Ilya
Ilya
Ilya
Este e-book é uma obra de ficção. Embora possa ser feita referência a
eventos históricos reais ou locais existentes, os nomes, personagens, lugares
e incidentes são o produto da imaginação da autora ou são usados de forma
fictícia, e qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas,
estabelecimentos comerciais, eventos, ou localidades é mera coincidência.
PLÁGIO É CRIME!
Jacob
Dyllan
Duologia Amores Perdidos
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Sinopse
Ilya Kravtsov é o capitão da Bratva, a organização criminosa mais
importante da Rússia. Com a fama de ser implacável e cruel, ele ganhou o
respeito de seu chefe e o direito de ser o líder das missões mais arriscadas.
Até o dia em que é convocado para um trabalho misterioso: buscar uma
encomenda especial para o pahkan. Ao chegar no local combinado,
descobre que se trata de uma garota traficada, comprada para ser esposa de
seu chefe, em uma tentativa de aliança com o Cartel.
Indignado e disposto a protegê-la, ele decide roubá-la e fugir com ela.
Alejandra Zavala já viu de tudo na vida. Entregue pelo próprio irmão para
ser vendida a quem pagasse o melhor preço, ela não imaginava que seria
salva de um destino terrível pelo homem a quem deveria temer.
Seu herói é bruto, rude e muito perigoso, mas irá defendê-la a todo custo.
Uma convivência forçada em uma cabana no meio da neve de Moscou, uma
fuga alucinada e as ameaças iminentes aproximarão os dois e os envolverão
em uma paixão avassaladora, que os colocará ainda mais em risco.
Principalmente quando Alejandra é tirada de seu salvador e lançada de novo
na cova dos leões.
Até onde Ilya será capaz de ir para manter a mulher que ama em segurança?
SUMÁRIO
PLAYLIST
Nota da Autora
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Epílogo
Cena Extra – Kolya e Zoya
Agradecimentos
PLAYLIST
Oi, amores! Obrigada por estarem lendo mais uma história minha.
O livro do nosso ursão foi muito, muito pedido, e finalmente ele está aqui,
Informo que o livro tem temas sensíveis, como tráfico de mulheres, mas
não possui cenas gráficas de estupro e nem de tortura. Se você está
procurando um romance dark, este não é o livro certo para você. Há uma
rápida menção a suicídio também, caso isso te dê gatilhos.
Também é importante dizer que este livro é o primeiro de uma série, então
não é necessário ler nenhum antes dele. Não há spoiler de outros e nem
pontas soltas. Você pode ler esse primeiro e depois partir para o resto da
série de máfia.
Espero que vocês se divirtam e que o livro do Ilya seja tudo o que vocês
esperaram e mais!
Para Ana Paula Barbosa, o ursão é todo seu! Espero que ame!
ALEJANDRA ZAVALA
cinco anos, como prisioneira, por isso, quando chegaram com sabonetes,
xampus e roupas novas, comecei imediatamente a orar.
Não que não tomássemos banho todos os dias, mas o fazíamos com
uma barra de sabão dura e com cheiro de coco. Naquele dia, nos deram algo
como o de uma boneca. Meu cabelo comprido e castanho foi deixado solto,
foi permitido. Fui colocada diante do meu próprio reflexo pela primeira vez
Cartel, logo depois que meus pais morreram. Tive sonhos arrancados de
mim, passei a viver com medo e terminei ali, na expectativa de ser vendida
a minha, acabavam sendo compradas por famílias para posarem como suas
seu preço. Muitas eram compradas por pervertidos como escravas sexuais.
mais umas três meninas que mantinham afastadas de mim, de quem mal
sabia o nome.
acesso a uma janela com uma vista, mas havia um buraco bem no alto da
parede, com grades, que era por onde entrava a luz. Pegávamos sol todos os
Ainda assim, eu preferia continuar ali pelo resto dos meus dias a ser
minha testa, e ao me deparar com sua expressão preocupada, foi difícil não
sentir um calafrio percorrer minha espinha.
Ela sabia de algo que eu não sabia. E não parecia nem um pouco
minha. Todas eram latinas, de cabelos escuros, olhos escuros. Todas magras
Tanto que o meu vestido também era o mais curto, mostrando muito mais
também, bem mais do que eu, e ouvi alguém a chamando de Blanca. Fosse
cruel com aquela pobre garota, mas naquele momento pedi que ela fosse
Não era assim tão grande. Não minimizava em nada a sua beleza,
— Você acredita que foi ela que se estragou assim? Cortou a cara de
seu rosto conforme foi levada para fora do salão onde fomos colocadas.
por outros três. Ele usava um casaco de veludo muito grande, muito pesado,
suas maçãs do rosto eram tão rosadas que eu poderia jurar que tinha usado
mexicanas.
baixo.
empurrei.
pronto para me bater, mas o russo colocou um dedo em riste, sem tirar os
olhos de mim, parecendo intrigado.
nojo.
Ele devia ter uns cinquenta anos, era mais ou menos da minha altura
– um metro e setenta e cinco –, mas tinha ombros largos. Os olhos eram de
um negro profundo, que contrastavam com o loiro muito claro dos cabelos.
rosto. Quis interromper de novo, mas não ousei. — Intensa. Gosto disso. —
Fui, assim como as outras, analisada como uma mercadoria. — É bonita
também. Virgem?
Não queria que ele me achasse bonita. Não queria que voltasse o
olhar na minha direção. Não queria que se dirigisse a mim.
Rezava para que fosse embora sem escolher nenhuma de nós, para o
que quer que estivesse em sua mente.
— Vou ficar com ela. Quando fizer dezoito anos, mando alguém
buscá-la.
Ele só disse isso e saiu andando, me dando as costas, como se não
tivesse acabado de selar o meu destino inteiro.
Vou ficar com ela. Quando fizer dezoito anos, mando alguém buscá-
la.
ser arrastada de volta para os fundos do casarão onde ficávamos, que dava
acesso ao enorme porão, onde nossos quartos se localizavam.
me falou.
dúvida e a incerteza.
— Por quê?
me deixando lá dentro, sem rumo, sem informações, sem saber o que fazer
para salvar a mim mesma de um futuro que parecia muito, muito sombrio.
Capítulo 1
Irmão
A escuridão parece mais acolhedora do que a luz agora?
Irmão
Sua mão treme quando você bate em um homem?
Irmão
Por que você alimenta o mesmo cão enviado para te caçar?
BROTHER – SAM TINNESZ
ILYA KRAVTSOV
madrugada chicoteava meu rosto. Cada curva era um desafio, uma dança
entre máquina e asfalto, e eu me sentia vivo, conectado ao rugido do motor
Um frio de cortar os ossos para qualquer um, mas sempre fui muito
imune a isso. Minha mãe costumava dizer que eu era um “syn d'yavola” –
filho do diabo –, porque tinha o corpo quente como o inferno, mesmo nos
suspenso entre dois mundos. Abaixo de mim, a cidade pulsava com sua
vasto manto estrelado. A lua lançava uma luz pálida sobre a paisagem,
dava uma volta, na intenção de partir para lugares diferentes, mas aquele
me chamava. Dali de cima, àquela hora, o silêncio me ajudava a calar as
vozes que falavam dentro de mim, quase como ecos de tudo que precisei
algumas horas.
Não era uma ligação, mas o alarme, para me avisar que era hora de
sair daquela ilusão de vida de paz, que eu jamais poderia ter, e ir visitar o
homem que controlava tudo. Que tinha tanto poder nas mãos que, com um
cavalo.
subindo as escadas.
importava.
Quem nos visse juntos dificilmente negaria que éramos irmãos, mas
havia algo de muito diferente entre nós. Ambos usávamos barbas cerradas,
mas o meu cabelo loiro era longo, e o dele, curto, bem aparado. Nikolai
devia ser uns três centímetros mais baixo do que eu, e tinha a mesma
Dimitri, o mais novo dos rapazes Kravtsov, também era grandão mesmo aos
vinte e cinco anos.
é que vê tudo como sendo ferro e fogo. Cinco minutos de atraso não me
tornam um irresponsável.
blazer, camisas sociais, por mais que nem sempre pudessem esconder suas
Mesmo dentro de sua própria casa, conosco – que éramos para ser seus
também estará entre nós — foi a primeira coisa que ele falou.
fez inclinar um pouco a cabeça para trás e franzir o cenho. Não podia dizer
nada, só observar, porque precisava ser obediente. — Mas é algo importante
para mim.
Eu tinha uma natureza muito inquieta, e talvez isso fosse pelo meu
tamanho, de exatos dois metros de altura, mas era muito difícil conseguir
ficar parado. Fosse com uma arma na mão, fosse sentado em um poltrona
de couro tão legítimo que eu tinha medo de dar um beliscão no móvel e ele
mugir.
Olhei para Kolya, e ele também não parecia saber do que se tratava.
— Então você quer que eu vá buscar essa... coisa... mas sem saber o
que é. É isso? — repeti com cuidado, não querendo parecer insolente, mas
definitivamente não desejando ser feito de bobo.
Não olhei para o meu irmão, continuei firme com os olhos presos
em Pavel, e eu podia jurar que minha expressão não era nem um pouco
simpática.
confiança. Minhas ordens são incontestáveis, mas tenho mil pessoas para
fazerem este trabalho. Não colocaria nenhum dos dois em uma situação de
perigo.
em seu carro, e quando chegamos em sua casa, uma hora e meia depois, ele
subiu as escadas da mansão onde vivia com pressa, entrando e abrindo a
A verdade era que eu tinha uma admiração muito grande por Kolya.
Quando nossos pais morreram eu tinha apenas vinte e um anos, e ele vinte e
peito. — Se algum dia você precisar escolher essa sua porra de lealdade
cega ao seu pakhan ou sua família, vamos ver o que você vai colocar na
balança.
— Pare com essa merda! Eu faço isso por vocês e... — Kolya
rosnou, e ia falar mais alguma coisa, mas foi interrompido pelo som da
porta se abrindo.
Fazia algum tempo que eu já não morava mais na casa dos Kravtsov,
e eu sabia que minha irmã sentia a minha falta. Nós nos falávamos
constantemente por telefone, mas com as minhas viagens e missões para
Pavel, eu acabava fazendo menos visitas do que antes.
treze anos era possível perceber que Natasha seria uma mulher alta, mas era
magrinha como um varapau.
— Seu ogro! — Ela deu tapas nos meus ombros, então a coloquei
no chão.
porque eu fui muito mais presente do que ele, que desde cedo assumiu um
posto ao lado do pakhan, substituindo nosso pai, e não acompanhou tanto
de seu crescimento.
— Ah, não, Lya! Você quase não aparece. Por favor! Posso pedir
ILYA KRAVTSOV
Dei uma boa olhada ao redor. A lua mal iluminava o terreno deserto,
— Eu ainda não entendi por que Pavel te designou para isso. O que
aconteceu com os soldados dele? Não servem mais para merda nenhuma?
— Fui eu que me ofereci. Tivemos esse problema algumas vezes
antes, e Pavel acredita que alguns homens dele estão envolvidos. Homens
— É minha obrigação.
olhando para mim, com muita atenção, com um enorme vinco na testa. —
confiança de Pavel, meu irmão tinha o dever sagrado de garantir que todas
as ordens fossem cumpridas à risca, não importava o que iria custar. Nosso
pakhan era um homem temperamental e quando as coisas não iam como ele
planejava...
como um pedido do pai de Pavel, mas eu sabia que não era tão confiável
ninguém tolerava muito bem – e este era mais um motivo para meu irmão
estar se esforçando tanto para colocar a mão na massa e deixar tudo correto.
Ele acreditava que se fizesse um bom trabalho, limpando as merdas
— Qual é a situação?
uma pista e enviou alguns homens para cá, mas eles retornaram com
notícias que de não encontraram nada. — Ele fez uma pausa, também se
— E qual é?
fosse tirado da base em que foi colocado, para começar, um sinal seria
prodígio. Nosso pai o incentivou desde o início e o enviou para ser treinado
pelos melhores.
conta de um. Tentamos não usar as armas de início, por mais que tivessem
muito as coisas.
seu pescoço. Kolya, por sua vez, usou um punhal, acertando a carótida.
pelo olhar, chegamos à porta do armazém, sem alarde. Não sabíamos o que
iríamos encontrar por lá, mas não precisávamos mais de tanto silêncio.
Sendo assim, meu irmão fez um sinal para mim, e eu arrombei a madeira
tinham pulado com o barulho que fizemos, mas a minha voz chamou mais
Nossa fama nos precedia. Todos eles sabiam muito bem o que iria
acontecer a partir daquele momento.
com o meu irmão ao meu lado. Além de lutar para ficar vivo, precisava me
preocupar com ele.
que possui um segredo. Se já estiver aberta, você vai encontrar outra caixa
preta dentro dela. É nessa que está o sensor programado por Mitya.
Sim, eu tinha. Mas era até bom, porque o corpo já estava aquecido e
pronto para qualquer coisa que viesse.
ILYA KRAVTSOV
mas certo de que não precisaria usá-la para o que teoricamente deveria ser
também em alerta.
ameaçadora.
caras falou, com um forte sotaque. Eles eram mexicanos, com certeza.
— Lamento informar, parceiro, mas sou o melhor que vai ter. Vai ser
Eles não demoraram para decidir, porque um deles fez um sinal para
alguém que deveria estar atrás de mim. Poderia ter sido algo muito discreto,
que fiz para lutar me protegeram. Mais um tiro preciso pegou outro filho da
— Eu devia ter imaginado que Pavel não viria. Que ele iria enviar a
protegida e disputada?
designado com o meu irmão. Fazia uns três anos mais ou menos, e
acabamos sendo emboscados por um grupo inimigo. Kolya foi ferido com
um tiro, e eu consegui, sozinho, nos tirar do local, acabando com uma dúzia
de homens.
Nunca contei para ninguém o tipo de coisa que vivi lá dentro e como
— Não sou tão burro para me meter com você, Ilya. — Ao dizer
então não me mexi. Continuava com a arma apontada, pronto para atirar se
fosse necessário. — Não vale a pena. Mas te aviso que eles queriam matar o
seu pakhan. Isto aqui era para ser uma emboscada. Fiquem ligados.
da pista.
Ele realmente não queria se envolver, o que me dizia que tudo aquilo
cabeça, apagando-o.
deveria fazer com o filho da puta. Eles teriam me matado sem dó. Teriam
matado Pavel.
poderia enviar seus homens até lá e dar um jeito, principalmente para pegar
informações a respeito da possível emboscada que estava programada para
matar Pavel.
noiva era mexicana. Essa informação foi começando a ser espalhada mais e
mais, porque, de acordo com os mexericos, o casamento estava próximo.
próprios olhos. Mesmo que, a partir dali eu não tivesse mais nenhum
contato com o que quer que fosse a mercadoria – se é que era mesmo um
interrupção ou barulho.
bem nos fundos, cuja vaga era escura, com alguns arbustos logo atrás que
me forneceriam abrigo suficiente.
ninguém sabia quem era. Só que uma coisa era criar uma teoria muito
absurda na cabeça, e outra completamente diferente era perceber que, de
O problema não era só ter uma garota dentro da caixa. O pior era
que ela estava toda acorrentada, e o elo que prendia seus punhos se erguia
para uma mordaça de ferro, quase uma máscara, que cobria sua boca inteira,
até o queixo, terminando no pescoço, onde a argola fazia a ligação das duas
restrições.
Foi por isso que não ouvi um único pio vindo dela. Isso e o fato de
ela estar desacordada.
ALEJANDRA ZAVALA
pedaço do tampo de madeira, para usá-lo como arma contra mim mesma.
com aquele homem. Léa me contara histórias sobre ele, acreditando que
delas.
Matar e morrer.
barba espessa, olhos muito azuis, um cenho franzido. Ele parecia tão
A caixa estava aberta, mas não fazia ideia de como conseguiria sair
nos meus ouvidos. Minhas costas doíam, meu corpo inteiro reclamava da
posição, e eu sentia minhas articulações dormentes. Sede, fome, frio. Eram
aumentava.
ódio.
verdadeiro gigante. Ele tinha braços que eram do tamanho das minhas
coxas e muita força neles já que manipulou meu corpo como se eu fosse
uma boneca.
suas mãos, e eu não tive muita noção do que era, em meio ao breu do
Usando a arma que eu tinha mais acessível, ergui uma das minhas
mãos.
Minha ação foi correr, saindo pela porta. Não fazia ideia de quais
poderiam ser minhas escolhas a partir dali, já que eu não sabia dirigir,
boca antes que eu pudesse completar meu grito. Tirou-me do chão e foi me
porta foi trancada. Tive plena certeza de que seria acorrentada novamente,
seu peito, sendo boba o suficiente para pensar que meus punhos fracos e
magros seriam capazes de ferir um homem daquele tamanho.
— Eu falo espanhol — ele falou na minha língua materna. Ou
perceber que suas mãos eram mais firmes do que a corrente que fora
colocada nelas. — Não sei o que está acontecendo aqui, garota, mas não vai
sair enquanto eu não entender. Se tentar fugir, vou te pegar de novo, e torça
para isso, porque você não faz ideia de onde estamos e do que poderia
aqui dentro.
Minha confissão foi tão firme que os olhos azuis gélidos do russo se
— Escute: eu não vou te fazer mal. Não sei o que estamos fazendo
inglês: cheio de sotaque. Sua voz era muito profunda, muito grossa,
Para um homem daquele tamanho, até que ele era bem gentil.
encontramos.
então eu que dei uma risadinha desdenhosa. — Vai tentar me fazer acreditar
que não seria capaz de tudo pelo seu chefe?
levar até o pakhan. Talvez estivesse falando a verdade e não soubesse qual
era sua missão até aquele momento. Não sabia os detalhes, muito menos
um pouco mais terno. — Se não me disser seu nome, é assim que vou ter
que te chamar.
Tudo o que eu sabia sobre motéis me fazia acreditar que não tinham
nada a ver com aquele ali. Sempre fui uma garota curiosa a respeito de
tudo, e por vezes vi, li e ouvi coisas com amigas do colégio que não devia.
Já levei chineladas da minha mãe por fuçar livros que não deveria.
mudaria para mim? O que ele faria se eu lhe entregasse minha confiança?
Não que fosse difícil, já que as minhas alternativas não eram muito
boas.
bonitos. Ele os soltou, fazendo-os cair em cascata, lisos e sedosos, por cima
de seus ombros largos.
visto na vida.
Não que eu tivesse muitas referências, por todo o tempo que passei
enclausurada, mas era uma visão agradável.
do rock, com mãos enormes e olhos gentis. Os lábios eram bem rosados em
meio à barba loira, e eu fiquei imaginando se teria um sorriso bonito.
do que isso, mesmo que não fosse esse o caso, ele poderia não querer se
indispor com seu chefe. Esse tipo de coisa deveria ser considerada traição,
me rendeu uma expressão de surpresa. Uni uma das mãos à outra, como em
uma prece e implorei, sentindo lágrimas de verdade se avolumando nos
meus olhos.
— Eu tinha treze anos quando fui levada da minha casa por homens
que alguém iria se interessar por mim e me comprar. Tive o azar de ser a
escolhida do pakhan. Só que não tinha nem dezoito anos. Assim que
completei, eles vieram e...
Seus olhos azuis se fixaram nos meus, e eu me senti muito tola naquela
posição de rendição.
Com facilidade, ele me levantou do chão, me ajudando a me colocar
de pé.
— Mas...
Eu poderia não acreditar, mas não tinha muita escolha. Era isso ou
lutar e jamais chegar a lugar algum. Ou talvez voltar para as correntes de
antes.
ILYA KRAVTSOV
Sempre soube, desde que peguei minha irmãzinha nos braços, que
um dia ela seria negociada em casamento com alguém que fosse relevante
para a nossa família. Alguém importante dentro da Bratva, principalmente,
jeito mais elitista. Toda a negociação seria feita com ela presente, em meio
Não era difícil entender o motivo pelo qual ela tinha sido escolhida
para aquele destino. Não só a beleza evidente era explicação suficiente para
ter chamado a atenção de Pavel, mas o fogo que havia naqueles olhos
dourados.
Olhos de lince.
Ela era alta, mas mesmo assim sua cabeça batia na altura do meu
apesar de provavelmente não ter muito acesso a sol e luz, sua pele tinha o
forma submissa. Eu sabia que era intimidador, que uma mulher como ela
poderia ter medo – e claro que aconteceu, mas ela se manteve firme.
Tinha dezoito anos apenas. Quinze a menos do que eu, que tinha
que talvez o Ram[on Morales, o “jefe”, não iria aceitar entregar uma de
suas garotas de boas famílias para um russo, mas, ainda assim, havia muito
antes de retornar, mas ele não viu. O problema é que as coisas mudaram um
pouco. — Minha voz adquiriu um tom menos simpático: — Por que diabos
Então ele não sabia? Por que Pavel manteria segredo de seu próprio
conselheiro?
— Alejandra Zavala?
— Não parece bem ser uma noiva, mas escrava. A garota foi
traficada! Não é possível que você não soubesse disso! — rosnei, mas
dezoito anos ainda; que precisaria esperar. Disse que tudo foi acertado com
a família dela.
nervoso que eu pudesse estar, esperei seu tempo. Sabia que a informação
era difícil de engolir, que ele precisava de absorver o quão grave era a
e depois resolveremos.
inquieto.
Aquilo não fazia sentido. Não era o meu irmão falando. O homem
rosnado, muito nervoso. Ele andava assim nos últimos tempos, o que me
fazia pensar até que ponto andava saindo dos seus limites para proteger a
família.
Um renegado.
subido.
porque eu sabia que ele era sádico o suficiente para isso. Machucando-a,
marcando-a e a traumatizando para sempre.
muito gentil.
O problema era que nenhuma das mulheres que suspiravam por ele e
pela chance de se tornarem esposa do chefe sabia o monstro que ele era.
— Não posso deixar, Kolya. Ela é só uma menina. Como Tasha —
falei com um tom de voz um pouco mais suave, não só na esperança de
Pensei que Kolya iria me condenar, dizer que iria mandar homens
atrás de mim, mas apenas o ouvi suspirar pesadamente do outro lado da
linha.
posição na Bratva, fuja. Mas fuja para longe. Jamais tivemos essa conversa.
Saiba que terá que se tornar um renegado para mim também. Para qualquer
Ele era meu irmão mais velho. Um homem a quem eu admirava; que
conseguiu provar sua lealdade ao pakhan de uma forma que lhe permitiu
— Eu sempre vou te amar, irmão. Sabe disso. Mas está tendo direito
à sua escolha, e eu, à minha. Não posso dizer se o que está fazendo é certo,
e eu preciso virar as costas para você. Vai precisar sair de onde está o mais
rápido possível, porque imagino onde seja e vou te delatar, mas vou te dar
tempo para sair. Por mais que odeie isso com todas as minhas forças. — Ele
fez uma pausa e suspirou: — Mas... Ostavaytes' v mire.
frase. “Vá em paz”. Era uma despedida. O máximo que ele poderia fazer
por mim.
Eu queria dizer alguma coisa. Não poderia pedir além do que estava
me dando, por mais que parecesse cruel aos olhos de qualquer outra pessoa.
Mas se fosse mesmo uma despedida, era uma decisão definitiva demais
Eu mal a conhecia. Não fazia ideia de quem era, se sua história era
real ou inventada. Mas a tinha visto presa dentro daquela caixa, e o medo
que demonstrou ao me encontrar não era ilegítimo.
Merda!
garota de quem eu sabia apenas o nome. Trair o meu pakhan, trair minha
organização.
eu só precisava de um incentivo.
Pensando nisso, decidi não olhar para trás e fui até a garota, tocando
Era bom que fizesse isso mesmo, porque a partir daquele momento,
ALEJANDRA ZAVALA
Ilya de pé do lado de fora. Desde que saímos do motel anterior, ele falou
ficaríamos com o rosto torto para sempre. Parecia que era isso que tinha
acontecido com Ilya. O cenho franzido se prendeu em sua testa com força,
uma vez, o que me deixou surpresa. Não era para ficar tão vulnerável perto
de um homem desconhecido, ainda mais sem saber direito para onde iria me
levar.
Ele dissera que iria me proteger, mas por quê? Quem era Ilya
Kravtsov, afinal de contas?
Saltei pela porta que ele abrira e ergui meus olhos, me deparando
depois de um bom tempo em silêncio. Tanto que minha boca tinha ficado
até seca, mas naquele momento, comecei a bater queixo por causa do frio
absurdo que estava fazendo lá fora.
largos.
— Nem pensar, moi rys! Vamos ter que dividir um, porque não vou
passava das cinco da manhã. Ao mesmo tempo, parecia que fazia uma
subimos.
de privacidade.
dentro e a estendeu para mim. Por mais que eu fosse alta, o negócio
pareceria uma camisola, com certeza chegando quase aos meus joelhos.
Peguei, relutante, mas ansiosa para tirar aquele vestido ridículo com
o qual tinham me vestido – muito parecido com o virginal que usei para ser
em jogo para ele, caso realmente resolvesse me ajudar. Não acreditava nisso
completamente, porque não fazia nem sentido, mas precisava lhe dar um
Aquele era um luxo que eu vinha tendo nos últimos meses, depois
que fui escolhida pelo pakhan. Quando era só mais uma no meio de outras
meninas perdidas, sem destino certo, o banho era sempre frio, as toalhas
fora daquele lugar. Não poderia dizer que estava finalmente em liberdade,
cabelos. Ele estava sentado na cama, usando só a blusa branca e uma calça
Não que eu quisesse que ele fosse simpático ou amigável, mas algo
um frio do caralho. Se sair, vai se perder, e eu acredito que seja muito pior
do que se eu te achar. Pense bem antes de fazer uma besteira.
O que tinha dado naquele homem que parecia muito mais ranzinza
do que antes?
Mas eu não iria fugir. Ele estava certo. Minhas chances lá fora, sem
conhecer o lugar onde estava, com o frio que estava fazendo, eram nulas.
camisa.
Quando terminou tudo, vestiu uma camisa limpa – preta daquela vez
– e retornou.
Ilya. Aquilo era um jogo. Eu era só um peão em um tabuleiro onde ele era a
torre, que protegia seu rei. Se conseguisse trazê-lo para o meu lado,
conquistar sua compaixão e talvez até a sua amizade, talvez o destino me
desse uma chance de viver, não apenas de sobreviver.
total surpresa.
falou em um resmungo.
arrumou a pia e limpou o espelho. Nem precisava disso tudo, porque ele
não tinha sujado muita coisa, mas me parecia que Ilya era um homem muito
asseado.
— Imagino que a cama seja grande o suficiente para nós dois, não
meio da noite eu certamente acabaria encostando nele. Por mais que tivesse
se deitado bem na beirada, na confusão do sono, acabaríamos os dois um
— Promete que não vai abusar de mim? — Sabia que meus olhos
— O quê...?
Não vou ficar presa a você. E se rolar para cima de mim com esse corpo
enorme? Não vou conseguir fugir, e vai me esmagar.
— Hummm...
outro, Ilya não reclamou, não me mandou parar. Em minutos ele começou a
ressoar baixinho, e seu peito muito largo estabeleceu um ritmo sereno,
subindo e descendo, o que provava que tinha adormecido.
Você entende?
ILYA KRAVTSOV
— Você está bem, moi rys? — minha voz soou o mais suave que
consegui, embora pesada e rouca por eu ter acabado de acordar.
— Só estou pensando...
história...
horas, desde minha ligação para Kolya, eu realmente tinha ficado um pouco
mais reservado. Pensar em perder a lealdade do meu irmão era algo
doloroso. Mas seria mais ainda perder a minha dignidade e honra como
homem.
Quando eu era menor, e éramos liberadas para tomar nosso banho de sol,
como se fôssemos prisioneiras condenadas, eu olhava para as outras garotas
para uma ilha onde nunca mais cresceríamos, e seria nosso dever defender
esse lugar.
— É um pensamento bonito.
reino desconhecido, que iria me tornar sua princesa. Nós iríamos nos
seu pakhan.
— Como não?
lado. Eu poderia ter nos soltado, mas no momento não pensei nisso. A
revelar meus sentimentos tão facilmente, ainda mais para uma pessoa que
era tão capaz de fazer. Outros homens da máfia que eu conhecia também
tinham esse dom, mas tudo em mim era intenso. Raiva, dor, tristeza... tesão.
Não foi diferente em uma simples conversa com uma garota. Apesar
das minhas tentativas, no entanto, ela com certeza conseguiria ler nos meus
alguns anos mais nova do que você. — Fiz uma pausa, fechando os olhos e
pensando no sorriso de Tasha ao me ver; no quão inocente ela ainda parecia.
— Na verdade, ela tem a sua idade quando foi capturada. Fico pensando no
que aconteceria se um filho da puta desses fizesse com ela o mesmo que foi
me confortar.
seu delicioso espanhol, que era sensual mesmo que ela não tivesse a menor
intenção de ser.
empatia.
uma garota que não merecia um destino cruel como o de se casar com
Pavel.
Continuamos conversando um pouco, ainda na cama, até que
básico, porque o motel onde estávamos não tinha um menu muito variado.
admirava fisicamente.
O que não era nada ruim, embora fosse complicado pra caralho,
principalmente porque eu também a admirava.
mensagem que estava esperando. Era bom que Alejandra tivesse comido e
descansado, porque poderíamos partir imediatamente.
Zvenigorod.
Eu cheguei a sorrir.
bastante frio, é de difícil acesso, mas vai nos servir por um tempo. Depois
teremos que pensar em uma viagem um pouco mais longa.
— Para onde?
as coisas comigo.
Eu vou te procurar
Até que não haja mais ar nos meus pulmões
ALEJANDRA ZAVALA
Uma das primeiras coisas que Ilya fez quando chegamos na cabana
localizada numa encosta. Ainda não estava nevando pesado, mas desde que
começara não parara, e eu sabia que iria piorar.
Havia roupas masculinas guardadas no armário do único quarto que
enormes. Serviam para cobrir minhas pernas da pior forma possível, mas
Eu não estava acostumada com o frio, então sabia que aquela noite
seria difícil.
sons vindos lá de fora. O ouvido não apurado fez com que eu acreditasse
que se tratava de sons de briga, porque eram baques fortes, além de
compridas pesada, de gola alta – mas nada além disso –, com os cabelos
parecia estar sentindo metade do frio que eu sentia, mas também tinha se
perigoso.
olhos fechados, não podia me ver observando-o, mas quando fez menção de
lareira. Mexeu neles, organizando-os como pôde, e saiu para pegar mais,
sem uma única palavra. Estava novamente com aquela expressão sisuda, e
eu já começava a entender – mesmo que nos conhecêssemos há tão pouco
— Acho que isso vai ajudar — foi o que ele disse depois,
vestir.
— Não é nada. Melhor do que você acabar caindo doente por aí.
estava sentindo seriam mesmo por causa do frio ou se algo mais. Ilya não
parecia estar tão desconfortável, e tudo bem que ele era enorme, tinha mãos
mas eu sentia algo estranho por dentro. Como se os meus órgãos é que
estivessem tremendo.
atendeu. Por mais que não quisesse ouvir a conversa alheia, foi difícil não
prestar atenção, ainda mais quando ele falou o nome de alguém com tanto
carinho.
aconteceu?
ouvir até o som da respiração de Ilya mais pesada. Ele estava nervoso,
não...
Executado?
Por minha causa?
— Por isso que não estava te atendendo. Não posso falar com você e
nem com Tasha. Se eu for pego, vou afirmar que vocês não sabiam de nada.
porta dos fundos da cabana. Não consegui ouvir o resto da conversa, mas
Ilya não podia morrer por ter me salvado. Ele era um protetor, não
um traidor.
situação melhor do que antes, mas minha consciência também nunca ficaria
minha saúde.
— Vamos ter que dormir outra vez na mesma cama. Tudo bem por
você? — Cheguei a me sobressaltar com sua voz. Nem percebi que havia
cochilado.
empacotada.
— Você não seria nem louca de fugir daqui. A neve está apertando e
não tem nada em pelo menos quinze quilômetros — ele alertou, enquanto
abria a geladeira.
— Vou de carro. Vou ter que trocá-lo de novo, aliás. — Ele tinha
feito isso no caminho para a cabana, e estávamos ainda com um SUV, mas
muito menos chique do que o anterior. Ainda grande, bonito, mas uns dois
falso?
Estava improvisando.
— Não sei. Alguns dias, pelo menos. Até que tudo se resolva com a
tom de voz.
De onde poderia ter vindo tanto? O que ele fazia?
Bem... era um mafioso, não? Era até melhor não saber em que tipo
de negócios estava metido.
— Um pouco.
Ilya ficou quieto e hesitou, mas percebi que estava tomando uma
decisão.
porque fazia muito tempo que alguém não me acolhia daquela forma.
no sono.
Mas no pior deles, eu ouvia murmúrios que sabia serem meus, todos
sendo abafados pela mordaça de ferro que me colocaram. Com braços e
dali.
Só isso.
Capítulo 9
ILYA KRAVTSOV
cabelos longos e com uma barba considerável, tentar não chamar atenção
era algo bastante complicado. As pessoas não paravam de olhar para mim.
atenção. Absorvente? Mais ainda. Alejandra não tinha pedido, mas... bem...
ela era mulher, né? Eu não fazia ideia de quando poderia ficar menstruada.
nisso, mas melhor prevenir do que remediar. A garota era linda, já tinha me
virgem por todo aquele tempo e precisava continuar assim. Não seria eu a
corrompê-la.
que escondia minhas feições e meu cabelo ao máximo. Também não tinha
tirado os óculos, mesmo dentro do estabelecimento.
redor, mas continuei firme. Segui para o carro, que eu já tinha trocado, e
para levar as compras para dentro, sob a neve que caía. Não era exatamente
um temporal, mas era incômodo, por mais que meu casaco fosse grosso e
que a garota tivesse resolvido fugir depois de tudo o que havia acontecido.
andar, onde só havia o quarto, mas estava vazio. A cama ainda desfeita,
pendurada na fechadura.
Eu sabia que poderia ser um erro, mas não tive coragem de deixá-la
trancada ali dentro. Qualquer coisa que acontecesse, ela precisaria ter a
chance de escapar. Ainda assim, tinha a impressão de que não fora uma
chão, que estava coberto de neve, embora não fosse uma camada assim tão
alta. Ainda estava enrolada no cobertor, o que era menos preocupante, mas
exagerado, mas suspeitei que pudesse ter a ver com falta de costume.
baixinho, não sabendo se estava mais puto com elfacea ou comigo mesmo.
e subi as escadas.
Coloquei-a na cama e fui obrigado a tirar sua roupa, mas estava tão
desesperado que não consegui prestar atenção em nada. Só a enrolei em
banheiro, por isso aproveitei e subi com um copo d’água, agradecendo por
febre!
— Eu não posso ser um fardo para você. Não pode dar as costas
bem? — tentei fazer minha voz soar suave, porque se agisse com
sobre o que fazer, então decidi preparar algumas compressas e algo para que
comesse. Talvez uma Borscht, que seria bem cheia de nutrientes para que se
recuperasse logo.
Mesmo cético, como sempre fui, cheguei a pensar que ela era algum
tipo de missão que tinha sido jogada no meu caminho. Ela falara sobre ser
um fardo, e eu tive a impressão de que poderia ter ouvido a minha conversa
privacidade, ainda mais com um quarto só. A maior prova disso era
estarmos dormindo na mesma cama.
baixado.
Coloquei a cadeira da escrivaninha do lado da cama e me propus a
ajudar Alejandra a comer, literalmente dando a sopa em sua boca.
mas minha cabeça estava tão perturbada que consegui achar extremamente
sensual a oportunidade de alimentar aquela mulher.
A forma como ela olhava para mim, o quanto seu rosto pareceu mais
corado depois de tomar algumas colheradas, e o jeito como usei um
por ela. Que por sua vida tivessem passado tantos monstros e desgraçados
que ela precisava entregar toda a sua confiança para um mafioso.
O mundo é um vampiro
Enviado para drenar
Destruidores furtivos
Te fazem enfrentar as chamas
E o que eu ganho
Pela minha dor?
Desejos traídos
E um pedaço do jogo
BULLET WITH BUTTERFLY WINGS – SAM TINNESZ
ALEJANDRA ZAVALA
era dormir. A sorte era ter um Ilya incansável cuidando de mim de todas as
guardião.
começando a mexer comigo. Exatamente como tinha falado para ele, fazia
muito tempo que alguém fora legal daquele jeito, e eu nem sabia como
agradecer.
sozinhos em uma cabana isolada, de eu estar tão frágil, e ele ter aquela veia
protetora. Com o tempo, iria passar. Ele não ia me manter por perto por
muito tempo. De acordo com o que dissera, iríamos para os Estados Unidos
assim que fosse possível, então eu poderia seguir a minha vida, talvez com
outra identidade, com outras perspectivas.
Ainda assim, teríamos mais uns bons dias juntos. O que eu faria
fazer nada, e acordei mais forte. Ainda estava bastante frio, mas eu já não
tinha passado.
Meu corpo também estava bem menos fraco. Tanto que consegui me
ele era um cara bruto, com mãos imensas e braços que pareciam toras de
madeira. Um mafioso...
mim.
Como eu disse, você foi o único homem decente que conheci até hoje.
de seus resmungos, e eu fiquei quieta, porque não parecia muito pronto para
dialogar.
Ainda assim, foi ele que continuou. Finalmente olhou para mim e
Eu não esperava que a pergunta fosse ser tão direta. Não esperava
precisar tirar aquela resposta bem de dentro de mim, do ponto mais fundo,
onde ainda era muito doloroso.
nasci. O pai do meu irmão foi quem me criou, mas me odiava, porque não
era filha dele. Ainda era casado com a minha mãe e insistia que ela tinha
provocado para ser violentado como foi. Ele a culpava mesmo sendo
vítima.
— Não tenho muitas lembranças desse dia, porque faz muito tempo,
ele. Eu ainda estava meio sonolenta, meio zonza, mas não tinha ninguém
olhos dos meus, fitando o nada. Maxilares tensos. Ombros também. Cenho
franzido.
que o tema era difícil. Nunca tinha me aberto a respeito de tudo aquilo com
— Não sei. Mas às vezes eu meio que o entendo. Ele fez por
Javi era meu herói. Sempre fomos muito chegados, porque ele cuidava de
daria o mundo inteiro por ela. Morreria para protegê-la. Se seu irmão fez o
que fez, ele não merece perdão.
Dei de ombros.
entender.
fez com força, porque o vidro bateu com vidro e fez um barulho forte, que
me causou um sobressalto.
levantou, revoltado.
Fiz o mesmo, colocando-me atrás dele, estendendo a mão para tocar
seu ombro.
que eu fosse de encontro ao seu peito, chegou a tirar meus pés do chão e a
causar um verdadeiro estrago, porque eu cheguei a estremecer.
tanto queria? Só uma prova, não precisava ser nada elaborado, até porque
eu nunca tinha sido beijada de verdade. Não teria como comparar...
Só que, por alguns instantes, jurei que não precisaria dar o primeiro
passo. Pelo jeito como Ilya me olhava, com os olhos estreitos e tão intensos
que quase me desmontaram, tive a certeza de que me beijaria.
errado. Era como se o mundo todo tivesse parado. Nem mesmo o crepitar
da lareira ou os sons da televisão fizessem sentido.
Senti sua mão se abrir na curva da minha cintura, e seu dedo polegar
escapando de mim, mas não sem deixar o seu cheiro marcado no meu corpo
e a sensação de seu toque, quase como um membro fantasma.
Talvez um dia.
Capítulo 11
ILYA KRAVTSOV
dedos.
Nos dias menos frios, caminhávamos ao redor da cabana, para nos
Para mim, ela nem precisava de muito esforço. Qualquer coisa que
Patetícheski[1]!
Era difícil controlar meus instintos quando a tinha por perto. Perto
Na maior parte das vezes, ela ficava o dia inteiro cheia de roupas,
banho, mas naquela tarde precisei pegar meu notebook, depois de receber
Por algum descuido ela deixou a porta da suíte aberta, apenas uma
fresta. Passei e tentei não espiar, mas acabei me deparando, sem querer,
desequilibrou, e deveria ter sido só isso, mas por pouco não me controlei.
Ela era minha protegida. Eu era um renegado. Nossos mundos
tinham colidido, mas isso não queria dizer que eu poderia cruzar limites.
Alejandra era proibida para mim. Mais do que qualquer outra. Uma
Mas era o que eu queria fazer. Por mais perigoso e insano que
pudesse ser.
prometer que seria para sempre, ainda mais vendo-a daquele jeito.
porta sem querer com força. Alejandra provavelmente deve ter se dado
conta da minha presença, com o barulho que eu fiz, mas isso já nem
importava.
Não havia muito o que eu pudesse fazer, porque quem quer que
estivesse lá fora já tinha visto as luzes acesas e talvez até ouvido o barulho
Seria muito fácil criar uma armadilha para duas pessoas, ainda mais
Mas se estava tentando isso, deveria ter sido mais discreto em sua
aproximação.
mais ainda.
— Ilya? Abra.
Era o meu irmão. Por que diabos eu tinha que estar cogitando a
— Precisamos conversar.
alto. — Dá para parar com essa palhaçada, Ilya? Eu te deixei fugir. Poderia
olhando lá para fora através da janela ao lado. Meu irmão estava parado,
Era uma tática eficaz, mas não comigo, que estava em total alerta.
De acordo com a criação que recebemos era uma falta de respeito tratar
meu irmão mais velho dessa forma, mas era o que eu estava sendo obrigado
a fazer.
Não desviei meus olhos de Kolya, mas ele, por sua vez, deu uma
boa olhada na moça.
— Ah, acho que entendi — meu irmão soltou, ainda olhando para
Alejandra.
— Agora tudo fez sentido, irmão. Não que eu duvidasse, mas ela é
linda.
aqui, Kolya? Deixou bem claro que daria as costas a mim caso eu fizesse a
escolha de proteger a garota.
— Porque eu não vou passar pano para você. Porque Tasha é uma
garota esperta. E porque ela precisa saber. Não quero que saia te
defendendo em algum evento da Bratva. Sabe que ela vai ser renegada
também se fizer isso.
Meus ombros caíram, e se eu não estivesse tão convicto de que
qualquer movimento em falso meu colocaria Alejandra em perigo, teria
vacilado.
Tasha era meu ponto fraco. Sempre seria. Pensar que eu poderia tê-
la colocado em risco por causa da minha nova reputação de merda seria a
minha ruína.
— Como assim?
dezoito.
— Ele nem mora mais na Rússia! Ninguém da família, que eu saiba.
— Por um tempo. Vai voltar. Ela estará segura, Ilya. Ele é um amigo
de Pavel, vai ser um aliado para a nossa família.
Não era nada disso que eu queria. A última coisa que eu poderia
— Contrariada, é claro. Mas sabe que precisa fazer o que for melhor
para a nossa família. — Ele fez uma pausa e deu de ombros. Nessa atitude,
ele tirou um pouco uma das mãos do joelho, e eu fiz um sinal para que a
completo.
— Pavel vai achar vocês em algum momento, Ilya. Ele tem
recursos.
e ninguém sabia sobre aquela pequena propriedade que ele tinha, até porque
era dono de muitas.
— E, não, ele não te dedurou. Só que você sabe muito bem que eu
Claro. Ele era bom. Meu irmão era o cara mais estrategista e
— E o que vai fazer agora que nos encontrou? Vai nos entregar?
— Não por ela. Por tudo o que representaria esse casamento com
Pavel. Mas, não. Você sabe que eu não te mataria, Kolya.
Eu sabia que Kolya poderia mentir. Ele poderia falar que sim, que
conversaria com Oleyno, mas conhecia a honra do meu irmão, porque
tínhamos sido criados pelo mesmo homem. Apesar dos pesares, o mesmo
sangue corria em nossas veias.
agarrando-o pelo pescoço. Meu movimento foi tão rápido que me tornei
inesperado, segurando-o em um mata-leão até que apagasse.
acordasse.
Então subi, já gritando por Alejandra, para que ela juntasse suas
ALEJANDRA ZAVALA
Foi uma viagem cansativa. Não só por ser longa, mas porque
fizemos várias paradas e escalas. Em cada uma delas, passamos apenas uma
noite e já pegamos outro voo.
O destino final foi Chicago. Não fazia ideia do motivo disso, porque
Ilya não me falava muitas coisas. Na verdade, desde a visita de seu irmão à
cabana, ele passara a ficar ainda mais silencioso e pensativo.
incomodada.
eu me importava demais com ele para não me preocupar com o que estava
acontecendo.
— Faz cinco dias que estamos viajando e ainda não paramos para
onde vamos.
menos.
— Tenho amigos.
um bom começo.
A viagem foi tranquila, e nós vimos o pôr do sol na estrada.
Consegui cochilar por alguns instantes, mas muito pouco, porque logo
iguais, com exceção de uma, que ficava ao final da rua, que era uma
verdadeira mansão.
fachada era composta por uma cerca branca e jardim. Uma varandinha com
rede, sofás de vime e um ambiente de lar.
voz, que falava em inglês, mas a pessoa que vinha até nós estava sorrindo
repetiu.
uma relação mais fraternal do que Ilya tinha com seu irmão, aparentemente.
Desde que saí do cativeiro onde vivia, o tal Hunter Phoenix fora o
homem mais simpático que lidou comigo. Ilya era gentil e protetor, mas
dificilmente sorria daquele jeito, como se sua alma inteira estivesse em seus
olhos.
quanto ele era grandão – uns cinco centímetros apenas mais baixo que Ilya
Havia uma falha em sua sobrancelha, que parecia muito com uma cicatriz
branca e discreta. Cheio de tatuagens, uma se destacou por pegar boa parte
— Queremos que fiquem à vontade por aqui. Ilya sabe que está em
uma chave.
Não era um motel de estrada. Não era uma cabana isolada no meio
sala com um tapete felpudo. Um sofá com uma manta colorida, uma mesa
Era cálida, cheirava a lar, como o único que conheci quando ainda
era só uma menina. Sem nem entender o motivo, meus olhos marejaram, e
eu fiz um enorme esforço para que Ilya não percebesse.
seguro.
importei. Ilya podia pensar o que quisesse; talvez eu fosse mesmo só uma
garota boba e deslumbrada com poucas coisas.
Se reparou o quanto eu estava emocionada, não comentou. Apenas
me guiou pela casa, e eu quase lamentei que tivesse dois quartos, porque, de
proteger do frio.
Hunter. Era um assado delicioso com batatas, e eu comi até minha barriga
inchar.
Na maior parte das vezes quem ia para a cozinha entre mim e Ilya
era eu, e por mais que eu fosse muito boa no fogão, comer refeições
preparadas por outra pessoa que também sabia a dose perfeita de tempero, o
ponto certo da carne e que fazia tudo com muito amor, era outra coisa.
Também não me lembrava a última vez que tinha comido algo caseiro e tão
bom.
chamou a atenção de Ilya, fazendo-o olhar para mim. — Mas isto aqui... eu
realmente não tinha noção do que o quanto uma casa de verdade estava me
fazendo falta.
— Hummm...
— Não importa quanto tempo a gente fique aqui. Dois dias, uma
semana, um mês. Sei que não vai ser definitivo, mas obrigada por me fazer
Pensei que ele iria se afastar ou recusar, mas entrelaçou os dedos nos
meus. Era como se também estivesse buscando algum tipo de conforto.
Ilya mantinha uma carcaça forte, queria fazer o tipo que não se
entrega e que não perde a pose de durão, mas sentia que também estava
cansado. Mais do que isso, que tinha entregado mais de si do que jamais
poderia dar.
longe de mim.
O apelido então...
mão inteira – que era tão absurdamente grande que poderia quebrá-lo ao
meio. Um dos dedos tocou a minha boca, traçando o contorno, enquanto ele
permanecia em silêncio.
segurou mechas do meu cabelo e o puxou para trás, abrindo ainda mais
espaço.
pernas, sobre aquelas coxas grossas que eu podia sentir que eram
irritantemente torneadas só pela forma como meu bumbum se acomodava a
elas.
resto do mundo.
Este acenou para mim, mas Ilya saiu, para que conversassem na varanda,
provavelmente algo sobre todo o ocorrido que nos levou até ali.
comigo para o quarto que seria meu, bufando pela falta de sorte e falta de
timing de Hunter.
companhia.
— O que foi?
Só que não foi nenhuma surpresa acordar de manhã com nós dois
enroscados um no outro, buscando o conforto que tínhamos nos acostumado
a oferecer e desejar.
Capítulo 13
ALEJANDRA ZAVALA
mais do que o normal – o que ainda não era muito, para dizer a verdade.
Assim que terminamos, saímos da casa, e ele foi me apresentando as
domingo, o pai deles estava presente, e foi para a mesa conosco, ajudando a
esposa em tudo.
Era engraçado de ver, aliás, porque ele era grandão também, mas
linda, com os cabelos castanhos e olhos claros. Ele era um cara bem bonitão
também, de cabelos curtos e castanhos, todo tatuado, uma barba grossa, e
acuada com tantos rostos novos. Era como um bichinho do mato assustado,
demoraria a vir o pôr do sol, e a luz dourada que vinha lá de cima parecia
iluminá-lo de um jeito que o deixava quase irreal. Uma estátua viva no auge
de sua masculinidade e sensualidade perigosa.
horas que tínhamos chegado ali, e eu ainda não sabia de absolutamente nada
Internacionais. Era a ideia do meu pai, que eu tivesse esse papel dentro da
máfia. — Ele fez uma pausa. — Hunter estudava Administração, mas
— E ele terminou?
— Que são...?
respeitada, com sedes até em outros países. Mas eles têm algumas outras
coisas.
— Ilegais?
Assenti mais uma vez. Era difícil imaginar aquelas pessoas, que
— Foi justo, uma luta mano a mano. O filho da puta era marido de
— Não, mas ele o criou como um. Drake e Adelle, sim, são seus
filhos biológicos. — Ele fez uma pausa. — Assim como na máfia, há uma
hierarquia aqui dentro. Caleb é o líder, e ele tem um subchefe, irmão dele,
que você ainda não conheceu, mas que retorna hoje à noite de uma viagem
chamam, Cady.
novo, de Jordana. Foi assim que eu conheci todas essas pessoas, aliás.
Tentando ajudar Josh em um problema. Hunter me trouxe, e eu passei
— Até quando?
— Até podermos te levar para outro lugar seguro, com mais uma
falar.
à noite, quando saímos da casa, para irmos a uma festa à fogueira, nos
fundos do complexo onde os Wildfire moravam, me peguei em silêncio,
observando as chamas se erguendo e se tornando faíscas que pareciam
pegado uma única garrafa para mim, só um marshmallow, que não tive
coragem de assar na fogueira, porque ainda estava um pouco tímida.
história para Joshua e Gillian, assim como tinha sido feito para os outros.
Hunter, sem dúvidas, sabia desde o início, a respeito de tudo, e achei justo
que fosse contado, porque eu era uma forasteira.
pena – que era o que eu não queria –, e era assim que Gillian estava
comentando também.
orelha. Eu me sentia tímida, porque ainda não tinha muito costume de lidar
com tantas pessoas.
muitos sentimentos.
eu...
— Em quê?
gosta muito disso, porque acredita que ele ainda vai se meter em alguma
confusão grande, mas o rapaz é bom.
— Acha que Ilya pode correr riscos se for trabalhar com ele?
mais facilmente.
nossa señorita aqui! — ela falou bem alto e me guiou a um espaço vazio,
começando a se remexer no ritmo da música.
Fiquei um pouco parada, sem saber o que fazer, mas quando outras
mulheres também vieram para dançar conosco, inclusive Jordana, fui me
animando.
me mexer.
ILYA KRAVTSOV
Nenhum de nós dois tinha tido tempo para isso desde que nos
nem um mês desde a primeira vez em que nos vimos, mas era mais do que
óbvio que tínhamos criado um vínculo.
E não tinha nada a ver com as noites em que dormíamos na mesma
quais eu sabia que ela havia passado, e tudo pelo que eu havia aberto mão.
rindo com Joshua, antes de este começar a gritar pela esposa. — Com todo
o respeito, a sua mexicaninha é uma deusa.
— Ela não é minha — rosnei a resposta, sem tirar os olhos dela, mas
— Por quê? Você vai permitir que ela ainda pertença a outro
homem?
— Então você quer que ela seja sua. Se quer mesmo isso, precisa
ficar sentado.
que deveria, por si só, ser suficiente para mim, já que podia imaginar que
aquela menina não tivera alegrias e liberdade como aquela em muito tempo.
Tanto que quase me afastei. Não queria estragar seu momento com o
Ele era um rapaz de vinte e cinco anos, de cabelos curtos, com suas
loucas por ele, porque Hunter sempre me dizia que o moleque não parava
Alejandra.
Ela chegou a olhar para mim, de esguelha, e eu não sabia se era para
tentar me colocar ciúme ou se por vontade própria, mas sorriu para Drake e
não era um babaca, que não iria fazer nada contra a vontade dela.
— Se você não for rápido, meu irmão vai dar o bote, parceiro —
Hunter falou do meu lado, e por mais que minha vontade fosse mandá-lo
aventura. Mas porra... se era para ela se entregar a alguém. Que esse alguém
fosse eu.
fui me aproximando.
Apesar de Drake também ser um cara fortão, eu me senti desajeitado
perto dele. Bruto demais, grande, rude, com mãos enormes que não se
outro.
amigável.
esperasse que eu fosse surgir e reivindicar alguma coisa com a garota. Ela,
por sua vez, deu alguns passos para trás, afastando-se do outro, fixou os
especialmente porque não era exatamente verdade. O que quer que tivesse
acontecido naquele dia em que quase nos beijamos, não podia ser
— É... eu achei que... Alguém me disse que vocês dois não estavam
juntos e...
— Pois estamos — eu disse novamente em um rosnado, agarrando o
que ela não estava com ninguém, até porque merecia viver e ser jovem.
Eu poderia ter ignorado a forma como sorriu para mim, mas não fui
coisa, mas não permiti. Podia falar o que quisesse depois; podia até me
pedir que rezasse, que eu faria. Naquele momento, porém, eu me inclinei e
Eu não estava mais nem pensando quando minha língua abriu seus
O beijo era insano. Devia ser o primeiro dela, como era fácil de
que me implorasse por clemência. Queria que gritasse meu nome e que
saísse daquela casa marcada por mim. Que todos olhassem para ela e
vissem sua boca inchada pelos meus beijos. Era muito territorialista da
minha parte, mas não queria permitir que mais alguém se aproximasse sem
enquanto minha língua, já fora de sua boca, lambia seus lábios, como se
eles fossem uma fruta da qual eu queria roubar todo o suco.
delicada demais para mim, mas a minha cabeça não estava em concordância
com o meu corpo. Não conseguia controlar os impulsos das minhas mãos de
a segurarem com mais força, nem dos meus dentes de quererem mordê-la
inteira.
do pescoço frágil e substituí meus dedos por meus lábios, lambendo uma
trilha que seguia pelas veias que eu quase conseguia sentir pulsar, ela
afundou as unhas no meu couro cabeludo, também puxando o meu cabelo.
força, que senti seus seios sendo esmagados contra o meu peito.
Ela era toda suave e macia contra toda a minha rigidez. O contraste
perfeito.
quanto ela estava mesmo muito linda toda desconcertada depois dos meus
beijos.
— Não vamos mais longe do que isso, moi rys — minha voz estava
mais rouca do que o normal. — Ao menos não por enquanto. Precisamos
nos acalmar e voltar para festa. É a sua primeira depois de muito tempo,
não quero estragar.
— Não precisa.
— Mas é assim que vai ser. Com calma. Vai valer a pena.
Não iria cair em sua pilha, mas... puta que pariu. Ela era tentadora.
— Vai preferir que eu seja levada de novo, ainda virgem, para ter
livros. Eu posso ser inocente, mas não vai me enganar. Sei tudo o que
acontece, e não quero que seja com outra pessoa. Quero que seja com você.
Capítulo 15
ALEJANDRA ZAVALA
Respirei fundo uma, duas, três vezes, tentando me acalmar. Não era
assim que se reagia quando a adrenalina estava a mil? Pois o fato de o meu
quebrar ao meio.
Precisava falar alguma coisa, mas estava nervosa demais para obrigar
— Quer dizer então que você quer que eu te foda, garota? Como? —
— Então não faça propostas ao diabo se não sabe o que ele vai te
dar em troca.
Estremeci, não apenas por suas palavras, mas também porque o
fim.
— Eu quero, Ilya. Mas não sei o que pedir — tentei fazer com que
minha voz soasse mais firme, porque tinha a impressão de que ele não iria
palavra que ele dizia parecia incitar uma batida mais forte do meu coração.
Ele continuava com a mão no meu pescoço, enquanto o nariz passeava pelo
aparentemente quando tinha a ver com sexo – e até mesmo com beijos – ele
boca pela minha pele, chegando à curva do meu ombro. Fiquei surpresa
quando senti sua mão segurar meu seio em concha, enquanto o polegar
um jeito de foder. Você quer mesmo que eu faça isso ou quer sexo delicado?
Gentil?
algodão branca por baixo, e eu acabei levando uma das mãos ao seu peito.
eu vou obedecer, querida. Vou conceder todos os seus desejos. Dos mais
não por muito tempo, porque Ilya me agarrou pelas coxas, me erguendo e
mais do que alguns poucos quilos, e isso porque não parou de me beijar.
Seus passos eram firmes, o chute que deu na porta foi sexy, e ele não me
— Você tem noção das coisas que eu vou fazer? Ao menos na teoria.
— N-não muito.
— Vou te contar, então — ele falou, puxando meus quadris para que
Não só porque os dedos de Ilya eram enormes, tanto quanto ele, mas
agarrou uma das faces da minha bunda, apertando-a com força, a ponto de
que daqui a pouco eu vou te carregar para a cama e te chupar até que me
que nem percebi quando tirou a roupa, mas ele se aproximou e colou seu
— Sente o tipo de coisa que faz comigo? Estou duro como pedra,
Então Ilya fazia o tipo que curtia falar coisas sujas durante o sexo.
Eu não estava reclamando, até porque a voz dele era erótica por si
só.
— Sim, moi rys. Você foi feita para mim, pode acreditar. — Ele fez
Obedeci, ansiosa pelo que viria, e então eu senti o outro dedo de Ilya
– que ele prometeu – entrando em mim. Só que ele ainda estava
tinha ouvido descrições de como era. Lido. Conversado com amigas antes
de tudo acontecer. Eu estava prestes a ter um.
Demorei a entender que o som que ecoava por todo o quarto era de
um gemido meu, mas quando compreendi era tarde demais, porque já nem
conseguia mais me manter de pé, quanto mais controlar meus próprios sons.
Fui erguida nos braços de Ilya, que me carregou até a cama, já me
deitando lá e novamente abrindo minhas pernas.
língua molhada e quente veio bem no meu clitóris, enquanto ele novamente
mergulhava os dedos bem fundo, excitando novamente a minha carne que
estava bem sensível.
chamas, foi deslizando até estar um pouco mais abaixo, abrindo meus lábios
vaginais para enfiar a língua lá dentro sem piedade. Ilya lambeu, sugou,
sanidade.
Gemia sem me importar com quem pudesse me ouvir, e mal sabia o que
fazer com as mãos. Usava-as para agarrar os lençóis, mas era uma delícia,
também, puxar as mechas do cabelo longo de Ilya e segurá-lo ali,
Gozei mais uma vez, mas ele não parou. Continuou com a mesma
Assim como não tinha percebido que ele tirara a roupa, também não
me dei conta daquele outro movimento.
dentro de mim.
Mordi o lábio inferior, para conter a dor, e ele foi enchendo meu
rosto de beijos.
Então não seria a única vez. Tentei pensar nisso como sendo uma
coisa boa, e me entreguei, relaxando um pouco. Não demorei a me
porque tudo era tão gostoso que sequer parecia ser a primeira vez.
meu ar. — Ilyaaaa! — prolonguei o grito quando uma outra quase me fez
esquecer o meu nome.
— Você vai gozar, não vai? Estou sentindo. Está toda apertada ao
meu redor. Puta que pariu! — ele grunhiu, e eu respondi como dava, em
meio aos gemidos. — Ainda bem, porque não vou aguentar muito mais
tempo.
Nós dois nos perdemos nos nossos próprios gemidos, até que
chegamos ao clímax quase juntos. Eu primeiro, e ele logo depois, em
sintonia.
ILYA KRAVTSOV
Não era difícil que acontecesse uma atração, porque desde o início
eu soube que havia uma química entre nós, e porque estávamos convivendo
seu argumento de não querer que outro homem tirasse sua virgindade, caso
destino que consistiria em não ter escolhas a respeito de seu corpo. Quando
lhe foi dada a liberdade, aquela deveria ser uma decisão importante: dizer
sim ou não. Pedir para ser “fodida” por um homem por quem sentia desejo.
palavra ecoando dentro da minha cabeça. Cada vez que isso acontecia, a
os Wildfire moravam, e nem todos tinham acesso àquela parte. Tanto que
quando ele abriu a porta do que era uma espécie de porão, acendendo a luz,
a primeira coisa que vi foi um arsenal de armas digno de um exército.
provavelmente de identificação.
sem dúvidas era um paraíso para qualquer um que gostasse de dar uns tiros
de vez em quando.
Parei diante de uma parede protegida por vidro, que era uma
chamou mais a minha atenção. Era grande, pesado, preto, com mira. Talvez
um pouco exagerado para o tipo de serviço urbano que eu faria, trabalhando
para a Cosa Nostra como mercenário, mas era paixão à primeira vista.
vidro com a chave que estava em suas mãos, a retirou do suporte que a
posições.
Hunter de tão hipnotizado que estava. — Acho que vou chamá-la de Catja.
— Não precisa ficar tão arisco. Não vou te crucificar por isso. A
Escuta: você é como um irmão para mim e é bem-vindo aqui nos Wildfire
— O que isso quer dizer, Hun? Vai me dar um aviso por colocar a
comunidade em risco?
que eu me importo com você e ao estar por perto, vai ter que entender que
família.
— E você não gosta nem um pouco dos mexericos.
nossa pele uma vez, e a quem devemos muito. Em nome de Caleb, eu acho
que precisamos saber o tipo de risco que vamos enfrentar. Uma coisa é você
Respirei fundo.
ombros. — Talvez seja uma boa que você tenha uma porra de um fuzil
— Não vou ficar com vocês por muito tempo. Não quero trazer
— Nossos muros não são altos daquele jeito à toa, Ilya. Temos
ameaçando.
desse trabalho?
Hunter tinha conseguido entrada para mim em meio aos homens que
prestavam serviços à Cosa Nostra. Era um grupo seleto de pessoas, e ele
com Hunter.
— Seja como for, não importa o que faremos, eu quero que você
tenha em mente que não pode demonstrar nossa amizade para nenhum deles
— eu expliquei minha única condição.
Bratva, você vai se safar e dizer que não sabia de nada. Também vou bater
nessa tecla. Precisa pensar nas pessoas da Wildfire. Eles não precisam de
merda que deu com Josh. Só chegou depois e salvou todo mundo. Nós
criamos nossas próprias confusões. Sabe disso.
— Vai ser bom que ela se distraia um pouco. Mas também estou
pensando em treiná-la. Deixá-la menos indefesa.
— Se isso for te deixar mais tranquilo, acho que é uma boa ideia.
Temos o centro de treinamento. Caleb não vai se importar se você o usar.
Hunter fez uma careta ao falar aquilo, e eu sabia que tinha a ver com
sua relação com o padrasto, que andava estremecida. Era fácil ver pela
forma como ele os livrou do pai violento e do líder terrível que os Wildfire
tinham, mas algo havia acontecido.
ALEJANDRA ZAVALA
mês, ele vinha tentando me ensinar algumas técnicas de defesa pessoal, mas
era completamente desleal eu ser treinada por um urso, que tinha braços do
— Poderia, pelo menos, pedir a outro dos rapazes. Drake ou Hunter, talvez.
Imagino que eles sejam difíceis, mas não tanto quanto você.
— Nenhum deles vai treinar você — ele falou com total convicção,
naqueles rosnados violentos que dava quando ficava indignado com algo.
Ele usava uma camiseta branca, sem mangas, e... meu Deus do céu.
tinha o fato de que ele saía de casa todos os dias para seguir Hunter em suas
animada por isso. Não só porque teria uma atividade que me faria ter menos
escolha –, mas porque pela primeira vez na vida eu ganharia o meu próprio
dinheiro.
sexo. Sempre quente, sempre intenso, sempre do jeito Ilya de ser, embora
ainda sentisse que ele vivia em uma contradição comigo. De um lado queria
me devorar, de outro, se continha, porque até eu mesma precisava admitir
— Você não quer? Por que não quer? — baixei a minha voz a um
ventas, e eu olhava para ele pelo espelho ao nosso lado. Com aquele cabelo
perguntando como era possível que eu ficasse tão excitada, sentindo o meio
dedos, mas foi o suficiente para que ele me agarrasse e me tirasse do chão
com um movimento tão ágil que nem vi direito como fui parar encostada no
— Talvez precise...
Ele ainda não tinha soltado aquele lado violento comigo, e eu estava
esperando ansiosamente por isso. Tanto que gemi baixinho quando o beijo
veio feroz.
ele fez o mesmo com a minha. Era um local público, afinal. Qualquer um da
— Não, nenhuma.
que entenda que ninguém mais vai te tocar como eu posso fazer.
de dor.
— Vai aguentar o que eu fizer, não vai, moi rys? Vai, porque eu sei
que você gosta e que está esperando por isso há muito tempo.
— E ainda não fez isso? — Ilya já tinha sido bruto algumas vezes,
— Nem perto de tudo o que eu posso fazer. Não fui nem metade do
quão bruto posso ser, se você quiser. — Ao dizer isso, ele girou o meu
mamilo de novo com força, e a reação no meio das minhas pernas foi
instantânea.
— Então fale. Repita o que disse para mim daquela vez. Peça — a
última palavra saiu de novo em um rosnado, e ele apertou meu mamilo com
mais intensidade.
— Me foda. Com força. Do jeito que você quiser. Quero o jeito Ilya
de amar. Quero tudo...
Eu mal pisquei. Muito menos quando sua mão enorme saiu do meu
madeira para mais perto de nós, e em seguida eu já estava sobre ele, depois
de Ilya colocar as mãos na minha cintura e me erguer como se eu não
pesasse nada.
me sustentando ali.
ansiosa.
— Ah, moi rys. É sim. É o que eu vou fazer. Mas só depois de outra
coisa.
minha boca.
Eu ia morrer. Sério.
história.
Ilya tirou sua calça, ficando nu por inteiro. O filho da mãe tirou uma
camisinha do bolso, o que me surpreendeu.
Gritei alto com cada uma das investidas, e ousei olhar no espelho ao
nosso lado. Com nossos corpos unidos, nós parecíamos um só. Ficava
difícil não pensar que o que havia entre nós era mais do que apenas sexo,
ALEJANDRA ZAVALA
carinho. Isso me deixava pensando no quanto tinha feito mal para ele ao
separá-los. Apesar de não ter sido intencional, a culpa fora minha, mesmo
que indiretamente.
chão para que as crianças subissem nele, como se fosse mesmo um urso
gigante e fofo.
Nunca tinha visto um sorriso como aquele em seu rosto, por mais
que ele guardasse alguns para mim que não compartilhava com mais
ninguém.
barba, riam quando ele fazia alguma careta engraçada, e mais ainda do jeito
Era de suspirar.
— Você vai ficar bem? — ele perguntou, bem sério novamente, mas
cabeça.
frente de todo mundo. Foi só um selinho, mas era a primeira vez que fazia
eram perigosos, mas senti um aperto no coração quando olhei pela janela e
uma olhada por cima do ombro e foi o último a seguir. Com o capacete era
— Como você fica bem com isso? Sem saber se ele vai voltar em
situação dela era muito pior do que a minha, porque Hunter era seu filho.
Ilya...
Ele nunca parou aqui por muito tempo. Depois que conseguiu esse trabalho,
é o maior período em que tenho o meu filho por perto. Mas algo me diz que
ele ainda vai embora, sabe? Que essa estabilidade toda não vai durar.
para ver arquivos, entender um pouco mais da parte burocrática, e ele não
quer de jeito nenhum. Ele não quer herdar a liderança dos Wildfire, porque
cinquenta e cinco anos. Era um cara bem bonitão ainda, fortão, formando
um casal perfeito com a esposa, que era deslumbrante também. — Não vai
Aquilo pegou fundo no meu peito, e assim que ela se afastou ainda
Dava vontade de ficar o dia inteiro por lá, e eu cheguei até a enrolar
um pouco para sair, porque não queria voltar para casa e ficar pensando na
Passei o resto da tarde faxinando a casa, por mais que tudo estivesse
tão limpo que chegava a brilhar. Esfreguei o chão ajoelhada, tirei pó, lavei
consistiam em outras coisas, mas eu nunca tinha ido para lá. Achei que
Chegando lá, fui guiada à mesa onde Jordana já nos esperava, e elas
tônica.
— Vocês acham que é normal essa demora deles? Estão o dia inteiro
uma semana.
— Mas ele avisou. Não será o caso de hoje, até porque eles não
levaram nada além da roupa do corpo.
Uma música animada – um rock antigo, que era o que mais se ouvia
por ali – começou a tocar, e nós trocamos o assunto. Caleb veio se sentar
risco o tempo todo. Ser mãe de alguém assim... deveria ser insuportável.
Talvez fosse melhor voltar para casa e me enfurnar lá, debaixo das
pelo batente, de tão alto. Ele vinha acompanhado com os outros dois, e
todos eles pareciam intactos.
Ilya ainda não tinha me visto, mas imaginava que alguém tinha lhe
dito que eu estava lá, porque seus olhos pareciam buscar os arredores.
Sem nem pensar no que fazia, saí correndo em sua direção,
desviando-me das pessoas no nosso caminho, e me jogando em seus braços.
Talvez fosse uma reação exagerada, que gerou alguns burburinhos e até
gritinhos ao redor, mas Ilya me pegou, me segurando pelas coxas, e me deu
— Isso tudo é porque sentiu a minha falta, moi rys? — ele sussurrou
deliciosamente soltando minhas coxas mas colocando o braço ao redor da
Senti Ilya suspirar, me apertando um pouco mais contra si. Era como
aperto no peito. Por que diabos eu estava tão sensível a essas coisas? Por
que sua frase me soou mais como uma promessa definitiva e não como algo
para o lado e ver que Charlie estava nos observando, com o cenho franzido,
direto no balcão do bar, pedindo uma cerveja.
oficina e passara a participar das missões com Hunter. Não tinha motivo
algum para eu desconfiar. Era só uma impressão porque eu estava demais à
flor da pele.
continuava vendo o cara olhar para mim e para Ilya como se tivesse algo de
errado em nossa presença ali. Ele também estava bebendo demais, o que me
preocupava.
banheiro e não quis incomodar ninguém para que fosse comigo. Já estava
quase chegando na porta quando o próprio Charlie agarrou o meu pulso e
bar também não estava assim tão cheio para que fôssemos vistos.
— Mexicana safada. Você e aquele russo estão sujando nossa
Claro que eu já não estava muito segura com o jeito como ele olhava
para nós, mas não imaginei que fosse aquele o motivo, muito menos que
acabaria chegando a extremos.
— Não. Loucos ficaram todos aqui por acreditarem que estão entre
amigos. Sei as coisas que a Bratva e o Cartel podem fazer.
— Não estamos mais ligados a nada disso. Estamos aqui por bem,
para nos proteger. Não queremos confusão e nem fazer mal a vocês.
— Não vão mesmo, porque eu não vou deixar — sua voz soou
ameaçadora o suficiente para que eu sentisse meu corpo tremer.
doido que me agarrou, parecendo indignada. Talvez com ele mesmo, mas
não dei bola. Só queria chegar em Ilya.
afastando um pouco de si. Claro que viu o corte no meu rosto. Por menor
que fosse, era uma evidência do que tinha acontecido.
Não era só uma briga de bar. Havia mais alguma coisa naquela
decisão de Charlie de ficar contra nós, na forma como falara. Como se ele
tivesse um passado que envolvia a Bratva e o Cartel, e que isso fosse
respingar em nós, em meio à sua ira.
uma fonte. Agarrando-o pela nuca, ele afundou a cabeça do babaca na água,
deixando-a submersa por algum tempo.
desse jeito, sukin syn[3]? — Eu não sabia o que essa palavra significava, mas
pela forma como foi proferida, com certeza era algum xingamento.
isso.
Senti mãos nos meus ombros me puxando e uma voz suave feminina
dizendo:
ILYA KRAVTSOV
agarrei-o pela gola da blusa encharcada e dei um soco em sua cara, com
segurados.
— Calma, irmão. Calma — Hunter pediu. Ele estava de um lado, e
Joshua de outro.
— Calma? Você viu como estava o rosto dela? Viu como estava a
meu sentimento ao perceber que Alejandra tinha sido ferida por ele.
coisas a descobrir.
assim. Mas não sei o motivo. Só ela vai dizer o que houve.
buscá-la.
máfia russa. Como eles iriam ficar do meu lado em uma briga como aquela?
— Isso não importa para nós. Ele agrediu uma mulher. Sabe como
agressores.
Por ser mais alto do que a maioria, parei no meio do bar e dei uma
Pedi ajuda a Drake para procurar por ela, ainda no bar, e fui para
casa, imaginando que poderia ter ficado assustada e retornado para lá.
Odiava que pudesse tê-la assustado, pela minha reação violenta, mas
A luz não foi acesa, então eu rapidamente senti meus ombros tensos.
Um homem.
— O que estão fazendo aqui? — perguntei em um tom de voz bem
Este era o meu medo desde o início, principalmente por Hunter. Mas
— Ela foi levada para outros fins. Ficamos sabendo que o seu
pakhan foi enganado também. Quem trai o próprio chefe pode trair
estava sentindo meu sangue correr mais quente, mas pensar nela sendo
me fez cair do outro lado do corrimão, voando sobre o sujeito que estava no
primeiro andar, usando os punhos em seu maxilar. Tentei pensar que não
Meus socos eram tão rápidos e fortes que o sujeito ficou zonzo em
entenderiam.
Mais um açoite.
Mas se não havia nada que pudesse ser feito, eu ficaria em silêncio.
Continuei calado.
Eles queriam saber sobre ela. Sobre meus irmãos. Preferia ser
retalhado por inteiro a pensar que uma palavra minha poderia piorar a
situação daqueles a quem eu amava.
que fosse cair de cara nele caso soltassem meus punhos, mas não conseguia.
por água. Meus cabelos grudavam na testa suada, mas se eu os jogasse para
trás, os fios grudariam nos ferimentos e seria muito pior.
Porra... eu sentia o sangue escorrer por toda parte. Pingar no chão,
Não saberia dizer quanto tempo fiquei ali esperando, mas em algum
momento entrei em um delírio. Sonhando ou acordado, abri os olhos e vi
irado, imaginar que poderia estar sofrendo o mesmo que eu, me deixava
pronto para explodir o mundo inteiro, se me fosse permitido.
Por ela, eu tirei forças do fundo do meu ser e mais uma vez puxei as
correntes.
Olhei para o lado, e elas estavam conectadas a um elo meio
Não. Não era hora de admitir pela primeira vez o que eu sentia por
ela. Só quando estivéssemos frente a frente, e eu pudesse dizer olhando em
seus olhos.
Mais alguns puxões foram necessários, e eu consegui soltar uma das
correntes primeiro. Mas isso me deu ímpeto para continuar tentando, até
escapar.
corrente que ainda estava presa ao meu pulso para agarrar um dos capangas
por trás, enforcando-o.
seu preço, mas entrei em uma névoa de violência, que era muito parecida
com a que me tomou anos atrás, quando precisei salvar a mim e a Kolya. O
Passando pelo corredor, que eu nem sabia para onde iria me levar,
percebi um espelho ao meu lado. Olhando para meu estado, tudo o que eu
vi foram meus cabelos loiros e soltos caindo no meu rosto. Os ferimentos
das costas sangravam e não estavam num estado bonito.
Havia sangue pelos meus cabelos também. Nos meus punhos. Nas
minhas mãos. No meu corpo inteiro.
colocou em alerta.
ILYA KRAVTSOV
rastreá-la. Estão com Charles, tentando pegar informações. A coisa não está
Giovanni e Dominic querem falar com você. Eles estão do nosso lado.
Três vezes ao dia, alguém vinha passar uma pomada nas minhas
insuportável.
que soubesse que não ordenamos nada disso — foi Giovanni quem falou.
mais, não era difícil, porque um sobrenome falso como o que nos deu não
anula a sua descrição peculiar, Ilya Kravtsov. — Ele fez uma pausa,
uma aquisição e tanto para nós? Se tínhamos dúvidas disso, elas teriam
nós.
— Seja como for, Charles Hill não trabalharia mais para nós, mesmo
que os Wildfire não fossem dar um jeito nele, que é o que eu imagino que
irá acontecer, não tem serventia nenhuma para nós — Giovanni afirmou.
— Até porque era um baita imprestável — Dominic completou,
Sabemos que você era o capitão da Bratva. E que os traiu... — Ele abriu
outro sorriso. Um que me faria ter uma imensa vontade de lhe dar um soco
comigo?
chefe da máfia de Nova Iorque tinha suas próprias regras e não era de
respeitar quase ninguém.
— O que queremos é que pelo menos por um tempo esteja
para nós.
para Hunter, mas ele não desviou o olhar. Sabia que poderia ter sido ele a
contar, mas não o julgava. Se ele não provasse sua lealdade à Cosa Nostra,
nós dois estaríamos encrencados. — Vamos ajudar com o que for possível.
Pode continuar sua busca por ela, mas se o chamarmos, deve se apresentar o
Temos uma boa relação com eles, como deve saber. Não queremos que isso
E foi desse jeito que eu assinei meu pacto com a Cosa Nostra.
dos Wildfire, e tanto Jordana quando Gillian e Cady cuidaram de mim como
bem próximo, sussurrei em seu ouvido: — Eu vou ser o seu pior pesadelo a
partir de agora.
Enrolei a corrente em seu pescoço e a apertei tanto que jurei que iria
quebrá-lo. Mas não tão rápido. Ele ainda iria sofrer.
Ele levava algo na mão, que estendeu para mim. Fiquei surpreso em
ver o anel com a pedra quadrada dos Wildfire, com a caveira em destaque.
— Não posso aceitar isso, Cal — falei para ele, me sentindo ainda
meio perdido.
perigo para eles. Charlie era parte da comunidade, e eles precisaram matá-
lo. Nada disso seria esquecido por mim.
— Você é nosso amigo. É um Wildfire por tudo que já fez por nós.
Se quiser voltar, a qualquer momento, em qualquer circunstância, estaremos
aqui.
Era uma grande honra. Tão grande que era difícil colocar em
coração não estivesse mais batendo no peito da mesma forma de antes. Aos
poucos eu ia voltar à realidade, mas o fato de Alejandra ter sido tirada de
mim e o jeito como fui torturado e o que precisei fazer... era o tipo de coisa
que não saía da cabeça de um homem tão fácil.
Por isso eu precisava de um tempo.
ILYA KRAVTSOV
Jurei que eles não iriam me receber. Que minha ligação seria
ignorada ou que criariam uma armadilha. Eram meus irmãos, mas nem
moto, sem tirar os capacetes, usando absolutamente nada que pudesse nos
Não sabia se meu irmão iria acatar minhas condições, mas decidi confiar.
fundo. Queria tirar o capacete para sentir o ar lá fora, mas foi a primeira
— Obrigada por virem — falei, com cautela. Não sabia direito ainda
por que eles tinham aceitado o encontro, mas estava feliz de terem
aparecido.
— Sentimos sua falta, Ilya — claro que foi Dimitri que falou.
— Vocês não sabem onde ela está? Nem você, Mitya? — Eu sabia
que meu irmão caçula tinha acesso a informações secretas desde que
com os dois pés atrás conosco. Nunca nos daria uma informação como esta.
seus olhos tão bem, por causa do capacete, mas ele assentiu.
se era uma promessa para mim mesmo ou para eles. — Vou revirar a Rússia
— Uma coisa é protegê-la, Ilya, mas você fez tudo errado. Deve
invés da cabeça!
Ainda afetado por tudo o que estava acontecendo, parti para cima do
meu irmão, mas Mitya nos separou antes que as coisas pudessem ficar mais
feias.
— Parem com isso vocês dois. Ilya, é melhor sair logo daqui antes
que alguém nos veja. Não temos notícias de Alejandra. Você precisa superar
isso. Está fora do nosso controle. Pavel não deve tê-la mantido viva. É
impossível!
estava agindo como um garoto pirracento, mas meu humor nos últimos dias
consciência? Como eu iria viver com aquela angústia de saber que eu tinha
alguém descobrir, preciso que nossa família esteja segura. Mas eu vou fazer
isso te dando tempo para fugir. Vá para qualquer lugar, mas não apareça
mais aqui. Estou te dando mais uma chance, como seu irmão, mas isso pode
— Obrigado.
Não deixei que as emoções ficassem mais ainda à flor da pele, por
a levaria ali.
ALEJANDRA ZAVALA
algo duro, com correntes nos meus punhos e tornozelos e a maldita mordaça
de ferro na minha boca.
não o tivessem machucado muito, que conseguisse seguir sua vida sem
mim.
país para o outro. Não havia janelas no local onde eu estava, e também não
importava.
Tentei usar as técnicas ensinadas por Ilya, mas ficava cada dia mais
fraca e deprimida.
— Ora, ora, quem diria... Era tão linda no primeiro dia em que eu vi.
porque era a posição mais confortável com os braços ligados aos tornozelos
por um elo de correntes.
chorei quando meu osso entrou em contato com a superfície, que com
certeza o deixaria em frangalhos.
Meu estômago doía tanto que achei que iria me comer de dentro para fora.
muito bem.
tentar comer.
chorando de dor. Eu sabia que ia passar mal se comesse muito, então parei
quando achei que era o suficiente, e os homens vieram para me dar água,
— Você é suja. Porca! Meu pau nem consegue subir pensando que
aquele filho da puta do Kravtsov te comeu. Mas vai chegar a hora que eu
vou acreditar que está um pouco mais limpa e vou colocar minhas mãos em
você. Enquanto isso, aproveite a hospedagem cinco estrelas.
Ele não disse mais nada. Apenas se levantou, ajeitou o terno e fez
ALEJANDRA ZAVALA
mas suspeitava que fazia quase um mês que eu estava ali dentro.
Só comia porque era obrigada. Só bebia água porque a minha boca
Sabia que estava fraca demais, cada dia mais entregue, e ao mesmo
tempo em que não queria que isso acontecesse, porque me sentiria mais e
Então eu evitava pensar... Por mais que eu tivesse tanto tempo, que
as horas passassem tão devagar, e tudo o que me restasse fosse fazer minha
chão, mesmo sendo a coisa mais estúpida que eu poderia fazer, já que
máscara, revelando um rosto que eu conhecia, por mais que só de vista, mas
que era muito, muito similar a outro que estava cravado no meu coração.
O segundo rapaz também fez o mesmo, e por mais que seu rosto não
mais jovem.
Sem dizer muitas coisas, apenas bufando, Kolya remexeu nos bolsos
Tentei erguer a mão, para tocar meu próprio rosto, mas meu corpo
doía tanto e estava tão dolorido que meu braço acabou caindo. Teria batido
preocupados.
uma voz tão parecida com a de Ilya... Um timbre pesado, profundo. Mais
eloquente, como um político.
E... eles iam me tirar dali? Até onde eu sabia, Kolya era leal a
Pavel...
deveria sentir.
Tudo o que precisou foi de alguns passos para que eu acabasse
Não sabia se era melhor estar fora daquele chão, sem as correntes,
acordada.
de pelo menos um mês quase completamente calada, era difícil ter forças
pedir algo para comermos, mas enquanto não chega, acha que consegue nos
— Barganha?
mesmo mais jovem. Uns dez anos, talvez, ou qualquer coisa assim – mais
próximo à minha idade.
— Parece que a história não foi bem assim. Mas seja como for, ele
está disposto a te receber e cuidar de você.
— Mas Pavel aceitou isso? Como...? — eu ainda estava confusa.
— E está?
guerra com o Cartel. E convenci seu irmão a fazê-lo acreditar que iria
entregar esse HD a Morales.
— O preço para que ele mantenha tudo em segredo é que você seja
devolvida.
com asco.
Eu amava Javier, ele sempre foi meu irmão mais velho. Por isso a
sua traição me feriu tanto.
— Acredite no que estamos dizendo. Seu irmão não vai te fazer mal.
Foi um mal-entendido, mas vocês dois terão que falar sobre isso. Não é meu
papel intermediar.
possibilidade.
— Está trabalhando com a Cosa Nostra, mas sei que vai procurar por você
por muito tempo. — Meu coração apertou de novo. Porque eu queria que
— O quê?
— Ilya não pode saber onde você está. Se descobrir os dois estarão
em perigo, além de nós, nossa família.
— Sei que não é culpa sua, mas você foi a desgraça do meu irmão.
mas esse movimento que fiz para te salvar foi muito perigoso.
Eu teria que aceitar os termos, por mais que doesse. Por mais que
saber que nunca mais poderia ver Ilya me destruísse, eu teria uma chance.
ALEJANDRA ZAVALA
Eles alugaram um local para ficarmos por alguns dias, para que eu
me recuperasse. Mesmo assim, precisei usar alguma maquiagem, comprada
jatinho particular.
irmã depois da morte dos pais. Eu não tinha noção das escolhas que fizera,
que fiz.
daquele caminho?
redor.
irmão não desse motivos para que atirassem. Para que Javier realmente
com quem se conviveu por tanto tempo, mas aquele, à minha frente, pouco
porque se ele partisse mais uma vez o meu coração e decidisse me entregar
ou me vender outra vez, seria ainda mais doloroso. Mas... meu coração se
retorceu no peito, porque Javier era toda a família que eu tinha. Como eu
em completo segredo.
barba em seu rosto, que eu nunca tinha visto antes. O cabelo castanho, do
mesmo tom do meu, estava cortado espetado, bem penteado. Ele usava uma
compenetrado.
Toda a emoção que eu sentia por ele estar perto de mim não parecia
recíproca.
Queria gritar que isso era um absurdo, que eu também queria Ilya e
Assim como o irmão ele também era um protetor, só que cada um da sua
dizia e muito sobre quem ele era por trás da fachada séria e sisuda.
mantenha incógnita.
— Se Ilya sequer chegar perto dela, Pavel vai chegar primeiro e vai
causar um estrago.
Só que ele não podia fazer isso para sempre, tanto que meu irmão
segurou o meu outro braço, com mãos gentis, mas ainda sem olhar para
mim.
O que estava acontecendo? Por que tanta indiferença?
para o carro que estava parado do outro lado. Sem despedidas dos irmãos
Kravtsov. Sem... adeus. Assim como não pude me despedir do meu Ilya –
ninguém as visse. Tinha passado dias com aqueles dois, mas não sabia
absolutamente nada sobre eles. Nem mesmo de Dimitri, que era o mais
E era isso.
acontecia?
que não conhecia o homem ao meu lado, embora ele fosse meu próprio
irmão. Meus pensamentos estavam tão acelerados, tão desconexos, que uma
qual o significado?
— Meu lince.
entramos no carro.
silêncio era desconfortável, era quase tóxico. Eu não sabia como puxar
assunto. Não sabia como simplesmente dizer que ele tinha roubado cinco
anos da minha vida; que me levara a situações traumáticas e que por muito
pouco não tinha sido pior.
Eu queria jogar tudo isso na cara dele, mas não sabia o que ele iria
fazer dali em diante. Não imaginava sequer para onde estávamos indo.
aconteceu foi Javier me puxar para seus braços e me apertar contra eles, da
maneira mais emocional possível.
— Ale!!! Ale!!! Meu Deus, eu não acredito que você está aqui! Que
está de volta comigo!
Fiquei presa em seus braços, meio imóvel, meio que sem saber
como reagir. Podia colocar os braços ao redor de sua cintura, mas não fazia
ideia do que estava acontecendo. Até aquele momento Javier não fora nada
além de seco e indiferente comigo.
Por que eu deveria me sentir tão segura, com seu cheiro familiar, se Javier
não fizera nada até aquele momento para que eu confiasse que iria me
proteger?
Afastou-me de si, segurando-me pelos braços, me olhando nos
olhos.
Jurei que tinha perdoado, que a mágoa não era mais tão relevante,
mas ao vê-lo diante de mim, depois de tudo pelo que passei naquele último
— Foi o que Nikolai me disse, mas ainda não entendo como possa
ser possível.
não houve briga, não houve luta. Deixou que me levassem... só isso.
— Eles falaram... que você me vendeu — afirmei, chorando. —
Te procurei como louco por meses. Até descobrir a verdade... — Ele fez
uma pausa. — Foi ela que te vendeu. Ganhou um dinheiro tão bom por isso
que se demitiu e nunca mais a vi. Nem sei se está viva ou morta, mas eu
juro que vou matá-la se a encontrar.
Precisei dar alguns passos para trás, para me apoiar na parede mais
próxima.
Tudo em que acreditei durante cinco anos era uma mentira? O ódio
que eu senti do meu próprio irmão, de uma das pessoas que eu mais amava
alimentei por tanto tempo que não sabia mais como viver sem ela.
Ela não deveria ser muito mais velha do que eu, e também tinha
— Não precisa processar tudo isso agora. Acho que o que mais
Acho que vai ficar mais à vontade com uma mulher, depois de tudo o que
aconteceu.
para trás.
Capítulo 24
ALEJANDRA ZAVALA
por ela.
história.
Não era nem lógico eu pensar que ela era muito jovem para ele, com
seus dezenove anos, porque a minha diferença de idade para com Ilya era
maior ainda.
ainda estava com uma das mãos no volante, mesmo que já tivesse desligado
contou no dia anterior. Fosse como fosse, mantive meus olhos presos nele,
embora ele não conseguisse me encarar. — A gente vai entrar naquela casa,
e o que você vai encontrar é algo que eu construí ao longo desses cinco
forma como está pensando. Ramón e Raúl Morales — ele estava falando
o tipo de coisa que fizeram com você. Eles sabem o que eu faço, apoiam,
— Não fique. Você vai... gostar do que vai ver... Mas antes preciso
que me prometa que nada, em hipótese alguma, vai te fazer falar sobre isso.
seria assim por um bom tempo, mas esperava, também, que em algum
e por mais que tivesse sido intensa, em todos os sentidos, nenhum amor era
eterno.
Ao menos era o que eu acreditava, por tudo o que tinha visto até
então.
Não precisou nem fazer isso para que eu ouvisse os sons que vinham lá de
garotas mais ou menos da idade que eu tinha quando fui roubada da minha
própria casa. Eram pelo menos dez ou doze crianças, além de Helen e de
uma outra moça muito parecida com ela, um pouco mais jovem.
minha frente. Ele não podia ter mais de quatro anos, com suas perninhas
derretendo.
— Tio Javi fala muito de você. Que você viria e que também
respiração falhando.
que eu tenho certeza de que vai ser crescer bastante — ele falou com o
Uma das meninas se chamava Eva, e tinha treze anos. Sua irmã,
Mercy, como era chamada. Eles dois ganharam o meu coração porque eram
tão carinhosos e tão entregues, carentes, que minha vontade era mantê-los
que estavam responsáveis por eles na ausência de Javi e Helen. Fui levada
até o terceiro andar do casarão, onde ficava um sótão. Ao entrar lá, percebi
que se tratava de uma espécie de escritório, onde nós nos acomodamos para
conversar.
localizando para devolvê-las — foi Helen quem falou. Ela se sentou sobre a
mesa, do lado de Javier, muito segura de si, muito profissional. — Já
devolvemos muitas, mas algumas ficaram, porque não confiamos nos pais.
— É possível que eles tenham vendido as próprias filhas? — Aquilo
ainda me chocava.
— Bem... você achou por muito tempo que eu tinha feito isso com
você.
Eva. Serena, Jackie e Ariella que cuidam delas, mas ainda é pouco.
que há limites que não cruzamos. Ramón e Raúl têm irmãs. Duas meninas.
O pai deles comprou a esposa, mãe de seus filhos, e ela sofreu a vida inteira
na frente deles.
pessoa, por ser da máfia, em um rótulo. Você mesma poderia decidir odiar
todos os mafiosos russos pelo que aconteceu, mas imagino que não seja
Até mesmo Nikolai, que era mais sério e que deixara bem claro que
eu não poderia mais ver Ilya, nem chegar perto dele, estava buscando uma
— Pode vir aqui, Javi? — ela perguntou, e meu irmão deu um pulo
da cadeira, levantando-se e atendendo ao seu chamado.
— Ele sofreu anos por você, sabe? — ela começou a falar. — Devo
minha vida a Javier. A minha e das minhas irmãs. — Suspirou, respirando
fundo. — Deus sabe onde eu estaria hoje em dia. Onde elas estariam.
Ergui a sobrancelha, ainda mais surpresa por ela ter falado aquilo
como se não fosse uma informação horrível.
mais difícil pensar que um pai seria capaz de fazer isso com três filhas.
última coisa que quero na minha vida é ficar novamente indefesa. Nem
deixar minhas irmãs na mesma situação. Eu estava muito traumatizada, e a
forma como ele lidou comigo me salvou também. — Helen colocou a mão
no meu ombro, depois de se levantar de onde estava sentada. — Seja bem-
vinda ao nosso grupo, Alejandra. Deixe que a gente cuide de você, contanto
que cuide de nós também.
queria ajudar. Seria uma forma de esquecer meus próprios traumas e meu
coração partido.
Capítulo 25
ALEJANDRA ZAVALA
Eram 219km de puro horror, escuridão e com uma aura muito pesada.
Não era a primeira vez que montávamos guarda por ali, aguardando
uma denúncia feita por alguém do alto escalão do Cartel. Nem sempre
sabíamos se a fonte era confiável, e já tínhamos quase caído em armadilhas,
todos os três acabaram parando no nosso grupo, que era chamado de Ojos
o caso de precisarmos.
éramos os mais jovens do grupo, embora ele tivesse uns cinco anos a mais
do que eu.
dávamos bem. Quando estávamos esperando para dar cabo de uma missão,
ele começava com aqueles joguinhos, o que me distraía. Foi ele que me
todos os dias.
Sabia que tinha sido uma das sortudas, apesar do mês terrível que
passei em poder de Pavel e da Bratva. Encontrar Ilya fora uma grande sorte,
Ou, se não fosse comprada por Pavel, eu teria sido levada a algum
bordel, obrigada a vender o meu corpo sem ganhar um único centavo por
Naquela noite era sobre uma criança. Uma só. Mas lutaríamos por
Eu sabia que Blaze tinha uma quedinha por mim, sempre insistia
que poderíamos nos divertir juntos, mas só isso. Ele gostava de sexo sem
— Sim. Ainda penso nele. Não todos os dias, mas quase todos —
— Não imagino como possa ser esse tipo de amor. Nunca senti nada
seus cabelos castanhos claros. Ele tinha heterocromia, um olho de cada cor,
— Não faz muita diferença também. Eu não largaria essa vida por
para mim, sorrindo aquele sorriso sexy que poderia deixar qualquer uma de
pernas bambas.
enorme, que mais parecia um urso, que a beijara em cada vez com se fosse
a última e que a tocara como se eu fosse a coisa mais valiosa a ser venerada.
caso fosse necessário. Não só para atingir um adversário, mas também para
muito visceral. Por mais que tivéssemos nos tornado amigas, ela quase
nunca falava sobre o que a levara até ali, mas eu sabia que gostava de fazer
tudo com as próprias mãos, usando suas duas adagas – com as quais ela era
muito boa –, como se precisasse causar dor para se libertar do próprio
sofrimento.
Ela foi a primeira a saltar do carro e correr, como uma sombra, para
armas.
estrada, para o caso de mais alguém surgir. Imaginamos que isso não
assustar a menina.
paciente.
Não que Helen não fosse, mas em missões, sabíamos que ela ficava
muito mais à flor da pele.
Aquela menininha não tinha mais do que uns dois anos e meio.
Ela correu até mim e agarrou minhas pernas, com o corpinho todo
trêmulo. Nós sabíamos que a mãe dela tinha morrido tentando salvá-la, mas
não queria nem pensar no que aquela garotinha tinha visto.
Agachei-me e a peguei no colo, e ela se agarrou também ao meu
pescoço.
preocupada.
Fingimos que ela era nossa filha, e como ela era muito boazinha cooperou
em tudo, principalmente porque parecia cansada e dormiu quase o tempo
todo.
“problema” – embora essa não fosse a palavra certa a ser usada. Durante
todo o percurso para casa, ela se agarrou a mim e não quis me soltar. Nem
mesmo para tomar banho com Serena; nem mesmo para dormir.
acordasse e não me visse por perto, encantada com seu rostinho, os cabelos
castanhos, a bochecha rosada. Talvez estivesse um pouco abaixo do peso,
Assim como Diego e Mercedes, ela não tinha mais ninguém. Teria
minhas irmãs.
contando história de Ilya para elas, que ainda acreditavam em amor, mesmo
tendo passado por tudo que passaram.
— Você foi a primeira pessoa que ela viu, né? A pessoa que a salvou
— Helen opinou.
reviraram os olhos, e Orion deu um tapa no boné dele. Sabíamos que ele
falava essas coisas de brincadeira. Não era um arrogante, pelo contrário.
crianças tão lindas e adoráveis podiam nunca ser escolhidas, embora outras,
mais velhas, já tivessem saído. A pequena Crystal seria diferente?
— Não quero pensar nisso agora. Estou feliz por termos conseguido
salvá-la.
na noite seguinte e passar dois dias nos Estados Unidos, mais precisamente
em Los Angeles, para tentar descobrir algumas informações sobre mais um
de Ramón Morales.
Javier poderia levar Helen, mas ela não queria colocar os pés nos
muita atenção.
nem em qualquer um de seus amigos. Seria uma única noite. Uma única
festa. Um local fechado, uma festa privada.
nos últimos tempos: Ana Garcia – usando o sobrenome das minhas amigas.
Minha função era estar lá, caso desse algum problema. Caso meu
algumas garotas.
ILYA KRAVTSOV
Se tinha uma coisa que eu odiava era precisar andar todo embecado.
Naquela noite fui obrigado a colocar uma camisa social e um blazer, grato
por não precisar me aventurar em uma gravata. O evento era chique, mas
Los Angeles. Ele iria com sua esposa, Sienna, e por mais que fossem boas
companhias, me senti entediado desde o momento em que saltei do carro.
Além dos ternos, eu também odiava eventos como aquele. Eram
raras as ocasiões em que era convocado, mas a Cosa Nostra estava com
alguns problemas para lidar com uma pequena intervenção do Cartel, que
malas, com os olhos de lince assustados, pronta para ser vendida como uma
mercadoria.
para a Cosa Nostra, e isso era o que me mantinha são. O pagamento era
muito bom, acima da média, mas eu não precisava de dinheiro. Não quando
tinha uma herança absurda, que nunca quis, deixada pelo meu pai.
lhes eram leais, e eu tinha escolhido ficar do lado deles, porque tínhamos
nos tornado amigos, principalmente depois de Giovanni e Dominic me
pouparem.
usava meus recursos para tentar reunir informações. Ela parecia ter
desaparecido como um fantasma, e eu não tinha sequer a noção se estava
Pavel quando ela foi levada. Eu o torturei por dias, pregando suas mãos na
úteis, mas tudo o que ele me dissera foi que eles a tinham jogado em uma
cela, que ela poderia ter morrido lá dentro pela forma como estava sendo
tratada.
Fazia dois anos. Eu temia que estivesse ainda naquele lugar. Por
mão em meu braço e voltei meus olhos na direção dela. — Você está bem?
Era, sem dúvidas, uma das mulheres mais bonitas que qualquer um
olhos verdes eram cristalinos, e ela tinha uma elegância de quem nasceu em
berço de ouro e foi criada como uma princesa.
me chamou, ele o fez com todo o cuidado, por conta do quanto o assunto
me afetava.
entornando-a.
— Não, não é. Mas até que você tem se acostumado muito bem com
os nossos uísques.
não se tem coisa melhor, até pode servir. Um dia vou te levar a Moscou e
pisar na Rússia desde que tudo aconteceu. Desde a última vez que vi meus
irmãos.
aqueles rostos, encontrar o do filho da puta que nos daria informações sobre
cidade.
que estava numa merda de festa de rico, ao menos ia fazer valer minha
presença.
família tinha muito mais dinheiro do que boa parte daqueles babacas, mas
muitos me olhavam como se eu estivesse deslocado ali, mesmo com um
pouco mais velha do que eu, com um balançar sensual dos quadris.
que temos por aqui. Embora, o seu amigo, o belo Enrico Preterotti, também
ouvir.
que nunca mais tirei do dedo, desde que fui presenteado por eles.
— Casado não é.
Eu não queria ver Martha flertar com alguém, por isso meus olhos
eu conseguia ver era uma silhueta generosa, com cabelos castanhos caindo
lisos até uma cintura muito fina.
empurrar, mas não conseguiria medir a minha força enquanto meu coração
acelerava desesperado no peito. Se tocasse em qualquer um ali, acabaria
machucando uma mulher ou homem que não tinham nada a ver com a
história.
Mas era ela. No momento em que segurou a taça, dando uma risada,
eu reconheci aquele som. Não parecia tão verdadeiro quanto aquelas que
compartilhávamos, mas era reconhecível.
voar em cima dela nem a tirar dali carregada nos meus ombros, para tentar
exigir explicações, mas também não podia acreditar que estivesse ali,
Deus, como ela estava linda. Eu era doido por Alejandra, louco por
sua beleza, mas nunca a tinha visto daquele jeito. Não tive oportunidade de
levá-la em um encontro, ou para uma festa, porque vivemos nossos breves
Ela andava como uma modelo em seus saltos altos, tão elegante, tão
sensual, que eu precisei passar a mão no rosto, para afastar os pensamentos
que poderia estar querendo fazer. Quando a senti o mais longe possível dos
outros, decidi me aproximar.
Fazia dois anos que eu procurava por ela, e lá estava. Ao alcance das
minhas mãos. Tão ao alcance, que não fui capaz de me conter e precisei
estender uma delas e segurá-la.
visse ali.
por que ela estava em uma festa, linda como uma deusa, enquanto eu
agonizava de preocupação com sua segurança.
Queria brigar com ela, pegá-la e a tirar dali o mais rápido possível
Queria muitas coisas, mas ela olhou para mim com aqueles olhos
Era ela... eu teria lutado uma guerra inteira para conseguir tê-la nos
meus braços daquele jeito de novo. E então ela surgira da forma mais
inesperada possível.
tentar descobrir algo... Mas tudo o que consegui fazer foi segurar seu rosto
entre as minhas mãos e reivindicar sua boca em um beijo desesperado.
Capítulo 27
ALEJANDRA ZAVALA
Para ser envolvida por seu calor, por seu cheiro? Por quanto tempo, naquela
algo, porque era a imagem dele que surgia todas as noites, quando eu ia
dormir, sonhando que ainda teria o meu final feliz, por mais que parecesse
impossível.
de um sonho.
tempo suficiente de proferir aquelas palavras, e logo voltou com mais fúria,
tirando as mãos do meu rosto e colocando-as na minha cintura, me
— Me diz o que preciso fazer... Você está aqui contra a sua vontade?
dali com ele, colocaria os Kravtsov em perigo. Seria o mesmo que colocar
salão, por onde eu ia sair. Meu irmão tinha passado a mão no celular de um
esconder e entrar em contato com Orion, que era o nosso hacker, para tentar
inteira, porque o pessoal iria entrar e sair com comida e até objetos pesados.
Mas como iria me libertar dos braços de Ilya, quando ele não
apelido. Era a primeira vez que o ouvia, falado por sua voz maravilhosa,
Ele ia dizer...
Ia dizer que me amava?
Cosa Nostra...
procurando briga, mas não eram páreo para Ilya, nem de longe.
preciso.
Era a minha chance. Por mais que doesse, por mais que eu quisesse
ficar ali com ele, fugir com ele, ser levada para onde quer que ele desejasse,
não era justo. Com ele mesmo, aliás. Eu não iria obrigá-lo a novamente
ou até mesmo ido atrás de mim. O carro de Javi estava parado bem diante
da porta, e eu estava com a chave, para que fugisse caso fosse necessário.
Não tinha.
chorava, que não me entregava aos meus próprios sentimentos, mas por
apertado por correntes mais pesadas e mais fortes do que aquelas que um
dia me prenderam naquela cela onde passei o pior mês da minha vida.
Uma batida na porta me deixou em alerta, me fazendo levantar da
cama.
aliviada.
Corri para abrir a porta para ele, que entrou com os olhos
preocupados.
— Você está bem? Teve uma confusão nos fundos da casa, eu fui até
— Não tem o que fazer, Javi. Foi só uma coincidência que não era
para ter acontecido. Vai passar... — Ele ia dizer mais alguma coisa, mas o
interrompi e levei o assunto para o que realmente importava: as coisas que
outras pessoas.
ser um pouco mais cautelosa, porque Javier me alertara que Ilya estava
incansável. Mais ainda do que antes.
Kravtsov do nosso lado, além de alguns integrantes da Cosa Nostra, que nos
davam direcionamento de qual caminho ele estava seguindo em sua busca
por mim.
novo.
Foram mais três anos de trabalho junto aos Ojos de la noche. A cada
missão resolvida e mulheres e crianças salvas, eu tentava me agarrar à ideia
de que poderia ser suficiente. De que, se quisesse, teria uma vida plena, ao
Eu jurei que nunca mais o veria. Estava quase conformada com isso,
até que a vida virou de cabeça para baixo novamente.
Foi uma noite muito similar àquela em que eu fui sequestrada pelo
Cartel pela primeira vez. Fui acordada pelo barulho da porta da frente sendo
arrombada. A pequena Crystal estava dormindo na minha cama, como
sempre acontecia em noites em que acordava em meio de pesadelos. Ela
não tinha feito nem seis anos, mas já tínhamos descoberto muitas coisas a
respeito de seu passado, de seu pai, das violências cometidas na sua frente.
Podiam ter se passado três anos desde que chegara em nossas vidas,
organização, tanto que era guardada só por mim e por Helen. Jaqueline
também ficava conosco, mas ela tinha viajado com o filho e estava ausente
tempo de colocar nada por cima do meu baby doll, porque continuei
ouvindo barulhos vindos lá de fora.
aos lábios, tentando fazê-lo com todo o carinho. Eu tinha sido treinada para
aquilo. A criança, não.
Dei um beijo em sua cabeça e fui olhar pela janela, vendo que havia
dois homens lá embaixo. Eu poderia atirar neles, dali onde eu estava, e
Não havia muito o que pudéssemos fazer, a não ser tentar entender o
que estava acontecendo.
ILYA KRAVTSOV
Os caras da Cosa Nostra não eram muito bons em servir uma vodca
crianças.
costas.
Ou melhor... eu virei as costas para ele. Para a Bratva inteira.
Patético.
Apesar de tudo que tinha acontecido, eu também era leal a eles, com
importantes para mim, quase como uma família. Não substituiria a minha,
Era vidro quebrando, e por mais que pudesse ser apenas um acidente
Fiquei curioso. O que será que aquela garota, que não tinha muito
mais do que uns dezoito anos, poderia saber sobre mim? Pelo que Giulio
Estava nas mãos deles, e eu não sei o que aconteceu depois. Não consegui
trazer a minha irmã, ela prometeu cuidar dela... Foi... um anjo nas nossas
importou.
O nome dela.
— Você sabe onde ela está? Sabe algo que pode me ajudar?
— Não sei onde, mas posso te contar tudo o que eu sei. Se prometer
daquela menina.
toda bem arrumada. Achei que tinha ficado presa pela Bratva — continuei
falando em inglês com a moça, percebendo que ela não tinha absolutamente
nenhum sotaque.
garotinha? — falei com tanto desprezo que poderia ter escapado veneno da
— Não foi assim que aconteceu. Ele foi enganado. Sedado enquanto
ela era roubada de sua casa, denunciada pela mulher que trabalhava como
— Isso é novidade.
— Pois é. Assim como deve ser novidade, também, que ele é líder
mulheres.
Sim, era novo. Cheguei a inclinar a cabeça para o lado, em total
juntou a nós.
se fosse mãe delas, mas também sai em campo na maior parte das vezes.
— Você disse que não sabe onde ela está... mas não está com o
irmão?
— Tem pouco mais de duas semanas... A casa onde ela vive com as
crianças foi invadida. Javier tem investigado sua localização, e acredito que
primeira vez, parecendo triste. — Levaram minhas irmãs com ela. Eva e
Helen. Eu fui enviada para trabalhar aqui porque quis, e estava sempre em
colocaria em perigo.
organização. Ele iria em segredo, sem contar para Pavel o que estava
fazendo, e nem mesmo para Kolya. Mas era uma decisão de um homem de
trinta anos, feito, que sabia muito bem o que queria da vida.
Pavel não iria colocar sua cabeça a prêmio, porque ele tinha provado
seu valor. Era insubstituível. Se Dimitri morresse, com ele iriam muitos dos
segredos de acesso a servidores importantes para toda a Bratva. Com dados
que seriam destruídos por outra pessoa de sua total confiança, que eu sabia
muito bem quem era: nosso primo Andrei Levchin.
Informação que eu jamais compartilharia com ninguém.
Poderia ser algo banal, algo rotineiro. Eles eram ricos, sofisticados e
Por ela.
Seria ela que me faria me agarrar à vida, porque poderia ser a última
coisa que eu faria, mas iria encontrá-la.
Capítulo 29
ILYA KRAVTSOV
O corpo todo doía, mesmo que o tiro tivesse pegado em uma parte
específica – o meu ombro.
certeza de que não poderia deixar uma mãe – no caso, Allegra – ser ferida.
Teria feito isso por qualquer uma, mas a noiva de um amigo exigia um
cuidado especial.
Não saberia dizer quanto tempo passei dentro de um período de
dominando. Eu sabia que o fato de ter perdido muito sangue tinha a ver com
isso, mas não era só o meu corpo que estava dando sinais disso.
lado para o outro, para cuidar de todos e não me ressentia disso. Fora uma
O problema era que por mais que tivesse disposição para continuar,
para lutar por quem amava, eu sabia que estava na hora de seguir um outro
talvez.
pronto para sair do torpor, era Dimitri que estava do meu lado.
— Ei, brat[6]! Que merda de susto resolveu nos dar, hein? — Eu
deveria ter dado muitos sinais de que estava acordado, porque Mitya surgiu
— Ah, que bom te ver também. Fico feliz que esteja satisfeito por
Não pude conter um sorriso. Era bom ter o garoto ao meu lado. Por
dor, bem baixo, mas suficientemente visceral para Dimitri franzir o cenho,
em solidariedade.
Que ele nunca levasse um tiro, pelo amor de Deus. Tudo o que eu
— Você sabia... Sabia que ela não estava mais com a Bratva — eu
— Era isso ou ela ficaria lá. Você não tem noção de como a
atenção.
Jurei que estava pronto para saber de tudo, até porque eu merecia,
depois de não a ter protegido como deveria, mas conforme Dimitri foi
como aconteceu depois que fomos separados, se fosse para que ninguém
sequer tivesse se encostado nela. Receberia cada golpe, teria cada cicatriz
Pior do que tudo isso, era pensar que ela estava novamente em
perigo.
despedi de todos. Peguei minha mochila, coloquei-a nas costas e parti para
Fui recebido horas depois por um rosto familiar. Por que eu não
Javier Zavala era o mesmo homem que fora abordado pela abusada
Martha, na festa em que compareci com Enrico, três anos atrás. A mesma
Serena me falou, não apenas a irmã dele tinha sido sequestrada, como sua
namorada. Era fácil entender por que seu cabelo estava todo desgrenhado e
sua cara. Totalmente sem fundamento, mas Alejandra tinha sido entregue à
sua proteção, e mesmo assim ele a levara a um evento, onde ficara
Só que eu sabia que estava errado. Ela tinha virado uma agente de
conhecer. Você é homem que minha irmã ama, então preciso te fazer um
prioridade é salvá-la?
irmã amava e ter usado o tempo presente para isso, não o passado.
Seria uma missão para encontrar mais pessoas. Mais vidas seriam
salvas.
Nostra, que, por mais que fossem todos muito amigos e estivessem
dispostos a matar e morrer pelo que consideravam uma família, tinham
certa formalidade.
Cartel eu via quilos e quilos de testosterona, mas um amor fraternal que era
evidenciado nas piadinhas entre si, embora todos estivessem com um humor
Era direito dela, é claro, mas eu não conseguia não ter vontade de
dar um soco na cara dele, de qualquer forma.
Foi significativo.
fechava. Por ser a mão direita do Pakhan, ele tinha muitos privilégios,
inclusive este.
Fui sozinho, porque a intenção não era intimidá-lo. Era ter uma
conversa.
Rapidamente estava com uma arma apontada para mim, por mais
que eu nem soubesse de onde ela tinha surgido. Era triste pensar que meu
irmão precisava estar em alerta o tempo todo. Não que eu não estivesse,
mas por que diabos tinha que ser assim?
incomodado por me ver ali. — Me deu um susto, porra! O que está fazendo
aqui?
— Precisamos conversar.
aproximar dele, mas havia um ringue a nos separar, então eu fui passeando
pela lateral dele. A expressão atenta em meu rosto deveria estar bem
evidente, porque eu nem tentei disfarçar. Também estava armado, embora
— Achei que tinha deixado bem claro que não poderíamos mais ter
contato. Você nem deveria estar na Rússia — ele praticamente rosnou.
mais parecido com o nosso pai, e eu podia ver que tinha feito novas
tatuagens.
fazendo mais exercícios e se tornando mais forte. Mas contra o quê ele
tanto queria lutar?
disso.
Eu sabia que ali dentro ninguém nos veria. Havia câmeras, mas poderíamos
dar um jeito nas imagens.
— Estou falando de Alejandra — respondi finalmente, depois que
ele baixou a arma.
— Poderia fazer muito tempo mais. Eu não vou parar até ela estar
segura. E sei que não está. — Fiz uma pausa. — Também sei que você a
salvou com Dimitri naquela época, mesmo tendo jurado que não iria se
meter. Obrigado.
— Não, não estou. Sei que seu coração não se tornou pedra, Kolya.
Sei que vê as coisas que Pavel faz e não concorda com elas. O irmão que eu
conhecia nunca concordaria — enquanto falava, fui me abaixando e
entrando no ringue. Tinha uma ideia. Perigosa, mas a única coisa que eu
podia fazer.
Kolya estava calado. Esperava que esse fosse um sinal de que estava
ouvindo e concordando ao menos um pouco com o que eu dizia.
— Assuma, Kolya. Por mais que nos amemos como irmãos, você
tem raiva de mim pelo que eu fiz. Eu tenho raiva de você por nunca ter me
contado que levou Alejandra ao irmão dela.
— Eu fiz o que eu pude por ela, porra! Será que não entende? — ele
— Porra, Ilya! Eu não vou lutar com você se não está cem por
cento!
— Tarde demais.
ILYA KRAVTSOV
difícil. Aos poucos fui tentando fazer minha mente entender que ele tinha
errado comigo. Assim como também errei com ele. Com a nossa família.
tudo poderia ter sido diferente se não fosse tão leal a Pavel.
De alguma forma, as coisas foram ficando mais intensas, um pouco
treinamos juntos. Nosso pai nos ensinou, assim como ensinara a Dimitri. O
condicionamento.
me permitir.
ferimento queimou.
socava o seu rosto mais uma vez, tanto que minha testa se empapou de suor.
teria vencido fácil, porque meu irmão era osso duro de roer, mas
não estava disposto a me dar por vencido. Por mais que já estivesse vendo
pontos pretos por toda parte, por causa da dor, eu não quis desistir.
— Ela não pode ficar lá, Kolya. Não pode — grunhi, depois de
suportar um soco forte do meu irmão.
— Você precisa parar, Ilya! Chega! Essa garota tirou tudo de você.
defender, mas ele desistiu. Deixou o punho cair e aos poucos foi se
também.
— Não vou mais lutar com você machucado. Vou descobrir a merda
mão à cicatriz, como se esse toque pudesse fazê-la doer menos. Os pontos
tinham sido tirados poucos dias antes, e ela ainda estava muito sensível,
mas não sangrara. E eu nem sabia como.
— É sério isso?
— Não sei como vou poder ajudar, porque tenho total certeza de que
se Pavel tem qualquer coisa a ver com esse novo sequestro de Alejandra,
não vai deixar escapar tão fácil, muito menos para mim. Seja como for,
Faça a merda que for preciso para que ninguém descubra que está em
Com isso, Kolya abriu a porta e fez um sinal para que eu saísse.
Eu não queria fazer isso, porque temi que nunca mais tivesse
primo também fazia parte dela, tinha seu espaço, mas não precisava trair o
pouco mais.
algumas informações sobre o local onde ela estava – sem que eu nem
Sabia que estava cometendo uma loucura, mas o meu sangue parecia
acelerado.
Assim que eu saí, na minha moto, soube que meus amigos viriam
colocando todos em risco, mas meu objetivo naquele momento era matar a
todos. Acabar com qualquer pessoa que pudesse estar mantendo minha
mulher em cativeiro, assim como crianças.
Cheguei no lugar em menos de duas horas – um trajeto que levaria
um pouco mais de tempo para ser percorrido em outra situação. Com todas
tantos detalhes. Talvez ele tivesse ido até lá, como um espião, porque havia
que eu chamava de Catja, sabendo que ela iria me ajudar. Que fosse o que
aproximando da porta.
Tanto que logo em seguida vieram dois, tentar me cercar, mas eu já estava
com um punhal na mão, acertando um na jugular e o outro, com um tiro,
Mais três apareceram, e eu nem lhes dei tempo para atirar. Enfiei a
porra do dedo no gatilho, metralhando-os.
me segurar.
Um dia eu fui conhecido como a besta da Bratva. Não era por acaso.
Por ela... eu era capaz de despertar esse demônio que ainda vivia
adormecido dentro de mim. Não importava que, depois, minha consciência
O mundo.
Entrei por outra porta, depois de arrombá-la com um chute, e fui
recebido por três homens. Nem pensei, apenas mirei Catja, atirando em
todos que apareciam pelo caminho. Abri a boca enquanto fazia isso,
deixando um som gutural escapar por ela, de pura raiva.
segurava Catja – que estava presa ao meu peito, com uma faixa de couro
transversal –, para acertá-lo no meio do peito, causando um buraco
paredes altas, com uma porta de ferro, que eu poderia jurar que era uma
cela.
Não queria nem pensar que Alejandra poderia estar ali dentro.
Não imaginava que sua reação seria tão passional, porque ela veio
importar. Esse breve gesto foi o responsável por fazer com que minha
humanidade retornasse ao meu corpo. Depois de ter matado várias pessoas,
de ter causado uma enorme destruição para chegar até aquele ponto, aquela
menina me salvou.
pessoas que estavam com ela, mas vi que se tratavam de três crianças. Dois
meninos e uma menina. Deviam ter entre seis e oito anos. Talvez menos,
— Não sabemos como ela está. Tem quatro dias que foi jogada ali,
porque tentou proteger a outra menina que estava com a gente. Uma
garotinha de cinco anos. Ela lutou como uma leoa, e teve suas
consequências.
Era por isso que eu seria capaz de tudo para protegê-la também.
preparei para atirar nela, já que era de ferro. Minha arma faria um estrago
naquela fechadura, mas Eva colocou a mão no meu braço.
magra de Alejandra caída no chão, com o rosto virado para a parede. Havia
correntes em seus tornozelos e em seus punhos, e eu sabia que ela estava
cuidado. Os cortes em seu rosto, além dos hematomas fizeram meu sangue
ferver. Usava um vestido branco, que não combinava em nada com o estilo
de roupa que ela preferia vestir. Era quase uma piada, porque era curto
demais, como o de uma criança.
cumpri-la.
Javier veio até mim, para também ver a irmã – que já tinha
desmaiado de novo –, e me ajudou a abrir as correntes, usando uma espécie
Drake. Cada um deles trazia uma criança no colo, e Eva vinha caminhando,
com lágrimas nos olhos.
— Eles vão ficar. Tem uma mulher e uma criança que não foram
encontradas — Drake avisou.
mim.
— Daremos um jeito.
ALEJANDRA ZAVALA
peças?
a voz de Jaqueline. Mas ela não poderia estar cuidando de mim. Não
naquele lugar.
Eu ria, porque os dois eram como cão e gato o tempo todo. Não
Ilya também falava comigo. Com a voz mais suave de todas, mas
fraca demais para retornar. Ouvia enquanto explicava que estava ajudando
Javier a buscar Helen e Crystal.
acariciando minha testa, beijos no meu rosto com o toque de uma barba da
— Oi, amiga! Que bom que voltou para nós! — Jaqueline parecia
febre.
braços dados com Jackie, indo até a varanda da casa onde estávamos e nos
quente na mão. Cada coisinha que eu comia e bebia me dava mais energia,
por isso eu estava ingerindo mais calorias do que o normal, embora com
parcimônia.
— Você tinha que ver como ele chegou aqui. Alucinado, Ale.
Chegou a cair na porrada com Blaze e um dos amigos dele que tentaram
afastá-lo de você. — Jaqueline fez uma pausa. — Ele matou todos.
Sozinho.
passar pela trilha de corpos que Ilya deixou. Que ele estava tão transtornado
que se transformou realmente na Besta que diziam que ele era enquanto
estava na Bratva.
para estar no galpão onde te encontraram. Acho que eles vão massacrá-lo.
Crystal, mas quase como se tivesse ouvido o meu chamado, o ronco de uma
moto ecoou na noite. Senti minhas mãos tremendo tanto que precisei
colocar a xícara que estava segurando sobre a mesinha ao meu lado, porque
Como era possível que mesmo depois de tantos anos eu ainda conseguisse
Nenhum dos dois fez nada por alguns instantes. Era como se
Não consegui esperar, no entanto. Não queria deixar mais nada nas
mãos do destino.
para me levar até ele. Deixei o xale cair em algum ponto do caminho, não
Imediatamente comecei a chorar. Toda a força que eu sabia que tinha, que
foi construída naqueles últimos anos em que meu corpo e minha mente
eu só queria ser a garota de Ilya, que seria protegida por ele e embalada
deixar sem sentidos. Jurei que iria fazer o mesmo, mas foi meu corpo que
não suportou a pressão, tanto da energia que gastei quanto da emoção.
redor dos meus ombros. Com um movimento ágil, ele me tirou do chão,
como uma noiva, e começou a me carregar de volta para a casa.
— Espera! — pedi, ainda com a voz frágil, quase sem ar. — Me
beija.
Eu sabia que podia ser errado. Por mais que Jackie tivesse dito o que
disse, não queria apostar todas as minhas fichas de que Ilya ainda gostava
de mim. Ele poderia ter me procurado por todo aquele tempo por conta de
uma dívida de honra.
— Assim.
mais frio, não havia mais fraqueza. Não havia mais dor. Só nós dois, em
meio à noite fria, perdidos em nós mesmos.
Senti seu braço que estava nas minhas costas subir um pouco
escorregando com cuidado, e a mão enorme se encaixando na minha nuca,
— Eu senti tanto a sua falta — sussurrei para ele, quando o beijo foi
encerrado, e eu pude aninhar minha cabeça em seu peito.
braço para puxar uma manta que estava sobre o colchão, cobrindo-me com
ela. Tão cuidadoso e delicado que eu me sentia como se fosse uma peça de
cristal.
era difícil.
Ilya suspirou.
— Estamos lutando por elas, moi rys. Não vamos desistir, mas pelo
que descobrimos hoje, elas estão com Pavel.
pouco abalada. Não sei direito ainda o que aconteceu, mas pelo que fui
descobrindo aqui e ali, nesse meio tempo em que chegamos em Moscou, é
— Mas aí é que está. A Bratva não está muito satisfeita com Pavel.
sisudo e muito sombrio, não acredito que compactuaria com certas coisas.
Muito menos com venda de crianças e mulheres.
— Eu vou matá-lo, moi rys. Por tudo que ele fez com você. Vou dar
falar de coisas ruins, porque finalmente estava nos braços do meu homem.
nele.
meus cabelos.
— Pode.
Não consegui sequer ouvir a resposta que ele deu, porque peguei no
sono imediatamente depois.
Capítulo 32
ILYA KRAVTSOV
em mim.
tinha nove anos. A menina era irmã dele, e tinha seis, quase sete.
Tinha salvado os dois, mas pouco nos falamos. Eu mal tinha parado
na casa, e por mais que quisesse saber se estavam bem, tinha que fazer isso
por intermédio de Eva, que era a única que deixavam chegar perto.
outros, que já conheciam, mas comigo ainda eram relutantes, assim como
com Hunter e Drake.
irmão.
sim.
— Você tem razão. Como não pensei nisso antes? — Eu sabia que
Diego era importante para Alejandra. Qual melhor forma de conquistar uma
acordar com uma baita dor nas costas se não pensasse nessa solução.
sempre.
— Conto com você para isso, mas pretendo estar por perto de agora
me levantava com Alejandra nos braços, com todo o cuidado para que não
acordasse. Ela só emitiu um som, que era quase um suspiro, o que me fez
sorrir.
estava ali.
corpo.
— Uau! Você é muito fortão, né? Tia Ale deve ser pesada — a
período em que ficara presa, e eu conseguia sentir isso não só nos meus
inteiro. Ela contou que você parecia um urso, que era maior que o tio Javi e
os outros, mas eu não acreditei, porque eles são muito grandões. Mas...
puxa... ela tinha razão. Quero mesmo ser que nem você um dia.
Sentei-me na cama, disposto a não sair de perto de Alejandra até que ela
que ser que nem a tia Ale ou a tia Helen. Mas eu gosto de dançar.
— Do que me chamou?
— Princesinha.
Aos poucos eles foram ficando mais ansiosos para vê-la e falar com
ela, mas quando abriu os olhos, a primeira coisa que fizeram foi jogar os
Alejandra, mas ela também estava fazendo o mesmo com eles, chorando
emocionada.
meu coração.
Javier tinha me contado que Alejandra era como uma mãe para as
três crianças; que por mais que os pequenos fossem carinhosos com todo
Eu conseguia compreendê-los.
Depois de muitos beijinhos e de mais abraços, Eva surgiu no quarto,
pedindo que as crianças fossem tomar banho e café da manhã. Ela deixou
— Você não precisa fazer isso — ela falou baixinho, olhando para
mim.
intenso nesses dias, porque nem mesmo um guindaste vai me tirar do seu
lado. Nem o apocalipse vai me proibir de cuidar de você.
é.
— Até mesmo que a ruiva belíssima que estava com você na festa
em que nos encontramos? — ela disse em um tom provocador, e eu quase
ri; quase me deixei levar pelo resquício de ciúme que eu sentia no seu tom
de voz.
Era bom finalmente poder me deixar levar por algo tão fútil e tão
banal.
Ele nem era tão mais novo assim. Eu estava com trinta e oito, e ele
devia ter uns vinte e nove. Mas era abusado. Tanto que deu uma risada
debochada.
— Sua mulher?
um babaca, que iria falar algo grosseiro para ela, mas assentiu, se inclinou,
beijou sua cabeça e se afastou, voltando-se para mim, colocando o dedo na
minha cara, como se não fosse pelo menos uns dez centímetros mais baixo
do que eu – o que lhe deixava com pelo menos ainda um metro e noventa
de altura.
Com isso, ele só saiu, dando uma olhada por cima do ombro e
fechando a porta com força.
deitando na cama com ela e implorando para que daquela vez eu não a
perdesse de novo.
Capítulo 33
ILYA KRAVTSOV
aquela dinâmica com as crianças. Eles eram loucos por ela. Os olhinhos
falou, colocando uma das mãos na cintura, quase como se desse um sermão
no irmão.
partir ao ver a cena deles olhando para Alejandra como se tivessem medo
traumatizou.
fechasse a porta.
Assim que ficamos sozinhos, pela primeira vez em três dias e com
— Por que será que eu tenho a impressão de que isso foi uma
armadilha para nós? — Ela se levantou depois de dizer isso, pegando o meu
prato e o levando para a pia também.
incapaz de falar, à medida que ela caminhava e parava de frente para a pia,
de joelhos era vê-la com uma calça como aquela, com o bumbum generoso
empinado e redondo.
lavar a louça.
trás. A outra mão foi parar no seu pescoço, segurando-o como eu sabia que
ela gostava que eu fizesse, em um ato de dominação e possessividade.
pau ficar mais duro do que pedra dentro da calça de moletom que usava.
— Não ouse.
tocar logo.
tempo não ria assim. Era diferente quando brincava com uma das crianças
da Cosa Nostra ou quando saía com os rapazes para beber. Sempre havia
um vazio.
bem, mas é emocional. Não vou ficar bem enquanto não tiver Crystal
comigo. Sexo não vai resolver o problema. Não vai me curar. Mas por
alguns instantes eu vou fingir que está tudo bem. Depois eu vou voltar a
sofrer pela minha menininha. Mas com você... — Suspirou mais uma vez.
— Só faça isso por mim, Ilya. Alguns momentos bons. É o que eu te peço.
atordoada.
sob a água que caía, molhando-as. Sabia que a água estava gelada àquela
— Muita!
máximo.
tocar. — Sem tocar mulher alguma, na verdade. — Você ainda não está cem
por cento. Se eu te machucar, não vou me perdoar.
Ela agarrou meus cabelos com força com um olhar quase assassino.
— Ilya Kravtsov, se você ousar parar, eu vou pegar uma faca nessa
gaveta e te ameaçar até estarmos na cama, com você dentro de mim.
bruto e selvagem?
— Como você quiser, amor. Só que tenha certeza de que não vai ser
só uma vez esta noite. Ainda vou te devorar em cima daquela mesa ali e te
foder contra uma parede, já que que quer que eu seja bruto.
Eu estava pronto para tudo isso, mas não para parar. Nada me tiraria
— Goza para mim, moi rys! — falei quase em tom de ordem, e ela
acabou acatando, porque seu corpo pedia. Eu a senti estremecer, enquanto
gemia alto. Tão alto que eu jurei que todos ouviriam naquele prédio.
como prometido, a levei até a mesa. Ela ainda estava trêmula, ainda estava
um pouco lânguida, então a pus de costas para mim, com o torso apoiado na
madeira.
o para trás com força. Com dois dedos, a penetrei, ainda a sentindo molhada
do gozo anterior.
Estava sensível também, insaciável.
Dei um tapa em sua bunda, porque não resisti. Estava redonda ali à
minha frente, empinada e totalmente vulnerável. Quase me arrependi,
porque ela ainda tinha passado por traumas, tinha sido espancada e ferida,
mas Alejandra me surpreendeu:
— Mais forte.
— Tenho. É você. Não é mais ninguém. Não fui tocada dessa forma.
Eu ainda não tinha perguntado, mas senti certo alívio. Já estava mais
do que pronto para matar todos os filhos da puta que a machucara, mas se
ela tivesse sido estuprada eu iria sair do apartamento naquele momento e
Ela gemeu tão alto, e mais ainda porque peguei seu cabelo com mais
minha mão em sua bunda, até não aguentar mais e abaixar a minha calça,
tirando-a da forma mais desajeitada possível. Como já sabia dos esquemas
penetrando-a.
ofegante.
Com a primeira investida, minha mão estalou mais uma vez na sua
Fiquei até com medo pela forma como comecei a fodê-la. Eu era
grande, em todos os sentidos, e... porra, eu estava alucinado. Eu movia os
quadris com tanta gana, tanta raiva, que a mesa começou a ranger ao ponto
fez o móvel ceder, de fato, tombando para o lado com a perna torta.
do rabo de cavalo.
que eu procurei aquela mulher, pelo tanto que a busquei e a desejei durante
aqueles anos.
Ela riu, ainda contida, ainda com aquela sombra nos olhos, mas era
um começo.
Capítulo 34
ALEJANDRA ZAVALA
irmão, o que meio que atiçou um foco muito forte. Não tive tempo para
passear e nem para tentar conhecer um pouco do mundo que me foi negado
por muitos anos.
Sabendo de tudo isso, e tomando todos os cuidados possíveis para
rodovia.
Era arriscado, mas nós dois estávamos preparados para isso. Ambos
armados, e eu não era mais a donzelinha indefesa de antes.
uma redoma.
também.
nele.
Crystal. Ela é uma coisinha deliciosa. É tão carente, mas foi se tornando
mais sapeca conforme foi se acostumando conosco e... — Rapidamente
Suspirei.
conhecê-los. Mas as crianças são o meu fraco. Não posso permitir que
Passei a mão pelo rosto dele, sentindo que meu coração poderia
explodir por aquele homem, que era muito, muito mais do que qualquer um
poderia esperar ao olhar sua aparência bruta. Ele era o dono da alma mais
sobrancelha.
— Por mim?
Bonito?
Revirei os olhos.
dariam um braço para ter uma chance de uma pegação forte com você.
— É sério isso?
— Eu nem deveria ter falado. Agora você tem noção de que pode
Será que ele não tinha noção de que aquele tipo de coisa que fazia,
mulher?
alguém para não só esquentar a minha cama, mas acordar comigo todos os
— Seus pais?
— Sim. Nosso pai podia ser um monstro fora de casa. Ele era
violento, bruto e não tinha piedade de ninguém, mas com a nossa mãe? Ele
ele precisava provar um ponto, e por mais que pudesse ter sido pior, ele nos
criou para ser duas fortalezas. E isso incluiu uma disciplina que eu não
Ele queria ser pai. Provavelmente iria querer ter seus próprios filhos.
E... Deus, como merecia. Era tão bom com crianças, tão gentil, tão
carinhoso. De fato, eu sentia que Mercy tinha ficado meio encantada com
ele, porque, por mais que Javi e os outros fossem ótimos com ela, Ilya era
diferente.
Não estou querendo pressionar alguma coisa, até porque... se você pensar
bem... nós dois ficamos juntos de verdade só por alguns meses. Mas o fato é
olhando nos meus olhos daquele jeito que só Ilya sabia olhar.
minha alma.
nos conectamos, como nos apaixonamos, não é trivial. Tudo entre nós foi
intenso de um jeito que fez com que você ficasse marcada na minha pele
Ele tinha feito novas, aliás. Algumas delas cobriam cicatrizes que eu
em algum momento conseguirmos deixar esse caos todo para trás, você vai
se tornar minha esposa, e vamos levar as crianças conosco.
Ele me agarrou pelas coxas com força, me puxando para si, e nós
Estávamos ali para isso, para ver o sol nascendo, então eu foquei meus
olhos no céu, que começava a se pintar de laranja e belos tons de magenta.
Quando olhei para Ilya, de soslaio, ele não estava olhando para o
céu, mas para mim.
Sua boca foi descendo pelo meu maxilar, percorrendo até meu
pescoço, enquanto eu erguia meus quadris, só para me esfregar mais e mais
nele.
deliciosamente.
Com essa resposta, nós nos afastamos, já ansiosos pelo que estava
por vir, e então eu saí da moto, subindo novamente atrás dele e colocando o
capacete, partindo logo em seguida, deixando o nascer do sol para trás.
Capítulo 35
ALEJANDRA ZAVALA
— Acho que não vai ser uma boa ideia se quebrarmos alguma coisa
Ilya era muito desastrado precisou ser usada. Os adultos, por sua vez,
— Ah, não?
Ainda era cedo, de manhã, então eu fui direto à sacada, mas sem sair
rouca de enlouquecer.
olhos ferinos.
mim.
começar assim.
— É? — Fui me aproximando, me colocando entre as pernas dele,
me aprontando.
— Daquele jeito.
aos poucos, até levá-lo à altura da minha garganta. Chupei, suguei e usei a
quando ele fazia isso. Adorava quando soltava seu lado selvagem,
proporcionasse.
profundo, em alerta.
olhos.
Ilya xingou algo em russo, e rosnou mais algumas vezes, até que eu
senti suas mãos ferozes nos meus braços, me arrancando de onde estava.
banheira e de masturbar devagar — ele foi dizendo isso por entre estocadas
pesadas. — Mas estou aqui, te tratando como se não fosse a mulher que eu
amo.
Deus nórdico. A luz que entrava pela varanda o iluminava de um jeito que
fazia com que os contornos do seu corpo se destacassem com poder. Tão
isso.
repreensão.
— Não brinque comigo, moi rys. Não quando eu estou alucinado
por você.
costas.
não se apressou, mas parecia letal. O que eu via em seus olhos era desejo,
mas consegui imaginar o que um inimigo pensaria daquele homem
intimidador em um momento de violência.
Colidi com algo, lhe dando algum tempo para vir até mim. Quando
chegou, colocou cada uma das mãos de um dos lados da minha cabeça, me
encurralando. Nessa posição, tomou minha boca de forma abrupta, me
ele. Ainda me mantendo com os pés fora do chão, toda sustentada por
apenas um de seus braços, fui penetrada, encaixada em seu pau, precisando
segurou o meu pescoço, daquele jeito possessivo, inclinando meu rosto para
onde queria que ele ficasse, pronto para o beijo.
Ele era bom com as mãos, mas com a boca... Ilya devia ganhar um
prêmio.
Novamente com a boca livre, tentei lhe dar um sexo oral, mas meu cabelo
foi agarrado. Tentei estender a mãos, e ele rosnou.
pronta para ter o meu primeiro orgasmo do dia, mas ele parou.
seu pau na minha boceta, mas sem me penetrar. Segurou meus braços ao
lado do meu corpo, espalhando beijos infinitos por cada centímetro de mim,
e novamente chegando ao meio das minhas pernas.
Eu já tinha dito que ele era incrível com a boca, não tinha? Pois
contrário do que pensei, ele não se colocou em cima de mim, mas nos girou.
devagar, com movimentos leves, mas assim que ele foi até o fundo, não
pude mais me conter.
Ele precisou me mover sobre seu corpo, com o poder de seus braços
e mãos, porque eu me derramei sobre o seu peito, mas sem deixá-lo sair de
dentro de mim.
poderia jurar que era um “eu te amo”. E mesmo se não fosse, soaria assim
para mim.
ILYA KRAVTSOV
de ter muito contato com aqueles caras, mas pelo que já havia conseguido
perceber, Orion era o mais calmo e comedido de todos.
diabo! — Javier rosnava como um leão, e tanto Hunter quanto Orion foram
— Pega leve, cara. Senta um pouco, porque a gente precisa que você
explique o que houve — Hunter tentou dizer, mas Javier se soltou de seus
ele conseguiu meu telefone, mas imagino que consiga qualquer merda que
quer com um estalar de dedos. — Ele fez uma pausa para respirar fundo,
— Isso mesmo que vocês ouviram. E quer saber o pior? Ele vai
contar a todos que Crystal é filha deles dois. Vai inventar essa porra dessa
complexo dos Wildfire, ele decidiu que não iria mais se casar comigo,
porque eu não era mais virgem. Ele queria uma esposa... pura.
— É o seu pakhan, não é? Você foi leal a ele por anos. Seu irmão
por ela e porque fiz o que era certo. Se quer descontar essa raiva em
alguém, é melhor guardá-la para quando chegarmos a Pavel. Está lutando a
batalha errada.
Conseguia imaginar seu desespero, porque passei por isso por muito tempo.
a criança estavam mesmo nas mãos dele, e ele tinha planos de usá-las, era
quem eu confiava.
enganei.
— É. Ela mesma.
Querem tirá-lo.
recusar não apenas a ajuda de Kolya mas como também a sua presença.
Pavel pudesse enviar alguém para segui-lo, mas meu irmão parecia bem
lado da porta. Por baixo usava uma blusa de manga comprida cinza, de lã, e
calça jeans.
tudo pelo que ela tinha passado nas mãos de alguém que agora estava com
sua amiga e a criança que ela tanto amava.
mudou, depois de respirar bem fundo. — Não posso ficar muito tempo.
Precisamos conversar.
— Sei que precisamos falar sobre Pavel, mas eu preciso saber como
Precisei engolir em seco para fazer aquela pergunta. Não queria nem
dizendo que voltará em breve, mas não temos muito mais notícias. Mas
ainda acho que foi uma escolha correta, ou então eu tenho a impressão de
louco para pôr as mãos nele, acabaria tendo hora e local marcado.
Tasha.
— O quê?
ninguém descobriu. Só que agora ele tem essa coisa na cabeça. É mais
perigoso do que pensávamos.
— Yurik me contou.
— O irmão de Pavel? — mais uma coisa que me surpreendia
naquela noite.
pessoa um pouco mais equilibrada, mas a ligação entre eles ainda é mais
forte. Cuidado para não ser pego numa armadilha.
— Não serei. Mas vale dizer que eles não são irmãos como nós.
Sim, isso era real. Um fato. Eu daria a vida por qualquer um dos
meus irmãos.
E também pela mulher que apareceu pouco depois que Kolya foi
— Como foi? — ela perguntou, mas com o corpo ainda tenso. Seus
no meu peito.
ILYA KRAVTSOV
pareciam angustiantes demais, a julgar pela forma como ela acordava. Isso
saiu daqui como um louco, pegou a merda da sua moto e partiu sem olhar
para trás. Matou um monte de gente sozinho, mas poderia ter morrido e
coisas agora são um pouco mais complicadas. Pavel não vai ser louco de
ajuda do meu irmão, e o plano precisa ser mais elaborado. Eu errei, fui
impulsivo, e poderia ter sido muito pior. Não queremos colocá-las em risco.
ela parecia querer salvar o mundo inteiro antes disso. Mas... eu também não
pedi. Não porque não quisesse, mas porque também estava perdido demais
— Ela sabe do seu amor, hermanito. E você vai ter muitas chances
para ela também. O casamento com Helen me fazia acreditar que iria matá-
la, e a mim também, o que precisava nos deixar muito mais em alerta.
que ele pretendia fazer. Meu irmão tentava ter acesso aos convidados do
saber também como eles estavam, e Dominic também quis saber os detalhes
do que iríamos fazer. Eu sabia que eles tinham uma excelente noção de
estratégia, porque viviam o tempo todo em guerra, então não me fiz de
vodca.
Hunter e Drake sentiam falta de casa, e já tinha pedido que voltassem, mas
Ninguém tinha dito muita coisa até que a campainha tocou. Fiquei
inesperado.
mais o da minha menina, que eu não via há cinco anos. Ali estava uma
correr até ela e abraçá-la com força, como queria ter feito por tanto tempo.
Só que simplesmente não conseguia fazer nada. Meus pés pareciam presos
ao chão. Eu queria esconder a arma que tinha em punho, mas nem isso
conseguia fazer.
— Lya? — ela chamou com a voz chorosa. E foi ela também que
correu até mim, se jogando nos meus braços como fazia quando era só uma
menininha.
chorar de soluçar.
precisei daquele abraço por tanto tempo, mas todas as minhas palavras
pareciam ter desaparecido. Tudo o que consegui falar foi o nome dela,
sussurrado em meio aos soluços que faziam com que eu me sentisse só um
garotinho.
olhando por cima do ombro, para um ponto logo atrás. Nem precisei me
virar para saber que era Alejandra que estava ali, ainda mais porque Tasha
cabelos loiros e lisos, como se precisasse disso para parecer uma verdadeira
Barbie. — Oi! Eu sou... bem... a sua cunhada!
mesmo.
que vivíamos acabaria por corrompê-la. Eu podia ter minhas diferenças com
Kolya, mas a verdade era que ele a tinha protegido da melhor forma
Deus, como aquilo era importante para mim: ter as duas mulheres da
em verdadeiras fortalezas.
Kolya foi um pouco mais rápido e usou a arma que estava em sua
mão, que pegou quando eu abracei Tasha e apontou na direção de quem
Cosa Nostra.
retribuirmos.
E foi isso.
ALEJANDRA ZAVALA
— Sim, sim. Mas eles são tipo o Ilya. E, eu juro, amiga, que acho o
seu homem uma perdição, mas olha esses engomadinhos! Tudo de Armani.
Aquele ali é possivelmente o homem mais bonito que eu já vi no mundo —
casa, com um papel na mão, para mostrar um desenho. Ele poderia tê-la
evitado, já que estava com os amigos, bebendo, mas dedicou toda a sua
atenção à garotinha.
— Olha, tio Lya! Eu, você, Diego e a tia Alejandra. A gente não
sabia o que ele estava pensando: na nossa conversa do outro dia, na colina,
falando sobre um tal clube do qual ele era dono, mas não conseguiu
concluir muito bem o assunto; só entendi que ele estava convidando todas
fazer de tudo. Eu não sabia muito bem o que significava BDSM, mas Jackie
me fez o favor de explicar, dizendo que era o ápice da “putaria que a
tanto tempo acorrentada em duas celas diferentes, mas pelo brilho dos olhos
terapia?
evento, e até Kolya, que era o mais “antipático” de todos – por assim dizer
Claro que ela ficou toda animada com aquela atenção, mas todo o
amor que tinha em seu coraçãozinho era para Ilya. Mesmo com a diferença
de aparências, já que ele era muito louro, e ela tinha cabelos castanhos e
uma criança fofa? Ainda mais uma menininha — foi Jackie quem
comentou. Eva estava ao nosso lado, concordando. — Ainda mais para uma
mãe solo!
Apontei com a cabeça para Blaze, que passava por Juan e parava
para implicar com ele, de um jeito que pessoas com muita intimidade
faziam uma com a outra. O garotinho jogou a cabeça para trás em uma
todo amor.
— Se você falar um pouco mais alto que isso, ele vai atender ao
chamado.
— E nem é um chamado. Ou é? — Eva completou minha
— Não é possível que você nunca percebeu que os dois têm muita
química! — Até mesmo uma garota de dezessete anos tinha percebido.
Estamos sempre discutindo. Ele é gato? É. Pra caralho. Mas... não... eu acho
que ele nem sente atração por mim... É... absurdo... — ela já estava
gaguejando.
Assim que Diego apareceu para chamar Mercy, ela deu um beijinho
super doce no rosto de Ilya, pulou do colo dele, e deu tchau para os outros,
amanhã? Não querendo cortar o papo divertido, mas eu acho que a gente
da reunião, ou o que quer que estivesse acontecendo ali, mas nenhum dos
falar, remexendo-se na poltrona onde estava sentado como um rei. Era essa
estivesse em casa, brincaria com meus filhos e levaria minha esposa para
cama. Faria o que mais gosto de fazer, para que amanhã, quando eu tiver
que lutar, dar o melhor de mim para voltar para aqueles que amo.
ter um jeito debochado – o que ficava claro a cada palavra que dizia –, mas
como um possível Don da Cosa Nostra. O chefe dos chefes, que iria liderar
toda a organização, e fazia sentido. Começava a entender o motivo.
sussurrou:
amo.
Caccini, que era a esposa do chefe de Chicago, mas também a estilista das
poderosas mulheres da máfia.
Ele era lindo, em um com claro, leve, com flores em rosa bem
femininas e suaves, mas não era só isso. A saia dele era longa e rodada
exatamente para que por baixo eu pudesse usar uma calça no mesmo tom,
no estilo legging, para ter mais mobilidade. Quando a confusão estourasse,
O bom era que aquela saia também escondia as armas que eu iria
levar comigo, na expectativa de que ninguém me revistasse na entrada.
Eu sabia que Ilya estava muito tenso, e foi isso que percebi também
quando saí do quarto, já pronta, e o encontrei testando as armas, verificando
se todas estavam com balas. Ele não tinha colocado um terno, mas sua
jaqueta de couro de sempre. Uma nova, preta, brilhosa, que caía nele como
uma luva.
Deve ter ouvido o som dos meus sapatos pisando no chão de tábua
corrida do apartamento, porque se virou imediatamente, e eu vi seu peito
Kiara, além do meu cabelo, que tinha sido escovado e cacheado nas pontas.
— É uma pena te ver assim e ter que te levar para aquele lugar. Não
vou conseguir te dissuadir, não é?
minha cintura com força, me puxando para si. Isso me deixou surpresa,
porque estávamos falando algo tão sério que não conseguia entender o
— Amor... eu te amo.
A resposta dele foi me tirar do chão daquele jeito bruto dele, cheio
de rompantes, e me beijar, beijar e beijar.
vimos foi Kolya e Tasha. Nós já sabíamos que ela seria obrigada a
comparecer, mas imaginava que, para Ilya, sabendo tudo o que iria
Yurik e Pavel tinham duas irmãs bem mais jovens – Zoya e Larisa –,
aparentemente.
— Só está dormindo. Achei que seria melhor assim. Mas que alegria
que vocês vieram. Os convidados de honra!
Crystal tombou a cabecinha para a frente, e chegou a se remexer um
pouco, o que me deixou um pouco mais tranquila, ao constatar que
realmente deveria estar só sedada. Ilya ficou ainda mais tenso atrás de mim.
Eu sabia que quando mexia com crianças ele ficava um pouco mais
passional.
— O que é tudo isso, Pavel? Por que nos convidou para essa
Ela olhava para mim, muito mais magra do que antes, ferida e com o
olhar apático. Pavel tinha destruído a mulher forte que era, e eu temia que,
seu querido Ilya, com a condição de que se ofereça no lugar da sua amiga.
Ilya me segurou com mais força, mais ainda quando Pavel tirou uma
arma e a encostou na cabeça de Crystal, que continuava apagada graças a
Deus.
Pavel, por sua vez, parecia gostar de tudo aquilo, porque ainda
acrescentou:
— É pegar ou largar...
Capítulo 39
ILYA KRAVTSOV
cabeça da criança, precisei segurá-la com força antes que saísse correndo
para Crystal.
parecera apática até aquele momento, com as energias sugadas, mas eu tive
a impressão de que ela serraria os próprios braços e pernas naquele
momento só para se soltar e proteger a criança, principalmente pela forma
— Você não vai machucar a criança. Não disse que quer usá-la para
controlar.
da morte, ou com uma cicatriz. Ou até mais do que isso... com um dos
minha obsessão. Pensei que poderia me contentar com uma versão fajuta,
mas a bonitinha aqui nem mexicana pura é. Só mestiça. Posso aceitá-la, mas
bem treinadas, homens poderosos que sabiam o que estavam fazendo. Ela
Nós já contávamos que ele usasse a criança para nos chantagear; que
seria feito. Só que ela se soltou das minhas mãos, de surpresa, começando a
avisar algo.
— Para que eu vá até você, precisa me dar uma prova de boa fé.
Ele tinha um desejo doentio por Alejandra. Só que era algo tão
tóxico, tão louco, que não permitiu que a estuprasse quando ela foi
sequestrada, cinco anos atrás. Ainda bem, mas era algo a se pensar.
— Crystal.
Pode ser ele... talvez... — Alejandra apontou para Kolya, seu irmão.
algum tipo de desconfiança. Era por isso que sempre se apoiou em Nikolai
e em Yurik, tanto por ambos serem mais jovens quanto por terem mais
deixou um pouco aliviado –, ele foi para cima da mulher, apontando a arma
na cabeça dela.
imaginava que estava pronta para morrer, contanto que a criança ficasse em
segurança.
Assim que Alejandra viu Crystal em segurança, ela continuou sua
caminhada.
pacto.
Doente. Desgraçado.
passos à frente, mas fui detido por dois soldados de Pavel, que finalmente
se aproximaram.
lugares.
planejando, ao menos precisava lhe dar uma chance de testar o que tinha em
mente.
— Fica calmo aí, drug. Precisa aceitar perder — Pavel falou muito
tempo.
Quando chegou, Pavel usou a mão livre para agarrar o braço dela,
punhal de algum lugar de seu vestido projetado por Kiara, e tinha acertado
Pavel bem na altura da barriga.
— Desgraçada! Sua vadia!
Foi inesperado até mesmo para mim. Mas mais ainda quando o
Então o irmão estava mesmo contra o outro irmão. Bom para nós.
segurava a minha arma – minha Catja – e veio direto para mim, acertando
os dois sujeitos que voltavam, para tentar se aproximar.
quase divertido.
Era óbvio que Pavel tinha uma rede de segurança muito forte, mas
Fui atingido no rosto por alguém com um canivete, mas foi um corte
Mas eu sabia que Pavel não queria morrer. Ele era arrogante,
chantagear.
— Abaixa essa arma, Ilya! Todos vocês! Vão ficar com a criança e a
consigo.
— Se qualquer um de vocês tentar me impedir de sair, ela morre.
ELA MORRE!
Todos nós ficamos observando, enquanto Helen cortava dedo por dedo de
uma das mãos de Pavel, sem pressa, fazendo-o urrar de dor. Alejandra se
enquanto chorava.
também estava no meio do salão. Com sua arma na mão, ele parecia seguro
demais do que tinha acabado de fazer. Ele sabia de algo que eu não.
MACHETE - SPELLES
ILYA KRAVTSOV
pelo qual ele tinha feito um onde eu e Kolya éramos mencionados, mas
Fazia três dias de sua morte; de toda confusão. Yurik mantivera sua
promessa de contar uma história de que todo o caos se dera por uma
Bratva e do consigliere – mesmo que este fosse meu irmão – teria de valer.
dois anos. Uma mudança que pode implicar em algo muito sério — o
irmão?
parte mais relevante de todas: ele nomeava meu irmão, Nikolai Kravtsov
como novo pakhan, ordenando que fosse mantido o cargo de seu irmão,
pulo.
— Como o Sr. Pavel não tinha herdeiros, ele pôde nomear quem
Tudo o que eu conseguia fazer era olhar para o meu irmão e analisar
suas expressões.
Ele estava muito calmo, muito impassível para quem tinha acabado
O que diabos meu irmão sabia que mantinha os irmãos Kiselev tão à
sua mercê? Que segredo ele escondia que lhe garantia tanta segurança?
colocou de pé. Meu corpo ficou em alerta, porque algo me dizia que seria
do meu irmão.
HD, que tínhamos recuperado anos atrás, mas ele não estava com Javier?
Fora exatamente ele que fora usado como barganha para que Kolya e
Dimitri pudessem tirar Alejandra do cativeiro.
— Eu vou aceitar essa merda... Vou permitir que tome o meu lugar
respeito do que aconteceu com o meu irmão. Contar tudo o que foi
arquitetado naquela noite, que teve até envolvimento da Cosa Nostra, para
estava muito certo de que Yurik não diria nada, tanto que pareceu ouvir sua
mais velha.
— É isso que você ouviu. Eu preciso que uma delas se case, e você
vai entender o motivo. Para ser sincero, seria bom se Larisa também se
— Não está, mas ela pode ir para os Estados Unidos com ele. Ou ele
pode voltar.
Kolya estava pálido. Era a primeira vez desde que aquela reunião
Ele tinha trinta e nove anos e ainda não tinha se casado. Teria que
— Mas você se casará com Zoya. Ela é uma boa moça. Tem vinte e
jogando na cadeira.
— Não tem o que pensar. Você vai precisar se casar ou vai ser
perseguido como Pavel era. Zoya é uma ótima escolha; vai ser respeitada
por toda a Bratva, por ser minha irmã. E é a única forma de eu me manter
subchefe, para termos uma boa relação, eu exijo que se case com Zoya. E
mais do que isso, que seja um bom marido para ela. É o que ela merece.
dos dois.
— Como assim?
Dei de ombros.
— Ainda não sei direito, porque não consegui conversar com ele,
mas acho que ele tem algumas informações dos Kiselev nas mãos. Algo que
poderia prejudicá-los em meio a Bratva. Por isso sempre conseguiu tudo o
que queria.
— Faz sentido.
Ela sorriu, levando a mão ao meu rosto, que ainda estava com um
leve corte, da briga contra os homens de Pavel.
— Não sei o que fiz para merecer você, mas acho que é uma decisão
que precisamos tomar juntos. Se quer o meu voto, o tempo que passamos
com os Wildfire foi um dos melhores que eu vivi nos últimos anos. Gostei
das pessoas, do ambiente, do meu trabalho na creche.
Ela assentiu.
— Teremos que levar as crianças, mas acho que Diego vai amar. Ele
— Eu a amo como uma filha, mas entendo que o que ela e Helen
criaram juntas é uma coisa que não posso e não quero ultrapassar. Quero
— Podemos vê-las sempre, amor. Você tem o seu irmão, seus outros
dar as ordens. Mas eu tenho uma pergunta a fazer: você quer voltar, como
minha namorada, ou como minha esposa?
anel de todos, mas esse aqui representa algo para mim, então acho que pode
representar algo para você também. — Os olhos de Alejandra marejaram.
— Eu quero que me aceite. Que se torne minha esposa. Que seja minha
para sempre. Vai me dizer um sim?
beijando.
Porque eu iria lutar todos os dias para que nunca mais fosse tirada
de mim.
ILYA KRAVTSOV
— Ei, ei, ei, moleque! Onde pensa que vai desse jeito? — eu o
interrompi, vendo-o colocar a jaqueta de couro, que era bem parecida com a
minha.
— Foi mal, pai. É o Caleb. Ele me chamou para dar uma volta com
que completou dezesseis, mas desde então a gente não conseguia mais
mantê-lo fora de uma moto. Foi uma sintonia impressionante desde que
chegamos ao complexo dos Wildfire, para ficar de vez, e Diego se tornou
Assim como também se tornou parte da minha vida. Ele e sua irmã.
Meus filhos.
arqueadas.
inquieto, independente, ele era um pequeno furacão. Loirinho como eu, mas
meses, e era por quem meu coração derretia todos os dias. Como pai de
outra menina, eu já sabia qual era a sensação de ter uma garotinha sob sua
entender que eu tinha quatro filhos, todos incríveis, era mais do que um
cabelos longos presos em um coque, com vários fios soltos. Linda como
sempre. — Eu falei que você deveria pedir ao seu pai se podia ir, não que
— Deixa o garoto ir, moi rys. O pessoal vai cuidar dele — falei, o
que fez Diego sorrir abertamente e vir até mim, beijando meu rosto.
entender isso.
— Ainda bem que Roman e Yulia ainda vão demorar muito para
cogitasse sair com ela, teria que passar por mim primeiro.
— Calma, ela ainda é nosso grudinho. Mais seu do que meu, né?
Puxei Alejandra para um beijo, e a doce Yulia no meu colo se mexeu, como
rir.
— Onde pensa que vai assim? — perguntei para ela, com o cenho
franzido.
A garota riu.
vestir assim, mas não pretendo namorar ainda. Sabe que eu quero estudar.
por isso estávamos nos Estados Unidos. Morávamos lá, mas Dimitri não
dizer que não seria notada por alguém muito em breve; alguém que poderia
impune.
argumento, nós saímos para nos encontrar com nossos amigos, em uma das
nossos ficavam com ela por lá o dia todo, e era bom que ela tinha ajuda de
mais algumas pessoas.
e Gillian rapidamente veio pegar Yulia dos braços de Alejandra, não só para
Por ainda estar amamentando, ela não pegou uma cerveja, mas
serviram suco, e eu peguei a vodca que eles aprenderam a servir por minha
causa.
Em algum momento, uma música sensual mexicana começou a
ouvido:
FIM
Cena Extra – Kolya e Zoya
Ela estava atrasada. Podiam ser só vinte minutos, mas uma das
coisas que eu mais prezava era por pontualidade.
noivado de Pavel viessem à tona. Só que isso não queria dizer que eu estava
satisfeito.
Fazia dois meses que tudo tinha sido estabelecido. Eu e Yurik não
estávamos nos melhores termos um com o outro. Ele era meu subchefe, mas
não confiava nele em absoluto, por isso coloquei Andrei, meu primo, como
meu conselheiro.
Eu não tinha sequer pedido para ver uma foto da moça. Não faria
segurança.
quando queria, mas não pensava em ir além disso. Precisaria ter herdeiros
um dia, e queria ter filhos, mas isso poderia ser arranjado também.
ela as coisas ficariam mais reais, mas quando fomos deixados sozinhos, não
Era delicada, embora não fosse uma mulher baixinha. Devia ter
curvas.
dando a sensação de que iria me beijar. Tanto que olhou para os meus
— O que...?
— Não pense que não sei de tudo que aconteceu. Você trapaceou
aceitei, porque não tenho escolha. Por mim e pela minha irmã. Mas saiba
que por tudo que Yurik me falou, você não é a minha pessoa preferida no
mundo, então não espere que nosso casamento seja um mar de rosas. Muito
Mais uma vez, muito, muito obrigada por terem lido a história do
Ilya e da Alejandra! Amo saber que vocês engajaram mesmo nesse mundo
.
.
[1]
Patético, em russo.
[2]
Irmão, em russo.
[3]
Filho da puta, em russo.
[4]
Merda, em russo.
[5]
Imbecil, em russo
[6]
Irmão, em russo.
[7]
Moleque, em russo.
[8]
Pequenos, em russo.
[9]
Safada, em russo.