Resenha A Outra Questão Bhabha

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS


ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM LITERATURA
LINHA DE PESQUISA EM LITERATURA E RECEPÇÃO

DISCIPLINA: Estudos pós-coloniais, decoloniais e transmodernidade


DOCENTE: Prof. Dr. Tiago Silva
Discente: Luciana Novais Maciel (matrícula: 202011008305)

ATIVIDADE 6

São Cristóvão/SE
Outubro/ 2020
BHABHA, Homi. A outra questão. In: O local da cultura. Belo Horizonte: UFMG,
2019.

Esta resenha versa sobre o texto de Homi Bhabha (2001) quando, discutindo
o local da cultura ele apresenta a outra questão, discutindo o estereótipo, a
discriminação e o discurso do colonialismo. O estereótipo é definido a partir de uma
construção da fixidez, o que gera uma ambivalência nas relações de alteridade. Aqui
Bhabha traz a significativa dominação do poder do colonizador frente ao colonizado,
nos levando a perceber a possibilidade de transgressão dos limites do discurso
colonial para o rompimento das fronteiras da alteridade. “Para compreender a
produtividade do poder colonial é crucial construir o seu regime de verdade e não
submeter suas representações a um julgamento normatizante” (p. 106).

O sujeito do discurso colonial é construído a partir do crescimento de uma


política hierarquizada entre as diferenças raciais, sexuais, culturais. É no âmbito da
dominação e do poder que o discurso discriminatório e racista evolui. É possível
representar a alteridade neste campo de dominação cultural? As diferenças
construídas no discurso do sujeito são carregadas de transgressões, consideradas
impurezas e corrupções. “Identificar o ‘jogo’ na fronteira como pureza e mistura e vê-
lo como uma alegoria da Lei e do desejo reduz a articulação da diferença racial e
sexual ao que está perigosamente perto de se tornar um círculo, mais do que um
espiral, de diferença” (p. 109) A fronteira passa a ser um jogo do colonialismo sobre
os miscigenados e a mistura racial que está sendo contestada também passa neste
processo de representação artística, sendo o sujeito de gênero e classe na
construção da narrativa para uma sociedade burguesa ocidental.

“ A diferença de outras culturas se distingue do excesso de significação ou da


trajetória do desejo. Estas são estratégias teóricas que são necessárias para
combater o ‘etnocentrismo’, mas não podem, por si mesmas, sem serem
reconstruídas, representar aquela alteridade”. (p. 110) A trajetória da interpretação e
formulação dos discursos artísticos, narrativos, literários estão imbuídos de
representar uma determinada alteridade, traz a dimensão do desejo pela alteridade,
pela diferença.

O discurso colonial está permeado por um jogo de poder que implica seus
sujeitos, produzindo uma realidade social do colonizado, que também é o “outro”.
Observa-se que a articulação dos discursos de poder como estão na visão de Said,
provocando efeitos políticos: “O fechamento e coerência atribuídos ao pólo
inconsciente do discurso colonial e à noção não problematizada do sujeito
restringem a eficácia tanto do poder como do saber” (p. 114) Nessas relações
discursivas de poder e saber chega-se a conclusão de que é inviável ter o poder
sem o saber, gerando indicadores de alienação.

Bhabha apresenta ainda a dimensão das configurações no sentido do saber a


partir da força do discurso colonial, intervindo nas singularidades de diferença dos
sujeitos, em diálogo com Foucault quando traz a dimensão de “aparato discursivo,
como estratégias de relações de forças que apóiam e se apoiam em tipos de saber”
(p. 115)

A dimensão de fetiche tratada por Bhabha está relacionada ao prazer, ao


desejo pela origem racial e de gênero do sujeito, que deve ser pura, ou seja, a raça,
a cultura, a pele devem ser originais, sem rupturas. Esse estereótipo pode ser
ameaçador quando se rompe a pureza e se apresentam as diferenças,
principalmente do colonizador. Bhabha dialoga com Fanon trazendo a discussão de
que o negro não consegue ser dissociado da ideia estereotipada da negação: Ser
negro é estar sempre relacionado ao mal, ao negativo, como nas histórias infantis
onde o branco é o herói e o negro o demônio (p. 118). É o discurso racista e
dominador que está estruturado pelo processo de colonização, de organização dos
significados ora da cor da pele, ora da cultura, das subjetividades em que o negro é
“ao mesmo tempo selvagem (canibal) e ainda o mais obediente e digno dos servos
(o que serve a comida); ele é a encarnação da sexualidade desenfreada e, todavia,
inocente como uma criança; ele é místico, primitivo, simplório e, todavia, o mais
escolado e acabado dos mentirosos e manipulador de forças sociais”. (p. 126) É
essa ideia estereotipada do negro que deve ser combatida, para que assim ele seja
de fato livre.

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