Art 02 - Empreendedorismo I

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 11

EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA NA ÁREA TECNOLÓGICA

Humberto Chiaini de Oliveira Neto


Engenheiro Civil, M.Sc. pela UFF
Universidade Federal de Juiz de Fora
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Profª Nair F. Abu-Merhy
E-mail : [email protected]

RESUMO

Frente aos desafios surgidos com a globalização da economia, estruturas de


diversos setores dentro da sociedade, estão se vendo obrigadas a corrigir rumos, no intuito de
se adaptarem de modo positivo à nova sociedade que se desenha.
O setor da educação, reconhecido como um dos principais pontos para o
enfrentamento dessas mudanças, também se vê frente a reorganizações , no sentido de
fornecer bases mais seguras de crescimento aos indivíduos na nova sociedade onde a
informação é o insumo mais importante para qualquer atividade.
Este trabalho procura sugerir novos meios didático – pedagógicos na condução
dos estudantes da área tecnológica, de forma a muni-los de ferramentas adequadas para o
enfrentamento das novas perspectivas e da enorme concorrência do mercado de trabalho.
O objetivo é proporcionar ao aluno, uma educação que o torne mais criativo, mais
desembaraçado e com maior autonomia, quer como empreendedor ou empregado.
A estes meios de educar, poder-se-ia denominar Educação Empreendedora.

1.INTRODUÇÃO

Em virtude do cenário econômico atual, o mercado de trabalho vem se adaptando


às novas exigências das empresas, acarretando inúmeras modificações nos mecanismos até
agora em vigor.
Estudam-se novas leis para o setor, novas relações empresa/empregado, novas
modalidades de contrato de trabalho, além do fato de os índices de desemprego estarem muito
altos em quase todo o mundo, sem perspectivas de reversão a curto prazo.
Devido às alterações tecnológicas introduzidas na produção de um modo geral, a
ONU até já cunhou uma expressão para definir o fenômeno: “crescimento sem emprego”.
Mesmo aqueles poucos empregos que estarão disponíveis, as exigências serão
inúmeras, não só no campo da qualificação do pretendente, quanto do seu perfil pessoal.
Frente a tal realidade, os meios de educação têm a responsabilidade de formar
indivíduos capazes de se inserir em tal conjuntura e construírem seu sucesso.
O fato da escassez do emprego formal e das exigências que se coloca para se
alcançar os poucos que existem, aponta para um outro proceder nesta área: o
empreendedorismo.

1247
Diversos

Portanto, seja para conquistar um emprego formal ou para montar negócio


próprio, o egresso das instituições de ensino tecnológico, têm de possuir, além de boa
qualificação técnica, uma performance de atuação que contemple as exigências do mundo
atual.
Frente a este cenário, os objetivos que se pretende alcançar neste estudo, são os
seguintes :

I. Promover pesquisas no âmbito da educação, no sentido de se formular uma


metodologia didático – pedagógica que permita ao aluno desenvolver um
perfil que se adeqüe aos novos padrões do mercado de trabalho (mais
criativo, mais desembaraçado, maior autonomia), além de qualificá-lo
tecnicamente;

II. Testar em sala de aula, as propostas originadas dos estudos relatados em I;

III. Promover convênios entre a universidade e empresas, no sentido de se


buscar colaboração na formação do aluno (seu futuro trabalhador), com o
intuito de se aliar a teoria à prática;

IV. Incentivar e dar subsídios para o trabalho empreendedor (construção de


empresas próprias), como alternativa de se obter o sucesso profissional.

2.CENÁRIO ATUAL

ARISTÓTELES (filósofo grego, 384-322 a. C.) , fez a seguinte colocação :

“Há duas coisas nas quais se baseia o sucesso em qualquer lugar: a primeira é
que a intenção e a meta da ação devem ser determinadas de forma correta; a
segunda, é encontrar os meios que levam a essas metas. Assim temos de dominar
ambos nas artes e nas ciências: a meta e o caminho para atingir a meta.”

Efetivamente, passados mais de dois mil anos, a afirmação do filósofo em seu 7º


livro “ POLITIKA”, é atual e se insere perfeitamente na questão da educação, onde para se
atingir a meta de preparar pessoas para a vida profissional, há que se dominar e aperfeiçoar os
meios de alcançar tal objetivo.
Particularmente no ambiente atual, onde a economia globalizada e os mercados
abertos aumentaram a concorrência em todos os setores, as questões ligadas à Educação têm
de ser repensadas, no sentido de se agregar valores novos ao seu contexto, para que ela possa
responder a tais desafios, visto que “a Educação tem sido proclamada como uma das áreas-
chave para enfrentar os novos desafios gerados pela globalização e pelo avanço tecnológico
na era da informação. “ (Gohn – 1999).
A questão da informação na atualidade, é algo que caracteriza com grande força
nossa sociedade.
Tal aspecto, segundo TOFFLER, Alvin e TOFFLER Heidi (1996), assume um
caráter importantíssimo, o que se evidencia quando os autores afirmam:

1248
Educação Empreendedora na Área Tecnológica

“Enquanto terra, trabalho, matérias-primas e capital foram os principais ‘fatores


de produção’ na economia da Segunda Onda do passado, o conhecimento –
amplamente definido para incluir dados, informações, imagens, símbolos,
cultura, ideologia e valores – é agora o recurso fundamental da economia da
Terceira Onda”.

Lembramos aqui que TOFFLER (1997) em sua obra ao dividir a história da


humanidade em três grandes ondas, assim considera a questão : a era da Primeira Onda como
tendo começado por volta do ano 8.000 a. C., até cerca de 1650-1750 d. C. e se caracterizou
pela revolução agrícola, onde começaram a surgir as primeiras aldeias e povoados, terras
cultivadas e uma nova maneira de vida, diferente do que ocorria até ali, ou seja, a existência
de pequenos grupos humanos muitas vezes migratórios. Tal onda (a Primeira) dominou
soberanamente até 1650-1750, quando começou a perder força para a revolução industrial (a
Segunda Onda), que também modificou profundamente o ‘modus vivendi’ na terra. Lá, a vida
que era do campo, passou a ser urbana e com as conseqüentes grandes alterações que
ocorreram. O autor afirma em seus estudos, que o auge da Segunda Onda ocorre por volta de
1955 nos Estados Unidos, onde pela primeira vez o número dos colarinhos brancos e
prestadores de serviços passou a ser maior que o número de operários. Naquela década o
mundo assistiu à introdução do computador em larga escala, a aviação comercial a jato e
outras inovações tecnológicas de grande impacto. Naquele momento o autor sugere que a
Terceira Onda começou a ganhar força nos Estados Unidos e a partir daí ela chegou com
alguma diferença de datas à maioria das nações industrializadas.
TOFFLER (1997) , ainda afirma que o aspecto dominante da terceira Onda é a
informação, caracterizando esta nova sociedade como a “Sociedade da Informação”, onde há
a substituição da força muscular pela força mental como fator de produção.
No entanto, ter informações pelo simples fato de possui-las, não garante que elas
sejam usadas corretamente para se tomar decisões acertadas. Conforme BARABBA e
ZALTMAN (1992), “ a vantagem competitiva está cada vez em ‘como’ as informações são
usadas, em vez de ‘quem’ tem as informações”, sinalizando para a importância de se possuir e
de se dominar a informação.
No mesmo sentido GOHN ( 1999 ), coloca que :

“A Educação ganha importância na era da globalização porque o elevado grau


de competitividade ampliou a demanda por conhecimentos e informação.
Entretanto, a diferença entre hoje e ontem não é apenas quanto ao aumento da
demanda, mas quanto à qualidade e ao tipo de educação a ser oferecida.”

Portanto, dentro dos paradigmas emergentes no contexto da globalização,


podemos ressaltar alguns pontos importantes no que diz respeito à educação:
I – A Educação é área-chave para enfrentar os desafios da civilização globalizada
II – No contexto atual, o conhecimento é o recurso fundamental da economia;
III – Ter e saber usar o conhecimento é primordial.

3. PERFIL DO PROFISSIONAL NO NOVO MERCADO DE TRABALHO

Tem-se verificado um aumento significativo de mudanças no âmbito do mercado


de trabalho, podendo-se afirmar que está em crise.

1249
Diversos

Como toda crise, duas vertentes podem ser observadas: as negativas, com
implicações de alto custo social, mas também as positivas que estimulam inovações.
Conforme coloca HOCHLEITNER (2000):

“Cada pessoa pode, e deve, assumir a responsabilidade pelo seu futuro. A


imaginação e a criatividade de cada indivíduo, aliadas a uma porção acrescida
de responsabilidade social, são capazes de alterar modos de pensar e valores
para poder superar mais facilmente as crises e os conflitos.”

As empresas atualmente, face à competitividade que têm que apresentar no


mercado, têm necessidade de possuir em seus quadros, profissionais com características que
atendam ao ambiente econômico em que se inserem.
Neste aspecto BARBIERE (1996) assim se expressa:

“Nesse contexto a empresa necessita de profissionais cujo perfil vai além da


formação acadêmica tradicional e segmentada, exigindo atributos adicionais de
caráter e comportamento, bem como a visão sistêmica de tecnologia, de mercado
e de gestão.”

Importante observar, que tais características implicam necessariamente em uma


postura criativa por parte do profissional, para que tenha possibilidades de incorporar novas
idéias, tenha velocidade mental, saiba trabalhar em equipe, tome decisões, incorpore e assuma
responsabilidades, tenha auto – estima, sociabilidade e atue como cidadão.
BULMAHN (2000), Ministra da Pesquisa da República Federal da Alemanha, ao
abordar esta questão, declara que:

“Na sociedade de informação, não basta considerar definitivo o que se aprendeu


uma vez. O aperfeiçoamento profissional será muito exigente. O desenvolvimento
da técnica está sendo tão rápido que o conhecimento adquirido não pode ser
usado por longo tempo. Aprender a vida toda não é apenas um ideal que se
almeja, mas uma necessidade vital.”

POLES (1999) ao pesquisar o mercado de trabalho para seu artigo na revista


VEJA (20 de outubro de 1999, pág. 88) conclui que :

“ Como bastam seis meses para que novas tecnologias comecem a ocupar o lugar
daquelas utilizadas pelo especialista, para se manter em forma ele tem de estar
constantemente aprendendo algo novo.”

Todas estas questões apontadas pelos estudiosos, são características que devem
compor a personalidade do indivíduo, pois a bagagem técnica dos candidatos a um lugar no
mercado de trabalho (quer como empregado ou empreendedor), não difere muito umas das
outras, além do fato de se poder treiná-los. Já a personalidade é algo que o indivíduo já traz
consigo através de uma formação ao longo do tempo.
Daí a importância das instituições de ensino tecnológico, quer em nível médio ou
superior, em oferecer ao aluno valores novos para sua personalidade em formação, que
coadunem com suas necessidades futuras.
Ao discutir o futuro dos estudantes atuais no mercado de trabalho, FRANCO
(2000) coloca que:

1250
Educação Empreendedora na Área Tecnológica

“.... no futuro do emprego ou do trabalho, é certo que teremos cada vez menos
‘profissões’ e cada vez mais ‘profissionais’. O foco do mercado de trabalho está
em constante evolução para buscar sempre a melhor pessoa , levando em conta
toda sua formação humana, e não apenas o aprendizado especificamente técnico
... Hoje , e cada vez mais, é preciso antes de tudo ser. Mas ser o quê? Ser humano
... Para um jovem estudante, é preciso dizer que o futuro que o espera depende
menos do mundo e mais dele mesmo.”

A revista VEJA (19 de outubro de 1994 – pág. 91) em sua seção “ESPECIAL”,
apresenta o quadro a seguir, onde analisa o “perfil do profissional” através do tempo :

Antes da década Entre as décadas Hoje em dia De hoje em diante


de 70 de 70 e 90 ( 1994 )
- A experiência é - O grau de - Sua performance é - As realizações de sua
ferramenta usada no escolaridade é sua sua ferramenta de equipe são a ferramenta
comando. ferramenta de comando. de seu sucesso.
- É acomodado. comando. - É curioso. - É estudioso.
- É dependente. - É confiante. - É independente. - Tem uma visão global
- É carreirista. - Ë político. - Gera mudanças. das coisas.
- É resistente à - Procura ser criativo. - É cooperador. - Lidera mudanças.
mudança. - Ajusta-se às - Seu salário é - É facilitador.
- Seu salário é mudanças. conquistado pela - Seu salário é
determinado pela - É muito competitivo. importância do seu conquistado pelo
empresa. - Seu salário é trabalho. resultado de seu
- Seu conhecimento é negociado com a - Seu conhecimento é trabalho e de sua
fruto da experiência empresa. fruto da aplicação equipe.
profissional. - Seu conhecimento é prática da teoria. - Seu conhecimento é
baseado na teoria fruto do aprendizado
acadêmica. contínuo.

Quadro 3A : Perfil do Profissional


Fonte : Revista VEJA ( 1994 )

4. EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA

De maneira geral, os meios de formação acadêmica e profissional na área técnica


têm como metodologia didático - pedagógica, posturas cujo enfoque prevê, para o aluno
egresso de seus domínios, a obtenção de um emprego formal em empresas estatais ou
privadas.
Até a década de 1980 eram estes os pensamentos que orientavam as questões da
educação tanto no Brasil quanto em outros países.
SANTOS ( 1995 ) assim se expressa em relação a este tema:

“ Pouca ou nenhuma ênfase – ou estímulo – foi destinada para orientar os

1251
Diversos

estudantes a considerarem a opção de criar um negócio próprio. É natural que


tenhamos um forte condicionamento do nosso meio cultural para considerar, em
primeiro lugar, a ‘caça ao emprego’ sonhado.”
Entretanto, a partir do início da década de 1980, a realidade na área do trabalho
começou a se modificar frente às alterações ocorridas no meio produtivo. Novas tecnologias
passaram a compor as linhas de produção, novos modelos gerenciais surgiram, tudo isto
concorrendo para o enxugamento das estruturas empresariais, contribuindo para a eliminação
de postos de trabalho.
Apesar de tais alterações no cenário econômico mundial, o que a cultura brasileira
ainda conserva é a idéia de que um bom emprego deve ser a meta do indivíduo para atingir
sua realização pessoal e profissional.
No entanto, a escassez de empregos promissores e seguros é uma realidade e tal
fato não pode ser ignorado pelos meios de formação tecnológica, sob pena de se verificar
mais à frente, falta de demanda aos seus cursos, o que, aliás, já vem diminuindo
sensivelmente.
PATI ( 1995 ) coloca que:

“ Toda pessoa é fruto da relação constante entre os talentos e características que


herdou e os vários meios que freqüentou durante a vida.”

Portanto, sendo a escola um dos meios que o indivíduo freqüenta, é decisiva na


formação de sua personalidade e poderá lhe imprimir características importantes para o
sucesso profissional.
As características do futuro profissional para atender ao perfil do novo mercado
de trabalho, não pode ser alcançada através dos padrões de ensino verificados hoje na grande
maioria das instituições de ensino tecnológico tanto a nível de ensino médio quanto superior.
PEREIRA (1995), apresenta dados que, embora retratando apenas criadores de
empresas novas e em diversas áreas do conhecimento, nos remete a refletir sobre a realidade
neste aspecto:

“ .... segundo dados do Ministério da Indústria e Comércio, aproximadamente 80%


das empresas criadas não chegam a atingir 2 anos de atividade e que apenas 10%
conseguirão completar 5 anos de atividade, ou seja, são estas últimas aquelas que
sobrevivem e se consolidam como empreendimentos bem sucedidos”.

Com estes dados, pode-se observar que a qualidade dos empreendimentos são
ruins o que necessariamente reflete a qualidade dos empreendedores.
Embora os números mostrem problemas na área do empreendedorismo, SANTOS
(1995) coloca que: “os desafios para os empreendedores neste crepúsculo do século são
ponderáveis , e não invencíveis.”
A nosso ver, uma das maneiras de enfrentar tais problemas é fazê-lo através da
Educação Empreendedora.

5. ELEMENTOS DA EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA

Frente à conjuntura atual a educação empreendedora poderá trazer valores novos


para aqueles que enfrentarão em breve o mundo do trabalho. O objetivo é muni-los de

1252
Educação Empreendedora na Área Tecnológica

algumas ferramentas que os ajudarão na competição que irão enfrentar, quer como donos do
próprio negócio ou empregados em empresas.
FILLION ( 1991 c ), afirma que no campo da educação empreendedora,
“Os elementos essenciais parecem ser o desenvolvimento da imaginação e da
criatividade, bem como a habilidade de canalizar energia para os objetivos que o
empreendedor quer atingir.”
Outro dado importante apontado como fundamental aos empreendedores, é o
estudar continuamente. COLLINS E MOORE (apud. FILLION – 1999 b), afirmam que
“empreendedores de sucesso nunca param de aprender.”
Tal aspecto, nos remete a refletir sobre o aprender a aprender, característica básica
da educação empreendedora.
Ainda FILLION (1991 a), faz três reflexões sobre a relação educador/educando na
educação empreendedora :
1ª reflexão: “ O educador deverá adquirir a lógica do empreendedor e isso se faz
seja pelo contato direto com os empreendedores, seja pelo estudo de empreendimentos, seja
pela leitura de testemunhos e de vidas de empreendedores.”

2ª reflexão: “ A relação educador/educando recai mais sobre a maneira de


ensinar do que sobre o assunto ensinado. Desenvolver os empreendedores é, primeiro,
trabalhar sobre atitudes. ( ... ) pode-se dizer que o modelo de educação tradicional é
inadequado para formar empreendedores porque condiciona à passividade”.

3ª reflexão: “ Temos necessidade de formar os empreendedores, pessoas


autônomas e criativas, que serão capazes de definir a partir do não – definido, é esta a
visão. (...) devemos formar a futura mão-de-obra para tornar-se mais inovadora. Assim, os
indivíduos e as organizações terão melhor desempenho.”

Portanto, observa-se que não se trata de introduzir matérias ou cursos novos nos
programas já existentes. A proposta se volta fundamentalmente para a maneira de ensinar. É
conduzir o educando a questionar mais e a relativizar os conteúdos, ao invés de fornecer
respostas prontas, incentivando o educando a se desembaraçar sozinho.
Quanto ao nível de ensino a que esta proposta possa se encaixar, somos de parecer
que seria conveniente tanto ao ensino médio quanto ao superior.
Entretanto FILLION (1991 a), afirma:

“Falar de educação empreendedora no secundário é falar do nível mais


determinante para desenvolver o potencial empreendedor dos jovens. É nele que o processo
de identificação e de aquisição de modos de aprendizagem própria tomarão forma.”

GIBB (apud CARAMÉS – 1995), apresenta em seu trabalho, uma comparação


entre abordagens de ensino convencional e empreendedora, o que pode ser visualizado no
quadro a seguir:

CONVENCIONAL EMPREENDEDOR
Ênfase no conteúdo que é visto como meta Ênfase no processo
Aprender a aprender
Conduzido e dominado pelo instrutor Propriedade do aprendizado pelo participante
O instrutor repassa o conhecimento O instrutor como facilitador e educando.
Participantes geram conhecimento.
Currículo e sessões fortemente programadas. Sessões flexíveis e voltadas para as necessidades.

1253
Diversos

Objetivos de ensino impostos Objetivos de ensino negociados.


Prioridade para o desempenho Prioridade para a auto - imagem geradora de
desempenho
Desenvolvimento de conjecturas e do pensamento Conjecturas e pensamento divergentes vistos
divergente como parte do processo criativo.
Ênfase no pensamento analítico e linear. Parte Envolvimento de todo o cérebro. Aumento da
esquerda do cérebro. racionalidade do cérebro esquerdo através de
estratégias holísticas , não lineares, intuitivas .
Ênfase na confluência e fusão dos dois processos.

Quadro 5A – Educação Convencional x Educação Empreendedora


Fonte : GIBB apud CARAMÉS (1995)

6. MÉTODOS E TÉCNICAS

FILLION (1991 a), frente às reflexões e estudos que realizou na área da educação
para empreendedores, propõe como metodologia de ensino, algumas posturas que,
resumidamente, são apresentadas no quadro a seguir.

ETAPAS PARA O ENSINO COMENTÁRIOS


EMPREENDEDOR
1 – Situar-se como docente - O docente deve se situar em relação ao
mundo do trabalho, procurando observar a
configuração de diversos tipos de
empreendimentos e empregos.
2 – Conhecer o mundo dos criadores e dos - Ler e acompanhar atividades dos
empreendedores empreendedores, convidando-os à sala de
aula para explicarem de que maneira a
matéria lecionada lhe foi e está sendo útil
em suas vidas.
3 – Eliminar a pressão em relação ao - Aqueles que obtêm as melhores notas não
conformismo são, necessariamente, aqueles que melhor
aprenderam a aprender, a bem identificar e a
definir o seu “saber – ser”. O papel do
professor deverá, de preferência, consistir
em respeitar, sustentar, reforçar as
características pessoais, os elementos de
diferenciação de cada um.
4 – Reforçar a autonomia e a liderança dos - o estudante tem necessidade de ser
estudantes reforçado no seu encaminhamento e de
desenvolver um modelo que lhe seja
próprio; o seu.
5 – Ilustrar o ensino com exemplos da vida - Fornecer aos estudantes tanto quanto
real. Cultivar a imaginação. possível, exemplos de criadores, de

1254
Educação Empreendedora na Área Tecnológica

empreendedores tirados da vida real.


No sistema educativo atual, dá-se ao
aluno muitos problemas de natureza
analítica para resolver. É necessário
promover um equilíbrio a esta questão,
dando-lhe mais exercícios de criatividade
para cultivar e desenvolver a imaginação.

6 – Levar o estudante a definir por si mesmo - Fornecer ao estudante trabalhos e


situações, problemas e visões. exercícios para que sejam levados a
efetuarem por si mesmos um
encaminhamento . É necessário habituá-los
a trabalhar sobre suas próprias idéias:
fornecer-lhes exercícios para ajudá-los na
estruturação de seus pensamentos, para
tornar realistas e realizáveis os seus sonhos.
7 – Habituar o estudante a identificar aquilo - Aprender a questionar para conceber,
que lhe interessa, motivá-lo a aprender. aprender a aprender, tornam-se aqui
elementos fundamentais no processo de
educação empreendedora, porque é
necessário que o aluno tome consciência
daquilo que lhe interessa.
8 – Ser aberto à realidade circundante. - Os empreendedores são pessoas que devem
ficar bem informadas sobre o que se passa ao
seu redor. Eles devem ser formados pelo
estudo da história, para compreender os
contextos e ai compreender o seu, mas
também para pensar em termos de cenários e
alternativas para o futuro.
9 – Gerar ocasiões para levar o estudante a - O empreendedor é uma pessoa prática que
agir. arma as ações concretas. Acontece que o
ensino permanece teórico e não chega a obter
esse tipo de espírito. Variando as estratégias
pedagógicas, permitindo aos estudantes
desempenharem um papel pró - ativo em
relação à sua própria aprendizagem, não
apenas o tira da passividade, mas cria-se
condições para que eles tomem consciência de
seus próprios meios, de seus talentos.
Desenvolve-se o reflexo de imaginar o que
seria feito e de fazê-lo em seguida.
10 – Tornar-se um docente empreendedor. - Mostrar iniciativa, sustentar as iniciativas.
Instrumentalizar-se dentro destas idéias e
tentar manter uma energia, um dinamismo
com o qual os alunos poderão identificar-se.
Quadro 6A – Metodologia para o ensino empreendedor
Fonte : adaptado de FILLION (1991 a)

1255
Diversos

Com esta proposta, FILLION (1991 a), conclui afirmando:

“Para nós, educadores, o cliente é o aluno. Para bem desempenharmos nosso


papel, devemos ter capacidade de adaptação às necessidades novas e diferentes”.
Este trabalho, pretende seguir como roteiro básico, a metodologia apresentada no
quadro 6A, empregando ainda métodos quantitativos de pesquisa para levantamento dos
resultados obtidos.

7. CONCLUSÕES

A proposta de se desenvolver um método de ensino tecnológico mais coerente com


o cenário econômico atual, é objeto de Projeto de Tese para Doutorado a ser, possivelmente,
desenvolvido pelo autor, através do Programa Cooperativo de Pós-Graduação em Engenharia
(área de concentração Educação), da Universidade Federal de Juiz de Fora e da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, cujos resultados poderão ser apresentados futuramente.

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARABBA, Vincent P. e ZALTMAN , Gerald, A Voz do Mercado – A Vantagem


Competitiva da Utilização Criativa das Informações do Mercado, TRAD. Barbara Theoto
Lambert, São Paulo, Makron Books, 1992, 314 p.

BARBIERI, Flávio Eitor , O Engenheiro no Contexto da Globalização , Manaus, in XXIV


COBENGE, 1996, pág. 269.

BULMAHN, Edelgard , Século XXI , Cologne, in Revista Deutschland, n.º 6, Dezembro


1999/ Janeiro 2000 , pág. 60.

CARAMÉS, Vera Rodrigues, O Ensino do Empreendedorismo nas Universidades – Um


Estudo de Caso : UFJF , Trabalho realizado na Faculdade de Economia e Administração
de Empresas da Universidade Federal de Juiz de Fora através de Bolsa de Iniciação
Científica do CNPq, Juiz de Fora , 1995, 55p.

CYRANKA, Lúcia F. de M. e SOUZA , Vânia P. de , Orientação para Normalização de


Trabalhos Acadêmicos, Juiz de Fora, Editora da Universidade Federal de Juiz de Fora,
1998, 82p.

FILION, Louis Jacques, A Educação Empreendedora – O Que Deveríamos Enfatizar : O


Meio ou a Mensagem ? , Caderno de Pesquisa do Grupo de Pesquisa em Economia e
Gestão das Pequenas e Médias Empresas – GREPME , do Departamento de
Administração e de Economia da Universidade de Quebec – Canadá , TRAD. Nely R. V.
Mendes, 1991a, mimeografado.

1256
Educação Empreendedora na Área Tecnológica

FILION, Louis Jacques, A Natureza dos Pequenos Negócios e Suas Implicações para as
Atividades Gerenciais, Departamento de Administração e de Economia da Universidade
de Quebec – Canadá , TRAD. Nely R. V. Mendes, 1991b, mimeografado.

FILION, Louis Jacques, Visões e Relações : Elementos para um Metamodelo Empreendedor,


in Revista de Administração de Empresas , RAE, ano 31, n.º 3, jul/set. 1991c, págs. 50 a
61.

FILION, Louis Jacques, Diferenças Entre Sistemas Gerenciais de Empreendedores e


Operadores de Pequenos Negócios, São Paulo, in Revista de Administração de Empresas
, RAE, ano 39, n.º 4, out/dez. 1999, págs. 6 a 20.

FRANCO, Simon, Farol Alto , São Paulo, in Revista Exame, n.º1, ano 34, 12 de janeiro de
2000, pág. 111.

GOHN, Maria da Glória, Educação Não – Formal e Cultura Política, São Paulo, Cortez
Editora, 1999, 120 p.

HOCHELEITNER, Ricardo Diez, Perspectivas para a Vereda da Esperança : Como


Viveremos Amanhã ? , Cologne, in Revista Deutschland, n.º 6, Dezembro 1999/ Janeiro
2000, pág. 13.
OLIVEIRA NETO, Humberto Chiaini, A Satisfação do Cliente – Um Enfoque
Mercadológico para Empresas de Construção Civil, Niterói, Dissertação de Mestrado em
Engenharia Civil – Área de Concentração : Produção Civil, Universidade Federal
Fluminense, 1998,225p.

PATI, Vera, O Empreendedor : Descoberta e Desenvolvimento do Potencial Empresarial ,


Brasília, in Criando Seu Próprio Negócio – Como Desenvolver o Potencial
Empreendedor – Edição SEBRAE, 1995, págs. 41 a 62.

PEREIRA, Heitor José, Motivos de Sucesso e de Fracasso Empresarial, Brasília, in Criando


Seu Próprio Negócio – Como Desenvolver o Potencial Empreendedor – Edição
SEBRAE, 1995, págs. 271 a 278.

POLES, Cristina, Como Eles Conseguiram , São Paulo, in Revista Veja, n.º 42, ano 32, 20 de
outubro de 1999, pág. 88.

SANTOS, Silvio Aparecido dos, A Ação Empreendedora em Uma Economia Globalizada e


Competitiva, Brasília, in Criando Seu Próprio Negócio – Como Desenvolver o Potencial
Empreendedor – Edição SEBRAE, 1995a, pág. 23.

TOFFLER, Alvin, A Terceira Onda – O Choque do Futuro, TRAD. João Távora, Rio de
Janeiro, Editora Record, 1997, 491p.

TOFFLER, Alvin e TOFFLER Heidi, Criando uma Nova Civilização – A Política da Terceira
Onda, TRAD. Alberto Lopes , Rio de Janeiro , Editora Record, 1996, 142p.

1257

Você também pode gostar