Did. Bantu

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Beatriz Paulo Justino

Curso de Licenciatura em Ensino de Português com habilitações em Língua Bantu

Resumo

Docente: dr. António Chipenembe

Cadeira: Didáctica de Língua Bantu

Universidade Licungo

Beira

2021
O ENSINO BILINGUE EM MOÇAMBIQUE

Tendo em consideração que Moçambique é um país com um vasto e diversificado


mosaico linguístico e a maior parte dos habitantes não são falantes de português, o
ensino bilingue surgiu como resposta à melhoria do ensino primário. Quando analisada
a relação entre língua e educação, pode-se verificar que o aluno tem melhores resultados
pedagógicos se o ensino for conduzido na sua língua materna ou na língua que melhor
domina. Em Moçambique, como referido anteriormente, a língua portuguesa não é
conhecida pela maioria da população, apesar de ser a língua oficial e falada em quase
todo o território nacional. Por isso, faz sentido a introdução de línguas moçambicanas
no ensino.

Pesquisas demonstram que nem todos os alunos que entravam na escola têm as mesmas
possibilidades em termos linguísticos e, por conta disso, podemos verificar que, de
acordo com Benson (1997) citado por Palme (1992), “num total de 1000 alunos que
ingressavam para a 1ª classe apenas 5 sobreviviam até 7ª classe. Portanto, dos 995 que
não chegaram a 7ª alguns abandonaram a escola e outros teriam reprovado na 1ª e nas
classes intermediárias”. No entanto, estudos avançados por Martins (1992) “constatou
que, em 1000 alunos que ingressam(vam) na 1ª classe, perto de 120 é que chegam(vam)
ao fim da 5ª classe e destes, apenas 77 é que concluem(íam) com êxito”. Apesar das
discrepâncias nos estudos, podemos verificar que cerca de 90% das crianças que
ingressam na primeira classe chegam até ao final.

Ademais, alguns estudos realizados pelo INDE demonstram que uma das maiores
causas do fracasso escolar em Moçambique está ligada aos aspectos relacionados com a
linguagem. Dentre eles está o estudo de Martins (1992) entre o sistema educativo
moçambicano e dos países vizinhos com tradição no ensino bilingue.

Para justificar o fraco aproveitamento de crianças no ensino primário é arrolado o factor


língua portuguesa meio de instrução, uma vez que as crianças ingressavam na escola
sem o conhecimento do meio de ensino.

Olhando para o cenário demonstrado anteriormente, começou-se a sugerir a introdução


do Ensino Bilingue, uma modalidade que antes, segundo vários analistas em educação,
não era preocupação do governo de Moçambique.
Ao longo da leitura feita, pudemos constatar que diversas foram as fundamentações
apresentadas para a efectivação do ensino bilingue em Moçambique, dentre as quais
podemos ver que:

 De acordo com o PCEB1 (1999:32) “o processo educacional em qualquer


sociedade, só terá sucesso se for conduzido através de uma língua que o
aprendente melhor conhece, respeitando-se, deste modo, os pressupostos psico-
pedagógicos e cognitivos, a preservação da cultura e de identidade do aluno e os
seus direitos humanos”;
 (i) Língua como direito universal da criança;
 (ii) Língua como factor determinante no rendimento escolar da criança e;
 (ii) Língua como elemento indispensável para a identidade cultural da criança.

Sobre o programa de ensino bilingue em Moçambique podemos verificar que este


adopta um modelo de educação bilingue de transição com características de manutenção
com vista a desenvolver-se um bilinguismo aditivo nos alunos. Tendo em conta os
ciclos de aprendizagem em que o Ensino Primário se encontra estruturado, este modelo
obedece aos seguintes princípios:

a) Primeiro Ciclo (1ª e 2ª classes)

No primeiro ciclo de aprendizagem (1ª e 2ª classes), as línguas moçambicanas são


usadas como língua de ensino e como disciplina, enquanto a língua portuguesa é
simplesmente disciplina, para desenvolver habilidades da oralidade como preparação
para a leitura e escrita nesta língua no 2º ciclo.

b) Segundo Ciclo (3ª, 4ª e 5ª classes)

No segundo ciclo (3ª, 4ª, 5ª classes), ocorre o que se chama transição, que é a passagem
da língua de ensino, de uma língua moçambicana para o Português. Este processo é
gradual, pois na 3ª classe, a língua de ensino continua uma língua moçambicana, mas na
4ª classe já é o Português a desempenhar essas funções.

c) Terceiro Ciclo (6ª e 7ª classes)

No terceiro ciclo (6ª e 7ª classes), as línguas moçambicanas são disciplinas, mas podem,
porventura, ser usadas como meios auxiliares para a clarificação de conceitos.
Considerações Históricas sobre a Educação Bilingue em Moçambique

A educação bilingue em Moçambique surgiu como resposta à melhoria do ensino


primário. Como se pode verificar com as pesquisas apresentadas acima.

Perante este cenário, o INDE/MINED levou a cabo uma experimentação de educação


bilingue denominada “Projecto de Escolarização bilingue em Moçambique” (PEBIMO)
entre 1993 a 1997, em duas províncias, em Tete com Cinyanja/Português e em Gaza
com Xichangana/Português, com quatro turmas em cada província, em escolas públicas
do 1º Grau.

O projecto PEBIMO foi desenhado com o objectivo de experimentar o ensino bilingue


na perspectiva de contribuir para a melhoria da qualidade do ensino básico,
reconhecendo que o Português não é a língua materna da maioria dos alunos
Moçambicanos.

Sobre os antecedentes por detrás da implementação do ensino bilingue em


Moçambique, no ano 1978, foi criado o núcleo de Estudo de Línguas Moçambicanas
(NELIMO) na Faculdade de Letras na UEM. Dez anos depois da sua fundação, em
Agosto de 1988, o NELEMO (com a cooperação do INDE e do Ministério da Cultura)
promoveu o I° Seminário sobre a Padronização da Ortografia de línguas Moçambicanas.
Importa salientar que os participantes do I Seminário construíram urna base para a
utilização das línguas moçambicanas no ensino.

Em Novembro de 1989 teve lugar o I° Seminário sobre Educação Bilingue, e em


Agosto de 1990 o II° Seminário do mesmo género. Estes seminários foram organizados
pelo INDE e a Sociedade Internacional de Linguística (SIL), e reuniram pessoas chave
do INDE, da SIL, do NELIMO, do Ministério de Educação (MINED), do Instituto para
o Aperfeiçoamento de Professores (IAP), da Universidade Pedagógica, da Radio
Moçambique, e outros interessados.

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