERDER NÃO? – Marquinhos perguntou irritado. - A FILA DA GATA
ANDOU LÁ EM SÃO PAULO, OW TAMPINHA!

O Leandro era mesmo tampinha.

- CALA BOCA SEU OGRO, A MINHA TIGRESINHA GOSTA DO TIGRÃO AQUI...

-UUUI, O TIGRÃO TÁ MAIS PRA GATINHO...


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- COMO É QUE É? – Irritado. – A VERINHA VAI NO CASAMENTO COMIGO!

- ELA VAI COMIGO!

Os dois quase chegavam às vias de fato. Júlia segurava Leandro e do outro lado seu Nélio, motorista que veio
trazendo Bruno e Isa se encarregava de Marquinhos. Enquanto aqueles dois ficavam se digladiando para ver
quem levava o prêmio de idiota do mês, Bruno, Isa e as crianças se divertiam à custa dos dois.

- Aposto trinta reais que o Leandro apanha... – Isa começou. – Ele tem cara daqueles gordinhos que levavam
lanche da escola e tomava pescotapa dos maiores.

- O que é pescotapa? É tipo Pedala Robinho? – Lasanha perguntou. – Acho que eu vou no Leandro viu, ele é
baixinho, mas tem potencial... O João deu na cara daquele moleque da sexta série que era maior que ele... Vai
que...

- Isso. Tapa no pescoço. – Isa explicou. – E o Leandro é mão de alface... Devia levar pescotapa e chorava
no colo da professora...

- E como você sabe que davam pescotapa? – João perguntou curioso. – Vou no Marquinhos também... Ele
tem mão grande.

- Porque eu dava pescotapa pra pegar o lanche dos outros. – Isa explicou deseducando as crianças. - Vai,
Marquinhos!

- Espera esse é o Marquinhos amigo da Alice? Ah, bota uns 150 meu ai... – Bruno se meteu. - Leandro é
meu padrinho de casamento, mas ruim de briga... E eu já sai na mão com o Marquinhos por causa da Becca,
cara é bom de porrada, só perde da Pamonha. – E confessou. - Aquilo lá tem uma mão... Vi estrela...

- OOOOOOh Pode parar... – Isa se meteu. – Você vem tirar a Rebeca que é o que a gente tem de mais belo
naquele apartamento e ainda arranca dinheiro de mim? Pode cair fora... – Virou se para Marquinhos. – Bora
Marquinhos, mete o pau ai nego, vale dinheiro...

Lá dentro de casa eu procurava a gata, a tigresa da minha mãe para tentar controlar seus dois felinos. Ouvi
Heleninha balbuciar qualquer coisinha de dentro de seu berço e um barulho vindo de meu quarto. Oras, o que
Heleninha estava fazendo ali se ela passou a noite com meu pai e meu pai estava hospedado na casa do tio
Afrânio, seu irmão? As vozes de Leandro e Marquinhos agora entravam em minha casa. Dei três toques na
porta e ouvi mais vozes no quarto. Mais três toques, a porta se abriu. Abri a boca espantada.

- MÃE?! PAI?!

- VERINHA?

Antes de eu conseguir fechar a porta, Marquinhos e Leandro já tinham conseguido pegar o flagra. Minha mãe
seminua e meu pai de samba canção trancados dentro do quarto se pegando. E lá se fosse anos de terapia
pelo ralo. Se faltasse algo para diagnosticar o flagrante, a frase seguinte da minha mãe sanaria qualquer
dúvida:

- Calma, não é nada disso que vocês estão pensando...

Enquanto mamãe tentava explicar o inexplicável para seus dois amantes na sala, eu me tranquei no quarto com
o doutor Jorge querendo explicações sobre o assunto. Ele, filho de uma boa mãe sorriu e cantarolou
debochado.
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- Ai, ai ,ai ,ai ai, assim você mata o papai... Ai, ai, ai, ai, ai...

Não agüentei e também ri.

- Vocês dois não tem jeito. – Dei um tapinha carinhoso na testa dele. - Juizo viu , seu Jorginho! Vocês
voltaram?

Ele fez um gesto negativo.

- Filha é só sexo, não quero mais nada com a bruxa da tua mãe. – Como ela não queria mais nada com o
“velho careca do meu pai”, vai vendo... – Só um lance, um fato isolado, casual. – E voltou a cantarolar
animado. - Ai, ai ,ai ,ai ai, assim você mata o papai...

Meus pais tendo sexo casual e eu aqui ainda reclamando que o SBT parou de transmitir Chapolin. É, mais
lições da vida!

____________________________________________________________________________

A cerimônia religiosa seria realizada na igreja que ficava no centro da cidade. Era uma paróquia que levava o
nome de Nossa Senhora das Graças. Enquanto Bruno preferiu se trocar na cabana para fazer surpresa à
noiva e também a sua avó, Rebeca se trocaria lá com ajuda das meninas, maquiadores e costureiros.

Em outras palavras o já zoneado apartamento da minha prima estava mais bagunçado que Natal em casa de
vó. Um monte de mulher desfilando de calcinha e sutiã, se matando por mais cinco minutos em um banheiro e
qualquer homem que chegasse próximo ao apartamento elas faziam um enxame por acreditar que era o noivo.
Apenas Serginho, que levaria a irmã ao altar, poderia ver Rebeca. Giovanna tinha observado que diversas
vezes ele havia se levantado para tomar água na cozinha e não largava um envelope de suas mãos. Ela julgou
que seu nervoso fosse por conta do casamento e não deu muita importância a ele sem saber que a inquietação
de Serginho tinha outro motivo. Logo pela manhã ele chegava em casa de mais uma noitada fora,
cumprimentou seu Clemente, porteiro do prédio, que tinha uma entrega a fazer.

- Você é o Sérgio, irmão da moça que vai casar, né?

- Isso...

- Deixaram esse envelope pra você...

- Quem?

- Uma moça ai... Ela não quis me dar o nome, mas disse que era da parte do Miguel. – Serginho gelou, sabia
muito bem que o nome de Fumaça era Miguel. – Não tem meia hora que ela saiu.

- Obrigado.

Serginho pegou o envelope das mãos do homem e subiu. Curioso deixou para ver o que era o conteúdo do
envelope só depois de se trancar no banheiro. Ao reconhecer sua imagem recebendo dinheiro junto de Abgail
nas fotos, sentiu as mãos gelarem e a boca ficar seca. Se aquela história vazasse estaria perdido. Rebeca
nunca o perdoaria e Abgail com certeza o ejetaria de sua vida para sempre. A irmã sempre foi seu porto
seguro financeiro nos maus dias, não poderia perder de vez a confiança dela. Além das fotos havia um bilhete
sem assinatura.

SEI QUE VOCÊ ESTA COM A VELHA. ME ENCONTRE AS DEZ DA NOITE ATRÁS DA IGREJA,

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PRECISAMOS NEGOCIAR.

Oras e ele teria algo mais a perder se não fosse?

Serginho saiu do banheiro com o envelope nas mãos sobre o protesto de Paula e Silvinha que brigavam para
ver quem usaria o banheiro primeiro. Serginho ia descer para guardar as fotos no fusca quando alguém o
puxou pela mão, era Valda com uma das maquiadoras, a lâmpada do quarto tinha queimado e precisavam de
alguém para trocá-la.

- Mas eu tenho que guardar isso lá embaixo e...

- Depois, sua irmã não pode casar parecendo o bozó meu querido...

Valda jogou o envelope com as fotos sobre a mesa e antes de Serginho pegar o envelope de volta já o
empurrava na direção do quarto. Cinco minutos depois Serginho voltava a sala, mas o envelope já não estava
sobre a mesa.

- Não... – Desesperado. – Isso não pode estar acontecendo...

No quarto, Cíntia ao telefone conversava com alguém no telefone e estava com o envelope de Serginho nas
mãos acreditando ser o envelope que usava para guardar as notas fiscais dos gastos das festas. Conversava
distraidamente com alguém. Abriu o envelope. As primeiras fotos que viu não reconheceu de quem se tratava.
Só depois da quarta foto que reconheceu o penteado do loirinho de cavanhaque das fotos. Luana tinha
pegado imagens muito boas dois e de toda a movimentação. Com dificuldade Cíntia leu o bilhete, juntou dois
e dois e logo concluiu que alguma coisa muito errada estava acontecendo. Com a desculpa de que precisava
esperar o florista na igreja, Cíntia saiu mais cedo que as meninas e seguiu para lá, transtornada, seu encontro
não era com o florista nenhuma, Isa que tinha recebido um telefonema seu a esperava. A cara de Cíntia não
estava nada boa, ao contrário de Isa que arregalou os olhos e sorriu ao vê-la ali na sacristia da igreja.

- Que foi, Isa? – Cíntia perguntou preocupada. – Aconteceu alguma coisa?

- Nossa, é que você esta... Esse vestido ficou legal em você e... Ele é lindo.

- Ah Isa, deixa de besteira... Tenho assunto importante pra falar com você...

O vestido era bonito mesmo, marrom escuro com uma echarpe sobre seu colo, longo, cheio de pedrinhas.
Cíntia era alta, tinha um porte para carregar um vestido daqueles, os cabelos já estavam poucos mais
crescidos, o cabeleireiro havia feito um penteado que deu um ar moderno em seu visual, ela estava linda. Isa
ouviu tudo que Cíntia lhe falava com atenção, não total atenção que ás vezes ela se pegava distraída
observando como Cíntia estava bem aquela noite. Linda.

- Isa, você esta me escutando...

- Claro, você estava falando sobre o Serginho.

- Quer ver as fotos?

- Que fotos?

- Pô Isa, hoje você esta foda... – Cíntia entregou o envelope a Isa que estava com vestido negro. – Vê isso
aqui...

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Por alguns segundos Isa voltou toda sua atenção as fotos e ao bilhete.

- E aí?

- Esse cara... Ele esta fazendo michê... – Espantada. - Programa com a mãe do Bruno?

Era o que Cíntia mais temia ouvir.

- Isa, será que a gente não esta vendo coisa de mais?

Isa fez um gesto negativo.

- Não. A gente esta vendo coisa de menos e a Rebeca vendo tudo certinho. – Cíntia olhou intrigada. – De
uma hora pra outra o cara vagabundo apareceu cheio das roupas novas, dinheiro no bolso, sustentando
mamãe... Ela estava certa, ele esta fazendo coisa errada. Aceitando grana do jeito mais fácil do mundo –
Realmente sentida olhou para as fotos. – Cara, a gente tem que contar pra Rebeca... Esse cara é perigoso...

- Eu não sei se tenho coragem de contar... Não era melhor deixar esse assunto se resolver sozinho? Vai que
foi só uma vez e...

- Cíntia, uma vez? Esse cara não trabalha, só fica coçando o saco naquela oficina o dia inteiro... – Impaciente,
indignada. - Se fosse meu irmão eu não estava nem ai, mandava pastar e pronto, mas a Rebeca não é assim...
E você também não é assim! – Cíntia encarou Isa assustada. – A gente não pode deixar ele fazer a Rebeca de
trouxa. Você vai deixar ela sendo enganada mesmo depois do que ela fez pra gente?

Algumas horas antes Cíntia e Isa foram chamadas por Rebeca, a noiva queria conversar com as duas um
assunto particular, Isa foi toda contente acreditando que Rebeca poderia ter “caído em si” e cancelado o
casamento, mas o assunto não era esse.

Um presente de casamento? - Cíntia perguntou sem entender. - Pra mim?

Rebeca fez um gesto afirmativo e explicou.

- Um tio meu que não pode vir e mandou essa viagem de Lua de Mel, uma semana em Salvador sem saber
que a gente já tinha planejado a viagem pra Disney... Ai pra não perder a viagem eu sugeri para o Bruno dar
de presente a você. A Isa te acompanha, ela vai entrar de férias amanhã... Você ajudou tanto a gente com o
pedido, com a festa, com...

- Eu organizei o seu chá... - Isa fez questão de lembrar a Rebeca.

- Isa um bolo recheado com strippers não é bem um chá de cozinha... - Rebeca retrucou, Cíntia sorriu. Eu
achei super show de bola o chá da Rebeca, principalmente na hora que as strippers que eram um casal
tiveram um DR no meio da festa porque uma estava olhando demais para a doutora Paula. Bem mais divertido
que os chás tradicionais. - Mesmo assim você vai também... - Virou-se para Cíntia. - E ai, Cíntia, você
aceita? Vou me casar em três horas.

- Ai da tempo de você desistir...

- Cala boca, Isa... - Cíntia retrucou. Virou-se para Rebeca. - Eu aceito. A gente vai viajar sim pra Salvador
para a Lua de Mel! - Isa encarou Cíntia. - Do Bruno e da Rebeca...

Rebeca abraçou uma de cada lado e deu um beijo estalado no rosto.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Ai que bom que vocês aceitaram...

- Precisa abraçar? -Isa perguntou se desviando do abraço. Existe ser mais cri cri que a Isa, senhor? Tirando
a cri cri mor Natália? – Que mania de vocês... Ainda vem com boca melada beijando o rosto da gente...

- Eu gosto de abraçar minhas amigas... – Rebeca retrucou.

- É... Tudo começa assim, viu Rebeca, pra você tirar Shimbalaiê no violão e começar a baixar Xena pela
internet pouco custa... Deus esta vendo!

Essa é a Isa pensando putarias em nome de Deus. Rebeca revirou os olhos, deu mais um abraço de urso para
irritar Isa e saiu do quarto para se transformar em noiva. Cíntia toda contente já fazia mil planos para a viagem
das duas.

- Mas...

O celular de Cíntia interrompeu as duas. Cíntia arregalou os olhos amedrontada.

- É a Rebeca.

- Você vai falar para ela?

- Eu...

Outra vez o celular.

- Atende logo.

- Alô... -...-Oi Becca... -...- O Bruno já chegou, esta lá fora com a Júlia e os meninos, a igreja esta cheia já...
-... Isa encarava Cíntia incrédula. - Pode sair sim... -...- É Becca eu queria te falar uma coisa... – Troca de
olhares entre Isa e Cíntia. – Eu queria te desejar boa sorte, amiga... Toda sorte do mundo. - ... – Eu sei
Becca, você também é como uma irmã pra mim... – O ultimo que a Rebeca chamou de irmã ela esta levando
para o altar. – Tá bom, Becca, beijo. – Desligou. Encarou Isa mais uma vez. – Eu vou contar a ela... Só que
não assim, né?

____________________________________________________________________________

Eu não fui para igreja com Júlia e o restante da minha família porque Rebeca queria que eu saísse com ela
Dona Sônia e Serginho do apartamento. Quando cheguei lá ele revirava a casa inteira. Dona Sônia sorriu para
mim desarmada.

- Alice, você ficou linda.

Eu estava me sentido bonita mesmo. Meu vestido de madrinha era um vestido longo vermelho cereja, inteiro,
sem babados e tomara que caia, meu cabelos estavam presos em um coque, minha boca um batom claro e os
olhos o maquiador reforçou o azul jogando uma pintura mais destacada. Heleninha estava comigo também
usando vestido de casamento. Como eu disse, estava me achando bonita, mas quando Rebeca saiu do quarto,
pronta, sorri maravilhada com o resultado e devolvi a gentileza a dona Sônia.

- Não como sua filha.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Filha... Você ficou uma princesa...

Até o bocó do Serginho parou de remexer a casa para admirar a irmã.

- Ficou bom mesmo.

Affê, homens. “Ficou bom mesmo”. Bom ficava meu pavê de limão. Rebeca era a noiva mais linda que eu
tinha visto na vida, sem sombra de dúvidas. Os cabelos vermelhos estavam presos em uma trança lateral que
caia sobre seu ombro direito. O vestido era um tomara que caia com bolerinho transparente e a maquiagem
escura contratava com a pele branca neve da Rebeca. Ela sorriu para mim e eu sorri de volta.

- Eu vou casar com a nossa irmã mais nova, Allie! Não acredito! Vamos ser concunhadas de verdade!

Minha vontade era abraça-la muito e desejar toda a sorte do mundo para ela porque minha amiga, minha
irmãzinha mais nova merecia tudo de bom, mas não fiz isso para não chegarmos amarrotadas, no lugar disso
trocamos dois beijos e falei a ela.

- Se você e minha irmã mais nova não fizerem um ao outro feliz eu mato vocês dois.

Serginho nos interrompeu.

- O carro esta esperando lá embaixo.

A igreja ficava a duas quadras de lá, mas é lógico que não íamos de táxi. Chegamos na igreja em um desses
carrões dos anos 30/40 todo conservado, de casamento mesmo. Eu me senti em um verdadeiro red carpet
de Hollywood. A imprensa foi tão mala que até paparrazis desaas revistas de fofoca e moda mandaram para a
porta da igreja para ver detallhes do casamento, do vestido de Rebeca. Também havia fotógrafos da Folha de
Silvéster, Bruno era neto de uma das famílias mais tradicionais da cidade. Descemos do carro e vários flashes
vieram em nossa disseram. Rebeca tremia, mas soube lidar bem com o assédio.

Os padrinhos e as madrinhas junto com Laísa, daminha de honra esperava por nós. Um a um entravámos.
Nat e Gabriel, Cíntia e Anderson, Júlia e Dênis, um amigo de infância da Rebeca, Leandro e eu. Atrás de nós
Laísa trazia as alianças dos noivos toda sorridente. Rebeca teve sua entrada anunciada com cornetas e de
braços dados a Serginho atravessou o corredor entre os bancos emocionada ao som da música “She-Elvis
Costelo”.

Uma coisa eu tinha que admitir, ela com o sem vergonha do Serginho faziam um casal bonito. Só não mais
bonito que com o Bruno. Ela estava mais gato do que nunca com um terno preto de risca de giz. Enquanto o
padre velhinho ia realizando a cerimônia foi me batendo um filme na cabeça de quanta coisa aconteceu
naquele tempo todo que conheci os dois. Meus eternos companheiros da republica de estudantes que não
tinham estudantes. Do outro lado do altar a Júlia ficava soltando “eu te amo” para mim sem som enquanto o
padre abençoava os noivos e eles trocaram as alianças, eu devolvia o “eu te amo” pra ela.

- Eu vos declaro marido e mulher. – O padre sorriu para Bruno. – Pode beijar sua esposa.

Bruno não apenas beijou a esposa como a ergueu e rodopiou com ela em seus braços. O padre não
bronqueou, apenas sorriu com o gesto apaixonado do rapaz. Júlia se aproximou de mim com um sorriso no
rosto quando saímos da igreja, observou a felicidade de rebeca e do irmão, sorriu e sussurrou no meu ouvido.

- Pedido de conto de fadas, música de cinema, vestido de princesa, lua de mel na Disney... Duas crianças...
Parece que estão fazendo a primeira comunhão.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Concordei com ela, trocamos um beijo e ela me perguntou.

- Você também quer ir pra Disney na sua lua de mel?

Fiz um gesto negativo.

- Meu sonho é Europa. Lisboa, Paris, Milão...

- Prefiro passar no Brasil... Foz de Iguaçu, Manaus...

Trocamos um beijo.

- Veneza... Não morro sem conhecer Veneza...

Trocamos mais alguns beijinhos e seguimos para as comemorações.

O mais legal do casamento mesmo é a festa. No deles não foi diferente. E que festa. A fazenda estava toda
decorada, com serviço de Buffet, linda! Primeiro eles dançaram a valsa tradicional. No meio da valsa o DJ, já
combinando com os noivos mudou de ritmo para Kuduro e eles fizeram a coreografia todinha abrindo a pista
de dança e a festa. Tá, assumo que na hora que eu vi a Rebeca “Com a mão pra cima, cintura solta, dando
meia volta, sacode duro” eu “Isei” e meu bateu deprê pelo lado colorido da vida não ter tocado a Rebeca,
mas foi coisa rápido de cinco segundos, quando olhei para o lado e vi minha morena “ mexer o Kuduro”
esqueci de Rebeca e babei legal pelos quadris de Júlia. Com a pista de dança aberta a festa logo começou a
bombar. As comidas do jantar eram coisas de outro mundo de tão deliciosas, desde comida japonesa até
churrasco a gaúcha, típico da terra da noiva. Cíntia tinha talento como organizadora de festas, fato. Não
deixou faltar nada.

Depois de três horas de dança e comida, quando começou a tocar pagode a Guerra Fria entre Nat e Silvinha
teve inicio. Eu estava com minha prima na mesa dela tentando anima-la contei o caso da minha mãe com seus
dois amantes para Silvinha.

- Alice, você quer o que, jogar na minha cara que sua mãe tem três homens e eu estou aqui sentada nessa
mesa com minha libido em baixa parecendo um Ferrero Rocher com esse vestido e chorando por aquela
cachorra da Natália?

- Cala a boca Silvinha, você esta linda... Quero que você sei lá, se anime, se levante, vai pra pista de dança,
mulher... Vai pra... – Aproveitei outro deprê na mesa ao lado, Marquinhos e o puxei e joguei em cima de
Silvinha. – Marquinhos acompanha minha prima, vai Silvinha, você ama sambar...

- Não...

Dez minutos depois Nat foi até a mesa com uma cerveja nas mãos. Ofereceu a Silvinha que aceitou de bom
grado.

- Eu queria conversar com você...

- Eu estou conversando com outras pessoas. Com a Alice, com o Marquinhos, com a Ingrid.

- E daí? – Nat sempre doce. - Não pode interromper um minuto da sua conversa pra me dar atenção? – Ela
cobrou. - Silvinha uma coisa é você estar com raiva de mim outra coisa é você virar o ser mais intratável do
mundo por algo que eu já tinha te pedido desculpas e...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Sabe de uma coisa... – Minha prima se levantou. – Vou pra pista. Adoro dançar, sempre sonhei em ser
madrinha de bateria.

Nat resolveu alfineta-la.

- Pra ser madrinha de bateria tem que saber sambar.

E foi declarada a terceira guerra mundial. Silvinha sorriu, jogou os cabelos.

- Dá licença, não vim aqui pra bater ficar batendo papo com seu ninguém... – Varreu os olhos, sorriu ao ver
sua presa. – Júlia, vem dançar comigo?

- Ãh?! Silvinha eu...

A coitada da minha namorada nem pode pensar muito porque já era arrastada de volta para a pista de dança.
Quando eu disse Silvinha amava sambar não falei a toa, ela não só amava como sabia sambar muito bem.
Assim que ela entrou na pista começou a tocar uma música do Fundo de Quintal.

Vai lá, vai lá!


Vai lá, vai lá!
Vai lá, vai lá!
Vai lá, vai lá!

Vai lá!
Vai lá no Cacique sambar
Não fique de marra vem cá
Não deixe essa onda quebrar
Meu barco já vai navegar
Vou dar a partida...

Ela conduziu Júlia até a pista e começou com os primeiros movimentos da dança. A filha da mãe é gostosa. E
o pior que ela sabe que é gostosa. Silvinha usava e abusa dos movimentos sensuais pra cima de Júlia que
parecia aturdida. Nem ciúme tive, mas eu quis matar Silvinha porque ela estava usando Júlia para ferir Nat.
Só na pista que Júlia percebeu o que acontecia.

Iô iô, iô iô!
Iô iô, iô iô!
Iô iô, iô iô!
Iô iô, iô iô!

Vem cá!
Um pudim sem coco
Não dá
Já tô preparando o jantar
Tem prá sobremesa, manjar
Pimenta não pode faltar
Feijão sem tempero
É ruim de aturar...

É, pois é!
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Estou procurando o José


Ficou de me dar um qualquer
Busquei na Bahia um axé
De olho no acarajé
Ganhei uma preta
No candomblé...

Iô iô, iô iô!
Iô iô, iô iô!
Iô iô, iô iô!
Iô iô, iô iô!
Ai, ai, ai, ai!

Depois minha prima puxou Rebeca que feliz, já alegre pela bebida e alheia aos acontecimentos correspondeu
e sambou de igual para igual com Silvinha para ódio de Nat e para alegria e deleite das lésbicas e dos homens
presentes. Até o vocalista do grupo de pagode sorriu com as duas. Rebeca sambava tão bem ou melhor que
Silvinha.

Vem cá!
Um pudim sem coco
Não dá
Já tô preparando o jantar
Tem prá sobremesa, manjar
Pimenta não pode faltar
Feijão sem tempero
É ruim de aturar...

Iô iô, iô iô!
Iô iô, iô iô!
Iô iô, iô iô!
Iô iô, iô iô!

É, pois é!
Eu tô procurando o José
Ficou de me dar um qualquer
Busquei na Bahia um axé
De olho no acarajé
Ganhei uma preta
No candomblé...

Minha prima era uma cachorra em série. Saiu de Rebeca e se esfregou de costas em Cíntia, depois fez um
carinho mega provocador no rosto de Manu, se ofereceu a Giovanna, sarrou em Paula e por fim puxou Isa.
Em menos de cinco conseguiu atenção de sete mulheres diferentes.

Iô iô, iô iô!
Iô iô, iô iô!
Iô iô, iô iô!
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Iô iô, iô iô!
Ai, ai, ai, ai!...

No final da música achei que Isa derreteria devido ao olhar duro de Nat. E não satisfeita com seu feito,
Silvinha puxou Isa para um beijo nada menos que escandaloso. Nem a coitada da Isa entendia o que estava
acontecendo, mas correspondeu por instinto. Foram ovacionadas por boa parte dos convidados. Meu tio
Afrânio ao lado de papai não sabia onde enfiar a cara, Silvinha sorriu, virou-se para Nat.

- Você queria o que mesmo?

- Vá a merda!

Eu ainda fui atrás de Nat.

- Nat, não leva a sério. Se você gosta da Silvinha de verdade não desiste dela.

- Você esta louca? – Nat me devolveu agressiva. – Eu nunca mais quero ouvir falar no nome dessa... – Gritou
para que Silvinha ouvisse. – BRUXA!

E saiu pisando duro. Cruzou com Júlia e quase a derrubou, Júlia veio falar comigo.

- Eu juro que não entendi nada...

- Esquece essas duas... Vem, vamos aproveitar que a Lelê tá lá no quarto e dança um pouquinho comigo.

Enquanto eu curtia minha namorada na pista de dança, Isa começava a medir a consequência de seus atos.
Assim que saiu da pista foi procurar por Cíntia para saber se já tinha alguma ideia do que ia falar para Rebeca
sobre Serginho.

- Isso é um problema meu com ela... Eu resolvo! – Isa encarou Cíntia sem entender o porque da patada.
Cíntia não se deu ao trabalho de responder. Aproveitou que Ingrid estava ali por perto e pediu para a sócia
da prima acompanhá-la até o banheiro retocar a maquiagem. Só quando chegou no lavabo, Cíntia percebeu
os olhares nada discretos da outra. – Ingrid?

- Oi?

- Tudo bem?

- Tudo, tudo ótimo. – Sorriu. – Você ficou maravilhosa nesse vestido.

- Você também esta bonita.

Ingrid era bonita. Miudinha, não muito alta, os cabelos dourados meio repicados, 30 anos, tinha um sorriso
doce nos lábios e passava um ar de seriedade sempre que conversava com qualquer pessoa. Ingrid se
aproximou de Cíntia que apesar de maior estava sendo pressionada contra a pia do banheiro.

- Não consigo tirar os olhos de você desde a igreja... A chata da Isa não saia de perto e...

Cíntia colocou as mãos em um dos ombros de Ingrid a afastou.

- Ingrid, não quero nada... Não nesse momento, esta muito cedo ainda... – Disse em um tom melancólico. –
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Por favor, eu...

Ingrid sorriu.

- Calma moça... Sua mão esta gelada você esta nervosa, eu... Eu só queria te dizer isso... Eu imagino que
deve ser difícil pra você, mas só queria te dizer que você esta linda hoje. – Cintia sorriu com o gesto, ganhou
um beijo no rosto. – Eu sou paciente e sei esperar.

Quando as duas saíram do banheiro encontraram com Isa que devolveu a patada a Cíntia.

- Tem mais gente querendo usar o banheiro.

Bateu a porta com tudo, Ingrid e Cíntia se entreolharam.

- A Isa é de lua, deixa ela...

Meia hora mais tarde a Guerra Nat e Silvinha continuaria. E dessa vez com ajuda do destino. Rebeca subiu no
palco anunciando que ia começar a disputa por seu buque, que as moças solteiras deviam ir para frente.
Anderson, era a primeira moça da fila, disputava lugar com minha mãe e tia Júnia.

- Vou jogar... – Rebeca não parava de ameaçar. – É 1... É 2...

E nunca jogava para desespero das solteiras e sarro de quem estava vendo a disputa. Quando Rebeca
finalmente soltou o punhado de lírios de suas mãos e jogou sem ver que direção que ia dar não notou que as
flores tocaram em uma das colunas do enorme salão da fazenda e foram cair no colo de justamente quem
estava fora da disputa e com cara de quem não estava nem um pouco a fim de festa.

- Ah, não vale jogar pra cunhada desencalhar... – Anderson reclamou chateado.

- Coitada... – Isa lamentou pela próxima noiva. - Joga o buque de novo.

Nat segurou o buque nas mãos.

- Por que? Alguma coisa contra em eu ser a próxima noiva? Caiu em minhas mãos...

Rebeca sorriu satisfeita.

- Só quero ver nas mãos de quem a senhora vai cair, cunhadinha... Tomara que essa cabeça dura resolva
marcar logo esse casamento antes desse buque murchar, não é? – Rebeca brincou dando uma piscadinha
cúmplice para Nat.

Bruno tomou o microfone da mão de sua esposa, também já estava pra lá de bêbado.

– Por que já não pede logo, Nat? – E puxou o coro. – PEDE, PEDE, PEDE!

Invariavelmente quase todos os olhares foram em direção de Silvinha que baixou a cabeça com um sorrisinho
tímido. Nat sorriu de volta, pediu o microfone a Rebeca, de mão em mão o microfone chegou até Nat. Ela
limpou a garganta e então começou seu discurso.

- Bom, primeiramente eu não sei o que dizer... Não fiz lição de casa com meu maninho caçula e não me
preparei um out door pra você, mas eu queria que você soubesse que tudo que eu sinto por você é tão
especial como o amor desses dois que hoje dão mais um passo em sua vida. – Nat foi abrindo caminho entre
as pessoas. Se aproximando de Silvinha. – E eu acho que chegou a nossa vez... Depois de tudo que a gente já
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

viveu... Eu sei que somos pessoas completamente opostas, mas não dizem que são os opostos que se
atraem? Eu estou a fim de ter minha família com você, de te fazer feliz como a gente merece porque eu amo
você demais. – Nat estava a dois passos de Silvinha, minha prima abriu o sorriso e o mesmo sorriso morreu
quando Nat passou reto por ela como se não a conhecesse, deu mais um passo, Silvinha se virou surpresa. –
Casa comigo, Gabriel?

Olha, acho que esse foi o tapa de luva de pelica mais bem dado que eu vi na minha vida. Silvinha mudou de
expressão em segundos. Minha prima estava com a face no chão como grande parte de nós. Até pensar em
voz alta ela pensou.

- Deixa de ser idiota, ele não vai aceitar isso. Você quer o que?

Nat não deu ouvidos a Silvinha. Mais coro dessa vez era “ACEITA, ACEITA” Gabriel firme murmurou:

- Aceito!

Apesar da maioria ser pega de surpresa, o casal recebeu muitos aplausos e para coroar o golpe fatal, Nat
puxou Gabriel para um beijo apaixonado. O DJ voltou a colocar a música, tinha mudado de pagode para
sertanejo universitário, Tchu Tcha, Tchu Tcha. Silvinha fuzilava os dois com ódio, virou uma caipirinha que
estava em suas mãos de uma vez só.

- Silvinha, vai com calma... – Alertei. – Não bebe desse jeito.

- Estou ótima, Alice, não vou ficar bêbada. – O garçom passou com mais drinques, Silvinha pegou um
copinho de cachaça puro, virou de uma vez. – Tem Absinto?

- Silvinha...

- Fica quieta Alice, eu nunca fico bêbada.

Gabriel e Nat se separaram para pegar ar e os dele cruzaram com um par de olhos castanhos sem brilho
nenhum. Envergonhada por estar triste ela baixou a cabeça e saiu da pista de dança e sumiu no meio das
pessoas. Nat tentou beijar Gabriel, mas ele desviou o rosto.

- Gabriel?

- Eu já volto...

E saiu atrás de Paula, a encontrou dez minutos depois dentro de um dos quartos da casa. O nariz vermelho e
ainda cabisbaixa. Quando notou sua presença no cômodo Paula franziu o nariz e disfarçou um resfriado.

- Tudo bem? – Ele perguntou meio confuso.

- Tudo. Só queria um remédio para dor de cabeça. Esta doendo um pouco.

- Você quer que eu chame alguma médico? – Sorriu. – É o que não falta aqui.

- Eu sou médica, esqueceu? Sei me virar... – Levemente irritada. – É melhor você voltar, sua noiva vai sentir
sua falta...

- Paula...

- Vai lá atrás da Nat vai... – Sorriu. – Você nunca fez outra coisa na vida, vai lá...
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Gabriel obedeceu Paula. Pela primeira vez, sem vontade nenhuma foi correr atrás de Natália.

Do outro lado estava eu lidando com a “pé de pinga” da minha prima. Eu nunca fico bêbada, eu nunca fico
bêbada e no meio da festa ela deu uma Heleninha Roitman e pediu para o DJ tocar um “mambo bem
caliente”. Duas horas depois estávamos Isa, Cíntia, Ingrid e eu na garagem da fazenda tentando fazer Silvinha
entrar no meu carro e ela ocupada em colher umas laranjas de um pé carregadinho a dois metros dali.

- Que isso Silvinha, o que você esta fazendo? Pra que você esta pegando tanta laranja?

- Estou juntando as esferas do dragão para entregar ao Goku. – Desculpe tia Guida, mas puta que o pariu!
Ele achava que estava dentro do Dragon Ball? - Me ajuda, Alice...

Essa hora me bateu uma vontade de fazer que nem minha xará e se meter no meio de um buraco. Isso porque
ela não estava bêbada. Só conseguimos entrar no maldito do carro por causa de Isa que garantiu a Silvinha.

Lá dentro da festa Júlia dava atenção a sua família que veio de longe para o casamento, tios e primas quando
um telefonema a fez voltar para um assunto que estava guardado há muito tempo, a paternidade de Natália.
Eram do asilo da tal Laila vizinha da falsa mãe da Nat. A mulher queria porque queria falar com ela. Ela tinha
lembrado de tudo.

- Agora?

- Vai saber quando a sanidade dela vai voltar...

Júlia tinha emprestado seu carro ao meu pai que levava minha mãe e Heleninha para casa. Eu estava lidando
com Silvinha, ela teria que se virar com carona de alguém e táxis. Foi até o portão da fazenda e encontrou
com uma convidada de Rebeca conhecida nossa, Taís. Já estava tirando o carro para sair, percebeu a aflição
de Júlia.

- Aconteceu alguma coisa?

- É que eu precisava de uma carona, eu... Droga estou sem carro...

- Calma Júlia... – Taís aproveitou minha ausência e resolveu mostrar sua verdadeira face, colocou sua mão
sobre o ombro da minha namorada e desceu os dedos pelos seus bíceps. Júlia, nervosa e ansiosa não
interpretou provocação no gesto. – Você esta nervosa... Pegou em sua mão. – Que mão gelada. Eu te dou
uma carona. Você precisa ir aonde?

- Serro Azul.

Taís sorriu satisfeita com a resposta, trajeto demorado, ficaria no mínimo uma hora a sós com Júlia.

-Eu levo você até lá.

Júlia sorriu surpresa com a resposta.

- Sério?

- Não é urgente? Então... Eu levo. Não custa nada e... – Taís sorriu. – Fecha os olhos, tem uma coisinha aqui
no seu olho. Júlia obedeceu. A vaca de Taís aproveitou o contato e ficou admirando o rosto da minha
namorada. Demorou alguns segundos e soprou cabelinho que tinha entre os cílios de Júlia. – Saiu... – O
manobrista chegava com o carro. Vamos?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Vamos!

As duas entraram no carro e nem viram que um dos impertinentes paparazzis que estavam na porta da igreja
seguiram os convidados até a festa e ficou ali de plantão para ver se conseguia algo do casamento de Rebeca.
Entediado por não ter nada de interessante ele tirou de toda movimentação de Júlia e Taís com direito a
mãozinha no rosto, sopro no olho e tudo mais. Quem visse as fotos sem maiores explicações acreditaria se
tratar de outra coisa. O fotografo sorriu e comentou com um dos seguranças.

- Já tenho matéria para amanhã: Romance lésbico incendeia festa de casamento de Rebeca Martins Franco? –
Sorriu satisfeito. – Meu editor vai adorar essas fotos!

Do carro Júlia me mandou uma mensagem que teria que sair mais cedo da festa para resolver um problema.
Eu acreditando que era algo banal e que ela estava sozinha só mandei uma mensagem de volta falando sobre o
estado de Silvinha e avisando que era então para nos vermos no dia seguinte.

_________________________________________________________________________

Na fazenda já passava das quatro da manhã quando Rebeca sentiu o cansaço bater, até sua bebedeira já
havia passado. Bruno se despedia das ultimas pessoas e preparava o carro para seguirem ate o centro da
cidade. Passariam a noite na suíte de um hotel e de lá seguiram para Guarulhos para embarcarem em um avião
para Los Angeles. Rebeca entrou em um dos quartos para ajeitar o vestido de noiva. Na cama reconheceu a
bolsa de madrinha de Cíntia e ao lado um envelope. Leu o nome. Serginho. O que Cíntia estava fazendo com
aquilo? Curiosa pegou o envelope que já estava aberto e as fotos caíram junto do bilhete. Rebeca pegou o
papel e leu. Pela primeira vez depois de casada seu cenho se fechou em um tom preocupado. Era uma
ameaça clara. A pessoa pedia para Serginho encontrá-la as dez atrás da igreja. Rebeca forçou a memória e
então se lembrou que o irmão tinha mesmo chegado bem depois dela na festa e jantou depois dos outros. Ele
tinha ido ao encontro. Pegou as fotos, observou uma a uma e desespera juntou dois com dois e viu que era
quatro. Alguém abriu a porta.

- Becca, o Bruno já esta pronto e... – Era ele, Serginho. Ele viu as fotos. Desesperado. – O que você esta
fazendo com isso?

Rebeca virou o rosto e encarou o irmão de um jeito nada amistoso.

- Paulo Sérgio, que dinheiro é esse que esta cobra da dona Abgail esta te dando? – Ele ia abrir a boca. – E
não vem me falar que é seu trabalho de mecânico que não sou burra e sei que não é. Impaciente. – Que tipo
de encrenca você esta envolvido?

E congela no Serginho.

End Notes:

Cenas do Próximo capítulo

- Nossa... - Cintia murmurou admirada com a bela vista que a praia da Barra

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de Salvador lhe proporcionava. - Como é bonito... Mais bonito que na Tv...

- Já vim uma vez em Salvador... - Isa disse enquanto Retirava sua roupa. O
sol estava forte apesar do mês ser de inverno. - É meio lento, meio quente,
mas até que é legalzinho aqui... Que programa de TV que você viu Salvador?

Cíntia fez um gesto negativo.

- Não estou falando de Salvador... Estou falando do mar... Tão bonito...

Cíntia ainda boquiaberta com todo aquele volume de água. O mais próximo
que tinha visto em sua vida era o rio que cortava Silvéster. Isa desacreditada
retirou seu óculos, olhou para Cíntia, ela parecia uma menina de três anos de
idade, as mãos juntas, a expressão assustada, os olhos brilhantes. Isa não se
conteve e deu um meio sorriso.

- Você esta querendo me dizer que não conhece o mar?

- Aaaah... Eu morei minha vida toda em Silvester... Só viajei pra casa de uma
tia que era um barraco lá em Uberlândia. Eu fui pra São Paulo e Goiania
também. Quando eu fui com a Seleção para o Rio de Janeiro só fiquei no
hotel. A Alê ia me trazer pra conhecer o mar, mas ai ela morreu.

Isa sorriu debochada.

- Você é mais idiota do que eu pensava, Cíntia. - Cíntia a encarou confusa. -


Como algué que acredita que tem um cancêr em estágio 4, esconde de quase
todo mundo, larga a carreira, larga a mulher bebe o estoque de um bar inteiro
não a porcaria da ideia de conhecer o mar? - Aquele era o jeito gentil de Isa
dizer que estava feliz em presentear aquele momento com Cíntia. Com um riso
no rosto perguntou. - Vai, tá esperando o que?

- E se vier um tubarão que nem naquele filme? - Cíntia perguntou assutada.


Isa caminhava levando Cíntia na força. - ISAAAA AAAI, não me solta,
ISAAA...

- Para de falar bobagem e vamos te batizar agora...

- Isa...

E antes que Cíntia pudesse pensar já sentiu a primeira onda bater suas
canelas.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 62 by Tamaracae

Author's Notes:

http://www.youtube.com/watch?v=502h2lATML4 - Claúdinho e Buchecha quero te


encontrar

E pra quem acompanha o seriado Rizzoli and Isles, faz favor de ler minha fic em
companhia da competentissima Bruna Cezário

http://www.abcles.com.br/historias/viewstory.php?sid=1363

Obrigada pela força meninas!

- O que você esta fazendo? – Serginho perguntou. – Becca, isso é meu! Você que pegou? – Endurecido. –
ME DÁ, AGORA!

Serginho nem precisou dizer nada a irmã. Pelas fotos e pela expressão desesperada Rebeca logo concluiu o
óbvio. Ela sempre soube que o irmão era um fraco de caráter desde criança Serginho era assim. Só dava um
beijo se ganhasse algo em troca, sempre foi interesseiro, sempre com inveja dos brinquedos das outras
crianças, sempre querendo mais do que os pais podiam dar. Dona Sônia passava a mão na cabeça do filho
garantindo que era apenas “coisa de menino”, que com a idade ia passar. Rebeca sabia que a mãe era errada
e a principal prova esta ali, na sua frente.

Serginho parecia um bicho de tão furioso, estava tenso, resfolegava tentou por duas vezes avançar nas mãos
de Rebeca para pegar as fotos a força, mas desistiu quando Rebeca se armou de uma garrafa pesada de
vodca fechada que algum desavisado tinha por sorte deixado por ali.

- REBECA, ME DA ESSA MERDA AGORA E... – Ele tentou vir pela terceira vez em cima da irmã, quase
levou uma garrafada. – ME DA ISSO AGORA OU...

- SE VOCÊ TENTAR ME BATER OUTRA VEZ EU ESTOURO COM ISSO AQUI NA SUA CABEÇA
MOLEQUE! – Serginho a encarou com ódio. Rebeca jogou um olhar cheio de asco. – As roupas novas, o
dinheiro pra mamãe... Até com moto você apareceu... É isso que eu estou pensando? – Rebeca apertou as
fotos em sua mão. – É daqui que vem o seu dinheiro? – Um gesto negativo. – Serginho, isso é tão... Você
transa por...

- Você queria o que? – Serginho jogou um olhar cabisbaixo. – Você e a mamãe não me cobravam dinheiro
e...

- Deixa de ser cínico e olha para mim. – Serginho levantou os olhos, o mesmo olhar de ódio. – EU NUNCA
QUIS UM TOSTÃO SEU, EU SÓ NÃO QUERIA QUE VOCÊ VIRASSE UM VAGABUNDO. –
Respirou fundo. – Você acha o que? Que agora, quando eu vi essas fotos, foi em dinheiro que eu pensei? –
Fez um gesto negativo. – Você acha?

- Eu não vou largar o osso agor apor falso moralismo seu e...

– Cala a boca que eu ainda não terminei. Não vai deixar de ser michê? Gigolô ou sei lá o nome disso...
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Problema teu, você é maior de idade e não é meu filho... Sabe por quem eu lamento toda essa história? Pela
minha mãe... Ao contrário de mim ela nunca enxergou quem você era...

- Você sempre teve vergonha da gente, sempre foi orgulhosa de mais para...

- NÃO É ORGULHO, É LUCIDEZ! – Rebeca se revoltou. - Eu sempre soube quem você é era! Como que
alguém tão sem sensibilidade pode ter saído do mesmo lugar que eu? – Os olhos dela se encheram de
lágrima. - Eu sempre cobrei de você uma postura na vida por que você era meu irmão e me preocupava com
o meu irmão... Só que hoje eu vejo que não tenho irmão! – Furiosa, agitada. – Não tenho nada, moleque
porque VOCÊ É UM NADA!

Serginho fez um gesto negativo.

- Você fala, enche sua boca, mas no fundo somos iguais. Na hora do pedido de casamento, vai me dizer que
você não pensou na herança, no hospital e na carteira dele cheia de dinheiro... – Serginho foi calado com um
forte soco no rosto, mal teve tempo de pensar e foi empurrado ao chão. Ele derrubou Rebeca, deu um tapa
nela e pegou as fotos. Rebeca se refez rapidamente, quebrou a garrafa no criado mudo improvisando uma
poderosa arma de corte, apontou em direção a barriga de Serginho e com firmeza subiu até seu pescoço. –
Becca... Por favor...

- Você tem razão, tem horas que a gente até que é bem parecido. – Debochada sorriu. – Eu também sei ser
chave de cadeia com a diferença que eu consigo ser dez vezes melhor... – Apertou os olhos. – Você vai largar
essas fotos e vai deixa ai, vai sair da casa da Silvinha, do fusca e de qualquer lugar que tenha amigos meus...
Nem conta para ninguém que você é meu irmão porque hoje eu tenho vergonha de você sim!

- Você vai me por na rua?

- Calçada é o que não falta nessa cidade, garoto... Assume a profissão de vez e vai pra lá... Melhor, procura
tua galinha de ovos de ouro, ela não pagou? Ela que leve pra casa, fora da minha vida e fora da casa das
minhas amigas!

Serginho a obedeceu. Soltou as fotos e saiu quase correndo com medo da garrafa. Rebeca só soltou a garrafa
e começou juntar as fotos quando parou de ouvir passos do irmão no corredor da sala. Quando se viu só
sentiu as lágrimas que estavam presas nos olhos escorrerem por seu rosto. Só de olhar as cópias das tais fotos
seu estomago embrulhava. Guardou tudo no envelope e foi até a cozinha. Na boca do fogão queimou de uma
a uma. Bruno a encontrou quando terminava de queimar a ultima foto. Da festa só restava toda a bagunça
para o pessoal da limpeza dar conta no dia seguinte e Rebeca ainda vestida de noiva. Bruno estava enrolado
em uma toalha, usava chinelos e os cabelos molhados, tinha acabado de sair do banho.

- Amor, estava te esperando... O que você esta fazendo ai e... Você chorou, Rebeca? O que foi que
aconteceu? – Rebeca se abraçou a Bruno. Assustado. – Não esta arrependida, né?

Ela deu um sorriso e fez um gesto negativo e roubou um beijo do marido.

- Não, isso nunca... Só... Briguei com o Serginho... Ele... Pegou pesado...

Bruno beijou minha amiga de forma carinhosa.

- Te proíbo de ficar de bode por causa desse cara na nossa... – Bruno olhou no relógio da cozinha. Seis
horas. – Manhã de núpcias? - Rebeca o encarou entristecida. Mal sabia ele que Abgail também tinha sua
parcela de culpa. Enlaçou seu pescoço e ficou lhe encarando, Bruno percebeu que tinha algo errado. –
Becca?
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Bruno, se eu te dissesse que alguém importante pra você também tem haver com minha briga com meu
irmão...

- As pessoas mais importantes da minha vida, tirando minhas irmãs e meu sobrinho, estão seguras e aqui nessa
fazenda, você minha filha e minha vó... O resto vai ter que esperar até depois da minha lua de mel... – Rebeca
foi pega no colo, Bruno conseguiu arrancar risadas da ruiva. – Vamos pra nossa festa?

- Agora! – Roubou um beijo dele. – Te amo!

Xxx

- Merda de ressaca, o que eu fiz ontem, hein? Quem me trocou? – A pessoa disse assim que atendi meu
celular. – Eu estourava de dor de cabeça, não tinha bebido, mas a música alta parecia ter estourado meus
tímpanos. – Liguei várias vezes, onde você esta?

- MÃE? – Eu perguntei assustada.

- Sou eu, Silvinha...

- Ow idiota, to aqui no seu apartamento...

- Eu dormi no fusca...

Pois é, como fui levar minha prima em casa após ela recolher todas as esferas do dragão disfarçadas de
laranjas resolvi dormir por lá com Heleninha. Cíntia deitou com Paula e cedeu sua cama para eu e minha filha.
Ainda sonolenta levantei e sai do quarto. Silvinha já tinha subido e entrado no quarto de Isa sem bater. Estava
arrumada, tomada banho e com a corda toda. Cíntia, Paula, Giovanna e Manu também estavam acordadas
uma com a cara de ressaca pior que a outra e o humor péssimo. Ingrid apareceu a convite de Silvinha para
tomar café com a gente. Olhei no relógio, seis da manhã.

- Uma fonte segura me garantiu que ontem a Nat disse que vai marcar o casamento daqui um mês, Isa já se
passaram 6 horas desde ontem, ou seja, eu tenho menos de um mês pra destruir um casamento e eu não sei
por onde começar... Primeiro eu pensei em contratar um povo pra dar uma surra na Nat... Ela não casaria
com a cara toda estourada e de quebra eu extravasaria minha raiva, mas ai eu lembrei que ela esta esperando
os bebês... Depois pensei em contratar uma mulher dessas cheias de crianças e dizer que são todos filhos do
Gabriel, mas ai eu percebi que a Nat também é uma mulher cheia de crianças do Gabriel, depois eu pensei... –
Como Isa não lhe respondia, minha prima sacudiu o pé dela que era a única parte de Isa para fora do
edredom. – Isa esta me escutando? – Retirou o edredom. – ISA e AAAAAH...

- AAAAAAAAH!

- PORRA SILVINHA!

- Pô gata, você falou que teu local era maneiro... - Kelly,uma das enfermeiras do hospital, disse a Isa. Só
assim para aspecto de curiosidade, Kelly estava nua sobre Isa. Que estava só de calcinha. – Dá licença, viu,
privacidade é tudo...

Vestiu um blusão de dormir, passou pela sala deixando todas nós boquiabertas e bateu a porta irritada com a
intromissão de minha prima. Assim que Kelly saiu Cíntia murmurou ao meu lado.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Aquela camisa era minha...

Não agüentamos e rimos todas. Quer dizer, quase todas com exceção de Isa que compreensivelmente estava
com cara de quem comeu e não gostou (no caso nem comeu) e Silvinha que voltava a falar de Nat.

- Silvinha, você acordou todo mundo basicamente pra que? – Giovanna tentava entender, só então descobri
que não fui à única “honrada” a ser despertada pela minha prima. – Aconteceu alguma coisa?

- Aconteceu. Eu preciso da ajuda de vocês, como eu estava dizendo para Isa eu tenho que destruir o
casamento da Natália e preciso da ajuda de todas vocês. – Um converseiro tomou conta da sala, todo mundo
querendo dar palpites, mas nenhum realmente bom,estávamos com sono e metade de nós ainda bêbada. - Vai
Isa... Ingrid, você é advogada destrói qualquer coisa como ninguém, vamos minha gente... – Nessa hora todas
sem exceção xingamos minha prima. Tipo, ela não podia fazer essa reunião ás sete da noite. – Primeiro aviso,
quem aceitar ser madrinha da Nat eu vou levar como ofensa pessoal e quem aceitar e for inquilina aqui eu vou
tratar de aumentar no aluguel que eu não sou obrigada a agüentar esse tipo de traição...

E mais bafafá da mulherada. No apartamento do lado outro também era despertado logo cedo. Gabriel
acordou as sete a manhã com seu celular. Olhou no visor, Nat ela estava na igreja.

- Gabriel, qual você acha melhor 16 ou 18 pra marcar o casamento?

- 16...

- Tá beijo.

E desligou. Gabriel voltou a dormir. Acordou uma hora depois, ainda sonolento bateu na porta de Silvinha.
Sorte que minha prima já tinha saído atrás de uma mãe de santo para ver se fazia um trabalho pra amarrar a
vida da Nat.

- Bom dia!

- Bom dia! Três perguntas, quem é aquele moreno de cueca que esta dormindo no sofá da minha sala?

- Você não reconheceu o Marquinhos? Ele te trouxe em casa junto com o Leandro, por quê?

Gabriel respirou aliviado.

- Achei que por um momento tinha levado um “boa noite cinderela”. Segunda pergunta, quanto eu bebi? – O
tanto pra sair noivo no meio da festa. – Muito? Absurdamente? Ou...

- Muito, mas ainda ficou longe pra você chegar ao nível da Manu e da Silvinha.

- Elas beberam quanto?

- A Manu ficou de pileque a ponto de me perguntar se a Giovanna era solteira... –Gabriel abriu a boca
surpreso. – E a Silvinha só entrou no carro depois que a gente inventou que ele era um transformen
disfarçado...

Gabriel fez outro gesto afirmativo.

- Terceira pergunta, por que a Nat não para de me mandar orçamentos sobre festas de casamento, alianças e
decoração de igreja?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Não seria por que você ficou noivo?

Gabriel arregalou assustado.

- Noivo de quem?

- Da Nat... – Novamente respirou aliviado. – Gabriel, de quem mais você ficaria noivo...

- Por um momento pensei que fosse do Marquinhos. – Bom, pelo grau etílico que o povo chegou na festa não
seria impossível. – Então aquela hora que a Nat chegou em mim com o microfone ela perguntou casa comigo?

- Claro, você entendeu o que?

- “Quer absinto?”, mas não diz nada pra ela não... Eu aceitaria do mesmo jeito... – Eu dei uma risada
desacreditada. – Qual é Alice, eu tinha acabado de sair da roda de tequila estava doidão meio surdo, vi todo
mundo gritando aceita, depois a Paula correu e mandou eu ir atrás da Nat, não entendi nada ... – E quando
ele não estava doidão? - Mas é sério mesmo isso?

- A Nat já até avisou todo mundo por e mail... Vem cá ver... – Eu liguei o computador da minha prima,abri a
internet e a página inicial era um desses sites de fofoca. – Nossa, colocaram fotos do casamento da Becca...
Deixa eu ver aqui...

Era uma galeria de 25 fotos que os paparazzis conseguiram pegar na porta da igreja e na entrada da fazenda.
Eu estava feliz e contente, conversando como Gabriel quando passava as fotos, mas minha expressão mudou
a partir da vigésima primeira imagem. Reconheci o vestido de Júlia acompanhada de outra mulher, apertei
meus olhos e vi de quem se tratava, minha advogada Taís.

Elas pareciam bem intimas. Na primeira foto as mãos de Taís apertavam o ombro de Júlia, passei para outra
foto novamente elas se tocavam, e nas três fotos restantes pareci evidente que compartilhava de uma relação
bem intima e sem teor de amizade. Minha pele se esquentou todinha quando li alto a legenda de uma das
fotos.

- Troca de carinhos entre uma das irmãs do noivo com moça esquenta o clima de romance da festa. – E me
perguntei incrédula. – Romance?

- Alice, eu tenho certeza que a Júlia pode explicar...

- Quem devia mesmo se explicar era esse portal barato de notícias. Que romance? – Fiz um gesto negativo.
–Eu tenho certeza que não foi nada e o pior, o cachorro do Pedro Henrique é bem capaz de usar isso contra
a gente no caso da guarda da Helena. – Engraçado, senti Gabriel respirar até mais aliviado depois disso, acho
que ele pensou que eu surtaria por causa dessas fotos. Ok, não foi à sensação mais agradável do mundo ler
aquilo, mas nunca ia passar pela minha cabeça que a Júlia ia fazer aquilo e muito menos que a Taís iria
cometer uma cachorrada daquelas. Abri meu email, mostrei o convite a Gabriel. – Ai, você vai casar dia 18...

Conversamos mais um pouco e ele saiu, dois minutos depois Silvinha chegou junto de Paula.

- E aí?

- Essa idiota ai saiu correndo quando a mãe Bartola incorporou...

- Silvinha eu disse que tinha medo dessas coisas e que se tivesse galinha eu ia sair correndo... Morro de medo
de galinha...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Ow, Paula e você mora com a Silvinha e a Isa assim mesmo? – Fui premiada com o dedo do meio da minha
prima. – Também te amo, prima...

- Eu só fui pra você não encher o saco que foi sozinha... Eu tenho medo dessas coisas, minha vó era espírita,
eu lembro dela...

- E você tinha medo da sua vó?

- Lógico. – Paula afirmou. – Velhinha ruim, descia com o cabo de vassoura na gente, gostava de matar a
galinha pra fazer comida na nossa frente, matou meu coelho de estimação pra assar, Batia no meu vô, as
vizinhas falavam que tinha olhar de seca pimenteira... Quando morreu o povo do bairro fez até cervejada...

- Capaz de acontecer isso com a Nat.

- Silvinha você esta ficando com idéia fixa na Nat...

- Imagina, não estou com idéia fixa na Nat...

Paula abriu a geladeira.

- Droga, não tem nada pra tomar café?

- Culpa da Nat que comeu o pão todo... - Disse Silvinha a mesma que disse que não tinha idéia fixa na Nat. -
E o leite também acabou que ela tomou o íltimo copo.

Isa passou do banheiro para seu quarto enrolada em uma toalha, corria apressada, ela e Cíntia já estava se
atrasando, vestiu a roupa rapidamente, Cíntia terminava sua higiene bucal no banheiro.

- Cíntia, não enrola... - Isa se sentou no sofá entre Giovanna e eu. - Porcaria de cidade que não tem um
aeroporto.

- Culpa da Nat... - Giovanna ironizava com a cara da minha prima. Agora tudo era culpa da Nat. - Quem
manda ela ser tão espaçosa e ter um hospital tão grande que não cabe um aeroporto na cidade...

Giovanna arrancou risadas de todas nós, só minha prima que estava mais interessada na mãe de santo que
ficou alheia aos gracejos.

- Alice, você não pode voltar lá comigo?

- Não, você sabe que eu fico com medo e nervosa e quando eu tenho nervosa me dá ataque de risos. – Dei
um beijo em cada uma. – Já estou indo para casa meninas... Se a Júlia ligar fala que eu liguei mil vezes pra ela
e avisa que eu fui pra casa.

- Pode deixar...

Enquanto eu pegava o caminho do meu lar doce lar ainda tentei ligar para Júlia umas três vezes e nada. Eu
estava começando a me preocupar. Dentro do carro de Taís Júlia forçava o celular para ligar e nada, Taís
percebeu seu semblante preocupado e perguntou enquanto dirigia de volta a Silvéster, fazia o caminho da
cabana.

- Não liga mesmo?

- Não, meu celular esta com problema de bateria quase um mês e eu enrolando pra trocar ai da nisso...
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Carrega um hora e cai... Seu celular também esta nessa?

- Sim. – Taís mentiu. Na verdade ainda tinha metade da carga. – Júlia ainda são oito horas da manhã, a Alice
nem deve ter acordado... – Como se o inferno da minha prima tivesse noção de não me acordar as seis da
manhã no dia da minha folga. – Daqui apouco vocês se falam...

- Verdade... – Júlia murmurou e recostou a cabeça no vidro da janela.- Vou dormir um pouco.

Júlia não dormiu pois não tinha sono algum. Fechou os olhos como se realmente estivesse cochilando, mas a
verdade é que queria usar seu tempo para pensar em tudo que tinha acontecido no asilo. Chegaram ao local
as quatro da manhã. A recepcionista já lhe esperava. Ao ver Júlia em um traje de festa logo julgou que havia
atrapalhado algo.

- Desculpe, mas é que dona Laíla estava muito inquieta...

- Eu posso falar com ela?

- Sim, a deixamos em um quarto, separada dos outros. Venha!

Júlia seguiu a recepcionista. Subiram uma escada e entraram por um corredor cheio de quartos. Atravessaram
todo o local e pararam na ultima porta mal pintada de branco. A enfermeira deu uma batida. Dona Laila, a
senhora esta ai?

- Entra... – A mulher respondeu com uma voz fraca e cheia de pigarros. Júlia a obedeceu. – Você é a mãe do
bebê... – A mulher perguntou. – Jogou sua filha fora...

Júlia fez um gesto negativo.

- Não. Eu tenho um filho homem e não uma menina e não joguei ele no lixo... Vim aqui saber sobre quem
jogou minha irmã fora... O nome da mulher, sua vizinha... A senhora lembra dessa história?

Laíla sorriu.

- Claro... Eu que fiz o parto.

Júlia a encarou sobressaltada. Ela fez o parto? Será que não estaria se enganando ou fazendo confusão dos
fatos? Seria do mesmo bebê.

- A senhora tem certeza? O parto minha irmã.

A mulher fez um gesto afirmativo e cantarolou.

- “A neném nasceu na senzala e foi criada na sala... A neném nasceu na senzala...” - Disse. - Era linda... Os
cabelinhos enroladinhos assim... Um pouco mais que o seus... Minha vizinha era branca... – E voltou a
cantarolar. - “A neném nasceu na senzala e foi criada na sala...”

- O que a senhora esta querendo dizer? Ela não é filha da sua vizinha?

- Nunca há de ser... Eu ganhei o dinheiro e fiquei assim de castigo... – E voltava a cantarolar “A neném
nasceu na senzala e foi criada na sala...”

- De quem ela é filha?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Da moça do hospital... “A neném nasceu na senzala e foi criada na sala...”, “A neném nasceu na senzala e foi
criada na sala...” ,“A neném nasceu na senzala e foi criada na sala...”

Júlia saiu do quarto sem conseguir arrancar mais informações da mulher e mais confusa do que estava. Agora
Nat tinha pai e mãe desconhecidos... Júlia voltou a abrir os olhos quando ouviu a buzina dos carros. Uma fila
imensa a caminho de Silvéster. Olhou no relógio já passava do meio dia.

- O que aconteceu?

- Um caminhão tombou e a pista esta interditada, estão tentando um outro caminho, mas é quase duas horas
pra passar... – Júlia olhou para o outro lado a pista de volta estava em fluxo normal. – Você dormiu
bastante...

- Pois é... Quase quatro horas nesse carro e nem notei. – Disse ainda abestalhada. – Taís será que você pode
encostar o carro... Eu quero falar com a Alice...

- Júlia ela deve estar bem, deve...

- Estar preocupada... – Júlia respondeu com firmeza. – Por favor, encosta o carro...

Sem saída, Taís acatou suas ordens. Júlia desceu do carro e caminhou quase vinte minutos até encontrar um
bar com telefone para me ligar. Ao ver o número desconhecido atendi correndo com esperança de ser ela, já
estava morta e enterrada de tanta preocupação.

- Júlia?

- Oi amor... – Respirei aliviada ao ouvir sua voz. – Tudo bem?

- Ai agora esta... Amor, o que aconteceu, cadê você? – Eu perguntei apreensiva. – Eu já estava me trocando
para vir ao hospital para ver se tinha acontecido alguma coisa, você se ferido...

- Não esta tudo bem... Só estou presa no trânsito na saída de Serro Azul...

- Passou no jornal agora que um caminhão de grãos tombou ai, o trânsito esta horrível. Esta demorando até
quatro horas pra vir daí pra cá. Pra ir o trânsito esta normal!

- QUATRO HORAS? MERDA! Eu estou aqui em um bar... Bar do Oeste, vou comer qualquer coisa aqui e
me viro...

Trocamos mais algumas palavras e depois nos despedimos e desligamos. Taís finalmente achava Júlia no tal
bar do Oeste.

- Falou com a Alice?

- Acabei de falar com ela... Esta tudo bem...

Eu desliguei o telefone e minha mãe acordou. Eu iria pedir um favor a ela.

- Mãe, pode ficar com a Heleninha?

- Vai trabalhar...

- Vou salvar a Júlia ta presa no trânsito e aconteceu um acidente e interditam a estrada. Eu vou levar uma
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

troca de roupa pra ela que ela deve estar cozinhando dentro daquele vestido de festa... A senhora fica com
ela pra mim?

- Tudo bem.

Com consentimento da minha mãe fui até a cabana, joguei uma muda de roupas dentro da mochila e resolvi
pegar a moto de Júlia para chegar lá mais rápido.

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Enquanto os seres humanos normais como eu curtiam uma ressaca homérica pós desta, Nat estava muito bem
disposta no hospital. Bem disposta era maneira de dizer, na verdade estava aquele mesmo cão chupando
maracujá azedo que fazia a vida dos pobres residentes o inferno na terra. Só parou para almoçar. Sem
coragem em comer aquele almoço horrível do hospital, Nat resolveu atravessar a rua e comer em um
restaurante por quilo que sempre nos salvava da comida do Alonso Franco. Serviu seu prato e começou a
procurar uma mesa.

- Nat?

Primeiro achou a voz familiar, ao ver o rosto de Diná/Dirceu.

- Você aqui?

-Eu vim fazer umas coisas em Silvéster... Quer almoçar comigo?

- Ah eu vou adorar...

Nat pegou sua bandeja e se encaminharam para uma mesa de dois lugares, fizeram o pedido das bebidas se
quando o garçom de afastou começaram a botar as fofocas em dia. Nat experimentava um sentimento
esquisito em estar perto daquele homem. Ela nunca se deixava cativar com quase nenhuma pessoa assim de
primeira, mas Dirceu com seu jeito polido tinha conquistado aquele feito. Era como se um elo muito doce
existisse entre ela e aquele senhor.

- Quer dizer então que você vai se casar? – Diná perguntou feliz. – Que boa notícia e... Mas e essa cara
tristinha... Não combina com uma noiva...

- Digamos que não sou uma noiva muito comum... – Sorriu. – Pra começar eu pedi meu noivo que é meu ex
marido em casamento...

- Ex marido...

- Uma história bem longa... A gente teve uma noite de recaída e eu engravidei. – Diná sorriu espantada. –
Estou esperando gêmeos.

- Nat, gêmeos? Mas... Que bom... Você esta feliz, não esta?

Nat fez um gesto afirmativo.

- Eu sempre quis ser mãe.

- E feliz com o noivo também? – Nat baixou os olhos. – Nat?


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Como eu te disse, é uma longa história... Eu amo o Gabriel, mas... Existe outra pessoa...

- Qual o nome dela?

- Dela? Como você...

Diná sorriu.

- Não tem coisa mais gay do que “pessoa”, Nat... – Os dois riram. – Quem é ela?

- É minha ex namorada, Silvinha...

- E você ainda a ama?

Nat deu os ombros.

- Na altura que as coisas estão não faz muita diferença. Ela sempre gostou de ser livre, Dirceu... Hoje a ultima
coisa que ela vai ter de mim em liberdade... Eu quero alguém pra ser minha família, pra ser minha base e
Silvinha não pode me dar isso porque ela nunca quis isso pra ela... – Fez uma pausa. Arrependida. - E ela
deve estar morrendo de ódio de mim...

- O contrário do amor nunca é o ódio, Nat, mas a indiferença... – Sorriu. – Mas me conta mais sobre os
bebês?

E conversaram mais e mais quando Nat olhou no relógio faltavam poucos minutos para terminar seu almoço.
Pagaram as contas e se despediram na porta do restaurante com um novo encontro já marcado. Dirceu se
prontificou em ajudar Nat na organização do casamento. Ele já tinha alguma experiência sobre o assunto, pois
já havia trabalhado como cerimonialista. Na saída do restaurante Dirceu sem querer trombou em uma senhora
baixinha.

- Ai desculpe...

- Imagina.

- Duarte? – Nat perguntou enquanto guardava sua carteira na bolsa. – Só conseguiu parar pra almoçar agora?

- É... – Duarte falou um tanto avoada, tinha reconhecido a companhia de Nat, Dirceu. Só faltava ele
reconhecê-la. – Eu já...

- Dirceu, essa é a Duarte, nossa cirurgia... Bom,vocês já devem ter se esbarrado por ai...

Dirceu apertou os olhos. Reconhecia a baixinha, só não lembrava de onde.

- Talvez...

- É talvez. – Duarte repetiu. – Eu tenho que ir com licença...

Nat e Dirceu se despediram dela e Duarte só respirou tranqüila quando viu os dois saírem. “O que ele esta
fazendo com agora? Sorte que não se lembrou de mim.”

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- No meio desse mato? – Serginho perguntou insatisfeito. – É aqui que vou ter que ficar?

- E se de por satisfeito, garoto... – Abgail disse. - Queria morar em uma suíte presidencial que nem sua mãe
até ontem? Está ótimo pra você aqui, ninguém vem, vai ficar em paz.

Fazia meses que a própria Abgail não passava por sua chácara, apenas pagava o salário dos caseiros e ia
embora. Nem sonhava das visitas que Júlia andava fazendo por lá. Quando Serginho apareceu de madrugada
com suas coisas e contou a história que a irmã descobriu tudo foi o único lugar que lhe passou pela cabeça.
Podia deixá-lo no flat, mas lá chamava muita atenção, por isso a chácara. Antes de Abgail sair resolveu fazer
mais algumas perguntas sobre a briga de Serginho com Rebeca.

- Tem certeza que ela não vai contar a ninguém?

- Conheço a Becca, não vai... Ela vai fazer de tudo para esquecer essa história...

- É bom mesmo... – Abgail começou a se vestir Serginho a observava. – O dinheirinho em cima da mesa é
pra você se manter por aqui, mas não vai gastar tudo... Essa semana eu vou fechar a venda de um
apartamento da Nat, ela nem vai notar, nosso perrengue de dinheiro vai acabar...

Serginho fez um gesto afirmativo,esperou Abgail sair, pegou o celular e discou para um número.

- Acho que vou arrancar uma grana boa da velha...

Trocou mais algumas palavras com a pessoa e desligou sorridente. Finalmente se livraria de Abgail.

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Isa e Cíntia saíram de casa para as nove da manhã. Chegaram em Guarulhos as onze, uma e meia da tarde já
pousavam em solo baiano. Cíntia nunca tinha visitado o nordeste. Curtia cada paisagem da capital baiana,
levaram quarenta minutos de carro do aeroporto até o hotel. Em por falar o hotel, ficaram maravilhadas com o
local. Nada menos que um cinco estrelas com direito a piscina e banheira dentro do quarto, lindo e em frente
ao mar, pertinho do farol da barra. Trocaram o almoço por um lanche leve,queriam aproveitar muito bem
aqueles 7 dias de férias que Rebeca e Bruno lhe proporcionara. A primeira surpresa ao entraram no quarto foi
à decoração toda especial de noite de núpcias, o quarto era pra um casal em lua de mel.

- Droga, quer pedir pra trocar?

Isa fez um gesto negativo.

- Vai ser mais divertido dormir no mesmo quarto. Se quiser eu fico ali naquele sofá e você na cama... Depois
a gente vê isso... Quero descer, comer alguma... Bota um biquíni e já vamos pra praia...

Cíntia sorriu e jogou uma almofada em Isa, sempre tinham essas brincadeiras, cócegas, lutinha, uma ficava de
guerrinha com a outra.

- Quer perder a cor de rato pelado?

- Deixa de ser idiota, meu tom cinza cadáver é meu charme...

Cíntia sorriu. Irônica.

-Não fica de biquíni na minha frente que eu posso não me controlar...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Em meia hora estavam com os pés na areia.

- Nossa... - Cintia murmurou admirada com a bela vista que a praia da Barra de Salvador lhe proporcionava.
- Como é bonito... Mais bonito que na Tv...

- Já vim uma vez em Salvador... - Isa disse enquanto Retirava sua roupa. O sol estava forte apesar do mês ser
de inverno. - É meio lento, meio quente, mas até que é legalzinho aqui... Que programa de TV que você viu
Salvador?

Cíntia fez um gesto negativo.

- Não estou falando de Salvador... Estou falando do mar... Tão bonito...

Cíntia ainda boquiaberta com todo aquele volume de água. O mais próximo que tinha visto em sua vida era o
rio que cortava Silvéster. Isa desacreditada retirou seu óculos, olhou para Cíntia, ela parecia uma menina de
três anos de idade, as mãos juntas, a expressão assustada, os olhos brilhantes. Isa não se conteve e deu um
meio sorriso.

- Você esta querendo me dizer que não conhece o mar?

- Aaaah... Eu morei minha vida toda em Silvester... Só viajei pra casa de uma tia que era um barraco lá em
Uberlândia. Eu fui pra São Paulo e Goiania também. Quando eu fui com a Seleção para o Rio de Janeiro só
fiquei no hotel. A Alê ia me trazer pra conhecer o mar, mas ai ela morreu.

Isa sorriu debochada.

- Você é mais idiota do que eu pensava, Cíntia. - Cíntia a encarou confusa. - Como alguém que acredita que
tem um câncer em estágio 4, esconde de quase todo mundo, larga a carreira, larga a mulher bebe o estoque
de um bar inteiro não tem a porcaria da ideia de conhecer o mar? - Aquele era o jeito gentil de Isa dizer que
estava feliz em presentear aquele momento com Cíntia. Com um riso no rosto perguntou. - Vai, está
esperando o que?

- E se vier um tubarão que nem naquele filme? - Cíntia perguntou assustada. Isa caminhava levando Cíntia na
força. - ISAAAA AAAI, não me solta, ISAAA...

- Para de falar bobagem e vamos te batizar agora...

- Isa...

E antes que Cíntia pudesse pensar já sentiu a primeira onda bater suas canelas. Sorriu perdendo o medo, a
água estava morninha por causa do sol, conseguia ver seus pese as ondas não estavam muito forte. Isa não
conseguiu disfarçar o sorriso e tirou Cíntia de órbita espirrando um pouquinho de água e seu rosto, Cíntia
devolveu a brincadeira e ficaram mais uns vinte minutos nisso, entraram no mar, Isa mergulhou e saíram
quando Cíntia pediu por água, sentaram embaixo de um guarda sol próximo a uma barraquinha que tocava
uma música do Claudinho e Buchecha. Enquanto Cíntia quis água, Isa escolheu tomar sorvete. Cíntia ainda
admirada com aquela imensidão azul a sua frente.

Quando você vem pra passar o fim de semana


Eu finjo estar tudo bem,
Mesmo duro ou com grana
É que você ignora
Tudo que eu faço
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Depois vai embora


Desatando os nossos laços

- Isa, como foi sua primeira vez?

- Com minha prima Irene, não foi muito boa não... Acho que ela também não sabia trepar... – Cíntia deu uma
risada. – Por quê?

- Primeira vez que você viu o mar, idiota...

Isa deu uma risada.

Quero te encontrar,
Quero te amar
Você pra mim é tudo
Minha terra, meu céu, meu mar
Quero te encontrar
Quero te amar
Você pra mim é tudo
Minha terra, meu céu, meu mar

- Não lembro...

- Vai, Isa... – Cíntia insistiu. – Fala, você nunca fala de você...

- Ai... Foi com a minha mãe... Assim que chegamos no Rio... Foi no Arpoador.

- E o que você fez, tinha quantos anos?

Isa baixou uns olhos um tanto sem graça.

- Cinco... Não lembro de muita coisa. Ela me pegou no colo e ela me disse que aquela água toda era água do
mar... E que aquela coisa branquinha no meio da água era espuma. – Sorriu. – Eu achava que o céu tinha
caído na terra porque os dois se encontravam no horizonte... E ela me disse quando eu fosse um pouco
maiorzinha a gente ia entrar juntas pra conhecer os peixinhos que morava ali...

Cíntia sorriu surpresa.

- Que fofa, Isa...

- Vá à merda, Cíntia... – Isa retrucou tentando se fazer de durona... – Vou pegar uma água...

Quero te encontrar,
Quero te amar
Você pra mim é tudo
Minha terra, meu céu, meu mar
Quero te encontrar
Quero te amar

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Você pra mim é tudo


Minha terra, meu céu, meu mar

________________________________________________________________________

Eu não demorei muito para chegar a Serro Azul, mas sim para alcançar o tal Bar do Oeste. Só depois de uma
hora finalmente um senhor de cabelos brancos me deu uma informação correta de onde o Bar.

- Filha, vire duas a esquerda, você vai ver a rodovia, fica ali por perto.

- Obrigada.

Baixei a viseira e segui as ordens do homem torcendo para Júlia ainda estar no maldito bar já que fazia quase
duas horas que tínhamos se falado.

Júlia saiu do banheiro do bar do Oeste tomada banho e trocada com uma blusa branca, calça jeans e
chinelos. A dona do bar compadecida com seu estado resolveu lhe emprestar uma roupa da neta. Taís tinha
uma troca de roupa no carro, também se banhou por ali mesmo, o bar estava cheio, pois o trânsito estava
lento e a maioria dos motoristas parava para descansar por alguns minutos. Júlia pediu uma cerveja e uma
garrafa da água, saiu do bar e foi tomar ar lá fora. Taís a seguiu.

- A Alice e o João deve estar preocupados... – Olhou no relógio. – Bosta de caminhão também...

- Você pensa muito nela, né?

Júlia encarou Taís sem entender.

- É minha mulher... Você não acha natural eu pensar muito nela?

Disse isso, deu uma golada na cerveja e limpou a boca com as costas da mão. O simples gesto fez Taís se
arrepiar por inteira. Aquele jeito meio bronco que contradizia ao olhar doce de Júlia mexiam com ela de tal
forma que Taís não sabia explicar. Eu sabia muito bem o nome daquilo, sem vergonhice daquela vagabunda!
Júlia depositou a cerveja na muretinha externa do bar.

- A Alice ainda é muito jovem... Você se vê casada com ela?

- E por que não? – Júlia se abanava. O calor estava escaldante, pegou a garrafinha da água e deu dois passos
para longe de Taís, deitou a cabeça e virou a garrafinha com água gelada para refrescar. Os cabelos
molhados formavam cachos perfeitos, um pouco de água escorreu por sua blusa e o tecido grudou na barriga.
– Você não me vê casada com ela?

- Eu não te vejo casada com ninguém... – Júlia a encarou um tanto invocada sem entender o que a outra dizia.
– Não faz isso, desse jeito você me provoca...

E sem cerimônia nenhuma a vaca da Taís meteu as patas em cima da minha namorada e a beijou na boca
puxando Júlia para cima de si. E essa foi à primeira cena que vi assim que encontrei as duas.

- JÚLIA? TAÍS?

Um tanto surpresa Júlia se separou de Taís. Minha cabeça fervilhava de ódio. Taís! Taís! Taís! Alguém que
eu trouxe para dentro de casa, que teoricamente eu deveria confiar de olhos fechados. Tudo foi passando pela
minha cabeça, as fotos, o jeito que ela ficava incomodada com a presença de Júlia. E por que diabos a Júlia

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não me disse em momento algum que tinha pegado carona com ela. Quando eu vi já tinha acertado um tapa e
derrubado Taís no chão, no segundo tapa Júlia foi mais rápida e me segurou pelos ombros. Ela era bem mais
forte, mas minhas pernas estavam livres, acertei sua canela duas vezes, Taís se levantou e me encarou com
ódio eu tentei revidar.

- PARA ALICE... – Júlia veio gritar comigo. – PARA E ME ESCUTA!

- ME SOLTA, SUA CACHORRA! – Júlia afrouxou a mão a empurrei. – E eu ainda besta te defendi para o
Gabriel... Acreditei que foi maldade de quem publicou as fotos.

- Fotos? – Júlia perguntou sem me entender. - Alice,me escuta eu não fiz nada! Eu...

Taís sorriu.

- Agora você não fez nada, né? – Ajeitou sua blusa. – O tempo inteiro ficou me provocando...

- VOCÊ ESTA MALUCA OU O QUE? – Júlia rebateu com uma brutalidade, estava vendo a hora que ela
ia enforcar a doida. Virou-se para mim. – Eu juro que não aconteceu nada, Alice, você tem que acreditar em
mim... Eu não provoquei ninguém. Eu vim aqui para ir no asilo atrás da história da mãe da Nat... Alice, confia
em mim, meu amor, eu...

- Como eu vou confiar em você quando eu peço para você parar de fazer algo que eu acho errado você diz
que vai parar e sempre acaba voltando nessa história de pai e mãe de Nat? Quantas vezes eu pedi para você
parar com isso, você me prometeu que não ia mais se meter e você volta na mesma tecla?

- Mas é diferente, é...

- Não é, não é... A confiança é uma só! – Eu retruquei. – Eu mostrei que confiava em você quando disse que
te amava, quando contei que estava sendo chantageada, quando aceitei morar com você... Quando essa ai...
– Apontei a Taís. – Disse que a gente devia se afastar por causa do julgamento da minha filha... Todo esse
tempo eu confiei em você e você mais uma vez por causa dessa porcaria de história você me deixou sozinha!
E ainda as fotos... As fotos...

- Que fotos são essas? – Peguei meu IPad e comecei a abrir o tal site com as fotos - Que porcaria de fotos
são essas?

- Essas. – Entreguei na mão de Júlia, ela começou a passar as fotos e arregalou os olhos assustada. – Essas
fotos! O que você me diz...

- Alice, espera, não foi bem isso... Eu... não teve nada e ela me beijou agora... Não estou acreditando que
isso esta acontecendo...

- Nossa, tão fraca você, hein Júlia? Nem um tapa na cara dela podia dar?

Taís que até então estava calada resolveu abrir a boca.

- Alice, você acredita mesmo que alguém com a bagagem da Júlia nunca ia notar que estava sendo assediada?
– Virou-se para Júlia. – Eu posso ter começado o jogo, mas não joguei sozinha, querida...

- Não sei nem mais no que devo acreditar, a propósito, caso aja alguma dúvida você esta demitida. – Virei
para Júlia. – E você... Eu não vou tomar nenhuma decisão agora, mas se é difícil pra você não acreditar
nessas fotos, imagina pra mim...

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E congela na cara da discórdia da Taís.

End Notes:

Cenas seguintes:

- Júlia, quando você vai entender que você tem 37 anos de idade e não é mais uma
menina? - Júlia se perguntou. - Idéia genial você com um metro e oitenta e três de
altura passar uma semana dormindo em um fusca.

Cansada se recostou no banco do carro. O assoalho já velho não aguentando mais


seu peso foi ao chão e Júlia caiu com banco e tudo.

- MERDA! - Ergueu uma das mãos e tentou se apoiar em uma daquelas abas que
ficam ao lado de retrovisor e servem para proteger do sol. A aba tão velha quanto o
"chão" do carro acabou cedendo e despencando junto da cara de Júlia com uma
papelada. - Que é isso, o negócio criou vida sozinho e já esta batendo na minha cara?
- Acabou se erguendo sozinha. Olhou para os papéis amarelados. Sorriu. - Não é
que essa velharia tem dono de verdade, rapaz? - Curiosa abriu o papéis e foi ver os
dados do carro. Leu em voz alta. - Ano: 1977 , Cor Original: Verde Abacate, Dono:
Ab... - Cortou-se e leu mais uma vez. - Abgail Franco?

Deu dois passos foi ao chão. Encontrou o culpado. Um taco de madeira que devia
estar sobre o assoalho do Fusca e despencou junto. Um taco velho por sinal e
também destruido pelos anos, mas com uma marca intacta que devia ter sido talhada
a canivete, Júlia forçou os olhos e leu : BR-3, Puxou o taco e então viu que na
verdade se tratava de um remo. Cor: Verde Abacate / Ano 77.Como um flash avoz
de Diná veio em sua mente:

- Ele tinha um fusca verde abacate 77 e o apelido era BR-3 porque ele era fã do
Tony Tornado.

Júlia se levantou boquiaberta, Gabriel chegou na garagem de Silvinha a encontrou


naquele estado.

- Que foi?

- Esse fusca... - Deu um tapa no teto do carro o retrovisor caiu. Desacreditada. - É o


fusca do pai da Nat!

__________________________________________________________________________

E pra quem acompanha o seriado Rizzoli and Isles, faz favor de ler minha fic em
companhia da competentissima Bruna Cezário

http://www.abcles.com.br/historias/viewstory.php?sid=1363

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Obrigada pela força meninas!

Bjooos!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 63 by Tamaracae

Author's Notes:

Oi meninas, desculpa pelo capítulo ter saído ruim,. mas escrevi ele todo resfriada:

Músicas : http://www.youtube.com/watch?v=x1nixzYHDus Single Ladies - Beyonce


http://www.youtube.com/watch?v=05pTY9_Q7Rc - Times like these -
Foo Fighters
http://www.youtube.com/watch?v=WLxw8SGA_ew - Só sei dançar com
você - Tulipa Ruiz
Aconselho ouvirem essa música na ultima parte do capítulo:
http://www.youtube.com/watch?v=dsoONoNPRQQ Dezembros Fagner

O soneto recitado no capítulo lógicamente não é de minha autoria (quem dera ter
talento para isso kkkkkkkkk) Soneto 18 de um tal de Willian Shakespeare

Boa leitura! =)

- Alice, espera... – Eu desci da moto assim que Júlia manobrou e estacionou no quintal de minha casinha de
bonecas. Ela desceu. –Alice...

Chegamos em casa por volta das sete da noite por conta do maldito trânsito lento. O tempo havia passado,
mas minha raiva não. A imagem da falsa da Taís agarrada ao pescoço de Júlia não me dava descanso. E todo
momento que eu olhava para ela a infeliz cena voltava à tona como se acontecesse de novo, de novo e de
novo. Por isso tomei uma decisão, sairia de casa para dar um tempo, pelo menos uns dois dias.
Entrei em casa e passei direto para o quarto da minha filha pouco me importei se Marquinhos e Leandro
estavam na sala a espera de mamãe (sim, eles decidiram perdoa-la do desvio de caminho com papai) e era
ele, meu velho que tomava conta da minha filha para mim. Assim que Heleninha me viu, estendeu seus
bracinhos e me chamou:

- MAMÃ...

E me deu um sorriso de boas vindas. Sorri desarmada com aquela deliciosa recepção. A peguei no colo, dei
um beijinho de esquimó e com um braço a sustentei no meu corpo. A outra mão já trabalhava em abrir o
guarda roupa e separar algumas peças suas para colocar na mala.

- Alice? – Meu pai me encarou um tanto atônito. – O que aconteceu?

Antes que eu pudesse responder, Júlia entrou no quarto. A mesma expressão de sofrimento e angustia no
rosto, ficou assim o dia inteiro. Oras, já que aprontou que lidasse com as consequências. Separei mais
algumas roupas.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Alice, o que você vai fazer? – Ela me perguntou, Júlia estava mais aparvalhada que o normal. – Pra que
você tirou as roupa da menina do guarda roupa?

- Não te parece óbvio?

Júlia respirou fundo como se quisesse por as ideias no lugar eu também precisava colocar as minhas ordens,
por isso tratei de contar até dez e também me tranquilizar. Trocamos um olhar e meu pai percebeu que
sobrava no quarto. Com a desculpa de levar Heleninha para brincar lá fora ele nos deixou as sós. Júlia fechou
a porta, eu me sentei na cama e ela me acompanhou, se sentou mais para ponta.

- Precisamos conversar... – Seus olhos encontraram com os meus. – Alice, não da pra jogar esses meses
todos fora por causa de algo que não aconteceu... Eu sei que é difícil agora acreditar em mim, mas eu te juro,
eu te juro que eu não fiz nada. Ontem na festa ela me ofereceu a carona, ela que me beijou hoje e...

- E você deu chance! – Devolvi irritada. – Se não tivesse pegado carona nenhuma nada disso teria
acontecido. E aquelas fotos... – Mais uma vez busquei calma. – Júlia, não quero jogar nada que a gente viveu
fora, mas foi um baque para mim. - Júlia baixou a cabeça. – Eu amo você, mas quando eu olho para você e
lembro aquela mulher te agarrando eu... – Fiz uma pausa para refletir e então falei: - Eu preciso de um tempo
afastada de você... Pelos menos pra tentar esquecer, para tentar entender o que aconteceu. Tenta me
entender... Eu- eu até acredito que ela deu em cima de você, que ela te beijou... Só que eu não lembro de
nenhum momento que você não deu chance... Se eu te falar que te perdoo agora, que aceito suas desculpas,
eu nunca vou poder mais tocar nesse assunto, nem pensar e eu não sei se eu vou conseguir fazer isso. – Com
firmeza, eu anunciei:

- Eu vou passar um tempo na Silvinha...


- Não... – Júlia me disse. – Você fica, eu passo uns dias fora. – E me deu um argumento que não tinha como
rebater. – Você tem criança pequena, tem o problema da guarda dela... Não vai ser bom para você a
assistente oficial bater aqui e descobrir que você saiu de casa, ela pode julgar de outra forma e até te
prejudicar no processo. – Firme. – Você fica.

Droga, maldito dia que trouxe Taís até minha casa. Mais maldito ainda o dia que Pedro Henrique entrou com
o pedido de guarda e me obrigou a procurar uma advogada. Maldita mesmo foi à hora que aquele urubu do
Pedro Henrique entrou em minha vida. Mesmo querendo um tanto de distância, não foi felicidade que sentir
quando meia hora depois sai de casa e vi a mochila de Júlia pronta para partir. Papai me olhou um tanto
atravessado.

- Será o que eu estou fazendo o certo?

- Não sei se é o correto, filha, mas só de você não tomar nenhuma decisão séria com a cabeça quente já esta
demonstrando maturidade. – Sorriu. – E eu fico orgulhoso de você...

Ele me deu um abraço e fez um sinal que iria entrar. Olhei para trás e entendi sua atitude. Júlia saia da cabana
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

para ir embora de casa. Ela deu um sorriso tristinho que me apertou o coração e me disse:

- Já estou indo.

- Você vai ficar na sua vó? – Ela fez um gesto negativo. – Vai para onde?

- Não quero dar trabalho pra ela, sabe como esses meus plantões são loucos, chego tarde em casa, ela fica
preocupada, melhor não... Mas não esquenta que eu vou ficar bem... Eu me viro. – Ficamos em um silêncio
por uns vinte segundos. Aquele típico silêncio ensurdecedor. – Bom, eu vou ir já...

- Bom então...

Sorrimos com nosso desajeito. Trocamos um abraço e ela me deu um beijo no rosto. As lágrimas de Júlia
tocaram meu rosto. Eu segurei as minhas para que tudo não virasse uma choradeira sem fim. Apertei ela
contra meu peito e senti que nossas batidas estavam descompassadas. Júlia aproximou os lábios de minha
orelha e sussurrou:

- Não demora muito, não aguento ficar tanto tempo longe de você, meu amor...
- Prometo demorar apenas o tempo necessário.

Nos abraçamos mais uma vez e só no separamos após alguns segundos. Ela murmurou outro tchau, trocamos
mais um beijo no rosto e vi Júlia subir na moto e ir embora. Doeu demais passar por aquilo. E a porcaria da
cena do beijo não saia da minha cabeça. Lógico que não consegui dormir. Chorei feito uma carpideira e me
revirei à noite toda na minha cama enquanto relembrava cada momento passado ali com ela. Meus lençóis e
meu quarto inteiro estavam impregnados com seu cheirinho de mato molhado. Minha cara no dia seguinte
estava péssima. Se eu fosse para torcida do Flamengo com a camisa Vasco acho que não sairia tão acabada
como fiquei no dia seguinte. Enquanto não estava concentrada no trabalho eu não consegui tirar aquela mulher
da minha cabeça. Achava que a qualquer virada no corredor do Alonso Franco eu a encontraria.
Com o hospital sem Isa e Rebeca tudo parecia muito monótono e chato. Só consegui me distrair um pouco
quando fui tomar um cappuccino com a Paula e jogamos conversa fora. Lógico que Paula percebeu que
minha cabeça não estava ali já que qualquer pessoa de jaleco branco que passava eu mirava no rosto com
esperança de ser o de Júlia. A verdade é que eu não aguentava mais de saudade. No décimo sexto rosto que
não era de Júlia, Paula resolveu se manifestar.

- Se esta procurando uma certa atendente morena de olhos verdes de um e oitenta e tanto de altura e jeito de
moleca pode esquecer, ela não vem... Esta gripada que é um horror...

- Gripada? – Perguntei com interesse. A Júlia só tinha tamanho, quando estava doente era pior que a
Heleninha, se não pegasse no pé não se agasalhava, não tomava um chá, ficava horas sem comer. Em outras
palavras, uma criança de 37 anos de idade. – E como você sabe?

- Ela esta lá na Silvinha... No fusca, o Serginho foi embora.


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- O Serginho foi embora?- Eu perguntei boquiaberta. – Por quê?

- Ai não faço ideia... Sumiu...

Bem que a Rebeca me disse no ultimo telefonema que eles me deram que tinha um babado forte para contar
quando voltasse da lua de mel. Provavelmente deveria ser sobre a saída do Serginho. Aquela altura eu ainda
não sonhava o tanto que aquele menino aprontou. Voltei a falar da Júlia.

- Mas o que aquela criatura, com o dinheiro que ela tem achou de se hospedar no fusca?
- Eu conversei com ela sobre vocês. – Paula sorriu. – Acho que ela abriu mão de um hotel confortável para
ter a chance de ver uma certa doutora que trabalha aqui no hospital e volta e meia vai visitar a prima naquele
prédio. Será que preciso dizer o nome da doutora, Alice?

Fiz um gesto negativo, baixei os olhos. Eu precisava de alguém para desabafar, com minhas melhores amigas
longe, Manu e Giovanna em São Paulo, Gabriel e Nat enrolado com fraldas de bebê e alianças e Silvinha
ocupada com o cursinho de “como acabar com um casamento em semanas”, encontrei em Paula uma boa
ouvinte.

- Estou muito machucada, Paula... Não consigo esquecer aquelas fotos e parece que elas se multiplicam nos
sites... E eu vi também... – Desabafei. – Esta certo que aquela Taís foi uma vaca, mas a Júlia também deu
brecha...

- Por que você não vai visitar ela e conversar? – Paula me sugeriu. – E não me olha com essa cara que não foi
a Júlia que me pediu pra te falar isso... Só estou querendo ajudar duas amigas...

- E você com o Gabriel? – Eu perguntei. – Como é que estão as coisas, vocês...


Paula fez um gesto negativo.

- O Gabriel foi um acerto de contas do passado... – Paula me disse sem muita convicção, baixou os olhos. –
O importante é que nós dois ficamos amigos e do lado das pessoas que amamos. Ele com a Nat e eu com o
Lucas.

Ahaaam, senta lá... Resolvi voltar ao outro assunto.

- A Júlia esta cuidando dessa gripe direito?

- Naquela base, né... Eu que fico choferando no ouvido dela... - Sorriu. – Sabe que eu lembrei Alice? A Júlia
adora a canja de galinha que sua tia prepara. Ela e o Gabriel falam tanto da canja da tia Junia, que sempre
fazia quando ia visitar a Dona Regina na fazenda e eles eram crianças... Levar um pratinho de canja quentinho

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não fazer cair à mão, não é?

Paula era a Pamonha mais genial da face da Terra, quase pulei a mesa e lhe dei um beijo na boca pela ideia
magnânima que teve. Eu mataria a saudade e a canja serviria para quebrar um provável gelo que encontrasse
pela frente. Liguei na mesma hora para Tia Júnia e pedi a receita da tal canja. Só consegui depois de quase
assinar um contrato que prometia sigilo da receita porque era de família. Sai do hospital, passei no mercado,
comprei todos os ingredientes e gastei uma noite inteira em claro para chegar ao ponto certo da tal canja.
Olhei no relógio e já passava das três da manhã quando fui dormir. Como eu entraria no hospital cedo e
queria entregar a canja para ela tomar no almoço teria que praticamente amanhecer na casa de Silvinha.

Assim como eu, Júlia lá do outro lado da cidade também não conseguia pregar os olhos cedo. Primeiro, os
sintomas da gripe a incomodavam. Segundo, assim como eu, ela não conseguia esquecer nossa conversa e
também assim como eu pegou o celular umas três vezes para me ligar, mas no ultimo instante perdia a
coragem. Ela ligou o rádio para se distrair. Sem sabermos uma da outra, dormimos praticamente no mesmo
horário.
Júlia se levantou cedo, as seis com o barulho do rádio que ainda estava ligado. O remédio da febre tinha dado
efeito e sentiu-se suada, pegou uma toalha no banco da frente do fusca e tomou banho no banheiro da
garagem mesmo que Silvinha havia improvisado. Depois de quinze minutos de ducha, saiu do chuveiro e se
enrolou na toalha. Ao botar os pés na garagem percebeu que não estava sozinha.

- Nossa! – Taís murmurou com a visão de Júlia apenas de toalha, toda cheirosinha, recém saída do banho. –
Depois você diz que a culpa é minha...

Júlia mediu Taís de cima abaixo, depois dali com certeza ela iria trabalhar. Os mesmos conjuntinhos sócias de
sempre com a diferença de que trazia o terninho nas mãos e a blusa estava propositalmente desabotoada. Ela
franziu o cenho deixando claro seu desagrado com aquela visita.

- Quem te contou que eu estava aqui?

- As notícias voam querida. Isso não importa.

- O que você quer?

Taís mirou Júlia de cima abaixo. Os cabelos molhados formavam cachos perfeitos, seus olhos estavam em um
tom verde claro (costumava ficar assim quando ela estava com raiva de alguma coisa) e Júlia exalava um
cheiro de erva doce, que vinha de seu sabonete. Taís sorriu.

- Você agora...

- Se der mais um passo na minha direção...

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Taís não lhe deu ouvidos e a provocou, deu o tal passo.

- Mostra do que você é capaz, Júlia...

Júlia sorriu maliciosamente, sua mão subiu até a nuca de Taís. Taís fechou os olhos a espera do contato dos
lábios, mas logo os arregalou devido a dor que sentiu na região do pescoço. Júlia cravou seus dedos com
brutalidade, para machucar mesmo.

- AAAAAAAAAAAAI, QUE É ISSO... – Conseguiu escapar da mão de Júlia. – Você tentou me enforcar,
você tentou...

- Isso é pra você me deixar em paz! É pra parar de correr atrás de mim, esquecer da minha cara... E não
acha que eu não sou louca o bastante para terminar que eu comecei porque eu sou! – Enfezada. – Eu posso
ter perdido a ultima chance de ser feliz por sua causa, então cai fora daqui e para de me encher o saco!

Era seis e alguma coisa quando cheguei no prédio da minha prima com a canja em uma mão e um suco de
laranja fresquinho na outra. O porteiro já me conhecia deixou eu passar sem problema nenhum. Eu fui direto
para garagem e percebi que a porta estava aberta e de lá eu ouvi o rádio do fusca e reconheci a voz do
vocalista do Foo Fighters tocando a versão acústica de Times like these. A música do nosso primeiro beijo
em Silvéster. Nem que eu vivesse mil anos esqueceria cada detalhe daquele beijo com gos de morango e
papaia com cassis. Sorri toda boba e pensei alto:

- A nossa música... – Completamente boba. - Ela esta pensando em mim...

Disposta a esquecer tudo que eu vi e correr de volta para os braços de Júlia segui com um sorriso de orelha a
orelha até o portão daquela tão garagem. Meu sorriso morreu ao dar de cara com Taís e ver que o único traje
de Júlia era a tal da toalha. Taís ainda tinha uns vergões no pescoço e ajeitava o terninho para tentar disfarçar.
Na cabeça de quem que não passaria a ideia que elas fizeram sexo a noite inteira e eu cheguei no momento
que elas estava na “saideira”. Júlia sorriu ao me ver.

- Alice, eu...

- Você não vale nada! – Eu consegui falar entre dentes. – Eu toda preocupada se devia ter pedido um tempo
pra você, torcendo que o tempo voltasse para trás para não pegar você com essa vagabunda! – Júlia fazia
repetidamente gestos negativos com a cabeça e murmurava vários “nãos”. – Eu sou numa idiota mesmo,
uma...

- Alice, não aconteceu nada... Isso aqui... Ela chegou agora, ela...

Taís sorriu.
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- Melhor a gente terminar nossa conversa outra hora.

- Cala a boca, sua vaca! – Júlia retrucou furiosa. Voltou a falar comigo. – Alice, por favor, me escuta antes
de...

- Eu cuidando de você quando você chegou, te colocando em casa pra você não pegar chuva... Te trazendo
cafezinho quando você ficava de serviço a noite inteira, sempre te apoiando, sempre acreditando em você...
Toda preocupada passei a noite fazendo sopinha, suco de laranja. – Não pensei duas vezes, abri a garrafa e
joguei o suco todo na cara dela. – Esta ai a porcaria do suco!

- Na hora que eu mais preciso que você acredite em mim você não pode me dar as costas, Alice! – Ela
estava revoltada. - Deixa de ser insegura, deixa de...

- Você esta livre! Livre da minha insegurança, de todos os meus defeitos você esta simplesmente livre, Júlia. –
Ela me encarou confusa. – Acabou! Acabou.

Nem sei que horas a vadia da Taís saiu, só sei que estávamos sozinhas naquele pátio.

- Não, não acabou não...

- Cala a boca que eu não aguento mais ouvir tua voz. – Eu sai andando e ela atrás de mim. – Por favor, Alice,
não faz isso comigo. Júlia me puxou pelos ombros e fez com que olhasse em seus olhos. - eu te amo...

- Quieta! – Soquei seus ombros. – Quieta, quieta, quieta!

Ela puxou meu braço e me beijou de forma apaixonada. A principio correspondi, mas depois me separei de
forma abrupta. Júlia me encarou surpresa.

- Alice, por favor, a gente é louca uma pela outra...

- Viu o que você fez? Travou! – Baixei os olhos. – Você gelou meu coração... – Me separei dela. – Acabou
Júlia!

Não sei como sai de casa e consegui trabalhar ninguém no hospital aquele. A verdade é que não aquele dia,
mas a semana toda que se passou. Eu só conseguia esboçar algum sorriso quando estava perto da minha filha.
Para o resto do mundo eu parecia uma morta em vida. Comia pouco, passava horas e mais horas calada e
triste. Júlia tentou falar comigo a semana inteira, pelo celular, na minha casa, no prédio da Silvinha e no
hospital. Na frente dela eu me fazia de forte, mas assim que dava as costas eu sentia que estava desfazendo

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

aos poucos. Ela demorou alguns dias para voltar ao hospital e saiu com pelos menos três quilos a menos da
tal gripe. Como eu trabalhava com Paula aqueles dias, percebi que Júlia estava mais próxima dela. Em uma
das conversas das duas confidenciou a Paula.

- Não sei o que faço mais pra ela voltar para mim...

- Também, porque tem que ser tão canalha? – Paula perguntou. - Trata como se fosse a pessoa mais especial
do mundo, deixa nas nuvens e um dia depois engravida outra...

Júlia a encarou confusa.

- Paula, não engravidei ninguém.

Paula fez uma expressão de reflexão e então se explicou.

- Ah, desculpe... Ensaiei esse sermão para o Gabriel... Cafajeste errado!

Enquanto minha vida amorosa estava de pernas para o ar, Dona Abgail aproveitando que Nat estava toda
enrolada com Gabriel decidindo detalhes sobre o casamento e os bebês resolvia um de seus problemas mais
urgentes: falta de dinheiro. Com um sorriso que era incomum ver em seu rosto ela entrou em sua chácara, mais
precisamente no quarto principal da residência o qual Serginho ocupava.

- Estamos livres... Amanhã sai nossa carta de alforria garoto... - Serginho a encarou sem entender. – Vendi
um dos apartamentos da Nat. Amanhã vamos ter dois milhões.

- De reias?

- Euros. – Aplicou um beijo em seus lábios. Serginho abriu a boca surpreso. – Que foi menino?

- Ela não vai notar?

- Não... Ela nunca foi nesse apartamento. Era lá em Ipanema, no Rio de Janeiro, comprou pra investir...

- Mas é um apartamento...

- Ela tem mais de 60, incluindo um em Paris e um em frente ao Central Park. Uma coisa que o idiota do meu
marido conseguiu fazer foi deixar as filhas muito bem financeiramente. – Até eu abri a boca. – Isso não é nada
do que a gente ainda pode conseguir, menino, estamos falando da sexta fortuna desse país. – Pensativa. – O
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ideal mesmo seria a gente conseguir arrancar alguma coisa da Júlia... Desligada, não tem ambição, nem faz
conta de nada, mas agora com o casamento marcado com o Sujinho a Nat não vai se dar conta não... Você
vai poder pagar aquele infeliz e se livrar dele pra sempre e depois meu querido, a gente vai viajar... Liga para
aquele infeliz agora e marca amanhã.

Serginho sorriu satisfeito com a notícia e a obedeceu de imediato.

- Alô? Estou com a grana aqui... -... – Tudo que combinamos... - ... – Amanhã na oficina do Maranhão as
onze... - ... – Ok, até amanhã então. – Desligou, virou-se para Abgail. – Marcadíssimo!

- Tem certeza que ele vai sumir, não vai?

Serginho a encarou misterioso.

- Absoluta!
_____________________________________________________________________

Domingo de manhã era minha folga. Minha prima tinha me chamado para almoçar em seu apartamento pois
estava de saco cheio de ficar sozinha, Paula tinha ido trabalhar, Isa e Cíntia ainda não voltavam da lua de mel.
Aceitei também só para dizer que sai de casa. Quando Silvinha veio me atender vi que ela estava com a
mesma cara acabada que a minha.

- Que foi?

- Vi a Júlia chegar do plantão e entrar na garagem. E você?

- Transei com a Nat.

- QUE?

- Isso que você ouviu. – Minha prima falou com cara de choro. – Transei com a Nat.

E me contou como tudo aconteceu. Silvinha na tarde anterior, entediada de estar praticamente só em casa
resolveu marcar hora no salão do shopping. Quando estava saiu do salão foi dar uma espiada na loja de
eletrônicos que ficava ali do lado e então avistou Nat com um homem que pela descrição da minha prima era
Diná. Por conta dos preparativos do casamento Nat e Diná viraram unha e carne. Não se desgrudavam para
quase nada e Nat ligou para ele convidando para ver preços de uma geladeira nova.
Na loja de eletrônicos um “Kinect” estava em demonstração. O vendedor testava um dos jogos de dança e
convidava os frequentadores da loja para participarem da brincadeira. Ao ver que havia música de sua diva
Beyoncé entre as músicas do jogo, Diná saiu de vez do armário e implorou para Nat para dançarem juntos.

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- Eu não sei fazer isso... Sou muito ruim...

- Com esse rebolado de parar trânsito, Natália? – Diná cobrou. – Não vai me enganar, não... – E disse ao
vendedor apontando para o “cardápio” de músicas. – Essa aqui, por favor...

All the single ladies (All the single ladies)


All the single ladies (All the single ladies)
All the single ladies (All the single ladies)
All the single ladies. Now put your hands up

De inicio Nat deu aquela travada básica, mas ao ver Diná tão feliz e sorridente logo começou a perder a
timidez e imitar os comandos do boneco na TV, soltou o quadril, fez caras e bocas, chegou até a cantarolar
um pedaço da música jun to com Diná.

Cuz if you liked it


Then you should have put a ring on it
If you liked it
Then you should have put a ring on it

Don't be mad
Once you see that he want it
If you liked it
Then you should have put a ring on it

Oh, oh, oh, oh, oh, oh, oh


Oh, oh, oh, oh, oh
Oh, oh, oh, oh, oh, oh, oh
Oh, oh, oh, oh, oh

Finalizaram a apresentação com direito a aplausos. Silvinha ficou curiosa para saber quem era o tal homem
que acompanhava Nat e resolveu seguir os dois. Diná se despediu de Nat na porta do prédio e antes de
entrar seu olhar cruzou com o da minha prima e ficaram assim por alguns instantes. Quem atravessou a rua foi
Nat. E também foi Nat que agarrou a minha prima e pouco se importando com os transeuntes lhe puxou para
um beijo de tirar o fôlego. Silvinha sentiu suas pernas bambearam e envolveu os braços no pescoço de sua ex
(e minha) ex namorada.

As duas precisavam de ar. Nat se separou da minha prima com selinhos bem de leve, as mãos de Silvinha
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puxavam levemente seus cachos, sentiu os dedos de Nat viajarem por suas costas e o desejo de tê-la veio
violento obrigando Silvinha a procurar pelo ouvido de Nat e sussurrar.

- Eu quero você, vamos subir... Eu te...

- Shiiu, a ultima, não fala nada...

Nat respondeu com um beijo mais tórrido que o primeiro. Elas entraram e subiram pelo prédio de uma
maneira que ignorei, só soube que enquanto Nat abria a porta de seu apartamento, Silvinha sugava sua nuca
pouco se importando se deixaria marca ou não. Seus dedos já desciam pela cintura de Nat e desabotoavam
os botões da calça de Nat. Nat fechou a porta e pressionou minha prima naquele canto com mais beijos. Aos
poucos despiram-se de roupas e orgulhos e se amaram. Primeiro ali, próximo a entrada, depois na sala e por
fim no quarto. Quando Silvinha deu por si já passava das nove da noite e estava deitada na cama de Nat.
Encaixou-se no corpo dela, fez um carinho na barriga de Nat, já estava com uma saliência por conta do 1 e
do 2. Nat desviou as mãos de Silvinha. Se levantou e vestiu a primeira peça que encontrou pela frente. Um
roupão de seda branco. Silvinha a encarou sem entender.

- Nat, que foi?

- Eu te avisei que era a ultima.

Silvinha nua se sentou na cama espantada.

- Nat, mas...

- Agora EU que posso te esquecer... – Silvinha a encarou incrédula. Aquilo tudo não passou de um troco?
Uma devolução. – A gente nunca vai dar certo, Silvinha... Agora eu te entendo quando você falou isso para
mim, é mais forte do que gostar... Se você tem um pouco de consideração por mim, Silvinha, me esquece...

Eu não digo que ser humano é complicado? Na próxima vida eu quero vir cachorro que só come, dorme, fica
soltando pum pela casa, não machuca ninguém e todo mundo acha a coisa mais linda do mundo.

- Alice, ela me paga... – Silvinha chorou praticamente as cataratas do Iguaçu. – Só porque aquela vez eu fui
uma cachorra com ela, ela precisa ser uma cachorra comigo? – Deitei a cabeça de Silvinha em minhas pernas.
– Será que esses matadores de aluguel são baratinhos?

- Silvinha...

- Melhor, eu vou esperar ela ter os bebês e roubar que nem a Nazaré fez naquela novela e ainda vou
empurrar ela de uma escada. – Na hora eu não fiquei preocupada, mas no dia seguinte quando Silvinha falou
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em se mudar para um sobrado eu achei melhor dar uma chamada na minha prima. – Você vai ver...

O chororô da Silvinha só diminui quando a porta se abriu e surgiram Isa e Cíntia recém chegadas de viagem.
Cíntia com o maior sorriso do mundo e Isa com aquela cara de limão azedo de sempre. Depois de um abraço
em cada uma eu estava curiosa para saber tudo sobre a lua de mel. Pelo jeito tinha sido boa, as duas estavam
pretas de praia.

- E a viagem, foi boa?

- Ótima.

- Péssima! – Isa, para variar, retrucou.

Cíntia riu e me confidenciou:

- Descobri alguém que morre de medo de avião.

- Não é medo, só acho que máscaras de oxigênios caindo sobre nossa cabeça não é algo agradável. – Nós
três rimos. Cíntia mais que nós duas. – Só isso...

- Tinha que ver a hora que estavam explicando a recomendação de pouso forçado na água... – Isa fez uma
careta. – Teve neguinha que só faltou se levantar e “puxar a cordinha” pra descer...

Mais risadas, Cíntia ia nos metralhando contando todos os detalhes do hotel, dos passeios, das pessoas.

- E você nem pra me contar que a Ingrid ia pra Salvador também, né cabeção? – Cíntia cobrou de Silvinha. –
Ela estava no mesmo hotel que a gente, um congresso que ela foi participar, ainda voltamos no mesmo voo.

- Coincidencia, hein? – Eu comentei por comentar. – Mas se ela estava a trabalho nem deu para conhecer a
cidade...

- Na verdade ela já conhecia Salvador...

- E fez questão de apresentar cada pedacinho para nós enquanto tinha tempo livre. – Isa retrucou em um tom
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de implicância. – Daria uma ótima cicerone, nem sei porque não ficou por lá...

E saiu para ir ao banheiro. Silvinha e eu nos entreolhamos sem entender.

- Ai, vocês sabem como a Isa é chata. Pegou n pé da Ingrid o tempo inteiro.

- Por que?

- Disse que não tinha graça nenhuma sai de Silvéster para encontrar gente de Silvéster... Sabe como ela é cri
cri... Mas deixa eu contar, a gente chegou no Mercado Modelo e no restaurante tinha briga de baiana pra ver
em que lugar a gente ia comer...

E continuou falando, falando e falando. Isa voltou a se juntar a nós e dava mais detalhes de tudo. Só quando
tocava no nome da Ingrid que fechava a cara. Eu tinha que ir embora deixei as duas lá com Silvinha que muito
mais esperta que eu, logo sacou que os ares soteropolitanos deixaram as duas “diferentes” demais, saiu com
desculpa que tinha que ir para o Scarpan para uma reunião. Cíntia começou a desfazer as malas junto de Isa e
logo chegaram ao pacotinho de lembranças. Cíntia pegou um livro de imagens antigas de Salvador que Ingrid
tinha lhe dado ao abrir o livro encontrou uma dedicatória. Com certa dificuldade leu. Leu mas não conseguiu
interpretar o que aquelas palavras queriam lhe dizer.

- Droga!

- Que foi? – Isa perguntou, tinha ligado o som na sala e ido atrás de Cíntia as duas estavam na varanda. Se
sentou na rede ao lado dela.

- A Ingrid me deu esse livro e escreveu uma coisa, mas eu não entendi o que ela quis dizer...

- Não entendeu?

- Não.

- Lê pra mim, quem sabe eu entendendo...

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Cíntia fez um gesto afirmativo e obedeceu a Isa.

- Se te comparo a um dia de verão/ És por certo mais belo e mais ameno/ O vento espalha as folhas pelo
chão / E o tempo do verão é bem pequeno...

O que Ingrid tinha dedicado a Cíntia era o soneto mais famoso de Willian Shakespeare, o soneto número 18.
A voz de Cíntia saia trêmula e insegura. Isa olhou em seus olhos e percebeu que ela estava nervosa. Talvez
por estar expondo seu ponto fraco. Cíntia encobriu a mão de Isa com a sua e pela primeira vez Isa notou o
quanto o toque de seus dedos eram delicados.

- Nao entendi nada.

- Ele compara o amor com o verão... E diz que o amor é tão bonito quanto e até melhor que um dia de
verão...

Cíntia fez um gesto afirmativo e voltou a ler:

- Às vezes brilha o Sol em demasia / Outras vezes obscurece com frieza; /O que é belo declina num só dia /
Na eterna mutação da natureza.

Isa deixou se perder nos olhos castanhos de Cíntia e voltou a explicar.

- Um dia o verão vai acabar e os dias de sol vão embora, vão vir ás outras estações Outono, inverno,
primavera...

Outro gesto afirmativo e Cíntia voltou a ler em voz alta:

- Mas em ti o verão será eterno / E a beleza que tens não perderás; / Nem chegarás exausta ao triste inverno.
–Fez uma pausa. – O que é isso quer dizer?

- O verão pode passar para as outras pessoas, menos para ti... Os dias sempre serão bonitos do seu lado e
mesmo com tempos mais difíceis tudo vai ser superado porque é um amor que engana o tempo, ganha da
morte, é eterno. – Isa sentiu sua voz entrecortada. Não acreditava que tinha se emocionado com aquilo.
Sentia o braço de Cíntia encostado ao seu e toda sua pele se arrepiar. – É o que o poeta quis dizer.

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Cíntia também comovida com aquele momento tão “estranho” resolveu retomar sua leitura, faltava apenas um
verso. Isa percebeu que sua voz também estava embargada.

- Nestas linhas com o tempo crescerás. /E enquanto nesta terra houver um ser / Meus versos ardentes te farão
viver...

- Significa...

- Eu entendi... O amor é eternizado por causa das palavras do poema. – Cíntia murmurou emocionada.
Deixou uma lágrima escapar de seus olhos. – É bonito... Bonito mesmo...

Isa desarmada fez um gesto afirmativo, com o polegar secou uma lágrima que teima escapar dos olhos de
Cíntia e deixou sua mão segurar o rosto pequeno. Parecia que só naquele momento percebia a meiguice em
suas feições. As duas se entreolharam. Ao fundo tocava no rádio ligado na sala:

Você me chamou pra dançar aquele dia


Mas eu nunca sei rodar
Cada vez que eu girava parecia
Que a minha perna sucumbia de agonia
E cada passo que eu dava nessa dança
Ia perdendo a esperança
Você sacou a minha esquizofrenia
E maneirou na condução
Toda vez que eu errava cê dizia
Pra eu me soltar porque você me conduzia
Mesmo sem jeito eu fui topando essa parada
E no final achei tranquilo
Só sei dançar com você
Isso é o que o amor faz
Só sei dançar com você
Isso é o que o amor faz

Isa não entendeu porque seu coração bateu mais rápido e as bochechas de Cíntia ficaram vermelhas de uma
hora para outra. Nem teve tempo de questionar pois alguém interrompia as duas com a campainha. Cíntia se
levantou para atender.

- Oi!

- Ingrid! Tudo bem? – Trocaram dois beijinhos de comadres. – Estava agora lendo o livro que você me deu...

Isa não fez menção de se levantar para fazer sala a Ingrid. Só entrou de volta ao apartamento quando ouviu a

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

porta da rua bater, Cíntia e Ingrid desciam para tomar um sorvete. Achou até bom, precisava mesmo ficar só
para entender o que estava acontecendo.
______________________________________________________________________

Quando eu desci do apartamento da minha prima cruzei com Júlia e Gabriel, cumprimentei-o com dois
beijinhos. Tive vontade de passar reto por ela, mas perdi a coragem quando Heleninha estendeu os bracinhos
em direção a ela e falou:

- DÚIA!! DÚIA!!

Júlia sorriu para mim como se quisesse me dizer “deixa, só pra matar a saudade” eu coração de manteiga
deixei. Ela pegou Heleninha no colo e logo ganhou um beijo no rosto.

- AAAAi... Que beijinho gostoso que você tem... – Ela brincou com Lelê fazendo beijinho eskimó. Virou-se
para mim. – Como é que vai, Alice?

- Bem... Júlia, eu já falei com minha mãe, assim que sair a decisão do juiz sobre a Heleninha nós vamos sair
da sua casa, eu já coloquei um outro advogado no caso e...

- Não estou te pedindo a casa...

- Mas é sua... E você não pode ficar morando no fusca enquanto eu estou na sua casa e...

- Eu tenho minha vó para morar, tenho dinheiro para comprar um apartamento, tenho dinheiro para alugar
uma casa, você acha mesmo que eu estou aqui por falta de lugar pra ficar? Eu estou aqui por causa da minha
mulher, por causa de você Alice... Que eu sei que você sempre vem ver as meninas é uma forma de estar
perto de você...
Ela deu um passo à frente.

- Nossa, vale uma dor no lombar só para me ver passar por dois minutos?

- Será que você é cega e não percebe que vale eu levar um tiro só pra você me da um oi? Que vale me jogar
de um prédio só pra você me olhar por meio segundo? Que vale eu me quebrar inteira só pra você cuidar de
mim? Será que você não enxerga nos meus olhos, nas minhas atitudes que eu te amo, cacete?

- Eu...

Só então percebi o quanto estamos próximos. Seus lábios estavam a menos de dois centímetros do meu. Uma
das mãos envolveu meu rosto. Instintivamente abri meus lábios a convidando para o beijo. Nossos lábios se
roçaram, mas o barulho do portão nos chamou para realidade. Era Ingrid que entrava e subia provavelmente

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

atrás de Cíntia. Nos entreolhamos sem saber o que dizer uma a outra. Um tanto embasbacada murmurei um
tchau e sai de lá xingando a Ingrid de todos os nomes sujos que eu conhecia. Júlia também não ficou nada
feliz. Entrou na garagem e deitou tentando relaxar. Sentiu uma fisgada nas costas.

- Júlia, quando você vai entender que você tem 37 anos de idade e não é mais uma menina? - Júlia se
perguntou. - Ideia genial você com um metro e oitenta e três de altura passar uma semana dormindo em um
fusca.

Cansada se recostou no banco do carro. O assoalho já velho não aguentando mais seu peso foi ao chão e
Júlia caiu com banco e tudo.

- MERDA! - Ergueu uma das mãos e tentou se apoiar em uma daquelas abas que ficam ao lado de retrovisor
e servem para proteger do sol. A aba tão velha quanto o "chão" do carro acabou cedendo e despencando
junto da cara de Júlia com uma papelada. - Que é isso, o negócio criou vida sozinho e já esta batendo na
minha cara? - Acabou se erguendo sozinha. Olhou para os papéis amarelados. Sorriu. - Não é que essa
velharia tem dono de verdade, rapaz? - Curiosa abriu o papéis e foi ver os dados do carro. Leu em voz alta. -
Ano: 1977 , Cor Original: Verde Abacate, Dono: Ab... - Cortou-se e leu mais uma vez. - Abgail Franco?

Deu dois passos e foi ao chão. Encontrou o culpado. Um taco de madeira que devia estar sobre o assoalho
do Fusca e despencou junto. Um taco velho por sinal e também destruido pelos anos, mas com uma marca
intacta que devia ter sido talhada a canivete, Júlia forçou os olhos e leu : BR-3, Puxou o taco e então viu que
na verdade se tratava de um remo. Cor: Verde Abacate / Ano 77. Como um flash avoz de Diná veio em sua
mente:

- Ele tinha um fusca verde abacate 77 e o apelido era BR-3 porque ele era fã do Tony Tornado.

Júlia se levantou boquiaberta, Gabriel chegou a garagem de Silvinha, tinha subido para pegar duas cervejas, a
encontrou naquele estado.

- Que foi?

- Esse fusca... - Deu um tapa no teto do carro o retrovisor caiu. Desacreditada. - É o fusca do pai da Nat!

- Tem certeza?

Júlia fez um gesto negativo.

- Ainda não, mas vou tirar essa dúvida agora!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

E sem demais explicações pegou o capacete e saiu com a moto.

- Por que mulher tem mania de deixar a gente falando sozinho? – Gabriel deu um gole na cerveja. - Tudo
maluca.

______________________________________________________________________

- Ela foi pra chácara? – Júlia perguntou a Cidinha, empregada de Abgail no apartamento do centro da cidade.
– Tem certeza?

- Ela disse que eu não precisava fazer jantar porque ela ia jantar lá... Por que você não liga no celular dela,
Julinha?

Júlia fez um gesto negativo.

- Não, deixa que eu vou até lá...


______________________________________________________________________

Abgail chegou com “arca do tesouro” na chácara por volta das cinco horas da tarde. Era a grana toda do
pagamento do imóvel de Nat. Dois milhões de euros. Ao abrir a pasta Serginho abriu a boca um tanto
passado, sorriu. Roubou um beijo de Abgail. Ela tinha dispensado os empregados da casa para ficarem mais a
vontade.

- Você é incrível!

Abgail sorriu.

- Não se anima tanto garanto. Parte desse dinheiro vai lá para o tal de Fumaça...
Foi à vez de Serginho sorrir. Por dentro ele gargalhava da cara dela.

- Mesmo assim, você é incrível... Dá isso aqui... – Pegou a pasta cheia de dinheiro jogou e espalhou pela
cama. Beijou Abgail mais uma vez. – Sempre tive vontade de transar numa cama assim...

Abgail fez um gesto negativo.

- O nome disso é pobreza incubada, menino... – Tomou os lábios dele. – E a gente vai conseguir bem mais.

E se entregaram aos beijos e ao ato em si. Os dois muito animados nem perceberam a hora passar, o ponteiro
do relógio já marcava sete horas da noite quando Júlia estacionou a moto em frente à chácara. Júlia tinha a
chave da avó por isso não se deu ao trabalho de tocar a campainha do portão e nem a da porta de entrada.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Júlia percebeu que além do carro da mãe havia uma moto que ela já tinha visto em algum lugar. Concluiu que
devia ser do filho do caseiro e que vi das outras duas vezes que foi lá. Entrou na casa e logo percebeu que
havia mais alguém na casa. Pontas de cigarros ainda acesas no cinzeiro e um par de chinelos masculinos na
beira da escada.

- Mãe?

Não ouviu resposta alguma, mas um barulho vindo do andar de cima. Sentiu as pernas tremerem e a boca
gelar. O medo daquela casa voltava. Respirou fundo e pé ante pé subiu as escadarias. A respiração estava
ofegante, mas alguém ofegava mais do que ela. Os flashes de sua infância se misturavam com o momento que
vivia. O medo de atravessar o corredor para ir até o banheiro, o pai, Duarte, o ladrão. Parou na porta do
quarto e escutou perfeitamente o som inconfundível de gemidos de prazer. Alguém estava tendo relações
naquele quarto. A porta estava entre aberta. O som muito parecido com o que ouviu do ladrão com a mãe.
Aos poucos sua memória reconstituía a cena. A mãe com o ladrão. Os pés dele. Ele deitado na cama, ela de
costas no meio do ato sexual, sentada entre as pernas dele. A voz do pai lhe chamando com firmeza e depois
a discussão do pai com Abgail.

- CACHORRA! VÁDIA! – Ele sacudiu o braço de Abgail com força. – PIRANHA! NO MESMO TETO
QUE SUAS FILHAS. OLHA A MENINA... – Samuel, pai de Júlia apontou para filha encolhida em um
canto acreditava que fez algo errado. – OLHA COMO ELA ESTA ASSUSTADA! ACABOU ABGAIL,
ACABOU SUA VIDA DE MADAME! REPETE O QUE VOCÊ ESTA DIZENDO PARA O
VAGABUNDO DO SEU AMANTE, SUA PIRANHA! QUE O CORNO SUSTENTAVA TUDO, O
CARRO, A CASA, ATÉ A FILHA DELE! REPETE! - Abgail foi sacudida pelos ombros. – REPETE O
QUE VOCÊ DISSE SOBRE A NAT! COMO VOCÊ TEVE CORAGEM DE ME MENTIR POR ESSES
CINCO ANOS?

No outro lado da casa Duarte batia boca com o “ladrão”.

- MINHA AMIGA? POR QUE? POR QUE? – O empurrou . – SEU SÓRDIDO, PORCO, EU ODEIO
VOCÊ, ODEIO VOCÊ! NUNCA FUI TÃO HUMILHADA EM TODA MINHA VIDA!
Tudo se misturava de novo. Forçou a memória e se lembrou de entrar no quarto da mãe. Abgail estava
enrolada em um lençol, parecia machucada. Júlia preocupada entrou no quarto.

- Mamãe, quer que eu fique aqui com você?

Em resposta levou a bofetada no rosto. O anel que tinha cortado sua boca. Júlia encarou sem entender e foi
coberta de mais e mais tapas. A todo instante Abgail repetia:

- A culpa é sua, é toda sua, toda sua!

Só conseguiu sair do quarto quando a mãe perdeu o ar e cansou de lhe bater. Se olhou em um dos espelhos
do corredor. Estava toda machucada, mas o que mais tinha mudado fisicamente era seu olhar. Endurecido,
marcado. Como se tivesse virado adulta naquele momento, ali entendeu que não tinha mãe. Nat, com cinco
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

anos colocou a cabeça para fora do quarto para ver o que acontecia, com a voz firme ordenou que a irmã
entrasse. Logo depois Duarte a encontrou e fez um curativo em sua boca.

Todo esse tempo acreditando que um bandido machucou a mãe e na verdade se tratava de mais um dos
amantes, o primeiro que ela (Julia) tinha conhecido. A porta estava ali entreaberta. Depois de quase trinta
anos a cena se repetia. Ela não era mais a menina que Abgail surrou um dia. Corajosa, enfiou a cabeça pelo
vão da porta e o mesmo retrato. A mãe no meio do ato sexual com um amante. Os dois não a viram.
Reconheceu o rosto de Serginho e não se surpreendeu, já estava anestesiada. A cena de anos atrás veio em
mente e o rosto do ladrão era desvendado perfeitamente em sua memória. Como poderia ter se esquecido
daquele rosto? Tudo tão na sua cara. Agora as pistas começavam a fazer sentido. Como ela teve coragem de
fazer isso com a filha?

E congela na Júlia.

End Notes:

Cenas dos próximos capítulos:

- Que inferno, agora essa Ingrid vai ficar enfiada dentro dessa casa também? - Isa
perguntou a Paula. - Por que já não dão um quarto pra ela?
- Isa deixa de ser chata, foi a Cíntia que convidou e... Vai sair?
- Tomar uma cerveja lá embaixo... Não aguento mais esse papinho de advogado na
minha cabeça...

Como diria o poeta, o ciume dói nos cotovelos, na raíz dos cabelos, gela a solas dos
pés. Isa transpirava ciume por todos os poros. Desceu e foi para o bar em frente a
oficina do Maranhão. Avistou Serginho do outro lado da rua. Ele olhava para os dois
lados, percebeu ele acenar para alguém. Ameaçou chamar o irmão de Rebeca para
entrar no bar, estava afim de jogar uma sinuca, mas desistiu ao ver de quem se tratava
o companheiro de Serginho. O reconheceu do retrato falado do hospital e das fotos
divulgadas no jornais.

- Fumaça?

________________________________________________________________________

Com a reta final chegando, vcs já tem algum palpite com o que vai acontecer com os
personagens? Bjoooosss!!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 64 by Tamaracae

Author's Notes:

Oi meninas!!

Música do capítulo:

http://www.youtube.com/watch?v=FG2buAsFJj4 - Pra me provocar - MC Koringa

- Mamãe, quer que eu fique aqui com você?

A moto de Júlia cortava a rodovia principal de Silvéster na velocidade permitida. Sua atenção era dividida
entre o trânsito e suas lembranças. O rosto e corpo inteiro estava dolorido, parecia que tinha acabado de
levar a surra e de assistir a discussão horrível que os pais tiveram naquela noite. Sinal vermelho. Freou a moto
e colocou o pé sobre o chão. Ao contrário do modo que sempre agia, dessa vez Júlia resolveu mudar sua
estratégia com Abgail. A mãe era esperta. Teria que ser duas vezes mais para provar que não estava ficando
louca. Sinal verde. Seguiu pela rodovia até pegar um desvio. Em poucos minutos estava na fazenda de Dona
Regina. João a recebeu de braços abertos, estava molhado, tinha acabado de sair da piscina junto com Laísa.
Pouco se importou com a água e o cloro e correspondeu ao braço do filho com força e carinho.

- Obrigada, estava precisando tanto desse abraço. – Ela confessou ao confuso João. Fez um sinal para Laísa
se juntar aos dois e abraçou a sobrinha também. Ao separar das crianças eles logo notaram que ela estava
emocionada. Segurou o rosto de cada um. – Queria que vocês soubessem que amo vocês viu... – Deu um
beijo no rosto de cada um. –Amo muito...

João e Laísa se entreolharam um tanto encafifados, ganharam um novo abraço de Júlia e depois de mais
algumas palavras ela seguiu para o interior da casa principal atrás da avó. João foi o primeiro a quebrar o
silêncio.

- O que deu nela?

Laísa deu os ombros.

- Quando meu pai fica assim é porque morreu alguém que ele gostava no hospital. Será que foi isso?

João deu os ombros.

- É... Deve ter acontecido alguma coisa no PS... Deve ser isso... – Fez um sinal para Laísa acompanhá-lo. –
Vem, daqui a pouco a vó chega e fala pra gente entrar...

Enquanto os meninos voltavam a piscina, seu Nélio, um dos peões mais antigos de Dona Regina explicava

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

onde estava a dona da casa para Júlia. Ela não encontrou a avó em lugar nenhum da fazenda e foi até o
estábulo. Lá seu Nélio dava a ração

- Hoje é dia do jogo de tranca da D. Regina com as amigas. Foram tudo para a casa da D. Junia... Você
conhece sua vó, Julinha...

Júlia sorriu.

- Só depois do jantar... E... – Admirou o belo cavalo de raça que Nélio terminava de dar de comer: Marrom,
uma pelagem brilhante, olhos negros, forte e saudável. – Nossa, que cavalo bonito... Ele chegou quando?

Nélio sorriu.

- Não esta lembrada do poltrinho não, Júlia... Pois se eu te dizer que ele nasceu na sua mão? – Júlia o
encarou surpresa. – Foi em um dia que caiu uma chuvarada, eu mais o Márcio não estava dando conta e não
tinha como chamar o veterinário e...

- Esse é o Dreher? Bisneto da Faísca?

- Bisneto da égua preferida do finado seu Alonso, lembrou dele?

Claro que tinha lembrado. Foi um dia ante de confirma a gravidez de Marcinha. Tinha dormido na avó, D.
Regina estava reclamando de dores no peito. No meio da madrugada Nélio a chamou para ajudar no parto da
égua.

- Você não é médica? A coitadinha esta sofrendo por demais Julinha, vê que pode fazer por ela. O bicho está
virado.

Júlia foi meio contrariada, ela não era veterinária e apesar de ter visto vários partos de bezerro e cavalinhos na
fazenda da avó, nunca tinha participado ativamente de um. Depois de horas de muito suor e muito muque para
virar o potrinho na barriga da mãe, finalmente ele nascia, marronzinho como a mãe, cor de conhaque, não
pensou duas vezes:

- Vai se chamar Dreher.

Ele tinha ficado tão bonito, apenas a pelagem marrom conhaque lembrava o potrinho desajeitado que tinha
colado no mundo. Ainda estava selado. Nélio ia começar a tirar a sela do bicho, mas Júlia não deixou.

- Será que ainda sei montar nisso ai?

- Quem vive pra cima e pra baixo com aquela geringonça de moto... – Nélio deu um sorriso. – O Dreher é
manso... Pode ficar despreocupada...

Julia fez um gesto afirmativo.

- Nélio... Faz o favor, pede para as crianças saírem da piscina e tomar banho. Eu chego para jantar com eles.

Nélio acatou suas ordens. A própria Júlia terminou de selar Dreher e montou sem ajuda de ninguém. Passou
uma vida inteira em cima de cavalos, paixão do avos e também do pai, nunca pensou que ficaria tanto tempo
sem montar em um. Dreher era um cavalo veloz para seus quase doze anos, prova de que era muito bem
tratado. Veloz mas manso, obedecia Júlia sem maiores problemas. O vento cortava sua pele, o barulho das
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

patas do cavalo, o cheiro de vegetação tudo fazia recordar sua infância. As histórias que os peões inventavam,
o respeito e o carinho dos avôs com aquele pedaço de terra, suas brincadeiras com Nat e Gabriel naquela
propriedade enorme. Ao pensar em Nat sentiu um nó se fazendo na garganta e lembrou-se de um dia que ela
e Gabriel, os dois por volta dos oito anos foram brincar no rio e Nat foi logo atrás deles. Gabriel e Júlia
brincavam de se jogar da arvore direto para o rio.

- Volta pra casa, Nat. Você vai se machucar.

- Eu vou contar pra vovó que você sobe e pula lá do altão... – Desde pequena chatinha. – O VÓÓÓÓÓÓÓ!

Júlia se levantou com a intenção de dar um cascudo na irmã, mas foram interrompidas por um pulo de um
franzino Gabriel que só usava cuecas. Ele mergulhou direto na água e voltou a superfície. Nat deu um sorriso
admirada que Gabriel devolveu prontamente.

- Vem Natinha, eu te ensino a subir na arvore... Não conta pra sua vó não... – Deu uma piscadinha cúmplice
para Júlia. – Fica aqui brincando com a gente.

Apaixondinho pela Nat, desde sempre. Júlia desceu de Dreher e ficou ali recostada em um tronco de arvore,
relembrando pequenas passagens como aquelas e sentiu saudade de conversar com Nat, do cheiro da irmã,
das pequenas manias... Com o peito ainda apertando por conta de todos aqueles acontecimentos, despiu de
toda sua roupa e mergulhou nas águas geladas do rio apenas de calcinha. Deu braçadas, deixou se afundar na
água e voltar, boiou e depois de meia hora decidiu que era hora de voltar.

Ao chegar na fazenda com as roupas molhadas teve que responder um zilhão de perguntas das crianças.
Colocou uma roupa de Rebeca (Minha amiga quando volta-se da lua de mel moraria na fazenda até seu
apartamento terminar a reforma) e foi terminar de jantar com eles. Dona Regina chegou por volta da uma da
manhã. Ficou feliz em vê lá cochilando no sofá.

- Ah... Alguém lembrou que tem avó e que não precisa ficar quebrando a coluna em um fusca velho? – Dona
Regina se sentou ao lado da neta. – Quando a Alice e você vão esquecer dessa frescura e voltar a fazer sexo
pelos cantos do meus hospital hein? – Adoro quando as pessoas levam minhas decisões a sério como dona
Regina nesse momento. – Está todo mundo reclamando do seu mal humor. – E brincou. – Quanto você quer
pra ficar aqui? Dólares, ouro, diamantes?

- A senhora acha o que? – Júlia devolveu se fingindo de ofendida. – Que me compra com jóias? A sua neta?

- Você? – Dona Regina devolveu no mesmo tom. – Até por chapeado já levo para casa...

Júlia riu com apetite.

- A senhora me conhece mesmo... – Deu mais um beijo na avó. – Mas só vou sair daquele fusca pra voltar
pra minha cabana e de preferência de bem com minha mulher... Vim fazer outra coisa aqui, vó... Eu precisava
de um favor seu, mas a senhora tem que me prometer que não vai contar pra ninguém.

- Um favor?

Júlia fez um gesto afirmativo.

- Eu preciso de material genético da senhora. – Regina encarou sem entender. – Só a senhora e o Bruno
podem me ajudar, como ele esta longe, eu conto com você.

- Mas por que isso, Júlia? Você...


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Vó, a senhora confia em mim? – Dona Regina fez um gesto afirmativo. – Então não me faz perguntas. Eu só
quero ter certeza que eu... Que não estou ficando louca, por favor... Não me faz perguntas.

Com firmeza dona Regina fez um gesto afirmativo. Em poucos minutos voltou com o que Júlia necessitava.
Colheu saliva da própria boca com cotonetes e guardou em um desses plásticos que se vende nos
supermercados para lacrar comidas. Entregou nas mãos de Júlia e pediu a ela:

- Só toma cuidado com o que você vai fazer...

Júlia fez um gesto afirmativo. Despediu-se da avó e foi até o hospital. Usou a desculpa de que precisava pegar
um documento para a avó conseguiu entrar no escritório de Nat que estava vazio, ela estava em uma cirurgia.
Os olhos vasculharam o local a procura da bolsa de Nat e logo achou o que queria, a escova de cabelos de
Nat. Reconheceu algumas mechas da irmã no objeto e o guardou em um outro saco lacrado. Com tudo que
precisava ali agora era só juntar a mais b e esperar o resultado dar c. Não ia contar a nada a ninguém sem
provas nas mãos. Queria ver quem teria coragem de chamá-la de louca depois das provas. Saiu do escritório
e discou o número do meu celular. Eu estava enrolada em uma toalha, pronta para entrar no banho, corri para
atender, depois de séculos achei o celular embaixo de um travesseiro.

- Alô?

-Oi Alice, sou eu... Eu te atrapalhei? – Júlia me perguntou. – Se estiver eu...

Eu pensei em bater o celular na cara dela, mas estava com tanta saudade de usa voz que não tive forças para
desligá-lo. Apenas respondi:

- Desculpa, demorei porque ia entrar no banho eu...

Ouvi um sorriso de Júlia e ela disse para mim.

- Coincidência, eu também vou entrar para tomar banho... – Ela mentiu para mim. - Sabe o que isso quer
dizer? Que a gente devia tomar banho juntas. – Nem eu sei de onde tirei forças para ouvir a Júlia falar de
safadezas daquele tipo no celular e não pegar meu carro, dirigir de toalha feito uma louca até Silvéster só para
ficar com ela. – Todo mundo vai sair feliz... Você, eu, o planeta que vai economizar água... – Ainda tem a
cara de pau de colocar o planeta no meio dessas sem vergonhices, só a Júlia mesmo viu. – Amor, eu quero
tomar banho com você...

- Você me ligou só pra isso?

- Não... – Ela me disse. – Liguei porque precisava ouvir sua voz... E pra dizer que queria estar com você
agora porque estou morrendo de saudade... E eu sei que você queria estar comigo também, não tem lógica
nem sentido nenhum duas pessoas livres, que se querem, que se amam feito eu e você ficarem separadas...

- Convencida. – Murmurei. – Quem disse que eu queria que você estivesse aqui do meu lado? Eu...

- Teu olho diz, você não me quer do meu lado agora, quer pra sempre que nem eu te quero, Alice... Você
pode dizer quinhentas coisas, que não quer mais me ver, que sente ódio de mim, que acabou, mas você sabe
que não acabou... O teu corpo quando chega perto do meu e tua pele se arrepia toda, teu rosto fica vermelho,
teu coração quando bate mais rápido, tua respiração fica falha, tudo isso sabe que o que tem entre nós não
acabou! Diz que você não me queria agora, pra entrar no banheiro junto com você? Que não queria sentir
minhas mãos tocando seu corpo, o meu beijo correspondendo o seu, que tem outra pessoa que toca melhor o
seu corpo do que eu... Diz, diz que você não quer fazer amor comigo e depois dormir de conchinha, nua, só
pra sentir a minha pele grudada com a sua. Alice, eu aprendi a ouvir os seu corpo e seus gestos chamando por
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

mim. - Fez uma pausa. -Diz que isso acabou.

Meu Deus, essa mulher esta impossível. Que cursinho de sapa sensação era esse que ela fez e que me deixava
nas nuvens só de ouvir a voz dela? E aquelas palavras. Respira Alice:

- O tempo vai passar e você vai ver que acabou...

- Eu estou falando de amor, menina... – Ela retrucou como se me desse uma bronca. – Nada vai mudar... Eu
ainda vou te provar isso!

Antes de ela continuar a falar e me amolecer eu desliguei o telefone entrei no banheiro. Tomei um banho frio.
Frio e ineficaz em apagar o ardor da minha pele. Olhei no celular e mais de dez ligações dela. As coisas que
Júlia havia me falado não saiam da minha cabeça. Comecei a me enxugar refletindo com tudo que ela me disse
e quando dei por mim eu massageava meus próprios seios, deixei a ponta dos dedos tocarem meus mamilos
desenhar a auréola do meu peito e desejar que fosse a mão de Júlia ao invés da minha.

Ela tinha razão. Eu estava doida para ser tocada por ela, sentir o cheiro e a temperatura de sua pele sobre a
minha, fazer amor, sentir sua língua em meus lábios e passeando pelo meu corpo. Na manhã seguinte queria
acordar com seu braço preso em minha cintura, confundido tanto nossas pernas a ponto de nem saber com
quais pernas eu devia caminhar. Deixei meus dedos tocarem meu clitóris e movimentei de forma lenta e
continua até chegar ao prazer pensei em cada noite tórrida, cada beijo que ela me deu e em como minha pele
se arrepiava com seu toque para perder o controle de meu corpo e chegar ao gozo. O gozo físico, mas não
vieram das mãos que eu queria e não abrandava o incêndio que formava dentro de mim. Decidida, não pensei,
agi, procurei seu nome no meu celular, liguei, atenderam:

- Não fala nada e só me escuta. Você tem toda razão. – Respirei fundo e então disse: - Sou a pessoa que
mais me conheço no mundo... Sei a dor e prazer de ser quem eu sou e conheço cada pedaço de mim...
Acabei de me masturbar no meu quarto pensando em você e ninguém nem eu mesmo consigo me tocar e ter
tanto prazer como quando é com você. Eu queria, eu juro que queria, mas você tem razão eu amo você e
tenho medo de te perder e nem que passe vinte séculos, dez milênio isso vai acabar! O tempo não é Deus pra
mudar quem eu sou! Nada vai mudar. Não existe tempo que vai mandar no meu amor... Não existe tempo
que vai me impedir de enxergo o que eu vejo, desejar que eu quero e mudar o que eu sinto... Eu quero fazer
amor, quero tocar no seu corpo e dormir de conchinha com você, eu te amo. – Do outro lado o silêncio. –
Júlia?

- A filha era só você se... – Meu pai disse. – Eu fiquei preocupado com o barulho. – Quase cai da cama
quando descobri que contei para meu pai que estava na sala ao lado do meu que tinha acabado de me
masturbar. Droga só vi o “J” e apertei o “send” acreditando que era Júlia e não Jorge. Agora mais essa, não ia
ver mais a luz do dia. De tanta vergonha que fiquei do meu pai. – Você não sabe o alívio que nos deu quando
você falou Júlia.

- Nos deu? – Eu perguntei apalermada. – Pai, o senhor deixou o celular no viva voz?

- Você sabe que esse caco velho do seu pai não tem a capacidade de atender um telefone sem ativar o viva
voz, não é minha filha? – Mamãe me disse. Que bom, minha mãe também sabia eu tinha acabado de tocar
uma no quarto. Mais constrangedor que isso só se descobrissem que eu já tinha pensado em ser paquita
quando era criança. – Você vai ligar pra Júlia?

- Tchau pai, tchau mãe, boa noite...

- Boa noite. – Os dois responderam e mamãe complementou. – E lave as mãos antes de dormir!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Que ótimo perdi o pouco de reputação paterna que havia me restado e a coragem. Não era a toa que o
destino ia fazer eu errar na ligação. Só significava uma coisa, eu devia esquecer de Júlia. Apaguei as luzes e
recebi uma mensagem:

“Alice, ainda não ouvi o barulho da torneira, vá lavar as mãos, mamãe.”

Com tanto raio caindo em cima de arvore, por que um não poderia cair em cima de mim de vez e simplificar
tudo? Obedeci ás ordens materna, lavei minhas mãos e fui me deitar. Dormir já era algo que eu nem sabia
mais que existia. Estava preocupada com Júlia, mas outro assunto me tirava o sono. A guarda de Heleninha.
Eu tinha lido em um jornal que até hospedado em Silvéster Pedro já estava esperando só o dia da audiência
da guarda de Heleninha.

______________________________________________________________________

Enquanto eu estava tentando dormir, a casa da minha prima, como qualquer casa que tem mais de uma mulher
com aqueles conflitos inacabáveis que deixam qualquer novela das oito no chinelo. Paula chegou em casa por
volta das dez da noite. Estava exausta. Só teve tempo de tirar as chaves da porta e logo ouviu o barulho de
alguém abrindo a porta, mas na a da casa de Silvinha e sim da outra porta. Era Gabriel.

- Que bom que você chegou, preciso de você...

- Você não tem útero, nem ovários e nem vagina, não precisa de mim, estou morta... – Paula enfiou a porta na
chave. – Menino, não sei o que deu nessa gente que esta engravidando a torto e a direito, daqui a pouco até
Dona Regina me aparece grávida.

- É sobre isso que eu estava precisando falar com você...

Paula o encarou boquiaberta.

- Você tem ovários?

- Não, eu preciso da sua ajuda... Preciso que me ensine a fazer doce.

- Ah, você provoca depois dá um gelo, ai seja o cara mais fofo do mundo e depois some, quando ela te
cobrar uma explicação diz que você não quer ficar com ela pra se preservar, porque é uma pessoa
complicada. Em resumo seja o filho da puta de sempre que ela vai se apaixonar por você e você vai fuder
com o coração dela e tudo volta ao seu devido lugar...

- Eu estava falando de doce de festa. Quindim, brigadeiro, beijinho... A Nat esta com desejo...

Os dois se entreolharam e sorriram sem graça. Paula mesmo cansada resolveu auxiliá-lo. No dia seguinte
estaria de folga mesmo. Ao entrar na cozinha se deparou com uma bagunça que desconfiou que um furacão
tinha passado pelo local.

- Senhor... Gabriel, tem um cubo de gelo na panela?

- Não é assim que esfria beijinho pra enrolar?

- Beijinho? Achei que era brigadeiro...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Paula dividiu as tarefas da seguinte forma, ela fazia e ele observava. Em quarenta minutos tinham um
verdadeiro banquete de festa de criança. Quando Paula enrolava o ultimo beijinho seu celular tocou.

- Lucas? - ... – Oi, amor, tudo bem? – Gabriel franziu o cenho. – Como? – O que aconteceu? – Gabriel fez
um sinal para Paula colocar no viva voz. – Como talvez não de pra você vir em setembro, Lucas?

- Setembro? – Lucas perguntou. – É que... Eu talvez tenha uns projetos que seja estendidos e...

- Como Lucas, mas eu tinha planejado nossa viagem, tinha...

Antes de Paula completar a frase Gabriel puxou o telefone da mão dela e desligou.

- Que é isso seu doido, o que você esta fazendo?

- Salvando seu casamento, não precisa agradecer. – Paula foi tocar no telefone. – NÃO LIGA PRA ELE!
ELE TE LIGA! Com essa ligação neurótica você pode ter colocado seu casamento abaixo. Eu entendo os
homens.

- Você nem conheço o Lucas, sou casada sete anos com ele.

- Sou homem há 37 anos, você conhece o Lucas eu sei o que passa dentro da cabeça de um homem. Deixa
ele te ligar... Uma pergunta, você fala dos seus caras objetos pra ele?

- Que?

- Anda...

- Sim, comento, por quê? Deixa eu ligar pra ele senão vai achar que eu bati o telefone na cara dele e... – O
telefone começou a tocar. – É ele...

- Fala: “oi Alex”.

- Quem é Alex?

- Cala a boca e fala. – É pra ela calar a boca ou falar? – Agora não, espera dar nove toques e diga oi Alex. –
Gabriel correu para ligar o rádio da cozinha no ultimo, abriu toda a torneira da pia. Paula parecia explodir, deu
os nove toques. – Agora atende!

Ah, vem mexer!


Vem dançar!
Que eu gosto quando dança pra me provocar
Ah, vem mexer!
Vem dançar!
Que eu gosto quando quica, quica, quica

A noite chega ela só quer dançar


A festa acaba e ela quer relaxar
Oh oh
Aí liga pra mim
Me diz "se eu to afim"

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Eu nunca digo não


É meu pente certo

- Oi Alex... – Paula disse um tanto incerta. -...- Ah é você, Lucas? -...- Desculpa eu achei que era um... –
Olhou para Gabriel, ele deu os ombros, ao invés de auxiliar Paula começou a bater dois copos como se
brindasse com alguém. – Alex é um cara ai, Lucas, a gente saiu umas vezes. -...- Que barulho é essa música
alta? Onde eu estou? – Gabriel falou sem som “festa”. – Numa festa... - ... – De um cara ai, o... Gabriel me
trouxe... – Gabriel fez um sinal de positivo com os dedos. Fez mímica de que estava nadando, Paula logo
entendeu. – Estou perto da piscina Lucas... – Outro gesto afirmativo de Gabriel. – É Lucas, a casa do amigo
do Gabriel tem piscina e... – Gabriel fez um gesto para Paula desligar. – Só um minuto... – Colocou a mão no
bocal para Lucas não ouvi-la. – Que foi...

- Deixa ele esperando...

Ela desce, desce, desce


Gosta de ir até o chão
Faz carinha de safada
Me excita, ah que tesão!

Me deixa maluco,
Sabe muito bem me provocar
Quando quer carinho
Me procura pra gente se amar

- Gabriel é uma ligação internacional, ele não vai esperar ele...

- Faz o que eu mando cabeça dura... Ele vai esperar, faço esse cara lamber o chão que você pisa...

- Não quero isso, vou acabar com essa palhaçada agora, o Lucas deve ter desligado achando que eu... –
Paula abriu a boca pasma. – Quarenta e cinco segundos e ele não desligo? Ele sempre desliga ele...

- Vai fazer o que eu mando ou não? Pegar ou largar...

- Tá... O que eu faço agora? - Gabriel puxou o celular da mão de Paula e desligou. – Gabriel...

- Daqui dez segundos ele liga... E você não atende!

- Isso é loucura, o Lucas é um homem seguro, é mente aberta e...

- É homem que nem eu... E o nível máximo de amadurecimentos que alcançamos é com seguirmos nos limpar
sozinhos no banheiro. Ele vai ligar em cinco segundos.

- Que horror! Ele não é assim. E você tem bola de cristal por acaso? – O celular tocou. Paula leu o visor e
jogou o celular longe. – Você tem uma bola de cristal!

- Deixa tocar.

O coitado do Lucas só conseguiu falar com Paula depois do nono toque. Paula atendeu com a voz mais calma
possível.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Oi... Quem é? - ... – Quem? - ... –Oi Lucas... É... - ... – Como? -...- Daqui duas semanas... É... -...- Eu
vou ver... -...- Depois te falo. Beijo!

E desligou com um sorriso de orelha a orelha. Pulou nos braços de Gabriel e o abraçou.

- Você é um gênio! Ele vem em duas semanas, duas semanas! Isso devia ser vendido, Devia ser vendido em
métodos naqueles canais a cabo de compra e... – Só então percebeu o inusitado da situação. Gabriel a
segurava pela cintura e ela estava agarrada ao seu corpo. Lentamente se separaram. – Obrigada...

- De nada...

Ah, vem mexer!


Vem dançar!
Que eu gosto quando dança pra me provocar
Ah, vem mexer!
Vem dançar!
Que eu gosto quando quica, quica, quica

Ah, vem mexer!


Vem dançar!
Que eu gosto quando dança pra me provocar
Ah, vem mexer!
Vem dançar!
Que eu gosto quando quica, quica, quica

Não estava mais agarrada ao colo de Gabriel, mas próxima de seu rosto. Os lábios desenharam o beijo, mas
foram interrompidos por um celular. Dessa vez o de Gabriel. Era Nat, provavelmente questionando sobre os
brigadeiros. Gabriel ia atender. Paula pegou o celular.

- Ow...

- Nove toques...

- Para de querer ensinar seu professor, menina! – Ele brincou divertido. – Bom eu tenho que levar isso, mas
nossas aulas começam amanhã... Em duas semanas o Lucas vai comer na sua mão!

- Não vejo a hora de começar, professor. – Deu um beijo em seu rosto. – Obrigada!

Paula saiu do apartamento com sorriso nos lábios. Gabriel esperou ela sair para desfazer o sorriso. Salvar o
casamento de Paula? Será que estava fazendo o certo? Sim, estava, não tinha nada demais em ajudar uma
amiga, mas por que estava sentido-se infeliz?

A noite chega ela só quer dançar


A festa acaba e ela quer relaxar
Oh oh
Aí liga pra mim

Me diz "se eu to afim"


Eu nunca digo não
É meu pente certo
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Ela desce, desce, desce


Gosta de ir até o chão
Faz carinha de safada
Me excita, ah que tesão!

Em contrapartida Paula parecia radiante. Ao entrar cruzou com Ingrid e Cíntia que assistiam Lua Nova na sala
e dividiam uma pizza, cumprimentou as duas e seguiu até o quarto. Cruzou com Isa com cara de quem ia
matar alguém. Tinha perdido partida no vídeo game. Jogou o controle em cima da cama.

- Que inferno, agora essa Ingrid vai ficar enfiada dentro dessa casa também? - Isa perguntou a Paula. - Por
que já não dão um quarto pra ela?
- Isa deixa de ser chata, foi a Cíntia que convidou e... Vai sair?
- Tomar uma cerveja lá embaixo... Não aguento mais esse papinho de advogado na minha cabeça...

Como diria o poeta, o ciúme dói nos cotovelos, na raíz dos cabelos, gela a solas dos pés. Isa transpirava
ciúme por todos os poros. Desceu e foi para o bar em frente à oficina do Maranhão. Avistou Serginho do
outro lado da rua. Ele olhava para os dois lados, percebeu ele acenar para alguém. Ameaçou chamar o irmão
de Rebeca para entrar no bar, estava a fim de jogar uma sinuca, mas desistiu ao ver de quem se tratava o
companheiro de Serginho. O reconheceu do retrato falado do hospital e das fotos divulgadas nos jornais.

- Fumaça?

Isa deu um gole na cerveja, acreditou que estava sonhando, vendo coisas. Serginho sairia da oficina de
Maranhão e então tiraria a prova que apenas viu demais. Acabou a primeira cerveja em vinte minutos.
Quando pediu a segunda observou Serginho sair da oficina, mas ele não a escutou. A oficina parecia em
completo silêncio. Tomou a segunda cerveja e se distraiu com a chegada de uma morena alta que trabalhava
no hospital.

- Kelly?

- Oi gatinha, quer terminar nossa ultima conversa?

Isa não se animou como Kelly esperava. Na verdade só deu uns beijos na enfermeira para passar o tempo.
Deu uma olhada na oficina. O barulho dos motores era estranho aquela hora.

- Isa, te fiz uma pergunta.

- Oi?

- Você vai pra casa agora, é que se quiser passar lá em casa, eu...

- Quero!

O kitnet de Kelly ficava a vinte minutos dali. Mal abriram a porta e


Isa já ganhou um beijo desentupidor de pia e teve sua blusa arrancada. Kelly sorriu.

- Veio pretinha de Salvador, hein?! Esta deliciosa...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

E voltou a beija-la. Isa até que tentou corresponder aos beijos, mas Kelly fez mal em falar de Salvador. As
lembranças da viagem, as conversas com Cíntia, as brincadeiras, tudo veio em sua mente e a imagem dela não
saia de lá.

- Ai, Isa... Eu quero seu dedo me comendo quer você, quero...

Isa a beijou com desejo. Os lábios desceram da boca de Kelly para o queixo. Mordeu levemente e fez Kelly
suspirar, Kelly desceu com as mãos entre as pernas de Isa.

- Nossa, você esta tão gostosa... Eu quero você eu...

- Você que me deixa assim, Cíntia...

Isa falou sem pensar. Kelly separou de forma abrupta e empurrou Isa.

- Pô gatinha, não dá... Cíntia...

- Não, eu não disse isso. – Isa garantiu assombrada com aquela teoria. – Eu...Não disse isso.

- Não sou surda e não sou cega, desde o bar você esta diferente, o beijo tudo e...

- Eu não falei isso, Cíntia, eu... – Isa arregalou os olhos assustada. – Eu...

- Quer saber de uma coisa, Isa... Vai pra casa. – Jogou a blusa em cima de Isa. – Vai ser melhor pra você...

Isa não teve outra hipótese, vestiu sua roupa e saiu do kitnet de Kelly. Não acreditava que aquilo estava
acontecendo. Cíntia? Justo a Cíntia? Ainda perdida em seus pensamentos Isa passou pela oficina de
Maranhão e ouviu os motores funcionando. Estranho. Seguiu o caminho até a casa de Silvinha. Lá estava o
carro de Ingrid. Subiu e foi direto para o quarto sem trocar palavras com ninguém.

- Esta tudo bem com ela? – Ingrid perguntou.

- A Isa é assim, fica tranquila... – Cíntia pegou um pedaço de pizza. – Eu vou levar lá no quarto...

Cíntia entrou no quarto e Isa dormia. Usava apenas calcinha e blusa. Estava deitada de bruços. Linda. Deixou
a pizza e um copo de refrigerante e saiu. De manhã Isa encontrou a pizza e o copo de coca ali, intactos. A
pizza protegida por dois pratos. Na cozinha Cíntia perguntou sobre a pizza.

- Comprei quatro queijos, sua preferida... Aconteceu alguma coisa? Você estava diferente ontem... A Ingrid
disse...

- A Ingrid é chata pra cacete, fala pra caramba... Achei que ela ia morar aqui ontem...

E depois de quase quarenta minutos com Isa implicando com Ingrid, Silvinha que tomava o café emudecida
concluiu o que estava claro. Só esperou uma brecha e perguntou a Isa.

- Foi em Salvador, não foi?

- O que?

- Que você se apaixonou pela Cíntia.

- EU? – Baixou o tom de voz assustada. – Silvinha, você bebeu, não sei do que você esta falando!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

É claro que ela sabia. Isa tinha milhões de defeitos, mas a burrice não fazia parte deles e o fato era bem
simples de ser resumido: Isa descobriu que como qualquer ser humano poderia se apaixonar e com medo de
ser rejeitada queria se enfiar dentro de uma caverna e quebrar seu coração de ogra com uma pedra e fingir
que nada havia acontecido. Viram? Bem simples.

- Se você não quer falar...

- Não tenho nada para falar...

- O que aconteceu? - Cíntia perguntou ao chegar na cozinha. - VocÊs estavam brigando?

Isa e Silvinha se entreolharam e Silvinha inventou.

- É que a Isa pois a colher de doce de leite na boca e depois voltou para o pote.

- Credo, Isa! Que nojo, estragou todo doce...

E ficaram naquela discussão sem nexo. Essa é boa. Até a periquita da Nat as três já tinham dividido há um
tempo atrás agora ficavam com nojinho por causa de uma colherzinha. Frescas! O assunto logo trocou.

- Não entendo vocês médicos. Quando vão trabalhar parece que estão hibernados e quando estão de férias
acordam cedo.

- É que eu preciso falar com uma pessoa com urgência.

Terminaram o café e Isa foi para seu encontro marcado. Entrou na delegacia e logo a encaminharam para a
sala de Gabriel.

- Eu preciso falar com você. Acho que ontem vi um fugitivo da cadeia.

- Fugitivo?

- Sim, aquele cara que Alice ajudou a prender. O assassino da Alê.

- O Fumaça?

Isa fez um gesto afirmativo.

- Ótimo. Tem tempo livre?

- Tenho.

Levantou-se e fez um gesto para Isa acompanhá-lo.

- Então temos muito o que fazer. Só me acompanhe.

E ignorando o que encontraria pela frente Isa tomou lugar em uma viatura policial junto de Gabriel. Mal sabia
ela que seria de grande ajuda.

____________________________________________________________________________

Isa não era única que tinha compromissos cedo. Quando acordei papai já tinha saído de casa. Esta certo que
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era minha folga e acordei onze horas da manhã, mas para mim ainda era cedo. Meio dia ele chamava por Júlia
lá na garagem de Silvinha.

- Seu Jorginho? – Sorriu. – Surpresa boa. Aconteceu alguma coisa?

- Aconteceu Júlia, eu queria falar com você... Queria saber de você e a Alice, como estão as coisas?

Júlia fez um gesto negativo.

- Consegui fazer sua filha me odiar...- Serviu uma cerveja a meu pai. Ligou o som do rádio tocava um
sambinha, se sentou ao lado do meu pai. Engraçado que a antipatia inicial que minha mãe tinha pela Júlia meu
pai tinha de simpatia e vice versa. Eles se davam muito bem, adoravam ficar conversando por horas e eu
nunca sabia sobre o que era. – Não quer me ver nunca mais.

Papai sorriu.

- Te garanto que não...

Júlia levantou os olhos surpresa.

- Ela falou alguma coisa?

Ele sorriu e um jeito meio malandro.

- Ela precisa falar? Júlia eu estou aqui não só como pai da Alice... – Com as mãos nas costas de Júlia de um
jeito carinhoso. – Sabe menina, eu sei que a gente se conheceu há pouco tempo, mas o jeito que você trata
minha filha, minha neta... Um carinho que você tem por ela... Tem pessoas que a gente vê e sei lá, bate o
santo, casa com a gente... E foi isso que aconteceu com você menina. – Confessou. – Eu tenho um carinho
muito grande e torço pra que você e minha filha dêem certo. Sabe, a Alice sempre foi minha menininha, minha
princesinha, nunca vou conseguir enxergar ela com uma mulher... Você eu tenho um carinho de filha também,
mas é um carinho diferente, esse lance da gente dividir uma cerveja, ver um jogo juntos, sabe?

Júlia fez um carinho na careca do meu pai. E confessou emocionada.

- Você é um cara maneiro também... Eu perdi meu pai muito cedo e tinha esquecido como era bom ter pai...
Ter vô... Também tenho um carinho assim com o senhor... – Sorriu. – Acho que é coisa de santo mesmo... –
Papai fez um gesto afirmativo e a puxou para um abraço. – Obrigada, estava precisando tanto desse abraço,
de ouvir isso...

Não era por ser meu pai não, mas ele era um mágico essas horas. Não foi a toa que ele sempre me apoiou.
Era um herói de verdade.

- Mas tem alguma coisa nesse teu olhinho ai que te incomoda... E eu acho que não tem muito a ver com a
Alice, você não quer conversar?

Júlia fez um gesto afirmativo.

- É uma parada com minha família, séria, que pode mexer com a vida de várias pessoas...

- Quer falar?

- Quero...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

E Júlia contou tudo que descobrimos, começou pelos leõezinhos, passou por Diná que meu pai logo recordou
quem era.

- Dirceu? Aquilo é um artista... Olha, imitava uma viúva Porcina de deixar Regina Duarte no chinelo... Grande
cara, muito boa gente...

Júlia continuou a conversa. Nem perceberam a porta do prédio se abrir. Era Nat que entrava. Para falar com
Isa. Iria fazer uma proposta para ela, ajudaria a conseguir mais cirurgias e em troca Isa seria sua madrinha de
casamento. Nat não ia muito com a cara de Isa, mas como Silvinha estava fazendo chantagem emocional com
todas que recebiam o convite para ser madrinha de Nat, teria que apelar. Nat passou pela conversa e ouviu
meu pai e Júlia finalizando o assunto:

- Então sua irmã adotiva não é filha da mulher que ela pensa que é mãe dela?

- Não...

Nat parou estática. Não podia revelar que estava ali senão não escutaria o que estavam conversando. Era
dela. A mulher que ela pensava ser sua mãe não era sua mãe? Como Júlia sabia disso? Infelizmente não pegou
o assunto inteiro, como se adivinhasse eles logo mudaram o rumo da conversa. Resolvi subir para dar um
tempo. Cíntia que a recebeu, Silvinha estava trabalhando e infelizmente Isa tinha saído.

- Você não quer ser minha madrinha, Cíntia? – Nat ofereceu. – Uma eu já consegui, a Giovanna. – Nat e
Giovanna mal se conheciam, na verdade só tinham se falado mesmo no dia que ela entrou na piscina e
imobilizou Nat, depois Giovanna nos confessou que só aceitou porque Nat garantiu que na festa teria arroz de
polvo e ela era apaixonada por arroz de polvo. – Por favor, eu pago bem...

- Nat você esta pagando madrinhas?

- Você quer o que? Eu convidei a Rebeca ela disse que não poderia ser porque a Silvinha ameaçou a colocar
o Lesbworld de Silvéster atrás dela, a Alice falou que não pode ser porque a Silvinha é família e tem
prioridade. – Gente, eu fiquei com medo daquela história que minha prima me disse sobre escada de Nazaré,
já vou um sacrifício eu falar pra Silvinha que iria como convidada. – Eu não estou falando com a Júlia. A
Paula nem pensar, a Manoela me disse que não pode aceitar porque ela é team Silvinha... Sua amiga esta
fazendo um inferno do meu casamento.

- Não fala assim, ela esta sofrendo...

- Ela ofereceu dinheiro para o costureiro não fazer meu vestido! Vai Cíntia, com você ela não vai ter coragem
de fazer nada...

- Vou pensar...

Lá embaixo papai observou Nat descer. Júlia perguntou quem estava a caminho.

- Tua irmã...

- A Nat está vindo? Esconde a cerveja...

Esta ai uma boa frase para se perpetuar pela eternidade: “Fulano esta vindo? Esconde a cerveja. – Franco,
Júlia”

Papai riu.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Não olha na minha cara, vou ter que ficar oferecendo cervejinha?

Nat passou pelos dois, cumprimentou papai, virou a cara pra Júlia e foi embora. Ainda estava encafifada com
a história que tinha ouvido. E como Júlia sabia daquela história? Só uma pessoa poderia esclarecer o que
acontecia. Dona Laíla, a vizinha da ex prostituta que morreu no incêndio. Pegou o celular e ligou para
Lisandra.

- Desmarca minhas consultas. Não vou trabalhar, vou ter que ir pra Serro Azul.

E partiu com o carro em direção a cidade vizinha cheia de pulgas na orelha.

Meu pai e Júlia conversavam ainda meu respeito:

- Acho que você precisa esperar o tempo dela. A Alice esta muito nervosa também. E com muito medo por
causa da Helena. A gente sabe que juiz sempre escolhe pela mãe, mas sei lá esse tão de Pedro Henrique é
poderoso né... Sabe como é... Ele não parece ser má pessoa, quando era noivo da Alice ia lá em casa, adora
comida japonesa e pizza... Aquela mãe dele que é o problema, nariz em pé... Espera o tempo dela, mas
conquista de volta... Você tem todas as chances do mundo, Júlia isso eu garanto.

Júlia guardou aquele dado em sua memória e continuou trocando idéias com papai que só foi embora quando
viu Paula descer, ela cumprimentou Júlia e perguntou se queria algo da farmácia. Despediu-se dos dois e
deixou o prédio quase provocando um enfarto no sem vergonha do meu pai.

- Mata papai, mamãe, a família toda... – Ele murmurou bestificado com a beleza de minha amiga. – Quem é a
morena?

- Fez faculdade comigo ai... Uma amiga...

- Ele foi na farmácia, né? Sabe que eu estou precisando ir lá... – O que deu nos meus pais que depois de
velho ficaram safados, hein?! Deu até pressa nele. – Bom, eu vou indo Julinha, tenho que passar lá correndo
e...

- Se quiser remédio tem ai...

- Não, preciso comprar xampu...

- Fiz compra ontem... – Júlia, inocente pegou uma garrafa de xampu fechado. – Pode levar, comprei dois...

Papai deu uma olhada no rótulo.

- Não, eu tenho que ir na farmácia mesmo... Esse não serve, só uso xampu pra cabelos oleosos...

Júlia fez um gesto afirmativo e em seguida se tocou.

- Seu Jorginho, o senhor é careca...

- AHHHH... Deixa eu ir atrás da morena...

Júlia caiu da gargalhada e meu pai correu para farmácia. Ela ficou refletindo sobre a conversa deles e o dado
fornecido para meu pai sobre Pedro Henrique. Foi então que teve a ideia, um tanto absurda, mas que poderia
funcionar. Em meia hora tocavam na suíte presidencial que Pedro Henrique estava hospedado lá no centro de
Silvéster. Ele estava sozinho, acabava de sair do banho, roupão e uma máscara para pele. Assistia a ultima
temporada de Glee. A campainha tocou mais duas vezes, correu para tirar a mascara e colocou em um jogo
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

entre Barcelona e Manchester City.

- Quem é?

- É a pizza.

- Não pedi pizza nenhuma... – Ele disse a senhora que tinha um sotaque meio cantado. Parecia ser do
nordeste. – Engano.

- A patroa pediu pra entregar a pizza, não posso sair daqui se entregar.

Impaciente Pedro destrancou a porta.

- Se quer entregar uma pizza então que entregue e... – Boquiaberto. – Você?

Júlia sorriu.

- Faça sotaque legal pra caramba, né? – Ela usava boné, os cabelos presos em um rabo de cavalo, e um
avental que devia ser de uma pizzaria mesmo. Para finalizar o disfarce dois discos de pizza fechados e uma
garrafa de coca cola. – Dava até pra eu ser atriz...

Deu um passo e entrou no apartamento, fechou a porta.

- Olha aqui, se você veio quebrar meu nariz de novo, eu chamo meus seguranças: WOLVERINE, HULK...

- Calma. – Júlia sorriu. – Não gosto de violência, vim em missão de paz! Teus seguranças me revistaram, to
sem câmeras, microfones. Até meu celular deixaram lá na porta.

- Não acredito na sua missão de paz...

Júlia sorriu. Abriu uma das caixas de pizza, não tinha pizza nas caixas, mas dois dvd’s. Júlia estendeu os dvd’s
a Pedro.

- E quem é capaz de fazer guerra trazendo pizza metade frango com catupiry e metade portuguesa, suas
preferidas, coca cola que você não toma desde os quinze anos de idade para manter seu corpo no lugar e
dois DVDs cheios de musicais pra gente assistir? – Os olhos de Pedro brilharam ao ver a foto da Cher em
minha das capas dos dvd’s e no outro ABBA. – Eu juro que você vai gostar da nossa conversa...

- E-eu... Eu não tenho na-nada pra conversar, e-eu...

Júlia se sentou na cama.

- O que realmente te dá medo de assumir? – Pedro a encarou assustado. – Eu sei que as vezes que a gente se
viu não foi boa... Você nem gosta de mim, me acha uma mal educada, é o que eu devo ser mesmo, mas sei
lá... Eu não vou falar que cai de amores por você, mas eu queria te dar e me dar uma segunda chance pra
gente... Aquele dia que você estava sem sua mãe, na Alice... Eu vi o jeito que você segurou a Heleninha...
Você teve cuidado com ela. E eu vi algo diferente... Não era o modelo playboy grudado na barra da saia da
mamãe que estava ali... Era alguém com orgulho de ter aquele bebê no colo...

- Foi por isso que você veio?

Júlia fez um gesto negativo.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Não, porque o seu Jorginho, pai da Alice me falou algumas coisas de você que talvez tenha mudado um
pouco meu jeito de ver as coisas... Eu só queria conversar com você... Que você e eu podemos ser diferentes
em tudo, mas uma coisa temos incomum, a gente não quer o mal da Heleninha... Ou eu estou errada? – Pedro
baixou a cabeça. – Desculpa, isso não é da minha conta, né? Em uma assuntou seu... Bom, eu pensei que
talvez fosse uma ideia boa ter vindo aqui, mas... – Júlia virou as costas para sair. – Até um dia.

- Espera! – Pedro murmurou um tanto tímido. Júlia se virou. Pedro olhou os dois DVD’s. – Qual você quer
assistir primeiro? Abba ou Cher? – Júlia o encarou surpresa. – Essa pizza e a coca são grandes... Talvez eu
queira conversar.

Júlia sorriu. Não acreditava que seu plano tinha dado parcialmente certo. Ganhava a confiança de Pedro.

______________________________________________________________________

Gabriel e Isa seguiram o caminho calados. Ele só quebrou o silêncio quando estavam para descer.

- Que horas você viu o Fumaça ontem?

- Por volta das onze e meia. Eu estava bebendo no bar em frente à oficina do Maranhão. Ele entrou lá com o
Serginho, irmão da Rebeca. – Gabriel o encarou surpresa. – Que foi?

- Serginho, aquele loirinho que entrou com a Rebeca na igreja? Ele, o irmão dela?

- Eles trabalhavam junto, por quê?

A viatura policial parou. Gabriel e Isa desceram. Só então Isa descobriu o seu destino. Um prédio velho e
corroído pelo tempo, pouco afastado do centro de Silvester. Leu a placa. Instituto Médico Legal.

- O que estamos fazendo aqui?

- Preciso que você reconheça o Fumaça.

- Ele esta ferido?

Gabriel não respondeu. Mostrou sua identificação policial e sem problemas subiu com Isa, passaram por um
elevador, subiram um lance de escadas e finalmente chegaram ao necrotério. Gabriel abriu a porta e entrou
com Isa. Várias macas vazias. Apenas uma coberta por um lençol. Isa entendeu que havia um corpo ali.
Gabriel descobriu. Isa arregalou os olhos assustada.

- É ele? Fumaça?

- Miguel Cruz Aurélio, conhecido como Fumaça. O próprio. Encontrado hoje de manhã.

- Onde?

- Na oficina do Maranhão. Alguém deu com uma barra de ferro na sua testa. Ele caiu sem sentidos, à pessoa
então ligou todos os carros e o fechou na oficina. Essa é parte irônica da história. Causa da morte: Asfixia pela
fumaça dos carros.

- Foi um assassinato Isa concluiu. Se deram com a barra de ferro na cabeça dele para desacordá-lo. –
Gabriel fez um gesto afirmativo. – Mas quem fez isso?

- Agora o Serginho de torna o principal suspeito, de acordo com o seu testemunho.


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

E congela na Isa. Como contaria isso a Rebeca?

End Notes:

Cenas do próximo capítulo:

-Calma Nat... - Silvinha veio com o copo da água. - Você tem certeza que
ouviu certo? - Ela perguntou. - Como você conseguiu dirigir assim nesse
estado até aqui?

- Desculpa eu não sabia pra quem ligar... - Nat enxugou as lágrimas tentava
se acalmar, colocar as frases em ordem. - Você foi a primeira pessoa pra
quem eu pensei em ligar... Eu fiquei com muito medo de pegar o carro por
causa dos bebês... De acontecer alguma coisa comigo ou de...

Silvinha calou minha ex namorada com seu dedo indicador, o pressionou sobre
os lábios de Nat.

- Você não precisa me dizer nada... Eu estou aqui do seu aldo, tudo bem? - Nat
fez um gesto afirmativo e ganhou um beijo na testa. - Vou estar sempre aqui
com você...

_____________________________________________________________

Curiosidade, tirando as três protagonistas qual dos personagens seria um bom


narrador? Bjoooo!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 65 by Tamaracae

Author's Notes:

Oi meninas!!

Música do capítulo: Don't you Simple Minds http://www.youtube.com/watch?


v=CdqoNKCCt7A

Dancing Queen - ABBA

O trânsito fluía bem devido ao horário, eram três horas da tarde. Nenhum infeliz de congestionamento de
carros pela frente. Com a rodovia límpida, Nat fazia o caminho de volta para Silvéster ultrapassando um
pouco a velocidade permitida naquele tipo de rodovia. Todos seus gestos saiam de forma automática.
Apertava o volante com força em suas mãos como se a qualquer momento ele fosse escapar. Os olhos com
leves rajadas de sangue, a batida desfreada do coração, o bufar de um animal resfolegante e principalmente a
impaciência de Nat entregavam seu estado de inquietação. Nem quando ela m e descobriu com Júlia nunca
ninguém tinha a visto assim. Nat parecia sentir cada artéria querer explodir devido à carga nervosa que
carregava no peito e nos olhos.

- NÃO PODE SER... NÃO PODE SER! POR QUE ELA MANDOU MENTIR ESSE TEMPO TODO? –
Cortou dois carros de maneira perigosa. –POR QUE?

Logicamente que os motoristas dos outros carros não estavam nem um pouco feliz e com a direção nada
defensiva de Nat e só não a chamaram de santa. Ela nem ai. Não escutava porque tinha deixado o rádio do
carro no ultimo justamente para não ser incomodada pelas buzinas e a raiva lhe deixava cega e surda. Muda
não, pelo contrário, ela resmungava bastante só de lembrar de minutos atrás. Sua visita ao asilo de Serro Azul.

Não teve dificuldades em encontrar o novo endereço de Dona Laíla. Foi no endereço que tinha ido com
Gabriel há 18 anos, a casa ainda estava lá, mas dona Laíla não. Uma vizinha muito prestativa lhe passou sem
pensar duas vezes o nome do lugar que ela morava agora e explicou que dona Laíla tinha o Mal de
Alzheimer. Disse que trabalhava em uma presa de seguros e inventou um prêmio que Dona Laíla havia
ganhado e que ela era responsável em lhe entregar. Logo a mulher veio com o nome da rua anotado e um
pedaço de papel de caderno. Em meia hora estava no tal asilo. A própria diretora do asilo veio receber
Natália.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Não sei se devo liberar visitas, esses dias ela esta agitada demais.

- Por favor, é um caso de vida ou morte para mim...

- Você é o que dela?

- Sou neurocirurgiã. Quando apareceram os primeiros sintomas a dona Laila me procurou. – Nat mentiu. –
Preciso falar com ela...

- Ainda não me convenci que devo deixar a senhora entrar e...

Nat não deu ouvidos a tal mulher. Retirou o telão de cheques da bolsa, rascunhou uma folhinha entregou o
valor à mulher que arregalou os olhos. Aquela quantia era o equivalente de seis meses de arrecadação, não
estava acreditando naquela exorbitância.

- Minha doação para vocês. Agora por favor, posso ver a Dona Laíla? – Seu timbre estava aflito. - É
realmente importante...

- Queira me seguir, por favor...

Nat percorreu o mesmo caminho percorrido por Júlia. Por que aquela enfermeira da noite não fez tanto doce
para Júlia entrar como fizeram com Nat? Pelo simples fato da Júlia já ter pegado em seu passado glorioso.
Esse povo da família Franco, te contar viu, que raça pra ter mulher sem vergonha, acho que estava no DNA
delas... A Duarte que tinha razão, todas era a mesma coisa, aprontavam o diabo a quarta, faziam um inferno.
Depois só davam um olharzinho de cachorro sem dona e estávamos lá, com os dentes arreganhados para as
criaturas e achando tudo lindo e cor de rosa de tão maravilhoso. Nat e a diretora pararam no ultimo quarto
do corredor. A mulher bateu na porta e de forma doce perguntou:

- Dona Laila, esta acordada? Tem visitas...

- A Dona Laila esta acordada. – Dona Laila respondeu em terceira pessoa. - Pode entrar...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Nat abriu a porta e deu um toque de leve. Pelo vão da porta pode ver que era um quarto com móveis simples
e sem nada de grande valor. Ainda pelo vão observou uma cômoda com alguns remédios e uma arara cheia
de roupas penduradas. A diretora pediu licença e saiu deixando Laíla a sós com sua visita. Nat olhou a mulher
com certa curiosidade e ganhou um sorriso de Laíla.

- Entra Felipa... Você não quer conversar comigo?

Nat arqueou as sobrancelhas e compreendeu que a mulher devia estar lhe confundindo com outra pessoa. Um
tanto tímida entrou e fechou a porta.

- Felipa, tudo bem?

- Desculpa, mas meu nome não é Felipa, eu me chamo...

- Natália! – Dona Laila falou com uma certeza que surpreendeu Nat. Como se lembrava dela depois de tanto
tempo? – Seu nome é Natália, não é?

- Isso. Eu fui procurar a senhora com meu namorado. A senhora lembra da gente? - A mulher fez um gesto
afirmativo e emudeceu. – Dona Laíla, eu sei que a senhora esta doente... Talvez a senhora não lembre direito
da minha história, mas...

- Eu quero te pedir desculpa. – A mulher interrompeu Nat. Sua voz carregava uma tristeza e um peso tão
grande que a culpa que é algo abstrato parecia se tornar concreto ali na sua frente. Sem entender porque Nat
sentiu seus olhos piscarem com mais velocidade, atitude de quem quer segurar o choro. As mãos estavam
trêmulas e a voz saia entrecortada como um choro de criança.

- Por quê? O que a senhora fez?

- Eu aceitei o dinheiro e joguei você no meio daquela porcalhada... Eu precisava do dinheiro, meus filhos
precisavam comer... Mas você faz parte daquele lixo... Você é bonita, é forte...

- Foi à senhora que me jogou no lixo? – Nat perguntou surpresa. – Então a senhora é...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Laila fez um gesto negativo.

- Não sou tua mãe. Nem aquela mulher era... Tua mãe não podia perder dinheiro... Ela pagou pra jogar você
fora.

- E por que a senhora mentiu pra mim?

- Porque quem te criou quis assim. Ela descobriu que você estava atrás da sua mãe e me pagou pra contar a
mentira pra você... Ela pagou a mulher da zona pra dizer que sua mãe tinha morrido e a mulher da zona deu o
endereço da minha vizinha pra vocês. É tudo mentira.

- Minha mãe, minha mãe de criação não faria isso. A senhora nem sabe quem é minha mãe de criação. – Nat
fez um gesto negativo, ergueu os ombros e se levantou da poltrona. – Eu devo estar ficando maluca em vir
tirar satisfações com uma mulher que não diz coisa com coisa e, quer saber, fingi que eu não estive aqui que
eu vou fazer a mesma coisa.

Nat deu as costas, colocou a mão na maçaneta e a mulher disse então.

- Você foi criada pela dona do hospital. Alta, tão bonita, os olhos dela são verdes ou azuis?

Nessa hora Nat já não conseguia segurar mais seu emocional. Dois mares de lágrimas banhavam seus olhos
cor de café. A revolta crescia de forma contundente em seu peito. Laíla sabia até a cor dos olhos de Abgail.
Ela não podia estar apenas variando. A história era verídica então? Abgail pagou uma prostituta e aquela
mulher pra implantar informações falsas de seu passado. Nat jamais superaria seu passado. Tinha o direito de
conhecer, ver a cara da desumana que a jogou no lixo e a deixou com fome e frio. Era direito dela, oras. Já
estava cansada de ser tratada pela mãe como uma eterna prisioneira.

- Verdes.

- Ela não queria perder você... Ela me pagou pra não abrir a boca...

A diretora do asilo ouviu a movimentação foi ver o que era e cruzou com Nat que saia de lá ainda
transtornada. Não aceitou água, não aceitou esperar mais alguns minutos para se acalmar e pegou o carro. O
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

volume no máximo. Na rádio tocava Simple Minds. O velocímetro marcava mais de cem por hora.

(Hey, hey, hey, hey)

Won't you come see about me


I'll be alone dancing, you know it, baby
Tell me your troubles and doubts
Giving me everything inside and out
And love's strange: so real in the dark
Think of the tender things
That we were working on
Slow change may pull us apart
When the light gets in your heart, baby

Don't you forget about me


Don't, don't, don't, don't
Don't you forget about me

A mente de Nat viajava longe em sua infância, na primeira vez que soube que não era irmã de sangue de Júlia.
Ela tinha apenas oito anos de idade, estava sentada no colo de dona Regina, chorava muito porque tinha
brigado com um coleguinha de escola. Ele tinha dito que ela não podia ser irmã de Júlia porque era “neguinha”
demais e ainda garantiu que Nat devia ter outra mãe que “vendeu” ela para os Franco.

- Nat, não é bem assim que as coisas são...

- E se a outra mãe vir me levar embora?

- Nat, eu não conheci sua mãe, mas ela não tinha como criar você... E pra mim e pra toda essa família você
nasceu aqui... É minha netinha que eu amo muito.

Apesar das palavras de conforto da avó, quem fez ver a adoção como um ato de amor foi Júlia. Nessa época
as duas ainda dividiam o quarto. Júlia tinha apenas onze anos. O quarto estava escuro, as duas prontas para
dormir. Júlia ouviu os suspiros de Nat na outra cama.

- Ainda esta chorando, Natinha? Esquece isso... Quem te fez nem sabe que você existe... Você vai ficar
chorando por ela?

- Esquecer? Como? – Os olhos estavam rasos d’água. – Você nem é minha irmã de verdade...

Júlia se levantou e deitou na cama ao lado de Nat. A envolveu em seu braço fazendo a famosa conchinha.

- Por que a gente não é irmã de verdade? – Fez uma pausa. - Você conheceu alguma outra irmã na vida?

Nat jamais esqueceria aquela frase. Júlia que estava certa. Sua família de verdade era aquela ali. Mas para se

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sentir completamente livre de seu passado fez a promessa que um dia encontraria a mãe biológica para
mostrar quem era ela e o que a mãe tinha perdido. Abgail mais do que ninguém sabia da importância que Nat
dava a esse assunto. Como ela podia ter pagado a mulher para enganar a filha? Justo ela que se dizia tão
integra para Nat. O pé pisou no acelerador com mais força.

Will you stand above me


Look my way, never love me
Rain keeps falling
Rain keeps falling
Down, down, down
Will you recognize me
Call my name or walk on by
Rain keeps falling
Rain keeps falling
Down, down, down, down

(Hey, hey, hey, hey)

Don't you try and pretend


It's my beginning
We'll win in the end
I won't harm you
Or touch your defenses
Vanity, insecurity

Don't you forget about me


I'll be alone dancing, you know it, baby
Going to take you apart
I'll build us back together at heart, baby

Lembrou que anos mais tarde, logo quando começou a namorar Gabriel começou a ter uns sonhos estranhos,
sempre com a mesma mulher a abandonando no lixo. Aquilo começava a perturbá-la. Depois de uma
conversa franca confessou ao namorado que acreditava que aquela mulher fosse sua mãe e então pediu ajuda
para encontrá-la.

- Tem certeza que quer fazer isso?

- Por favor, Biel... Você é a única pessoa que confio pra fazer isso.

E então começaram a vasculhar o passado de Nat. Procuraram registros pelo hospital, falaram com antigos
funcionários até que chegaram a uma antiga enfermeira que comentou sobre uma prostituta que teve um bebê
que seria doado a uma família que em cima da hora decidiu não adotar a criança e jogou o bebê no lixo. No
mesmo ano que Nat nasceu. Foi então que Nat descobriu após dar um apertão em Júlia que havia sido
encontrada no lixo do hospital. Com a informação da prostituta descobriu onde a mulher trabalhava, o nome e
seu endereço. Quando chegaram lá encontraram com dona Laíla que lhe informou da morte da tal mulher.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Chorou por meses, sofreu calada, quase não comia. Vivia uma fase mais rebelde, típica da adolescência e
também por conta da mãe desaprovar seu namoro com Gabriel, devido a Abgail sempre pressioná-la para
que fosse impecável com as notas a ponto de não perdoar um 9,5 em algum trabalho escolar. Obrigava a
freqüentar lugares, conviver com pessoas que não suportava. Os questionamentos adolescentes aliado ao
descontentamento em casa fizeram a imaginação de Nat trabalhar e começar a pensar que talvez a outra mãe
não fosse o “bicho papão” que ela sempre viu. Encontrá-la morta depois de chegar tão perto a quebrou em
duas e nunca conseguiu superar aquele fantasma. Abgail sabia disso o tempo inteiro, que a tal mulher não era
sua mãe e mesmo vendo sofrê-la, não apenas não contou a verdade como a enganou.

Don't you forget about me


Don't, don't, don't, don't
Don't you forget about me

As you walk on by
Will you call my name
As you walk on by
Will you call my name
When you walk away

Oh, will you walk away


Will you walk away
Oh, call my name
Will you call my name

- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! – Nat freou três passos antes de atropelar uma mulher. –


Enlouqueceu? – A pedestre bufou ainda assustada. – Não está vendo que o sinal ficou vermelho, sua maluca?

Nat em tão percebeu que estava em um lugar em Serro Azul que ela desconhecia. Agora o medo da
velocidade que tinha chegado tomou conta de seu corpo. Quase matou a tal mulher... Suas mãos estavam
trêmulas. Não ia conseguir dirigir. Pegou o celular e discou o primeiro número que lhe veio à cabeça. A
pessoa atendeu seu chamado um tanto distante, mas logo esqueceu as mágoas e o rompimento e foi socorrê-
la. Esperou por quarenta minutos dentro de seu carro a chegada de Silvinha e de Arnaldo, motorista particular
de Nat que veio de carona no carro de Silvinha. Após dar ordens para Arnaldo levar seu carro, Silvinha foi
ver o que acontecia com Nat. Ainda no volante do carro ela chorava muito. Silvinha foi até o bar do outro
lado da rua e voltou com uma garrafinha de água e um copo de plástico. Entrou no carro.

- O que foi?

- Foi horrível... Ela mentiu, ela... me... enganou.

Com dificuldade Nat começou a explicar a situação a Silvinha que ficava mais e mais compadecida com a dor
de sua ex namorada. No final do relato ela ainda perguntou:

- Calma Nat... - Silvinha veio com o copo da água. - Você tem certeza que ouviu certo? - Ela perguntou. -
Como você conseguiu dirigir assim nesse estado até aqui?
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Desculpa eu não sabia pra quem ligar... - Nat enxugou as lágrimas tentava se acalmar, colocar as frases em
ordem. - Você foi a primeira pessoa pra quem eu pensei em ligar... Eu fiquei com muito medo de pegar o
carro por causa dos bebês... De acontecer alguma coisa comigo ou de...

Silvinha calou minha ex namorada com seu dedo indicador, o pressionou sobre os lábios de Nat.

- Você não precisa me dizer nada... Eu estou aqui do seu lado, tudo bem? - Nat fez um gesto afirmativo e
ganhou um beijo na testa. - Vou estar sempre aqui com você...

- Eu quero falar com minha mãe , eu...

- Não agora não... Amanhã você fala, outra hora. Eu vou te levar pra casa. – Fez um carinho no rosto de Nat.
– Vou cuidar de você que nem eu fazia lá no hospital. – As duas sorriram e minha prima deu a ordem. –
Agora passa pra cá porque é melhor eu pegar no volante, não é mesmo? – Nat fez um gesto afirmativo e
assim trocaram de lugares. – Espero que ninguém quebre a cabeça naquele hospital que eu vou te levar em
casa.

Silvinha baixou o volume do rádio e colocou o carro em movimento. Nat prosseguiu boa parte da viagem em
silêncio, tal digerindo todas informações que aquela mulher tinha lhe passado. Minha prima respeitou seu
silêncio e também seguiu todo o caminho pensativa. Por que todo aquele empenho de Abgail em construir e
sustentar aquela mentira? Era apenas medo de perder Nat, mesmo?

Em menos de uma hora chegaram no apartamento de Nat. Minha prima a acompanhou até a porta da
cobertura. Deu um beijo de despedida e ia murmurar um tchau, mas Nat a impediu, segurou seu braço com
firmeza?

- Fica... – Pediu. – Por favor, fica...

- Nat, é melhor eu ir, daqui a pouco o Gabriel pode chegar e...

Nat não deixou minha prima completar a frase e tascou um beijo intenso em seus lábios, prendeu as mãos em
sua cintura e não deixou saída para Silvinha escapar. Como se minha prima quisesse escapar. Desceu os
lábios pelo pescoço de minha prima e arrancou alguns gemidos de prazer de sua boca, subiu com os lábios e
sussurrou para Silvinha:

- Não quero que essa seja a ultima vez... – Nat procurou os olhos de Silvinha e então pediu de supetão. –
Quer casar comigo?

______________________________________________________________________

Roupas jogadas sobre a cama. A pizza que Júlia havia trazido só sobrava dois pedaços para contar história.
O flat era impregnado pela voz da vocalista do grupo ABBA misturado com os timbres de Pedro Henrique e
minha ex namorada que cantarolavam em alto e bom som acompanhando a coreografia do clipe na TV.

- YOU CAN DANCE/ YOU CAN JIVE/ HAVING THE TIME OF YOUR LIFE/ SEE THAT GIRL/
WATCH THAT SCENE/ DIG IN THE DANCING QUEEN/ DIG IN THE DANCING QUEEN... – Falei
que ele amava Dancing Queen, olha lá, rebolava mais que a Júlia. No final da música Pedro estava mais
dando pinta que o Seu Peru do Zorra Total. – AAAAAAAAAAAI JÚLINHA, VOCÊ É UMA FADA NA
MINHA VIDA! – Eu sou uma tapada mesmo. O cara chama a mulher de fada e eu demorei sei lá quanto
tempo pra descobrir que quando ele não chorou a toa quando a gente assistiu O Segredo de Brokeback
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Mountain. -VOCÊ TINHA RAZÃO, TO ME SENTINDO TÃO MAIS LEVE ASSIM... TÃO MAIS... –
Surpreso. – Menina, quem te disse que eu amo Abba?

- Falei que você ia se sentir melhor, Pedrinho... Li em um revista que tocou em um aniversário seu.

Isso mesmo que vocês acabaram de ler, Julinha e Pedrinho. Não a pizza e nem a coca-cola estavam batizadas
com o perigoso Cogumelo do Sol e fizeram o meu e minha ex enlouquecerem e se tornarem unha e carne. O
que simplesmente aconteceu é que Júlia conseguiu a incrível ideia de simplesmente conversar com Pedro,
coisa que praticamente ninguém, (inclusive eu, confesso) havia tido. Os dois estavam na cama, dividindo a
pizza. Pedro aspirou o cheiro forte de queijo com orégano.

- Que delícia...

- Mas você nem experimentou.

- Não estou falando do sabor. Estou dizendo o cheiro. Mais de um ano que não como pizza. Acho que a
ultima vez que eu comi faz mais de um ano.

-Mas você não gosta?

- Eu amo pizza, mas de fevereiro do ano passado pra cá sabe quanto eu engordei? TRÊS QUILOS! –
Arrasado. - E toda a Família Pedrita notou.

- Família Pedrita?

- As Pedritas fãs do Pedro Henrique. – Ele explicou. Júlia abriu a boca surpresa. Sim, assim como existe a
família Luan Santana, a família Restart, a família Hori existia a família Pedrita composta por umas fãs malucas
do Pedro. – O meu fã clube... Júlia, você não sabe o que é ser um ídolo! – Levantou a camisa e apertou umas
gordurinhas inexistentes. – Olha isso aqui, sabe o que a família Restart e a família Luan Santana me chamaram
outro dia? Elefanta Bila Bilu. – Indignado. - Colocaram nos trident topic do twitter! – Se eu soubesse fechava
um Lan House só pra ficar twittando “Elefanta Bila Bilu”. Júlia prendeu o riso, pelo que conheço sua vontade
era cair na gargalhada. Ela estava acostumada a lidar com o troglodita do Bruno. - Pedro ainda confessou. –
Esse último ano foi muito difícil... Você sabe como foi o fim do meu noivado, aquele vídeo de você e da
Alice... E depois aquelas supostas fotos daquele cara muito parecido comigo com o outro cara... Ainda teve a
cobra do Nelson Rubens que fez aquela nota que meu manequim foi todo para o 42. – Júlia apertou os lábios
mais uma vez. – Mamãe e eu tínhamos que tomar medidas extremas. Já consegui perder um quilo e meio e...

- Então é com ela que você se importa? – Júlia perguntou de supetão. – Desculpa, mas é que eu sempre vejo
você com sua mãe por perto... Você é diferente quando esta com ela... – Pedro baixou os olhos sem graça.
Júlia tocou seu queixo de leve e ergueu seu rosto. – Eu sei que é esquisito pra caramba eu falar isso, mas
confia em mim. Tudo que você disser aqui vai morrer entre nós se vocês quiser... – Pedro a encarou um tanto
ressabiado. – Por que você não para de falar que o cara que foi pego com outro era muito parecido com
você e diz logo que é você? – Ela perguntou. – Só pra mim, eu juro que não vou contar pra ninguém.

Pedro baixou os olhos mais uma vez e então disse:

- Você não tem noção do que é ser Pedro Henrique. – Eu sei o que é ser Pedro Henrique, um incubado que

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

só traz urucubaca pra minha vida. – Você não tem noção o que ser garoto propaganda das cuecas Calvin
Klein quando seu maior sonho era sair no catalogo da Marisa usando Demillus. – Problema da Júlia se ela
estava na frente dele e não podia rir, quando eu soube daquilo gargalhei horrores de ter que ir ao banheiro
fazer xixi umas três vezes. – Gata, é difícil demais você passar a sua infância toda sonhando em ser paquita da
Xuxa e quando ficamos frente a frente que eu fui convidado pra ir ao programa dela o que eu tive que fazer?
Fingir que estávamos flertando... Você sabe o que ter o sonho de ser o power ranger rosa e ter que se
conformar em ser o vermelho? – Pedro abriu a boca querendo chorar, por ultimo revelou. – VOCÊ NÃO
SABE O QUE É PASSAR A INFÂNCIA APAIXONADO PELO JUNIOR E FINGIR QUE VOCÊ
PREFERE A SANDY SÓ PRA VER SUA MÃE FELIZ!

Júlia sensibilizada só teve uma atitude:

- Own... – Abriu os braços. – Daqui um abraço...

E então Pedro se entrou a um pranto de quase meia hora no colo de Júlia. A cena até poderia ser séria se não
tratasse de Júlia e Pedro. Ela tentava falar algumas palavras de consolo, mas deixava a maior parte da
conversa para ele:

- E tudo começou por causa dela... – Ele confessou choroso enquanto deixava Júlia arrumar seu cabelo.
Acho que nem comigo a Júlia fez isso. Era engraçado, a Júlia era feminina, usava batom, vestidos, mas era
contida e o Pedro mais pintoso que Pe Lanza. – Eu era pequeno e uma vez minha mãe usando uma cinta liga
de renda vermelha... Ela ia fotografar pra uma revista, mamãe era modelo e eu...

- E você?

- Desde então eu sempre sonhei em ter uma cinta liga vermelha de renda, mas eu nunca vou ter coragem eu...
Ninguém vai me entender... Minhas fãs, minha...

Júlia fez um gesto negativo.

- Deixar ser bobo Pedro... – Um tanto desconfortável. – A família Pedrita te adora... Tem tanto cara famoso
ai que é... Ricky Martin, T.R. Knight, Jim Parsons, também tem cantores famosos super queridos como o...

- Luan Santana...

- Eu ia falar Cazuza, Renato, Freddie Mercury, Elton Jhon... – Fez uma pausa. – Pedro, não foi nem eu e nem
você que inventou isso... A gente tem culpa de que?

- Você não acha triste viver com todo mundo te apontando, tem pessoas que sentem nojo de você, tem
pessoas que...

- Eu acho muito mais triste virar o que a gente não é. – Júlia disse em um tom sério. – Acho muito mais triste a
gente viver em uma mentira pra agradar os outros, não ser honesto com quem realmente se importa com a
gente. As mesmas pessoas que tem nojo, que apontam, que tiram sarro fazem isso quando você não esta por
perto. – Pedro baixou os olhos, Júlia sorriu. – Não vou te dizer que é tudo cor de rosa, que é mole porque
não é... – Fez uma pausa e então contou. - Cara, quando descobri que eu era gay foi numa época bem mais
difícil eu já tinha beijado uma menina, mas eu aceitei mesmo foi com 16 anos de idade... Imagina, 1991. A

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

gente tinha acabado de sair da década que foi descoberta a AIDS que era dada como doença de gay... O
mundo perdeu muita gente querida nessa época. Eu era jovem, imatura, enlouqueci, acreditei que podia pegar
AIDS, que podia morrer eu tinha medo do que as pessoas iam pensar sobre mim... Era muito difícil... Graças
a Deus hoje as coisas evoluíram.

- E como você assumiu?

Júlia deu um meio sorriso.

- Um dia eu estava em casa, com minha mãe, meus irmãos e minha vó, queria ver o clipe de Vogue que estava
passando. Minha irmã ficou enchendo o saco porque queria ver desenho e eu estava na TV, ai ela veio falar
que o Michael Jackson cantava mil vezes melhor que a Madonna só pra me encher o saco que ela sabia que
eu era fã da Madonna.

- E você?

- Eu mandei ela se foder e disse que pouco me importava a voz da Madonna porque eu gostava mesmo era
das pernas dela. – Pedro deu uma risada acompanhado por Júlia. – Minha mãe fez o que ela sabia fazer de
melhor, veio me passar sermão, minha vó também veio fazer o que ela sabe fazer de melhor, me mimar e hoje
estou aqui. – Os dois riram. - Pedro, pensa na tua filha... Só pensa nisso. Você acha que amanhã, quando ela
tiver maiorzinha que ela vai topar viver nesse mundo de mentira que vive? – Pedro baixou os olhos. Júlia
sorriu. – Sabe o que eu acho que você devia fazer? Virar pra tua mãe e dizer assim: Sabe o que eu mais gosto
de futebol? Quando o Sportv da um close nas coxas do Cristiano Ronaldo. – Pedro sorriu acompanhado por
Júlia e ela continuou. – Ela já sabe... Toda mãe de uma maneira ou de outra sabe... Só joga limpo com ela.

Pedro fez um gesto afirmativo e emocionado pediu.

- Posso te dar uma abraço?

- Tá esperando o que?

- E-Eu... Eu não queria dizer que você era uma índia mal educada e nem chamar seu filho de trombadinha...

- Não, passou, passou...

E os dois se apertaram um nos braços do outro de maneira carinhosa. Júlia o ninou ainda como se fosse um
bebê de colo. É, o mundo da tantas voltas que a gordinha emagreceu, a feiosa ficou bonita... Depois do
abraço Júlia sugeriu:

- Agora coloca o DVD do Abba ai. - E confessou. - Vim seca pra cantar Dancing Queen!

Enfim, era isso, agora além de tudo seria obrigada a agüentar Júlia e Pedro BFF. E pra quem acreditou na
hipótese que Pedro estava fazendo teatro coma Júlia deu com os burros na água. Assim que ela saiu, Dona
Cassandra, mãe de Pedro, ligou para o quarto e pediu para a secretária passar a ligação para o filho para
discutirem sobre uns contratos de trabalho. Pedro estava cansado, pediu pra ela ligar outra hora.

- Pedro ela insiste.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Diz pra minha mãe que eu estou ocupado.

- Eu já disse.

Enfurecido Pedro pegou o telefone e nem deixou dona Cassandra falar:

- Mamãe eu estou ocupado agora, estou assistindo futebol para ver as coxas do Cristiano Ronaldo. Tchau!

Enquanto Pedro treinava para sair de Nárnia e matava dona Cassandra do coração, eu tentava seguir com
minha vida normalmente e fui trabalhar. Só tentava né? Quem disse que Júlia deixava. Assim que cheguei no
andar cirúrgico vi que todos os meus casos ela estava como minha chefe. Fui atrás de Duarte que me explicou
que Júlia que resolveu assim pois notou minha ausência em sua área.

É lógico que ela fez isso propositalmente. Cachorra, sabia que eu estava a evitando e ela usou dessa
artimanha para se reaproximar de mim. Eu não ia deixar barato. Procurei Júlai pelo hospital inteiro e a
encontrei na brinquedeoteca da ala pediátrica. Ela estava jogando twister, aquele jogo do tapete com bolas
coloridas que tem que por as mãos e os pés na cor sorteada, com uma menina de cinco anos, paciente do
hospital. As duas já estavam toda torta sobre o tapete.

- Olha aqui, você acha que eu sou o que?

- Ser humana, médica, loira... – Ela ainda teve a cara de pau de se fazer de desentendida. – Que foi, algum
problema?

- Júlia, olha aqui eu...

- Pé direito azul. – A menininha me falou. A encarei sem entender.

- Não esta ouvindo a menina? – Júlia me perguntou séria. – Pé direito azul.

Sem saída obedeci as duas e comecei a participar do jogo.

- Você acha que eu não percebi?

- O que?

- Você me manobrou pra todas suas cirurgias só pra eu ter que ficar perto de você. – Júlia deu uma risada e
colocou a mão na bola verde no lado oposto onde estava sendo obrigada a ficar com a cabeça pra baixo. –
Isso é jogar baixo...

- De acordo com o regulamente do Alonso Franco sobre residentes não é. Você tem pouquíssimas horas na
área de trauma que por acaso é o meu ramo.

Ia responder a menininha me cutucou e disse:

- Mão esquerda verde.

Lá fui eu obedecer ás ordens e também fiquei com a cabeça pra baixo, toda enroscada com Júlia.
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Eu não vou deixar isso barato... Sabe qual é o nome disso, abuso de poder... Isso é...
AAAAAAAAAAAAH...

Como já era de se esperar, nós duas fomos para o chão emboladas. A menininha nem se feriu porque tinha
saído correndo dois segundos antes de cairmos. A mãe da menininha, uma loira de uns 30 anos tinha
chegado. Sorriu para Júlia.

- Obrigada por tomar conta dela pra mim...

- Tchau doutora Caco...

- Tchau lindinha...

A mãe deu mais uma secada na Júlia, sorriu e foi embora. Ela me ajudou a levantar.

- Aquela ali hein... Pede pra ela mandar fazer um vestido pra você... – Eu resmunguei. - Já deve saber todas
suas medidas, nem disfarçou.

- Sabe o que eu acho?

- Que?

- Que ás vezes é bobagem é disfarçar o que a gente quer... – Acho que meu rosto até ruborizou quando ouvi
essa frase. – E você sabe muito bem o que eu quero agora.

Nossa sorte é que a brinquedeoteca estava vazia e por sorte ninguém entrou senão flagraria o maior beijão de
língua que trocamos naquela hora. Quer dizer... Ela roubou o beijo de mim. Agora eu não tive culpa se minha
língua agiu no automático e participou da dança que língua dela me desafiou. Eu estava morrendo de saudade
de beijá-la, de sentir o cheiro e o toque de Júlia em meu corpo. Uma das mãos de Júlia subiu pelas minhas
costas e antes que ganhasse novos caminhos eu me separei dela.

- Alice...

- O que eu faço com você, hein? – Eu perguntei.

Ela fez a cara mais safada do mundo, arqueou uma das sobrancelhas e disse:

- O que faz comigo você já sabe... – Roçou os lábios nos meus e murmurou. – Basta você querer...

Júlia me puxou para um novo beijo tão ou mais devastador que o primeiro, mesmo que minha cabeça falasse
não meu corpo burro agia de outra forma. Só nos separamos quando precisamos de ar. Quando ela veio para
o terceiro round a interrompi a tempo.

- Não, acabou. Poxa tenta me entender... Eu fecho os olhos e vejo você com aquela mulher e...

- Quantas vezes eu tenho que dizer que ela me beijou? E que ela veio em procurar?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Mas minha confiança foi quebrada, é mais forte que eu, Júlia! Por favor, respeita minha decisão.

Eu dei as costas para sair. Ela respirou fundo e então me disse:

- Alice,espera... – Me virei. - Eu quero te falar um negócio. Eu recebi uma proposta para trabalhar no
Pantanal em uma fazenda...

- Você vai deixar o hospital?

- É uma boa proposta de emprego. O João vai comigo, conversei com ele e vou falar com a Nat... Eu só
queria me entender com você antes disso, eu juro que não...

Pantanal? Tão longe pra que? Maldita Taís vagabunda! E que ódio da Júlia também!

- É tudo que você sempre quis né? Um lugar paradisíacos desses com seu filho...

- Alice...

Fomos interrompidas por meu bipe.

- A Isa esta me chamando, com licença.

Sai da sala e a deixei sozinha. Só de costas permitir que minhas lágrimas caíssem. O que Deus tinha contra
mim que parecia não querer me ver feliz. Quando encontro a mulher dos sonhos, ela simplesmente jogava
toda nossa história para o alto sem pensar duas vezes por causa de um trabalho. Está certo que estávamos
brigadas, mas pensei que teria ela ali do lado mesmo que fosse para admirá-la à distância.

Lá no hospital eu sabia como ela estava, sabia se estava sofrendo, se estava com outra, eu sabia das coisas.
E como seria agora? Coração desgraçado, eu não me via com mais ninguém que não fosse Júlia e ao mesmo
tempo não conseguia me entregar como antes. Eu achava que ela estar do meu lado no dia da guarda da
Helena, que ia me apoiar em um dos momentos mais difíceis da minha vida que eu corria o risco de perder
minha neném Cheguei à porta do hospital com o rosto vermelho e o nariz inchado. Isa estava tão apreensiva
que nem perguntou o que aconteceu. Graças a Deus senão eu voltaria a chorar.

- Que foi?

- Você não sabe o que aconteceu...

- O que?

- O Serginho vai ser preso. Eu testemunhei um assassinato e ele é suspeito.

- O irmão da Rebeca? Mas ele matou quem?

- O Fumaça, assassino da Alê.

E me contou toda a história e ainda falou das fotos dele com D. Abgail que ela e Cíntia tinham visto no dia do
casamento. Se estivéssemos no fim do capítulo minha cara dava pra ser perfeitamente congelada devido a
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minha surpresa.

- O Serginho e a velha? Não acredito.

Eu estava em uma sinuca de bico. Se o Serginho era o michê de Dona Abgail e seu homem de confiança a
ponto de encontrar com Fumaça, evidente que ele era o cúmplice de Fumaça. Ou melhor, ele que contratou
os serviços de Fumaça e dona Abgail era a mandante. A polícia nem Isa sabiam o motivo que ela teria pra
matar Alê, mas eu sabia, Alê tinha descoberto alo importante sobre seu passado e tinha como prova a
gravação da voz de Alê no meu celular, mas antes de eu pensar em denunciar dois precisava falar com duas
pessoas. Júlia e Rebeca. Minha amiga tinha chegado aquela manhã de lua de mel, mas ainda não tínhamos nos
visto.

- Eu falei para o Gabriel das fotos, ele saiu como mandado pra prender o Serginho por suspeita da morte do
Fumaça e vai interrogar a Abgail.

- Eu tenho que avisar pra Rebeca. – Liguei no celular dela, caixa de mensagens. – Beca, sou eu, Alice... Eu
sei que uma coisa dessas não é pra se falar assim, mas é urgente. Procura teu irmão, o Fumaça apareceu
morto e ele é o principal suspeito. Procura o teu irmão.

Desliguei e corri para ir atrás da Júlia. Alguém me avisou que ela tinha saído.

- Sabe pra onde?

- Acho que ela ia na casa da mãe dela.

Só me restava ir até lá, o celular de Júlia estava desligado. Tirei meu jaleco e parti com Isa para o prédio da
dona Abgail.

Se com a descoberta de Serginho como seu cúmplice Abgail já estava bem encralacada, o cerco apertava de
vez com a correspondência que Júlia recebia do laboratório de exames. O resultado do DNA da Nat com
Dona Regina. Júlia estava sozinha no vestiário, abriu os exames com pressa, leu três vezes e murmurou
sozinha.

- Eu não acredito...

______________________________________________________________________

- Claro que isso foi um sim. – Silvinha disse roubado um beijo de Nat. As duas estavam deitadas na cama de
casal do quarto de Nat, nuas, passaram a tarde fazendo amor. – Você tem alguma dúvida que eu quero casa
com você?

Nat sorriu e puxou Silvinha para mais um beijo.

- Acho que a gente é feita uma pra outra e outra pra uma né?- Trocaram mais um beijo. – Linda... Você vai
dormir aqui hoje?

- Calma moça, tudo há seu tempo... – Silvinha deu outro beijo em Nat e se levantou. – Hoje eu tenho que

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

trabalhar, a Ingrid pediu pra eu trocar com ela, vai no teatro com a Cíntia. – Sorriu. – E também você
esqueceu um pequeno empecilho. Quando você vai terminar com o Gabriel? – Deu dois beijos na barriga já
de 4 meses de Nat. – Nada contra o papai de vocês meninos, mas a mamãe já tem dona...

- Eu preciso de um tempo pra falar com ele... – Silvinha encarou Nat desconfiada. – Um ou dois dias no
máximo. Silvinha, o Gabriel parece um ogro, mas ele tem sentimentos também, não posso tratar o cara feito
um lixo. – Silvinha colocou o vestido que usava. - E ele é papai dos meus filhos.

- Já da pra saber se vão ser meninos ou meninas ou...

- Dois meninos. – Nat revelou fazendo um carinho na barriga. – A Paula viu ontem... – Emocionada. – Sabe
que sou louca com menino né?

- O João que o diga. – Sorriu. - Se deixar vai transformar os dois em dois principezinhos. –Deu mais dois
beijinhos na barriga de Nat. – Agora tia Silvinha tem que ir mesmo. – Deu mais um beijo em Nat. – Tchau
amor...

-Tchau...

Silvinha não deixou que Nat a levasse até a porta pois não queria que ela se cansasse. Silvinha desceu por um
elevador e Gabriel subiu pelo outro. Por muita sorte não se encontraram. Gabriel entrou no apartamento e
encontrou Nat que agora usava um robe de banho a cumprimentou com um beijo, fez um carinho na barriga
da noiva. Em seu semblante um olhar preocupado que Nat conhecia muito bem.

- O que foi que aconteceu? Algum problema com seu terno ou...

- Nat, eu tenho uma coisa pra te contar, não sei como você vai reagir, mas por favor, tenha calma e pensa nos
meninos.

- Fala logo Gabriel. Quem morreu?

- Ninguém. – Fez uma pausa. – Mas a sua mãe pode ser indiciada por assassinato.

- QUE? Co- como assassinato, Gabriel só pode ser...

- Nat, ontem à noite o Fumaça, assassino da Alessandra que a Rebeca reconheceu foi encontrado morto na
oficina do Maranhão. Uma testemunha viu que ela estava acompanhado pelo Serginho, irmão da Rebeca.

- O loirinho bonitinho que entrou com ela na igreja?

- Ele. – Gabriel fez uma pausa. – A gente prendeu o Serginho como suspeito e eu acabei de interrogá-lo. –
Fez uma pausa. – Ele disse que é inocente, mas que estava levando um pagamento da sua mãe para o
Fumaça. – Nat fez um gesto negativo. – Ele garante que ela foi à mandante do crime. – Fez uma pausa. – É
uma acusação grave e eu vou precisar interrogar sua mãe na delegacia. Eu só passei aqui antes porque... –
Baixou os olhos. – Por que é sua mãe, né?!

Nat se desesperou.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Gabriel esse menino esta louco. Inventando coisa. – Desesperada. - Pra que minha mãe ia querer matar a
Alessandra?

Gabriel respirou fundo e então disse:

- Por que ela descobriu quem era o seu pai de verdade.

______________________________________________________________________

Abgail olhava o relógio de minuto a minuto. Estava pronta para sair, esperava por Serginho que passaria em
seu apartamento. Já estava impaciente, ele estava há quinze minutos atrasado, nem chegava e nem atendia o
celular. Alguém tocou em sua campainha de forma inconveniente o que lhe causou irritação. A empregada
tinha saído para ir ao supermercado, a pessoa insistiu. Com o cenho franzido foi atender Serginho, abriu a
porta pronta pra dar uma bronca no garoto, mas deu de cara com sua filha. O estado visivelmente
transtornada.

- O que você esta fazendo aqui?

- Vim conversar com a senhora. – Júlia deu um sorriso amarelo. – Mamãe!

______________________________________________________________________

Já passava das sete da noite quando cheguei ao prédio logo cruzei com Gabriel confuso. Nos
cumprimentamos com dois beijos rápidos.

- O que você veio fazer aqui?

- Vim falar com a Júlia.

- Ela também ta aí?

- Como também?

- O porteiro disse pra Nat que o Bruno subiu com a Rebeca agora. Eu fiquei estacionando o carro. A Nat
também subiu. Cara, melhor a gente subir... Quando a Abgail esta junto dos três filhos sempre dá uma merda
grande.

Gabriel profetizou o que estava para acontecer. Encontramos com Nat, Bruno e Rebeca ainda na porta do
elevador. Rebeca apenas chorava por causa de Serginho, Nat parecia estar tonta com todas as informações
assim como Bruno que apenas nos cumprimentou e permaneceu calado. Ao chegarmos ao andar ouvimos a
discussão e não foi difícil de identificar a voz de Abgail e Júlia.

- VOCÊ É DOENTE, JÚLIA, DOENTE EM QUERER DERRUBAR A VIDA DA SUA IRMÃ DESSE
JEITO, É A ÚNICA EXPLICAÇÃO QUE EU ENCONTRO...

- DOENTE? EU? EU QUERO ACABAR COM A NAT? – Riu debochada. – O DNA NÃO MENTE.
COMO A SENHORA EXPLICA QUE A NAT SEJA NETA DE SANGUE DA VÓ REGINA? – Essa
hora acho que todos nós que estávamos no corredor parecíamos ter petrificado sem ter a certeza que
ouvimos bem. - COMO A SENHORA EXPLICA QUE UM BEBÊ SEU DE SANGUE TENHA SIDO
JOGADO NO LIXO E A SENHORA ADOTOU ESSE BEBÊ? – Enojada. – COMO VOCÊ TEVE
CORAGEM DE JOGAR SUA PRÓPRIA FILHA NO LIXO?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

E nessa exata hora Nat desceu a maçaneta da porta com decisão e revelou sua presença a mãe e a irmã. Júlia
abriu a boca assustada. Não era desse jeito que planeja contar a verdade a Nat.

- Filha?

E congela na face de bruxa da Dona Abgail.

End Notes:

Cenas do próximo capítulo:

- O mau da humanidade é o cíume.

Cíntia garantiu a Ingrid enquanto pegava os pratos no armário. Colocou dois


sobre a mesa. Ingrid desligou o fogo da macarronada e jogou a massa no
escorredor.

- Ah, você nunca teve ciúme de alguém? - Ingrid perguntou. - Namorada?


Amiga?

- A Alê era muito tranquila... - Cíntia disse saudosa. - Ela não dava motivo. De
amigo eu já tive... Mas a Isa também... É cada uma que ela me arranja... -
Sorriu e confidenciou. - As vezes eu não gosto de ver a Isa com alguma
namorada, sei lá...

- E por que ela não pode ter ciume de você?

- Eu não dou condição pra ela sentir ciúme.

- Será? - Ingrid se aproximou de Cíntia. - Olha... Eu acho que ela tem motivo
sim...

E antes que Cíntia pudesse pensar, tomou os lábios dela de forma quente.

______________________________________________________________________

Isso aê malocada, reta final!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Hj vou deixar um selinho da Hebe pra cada uma de vcs em homenagem a nossa dama
da TV que nos deixou. Pra uma apaixonada, louca e amante de TV que nem eu uma
perda irreparavel e insubstituvel. Se algum gênio da ciência estiver me lendo, faz o
favor de inventar a pilula da eternitade aê pra que de tempo de eu dar para a
Fernnanda Montenegro, Jô Soares, Silvio Santos, minha vó entre outros... u.u

Bjo e até o próximo capítulo!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 66 by Tamaracae

Author's Notes:

Oiii meninas! Capitulo fresquinho para vocês e já vou avisando que ta babado,
confusão e gritaria.

Abri os olhos devagar e não localizei bem o lugar que estava. Só sabia duas coisas: Eu estava em uma maca
de hospital e Júlia deitada com a cabeça sobre minhas pernas. Dormia feito um neném. Sorri com minha
comparação. Aos poucos identifiquei onde o lugar, um dos quartinhos dos plantonistas. Depois da parada na
casa da Abgail fomos praticamente todos no hospital por causa da Nat. Ela não se sentiu bem e devido à
gravidez de risco foi levada para fazer um exame completo. Escutei o barulho de passos e a porta se abriu.

- Ainda bem... - Eu disse ao ver o rosto de Bruno. – Como ela esta?

- Tranqüilo, a pressão da Nat estava um pouco alta, chegou a dezesseis, agora ta normal. – Ele se sentou ao
meu lado na maca. – Derrubou essa leoa sem calmantes?

- Também, depois dessa pancada... - Bruno se sentou ao meu lado. Júlia e Nat não eram as únicas
arrebatadas após aquela conversa. Ele também precisava de colo. – Então, como esta sua cabeça?

- Tudo tão na nossa cara e ao mesmo tempo tão... – Revirou os olhos. – Ingenuidade demais também esperar
de alguém tão seca feito a minha mãe um ato de amor . -Melindrado. – Como ela teve coragem de jogar a
filha no lixo?

Era uma resposta que só a própria Dona Abgail poderia dar. Eu ainda estava no corredor do prédio quando
escutei a discussão e a revelação fatal. Acho que por um bom tempo a voz de Júlia jogando Abgail contra a
parede não sairia da minha mente: COMO VOCÊ TEVE CORAGEM DE JOGAR SUA FILHA NO
LIXO? Segundos depois a Nat em um fio de voz, desencorajada perguntou:

- Filha? – Nat entrou no apartamento e deu passagem para nós cinco (Gabriel, Rebeca, Bruno, Isa e eu)
adentramos. O primeiro rosto que vi foi de Júlia. Ela estava com um envelope nas mãos e logo reconheci o
logotipo da clínica de testes de paternidade. O olhar de desespero de Abgail e a surpresa no rosto de Júlia já
me fizeram concluir o que acontecia. Nat, que não era boba nem nada, viu o papel nas mãos da irmã. – Isso é
um teste de DNA? – Abgail e Júlia se entreolharam como se uma jogasse a missão para outra de quem
começaria a contar. Minha espinha esfriou só pelo olhar de ódio que a vaca da Abgail jogou para Júlia. –
Júlia? Mãe?

- Que invasão é essa na minha casa? – Ela ainda tentou desviar do assunto e jogou em cima de nós cinco. Seu
olhar se prendeu entre Gabriel e eu. – O que essa menina e o órfãozinho estão fazendo aqui? – Ela perguntou
em um tom enojado. Virou-se para Bruno e Rebeca. Debochada. – Ah você sobreviveu, menina e...

Nat não agüentou mais e explodiu.

- SERÁ QUE DÁ PARA ME EXPLICAR O QUE ESTA ACONTECENDO? – Enfurecida. – MÃE?

Júlia foi a primeira a ter alguma reação. Não senti que ela feliz. Como estivesse se preparando para submergir
em um lago ou uma correnteza profunda, Júlia respirou fundo, estendeu o envelope a Nat. Nat segurou a
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

ponta do envelope, Júlia ainda agarrava a borda do papel com firmeza.

- Eu não planejei te falar de um assunto delicado desses assim, no susto... – Ela confessou. Nat não desviava
os olhos da irmã. – Agora o caldo entornou... –Ergueu os ombros. – É melhor você saber logo... – Júlia deu
uma olhada de lado cheia de veneno para Abgail. – Essa história já se arrastou tempo de mais!

E então seus dedos soltaram o papel nas mãos de Nat. Um tanto desordenada abriu o envelope, passou os
olhos em seu nome e no nome de Regina e em menos de dez segundos leu o laudo frio e impessoal que
afirmava que através dos materiais genéticos oferecidos concluía-se que Natália e Regina Franco eram
parentes, avó e neta legitimas. De acordo com um segundo teste Natália e Júlia Franco eram irmãs de sangue.

Uma Nat pálida e visivelmente perdida soltou os papéis no chão. Bruno não agüentou a agonia, recolheu e leu
o laudo. Como se tivesse levado um soco na boca de surpresa levou a mão aos lábios. Colocou os papéis
sobre a mesa e balbuciou:

- É minha irmã? Mesma mãe. – Júlia se aproximou, Bruno parecia ter passado por uma máquina do tempo e
voltado a ser apenas um menino assustado. Ela colocou a mão em seu ombro em apoio. – Minha irmã?
Você... Você jogou a Nat no lixo? – Virou-se para Natália assustado, os olhos da irmã estavam marejados. –
Não ela não... – Virou-se para mãe. – Você fez isso? – Revoltado, agitado. – RESPONDE, MÃE! PELO
AMOR DE DEUS, RESPONDE!

- CALA A BOCA, ESTÚPIDO! – Abgail estourou com Bruno. - Nat, você não vai dar ouvidos a esse
moleque irresponsável, esse...

Júlia a interrompeu deu um passo adiante.

- A SENHORA CALA A BOCA ANTES DE FALAR DO BRUNO E SÓ RESPONDE A DROGA DA


PERGUNTA! Conta pra sua filha a verdade, a boa mãe que você é... Ela tem o direito de saber a verdade, é
a vida dela. – Abgail apertou os olhos enfurecida. – Que foi, ta tentando me derreter com o olhar? Ou vai me
bater? Olha que se passaram 29 anos daquela noite que você me deu uma surra quando eu te peguei com o
Inácio, marido da sua amiga no mesmo teto que meu pai e a Duarte. – Abrimos a boca, todos pasmos. Acho
que por isso que Duarte pouco falava do primeiro marido. Eu mesmo só sabia que o nome dele era Inácio e
que não era médico. Abgail fez um gesto negativo com veemência, como se Júlia estivesse dizendo alguma
inverdade. – Bom mesmo a senhora não tentar, a senhora anda muito fora de forma pra mim... – Sorriu
debochada. – Não tenho mais oito anos pra levar uma surra de abrir machucado, né? Lembra disso. Fui lá na
chácara, lembrei outro dia, entendi porque eu odiava aquela casa... Eu apanhava lá... E não era palmadinha na
bunda não, que nem mulher mesmo...

- Ninguém acredita em você, sua vagabunda! Mais um teatro seu...

- Então ninguém acredita em mim?

- Não.

- Não?

- Eu gaguejei, Júlia?

Júlia levantou a manga de sua camisa até o cotovelo, e mostrou uma cicatriz de um cinco centímetros no
pulso, eu já havia notado e julgado que era resultado de uma peraltice de infância.

- E será que alguém acredita nisso? – Abgail baixou os olhos. – Era do tamanho da espora que você usava
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

para montaria. – Espora que aquela vaca provavelmente devia ter usado para bater na Júlia. Virou-se para
nós cinco. – Isso era o que acontecia em casa quando eu esquecia brinquedo no chão. – Virou se novamente
pra Abgail. – E esse aqui da minha boca, o tapa que eu levei e a Duarte costurou, lembra?

- VOCÊ...

- CHEGA AS DUAS! – Nat interrompeu. - DA PRA PARAR DE FUGIR DO ASSUNTO?

Júlia fez um gesto negativo.

- Isso aqui... – Apontou para a cicatriz discreta nos lábios. –Tem muito a ver com assunto. Conta pra ela... –
Irônica. - Mamãe...

Nat virou se para mãe e disse:

- Eu quero uma explicação! – Voltou-se para nós. – Desculpa, eu posso falar com minha mãe sozinha?

Meio perdidos fizemos um “sim” com a cabeça. Nat pediu para que Bruno e Júlia ficassem e nem deu ouvidos
as reclamações de Abgail. Assim que saímos Nat fechou a porta. Abgail tentou alegar que estava nervosa
demais e queria conversar outra hora. Foi até o bar e pegou um copo, tinha a pretensão de enchê-lo de
uísque, Nat, já abarrotada de ser enrolada pegou o copo e jogou contra uma das paredes assustando até aos
irmãos, arrastou Abgail pelo braço até a sala, a sentou no sofá e sentou sobre a mesinha de centro para
ficarem frente a frente.

- Eu juro por Deus que se a senhora não abrir a boca eu não respondo mais por mim!

Pressionada Abgail fez um gesto afirmativo e então resolveu falar.

- Sou toda ouvidos...

Respirou fundo e então começou a contar:

- Eu era uma boba, Nat, completamente diferente de você... Quando eu conheci o Samuel, pai da Júlia, eu
tinha apenas 18 anos. Imagina, eu era uma menina puritana e deslumbrada que ia entrar na faculdade de
odontologia. No meu primeiro dia de aula eu conheci aquele rapaz lindo, forte e doce que era seu pai. Eu me
apaixonei por ele minha filha... – Nat balançava as pernas em um gesto de impaciência. Bruno e Júlia trocaram
um olhar cúmplice e Júlia fez um gesto negativo como se não acreditasse em uma palavra que a mãe havia
dito. – Começamos a namorar... Ele era o melhor namorado do mundo... O Samuel virou a razão da minha
vida, a luz da minha existência, ele...

- Isso tudo eu sei, estou cansada de saber. – Nat a cortou, impaciente. - Vocês se conheceram quando
vocês entraram para a faculdade, começaram a namorar, dois anos depois a senhora engravidou da Júlia,
resolveram casaram, três anos depois, tiveram um bebê que morreu no parto, quando a senhora estava de
saída do hospital de salta do parto do seu filho me encontrou no lixo do hospital. – Nat respirou fundo, pegou
o exame em suas mãos. – De acordo com esses dois exames de DNA eu sou neta e irmã de sangue da minha
avó e da minha irmã... – Não conseguiu concluir a frase, sentiu sua garganta sufocar. Os olhos cheios d’água
embaçavam vista. Mais uma vez respirou fundo para recuperar a voz e o raciocínio. – Por que eu fui
enganada esse tempo inteiro? – Júlia levantou de onde estava e se sentou ao lado de Nat. Carinhosamente
apertou o ombro da irmã. – Por que a senhora mentiu pra todo mundo que teve um filho que morreu no parto
se eu estou aqui viva?

Abgail levantou do sofá desesperada. Ela em pé e os três filhos sentados lhe dava ideia de que eram apenas
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meninos ingênuos e que em pouco tempo acreditariam em suas palavras. Olhou para o bar. O uísque cairia
muito bem naquele instante. Os lábios e a garganta seca dificultavam sua fala. A vontade que tinha era de abrir
o jogo e contar toda a verdade. Sempre achou Samuel insosso demais, fraco, tonto e manipulável. Um matuto
escrotamente idealista que não merecia a fortuna que tinha nas mãos.

Só não dizia que Júlia era a versão completa do pai porque era perceptível que a filha nasceu mil vezes mais
esperta e tinha um temperamento do cão que Abgail nunca conseguiu domar. Desde pequena Júlia era assim.
Um desafio. Parecia até que intuía que não era querida pela mãe. Como a própria Júlia disse uma vez “criança
sente essas coisas”. Queria jogar tudo no ventilador só pra ver a cara de Júlia, mas sabia que se falasse algo
do tipo acabaria por perder totalmente Natália.

- Nat depois que tive a Júlia, seu pai fez da minha vida um inferno. – Outro olhar de veneno lançado por Júlia,
estava com cara de qualquer hora pularia no pescoço da mãe. – O Samuel se transformou em outra pessoa.
Outro homem que eu não conhecia. Violento, possessivo, ciumento... Nat eu vivia trancada dentro de casa,
larguei minha faculdade porque ele me obrigou, tinha poucos amigos, ele vivia enfurnado nas aulas, correndo
para concluir a faculdade dele... Depois para passar na residência. – Fez uma pausa. Com a voz embargada.
– Eu tenho muito vergonha do que eu vou falar agora. – Eu era uma mulher carente... Trancada naquela
chácara enorme e eu era jovem...

- Mãe...

- O que fiz foi impensado, filha... Na chácara tinha um rapaz que trabalhava como jardineiro. Ele era sozinho
no mundo. – Bruno e Júlia trocaram olhares. Júlia fez um gesto negativo. Abgail segurou a mão de Nat com
força. – Filha, eu juro, foi uma noite de carência... – Abgail olhou para a saliente barriga de Nat. Nat colocou
a mão sobre o abdômen. Os bebês estavam agitados. Abgail suavemente tocou o ventre da filha. – Como um
dia você teve com o Gabriel, eu tive esse homem. – Nat ficou em silêncio. – No dia seguinte eu pedi pra ele ir
embora de tanta vergonha que eu estava. Quando descobri que estava grávida, eu me desesperei. Não sabia
o que fazer agir, pensar, nada! – Outra pausa. – O Samuel jamais aceitaria a filha de outro homem e se eu me
separasse ele levaria a Júlia. – Outro gesto negativo de Júlia que assistia tudo perplexa. Abgail olhou para os
filhos. – Era evidente que ela não era filha do seu pai... Ele tinha feito uma viagem e o parto da Nat se
adiantou. Quando a enfermeira viu a minha felicidade de ter colocado no mundo uma filha tão linda e o meu
desespero de não saber o que fazer com ela, ela me deu a ideia... A ideia de forjar a morte do meu bebê e
adotá-la com outro nome para eu ter você perto de mim.

- Uma enfermeira te ajudou?

- Ajudou. Ela quem me deu a ideia, ela que apresentou o atestado de óbito falso... Ela me ajudou. A coisa
mais difícil que eu fiz na minha vida foi te dar na mão daquela enfermeira Nat e me separar de você. – Bruno
cruzou os braços, Júlia revirou os olhos. - Seu pai não aceitaria um bebê de outro casamento, mas uma
menininha linda adotada ele não pensaria duas vezes...

-Então essa é a verdade? – Nat se levantou agitada. Com a mão sobre a barriga. – Essa?

Abgail fez um gesto afirmativo. Em um gesto passional se ajoelhou nos pés de Nat aos prantos.

- Me perdoa, filha... Me perdoa, Nat... Eu quero que você saiba que não teve um dia na minha vida que eu
não pensei em te contar a verdade... – Transtornada. – Filha, tenta me entender. – Levantou e segurou o
braço de Nat. – O seu pai jamais aceitaria uma filha minha com outro homem. Ele foi criado com uma gente
ignorante, não concordaria com isso... Mas uma menina linda e forte como você era... – Abgail sorriu. – Ele
se encantou por você Nat... Ele te amava como amou a Júlia.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Júlia se levantou e resolveu que era hora de manifestar. Já estava com um bolo na garganta de tanto asco do
cinismo da mãe.

- Esse cara que se encantou por um bebê desconhecido achado no lixo de um hospital, que amou esse bebê e
fez filha dele... – Indignada. – O mesmo cara que era agressivo? Que te trancava em casa? Que era violento?
– Júlia deu um passo em frente, o dedo em riste, nervosa foi em cima de Abgail. – MENTIROSA! FALSA!
MONTE DE LIXO! VOCÊ NÃO VALE NADA. MEU PAI TINHA CARATER, AO CONTRÁRIO DE
VOCÊ. - – Mediu Abgail de cima abaixo. – PUTA VELHA...

Os olhos de Abgail chispavam de ódio, em um gesto automático levantou para descer a mão no rosto de
Júlia, mas Júlia foi mais rápida. Segurou a mão da mãe com força e cuspiu sobre ela. Antes das coisas
piorarem Bruno as separou. Júlia ainda muito agitada.

- NAT, VOCÊ NÃO PODE ACREDITAR NELA... – Desesperada. – Ela mentiu por 34 anos, só esta
contando isso agora porque foi descoberta. – Se soltou de Bruno e foi até a irmã. – A única verdade que ela
disse até agora é que meu pai se encantou e amou você como filha dele... – Encarou Abgail com ódio. – O
resto mentira! Invenção! – Nat encarou as duas, transtornada. – NAT, ACREDITA EM MIM! TEU PAI
NÃO É JARDINEIRO NENHUM! EU SEI QUEM É TEU PAI...

- Nat, ela não tem prova, eu posso... Eu posso te levar até a enfermeira e confirmar a minha história... Ela vai
contar a verdade... – A Júlia. – VOCÊ TEM COMO PROVAR QUE ISSO É VERDADE?

As duas se encararam. A campainha tocou. Bruno ameaçou se levantar. Nat fez um gesto para que ele ficasse
ali de olho nas duas. Ela foi atender a porta.

- Você?

- Ela tem como provar! – Duarte disse se referindo a Júlia. Abgail franziu o cenho, Duarte a encarou sem
medo. – Eu vou contar a verdade pra elas, sua porca!

______________________________________________________________________

Lá embaixo estávamos impacientes. Duarte nos avistou e veio nos cumprimentar. Lógico que ficamos curiosos
e ao mesmo tempo surpresos com sua aparição. Ela nos explicou:

- Eu fui procurar a Júlia no hospital e a Paula me contou que encontrou com ela, Que a Júlia comentou que
veio atrás da mãe e que estava com um envelope de laboratório de analise de DNA nas mãos. Eu logo
adivinhei o que aconteceu. Eu prometi que nunca ia contar a essa história, mas como ela descobriu por conta
própria eu me sinto liberta da promessa e vou contar... Eu tenho que subir.

Gabriel a acompanhou até o elevador. Eu fiquei com Rebeca ALI. Ela deitada no meu ombro apenas chorava.
Enquanto esperávamos eu tive que contar tudo sobre Abgail que eu havia descoberto. Aliado ao envolvimento
de Serginho com ela, concluímos o que parecia ser óbvio.

- Ele bateu na Alessandra na minha frente. Ele foi cúmplice de um assassinato, Alice! Ele viu o cara me bater e
não fez nada! – Desesperada. – Cúmplice de assassinato, formação de quadrilha com a aquela vaca e com o
Fumaça. Assassinato do Fumaça. Meu irmão vai apodrecer na cadeia... – Chorosa. –Alice, minha mãe vai
morrer... Ela não vai aguentar...

- Que é isso, Becca... – Deitei sua cabeça no meu ombro. Minha vontade era de colocá-la no colo e mimá-la
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até ficarmos bem velhinhas e esquecermos o nome uma da outra. – Não chora, você sabe que eu choro
junto...

Enquanto esperávamos aquela conversa em família sem fim terminar, Isa resolveu ir para casa e comunicar a
Cíntia o que acontecia. Alessandra era esposa dela e ainda tinha a gravidade que Cíntia foi à pessoa mais
próxima de Serginho em sua estádia na casa de Silvinha. Com certeza seria uma decepção grande.

Isa chegou ao prédio de Silvinha por volta das oito da noite. Silvinha devia estar no Scarpan, Paula no hospital
e Cíntia sozinha em casa. Foi cumprimentada por papai que agora não saia mais dali (meu pai tinha cismado
em dar um jeito de por o fusca para funcionar), cruzou com Leandro que agora dividia o apartamento com
Gabriel e subiu a escadarias. A porta estava apenas encostada e o apartamento estranhamente tranqüilo.
Apenas o som ligado, logo reconheceu seu CD do Caetano Veloso. Ouviu barulhos na cozinha e seu nome
citado. Reconheceu a voz de Ingrid. Curiosa se calou para ouvir o que conversavam.

- A Isa não gosta de mim... – Ingrid disse a Cíntia. – Eu vejo nos olhos dela.

Isa fez um gesto afirmativo como se concordasse com o que Ingrid acabava. Não ia mesmo com a cara dela.

- É coisa de signo. – Cíntia brincou.

- Aposto que ela é Touro. – Ingrid entrou na brincadeira. – Eu tinha uma ex-namorada assim, possessiva...

As duas estavam na cozinha que ficava nos fundos do apartamento. Ingrid tinha convidado Cíntia para ir ao
cinema, mas ela estava indisposta. Resolveu aproveitar o momento de paz no apartamento e convidou Ingrid
para uma sessão em casa e em troca ela faria o jantar.

-Cíntia? No que você esta pensando?

- - O mau da humanidade é o ciúme. – Filosofou aos risos. – Acho que era isso que estava pensando. A Isa
tem ciúme de você... Acho que medo de perder amizade, sei lá...

Cíntia garantiu a Ingrid enquanto pegava os pratos no armário. Colocou dois sobre a mesa. Ingrid desligou o
fogo da macarronada e jogou a massa no escorredor.

- Ah, você nunca teve ciúme de alguém? - Ingrid perguntou. - Namorada? Amiga?

- A Alê era tranqüila... - Cíntia disse saudosa. - Ela não dava motivo. De amigo eu já tive... Mas a Isa
também... É cada uma que ela me arranja... - Sorriu e confidenciou. – Às vezes eu não gosto de ver a Isa
com alguma namorada, sei lá...

- E por que ela não pode ter ciúme de você?

- Eu não dou condição pra isso.

- Será? - Ingrid se aproximou de Cíntia. - Olha... Acho que ela tem motivo sim...

E antes que Cíntia pudesse pensar, tomou os seus lábios de forma quente. Cíntia surpresa estancou ali e sentiu
os movimentos gentis da boca de Ingrid sobre a sua. Aos fundos só escutava o CD do Caetano Veloso tocar:

Que é que eu vou fazer pra te esquecer?


Sempre que eu já nem me lembro, lembras pra mim
Cada sonho teu me abraça ao acordar

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Como um anjo lindo


Mais leve que o ar
Tão doce de olhar
Que nenhum adeus vai apagar...

Isa havia atravessado o corredor de forma sutil para não ser notada e chegado à cozinha parecia paralisada
com a cena: Cíntia, sua melhor amiga sendo beijada por Ingrid. Devido à proximidade das duas nos últimos
tempos, Isa julgava que “aquilo” que ela estava vendo já estava acontecia alguns dias, mas teorizar algo era
bem diferente de ver ali, preto no branco. Os punhos automaticamente se fecharam e a fúria misturada com
indignação, ciúme, despeito e inveja de Ingrid começaram a crescer mais e mais.

Que é que eu vou fazer pra te deixar?


Sempre que eu apresso o passo, passas por mim
E o silêncio teu me pede pra voltar
Ao te ver seguindo
Mais leve que o ar
Tão doce de olhar
Que nenhum adeus pode apagar...

Isa sentiu seus olhos cheios d’água e a cabeça fervilhar. Não sabia se estava mais irritada com a cena ou com
si mesmo por ter ficado irritada. Nem se lembrou de falar qualquer coisa que tinha para falar com Cíntia. Saiu
da mesma forma que entrou, sem ser notada. Após cinco segundos que Isa saiu, Cíntia se separou de Ingrid
de forma delicada, mas com firmeza. Ingrid fez um carinho em seu rosto.

- Desculpa, mas eu não resisti, a gente estava tão perto, sozinhas e... Cíntia, eu te acho tão linda, a gente se
dá tão bem que eu pensei que...

- Não consigo... Ainda é muito recente... – Baixou os olhos. – É muito difícil pra mim...

Ingrid fez um novo carinho no rosto de Cíntia.

- Claro, desculpe...

E foi isso que aconteceu. Mas como ser humano gosta de sofrer, Isa saiu do prédio e chegou ao Scarpan já
imaginando se Ingrid ia tirar a calcinha de Cíntia com os dedos ou com os dentes. Passou direto pelo salão e
subiu para o escritório de Silvinha. Deu duas batidas. Quando minha prima abriu a porta foi surpreendida com
um beijo desentupidor de pia. Isa puxou a nuca da minha prima em uma tentativa de intensificar o beijo, mas
logo se separaram. Isa ainda levou um beliscão no braço.

- Silvinha, isso dói.

- Fosse pra não doer eu fazia carinho. – Silvinha resmungou irritada. Os lábios estavam borrados de batom. –
Que é isso, achou que eu sou uma laranja de barraca de feira que é só meter a mão e levar pra casa? Tá
louca? - Isa não respondeu e começou a chorar de raiva, deu um soco na mesa e murmurou um pedido de
desculpas a Silvinha. Baixou a cabeça e escondeu o rosto com as mãos. Minha prima se compadeceu. – O
meu limãozinho, que foi? Isa, para de chorar, sabe como eu sou, vejo mulher chorando já meto um beijo na
boca pra parar... Que foi?

- É a Cíntia! – Revelou. –A idiota da Ingrid esta pegando a Cíntia! – E completou. – Eu vi elas juntas agora...
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- E por que você me beijou?

- Eu queria beijar outra mulher pra ver se eu tirava a Cíntia da cabeça, como a gente é amiga, desculpa...

- Eu voltei com a Nat agora... – Isa encarou Silvinha surpresa. – Estou falando sério. – Fez uma pausa. – Mas
e você, ta apaixonada mesmo pela Cíntia?

- Não, é uma palavra muito forte. Só não gosto dela com a Ingrid.

Silvinha fez um gesto negativo. Isa era a vice presidente do clube dos teimosos, fundado e sendo presidido
por minha adorável pessoa.

- Isa, você esta com inveja.

- Não estou com inveja. – Murmurou. – Esta tudo bem... Você se acertou com a Nat, a Júlia conseguiu um
emprego bom lá no Pantanal, o marido da Paula vai chegar, a Cíntia tá feliz com Ingrid... Tá todo mundo se
dando bem. – Fez uma pausa. - Eu não tenho inveja de ninguém... Eu li no dicionário, isso não é inveja. Inveja
é revoltar-se com a felicidade alheia. Eu não estou revoltada. – Garantiu. Amassou uma bolinha de papel e
jogou no lixo com raiva e voltou a chorar. – Eu só quero saber por que ta todo mundo se dando bem e minha
vida continua esse cocô?

- Dá aqui um abraço...

- Sai Silvinha...

Isa sempre fugia de nossos abraços.

- É por isso que a Cíntia esta com a Ingrid. – Silvinha devolveu. – Você é chata e implicante.

Isa olhou com uma cara como se Silvinha falasse um absurdo.

- Quando eu fui chata e implicante com vocês?

Desde o momento que ela falou: “Oi, meu nome é Isadora.” Como somos pessoas justas e que gostamos de
comprovar que o que dizemos é verdade, vamos puxar um flashback pra mostrar o quanto Isa é chata e
implicante:

Flashback

Quinta feira, 19 de novembro de 2012

Sete e meia da manhã. Eu sei lá porque calhas d’água estava dormindo na casa da minha prima no quarto de
Isa. Dormimos na cama de casal, mas não aconteceu nada, apenas dormimos mesmo. Acordei com Isa me
sacolejando.

- Alice, acorda, Alice... Eu estou enlouquecendo... Esta ouvindo?

- Hein?!

- O passarinho cantando na janela, não esta escutando? Ele esta cantando desde as cinco da manhã...

- Isa, as pessoas gostam de acordar com passarinhos cantando. – Eu murmurei ainda de olhos fechados. –
Deixa...
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- E por que ele não vai cantar na janela das pessoas que gostam de acordar com um passarinho cantando e
não com uma trabalhadora brasileira honesta que tem direito a curtir 8 horas de sono que nem eu? –
Levantou. – Passarinho chato! Vai lá e assusta ele, Alice... Ataca uma pedra perto dele pra ver se ele vai
embora...

- Isa, que agressividade, que mal humor, é só um passarinho cantando...

- Cantando pra que? – Ela resmungou. – Pra quem? Uma música chata, que não interessa a ninguém... Ele já
cantou um milhão de vezes... – Se levantou decidida. – Vou tirar esse passarinho filho de uma passarinha puta
daí...

- Onde você vai?

- O Gabriel não é delegado? – Ela perguntou, murmurei um sim. – Vou ver se ele tem uma arma de fogo pra
me emprestar... Agora é questão de honra, a raça humana vai demonstrar sua superioridade em relação a esse
bicho! – Ela falou como se estivesse indo para um guerra. – Ou não me chamo Isadora!

E saiu andando, eu finalmente despertei.

- ISA!

Fim de Flashback

Voltando ao Scarpan:

- Por causa disso ela tem que jogar a Ingrid na minha cara?

- Esta rolando mesmo?

- Eu entrei lá pra falar que vão prender os assassinos da Alê e peguei...

Silvinha abriu a boca.

- Vão prender os assassinos da Alê? Não era aquele cara?

- Era... Mas o assassinato pelo que eu ouvi falar tinha uma mandante.

- Uma mandante? – Silvinha perguntou. – Mulher? Quem?

- Você vai cair pra trás. – Silvinha a encarou sem entender. – Tua sogra.

O queixo da minha prima foi ao chão.

- A Dona Bibi? – Sem entender. – Mas pra que? Por quê?

- Parece que a Alê descobriu que a Abgail é mãe biológica da Nat. – Outro susto da minha prima. - Pelo que
entendi o Serginho falou pra Abgail e ela com medo da Alê mandou ele e o Fumaça acabarem com ela...

- O SERGINHO? – Assustada. – Isa, não estou entendendo nada...

- Eu explico...

Aos poucos Isa tentava contar toda trajetória que Serginho junto de Dona Abgail e Fumaça fizeram para

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chegar até aqui. A expressão de minha prima se transformava como se Silvinha ouvisse um resumo de um
temível filme de terror. No final do relato ela pegou sua bolsa, a carteira e decidiu:

- Vou até lá... A Nat esta precisando de mim.

______________________________________________________________________

- E foi isso que aconteceu Nat... – Duarte terminou de contar sua versão com os olhos cheios de lágrimas.
Aceitou um copo d’água que Júlia lhe ofereceu. – Seu pai era um homem bom, foi enganado. – Olhou para
Abgail meio de lado. – Você não é filha de jardineiro nenhum. A sua mãe e o desgraçado do Inácio, meu
primeiro marido, tiveram um caso por mais de dez anos e você é filha deles. Quando sua mãe engravidou eles
estavam há dois anos juntos já e só se separaram quando ele morreu. Teu pai, o Samuel era um homem de
caráter... Eu muito focada nos estudos nunca soube ver o que estava na minha frente e deixei que ele se
envolvesse e casasse com a Abgail mesmo sabendo que ela nunca foi flor que cheire...

- Você nunca reparou que meu pai gostava de você? – Nat perguntou.

Duarte fez um gesto negativo.

- Nat, pelo amor de Deus, você vai acreditar na história dessa mulher? – Abgail perguntou desesperada. –
Olha pra ela e olha pra mim, é lógico que ela esta mentindo ela...

- A mentirosa aqui é você. – Duarte devolveu ressentida. – A sem caráter é você! Eu não andei com marido
de amiga nenhuma que nem você fez com o meu! – Virou-se para Nat. – Eu sempre considerei seu pai um
amigo. Eu sempre fui muito focada na minha carreira. Só comecei a sair com Inácio depois que seu pai e sua
mãe começaram a namorar. – Ela reafirmou. – O Inácio era um cara envolvente, tinha o seu jeito assim sério,
mas ele envolvia bem as pessoas. Dava vontade de cuidar dele, como da vontade de cuidar de você, Nat... E
ele era bonito... –Deu um sorriso triste. – Hoje eu vejo vocês tão parecidos, não entendo como eu demorei
tanto pra descobrir.

- E vocês se conheceram como?

- Ele era da equipe de remo do Silvéster Esporte Clube, conseguiu uma vaga lá com ajuda de um amigo, mas
ele era duro. Ele participava de tudo que era competição, um dia o Inácio fraturou o ombro e como não tinha
dinheiro foi se tratar no hospital da faculdade que atendia a população carente. Foi ai que a gente se
conheceu... Eu o consultei, coloquei o ombro no lugar e ele me convidou pra sair... O jeitão dele, o sorriso
pra mim era um príncipe... – Seu olhar cruzou com o de Abgail. – E só não sabia que desde essa época ele e
sua mãe já estavam juntos. Sua mãe queria sair de casa, nunca gostou de estudar, não queria esperar acabar a
faculdade. Seu avô só ia permitir que ela saísse se fosse depois de formada, era a condição. Como ela não
queria estudar, ela botou na cabeça que ia casar com algum cara rico. O Samuel foi o escolhido. Quando teu
pai ia terminar com ela e se declarar pra mim, ela engravidou da Júlia e continuou com o Inácio pelas minhas
costas.

- Por isso que você não gosta de mim? – Júlia perguntou a Abgail. – Por que eu fazia parte de um negócio?

- Cala a boca... – Abgail murmurou derrotada.

- Só que já prevendo o que poderia acontecer à mãe do Samuel fez que eles assinarem um contrato de
casamento. Se nos primeiros cinco anos tivesse algum adultério, a Abgail sairia do casamento sem nada. No
terceiro ano de casado você nasceu, negra como seu pai biológico. Dava pra ver que você não era filha da
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Abgail com o Samuel. Ela forjou pra todo mundo que você nasceu morta... Deixou seus avôs chorar pela
neta morta! Quando eu descobri a verdade, não tive de coragem de revelar a eles. Sempre gostei de vocês
três e da sua avó como se fosse minha família. Era sofrimento demais... O Samuel ficou tão abalado. – Fez
uma pausa. – Teu pai fazia algo muito feio. Fumava feito um louco. Depois que ele chegou de viagem e
recebeu a notícia, ele estava triste, muito triste e saiu do hospital pra fumar... Eu fui junto com meu amigo para
consolá-lo e foi ali no meio daquela chuvarada, daquele resto de lixo, com bicho, com resto de remédio, uma
porcariada eu ouvi o choro daquele bebê! – Sorriu. – Um bebê tão magrinho, com fome, tão pequeno que
cabia em uma caixa de sapato... Quando o Samuel pegou aquele bebê no colo ele escolheu pra ser filha dele.
A gente tinha certeza que só um monstro poderia ter feito aquela covardia com você. Só que a gente não foi
esperta o bastante para notar que o monstro ficou o tempo todo do seu lado... Nao foi ela que achou voce
naquele lixo, fui eu com seu pai. - Duarte explicou a Nat. - Ela te tratava melhor que os outros, não sei...
Talvez porque você lembrava o macho dela que talvez ela tenha gostado de verdade... Passaram cinco anos...
E mesmo assim a gente não percebia o óbvio. O seu pai venerava sua mãe e ela nunca se dava por satisfeita
enquanto eu fechava os olhos para os casos do meu marido, acreditando que era coisa de homem... – Fez
uma pausa. Olhou para Júlia. – Passaram cinco anos e precisou da Júlia, uma criança ver os dois na cama pra
gente entender o que acontecia. Ela tinha visto uma vez os dois, chegou a contar para o Samuel que não
acreditou porque achou que era coisa de criança a Júlia nunca se deu muito com sua mãe... Só quando ele
pegou a tua mãe na cama, rindo da cara dele e dizendo que o Samuel sustentava a filha do Inácio que ele viu
que era verdade... Teu pai tinha acabado de descobrir que estava com um tumor raro... Ele ficou tão abalado
que de certa forma se entregou. Descobriu falcatruas, dinheiro que sua mãe desviava e dava tudo para o
Inácio, carro, presentes fez o Samuel financiar dinheiro na equipe de remo... Teu pai morreu de desgosto.

Nat fez um gesto afirmativo.

- E o Inácio?

- O Inácio faleceu em um acidente de carro. – Júlia explicou. – E foi por causa do carro que eu consegui
entender toda essa história. – Nat encarou Júlia sem entender. – O carro do Inácio no acidente era aquele
fusca velho que fica na garagem da Silvinha, acredita? Nat, eu não sonhava com nada disso. – Júlia
confessou. – Eu comecei a mexer nessa história toda por causa daquele leãozinho. A Alice ficou desconfiada
que vocês poderiam ser irmãs. – E explicou. – O Jorginho tinha o mesmo leãzinho que você tem. Era um
prêmio do Silvéster Clube para os campeões e o Inácio deve ter dado para ela... – Apontou para Abgail. – E
sei lá como ficou na sua roupa quando você foi abandonada... Você não tem ideia tudo que a gente passou
pra chegar aqui... A Duarte nunca quis falar nada. A Alê quando descobriu, pelas fotos dos jornais, que o
cara que sempre estava junto da mamãe era marido da Duarte procurou por ela pra confirmar o que ela
estava desconfiando que ele era seu pai. A Duarte tinha viajado e ela tratou de tirar a Alê de circulação.

Abgail em um ato de desespero se ajoelhou no chão outra vez.

- Minha filha, você tem que entender que eu fiz isso pensando em você! – Implorou a Nat que fez um gesto
negativo. – Eu errei em te abandonar, mas depois, Nat eu me redimi, eu fui a melhor mãe que eu pude pra
você, eu... Eu amo você de verdade... Nat, você é a única lembrança que eu tenho do homem que eu amei de
verdade, por favor, eu...

- Você é uma assassina! Um monstro! – Nat acusou. - Uma pedra de gelo de tão fria! – Com asco. –
COVARDE!

- Meu amor... Não fala assim comigo... Eu amo você! EU SOU TUA MÃE! - Fez uma pausa. - Nat, você
não sabe o que sentir pressão de...

- EU NÃO SEI O QUE É PRESSÃO? - Nat perguntou indignada aos choros.- VÁ SE FUDER! VÁ SE
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

FUDER! - Deixou as lágrimas cairem.- Eu te odeio! EU ODEIO VOCÊ! VOCÊ NÃO É MINHA MÃE,
VOCÊ NÃO É MÃE DE NINGUÉM VOCÊ NÃO É NADA, SABE POR QUE? PORQUE VOCÊ É
SECA! MÃE NÃO É QUEM GERA, MÃE NÃO É QUEM CRIA... MÃE É QUEM DA AMOR E
AMOR É ALGO QUE VOCÊ É INCAPAZ DE DAR POR QUE VOCÊ NÃO TEM! VOCÊ NÃO TEM
IDEIA O INFERNO QUE É SER SUA FILHA, MEU DEUS COMO EU TE ODEIO! - Bruno, Júlia,
Duarte e a própria Abgail encararam Nat com surpresa. – Eu vivi minha vida inteira acorrentada em você, em
uma prisão, sempre fazendo suas vontades! Você jogava minha adoção como um favor eterno! Em troca eu
tinha que te dar perfeição! É como ser filha de uma máquina. – Endureceu a voz, usou o mesmo tom que
Abgail falava. – NATÁLIA, VOCÊ TEM QUE SER A NÚMERO UM! EU NÃO TOLERO QUE VOCÊ
SEJA UMA PERDEDORA! TEM QUE SER A MELHOR! SÓ INTENÇÃO NÃO CONTA! VENÇA!
VENÇA! VENÇA! – Chorando. – Sua filha de uma puta!

Abgail abriu a boca assustada. Bruno também se acomodou ao lado da irmã. Nat ainda tinha o que falar:

-Por causa da minha gratidão a você eu cheguei no ponto mais baixo da minha vida! – Envergonhada. – Você
tem ideia como eu me senti quando menti pra minha irmã que era ela que estava no volante e não você quando
a mulher e o filho dela morreram? Sabe o que eu passava comigo esses dez anos? – Seus olhos estavam cheio
de lágrimas. – Eu só conseguia pensar na dor que a minha irmã sentia! – Fez um gesto negativo. – E no filho
dela que perdeu toda a família... E na dor que esse menino que eu tanto amo carregava nos olhos causada em
parte por culpa minha... – Baixou a cabeça. – Talvez tudo pudesse ser diferente... Tudo culpa sua! Eu passei
meus últimos dez anos carregando a culpa que eu estraguei a vida da irmã. - Júlia encarou Nat emocionada. -
Como pedir desculpa por uma coisa dessas?

- Nat...

- Quando eu me acidentei, ás vezes, eu queria que minhas mãos não parassem de tremer nunca mais só pra
você entender que eu não sou perfeita e entao... vocêteria que me esquecer e finalmente eu viveria em paz... –
Bruno e Júlia logo perceberam que havia algo errado com Nat. Ela colocou a mão sobre a barriga. –
AAAAII! AIII!

Júlia correu para socorrê-la e Bruno chamou a ambulância. Em poucos minutos o resgate chegava para
buscar Nat e logo diagnosticaram que estava com a pressão alta. Júlia desceu acompanhada de Duarte e nos
encontramos lá fora. O resgate já tinha ido. Percebi o sofrimento em seus olhos e deixei que ela me abraçasse.
Duarte nos deixou a sós. Julia, aos poucos me contava toda a conversa la de cima e no final de seu relato ela
me abracou. Não fugi do seu abraço, Pelo contrário, deixei que meus braços envolvessem seu pescoço e ela
descansou o queixo sobre meus ombros. Chorava baixinho, de um jeito que me machucava a ponto de eu
também começar a lacrimejar por conta de seu sofrimento.

Quem era eu pra dizer que não éramos uma só? Esqueci qualquer dor que eu sentia para dar lugar a sua dor.
A apertei ainda mais entre meus braços. Movi meu rosto delicadamente e procurei seus olhos.

Aquele olhar que trocamos cheio de cumplicidade, de carinho, desejo entre outros bons sentimentos fez
minha consciência me perguntar: Alice, o que te importa mais nessa vida além do amor dessa menina? E eu
com uma assustadora certeza respondi: Nada mais, consciência, nada mais... Eu quero que o mundo se
exploda se eu não tiver essa menina! As mãos de Júlia tocaram meu rosto com suavidade e lentamente enchi
seu rosto de beijos sem me preocupar em encontrar seus lábios, só queria sentir sua pele, seu cheiro, sua
temperatura... Sequei uma lágrima que caia de seu rosto.

- Não fica assim... –Murmurei, nossos lábios se tocaram de forma doce. - Eu gosto de te ver bem...
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- Você é que me faz ficar bem...

Ela encaixou sua boca na minha da maneira mais envolvente que poderia existir. Não sei se passaram dois
minutos, duas horas ou vinte anos. Só sei que despertamos daquele beijo quando ouvimos a voz de bruxa de
Abgail chamando por Júlia. Com pesar retirei minha língua de sua boca e abri meus olhos. Ela estava
acompanhada de Gabriel. Não vou esconder que meu orgulho foi lá em cima quando vi a vaca da minha sogra
algemada. Era para ela apenas ser interrogada sobre o caso, mas como desrespeitou Gabriel foi presa. Eu dei
minha mão a Júlia

- Olha aqui, sua vaca, você acha que venceu essa, mas se acontecer alguma coisa com a minha filha eu juro
que acabo com você e...

- A senhora cala essa boca! – Eu respondi com uma firmeza que surpreendeu Gabriel e a própria Júlia. – A
senhora perdeu, foi derrotada, sua máscara caiu! Vai viver sua vida miserável e deixa a minha mulher e eu em
paz... - Ela fechou o cenho. – E eu juro que se a senhora fizer a Júlia sofre mais uma vez sou eu que vou
acabar com a senhora!

Se ela não estivesse algemada acho que teria partido para cima de mim. Gabriel deu um meio sorriso e guiou a
bruaca até a viatura policial e partiu com eles. Ficamos a sós de novo. Júlia me encarou e trocamos um meio
sorriso, ela então me perguntou:

- Minha mulher?

Baixei a cabeça.

- Eu queria pelo menos tentar de novo. – Júlia abriu um sorriso animada. – Mas vamos começar do zero, sem
planos... Tem que ser devagar. Eu quero voltar a confiar em você...

- Mas se a gente começar do zero... E se você não gostar?

- É um risco que a gente vai correr... Me mostra quem você é...

Ela fez um gesto afirmativo, me jogou um olhar misterioso. Júlia olhou em volta, viu um jardim com alguns
crisântemos lindos devido à primavera. Agachou e roubou uns três de diferentes cores, voltou-se para mim e
fez um gesto afirmativo.

- Aceito o risco. Começar do zero. – Com um jeito sapeca estendeu sua mão. – Prazer... – A encarei sem
entender. – Meu nome é Júlia, Júlia Franco... O seu é?

Com uma expressão séria resolvi entrar na brincadeira e apertei sua mão como se realmente nos
conhecêssemos aquela hora.

- Alice...

- Alice... Que nome lindo... Tudo bem?

Sorri com a cara de pau da Júlia.

- Tudo bem.

- Eu estava de longe assim... Te paquerando e fiquei com vontade de te conhecer melhor... – Estendeu as
flores. – Olha, são pra você...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Muito obrigada.

Quando nossas mãos se tocaram na hora em que eu fui pegar os crisântemos ela espertamente me puxou para
mais um beijo que me desestruturou por completa , leu e atendeu a todo meu desejo. MEU DEUS QUE
PEGADA, MARAVILHOSA! Dessas que da vontade de ficar Trocamos um sorriso não só com a boca,
mas também com os olhos e murmurei em um tom leve de bronca só para brincar com ela:

- Júlia...

- Ué, você não pediu para eu mostrar que eu era? – Ela brincou.

Me derreti por completa. Apesar de ter vontade de passar a noite namorando, prevalecemos o bom senso e
fomos para o hospital ver como estava Nat. Como ela não saia nunca de lá e Júlia já estava agitada sugeri que
fossemos descansar no quartinho de plantão e pegamos no sono. Depois que Bruno saiu de lá me acomodei
melhor na cama e abracei as costas da minha namorada. Acordei de manhã com ela enchendo meu rosto de
beijos. Sorri com aquele gesto de carinho e beijei seus lábios. Quando nos separamos ela ainda confessou:

- Achei que eu estava sonhando que estava no seu colo.

- E eu achei que estava sonhando quando acordei com você me beijando... – Trocamos mais um beijo. –
Linda!

Uma pena não poder ficar mais tempo ali. Eu tinha que ir pra casa ver minha filha e Júlia falar com a avó. Nat
passou a noite com Gabriel e ele a levou pra casa de manhã para o despeito de Silvinha. Por Gabriel eu soube
que na delegacia o depoimento de Abgail pegou fogo. Ela não aceitou nenhuma das acusações, apenas
afirmou que tinha um “affair” com Serginho e ainda fez questão de culpa-lo.

- Esse menino só pode estar desequilibrado. Não diz coisa com coisa. Eu desconheço todas essas acusações.
– Abgail afirmou. – Saímos algumas poucas vezes, mas não tínhamos compromisso nenhum. Que interesse eu
teria na morte de dois jovens? – Ela perguntou. Gabriel fechou o cenho irritado. O investigador o
acompanhava. – Com que intuito?

- Dona Abgail limite-se a responder as perguntas que EU faço! – Gabriel rosnou. – Da onde a senhora
conhecia Paulo Sérgio Farias de Souza?

- Eu já respondi, saímos pouquíssimas vezes, mas não significa que sou cúmplice de um assassinato que ele
executou sei lá por qual motivo. – Fez uma pausa. – É uma injustiça o que vocês estão fazendo comigo! Eu
tenho moradia fixa, nenhum antecedente criminal... Eu senti falta de algumas joias depois que conheci o
Sergio, eu também fui vítima desse criminoso.

O que Abgail não imaginava é que a porta da sala de Gabriel estava encostada. Muito menos que Rebeca
acabava de sair da visita a Serginho. Ele esperaria o julgamento preso. Ainda muito abalada, Rebeca seguiu
para a sala de Gabriel a fim de agradecer por ter liberado a visita em hora imprópria e ouviu a falsa acusação
de Abgail. Revoltada por conta do destino do irmão, de encontra-lo todo maltratado e com a cabeça quente,
Rebeca não pensou duas vezes e avançou para cima de Abgail feito uma leoa. Gabriel e o outro investigador
seguraram Rebeca, mas não sem antes ela dar duas belas bordoadas no rosto de Abgail que perdeu as
estribeiras de vez e xingava até a décima quinta geração da família de Rebeca. Minha amiga não se intimidou:

- SUA CACHORRA! ELE NÃO ERROU SOZINHO! ERA SEU CUMPLICE! VOCÊ VAI PAGAR
TUDO QUE MEU IRMÃO PAGAR! E NO SEU CASO MINHA QUERIDA, É BEM PIOR, LÁ
DENTRO ELAS SÃO TODAS MÃES, SUA COBRA. – Rebeca fez um gesto negativo. – COBRA NÃO

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PORQUE ATÉ AS COBRAS SÃO MÃES! VOCÊ VAI VER QUAL VAI SER SEU FIM QUANDO
DESCOBRIREM O QUE VOCÊ JOGOU SUA PRÓPRIA FILHA NO LIXO!

- TIRA ELA DAQUI! – Abgail rosnou histérica. – TIRA ESSA MENINA DAQUI!

Desde que Dona Abgail foi presa se passaram duas semanas. Bruno era a única a visita-la tirando seu
advogado. E nem por isso ela o tratava bem. Pelo contrário. O que Bruno notou é que ela havia sido
maltratada por suas colegas de cela. Ele esperou os hematomas de Abgail sararem para levar a avó na visita.
Foi de doer o coração ver Don Regina sair daquela penitenciária com uma expressão de dor no rosto e
comentar.

- Eu não reconheço... Eu criei um monstro... Que porcaria de mãe eu fui ser que não vi que minha filha havia
se transformado nesse monstro.

Nessas duas semanas Júlia e eu n os encontrávamos sempre, ficávamos namorando, mas escolhemos levar as
coisas devagar. Nada de planos de morar junto como antes. Eu estava me sentindo bem e feliz ao lado dela,
só não mais feliz pois ela não havia desistido do emprego no Pantanal e eu não tinha coragem de pedir para
que ela desistisse por conta de algo que estava “começando”. Faltava uma semana para a audiência com
Pedro Henrique começar e eu estava cada dia mais nervosa por causa da minha filha.

Nat e Rebeca, as mais abaladas com a prisão de Serginho e Abgail tentavam retomar suas vidas, mas era
visível a tristeza das duas. Bruno estava sendo um marido exemplar e não cobrava muita coisa de Rebeca. Já
Nat agarrou na mão salvadora de Diná que ao saber da história toda achou que era boa hora de lhe revelar
sua irmã desconhecida. Ela veio toda contente me contar no hospital:

- Alice, eu tenho uma irmã e um sobrinho... Eles querem me conhecer...

Eu morri de felicidade por ela. Só não podia ser maior porque ela e a cabeça dura da outra irmã dela, Júlia
ainda não haviam feito as pazes de maneira correta. Ela não terminou o noivado com o Gabriel como havia
prometido e tampouco o não desistiu de Silvinha. Minha prima agora vivia murmurando pelos cantos.

- Se a Nat não terminar esse noivado amanhã eu vou até a mãe de santo e amarro a vida dela.

A Silvinha encheu tanto o saco com essa história de mãe de santo que eu com a Isa e a Paula resolvemos ir
com ela pra conhecer o lugar. Resultado: Assim que a mulher incorporou, Silvinha foi a primeira a sair
correndo de medo e eu com a Isa que tivemos que ficar ali com a uma mulher jogando uma fumaça fedorenta
na nossa cara. Falando em Isa, essa andava o ser mais intragável, apaixonado, com dor de cotovelo e cabeça
dura do mundo, ou seja, tudo estava em seu devido lugar. A calmaria se foi em uma tarde de sexta feira que
parecia até tranquila.

Cíntia voltava de uma reunião com diretores de seu antigo seu clube. Ela estava decidida a não voltar a jogar
devido ao ritmo, idade, saúde, mas continuaria trabalhando no clube como treinadora da equipe feminina de
vôlei sub 15. Ela entrou no prédio com um sorriso nos lábios, doida para contar a novidade a Isa e as outras
meninas. Tirou a chave da mochila, antes de enfiar a chave na fechadura escutou alguém chamar por seu
nome.

- Cíntia! - Reconheceu a voz na primeira e torceu para estar errada. Ela já sabia que ele havia sido preso
como cúmplice do assassinato de Alê e como assassino de Fumaça. Desejou nunca mais ver seu rosto, mas
tinha certeza que só poderia ser a voz dele. – E ai gatinha, como vai? – Serginho perguntou se colocando na

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

frente de Cíntia e impedindo sua passagem. Seu cabelo havia sido raspado. Estava com hematomas no rosto
e usava o uniforme amarelo e branco de presidiário. Suas pernas não paravam de tremer e as costas
congelaram de medo. Ameaçou a gritar, Serginho mais rápido tapou sua boca com a mão e jogou o braço
dela para trás. Deu uma gravata impedindo todo o movimento de seu pescoço. Torceu o braço de Cíntia. –
Você não vai gritar... Só quero que me ajude a fugir... Cadê as chaves do carro da Alê?

Cíntia tentou murmurar qualquer coisa.

- OWW! – Os dois se viraram surpresas. Isa acabava de chegar do hospital. Viu a cena e correu em jogar a
bolsa para o lado pronta para atacar Serginho. – LARGA ELA AGORA! O GABRIEL TÁ EM CASA! EM
DOIS MINUTOS VOCÊ VOLTA PARA A CADEIA!

Ele não se intimidou, sacou a arma da cintura. Isa abriu a boca desesperada.

- Se ele esta em casa, é melhor calar a boca... – Colocou a arma na cabeça de Cíntia. – Quer arriscar?

E congela na coitada da Cíntia trabalhada no desespero

End Notes:

Até o próximo capitulo dessa reta final ;)

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Capítulo 67 by Tamaracae

Author's Notes:

Oi meninas, reta final, sei que estou em falta nos coments, mas vou responder, mais
um cap pra vc!!!

Músicas do cap:

Sei - Nando Reis https://www.youtube.com/watch?v=oQdAVTK_IaI

Por Enquanto - Cássia Eller https://www.youtube.com/watch?v=lYfq5vARrVw

- Você o que? – Serginho perguntou. Uma única gota de suor escorreu por sua testa, os dentes cerrados. –
O que disse?

- Deixa eu trocar de lugar com ela. – Isa reafirmou. Sua voz saiu em tom de súplica. – Eu vou ao lugar da
Cíntia! Me deixa ir...

Imobilizada pelo braço musculoso de Serginho, Cíntia não conseguia falar nem fazer um movimento negativo
com a cabeça para impedir Isa de por em pratica aquela ideia maluca. O único gesto que ainda seu controle
era apenas olhar. Procurou pelos olhos de Isa e rezou para que ela lesse e interpretasse certo sua mensagem.
A mandíbula de Isa parecia tremer. Os olhos verdes e sempre tão gélidos havia uma pequena luz. Isa fez um
gesto negativo e reafirmou.

- Eu vou no lugar dela!

“Todos homens têm medo. Quem não tem medo não é normal, e isso não tem nada ver com ser corajoso”.
Acho que nessas poucas palavras de Sartre consigo encontrar alguma explicação para o louco desfecho que
ocorreu naquela garagem. Não creio que foi a coragem que guiou Isa a dar um passo à frente. Como também
não acredito que foi a coragem que fez Serginho tirar a arma da cabeça de Cíntia e apontar para Isa. E nem
foi à coragem que fez Isa aproveitar o um segundo de vacilo do irmão de Rebeca e puxar o braço dele e os
dois se embolarem, Isa ainda empurrou Cíntia para longe e forçou o dedo de Serginho para puxar o gatilho
para o alto.

- NÃOOOOOOOOOOOOO! – Cintia gritou levando as mãos a boca. A respiração dos três estava forte e
descompassada. – ISA?

Medo. A atitude Isa foi movida por seu medo. Quando somos crianças, nosso medo do escuro que nos guia
até o quarto dos pais ou ao interruptor. O medo de perder Cíntia que fez Isa puxar o revolver para si. O
disparo que Isa forçou para o alto foi proposital. Era o aviso que precisava dar a Gabriel. Felizmente não feriu
ninguém. Gabriel, de cabelos molhados e sem camisa, característica de quem havia sido retirado debaixo do
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

chuveiro surgiu na janela. Só pegou a arma e se enrolou na toalha. Instintivamente sacou e direção de
Serginho.

- SERGINHO, NÃO FAZ UMA BESTEIRA! PARADO AI!

Em resposta Serginho deu um tiro na direção de Gabriel. Sorte que ele estava nervoso demais e a bala pegou
no braço esquerdo, o bom de Gabriel, ele era canhoto. Gabriel só não atirou de volta, pois acertaria Isa. Em
segundos Isa tomou a chave das mãos de Cíntia, Serginho a enfiou na direção do carro e com a arma
apontada para sua cabeça, ele tomou o banco carona e deu as ordens.

- Pega estrada em direção a Ribeirão Preto, não para em sinal, não tenta uma gracinha! – Isa manobrou o
carro em direção ao portão de saída da garagem com mestria. Gabriel com o braço ensanguentado descia só
de bermuda e camiseta com a arma na mão. – METE O PÉ, VÁDIA! METE O PÉ!

Isa obedeceu sem pestanejar e ganhou a rua. Quase atropelou uma senhora que levava seu netinho
uniformizado para escola, passou pelo sinal vermelho e dobrou a esquina. No prédio Cíntia socorria Gabriel.
Rasgou o próprio casaco e obedeceu as ordens dele de amarrar em torno do ferimento. Gabriel deu ordens e
explicações à polícia rodoviária e o alerta para seus homens irem atrás do elemento. Depois chegou sua vez
de perseguir o fugitivo.

- Gabriel, mas você levou um tiro...

- Foi de raspão, não é nada! – Ele garantiu. – Eu vou trazer a Isa de volta!

- Por favor...

Ingrid chegou ao prédio e ainda teve tempo de ver Gabriel sair com a moto visivelmente transtornado. Ao ver
Cíntia caída no chão, abalada e envolvida em um choro compulsivo, Ingrid correu para acudi-la.

- Calma, Cíntia... O que foi? Que...

- A Isa... – Horrorizada. – Alguém tem que salvar a Isa...

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O Corsa preto de Alessandra virou a esquina da rua que ligava o centro da cidade a rodovia Anhanguera que
ligava Silvéster a Ribeirão Preto. Na verdade Isa ainda teria que dirigir com o revolver na lateral de seu rosto,
na altura dos olhos por mais ou menos umas três horas. As mãos seguravam o volante com força. Os dois
estavam em silêncio. Isa, preocupada, sabia que há poucos quilômetros dali iriam se deparar com a primeira
blitz. Como não iam parar, os policiais perseguiriam os dois e seria obrigada a agir sob pressão. Deu duas
piscadelas.

- OW, VAGABUNDA, TA DORMINDO?

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- Peguei plantão hoje, passei a noite trabalhando.

- Problema seu, vai me levar até Ribeirão! – Serginho ligou o CD Player do carro. O CD era o ultimo que
Alessandra havia escutado. Música clássica. – Era prego mesmo! Vê se essa merda é música? – Isa não
respondeu, Serginho olhou para o lado e percebeu que sua motorista não tirava os olhos da estrada, mas a
cabeça devia estar longe. De fato não era em sua sobrevivência que Isa pensava. Serginho sorriu. –Cara, uma
coisa que eu nunca vou entender é as mulheres... – Isa arqueou um das sobrancelhas, Serginho fez um gesto
negativo. – A Cíntia, cara? – Isa apertou a boca. – Aposto que você estava pensando nela agora, não estava?

Nem o gelado cabo do revolver rente a sua pele incomodou tanto Isa quanto aquela pergunta. E Por quê?
Porque Serginho estava incontestavelmente certo e sua suposição. Era em Cíntia que ela pensava. No beijo
que nunca lhe deu. Na briga de amor que não causou. Na declaração que provavelmente não falaria. Medo
de ser rejeitada, de acabar com amizade, de se machucar. Medo, medo,medo... Olha onde seu medo havia
lhe levado. A voz zombeteira de Serginho a chamou para realidade de novo.

- Acertei, né? A Cíntia, quem diria, quem...

- QUER CALAR A BOCA? – Isa explodiu. – ME DEIXA CALADA... – Apontou com o queixo para
frente. – Você tem muito mais o que se preocupar...

Poucos menos de meio quilômetro dos dois havia três policiais armados. Paravam todos os carros e motos da
fila. Era a famosa peneira. Há poucos metros, Gabriel costurava com a moto entre os carros. O trânsito das
seis da tarde começava a atrapalhar a perseguição da policia. Gabriel varreu com os olhos e localizou o carro
de Alessandra bem à frente. Pegou o rádio no bolso da bermuda e deu o aviso.

- Eles estão em um Corsa preto, placa LAD-0345.

- Ok, delegado! Pode deixar com a gente.

- Ok, desligo!

Gabriel ia guardar o celular, mas sentiu ele tremer, olhou no visor. Isa. Atendeu.

- Isa, diz o que ele quer!

- Caminho aberto. – Serginho disse. Gabriel notou que ele estava apreensivo. – ABRE A MERDA DESSA
ESTRADA OU EU ATIRO NESSA VAGABUNDA!

- Você esta cercado! – Gabriel garantiu. – Você só tem quatro balas! ENCOSTA E SE ENTREGA,
GAROTO! VAI SER MELHOR PRA VOCÊ!

Serginho fez um gesto negativo. Aproveitou que o carro estava parado, torceu o braço de Isa com
brutalidade. Ela soltou um urro de dor e o celular foi posto em sua boca com violência.

- GABRIEL, ABRE A ESTRADA! ELE QUER SEGUIR ATÉ RIBEIRÃO, LÁ ELE ME SOLTA! –
Serginho forçou o braço de Isa. – NÃO TEM NEGOCIAÇÃO!

O celular foi desligado. Gabriel, irado soltou um palavrão. Serginho não estava mais em sua jurisdição após
ser transferido para a penitenciária. O diretor da penitenciária que devia responder por sua fuga, mas sabia
que se algo acontecesse com a refém, seria o primeiro a ser condenado pela imprensa, pelos civis. Cada dia

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estava mais inconformado com seu trabalho como delegado. Voltou a ligar para o posto rodoviário.

- Eu preciso dessa estrada limpa. Ele é perigoso e esta com uma refém! RÁPIDO!

Naquela sexta feira eu não precisei ir para o Alonso Franco pois tinha virado dois plantões em uma mesma
semana. Passei o dia todo com minha filha, à casa vazia. Heleninha só resolveu dormir lá pelas quatro horas
da tarde. Depois que deitei ela no berço, fui estudar um pouco sobre um caso de um menininho que eu estava
cuidando. Acordei com os óculos de grau tortos no meu rosto, minha cabeça debruçada sobre a mesa e Júlia
com os lábios sobre meu pescoço. Tombei para o lado com uma expressão satisfeita no rosto, ela sorriu para
mim.

- A porta estava encostada, eu vi pela janela que você estava dormindo... Tão lindinha... – Me confessou. –
Não resisti...

Fiz um carinho em seu rosto e trocamos um beijo lento. Quando nos separamos enlacei meus braços em seu
pescoço para manter aquele contato gostoso. Ela me deu um selinho.

- Eu que não vou resistir a você vestida assim... – Ela usava um vestidinho claro, leve que ilustravam suas
curvas. Saudade de você... Agora vive ocupada naquele hospital, com trabalho...

- Eu, né? – Júlia me devolveu. – Dormindo ai em cima dos livros. – Tirou meus óculos. – Hoje é dia de folga,
moça, sabe o que significa folga? Esquece um pouco isso... – Fizemos uma pausa e ela sugeriu. – Vamos sair,
um pouco? Dar uma volta, passear...

Sorri e dei um beijo em sua boca, ela deu uma mordida de leve.

- Cachorrinha gostosa... Vamos sim...

- Então eu vou tomar banho aqui pra gente sair – Júlia me perguntou. Me deu mais um beijo e se levantou. –
O João esta lá em casa com o Lasanha...

- Pode... – Mais beijos. – Eu vou juntar esses livros ai a gente vê pra onde vai... Tem toalha, o que você
precisar lá no banheiro. Trocamos outro beijo e ela foi em direção ao meu quarto. Comecei a juntar meus
livros. Passaram-se alguns segundos. - AMOOOOOOOR...

Júlia botou a cabeça para fora do quarto.

- Oi?

- Quero tomar banho junto... – Fiz cara de menina pidona. Ela abriu um sorriso safado, nossos olhares se
cruzaram. Com uma voz manhosa murmurei. – Preguiça de levantar...

Ela saiu do quarto enrolada em uma toalha branca provocando milhares de ideias recheadas de más intenções.
Nossos olhares se cruzaram, ela chegou até a mesa e me puxou pela cintura. Deixei escapar um gemido de
prazer. Entrelacei minhas pernas em sua cintura.

- Tá cada vez mais mal acostumada... Gostosa!

- Delícia!

Nosso caminho para o banheiro foi uma intensa troca de beijos e carinhos. Nossas línguas já familiarizadas se
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procuraram e uma de suas mãos se desfez de minha blusa. Ela voltou a me beijar de modo mais doce,
molhado e cheio de desejo que a primeira vez, retribui apaixonada. Por uma fração de segundos deixei meus
lábios escorrerem por sua pele, lambi o queixo e tomei seu pescoço. Seus lábios reproduziram um gemido que
pareciam a mais bela trilha sonora que ouvi na vida.

- Isso, linda... Geme gostoso pra mim... – Entramos no banheiro. Júlia trancou a porta e eu aproveitei para
desaparecer com sua toalha. Meu short de ficar em casa foi ao chão. Retirei meu próprio sutiã e ficamos
completamente nuas. Outra vez trocamos olhares e ela parecia sorrir com os olhos. Minha pele se eriçou sem
que ela me tocasse. – Você é tão linda...

- Eu acho você mais... Minha loirinha, maravilhosa... - Seus olhos, cheios de apetite, percorreram meu corpo.
Meu sexo deu um sinal de vida. Júlia me virou de frente para o espelho da pia, abraçou-me por trás e senti
seu pelos pubianos raspados entrarem e atrito com minha pele. O bico dos seios durinhos tocaram minhas
costas. Suas mãos tocaram meu busto e começaram a me massagear. – Toda tão certa... – Júlia tocou a
curva do meu ombro com a boca. A língua percorreu até alcançar minha garganta. Beijou meu pescoço, ela
mordeu minha orelha. – Tão gostosa... – Só tem um problema, esta com muita roupa...

Com suavidade, Júlia beijou minhas costas, retirou meu sutiã, me virei de frente a ela e beijei sua boca com
fome, minhas mãos tocaram suas costas com urgência e a guiei para o box. Júlia abriu o registro do chuveiro e
entramos embaixo da água.

Minha mão desceu de suas costas até alcançar a curva de suas nádegas. De troco ela em encurralou contra a
parede gelada causando a deliciosa sensação de quente e frio sobre minha pele. Foi quase quarenta minutos
fazendo amor naquele banheiro. Eu que fechei a torneira do chuveiro e enrolei nós duas em uma única toalha e
seguimos para o quarto. Já tínhamos gozado no chuveiro, mas queríamos fazer mais amor. Ela se sentou na
cama, eu me sentei em seu colo, Júlia tomava meus seios, minhas mãos pressionava sua cabeça contra meu
corpo e seus dedos me penetravam de maneira indescritível de tão gostosa.

- Você esta tão molhada... – Ela me confessou rapidamente antes de voltar a envolver meus seios em seus
lábios. – Tão gostosa...

- Você que faz gostoso... – Minha boca tomou seus lábios com sesualidade. Deixei um gemido escapar de
minha boca. Júlia, safada, logicamente adorou. Ela ainda murmurou algo em meu ouvido, mas eu estava
estonteada demais para entender.

Depois de um frenesi de carícias, de gozo e de “fazer amor”, tombamos exaustas. Ela deitada com a cabeça
sobre meu seio, eu fazia carinho em seus cabelos, mas Júlia não tinha sono, ela me provocava com um roçar
de lábios e beijos sobre meus mamilos. Minhas pernas se confundiam com as dela em cima da cama. Afaguei
seu rosto e ia convida-la para mais um beijo, entretanto meu celular não deixou concluir meus planos.

- Não atende não, amor... – Júlia me pediu. Ela desceu com os dedos de até minha virilha, soprou minha pele
e subiu até alcançar minha orelha. – Depois a gente vê quem é...

Só se eu fosse muito louca em parar de fazer amor com minha namorada para atender ao telefone. Procurei
os lábios de Júlia e os amassei em um beijo tórrido que percebi que mexeu com ela, quando consegui uma
abertura troquei nossas posições a deitei no colchão e me sentei sobre ela provocando um delicioso atrito em
nossas virilhas. Minha boca foi de encontro aos seus seios, mas novamente éramos interrompidas por um

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chamado externo, dessa vez era o telefone residencial. Júlia fez um sinal para que eu atendesse. Quando
insistiam assim geralmente era do hospital.

- Alô? – Minha respiração saiu entrecortada demais, era óbvio para a pessoa do outro lado da linha saber o
que eu estava fazendo. – Quem é?

- Sou eu, Alice, Gabriel... Eu preciso falar com você. – Pela seriedade e a discussão do Gabriel percebi que
algo grave tinha acontecido. Foi em um momento mais ameno com certeza ele perguntaria pelo estado da
minha voz se Júlia e eu estávamos transando. – Aconteceu uma coisa...

Pelo tom que ele usou previ tragédia. Ele começou a falar o que tinha acontecido e meu rosto se tornou um
semblante assustado. Júlia logo percebeu que era algo importante e parou querendo saber as novidades. Eu
transtornada com o que ouvi respondia sim, sim, sim, perguntei o estado de Isa, respondi mais uns sim e
finalizei com um “estamos indo ai agora” e desliguei o telefone ainda pasma com o rumo que as coisas haviam
tomado.

- Que aconteceu, Alice?

- O Serginho fugiu da penitenciaria que estava preso e apareceu lá no prédio das meninas querendo o carro
da Alê. A Isa foi de refém no carro, a polícia com os dois, aconteceu um acidente e... – Minha voz era
abafada pelas lágrimas. – O carro caiu de um penhasco! - Júlia abriu a boca horrorizada. - Um penhasco!

______________________________________________________________________

Quando chegamos no hospital com os meninos, João correu para junto de Bruno enquanto Heleninha
estendeu os braços querendo o colo da Rebeca. Eu não queria entregar Helena pra minha amiga porque
Rebeca chorava silenciosamente, mesmo assim ela fez questão de pegar Heleninha em seu colo.

- Vem Lelê, vem com a madrinha...

- Becca...

- Eu estou bem, Alice, só preciso ficar com minha afilhada... – Chorosa. – Eu estou bem... O Gabriel vai me
ligar e achar o Serginho, eu estou bem...

Nem preciso dizer que ela não estava bem. Depois de alguns segundos com Heleninha em seu colo,Rebeca
adormeceu no sofázinho da sala de espera do andar cirúrgico do Alonso Franco. Bruno nos explicou que deu
um calmante para Rebeca que entrou em desespero quando soube que o carro que Serginho e Isa estavam
caiu de um barranco. Enquanto as buscas procuravam pelo corpo de Serginho, nos esperávamos por Nat e
Douglas, especialista em ortopedista, sair do centro cirúrgico com notícias de Isa. Cíntia na sala de espera era
consolada por João e Ingrid. Júlia veio do jardim externo do Alonso Franco.

- Eu consegui avisar uma das irmãs da Isa. – Isa era a caçula de quatro mulheres. – Elas estão vindo. – Um
voo de Belo Horizonte, cidade natal de Isa, até Ribeirão Preto, aeroporto mais próximo, demoraria ainda
algum tempo. – Eu vou ver se consigo um táxi aéreo em alguma empresa, vou pedir pra Lisandra ver isso...

Júlia saiu e Cíntia veio se sentar ao meu lado.

- Eu não vou aguentar... Isso duas vezes não...

- Eu tenho certeza que a Nat e a Duarte estão fazendo o que podem e o que não podem para salvar a Isa. –
Segurei sua mão com firmeza. – Eu te garanto!
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Cíntia me enviou um sorriso triste.

- Cadê a Silvinha? Já ligaram no celular dela?

- E a surda ouve aquela porcaria? – Bruno retrucou. – Ligo e ninguém atende...

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- Mas a senhora tem certeza? - Silvinha perguntou a uma das noviças do convento da igreja. – Ela ainda não
desmarcou o casamento?

- Silvinha, eu não sei se é correto fazer isso... É pecado...

- Lolô, esqueceu de onde eu te conheci? Você me prometeu que ia falar tudo!

As duas estavam sentadas em um dos bancos da igreja semi vazia. O padre Chiquinho, um velhinho bonachão
com cara de Gepeto deu uma olhada desconfiada para as duas e voltou a atender seus fiéis. Vocês lembram
da Lolô? Era aquela amiga da Silvinha que apareceu na festa que o Bruno deu logo quando eu cheguei em
Silvéster. Lolô que apresentou a loira peituda para minha prima que me abandonou só e por causa disso
peguei a carona com a Nat e toda minha vida virou o rolo que vocês conhecem. Pois é, a Lolô da Silvinha, a
Lolô periguete de carteirinha há poucas semanas, após o término de um namoro tinha descoberto sua
vocação e abandonou a vida do crime para virar freira. Minha prima lógicamente usou o fato ao seu favor e
por Lolô descobria detalhes do casamento de sua noiva, Nat com Gabriel.

- Ela fechou com o decorador antes de ontem. – Silvinha fez uma careta. – Escolheu Azaleias pra colocar nos
corredores da igreja, já a música...

- A música vai ser um pagodão pra eu poder sambar em cima do caixão daquela cachorra! – Silvinha fez um
gesto negativo. – E as flores já uso no velório da desgraçada, pilantra que hoje eu vou matar a Natália! Devia
arrancar um dedo dela pra cada vez que a Nat me enrola. – Ia faltar dedo. - Ela me garantiu que ia romper
essa porcaria anteontem! – Rosnou. – Ô mulher que nasceu sem vergonha, viu... Nunca vi... Acredita que ela
ainda não esta falando com a Júlia por causa da Alice?– E nem a cabeça dura da Júlia, mesmo depois de
descobrir que era irmã de sangue de Nat, também não quis ir falar com a irmã. Nat argumentava que Júlia não
tinha o direito de ter se intrometido daquela forma e Júlia para não dar o braço a torcer também não
procurava por Nat. Duas cabeças de pedra! – Que inferno! – Lolô de olhos arregalados fez um sinal da cruz.
– Ai desculpa, amiga... Dá uma licença.

Silvinha saiu da igreja já decidida no que ia fazer. Agiria como uma mulher segura, madura e crescida que era.
Assim que encontrasse com Nat atacaria tudo que visse pela frente na cara dela, depois riscaria seu carro e
por ultimo ameaçaria tacar fogo no Alonso Franco caso Nat a enrolasse mais alguma vez. Ligou para o celular
da namorada e um homem lhe atendeu.

- Bruno?

- Ah finalmente... Apareceu a margarida...

- Margarida? Mas não foi Azaléia que a pilantra da sua irmã escolheu?

- QUE?

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-Esquece, me passa a Nat ai, quero falar com ela...

- Nat acabou de entrar no Centro Cirúrgico pra levar a Cíntia pra ver a Isa!

- A Isa? – Silvinha perguntou sem entender. – O que aconteceu com a Isa?

Bruno respirou fundo e então disse:

- A Isa sofreu um acidente de carro.

_____________________________________________________________________

- Ela... Ela sente alguma dor, ela...

- Ela esta dormindo. – Nat garantiu a Cíntia. – Ainda é o efeito da anestesia. – Cíntia olhou para o corpo de
Isa imóvel sobre a sala de recuperação lá dentro do centro cirúrgico. – Ela tem tudo para se recuperar bem...
Ela foi muito forte...

Não era comum e nem recomendável os amigos e parentes dos pacientes entrarem no centro cirúrgico, mas
Nat se viu obrigada a dar essa abertura a Cíntia devido ao seu estado nervoso. Com nossas roupas cirúrgicas
elas seguiram até a sala de recuperação. Isa tinha o estado de saúde estável, mas seu rosto continha um corte
devido a pancada que sofreu no acidente.

- E-Eu posso entrar?

- Dois minutos... – Nat autorizou. – Você não pode ficar muito tempo aqui. – Cíntia encarou Nat com medo.
– Não se preocupa, o susto foi grande, mas foi só susto. Pelo que a gente avaliou e pelo estado que ela
chegou aqui ela não teve traumatismo craniano, mas essa clavícula deu trabalho para meu ortopedista...

Cíntia sorriu contente.

- Só a Isa mesmo, depois de um acidente feio desses não rachar a cabeça. – Nat sorriu. – Ela acorda ainda
hoje?

- Provavelmente sim... Eu tenho que ir, não demora muito...

- Nat, não tenho como agradecer você, o ortopedista, eu...

Nat só fez um gesto negativo, fez um carinho no rosto de Cíntia.

- É o nosso trabalho! – Mesmo com a máscara na frente de seu rosto, Cíntia observou que Nat sorria. – Só
cuida dela direitinho...

- Pode deixar...

Cíntia observou Nat se afastar acompanhada de um residente e entrou na tal salinha de recuperação. Se Isa
estivesse acordada poderia ver uma pequena luzinha linda e poética que os olhos de Cíntia haviam se
transformado. Cíntia fez um carinho no rosto de Isa e murmurou um muito obrigado. Deitada na maca, Isa
parecia dormir, mas sua mente não conseguia se desligar por completo.
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Os ruídos da rodovia ainda não haviam saída de seus ouvidos misturado ao som da música que vinha do
rádio (para os mais curosos, tocava Anton Bruckner - Symphony no. 9 conducted by Jochum. 2. Scherzo.
Bewegt, lebhaft - Trio. Schnell).

. Talvez ainda conseguisse sentir o cabo do revolver rente em sua pele e as ordens de Serginho:

- SEGUE EM FRENTE, SEGUE EM FRENTE, PISA NESSA PORRA!

Gabriel fez o que Serginho havia pedido, abriu passagem para que fugisse. O que Serginho não contava é que
sua fuga chamasse a atenção de programas de TV e um helicóptero gravasse imagens sobre o caso. O tanque
do carro não ia aguentar por muito tempo aquela brincadeira de gato e rato. Gabriel estava logo atrás,
provavelmente negociaria por Isa. Isa tentou por duas fazer com que Serginho se entregasse, mas ele estava
irredutível. Encontraram uma outra estrada, esta dava para ver parte da água corrente do Rio Paulistinha que
ligava Silvéster a outras cidades do interior paulista e desaguava no rio Paraná. Serginho ordenou que pisasse
mais.

- ESTAMOS A CENTO E OITENTA! – Pulsada. – VOCÊ TÁ MALUCO?

- FODA-SE, PISA MAIS, PISA MAIS!

Os dois estavam muito nervosos e agitados. Em certo momento Serginho pressionou o cabo do revolver com
mais força, Isa já abalada deixou uma das mãos escaparem do volante. Tudo ficou de cabeça para baixo e
voltou ao ficarem normal, as imagens ficavam embaralhadas em sua cabeça, sentiu o corpo girar no ar outra
vez, olhou para o lado e seu rosto deparou com Serginho já desfalecido. Só teve tempo de soltar o cinto e
apertar o pino da porta do carro, no ultimo giro antes do carro cair pelo barranco tirou forças da onde não
tinha e saltou para terra firme. A última imagem que viu de Serginho foi dentro do veiculo descendo o barraco.
O carro caiu justamente na parte mais profunda do rio (25 metros), para um desacordado era a condenação à
morte.

Quando Gabriel chegou ao local estacionou a moto de qualquer jeito e correu ao encontro de Isa. Ela não
conseguia balbuciar coisa com coisa, sentiu uma forte pontada no ombro direito, mas o abalo psicológico de
ser submetida a toda violência era bem mais forte. Se agarrou com força na mão do vizinho e chorou, de dor,
de medo, de alívio. Depois de um tempo ouviu o socorro chegar, Gabriel parecia dar maiores detalhes a
equipe de busca de como encontrar Serginho. Na ambulância encontrou dois rostos conhecidos, Bruno que
veio lhe atender e Rebeca. Bruno lhe aplicou algo na veia que devia ser um calmante pois a imagem e as
pessoas foram ficando cada vez mais e mais distantes. Na ambulância ela ainda perguntou a ele.

- Cín- Cíntia?

- Esta bem! – Ele a tranquilizou. – Esta bem!

Adormeceu com Bruno segurando sua mão e os gritos de horror e choro compulsivo de Rebeca que acabava
de perder o irmão. Ainda de olhos fechados conseguiu murmurar:

- Cín-Cíntia...

Ainda na sala de recuperação, Cíntia sorriu ao ouvir seu nome. Infelizmente não poderia ficar ali por mais
tempo. Leandro, enviado por Nat dava o aviso que seu horário havia encerrado. Em um gesto delicado soltou
um suave beijo na mão boa de Isa e se foi.

- Cíntia...

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A estabilidade de Isa foi o grande consolo e presente que ficou para nós de todo aquele episódio. Ninguém
ficou feliz com o trágico fim de Serginho. Não que ele valesse grande coisa, mas Rebeca era uma irmã, amiga,
mulher, filha de ouro. Um dia após o acidente a equipe de resgate deu as atividades por encerradas. Uma
forte de chuva caiu de noite e atrapalhou ainda mais as buscas, mas ninguém tinha mais esperanças que
Serginho tivesse sobrevivido após o acidente. Gabriel foi o portador da triste notícia.

- Só sobrou isso. – Entregou a carteira de Serginho, não tinha documentos, só dinheiro e um bilhete de loteria.
– Gabriel nos explicou. – Viram ele pedindo dinheiro na lotérica antes de ir para o apartamento. Um mendigo
disse que um mulher deu dois reais e ele quis jogar.

- Ele sempre achou que a gente ia ganhar na sorte. – Fez um gesto negativo. – Ele queria uma casa com
piscina...

Os meus braços os primeiros a acalentarem Rebeca.

- Meu irmão... Meu irmão... – Suas mãos trêmulas seguravam fotos de Serginho ainda pequeno. Algumas
fotos dos dois juntos. Em uma das fotos Rebeca devia ter uns dez anos e Serginho cinco, os dois estavam na
beira de uma piscina. Ele era uma gracinha de criança, loirinho, os cabelos já compridos e sério, sempre sério.
Sorri para foto. Rebeca olhou e seus olhos voltavam a marejar. – O sonho do Serginho sempre foi ter uma
casa com piscina... – Limpou as lágrimas. Desde de criança.

Dona Sônia chegou no dia seguinte também muito abalada como era de se esperar. Vi mais fotos de Serginho
ainda e ouvi mais histórias.

- Não acredito que meu filho acabou assim... Ele era bonito, tinha boa saúde... Não pode ter acontecido
isso... – Acariciava umas medalhas que Serginho havia ganhado em campeonatos de natação quando criança
e na adolescência. – Não pode... A polícia tem que voltar a buscar ele, ele deve estar na água, com frio, com
fome...

Outra que insistia para a polícia encontrar Serginho era dona Abgail. Através de Bruno ela foi avisada sobre a
morte de Serginho.

- Aquele moleque fugiu com os meus euros! – Nem preciso dizer o nível de surtação da minha ex sogra. Para
se ter uma ideia ela estava tão torta das ideias que havia sido transferida para um presídio psiquiátrico. – A
Júlia ajudou ele a fugir com o s meus euros. – Sorriu ao lembrar de seu primeiro encontro com Serginho,
depois de passarem a noite juntos o encontrou no terraço do flat, nadando tranquilamente na piscina. –
Morreu afogado. – Deu uma risada. – Ele levou os meus euros! A Júlia ajudou ele a levar os meus euros.

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Uma semana se passou e Isa finalmente estava de alta hospitalar, mas teria que ficar afastada do trabalho
entre três e cinco meses. Depois de ter acordado e tomado plena consciência de tudo que havia acontecido,
Isa estava decidida a não deixar Cíntia escapar. Não tinha certeza se o que sentia era recíproco, se Cíntia se
afastaria, não tinha certeza de nada, mas não deixaria aquele assunto para depois.

Cíntia não desgrudou dela nesse tempo de hospital. O problema era que Ingrid não desgrudava de Cíntia. E
Elza, Lúcia e Laura, irmãs de Isa também não largavam Isa para nada. As irmãs da Isa eram bem engraçadas
mais velhas que ela. Elza tinha 43, Lúcia 40 e Laurinha 38, Isa era dez anos mais jovem que Laurinha. Elza
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

por ser mais velha tinha aquele jeitão de mãezona, cuidava de tudo, era amiga e confidente. Lúcia mentia que
tinha 36 anos e gostava de signos, ler cartas, runas, astros... Loucona mesmo, já Laurinha era toda avoada,
distraída , uma criançona. A mãe de Isa já havia morrido, mas parecia que ela tinha três mães.

- Eu já contei pra vocês o apelido da Isa quando era pequena? – Laurinha começou. Isa fez uma careta. –
Lembra Izinha quando a mamãe te chamava de...

- Não fala.

- Fofão... – Lúcia entregou. Isa fez sua típica cara de limão azedo. Cíntia, Ingrid, Júlia e eu caímos na
gargalhada. Ela ainda ganhou um apertão nas bochechas para seu desagrado. – Ainda continua fofa! – Virou-
se para Elza. – Lembra como era enjoada pra comer?

- Feijão só o caldinho, leite com nada, nem pensar, verdura, nenhuma. Por ela é só bife com batata frita,
batata frita e bife. – Elza nos contou. – Mirrada, a mamãe fechava no quarto e dizia que ela só ia sair quando
comesse, o que a Isa fazia, enfiava toda comida nos sapatos do meu pai dentro do guarda roupa e dizia que
comeu... Danada...

Cada travessura da Isa nos rendia boas gargalhadas. Ela fazia cara feia, mas no fundo se dava bem com as
três. Tanto é que Lucia e Laurinha que lhe deram incentivo:

- Mostra pra ela o que você sente... Deixa de ser essa pedra do gelo... – Lúcia lhe disse. – Aproveita que
Netuno entrou no seu signo hoje. – Isa encarou com de “E daí?” – Ai, Isa, se declara e pronto!

- Diz que você morre sem ela...

E Elza deu o toque final na produção das irmãs, quando Cíntia chegou em casa sugeriu todas descerem para
tomar sorvete. Silvinha lógico que foi na onda das irmãs assim como Rebeca e eu. Quando Ingrid ameaçou
ficar foi puxada por uma insistente Lúcia e assim Cíntia e Isa finalmente puderam usufruir uma da companhia
da outra. Cíntia veio da cozinha com um copo d’água para Isa tomar o remédio para calcificação dos ossos.

- Engraçado... Como isso é bom...

-O que?

- Silêncio. – Cíntia sorriu. – Raro nessa casa, não é? – Cíntia fez um gesto afirmativo. – Com minhas irmãs
então. – Isa deu uma risada. – Tanto blá, blá, blá de mulher...

- Elas são adoráveis...

- Então, esse olho ai, meu preocupado é com o que? Elas não estão te incomodando?

Cíntia se sentou no sofá ao lado de Isa.

- Nem um pouco! -Cíntia afirmou. – É outra coisa, é que...

- Tudo bem entre você e a tua amiguinha?

- Não sei se a Ingrid é mais minha amiguinha. – Cíntia sentiu seu rosto se ruborizar. – Ela... Ela quer que eu
viaje com ela... - Fez uma pausa. – Ela quer que a gente viaje como namoradas...

Sem pensar Isa ordenou com precisão.

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- Você não pode viajar com ela...

- Não viajar com ela? – Cíntia perguntou. Isa um tanto confusa como falar aquilo. – Por que não devo viajar
com ela?

- Você não pode viajar com ela... – Cíntia a encarou esperando alguma justificativa. Isa deixou que seus olhos
se encontrassem com o dela. – Porque...

- Por que?

- Porque...

Sabe, quando a gente tem vontade de encontrar


A novidade de uma pessoa
Quando o tempo passa rápido
Quando você está ao lado dessa pessoa
Quando dá vontade de ficar nos laços dela
E nunca mais sair…

As duas estavam muito próximas no sofá de dois lugares. Os lhos de Cíntia esperavam por uma resposta e
seus rosados lábios eram o incitamento que faltava para ter coragem. Se não conseguia usar as palavras para
se explicar, se viu obrigada a caprichar na atitude. Aproximou seus lábios de Cíntia, desenharam o beijo no ar
e Cíntia sentiu a mão livre de Isa puxar seu pescoço e a boca roubar um beijo recheado de carinho e sutileza,
como se houvesse medo em ser rejeitada, em levar um tapa ou algo do tipo.

Sabe, quando a felicidade invade


Quando pensa na imagem da pessoa
Quando lembra que seus lábios encontraram
Outros lábios de uma pessoa
E o beijo esperado ainda está molhado
E guardado ali em sua boca
Que se abre e sorri feliz
Quando fala o nome daquela pessoa
Quando quer beijar de novo muitos lábios
Desejados da sua pessoa
Quando quer que acabe logo a viagem
Que levou ela pra longe daqui…

Cíntia se encantou com aquele lado introvertido de Isa até então desconhecido. Isa repentinamente se separou
de Cíntia e as duas trocaram um olhar cheio de perguntas e respostas por uns dez segundos. Isa baixou os
olhos tímida. As mãos de Cíntia envolveram o rosto de Isa. As duas voltaram a se encarar e Cíntia invadiu os
lábios de Isa sem dar tempo de nenhuma das duas refletirem sobre o que estavam fazendo.

Sabe, quando passa a nuvem brasa


Abre o corpo, sopro do ar que traz essa pessoa
Quando quer ali deitar, se alimentar
E entregar seu corpo pra pessoa
Quando pensa porque não disse a verdade
É que eu queria que ela estivesse aqui…

Sei... Eu sei.
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Um beijo doce e faminto. Sem tirar sua língua de dentro de Isa, Cíntia se aproximou com cuidado para não
machuca-la devido à tipoia que Isa usava no ombro, deixou dos braços abraçarem a cintura de Isa e com a
outra mão tocou seu rosto. Isa mordeu de leve seus lábios sua pele esquentou ao sentir os dedos dela
acariciando seu pescoço. Foi vez de Cíntia se separar após a longa troca de beijos. Isa ficou vermelha
acreditando que foi rejeitada ou algo do tipo, mas era a campainha.

As duas se entreolharam outra vez e Isa que teve a atitude de ir atender a porta. Era um homem de uns 35/40
anos. Alto, cabelos claros e lisos, rosto lisinho,

óculos de grau, olhos castanhos. Sem dúvida devia fazer sucesso entre as mulheres. Isa achou bonito, como
uma paisagem.

- Sim?

- Eu vim atrás da minha mulher...

- Tocou errado, aqui só tem sapatão...

Ia fechar a porta, mas o sujeito a deteve.

- A Paula esta? – Isa segurou a porta. – Eu sou o Lucas marido dela.

O famoso Lucas... Cíntia eIa se entreolharam e Cíntia foi atender o homem.

- Oi, é... A Paula na verdade esta trabalhando, só chega tarde.

- Bem tarde- Isa frisou. Queria ficar a sós com Cíntia. Aquele infeliz tinha que sair das profundezas?

- Não tem problema. –Sorriu. – Eu espero.

Cíntia deu um sorriso amarelo e Isa só faltou latir na cara do sujeito que entrava com suas bagagens. Nem
preciso dizer que depois dessa Isa virou team Gabriel de carteirinha.

- Segura, segura pra mim... – Paula gritou a Gabriel. Ele e Leandro entravam no prédio, os dois tinham
acabado de chegar de seus respectivos serviços. Paula desceu do táxi cheia de sacolas do shopping , Leandro
e Gabriel foram ajuda-la. Paula pagou a corrida. – Menino, você não sabe a briga que foi pra sair daquele
shopping, do nada deram um promoção, ficou mais lotado que metrô de seis da tarde. Uma velha me deu uma
bolsada no pescoço que tá doendo até agora... – O celular tocou. Paula atendeu. – Oi, Cíntia! -... – QUEM?
- ...- Tá, tá, to subindo... Tchau! Beijo. - Desligou. – Virou-se para Gabriel. – O Lucas tá ai!

A animação de Paula e Gabriel com a chegada de Lucas é a mesma animação que tenho em receber minhas
tias evangélicas fanáticas irmãs da minha mãe, ou seja, nula, nenhuma, zero, inexistente.

Antes de seguir abordando o triangulo amoroso Gabriel x Paula x Lucas, sinto que cabe a mim, Alice,
narradora dessa história a obrigação de abrir um parêntese para explicar o motivo de Paula não se sentir
eufórica com a presença de seu digníssimo esposo em território nacional. Abre parêntese: Paula é mulher, não
que só isso seja uma desculpa que explique sua instabilidade amorosa, mas mulheres são um inferno e ponto
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final. É mais forte do que a gente, por mais que lutamos é de nossa natureza desejar coisas distintas a cada
dois segundos. Queridos amigos machos, vamos sim pedir um Big Mac e meio litro de coca para caixa do Mc
Donalds e assim que ela virar as costas vamos pedir para ficar com o corpo da Juliana Paes. Não somos
bipolares, somos multipolares mesmo, mas apesar disso somos boas pessoas. Paula não era um ser humano
pior só porque provocou a vinda do marido com mil artimanhas e agora queria manda-lo de volta para o
Alaska via sedex, ela é apenas, mulher. Grata pela atenção, Alice. Fecha parêntese.

É lógico que além do fato que acabei de citar acima, as “aulas para deixar Lucas aos seus pés” deram efeito
contrário e Gabriel também estava um caminhão por Paula. E lógico que ele era correspondido e todos,
tirando os dois, já haviam notado isso.

Manu, minha comadre e comadre de Paula ainda tentou dar o toque a ela há alguns dias atrás. Paula ligou
para saber como estava Luigi e como Manu e Giovanna estavam se saindo como mamães de primeira viagem.
Manu, como toda mãe babona perdeu uma boa meia hora falando das gracinhas de Luigi, de como estava
crescendo e ficando parecido com Giovanna. Quando foi a vez de Paula contar as novidades, Manu não se
fez de rogada e logo perguntou:

- Mas e o Gabriel e você, como estão?

- Ah, ele é um bom amigo... Fazemos coisas juntos, conversamos sobre outras coisas juntos. É legal ter uma
opinião de cara sobre algumas coisas...

- Amigo? – Manu perguntou sarcástica. – Paula, pelo amor de Deus, vocês vivem grudados, juntos, se dão
bem... Opinião sobre o que? -
Debochada. – Qual a melhor cerveja? Quem tem os melhores peitos da cidade? Qual é o melhor: WII ou
Xbox?

- Brahma, os peitos da Alice. – Jura? Ai gente, muito obrigada! – Se você tem mais de 15 anos Xbox...
Conversamos sobre várias coisas...

- E sobre vocês? – Manu alfinetou. – Por que não experimenta conversar sobre vocês?

Paula não lembrava o que tinha respondido, mas a sementinha da provocação agora crescia na sua cabeça. A
sensação de ver Paula ser beijada pelo marido também não desceu bem na garganta de Gabriel. Reação
inadequada para um noivo de casamento marcado com outra. Os dois se cumprimentaram polidamente e
Paula aproveitou para fazer as devidas apresentações.

- Lucas, esse é o Gabriel. – Lucas cumprimentou Gabriel com um aperto de mão. – Vizinho e meu amigo. E
esse é o Leandro. – Lucas encarou os dois. – Eles dividem o apartamento.

Os dois trocaram apertos de mão e Lucas observou que Leandro carregava uma sacola de uma loja de
lingeries feminina. Lucas encarou os dois homens a sua frente. Paula, Leandro e Gabriel se entreolharam.
Cíntia e Isa assistiam tudo de camarote.

- Paula, por que você não me disse a verdade?

- A verdade?

Lucas deu outra risada. Virou se para Gabriel.

- Cara, te devo um pedido de desculpas. Enchi minha cabeça de minhoca e... Nunca ia imaginar...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Imaginar?

- Que você era casado. – Gabriel encarou Lucas sem entender. – Olha, eu tenho maior respeito por vocês,
viu. – Deu um tapinha nas costas de Leandro e Gabriel. – Eu tenho um irmão que e gay também.

De fora do campo de visão de Lucas, Cíntia e Isa caíram na gargalhada. Leandro e


Paula quase engoliram suas respectivas gargantas , Gabriel foi o único que agiu natural. Abriu um sorriso
singelo e disse:

- Paulinha, você deixou o maridão pensar besteiras da minha pessoa? –Paula irritada com Gabriel fez um
gesto de desaprovação, mas ele nem ai, estava afim de se divertir um pouco com Lucas. – Lu, esse é o Lê,
minha vida... – Deu um beijo no rosto do assustado Leandro. Isa e Cíntia pareciam dois pimentões de tanto
rir.

- E- Eu... É...

- Ele é tímido! – Gabriel cortou Leandro e lhe deu um discreto beliscão nas costas. – Dá oi para bofe da
Paula, lindo... – Leandro sem saída murmurou um oi. Teve medo de desmentir a história e Gabriel não querer
mais dividir o apartamento com ele. – Não precisa esconder dele, Lê. – Gabriel sorriu para Lucas. –Ele
entende a gente e aceita...

- É... – Leandro deu um sorriso amarelo. – Foi Deus que assim me fez... Né, bem?

- É bem!

- É brincadeira deles, Lucas. – Paula disse. – Fala a verdade pra ele, Isa...

- Nunca é uma brincadeira aceitarmos quem somos, Paulinha. – Isa entrou no jogo de Gabriel para ódio de
Paula. Gabriel mandou um beijo para Isa. – É sempre algo difícil...

Isa e Cíntia pareciam dois pimentões de tão vermelhas por prenderem os risos. Gabriel e Leandro só saíram
do apartamento depois de deixarem Lucas bem convencido que eram um casal. Com a desculpa de que ia
levar uns panos de prato para Gabriel bordar, Paula foi ao apartamento vizinho atrás de explicações.

- Ué, não é você que dizia que o Lucas não ia aceitar bem sua amizade com um cara que vocês já saiu... –
Gabriel se justificou. - É só um jeito da gente continuar amigos sem grilar pra ninguém.

- É... Eu não tinha olhado para esse lado. – Pamonha! Pamonha! Pamonha! – É só isso mesmo?

- Claro.

- E você acha que seria uma boa ideia se eu jogasse esse caô e me fingisse de lésbica pra Nat?

- Ótima.

Ótima até o momento que Nat achasse de levar Paula pra cama. Enquanto Paula se escondia no apartamento
de Gabriel até Lucas pegar no sono , Cíntia e Isa se torturavam por não conseguirem conversar após o beijo.
Na verdade elas só conseguiram ficar sozinhas na manhã seguinte. Era o café da manhã experimental “feliz e
contente do Scarpan”. Minha prima teve a ideia de abrir refeições de manhã no Scarpan para lucrarem mais e
nós éramos as cobaias. Ingrid e Silvinha ficaram responsáveis por nos recepcionar. Silvinha estava com uma
cara que tinha chorado a noite inteira. Segurando um pranto disse:

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- Estamos felizes e contentes em recebê-las aqui.

Sorrimos por educação, mas Isa não seria Isa se não falasse:

- Não parece.

Pronto. Silvinha caiu num berreiro sobre os braços de Lúcia, e depois de muito tempo entendemos o motivo
de sua tristeza. Tinha rompido com Nat mais uma vez. Só conseguimos acalma-la depois que a fiz entender
que botar fogo no carro de Nat e arrancar o pênis do Gabriel não resolveriam seus problemas.

- Por que você não joga tarô? – Lucia sugeriu. – Eu joguei com um amigo meu, mestre Tacnacan, ele é ótimo!

- Ai, me passa o endereço dele... – Silvinah perguntou interessada. -É lá de BH?

- Ele joga por Facebook... Você vai adorar... – Isa revirou os olhos. – Isa, isso é sério, se bobear ela pode
até ter um jequitibá aqui...

- Que isso?

- Um orgasmo religioso.

Isa revirou os olhos mais uma vez e Elza murmurou:

- Economiza a gente, Lúcia... Eu to comendo...

Aproveitando que todas nós estávamos interessadas no orgasmo religioso da Silvinha, Isa se levantou e foi ao
banheiro. Cíntia foi no minuto seguinte. Ao entrar no toalette trancou a porta e esperou Isa sair da cabine.Isa
lavou as mãos e os olhares voltaram a se cruzar através do espelho. Murmuraram um oi. Ao ver que a porta
estava trancada quando ia sair, Isa virou-se para Cíntia.

- O que você quer me falar?

- Eu falar? – Cíntia perguntou. – Quem tem alguma coisa para me falar é você... – Envergonhada. - Você que
me beijou...

Isa sorriu um tanto tímida e disse:

- Não beijei sozinha.

Cíntia deu uma risadinha sacana.

- Mas foi você que começou.

As duas estavam bem próximas e em dois segundos os lábios voltavam a se procurar. O beijo foi ainda
melhor que o primeiro. Isa firmou sua mão livre na cintura de Cíntia e a pressionou, contra a parede. Sentiu a
língua de Cíntia derreter sobre seus lábios e um gosto adocicado devorando seus lábios com desejo. Mais
uma vez a porta interrompia as duas. Alguém tentava entrar. Isa fez um sinal para que Cíntia entrasse em um
dos reservados. Abriu a porta e fechou a cara ao ver que era Ingrid.

- A porta estava trancada?

- Emperrou...

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E sem dar mais explicações foi se acomodar na mesa. Eu logo notei que ela estava vermelha e calada demais.

- Tudo bem?

Ela fez um gesto afirmativo. Para disfarçar me perguntou sobre Júlia.

- Ela ia passar na casa da vó pra pegar um documento da cabana e depois ia para o hospital...

- Ela foi na Dona Regina? – Rebeca se interessou. – Iiiih, a Nat tá lá...

Agora era assim, quando as duas se encontravam era só briga ou uma não olhava na cara da outra. Nat ao
saber detalhes sobre a busca por seus pais não gostou nada de saber o quanto Júlia lhe omitiu de sua vida e
estava magoada com a irmã. Júlia por outro lado esta mordida de ciúmes porque Nat ia conhecer uma nova
irmã e não dava o braço a torcer. Tenho certeza que o máximo de amadurecimento que as duas conseguiriam
alcançar eram amarrar os próprio cadarços sozinhas. Duas crianças de seis anos. Duas cabeças duras que já
estavam me dando nos nervos com aquela guerrinha sem sentido.

Como Rebeca tinha dito, Nat dormiu na fazenda. Chateada com o término do namoro com Silvinha, foi
procurar o colinho da avó. Acordou tarde, Dona Regina já tinha saído e se viu obrigada a tomar café sozinha.
Da mesa percebia que Dondinha, uma das empregadas da casa esvaziava o “quarto de quinquilharias da
fazenda”, lugar que dona Regina usava para guardar pertences antigos da família.

- Dia de faxina?

- É, sua vó pediu pra eu passar um pano no quarto... – Dondinha se explicou. – Tem que consertar a
maçaneta também, o seu Nélio vai vir da um jeito... Com licença...

Nat não aguentou de curiosidade e foi espiar. Carente, ainda muito mexida com a descoberta de sua
verdadeira história, era uma sensação nova entrar naquele quarto. Se deparar com objetos que faziam parte
de sua infância como uma velha boneca que Samuel tinha lhe dado de Natal e estava esquecida ali dentro de
uma caixa a fez sentir um nó na garganta. A bicicleta antiga que ela com Júlia ensinaram Bruno a dar as
primeiras pedaladas, um Atari original, documentos antigos, abriu uma das caixas e encontrou alguns CDS que
marcaram sua adolescência/juventude. Titãs, Legião, RPM, Capital Inicial... Escolheu um da Cássia Eller e
colocou para tocar em um antigo CD Player esquecido no quarto. Ao ouvir as primeiras batidas de Por
enquanto sentiu uam comoção bater no peito

Mudaram as estações, nada mudou


Mas eu sei que alguma coisa aconteceu Tá tudo assim tão diferente

Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar


Que tudo era pra sempre Sem saber, que o pra sempre, sempre acaba

Mas nada vai conseguir mudar o que ficou


Quando penso em alguém só penso em você
E aí, então, estamos bem

Caminhou até a parede onde tinha fixado um mural com fotos. Sentiu as lágrimas escorrerem ao ver as
imagens da família. Parecia que pela primeira via de verdade sua história. Fotos suas no colo dos avós, Júlia
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

segurando Bruno com apenas três meses em seus braços, Júlia com Marcinha e Bruno, ela ao lado de Gabriel
e uma foto dela com Júlia, as duas ainda crianças, abraçadas. Estava pregada bem no meio do mural. Pegou
na foto com carinho, com os dedos fez um afago no rosto da irmã. Estava com tanta saudade, fazia mais de
dois meses que não se abraçavam. Viu um velho livro que tinha cansado de ler e reler. Feliz Ano Velho, seu
livro predileto, adorava a trajetória de Marcelo Rubens Paiva. Escutou um barulho de passos pelo quarto.

- Vó?

Mesmo com tantos motivos


Pra deixar tudo como está
Nem desistir, nem tentar agora tanto faz Estamos indo de volta pra casa

Mesmo com tantos motivos


Pra deixar tudo como está
Nem desistir, nem tentar agora tanto faz Estamos indo de volta pra casa

Nat pensou mesmo se tratar de Dona Regina ou Dondinha de volta com materiais de limpeza. Ao ver o rosto
Júlia, instintivamente Nat endureceu o olhar e virou a foto para que Júlia não a flagrasse.

E congela nas duas cabeças duras.

End Notes:

Um bjo, até o próximo pelo carinho, obrigada pelo carinhooo!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 68 by Tamaracae

Author's Notes:

Oi oi oi chatiada que casseta e planeta vai ter segunda temporada e av Brasil não =(

https://www.youtube.com/watch?v=Sp3984yt6_A Bem vindo amor

- Como é que é? – Eu perguntei a Júlia sem esconder meu sorriso com aquela notícia. – Você não esta de
brincadeira comigo? – Júlia fez um gesto negativo. Não aguentei e soltei um gritinho de felicidade. –
AAAAAAAAI! Vou poder chamar a Nat de cunhadinha?

- Vai... Não estou de brincadeira! – Ela me afirmou sorridente. – Eu fiz as pazes com a Nat...

Júlia tinha estacionado a moto em frente ao Scarpan. Após passar na casa de dona Regina ela foi até lá,
primeiro me buscar para ir ao trabalho e segundo porque queria me dar a notícia pessoalmente já que eu era
uma das pessoas que mais insistia para que ela parassem com aquela briga sem lógica. Não pensei duas vezes
em agarra-la ali mesmo na porta e dei um beijo delicioso em sua boca. Ela deu uma risadinha sacana.

- Se eu soubesse que eu ganharia isso tinha falado com a Nat antes. – Deu um tapinha em seu ombro pra Júlia
largar de ser safada. – Aaaaai...

- Machucou?

- Tapa de amor não dói...

Não tinha jeito, uma vez cafajeste, mil vezes cafajeste.

- Me conta, como foi? Você foi procurar a Nat ou ela que foi lá em casa ou...

- A gente se encontrou na fazenda da vovó...

- E ai? Se viram e pronto, começaram a falar uma com a outra?

- Não a gente brigou antes.

E se não tivessem brigado elas não seriam elas. Nos acomodamos em um dos bancos de concreto da praça
em frente ao Scarpan e Júlia foi me desenrolando a explicação. Ela tinha acordado cedo e pagado a moto
para ir a casa da avó para falar com Dona Regina sobre uma reforma que queria fazer na cabana. Muito antes
de passar a cabana para o nome de Júlia, dona Regina e seu Alonso eram proprietários daquele pedaço de
terra. Apesar da cabana estar em seu nome há mais de quinze anos, Júlia achava melhor conversar com a avó
sobre a mudança que pretendia fazer na estrutura a casa.

- Ih Julinha, dona Regina saiu cedo mais a Laisa. – Dondinha lhe informou. – Ela tinha exame de sangue pra
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fazer... Por que você não toma café e espera por ela, daqui a pouco deve estar chegando.

- Eu vou fazer isso.

- Você que eu te sirva?

- Precisa não, Dondinha, sou de casa, pode deixar que me viro sozinha. Obrigada.

Dondinha se retirou para lavanderia atrás de produtos de limpeza. Júlia beliscou um pedaço de broa, tomou
um copo de Toddy. Só quando se levantou para ir embora seus ouvidos captaram o som vindo do quarto. A
voz de Cássia Eller embalava um dos sucessos de sua adolescência: Por Enquanto. Curiosa para descobrir
quem mexia naquele quarto de “relíquias”, em passos lentos caminhou até a porta do quarto e observou
Natália de perfil. Sua barriga pontuda sobre o pijama de flanela ali dentro daquele quarto, com aquela música
tão especial para as duas, o passado dos brinquedos, das fotos, das lembranças e o futuro ali na barriga da
Nat a tocaram de alguma forma. Esquecemos como é bom ver uma nova vida nascer. Júlia sabia que não
seria a melhor tia do mundo porque esse título pertencia a Nat com todo merecimento, mas queria
acompanhar os sobrinhos que estavam por vir de perto. Pegar eles o colo e brincar como fazia com Laísa.
Como isso seria possível brigada com Nat? Um sorriso se fez em seu rosto ao ver uma foto sua com Nat nas
mãos da irmã. Deu mais dois passos e sem querer trombou em um das caixas.

- Vó?

Nat não esperava ver a irmã na casa da avó naquele instante. Por instinto seus olhos se apertaram e escondeu
a foto. Júlia sentiu a frieza da irmã e agiu de forma parecida. Murmurou um pedido de desculpas, baixou os
olhos e seu olhar se fixou nas mãos de Nat. Ela estava com o livro na mão: Feliz Ano Velho.

- Nossa, esse livro tá aqui... Outro dia estava procurando ele em casa, deixei o João doido atrás dele... –
Pegou os livros da mãos de Nat. – Obrigada.

Nat puxou o livro das mãos de Júlia.

- Obrigada, obrigada, tá maluca? – Júlia encarou Nat sem entender. - Você me pediu por acaso?

- Vou te pedir o que é meu? – Devolveu irritada. – A maluca é você. Feliz Ano Velho sempre foi meu, você
folgada que nunca me devolveu...

Nat deu uma risada.

- Eu ganhei esse livro!

- Você tá maluca! Ganhou esse livro de quem?

- Eu não lembro!

- Ah rá! Senta lá que você ganhou esse livro!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Júlia deu as costas para ir embora. Nat irritada bateu a mão sobre a mesa.

- Qual é o seu problema? – Júlia se virou. – Já não basta tudo que me aconteceu? Já não basta EU ser a filha
enjeitada, EU ter sido jogado fora, EU ter sido criada em uma mentira? Não basta tudo que eu estou
passando! Agora vai ficar nessa também, meu e seu? – Júlia revirou os olhos. – Você sabe que esse livro é
meu e que eu ganhei de presente.

- Dramática! Eu te conheço e esse teu draminha não me convence! Faz ele com tua nova irmãzinha que
comigo não cola. – Rebateu. – Quer o livro? Toma!– Jogou o livro nas mãos de Nat. Virou as costas.
Inconformada se virou na direção de Nat outra vez. – Eu lembro de ter ido na livraria que o seu Messias tinha
lá no centro da cidade, eu escolhi e comprei esse livro. Eu tinha o que? Uns vinte anos? – Deu os ombros. –
Isso não importa. O que importa é que eu sei que tenho razão!

- Razão, razão, razão, você é louca! Eu ganhei esse livro de aniversário, sua idiota!

- Imbecil!

Só foi a palavra mágica, razão, para a discussão besta se transformar em um bate boca tremendo. Agora uma
fazia questão que a outra ficasse com o Feliz Ano Velho e saísse com a razão. Depois de quase dez minutos
de discussão e empurra empurra com o coitado do livro, o próprio não aguentou a discussão das duas e a
capa se abriu sozinha. Nat sorriu.

- Aqui, tem uma coisa escrita aqui.

Nat puxou o livro das mãos de Nat. Passou os olhos rapidamente.

- E ai? – Júlia perguntou ansiosa. – O que tinha escrito.

- Lê!- Nat jogou o livro nas mãos de Júlia, estava comovida. O nó na garganta a incomodava mais uma vez. –
Você tá certa, você que comprou.

Júlia com um sorriso de vitória abriu na página da dedicatória escrita a mão e leu em voz alta.

- “Natinha, que a matemática da nossa amizade sempre duplique nossas alegrias e divida nossas tristezas.
Estou aqui sempre que você precisar. Da sua querida eterna amiga-irmã irmã-amiga, Júlia.” – A voz de Júlia
embargada entregava seu estado emocional. – 29 de março de 1994.

Sem falar uma palavra, Júlia colocou o livro entre as mãos de Nat. No final ela estava certa. Ela tinha ganhado
o livro de alguém. As duas sem graça e ao mesmo tempo com vontade de rir daquela situação ridícula se
encararam por um instante e o sorriso se desenhou primeiro nos lábios de Nat e contagiou Júlia. Nem Júlia
nem Nat souberam (ou quiseram) dizer quem foi a primeira que soltou a corda e abriu os braços para se
abraçarem, mas o importante foi que o abraço veio. E quando Dona Regina chegou em casa com Laísa
encontrou as duas netas sentadas no chão brincando com um dos tesouros encontrados no quarto das
relíquias: Um velho aparelho de chá de brinquedo que não devia ser usado há mais de 20 anos. É lógico que
antes de Júlia sair de casa as duas tentaram iniciar uma discussão pra saber quem tinha ganhado de aniversário
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

o aparelho de brinquedo. Dona Regina resolveu de seu jeito bem peculiar.

- Quanta criancice! – Recolheu as peças do brinquedo e colocou em sua devida caixa. – DONDINHA!
LAVA ISSO AQUI! – Virou-se as netas. – A Laísa vai adorar brincar com isso aqui! Vocês estão muito
velhas!

E estavam mesmo. Fui trabalhar feliz por Júlia e fiquei mais feliz ainda quando cruzei com Nat em um dos
corredores do Alonso Franco e ela toda brincalhona veio me chamar de cunhadinha. Na hora do nosso
almoço minha mãe e eu fomos comer na Silvinha a convite da minha prima que estava muito pra baixo e
querendo nosso consolo. Ao chegarmos à casa da minha prima encontramos Cíntia cantarolando junto com
um DVD que ela tinha colocado para rodar e botando a mesa almoço feliz da vida. Isa tinha saído com as
irmãs para uma consulta médica.

Quero fazer cem canções,


Rolar mil vezes na cama,
Rir até doer.

Me faça uma ligação, tira esse frio daqui de dentro


e quando não for assim, mande uma mensagem pra mim.

Ainda lembro gosto do beijo que você me deu

Silvinha, minha mãe eu nos entreolhamos surpresas. Cíntia era do tipo de gente capaz de fingir que ficou
tetraplégica só pra não levantar e fazer serviços de casas, agora lá vinha ela com sorriso de quem tinha
descoberto o lesbianismo, despejou os pratos sobre a mesa.

Mar se o céu for você, se você for pra mim,


Entrego tudo a Deus, eu digo que sim.
Mar se o céu for você, se você for pra mim,
Entrego tudo a Deus, eu digo
Bem vindo amor,
Pequeno eu vou, cair nos teus braços quero enlouquecer,
Deixa acontecer.
Bem Vindo meu Amor, pequeno eu vou sorrindo.

Bem vindo meu amor,


Pequeno eu vou, cair nos teus braços quero enlouquecer,
Deixa acontecer.
Bem Vindo meu Amor, pequeno eu vou sorrindo.

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Pelo jeito o mosquito da felicidade não tinha mordido apenas eu. Na terceira vinda de Cíntia com talheres
minha prima à fez parar, mediu Cíntia de cima a abaixo.

- Pele mais bonita, sorriso besta na cara, cantando música romântica por nada... Fudeu, vocês sabem o que é
isso né? Mulher... – Cíntia deu uma risada, fez um gesto de besta e voltou a cantarolar. – Olha isso ai... Não,
não... Nasci ontem, Cíntia! Gamou no limãozinho, hein gata?!

- Besta, eu gosto de cantar... E adoro a Cláudia Leitte. – E voltou sua atenção a música. – Bem vinda meu
amor/ Pequeno eu vou sorrindo... Bem vinda...

Depois de tanta insistência minha e de Silvinha, Cíntia nos confidenciou sobre os dois beijos com Isa.

- Gente, que beijo foi aquele? – Cíntia se perguntou boquiaberta. – Que boca... Que pegada... Meninas,
vocês não tem noção...

- O mal de todo grupo lésbico de amigas caiu sobre nós. – Silvinha disse em um tom sério. Olhamos pra ela a
procura de uma resposta. – Todas nós já nos pegamos...

- Nem todas nos pegamos...

- Como não? – Silvinha retrucou. – Vamos começar por você, pegou a Júlia, a Nat...

- A Nat comeu todo mundo... – Cíntia disse em um tom confuso. – Acho que só salvou a Júlia...

- Você pegou a Isa...

- Você pegou a Isa? – Cíntia me perguntou.

- Foi uma experiência. Mas nada sério, foi logo que eu cheguei na cidade. – Me expliquei. – E você pegou a
Nat que pegou a Silvinha...

- Que peguei a Isa...

- Que já pegou a Júlia...

- A ISA PEGOU A JÚLIA?

- Foi uma experiência. Não sei quem pegou quem, mas foi coisa rápida, antes de vocês namorarem... – Cíntia
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me disse. – A Júlia pegou a Monique que pegou a Silvinha...

- Você pegou a Monique?

- Foi só uma experiência. – Minha prima me respondeu. – A Monique que pegou a Ingrid... A Ingrid ja pegou
a Júlia...

- A JÚLIA PEGOU A INGRID?

- Alice entenda uma coisa, os Franco tem como natureza montar um harém, a metade lésbica da cidade que a
Nat ainda não pegou a Júlia já deu uma passada por lá... - Cíntia me explicou. - Tirando você que foi pega
pelas duas...

- E as hetéros ficam a cargo do Bruno. Se bem que o Bruno já pegou a Ingrid. E agora casou com a Rebeca.

- A Rebeca que pegou o Marquinhos. - Eu relembrei. - Marquinhos que pegou a Lolô da primeira vez que ele
veio...

- Lolô que já pegou você... - Cíntia disse a minha prima. – Que pegou o Gabriel.

Quase cai da cadeira.

- Você pegou o Gabriel, Silvinha?

- Foi só uma experiência...

- O Gabriel entra como lésbica?

- Se o Gabriel fosse mulher com certeza seria lésbica. – Afirmei. – Entra! O Gabriel é noivo da Nat

- Eu peguei a Nat...

- Que já pegou a Cíntia...

- E eu peguei a Isa... – Cíntia disse com brilho nos olhos. – Nossa ela tem uma boca...

- Isso é verdade. – Minha prima disse. Virou-se para mim. – Não sei como você não gostou quando pegou,
tem o coração na vagina...

- Natália, te responde à pergunta. – Eu respondi. Silvinha fez um gesto afirmativo. – Na época eu só


enxergava a Nat... A Isa sempre foi amiguinha demais... Não dava...

Cíntia riu.

- Fora que ela devia estar pensando na “aventura no México” dela com a Júlia lá em São Paulo. – Nos três
rimos e Cíntia me perguntou. – Não gostou mesmo da Isa? Achei ela tão carinhosa e tão...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Revirei meus olhos.

- Não é que não gostei, sei lá não, deu. – Sorri e confessei. – Ela é charmosa...

Minha prima mais despudorada completou:

- As mãos...

Mamãe que até então estava quieta resolveu se manifestar.

- O beijo dela é gostoso. – Cíntia, Silvinha e eu paramos de comer e deixamos o garfo despejado sobre o
prato, olhamos para mamãe ao mesmo. Ela ainda nos questionou. – O que foi?

- O beijo dela é gostoso? – Eu perguntei. – Mamãe, mal lhe pergunte, a senhora pode me informar como sabe
que o beijo da Isa era gostoso?

- Alice, como você sabe que o beijo da sua namorada é gostoso?

- Ah eu beijo ela e... MAMÃE?! – Se o incompetente do Serginho não fez o serviço, eu ia fazer. Eu vou
matar a Isa! – A SENHORA E A ISA...

- Foi só uma experiência...

E voltou a comer normalmente. Eu vou mandar a conta da minha terapia pra ela porque não sou obrigada,
viu... Após terminamos de almoçar voltamos para o hospital. Cíntia seguiu para seu novo trabalho como
assistente técnica da equipe de vôlei de Silvéster. Adorava sua nova função, era uma forma de ainda estar em
quadra. Lima, treinador das meninas pediu para Cíntia cuidar do time reserva. Organizou o treinamento de
alguns pontos básicos, reforçou a estratégia que deviam usar contra o adversário, ajudou em um “rachão”
entre titulares e reservas. Só não podia dizer que estava cem por cento focada em seu serviço pois hora ou
outra sua cabeça fugia para o banheiro do Scarpan e o apartamento de Silvinha. Não pensem que no
apartamento da minha prima as coisas estavam muito diferentes. Depois de almoçar, Laura e Lucia levaram
Isa para o quarto, se sentia cansada:

- Você tem certeza que não quer acompanhar?

- Lúcia, que graça tem eu ver a Silvinha tomando um café sem coar e você olhando uma xícara de café suja?
– Laurinha perguntou a irmã. – Isa descansa!

- Espírito sem luz, sabe há quantos anos existe a leitura da borra de café na cultura árabe?

- E desde quando você e a Silvinha são árabes? – Isa provocou. – Cadê a Elza?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Telefonando para o Tiago. Eu também vou telefonar para a minha filha sabe... Não me conformo, uma
criança morando sozinha fora do país. A Adriana é uma menina.

Adriana e Tiago eram os sobrinhos de Isa de 17 e 23 anos respectivamente. Ela ainda tinha mais três, dois
filhos de Lúcia e a filha mais nova de Elza. As irmãs saíram e deixaram Isa descansar. Estava decidido, após
tirar os pontos da cirurgia, Lúcia, Elza e Laurinha levariam Isa para Minas Gerais e lá ela ficaria até o final do
tratamento que duraria uns três meses. Foi a forma que encontraram para ter certeza que Isa seguiria o
tratamento a risca. No começo Isa odiou a ideia, mas aceitou melhor pois viu que o apartamento de Silvinha
era um lugar inadequado para a recuperação de um operado e também precisava por sua cabeça no lugar.
Não conseguia tirar Cíntia de seus pensamentos, mas não admitia que estava apaixonada. Sentia vontade de
estar com ela, mas tinha medo de fazer Cíntia sofrer ou acabarem com a amizade. Por isso aquele tempo e
distancia seria bom. Só foi ficar a sós para que recordasse mais uma vez o beijo da sala e no banheiro do
Scarpan. Não pensou que seria tão gostoso. Os lábios de Cíntia tinham um gosto diferente exótico.

- Damasco... Ela tem gosto de damasco...

_______________________________________________________________________

Se no apartamento de Silvinha as coisas andavam tranquilas, na delegacia o animo era bem diferente. Gabriel
caminhava de um lado para outro. Ele tinha novidades sobre dona Abgail. Assim que chegou em sua sala
soube que dentro do presídio Abgail estava dando trabalho. Feriu duas presas e se feriu com um parafuso que
conseguiu soltar de duas celas. Ao falar com os carcereiros e diretor do presídio exigiu falar com o delegado
do caso, Gabriel, e garantiu que tinha uma informação importante sobre a morte de Fumaça. Naquela tarde
Abgail foi escoltada pela polícia e levada até a delegacia para dar seu depoimento. Ela estava neurótica, mas
seu estado de obscuridade era tanto que nem se lembrou de implicar com Gabriel.

- Eu disse que era importante!

Gabriel fez um gesto afirmativo.

- De fato é importante, mas agora não adianta mais nada! -Gabriel disse. – O Serginho ia fugir... Ele devia ter
pegado todo o dinheiro pra ir embora. A mala dele caiu no rio com o carro.

Abgail se levantou da cadeira indignada.

- VOCÊS ESTÃO QUERENDO ME DIZER O QUE? QUE OS MEUS DOIS MILHÕES DE EUROS
ESTÃO AFUNDADOS NO MEIO DO RIO? ESTÃO...

- DOIS MILHÕES DE EUROS DA NATÁLIA QUE A SENHORA ROUBOU!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- ELE ROUBOU DE MIM, AQUELE MOLEQUE RANHENTO! ELE FUGIU COM O MEU
DINHEIRO!

- O Serginho esta morto. As buscas se encerraram! O resgate concluiu que o corpo desaguou no Rio Prata e
de lá ganhou o Oceano Atlântico. Encontramos o boné que ele usava quase no trecho que divide o estado de
São Paulo com Paraná! O dinheiro da sua filha, se estava com ele, foi parar no fundo do rio!

Dona Abgail teve mais um ataque de seus ataques neuróticos antes de ser levada de volta para a o presídio
psiquiátrico. Nat e Júlia esperaram a mãe ser enfiada na viatura para saírem da salinha anexa a sala de
Gabriel. Assistiram a todo depoimento de Abgail sem que ela soubesse, através de um espelho espião.

- É Nat... – Júlia murmurou entristecida. – Ela sempre foi meio virada da cabeça, mas dessa vez a coisa esta
séria... Acho que ela variou de vez... Viu como esta magra?

- Ela nem perguntou de mim para ele... – Nat murmurou tristonha. Sentiu-se agradecida por Júlia estar ali.
Quando Gabriel procurou Nat no hospital e a convidou para ver como estava Abgail, Júlia correu para se
oferecer em ir com a irmã. Além da curiosidade natural, sentiu na obrigação de ir para cuidar da irmã. – Ela só
falou no dinheiro nela por que só nisso que ela pensa! – Fez um gesto negativo. – Ela não gosta de ninguém,
Júlia...

- No fundo eu só consigo ter pena dela, muita pena...

- E agora, Gabriel, o que vai acontecer com ela?

- Ela vai precisar aguardar o julgamento, se for condenada devem fazer uma avaliação psicológico, pelo
estado que a gente viu e pelo histórico dela, eu acredito que a dona Abgail deva cumprir a reclusão em algum
hospital psiquiátrico ou algo do tipo.

- E quem vai acompanhar o caso se você vai entrar de férias amanhã?

- Vou passa tudo pra Gonçalves, delegada substituta!

- Delegada é? – Júlia perguntou curiosa. – Gata!

- Ou, a noiva dele esta aqui. – Nat retrucou. – Por favor, né?!

Júlia e Nat trocaram mais algumas palavras com Gabriel e depois voltaram para o hospital. Gabriel tirou o
resto do dia de folga, estava cansado e o braço ainda dolorido por conta do tiro de raspão de alguns dias
atrás. Tomou um banho e quando saiu do banheiro ouviu um barulho na sala de vozes. Era Lucas e Leandro.
Em poucas horas Gabriel entendeu o motivo de Paula preferir Lucas lá no Alaska do que ao seu lado. Lucas
era chato. E não estamos falando de qualquer tipo de chato. Era aquele chato carente, grudento que em cinco
minutos já esta se achando seu amigo de infância. Aquele que curte até se você postar no Facebook que é um
psicopata matador em série. O sujeito que te manda email com piadas do tipo: “vou rezar um terço, pra
arranjar um meio de te levar para um quarto.” Em outras palavras, na hora H, Lucas deve ser aquele cara tipo
“narrador de futebol” que fica falando tudo o que esta fazendo. Gabriel se enrolou na toalha e caminhou até a
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sala preparado para encarnar o “Gaybriel”.

- BIELZITO! – Falei que o Lucas era chato. – BIELZITOOO!

- Amooor... – Gabriel disse do corredor. - Preparei uma surpresinha pra você e... – Tirou a toalha. -
AAAAAAAAAAAH LUCAS! – Gabriel gritou de um jeito espalhafatoso que Anderson costumava usar.
Lucas tapou os olhos. – AI, ai que... AI QUE VERGONHA...

- Oi amor eu... – Leandro disse um tanto desajeitado ao ver que Gabriel estava com aquela “coisarada” toda
de fora . – É... e... Eu... É... Oi amor...

- Desculpa, eu não sabia que... Desculpa... Eu volto depois

A cena foi bem cômica. Lucas saiu quase correndo da casa. O coitado do Leandro boquiaberto e Gabriel as
gargalhadas. Esperou Lucas sair da casa, deu um tapa forte na bunda de Leandro e brincou:

- Pega um cerveja pra mim, morzão! – E se levantou em busca de alguma coisa para se vestir. – Bem gelada!

Enquanto Gabriel se trocava no quarto, Leandro atendeu ao seu pedido e foi atrás da cerveja. Alguém tocou
a campainha, foi atender, era Paula.

- O Lucas apareceu em casa agora, você e o Gabriel estão transando?

- Boa tarde pra você também... – Leandro retrucou. – Foi um... Engano do seu marido.

- Cade o Gabriel?

- Tá no quarto. – Paula se levantou. – Ele esta pelado!

- Ih menino, que viu um viu todos, não esquenta comigo! – Pegou a cerveja das mãos de Leandro. – Licença!

Subitamente um sentimento de revolta começou a se desenvolver em Leandro. O que ela tinha que ver se
caso ele e Gabriel tivessem alguma coisa? Também se revoltou com Gabriel. Por que tinha que aparecer na
frente de Lucas daquele jeito. O modo de Gabriel quase nunca usar camisa o incomodava sempre. Alias,
Leandro tinha notado que era algo comum dos homens de Silvéster. Gostavam de andar sempre bem à
vontade quando não estavam em serviço. Bruno e Rafael, seus amigos do hospital, sempre que podiam
estavam exibindo os músculos. Leandro fez um gesto de negação: Estava pensando em Bruno, Rafa e Gabriel
sem camisa? Só podia estar maluco. Aquela história de fingir que eram um casal não estava dando certo.
Precisa sair daquele rolo urgentemente.

_________________________________________________________________________

Nossa noite foi bem diferente do que o comum. Júlia e João teriam que partir para o Pantanal no dia seguinte.
Apesar de toda minha vontade de pedir que ela ficasse, não poderia fazer isso pois sabia que ela tinha se

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comprometido e que pessoas a esperavam por lá. Nós duas continuaríamos namorando, mas a distância
como tantos casais fazem. É lógico que eu não estava nem um pouco feliz com aquilo, mas de certa forma eu
sabia que a culpa era minha. Talvez se eu a perdoasse no caso da Taís antes ela não aceitaria esse emprego e
não se afastaria de mim.

Não pedir para que ela ficasse foi à forma que encontrei de me punir por não ter confiado na minha
namorada. Só esperava que os dois anos que faltassem para concluir minha residência passassem logo e assim
eu poderia sair de Silvéster e me mudar para o Mato Grosso do Sul sem mais atrasos com minha carreira. A
parte que me chateava mesmo era ter que ficar sem Júlia justamente no dia que estava marcada a audiência da
minha filha, seria na mesma tarde que ela tinha que se apresentar em seu novo serviço.

Cheguei em casa por volta da oito horas da noite e três pessoas me esperavam minha chegada para sairmos.
Júlia, João e Heleninha no colo de Júlia. Ela estendeu os braços e começou a bater palminhas quando me viu
e balbucia muito desafinado um “parabéns pra Lelê” que eu estava treinando ela há quase duas semanas
devido a proximidade de seu aniversário de um ano (como o tempo voa, ainda posso me ver chorando na
maternidade porque não sabia o que a Heleninha queria e agora ela já com quase um aninho), estava lindinha,
usava um vestidinho vermelho com estampas da Pucca e maria chiquinhas. Estava na cara que Heleninha seria
toda “menininha” para se vestir quando crescesse uma fresca, puxou ao Pedro Henrique. João estava
“grungenzinho” autentico gatissimo e Júlia nem se fala. Um visual diferente, mais sofisticado, ela tinha
pranchado os cabelos e feito um coque meio baguçando, super sexy, escolheu um jeans justinho e uma blusa
cinza que combinava com seus olhos, deixava o ombro a amostra e salto 15 que a deixava quase com dois
metros.

- Nossa, que super produção é essa? – Olhei para os três. – Gente, vocês estão lindos.

- Mama dada! – Heleninha me agradeceu

- Tio Becca chamou a gente pra jantar no apartamento novo dela!

Apesar de morta de cansada e com vontade de ligar pra Rebeca e dizer que não ia porque queria passar a
noite sozinha com minha namorada, eu fui correndo me aprontar. Minha amiga andava tristinha por causa do
irmão e sabia que uma noite com os amigos animaria Rebeca. Chegamos no apartamento de Bruno e Rebeca
por volta das nove da noite. Boa parte dos nossos amigos já estava lá: Paula com Lucas, Dona Sônia (essa
muito triste e envelhecida com a morte do filho) Duarte e sua família, Gabriel, Leandro, meus pais, Silvinha,
Cíntia, Isa com as irmãs, Dona Regina, Nat... Ela que veio atender a porta e fez a maior festa pra nós quatro.

Logo Rebeca também veio me abraçar e me puxou para apresentar o apartamento decorado. Fiquei feliz por
ela, estava mais coradinha e sorridente. O apartamento era uma delicia, espaçoso, na área nobre de Silvéster,
ultimo andar tinha um terraço imenso. Presente de Dona Regina ao casal. O clima da noite foi delicioso, um
pagodinho gostoso, conversas agradáveis, aquelas brincadeiras idiotas que só rola quando estamos em
família. Na hora do jantar foi bem engraçado. Rebeca como anfitriã da casa foi obrigada a fazer discurso após
o mala do Lucas puxar o coro de “discurso”.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Eu sei que nesse tempo atrás aconteceu coisas muito tristes com cada um de nós, mas mesmo assim estamos
reunidos. Entre parentes, amigos, maridos, mulheres, filhos e pais e avós... Acho que há muito tempo não me
sinto tão em família assim... – Deu um selinho em Bruno, Laisa estava em seu colo. – E eu queria só dizer que
a nossa casa esta aberta oficialmente pra todos vocês, e que essa é uma das melhores noites da minha vida...
Hoje eu realmente me sinto em casa!

- EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEH! – Começamos a bater na mesa feito aquelas classes bobas de 5° série que
ficam fazendo zoeira por tudo. – BECCA, BECCA, BECCA! EEEEEEEEEEEEEEEEE!

- Ah só pra terminar, quero avisar que meu maridinho ficou responsável pelo jantar hoje... – Riu. - Palmas
para o meu lindinho...

- EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE BEBEZÃO, BEBEZÃO, BEBEZÃO!

O jantar foi servido. Na primeira mordida no frango, Duarte fez um careta. Eu mordi e também senti um gosto
esquisito, mas ninguém teve coragem de falar nada.

- E ai, gente, tá bom? – Bruno perguntou. – O que vocês acharam?

- O arroz tá um pouco duro... – Paula falou em um tom cordato. – Menino se você cozinhasse mais uns cinco
minutos...

- O gosto do frango é assim mesmo? – Cíntia também perguntou. Isa, que estava na sua frente e Elza aos seu
Aldo soltaram um riso. – Não é que às vezes é assim...

- Não esta bom?

- É que você pegou um pouquinho no sal... –Silvinha tentou consertar. Comeu o frango. – Acho melhor...

Rebeca experimentou.

- BRUNO, ISSO TÁ UMA MÃO DE SAL... COISA HORRIVEL...

Não aguentamos e começamos a rir. Júlia completou.

- Tá bem meia boca mesmo... - Deu um tapa na cabeça do irmão. - Quer matar sua família de hipertensão,
garoto?

- Uma bela porcaria... – Nat finalizou arrancando risadas da avó e de quem estava perto dela. – Vamos pedir
umas pizzas...

- Ai gente, não fala assim com o coitado do menino. – Silvinha defendeu o Bruno. – Se vocês quiserem eu
posso fazer um macarrãozinho...

- Pelo amor de Deus, pizza! – Isa, Cíntia, Rebeca e Paula falaram ao mesmo tempo. E Isa completou. – A
gente chama o macarrão dela de Durepox.

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- Cade o telefone da pizzaria?

E foi nesse clima de família, todo mundo falando junto, bebendo cerveja, assistindo novela que encerramos a
noite. Depois de comer uns quatro pedaços de pizzas, fui dar uma volta pelo apartamento e acabei no terraço,
admirando a bela vista das luzes da cidade e de um parque enorme que havia bem em frente ao prédio deles.
Meu olhar estava comprido, distante e o meu pensamento mais longe ainda, lá no Mato Grosso do Sul. Bem
no meio do pantanal.

- Sozinha? – Júlia perguntou, aproveitando que Heleninha estava com minha mãe e João brincando com
Lasanha e Raíssa, uma priminha de Rebeca de 12 anos que veio com dona Sônia e João e Lasanha estavam
arrastando as asas para ela, Júlia me abraçou. – Pensando no que?

- Amanhã você não vai estar aqui nessa hora... – Descansei em seu abraço. – E eu vou morrer de saudade de
você...

Júlia me deu um beijo no ombro. Com os lábios fez um carinho sobre minha pele.

- Eu preciso te contar uma coisa... Eu vou para o Pantanal amanhã. – Júlia procurou meus olhos. – Mas eu
não vou ficar pra sempre... Na verdade eu só vou lá amanhã para me desculpar com o meu amigo que
conseguiu esse serviço do Pantanal para mim.

- Desculpar por quê?

- Porque eu não vou mais trabalhar lá. – Arregalei meus olhos surpresa. – Eu tenho ótimos nomes pra indicar
a ele, vou me desculpa e explicar pessoalmente que não posso ficar lá...

- Mas Júlia, lá tem tudo que você mais adora... Trabalhar sem essa loucura de cidade, o João vai ter mais
contato com a natureza, tem aquele paraíso lindo, tem...

Júlia fez um gesto afirmativo e então começou a se explicar:

- Sabe qual é o problema do Pantanal, Alice? É que por mais que seja lindo, sossegado, um paraíso como
você mesmo disse, lá eu ando, ando, ando e não encontro a Dona Regina... – Não encontro Alonso Franco...
Não encontro Nat, Bruno, Laísa, Becca... Não encontro apartamento de Silvinha, Gabriel, Pamonha, Duarte,
cabana... Não encontro estrada pra sair com minha moto... Não tem meus sogros dando mais trabalho que
tudo, Heleninha... – Sorri. – E o mais importante, eu ando, ando e não encontro Alice. – Nos entreolhamos,
eu esbocei uma sorri terno, acho que meus olhos brilharam até de forma diferente. – E se lá não existe Alice,
lá não existe Júlia...

De todas as declarações que ela tinha me dito desde que a conhecemos, acho que nenhuma havia me tocado
como aquela me tocou. Meu apertou de uma forma que eu nunca tinha sentido aperta-lo. Não sei porque
morri de medo de perde-la. Eu amava, amava aquela mulher, só não amava mais do que minha própria filha.
A abracei com toda minha força e Júlia me abraçou de volta. Minhas lágrimas molharam levemente seu
ombro.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Calma amor... – Júlia fez um carinho em meus cabelos. – Calma, eu vou ficar aqui... – Me deu um beijo. –
Tudo isso é saudade contida? Amo você...

- Boba! – Dei um tapinha de leve em seu ombro. – Eu que te amo!

Ouvimos passos, era Nat que vinha do interior da casa. Nos entreolhamos ainda desconfortável em ficar em
uma situação tão intima como aquela, mas Nat se portou muito bem, aproximou de nós duas.

- Eu posso aproveitar pra conversar com vocês rapidinho? – Nat perguntou. Fizemos um gesto afirmativo. –
Só queria esclarecer as coisas, da minha história com Alice...

- Nat, esquece disso já... – Júlia intervou. – Acho que já passou.

- Não, eu quero conversar. – Virou-se para mim. – Sabe Alice, eu te devo um pedido de desculpas por tanto
vacilo que eu dei quando a gente estava juntas... – Fiz um gesto negativo. – Não, é sério, Alice... Vacilei muito
mesmo com você, mas queria falar uma coisa para as duas. – Ela olhou para nós duas. – Mesmo que eu fosse
a melhor namorada do mundo... Vocês são feitas uma para outra e outra pra uma... – Júlia e eu trocamos
olhares e sorrimos. Nat também sorriu, se levantou e deu um tapinha de leve no ombro de Júlia. – E vê se
não apronta com a garota, não deixa ela chorar porque essa menina vale ouro. – Rimos. – E agora eu entendo
que é a cunhadinha que eu pedi a Deus! – Ela caminhou até a porta e de lá ainda gritou. – Vocês tem tudo
para dar certo!

Se até aquela teimosa da Nat acreditava que tínhamos tudo para dar certo, quem era eu pra duvidar? Depois
de uns vinte minutos de nossa conversa com Nat, fomos para casa. João e Helena chegaram cochilando,
dormi na cabana com Júlia, mas não fizemos nada além de uns beijinhos porque eu estava com cólica. Júlia
fazia carinho na minha cabeça eu não adormecia de jeito nenhum e Júlia notou que eu me esforçava para não
entregar ao sono.

- Tá com os olhinhos minúsculos, porque você não quer dormir?

- Porque você vai viajar amanhã... E você já me disse que odeia se despedir, e se você odeia se despedir,
você não vai me acordar pra te dar um beijo, então não quero dormir...

Ela fez um gesto negativo, beijou meus lábios.

- Boba... Você trabalhou o dia inteiro, amanhã tem a guarda da sua filha que você com certeza vai ganhar...
Tem que estar descansa, dorme um pouquinho vai...

- Só se você prometer que vai me acordar...

Júlia sorriu.

- Eu prometo que vou achar seus olhos sempre lindose AAAIII... Alice, por que você me beliscou?

- Porque só lembrei agora. - Respondi com raiva. - Estavam relembrando hoje do seu passado gloriso. - Júlia

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

me encarou confusa. - Isa, Ingrid...

- Tudo quando eu cheguei na cidade... E a Marisa você e a Nat estavam reconciliadas, a gente nem namora e
eu...AIIIII!

- A Marisa eu não sabia sua cachorra! - Dei outro tapa em seu braço. - Melhor deixar as outras no caixa 2.

- Que? - Ela se fez de desentendida. -Que ostras? -Deu uma risada. -Aiiiiiiiii! Violenta, para de dar tapa...

- Odeio voce.

- Odeia nada!

- Odeio sim! - Murmurei só pra implicar. - Odeio você Júlia Franco.

- Mentirosa. - Sorrimos e trocamos mais um beijo. - Te amo.

- Eu também...

Mais beijinhos e fui para o mundo de Morfeu. Acordei horas depois com um vazio enorme na cama. Sua
bagagem já havia sumido. Ao invés de encontrar Júlia, Heleninha dormia grudada em meu peito.
Cuidadosamente me virei com medo de acordar minha filha e encontrei um desenho feito à mão em um
pedaço de sulfite. Era Heleninha e eu dormindo. Virei à folha e reconheci a letra de Júlia.

“Não consegui dormir. Isso é um presente meu pra você, te amo!” Lindos, o desenho e ela! Ao lado do
papel havia dois bilhetes de uma companhia área. Joguei o bilhete para o alto e me desesperei ao ver que
passava das oito e meia e a audiência estava marcada para as dez. Esqueci meus presentes no criado mudo e
corri em acordar Helena para dar-lhe banho e colocar uma roupa para a audiência.

O que eu não podia imaginar é que não fui a única a ser presenteada por Júlia. Aquela conversa de Júlia com
Pedro Henrique foi a primeira, mas não a ultima. Percebi que algumas vezes ela dava uns sumiços, não
imaginava que esses sumiços eram encontros com Pedro Henrique. Resumindo, os dois tinham virado
melhores “amigas” e Júlia cada vez procurava deixar Pedro mais a vontade com sua homossexualidade. Antes
de seguir para o hospital (Júlia ia ver alguns pós operatórios antes de ir) e de lá pegar o helicóptero para o
Pantanal, Júlia deixou um embrulho de presente para Pedro Henrique na recepção do hospital junto de um
bilhete. Quando Pedro desceu para tomar seu café da manhã no salão, o recepcionista entregou o embrulho e
o bilhete nas mãos de Pedro Henrique.

- Uma fã que me deixou isso?

- É... Ela disse que era sua Pedrita nº1. – Pedro Henrique franziu o cenho confuso. – Ela falou que o senhor
vai saber do que se trata.

- Então tá...

Pedro pegou o embrulho e o cartão, se sentou em um local mais tranquilo e leu o bilhete:
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

“Há certas decisões na vida que para serem tomadas precisam de um pequeno empurrão. Espero que o
presente sirva para isso. Permita-se. Nunca é tarde demais. Um abraço, de sua amiga, índia mal educada.”

Logo Pedro adivinhou que era Júlia, abriu o presente curioso e sorriu emocionado ao ver do que se tratava.

- Júlia, você não existe... – Pegou a cinta liga vermelha de renda que ela tinha lhe dado. Sorriu feliz. – Do jeito
que eu sempre sonhei...

Passou dois longos minutos admirando aquele pequeno pedaço de pano bordo, desejo de toda uma vida. Jeff,
seu assessor, chegou na mesa.

- Finalmente, Pedro, sua mãe esta te procurando, o produtor daquele programa de fofoca da TV , o Ultimas,
esta na sua cola... Eu já avisei a eles o que você disse...

- Esquece tudo que eu disse. – Pedro se levantou decidido. – Entra em contato com o tal produtor do Últimas
e negocia com ele, avise que se ele vier agora aqui para hotel tenho um furo de reportagem pra ele. – Jeff
encarou Pedro sem entender. – E avisa pra mamãe assistir o Ultimas porque eu tenho um recadinho pra
passar a ela.

- Mas Pedro, acontece que...

- AGORA JEFF! – Sem questiona-lo, Jeff correu para atender os pedidos de Pedro. Assim que seu assessor
se afastou, Pedro sentiu as mãos trêmulas, estava morto de tanto nervoso, suava frio, mas decidiu seguir seu
instinto e agora iria até o fim. Para tranquilizar, começou a murmurar seu mais novo mantra. - Mamãe eu estou
ocupado agora, estou assistindo futebol para ver as coxas do Cristiano Ronaldo. Mamãe eu estou ocupado
agora, estou assistindo futebol para ver as coxas do Cristiano Ronaldo. Mamãe eu estou ocupado agora,
estou assistindo futebol para ver as coxas do Cristiano Ronaldo. – Respirou fundo. –Isso Pedro, você
consegue!

________________________________________________________________________

Cíntia abriu os olhos lentamente e ergueu a cabeça com cuidado. Dividia o colchão de casal com Isa. As
pernas emaranhadas entre as suas, estava seminua, usava apenas short e sutiã. Isa dormia apenas de calcinha
e blusa. Com cuidado para não machuca-la devido ao ombro machucado. As lembranças da noite anterior
enrubesceram sua pele. Sempre tímida, nunca imaginou que algum dia invadiria o quarto de alguém como fez
com Isa. Depois que chegaram do jantar da casa de Rebeca, as irmãs de Isa foram para a pousada, Lucas e
Paula se acomodaram no quarto dela e Silvinha para seu quarto. Cíntia se virou na cama por vezes
consecutivas e não conseguiu dormir. Se levantou para beber um copo d’água na cozinha e na porta da
geladeira encontrou com Isa.

- ÔH Isa, por que você não me chamou? Sabe que não pode ficar fazendo esforço...

- Sem sono?

- É... Ando perdendo o sono...


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Me deu fome... – Isa confessou. Quebrou uma barra de chocolate já aberta, estendeu a Cíntia. – Quer?

Cíntia fez um gesto afirmativo. Seus dedos tocaram na pele da mão de Isa quando estendeu a mão para pegar
o chocolate. Os olhares se cruzaram. Isa pensou em aproximar os lábios de Cíntia, mas desistiu ao ver que
ela se afastou, murmurou um “boa noite” e foi para seu quarto. Isa terminou a barra de chocolate e seguiu
para seu quarto. Se deitou, fechou os olhos e sentiu a porta abrir. Cíntia acendeu a luz e metralhou Isa sem
dar chances dela falar:

- Não sei o que esta acontecendo, mas não sei se isso vai poder continuar! Tudo é muito confuso! – Fez um
gesto negativo. – Me sinto atraída, gosto de sentir sua língua dentro da minha boca e suas mãos me pegando,
mas tenho medo do que vem depois. Ainda não consegui esquecer a Alê. Ainda tem a Ingrid que é uma
pessoa incrível! Isso não pode mais acontecer por enquanto, ok? Acabou...

E fechou a porta do quarto deixando Isa sem entender nada. Cinco segundos depois Cíntia invadiu o quarto
de Isa e a beijou com violência e desejo. Isa devolveu da mesma maneira. Amassou os lábios de Cíntia com
força, as línguas se chocaram de maneira doce e provocante em um beijo macio. As mãos de Cíntia afagaram
os cabelos castanhos de Isa e seus dedos intensificaram o contato entre as duas. Isa desceu com os lábios até
seu queixo e aplicou uma mordida de leve, a mão subiu pela cintura e quando as duas retomaram um pouco
de razão, Isa percebeu que estava sentada na ponta da cama com Cíntia em seu colo. Cíntia foi com tanta
sede ao pote que ao se deitar sobre Isa, o estrado não aguentou o peso das duas,cedeu e foi ao chão.

- ISA! AIIIIIIIII, eu te machuquei? – Cíntia perguntou preocupada. Isa não respondeu, mas não devia ter se
machucado, pois não parava de gargalhar. Enfezada, Cíntia ainda completou. – Não tem graça nenhuma,
idiota!

A mão que estava livre Isa usou para segurar a cintura de Cíntia e não deixar que ela escapasse, tentou puxa-
la para um beijo, Cíntia se deteve.

- Que foi, Cíntia? – Sorriu sacana. – Você quer me enlouquecer tirando e colocando o doce da minha boca?

- Não, não é isso, eu fico pensando...

Isa fez um gesto negativo.

- Isso é hora de pensar? – Fez um negativo. – Só age...

Com decisão puxou os lábios de Cíntia para cima dos seus. Ela não relutou, se entregaram aos beijos e
carinhos. Apesar daquela noite estar um tanto gelada, Cíntia e Isa não sentiram nem um pouco a frente fria
que invadia o interior paulista. O clima esquentou pra valer. Cíntia obedeceu as ordens de Isa e agiu sem
pensar quando deixou que Isa desnudasse seu corpo. De troco puxou o micro short de Isa, entrelaçou suas
pernas na dela. Em resposta Isa deixou sua língua se perder na pele, nos ombros e na barriga sequinha de
esportista da minha amiga. As mãos fizeram uma expedição por quase todo corpo de Cíntia, quando os
dedos tocaram a parte interna de sua coxa, Cíntia teve um apavoramento momentâneo e Isa percebeu a
hesitação e julgou normal imaginando que a ultima pessoa que devia ter lhe tocado tão intimamente fosse Alê e

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

que até dois dias atrás nada mais eram que amigas. Cíntia baixou os olhos envergonha.

- Desculpa... É que...

- Foi rápido né?

Cíntia fez um gesto afirmativo.

- Você tem razão, eu sou uma idiota, eu...

Foi a vez de Isa fazer um não com a cabeça.

- Não, você só tem sentimentos... – Cíntia deixou duas lágrimas silenciosas caírem e recostou sua cabeça no
peito de Isa . Isa a abraçou. – Cíntia, Cíntia, Cíntia... Olha o que você faz comigo... Eu odeio dar abraços e
olha agora...

Cíntia sorriu tristemente.

- O que você não odeia no mundo?

- Você. Odeio não conseguir te odiar... Nem um pouquinho... - Depois de sua confissão Isa baixou os olhos
envergonhada. Cíntia fez um carinho em seu rosto. – Você não é a única que não sabe o que esta
acontecendo...

Cíntia não respondeu nada trocaram um beijo lento e cheio de carinho. Se deitaram encaixadas uma na outra
e Isa com seu jeito “desajeito” deixou as mãos escorrerem pelos cabelos curtinhos de Cíntia. Surpreendeu
quando percebeu que ela adormeceu naquela posição. Cíntia que acordou primeiro. Enlaço um dos braços e
tocou a bola de Isa com seus lábios a despertando com um beijo. Em alguns segundos Isa abriu os olhos e
sorriu ao ouvir Cíntia fazer-lhe a proposta:

- Se nem eu e você sabemos, que tal descobrirmos juntas?

Respondeu da forma mais deliciosa que conhecia e deixou seus lábios se entregarem em mais um beijo.

_______________________________________________________________________

- Esta aqui! – Gabriel entregou todos os relatórios de seus casos com provas e anexos para Tavares, a
delegada substituta. – Todo seu...

- Obrigada delegado... Espero resolver todos os problemas pendentes por aqui.

Já viram a simpatia, não? Essa fazia parte do time da Isa, o que tinha de chata, tinha de bonita, 31 anos, negra
de cachos assumidos que batiam nos ombros. Alta e esguia, trazia imponência em seu olhar sem perder a
feminilidade.

- A vontade...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Dias, uma dos investigadores deu uma olhada rápida em Gonçalves, ela trocou algumas palavras com os dois
e saiu.

- Gatinha, hein?!

- Não me é estranha...

- Pegou?

- A Gonçalves? Não... Casada, teve moleque uns dois anos atrás pelo que eu soube. Só a cara que me
lembra alguém... – Confessou. – Deu um soquinho de leve no ombro do parceiro. – Vou indo lá... Agora
delegacia só daqui mês!

- Falou moleque!

- Falou!

Gabriel saiu e Gonçalves tomou sua sala, queria estar só para ler os relatos. Em quinze minutos um rapaz batia
na porta.

- O que eu faço com isso?

- De quem é esse casaco?

- Era do Paulo Sérgio, envolvido no caso do assassinato do mecânico, o Gabriel prendeu ele e ele estava com
esse casaco amarrado na cintura e uma bolsa, ia fugir. Foi detido, daqui pra penitenciária, lá ele conseguiu
escapar e acabou morrendo no acidente do carro que caiu no rio.

- Deixa ai em cima , já vejo.

O rapaz obedeceu. Por puro instinto foi verificar o casaco e de um dos bolsos internos encontrou um mini pen
driver. Curiosa espetou no computador e encontrou um vídeo de aproximadamente seis minutos. O vídeo lhe
interessou. Era um típico caso de suborno que envolvia alguém do Alonso Franco e um fiscal do Conselho
Regional de Medicina. Depois de acertarem valores o fiscal falou abertamente.

- Um prazer fazer negócio com você, Júlia Franco.

Sim, Serginho ia fugir levando o maldito pen driver que Abgail tinha lhe entregado para guardar depois de
passar as provas do trato de Júlia com o fiscal para não relatar a bebedeira e o estado que Nat foi encontrada
após a farrinha com as meninas nas dependências do hospital. No vídeo Júlia não citava o nome da irmã, mas
estava bem claro que se tratava de um suborno. Precisaria agir, odiava safadezas desse tipo.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Eu tinha terminado de sair do banho, me enfiei no roupão e estava a procura de algo para me vestir quando
tocaram na minha porta. Abri e dei de cara com Pedro Henrique e uma equipe de TV com uma luz que quase
me cegava. Assim que ele me viu se ajoelhou pedindo perdão e quase beijou meus pés. E eu sem entender
lhufas.

- Pedro, levanta daí! Que palhaçada é essa, olha aqui se esse for um planinho seu de sua mãe eu...

- Alice, eu preciso que você me escute... – Ele disse nervoso. – Eu vim aqui em missão de paz, conversar
com você numa boa... – E eu sou besta de acreditar nessa mentirada. - Alice, por favor, eu só quero te
mostrar que posso ser um bom pai pra minha filha... Por favor...

- Olha aqui, eu já escutei essa historinha e não acredito...

- É diferente... – Ele fez uma pausa. – E por isso eu trouxe essa equipe de TV. – Essas coisas só acontecem
comigo. Como eu fui parar em uma transmissão ao vivo de TV usando só roupão, com uma toalha na cabeça
e minha casa parecendo “meu Deus o que é isso?” – Me escuta...

- O que você tem pra me dizer...

Pedro olhou para os câmeras e o repórter.

- Esta tudo ligado.

- Pode falar Pedro, o Brasil esta vendo você...

Pedro soltou um pigarro, respirou fundo para tomar coragem e então começou a falar.

- Eu, eu vim aqui, na casa da mãe da minha filha, na casa da Alice porque eu precisava fazer alguns
esclarecimentos que envolviam ela... – Ai meu Deus, não me faltava mais nada. – A Alice vocês já devem
conhecer do vídeo da motoqueira do Youtube... – Olha, era bom essa palhaçada toda ter algum sentido. – Eu
preciso contar a vocês, meus fãs, meus pedritos e minhas pedritas que eu cometi uma injustiça... A Alice não
me traiu com a motoqueira que se chama Júlia. Na verdade eu e a Alice rompemos antes dela e da
motoqueira protagonizarem aquele vídeo... Nós rompemos porque eu trai a Alice.

Eu fiquei preocupada quando ouvi ele falar aquilo. Será que deram drogas pra esse garoto ou ele estava
viciado em algum tipo de droga? Pedro Henrique é uma Barbie comprada na 25 de Março de tão sem
vergonha, mas era pai da minha filha, né? Eu tinha que me preocupar.

- Pedro...

- Quieta Alice, deixa eu falar. – Voltou a encarar as câmeras. – Na verdade quem traiu Alice, fui eu... –
Pronto, se Tufão virou sinônimo de corno, agora as cornas já tinham sua representante em rede nacional. A
Alice. Depois dessa entrevista tive que aguentar por quase cinco meses pessoas falando: “O marido some
todo fim de semana e ela nem se toca que é Alice” ou “Se ele estiver me fazendo de Alice eu mato ele”. – E...
Eu trai a Alice com o rapaz das fotos que vocês viram na internet. Ele não é meu namorado, nós só ficamos

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

algumas vezes. – Só não cai dura e preta naquela hora que agora a coisa tinha começado a me interessar. –
Eu não namorei com ele, mas eu queria assumir aqui, em frente ás câmeras, em frente a minha filha e a mãe da
minha filha, em frente aos meu Pedritos e Pedritas que eu... Eu sou... Eu sou gay! – Minha boca foi parar no
pé. – Eu sou gay! Eu gosto de homens! E eu... Eu... O meu sonho sempre foi usar uma cinta liga vermelha de
renda. – Gente, como eu sou tapada, eu não podia aparecer com uma calcinha vermelha quando a gente
namorava que a calcinha sumia. Barbie surrupiadora de calcinhas! - E eu só assisto futebol para ver as coxas
do Cristiano Ronaldo!

E eu só assisto futebol para ver as coxas do Cristiano Ronaldo? Pronto, olha eu nos mais acessados do
Youtube mais uma vez. Depois que a equipe de TV foi embora e fiquei a sós com o Pedro ele me pediu
desculpa mais uma vez. E olha, acho que pela primeira vez depois de muito tempo foi gostoso conversar com
Pedro e me lembrei porque um dia namoramos. Ele era doce, gostava das mesmas coisas que eu (tirando as
mulheres) e até que eu achava engraçado seu jeito encanado com a aparência.

- Sabe que eu fiquei orgulhosa de você...

Ele deu uma risada.

- Foi nada, fiz pensando na Heleninha... Essa menina não saiu mais da minha cabeça depois daquele dia que
você levou ela na mansão e disse que ela tinha meus olhos. Eu juro que quero ser um bom pai e pensar no
bem dela. E pensando no bem da minha filha... – Fez uma pausa. – Eu acho que ela tem que ficar em um lugar
que ela sinta bem, que seja amada, que se sinta feliz e acho que só com a mãe dela a Helena vai se sentir
assim...

O encarei com um sorriso nos lábios, ainda incerta do que eu ouvi.

- Você esta dizendo o que?

- Estou dizendo que se você me permitir ver a minha filha quando eu quiser, passar o tempo que eu quiser
com ela e aceitar a pensão que vou depositar para Helena, eu esqueço essa história de pedir a guarda dela!

Quando dei por mim estava agarrada no pescoço de Pedro Henrique enchendo seu rosto de beijos e
agradecendo a Deus por ter aberto aquela cabeça dura dele.

- Pedro eu nunca ia impedir você de ver a Helena depois que você a conheceu... Seu bobo, precisava me dar
esse susto?

Pedro ficou mais uma meia hora lá em casa, paparicando nossa cria. Ali pude enxergar que realmente ele
poderia ser um ótimo pai pra Heleninha. Ainda nessa meia hora ele me contou como começou a refletir sobre
suas atitudes e aproximação dele com Júlia. Morri de rir quando soube das jogadas que ela havia feito só para
convencê-lo a esquecer essa história de tirar a Heleninha de mim. Era uma maluca mesmo. Liguei para o
hospital e soube que ela estava lá devido a um paciente com pequenas complicações no pós operatório. Eu
precisava dar um beijo nela antes de partir. Cheguei ao Alonso Franco com Heleninha. Leandro me informou
que Júlia já estava no terraço à espera do helicóptero que a levaria para o Pantanal. Ela sorriu ao me ver e fez

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

um gesto negativo.

- Teimosa!

- Eu precisava te dar um beijo antes de você sair! Seu novo amigo, Pedro Henrique apareceu lá em casa... –
Eu disse, ela riu. – Você não existe, sua louca! Não tenho como te agradecer!

- Tem sim! – Me roubou um beijo. – E assim que eu voltar de viagem vou querer todo agradecimento do
mundo.

Trocamos mais um beijinho e o helicóptero pousou para leva-la. Júlia me deu um ultimo beijo, colocou um pé
para subir, mas ouvimos alguém chamar por Júlia. Olhamos para trás e vimos dois policiais acompanhados de
uma mulher meio parecida com Nat.

- Você é a doutora Júlia Franco? – A mulher perguntou.

- Sim, que é a senhora?

- Elisa Gonçalves, delegada! – Elisa Gonçalves? Era a filha de Diná. A irmã caçula de Nat. Júlia logo se tocou
e jogou um olhar pra mim. O pior ainda estava por vir. Ela estendeu um papel que só na delegacia fui entender
que era mandado de prisão. -Júlia Franco, a senhora esta presa por pratica de suborno.

- Como? – Júlia perguntou surpresa. – Mas, eu posso explicar, eu...

- Vou adorar ouvir isso quando a senhora se explicar no seu depoimento. – Virou-se para os dois. – Pode
algemar!

E presa feito um bicho com as mãos para trás vi minha namorada ser levada daquele hospital. A vaca da dona
Abgail mais uma vez conseguia azedar nossa vida. O hospital inteiro parou para ver aquela cena. Rebeca
estava ao meu lado quando assistimos Júlia entrar na gaiola da viatura.

E congela na Heleninha no meu colo, tão pequena e já presenciando o começo daquele terrível pesadelo.

End Notes:

Cenas do próximo capítulo:

- Ela foi embora... - João disse a Gabriel. - Eu tenho certeza que ela não volta, por
que ela não em atende!

Gabriel ,tocado, se agachou para ficar da altura de João.

- Calma João, o sinal lá deve ser ruim... É claro que sua mãe não foi embora, é só
uma viagem de trabalho... - João se abraçou a Gabriel. - Ela ama você... - Limpou o
rosto de João. - Você tem sempre que se agarrar a isso, ela ama você!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Das frestas da persiana, Júlia, algemada observava aquela cena.

_____________________________________________________________

E ai? Gostaram?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 69 by Tamaracae

Author's Notes:

Oi meninas, esta suado pra postar capítulo aqui viu!!! Mas tá aí o penultimo cap pra
vcs!!!

Música do capítulo: Vanessa da MAtta - Ainda bem

https://www.youtube.com/watch?v=38RcGzcRJYc

Já passava mais de oito horas que Júlia havia sido levada e ninguém aparecia com alguma informação
relevante. Bruno me acompanhava na sala de espera da delegacia. No hospital só se falava da prisão de Júlia.
Minhas amigas foram atrás de mim na delegacia, mas não podia permanecer por muito tempo por causa do
trabalho e para não criar muito tumulto. Papai também passou por lá, sempre meu parceiro nas horas mais
difíceis, levou Heleninha para casa.

Dona Regina, João e Nat eram os únicos que não sabiam do ocorrido, Bruno tinha achado melhor perguntar
a Júlia se ela queria que os dois soubessem de mais aquele problema. E Nat saberia mais tarde, antes de Júlia
ser presa, Nat havia entrado no centro cirúrgico para retirar um tumor maligno localizado na espinha de um
paciente e qualquer vacilo poderia deixar o homem paraplégico. Operação mega complexa que só a maluca
da Nat tinha coragem de pegar. Já fazia nove horas que ela estava em pé com uma barriga de 5 meses na sala
de cirurgia cuidando do tal homem. Aquele seria o pior momento para saber da prisão de sua Júlia e do
aparecimento de sua outra irmã. Bruno voltou do “balcão de informações” da delegacia.

- E ai?

- Adivinha... Prestando esclarecimentos a delegada...

- Droga!

Só sabiam falar isso pra gente. Enquanto ficávamos ali esperando por noticias, Gabriel, Ingrid e Meira, um ex
professor de Ingrid especializado em causas criminalísticas, corriam atrás do habeas corpus para que Júlia
respondesse o processo em liberdade. Em pensar que ela subornou o maldito fiscal pressionada pela mãe

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

para salvar a irmã. Que vontade de jogar aquela do alto de um prédio de quarenta andares e gritar lá de cima
“desce e arrasa”! Desgraçada! Meu celular tocou, era meu pai. Bruno foi até o bebedouro pegar o copo
d’água.

-Oi pai...

- Você pediu pra ligar quando a Lelê dormisse, ela dormiu e esta bem.

- Ai pai, obrigada... – Minha voz saiu chorosa. – Não sei como agradecer o senhor, eu...

- Não chora meu amor, não chora, você tem que ser forte agora... A Júlia tem a cabeça feita, ela vai superar
mais essa...

- Eu só quero viver em paz com minha mulher e minha filha, pai... Ter minha família, é demais querer isso?

- Você já sabe alguma noticia?

- Não e... Pai, o Gabriel esta vindo, eu vou falar com ele, qualquer coisa ligo. – Minha voz saiu até mais firme
ao ver a cara barbuda do Gabriel acompanhado de Ingrid e Meira. Beijo.

- Beijo, se cuida , filhinha!

Desliguei e corri de encontro aos três. Só de olhar Gabriel e ver sua cara fechada percebi que as noticias não
eram nada boas. Bruno avistou a chegada dos três e correu ao nosso encontro eufórico.

- Conseguiram o habeas corpus? Ela vai ter que passar a noite aqui? – Bruno perguntou indignado. – Minha
irmã foi levada presa, algemada, nem foi flagrante. Isso é abuso de poder, não tem como enquadrar essa
delegada e...

- Ela explicou ao juiz que algemou a Júlia porque interpretou que a Júlia ia fugir. – Ingrid explicou. – A gente
tentou argumentar que a Júlia iria fazer uma viagem de trabalho, mas quando ela ligou para o amigo da Júlia lá

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

no Pantanal e ele disse que a Júlia tinha pedido para se desligar do emprego um dia antes ficou uma situação
difícil de explicar.

Gabriel fez um gesto afirmativo.

- Não é querendo defender a causa, mas talvez eu pensasse a mesma coisa.

- A Júlia vai ficar presa que nem a mãe dela?

- A dona Abgail esta esperando o julgamento presa por causa do clamor publico, Alice. Isso é totalmente
legal. – Gabriel tentava me explicar o complicado mundo das leis. – Essa noite não vai ter jeito... Ela vai ter
que passar aqui!

Eu estava cheia daquela injustiça e cheia também de me enrolarem e não deixarem eu ver minha mulher. A
delegada saiu da maldita sala e eu não esperei duas vezes para encher o ouvido dela, Bruno me acompanhou,
para aumentar a confusão, Nat chegava à delegacia. Alguém devia ter contado a ela o que havia acontecido,
em outras palavras, tudo virou um bate boca do tamanho do iceberg que se chocou com o Titanic.

- EU QUERO FALAR COM MINHA ESPOSA! O QUE VOCÊS ESTAVAM FAZENDO COM ELA
ATÉ AGORA? EU TENHO O DIREITO...

- ELA ESTAVA PRESTANDO ESCLARECIMENTOS!

- A MINHA IRMÃ NÃO PODE FICAR PRESA ASSIM SEM SER PEGA EM FLAGRANTE!

- BRUNO, FICA QUIETO VOCÊ TAMBÉM... – Gabriel ordenou. Virou-se para Elisa. – E VOCÊ VIU
ERRADO, A JÚLIA NÃO ESTAVA FUGINDO!

- CALA A BOCA VOCÊ. – Nat ordenou a Gabriel. – A MINHA IRMÃ FOI PRESA POR MINHA
CAUSA. – E se acusou em falso. – FUI EU QUE MANDEI ELA SUBORNAR O FISCAL! ELA NÃO
PODE FICAR PRESA POR UM CRIME QUE EU PRESSIONEI ELA PARA COMETER!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- FICA QUIETA, NAT! – Eu disse. A Nat era louca. Só faltava presa com um barrigão daqueles.

- MINHA SENHORA, ISSO AQUI É UMA DELEGACIA, A CLÍNICA DE ULTRASSOM É DO


OUTRO LADO DA RUA E... – Elisa se cortou. – NAT?

- NATÁLIA FRANCO!

- Natália?- Elisa perguntou. Minha irmã?

- ELA É MINHA IRMÃ! – Bruno retrucou. – PRIMEIRO VOCÊ PRENDE A MINHA IRMÃ AGORA
VAI ME ROUBAR A OUTRA? E QUER SABER DE UMA COISA? – Bateu no peito. – EU SUBORNEI
O FISCAL!

E mais blá blá blá, blá blá blá até que Bruno xingou um dos guardas de “bosta” e foi preso por desacato a
autoridade. Júlia estava na ultima cela do corredor, sozinha. Poucos presos ficavam ali por muito tempo,
normalmente eram transferidos pela penitenciária ou casa de custodia mais próxima. Júlia julgava que o
mesmo deveria acontecer com ela se não conseguissem logo sua liberdade provisória. Ouviu gritos familiares e
reconheceu a voz do irmão se acusando.

- AGORA PODE SOLTAR A JÚLIA! PODE SOLTAR, FUI QUE MANDOU ELA PAGAR O FISCAL!
FUI EU! – O carcereiro jogou Bruno na cela em frente da cela de Júlia. Trancou a cela e deu as costas. –
SOLTA ELA SEU DESGRAÇADO, SOLTA A MINHA IRMÃ!

- OW, OW! – Júlia gritou o carcereiro não lhe deu ouvidos. – MEU IRMÃO É INOCETE! ELE É
INOCENTE! – Virou- se para Bruno. – O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO SEU IMBECIL?!

- O QUE VOCÊ ESTA FAZENDO? – Bruno devolveu. – Mãe de família você tem um filho pra criar!

- E a Laísa é o que? Um cachorro por acaso?

- Mãe faz muito mais falta que pai!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- AAAAAH! Vá toma banho! – Fez um gesto negativo. – IMBECIL! Sem cérebro! Esse bando de músculo
só serve pra por em sopa!

- IDIOTA! Ainda bem que a Nat tem cabeça e ...

Júlia e Bruno foram interrompidos por uma terceira voz. Os dois se viraram para entrada e logo reconheceram
o barrigão de Nat a distância. O carcereiro a trazia, Gabriel e o guarda acompanhavam os dois enquanto
Gabriel tentava dissuadir o guarda da ideia de dar voz de prisão a Nat, sem sucesso. O carcereiro trancou
Nat na mesma cela que Júlia.

- OW! FUI EU QUE MANDEI ELA PAGAR O FISCAL! SOLTA OS MEUS IRMÃOS, ELES SÃO
INOCENTES. – Júlia revirou os olhos. A sorte de Nat é que estava grávida senão levaram uns tapas pra
calar a boca ali mesmo. – OS MEUS IRMÃOS AQUI!

- Ela tá maluca! – Júlia disse ao guarda. – Os dois. Isso ai é ataque de hormônio, grávida tem muito disso! E
meu irmão ele bebe... Libera os dois, por dois!

- Olha ai... – Nat revoltou-se. – Mandona! Até na polícia ela quer mandar!

- QUE MANÉ BÊBADO?! – Bruno retrucou. Aproveitou que Gabriel estava perto de sua cela, deu um
puxão no cabelo dele. Gabriel soltou um “ai”. – VIU? EU SOU PERIGOSO!

- Eu não presto, nunca prestei! – Nat tomou a palavra. Virou-se para o guarda. – O senhor conhece a
Silvinha? Procura pela Silvinha do Scarpan e pergunta pra ela se eu presto, eu não valho nada, ela vai te falar,
ela...

O policial cheio daquela pataquada saiu resmungando acompanhado do carcereiro. Gabriel fez um gesto
negativo.

- GÊNIOS! – Gabriel soltava fumaça pela cabeça. - OLHA O QUE OS TRÊS ACABARAM DE FAZER!
– Aplaudiu ironicamente. – Parabéns para os gênios da família Franco!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Ou devíamos chama-los de família metralha?

- Libera os dois. – Nat ordenou a Gabriel. - A culpa foi minha!

- Aqui não é o hospital que você manda e desmanda em todo mundo. – Bruno disse. – Eu vou ficar!

- O que você vai fazer pra tirar eles dois daqui? – Júlia perguntou. – Você sabe que eles não têm nada a ver
com isso.

- Primeiramente não vou dizer que fui eu que subornei o fiscal. – Gabriel debochou. – Eu vou ver o que posso
fazer por vocês.

Gabriel saiu, os três ficaram a sós. Ficaram em silêncio por alguns minutos até Bruno abrir a boca.

- O que vocês ainda estão fazendo aqui, hein?! Nat, sua imbecil, você quer ser o que? – Bruno perguntou. -
Mamãe penitenciária? Vai pra casa Nat...

- Bruno, quer me fazer um favor? Vai pra puta que o pariu...

- Vá você, o moleque tá certo... – Júlia rebateu. – Você comeu bosta por acaso? O que você com essa
barriga enorme esta fazendo aqui? – Nat não respondeu. – O que vocês estão fazendo aqui? – Júlia fez um
não com a cabeça. – Fui que paguei o cara, eu assumo minha culpa e pronto! Vocês vão pra casa... – Virou-
se para Bruno. – Alguém tem que cuidar da vovó. – E a Nat. – E você é a chefe da nossa família, é a
estrutura daquele hospital! Sai daqui e vai atrás de um advogado pra mim... É isso que vocês tem que fazer!

- Vai dar ordem pra suas negas. – Bruno falou de modo displicente.

- E pronto! E pronto! – Nat rebateu. – Virou a dona da razão! Cacete Júlia, já sacrificou dez anos da tua
vida! Que mania de suicida! Teu filho precisa de você! – Virou-se para Bruno. – E a tua também, seu
moleque! Eles só têm vocês... Eu fico!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- E quando nascer teus filhos, vai fazer o que? – Júlia perguntou. – Um chá de bebê com as coleguinhas de
cela? Deixa de ser idiota, Nat...

- Eu entrego os bebês para o Gabriel! Ele vai ser um ótimo pai!

- Mas mãe faz mais falta! – Bruno garantiu. – A Becca vai cuidar bem da Laísa, eu sou o homem da família,
eu assumo a culpa.

Júlia e Nat riram.

- Falou o chefe da casa... – Júlia encheu a boca. – O homem da família!

- Não sabe nem porque você cospe garoto! – Nat contestou. – Vai pra casa...

Os três bateram boca por mais algum tempo e depois se silenciaram. Nat muito pensativa, estava com a
cabeça apoiada no ombro de Júlia. Olhava para um ponto fixo. Júlia fez um gesto negativo.

- Que foi?

- Pensando em como a vida é irônica... Tua irmã me prender...

Nat fez um gesto afirmativo, deu um sorriso meio triste.

- Estranho... Aquela mulher tem minha cara, meus olhos e eu não conheço ela... Ela não é nada minha.

Júlia riu.

- Sabe quem você esta parecendo? O João quando eu cheguei. – Nat deu uma risada. – Não conheço essa
mulher... Ela não é nada minha...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Mas é verdade, quando falam sobre irmã, eu logo penso em você. Você e aquele idiota ali... – Apontou
para Bruno que roncava de olhos fechados na outra cela. – Que são meus irmãos...

Júlia fez outro gesto negativo. Apontou para Bruno dormindo.

- Grande homem da casa... Leite com pera. Aposto que no primeiro dia já ia virar empregada da cela. Cheio
de mi mi mi, mas chora pra tomar dipirona. – Nat permaneceu séria. – Que foi?

- Essa mania de não deixar a gente resolver os nossos problemas. Por que você não me falou nada disso? –
Júlia baixou a cabeça. Nat falou em tom de bronca. – Droga, você pode ser condenada! Pode deixar de ser
médica por minha causa!

- Não fiz por achar criança, mas porque acharia um desperdício uma médica do seu porte parada por causa
de um vacilo. Você é melhor médica do que eu, Nat... Não sei tirar tumores inoperáveis da espinha de
ninguém como você faz...

- Fica mais fácil você trabalhar quando esta segura, em um hospital com um teto, dormindo direito, com uma
equipe competente e não operando no meio do mato, em uma ambulância no meio de um dilúvio, no meio de
uma guerra, de um terremoto como você faz... – Sorriu. – Eu também subornaria um fiscal para salvar você...

As duas se entreolharam.

- Você é o gênio da família, Bruno e a força e eu o caso perdido. As pessoas sempre enxergaram isso assim.
Só me promete uma coisa? Toma conta do João pra mim se eu for condenada?

- Júlia...

- Sério, Nat...

- E eu já fiz outra coisa diferente nessa vida? – Júlia deitou a cabeça no ombro de Nat. Ganhou um beijo da
irmã. – A gente vai sair dessa, eu sei que foi a mamãe que te pressionou e eu mais que ninguém sei que aquela

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mulher consegue o que quer quando faz pressão em cima da gente. Eu vou te tirar dessa...

Mais alguns minutos percorreram no relógio. Nat e Júlia permaneceram naquela posição mudas. Só se
moveram quando ouviram os passos do carcereiro. Bruno despertou com o barulho das chaves do carcereiro
batendo nas grades. Ele olhou para Bruno e Nat.

- Vocês dois tão liberados... – Virou-se para Júlia. – Você aguarda ai, tem visitas.

Bruno saiu da cela sob protesto e ainda alarmando que era um bandido perigoso, já Nat abraçou a irmã antes
de sair e disse:

- Podemos ser um gênio, a força e um caso perdido. Não importa como as pessoas nós vem, mas o que
importante é que cada um de nós é um pouco disso. A gente pode não ser parecida, não posso ter a cor da
pele de vocês, dos olhos, somos diferentes, mas o sangue é o mesmo, Júlia! Somos a porcaria de um tripé
que se não estiver os três juntos não conseguimos se manter! Eu vou tirar você daqui, te prometo!

_______________________________________________________________________

- Aguarda ai. – O policial com cara de urso que me levou até a salinha destinada aos encontros entre presos e
visitas que me disse isso. – A prisioneira já vem!

Prisioneira. Só podia estar passando por um pesadelo. Assim que essa mulher conseguir o tal habeas corpus
eu vou na tal mãe de santo da Silvinha pra ela dar um banho de descarrego nela. Nem que eu precise levara
Júlia à guarda chuvadas como na primeira vez que a arrastei para minha casa aqui em Silvéster. Sorri com
aquela lembrança tão gostosa e tão distante. Como podia aquela estranha toda molhada de chuva de uma
hora para outra ter se tornado a mulher da minha vida? Só Deus para explicar uma coisa dessas...

Não me aguentando de ansiedade, levantei da cadeira e bebi um copo da garrafa de água que estava ali sobre
a mesa. Relatando agora posso parecer calma, mas lá estava desesperada por noticias, com medo dela
aparecer com um hematoma, estar sendo maltratada pelas presas ou algo pior. Meus pés não paravam de
tremer, as mãos suavam horrores. Tentava me manter forte e em pé, mas estava difícil manter as pernas
firmes. Quando a porta se abriu e Júlia entrou meu coração bateu apertado. ´

Ela não estava machucada, mas visivelmente cansada e usufruindo de péssimas acomodações, pois sua roupa
estava suja. Não pensei duas vezes em agarra pelo pescoço e abraça-la com toda minha força. Fui
correspondida na mesma amplitude. Gabriel me disse que ela estava bem, mas meus olhos precisavam ver

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isso. Selamos um beijo, com minhas mãos apertei levemente seu rosto, seu corpo para ver se estava inteira, se
estava ferida. Ela procurou por meus lábios e trocamos um beijo saboroso e cheio de intensidade, pouco se
importando com a provável presença de um guarda nos observando. Só conseguimos separar nossas bocas
depois de uns cinco minutos. Ela beijou todo meu rosto, secou duas lagrimas desobedientes que não deveriam
ter caído, desenhei suas feições com meus dedos.

- Fiquei com tanto medo que alguém tivesse te machucado... A cela tá super lotada? Você tá precisando de
alguma coisa? Você comeu? Você...

- Calma mulher... – Júlia ainda teve paciência de brincar comigo. Ela estava nervosa, mas não queria me
passar isso. - Hoje à tarde transferiram os presos daqui pra casa de custódia de Serro Azul, eu estou
sozinha... Estava até o Bruno e a Nat chegar... –Triste. – Vou ter que passar a noite aqui, né? –
Envergonhada. – Você não devia ter vindo Alice, aqui não é lugar pra você.

- Não senhora, aqui é lugar pra mim sim! – Envolvi minhas mãos em seu rosto e fiz ela olhar nos meus olhos. –
Eu sou tua mulher, meu lugar é do seu lado e se você esta aqui eu tenho que estar com você até tirar você
daqui! – Fiz um carinho em seu rosto. – A gente esta fazendo o possível e o impossível pra que isso seja
rápido, meu amor...

Júlia fez um gesto afirmativo.

- O habeas corpus foi negado, não foi?

- Foi. – Confessei com pesar. – Eles acharam que você ia fugir para o Pantanal, mas você não vai ficar aqui
por muito tempo. Você não tem maus antecedentes, tem emprego e residência fixa, assumiu a culpa, amor a
gente vai provar que você foi pressionada a fazer isso e que o esquema já estava todo montado com a sua
mãe... A gente vai te tirar daqui.

- Alice, eu posso deixar de ser médica...

- Eu sei...

- Posso ser transferida pra uma penitenciária...

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- Eu sei...

- Posso sair da cadeia com 49 anos de idade, posso pegar 12 anos de prisão, Alice...

- Você pode pegar um milhão de anos de cadeia, pode sair daqui e sei lá, esquecer medicina e virar guarda
de trânsito, pode passar esses 12 anos dividindo cela com uma nada doce companheira chamada Vanessão
que te obriga a lavar as cuecas dela, pode parar de raspar as pernas, deixar o buço, sei lá... Eu vou estar te
esperando. – Mirei seus olhos. – Vou te esperar nas condições que for porque eu te amo!

Júlia sorriu tentando disfarçar o choro.

- Pior que você vai esperar mesmo. Não vai?

- Claro que eu vou, minha linda. – Deixei nossos lábios se tocarem. – É claro que eu vou...

Ficamos mais alguns minutos trocando beijinhos até que o guarda me chamou e tive que ir embora. No dia
seguinte tentaria voltar com algumas coisas pra ela comer, umas trocas de roupas e fotos de João e da
Heleninha que ela tinha me pedido. Sobre João ela me fez um apelo que não seria fácil cumpri-lo. Ela pediu
para que eu não contasse a João o que estava acontecendo. Ela preferia conversar com ele depois, com
calma e explicaria pessoalmente.

Dormir aquela noite não foi nada fácil pra mim, eu imaginava como ela estava se virando para dormir naquela
cela fedida, com um colchãozinho cheirando a carne de tanta mulher que deve ter se deitado por ali. Acabei
não pregando os olhos. João dormiu comigo em casa, na minha cama. Como ele não era bobo nem nada logo
percebeu que algo grave estava acontecendo.

- A minha mãe esta bem, Alice?

- Esta, falei com ela hoje, ela esta ótima. Só que ela vai ter que ficar um tempinho lá no Pantanal porque o
amigo dela ainda não arranjou ninguém pra trabalhar no lugar dela.

- E por que ela não quis falar comigo?

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- Ela queria falar com você, mas você estava no colégio, ela não pode ficar muito tempo no telefone lá porque
o sinal é muito ruim.

- Ah tá...

Ele ia fazer qualquer outra coisa, mas volta e meia retornava na história. A sorte é que ele estava meio
apaixonadinho por uma tal de Raíssa, acho que era uma menina da classe dele e não se ligava em certos
detalhes como as roupas que mãe dele tinham levado para viajar estavam de volta no guarda roupa dela entre
outras coisas. É lógico que Júlia não gostou nem um pouco de saber que o filho andava distraído com uma
menina. Também é lógico que ela fez um questionário e só faltou pedir o CPF da Raíssa, mas teve que dar a
mão a palmatória concordando que a paixonite de João veio a calhar. Para Dona Regina Júlia também ainda
estava no Pantanal, ela queria contar a história para a avó pessoalmente.

Gabriel, Ingrid e o advogado Fernandes corriam com a documentação do processo. Depois daquela tentativa
frustrada do habeas corpus, o juiz viajou e só voltaria em alguns dias. Fernandes conseguiu um avanço no
caso. O Conselho Regional de Medicina fez um acordo com o advogado de Júlia: Eles não abririam nenhum
processo de investigação para cassação do registro profissional e Júlia e em troca ela evitaria falar sobre o
fiscal do deles a imprensa, não queriam sujar a imagem. E também interpretaram o suborno como um caso
administrativo e não de saúde. Por ideia de Ingrid fizeram o tal acordo e Júlia não deixaria de ser médica
mesmo que fosse condenada.

O problema é que apesar de estar desligado, ele não era burro e logo começou a notar que nunca atendia os
telefonemas de Júlia e não escondia seu chateamento quanto a isso. Ela não suportava mais de saudade do
filho. Com o passar dos dias percebi que Elisa não era bruxa que pintava e até foi bem flexível quando deixou
que Gabriel levasse João até a salinha de visitas e Júlia visse o filho através de um espelho espião. Um guarda
acompanhava Júlia e eu. Gabriel e Nat buscaram João na escola e o levaram até a delegacia com a desculpa
de que precisavam pegar uns documentos. Gabriel atraiu João até a sala de visitas e João aproveitou que
estava sozinho com o tio para perguntar sobre Julia.

- O lugar que ela trabalha é longe João, por isso que ela só liga quando você esta na escola, porque de manhã
a levam até a cidade, ela liga de lá e depois passa o dia inteiro a campo.

- Ela foi embora... - João disse a Gabriel. - Eu tenho certeza que ela não volta, por que ela não me atende?
Ela não volta mais tio!

Gabriel ,tocado, se agachou para ficar da altura de João.

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- Calma João, o sinal lá deve ser ruim... É claro que sua mãe não foi embora, é só uma viagem de trabalho... -
João se abraçou a Gabriel. - Ela ama você... - Limpou o rosto de João. - Você tem sempre que se agarrar a
isso, ela ama você!

Do espelho, Júlia, algemada observava aquela cena. Duas lágrimas grossas nasceram em seus olhos. Muda
assistiu a cena por mais alguns minutos. Só depois que João saiu da sala conseguiu murmurar.

- Eu preciso desse habeas corpus. Meu filho precisa de mim, Alice! Eu preciso desse habeas corpus!

De tarde Júlia foi chamada até a sala da delegada. Júlia achou que era para prestar mais depoimentos ou algo
do tipo, mas Elisa a surpreendeu. Mandou que ela senta-se e fechou a porta. Júlia a obedeceu.

- Qual o número da sua casa?

- Como?

- O número de sua casa?

- Mas...

- O número de sua casa, Júlia!

Um tanto confusa, Júlia falou o número de seu telefone em voz alta. Carolina discou diretamente de seu
celular. Como Júlia estava algemada estendeu a mão para colocar o celular em seu ouvido.

- Eu não costumo fazer isso! – Fez uma pausa. – Você tem cinco minutos pra falar com seu filho! – Júlia,
você tem cinco minutos para falar com seu filho.

- Alô? – Ao ouvir a voz de João pelo telefone Júlia sentiu um nó na garganta. – Alô?

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- Filho, é você?

- MÃE?! – Ele perguntou entusiasmado. – Oi mãe, você tá no Pantanal ainda?

Júlia não conseguia falar direito, estava emocionada, respondia automaticamente. Deixava João falar mais,
estava com saudade da voz dele, das conversas dos dois, as perguntas inusitadas que o João sempre fazia e
ela se atrapalhava em responder. Depois de alguns minutos despediram-se. Júlia não quis abusar da boa
vontade de Elisa. Desligou o telefone com um enorme sorriso no rosto.

- Obrigada viu... –Júlia agradeceu sincera. – Não tenho como te agradecer por isso...

- A Nat me falou como você é ligada no menino. Ela também parece gostar muito dele também, se
preocupa...

- A Nat ama o João como só mãe é capaz de amar... Meu filho a adora. – Sorriu ao ver a foto de um
menininho de dois anos sobre a mesa da delegada. – Teu filho ganhou a melhor tia do mundo!

Elisa fez um gesto afirmativo.

- Ela me perguntou dele, quero apresentar os dois no dia do casamento. O João adora a tia dele e é louco por
você... – O guarda chegou. Júlia se levantou. Da pra ver só de olhar nele, Júlia.

- Mais uma vez muito obrigada.

A conversa fez muito bem aos dois. João visivelmente estava mais contente e brincalhão, quando fui visitar
Júlia percebi que sua esperança também havia sido renovada. Eu não era a única a visita-la. Minhas amigas
sempre aparecia por lá, só podia entrar de duas em duas. Júlia não estava mais sozinha na cela. Agora dividia
o espaço com quatro mulheres. Uma esfaqueou o marido e as outras foram pegas em um sequestro. Na outra
cela havia ainda mais cinco presas transferidas de outras cidades que estavam super lotadas. Uma das
sequestradoras era violenta e enchia o saco de Júlia por causa de sua boa aparência. A pólvora estourou
quando ela tentou arrumar briga com Júlia por causa de comida.

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- Dá isso aqui playba... – Ela só chamava Júlia de playboy. – Tô com fome!

E roubou o café da manhã na cara dura. Júlia de saco cheio da implicância de sua colega de cela cuspiu no
pão velho e no suco.

- Faz bom proveito agora...

Irritada aquela troglodita veio e deu um empurrão em Júlia. Suas duas parceiras vieram ajudar, uma havia
achado um pedaço de lamina no chão e ameaçava cortar o rosto da minha namorada. As presas começaram
a incitar a violência com gritos. A sorte é que Júlia era rápida e tinha bons reflexos, caiu no chão e derrubou
mulher da lâmina no chão, levantou-se em um pulo. Quando a segunda veio para cima dela, desviou. A mulher
socou o ar e ainda levou uma cotovelada no pescoço. A terceira Júlia não teve muito trabalho, se agachou e
também desviou do soco, quando ela veio para cima meteu uma joelhada em seu rosto que fez sangrar o nariz
da bandida. A esfaqueadora nem quis se meter no caminho dela e as mulheres da outra cela que torcia contra
Júlia mudaram a casaca e algumas até brincaram.

- Olha a Playba aprendeu a lutar com o Anderson Silva!

- Mete o pau, nega, mete o pau nas “folgada”!

Júlia montou a guarda de luta.

- E ai, qual vai ser a próxima filha da puta?

Depois dessa trocaram ela de cela e lógico que aceleraram ao máximo sua papelada para ser transferida. Se o
juiz não chegasse logo de viagem, Júlia teria que ser encaminhada para uma penitenciária.

__________________________________________________________________________

Enquanto eu corria contra o tempo, na casa de Silvinha as coisas entre Cíntia e Isa pareciam evoluir. Elas não
estavam fazendo questão de ocultar a ninguém que estavam se conhecendo de outra forma. Agora dividiam o

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mesmo quarto e se comportava como um casal de namoradas, embora nenhuma das duas admitisse isso. Isa
cumpria sua parte em deixar as coisas caminharem no ritmo de Cíntia. Minha amiga estava ótima como novo
emprego e se sentia aliviada após conversar com Ingrid e explicar que estava ficando com Isa. Tudo ia bem
até Cíntia ouvir uma conversa de Isa e Laurinha. Ela estava na cozinha e as irmãs na varanda, não tinha
anunciado sua chegada.

- Isinha, estou tão feliz por você... – Isa sorriu e ganhou um apertão de bochecha da irmã. – Essa cidade te
fez muito bem... Você esta mais bonita, fazendo o que você gosta com uma pessoa decente dessa vez...

- Laurinha...

- É verdade... Você sabe que aquela mulher não é pra você. – Aquela mulher? Que mulher? – A Fatíma não
vale nada. – Fátima? – Graças a Deus você se livrou dela...

- Como ela esta, hein?!

- ISA!

- Você que falou dela. Bateu curiosidade.

- Aquela vaca ali fica mal. Tá ótima! Mas esquece dela Isa...

- Você que começou a falar...

- Tá bom, parei!

- Também parei!

Cíntia esperou uns cinco minutos e então apareceu na sala. Deu um beijo na boca de Isa, Laurinha conversou
um pouco com as duas. Quando começou a contar sobre umas peraltices da Isa em Belo Horizonte, Isa logo
arrumou um jeito de arrastar Cíntia para o quarto. Assim que fecharam a porta, Cíntia puxou Isa pela gola da

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camisa e beijou sua boca cheia de desejo, Isa correspondeu e em pouco tempo as duas estavam deitadas as
mãos em busca de carinhos mais ousados.

Dessa vez quem freou a situação foi Isa. Não queria que acontecesse de forma banal, com várias pessoas
dentro de casa. Ficaram trocando carinhos e conversando. Logo o assunto enveredou para Belo Horizonte e
Cintia criou coragem em perguntar:

- Você deixou alguém em BH, Isa?

- Que valesse a pena não... – Puxou Cíntia para mais próximo dela. Trocaram mais alguns beijos. – Você
beija tão gostoso sabia? Sua boca tem gosto de frutinha...

- Como é que é? -Cíntia perguntou divertida. – Frutinha?

Isa riu.

- Viu o que você faz, não posso ficar muito perto de você que já fico falando besteira...

- Fala mais besteira pra mim, adorei...

As duas sorriram e as bocas se buscaram novamente, mas Cíntia logo levantou. Tinha algo urgente para ver.
O casamento da Nat seria em dois dias e precisava escolher entre um dos vestidos de festa que Júlia havia lhe
emprestado. Ia ser uma das madrinhas.

- Se a Silvinha for acabar com o casamento da Nat eu vou com a mesma roupa do casamento do Bruno...

- Isa você é uma das madrinhas...

- Não vou gastar roupa nova em festa flopada. E só aceitei porque a Nat me fez uma ameaça velada que
falsificaria um erro médico e jogaria nas minhas costas.

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- A Nat nunca faria isso, Isa, que horror!

- Claro que ela faria! - Trocaram um novo beijo. – Vou até a cozinha pegar alguma coisa. Quer comer o
que?

- Pipoca com queijo e coca.

- Já volto!

Isa saiu do quarto. Sozinha, Cíntia voltou a pensar no trecho de conversa que ouviu na sala e sentiu-se um
tanto agitada. Devia falar sobre a tal Fátima com Isa ou não? Esqueceu de seus questionamentos quando
Silvinha entrou no quarto.

- Opa, finalmente te encontro sozinha... Você e a Isa parecem que estão cio, se agarrando pelos cantos, coisa
feia, viu! – Cintia riu. – Esse make que eu fiz, vou no casamento com ele, o que você acha?

- Boba. Silvinha você vai no casamento?

- Com a carinha linda que Deus me deu, meu amor... A Nat não vai me ver sofrer mais por ela!

_________________________________________________________________________

Com Júlia presa eu não tinha cabeça nenhuma para casamento, mas tinha comprometido em ser a madrinha.
Meu animo era zero. Até estranhei quando Gabriel chegou na véspera do dia todo contente na cabana. João,
Heleninha e eu tomávamos café.

- Vim trazer a costureira para fazer cueca de casamento que esse homem vai usar amanhã.

- Odeio cueca!

- Você adora cueca.

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- Odeio cueca!

- Você vai adorar, quer ver? – Gabriel caminhou até a porta. E gritou. – Costureira!

- É daqui que encomendaram uma cueca de casamento?

Meu coração quase saiu pela minha boca quando vi a minha Júlia naquela porta. O sorrisão moleque que eu
amava tinha voltado. Ela estava linda, tomada banho com uma roupa nova me principalmente, livre, livre, livre!
Parecia mais colorida do que antes. Um brilho nos olhos que me fez me apaixonar ainda mais. Depois que ela
conseguia se soltar do abraço eufórico de João ela me deu o melhor beijo do mundo, me abraçou e murmurou
no meu ouvido:

- O habeas corpus saiu hoje de manhã, queria fazer surpresa.

- Pedi tanto pra Deus. – Trocamos um beijo. – Eu amo, amo você!

- Também te amo minha linda! Vou fazer o que não posso pra sair dessa. – Pegou Heleninha colo. – Não sei
mais viver sem vocês três eu tenho tanta coisa pra falar tenho... – Fez uma pausa. – Vem cá, lembrei de uma
coisa, Quem é Raissa, João?

Pelo jeito a Júlia ia ser uma sogra tão pentelha quanto à mãe dela se eu deixasse. Duarte foi uma mãe,
remanejou minhas cirurgias e nos deu o dia de folga. Fomos almoçar na Rebeca para rever todo mundo e a
noite nós queríamos aproveitar para namorar um pouquinho, se curtir. Cíntia e Isa se ofereceram para dormir
lá em casa e ficar com as crianças. Fingimos que acreditamos que elas queriam ficar com as crianças e não
ficar sozinhas em casa e aceitamos a oferta. Ás oito da noite lá estavam elas na porta da cabana. Heleninha
ficou toda contente ao ver Cíntia, abriu os bracinhos e começou a gritar querendo brincar.

- A gente vai dar um volta, Heleninha é pra brincar em silêncio. – Adverti. – Vocês são muito barulhentos e a
mamãe esta dormindo porque virou plantão. A tia Isa luta mma, pode usar com os dois Isa. João, não
esquece de tomar o xarope.

Cíntia anotava tudo que falávamos em um bloquinho de notas

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- E não é pra ficar até tarde na frente da TV. Meia noite cama. – Júlia relembrou. – É pra comer a comida
que tem, nada de ficar pedindo besteira no delivery e escovar os dentes direitinho. João, você tem lição pra
fazer, qualquer dúvida pergunta pra Isa ou pra Cíntia.

- Calma filha você fala rápido demais! – Cíntia disse um tanto perdida. Virou-se para Isa. – Ainda estou em
escovar o dente. Escovar é com um “s” só ou dois?

- Já vi que eu fiquei como ajudar na lição. – Isa disse. Cíntia parou um tanto confusa. – Lição é com o “C”
que tem o rabinho.

- Cedilha. – João ajudou.

Cíntia fez um gesto afirmativo e continuou suas anotações. Depois de mais um lembretes, saímos de casa.
Não tínhamos destino nenhum em mente. Só queríamos sair pra namorar pensei em ir a algum restaurante
chique ou coisa do tipo, mas Júlia preferiu parar em um bosque ali próximo da casa de Rebeca e Bruno. No
tal bosque havia um dessas festas itinerantes típicas do interior. O olhar distante.

- Que foi amor?

- Não aguentava mais ficar presa naquele cubículo, sempre gostei de andar, de ar livre, estava sentindo as
pernas enferrujadas... – E me confessou. Tô com medo da Vanessão e tudo que me espera depois do
julgamento.

- Não pensa nisso,amor... – Fiz um carinho em seu rosto. – Você não vai mais voltar naquele lugar...

- Não é assim, Alice... Tô livre agora, mas tem o processo. Posso ser condenada.

- Impossível! – Garanti. – Só olhar pra sua cara e ver que você não é uma criminosa.

- A gente tem que fazer agora as pessoas acreditar nisso, né?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Cinco minutos de conversa com você o juiz vai ver que você foi pressionada a fazer isso. Olha pra mim,
Júlia, você é ré primária, tem dois advogados bons te defendendo, não tem antecedente, confessa, tem muitas
chances de sair dessa. A gente tem que se agarrar nisso...

Júlia fez um gesto afirmativo.

- Você esta certa. Quer saber de uma coisa, amor? Não vou pensar nisso agora não... – Paramos de
caminhar e trocamos um beijo. – Eu quero viver o agora, e agora eu estou e quero ficar com você... E só
quero curtir isso agora.

Me agarrei a ela.

- Que ótimo, sabe o que eu quero agora, agora mesmo? Comer, porque eu to morta de fome!

- Romântica...

- Quando to sem fome eu sou... – Trocamos outro beijo. – Linda!

Pegamos cachorro quente e refrigerante em uma das barraquinhas. Eu queria dar um presente a ela, mas não
queria entregar assim de qualquer jeito. Aproveitei uma barraquinha de tiro ao alvo com os brindes para dar o
tal presente. Enquanto ela se distraia brincando com as arminhas de brinquedo, eu chamei o menino que
tomava conta dos presentes e entreguei a caixinha para ele guardar entre um dos ursinhos.

- EEEpa! Acertei, o que eu ganhei ai? – Júlia perguntou. O menino apontou para o ursinho que estava à
caixinha. – Aaah, não posso trocar pela boneca.

- Não, não pode. – Me intrometi. – O seu prêmio só da direito ao ursinho.

- Queria tanto levar uma boneca pra Heleninha...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Ela já esta cheia de boneca, leva o ursinho mesmo amor...

- É não pode trocar. – O rapazinho me ajudou. – O alvo que você acertou só da direito ao ursinho.

- Então tá né...

O rapaz correu para pegar o ursinho premiado. Pagamos o jogo, ela pegou o ursinho.

- Bonitinho né... – Demos uns três passos. – Que caixinha é essa...

Eu vermelha, tímida, morrendo de vergonha apenas consegui murmurar.

- Eu espero que você goste. – Júlia me encarou com um sorriso enviesado. – É melhor você abrir para ver...

Ela me obedeceu e com cuidado abriu a pequena caixinha vermelha de veludo que eu tinha lhe dado de
presente. Eu morrendo de nervos. Só consegui relaxar quando viu um sorriso enorme se fazer no seu rosto ao
ver o par de alianças que eu tinha colocado lá dentro. O destino resolveu me dar uma mão e uma música linda
da Vanessa da Matta que era nossa cara começou a tocar em um dos rádios de alguma barraquinha, o clima
romântico se tornou ainda mais evidente. A música veio a calhar.

Ainda Bem
Que você vive comigo
Porque senão
Como seria esta vida?
Sei lá, sei lá

Nos dias frios


Em que nós estamos juntos
Nos abraçamos sob o nosso conforto
De amar, de amar

- Alice... Eu... Coisa mais fofa, amor... – Ela me deu um beijo na boca. – Você tá suando, tremendo...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Não é todo dia que peço alguém em casamento, posso ficar nervosa? –Eu brinquei. – Gostou?

- Se eu gostei? Alice, ninguém nunca fez isso pra mim e... – Leu por dentro da aliança. – Eustázia?

- É... – Disse sem graça. – Não pensa que invadi cemitério e roubei de defunto não. – e expliquei. - Olha Ju,
eu não tive tempo e também faltou uma grana, não queria te dar qualquer aliança porcaria, assim que pintar
uma grana legal eu te juro que compro uma aliança decente... Tia Eustázia e tio Amarildo eram meus
padrinhos, ela era tia da minha mãe e ele marido dela. Ficaram casados até morrer. – Júlia fez um gesto
afirmativo. Colocou a aliança no dedo. – Você não vai me dizer nada?

Se há dores tudo fica mais fácil


Seu rosto silencia e faz parar
As flores que me manda são fato
Do nosso cuidado e entrega
Meus beijos sem os seus não dariam
Os dias chegariam sem paixão
Meu corpo sem o seu uma parte
Seria o acaso e não sorte

Ela deu uma risada.

- Vou! – Sorriu com a boca e os olhos de um jeito que mais amava. – É o presente mais lindo que eu ganhei
na minha vida. E quer saber de uma coisa? Compra outra aliança não... Essa deu sorte pra eles, coisa linda. –
Me puxou e me deu um beijo. No meio do beijo ela começou a rir. – Vem cá, essa tia Eustázia era meio
cheinha né? – A aliança dançava em seu dedo. Divertida. – Olha isso aqui...

- Cento e trinta quilos... – Mostrei a minha aliança apertada no meu dedo. Diverti lembrando da família da
minha mãe. – E o tio Amarildo? Magrelo, parecia um fio de cabelo.

Ela deu gargalhada gostosa. Paramos em um carrinho de sorvete e Júlia pediu dois. A encarei com um olhar
divertido.

- Que foi?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

-Dá uma lambida no meu sorvete.

- Ãh?

- Toma um pouco do meu sorvete. – Júlia me obedeceu mesmo confusa. – Agora dá um pouco do seu. –
Mais uma vez ela fez o que eu pedi. – Pronto!

- Pronto o que?

Neste mundo de tantos anos


Entre tantos outros
Que sorte a nossa, hein?
Entre tantas paixões
Esse encontro
Nós dois
Esse amor

- Certa vez alguém me disse que uma lambida no sorvete alheio em algumas sociedades equivalia a um
casamento, certo?

Júlia sorridente fez um gesto afirmativo. Ela tinha me falado isso alguns instantes daquele beijo no meio da
praça na madrugada que eu tinha vindo para a casa de Silvinha.

- Certo. Então agora estamos casadas?

- Casadíssimas!

Júlia fez um gesto negativo.

- Falta uma coisa muito importante para ser casamento mocinha...

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- O que?

Júlia carinhosamente envolveu suas mãos e meu rosto. Tocou minha pele com os lábios e começou a
murmurar bem baixinho no meu ouvido.

- Eu, Júlia Franco, prometo ser fiel a você, Alice Castro na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na
riqueza e na pobreza, amando-te e respeitando-te até os últimos dias da minha vida...

Entre tantos outros


Entre tantos anos
Que sorte a nossa, hein?

Entre tantas paixões


Esse encontro
Nós dois
Esse amor.

Ela beijou todo meu rosto de maneira deliciosa por conta do geladinho do sorvete. Agora era minha vez.

- Eu, Alice Castro, prometo ser fiel a você, Júlia Franco na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na
riqueza e na pobreza, amando-te e respeitando-te até os últimos dias da minha vida... E... Da minha vida
não... Até a eternidade...

- Eternidade? – Júlia então me propôs. – Eternidade e mais um fim de semana? O que você acha?

- Fechado. Posso beijar minha noiva?

- Deve! – Ela me ordenou com um ar cafajeste.

Avancei sobre seus lábios carnudos e um gosto de chocolate tomou conta de minha boca. Nossas línguas se
tocaram em uma sincronia perfeita. A mão dela puxou minha cabeça e tudo seria lindo se a porcaria do
sorvete da Júlia não tivesse caído no chão e acertado nossos pés.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Trinta e sete anos na cara e não sabe tomar sorvete... Olha essa meleira, Júlia...

- A culpa não foi minha, foi do vento que derrubou o sorvete.

- Lambona...

- Vai ver quem é a lambona.

- Fala assim com a boca sujinha de sorvete e fazendo carinha de brava que ai meu instinto lambona
afloresce... – Me jogou um olhar safado. - E não estou falando de lamber sorvete...

- Cachorra!

Júlia me roubou um beijo rápido.

- Vem cá, hoje a gente ainda vai consumar nosso casamento?

Toquei seus lábios e entre beijos confessei:

- Não vejo a hora.

_____________________________________________________________________________

Sem dúvida aquela foi uma das noites mais bem dormidas da minha vida. Bem dormida depois de uma
maratona de sexo, só pra terem ideia consumamos nosso casamento no carro mesmo. Só conseguimos entrar
em casa às cinco da manhã e ainda conseguimos consumar mais algumas vezes. Acordei com Júlia em cima
de mim, nua, dormia pesadamente. Abri os olhos vagarosamente, deixei meus lábios tocarem sobre os seus.
Ela me murmurou algo do tipo: “quero acordar assim todos os dias” e voltamos a cochilar. Acordamos horas
mais tarde. Eu precisa ir trabalhar e Júlia tirou a sexta feira e o fim de semana de folga. A noite quando
cheguei do serviço ela não estava em casa. Encontrei João e Heleninha jogando vídeo game com meu pai.

- Ela disse que ia conversar com a irmã da Nat...


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Eu fiquei preocupada acreditando que algo tinha dado errado, mas cinco minutos depois ela chegava.
Cumprimentou todo mundo para sala e fomos conversar no quarto.

- Eu pedi pra Elisa me levar até a penitenciaria pra conversar com minha mãe.

- Vocês se falaram?

- Eu falei... Eu tinha umas coisas para falar com ela que estavam engasgadas, mas decidi que já era hora da
dona Abgail ouvir uma vez por todas.

Júlia chegou á delegacia por volta das duas da tarde. Por sorte encontrou Elisa desocupada. De prontidão
aceitou leva-la até a penitenciaria psiquiátrica. Em meia hora chegaram no local que ficava em Serro Azul.
Elisa desenrolou todos os trâmites e logo colocaram Júlia e D. Abgail na mesma salinha.

- O que você veio fazer aqui?

- Eu só queria olhar pra você. Só isso.

Abgail deu uma risada.

- Desce das tamancas garota e diz logo o que você veio fazer! – Fechou o cenho. -Você é péssima fazendo
esse joguinho de “eu sou superior”! – Riu. – Eu sei que você vai ser julgada, vai terminar seus dias como
merece... Numa cadeia!

- Não é jogo. Eu sou superior a você. E você sabe disso. Eu posso parar sim em uma cadeia, mas não vai ser
meu fim. Sabe o que eu vejo no meu futuro se eu for parar numa cadeia? Uma avó que eu amo e que também
me ama me esperando do lado de fora. Um filho que é louco por mim e que eu sou louca por ele, uma mulher,
uma família que me amam, dois irmãos que foi a única coisa boa que você conseguiu fazer na vida, eu sou
nova, eu tenho um futuro pela frente... Agora você mãezinha querida, tirando teu filho que tem um coração de
um cachorro que é incapaz de julgar alguém quem veio te ver? – Abgail apertou os olhos. – Sabe depois de
trinta e sete anos entendi. Eu posso ter passado uma vida inteira sem uma mãe, uma época achei que era só
filha do meu pai, achei que era resultado de um aborto que não deu certo, achei que a errada era eu, mas não
era. O amor do resto da minha família, do meu pai, do meu filho e dos meus amigos supriram com isso...
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Você é bem pior que eu, você teve uma mãe que te amava, um pai que você conviveu até adulta, não perdeu
o cara que você amava com seu primeiro filho recém nascido nos braços. Você é pior do que eu...

- Você não é a única pessoa que teve amigos na vida. Eu criei os meus três filhos. Casei com um homem
decente. O meu casamento era decente. – Fez uma pausa. – As pessoas me admiravam.

- Mas ninguém sente saudade de você. Até teu michê te desprezou na ultima hora.– Júlia rebateu serena e
mortalmente. – Eu nunca tive uma mãe, não vim atrás de uma agora. Só vim te dar um toque. Se você
pretende ter um futuro se dê uma chance e agarra o que o Bruno e a vovó estão te oferecendo. Eles têm
coração melhor que o meu, sabem perdoar.

- Se você não perdoa, no fundo você se importa.

- Eu nunca disse que não me importo. Vou pensar em você, mas viver mais dez anos sem olhar pra tua cara
vai me fazer bem... – Deu um tapinha de leve no ombro da mãe. – Se cuida Abgail. Acho que hoje finalmente
você não tem mais filha.

Júlia se levantou e fez um sinal para Elisa que poderiam ir embora. Abgail esperou a porta se fechar para
deixar as lágrimas que marejavam seus olhos rolassem por seu rosto de maneira dura, como ela era. Depois
da nossa conversa, não tocamos mais no assunto, Júlia que tinha razão. Ficar uns dez anos sem olhar pra cara
daquela mulher iria fazer muito bem.

________________________________________________________________________

A noite passou em um piscar de olhos e no dia seguinte acordei com Júlia preparando uma mesa de café da
manhã. Olhei no relógio ainda eram seis horas.

- Por que levantar tão cedo se o casamento é só a noite?

- Esqueceu que a Giovanna, Manu e seu afilhado estão ai e vão chegar cedinho por causa do ensaio da
cerimônia. A Giovanna é madrinha de igreja.

Eu tinha esquecido completamente. Giovanna e Natália mal se conheciam direito, mas devido à pressão de
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Silvinha, Nat teve que pegar as madrinhas a laço. Isa e eu fomos ameaçadas, Cíntia idem, Giovanna só
aceitou ser madrinha quando soube que no jantar da festa teria arroz de polvo.

- Por que você não quis ser madrinha da sua irmã?

- Sou team Silvinha e team Pamonha. – Júlia me explicou. – Nat e Gabriel são melhor como ex casal...
Escreve o que estou dizendo...

Sete e meia Giovanna , Manu e a coisa mais linda do meu afilhado Luigi tocaram na porta de casa. Eu estava
com saudade daquelas duas, depois de beijinhos, abraços e novidades trocadas fomos para a mesa do café
que Júlia havia preparada. Ela aproveitava o momento para fazer um verdadeiro interrogatório a João sobre
Raíssa.

- Ela é de qual quinta série? A ou B? Vocês sentam juntos? Você chamou ela pra sair? Você conhece os pais
dela?

- Ai Giovanna, não tão precisando de ninguém na policia não? – João perguntou de má vontade. Pegou seu
pedaço de pão e foi assistir desenho no sofá. – Pior que o CSI brother...

- Brother? – Júlia perguntou irritada. – Brother não, João, eu sou tua mãe... – Ele não deu ouvidos. – Vocês
viram isso?

- Ai Júlia deixa de ser cafona... – Manu disse. – Daqui a pouco vai dar um preservativo pro garoto!

- Preservativo? – Júlia fez uma careta. – Essa Raíssa já menstruou? Já pensaram se uma menina dessas
engravida o que pode acontecer?

João se aproximou e pegou um pedaço de bolo.

- Eu sei... A Alice vira lobo mal... – Ele disse com um ar risonho e de provocação. – Vai comer a vovozinha...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

O grito dela de “vá já se trocar que você tem escola” adicionado a corrida de João para o quarto foi tão
engraçado que não aguentamos e começamos a rir. A cara de Júlia era de bem poucos amigos.

- Age assim e ele começa a não te contar nada, eu João esta crescendo, é normal na idade dele. – Eu disse. –
Com a Heleninha eu quero ser bem aberta com ela nesse assunto. Isso é modelo de mãe dos anos 60, Júlia
que queria ver o filho embaixo da asa pra sempre.

Júlia fez um gesto afirmativo.

- Ainda bem que você é moderna, contemporânea e compreensiva então... – Júlia disse. – Você não vai se
importar nem um pouco em ver tua filha de paquera com teu afilhado.

- Que?

Quando olhei a Heleninha mandando beijinhos do caldeirão dela para o Luigi que estava no carrinho, ao lado
de Manu, as gargalhadas com as gracinha de Helena. Não me faltava mais nada, a Heleninha seduzindo
homens mais novos. Onde esse mundo vai parar meu Deus?

- Helena Castro, sua papa anjo! Vamos já trocar essa fralda!

- Homem tudo igual mesmo! – Giovanna disse enquanto pegava Luigi no colo. – Dois segundos e já dando
mole, isso porque você ainda nem fala senhor Luigi?

Essas somos nós sendo mães modernas, contemporâneas e compreensivas.

O ensaio do casamento estava marcado para as nove da manhã e a cerimônia oficial ás cinco da tarde.
Ninguém estava acreditando mesmo que ia ter casamento, tanto é que ligamos uns para os outros para saber
se Nat ou Gabriel tinham cancelado (percebam como confiávamos no amor dos noivos) como ninguém sabia
de cancelamento nenhum, nos trocamos e a as cinco da tarde estávamos na igreja.

- Moço, sabe se o casamento da Natália e Gabriel esta marcado para hoje? – Paula perguntou a um rapaz de
terno.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Paula, eu sou o Gabriel.

Paula ajeitou os óculos de grau.

- Menino! Abomine a barba da sua vida! Você ganhou assim uns quinze anos, mas um pouco diriam que você
é menor de idade.

Era estranho mesmo ver o Gabriel sem barba e de terno. Ficou ainda mais parecido com o Patrick Dempsey.
Ele estava calmo. Na verdade calmo até demais como um condenado conformado com sua sina. Paula foi
sozinha e não falou nada sobre Lucas. Silvinha chegou com Isa, Cíntia e as irmãs de Isa. Elisa foi junto do
filho. Meus pais foram com a gente. Nat e Gabriel liberaram convite até para o Pedro Henrique, ele decidiu
passar o final de suas férias lá para ficar mais perto da filha. Rebeca, Bruno, Dona Regina e Laísa chegaram
mais cedo que a gente, assim como a Duarte com a família. Ouvi um burburinho no altar e Isa me cochichou.

- Alice, qual bolão você quer participar? A Nat vem ou não vem ou quanto tempo eles ficam casados?

- Que horror gente... O casamento deles pode dar certo...

- Dar certo como? – Paula perguntou. – Só se o Gabriel virar uma transexual lésbica... Bota ai menina,
quarenta que dura três meses...

As apostas foram interrompidas pelo converseiro que veio lá de fora. Nat e Dina chegaram. Nos madrinhas e
padrinhos fomos chamados lá fora. A barriguinha de Nat enfiada naquele vestido branco de renda foi uma
graça que só vendo. Com certeza uma bela noiva como Rebeca foi, só faltava algo a Nat, entusiasmo, paixão,
tesão. Assim como faltava a Gabriel. Sem dúvida eles se amavam, mas como ex casal. Nat abriu um sorriso
delicado para cada um de nós, mas percebíamos que sua cabeça estava distante. A entrada na igreja, a
marcha nupcial, Laísa como daminha, tudo foi lindo, mas faltava emoção, até um pouco de magia dos casais
que se amam de verdade. O discurso do padre aquele praxe que normalmente achamos belo saia automático
e o casamento que tinha para ser o mais perfeito e sem sal da história ganhou novo fôlego na hora que o padre
pediu as alianças para serem benzidas e uma voz firme se sobressaiu a voz do padre e chamou atenção de
todos:

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- ESTE CASAMENTO É UM ERRO! – Leandro, que estava ao lado de Giovanna, interrompeu. – ELE
NÃO PODE SER REALIZADO!

Ai sim, ficou nossa cara. Parecia cena de filme. Todos os convidados juntos fizeram um “OOOOOOOOH”
com a boca surpresos por Leandro. O padre parou sua atividade e o encarou. Nat e Gabriel fizeram o
mesmo.

- Por que este casamento não pode ser realizado meu jovem? – O padre perguntou a Leandro. – Por quê?

E congela na cara do Leandro.

End Notes:

Já tô com gostinho de sdd da Alice e companhia. Queria saber de vocês umas


coisinhas:

- Qual foi o personagem mais marcante de Éramos mais que só Dois?

- Personagens mais engraçado?

- Mais surpreendente?

- Qual a cena preferida?

- E quem vai deixar mais saudade?

Obrigada pelo carinho, um beijo a cada uma de vocês!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Capítulo 70 - Parte 1 by Tamaracae

-Por – Por que?- Leandro perguntou. – Por que esse casamento não pode acontecer?

- Sim... – O padre questionou–Por que não pode acontecer?- Cíntia era madrinha ao lado de Leandro,
percebeu sua aflição. – Você pode dizer o motivo?

- Que esse menino quer? – Nat sussurrou a Gabriel. – Você sabe?

- Não!

Leandro era o centro das atenções. Ele suava, as bochechas tremiam, não precisava ser vidente para
adivinhar que dali viria chumbo grosso. Minha intuição estava correta. Nat impacientou, tomou o microfone,
com voz de chefe interrogou Leandro:

- Por que não podemos nos casar?

Com as mãos trêmulas, Leandro respirou fundo puxou o microfone e disse:

- O Gabriel e você não podem se casar porque ele não te ama...

Pausa de cinco segundos, se fez aquele “zum zum zum”. Nat não esperava ouvir aquilo de e visivelmente ficou
abalada com a resposta.

- E você não ama o Gabriel! –Leandro tirou Nat do caminho, deu dois passos e chegou até Gabriel, com um
fio de voz ponderou: – Ela não te ama como eu!

Leandro simplesmente puxou o parvo do Gabriel e roubou um beijão. Uma confusão danada e mais
burburinho. O padre mal conseguia falar. Uma das velhinhas do Alonso Franco desmaiou nos braços de Júlia.
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Eu comecei a acreditar que mãe de Santo da Silvinha era das boas e mandou um encosto no Leandro.

- Rapaz, isso é pecado! – O padre disse. - Blasfêmia! Você não sabe o que fala!

- O senhor que não sabe! –Leandro reagiu. – Não sabe o que é ter a visão deste homem nu... – Acho que só
não cai do salto porque papai estava ao meu lado e me segurou. Mais falatório. Gabriel tentava esclarecer a
situação que ficou nu na frente de Leandro. – Eu descobri que AMO esse homem!

Pedro que estava próximo de Bruno e Rebeca abriu um sorriso e confessou admirado:

- Não posso com declaração de amor, gente. – Apoiou uma das mãos no ombro de Bruno. Limpou os olhos
com o lenço que estava em seu bolso. – Ai, ando tão sensível por esses dias... To arrepiado, quer ver?–
Tirando uma casquinha.- Ai você é médico? Acho que vou desmaiar também...

Rebeca apertou os olhos, enciumada. Ultima coisa que Bruno queria ver era a Pedro toda arrepiado. Leandro
era praticamente excomungado pelo padre. Cíntia não aguentou ouvir tantas baboseiras do religioso pegou o
microfone de suas mãos e abriu a boca.

- Não fala assim. Quer saber? Lê, você tá certo! – Disse com firmeza. – Nunca casamento com uma noiva
lésbica e um noivo que vê a noiva como amiga daria certo!

- Lésbica? – O padre perguntou. –Isso é verdade senhorita?

- Espera, padre. – Nat explicava.- Eu...

- Menino, você não sabe... –Paula disse. – A Nat? O apelido dela no hospital é Nat Love porque pega mais
mulher que o Vagner Love... Não ia dar certo... Gabriel é amiguinho, mas gosta da coisa que se enrosca, já
viu né?!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Minha prima tomou o microfone das mãos de Leandro.

- Só o Gabriel? Você nunca foi pra cama com a Nat, filhinha...

- QUE? A senhora fez isso mesmo com esta moça?

- O que se a Nat fez isso? –Giovanna se intrometeu entre os dois. – Fez com essa moça... – Apontou
Silvinha...– Com aquela ali. – Apontou para Isa... – Aquela outrai... Sei que é casamento e tal, mas se é
verdade temos que falar, minha mãe diz que é pecado mentir pra padre, então vou falar... Das madrinhas a
única que ela não passou fui eu. Agora as outras.

- Olha vou contar sobre as duas vezes assim que peguei, se a Nat não é lésbica, eu sou uma bicicleta... Olha
que na época eu estava apaixonada pela minha namorada, viu?!

O padre teve uma sincope, baixou Samu e foi levado ao hospital por Rebeca. A maioria dos convidados
dispersou. Nos como bons amigos ficamos ali para apoia-los. E claro também comer e aproveitar a festa, não
é porque não teve casamento que íamos dispensar aquele banquete.

Estávamos em torno de 20/30 pessoas e dormimos na fazenda, quase todo mundo alegre . Quem não estava
dormindo como Isa e Cíntia, Leandro e Pedro, meus pais aproveitavam a noite de forma melhor se pegando
pelos cantos da casa. Apenas o som ambiente trocado pelo DJ fazia trilha sonora. Nat estava só em seu
antigo quarto, exausta. Ao ouvir “Cruisin” escutou passos pelo corredor e abriu um sorriso. Gabriel com taças
de champanhe.

- Nossa música! – Nat sorriu. Gabriel deu um gole em sua bebida. – Sabia que era você.

- E eu sabia que você sabia que era eu. – Os dois sorriram. Nat se sentou na cama, Gabriel sentou ao lado. –
Melhor festa de casamento que não aconteceu.

- Você tem razão... Melhor festa de casamento que não aconteceu que eu já fui.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Somos um sucesso.

- Somos um sucesso. – Gabriel confirmou sorridente. Levantou a taça para brindar. – A nós?

- A nós dois.

Reflexivos, os dois brindaram. Gabriel sorveu o líquido de uma vez. Nat deu um gole, sua taça foi pousada
sobre um móvel de madeira ao lado da cama. Gabriel aproveitou para tirar os sapatos que lhe apertavam os
dedos. Encararam-se por uns cinco segundos. Gabriel deu um tomou a palavra.

- Será que a gente pode tentar fazer isso civilizadamente?

- Não vamos ser pioneiros. Sabia que Cíccilo Matarazzo e Yolanda Penteado fizeram uma festa quando
anunciaram sua separação? – Gabriel fez um gesto negativo. – Nat colocou a mão sobre a própria barriga. –
O um e o dois vão precisar da gente...

- Acho que da pra ser amigável. No fundo o Leandro fez um grande favor... Nunca ia dar certo... Ficamos
amigos demais, funcionamos melhor como ex casal...

- …, posso tocar minha vida, você a sua... Agora que a Pamonha terminou com o Lucas da pra vocês
acertarem...

- … da pra gente acertar e... Espera ai?! O casamento não deu certo por que eu queria ficar com a
Pamonha?!

- Parecia que você ia casar com ela e não comigo...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- E a Silvinha? O que você tem a me dizer?! – Gabriel se levantou irritado. – Vai dizer que você não pensa
nela?

- Silvinha, quem falou em Silvinha? Você não tira a Pamonha da cabeça... Olha pra mim!

- Estou procurando meu sapato!

- Tá aqui. – Nat pegou o sapato com as mãos. – Você chegou tirou o sapato e deixou aqui... Que a gente
estava falando mesmo?

- Que a gente não ia dar certo porque você ama a Silvinha...

- A era isso, a gente estava falando que eu amo a Silvinha e... QUEM AMA A SILVINHA?! –Nat retrucou.
– AGORA A CULPA … MINHA? VOCÊ QUE VIVE CORRENDO ATRÁS DA PAMONHA …
VOCÊ...

- PROMETEMOS SE SEPARAR FEITO GENTE CIVILIZADA, CACETE!

- E POR ACASO VOCÊ … GENTE?

Gabriel pegou o blazer de seu terno e saiu deixando Nat falar sozinha. Ela sempre querendo ter a ultima
palavra correu para a janelA. Irritado Gabriel foi tomar um ar no lado de fora da casa e ouviu os gritos de
Nat.

- A CULPA … SUA! VOCÊ TÁ APAIXONADO PELA PAMONHA! VOCÊ PENSA NELA...

- E VOCÊ DEIXOU DE PENSAR NA SILVINHA?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- A CULPA … SUA... – Nat gesticulava bastante. – A culpa é sua, você que não esqueceu dela, você
que...–Nat olhou para a própria mão. Se cortou. – GABRIEL, OW GABRIEL! – Ele olhou para janela. – O
sapato! – Rindo. - Você esqueceu o sapato!

Os dois se cortaram e riram. Gabriel olhou para os próprios pés descalços e bateu de com a mão de leve na
própria testa como se quisesse dizer: “Só não esqueço a cabeça porque esta grudada no pescoço”. Nat deu
uma risada, atirou os sapatos, Gabriel pegou no ar, trocaram uma piscada e um sorriso e despediram-se, não
havia duvidas que eles funcionavam melhor como ex casal.

_______________________________________________________________________

Uma semana se passou do não casamento da Nat e do Gabriel e algumas coisas de importante aconteceram
entre meus amigos. Primeiro vamos começar com Paula e Gabriel que finalmente assumiram seu affair,
romance ou seja lá o que for. Paula praticamente havia se mudado para o apartamento de Gabriel. Leandro e
Pedro eram outros que não se desgrudavam. Manu, Giovanna e Luigi foram pra São Paulo no dia seguinte a
festa de casamento e Isa partiria com as irmãs para Belo Horizonte alguns dias depois, mas antes de ir embora
ela e Cíntia tinham algo importante para fazer.

Primeiro elas passaram no Alonso Franco e pegaram o resultado dos exames, depois seguiram para o
cemitério municipal da cidade. Isa só abriu a boca no portão da necrópole.

- Tem certeza que vai sozinha? –Cíntia fez um sim. – Você vai se sentir bem?

- Eu prefiro! – Cíntia fechou os olhos, aproximou seu rosto de Isa e deixou os lábios se tocarem. – Me espera
aqui?

- Espero.

As duas trocaram um sorriso e Cíntia tomou o caminho das campas. Com o envelope timbrado nas mãos,
Cíntia ajeitou os fones de ouvido, escutava “Gostava tanto de você” baixou os óculos escuros e caminhou
sem dificuldades até encontrar o lote que o corpo de Alessandra estava enterrado.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Cíntia nunca mais havia ido até lá. Preferia lembrar de Alessandra em casa, na rua, sempre tranquila, doce,
com algo especial e sensato a dizer do que ali. Aquela campa era quase um tapa a seco em seu rosto de tão
dolorido. Enquanto se aproximava sentiu duas poças de água se formarem em seus olhos e o peito bater
apertado. As lágrimas escorriam em seu rosto no formato de minúsculos rios que a levavam para um lugar
cheio de lembranças. Cíntia apertou os lábios, fez uma oração beijou a flor com todo cuidado e depositou
sobre a gaveta.

- Oi Alê! Eu... Eu vim aqui falar com você... Vim cumprir uma promessa que eu tinha feito. Lembra quando a
gente voltou a ficar junta e eu fiquei deitada no seu peito dentro do fusca? No dia seguinte eu ia operar...
Você me fez prometer que você seria a primeira pessoa que ia saber o resultado do meu tratamento? – Cíntia
secou as lágrimas com os dedos. – Aqui tá xerox do resultado, o original ficou com o médico. A Isa esta lá
fora, mas eu não contei pra ela ainda e nem pra ninguém ainda... O médico contou agora que eu não vou
precisar mais fazer quimioterapia porque o câncer não conseguiu se espalhar pelo e o tumor desapareceu. –
Emocionada. – Não posso dizer que eu estou curada, mas o tumor sumiu... E eles vão me monitorar sempre e
daqui a cinco anos se não aparecer mais e eu posso confirmar que eu me curei. – Chorando. – Alê eu queria
tanto abraçar você agora... Não tem um dia que eu não sinta de saudade. A única coisa boa disso tudo é
saber que eu não deixei de falar nada que eu queria. Eu sempre valorizei você e cada lembrança me faz
valorizar ainda mais... Não da pra acreditar que você morreu, dentro de mim você não morreu! Você só foi
viajar pra um lugar distante, que não pode falar com ninguém, mas que é tão lindo que te faz feliz... Eu estou
me cuidando e vou tentar ser feliz também por aqui até um dia a gente se rever e eu poder te abraçar... –
Pegou outro pedaço de papel no bolso. – Eu nunca escrevi uma carta pra ninguém, escrevi essa pra você. –
Colocou o papel sob a flor. – … sobre nossos amigos, um pouco do que eu vi em Salvador... Do mar... …
lindoque nem você me dizia. –Desamarrou o lenço de seda que estava em sua cabeça, secou as lágrimas. –
Eu tenho que ir...Se cuida.

Cíntia se levantou e caminhou sem olhar para trás. Antes de sair do lote sentiu uma corrente de vento
varrendo as folhas secas como se varresse qualquer tipo de morte dali. Cíntia aproveitou a ventania, beijou o
lenço que usava quando fazia a quimioterapia e soltou no ar para que o vento levasse de vez aquela fase.
Sentiu-se incrivelmente bem e mais leve com aquele gesto. Suas lágrimas eram de felicidade, ao encontrar
com Isa ali na porta a abraçou. Isa sorriu. Cíntia aproximou seu rosto do dela e murmurou:

- O tumor sumiu... – Isa a encarou surpresa. –Sumiu!

- Sumiu? – Isa perguntou incrédula. – O maldito tumor sumiu?

- O maldito do tumor sumiu! O tumor sum... AAAAAAAAII! Isa? – Isa simplesmente não se conteve de
felicidade, enlaçou a cintura de Cíntia e ergueu no ar e a rodopiou. – Doida! A gente quase vai para o chão,
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olha o povo na rua, ninguém tá entendendo nada!

- Eu sou doida, sou maluca, o que você quiser... O mais importante é que a porcaria desse tumor sumiu!
CHUPA TUMOR!

Cíntia riu.

- Chupa!

- Chupa!

E se o povo na rua não estava entendendo nada, como Cíntia disse, passaram a entender depois do beijo que
as duas trocaram no meio da rua em comemoração a ausência do tumor. A festa não ficou só por ai, quando
soubemos da notícia também comemoramos muito. Vencer um Câncer de Pâncreas não era pra qualquer um.
No dia seguinte Isa teria que partir para BH devido ao inicio de tratamento.

Cíntia não poderia ir com ela, pois era nova no emprego e não podia se ausentar por tempo indeterminado.
As irmãs não aceitaram a oferta de Júlia e Natália de pagar um taxi aéreo que as levassem até Belo Horizonte
e então fomos levar Isa até a rodoviária. Elza, Laurinha e Lucia já tinham entrado no ônibus, mas quem disse
que Isa conseguia entrar por conta do batalhão de gente (leia-se mulheres) que apareceram por lá. Cíntia não
foi pois as duas preferiam assim. Cíntia trabalharia normamente e quando chegasse em casa ligaria para Belo
Horizonte para saber noticias de Isa. Com a ausência de Cíntia a mulherada caia em cima. Kelly, uma das
ficantes de Isa a agarrou e beijou seus lábios na frente de todos. Letícia, gerente do Scarpan (e também
ficante de Isa) também roubou um beijo na hora do abraço de despedida.

- A Isa vai pegar a rodoviária inteira? – Nat sussurrou para mim. Eu sorri. – Essa é a quarta que eu estou
contando...

- Essa é a Isa que conhecemos...

- Mas duvido que ela bata o recorde da Silvinha. – João disse. Nat o encarou. – Que foi?
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- Recorde da Silvinha?

- Sabia não, tia? A Silvinha vai viajar daqui três meses pra Califórnia. A revista lá que ela trabalhou nos
Estados Unidos quer contrata-la.

Bem na nossa frente, Silvinha conversava sorridente com Paula, Gabriel e Júlia. Nat arqueou as sobrancelhas
e um vinco se formou na sua testa. Conhecendo a Nat logo imaginei o que ela devia pensando: “como ela esta
rindo e vai me abandonar aqui?” Nat cerrou os dentes, irritada. Ela deu um passo em frente para falar com
Silvinha, mas todos nós fomos interrompidos pela chegada de Cíntia de supetão.

- ISAAA!

Isa já tinha dado os últimos abraços. O motorista já havia chamado para embarcar, mas ao ouvir a voz de
Cíntia não resistiu em dar uma olhada para trás. Cíntia estava linda, coradinha por conta de sua corrida até a
rodoviária e com um sorriso radiante. Isa correu ao seu encontro e as duas se abraçaram quase em ritmo de
câmera lenta de tão fofo que foi o abraço delas.

- Eu falei pra não vir sua teimosa.

- Faz cara de brava. – Cíntia brincou. – Essa não esta convencendo ninguém! – Fez um carinho no rosto
sempre invocado de Isa. – Não podia deixar você sem te dar um ultimo beijo...

- Último não...Não é pra sempre...

- Eu sei que não é. – Sorriu. –Você acha que pode dar certo?

- Acho que só depende de nós pra dar certo. Eu volto...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Eu vou torcer, viu.

- Pra eu voltar?

- Pra dar certo... – Cíntia confessou. As duas trocaram um sorriso. Cíntia afastou uma mecha de cabelo que
pendia sobre os olhos de Isa. – Agora deixa eu fazer o que eu vim fazer...

- Só se for agora.

Isa fechou os olhos e curtiu a suavidade do toque de Cíntia sobre sua pele. Cíntia deixou suas mãos
envolverem o rosto de Isa e os lábios das duas se buscaram em um beijo carinhoso. Esse beijo bem diferente
do que foi com as peguetes passatempo. Dei um riso zombeteiro e comentei com Júlia e Nat que estavam ao
meu lado.

- Perderam a vergonha de vez... Rodoviária lotada...

Júlia me abraçou por trás, aplicou um beijo no meu pescoço e sussurrou em meu ouvido.

- A gente já fez coisa bem pior e em lugar mais cheio que AIIIIIIIIII... – Repreendi Júlia com um tapinha. –
Agressiva... Viu isso, Nat? Nat?

Cíntia e Isa trocaram mais um beijo, o ônibus partiu e se dependesse da Nat os filhos dela nasceriam,
Heleninha casaria com um deles, teriam filhos, viraríamos avós e ela ficaria parada ali pensando na morte da
bezerra. Ou melhor, na viagem da bezerra. Ela só se moveu quando Paula tocou seu braço e a convidou para
uma carona no hospital. O caminho inteiro Nat ficou emudecida e tenho certeza que não era por causa de
Paula e Gabriel. Incrivelmente ela e Paula ficaram amigas e se encontravam uma vez por semana para baterem
perna juntas e falarem mal de Gabriel. Nós três descemos no hospital. Eu perguntei mais uma vez se Nat
estava bem e ela me respondeu:

- Estou ótima. O que você sabe da viagem da Silvinha? Ela é doida de morar em um outro país sozinha? Isso
é perigoso...
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Ah, mas ela não vai sozinha... Ela e o Marquinhos, né Alice? O seu amigo... – Fiz um gesto afirmativo. –
Eles vião juntos. – Nat abriu a boca surpresa. – Menina, sabia que ele conseguiu uma bolsa de cirurgia
plástica com o doutor Rey, falam que ele faz milagres. Dizem que entrou uma mulher assim com o corpo da
Alice e saiu com a bunda da Juliana Paes. – Eu devo ter feito uma cara de desagrado que Paula olhou pra
mim e disse. – Ok, o peitinho é tudo de bom, o melhor da cidade, mas a bundinha podemos melhorar,né
amor? – Eu e minha namorada estamos satisfeitas com minha bunda. – Então, o Marquinhos vai se mudar
para Los Angeles, como a Silvinha vai pra lá, eles tão combinando de alugarem um lugar juntos.

- A Silvinha vai morar com um homem?

- Não é qualquer homem, é o homem que algum dia pode deixar a Silvinha com a bunda da Juliana Paes.

Saber que Marquinho teria livre acesso a bunda de Silvinha não fez bem para Nat. Ela mal despediu da gente
e pegou um taxi na ports do hospital.

- Você não devia ter falado isso.– Eu disse a Paula. – Viu como ela saiu? Ela vai achar que es acontecendo
uma coisa com eles!

- Sua boba, é pra ela pensar isso, a Nat como toda mulher só gosta de valorizar o que ela tinha! Sei bem o
que estou fazendo...

O estado de transtorno de Nat foi tão grande, ela chegou no apartamento da minha prima esbaforida. Cíntia
atendeu a porta.

- Aconteceu alguma coisa?

- Cadê eles? – Nat perguntou referindo-se a Silvinha e Marquinhos. Ouviu um barulho de alguém no chuveiro.
–Ele já esta aqui? Estão tomando banho? CADE ELES?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Devem estar na suíte, Nat...

Nat não deu ouvidos a Cíntia, sem cerimônias seguiu a passos decididos até o quarto. Observou roupas
masculinas jogadas pelo chão. Testou a porta do banheiro, apenas encostada. Abriu com tudo.

- OLHA AQUI SEU MOLEQUE, VOCÊ ACAHA QUE EU NÃO CONHEÇO SEU TIPO, VEM
SEDUZ MOÇAS INOCENTES DE CIDADE PEQUENA E DEPOIS JOGA ELAS FORA COMO SE
FOSSEM UM CHICLETE USADO QUE PERDEU O GOSTO! –Essa é boa. Eu coloco minha mão no
fogo que entre Silvinha e Marquinhos, Marquinhos era a moça inocente a ser conquistada. – E VOCÊ,
SILVINHA ME ADMIRA VOCÊ SE DANDO AO DESFRUTE COM ESSE... AAAAAAAAAAAH
LEANDRO? PEDRO HENRIQUE?

- Eu falei que não era uma boa ideia a gente sair do hotel... – Pedro disse enquanto procurava se enrolar em
uma toalha para esconder sua nudez da Nat. – Custava esperar a vez pra usar o banheiro?

- A- A GENTE JÁ IA SAIR... –Leandro disse constrangido enquanto tentava cobrir seu passarinho
inutilmente.– Com licença...

Silvinha entrou no quarto, cruzou com os dois seminus de saída. Nat ainda estava em estado de choque. Se
ela que não era nada do Pedro ficou assim, imagina eu quando encontrei Pedro, ainda meu noivo em situação
pior com seu personaltrainner. Tive até que passar pelo hospital pra voltarem meu queixo para o lugar.
Silvinha fechou a porta com força para chamar a atenção de Nat.

- Nat?

- Coisa horrível... – Nat murmurou para si mesmo. - Como eu fui capaz de por isso na boca um dia e...

- NAT!

- Ãh, oi? Oi Silvinha. – Sorriu.– O Marquinhos não veio com você?


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Como?

- Não se faça de boba... – Nat disse em tom de cobrança. – Eu sei muito bem o que esta acontecendo. Vai
viajar com aquele cara, você nem conhece ele direito!

- Ele é de confiança.

- Quem disse?

- Ele não me enrolou dizendo que ia casar comigo e ajeitando os preparativos dizendo que vai casar com
outra, ele anda com todas as mulheres que ele vê pela frente e ele não engravidou do ex marido! Fora da
minha casa!

- Espera, Silvinha, também não é assim. Escuta o que tenho pra te dizer. – Silvinha fechou a cara. – Silvinha,
eu sei que eu sou uma mulher complicada. Eu cobro demais dos outros e não faço por onde, tem coisas que é
difícil pra uma mulher como eu assim falar, mas eu gostaria de dizer e gostaria assim que você me escutasse, é
que eu... Eu te amo, Silvinha... Casa comigo?

Minha prima deu um singelo sorriso.

- Vá para o diabo que te carregue!– Silvinha abriu a porta e guiou Nat para fora do quarto. – Se você me
amasse mesmo você terminaria o casamento! Acha que assim? Vem fala uma meia dúzia de palavras, faz fiu
fiu e vou abanando o rabo pra você? Sabe qual é minha maior raiva nisso tudo? … que eu amo você! Vou te
amar sempre, mas cansei de esperar você resolver sua vida que parece um livro de matemática de tanto
problema! Me ama? Só acredito quando você falar pra cidade, para o país inteiro ouvir! Some da minha
frente, cachorra!

Sem trocadilhos, mas a cachorra da Nat saiu com o rabo entre as pernas do apartamento de Silvinha. Eu só
soube dessa conversa no dia seguinte lá na cabana quando ela apareceu para jantar com a gente. Nat não
falou dessa conversa diretamente comigo, mas enquanto eu dava a papinha a Heleninha na cozinha ouvia as
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

duas conversarem no quintal. Júlia bebericava uma cerveja enquanto Nat ficava no suco de melancia. Como o
mundo é engraçado, em pensar que a situação já foi outra. Eu com Silvinha pedindo conselhos de como devia
agir com Nat. Se Deus existe, ele deve ser desses roteristas de novelas loucos que ficam horas debruçado na
frente do computador imaginando a melhor maneira de enlouquecer seus telespectadores.

- Você acha que eu devo insistir?

- Se você não fizer isso nunca vai saber se ia dar certo. – Deu um gole na cerveja.– Qual é a dúvida?Você
disse que ama ela...

- E ela me mandou para o diabo que me carregue!

- E eu vou te mandar pra lugares piores se você não insistir. – Nat arregalou os olhos. – Que coisa, meu...
Três meses, corre atrás!

Três meses. Três meses que passaram como três horas. Esse tempo de espera de julgamento de Júlia foi tão
estranho. Quando eu era criança lembro que ainda estava na pré escola e criamos um jogo que utilizava uma
garrafa pet como plataforma, bolinhas de gude e palitos de churrasco. Os palitos atravessavam pela garrafa e
formavam uma espécie de “chão” para que as bolinhas de gude não caíssem no lado de baixo da garrafa que
era um espécie de buraco negro. Formava-se uma dupla para brincar e aos poucos retirávamos os palitos e
“desfazíamos o chão” quem tirasse o maior numero de palitos sem derrubar as bolinhas ganhava o jogo. Era o
“Cai não cai”.

Eu me sentia jogando cai no cai naqueles dias de espera do julgamento. Melhor, me sentia como a bolinha de
gude que estava prestes a cair. Aos poucos meu chão se desfazia. Tentavamos viver normalmente: Acordar, ir
trabalhar, brigar porque estamos no mesmo caso, pedir desculpas dez minutos depois, passar um tempo com
nossos filhos, brigar com Júlia porque ela dá besteiras demais para crianças comerem, ver amigos, sair em
família, estudar, namorar, conversar sobre as crianças, conversar sobre besteiras, ver novela, levar trabalho
pra casa, discutir porque levamos trabalho pra casa, fazer amor no meio da discussão, dormir, acordar... A
proximidade do julgamento parecia que a qualquer nossa vida se desmantelaria. Procuravamos não conversar
muito sobre isso, mas o medo era evidente.

Depois de dois meses e vinte dias que Júlia conseguiu o habeas corpus duas bombas explodiriam. Uma com
aviso prévio e outra não. Melhor então fala antes a bomba com o aviso. Cheguei em casa com Heleninha no
colo (Ela já estava com um aninho e já frequentava a creche) e João. Júlia iria até mais tarde no serviço por
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

conta de um sujeito que despencou de um andaime da altura de cinco andares e teve politrauma. Troquei a
roupa de Heleninha e liguei a TV da cozinha, ela ficaria brincando ali no chão enquanto eu preparava o jantar.
Ouvi a campainha e João explicava para um homem que Júlia não estava.

- Oi... – Sai da cozinha. – o senhor procura por Júlia Franco?

- E a senhora?

- Não minha esposa. – O sujeito demostrou surpresa, mas disfarçou com um gesto afirmativo. – O senhor
queria o que?

- Eu precisava que alguém maior de idade assinasse a intimação. Marcaram a data do julgamento dela. A
senhora pode assina? – Etinha outra saída? Li e assinei o papel que o homem trouxe em mãos. Ele conferiu. –
Muito obrigado, com licença.

Assim que ele deu as costas eu fechei a porta. Encontrei João aflito. Aquela altura ele estava ciente do
julgamento e de suas consequências.

- Dez dias. – Eu consegui falar em um tom triste. Não queria demonstrar meu desespero, mas era impossível
disfarçar tristeza/revolta com aquela situação. – Daqui dez dias ela vai ser julgada.

A outra bomba também estouraria na mesma noite e na casa de Rebeca. Enquanto Bruno corria para atender
a porta e pagar o entregador da pizza que os dois haviam pedido, Rebeca assistia o jornal da noite. Uma
noticia chamou sua atenção a ponto de fazer aumentar o volume da TV.

- Ainda não encontraram o terceiro ganhador da loteria de concurso 2222. O felizardo terá até amanhã para
pegar seu prêmio no valor de 45 milhões de reais. Os outros dois ganhadores já retiraram sua parte da bolada
acumulada em 135 milhões. Confira o seu bilhete e boa sorte.

Bruno fechou a porta, veio com a pizza e o refrigerante de dois litros nas mãos.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Que cara é essa, Bequinha? –Bruno questionou. – Assustada?

- Pensando aqui... O cara perder 45 milhões.

- Esta passando na TV e na rádio né? Sabe que eu acho? O cara deve ser pirado ou esta doente, quase...

Já viram quando o Cebolinha tem um plano infalível para roubar o coelhinho da Mônica e acende aquela
lampada de ideia em sua cabeça? Uma igualzinha acendeu na cabeça de Rebeca ao ouvir Bruno.

- Morto?

- …, quase morto... Becca? Que foi mulher?

Rebeca não respondeu, já tinha corrido para o quarto e começou a revirar seu armário. Apenas gritou para
que Bruno entrasse no site da loteria e procurasse o resultado do concurso 2222. Bruno, mesmo confuso
obedeceu. Dois minutos depois Rebeca entrou na sala com um papel amassado nas mãos e correu para frente
do nootbook.

- Bruno... Confere... Confere se isso aqui esta certo! – Nervosa. – Confere.

- Calma, calma... – Bruno nervoso gaguejava. – Tá-tá certo! Tá tudo certo, BECCA! – Rebeca não
conseguia dizer nada, Bruno sorriu com apetite. – Becca, teu bilhete é premiado! Ganhou! Você...

- Esse bilhete não é meu. –Rebeca murmurou. – Era o bilhete Serginho! Bruno se o Serginho estivesse vivo
ele estaria rico agora!

Não digo que quem escreve o destino é um roteirista desses doidões? Quem diria que Serginho, o
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

sanguessuga que vivia de migalhas do dinheiro da Dona Abgailera o mais novo milionário da praça?

No dia seguinte a história do morto ganhador da loteria foi para os portais de noticias. Rebeca foi com o
marido até a lotérica e o gerente após conferir bilhete, documentação de Serginho disse:

-Nós nunca tivemos um caso desses, mas de acordo com a loteria federal o vencedor não estar mais presente
em vida não é um empecilho para que o prêmio seja entregue senhora Rebeca Franco.

- Isso quer dizer?

- Quer dizer que a senhora acaba de se tornar proprietária da fortuna de 22 milhões e 500 mil reais na
qualidade de herdeira do Paulo Sérgio enquanto a senhora sua mãe é proprietária dos outra metade da bolada
e SENHORA?

- BECCA... AMOR...Esse é o quarto desmaio desde que ela soube desse prêmio. – Fora as oito crises de
choro, cinco crises de riso, seis dancinhas da vitória, dezessete pais nossos,treze banhos. Tudo isso ela fez em
uma madrugada. Certa tá ela, eu por ter ganhado uma cesta de chocolate em uma rifa da Páscoa fiquei dando
gargalhadas histéricas por dois dias direto, imagina se ganhasse 22 milhões. Dançaria conga com o Papa. –
Pressão baixa, o senhor teria um punhado de sal?

______________________________________________________________________

Depois de conseguir reanimar Rebeca mais uma vez, ela e Bruno desviaram da imprensa e foram para casa de
Silvinha se despedir da minha prima que ia viajar para Califórnia, sem data para voltar. Olha, se tem algo que
não devemos chamar a Nat é de mole. Nesses três meses que se passaram a mulher fez marcação cerrada em
cima da minha prima. Depois de muito custo conseguiu convencer Silvinha a pelo menos tentar ouvi-la.

- Eu queria ser essa mulher que as pessoas pensam que eu sou Silvinha, eu ainda não sou, mas se você me der
uma... Uma chance eu posso tentar ser pra você. Seu futuro é comigo Silvinha... Eu sou culpada por tudo que
aconteceu, mas me deixa tentar de novo, me desculpa...

- Não, eu não quero mais você porque não quero mullher me pedindo desculpa pra sempre. Toca sua vida!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Essa conversa aconteceu no dia seguinte que Nat e Júlia bateram aquele papo. Engana-se quem acreditou que
ali foi o ponto final. Jamais Nat ia se deixar derrotar sem pelo menos reagir. Todos dias ela ia no Scarpan só
para ver Silvinha, levava flores, armava encontros, surpresas, recados... Bem na hora que ela ia sair pra ir até
o apartamento se despedir chegou um caso gravíssimo de um criança com sangramento no cérebro. Mamãe
já estava em outra cirurgia. Nat só conseguiu sair do hospital três horas depois. Encontrou apenas Bruno,
Rebeca, Laísa, João, Júlia e eu de saída do apartamento.

- Ela foi?

- Faz três horas que ela foi. –Rebeca disse em um tom tristonho. – Não fica assim .. A Silvinha ama você...

- Me ama de verdade e esta machucada! Vai embora com ódio...– Bruno e Rebeca se entreolharam
confusos. - Tudo culpa minha. - Com ódio. - Tomara que aquele filha da puta do Marquinhos não tenha um
orgasmo na vida!

- O que é orgasmo? - Laísa perguntou inocente.

João abriu a boca para falar:

- … quando o cara vai go... HMMMMMMMM...

Júlia tapou sua boca com a mão e o afastou de Laísa. Bruno, Nat e eu nos entreolhamos. Laísa perguntou
mais uma vez.

- … coisa de adulto. - Rebeca limitou-se a dizer. - De namorados.

Laísa virou-se para mim.

- Você tem orgasmo com a tia Júlia?


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Chega dessa conversa. - Bruno se irritou, pegou Laísa no colo. - Vamos pra casa!

- Mas eu quero ter orgasmo! - Laísa choramingou enquanto era colocado dentro do carro, Rebeca se
despediu da gente rapidamente, também me despedi e deixamos Nat ali sozinha.

Um trovão cortou o céu ao meio. Apesar do anuncio da chuva forte, Nat não correu como a maioria das
pessoas, ficou ali, parada até sentir alguém cutucar seu ombro. Era um repórter da equipe de TV com o
cinegrafista.

- Oi?

- Boa noite, desculpa, só queríamos a informação se o casal parente do ganhador da loteria morto mora nesse
prédio? Nossa equipe veio especialmente para Silvéster só pra entrevistar os dois e não encontramos uma
pista, alguém disse que a moça morou ai...

- Equipe?

- De tv.

- Deve ter sido um engano... –Nat sentiu sua cabeça estalar. – Espera, você disse que veio especialmente pra
isso? De onde vocês são?

- São Paulo, a gente faz o jornal da noite, ia fazer uma entrevista ao vivo com eles...

- Jornal em rede nacional?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Rede Mundial... Até na Europa tem nosso canal. – O rapaz disse orgulhoso. – Mas por que?

- Eu dou um cheque em branco e em troca vocês me colocam em rede mundial, pode ser?

- O que temos que fazer?

Nat deu um sorriso.

- Eu vou explicar...

________________________________________________________________________

- Mê vê um cappuccino fazendo favor... – Silvinha pdiu assim que encostou no balcão da cantina, já havia
entrado em seu portão de embarque, mas o voo estava atrasado. – Que horas são moço?

- Oito e quinze...

- Não acredito... Eu tenho que parar em São Paulo e de lá pegar um voo para Los Angeles.

O voo que sairia de Ribeirão Preto até São Paulo esta duas horas atrasado por conta da chuva que não dava
condições para decolar. Ouviu um timbre de voz conhecido vindo da televisão da cantina. Na hora ergueu a
cabeça e pediu para o rapaz aumentar o volume do aparelho rápido. Não se tratava de nenhum ator ou atriz
famoso, mas sim dela.

- Nat?

- Está gravando? – Nat perguntou ao cinegrafista. – Ok... Boa noite telespetadores. - A voz de Nat não
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

escondia nervosismo. A barriga enorme de oito meses e meio de gravidez parecia a qualquer hora pular da
TV e ir parar na casa das pessoas. A chuva caiu pesada, Nat usava uma capa, desgrudou os cabelos de seu
rosto. Acabei de dar o meu carro pra ter esse espaço na TV pra falar o que eu tenho pra falar. Silvinha, te
amo! Não sei se você pegou esse avião pra Califórnia, senunca vai ver isso...Eu sei que eu te perdi... Que
você vai refazer sua vida... Você vai ter filhos, família, outra pessoa. Você merece...– Colocou a mão sobre a
barriga, sua respiração estava ,mais ofegante. – Só que precisava fazer isso, um dia você falou que só voltaria
pra mim se todo mundo pudesse escutar que eu te amo, agora todo mundo sabe. – Eu fiz o que você pediu...–
Outra contração. – Tudo mais que você pedir eu faço, faria qualquer coisa pra ter outra chance... Se pudesse
voltar o tempo eu voltava, se pudesse fazer essa chuva parar eu parava, faço de tudo pra você sorrir de volta
pra mim porque amo seu sorriso e... AAAAAAI... – Ah- A bolsa estourou...

O que se viu foi uma grande empreitada. O cinegrafista não largou sua câmera. O repórter foi ajudar Nat
enquanto o motorista do carro da emissora ligava para a emergência. Os paramédicos reconheceram Nat e
ligaram para Júlia. Ao chegarmos no andar da maternidadde dava para ouvir os gritos de Nat lá do elevador:

- A Paula pediu pra avisar que ela já vem . – Leandro disse ao entrar na sala de parto. – Ela esta com uma
mulher agora que entrou em trabalho de parto.

- E SE ACHA QUE EU ESTOU FAZENDO AQUI, DANÇANDO TANGO,GAROTO?!


PAULAAAAAAA! -Natesbravejou. – EU QUERO A MINHA OBSTETRA, QUERO UMA
PERIDURAL DUPLA AAAAAAAAAAAI... – Outra contração. – Eu desisto... AAAAAAAAIIIIII!

- Nat, não grita assim que assusta... AAAAAAAAI – Gabriel urrou. – Nat, você quase acertou um bisturi no
meu rosto...

- E você quer que eu tenha dois filhos quietinha educada? – Nat mordeu os lábios. Cade a Paula?

- A Paula acabou uma cirurgia de trigêmeos agora. – Rebeca disse. – Vocês acreditam, todos os exames deu
dois bebês e na hora pá... Eram três?

- QUE? – Nat perguntou assustada.– Três, não, eu desisto, eu desisto, Eu quero parar com isso agora...

No aeroporto Silvinha ainda tentava digerir tudo aquilo que tinha acabado de ouvir. Suas bagagens já haviam
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

sido entregues para ser embarcadas, a passagem em suas mãos. Precisava seguir em frente. Finalmente
chamavam por seu voô. O avião que a levaria até São Paulo estava do outro lado do campo. Pegou um
ônibus com osoutros passageiros. Após dez minutos de percurso desceram. Ao estar ao ar livre deu uma
olhada para o céu. Como em um passe de mágica havia parado de chover e um belo céu estrelado havia se
aberto. Assustou-se. Aquilo era uma sinal?

____________________________________________________________________________

- Mas que pressa! – Cíntia murmurou ao se levantar da cama para atender a insistente campainha. O caderno,
a cartilha e o láps de lição que utilizava para treinar. Com uma expressão de dúvida se perguntou. – Pressa é
com s ou “ç” que nem preço e... – Outra vez a campainha a desconcentrou. – JÁ VAI! PORCARIA,
LEANDRO, SEMPRE ESQUECE ESSA CHAVE... – Enfiou a chave na porta e girou. – PRONTO JÁ
ABRI, MAL EDUCADO E...– A bronca que ia dar em Leandro por esquecer a chave morreu e sua boca e
um sorriso doce e delicado surgiu em seus lábios. – Você?

- Eu não sei se você esta só... –Isa disse, estava com a mala nas costas e mala maior na outra mão. – Não sei
se a advogadazinha fantástica ainda esta na área, mas se ela estiver nós vamos marcar um duelo... – As duas
trocaram um sorriso e Isa confessou. – Cíntia, eu não estou cabendo mais dentro do meu corpo, dos meus
pensamentos, da minha casa precisava te ver, precisava te tocar, sentir seu gosto, seu cheiro... – Cíntia fechou
os olhos e sentiu a mão macia de Isa fazendo carinho em seu rosto. – Meu ombro ainda tá fraquinho, a
clavícula uns 80%, mas to pronta pra batalha... –Cíntia riu. - Pra quando é o duelo?

A pele de Isa se arrepiou por inteira quando sentiu os lábios de Cíntia beijarem seu pescoço. Isa acariciou
Cíntia, beijou seu queixo, deu mordidinhas em sua pele, arranhou levemente seus ombros. Cíntia deixou um
gemido escapar de seus lábios, sorriu e murmurou antes abocanhar os lábios de Isa.

- Fico muito feliz de saber tudo isso, mas não vai precisar de duelo nenhum... Eu estou livre pra você...

Os lábios se encontraram saudosos e ficaram se beijando por alguns segundos. Ao grudar seu corpo no de
Isa, Cíntia sentiu que ela estava molhada de chuva. Fez um carinho em seu rosto.

- Você não quer trocar de roupa? Todas essas horas de viagem... O que você precisa? Quer descansar?

- Nada com uma cama agora... –Sorriu, os olhares se cruzaram cheio de desejo. – Obviamente que não é
para descanso...
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Cíntia voltou a beijar sua boca. As mãos retiraram a camiseta ensopada de Isa.

- Ainda bem que não era para descanso...

As duas trocaram sorrisos e voltaram a se beijar. Isa deixou seus dedos passearem pelo corpo de Cíntia, a
língua percorreu o colo e eriçou toda a pele, ainda por cima da camisa deixou sua boca tocar o busto de
Cíntia e sentiu os mamilos endurecerem com seu toque. Otelefone tocou, mas nenhuma delas teve força e nem
vontade de atende-lo. Isa retirou a blusa de sua parceira e com os seios de Cíntia na boca seguiram para o
quarto.

______________________________________________________________________

- A Cíntia não atende o telefone... – Bruno disse. – Acho que á esta dormindo e...

Bruno se cortou ao ver a chegada de Paula e Rebeca. Júlia e eu nos levantamos também a espera de notícias.
Estavamos na sala de espera da maternidade, Nat tinha entrado há duas horas para fazer a cesareana. Rebeca
e Paula fariam a cirurgia e Gabriel como pai coruja entrou sala para toda filmagem do parto.

- Bom, eu tenho uma notícia boa.Júlia, Bruno... Vocês são tios de gêmeos idênticos com uma saúde de ferro.
– Bruno e Júlia fizeram uma ridícula dancinha da vitória, mas Paula interrompeu os dois. João levantou os
olhos. – Espera, tenho uma notícia ruim... Alguém vai ter que ficar acompanhante do Gabriel que desmaiou na
sala de parto. O homem fraco viu, florzinha... A Nat já pode receber visitas, os meninos vão fazer mais uns
exames e daqui a pouco também já estão lá.

Depois de alguns minutos já estávamos lá fazendo festinha para nova mamãe do pedaço. Apesar de toda
gritaria, da dor, Nat estava ótima de aparência. Pelo menos achei que ficou melhor que eu que parecia um
sofá de três lugares de tão inchada. Depois de alguns minutos o papai Gabriel entrava com dois embrulhinhos
no colo para nosso deleite.

- E ai, um e o dois já tem nome?


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Vinicius e Fernando. – Nat disse orgulhosa. – Nomes de poeta, né coisa linda? – Pegou um em cada braço.
-Juninho não né, mamãe?

- Eu preferia Juninho e Silvinho, mas a Nat fez questão...

Não é todo bebê que eu acho lindo não, mas o Vinicius e o Fernando, eram umas gracinhas. A pele e os
cabelos crespos de Nat e os olhos claros de Gabriel, os dois igualzinhos, tão fofos, aquele cheirinho de bebê
delicioso. Dois glutões. Eu fiquei com dó da Nat e acabei até pegando um deles pra dar peito. … lógico que
me confundi e peguei o que já tinha mamado. Fizemos uma bagunça danada no quarto, Gabriel orgulhoso e
mais estufado do que nunca ainda abriu as roupas dos nenéns para mostrar o saco inchado dos dois, fizemos
palhaçadas. Até João desfez o bico ao conhecer os novos priminhos. Só saímos de lá porque percebemos
que Nat precisava descansar.

As três da manhã Gabriel percebeu que as crianças dormiram e foi até a cantina beber uma água. Nat
acordou com batidas de leve na porta.

- Entra Gabriel, só não faz muito barulho e... – A porta se abriu. Nat abriu o maior sorriso do mundo ao ver
aquela figura conhecida na sua frente. – Silvinha? – Surpresa. – Você não viajou? Você me viu na TV, você...

- Natália Franco, eu juro, eu prometo que se você der mais um, um vacilo se quer eu nunca mais olho pra sua
cara. – Minha prima estava tão esbaforida, transtornada que mal conseguia falar. – Olha eu nem sei o que sou
capaz de fazer eu... – Antes que Silvinha destrabelhasse a falar, Nat espertamente a calou tomando posse de
seus lábios. Silvinha correspondeu a altura e ficaram por alguns minutos assim. Quando precisaram de ar,
Silvinha descansou sua cabeça nos braços de Nat, sua pele, rosto, ombros foram beijados por Nat. - Meus
pais não me aceitam, metade dessa cidade me vê como uma vagabunda, outra metade como uma pegadora
inconsequente... Você me viu como mulher, foi a coisa mais linda que alguém fez pra mim...

- E não como qualquer mulher, como minha parceira, como a mulher que eu quero criar junto meus filhos,
como a mulher da minha vida... – Separou-se de Silvinha e formalmente pediu. –Silvinha, casa comigo?

- Agora? – Silvinha perguntou brincalhona, as duas riram. – … claro que eu caso... E quero pacote
completo... Eu você e o...
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- Vinicius e Fernando.

- Eu, você, o Vinicius, o Fernando, ex marido, mulher de ex marido e o pacote completo! Aceito. – Deu um
beijo em Nat. – Te amo!

______________________________________________________________________

Vinicius, Fernando e Nat tiveram alta dois dias depois. Uma nova vida começando sempre traz felicidade e é
gostoso de se ver. Uma pena que com a proximidade do julgamento nossa atenção se voltava toda para os
tribunais.

Apesar de Ingrid e Fernandes, advogados de Júlia, me garantirem que ela tinha chances de ser absolvida,
quando ouvi a juíza chamar pelo nome de Júlia e ela entrar algemada, meu peito se apertou por inteiro.Nat e
Rebeca estavam ao meu lado. Bruno estava logo atrás e parte dos nossos amigos lá fora a espera do
resultado.A juíza fez um sinal, ficamos todos de pé:

- Damos por iniciado o julgamento da ré. – Baixou os olhos e leu. – Júlia Franco Albulquerque.
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Capítulo 70- Parte 2 by Tamaracae

Author's Notes:

http://www.youtube.com/watch?v=AuJrEBtmM1Q "When You Say Nothing At All -


Ronan Keating

http://www.youtube.com/watch?v=LOZuxwVk7TU Britney Spears - Toxic

Júlia e Alice em frente ao bolo http://www.youtube.com/watch?v=aCMJMVb0_U4 -


Só Love Nina Becker

Como é último capítulo quero dedica-lo a duas mulheres da minha vida, meu amor,
Lê e nossa Manu!!! Bjo, namorada, te amo demais!

Agradeço tbm a amiga carolina Galvão que sugeriu entre tapas e beijos como amiga
de Nat!

Minhas mãos gelaram por segundos e formigaram. Nunca estive em um julgamento. Não tinha nada daquele
teatro que assistimos anos filmes. Só em casos de crimes intencionais ou contra a vida que a última etapa do
julgamento acontecia no tribunal do júri, com a presença do povão como no cinema.

Júlia se entregou na noite anterior ao julgamento. Inquieta, não tirava os olhos da família. As crianças foram
ficaram de fora. Ela sentou junto a defesa composta por nIngrid. O nome da era juíza Ana Fonseca. Jamais
esqueceria o nome e olhar endurecido daquela mulher.

A juíza começou a apresentar o caso. Eu não tirava os olhos de Júlia trocamos um sorriso discreto. Seu nariz
vermelho. Provavelmente resfriada por conta da chuva que pegamos uma noite antes dela se apresentar na
delegacia. A pedidos da avó de Júlia, fomos jantar na fazenda com a família.

Noite agradável, regada a carinho e tensão. Dona Regina queria agradar a neta, fez seus pratos preferidos,
ficou ao seu lado todo o tempo. Só Vinicius e Fernando conseguiram roubar a atenção da bisa babona. O
estado de Nat, Gabriel e Silvinha depois do nascimento dos nenéns parecia pós guerra. Só foi eles pegarem
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

no sono que os três correram para dormir.

- Florzinhas... – Paula, acostumada com crianças disse durante o jantar. – Tinha que ver quando dormiram
três horas na quinta feira. Achei que a Nat ia subir aquela rampa da igreja Bonfim de joelhos.

Depois do jantar no lado de fora vi Júlia deitada com cabeça nas pernas da avó. Cheguei de mansinho sem
ser notada. Júlia observava o rosto da avó. Dona Regina notou que estava sendo estudada e perguntou o que
Júlia tinha visto de diferente.

- Nada... Suas rugas. - Sentou. – As pessoas fazem plásticas, esticam, sabe sempre gostei de você não
esconder as rugas, vó? São bonitas. Parecem de sábia. – Fez um carinho em Dona Regina que sorriu. – Será
que um dia eu tenho rugas, Dona Regina?

- Depende... – Sorriu. – Se você for sábia.

Achei bonitinho o abraço delas. Deixaram o silêncio e o batimento acelerado do peito falarem. Júlia estava
com medo daquela ser a ultima vez que veria sua avó. Não quis estragar aquela comunhão e me retirei.
Heleninha dormiria com João e Laísa em um dos quartos, eu fui para o quarto de Júlia. Despi-me e entrei no
banheiro. Ao voltar vinte minutos depois me deparei com Júlia dormindo vestida e calçada na calma. Nos
últimos dias dormiu nada, fiz o mínimo de barulho para não acorda-la. Descalcei seu tênis e deitei ao seu lado
beijei seu ombro e apaguei. Duas e meia da manhã me virei na cama e não encontrei.

Minha boca estava seca. Levantei para matar minha sede. Enquanto bebia a água, vi que alguém esqueceu a
janela aberta e a água da chuva fazia uma poça. Ao juntar as peças da janela observei um vulto na chuva.
Reconheci o contorno da pessoa. Tão ou mais ensopada do que quando a resgatei na primeira noite que ela
passou aqui em Silvéster. A única diferença daquela noite pra essa era que agora ela usava óculos de grau.

Não peguei guarda chuva, capa, nada. Minha única proteção era um fino conjuntinho de dormir que agora
estava completamente molhado e colado ao meu corpo. Nem mesmo o trovão e os relâmpagos me seguraram
na casa. Júlia virou com uma expressão fechada. Os olhos, cabisbaixos, não demonstraram surpresa.

- Vai embora, Alice! Pega tua filha e me esquece! – Disse com firmeza. Não movi um milímetro de onde eu
estava. –Alice, sai daqui! Vai ser feliz com alguém que te mereça! Que tenha chance de te fazer feliz... Me
esquece!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- EU TE AMO!

- NÃO VOCÊ NÃO PODE AMAR UMA MULHER QUE NÃO PASSA DE UM FRACASSO! – Júlia
rebateu com força. – FRACASSADA COMO MÃE, FILHA, , IRMÃ, NETA, MULHER... –Não deixou
me aproximar, me empurrou para a parede. – Vai embora, não sirvo pra você, se afasta. Você é uma mulher
que merece tudo, não capaz de te dar nada... Quando minha vida da certo sempre estrago, sempre boto tudo
a perder porque eu sou errada!– Irritada. – Você quer o que pra ir embora? QUER QUE EU TE BATA?

- EU AMO VOCÊ!

- Você é nova, bonita, inteligente... Merece coisa melhor... - Chorando. – Não quero estragar a sua vida... –
Suas mãos trêmulas envolveram meu rosto, as lentes de seus óculos estavam embaçadas por conta das
lágrimas e da água. A revolta era tão grande que ela chegou a me machucar sem querer. – Vai embora, você
precisa me esquecer.

- Olha pra mim, eu amo você! Júlia Franco, só com você eu vou ser feliz. – Ela fez um não. – Não vou
embora, vou fazer você feliz!

- Como vou fazer alguém feliz em uma prisão? O que posso oferecer? Uma visita aos domingos? Vou falar o
que com você? Quantas privadas eu lavei? – Apertou meus ombros. – Você quer passar sua vida na fila pra
levar o jumbo da semana? Ser chamada sei lá... Maria Carceragem pela rua? – Fez um não. – Cala essa
boca, toca sua vida, me esquece.

- Esquecer? Júlia, eu mando no meu corpo, nas minhas atitudes, mas EU NÃO MANDO NOS MEUS
SENTIMENTOS!– Rosnei brava. Meu cabelo molhado, o frio, lábios trêmulos. - Acuada entre ela e a
parede, fiz um carinho em seu rosto. Sussurrei. – Eu te amo... Te amo...

A decidida boca de Júlia me calou com um beijo molhado, que fez o frio passar e roubou meu fôlego. Meu
peito parecia explodir. Estávamos famintas, meus dentes cerraram sobre sua boca, senti sua pele, grudada a
minha, se eriçar. Abri os olhos vagarosamente e seus lábios estavam entreabertos. Boca gostosa. Deliciosa.

O nariz tocou minha pele, minhas mãos enterraram sobre seu cabelo e desci com a mão pela nuca. Uma de
suas mãos me enlaçou pelo pescoço enquanto a outra desceu pelas costas e cintura. Trocamos mais beijos
nessa posição. Precisei respirar, dei um tapinha de leve sobre seus ombros e ela afastou de mim. Caiu no
chão, ajoelhada, como se nosso beijo tivesse roubado suas energias.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Júlia... – Consegui murmurar depois daquela prensada. – Ju...

Ela levantou a cabeça. Nossos olhares se cruzaram, senti minha espinha gelar, Júlia estudou meu rosto como
se fosse a primeira vez que o visse na vida. De joelhos, suas mãos lentamente subiram por minhas pernas e se
envolveram em meu corpo com uma força de um naufrago que se agarra a uma bóia de salvação. Júlia me fez
um carinho.

- Te amo... – Ela murmurou no meu ouvido enquanto me abraçava e beijava. – Te amo tanto... Pensando em
como esses meses passaram rápido. Queria ter te levado pra viajar... Queria ter ensinado meu filho a falar
francês, sabia que eu falo francês? – Ela me perguntou, fiz um gesto negativo. – Quando morei no Haiti
aprendi e um pouco de espanhol. Queria levar a Heleninha pra passear no Parque do Ibirapuera. Queria
ensinar meu filho pra pegar onda em Maresias. Queria dançar com você...

Meus olhos tentaram marejar. Abracei Júlia e descansei minha cabeça sobre seu peito. Ela passou seus dedos
por meu rosto e beijou meus cabelos.

- Não sei dançar, mas se eu soubesse queria dançar com você agora...

- Fecha os olhos.

Como ela havia me pedido fechei meus olhos. Deitei sobre seu peito e comecei a murmurar a letra da primeira
música que me veio à cabeça. Como já disse, não era uma cantora excepcional, mas minha voz era afinadinha
e dava para quebrar um galho:

It's amazing how you, can speak right to my heart


Without saying a word, you can light up the dark
Try as I may I could never explain
What I hear when you don't say a thing

The smile on your face lets me know that you need me


There's a truth in your eyes saying you'll never leave me
The touch of your hand says you'll catch me wherever I fall
You say it best.. when you say nothing at all

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

All day long I can hear people talking out loud


But when you hold me near, you drown out the crowd
Try as they may they can never define
What's being said between your heart and mine

Sempre fui uma péssima bailarina, não gostava muito de dançar, mas assim coladinho com os olhos cerrados
era diferente do que se acabar em uma pista de uma balada qualquer um copo de bebida alcoólica nas mãos.
Apenas me deixei levar pelo ritmo da melodia que tentava cantarolar. O cheiro de mato molhado e sua
temperatura elevada pareciam ter sido transmitidos para meu corpo, ela me abraçava com força, carinho,
baixava sua cabeça para me ouvir melhor.

(You say it best when you say nothing at all


You say it best when you say nothing at all..)

The smile on your face


The truth in your eyes
The touch of your hand
Let's me know that you need me..

- Se não existe Júlia sem Alice, não existe Alice sem Júlia...

Ela afastou um pouco sua cabeça da minha para encontrar meus olhos, abri um sorriso curto, ela fez um
carinho sobre minha bochecha e disse:

- Menina, você tem ideia o que essas covinhas fazem? – Ela mordeu os lábios de um jeito provocante. Seus
olhos desceram por meu corpo. Eu devia estar toda transparente com o conjuntinho branco ensopado. – Elas
me enlouquecem, amor, você me enlouquece...

- Você acha que faz o que comigo, cachorrinha?

Li desejo e paixão em seus olhos. Sob a forte chuva encaixamos como peças de quebra cabeças que juntas
completavam o desenho. Sua língua invadiu minha boca com o mesmo ardor que minhas mãos procuraram
seu pescoço e intensificaram o beijo. Nós duas sabíamos muito bem o que queríamos uma da outra.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Nem um milímetro mais nos separava, eu fui com tamanha vontade para cima de seu corpo que ela bateu as
costas na parede e achei que machucou. Separarei meus lábios de sua boca para perguntar se estava tudo
bem, mas ela não deixou e me puxou de volta. Nem a chuva conseguiu esfriar a temperatura dos beijos que
trocamos. Eu estava presa em um estado de êxtase e comoção tão amplo que joguei sua blusa de lado no
chão, com uma mão puxei seus cabelos e a outra finquei minhas unhas e suas costas. Ela embalada na mesma
necessidade que deixava suas mãos me tomarem com uma possessividade extrema. Acho que para alcançar o
grau de conflito, tesão, amor, medo, desejo, vontade que chegamos aquela noite só os loucos de paixão.
Entre beijos, prensadas na parede, mordidas, suspiros e gemidos conseguimos entrar na casa. Minha barriga
era envolvida por uma de suas mãos, a outra procurava meu seio enquanto atravessamos o corredor.
Entramos no quarto e Júlia bateu a porta com força.

Minha blusinha foi arrancada com selvageria e rasgou. Aquela truculência me excitou ainda mais. Ou melhor,
vou usar outras palavras para explicar o que realmente queria. Quando ela arrancou e rasgou minha blusa
daquele jeito me fez ter desejo de dar, fez com que pedisse a Júlia para me fuder gostoso e me pegasse com
força, com vontade e fizesse o que quisesse de mim.

Como se lesse meus pensamentos Júlia me jogou contra a parede e avançou com a boca , mais beijos
recheados de anseio e loucura. Sua boca tomou minha pele e enquanto chupava meu pescoço e as mãos
abrangiam meus seios. Delirei com aquela massagem deliciosa, desabotoei seu sutiã. Sem cerimônia nenhuma
desci o zíper da calça, toquei sua cintura e desci até apertar aquela bundinha que me enlouquecia só de olhar.

Ela tomou um dos meus seios com a boca, dei um gemido que acho que acordou a casa inteira. Apertei sua
cabeça a pressionando com força contra meu colo e pedi que ela não parasse, suas mãos desfizeram meu
short e o outro seio foi tomado com volúpia. Júlia acariciou minha barriga, desceu pelas coxas e sentiu que
pulsava. Os dedos insinuaram sobre a virilha eu estava doida que ela penetrasse, mas ela só brincava com a
ponta e me torturou por vários minutos. A boca desceu e começou a lamber minha barriga e começou a
mordiscar minha pele até os lábios roçarem minha virilha.

- AAAiii... Enfia e aaaiii...

- Pede...

Inclinei meu corpo. Júlia ergueu sua cabeça sem retirar os dedos, eu cheguei com a boca próxima de sua
orelha, mordi e sussurrei.

- Me faz gozar, amor... Enfia seu dedo...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Gostosa!

Com uma carinha safada que quase me fez gozar ali mesmo ela beijou minha e aos poucos foi me preencheu
com os dedos. A boca voltou a passear entre meus seios, barriga até alcançar minha virilha. Nossos olhos se
encontravam e me davam mais desejos, ela trocou os dedos pela língua. Boca gostosa, me fazia sentir mulher,
linda, leve, vaca, amada...

- Aii, que delícia, não, ai não, para e... Não para! Não para...

O gozo veio forte, praticamente desfaleci em seus braços, ela me abraçou e deitamos na cama. Ela tinha
gozado sem que nem a tocasse, estava toda molhada e deliciosa. Depois que recuperei veio à fome e minha
boca a procurou. Dormimos com o dia amanhecendo. Que mulher é essa? Mal dormi porque tinha que levar
Heleninha na creche cedo. Voltei pra casa ela ainda dormia. Não sabia qual seria o dia de amanhã (no caso)
só queria passar meu dia com ela. Não consegui resistir ao vê-la tão gostosinha e a acordei a enchendo de
beijos. Passamos o dia juntas por lá mesmo. Meu coração cortou quando a noite reuniu todo mundo na sala
para se despedir dela. A última frase que ela sussurrou no meu ouvido foi:

- Quero voltar... E eu vou voltar...

Passei o julgamento todo de mãos juntas pedindo para que Deus ouvisse seu pedido e concedesse aquela
graça. Com tanto safado solto, não era possível, justo uma mulher feito ela ser presa. Depois de relatado o
caso defesa/acusação foram ouvidas. Que vontade de estrangular o filho da puta daquele promotor e a
Abgail. Quando perguntada sobre o conteúdo de sua conversa com Júlia ela garantiu:

- A Júlia já tinha em mente o que faria. Ela nunca levou minha opinião em conta, nunca foi à filha obediente,
sempre transgressora, rebelde, por que depois de 37 anos de nunca se importar ela ligaria para opinião da
mãe?

Nossa sorte é que Ingrid era uma advogada do cacete e muito bem orientada, usou o gancho da dona Abgail
ser um traste como mãe para abrir os olhos da juíza e pelo menos empatar o jogo.

- Desde sua infância a ré foi preterida pela mãe que nunca escondeu o afeto pela outra filha, fruto do
relacionamento extraconjugal da testemunha. Por conta dessa perseguição deve-se salientar o fato que por
dez anos minha cliente acreditou que era culpada pela morte de sua esposa e de um dos seus filhos quando na
verdade a testemunha dirigia o carro no dia do fatídico acidente. Diversas vezes esta mesma mulher ainda
tentou colocar a família da ré contra ela. Meretíssima, é inaceitável validar esse testemunho nos autos deste
tribunal quando notoriamente a testemunha não se vê compromissada com a justiça e a veracidade dos fatos,
mas sim em uma perseguição e inveja descabida a ré. As histórias de vida de Júlia e Abgail Franco conta o
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

caráter de cada uma, peço desconsideração do depoimento.

Como disse, pau a pau, olho por olho. Mais de cinco horas naquela tortura. A juíza pediu recesso de 30
minutos que parecia durar 30 dias. Ao voltarmos o tribunal já havia tomado sua decisão. Depois de algumas
palavras o veredito da juíza:

- A ré Júlia Franco é considerada pelo júri como culpada. – Natália segurava minha mão quase quebrou meus
dedos. – Condenada, deve cumprir pena de um ano, três meses e doze dias pelo crime de suborno. – Minha
cabeça parecia explodir. - Devido a pena ser inferior há dois anos, de natureza não grave, a ré ser primária,
apresentar endereço fixo e conduta regrada a condenada deverá obter a suspensão da pena privativa se
cumprir as seguintes condições...

A juíza falava e falava, eu não ouvia mais nada, várias pessoas me abraçavam felizes, comemorando de certa
forma nossa vitória. Júlia foi condenada sim, mas não precisaria cumprir pena em uma penitenciária, bastaria
desempenhar as condições impostas pela juíza, entre elas se apresentar mensalmente no tribunal, não sair da
comarca sem autorização prévia dentro de um ano, além de fazer trabalho voluntário semanalmente. Agradeci
a Deus por ter aberto a cabeça da juíza e agradeci a Ingrid, sua defesa foi excepcional. Já a juíza só faltou
que eu pulasse a bancada e fosse dar um beijo na boca dela, mas preferi a boca da minha mulher que horas
mais tarde estava liberada para voltar a nossa casa. Palavras me faltaram àquela noite. Só sabia agradecer aos
amigos e família. Mais uma vez jantamos juntos na fazenda, clima bem mais agradável que na noite anterior,
mas fomos dormir em nossas respectivas casas. Na hora de despedir dona Regina me deu uma piscadinha
matreira e disse:

- Cuida da nossa menina direitinho viu...

- Pode deixar... Ela vai ter o melhor tratamento do mundo...

Chegamos na cabana com João e Heleninha sonolentos. Cada uma carregou seu “bebê” até o quarto e depois
nos encontramos na sala. O sorriso em nosso rosto já falava tudo q, ela fechou os olhos e deixou que tocasse
seu rosto, meus dedos desenharem sua boca, ela brincou de morder minha mão até me beijar com gostinho de
vitória. Nem enquanto beijávamos ela deixou de sorrir. Caímos no sofá desajeitadas e quando faltou fôlego
nos separamos as bocas vagarosamente, eu agarrava seu ombro com força.

- Não vou embora... – Ela brincou. – Só se fugir escondido...

- Mesmo se fugir escondido... Se você for embora, eu vou atrás de você...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- E quem disse que eu sou maluca de ir embora e deixar você? Linda...

Mais sorrisos e meus lábios se perderam nos seus. Cada toque, cada movimento que juntava meu corpo ao
seu, beijo ou carinho parecia queimar minha pele como brasa. Meu orgasmo passava do físico para o mental.
Ali eu tinha a plenitude que era feliz e sabia muito bem disso. Só consegui pegar no sono de manhã.

Nem reclamamos que teríamos que trabalhar, Júlia estava animadíssima em voltar a sua rotina de cuidar de
seus pacientes e arrasar os corações daquelas enfermeiras e residentes do primeiro ano vaquinhas que ficavam
de olho nela. Assim que chegamos ao hospital vimos um bate boca entre Isa, Rebeca e Natália. Rebeca tudo
bem estar lá, mas Natália estava de licença maternidade e Isa de atestado médico ainda por conta da clavícula
operada. Quando me viram as três correram ao meu encontro com cara de poucos amigos.

- Alice, que os seus pais fizeram não tem perdão. – Isa retrucou. – Eu nunca esperava isso da Dona Verinha,
o meu fusca?

- Meu fusca... – Rebeca retrucou. - Eu fui à primeira moradora daquele carro, por vocês ele estaria naquele
ferro velho...

- Meu fusca... – Nat riu debochada. – Ela enche a boca pra falar. – Irritada. – Por direito aquele fusca é meu!
Ele era do MEU pai! – Virou-se para mim. – E falar em pai, que papelão do seu pai, hein Alice?

- O que meus pais fizeram? – Eu perguntei sem entender.

- Entrega a carta a ela. – Isa me passou um papel dobrado em quatro partes, reconheci a letra de papai. –
Leia.

Li rapidamente e quase cai para trás. Júlia, curiosa tomou a carta de papai das minhas mãos e leu em voz alta.

- Alice, querida filha, passar esse tempo em Silvéster com sua nova família nos fez rever como nossa vida em
São Paulo era chata e vazia. Eu e a bruxa da sua mãe resolvemos nos dar uma segunda chance em um
relacionamento amigo e tirarmos umas férias juntos. – Sei muito bem o amigo deles. Amigos que se pegam na
cozinha de madrugada escondidos como eu sempre flagrava. – Uma amiga da sua mãe chamada Débora
Louzada ira assumir a área da neurocirurgia, já conversamos com a Duarte. A família Franco deve ficar
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

despreocupada, Débora é competentíssima. Não comentamos sobre a viagem antes devido aos problemas
que Júlia e vocês estavam enfrentando, mas agora que tudo foi resolvido podemos partir sem preocupações,
sem lenço nem documento. Amamos vocês, seja feliz, um beijo do papai.

PS: A chata da sua mãe pediu pra você se agasalhar, comer direito e dar comida a Helena. – Ela falasse assim
até parece que a Helena passa fome, coitada, os quase onze quilos que eu carregava todo dia para a creche
deviam ser só ar. – Beijo, papai! Ah, Isa não fique chateada que pegamos o fusca emprestado.

Ótimo, meus pais depois de quarenta anos de atraso resolveram virar hippies, roubaram um fusca velho e iam
se meter em diversas confusões pelo país a fora. Quase um filme de sessão da tarde. Dois dias depois eles
ligaram avisando que estavam na divisa de Minas com Bahia. Ótimos, Júlia riu com essa história.

- Queria ver se fosse sua avó... – Disse aborrecida ao desligar o telefone. – Estou falando sério.

- Por que a gente não imita? – A encarei sem entender. – Esqueceu que antes de ser presa eu deixei uma
passagem de avião com a data em branco pra você? Por que a gente não sai em lua de mel quando você
entrar de férias?

- E você pode viajar? – Abri o criado mudo, peguei a passagem, ainda estava ali.

- Com a devida autorização...

Sorri me acostumando com a ideia.

- É, até que conhecer o Pantanal não seria má ideia... - Ela parou o que estava fazendo e me encarou. - Que
foi?

- Você nem leu a passagem, né?

- Não eu... – Não tinha lido, curiosa abri e quase cai pra trás com os destinos. – Lisboa, Paris, Milão,
Veneza, Amsterdã e Berlim? E... – Boquiaberta. – E Manaus, Foz do Iguaçu, Pantanal? Você não disse que
sonhava passar lua de mel nesses lugares?

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- E você disse que não morreria sem conhecer Veneza. Manaus, Foz e Pantanal podem esperar outra
ocasião...

Meu Deus , eu estava morrendo de medo de acordar de um sonho e descobrir que aquela mulher não existia.
Para me despertar de vez Júlia me deu um beijão de tirar o fôlego que só interrompemos porque ela tinha que
partir pra cumprir seu trabalho voluntário. E nessa onda de felicidade, mas um ano se passou em nossas vidas.
Júlia agora era uma mulher livre por completo e estávamos de férias.

Finalmente podemos fazer uso de nossos passaportes e viajarmos para a tal sonhada lua de mel. Está certo
que não era aquela lua de mel tradicional por que nossos filhos iam juntos. E lá fomos nós, com os filhos em
viagem de um mês e dez dias pela Europa. Cada dia eu me descobria mais apaixonada por minha mulher,
minha família e meus “encapetadinhos”. Era gostoso ver como as pessoas nos olhavam com aquele sorrisinho
de admiração caminhando juntos pelo aeroporto, nos pontos turísticos, nas gôndolas de Veneza, nos
restaurantes de Milão e nas ruas de Lisboa. Amsterdãn foi especial, pois ali nos casamos no papel com
nossos filhos e vários desconhecidos como testemunha do nosso amor, passamos o restante da lua de mel
entre Berlim e Paris. Lembro de nós quatro estendendo a toalha para fazer um piquinique em uma colina toda
arborizada perdida no centro de Paris que dava uma vista para Torre Eiffel. Júlia e eu exibíamos nossa mais
nova aliança de recém-casadas. João me servia suco de uva e sem querer derrubou um pouquinho sobre sua
calça.

- Eeeeh, mão frouxa...

- Mademosele Le pardon... – João respondeu imitando o jeito sisudo dos franceses e em seguida riu.

- Olha só, Mademosele Le pardon... – Júlia agarrou o filho. –Mas tá muito exibido.

- A Lele “sabo” inglês. – Heleninha tinha mania de falar de si em terceira pessoa, parecia índia. Rimos com a
confusão de idiomas. – Je t’aime maman...

- Mas essa família tá muito chique... Até biquinho fazendo. – Júlia virou-se. – Fala qualquer coisinha em
francês pra eu ficar feliz amor... – Eu apenas murmurei “É...” e bateu branco. Júlia brincalhona bateu palmas.
– Mas é um poliglota... Lindas palavras Alice, lindas...

Irônica, agradeci a todos como se tivesse feito um discurso de horas e emocionado a plateia inteira. Ficamos
em Paris por mais três dias, depois Brasil.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Eu gostaria de fazer à pergunta a Rebeca Franco. – Um dos jornalistas da coletiva de imprensa disse.
Anderson, nosso assessor de imprensa fez um sim e o jornalista prosseguiu. – Doutora Rebeca, o que a
senhora tem a dizer sobre declarações de alguns veículos de comunicação e em rede sociais que chegaram a
brincar com sua sanidade mental pelo fato de você investir uma quantia tão grande em um Centro Médico que
tem como público alvo pessoas sem plano de saúde?

Burburinho entre os jornalistas, Rebeca pegou o microfone:

- O que algumas pessoas podem chamar de loucura eu chamo de pensar no próximo. Eu investi sim 20
milhões de reais que eram herança do meu irmão que faleceu ano passado. Eu tinha o Serginho como se fosse
um filho, mas infelizmente eu perdi esse filho pra vida e não soube recupera-lo. – Rebeca fez uma pausa. Eu
estava ao meu lado, peguei em sua mão. Ao meu lado dona Regina que ouvia o discurso emocionada, Paula e
Manu. – Eu vou usar esse dinheiro para cuidar dos outros. Analisando os problemas de saúde da população
local eu e minha amiga Alice percebemos o quanto a mulher e a criança eram negligenciadas pela saúde
publica local. Só o Alonso Franco não estava aguentando a demanda dos casos. Trabalhamos duro e agora
estamos aqui, a minha loucura, o meu sonho esta em pé. O Centro Médico Regina Franco, dedicado à figura
da mulher e da criança é realidade. Eu sempre tive uma admiração muito grande pela profissional Regina
Franco, dona Regina sempre fez um trabalho admirável nessa área, e eu queria seguir esse legado. – Rebeca
afirmou aos jornalistas. – Poder conhecer a Dona Regina pessoalmente só fez minha admiração, meu carinho
por essa figura aumentar e ver que não nome mais apropriado de que o da Dona Regina Franco para um lugar
que se preocupa em cuidar e curar pessoas.

Dona Regina pediu o microfone:

- Eu que fico lisonjeada em ter meu nome em um lugar que carrega uma equipe de jovens. - Apontou para nós
quatro com um sorriso. – Médicas tão competentes e entusiasmada como essas. Mulheres de Silvéster e
região, podem confiar na Doutora Paula e na Doutora Rebeca para cuidarem de vocês desde os 0 ano até a
3º idade que os seus filhos a Doutora Manoela e a Doutora Alice vão criar muito bem... Muito obrigada. –
Palmas. – Ah, vamos rezar amiguinhos para que no Brasil tenham mais loucas como essas meninas!

E mais salva de palmas para nós. Aquela era a inauguração do Centro Médico Regina Franco, idealizado por
Rebeca e erguido pelas mãos da ruiva, Pamonha, Manu e eu. A ideia do Centro Médico nasceu em uma
brincadeira de Júlia ao ver nós quatro reunidas, trocando figurinhas sobre casos e gracejou:

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Vê só Nat, Manu e Paula estão planejando roubar a Alice e a Rebeca da gente...

- Se não levarem a Silvinha, por mim, tudo bem...

Nós rimos, ninguém imaginou que Rebeca levaria a sério. Dois dias depois ela me acordou de madrugada
com aquela ideia. A principio também achei que Rebeca estava maluca, mas resolvi embarcar na loucura dela
assim como Manu e Paula e quem diria que chegaríamos ali? Passamos o ano trabalhando em dose dupla,
principalmente Manu que não abandonou São Paulo. Foi gostoso ver nossas esposas, maridos, filhos, amigos
e colegas de trabalho ali, nos aplaudindo como gente grande. Até papai e mamãe vieram me ver. Sensação de
dever cumprido.

Depois de mais perguntas sobre a imprensa, fomos liberadas e atendemos os primeiros casos. A principio
funcionaria como uma clínica com hora para abrir e fechar com plantões aos finais de semana, aos poucos
queríamos virar um hospital tão grande como o Alonso Franco. E se dependessem da nossa determinação
conseguiríamos. Depois que fechamos a clínica partiríamos para a apresentação no Scarpan por quatro
motivos, para festejar a inauguração, porque era meu aniversário, para festejar meu casamneto com amigos e
porque Pedro Henrique havia se aposentado da carreira de modelo, comprado à parte de Ingrid no Scarpan e
seria sua noite de estréia.

- Manu, menina, você vai dar conta de vir três vezes por semana de São Paulo? Essa viagem toda?

- O que? Com esse novo rodoanel ficou uma maravilha, uma hora e meia to em São Paulo. Lá ás vezes eu
fico uma hora e meia presa no trânsito. Amo aquela cidade, mas tinha dia que demorava quase quatro horas
pra chegar em casa. E aqui eu trabalho com o Luigi ali atrás né? Não tem mais Giovanna de licença
maternidade, fica mais difícil... E sabe que ela amou essa ideia de ter casa de campo nos finais de semana?

O rodoanel foi uma construção do governo do estado junto da prefeitura. Quem tinha feito a ponte entre
governo e prefeitura? A mais nova deputada estadual eleita pela região de Silvéster, Natália Franco. Sim,
nossa Nat. O bichinho da política realmente parecia perseguir Silvinha, saiu do pai prefeito para pular pra casa
da esposa deputada. Nat foi à primeira lésbica assumida casada que conseguiu se eleger deputada estadual de
São Paulo. Além da verba para o rodoanel, Nat havia conquistado outros progressos a Silvéster como o
aeroporto, mais dinheiro para a saúde pública, melhorias nas escolas de ensino superior da cidade e um
pronto socorro para animais. Ainda falando em política, Nat ficou famosa por sua desenvoltura na luta para
respeitar direitos homoafetivos dentro da câmera. Sua base eleitoral era a comunidade gay, não decepcionou
seus eleitores. Seu destaque no trabalho era tão grande que não duvidavam que fosse chamada para ser
Secretária de Saúde do Estado como um dia havia sonhado. Já com os filhos estava para nascer mãe mais
aplicada. Só com as mulheres que Nat ainda dava problemas, volta e meia minha prima flagrava Nat com os
olhos perdidos em um traseiro ou decote alheio, não passava disso, o pau comia solto e meia hora depois já
voltavam às boas. Voltando a nossa despedida na porta do Centro Médico...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Por esse lado é bom mesmo... – Paula disse ofegante. – Estou quebrada, menina...

- Paulinha, o nome disso que te deixa quebrada é gravidez.

Não é que nossa obstetra estava com uma barriga de 4 meses? Gabriel seria papai de novo.

- Nem diz... – Paula bufou irada. – Nem diz...

Paula era um barato, não tinha como ficar séria ao seu lado. Enquanto ela e Manu tomavam o caminho do
prédio de Nat (Manu morava dois prédios depois do de Nat, enquanto Paula e Gabriel eram vizinhos de Nat
de porta) eu pegaria Heleninha na creche, daria carona para Rebeca e iria para a cabana. Assim que
Heleninha viu Rebeca no carro ela deu um beijo naquela madrinha que ela amava e perguntou do “Ninho”.

- Lelê, o Juninho saiu com o pai dele.- Rebeca disse. – Você sabe quem é o pai do Juninho?

- Buno!

- É, é o Bruno! – Rebeca disse sorridente. - O Bruno levou o Juninho pra conhecer a vovó dele.

Rebeca descobriu que estava grávida na noite que meus pais deram a Elza no fusca de Isa/Rebeca/Natália.
Agora eles eram pais de um casal, Laísa e Junior. Juninho nasceu forte como o pai e com os cabelos
vermelhos da mãe, era lindo e tinha apenas três meses. Quando percebi que Heleninha estava distraída
perguntei a Rebeca se Bruno realmente tinha levado Juninho para conhecer Abgail.

- Levou, eu deixei, né? Coitado, é a mãe que ele tem... O Bruno tem um coração que não é dele... Você
conhece...

Bruno era o único filho que ia visitar Abgail. Após o julgamento de Júlia foi à vez dela por a cara a tapa. A
morte de Alessandra e Fumaça, extorsão e outros crimes menores lhe renderam vinte dois anos, sete meses e
treze dias de prisão. Se sua sanidade já não era completa antes da condenação, depois dona Abgail desceu
ladeira abaixo e teria de cumprir pena em uma prisão psiquiátrica. O contato com outros doentes a fizeram

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

piorar seu comportamento. Estava mais agressiva, em consequência apanhava das colegas de cela, não se
alimentava e passava dias e dias emudecida. Definhava-se a olhos vistos. Sempre que via Bruno perguntava se
Natália queria falar com ela, como estavam os filhos de Natália.

- Mãe esquece isso, ela tá bem...

- Ela não quer saber de mim? INGRATA! Vou acabar com a vida dela e daquelas crianças do sujinho...
Você não é ingrato como ela... Me tira daqui filho, me tira daqui?

- Para com isso mãe, sua vida agora essa!

- Moleque nojento! INUTIL!

Bruno ia embora e ela passava semanas e semanas sem falar com mais ninguém. Trancada em um quarto
escuro. Havia maior castigo do que dona Abgail apenas ter a própria companhia por mais de vinte anos?
Quer maior tortura que essa? Nem ela se aguento e tentou se matar duas vezes. Sem sucesso É a velha
história Deus tratou de tirar vida de seus dias para acrescentar dias em sua vida. E esse foi seu fim.

Meia hora depois de deixar rebeca em casa, entrei com Heleninha na cabana. Júlia já havia chegado em casa,
milagrosamente antes de mim. Depois que Nat saiu do hospital para se dedicar ao trabalho de deputada, Júlia
se tornou a nova chefe do centro cirúrgico ao lado de Duarte e o trabalho aumentou horrores. João chegou
logo atrás de mim e com uma cara emburrada. A cumprimentei com um beijo, tomei um banho junto com
Heleninha e voltei a sala. João havia chegado da escola. Para variar veio acompanhado de Lasanha. Estava
com cara de poucos amigos.

- Que foi?

- Aê tia Júlia, sabe aquele 7x3 do Corinthians em cima do Bragantino? – Lasanha riu. – Que nem eu em cima
do João na prova de português.

Ainda rindo Lasanha já foi direto para o banheiro. Júlia encarou João assustada.

- Você tirou três na prova? – João fez um gesto afirmativo. Júlia respirou fundo. – O que deu errado? Analise
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

sintática de novo, João?

- Esqueci os óculos não enxergava nada. Deu errado porque sou seu filho!

- A culpa é minha?

- Lógico. – Emburrado. – Miopia é genética!

Eu sei que João merecia um puxão de orelha daqueles e uma boa conversa. Mais tarde eu falaria com ele,
mas o jeito que ele falou e saiu andando ainda irritado e a Júlia abriu a boca sem resposta e retirando os
óculos foi tão engraçado que não segurei o riso. João tinha umas tiradas ótimas.

- Isso, ri, quero ver quando for com você. – Abracei ela e dei um beijo em sua nuca. – Não vem com beijinho
não, quero quando for com a Lelê adolescente e... – Júlia arqueou a sobrancelha. – Mãe de um adolescente...
Quem diria Júlia?! Estou ficando velha...

- Minha velhinha gostosinha... – Ela virou o rosto e beijou minha boca. – Eu falo com ele depois...

Ficamos namorando mais um pouco ali na cozinha, mas logo fomos interrompidas pelas crianças. Olhei no
relógio, já era hora de começar a se trocar para ir ao Scarpan. Como era minha festa de aniversário até as
crianças iriam participar. Chegamos no Scarpan por volta das dez. Silvinha veio nos receber. Avistei Ingrid
conversando com Elisa em uma das mesas e Cíntia meio de lado.

- Você não disse que a Ingrid vinha...

- Ela e a Cíntia estão saindo, o que eu ia fazer?

- A Isa vem?

- A Isa esta em BH, talvez vem, mas não deu certeza...

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

As coisas entre Isa e Cíntia estavam bem diferentes do que há um ano. Depois que Isa voltou para Silvéster e
as duas passaram a primeira noite juntas começaram a namorar. Os primeiros três meses foi uma lua de mel.
Apesar de serem bem diferentes de personalidade elas se encaixavam, era aquela coisa bem Eduardo e
Mônica.

Os problemas começaram a surgir quando Isa depois de meses de fisioterapia identificou uma pequena
sequela no ombro de Isa que tirava 20% de seus movimentos do braço e causava dormência em suas mãos.
Ela não contou ao médico sobre sua sequela, foi liberada para operar e quase deixou o paciente morrer por
não conseguir fazer um movimento, salva por Leandro em cima da hora. Isa se abriu com a gente. Nat se
ofereceu para tentar reverter a sequela de Isa, mas o risco de mexer em sua espinha era grande e podia
perder mais movimentos, Isa não aceitou e viu sua carreira como cirurgia encerrar cedo, o que foi uma pena.
Isa era competentíssima com um bisturi nas mãos.

Deprimida, Isa passou a trabalhar apenas com consultas e resolveu se especializar em medicina legal, assim
não correria o risco de matar ninguém, mas a revolta não havia passado. Mesclado com seus problemas na
vida profissional, parte do passado de Isa veio lhe assombrar. Fátima, ex namorada de Isa resolveu aparecer
em Silvéster. Quase caímos para trás quando conhecemos a tal Fátima: 52 anos, ex professora de Medicina
Legal de Isa na faculdade, perua, metida a besta e casada. Chegou botando banca em todo mundo, com nariz
em pé. Mais tarde Lúcia me explicou quem era Fátima.

- Essa mulher é o demônio na vida da minha irmã, a Isa conheceu ela na faculdade da medicina dando aula de
Biologia. A Isa só tinha dezenove anos, era uma menina e essa vaca acabou com vida dela. Fazia a Isa de
gato e sapato, dizia que ia largar o marido e enrolava e não largava. Isso ai só pensa em dinheiro e status.
Depois que ela conseguiu se livrar desse encosto, não conseguiu se envolver com mais ninguém. Sabe essa
galinhagem toda? No fundo é medo de se envolver, machucar de novo... Ai quando ela consegue alguém legal
como a Cíntia essa cachorra reaparece das cinzas? A Isa que não abra os olhos.

Pois é, Isa não abriu os olhos, ficou com eles bem fechadinhos. A depressão misturada com a revolta esfriou
o relacionamento das duas, apesar de Cíntia apoia-la as duas discutiam bastante pois agora Isa chegava com
cheiro de bebida em casa. Em uma das noites além da bebida, Isa chegou com um perfume diferente em casa
e Cíntia reconheceu.

- Você tá com o cheiro daquela mulher! – Cíntia inspirou mais forte. – ISADORA, VOCÊ ESTAVA COM
AQUELA MULHER?

- Me deixa... Não estava com ninguém, me deixa.

- ISA!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

As duas começaram a bater boca e por fim Isa confessou que beijou Fátima, mas que não passou disso.
Irritada Cíntia foi dormir no sofá da sala da casa de Nat e ficou dois dias se escondendo sem querer falar com
Isa. No terceiro dia resolveu voltar para casa e cruzou com Fátima de saída do apartamento de manhã cedo.
Para Cíntia aquele foi o fim da picada, terminou o namoro, não atendia mais à chamadas de Isa, saiu de casa
e foi morar na minha casa de bonecas.

Isa tentou se redimir de diversas formas, mas Cíntia encontrava-se irredutível. E era Júlia e eu que
segurávamos a barra dela.Por sua vez Isa expulsou Fátima de sua vida, enfiou a cara nos estudos e se
candidatou e conseguiu uma bolsa para estudar medicina legal em Boston. Ela ainda insistiu para que Cíntia a
acompanhasse, mas a essa altura Cíntia estava toda enrolada. Primeiro porque não queria largar seu serviço.
Segundo porque depois de anos sem ter noticias da mãe, Cíntia recebeu um telefonema de parentes distantes
que avisaram que a mãe estava morta e mais duas surpresas:

- Você vai ter que tomar conta da Pietra e da Maria.

- Pietra, Maria?

- Suas irmãs.

Cíntia quase enlouqueceu. Do dia para noite tinha que lidar com duas desconhecidas que compartilhavam o
mesmo sangue que o seu. Pietra, dezessete anos e Maria sete. As três passaram a morar lá na casa de
bonecas. A sorte de Cíntia é que pietra era ajuizada pra sua idade e só queria saber de estudar, já Maria nem
falava, era retraída e envergonhada. Não tinha como viajar. E o terceiro motivo, ela ainda estava com raiva de
Isa. Por falar em Isa, não é que aquele limãozinho veio mesmo? Silvinha, Rebeca e eu a agarramos com tanta
força que ela até brincou com Nat, Júlia e Bruno.

- Que é, vocês não tá dando no couro não? – Ela brincou. – Que mania de dar abraço, coisa chata...

A velha Isa de antes, insuportável, chata, mas a nossa Isa. Sem cheiro de bebida, falando de trabalho em
festa, olhando mulher alheia sem pudor algum. Quando ela viu Cíntia passar com Ingrid perguntou a Silvinha
se as duas estavam firmes.

- Sabe como a Ingrid é... Dessas de casar, a Cíntia então...

Nat fez um gesto negativo.


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Eu insistiria ali, insistiria pesado. – Isa sorriu e se levantou para o ataque. - Vai com tudo Isão. – Silvinha
jogou um olhar de censura sobre Nat. – Que foi? Falei a verdade... Sabe quando a chaleira começa a apitar e
a água começa a fazer bolha, ferver? Não vejo isso no olho da Cíntia...

Enquanto jogávamos conversa fora, Isa esperou a brecha de Ingrid se levantar e caminhou até onde Cíntia
estava. Os olhos das duas se encontraram, Cíntia fechou a cara, tentou sair, Isa a segurou pelo braço.

- Que recepção, faltou na aulinha de boas maneiras, é assim que se cumprimenta as visitas?

- Isa me solta... – Isa não moveu um milímetro. – Vai Isa, sai... Vá a merda!

- Não moro na merda, é Boston! – Cíntia revirou os olhos. – Não mordo não, só queria te ver, dar um beijo
e saber se você esta bem, se...

- Estou ótima! O que você veio fazer aqui?

- Aqui Brasil, aqui Silvéster?

- Aqui Brasil!

- Vim buscar meus sobrinhos pra morar comigo e meu tio. Não sei se você soube da Laurinha...

- Câncer né? – Isa fez um gesto afirmativo triste. – Onde foi?

- Mama. Ela escondeu da gente todo esse tempo, tarde demais...

- Quantos anos os meninos tem?

- Dezesseis.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Quase a idade da minha irmã...

- Eu soube.

Os olhares das duas se cruzaram mais uma vez e Cíntia percebeu o quanto a morte da irmã devia estar sendo
difícil para Isa lidar. Sentiu vontade de consola-la, mas foram interrompidas pela chegada de Ingrid comm
dois copos de bebidas.

- Isa, quanto tempo... O que te trouxe de Boston? – Sorriu provocando. – Vai dizer que veio só botar o papo
em dia com a minha mulher?

O jeito que Ingrid declarou minha mulher deixou claro que queria demarcar lugar. Isa viu tudo vermelho em
sua frente e com um belo tapa de luva de pelica devolveu a provocação.

- Vim buscar meu tio e meus sobrinhos que ficaram sem mãe. A Alice me chamou pra festa dela apareci... Vi
a Cíntia tão abandonadinha aqui, esquecida, não resistia, eu tinha que ver a Cíntia, saber se ela estar bem e
dar um beijo. – sorriu. – Só faltou o beijo, né Cíntia?

- Ãh?!

Sem nem ficar vermelha a cara de pau da Isa se botou entre Cíntia e Ingrid e simplesmente não roubou o
maior beijão de língua na Cíntia. Na nossa mesa olhávamos aquela cena com os olhos arregalados. Manu e
Giovanna já haviam chegado com Luigi. Cíntia, lenta só separou de Isa quando Ingrid puxou Isa pelo ombro,
as duas tentaram se estranhar, mas Júlia e Leandro se meteram entre as duas.

- FOLGADA! – Ingrid rosnou. Só Isa pra fazer a calmaria Ingrid se revoltar. – ISSO NÃO VAI FICAR
ASSIM...

- NÃO VAI MESMO! CÍNTIA, NOSSA HISTÓRIA NÃO ACABOU! – Mal Isa sabia que suas palavras
seriam uma profecia. – NÃO ACABOU!

- CHEGA AS DUAS! - Rebeca retrucou. – CHEGA!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Enquanto Ingrid puxava o braço de Cíntia para o lado oposto do salão, Isa voltou a nossa mesma sendo
recepcionada com gesto de censura e ao mesmo tempo de risada. Nat até bateu palmas.

- É disso, é disso que eu estava falando... Só de olhar pra Cíntia e ver que ela não é feliz com essa Ingrid. O
corpo da mulher já diz e...

- Pelo jeito a senhora anda olhando demais para o corpo da Cíntia, não é Natália? – Silvinha retrucou para
nossas risadas. – Para o corpo de mais quem a senhora anda olhando?

Era sempre assim, elas estavam bem, do nada começava um bate boca. Já estávamos tão acostumados que
Giovanna até tinha arranjado uma trilha sonora para as duas e sempre cantávamos quando elas começavam a
discutir. Daquela vez não foi diferente. Silvinha se levantou irritada, Nat tentou conversar com a mulher, sem
sucesso voltou à mesa e já estávamos cantando em couro:

- Entre tapas e beijos é ódio e desejo, sonho, loucura... Um casal que se ama até mesmo na cama provoca
loucuras...

E foi no meio do coral de tapas e beijos que Paula e Gabriel chegaram com todas as crianças. Quando digo
todas refiro-me a aos oito filhos de Gabriel. Fora os que Paula esperava. Logo depois que Vinicius e
Fernando nasceram, Paula se descobriu grávida, assim como Nat de gêmeos. Descobrimos que nem todas as
vezes que Paula jantou Gabriel quando ainda era casada com Lucas. Dessa gravidez nasceram Valentina e
Bruna.

Gabriel entrou na boate com Vinicius em um braço, empurrando o carrinho de Fernando e Valentina e Paula e
Fernando treinando os primeiros passos segurando a mão do papai.

- Que é isso? Repovoar o mundo? – Perguntou ainda surpresa. – NOJENTO! QUE SAUDADE!

- Paula, deixa a babá tomando conta deles... Por que você trouxe essas molecada tudo pra cá? O Gabriel não
te falou...

- Eu falei né amor? – Gabriel disse a Paula que virou a cara. – Paula...

- Que foi? – Paula levantou os dois dedos, possessa. – QUE GÊMEOS DE NOVO? GABRIEL!

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Você só sabem me culpar... – Gabriel retrucou. – Tenho culpa que os meus sapinhos parecem o Messi,
dribla pra um lado, dribla pro outro, dá um chapéu e na hora pá, pimba na gorduchinha!

Mais risadas. Paula fulminou Gabriel com o olhar.

- A gorduchinha por acaso sou eu?!

- Paula, perai amor...Paulinha...

Outros que não aguentavam ficar quinze minutos brigados. Se a casa já era uma doideira com 4 crianças mais
as duas que estavam pra nascer você tinham que ver a cara de Gabriel, Nat, Paula e Silvinha quando cinco
anos depois, Silvinha que engravidou de Gabriel através de inseminação artificial, descobriu que eram
trigêmeos. Por falar em pai eu já estava impaciente com Pedro. Ele chamou a gente e nada de aparecer.
Reclamei na mesa.

- Calma amor...

- Ele não aparece... – Peguei Heleninha no colo. - Cadê seu pai Heleninha?

- Papai?

- É... Cadê papai?

Depois de vinte minutos Silvinha apareceu no palco e anunciou:

- Quem quer Diná Staff? – Todo mundo levantou a mão, gritou, aplaudiu. Diná era um sucesso. – Ok, ela já
vem, mas antes quero apresentar uma amiga pra vocês que eu tenho certeza que vai bombar! – As pessoas
começaram a aplaudir, gritar, entramos na onda. – Nossa Britney de Silvéster: Pedrita Lascane! Quebra tudo,
bonita!

O palco escureceu, as primeiras batidas de Toxic começaram a subir e uma figura de fios sedosos e tão loiros

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

quanto os da Britney surgiu no palco. Montadíssimo em um salto 20, com um vestido minúsculo e lindo
Pedrita (Pedro Henrique) levou a plateia a loucura com sua performance de Drag Queen. Gabriel foi quem me
perguntou.

Baby, can't you see?


I'm callin'
A guy like you should wear a warning
It's dangerous, I'm fallin'
There's no escape, I can't wait
I need a hit, baby gimme it
You're dangerous, I'm lovin' it

Too high, can't come down


Losing my head, spinning round and round
Do you feel me now?

- Esse é o Pedro?

- Gente ele é ótimo... – Confessei. E ele era bom mesmo, nunca vi Pedro tão à vontade em minha vida como
em cima daquele palco. – ARRASA PEDRO! – Apontei para o palco. – Sabe quem é Heleninha?

Too high, can't come down


It's in the air and it's all around
Can you feel it now?

With the taste of your lips, I'm on a ride


You're toxic, I'm slippin' under
With the taste of your poison, I'm in paradise
I'm addicted to you
Don't you know that you're toxic?
And I love what you do
Don't you know that you're toxic?

Don't you know that you're toxic?

- Papai!

Julia estava largada de tanto rir.


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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

- Ele é ótimo! – Heleninnha sacudia os bracinhos e tentava imitar os movimentos do pai no palco. – VAI
PEDRO!

(Taste of your lips I'm on a ride)


You're toxic, I'm slippin' under
With the taste of your poison, I'm in paradise
I'm addicted to you
Don't you know that you're toxic?

With the taste of your lips I'm on a ride


You're toxic, I'm slippin' under (toxic!)
With the taste of your poison, I'm in paradise
I'm addicted to you
Don't you know that you're toxic?

Intoxicate me now
With your lovin' now
I think I'm ready now
(I think I'm ready now)
Intoxicate me now
With your lovin' now
I think I'm ready now

No final da apresentação Pedro agradeceu a plateia e finalmente Diná entrou em cena. Linda deslumbrante.
Talvez ela não estivesse tão linda e deslumbrante, mas era assim como meus olhos a enxergava e enxergava
todos naquela mesa, naquela festa. Eu pensei que ele já ia começar a cantar, mas um bolo de aniversário
apareceu no palco e as pessoas começaram a cantar parabéns para mim. Com Heleninha no meu colo e
minha esposa segurando minha mão atravessei todo aquele salão e lá estava eu parada em frente a um bolo
com duas velas em formato de três e zero na minha frente. Trinta anos

Eu fiquei pensando. Há quatro anos, quando ainda morava em São Paulo, nunca gostei de comemorar meu
aniversário. Lembram que eu era a menina que não sabia se comportar em festas e preferia ficar escondida em
um cantinho fugindo dos flashes? Quem diria que a vida me chamaria para o protagonismo? No fundo todo
mundo tem a vocação para ser atriz principal de sua histórias, mas nos escondemos como coadjuvantes da
história dos outros.

Eu também era a garota que não acreditava mais em conto de fadas. Mais uma vez o destino brincava
comigo, eu beijei a princesa impostora da Nat, a transformei em “sapa” para que outra princesa viesse e a
libertasse do encanto.

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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

Minha princesa dispensou o cavalo branco e as flores. Preferiu moto e tequila. Ela podia não ter vivido um
conto de fadas, mas havia uma bruxa má em sua vida. E a cada gesto, sorriso, brincadeira, abraço ela se
tornava perigosamente mais e mais encantadora e mágica, virava minha vida de cabeça para baixo. Como
diria Caetano “O avesso do avesso do avesso do avesso”. Sou meio tapada, até hoje não sei se Júlia é meu
lado certo ou avesso, não importa. O abraço que ela me deu e o beijo no meio daquela confusão “Parabéns
pra você, nessa data querida” me fazia compreender que se era o correto ou o torto não fazia diferença
alguma se ela continuasse ao meu lado.

- Já sabe o que vai fazer de pedido? – Ela sussurrou em meu ouvido.

Meus amigos estavam todos ali na frente: Nat, Silvinha com o “um e dois” no colo. Gabriel e suas filhas
abraçado a Paula que fazia cara de emburrada e charminho para ele continuar lhe agradando. Giovanna
brincava de jogar Luigi para o alto enquanto Manu pedia para ela tomar cuidado. Cíntia e Isa trocavam
olhares sem disfarçar, Duarte e sua família, Bruno com Becca e Juninho no colo, João abraçado a Dona
Regina com Tia Junia do lado, papai e mamãe, Pedro de mãos dadas com Leandro. Anderson, Elisa com o
filho no colo e Diná mimando muito seu neto, amigos do hospital, alguns outros amigos. Heleninha no meu
colo batendo palminhas e Júlia do meu lado.

- Já tenho um pedido pra fazer sim. – Beijei os lábios de Júlia. Soprei as velhinhas. – Que tudo continue
assim! – Trocamos outro beijo. – Que nada mude, que tudo continue do jeitinho que esta!

Júlia riu.

- Você é louca mesmo. Nunca vi ninguém fazendo um pedido para deixar tudo igual! – Ela sorriu. – E sabe
que é isso que eu amo em você? Você não é igual a ninguém que eu conheço.

- Quer fazer o pedido comigo?

Ela fez um gesto afirmativo. Nós duas pegamos a faca juntas, cortamos o bolo debaixo pra cima e juntas
murmuramos.

– Que nada mude, que tudo continue do jeitinho que esta! – Abrimos os olhos devagar e repetimos. – E se
melhorar, que melhore!

Trocamos um beijo. Eu não sabia se eu seria feliz com Júlia pela eternidade e por mais um fim de semana, mas
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22/05/13 Éramos mais que só dois por Tamaracae

que eu ia fazer o possível, a isso eu iria!

E congela na nossa cara ouvindo o povo cantar “com quem será que a Alice vai casar? Vai depender, vai
depender se a Júlia vai querer.”

End Notes:

Oi meninas, e pela ultima vez apareço aqui para agradecer a cada uma de vocês que
receberam e acompanharam com tanto carinho a trajetória da Alice até aqui! Agora
ela vai seguir o caminho sozinha, mas tenho certeza que também vai morrer de sdd de
cada uma de vocês. Em todos os comentários que recebi eu vejo vocês falando que
se divertiram muito com Éramos mais que só dois, eu queria que vocês soubessem
que ninguém se divertiu mais do que eu escrevendo a Alice e embarcando nas viagens
dela!!!

Obrigada pelo carinho de todas vocês, esse foi só meu segundo conto, não esperava
tanta gente acompanhando. Como já adiantei em algumas das minhas redes sociais,
Éramos vai ganahr um novo folego, não digo uma segunda temporada, mas um conto
derivado que eu já tinha em mente e casou perfeitamente com uma das personagens
de Éramos que é a Isadora, para todos Isa, nosso "limãozinho" querido e se passará
em 2015. Escolhi a Isa que por incrivel que pareça, cativou grande parte das leitoras
com sua (falta de carisma) Aguardem uma história recheada das belas paisagens
cariocas, com um ritmo policial. E lógico que esse pessoal de Silvéster deve aparecer
pra matar a sdds de todos

Bom é isso, aguardo vcs nos próximos contos, um grande beijooo a todas!!

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