Livro Manual de Engenharia Sistemas Fotovoltaicos 2014
Livro Manual de Engenharia Sistemas Fotovoltaicos 2014
Livro Manual de Engenharia Sistemas Fotovoltaicos 2014
para
Sistemas Fotovoltaicos
Manual de Engenharia
para
Sistemas Fotovoltaicos
Organizadores:
CEPEL – CRESESB
É neste contexto que a nova edição do Manual traz muitas novidades. Com mais de 500
páginas, a publicação traça um histórico do caminho da energia fotovoltaica no Brasil,
com exemplos de projetos instalados nos últimos anos. Juntamente com informações
sobre o uso de sistemas fotovoltaicos conectados à rede, são incluídos tópicos
relacionados às normas e regulamentos aplicáveis ao setor, além de aspectos
econômicos.
LISTA DE FIGURAS
GLOSSÁRIO
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO
1.3 – Referências
2.8 – Referências
3.9 – Referências
4.1.6 – Terminais
4.3 – Baterias
4.3.1 – Terminologia
4.3.3.6 – Sulfatação
4.3.3.7 – Hidratação
4.3.3.8 – Sedimentação
4.6 – Inversores
4.9.1 – Proteção
4.10 – Referências
5.6 – Referências
6.1.2 – Localização
6.2.1 – Projeto de sistemas isolados para geração de energia elétrica segundo a RN 493/2012
6.2.1.1 – SIGFI
6.2.1.2 – MIGDI
6.6.1 – Homer
6.6.2 – Hybrid2
6.6.3 – RETScreen
6.6.4 – Insel
6.6.6 – PV-Sol
6.6.7 – PVSyst
6.6.8 – SolarPro
6.6.9 – SolEm
6.6.10 – PV F-CHART
6.6.11 – PVSIZE
6.8 – Referências
7.6 – Aterramento
7.10 – Referências
8.3.2 – Baterias
8.3.4 – Cargas
8.9 – Referências
Cresesb Centro de Referência para Energia Solar e Eólica Sérgio de Salvo Brito
FF Fator de Forma
FV Fotovoltaico
HIT Heterojunction with Intrinsic Thin Layer (Heterojunção com Camada Fina Intrínseca)
II Imposto de Importação
MOSFET Metal Oxide Semiconductor Field Effect Transistor (Transistor de Efeito de Campo
Metal-Óxido-Semicondutor)
MPPT Maximum Power Point Tracking (na terminologia brasileira: Seguidor do Ponto de
Potência Máxima - SPPM)
NiCd Níquel-Cádmio
NR Norma Regulamentadora
OPzS Ortsfest Panzerplatte Spezial (Bateria Estacionária com Placas Tubulares, Eletrólito
Fluido e Separadores Especiais)
Org. Organização
Pb-ácido Chumbo-ácido
RN Resolução Normativa
SSE Surface Meteorology and Solar Energy (Meteorologia de Superfície e Energia Solar)
ST Sistema Térmico
SWERA Solar and Wind Energy Resource Assessment (Levantamento de Recursos Energéticos
Solar e Eólico)
TF Tarifa de Fornecimento
TV Televisor
UA Unidade Astronômica
UC Unidade Consumidora
USAID United States Agency for International Development (Agência Americana para o
Desenvolvimento Internacional)
VN Valor Normativo
VSI Voltage Source Inverter (Inversor de Fonte de Tensão)
Wp Watt-pico
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
Figura 2.2 – Órbita da Terra em torno do Sol, com seu eixo N-S inclinado de um ângulo de 23,45º,
indicando as estações do ano no hemisfério Sul.
Figura 2.4 – Ilustração dos ângulos Z, e S (representando a posição do Sol em relação ao plano
horizontal) e da orientação de uma superfície inclinada em relação ao mesmo plano: ângulos , , S e .
Figura 2.5 – Irradiância direta incidente sobre uma superfície horizontal e Irradiância direta incidente
sobre uma superfície inclinada.
Figura 2.21 – Médias mensais e anual da radiação solar média diária incidente sobre um coletor
inclinado de 10°N na região de Rio Branco.
Figura 2.22 – Médias mensais e anual da radiação solar média diária incidente sobre um coletor
inclinado de 10°N na região de Manaus.
Figura 3.1 – Distribuição das tecnologias usadas na produção industrial de células fotovoltaicas.
Figura 3.3 – Geração de pares elétron-lacuna pela incidência de fótons no material semicondutor.
Figura 3.5 – Junção pn no escuro em equilíbrio térmico, mostrando a barreira de potencial (qV0) as
correntes de difusão (Id) e de deriva (iD) de portadores.
Figura 3.9 – Corrente elétrica em função da diferença de potencial aplicada em uma célula fotovoltaica de
silício de 156 mm x 156 mm, sob condições-padrão de ensaio.
Figura 3.10 – Circuito equivalente básico para uma célula fotovoltaica (modelo com um diodo).
Figura 3.12 – Potência elétrica em função da tensão elétrica de uma célula fotovoltaica de silício cristalino
de 156 mm x 156 mm, sob condições-padrão de ensaio.
Figura 3.13 – Efeito da resistência série (Rs) na curva I-V de uma célula fotovoltaica, sendo todas as
curvas para a mesma temperatura e irradiância (STC), considerando em aberto a resistência paralelo
(Rp=).
Figura 3.14 – Efeito da resistência paralelo (Rp) na curva I-V de uma célula fotovoltaica, sendo todas as
curvas para a mesma temperatura e irradiância (STC), considerando nula a resistência série (Rs=0).
Figura 3.15 – Obtenção das resistências série e paralelo pela curva I-V de uma célula.
Figura 3.16 – Curvas I-V de duas células fotovoltaicas de silício cristalino conectadas em série e em
paralelo.
Figura 3.17 – Influência da variação da irradiância solar na curva característica I-V de uma célula
fotovoltaica de silício cristalino na temperatura de 25 °C.
Figura 3.18 – Influência da temperatura da célula fotovoltaica na curva I-V (para irradiância de 1.000
W/m2, espectro AM1,5).
Figura 3.21 – Fabricação de tarugos (lingotes) de m-Si pelas técnicas de Float-Zone (FZ) e
Czochralski.
Figura 3.23 – Esquema dos componentes de um módulo fotovoltaico com células de silício cristalino.
Figura 3.24 – Degradação máxima de módulos, de acordo com 3 diferentes formas de garantia.
Figura 3.26 – Corte simplificado mostrando como é feita a definição das células fotovoltaicas, bem como
sua conexão em série, em um módulo fotovoltaico de filme fino de a-Si.
Figura 3.27 – Esquema simplificado de uma célula fotovoltaica com corante e eletrólito.
Figura 4.1 – Curva característica I-V e curva de potência P-V para um módulo com potência nominal
de 100 Wp.
Figura 4.3 – Efeito causado pela variação da irradiância solar sobre a curva característica I-V para um
módulo fotovoltaico de 36 células de silício cristalino (c-Si) a 25 °C.
Figura 4.4 – Efeito causado pela variação da temperatura das células sobre a curva característica I-V
para um módulo fotovoltaico de 36 células de silício cristalino (c-Si) sob irradiância de 1.000 W/m2.
Figura 4.7 – Conectores de engate rápido MC4 para conexão série de módulos fotovoltaicos.
Figura 4.8 – Curvas I-V para um módulo de 220 Wp, 2 módulos idênticos associados em série e 4
módulos idênticos associados em série.
Figura 4.9 – Curvas I-V para a conexão em paralelo dos mesmos módulos fotovoltaicos da Figura 4.8.
Figura 4.10 – Curva I-V para 4 módulos conectados em série e sem sombreamento; curva I-V para os
mesmos 4 módulos na situação de sombreamento de uma de suas células; curva I-V com o mesmo
sombreamento, mas com a utilização de diodos de desvio.
Figura 4.11 – Diagrama mostrando a ligação de diodos de desvio nos módulos fotovoltaicos.
Figura 4.13 – Diagrama com 4 séries fotovoltaicas conectadas em paralelo usando diodos de bloqueio;
diodo de bloqueio evitando o fluxo de corrente da bateria para o módulo, quando o controlador não
desempenha esta função.
Figura 4.14 – Diagrama com 4 séries fotovoltaicas que utilizam fusíveis fotovoltaicos de proteção.
Figura 4.15 – Capacidade de uma bateria Chumbo-ácido em função da taxa de descarga, referenciada à
capacidade em C/20.
Figura 4.16 – Curvas típicas do efeito da profundidade de descarga e da temperatura na vida útil da
bateria.
Figura 4.17 – Perfil típico da tensão durante o carregamento de uma célula Chumbo-ácido aberta, com
várias taxas de carga.
Figura 4.18 – Perfil típico da tensão durante o processo de descarga de uma célula Chumbo-ácido
aberta, com várias taxas de descarga.
Figura 4.20 – Vista explodida mostrando as principais partes constituintes de uma célula
eletroquímica.
Figura 4.30 – Formas de onda de tensão (V) e corrente (I) sobre um dispositivo semicondutor em
chaveamento e condução e potência dissipada em um dispositivo semicondutor em chaveamento e
condução.
Figura 4.35 – Estratégia de controle PWM para um conversor cc-ca – tensões de controle Vcaref e Vtri e
tensão na saída Vcarga.
Figura 4.39 – Curvas de eficiência para cargas resistivas de alguns inversores para uso em sistemas
fotovoltaicos isolados.
Figura 4.40 – Curvas I-V e P-V de um gerador de seis módulos de 72 células em série, mostrando a
ocorrência de máximos locais na curva de potência em decorrência de sombreamentos parciais.
Figura 4.42 – Desenho de uma instalação típica de dispositivos de proteção para um SFCR.
Figura 5.6 – SFD no município Xapuri, na comunidade extrativista Dois Irmãos, no Acre.
Figura 5.9 – SFD constituído por um único inversor alimentando todas as cargas da instalação.
Figura 5.17 – Diagrama expandido de uma bomba de deslocamento positivo tipo diafragma.
Figura 5.19 – Proteção catódica por corrente impressa (sistema com fonte elétrica convencional).
Figura 5.20 – Perfil da tensão ao longo de uma tubulação protegida por um sistema de proteção
catódica.
Figura 5.22 – Diagrama genérico para cerca elétrica com alimentação fotovoltaica.
Figura 6.3 – Exemplo de perfis de radiação solar diária com valores equivalentes de HSP.
Figura 6.4 – Média mensal da irradiância global diária no plano horizontal para os períodos
especificados - vila de São Tomé (Pará).
Figura 6.6 – Exemplo de curva de carga estimada para uma dada localidade.
Figura 6.9 – Exemplos de gráficos fornecidos por fabricantes para determinação da potência FV
necessária para cada aplicação.
Figura 6.10 – Taxa de desempenho (TD) de 527 SFCRs instalados na Europa ocidental entre 1991 e
2005.
Figura 6.11 – Exemplos de cargas mecânicas impostas por três módulos FV distintos.
Figura 6.13 – Gráfico de eficiência do inversor em função do nível de carga e da tensão de operação.
Figura 6.14 – Planta Piloto do Megawatt Solar - Eletrosul - Florianópolis - 11,97 kWp.
Figura 6.15 – Vista em planta da distribuição elétrica dos geradores fotovoltaicos da planta-piloto.
Figura 6.16 – Sistema FV plano inclinado a 27 °N, com 10,24 kWp, integrado ao Centro de Cultura e
Eventos da UFSC (Sistema de referência).
Figura 7.4 – Fator de espaçamento versus latitude do local da instalação do gerador fotovoltaico.
Figura 7.5 – Ilustração para definição do espaçamento mínimo entre gerador fotovoltaico e obstáculo,
para evitar sombreamento.
Figura 7.6 – Orientação da face dos módulos fotovoltaicos para o norte verdadeiro em um dado local
no hemisfério Sul.
Figura 7.7 – Exemplo de correção para uma declinação magnética local de 20º negativos.
Figura 7.11 – Sistema fotovoltaico residencial instalado em localidade isolada do Rio Grande do Sul.
Figura 7.14 – Fixação da estrutura no solo com fundação tipo bloco de cimento.
Figura 7.18 – Detalhe de compartimento para baterias com orifícios na parte superior para ventilação.
Figura 7.19 – Vista de baterias no interior de uma caixa especialmente construída para seu
acondicionamento.
Figura 7.20 – Abrigo de baterias bem ventilado e instalado na lateral de uma escola.
Figura 7.21 – Abrigo de madeira devidamente ventilado e isolado e com tela para impedir a entrada de
pequenos insetos e animais.
Figura 7.27 – Exemplo de edificação em madeira para instalação de banco de baterias, equipamentos
de condicionamento de potência e de proteção - MIGDI da Ilha de Araras, Pará.
Figura 7.29 – Pontos de instalação dos componentes de proteção, monitoração e controle de um SFV
para atendimento em c.c.
Figura 7.30 – Pontos de instalação dos componentes de proteção, monitoração e controle de um SFV
para atendimento em c.a.
Figura 7.31 – Pontos de instalação dos componentes de proteção, monitoração e controle de um SFCR.
Figura 8.2 – Exemplo de medição da tensão de circuito aberto do gerador fotovoltaico em um sistema
com baterias.
Figura 8.12 – Tensão de circuito aberto (volts) e densidade específica (g/dm3) do eletrólito em função
do estado de carga para baterias de chumbo-ácido de tensão nominal de 12 V a 30C.
Figura 8.15 – Exemplo de medição da tensão de circuito aberto de uma bateria com elementos de 2V
com conexões externas.
Tabela 2.2 – Unidades para a radiação solar (irradiância e irradiação) e fatores de conversão.
Tabela 3.1 – Bandas proibidas Eg para diversos materiais semicondutores à temperatura de 300 K.
Tabela 3.3 – Níveis de energia de ionização para impurezas utilizadas como dopantes tipos p e n em
silício.
Tabela 3.4 – Eficiência das melhores células fotovoltaicas fabricadas em laboratórios até 2012.
Tabela 4.2 – Dados técnicos adicionais que podem constar na folha de dados do módulo.
Tabela 4.6 – Exemplos de resistências internas (Ri) de dois modelos de baterias sem manutenção.
Tabela 4.8– Redução da vida útil de baterias Chumbo-ácido tipo VRLA em função da temperatura
média anual de operação.
Tabela 4.10– Concentração máxima de impurezas permitida na água destilada e/ou deionizada.
Tabela 4.16 – Comparação de características de inversores para conexão à rede com e sem
transformador.
Tabela 6.2 – Valores estimados de consumo médio mensal de alguns equipamentos elétricos.
Tabela 6.3 – Exemplos de equipamentos elétricos que devem ser evitados ou proibidos em sistemas
isolados de pequeno porte.
Tabela 6.9 – Níveis de tensão considerados para conexão de micro e minicentrais geradoras.
Tabela 6.11 – Principais características dos programas pesquisados e suas respectivas páginas na
internet.
CAPÍTULO 7 – INSTALAÇÃO DE SISTEMAS FOTOVOLTAICOS E RECOMENDAÇÕES DE
SEGURANÇA
Tabela 8.1 – Falhas típicas dos sistemas do programa alemão 1.000 Telhados.
Aerogerador Dispositivo responsável por converter a energia cinética contida nos ventos em
energia mecânica e, em seguida, em eletricidade.
Albedo Parte da radiação solar que chega à superfície da Terra e é refletida pelo
ambiente do entorno (solo, vegetação, obstáculos, terrenos rochosos etc.).
Ano Meteorológico Determinação estatística dos dados meteorológicos locais ao longo dos meses
Padrão (ou Típico) de vários anos.
Armário de baterias Local onde comumente são abrigadas as baterias que formam o sistema de
armazenamento.
Arquitetura bioclimática Aplicação das condicionantes impostas pelo clima local ao projeto
arquitetônico (adaptações por meios naturais).
Aterramento elétrico Ligação intencional de estruturas ou instalações com a terra, visando garantir o
funcionamento correto da instalação e, principalmente, proporcionar um
caminho preferencial às correntes elétricas indesejáveis, de forma a evitar
riscos para as pessoas e os equipamentos.
Capacidade Quantidade de amperes-hora (Ah) que pode ser retirada da bateria quando
esta apresenta carga plena.
Sobrecarga Fornecimento de corrente a bateria após a mesma ter atingido a carga plena.
Tensão nominal Tensão média da bateria durante o processo de descarga com uma
determinada taxa de descarga a uma determinada temperatura.
Célula a combustível Dispositivo eletroquímico que converte a energia química em energia elétrica e
calor, tendo como combustível o hidrogênio.
Corrente de curto-circuito Máxima corrente que a célula (ou módulo) fotovoltaica pode produzir quando
a tensão elétrica em seus terminais é igual a zero, considerando as condições
padrão de teste.
Fator de forma Relação entre a máxima potência da célula (ou módulo) fotovoltaica e o
produto entre a tensão de circuito aberto e a corrente de curto-circuito.
Máxima potência Máximo valor de potência que a célula (ou módulo) fotovoltaica pode
produzir, considerando as condições padrão de teste.
Tensão de circuito aberto Máxima tensão entre os terminais da célula (ou módulo) fotovoltaica quando
não há corrente elétrica circulando, considerando as condições-padrão de
teste.
Centrais fotovoltaicas Sistemas fotovoltaicos de médio e grande porte, composto por vários geradores
fotovoltaicos interligados à rede elétrica por um ou mais inversor. Em geral,
são operados por empresas de geração, sendo sua conexão à rede elétrica feita
em média tensão.
Central hidroelétrica Instalação na qual a energia potencial e cinética contida em um fluxo de água é
convertida em energia mecânica e, em seguida, em energia elétrica.
Choque elétrico Efeito que se manifesta no organismo humano quando é percorrido por uma
corrente elétrica. Em geral este efeito é indesejável.
Coletor solar Dispositivo responsável pela captação da energia solar, conversão em energia
térmica e, por fim, aquecimento de um fluido.
Condições padrão de teste Condições nas quais a célula (ou módulo) fotovoltaica é submetida para
determinação dos seus parâmetros elétricos. As condições são: irradiância solar
de 1.000 W/m2, distribuição espectral padrão para a massa de ar de 1,5 e
temperatura de célula de 25 °C.
Constante solar Irradiância solar incidente num plano perpendicular à direção de propagação
no topo da atmosfera terrestre. Valor: 1.367 W/m2.
Controlador de carga Dispositivo responsável por regular e gerenciar o fluxo energético dos
geradores fotovoltaicos para as baterias, bem como protegê-las de uma
descarga profunda decorrente de um longo período sem geração.
Conversores c.c.-c.c. Em geral, utilizado como controlador de carga de baterias a partir da energia
gerada por geradores fotovoltaicos.
Curva de carga Gráfico que mostra a evolução no tempo da quantidade de potência solicitada
por uma carga ou um conjunto de cargas.
Declinação solar Ângulo formado entre as linhas imaginárias do Equador e a que liga o centro
da Terra ao Sol.
Demanda Média das potências elétricas ativas ou reativas, solicitadas ao sistema elétrico
pela parcela da carga instalada em operação na unidade consumidora, durante
um intervalo de tempo especificado.
Dessalinização Retirada de sais da água salgada ou salobra, tornando-a doce e própria para o
consumo humano.
Diodo de bloqueio Conectados entre os módulos FV e as baterias para impedir que aqueles atuem
como carga para as baterias em períodos onde não haja geração de energia.
Esses diodos impedem, também, que, em um gerador FV, módulos operando
em condições normais injetem correntes elevadas em grupos de módulos em
condições de funcionamento anormais.
Diodo de desvio ou by- Conectados em paralelo com os módulos para impedir que, em uma associação
pass série, o mau funcionamento de um dos módulos (devido a defeitos de
fabricação ou condições de sombreamento) influencie negativamente no
desempenho de todo o gerador.
Efeito fotovoltaico Conversão direta da energia da luz (espectro visível) em energia elétrica. A
célula fotovoltaica é o elemento que realiza esta conversão.
Energia eólica Energia cinética presente na deslocação do ar (vento) que pode ser convertida
em energia mecânica para acionamento de bombas, moinhos e geradores de
energia elétrica.
Energia mecânica Energia que pode ser usada diretamente para realização de trabalho, seja ela
potencial ou cinética.
Energia solar fotovoltaica Conversão direta da energia solar radiante em energia elétrica corrente
contínua.
Energia solar térmica Conversão direta da energia solar radiante em calor utilizável.
Equinócio Momento em que o Sol, durante seu movimento aparente, cruza o plano do
equador celeste. Os equinócios ocorrem duas vezes por ano: em setembro e em
março. Os dias e noites são iguais em duração.
Estação meteorológica Constituídas por uma série de sensores utilizados com a finalidade de realizar a
monitoração continuamente, em intervalos de tempo predeterminados, das
variáveis meteorológicas (vento, irradiância, temperatura, etc.).
Fiação ou cabeamento Conjunto de cabos ou fios destinados à distribuição da energia elétrica para um
determinado fim.
Grupo gerador diesel Equipamento que utiliza o diesel como combustível para acionar uma máquina
motriz, cuja energia mecânica do seu eixo é convertida em energia elétrica por
um gerador.
Horas de Sol Pleno Número de horas por dia em que a radiação solar deve permanecer constante e
igual a 1.000 W/m2.
Fator de dimensionamento Relação entre a potência nominal c.a. do inversor e a potência pico do
de inversor gerador fotovoltaico (potência na condição padrão de teste).
Tensão de entrada Função da potência nominal fornecida pelo inversor às cargas c.a.
Tensão de saída Regulada na maioria dos inversores, e sua escolha depende da tensão de
operação das cargas c.a.
Irradiação difusa Irradiação solar que atinge a superfície após sofrer espalhamento pela
atmosfera terrestre
Irradiação direta Irradiação solar que incide diretamente sobre a superfície, sem sofrer qualquer
influência.
Irradiação global Quantidade resultante da soma da irradiações solares direta e difusa, e albedo.
Irradiação solar Energia incidente por unidade de superfície de um dado plano, obtida pela
integração da irradiância durante um intervalo de tempo, normalmente uma
hora ou um dia.
Irradiância extraterreste Irradiância solar que atinge o topo da camada atmosférica da Terra.
Irradiância solar Potência radiante (radiação solar) incidente por unidade de superfície sobre um
dado plano.
Medidor bidirecional Dispositivo que registra a entrada e a saída de energia elétrica em uma unidade
consumidora.
Medidor unidirecional Dispositivo que registra a entrada ou a saída de energia elétrica em uma
unidade consumidora.
Microgeração distribuída Central geradora de energia elétrica, com potência instalada menor ou igual a
100 kW e que utilize fontes com base em energia hidráulica, solar, eólica,
biomassa ou cogeração qualificada, conforme regulamentação da ANEEL,
conectada na rede de distribuição por meio de instalações de unidades
consumidoras.
Microssistema isolado de Sistema isolado de geração e distribuição de energia elétrica com potência
geração e distribuição de instalada total de geração de até 100 kW.
energia elétrica
Minigeração distribuída Central geradora de energia elétrica, com potência instalada superior a 100 kW
e menor ou igual a 1 MW para fontes com base em energia hidráulica, solar,
eólica, biomassa ou cogeração qualificada, conforme regulamentação da
ANEEL, conectada na rede de distribuição por meio de instalações de unidades
consumidoras.
Minirrede ou Microrede Rede de distribuição de energia elétrica que pode operar isoladamente do
de distribuição sistema de distribuição, atendida diretamente por uma unidade de geração
distribuída.
Módulo fotovoltaico Unidade básica do gerador fotovoltaico formada por um conjunto de células
solares, interligadas eletricamente e encapsuladas, com o objetivo de gerar
energia elétrica.
Caixa de conexões Local onde são abrigados os diodos de desvio e as conexões dos conjuntos de
células em série.
Rastreador solar Suporte mecânico ativo que permite o apontamento da superfície do gerador
fotovoltaico na direção do Sol, com intuito de maximizar a produção de
energia. Idealmente tal dispositivo deve manter o ângulo de incidência da luz
solar sempre próximo da normal à superfície do gerador.
Semicondutor Material que, quando aquecido ou combinado com outros materiais, é capaz de
conduzir eletricidade. Semicondutores em células fotovoltaicas são, por
exemplo, o Silício, Telureto de cádmio (CdTe) e Disseleneto de cobre (CIS)
Monocristalino Formado por uma estrutura cristalina homogénea ao longo de todo o material.
Policristalino Formado por pequenos cristais, colados uns aos outros e que têm um tamanho
que vai desde alguns milímetros até alguns centímetros.
Sistema de proteção Sistema responsável em minimizar ou até mesmo eliminar falhas que possam
prejudicar a segurança das pessoas e dos equipamentos. Composto por:
disjuntores, chaves seccionadoras, dispositivos de proteção contra surtos
(DPS), sistemas de aterramento e sistemas de proteção contra descargas
atmosféricas (SPDA).
Sistema fotovoltaico Sistema de conversão da radiação solar em energia aproveitável sob a forma de
eletricidade. É constituído por um bloco gerador, um bloco de
condicionamento de potência e, opcionalmente, um bloco de armazenamento.
Sistema fotovoltaico Sistema fotovoltaico com funcionamento dependente da rede elétrica, tendo a
conectado à rede produção de energia entregue diretamente a mesma.
Sistema fotovoltaico Sistema fotovoltaico que pode ser aplicado em edificações novas ou já
integrados a edificações existentes sobre os telhados ou fachadas, servindo não apenas como fontes de
energia, mas como elementos de sombreamento e diferencial arquitetônico da
própria construção.
Sistema fotovoltaico Sistema fotovoltaico com funcionamento independente da rede elétrica, isto é,
isolado ou autônomo não conectado. Em geral, utiliza baterias para armazenamento de energia.
Sistema híbrido de Sistema que utiliza mais de uma fonte primária de energia (renovável ou não),
energia dependendo da disponibilidade dos recursos, para gerar energia elétrica de
forma coordenada e com custos mínimos, dada a possibilidade de se explorar a
complementaridade entre as fontes, permitindo assim que o mesmo opere com
o mínimo de interrupções, o que garante uma boa qualidade no atendimento de
cargas especificas.
Sistema individual de Sistema de geração de energia elétrica, utilizado para o atendimento de uma
geração de energia única unidade consumidora, cujo fornecimento se dê exclusivamente por meio
elétrica com fonte de fonte de energia intermitente.
intermitente
Sol Sol é a estrela mais próxima da Terra, sendo sua principal fonte de energia.
Solstício Momento em que o Sol, durante seu movimento aparente, atinge a maior
declinação em latitude, medida a partir da linha do equador. Os solstícios
ocorrem duas vezes por ano: em dezembro e em junho. No verão, os dias são
mais longos. No inverno, as noites são mais longas.
Temperatura nominal da Temperatura nominal atingida pelas células quando o módulo é exposto em
célula nas condições de circuito aberto a seguintes condições: irradiância na superfície da célula igual a
operação 800 W/m2, temperatura do ar a 20 ° C e velocidade de vento incidente a igual 1
m/s.
Unidade Astronômica Distância média entre o Sol e a Terra; cerca de 150 milhões de km.
Vento Movimento do ar na atmosfera terrestre devido ao aquecimento heterogêneo
provocado pela radiação solar nas diferentes regiões da superfície terrestre.
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO
O aproveitamento da energia gerada pelo Sol, inesgotável na escala terrestre de tempo, tanto
como fonte de calor quanto de luz, é hoje uma das alternativas energéticas mais promissoras para
prover a energia necessária ao desenvolvimento humano. Quando se fala em energia, deve-se lembrar
de que o Sol é responsável pela origem de praticamente todas as outras fontes de energia na Terra. Em
outras palavras, as fontes de energia são, em última instância, derivadas, em sua maioria, da energia do
Sol.
É a partir da energia do Sol que se dá a evaporação, origem do ciclo das águas, que possibilita o
represamento e a consequente geração de eletricidade (hidroeletricidade). A radiação solar também
induz a circulação atmosférica em larga escala, causando os ventos. Assim, também a energia eólica é
uma forma indireta de manifestação da energia solar, já que os ventos se formam a partir da conversão
da radiação solar em energia cinética, em função de um balanço diferenciado nas diferentes latitudes
entre a radiação solar incidente e a radiação terrestre emitida. Petróleo, carvão e gás natural foram
gerados a partir de resíduos de plantas e animais que originalmente obtiveram do recurso solar a
energia necessária ao seu desenvolvimento. É também através da energia do Sol que a matéria
orgânica, como a cana-de-açúcar, realiza a fotossíntese e se desenvolve para, posteriormente, ser
transformada em combustível nas usinas. Entretanto, neste manual tratar-se-á apenas do que se pode
chamar de energia solar direta.
De forma mais simplificada, para fins de engenharia, pode-se falar da energia solar térmica e
energia solar fotovoltaica. Algumas formas de utilização da energia solar são apresentadas a seguir.
47
1.1 – Energia Solar Térmica
Os coletores solares planos são largamente utilizados para aquecimento de água em residências,
hospitais, hotéis, etc., visando à redução do consumo de energia elétrica ou de gás. Em termos globais,
o Relatório da Situação Global das Renováveis 2012 estima que a potência instalada acumulada no
mundo, apenas para aquecimento de água e geração de calor, atingiu 232 GWth1 ao final de 2011, o
que representa o uso de uma área aproximada de 330 milhões de m2. O mesmo relatório estima que
mais de 200 milhões de residências no mundo usam coletores solares para aquecimento de água. No
Brasil, a área acumulada atingiu 8,49 milhões de m2, o que supera 5,7 GWth, sendo 1,15 milhão de m2
acrescentados apenas em 2012. A Figura 1.1 apresenta a evolução do setor de aquecimento solar no
mercado brasileiro ao longo da última década.
1
GWth – Gigawatt térmico. Unidade de potência usada para caracterização de equipamentos para resfriamento, como
condicionadores de ar, ou aquecimento, como coletores solares, centrais termelétricas ou turbinas.
48
Figura 1.1 - Evolução do Mercado Brasileiro de Aquecimento Solar. Fonte: (DASOL, 2013).
Uma tendência que se observa nessa área, no exterior, é a instalação de grandes sistemas solares
integrados para aquecimento de água e ambiente, bem como para refrigeração, além da implantação de
sistemas urbanos de aquecimento (district heating). Em 2011 foi construída uma planta de 25 MWth
para aquecimento de água em Riad, na Arábia Saudita, capaz de atender 40.000 estudantes
universitários, constituindo-se na maior planta instalada no mundo para esta finalidade.
Plantas de médio e grande porte utilizando sistemas ópticos (lentes, espelhos) para concentração
da radiação solar e aquecimento de fluidos a altas temperaturas são denominadas de CSP
(Concentrated Solar Power). Quatro tecnologias CSP são usadas: cilindros parabólicos, torres solares,
coletores lineares de Fresnel e concentradores (“discos”) parabólicos. Nas três primeiras tecnologias,
normalmente o calor captado é usado na produção de vapor e posterior acionamento de turbinas para
fins de geração de energia elétrica. Na última, a energia elétrica é gerada em motores stirling. As
tecnologias apresentam diferentes níveis de maturidade, variando desde a viabilidade comercial dos
cilindros parabólicos – que dominam o mercado com 90% da potência instalada, passando por plantas
pilotos comerciais com torres solares, a projetos pilotos com concentradores de Fresnel. As potências
destas plantas podem variar de uma dezena de kW, nos sistemas stirling, até centenas de MW, em
plantas com cilindros parabólicos.
Uma grande vantagem dos sistemas solares térmicos é a possibilidade de serem acoplados a
sistemas de armazenamento de calor para uso em outros horários, que não coincidem com a incidência
49
solar. Isso traz uma maior flexibilidade no despacho de energia elétrica, em comparação aos sistemas
fotovoltaicos, além de maior eficiência no processo de conversão de energia e de uma gama de
aplicação mais ampla. Outra vantagem é a possibilidade de integração com outras aplicações que
necessitem de energia térmica.
Um dos grandes desafios que se coloca para o segmento industrial solar térmico é a queda
significativa dos preços dos módulos fotovoltaicos2, que tornam estes mais competitivos.
Quanto à energia solar térmica passiva, a arquitetura bioclimática estuda formas de harmonizar
as construções ao clima e características locais, pensando no homem que habitará ou trabalhará nesses
ambientes, e tirando partido de correntes convectivas naturais e de microclimas criados por vegetação
apropriada. Trata-se da adoção de soluções arquitetônicas e urbanísticas adaptadas às condições
específicas (clima e hábitos de consumo) de cada lugar, utilizando, para isso, a energia que pode ser
diretamente obtida das condições locais e beneficiando-se da luz e do calor provenientes da radiação
solar incidente, bem como da ventilação natural. O uso da luz solar, que implica em redução do
consumo de energia elétrica para iluminação, condiciona o projeto arquitetônico quanto à sua
orientação espacial, quanto às dimensões das janelas e suas propriedades ópticas, altura do teto, etc.
Por outro lado, a administração do calor proveniente do Sol é conseguida pela alteração da orientação
espacial da edificação e pela seleção dos materiais adequados (isolantes ou não, conforme as condições
climáticas) para paredes, vedações e coberturas, dentre outros fatores.
A energia solar fotovoltaica é a energia obtida através da conversão direta da luz em eletricidade
(Efeito Fotovoltaico), sendo a célula fotovoltaica, um dispositivo fabricado com material
semicondutor, a unidade fundamental desse processo de conversão.
2
Módulo fotovoltaico é uma unidade básica, formada por um conjunto de células fotovoltaicas, interligadas eletricamente e
encapsuladas, com o objetivo de gerar energia elétrica, e se constitui na unidade comercial do gerador fotovoltaico. Ver
item 3.4.
50
considerada uma tecnologia consolidada e confiável, e por possuir a melhor eficiência comercialmente
disponível.
A Figura 1.2 apresenta a evolução da eficiência das células fotovoltaicas verificada no período
de 1990 a 2010, mostrando a melhor eficiência obtida para células de pequena área (0,5 a 5,0 cm2)
fabricadas em laboratório, usando diferentes tecnologias. Células multijunção para concentração (III-V
MJ Conc)4 foram fabricadas com dupla junção até 1995 e, posteriormente, com junções triplas. Na
Figura 1.2, a eficiência da célula a-Si MJ (multijunção com silício amorfo) refere-se ao valor já
estabilizado após exposição prolongada à luz.
3
Denominação genérica das tecnologias de silício cristalino, m-Si e p-Si.
4
Células com Concentradores Multijunção, também conhecidas por III-V MJ Conc, utilizam na sua fabricação
semicondutores dos antigos grupos III e V da tabela periódica.
51
Figura 1.2 - Desenvolvimento das células fotovoltaicas. Fonte: Adaptada de (GREEN et al., 2011).
52
Figura 1.3 - Representação dos eventos-chave no desenvolvimento das células fotovoltaicas. Fonte: Adaptado de
(FERREIRA, 1993).
53
A crise do petróleo de 1973 renovou e ampliou o interesse em aplicações terrestres para a
energia solar fotovoltaica. Porém, para tornar economicamente viável essa forma de conversão de
energia, seria necessário, naquele momento, reduzir em até 100 vezes o custo de produção das células
fotovoltaicas em relação ao custo daquelas células usadas em aplicações espaciais. Adicionalmente, o
perfil das empresas envolvidas no setor também foi modificado. Nos Estados Unidos, algumas
empresas de petróleo resolveram diversificar seus investimentos, incluindo a produção de energia a
partir da radiação solar em suas áreas de negócios.
Em 1998, a produção mundial de células fotovoltaicas atingiu a marca de 150 MWp, sendo o
silício quase absoluto dentre os materiais utilizados. O grande salto no desenvolvimento do mercado
fotovoltaico resultou do rápido aumento da produção chinesa, observado desde 2006. Em 2003, a Ásia
não figurava entre os dez maiores fabricantes do mundo, entretanto, em 2008, três destes eram da
China e um de Taiwan e, em 2009, a China já ocupava a liderança na fabricação de módulos.
Embora abundante na Terra, a energia solar para produção de energia elétrica ainda é pouco
utilizada. Nos países desenvolvidos este cenário vem mudando, porque fortes incentivos foram
concedidos para a instalação de sistemas fotovoltaicos. A Figura 1.4 apresenta a evolução da produção
mundial de células fotovoltaicas, tendo sido produzidos, em 2012, cerca de 36,2 GWp. Esta potência
equivale a mais de duas vezes e meia a potência da usina hidroelétrica de Itaipu, a maior central de
produção de energia elétrica do Brasil. Nos últimos onze anos, o crescimento anual médio da indústria
de células e módulos fotovoltaicos foi de 54,2%.
5
Wp (watt-pico) é a unidade de potência de saída de um gerador fotovoltaico, sob as condições padrão de ensaio.
54
Figura 1.4 - Produção mundial de células fotovoltaicas. Fonte: Modificado de (Roney 2013).
55
Figura 1.5 - Evolução da potência instalada em sistemas fotovoltaicos no mundo. Fonte: (EPIA, 2013).
Outros mercados estão surgindo, principalmente na Ásia, podendo-se citar, dentre outros países,
o expressivo crescimento verificado na China e na Índia, devido a políticas favoráveis, preços baixos
de módulos fotovoltaicos e programas de eletrificação rural em larga escala. Na China, mais do que
incentivar o uso da tecnologia através de programas governamentais, a política mais agressiva está
voltada para a produção e exportação de células e módulos fotovoltaicos. A Figura 1.6 apresenta a
distribuição percentual da produção mundial de células segundo o país ou região, em 2012. A China,
que fabricou 23 GWp em módulos fotovoltaicos, deteve 64% da produção mundial desse ano. As
indústrias instaladas em países asiáticos, não necessariamente com tecnologia desenvolvida
nacionalmente, dominam o mercado, com 85%. Em 2012, na Europa foram produzidos 11% dos
módulos fotovoltaicos e nos Estados Unidos, 3%, mas deve-se observar que muitas empresas
europeias e norte-americanas deslocaram suas fábricas para a Ásia, em busca de redução de custos de
produção, em função da existência de uma cadeia produtiva estabelecida, mão de obra qualificada e
barata, e incentivos por meio de fontes de financiamento para implantação de fábricas.
56
Figura 1.6 - Distribuição da produção mundial de células fotovoltaicas em 2012. Fonte: (GTM RESEARCH, 2013)
O custo das células fotovoltaicas é, ainda hoje, um grande desafio para a indústria e o principal
empecilho para a difusão dos sistemas fotovoltaicos em larga escala. No entanto, a tecnologia
fotovoltaica está se tornando cada vez mais competitiva, em razão, tanto dos seus custos decrescentes,
quanto dos custos crescentes das demais formas de produção de energia, inclusive em função da
internalização de fatores que eram anteriormente ignorados, como a questão dos impactos ambientais.
No final de 2013, para venda em maior escala, o preço do módulo fotovoltaico de c-Si encontrava-se
em cerca de 0,60 €/Wp na Europa, de 0,65 U$/Wp nos EUA e menos de 3 R$/Wp no Brasil.
O território brasileiro recebe elevados índices de irradiação solar, quando comparado com países
europeus, onde a tecnologia fotovoltaica é disseminada para a produção de energia elétrica. Constata-
se, entretanto, que o avanço tecnológico no Brasil tem passado por fases de crescimento, bem como
por períodos de várias dificuldades.
57
cobre/sulfeto de cádmio) com dimensões de 5 x 5 cm. Um dos principais resultados obtidos foi a
produção de um módulo fotovoltaico de 30 x 30 cm com 5% de eficiência. A tecnologia evoluiu
inicialmente para células fotovoltaicas de filmes finos CIS, mas atualmente o grupo atua na tecnologia
de células CdTe.
Nos anos 70, o desenvolvimento tecnológico no Brasil, no setor de energia solar fotovoltaica,
iniciado duas décadas antes, equiparava-se ao que ocorria nos países de vanguarda no mundo,
incentivado pela crise internacional do petróleo. No final dos anos 70 e início da década de 80, duas
fábricas de módulos fotovoltaicos de silício cristalino foram estabelecidas no país. Porém, nos anos 80,
vários grupos de pesquisa direcionaram os seus trabalhos para outras áreas, devido à falta de
incentivos, e as fábricas reduziram a sua produção significativamente, ou foram extintas. Atualmente
há apenas uma fábrica para encapsulamento de módulos fotovoltaicos em funcionamento no Brasil
(Empresa Tecnometal, localizada em Campinas).
A Associação Brasileira de Energia Solar (ABENS) foi criada em 1978 e possuía escritórios
regionais em vários estados brasileiros. Porém, uma década mais tarde, as atividades foram
interrompidas temporariamente. Muitos anos depois, com o aumento do número de especialistas e das
atividades de pesquisa no país, iniciou-se, durante o II SNESF - Simpósio Nacional de Energia Solar
Fotovoltaica, ocorrido em 2005 no Cepel (Rio de Janeiro, RJ), uma discussão entre os pesquisadores
atuantes na área, para reorganização da ABENS. Após a sua reestruturação, o primeiro congresso
promovido pela ABENS (I CBENS - Congresso Brasileiro de Energia Solar) foi realizado em 2007 em
Fortaleza, CE. Até 2012 foram realizados três outros congressos: II CBENS em novembro de 2008
(Florianópolis, SC); III CBENS em setembro de 2010 (Belém, PA) e IV CBENS em setembro de 2012
(São Paulo, SP).
No início dos anos 90, células fotovoltaicas de silício cristalino foram desenvolvidas para serem
testadas no primeiro satélite brasileiro. Atualmente, no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE), localizado em São José dos Campos, SP, estão sendo testadas e usadas células de tripla
junção, para aplicações espaciais.
58
pesquisa, como o Instituto de Química da Universidade de São Paulo e o Laboratório de
Nanotecnologia e Energia Solar da UNICAMP, com eficiências da ordem de 2%.
Nos anos 90, a difusão da tecnologia fotovoltaica no Brasil ficou defasada em relação ao que
ocorria na Alemanha, Japão e outros países europeus onde os incentivos estavam direcionados ao
desenvolvimento tecnológico e industrial e, principalmente, para aplicações associadas ao uso da
energia solar em residências. Como marco, pode-se citar o Programa de 1.000 Telhados Fotovoltaicos,
iniciado em 1990, na Alemanha.
Em 1994, o Centro de Referência para as Energias Solar e Eólica Sérgio de Salvo Brito
(Cresesb) foi criado por meio de um Convênio entre o Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel)
da Eletrobras e o Ministério de Minas e Energia (MME), com apoio do Ministério da Ciência e
Tecnologia (MCT), atual Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). As principais
atividades do Cresesb (www.cresesb.cepel.br) destinam-se ao apoio de programas do Governo Federal,
divulgação de informações, edição de publicações, realização de cursos e manutenção de biblioteca
especializada, sendo, assim, um instrumento para difusão de conhecimento técnico e qualificado nas
áreas de energia solar e eólica.
Nesse contexto, em 2004, foi criado em Porto Alegre, RS, o Centro Brasileiro para
Desenvolvimento da Energia Solar Fotovoltaica (CB-Solar), por meio de um Termo de Cooperação
Técnico-Científica entre entidades dos governos Federal (Ministério da Ciência e Tecnologia),
Estadual (Secretaria Estadual de Energia, Minas e Comunicações) e Municipal (Secretaria Municipal
da Produção, Indústria e Comércio), em conjunto com a Companhia Estadual de Energia Elétrica
(CEEE) e a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Duas ações do CB-
Solar podem ser destacadas:
59
2) o desenvolvimento de tecnologias em escala piloto para fabricação de células fotovoltaicas de
silício cristalino e de módulos fotovoltaicos, incluindo uma análise técnico-econômica da sua
produção em escala industrial.
No que concerne às ações efetivas para aproveitamento da energia fotovoltaica, foram instalados
diversos sistemas fotovoltaicos isolados e sistemas híbridos para fornecimento de energia em ilhas e
localidades afastadas da rede elétrica em todo o território brasileiro. Em 1994, o Governo Federal, por
meio do Ministério de Minas e Energia, criou um programa para promover a eletrificação rural,
baseado principalmente nos sistemas fotovoltaicos, denominado Prodeem (Programa de
Desenvolvimento Energético de Estados e Municípios), envolvendo universidades, centros de
pesquisa, secretarias estaduais de energia e concessionárias federais e estaduais, através do qual foram
adquiridos mais de 8.500 sistemas fotovoltaicos.
No ano de 2002, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) iniciou estudos para
estabelecimento de regulamentação das especificações técnicas necessárias à instalação dos SIGFIs
(Sistemas Individuais de Geração de Energia Elétrica com Fontes Intermitentes), destinados ao
fornecimento de energia elétrica aos consumidores isolados da rede elétrica de distribuição, que
resultou na publicação da Resolução Normativa nº 83/2004, posteriormente revogada e substituída pela
Resolução Normativa nº 493/2012, a qual regulamenta também o fornecimento de energia por meio
dos MIGDIs (Microssistemas Isolados de Geração e Distribuição de Energia Elétrica).
60
Ainda no âmbito do LpT, a Eletrobras, em parceria com a agência alemã de cooperação técnica
GIZ (Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit, antiga GTZ) e a Eletrobras
Distribuição Acre, desenvolveu um projeto piloto de implantação de 103 SIGFIs em uma reserva
extrativista localizada no município de Xapuri, AC. Sistemas tipo MIGDIs também foram utilizados
no âmbito do LpT pelas distribuidoras do Amazonas e do Pará , em parceria com a Eletrobras, para
fornecimento de energia elétrica a comunidades ribeirinhas remotas.
Em 2009, foi publicada a Lei nº 12.111 que dispõe sobre os serviços de energia elétrica nos
Sistemas Isolados. Essa lei é um marco para a universalização do atendimento de energia elétrica pois
autoriza a utilização de subsídio governamental para reembolsar o custo de geração, incluindo
investimentos e custos de operação e manutenção, de qualquer sistema elétrico - e não mais só aqueles
a base de combustíveis fósseis - para atendimento de áreas isoladas ao SIN (Sistema elétrico
Interligado Nacional). Com isso é assegurado recurso para a universalização mesmo com a extinção do
Programa LpT em 2014. A Celpa e distribuidoras da Eletrobras elaboraram projetos para atendimento
de algumas comunidades remotas com base unicamente em sistemas fotovoltaicos. Em 2013 o MME,
com apoio do EPE, da Eletrobras e do Cepel, elaborou um relatório (em fase de revisão) intitulado
“Especificações dos Projetos de Referência no âmbito do Programa Luz para Todos” com critérios
para orientar as distribuidoras na elaboração de seus projetos para os leilões previstos na Lei nº 12.111
e que utilizem recursos de investimento do Programa LpT. Em maio de 2013 a Celpa efetuou o
primeiro leilão de energia nestes termos, que resultou em fracassado pois os proponentes não
conseguiram atestar a capacidade técnica requerida. A estimativa é que em 2014 a Celpa lance de novo
o leilão e também a Eletrobras Amazonas Energia e a Eletrobras Distribuição Acre lancem os seus.
O COBEI (Comitê Brasileiro de Eletricidade, da ABNT) também criou um grupo técnico sobre
sistemas fotovoltaicos que foi responsável pela elaboração, entre outras, das Normas NBR 16149
61
Sistemas Fotovoltaicos (FV) - Características da interface de conexão com a rede elétrica de
distribuição e NBR 16150 Sistemas Fotovoltaicos (FV) - Características da interface de conexão com a
rede elétrica de distribuição - procedimento de ensaio de conformidade, com base nas normas IEC. Em
dezembro de 2013, a norma “Sistemas fotovoltaicos conectados à rede – Requisitos mínimos para
documentação, ensaios de comissionamento, inspeção e avaliação de desempenho” foi submetida à
consulta pública (Projeto 03:082.01-005).
Os primeiros sistemas fotovoltaicos conectados à rede elétrica foram instalados no Brasil no final
dos anos 90 em concessionárias de energia elétrica, universidades e centros de pesquisa. A Chesf
(Companhia Hidroelétrica do São Francisco) foi pioneira nesta área ao instalar um sistema fotovoltaico
de 11 kWp em 1995, em sua sede em Recife, PE. Outros sistemas pioneiros foram instalados na USP
(São Paulo, SP), na UFSC (Florianópolis, SC), na UFRGS (Porto Alegre, RS) e no Cepel (Rio de
Janeiro, RJ).
62
fotovoltaico, nem usinas térmicas a biomassa ou pequenas centrais hidrelétricas apresentou proposta
contemplando este valor, de forma que todos os projetos contratados foram de plantas eólicas,
totalizando 867,6 MW de capacidade e preço médio final de R$ 124,43/MWh.
1.3 – Referências
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Junho de 1012. Disponível em http://www.abinee.org.br/informac/arquivos/profotov.pdf.
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63
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Produção e Transmissão de Energia Elétrica, 2011. p. 1-9.
65
CAPÍTULO 2
RECURSO SOLAR
66
CAPÍTULO 2 – RECURSO SOLAR
O Sol é a principal fonte de energia para a Terra. Além de ser responsável pela manutenção da
vida no Planeta, a radiação solar constitui-se numa inesgotável fonte energética, havendo um enorme
potencial de sua utilização por meio de sistemas de captação e conversão em outra forma de energia,
como por exemplo, a térmica e a elétrica.
O Sol é basicamente uma enorme esfera de gás incandescente, em cujo núcleo acontece a
geração de energia através de reações termonucleares. Sua estrutura, apresentada na Figura 2.1, é
composta pelas principais regiões: núcleo, zona radiativa, zona convectiva, fotosfera, cromosfera e
coroa (ou às vezes chamada de corona).
O núcleo, com temperatura de cerca de 15 milhões de kelvin, é a região mais densa e onde a
energia é produzida por reações termonucleares. Logo acima se encontra a zona radiativa, onde a
energia produzida no núcleo é transferida para as regiões superiores através da radiação.
A zona convectiva possui este nome em função dos processos de convecção que dominam o
transporte de energia das regiões mais internas do Sol para a superfície solar.
67
A fotosfera, primeira região da atmosfera solar, com 330 km de espessura e temperatura próxima
de 5.800 K, é a camada visível do Sol. Esta zona tem a aparência da superfície de um líquido em
ebulição, repleta de bolhas, que são chamadas de grânulos fotosféricos. Estes grânulos têm em torno de
1.500 km de diâmetro e duram cerca de 10 minutos cada. Estas zonas granulares representam os
processos convectivos do gás quente, que emerge da camada convectiva para a fotosfera. As regiões
mais escuras entre os grânulos são zonas onde o gás mais frio e mais denso flui novamente para o
interior do Sol. A fotosfera é a fonte da maior parte da radiação visível que é emitida pelo Sol. Um dos
fenômenos fotosféricos mais notáveis é o das manchas solares, que são regiões mais frias que a
fotosfera solar, possuindo uma temperatura de cerca de 3.800 K na região central, chamada de umbra e
pouco mais elevada na parte periférica, denominada de penumbra. As manchas solares são indicadoras
da intensa atividade magnética presente no Sol e seguem um ciclo de onze anos em que o número de
manchas varia entre máximos e mínimos. Este ciclo provoca alterações na irradiação emitida pelo Sol
e também apresenta consequências na Terra, alterando o comportamento da sua atmosfera.
A cromosfera do Sol normalmente não é visível, porque a intensidade da irradiação é muito mais
baixa do que aquela relativa à região da fotosfera. A temperatura na cromosfera varia, na sua base, de
4.300 K a mais de 40.000 K, e sua altura é de aproximadamente 2.500 km.
A camada mais externa e rarefeita da atmosfera solar é chamada de coroa. Apesar do brilho da
coroa solar ser equivalente ao da lua cheia, ela somente é visualizada na ocorrência de um eclipse, em
virtude do alto brilho da fotosfera.
68
Tabela 2.1 - Principais características do Sol. Fonte: (OLIVEIRA FILHO e SARAIVA, 2004).
Principais características do Sol
Massa 1,989 x 1030 kg
Raio 696.000 km
Densidade média 1.409 kg m-3
Densidade central 1,6 105 kg m-3
Distância 1 UA ou 1,499 108 km
Potência Luminosa 3,83 1026 W
Temperatura efetiva 5.785 K
Temperatura central 1,5 x 107 K
Hidrogênio = 91,2 %
Hélio = 8,7 %
Composição química principal Oxigênio = 0,078 %
Carbono = 0,043 %
A Terra, em seu movimento anual em torno do Sol descreve uma trajetória elíptica com uma
pequena excentricidade ( 0,017). O seu eixo, em relação ao plano normal à elipse, apresenta uma
inclinação de aproximadamente 23,45º. Essa inclinação, juntamente com o seu movimento de
translação, dá origem às estações do ano. Observando-se o movimento aparente do Sol, ao meio dia
solar, ao longo do ano, verifica-se que o ângulo entre os seus raios e o plano do Equador varia entre
+23,45º em torno do dia 21 de junho (solstício de inverno no hemisfério Sul), e -23,45º em 21 de
dezembro (solstício de verão no hemisfério Sul). Este ângulo, denominado Declinação Solar (), é
positivo ao Norte e negativo ao Sul do Equador. Nos dias 21 de setembro (equinócio de primavera) e
21 de março (equinócio de outono) os raios solares se alinham com o plano do Equador ( = 0). A
Figura 2.2 (a) ilustra o movimento da Terra em torno do Sol e as estações do ano para o hemisfério Sul
e a Figura 2.2 (b) mostra a Declinação Solar () em quatro posições da Terra ao longo do ano.
(a)
69
(b)
Figura 2.2 (a) e (b) – Órbita da Terra em torno do Sol, com seu eixo N-S inclinado de um ângulo de 23,45º, indicando as
estações do ano no hemisfério Sul.
Na Figura 2.2 (b) é possível observar a variação da duração dos dias ao longo do ano para uma
determinada localidade, resultante da inclinação do eixo da Terra. Verificam-se dias mais longos, por
exemplo, em localidades no hemisfério Sul, no solstício de verão e dias mais curtos no solstício de
inverno. No Equador terrestre a duração dos dias é sempre igual e nas suas proximidades as variações
são pequenas ao longo do ano. É possível também observar que nos equinócios, as durações dos dias
são as mesmas para qualquer localidade.
360
sen() sen(23,45) cos (n 10) (2.1)
365,25
onde n representa o dia juliano, contado de 1 a 365 a partir de 1 de janeiro (i.e. 01/jan→ n = 1;
02/jan→ n = 2;...; 31/dez→ n = 365).
O termo “radiação solar” é usado de forma genérica e pode ser referenciado em termos de fluxo
de potência, quando é especificamente denominado de irradiância solar, ou em termos de energia por
unidade de área, denominado, então, de irradiação solar. Existem diversas unidades para se representar
valores de radiação solar. A Tabela 2.2 mostra algumas destas unidades e os fatores de conversão.
70
Tabela 2.2 - Unidades para a radiação solar (irradiância e irradiação) e fatores de conversão
A irradiância solar que atinge a Terra, no topo da camada atmosférica, é denominada irradiância
extraterreste. A constante solar (I0) é definida como o valor da irradiância extraterrestre que chega
sobre uma superfície perpendicular aos raios solares na distância média Terra-Sol, e tem valor
aproximado de 1.367 W/m² (adotado pelo WRC – World Radiation Center). A excentricidade da
elipse que descreve a trajetória da Terra em torno do Sol resulta em uma variação no valor da
irradiância extraterrestre ao longo do ano. A Figura 2.3 mostra o comportamento anual da irradiância
extraterrestre, ou irradiância extraterrestre efetiva (I0,ef)
Verifica-se na Figura 2.3 que o valor mínimo de I0,ef é de aproximadamente 1.322 W/m2 (afélio)
e encontra-se próximo do solstício de inverno para o hemisfério Sul, e o valor máximo de
71
aproximadamente 1.412 W/m2 (periélio) próximo ao solstício de verão. Nesta figura também é
apresentada uma equação para o cálculo do I0,ef em função da constante solar (I0), e do dia juliano (n).
As relações geométricas entre os raios solares, que variam de acordo com o movimento aparente
do Sol e a superfície terrestre, são descritas através de vários ângulos, os quais estão apresentados na
Figura 2.4 e definidos a seguir:
- Ângulo Zenital (Z): ângulo formado entre os raios do Sol e a vertical local (Zênite).
- Altura ou Elevação Solar (): ângulo compreendido entre os raios do Sol e a projeção dos
mesmos sobre o plano horizontal (horizonte do observador).
Verifica-se que os ângulos mencionados acima são complementares (Figura 2.4 (a)), ou seja: (Z
+ = 90°).
- Ângulo Azimutal do Sol (s): também chamado azimute solar, é o ângulo entre a projeção dos
raios solares no plano horizontal e a direção Norte-Sul (horizonte do observador). O deslocamento
angular é tomado a partir do Norte (0°) geográfico1, sendo, por convenção, positivo quando a projeção
se encontrar à direita do Sul (a Leste) e negativo quando se encontrar à esquerda (a Oeste).
-180° s 180°
- Ângulo Azimutal da Superfície (): ângulo entre a projeção da normal à superfície no plano
horizontal e a direção Norte-Sul. Obedece às mesmas convenções do azimute solar.
- Ângulo de incidência (): ângulo formado entre os raios do Sol e a normal à superfície de
captação.
1
Também denominado de Norte verdadeiro por alguns autores.
72
(a)
(b)
Figura 2.4 – (a) Ilustração dos ângulos Z, e S, representando a posição do Sol em relação ao plano horizontal; (b)
Ilustração da orientação de uma superfície inclinada em relação ao mesmo plano: ângulos , , S e .
Outros ângulos de igual importância, que não estão representados na Figura 2.4, são:
- Ângulo Horário do Sol ou Hora Angular (): deslocamento angular Leste-Oeste do meridiano
do Sol, a partir do meridiano local, e devido ao movimento de rotação da Terra. Conforme apresentado
na Equação 2.2, cada hora solar (Hs) corresponde a um deslocamento de 15. São adotados, como
73
convenção, valores negativos para o período da manhã, positivos para o período da tarde, e zero ao
meio dia solar (momento em que o Sol cruza o meridiano local).
(2.2)
O ângulo (Z) pode ser calculado em função da declinação solar (), do ângulo horário () e da
latitude local (), utilizando-se a Equação 2.3.
Uma informação interessante que pode resultar da equação acima é o valor da duração do dia em
uma determinada localidade e época do ano. Para tanto, considera-se o ângulo zenital igual a 90 graus
(Z = 90°) e calcula-se o ângulo horário que, neste caso, é igual à hora angular do pôr-do-sol (s).
Considerando-se que o comprimento angular do dia varia entre -s e +s, ao duplicar o valor de s e
converter a hora angular para hora solar (15° = 1 h), obtém-se o número teórico de horas de sol para o
dia e local em questão.
O ângulo horário do pôr-do-sol pode ser obtido da Equação 2.3, sendo igual a:
(2.4)
(2.5)
O ângulo de incidência (), entre os raios do Sol e uma superfície com orientação () e inclinação
() qualquer, pode ser obtido utilizando-se a Equação 2.6.
Os ângulos (Z) e () permitem calcular a componente direta da irradiância que incide
normalmente a um plano horizontal (Gd,h) ou a qualquer superfície inclinada (Gd,β), desde que
conhecida a componente direta da irradiância incidente sobre a superfície, conforme Equação 2.7. Essa
informação é necessária para os cálculos de irradiância solar direta coletada por dispositivos de
conversão de energia solar. A Figura 2.5 indica o ângulo de incidência da irradiância solar direta sobre
uma superfície horizontal e sobre uma superfície inclinada.
(2.7)
74
Figura 2.5 – (a) Irradiância direta incidente sobre uma superfície horizontal; (b) Irradiância direta incidente sobre uma
superfície inclinada.
Os cálculos em energia solar são baseados na hora solar, a qual é definida pelo ângulo horário
(), conforme descrito anteriormente.
Para a conversão da hora oficial, também chamada de hora civil (a do relógio), em hora solar,
considera-se, como primeira etapa, a diferença de longitudes entre o meridiano do observador e o
meridiano padrão no qual a hora oficial está baseada; a segunda etapa é dada pela Equação do Tempo
(E), que é uma correção relacionada a dois fatores principais, a inclinação do eixo da Terra com
relação ao plano da sua órbita (eclíptica) e a excentricidade da órbita da Terra ().
A Equação 2.8 fornece a diferença entre hora solar e hora oficial (em minutos).
onde Lst e Lloc representam a longitude padrão do fuso e a longitude local, respectivamente, o fator 4 é
utilizado para converter os valores de longitude (em graus) para tempo (em minutos). O parâmetro E é
o valor resultante da Equação do Tempo (apresentada na Equação 2.9), sendo fornecido em minutos. A
Figura 2.6 mostra a variação da Equação do Tempo ao longo do ano.
(2.9)
onde,
(2.10)
75
Figura 2.6 – Equação do tempo ao longo do ano.
Verifica-se que o maior valor positivo de E é em torno de 16 minutos, entre outubro e novembro,
e o maior valor negativo é 14 minutos em fevereiro (Figura 2.6). Embora as diferenças devidas à
Equação do Tempo sejam relativamente pequenas, as diferenças entre hora oficial e hora solar podem
ser bastante significativas dependendo da diferença entre os meridianos local, e padrão (Equação 2.8).
Considerando que o raio médio da Terra é 6.371 km, e considerando o valor da irradiância de
1.367 W/m2 incidindo sobre a área projetada da Terra, conclui-se que a potência total disponibilizada
pelo Sol à Terra, no topo da atmosfera, é de aproximadamente 174 mil TW (terawatts).
Observações periódicas feitas a partir do espaço permitem análises mais qualitativas dos fluxos
de energia na Terra. Trenberth et al. (2009) atualizaram o diagrama de fluxo de potência global (Figura
2.7), com base em medições de março de 2000 a novembro de 2005. Segundo esse diagrama, cerca de
54 % da irradiância solar que incide no topo da atmosfera, é refletida (7 %) e absorvida (47 %) pela
superfície terrestre (os 46 % restantes são absorvidos ou refletidos diretamente pela atmosfera). Ou
seja, da potência total disponibilizada pelo Sol à Terra, cerca de 94 mil TW chegam efetivamente à
superfície terrestre.
76
Figura 2.7 - Fluxo de potência global (em W/m2). O valor da irradiância solar incidente no topo da atmosfera aqui
apresentado é um fluxo médio anual recebido ao longo das 24 horas de um dia (341,3 W/m2) no topo da atmosfera. Fonte:
(Trenberth et al., 2009).
O consumo mundial de energia primária no ano de 2011 foi cerca de 143 mil TWh, então, no
intervalo de duas horas a quantidade de energia solar recebida na superfície terrestre (multiplicando 94
mil TW por duas horas, resultando em 188 mil TWh) é superior ao consumo energético anual da
humanidade.
Considerando a radiação solar que chega à superfície terrestre e incidente sobre uma superfície
receptora para geração de energia, tem-se que ela é constituída por uma componente direta (ou de
feixe) e por uma componente difusa. A radiação direta é aquela que provêm diretamente da direção do
Sol e produz sombras nítidas. A difusa é aquela proveniente de todas as direções e que atinge a
superfície após sofrer espalhamento pela atmosfera terrestre.
Mesmo num dia totalmente sem nuvens, pelo menos de 20 % da radiação que atinge a superfície
é difusa. Já em um dia totalmente nublado, não há radiação direta, e 100 % da radiação é difusa.
Notadamente, se a superfície estiver inclinada com relação à horizontal, haverá uma terceira
componente refletida pelo ambiente do entorno (solo, vegetação, obstáculos, terrenos rochosos, etc.).
O coeficiente de reflexão destas superfícies é denominado de “albedo”. A Tabela 2.3 apresenta valores
típicos de albedo para diferentes tipos de superfícies.
77
Tabela 2.3 - Valores típicos de albedo para diferentes tipos de superfícies. Fonte: (MARKVART e CASTAÑER,
2004).
Superfície Albedo
Gramado 0,18 – 0,23
Grama seca 0,28 – 0,32
Solo descampado 0,17
Asfalto 0,15
Concreto novo (sem ação de intempéries) 0,55
Concreto (em construção urbana) 0,2
Neve fresca 0,8 – 0,9
Água, para diferentes valores de altura solar:
α > 45o 0,05
α = 30o 0,08
α = 20o 0,12
α = 10o 0,22
A Figura 2.8 apresenta as três componentes citadas da radiação solar sobre uma superfície
receptora, sendo que a quantidade resultante da soma das parcelas direta, difusa e devida ao albedo
(quando a superfície é inclinada) é denominada de radiação global.
78
A massa de ar pode ser interpretada também como o comprimento relativo que a radiação solar
direta percorre até atingir a superfície terrestre. Para ângulos zenitais entre 0o e 70º a massa de ar ao
nível do mar pode ser definida matematicamente pela Equação 2.11, que considera a Terra plana. Para
ângulos zenitais maiores, os efeitos da curvatura da Terra devem ser levados em consideração.
(2.11)
A Figura 2.9 mostra o espectro da irradiância solar em três condições: no topo da atmosfera da
Terra (AM0); ao atingir perpendicularmente uma superfície ao nível do mar inclinada a 37° (AM1,3) e
voltada para a linha do Equador (global inclinada); e após atravessar uma espessura de atmosfera 50 %
maior que quando o Sol encontra-se no zênite, incidindo sobre uma superfície ao nível do mar (AM1,5
(irradiância direta + circunsolar).
O Sol emite luz com uma distribuição semelhante ao que seria esperado a partir de um corpo
negro a 5.800 K (5.527 °C), que é aproximadamente a temperatura de sua superfície. Quando a luz
atravessa a atmosfera, parte é absorvida por gases com bandas de absorção específicas. O ozônio (O3),
por exemplo, absorve numa banda na faixa do UV (Ultravioleta) em comprimentos de onda inferiores
a 300nm. O vapor d’água (H2O) e o dióxido de Carbono e (CO2) absorvem em várias bandas na faixa
do IR (infravermelho) em comprimentos de onda superiores a 1000nm (por isso o CO2 é um gás que
causa “efeito estufa”).
Outra parte da radiação incidente na atmosfera interage com esta e é espalhada em todas as
direções, constituindo a radiação difusa.
79
O material em suspensão na atmosfera (particulado) e as nuvens também causam espalhamento
da luz, mas de forma igual para todos os comprimentos de onda (espalhamento de Mie), ou seja,
espalham a luz branca.
Figura 2.9 - Distribuição espectral da irradiância no topo da atmosfera; da irradiância ao incidir perpendicularmente sobre
uma superfície inclinada (37°) ao nível do mar e voltada para a linha do Equador; da irradiância após atravessar uma massa
de ar de 1,5. Fonte: [NREL, 2012].
A Figura 2.10 mostra a distribuição espacial da irradiância solar média anual (W/m2) que incide
sobre a superfície da Terra. Esses dados foram estimados a partir de imagens de satélites
meteorológicos obtidos no período de 1990 a 2004. Para obter, a partir destes dados, a irradiação solar
na base temporal diária média anual, em kWh/m².dia, deve-se multiplicar por 24h.
80
fotovoltaicos normalmente exigem uma irradiação de no mínimo 3 a 4 kWh/(m2.dia) (125 a 166 W/m²
no mapa), valores estes disponíveis para quase todas as áreas entre os trópicos.
O valor da irradiação solar incidente em um plano orientado na direção do Equador e com uma
inclinação igual à latitude local permite calcular a energia elétrica que pode ser convertida por um
sistema fotovoltaico fixo instalado nessas condições. As Figuras 2.11 e 2.12 apresentam mapas
mostrando a irradiação média anual do Brasil e de países da Europa. Pode-se observar como o
potencial disponível no Brasil é maior quando comparado com países da Europa, onde a conversão
fotovoltaica já é utilizada largamente. Além do tamanho do país, observa-se que em todo o território
brasileiro há disponibilidade de irradiação solar equivalente ou melhor que nos países do Sul da
Europa e superando países como, por exemplo, a Alemanha, país com capacidade instalada
significativa de sistemas de geração fotovoltaica.
81
Figura 2.10 - Mapa mundial de irradiação solar em média anual. Fonte: (http://www.soda-
is.com/eng/map/maps_for_free.html).
82
Figura 2.11 - Mapa brasileiro de irradiação solar em média anual. Fonte: (PEREIRA, 2006).
83
Figura 2.12 - Mapa europeu de irradiação solar em média anual. Fonte: (PVGIS, 2013).
84
2.4 – Instrumentos de Medição da Radiação Solar
A medição da radiação solar, tanto da global como das componentes direta e difusa, na superfície
terrestre é de grande importância para o estudo das influências das condições climáticas e
atmosféricas, como também para o desenvolvimento de projetos que visam a captação e a conversão
da energia solar. Com um histórico dessas medidas, pode-se viabilizar a instalação de sistemas
fotovoltaicos em uma determinada região, garantindo o máximo aproveitamento do recurso ao longo
do ano, onde as variações da intensidade da radiação solar sofrem significativas alterações.
Desta forma, o conhecimento do recurso solar é a variável de maior peso para o desenvolvimento
de um projeto de sistema de aproveitamento da energia solar, sendo necessária a obtenção de dados de
medição para:
85
Figura 2.13 – Piranômetro Termoelétrico.
O piranômetro do tipo fotovoltaico (FV), mostrado na Figura 2.14, é composto por uma célula
fotovoltaica de pequenas dimensões e apresenta como vantagem custo muito mais baixo e como
desvantagem o fornecimento de medidas com menor precisão. A principal origem da imprecisão deste
tipo de piranômetro é a sua resposta espectral (Figura 2.15), a qual está limitada entre 400 a 1.100 nm
para aqueles que adotam células de c-Si, introduzindo incertezas que podem chegar a 5 % em relação
ao piranômetro termoelétrico (que responde até 2.500 nm). Porém, sua vantagem inerente é o tempo de
resposta praticamente instantâneo e linear com a irradiância.
86
Figura 2.15 – Resposta espectral dos piranômetros. 1 – Distribuição espectral da irradiância solar na superfície da Terra. 2 –
Resposta do piranômetro termoelétrico. 3 – Resposta do piranômetro FV (silício). Fonte: (ALADOS-ARBOLETA et al.,
1995).
O pireliômetro é um instrumento utilizado para medir a irradiância direta com incidência normal
à superfície. A irradiância difusa é bloqueada instalando-se o sensor termoelétrico dentro de um tubo
de colimação (Figura 2.16), com paredes enegrecidas e apontado diretamente ao Sol (dispositivo de
rastreamento). O instrumento caracteriza-se por apresentar uma pequena abertura de forma a
"visualizar" apenas o disco solar e a região vizinha denominada circunsolar. O sistema de medição da
irradiância direta com o uso do pireliômetro pode ser com o rastreamento solar em 1 ou 2 eixos, sendo
a escolha determinada pela análise da relação de custo-benefício em uma utilização particular (Figura
2.17).
87
Figura 2.16 – Desenho esquemático de um pireliômetro.
O valor da irradiância difusa é medido com um piranômetro ao qual é acoplado uma banda ou
um disco de sombreamento para bloquear a componente direta, como apresentado nas Figuras 2.18 e
2.19. Ao combinar os valores medidos pelo piranômetro bloqueado com outro sem o dispositivo de
bloqueio pode-se obter a componente direta pela subtração dos valores da irradiância global e da sua
componente difusa. A banda de sombreamento necessita de ajuste manual de acordo com a declinação
solar, diferentemente do disco de sombreamento, que é dotado de rastreador que acompanha o
movimento aparente do Sol em dois eixos de forma automática. Em ambos os casos são necessárias
88
correções das medições, que envolvem a compensação do sombreamento do céu causado pelo anel ou
disco, bem como da anisotropia do céu.
89
A manutenção da qualidade das medidas requer a calibração in-situ dos sensores piranométricos
ou pireliométricos com periodicidade de no máximo 18 meses. Essas calibrações são feitas conforme
as normas da ISO (International Standards Organization):
A radiação solar incidente na superfície terrestre é medida com instrumentos descritos na seção
anterior. Apesar dos instrumentos terem capacidade de medir a radiação solar de forma instantânea
(irradiância), historicamente os dados de radiação solar são armazenados pelo total da irradiação de um
dia, e muitas vezes apenas em médias mensais. Há correlações que permitem estimar a irradiação
mensal a partir de outras variáveis meteorológicas, como o número de horas de insolação (número de
horas de brilho solar) e a nebulosidade. Também as estimativas de irradiação solar obtidas através de
dados de satélites podem apresentar boa exatidão quando relatadas em médias mensais. Apesar de ser
possível obter dados em intervalos curtos de tempo, essas estimativas contêm muitas incertezas,
devidas aos dos modelos matemáticos utilizados. Como avaliação anual da disponibilidade de
irradiação solar é mais válido observar a irradiação média sobre um plano com inclinação igual à
latitude e voltado para o Equador. A Figura 2.11 mostra um mapa com esta distribuição segundo o
Atlas Brasileiro de Energia Solar.
Para avaliar o potencial da conversão fotovoltaica em um determinado lugar, seria muito útil
dispor de dados confiáveis da irradiação solar disponível em intervalos horários. Há poucas estações
meteorológicas no Brasil que registram sistematicamente o valor da irradiação solar incidente em
intervalos horários. A informação obtida na base temporal horária é importante porque os módulos
fotovoltaicos são geralmente instalados em planos inclinados e, como a posição solar varia a cada
instante, a conversão de um dado de irradiância no plano horizontal para um plano inclinado também é
diferente a cada instante.
Um dos mecanismos que pode ser utilizado para solucionar este impasse é utilizar métodos
computacionais para sintetizar sequencias de dados de radiação solar em intervalos horários a partir de
dados geográficos e de informações sobre a incidência da radiação solar em média mensal. Dados
horários de irradiação sobre a superfície horizontal são normalmente utilizados para calcular a
90
irradiância sobre uma superfície de orientação qualquer. As origens dos dados iniciais do processo
podem ser de medições terrestres ou estimativas obtidas de satélites.
A obtenção de dados medidos relacionados ao recurso solar é necessária para fins de Engenharia
em três aspectos essenciais e complementares:
O uso direto das medições realizadas (fonte primária) para desenvolvimento de projetos e
avaliação de sistemas solares instalados em um dado local;
Para os casos em que é necessária a mudança de base temporal dos dados ou é medida apenas
a radiação solar global no plano horizontal e se requer a sua transposição para um plano de
incidência qualquer local (inclinação e orientação em que será instalado o gerador
fotovoltaico), há a necessidade de utilizar modelos que, a partir das medições no plano
horizontal, forneçam a radiação solar global e as componentes direta e difusa no plano
definido;
A sua utilização para validação de modelos de estimativa da radiação solar onde não existam
informações medidas. Nesse caso são modelagens que realizam a interpolação e extrapolação
espacial e temporal.
A avaliação sobre a consistência e a qualidade dos dados obtidos de radiação solar é crucial para
o desenvolvimento do projeto e para a análise de desempenho operacional dos sistemas fotovoltaicos.
Na fase de projeto, por que permitirá um trabalho mais bem elaborado com menores incertezas e riscos
e, portanto, mais barato, e no momento da sua operação, por que permitirá monitorar de forma correta
o desempenho do sistema ou dos subsistemas.
91
4. Comparação com valores estimados por modelos.
Os dados primários resultantes das medições são filtrados, conforme os critérios do item anterior,
e, posteriormente, são reduzidos, iniciando-se com o cálculo dos valores médios para as diversas
escalas de tempo (minuto, hora, dia, mês) e das variabilidades sazonais. Outra forma de representação
e análise do recurso solar pode ser obtida por meio de curvas de distribuição de frequência da
irradiância. De posse dos dados tratados, caso se deseje realizar a avaliação comparativa da radiação
solar em dois ou mais locais diferentes, considera-se que:
Para um dado mês ou ano, o local com maior média em principio é melhor;
Para um dado mês ou ano, o local com maior variância precisará de maior sistema de
armazenamento;
Conforme a análise da curva da distribuição acumulada, o local que possuir tempo fracional
mensal maior para um dado índice de claridade2, será superior em termos de recurso solar.
A partir do que foi visto nas seções anteriores, pode-se deduzir que, para o correto
dimensionamento de um SFV, é necessário conhecer os valores dos dados de radiação solar incidentes
no local da instalação e no plano dos módulos. Existem informações que podem ser acessadas pela
internet, além de publicações especializadas. Entretanto, as medições sistemáticas devem ser
continuadas, para garantir a composição de séries históricas contendo dados cada vez mais confiáveis e
com mais detalhes.
2
Razão entre a irradiação global que atinge a superfície terrestre e a irradiação que incide no topo da atmosfera.
92
2.7.1 – Informações a partir de medições de superfície
Um dos primeiros estudos publicados para o Brasil foi realizado por Nunes et al. (1979) com
mapas de irradiação solar obtidos a partir de correlações com dados do número de horas de insolação.
Em 1987 a OLADE - Organização Latino Americana de Energia publicou novos mapas com dados
também derivados de correlações a partir das informações sobre o número de horas de insolação,
registrados nas estações do Instituto Nacional de Meteorologia e outras estações brasileiras. Além dos
mapas, a publicação incluía tabelas impressas. Um extensivo trabalho na Universidade de
Massachusetts, Lowell (Estados Unidos) compilou dados de irradiação solar de quase todo o planeta.
Os dados brasileiros foram extraídos principalmente da base da OLADE. Com os dados digitalizados,
sua difusão foi ampliada, e logo os mesmos dados foram incorporados à base de dados de uma
organização espanhola, CENSOLAR, sendo possível acessá-los a partir do programa SunData (ver
item 2.7.3).
Dados meteorológicos compilados em médias mensais de 30 anos (entre 1961 e 1990) são
apresentados na publicação denominada Normais Climatológicas do Instituto Nacional de
Meteorologia. Dentre os dados desta publicação inclui-se o valor médio do número de horas de
insolação, através do qual se pode estimar a irradiação solar. Informações dos valores diários do
número de horas de insolação em média mensal podem ser acessadas pela internet no site do INMET –
Instituto Nacional de Meteorologia, www.inmet.gov.br.
Novas compilações de dados permitiram a edição do Atlas Solarimétrico do Brasil, o qual estima
a irradiação solar no país a partir da interpolação e extrapolação de dados obtidos em estações
meteorológicas distribuídas em vários pontos do território nacional. A publicação inclui, além dos
mapas, um CD-ROM com acesso à base de dados.
O número de estações de medição de dados que podem ser usados para estimar a radiação solar é
ainda reduzido, considerando a extensão do território brasileiro. Técnicas para estimar a radiação solar
a partir de imagens de satélites têm sido aprimoradas, permitindo uma cobertura muito mais
abrangente. Estudos demonstram que os dados medidos na superfície, mesmo quando são apresentados
em médias mensais, tem pouco alcance de extrapolação espacial. Se o ponto de utilização da instalação
93
estiver afastado de 50 km ou mais da estação de origem dos dados, as estimativas oriundas das análises
de dados de satélite são mais precisas do que uma extrapolação.
O primeiro produto resultante da utilização de modelos que utilizam imagens de satélite para
estimar a irradiação solar no Brasil foi o Atlas de Irradiação Solar no Brasil utilizando um modelo
físico de transferência da radiação solar através da atmosfera denominado BRASIL-SR. Em 2006 foi
publicado o Atlas Brasileiro de Energia Solar, com o mesmo modelo aperfeiçoado e utilizando
imagens de mais satélites. Essa publicação compara dados de irradiação diária medida na superfície
com os dados equivalentes estimados pelo modelo e encontra um desvio médio entre 5 % e 7 %,
mostrando uma pequena superestimativa nos resultados do Atlas. Essa publicação também é
acompanhada de um CD-ROM com dados de irradiação solar e faz parte do Programa SWERA das
Nações Unidas (Solar and Wind Energy Resource Assessment).
Mapas e dados compilados sobre a irradiação solar no Brasil no Programa SWERA podem ser
encontrados na página: http://swera.unep.net/. Nesse local podem ser acessados os dados e mapas
referentes ao Atlas Brasileiro de Energia Solar e dados da América Latina desenvolvidos pelo NREL
(National Renewable Energy Laboratory do Departamento de Energia dos Estados Unidos) e
disponíveis para cada mês com índices de latitude e longitude.
Outro banco de dados com base na análise de dados de muitos satélites é o SSE da NASA,
(Surface Meteorology and Solar Energy), que pode ser acessado pela página:
http://eosweb.larc.nasa.gov/sse/. Este banco de dados permite acessar valores médios da irradiação
solar em qualquer localidade do mundo, em uma resolução de 1° x 1° de latitude e longitude, fazendo
uso de dados coletados ao longo de 22 anos.
Mais uma opção de obtenção de dados com origem em imagens de satélites é a página
http://www.soda-is.com/, onde há produtos à venda, mas também há dados gratuitos, com geração de
séries de radiação solar.
Há programas computacionais que podem auxiliar na consulta aos dados de radiação solar
incidente em uma dada localidade. As bases de dados geralmente contém dados da radiação solar sobre
uma superfície horizontal, mas os painéis dos SFV são geralmente instalados em planos inclinados
com diferentes orientações. Além disto, há programas que utilizam algoritmos adequados para
sintetizar computacionalmente sequências de dados meteorológicos que, na ausência de dados
sequenciais medidos, podem alimentar programas de simulação computacional de sistemas
fotovoltaicos em operação.
94
O programa SunData, desenvolvido pelo Cepel, é uma ferramenta para apoio ao
dimensionamento de um SFV. O mesmo é baseado no banco de dados CENSOLAR (além de outras
fontes), contendo valores de irradiação diária média mensal no plano horizontal para cerca de 350
pontos no Brasil e em países limítrofes. O SunData apresenta os dados mensais para planos inclinados
em três ângulos de inclinação, orientados para o Equador. Para saber a irradiação solar global diária
média mensal de uma localidade basta entrar com as suas coordenadas geográficas. Esse programa
pode ser acessado através da página do Cresesb: www.cresesb.cepel.br.
A Figura 2.20 mostra a interface da seleção do estado do Brasil para iniciar o programa
RADIASOL 2. Arrastando o mouse pelo mapa do Brasil é possível ver uma estimativa das diferenças
climáticas, e selecionando-se um círculo vermelho escolhe-se um estado. A partir daí pode-se
selecionar uma estação com dados existentes ou inserir novas localidades, ou ainda editar os dados a
qualquer momento.
95
Figura 2.20 - Interface de utilização do programa RADIASOL2.
Os dados de irradiação solar disponíveis para o território brasileiro nas diversas fontes citadas
podem apresentar discrepâncias apreciáveis. A título de exemplo, as Figuras 2.21 e 2.22 mostram as
médias diárias mensais e a média anual incidente sobre um painel inclinado de 10° em relação ao
plano horizontal e orientado na direção do Norte geográfico, para duas localidades na região Norte do
país: Rio Branco-AC (~10°S 68°W) e Manaus-AM (~3°S 60°W), segundo diversas fontes.
96
Radiação solar média diária no coletor inclinado de 10o N - Rio Branco/AC
6
Radiação solar média diária (kWh/m2)
5.5
Atlas-SWERA
5 NASA
Sundata
Atlas-UFPE
4.5
Atlas-SWERA-média anual
NASA-média anual
4 Sundata-média anual
Atlas-UFPE-média anual
3.5
3
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Mês
Figura 2.21 - Médias mensais e anual da radiação solar média diária incidente sobre um coletor inclinado de 10°N na região
de Rio Branco. A média anual de cada série está mostrada por um símbolo sobre o eixo vertical no "mês zero". Cada série é
proveniente de um banco de dados diferente. Fonte: (SOARES et al., 2010).
6
Radiação solar média diária (kWh/m2)
5.5
Atlas-SWERA
5 NASA
Sundata
Atlas-UFPE
4.5 Atlas-SWERA-média anual
NASA-média anual
4 Sundata-média anual
Atlas-UFPE-média anual
3.5
3
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Mês
Figura 2.22 - Médias mensais e anual da radiação solar média diária incidente sobre um coletor inclinado de 10°N na região
de Manaus. A média anual de cada série está mostrada por um símbolo sobre o eixo vertical no "mês zero". Cada série é
proveniente de um banco de dados diferente. Fonte: (SOARES et al., 2010).
97
Face a estas diferenças, surge o problema de quais dados de irradiação se deve adotar para o
dimensionamento de sistemas fotovoltaicos. A Eletrobrás, por exemplo, vem adotando os dados do
Atlas-SWERA para o dimensionamento dos sistemas tipo SIGFI no âmbito do LpT.
Por outro lado, caso se necessite a sequencia de valores mensais de irradiação para o
dimensionamento, como seria o caso de utilizar algum software de simulação, então a atitude mais
conservadora seria compor uma sequencia utilizando os piores valores para cada mês (“pior janeiro”,
“pior fevereiro” etc.) disponíveis em todas as fontes. No caso da Figura 2.21, por exemplo, seria uma
composição entre os valores do SunData e do Atlas-UFPE.
2.8 – Referências
98
ERBS, D. G.; KLEIN, S. A.; DUFFIE, J. A. Estimation of the diffuse radiation fraction for
hourly,daily and monthly-average global radiation. Solar Energy, v. 28, 1982. p. 293-302.
EPIA - European Photovoltaic Industry Association. Market Report 2011. Março de 2012.
KOPP, G.; LEAN, J. L. A new, lower value of total solar irradiance: Evidence and climate
significance. Geophysical Research Letters, L01706, v. 38, 2011. Disponível em:
<http://www.agu.org/pubs/crossref/2011/2010GL045777.shtml>. Acesso em: ago. 2012.
LONG, C. N.; DUTTON, E. G. BSRN Global Network recommended QC tests, V2.0. BSRN
Technical Report, 2002.
MORITZ, H. Geodetic Reference System 1980. Journal of Geodesy, v. 74, n. 1, 2000. p. 128-
162. Disponível em: <http://www.springerlink.com/content/0bgccvjj5bedgdfu/>. Acesso em: ago.
2012.
NASA - National Aeronautics and Space Administration. Imagine the Universe!. Disponível
em: <http://imagine.gsfc.nasa.gov/docs/science/know_l1/dwarfs.html>. Acesso em: mai. 2013.
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101
CAPÍTULO 3
102
CAPÍTULO 3 – CÉLULAS E MÓDULOS FOTOVOLTAICOS
O efeito fotovoltaico foi descoberto por Becquerel1 em 1839, quando observou que ao iluminar uma
solução ácida surgia uma diferença de potencial entre os eletrodos imersos nessa solução. Em 1876,
W. G. Adams e R. E. Day observaram efeito similar em um dispositivo de estado sólido fabricado com
selênio. Os primeiros dispositivos que podem ser denominados de células solares ou células fotovoltaicas
foram fabricados em selênio e desenvolvidos por C. E. Frits em 1883. Nos anos 1950, ou seja, mais de 110
anos após a descoberta de Becquerel, foram fabricadas nos Laboratórios Bell, nos Estados Unidos, as
primeiras células fotovoltaicas baseadas nos avanços tecnológicos na área de dispositivos semicondutores.
Estas células fotovoltaicas foram fabricadas a partir de lâminas de silício cristalino e atingiram uma eficiência
de conversão de energia solar em elétrica, relativamente alta para a época, de 6%, com potência de 5 mW e
área de 2 cm2.
Na década de 1970, um watt-pico (potência nas condições-padrão de ensaio) era vendido na Europa e
Estados Unidos por US$ 150,00. No entanto, ao fim da primeira década do novo milênio atingiu-se uma
produção mundial anual de células fotovoltaicas da ordem de magnitude da potência da central hidroelétrica
de Itaipu. No final de 2013, para venda em maior escala, o preço do módulo fotovoltaico de c-Si
encontrava-se em cerca de 0,60 €/Wp na Europa, de 0,65 U$/Wp nos EUA e menos de 3 R$/Wp no
Brasil.
Diversas tecnologias de fabricação de células fotovoltaicas foram desenvolvidas nos últimos 60 anos e
as células fotovoltaicas fabricadas a partir de lâminas de silício cristalino (monocristalino ou policristalino)
dominam o mercado mundial atualmente. A Figura 3.1 mostra que esta tecnologia vem respondendo sempre
por mais de 81% da produção mundial desde 2000, e em 2011 atingiu 87,9% deste mercado. As outras
tecnologias comercializadas são baseadas em filmes finos de telureto de cádmio (CdTe), disseleneto de cobre
índio e gálio (CIGS), silício amorfo hidrogenado (a-Si:H), silício microcristalino (µc-Si) e silício crescido em
fitas (Si-fitas). Células fotovoltaicas multijunção de alta eficiência, células baseadas em corantes (DSSC –
Dye Sensitized Solar Cells) ou polímeros também estão sendo desenvolvidas.
1
Alexandre-Edmond Becquerel (1820-1891), cientista francês.
2
A termalização pode ocorrer também para as lacunas na banda de valência, embora seja mostrada na figura somente para os
103
Figura 3.1 - Distribuição das tecnologias usadas na produção industrial de células fotovoltaicas.
Legenda: m-Si - silício monocristalino, p-Si - silício policristalino, CdTe - telureto de cádmio; a-Si - silício amorfo, CIS -
disseleneto de cobre índio, CIGS - disseleneto de cobre índio gálio, e Si-Fitas - fitas de silício. Fonte: (HERING, 2012a).
104
Telureto de Cádmio (CdTe) como do tipo II-VI e o Disseleneto de Cobre-Índio como I-III-(VI)2. Como
exemplo de semicondutores quaternários, pode-se citar o InGaAsP e o AlInGaN, utilizados para a
fabricação de LEDs.
A separação entre as duas bandas de energia permitidas dos materiais semicondutores, denominada
de banda proibida (bandgap, ou simplesmente gap) e representada por Eg, pode atingir até 3 eV (elétron-
volt), diferenciando estes materiais dos materiais considerados isolantes, onde a banda proibida supera
este valor. A Figura 3.2 apresenta a estrutura de separação de bandas de energia para condutores,
semicondutores e isolantes.
banda de condução
banda proibida
< 3eV > 3eV
banda de valência
Figura 3.2 - Estrutura de bandas de energia em (a) condutores, (b) semicondutores e (c) isolantes.
As bandas são, na realidade, compostas por um conjunto de inúmeros valores discretos permitidos
de energia bastante próximos, por isso muitas vezes são consideradas como contínuas. A Tabela 3.1
disponibiliza os valores de Eg para diversos materiais semicondutores.
Tabela 3.1 – Bandas proibidas Eg para diversos materiais semicondutores à temperatura de 300 K.
105
elétrons ocupando a banda de condução e o mesmo número de lacunas na banda de valência, denominados
portadores intrínsecos, cuja concentração pode ser expressa pelas Equações 3.1 e 3.2. Para o Si o valor de
ni citado pela literatura é de 1,45x1010/cm3 na temperatura de 300K.
≅ . . (3.1)
=
= (3.2)
Onde:
- concentração de portadores intrínsecos;
- concentração de portadores negativos (elétrons);
- concentração de portadores positivos (lacunas);
- constante de Boltzmann (1,381 x 10-23 J/K);
– Energia do gap do material (1,12eV para o silício);
- Temperatura absoluta (K)
- Constante aproximada para os semicondutores (~1039/cm6)
Os elétrons preenchem os níveis de energia vagos a partir do fundo da banda de condução para
cima. As lacunas, contudo, ocupam os níveis a partir do topo da banda de valência para baixo. A
compreensão deste comportamento dos portadores pode ser auxiliada pela seguinte analogia física: as
lacunas se comportam na banda de valência como bolhas num meio líquido mais denso, por isso flutuam
na superfície do líquido, enquanto que os elétrons na banda de condução são como bolas mais densas que
o líquido, por isso se acumulam no fundo.
Além da geração térmica, há ainda a possibilidade de geração de portadores por meio de energia
cinética de partículas (prótons, nêutrons etc.) que atinjam o material, a chamada ionização por impacto.
Mas a propriedade fundamental que permite a fabricação de células fotovoltaicas é a possibilidade de
fótons incidentes no material, com energia superior à Eg do gap, também gerarem pares elétron-lacuna,
conforme mostrado na Figura 3.3.
Ef h f (3.3)
Onde:
Ef – energia do fóton (J);
h – constante de Planck (J.s);
ν – freqüência da luz (Hz).
106
Figura 3.3 – Geração de pares elétron-lacuna pela incidência de fótons no material semicondutor, chamado efeito
fotocondutivo: Ec – nível inferior de energia da banda de condução; E v – nível máximo de energia na banda de valência; Efe –
Nível de Fermi; Eg – valor da energia do gap (Eg = Ec – Ev). Fonte: adaptado de (OLDENBURG, 1994).
A absorção de fótons com energia superior ao Eg resulta em dissipação da energia em excesso (hν -
Eg) como calor no material, no fenômeno denominado termalização2, também mostrado na Figura 3.3. O
nível de energia de Fermi, Efe na Figura 3.3, corresponde ao nível médio de energia dos portadores no
material, e, para os semicondutores intrínsecos, se situa no meio da banda proibida.
Estes elétrons e lacunas fotogerados podem mover-se dentro do material e aumentam sua
condutividade elétrica, o que é denominado de efeito fotocondutivo. Este efeito é aproveitado para
fabricação de componentes eletrônicos denominados fotocélulas ou fotorresistores (LDRs3), no qual a
resistência elétrica varia em função da luminosidade incidente. Contudo, para o aproveitamento de
corrente e tensão elétricas é necessário aplicar um campo elétrico, a fim de separar os portadores, o que se
consegue através da chamada junção pn. Para construí-la, é necessário introduzir de forma controlada
impurezas no semicondutor, ou seja, realizar a dopagem, que consiste na introdução de pequenas
2
A termalização pode ocorrer também para as lacunas na banda de valência, embora seja mostrada na figura somente para os
elétrons na banda de condução.
3
LDR – light dependent resistor.
107
quantidades de outros elementos, denominados impurezas ou dopantes, que mudam drasticamente as
propriedades elétricas do material intrínseco (material sem dopagem, denominado de tipo i).
Para compreensão dos conceitos básicos descreve-se aqui uma célula fotovoltaica monojunção de
silício (Si) cristalino, que é o material semicondutor mais usado na fabricação de células e cujas
propriedades são apresentadas na Tabela 3.2. Outros materiais e tipos de células são apresentados nos
itens 3.5 e 3.6, entre elas as células multijunção e heterojunção.
Propriedades do silício
Número atômico (Z) 14
Configuração eletrônica 1s2 2s2 2p6 3s2 3p2
Valência 4
Estrutura cristalina CFC
Bandgap (Eg) 1,12 eV
Distância interatômica (a) 5,4 Å
Ponto de fusão 1.420°C
Constante dielétrica (ε/εo) 11,8
Concentração intrínseca de portadores (ni) 1,5 x 1010/cm3
Mobilidade dos elétrons (μn) 1.350 cm2/V.s
Mobilidade das lacunas (μp) 480 cm2/V.s
Coeficiente de difusão de elétrons (Dn) 35 cm2/s
Coeficiente de difusão de lacunas (Dp) 12,5 cm2/s
Os átomos de Si são tetravalentes, ou seja, caracterizam-se por possuírem 4 elétrons de valência que
formam ligações covalentes com os átomos vizinhos, resultando em 8 elétrons compartilhados por cada
átomo, constituindo uma rede cristalina.
Ao se introduzir nesta estrutura um átomo pentavalente, como, por exemplo, o fósforo (P), haverá
um elétron em excesso fracamente ligado a seu átomo de origem, uma vez que ocupa um nível de energia
no interior da banda proibida apenas ~0,044 eV abaixo do limite inferior da banda de condução (nível Ed
na Figura 3.4). Como sua energia de ligação é muito baixa, na temperatura ambiente a energia térmica é
suficiente para libertar este elétron fazendo com que salte para a banda de condução, deixando seu átomo
de origem como uma carga fixa positiva. Além do fósforo (P), podem ainda ser usados arsênio (As) e
antimônio (Sb), que são chamados de impurezas doadoras de elétrons, ou dopantes tipo n ou, ainda,
impurezas tipo n. O Nível de Fermi para o semicondutor tipo n localiza-se acima do ponto médio da banda
proibida, próximo à banda de condução.
Se, por outro lado, na rede cristalina for introduzido um átomo trivalente, como o boro (B), haverá a
falta de um elétron para completar as ligações com os átomos de Si da rede. Esta falta de um elétron é
denominada lacuna ou buraco e ocupa um nível de energia no interior da banda proibida apenas
~0,045 eV acima do limite superior da banda de valência (nível Ea na Figura 3.4). Na temperatura
108
ambiente a energia térmica de um elétron de uma ligação vizinha é suficiente para fazê-lo passar a esta
posição, correspondendo ao movimento da lacuna no sentido inverso, tornando o átomo uma carga fixa
negativa. Além do boro (B), podem ser usados alumínio (Al), gálio (Ga) e índio (In), denominados
impurezas aceitadoras de elétrons ou dopantes tipo p. No semicondutor tipo p, o Nível de Fermi fica
abaixo do ponto médio da banda proibida, próximo à banda de condução.
A Figura 3.4 esclarece sobre os níveis de energia em materiais semicondutores tipo n e tipo p.
Figura 3.4 – Níveis de energia em materiais tipo n e p: Ea – nível de energia dos “elétrons faltantes” dos átomos de impurezas
aceitadoras; Ed - nível de energia nos elétrons não emparelhados dos átomos de impurezas doadoras. Fonte: adaptado de
(OLDENBURG, 1994).
A Tabela 3.3 mostra os níveis de energia de ionização alguns dos elementos normalmente utilizados
como dopantes para o silício.
Tabela 3.3 – Níveis de energia de ionização para impurezas utilizadas como dopantes tipos p e n em silício – Ev é a energia
correspondente ao topo da banda de valência; Ec é a energia correspondente ao fundo da banda de condução. Fonte (SZE,
1981).
Elemento Energia Elemento Energia
tipo p (eV) tipo n (eV)
B Ev + 0,045 Li Ec – 0,033
Al Ev + 0,067 Sb Ec – 0,039
Ga Ev + 0,072 P Ec – 0,045
In Ev + 0,16 As Ec – 0,054
Tl Ev + 0,3 Bi Ec – 0,069
Na temperatura ambiente existe energia térmica suficiente para que praticamente todos os elétrons
em excesso dos átomos de Fósforo (P) estejam livres, bem como para que todas as lacunas criadas pelos
átomos de Boro (B) possam se deslocar. Usualmente a dopagem do tipo p é feita numa concentração (Na)
de ~1:107, ou seja, cerca de um átomo de B para 10 milhões de átomos de Si. Já a concentração dos
átomos de P (Nd) na dopagem tipo n é muito superior, atingindo ~1:103. As concentrações dos dopantes
(Nd e Na) são deliberadamente feitas várias ordens de grandeza superiores às dos portadores intrínsecos na
109
temperatura ambiente, de forma a criar regiões com predominância de cargas livres negativas ou positivas,
denominadas, respectivamente, regiões tipo n e tipo p.
Por isso, na região tipo n, os portadores negativos (elétrons) são denominados portadores
majoritários, cuja concentração é aproximadamente igual à concentração do dopante (Nd), enquanto que
ali as lacunas são os portadores minoritários. Neste caso, valem as seguintes equações:
≅ (3.4)
≅ (3.5)
Onde:
- concentração de portadores intrínsecos;
- concentração de portadores negativos (elétrons);
- concentração de portadores positivos (lacunas);
– Concentração do dopante tipo n.
Por outro lado, se numa metade de uma lâmina de Si inicialmente puro forem introduzidos átomos
de B e na outra metade átomos de P, será então formada a junção pn, conforme mostram as Figuras 3.5 e
3.6, o que é a estrutura típica de um diodo retificador semicondutor.
Na interface entre os dois tipos de dopagem, o excesso de elétrons da região n se difunde para a
região p, dando origem a uma região com cargas elétricas positivas fixas no lado n, que são íons P+, pois
os átomos de Fósforo perdem um elétron. Os elétrons que passam do lado n para o lado p encontram as
lacunas, fazendo com que esta região fique com cargas negativas fixas, que são íons B-, pois os átomos de
B recebem um elétron. Estas correntes de difusão de portadores de carga não continuam indefinidamente,
porque o excesso de cargas positivas e negativas na junção das regiões n e p produz um campo elétrico
que impede a passagem de elétrons do lado n para o lado p, assim como impede a passagem de lacunas da
região p para a n.
Estabelecido o equilíbrio, forma-se uma zona com cargas positivas e negativas, denominada de zona
de carga espacial ou zona de depleção, gerando um campo elétrico na junção pn e uma barreira de
potencial. A zona de depleção recebe este nome por lá praticamente não existirem portadores, ou seja n ≈
0 e p ≈ 0.
Através da junção pn no escuro, sem tensão externa de polarização, existe uma corrente de
portadores gerados termicamente que se anula, num estado de equilíbrio dinâmico, de acordo com o
conjunto de Equações 3.6. A corrente pode ser divida em duas partes, corrente de deriva (iD), e corrente de
difusão (id), conforme pode-se visualizar na Figura 3.5.
110
A primeira parte é acorrente de deriva (iD), que é a corrente de portadores que se movem por efeito
do campo elétrico das regiões em que são minoritários para as regiões em que são majoritários. Esta
corrente tem duas componentes: a corrente de lacunas que se movem do lado n para o lado p (IDp) e a
corrente de elétrons que se movem do lado p para o lado n (IDn).
A barreira de potencial que surge na junção pn também pode ser visualizada na Figura 3.5,
correspondendo a uma energia qVo, onde Vo é a diferença de potencial e q é a carga fundamental (carga
do elétron).
A diferença de potencial entre as regiões p e n pode ser entendida como resultado das diferenças no
Nível de Fermi (Efe) nos dois materiais. Quando estes materiais entram em contato, a situação de
equilíbrio é alcançada quando os níveis de Fermi se igualam, o que ocorre pelo fluxo inicial de portadores
e pelo estabelecimento do campo elétrico e da diferença de potencial, que é a responsável por impelir a
corrente fotogerada.
Figura 3.5 – Junção pn no escuro em equilíbrio térmico, mostrando a barreira de potencial (qV0) as correntes de difusão (Id) e
de deriva (iD) de portadores: idn – corrente de difusão de elétrons; idp – corrente de difusão de lacunas; iDn – corrente de deriva
de elétrons; IDp – corrente de deriva de lacunas. Fonte: adaptado de (OLDENBURG, 1994).
111
A diferença de potencial na junção pn sem polarização externa (em equlíbrio), em função da
temperatura, pode ser calculada pela Equação 3.7.
∙ ∙!
() ≅
∙ ln
" (3.7)
Onde:
() – diferença de potencial na junção;
- concentração de portadores intrínsecos no material;
– Concentração do dopante tipo n;
# – Concentração do dopante tipo p;
q – carga do elétron (1,6x10-19 C);
k – constante de Boltzmann (1,38x10-23 J/K);
T – temperatura absoluta (K).
A Figura 3.6 mostra a estrutura física de uma junção pn de uma célula fotovoltaica.
Figura 3.6 - Estrutura básica de uma célula fotovoltaica de silício destacando: (1) região tipo n; (2) região tipo p, (3) zona de
carga espacial, onde se formou a junção pn e o campo elétrico; (4) geração de par elétron-lacuna; (5) filme antirreflexo; (6)
contatos metálicos. Fonte: Adaptada de (MOEHLECKE e ZANESCO, 2005).
Na prática, para se obter a junção pn da célula parte-se, por exemplo, de uma lâmina de silício
cristalino já previamente dopada, em sua fabricação, com átomos do tipo p e se introduzem átomos do tipo
112
n, de forma a compensar a região previamente dopada e obter uma região tipo n na lâmina (por isso a
maior concentração do dopante tipo n). Isto é feito na prática por meio da introdução do material em um
forno a alta temperatura contendo um composto de Fósforo em forma gasosa. Da mesma maneira, também
se pode formar a junção pn em uma lâmina de silício tipo n, com introdução posterior de átomos tipo p.
Se um material semicondutor dotado de uma junção pn for exposto a fótons com energia maior que
a do gap (Ef > Eg), então ocorrerá a fotogeração de pares elétron-lacuna, da mesma forma como já
explicado para o material intrínseco, na Figura 3.3. Porém, se tais portadores de carga forem gerados no
interior da região de carga espacial, então serão separados pelo campo elétrico, sendo os elétrons
acelerados para o lado n e as lacunas para o lado p, gerando assim uma corrente elétrica (também de
deriva) através da junção no sentido da região n para a região p. Observe-se que esta corrente fotogerada
IL tem sentido inverso à corrente de polarização direta de um diodo e tem duas componentes (elétrons e
lacunas). O processo de absorção de fótons da junção pn e a corrente fotogerada podem ser observados na
Figura 3.7.
Porém, se os portadores de carga forem fotogerados fora da zona de carga espacial, então os
portadores minoritários, isto é, lacunas em região tipo n e elétrons em região tipo p, deverão ter um tempo
de vida ou comprimento de difusão mínimo para eventualmente alcançarem a junção pn e serem
coletados, sem que ocorra recombinação, contribuindo assim também para a IL.
A recombinação pode ser direta, também chamada banda a banda, na qual o elétron volta
diretamente da banda de valência à banda de condução. Neste caso, a energia pode ser emitida sob forma
de fóton, na chamada recombinação irradiante (mostrada em cor lilás na Figura 3.7), que é o efeito
utilizado para fabricação de LEDs, emitindo, as células de c-Si, radiação de baixíssima intensidade na
faixa de 950 nm a 1250 nm (IR). A recombinação indireta, por outro lado, é feita com o elétron passando
por níveis de energia intermediários introduzidos no interior da banda proibida por defeitos na estrutura
cristalina.
113
Figura 3.7 – Corrente fotogerada na junção pn iluminada (célula fotovoltaica): (1) par elétron-lacuna gerado na região de carga
espacial; (2) par gerado fora da região de carga espacial; (3) recombinação, sendo mostrada à direita a recombinação direta, e à
esquerda a recombinação indireta. Fonte: adaptado de (OLDENBURG, 1994).
Esta separação dos portadores de carga pela junção pn dá origem ao efeito fotovoltaico, que é a
conversão de energia luminosa em energia elétrica associada a uma corrente elétrica e uma diferença de
potencial. Este efeito na verdade ocorre em qualquer diodo semicondutor que for exposto à radiação,
portanto, as células fotovoltaicas podem ser entendidas essencialmente como diodos de grande área
otimizados para o aproveitamento do efeito fotovoltaico.
Para completar a célula fotovoltaica, são ainda necessários um contato elétrico frontal (malha
metálica) na região n, assim como um contato traseiro na região p. Se esses contatos forem conectados
externamente por meio de um condutor, haverá uma circulação de elétrons. Além do processo de geração
de pares elétron-lacuna, também ocorrem processos de recombinação dos portadores de carga minoritários
gerados. A recombinação pode ocorrer tanto na superfície quanto no volume do dispositivo.
Os fatores que limitam a eficiência de conversão de uma célula fotovoltaica são: 1) reflexão na
superfície frontal; 2) sombra proporcionada pela área da malha metálica na face frontal; 3) absorção nula
de fótons de energia menor que do que o gap (Ef < Eg); 4) baixa probabilidade de coleta, pela junção pn,
dos portadores de carga gerados fora da zona de carga espacial; 5) recombinação dos portadores de carga,
isto é, o “reencontro” dos elétrons e lacunas em impurezas e defeitos do material e 6) resistência elétrica
no dispositivo e nos contatos metal-semicondutor, bem como possíveis caminhos de fuga da corrente
elétrica (resistência em paralelo). A Figura 3.8 esquematiza os fatores acima citados.
114
(a) (b)
Figura 3.8. Fatores que limitam a eficiência de uma célula fotovoltaica: a) Perdas por reflexão, transmissão (fótons com energia
menor que o gap), recombinação de portadores de carga minoritários e sombreamento proporcionado pela malha metálica
frontal. b) Perdas por resistência em série nas junções metal-semicondutor (R4 e R1) existentes nos contatos metálicos frontal e
traseiro, perdas nas trilhas metálicas (R5 e R6) e nas regiões n (R3) e p (R2) e perdas por resistência em paralelo entre o contato
metálico frontal (malha metálica) e a região tipo p (R7), e entre os contatos metálicos frontal e traseiro (R8). Adaptada de
(MOEHLECKE e ZANESCO, 2005).
A Tabela 3.4 apresenta a eficiência das melhores células fotovoltaicas fabricadas com diferentes
materiais e tecnologias. A máxima eficiência foi obtida com células fotovoltaicas multijunção, atingindo o
valor de 37,7%. Estas células são compostas de elementos dos grupos 13, 14 e 15 da tabela periódica (ou
IIIA, IVA e VA da antiga classificação dos elementos na tabela periódica) e a combinação dos materiais
permite absorver os fótons de grande parte do espectro solar. Para células de uma única junção, o limite
teórico é da ordem de 30% (Limite de Schokley-Queiser) e as melhores células fotovoltaicas de Si
fabricadas em laboratório atingiram a eficiência de 25%.
115
Tabela 3.4 - Eficiência das melhores células fotovoltaicas fabricadas em laboratórios até 2012 [GREEN et al., 2013].
A corrente elétrica em uma célula fotovoltaica pode ser considerada como a soma da corrente de uma
junção pn no escuro (diodo semicondutor) com a corrente gerada pelos fótons absorvidos da radiação solar.
Esta corrente em função da tensão no dispositivo, denominada de curva I-V ou curva característica, pode ser
descrita pela seguinte equação, derivada da Equação de Schockley5, do diodo ideal:
qV
I I L
I 0 exp
1 (3.8)
nkT
Onde:
IL - corrente fotogerada (A);
I0 - corrente de saturação reversa do diodo (A);
n - fator de idealidade do diodo, número adimensional geralmente entre 1 e 2, obtido por ajuste de dados
experimentais medidos;
4
Filmes finos transferidos – tecnologia onde inicialmente são fabricadas estruturas de filme fino metal/polímero sobre suporte
de vidro reutilizável para posterior transferência para um substrato que pode ser de diamante, silicone, nitreto de alumínio,
placa de circuito impresso etc.
5
William Bradford Schockley (1910-1989), cientista norte-americano, ganhador do Prêmio Nobel de Física em 1956.
116
q – carga do elétron (1,6x10-19 C);
k – constante de Boltzmann (1,38x10-23 J/K);
T – temperatura absoluta (K).
Por inspeção da Equação 3.8, observa-se que no escuto (IL = 0) a célula fotovoltaica tem o
comportamento idêntico ao de um diodo.
A corrente de saturação reversa I0 pode ser calculada teoricamente pela Equação 3.9, a partir de
propriedades do material e detalhes da construção da junção pn. I0 pode ser determinada experimentalmente
pela aplicação da tensão Voc à célula não iluminada (no escuro), ou ainda obtida numericamente por meio de
ajuste de uma curva experimental medida.
'* '-
$ = % ∙ & ∙ ∙ ++ " (3.9)
+ * ∙ - ∙!
Onde:
I0 - corrente de saturação reversa do diodo (A);
A – área da seção reta da junção (área da célula);
- concentração de portadores intrínsecos no material;
, # – Concentração dos dopantes tipo n e tipo p, respectivamente;
01 , 0 – Coeficientes de difusão de lacunas e elétrons, respectivamente, no material (ver Tabela 3.2);
21 , 2 – Comprimentos de difusão de lacunas e de elétrons;
q – carga do elétron (1,6x10-19 C);
Na Figura 3.9 apresenta-se a curva I-V típica de uma célula fotovoltaica de Si. Deve-se observar que,
apesar de ser normalmente apresentada no primeiro quadrante, fisicamente a curva I-V se situa na realidade
no quarto quadrante, por se tratar de um gerador, onde, conforme já explicado, a corrente tem sentido inverso
(é negativa).
Considerando que, conforme discutido no item 3.2, em uma célula fotovoltaica há resistência em série
devido a: junção metal-semicondutor, malhas metálicas, regiões dopadas etc., assim como resistências em
paralelo devido a pontos de curto-circuito na junção pn, conforme esquematizado na Figura 3.8-b, a equação
da curva característica de uma célula fotovoltaica torna-se:
117
Figura 3.9 - Corrente elétrica em função da diferença de potencial aplicada em uma célula fotovoltaica de silício de 156 mm x
156 mm, sob condições-padrão de ensaio. Os principais parâmetros elétricos estão destacados. ISC é a corrente elétrica de curto-
circuito, VOC é a tensão de circuito aberto, PMP (6)é a potência máxima ou de pico e IMP e VMP são, respectivamente, a corrente e a
tensão no ponto de potência máxima.
A Figura 3.10 apresenta o circuito equivalente para uma célula fotovoltaica, onde o diodo, D,
representa a participação da junção pn no escuro. Rs e Rp representam resistências em série e paralelo (ver
item 3.3.4).
Figura 3.10 – Circuito equivalente básico para uma célula fotovoltaica (modelo com um diodo).
Para as células fotovoltaicas de uso terrestre sem concentração da energia solar, a curva I-V é medida
em condições-padrão de ensaio: irradiância de 1.000 W/m2, espectro solar AM1,5 e temperatura da célula
fotovoltaica de 25°C. Para essa medição, geralmente, utiliza-se um simulador solar e um sistema de medição
automatizado.
Segundo a norma NBR10899, o módulo fotovoltaico é uma unidade básica formada por um conjunto
de células fotovoltaicas, interligadas eletricamente e encapsuladas, com o objetivo de gerar energia
elétrica. O símbolo da Figura 3.11 pode ser utilizado para representar um módulo fotovoltaico.
6
A notação para o ponto de potência máxima PMP não é padronizada e diferentes autores e fabricantes utilizam outras formas,
como PPM, PPP, PMPP, Pm. O mesmo vale em relação a IMP e VMP.
118
Figura 3.11 – Símbolo de módulo fotovoltaico.
A partir da curva I-V mostrada na Figura 3.9, podem ser determinados os parâmetros elétricos que
caracterizam as células ou módulos fotovoltaicos: tensão de circuito aberto, corrente de curto-circuito, fator
de forma e eficiência, descritos a seguir.
- Tensão de circuito aberto (Voc): é a tensão entre os terminais de uma célula fotovoltaica quando não
há corrente elétrica circulando e é a máxima tensão que uma célula fotovoltaica pode produzir. Pode ser
medida diretamente com um voltímetro nos terminais do módulo. Voc depende da corrente de saturação (I0),
da corrente elétrica fotogerada (IL) e da temperatura, de acordo com a equação abaixo, derivada da Equação
3.8:
5∙6 9
34 = 7
∙ ln 8;: + 1? (3.11)
<
Por depender da corrente de saturação (I0), Voc está relacionada com a recombinação dos portadores de
carga minoritários no dispositivo. O valor de Voc varia conforme a tecnologia utilizada nas células: c-Si
(0,5 V – 0,7 V), CdTe (0,857 V), a-Si (0,886 V), DSSC (0,744 V), InGaP/GaAs/InGaAs (3,014 V).
- Corrente de curto-circuito (Isc): é a máxima corrente que se pode obter e é medida na célula
fotovoltaica quando a tensão elétrica em seus terminais é igual a zero. Pode ser medida com um amperímetro
curto-circuitando os terminais do módulo. Isc depende da área da célula fotovoltaica, da irradiância solar e de
sua distribuição espectral, das propriedades ópticas e da probabilidade de coleta dos pares elétron-lacuna
formados. A densidade de corrente de curto-circuito (Jsc) é calculada dividindo-se Isc pela área do dispositivo.
Valores da densidade de corrente variam conforme a tecnologia empregada, tais como: c-Si (38 mA/cm2 –
42,7 mA/cm2), CdTe (26,95 mA/cm2), a-Si (16,75 mA/cm2), InGaP/GaAs/InGaAs (14,57 mA/cm2),
DSSC (22,47 mA/cm2).
- Fator de forma (FF): é a razão entre a máxima potência da célula e o produto da corrente de curto
circuito com a tensão de circuito aberto. O FF é definido pela equação:
119
VMP I MP
FF (3.12)
VOC I SC
Quanto menores forem as perdas resistivas (série e paralelo), mais próxima da forma retangular será a
curva I-V. A definição de FF está representada graficamente na Figura 3.9, como a razão entre a área dos dois
retângulos destacados. Embora FF possa ser relacionado empiricamente com VOC, as resistências em série e
em paralelo (ver item 3.3.4) são os parâmetros mais relevantes na sua variação. Valores de FF dependem da
tecnologia usada, como por exemplo: c-Si (80,9% – 82,8%), CdTe (77%), a-Si (67,8%), DSSC (71,2%),
InGaP/GaAs/InGaAs (86%).
- Eficiência (η): é o parâmetro que define quão efetivo é o processo de conversão de energia solar em
energia elétrica. Representa a relação entre a potência elétrica produzida pela célula fotovoltaica e a potência
da energia solar incidente e pode ser definida como segue:
I sc .Voc.FF P
.100% MP .100% (3.13)
A.G A.G
onde A (m2) é a área da célula e G (W/m2) é a irradiância solar incidente. A unidade da potência da célula e
do módulo fotovoltaico é o Wp (watt-pico), que é associada às condições-padrão de ensaio (STC). As
melhores eficiências de células são mostradas na Tabela 3.4.
A partir dos dados da curva I-V, pode ser determinada a curva da potência em função da tensão,
denominada curva P-V, conforme a curva na cor vermelha da Figura 3.12, onde se destaca o ponto de
@
máxima potência (PMP), como sendo aquele no qual a sua derivada em relação à tensão é nula (A = 0).
Figura 3.12 - Potência elétrica em função da tensão elétrica de uma célula fotovoltaica de silício cristalino de 156 mm x 156 mm,
sob condições-padrão de ensaio. Os principais parâmetros elétricos estão destacados.
120
A equação da potência da célula fotovoltaica não permite determinar analiticamente o ponto de
potência máxima PMP, o qual, portanto, só pode ser calculado de forma aproximada ou numericamente.
A Figura 3.8 (b), por sua vez, mostra, de forma auto-explicativa, a origem destas resistências na
estrutura da célula fotovoltaica.
A resistência série (Rs) se origina na resistência do próprio material semicondutor, nos contatos
metálicos e na junção metal-semicondutor. Observando-se a Figura 3.13, nota-se que a Rs contribui para
reduzir a Isc e o FF da célula, mas não afeta sua Voc. Para valores elevados de Rs a curva da célula perde o
formato característico e se reduz a uma reta cuja inclinação é 1/Rs.
Figura 3.13 – Efeito da resistência série (Rs) na curva I-V de uma célula fotovoltaica, sendo todas as curvas para a mesma
temperatura e irradiância (STC), considerando em aberto a resistência paralelo (Rp=).
Por outro lado, na Figura 3.14, nota-se o efeito da Rp, que consiste em reduzir a Voc e o FF, sem influir
na Isc. A Rp é causada por impurezas e defeitos na estrutura, principalmente próximo às bordas, que produzem
um caminho interno para uma corrente de fuga, reduzindo assim a corrente efetivamente produzida pelo
dispositivo (não vale para a Isc). Para baixos valores de Rp, outra vez se perde a curvatura do diodo e a
característica I-V se torna uma reta de inclinação 1/Rp.
121
Figura 3.14 – Efeito da resistência paralelo (Rp) na curva I-V de uma célula fotovoltaica, sendo todas as curvas para a mesma
temperatura e irradiância (STC), considerando nula a resistência série (Rs=0).
Observa-se que a sensibilidade da célula, em particular do FF e da PMP, é muito maior para variações
na Rs do que para variações na Rp. Assim, a manutenção da Rs em um valor baixo é decisiva para o
desempenho da célula, e obtida por meio de projeto e fabricação adequados. Isto é ainda mais importante em
células para concentração, as quais operam em densidades de corrente mais elevadas.
A Figura 3.15 mostra uma forma de estimar graficamente os valores de Rs e Rp, a partir da curva I-V de
uma célula.
Figura 3.15 – Obtenção das resistências série e paralelo pela curva I-V de uma célula.
122
3.3.4 – Associações de células e módulos fotovoltaicos
Dispositivos fotovoltaicos podem ser associados em série e/ou em paralelo, de forma a se obter os
níveis de corrente e tensão desejados. Tais dispositivos podem ser células, módulos ou arranjos fotovoltaicos.
Os arranjos são constituídos por um conjunto de módulos associados eletricamente em série e/ou paralelo, de
forma a fornecer uma saída única de tensão e corrente.
V = V1 + V2 + ....+ Vn (3.14)
I = I1 = I2 = ....= In (3.15)
Este resultado está ilustrado na Figura 3.16(a), por meio da característica I-V. Se os dispositivos são
idênticos e encontram-se sob as mesmas condições de irradiância e temperatura, então, as correntes elétricas
individuais são iguais. No caso de se associarem os dispositivos em série com diferentes correntes de curto-
circuito, a corrente elétrica da associação será limitada pela menor corrente. Entretanto, a associação de
módulos de correntes diferentes não é recomendada na prática, pois pode causar superaquecimento.
Na associação em paralelo, os terminais positivos dos dispositivos são interligados entre si, assim como
os terminais negativos. A Figura 3.16 (b) ilustra o resultado da soma das correntes elétricas em células ideais
conectadas em paralelo. As correntes elétricas são somadas, permanecendo inalterada a tensão. Ou seja:
I = I1 + I2 + ... + In (3.16)
V = V1 = V2 = ...= Vn (3.17)
123
(a)
(b)
Figura 3.16 – Curvas I-V de duas células fotovoltaicas de silício cristalino conectadas (a) em série e (b) em paralelo.
O desempenho das células fotovoltaicas é influenciado pela irradiância incidente e sua distribuição
espectral, bem como pela temperatura de operação da célula, inclusive em condições de irradiância de até
1 sol (ou 1 X), que corresponde a 1.000 W/m2. Em condições de concentração da radiação solar, o que
implica na utilização de dispositivos ópticos (lentes ou espelhos) para obtenção de níveis de irradiância
superiores aos naturais, a eficiência das células fotovoltaicas pode aumentar, se a temperatura for controlada.
Nos casos de alta irradiância, a resistência série (Rs) torna-se um fator que pode reduzir a eficiência, se a
célula fotovoltaica não for projetada para essas condições. Por outro lado, quando incidem baixos valores de
radiação solar, a resistência paralelo (Rp) pode reduzir ainda mais a potência elétrica gerada.
124
Ressalta-se que a eficiência do módulo não deve ser utilizada como indicador de qualidade do mesmo.
A escolha de um módulo fotovoltaico deve se basear em diversos fatores, como, custo, durabilidade,
reputação do fabricante etc. Em princípio, a eficiência não deve nortear a escolha do módulo a não ser que a
área disponível para instalação do painel fotovoltaico seja um fator restritivo. A Tabela 3.5 apresenta as
potências médias por unidade de área no estágio atual do desenvolvimento de módulos fotovoltaicos de várias
tecnologias.
Tabela 3.5 – Áreas ocupadas por de módulos de diferentes tecnologias.
Potência/área
Tecnologia
(Wp/m2)
Si monocristalino - m-Si 150
Si policristalino - p-Si 135
Si amorfo - a-Si 85
Disseleneto de Cobre-Índio (e
100
Gálio) - CI(G)S
Telureto de Cádmio - CdTe- 110
A Figura 3.17 mostra como a irradiância solar incidente afeta a curva I-V de uma célula fotovoltaica de
silício, mantida na temperatura de 25 °C. A corrente elétrica gerada por uma célula fotovoltaica aumenta
linearmente com o aumento da irradiância solar incidente, enquanto que a tensão de circuito aberto (Voc)
aumenta de forma logarítmica (pela Equação 3.11), se mantida a mesma temperatura.
A Isc de uma célula (e de um módulo) pode ser relacionada à irradiância incidente pela Equação 3.18.
G
$C4 = $C4DEF × H (3.18)
Onde:
Isc (A) – corrente de curto-circuito do módulo, para a irradiância G e uma temperatura de 25 ºC;
Isc-stc (A) – corrente de curto circuito do módulo nas STC;
G (W/m2) – irradiância incidente sobre o módulo;
1000 (W/m2) – irradiância nas STC.
125
Figura 3.17 - Influência da variação da irradiância solar na curva característica I-V de uma célula fotovoltaica de silício cristalino na
temperatura de 25 °C.
Maiores detalhes sobre a influência da temperatura em células e módulos são encontrados nos itens
4.1.3.2 e 4.1.3.3.
126
10
25 oC
8
Figura 3.18 - Influência da temperatura da célula fotovoltaica na curva I-V (para irradiância de 1.000 W/m2, espectro AM1,5).
As células de c-Si corresponderam em 2011 a 87,9% do mercado mundial. Para sua fabricação, a
matéria prima utilizada é o silício ultrapuro. Pode ser utilizada a mesma matéria prima da indústria eletrônica
(chips) o chamado silício grau eletrônico (Si-gE), com uma pureza de 99,9999999%, também denominada
9N (nove noves), ou então o silício grau solar (Si-gS), com 99,9999% (6N), de menor custo (este último não
pode ser usado na indústria eletrônica).
O SI-gE é obtido, por meio de uma rota denominada processo Siemens, a partir do silício impuro, que é
o silício grau metalúrgico (Si-gM), com pureza de ~99%. Já o Si-gS é obtido por meio do processo chamado
Siemens modificado, ou por meio de outras rotas alternativas.
O Si metalúrgico (Si-gM),por sua vez, é obtido da sílica (SiO2) em fornos a arco elétrico numa
temperatura que pode atingir 1780 °C, utilizando como matéria prima quartzo ou areia e o carvão, de acordo
com a reação abaixo.
A Figura 3.19 resume a estrutura básica da célula fotovoltaica industrial de c-Si tipo p, constituída de:
1) lâmina de silício cristalino tipo p dopada com boro, 2) região n+ dopada com fósforo (o índice + significa
que a concentração de dopante é superior a 1 x 1019 átomos/cm3), 3) região p+ dopada com alumínio, para
reduzir a recombinação na face posterior, denominada de campo retrodifusor ou BSF (back surface field), 4)
malha metálica frontal fabricada com prata, 5) barras coletoras ou malha metálica traseira de alumínio-prata,
6) filme antirreflexivo (AR) e 7) filme para passivação.
127
As pastas de alumínio para formar o BSF, a de prata para produzir a malha metálica frontal, e a de
alumínio-prata para formar o contato posterior são depositadas por serigrafia e processadas em forno de
esteira. Na Figura 3.20 é apresentada uma célula fotovoltaica típica.
O silício usado na fabricação das células fotovoltaicas pode ser monocristalino (m-Si) ou
policristalino (p-Si). O primeiro é obtido pelo método Czochralski (Si-Cz) ou também pela técnica de
fusão zonal flutuante (Si-FZ, Float Zone), conforme a Figura 3.21. No silício policristalino (p-Si), em vez
de se formar um único cristal, o material é solidificado em forma de um bloco composto de pequenos
cristais, com dimensões da ordem de centímetros. A partir do corte de um bloco de p-Si ou lingotes de m-
Si tipo Si-Cz ou Si-FZ, são obtidas lâminas, nas quais são fabricadas as células fotovoltaicas. As lâminas
de silício usadas atualmente têm espessura da ordem de 0,2 mm, mas o objetivo das pesquisas em
andamento para 2020 é obter lâminas de até 0,12 mm de espessura, a fim de reduzir os custos de
fabricação.
128
Figura 3.21 – Fabricação de tarugos (lingotes) de m-Si pelas técnicas de Float-Zone (FZ) e Czochralski. Fonte: adaptado
de (PHOTON, 2008).
A espessura é um fator de projeto e otimização das células fotovoltaicas. Células muito espessas
pedem eficiência por recombinação em função dos comprimentos de difusão no material dos eletrons
fotogerados, enquanto que células muito finas perdem eficiência devido ao coeficiente de absorção óptica
do material.
A presença de interfaces entre os vários cristais no p-Si reduz um pouco a eficiência destas células
fotovoltaicas. Na prática, os dispositivos fabricados em lâminas de p-Si alcançam eficiências próximas das
obtidas em lâminas de m-Si. A eficiência média das células fotovoltaicas produzidas industrialmente em
Si-Cz (m-Si) é de 16,5%. Para lâminas comerciais de p-Si a eficiência varia de 14,5% a 16,2%.
Com substratos de Si-FZ tipo n, células fotovoltaicas com contatos interdigitados (intercalados) na
face traseira, denominadas de IBC (interdigitated back contact), onde os contatos metálicos estão
intercalados e todos dispostos na parte traseira da célula, foram fabricadas pela indústria com eficiência de
24,2%. Em substratos de Si-Cz tipo n, a máxima eficiência de 23,7% foi obtida com dispositivos HIT
(heterojunction with intrinsic thin layer). Também foram desenvolvidas células fotovoltaicas em lâminas
de Si-Cz tipo n com estrutura padrão da indústria e que atingiram eficiência média de 19% em linha de
produção.
Para fabricar as células fotovoltaicas a partir de lâminas de silício, um processo padrão utilizado pela
maioria das indústrias atuais pode ser resumido nas seguintes etapas:
1) ataque químico baseado em hidróxido de sódio ou potássio (NaOH ou KOH, solução 2% w/w) para
formação de micropirâmides nas superfícies das lâminas de m-Si, o que possibilita reduzir a
129
refletância das mesmas de 33% para 11% (light trapping); isso ocorre porque a reação química do
NaOH é anisotrópica e tem diferentes velocidades em diferentes direções cristalográficas, o que
resulta no aparecimento das micopirâmides, as quais tem tamanhos aleatórios, porém sempre a
mesma orientação; por outro lado, para o ataque químico em lâminas de p-Si são usadas soluções
ácidas;
3) difusão de fósforo em alta temperatura, de 800 °C a 950 °C com o gás POCl3; a penetração do
fósforo (profundidade de 0,5-1,0 µm) se dá em todas as faces da lâmina, de forma que a face não
utilizada para a junção pn e as bordas da lâmina são tratadas (corroídas) para eliminar a camada com
fósforo;
6) deposição de uma camada de pasta de alumínio na face posterior e difusão em alta temperatura em
forno de esteira; este processo visa facilitar a fabricação do contato metálico (ôhmico) na superfície
traseira da célula;
7) metalização (confecção dos contatos metálicos) nas faces frontal e traseira por serigrafia usando,
respectivamente, pastas de prata e prata-alumínio; entre os parâmetros de projeto que influem da Rs
estão o espaçamento entre as linhas da grade e a largura das barras do contato metálico frontal da
célula, que representam um compromisso entre a redução da Rs e o bloqueio de luz causado pela
grade frontal; e
Nas células atuais, a etapa 4 não é implementada, porque o material usado como filme AR
(antirreflexivo) é o nitreto de silício com hidrogênio (SiNx:H), que tem propriedade de passivação da
superfície.
Alguns fabricantes vêm disponibilizando comercialmente células fotovoltaicas de c-Si coloridas para
módulos destinados à integração arquitetônica (SFIE – Sistema Fotovoltaico Integrado à Edificação) e
fornecidos sob encomenda (Figura 3.22). As cores são obtidas por diferentes composições e/ou espessuras na
camada antirreflexiva (AR) das células. A cor usual do AR varia do azul-escuro ao preto, dando às células
sua conhecida cor característica, e a mudança resulta em redução de sua eficiência. A substância usada na
130
camada AR convencional é o SnO2, que é, na realidade, transparente, e a cor azulada visualizada é resultado
de um fenômeno de interferência óptica causada pela espessura da camada e seu índice de refração.
(a)
(b) (c)
Figura 3.22 – Células m-Si coloridas (a); célula p-Si verde (b) e dourada (c). (Fonte Solartec, República Tcheca)
A título de exemplo, o catálogo de determinado fabricante oferece células verdes, magenta, douradas,
prateadas, azuis e marrons, cujas eficiências são mostradas na Tabela 3.6.
Tabela 3.6 – Eficiências de células fotovoltaicas coloridas (Fonte: Solartec, República Checa)
Cor Eficiência
azul 13,6%
marrom 12,2%
dourado 11,7%
cinza 12,4%
magenta 11,3%
verde 11,5%
prateada 10,4%
A metalização por serigrafia é o método mais utilizado para fabricação dos contatos metálicos, por ser o
de maior produtividade, mas a prata representa um grande percentual nos custos de fabricação das atuais
células de silício
131
O encapsulamento é constituído de um sanduíche de vidro temperado de alta transparência, acetato de
etil vinila (EVA, do inglês Ethylene-vinyl acetate) estabilizado para a radiação ultravioleta, células
fotovoltaicas, EVA estabilizado, e um filme posterior isolante. Este filme é uma combinação de polímeros
tais como fluoreto de polivinila (PVF ou Tedlar®), tereftalato de polietileno (PET), dentre outros. O processo
de laminação é realizado a temperaturas de 120 °C a 150 °C, quando o EVA torna-se líquido e as eventuais
bolhas de ar geradas são eliminadas. No processo seguinte, é realizada a cura do EVA, que proporciona uma
maior durabilidade ao módulo fotovoltaico. Após este processo, coloca-se uma moldura de alumínio
anodizado e a caixa de conexões elétricas e o módulo fotovoltaico está finalizado. A Figura 3.23 mostra um
esquema dos componentes de um módulo fotovoltaico com células de c-Si.
Figura 3.23 - Esquema dos componentes de um módulo fotovoltaico com células de silício cristalino.
Os módulos FV de c-Si têm geralmente uma garantia contra defeitos de fabricação de 3 a 5 anos, e
garantia de rendimento mínimo durante 25 anos. Assim, em caso de defeitos ou desempenho insuficiente,
cobertos pelo termo de garantia, os módulos fotovoltaicos devem ser substituídos pelo fabricante.
Tipicamente é garantida uma potência de pico (Wp) mínima de 90 % da potência nominal para o
período dos 10 a 12 primeiros anos de operação e de 80 %por um período de 20 a 25 anos (G1 na Figura
3.24). Mas existem outras formas, como fabricantes que garantem por 5 anos pelo menos 95% da potência
nominal, durante 12 anos pelo menos 90%, durante 18 anos pelo menos 85% e durante 25 anos pelo
menos 80% (G2 na Figura 3.24).
132
Em mais outra forma de garantia, existem fabricantes que garantem uma degradação de rendimento
anual linear de 0,7-0,8%/ano durante 25 anos (G3 na Figura 3.24).
Estas diferentes formas de garantias são praticadas no exterior, não necessariamente no Brasil, e
seus resultados, em termos de produção de energia, podem ser diferentes, conforme mostra a Figura 3.24.
1,00
0,95
0,90
0,85
potencia garatida (p.u.)
0,80
0,75
0,70
0,65
0,60
0,55
0,50
0,45 G1
0,40
0,35 G2
0,30
0,25 G3
0,20
0,15
0,10
0,05
0,00
6
0
1
2
3
4
5
7
8
9
23
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
24
25
ano
Figura 3.24 – Degradação máxima de módulos, de acordo com 3 diferentes formas de garantia; G1: 90% -12 anos e 80% 25 anos;
G2: 95% - 5 anos, 90% - 12 anos, 85% - 18 anos e 80% 25 anos; G3: 3% no primeiro ano e 0,7% por ano até 25 anos. A área sob as
curvas é proporcional à geração de energia e, por inspeção, observa-se que a área sob G3 é maior do que as demais.
De qualquer forma, é importante saber que o mercado fotovoltaico é muito dinâmico e que há
constante evolução técnica e muita renovação de fabricantes, de forma que tais garantias tornam-se
bastante questionáveis. Na verdade, constata-se que atualmente existem muito poucos (se algum)
fabricantes de módulos que estão há mais de 20 anos no mercado.
133
até flexíveis, o que amplia o espectro de aplicações em arquitetura ou em equipamentos portáteis, tais como
celulares, calculadoras, relógios etc. Ao contrário das células de silício cristalino, onde primeiro se produz a
lâmina de silício, depois a célula e finalmente o módulo, nos dispositivos de filmes finos todo o processo está
integrado. Dentre os materiais mais usados estão o silício amorfo hidrogenado (a-Si:H), o disseleneto de
cobre e índio (CIS) ou disseleneto de cobre, índio e gálio (CIGS) e o telureto de cádmio (CdTe).
Os módulos de filmes finos são denominados por alguns autores de módulos fotovoltaicos de segunda
geração, enquanto que os de c-Si são ditos de primeira geração.
O a-Si:H, silício amorfo hidrogenado, vem sendo usado desde a década de 1980 em células para
calculadoras, relógios digitais e outros equipamentos. O material denominado amorfo é aquele que não
apresenta estrutura cristalina, mas, ainda assim, preserva suas propriedades de semicondutor. As primeiras
células de a-Si:H apresentavam problemas de estabilidade devido ao efeito Staebler-Wronski, que resultava
em uma degradação rápida (6 a 12 meses) de seu rendimento, quando expostas à radiação solar. Atualmente,
este efeito tem sido minimizado pela adoção de células com múltiplas camadas, e alguns fabricantes
fornecem garantias similares àquelas de módulos de silício cristalino.
Ainda assim, os módulos de a-Si:H podem apresentar uma potência real inicial entre 115% e 130%,
superior à nominal (STC), decrescendo depois de instalados e atingindo o valor nominal depois de 6 a 12
meses. Por isso, é importante que os demais equipamentos dos SFVs, como os inversores dos SFCRs, ou
controladores de carga de SFIs, que utilizem estes módulos estejam dimensionados para tal, de forma a evitar
que sofram avarias.
Os melhores módulos fotovoltaicos comerciais de a-Si:H atingem eficiências da ordem de 10% (tripla
junção). Desta forma, outra desvantagem destes módulos é o fato de ocuparem maiores áreas e de
apresentarem maiores custos de mão de obra e material (cabos, estruturas de fixação) para sua instalação, em
comparação com os módulos de c-Si.
Por outro lado, o a-Si:H apresenta um menor coeficiente de temperatura do que o c-Si, além de menor
perda de eficiência em condições de baixa irradiância.
A Figura 3.25(a) apresenta uma vista em corte de uma célula fotovoltaica de a-Si:H com tripla junção.
Sobre uma placa de vidro, que serve de substrato, é depositado inicialmente um filme transparente condutor
(TCO - transparent conductive oxide). Posteriormente, depositam-se camadas de filmes de a-Si:H e a-SiGe:H
sem dopagem (intrínseco) e com diferentes dopagens, formando três junções do tipo pin, seguidas por outra
camada de TCO, e finalmente o contato metálico traseiro. Filmes de silício microcristalino (µ-Si) ou
nanocristalino (n-Si) podem substituir as camadas de silício amorfo. As camadas são depositadas em toda a
superfície da placa de vidro e as células são definidas por processos consecutivos de isolamento com feixe de
134
radiação laser, conforme explicado mais adiante. A célula inferior, composta por a-SiGe:H, com Eg de
~1,4 eV, absorve a luz de cor vermelha, a célula intermediária, também de a-SiGe:H, porém com menor
concentração de Ge e um Eg de ~1,6 eV, absorve a faixa verde, enquanto que a célula superior, que não
contém Ge, tem Eg de ~1,8 eV e absorve a faixa azul. Por meio dos diferentes Eg (energia do gap) para cada
material, obtém-se assim um melhor aproveitamento do espectro solar. As junções do tipo pin contém uma
camada de material intrínseco, sem dopagem, entre as regiões p e n. A espessura das camadas dopadas é de
cerca de 10 nm, enquanto que a da camada intrínseca é muito maior, atingindo 500 nm (a Figura 3.25-a não
está em escala), assim é criada uma região bastante ampla de campo elétrico para separação dos portadores
fotogerados, reduzindo as perdas por recombinação.
A Figura 3.25(b) apresenta uma vista em corte de uma célula fotovoltaica de CdTe. As regiões de tipo n
e tipo p são formadas pelas camadas de sulfeto de cádmio (CdS) e de telureto de cádmio (CdTe),
respectivamente, obtendo-se, portanto,uma heterojunção, que é uma junção pn formada por dois materiais
semicondutores diferentes (a junção pn do mesmo material é denominada homojunção). Neste caso, a
vantagem de existirem dois Eg diferentes proporciona, em tese, um melhor aproveitamento da radiação.
Várias técnicas podem ser usadas para deposição dos filmes, sendo que células CdTe de maior
eficiência são produzidas com processos de recozimento em temperatura da ordem de 400 ºC e empregando
CdCl2 e O2. Esta tecnologia está sendo usada por poucas indústrias e há críticas sobre seu uso em larga escala,
pelos seguintes fatos: 1) o elemento químico cádmio, empregado na sua produção, é tóxico e apresenta
restrições do ponto de vista ambiental, 2) o elemento químico telúrio é obtido a partir de um subproduto da
produção de cobre, fonte que seria insuficiente para uma produção anual de dezenas de GWp, e 3) há poucas
reservas de minérios com telúrio na Terra. Em relação ao cádmio, os fabricantes afirmam que na produção há
controle estrito de contaminação, e que estudos demonstram que no caso de quebra ou rompimento dos
módulos não haveria contaminação do meio ambiente. Além disso, ressaltam que a reciclagem dos módulos
135
evitará possíveis contaminações futuras. No entanto, cabe comentar que, na Europa, estima-se que somente
4% das baterias de níquel-cádmio comercializadas nos últimos 20 anos foram recicladas, embora haja uma
obrigação para coleta dos produtos usados. Essas dificuldades poderão restringir a produção em larga escala,
de dezenas de gigawatts, de módulos de CdTe.
Os filmes de CdTe são sensíveis à umidade e os módulos devem ser encapsulados e selados nas bordas,
para evitar a degradação. Este encapsulamento pode ser realizado com vidro e filmes poliméricos ou com
duplo vidro. Os módulos fotovoltaicos de filmes finos de telureto de cádmio respondem por 5,5% do mercado
mundial, com domínio da empresa norte-americana First Solar. As células atingem a eficiência de 16,7% e os
melhores módulos comercializados alcançam 14,4% de eficiência. Não foi observada degradação da potência
de módulos de CdTe com o tempo de exposição à radiação solar, sendo que os fabricantes garantem que a
potência do módulo será de 80% da potência inicial após 25 anos de operação, ou seja, garantia similar aos
módulos de c-Si, muito embora os módulos de CdTe tenham sido introduzidos no mercado há menos tempo e
o histórico de instalações comerciais tenha um pouco mais de 10 anos.
As dificuldades de produção destas células em escala da ordem de dezenas de GWp estão relacionadas
com o uso de cádmio (embora em menor quantidade que nas células de CdTe), a obtenção de filmes
uniformes em grandes superfícies e a disponibilidade de índio e gálio, embora o primeiro seja um subproduto
do processamento de zinco. Em relação ao cádmio, estão sendo realizadas pesquisas para substituição do
filme de CdS por outros materiais, como por exemplo ZnO1-xSx. A maior indústria de módulos CIGS, que
produziu 525 MWp em 2011 (quase 60% da produção mundial anual) no Japão, já não usa cádmio. Alguns
autores analisaram a disponibilidade do elemento químico índio e concluíram que não há disponibilidade
suficiente para produção anual de muitos GWp. Em relação à estabilidade, os fabricantes anunciam que não
há degradação considerável e que pode haver aumento da eficiência nos primeiros anos. Neste caso, os
fabricantes também estão oferecendo garantia de 25 anos.
136
aumentar a produtividade. De todo modo, na fabricação destes módulos, as camadas de diferentes materiais
são depositadas uma a uma em toda a superfície da placa. As células e suas interconexões são definidas por
processos de corte de uma camada com feixe de radiação laser de alta potência, formando os sulcos,
conforme exemplificado na Figura 3.26 para um módulo de a-Si, antes da deposição da camada subsequente.
Nos Estados Unidos, mais de 2,3 bilhões de dólares foram investidos por companhias de capital de risco em
diferentes tecnologias de fabricação de módulos CIGS, mas algumas indústrias fecharam suas portas antes
mesmo de competirem no mercado internacional.
Figura 3.26 - Corte simplificado mostrando como é feita a definição das células fotovoltaicas, bem como sua conexão em série, em
um módulo fotovoltaico de filme fino de a-Si. As setas pretas indicam o sentido da corrente elétrica. Fonte: Adaptada de (ABERLE,
2009).
Entre os materiais que podem ser usados como TCO estão o ZnO (óxido de zinco), o SnO2 (óxido de
estanho) e o ITO (indium tin oxide), óxido de índio e estanho.
Uma alternativa para reduzir o custo do watt-pico (Wp) é o uso de sistemas ópticos de concentração da
radiação solar por meio de lentes e/ou espelhos, formadores ou não de imagens. Com o aumento da
irradiância solar incidente na célula, é possível obter elevadas correntes elétricas com células de pequena área.
Deste modo, células pequenas, de alta eficiência e elevado custo de produção podem ser utilizadas, se os
sistemas ópticos e de seguimento (rastreamento) do movimento aparente do Sol forem de baixo custo
relativo. Esta tecnologia é denominada muitas vezes de CPV – concentrated photovoltaics.
Para concentrações7 da ordem de 100 sóis (100 X), com espectro da radiação solar direta, células
fotovoltaicas de silício com todos os contatos na face posterior atingiram a eficiência de 27,6%. Usando
GaAs (arsenieto de gálio) e tecnologias de epitaxia (crescimento de camadas sobre uma lâmina de material
semicondutor) para a produção de células com uma junção pn, foi alcançada a eficiência de 29,1%. Células
7
A concentração é a razão entre a área de captação e a área da célula e é expressa na unidade “sóis”.
137
fotovoltaicas multijunção de GaInP/GaAs/GaInNAs e GaInP/GaInAs/Ge, obtidas por epitaxia em fase vapor
de compostos organometálicos (MOCVD – metalorganic chemical vapour deposition) ou epitaxia por feixe
molecular (MBE – molecular beam epitaxy), tecnologias onde as camadas de materiais semicondutores são
crescidas de forma extremamente controlada, atingiram a eficiência de 44% e de 41,6%, respectivamente,
para concentrações de 418 X e 364 X. O aumento da eficiência destes dispositivos com as mais diversas
estruturas continua sendo um tema de pesquisa e desenvolvimento nas universidades e centros de pesquisa.
Atualmente, células fotovoltaicas multijunção produzidas industrialmente estão sendo utilizadas em satélites,
entretanto o uso dessas células fotovoltaicas em concentradores em grandes centrais fotovoltaicas continua
sendo um desafio pois não se conseguiu ainda reduzir o custo do watt-pico a níveis atrativos.
A título de informação, sabe-se que para células de tripla junção operando sob concentração de 1000
sóis a máxima eficiência teórica prevista é de cerca de 56%.
Das tecnologias emergentes para fabricação de células fotovoltaicas, duas podem ser destacadas: as de
corantes e as orgânicas. As células fotovoltaicas sensibilizadas por corantes (DSSC – Dye Sensitized Solar
Cells) foram inicialmente desenvolvidas na década de 1980, por Michael Grätzel, razão porque são às vezes
chamadas de células de Grätzel. A Figura 3.27(a) apresenta um corte deste tipo de célula. A estrutura básica é
composta de um substrato de vidro, um filme condutor transparente (TCO), uma camada composta por TiO2
(dióxido de titânio) poroso e embebido em um corante com rutênio, um eletrólito (solução condutora salina),
outro TCO e finalmente um contato metálico traseiro de platina e vidro. Os fótons incidentes produzem
elétrons livres no corante, que são injetados na camada de TiO2; o fluxo de elétrons é mantido porque o
eletrólito “recarrega” o corante com elétrons. Observe-se que o dispositivo não funciona a partir de uma
junção pn de material semicondutor, e sim pela absorção de luz num corante, por isso não é considerada uma
célula fotovoltaica, e sim fotoeletroquímica. Os processos de fabricação deste tipo de célula são de baixo
custo, mas para uma produção em larga escala deverão ser desenvolvidos módulos fotovoltaicos com
eficiências maiores do que 10%, estáveis para aplicações de longo prazo, e com eletrólitos sólidos. Este tipo
de célula apresenta uma espessura cerca de 1.000 vezes menor que uma célula de silício. De acordo com
alguns fabricantes, os módulos fabricados com células sensibilizadas por corantes têm a vantagem de
poderem ser instalados sem maiores preocupação com a sua inclinação, pois a estrutura tridimensional das
células absorve perfeitamente a radiação difusa. Corantes orgânicos de uva, berinjela e amora, dentre outros,
têm sido testados no uso desta tecnologia, ultrapassando eficiências da ordem de 10%, porém apresentando
durabilidade baixa, não permitindo sua comercialização.
138
(a) (b) (c)
Figura 3.27 - (a) Esquema simplificado de uma célula fotovoltaica com corante e eletrólito, onde a região entre os vidros é da ordem
de micrômetros. Diagramas de células fotovoltaicas orgânicas: (b) com vidro e (c) com filme depositado sobre uma superfície de
PET flexível.
Com materiais orgânicos também podem ser produzidas células fotovoltaicas de filmes finos. A Figura
3.27(b) mostra um corte deste tipo de célula, no caso composta por um substrato (vidro ou superfície
flexível), um filme condutor transparente, o material orgânico e um contato metálico traseiro. A Figura
3.27(c) exemplifica outra possível configuração para uma célula orgânica. O material orgânico geralmente
pode ser depositado por técnicas simples, como por exemplo, as denominadas spray, spin-on ou roll-to-roll.
Com material semicondutor orgânico depositado sobre um filme de PET8, podem ser processadas células
fotovoltaicas com espessura menor que 2 µm.
As células orgânicas, DSSC e outras tecnologias ainda em desenvolvimento são denominadas por
alguns autores de células fotovoltaicas de terceira geração.
A Tabela 3.7 lista as normas nacionais e internacionais sobre módulos fotovoltaicos que são
recomendadas para consulta, bem como o regulamento do Inmetro.
8
Politereftalato de etileno é um polímero termoplástico, utilizado principalmente na forma de fibras para tecelagem e de
embalagens para bebidas, de fácil reciclagem.
139
Tabela 3.7 – Normas e regulamentos sobre módulos fotovoltaicos.
Conformidade para
Portaria nº 004, Especifica os procedimentos de ensaio
Sistemas e Equipamentos Módulos fotovoltaicos
de 04 de janeiro para etiquetagem de módulos
para Energia Fotovoltaica (e outros equipamentos)
de 2011; fotovoltaicos (e outros equipamentos).
(Módulo, Controlador de
Carga, Inversor e
Bateria).
3.9 – Referências
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cost, high volume production of > 22% efficiency silicon solar cells. Milan, Italy: Proceedings of the
22nd European Photovoltaic Solar Energy Conference, 2007, p. 816-819.
140
DIMROTH, F.; KURTZ, S. High-efficiency multijunction solar cells. MRS Bulletin, v. 32, Março de
2007. p. 230-235. Disponível em: <http:// www.mrs.org/bulletin>.
FATH, P.; KELLER, S.; WINTER, P.; JOOSS, W.; HERBST, W. Status and perspective of
crystalline silicon solar cell production. Philadelphia, USA: Proceedings of the 34th IEEE Photovoltaic
Specialists Conference, 2009. p. 2471-2476.
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Photovoltaics: Research and Applications, v. 17, 2009. p. 347-359.
GREEN, M. A.; EMERY, K.; HISHIKAWA, Y.; WARTA, W.; DUNLOP, E. D. Solar cell
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GREEN, M. Thin-film solar cells: review of materials, technologies and commercial status.
Journal of Materials Science: Materials in Electronics, v. 18, 2007. p. S15-S19.
ITRPV - International Technology Roadmap for Photovoltaics. Results 2011. 3ª ed., Março de
2012. Disponível em <http://www.itrpv.net>. Acesso em: 15 agosto de 2012.
KALTENBRUNNER, M.; WHITE, M. S.; GLOWACKI, E. D.; SEKITANI, T.; SOMEYA, T.;
SARICIFTI, N. S.; BAUER, S. Ultrathin and lightweight organic solar cells. Nature Communications,
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PERLIN, J. From Space to Earth. The story of solar electricity. Aatec Publications: Ann Arbor,
1999.
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SONG, D.; XIONG, J.; HU, Z.; LI, G.; WANG, H.; AN, H.; YU, B.; GRENKO, B.; BORDEN, K.;
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Texas, USA. Proceedings of the 38th IEEE Photovoltaic Specialists Conference, 2012. p. 1-5.
SZE, S.M. Physics of Semiconductor Devices. 2nd edition. John Wiley & Sons, Inc. 1981.
142
CAPÍTULO 4
143
CAPÍTULO 4 – COMPONENTES BÁSICOS DE SISTEMAS FOTOVOLTAICOS
O número de células conectadas em um módulo e seu arranjo, que pode ser série e/ou paralelo,
depende da tensão de utilização e da corrente elétrica desejadas. É importante ter cuidado com a
seleção das células a serem reunidas no momento da fabricação do módulo, devido a suas
características elétricas.A incompatibilidade destas características leva a módulos de baixa qualidade,
devido ao efeito de mismatch (descasamento), pelo qual as células de menor fotocorrente limitam o
desempenho do conjunto e, em consequência, a eficiência global do módulo fotovoltaico é reduzida.
1
Equivalente em inglês a MPPT, maximum power point tracking.
144
comum encontrar módulos com tensões nominais diferentes, com maior ocorrência entre 30 V e
120 V.
Atualmente, com a queda de preços dos módulos para conexão à rede (60 células em série ou
mais), pode ser mais atrativo economicamente o uso desses módulos em conjunto com controlador de
carga com SPPM para implementar sistemas fotovoltaicos com armazenamento em baterias (SFIs).
145
4.1.2 – Características elétricas dos módulos
Um módulo é geralmente identificado pela sua potência elétrica de pico (Wp), mas um conjunto
de características compatíveis com a aplicação específica deve ser observado. A definição da potência
de pico de um módulo fotovoltaico é feita nas condições-padrão de ensaio (STC, do inglês Standard
Test Conditions), considerando irradiância solar de 1.000 W/m2 sob uma distribuição espectral padrão
para AM 1,5 e temperatura de célula de 25 °C.
Antes de citar as grandezas elétricas utilizadas para caracterizar um módulo, deve-se observar
que a maioria destas características depende das condições de temperatura e de irradiância solar em
que as mesmas foram determinadas.
Quando um módulo está posicionado na direção do Sol, uma tensão pode ser medida entre os
terminais positivo e negativo usando um voltímetro. A tensão observada em um módulo desconectado
é a tensão de circuito aberto (Voc). Por outro lado, ao conectar os terminais desse módulo a um
amperímetro mede-se sua corrente de curto-circuito (Isc). Entretanto, estes dados são pouco
informativos sobre a potência real do módulo.
146
Figura 4.1–Curva característica I-V e curva de potência P-V para um módulo com potência nominal de 100Wp.
Para cada ponto na curva I-V, o produto corrente-tensão representa a potência gerada para aquela
condição de operação. A Figura 4.1 mostra também, além da curva I-V, uma curva de potência em
função da tensão, chamada de curva P-V, que identifica o ponto com o máximo valor de potência. A
este ponto na curva de potência corresponde um ponto na curva de corrente, com valores de tensão e
corrente específicos, que são denominadas, respectivamente, de tensão e corrente de máxima potência
(VMP,IMP). Este ponto é conhecido como o ponto de máxima potência PMP.
O ponto de máxima potência corresponde, então, ao produto da tensão de máxima potência (VMP)
e corrente de máxima potência (IMP). Os valores PMP, VMP, IMP, Voc e Isc são os cinco parâmetros que
especificam o módulo sob dadas condições de radiação, temperatura de operação de célula e massa de
ar.
De forma similar ao mostrado para a célula fotovoltaica, o fator de forma (FF) do módulo é a
grandeza que expressa quanto a sua curva característica se aproxima de um retângulo no diagrama I-V.
Quanto melhor a qualidade das células no módulo, mais próxima da forma retangular será sua curva I-
V. A definição do FF é apresentada na Figura 4.2. A área hachurada simples corresponde ao produto
Voc x Isc, valor sempre acima da potência que o módulo pode alcançar. A área duplamente hachurada
representa o produto VMP x IMP, ou seja PMP, a potência máxima do módulo. Como mostrado no
Capítulo 3, a relação entre as áreas é o valor de FF.
147
Figura 4.2 – Definição do fator de forma.
Da mesma forma que para as células fotovoltaicas, a eficiência (η) dos módulos é obtida através
da relação entre a potência elétrica máxima gerada e a irradiância solar. Quando este número é
determinado nas condições-padrão de ensaio, a irradiância é de G = 1.000 W/m2 e a potência luminosa
incidente no módulo pode ser calculada multiplicando-se este valor pela área do módulo (AM). A
Equação 4.1 apresenta o cálculo da eficiência do módulo, que é idêntica à Equação 3.10 para a célula.
No caso do módulo, entretanto, pelas normas técnicas a área inclui a moldura metálica e qualquer parte
construtiva do módulo.
(4.1)
De maneira semelhante ao que ocorre com as células fotovoltaicas, o desempenho dos módulos
fotovoltaicos é fundamentalmente influenciado pela irradiância solar e pela temperatura das células.
A corrente elétrica gerada pelo módulo aumenta com o aumento da irradiância solar. A corrente
de curto-circuito tem um aumento linear com a irradiância, como mostra a Figura 4.3.
148
8
G = 1.000 W/m²
6
Corrente (A)
G = 800 W/m²
4
G = 600 W/m²
2
G = 400 W/m²
G = 200 W/m²
0
0 5 10 15 20 25
Tensão (V)
Figura 4.3 – Efeito causado pela variação da irradiância solar sobre a curva característica I-V para um módulo fotovoltaico
de 36 células de silício cristalino (c-Si) a 25°C.
149
8
6
25°C
Corrente (A)
35°C
4 55°C
45°C
65°C
75°C
2
0 10 20 30
Tensão (V)
Figura 4.4 – Efeito causado pela variação da temperatura das células sobre a curva característica I-V para um módulo
fotovoltaico de 36 células de silício cristalino (c-Si) sob irradiância de 1.000 W/m2.
(4.2a)
Onde VOC é a variação da tensão de circuito aberto para uma variação de temperatura de célula T.
O cálculo do Voc em determinada temperatura, com o uso do coeficiente β é feito por meio da equação
abaixo (os demais coeficientes – α e γ - são usados de forma análoga).
(4.2b)
Este coeficiente é negativo e, para os módulos c-Si, um valor típico é de -2,3 mV/célula.°C ou
-0,37%/°C, enquanto que para os de a-Si é de -2,8 mV/célula.°C ou -0,32%/°C2. Alguns fabricantes
também informam o coeficiente de temperatura específico para a VMP, que pode ser denominado βVMP,
e que é geralmente maior do que o β para o Voc.
(4.3)
2
Os valores reais dos coeficientes de temperatura devem ser obtidos junto ao fabricante no módulo. Os módulos de a-Si de
diferentes fabricantes apresentam variações significativas nos coeficientes de temperatura.
150
onde ISC é a variação da corrente de curto-circuito (Isc) para uma variação de temperatura de célula
T, sendo, este coeficiente aplicado a uma equação idêntica à 4.2b.
(4.4)
Onde PMP é a variação da potência máxima do módulo para uma variação de temperatura de célula
T, também usado em uma equação idêntica à 4.2b.
Este coeficiente é negativo e os valores típicos são de -0,5%/°C para módulos de c-Si e
-0,3%/°C para módulos de a-Si.
A definição do ponto de máxima potência PMP permite escrever a expressão abaixo, que visa
obter sua variação com a temperatura, a partir das variações de IMP e VMP. Para isso, considera-se que o
coeficiente de temperatura (α) para a Isc e para a IMP são idênticos, e que o coeficiente de temperatura
da VMP é βVMP. Os coeficientes devem estar expressos em porcentagem.
Assim, pode-se então escrever a Equação 4.53, que relaciona de forma aproximada os coeficientes de
temperatura da célula fotovoltaica, e que permite, caso este não seja fornecido pelo fabricante, obter o
coeficiente βVMP a partir dos que são geralmente fornecidos, que são α e γ.
(4.5)
Alguns autores aproximam o βVMP diretamente pelo γ, uma vez que α é muito menor do que os
demais.
3
Na Equação 4.5, deve-se levar em conta os sinais dos coeficientes: α é positivo, enquanto que β VMP e γ são negativos.
151
Os módulos de a-Si apresentam uma menor influência da temperatura na potência de pico,
embora também sofram redução no seu desempenho. Além disso, módulos de a-Si de diferentes
fabricantes apresentam diferenças significativas nos coeficientes de temperatura.
Onde:
Tmod (°C) – temperatura do módulo;
Tamb (°C) – temperatura ambiente;
G (W/m2) – irradiância incidente sobre o módulo;
Kt(°C/W.m-2) – coeficiente térmico para o módulo, podendo ser adotado o valor padrão de 0,03, se não
for conhecido.
Supondo-se, a título de exemplo numérico, um módulo de c-Si sob uma temperatura ambiente de
30°C e sob uma irradiância de 1000 W/m2, teríamos, pela Eq. 4.5, uma temperatura de operação de
60°C.
Supondo que se trate de um módulo de c-Si com PMP-stc de 250 Wp e que seu coeficiente seja
de-0,5%/°C, ele teria então uma potência de pico de ~206Wp nestas condições, o que corresponde a
uma perda de cerca de 17,5%. Supondo ainda uma Isc-stc de 8,79 A e um coeficiente α de 0,06%/°C,
teríamos uma Isc de 8,88 A. Considerando também uma Voc-stc de 38,4 V (60 células) e um coeficiente
β de -0,33%/C, o Voc seria então de 33,9 V.
Uma vez que as condições-padrão de ensaio (STC) não representam, na maioria dos casos,
condições operacionais reais, as normas definem uma temperatura nominal para a operação das células
nos módulos, na qual as características elétricas podem se aproximar mais das características efetivas
verificadas em campo. Cada módulo tem uma temperatura nominal para suas células, que é obtida
quando o módulo é exposto em circuito aberto a uma irradiância de 800 W/m2 em um ambiente com
temperatura do ar a 20°C e sofrendo ação de vento incidindo com velocidade de 1 m/s. Esta
temperatura também é muitas vezes encontrada nas folhas de dados técnicos dos módulos,
normalmente identificada pela sigla NOCT (Nominal Operating Cell Temperature) e geralmente está
entre 40 e 50°C. A NOCT está ligada às propriedades térmicas e ópticas nos materiais empregados na
construção do módulo. Supondo módulos de mesmos coeficientes de temperatura (α, β e γ), aquele que
tiver a menor NOCT terá o melhor desempenho em campo, pois terá menos perdas relacionadas à
temperatura.
152
A partir da NOCT informada pelo fabricante, pode-se calcular, com auxílio da Equação 4.7, o
coeficiente Kt do módulo, usado na Equação 4.6.
(4.7)
Onde:
Kt(°C/W.m-2) – coeficiente térmico para o módulo;
NOCT(°C) – Nominal Operating Cell Temperature do módulo;
20(°C) – temperatura ambiente definida para medida da NOCT;
800 (W/m2) – irradiância definida para a medida da NOCT;
153
Tabela 4.2 – Dados técnicos adicionais que podem constar na folha de dados do módulo.
Os módulos comercializados no Brasil devem ser ensaiados de acordo com o RAC do Inmetro
(INMETRO, 2011) e apresentar o respectivo registro (pode ser consultado na página do Inmetro na
internet – www.inmetro.gov.br) e a etiqueta afixada na sua superfície posterior, como a da Figura 4.5.
Figura 4.5 – Modelo de etiqueta do Inmetro afixada nos módulos; os dados indicados pelas setas são informados para cada
modelo de módulo, depois dos ensaios realizados por laboratório credenciado. Adaptado de (INMETRO, 2011).
154
A classificação das categorias de eficiência energética (A a E) é feita pelo Inmetro de acordo
com as faixas de eficiência do módulo, medida nas condições-padrão de teste, mostradas na Tabela
4.3.
Na parte posterior dos módulos normalmente há uma caixa de conexões, onde são abrigados os
diodos de desvio (by-pass), apresentados posteriormente no item 4.2.4, e as conexões dos conjuntos de
células em série. A Figura 4.6 mostra um exemplo do interior de uma caixa de conexões de um módulo
de 60 células e um diagrama mostrando a posição dos diodos de desvio. Neste módulo, cada diodo de
desvio está conectado a 20 células em série. Alguns módulos não têm caixa de conexões ou ela não é
acessível, saindo os cabos diretamente do módulo laminado ou de uma caixa lacrada.
Figura 4.6 – Caixa de conexões (esquerda) e diagrama de ligações (direita) de um módulo de 240 Wp, com 60 células em
série (20 para cada diodo), onde VOC = 36,9 V.
155
4.1.6 – Terminais
Os cabos terminais dos módulos fotovoltaicos devem ter isolamento adequado para a máxima
tensão do sistema e ser capazes de suportaras intempéries. Módulos modernos, desenvolvidos para
aplicações conectadas à rede, são fornecidos com cabos pré-instalados, com comprimento suficiente
para a sua conexão série com outro módulo igual em um arranjo fotovoltaico. Geralmente os cabos são
providos de um sistema de engate rápido, para facilitar a tarefa de instalação e garantir a boa qualidade
da conexão. A Figura 4.7 mostra um exemplo de conectores de engate rápido.
Esses conectores devem possuir grau de proteção4 IP 67 ou superior e não devem ser
posicionados em canaletas ou dutos que possam acumular água. Os cabos não devem ficar soltos e
sujeitos à ação do vento, e sim presos à estrutura do painel fotovoltaico por meio de abraçadeiras
apropriadas.
Figura 4.7 – Conectores de engate rápido MC4 para conexão série de módulos fotovoltaicos.
Normalmente os módulos c.a. são mais caros que os convencionais. No final de 2013, o custo do
módulo c.a. era US$ 0,40/Wp superior ao do módulo convencional, mas em compensação o custo
comercial do sistema como um todo era reduzido em US$ 0,20/Wp. No Brasil, porém, este tipo de
tecnologia ainda encontra utilização incipiente, e as normas técnicas nacionais não se aplicam a este
tipo de equipamento.
4
Grau de proteção apresentado na norma NBR IEC 60529:"Graus de proteção para invólucros de equipamentos elétricos
(códigos IP).
156
4.2 – Associação de Módulos Fotovoltaicos
Os módulos podem ser conectados em ligações série e/ou paralelo, dependendo da corrente e
tensão desejadas, para formar painéis fotovoltaicos com potência mais elevada. Ao definir como serão
associados os módulos, é necessário ter informações de como deverá ser a instalação e quais
componentes serão utilizados, pois as tensões e correntes resultantes devem ter plena compatibilidade
com esses componentes.
De maneira análoga à conexão das células fotovoltaicas, quando a ligação dos módulos é série,
as tensões são somadas e a corrente (para módulos iguais) não é afetada, ou seja:
(4.8)
(4.9)
O efeito da conexão em série de módulos idênticos está ilustrado na Figura 4.8, através da curva
característica I-V. Neste exemplo, cada módulo de 220 Wp tem ISC= 6,9A e VOC= 43,4 V. O conjunto
resultante de 4 módulos em série tem potência de 880 Wp, ISC= 6,9 A e VOC = 173,6 V.
Figura 4.8–Curvas I-V para um módulo de 220 Wp, 2 módulos idênticos associados em série e 4 módulos idênticos
associados em série.
157
Uma vez realizada a conexão série, as correntes que fluem por cada módulo são sempre iguais
entre si, mas para que a corrente não seja afetada em relação à corrente de um módulo individual,
consideram-se módulos idênticos sob as mesmas condições de radiação e temperatura. Caso haja uma
dispersão de características elétricas ou um sombreamento parcial, a corrente do conjunto conectado
em série é limitada pelo módulo com a menor corrente individual.
(4.10)
(4.11)
A Figura 4.9 ilustra o efeito da soma das correntes em módulos idênticos conectados em
paralelo, através da curva característica I-V. No exemplo, cada módulo de 220 Wp tem ISC= 6,9A e VOC
= 43,4 V. O conjunto resultante de 4 módulos em paralelo tem potência de 880 Wp, ISC= 27,6 A e VOC
= 43,4 V.
Figura 4.9–Curvas I-V para a conexão em paralelo dos mesmos módulos fotovoltaicos da Figura 4.8.
158
4.2.3 – Efeitos de sombreamento
A Figura 4.10 mostra o efeito do sombreamento sobre apenas uma das células de um dos 4
módulos conectados em série referidos na Figura 4.8. Ao cobrir a metade de uma das células, a
corrente daquele módulo é reduzida pela metade. Como consequência, a corrente de todos os módulos
no conjunto em série também é reduzida.
Figura 4.10 – Curva I-V para 4 módulos conectados em série e sem sombreamento (linha contínua); curva I-V para os
mesmos 4 módulos na situação de sombreamento de uma de suas células, que passa a receber 50 % da irradiância original
(linha tracejada); curva I-V com o mesmo sombreamento, mas com a utilização de diodos de desvio (curvas com linha
contínua e pontos).
Deve-se aqui ressaltar que os módulos de filmes finos normalmente tem melhor desempenho na
presença de sombreamento do que os de c-Si, sofrendo menores reduções em seu rendimento.
159
4.2.4 – Diodo de desvio (by-pass)
Para evitar a ocorrência de “pontos quentes”, os módulos são normalmente protegidos com
diodos de desvio5 (by-pass), que oferecem um caminho alternativo para a corrente e, assim, limitam a
dissipação de potência no conjunto de células sombreadas. Isso reduz simultaneamente a perda de
energia e o risco de dano irreversível das células afetadas, o que inutilizaria o módulo.
Os diodos de desvio são geralmente inseridos nas caixas de conexões dos módulos e conectados
em antiparalelo6 com um conjunto de células em série, entre 15 e 30 células para cada diodo. O diodo
de desvio deve suportar, em operação permanente, a mesma corrente das células. A proteção ocorre
porque, com o diodo de desvio, a máxima potência dissipada sobre uma das células seria a potência do
conjunto que o diodo envolve. O diagrama apresentado na Figura 4.11 mostra como são conectados
estes diodos em um módulo com 36 células em série e um diodo de desvio a cada 18 células. Na
figura, os círculos representam as células fotovoltaicas, apesar de estas serem mais comumente
encontradas atualmente em formato quadrado.
Figura 4.11 – Diagrama mostrando a ligação de diodos de desvio nos módulos fotovoltaicos.
5
Esses diodos são algumas vezes também denominados “de derivação”, “de passagem”, ou “de passo”.
6
Em paralelo, com polaridade inversa.
160
Figura 4.12 - Operação de um diodo de desvio.
161
(a)
Controlador de
Carga
(b)
Figura 4.13 – (a) Diagrama com 4 séries fotovoltaicas conectadas em paralelo usando diodos de bloqueio; (b) diodo de
bloqueio evitando o fluxo de corrente da bateria para o módulo, quando o controlador não desempenha esta função.
162
Os fusíveis devem ser colocados na saída de cada série tanto no polo positivo quanto no polo
negativo. O fusível deve ser para corrente contínua, de preferência do tipo gPV (conforme IEC 60269-
6), que é apropriado para operação em sistemas fotovoltaicos pois apresenta alta durabilidade.
Ao longo dos anos, vem se observando que os diodos de bloqueio apresentam alto índice de
falhas, prejudicando o desempenho do sistema. O fusível fotovoltaico é um componente de proteção
que pode substituir o diodo de bloqueio.
Figura 4.14 – Diagrama com 4 séries fotovoltaicas que utilizam fusíveis fotovoltaicos de proteção. Fonte: (Catálogo da
Cooper-Bussmann: Photovoltaic System Protection Application Guide)
4.3 – Baterias
Pode-se também utilizar baterias para sistemas fotovoltaicos conectados à rede para a operação
ilhada do sistema de geração no caso de falta da energia da rede elétrica. Sistemas assim são
encontrados na Europa e nos EUA. No Brasil, para o caso de micro e minigeração, regulamentado pela
RN Aneel No 482/2012 (ANEEL, 212b) não há regulamentação prevendo este tipo de operação e as
distribuidoras de energia não o aceitam, exigindo, inclusive, proteção para desligamento da geração em
casos de ilhamento.
163
Existem, em princípio, diversas formas de armazenamento de energia, tais como campo elétrico
(supercapacitores), campo magnético (indutores com supercondutores, SMES - Superconducting
Magnetic Energy Storage), energia mecânica (volantes de inércia - flywheels, ar comprimido,
bombeamento de água), vetores energéticos (como o Hidrogênio) etc. Entretanto, a bateria
eletroquímica ainda é o dispositivo mais utilizado em sistemas fotovoltaicos isolados, por ser uma
forma conveniente e eficiente de armazenamento de energia elétrica.
As células primárias compõem as baterias que podem ser utilizadas apenas uma vez (não
recarregáveis). Quando as células primárias descarregam-se completamente, sua vida útil se encerra e
elas devem ser descartadas. As baterias não recarregáveis são geralmente utilizadas como fontes de
energia de baixa potência, em aplicações tais como relógios de pulso, calculadoras e muitos outros
aparelhos portáteis. É possível encontrar baterias compostas por células primárias que admitem
recargas leves, aumentando sua vida útil.
As células secundárias compõem as baterias recarregáveis, ou seja, aquelas que podem ser
carregadas com o auxílio de uma fonte de tensão ou corrente, e reutilizadas várias vezes. São
comumente chamadas de “acumuladores” ou “baterias de armazenamento” e são úteis na maioria das
aplicações por longos períodos, como por exemplo, em sistemas fotovoltaicos.
164
Tabela 4.4 – Dados técnicos de catálogos de baterias recarregáveis disponíveis comercialmente. Os dados da tabela não correspondem necessariamente aos limites de cada tecnologia.
Fonte:(LUQUE; HEGEDUS, 2011).
Temperatura de
Densidade Densidade Eficiência Vida Vida operação
Aplicações típicas
Tecnologia Eletrólito Energética Energética Wh útil cíclica Carga
Descarga (exemplos)
[Wh/kg] [Wh/L] [%] [anos] [ciclos] padrão
[°C]
[°C]
Chumbo ácido7 –10 a Uso estacionário,
H2SO4 20–40 50–120 80–90 3–20 250–500 –15 a +50
(Pb-ácido) +40 tração, automotiva
Mesmo tipo de
aplicações das baterias
Níquel-Cádmio –20 a
KOH 30–50 100–150 60–70 3–25 300–700 –45 a +50 chumbo-ácido,
(NiCd) +50
ferramentas, veículos
elétricos
Notebooks, celulares,
Níquel-hidreto câmeras fotográficas,
KOH 40–90 150–320 80–90 2–5 300–600 0 a +45 –20 a +60
metálico (NiMH) veículos elétricos e
híbridos, brinquedos
7
Não incluídas as baterias de eletrodos positivos tubulares, descritas no item 4.3.3.4.
8
RAM – rechargeable alkaline manganese
165
4.3.1 – Terminologia
Autodescarga
As baterias de Chumbo-ácido têm como característica uma alta taxa de autodescarga. Quando
não estão sendo utilizadas, podem perder de 5 a 30 % por mês de sua capacidade, dependendo da
temperatura e composição química de suas células. Comparativamente, a faixa média de autodescarga
das baterias de Níquel-Cádmio é de 3 a 6 % ao mês.
Bateria
Capacidade
Embora a capacidade de uma bateria seja normalmente definida como a quantidade de amperes-
hora (Ah) que pode ser retirada da mesma quando esta apresenta carga plena, a capacidade de uma
bateria também pode ser expressa em termos de energia (watts-hora).
Capacidade Instalada – é o total de amperes-hora que pode ser retirado de uma célula ou bateria
nova, sob um conjunto específico de condições operacionais, incluindo a taxa de descarga,
temperatura, e tensão de corte.
166
Capacidade Disponível – é o total de amperes-hora (Ah) que pode ser retirado de uma célula ou
bateria, sob um conjunto específico de condições operacionais, incluindo a taxa de descarga,
temperatura, estado inicial de carga, idade e tensão de corte.
Capacidade de Energia – é o número total de watts-hora (Wh) que pode ser retirado de uma
célula ou bateria totalmente carregada. Geralmente é obtido pelo produto da capacidade em Ah pela
tensão nominal.
Teoricamente, uma bateria de 200 Ah deve ser capaz de fornecer corrente de 200 A durante 1
hora, ou 50 A por 4 horas, ou 4 A por 50 horas, ou ainda, 1 A por 200 horas. Porém, um fator que
influencia na capacidade da bateria é a velocidade de carga ou descarga. Quanto mais lento for o
descarregamento, ligeiramente maior será a sua disponibilidade de carga. Os fabricantes normalmente
fornecem a capacidade para cada regime de descarga (daí ser importante a especificação das condições
de uso).
Carga
Célula
Unidade eletroquímica básica de uma bateria, que possui uma tensão característica dependente
dos materiais nela contidos. Uma célula é uma combinação de dois eletrodos (o anodo, sede da
oxidação, e o catodo, sede da redução) e do eletrólito. A diferença em termos de energia livre entre o
anodo e o catodo resulta no estabelecimento de uma diferença de potencial elétrico, a qual é a força
motriz para as reações eletroquímicas que determinam o funcionamento da célula. Quando uma célula
está descarregando, ocorrem reações químicas entre o material ativo de cada eletrodo e o eletrólito,
que produzem eletricidade. Durante o processo de carga, a reação inversa ocorre, consumindo energia.
167
A polaridade dos eletrodos indica o sinal da carga que eles possuem. É essencial que os eletrodos
positivo e negativo não se toquem. Caso isto ocorra, um curto-circuito será causado e a célula
descarregará rapidamente, podendo até ser danificada.
Quando todo o material ativo nos dois eletrodos é convertido, a célula está completamente
descarregada.Durante o carregamento o processo é revertido; ocorre a conversão do material ativo para
o estado inicial.
Ciclo
Densidade de energia
Capacidade de energia nominal normalizada pelo volume (Wh/L) ou pela massa (Wh/kg) da
célula ou bateria.
Descarga
Eficiência
Relação entre a saída útil e a entrada. Existem duas formas de expressar a eficiência de uma
bateria:
9
Também chamada por alguns autores de eficiência farádica.
168
descarregada é de ~100 %). É importante alertar que alguns fabricantes se referem à eficiência
coulômbica como sendo a eficiência da bateria, o que não é correto.
Eficiência voltaica ou de tensão (V) – razão entre a tensão (ou potencial) média durante a
descarga de uma célula ou bateria e da tensão média durante a carga necessária para restaurar a
capacidade inicial. Quando se considera o valor médio de potencial para uma bateria formada por
muitas células pode-se constatar considerável dispersão dos valores característicos das células
unitárias. Além disso, como a tensão é dependente do estado de carga, a eficiência voltaica também é
influenciada por esta condição, notadamente pelos efeitos de polarização que ocorrem nos eletrodos e
pelas resistências ao transporte de elétrons e de íons. A eficiência voltaica é também influenciada pelas
taxas (correntes) de carga/descarga. Considerando que uma bateria Chumbo-ácido monobloco de 12 V
num sistema fotovoltaico é carregada numa tensão média de 13,8 V e descarregada numa tensão média
de 12,5 V, tem-se uma eficiência voltaica de ~90,5%.
Eficiência global ou de watt-hora (Wh) –Também conhecida como eficiência energética, pois é
o produto das eficiências coulômbica e voltaica, sendo determinada pela razão entre a energia retirada
da bateria durante o processo de descarga e a energia total característica do estado de carga inicial.
Considerando os valores default acima apresentados para as eficiências coulômbica e voltaica,
teríamos uma eficiência global de ~86% para uma bateria Chumbo-ácido.
Eletrodo
Eletrólito
Meio material que proporciona o de transporte de íons entre os eletrodos anódico e catódico. Em
algumas células, tais como as do tipo chumbo-ácido, o eletrólito pode também participar diretamente
nas reações eletroquímicas de carga e descarga.
169
Equalização
Processo em que se busca igualar o estado de carga das células que compõem uma bateria. Para
as baterias de Chumbo-ácido este processo é dimensionado para levar todas as células a carga plena.
Alguns tipos de baterias requerem uma descarga total durante o processo de equalização.
Estado de carga
Estado de carga de 100% indica bateria totalmente carregada enquanto que 0% indica totalmente
descarregada.
Estratificação
Divisão do eletrólito em camadas de diferentes densidades, sendo mais denso no fundo do vaso e
apresentando, como consequência, a redução da capacidade da bateria e a corrosão da parte inferior
dos eletrodos (placas). Tal fenômeno é mais significativo em baterias Chumbo-ácido, mas as questões
relacionadas à homogeneidade e à uniformidade dos eletrólitos e dos eletrodos condicionam
fortemente o desempenho dos vários tipos de baterias. Este efeito obviamente se aplica às baterias
estacionárias ou fotovoltaicas, pois nas baterias automotivas e tracionárias a movimentação promove a
mistura do eletrólito eliminando naturalmente a estratificação.
Flutuação
Processo de carga que busca manter as baterias ou células com um estado de carga próximo à
carga plena, evitando que as mesmas permaneçam por longos períodos com estado parcial de carga.
Este processo é importante para baterias de chumbo-ácido, sendo dispensável para as de níquel-
cádmio.
170
Gaseificação10
Grade
Estrutura condutora que suporta o material ativo de uma placa, mas que não participa
quimicamente da reação de carga/descarga.
Material ativo
Placa
Montagem do material ativo e, em alguns casos, uma grade de suporte. As placas formam os
eletrodos anódico e catódico de uma célula.
Polarização
Redução do valor do potencial de uma célula eletroquímica ou de seus eletrodos, a partir dos
seus respectivos valores de equilíbrio, em função da passagem de corrente elétrica devido ao
acoplamento de uma carga (impedância). Nos eletrodos, quando da conexão de cargas elétricas
externas à célula, aparecem sobrepotenciais (ou sobretensões) – definido como a diferença entre o
potencial real instantâneo de um eletrodo, numa certa circunstância, e o potencial de equilíbrio do
eletrodo – que promovem a redução dos respectivos potenciais e estão associados a fenômenos
reacionais e de transferência de massa. Em geral, em baixas densidades de corrente elétrica ocorre o
predomínio da polarização por ativação devida à barreira de energia de ativação que limita o processo
de transferência de elétrons no eletrodo, ao passo que em altas densidades de corrente é o processo
difusivo de transporte de massa que se torna predominante, resultando na polarização por
concentração. Além disso, sob diversas circunstâncias, pode haver um retardamento do processo
10
Também chamada de gaseio por alguns autores.
171
eletroquímico global como resultado das resistividades dos materiais constituintes dos eletrodos e do
eletrólito, notadamente àquela relacionada à baixa concentração iônica do eletrólito, as quais resultam
na polarização ôhmica.
Profundidade de descarga
Deve-se observar que, sob certas condições, tais como taxas de descarga inferiores à que foi
utilizada para especificar a bateria, a profundidade de descarga pode exceder os 100 %.
Separador
Material eletricamente isolante, microporoso e permeável ao fluxo de íons, usado para evitar o
contato direto entre as placas que formam a célula.
Sobrecarga
Fornecimento de corrente elétrica a uma célula após a mesma ter atingido a carga plena. A
sobrecarga não aumenta a disponibilidade de energia na célula ou bateria e pode resultar na
gaseificação (borbulhamento) ou no sobreaquecimento da mesma, ambos possuindo reflexos negativos
na vida útil do dispositivo. Em baterias com eletrólitos aquosos esta situação implica na perda de água.
Sulfatação
11
As baterias OPzS e OPzV são baterias Chumbo-ácido projetadas para descarga profunda, que possuem placas positivas
tubulares envelopadas por separadores porosos e seus elementos apresentam-se em capacidades que variam de 150 a
4.000Ah. As baterias OPzS apresentam eletrólito líquido, e por isso são contidas em vasos transparentes para
acompanhamento do nível do eletrólito, necessitando de reposição periódica de água destilada. As baterias OPzV são
reguladas a válvula, apresentam eletrólito imobilizado na forma de gel, não requerem manutenção e podem ser instaladas
na posição horizontal. Ambas serão descritas posteriormente no item 4.3.3.4.
172
períodos de tempo ou por submetê-la a severos e repetidos processos de descarga, podendo resultar,
por exemplo, no aumento da resistência interna da bateria.
Taxa de carga
Valor de corrente elétrica aplicado a uma célula ou bateria durante o processo de carga. Esta taxa
é normalizada em relação à capacidade nominal da célula ou bateria. Por exemplo, uma bateria de
500 Ah de capacidade nominal, com um intervalo de carga de 10 horas a corrente constante, tem sua
taxa de carga expressa da seguinte forma:
apacidade ominal Ah
A taxa
ntervalo de arga h
Da mesma forma, podem ser expressas diferentes taxas, como C/100 (100 h), C/20 (20 h) etc. A
capacidade de uma bateria varia de acordo com a taxa de carga/descarga, conforme mostrado na Figura
4.15, onde se pode observar que a capacidade de uma bateria Chumbo-ácido (ver item 4.3.3) aumenta
de forma não linear quando a taxa se reduz (e o número de horas de descarga aumenta). A figura é
referenciada à capacidade em C/20, a qual é normalmente usada para o projeto de sistemas
fotovoltaicos.
Figura 4.15 – Capacidade de uma bateria Chumbo-ácido em função da taxa de descarga, referenciada à capacidade em C/20
(capacidade @ C/20 = 1,0).
As expressões abaixo são algumas vezes utilizadas para conversão das capacidades nas taxas
C/100 e C/10 para a taxa C/20 (válido para baterias Chumbo-ácido), quando outras informações não
são disponíveis.
(4.12)
(4.13)
173
Como a eficiência coulômbica das baterias é inferior a 100 %, o tempo necessário para
recarregá-las completamente em determinada taxa é maior que o indicado para a sua descarga com a
mesma taxa.
Ao invés da taxa expressa por C/n aqui apresentada, é também possível, embora incomum,
utilizar uma forma alternativa expressa por E/n, com base em energia (Wh) e potência (W), de forma
totalmente análoga à apresentada.
Taxa de descarga
Valor de corrente elétrica durante o processo de descarga de uma célula ou bateria. Esta taxa
pode ser expressa em amperes, mas é mais comumente encontrada normalizada pela capacidade
nominal da bateria (ver taxa de carga).
Tensão (ou potencial, daí ser referido também como potencial de circuito aberto) nos terminais
de uma célula ou bateria para um determinado estado de carga e a uma determinada temperatura, na
condição em que não há corrente entre os terminais.
Tensão de corte
Valor de tensão em que a descarga da bateria é interrompida. Pode ser especificada em função
das condições operacionais ou pode ser o valor determinado pelos fabricantes como tensão de final de
descarga, a partir da qual danos irreversíveis podem ser causados à bateria.
Tensão da célula ou bateria na qual o processo de carga é interrompido por supor-se que a carga
atingida é suficiente, ou que a bateria ou célula esteja plenamente carregada.
Tensão nominal
Tensão média de uma célula ou bateria durante o processo de descarga com uma determinada
taxa de descarga a uma determinada temperatura.
Terminais
Pontos de acesso externo das baterias, que permitem a sua conexão elétrica.
Vida útil
A vida útil de uma bateria pode ser expressa de duas formas: número de ciclos ou período de
tempo, dependendo do tipo de serviço para o qual a bateria foi especificada.
174
Para o primeiro caso, a vida útil é o número de ciclos, com uma determinada profundidade de
descarga, a que uma célula ou bateria pode ser submetida antes de apresentar falhas em satisfazer as
especificações. Este número, também chamado de vida cíclica, depende da profundidade de descarga
do ciclo, da corrente de descarga e da temperatura de operação. Em sistemas fotovoltaicos,
normalmente os ciclos carga/descarga são diários, de forma que o número de ciclos de vida
corresponde ao número de dias de serviço.
Nas baterias de Chumbo-ácido, o fim de sua vida útil é geralmente tomado como o instante em
que a célula, estando totalmente carregada, pode fornecer apenas 80 % da sua capacidade nominal.
Esta perda permanente de 20 % está relacionada com a ciclagem e com a idade da bateria.
Em cada ciclo de uma célula, pequenas quantidades de material ativo são desprendidos dos
eletrodos e depositados no fundo do vaso. Uma vez que este material separou-se do eletrodo, ele não
pode ser utilizado novamente, reduzindo, assim, a capacidade da célula.
A capacidade de uma bateria também é permanentemente reduzida pelo seu envelhecimento, que
está diretamente relacionado com a temperatura de operação/armazenamento e a forma de
armazenamento das células.
Procedimentos que contribuem para o aumento da vida útil da bateria são: manutenção do estado
de carga em baterias de Chumbo-ácido (equalização e flutuação), operação em ambientes de
temperatura controlada, controle de sobrecargas e sobredescargas etc.
Como visto anteriormente, baterias recarregáveis são aquelas que apresentam uma constituição
química que permite reações reversíveis. Com o auxílio de uma fonte externa, pode-se recuperar a
composição química inicial e deixá-la pronta para um novo ciclo de operação. De acordo com a
aplicação, elas podem ser classificadas como:
Automotivas - também conhecidas em língua inglesa como SLI (starting, lighting, ignition), são
baterias projetadas fundamentalmente para descargas rápidas com elevadas taxas de corrente e com
reduzidas profundidades de descarga. Esta condição é típica na partida de motores de combustão
interna. Tem maior número de placas e placas mais finas, em relação aos outros tipos. Não são
adequadas ao uso em sistemas fotovoltaicos, pois tem baixa vida útil para operação em regime de
ciclagem.
Tração - indicadas para alimentar veículos elétricos como, por exemplo, empilhadeiras, e são
projetadas para operar em regime de ciclos diários com descarga profunda e taxa de descarga
moderada (C/6). Possuem liga de Chumbo com alto teor de Antimônio e apresentam alto consumo de
água.
175
Estacionárias - são direcionadas tipicamente para aplicações em que as baterias permanecem em
regime de flutuação e são solicitadas ocasionalmente para ciclos de carga/descarga. Esta condição é
típica de sistemas de no-break ou UPS. Tem baixo Antimônio e baixo consumo de água.
Fotovoltaicas - são projetadas para ciclos diários de profundidade rasa a moderada com taxas de
descarga reduzidas (C/20) e devem suportar descargas profundas esporádicas devidas à ausência de
geração (dias nublados).
Baterias abertas - também denominadas algumas vezes de ventiladas (vented), são baterias que
necessitam de verificação periódica e eventual correção do nível do eletrólito. Seu eletrólito é líquido e
livre (não é confinado no separador) e, por esta razão, devem trabalhar na posição vertical. As baterias
Chumbo-ácido desta tecnologia são denominadas em língua inglesa de FLA – flooded lead acid, ou de
FVLA – free vented lead acid, ou ainda apenas de VLA. Admitem operar com taxas até C/5.
A eficiência das baterias recarregáveis depende de muitos fatores, dentre os quais se destacam:
estado de carga, temperatura de operação, taxas de carga e descarga, além da idade.
Os fatores mais importantes que afetam o desempenho, a capacidade e a vida útil de qualquer
bateria recarregável são: profundidade de descarga (por ciclo), temperatura, número de ciclos, controle
da carga/descarga e manutenção periódica. A seguir, são detalhados estes fatores.
176
efeitos da profundidade de descarga e da temperatura de operação na vida cíclica das células
secundárias. Os valores da curva são indicativos e dão uma noção do comportamento dos parâmetros
para as diversas baterias disponíveis. Recomenda-se, no entanto, que as especificações dos
fornecedores sejam sempre consultadas, para se ter uma idéia mais precisa dos mesmos, já que esses
parâmetros podem variar muito em função da tecnologia e do modelo da bateria.
Figura 4.16 – Curvas típicas do efeito da profundidade de descarga e da temperatura na vida útil da bateria. Fonte:
(IMAMURA; HELM; PALZ, 1992).
O carregamento é uma operação crítica, que afeta diretamente a vida útil da bateria. O objetivo
principal de um sistema de controle de carga é carregar a bateria eficientemente, evitando os efeitos
prejudiciais do excessivo carregamento. As Figuras 4.17 e 4.18 mostram, respectivamente, curvas
típicas de carga e descarga de células de chumbo-ácido abertas.
177
Figura 4.17 – Perfil típico da tensão durante o carregamento de uma célula Chumbo-ácido aberta, com várias taxas de
carga. Fonte: (IMAMURA; HELM; PALZ, 1992).
Figura 4.18 – Perfil típico da tensão durante o processo de descarga de uma célula Chumbo-ácido aberta, com várias taxas
de descarga. Fonte: (IMAMURA; HELM; PALZ, 1992).
A produção dos gases oxigênio (O2) e hidrogênio (H2) em uma célula Pb-H2SO4 ocorre
principalmente durante o processo de carga, mas também pode ocorrer durante uma descarga normal
da bateria. As células de Chumbo-ácido abertas podem resistir a uma quantidade moderada de
sobrecarregamento, desde que os gases produzidos possam escapar através de orifícios de ventilação.
Entretanto, tanto a produção de oxigênio quanto as reações de recombinação são exotérmicas,
resultando no consequente aumento da temperatura da bateria, de forma que é desejável que os
controladores de carga sejam dotados de sensor de temperatura. Lembramos que aumentando a
178
temperatura da célula, aumenta-se também a taxa de degradação, tanto dos eletrodos, quanto dos
separadores, reduzindo então a vida útil da bateria.
A maioria dos sistemas fotovoltaicos isolados tende a operar por dias ou até mesmo semanas sem
o completo recarregamento das baterias, devido à falta de energia solar. A falta de recarregamento
apropriado durante os períodos de tempo encoberto contribui para a redução da vida útil da célula,
principalmente para as baterias de chumbo-ácido.
A bateria Chumbo-ácido foi inventada em 1859 por Planté12, sendo que as células originalmente
por ele desenvolvidas, apesar da mesma eletroquímica, tinham, entretanto, detalhes construtivos
diferentes dos adotados atualmente, pois eram constituídas por placas planas de Chumbo puro sólido
Hoje em dia as baterias Chumbo-ácido são constituídas utilizando dióxido de chumbo13 (PbO2)
como material ativo da placa (eletrodo) catódica e chumbo metálico (Pb), numa estrutura porosa
altamente reativa (chumbo esponjoso), como material ativo da placa (eletrodo) anódica. Estas placas
são imersas em uma solução diluída de ácido sulfúrico (H2SO4), que constitui o eletrólito (mistura, em
geral, de 27-37 % de ácido sulfúrico e 73-63% de água, em volume).
Durante a descarga, o ácido sulfúrico reage com os materiais ativos das placas, produzindo água,
que dilui o eletrólito. Durante o carregamento, o processo é revertido; o sulfato de Chumbo (PbSO4) de
ambas as placas, formado durante a descarga, é novamente transformado em Chumbo “esponjoso”,
dióxido de Chumbo (PbO2) e ácido sulfúrico (H2SO4).
A densidade do eletrólito varia durante o processo de carga e descarga e valores típicos para
climas frios são apresentados na Tabela 4.5.
Tabela 4.5–Densidade do eletrólito H2SO4 (valores típicos a 25C).
12
Raymond Gaston Planté (1834-1889), cientista francês.
13
O PbO2 também é chamado de óxido de Chumbo IV.
179
densidade do eletrólito (reduzindo a concentração de H2SO4), utilizando 1,20 a 1,24 g/cm3 (bateria
carregada), enquanto que para operação em climas mais frios, como os EUA, a densidade é
aumentada, podendo ser de 1,28 g/cm3 ou até mesmo atingir 1,30 g/cm3.
O ácido sulfúrico em solução aquosa, na verdade, sofre dissociação eletrolítica e fica sob forma
iônica, conforme a reação abaixo.
Quando a bateria está sendo descarregada, a reação ocorre no sentido da esquerda para a direita,
enquanto que durante a recarga se dá no sentido inverso. Na descarga, ambas as placas igualam-se
quimicamente, transformando-se em sulfato de Chumbo (PbSO4).
Quando a bateria é descarregada (sentido da esquerda para a direita na reação acima) o material
ativo aumenta de volume nas placas, pois o PbSO4 ocupa um volume de 1,5 vezes o do PbO2 e de 3
vezes o do Pb0. Com isso, surgem tensões mecânicas que tendem a causar o desprendimento de
material ativo, principalmente na placa positiva. Além de representar perda de material ativo, isso
resulta em sedimentação no fundo do vaso, o que acaba por atingir as placas, causando curto-circuito
entre elas e inutilizando a bateria.
O balanço de massa na reação é de ~12 g/Ah, de forma que, considerando uma tensão nominal
de 2 V, teríamos uma densidade energética teórica de ~167 Wh/kg. Na prática, o valor real é bem
menor, entre 20 e 40 Wh/kg, conforme mostrado na Tabela 4.4.
Durante a carga da bateria, enquanto a bateria ainda está num baixo estado de carga, uma
pequena fração da corrente produz na placa positiva (anodo) a dissociação da água, produzindo
Oxigênio (O2) de acordo com a reação secundária abaixo. Este efeito se intensifica quando a placa
positiva já está 70% carregada.
Durante a carga, a placa negativa (catodo) adianta (carrega mais rápido) em relação à placa
positiva, e quando já está 90% carregada, a reação secundária de redução do Hidrogênio (H2),
mostrada abaixo, passa a consumir parte da corrente na placa negativa:
180
4H+(aq) + 4e- → 2H2(g)
Quando a placa negativa já está totalmente carregada, então passa apenas a produzir Hidrogênio
até que a placa positiva também atinja o mesmo estado de carga. Quando a célula já está
completamente carregada e há predominância de Chumbo metálico e dióxido de Chumbo na
composição química, começa a ocorrer somente a produção dos gases hidrogênio (H2) e Oxigênio
(O2), por eletrólise da água, além de dissipação sob forma de calor que provoca o aquecimento da
bateria. Isto acontece porque todo o material ativo das placas positivas foi completamente utilizado, de
maneira que elas não são mais capazes de converter a corrente de carga em energia eletroquímica.
Neste momento, a tensão da célula torna-se maior do que a tensão de gaseificação (eletrólise - cerca de
2,39 V por célula) e têm início as reações de sobrecarregamento, acelerando a produção de H2 e O2
(borbulhamento) e a consequente perda de água. A equação a seguir mostra a reação química da
eletrólise (soma das duas reações acima).
Um elemento de bateria pode ser modelado conforme o circuito elétrico mostrado na Figura
4.19, onde Ri representa a resistência interna enquanto que Ve representa a tensão em aberto do
elemento ideal. Ambos os parâmetros Ri e Ve são dependentes de detalhes construtivos como a
densidade do eletrólito e a espessura e a liga das placas. Além disso, eles não tem valores fixos, mas
dependem da temperatura e do estado de carga do elemento. Vbat é a tensão externa nos terminais da
181
bateria. Como já visto, quando a bateria é carregada, há produção de ácido sulfúrico, que é liberado do
eletrólito, aumentando a concentração de portadores de carga (íons), reduzindo assim a Ri e
aumentando a Ve. Durante a descarga ocorre o efeito inverso.
A tensão Vbat se reduz a Ve quando o elemento está em aberto, porém, quando está sob corrente,
surge o efeito de Ri, que consiste em produzir uma perda de energia e também queda de tensão. O
elemento aquece, pela dissipação de potência Ri x (Ibat)2, mas este efeito é muito pequeno nos níveis de
corrente usados em sistemas fotovoltaicos, de forma que, em nosso caso, a bateria em bom estado e em
operação normal (excetua-se aqui a carga de equalização) funciona praticamente à temperatura
ambiente. Na descarga, Ri reduz a tensão disponível nos terminais externos da bateria, enquanto que
durante a recarga, reduz a tensão de recarga disponível para o elemento, conforme a Equação 4.14.
(4.14)
Onde:
Vbat (V) – tensão nos terminais do elemento;
Ibat (A) – corrente no elemento, considerada positiva na recarga (entrando no elemento) e negativa na
descarga (saindo do elemento);
Ri () – resistência interna do elemento;
Ve(V) – tensão do elemento ideal (sem resistência)
Num trabalho do Cepel contemplando um lote de 840 baterias sem manutenção tipo monobloco
de 12V, para SFIs, de duas capacidades (e dois diferentes fabricantes), foram levantados os valores
médios das resistências internas (Ri) para baterias em bom estado, totalmente carregadas, mostrados na
Tabela 4.6.
182
Tabela 4.6 – Exemplos de resistências internas (Ri) de dois modelos de baterias sem manutenção. Fonte: (GALDINO,
2010).
Capacidade Resistência
(Ah) (mΩ)
150 2,64
170 2,40
(4.15)
Onde:
(g/cm3) – densidade do eletrólito;
0,84 – constante.
A construção básica de uma célula não-selada é mostrada na Figura 4.20. A grade13 consiste de
uma estrutura feita de Chumbo metálico (sólido), que suporta o material ativo das placas e conduz
corrente elétrica. O material tradicionalmente usado para fabricação das grades de Chumbo é uma liga
de Chumbo-Antimônio, embora outras ligas, em especial ligas de Chumbo-Cálcio, também têm sido
utilizadas, por terem características adequadas a certas aplicações. Cada célula contém um conjunto de
placas positivas conectadas eletricamente em paralelo, e um outro conjunto de placas negativas,
conectadas da mesma forma, ambos os conjuntos intercalados e imersos no eletrólito.
Figura 4.20 – Vista explodida mostrando as principais partes constituintes de uma célula eletroquímica. Fonte: (ZOBAA,
2013).
13
A grade é também chamada de grelha por alguns fabricantes.
183
Para impedir o contato entre as placas positivas e negativas e, consequentemente, o curto-circuito
da célula, utilizam-se isolantes finos, chamados de separadores. Estes separadores, feitos de material
isolante poroso, permitem a livre passagem do eletrólito entre as placas, ao mesmo tempo em que
impedem o contato físico entre elas. Em muitos casos, os separadores assumem a forma de envelopes e
assim também ajudam a fixar o material ativo nas placas.
A utilização de ligas de Chumbo com outros elementos nas placas positivas permite modificar
algumas propriedades das baterias, sendo mais utilizadas as ligas de Chumbo-Cálcio (Pb-Ca) e
Chumbo-Antimônio (Pb-Sb). É interessante observar que a dopagem do Chumbo com outros
elementos não tem influência na reação principal da bateria, mas apenas nas reações secundárias, que
já foram apresentadas acima, além de em suas propriedades mecânicas.
Com o objetivo de reduzir a decomposição da água na bateria, durante o seu carregamento, ligas
de Chumbo-Cálcio (Pb-Ca) também têm sido utilizadas. O teor de Cálcio é baixo, inferior a 0,1 %,
podendo conter também estanho (Sn) e Prata (Ag). A vida cíclica das baterias Pb-Ca é inferior às de
Pb-Sb. No Brasil, a principal aplicação da liga de Chumbo-Cálcio tem sido as baterias automotivas
que, em geral, são vendidas como “livres de manutenção”.
Os eletrodos negativos tem pouca variação sendo, praticamente em todos os tipos de baterias Pb-
ácido, constituídos por placas planas de Pb esponjoso.
Entre os parâmetros de projeto considerados pelo fabricante da bateria para cada aplicação estão:
número de placas, espessura das placas, liga das placas positivas, densidade do material ativo, projeto
das placas positivas, densidade do eletrólito, quantidade de eletrólito e tipos de separadores.
Os tipos de bateria de Chumbo-ácido mais adequados aos sistemas fotovoltaicos isolados são
conhecidos como baterias solares ou baterias fotovoltaicas. Historicamente, os tipos de baterias de
Chumbo-ácido mais comumente utilizadas no Brasil para esta aplicação são as baterias sem
manutenção com liga de Chumbo-Cálcio nas placas positivas, semelhantes (mas não iguais) às
automotivas. Também tem sido usadas, em menor escala, baterias seladas com eletrólito absorvido e
baterias abertas com liga de baixo Antimônio nas placas positivas. Mais recentemente, baterias de
184
Chumbo-ácido estacionárias com placas tubulares (OPzS e OPzV) começaram a entrar também neste
segmento do mercado no Brasil.
A característica principal destes tipos de baterias é que elas possuem placas positivas feitas de
uma liga de Chumbo com baixo Antimônio (cerca de 1 a 3 %) além de possivelmente uma pequena
quantidade de Selênio. São compostas por células não-seladas, possuem placas planas empastadas de
média espessura e estão contidas em um vaso feito de plástico transparente para facilitar a inspeção
visual do nível do eletrólito de cada célula e das condições físicas das placas e separadores.
O uso do Antimônio e de placas de média espessura aumenta a vida cíclica das células para
descargas profundas, mas reduz a tensão de borbulhamento. A baixa porcentagem de Antimônio
minimiza o efeito da gaseificação e da autodescarga.
Uma vantagem das células não-seladas é que a bateria pode ser fornecida a seco e o eletrólito
pode ser adicionado no local da instalação. No caso da bateria ter sido fornecida a seco, não há
possibilidade de ocorrer sulfatação, resultante da autodescarga. Além disso, não haverá maiores
problemas se a bateria for virada.
Embora este tipo de bateria seja projetado para operar em ciclos profundos, esta nunca deve ser
totalmente descarregada. Precauções, como o uso de controlador de carga com função de proteção
contra descarga excessiva (LVD, ver item 4.5), que impede a ocorrência de descargas abaixo de um
determinado valor, devem ser tomadas, para evitar que isto aconteça.
Outra desvantagem das baterias abertas é a névoa ácida produzida pelo borbulhamento
excessivo, que flui através dos orifícios de ventilação e se deposita em superfícies próximas. Pelo fato
de ser ácida, esta névoa danifica as partes metálicas dos contatos elétricos dos terminais.
As baterias fotovoltaicas sem manutenção usam uma liga de Chumbo-cálcio (Pb-Ca) nas placas
positivas, o que minimiza a taxa de gaseificação a ponto de não ser necessário preencher o eletrólito
regularmente com água. O único requisito de manutenção é que os terminais precisam ser limpos a
cada 12 meses. Estas baterias nunca devem ser viradas, pois, se houver derramamento de líquido, será
impossível realizar a sua reposição.
185
O efeito do Cálcio é praticamente oposto ao Antimônio: reduz o consumo de água, mas, por
outro lado, também reduz a vida útil em regime de ciclagem. Assim, considera-se que há duas
desvantagens das baterias livres de manutenção Pb-Ca quando instaladas em sistemas fotovoltaicos.
Uma é a já citada reduzida vida-cíclica para ciclos profundos, quando comparadas com as de placas
positivas de baixo Antimônio. A outra característica que pode ser considerada como desvantagem é
que elas são sempre fornecidas com eletrólito. Isto aumenta o risco de deterioração durante o período
de armazenamento e/ou distribuição e o eletrólito pode ser perdido se as baterias forem viradas por
descuido. Além disso, é necessário recarregá-las periodicamente enquanto estiverem armazenadas,
para evitar a ocorrência de sulfatação.
As baterias Pb-Ca tem taxa de autodescarga inferior às de Pb-Sb, que está ligada a um consumo
de corrente em flutuação também menor, mas esta característica vantajosa não é considerada
importante na aplicação em sistemas fotovoltaicos.
Visualmente, tais baterias são similares às automotivas, contudo, em comparação com as baterias
automotivas (SLI), estas baterias fotovoltaicas têm algumas diferenças construtivas: maior quantidade
de eletrólito, menor número de placas (mais espessas) em cada célula, maior espaço para sedimentação
no fundo do vaso, além de menor densidade do eletrólito.
Este é o tipo de bateria que vem sendo o mais utilizado em Sistemas Fotovoltaicos Isolados
(SFIs) no Brasil há muitos anos, do qual existem diversos fabricantes, que fornecem monoblocos de
12V (6 células em série) com capacidades de até 220Ah @ C/20 (no exterior podem ser encontrados
monoblocos de maiores capacidades, até 500Ah), sendo encontradas comumente as capacidades de
100Ah, 120Ah, 150Ah e 180Ah. A experiência acumulada indica que a durabilidade delas nos SFIs é
de cerca de 4 anos, respeitando uma descarga rasa, ou seja, uma profundidade de descarga máxima
inferior a 20% na ciclagem diária.
O princípio básico das baterias seladas é usar um ciclo interno de Oxigênio para eliminar a perda
de água sob condições normais de operação. As baterias seladas apresentam características específicas
para que o ciclo de Oxigênio ocorra. Por isso, o tamanho (capacidade) total das placas positivas é
ligeiramente menor do que o das placas negativas. Assim, as placas positivas são totalmente
carregadas antes que as placas negativas atinjam este estado. Isto é importante para que somente as
placas positivas gaseifiquem; desta forma, apenas Oxigênio gasoso (O2) é produzido. O Oxigênio
gasoso produzido flui através do eletrólito para os espaços das placas negativas onde ele reage para
186
formar o sulfato de Chumbo e água. Além disso, o carregamento transforma o sulfato de Chumbo em
Chumbo e restabelece o balanço químico da célula. O resultado final é que o Oxigênio fica circulando,
das placas positivas para as placas negativas, durante o sobrecarregamento, e não é perdido. Este
processo só acontece com o Oxigênio. Isto ocorre pelo fato da célula estar limitada positivamente, para
impedir as placas negativas de alcançarem o estado de carregamento total e, consequentemente,
produzir Hidrogênio, o qual é absorvido muito lentamente. Como parte do ciclo de Oxigênio, deve
haver um fluxo livre de gás Oxigênio das placas positivas para as placas negativas.
As células seladas podem resistir a uma completa descarga mais eficientemente do que os outros
tipos de célula de Chumbo-ácido. Entretanto, elas devem ser recarregadas o mais rápido possível, para
impedir danos permanentes.
As principais desvantagens das baterias seladas em relação às baterias abertas são: custo e a
impossibilidade de serem distribuídas e/ou armazenadas sem o eletrólito. Embora tenham uma baixa
taxa de autodescarga, podem ser prejudicadas permanentemente pela sulfatação se forem mantidas sem
carregamento por longos períodos. O custo destas baterias pode ser compensado por sua maior
capacidade útil, associada à possibilidade de trabalharem com maiores valores de profundidade de
descarga.
Sua principal diferença com relação aos modelos já descritos nesta seção é a configuração dos
eletrodos positivos, constituídos por placas tubulares, que são envolvidas por tubos permeáveis através
dos quais o eletrólito circula. A principal função desses tubos é manter a matéria ativa confinada, o que
permite um aumento da vida cíclica da bateria. Para uma profundidade de descarga de 80 %, estas
baterias podem apresentar vida cíclica superior a 1.500 ciclos. Se comparadas às tecnologias de
187
armazenamento apresentadas na Tabela 4.4, este valor é superior aos dos demais acumuladores
eletroquímicos. A Figura 4.21 apresenta uma vista em corte do tipo de bateria OPzV.
Figura 4.21 – Vista em corte de uma bateria do tipo OPzV. Fonte: (Exide Technologies, 2003).
No caso das baterias OPzV deve-se alertar que os controladores de carga devem operar em
tensões mais baixas em relação a outros tipos de baterias Chumbo-ácido, e que elas são muito
sensíveis a sobrecargas por não suportarem gaseificação. Alguns autores afirmam que elas apresentam
maior custo, porém menor vida útil do que outros tipos de baterias Chumbo-ácido de descarga
profunda. Entre as vantagens da bateria OPzV estão:
188
Estas vantagens não são específicas apenas de baterias OPzS, mas também aplicáveis a outros
tipos de baterias com eletrólito em gel.
A maior desvantagem das baterias de placas tubulares tipo OPzV e OPzS ainda está relacionada
ao seu custo mais elevado, quando comparado ao de outras baterias Chumbo-ácido. Além disso, há
poucas indústrias nacionais que fabricam esse tipo de baterias, especialmente a OPzV. No entanto, a
maior vida útil, somada a uma leve redução de custos que estas baterias têm experimentado nos
últimos anos, vem melhorando sua relação custo-benefício, tornando-as uma opção viável em algumas
aplicações, principalmente onde há relativa facilidade de aquisição destes modelos de baterias ou onde
a logística para troca de baterias é crítica e custosa.
Tanto a OPzV quanto a OPzS são indicadas para aplicações em locais remotos e de difícil
acesso, especialmente onde a capacidade da bateria deve ser elevada (e.g. MIGDIs). As baterias OPzS
requerem reposição de água do eletrólito em intervalos de 6 a 12 meses, dependendo da especificação
em projeto e da sua utilização, por isso devem ser utilizadas em locais onde haverá manutenção. As
baterias OPzV, por sua vez, dispensam manutenção, entretanto são mais sensíveis a temperaturas
elevadas: a cada 10oC de elevação da temperatura de operação, a OPzV pode perder metade de sua
vida útil.
A principal vantagem desta tecnologia seria uma vida útil esperada bem maior de, pelo menos, o
dobro das normalmente usadas no Brasil (item 4.3.3.2), ou seja, pelo menos 7 anos para uma
profundidade de descarga diária de 40%, muito embora não haja ainda experiência de campo
acumulada sobre isso no país, pois esta tecnologia de bateria está sendo usada em sistemas
fotovoltaicos no país há relativamente pouco tempo. Por outro lado, como desvantagens, teríamos um
custo inicial significativamente mais elevado para o banco de baterias e, no caso das OPzS,
necessidade de reposição periódica de água destilada. Especificamente quanto ao custo do banco de
baterias, deve-se levar em conta que a análise não pode ser feita somente com base no custo inicial do
material, mas sim com base no custo do ciclo de vida, contabilizando custos de transporte e mão de
obra (instalação e manutenção), os quais são significativos para sistemas fotovoltaicos implantados em
locais de difícil acesso. Por isso, existe tendência atual de utilização de baterias OPzS em tais sistemas
fotovoltaicos, cujas características (entre elas, a maior vida útil), em muitos casos supostamente
resultam em menor custo de ciclo de vida e maior confiabilidade (SOARES, 2008).
189
4.3.3.5 - Efeito da temperatura
Sabe-se que a velocidade das reações químicas dobra ou até triplica para um incremento de 10 ºC
na temperatura (regra de van’t Hoff)14.
Embora esta não seja normalmente uma preocupação no Brasil, o problema com temperaturas
abaixo de 0°C é que o eletrólito poderá congelar se a bateria estiver descarregada, pois o ácido dilui e
congela a uma temperatura mais alta. Quando há congelamento, a bateria não opera e poderá sofrer
danos permanentes. Num estado de carga de 20 %, o ponto de congelamento é de cerca de -10°C em
uma bateria típica. Isto deve ser considerado no projeto do sistema, e baterias projetadas para serem
utilizadas em climas muito frios têm uma concentração de ácido mais elevada, o que mantém o
eletrólito em estado líquido em baixas temperaturas.
Por outro lado, quando a temperatura da bateria aumenta, isso resulta em aumento da
mobilidade, aumento da capacidade (Ah) e redução da Ri. A tensão Ve, entretanto, se reduz de cerca de
-5mV/°C.elemento, sendo que, da mesma forma, a tensão de borbulhamento também se reduz, o que
deve ser compensado pelo controlador de carga, para não prejudicar a bateria. O aumento da
velocidade das reações químicas com a temperatura também traz outros inconvenientes: aumento da
taxa de autodescarga, corrosão da placas, redução da vida útil e sulfatação acelerada em baterias que
não estão totalmente carregadas.
14
Jacobus Henricus van´t Hoff (1852-1911), cientista holandês, Prêmio Nobel de Química de 1901.
190
Alguns fabricantes recomendam sobredimensionar o banco de baterias em 30% caso seja
prevista sua operação numa temperatura média abaixo de 15 °C ou acima de 35 °C.
1. Estas tensões aplicam-se depois de deixar o sistema desconectado por pelo menos uma hora (tensões da bateria em
repouso).
2. O valor limite estabelecido para a desconexão por baixa tensão depende da profundidade de descarga recomendada e da
corrente de descarga. Alguns controladores de carga desconectam as baterias pela contabilização do estado de carga das
mesmas e não só pelo nível de tensão nos terminais.
3. Observar as especificações do fabricante quanto à tensão de referência para a compensação da tensão com a temperatura,
pois alguns adotam 25°C e outros 27°C, embora nesta tabela a referência seja de 20°C.
A correção da tensão de uma célula com temperatura deve ser feita com a equação abaixo.
onde:
V(T) (V) – tensão da célula na temperatura T;
VTref (V) – tensão da célula na temperatura de referência adotada na documentação do fabricante;
K (V/°C) – coeficiente de temperatura da célula especificado pelo fabricante;
T (°C) – temperatura da célula;
Tref (°C) – temperatura de referência adotada na documentação do fabricante;
As baterias Chumbo-ácido não devem ser operadas continuamente acima de 40°C, caso contrário
poderão ocorrer danos permanentes às placas. Em um dado estado de carga, mudanças de temperatura
também afetam as medições do peso específico do eletrólito e da tensão.
A Tabela 4.8 informa a redução da vida útil devido a temperaturas elevadas para baterias seladas
tipo VRLA, com eletrólito absorvido (AGM), e foi transcrita do catálogo do respectivo fabricante.
Com relação a esta tabela, é importante observar que se aplica a baterias seladas, as quais geralmente
sofrem mais os efeitos da temperatura do que as baterias abertas.
191
Tabela 4.8– Redução da vida útil de baterias Chumbo-ácido tipo VRLA em função da temperatura média anual de
operação. Fonte: (GNB 1).
Temperatura média Redução da vida útil
anual (°C) (%)
25 °C 0%
30 °C 30%
35 °C 50%
40 °C 66%
45 °C 75%
50 °C 83%
4.3.3.6 - Sulfatação
Quando duas ou mais destas condições ocorrem ao mesmo tempo, o processo de sulfatação é
ainda mais acelerado. O primeiro sinal de sulfatação geralmente acontece quando uma bateria parece
carregar rapidamente, como indicado pela elevada tensão de carregamento. Entretanto, uma medição
do peso específico mostra que o estado de carga ainda está baixo. Manter uma lenta corrente durante o
carregamento poderá minimizar os danos, mas geralmente a capacidade da bateria se reduzirá
irreversivelmente.
192
A melhor maneira de evitar a sulfatação é carregar a célula regularmente, para que todo o sulfato
de chumbo seja revertido. Para aplicações em ciclos profundos, os fabricantes recomendam que as
baterias sejam recarregadas imediatamente após cada descarga profunda.
Isto não é, todavia, possível em sistemas fotovoltaicos, quando a descarga profunda é resultante
do tempo nublado. Neste caso, seria necessário reduzir as cargas alimentadas pelo sistema até a
normalização do estado de carga das baterias ou recarregar as baterias por intermédio de outras fontes.
A taxa de sulfatação varia para os diferentes tipos de células, dependendo da qualidade das
placas e da sua aplicação. Os materiais ativos contêm aditivos que retardam a taxa de sulfatação, mas
não a evitam completamente. Em lugares onde a temperatura média está acima de 30°C é possível
utilizar um eletrólito “tropical”, com uma baixa concentração de ácido sulfúrico. A baixa concentração
reduz os danos à estrutura da grade das placas positivas, diminuindo a taxa de sulfatação.
4.3.3.7 - Hidratação
Quando a bateria sofre descarga profunda, consumindo todo o H2SO4, e permanece neste estado
por um período longo, então pode ocorrer, além da sulfatação, outro tipo de falha na bateria, o
fenômeno denominado hidratação.
Com baixa concentração de ácido, o (hidr)óxido de Chumbo torna-se solúvel na água, o que não
ocorre no meio ácido, e fica então em solução no eletrólito. Quando a bateria é recarregada, a
concentração do ácido aumenta e o óxido em solução transforma-se em sulfato de Chumbo, que
precipita.
O sulfato precipitado no vaso produz manchas brancas e representa perda de material ativo.
Porém, o sulfato que precipita nos poros do separador pode ser convertido durante a carga em Chumbo
metálico e formar dendritos metálicos microscópicos entre as placas positiva e negativa, que resultam
em curto-circuito.
Para evitar o fenômeno, a bateria não deve ser totalmente descarregada, e nem permanecer
descarregada por períodos longos.
4.3.3.8 - Sedimentação
Conforme já mencionado em itens anteriores, com a operação normal da bateria (ciclos de carga
e descarga) ocorre, devido a vários motivos, o desprendimento de material ativo das placas e sua
sedimentação no fundo do vaso. Caso a sedimentação acumulada atinja as placas, poderá causar o
curto-circuito entre placas, inutilizando a bateria.
193
4.3.3.9 – Água para baterias
Tabela 4.9– Valores máximos admissíveis de impurezas em água para baterias. Fonte: (GNB 2).
A norma Brasileira NBR 14197:1998, por sua vez, traz diferentes especificações, transcritas na
Tabela 4.10.
Tabela 4.10– Concentração máxima de impurezas permitida na água destilada e/ou deionizada. Fonte: (ABNT, 1988).
O funcionamento da célula de Ni-Cd pode ser expresso pela seguinte reação eletroquímica:
A Tabela 4.11 apresenta características típicas para as células de Níquel-Cádmio. Estas baterias
podem sobreviver ao congelamento e ao degelo sem sofrerem nenhuma alteração no seu desempenho.
As temperaturas elevadas também têm menor efeito sobre elas do que sobre as baterias de chumbo-
ácido.
Uma vez que a tensão nominal por elemento de Ni-Cd é de 1,25 V, monoblocos de 12 V têm 10
células em série.
Tabela 4.11– Tensões características de células e baterias de Níquel-Cádmio. Fonte: (ROBERTS, 1991).
As baterias de Níquel-Cádmio são menos afetadas por sobrecargas, podem sofrer ciclos
profundos, ser totalmente descarregadas e mantidas assim, sem maiores prejuízos às placas, não estão
sujeitas à sulfatação e seu carregamento não sofre influência da temperatura. Entretanto, têm a
desvantagem de apresentar “efeito memória15”, que pode reduzir a capacidade de carga útil da bateria.
São citadas as seguintes vantagens das baterias Ni-Cd em comparação com as de Pb-H2SO4:
15
O chamado efeito memória ocorre nas baterias de NiCd quando elas são operadas de forma inadequada, sendo
repetidamente recarregadas sem terem sido totalmente descarregadas, o que acaba “viciando-as” a carregar somente uma
quantia de energia bem menor do que sua capacidade. Ele se deve a modificações químicas sofridas pelos materiais
utilizados na confecção das células, como, por exemplo, a formação de cristais de Cádmio.
195
Podem ser totalmente descarregadas;
São mais robustas;
Tem bom desempenho a baixas temperaturas e podem ser congeladas;
Tem baixa resistência interna;
Mantem voltagem constante durante a descarga;
Podem ser carregadas a taxas elevadas;
Tem vida útil mais longa.
As baterias Ni-Cd normalmente têm um custo inicial consideravelmente mais alto do que as de
Chumbo-ácido, mas também apresentam ganhos operacionais como custos de manutenção reduzidos e
uma vida cíclica maior. Algumas fontes informam que as baterias Ni-Cd são as que tem menor custo
por ciclo. Entretanto, apesar das vantagens apresentadas, o fator custo inicial e outras desvantagens,
como a presença de metais tóxicos16 em sua composição e a severa autodescarga, fazem com que a
bateria de Níquel-Cádmio seja uma tecnologia pouco utilizada em instalações fotovoltaicas. Não se
tem conhecimento de seu uso em sistemas fotovoltaicos no Brasil, somente no exterior.
As baterias de Níquel-Cádmio também podem ser abertas (ventiladas) ou seladas, sendo que as
primeiras foram as mais utilizadas em sistemas fotovoltaicos. Elas também produzem gases H2 e O2
durante sobrecargas e também necessitam de reposição de água.
A tensão nominal da célula é de 1,2V e seu funcionamento pode ser expresso pela seguinte
reação eletroquímica:
Liga(H)(s) + 2NiO(OH)(s) Liga(s) + Ni(OH)2(s)
O controle do carregamento deste tipo de bateria é considerado crítico, pois a carga excessiva
causa geração de gases (O2) e prejudica seu desempenho. O efeito memória nelas é quase inexistente.
16
O Cd é um metal tóxico.
196
Embora seu custo seja mais elevado, as baterias de NiMH praticamente substituíram as de Ni-Cd na
maioria das aplicações, mas não se tem conhecimento sobre seu uso em sistemas fotovoltaicos,
principalmente no Brasil.
Baterias abertas de Níquel-Cádmio podem ser utilizadas para operação numa extensa faixa de
temperatura, ou seja, de -25 a 45C. O eletrólito congela abaixo do limite inferior de temperatura, mas
nenhum dano é causado.
Para otimizar a utilização de uma célula selada, é importante manter a temperatura da célula bem
abaixo de 45C em todos os momentos, especialmente durante o processo de equalização, quando
algum calor é produzido pela célula. Acima de 45C o separador degrada-se lentamente e
eventualmente as placas se tocam. Isto significa que a célula é curto-circuitada internamente e fica
inutilizada. Outro problema com temperaturas elevadas é causado pelo fato do eletrólito evaporar
lentamente. Células seladas para aplicação em temperaturas elevadas têm um melhor separador e selo
para resistir a temperaturas acima de 65C.
As especificações de tensão e capacidade de baterias são geralmente fornecidas para 25C. Para
temperaturas mais altas ou mais baixas, as tensões são ligeiramente diferentes, por isso os
controladores de carga devem ter compensação de temperatura. Não há mudança na capacidade com a
temperatura, exceto abaixo de -20C, quando a capacidade começa a cair, devido ao congelamento do
eletrólito.
Abaixo de 5C a absorção do oxigênio é lenta. Assim, a corrente de equalização para células
seladas de Ni-Cd deve ser menor do que C/10, para evitar a produção de hidrogênio.
As baterias de Li-íon apresentam altas densidades energéticas, na faixa de 80-150 Wh/kg, sendo,
por isso, atualmente, utilizadas em larga escala em equipamentos eletrônicos portáteis, como câmeras
fotográficas, laptops, celulares, etc. Tem sido também utilizadas em veículos elétricos.
É considerada uma tecnologia promissora e que ainda tem muito espaço para novos
desenvolvimentos. O funcionamento da célula de Li-íon pode ser expresso pela seguinte reação
eletroquímica:
197
designado por Cn, é formado por Carbono com a propriedade de receber e acumular íons de Lítio,
podendo, entre outros, ser de uma estrutura denominada fullereno ou C60.
Uma das vantagens deste tipo de célula é a tensão nominal elevada, podendo atingir 3,5V, de
forma que são usadas 4 células em série para compor um bloco de 12V. Outras vantagens são a alta
densidade energética, a ausência de “efeito memória”, a possibilidade de suportar altas taxas de carga e
descarga, o baixo tempo de carga e a baixa taxa de auto-descarga.
Apesar de diversas vantagens, o custo inicial ainda impede o uso de baterias Li-íon em SFIs,
embora já existam no Brasil estudos sobre isso (SOARES et al., 2012).
A operação de uma bateria usada em um sistema fotovoltaico isolado (SFI) deve atender a dois
tipos de ciclos:
Os ciclos profundos ocorrem quando o carregamento não é suficiente para repor a quantidade de
carga usada pelos aparelhos durante todo o dia. Por isso, o estado de carga depois de cada ciclo diário
é ligeiramente reduzido e, se isto ocorrer por um período de vários dias, levará a um ciclo profundo.
Quando as condições meteorológicas melhoram, volta a haver um carregamento extra, aumentando o
estado de carga depois de cada ciclo diário.
198
As características mencionadas a seguir devem ser observadas para que as baterias tenham um
bom desempenho quando instaladas em um SFI:
Outros fatores que também devem ser considerados no momento de escolher a bateria adequada
para esta aplicação são:
Disponibilidade de fornecedores;
Garantia e condições de garantia da bateria;
Distância, duração e custo do transporte para o local;
Custo da capacidade útil para um ciclo;
Custo da capacidade útil para o ciclo de vida;
Necessidade de manutenção durante o armazenamento;
Peso;
Densidade de energia;
Temperatura ambiente do local da instalação;
Disponibilidade e custo dos controladores de carga.
Estes fatores podem variar bastante para os vários modelos de bateria e também dependem das
características locais. A escolha da bateria envolve o conveniente equilíbrio de todos os fatores
mencionados.
199
As baterias para aplicações fotovoltaicas comercializadas no Brasil devem apresentar a etiqueta
do Inmetro, como a da Figura 4.22, afixada no próprio produto. O âmbito de aplicação da etiquetagem
de baterias, expressa na portaria Inmetro no 004/2011 (INMETRO, 2011), envolve baterias
estacionárias de baixa intensidade de descarga, de tecnologia alcalina Níquel-Cádmio ou Chumbo-
ácido, para aplicação fotovoltaica, excluindo-se baterias automotivas ou tracionárias. Os ensaios a
serem realizados são de capacidade, durabilidade, retenção de carga (autodescarga), regeneração da
capacidade e eficiência de carga/descarga para as baterias com a seguinte classificação:
Os fabricantes normalmente recomendam que uma bateria Chumbo-ácido não seja armazenada
por um período superior a 12 meses, e que, caso o período de armazenamentos atinja 6 meses, a bateria
seja submetida a uma recarga.
As baterias inservíveis são consideradas lixo tóxico e, portanto, representam risco para a saúde
humana e para o meio ambiente. Por isso não podem ser descartadas no lixo comum, em aterros
sanitários, lançadas em corpos d’água, abandonadas no meio ambiente a céu aberto, incineradas etc, o
que pode inclusive ser sujeito a sanções previstas na Lei de Crimes Ambientais (Lei N° 9.605, de 12 de
fevereiro de 1998).
200
Conforme as resoluções CONAMA Nº 257/99 e 401/2008, as baterias ao fim de sua vida útil
devem ter uma disposição final adequada, devendo ser entregues pelo usuário ao respectivo fabricante,
importador ou distribuidor, ou, no caso de baterias Chumbo-ácido, opcionalmente a um reciclador
devidamente licenciado, o qual deverá processar e reciclar, caso possível, os compostos químicos nelas
contidos de acordo com a regulamentação ambiental vigente.
A sinalização para produtos perigosos é definida na norma ABNT NBR 7500 (Identificação para
o transporte terrestre, manuseio, movimentação e armazenamento de produtos), sendo a sinalização
aplicável a baterias Chumbo-ácido mostrada na Figura 4.23.
Para bancos de baterias de SFIs maior porte, como, por exemplo, aqueles instalados em MIGDIS
(ver Figura 7.17), requisitos para salas de baterias devem ser observados.
Um dos itens que devem ser previstos é a instalação, sob os bancos de baterias, de bandejas para
captação e retenção do ácido que eventualmente vazar.
17
ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres
201
Em função da produção de gases em baterias Chumbo-ácido não seladas, devem ser atendidos
requisitos em relação à ventilação, pois a mistura de H2 no ar tem LII18 de cerca de 4% em volume, ou
seja, torna-se explosiva em concentrações superiores a esta. Caso se trate de baterias abertas, então
entende-se que a área seria classificada na norma NBR IEC 60079-10 como zona 1, enquanto que se
forem baterias seladas será zona 2. Quanto à classificação do gás, o Hidrogênio é classificado nesta
norma no grupo denominado IIC, considerado o de maior risco. Em função disto, a instalação elétrica
das salas de baterias deve ser adequada a atmosferas explosivas.
Onde:
Q (m3/h) – vazão de ar;
N (adimensional) – número de elementos (2 V) na sala;
I (A) – corrente de carga em A para cada 100Ah; Para carga em regime de flutuação deve ser
considerada uma corrente de 1 A para cada 100Ah de capacidade do banco em C/10; para carga em
tensões maiores do que a de flutuação, sem atingir o borbulhamento, deve-se utilizar 2 A para cada
100Ah;
C (Ah) – capacidade do elemento;
0,05 – constante.
Recomenda-se também que as salas de baterias sejam dotadas de sistema de detecção e alarme
de incêndio, incluindo detectores de fumaça e detectores térmicos.
Outra questão importante no projeto de salas de baterias é a temperatura. As baterias, não devem,
por exemplo, ser instaladas ao lado de uma parede que recebe radiação solar direta durante a maior
parte do dia, ou mesmo próximas a algum equipamento aquecido. Diferenças de temperatura entre
elementos de um mesmo banco também devem ser evitadas, pois isto resulta em diferenças de tensão e
de desempenho. Alguns fabricantes recomendam que esta diferença não deve superar os 3°C, assim,
também não se deve, por exemplo, posicionar mesmo apenas alguns elementos próximos a uma fonte
de calor.
Salas de baterias devem ser devidamente sinalizadas e, de forma a evitar acidentes, o acesso
restrito somente a pessoal técnico habilitado, utilizando os EPIs adequados.
18
LII – Limite Inferior de Inflamabilidade.
202
4.4 – Outros Sistemas de Armazenamento
Apesar do armazenamento eletroquímico, através de baterias, ser a opção mais aplicada em SFI,
outras formas de armazenamento podem ser utilizadas, como o armazenamento na forma de campo
elétrico (supercapacitores), campo magnético (indutores com supercondutores), energia mecânica
(volantes de inércia, ar comprimido, bombeamento de água) e hidrogênio.
Controladores de carga são incluídos na maioria dos SFI com o objetivo de proteger a bateria (ou
banco de baterias) contra cargas e descargas excessivas, aumentando a sua vida útil. Denominações do
tipo “gerenciador de carga”, “regulador de carga” ou “regulador de tensão” também são comuns e
algumas vezes referem-se a controladores de carga com diferentes níveis de sofisticação.
Controladores de carga são componentes críticos em sistemas fotovoltaicos isolados (SFI), pois,
caso venham a falhar, a bateria poderá sofrer danos irreversíveis. O controlador é mostrado no
203
exemplo esquemático da Figura 4.24. Eles devem ser projetados considerando-se as especificidades
dos diversos tipos de bateria, uma vez que um controlador projetado para uma bateria de Chumbo-
Cálcio selada pode não operar eficientemente com uma bateria de Chumbo-Antimônio não-selada. Da
mesma forma, controladores projetados para baterias de Chumbo-ácido podem não ser adequados para
as de Níquel-Cádmio e assim por diante.
Figura 4.24–Esquema de um SFI domiciliar: A-painel fotovoltaico; B-controlador de carga; C-banco de baterias; D-
inversores; E-cargas c.a. (equipamentos elétricos); F-Caixa de conexão. Fonte: Adaptado (Catálogo de Produtos do
fabricante Steca).
204
O controlador de carga é considerado indispensável na grande maioria dos casos, e sua utilização
permite uma otimização do dimensionamento do banco de baterias e do seu carregamento, desconexão
de cargas em baixo estado de carga da bateria e um maior nível de proteção contra um aumento
excessivo de consumo ou uma possível intervenção do usuário.
Os controladores devem desconectar o gerador fotovoltaico quando a bateria atingir carga plena
e interromper o fornecimento de energia quando o estado de carga da bateria atingir um nível mínimo
de segurança. Alguns controladores também monitoram o desempenho do SFI (corrente e tensão de
carregamento da bateria ou da carga) e acionam alarmes quando ocorre algum problema. Para
melhorar o desempenho do controlador de carga, este pode ainda incorporar um sensor de temperatura,
com a função de compensar o efeito da variação da temperatura nos parâmetros das baterias.
O controlador de carga deve permitir o ajuste dos seus parâmetros e a escolha do método de
controle para adaptá-los aos diferentes tipos de baterias. Se isso não for possível, ele deve ser
claramente identificado e vendido para um tipo específico de bateria.
Os subitens a seguir são voltados para os controladores de carga destinados a baterias Chumbo-
ácido e apenas o subitem 4.5.8 apresenta algumas considerações sobre controladores para outros tipos
de baterias.
Os controladores podem diferir basicamente quanto à grandeza utilizada para o controle, forma
de desconexão do painel fotovoltaico e estratégia de controle adotada. As grandezas de controle mais
utilizadas são: estado de carga (integração do fluxo de corrente na bateria), tensão e densidade do
eletrólito da bateria.
Quanto à forma utilizada para desconectar o painel fotovoltaico da bateria quando esta apresenta
carga plena, o controlador pode ser classificado como paralelo (shunt) ou série. Ambos podem ser
efetivamente usados, sendo que cada um pode incorporar um número de variáveis que alteram o
desempenho básico e a aplicabilidade.
As Figuras 4.25 e 4.26 mostram os circuitos para o controlador tipo paralelo e para o tipo série,
respectivamente. Ambos apresentam a função opcional para desconexão por baixa tensão (LVD- Low
205
Voltage Disconnect), explicada no próximo item. O controlador paralelo geralmente consome menos
energia do que o série e, por isso, é mais comumente utilizado.
Um componente necessário no controlador paralelo é o diodo de bloqueio, que deve ser ligado
em série entre o elemento de chaveamento e a bateria, a fim de mantê-la protegida de curto-circuito
quando a corrente do gerador é desviada.
Os controladores de carga comerciais mais simples são do tipo denominado liga-desliga (on-off).
Este tipo de controlador aplica diretamente a tensão e a corrente do painel sobre a bateria, sem
qualquer tipo de regulação. Neste caso, o painel FV funciona como uma fonte de corrente limitada pela
Isc nas condições instantâneas de operação (irradiância e temperatura), com o valor de tensão
estabelecido pela bateria. A estratégia de controle dos controladores on-off está baseada na tensão
instantânea nos terminais da bateria, que é comparada a dois limites. Para as baterias de Chumbo-
ácido, a 25°C, no limite superior (2,3 a 2,5 V por célula) a bateria é desconectada do arranjo por
considerar-se que, ao atingir este ponto, ela está completamente carregada (HVD). No limite inferior
(1,9 a 2,1 V por célula) a carga é desconectada da bateria, pois neste ponto considera-se que a bateria
esteja descarregada na máxima profundidade (LVD).
Os parâmetros para especificação dos controladores de carga são obtidos das características
elétricas do painel fotovoltaico e das cargas, bem como das curvas características das baterias, como as
de carga e descarga, mostradas nas Figuras 4.17 e 4.18, além da vida útil (em ciclos) desejada,
mostrada na Figura 4.16, para o caso específico de baterias de chumbo-ácido.
No Brasil são normalmente encontrados controladores de carga com correntes até 60A para
operação em bancos de baterias nas tensões de 12V, 24V e 48V, projetados, respectivamente, para
operar com painéis fotovoltaicos com 1, 2 ou 4 módulos convencionais de c-Si (36 células) em série.
O valor de corrente máxima do controlador, que deve ser maior do que a corrente de curto-
circuito produzida pelo gerador fotovoltaico multiplicada por um fator de 1,25, e a tensão de operação
do sistema (normalmente 12V, 24V ou 48V) são as condições mínimas necessárias para se especificar
o controlador. Além disso, deve-se ainda levar em conta a corrente das cargas, incluindo corrente de
surto, se houver. Outras características condicionantes para a especificação do controlador são:
Estratégias de controle através da técnica de modulação por largura de pulso (PWM – pulse
width modulation);
207
Proteção contra corrente reversa;
Compensação térmica baseada num sensor de temperatura externo a ser fixado na carcaça da
bateria;
Baixo autoconsumo;
A combinação dos métodos para controlar o fluxo de corrente para a bateria, a compensação de
temperatura e a existência de pontos de regulagem ajustáveis determinam a eficácia de um controlador
instalado em um SFI.
Pontos de regulagem (set points) é a denominação usual para os valores dos parâmetros que
definem a operação do controlador de carga e que devem ser determinados para a especificação do
mesmo. A determinação dos pontos de regulagem do controlador é bastante complexa, uma vez que a
bateria é um componente pouco compreendido; além disso, a relação entre as grandezas físicas usadas
19
Equivalente em inglês a MPPT, maximumpower point tracking.
208
para o controle, principalmente a tensão, variam com muitos fatores, conforme apresentado no item
4.3. Sendo assim, é importante questionar ou confirmar com o fabricante da bateria a ser utilizada no
sistema os valores de regulagem do controlador.
A possibilidade de pontos de regulagem ajustáveis pelo usuário permite otimizar a relação entre
controlador e bateria. Em geral, para os controladores mais simples do tipo on-off controlado por
tensão existe uma histerese associada a cada ponto de ajuste, ou seja, existem diferente valores de
tensão para desconectar e reconectar, visando evitar oscilações. Por exemplo, se os pontos
conexão/reconexão para desconexão por descarga excessiva das baterias (LVD) de um controlador
forem ajustados muito próximos, um ciclo repetitivo poderá ocorrer, já que no momento em que o
fornecimento de energia ao equipamento consumidor é interrompido a tensão da bateria se eleva
rapidamente, de 15 a 20 %. De forma análoga, quando o gerador FV é desconectado (ao término do
carregamento das baterias - HVD), estando a bateria conectada às cargas, a sua tensão cai de 10 a 15
%. Assim, é importante considerar estas diferenças no momento de estabelecer os pontos de regulagem
deste tipo de controlador.
Em sistemas que envolvem correntes elevadas, podem-se utilizar vários controladores de carga,
cada um conectado a um arranjo fotovoltaico independente, dentre os que compõem o gerador (mas
todos na mesma bateria). Entretanto, os controladores devem ser projetados para este tipo de operação
em paralelo, o que normalmente ocorre para os controladores baseados em tensão (ver item 4.5.3) mas
nunca para aqueles baseados no estado de carga (ver item 4.5.4). Normalmente há um limite para o
número de dispositivos que podem ser conectados em paralelo, que varia conforme o modelo e o
fabricante do controlador.
Alguns controladores de carga evitam que a bateria seja submetida a descargas excessivas. Com
a opção de desconexão, as cargas que estão sendo alimentadas pelo SFI e que estão conectadas na
saída do controlador23 podem ser desconectadas para proteger a bateria. Para baterias que admitem
20
HVD – high voltage disconnect.
21
HVR – high voltage reconnect.
22
LVD – low voltage disconnect.
23
Há sistemas fotovoltaicos em que as cargas estão conectadas na saída do inversor cc/ca e este por sua vez não está
conectado na saída do controlador e, sim, diretamente aos terminais do banco de baterias. Neste caso, a proteção das
baterias contra descarga excessiva deverá ser feita pela desconexão das cargas pelo inversor que incorpora a função de
LVD, e não por um controlador. Ver o item 4.6 (tensão de entrada).
209
descarga bastante profunda como as baterias de Níquel-Cádmio, esta função pode não ser necessária.
Entretanto, deve-se sempre incluí-la quando se utilizam os demais tipos de baterias, principalmente as
de descarga rasa, e quando a capacidade da bateria é pequena se comparada com o consumo.
Quando um LVD for usado, deve-se tomar as precauções necessárias para as cargas não
excederem o valor de corrente da chave (estado sólido ou relé), pois isto pode danificar a unidade. Um
exemplo seria a alta corrente de partida de uma lâmpada de vapor de sódio de baixa pressão ou de um
motor. Alguns LVDs incorporam um temporizador de 5 a 10 segundos, a fim de que eles não
desconectem uma carga devido a uma redução temporária de tensão da bateria, quando se utiliza uma
carga com alta corrente de pico na partida.
Valores típicos de profundidade de descarga utilizados para LVD são, para baterias de ciclo raso,
de 20 a 40 % e, para as de ciclo profundo, de 50 a 80 %. Estes valores permitem, em geral, uma boa
relação custo-benefício, mas dependem fortemente de especificidades de cada aplicação
(comportamento da carga, características da bateria, vida útil esperada, dentre outras).
Controladores de carga usados em climas frios podem ter uma proteção que eleva a tensão do
LVD quanto a temperatura ambiente está muito baixa para evitar o congelamento do eletrólito. Esta
preocupação não se aplica ao caso do Brasil.
Compensação térmica
Como visto no item 4.3, as características de carregamento das baterias mudam com a variação
da temperatura. A compensação térmica faz-se mais necessária quando a temperatura de operação das
baterias chumbo-ácida excede a faixa de 5oC em torno da temperatura ambiente de 25 oC. Se a
concentração do eletrólito foi ajustada para temperatura ambiente local e a variação da temperatura das
baterias for pequena, a compensação pode não ser necessária.
Alguns controladores possuem um sensor de temperatura externo a ser fixado em uma das
baterias, que permite mudar os pontos de regulagem de acordo com a temperatura (-6 a -4
mV/célula.C, para baterias de chumbo-ácido). Para uma bateria de chumbo-ácido de 12 V de tensão
nominal tem-se aproximadamente uma variação de -30mV/C. Assim, uma variação de 10C acarreta
24
LVR – low voltage reconnect.
210
uma mudança de 0,3 V na tensão da bateria. Este valor equivale a uma variação de tensão da ordem de
2,5 %, justificando a necessidade de compensação térmica dos pontos de regulagem.
O sensor deve ter um bom contato térmico com o invólucro de uma das baterias no centro do
banco e nunca deve ser imerso no eletrólito da bateria ou conectado ao seu terminal.
Muitos controladores de carga têm LEDs (light emitting diode- diodo emissor de luz) que
indicam ao usuário sua condição operacional. Um LED é aceso quando as baterias estão
completamente carregadas. Outro LED para mostrar quando o gerador fotovoltaico está carregando as
baterias. Um terceiro LED pode mostrar quando o estado de carga da bateria está muito baixo.
Há controladores que dispõe de um display (LCD etc) usado para indicar a tensão da bateria,
mostrando o seu estado de carga aproximado. Pode informar também a corrente que flui na bateria,
mostrando como a energia está sendo usada pela carga, bem como a corrente que flui do painel para as
baterias, mostrando como está sendo feito o processo de carga.
Como já mencionado, este tipo de controlador é o mais utilizado, embora apresente uma série de
inconvenientes para a sua operação eficiente. Todas as decisões são tomadas com base no valor
instantâneo da tensão nos terminais da bateria. Esses controladores possuem parâmetros básicos
25
Carga adiável é um tipo de carga que só funciona quando há excesso de energia no sistema, como, por exemplo, uma
bomba d´água que armazena água num compartimento extra. Uma carga adiável interessante é um ventilador para exaustão
de gases do compartimento das baterias, o que constitui uma aplicação bastante adequada, pois quando as baterias estão
totalmente carregadas pode haver produção de gases.
211
idênticos, variando somente os pontos de regulagem em suas calibrações. Variam, fundamentalmente,
quanto ao nível de sofisticação, qualidade e funções disponíveis.
Os dados dos fabricantes geralmente fornecem os limites de aplicação do controlador, tais como
correntes de carga e do gerador fotovoltaico, temperaturas de operação, perdas e pontos de regulagem.
Em alguns casos, os pontos de regulagem podem variar de acordo com a temperatura ou com a
oscilação da corrente da bateria ou através de ajustes realizados pelo próprio usuário.
Tabela 4.12–Exemplo de especificações para os pontos de ajuste um controlador de carga on-off baseado em tensão.
212
temperatura. Variações bruscas de corrente também resultam em modificações na tensão da bateria,
difíceis de modelar.
Um controlador ideal para a aplicação fotovoltaica isolada deve, além de satisfazer os objetivos
básicos apresentados, gerenciar a carga de acordo com a disponibilidade de energia solar, necessitando
para tal possuir uma informação confiável do estado de carga da bateria em um dado instante. Deve
evitar penalizar o usuário, ao mesmo tempo em que busca satisfazer os requisitos de operação das
baterias como, por exemplo, evitando que baterias de chumbo-ácido permaneçam descarregadas por
longos períodos.
213
4.5.5–Carga em 3 estágios
O uso de controladores de carga simples do tipo on-off atualmente está limitado a sistemas
fotovoltaicos para alimentar carga muito pequenas, não sendo mais adotado na prática para SFIs.
Grossa – nesta fase, que caracteriza o início da carga, quando a bateria encontra-se
descarregada, o controlador aplica às baterias a máxima corrente que o painel
fotovoltaico pode fornecer, até que estas atinjam uma tensão de fim de carga
preestabelecida, O painel fotovoltaico funciona como uma fonte de corrente, sendo a
tensão imposta pela bateria; Na fase grossas são repostos 80-90% da capacidade;
quando então a operação do controlador passa à próxima fase (absorção);
Absorção – nesta fase a tensão da bateria é mantida constante na tensão de fim de carga
por um determinado intervalo de tempo acumulado (normalmente 1h, podendo não ser
contínuo) até que a bateria seja considerada totalmente carregada, sendo que para isso a
corrente fornecida pelo painel é controlada em PWM26 e vai se reduzindo
gradativamente;
Flutuação – nesta fase a tensão da bateria também é mantida constante com a corrente
controlada em PWM, porém, num nível de tensão de flutuação, que é bastante inferior
à tensão de fim de carga. Esta fase se mantém indefinidamente, até que a bateria
descarregue e sua tensão fique abaixo da tensão de flutuação por determinado intervalo
de tempo (normalmente 1h), quando então um novo ciclo de carga grossa será
disparado.
Equalização – nesta fase o controlador aplica uma tensão mais elevada para causar uma
sobrecarga na bateria de forma controlada e obter um borbulhamento (gaseificação)
que visa agitar o eletrólito e evitar sua estratificação27. Pode ser, por exemplo, utilizada
uma tensão até 1 Volt acima da tensão de fim de carga (para sistemas em 12V, 2V para
24V e 4V para 48V) por um intervalo acumulado de 2h, repetido a cada 30 dias. A
equalização é opcional e destina-se normalmente somente a baterias Chumbo-ácido
26
Neste PWM a tensão é da bateria regulada pelo controlador de carga por meio da variação da largura dos pulsos de
corrente nela injetados.
27
Nas baterias chumbo-ácido estacionárias, ao longo do tempo, a concentração do eletrólito se torna maior no fundo do
vaso do que no topo, um fenômeno denominado de estratificação. Com isso, a reação ocorre de forma diferente ao longo
das placas, possivelmente resultando em corrosão em sua parte inferior. Um pouco de borbulhamento feito de forma
controlada, o processo denominado equalização, é considerado benéfico para a bateria por agitar e misturar o eletrólito,
eliminando a estratificação.
214
abertas, pois implica em consumo de água, não sendo recomendada para os demais
tipos de baterias, como OPzV.
4.5.6–Controlador SPPM
Os controladores SPPM tem eficiências na faixa 92-97%. Mais detalhes sobre o seguimento de
ponto de potência máxima são disponibilizados no item 4.8.
Para estimar o ganho obtido com um exemplo numérico, podemos supor uma situação hipotética
em que um painel de 250Wp seja utilizado para carregar um banco de baterias chumbo-ácido na tensão
de 12V.
Considerando, por outro lado, a utilização de um módulo c-Si de 250Wp com 60 células em
série, associado a um controlador SPPM com 95% de eficiência, para carregar o mesmo banco em
12,5V, podemos supor uma potência máxima do módulo PMP de ~206Wp nas condições de
temperatura ambiente típicas do Brasil e para uma irradiância de 1000W/m2, chegando a uma potência
útil de ~196W, correspondendo, portanto, a um ganho de cerca de 8% em relação à configuração
convencional. O ganho obtido seria maior em caso de temperaturas ambientes mais baixas (o VMP é
maior), o que favorece o uso de controladores SPPM em locais mais frios, como Europa e EUA.
Figura 4.27 – Modelo de etiqueta do Inmetro para controladores de carga. Fonte:(Inmetro, 2011).
Caso sejam adotados em um SFV outros tipos de baterias que não as Chumbo-ácido, a
compatibilidade da bateria com os controladores de carga deve ser assegurada, e não se trata somente
de compatibilidade com os níveis de tensão, mas também do próprio algoritmo de operação.
A baterias NiCd e NiMH geralmente são carregadas em corrente constante e o final de carga é
As baterias Li-íon, por sua vez, são carregadas com tensão constante, controlada em cada célula
individualmente, a partir da regulação da corrente de carga, com controladores bastante sofisticados.
Conforme o item 4.3.5, em função das baixas taxas utilizadas em sistemas fotovoltaicos provavelmente
um menor grau de sofisticação é necessário.
4.6 – Inversores
Um inversor é um dispositivo eletrônico que fornece energia elétrica em corrente alternada (c.a.)
a partir de uma fonte de energia elétrica em corrente contínua (c.c.). A energia c.c. pode ser
proveniente, por exemplo, de baterias, células a combustível ou módulos fotovoltaicos. A tensão c.a.
de saída deve ter amplitude, frequência e conteúdo harmônico adequados às cargas a serem
alimentadas. Adicionalmente, no caso de sistemas conectados à rede elétrica a tensão de saída do
inversor deve ser sincronizada com a tensão da rede.
216
Existe uma diversidade grande de tipos de inversores em função das peculiaridades de suas
aplicações. Muitas vezes eles fazem parte de equipamentos maiores, como no caso de UPS (no-breaks)
e acionamentos eletrônicos para motores de indução. No caso de sistemas fotovoltaicos, os inversores
podem ser divididos em duas categorias com relação ao tipo de aplicação: SFIs e SFCRs. Embora os
inversores para SFCRs compartilhem os mesmos princípios gerais de funcionamento que os inversores
para SFIs, eles possuem características específicas para atender às exigências das concessionárias de
distribuição em termos de segurança e qualidade da energia injetada na rede.
De modo geral, inversores para conexão à rede com potências individuais de até cerca de 5kW
têm saída monofásica.A partir dessa potência é mais comum a utilização de inversores com saída
trifásica, ou inversores monofásicos em associação trifásica.
217
Figura 4.28 – Tipos de inversores classificados de acordo com o princípio de funcionamento.
218
Figura 4.29– Símbolos de componentes utilizados em inversores (A – anodo; K – catodo; G – gate; B- base, C – coletor;
E – emissor; D – dreno; S – fonte).
219
Tabela 4.13 – Características de dispositivos semicondutores de chaveamento (continuação).
Características de dispositivos semicondutores de chaveamento
Permite a passagem de corrente num só sentido (do anodo
para o catodo);
O momento do disparo é controlado por um pulso positivo
GTO – gate turn-off thyristor de corrente no terminal gate;
O bloqueio pode ser controlado por um pulso negativo
(corrente elevada, podendo chegar a ⅓ da corrente
conduzida) de corrente no terminal gate;
Permite a passagem de corrente num só sentido, do coletor
para o emissor, para transistores do tipo npn;
O estado de condução é controlado pela aplicação de uma
corrente no terminal base;
A corrente de base chega a 10-15% da corrente no coletor, e
deve ser mantida para que o BJT continue conduzindo
BJT – bipolar junction transistor (estado de saturação), ao contrário dos tiristores, que
necessitam apenas de um pulso de corrente;
A potência consumida no circuito de controle é significativa;
O bloqueio (estado de corte) ocorre quando a corrente de
base é retirada;
As perdas de comutação são consideradas médias, mas as
perdas em condução são baixas.
Permite a passagem de corrente num só sentido, do dreno
para a fonte, para transistores do tipo canal n;
O estado de condução é controlado pela aplicação de uma
tensão no terminal gate;
MOSFET – metal oxide semiconductor
Apresenta menores tempos de comutação do que o BJT e
field effect transistor
pode ser chaveado em alta frequência;
Tem perdas de comutação muito baixas, mas perdas em
condução significativas;
A potência consumida no circuito de controle é pequena.
Permite a passagem de corrente num só sentido, do coletor
para o emissor para transistores do tipo npn;
O estado de condução é controlado pela aplicação de uma
tensão no terminal gate;
IGBT – insulated gate bipolar transistor Pode ser chaveado em alta frequência, com perdas de
comutação reduzidas;
A potência consumida no circuito de controle é pequena;
Tem baixas perdas em condução;
Combina características do BJT e do MOSFET.
220
Figura 4.30–(a) Formas de onda de tensão (V) e corrente (I) sobre um dispositivo semicondutor em chaveamento e
condução, e (b) potência dissipada em um dispositivo semicondutor em chaveamento e condução (adaptado de PROCEL,
2004).
Bloqueio – nos períodos (t<t1 e t>t6) em que a chave está bloqueada e submetida a determinado nível
de tensão, geralmente a corrente de fuga é desprezível (I=0) para esta tensão V, e, portanto, não há
perdas no semicondutor.
Comutação – no momento (t=t1) em que o dispositivo recebe o comando para entrar em condução, a
corrente começa a subir até atingir seu valor máximo (t=t2), quando então a tensão começa a cair até
atingir seu valor mínimo (t=t3). Neste processo, ocorrem as perdas por comutação, resultantes da
tensão e da corrente sobre o dispositivo (V x I).No momento (t=t4) em que a chave recebe o comando
para entrar no estado de bloqueio, ocorre a sequência inversa de eventos, aparecendo novamente as
perdas por comutação, até que a tensão sobre ela volte ao seu valor inicial (V) e a corrente se anule
(t=t6).
Condução – no período em que o dispositivo está em condução (t3<t<t4) também ocorrem perdas, pois
ele está submetido a tensão e corrente, mas com potência reduzida.
A energia total dissipada no semicondutor durante o ciclo descrito corresponde à área hachurada
(cinza) na Figura 4.30 (b).
221
4.6.1.2 – Inversores comutados pela rede (para SFCR)
Conforme já vimos, uma vez em condução, o dispositivo só é levado ao corte quando a corrente
que flui através dele for inferior à chamada corrente de manutenção de condução, ou quando houver
uma inversão de polaridade entre anodo e catodo. Como a troca do estado de condução para o estado
de corte é controlada pelo circuito de potência, os inversores a tiristor são chamados inversores de
comutação natural ou inversores comutados pela rede. Apesar de robustos e simples, sua baixa
qualidade de tensão e corrente de saída (devido à alta quantidade de harmônicos) requer o uso de redes
de filtragem complexas, onerosas e que implicam e perdas. Com o surgimento de novos dispositivos
de chaveamento (MOSFET, IGBT), a utilização de inversores a tiristor foi sendo reduzida e é hoje
restrita a unidades de potência elevada (acima de 100 kW) e acionadores (drivers) de motores elétricos
de grande porte.
Nos inversores autocomutados os elementos de chaveamento são semicondutores que podem ser
postos em estado de condução ou de corte em qualquer instante do ciclo, através de um terminal de
controle. Dependendo da velocidade de chaveamento e dos níveis de potência e tensão, são utilizados
IGBTs ou MOSFETs nos inversores. Estes dispositivos operam com a estratégia de controle de
modulação por largura de pulso (PWM), o que permite um bom controle sobre a forma de onda e o
valor da tensão de saída. Os inversores autocomutados podem ser do tipo fonte de corrente (CSI –
current source inverter) ou fonte de tensão (VSI – voltage source inverter). Na configuração fonte de
tensão, a mais empregada em sistemas de conversão fotovoltaica, o controle pode ser feito tanto por
tensão quanto por corrente, dependendo da grandeza de saída utilizada como referência. Devido à sua
estabilidade diante de perturbações na rede e à facilidade no controle do fator de potência, o controle
por corrente é adotado na maioria dos modelos para SFCRs, enquanto que o controle por tensão é
utilizado principalmente em inversores para SFIs.
Os inversores podem ter um ou dois estágios, como representado na Figura 4.31. Os inversores
de um estágio têm por principal característica a robustez e a alta eficiência, devido ao reduzido número
de componentes. Por outro lado, no caso de um inversor sem transformador, a tensão c.c. de entrada
deve ter um valor mínimo relativamente elevado, equivalente ao valor de pico da tensão c.a. da rede
elétrica ou o dobro desta, dependendo da configuração da ponte inversora. A inclusão opcional de um
transformador de alta frequência cria um isolamento galvânico entre os lados de corrente contínua e
alternada.
222
(a) (b)
Figura 4.31 – (a) Inversor de um estágio e (b) inversor de dois estágios.
A figura mostra que, quando se trata de um inversor para SFI, a entrada cc é proveniente de um
banco de baterias, enquanto que no caso de um inversor para SFCR, a entrada cc provém diretamente
de um painel fotovoltaico.
O estágio conversor c.c.-c.c. gera uma tensão adequada no elo cc interno (link cc) do inversor.
No caso do inversor para SFCR, o conversor c.c.-c.c. normalmente efetua SPPM na entrada
proveniente do painel fotovoltaico, enquanto que no caso do inversor para SFI, o estágio conversor
c.c.-c.c. é apenas um elevador de tensão.
O elo c.c. interno é um capacitor eletrolítico que tem as funções de armazenamento de energia e
filtragem.
O estágio conversor c.c.-c.a. é descrito em detalhes no item 4.6.2 a seguir. O indutor na saída c.a.
serve como elemento de filtro, e, no caso de inversor para SFCR, também tem a função de
acoplamento à rede elétrica.
Conforme mostra a Figura 4.32, o inversor para SFI alimenta diretamente as cargas elétricas c.a.
existentes no sistema isolado, enquanto que o inversor para SFCR é conectado à rede elétrica da
distribuidora local. Para inversores de potências nominais até dezenas de kW, a saída c.a. é geralmente
em baixa tensão (127Vca ou 220Vca), sendo que para potências da ordem de unidades kW é
monofásica enquanto que para potências superiores é trifásica.
223
Figura 4.32 – Inversor de dois estágios (adaptado de FILHO, 2012).
A Figura 4.33(a) apresenta o esquema do conversor cc-ca de meia ponte (half bridge) para um
inversor monofásico. As chaves S1 e S2 são representadas genericamente e podem, em princípio, ser
qualquer um dos dispositivos semicondutores apresentados na Figura 4.29, associado ao
correspondente circuito de controle. Neste circuito, a inversão da polaridade do sinal é obtida pelo
acionamento alternado das chaves S1 e S2 numa frequência fixa, que pode ser a frequência de rede
elétrica (60 Hz). Como resultado, tem-se uma tensão alternada aplicada sobre a carga. A forma do
sinal de saída deste tipo de conversor é uma onda quadrada, variando de -VCC/2 a VCC/2e m 60 Hz.
224
(a) (b)
Figura 4.33 – Inversor de (a) meia ponte e (b) ponte completa monofásica.
A tensão Vcc, representada na Figura 4.33 para alimentação do conversor c.c.-c.a., corresponde
na verdade ao elo de corrente contínua (link cc) do inversor.
Se as chaves forem acionadas (postas em condução) aos pares de forma alternada e sincronizada
(S1 e S4, S2 e S3) em uma dada freqüência (60 Hz), o sinal de tensão resultante na saída do conversor
será outra vez uma onda quadrada, como a mostrada na Figura 4.34(a). Apesar de ter como vantagem a
simplicidade, este tipo de acionamento não permite o controle da amplitude nem do valor eficaz
(RMS) da tensão.
Neste caso, a tensão RMS de saída passa a poder ser controlada através do ângulo de defasagem
no disparo dos dispositivos de chaveamento e a forma de onda apresenta menor distorção harmônica
(THD atinge cerca de 30%), tornando-se um pouco mais assemelhada a uma senóide. O valor eficaz da
componente fundamental (60 Hz) da tensão de saída da onda quadrada modificada é dada, neste caso,
pela Equação 4.18.
28
Também chamada por alguns autores e fabricantes de onda retangular ou onda senoidal modificada.
225
(4.18)
Onde:
Vrms(V) – tensão eficaz da componente fundamental;
Vcc(V) – tensão cc da entrada;
T(s) – período da senóide (1/60);
tc(s) – período de bloqueio (intervalo entre os pulsos - tempo com tensão zero), cuja variação
permite o controle da tensão de saída (ver Figura 4.34 b).
(a)
(b)
(c)
226
+VCC
-VCC
(d)
Figura 4.34–Possíveis formas de onda da tensão de saída de um conversor c.c.-c.a. de ponte completa: (a) onda quadrada,
(b) onda quadrada modificada, (c) 3 pulsos e (d) modulação por largura de pulso PWM.
A Figura 4.34(c) mostra, a título de exemplo, uma hipotética forma de onda com 3 pulsos por
semiciclo. Na prática, nas aplicações nas quais a eficiência na conversão e a qualidade da energia são
fatores determinantes, são utilizados os inversores multipulsos, com formas de onda como a mostrada
na Figura 4.34 (d), com 14 pulsos por semiciclo.
Nos conversores cc-ca de inversores modernos, a estratégia de controle mais utilizada é a PWM.
Apesar de existirem vários esquemas PWM, todos eles baseiam-se no acionamento dos dispositivos de
chaveamento a uma frequência constante (dezenas ou centenas de kHz), porém com um ciclo de
trabalho (razão entre o tempo de condução e o período) variando ao longo do semiciclo
proporcionalmente ao valor instantâneo de um sinal de referência. Iniciando com pulsos estreitos
quando a amplitude da senóide de referência é baixa, os pulsos vão se alargando conforme o valor
instantâneo da referência aumenta.
A Figura 4.35 detalha a implementação de uma das possíveis estratégias de PWM, denominada
chaveamento bipolar. Na Figura 4.35(a) observa-se que o controle do chaveamento é feito pela
comparação de uma tensão de referência (Vcaref), que é uma senóide na frequência da rede (60 Hz),
com um sinal triangular (Vtri) de frequência muito superior, ambas geradas internamente no conversor
c.c.-c.a. As duas formas de onda podem ou não ser sincronizadas e as relações entre suas freqüências e
amplitudes controlam os parâmetros da saída. Quando a tensão de referência tem valor superior à onda
227
triangular, então são postas em condução as chaves S1/S4, enquanto que S2/S3 permanecem em
bloqueio, aplicando assim uma tensão positiva (+Vcc) na carga. Nos momentos em que a tensão de
referência é inferior à da onda triangular, os estados das chaves são invertidos e a carga recebe tensão
negativa.
Figura 4.35–Estratégia de controle PWM para um conversor cc-ca – tensões de controle Vcaref e Vtri(a) e tensão na saída
Vcarga(b) (adaptado de SKVARENINA, 2001).
Após uma filtragem adicional com filtro passa-baixa para retirar as componentes harmônicas de
alta frequência, o sinal de saída é praticamente senoidal, conforme as formas de onda mostradas nas
Figuras 4.34(d) e 4.35(b) (representam diferentes estratégias de PWM).
Além de baixa THD, os inversores PWM apresentam também elevada eficiência e uma ótima
regulação da tensão de saída. Esses dispositivos são indicados para equipamentos eletrônicos sensíveis.
Comparados com inversores de onda quadrada, possuem custo mais elevado como resultado da maior
complexidade dos circuitos.
Vale destacar que a RN 493/2012 (ANEEL, 2012a) exige a utilização de inversores com forma
de onda senoidal em sistemas de geração isolados tipo SIGFI e MIGDI. Devido aos critérios de
qualidade impostos pela rede elétrica, os inversores para conexão à rede também devem apresentar
forma de onda de saída senoidal e com baixa distorção harmônica.
A Figura 4.36 mostra uma ponte trifásica completa de um conversor cc-ca, implementada
utilizando IGBTs, cuja topologia de circuito apenas acrescenta mais uma “perna” à ponte H
228
monofásica completa já mostrada na Figura 4.33(b), e que é operada conforme estratégias de
chaveamento também análogas às já apresentadas. Na prática, tais pontes com 6 IGBTs (ou outros
dispositivos) já são fornecidas como power blocks por vários fabricantes, sendo que a elas é necessário
acrescentar o circuito de controle, normalmente baseado em DSP.
Supondo, para fins de simplificação, que a lógica de acionamento dos IGBTs seja feita em 6
tempos, de acordo com a sequência mostrada na Tabela 4.14, então obtém-se uma saída em onda
quadrada modificada trifásica, ilustrada na Figura 4.37. Na realidade, o acionamento é feito ajustando
os ângulos de disparo para manter a regulação da tensão RMS, da mesma forma que para o caso
monofásico.
29
As condições Q1, Q3 e Q5, e Q4, Q6 e Q2 são proibidas por conectarem todas as fases ao mesmo potencial.
229
Figura 4.37–Forma de onda quadrada modificada trifásica.
A Figura 4.38, por sua vez, apresenta uma estratégia de chaveamento PWM trifásica, que se
baseia na comparação de 3 formas onda de referência defasadas em 120° (Vcaref,A; Vcaref,B e Vcaref,C)
com um sinal triangular (Vtri), para controlar o acionamento dos IGBTs.
230
Figura 4.38 – Estratégia de controle do chaveamento para PWM trifásico (adaptado de SKVARENINA, 2001).
Outro aspecto que determina a qualidade dos inversores é a sua eficiência de conversão. Nos
inversores a eficiência não é constante e seu valor depende da potência demandada pelos equipamentos
de consumo (carga), e também de seu fator de potência. Os fabricantes normalmente anunciam a
eficiência na carga nominal, mas nem sempre destacam o fato de que sob cargas parciais seus
dispositivos apresentam baixas eficiências. Para os usuários de sistemas com necessidades variáveis de
potência, altas eficiências em cargas parciais são importantes.
231
no RAC para ensaio do Inmetro é de 3% da corrente consumida em carga nominal, em toda a faixa de
tensão de entrada.
Alguns inversores, seja para SFIs ou para SFCRs, podem ter limitações de potência quando em
operação em temperaturas ambientes elevadas.
Outra característica importante é de que um inversor para SFIs deve tolerar surtos de corrente
que ocorrem, por exemplo, na partida de motores elétricos, os quais podem exigir valores mais de
10vezes superiores à corrente nominal do motor em curtos períodos de tempo, antes de entrar em
regime normal de trabalho. Alguns modelos de inversores podem tolerar altas potências de surto, como
por exemplo duas vezes a potência nominal em 1 minuto ou três vezes a potência nominal em 5
segundos. A potência de surto suportada pelo equipamento varia inversamente com o tempo de
duração do surto.
Tabela 4.15 – Exemplo de especificações de potência de pico e de limitações térmicas da potência de um inversor.
@ 25 °C @ 45 °C
Potência c.a. contínua 5.000W 4.000W
30 min 1min 3s
Potência de pico 6.500 W 8.400 W 12.000 W
Alguns modelos de inversores para SFIs permitem a operação em paralelo de mais de uma
unidade e/ou podem ser integrados para criar circuitos bifásicos ou trifásicos.
Forma de onda e Distorção harmônica: a forma de onda da tensão c.a. produzida deve ser a
senoidal pura. A distorção harmônica total (THD) deve ser inferior a 5% em qualquer
potência nominal de operação.
Eficiência na conversão de potência: a eficiência é a relação entre a potência de saída e a
potência de entrada do inversor. Nas especificações fornecidas pelos fabricantes há
232
referência, usualmente, apenas à eficiência máxima. Entretanto, deve-se ter em conta que as
variações na potência de entrada e saída, o fator de potência da carga, e outros fatores
influem negativamente na eficiência do inversor. A eficiência dos inversores varia,
normalmente, na faixa de 50 a 95 %, podendo diminuir quando estão funcionando abaixo da
sua potência nominal. Quando operando alguns motores, a eficiência real pode ser inferior a
50 %. Na Figura 4.39 são mostradas algumas curvas de eficiência de inversores para uso em
SFIs.
Figura 4.39– Curvas de eficiência para cargas resistivas de alguns inversores para uso em sistemas fotovoltaicos isolados.
Fonte: (COUTO, 2000).
Potência nominal de saída: indica a potência que o inversor pode prover à carga em regime
contínuo. Num sistema isolado, o inversor deve ser especificado para fornecer uma potência
sempre superior às necessidades máximas das cargas conectadas, de forma a considerar um
aumento momentâneo da demanda de potência. Para sistemas isolados tipo SIGFI é
recomendável escolher uma potência nominal que seja próxima à potência total necessária
para alimentar as cargas e que esteja próxima a uma das classificações citadas na RN
493/2012 (ANEEL, 2012a). Para aplicação em MIGDIs recomenda-se utilizar um fator de
diversidade que será tanto maior quanto menor for o número de unidades consumidoras a
serem atendidas. Para os SFCRs, a potência do inversor está associada à potência do painel
fotovoltaico utilizado.
233
Potência de surto: indica a capacidade do inversor em exceder sua potência nominal por
certo período de tempo. Aplica-se somente aos inversores para sistemas isolados. Deve-se
determinar as necessidades de surtos para cargas específicas. Como já citado anteriormente,
algumas cargas c.a., quando acionadas, necessitam de uma corrente elevada de partida por
um curto período, para entrarem em operação (ver Tabela 4.15).
Taxa de utilização: é o número de horas que o inversor poderá fornecer energia operando
com potência nominal.
Tensão de entrada: é a tensão c.c. do inversor. Conforme já mencionado, os valores mais
utilizados em SFIs no Brasil são 12V, 24V e 48 V, normalmente fornecidos por baterias, e
devem ser compatíveis com os requisitos de entrada do inversor. A tensão de entrada do
inversor deve ser especificada tanto maior quanto maior for a potência demandada pelas
cargas ao sistema fotovoltaico, a fim de se manter as correntes c.c. em níveis aceitáveis.
Quando a bateria descarrega-se e a tensão c.c. do sistema cai abaixo de um valor mínimo
especificado, o inversor pode ser capaz de desconectar a carga automaticamente, fazendo a
função LVD do controlador de carga. Nos inversores para SFCRs, os requisitos relacionados
à tensão de entrada do inversor devem ser sempre atendidos pela associação em
série/paralelo de módulos.
Tensão de saída: é regulada na maioria dos inversores, e sua escolha nos sistemas isolados
depende da tensão de operação das cargas. No Brasil, dependendo da região ou cidade são
usados os valores de 127 ou 220 V, sempre na frequência de 60 Hz.A regulamentação Aneel
exige que os inversores para SIGFIs operem na tensão de distribuição BT adotada na região.
Quanto aos inversores para SFCRs, a regulamentação especifica que devem operar em BT
para potências de até 100kW, enquanto que para potências superiores até 1MW, a injeção
deverá ser feita na MT de distribuição (13,8kV).
Regulação de tensão: indica a variação de amplitude permitida na tensão de saída c.a. Os
melhores inversores produzem uma tensão de saída praticamente constante para uma ampla
faixa de cargas.As variações na tensão de saída devem estar de acordo com os limites
estabelecidos pela Aneel-PRODIST e devem considerar a queda de tensão no circuito de
distribuição de energia.
Frequência da tensão de saída: indica a frequência da tensão c.a. de saída do inversor. Os
aparelhos elétricos convencionais usados como cargas c.a. no Brasil são fabricados para
operar na frequência de 60 Hz. Alguns tipos de equipamentos, como relógios e timers
eletrônicos, necessitam de uma cuidadosa regulagem de frequência para não apresentarem
perda de desempenho, o que deve ser atendido pelos inversores em SFIs.
234
Fator de potência: as cargas mais comuns, em sistemas residenciais, são indutivas com o
fator de potência podendo chegar a 0,5. Os melhores inversores são projetados para
compensarem as cargas indutivas e manterem o fator de potência próximo de 1, o que
maximiza a transferência de potência para a carga. É desejável que a carga tenha um fator de
potência elevado, uma vez que isto reduz a corrente necessária para qualquer nível de
potência. O inversor deve ter um fator de potência nominal compatível com o fator de
potência desejado para as cargas. Se os fatores de potência das cargas não forem incluídos
em suas especificações, eles poderão ser obtidos do fabricante.
Consumo de potência sem carga (consumo permanente, autoconsumo, consumo em
standby): é a quantidade de potência que o inversor utiliza, mesmo quando nenhuma carga
está sendo alimentada. Para reduzir o autoconsumo, alguns inversores monitoram
continuamente a sua saída, detectando se alguma carga está sendo usada e passam a operar
efetivamente apenas a partir do momento em que uma carga é detectada.
Modularidade: em alguns sistemas, o uso de múltiplos inversores é muito vantajoso. Alguns
modelos de inversores podem ser conectados em paralelo para operarem diferentes cargas.
Algumas vezes é fornecido um chaveamento de carga manual para permitir que o inversor
possa atender às cargas críticas em caso de falha. Esta característica aumenta a confiabilidade
do sistema.
Temperatura e umidade do ambiente: Devem ser citada a temperatura ambiente máxima do
local da instalação na qual se requer a potência nominal do inversor, pois a temperatura de
operação do mesmo afeta sua eficiência. Deve ser sempre especificada dissipação de calor
por convecção natural (sem partes móveis, como ventoinhas, pois estas, além de consumirem
energia, requerem maior manutenção), e o local de instalação deve possuir ventilação
adequada. Além disso, deve também ser citada a umidade relativa do ambiente e solicitada
proteção adequada quanto a este quesito (por exemplo, isolamento de resina do circuito
eletrônico).
Compatibilidade eletromagnética: uma vez que efetuam chaveamento em alta frequência, os
inversores podem ser elementos geradores de interferência eletromagnética capaz de
prejudicar outros equipamentos eletrônicos e, principalmente, de telecomunicações. Os
inversores para SFCRs dotados do selo CE mantem (filtragem, blindagem) os níveis de
emissões abaixo dos valores máximos estabelecidos pelas normas europeias de EMC.
Grau de proteção: O grau de proteção IP (Ingress Protection) classifica e avalia o grau de
proteção de pessoas contra o contato a partes energizadas sem isolamento; de proteção contra
o contato as partes móveis no interior do invólucro e proteção contra a entrada de corpos
estranhos. (incluindo partes do corpo como mãos e dedos) e o grau de proteção contra
235
entrada de poeira e contato acidental com água em carcaças mecânicas e invólucros elétricos.
O grau de proteção IP a ser especificado varia de acordo com o ambiente onde o inversor
será instalado, se abrigado ou não. Normalmente, para ambientes desabrigados se estabelece
IP54 ou melhor e para ambientes abrigados IP20 ou melhor.
Proteções: As principais proteções apresentadas pelos inversores para sistemas fotovoltaicos
isolados são:
Inversores Centrais– inversores trifásicos de grande porte, com potência numa faixa
que vai de centenas de kWp até MWp, utilizados em Usinas Fotovoltaicas (UFVs).
Os inversores para SFCRs normalmente efetuam SPPM em suas entradas c.c. como uma forma
de eficientização (ver item 4.8).
236
A eficiência de um inversor para conexão à rede pode ser expressa pelo conjunto de Equações
4.19, 4.20 e 4.21, que é auto explicativo.
(4.19)
(4.20)
(4.21)
Onde:
(W) – potência instantânea c.c na entrada do inversor;
(W) – potência instantânea c.a na saída do inversor;
(W) – potência instantânea máxima do painel fotovoltaico nas condições de temperatura e
irradiância vigentes;
(%) – eficiência de conversão do inversor, o que inclui as perdas nos circuitos, no transformador,
nos componentes de chaveamento etc.;
(%) – eficiência do inversor no seguimento do ponto de máxima potência;
(%) – eficiência total do inversor;
As eficiências totais destes inversores para conexão à rede podem atingir valores de 98% para
circuitos sem transformador e 94% para inversores com transformador. Estas eficiências declaradas
pelos fabricantes normalmente se referem à eficiência máxima, que se verifica apenas para
determinada condição de carga.
No intuito de permitir e facilitar a comparação entre diferentes inversores com base na sua
eficiência, foi criada a eficiência européia. Trata-se de uma média ponderada da eficiência do inversor
para várias condições de carregamento, de acordo com uma distribuição determinada para o clima
europeu (Alemanha), segundo a Equação 4.22.
(4.22)
O valor ηx% corresponde à eficiência do inversor para um carregamento de x%, enquanto que os
coeficientes (0,03; 0,06; 0,13; etc.) denotam as frações de tempo que o inversor é esperado funcionar
naquela condição de carregamento. A maioria dos fabricantes fornece a eficiência europeia nos dados
técnicos dos inversores.
Nesta mesma filosofia, no estado da Califórnia (EUA) foi também definida a eficiência
californiana, de acordo com a Equação 4.23. A eficiência californiana é considerada mais próxima às
condições brasileiras, mas a maioria dos fabricantes não a fornece.
(4.23)
Os painéis fotovoltaicos para os SFCRs devem ser sempre dimensionados de acordo com as
características elétricas das entradas do inversor utilizado, incluindo tensão máxima, corrente máxima,
237
potência máxima e faixa de operação do SPPM. As tensões utilizadas no painel devem ainda estar de
acordo com as especificações de tensão máxima de operação dos módulos.
Uma vez que as características técnicas das redes elétricas variam entre países, os requisitos
aplicados para interconexão de inversores à rede são definidos em regras locais. No caso do Brasil,
tratam-se da regulamentação da Aneel e das normas da ABNT.
No Brasil, os inversores para SFCRs devem atender aos requisitos de proteção exigidos no item
5 da seção 3.3 Módulo 3 do Prodist (Aneel, 2012c), o que inclui a proteção anti-ilhamento e a
exigência de transformador de acoplamento, entre outras.
O fenômeno denominado ilhamento é uma situação em que numa determinada seção da rede
elétrica a demanda de potência é igual à geração fotovoltaica e um (ou mais) SFCR(s) permanece(m)
funcionando e alimentando a carga quando a rede é desenergizada pela distribuidora. É considerada
uma situação inaceitável por comprometer a segurança da manutenção da rede. Por isso, os inversores
para SFCRs devem ser dotados de proteção anti-ilhamento, o que implica que estes desconectem
automaticamente da rede elétrica de distribuição, sempre que esta for desenergizada por motivo de
falha ou de manutenção programada da distribuidora.
Alguns inversores incorporam um transformador de acoplamento enquanto que outros não o tem
(transformerless inverters). Os transformadores podem ser de baixa frequência (60 Hz) para acoplar a
tensão de saída na rede, ou de alta frequência (kHz), que tem menores perdas e menores dimensões,
porem custo mais elevado (não só o transformador em si, mas o circuito como um todo). No Brasil, a
regulamentação Aneel exige o transformador de acoplamento nos SFCRs de minigeração, ou seja, cuja
potência instalada é superior a 100kWp, de forma que se estes não já estiverem incorporados no
inversor, então terão de ser instalados externamente. A Tabela 4.16 apresenta uma comparação e
características de inversores para conexão à rede com e sem transformador.
Tabela 4.16 – Comparação de características de inversores para conexão à rede com e sem transformador.
238
No Brasil o inversor para conexão à rede deve atender à norma ABNT NBR 16149:2013
(ABNT, 2013b), que estabelece parâmetros como: faixas de variação de tensão e frequência, THD,
proteção contra ilhamento, fator de potência etc.
Quase todos os inversores para conexão à rede existentes no mercado possuem incorporadas
funções de monitoração e aquisição de dados, de forma a disponibilizar ao usuário informações
operacionais. Entre os dados que podem ser cobertos estão: energia diária gerada, estado do
equipamento e histórico de falhas, valores instantâneos de Pcc (potência c.c.), Pca (potência c.a.), Vcc
(tensão c.c.), Vca (tensão c.a.), etc. Alguns equipamentos aceitam inclusive a conexão de sensores
externos (radiação solar, temperatura, etc.), seja diretamente seja através de equipamentos externos
auxiliares. Além de consultados no próprio painel do equipamento, tais dados podem se transferidos
através de meios como interface USB, modem GSM e rede wireless para análise detalhada em um
computador, facilitando sobremaneira a deteção de falhas. Para SFCRs com potências de até algumas
dezenas de kWp, tais recursos são equivalentes a um pequeno sistema de supervisão e controle tipo
SCADA.
Os inversores para SFCRs são muitas vezes garantidos pelos fabricantes por períodos de 5 a 10
anos.
Devido à elevada frequência de chaveamento para a formação dos pulsos PWM, os inversores
podem gerar perturbações eletromagnéticas. Isto significa que aspectos relativos à compatibilidade
eletromagnética precisam ser considerados. Estes problemas podem ser minimizados através do uso de
filtros adequados e blindagem do equipamento. O RAC do Inmetro (INMETRO, 2011) ainda não
239
prevê ensaios de compatibilidade eletromagnética, mas na especificação do equipamento podem ser
solicitados requisitos de acordo com normas internacionais, como a IEC 61.000.
Uma aplicação muito comum de conversores c.c.-c.c. é como controlador de carga de baterias a
partir da energia gerada por geradores fotovoltaicos. Com a utilização destes conversores é possível
controlar de forma mais precisa a corrente e a tensão que são aplicadas às baterias, proporcionando
assim um aumento da vida útil das mesmas e uma melhor eficiência do processo de transferência de
energia do gerador para a bateria. Outra aplicação típica destes conversores é como controlador em
sistemas de bombeamento fotovoltaico, sendo a bomba dotada de um motor c.c.
Este tipo de conversor pode conter um sistema de controle que permite extrair do painel
fotovoltaico a máxima potência que está sendo gerada e com isso obtem um melhor rendimento do
sistema. Este mecanismo de controle é conhecido por seguimento do ponto de potência máxima
(SPPM, ou MPPT em inglês) e, dependendo da situação, pode resultar em significativo ganho de
energia.
Também é necessário utilizar este conversor quando se deseja uma tensão c.c. de saída de valor
diferente daquele fornecido pelas baterias e geradores fotovoltaicos. Pode-se utilizar este conversor
tanto para elevar a tensão (conversores tipo boost) quanto para abaixar a tensão (conversores tipo
buck). Também é possível obter com este conversor várias tensões de saída a partir de uma única
tensão de entrada.
Os conversores c.c.-c.c. também podem proporcionar isolamento galvânico entre entrada e saída,
o que pode ser necessário em alguns tipos de aplicação, principalmente quando a tensão de saída é
elevada.
Também podem ser parte integrante de inversores, como um estágio de entrada, de forma a
adequar o nível de tensão na saída do sistema fotovoltaico ao necessário na entrada do estágio seguinte
do inversor, que é o conversor c.c.-c.a.
30
Trata-se de circuitos de eletrônica de potência baseados em indutores e/ou transformadores e que operam chaveados por
dispositivos semicondutores como MOSFETs ou IGBTs.
241
resultado da passagem de nuvens. Da mesma forma, sombreamentos parciais provocados por árvores e
edificações próximas, além de folhas ou sujeiras depositadas sobre a superfície dos módulos, podem
provocar distorções na curva característica do gerador fotovoltaico, inclusive com a ocorrência de
máximos locais, como mostrado na Figura 4.40(b).
(a)
(b)
Figura 4.40– Curvas I-V (preta) e P-V (cinza) de um gerador de seis módulos de 72 células em série, mostrando a
ocorrência de máximos locais na curva de potência em decorrência de sombreamentos parciais: (a) todos sem
sombreamento e (b) com um dos módulos submetido a um fator de sombreamento de 50 %.
242
Assim sendo, é conveniente que haja um mecanismo de controle eletrônico que observe
continuamente as modificações na curva característica I-V e atue sobre a eletrônica do inversor e/ou do
conversor c.c.-c.c., de modo a manter o gerador fotovoltaico operando na tensão correspondente à
tensão de máxima potência, maximizando a transferência de potência e evitando perdas nas células,
que surgiriam se o acoplamento ocorresse em outra tensão que não a ótima. Este processo é o chamado
de seguimento do ponto de potência máxima (SPPM ou MPPT, em inglês).
Um dispositivo de seguimento de potência máxima pode ser dividido em dois blocos básicos:
uma seção de controle e uma seção de condicionamento de potência. No caso de inversores de dois
estágios, a seção de potência do SPPM consiste geralmente em um conversor c.c.-c.c. em modo
chaveado. A utilização do conversor c.c.-c.c. permite uma maior flexibilidade na faixa de tensão de
entrada, às custas de uma redução da ordem de 2 % na eficiência global do inversor, em função dos
componentes adicionais. Os inversores com múltiplas entradas (multistring) ou os arranjos com
múltiplos inversores para sistemas fotovoltaicos conectados à rede (SFCR) podem possuir dois ou
mais dispositivos de SPPM independentes, a fim de permitir a utilização de arranjos fotovoltaicos com
características elétricas ou orientações diferentes, por exemplo.
243
A localização de um SPPM, quando incluído em um SFV, depende da característica elétrica da
carga, que pode ser alimentada em c.c. ou em c.a. Desta forma, o controle SPPM poderá atuar tanto
integrado a um conversor c.c.-c.c. quanto a um inversor. A Figura 4.41 mostra exemplos de sistemas
que utilizam SPPM.
Os métodos diretos, ou de seguimento verdadeiro, são aqueles que utilizam medições em tempo
real da corrente e da tensão disponíveis na entrada do inversor, para encontrar o ponto de potência
máxima do gerador fotovoltaico. Os métodos diretos não necessitam de informações prévias sobre as
características do gerador fotovoltaico e são, em princípio, capazes de reagir a variações rápidas nas
condições de operação dos módulos. São exemplos de métodos diretos o “perturbar &observar” (P&O
– perturb & observe) e o da “condutância incremental” (IncCond).
244
máxima potência. Essa informação é confrontada com uma base de dados ou algum modelo
matemático com as características previamente determinadas do gerador fotovoltaico específico. Por
serem sujeitos a imprecisões e incapazes de detectar os efeitos de sombreamentos parciais,
envelhecimento e acúmulo de sujeira sobre os módulos, os métodos indiretos são pouco utilizados.
A seguir são apresentados, respectivamente, três métodos indiretos e dois diretos de seguimento
do ponto de potência máxima mais utilizados.
Tensão fixa: este método consiste em manter o gerador fotovoltaico polarizado em uma tensão
de operação ótima, a fim de se obter o máximo de geração ao longo de um determinado período. O
valor da tensão de polarização (best fixed voltage) é ajustado previamente, escolhido a partir de
informações das características do gerador fotovoltaico, preferivelmente considerando a sequência
histórica de dados de irradiância e temperatura locais. O método da tensão fixa, por sua natureza (a
rigor não é um método de seguimento), é incapaz de responder a variações nas condições atmosféricas,
sombreamentos parciais e alterações nas características do gerador fotovoltaico, decorrentes de
envelhecimento, sujeira etc. Mesmo assim, pode ser útil quando combinado com outros métodos,
especialmente sob condições de baixa irradiância.
Tensão de circuito aberto: este método baseia-se no pressuposto de que a tensão de potência
máxima está relacionada à tensão de circuito aberto por uma constante de proporcionalidade. Assim,
durante a operação, o gerador fotovoltaico é periodicamente desconectado por meio de uma chave
eletrônica, sendo então sua tensão de circuito aberto medida e um novo valor de polarização calculado.
O valor da constante de proporcionalidade é uma característica particular do gerador fotovoltaico,
associada à tecnologia utilizada na fabricação das células fotovoltaicas e também às condições de
irradiância e de temperatura. Valores típicos situam-se entre 0,7 (filmes finos) e 0,8 (silício cristalino).
Embora de fácil implementação, necessitando da medida de uma única grandeza, o método tem como
desvantagem a incapacidade de detectar variações bruscas de irradiância e sombreamentos parciais,
além de requerer uma chave extra para a medição da tensão de circuito aberto, e acarretar uma perda
energética nos momentos em que o gerador fotovoltaico está desconectado.
Perturbe & observe: este método é o mais utilizado em sistemas de seguimento de potência
máxima para inversores conectados à rede. Seu funcionamento consiste em forçar o deslocamento do
ponto de operação em uma dada direção (perturbar) e observar o resultado na potência de saída do
245
gerador fotovoltaico. A modificação no ponto de operação é feita através de pequenos incrementos
(positivos ou negativos) na tensão de polarização a intervalos de tempo determinados. Um incremento
positivo de tensão, por exemplo, refletindo-se em um aumento da potência, indica que o ponto de
operação se deslocou em direção ao ponto de máxima potência e a perturbação deve prosseguir no
mesmo sentido. Quando a potência de saída começar a diminuir, significa que a tensão de máxima
potência foi ultrapassada e a próxima perturbação de tensão deve ser no sentido oposto. O processo se
repete e, como resultado, o ponto de operação fica oscilando em torno do valor exato da tensão de
máxima potência.
Tanto os sistemas fotovoltaicos isolados quanto os conectados à rede são bastante confiáveis. No
entanto, como os SFI operam geralmente em regiões remotas e os conectados à rede operam em
paralelo com a rede, a ocorrência de defeitos ou falhas inesperados pode demorar a ser detectada,
prejudicando o desempenho global do sistema e até mesmo levando-o ao colapso.
4.9.1 - Proteção
246
4.42 apresenta um esquema de uma instalação típica de dispositivos de proteção para um SFCR, que
pode ser facilmente adaptado para um SFI. O SPDA deve proteger a área onde o gerador fotovoltaico
está instalado e a estrutura de abrigo dos dispositivos de condicionamento de potência, e deve estar
conectado a um sistema de aterramento adequado, assim como o inversor, DPS e barramento de
aterramento do quadro geral da instalação.
247
Figura 4.43– Diagrama elétrico de um SIGFI30 de um projeto da Eletrobras Distribuição Acre.
248
dados (sistemas de aquisição e armazenamento de dados), para que eventos indesejáveis possam ser
detectados mais rapidamente.
Sistemas de aquisição e armazenamento de dados podem permitir somente a coleta manual dos
dados no local ou, o que é mais indicado na maioria das aplicações, podem estar conectados a um
sistema de transmissão remota, que envia, de forma automática e periódica, os dados coletados para
um computador do responsável pela operação e manutenção do sistema, via satélite, internet ou rede
de dados móveis (celular). Dessa forma, este sistema integrado pode apresentar ao operador, mesmo
estando distante do local de instalação, dados em tempo real do desempenho do sistema, para que
situações indesejadas sejam detectadas e solucionadas o mais rápido possível.
Figura 4.44 – Pontos de supervisão, controle e aquisição de dados em um SFI. Fonte: Adaptado de (PINHO et al., 2008).
249
Entretanto a instalação desses sistemas deve ser realizada após uma análise custo-benefício. A
complexidade dos sistemas de supervisão e controle deve ser proporcional ao prejuízo que se tem pela
indisponibilidade de energia e, ainda, conforme especificado na regulamentação vigente. Deve-se
também levar em conta a forma como os dados serão transmitidos ao setor de operação do sistema e
como serão analisados, se de forma automatizada ou não. Os serviços de transmissão de dados de
locais remotos podem tornar o custo do sistema de supervisão proibitivo e pode ser mais viável a
aquisição dos dados por coletas manuais. Em geral, sistemas isolados de pequeno porte (centenas de
watt a alguns kW) trabalham sem operação local e sem supervisão e controle remotos devido aos altos
custos, mas podem contar com os recursos de proteção e reconexão dos próprios inversores e
controladores fotovoltaicos.
A Lei n° 12.111/2009 dispõe sobre os serviços de energia elétrica nos Sistemas Isolados e prevê
a cobertura do custo total da geração de energia elétrica para o atendimento ao serviço público de
distribuição de energia elétrica, por meio de recursos da Conta de Consumo de Combustíveis – CCC.
No custo total de energia, estão incluídos os custos relativos à contratação de energia, à geração
própria, aos investimentos realizados etc.
O SCD deverá medir, registrar e armazenar, em base horária, as seguintes grandezas elétricas:
tensão elétrica fase-neutro para cada fase, expressos em quilovolt (kV); corrente elétrica para cada
fase, expressas em ampére (A); potência ativa, expressa em quilowatt (kW); potência reativa, expressa
em quilovolt-ampére-reativo (kvar); energia ativa de cada fase, expressa em quilowatt-hora (kWh);
energia reativa de cada fase, expressa em quilovolt-ampére-reativo-hora (kvarh); valor da frequência,
expressa em hertz (Hz). Os arquivos digitais esses dados devem ser enviados a Eletrobras com
periodicidade de até 3 meses.
4.10 – Referências
251
ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica. Procedimentos de Distribuição de Energia
Elétrica no Sistema Elétrico Nacional – Prodist; Módulo 3 – Acesso ao Sistema de Distribuição.
Revisão 5. 14 de dezembro de 2012c.
GALDINO, MARCO A.; BORBA, AROLDO J. V.; ALMEIDA, VANIA M. DE. Avaliação de
material do MME/Prodeem armazenado no almoxarifado da Chesf em Abreu e Lima-PE.
Relatório Técnico Cepel DTE 14494/2010; dezembro de 2010.
GNB 2. Installation and Operating Instructions For UPSolyte MSA/MSB Batteries. GNB
Manuals. Section 92.10.
LUQUE, A.; HEGEDUS, S. Handbook of photovoltaic science and engineering. 2nd ed.
United Kington: John Wiley & Sons, 2011. 1162 p.
252
NAIR, N.-K. C.; GARIMELLA, N. Battery energy storage systems: Assessment for small-
scale renewable energy integration. Energy and Buildings, n. 42, 2010. p. 2124-2130.
SOARES, GUILHERME FLEURY W.; VIEIRA, LEONARDO DOS SANTOS R.; GALDINO,
MARCO ANTONIO.; LOPES, FRANCISCO DA C.;Análise de Baterias de íon-Lítio para Sistemas
de Geração Suprindo Pequenas Comunidades Isoladas. Eletroevolução – Sistemas de Potência.
ISSN 1806-1877. pp. 62-68. no 66. Março de 2012;
SOARES, GUILHERME FLEURY W.; VIEIRA, LEONARDO DOS SANTOS R.; GALDINO,
MARCO ANTONIO.; OLIVIERI, MARTA MARIA de A.; BORGES, EDUARDO LUIS de P.;
CARVALHO, CLAUDIO MONTEIRO de; .LIMA, ALEX ARTIGIANI N. Comparaçãode custos
entre sistemas fotovoltaicos individuais e minicentrais fotovoltaicas para eletrificação rural. III
CBENS – Congresso Brasileiro de Energia Solar. Belem-PA. 21 a 12 de setembro de 2010.
253
CAPÍTULO 5
254
CAPÍTULO 5 – APLICAÇÕES DE SISTEMAS FOTOVOLTAICOS
Os Sistemas Fotovoltaicos (SFV) podem ser classificados em duas categorias principais: isolados
e conectados à rede. Em ambos os casos, podem operar a partir apenas da fonte fotovoltaica ou
combinados com uma ou mais fontes de energia, quando são chamados de híbridos. A utilização de
cada uma dessas opções depende da aplicação e/ou da disponibilidade dos recursos energéticos. Cada
um deles pode ser de complexidade variável, dependendo da aplicação em questão e das restrições
específicas de cada projeto. Isto pode ser facilmente visualizado, por exemplo, quando se considera a
utilização de um sistema híbrido diesel-fotovoltaico. Neste caso, a contribuição de cada fonte poderá
variar de 0 a 100 %, dependendo de fatores como: investimento inicial, custo de manutenção,
dificuldade de obtenção do combustível, poluição do ar e sonora do grupo gerador a diesel, área
ocupada pelo sistema fotovoltaico, curva de carga etc.
Sistemas isolados (SFI), puramente fotovoltaicos (SFV) ou híbridos (SFH), em geral, necessitam
de algum tipo de armazenamento. O armazenamento pode ser em baterias, quando se deseja utilizar
aparelhos elétricos nos períodos em que não há geração fotovoltaica, ou em outras formas de
armazenamento de energia. A bateria também funciona como uma referência de tensão c.c. para os
inversores formadores da rede do sistema isolado.
Os sistemas isolados de geração de energia contam também com uma unidade responsável pelo
controle e condicionamento de potência composta por inversor e controlador de carga.
255
Figura 5.1 - Configuração básica de um SFI.
Conforme mencionado anteriormente, chamam-se sistemas híbridos àqueles em que existe mais
de uma forma de geração de energia, como por exemplo, grupo gerador a diesel, aerogeradores e
geradores fotovoltaicos. Estes sistemas são mais complexos e necessitam de algum tipo de controle
capaz de integrar os vários geradores, de forma a otimizar a operação para o usuário. Existem várias
configurações possíveis, assim como estratégias de uso de cada fonte de energia. A Figura 5.2
apresenta uma destas possibilidades.
Em geral, utilizam-se sistemas híbridos para o atendimento a cargas em corrente alternada (c.a.)
necessitando-se, portanto, de um inversor. Devido à maior complexidade e multiplicidade de opções e
o constante aperfeiçoamento dessas unidades, a forma de otimização desses sistemas é ainda hoje tema
256
de estudos. Além disso, há de se considerar que a utilização de sistemas híbridos traz uma
complexidade operacional e de manutenção do sistema que é uma questão muito desvantajosa para
empreendimentos em regiões remotas. Este Manual não se aprofunda neste assunto, devendo o
interessado buscar outras fontes de consulta.
Sistemas conectados à rede são aqueles em que a potência produzida pelo gerador fotovoltaico é
entregue diretamente à rede elétrica. Para tanto, é indispensável que se utilize um inversor que
satisfaça às exigências de qualidade e segurança, para que não degrade a qualidade do sistema elétrico
ao qual se interliga o gerador fotovoltaico. Os Sistemas Fotovoltaicos Conectados à Rede (SFCR)
foram incluídos na regulamentação disposta pela Aneel, através da Resolução 482 de abril de 2012,
que estabeleceu preliminarmente as condições gerais para o acesso de microgeração e minigeração
distribuída aos sistemas de distribuição de energia elétrica. A Figura 5.3 mostra o esquema de um
SFCR. Atualmente a regulamentação não permite a operação ilhada desses sistemas, ou seja, em caso
de falta de energia na rede de distribuição o SFCR pára de funcionar.
257
rural no país. Devido ao potencial de uso das diferentes configurações usando fontes intermitentes e à
demanda por atendimento de minirredes isoladas, a Aneel publicou em junho de 2012 a Resolução
Aneel Nº 493/2012 (ANEEL, 2012), que substitui a anterior e estabelece os procedimentos e as
condições de fornecimento por meio de Microssistema Isolado de Geração e Distribuição de Energia
Elétrica (MIGDI), além do Sistema Individual de Geração de Energia Elétrica com Fontes
Intermitentes (SIGFI), o qual já havia sido regulamentado pela resolução anterior.
1
Neste contexto, o termo carga do controlador de carga significa o carregamento, a carga da bateria e não deve ser
confundido com o termo cargas que representam os equipamentos e dispositivos que consomem energia elétrica.
258
Figura 5.4 - Diagrama unifilar de um sistema fotovoltaico domiciliar em c.c.
A Figura 5.6 apresenta um SFD com potência de 285 Wp (3 x 85 Wp) e banco de baterias
12 V/300 Ah (2 x 150 Ah), cuja disponibilidade mínima é de 13 kWh/mês (SIGFI13), instalado pela
259
Eletrobras Distribuição Acre em um domicílio de comunidade extrativista no município de Xapuri, no
âmbito do Programa Luz para Todos.
Figura 5.6 - SFD no município Xapuri, na comunidade extrativista Dois Irmãos, no Acre. Fonte: (Eletrobras, 2010).
Para os SFDs podem ser adotadas basicamente três configurações: atendimento exclusivamente
em c.c., atendimento misto c.c./c.a., e atendimento exclusivamente em c.a. O atendimento
exclusivamente em c.c. encontra-se difundido em países da África e da América do Sul,
particularmente para sistemas de pequena potência (abaixo de 100Wp), contudo apresenta limitações
evidentes quanto ao uso de equipamentos eletrodomésticos convencionais de usos finais. Como já
mencionado, no Brasil a regulamentação Aneel não permite que as distribuidoras utilizem sistemas
puramente c.c. para atendimento de energia elétrica, embora projetos deste tipo venham sendo
implantados no país há muitos anos por diversas outras instituições (ONGs, universidades,
cooperativas etc.), ou mesmo por conta própria dos proprietários. A Figura 5.7 apresenta um diagrama
unifilar deste tipo de configuração.
260
Nos projetos mistos de SFDs, adota-se a configuração apresentada na Figura 5.8, que consiste
em um circuito em corrente contínua, para iluminação e/ou refrigeração, e um circuito em c.a. a partir
de um inversor para alimentação de TV e outras pequenas cargas em c.a. Esta configuração apresenta a
vantagem de manter o fornecimento de energia aos equipamentos c.c. e à iluminação se ocorrer falha
no inversor. Como desvantagens tem-se a maior complexidade no gerenciamento da instalação no que
concerne à definição de interrupção de atendimento (falha do sistema2), os custos da instalação
associados com o circuito c.c., a maior dificuldade do usuário no entendimento do funcionamento do
sistema e equipamentos com dois tipos e níveis de tensão, sem poder deixar de mencionar a pior
relação qualidade/preço das luminárias c.c. em relação às luminárias c.a.
2
A ocorrência de uma falha no inversor representa uma interrupção parcial, situação que dificulta o processo de
fiscalização para avaliação da qualidade do serviço da distribuidora. O uso desta configuração no contexto da programa do
governo federal para universalização do acesso à energia elétrica exigiria um tratamento diferenciado para as situações de
interrupções parciais.
261
Figura 5.9 - SFD constituído por um único inversor alimentando todas as cargas da instalação.
A eletrificação rural de comunidades isoladas também pode ser feita por sistemas coletivos,
denominados MIGDI, conforme a RN 493/2012, ou minirredes. Em algumas localidades isoladas no
Brasil se utilizam sistemas com minirredes de distribuição para o fornecimento de eletricidade, onde a
fonte de geração de energia elétrica mais comumente difundida é o grupo gerador a diesel. No entanto,
este tipo de sistema apresenta um alto custo operacional, em função da manutenção do grupo gerador e
do consumo e transporte do óleo diesel, que ainda é maximizado quando as comunidades atendidas
localizam-se em áreas extremamente afastadas dos centros urbanos, convivendo com condições
precárias de acesso. Devido a esse alto custo operacional, muitos desses sistemas operam em
condições precárias de manutenção e fornecimento do combustível. Outras desvantagens relacionadas
aos grupos geradores a diesel são de caráter socioambiental, associadas ao transporte do óleo diesel, a
possíveis vazamentos, à emissão de gases poluentes e à produção de ruído. Alguns aspectos negativos
do fornecimento de energia elétrica através de grupos geradores a diesel são minimizados e outros são
eliminados com a utilização de recursos energéticos locais.
Neste contexto é que são aplicados os sistemas fotovoltaicos ou híbridos de geração de energia
elétrica. Esses sistemas visam fornecer energia elétrica de forma confiável e, ao mesmo tempo,
diminuir a dependência de recursos externos. As fontes renováveis de energia mais comumente
utilizadas neste tipo de sistema são a solar e a eólica. O dimensionamento adequado dos geradores de
energia elétrica através de fontes renováveis, do banco de baterias, e a utilização de uma estratégia de
operação que otimize os recursos disponíveis, deve ter como objetivo minimizar ou eliminar a
utilização do grupo gerador a diesel e maximizar a vida útil do banco de baterias, diminuindo os custos
de operação e manutenção do sistema.
262
A Figura 5.2 apresenta um diagrama básico de um sistema híbrido, Fotovoltaico-Eólico-Diesel,
onde a carga representada pode ser uma minirrede com as unidades consumidoras de uma comunidade.
Os tipos de fontes de geração usadas, bem como suas potências nominais e suas participações
energéticas no sistema híbrido, devem privilegiar o aproveitamento dos recursos energéticos locais. A
utilização de mais de uma fonte de energia, mesmo inicialmente indicando um maior custo na
implantação do sistema híbrido, pode contribuir para uma maior confiabilidade no atendimento dos
consumidores, já que a probabilidade de que todas as opções de geração de energia estejam
inoperantes, ou momentaneamente indisponíveis, é menor, quando comparada com o caso de geração
por uma única fonte de energia. Um sistema híbrido também tem a vantagem de poder ser modular em
sua implantação, adequando sua capacidade de geração à disponibilidade de recursos financeiros, por
exemplo. Em contrapartida, os sistemas híbridos aumentam significativamente a complexidade de
projeto, instalação e operação do sistema de geração que é pode se tornar crítica em comunidades
isoladas remotas.
Recentemente tem havido uma discussão no setor de eletrificação rural sobre critérios para a
escolha de SIGFI ou MIGDI para atendimento rural, principalmente em comunidades remotas. Os
custos envolvidos podem variar bastante dependendo do tipo de inversor e de bateria utilizados, do
grau de automação e do monitoramento, do tipo de terreno para a construção do abrigo da central
geradora etc. Dependendo desses fatores e de acordo com alguns estudos do Cepel e da Eletrobras, o
MIGDI pode apresentar custos de geração equivalentes ao SIGFI, considerando-se uma mesma
comunidade, a partir de 10 a 20 unidades consumidoras.
263
Figura 5.10 – Sistema MIGDI fotovoltaico da comunidade de Sobrado no Amazonas. Fonte: (Eletrobras. Apresentação na
1º INOVA FV, 2011).
Os MIGDIs apresentam maior custo de implantação por unidade atendida devido aos gastos com
o abrigo para os equipamentos, com a minirrede de distribuição e devido à necessidade de implantar
uma maior capacidade em painéis fotovoltaicos e baterias para compensar as perdas energéticas na
distribuição. Apresentam ainda desvantagem em relação ao SIGFI no que diz respeito à manutenção da
rede de distribuição, à obrigação de implantação do sistema SCD3 e à maior dificuldade do controle de
consumo de energia. Ao se optar por sistemas coletivos, é altamente recomendável a utilização de
algum tipo de controle para impedir que um usuário consuma mais que o devido e prejudique os
demais, questão esta que não se aplica aos sistemas individuais. Os MIGDIs apresentam vantagem em
relação à reposição de inversores e controladores, porque utilizam menor quantidade destes
componentes por unidade consumidora (UC) atendida e utilizam inversores maiores e mais robustos,
ocasionando um menor custo das visitas de manutenção. Estas são determinadas pelas falhas de
inversores, controladores e ocorrências de outra natureza, geralmente mais pertinentes aos sistemas
individuais do que aos sistemas coletivos. Os MIGDIs são beneficiados com o aumento do número de
UCs, porque isto dilui o custo de manutenção da rede e aumenta a diferença no número de
controladores e inversores dos sistemas individuais em relação à central.
As principais cargas atendidas pelos sistemas SIGFI e MIGDI são lâmpadas e TV/antena
parabólica. O Programa Luz para Todos determina que o sistema possa também alimentar um
3
A Lei n° 12.111/2009 prevê a cobertura através de recurso subsidiado do custo da geração de energia elétrica para o
atendimento ao serviço público nos Sistemas Isolados. O Sistema de Coleta de Dados Operacionais – SCD é constituído
por um conjunto de equipamentos responsáveis pela medição, registro, armazenamento e disponibilização dos dados de
operação das usinas, referentes às grandezas elétricas e ao consumo de combustíveis, com o principal objetivo de
possibilitar ao agente gerador o ressarcimento de parte dos seus custos totais de geração, incluídos custos com
combustíveis. No caso específico de MIGDI e SIGFI, a Resolução Normativa ANEEL n° 493/2012 estendeu para estes
sistemas a cobertura pela CCC (Conta de Consumo de Combustíveis) de parte dos custos de geração, desde que os mesmos
atendam localidades remotas dos Sistemas Isolados. A obrigatoriedade de instalação do SCD é exigida para os sistemas
MIGDI, mas não para os sistemas SIGFI.
264
refrigerador. Outros eletrodomésticos encontrados comumente nas comunidades são: ventilador,
aparelho de som, carregador de celular, liquidificador ou similar para bater polpas.
Como regra geral, a água é bombeada e armazenada em reservatórios, para sua posterior
utilização, os quais são dimensionados para determinado número de dias de autonomia (da mesma
forma que um banco de baterias).
Figura 5.11 – Diagrama esquemático de um sistema fotovoltaico de abastecimento de água. Fonte: Modificado de
(FRAINDENRAICH, 2002).
Em utilizações comerciais, o gerador fotovoltaico costuma ser fixo, ainda que seja viável a
utilização de rastreadores solares, os chamados tracking systems, que aumentam a captação de energia
na superfície do gerador, e, portanto, a energia útil, com o consequente incremento do volume de água
4
Conjunto motobomba – conjunto composto por bomba hidráulica acionada por um motor elétrico.
265
bombeado. Estudos comparativos de sistemas de bombeamento com e sem rastreador, sob
determinadas condições de funcionamento, mostraram que, no primeiro caso, o ganho na quantidade
de água bombeada pode atingir até 41 % em relação ao gerador fixo.
O gráfico da Figura 5.12 mostra a faixa de aplicação dos SBFVs, em termos da vazão e da
profundidade requeridas para o sistema, utilizando o parâmetro m4 (m3 x m). Para valores de m4
inferiores a 50, considera-se adequado o bombeamento manual, enquanto que para valores superiores a
2.000, o bombeamento fotovoltaico não é considerado viável.
As configurações mais utilizadas em SBFVs são apresentadas na Figura 5.14. As opções com
linhas em azul-escuro são as de maior ocorrência, e as em azul-claro são as menos frequentes.
266
Para sistemas em corrente contínua, o condicionamento de potência pode ser feito tanto com a
utilização de conversor c.c.-c.c., quanto mediante acoplamento direto gerador–motobomba. Já para
sistemas em corrente alternada, são utilizados inversores c.c.-c.a. Com a finalidade de otimizar a
captação de energia em condições variáveis de irradiância, em ambos os casos, podem ser utilizados
seguidores do ponto de máxima potência.
Com relação às bombas, para aplicações de pequena potência (até 250 Wp), as mais utilizadas
são as de deslocamento positivo de diafragma, ou ainda bombas centrífugas de estágio único ou de
poucos estágios. Para aplicações de grande potência, as bombas utilizadas são as centrífugas
multiestágios e de deslocamento positivo helicoidais.
As bombas centrífugas são indicadas para grandes vazões e menores alturas manométricas, pois
para alturas manométricas elevadas esse tipo de bomba apresenta redução na eficiência. Já para
grandes alturas manométricas e menores vazões, são mais indicadas as bombas de deslocamento
positivo, principalmente do tipo helicoidal. No entanto, apesar de apresentarem maior eficiência se
comparadas com as bombas centrífugas, as helicoidais exigem maior torque de arranque do motor, o
que deve ser considerado no dimensionamento do gerador fotovoltaico.
A Figura 5.13 apresenta as faixas de operação para os diversos tipos de motobombas de SBFVs.
267
Figura 5.13 – Tipos de motobombas para SBFVs em função da profundidade e da vazão (adaptado de TIBA, 1998)
268
Figura 5.14 – Configurações utilizadas para sistemas de bombeamento fotovoltaico. Fonte: Modificado de (KONER, 1993) e (MALBRANCHE et al., 1994).
269
No que concerne à otimização (técnica e econômica) de um sistema de bombeamento, além dos
cuidados no dimensionamento, deve-se buscar o funcionamento no ponto de máxima potência do
gerador fotovoltaico e priorizar equipamentos com reduzido torque de partida do motor.
Uma tecnologia que foi desenvolvida por diversos grupos de pesquisa no Brasil é a utilização de
motobombas elétricas convencionais (dotadas de motores de indução c.a. trifásicos) acionadas por
inversores de frequência industriais5, com programação adequada. Embora o inversor seja um
equipamento adicional, estudos mostram que pode haver redução no custo final do volume bombeado
(R$/m3), por serem utilizadas bombas mais baratas. Além disso, tratam-se de equipamentos
(motobomba e inversor) de fabricação nacional, facilmente encontrados no comércio, o que facilita
também a manutenção e reposição de peças.
Sistemas de irrigação.
Ainda que a tecnologia ofereça diversas possibilidades em termos de potência, a maioria dos
sistemas de bombeamento fotovoltaico instalados no Brasil não ultrapassa os 2 kWp de potência, com
altura manométrica média em torno de 60 mca6 e vazão de até 40 m3/dia. Ou seja, o nicho de aplicação
do bombeamento fotovoltaico no país, devido a suas características de utilização, é para abastecimento
humano e uso doméstico em pequenos povoados localizados em zonas rurais remotas.
Existem duas categorias principais de bombas que podem ser usadas em sistemas fotovoltaicos
isolados: centrífugas e volumétricas (de deslocamento positivo), as quais têm características e
princípios de funcionamento diferentes.
5
Tratam-se de acionamentos eletrônicos de velocidade variável para motores de indução trifásicos.
6
mca – metros de coluna de água, algumas vezes apresentada apenas em metros (m).
270
5.2.1.1 – Bombas centrífugas
Em geral, as bombas centrífugas são adequadas para aplicações que exigem grandes volumes de
água (elevadas vazões) e pequenas alturas manométricas (reservatórios superficiais ou cisternas).
Possuem pás ou rotores que giram em alta velocidade, criando pressão e forçando o fluxo de água.
As bombas centrífugas são projetadas para alturas manométricas fixas e sua saída de água
aumenta com o aumento da velocidade de rotação das pás. A eficiência destas bombas decresce para
alturas manométricas e vazões diferentes do seu ponto de projeto.
As características de operação das bombas centrífugas acionadas por motores c.c. adequam-se
razoavelmente bem à saída do gerador fotovoltaico. Assim, pelo fato de partirem gradualmente e sua
vazão aumentar com a corrente elétrica (maiores níveis de irradiância), elas podem ser conectadas
diretamente ao gerador fotovoltaico, sem necessidade de inclusão de bateria. Entretanto, um bom
casamento entre a bomba e o gerador fotovoltaico é necessário para um eficiente funcionamento, o que
exige um profundo conhecimento das características de ambos.
As bombas centrífugas são adequadas a uma ampla faixa de valores de vazão. Existem sistemas
instalados com capacidades que vão até cerca de 1.000 m3/h.
Figura 5.15 – Vista em corte de uma bomba centrífuga. Fonte: Catálogo comercial BOMAX.
271
5.2.1.2 – Bombas volumétricas
Figura 5.16 – Corte de uma bomba (somente o elemento bombeador) tipo parafuso, permitindo visualizar o rotor
helicoidal e a forma construtiva interna de seu estator em material sintético (borracha); externamente, a bomba é o tubo em
aço inox visto à direita. Fonte: (GALDINO, 2005).
272
As características de operação das bombas volumétricas não se ajustam tão bem com a saída do
gerador fotovoltaico quanto as das centrífugas. Por isso, não são muito adequadas para ligação direta
aos geradores fotovoltaicos, necessitando de controladores eletrônicos para ajustar o ponto operacional
do gerador fotovoltaico e proporcionar a corrente necessária para a partida da bomba, que demanda
mais potência do que a partida da bomba centrífuga (torque de partida elevado). Contudo, pequenas
mudanças nos níveis de irradiância sobre o gerador fotovoltaico diminuem a velocidade do motor,
reduzindo a vazão, mas não reduzem sua capacidade de atingir a altura manométrica necessária, como
acontece no caso das bombas centrífugas. Por este motivo, uma bomba do tipo deslocamento positivo
tem condições de atingir a altura manométrica desejada e continuar bombeando água, ao longo de todo
o dia.
Baterias também podem ser usadas entre a bomba volumétrica e o gerador fotovoltaico, para
fornecer uma tensão estável para partida e operação da bomba. Além disso, permitem a partida do
motor, mesmo quando os níveis de irradiância estiverem baixos. Na maioria das vezes, os
controladores e as baterias não são dimensionados para permitir o bombeamento de água durante a
noite, mas somente para dar estabilidade à operação do sistema.
As bombas volumétricas são geralmente instaladas quando se necessitam vazões na faixa de 0,3
a 40 m3/dia e alturas manométricas de 10 a 500 metros.
A Figura 5.17 apresenta o diagrama expandido de uma bomba de deslocamento positivo tipo
diafragma.
273
Figura 5.17 – Diagrama expandido de uma bomba de deslocamento positivo tipo diafragma. Fonte: Catálogo comercial
BOMAX.
Deve-se escolher uma bomba ou grupo motobomba para operar próximo ao ponto de máxima
eficiência, sob as condições necessárias de altura manométrica e vazão. Tanto a bomba centrífuga
quanto a volumétrica podem ser acionadas por motores c.a. ou c.c. A escolha do tipo de motor mais
adequado depende do volume de água necessário, da potência requerida para atingir a altura
manométrica desejada, da eficiência (geralmente mais elevada para motores c.c.), do custo (geralmente
menor para motores c.a.), da necessidade do motor estar submerso ou não, das dimensões impostas
pelo poço (no caso do motor estar colocado dentro do poço), da confiabilidade, da disponibilidade e da
facilidade para a realização de manutenção.
Os motores c.c. são bastante adequados, em função da sua compatibilidade com a fonte de
energia fotovoltaica e porque sua eficiência é geralmente mais elevada, se comparada à dos motores
c.a. Entretanto, seu custo inicial é mais elevado e os motores com escovas necessitam de manutenção
periódica.
Tipicamente, os motores c.c. precisam de comutação de escovas e são projetados para operarem
por longo tempo. Entretanto, devido ao desgaste natural, as escovas devem ser substituídas
periodicamente. Contudo, existem os motores c.c. sem escovas, que possuem como vantagens o
aumento da confiabilidade do sistema e a reduzida necessidade de manutenção. Estes motores são
geralmente de menor potência (motores c.c. não são comumente disponíveis em potências superiores a
10 cv).
274
Os motores c.c. sem escovas têm o rotor formado pelos imãs permanentes e o estator pelos
eletroímãs. Nestes motores os eletroímãs são energizados eletronicamente, enquanto o rotor gira, o que
os faz superar os motores c.c. com escova, já que não apresentam o centelhamento, o aquecimento e o
consequente desgaste das escovas. Além disso, os intervalos de manutenção são maiores, o que é
especialmente importante para os sistemas de bombeamento em áreas remotas, onde a necessidade de
manutenção deve ser a menor possível. Entretanto, os dispositivos eletrônicos que compõem os
motores c.c. sem escovas são possíveis fontes de defeitos e, por isso, devem ser utilizados dispositivos
com alta confiabilidade em ambiente severos.
Os motores c.a. adicionam complexidade ao sistema, pois exigem a inclusão de um inversor para
transformar a corrente contínua, produzida pelo gerador fotovoltaico, em corrente alternada, além de
causar perdas extras de energia. Entretanto, possuem a vantagem de ter preços mais baixos e são mais
facilmente encontrados no mercado.
Os motores c.a. são geralmente melhores quando a aplicação necessita de potência acima de
10 cv (7.500 watts), embora alguns fabricantes recomendem o uso de motores c.a. para todas as faixas
de potência.
Há inversores que aceitam uma extensa faixa de tensões, produzidas pelo gerador fotovoltaico, e
são conectados diretamente a um motor c.a., sem o uso de baterias. O mercado oferece sistemas de
bombeamento solares que utilizam um inversor especial para acionar um motor c.a., trifásico, acoplado
diretamente ao gerador. Alguns inversores possuem um seguidor do ponto de máxima potência
(MPPT), que otimiza o funcionamento do sistema.
Além das características técnicas do SBFV em si, uma preocupação adicional do implementador
deste tipo de sistema deve ser a qualidade da água que está sendo captada, em função do fim a que se
destina.
275
compostos nitrogenados e cloretos, que são considerados indicadores de contaminação orgânica, além
de inúmeros outros elementos e compostos químicos, tais como Chumbo, Cádmio, Mercúrio, Arsênio,
substâncias orgânicas e agrotóxicos.
De uma forma geral, nas áreas rurais, as águas subterrâneas (poços) são consideradas menos
contaminadas do que as águas superficiais (corpos d’água). Ainda assim, também podem apresentar
contaminação orgânica proveniente de fossas sépticas, por exemplo, além de contaminação por
agrotóxicos usados na lavoura, principalmente em poços no lençol freático (poços rasos).
A dureza é ligada principalmente à concentração dos íons de Cálcio (Ca+2) e Magnésio (Mg+2),
que são os de maior concentração nas águas, e é expressa no número de equivalente de miligramas por
litro (mg/L) de carbonato de Cálcio (CaCO3), embora sejam também presentes sulfatos, cloretos e
nitratos de Cálcio e Magnésio.
Condutividade Salinidade
Sabor
(µS/cm) (mg/L)
0 - 400 0 - 250 bom
400 - 750 250 - 500 médio
750 - 1500 500 -1000 medíocre
> 1500 > 1000 ruim
276
À guisa de exemplo, a Tabela 5.3 apresenta dados de salinidade de um conjunto de poços
dotados de SBFVs localizados na Região Nordeste, que foram medidos em trabalhos de campo
efetuados pelo Cepel. Observa-se que, por comparação com os dados apresentados na Tabela 5.2,
apenas dois deles teriam água adequada ao consumo humano.
Tabela 5.3 – Condutividade da água de poços na região Nordeste. Fonte: (GALDINO, 2008).
Condutividade
Localidade do poço
(µS/cm)
Monte Belo, PI 152
Bangüê, PI 253
Garapa II, PB 1149
Firmeza, BA 1280
Quixabinha, BA 1423
Olho d’Agüinha II, PB 1678
Passarinho, BA 2074
Quixaba, PB 2398
Serra Preta, BA 2567
Marí, BA 3022
Angicos, PE 3733
Caraça, PB 5590
Caiçara, PE 6190
Em poços que apresentam salinidade bastante elevada, como os listados na Tabela 5.3, deve
haver também preocupação em relação à especificação dos materiais empregados em bombas,
tubulações etc., que deve ser compatível com o nível de salinidade, caso contrário, estes podem estar
sujeitos à corrosão, resultando em falhas no SBFV.
Desde o início de suas aplicações terrestres, os SFV são usados para fornecer energia para a área
de telecomunicações, devido à sua simplicidade e reduzida manutenção. A confiabilidade das fontes de
energia para a maioria das aplicações nesta área deve ser bastante alta. Geralmente, esses sistemas
necessitam de baixa potência e são instalados em áreas remotas com acesso limitado e,
frequentemente, com severas condições climáticas (vento, maresia). Com relação à energia necessária
para atender determinada carga, esta varia de acordo com o modo de operação e o tempo de utilização
dos equipamentos.
277
Algumas vezes, para reduzir o custo inicial, especialmente se a demanda da potência máxima é
muito maior do que a demanda média, utilizam-se sistemas híbridos.
Auxílio à navegação;
Pesquisas científicas.
Outras aplicações para os sistemas fotovoltaicos ainda podem ser apresentadas, tais como:
Proteção Catódica, Cerca Elétrica e Dessalinização.
278
5.4.1. - Proteção catódica
Os sistemas fotovoltaicos podem ser utilizados para proteção catódica, de forma a impedir a
corrosão de estruturas metálicas enterradas. Na corrosão galvânica7, o processo corrosivo de uma
estrutura metálica enterrada ou submersa se caracteriza sempre pelo aparecimento de uma tensão
galvânica e das respectivas áreas anódicas e catódicas na superfície do material metálico, com a
conseqüente ocorrência de um fluxo de corrente elétrica no sentido convencional, das áreas anódicas
para as áreas catódicas, através do eletrólito, sendo o retorno desta corrente elétrica realizado por
intermédio do contato metálico entre estas regiões.
A região onde ocorre a corrosão é denominada de anodo, no qual o Ferro se oxida (se transforma
em óxido), enquanto que a região em que o eletrólito produz gás Hidrogênio (H2) e íons oxidrila (OH-)
é denominada de catodo. As regiões anódicas e catódicas geralmente são bastante próximas no
material.
Nas situações práticas, o eletrólito é a água existente no solo, que possui impurezas podendo ser
de característica ácida ou básica. Pelo fato da densidade do eletrólito variar sazonalmente e, em alguns
casos, até diariamente, os projetos de sistema de proteção catódica, tornam-se bastante complexos.
O conceito básico da proteção catódica é simples, ou seja, se a perda de elétrons de um metal que
está enterrado puder ser impedida, então não haverá corrosão.
Existem, assim, basicamente dois métodos pelos quais se pode aplicar a técnica de proteção
catódica, ambos fundamentados no mesmo princípio, ou seja, injeção de uma corrente elétrica na
estrutura metálica, através do eletrólito.
7
Outra forma de corrosão é a denominada corrosão eletrolítica, causada por correntes elétricas existentes no solo, que
atravessam o metal enterrado. A corrosão ocorre no ponto onde a corrente sai do metal.
279
No primeiro método, denominado de proteção catódica galvânica, o fluxo de corrente elétrica
fornecido origina-se da diferença de potencial existente entre o metal a proteger e outro metal
escolhido como anodo (anodo de sacrifício) e que tem um potencial eletroquímico mais negativo.
Neste caso, é o anodo de sacrifício, geralmente de Magnésio, Zinco ou Alumínio, que será corroído,
protegendo o outro metal. As vantagens da proteção catódica galvânica são de que não necessita de
uma fonte externa de corrente elétrica e de que sua manutenção é simples, porém, como desvantagem,
possui vida útil limitada, pois os anodos de sacrifício vão sendo consumidos (corroídos) no processo
de gerar a corrente de proteção e necessitam ser repostos. Pela lei de Faraday, para eletrodos de Zinco,
o consumo do material seria de ~10,7 kg/A.ano, enquanto que no caso do Magnésio seria de
~3,9 kg/A.ano, contudo, devido às ineficiências do processo, os valores reais são bastante superiores a
estes.
No segundo método, a chamada proteção catódica por corrente impressa, a corrente elétrica é
produzida pela força eletromotriz de uma fonte geradora de c.c. em baixa tensão (retificador, bateria ou
gerador) utilizando um conjunto dispersor de corrente no eletrólito, constituído de anodos inertes,
chamado leito de anodos. Os materiais de uso mais comum para anodos inertes são o grafite, Ferro-
Silício e Titânio revestido com óxidos de metais nobres. As vantagens da proteção catódica por
corrente impressa é que pode ser regulada com facilidade e pode ser projetada para vida útil bastante
longa. O sistema elétrico, porém, necessita de manutenção periódica, e os anodos inertes também
sofrem corrosão, embora a uma taxa bastante reduzida, e eventualmente também terão de ser repostos.
280
Figura 5.19 – Proteção catódica por corrente impressa (sistema com fonte elétrica convencional).
Entre os dois métodos de controle da corrosão, o mais eficaz para ser utilizado em eletrólitos
com qualquer valor de resistividade elétrica é o por corrente impressa, ou seja, aplicação de uma
tensão, a partir de uma fonte de energia externa.
Ele é quase sempre usado quando existe uma fonte de energia disponível no local, geralmente de
baixa tensão c.c., utilizada para “vencer” o potencial galvânico entre o metal enterrado e o anodo.
Neste caso, um ou mais anodos são enterrados nas proximidades do metal a ser protegido e a fonte de
tensão externa é conectada entre estes anodos e o metal a ser protegido.
Para interromper o movimento natural da corrente elétrica que flui do metal para o eletrólito,
podem também ser utilizados sistemas fotovoltaicos, que fornecem a tensão necessária para reverter o
fluxo de corrente, que passa a ser do anodo para o metal ser protegido.
Deve-se projetar um sistema que forneça sempre uma corrente maior e de sentido oposto à
corrente que causa corrosão. O dimensionamento do sistema de proteção catódica precisa obedecer à
lei de Ohm. Correntes excessivas devem ser evitadas, pois elas podem resultar na formação de bolhas
no revestimento que protege o metal ou ocasionar uma fragilização por Hidrogênio no metal. A
corrente necessária dependerá de muitos fatores tais como: tipo de metal, área do metal em contato
com o eletrólito (superfície exposta do metal), composição do eletrólito, eficácia do revestimento do
metal, efeito da polarização, características do solo onde o metal está enterrado (resistividade), forma
da superfície do metal (cilíndrica, plana) e tipo e tamanho do anodo utilizado. A Tabela 5.4 apresenta a
ordem de grandeza da densidade de corrente em algumas situações.
281
Tabela 5.4 – Densidade de corrente para proteção catódica. Fonte: (SANDIA, 1991).
Densidade de
corrente
(mA/m2)
aço sem revestimento, em solo úmido 32
aço sem revestimento, em solo arenoso 11
aço sem revestimento, na água do mar 54
aço revestido, em solo úmido 0,22
A corrente necessária para proteger a superfície exposta do metal pode ser reduzida de ordens de
grandeza, se o metal for revestido por uma camada protetora adequada, antes da sua instalação,
conforme mostra a Tabela 5.4. A tensão a ser aplicada pelo sistema depende da corrente necessária e
da resistência total do circuito de proteção catódica. A corrosão começa na superfície exposta do metal
e gradativamente penetra no mesmo.
Na Figura 5.20 pode-se observar o perfil de tensão ao longo de uma tubulação protegida, que
tem uma característica exponencial, conforme expresso pela Equação 5.1. A corrente injetada pelo
sistema de proteção catódica deve ser suficiente para garantir a tensão mínima necessária para impedir
a corrosão (Vmin) a uma distância L/2 da fonte, de forma a proteger toda a tubulação de comprimento
L. O parâmetro r na Equação 5.1 é função da resistência da tubulação por unidade de comprimento.
Existe, portanto, um compromisso entre o comprimento protegido, a tensão necessária e a energia
consumida: valores elevados de Vmax protegem comprimentos longos e requerem menos sistemas de
proteção para protegerem um determinado comprimento de tubulação, mas implicam em maior
consumo de energia por unidade de comprimento de tubulação.
Figura 5.20 – Perfil da tensão ao longo de uma tubulação protegida por um sistema de proteção catódica. Fonte:
(TANASESCU et al., 1988).
282
(5.1)
Alguns sistemas de proteção catódica possuem um resistor variável, que permite ajustar
periodicamente a corrente a ser impressa e compensar os efeitos causados pela mudança das
características do solo, pela corrosão da área superficial do anodo, polarização, tipo de anodo etc.
Neste tipo de aplicação, os sistemas fotovoltaicos estão substituindo a maneira usual de obtenção
de energia elétrica, que é conseguida retificando-se a corrente alternada, fornecida pela rede elétrica
convencional. Um sistema fotovoltaico típico para esta aplicação poderia ser composto por um módulo
de 60Wp, uma bateria 12V/90Ah e um controlador de carga.
Torres de transmissão
Tanques de armazenamento
Pontes
Dutos de petróleo
283
Figura 5.21 – Diagrama de um sistema fotovoltaico para proteção catódica.
Nas áreas rurais é comum o uso de cercas elétricas para proteção de propriedades ou para
contenção de animais na criação de bovinos ou caprinos. No confinamento de animais, a cerca elétrica
pode representar vantagens econômicas em relação à cerca convencional, incluindo menor custo de
material (arames, mourões) e de mão de obra, além de demandar menos tempo de construção.
No caso dos animais confinados, são ainda citadas as seguintes vantagens para a cerca elétrica,
sobre a cerca convencional.
É importante ressaltar que a cerca elétrica, quando bem instalada e com boa manutenção, não
apresenta risco de choque elétrico fatal ou dano físico aos animais ou ao homem.
Por todas as suas vantagens, a utilização de cercas elétricas é considerada boa alternativa, porém
necessita de fornecimento contínuo de eletricidade, a qual nem sempre é disponível em regiões rurais.
A energização de cercas com SFVs torna-se uma realidade bastante viável nessas condições, pois pode
284
suprir, a um custo acessível, o abastecimento que seria feito via rede convencional da concessionária.
Esta aplicação tem sido atendida por sistemas fotovoltaicos não somente no Brasil, mas também em
outros países, como, por exemplo, a Austrália.
Figura 5.22 – Diagrama genérico para cerca elétrica com alimentação fotovoltaica.
O eletrificador, alimentado pela tensão de 12 V, gera pulsos elétricos de alta tensão e curta
duração, cujo princípio de funcionamento é condicionamento provocado pelo choque sobre os animais.
A tensão do pulso pode ser configurável no eletrificador, de acordo com o tipo de animal a ser
confinado, sendo que alguns recomendam que não seja inferior a 5 kV.
O eletrificador deve ser convenientemente aterrado, dotado de proteção adequada para evitar
danos por descargas atmosféricas e instalado em local abrigado da chuva e do sol. O sistema
fotovoltaico deve ser instalado próximo ao eletrificador, com o painel fixado em local elevado (poste),
fora do alcance de pessoas e animais. O eletrificador deve ser instalado no centro geométrico do
perímetro da cerca (os pontos mais afastados devem estar eqüidistantes do eletrificador), ou o mais
próximo possível deste. A capacidade do eletrificador normalmente é mencionada pelo fabricante em
kilômetros de extensão de cerca.
285
O aterramento do eletrificador de cerca elétrica não serve para proteção elétrica, como numa
instalação convencional, mas é parte integrante do sistema, pois quando o animal toca na cerca, o
circuito é fechado pelas patas do animal na terra e, caso o aterramento não seja adequado, o choque
poderá ser insuficiente para repelí-lo. O número de hastes para compor a malha de aterramento é
variável em função da condutibilidade elétrica do solo e os fabricantes normalmente recomendam
utilizar, no mínimo, três hastes de 2,40 m, com separação de 3m. Cabos de 4 mm2 são recomendados
para ligação do eletrificador às hastes. Não é permitido o a conexão do aterramento da cerca elétrica a
um sistema de aterramento já existente em uma instalação convencional, pelo contrário, o sistema de
aterramento da cerca deve ser instalado afastado deste pelo menos 10 m.
A cerca deve ser de arame liso, de tipo específico para cerca elétrica (jamais arame farpado), que
tem uma pesada galvanização e baixa resistência elétrica (~0,05Ω/m). Arames em aço inox também
são usados. Arame galvanizado comum é uma opção mais barata, porém, caso os arames sejam
atacados pela corrosão, a eficácia da cerca será reduzida, pois sua resistência elétrica fica aumentada.
Devem ser evitadas conexões entre fios de cobre e o arame da cerca, pois resultam em corrosão no
ponto de contato entre os dois metais. Deve-se lembrar que eletrificar arame farpado pode ser
perigoso, tanto para os animais, que podem se ferir caso toquem na cerca, se assustem e saltem, como
ainda mais para o homem, pois uma pessoa ao tocar na cerca pode também se assustar e se enroscar.
A forma de instalação dos arames depende do tipo de animal a ser confinado, podendo-se adotar
de 1 a 4 arames, em diferentes configurações (alturas e forma de conexão elétrica). Uma possível
configuração para locais em solos secos e com alta resistividade, seria uma instalação em 3 arames,
sendo eletrificados apenas os arames das extremidades (arames superior e inferior), enquanto que o
arame central é aterrado com auxílio de uma haste a cada 1km, pelo menos. Podem ser usados
mourões comuns de madeira, que possuem boa rigidez mecânica e bom isolamento elétrico (quando
secos). O arame não precisa ser muito tensionado, como nas cercas convencionais, o que diminui a
quantidade de mourões necessários, os quais nas cercas elétricas normalmente são afastados
tipicamente entre 20 m e 30 m, o que pode ainda contribuir para redução de uso de madeira nativa
(desmatamento).
Como exemplo, as características de um caso real (COSTA et al., 2006) de uma cerca elétrica
para o confinamento de caprinos alimentada por meio de um sistema fotovoltaico, são as seguintes:
Bateria 12V/40Ah;
Eletrificador 10 km/1,5J
286
Para o bom desempenho da cerca, o corte da vegetação sob a cerca deve ser regular, pois o
contato da vegetação com o arame causa correntes de fuga, que reduz o choque e desperdiça energia.
As cercas elétricas devem ser adequadamente sinalizadas por meio de placas de advertência a
intervalos regulares, para evitar acidentes pessoais, principalmente em trechos próximos a estradas,
trilhas etc. Para informações detalhadas, a norma ABNT NBR IEC 60335-2-76, que trata da segurança
de eletrificadores de cerca com tensão nominal até 250 V, deve ser consultada.
A Terra tem aproximadamente 3/4 de sua área coberta por água, sendo, porém, salgada cerca de
97 % da água disponível, o que implica em escassez de água doce em algumas regiões do planeta.
Portanto, preservação de mananciais existentes e criação de novas alternativas para aproveitamento de
parte da água salgada existente é uma necessidade premente no mundo.
A osmose reversa consiste na aplicação de uma pressão superior à pressão osmótica no tanque de
maior concentração salina, de modo que o movimento do solvente (a água) se faça no sentido inverso
ao natural, passando do lado mais concentrado para o de menor concentração. Este é um processo mais
rápido e eficiente que os anteriores. Apesar do custo de aquisição relativamente elevado e do custo de
operação (energia consumida), principais desvantagens do sistema, em alguns casos, o retorno do
investimento9 do dessalinizador por osmose reversa pode se dar em poucos anos.
8
Pressão osmótica – força que promove o deslocamento da água de uma solução menos concentrada para outra mais
concentrada através de uma membrana semipermeável.
9
Como informação de ordem de grandeza, dessalinizadores por osmose reversa de pequeno porte, vazão de 200 l/h, podem
ser encontrados no mercado a valores que chegam a cerca de R$ 10.000,00, excluindo custos de instalação e do gerador
fotovoltaico.
287
dessalinizadores têm uma vasta área de aplicação como: no abastecimento de consumidores isolados,
em embarcações fluviais ou marítimas, na agricultura, em fábricas de gelo, em água para operações
menos nobres, como lavagem de pisos e limpeza em geral no caso de hotéis ou pousadas, em
operações militares, etc.
Os sistemas fotovoltaicos podem ser utilizados como fonte de energia para os sistemas de
dessanilização. A Figura 5.23 apresenta um esquema para dessalinização de água, que tanto pode ser
usado em localidades remotas, onde não haja fornecimento de energia elétrica pela concessionária
local, quanto onde esta estiver disponível. No caso isolado, a bomba c.a. pode ser alimentada por um
sistema fotovoltaico de bombeamento d’água ou por um grupo gerador.
Figura 5.23 – Esquema de dessalinização fotovoltaica por osmose reversa. Fonte: Adaptado de (CARVALHO, 2003).
288
5.5 – Sistemas Conectados à Rede
Instalações deste tipo vêm se tornando cada vez mais populares em diversos países europeus,
Japão, Estados Unidos, e mais recentemente no Brasil. As potências instaladas vão desde poucos kWp
em instalações residenciais, até alguns MWp em grandes sistemas operados por empresas. Conforme
apresentado a seguir, estes sistemas se diferenciam quanto à forma de conexão à rede, que, dentre
outras características, depende também da legislação local vigente.
Como exemplo é apresentado o projeto do Estádio Solar de Pituaçu (Figura 5.24). O projeto faz
parte do programa de eficiência energética da distribuidora Coelba, com apoio do Governo do Estado
da Bahia. A construção foi finalizada em março de 2012. Parte da energia elétrica gerada é destinada
ao funcionamento do estádio. Módulos de silício amorfo foram instalados na cobertura do estádio
(238 kWp) e módulos de silício monocristalinos foram instalados sobre o telhado dos vestiários e em
uma área de estacionamento (170 kWp), totalizando cerca de 400 kWp.
Figura 5.24 – Sistema fotovoltaico instalado no estádio Pituaçu, BA. Fonte: (http://www.americadosol.org/pituacu_solar/).
Microgeração distribuída: central geradora de energia elétrica, com potência instalada menor
ou igual a 100 kW e que utilize fontes com base em energia hidráulica, solar, eólica,
biomassa ou cogeração qualificada, conforme regulamentação da Aneel, conectada na rede
de distribuição por meio de instalações de unidades consumidoras.
Minigeração distribuída: central geradora de energia elétrica, com potência instalada superior
a 100 kW e menor ou igual a 1 MW para fontes com base em energia hidráulica, solar,
eólica, biomassa ou cogeração qualificada, conforme regulamentação da Aneel, conectada na
rede de distribuição por meio de instalações de unidades consumidoras.
Sistema de compensação de energia elétrica: sistema no qual a energia ativa injetada por
unidade consumidora com microgeração distribuída ou minigeração distribuída é cedida, por
meio de empréstimo gratuito, à distribuidora local e posteriormente compensada com o
consumo de energia elétrica ativa dessa mesma unidade consumidora ou de outra unidade
consumidora de mesma titularidade da unidade consumidora onde os créditos foram gerados,
desde que possua o mesmo Cadastro de Pessoa Física (CPF) ou Cadastro de Pessoa Jurídica
(CNPJ) junto ao Ministério da Fazenda.
São considerados na resolução 482 dois tipos de medição da energia, apresentadas a seguir.
Neste caso, exemplificado pela Figura 5.25, a energia consumida e a energia injetada na rede de
distribuição são registradas separadamente pelo medidor bidirecional (ou por dois medidores que
medem a energia em cada sentido). A cada instante apenas o registro em um dos sentidos será
realizado, dependendo da diferença instantânea entre a demanda e a potência gerada pelo sistema
fotovoltaico.
Este é o tipo de registro requerido pela Aneel na regulamentação em vigor. A Aneel estipulou
ainda, pela resolução normativa no 569, de 23 de julho de 2013, que as unidades consumidoras do
grupo B, onde os consumidores residenciais estão incluídos, não podem ser cobradas pelo excedente
de reativos devido ao baixo fator de potência.
290
(a)
(b)
Figura 5.25 - Medição bidirecional de registros independentes (a) com a utilização de um medidor bidirecional e (b) com a
utilização de dois medidores unidirecionais.
Quando se deseja ter informações mais precisas sobre o consumo de energia e a produção do
sistema fotovoltaico, deve-se adotar este tipo de medição. Conforme pode ser visto na Figura 5.26, a
medição da energia gerada pelo sistema fotovoltaico é independente da medição de energia consumida
pela unidade consumidora. No tipo de medição do item anterior, a energia medida é a energia líquida,
ou seja, a gerada menos a consumida. Na condição de medição simultânea, toda a energia gerada é
medida, assim como toda a energia consumida. Os cálculos do balanço energético são realizados
posteriormente, pela distribuidora. A medição simultânea também é prevista na regulamentação da
Aneel.
291
Figura 5.26 - Medições simultâneas.
Os SFIEs dispensam a criação de novos espaços para sua instalação, pois podem ser aplicados
em edificações já existentes sobre os telhados ou fachadas, servindo não apenas como fontes de
energia, mas como elementos de sombreamento e diferencial arquitetônico da própria construção. Os
SFIEs podem ser melhor aproveitados quando definidos ainda na fase de projeto da edificação, por
exemplo substituindo o telhado convencional, diminuindo o custo final da obra. Do ponto de vista
arquitetônico, os SFIEs também são uma importante opção, já que os geradores fotovoltaicos podem
ser encontrados no mercado internacional com diversas cores, formatos e graus de flexibilidade
mecânica.
A grande vantagem dos SFIEs reside no fato de que a energia gerada pode ser totalmente usada
na edificação, reduzindo perdas com transmissão e distribuição, além de diminuir o consumo de
energia proveniente da rede da concessionária.
No que concerne à viabilidade econômica dos SFIEs, estes ainda não alcançaram a paridade
tarifária no Brasil e o custo de aquisição e instalação destes sistemas ainda inibe o seu
desenvolvimento no país.
292
No Brasil, os SFIEs podem ser enquadrados na classificação de micro ou minirredes (até 1 MW),
conforme a resolução Aneel no 482/2012 ou na categoria de autoprodutores de energia, obedecendo,
portanto, o Decreto Federal No 2003/1996, que dispõe sobre a produção de energia por produtores
independentes e autoprodutores.
Usinas fotovoltaicas podem atingir potências da ordem de MWp, podendo ser operados por
produtores independentes e sua conexão com a rede é em geral feita em média tensão, por exemplo,
13,8 ou 34,5 kV. Caso seja uma geração associada a uma unidade consumidora, com potencia
instalada até 1 MWp, então poderá ser enquadrada como minigeração na RN 482. Neste caso, o
Módulo 3 do Prodist (Seção 3.7) propõe que tais sistemas de minigeração, ou seja, aqueles com
potência instalada superior a 100kWp e inferior a 1MWp, sejam conectados em média tensão, mas
ressalta que o nível de tensão de conexão da central geradora deve ser definido pela distribuidora em
função das limitações técnicas da rede.
A Figura 5.27 mostra o esquema de um sistema deste tipo, onde é evidenciada a presença de um
transformador para elevar a tensão ao nível de distribuição.
As UFVs tem se apresentado como uma opção viável para países que dependem de importação
de combustíveis fósseis para geração de energia elétrica e que vislumbram na energia solar uma
solução para mitigar esta carência e, ao mesmo tempo, preservar o meio ambiente pela menor emissão
de gases poluentes, além de favorecer a criação de novos postos de trabalho. Países como Alemanha,
Itália, Espanha e Portugal adotaram esta opção e hoje se destacam na geração de energia elétrica
através de UFVs.
293
No âmbito dos projetos da Chamada 13 da Aneel foi construída a UFV Tanquinho (Figura 5.28),
pela CPFL – Companhia Paulista de Força e Luz. A UFV foi implantada na área da subestação
Tanquinho da CPFL e tem potência instalada de 1.082 kWp. A primeira fase do empreendimento (511
kWp, em módulos de filmes finos de a-Si/mc-Si -heterojunção) entrou em operação em novembro de
2012 (BOMEISEL, 2013).
5.6 - Referências
294
Catálogo Comercial de Bombas Centrífugas BOMAX.
COSTA, H. S.; COSTA NETO, G.; ARAÚJO, K.; DA SILVA, G. F.; RAQUEL, K. Utilização
de cerca elétrica solar para confinamento de caprinos na produção familiar do semi-árido
pernambucano. Anais do 6º. Agrener - Encontro de Energia no Meio Rural. Campinas-SP. 2006.
GALDINO, MARCO A.; ORDINE, A. P.; SEBRÃO, M. Z.; BORBA, AROLDO J. V. Inspeção
em campo de sistemas fotovoltaicos de bombeamento d’água Total Energie, instalados nos
Estados de PE, PB, BA e PI, para análise de corrosão e outros problemas. Relatório Técnico Cepel
DTE 38941/2008; outubro de 2008.
KHARZI, S.; HADDADI, M.; MALEK, A. Development of a voltage regulator for solar
photovoltaic cathodic protection system. Revue des Energies Renouveables. vol 9, no. 4, pp. 259-
266. 2006.
KONER, P.K. A review on the diversity of photovoltaic water pumping systems. RERIC
International Energy Journal, v. 15, n. 2, 1993.
LORENZO, E.; SAURA, F. P.; FERNÁNDEZ, L. N.; FEDRIZZI, M. C.; ZILLES, R.;
AANDAM, M.; ZAOUI, S. Boas práticas na implantação de sistemas de bombeamento
fotovoltaico. Instituto de Enegia Solar, Universidae Politécnica de Madrid. 2005.
SOARES, GUILHERME FLEURY W.; VIEIRA, LEONARDO DOS SANTOS R.; GALDINO,
MARCO ANTONIO. Comparação de Custos entre Sistemas Fotovoltaicos Individuais e
Minicentrais Fotovoltaicas para Eletrificação Rural. Relatório Técnico Cepel DTE-745/2010.
Março de 2010.
296
CAPÍTULO 6
297
CAPÍTULO 6 – PROJETO DE SISTEMAS FOTOVOLTAICOS
Antes de prosseguir descrevendo etapas de um projeto, é necessário fazer uma separação entre
sistemas fotovoltaicos isolados da rede (SFI) e sistemas fotovoltaicos conectados à rede (SFCR). No
primeiro caso o sistema gerador visa atender a um determinado consumo de energia elétrica, e é
fundamental estimar esta demanda energética com precisão para que o sistema projetado produza a
energia necessária. Já no segundo caso, o consumo de energia elétrica da instalação é menos
importante, pois pode ser complementado com energia extraída da rede de distribuição. Apesar deste
capítulo tratar separadamente dessas duas situações, muitos dos procedimentos apresentados para
sistemas isolados (SFIs) são também requeridos em sistemas conectados à rede (SFCRs).
Ressalta-se que este Manual é direcionado principalmente para projetos de sistemas de pequeno
porte – dotados de painel fotovoltaico de algumas centenas de Wp a algumas dezenas de kWp – em
baixa tensão.
(a)
1
Que pode ser exclusivamente fotovoltaica ou incluir outras alternativas, configurando a geração híbrida de energia.
298
(b)
(c)
Figura 6.1 - Diagrama de blocos de sistemas fotovoltaicos isolados: (a) - Isolado para eletrificação individual; (b) - Isolado
para eletrificação com minirrede; (c) – Bombeamento de água.
299
6 - Dimensionamento do sistema de armazenamento, usualmente associado aos sistemas
isolados.
Vale ressaltar que neste texto é detalhado apenas o projeto de sistemas puramente fotovoltaicos,
fixos (sem seguimento solar) e sem concentração da radiação solar.
Nesta fase do projeto busca-se quantificar a radiação solar global incidente sobre o painel
fotovoltaico. Nem sempre os dados estão disponíveis na forma em que se precisa para utilizá-los no
dimensionamento do sistema. Por isso, muitas vezes é necessário utilizar métodos de tratamento de
dados que permitam estimar as grandezas de interesse.
6 [kWh/m 2 ]
HSP 6 [h/dia ]
1 [kW/m 2 ]
300
A Figura 6.3 ajuda na compreensão da grandeza Horas de Sol Pleno.
Irradiância (W/m2)
1.000 W/m2 1.000 W/m2 1.000 W/m2
6.000 2.500
Wh/m2 Wh/m2 1.000 Wh/m2
1,0 HSP
6,0 HSP
2,5 HSP
Figura 6.3 – Exemplo de perfis de radiação solar diária com valores equivalentes de HSP. Fonte: (PINHO et al., 2008).
Em base mensal, a irradiação incidente no plano dos módulos é convertida para seu valor médio
diário em kWh/m² e, em seguida, utiliza-se o valor numérico como HSP. Esses valores podem ser
obtidos a partir da conversão para o plano inclinado e posterior integração de curvas semelhantes às
apresentadas na Figura 6.4, obtidas para a vila de São Tomé, Município de Maracanã, no Estado Pará.
A obtenção de dados médios de irradiação no plano horizontal e sua conversão para planos inclinados
são tratadas no Capítulo 2.
Figura 6.4 – Média mensal da irradiância global diária no plano horizontal para os períodos especificados - vila de São
Tomé (Pará).
Cabe frisar, no entanto, que nada substitui a medição in situ, no local de implantação do projeto,
e que incorreções podem advir das diferenças entre os valores estimados e os valores reais.
301
6.1.2 - Localização
Mesmo dentro de uma região com recurso solar uniforme, a escolha do local em que os painéis
FV serão efetivamente instalados pode ser determinante de seu desempenho. A integração com
elementos arquitetônicos e a presença de elementos de sombreamento ou superfícies reflexivas
próximas podem afetar a eficiência de um sistema fotovoltaico. Também a capacidade de trocar calor
com o meio, impacta a eficiência do painel. Em regiões isoladas é mais provável que se encontrem
superfícies livres, sem sombreamento e com fácil circulação de ar. No entanto, nas instalações urbanas
tipo rooftop (de telhado), por exemplo, o projetista tem menos liberdade no posicionamento dos
painéis.
Para ter uma boa estimativa da radiação incidente no plano do painel, o projetista deve obter
informações sobre os atuais e potenciais elementos de sombreamento e superfícies reflexivas
próximas, inclusive o chão. A refletividade do chão ou outros elementos próximos (albedo) também
pode contribuir para a radiação global incidente sobre o painel.
Aspectos estéticos, a resistência mecânica do telhado e do prédio e o efeito dos ventos também
são elementos importantes na escolha do local de instalação do painel fotovoltaico.
A escolha da configuração para o sistema pode ser realizada baseada nas informações dos
Capítulos 4 e 5, onde se apresentam detalhes sobre os componentes e as configurações mais comuns:
sistemas isolados ou conectados à rede, c.a. ou c.c., com ou sem armazenamento etc. Basicamente, a
escolha baseia-se nas características da carga e na disponibilidade de recursos energéticos.
A base do dimensionamento no caso de SFIs é entender que o sistema deve gerar mais
eletricidade do que o limite estabelecido para consumo. Deve-se definir um período de tempo e a
produção de eletricidade neste período deve ser maior do que a demanda elétrica a ser atendida. Isto
deve se repetir nos períodos subsequentes.
A maneira mais tradicional para determinar a demanda de uma unidade consumidora é somar as
energias consumidas por cada equipamento. Isto é geralmente feito em uma planilha, onde estão
listados os equipamentos, sua potência elétrica, o tempo diário de funcionamento e os dias de
utilização por semana, para que se disponha de dados diários de energia consumida, em Wh/dia. Esta
302
estimativa pode ser realizada em média semanal, obtendo-se um valor médio de energia elétrica
consumida por dia. A Tabela 6.1 apresenta um exemplo de cálculo para três tipos de equipamentos.
Quando se trata de cargas usadas para refrigeração, como geladeiras e freezers, deve-se
preferencialmente consultar os dados de placa do equipamento, onde geralmente consta seu consumo
médio mensal2. A partir dele, estima-se o consumo médio diário.
Equipamento 2 60 x 2 x 2 ÷7 = 34,29
Um importante fator a ser observado é o tipo de alimentação das cargas, se em corrente contínua
(c.c.) ou alternada (c.a.). A utilização de equipamentos c.c. dispensa a utilização do inversor; porém, a
disponibilidade comercial deste tipo de equipamento é menor, seus custos são mais elevados, e, muitas
vezes, sua qualidade é inferior à dos equipamentos equivalentes convencionais em c.a. Caso o sistema
atenda cargas c.a., o consumo diário mostrado na Tabela 6.1 deve ser dividido por um fator decimal
representativo da eficiência média do inversor. Caso o fabricante indique valores de 90 % de
eficiência, bastante comuns, o consumo da tabela deve ser dividido por 0,9, resultando, neste caso, em
233,33 Wh. Observa-se na tabela ainda a demanda máxima de 175W, de forma que o inversor deve ser
capaz de atendê-la de forma contínua. Além disso, este deve também ser capaz de suportar os picos de
partida requeridos por determinadas cargas, se for o caso.
A especificação do valor de potência dos equipamentos a serem atendidos pelo sistema deve ser
obtida através de dados fornecidos pelo próprio fabricante, independentemente do tipo de alimentação,
pois há uma ligeira variação entre a potência de equipamentos semelhantes de fabricantes diferentes.
Atenção deve ser dada para o fato de que equipamentos idênticos alimentados em c.c. e c.a. podem
possuir valores de potência diferentes. Na ausência dessa informação, podem ser utilizados valores
tabelados fornecidos por órgãos como o Cepel e Inmetro, por exemplo. A Tabela 6.2 apresenta dados
de alguns equipamentos usuais, sendo suas potências válidas para alimentação em c.a. Ressalta-se que
2
Ressalta-se que o consumo especificado pelo fabricante refere-se a determinadas condições de uso e de temperatura (tanto
interna como externa). Em locais muito quentes como a Região Norte do Brasil, com temperaturas médias acima de 30oC,
por exemplo, e para utilização residencial típica, o consumo dos refrigeradores e freezers pode atingir valores
significativamente maiores do que o especificado.
303
o custo de investimento de sistemas fotovoltaicos é relativamente alto e por isso deve ser estimulado o
uso de equipamentos elétricos eficientes. Mesmo que os equipamentos eficientes possam ser mais
caros que os equipamentos típicos, menos eficientes, os custos evitados de geração podem compensar
esse investimento.
Para calcular o consumo médio de energia (kWh) de um equipamento de acordo com o seu
hábito de uso, procure a potência do aparelho no catálogo ou manual do fabricante e utilize a seguinte
expressão:
(6.1)
onde:
(kWh/mês) – consumo médio mensal;
(W) – potência nominal do equipamento (dado de placa ou do manual do fabricante);
(h/dia) – numero médio de horas diárias de utilização do equipamento;
(dias/mês) – número médio de dias de utilização do equipamento, por mês.
Alguns equipamentos não consomem energia elétrica continuamente, como por exemplo, os
compressores dos refrigeradores, que são acionados pelos termostatos. Neste caso, a fórmula
apresentada acima pode não resultar em valor adequado de consumo e devem ser utilizados os
consumos declarados pelo fabricante ou verificados por ensaios.
Alguns autores recomendam considerar para fins de cálculo de consumo que os compressores
permanecem ligados, por exemplo, durante 50% a 60% do tempo. Todavia, tais afirmações devem ser
vistas com cautela, pois o regime real de operação do compressor depende de muitas variáveis, como o
tipo do refrigerador (vertical ou horizontal), a temperatura ambiente, a carga térmica colocada
diariamente em seu interior e o número de vezes por dia que a porta é aberta.
304
Tabela 6.2 - Valores estimados de consumo médio mensal de alguns equipamentos elétricos. Fonte: Adaptado (PROCEL)
Consumo
Potência Dias estimados Utilização médio
Aparelhos Elétricos média de uso média mensal
(W) (dias/mês) (h/dia) (kWh/mês)
Na Tabela 6.3 são apresentados exemplos de eletrodomésticos de alto consumo e/ou demanda
que devem ser evitados em SFIs. As limitações de atendimento que o sistema apresenta devem ser
informadas ao usuário, mostrando a este que certos equipamentos elétricos de alto consumo
restringirão em muito o tempo de uso do sistema ou são inviáveis de serem utilizados por apresentarem
potências mais elevadas que a permitida pelo sistema (potência do inversor fotovoltaico).
305
Tabela 6.3 – Exemplos de equipamentos elétricos que devem ser evitados ou proibidos em sistemas isolados de pequeno
porte. Fonte: Adaptado (PROCEL)
Consumo
Potência Médio
Aparelhos Elétricos máxima Dias Estimados Média Mensal
(W) Uso/Mês Utilização/Dia (kWh)
Um sistema fotovoltaico isolado deve contar com armazenamento de energia elétrica para
atender o consumo nas horas em que não há geração. O armazenamento serve também para equilibrar
o fluxo de energia ao longo do tempo, desacoplando os picos de potência da geração e da demanda.
Assim, um sistema gerador com painel de 50 Wp pode abastecer, por exemplo, uma demanda de 175
W, porque o armazenamento permite acumular a energia ao longo do tempo e entregá-la em um
período menor que o da geração.
306
Figura 6.5 – Exemplo de uma curva de carga de uma comunidade da Amazônia. Fonte: (PINHO et al., 2008).
Figura 6.6 – Exemplo de curva de carga estimada para uma dada localidade.
Tensão nominal e características adicionais dos equipamentos (c.a. ou c.c., eficiências etc.)
completam a especificação da carga. Quanto à potência total, no caso mais conservador, deve-se
considerar que todos os equipamentos poderão ser acionados ao mesmo tempo, em especial para os
sistemas individuais. No caso de sistemas tipo minirrede pode-se considerar um fator de diversidade de
demanda.
307
Projetistas de SFCRs, por sua vez, trabalham, normalmente, com a hipótese de que a rede
elétrica é uma carga capaz de consumir toda a energia gerada pelo sistema, e no momento da geração.
Além disso, a avaliação da carga é feita segundo outros parâmetros, como por exemplo, a qualidade da
energia requerida pelo comprador (nível de harmônicos, regulagem da tensão etc.), capacidade de
corrigir o fator de potência e o nível de interferência eletromagnética que pode comprometer o
funcionamento de equipamentos eletrônicos.
Para calcular a energia ativa necessária diariamente (L) leva-se em conta o tipo de carga do
sistema em corrente alternada e em corrente contínua (o Apêndice 4 apresenta uma planilha que
auxilia nos cálculos), se houver, e a eficiência dos elementos que participam do processo de
armazenamento e condicionamento de potência, conforme a Equação 6.2.
L L
L cc ca (6.2)
bat batinv
308
Onde:
Lcc (Wh/dia) - quantidade de energia consumida diariamente em corrente contínua em
determinado mês,
Lca (Wh/dia) - quantidade de energia consumida diariamente em corrente alternada no mesmo
mês;
ηbat (%) - eficiência global da bateria;
ηinv (%) - eficiência do inversor.
Cabe salientar que o valor da eficiência do inversor depende do seu carregamento em relação a
sua potência nominal. Se a curva de eficiência do inversor não for apresentada no manual ou no
catálogo, deve ser solicitada ao fabricante. Como referência, cita-se que a eficiência do inversor
requerida, na faixa de operação entre 50% e 100% da potência nominal, pelo Inmetro em seu Requisito
de Avaliação da Conformidade para Sistemas e Equipamentos para Energia Fotovoltaica é de, no
mínimo, 85%. Conforme o Capítulo 4, o valor da eficiência global da bateria sugerido é de 86%.
Com base na Equação 6.2, deve ser calculado o valor médio diário de energia requerido para
cada um dos meses do ano, e a potência necessária para o painel fotovoltaico, por sua vez, deve ser
obtida conforme mostra a Equação 6.3.
(6.3)
Onde:
Pm (Wp) - potência do painel fotovoltaico;
Li (Wh/dia) - quantidade de energia consumida diariamente no mês i (obtida pela Equação 6.2);
HSPi (h/dia) - horas de sol pleno no plano do painel fotovoltaico no mês i;
Red1 (%) - fator de redução (derating) da potência dos módulos fotovoltaicos, em relação ao
seu valor nominal, englobando os efeitos de: i) um eventual acúmulo de sujeira na
superfície ao longo do tempo de uso; ii) degradação física permanente ao longo do
tempo; iii) tolerância de fabricação para menos, em relação ao valor nominal; iv)
perdas devido à temperatura. A este fator Red1 atribuí-se por default o valor de 0,75,
para módulos fotovoltaicos de c-Si;
Red2 (%) - fator de derating da potência devido a perdas no sistema, incluindo fiação,
controlador, diodos etc. A este valor recomenda-se como default o valor de 0,9.
No caso geral, o mês crítico, que corresponde à potência Pm, é definido pela Equação 6.3 por
uma combinação entre o consumo mensal (Li) e a irradiação mensal (HSPi). Porém, no caso de uma
carga L fixa, como, por exemplo, num sistema tipo SIGFI, então considera-se na Equação 6.3 apenas
este valor fixo L, de forma que a potência do painel Pm será correspondente ao mês de pior irradiação,
que passa automaticamente a ser o mês crítico.
309
Dimensionamento considerando controlador de carga convencional
(6.4)
O coeficiente 1,2 na Equação 6.4 considera que um módulo fotovoltaico tem que carregar uma
bateria até uma tensão 20% acima da nominal (por exemplo, uma bateria de 12V de Pb-ácido tem uma
tensão de carregamento em torno de 14,4 V e de equalização de 14,7 V) e considera, ainda, alguma
perda ôhmica. Considerando-se que um módulo de 36 células em climas quentes perde entre 2 e 3 V
devido ao aumento da temperatura, é necessário dispor de um módulo que forneça uma tensão nominal
de potência máxima, nas condições padrão de teste, de aproximadamente 17 V.
Ressalta-se que o valor obtido para o número de módulos em série deve ser arredondado para
maior, respeitando a tensão máxima de entrada do controlador de carga. Caso este arredondamento
seja superior a 0,5 (parte decimal de Nomódulos_série inferior a 0,5), recomenda-se que seja
selecionado outro módulo para compor o gerador FV, evitando sobredimensionamento.
A partir da potência Pm calculada, obtém-se, a seguir, por meio da Equação 6.5, a corrente que
deve ser gerada pelo painel fotovoltaico.
Pm
Im (6.5)
Vsist
Onde:
Im (Acc) – corrente do painel fotovoltaico;
Pm (Wp) - potência do painel fotovoltaico (calculada pela Equação 6.3);
Vsist (Vcc) - tensão nominal do sistema (é igual à tensão nominal do banco de baterias), que é igual ao
numero de baterias conectadas em série vezes a tensão nominal da bateria Vb. Para SFIs no Brasil são
adotados bancos com tensões nominais de 12 V, 24 V e 48 V, seja utilizando elementos de 2 V ou
monoblocos de 12 V.
O valor obtido Im para a corrente pela Equação 6.5 é o valor mínimo da corrente no ponto de
máxima potência – Imp que o gerador fotovoltaico deve fornecer. Pode-se então calcular o número de
módulos a serem conectados em paralelo pela Equação 6.6:
310
Im
N º módulos _ paralelo (6.6)
I mp
Na Equação 6.6 Imp representa a corrente de cada módulo no ponto de máxima potência, nas
condições-padrão de ensaio. O resultado obtido para o número de módulos em paralelo deve ser
arredondado para maior. Caso este arredondamento seja superior a 0,5 (parte decimal de
Nomódulos_paralelo inferior a 0,5), recomenda-se que seja selecionado outro módulo para compor o
gerador FV. Desta forma, aproxima-se o valor calculado do valor arredondado, evitando-se o
sobredimensionamento excessivo da capacidade de geração. De qualquer forma, geralmente a escolha
do módulo é muito mais condicionada por outros fatores, como a qualidade e o custo do que
propriamente por considerações deste tipo.
(6.7)
onde VSPPMmax é a máxima tensão de operação e VSPPMmin é a mínima tensão de operação do SPPM do
controlador; VpmTmax e VpmTmin são as tensões de máxima potência do módulo fotovoltaico nas suas
máxima e mínima temperaturas de operação, respectivamente.
Para o cálculo do número de fileiras em paralelo, deve-se considerar a potência total do gerador
(Pm) e a potência de cada fileira, conforme a Equação 6.8:
(6.8)
(6.9)
onde Imp representa a corrente do módulo no ponto de máxima potência, nas condições-padrão de
ensaio.
311
Ressalta-se que os módulos do tipo silício cristalino são os mais utilizados atualmente devido à
boa relação custo-benefício, ao longo tempo de mercado e à grande quantidade de oferta. Caso sejam
usados módulos de filmes finos, deve ser estudado o valor de derating (Red1) adequado a ser adotado,
pois suas características em relação a coeficientes de temperatura, degradação, etc. diferem daquelas
dos módulos de silício cristalino. Maiores detalhes sobre características de módulos fotovoltaicos
podem ser consultados nos Capítulos 3 e 4.
De posse da energia corrigida solicitada pelas cargas a cada mês, resultante da Equação 6.2,
escolhe-se o valor máximo (Lm) para o cálculo da capacidade do sistema de acumulação segundo as
Equações 6.10 a 6.12.
(6.10)
(6.11)
(6.12)
onde CBC20 é a capacidade do banco de baterias em Wh para o regime de descarga em 20 horas (C20)
e CBIC20 é a respectiva capacidade em Ah; N o número de dias de autonomia (o qual varia em função
da região onde se instala o sistema), tipicamente entre 2 e 4, e não deve ser menor que 2; Pd a máxima
profundidade de descarga da bateria, considerando o período de autonomia. Os valores típicos de
profundidade de descarga utilizados para baterias de ciclo raso são entre 20 e 40 % e, para as de ciclo
profundo, de 50 a 80 %. Para maiores detalhes consultar o capítulo 4. A eficiência global da bateria já
foi considerada no cálculo de Lm.
3
Sistemas não críticos são sistemas cujo desempenho proporciona uma probabilidade maior de falha; são empregados para
o suprimento de cargas que necessitam ser atendidas por pelo menos 95 % do tempo, ao passo que as cargas denominadas
de críticas necessitam ser atendidas por pelo menos 99 % do tempo.
312
Alguns autores do exterior recomendam 2 a 3 dias de autonomia para cargas comuns e 5 a 7 dias
para cargas consideradas críticas. Conforme já mencionado, no Brasil, normalmente se considera
autonomia de 2 a 4 dias.
No que se refere à máxima profundidade de descarga, ressalta-se que esta depende também da
radiação solar da região, do tipo de bateria, do modo como a descarga é realizada etc. Para todas as
baterias, é comum a característica de que, quanto maior a profundidade de descarga menor sua vida
útil.
Por vezes o catálogo do fabricante de bateria não apresenta a capacidade C20 e sim em regime
C10 ou C100. Neste caso pode-se utilizar as seguintes expressões para conversão, já apresentadas no
Capítulo 4.
(6.14)
(6.15)
CBI
N º baterias paralelo (6.16)
CBI bat
onde CBIbat representa a capacidade da bateria selecionada, em Ah, no mesmo regime de descarga do
valor calculado para CBI.
O mesmo critério utilizado para arredondar para maior o número de módulos em paralelo e em
série pode ser utilizado para a quantidade de baterias. É importante observar que deve ser utilizado o
menor número possível de baterias em paralelo, sendo que os fabricantes recomendam um máximo
entre 4 e 6, de forma que deve-se adotar modelos de maior capacidade se este número for superado.
Conforme o Capítulo 4, no caso de baterias convencionais em monoblocos de 12V, as capacidades
comercialmente disponíveis no Brasil atingem 220Ah (@C/20), enquanto que outros tipos (OPzS etc.)
tem uma faixa de disponibilidade bem maior.
Vsist
N º baterias série (6.17)
Vbat
313
Assim, caso se adote monoblocos de 12V, o número de baterias em série é de 1, 2 e 4, para sistemas
com tensão nominal de 12V, 12V e 48V, respectivamente. Por outro lado, caso sejam adotados os
elementos de 2V, então os números de elementos em série são de 6, 12 e 24.
Ressalta-se que o tipo de bateria mais utilizado devido à relação custo-benefício é a bateria Chumbo-
ácido. Não são recomendadas baterias automotivas para uso em sistemas fotovoltaicos. Maiores
detalhes sobre características de baterias podem ser consultadas no Capítulo 4.
(6.18)
Há modelos de controladores que permitem a operação em paralelo. Isso pode ser necessário se a
corrente Ic for elevada para apenas um controlador. A Equação 6.19 permite obter o número necessário
de controladores em paralelo, considerando a corrente máxima do controlador Ictl.
(6.19)
A máxima tensão de operação do controlador de carga (Vcmax) deve sempre ser maior do que a
tensão máxima de saída do painel fotovoltaico. .
(6.20)
onde VocTmin é a tensão de circuito aberto do módulo, na menor temperatura de operação prevista.
Dimensionamento do Inversor
314
instalada, que é o somatório da potência de todas as cargas do usuário, se houver grande probabilidade
de que estas possam operar simultaneamente.
Recomenda-se a escolha de inversores que apresentem alta eficiência em toda a sua faixa de
operação, de modo a minimizar as perdas do sistema, principalmente quando se prevê que a operação
das cargas, na maior parte do tempo, corresponderá a uma pequena fração da potência nominal do
inversor, faixa na qual, este, em geral, este apresenta menor eficiência.
Para cargas que demandam potência de pico, como motores elétricos durante a partida, é preciso
também ter conhecimento dessa potência, juntamente com a respectiva duração, para definir a
capacidade de surto necessária no inversor. Deve-se ainda observar considerações relacionadas à
temperatura de operação. Mais detalhes são disponíveis no Capítulo 4.
O inversor deve apresentar a tensão de entrada igual à tensão c.c. do sistema (tensão do banco de
baterias) e tensão c.a. de saída conforme a necessidade, normalmente 127 ou 220 V, 60 Hz. Em geral,
inversores até 5 kW são monofásicos. Alguns modelos permitem a operação em paralelo de mais de
uma unidade, além de poder ser integrados para criar circuitos bifásicos ou trifásicos. É recomendável
a utilização de inversores de forma de onda senoidal, principalmente no caso de cargas eletrônicas que
são sensíveis a ondas com distorção harmônica. Para atendimento da RN Aneel 493/2012 é exigida a
saída senoidal pura (ver item 6.2.1).
Outra condição que dever ser verificada é a compatibilidade entre inversor e controlador, pois
alguns modelos não aceitam trabalhar com fabricantes distintos.
6.2.1 – Projeto de Sistemas Isolados para Geração de Energia Elétrica Segundo a RN 493/2012
6.2.1.1 – SIGFI
atendimento em corrente alternada senoidal4, embora acessórios em c.c. possam ser incluídos
no projeto com a concordância do usuário;
limites de interrupção (indicador DIC) por unidade consumidora: 216 horas mensais e 648
horas anuais.
Tabela 6.4 – Disponibilidades mensais de energia por unidade consumidora. Fonte: (RN ANEEL Nº 493/2012).
De posse dessas informações pode se utilizar a mesma metodologia descrita no item 6.2 ou uma
ferramenta computacional de dimensionamento, tais como as apresentadas no final deste capítulo, para
o dimensionamento do SIGFI.
4
Deve-se observar as disposições do PRODIST relativas à contratação da tensão, à classificação da tensão de atendimento
e à instrumentação e metodologia de medição da tensão em regime permanente.
5
Conforme a RN Aneel 493/2012, a distribuidora de energia deve atender o consumidor, sem ônus para este, com um
sistema isolado de até 80 kWh/UC de disponibilidade mensal. Inclusive no caso do consumidor ter sido atendido com um
sistema menor e requerer um aumento de carga para a disponibilidade anteriormente citada.
316
6.2.1.2 – MIGDI
A resolução ANEEL Nº 493/2012 abre a possibilidade de que o atendimento seja feito por até
dois intervalos diários, cuja soma seja inferior a 24 horas. As unidades consumidoras atendidas por um
MIGDI devem também ser enquadradas em uma das categorias de disponibilidade mensal garantida
definidas na Tabela 6.4.
No caso de MIGDI, torna-se necessário elaborar um projeto específico para a edificação onde
ficarão os componentes eletrônicos, proteções e banco de baterias, assim como para a estrutura de
suporte do arranjo fotovoltaico. Deve ser decidido ainda se o arranjo fotovoltaico será colocado sobre
telhado ou sobre estrutura sobre o solo.
No caso do MIGDI, deverá ser verificada ainda a necessidade de licenças ambientais locais para
a instalação, se for o caso, e a disponibilidade do terreno para o microssistema de geração.
Sistemas fotovoltaicos para bombeamento (SBFV) devem ser considerados com especial
atenção, devido ao seu amplo potencial de aplicação no Brasil. As ferramentas de dimensionamento
permitem a inclusão de uma bomba d’água como uma carga adicional (c.a. ou c.c.) de um sistema com
armazenamento de energia elétrica. No entanto, o foco da abordagem realizada neste manual está
voltado para sistemas com acoplamento direto, quando o painel fotovoltaico alimenta diretamente o
conjunto motobomba, como mostrado na Figura 6.7. As características únicas desta aplicação
justificam o desenvolvimento de procedimentos diferenciados para o seu dimensionamento. Um
317
sistema de bombeamento fotovoltaico convencional é constituído de gerador fotovoltaico,
equipamento de controle e condicionamento de potência (sistema que, além de regular o acionamento
da bomba de acordo com o nível de água, pode conter um seguidor de ponto de máxima potência, que
mantém os módulos operando sempre em seu ponto ótimo), grupo motobomba, reservatório de água e
pontos de consumo (bebedouros, chafariz), conforme ilustra a Figura 6.7.
318
6.3.1 - Estimativa de Consumo de Água
O bombeamento pode ser utilizado para diversos fins, como o fornecimento de água para
consumo humano e animal, ou irrigação para cultivos. Cada finalidade, assim como as características
de uso próprias de cada local, apresenta necessidades variadas. Quando não se dispõe de um valor
exato de consumo de água, uma alternativa que fornece bons resultados é a utilização de informações
de consumo por atividade, como mostrado na Tabela 6.5. Vale ressaltar que a necessidade de água
para cultivo pode variar bem mais que as necessidades humana e animal, em função do clima, tipo de
solo, períodos de safra etc. Sugere-se maior cuidado na utilização dos dados para cultivo disponíveis
em tabelas, recomendando-se um estudo criterioso anterior à etapa de projeto.
Tabela 6.5 – Estimativa de consumo médio de água por uso final. Fontes: CE DGXII (1996); FAO (1977)
Consumo humano6 litros/(pessoa.dia)
Sobrevivência 5
Pequenas propriedades rurais 40 - 70
Grandes centros urbanos 100 - 400
Consumo animal7 litros/(cabeça.dia)
Gado (leite) 70
Gado (corte) 40
Ovinos/caprinos 5
Suínos 15
Equinos 40
Frango (corte) 0,15
Cultivo8 litros/(ha.dia)
Horta para subsistência 25.000
Banana 46.500
Milho 50.000
Feijão 48.000
Amendoim 47.000
Cebola 45.000
Ervilha verde 68.500
Abacaxi 23.000
6
Adaptado de: Comissión Europea DG XII, “Manual de Energización Rural Mediante Energia Fotovoltaica”, 1996. Os
valores apresentados para consumo humano em pequenas propriedades rurais assumem que existe uma rede de distribuição
de água até as residências. No caso do sistema se limitar a disponibilizar um chafariz comunitário, onde os moradores vão
buscar sua água, o consumo é menor, de 15 a 20 litros/(pessoa.dia).
7 Adaptado de: Comissión Europea DG XII, “Manual de Energización Rural Mediante Energia Fotovoltaica”, 1996.
8 Adaptado de: Organización de las Naciones Unidas para la Agricultura y la Alimentación – FAO, “Las Necessidades de
Água de los Cultivos - Caderno Técnico No. 24”, 1977.
319
Supondo a necessidade de um sistema para suprir o consumo de uma pequena comunidade
residente em zona rural (composta por 50 pessoas) além de uma criação de suínos (100 animais), a
demanda diária total (Q) seria, então, de:
Q 5.000 L / dia.
Sabendo-se que 1.000 L de água correspondem a 1 m3, a vazão calculada acima pode também
ser expressa como 5 m3/dia.
Para uma melhor compreensão das etapas de dimensionamento descritas a seguir, a Figura 6.8
apresenta um esquema típico de um SBFV para um poço, sendo em seguida definidos os conceitos
relacionados aos parâmetros de interesse.
(1) Altura estática (he): distância entre o nível do solo e o nível da água em repouso (nível
estático);
320
(2) Altura dinâmica (hd): distância entre o nível do solo e nível da água durante o
bombeamento (nível dinâmico), resultante do rebaixamento do nível de água no poço; o
nível dinâmico é proporcional à vazão bombeada, dependendo de fatores como a
permeablidade do solo e diâmetro do poço, e geralmente é medido em testes de vazão na
ocasião da perfuração do poço;
(3) Altura do reservatório (hr): distância entre o nível do solo e o ponto mais alto do
reservatório;
A etapa seguinte é a definição da altura manométrica corrigida (hmc), dada em metros (Equação
6.22), que corresponde à altura manométrica somada às perdas de carga nas tubulações (ht) e conexões
(hc), ambas dadas em metros. Tais perdas variam em função da vazão média requerida, do material de
fabricação e dos diâmetros das tubulações e são normalmente fornecidos pelos fabricantes dos tubos e
conexões. Valores típicos podem ser encontrados nas Tabelas 6.6 e 6.7.
hmc hm ht hc . (6.22)
Tabela 6.6 - Perda de carga em tubulações de PVC. Fonte: Adaptado de (Creder, 2006).
500 1,15
321
Tabela 6.7 - Perdas de carga em conexões de PVC. Fonte: Adaptado de (Creder, 2006).
Sempre que possível, é indicado que se disponha do teste de capacidade do poço, que fornece o
valor de sua capacidade máxima disponível (QMax). Esse valor é utilizado para se determinar a altura
total equivalente (HTE), dada em metros, que pode substituir a altura manométrica corrigida, nos
cálculos de projeto. Esse procedimento é tomado para que seja respeitado o limite máximo de extração
de água do poço, em função de seu regime de reposição. Dessa forma, evita-se uma situação não
indicada para bombas submersas, na qual o rebaixamento do poço atinge a tomada de água da bomba,
de forma que esta aspira uma mistura de ar e água, resultando em danos por superaquecimento.
De acordo com o exposto e considerando os parâmetros da Figura 6.8, a Equação 6.23 permite o
cálculo da altura total equivalente.
h he
H TE he hr d Qm ht (Qm ) hc (Qm ) (6.23)
QMax
onde Qm, dado em m3/h, é a vazão média para se obter o volume diário, Q, e os termos ht e hc são as
perdas na tubulação e conexões associadas à vazão média, dados em metros.
O valor das alturas manométrica corrigida e total equivalente igualam-se apenas quando a vazão
média, Qm, e a capacidade máxima do poço, QMax, são iguais. Essa situação não deve ser verificada na
prática, pois faria com que a bomba trabalhasse frequentemente a seco.
De posse da vazão de água requerida, em m3/dia, e da altura manométrica corrigida (ou altura
total equivalente), em metros, a energia hidráulica mínima necessária para o bombeamento, EH, é dada,
em Wh/dia, pela Equação 6.24.
Q
EH g hmc a (6.24)
3600
onde, g é a aceleração da gravidade (9,81 m/s2) e a é a massa específica da água (1.000 kg/m3).
Substituindo os valores típicos para esses dois parâmetros, obtém-se uma expressão muito prática de
ser utilizada, tal como mostra a Equação 6.25.
322
EH 2,725 Q hmc . (6.25)
Aproveitando o exemplo iniciado no item anterior, onde um volume diário de 5.000 L/dia (ou 5
m3/dia) é necessário para atender uma dada demanda rural, e considerando-se que a entrada do
reservatório encontra-se a uma altura manométrica de 13 m (hd = 6 m e hr = 7 m), com 15 m de
tubulação de 32 mm de diâmetro, uma válvula de retenção e um joelho de 90º, pode-se calcular a
altura manométrica corrigida. Para tal, faz-se necessário estimar primeiramente uma vazão média, Qm,
do SBFV, o que pode ser realizado com base nas HSP. Considerando-se um dia médio anual com
5 HSP é possível estimar-se para a vazão média diária o valor de 1.000 L/h, de modo a se obter o
volume diário de 5.000 L.
As perdas na tubulação e conexões podem ser desprezadas em situações com baixos volumes de
água bombeados e curtas extensões de tubulação, o que é o caso do exemplo em questão, onde
segundo a Tabela 6.7, o valor atingido para este parâmetro pode ser calculado seguindo os passos
listados abaixo. Primeiro calcula-se o comprimento total equivalente:
onde Lcorrigido é o comprimento equivalente total linear levando em consideração as perdas nas
conexões.
Com base na vazão média (1000L/h) e na bitola escolhida para a tubulação (32mm) podemos consultar
a Tabela 6.6 para estimar a perda de carga, lembrando que os valores listados são para 100 metros de
comprimento.
16,371
hmc (mca) 0,23 0,0377m
100
Verifica-se que a perda calculada é pouco significativa quando comparada com a altura
manométrica total de 13 metros. A energia hidráulica mínima necessária pode, então, ser calculada
(Equação 6.25), resultando em:
A energia elétrica diária necessária (EEL) para o processo de bombeamento, dada em Wh, é
obtida através da relação entre a energia hidráulica e a eficiência do conjunto motobomba, mb,
juntamente com seus eventuais equipamentos auxiliares, como mostra a Equação 6.26.
EH
EEL (6.26)
mb
Finalmente, a potência do gerador FV (PFV), dada em Wp, é calculada a partir da Equação 6.27,
considerando-se o número de HSP médio anual de radiação no plano do gerador FV.
323
EEL
PFV (Wp) 1,25 (6.27)
HSP
Considerando a eficiência típica do conjunto motobomba quando trabalhando com energia solar
FV, de 25 %, a energia elétrica mínima necessária do exemplo em questão é calculada utilizando-se a
Equação 6.26, resultando em:
177,6 Wh / dia
EEL 710 Wh / dia
0,25
Supondo a instalação do sistema em uma localidade onde valores médios anuais de HSP = 5,0 h
são facilmente atingidos no plano do painel fotovoltaico, a potência FV necessária, de acordo com a
Equação 6.27, é de:
710 Wh
PFV (Wp) 1,25 178 Wp
5,0 h
A partir dos dados calculados, a última etapa é a determinação dos equipamentos a serem
utilizados. O método de dimensionamento pode ser confirmado através de gráficos fornecidos pelo
fabricante da bomba (Figura 6.9), caso esta tenha sido especificada previamente. A Figura 6.9(b), por
exemplo, apresenta um gráfico para o cálculo da potência FV a ser instalada, de acordo com os
parâmetros discutidos no presente item, para uma determinada família de bombas.
(a) Kyocera, “Solar Water Pumping Application Guide - SD 12-30 Performance Graph.”
324
(b) Grundfos, “SQFlex Solar Performance”. Fonte:
(http://www.grundfos.com/products/find-product/sqflex.html#cases).
Figura 6.9 – Exemplos de gráficos fornecidos por fabricantes para determinação da potência FV necessária para cada
aplicação. Fonte: Manuais de fabricantes.
Nota-se que a potência do gerador indicado para uma altura manométrica de 15 m (altura mais
próxima da altura manométrica corrigida calculada no exemplo, de 13 m), corresponde a um valor de
aproximadamente 160 Wp, próximo ao valor obtido através do cálculo teórico, indicando que essa
bomba pode ser empregada no exemplo usado neste item. Para se chegar neste resultado, basta seguir a
indicação das setas no gráfico da Figura 6.9(b). Os ábacos de dimensionamento apresentados como
exemplo na Figura 6.9 são específicos de um determinado fabricante, sendo que outros fabricantes
apresentarão metodologias próprias, com diferentes tipos de gráficos, tabelas etc.
Quando não há tensão na rede, o sistema fica inoperante mesmo com irradiação solar
presente;
325
Os inversores incorporam dispositivos seguidores de potência máxima (SPPM);
Questões estéticas podem ser determinantes nos projetos, contribuindo para a escolha do tipo
de módulo e tecnologia das células, bem como do posicionamento do painel.
A Seção 3.7 dos Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional
(PRODIST) refere-se ao acesso à rede por micro e minigeração distribuída e deve ser respeitada de
forma cuidadosa por quem elabora projetos de SFCRs. A instalação de um sistema conectado à rede
deve seguir a norma específica da concessionária local de distribuição de energia elétrica, que de
acordo com o PRODIST deve estar acessível na página da empresa na internet, em um processo que se
inicia pela solicitação de acesso.
O item 2.5.2 da Seção 3.7 do PRODIST estabelece que “compete à distribuidora a realização de
todos os estudos para a integração de micro e minigeração distribuída, sem ônus ao acessante, devendo
informar à central geradora a relação de dados necessários à elaboração dos estudos que devem ser
apresentados quando da solicitação de acesso”.
As Tabelas 6.9 e 6.10, extraídas do PRODIST, dão uma idéia das condicionantes impostas aos
projetos de sistemas conectados à rede. Cabe lembrar que no caso da microgeração, muitos inversores
comerciais já possuem incorporadas algumas das proteções listadas na Tabela 6.10.
Tabela 6.9 – Níveis de tensão considerados para conexão de micro e minicentrais geradoras. Fonte: (PRODIST, 2012).
326
Tabela 6.10 – Requisitos mínimos em função da potência instalada. Fonte: (PRODIST, 2012).
Potência Instalada
EQUIPAMENTO 501 kW a
Até100 kW 101 kW a 500 kW
1 MW
Elemento de desconexão (1) Sim Sim Sim
Elemento de interrupção (2) Sim Sim Sim
Transformador de acoplamento Não Sim Sim
Proteção de sub e sobretensão Sim (3) Sim (3) Sim
Proteção de sub e sobrefrequência Sim (3) Sim (3) Sim
Proteção contra desequilíbrio de
Não Não Sim
corrente
Proteção contra desbalanço de tensão Não Não Sim
Sobrecorrente direcional Não Não Sim
Sobrecorrente com restrição de
Não Não Sim
tensão
Relé de sincronismo Sim Sim Sim
Anti-ilhamento Sim Sim Sim
Estudo de curto-circuito Não Sim (4) Sim (4)
Medidor Medidor 4 Medidor 4
Medição
Bidirecional (6) Quadrantes Quadrantes
Ensaios Sim (5) Sim (5) Sim (5)
Notas:
(1) Chave seccionadora visível e acessível, que a acessada usa para garantir a desconexão da central geradora durante
manutenção em seu sistema.
(2) Elemento de interrupção automático acionado por proteção, para microgeradores distribuídos e por comando e/ou
proteção, para minigeradores distribuídos.
(3) Não é necessário relé de proteção específico, mas um sistema eletro-eletrônico que detecte tais anomalias e que produza
uma saída capaz de operar na lógica de atuação do elemento de interrupção.
(4) Se a norma da distribuidora indicar a necessidade de realização de estudo de curto-circuito caberá à acessada a
responsabilidade pela sua execução.
(5) O acessante deve apresentar certificados (nacionais ou internacionais) ou declaração do fabricante que os equipamentos
foram ensaiados conforme normas técnicas brasileiras, ou, na sua ausência, normas internacionais.
(6) O sistema de medição bidirecional deve, no mínimo, diferenciar a energia elétrica ativa consumida da energia elétrica
ativa injetada na rede.
No fim do mês, caso o balanço energético seja positivo (consumidor gerou mais energia elétrica
que a consumida), a distribuidora disponibilizará um crédito energético referente ao excedente, que
327
será compensado nas faturas subsequentes, em um prazo de até 36 meses. Caso existam postos
tarifários (tarifa horo-sazonal ou bandeiras tarifárias), o crédito da energia ativa injetada levará em
conta a tarifa de energia do horário de injeção.
Ressalta-se que no caso em que a energia gerada é maior que a consumida, a distribuidora
cobrará, no mínimo, o valor referente ao custo de disponibilidade para o consumidor do grupo B (baixa
tensão), ou da demanda contratada para o consumidor do grupo A (alta tensão)9. Ressalta-se ainda que
as unidades consumidoras do grupo B não podem ser cobradas pelo excedente de reativos devido ao
baixo fator de potência, de acordo com a Resolução Normativa da Aneel No 569, de 23 de julho de
2013.
Os créditos de energia ativa que não tenham sido compensados na própria unidade consumidora
poderão ser utilizados para compensar o consumo de outras unidades, previamente cadastradas e
atendidas pela mesma distribuidora, cujo titular seja o mesmo da unidade com sistema de
compensação de energia elétrica, possuidor do mesmo Cadastro de Pessoa Física (CPF) ou Cadastro de
Pessoa Jurídica (CNPJ) junto ao Ministério da Fazenda. No caso de consumo por outra unidade
consumidora (que não é a geradora), haverá incidência de impostos sobre a energia consumida
Em virtude deste sistema de compensação de energia que foi definido pelo órgão regulador, pode
não ser interessante que o sistema FV gere, ao longo do ano, mais energia do que a consumida pela
unidade consumidora-geradora. Se forem consideradas outras unidades consumidoras para consumo da
energia gerada, é recomendável que se calcule o custo de geração contabilizando os impostos
incidentes na energia gerada excedente consumida pelas unidades não geradoras.
Logo, para se dimensionar o gerador FV de forma otimizada, deve-se levantar o consumo médio
diário anual da edificação (Wh/dia) descontado o valor da disponibilidade mínima de energia10. Este
dado pode ser calculado pelo histórico de faturas mensais de consumo de energia elétrica emitidas pela
distribuidora local.
A potência de um microgerador que compõe um SFCR pode ser calculada pela Equação 6.28,
onde se pode escolher uma fração da demanda de energia elétrica consumida que se pretende suprir
com o SFCR.
9
A classificação do consumidor é estabelecida pela Aneel em sua Resolução Normativa No 414.
10
“O custo de disponibilidade do sistema elétrico, aplicável ao faturamento mensal de consumidor responsável por unidade
consumidora do grupo B, é o valor em moeda corrente equivalente a:
I – 30 kWh, se monofásico ou bifásico a 2 (dois) condutores;
II – 50 kWh, se bifásico a 3 (três) condutores; ou
III – 100 kWh, se trifásico.
§ 1o O custo de disponibilidade deve ser aplicado sempre que o consumo medido ou estimado for inferior aos referidos
neste artigo, não sendo a diferença resultante objeto de futura compensação.
§ 2o Para as unidades consumidoras classificadas nas Subclasses.” (RN Aneel 414/2010; Seção V; Art. 98).
328
( E / TD)
PFV (Wp) (6.28)
HSPMA
Onde:
PFV (Wp) - Potência de pico do painel FV;
E (Wh/dia) - Consumo diário médio anual da edificação ou fração deste;
HSPMA (h) - Média diária anual das HSP incidente no plano do painel FV;
TD (adimensional) - Taxa de desempenho.
Figura 6.10 - Taxa de desempenho (TD) de 527 SFCRs instalados na Europa ocidental entre 1991 e 2005. Fonte: Adaptado
de (IEA, 2007).
Para SFCRs residenciais, bem ventilados e não sombreados, uma TD entre 70 e 80 % pode ser
obtida nas condições de radiação solar encontradas no Brasil. Contudo, o desempenho do sistema FV é
fortemente influenciado pela temperatura ambiente e pela tecnologia FV utilizada. Geralmente, de
modo a se reduzir a incerteza na estimação da TD do sistema FV, são utilizados programas de
dimensionamento como aqueles listados no final deste capítulo. No caso de instalações maior porte,
como UFVs (Usinas Fotovoltaicas), o dimensionamento deve ser feito com auxílio de tais programas.
329
De qualquer forma, normalmente o dimensionamento de um SFCR é condicionado pelos
recursos financeiros disponíveis para investimento e pela área disponível para sua instalação, muito
mais do que propriamente pelas questões técnicas ou de desempenho.
Após o dimensionamento do gerador FV, deve-se avaliar qual tecnologia melhor atende ao
projeto, levando-se em conta o custo da energia gerada pelo sistema e as vantagens arquitetônicas e
elétricas de cada tecnologia. A escolha de um fabricante também deve levar em consideração a
credibilidade da empresa no que diz respeito à garantia dos módulos (20 a 25 anos) e às características
do produto em termos dos parâmetros elétricos e eficiência e pós-venda.
Quanto à importante questão da área ocupada pelo painel, o item 3.3.5 (Capítulo 3) mostra a área
média ocupada pelas diversas tecnologias. O custo do módulo FV é função da sua potência e não da
sua área. Módulos menos eficientes (filmes finos) podem eventualmente possuir melhor relação
R$/m², ocupando uma maior área de cobertura, porém com um menor investimento. Os módulos de
c-Si, por sua vez, em função de sua maior eficiência, levam a sistemas com menor custo de estruturas
metálicas e cabeamento. Recomenda-se, então, realizar a avaliação considerando todos os
componentes do sistema de geração (estruturas, proteção, cabeamento etc) pois neste caso pode haver
perda da vantagem econômica do filme fino.
Outra característica dos módulos de filmes finos, como no caso das tecnologias de a-Si:H e a-
Si/µ-Si, é ter geralmente um menor coeficiente de temperatura, o que resulta em menor perda de
desempenho devido à temperatura. Todavia, atualmente (2013), mais de 95% do mercado são de
módulos de tecnologia de c-Si, com oferta em torno de 5.000 modelos por centenas de fabricantes.
Enfatiza-se ainda que o gerador FV impõe uma carga mecânica na cobertura à qual está fixado.
Esta carga é função do somatório do peso de todos os componentes do gerador FV que são instalados
sobre tal cobertura (módulos, estruturas metálicas de fixação, cabos etc.). A Figura 6.11 mostra a carga
que três tipos distintos de módulos FV impõem a uma cobertura. Pode-se observar que mesmo para
estruturas de pouca resistência mecânica, existem módulos FV que podem atender às restrições
arquitetônicas de baixa carga adicional. Recomenda-se que a verificação de uma cobertura que irá
receber um SFCR seja realizada por um engenheiro civil habilitado em análise estrutural.
330
Figura 6.11 - Exemplos de cargas mecânicas impostas por três módulos FV distintos Fonte: Adaptado de (DGS, 2008)
Assim como na escolha do fabricante dos módulos FV, a seleção por um fabricante de inversores
também deve levar em consideração a credibilidade da empresa no que diz respeito à garantia do
equipamento (tipicamente cinco a dez anos), assim como sua capacidade produzida acumulada e
assistência técnica no território brasileiro.
Os módulos FV vêm apresentando acentuada redução de custo nos últimos anos. Os inversores,
apesar de também terem apresentado redução de custos, não têm acompanhado o mesmo nível de
redução apresentado pelos módulos FV. Isto vem levando a uma tendência de otimizar ao máximo o
inversor utilizado, de modo a se obter um custo final de energia produzida mais competitivo. O
dimensionamento do sistema deve ser realizado de maneira que o inversor não trabalhe por muito
tempo em potências demasiadamente abaixo da nominal nem seja sobrecarregado. Utilizando-se um
inversor de menor capacidade (e, portanto, menor custo) para um mesmo gerador FV sem impactar na
quantidade de energia e na confiabilidade do sistema, a energia gerada tende a ser mais barata.
Contudo, de uma forma conservadora a potência do inversor pode ser igual à potência nominal da
geração PFV.
331
Devido ao coeficiente de temperatura negativo das tecnologias FV, ou seja, redução da potência
do módulo FV com o aumento de temperatura, costuma-se dimensionar o gerador FV com potência
nominal superior à do inversor, pois, mesmo quando a irradiância está próxima de 1.000 W/m², a
potência do gerador FV dificilmente se aproxima de sua potência nominal. Esta característica física do
dispositivo, associada à otimização econômica do sistema, leva a se subdimensionar os inversores de
SFCRs. Contudo, muitos inversores, em situações em que a potência gerada pelo painel FV ultrapassa
a máxima potência de entrada do equipamento, ajusta seu SPPM de modo a limitar sua potência de
entrada, desprezando toda potência acima deste limite.
Os inversores de SFCRs podem estar sujeitos a elevadas temperaturas devido ao local onde estão
instalados, como, por exemplo, montagem em telhados ou lajes. Neste caso específico, recomenda-se
uma potência do inversor igual ou mesmo superior à potência do gerador fotovoltaico.
PNca (W )
FDI (6.29)
PFV (Wp)
onde:
FDI (adimensional) - Fator de dimensionamento do inversor;
PNca (W) - Potência nominal em corrente alternada do inversor ;
PFV (Wp) - Potência pico do painel fotovoltaico.
A potência do gerador FV e do inversor devem ser ajustadas de modo que o FDI do inversor
tenha a melhor relação custo/benefício. O FDI depende do inversor selecionado, da tecnologia do
módulo FV, da orientação e inclinação do painel, além das condições ambientais, como temperatura e
radiação local. A otimização do FDI exige simulação numérica, que deve ser realizada utilizando-se
dados horários de radiação e temperatura ambiente.
Análise de literatura mostra que os valores inferiores de FDI recomendados por fabricantes e
instaladores situam-se na faixa de 0,75 a 0,85, enquanto que o limite superior é de 1,05.
Tensão de entrada
A tensão de entrada do inversor é a soma das tensões dos módulos associados em série. Como a
tensão possui forte dependência da temperatura, as condições extremas de inverno e verão deverão ser
utilizadas no dimensionamento. A Figura 6.12 mostra, assim como já apresentado nos Capítulos 3 e 4,
como a curva I-V de um gerador FV varia em função de sua temperatura de operação. Portanto, deve-
se garantir a compatibilidade entre as tensões do gerador FV com a faixa de tensão de operação do
inversor.
332
Figura 6.12 - Curvas I-V de um gerador FV em função da temperatura e a compatibilidade, com as janelas de tensão do
SPPM e de operação do inversor. Fonte: Adaptado de (DGS, 2008).
O cálculo da máxima tensão de entrada deve ser realizado com cuidado e atenção, pois ela nunca
deve ser ultrapassada, sendo este um dos maiores riscos de se danificar o equipamento.
A máxima tensão do sistema ocorre quando o painel FV está ainda em circuito aberto (Voc) em
baixas temperaturas. Isto pode acontecer durante o período de inverno, ainda no nascer do sol, quando
a tensão do sistema se eleva em função da baixa temperatura do gerador FV, e o inversor ainda não se
conectou à rede, em virtude da baixa irradiância, ou em função de uma falha na rede, que
automaticamente desconecta o sistema deixando os módulos em circuito aberto. O máximo número de
módulos em série que pode ser conectado ao inversor é calculado pela Equação 6.30, pela razão da
máxima tensão de entrada do inversor e da tensão de circuito aberto para as baixas temperaturas de
inverno. O número máximo de módulos em série também deve respeitar a tensão máxima suportável
pelo módulo, a qual é informada nas folhas de dados técnicos do fabricante e normalmente é em torno
de 1.000V.
(6.30)
onde:
Vimax(V) - Máxima tensão c.c. admitida pela entrada do inversor;
VocTmin(V) - Tensão em circuito aberto (Voc) de um módulo FV na menor temperatura de operação
prevista.
Conforme já alertado no Capítulo 3, módulos de filme fino (ex.: a-Si:H), devido a uma
particularidade do material semicondutor com o qual são produzidos, podem apresentar, nos primeiros
meses de operação, valores de potência, corrente e tensão maiores que seus valores nominais. Para
333
dimensionamento de inversores com esta tecnologia, os valores máximos de tensão devem ser
consultados na folha de dados do fabricante.
Para se determinar a tensão do módulo em temperaturas diferentes da nominal (25 °C), deve-se
consultar sua folha de dados, para se verificar qual é o seu coeficiente de temperatura (β) da tensão Voc.
A informação pode estar disponível em mV/°C ou em valores percentuais %/°C, sendo esta última a
geralmente utilizada nas formulações. A Equação 4.2 (Capítulo 4) permite calcular a tensão de circuito
aberto em função da temperatura. Deve-se lembrar que os coeficientes de temperatura possuem sinal
negativo, ou seja, a tensão Voc é inversamente proporcional à temperatura, o que deve ser considerado
na equação.
O número de módulos conectados em série deve resultar em tensões que atendam à faixa de
tensão SPPM do inversor, mostrada na figura 6.12, conforme indicado na Equação 6.31. Durante o
verão, no Brasil a temperatura dos módulos dos SFVs pode atingir valores superiores a 70 °C, tendo
como consequência a redução da tensão c.c. do sistema, em virtude do coeficiente negativo de
temperatura. Deve-se, portanto, avaliar se o SFCR possui número suficiente de módulos conectados
em série, de modo que a tensão do painel FV seja superior à mínima tensão de SPPM do inversor.
Caso a tensão do painel se reduza abaixo da mínima tensão de SPPM do inversor, a sua eficiência
ficará comprometida e poderá provocar a sua desconexão. Da mesma forma nos períodos frios, a
tensão de potência máxima da série FV na mínima temperatura de operação prevista deve ser inferior a
tensão máxima de operação do SPPM do inversor.
(6.31)
Onde:
ViSPPMmin(V) – Mínima tensão c.c. de operação do SPPM do inversor;
ViSPPMmax(V) – Máxima tensão c.c. de operação do SPPM do inversor;
VmpTmin(V) - Tensão de potência máxima (Vmp) de um módulo FV na menor temperatura de operação
prevista.
VmpTmax(V) - Tensão de potência máxima (Vmp) de um módulo FV na maior temperatura de operação
prevista.
As tensões de máxima potência do módulo para diferentes temperaturas podem ser estimadas
pela Equação 4.2, substituindo os parâmetros referentes à tensão de circuito aberto (Voc), pelos da
tensão de máxima potência (Vmp).
334
Corrente máxima c.c. do inversor
O inversor FV possui uma corrente máxima de entrada c.c. Para garantir que este valor não seja
ultrapassado, pode-se calcular o número máximo de fileiras das séries fotovoltaicas, conectadas em
paralelo, com auxílio da Equação 6.32.
(6.32)
Onde:
Iimax (A) - Corrente máxima c.c. admitida na entrada do inversor;
Isc (A) - Corrente de curto circuito do módulo FV nas STC.
Observar ainda se o fabricante indica o número máximo de séries fotovoltaicas em paralelo que
pode ser utilizada. Há casos ainda que o inversor disponibiliza mais de uma entrada independente com
seguidor de ponto de potência máxima. Neste caso o fabricante indica os limites (Iimax) que devem ser
observados para cada seguidor (podem ser iguais ou não).
A eficiência de um inversor pode ser influenciada pelas características do arranjo FV. Estes
fatores são principalmente a tensão do gerador FV e o FDI do inversor. Um projeto otimizado leva em
consideração estas características, de modo a aumentar a taxa de desempenho do sistema. A Figura
6.13 ilustra curvas de eficiência para um inversor em função destes parâmetros de projeto. É possível
observar que, levando-se em conta somente a tensão de operação do gerador FV, tem-se uma
influência de cerca de 2 % na eficiência do inversor para potência de saída acima de 50% da potência
nominal. Nem todos os fabricantes de inversores disponibilizam os gráficos de como a tensão do
painel FV influencia o dispositivo. Porém, quando disponível, esta informação deve ser utilizada de
maneira a aumentar a TD do sistema, projetando-se um gerador FV que trabalhe com um nível de
tensão que priorize a curva de eficiência de melhor desempenho. Quando esta informação não é
disponível, sugere-se trabalhar com a maior tensão c.c. possível.
335
Figura 6.13 - Gráfico de eficiência do inversor em função do nível de carga e da tensão de operação
(Modelo Sunny Boy 3000HF). Fonte: (SMA, 2011).
Um gerador FV comprometido com sua forma (estética) e sua função é capaz de gerar energia
elétrica com bom desempenho e ainda agregar beleza à edificação a que está integrado. No entanto, em
muitas ocasiões os SFVs são apenas agregados a projetos que não foram originalmente concebidos
para isso. Às vezes, o resultado pode ser interessante e agradável, mas, muitas vezes, o sistema FV
interfere negativamente na arquitetura. Esta situação ocorre quando a única preocupação da instalação
FV é em relação à sua função, ou seja, a maximização da geração de energia elétrica. Pelo contrário,
quando a tecnologia FV é integrada de uma maneira elegante e esteticamente agradável a uma
edificação, esta se torna um exemplo que pode ser utilizado para convencer clientes, arquitetos e o
público em geral quanto ao papel que um sistema FV pode desempenhar, tanto em termos de geração
energética quanto como elemento construtivo de um edifício.
Como já observado no Capítulo 2, baixas latitudes (região entre os Tópicos e o Equador) são
pouco sensíveis a desvios azimutais e de inclinação. Logo, nesta situação, SFCRs integrados à
edificação (SFIEs – Sistemas Fotovoltaicos Integrados a Edificações), mesmo em orientações não
ideais, possuem pequenas perdas associadas a esta não idealidade.
336
Figura 6.14 - Planta Piloto do Megawatt Solar - Eletrosul - Florianópolis - 11,97 kWp - em operação desde Fev/2009.
Fonte: (ZOMER et al., 2012).
Figura 6.15 – Vista em planta da distribuição elétrica dos geradores fotovoltaicos da planta-piloto. Fonte: (ZOMER et al.,
2012).
O sistema curvo e não idealmente orientado foi comparado com outro sistema FV, que utiliza os
mesmos modelos de módulos FV e inversores e fica localizado a cerca de 600 metros de distância
deste. Este sistema, por ter inclinação e orientação ideais para uma instalação FV no local, pode ser
caracterizado como um sistema de referência (Figura 6.16).
337
Figura 6.16 - Sistema FV plano inclinado a 27°N, com 10,24 kWp, integrado ao Centro de Cultura e Eventos da UFSC
(Sistema de referência). Fonte: Grupo Fotovoltaica/UFSC.
A Figura 6.17 mostra os resultados da comparação entre a produtividade dos dois sistemas.
Mesmo com os diferentes desvios azimutais e curvaturas, nos três subsistemas da Planta Piloto houve
meses do ano em que a produtividade foi superior à produtividade do Sistema de Referência. Os
melhores desempenhos da Planta Piloto ocorreram nos meses próximos ao solstício de verão
(novembro, dezembro, janeiro e fevereiro), chegando a superar o Sistema de Referência em até 30 %
no mês de dezembro de 2010. Considerando todo o período analisado, a Planta Piloto teve uma
produtividade média 15 % inferior ao Sistema de Referência. Para um sistema onde o bom
compromisso arquitetônico é indispensável, perdas deste nível podem ser aceitáveis, sendo que este
tipo de análise deve incluir a parte financeira do projeto.
Figura 6.17 - Comparação da produtividade entre a Planta Piloto (subsistemas 1, 2 e 3) e o Sistema de Referência.
Fonte: (ZOMER et al., 2012).
338
Adequação do projeto aos requisitos de segurança, visando torná-lo seguro sob o ponto de
vista elétrico, contemplando-se segurança do próprio sistema e do usuário, bem como da rede
elétrica, se for o caso;
Os pontos mencionados constituem o que se chama de projeto elétrico, que inclui desde a
escolha dos condutores até o dimensionamento/especificação de dispositivos de proteção. Tipicamente
os projetos com conexão em baixa tensão devem respeitar as condicionantes da Norma NBR5410 -
Instalações Elétricas de Baixa Tensão. Devem ser consideradas as perdas relativas aos componentes
que, embora não sejam considerados básicos, são de igual importância para o funcionamento adequado
do sistema. Trata-se do chamado Balanço do Sistema (BOS), derivado da expressão em inglês Balance
of System. O BOS envolve os condutores, diodos de bloqueio, proteções, etc.
Diodos e/ou fusíveis são incluídos em SFVs com os objetivos de proteção apresentados no
Capítulo 4.
Os diodos de desvio são especialmente importantes nos SFCRs instalados em áreas urbanas, por
serem seus painéis fotovoltaicos instalados em telhados e fachadas e normalmente mais sujeitos a
sombreamentos parciais. Os módulos fotovoltaicos atuais já incluem um ou mais diodos de desvio,
evitando que o projetista tenha que adicioná-los em seu projeto. Abrindo-se a caixa de conexão do
módulo, pode-se constatar visualmente a presença dos diodos (ver Figura 4.6).
Além dos diodos de bloqueio pode-se ainda utilizar fusíveis fotovoltaicos. O fusível é um
componente de proteção usado para proteger a série fotovoltaica do fluxo de corrente reversa de um
fileira (série) com tensão maior para uma com tensão menor. Deve ser dimensionado para correntes
menores que a corrente reversa suportável pelo módulo. Os fusíveis só são necessários se houver mais
de duas séries fotovoltaicas. Devem ser para corrente contínua e ser colocados na saída de cada série
tanto no polo positivo quanto no polo negativo. Recomenda-se a utilização do tipo gPV, que é
apropriado para operação em sistemas fotovoltaicos (mais detalhes são disponibilizados no Capítulo
4).
339
Cabeamento
Planilhas que auxiliam na escolha da bitola dos condutores são apresentadas no Apêndice 4 e
referem-se a limites de queda de tensão de 1 % e 3 % em sistemas em corrente contínua com tensões
nominais de 12, 24 e 48 V. A NBR 5410 ou algum programa de escolha da bitola do cabeamento
podem ser utilizados e indicam a bitola adequada para os condutores em função do comprimento do
ramal, da tensão nominal e do nível de perdas pretendido. De forma alternativa, utiliza-se a Equação
6.33 para determinar a seção mínima de condutor S, necessária para uma determinada instalação em
corrente contínua.
mm 2 d (m) I ( A)
S (mm )
2
(6.33)
m V (V )
Onde:
- resistividade do material do condutor, geralmente cobre;
d - distância total do condutor, considerando o trecho de retorno (ida e volta);
I - corrente que passa pelo condutor;
ΔV - queda de tensão tolerada no cabeamento para o trecho analisado.
Assim como no caso das estruturas metálicas, é importante que os cabos utilizados nessas
instalações estejam preparados para suportar as mais adversas condições climáticas, pois estarão
expostos a intensa radiação, calor, frio e chuva por um longo período de tempo. Recomenda-se o
dimensionamento de cabos da instalação de acordo com a temperatura efetiva de trabalho e o método
escolhido de proteção dos condutores utilizando-se o fator de correção de temperatura contido na
NBR5410. Além disso, o material de proteção e isolamento do condutor também deve ser resistente às
condições climáticas, especialmente à radiação ultravioleta.
Há uma extensa faixa de tensão c.c. utilizada em sistemas fotovoltaicos conectados à rede. A
utilização de tensões maiores ou menores está muitas vezes relacionada ao tipo de inversor utilizado, o
que implica algumas vantagens e desvantagens no que se refere à instalação, proteção e redução de
perdas em c.c.
Níveis baixos de tensão c.c. têm a vantagem de serem mais seguros e mais apropriados para
baixas potências. Por outro lado, quanto maior a tensão de entrada do inversor, mais simples se torna a
340
instalação, sendo os inversores mais compactos e mais eficientes. Contudo, ressalta-se que a elevação
do nível de tensão c.c. requer cautela, tanto na instalação quanto na operação, uma vez que a tensão de
operação torna-se mais perigosa. Atualmente, as faixas de tensão c.c. mais praticadas nos inversores
variam entre 100 e 1.000 volts, dependendo do tipo e porte do sistema, e o cabeamento deve ter o
isolamento adequado ao nível de tensão utilizado.
Proteções adicionais
Ferramentas computacionais, quando bem utilizadas, podem gerar bons resultados. Pode-se até
utilizar mais de uma ferramenta, a primeira dando uma idéia preliminar, indicativa, e a segunda dando
resultados mais precisos, com a simulação da operação do sistema. É de fundamental importância que
os dados de entrada sejam de boa qualidade e que a pessoa responsável pelas simulações tenha clareza
das limitações da ferramenta selecionada. As ferramentas são, em geral, projetadas para algumas
situações específicas; ignorá-las pode levar a resultados incorretos.
As ferramentas disponíveis podem ser divididas em diversas classes. Para cada classe existe uma
oferta ampla de ferramentas livres ou proprietárias, que podem ser escolhidas em função das
especificidades dos projetos. De uma forma geral, os softwares relacionados com projeto de sistemas
fotovoltaicos podem ser aplicados para:
341
Dimensionamento: Auxiliam o projetista na escolha dos componentes e configuração do
sistema, indicam a melhor orientação dos painéis, dentre outras funções.
Localização: Em função das variações do recurso solar de local para local e influência de
objetos e prédios vizinhos, com o consequente sombreamento do gerador fotovoltaico, é
importante fazer uso de programas que permitam a análise da incidência da radiação solar
sobre o plano considerado. Esses programas são especialmente úteis para sistemas instalados
em ambiente urbano e/ou que ocupam áreas extensas.
Curvas de Carga: Programas auxiliares podem ser utilizados para uma composição da curva
de carga a partir das especificações técnicas das cargas e de seus regimes de utilização.
Cabeamento: Em função das correntes que circulam em cada parte do circuito, das
características dos condutores, dos circuitos elétricos e do nível admissível de perdas, esses
programas auxiliam na escolha da bitola dos condutores.
Dados meteorológicos: Antes de iniciar qualquer análise, é importante obter-se uma fonte
confiável de dados meteorológicos e climáticos, assunto já abordado no Capítulo 2. Esses
programas podem auxiliar na escolha da orientação do painel.
Sistemas híbridos: A geração fotovoltaica também pode estar associada a outras tecnologias
de geração de energia elétrica em configurações híbridas. Ferramentas específicas estão
disponíveis para a análise da integração de diversas fontes.
342
parte do projetista. Esse conhecimento é necessário para a correta utilização dessas ferramentas, bem
como para a interpretação dos resultados por elas fornecidos.
6.6.1 - Homer
A versão 2.0 do Hybrid Optimization Model for Electric Renewable (Homer) desenvolvido nos
EUA, no National Renewable Energy Laboratory (NREL), laboratório do US DoE (Department of
Energy), foi apresentada no ano 2000. Pode simular sistemas conectados à rede, isolados ou híbridos,
combinando diferentes tipos de geração: eólica, biogás, microturbinas, células a combustível, etc.
Também determina o rejeito de calor gerado pelo sistema, visando atender a cargas térmicas. O Homer
é muito utilizado por projetistas no Brasil para simulações de sistemas isolados pois apresenta uma
interface amigável com o usuário.
O programa inclui os dados climatológicos de 239 localidades nos EUA, podendo-se também
inserir os valores médios mensais de irradiância ou coeficiente de transparência atmosférico (ktm)
obtidos de outras fontes, com os quais se geram sinteticamente dados horários de radiação utilizando o
método de Graham (1990). Ao selecionar a potência do painel, o usuário deve inserir um “Derating
Factor”, que considera as múltiplas perdas que possam ocorrer nos geradores. Este fator é
determinante nos cálculos e é fundamental estimá-lo adequadamente, já que, apesar de sua
importância, o programa não impõe nenhuma restrição.
6.6.2 - Hybrid2
O programa leva a um detalhado exame da configuração do sistema. A simulação pode ser feita
em base horária ou minuto a minuto. Possui uma base de dados que contém 150 tipos de geradores
eólicos, módulos fotovoltaicos, baterias e geradores a diesel.
O programa não é muito “amigável” (user friendly) e suas principais desvantagens são:
dificuldade na modelagem dos equipamentos de geração, pois nem sempre os dados necessários são
343
fornecidos pelo fabricante; instabilidade do programa em função dos dados de entrada, e; não há
equipe de suporte do programa ou para continuidade de desenvolvimento.
6.6.3 - RETScreen
6.6.4 - Insel
A nova versão deste programa foi projetada para permitir a inclusão de novos blocos,
especialmente na área de aquecimento e resfriamento solar. Com a ajuda de um editor gráfico, o
usuário pode construir um diagrama de blocos para a configuração do sistema desejado. Durante esse
processo, o usuário tem acesso a um grupo de bibliotecas disponíveis, que incluem: cálculo da
radiação, de módulos, inversores, baterias, geradores eólicos e sistemas de bombeamento; além disso,
possui uma base de dados que permite conhecer valores médios mensais de irradiação de
aproximadamente 2.000 lugares.
O programa PV- Design Pro foi desenvolvido pela empresa Maui Solar Energy Software
Corporation; atualmente permite a simulação de sistemas fotovoltaicos isolados, sistemas conectados à
rede e sistemas para bombeamento.
Contém uma base de dados de radiação solar abrangendo mais de 2.000 lugares no mundo
inteiro. Permite a utilização de um programa adicional para a conversão de dados do Meteonorm.
Apresenta base de dados com informação sobre inversores, baterias e módulos.
344
6.6.6 – PV-Sol
O programa PV-Sol Pro, desenvolvido pela empresa Di Valentin Energy Software, é utilizado
para a análise e simulação de sistemas isolados e conectados à rede.
Permite estudar a configuração de vários geradores e possui uma ampla base de dados de
módulos, baterias, inversores e grupos geradores. Permite também a criação de diferentes perfis de
carga e, para ter em conta possíveis elementos que interceptem a radiação solar, possui um gerador de
sombras.
6.6.7 - PVSyst
O programa permite importar dados dos programas Meteonorm e TMY2, o que facilita comparar
valores simulados com valores medidos. Além disso, tem uma interface para dados e possui base de
dados de irradiação de 22 localidades na Suíça e de 200 localidades do resto do mundo. Possui uma
ampla base de dados de módulos e inversores. O programa apresenta as perdas do sistema fotovoltaico
e a sua taxa de desempenho. É especialmente utilizado para SFCRs.
Se o usuário adicionar o custo de cada componente à base de dados existente, o programa pode
projetar os custos de produção de energia em adição a uma série de parâmetros técnicos, fornecidos no
fim da simulação.
6.6.8 - SolarPro
Criado em Kyoto, Japão, o programa Solar Pro é um dos poucos produtos que não apenas
considera as sombras do horizonte como também bloqueio de radiação por corpos criados pelo
usuário. Através de uma animação tridimensional da trajetória aparente diária do Sol e com
ferramentas para desenhar objetos tridimensionais, permite considerar a geração de sombras sobre
determinadas superfícies. O programa está equipado com uma base de dados de irradiância de 1.600
lugares em 151 países. Realiza um exame da produção de eletricidade, levando em consideração as
sombras.
6.6.9 - SolEm
SolEm é um programa que permite simular sistemas fotovoltaicos com base de tempo horária,
baseado numa planilha Excel, e permite uma análise detalhada de SFCRs. Como emprega um código
345
aberto, o usuário pode adaptá-lo às suas necessidades. Implementa componentes que permitem ao
usuário seguir o caminho dos cálculos e um editor de sombras para diferentes porcentagens de
sombreamento nos vários meses do ano e para distintos ângulos. Contém uma base de dados para 120
localidades de países europeus e também inclui uma interface para importar dados do programa
Meteonorm.
6.6.10 - PV F-CHART
PV F-Chart é um programa para projetar e analisar SFVs, que realiza cálculos horários para
determinar o comportamento do sistema, através de métodos desenvolvidos na University of
Wisconsin, tendo em conta as variações da radiação e das cargas.
6.6.11 - PVSIZE
A Tabela 6.11 mostra o endereço eletrônico para a localização na internet11 dos programas
citados.
Tabela 6.11 - Principais características dos programas pesquisados e suas respectivas páginas na internet.
Foco
Intervalo
do Idio Livre ou Componentes da
Nome de Endereço na internet
progra ma Pago Base de Dados
Tempo
ma
SFI,
A, M, D, B, E, G www.homerenergy.com
HOMER SFCR, I Pago
H
SFH
http://www.umass.edu/windenergy/research.topics.to
SFI, S/I
HYBRID2 I Livre S/I ols.software.hybrid2.form.php
SFH
SFI,
PV- A, M, D, M, E, G, B, I, C http://www.mauisolarsoftware.com
SFCR, I, E Pago
DesignPro H
SFH
11
Ressalta-se que os endereços citados estavam disponíveis durante a elaboração deste Manual, entretanto essa
disponibilidade na internet é algo dinâmico e fora do controle dos autores.
346
Tabela 6.11 - Principais características dos programas pesquisados e suas respectivas páginas na internet (Continuação).
Foco
Intervalo
do Idio Livre ou Componentes da
Nome de Endereço na internet
progra ma Pago Base de Dados
Tempo
ma
SFI,
I, A, A, M, D, M, G, B, I, CC, C www.valentin.de
PV*SOL SFCR, Pago
E, F S, H
SFH
SFI,
A, M, D, M, G, EA, B, I, CC, C www.pvsyst.com
PVSyst SFCR, I Pago
H
SFH
SFI,
RETScreen SFCR, I, F Livre A G http://www.retscreen.net/
SFH
A, M, D,
SolarPro SFI I, J Pago M, G www.lapsys.co.jp/english/index.html
H
A, M, D,
SolEm SFCR A Pago M, G, I www.solem.de
H
PV F-
SFI I Pago H G http://www.fchart.com/
CHART
A, M, D,
PVSize SFI P Livre M, G, T, B,I,CC,C http://www.solar.ufrgs.br
S, H
Legenda:
S/I- Sem informação.
Idioma: I: Inglês, A: Alemão, E: Espanhol, F: Francês, J: Japonês, P: Português.
Intervalo de tempo: A: ano, M: mês, S: semana, D: dia, H: hora.
Foco do programa: SFI: sistema fotovoltaico isolado, SFCR: sistema fotovoltaico conectado à rede, SFH: sistema
híbrido, SBFV: sistemas de bombeamento fotovoltaico, ST: sistemas térmicos em geral, SFV: sistemas fotovoltaicos em
geral.
Base de dados de componentes: M: módulos fotovoltaicos, G: irradiância e temperatura, B: bateria, I: inversor FV,
CC: controlador de carga, C: consumo, E: gerador eólico, D: gerador diesel, CS: coletores solares, BM: biomassa,
A: gerador hidráulico, EA: energia auxiliar.
Outros programas para cálculo de sistemas de aproveitamento solar podem ser encontrados
através dos links relacionados abaixo:
Estas fontes não esgotam as ferramentas disponíveis e são apenas uma tentativa de apresentar ao
leitor alguns programas utilizados.
347
6.7 – Apresentação do projeto
Todos os elementos que compõem o Projeto Básico devem ser elaborados por profissional
legalmente habilitado, sendo indispensável o registro da respectiva Anotação de Responsabilidade
Técnica do CREA, identificação do autor e sua assinatura em cada um dos documentos produzidos.
O Projeto Básico deve compreender: desenhos (diagramas, plantas etc), memória descritiva e de
cálculo, especificação técnica, orçamento e cronograma, descritos a seguir.
Desenhos: Representação gráfica do objeto a ser executado, constituída por plantas e diagramas
elétricos, obedecendo às normas técnicas pertinentes. As pranchas de desenho deverão possuir
identificação contendo: a) Denominação e local da obra; b) Nome da entidade executora; c) Tipo de
projeto; d) Data; e) Nome do responsável técnico, número de registro no CREA e sua assinatura.
Especificação Técnica: Texto no qual se fixam todas as regras e condições que se deve seguir
para a execução da obra. Deve caracterizar individualmente os materiais, equipamentos, elementos
componentes, sistemas construtivos e o modo como serão executados cada um dos serviços, os
348
critérios para a sua verificação, os requisitos de desempenho e de qualidade. Devem ser incluídos os
planos de: comissionamento e testes, limpeza do local da obra, obtenção de licenças ambientais e de
descarte de baterias (se for o caso). Quando solicitado pelo contratante, pode-se incluir descrição de
treinamento e capacitação a serem realizados pela contratada tanto para os usuários do sistema quanto
para técnicos de operação e manutenção.
Orçamento: Avaliação do custo total da obra tendo como base preços dos insumos praticados no
mercado ou valores de referência. Os levantamentos de quantidades de materiais e serviços são obtidos
a partir dos elementos descritos nos itens anteriores. O orçamento deverá ser apresentado em
composições de custos unitários e expresso em planilhas de custos e serviços, referenciadas à data de
sua elaboração. Cada composição de custo unitário define o valor financeiro a ser despendido na
execução do serviço e seus preços coletados no mercado, devendo conter, a discriminação de cada
insumo, unidade de medida, sua incidência na realização do serviço, preço unitário e custo parcial e o
custo unitário total do serviço, representado pela soma dos custos parciais de cada insumo.
Após a elaboração do projeto básico e antes de se iniciar a obra, deve ser elaborado o projeto
executivo que apresenta o conjunto dos elementos necessários e suficientes à execução completa da
obra, de acordo com as normas e legislação pertinentes. O projeto executivo pode sofrer algumas
alterações (mas que não descaracterizam o projeto inicial) durante a instalação do sistema e, por isso,
após o comissionamento deve ser entregue ao proprietário do sistema o projeto executivo as built, ou
seja, o projeto executivo “conforme construído”.
O projeto executivo deve ser muito mais detalhado que o projeto básico, já que servirá como
base para a execução do projeto, por isso deve apresentar plantas e diagramas detalhados de todas as
estruturas e circuitos, bem como os cálculos detalhados de todo o sistema de geração, de proteção, de
aterramento etc. e os cálculos estruturais de suportes e de construções civis. Ressalta-se que o
detalhamento dos compartimentos, considerando distâncias e ventilação recomendadas para os
equipamentos, acesso para manutenção etc., assim como o detalhamento da logística de acesso e
transporte ao local são itens fundamentais e não devem ser relegados.
349
É recomendável a apresentação do cronograma detalhado, ou seja, com as atividades
desmembradas para facilitar o acompanhamento e supervisão dos serviços e facilitar a resolução de
entraves.
O contrato de serviço para instalação de qualquer sistema deve prever uma fase de garantia de
funcionamento do sistema e de equipamentos. No caso de sistemas que apresentam uma
disponibilidade mínima de energia, o fornecedor deve ainda apresentar garantia de desempenho.
Devem ser previstas multas ou procedimentos de correções no caso das garantias não serem
cumpridas.
Os prazos previstos para conclusão das obras e inicio da operação da planta devem ser garantidos
pelo fornecedor contratado. No caso dos prazos para cada marco do projeto não serem cumpridos,
deve ser prevista “multa por atraso”. Em contrapartida, também devem ser previstas multas e correções
monetárias no caso do fornecedor entregar o serviço no prazo, mas o contratante atrasar o pagamento.
Garantias de fábrica
Durante a fase de garantia do sistema, o fornecedor contratado responde por todos os problemas
com equipamentos e intermedia o processo com os fabricantes. Recomenda-se que eventuais custos de
transporte de equipamentos e de pessoal sejam previstos e definidos como serão rateados.
Garantia do sistema
O fornecedor contratado deve garantir por um prazo acordado não só os equipamentos mas o
sistema em seu conjunto contra: erros de projeto, de instalação, de escolha de materiais ou
equipamentos; incompatibilidade de funcionamento entre equipamentos; erro na coordenação da
proteção; inconsistência da especificação e requisitos de projeto etc. Assim, no período de garantia do
sistema deve ser de responsabilidade do fornecedor do serviço a correção de qualquer problema que
não tenha sido detectado no comissionamento mas que ficou evidenciado posteriormente como erro de
projeto ou de instalação.
350
Garantia de desempenho da planta fotovoltaica
(6.35)
Onde:
EFV (kWh/mês ou kWh/ano) - é a energia produzida pelo sistema e injetada na rede durante o período
de avaliação, normalmente no mês ou no ano;
IrT (kWh/mês ou kWh/ano) - é a irradiação total incidente na área do painel fotovoltaico e no plano de
instalação do mesmo;
EfSTC (%) - é a eficiência nominal dos módulos fotovoltaicos nas condições padrão de ensaio (STC).
6.8 – Referências
351
BURGER, B.; RÜTHER, R. Inverter sizing of grid-connected photovoltaic systems in the
light of local solar resource distribution characteristics and temperature. Solar Energy, Issue 1, v.
80, 2006. p. 32-45.
DGS. Planning and installing photovoltaic systems - A guide for installers, architects and
engineers. Berlin, German: Deutsche Gesellschaft fur Sonnenenergie - The German Solar Energy
Society, 2008.
DUFFIE, J. A.; BACKMAN, W. A. Solar engineering of thermal process. Jonh Wiley & Sons,
1991.
DUNLOP, J. (National Joint Apprenticeship and Training Committee for the Electrical
Industry). Photovoltaic Systems. 1a ed. USA: American Technical Publishers, Inc., 2007. 452 p.
EGIDO, M.; LORENZO, E. The sizing of stand-alone PV-systems: a review and a proposed
new method. Solar Energy Materials and Solar Cells, v. 26, 1992. p. 51-69.
352
FILHO, G. F. P. Ferramenta Computacional para Dimensionamento e Avaliação de
desempenho e Dimensionamento de Sistemas Fotovoltaicos Conectados à Rede Elétrica. Belém,
Brasil: Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Pará, 2012.
HUSSIN, M. Z.; OMAR, A. M.; ZAIN, Z. M.; SHAARI, S.; ZAINUDDIN, H. Design impact
of 6.08 kWp grid-connected photovoltaic system at Malaysia Green Technology Corporation.
International Journal of Electrical and Electronic Systems Research, v. 5, 2012.
MESSENGER, R.; VENTRE, J. Photovoltaic systems engineering. 2. ed. Boca Raton, Florida,
USA: CRC Press LLC, 2000.
353
NOTTON, G.; LAZAROV, V.; STOYANOV, L. Optimal sizing of a grid-connected PV
system for various PV module technologies and inclinations, inverter efficiency characteristics
and locations. Renewable Energy, Issue 2, v. 35, 2010. p. 541-554.
NREL - National Renewable Energy Laboratory (Pless, S.; Deru M.; Torcellini, P.; Hayter, S.).
2005. Technical Report NREL/TP-550-38603 Procedure for Measuring and Reporting the
Performance of Photovoltaic Systems in Buildings. October 2005. Consultado em
http://www.nrel.gov/docs/fy06osti/38603.pdf, em dezembro de 2013.
PRASAD, D.; SNOW, M. Designing with solar power - A source Book for Building
Integrated Photovoltaics (BIPV). Australia: Images Publishing, 2005.
RUTHER, R.; DEL CUETO, J.; TAMIZH-MANI, G.; MONTENEGRO, A. A.; RUMMEL, S.;
ANDERBERG, A.; VON ROEDERN, B. Performance test of amorphous silicon modules in
different climates - year four: Progress in understanding exposure history stabilization effects.
San Diego, California, USA: Proceedings of the 33th IEEE Photovoltaic Specialists Conference, 2008.
RUTHER, R.; NASCIMENTO, L.; JUNIOR, J. U.; PFITSCHER, P.; VIANA, T. Long-term
performance of the first grid-connected, building-integrated, thin-film amorphous silicon PV
installation in Brazil. Honolulu, HI, USA: Proceedings of the 35th IEEE Photovoltaic Specialists
Conference, 2010a.
354
SANDIA - Sandia National Laboratories, Photovoltaic Design Assistence Center. Stand-alone
photovoltaic systems - A handbook of recommended design practices. 1991.
ZOMER, C. D.; NASCIMENTO, L. R. D.; JUNIOR, J. U.; OKUDA, B.; FLORES, F.;
RÜTHER, R. Geração solar fotovoltaica integrada a edificações urbanas: compromissos entre
forma e função. São Paulo, Brasil: Anais do IV Congresso Brasileiro de Energia Solar e V
Conferência Latino-Americana da ISES, 2012.
355
CAPÍTULO 7
356
CAPÍTULO 7 – INSTALAÇÃO DE SISTEMAS FOTOVOLTAICOS E RECOMENDAÇÕES
DE SEGURANÇA
Segundo estudo sobre principais falhas e suas causas do Projeto de 1.000 sistemas fotovoltaicos
(SFCR) instalados em telhados na Alemanha, entre 1991 e 1995 - período em que esse tipo de sistema
ainda era incipiente no país (similar ao período atual no Brasil) - constatou-se que quase 40% das
falhas ocorridas foram devidas a problema na instalação e outros 30% por erros de projeto. Os
sistemas fotovoltaicos instalados no âmbito do Programa Luz para Todos, principalmente os MIGDIs,
também apresentaram muitos problemas de instalação. Esses fatos ressaltam que para um bom
resultado não são suficientes um bom dimensionamento e a especificação de equipamentos de
qualidade, mas sim, o bom gerenciamento da qualidade do projeto e da instalação como um todo; por
isso é fundamental critérios e especificações bem definidos para todas as etapas do processo.
Pelo fato de muitas instalações de SFVs serem frequentemente realizadas em locais distantes
e/ou de difícil acesso, deve-se planejar, organizar e transportar todos os materiais, ferramentas,
equipamentos e pessoal que serão necessários à execução dos serviços, a fim de evitar eventuais
atrasos e custos adicionais desnecessários. Todos os componentes que podem ser montados
previamente em oficinas devem ser transportados preferencialmente já preparados, exceto quando esta
pré-montagem comprometa a logística de transporte.
Para facilitar e agilizar o processo de instalação, sugere-se dividi-lo nas fases de pré-instalação e
instalação. Durante a fase de pré-instalação, a atenção do projetista deve estar voltada para o
dimensionamento e seleção de acessórios (suportes, cabeamento, terminais etc.), configuração (layout)
do local, pré-montagem e estimativas do tempo para instalação, das obras civis necessárias e das
condições climáticas no momento do trabalho. A instalação propriamente dita envolve a montagem e o
comissionamento (inspeções e testes) do SFV, que devem ser realizados no local definitivo, de forma
rápida, eficiente e segura. A instalação bem planejada e executada proporciona a proteção devida às
pessoas e garante aos SFVs confiabilidade e bom desempenho, resultando na satisfação do usuário.
357
O texto apresentado a seguir descreve procedimentos relativos à instalação dos vários
componentes de um SFV. Salienta-se que alguns destes componentes estão presentes somente em
determinadas configurações de sistema, como é o caso das baterias e os controladores de carga,
indispensáveis aos sistemas isolados e das motobombas, presentes nos sistemas de bombeamento de
água.
Para instalação dos SFVs é aconselhável seguir normas e recomendações técnicas nacionais
relacionadas ao processo de instalação. Na falta destas, deve-se consultar normas internacionais. É
importante que as normas utilizadas sejam aquelas vigentes na época da sua utilização.
358
Tabela 7.1 – Normas nacionais recomendadas para consulta (continuação).
Org. Código Título Descrição Aplicação
Sistemas fotovoltaicos Especifica os procedimentos de ensaio
ABNT - Associação Brasileira de Normas
Estabelece as informações e a
Sistemas fotovoltaicos documentação mínimas que devem ser Sistema conectado à
conectados à rede — compiladas após a instalação de um
Requisitos mínimos para sistema fotovoltaico conectado à rede. rede.
NBR 16274:2014 documentação, ensaios Também descreve a documentação, os
de comissionamento, ensaios de comissionamento e os (Pode ser usada
inspeção e avaliação de critérios de inspeção necessários para parcialmente para
desempenho avaliar a segurança da instalação e a sistemas isolados.)
correta operação do sistema.
ANEEL - Agência Nacional de
Programa de Avaliação da
Conformidade para sistemas e
Requisitos de avaliação equipamentos para energia
da conformidade para fotovoltaica, através do mecanismo da
Sistemas fotovoltaicos
sistemas e equipamentos Etiquetagem, para utilização da
Portaria 004/2011 Etiqueta Nacional de Conservação de isolado e conectado à
para energia fotovoltaica
rede.
(módulo, controlador de Energia – ENCE, atendendo aos
carga, inversor e bateria) requisitos do Programa Brasileiro de
Etiquetagem - PBE, visando a
eficiência energética e adequado nível
de segurança.
359
Tabela 7.1 – Normas nacionais recomendadas para consulta (continuação).
Org. Código Título Descrição Aplicação
Descrição geral: reúne e sistematiza os
Concessionárias
Recommended practice
for maintenance, testing Fornece considerações de
and replacement of procedimentos para manutenção, testes Sistema isolado e
450-2002
vented lead-acid e substituição de baterias de chumbo- híbrido.
batteries for stationary ácido ventiladas estacionárias.
applications
360
Deve-se também seguir os procedimentos de instalação e operação contidos na documentação
técnica (manual) dos equipamentos. A seguir, são apresentadas algumas sugestões gerais de segurança
para auxiliar na instalação adequada dos SFVs:
1
Deve-se ter atenção especial quanto às especificidades de instalação de sistemas fotovoltaicos conectados à rede, sugere-
se consultar as normas pertinentes e, em especial, os procedimentos estabelecidos pela concessionária para conexão do
sistema de autoprodução de energia ao seu sistema de distribuição.
361
Figura 7.1 – Exemplo de placa de advertência de risco de choque elétrico.
Figura 7.3 – Exemplo de placa de advertência de risco de choque elétrico devido à geração própria de sistemas conectados
à rede.
362
Cabe lembrar que algumas configurações de SFVs podem apresentar níveis de tensão e
corrente letais. Apesar da baixa tensão dos módulos fotovoltaicos, a conexão de vários em série
ou o erro de uma conexão pode representar um grande perigo. As baterias, quando presentes no
sistema, também requerem extremo cuidado no manuseio, pois podem conter elementos
perigosos em sua composição química, além de sua alta densidade de energia.
Os cuidados com relação ao manuseio de módulos fotovoltaicos e baterias são tratados nos itens
7.2.1 e 7.3.1, respectivamente. Informações adicionais podem ser consultadas no Capítulo 8.
A seguir, são apresentadas algumas sugestões de segurança para o trabalho apropriado e seguro
com os módulos:
2
Antes de iniciar a consulta das normas elencadas, deve-se atentar à configuração do sistema e à forma de instalação do
gerador fotovoltaico.
363
Evitar contatos indesejados de pessoas, animais ou outros objetos com o módulo. Apesar da
relativa rigidez de sua estrutura, choques mecânicos podem resultar em danos ao vidro de
proteção e até mesmo às células fotovoltaicas.
Instalar uma cerca ao redor do gerador fotovoltaico, caso o local onde ele esteja situado possa
ser facilmente acessado por pessoas não autorizadas ou animais.
O gerador fotovoltaico deve ser colocado suficientemente distante de objetos que possam
encobrir a luz do sol, para que nenhuma sombra ocorra especialmente nas horas de melhor irradiância,
usualmente entre 9 e 15 horas. A Equação 7.1 apresenta um método para estimar a distância mínima
que o gerador fotovoltaico deve ser colocado da fonte de sombreamento. Cabe salientar que o referido
método fornece uma estimativa simples e conservadora, pois considera que a sombra do obstáculo
cobre por igual todo o gerador fotovoltaico, o que comumente não acontece, devido aos contornos não
homogêneos do sombreamento.
d Fehob hi (7.1)
onde:
364
Figura 7.4 – Fator de espaçamento versus latitude do local da instalação do gerador fotovoltaico. Fonte: (PINHO et al.,
2008).
Este método garante que o obstáculo não projeta sua sombra sobre o gerador durante o inverno,
dias mais curtos (21 de junho no hemisfério Sul e 21 de dezembro no hemisfério Norte), três horas
antes e três depois do meio-dia solar. A Figura 7.5 ilustra a aplicação do método.
Figura 7.5 – Ilustração para definição do espaçamento mínimo entre gerador fotovoltaico e obstáculo, para evitar
sombreamento. Fonte: (PINHO et al., 2008).
Outros aspectos que também devem ser considerados, quanto à instalação do gerador
fotovoltaico, são as possibilidades de vandalismo, crescimento da vegetação vizinha, construção de
edificações e/ou instalação de objetos sombreadores no entorno em um futuro próximo.
365
7.2.3 – Orientação e inclinação do gerador fotovoltaico
Para maximizar a captação de energia ao longo do ano, as duas condições descritas a seguir
devem ser observadas.
Orientação
Em geral, para uma operação adequada e eficiente, os módulos devem estar orientados em
direção à linha do equador. Nas instalações localizadas no hemisfério Sul, a face dos módulos
fotovoltaicos deve estar orientada em direção ao Norte Verdadeiro, como indicado na Figura 7.6.
Porém, esta regra pode não ser válida caso o clima local varie muito durante um dia típico; por
exemplo, caso ocorra neblina durante a manhã e a maioria da incidência de radiação solar ocorra à
tarde. Por sua vez, caso o local de instalação esteja no hemisfério Norte, os módulos fotovoltaicos
devem estar orientados com sua face voltada para o Sul Verdadeiro.
Figura 7.6 – Orientação da face dos módulos fotovoltaicos para o norte verdadeiro em um dado local no hemisfério Sul
(ângulo azimutal de superfície igual a 180º).
Na maioria dos locais, a direção do Norte Verdadeiro (ou do Sul Verdadeiro) não coincide com a
do Norte Magnético (ou Sul Magnético) indicado pela bússola (instrumento tipicamente usado para
determinar a orientação dos módulos fotovoltaicos), necessitando ser feita, então, a correção do
referencial magnético. Para tal, usa-se a Declinação Magnética do local de instalação, a qual pode ser
obtida facilmente através de mapas e programas computacionais disponibilizados por vários
organismos.
366
Em nível internacional, a NOAA3, órgão dos EUA, também disponibiliza em sua página na
internet os valores de declinação magnética para qualquer local do mundo
(www.ngdc.noaa.gov/geomag-web).
A Figura 7.7 ilustra a aplicação da correção do referencial magnético para um local onde a
declinação magnética é igual a -20º.
Figura 7.7 – Exemplo de correção para uma declinação magnética local de 20º negativos
Deve-se também atentar para o fato de que a indicação da bússola pode sofrer grandes
desvios se ela for utilizada nas proximidades de grandes objetos metálicos ou fontes de campos
magnéticos4.
Inclinação
Para geração máxima de energia ao longo do ano, o ângulo de inclinação do gerador fotovoltaico
(Figura 7.8) deve ser igual à latitude do local onde o sistema será instalado. No entanto, pequenas
variações na inclinação não resultam em grandes mudanças na energia gerada anualmente e a
inclinação do gerador fotovoltaico pode estar dentro de 10º em torno da latitude do local. Por exemplo,
um sistema usado, ao longo de todo o ano, em uma latitude de 35º pode ter um ângulo de inclinação de
25 a 45º, sem uma redução significativa no seu desempenho anual.
Para áreas muito próximas ao equador, com latitudes variando entre –10º e +10º, aconselha-se
uma inclinação mínima de 10º, para favorecer a autolimpeza dos módulos pela ação da água da chuva.
Em locais com muita poeira é necessário limpar regularmente a superfície dos módulos, uma vez que a
sujeira reduz a captação de luz pelos módulos, consequentemente reduzindo o seu desempenho.
Entretanto, deve-se tomar cuidado para não danificar o vidro ou qualquer outro material de cobertura
do módulo. Recomenda-se utilizar apenas água e um pano de tecido macio. Este procedimento deve
ser realizado no início da manhã ou ao final da tarde, aproveitando os horários em que o gerador
fotovoltaico está frio e a sua produção não é significativa.
3
National Oceanic and Atmospheric Administration.
4
Este fato pode ser percebido colocando-se um pequeno imã perto da bússola, que sofrerá uma alteração em sua direção.
367
Figura 7.8 – Ângulo de inclinação dos módulos fotovoltaicos.
Para períodos de integração mais curtos, o ângulo de inclinação que maximiza a geração de
energia (instantânea ou diária, por exemplo) varia com a época do ano e com a latitude do local onde o
sistema será instalado. Dependendo da aplicação e das condições climáticas ao longo do ano, pode-se
utilizar outras inclinações que privilegiem a geração em épocas específicas.
Geradores fotovoltaicos com sistemas de rastreamento do movimento aparente do sol podem ser
utilizados para melhorar ainda mais a captação da radiação solar durante o ano. Tais sistemas são
manuais ou automáticos, com o seguimento parcial do sol (variação somente da inclinação ou do
ângulo azimutal) ou com o seguimento total do sol (variação da inclinação e do ângulo azimutal). Os
sistemas manuais são de simples implementação e menor custo, necessitando, no entanto, de constante
intervenção humana. Os sistemas automáticos apresentam melhor desempenho, mas são mais caros e
podem apresentar falhas, devido à presença de peças móveis. Além disso, normalmente precisam estar
conectados a uma fonte de energia.
A estrutura de suporte dos módulos fotovoltaicos tem como função posicioná-los de maneira
estável. Além disso, ela deve assegurar a ventilação adequada, permitindo dissipar o calor que
normalmente é produzido devido à ação dos raios solares e ao processo de perdas na conversão de
energia. Isto é importante porque a eficiência dos módulos diminui com a elevação da temperatura,
podendo até comprometer seu funcionamento normal. Deve ainda possibilitar o distanciamento entre
módulos, conforme indicação do fabricante, para evitar danos mecânicos aos mesmos conforme sua
dilatação.
Em qualquer caso, o suporte é uma estrutura concebida especialmente para se adaptar ao terreno
ou à estrutura do prédio (sem prejudicar sua estética), às características dos módulos e à estratégia de
368
ajuste de inclinação e orientação. Os módulos fotovoltaicos devem ser montados sobre esta estrutura
que deve rígida e de geometria adequada para dar a orientação e o ângulo de inclinação (fixo ou
variável) necessários, a fim de assegurar a máxima captação da luz solar durante o período de
interesse, e dotar o conjunto de uma rigidez mecânica que permita suportar o peso dos módulos e os
ventos fortes. Além disso, a estrutura de suporte deve estar eletricamente aterrada e ser fabricada com
materiais menos suscetíveis a corrosão, especialmente em locais com condições ambientais agressivas.
A Figura 7.9 apresenta um exemplo de estrutura de suporte para os módulos, sem ajuste azimutal.
Figura 7.9 – Exemplo de uma estrutura de sustentação de módulos fotovoltaicos. Fonte: Adaptado de (SOLARWORLD,
2013).
A Figura 7.10 mostra as formas usuais de instalação dos módulos fotovoltaicos, cujas vantagens
e desvantagens são destacadas na Tabela 7.3.
Figura 7.10 – Formas usuais de instalação de módulos fotovoltaicos: (1) Solo, (2) Poste, (3) Fachada, (4) Telhado
369
Tabela 7.3 – Vantagens e desvantagens das diferentes formas de instalação. Fonte: Adaptado de (PINHO et al., 2008).
Forma de
Vantagens Desvantagens
Instalação
• Fácil instalação. • Mais propícia a situações de
(1) Estrutura de • Fácil manutenção. sombreamento.
sustentação no • Estrutura robusta. • Mais sujeita a acúmulo da poeira e
solo • Indicado para sistemas de qualquer contato de pessoas, objetos e
porte. animais.
• Fácil instalação. • Estrutura menos robusta.
• Menos propícia a situações de • Maior dificuldade de manutenção.
(2) Poste sombreamento. • Indicada apenas para sistemas de
• Mais segura contra contato de pequeno porte.
pessoas, objetos e animais.
• Instalação mais trabalhosa.
• Menos propícia a situações de • Maior dificuldade de manutenção.
sombreamento. • Riscos associados ao trabalho em
(3) Fachada • Mais segura contra contato de altura.
pessoas, objetos e animais. • O porte do sistema deve ser
• Ajuda a reduzir a carga térmica adequado à área e à
interna da edificação. suportabilidade mecânica da
edificação.
• Instalação mais trabalhosa.
• Maior dificuldade de manutenção.
• Menos propícia a situações de
• Riscos associados ao trabalho em
sombreamento.
(4) Sobre a altura.
edificação • Mais segura contra contato de
• O porte do sistema deve ser
pessoas, objetos e animais.
adequado à área e à
• Estrutura de suporte mais simples. suportabilidade mecânica da
cobertura.
Exemplos de fixação de módulos para SFV de pequeno porte em residências são mostrados nas
Figuras 7.11 e 7.12. O destaque desses suportes deve-se à sua simplicidade (com consequente redução
de gastos com material), leveza, facilidade de instalação e aplicabilidade aos diversos tipos de
construções encontrados no Brasil (alvenaria, madeira, taipa etc.).
370
Figura 7.11 – Sistema fotovoltaico residencial instalado em localidade isolada do Rio Grande do Sul. Fonte: (IDEAAS,
2012).
Figura 7.12 – Detalhe de sistema de fixação em parede de residência. Fonte: (IDEAAS, 2012).
371
escolher a fundação mais indicada para a montagem de um gerador, deve-se considerar fatores como o
acesso ao local, condições climáticas extremas, a topografia, as propriedades do solo, o código de
obras local e a disponibilidade de mão de obra, dentre outros fatores. Os tipos mais comuns de
fundações utilizadas pelos SFVs são apresentados na Figura 7.13 e descritos em seguida.
A fundação tipo laje requer um grande volume de concreto e um terreno relativamente plano. A
laje pode ser feita no local ou podem ser transportadas lajes pré-fabricadas até a obra. Este tipo de
fundação não é adequado para aplicações distantes, onde o custo de transporte do cimento é elevado.
Também não é adequado para terrenos muito acidentados, devido à escavação que seria necessária
antes de executar a fundação.
A fundação tipo bloco é mais adequada para terrenos acidentados e locais remotos, porque é
relativamente leve e transportável e pode ser pré-fabricada nos locais onde se disponha de cimento e de
equipamentos apropriados. É necessária pouca escavação e os blocos podem ser posicionados com
razoável facilidade, minimizando os problemas de alinhamento. Os blocos devem ser montados com
armaduras e todas as cavidades devem ser completamente preenchidas com concreto ou argamassa.
A fundação tipo viga é um meio termo entre os tipos laje e bloco. É adequada para terrenos
ondulados e proporciona um fácil alinhamento entre os geradores fotovoltaicos adjacentes. A viga
pode ser executada com cimento, peças de madeira ou outros materiais que possuam o formato
adequado para as vigas.
Não há nenhuma fundação que seja aplicável a todas as situações, uma delas geralmente será
mais adequada a uma aplicação particular.
A Figura 7.14 apresenta a instalação com fixação da estrutura no solo com blocos de cimento.
Figura 7.14 – Fixação da estrutura no solo com fundação tipo bloco de cimento (Foto cedida pelo LSF-IEE/USP).
Em alguns casos, devido ao elevado custo de obras civis com as fundações e aos fracos ventos
típicos do local, pode-se optar pela instalação com fixação direta da estrutura de suporte no solo,
conforme mostra a Figura 7.15. Os pilares de suporte devem ter uma parte enterrada no solo cujo
comprimento seja adequado à estabilidade da estrutura.
Figura 7.15 – Fixação da estrutura diretamente no solo (Foto cedida pelo GEDAE/UFPA).
373
Em sistemas fotovoltaicos de bombeamento de água, cuja captação seja feita de um rio, os
geradores fotovoltaicos podem ser instalados sobre uma plataforma flutuante 5, conforme mostra a
Figura 7.16.
Figura 7.16 – Geradores fotovoltaicos instalados sobre uma plataforma flutuante (Foto cedida pelo Cepel).
As baterias, que muitas vezes compõem os SFVs, merecem uma atenção especial, pois são
potencialmente perigosas quando inadequadamente manuseadas, instaladas e operadas. Correntes e
tensões elevadas e produtos químicos perigosos são riscos potenciais. Qualquer pessoa que esteja
trabalhando com baterias deve familiarizar-se com medidas de segurança e seguir as normas e
recomendações técnicas. Sugere-se consultar as normas apresentadas nas Tabelas 7.1 e 7.2 e os
manuais das baterias. Algumas sugestões de segurança para o trabalho apropriado e seguro com as
baterias são apresentadas a seguir:
Remover quaisquer joias ou objetos metálicos do pescoço, mãos e pulsos antes de trabalhar
com baterias.
Vestir roupas e usar equipamentos de proteção adequados ao trabalho e em bom estado de
conservação (camisa, calça, cinto de segurança, capacete, óculos ou máscara, luvas, calçado,
entre outros).
Sempre usar ferramentas adequadas, isoladas e secas para montar as baterias.
Utilizar equipamentos de teste e medição de grandezas elétricas (por exemplo, um
multímetro) para conferência da montagem.
5
Esta forma de instalação também se faz útil em sistemas fotovoltaicos isolados utilizados para eletrificação de
comunidades ribeirinhas, onde não há área disponível em terra para instalação durante os períodos úmidos.
374
Não trabalhar sozinho, tendo sempre por perto alguém que possa auxiliar na atividade e,
principalmente, em caso de acidentes.
Fazer as conexões elétricas respeitando sempre a polaridade e as instruções do fabricante.
Não tocar os terminais das baterias sem saber o nível de tensão, principalmente se as mesmas
fizerem parte de uma associação série.
Desconectar as baterias de quaisquer fontes de carga ou descarga antes de trabalhar nelas.
Manter os terminais das baterias cobertos por revestimentos ou capas isolantes resistentes.
Projetar o setor das baterias com ventilação adequada e convenientemente protegido das
intempéries.
Levantar as baterias apenas da forma aprovada pelo fabricante e nunca pelos seus terminais
ou ligações.
Planejar o processo de transporte de baterias, prevendo o uso de instrumentos auxiliares para
içamento, carros de transporte ou outros equipamentos móveis.
Evitar arrastar as baterias pelo solo.
Manter faíscas e chamas descobertas longe do setor das baterias.
Na preparação do eletrólito ácido, nunca despejar água no ácido sulfúrico - fazer sempre o
inverso, e lentamente.
Ter água fresca e sabão facilmente acessíveis e no caso do ácido entrar em contato com a
pele, olhos ou roupas, lavar a área afetada.
Ter bicarbonato de sódio facilmente acessível, para as situações de derramamento de ácido.
As baterias devem ser instaladas em compartimentos (caixas, containers ou salas) que permitam
acesso fácil e seguro ao pessoal autorizado para trocas e manutenção, ventilação adequada, exposição
reduzida a variações extremas de temperatura e outras condições ambientais.
Entende-se por ventilação adequada aquela natural ou artificial, considerada como suficiente
para limitar o teor de gases produzidos durante a carga das baterias, evitando o risco de explosão. A
Figura 7.17 ilustra o sistema de circulação de ar de uma sala de baterias.
375
Ventilação Aletas para
artificial circulação de ar
Figura 7.17 – Sistema de ventilação de uma sala de baterias. Fonte: Adaptado de (OSTERNACK et al, 2010).
Quando uma única bateria é utilizada - ou poucas unidades - pode-se acondicioná-la em uma
caixa ou container apropriado, com furos para ventilação, preferencialmente localizados na sua parte
superior. As Figuras 7.18 e 7.19 mostram essa alternativa de acondicionamento, adotada pela
Companhia Energética de Rondônia (Ceron) em alguns dos seus SFVs individuais.
Figura 7.18 – Detalhe de compartimento para baterias com orifícios na parte superior para ventilação (Foto cedida pelo
LSF-IEE/USP).
376
Figura 7.19 – Vista de baterias no interior de uma caixa especialmente construída para seu acondicionamento (Foto cedida
pelo LSF-IEE/USP).
De acordo com o local de aplicação, a caixa de baterias tem diferentes desenhos, podendo ser
construída usando-se madeira compensada e um isolante rígido, ou outros materiais adequados, como
o polipropileno. Este invólucro, além de obedecer as propriedades já mencionadas e garantir a
segurança do usuário, deve também proteger as próprias baterias contra golpes ou qualquer outra
atividade que possa danificá-las, acidental ou intencionalmente, e permitir mínima corrente de fuga.
Nas Figuras 7.20 e 7.21 pode-se observar dois desenhos de abrigos de baterias utilizados pelo
Prodeem.
Figura 7.20 – Abrigo de baterias bem ventilado e instalado na lateral de uma escola (Foto cedida pelo LSF-IEE/USP).
377
Figura 7.21 – Abrigo de madeira devidamente ventilado e isolado e com tela para impedir a entrada de pequenos insetos e
animais (Foto cedida pelo LSF-IEE/USP).
Os compartimentos de baterias devem ser lacrados para evitar o contato casual por pessoas não
autorizadas. Também devem ser utilizadas telas ou gradis para evitar a entrada de insetos e outros
animais.
Com relação à temperatura do local de instalação das baterias, é recomendável que a temperatura
média se situe entre 20 e 25 oC. Essa faixa é restrita em muitos locais no Brasil, assim no caso de
temperaturas mais elevadas, a ventilação e o sobreamento do compartimento das baterias é ainda mais
relevante. Em baixas temperaturas a capacidade das baterias diminui; por outro lado, com o aumento
da temperatura, a vida útil das baterias é abreviada.
As baterias não devem ser montadas diretamente sobre o solo ou em locais úmidos para não
elevar a taxa de autodescarga, comprometendo sua eficiência. Deve-se garantir um bom isolamento do
solo, com as unidades instaladas em uma bancada, prateleira ou estante de madeira ou sobre material
isolante e resistente ao ácido.
Uma técnica comum é a instalação sobre peças de madeira, dispostas sobre o solo ou em forma
de prateleiras. A Figura 7.22 mostra um exemplo de armário de baterias com quatro andares e
prateleiras de madeira. O armário é normalmente confeccionado em estrutura metálica e deve ser
resistente a corrosão.
378
Figura 7.22 – Armário de baterias (Foto cedida pelo GEDAE/UFPA).
A Figura 7.23 mostra um exemplo de banco de baterias do tipo OPzS instalado em prateleiras de
dois andares.
Figura 7.23 – Banco de baterias em MIGDI da Celpa, na Ilha de Araras (Marajó-PA) (Foto cedida pela CELPA).
A montagem de um banco de baterias com associação em série e paralelo deve ser efetuada
realizando-se primeiramente as ligações em série e em seguida as ligações em paralelo, conforme o
exemplo da Figura 7.24. De forma a equalizar os níveis de tensão e corrente a que são submetidas as
diferentes baterias, os cabos equivalentes devem ter comprimentos iguais. É recomendável, por
motivos de segurança (evitar curto circuito), realizar o que se denomina ligação cruzada: os pólos
positivo e negativo do banco de baterias devem ser conectados em extremidades opostas, como
indicado na Figura 7.24.
379
Figura 7.24 – Forma de conexão de banco de baterias. Bi,j (i é o número de unidades em série e j em paralelo).
O ideal é que não haja ligação das baterias em paralelo. Entretanto, devido à capacidade limitada
das baterias (em especial de alguns tipos construtivos, como, por exemplo, a estacionária comum de
chumbo-ácido) e a limitações da tensão dos equipamentos de condicionamento de potência, além da
questão da maior segurança ao se trabalhar com menores tensões c.c., por vezes há necessidade do
paralelismo. O número máximo de baterias (ou fileiras) em paralelo deve ser limitado entre 4 e 6, de
acordo com as recomendações dos fabricantes, e todas as baterias utilizadas devem ser rigorosamente
iguais (fabricante, modelo, capacidade e idade). Os terminais das baterias devem ser protegidos com
algum tipo de graxa anticorrosiva, de forma a evitar a sua oxidação.
Recomenda-se a leitura das normas apresentadas nas Tabelas 7.1. e 7.2 e dos manuais de
instalação e operação dos componentes de condicionamento de potência antes de sua instalação.
Figura 7.25 – Exemplos de controladores de carga e inversores instalados na parede da sala de controle (Fotos cedida pelo
GEDAE/UFPA).
381
Controladores de carga
Inversor
Figura 7.26 – Exemplo de controladores de carga e inversor instalados dentro de uma caixa (Foto cedida pelo LSF-
IEE/USP).
Umidade e temperatura elevadas reduzem a vida útil dos dispositivos eletrônicos. Por isso, os
componentes de condicionamento de potência devem ser instalados em local seco, ventilado e
sombreado, o mais próximo possível do gerador fotovoltaico, e que permita acesso fácil para
manutenção (exemplo na Figura 7.27). Por questões de segurança, o acesso ao local de instalação dos
componentes deve ser controlado. As caixas, quando utilizadas, devem ser lacradas, sem, no entanto,
impedir a adequada ventilação dos equipamentos, conforme indicado pelos fabricantes. Poeira e
insetos também são problemas comuns nos locais de instalação de SFVs, requerendo frequentemente o
uso de telas e outros cuidados especiais.
Figura 7.27 – Exemplo de edificação em madeira para instalação de banco de baterias, equipamentos de condicionamento
de potência e de proteção - MIGDI da Ilha de Araras, Pará (Foto cedida pela CELPA).
382
Há regiões no Brasil com altas temperaturas ambientes e alta umidade relativa do ar, e, neste
caso, deve-se cuidar para que os componentes selecionados sejam resistentes a temperaturas elevadas e
possuam baixa dissipação de calor. A especificação dos componentes deve ser bem clara, indicando
qual a umidade e temperaturas máximas de operação dos equipamentos. Há inversores onde o circuito
eletrônico fica encapsulado e a troca de calor se dá por parede metálica. Em outros casos, há
necessidade de se revestir o circuito eletrônico com resina para evitar prejuízos pela umidade e pela
corrosão. Esse requisito deve constar na especificação, se necessário. Alguns dispositivos estão
disponíveis para aplicações militares que satisfazem a requisitos mais severos de utilização.
Em geral, nos SFVs a conexão dos controladores de carga dá-se primeiramente com as baterias,
uma vez que a maioria dos controladores detecta automaticamente o nível de tensão nominal. Outra
questão a se atentar é a necessidade dos pontos de regulagem (set-points) de tensão - corte e
religamento da geração e carga - serem adequados ao tipo de bateria utilizada e às especificações de
projeto. Os controladores possuem normalmente mecanismos de ajuste destes set-points e deve-se
seguir as orientações do fabricante para tal procedimento.
383
7.5 – Instalação dos Componentes de Proteção
Em SFVs, assim como em qualquer sistema elétrico, os principais componentes utilizados para
proteger pessoas e equipamentos são as chaves, os fusíveis, os disjuntores e os dispositivos de proteção
contra surtos (DPS). A Tabela 7.4 ilustra alguns modelos desses componentes, além de descrever sua
função geral e as recomendações de instalação.
Algumas vezes, os projetistas de SFVs preferem substituir as chaves e fusíveis por disjuntores,
que evitam o desconforto da troca de fusíveis.
Os componentes de proteção dos SFVs devem ser selecionados em função dos valores máximos
permitidos de tensão e corrente em cada trecho do circuito (NBR 5410:2004). A corrente do gerador
fotovoltaico é limitada pela corrente de curto-circuito na condição de maior irradiância. No entanto,
para se especificar os componentes instalados entre o gerador e o controlador de carga ou inversor,
utiliza-se normalmente um fator multiplicativo de segurança de 1,25.
Deve-se também observar a adequação do componente em operar com o tipo de tensão (c.c. ou
c.a.) do local de sua instalação. Dispositivos c.a. podem, em princípio, operar adequadamente do lado
c.c., mas isso pode reduzir sua vida útil.
384
Tabela 7.4 – Componentes de Proteção (chaves, disjuntores, DPS e fusíveis).
Exemplos de modelos
Função geral Instalação
disponíveis comercialmente
DPS
NH
Chaves e fusíveis podem estar combinados em um único módulo, conforme mostra a Figura
7.28.
6
O fusível gPV é fabricado em conformidade com a norma IEC 60269-6 e é específico para aplicação em sistemas
fotovoltaicos.
385
Figura 7.28 – Exemplo de uma chave fusível NH disponível comercialmente.
A proteção elétrica dos SFVs é composta também pelo sistema de proteção contra descargas
atmosféricas (SPDA). Geradores fotovoltaicos são normalmente instalados em área aberta, sujeita a
descargas atmosféricas diretas ou indiretas. Para instalação do SPDA, deve-se consultar a NBR
5419:2005.
7.6 - Aterramento
A norma ABNT NBR 5410:2004 trata do aterramento de sistemas elétricos de baixa tensão. O
aterramento é a ligação intencional de estruturas ou instalações com a terra, visando garantir o
funcionamento correto da instalação e, principalmente, proporcionar um caminho preferencial às
correntes elétricas indesejáveis de surto, falta ou fuga, de forma a evitar riscos para as pessoas e os
equipamentos.
Em um país de dimensões continentais como o Brasil, temos uma grande variedade de solos.
Quando não se faz a medida de resistividade do solo é impossível aferir-se a qualidade de um sistema
de aterramento. Portanto, em sistemas fotovoltaicos isolados recomenda-se que haja proteção de todas
as partes metálicas com algum material isolante, evitando-se o contato do usuário com partes que
possam ser energizadas durante um surto ou falha. Além disso, o usuário deve ser orientado a não
tocar no sistema a menos nas situações e partes autorizadas.
386
Em SFCRs, é necessário fazer-se o aterramento de proteção dos equipamentos (conexão da
carcaça condutora ao terra) e o aterramento funcional do sistema (conexão do circuito elétrico ao terra,
através do condutor neutro, no lado c.a.). O aterramento do lado c.c. depende da tecnologia de módulo
ou de inversor utilizada. As tecnologias de filme fino devem ter uma das polaridades aterradas, já as de
silício cristalino, em geral, ficam em flutuação; normalmente inversores sem transformadores não
podem ser aterrados. Regra geral é que se deve sempre consultar o manual do equipamento para
verificar o procedimento recomendado pelo fabricante.
Por razões de segurança, é importante que as caixas dos equipamentos e as estruturas metálicas
de suporte dos módulos fotovoltaicos e das baterias estejam devidamente conectadas à terra. Todo
metal exposto, que possa ser tocado, também deve ser aterrado. O aterramento deve ser feito de forma
a permitir a equipotencialização de todos os corpos condutores da instalação. O aterramento dos
SFCRs difere dos sistemas isolados pois o aterramento de cada unidade, individualmente, é
interconectado com o aterramento das outras unidades consumidoras da concessionária, aumentando a
eficiência da malha de aterramento.
Uma grande distância entre os equipamentos do SFV pode tornar necessária a utilização de
sistemas de aterramento distintos. Entretanto, eles devem ser interconectados, preferencialmente por
um cabo de cobre nu enterrado, formando uma malha de terra.
387
Figura 7.29 – Pontos de instalação dos componentes de proteção, monitoração e controle de um SFV para atendimento em c.c.
388
Legenda da Figura 7.29
a - Dispositivo de seccionamento da série de módulos: deve ser adequado para operação em c.c. e capaz de interromper os
condutores positivo e negativo simultaneamente.
b - Dispositivo de proteção contra sobrecorrente da série de módulos (fusível fotovoltaico): deve ser adequado para
operação em c.c. Recomenda-se instalar tanto no condutor negativo quanto no positivo.
c - Diodo de bloqueio: Não deve ser utilizado como dispositivo de proteção contra sobrecorrente.
d - Barramento de paralelismo entre séries de módulos.
e - Dispositivo de proteção contra sobrecorrente do G-1: deve ser adequado para operação em c.c. Recomenda-se instalar
tanto no condutor negativo quanto no positivo.
f - Dispositivo de seccionamento do G-1: deve ser adequado para operação em c.c. e capaz de interromper os condutores
positivo e negativo simultaneamente. Um disjuntor c.c. atende aos dois requisitos de proteção e seccionamento.
e* - Dispositivo de proteção contra sobrecorrente do G-n: deve ser adequado para operação em c.c. Recomenda-se instalar
tanto no condutor negativo quanto no positivo.
f* - Dispositivo de seccionamento do G-n: deve ser adequado para operação em c.c. e capaz de interromper os condutores
positivo e negativo simultaneamente. Um disjuntor c.c. atende aos dois requisitos de proteção e seccionamento.
g - Barramento de paralelismo entre G-1 e G-n.
h - Dispositivo de seccionamento do banco de baterias: deve ser adequado para operação em c.c. e capaz de interromper os
condutores positivo e negativo simultaneamente.
i - Dispositivo de proteção contra sobrecorrente do banco de baterias: deve ser adequado para operação em c.c.
Recomenda-se instalar tanto no condutor negativo quanto no positivo.
j – DPS: deve ser adequado para operação em c.c., classe 2. Caso a distância do gerador ao inversor seja superior a 10 m,
então devem ser instalados DPSs nas duas extremidades, próximo ao inversor e na caixa de junção do painel fotovoltaico.
Não instalar o DPS no condutor com aterramento funcional.
k - Dispositivo de seccionamento do gerador fotovoltaico: deve ser adequado para operação em c.c. e capaz de interromper
os condutores positivo e negativo simultaneamente.
l - Dispositivo de proteção contra sobrecorrente do gerador fotovoltaico: deve ser adequado para operação em c.c.
Recomenda-se instalar tanto no condutor negativo quanto no positivo. Um disjuntor c.c. atende aos dois requisitos de
proteção e seccionamento.
A1 - Conexão da estrutura metálica (moldura dos módulos e suporte do gerador fotovoltaico) à equipotencialização.
A2 - Conexão da carcaça metálica do(s) controlador(es) de carga à equipotencialização.
A3 - Conexão do suporte metálico do banco de baterias à equipotencialização.
AF - Aterramento funcional.
G-1 - Gerador fotovoltaico 1.
G-n - Gerador fotovoltaico n.
M - Ponto de monitoração.
C - Ponto de controle.
SPDA – Sistema de proteção contra descarga atmosférica.
389
Figura 7.30 – Pontos de instalação dos componentes de proteção, monitoração e controle de um SFV para atendimento em c.a.
390
Legenda da Figura 7.30
a - Dispositivo de seccionamento da série de módulos: deve ser adequado para operação em c.c. e capaz de interromper os
condutores positivo e negativo simultaneamente.
b - Dispositivo de proteção contra sobrecorrente da série de módulos (fusível fotovoltaico): deve ser adequado para
operação em c.c. Recomenda-se instalar tanto no condutor negativo quanto no positivo.
c - Diodo de bloqueio: Não deve ser utilizado como dispositivo de proteção contra sobrecorrente.
d - Barramento de paralelismo entre séries de módulos.
e - Dispositivo de proteção contra sobrecorrente do G-1: deve ser adequado para operação em c.c. Recomenda-se instalar
tanto no condutor negativo quanto no positivo.
f - Dispositivo de seccionamento do G-1: deve ser adequado para operação em c.c. e capaz de interromper os condutores
positivo e negativo simultaneamente. Um disjuntor c.c. atende aos dois requisitos de proteção e seccionamento.
e* - Dispositivo de proteção contra sobrecorrente do G-n: deve ser adequado para operação em c.c. Recomenda-se instalar
tanto no condutor negativo quanto no positivo.
f* - Dispositivo de seccionamento do G-n: deve ser adequado para operação em c.c. e capaz de interromper os condutores
positivo e negativo simultaneamente. Um disjuntor c.c. atende aos dois requisitos de proteção e seccionamento.
g - Barramento de paralelismo entre G-1 e G-n.
h - Dispositivo de seccionamento do banco de baterias: deve ser adequado para operação em c.c. e capaz de interromper os
condutores positivo e negativo simultaneamente.
i - Dispositivo de proteção contra sobrecorrente do banco de baterias: deve ser adequado para operação em c.c.
Recomenda-se instalar tanto no condutor negativo quanto no positivo. De preferência devem ser utilizados fusíveis, o mais
próximo possível das baterias.
j - Dispositivo de seccionamento do gerador fotovoltaico: deve ser adequado para operação em c.c. e capaz de interromper
os condutores positivo e negativo simultaneamente.
k - Dispositivo de proteção contra sobrecorrente do gerador fotovoltaico: deve ser adequado para operação em c.c.
Recomenda-se instalar tanto no condutor negativo quanto no positivo. Um disjuntor c.c. atende aos dois requisitos de
proteção e seccionamento.
l - DPS do lado c.c.: deve ser adequado para operação em c.c., classe 2, e instalado o mais próximo possível dos terminais
positivo e negativo do inversor. Caso a distância do gerador ao inversor seja superior a 10 m, então devem ser instalados
DPSs nas duas extremidades, próximo ao inversor e na caixa de junção do painel fotovoltaico. Não instalar o DPS no
condutor com aterramento funcional.
m - DPS do lado c.a.: deve ser adequado para operação em c.a., classe 1+2, e instalado o mais próximo possível dos
terminais do inversor. Pode também ser necessário instalar DPSs nas duas extremidades do cabeamento de saída do
inversor até o medidor, caso as distâncias sejam grandes. Não instalar o DPS no condutor com aterramento funcional.
n - dispositivo de seccionamento do lado em corrente alternada: deve ser adequado para operação em c.a. e capaz de
interromper todos os condutores de saída do inversor, menos o condutor neutro.
o - dispositivo de proteção contra sobrecorrente do lado em corrente alternada: deve ser adequado para operação em c.a.
Um disjuntor c.a. atende aos dois requisitos de proteção e seccionamento.
A1 - Conexão da estrutura metálica (moldura dos módulos e suporte do gerador fotovoltaico) à equipotencialização.
A2 - Conexão da carcaça metálica do(s) controlador(es) de carga à equipotencialização.
A3 - Conexão do suporte metálico do banco de baterias à equipotencialização.
A4 - Conexão da carcaça metálica do inversor de tensão à equipotencialização.
AF - Aterramento funcional.
G-1 - Gerador fotovoltaico 1.
G-n - Gerador fotovoltaico n.
M - Ponto de monitoração.
C - Ponto de controle.
SPDA – Sistema de proteção contra descarga atmosférica.
391
Figura 7.31 – Pontos de instalação dos componentes de proteção, monitoração e controle de um SFCR.
392
Legenda da Figura 7.31
a - Dispositivo de seccionamento da série de módulos: deve ser adequado para operação em c.c. e capaz de interromper os
condutores positivo e negativo simultaneamente.
b - Dispositivo de proteção contra sobrecorrente da série de módulos (fusível fotovoltaico): deve ser adequado para
operação em c.c. Recomenda-se instalar tanto no condutor negativo quanto no positivo.
c - Diodo de bloqueio: Não deve ser utilizado como dispositivo de proteção contra sobrecorrente.
d - Barramento de paralelismo entre séries de módulos.
e - Dispositivo de proteção contra sobrecorrente do G-1: deve ser adequado para operação em c.c. Recomenda-se instalar
tanto no condutor negativo quanto no positivo.
f - Dispositivo de seccionamento do G-1: deve ser adequado para operação em c.c. e capaz de interromper os condutores
positivo e negativo simultaneamente. Um disjuntor c.c. atende aos dois requisitos de proteção e seccionamento.
e* - Dispositivo de proteção contra sobrecorrente do G-n: deve ser adequado para operação em c.c. Recomenda-se instalar
tanto no condutor negativo quanto no positivo.
f* - Dispositivo de seccionamento do G-n: deve ser adequado para operação em c.c. e capaz de interromper os condutores
positivo e negativo simultaneamente. Um disjuntor c.c. atende aos dois requisitos de proteção e seccionamento.
g - Barramento de paralelismo entre G-1 e G-n.
h - Dispositivo de seccionamento do gerador fotovoltaico: deve ser adequado para operação em c.c. e capaz de interromper
os condutores positivo e negativo simultaneamente.
i - Dispositivo de proteção contra sobrecorrente do gerador fotovoltaico: deve ser adequado para operação em c.c.
Recomenda-se instalar tanto no condutor negativo quanto no positivo. Um disjuntor c.c. atende aos dois requisitos de
proteção e seccionamento.
j - DPS do lado c.c.: deve ser adequado para operação em c.c., classe2, e instalado o mais próximo possível dos terminais
positivo e negativo do inversor. Caso a distância do gerador ao inversor seja superior a 10 m, então devem ser instalados
DPSs nas duas extremidades, próximo ao inversor e na caixa de junção do painel fotovoltaico. Não instalar o DPS no
condutor com aterramento funcional.
k - DPS do lado c.a.: deve ser adequado para operação em c.a., classe 1+2, e instalado o mais próximo possível dos
terminais do inversor. Pode também ser necessário instalar DPSs nas duas extremidades do cabeamento de saída do
inversor até o medidor, caso as distâncias sejam grandes. Não instalar o DPS no condutor com aterramento funcional.
l - Dispositivo de seccionamento do lado em corrente alternada: deve ser adequado para operação em c.a. e capaz de
interromper todos os condutores de saída do inversor, menos o condutor do neutro.
m - Dispositivo de proteção contra sobrecorrente do lado em corrente alternada: deve ser adequado para operação em c.a.
Um disjuntor c.a. atende aos dois requisitos de proteção e seccionamento.
n - Dispositivo de seccionamento visível: dispositivo de seccionamento para desconexão do sistema de geração da rede de
distribuição, exclusivo para atuação pela distribuidora de energia.
o - Barramento da rede elétrica de distribuição.
A1 - Conexão da estrutura metálica (moldura dos módulos e suporte do gerador fotovoltaico) à equipotencialização.
A2 - Conexão da carcaça metálica do inversor de tensão à equipotencialização.
A3 - Conexão da carcaça metálica das cargas elétricas locais à equipotencialização.
AF - Aterramento funcional.
G-1 - Gerador fotovoltaico 1.
G-n - Gerador fotovoltaico n.
M - Ponto de monitoração.
C - Ponto de controle.
SPDA – Sistema de proteção contra descarga atmosférica.
393
7.7 – Instalação dos Componentes de Supervisão e Controle, e Aquisição e Armazenamento de
Dados
Os sensores servem para medir as grandezas elétricas (tensão e corrente, tanto no lado c.c.
quanto no c.a.) e outras grandezas, tais como a temperatura dos módulos fotovoltaicos e/ou das
baterias e a irradiância. Os atuadores eletrônicos trabalham em conjunto com os equipamentos de
medição e proteção e mudam o estado de operação do sistema de acordo com a necessidade.
O monitoramento requer uma estratégia de análise de dados. A avaliação dos dados pode ser
realizada visualmente on-line ou por programa computacional que trata e calcula os dados de acordo
com as grandezas a serem avaliadas. Quanto maior a complexidade do monitoramento e do controle e
a possibilidade dos dados de forma remota, maior o custo do sistema. Dessa forma a escolha do tipo de
sistema de monitoramento e controle depende da sua necessidade, analisando-se criteriosamente o que
realmente precisa ser monitorado, e da relação custo-benefício.
No que se refere à instalação dos medidores de energia dos SFCRs, estes devem ser abrigados e
instalados em caixas apropriadas para tal fim, conforme recomendado pelas concessionárias em suas
normas técnicas específicas para a conexão de geração própria à rede de baixa tensão. Junto à caixa de
medição dos sistemas fotovoltaicos encontra-se ainda o dispositivo de seccionamento visível (DSV),
que deve ficar disponível para a concessionária e será acionado em situações de manutenção na rede
elétrica.
394
conexão e sustentação da motobomba, os mesmos devem ser protegidos contra potencial atrito com as
paredes do poço. Para instalação do reservatório de água, recomenda-se o aproveitamento do próprio
relevo local, se possível, para elevação do reservatório; a utilização de uma estrutura de sustentação
resistente às intempéries; e a instalação de pontos de conexão do sistema hidráulico (registros, uniões e
demais conexões hidráulicas) em lugares de fácil acesso para operação e manutenção do sistema.
Deve-se cuidar para minimizar o comprimento de cabos e dutos e da altura manométrica do sistema
evitando perdas elétricas e hidráulicas.
Os condutores utilizados nos SFVs devem ser fabricados de acordo com as normas nacionais
correspondentes. Recomenda-se que a seção do condutor seja tal que a queda máxima de tensão entre
o gerador fotovoltaico e as cargas não exceda 5 % da tensão nominal do sistema, ou 3 % em qualquer
circuito derivado. Atenção especial deve ser dada ao trecho controlador-bateria(s), quando presente,
onde a perda não deve exceder 1 %. Para a conexão do gerador fotovoltaico ao controlador de carga
deve-se usar condutores com capacidade para suportar pelo menos 125 % da corrente nominal de
curto-circuito do gerador.
Os cabos sujeitos a intempéries e diretamente expostos à luz solar, devem ter revestimento
plástico resistente à radiação ultravioleta, para que não tenham que ser substituídos com frequência.
395
Usualmente, a instalação dos SFVs também requer terminais, fita isolante, eletrodutos,
parafusos, conectores para terminais de bateria (bornes), abraçadeiras, buchas de fixação, pregos etc.,
para fixar os diversos elementos do sistema à suas bases e suportes, e para efetuar as conexões
elétricas. Esses acessórios devem ser adequados ao tipo de material usado para as instalações. Deve-se
evitar a utilização de estruturas, caixas e parafusos metálicos que apresentem facilidade de corrosão.
Não se deve emendar ou soldar condutores de diferentes materiais para evitar pontos de corrosão por
diferença de potencial eletroquímico. Quando houver necessidade, deve-se utilizar conectores
apropriados para conexão de metais diferentes. A pré-instalação é de fundamental importância para
que se verifique se todos os itens foram previstos, especialmente nas situações de instalação de
sistemas em áreas remotas.
As técnicas e procedimentos usados para fixação dos condutores são as habituais de uma
instalação elétrica convencional, lembrando-se de um detalhe importante: trabalha-se com corrente
contínua, podendo-se ter elevados níveis de tensão (saída do arranjo FV) e corrente (circuito de
armazenamento e barramento c.c.).
Deve-se utilizar sempre conectores e terminais apropriados para ligar os condutores aos
equipamentos e dispositivos elétricos. Nunca utilizar bitolas menores que as indicadas pelos
fabricantes dos equipamentos. Todas as conexões e terminais devem ser bem apertados, para evitar
perdas desnecessárias e sobreaquecimento, provocado por mau contato elétrico e possível curto-
circuito.
Em muitos casos, é indicado o uso de vaselina ou graxas especiais para proteção das conexões,
principalmente nas baterias, cujos terminais costumam apresentar corrosão acentuada. Para isolar
uniões em clima quente e úmido não se deve utilizar fita isolante, pois a cola da fita sofre degradação
acentuada quando exposta a este tipo de clima. Fitas de autofusão são mais eficientes.
Os terminais para conexão com os outros elementos do sistema devem estar claramente
identificados, segundo o circuito a que correspondam.
396
apropriados. As inspeções devem ser feitas logo após as instalações e antes da operacionalização do
SFV. O local deve ter seu acesso limitado e os trabalhadores devem usar equipamento adequado de
proteção individual.
397
No caso de baterias com invólucros transparentes, o nível de eletrólito nos limites indicados e
o mesmo nível em todos os elementos. As placas das baterias íntegras, presas e conectadas
eletricamente. Não pode haver depósito no fundo do vaso além do esperado. Densidade do
eletrólito dentro das especificações.
No caso de montagens sobre telhados, se a estrutura está adequada para o peso e se a
cobertura não foi danificada e não apresenta locais de vazamento.
A presença e montagem dos equipamentos de monitoramento, medição e controle.
Itens de segurança conforme normas, como, por exemplo, acessibilidade aos locais e
proteções contra choque.
Limpeza e organização do local da instalação.
A documentação completa do sistema:
Informações básicas: capacidade do sistema, localização, datas de instalação e
comissionamento, características e capacidades dos equipamentos principais.
Informações do projetista, responsável técnico e proprietário do sistema.
Diagrama unifilar do sistema.
Projeto executivo as built.
Especificações e catálogos dos equipamentos de geração (inclusive características do
arranjo e séries), condicionamento de potência, armazenamento, proteções,
seccionamento, aterramento, monitoramento, controle e medição. Lista de
sobressalentes.
Relatórios de flash test dos módulos.
Manuais de manutenção e operação dos equipamentos principais, de preferência em
língua portuguesa. Incluindo: plano de manutenção e procedimentos de desligamento
emergencial.
Garantias dos equipamentos, com informação do início e período de cobertura, contatos
dos fornecedores e representantes.
Informações sobre os projetos estruturais do sistema.
Para sistemas com potência instalada superior a 75 kW, deve ser fornecido ainda o
prontuário de instalações elétricas, de acordo com a NR10.
Principais testes operacionais (Os testes operacionais, mecânicos e elétricos, têm como objetivo
garantir que o SFV está apto para entrar em operação com segurança. Os dispositivos de
seccionamento são fechados um a um conforme a medição desejada.)
Teste mecânico das conexões elétricas (aterramento, SPDA, circuitos c.c. e c.a.) - consiste
em aplicar uma determinada força controlada aos condutores de modo a tentar desfazer a
conexão. Caso o condutor se solte ou a conexão dê sinais de folga, ela deve ser refeita.
398
Teste de continuidade dos circuitos de aterramento e equipotencialização – consiste em
atestar a continuidade em toda a extensão dos circuitos. Caso ocorra descontinuidade em
algum trecho, o problema deve ser corrigido.
Confirmação de polaridade – consiste em confirmar a polaridade do gerador fotovoltaico e
verificar se a mesma está sendo respeitada nas conexões com os demais componentes do lado
c.c.
Medição da curva I x V do gerador fotovoltaico – cada série FV deve ser testada com o
traçador portátil de curva I-V, medida preferencialmente com irradiação superior a 800
W/m2 no plano do painel. Os valores obtidos devem ser iguais, com uma tolerância de ± 5%,
aos do flash report dos módulos e entre séries, se estas forem formadas por módulos
idênticos. Em sistemas de pequeno porte (centenas de Wp), admite-se uma avaliação
simplificada, feita pelas medidas de Isc e de Voc do painel, e/ou dos módulos individuais.
Teste de resistência de isolamento do gerador fotovoltaico – consiste em medir a resistência
de isolamento entre os condutores positivo e negativo do gerador fotovoltaico e a carcaça
metálica dos módulos. Os valores mínimo de resistência de isolamento (em MΩ) são: 0,5
(tensão de teste de 250 V para uma tensão 1,25 x Voc < 120 V; 1,0 (tensão de teste de 500 V
para uma tensão 1,25 x Voc entre 120 e 500 V; e 1,0 (tensão de teste de 1.000 V para uma
tensão 1,25 x Voc entre > 500 V).
Detecção de pontos quentes nos módulos – consiste em verificar com uma câmera
termográfica se há regiões do módulo em operação com temperatura muito superior ao
restante do módulo). Se isto for verificado, e não houver sombreamento, o módulo deve ser
susbtituído.
Confirmação do condutor neutro - consiste em identificar o condutor neutro e verificar se sua
conexão está correspondendo com os demais componentes do lado c.a. No caso de neutro
aterrado, deve se verificar esta condição.
Confirmação de parâmetros elétricos do inversor – consiste em verificar se a tensão e a
frequência de operação do inversor estão apropriadas às cargas ou à rede elétrica.
Confirmação de parâmetros elétricos do controlador – consiste em verificar se a tensões e as
correntes de operação do controlador estão apropriadas.
Teste de funcionamento – consiste no fechamento das chaves, no sentido da geração ao
consumo, e na observação da operação adequada do sistema, a qual pode ser feita através da
verificação do status do controlador de carga, inversor e dispositivos de proteção, e das
medições de valores de tensão e corrente (lados c.c. e c.a.) esperados. O teste de
funcionamento só deve ser feito após sanado algum problema identificado nos testes
anteriores. Os testes de funcionamento também devem incluir a verificação do desempenho
399
do sistema de monitoramento, medição e controle. As etapas do teste de funcionamento
podem ser mais complexas em função do tamanho e da quantidade de equipamentos e fontes
do sistema e deve ser previamente detalhada nos procedimentos de comissionamento.
Confirmação de que as temperaturas de operação do controlador, inversor e baterias estão
dentro da faixa aceitável e especificada no projeto. Se não estiverem, deve-se melhorar a
ventilação dos mesmos, sem prejudicar seu IP ou a proteção contra intempéries e
objetos/animais indesejados.
Testes de qualidade de energia – consiste em medir a distorção harmônica de corrente (total e
individual), a injeção de componente contínua e o fator de potência, os quais devem anteder
os padrões exigidos.
Caracterização de produção de energia – consiste em medir e verificar se a produção de
energia do sistema está como esperado. Essa verificação ocorre principalmente quando há
contratos com garantias de disponibilidade mínima de energia, normalmente para sistemas
conectados à rede. São necessárias medição da energia gerada e medição de irradiância, de
temperatura do módulo e da potência nominal do gerador FV, para o cálculo da energia
esperada. A energia gerada deve estar dentro de uma tolerância em relação à energia
esperada para aceitação do sistema. O número de dias necessários para essa verificação deve
ser acordado entre contratado e contratante. Essa verificação pode se estender além do
período de comissionamento.
7.10 – Referências
400
ABNT NBR 16149:2013 - Sistemas fotovoltaicos (FV) - Características da interface de
conexão com a rede elétrica de distribuição. Associação Brasileira de Normas Técnicas.
DUNLOP, J. (National Joint Apprenticeship and Training Committee for the Electrical
Industry). Photovoltaic Systems. 1a ed. USA: American Technical Publishers, Inc., 2007. 452 p.
Florida Solar Energy Center. Photovoltaic system design - Course manual. FSEC-GP-31-86,
1991.
IEC 62109-2:2011 - Safety of power converters for use in photovoltaic power systems - Part
2: Particular requirements for inverters. International Eletrotechnical Commission.
401
IEC 62446:2009 - Grid connected photovoltaic systems - Minimum requirements for system
documentation, commissioning tests and inspection. International Eletrotechnical Commission.
IEC TS 62257-5:2005 - Recommendations for small renewable energy and hybrid systems
for rural electrification – Part 5: Protection against electrical hazards. International
Eletrotechnical Commission.
402
PINHO, J. T.; BARBOSA, C. F. O.; PEREIRA, E. J. S.; SOUZA, H. M. S.; BLASQUES, L. C.
M.; GALHARDO, M. A. B.; MACÊDO, W. N. Sistemas híbridos - Soluções energéticas para a
Amazônia. 1. ed. Brasília, Brasil: Ministério de Minas e Energia, 2008. 396 p.
Siemens Solar Industries - Training Department. Photovoltaic technology and system design -
Training manual. Edition 4.0, 1990.
403
CAPÍTULO 8
OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO
404
CAPÍTULO 8 – OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO
Todo sistema fotovoltaico (SFV) deve passar por inspeção e manutenção regularmente, de forma
a garantir uma operação eficiente e impedira ocorrência de problemas futuros. Para isso, recomenda-se
elaborar e seguir um plano de operação e manutenção, baseando-se nas recomendações feitas pelos
fabricantes dos equipamentos utilizados no sistema e nas normas pertinentes à segurança e à utilização
dos equipamentos envolvidos na instalação fotovoltaica.
Apesar das baixas tensões tipicamente geradas pelos módulos fotovoltaicos e baterias, em SFIs
de pequeno porte, ambos podem fornecer níveis letais de corrente elétrica. Além disso, a associação
desses componentes pode tornar ainda mais perigosa a manipulação dos SFVs. Em SFCRs com
potências de unidades de kWp já são comuns tensões nominais de centenas de volts em c.c., sendo que
em SFIs dotados de controladores de carga com SPPM, isto também pode se verificar.
Dessa forma, tanto os procedimentos de instalação como de manutenção devem ser realizados
por pessoal habilitado e treinado conforme a Norma NR-101 e em curso de primeiros socorros. No
caso de instalação de painéis fotovoltaicos sobre telhados, trata-se de trabalho em altura, de forma que
1No Brasil, as Normas Regulamentadoras, também conhecidas como NRs, regulamentam e fornecem orientações sobre
procedimentos obrigatórios relacionados à segurança e medicina do trabalho. Essas normas são citadas na Consolidação das
Leis do Trabalho (CLT) e são de observância obrigatória por todas as empresas brasileiras regidas pela CLT.
Periodicamente são revisadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). A NR-10 estabelece os requisitos e
condições mínimas exigidas para garantir a segurança e saúde dos trabalhadores que interagem com instalações elétricas,
em suas etapas de projeto, construção, montagem, operação e manutenção, bem como de quaisquer trabalhos realizados em
suas proximidades.
405
o conhecimento dos procedimentos da NR-352 também se faz necessário. O conhecimento do
trabalhador deve incluir o uso e inspeção de equipamentos de proteção individual (EPI), bem como o
uso de ferramentas isoladas e dos instrumentos de medição. Pessoas que trabalham com condutores
energizados ou próximos a eles devem ser capazes de identificar quais equipamentos e condutores
podem estar energizados e qual o seu nível de tensão, avaliar os riscos do tipo de trabalho a ser
efetuado e determinar quais os EPIs e demais procedimentos de segurança são necessários.
Os procedimentos citados a seguir devem ser cuidadosamente observados sempre que uma
manutenção se fizer necessária. Informações adicionais são apresentadas no Capítulo 7.
Antes de iniciar os trabalhos em locais com instalações elétricas, especialmente com baterias,
qualquer objeto pessoal metálico (cordão, relógio, anel etc.) deve ser retirado. O trabalho com baterias
não deve ser feito nunca por apenas uma pessoa, e sim conjuntamente por, pelo menos, dois
trabalhadores.
Os módulos fotovoltaicos produzem energia elétrica sempre que alguma luz solar incide sobre
eles. Assim, para mantê-los desenergizados, seria necessário cobri-los com um material opaco.
2A NR-35 estabelece os requisitos mínimos e as medidas de proteção necessárias para o trabalho em altura, como o
planejamento, a organização e a execução, a fim de garantir a segurança e a saúde dos trabalhadores com atividades
executadas acima de dois metros do nível inferior, onde haja risco de queda.
406
Antes do início dos trabalhos, o compartimento das baterias deve ser bem ventilado, pois pode
haver acúmulo de gás H2 liberado durante o carregamento, criando uma atmosfera inflamável e com
risco de explosão. Além disso, possíveis fontes de ignição, tais como, cigarros, faíscas, chamas etc.,
devem estar afastadas das baterias. Por isso, alguns manuais recomendam ainda que antes de entrar no
compartimento da bateria e de fazer contato com a mesma, deve-se tocar uma superfície aterrada para
descarregar a eletricidade estática que pode haver no corpo. O acúmulo de carga eletrostática no corpo
ocorre principalmente quando a pessoa está eletricamente isolada (p.ex. utilizando calçados de
borracha) e está em ambientes secos.
Baterias são pesadas, por isso seu manuseio apresenta risco ergonômico significativo (esforço
físico, possibilidade de lesões, desconforto, etc.). Assim, quando houver necessidade de movimentá-
las, é recomendável utilizar cintas para sua elevação e estruturas de suporte apropriadas para
transporte. Essa estrutura pode ser adquirida com ou projetada pelo fabricante.
Em SFVs que requerem a manipulação por parte do usuário para o correto funcionamento, deve-
se elaborar um manual de operação, de fácil compreensão, e realizar treinamento para o usuário final
do sistema, indicando o momento e o procedimento necessário para alguma intervenção e a
407
periodicidade que se deve fazer a supervisão de parâmetros que indicam o funcionamento adequado do
sistema, como por exemplo, o acompanhamento do nível de carga do banco de baterias (podendo
tomar como referência a tensão do banco de baterias), a verificação da atuação dos componentes de
condicionamento de potência (tais como, controlador de carga e inversor), a verificação da potência
elétrica produzida e demandada pelo sistema, entre outros.
Recomenda-se fazer inspeções periódicas nos SFVs, já que desta forma pequenos problemas
podem ser identificados e corrigidos, de modo a não afetar a operação do sistema. A inspeção
periódica deve ser iniciada logo após a instalação do sistema, quando ele, supostamente, está operando
satisfatoriamente.
8.3.1–Gerador fotovoltaico
Na inspeção visual devem ser verificadas as condições físicas de cada módulo fotovoltaico,
certificando-se de que a superfície frontal está íntegra e limpa, as células não apresentam sinais de
rachadura e descoloração, a estrutura de fixação do painel fotovoltaico está fixa, sem pontos de
corrosão e devidamente aterrada.
408
Caso haja necessidade de limpeza dos módulos antes de efetuar as medidas, deve-se utilizar uma
flanela limpa e água. Cuidados devem ser tomados para evitar que o vidro seja arranhado por
partículas abrasivas que fiquem presas na flanela. Por este mesmo motivo, o uso de sabão e jóias (anéis
e relógios) não é recomendado. Durante a limpeza, o trabalhador deve observar o seu posicionamento,
evitando apoiar-se nos módulos.
Nos dias em que o tempo estiver claro e com poucas nuvens, os módulos deverão ser limpos
preferencialmente no início da manhã ou no final da tarde, de forma a evitar que possíveis choques
térmicos, resultantes de água fria sobre um módulo muito quente, danifiquem o vidro de cobertura do
módulo.
Com o uso de uma bússola, pode-se verificar também, o ângulo azimutal dos módulos.
Geralmente, o painel aponta para o Norte Verdadeiro, quando situado no hemisfério Sul, e para o Sul
Verdadeiro, quando no hemisfério Norte. Entretanto, conforme mostrado no Capítulo 7, ângulos
diferentes podem ser utilizados. A correção necessária às leituras provenientes da bússola deve ser
409
realizada de acordo com a Declinação Magnética do local, conforme também mencionado no Capítulo
7.
Para avaliar o desempenho do gerador fotovoltaico, recomenda-se medir sua tensão de circuito
aberto (Voc) e sua corrente de curto-circuito (Isc), conforme descrito a seguir. Apesar dos
procedimentos serem aqui descritos em separado, geralmente as duas grandezas (Voc e Isc) são medidas
numa mesma operação.
Gerador fotovoltaico
Com o gerador fotovoltaico desconectado do sistema (para que se obtenha a Voc do gerador e não
a tensão regulada pelo controlador de carga, quando se trata de um SFI), pode-se medir a Voc com o
uso de um voltímetro c.c., como mostrado na Figura 8.2. Deve ser verificado previamente se o
instrumento é adequado ao nível de tensão a ser medido e se a escala utilizada está correta.
Cabe lembrar que algumas configurações de SFVs podem apresentar níveis de tensão e
corrente letais. Apesar da baixa tensão de um módulo fotovoltaico individualmente, a conexão de
vários em série pode atingir tensões de 1.000 Vcc. Mesmo com baixa irradiância solar tem-se
quase a tensão máxima nos terminais do módulo fotovoltaico. Sempre deve se usar equipamento
de proteção, especialmente luvas isolantes adequadas para a tensão de trabalho.
410
Figura 8.2 – Exemplo de medição da tensão de circuito aberto do gerador fotovoltaico em um sistema com baterias.
Normalmente o seccionamento do painel poderá ser feito num disjuntor ou fusível.
Em sistemas com geradores fotovoltaicos formados por mais de uma fileira de módulos (série
fotovoltaica), para uma avaliação simplificada, pode-se apenas medir a Voc por fileira e comparar com
os valores obtidos para as demais fileiras, os quais devem ser similares. Tais sistemas geralmente
incluem fusíveis de proteção (ou disjuntores) por fileira, instalados na caixa de junção do gerador
fotovoltaico, que devem ser desconectados (seccionados) para efetuar as medidas individuais das
fileiras.
Para uma melhor avaliação, deve-se multiplicar a Voc especificada pelo fabricante (corrigida),
pelo número de módulos conectados em série, e compará-la com valor medido da tensão de circuito
aberto do gerador fotovoltaico.
Do Capítulo 3 sabe-se que a temperatura especificada nas STC é de 25 °C e que a Voc tem
grande dependência da temperatura das células. Sabe-se ainda que os módulos geralmente funcionam
no Brasil em temperaturas bem superiores a 25 °C, de forma que, para uma avaliação mais consistente,
é necessário corrigir o valor da Voc informado pelo fabricante (ver item 4.1.3.2), utilizando o
respectivo coeficiente de temperatura, o qual também deve ser fornecido pelo fabricante.
Para isso, a temperatura do módulo deve ser medida simultaneamente à medida da Voc, com
auxílio de um termômetro infravermelho (Figura 8.3).
411
Figura 8.3 – Termômetro infravermelho.
Em função da imprecisão inerente à metodologia, desvios na Voc de até ±15% entre fileiras, bem
como em relação ao valor esperado calculado, são considerados aceitáveis.
Módulo fotovoltaico
Caso tenha sido observado que o painel, ou uma série fotovoltaica não apresentou a tensão
esperada, ou que uma série apresentou valor diferente das demais, deve-se medir individualmente a Voc
dos módulos dessa fileira para verificar onde pode se encontrar o problema.
Mantendo o gerador desconectado do sistema, o voltímetro c.c. deve ser colocado entre os
terminais positivo e negativo de cada módulo, não havendo necessidade de desconectar os módulos do
conjunto, se as séries estiverem isoladas, ou se forem dotadas de diodos de bloqueio. Este
procedimento é apresentado na Figura 8.4. A medida deve ser feita diretamente nos terminais do
módulo, acessados no interior da caixa de conexão (ver Figura 4.6) na sua face traseira. Deve-se ter
cuidado ao abrir essa caixa para não quebrá-la. Para evitar a penetração de umidade, deve-se também
ter o cuidado de fechar e vedar corretamente a caixa após a medição e mantê-la aberta o mínimo
possível.
No caso de módulos com conectores (ver Figura 4.7), torna-se então necessário desconectá-los
um a um para efetuar a medida. Deve-se certificar que sejam corretamente reconectados ao fim dos
trabalhos, de forma a evitar mau contato. Alguns tipos de conectores podem requerer o uso de uma
ferramenta especial para desconexão.
412
Figura 8.4 – Exemplo de medição da tensão de circuito aberto de um módulo.
A Voc medida para cada módulo deve ser comparada com as especificações do fabricante, com a
devida correção devida à temperatura. Em função da imprecisão inerente à metodologia, desvios de até
15% em relação ao valor esperado calculado, são considerados aceitáveis.
No caso de se constatar que a Voc está efetivamente inferior ao valor esperado, seguir os
procedimentos do Quadro 8.2 para eliminar o problema.
Nos SFIs, no momento de medir as Isc dos módulos ou do gerador fotovoltaico, recomenda-se
tomar muito cuidado para não curto-circuitar os terminais do banco de baterias. Para isso, deve-se
garantir que o(s) dispositivo(s) de interrupção ou chave(s) seccionadora(s) inserido(s) entre o gerador
fotovoltaico e o banco de baterias esteja(m) aberto(s).
Gerador fotovoltaico
A leitura da Isc é realizada com o uso de um amperímetro c.c. Para realizar a medição, deve-se
ligar as conexões do gerador e curto-circuitar os terminais positivo e negativo do painel inteiro entre si.
Pode-se utilizar um alicate amperímetro c.c. (como mostrado na Figura 8.5) ou um amperímetro em
413
série (colocando-se uma ponta de prova do instrumento no terminal positivo e outra no terminal
negativo do conjunto, curto-circuitando assim os terminais); contudo, o uso do alicate amperímetro é
mais conveniente e seguro. Deve-se ainda usar um cabo com bitola apropriada e evitar centelhamento
no momento da conexão do curto-circuito. Para painéis fotovoltaicos de maior porte o ideal é utilizar
uma chave seccionadora dimensionada para os níveis de Voc e Isc do gerador, instalada na posição
desligada entre os terminais a curto-circuitar e que, quando acionada , seja capaz de extinguir o arco
elétrico do chaveamento.
Cuidados especiais devem ser sempre tomados ao abrir ou fechar circuitos de elevada corrente
contínua, pois os arcos elétricos c.c. são difíceis de extinguir e podem causar sérias queimaduras e/ou
danos ao equipamento.
Como o valor da Isc do gerador pode ser mais alto do que a capacidade do amperímetro, para
evitar danos ao instrumento, recomenda-se estimar o valor da corrente máxima antes de realizar as
medições. Isto pode ser feito multiplicando-se a Isc informada pelo fabricante para cada um dos
módulos, pelo número de fileiras de módulos conectadas em paralelo no sistema. Devem-se iniciar as
medições com o amperímetro ajustado para sua mais alta faixa de operação e, gradativamente, ir
reduzindo a escala.
Em sistemas com geradores fotovoltaicos formados por mais de uma fileira de módulos (série
fotovoltaica), para uma avaliação simplificada, pode-se apenas medir a Isc por fileira e comparar com
os valores obtidos para as demais fileiras, os quais devem ser similares. Tais sistemas geralmente
incluem fusíveis de proteção (ou disjuntores) por fileira, instalados na caixa de junção do gerador
fotovoltaico, que devem ser desconectados (seccionados) para efetuar as medidas individuais das
fileiras.
Para uma melhor avaliação, deve-se comparar a Isc especificada pelo fabricante (corrigida) com o
valor medido, principalmente se as condições de irradiância forem variáveis em função da presença de
nuvens.
Do Capítulo 3 sabe-se que a irradiância especificada nas STC é de 1000 W/m2 e que a Isc é
função da irradiância incidente nas células. Uma vez que as condições de irradiância no momento das
medidas são arbitrárias, para uma avaliação mais consistente, é necessário corrigir o valor da Isc
informada pelo fabricante (ver item 4.1.3.2), para a irradiância vigente no momento da medição (ver
item 3.3.5.1). A irradiância, por sua vez, deve ser medida com um solarímetro portátil (Figura 8.6),
simultaneamente à medida da Isc.
415
Durante as medidas de Isc, deve-se considerar que a irradiância solar pode sofrer variações
significativas em períodos de segundos. Assim, enquanto as medições estiverem sendo realizadas, é
importante observar a indicação do medidor de irradiância, e somente fazer as medidas em condições
de estabilidade. Outro fator fundamental que deve ser considerado é a limpeza dos módulos, uma vez
que módulos sujos fornecem uma corrente elétrica menor.
Para o painel como um todo, a Isc medida deve ser comparada com o valor informado pelo
fabricante, corrigido e multiplicado pelo número de fileiras.
Em função da imprecisão inerente à metodologia, desvios de Isc de até ±15% entre fileiras, bem
como em relação ao valor esperado calculado, são considerados aceitáveis.
Módulo fotovoltaico
Caso tenha sido observado que uma série fotovoltaica não apresentou a Isc esperada ou uma série
apresentou valor diferente das demais, deve-se medir individualmente a Isc de cada um dos módulos
dessa fileira para verificar onde pode se encontrar o problema.
Caso o instrumento utilizado seja um alicate amperímetro, pode-se usar um trecho de cabo para
conectar os terminais positivo e negativo de cada módulo, como mostrado na Figura 8.7. É importante
usar um cabo com bitola apropriada para a corrente esperada. Não há necessidade de desconectar os
módulos do conjunto, se as séries estiverem isoladas, ou se forem dotadas de diodos de bloqueio.
Valem aqui as observações já apresentadas sobre o acesso ao módulo, que poderá ser na caixa de
conexão ou em terminais externos. Conforme citado anteriormente, no momento do teste, deve-se
medir simultaneamente o nível de irradiância.
416
Figura 8.7 – Exemplo de medição da corrente de curto-circuito de um módulo.
Seu principio de operação se baseia em uma varredura em toda a faixa de tensão de operação do
módulo parar obter os pontos da curva I-V, sendo assim capaz de fornecer, além das curvas I-V e P-V,
todos os seus parâmetros: Voc, Isc, VMP, IMP, PMP e FF, já convertidos para as STC.
417
É recomendado o uso de um traçador capaz de medir o painel como um todo, assim como as
fileiras em separado. Caso seja detectado problema na característica I-V de uma das fileiras, deve-se
então, levantar a curva dos módulos desta fileira individualmente, no intuito de detectar o(s) módulo(s)
defeituoso(s).
A própria análise visual do formato da curva I-V fornece informação relevante, permitindo
identificar diversas anomalias em células/módulos, conforme já mostrado nos Capítulos 3 e 4. A
Figura 8.8 resume as 5 irregularidades na curva de uma fileira que devem ser observadas, de acordo
com as respectivas interpretações nos parágrafos que se seguem.
Resistência série (Rs) – pode resultar de problemas nas interconexões elétricas internas de um módulo
da fileira, ou de problemas externos na fiação e conexões da fileira. As alterações na curva I-V de um
painel causada pela Rs são análogas às que foram mostradas na Figura 3.9 e implicam numa inclinação
mais acentuada da curva entre a VMP e a Voc.
Resistência paralelo (Rp) – resulta de defeitos internos em células. A alteração na curva I-V de uma
fileira causada pela Rp é análoga à mostrada na Figura 3.10 e implica em uma maior inclinação na
curva em Isc. Certos padrões de sombreamento ou de distribuição de sujeira (não homogênea) na
superfície do módulo podem causar o mesmo efeito na curva.
Redução na Isc – causada por sujeira sobre os módulos ou por degradação destes. Uma recomendação
é traçar a curva I-V antes e depois de efetuar uma limpeza na fileira, para isolar o efeito da sujeira.
418
Redução na Voc – causada por temperatura elevada nos módulos (pode ser devida às condições de
instalação). Degradação dos módulos ou curtos em diodos de desvio também causam o mesmo efeito
na curva.
Perdas por mismatch (descasamento) – podem resultar de inúmeras causas: sombreamento parcial,
sujeira localizada, curtos em diodos de desvio, células/módulos degradados, entre outras causas. O
efeito é o aparecimento de “dentes” ou “degraus” na curva I-V, de forma semelhante ao caso de
sombreamento mostrado na Figura 4.10, que serve de bom exemplo para o mismatch.
Apesar das vantagens e dos excelentes resultados obtidos, o alto custo dos traçadores tem sido o
fator responsável por seu uso bastante limitado no Brasil. Não temos conhecimento do uso de
traçadores parar manutenção de SFVs no país, em particular para SFIs de pequeno porte localizados
em regiões remotas.
Os pontos quentes (regiões com temperatura muito superior ao restante do módulo) podem
produzir redução na tensão de operação no módulo FV, como mostrado na Figura 8.9. Eles podem ser
detectados facilmente com auxílio de uma câmera termográfica infravermelha (Figura 8.10).
Figura 8.9 – Fotografia com câmera termográfica (em vermelho, as células superaquecidas). Fonte: (RELANCIO &
RECUERO, 2013).
419
Figura 8.10 – Câmera termográfica infravermelha.
Algumas condições são necessárias para uma inspeção adequada utilizando-se uma câmera
termográfica. A especificação da câmera deve ser adequada para o tipo de medição; o gerador
fotovoltaico deve estar em operação e a irradiação solar preferencialmente superior 600 W/m2 (não
inferior a 500 W/m2). O ângulo de visão deve ser baixo para uma boa emissividade infravermelha, mas
ao mesmo tempo não pode ser perpendicular ao módulo para evitar reflexões do vidro na imagem do
termovisor. Pode ser realizada também uma inspeção pela parte traseira do módulo, que evita os
efeitos da reflexão do vidro frontal.
420
8.3.2 – Baterias
Em SFIs, deve-se ter especial atenção ao banco de baterias, o componente de menor vida útil e
de maiores necessidades de manutenção no sistema. A experiência mostra que as baterias geralmente
são a principal causa dos problemas ocorridos em SFIs.
A seguir são apresentados procedimentos gerais de manutenção, que devem ser realizados nas
baterias usadas em SFIs. Pelo fato das baterias chumbo-ácido serem as mais utilizadas e necessitarem
de intervalos regulares de manutenção, este item dá enfoque a esta tecnologia. As informações para o
modelo de bateria utilizado devem ser obtidas com o fabricante ou fornecedor e devem estar à
disposição do técnico de manutenção. Condições específicas de utilização devem ser discutidas com o
fabricante antes da compra para que o mesmo possa adequar a bateria e o manual de manutenção e,
dessa forma, evitar a invalidação dos termos de garantia.
A manutenção dos bancos de baterias inclui: limpeza, aperto de conectores, adição de água (se
for o caso), verificação das condições e do desempenho.
421
8.3.2.1– Aspectos físicos
Pelo fato das baterias em geral liberarem gases durante o processo de recarga, é necessário um
sistema de ventilação adequado e funcional, que também contribua para manter a temperatura de
operação das baterias dentro de níveis adequados. Assim sendo, os furos ou venezianas na caixa,
armário ou compartimento para abrigar as baterias devem estar totalmente desobstruídos, abertos à
circulação de ar, devendo ser providos de telas, para prevenir a entrada de vegetação, insetos ou outros
pequenos animais. Os equipamentos eletrônicos não devem ser instalados no mesmo compartimento
das baterias para evitar que sofram corrosão provocada por gases ácidos da bateria. Também não
devem ser instalados no mesmo compartimento os equipamentos de proteção onde ocorrem
centelhamento para evitar riscos de explosão. Por isso é comum a utilização de fusíveis (ao invés de
disjuntores) para a proteção das baterias.
O invólucro para baterias não seladas deve ser transparente. Assim é possível observar
visualmente o nível do eletrólito (que deve estar sempre acima das placas), o estado das placas, o nível
de deposição de resíduo de chumbo na base do vaso, que deve obedecer a uma velocidade de
deposição ao longo de sua vida útil (o fabricante pode orientar a respeito), bem como a formação de
bolhas no eletrólito.
Esses indicadores visuais devem ser considerados tanto de forma comparativa quanto de forma
absoluta. No aspecto comparativo, uma bateria ou elemento que esteja apresentando indicador(es)
significativamente diferente(s) das demais, deve ser considerada suspeita e objeto de medidas
adicionais como densidade, temperatura, tensão etc.
Os vasos transparentes contem gravadas indicações claras dos níveis mínimo e máximo do
eletrólito, e todas as células deve ser preenchidas com água destilada/deionizada até o nível máximo.
Depois do enchimento inicial com a solução ácida (H2SO4) por ocasião da instalação do banco, as
baterias não devem receber mais ácido, apenas água destilada. Também não devem ser usados outros
produtos, por vezes vendidos no mercado, como “aditivos de baterias” ou similares. O item 4.3.3.9
contém especificações de água destilada ou deionizada para uso em baterias.
422
Os terminais das baterias, para estarem protegidos da oxidação, devem ser limpos e tratados a
cada doze meses com um inibidor de corrosão que é comumente encontrado no mercado. Todas as
conexões de cabos devem estar bem firmes.
Algumas vezes pode ser difícil remover o conector do terminal da bateria, devido à oxidação.
Deve-se evitar forçar o conector para não danificar o terminal da bateria. Em vez disto, recomendam-
se os procedimentos listados a seguir.
Remover a graxa protetora das conexões com um solvente, tal como querosene ou gasolina
(cuidado no manuseio destas substâncias, pois deve-se evitar seu contato com a pele e olhos,
além de serem altamente inflamáveis).
Escovar as partes metálicas, utilizando uma solução neutralizante (composta por água e
bicarbonato de sódio), até que o conector possa ser facilmente removido.
Limpar as superfícies de contato do terminal da bateria e do conector com a solução
neutralizante. Para obter uma superfície lisa, pode-se usar uma lixa fina.
Caso as extremidades do cabo estejam oxidadas, deve-se cortar a parte danificada e refazer a
conexão.
Aplicar graxa condutora no conector e nos cabos desencapados. Deve-se certificar que a
graxa utilizada não contém solvente ou algum componente que ataque o material da carcaça
da bateria (se necessário, consultar o fabricante da bateria).
-Limpar o excesso de graxa, ajustar o conector ao terminal da bateria, torcendo levemente
para garantir o contato metal-metal e apertar moderadamente até que esteja firme.
Caso o torque do aperto seja especificado pelo fabricante, o que pode ser o caso em bancos
de maior porte (MIGDIs, por exemplo), então será necessário utilizar a ferramenta adequada
(torquímetro) para seguir esta determinação.
A seguir são descritos os métodos para determinação do estado de carga das baterias nos
trabalhos de manutenção, que são o Densímetro e a Tensão de Circuito Aberto.
Para medir a tensão de circuito aberto e a densidade, deve-se desconectar o conjunto de baterias
do sistema (gerador e cargas) e deixá-lo “em repouso” por cerca de 20 minutos a fim de estabilizar a
tensão. Especial cuidado deve ser tomado ao desconectar as baterias do sistema, para evitar danos
423
ao(s) controlador(es) de carga. Para tanto, a desconexão deve ser feita na seguinte ordem: deve-se
primeiramente desconectar a carga, a seguir o gerador fotovoltaico e, por fim, o banco de baterias
do(s) controlador(es) de carga. A reconexão deve ser feita na ordem inversa.
O melhor momento para efetuar as medidas no banco de baterias é ao fim da tarde de um dia
ensolarado, quando devem estar totalmente carregadas.
Densímetro
Pode-se usar o peso específico como indicação do estado de carga apenas nos casos de baterias
que possuem eletrólito ácido. O peso específico do eletrólito em baterias de níquel-cádmio (alcalinas)
não muda significativamente com os diferentes estados de carga.
É importante saber que, devido ao fenômeno da estratificação (ver item 4.3.1), uma medida da
densidade pode não refletir a realidade, de forma que o ideal seria sempre efetuar esta medida após
uma carga de equalização, o que nem sempre é viável. Há fabricantes que recomendam tomar a
amostra a uma altura correspondente a ⅓ da placa, a partir do seu topo, o que corresponderia a um
valor médio da densidade.
424
É importante lembrar que, caso seja necessário completar o nível do eletrólito, então a densidade
do eletrólito só pode ser medida depois de efetuar ao menos um ciclo completo de descarga e posterior
carga, para que o eletrólito fique mais homogêneo.
Figura 8.12 - Tensão de circuito aberto (volts) e densidade específica (g/dm3) do eletrólito em função do estado de carga
para baterias de chumbo-ácido de tensão nominal de 12 V a 30C.
Quando realizadas as medições de densidade das baterias, analisar as variações entre elementos é
tão importante quanto o valor médio do conjunto. Densidade significativamente baixa (abaixo de
1.150 g/dm3) num elemento, significa falha ou curto-circuito entre placas. Quando variações entre
elementos são pequenas, dentro de ± 4 g/dm3, uma carga de equalização pode ser necessária.
Pelo fato dos fluidos quentes serem menos densos do que os frios, quando as baterias não se
encontram à temperatura nominal, faz-se necessário realizar uma compensação de temperatura.Para
isso, alguns densímetros possuem termômetros embutidos (densímetro termocompensado). Nos casos
em que o densímetro não possuir este recurso,a temperatura do eletrólito precisa ser cuidadosamente
medida e controlada. Para isso, pode-se usar um termômetro de precisão.
Tipicamente, para cada 1C acima da temperatura nominal3, um fator de 0,7 g/dm3deve ser
subtraído do valor medido do peso específico, ou, somado, nos casos em que a temperatura estiver
3Ao contrário dos módulos fotovoltaicos, cujas especificações são sempre em 25 °C (STC), a temperatura nominal das
baterias não é padronizada. A temperatura nominal é a adotada pelo fabricante nas folhas de dados técnicos. Geralmente é
de 25°C, mas pode também ser 27°C ou 20°C ou mesmo outros valores.
425
abaixo desta temperatura nominal. A importância desta correção pode ser verificada na Figura 8.12,
onde se pode notar que a densidade específica varia muito pouco para os diversos estados de carga (0 a
100 %). O fator de correção da temperatura específico para a bateria utilizada, bem como a referência
da temperatura nominal, devem ser fornecidos pelo fabricante.
426
Figura 8.14 – Exemplo de medição da tensão de circuito aberto do banco de baterias.
Figura 8.15–Exemplo de medição da tensão de circuito aberto de uma bateria com elementos de 2V com conexões
externas.
O estado de carga aproximado de cada bateria de tensão nominal de 12 V pode ser determinado
com o auxílio do gráfico da Figura 8.12 (é importante relembrar que o gráfico se aplica a baterias em
repouso, ou seja, não estão submetidas a correntes de carga ou descarga), considerando-se a
427
4
compensação por temperatura, conforme explicado no Capítulo 4 . Para um sistema de 48 V, por
exemplo, os valores de tensão no gráfico da Figura 8.12 devem ser multiplicados por 4.
Alguns autores recomendam que a bateria necessita de manutenção ou deve ser substituída nos
casos em que a tensão de qualquer célula ou bateria individual estiver fora do intervalo de 10 % acima
ou abaixo da tensão média do conjunto. A troca de um elemento ou de uma bateria em um banco deve
ser cuidadosamente avaliada, pois o elemento novo possuirá características elétricas diferentes dos já
instalados.
Além dos testes mencionados anteriormente, podem ser realizadas avaliações de desempenho
das baterias com ciclos de carga e descarga. Pode-se, para tal, utilizar as próprias cargas e fontes do
sistema, ou equipamentos específicos para teste de baterias. Em geral, este tipo de teste é mais preciso,
sendo, no entanto, complexo e demorado.
Para as baterias chumbo-ácido sem manutenção, do tipo monobloco em 12V, pode-se utilizar os
analisadores disponíveis para baterias automotivas (Figura 8.16), que são equipamentos mais simples e
de baixo custo. Contudo, para as células de 2V de grande capacidade, são necessários analisadores
específicos, de custo elevado.
4 A tensão varia de -6 a -4 mV/C por célula, para baterias de chumbo-ácido, para temperaturas acima da nominal.
428
Figura 8.16 – Analisador digital de baterias.
Os valores esperados de resistência interna devem ser informados pelo fabricante, pois variam
em função da capacidade e de outras características. A resistência interna também é função do estado
de carga, e deve ser medida com a bateria completamente carregada.
Recomenda-se que sejam seguidos os procedimentos dos fabricantes para verificar se todos os
equipamentos de condicionamento de potência, que incluem controladores de carga, inversores,
conversores cc-cc, controladores de bombas etc., encontram-se funcionando adequadamente.
A maioria dos equipamentos modernos possui painéis com LEDs, LCDs etc. que informam
continuamente suas condições operacionais.
5 A corrente de pico da bateria é diretamente correlacionada com a resistência interna, de forma que estas medidas podem
ser consideradas redundantes.
429
A inspeção permite identificar equipamentos visivelmente queimados ou destruídos. Deve-se
verificar a existência de oxidação nos pontos de conexão e a presença de insetos nas caixas de abrigo
dos equipamentos. Principalmente em locais de instalação com um ambiente de clima agressivo, deve-
se proteger os terminais de conexão contra oxidação.
Todos os controles, alarmes, medidores etc., empregados nos equipamentos devem estar
devidamente instalados e operando adequadamente.
O inversor deve estar limpo, seco, ventilado e em ambiente seguro. Os sons (zumbidos) emitidos
por alguns inversores quando em funcionamento não indicam, necessariamente, sinais de falha, mas
deve-se observar se o inversor passar a emitir ruído anormal.
Deve-se assegurar que o inversor esteja realmente alimentando as cargas c.a. de forma adequada.
Para tal, deve-se medir a tensão e frequência de saída, tanto em vazio (sem carga) quanto com a carga
430
máxima6 acionada. É também recomendado medir a THD (distorção harmônica total) da tensão da
saída nas duas condições.
Deve-se medir a corrente no lado c.c. do inversor também em ambos os estados, ou seja, quando
o mesmo está operando em vazio e com carga máxima. Além disso, deve-se medir a queda de tensão
sob carga entre o inversor e a bateria e a respectiva corrente, que poderá ser usada para calcular o valor
da resistência, responsável pelas perdas entre estes componentes.
8.3.4 – Cargas
Todas as cargas elétricas alimentadas pelo SFV, sejam elas c.c. ou c.a., devem ser verificadas,
para se assegurar de que estão operando corretamente.
No caso de cargas com partes móveis, como bombas e motores elétricos, deve-se verificar a
necessidade de limpeza e lubrificação dessas partes. No caso de refrigeradores, deve-se verificar o
estado da borracha de vedação das portas, responsável pelo isolamento térmico.
Para SFIs, recomenda-se que as cargas tenham a mesma quantidade, potência e tipo das que
foram especificadas originalmente. Muitos problemas em SFVs podem ser provocados por acréscimos
indevidos de cargas, cargas ligadas durante mais horas por dia do que originalmente previsto, ou ainda
ligadas incorretamente. É sempre importante informar aos usuários os benefícios do consumo eficiente
e racional de energia elétrica, especialmente no caso de SFIs individuais com disponibilidade mais
restrita de energia e potência.
Todas as conexões e condutos (como por exemplo, eletrodutos, canaletas, calhas etc.)
existentes no SFV devem estar firmes e sem danos. Deve-se examinar a ocorrência de
ligações frouxas, quebradas e oxidadas. Quando necessário, deve-se limpá-las e apertá-las.
Note-se que uma conexão ruim pode produzir um arco elétrico, que por sua vez pode
aumentar a temperatura e causar a avaria de equipamentos.
Verificar, também, a existência de dispositivos de segurança, tais como fusíveis e
disjuntores, que estejam danificados.
6 No caso de sistemas tipo MIGDI, pode ser difícil acionar a carga máxima, que se encontra espalhada por diversas
edificações.
431
Verificar a ocorrência de eventuais curtos-circuitos entre cabos condutores de diferentes
polaridades, como indicado na Figura 8.17, ou uma falta à terra (curto-circuito entre cabo
condutor e carcaça ou conduto metálico), como indicado na Figura 8.18. Com o sistema
desligado e todos os dispositivos de interrupção abertos, pode-se verificar estas duas
condições com um medidor de resistência elétrica (ohmímetro), ou utilizando a função teste
de continuidade de um multímetro.
432
queda de tensão entre os componentes (gerador-baterias) não seja superior a 3 %. Se
possível, medir a queda de tensão real, entre os cabos, durante a operação normal.
Verificar se todo o cabeamento está adequadamente afixado. Inspecionar o isolamento
quanto a desgaste, especialmente nas dobras e nos pontos de fixação.
Verificar a integridade das caixas de junção e controle. Caso elas estejam expostas ao tempo,
é muito importante verificar seu estado após a ocorrência de eventos climáticos agressivos
(por exemplo, após uma forte tempestade pode ter entrado água dentro das caixas). Se
alguma caixa estiver avariada, ou em mau estado, ela deve ser substituída o quanto antes.
Cabe ressaltar também que se deve estar atento quanto ao prazo de validade da calibração dos
sensores utilizados.
433
8.4 – Procedimentos de Inspeção e Manutenção Corretiva de Sistemas Fotovoltaicos
A manutenção corretiva procura reparar defeitos ou falhas no SFV após a ocorrência dos
mesmos, e tenta evitar que eles se repitam. A manutenção corretiva também inclui a substituição de
peças e equipamentos com defeitos de fabricação. Antes de se iniciarem os trabalhos de reparação,
deve-se verificar se os equipamentos que apresentam dano estão cobertos por garantia, que deve ser
imediatamente acionada em caso positivo. Quando não for o caso, deve ser realizado um orçamento
relativo aos custos de reparação do sistema. Após a manutenção corretiva, devem ser realizados
procedimentos de inspeção antes da colocação do sistema em operação.
Gerador Fotovoltaico
Sintoma Causa Resultado Ação corretiva
Fechar chaves, substituir
Dispositivos de fusíveis (determinar o motivo
proteção e Baterias pouco pelo qual os dispositivos de
seccionamento carregadas ou proteção, como fusíveis,
(chaves, fusíveis, com disjuntores etc., estão abertos,
Nenhum fluxo de danificados ou desconectados,
disjuntores etc.) carregamento
corrente de antes de substituí-los ou montá-
abertos, danificados ou insuficiente: baixa
carregamento los novamente); reparar ou
desconectados; tensão da barra
cabeamento rompido c.c. ou baixo substituir o cabeamento
ou oxidado; conexões SOC. danificado.
frouxas ou oxidadas Apertar e limpar as
conexões.
Remover causa do
Módulos sombreados
sombreamento
Interconexões do
gerador quebradas ou Reparar as interconexões
oxidadas
Diodos de bloqueio ou Substituir os diodos
de desvio defeituosos defeituosos
Queda de tensão
Baixo fluxo de corrente Módulos danificados Substituir os módulos
na saída do
de carregamento ou defeituosos afetados
gerador
Baixos níveis de
Esperar por tempo
irradiância solar
ensolarado
disponíveis
Módulos sujos Limpar os módulos
Orientação e/ou
Corrigir a orientação e/ou
inclinação incorretas
inclinação
do gerador
434
Quadro 8.2 – Gerador Fotovoltaico (Continuação).
Gerador Fotovoltaico
Sintoma Causa Resultado Ação corretiva
Cabeamento do
gerador para o sistema
Queda de tensão
Baixa tensão no de condicionamento de Substituir o cabeamento
na saída do
gerador potência subdimensionado
gerador
subdimensionado ou
muito longo
435
Quadro 8.3 – Baterias (Continuação).
436
Quadro 8.3 – Baterias (Continuação).
437
Quadro 8.3 – Baterias (Continuação).
Controladores de carga
Sintoma Causa Resultado Ação corretiva
Tensão da bateria
abaixo do ponto de Para o controlador de
regulagem (set-point) carga, as baterias estão Reparar, substituir ou
de retomada do operando com reposicionar o sensor
carregamento, embora Sensor de temperatura temperatura mais baixa de temperatura
o controlador não defeituoso ou mal do que a real
carregue as baterias posicionado; má
conexão dos terminais
Tensão da bateria do sensor de
acima do ponto de temperatura no Para o controlador de Reparar, substituir ou
regulagem (set-point) controlador de carga carga, as baterias estão reposicionar o sensor
de término do operando com de temperatura ou
carregamento, embora temperatura mais alta substituir o controlador
o controlador continue do que a real de carga
carregando as baterias
Pequena quantidade de Reconfigurar ou
Ruídos nos relés Baixa tensão
baterias em série adicionar baterias
(geralmente empregados
em controladores de Conexões das baterias Elevada queda de Apertar, reparar ou
carga mais antigos, para frouxas ou oxidadas tensão substituir os cabos
as operações de
chaveamento)
Baixa tensão nas Reparar ou substituir as
baterias baterias
438
Quadro 8.4 – Controladores de carga (Continuação).
Controladores de carga
Sintoma Causa Resultado Ação corretiva
Temporizador (timer) não Esperar até o reset automático
sincronizado com a hora do dia seguinte;
real do dia (caso de Ou desconectar o gerador,
Controlador liga e
controladores temporizados esperar 10 segundos para
desliga a carga, em
na carga, como, por resetar o coltrolador e
períodos incorretos
exemplo, os utilizados em conectá-lo novamente;
sistemas fotovoltaicos de Ou reprogramar o controlador
iluminação pública) de carga;
Operação irregular
do controlador de Ciclagem liga-
Conectar o inversor
carga e/ou desliga no
Ruído elétrico do inversor diretamente às baterias,
desconexão controlador muito
colocar filtros na carga
inadequada de rápida
cargas Elevados surtos para a Queda de tensão das Usar cabos de maior bitola
carga (partida de motores, baterias, durante o para a carga ou adicionar
por exemplo) surto baterias em paralelo
Controlador de carga Cargas
Reparar ou substituir o
defeituoso, possivelmente, desconectadas
controlador de carga e
em função de danos inadequadamente e
verificar o sistema de
causados por descarga outras operações
aterramento
atmosférica irregulares
ajuste incorreto do ponto de Cargas Alterar o ponto de regulagem
regulagem (set-point) de desconectadas (set-point) de baixa tensão de
Operação irregular baixa tensão de desconexão inadequadamente desconexão
do controlador de Chave da carga em posição Cargas nunca Mudar a chave para a
carga e/ou errada no controlador desconectam posição correta
desconexão Se necessário, substituir o
inadequada de Controlador de carga não
controlador de carga por
cargas possui a característica de Cargas nunca
outro que possua a
desconexão por baixa desconectam
característica de desconexão
tensão
por baixa tensão
Desconectar as baterias
Gerador curto-circuitado quando estiver testando a
Queima do fusível, com as baterias conectadas corrente de curto-circuito do
Alto fluxo de gerador
colocado no
corrente através do
circuito que Substituir o controlador de
Corrente de saída do controlador de carga
alimenta o gerador carga por outro com
gerador é muito elevada
capacidade nominal de
para o controlador de carga
corrente mais elevada
Eliminar o curto-circuito ou
Curto-circuito nas cargas Corrente elevada
substituir a carga defeituosa
Proteção (disjuntor,
Corrente exigida pelas
fusível) colocada
cargas é muito elevada para
no circuito que Reduzir a potência das cargas
o controlador de carga Alto fluxo de
alimenta as cargas ou trocar o controlador de
atuando Surto de corrente exigido corrente através do
carga por outro de maior
continuamente pelas cargas é muito controlador de carga
capacidade
elevado para o controlador
de carga
439
Quadro 8.5 – Inversor.
Inversor
Sintoma Causa Resultado Ação corretiva
Fechar chaves,
substituir
fusíveis(determinar o
motivo pelo qual os
Dispositivos de proteção e fusíveis ou os disjuntores
seccionamento (chaves, estão abertos,
Nenhum fluxo de danificados, ou
fusíveis, disjuntores etc.)
energia através do desconectados, antes de
abertos, danificados ou
inversor substituí-los ou montá-los
desconectados; cabeamento
rompido ou oxidado novamente); rearmar os
disjuntores; reparar ou
substituir o
cabeamento
danificado.
Baixa tensão c.c. no
inversor, Nenhum fluxo de
Permitir que as baterias
energia disponível para
Ou controlador de carga recarreguem
o inversor
aberto
Nenhuma saída do
inversor Temporizador (timer)
Alguns segundos de Esperar alguns
demora para dar partida no
atraso depois de dar segundos depois de dar
inversor, quando em modo
partida na carga partida nas cargas
de espera
Conectar cargas c.c.às
baterias e operá-las por
tempo suficiente para
baixar a tensão das
baterias. Ajustar a
tensão final de carga
Desconexão do inversor por no controlador de
Inversor não dá partida carga, caso possível, ou
tensão elevada
então substituí-lo;
Verificar a tensão
máxima c.c suportada
pelo inversor, e
substituí-lo caso esteja
com problema
Aquecimento Componentes
Substituir o inversor
excessivo dos Uso de inversor de onda harmônicas da forma
por outro com forma
motores durante quadrada de onda sobreaquecem
de onda senoidal
operação os enrolamentos
Reduzir a potência das
Tensão do inversor
Correntes excessivas cargas ou substituir o
muito baixa para as
exigidas pelas cargas inversor por outro de
cargas
maior capacidade
Cargas operam
Utilizar cargas c.c. ou
inadequadamente
Uso de inversor de onda substituir o inversor
quadrada por outro com forma
de onda senoidal
Inversor defeituoso Substituir o inversor
440
Quadro 8.5 – Inversor (Continuação).
Inversor
Sintoma Causa Resultado Ação corretiva
Substituir o inversor
Motores operam Inversor não possui Frequência na saída do
por um que possua
com velocidade dispositivo para controle inversor varia com a
dispositivo para
errada de frequência tensão da bateria
controle de frequência
Atuação do circuito Reduzir a potência das
de proteção Cargas operam com surto Correntes excessivas cargas ou substituir o
(disjuntor) do de corrente muito elevado exigidas pelas cargas inversor por outro de
inversor maior capacidade
441
Para os demais componentes e acessórios de um SFV, tais como cabeamento, dispositivos de
segurança e sistema de aquisição de dados, se for verificado qualquer defeito que afete a operação e/ou
monitoração do SFV, o componente deve ser imediatamente substituído.
A falha completa de um sistema fotovoltaico é muito rara. Os SFCRs quando bem projetados e
instalados funcionam por muitos anos e eventuais falhas normalmente estão associadas a reparos
simples.
Como referência, pode-se citar o programa fotovoltaico alemão de 1.000 telhados, realizado de
1991 a 1995. Foram registrados o comportamento operacional, o tipo e o número de falhas dos vários
sistemas. Os principais resultados são (Programa Altener, 2004):
442
Os fenômenos de corrosão provocados pela combinação de diferentes materiais foram
recorrentes, como, por exemplo, parafusos de bronze numa montagem galvanizada.
Outras falhas estavam relacionadas com os fusíveis e com distúrbios no fornecimento de
energia à rede.
Tabela 8.1 – Falhas típicas dos sistemas do programa alemão 1.000 telhados. Fonte: (PROGRAMA ALTENER, 2004)
Equipamento Falha %
Gerador Sombreamento parcial 41
Fotovoltaico Condutores não isolados 24
Corrosão e defeitos na estrutura de suporte 19
Grampos de conexão à estrutura soltos ou perdidos 5
Módulos defeituosos <2
Equipamentos Dissipação de calor dos diodos ineficiente ou inexistente 60
na caixa de Dispositivos de isolamento inadequados 56
junção
Fusíveis e DPS inadequados 15
Fusíveis defeituosos 4
Diodos de bloqueio defeituosos <2
DPS defeituosos <1
Inversor Proteção ineficiente contra sobretensão 8
O Quadro 8.7 extraído do manual: Energia fotovoltaica – manual sobre tecnologias, projecto e
instalação (PROGRAMA ALTENER, 2004) lista alguns componentes de um sistema de microgeração
e sugere verificações típicas e a periodicidade.
Quadro 8.7 – Verificações típicas de sistemas de microgeração conectados a rede. Fonte: (PROGRAMA ALTENER, 2004)
443
Avaliação de microgeradores
Os inversores para SFCRs são geralmente muito mais sofisticados do que os inversores para
SFIs, possuindo, quase todos, mesmo aqueles destinados à microgeração, funções de monitoração e
aquisição de dados (ver item 4.6.4), que disponibilizam informações operacionais e tornam fácil e
rápida a deteção de problemas no sistema. De qualquer forma, uma avaliação manual também pode ser
efetuada.
O painel fotovoltaico do SFCR pode ser verificado com a mesma metodologia descrita em 8.3.1,
incluindo medidas de Isc e Voc com o sistema desligado. Porém, adicionalmente, devem ser também
avaliadas as perdas no inversor e a eficiência de seu SPPM, de acordo com as medidas e cálculos
apresentados a seguir (ver Equações 4.19 a 4.21).
Uma vez que os inversores para SFCRs efetuam SPPM continuamente na entrada c.c., deve-se,
com o inversor em operação, efetuar medidas da tensão e corrente no painel, bem como
simultaneamente de irradiância e temperatura, com o objetivo de confirmar a operação do painel em
seu ponto de potência máxima (PMP, VMP, IMP) para as aquelas condições. O PMP medido deve ser
comparado com o informado pelo fabricante (STC) do módulo, corrigido para as condições da medida
(metodologia idêntica à descrita no item 8.3.1 para Voc e Isc).
Também deve-se simultaneamente efetuar medidas de tensão e corrente na saída c.a. do inversor,
para verificar sua eficiência (ηconv), que é a razão entre a potência c.c. e a potencia c.a. medidas. O
valor esperado pode ser visto na curva de eficiência fornecida pelo fabricante do inversor.
Desvios superiores a ±15%, seja no ponto de operação do painel (em relação ao PMP nas
condições da medida), seja na eficiência do inversor podem ser indício de problemas e devem ser
melhor investigados.
Os valores medidos devem ser também comparados com os informados pela aquisição de dados
do inversor (display, computador etc.).
Deve-se observar, que tais medidas em SFCRs são bastante trabalhosas, e que são necessárias
pelo menos duas pessoas, ficando uma delas no painel (normalmente instalado no telhado) para medir
irradiância e temperatura e a outra junto ao inversor (normalmente no interior da edificação) para
efetuar as medidas c.c. e c.a. As medidas devem ser efetuadas de forma simultânea, o que exige
comunicação e coordenação entre elas, possivelmente utilizando walkie-talkies. O trabalho deve
preferencialmente ser efetuado em um dia claro (sem nuvens) para uma maior precisão.
444
8.6 – Manutenção de Centrais Fotovoltaicas
Algumas recomendações gerais sobre a manutenção de centrais FV são citadas de forma breve
neste tópico, pois foge ao escopo desta obra detalhar os procedimentos envolvidos.
De uma forma geral, os equipamentos de proteção das centrais FV devem atuar quando
detectadas condições anormais na tensão ou frequência de operação da rede elétrica, desconectando a
central FV, para garantir a segurança das equipes de manutenção da rede e das pessoas em geral, além
de evitar danos aos equipamentos conectados à rede.
Tabela 8.2 - Recomendações de equipe e sistema de monitoramento em função do tamanho da central FV. Fonte: Adaptado
de (RELANCIO & RECUERO, 2013).
445
Equipe de operação e manutenção
Caso as atividades de operação e manutenção (O&M) sejam feitas por equipe não especializada
(por exemplo, do corpo de funcionários da empresa proprietária da central FV), o treinamento do
supervisor de manutenção e dos demais encarregados é essencial, pois a reparação de possíveis
falhas/colapsos deve ser feita tão rápida e eficientemente quanto possível.
Recomenda-se que o responsável pelas atividades de O&M tenha habilidades tanto em nível
funcional (executar por si mesmo as atividades de manutenção da central) quanto em relação à
documentação (atualizar os registros de manutenção, de incidentes etc. e tratar a informação).
Uma má gestão do estoque de peças de reposição pode significar dias completos de parada para
uma central FV. Por essa razão, é essencial ter sempre uma lista atualizada de todas as peças de
reposição para a central, e assegurar que há quantidade suficiente de cada uma em estoque. Também é
importante estar atento para o estoque de bens de consumo, como óleo, tinta, etc.
Sistema de vigilância
Sistema de monitoramento
Seguro
Também é importante contratar um seguro que cubra todos os efeitos decorrentes de eventos
meteorológicos, roubo, ou possíveis danos devido a vandalismo. Há seguros que cobrem inclusive
perdas de produção de energia.
O sistema hidráulico muitas vezes fica aos cuidados dos próprios usuários ou de um órgão
municipal, e a experiência indica que problemas são bastante comuns. Assim, ele deve ser
inspecionado quanto a:
Como apresentado no Capítulo 4, a maioria dos inversores para conexão à rede, e alguns dos
inversores e controladores de carga para SFIs, disponíveis no mercado possuem um sistema de
aquisição e armazenamento de dados integrado, onde os parâmetros registrados podem ser coletados
localmente, por exemplo, via interfaces (USB, interfaces próprias) de comunicação, ou podem ser
transmitidos para um servidor ou computador remoto, via rede Wireless ou rede celular, por exemplo.
Assim, o usuário ou operador pode acompanhar o desempenho operacional dos componentes do SFV,
com base no histórico dos parâmetros monitorados, ou mesmo em tempo real.
Basicamente, os parâmetros monitorados na maior parte das aplicações estão relacionados com a
tensão, corrente, potência ativa e energia ativa, tanto no lado c.c. quanto no lado c.a. Quanto às
variáveis climáticas monitoradas, geralmente são coletados, por meio de sensores apropriados, os
valores de temperatura ambiente e/ou da superfície posterior do módulo fotovoltaico; temperatura do
banco de baterias; irradiância no plano horizontal e/ou no plano inclinado do painel fotovoltaico.
447
Com a avaliação dos dados coletados pode-se verificar o funcionamento adequado do SFV ou
ainda detectar alguma anomalia no funcionamento do sistema, podendo-se obter um indicativo de que
está havendo, por exemplo, falha no inversor, falha na ligação entre cabeamento e conectores, falha de
isolamento, defeito em fusíveis, chaves e disjuntores, falha no gerador fotovoltaico etc.
Para um SFI, pode-se avaliar a disponibilidade do sistema, por exemplo, por meio dos níveis
medidos de irradiância e tensão do banco de baterias, relacionando aos valores medidos de geração
fotovoltaica e consumo de energia elétrica, podendo-se, deste modo, também avaliar a funcionalidade
do sistema e se a capacidade de suprimento está conforme o esperado.
Para melhor aproximação do comportamento real do SFV, nas simulações de desempenho são
considerados os equipamentos utilizados na instalação fotovoltaica e os dados climáticos monitorados
no local (como temperatura e irradiância solar). Na indisponibilidade dos dados climáticos locais,
podem ser considerados os disponíveis da localidade mais próxima.
8.9 – Referências
DUNLOP, J. (National Joint Apprenticeship and Training Committee for the Electrical
Industry). Photovoltaic Systems. 1a ed. USA: American Technical Publishers, Inc., 2007. 452 p.
GALDINO, MARCO A.; BORBA, AROLDO J. V.; ALMEIDA, VANIA M. DE. Avaliação de
material do MME/Prodeem armazenado no almoxarifado da Chesf em Abreu e Lima-PE.
Relatório Técnico Cepel DTE 14494/2010; dezembro de 2010.
7 A produtividade do SFV é a razão entre a energia elétrica c.a. produzida em um determinado período e a potência
nominal instalada do gerador fotovoltaico, geralmente dada em kWh/kWp.
448
the autonomous photovoltaic system of the Uacari Floating Lodging House, Amazon-Brazil.
Progress in Photovoltaics: Research and Applications, Wiley Online Library. 2011.
Sandia National Laboratories and Naval Facilities Engineering Command. Maintenance and
operation of stand-alone photovoltaic systems. Architectural Energy Corporation, 1991.
449
APÊNDICE 1
NORMAS E REGULAMENTOS
450
APÊNDICE 1 – NORMAS E REGULAMENTOS
Introdução
Neste apêndice são apresentados os aspectos legais e regulatórios associados aos sistemas
fotovoltaicos, contendo a legislação vigente no Brasil, tanto para os sistemas isolados individuais e
com minirredes, quanto para os conectados à rede, além das normas técnicas vigentes, relativas aos
Sistemas Fotovoltaicos de Conversão de Energia. São apresentadas as normativas existentes,
destacados seus pontos principais e indicado onde obtê-las em sua íntegra.
451
RGR: eólica, solar, biomassa, PCH’s, termelétrica associada a PCH: até 10 % dos
recursos disponíveis.
Programa de fomento específico para a utilização de equipamentos, de uso individual e
coletivo, para geração de energia elétrica a partir de energia solar.
Resolução ANEEL n° 248/02 (http://www.aneel.gov.br/cedoc/res2002248.pdf):
Atualiza procedimentos para o cálculo dos limites de repasse dos preços de compra de
energia elétrica, para as tarifas de fornecimento.
Fim dos valores normativos diferenciados: Valor Normativo único (VN), representativo
de fonte competitiva.
O VN poderá ser revisto, anualmente ou, a critério da ANEEL, na ocorrência de
mudanças estruturais relevantes na cadeia de produção de energia elétrica, devendo
considerar os seguintes aspectos:
o I - os projetos em desenvolvimento;
o II - as expansões previstas do parque gerador;
o III - a atualização dos custos dos empreendimentos;
o IV - os contratos bilaterais firmados entre os agentes; e
o V - as políticas e diretrizes do Governo Federal.
Lei n° 10.762/03 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.762.htm):
Redução não inferior a 50 % a ser aplicada às tarifas de uso de sistemas elétricos de
T&D para PCH, solar, eólica e biomassa ou cogeração qualificada com potência até
30.000 kW, destinados à autoprodução ou à produção independente.
Possibilidade de comercialização direta com consumidor com carga maior ou igual a
500 kW, podendo o fornecimento ser complementado por empreendimentos de geração
associados, mas limitado a quarenta e nove por cento da energia média que produzirem
para hidrelétrica, solar, eólica, biomassa, cuja potência instalada seja menor ou igual a
30.000 kW.
Lei n° 10.848/04 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/l10.848.htm):
Novo Modelo do Setor Elétrico
Comercialização realizada nos ambientes de contratação regulada (ACR) e contratação
livre (ACL).
o ACR: compra de energia elétrica por distribuidoras com garantia de
atendimento à totalidade de seu mercado, mediante contratação regulada (longo
prazo), por meio de licitação, favorecendo a modicidade tarifária (sic) e
condições e limites para repasse do custo de aquisição de energia elétrica para
os consumidores finais, a partir de:
452
empreendimentos de geração existentes;
novos empreendimentos de geração;
geração distribuída; e
fontes alternativas.
o ACL: Consumidores livres.
Contratos de curto e médio prazo;
Diversidade e complementaridade de fontes; e
Contratação bilateral.
Decreto n° 5.163/04 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/de-
creto/D5163compilado.htm): Condições para contratação para Geração Distribuída.
Montante contratado limitado a até 10 % da carga da distribuidora.
Distribuidoras que tenham mercado próprio inferior a 500 GWh/ano.
Resolução ANEEL n° 167/05 (http://www.aneel.gov.br/cedoc/bren2005167.pdf):
Regulamentação da energia proveniente de empreendimentos de geração distribuída para fins
de atendimento às concessionárias, permissionárias ou autorizadas de distribuição.
Resolução ANEEL n° 247/06 (http://www.aneel.gov.br/cedoc/ren2006247.pdf):
Condições para a comercialização de fontes incentivadas no mercado livre com unidade
ou conjunto de unidades consumidoras cuja carga seja 500 kW.
o Ser oriunda de:
PCH’s, de produção independente ou autoprodução;
empreendimentos com potência instalada 1.000 kW;
empreendimentos com base em fontes solar, eólica e biomassa, com
potência instalada 30.000 kW.
o Lastro de até 49 % de outras fontes.
o Contrato de Compra de Energia Incentivada – CCEI.
o 180 dias de aviso à concessionária.
o Livre acesso e respectivos contratos com descontos.
Lei n°11.488, de 15 de junho de 2007 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2007/lei/l11488.htm), estabelece desconto nas tarifas de uso dos sistemas de distribuição
e transmissão para sistemas com fontes solar, eólica, biomassa até 30 MW.
Resolução ANEEL n° 286/07 (http://www.aneel.gov.br/cedoc/ren2007286.pdf): Aprovação das
Regras de Comercialização de Energia Elétrica aplicáveis a fontes incentivadas e consumidores
especiais.
Decreto n° 6.353/08 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2008/Decreto/D6353.htm):
453
Regulamenta a contratação de energia de reserva.
Energia de reserva é aquela destinada a aumentar a segurança no fornecimento de
energia elétrica ao Sistema Interligado Nacional - SIN, proveniente de usinas
especialmente contratadas para este fim.
Energia de reserva contratada mediante leilões a serem promovidos pela Agência
Nacional de Energia Elétrica - ANEEL, direta ou indiretamente, conforme diretrizes do
Ministério de Minas e Energia.
Contratada pelo CCEE que repassa aos consumidores do SIN, os custos fixos e
variáveis da geração.
Resolução ANEEL n° 320/08 (http://www.aneel.gov.br/ce-doc/ren2008320.pdf):
Estabelece critérios para classificação de Instalação de Transmissão como de Interesse
Exclusivo de Centrais de Geração para Conexão Compartilhada – ICG para o acesso à
Rede Básica do SIN de centrais de geração a partir de fonte eólica, biomassa ou
pequenas centrais hidrelétricas.
ICGs: instalações de transmissão (barramentos, linhas de transmissão, transformadores,
subestações, com tensão até 230 kV), não integrantes da Rede Básica, destinadas ao
acesso de centrais de geração em caráter compartilhado à Rede Básica, definidas por
chamada pública a ser realizada pela ANEEL e licitadas em conjunto com as
instalações de Rede Básica para duas ou mais centrais de geração.
454
Resolução ANEEL n° 427/11 (http://www.aneel.gov.br/cedoc/ren2011427.pdf): Estabelece as
regras para o planejamento, formação, processamento e gerenciamento da Conta de Consumo
de Combustíveis – CCC.
Resolução ANEEL n° 493/12 (http://www.aneel.gov.br/cedoc/ren2012493.pdf): Estabelece os
procedimentos e as condições de fornecimento por meio de Microsistema Isolado de Geração e
Distribuição de Energia Elétrica – MIGDI ou Sistema Individual de Geração de Energia com
Fonte Intermitente – SIGFI.
455
Aprova a inclusão de item específico ao Módulo 3 do PRODIST 1 (3.7), que trata
exclusivamente do acesso da mini e microgeração distribuída incentivada.
Redução das tarifas de uso de sistemas de transmissão (TUST) e distribuição (TUSD) para a
geração solar
1
O PRODIST é composto por oito módulos: Introdução (Módulo 1), Planejamento da Expansão do Sistema de
Distribuição (Módulo 2), Acesso ao Sistema de Distribuição (Módulo 3), Procedimentos Operativos do Sistema de
Distribuição (Módulo 4), Sistemas de Medição (Módulo 5), Informações Requeridas e Obrigações (Módulo 6), Cálculo de
Perdas na Distribuição (Módulo 7) e Qualidade da Energia Elétrica (Módulo 8).
456
consumidores conectados aos sistemas de distribuição em qualquer tensão, cooperativas de
eletrificação rural e importador/exportador de energia conectado.
Estabelece que o fator de potência da unidade consumidora, para fins de cobrança, deve ser
verificado pela distribuidora por meio de medição permanente, de forma obrigatória para o grupo A,
sendo que o fator de potência de referência, indutivo ou capacitivo, tem como limite mínimo permitido
457
o valor de 0,92. Já as unidades consumidoras do grupo B não podem ser cobradas pelo excedente de
reativos devido ao baixo fator de potência.
458
Figura A1.1 – Fluxograma para implantação de central geradora solar ≥ 5.000 kW.
459
Figura A1.2 – Fluxograma para implantação de central geradora solar < 5.000 kW.
460
Normas Técnicas Brasileiras utilizadas para trabalhos com Sistemas Fotovoltaicos
As normas técnicas relacionadas a seguir podem ser obtidas, por meio de compra direta, da
ABNT.
Estabelece as condições que as instalações elétricas de baixa tensão devem satisfazer, a fim de
garantir a segurança de pessoas e animais, o funcionamento adequado da instalação e a conservação
dos bens. A norma refere-se a tensões de 1.000V em corrente alternada, ou 1.500 V em corrente
contínua, e aplica-se principalmente às instalações elétricas de edificações, qualquer que seja seu uso
(residencial, comercial, público, industrial, de serviços, agropecuário, hortigranjeiro, etc.).
NR 35 – Trabalho em altura
461
NBR 15389:2006 – Bateria de chumbo-ácido estacionária regulada por válvula - Instalação e
montagem
462
Requisitos de Avaliação da Conformidade (RAC) para Sistemas e Equipamentos para Energia
Fotovoltaica
Esta Portaria determinou que, após 1º de julho de 2012, os sistemas e equipamentos para energia
fotovoltaica só poderiam ser comercializados no Brasil em conformidade com os requisitos
estabelecidos2.
Referências
EPE - Empresa de Pesquisa Energética. Nota Técnica: Análise da inserção da geração solar
na matriz elétrica brasileira. Rio de Janeiro, Brasil: Maio de 2012. Disponível em:
<http://www.epe.gov.br/geracao/Documents/Estudos_23/NT_EnergiaSolar_2012.pdf>.
2
Até a data de publicação desta edição do Manual, os requisitos estabelecidos na RAC fotovoltaica para os equipamentos
de condicionamento de potência são para sistemas isolados. Os requisitos para sistemas conectados a rede ainda se
encontram em elaboração.
463
APÊNDICE 2
ASPECTOS ECONÔMICOS
464
APÊNDICE 2 – ASPECTOS ECONÔMICOS
Introdução
Uma das principais barreiras para a popularização da energia solar fotovoltaica no Brasil tem
sido os custos de investimento associados a essa tecnologia, quando comparada com outras tecnologias
de geração de eletricidade convencionais ou mesmo mais recentes, como o caso da geração eólica.
Entretanto, esses custos têm apresentado reduções significativas, fazendo com que a geração
fotovoltaica já comece a se tornar competitiva com relação a algumas fontes de geração de
eletricidade.
Este Apêndice apresenta um breve panorama dos aspectos econômicos envolvidos. Ressalta-se,
que apesar das fontes brasileiras utilizadas serem as mais recentes no setor, houve mudanças
significativas de câmbio até a data de publicação deste Manual.
O custo de investimento dos sistemas fotovoltaicos, que desde o ano 2000 vem apresentando
uma trajetória de redução de preços, acentuou essa tendência, sobretudo a partir de 2006, em função
das significativas reduções verificadas nos preços dos módulos. Na Figura A2.1 são apresentados os
preços médios, entre 2006 e o segundo trimestre de 2012, sem taxas, para sistemas de 100 kWp
instalados em telhados na Alemanha.
Figura A2.1 - Preço de sistemas fotovoltaicos de 100 kWp na Alemanha. Fonte: [BSW Solar, 2012].
465
mostrando que os custos das instalações com potências entre 2 e 5 kWp são 64 % mais elevados nos
Estados Unidos que na Alemanha, devido sobretudo à maior capacidade de geração já instalada nos
países europeus, à regulação e à simplificação dos procedimentos para a instalação dos sistemas. Na
Figura A2.2 é mostrada a evolução na capacidade fotovoltaica (FV) total instalada acumulada na
Alemanha, onde um total acumulado de 24,8 GWp foi atingido no ano de 2011.
A Figura A2.3 explicita melhor essa relação através da linha de tendência, onde é apresentada
claramente a relação entre o aumento de capacidade instalada e a redução no preço dos sistemas FV
completos na Alemanha.
Figura A2.3 - Linha de tendência relacionando a evolução do preço final, sem impostos, com a evolução na capacidade FV
total instalada acumulada, para sistemas fotovoltaicos de até 100 kWp instalados em telhados na Alemanha. Fonte:
Elaboração própria a partir de dados de [BSW Solar, 2012].
466
Apesar disso, do mesmo modo que na Europa e na China, nos EUA os preços médios dos
sistemas fotovoltaicos vêm registrando sucessivas quedas em todos os segmentos de mercado. Com
base nas informações publicadas por [SEIA, 2012], o preço médio do sistema residencial foi de US$
5,85/Wp no primeiro trimestre de 2012, ficando os sistemas de grande porte em uma faixa de US$
3,20/Wp.
De acordo com [EPE, 2012], que levantou e compilou os preços de conjuntos completos (painel
e inversor) no mercado de varejo, para instalações comerciais e industriais, entre 50 kWp e 1.000
kWp, podem ser encontrados conjuntos com preços unitários médios entre US$ 2,32/Wp, para
sistemas de 50 kW, e de US$ 1,90/Wp, para sistemas com potência superior a 1.000 kW. Esses custos,
embora incluam os impostos de comercialização dos bens e serviços, estimados entre 10 % e 12 %,
não embutem os custos de operação e manutenção (O&M), estimados em 20 % do custo total do
investimento. Incluindo essa parcela de O&M, os custos dos sistemas para diferentes potências são
apresentados na Tabela A2.1.
Instalação &
Potência Gerador FV Inversores Total
Montagem
Residencial (4-6 kWp) 2,23 0,57 0,70 3,50
Residencial (8-10 kWp) 2,02 0,50 0,63 3,15
Comercial (100 kWp) 1,74 0,42 0,54 2,70
Industrial (≥ 1.000 kWp) 1,60 0,30 0,48 2,38
Nota: Preços com impostos nos seus mercados de origem
Fonte: [EPE, 2012].
1
No que se refere aos sistemas isolados, onde o sistema de acumulação é responsável por mais de 40 % do investimento
inicial, esse valor cai para algo entre 25 a 30 %.
467
Figura A2.4 - Preço médio anual do módulo fotovoltaico em diversos países europeus. Fonte: [EPIA, 2012].
Como se pode observar pela Figura A2.5, os preços médios dos módulos FV, na porta da fábrica,
no mercado mundial atingiram, em março de 2012, o patamar de 1 US$/Wp, e os valores continuam
sofrendo redução. Pouco menos de quatro meses após ser atingido o patamar de 1 US$/Wp, essa
redução já foi de 15 % (16/03 a 6/7/2012).
Figura A2.5 – Preços praticados no mercado mundial de módulos FV de silício cristalino na porta da fábrica de 13/01 a
6/7/2012. Fonte: [PHOTON, 2012].
468
(a)
(b)
(c)
Figura A2.6 - Preços praticados no mercado alemão, de 13/01 a 06/07/2012, para módulos FV de silício, (a)
monocristalino (m-Si), (b) policristalino (p-Si) e (c) amorfo (a-Si). Fonte: [PHOTON 2012].
469
Custo dos Inversores
Em [ABINEE, 2012], que apresenta os resultados de uma pesquisa realizada pela PHOTON
International (com campo amostral: preços praticados para 1.301 inversores/revendas, no mercado
alemão), o preço médio do inversor de 10 a 100 kW, na semana de 02/09/2011, era de 0,19 €/W, com
variação entre 0,11 e 0,24 €/W. Para as demais faixas de potência, os preços não são apresentados.
Na Figura A2.7, divulgada em [PHOTON 2011], observa-se que, na mesma semana, os preços
médios para inversores de até 5 kW e para inversores de 5 a 10 kW eram de, respectivamente, 0,28 e
0,17 €/W.
(a)
2
Esse valor refere-se aos sistemas de 1 kW conectados à rede instalados no Brasil. No que se refere aos sistemas isolados,
esse valor cai para algo entre 15 a 20 % do investimento inicial.
470
(b)
Figura A2.7 - Preços praticados no mercado alemão, de 11/03 a 02/09/2011, para inversores, conforme a capacidade. ( a)
Para inversores com capacidade de 5 a 10 kW (campo amostral: 4.206 inversores): 0,24 €/W, e
Para inversores com capacidade de 10 a 100 kW (campo amostral: 4.620 inversores): 0,19 €/W.
(a)
471
(b)
(c)
Figura A2.8 - Preços praticados no mercado alemão, de 13/01 a 06/07/2012, para inversores, conforme a capacidade. (a)
Até 5 kW; (b) Entre 5 e 10 kW; (c) Entre 10 e 100 kW. Fonte: [PHOTON 2012].
Também se pode verificar pela Figura A2.8 que a variação de preços de cada classe de
inversores foi mínima de janeiro a julho de 2012. Comparando os preços médios de inversores
praticados na Alemanha na semana de 06/07/2012 com os da semana de 02/09/2012, tem-se a seguinte
variação de preços:
Para inversores com capacidade de até 5 kW: passou de 0,28 para 0,29 €/W (aumento de 3,6 %);
Para inversores com capacidade de 5 a 10 kW: passou de 0,17 para 0,24 €/W (aumento de 41,2 %),
e
Para inversores com capacidade de 10 a 100 kW: mesmo valor de 0,19 €/W.
472
Percebe-se então que, enquanto os módulos estão apresentando uma constante queda de preços,
os preços dos inversores têm flutuado significativamente e, na média, aumentado. Isso ocorre
principalmente porque a eletrônica dos inversores tem se desenvolvido bastante nos últimos anos,
aumentando bastante sua eficiência.
No caso dos módulos FV, o aumento da eficiência (da conversão de energia solar em energia
elétrica c.c.) implica menor área ocupada por cada Wp instalado, e em menor custo do Wp instalado.
Já para os inversores, a maior eficiência implica menos perdas na conversão c.c.-c.a. Com isso,
um inversor com capacidade de 10 kW produzido com a tecnologia atual permite uma maior geração
de energia elétrica c.a. do que um inversor com a mesma capacidade, mas com tecnologia mais antiga
(e mais perdas de conversão) nas mesmas condições de operação. Ou seja, apesar do preço dos
inversores ter aumentado, esse aumento pode ser compensado pela maior geração final de energia
elétrica.
O estudo em [ABINEE, 2012]) estimou que os custos dos demais componentes, que englobam
os custos associados aos equipamentos elétricos auxiliares, estruturas de sustentação, cabos, conexões,
disjuntores, projeto básico e projeto executivo, despesas com licenciamento, aquisição de terrenos e
O&M, representem valor igual à soma do custo dos módulos e inversores. Assim, com base nos preços
médios de módulos e inversores adotados no referido estudo, de € 0,98/W para os módulos e € 0,19/W
para os inversores, o preço dos demais componentes seria da ordem de € 1,17/W, resultando no custo
total do sistema solar fotovoltaico da ordem de € 2,34/W.
O relatório final publicado em [EPIA, 2012] mostrou que nos últimos 30 anos o preço do
módulo solar caiu significativamente, em torno de 20 %, cada vez que, cumulativamente, a capacidade
instalada dobrou. Como se pode observar na Figura A2.9, ao se relacionar o preço unitário dos
módulos com a quantidade acumulada produzida, verifica-se empiricamente a regra da curva de
aprendizado tecnológico, segundo a qual a cada duplicação da capacidade acumulada global
produzida, o preço dos módulos diminui em 20 %.
A diminuição dos custos de produção e, no varejo, dos preços dos módulos fotovoltaicos e
sistemas (incluindo dispositivos eletrônicos e de segurança, cabeamento, montagem, estruturas de
instalação etc.) ocorreram não apenas em consequência dos ganhos em escala e experiência, mas
também pela inovação, pesquisa, desenvolvimento e apoio político para o desenvolvimento do
mercado.
473
Figura A2.9 - Curva de aprendizado tecnológico para módulos fotovoltaicos. Fonte: [ABINEE, 2012].
Como se pode observar pela Figura A2.9, de 1979 até 2003 ocorreu uma redução constante no
custo de produção dos módulos FV (pontos pretos no gráfico), demonstrando uma clara relação entre o
aumento do mercado e a redução de custos de produção. Logo depois, no período de 2003 a 2006,
houve então um aumento no custo de produção, relacionado com o aquecimento exagerado da
demanda nesses anos, o que levou à escassez de matéria-prima.
Considerando, portanto, que o comportamento dessa relação entre quantidade produzida e preço
continue a se reproduzir no futuro e projetando-se diferentes cenários de produção, é possível obter,
ainda que com certo grau de incerteza, como os preços da tecnologia tenderão a se comportar no
futuro. No estudo realizado em [ABINEE, 2012], três cenários da taxa de crescimento anual da
produção foram considerados: 5 %, 10 % e 15 %. Os resultados indicam que a redução dos preços
variará entre 40 % e 50 % (maior e menor cenário, respectivamente). Se tal ocorrer, e considerando
que os preços dos demais componentes manterão a tendência atual de queda, em 2020 o preço dos
módulos deverá atingir US$ 0,50/Wp e o preço dos sistemas fotovoltaicos instalados, ficará em torno
de US$ 1/Wp. Em termos absolutos, a produção anual atingirá, em 2020, 39 GW/ano para o cenário de
menor crescimento (5 %) e 97 GW/ano para o cenário de maior crescimento (15 %), acumulando uma
capacidade instalada de 369 GWp e 612 GWp, para os cenários de 5 % e 15 %, respectivamente.
Com a expressiva entrada da China no mercado, nos últimos anos tem havido dificuldade em se
obter informações confiáveis a respeito do custo médio de produção mundial. Optou-se então por
representar, no mesmo gráfico da curva de aprendizado (que trata de valores de custo), os valores de
preço de venda (pontos em vermelho).
No entanto, vale ressaltar que a “curva de aprendizado” mais adequada é a que analisa a
evolução do custo de produção, já que o preço de venda ao consumidor final é fortemente influenciado
474
pelas relações entre oferta e demanda. Se o mercado é “comprador” (demanda maior que oferta), os
preços tendem a aumentar, pois são os “vendedores” que ditam as regras, enquanto que se o mercado é
“vendedor” (oferta maior que demanda), são os “compradores” que ditam as regras, e os preços
tendem a cair.
Os estudos de [ABINEE, 2012] e de [EPE. 2012] são as mais recentes publicações que estimam
e analisam os preços nacionalizados dos sistemas fotovoltaicos para o Brasil. Basicamente, trata-se da
nacionalização dos custos internacionais, por meio da agregação a estes da carga tributária brasileira
incidente sobre os equipamentos/materiais e serviços necessários à implantação dos sistemas
fotovoltaicos no país. Mais especificamente, o Imposto de Importação (II), ICMS, PIS, Cofins, ISS
etc., mais outras taxas aplicáveis.
Segundo [EPE, 2012], que fez uma avaliação de custos para uma instalação de 100 kWp, como
geralmente os módulos e os inversores são importados, a carga tributária incidente é da ordem de 25 %
dos valores de referência internacionais, já descontados os impostos dos locais de origem. Então, a
partir dos preços internacionais adotados referentes aos módulos, inversores e aos preços de
instalação/montagem, já apresentados na Tabela A2.1, na avaliação de custos desenvolvida em [EPE,
475
2012], os preços nacionalizados para os mesmos equipamentos e custos de instalação/montagem para
quatro tipos de instalação foram analisados, adotando uma taxa de câmbio de US$ 1 = R$ 1,75 e
impostos nacionais de 25 %. Na Tabela A2.2 são apresentados os preços internalizados encontrados.
Instalação &
Potência Gerador FV Inversores Total
Montagem
Residencial (4-6 kWp) 4,88 1,25 1,53 7,66
Residencial (8-10 kWp) 4,42 1,09 1,38 6,89
Comercial (100 kWp) 3,81 0,92 1,18 5,91
Industrial (≥ 1.000 kWp) 3,50 0,66 1,04 5,20
Fonte: [EPE, 2012].
Em função das diferentes taxas de câmbio adotadas nos dois trabalhos, para estabelecer uma
comparação entre os resultados aplicou-se ao custo de investimento em sistemas fotovoltaicos
apresentados na Tabela A2.1 a mesma taxa de câmbio usada no estudo de [ABINEE, 2012], obtendo-
se os resultados apresentados na Tabela A2.4, para o custo do investimento nacionalizado, a partir de
[EPE, 2012].
476
Tabela A2.4 - Custo nacionalizado dos sistemas fotovoltaicos – referência no Brasil (R$/Wp)
Instalação &
Potência Gerador FV Inversores Total
Montagem
Residencial (4-6 kWp) 6,41 1,64 2,01 10,06
Residencial (8-10 kWp) 5,81 1,44 1,81 9,06
Comercial (100 kWp) 5,00 1,21 1,55 7,76
Industrial (≥ 1.000 kWp) 4,60 0,86 1,38 6,84
Nota: Taxa de câmbio € 1 = R$ 2,3
Fonte: Elaboração própria a partir de [EPE, 2012].
Observa-se que para o sistema residencial com potência entre 4-6 kWp, similarmente ao sistema
residencial da ABINEE (2012), o custo do investimento no sistema, de R$ 10,06/Wp é 41 % superior
ao valor encontrado pela ABINEE, de R$7,12/Wp.
De qualquer modo, visto que a carga tributária para internalização dos equipamentos é mais ou
menos a mesma, qualquer que seja a potência do sistema fotovoltaico, as discrepâncias de custos
aparentemente relacionam-se aos valores mais baixos calculados pela ABINEE para os equipamentos
fabricados e/ou, no caso dos serviços, àqueles prestados internamente.
Conforme metodologia sugerida pela EPIA (2011), para estimar o custo da energia (R$/kWh)
são calculados os fluxos de caixa associados às receitas e despesas de investimento e operacionais
realizadas durante a vida útil da instalação. O custo da energia pode ser calculado usando a seguinte
fórmula:
onde:
VP (OPEX): Valor presente de custos de operação e manutenção ao longo da vida útil da instalação
(R$);
VP (EP): Valor presente da energia produzida ao longo da vida útil da instalação (kWh).
477
Custo de O&M (OPEX): estimado em 1 % do CAPEX ao ano, e VP de 12 %;
Eficiência das células: redução de 0,75 %/ano sobre valor original (100 %);
Figura A2.10 - Custo de produção de energia (R$/kWh) para faixas de custo de instalação (eixo X) e “famílias” de curvas
com fatores de capacidade variando entre 12 % e 18 %. Fonte: [ABINEE, 2012].
Observe-se que numa instalação com 15 % de fator de capacidade3 e custo de instalação de 7,12
R$/Wp (CAPEX para instalação residencial, no estudo da ABINEE (2012)) acrescido de 12 % (valor
presente do OPEX), verifica-se que o custo de produção de energia é inferior a 0,60 R$/kWh. Este
valor corresponde à tarifa de energia de clientes residenciais de diversas concessionárias no Brasil,
incluídos os impostos e encargos.
Destaca-se, por fim, que essa análise não considera efeitos de impulsos resultantes de
financiamentos ou de quaisquer outras medidas de incentivo, de natureza fiscal ou tributária, que
eventualmente possam ser estabelecidas.
Como o fator de capacidade é elemento chave para definir o custo de produção (R$/kWh) da
geração solar fotovoltaica, mantidos os demais parâmetros (técnicos e econômicos), o custo da geração
é determinado pela irradiação verificada numa dada localização.
O mapa apresentado na Figura A2.11 foi elaborado a partir dos dados disponibilizados em
[OpenEI, 2012] e publicado em [ABINEE, 2012]. Nele são apresentadas as médias anuais do total de
irradiação diário recebido pela referida superfície.
Figura A2.11 - Irradiação solar incidente sobre superfície com inclinação igual à latitude do local e voltada para o equador.
Fonte: [ABINEE, 2012].
De acordo com a maior disponibilidade do recurso solar apresentado na Figura A2.11, pode-se
considerar que os menores custos de produção apresentam-se na faixa mais central do país, que vai
desde MS e o oeste do estado de SP, passando por GO, MG, BA e TO, todo o PI, e parte do MA, além
da faixa no sertão do CE, PB, e RN [ABINEE, 2012]. É possível constatar que, para alguns estados da
federação, o custo da geração solar fotovoltaica é inferior à tarifa para clientes de baixa tensão
479
praticada por diversas concessionárias, tal como indica o levantamento realizado pela Abinee junto à
ANEEL, em agosto de 2011.
Estendendo as análises para a geração de usinas fotovoltaicas, a Figura A2.12 mostra o valor de
venda da energia para contrato com duração de 25 anos com geração média igual a 18,5 % da
capacidade instalada para uma faixa de investimentos variando entre 4.000 e 6.000 R$/kWp,
considerando duas hipóteses de taxas de desconto (TIR) real: 7,5 % e 10 %, colunas azul e vermelha,
respectivamente. No caso de se utilizar o sistema de amortização PRICE, ao invés do sistema SAC, o
custo da produção reduz-se entre 4 a 11 R$/MWh, dependendo do caso.
Figura A2.12 - Preço de venda de contratos de 25 anos (R$/MWh), com incentivos fiscais análogos aos oferecidos aos
projetos de energia eólica e amortização pelo sistema SAC. Fonte: [ABINEE, 2012].
Referências
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(photovoltaic) industry. Junho de 2012.
CAIXA - Caixa Econômica Federal. Programa CAIXA melhor crédito, crédito Imobiliário.
Disponível em: <http://www1.caixa.gov.br/melhorcredito/produtos_pf_credito_imobiliario.html>.
Acesso em: 13 set. 2012.
CELESC - Centrais Elétricas de Santa Catarina S.A. Consulta do valor da tarifa cobrada ao
consumidor final diretamente na fatura de energia elétrica de residência em Florianópolis, referente a
Agosto de 2012.
480
CEMIG - Companhia Energética de Minas Gerais S.A. Consulta do valor da tarifa cobrada ao
consumidor final diretamente na fatura de energia elétrica de residência em Belo Horizonte, referente a
Agosto de 2012.
EPE - Empresa de Pesquisa Energética. Nota Técnica: Análise da inserção da geração solar na
matriz elétrica brasileira. Rio de Janeiro, Brasil: Maio de 2012. Disponível em:
<http://www.epe.gov.br/geracao/Documents/Estudos_23/NT_EnergiaSolar_2012.pdf>.
EPIA - European Photovoltaic Industry Association. Global market outlook for photovoltaics until
2016. 2012. 74 p. Disponível em: <http://www.epia.org/>.
MARION, B.; ADELSTEIN, J.; BOYLE, K.; HAYDEN, H.; HAMMOND, B.; FLETCHER, T.;
CANADA, B.; NARANG, D.; SHUGAR, D.; WENGER, H.; KIMBER, A.; MITCHELL, L.; RICH,
G.; TOWNSEND, T. Performance Parameters for Grid-Connected PV Systems. NREL, 2005.
NREL - National Renewable Energy Laboratory. Cost of renewable energy spreadsheet tool: A
model for developing cost-based incentives in the United States. User Manual Version 1 August
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OpenEI - Open Energy Info. Brazil latitude tilted solar radiation model (10 km) from INPE and
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PHOTON International - Module price index & inverter price index. Ed. 2011-10.
PHOTON International - Module price index & inverter price index. Ed. 2012-8.
SEIA - Solar Energy Industries Association. U.S. solar market insight report. 2012. Disponível em:
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SolarServer - Global Solar Industry Website. PVX spot market price index solar PV modules.
Disponível em: http://www.solarserver.com/service/pvx-spot-market-price-index-solar-pv-
modules.html>. Acesso em: 30 ago. 2012.
VIANA, T.; NASCIMENTO, L.; MONTENEGRO, A.; RÜTHER, R. Sistema fotovoltaico de 2 kWp
integrado a edificação: análise do desempenho de 14 anos de operação. São Paulo, Brasil: Anais
do IV Congresso Brasileiro de Energia Solar e V Conferência Latino-Americana da ISES, 2012.
481
APÊNDICE 3
482
APÊNDICE 3 – EXEMPLOS DE SISTEMAS FOTOVOLTAICOS INSTALADOS NO BRASIL
A utilização da energia solar no Brasil remonta a algumas décadas, tendo feito parte de esforços
de pesquisas de alternativas energéticas à crise do petróleo na década de 1970. O País intensificou a
utilização de sistemas fotovoltaicos em projetos de eletrificação rural e bombeamento em áreas rurais,
desenvolveu uma indústria nacional e teve uma grande expansão ainda no século passado, através de
programas de cooperação internacional patrocinados pelos governos americano e alemão. Essas
atividades foram precedidas por iniciativas no campo político, como por exemplo, a elaboração de um
programa Nacional de Energia Solar (Pro-Solar) em 1987, tutelada pelo Ministério de Minas e Energia
(MME).
A partir de meados da década de 2000 começou o interesse no País pelas aplicações conectadas à
rede, no âmbito de pesquisas desenvolvidas por universidades e centros de pesquisa, em geral fazendo
uso dos fundos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) das concessionárias de energia elétrica, mas
também das fundações de apoio à pesquisa e de fundos setoriais do Governo Federal. Dezenas de
sistemas fotovoltaicos conectados à rede de pequeno porte, a grande maioria menor que 10 kWp,
foram instalados em várias regiões do país.
Em 2011 foi inaugurada a primeira grande central de geração de energia solar fotovoltaica, com
potência instalada de 1 MWp e, em 2012, o primeiro de uma série de estádios solares, o que fez, ao
final de 2012, o Brasil ter uma potência instalada registrada na ANEEL de quase 2,6 MWp.
483
A Tabela A3.1 sumariza o volume de requerimentos de outorga, para futura implantação de
centrais fotovoltaicas, na expectativa do lançamento de leilões específicos pelo governo e a Tabela
A3.2 apresenta o total de projetos registrados na agência reguladora.
Tabela A3.1 - Registros de recebimento do requerimento de outorga de Usinas Solares Fotovoltaicas (UFVs)
Eletrificação Rural
484
Tabela A3.2 - Plantas Solares Fotovoltaicas em operação.
Potência Outorgada Potência Fiscalizada
Usina Proprietário Município
(kW) (kW)
Aeroporto Campo de
2,12 2,12 Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária São Paulo - SP
Marte
Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão
Araras – RO 20,48 20,48 Nova Mamoré - RO
Universitária
Embaixada Italiana
50,00 50,00 Embaixada Italiana em Brasília Brasília - DF
Brasília
Eros Roberto Grau 22,03 22,03 Eros Roberto Grau Tiradentes - MG
Hiran Sebastião
2,30 2,30 Hiran Sebastião Meneguelli Filho Campo Grande - MS
Meneguelli Filho
IEE 12,26 12,26 Instituto de Eletrotécnica e Energia São Paulo - SP
Humberto de Campos -
Ilha Grande 30,87 30,87 Companhia Energética do Maranhão
MA
Ilto Antonio Martins 2,30 2,30 Ilto Antônio Martins Campo Grande - MS
João Eudes Meireles da
2,30 2,30 João Eudes Meireles da Silva Campo Grande - MS
Silva
José Rizkallah Júnior 2,30 2,30 José Rizkallah Júnior Campo Grande - MS
Lúcio Dodero Reis 11,04 11,04 Lúcio Dodero Reis Campo Grande - MS
Pedro Bernardes Neto 29,60 29,60 Pedro Bernardes Neto Uberlândia - MG
PGM 6,58 6,58 PGM Suporte em Tecnologia Ltda – EPP Uberlândia - MG
Pituaçu Solar 404,80 404,80 Superintendência dos Desportos do Estado da Bahia Salvador - BA
PV Beta Test Site 1,70 1,70 DuPont do Brasil S.A. Barueri - SP
Ricardo Marcelino
2,30 2,30 Ricardo Marcelino Santana Campo Grande - MS
Santana
Silva Neto I 1,70 1,70 João Bento da Silva Neto Florianópolis - SC
Solaris Tecnologia Fotovoltaica Indústria Comercio e
Solaris 1,04 1,04 Leme - SP
Serviço Ltda. – EPP
Tanquinho 1.082,00 1.082,00 SPE CPFL Solar 1 Energia S.A. Campinas - SP
Tauá 5.000,00 1.000,00 MPX Tauá Energia Solar Ltda Tauá - CE
UFV
3,00 3,00 Instituto de Eletrotécnica e Energia São Paulo - SP
IEE/Estacionamento
Volpato 0,46 0,46 Guilherme Volpato Melo Curitiba - PR
Total: 22 Usinas 6.691,18 2.691,18
Fonte: ANEEL
485
A seguir são apresentados alguns exemplos de aplicações de sistemas fotovoltaicos no âmbito da
eletrificação rural que são basicamente de quatro tipos: abastecimento comunitário de água,
eletrificação de prédios comunitários, minirredes com geração fotovoltaica ou híbrida, e eletrificação
individual.
Figura A3.1 – Sistema fotovoltaico de bombeamento do Açude do Rio de Peixe (Foto cedida pelo Cepel).
486
Figura A3.2 – Gerador fotovoltaico do sistema de Bom Jesus. Fonte: (MORALES, 2011).
487
Sistemas fotovoltaicos para eletrificação de prédios comunitários
Comunidades de Boa Vista e Itacoã, município do Acará, estado do Pará. Os sistemas dessas
comunidades foram instalados em 2001, com recursos do Prodeem, para atendimento de edificações de
uso comunitário (escola e posto de saúde em ambas as comunidades, além da igreja e do centro
comunitário, em Itacoã). A instalação ficou a cargo da parceria entre a Prefeitura Municipal do Acará,
o GEDAE/UFPA e a comunidade local.
Em Itacoã, devido aos prédios situarem-se próximos uns dos outros, os equipamentos dos
sistemas destinados a cada um dos prédios foram combinados em um só sistema de maior porte, para
atender todos os prédios com uso otimizado da energia produzida. Assim, o sistema dessa comunidade
ficou composto por 40 módulos fotovoltaicos (20 de 56 Wp e 20 de 53 Wp), 2 controladores de carga
de 40 A, 1 inversor de 2,50 kW, e 24 baterias de 115 Ah/12 V, atendendo a escola, o posto de saúde, a
igreja e o centro comunitário. A Figura A3.4 mostra os controladores de carga e as baterias do sistema.
1
Neste caso, poderia ser utilizado um inversor de menor porte, mas o inversor de 800W estava disponível no âmbito do Programa, que
comprou uma quantidade em larga escala para atender a diversos projetos.
488
Vila de Bom Futuro, município de Garrafão do Norte, estado do Pará. O sistema fotovoltaico de
742 Wp foi instalado em 2002 pela Eletronorte, em parceria com a Prefeitura Municipal de Garrafão
do Norte e a comunidade local, com equipamentos fornecidos pelo Prodeem, visando ao atendimento
da escola de ensino fundamental. Os principais componentes do sistema são 7 módulos fotovoltaicos
de 106 Wp (Figura A3.5), 1 controlador de carga de 30 A, 1 inversor de 800 W, e 8 baterias de 150
Ah/12 V (Figura A3.6).
489
Minirredes com geração fotovoltaica ou híbrida
O sistema foi instalado pelo NEA/UFMA e financiado pelo Programa Luz para Todos e é
constituído principalmente pelos seguintes equipamentos: 162 módulos fotovoltaicos de 130 Wp,
3 aerogeradores de 7,50 kW (Figura A3.7a), 120 baterias de 150 Ah/12 V, 2 inversores de tensão de
20 kW, 1 retificador de 380 V – 60 Hz (entrada)/210-297 V (saída), e 1 grupo gerador a diesel de
38 kW. Parte do gerador fotovoltaico do sistema é mostrada na Figura A3.7b.
(a)
(b)
Figura A3.7 - Sistema fotovoltaico-eólico-diesel da Ilha dos Lençóis: a) aerogeradores e b) parte do gerador fotovoltaico.
Fonte: (MENDEZ et al., 2008).
490
Projeto 12 Miniusinas: Este projeto beneficia, desde meados de 2011, cerca de 220 edificações
(casas, centro comunitários, escolas, igrejas etc.) em doze comunidades de seis municípios do estado
do Amazonas, totalizando uma capacidade instalada de geração fotovoltaica de 162 kWp. O projeto foi
financiado através do Programa Luz para Todos, no âmbito de Projetos Especiais (Sistemas
Coletivos2), sendo a instalação e o comissionamento dos sistemas realizado pela Eletrobras Amazonas
Energia, com apoio técnico da Eletrobras e da GTZ (atual GIZ).
2
Entende-se aqui por sistemas coletivos o atendimento feito através de minirrede de distribuição de energia (MIGDI).
491
Projeto Piloto Araras: As ilhas de Araras, município de Curralinho, estado do Pará, foram
contempladas, no ano de 2012, com três sistemas fotovoltaicos e um sistema hibrido fotovoltaico-
eólico-diesel, no âmbito de Projetos Especiais do Programa Luz para Todos. A instalação e o
comissionamento dos sistemas MIGDIs realizado pela Celpa, com apoio técnico da Eletrobras e da
GTZ (atual GIZ).
A Figura A3.9 apresenta um dos geradores fotovoltaicos instalados nas ilhas de Araras.
Figura A3.9 – Vista de um dos geradores fotovoltaicos instalados nas ilhas de Araras. Fonte: (PAC 2, 2013).
SIGFIs instalados pela Coelba e pela Cemig: Em regiões rurais e remotas, onde predominam
principalmente a baixa densidade demográfica e de renda, e a elevada distância dos grandes centros, os
custos da extensão das redes de distribuição convencionais são economicamente proibitivos. Neste
caso, uma alternativa para o atendimento dessas áreas é o SIGFI com módulos fotovoltaicos. Estes
sistemas têm sido bastante utilizados pela Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (Coelba) e
pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), além de outras concessionárias, para promover
a universalização do serviço público de energia elétrica e, consequentemente, a inclusão social de
muitos brasileiros.
492
Por exemplo, do ano de 2005 a 2009 a Coelba já havia instalado cerca de 14.450 SIGFIs em toda
sua área de concessão (Figura A3.10). Atualmente, o número de sistemas instalados é superior a
21.000.
O perfil de carga compatível com o SIGFI a ser instalado, a distância superior de 5 km da rede
elétrica convencional, e domicílios em área de proteção ambiental são os critérios considerados para
determinar o atendimento com a energia solar fotovoltaica pela Coelba.
Figura A3.10 - Residência atendida por SIGFI da Coelba. Fonte: (SILVA FILHO, 2007).
Por sua vez, desde o ano 2007, a Cemig já instalou cerca de 2.000 SIGFI-13 e 500 SIGFIs dos
demais tipos. Dentro do Programa Luz para Todos, são 1.667 residências atendidas com esses sistemas
(Figura A3.11). As demais unidades instaladas contemplam residências, escolas e postos de saúde e
são decorrentes de outros programas de eletrificação.
Figura A3.11 - Residência atendida por SIGFI da Cemig. Fonte: (DINIZ, 2011).
Os critérios considerados pela Cemig para determinar o atendimento com SIGFIs são: a
localização do consumidor em uma área remota, o custo da eletrificação por extensão da rede elétrica
493
de distribuição ser, no mínimo, o dobro do custo para a eletrificação com sistemas fotovoltaicos, e a
unidade de consumo ser classificada como "residencial baixa renda" (Resolução Aneel Nº 414).
Salienta-se que para a eletrificação de escolas rurais e centros comunitários, apenas os dois primeiros
critérios devem ser satisfeitos.
Projeto Piloto Xapuri: Os seringais Iracema, Dois Irmãos e Albrácea, localizados na Reserva
Extrativista Chico Mendes, município de Xapuri, estado do Acre, receberam, no ano de 2007, cento e
três sistemas fotovoltaicos SIGFIs no âmbito do Projeto Piloto Xapurí, com recursos do Luz para
Todos, contando com a cooperação técnica entre a Eletrobras, a Eletrobras Distribuição Acre, a GTZ
(atual GIZ) e o Governo do Estado do Acre.
A distribuição dos sistemas fotovoltaicos nos seringais e os seus respectivos equipamentos são:
Seringal Iracema - 31 SIGFIs, sendo cada um composto por 3 módulos de 85 Wp, 2 baterias de
150 Ah/12 V, 1 inversor de tensão e 1 controlador de carga de 30 A.
Seringal Dois Irmãos - 35 SIGFIs, sendo cada um composto por 3 módulos de 85 Wp, 2
baterias de 150 Ah/12 V, 1 inversor de tensão e 1 controlador de carga de 30 A.
Seringal Albrácea - 37 SIGFIs, sendo cada um composto por 3 módulos de 85 Wp, 2 baterias
de 150 Ah/12 V e 1 controlador de carga de 30 A.
As Figuras A3.12 (a) e (b) exemplificam os SIGFIs instalados para o atendimento das
residências nos seringais de Dois Irmãos e Albrácea, respectivamente.
(a) (b)
Figura A3.12 – Sistemas fotovoltaicos instalados em (a) Dois Irmãos e (b) Albrácea. Fonte: (ELETROBRAS, 2011).
494
Sistemas Conectados à Rede
Até o final da última década, as realizações com sistemas fotovoltaicos conectados à rede no
Brasil estavam praticamente limitadas a projetos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) nas
universidades e centros de pesquisas. Foram cerca de 55 sistemas conectados à rede instalados,
totalizando uma capacidade de 350 kWp.
Figura A3.13 - Sistema fotovoltaico de 12 kW instalado na fachada do prédio da administração do IEE. Fonte: LSF.
Usina solar de Tauá, município de Tauá, estado do Ceará. Conforme comentado no Capítulo 5,
a usina é de propriedade da MPX Tauá Energia Solar Ltda. e é composta por 4.680 módulos
495
fotovoltaicos policristalinos com potência unitária de 215 Wp, ocupando uma área de
aproximadamente 12 mil m2 (Figura A3.14). Os inversores utilizados têm potência nominal de 100 kW
e estes são conectados à rede de distribuição da Coelce. Foram investidos cerca de R$ 10 milhões na
unidade, tendo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) feito um aporte de R$ 1,20 milhão.
A capacidade inicial é de 1 MWp, embora o projeto permita a ampliação gradual da capacidade da
usina para até 50 MWp, sendo que ela dispõe atualmente de autorização da Aneel para até 5 MWp de
potência instalada. O projeto conta com o apoio do Fundo de Incentivo em Energia Solar (Fies), do
Governo do Estado do Ceará.
Figura A3.14 – Vista dos geradores fotovoltaicos da Usina Solar de Tauá. Fonte: (VIDRADO.COM, 2013).
496
Figura A3.15 – Gerador fotovoltaico instalado na cobertura do prédio administrativo do aeroporto Campo de Marte. Fonte:
(JORNAL DA ENERGIA, 2013).
Pituaçu Solar: Como mencionado no Capítulo 5, este projeto foi implantado conjuntamente pela
Coelba e o Governo do Estado da Bahia, tornando-se o primeiro projeto de um sistema de energia solar
fotovoltaica em um estádio de futebol no país. O projeto consiste de subsistemas instalados nas
coberturas do Estádio de Pituaçu, em Salvador, estado da Bahia. O gerador FV é composto por
238 kWp de módulos de silício amorfo, instalados na cobertura do estádio, e 170 kWp de módulos
monocristalinos, instalados sobre o telhado dos vestiários e em uma área de estacionamento
(Figura A3.16).
Figura A3.16 – Sistema fotovoltaico instalado na cobertura do estacionamento em Pituaçu. Fonte: (AMERICA DO SOL,
2012).
O projeto faz parte do programa de eficiência energética da distribuidora baiana, tendo sido
investidos R$ 5,50 milhões, com uma contrapartida do Governo do Estado da Bahia de
R$ 1,70 milhão. A construção foi iniciada em setembro de 2011 e finalizada em março de 2012. Parte
da energia elétrica gerada é destinada ao funcionamento do estádio.
497
Referências
DINIZ, A. S. A. C.; MACHADO NETO, L. V. B.; CAMARA, C. F.; MORAIS, P.; CABRAL,
C. V. T.; OLIVEIRA FILHO, D.; RAVINETTI, R. F.; FRANÇA, E. D.; CASSINI, D. A.; SOUZA, M.
E. M.; SANTOS, J. H.; AMORIM, M. Review of the photovoltaic energy program in the state of
Minas Gerais, Brazil. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 15, 2011. p. 2696-2706.
498
Ministério do Planejamento. PAC 2 – Luz para Todos - Sistema Híbrido da Ilha das Araras (PA).
Disponível em: http://www.pac.gov.br/i/184c0cbd>. Acesso em: 22 jan. 2013.
499
APÊNDICE 4
500
APÊNDICE 4 – ESPECIFICAÇÃO DE EQUIPAMENTOS PRINCIPAIS PARA SISTEMAS
FOTOVOLTAICOS ISOLADOS E PLANILHAS AUXILIARES PARA
DIMENSIONAMENTO
Este Apêndice apresenta sugestões para especificação dos equipamentos principais: módulos,
inversores, controladores e baterias de sistemas fotovoltaicos, baseadas no relatório preliminar de
Grupo de Trabalho do MME, ELETROBRAS e EPE: Especificações dos Projetos de Referência no
âmbito do Programa Luz para Todos.
Quadro A4.1 - Especificações para módulos fotovoltaicos de silício cristalino e para módulos de filme fino.
Descrição Requisito
Potência .... Wp
501
Especificação para Inversores Fotovoltaicos
Quadro A4.2 - Especificações para inversor de bateria para sistemas fotovoltaicos individuais
Descrição Requisito
Tipo do Inversor Inversor de Bateria
Potência nominal ....W
Potência de surto por ..... segundos (ou minutos) ....W
Mínimo de .....°C (a determinar conforme
Temperatura Máxima de Operação sem perda de potência
condições climáticas locais)
Mínimo de .....% (a determinar conforme
Máxima Umidade Relativa do Ar
condições climáticas locais)
Se abrigado, mínimo IP20. Se desabrigado,
Tipo de Proteção IP (EN 60529)
mínimo IP54.
Tensão nominal c.c.1 .....V (conforme projeto)
Mínimo de ....% (a determinar, sendo que não
Eficiência de Conversão Máxima
deve ser inferior a 85%)
Detector automático de carga (para ativar/desativar o modo
Exigido
standby)
Tensão mínima para desconexão de carga por baixa .... V
voltagem ou .... % (SOC)
desconexão da carga pode ser realizada por algoritmo que (a determinar de acordo com indicação dos
controla o estado de carga da bateria (SOC). fabricantes da bateria)
Religamento automático depois de desligamento por baixa
Exigido
tensão.
Proteções eletrônicas para: a) desligamento por alta
temperatura no caso de superaquecimento; b)
sobrecorrente; c) sobretensão; d) curto-circuito com Exigido
reconexão automática de carga até 2 ou 3 tentativas; e)
conexão invertida nos terminais de c.c.
O arrefecimento do equipamento deve ser por convecção
Exigido
natural, não sendo aceita ventilação mecânica. 2
Placas de circuito impresso devem ser revestidas para
Exigido
proteção contra umidade.3
Garantia de fábrica Mínimo de 2 anos
Registro Nacional de Conservação de Energia (ENCE) do
Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE) emitido pelo
Exigido
Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e
Qualidade Industrial (INMETRO)
1
É recomendado considerar a maior tensão c.c. possível para minimizar as correntes do sistema e diminuir as bitolas de fios e
conectores. Entretanto, deve-se pesquisar no mercado quais as tensões nominais disponíveis dos equipamentos eletrônicos controladores
e inversores de bateria e o impacto no custo total do projeto.
2
Requisito importante em locais de difícil acesso pois diminui eventos de manutenção.
3
Importante para regiões de umidade relativa elevada (> 90%).
502
Especificação de inversor de bateria ou formador de rede para sistema fotovoltaico coletivo
Quadro A4.3 - Especificações para inversor de bateria para sistemas fotovoltaicos coletivos (tipo MIGDI)
Descrição Requisito
Com capacidade de formar a rede (referência de
Inversor de bateria (ou formador de rede)
tensão)
Potência nominal ....W
Potência de surto por ..... segundos (ou minutos) ....W
Com outros inversores do mesmo tipo para
Capacidade de operar em paralelo
aumento de potência
Temperatura Máxima de Operação sem perda de potência Mínimo de 45°C
Mínimo de ....% (a determinar conforme
Máxima Umidade Relativa do Ar
condições climáticas locais)
Se abrigado, mínimo IP20. Se desabrigado,
Tipo de Proteção IP (EN 60529)
mínimo IP54.
O arrefecimento do equipamento deve ser por convecção
Exigido
natural, não sendo aceita ventilação mecânica.4
4
Requisito importante em locais de difícil acesso pois diminui eventos de manutenção.
5
Para sistemas MIGDI é usual a adoção de tensões CC de 48 ou 60 V CC. É interessante considerar a maior tensão CC possível para
minimizar as correntes CC do sistema e consequentemente diminuir bitolas de barras, conectores etc. Entretanto, deve-se pesquisar no
mercado quais as tensões nominais disponíveis dos equipamentos eletrônicos controladores e inversores de bateria e o impacto no custo
total do projeto.
6
A eficiência a ser considerada pode ser superior, conforme novos modelos mais eficientes são lançados no mercado. Deve ser feita uma
pesquisa na época da compra.
503
Especificação de inversor de rede em sistema fotovoltaico coletivo isolado
Quadro A4.4 - Especificações para inversor de rede para sistemas fotovoltaicos isolados (tipo MIGDI)
Descrição Requisito
7
A eficiência a ser considerada pode ser superior, conforme novos modelos mais eficientes vão sendo lançados no mercado. Deve ser
feita uma pesquisa na época da compra.
8
Idem.
9
Até a presente data não há requisito na RAC vigente para inversores fotovoltaicos de conexão a rede.
504
Especificação para controladores de carga para sistemas fotovoltaicos
Quadro A4.5 - Especificações para controlador de carga para sistemas fotovoltaicos individuais
Descrição Requisito
10
Dependendo da tensão CC do sistema em relação a tensão CC do módulo fotovoltaico utilizado, haveria, então, a necessidade de um
controlador SPPM. O requisito de seguidor de potência máxima dependerá da relação custo benefício entre o valor dos módulos
fotovoltaicos e do controlador. Atualmente o mercado está com preços bastante competitivos de módulos conectados a rede com número
de células maior que 50, o que pode compensar a aquisição para os sistemas isolados.
11
A reconexão automática de carga é especialmente importante no caso de presença de cargas em corrente contínua ou no caso no
inversor ser conectado na saída de carga do controlador.
12
O valor de ajuste de SOC (State of Charge – Estado de carga) depende do tipo de bateria utilizada. Para baterias de alta profundidade
de descarga esse valor pode chegar a 20%, sendo mais comum a utilização de 40%. Para baterias de ciclo raso, recomenda-se no mínimo
60%.
505
Especificação de controlador de carga para sistema fotovoltaico coletivo
Quadro A4.6 - Especificações para controlador de carga para sistemas fotovoltaicos coletivos (tipo MIGDI)
Descrição Requisito
O controlador deve registrar e informar no mínimo: Exigido (a menos que o inversor de bateria
balanços energéticos e estado de carga da bateria registre e informe tais dados)
13
A reconexão automática de carga é especialmente importante no caso de presença de cargas em corrente contínua ou no caso no
inversor ser conectado na saída de carga do controlador.
506
Especificação para Baterias
Este apêndice apresenta especificações para baterias chumbo-ácido, que, até o momento, tem
mostrado a melhor relação custo benefício para utilização em sistemas fotovoltaicos isolados. Há
outros tipos de baterias como níquel cádmio, lítio-íon etc., que podem tornar-se atrativas conforme seu
desenvolvimento e, por isso, recomenda-se sua avaliação à época do projeto.
Recomenda-se a utilização desse tipo de bateria somente para sistemas fotovoltaicos individuais,
já que sua capacidade é limitada a cerca de 200 Ah.
Quadro A4.7 - Especificações para banco de baterias estacionárias comuns Pb-ácido, sem manutenção, para sistemas
fotovoltaicos isolados
Descrição Requisito
507
Especificação de banco de baterias Pb-ácido de ciclo profundo (tipo OpZS ou OpzV)
Esse tipo de bateria pode ser utilizado tanto para sistemas fotovoltaicos individuais como para
sistemas coletivos (tipo MIGDI), já que sua capacidade varia de algumas centenas a alguns milhares de
Ah. Entretanto o custo unitário dessas baterias pode ser de 2 a 4 vezes maior que o da bateria
estacionária comum.
Quadro A4.8 - Especificações para banco de baterias de ciclo profundo do tipo OPzS ou OPzV para sistemas fotovoltaicos
Descrição Requisito
Placas positivas tubulares com material ativo
Forma construtiva dos elementos envelopado por separadores porosos (eletrodo
positivo)
Capacidade .... Ah @ C20 com tolerância de +/-....%
Material do vaso: no caso de elementos com Transparente ou translúcido para inspeção do nível
eletrólito liquido: de eletrólito e de sedimentação.
Pelo menos, 20% acima do volume mínimo
Volume do eletrólito no vaso: no caso de baterias
(indicado no vaso) ou conforme volume calculado
ventiladas, os elementos devem ter uma reserva de
pelo fabricante para atender à periodicidade de
eletrólito.
manutenção14.
Integridade do elemento e resistência contra Certificado de teste de tipo de acordo com
impactos no transporte. IEC 60896
....°C (a determinar, conforme condições climáticas
Temperatura Máxima de operação admissível
do local)
Registro Nacional de Conservação de Energia
(ENCE) do Programa Brasileiro de Etiquetagem
(PBE) emitido pelo Instituto Nacional de Exigido
Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial
(INMETRO)
IEC 62485-2 ed. 1.0 & EN 50272-2 - Safety
requirements for secondary batteries and battery Recomendado
installations
14
As baterias em locais remotos podem ter plano de manutenção com periodicidade de 6 meses a 1 ano e por isso deve ser previsto um
volume de eletrólito nas baterias ventiladas que possa atender a esses períodos sem reposição.
508
Quadro A4.8 - Especificações para banco de baterias de ciclo profundo do tipo OPzS ou OPzV para sistemas fotovoltaicos
(continuação)
Descrição Requisito
509
Planilha A4-1 – Cálculo do Consumo das Cargas.
1 2 3 4 5A 5B 6 7 8 D 9 10
Eficiência na
Potência da Ciclo de Ciclo de Serviço Tensão
Descrição Corrente da Tensão da Potência da Conversão de Consumo
Quant. Carga c.a. Serviço Diário Semanal Nominal do
das Cargas Carga (A) Carga (V) Carga c.c. (W) Potência (Ah/dia)
(W) (h/dia) (dias/sem.) Sistema (V)
(decimal)
x x = N/A x x /7 / / =
c.c.
x x = N/A x x /7 / / =
c.c.
x x = N/A x x /7 / / =
c.c.
x x = N/A x x /7 / / =
c.c.
x x N/A = x x /7 / / =
c.a.
x x N/A = x x /7 / / =
c.a.
x x N/A = x x /7 / / =
c.a.
x x N/A = x x /7 / / =
c.a.
11 11A 11B 12
Potência Total das Cargas c.c. e c.a. (W) c.c. c.a. Consumo Total Ampere-hora (Ah/dia)
1 Descrição das Cargas: Descrever resumidamente cada carga (isto é, lâmpada fluorescente, bomba, rádio, etc.). Entrar com as cargas c.c. na
parte superior e com as cargas c.a., se existentes, na parte inferior. Preencher uma planilha para cada mês ou estação que possua uma demanda de
carga significativamente diferente. A princípio, considerar o pior caso.
3 Corrente da Carga (A): Entrar com o valor estimado para a corrente usada por cada carga. Usar a corrente nominal fornecida pelo fabricante,
em A ou, se houver acesso ao dispositivo, medir a corrente.
4 Tensão da Carga (V): Entrar com a tensão da carga, isto é, 120 Vc.a., 24 Vc.c., etc. A tensão de operação geralmente é mostrada no aparelho.
510
5A Potência da Carga c.c. (W): Calcular e entrar com a potência exigida pela carga c.c.
5B Potência da Carga c.a. (W): Calcular e entrar com a potência exigida pela carga c.a.
6 Ciclo de Serviço Diário (h/dia): Entrar com o tempo médio diário que a carga será usada. Entrar com as frações de horas na forma decimal,
isto é, 1 hora e 15 minutos deverá ser escrita como 1,25 horas.
7 Ciclo de Serviço Semanal (dias/semana): Entrar com o número médio de dias que a carga será usada por semana.
8 Eficiência na Conversão de Potência (decimal): Este fator está relacionado com a perda de energia, que ocorre nos sistemas que utilizam
componentes condicionadores de potência (inversores ou conversores). Se o aparelho necessita de potência c.a. ou c.c., em uma tensão diferente
da tensão fornecida pelo sistema, deve-se entrar com a eficiência de conversão do dispositivo.
9 Tensão Nominal do Sistema (V): Entrar com a tensão c.c. do sistema. Valores usuais são 12, 24, 48 V.
11 Potência Total das Cargas c.a. e c.c. (W): Adicionar a potência das cargas individuais c.a. e/ou c.c..
12 Consumo Total Ampere-hora (Ah/dia): Calcular o consumo médio diário do sistema em Ah.
511
Planilha A4.2 - Especificação da Fiação c.c.
E1 E2 E3 E4 E5 E6 E7 E8
Compensação para
Comprimento de um Queda de Tensão
Fio Tensão do Sistema (V) Corrente Maxima (A) Redução de Bitola (mm²) Tipo de Fio
Caminho (m) Permitida (%)
Temperatura
Circuitos do arranjo FV
Módulo para Módulo
Arranjo para Controlador ou
Bateria
Circuitos c.c.
Bateria para Bateria
Bateria ou Controlador para
Cargas c.c
Ramos do Circuito
A
B
C
D
E
E9
Terra do Equipamento
E10
Terra do Sistema
512
Planilha A4.3 - Especificação da Fiação c.a.
F1 F2 F3 F4 F5 F6 F7 F8
Compensação para
Tensão do Sistema Corrente Maxima Comprimento de um Queda de Tensão
Fio Redução de Bitola (mm²) Tipo de Fio
(V) (A) Caminho (m) Permitida (%)
Temperatura
Circuitos c.a.
Inversor para Cargas c.a.
Ramos do Circuito
A
B
C
D
E
F
G
Gerador
Gerador para Controlador de
Carga
Gerador para Carga
Central c.a.
Aterramento do Sistema Tipo de Fio Bitola (mm²) Tipo de Aterramento
F9
Terra do Equipamento
F10
Terra do Sistema
513
Planilhas A4.2 e A4.3 - Fiação
Estas instruções são aplicadas para sistemas c.c. e c.a. Para maiores detalhes sobre o
tipo de fio a ser utilizado e aspectos de segurança de instalação consultar o Capítulo 7.
E3 e F3 Corrente Máxima (A): Entrar com a corrente máxima para cada fiação.
E7 e F7 Bitola do Fio (mm2): Determinar a bitola do fio a ser usado em cada ponto do
circuito, considerando a corrente e a distância de cada ponto. Uma rápida referência
pode ser obtida nas Tabelas A4.1 a A4.6 (Comprimento Máximo do Fio) deste
Apêndice.
E9, F9, E10 e F10 Fio Terra: Descrever o tipo de fio a ser usado como fio de
aterramento dos equipamentos e sistema.
514
Tabela A4.1 – Comprimento Máximo da Fiação (m).
515
Tabela A4.2 – Comprimento Máximo da Fiação (m).
516
Tabela A4.3 – Comprimento Máximo da Fiação (m).
517
Tabela A4.4 – Comprimento Máximo da Fiação (m).
518
Tabela A4.5 – Comprimento Máximo da Fiação (m).
519
Tabela A4.6 – Comprimento Máximo da Fiação (m).
520
Referências
521
APÊNDICE 5
522
APÊNDICE 5 – PLANILHA PARA INSPEÇÃO DE SISTEMAS FOTOVOLTAICOS
Fonte: Adaptado de [Sandia National Laboratories, 1991]
01 – Medidores do sistema
Requer serviço?
Sim Não Medidor fixo Medidor portátil
( ) ( ) Tensão do gerador: .......... V .......... V
( ) ( ) Tensão da bateria: .......... V .......... V
( ) ( ) Corrente do gerador: .......... A .......... A
( ) ( ) Corrente da carga: .......... A .......... A
1
523
04 – Dispositivos de interrupção
Requer serviço?
No início da inspeção
Sim Não Instalado Fechado Aberto
( ) ( ) Gerador ( ) ( ) ( )
( ) ( ) Banco de baterias ( ) ( ) ( )
( ) ( ) Polaridade correta ( ) ( ) ( )
( ) ( ) Carga ( ) ( ) ( )
05 – Cabeamento
Requer serviço?
Sim Não
( ) ( ) Dispositivos de interrupção no lugar e abertos
( ) ( ) Ausência de curtos-circuitos
( ) ( ) Existência de aterramento
( ) ( ) Convenção de cores dos fios correta
( ) ( ) Interruptores, disjuntores e relés sem danos de arco
( ) ( ) Isolamento de condutores e eletrodutos sem danos
( ) ( ) Conexões dos condutores sem danos e bem fixadas
Descrição de deficiências identificadas:....................................................................................................
....................................................................................................................................................................
....................................................................................................................................................................
06 – Controlador de carga
Requer serviço?
Sim Não
( ) ( ) Controlador e área limpos
( ) ( ) Controlador firmemente instalado
( ) ( ) Temperatura ambiente em faixa apropriada
( ) ( ) Controlador instalado junto com as baterias
( ) ( ) Tensão de operação compatível com a unidade
( ) ( ) Corrente máxima compatível com a geração dos módulos
( ) ( ) Corrente máxima compatível com as cargas alimentadas
( ) ( ) Setups de desconexão e reconexão do controlador adequados (Se houver
informação dos setups, descrever: .........................................................................).
2
524
07 – Banco de baterias
Requer Serviço?
Sim Não
( ) ( ) Baterias com capacidade e tipo corretos
( ) ( ) Baterias e células numeradas
( ) ( ) Superfície superior da bateria limpa e seca
( ) ( ) Tampas das células presas
( ) ( ) Conexão das baterias firmes, sem corrosão e com anti-óxido
( ) ( ) Prateleira e presilhas firmes e em bom estado
( ) ( ) Ausência de objetos e prateleiras acima das baterias
( ) ( ) Níveis adequados do eletrólito
(Se o nível do eletrólito estiver baixo, fazer uma marca, para cada célula da bateria
que requer adição de água, no item 08 da planilha - “Registro da tensão de
circuito aberto das baterias”.)
( ) ( ) Sistema de ventilação adequado e desobstruído
( ) ( ) Temperatura ambiente na faixa adequada
( ) ( ) Bateria com indicador de carga normal. (Se não estiver normal, transcrever a
indicação:...........................................................................................................)
( ) ( ) Nível de depósito no fundo do vaso (transparente) tocando nas placas da bateria
(tirar foto e anexar às planilhas de inspeção).
3
525
08 – Registro da tensão de circuito aberto das baterias
Cuidado ao desconectar as baterias do sistema, para não causar
danos ao controlador de carga!
A desconexão do controlador de carga deve ser feita na seguinte ordem:
1) deve-se primeiramente desconectar a carga,
2) a seguir o gerador fotovoltaico e 3) por fim, o banco de baterias.
A reconexão deve ser feita na ordem inversa.
Obs.: Aplicar a correção de temperatura para medição das densidades específicas antes de registrá-las nesta planilha.
Bateria .......... Dens. Específica ou Tensão Bateria .......... Dens. Específica ou Tensão
Célula 1 .......... ................ Célula 1 .......... ................
Célula 2 .......... ................ Célula 2 .......... ................
Célula 3 .......... ................ Célula 3 .......... ................
Célula 4 .......... ................ Célula 4 .......... ................
Célula 5 .......... ................ Célula 5 .......... ................
Célula 6 .......... ................ Célula 6 .......... ................
Bateria .......... Dens. Específica ou Tensão Bateria .......... Dens. Específica ou Tensão
Célula 1 .......... ................ Célula 1 .......... ................
Célula 2 .......... ................ Célula 2 .......... ................
Célula 3 .......... ................ Célula 3 .......... ................
Célula 4 .......... ................ Célula 4 .......... ................
Célula 5 .......... ................ Célula 5 .......... ................
Célula 6 .......... ................ Célula 6 .......... ................
Bateria .......... Dens. Específica ou Tensão Bateria .......... Dens. Específica ou Tensão
Célula 1 .......... ................ Célula 1 .......... ................
Célula 2 .......... ................ Célula 2 .......... ................
Célula 3 .......... ................ Célula 3 .......... ................
Célula 4 .......... ................ Célula 4 .......... ................
Célula 5 .......... ................ Célula 5 .......... ................
Célula 6 .......... ................ Célula 6 .......... ................
Bateria .......... Dens. Específica ou Tensão Bateria .......... Dens. Específica ou Tensão
Célula 1 .......... ................ Célula 1 .......... ................
Célula 2 .......... ................ Célula 2 .......... ................
Célula 3 .......... ................ Célula 3 .......... ................
Célula 4 .......... ................ Célula 4 .......... ................
Célula 5 .......... ................ Célula 5 .......... ................
Célula 6 .......... ................ Célula 6 .......... ................
Obs.: Repetir a planilha quantas vezes forem necessárias, em função do tamanho do banco de baterias.
4
526
09 – Gerador fotovoltaico
Requer serviço?
Sim Não
( ) ( ) Cobertura de vidro limpa e inteira
(Se há dano, tirar fotos.)
( ) ( ) Armações dos módulos e estruturas de montagem todas aterradas
( ) ( ) Todas as células em todos os módulos sem sombra durante todo o dia
(Se há sombreamento, tirar fotos.)
( ) ( ) Estruturas de montagem firmes e em bom estado de conservação
(Se há dano, tirar fotos.)
( ) ( ) Eletrodutos e conexões firmes e em bom estado de conservação
(Se há dano, tirar fotos.)
( ) ( ) Ausência de curtos-circuitos
( ) ( ) Existência de aterramento
( ) ( ) Módulos todos numerados
( ) ( ) Tensão de circuito aberto do gerador ok (+ e -). Valor: .................
( ) ( ) Tensão de circuito aberto do gerador ok (+ e terra). Valor: .................
( ) ( ) Tensão de circuito aberto do gerador ok (- e terra). Valor: .................
( ) ( ) Todas as tensões de circuito aberto das séries fotovoltaicas ou dos módulos estão
dentro da variação de 10 % da nominal1
( ) ( ) Corrente de curto-circuito do gerador ok. Valor: .................
( ) ( ) Todas as correntes de curto-circuito das séries fotovoltaicas ou dos módulos estão
dentro da variação de 10 % da nominal2
( ) ( ) Fusíveis em bom estado de conservação
( ) ( ) Diodos de desvio em bom estado de conservação
( ) ( ) Diodos de bloqueio em bom estado de conservação
( ) ( ) Caixa de junção em bom estado de conservação. (Se houver dano, tirar foto)
1
Módulos com tensão de circuito aberto fora da variação de 10 % da nominal ou com alguma outra
anomalia (especificar o problema para cada módulo indicado):
.....................................................................................................................................................................
.....................................................................................................................................................................
.....................................................................................................................................................................
2
Módulos com corrente de curto-circuito fora da variação de 10 % da nominal (com compensação
para a variação de radiação solar) ou com alguma outra anomalia (especificar o problema para cada
módulo indicado):
.....................................................................................................................................................................
.....................................................................................................................................................................
.....................................................................................................................................................................
5
527
10 – Registro da tensão de circuito aberto do gerador fotovoltaico
Obs.: a) Medir por módulo somente quando a medição da série fotovoltaica apresentar-se fora da faixa adequada.
b) Repetir a planilha quantas vezes forem necessárias, em função do tamanho do gerador fotovoltaico.
6
528
12 – Cargas c.c.
Requer serviço?
Sim Não
( ) ( ) Cargas com potência, horário e tipo adequados
( ) ( ) Cargas requerem manutenção ou reparo (Se sim, detalhar: ......................................)
13 – Inversor
Requer serviço?
Sim Não
( ) ( ) Operação normal durante a inspeção
( ) ( ) Leituras dos medidores fixos coerentes com as dos medidores portáteis
( ) ( ) Ruído anormal no inversor
( ) ( ) Proteções do inversor bem dimensionadas
( ) ( ) Todos os condutores firmes e em bom estado de conservação
( ) ( ) Ausência de curto-circuito
( ) ( ) Existência de aterramento
( ) ( ) Temperatura ambiente em faixa apropriada
( ) ( ) Inversor e área bem limpos, secos e ventilados
( ) ( ) Suporte e invólucros firmes e em bom estado de conservação
(Se não estiver em bom estado, tirar foto.)
14 – Cargas c.a.
Requer serviço?
Sim Não
( ) ( ) Cargas com potência, horário e tipo adequados
( ) ( ) Cargas requerem manutenção ou reparo (Se sim, detalhar: ......................................)
Outras observações:
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
7
529
MANUAL DE ENGENHARIA PARA
SISTEMAS FOTOVOLTAICOS