As 48 Leis Do Poder - Robert Greene
As 48 Leis Do Poder - Robert Greene
As 48 Leis Do Poder - Robert Greene
Sobre a obra:
Sobre nós:
“O homem que tenta ser bom o tempo todo está fadado à ruína entre
os inúmeros outros que não são bons. Por conseguinte, o príncipe que
desejar manter a sua autoridade deve aprender a não ser bom, e usar
esse conhecimento, ou abster-se de usá-lo, segundo a necessidade.”
O PRÍNCIPE, Nicolau Maquiavel 1469-152 7
O INVERSO
“Evite brilhar mais do que o seu senhor. Toda superioridade é odiosa, mas a
superioridade de um súdito com relação ao seu príncipe não só é estúpida como
fatal.”
Baltasar Gracián
LEI 2
Cautela com os amigos - eles o trairão mais rapidamente, pois são com
mais facilidade levados à inveja. Eles também se tornam mimandos e tirânicos.
Mas contrate um ex-inimigo e ele lhe será mais fiel do que um amigo, porque
tem mais a provar. De fato, você tem mais o que temer por parte dos amigos do
que dos inimigos. Se você não tem inimigos, descubra um jeito de tê-los.
Ninguém acredita que um amigo possa trair.
Amigos são como os dentes e a mandíbula de um animal perigoso, se você
não toma cuidado eles acabam mastigando você.
É natural querer empregar os amigos quando você mesmo está passando
por dificuldades. O mundo é árido e os amigos o suaviza. Além do mais você os
conhece. Por que depender de um estranho quando se tem um amigo à mão?
O problema é que nem sempre se conhece os amigos tão bem quando se
imagina. Eles costumam concordar para evitar discussões, disfarçam suas
qualidades desagradáveis para não se ofenderem mutuamente. Acham graça
demais nas piadas uns dos outros. Visto que a honestidade raramente reforça a
amizade. Você talvez jamais saiba o que um amigo realmente sente. Eles dirão
que gostam de poesia, adoram a música, injevam o seu bom gosto para se vestir
– talvez estejam sendo sinceros, com freqüência não estão.
Quando você decide contratar um amigo, aos poucos vai descobrindo as
qualidades que ele, ou ela, estava escondendo. Curiosamente, é o seu ato de
bondade que desequilibra tudo. As pessoas querem sentir que merecem a sorte
que estão tendo. O recibo por um favor pode ser opressivo: significa que você foi
escolhido porque é um amigo, não necessariamente porque merece. Existe quase
um ato de condenscendência no ato de contratar os amigos que no íntimo os
aflige. O dano vai surgindo lentamente: um pouco mais de honestidade, lampejos
de inveja e ressentimento aqui e ali e, antes que você perceba, a amizade se foi.
Quanto mais favores e presentes você distribuir para reavivar a amizade, menos
gratidão receberá em troco.
A ingratidão tem uma longa e profunda história. Ela tem demonstrado seus
poderes há tantos séculos que é realmente interessante que as pessoas continuem
subestimando-os. Melhor prestar atenção. Se você nunca espera gratidão de um
amigo, vai ter uma agradável surpresa quando eles se mostrarem agradecidos.
O problema de usar ou contratar amigos é que isso inevitavelmente
limitará o seu poder. É raro o amigo ser a pessoa mais capaz de ajudar você; e,
afinal, capacidade e competência são muito mais importantes do que sentimentos
de amizade.
Todas as situações de trabalho exigem uma certa distância entre as
pessoas. Você está tentando trabalhar, não fazer amigos; a amizade (real ou
falsa) só obscurece esse fato. A chave do poder, portanto, é a capacidade de
julgar quem é o mais capaz de favorecer os seus interesses em todas as
situações. Guarde os amigos para a amizade, mas para o trabalho prefira os
capazes e competentes.
Seus inimigos, por outro lado, são uma mina de ouro escondida que você
deve aprender a explorar.
Como disse Lincoln, você destrói um inimigo quando faz dele um amigo.
Sem inimigos a nossa volta, ficaríamos preguiçosos. Um inimigo nos
calcanhares aguça a nossa percepção, nos mantém concentrados e alertas. Às
vezes, então, é melhor usar os inimigos como inimigos mesmo, em vez de
transformá-los em amigos ou aliados.
Um inimigo nitidamente definido é um argumento muito mais forte a seu
favor do que todas as palavras que você conseguir usar.
Jamais deixe que a presença de inimigos o perturbe ou aflija - você está
muito melhor com um ou dois adversários declarados do que quando não sabe
quem é o seu verdadeiro inimigo. O homem de poder aceita o conflito, usando o
inimigo para melhorar a sua reputação como um lutador seguro, em quem se
pode confiar em épocas incertas.
O INVERSO
O INVERSO
“Não deixe que o vejam como impostor, mesmo que hoje seja impossível não o ser.
Que a sua maior esperteza esteja em dissimular o que parece ser esperteza.”
Baltasar Gracián
“Já ouviu falar de um general muito hábil que pretende surpreender uma cidadela
anunciando seus planos ao inimigo? Oculte os seus propósitos e esconda o seu
progresso; não revele a extensão dos seus objetivos até ser impossível se opor a
eles, até terminar o combate. Conquiste a vitória antes de declarar a guerra. Em
resumo, imite aqueles guerreiros cujas intenções ninguém sabe, exceto o país
destruído por onde eles passaram.”
(Ninon de Lenclos, 1623-1706)
LEI 4
O INVERSO
Não abra a boca antes dos seus subordinados. Quanto mais você permanecer
calado, mais rápido os outros começam a dar com a língua nos dentes. Quando
eles movem os lábios e dão com a língua nos dentes, eu posso compreender suas
verdadeiras intenções... Se o soberano não é misterioso, os ministros terão
oportunidade de se aproveitar.
Han-fei-tsé, filósofo chinês, século 3 a.C.
LEI 5
Julga-se tudo pelas aparências; o que não se vê não se conta. Não fique
perdido no meio da multidão, destaque-se, fique visível a qualquer preço. Atraia
a atenção das pessoas parecendo maior, mais colorido, mais misterioso do que as
massas tímidas e amenas.
O INVERSO
No início da sua subida ao topo, você deve chamar atenção a todo custo,
mas durante a subida você deve ir constantemente se adaptando. Não canse o
público sempre com a mesma tática. Um ar de mistério funciona como uma
maravilha para aqueles que precisam desenvolver uma aura de poder e se fazer
notados, mas deve parecer uma atitude comedida e controlada. Não deixe que o
seu ar de mistério se transforme lentamente numa reputação de trapaceiro. O
mistério que você criar deve parecer um jogo, divertido e inofensivo. Reconheça
quando está indo longe demais, e recue.
Há momentos em que a necessidade de atenção deve ser adiada, e quando
a última coisa que se quer é o escândalo e a notoriedade. A atenção que você
chama jamais deve ofender ou desafiar a reputação dos que estão acima de
você — não, de maneira alguma, se eles estiverem seguros. Comparado com
eles, você não só parecerá mesquinho como desesperado. É uma arte saber
quando chamar a atenção e quando se retrair.
Por conseguinte, não pareça estar excessivamente querendo atenção,
porque isso é sinal de insegurança, e insegurança afasta o poder. Compreenda
que existem momentos em que não é interessante para você ser o centro das
atenções. Na presença de um rei ou rainha, por exemplo, ou o equivalente,
incline-se e fique na sombra; não entre em competição.
Ostente e seja visto... O que não é visto é como se não existisse... Foi a luz que deu
brilho a toda a criação. A exibição preenche muitos espaços vazios, encobre
deficiências, e faz tudo renascer, especialmente se apoiada pelo mérito autêntico.
Baltasar Gracián, 1601-1658
O INVERSO
Há momentos em que ficar com o crédito pelo trabalho dos outros não é o
mais sensato: se o seu poder não está solidamente estabelecido, vai parecer que
você está empurrando os outros para longe dos refletores. Para ser um brilhante
explorador de talentos, a sua posição tem de ser inabalável, ou você será acusado
de fraude.
Tenha certeza de saber quando é interessante para você dividir o crédito
com os outros. É muito importante não ser ganancioso quando se tem um mestre
em posição superior. A histórica visita do presidente Richard Nixon à República
Popular da China foi originalmente idéia dele, mas jamais teria se realizado não
fosse a hábil diplomacia de Henry Kissinger. Nem teria tido tanto sucesso sem a
habilidade de Kissinger. Não obstante, na hora de ficar com o crédito, Kissinger
sabiamente deixou que Nixon ficasse com a parte do leão. Sabendo que a
verdade acabaria se revelando, ele teve o cuidado de não colocar em risco a sua
posição no curto prazo apropriando-se das luzes. Kissinger jogou com esperteza:
ficou com o crédito pelo trabalho dos que estavam abaixo dele, enquanto
graciosamente deu o crédito do seu próprio esforço aos que estavam acima. É
assim que se joga.
Há muito o que saber, a vida é curta, e a vida não é vida sem conhecimento. É,
por conseguinte, um excelente truque adquirir o conhecimento de todo mundo.
Assim, enquanto os outros suam, você ganha a reputação de um oráculo. Baltasar
Gracián, 1601-1658
Quando você força os outros a agir, é você que está no controle. É sempre
melhor fazer o seu adversário vir até você, abandonando seus próprios planos no
processo. Seduza-o com a possibilidade de ganhos fabulosos - depois ataque, é
você quem dá as cartas.
Os bons guerreiros fazem os outros irem até eles, e não vão até os outros. Este é o
princípio do vazio e do cheio na relação do eu com o outro. Se você induz os
adversários a virem até você, a força deles se esvazia; desde que você não vá até
eles, a sua força estará sempre cheia. Atacar o vazio com o cheio é como jogar
pedras em ovos.
Zhang Yu, comentarista do século XI sobre a A arte da guerra
LEI 9
O INVERSO
A miséria alheia pode matar você - estados emocionais são tão contagiosos
quanto as doenças. Você pode achar que está ajudando o homem que se afoga,
mas só está precipitando o seu próprio desastre. Os infelizes às vezes provocam a
própria infelicidade; vão provocar a sua também. Associe-se aos felizes e
afortunados.
O tipo de personalidade contagiosa não se restringe às mulheres, nada tem
a ver com gênero. A sua raiz está numa instabilidade interior que irradia, atraindo
desastres. Existe quase que um desejo de destruir e perturbar. Você poderia
passar a vida inteira estudando a patologia das personalidades contagiantes, mas
não perca o seu tempo — aprenda a lição apenas. Se desconfiar de que está na
presença de uma pessoa contagiosa, não discuta, não tente ajudar, não passe a
pessoa adiante para seus amigos, ou você cairá na teia. Fuja ou sofrerá as
conseqüências.
Aqueles infelizes derrubados por circunstâncias fora do seu controle
merecem toda a nossa ajuda e simpatia. Mas há outros que não nasceram
infelizes ou desventurados, mas atraem a infelicidade e a desventura com seus
atos destrutivos e o efeito perturbador que exercem sobre os outros. Seria ótimo
se pudéssemos chamá-los de volta à vida, mudar seus padrões, mas quase
sempre são esses padrões que são assimilados por nós e nos mudam. A razão é
simples — os seres humanos são extremamente suscetíveis a humores, emoções
e até maneiras de pensar daqueles com quem convivem.
A pessoa irremediavelmente infeliz e instável tem um poder de
contaminação muito forte porque sua personalidade e emoções são muito
intensas. Ela costuma se apresentar como vítima, o que torna difícil ver logo de
início que é ela mesma a origem desse sofrimento. Até você perceber a
verdadeira natureza dos seus problemas, já está contaminado.
Compreenda isto: no jogo do poder, as pessoas com quem você se associa
são importantíssimas. O risco de se associar a contaminadores é que você
desperdiça tempo e energia preciosos para se livrar disso. Culpado por uma
espécie de associação, você também será um sofredor aos olhos dos outros.
Jamais subestime o perigo do contágio.
São muitos os tipos de pessoas contagiosas com os quais devemos ter
cuidado; um dos mais insidiosos porém é o que sofre de insatisfação crônica.
Só existe uma solução para isso: quarentena. Mas, quando você reconhece
o problema, em geral já é tarde.
Como se proteger desses vírus insidiosos? A resposta está em julgar as
pessoas pelos efeitos que elas exercem sobre o mundo e não pelas razões que
elas dão para os seus próprios problemas. As pessoas contagiantes são
reconhecidas pela infelicidade que atraem sobre si mesmas, por seu passado
turbulento, pela extensa fileira de relacionamentos rompidos, por suas carreiras
instáveis e pela própria força de uma personalidade que se apodera de você e o
faz perder o juízo. Esteja alerta a estes sinais do contaminador; aprenda a olhar o
descontente no olho. E, o mais importante, não tenha dó. Não se complique
tentando ajudar. O contaminador não vai mudar, mas você se confunde.
O outro aspecto da contaminação é igualmente válido, e talvez mais fácil
de compreender: há pessoas que atraem a felicidade com o seu bom humor,
com a sua natural animação e inteligência. Elas são fonte de prazer e você deve
se associar a elas para partilhar a prosperidade que atraem sobre si mesmas.
Não estamos falando apenas de bom humor e sucesso: todas as qualidades
positivas podem nos contagiar.
Tire proveito do aspecto positivo desta osmose emocional. Se você for
triste por natureza, por exemplo, jamais ultrapassará um certo limite; apenas as
almas generosas atingem a grandeza. Associe-se com os generosos, portanto, e
eles o contaminarão, soltando o que está apertado e contido dentro de você. Se
você é melancólico, gravite em torno das pessoas animadas. Se tender ao
isolamento, force-se a ser amigo do gregário. Jamais se associe com quem tem
os seus mesmos defeitos — eles reforçarão tudo o que trava o seu caminho. Crie
associações apenas com afinidades positivas. Que esta seja uma regra de vida, e
você se beneficiará mais do que com todas as terapias do mundo.
O INVERSO
Esta lei não aceita o inverso. Sua aplicação é universal. Nada se lucra
associando-se com quem pode contagiar com sua miséria; só se obtém poder e
sorte associando-se com os afortunados. Ignore esta lei por sua própria conta e
risco.
O INVERSO
O INVERSO
Quando você já tem um histórico de dissimulações, não há honestidade,
generosidade ou gentileza que consiga enganar as pessoas. De fato, isso só
chamará mais atenção. Quando você já é visto como falso, uma atitude honesta
de repente é apenas suspeita. Nestes casos, é melhor bancar o patife.
Nada na esfera do poder está escrito em pedra. A falsidade declarada às
vezes encobre as suas pegadas, e até o faz ser admirado pela honestidade da sua
desonestidade.
LEI 13
Há pessoas que consideram o apelo ao seu egoísmo como uma atitude feia
e ignóbil. Elas na verdade preferem poder exercitar a caridade, a misericórdia e
a justiça, que é a sua maneira de se sentirem superiores a você: quando você lhes
implora ajuda, está enfatizando o poder e a posição delas. Elas são fortes o
bastante para não precisarem nada de você, exceto a chance de se sentirem
superiores. É este o vinho que as embriaga. Estão morrendo de vontade de
patrocinar o seu projeto, apresentar você a pessoas poderosas — desde, é claro,
que tudo isto seja feito em público, e por uma boa causa (em geral, quanto mais
público melhor). Nem todos, portanto, podem ser abordados usando o egoísmo
cínico. Algumas pessoas ficarão desconcertadas, porque não querem parecer
motivadas por essas coisas. Elas querem uma oportunidade para exibir o seu bom
coração.
Não seja tímido. Dê a elas essa oportunidade. Não é que você esteja
abusando da sua boa-fé pedindo ajuda — elas realmente sentem prazer em dar,
e serem vistas dando. Você deve saber diferenciar as pessoas poderosas e
descobrir quais são os seus motivos e necessidades básicas. Se elas transpiram
ganância, não apele para a sua caridade. Se elas querem parecer nobres e
caridosas, não apele para a sua ganância.
O INVERSO
Todos os grandes líderes sabem que o inimigo perigoso deve ser esmagado
totalmente. Se restar uma só brasa, por menor que seja, acabará se
transformando em fogueira. Perde-se mais fazendo concessões do que pela total
aniquilação: o inimigo se recuperará, e se vingará. Esmague-o, física e
espiritualmente.
A idéia é simples: Seus inimigos não gostam de você. O que eles mais
querem é acabar com você. Se ao combatê-los você parar no meio do caminho,
ou mesmo depois de percorrer três quartos do caminho, por misericórdia ou
esperança de reconciliação, você só os tornará mais determinados, mais
amargurados, e um dia eles se vingarão. Eles podem agir cordialmente por uns
tempos, mas isso só porque você os derrotou. Eles não têm outra escolha a não
ser aguardar.
A solução: Não ter misericórdia. Esmagá-los totalmente, como eles o
esmagariam. A única paz e segurança que você pode esperar dos seus inimigos é
quando eles desaparecem.
O princípio por trás de “esmagar o inimigo” é tão antigo quanto a Bíblia: o
primeiro a colocá-lo em prática foi Moisés, que a aprendeu com o próprio Deus,
que abriu o mar Vermelho para os judeus e depois deixou que as águas fluíssem
novamente afogando os egípcios que vinham logo atrás, de forma a “não sobrar
nem um só deles”. Moisés, quando desceu do Monte Sinai com os Dez
Mandamentos e viu seu povo adorando o Bezerro de Ouro, mandou matar todos
os pecadores. E pouco antes de morrer, ele contou ao seu povo, finalmente
prestes a entrar na Terra Prometida, que ao derrotarem as tribos de Canaã
deveriam tê-las “destruído totalmente... sem aliança e nem misericórdia”.
A vitória total como meta é um dos axiomas da guerra moderna, e foi
codificada como tal por Carl von Clausewitz, o ministro filósofo da guerra.
Analisando as campanhas de Napoleão, von Clausewitz escreveu, “Nós
sustentamos que a aniquilação total das forças inimigas deva sempre ser a idéia
predominante (...) Uma vez obtida uma grande vitória não se pode falar em
descansar, em respirar (...) mas apenas de perseguir, de ir atrás do inimigo
novamente, conquistar a sua capital, atacar suas reservas e tudo mais que possa
dar ao seu país ajuda e conforto”. Isso porque depois da guerra vêm as
negociações e a divisão de território. Se você teve apenas uma vitória parcial, vai
inevitavelmente perder nas negociações o que lucrou com a guerra.
A solução é simples: não dê opção aos seus inimigos. Aniquile-os e você é
quem vai trinchar o território deles. O objetivo do poder é controlar seus inimigos
totalmente, fazê-los sujeitar-se ao que você deseja. Você não pode se dar ao luxo
de fazer concessões. Sem outra opção, eles serão forçados a fazer o que você
manda. Esta lei não se aplica apenas ao campo de batalha. Negociações são
como uma víbora insidiosa que corrói a sua vitória, portanto não negocie nada
com o inimigo, não lhe dê nenhuma esperança, nenhum espaço de manobra.
Eles estão esmagados e ponto final.
Entenda isto: na sua luta pelo poder você vai despertar rivalidades e criar
inimigos. Haverá pessoas que você não conseguirá convencer, que
permanecerão suas inimigas não importa o que aconteça. Mas seja qual a dor
que você lhes causar, deliberadamente ou não, não leve o ódio delas para o lado
pessoal. Reconheça apenas que não há possibilidade de paz entre vocês dois,
principalmente se você continuar no poder. Se você deixar que elas fiquem por
perto, elas vão procurar se vingar, com tanta certeza quanto depois do dia vem a
noite. Esperar que elas mostrem suas cartas é tolice.
Seja realista: com um inimigo assim por perto, você jamais terá
segurança. Aprenda com os exemplos da história, e com a sabedoria de Moisés:
não faça concessões.
Não é uma questão de morte, é claro, mas de exílio. Suficientemente
enfraquecidos e depois banidos para sempre da sua corte, seus inimigos se
tornam inofensivos. Não têm mais esperanças de se recuperar, de vir se
insinuando e ferir Você. E se for impossível bani-los, pelo menos saiba que eles
estão tramando contra você, e não dê atenção aos seus gestos fingidos de
amizade. A sua única arma numa situação dessa é a sua própria cautela. Se não
puder bani-los imediatamente, então planeje o melhor momento para agir.
O INVERSO
Raramente se deve ignorar esta lei, mas acontece que às vezes é melhor
deixar que os seus inimigos se destruam, se isso for possível, do que fazê-los
sofrer nas suas mãos. Na guerra, por exemplo, um bom general sabe que
atacando um exército encurralado seus soldados lutarão com muito mais
entusiasmo. Por isso, às vezes é melhor lhes deixar uma saída de emergência,
uma escapatória. Recuando eles se desgastam, e a retirada os deixa mais
desmoralizados do que qualquer derrota nas mãos desse general no campo de
batalha. Se você tem alguém com a corda no pescoço, então — mas só se você
tiver certeza de não haver chances de recuperação — é melhor deixar que ele se
enforque. Que ele mesmo seja o agente da sua própria destruição. O resultado
será o mesmo, e você não se sentirá tão mal.
Finalmente, ao esmagar um inimigo às vezes você o irrita tanto que ele
passa anos a fio tramando uma vingança. O Tratado de Versalhes teve esse efeito
sobre os alemães. Há quem diga que a longo prazo é melhor mostrar uma certa
demência. O problema é que a sua demência implica um outro risco — ela pode
encorajar o inimigo, que ainda guarda rancor, mas agora tem mais espaço para
agir. Quase sempre é mais sensato esmagar o inimigo. Se anos depois ele quiser
se vingar, não baixe a guarda, simplesmente esmague-o de novo.
Pois é preciso notar que os homens devem ser afagados ou então aniquilados; eles
se vingarão de pequenas ofensas, mas não poderão fazer o mesmo nas grandes
ofensas; quando ofendemos um homem, portanto, dev emos fazê-lo de modo a não
ter de temer a sua vingança.
Nicolau Maquiavel, 1469-1527
LEI 16
O INVERSO
O governante esclarecido é tão misterioso que parece não ter morada, é tão
inexplicável que não se sabe onde buscá-lo. Ele repousa na inação lá em cima, e
seus ministros tremem cá em baixo.
Han-fei-tzu, filósofo chinês, século 3 a.C.
A vida na corte é um jogo de xadrez sério e melancólico, onde temos que colocar
em formação nossas armas e batedores, criar um plano, persegui-lo e nos
defender do plano do nosso adversário. Às vezes, entretanto, é melhor arriscar e
fazer a jogada mais caprichosa e imprevisível.
Jean de La Brugêre, 1645-1696
O INVERSO
Às vezes, a previsibilidade funciona a seu favor: criando um padrão com o
qual as pessoas se sintam à vontade, você as deixa anestesiadas. Elas armam tudo
de acordo com o que sabem sobre você. Essa tática pode ser útil de várias
maneiras: primeiro, é uma cortina de fumaça, uma fachada confortável por trás
da qual você poderá enganar os outros. Segundo, permite que você em raras
ocasiões faça algo totalmente contrário ao padrão, perturbando de tal forma o
adversário que ele desmonta sozinho.
Em 1974, Muhammad Ali e George Foreman estavam prestes a se
enfrentar numa luta do campeonato mundial de boxe de pesos pesados. Todos
sabiam o que ia acontecer: o grandalhão George Foreman tentaria acertar um
nocaute enquanto Ali dançaria ao seu redor, até ele ficar exausto. Era assim que
Ali lutava, esse era o seu padrão, e há dez anos ele fazia a mesma coisa. Mas
neste caso isso parecia dar a Foreman uma vantagem: ele tinha um soco
devastador e, se esperasse, mais cedo ou mais tarde Ali teria de se aproximar.
Ali, mestre estrategista, tinha outros planos: nas entrevistas coletivas antes da
grande luta, ele disse que ia mudar de estilo e socar Foreman. Ninguém, muito
menos Foreman, acreditou. O plano era um suicídio; Ali estava brincando, como
de costume. Mas aí, antes da luta, o treinador de Ali afrouxou as cordas do
rinque, como é hábito fazer quando um boxeador pretende ser muito agressivo.
Ninguém, entretanto, acreditou na manobra; só podia ser uma armação.
Para espanto de todos, Ali fez exatamente o que tinha dito. Enquanto
Foreman esperava que ele começasse a dançar ao seu redor, Ali partiu direto
para cima dele e lhe deu um soco. E perturbou totalmente a estratégia do
adversário. Confuso, Foreman acabou exausto, não corria atrás de Ali mas
disparava socos feito um desvairado, recebendo outros tantos de volta.
Finalmente, Ali acertou um cruzado de direita drástico que nocauteou Foreman.
O hábito de supor que o comportamento de uma pessoa se ajustará sempre aos
seus padrões anteriores é tão arraigado que nem mesmo Ali, anunciando uma
mudança de estratégia, conseguiu alterar isso. Foreman caiu numa armadilha —
a armadilha sobre a qual tinham lhe avisado.
Atenção: a imprevisibilidade às vezes é um tiro que sai pela culatra,
especialmente se você estiver numa posição inferior. Há ocasiões em que é
melhor deixar as pessoas ao seu redor se sentindo à vontade e tranqüilas. O
excesso de imprevisibilidade é visto como sinal de indecisão, ou até de algum
problema psíquico mais grave. Os padrões têm um poder muito grande, e se
você os quebra pode deixar as pessoas assustadíssimas. Deve se ter bom senso ao
usar esse poder.
LEI 18
Um príncipe bom e sábio, desejoso de manter esse caráter e impedir que seus
filhos tenham oportunidade de se tornar tirânicos, não construirá fortalezas, para
que eles possam confiar na boa vontade de seus súditos e não na força de
cidadelas.
Nicolau Maquiavel, 1469-1527
O INVERSO
Nem sempre é certo e propício escolher o isolamento. Sem escutar o que
acontece lá fora, você não pode se proteger. O contato humano constante só não
facilita o pensamento. A constante pressão da sociedade para que tudo esteja de
acordo, e a falta de um distanciamento das outras pessoas, torna impossível
pensar com clareza sobre o que está acontecendo ao seu redor. Como um recurso
temporário, portanto, o isolamento ajuda você a ver melhor as coisas. Muitos
pensadores sérios foram produzidos nas prisões, onde a única coisa que se tem
para fazer é pensar. Maquiavel só pôde escrever O príncipe porque estava
exilado e sozinho no campo, longe das intrigas políticas de Florença.
O perigo, entretanto, é que esse isolamento gere idéias estranhas e
pervertidas. Você pode ter uma perspectiva geral melhor, mas perde a noção da
sua própria pequenez e limitações. Também, quanto mais isolado você estiver,
mais difícil será sair do seu isolamento quando quiser — sem perceber, você caiu
num poço de areia movediça. Mas se você precisa de tempo para pensar, só
escolha o isolamento como último recurso, e apenas em pequenas doses. Preste
atenção para deixar aberto o caminho de volta à sociedade.
LEI 19
O INVERSO
Que benefício pode haver em não conhecer os outros? Aprenda a
diferenciar leões de cordeiros, ou arque com as conseqüências. Obedeça
totalmente a esta lei, ela não tem inverso — nem se preocupe em procurar.
LEI 20
Não se comprometa com ninguém nem com coisa alguma, pois isso é ser escravo,
escravo de todos os homens... principalmente, mantenha-se livre de compromissos
e obrigações — esses são artifícios do outro para mantê-lo em seu poder...
Baltasar Gracián, 1601-1658
Homens espertos são lentos no agir, pois é mais fácil evitar compromissos do que
se sair bem de um deles. Nessas ocasiões teste o seu bom senso; é mais seguro
evitá-los do que sair vitorioso de um deles. Uma obrigação leva a outra maior, e
você chega à beira do desastre.
Baltasar Gracián 1601-1658
O INVERSO
Ambas as partes desta lei se voltarão contra você se você exagerar. O jogo
proposto aqui é delicado e difícil. Se você colocar muitos partidos se enfrentando,
eles acabarão percebendo a manobra e conspirarão contra você. Se você deixar
um número cada vez maior de pretendentes esperando demais, não vai despertar
o desejo mas, sim, a desconfiança. As pessoas vão começar a perder o interesse.
Você vai acabar achando que vale mais a pena se comprometer com uma das
partes — nem que seja só pelas aparências, para provar que é capaz de ser
solidário.
Mesmo nesse caso, entretanto, a chave será manter a sua independência
interior — não se permitir envolver emocionalmente. Preservar a opção tácita de
poder sair a qualquer momento e reclamar a sua liberdade, se o partido ao qual
você se aliou ameaçar vir abaixo. Os amigos que você fez, enquanto estava
sendo cortejado, lhe oferecerão um lugar para ir depois de abandonar o navio.
LEI 21
Saiba usar a burrice: o homem sábio usa esta carta às vezes. Há momentos
em que a maior sabedoria é parecer não saber nada — você não precisa ser
ignorante, basta ser capaz de fingir que é. Não é muito bom ser sábio entre tolos e
lúcido no meio de lunáticos. Quem se faz de tolo não é tolo, a melhor maneira de
ser bem recebido por todos é fingindo ser um grande idiota. (Baltasar Gracián,
1601-1658)
O INVERSO
Raramente vale a pena revelar a verdadeira natureza da sua inteligência;
você deve criar o hábito de minimizá-la sempre. Se as pessoas inadvertidamente
ficarem sabendo da verdade — que você é mesmo mais esperto do que parece
— vão admirá-lo ainda mais por ser discreto e não ficar se exibindo. No início da
sua ascensão, é claro, você não pode bancar o idiota; é bom deixar que seus
chefes saibam, sutilmente, que você é mais esperto do que os seus concorrentes.
A medida que você for subindo, entretanto, tente brilhar menos.
Existe, no entanto, uma situação em que vale a pena fazer o contrário —
quando você pode encobrir uma trapaça demonstrando inteligência. Quando se
trata de esperteza, como na maioria das coisas, o importante são as aparências..
Se você parece ter autoridade e conhecimento, as pessoas acreditarão no que
você diz. Isto pode servir para livrá-lo de uma enrascada.
Certa vez, o marchand Joseph Duveen estava numa festa, em Nova York,
na casa de um magnata a quem acabara de vender um quadro de Dürer por um
preço altíssimo. Um dos convidados era um jovem crítico de arte francês que
parecia extremamente culto e seguro de si. Querendo impressioná-lo, a filha do
magnata lhe mostrou o Dürer, que ainda não estava pendurado na parede. O
crítico estudou-o alguns minutos, depois disse, “Sabe, não acho que isto seja um
Dürer”. Ele seguiu a jovem quando ela foi correndo contar para o pai. “Sabe,
meu jovem, que pelo menos uns vinte especialistas em arte, aqui e na Europa,
foram consultados também e disseram que o quadro não é autêntico? E agora
você cometeu o mesmo engano.” O seu tom confiante e o ar de autoridade
intimidaram o francês, que se desculpou pelo erro.
Duveen sabia que o mercado de arte estava inundado de fraudes, e que
muitos quadros tinham sido falsamente atribuídos a antigos mestres. Ele fazia o
possível para distinguir o verdadeiro do falso mas, no afã de vender uma obra,
com freqüência exagerava a sua autenticidade. O importante para ele era que o
comprador acreditasse que tinha comprado um Dürer, e que o próprio Duveen
convencesse todos da sua “perícia” com seu ar de impecável autoridade. Por isso
é importante ser capaz de bancar o professor, quando necessário, e não impor
aos outros essa atitude à toa.
LEI 22
Se você é o mais fraco, não lute só por uma questão de honra; é preferível
se render. Rendendo-se, você tem tempo para se recuperar, tempo para
atormentar e irritar o seu conquistador, tempo para esperar que ele perca o seu
poder. Não lhe dê a satisfação de lutar e derrotar você – renda-se antes.
Oferecendo a outra face, você o enraivece e desequilibra. Faça da rendição um
instrumento de poder.
Se você é a parte mais fraca, não lucrará nada metendo-se numa briga
inútil. Ninguém aparece para ajudar os fracos – isso só traz prejuízos. Os fracos
estão sozinhos e devem se entregar. Lutar não lhe dará nada. além do martírio, e
muita gente que não acredita na sua causa morrera.
Fraqueza não é pecado, e pode até se tornar uma força se você aprender a
jogar corretamente.
A sorte muda e os poderosos quase sempre são derrubados. A rendição
disfarça um grande poder: despertando a complacência do inimigo, você tem
tempo para se recuperar, tempo para ir minando o terreno, tempo para se vingar.
Não sacrifique este tempo em troca do mérito de participar de uma batalha da
qual não sairá vencedor.
O que nos causa problemas na esfera do poder é quase sempre a nossa
própria reação exagerada aos movimentos de nossos inimigos e rivais. Esse
exagero cria dificuldades que teríamos evitado se fôssemos mais sensatos. Tem
também um efeito ricochete interminável, pois o inimigo vai reagir com o
mesmo exagero, como os atenienses fizeram com os melianos. O nosso primeiro
instinto é sempre o de reagir, enfrentar a agressão com outra agressão. Mas, da
próxima vez que alguém lhe der um empurrão e você perceber que está
começando a reagir, experimente isto: não resista nem brigue, ceda, dê a outra
face, curve-se. Verá que isso quase sempre neutraliza o comportamento deles —
eles esperavam, até queriam que você reagisse com energia e foram, portanto,
apanhados desprevenidos e a sua não-resistência os deixou confusos. Na verdade,
ao ceder você passa a controlar a situação, porque isso faz parte de um plano
maior para que eles acreditem que o derrotaram.
Esta é a essência da tática da rendição; no íntimo você permanece firme,
mas por fora você se inclina. Sem mais motivos para se zangar, seus adversários
ficam confusos. É improvável que reajam com mais violência, o que exigiria de
você uma reação. Em vez disso, você tem tempo e espaço para armar um
contramovimento para derrubá-los. No confronto entre o inteligente e o bruto
agressivo, a tática da rendição é a melhor arma. Mas é preciso ter autocontrole:
quem se rende de fato perde a liberdade, e pode ser esmagado pela humilhação
da derrota. Você deve se lembrar de só parecer que está se rendendo, como o
animal que se finge de morto para salvar a pele.
Vimos que é melhor se render do que brigar: diante de um adversário mais
forte e da garantia de uma derrota, quase sempre é melhor se render do que sair
correndo. Na hora, a fuga pode ser a salvação, mas o agressor acabará
alcançando você. Rendendo-se, entretanto, você terá oportunidade de se enroscar
no inimigo e atacá-lo com unhas e dentes bem de perto.
Quando o comércio exterior começou a ameaçar a independência do
Japão, em meados do século XIX, os japoneses discutiram como derrotar os
estrangeiros. Um ministro, Hotta Masay oshi, escreveu um memorando em 1857
que influenciou a política japonesa durante muitos anos: “Estou, portanto,
convencido de que a nossa política deveria ser fazer alianças cordiais, enviar
navios a todos os países estrangeiros e fazer comércio com eles, copiar os
estrangeiros naquilo que eles fazem melhor, reparando assim as nossas próprias
deficiências, incentivando a nossa força nacional e completando nossos
armamentos, e submeter, assim, gradualmente, os estrangeiros à nossa influência
até que, no final, todos os países do mundo conheçam as bênçãos da perfeita
tranqüilidade e a nossa hegemonia seja reconhecida no mundo inteiro.” Esta é
uma aplicação brilhante da lei: Use a rendição para ter acesso ao inimigo.
Aprenda com ele, insinue-se lentamente, conforme-se externamente aos seus
hábitos, mas no íntimo conserve a sua própria cultura. No fim você sairá
vitorioso, pois enquanto ele o considera fraco e inferior, e não toma nenhuma
precaução para se defender, você usa este tempo para se recuperar e ficar mais
forte do que ele. Esta forma branda e permeável de invasão quase sempre é a
melhor, pois o inimigo nenhum motivo tem para reagir, nada para se preparar,
ou resistir. E se os japoneses tivessem resistido à influência ocidental pela força,
poderiam ter sofrido uma devastadora invasão que alteraria para sempre a sua
cultura.
A rendição também é uma forma de você rir do inimigo, de virar o poder
contra eles mesmos, como fez Brecht. O romance A brincadeira, de Milan
Kundera, baseado nas experiências do autor numa colônia penal na
Tchecoslováquia, conta que os guardas da prisão organizaram uma corrida de
revezamento, guardas contra prisioneiros. Para eles esta era uma chance de
exibir a sua superioridade física. Os prisioneiros sabiam que era para eles
perderem, por isso fizeram tudo para agradar — fingindo um esforço exagerado
enquanto mal se mexiam, caindo no chão depois de correr só alguns metros,
capengando, andando cada vez mais devagar enquanto os guardas disparavam na
frente. Aceitando ao mesmo tempo participar da corrida e perder, ele tinham
obedecido aos guardas; mas o excesso de obediência tomou o evento ridículo a
ponto de arruiná-lo. A “superobediência” — a rendição — nesse caso foi uma
demonstração de superioridade ao inverso. A resistência teria colocado os
prisioneiros num ciclo de violências, rebaixando-os ao nível dos guardas. A
superobediência, entretanto, colocou os guardas numa situação ridícula, mas eles
não podiam punir justamente os prisioneiros que só fizeram o que eles tinham
pedido.
O poder está sempre fluindo — visto que o jogo é por natureza fluido e
uma arena de lutas constantes, quem está com o poder quase sempre acaba se
encontrando na descida do pêndulo. Se você se vir temporariamente
enfraquecido, a tática da rendição é perfeita para levá-lo para cima de novo —
ela disfarça a sua ambição; ensina a você a paciência e o autocontrole,
habilidades-chave para o jogo, e o coloca na melhor posição possível para tirar
vantagem do súbito deslize do seu opressor. Se você foge ou revida, não poderá
vencer a longo prazo. Se você se rende, é quase certo sair vitorioso.
Ouvistes o que foi dito: Olho por olho, dente por dente. Eu, porém, vos digo: Não
resistais ao perverso; mas a qualquer que vos ferir a face direita, voltai-lhe
também a outra; e ao que quer demandar convosco e tirar-vos a túnica, deixai-lhe
também a capa. Se alguém vos obrigar a andar uma milha, ide com ele duas.
Jesus Cristo, em Mateus, 5:38-41
Voltaire vivia exilado em Londres numa época em que estava no auge ser contra
os franceses. Um dia, caminhando pelas ruas, ele se viu cercado por uma multidão
irada. “Enforquem-no, enforquem o francês”, gritavam. Voltaire calmamente se
dirigiu a turba dizendo o seguinte: Ingleses! Desejam me matar porque sou
francês. Já não fui punido o suficiente por não ter nascido inglês?” A multidão
aplaudiu as suas palavras sensatas e o escoltaram de volta aos seus alojamentos.
The Little, Brown
Book Of Anecdotes, Clifton Fadiman Ed. 1985
Lembre-se: quem está tentando exibir a sua autoridade ilude-se facilmente com a
tática da rendição. Se você se mostra submisso, eles se sentem importantes.
Contentes, porque estão sendo respeitados, tornam-se alvos mais fáceis para um
contra-ataque, ou para uma zombaria dissimulada como fez Brecht. Ao avaliar o
seu poder ao longo do tempo, não sacrifique a capacidade de manobra a longo
prazo pelas glórias efêmeras do martírio. Quando o grande senhor passa, o
camponês sábio se inclina profundamente e peida em silêncio.
Provérbio etíope
O INVERSO
O objetivo da rendição é salvar a sua pele para quando você puder se
firmar novamente. É para evitar o martírio que alguém se rende, mas há
momentos em que o inimigo não descansa, e o martírio parece ser a única
escapatória. Além do mais, se você estiver disposto a morrer, outros poderão
tirar do seu exemplo poder e inspiração.
Mas o martírio, o inverso da rendição, é uma tática confusa, pouco
precisa, e tão violenta quanto a agressão que ele combate. Para cada mártir
famoso existem milhares que não inspiraram religiões nem rebeliões, de forma
que, se o martírio às vezes confere um certo poder, isso é imprevisível. E, o que é
mais importante, você não estará por aqui para usufruir desse poder. E existe
decididamente algo de egoísmo e arrogância nos mártires, como se achassem
que seus seguidores são menos importantes do que a sua própria glória. Quando o
poder o abandona, é melhor ignorar esta inversão da Lei. Deixe para lá o
martírio: o pêndulo acaba oscilando para o seu lado novamente, e você precisa
estar vivo para ver isso.
LEI 23
O INVERSO
A concentração pode ser perigosa, e há momentos em que a dispersão é a
tática adequada. Lutando contra os nacionalistas pelo controle da China, Mao Tsé-
tung e os comunistas fizeram uma guerra de retração em várias frentes, usando
como suas principais armas a sabotagem e as emboscadas. A dispersão costuma
ser adequada para o lado mais fraco; ela é, de fato, o princípio crucial das
guerrilhas. Ao lutar contra um exército superior, concentrando suas forças você
só se torna um alvo mais fácil — melhor se dispersar no cenário e frustrar seu
inimigo com a intangibilidade da sua presença.
Ligar-se a uma única fonte de poder tem um grande perigo: se a pessoa
morre, vai embora ou çai em desgraça, você sofre.
Isso é bastante prudente em épocas de grandes tumultos e mudanças
violentas, ou quando seus inimigos são numerosos. Quanto mais patronos e
senhores você tiver, menor o risco que você corre se um deles perder o poder.
Essa dispersão até permitirá que você jogue um contra o outro. Mesmo que você
se concentre numa única fonte de poder, continua tendo de ter cautela, e se
preparar para o dia em que o seu senhor, o patrono, não estiver mais aqui para
protegê-lo.
Finalmente, exagerar num propósito único pode fazer de você um chato
insuportável, especialmente nas artes. O pintor renascentista Paolo Uccello era
tão obcecado com a perspectiva que suas pinturas chegam a parecer monótonas
e falsas, enquanto Leonardo da Vinci se interessava por tudo — arquitetura,
pintura, guerra, escultura, mecânica. A descentralização foi a fonte do seu poder.
Mas gênios assim são raros; quanto ao restante de nós, é melhor pender para o
lado da profundidade.
LEI 24
RECRIE-SE
Não aceite os papéis que a sociedade lhe impinge. Recrie-se forjando uma
nova identidade, uma que chame atenção e não canse a platéia. Seja senhor da
sua própria imagem, em vez de deixar que os outros a definam para você.
Incorpore artifícios dramáticos aos gestos e ações públicas – seu poder se
fortalecerá e sua personagem parecerá maior do que a realidade.
Compreenda isto: o mundo quer lhe atribuir um papel na vida. E no
momento em que você aceitar este papel, estará perdido. O seu poder se limita
apenas àquela minúscula porção consignada ao papel que você escolheu ou foi
forçado a assumir. Um ator, pelo contrário, representa vários papéis. Goze deste
poder multiforme, mas se isso não for possível, forje pelo menos uma nova
identidade, criada por você mesmo, sem os limites definidos por um mundo
invejoso e ressentido.
A sua nova identidade o protegerá do mundo exatamente porque não é
“você”; é uma roupa que você veste e depois tira. Não precisa levar as coisas
para o lado pessoal. E a sua nova identidade o distinguirá, lhe dará uma presença
dramática. Quem estiver lá na última fila poderá ver e ouvir você. Os da
primeira fila ficarão maravilhados com a sua ousadia.
A personalidade que lhe parece inata não é necessariamente você. Além
das características herdadas, seus pais, amigos e colegas ajudaram a moldá-la. A
tarefa prometéica do poderoso é a de assumir o controle do processo, não deixar
mais que os outros tenham essa capacidade de limitá-la e moldá-la. Recrie-se
como um personagem de poder. Esculpir você mesmo em um bloco de argila
deve ser uma das tarefas mais importantes e agradáveis da sua vida. Faz de você
basicamente um artista — um artista criando a si próprio.
De fato, a idéia da autocriação vem do mundo artístico. Durante milhares
de anos, só os reis e o mais altos cortesãos eram livres para moldar a sua
imagem pública e determinar a sua própria identidade, Da mesma forma, só os
reis e os senhores mais ricos podiam contemplar a sua própria imagem na arte, e
conscientemente alterá-la. O resto da humanidade representava um papel restrito
exigido pela sociedade, e tinha pouca consciência de si mesma.
O primeiro passo no processo da autocriação é a autoconsciência — o
estar consciente de si mesmo como ator e assumir o controle da sua aparência e
das suas emoções. Como disse Diderot, o mau ator é aquele que é sempre
sincero. As pessoas que estão sempre expondo a todos o que sentem são
aborrecidas e constrangedoras. Apesar da sua sinceridade, é difícil levá-las a
sério. Quem chora em público pode temporariamente despertar simpatia, mas a
obsessividade dessas pessoas transforma logo a simpatia em desdém e irritação
— elas choram para chamar atenção, é o que achamos, e um lado malicioso em
nós não quer lhes dar essa satisfação.
Os bons atores se controlam mais. Eles podem fingir sinceridade e
franqueza, podem simular uma lágrima e um ar compassivo se quiserem, mas
não precisam sentir isso. Eles exteriorizam emoções de uma forma que os outros
possam compreender. Representar segundo o Método é fatal no mundo real.
Nenhum governante ou líder seria capaz de representar esse papel se todas as
emoções mostradas tivessem de ser reais. Portanto, aprenda a se controlar. Adote
a plasticidade do ator, que consegue expressar no rosto as emoções necessárias.
O segundo passo no processo da autocriação é uma variedade da
estratégia de George Sand: a criação de uma personagem memorável, que
chame atenção, que se erga acima dos outros atores no palco. Este era o jogo de
Abraham Lincoln. O homem simples, do campo, era um tipo de presidente que a
América nunca tinha tido mas que ficaria encantada em eleger. Embora muitas
destas qualidades lhe fossem naturais, ele as representava — o chapéu, as roupas,
a barba. (Nenhum presidente antes dele usou barba.) Lincoln também foi o
primeiro presidente a usar fotografias para divulgar a sua imagem, ajudando a
criar o ícone do “presidente simples”.
O bom drama, entretanto, requer mais do que uma aparência interessante,
ou um único momento em evidência. O drama acontece ao longo do tempo — é
um evento que se desdobra. O ritmo e o tempo são críticos. Um dos elementos
mais importantes no ritmo do drama é o suspense. Houdini, por exemplo, às
vezes era capaz de escapar em questão de segundos — mas prolongava o ato
para deixar a platéia aflita.
A chave para manter a platéia sentada na beira da poltrona é deixar que os
acontecimentos se desenrolem lentamente, depois acelerá-los no momento certo,
de acordo com um plano e um andamento que é você quem controla. Os grandes
governantes, de Napoleão a Mao Tsé-tung, usaram o ritmo dramático para
surpreender e distrair seu público. Franklin Delano Roosevelt compreendeu a
importância de encenar eventos políticos numa ordem e num ritmo particular.
Durante as eleições presidenciais de 1932, os Estados Unidos estavam
passando por uma crise econômica muito difícil. Os bancos faliam numa
velocidade alarmante. Logo depois de ganhar as eleições, Roosevelt entrou numa
espécie de recesso. Não falou nada sobre seus planos ou indicações para o
ministério. Até se recusou a se encontrar com o então presidente, Herbert
Hoover, para discutir a transição. Quando Roosevelt tomou posse, o país se
encontrava num estado de grande ansiedade.
No seu discurso, Roosevelt mudou de marcha. Falou com energia,
esclarecendo que pretendia conduzir o país por uma direção totalmente nova,
abandonando a timidez dos seus antecessores. A partir daí seus discursos e suas
decisões públicas — indicações para ministérios, leis audaciosas — adquiriram
um ritmo incrivelmente veloz. O período que se seguiu à posse ficou conhecido
como os ‘Cem Dias”, e o sucesso na mudança de estado de espírito do país se
originou da esperteza e do uso do contraste dramático de Roosevelt. Ele mantinha
a sua platéia em suspenso, e impressionava com uma série de gestos corajosos
que pareciam ainda mais imponentes porque não se sabia de onde vinham. Você
precisa aprender a orquestrar assim os acontecimentos, sem mostrar todas as
suas cartas de uma só vez, mas revelando-as aos poucos para dar mais
dramaticidade.
Além de disfarçar inúmeros pecados, o bom drama pode também
confundir e enganar o seu inimigo.
Você deve também avaliar a importância das entradas e saídas de cena.
Quando Cleópatra foi conhecer César, no Egito, chegou enrolada num tapete que
mandou desenrolar aos seus pés. George Washington duas vezes deixou o poder
com floreios e fanfarras (primeiro como general, depois como o presidente que
se recusou a concorrer a um terceiro mandato), mostrando que sabia dar
importância ao momento, dramática e simbolicamente. Você deve ter o mesmo
cuidado ao planejar as suas próprias entradas e saídas de cena.
Lembre-se de que exagerar na representação pode ser contraproducente
— é outra forma de se esforçar demais para chamar atenção. O ator Richard
Burton descobriu, logo no início da sua carreira, que ficando totalmente parado
em cena fazia as pessoas olharem para ele e não para os outros atores. O
importante não é tanto o que você faz, nitidamente, mas como você faz — a sua
imobilidade graciosa e imponente no palco social conta mais do que o exagero na
representação e nos movimentos.
Finalmente: aprenda a representar muitos papéis, a ser aquilo que a
ocasião exige. Adapte a sua máscara à situação — tenha múltiplas faces.
Bismarck era excelente neste jogo: com os liberais ele era liberal, com os
agressivos ele era agressivo. Ninguém conseguia agarrá-lo, e o que não se agarra
não se consome.
Saiba como ser todas as coisas para todos os homens. Um Proteus discreto — um
erudito entre eruditos, um santo entre santos. Essa é a arte de conquistar todos,
pois os iguais se atraem. Registre os temperamentos das pessoas que você
conhece e se adapte a cada um deles —passe de sério a jovial, mudando de humor
discretamente.
Baltasar Gracián, 1601-1658
INVERSO
Não pode haver o inverso para essa lei tão importante: mau teatro é mau
teatro. Até para parecer natural é preciso ter arte — em outras palavras,
representar. A canastrice só cria constrangimento. É claro que você não deve ser
dramático demais — evite os gestos histriônicos. Mas isso é simplesmente mau
teatro, já que desrespeita normas teatrais centenárias contra o exagero na
representação. Em essência, o inverso não existe para esta lei.
LEI 26
Você deve parecer um modelo de civilidade: suas mãos não se sujam com
erro e atos desagradáveis. Mantenha essa aparência impecável fazendo os outros
de joguete e bode expiatório para disfarçar a sua participação.
Faça você mesmo tudo que for agradável, para o que for desagradável você usa
os outros. Com o primeiro procedimento voce sai favorecido, com o segundo você
desvia a má vontade. Negócios importantes quase sempre exigem recompensas e
punições. De você só deve vir o que é bom, o ruim virá dos outros.
Baltasar Gracián, 1601-1658
A JUSTIÇA DE CHELM
Certa vez, aconteceu uma desgraça na cidade de Chelm. O sapateiro da cidade
assassinou um dos seus clientes. Ele foi então levado ao juiz, que o condenou à
forca. Anunciado o veredicto, um dos cidadãos se levantou e gritou, Se me permite
— Vossa Senhoria acaba de condenar à morte o único sapateiro da cidade! Só
temos ele. Se o enforcar, quem vai
consertar nossos sapatos?” Quem? Quem? ‘, gritaram todos da cidade de Chelm a
uma só voz. O juiz balançou a cabeça concordando e reconsiderou o seu
veredicto. ‘Bom povo de Chelm “, disse ele, “o que dizem é verdade. Visto que só
temos um sapateiro, seria um grave erro contra a comunidade deixá-lo morrer. E,
como existem dois telhadores na cidade, que um deles seja enforcado no seu
lugar.”
A Treasury Of Jewish Folklore, Nathan Ausubel.
OINVERSO
O disfarce e o bode expiatório devem ser usados com extrema cautela e
delicadeza. Eles são cortinas que escondem do público o seu próprio
envolvimento no trabalho sujo; se de repente a cortina se erguer e você for visto
como manipulador, o senhor dos fantoches, toda a dinâmica mudará de rumo —
sua mão será vista por toda a parte, e você será acusado de infortúnios com os
quais não tem nada a ver. Depois que a verdade vem à tona, as coisas vão
tomando uma proporção incontrolável.
Em 1572, a rainha Catarina de Medici, da França, conspirava para acabar
com Gaspard de Coligny, almirante da armada francesa e importante membro
da comunidade huguenote (protestantes franceses). Coligny era amigo do filho
de Catarina, Carlos IX, e ela temia a sua crescente influência sobre o jovem rei.
Ela arrumou, portanto, um membro da família Guise, um dos dás reais mais
poderosos da França, para assassiná-lo.
Mas, secretamente, Catarina tinha outro plano: ela queria que os
huguenotes acusassem os Guise de terem matado um de seus líderes, e se
vingassem. Com uma só tacada, ela apagaria ou prejudicaria dois perigosos
rivais, Coligny e a família Guise. Mas os dois tiros saíram pela culatra. O
assassino errou o alvo, ferindo apenas Coligny ; sabendo que Catarina era sua
inimiga, ele desconfiou seriamente de que ela é quem tinha tramado o ataque, e
contou para o rei. Acabou que o assassinato fracassado e as discussões que se
seguiram deram origem a uma série de acontecimentos resultando numa
sangrenta guerra civil entre católicos e protestantes, que culminou no horrível
massacre conhecido como a Noite de São Bartolomeu, quando milhares de
protestantes foram mortos.
Se tiver de usar um disfarce ou o bode expiatório numa ação de sérias
conseqüências, cuidado: exagerar pode ser prejudicial. É sempre mais sensato
usar esses trouxas em tarefas mais inocentes, quando um erro não causará danos
graves.
Finalmente, há momentos em que é mais vantajoso não disfarçar o seu
envolvimento ou responsabilidade, mas assumir você mesmo a culpa por algum
erro. Se você tem poder e está seguro dele, deve às vezes representar o penitente:
com o olhar pesaroso, você pede perdão aos mais fracos. E o truque do rei que
fica exibindo o seu sacrifício pelo bem-estar do povo. Ocasionalmente, também,
é bom você se mostrar como o agente castigador, para inspirar medo e terror nos
seus subordinados. Em vez da pata do gato, você mostra a sua mão poderosa com
um gesto ameaçador. Use este trunfo com parcimônia. Se usá-lo com muita
freqüência, o medo se transformará em ressentimento e ódio. Quando você
perceber, essas emoções já terão se transformado numa forte oposição que
acabará por derrubá-lo. Habitue-se a usar a pata do gato — é muito mais seguro.
LEI 27
“Os homens são tão simplórios, e tão dominados por suas necessidades imediatas,
que um mentiroso sempre encontrará muitos prontos para serem enganados.”
Nicolau Maquiavel, 1469-1527
O INVERSO
Uma das razões para a criação de um séquito é que, em geral, é mais fácil
enganar um grupo do que um indivíduo, e você fica com muito mais poder. Isso,
entretanto, é perigoso: se num determinado momento o grupo perceber o que
você está fazendo, você não se verá diante de uma alma iludida, mas de uma
multidão irada que o estraçalhará tão avidamente quanto o seguiu antes. Os
charlatões enfrentavam constantemente este risco, e estavam sempre prontos
para se mudar para outra cidade quando se tornava evidente que seus elixires não
funcionavam e suas idéias eram uma impostura. Se demorassem, pagavam com
a vida. Brincando com as multidões, você brinca com fogo, e deve ficar de olho
sempre, à espreita de lampejos de dúvida, nos inimigos que colocarão a multidão
contra você. Quando se brinca com as emoções de uma multidão, é preciso
saber se adaptar, afinando-se constantemente com os humores e desejos do
grupo. Use espiões, mantenha-se informado e no controle, e de malas prontas.
Por isso, talvez você prefira lidar com as pessoas individualmente.
Isolando-as do seu ambiente normal, você pode conseguir o mesmo efeito de
quando as coloca num grupo — elas ficam mais suscetíveis a sugestões e
intimidações. Escolha o otário certo e, se ele acabar percebendo o que você faz,
pode ser mais fácil fugir dele do que de uma multidão.
LEI 28
SEJA OUSADO
Eu certamente acho que é melhor ser impetuoso do que prudente, pois a sorte é
uma mulher e é preciso, se deseja dominá-la, conquistá-la pela força, e é visível
que ela se deixa dominar pelo ousado de preferência ao que age friamente. E
portanto, como uma mulher. ela é sempre amiga dos jovens, pois são menos
cautelosos mais ferozes e a dominam com mais audácia.
Nicolau Maquiavel, 1469-1527
O INVERSO
A ousadia não deve ser uma estratégia por trás de todas as suas ações. E
um instrumento tático, para ser usado no momento certo. Planeje e pense com
antecedência, e que o elemento final seja o movimento ousado que lhe dará o
sucesso. Em outras palavras, visto que a ousadia é uma reação aprendida,
também se aprende a controlá-la e utilizá-la à vontade. Passar pela vida armado
apenas de audácia seria cansativo e também fatal. Você ofenderia muita gente,
como provam os que não conseguem controlar a sua audácia.
A timidez não tem lugar no reino do poder; mas com freqüência será
vantajoso para você fingir que é tímido. Aí, é claro, não se trata mais de timidez,
mas de uma arma ofensiva: você está iludindo os outros exibindo uma timidez,
para lhes mostrar as suas garras corajosamente mais tarde.
LEI 29
Não entrar é tão mais fácil do que ter de sair! Devemos agir ao contrário do junco
que, ao primeiro despontar, lança uma haste longa e reta mas depois, como que
exausto... faz vários nós densos, indicando que não possui mais o vigor e o impulso
original. É melhor começar gentil e tranqüilamente, poupando o fôlego para o
embate e os golpes vigorosos para concluir o nosso trabalho. No início, nós é que
orientamos os negócios e os mantemos em nosso poder; mas, freqüentemente, uma
vez colocados em ação, são eles que nos guiam e nos arrastam.
Montaigne, 1533-1592
Veja o desfecho, não importa o que esteja considerando. Com freqüência, Deus.
permite a um homem um de felicidade para, em seguida, arruiná-lo totalmente.
As Histórias. Herodoto. Século 5 a.C.
O INVERSO
Entre os estrategistas, já é comum a idéia de que o seu plano deve incluir
alternativas e ter uma certa flexibilidade. Não há dúvida quanto a isso. Se você se
prende a um plano com muita rigidez, não será capaz de lidar com as súbitas
mudanças na sorte. Depois de examinar as possibilidades futuras e decidir qual é
a sua meta, você deve aumentar as alternativas e estar aberto a novos caminhos
para chegar até lá.
A maioria das pessoas, no entanto, perde menos com o excesso de
planejamento e rigidez do que com a indefinição e a tendência a improvisar
constantemente diante das circunstâncias. Portanto, não há motivo para se cogitar
no inverso desta Lei, pois nada se ganha recusando-se a pensar no futuro e
planejar tudo até o fim. Pensando com bastante clareza e antecedência, você
verá que o futuro é incerto e que deve estar disposto a fazer adaptações. Só um
objetivo claro e um plano de longo alcance lhe dará essa liberdade.
LEI 30
Qualquer ação [indiferença], por mais banal que seja, não só revela a habilidade
da pessoa mas também, com muita freqüência, a faz ser considerada maior do que
é na realidade. Isto porque leva os observadores a acreditar que o homem que faz
as coisas tão facilmente deve ser mais hábil do que é na verdade.
Baldassare Castiglione, 1478-1529
Um verso [de um poema] nos tomará uma hora, talvez; Mas se não parecer a
idéia de um momento, O nosso coser e descoser terá sido inútil.
Adam’s Curse, William Butler Yeats, 1865-1939
Não deixe que ninguém saiba exatamente do que você é capaz. O homem sábio
não permite a ninguém sondar fundo os seus conhecimentos e as suas habilidades,
se quiser ser respeitado por todos. Ele permite que sejam conhecidos, mas não que
sejam compreendidos. Ninguém deve conhecer a extensão das suas habilidades,
para não se desapontar. A ninguém ele dá oportunidade de compreendê-las
totalmente. Pois suposições e dúvidas quanto a extensão dos seus talentos evocam
mais respeito do que saber precisamente até onde eles vão, para que sejam
sempre excelentes.
Baltazar Gracián 1601-1658
O sábio não diz o que sabe, o tolo não sabe o que diz
Provérbio Chinês
O INVERSO
O sigilo com que você envolve suas ações deve aparentar
despreocupação. O zelo em esconder o seu trabalho cria uma impressão
desagradável, quase paranóica: você está levando o jogo muito a sério. Houdini
tinha o cuidado de fazer o mistério dos seus truques parecer um jogo, tudo era
parte do espetáculo. Não mostre o seu trabalho antes de terminá-lo, mas se você
se esforçar demais para escondê-lo acabará como o um louco,
Mantenha o seu bom humor.
Há momentos também em que vale a pena revelar o esforço dos seus
projetos. Tudo depende do gosto da sua platéia, e da época em que você opera.
P.T. Barnum percebeu que o público queria participar dos seus espetáculos e
adorava entender os seus truques, em parte, talvez, porque ao espírito
democrático americano agradasse desmascarar implicitamente quem ocultava
das massas a origem do seu poder. O público também apreciava o humor e a
honestidade do show-man. Barnum chegou ao exagero de publicar as suas
próprias mistificações na sua popular autobiografia, escrita no auge da carreira.
Desde que a revelação parcial de truques e técnicas seja cuidadosamente
planejada e não resulte de uma necessidade incontrolável de dar com a língua
nos dentes, é o máximo da esperteza. Dá à platéia a ilusão de ser superior e de
participar, mesmo que grande parte do que você faz ninguém veja.
LEI 31
O MENTIROSO
Era uma vez, na Arménia, um rei que, sentindo-se num estranho estado de espírito
e precisando se divertir um pouco, enviou arautos por todo reino proclamando o
seguinte: "Ouçam todos! Aquele que provar ser o maior mentiroso da Armênia
receberá uma maçã de ouro das mãos de Sua Majestade, o Rei!” Gente de todas
as cidades e aldeias, de todos os níveis e condições, príncipes, mercadores,
fazendeiros, sacerdotes, ricos e pobres, altos e baixos, gordos e magros vieram em
mültidão ao palácio. Não faltavam mentirosos naquela terra, e cada um contou a
sua mentira ao rei. Governantes, entretanto, estão acostumados cotn todos 05 tipos
de mentira, e nenhuma daquelas conveticeu o rei de que era a melhor. Ele
começou a se cansar com este tiovo esporte e já estava pensando em cancelar a
competição sem declarar um vencedor, quando apareceu diante dele um homem
pobre esfarrapado, carregando debaixo do braço uma grande ânfora de barro. “O
que posso fazer por você?”, perguntou Sua Majestade. "Senhor!" disse o homem,
ligeiramente espantado. "Sem dúvida, não se recorda? Deve-me um pote de ouro
e vim pegá-lo" "Você é um grande mentiroso!" exclamou o rei. “Não lhe devo
nada!” "Um grande mentiroso, eu sou?”, disse o homem pobre. “Então me dê a
maçã de ouro!". O rei, percebendo que o homem estava tentando lhe passar a
perna, "Não, não! Você não é mentiroso!” "Então. me dê o pote de ouro que me
deve, senhor" disse o homem. O rei se viu num dilema, e lhe entregou a maçã de
ouro.
CONTOS E FÁBULAS DO FOLCLORE ARMÊNIO-CHARLES DOWNING, 1993
O INVERSO
O controle das opções tem um só propósito: despistá-lo como agente de
poder e punição. A tática funciona melhor, portanto, com aqueles cujo poder é
frágil, que são incapazes de agir abertamente sem despertar suspeitas,
ressentimento e raiva. Até como regra geral, raramente é sensato ser visto
exercendo o poder de maneira direta e prepotente, não importa o quanto você
seja seguro ou importante.
Por outro lado, ao limitar as opções dos outros você às vezes limita as
suas. Há situações em que é mais vantajoso deixar seus rivais com mais
liberdade: vendo-os agir, você tem ótimas oportunidades para espionar, reunir
informações e planejar suas fraudes. Um banqueiro do século XIX, James
Rothschild, gostava deste método: ele sabia que se tentasse controlar os
movimentos dos adversários perderia a chance de observar as suas estratégias e
planejar uma ação mais eficaz. Quanto mais liberdade ele lhes dava a curto
prazo, mais poderia impor a sua vontade a longo prazo.
LEI 32
A mentira é um feitiço, uma invenção, que pode ser ornamentada como uma
fantasia. Pode estar revestida com idéias místicas. A verdade é fria, sóbria, não tão
confortável de se assimilar. A mentira é mais apetitosa. A pessoa mais detestável
do mundo é a que sempre fala a verdade, nunca romanceia... Eu acho sempre
mais interessante e lucrativo romancear do que dizer a verdade.
Joseph Weil vulgo “The Yellow Kid”, 1875-1976
O FUNERAL DA LEOA
Tendo o leão perdido subitamente a sua rainha, todos se apressaram a mostrar
fidelidade ao monarca oferecendo-lhe consolo. Mas infelizmente esses
cumprimentos só esta vem deixando o viúvo mais aflito. Noticiou-se por todo o
reino a hora e o lugar do funeral, os oficiais receberam ordem para ficar de
prontidão, dirigir a cerimônia e distribuir as pessoas segundo seus respectivos
lugares na sociedade. Pode-se bem imaginar que não faltou ninguém. O monarca
deu vazão à sua tristeza e toda a caverna, visto que leões não têm outros templos,
ressoava com seus lamentos. Seguindo o seu exemplo, todos os cortesãos rugiram,
em seus diferentes tons. A corte é um lugar onde todos ficam tristes, alegres ou
indiferentes de acordo com o príncipe reinante; ou, se alguém não se sente assim,
pelo menos tenta parecer que sente; todos procuram imitar o senhor. Diz-se que
uma só cabeça anima milhares de corpos, mostrando nitidamente que os seres
humanos não passam de máquinas. Mas voltemos ao nosso assunto. Só o veado
não chorava. Como ele era capuz disso, realmente? A morte da rainha era uma
desforra pura ele; ela havia estrangulado a sua esposa e o seu filho. Um cortesão
achou justo contar ao consternado monarca, e até afirmou ter visto o veado rir. A
ira de um rei, diz Salomão, é terrível, principalmente a de um rei-leão. “Miserável
forasteiro!” Exclamou, “ousas rir quando todos a sua volta se desfazem em
lágrimas? Não sujaremos nossas garras reais com teu sangue profano! Vingarás,
bravo lobo, a nossa rainha imolando esse traidor a sua augusta alma?” Ao que o
veado respondeu: ‘Senhor, já não é mais hora de chorar, a tristeza aqui é
supérflua. Vossa reverenciada esposa acabou de aparecer para mim repousando
sobre um leito de rosas; eu a reconheci instantaneamente. ‘Amigo’. ela me disse,
termine essa pompa fúnebre, faça cessar essas lágrimas inúteis. Provei milhares
de delícias nos campos Elísios, conversando com santos como eu. Deixe que o
desespero do rei permaneça por uns tempos incontido, ele me gratifica." Mal ele
havia falado, quando alguém gritou: “Um milagre! Um milagre!” O veado, em
vez de ser punido, recebeu um belo presente. Deixe que o rei sonhe, teça-lhe
elogios, e conte-lhe algumas mentiras agradáveis e fantásticas: por mais indignado
que ele esteja com você, engolirá a isca e fará de você o seu melhor amigo.
FÁBULAS, JEAN DE LA FONTAINE. 1621-1695
Se quiser contar mentiras que pareçam verídicas, não conte a verdade na qual
ninguém vai acreditar.
IMPERADOR TOKUGAWA IEYASU DO JAPÃO,
SÉCULO XVII
O INVERSO
Se há poder em despertar as fantasias das massas, também há riscos. A
fantasia em geral tem um componente de jogo - o público percebe mais ou
menos que está sendo enganado, mesmo assim alimenta o sonho, se diverte e
aprecia o afastamento temporário da rotina que você está lhe proporcionando.
Portanto, não exagere - não se aproxime demais do ponto onde se espera que
você produza resultados. Esse lugar pode ser extremamente arriscado.
Uma última coisa: não cometa, jamais, o erro de achar que a fantasia é
sempre fantástica. Ela sem dúvida contrasta com a realidade, mas a própria
realidade é às vezes tão teatral e estilizada que a fantasia se torna um desejo por
coisas simples. A imagem que Abraham Lincoln criou para si mesmo, por
exemplo, como um simples advogado provinciano barbudo, fez dele o presidente
do povo.
P. T. Barnum criou um ato de grande sucesso com Tom Thumb, um anão
travestido de líderes famosos do passado, como Napoleão, e os satirizava
maldosamente. O espetáculo agradava a todos, até a rainha Vitória, porque
apelava para a fantasia da época: basta com os vaidosos governantes da história,
o homem comum é que sabe das coisas. Tom Thumb inverteu o modelo familiar
de fantasia em que o ideal é o que é estranho e desconhecido. Mas o ato
continuava obedecendo à Lei, pois a base era a fantasia de que o homem simples
não tem problemas, e é mais feliz do que o rico e poderoso.
Tanto Lincoln quanto Tom Thumb representaram o plebeu que se
mantinha cuidadosamente à distância. Se você jogar com essa fantasia, deve
também ter o cuidado de cultivar o distanciamento e não deixar que a sua
persona “plebéia” se torne familiar demais, ou não se projetará como fantasia.
LEI 33
Todo mundo tem um ponto fraco, uma brecha no muro do castelo. Essa
fraqueza em geral é uma insegurança, uma emoção ou necessidade
incontrolável; pode também ser um pequeno prazer secreto. Seja como for, uma
vez encontrado esse ponto nevrálgico, é ali que você deve apertar.
LEI 34
A origem dos problemas em geral pode estar num único indivíduo forte – o
agitador, o subalterno arrogante, o envenenador da boa vontade. Se você der
espaço para essas pessoas agirem, outros sucumbirão a sua influência. Não
espere os problemas que eles causam se multiplicarem, não tente negociar com
eles – eles são irredimíveis. Neutralize a sua influência isolando-os ou banindo-os.
Ataque a origem dos problemas e as ovelhas se dispersarão.
LEI 43