Anais 2020
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2020
ANAIS ELETRÔNICOS
IX SEMANA DE LETRAS DA FACULDADE PIO DÉCIMO
Ficha Catalográfica
DIRETOR GERAL
VICE DIRETOR
VICE DIRETORA
DIRETORA ACADÊMICA
APRESENTAÇÃO 7
SUMÁRIO 8
MESA REDONDA......................................................................................................................................................11
RESUMOS.................................................................................................................................................40
ABERTURA OFICIAL
27 de Outubro de 2020
Play Brigade.
10
28 de Outubro de 2020
Escritor, em 2012, publicou seu primeiro romance ("Um Detalhe em H" - Ed. Grupo
("A Modernidade em Diálogo: o fluir das artes em Água Viva" - Ed. Universitária); em
2014, publicou mais uma obra de ficção ("23 de Novembro" - Ed. Grupo Paés).
Criação Literária.
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MESA REDONDA
O presente trabalho tem como meta analisar o personagem Antônio Conselheiro por meio de traços
psicológicos presentes na obra Os Sertões, de Euclides da Cunha. Destacaremos como Conselheiro é
descrito em quase toda obra como figura emblemática, doutrinadora e cheia de misticismo diante de uma
população esquecida e à margem de tudo. Ademais será enfatizada a motivação daquela comunidade no
interior da Bahia para seguir o profeta, mediante a investigação sobre o que acontecera no Brasil naquela
época que desencadeou toda uma pesquisa em volta de Antônio Conselheiro. O aporte teórico utilizado
para a elaboração deste artigo consiste basicamente nas teorias de Germano Machado (2014), Oleone
Coelho Fontes (2011) e José Calasans Brandão da Silva (2015).
1
Graduanda do Curso de Letras Português/Espanhol da Faculdade Pio Décimo (FPD), aluna pesquisadora do Projeto
de Iniciação Científica (PIC) através do Núcleo de Estudos em Literatura do curso de Letras (NELL), Linha de
Pesquisa: Literatura, Regionalismo, Memória e Ensino, orientado pela professora Mestra Tatiana Silva.
E-mail: [email protected]
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Especialista em Letras, Linguística e Literatura; Mestra em Literatura e Cultura; e, doutoranda pela mesma área.
Além de cátedra em Literatura na Faculdade Pio Décimo (FPD), tem como linhas de pesquisa a prosa machadiana e
a poética intertextual entre o medievo e o sertão em Elomar Figueira Mello pelas trilhas da memória e das metáforas
da saudade. Outrossim, faz parte do Projeto de Iniciação Científica (PIC) através do Núcleo de Estudos em Literatura
do curso de Letras (NELL), Linha de Pesquisa: Literatura, Regionalismo, Memória e Ensino.
E-mail: [email protected]
1. INTRODUÇÃO
Desta maneira, surgiu a obra Pré-modernista, Os Sertões, no ano de 1902, escrita por
Euclides da Cunha, testemunha ocular do conflito, um jornalista enviado como correspondente ao
sertão da Bahia, pelo jornal O estado de São Paulo, para cobrir a guerra no município de Canudos.
O registro tornou-se uma epopeia da vida sertaneja de extrema importância para o cenário
brasileiro que narrou os acontecimentos de um dos maiores conflitos que já se sucedeu no interior
da Bahia, um dos combates mais sangrentos da história brasileira.
ANAIS DA IX SEMANA DE LETRAS DA FACULDADE PIO DÉCIMO/2020 ISSN: 2359-1250
Disponível em: https://faculdade.piodecimo.com.br/curso/1120/44529/anais-semana-de-letras
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O relato feito em prosa cientifica a vida dos sertanejos, as situações de miséria que aquela
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comunidade viveu e a opressão que as elites brasileiras fizeram à sociedade por eles marginalizada.
Um crime sem preceitos que mediou as piores crueldades para com uma população indefesa e um
retrogrado assassinato a uma comunidade acabou por ficar em ênfase no enredo, e, segundo Cunha,
(2005, p.19) “aquela campanha lembra um refluxo para o passado. E foi, na significação integral
da palavra, um crime. Denunciemo-lo. (2005, p.19)
Outrossim, temos a história de várias pessoas descriminadas que foram vistas como
antagonistas, como selvagens, desordeiras e inimigas do novo regime político quando, na verdade,
foram vítimas de um massacre cruel da nova república a um povo esquecido pelo governo vigente,
assim como podemos constatar, segundo Machado (2014.p.72) “Esquecidos o tabaréu, o
candongo, o sertanejo, tornando párias de um país imenso, o encontro entre os dois Brasis é feito
através de um militarismo a soldo de um presidencialismo político de fachada, a viverem parasitas
à beira-mar.” A Nova República trouxe consigo a consolidação da divisão do país, um Brasil que
se tornou dois, separado entre ricos e pobres. A segunda classe, formada pela comunidade sertaneja
excluída do convívio social, como uma casta baixa, impura e à margem daquele presidencialismo
que governava apenas para os interesses da classe alta.
Por outro lado, com a chegada da Nova República foram desencadeados vários problemas,
nada mudou em relação às formas de controle social para a pirâmide econômica e para a divisão
de classes, que ainda continuavam com as mesmas estruturas. Não aconteceu mudança alguma em
relação à classe pobre, ela ainda permanecia no mesmo lugar de subsistência, apenas vivendo para
adquirir o sustento familiar, mesmo assim, de forma precária. Com o início da política, o poder
ainda perdurava nas mãos dos mais poderosos e a parcela pobre da população continuava a ser
esquecida, assim, o número de “abandonados” por um sistema, agora governamental, recém
implantado, aumentava.
A população que se abrigou na cidade de Canudos era um povo carente, imerso pela
opressão e que emergia pelas difíceis condições socioeconômicas em que viviam, uma sociedade
mestiça que surgiu da prole da escravidão, segundo Cunha (2005, p.103) “teoricamente ele seria o
pardo, para que se convergem os cruzamentos sucessivos do mulato, do curiboca e do cafuz” e
assim se fez aquela população que, através de Antônio Conselheiro, erguera uma cidade que
abrigou todo o extrato dos grupos marginalizados por um país de elites que não tinha lugar para
aquela população de abandonados e ex-escravos.
Após 10 anos, surgiu o peregrino Antônio Conselheiro que trazia esperança, conselhos e
fé por onde passava, segundo Fontes (2011.p.125) “sendo casado e não tendo condições de viver
em harmonia com a esposa, optara por seguir vida de martírio, cujo único fim era aconselhar o
povo”. Assim, ele tornou-se um líder religioso que foi base fundamental para que a cidade de
Canudos se erguesse. Cheio de mistério, fonte de curiosidade e sinônimo de doutrinação; tornou-
se uma figura emblemática que surgiu no sertão da Bahia com o intuito de “colher” fieis para os
seus propósitos religiosos de criar um lugar descrito como terra prometida.
Dessa forma, em meio a um sertão desumano, ele se tornou líder em todos os lugares onde
passou, movendo multidões e seguidores, construindo um emblema, sendo fonte de esperança e
de sabedoria, ficando cada vez mais conhecido e procurado pela grande parcela pobre da população
da Bahia, segundo Silva (2015, p.74) “O santo Antônio dos mares fanatizara a gente interiorana
disposta a defendê-lo de qualquer maneira, acompanhando-o em “tropel e número fabuloso para
qualquer lugar”. Assim Antônio Vicente torna-se o Antônio Conselheiro, descrito por Cunha
como:
[...] E surgia na Bahia o anacoreta sombrio, cabelos crescidos até aos ombros,
barba inculta e longa; face escaveira; olhar fulgurante; monstruoso, dentro de um
hábito azul de brim americano; abordoada ao clássico bastão em que se apóia o
passo tardo dos peregrinos... conclui que Antônio Maciel, ainda moço, já
impressionava vivamente a imaginação dos sertanejos. Aparecia por aqueles
lugares sem destino fixo, errante. Nada referia sobre o passado. Praticava em
frases breves e raros monossílabos. Andava sem rumo certo, de um pouso para
outro, indiferente à vida e aos perigos, alimentando-se mal e ocasionalmente,
dormindo ao relento à beira dos caminhos, numa penitência demorada e rude...
(CUNHA 2015, p.194 -195)
4. O MISTICISMO DO CONSELHEIRO
Mediante a vida passada que escondia e, diante de como sua personalidade foi se formando
no seio daquela comunidade, Conselheiro passou a ter um ar místico. Tornou-se uma pessoa
singular com mistérios plurais e chamava a atenção por diversos acontecimentos em sua trajetória.
Antônio Conselheiro reunia as superstições que formavam e baseavam as crenças daqueles
sertanejos na figura complexa que levava uma vida de renúncias e vivia do lhe ofereciam.
Seja pela influência que tinha sobre aquele povo ou por todas as coisas que os sertanejos
espalhavam sobre ele, Conselheiro era uma personalidade que despertava crenças para aqueles
peregrinos desacreditados em tudo o que viveram até então. Ele havia transformando-se em um
santo milagroso que exercia o seu poder para ajudar aquelas pessoas necessitadas de Canudos e,
segundo Silva, (2005, p.76) “a presença do Conselheiro transformou a vida sertaneja em uma
perene missão”, afinal, aquelas pessoas sempre seguiam o Conselheiro e enxergavam nele a
salvação por meio de milagres.
A fama do Conselheiro foi se espalhando devido a suas caminhadas pelo interior da Bahia
e ao se estabelecer em Monte Santo, muitos peregrinos o procuravam em busca da salvação e do
caminho celestial. Apesar de o profeta não se declarar provido de tais habilidades, ele era uma
figura santa para as pessoas que o seguiam mas, como já dissemos, não se declarava como um.
Aliás, segundo Silva, (2015.p. 48) ele apenas “era santo para o mundão dos seus fanáticos
acompanhantes” e histórias sobre seus atos “santos” povoavam o sertão enquanto conselheiro
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continuou a tomar o lugar de líder religioso e muitos o viam como apóstolo até mesmo por suas
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vestes, enquanto Antônio Conselheiro declarava-se apenas como um peregrino, como podemos
observar em:
Ele ficava cada vez mais conhecido por muitos episódios intrigantes e lendas que se
formavam a seu redor. Talvez por ter vivido em um ambiente onde predominasse o catolicismo, a
existência de mitos seria mais um enígma. O intermédio de milagres e grandes feitos pelo famoso
profeta era algo imaginável, pois com o surgimento de um homem classificado como Santo,
também surgiram histórias misteriosas e intrigantes. De acordo com Cunha (2005, p.208) “O
conselheiro continuou sem tropeços na missão pervertedora avultando na imaginação popular”.
Havia uma diversidade de histórias sobre o profeta desde curas a enfermos que estavam à beira da
morte até mandos incomuns e inacreditáveis que o mesmo fazia em Monte Santo, todas as lendas
contadas sempre se assemelhando a figuras Santas ou a mitos que se espalhavam pela superstição
popular, conforme podemos observar:
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
23
A RELAÇÃO SOCIAL, FÍSICA E AMOROSA DESENCADEADA PELA SECA EM A
BAGACEIRA
RESUMO
O presente trabalho tem como proposta a análise crítica do romance A Bagaceira, escrito por José Américo
de Almeida. A referida obra trata de mazelas, problemáticas sociais verídicas e expostas em suas linhas
prosaicas, devido a isso, iremos adentrar na verossimilhança do enredo. Como um romance regionalista
sertanejo modernista, a obra terá como foco a paisagem das regiões sertanejas e os locais extremamente
desolados pelos fatores geográficos, ocasionando em uma terra quente e seca, consequentemente, fatores
dos grandes períodos de estiagens, pobreza e um alto sofrimento populacional, focos também desta
pesquisa. Ademais, no meio de toda a contextualização crítica e realista, destacar-se-á um conflito amoroso
marcado por desejos, senso de superioridade e violência, a salientar nas personagens Dagoberto, Lúcio,
Pirunga e Soledade. Logo, para uma melhor ênfase na proposta trabalhada, além do romance em análise,
teremos o olhar crítico dos teóricos Araújo (2008), Bosi (1970) e Coutinho (2014) como as principais
referências para solidificar a pesquisa.
RESUMEN
El presente trabajo tiene como propuesta um examen crítico literário de la novela A Bagaceira, escrito por
José Américo de Almeida. La dicha obra trata de moretones sociales veraces y expuestas em sus líneas
prosaicas, debido a eso, iremos adentrar en la verosimilitud de la trama. Como una novela regionalista
sertanejo modernista, la pieza tiene como foco paisajista las regiones sertanejas y los locales
extremadamente afligidos por los factores geográficos, ocasionando em una tierra quiente e sequía, por
conseguiente, factores de los grandes períodos de sequias, pobreza y un alto sufrimiento poblacional,
enfoque también de esta investigacíon. Además, en lo médio de toda la contextualización crítica y realista,
destaca un conflito amoroso marcado por deseos, sentido de superioridade y violência, la subrayar en las
personajes Dagoberto, Lúcio, Pirunga y Soledade. Luego, para una mejor énfasis en la propuesta trabajada,
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Graduando do Curso de Letras Português/Espanhol da Faculdade Pio Décimo (FDP), aluno pesquisador do Projeto
de Iniciação Científica (PIC) através do Núcleo de Estudos em Literatura do curso de Letras (NELL), Linha de
Pesquisa: Literatura, Regionalismo, Memória e Ensino, orientado pela professora Mestra Tatiana Silva.
E-mail: [email protected]
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Especialista em Letras, Linguística e Literatura; Mestra em Literatura e Cultura; e, doutoranda pela mesma área.
Além de cátedra em Literatura na Faculdade Pio Décimo (FPD), tem como linhas de pesquisa a prosa machadiana e
a poética intertextual entre o medievo e o sertão em Elomar Figueira Mello pelas trilhas da memória e das metáforas
da saudade. Outrossim, faz parte do Projeto de Iniciação Científica (PIC) através do Núcleo de Estudos em Literatura
do curso de Letras (NELL), Linha de Pesquisa: Literatura, Regionalismo, Memória e Ensino.
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además de la novela en análisis, tenemos el mirar crítico de los teóricos Araújo (2008), Bosi (1970) y
Coutinho (2014) como las principales referencias para solidificar la investigación. 24
1. INTRODUÇÃO
Por meio da análise do livro A Bagaceira, do autor José Américo de Almeida, tem-se como
intuito descrever as temáticas desenvolvidas no romance. Não obstante, necessitará não só de um
entendimento contextual e interpretativo, mas da compreensão às atenuantes literárias que levam
o romance a ter uma determinada construção.
Ademais, em conformidade ao Modernismo regionalista, tem-se como foco descrever os
problemas existentes no sertão nordestino brasileiro – advindos da seca – e detectar como a mesma
afeta o sertanejo, levando em consideração o elo social, e, por fim, a partir desse emaranhado
social, serão apresentadas as questões amorosas existentes na obra, pois a mesma ocorre e se
desenvolve em um ambiente caótico, pobre, autoritário e, principalmente, em uma realidade social
antagônica entre as personagens marcadas pelo senso de superioridade, obsessão e violência.
No mais, na fala de Coutinho (2014, p. 20), uma obra literária deve conter “[...] a experiência
humana que ela transmite, [...] o sentimento, [...] a visão da realidade, tudo aquilo de que a
literatura não é mais do que a transfiguração, mercê de artifícios artísticos”, ou seja, o romance em
questão, a partir do que foi dito por Coutinho, justifica o presente trabalho, pois, em outra
colocação, os recortes posteriormente analisados possuem descrições e características da realidade,
uma vez que a obra destaca as problemáticas existentes nas regiões do Nordeste.
É pertinente mencionar que todo trabalho necessita de uma metodologia que caracterize a
forma como a pesquisa será desenvolvida e, por se tratar de uma análise literária, este trabalho terá
como base uma revisão bibliográfica e, consequentemente, livros e/ou artigos que complementem
e solidifiquem os argumentos utilizados. Por conseguinte, como dito anteriormente por Coutinho,
trabalhos que forneçam respostas a partir das questões sociais desenvolvidas no romance de José
Américo: o povo sertanejo, a região sertaneja, a relação amorosa e as problemáticas envoltas a
essas premissas.
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À vista disso, o presente trabalho tem como proposta compreender certas características da
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realidade nordestina desenvolvidas no romance de José Américo de Almeida à luz da união entre
literatura e regionalismo, com o interno conceber alguns elementos do enredo, a citar: a terra, o
povo e o caos romântico operado por obsessões e desejos masculinos.
Dessarte, uma literatura que desenvolve a realidade local do povo ocasionada pelo lugar e
não uma ficção romântica que se preocupa, principalmente, com banalidades e chavões
romanescos. Devemos evidenciar que, nos escritos de José Américo, há a proposta de criticar e
descontruir as estereotipias românticas, uma vez que a precária existência do povo nordestino pode
mudar o curso do amor, ou melhor, diante de todas as mazelas, até mesmo os afetos podem ficar
áridos ou se extinguirem completamente.
Isso posto, a obra estudada tem como foco os fatores predominantes da seca e como a
mesma interfere e prejudica o povo sertanejo; logo, caracteriza-se como literatura regionalista por
discorrer sobre as particularidades paisagistas e sociais da população que ali reside. Não obstante,
a obra também evidencia os conflitos psicológicos entre as personagens a partir da desenvoltura
de uma relação avessa ao romantismo em um ambiente caótico e cruel. O fato de ser exposto “[...]
uma direção formal (realista) e um veio temático: a vida nos engenhos, a seca, o retirante, o
jagunço” (BOSI, 1970, p. 422), compreendemos que há exemplos de características regionalistas
na obra, pois são demonstrações da realidade sertaneja.
Retomando o regionalismo romântico em um panorama comparativo com o regionalismo
modernista, em questões paisagistas, também divergem em suas colocações. Na fala de Araújo
(2008, p. 122), “a tarefa romântica incluía, nos temas considerados nacionais, a celebração da
natureza e o interesse por costumes e regiões [...]”, ademais:
A paisagem regional romântica era apenas uma extensão de suas propostas literárias, que
seriam a angústia, o desespero e o sofrimento, como acentua Bosi (1970) em sua crítica. Sendo
assim, o regionalismo Romântico não possui fidelidade com as características do local utilizado
no desenvolvimento dos seus escritos, os escritores apenas faziam uso das paisagens na iniciação
de seus exageros amorosos. Os modernistas de 30, no entanto, mudaram totalmente essas
concepções e a paisagem era descrita como extensão dos problemas sociais apresentados no
Nordeste, como bem nos lembra Bosi:
O olhar de Bosi é justificado por todo o enredo de José Américo, pois o livro possui uma
narrativa fiel, tanto da geografia quanto da representação humana do povo sertanejo. Há, a todo
momento, falas extremamente coloquiais e com um dialeto incompreensível para aqueles que não
conhecem a cultura e o povo sertanejo, como demonstrado no seguinte trecho:
As longas caminhadas faziam com que os retirantes sofressem inúmeras humilhações, pois
“ninguém pergunta ao retirante donde vem nem para onde vai. É um homem que foge do seu
destino. Corre do fogo para a lama” (ALMEIDA, 2017, p. 107), além disso, o “[...] sertanejo não
sabe chorar. É o que tocar à sorte [...]” (ALMEIDA, 2017, p. 108), sendo assim, tendo como um
aparente sinônimo de firmeza agreste, o homem não poderia se lastimar de fome, penúria, êxodo
Não se passava um dia que Lúcio não encontrasse Soledade; mas, pensando
nela, forcejava, debalde, reconstituir-lhe o tipo ou, pelo menos, as feições
mais bizarras. Acontece isso. A saudade é um pouco dessa incerteza da
separação. (ALMEIDA, 2017, p. 139).
A retirante Soledade, pelo contrário, é uma personagem mais ousada que Lúcio. “Era uma
cigarrinha maliciosa, dessas chamadas do verão, que os convocava para o idílio” (ALMEIDA,
2017, p. 158), ademais, “[...] embevecia a beleza espontânea da paisagem, participava de seu toque
de humanidade, de sua representação sentimental. Fruía o alvoroço de um quadro imprevisto nas
perspectivas vulgares, de uma brasilidade imutável [...]” (ALMEIDA, 2017, p. 158), por isso
Almeida a pormenoriza com os encantos que todos vislumbram.
Por último tem-se Pirunga, retirante obsessivo e ciumento que, incomodado com a
aproximação entre Lúcio e Soledade, sorrateiramente, atentava-se aos encontros dos dois, buscava
saber o que eles faziam e os vigiava por ordem do pai da moça. Pirunga foi criado por Valentim,
pai de Soledade, que o adotou e cuidou como se fosse seu próprio filho. Com isso, sempre houve
uma aproximação entre Soledade e Pirunga, despertando desejos amorosos pela moça.
Contudo, Pirunga nunca ousou, direta ou descaradamente, algo com Soledade, pois conhecia
Valentim e sabia as consequências para quem ousasse algo com a sua preciosa filha, no entanto,
sabendo da possessividade do pai, utilizou-se dessa característica para controlar as ações em torno
– Ainda estou por ver uma moça mais foguete!... Solta de corda e canga e o branco
sem respeito na batida dela...
– Mais hoje, mais amanhã, esse negócio acaba em choro de menino...
– Minha negra, não é por falar, mas já caiu na boca do mundo. Não vale mais um
dez-réis-de-mel-coado...
– Eu estou é aquela bichota pensar que aquilo não passa de paleio, que moço
branco é pro bico dela... (ALMEIDA, 2017, p. 162).
Quem via de perto a relação, comentava que a jovem Soledade apenas interessava-se pelo
dinheiro e pela boa vida que teria, caso pudesse ter uma relação matrimonial com Lúcio, por
conseguinte, viam-na como aproveitadora, pois se esgueirava até Lúcio não por amor, mas por
oportunismo financeiro e com o intuito de melhorar de vida.
O pai de Lúcio, senhor de engenho, não aprovava a relação do filho com a moça, afirmava
que ela era apenas uma retirante e não alguém da mesma estirpe, entretanto, Lúcio não desistia.
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Louco de amor, insistia em uma relação matrimonial com Soledade. Na discussão, Lúcio
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perguntou ao seu pai, logo após ele ter dito que Soledade é só uma retirante: “– Por ser retirante,
não. O senhor não casou com minha mãe?” (ALMEIDA, 2017, p. 219).
Neste momento, José Américo descreve brilhantemente todo esse caos aparentemente
romântico, revelando que o triângulo não era entre Lúcio, Soledade e Pirunga, mas entre os dois
primeiros e Dagoberto – este, senhor de engenho e pai de Lúcio. Então é explicado o verdadeiro
motivo da recusa de Dagoberto. “[...] não, meu filho, ela não pode ser tua esposa porque... Eu
profanei a memória de tua mãe, mas foi tua mãe que amei nela...” (ALMEIDA, 2017, p. 220).
Foi dito que a mãe de Lúcio possuía semelhanças com Soledade e se explica tal similitude
por ambas pertencerem à mesma família; portanto, é revelado que os dois jovens são primos. Da
mesma forma que Lúcio se aproximou por essas mesmas semelhanças, Dagoberto, ao vê-la,
também se sentiu atraído, gerando internamente uma obsessão pela moça.
Desse modo, pai e filho são obcecados pela mesma mulher, mas o primeiro era detentor do
poder e dono da fazenda onde agora Soledade vivia; por isso, ela acabou sendo submetida aos
assédios e aos autoritarismos de Dagoberto, inclusive ao aceitar ter relações sexuais com ele. Mais
que isso, compulsões e tiranias se sobrepuseram à saudade pela esposa morta e se tornaram
centelhas para que ele deixasse os retirantes em suas terras, mas os constrangesse moral e
psicologicamente com tratamentos desumanos e despóticos.
Soledade, inferiorizada enquanto retirante e mulher, teria que ser submissa aos desejos de
Dagoberto. Confissão que ele mesmo revelou ao filho, embora justifique tudo pela ótica das
lembranças com a finada resgatadas pela aparência entre ela e a jovem retirante. Ao ouvir as
confissões do pai, totalmente desnorteado, Lúcio não mais quis Soledade e diz: “– Eu matei,
nascendo, minha mãe. Foi por minha causa que o senhor perdeu sua mulher; agora, não seja
também por mim que perca sua amante. Não diga mais que nem bonita é... É bonita e é sua”
(ALMEIDA, 2017, p. 221) e, depois disso, foi embora de casa, com laços cortados com o seu pai.
Vale ressaltar que essa desavença foi apenas o estopim para algo ainda maior.
Logo após a discussão, todos descobriram a relação de Dagoberto e Soledade, inclusive
Pirunga. Ademais, no desenlace da narrativa, há alguns recortes que merecem relevo. A priori, era
apenas referenciado como o rapaz que amava Soledade e vivia sempre perseguindo-a, movido pela
obsessão. A posteriori, tem-se uma personagem extremamente humilhada e cercada de ódio, já
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que sua amada teve relações sexuais com outro homem, seu patrão. O funcionário tinha que
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obedecer às ordens de Dagoberto e ocultar todo seu rancor e sua vontade de vingança, servindo-o
sempre, mas, internamente, desejava matá-lo. Dagoberto teve um final cruel, mas não pelas mãos
de Pirunga ou de seu filho. Ele foi morto enquanto estava em sua montaria cuidando do gado e
“quando trouxeram o morto, bifurcado na sela, com as pernas atadas por baixo, os braços
pendentes quase com as mãos por terra, bamboleando, a cabeça espedaçada lambendo as crinas
assanhadas [...]” (ALMEIDA, 2017, p. 236), infere-se que o cavalo perdeu o controle, ocasionando
uma dolorosa morte ao senhor de engenho.
Soledade, logo após a morte de Dagoberto, fez uma visita noturna a Pirunga e ele pensou
que a bela moça surgira para entregar-se, contudo, ela foi questioná-lo sobre a morte de Dagoberto,
sacando uma arma para matá-lo. Pirunga reagiu rapidamente, conseguiu desarmá-la e “[...]
aplicou-lhe os dedos férreos numa hercúlea constrição” (ALMEIDA, 2017, p. 239), enforcou-a
com as próprias mãos, continuou asfixiando-a e “[...] arremessou-a contra a parede” (ALMEIDA,
2017, p. 240), depois de vê-la ao chão, imóvel, ficou sem reação e desatou a correr, ou seja, da
alusão ao grande Hércules – herói da mitologia grega que estrangulou, ainda bebê, serpentes
enviadas pela deusa Hera – sobrou apenas os dedos fortes transpostos de um heroísmo mitológico
à rudeza de um caboclo seco e descontrolado que há instantes usou a força para silenciar uma
mulher e, em seu próximo ato de covardia, o que lhe restou foi debandar-se do local.
Aliás, a morte de Dagoberto foi um imprevisto nos planos da jovem e bela Soledade, que
achava que ele seria a melhor forma para ela sair da miséria. Sabia que Dagoberto possuía desejos
carnais por ela e se utilizava dessa obsessão sexual dele para conseguir uma vida de regalias, pois
tinha como objetivo trilhar sua vida longe do nomadismo, por isso desejava seduzi-lo e ter posse
das riquezas dele. Logo, conhecendo Pirunga e sua obsessão, concluiu que o mesmo orquestrou a
morte do senhor de engenho, atrapalhando a concretização de seus intentos.
Em uma nova fase do enredo e da fazenda, Lúcio volta à propriedade como Doutor e herdeiro
legítimo de Dagoberto. Retorna casado, feliz e comprometido a assumir as obrigações no engenho,
todavia, tendo uma filosofia oposta ao do pai com os retirantes. Em suas palavras: “[...] eu vos dei
uma consciência e um braço forte para que pudésseis ser livres” (ALMEIDA, 2017, p. 254). Apesar
de o novo fazendeiro pregar uma aparente “alforria” aos trabalhadores, Pirunga, como antigo
vassalo de seu pai, também lá se encontrava. No meio de um grupo que acabara de chegar, vinham
ANAIS DA IX SEMANA DE LETRAS DA FACULDADE PIO DÉCIMO/2020 ISSN: 2359-1250
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27 A 29 DE OUTUBRO DE 2020 ISSN: 2359-1250
Soledade e uma criança, fruto de sua relação com Dagoberto. Lá também continuou Pirunga, que
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se assustou ao ver a antiga paixão, pois acreditava que havia a matado.
Como um áspero ciclo determinista e reiterado, o filho do “sinhô” se torna o novo fazendeiro
e a parte mais fraca da pirâmide permanecerá em seu antigo posto, mas agora com a face e a alma
mais ressequidas pela vida difícil. O tempo, por exemplo, ocorreu em total disparidade entre Lúcio
e Soledade, uma vez que enquanto ele volta rejuvenescido aos olhos do povo pelo diploma
universitário e do casório, ela se tornara a mulher solitária já sugerido pelo significado de seu
nome. A diferença é tanta, que Lúcio não a reconhece de imediato, pois “Soledade representava
todos os gravames da seca. Não conservara, sequer, aquele acento de beleza murcha da primeira
aparição romântica” (ALMEIDA, 2017, p. 253).
Consequentemente, não possuía a beleza estonteante que encantava a todos que a viam. Foi
dominada pela força devastadora que é a seca. Nas palavras do narrador (2017, p. 252), “[...]
reproduzia os quadros lastimosos da seca”, por conseguinte, “[...] olheiras funéreas alastravam-se
como a máscara violácea de todo o rosto. Encrespava-se a pele enegrecida nas longas ossaturas. E
trazia as faces tão encovadas que parecia ter três bocas” (ALMEIDA, 2017, p. 253). Apesar de
tudo, o novo fazendeiro compadeceu-se de Soledade, pois, em sua ideologia humanitária, defendia
a necessidade de ajudar os retirantes pelo alto sofrimento que possuíam e, além disso, ela era mãe
de seu irmão.
Portanto, todas as personagens descritas nesse “caos amoroso” possuem obsessões, e essa
característica extermina o conceito de amor e suas performances, pois, no fundo, utilizam o
romantismo para mascarar suas verdadeiras intenções, contribuindo na adição de mais uma
disforia social nas terras sertanejas.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após todas as discussões apuradas e analisadas do romance A Bagaceira – tendo como foco
de pesquisa as mazelas geográficas, o modo como elas prejudicam o povo que reside no sertão e
o amor caótico envolto às questões sociais – tem-se como conclusão a conjuntura agreste
amalgamada à vida difícil dos sertanejos, como se revelou pelo enredo verossímil.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, José Américo. A Bagaceira. Rio de Janeiro: José Olympio. 2017.
CAMPOS, José Nilson B.; STUDART, TM de C. Secas no Nordeste do Brasil: origens, causas
e soluções. IV Diálogo Interamericano de Gerenciamento de Águas. Foz do Iguaçu: ABRH.
2001.
GONZAGA, Sergius. Manual de literatura brasileira. Porto Alegre: Mercado de Letras. 1996.
HAIDUKE, Alessandro Andrade et al. Chăo partido: conceitos de espaços nos romances O
quinze de Rachel Queiroz e A bagaceira de José Américo de Almeida. Curitiba: UFPR. 2008.
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RESUMOS
RESUMO
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A REPRESENTAÇÃO DE HEROÍNAS NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS E A
INFLUÊNCIA NO GÊNERO POR VIA DO DISCURSO
Ao longo tempo, vários cartunistas lançaram suas histórias, mas a que ganhou destaque como a
primeira revista em quadrinhos moderna, foi “The Yelow Kid” que ganhou destaque por conter
textos dentro dos quadrinhos.
No traçar da sua existência os quadrinhos ganharam cada vez mais espaço, sendo o gênero de
super-heróis criado por Shuster e Jerry Siegel na década de 30, com a publicação do Superman.
A história chamava a atenção dos leitores por falar de um Kryptoniano que tinha superpoderes e
lutava contra o mal. Os jovens daquela época se identificaram com o super-herói e a história foi
fazendo cada vez mais sucesso. No ano de 1941 o psicólogo e professor William Marston, que era
um grande defensor dos direitos das mulheres, resolveu criar uma personagem para que
representasse as mulheres em um universo que, apesar de novo, já era dominado pelo gênero
masculino, e deu vida à Mulher Maravilha. No seu ideário, ele pensava em uma personagem que
não ficasse às costas de um super-herói diante das lutas, mas que lutasse de maneira igualmente,
ou, até mesmo, que tivesse poderes suficientes para lutar sozinha, como bem aponta Andrade
(2012) ao dizer que:.
No caminho da sua existência ficcional a Mulher Maravilha tornou-se um ícone e símbolo do poder
feminino, pois sempre teve o poder de fazer os homens se renderem aos seus atributos de super-
herói. Passado o tempo, a história foi muito criticada pois o pensamento de Marston, seu criador,
era muito à frente da época em que vivia, ou seja, a mulher não poderia ter mais poderes que o
homem.
As críticas fizeram com que a personagem saísse de cena por um tempo, e teve como pressuposto
ao seu retorno a obrigatoriedade de voltasse às revistas sem os superpoderes. Esse fator deixa clara
a forma como até mesmo em uma história ficcional a voz e as ações da mulher, desde há muito
tempo, são relegadas a um segundo plano ou à sombra do gênero oposto, em tentativas de calar
vozes e atos.
Quando se falava em uma mulher forte, que lutava contra gigantes, imaginavam, de imediato, uma
mulher masculinizada, distante do biótipo e comportamento feminino, e, assim, se seguiu com
vários estereótipos diante de cada aparição dessa personagem.
Nesse breve relato, em fomento ao cenário de lutas e conquistas ainda distantes do intencionado,
posto que o feminino ainda é posto a segundo plano em segmentos sociais de toda monta, a
valorização e o trato desmedido são, na maioria dos casos, objeto de contendas e discussões, a
personagem Mulher Maravilha surge e é considerada como símbolo do feminismo, pois muitas
mulheres, desde o surgimento dessa heroína, conseguem se identificar e espelhar-se na sua garra,
força e coragem diante das situações cotidianas.
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O DISCURSO PRECONCEITUOSAMENTE ESTRUTURADO: ANÁLISE DA
PROPAGANDA DA ESPONJA DE AÇO ‘KRESPINHA’
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo analisar a propaganda da esponja de aço criada pela
empresa Bombril, nomeada ‘Krespinha’, como dispositivo determinado e assujeitado pela
ideologia racista. Nesse sentido, trataremos como o Corpus estabelece posturas que
discriminam pela raça e cor, bem como o sentido é determinado pelas formações discursivas
que se representam por formações ideológicas preconceituosas e discriminatórias, em que
reforçam padrões já rotulados pela supremacia branca como superiores afirmando uma relação
de forças. Contudo, a análise é fundamentada de acordo com a análise do discurso francesa, a
partir dos pressupostos teóricos de Michel Pêcheux (1995) e Eni Puccinelli Orlandi (2001), e na
comunicação de acordo com Pierry Levy (2012) e Guy Debord (2011), além de outros teóricos
que discutem as conjunturas de racismo e identidade. Com isso, pode-se perceber que há um
racismo estrutural enraizado com relação ao cabelo crespo, e que ainda permanece em nosso
meio social contemporâneo.
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Graduanda do Curso de Letras Português/Espanhol da Faculdade Pio Décimo (FPD).
7Mestra em Letras pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Professora do curso de Letras da
Faculdade Pio Décimo (FPD).
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O CINISMO NA CULTURA CONTEMPORÂNEA: SUPER HERÓIS
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RESUMO
O presente trabalho possui como objetivo uma breve apresentação a respeito do Ponto de Vista
Cínico nos personagens cinematográficos do Gênero Super-herói. Fazendo considerações sobre a
origem da corrente filosófica Cinismo, explorando de maneira sinóptica suas características e,
também, realizando sucinto exemplo e análise do cinismo na literatura brasileira no conto de O
Desempenho de Rubem Fonseca.
O cinismo nasce num contexto de crise: a decadência da polis devido aos ataques de
Alexandre. Diante da sensação de final dos tempos, da perda da glória da Grécia clássica, os
cínicos exerceram uma ação crítica radical contra tudo. Como desconfiavam dos discursos, sua
prédica era a ação. Rejeitavam qualquer tipo de instituição: religiosa, educativa, social; faziam
críticas ácidas aos integrantes de seu próprio campo: os filósofos; desconfiavam da glória, odiavam
a riqueza, riam do prestígio. Colocavam-se à margem dessa sociedade em decadência - que já não
propendia para a felicidade geral -, renunciavam às motivações correntes da maioria dos cidadãos,
viviam na rua, em piores condições que as dos escravos, e ali tinham sexo e faziam suas
necessidades. Essa marginalidade voluntária, esse desprezo pela ordem, fazia com que fossem
vilipendiados pelos cidadãos hierarquicamente baixos, médios e altos, pelos comerciantes, pelos
intelectuais, por todos aqueles que se sentiam satisfeitos ou conformados com sua posição na
sociedade. Eram uma pedra no sapato do sistema. Pelo seu modo de vida, seus detratores
começaram a chamá-los ‘cínicos’, que, em grego, significa ‘cachorro’.
Seus alvos eram, claro, os alicerces da sociedade: os bons costumes, a religião, as práticas
da política. Eram céticos, mas não apenas na sua postura crítica, mas como base para um modo de
viver. Estilo de vida que levava necessariamente à renúncia plena a todo engajamento: família,
participação na política, ensino; pois viam toda instituição como um obstáculo para a liberdade
O desempenho e o cinismo
“Heróis cinzas”
Desde cedo nos é apresentado que há somente dois lados em uma história: o bem e o mal,
o vilão e o herói, caos e ordem, o malfeitor e o mocinho, entre outros termos. Sempre dois
extremos, no qual, eticamente, somos guiados a apoiar o lado que se encaixa melhor, segundos
preceitos já construídos e intrínsecos em nós e cultivados em nossa sociedade, como sendo do
bem. Entretanto, após análise das ações desses considerados com benfeitores nas obras
cinematográficas, nota-se que de maneira discreta e quase imperceptível eles são ato expostos ao
Ponto de vista Cínico de uma maneira que seus atos divergentes dos fundamentos éticos morais
preservados pela sociedade sejam passados de forma imperceptível. De forma silenciosa, fora do
alcance do superego, a atiçar o lado selvagem humano como uma forma de gozo inconsciente de
seus desejos obscuros.
Exemplificando, a história Robert Bruce Banner, mais conhecido como Hulk, fala sobre
um super herói, criado a partir de um acidente nuclear com o supracitado cientista, que faz com
que ele se torne uma criatura de força inigualável e poder de destruição sem precedentes. Bruce
divide sua consciência entre si e o alter ego verde que despertara na mínima situação de estresse,
cheio de fúria, destruindo tudo ao seu redor, sem medir consequências ou se importar com os
demais, consequentemente, ceifando centenas de vidas a cada frequente surto. Claramente um ser
que seria impossível de se conviver em sociedade, porém, todo o medo, repulsa e raiva que surgiria