E Book Energia Eolica EnergIF Profa J Lucena

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ENERGIA

EÓLICA
Juliana de Almeida Yanaguizawa Lucena

ENERGIA
EÓLICA

Florianópolis
2023
L935e

Lucena, Juliana de Almeida Yanaguizawa


Energia eólica: volume 4 [recurso eletrônico] / Juliana de Almeida Yanaguizawa
Lucena. - Florianópolis: ENBPar /IFSC, 2023.

134 p.:il. color. (Projeto EnergIF, vol.4)

ISBN 978-65-981191-9-5

1. O vento e a energia eólica. 2. Turbinas eólicas. 3. Geração de energia eólica.


4. Sistemas eólicos. I. Título.

CDD 621.312136

Catalogado por: Ana Paula F. Rodrigues - CRB 14/1117


ENBPar

DIRETOR-PRESIDENTE
Luis Fernando Paroli Santos

DIRETOR DE GESTÃO DE
PROGRAMAS DE GOVERNO
Miguel da Silva Marques

SUPERINTENDENTE DE GESTÃO DE PROGRAMAS DE


GOVERNO
Juliana Godoy A. Tadeu

PROGRAMA NACIONAL DE CONSERVAÇÃO DE


ENERGIA ELÉTRICA – PROCEL
George Alves Soares - Gerente
Marcelo Maia

IFSC
INSTITUTO FEDERAL DE SANTA CATARINA – IFSC
REITORIA DO IFSC
Maurício Gariba Júnior

DIREÇÃO DO IFSC – CÂMPUS FLORIANÓPOLIS


Zízimo Moreira Filho

CHEFIA DO DEPARTAMENTO ACA-


DÊMICO DE ELETROTÉCNICA
Edison Antônio Cardoso Aranha Neto

COORDENAÇÃO-GERAL DO PROJETO ENERGIF


James Silveira

COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA DO PROJETO ENERGIF


Cláudia Regina Silveira
Ricardo Luiz Alves

DIAGRAMAÇÃO
Vinícius Zambaldi

ELABORAÇÃO:
Juliana de Almeida Yanaguizawa Lucena – Instituto Federal de Pernambuco - IFPE

REVISÃO TÉCNICA:
Wênio Fhara Alencar Borges – Instituto Federal do Maranhão - IFMA

REVISÃO ORTOGRÁFICA:
Cláudia Regina Silveira (coordenadora)
Juliana Rabello
AGRADECIMENTOS

O Projeto EnergIF, em suas várias linhas de trabalho, conta com o apoio e participa-
ção de muitas pessoas e instituições, às quais gostaríamos de deixar aqui nossa gratidão.
De forma particular, agradecemos:
ao Procel, por ter acreditado na magnitude das metas propostas no Projeto e que,
por meio do seu Plano de Aplicação de Recursos, viabiliza a sua execução;
ao professor Marco Antônio Juliatto, um dos idealizadores deste trabalho, e a toda
equipe do Programa EnergIFE (Setec/MEC), pelo apoio e confiança na equipe gestora,
desde a concepção do Projeto;
aos profissionais da Eletrobras, Wilson Ferreira Jr., Rodrigo Limp Nascimento,
Renata Leite Falcão, Marcel da Costa Siqueira e, especialmente, a José Luiz Grunewald
Miglievich Leduc, que vivenciou diretamente a execução do Projeto.
Por fim, agradecemos a todos aqueles que fazem do Projeto EnergIF uma aspira-
ção possível de ser realizada, acreditando na educação como um processo responsável
pela transformação de hábitos e atitudes, capaz de construir um mundo melhor e mais
consciente.

Equipe Projeto EnergIF


APRESENTAÇÃO

O Projeto EnergIF, parte integrante do Programa para Desenvolvimento em Energias


Renováveis e Eficiência Energética nas Instituições Federais de Educação (EnergIFE),
estruturado no âmbito da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC), do
Ministério da Educação (MEC), e do Programa Nacional de Conservação Energia Elétrica
(Procel) é desenvolvido pelo IFSC – Câmpus Florianópolis, com a participação das demais
unidades da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica.

O EnergIF visa a impactar significativamente as instituições da Rede Federal no


tocante à gestão local do consumo de energia, a fim de melhorar o desempenho ener-
gético, e reduzir, dessa forma, os desperdícios e o impacto ambiental.

Para isso, pedagogicamente, o EnergIF volta-se à capacitação de docentes da Rede


Federal, com o fito de multiplicar habilidades e competências em eficiência energética,
visando à criação de cursos e disciplinas nessa área, e à qualificação de laboratórios na
Rede Federal, por meio da aquisição de equipamentos que deem suporte a essas atividades
de capacitação, bem como ao levantamento e à análise da eficiência energética local.

O desenvolvimento de material didático em eixos temáticos específicos voltados à


eficiência energética e às energias renováveis também faz parte desse processo. Nesta
edição, foram produzidos sete cadernos temáticos, todos eles de autoria de docentes
especialistas da Rede Federal que estão lecionando e/ou desenvolvendo projetos na
área. São eles:
• Eficiência Energética em Edificações;
• Eficiência Energética na Indústria;
• Energia Fotovoltaica;
• Energia Eólica;
• Biogás/Biometano;
• Biocombustíveis;
• Eletromobilidade.
A intenção do EnergIF para com esse material didático, é fornecer para docentes e
discentes da Rede Federal um suporte tanto ao professor, em suas atividades de sala de
aula, como aos estudantes de níveis diversos de ensino, como ferramenta pedagógica,
a fim de promover o aprimoramento profissional e buscar a otimização dos recursos
naturais visando à questão sustentável.

Nosso propósito é fazer deste um material acessível e democrático que esteja sempre
aberto à renovação; para isso, nosso desafio será manter uma constante atualização
do conteúdo exposto nos cadernos temáticos. Sendo assim, propomos aos professores
e pesquisadores, que atuam nas áreas de eficiência energética e energias renováveis,
que utilizarem este material, um contato direto conosco para eventuais contribuições e
atualizações dos temas trabalhados – e até mesmo para manifestação de interesse em
contribuições para futuras edições do Projeto EnergIF. Os interessados poderão enviar
e-mail para: [email protected].

Esperamos, por fim, que os estudos apresentados nesta coleção possam contribuir
para que (futuros) profissionais promovam reflexões e (inov)ações nas áreas de eficiência
energética e energias renováveis, firmando compromisso com o bem-estar social e a
sustentabilidade do planeta.

Equipe Projeto EnergIF


Sumário
UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO À ENERGIA EÓLICA 12
1.1 Breve evolução histórica da energia eólica no mundo 13
1.2 Histórico da energia eólica no Brasil 18
1.3 O potencial eólico brasileiro 21
1.4 Impactos e aspectos socioambientais da energia eólica 23
1.4.1 Aspectos ambientais23
1.4.2 Aspectos sociais27
1.5 Regulação e normas no Brasil 29
1.6 Tipos de sistemas eólicos 32
1.6.1 Sistemas isolados (off-grid)33
1.6.2 Sistemas interligados à rede (on-grid)34
1.6.3 Sistemas híbridos35
1.7 Atividades 36
1.8 Leitura Complementar 38
UNIDADE 2 - O VENTO E A ENERGIA EÓLICA 40
2.1 Introdução 40
2.2 Características gerais dos ventos 41
2.2.1 O modelo conceitual de circulação atmosférica planetária42
2.3 Direção, velocidade e potencial dos ventos 44
2.3.1 Instrumentos medidores de velocidade e direção dos ventos44
2.3.2 Estações anemométricas46
2.3.3 Mapas eólicos47
2.3.4 Comportamento probabilístico dos ventos48
2.4 O Terreno e o vento 50
2.5 Energia e potência do vento 52
2.6 Atividades 54
2.7 Leitura Complementar 55
UNIDADE 3 - TURBINAS EÓLICAS 57
3.1 Introdução 57
3.2 Classificações e tipos de turbinas eólicas 57
3.3 Componentes de uma turbina eólica 61
3.3.1 Evolução tecnológica das turbinas eólicas65
3.3.2 Pás de turbinas eólicas67
3.4 tividades 69
3.5 Leitura Complementar  72
UNIDADE 4 - GERAÇÃO EÓLICA 74
4.1 Introdução 74
4.2 Potência de uma turbina eólica 74
4.2.1 Potência extraída do vento e o Limite de Betz74
4.2.2 Curva de potência de um aerogerador78
4.3 Controle de potência de uma turbina eólica 80
4.3.1 Controle de estol passivo80
4.3.2 Controle de passo81
4.3.3 Controle de estol ativo82
4.4 Velocidade de Ponta de uma Turbina Eólica 83
4.5 Controle de velocidade de uma turbina eólica 84
4.5.1 Turbina eólica com velocidade constante85
4.5.2 Turbina eólica com velocidade variável86
4.6 Efeito esteira 87
4.7 Atividades 89
4.8 Leitura Complementar 91
UNIDADE 5 - PROJETO, INSTALAÇÃO E MANUTENÇÃO DE SISTEMAS EÓLICOS 93
5.1 Introdução 93
5.2 Projeto 93
5.2.1 Escolha do local93
5.2.2 Medição e determinação do potencial eólico local94
5.2.3 Estimativa da produção anual de energia95
5.2.4 Projeto de micrositing96
5.2.5 Estudo de viabilidade econômica e financeira96
5.3 Preparação do terreno e fundação 98
5.4 Montagem das turbinas eólicas 99
5.5 Comissionamento, testes e início de funcionamento do aerogerador 101
5.6 Operação e manutenção do parque eólico 103
5.6.1 Danos em turbinas eólicas em operação103
5.6.2 Manutenção de turbinas eólicas105
5.7 Aspectos de segurança em instalação e manutenção de sistemas eólicos 108
5.8 Parques eólicos híbridos 111
5.9 Turbinas eólicas ao fim da vida útil 113
5.10 Considerações finais 117
5.11 Atividades 117
5.12 Leitura Complementar 119
Gabarito 120
Referências 122
EN E RGIA EÓLIC A

Unidade 1
INTRODUÇÃO À ENERGIA EÓLICA
ENERGIA EÓ LICA

1. INTRODUÇÃO À ENERGIA EÓLICA


As atividades humanas das últimas décadas aumentaram as emissões de gases de
efeito estufa (GEE) como, por exemplo, o dióxido de carbono (CO2), proveniente da queima
de combustíveis fósseis, que pode causar clima extremo e derretimento do gelo polar.
As fontes de energia renováveis são conhecidas por serem as opções mais viáveis
para aumentar o acesso da população à eletricidade, reduzindo a poluição do ar e as
emissões de CO2 em todo o mundo, enquanto o consumo de energias não renováveis
impacta negativamente o meio ambiente.
A demanda por tecnologias limpas para eletricidade cresce juntamente com a
necessidade de eletrificar outros setores, tais como: aquecimento, refrigeração e trans-
porte, em consonância com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) n° 7, das
Nações Unidas, que busca garantir o acesso à energia acessível, confiável, sustentável
e moderna para todos e recomenda um crescimento substancial na participação de
energia verde na matriz energética global até o ano de 2050.
Além disso, a energia renovável cria empregos, enquanto a indústria de combustíveis
fósseis demite progressivamente pessoas, por diversos motivos: aumento da automação
na extração, excesso de capacidade, consolidação, mudanças regionais e substituição
do carvão mineral por gás natural no setor de energia.
Energia limpa pode ser entendida como toda fonte de energia que não libera
poluentes no meio ambiente e que impacta a natureza apenas no local de instalação.
Entre as formas de energia que atendem a esses requisitos, estão as energias eólica,
solar, maremotriz, geotérmica, hidráulica e de biomassa. Todas essas fontes causam
impactos ambientais, mesmo que sejam mínimos, mas não interferem na poluição em
nível global. As usinas de energia renovável são as formas menos intensivas em emissões
de CO2 para o fornecimento de eletricidade atualmente disponíveis.
Assim, o desenvolvimento da indústria eólica é uma escolha chave para renovar a
infraestrutura energética mundial - esse fato é verificado pelo aumento da capacidade
eólica global instalada a cada ano.
A fonte eólica, além de ser uma energia limpa, também é renovável. Uma usina
eólica ocupa pouco espaço físico, pode produzir energia em locais remotos e é abundante,
uma vez que o vento está disponível em todo o globo. Gera renda para os latifundiários,
por meio do aluguel de terrenos para as torres, permitindo que o proprietário continue
com as plantações ou a criação de animais.
Do final da década de 1990 até o presente, a capacidade média de geração de
turbinas se expandiu consideravelmente, a fim de suprir a demanda global por energia
limpa, com turbinas offshore comissionadas para alcançar cerca de 15MW de potência

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ENERGIA EÓ LICA

nominal na década de 2020. Desde 2017, a eólica é a fonte de eletricidade mais barata
nos leilões de contratação do Governo Federal brasileiro, dentre as renováveis. No
entanto, ainda existe uma necessidade crescente de parques eólicos com menor impacto
visual, maior eficiência energética e custos de operação e manutenção cada vez mais
acessíveis. Mesmo com tantos avanços, ainda há muitos desafios tecnológicos, logísticos
e de regulamentação a serem superados.
Nesse sentido, este material fornece uma visão geral da energia eólica, seu panorama
atual no Brasil e no mundo, bem como os fundamentos e as tecnologias empregadas
nos campos da produção, operação, manutenção e reciclagem de turbinas eólicas.

1.1 Breve evolução histórica da energia eólica no mundo


A energia eólica (do latim aeolicus, pertencente ou relacionada a Éolo, deus dos
ventos na mitologia grega) é toda forma de energia que vem do vento. As primeiras evi-
dências registradas do uso de energia eólica pela humanidade datam de cerca de 5.000
a.C., no Egito, quando o vento era usado para impulsionar embarcações, como as naus
egípcias, ao longo do Rio Nilo. Não demorou muito para surgirem outras aplicações a esta
fonte gratuita e abundante de energia. Na Antiguidade, por volta de 200 a.C., moinhos
de vento já eram utilizados na Pérsia, no Oriente Médio e na China, para moer grãos e
bombear água com o intuito de irrigar plantações, tornando-se uma importante forma
de produção de alimentos (LEUNG; YANG, 2012; WIZELIUS, 2015).
No século X, os moinhos de vento também foram usados para bombear água do
mar para fazer sal na China e na Sicília. A tecnologia eólica foi levada para a Europa,
pelos comerciantes e pelas Cruzadas, por volta do século XI, sendo os moinhos de vento
verticais bastante empregados no noroeste desse continente, para moer farinha. Os
holandeses, também, desenvolveram grandes bombas de vento para drenar lagos e
pântanos no delta do Rio Reno, que, muitas vezes, inundava. Uma imagem muito familiar
na Espanha são os famosos moinhos de vento no Campo de Criptana, que se tornaram
tão conhecidos no século XVII, graças ao engenhoso personagem “Dom Quijote de La
Mancha”, de Miguel de Cervantes.
Na América do Norte, a tecnologia de energia eólica chegou por meio dos imigrantes
europeus no final do século XIX, quando foi usada em fazendas e em ranchos dos EUA para
bombeamento de água. Mais tarde, os moinhos foram usados para moer trigo e milho,
e para cortar madeira em serrarias. Proprietários e fazendeiros instalaram milhares de
bombas eólicas quando se estabeleceram no oeste dos Estados Unidos (WIND ENERGY
FOUNDATION, 2020; US ENERGY INFORMATION ADMINISTRATION, 2022).
Embora a energia eólica tenha uma história de milhares de anos, as primeiras tenta-
tivas de produção de eletricidade surgiram no final do século XIX, após o desenvolvimento

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ENERGIA EÓ LICA

da energia elétrica, quando, então, os moinhos de vento foram usados para abastecer
locais residenciais e industriais, e a tecnologia para a construção de usinas eólicas foi
conduzida pela primeira vez (KALDELLIS; ZAFIRAKIS, 2011). A Figura 1.1 mostra exemplos
de construções usadas ao longo da história para aproveitamento da energia eólica. Com
o início da Revolução Industrial, o uso dos moinhos de vento diminuiu significativamente
devido à introdução das máquinas a vapor movidas a carvão e eletricidade como prin-
cipais fontes de energia.

Figura 1.1 – Exemplos de usos da energia eólica pelo homem: (a) Catavento para bombeamento de água. (b)
Moinho de vento para moagem de grãos. (c) Turbina eólica para geração de eletricidade nos dias atuais

Fonte: Canva for Education (2022).

A primeira turbina eólica usada para a produção de eletricidade foi construída na


Escócia, em 1887, pelo professor James Blyth, e tinha 10m de altura, de eixo vertical
(Figura 1.2a). Ela foi instalada para carregar acumuladores e iluminar sua casa de férias,
sendo a primeira residência do mundo a ter sua eletricidade fornecida por energia eólica.
Do outro lado do Atlântico, em Ohio, uma máquina maior e fortemente projetada
foi construída por Charles Brush, em 1888, para fornecer eletricidade para sua mansão. A
turbina eólica de Brush (Figura 1.2b) era feita de madeira, tinha 12kW de potência, rotor
de 17m de diâmetro, torre de 18m e girava relativamente devagar, pois tinha 144 pás e
pesava 36 toneladas (WIND ENERGY FOUNDATION, 2020). Suas características seriam
exploradas nos anos seguintes para projetar o que são as turbinas eólicas atualmente.

Figura 1.2 – Primeiras turbinas eólicas do mundo para produção de eletricidade: (a) Turbina eólica de eixo
vertical de James Blyth (Escócia). (b) Turbina eólica de eixo horizontal de Charles Brush (EUA)

Fonte: Burchell (2017).

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ENERGIA EÓ LICA

Mais tarde, em 1891, o cientista dinamarquês Poul la Cour descobriu que turbinas
eólicas com menos pás de rotor eram mais eficientes para produzirem eletricidade que
turbinas com múltiplas pás (porque atingiam uma velocidade de rotação muito maior do
que aquelas do tipo construído por Brush). Assim, ele construiu uma turbina eólica para
gerar eletricidade. Poul também descobriu como fornecer um fluxo contínuo de corrente
da turbina eólica, usando um dispositivo regulador, o Kratostate, e, em 1895, converteu
seu moinho de vento em um protótipo de usina elétrica, que foi usada para iluminar a
vila de Askov. Em 1903, Poul fundou a Sociedade de Eletricistas Eólicos na Dinamarca.
As bases teóricas do uso da energia eólica para gerar eletricidade foram desenvol-
vidas na Alemanha, na segunda década do século XX, e foi, principalmente, do trabalho
de Albert Betz, físico alemão, que, em 1919, originou-se a lei que leva seu nome.
Assim, no início do século XX, as usinas eólicas começaram a ser desenvolvidas
para abastecer fazendas e residências, eventualmente; elas cresceram em tamanho e
foram conectadas a redes elétricas como fonte central de energia para iluminação. O
desenvolvimento inovador da energia eólica na Europa ocorreu na Dinamarca, onde
ganhou considerável atenção, no início do século XX, e contribuiu para a construção de
um modelo descentralizado de eletrificação do país. Em 1908, havia 72 aerogeradores
no país, com potência entre 5kW e 25kW.
Em outros lugares, do outro lado do Atlântico, os moinhos de vento foram amplamente
utilizados na década de 1930, para gerar eletricidade em muitas regiões agrícolas dos
Estados Unidos, onde os sistemas de distribuição ainda não haviam sido desenvolvidos.
A primeira turbina com potência superior a 1MW só foi instalada em 1941.
Nas décadas seguintes à Segunda Guerra Mundial, o uso da energia eólica decli-
nou em favor de fontes de energia mais baratas, como o petróleo. Mas, a escassez de
petróleo e as preocupações ambientais na década de 1970 despertaram o interesse
em desenvolver fontes alternativas de energia para geração de eletricidade, causando
a expansão da energia eólica em todo o mundo.
Assim, na década de 1970, o governo dos EUA iniciou pesquisa com líderes da
indústria para desenvolver e criar grandes turbinas eólicas comerciais. A NASA super-
visionou programas de pesquisa em larga escala em turbinas eólicas adequadas para a
geração de energia para concessionárias, que foram pioneiras em muitas das tecnolo-
gias de turbinas de grande porte, ainda hoje em uso. Na década de 1980, milhares de
turbinas eólicas foram instaladas na Califórnia (Figura 1.3), em grande parte por causa
de políticas federais e estaduais que incentivaram o uso de fontes de energia renovável
(US ENERGY INFORMATION ADMINISTRATION, 2022).

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ENERGIA EÓ LICA

Nos anos 2000, com as políticas de Figura 1.3 – Parque eólico em Tehachapi (Califórnia),
concessão de energia eólica adotadas criado no início dos anos 1980, com turbinas de
por muitos países, por necessidade de 30 kW de potência unitária

fornecimento seguro de energia limpa


e renovável, o mercado eólico desen-
volveu-se rapidamente, e a tecnologia
de turbinas eólicas evoluiu de maneira
significativa ao longo do tempo, tor-
nando o vento uma das fontes de eletri-
cidade que, atualmente, mais crescem
no mundo. Apesar do pioneirismo ori-
ginal da Dinamarca, Alemanha, Estados
Unidos e Espanha, países como China
Fonte: Anzuoni (2017).
e Brasil fizeram esforços substanciais
nas últimas décadas para desenvolver, rapidamente, o setor de energia eólica e hoje
conseguem bons resultados.
Nos dias atuais, é possível encontrar aerogeradores de todos os tamanhos espalhados
pelo mundo, desde os menores, que são usados para carregar baterias em residências
isoladas, até os grandes parques eólicos com mais de 100 turbinas de grande porte, ins-
taladas para fornecer eletricidade a sistemas nacionais de transmissão elétrica. A Figura
1.4 mostra a evolução das turbinas eólicas ao longo dos anos, em termos de diâmetro
das pás do rotor e potência nominal.

Figura 1.4 – Evolução das turbinas eólicas para geração de eletricidade


ao longo dos anos

Fonte: Adaptado de Lucena (2021).

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ENERGIA EÓ LICA

Somente de 2015 a 2019, a energia eólica gerou mais de US $652 bilhões em


investimentos (GLOBAL WIND ENERGY COUNCIL, 2020). Até 2030, acredita-se que 1/3
da eletricidade mundial virá das energias solar e eólica, aumentando para quase 60%
até 2050, com capacidade instalada total de energia eólica superior a 6.000GW até 2050
(INTERNATIONAL RENEWABLE ENERGY AGENCY, 2020).
A Tabela 1.1 apresenta os principais países do mundo, em 2022, em capacidade
eólica instalada para os mercados onshore e offshore. O Brasil encontra-se em 6° lugar
no ranking mundial de capacidade instalada de energia eólica (em 2012, o país ocupava
a 15ª posição).

Tabela 1.1 – Ranking mundial da capacidade eólica instalada em 2021, para


os mercados onshore e offshore

País Onshore (MW) País Offshore (MW)

1. China 310.629 1. China 27.680

2. Estados Unidos 134.354 2. Reino Unido 12.522

3. Alemanha 56.814 3. Alemanha 7.728

4. Índia 40.084 4. Holanda 3.003

5. Espanha 31.212 5. Dinamarca 2.308

6. Brasil 21.580 6. Bélgica 2.262

7. França 19.131 7. Outros da Ásia 1.167

8. Canadá 14.255 8. Outros da Europa 331

9. Reino Unido 14.064 9. Coréia do Sul 133

10. Suécia 10.002 10. Estados Unidos 42

Fonte: Adaptado de Global Wind Energy Council (2022).

Considerando a ampla disponibilidade de recursos, o grande potencial de mercado


e a competitividade de custos, espera-se que a energia eólica onshore conduza o cres-
cimento geral das energias renováveis em vários países ao longo da década de 2030. A
Figura 1.5 mostra a evolução da capacidade eólica instalada mundialmente, considerando
os mercados onshore e offshore e as projeções até o ano de 2025.
Acredita-se que a capacidade total instalada de energia eólica onshore aumente para
1.787GW até 2030 e perto de 5.044GW até 2050 (INTERNATIONAL RENEWABLE ENERGY
AGENCY, 2019a) – isso representa menos de 6% do potencial global de recursos eólicos.

Voltar ao sumário 17
ENERGIA EÓ LICA

Figura 1.5 – Evolução da capacidade eólica instalada no mundo, de 2001 a


2021 e previsão até o ano de 2025

Fonte: Adaptado de Global Wind Energy Council (2021; 2022); Lucena (2021).

As agências internacionais de energia preveem que a Ásia (principalmente a China)


tende a liderar a indústria de energia eólica onshore, com mais de 50% das instalações
globais até o ano de 2050. Para o mercado eólico offshore, a Ásia também pode assumir
a liderança nas próximas décadas com mais de 60% das instalações globais até 2050
(INTERNATIONAL RENEWABLE ENERGY AGENCY, 2019a).

1.2 Histórico da energia eólica no Brasil


O Brasil inicia sua história na energia eólica com seu primeiro aerogerador instalado
em 1992, no Estado de Pernambuco, sendo ele considerado o primeiro aerogerador de
grande porte da América Latina. A máquina foi instalada no arquipélago de Fernando de
Noronha, com potência nominal de 75kW (3 pás e rotor de 17m de diâmetro) e abaste-
cia cerca de 10-20% da demanda de energia local. Ao longo dos anos, outros projetos
foram realizados em diferentes estados do Brasil, mas pouco se avançou para consolidar
a energia eólica como uma alternativa de geração de energia elétrica, devido à falta de
políticas públicas e aos custos ainda proibitivos da tecnologia na época.
Em 2001, a crise energética do Brasil, causada por uma série de fatores – entre
eles a escassez de chuvas, o aumento da demanda por eletricidade, a forte dependência
das hidrelétricas e a falta de planejamento – fez com que houvesse uma sobrecarga no
sistema elétrico do país, o que gerou um grave risco de apagão. Assim, no mesmo ano,
foi criado pelo Governo Federal o Proeólica (Programa Emergencial de Energia Eólica),

Voltar ao sumário 18
ENERGIA EÓ LICA

para propor e implementar medidas emergenciais para compatibilizar demanda e oferta


de energia elétrica e evitar interrupções intempestivas ou imprevistas do suprimento
de energia elétrica. Esse programa tinha como objetivo a contratação de 1.050MW de
projetos de energia eólica até dezembro de 2003. Já se falava, então, da complemen-
taridade sazonal do regime de ventos com os fluxos hidrológicos nos reservatórios
hidrelétricos. Esse programa, no entanto, não obteve resultados e foi substituído, em
2002, pelo Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica, o PROINFA
(GLOBAL WIND ENERGY COUNCIL, 2011).
O objetivo do PROINFA era de aumentar a participação de fontes alternativas
renováveis – pequenas centrais hidrelétricas, usinas eólicas e projetos termelétricos a
biomassa – na produção de energia elétrica, priorizando aquelas empresas que não pos-
suíam vínculos societários com concessionárias de geração, transmissão ou distribuição
(AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA, 2015; AQUILA et al., 2016). O PROINFA, como
primeira política pública efetiva voltada para o setor eólico, proporcionou um ambiente
de poucos riscos para investimentos com uma tecnologia ainda pouco conhecida no país
naquela época. No entanto, apesar dos 144 projetos inicialmente aprovados por esse
programa, apenas um conseguiu entrar em operação antes de 2006.
Assim, a partir de 2005, o Brasil passou a adotar o sistema de leilão pelo menor preço
para contratação da demanda de energia elétrica prevista pelas concessionárias, além
de um valor de reserva. No final de 2009, ocorreu o primeiro leilão de comercialização
de energia voltado exclusivamente para a fonte eólica, denominado Leilão de Energia
de Reserva (LER), com a contratação de 1,8GW, abrindo portas para novos leilões que
ocorreram nos anos seguintes.
A partir de 2009, por meio de leilões específicos de fontes renováveis, a energia
eólica passou a ser comercializada em ambiente regulado. O esquema contratual de
leilões de geradores eólicos foi projetado para reduzir o risco de investimento do setor
privado. Uma vez que a energia eólica possui características econômicas como alto
investimento inicial, baixo custo operacional e fluxo de produção sazonal e intermitente,
foi formulado um modelo de contrato para considerar a produção média ao longo dos
anos e permitir reajustes e compensações de acordo com o histórico de geração. Essa
mudança no sistema de contratação estimulou o desenvolvimento e o crescimento da
energia eólica no Brasil.
Devido à crise econômica vivida pelo Brasil, em 2015, o consumo de energia elétrica
foi 1,8% menor do que em 2014 (EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA, 2016) e, com
isso, energia suficiente foi fornecida aos consumidores pelo setor eólico no curto prazo,
dificultando a realização de leilões para novos empreendimentos. Como resultado da
queda no consumo de energia elétrica e recessão econômica, houve redução na contra-
tação de energia eólica, em 2015, mesmo com três leilões naquele ano. Em 2016, não
houve contratação de energia eólica.

Voltar ao sumário 19
ENERGIA EÓ LICA

A Figura 1.6 mostra a evolução da capacidade eólica instalada no Brasil, de 1999


a 2022, e uma previsão até 2026, com base na consolidação da capacidade contratada
tanto no mercado livre como no regulado1.

Figura 1.6 – Evolução da capacidade eólica instalada no Brasil de 1999 a 2022, e previsão
até o ano de 2026

Fonte:Adaptado de Global Wind Energy Council (2020), Lucena; Lucena (2019), Associação Brasi-
leira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (2022).

Conforme discutido anteriormente e com base na análise do gráfico, a energia


eólica iniciou seu crescimento efetivo em 2009, com o primeiro leilão de comercialização
de energia voltado exclusivamente para essa fonte, com intensificação a partir de 2011.
Desde então, a eólica tem demonstrado um crescimento sólido e consistente, sendo,
hoje, uma fonte de energia consolidada. Atualmente, o Brasil apresenta uma matriz
elétrica diversificada (Figura 1.7) e a energia eólica se destaca pela excelente qualidade
e grandes investimentos.
Há algum tempo, a eólica vem deixando de ser uma fonte alternativa para se
tornar a segunda fonte na matriz elétrica brasileira, com mais de 12% de participação,
com 22,5GW instalados, ficando atrás somente das hidrelétricas, que hoje representam
pouco mais de 55% da matriz (um retrato bem diferente da crise energética de 2001).

1 A comercialização de energia no Brasil é realizada em duas esferas de mercado: o Ambiente de Contra-


tação Regulado (ACR), do qual participam agentes de geração e de distribuição de energia elétrica; e o Ambiente
de Contratação Livre (ACL), do qual participam agentes de geração, comercialização, importadores e exportadores
de energia, bem como consumidores livres.

Voltar ao sumário 20
ENERGIA EÓ LICA

Figura 1.7 – Matriz elétrica brasileira

Fonte: Adaptado de Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (2022).

1.3 O potencial eólico brasileiro


Em 2001, a publicação do Atlas do Potencial Eólico Brasileiro (CENTRO DE PESQUISAS
DE ENERGIA ELÉTRICA, 2001) estimou o potencial eólico do país em 143GW, com base
em velocidades médias do vento iguais ou superiores a 7m/s e torres de 50 m de altura,
suficientes para tecnologias de aerogeradores daquele período. Sem dúvida, o Atlas de
2001 foi um marco importante para o desenvolvimento do setor eólico no país. Nos
anos seguintes, o mercado eólico brasileiro teve um crescimento significativo devido à
implantação do PROINFA e, também, aos bons resultados dos leilões de energia. Com o
tempo, a tecnologia de turbinas eólicas desenvolveu-se significativamente, fornecendo
modelos de maior potência e dimensões para operação em altitudes mais elevadas.
Considerando as tecnologias atuais de produção de energia eólica e, principalmente,
o uso de aerogeradores de 100m de altura, sabe-se que o potencial eólico brasileiro
é muito superior ao estimado pelo primeiro Atlas eólico, em 2001. Novas estimativas
apontam que o potencial eólico onshore do Brasil pode chegar a 880GW, sendo 522GW
tecnicamente viáveis. O potencial eólico offshore do país também é enorme e está
estimado em 1,3TW. Portanto, se hoje o Brasil possui 22,5GW de potência eólica ins-
talada (como mostrado na Figura 7), significa que estamos utilizando menos de 5% do
potencial onshore, ou seja, o potencial eólico brasileiro é praticamente infinito. A partir
do Atlas eólico para velocidades de vento em alturas de 100m e 200m (BEZERRA, 2018;
TECHNICAL UNIVERSITY OF DENMARK, 2022), pode-se identificar as regiões oceânicas

Voltar ao sumário 21
ENERGIA EÓ LICA

do litoral Sul e do Nordeste como áreas de bons ventos para geração de energia eólica,
como será apresentado na Unidade 2.
O Brasil possui mais de 820 parques eólicos em operação, presentes em 12 estados
do país, conforme mostra a Tabela 1.2, com mais de 9.400 aerogeradores em funciona-
mento. Os 22,5GW de potência eólica instalados no Brasil conseguem abastecer 36,2
milhões de residências por mês, isto é, 108,7 milhões de pessoas beneficiadas com a
fonte eólica (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENERGIA EÓLICA E NOVAS TECNOLOGIAS, 2022).
Além disso, pode-se observar que os principais estados produtores estão localizados na
região Nordeste, ou seja, 90% da capacidade eólica é proveniente desta região.

Tabela 1.2 – Capacidade eólica instalada no Brasil até julho de 2022

Capacidade N° de N° turbinas
Estado Região
instalada (MW) parques eólicas

Rio Grande do Norte (RN) Nordeste 6.764,94 221 2.735

Bahia (BA) Nordeste 6.259,48 237 2.521

Piauí (PI) Nordeste 2.788,05 91 1.095

Ceará (CE) Nordeste 2.496,94 97 1.121

Rio Grande do Sul (RS) Sul 1.835,89 80 830

Pernambuco (PE) Nordeste 989,77 38 456

Paraíba (PB) Nordeste 628,44 30 257

Maranhão (MA) Nordeste 426,00 15 172

Santa Catarina (SC) Sul 242,70 15 174

Sergipe (SE) Nordeste 34,50 1 23

Rio de Janeiro (RJ) Sudeste 28,05 1 17

Paraná (PR) Sul 2,50 1 5

Total 22.497,37 827 9.406

Fonte: Adaptado de Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (2022).

A região Nordeste (cuja área é de 1.558.000km²) representa quase um quinto da


área geográfica do Brasil e é a parte mais árida do país. Embora o Brasil tenha os maiores
recursos hídricos do mundo, essa região em particular sofre com secas ocasionais, que,
também, podem afetar o fornecimento de energia, já que a maior parte da matriz elé-
trica corresponde à hidroeletricidade (um percentual de 55,7% em 2022, como visto na
Figura 7), destacando-se o Rio São Francisco como seu principal provedor. Esse cenário
de preponderância dos mananciais na região Nordeste mudou nos últimos anos. De

Voltar ao sumário 22
ENERGIA EÓ LICA

fato, a participação da fonte eólica tem crescido, significativamente, na composição da


geração de energia elétrica no Subsistema Nordeste, devido à ocorrência de anos com
baixa pluviosidade e aumento da capacidade eólica instalada nesta região.
A geração eólica é maior nos meses da estação seca (maio a novembro), quando o
fluxo de água nos reservatórios do Rio São Francisco atinge seu nível mais baixo. Em dias
úteis, há registros de geração de eletricidade pela fonte eólica com fator de capacidade
superior a 70% na região Nordeste (na média diária). Portanto, o Brasil vem acumulando
recordes de forma consistente, tanto nos finais de semana quanto nos dias úteis; tanto
em médias diárias quanto em horários específicos. Em média, o fator de capacidade
global fica em torno de 34%. No Brasil, o fator de capacidade médio, em 2021, foi de
43,6% e, no período de safra dos ventos (junho a novembro), o fator de capacidade
médio mensal pode ultrapassar 60% na região Nordeste ou até mais de 70% em dias
recordes (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENERGIA EÓLICA E NOVAS TECNOLOGIAS, 2022).

1.4 Impactos e aspectos socioambientais da


energia eólica

Nem todas as fontes de energia têm os mesmos efeitos ambientais negativos ou


capacidade de esgotamento dos recursos naturais. As energias fósseis esgotam os recursos
naturais e são as principais responsáveis pelos impactos ambientais. Por outro lado, o
vento é uma fonte de energia limpa porque produz poucos impactos ambientais, e eles
são significativamente inferiores aos produzidos pelas energias convencionais. Apesar
disso, as possíveis influências negativas sobre a fauna e populações próximas devem ser
analisadas para parques onshore e offshore. Embora a energia eólica tenha tido um bom
desempenho global nas últimas décadas, ela também traz alguns impactos ambientais,
tais como, ruído e impacto visual, conforme descrito a seguir.

1.4.1 Aspectos ambientais

A energia eólica tem um papel fundamental a desempenhar no combate às mudan-


ças climáticas, reduzindo as emissões de CO2 na geração de energia. Ao contrário dos
combustíveis fósseis e da energia nuclear, as turbinas eólicas não poluem a atmosfera
com emissões de gases de efeito estufa (GEE), nem causam problemas para as gerações
futuras com resíduos radioativos. Os parques eólicos não precisam de nenhum trans-
porte de combustível que possa ser perigoso para o meio ambiente, nem dependem
de atividades de mineração ou moagem que perfuraram ou drenam combustíveis para
fora da terra. Os sistemas eólicos praticamente não usam água porque precisam de
apenas 1/600 da quantidade de água por unidade de eletricidade produzida do que as
usinas nucleares.

Voltar ao sumário 23
ENERGIA EÓ LICA

No entanto, a maior parte das emissões de GEE da fonte eólica surge na fabricação
das turbinas (principalmente torre, pás e nacele) e na construção do parque. Para cada
MW da fonte eólica, são empregadas 221 toneladas de material em turbinas offshore e
640 toneladas em turbinas onshore. Ou seja, as estruturas offshore são mais leves que as
onshore (GLOBAL WIND ENERGY COUNCIL, 2022). As emissões de GEE não relacionadas
à construção e produção podem surgir durante a operação e manutenção, descomissio-
namento, transporte de materiais e turbina. Turbinas maiores (sob condições de vento
semelhantes) em seu ciclo de vida, normalmente, têm emissões de GEE mais baixas do
que turbinas menores, e turbinas offshore têm emissões mais altas do que as onshore.
A disposição das turbinas eólicas em uma usina afeta claramente não apenas a pro-
dução de energia, mas também a aparência visual e a influência do ruído nos moradores
locais (FARRIS, 2017). Os impactos sonoros ocorrem devido ao ruído do rotor (baixa e
alta frequência) e variam de acordo com as especificações do equipamento. As turbinas
com múltiplas pás são menos eficientes e mais ruidosas do que as atuais turbinas eólicas
de três pás e alta velocidade. Para evitar transtornos à população vizinha, o nível de
ruído das turbinas deve estar de acordo com as normas e padrões estabelecidos pela
legislação vigente.
Turbinas eólicas com ruído máximo a uma distância superior a 300m de uma
residência não apresentam um problema de ruído de baixa frequência ou infrassom
(O'NEAL; HELLWEG JR; LAMPETER, 2010). Alguns especuladores afirmam que os ruídos
de alta e baixa frequência produzidos pelas turbinas podem causar uma série de pro-
blemas de saúde, até mesmo câncer. No entanto, vários estudos concluíram que essas
preocupações são infundadas (CHAPMAN; GEORGE, 2013; CRICHTON et al., 2014). As
queixas de saúde são mais provavelmente explicadas pela resposta nocebo, em que os
efeitos adversos são gerados por expectativas negativas.
A Figura 1.8 exemplifica o quão silenciosa uma turbina eólica moderna pode ser
em relação a diversos equipamentos eletroportáteis de uso doméstico. Normalmente,
uma turbina eólica é instalada a, pelo menos, 300m de distância de uma casa. Nessa
distância, uma turbina terá um nível de pressão sonora de 43 decibéis (dBA). Para colocar
isso em contexto, um aparelho de ar-condicionado médio pode atingir 50dBA de ruído,
e a maioria dos refrigeradores funciona em torno de 40dBA. A 500m de distância, esse
nível de pressão sonora cai para 38dB. Na maioria dos lugares, o ruído de fundo varia
de 40 a 45 dBA, o que significa que o ruído da turbina seria perdido entre eles. Para as
áreas mais silenciosas e rurais, o ruído de fundo é de 30dBA.

Voltar ao sumário 24
ENERGIA EÓ LICA

Figura 1.8 – Comparação do ruído emitido por uma turbina eólica em relação a aparelhos
eletroportáteis de uso residencial, como cortador de grama, liquidificador, aspirador de pó,
microondas e geladeira

Fonte: GE Renewable Energy (2014).

Os impactos visuais são devidos ao agrupamento de aerogeradores, principalmente,


no caso de parques eólicos com um número considerável de turbinas. Os impactos
variam muito, dependendo da localização, do arranjo das torres e das especificações
da turbina. Torres feitas de aço resultam em uma aparência leve. O impacto visual é um
dos problemas mais críticos a serem considerados em uma usina eólica, mas não há
consciência da interferência dela na paisagem; ao contrário, alguns parques eólicos no
estado do Ceará (região Nordeste), por exemplo, estão a 1500m da orla, e os turistas
consideram os aerogeradores como cartões postais da região. As pessoas parecem
avaliar o impacto visual subjetivamente. Portanto, alterações na paisagem natural por
parques eólicos tendem a atrair turistas e, consequentemente, gerar renda, emprego,
arrecadação e desenvolvimento regional (LEUNG; YANG, 2012).
No Brasil, existem plantas eólicas em dunas, morros e pastagens. Às vezes, o melhor
local para a construção de uma usina eólica é um terreno particular, cuja aceitação
depende do proprietário do terreno. A Resolução Brasileira n° 462/2014 (BRASIL, 2014)
não considera as usinas eólicas como empreendimentos de baixo impacto quando ins-
taladas em manguezais, dunas e regiões litorâneas. A imposição de parques eólicos sem
compensação ou mitigação pode causar conflitos entre a comunidade local e o empre-
endimento. Erosão de terras, conflitos territoriais e modificação de dunas, estuários e

Voltar ao sumário 25
ENERGIA EÓ LICA

praias durante a construção de um parque eólico no estado do Ceará foram relatados


por Brannstrom et al. (2017).
A interferência eletromagnética pode ser outro impacto ambiental negativo da
energia eólica, pois causa distúrbios nos sistemas de comunicação e transmissão de
dados. Varia muito de acordo com a localização do parque e suas especificações técnicas,
principalmente, o material utilizado na fabricação das pás. Uma turbina eólica pode
atuar como transmissor e receptor de interferência eletromagnética (LUCENA, 2021).
As pás eólicas de turbinas de rotação rápida também são conhecidas por matar
pássaros, embora estudos mostrem que esse problema está, principalmente, ligado a
projetos de parques eólicos mais antigos e agora obsoletos. No entanto, as interferências
nas rotas das aves devem ser devidamente consideradas nos estudos e relatórios de
impactos ambientais.
Nas últimas décadas, cientistas e engenheiros fizeram grandes avanços na mitigação
das mortes de aves. Estudos mostram que os parques eólicos offshore representam um
risco reduzido para as aves. Sistemas simples de detecção de colisões por infravermelho
foram desenvolvidos para monitorar colisões de aves em usinas offshore (FAIRLEY, 2007;
LEUNG; YANG, 2012). Aves locais parecem ser notavelmente hábeis em evitar obstáculos
e, portanto, as turbinas eólicas não seriam um problema sério para elas; além disso, a
quantidade que seria morta dessa maneira é insignificante em comparação aos resultados
mortais das atividades humanas, como desmatamento e urbanização. A destruição de
ninhos durante a construção é outra fonte potencial de mortalidade de aves relacio-
nada a parques eólicos. Acrescenta-se a isso o fato de que as aves também podem ser
impactadas pela perda de seu habitat como resultado de atividades de construção que
removem a vegetação para a construção da fundação das turbinas e sua infraestrutura,
ou seja, linhas elétricas, subestação e estradas de acesso.
Há, portanto, pouca dúvida de que o uso mundial em larga escala de tecnologias de
energia renovável pode produzir eletricidade com o menor impacto no meio ambiente
e na saúde humana a longo prazo. Nesse sentido, a turbina eólica ao final de sua vida
útil pode ser desmontada sem deixar vestígios duradouros, e a maior parte do material
pode ser reciclada.
A incorporação de práticas de sustentabilidade na fabricação de aerogeradores é
uma tendência para reduzir o consumo de matérias-primas de origem fóssil (como resi-
nas, espumas e materiais de infusão para a produção de pás) e sua substituição parcial
por materiais ecologicamente corretos. Assim, as fibras de bambu são utilizadas como
material de reforço na produção de turbinas eólicas na China (HOLMES et al., 2009).
A reciclagem de componentes de turbinas eólicas é uma atividade complexa, uma
vez que os materiais compósitos das pás do rotor apresentam problemas técnicos para
serem separados, de modo que os polímeros reciclados das pás do rotor são de quali-
dade inferior e apenas úteis como materiais de enchimento. Uma reciclagem puramente

Voltar ao sumário 26
ENERGIA EÓ LICA

térmica das pás do rotor em fornos de aço ou instalações de incineração de resíduos


pode ser problemática devido aos resíduos tóxicos provenientes do cloreto contido no
PVC, como a dioxina.
A reciclagem das fundações de concreto (e possivelmente da torre) não afeta sig-
nificativamente o balanço energético, uma vez que o transporte e o processamento são
intensivos em energia, e que o resíduo resultante deve ser usado apenas em canteiros de
obras próximos ao local da turbina eólica. Em contrapartida, a reciclagem convencional
de aço, cobre e alumínio em metalurgia representa um ganho energético considerável.
A Unidade 5 traz considerações a respeito da reciclagem de turbinas eólicas ao fim de
sua vida útil.

1.4.2 Aspectos sociais

O problema social mais importante do nosso tempo é apontado como sendo o


desemprego aberto, o subemprego e a exclusão social que afetam grande parte da
população em idade ativa. Nesse sentido, o desenvolvimento deve ser socialmente
inclusivo, pois os objetivos de desenvolvimento são sempre éticos e sociais. Assim, a
promoção do progresso social assenta num “postulado ético de solidariedade, solida-
riedade síncrona com a nossa geração e [...] solidariedade diacrônica com as gerações
futuras” (SACHS, 2009).
Nesta perspectiva, a discussão sobre a energia eólica do ponto de vista da dimensão
social deve centrar-se na avaliação dos níveis de apoio público à energia eólica (aceitação
do público), identificação e compreensão da resposta social ao nível local (aceitação da
comunidade), análise das principais questões envolvidas na aceitação social pelas princi-
pais partes interessadas e formuladores de políticas (aceitação das partes interessadas).
Experiências com energia eólica nos Estados Unidos da América (EUROPEAN WIND
ENERGY ASSOCIATION, 2009) mostram que a aceitação social é crucial para o sucesso
do desenvolvimento da energia eólica. A forma como os parques eólicos são desenvol-
vidos e geridos, bem como a forma como o público se envolve com eles, pode ser mais
importante na formação das reações do público a novos projetos do que as características
puramente físicas ou técnicas da tecnologia. Tais fatores afetam, significativamente, as
relações entre as comunidades de hospedagem, desenvolvedores e autoridades. Não
existem regras fixas para a gestão da aceitação social em questões tecnológicas, mas
a consideração adequada dessa ampla gama de questões pode ajudar promotores e
autoridades a aprender com experiências passadas e encontrar mecanismos para manter
e ampliar o engajamento público no desenvolvimento da energia eólica.
Uma vez que o negócio eólico gera renda, emprego e desenvolvimento econômico
para as cidades, principalmente durante a construção das usinas, isso é bastante positivo
para muitas cidades brasileiras, principalmente aquelas situadas na região Nordeste que
possuem os menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do país e, ao mesmo

Voltar ao sumário 27
ENERGIA EÓ LICA

tempo, a maior capacidade eólica instalada, conforme foi apresentado na Tabela 2. Várias
comunidades que vivem próximas aos parques eólicos do sertão nordestino enfrentam
problemas como falta de luz, saneamento básico e, principalmente, escassez de água.
A entrada de grandes grupos empresariais na região Nordeste, com suas políticas de
responsabilidade social e medidas compensatórias incluídas nas licenças ambientais,
está ajudando a impulsionar o desenvolvimento socioeconômico das comunidades locais
(LUCENA; LUCENA, 2019).
Parques eólicos chegam a regiões remotas do Brasil, especialmente no Nordeste,
impactando positivamente comunidades por meio de empregos diretos e indiretos e
geração de renda com os arrendamentos de terras dos pequenos proprietários, que
seguem com suas criações de animais ou plantações, já que apenas uma pequena
parcela da área é utilizada para colocação dos aerogeradores. Há também impactos
de aumento de arrecadação de impostos que, com adequado gerenciamento público,
podem significar melhorias para o município.
Diferentemente da produção hidrelétrica e de óleo e gás, a energia eólica não paga
compensação financeira aos estados e municípios. Os principais beneficiários locais são
os proprietários de terras (pequenos agricultores) que cedem parte de suas terras para
a instalação de aerogeradores em troca de uma renda mensal entre US $300 e US $500
no Brasil. No sertão pernambucano, por exemplo, os agricultores sofrem com a seca que
prejudica o cultivo da macaxeira, e tem como fonte de renda alternativa o arrendamento
de terras (LUCENA; LUCENA, 2019).
Alguns investimentos sociais das empresas eólicas estão sendo focados em diversas
ações na região Nordeste do Brasil: melhoramento genético de animais; pastagens mais
resistentes à vazante; adaptação e reforma dos barcos de pesca; reforma e impermea-
bilização de barragens; tratamento dentário; renovação de conservatórios de música,
escolas e postos de saúde; promoção de cursos de capacitação em diversas áreas (edu-
cação ambiental e eficiência energética, primeiros socorros, corte e costura, artesanato
e empreendedorismo, construção e manutenção de cisternas, hortas e pomares, etc.)
(LUCENA; LUCENA, 2019).
As tecnologias de energia eólica geram até dez vezes mais empregos por MW de
capacidade instalada do que a geração baseada em combustível fóssil ou nuclear. Por outro
lado, a operação e manutenção de parques eólicos não demandam muitos empregos;
em geral, são necessárias pequenas equipes com grau de qualificação mínimo em nível
técnico, sendo possível operar e controlar as turbinas remotamente por computadores.
Além disso, a geração de empregos nos parques eólicos brasileiros concentra-se no
período da edificação, uma vez que a baixa qualificação local, principalmente no sertão
do Nordeste, dificulta sua utilização durante a fase de operação do empreendimento.
As questões relacionadas com a educação e a formação profissional são pontos
críticos para o emprego do setor eólico em todas as áreas, e o foco é necessário devido

Voltar ao sumário 28
ENERGIA EÓ LICA

ao rápido avanço desse tipo de energia em todo o mundo. No Brasil, tem-se observado
a falta de qualificação profissional para atender às necessidades dos projetos eólicos
em suas diversas fases, desde a concepção do projeto e desenvolvimento tecnológico,
até a instalação, operação e manutenção.
Algumas iniciativas tentam diminuir essa lacuna e os empregadores estão investindo
em programas internos de treinamento. Por outro lado, instituições de ensino públicas
e privadas vêm desenvolvendo cursos específicos, em uma ampla gama de formações
disciplinares, incluindo engenharia, analistas de energia, economia e planejamento,
em diferentes níveis e modalidades de ensino, mas enfrentam desafios nesse aspecto,
visto que o número de professores atuantes na área eólica ainda é pequeno no Brasil,
e a energia eólica é uma modalidade de geração elétrica relativamente nova no país.

1.5 Regulação e normas no Brasil


O primeiro programa especificamente voltado ao desenvolvimento da energia
eólica no Brasil foi o Programa Emergencial de Energia Eólica (Proeólica), criado pela
Resolução n°24/2001 com o objetivo de contratar 1.050MW de projetos até dezembro
de 2003 (GLOBAL WIND ENERGY COUNCIL, 2011). No entanto, o programa sequer foi
regulamentado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), face a diversos obs-
táculos operacionais e burocráticos.
Em substituição ao Proeólica, foi criado o Programa de Incentivo às Fontes Alter-
nativas de Energia Elétrica (PROINFA), pela Lei n° 10.438/2002 e tinha como principal
objetivo diversificar a matriz energética brasileira através da contratação de 3.300MW
provenientes de fontes eólicas, solar, biomassa e de PCH’s (Pequenas Centrais Hidrelé-
tricas), sendo 1.100MW de cada uma destas fontes. O programa fixou preços, concedeu
garantias de compra de energia em contratos de 20 anos e ofereceu financiamentos
através do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para a
implantação de projetos. Além de incentivar o desenvolvimento das fontes renováveis
na matriz energética, o PROINFA abriu caminho para a fixação da indústria de compo-
nentes e turbinas eólicas no Brasil com exigências de componentes nacionais para os
aerogeradores frutos desse programa.
Após a promulgação do novo marco do setor elétrico (Lei n° 10.848/2004), foi
estabelecida a contratação de energia por meio de leilões de energia, tendo a fonte
eólica participado pela primeira vez no Leilão de Fontes Alternativas de 2007; porém,
sem comercialização de energia - fato que só ocorreria dois anos depois no Leilão de
Reserva de 2009.
Os leilões de fontes alternativas (LFA) foram instituídos com o objetivo de atender
ao crescimento do mercado no Ambiente Regulado e de aumentar a participação das

Voltar ao sumário 29
ENERGIA EÓ LICA

fontes renováveis na matriz energética (pelo Decreto n°6.048/2007). Além destes, a


fonte eólica também passou a participar de Leilões de Energia Nova (LEN) e Leilões de
Energia de Reserva (LER). Os LEN podem ser diferenciados em dois tipos: A-3 (três anos
para seu início) e A-5 (cinco anos para sua conclusão).
Para participar de um leilão, o empreendimento deve estar cadastrado na Empresa
de Pesquisa Energética (EPE). Uma vez habilitado, as empresas participam virtualmente
de uma plataforma da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).
Desde então, com o cadastramento de usinas eólicas nos leilões, ocorreu uma
participação crescente da fonte eólica, tanto em quantidade de projetos ofertados,
quanto em comercialização efetiva. Com isso, a participação da energia eólica na matriz
elétrica brasileira saltou de 0,2% em 2002 para 7,8% ao final de 2017, em termos de
capacidade instalada, resultado sobretudo das contratações no Ambiente Regulado. Ao
longo dos anos, foi possível perceber diversas mudanças tecnológicas, com impacto no
desempenho e nos custos dos empreendimentos.
A Figura1.9 mostra a evolução da quantidade de projetos eólicos cadastrados na
EPE, visando a participação nos Leilões de Energia do Ambiente Regulado, promovidos
pelo Ministério de Minas e Energia (MME). Nota-se que, desde 2013, houve cadastra-
mento de mais de 1.500 projetos por ano, o que demonstra o potencial da fonte eólica
e o interesse dos agentes para participação nesse mercado.
Nos leilões de energia, cabe à EPE a habilitação técnica dos projetos candidatos,
cujos dados e características técnicas são apresentados pelos empreendedores e ana-
lisados previamente a cada certame.

Figura 1.9 – Evolução da quantidade de projetos eólicos cadastrados na


Empresa de Pesquisa Energética (EPE) ao longo dos anos

Fonte: Cenários Eólica (2019).

Voltar ao sumário 30
ENERGIA EÓ LICA

Destaca-se que o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) 2026 prevê, no


cenário de referência, a expansão anual da fonte eólica da ordem de 1,8GW entre 2021
e 2026, aumentando a participação para 14% do total do Sistema Interligado Nacional
(SIN) ao final desse período.
De forma a acompanhar o amadurecimento da fonte eólica e seu desenvolvimento
tecnológico, os requisitos técnicos exigidos pela EPE evoluíram ao longo do tempo. As
medições anemométricas, por exemplo, antes dispensadas, hoje devem contar com no
mínimo 3 anos de registros de velocidade e direção do vento, para diminuir a incerteza
sobre o recurso e a geração futura (EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA, 2018).
Vale lembrar que o Programa de Desenvolvimento da Geração Distribuída de
Energia Elétrica (ProGD), criado em 2015 com foco na geração solar, também serviu para
estimular o setor de microgeração de energia eólica com a criação de linhas de crédito
e financiamentos mais favoráveis, incentivos a indústrias que fabricam componentes a
partir de fontes renováveis e a criação de créditos de energia entre consumidor-gerador
e distribuidora. Quem instalar equipamentos de geração para consumo próprio poderá
vender o excedente para a distribuidora local. Os créditos podem ser utilizados em até
cinco anos e, também, poderão ser usados para abater a fatura de outros imóveis sob
a titularidade do consumidor.
No início de 2022, o Governo Federal publicou o Decreto n° 10.946, que dispõe
sobre a cessão de uso de espaços físicos e o aproveitamento dos recursos naturais no mar
para a geração de energia elétrica a partir de empreendimentos offshore prevendo, por
exemplo, o aproveitamento de águas interiores de domínio da União, no mar territorial,
na zona econômica exclusiva e na plataforma continental. Com a definição de regras, o
mercado entende que ficam estabelecidos os critérios técnicos, as obrigatoriedades de
estudos e como os órgãos que responderão pelos empreendimentos poderão analisar,
aprovar e formalizar o avanço de cada etapa dos projetos, que possuem complexidade
maior do que os de turbinas eólicas instaladas em terra.
Este foi um avanço crucial para que o Brasil possa iniciar seu caminho na implantação
de parques eólicos offshore com segurança para o investidor, governo e sociedade. Do
ponto de vista da base regulatória, o Decreto n° 10.946/2022 é suficiente para começar o
processo de implantação, devendo o restante vir de portarias e resoluções, mas é preciso
também desenvolver infraestrutura de linhas de transmissão e portos no longo prazo.
Além de regular a cessão de uso de espaços físicos e o aproveitamento dos recursos
naturais para a geração de energia elétrica, o Decreto n°10.946/2022 também define
como tais procedimentos serão conduzidos. Há orientações sobre como e onde serão
apresentados os pedidos de cessão, e o que o agente interessado deverá fazer para a
consecução do empreendimento. De acordo com o decreto, a cessão de uso poderá ser
concedida por meio de dois procedimentos distintos:

Voltar ao sumário 31
ENERGIA EÓ LICA

• Cessão planejada, que consiste na oferta de prismas previamente delimitados


pelo Ministério de Minas e Energia (MME) a eventuais interessados;
• Cessão independente, que envolve a cessão de prismas requeridos por iniciativa
dos interessados em explorá-los.
Além disso, as regras estabelecem o descomissionamento, ou seja, a adoção de
medidas para retornar um sítio a estado próximo ao seu original, após o fim do ciclo
de vida do parque energético. Isso inclui a necessidade de remoção de componentes
básicos da central geradora offshore, tais como turbinas eólicas, fundações e peças de
transição, cabos submarinos, mastros meteorológicos, subestações offshore e elementos
terrestres de uso exclusivo do empreendimento.
Vale lembrar que o contrato de cessão de uso não gera o direito à exploração do
serviço de geração de energia elétrica pelo cessionário, pois isso depende de autorização
da ANEEL.
Dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(2022) apontam que há mais de 65 processos protocolados junto ao órgão, para obten-
ção de licença ambiental, que somam 169,4 GW, contemplando os estados de Ceará
(18 projetos), Maranhão (1 projeto), Piauí (4 projetos), Espírito Santo (4 projetos), Rio
Grande do Norte (8 projetos), Rio de Janeiro (9 projetos), Santa Catarina (1 projeto) e Rio
Grande do Sul (21 projetos). Juntos, esses projetos somam mais 11.500 aerogeradores.
O licenciamento pelo IBAMA é fundamental, pois as instalações precisam atender
a requisitos que garantam a preservação de regiões onde há biota marinha, como os
recifes naturais (necessários para a reprodução de várias espécies) e áreas costeiras (que
costumam ter uma grande riqueza de fauna e flora). Além disso, é necessário evitar as
rotas migratórias de aves e animais de grande porte, como baleias. Também contam
outras questões, como rotas de embarcações e rotas áreas para exploração de petróleo
e áreas para prática de esportes náuticos.

1.6 Tipos de sistemas eólicos


Quanto ao tipo de aplicação, os sistemas eólicos podem ser classificados em três
tipos (Figura 1.10): sistemas isolados (off-grid), sistemas interligados à rede (on-grid) e
sistemas híbridos. Os sistemas obedecem a uma configuração básica: possuem aero-
gerador e, dependendo do tipo, pode haver inversor, controlador de carga e baterias
(ALEXANDRE et al., 2019).

Voltar ao sumário 32
ENERGIA EÓ LICA

O aerogerador é o equipamento responsável pela conversão da energia cinética


do vento em energia elétrica. Os aerogeradores fornecem energia na forma de corrente
contínua (CC).
O controlador/regulador de carga é utilizado para controlar a tensão de entrada
das baterias, evitando sobrecargas ou descargas excessivas, otimizando e prolongando
a sua vida útil. O controlador de carga é usado em sistemas de pequeno porte nos quais
os aparelhos utilizados são de baixa tensão e corrente contínua (CC).
Para alimentação de equipamentos que operam com corrente alternada (CA), é
necessária a utilização de um inversor. Os inversores transformam a corrente contínua
(CC) em corrente alternada (CA), além de elevar as baixas tensões dos aerogeradores
e baterias até os 110 V, 220 V ou outra tensão utilizada por um aparelho elétrico. Um
transformador pode elevar a tensão para 13,5 kV para ser transportada por linhas de
transmissão até os centros consumidores.

Figura 1.10 – Sistemas eólicos quanto ao tipo de aplicação: (a) Isolado


(off-grid). (b) Interligado à rede (on-grid). (c) Híbrido

Fonte: A autora (2022).

1.6.1 Sistemas isolados (off-grid)

Os sistemas isolados são aqueles não conectados à rede elétrica e, em geral, são
de pequeno porte e utilizam alguma forma de armazenamento de energia. A geração
eólica, nesse caso, é feita de forma isolada, ou seja, o gerador não é conectado à rede
de energia e atende uma demanda específica. Esse sistema é muito usado em regiões
afastadas com vento, mas que possuem baixo índice de radiação solar.
A energia produzida no sistema isolado pode ser armazenada por baterias e, pos-
teriormente, ser utilizada em aparelhos elétricos. Estes sistemas armazenam a energia
do aerogerador em baterias estacionárias, que permitem consumir energia quando não
ventar, evitando que falte energia elétrica quando o aerogerador parar.
Alguns sistemas isolados não necessitam de baterias de armazenamento, como no
caso dos sistemas para irrigação,em quel toda a água bombeada é diretamente consumida,
ou quando a energia é diretamente empregada para bombear água para reservatórios.

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ENERGIA EÓ LICA

1.6.2 Sistemas interligados à rede (on-grid)

Os sistemas interligados à rede não necessitam de sistemas de armazenamento de


energia, pois toda a geração é entregue diretamente a um sistema elétrico de grande
porte.
No entanto, com o aumento da produtividade dos parques eólicos nos dias atuais,
torna-se atrativa a utilização de tecnologia de baterias para armazenamento da energia
excedente produzida para ser consumida nos períodos de low wind, quando os ventos
não são suficientes para atender a demanda de eletricidade. Ou ainda, a energia exce-
dente pode ser utilizada na eletrólise da água para produção de hidrogênio verde, um
combustível limpo cuja tecnologia vem atraindo investimentos no Brasil.
Os sistemas eólicos interligados à rede apresentam as vantagens inerentes aos
sistemas de geração distribuída, tais como: a redução de perdas, o custo evitado de
expansão de rede e a geração na hora de ponta quando o regime dos ventos coincide
com o pico da curva de carga.
Os sistemas interligados à rede se dividem em dois tipos (Figura 1.11): instalados
em terra (onshore) e instalados no mar (offshore):

Figura 1.11 – Exemplos de parques eólicos onshore e offshore

Fonte: Adaptado de Iberdrola (2022).

a) Sistemas onshore
Os parques eólicos onshore são infraestruturas encarregadas de gerar energia
elétrica a partir do vento que sopra em localizações em terra. Para isso, são projetados
e construídos vários elementos capazes de transformar primeiro a energia cinética do
vento em energia mecânica de rotação das pás, para logo convertê-la em eletricidade
apta para consumo, e finalmente integrá-la na rede de distribuição.
Os parques eólicos onshore, normalmente, são instalados em áreas rurais despo-
voadas, isoladas dos núcleos populacionais. As instalações eólicas não interrompem as
atividades agrícolas e pecuárias que podem ser desenvolvidas em torno dos parques.

Voltar ao sumário 34
ENERGIA EÓ LICA

b) Sistemas offshore
A energia eólica offshore vem despontando, nas últimas décadas, como oportunidade
e opção para os países poderem atingir os objetivos e as metas firmadas no Acordo de
Paris, em 2015, por se tratar de uma alternativa energética renovável, de baixa emissão
de gases de efeito estufa e que garante o desenvolvimento sustentável.
Geralmente, os países que usam usinas offshore não possuem uma grande extensão
territorial e as áreas com maior velocidade dos ventos ficam no mar, como é o caso do
Reino Unido, Alemanha e Coréia do Sul. Os parques offshore possuem maior custo de
construção e de conexão à rede de energia, já que são instalados longe do continente,
geralmente a pelo menos 20km da costa.
No entanto, uma turbina offshore tem um tamanho maior (e potência nominal maior,
o que significa ser mais produtiva) e menor peso (cerca de 221ton/MW, sendo 90% da
estrutura composta por aço), enquanto que uma turbina onshore tem 640ton/MW de
peso (sendo 72% de concreto e 24% de aço) (GLOBAL WIND ENERGY COUNCIL, 2022).
Atualmente, os parques eólicos offshore estão localizados em águas não muito
profundas (até 60m de calado) e afastados da costa, das rotas de tráfego marinho, das
instalações estratégicas navais e dos espaços de interesse ecológico.

1.6.3 Sistemas híbridos

São todos os sistemas que produzem energia elétrica em simultâneo com outra
fonte. Essa fonte poderá ser de origem fotovoltaica, de geradores elétricos de diesel/
biodiesel, etc. Nesses sistemas, temos o mesmo funcionamento que nos sistemas
isolados, a única diferença é que o carregamento das baterias estacionárias é feito por
mais de um gerador.
A utilização de várias formas de geração de energia elétrica aumenta a complexi-
dade do sistema e exige a otimização do uso de cada uma das fontes. Nesses casos, é
necessário realizar um controle de todas as fontes para que haja máxima eficiência e
otimização dos fluxos energéticos na entrega da energia para o usuário.
Em geral, os sistemas híbridos são empregados em sistemas de médio porte
destinados a atender um número maior de usuários. Por trabalhar com cargas em cor-
rente alternada, o sistema híbrido também necessita de um inversor. Devido à grande
complexidade de arranjos e multiplicidade de opções, a forma de otimização do sistema
torna-se um estudo particular a cada caso.

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ENERGIA EÓ LICA

1.7 Atividades
Questão 1. Quantas turbinas eólicas estão instaladas no Brasil?
a) Menos de 50.
b) Entre 100 e 1000.
c) Entre 1000 e 5000.
d) Mais de 5000.

Questão 2. Qual destas fontes de energia emite mais CO2 na sua operação?
a) Eólica.
b) Solar.
c) Biomassa.

Questão 3. No Brasil, a fonte eólica ocupa qual posição na matriz elétrica (ano
de 2022)?
a) 1ª posição.
b) 2ª posição.
c) 5ª posição.

Questão 4. O termo "eólica" vem de:


a) óleo, derivado do petróleo.
b) Éolo, deus dos ventos.
c) hélice, da rotação das pás da turbina.

Questão 5. Que país possui a maior capacidade eólica onshore instalada (ano
de 2022)?
a) Estados Unidos.
b) Alemanha.
c) China.

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ENERGIA EÓ LICA

Questão 6. Qual região do Brasil possui mais turbinas eólicas instaladas?


a) Sudeste.
b) Sul.
c) Norte.
d)Nordeste.
e) Centro-oeste.

Questão 7. O que significa o termo onshore na eólica?


a) No mar.
b) Na terra.
c) Na neve.
d) Na mata.

Questão 8. Os melhores ventos no Brasil para a geração eólica onshore estão


na região:
a) Nordeste.
b) Sul.
c) Sudeste.
d) Norte.
e) Centro-oeste.

Questão 9. Onde foi instalada a primeira turbina eólica do Brasil?


a) Rio Grande do Norte.
b) Bahia.
c) Ceará.
d) Pernambuco.

Questão 10. Quando foi instalada a primeira turbina eólica do Brasil?


a) Na década de 1980.
b) Na década de 1990.
c) Na década de 2000.

Voltar ao sumário 37
ENERGIA EÓ LICA

Questão 11. O que podemos dizer sobre o potencial eólico onshore do Brasil?
a) É praticamente infinito.
b) É insuficiente para atender a demanda do país.
c) O Brasil já usa seu potencial eólico em sua totalidade.

1.8 Leitura Complementar


• PIPE, J. Energia eólica. São Paulo: Callis Editora Ltda., 1. ed. 2016, 32p. IBERDROLA.
Funcionamento de parque eólico onshore. 2022. Disponível em: https://www.
iberdrola.com/sustentabilidade/como-funcionam-parques-eolicos-onshore.
Acesso em: 08 set. 2022.

• IBERDROLA. Funcionamento de parque eólico offshore. 2022. Disponível em:


https://www.iberdrola.com/sustentabilidade/como-funcionam-os-parques-
-eolicos-offshore.Acesso em: 08 set. 2022.

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EN E RGIA EÓLIC A

Unidade 2
O VENTO E A ENERGIA EÓLICA
ENERGIA EÓ LICA

2. O VENTO E A ENERGIA EÓLICA


A energia eólica pode ser considerada uma das formas em que se manifesta a
energia proveniente do Sol; isso porque os ventos são causados pelo aquecimento
diferenciado da atmosfera, que provoca gradientes de pressão e são responsáveis por
movimentos de massas de ar.
Essa não uniformidade no aquecimento da atmosfera deve ser creditada, entre
outros fatores, à orientação dos raios solares e aos movimentos da Terra. Estima-se que,
aproximadamente, 2% da energia solar absorvida pela Terra é convertida em energia
cinética dos ventos (PIPE, 2016).

2.1 Introdução
Vento é o movimento de camadas de ar, nas atmosferas dos planetas. Embora o ar
possa mover-se na direção vertical, a denominação “vento” é comumente aplicada apenas
ao movimento horizontal, paralelo à superfície do planeta. Como o ar tem massa (sua
densidade é de 1,2kg/m³ a 15°C e 1atm), o vento tem energia cinética. Essa energia pode
ser transformada em energia elétrica, calor ou trabalho mecânico por turbinas eólicas.
Na meteorologia, a velocidade e a direção do vento, juntamente à temperatura, a
umidade e a pressão do ar atmosférico, são as variáveis mais importantes empregadas
na descrição meteorológica da atmosfera terrestre.
O vento, como agente meteorológico, atua nas modificações das condições do
tempo, sendo responsável pelo transporte de umidade e de energia na atmosfera.
A energia dos ventos pode provocar grande destruição quando associada a eventos
como furacões e tornados. Contudo, o vento pode ser empregado como uma fonte de
energia por meio da conversão de sua energia cinética em outras formas (de energia),
especialmente eletricidade (MARTINS; GUARNIERI; PEREIRA, 2008).
Os ventos que sopram em escala global e aqueles que se manifestam em pequena
escala são influenciados por diferentes aspectos, entre os quais se destacam a altura, a
rugosidade, os obstáculos e o relevo.

Voltar ao sumário 40
ENERGIA EÓ LICA

2.2 Características gerais dos ventos


As regiões tropicais, que recebem os raios solares quase que perpendicularmente,
são mais aquecidas do que as regiões polares. Consequentemente, o ar quente que
se encontra nas baixas altitudes das regiões tropicais tende a subir, sendo substituído
por uma massa de ar mais frio que se desloca das regiões polares. O deslocamento de
massas de ar determina a formação dos ventos. Existem locais no globo terrestre nos
quais os ventos jamais cessam, pois, os mecanismos que os produzem (aquecimento no
Equador e resfriamento nos pólos) estão sempre presentes na natureza. São chamados
de ventos planetários ou constantes e podem ser classificados como:
• Ventos alísios: ventos que sopram dos trópicos para o Equador, em baixas altitudes;
• Ventos contra-alísios: ventos que sopram do Equador para os polos, em altas
altitudes;
• Ventos do Oeste: ventos que sopram dos trópicos para os polos.
Tendo em vista que o eixo da Terra está inclinado de 23,5° em relação ao plano de
sua órbita em torno do Sol, variações sazonais na distribuição de radiação recebida na
superfície da Terra resultam em variações sazonais na intensidade e duração dos ventos,
em qualquer local da superfície terrestre. Como resultado, surgem os ventos continentais
ou periódicos e compreendem as monções e as brisas.
As monções são ventos periódicos que mudam de direção a cada seis meses, apro-
ximadamente. Em geral, as monções sopram em determinada direção em uma estação
do ano e em sentido contrário em outra estação.
Quanto à intensidade, os ventos podem ser classificados de diversas formas; dentre
elas, destacam-se:
• calmaria: ocorre quando não é possível perceber a movimentação do ar. Dessa
forma, os elementos da paisagem permanecem imóveis e toda fumaça se eleva
no sentido vertical;
• vento fraco: apresenta-se de forma modesta; é possível percebê-lo através do
sentido e dos elementos da paisagem que se movem. Nesse tipo de vento, a
velocidade oscila entre 7 e 18km/h;
• vento moderado: desenvolve ventos com maior intensidade, capazes de trans-
portar poeira, folhas e alguns tipos de lixo no chão, além dos galhos das árvores.
Nesse caso, a velocidade que apresenta varia entre 19 e 35 km/h;
• vento forte: o vento desenvolve uma velocidade grande e, por isso, tem capa-
cidade de mover os galhos mais fortes das árvores, provocando, às vezes, o

Voltar ao sumário 41
ENERGIA EÓ LICA

rompimento deles. Nessa classificação, os ventos podem atingir velocidades


que variam de 36 a 44km/h;
• tempestade: ventos com grande intensidade e poder de destruição, pois pro-
movem a queda de árvores e galhos, além de destruir, em alguns casos, muros,
destelhar casas e uma série de outros incidentes. Nas tempestades, os ventos
alcançam velocidades que oscilam entre 45 e 90km/h.

2.2.1 O modelo conceitual de circulação atmosférica planetária

O modelo conceitual de circulação atmosférica planetária é chamado de modelo


de três células (Figura 2.1). Nesse modelo, a circulação em cada hemisfério é descrita
por três células meridionais de circulação, cada qual apresentando direções de vento
predominantes à superfície até 10 a 15km de altura, em que a maior parte dos fenômenos
de tempo ocorrem. Apesar de algumas limitações, ele é considerado o melhor modelo
simples da circulação global atmosférica.
Por esse modelo, como resultado da rotação da Terra, cada célula tem ventos
dominantes que lhes são associados, e, também, fluxos de jato, todos influenciados pelo
chamado efeito Coriolis1 (que muda a direção dos ventos em cada hemisfério: para a
direita no Hemisfério Norte e, para a esquerda, no Hemisfério Sul). As células tropicais
produzem ventos de sudeste no Hemisfério Sul e ventos de nordeste no Hemisfério
Norte, chamados de ventos alísios.
Neste modelo de três células, tem-se:
• Célula Tropical (também chamada de Hadley);
• Célula de Ferrel;
• Célula Polar.
A célula Tropical (célula de Hadley) ocorre nas zonas de baixas latitudes, ou seja,
nas regiões localizadas entre a linha do Equador e os trópicos de Câncer e de Capricórnio.
São as maiores células e se estendem do Equador até 30° norte e sul. São denominadas
células de Hadley, em homenagem ao meteorologista inglês George Hadley. Dentro dessas
células, os ventos alísios sopram em direção ao Equador em ambos os hemisférios. Ao
se encontrarem, convergem e ascendem como uma linha de nuvens de tempestades,
que forma a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT). Do topo dessas tempestades,
o ar flui para latitudes mais altas, onde afunda e produz regiões de alta pressão sobre
os oceanos subtropicais e os desertos quentes do mundo, como o deserto do Saara, no
norte da África (MOURA, 2019).

1 O efeito Coriolis (ou força de Coriolis) é a aceleração aparente provocada pela rotação da Terra e que
tende a desviar todo objeto, movendo-se livremente. É uma importante força que afeta o movimento do vento,
alterando sua velocidade e, principalmente, sua direção (LIMA, 2016).

Voltar ao sumário 42
ENERGIA EÓ LICA

A célula de Ferrel ocorre nas zonas de médias latitudes, caracterizando um movimento


dos ventos, que ocorrem próximos à superfície em direção aos pólos. Nas células Ferrel,
o ar converge em baixas altitudes (por volta de 60° de latitude norte e sul) e ascende
ao longo das fronteiras de ar frio polar e ar subtropical quente. A circulação dentro da
célula de Ferrel é complicada devido a um fluxo de retorno do ar em altas altitudes em
direção aos trópicos, onde se junta ar afundando da célula de Hadley. A célula de Ferrel
se move na direção oposta às outras duas células (célula de Hadley e célula Polar) e age
como uma engrenagem.

Figura 2.1 – Modelo conceitual de circulação atmosférica planetária

Fonte: Moura (2019).

A célula Polar ocorre nas zonas de altas latitudes, mais próximas aos polos. São
células menores e mais fracas, que se estendem entre 60° e 70° norte e sul, até os pólos.
O ar, nessas células, afunda nas latitudes mais altas e flui para as latitudes mais baixas
na superfície. As massas de ar oriundas das outras células, ao chegarem aos polos, ficam
carregadas de umidade e sofrem uma brusca queda de temperatura, dispersando-se,
assim, para as regiões tropicais, provocando a ocorrência de fenômenos climáticos
associados ao frio e à elevada umidade.
Vale enfatizar que os movimentos e células descritos acima são apenas um modelo
simplificado da circulação global atmosférica e correspondem às condições médias apro-
ximadamente observadas ao longo do ano e em torno do globo terrestre, indicando os
ventos de grande escala predominantes (MARTINS; GUARNIERI; PEREIRA, 2008).

Voltar ao sumário 43
ENERGIA EÓ LICA

2.3 Direção, velocidade e potencial dos ventos


A direção dos ventos é uma das características cujo estudo é de fundamental
importância, pois a partir dela pode-se determinar locais de instalação de aerogeradores
(BERUSKI et al., 2009). A direção dos ventos incidentes em um aerogerador é medida
por um dispositivo chamado biruta (wind wane).
Além da direção predominante, a velocidade média dos ventos também é de
grande interesse, pois trata-se de uma informação fundamental para verificar se uma
determinada região possui um potencial eólico satisfatório, viabilizando tecnicamente
a instalação de aerogeradores para geração de eletricidade.
A velocidade do vento experimenta variações horárias ao longo do dia, do mês, do
ano e até ao longo dos anos. No decorrer de um ano, o vento também varia; entretanto,
essa variação é sazonal e apresenta o comportamento semelhante para períodos iguais,
de anos diferentes. O comportamento sazonal é semelhante nos diferentes locais de
uma mesma região, pois estão sujeitos à mesma circulação geral da atmosfera. No Brasil,
por exemplo, o período de safra dos ventos vai de maio a novembro.
O maior problema enfrentado pela geração de energia através do movimento dos
ventos é a imprevisibilidade dessa velocidade, fazendo com que a capacidade de geração
de energia seja variável.
A identificação do potencial eólico de uma localidade é tarefa fundamental para
a escolha do terreno onde será edificado o parqu; assim, faz-se necessária a existência
de uma série temporal de observações da velocidade e direção do vento a uma altura
adequada, conforme apresentado adiante nesta Unidade 2.
O recurso eólico é identificado a partir de diferentes fontes de informação como:
medições anemométricas disponíveis, mapas eólicos, dados meteorológicos de processa-
mento de modelos numéricos de previsão de tempo e evidências naturais, apresentados
a seguir.

2.3.1 Instrumentos medidores de velocidade e direção dos ventos

Existem diferentes formas de se medir a velocidade dos ventos. Dentre os instru-


mentos mais utilizados estão: o catavento tipo Wild, os anemômetros e o anemógrafo
universal, mostrados na Figura 2.2 e descritos a seguir.

Voltar ao sumário 44
ENERGIA EÓ LICA

Figura 2.2 – Instrumentos de medição de direção e velocidade dos ventos: (a) Catavento
tipo Wild. (b) Anemômetro tipo concha. (c) Anemômetro ultrassônico. (d) Anemógrafo

Fonte: (a) Universidade Federal do Paraná (1999). (b) A autora (2022). (c) Direct Industry (2022).
(d) Fatec-Jahu (2020).

O catavento tipo Wild mede a direção e a velocidade do vento. A direção é dada


por uma haste horizontal, orientada por um par de aletas, em relação a quatro hastes
fixas que indicam os pontos cardeais. As aletas também mantêm a placa de medição da
velocidade do vento sempre perpendicular à direção do vento.
O anemômetro mede a velocidade do vento. Tal medição pode se dar de diversas
formas, dependendo da tecnologia proporcionada pelo aparelho para a aferição. Existem
diversos tipos de anemômetros, sendo os mais comuns na área eólica o de concha e o
ultrassônico.
O anemômetro tipo concha (também chamado de copos ou canecas) é o dispositivo
de medição mais simples dentre os anemômetros, oferecendo uma medida precisa da
velocidade horizontal do vento. O vento gira as conchas em volta de um ponto central,
gerando uma fraca corrente elétrica, que é calibrada em unidades de velocidade. Como ele
é mais propenso ao atrito, acaba tendo menor precisão que o anemômetro ultrassônico.
O anemômetro ultrassônico possui sensores ultrassônicos que emitem ondas e, de
acordo com a resposta encontrada pelo retorno dessas ondas, que obtêm a velocidade
do vento e até mesmo outras grandezas, como a temperatura do vento. O processo
acontece quando um pulso de som é enviado para frente e para trás de um transmissor
para um receptor, em um intervalo de algumas polegadas, para calcular a velocidade do
vento que sopra entre os dois sensores. Os anemômetros ultrassônicos são dispositivos
extremamente especializados e tendem a ser muito mais caros que os anemômetros
típicos nos tipos mais comuns, como de conchas.
Alguns anemômetros são construídos em estações meteorológicas maiores e mais
complexas, que contêm vários outros instrumentos e podem fornecer previsões do
tempo com base em uma combinação de todos os dados.
O anemógrafo é o instrumento que registra continuamente a direção (em graus),
a velocidade instantânea do vento (em m/s) e a distância total (em km) percorrida pelo
vento.

Voltar ao sumário 45
ENERGIA EÓ LICA

O catavento tipo Wild mede a direção e a velocidade do vento. A direção é dada


por uma haste horizontal, orientada por um par de aletas, em relação a quatro hastes
fixas que indicam os pontos cardeais. As aletas também mantêm a placa de medição da
velocidade do vento sempre perpendicular à direção do vento.
O anemômetro mede a velocidade do vento. Tal medição pode se dar de diversas
formas, dependendo da tecnologia proporcionada pelo aparelho para a aferição. Existem
diversos tipos de anemômetros, sendo os mais comuns na área eólica o de concha e o
ultrassônico.
O anemômetro tipo concha (também chamado de copos ou canecas) é o dispositivo
de medição mais simples dentre os anemômetros, oferecendo uma medida precisa da
velocidade horizontal do vento. O vento gira as conchas em volta de um ponto central,
gerando uma fraca corrente elétrica, que é calibrada em unidades de velocidade. Como ele
é mais propenso ao atrito, acaba tendo menor precisão que o anemômetro ultrassônico.
O anemômetro ultrassônico possui sensores ultrassônicos que emitem ondas e, de
acordo com a resposta encontrada pelo retorno dessas ondas, que obtêm a velocidade
do vento e até mesmo outras grandezas, como a temperatura do vento. O processo
acontece quando um pulso de som é enviado para frente e para trás de um transmissor
para um receptor, em um intervalo de algumas polegadas, para calcular a velocidade do
vento que sopra entre os dois sensores. Os anemômetros ultrassônicos são dispositivos
extremamente especializados e tendem a ser muito mais caros que os anemômetros
típicos nos tipos mais comuns, como de conchas.
Alguns anemômetros são construídos em estações meteorológicas maiores e mais
complexas, que contêm vários outros instrumentos e podem fornecer previsões do
tempo com base em uma combinação de todos os dados.
O anemógrafo é o instrumento que registra continuamente a direção (em graus),
a velocidade instantânea do vento (em m/s) e a distância total (em km) percorrida pelo
vento.

2.3.2 Estações anemométricas

As estações anemométricas, como mostra a Figura 2.3, servem para gerar medições
anemométricas e climatológicas de qualidade. Erros nas medições de vento no local em
estudo podem comprometer todo o empreendimento eólico.
As estações anemométricas devem estar localizadas próximas ao local onde será
instalado o parque eólico e também ajudam na análise do potencial do vento. Elas pos-
suem equipamentos capazes de medir e registrar diversos parâmetros meteorológicos
automaticamente. Ou seja, elas conseguem medir a velocidade e direção do vento na
região (entre outras características) e ajudam a estimar um possível potencial.

Voltar ao sumário 46
ENERGIA EÓ LICA

A estação é composta pela torre (tipicamente do tipo treliçada e estaiada), datalo-


gger, sistema de transmissão de dados, anemômetros (pelo menos dois anemômetros
são instalados em alturas diferentes), birutas e outros instrumentos meteorológicos
(como termômetros, barômetros e higrômetros).
Uma boa medição começa com a montagem correta da estação anemométrica e a
escolha de instrumentos de qualidade para medição da velocidade e direção do vento,
temperatura, umidade e pressão atmosférica local.
É importante lembrar que, na análise de potencial eólico para instalação de usinas
eólicas, é necessária uma medição mais precisa de pelo menos três anos da região.

Figura 2.3 – Exemplo de uma estação anemométrica

Fonte: A autora, adaptado de Empresa de Pesquisa Energética (2015).

2.3.3 Mapas eólicos

Um dos fatores que limitam investimentos em empreendimentos eólicos é a falta


de dados adequados e confiáveis. Os mapas eólicos são estudos preliminares muito úteis
para estudo do potencial eólico de uma localidade, que mostram informações sobre o
relevo, densidade de potência, massa específica do ar, altitude e velocidade estimada
de uma região.
Os atlas eólicos apresentam informações de qualidade sobre as áreas com bom
potencial eólico e suas principais características, tais como: velocidade média, direção,
regime e sazonalidade do vento, ajudando a identificar locais que possam abrigar parques
eólicos que se enquadrem dentro das melhores alternativas técnico-econômicas, com
alto grau de precisão e confiabilidade.
O potencial eólico brasileiro para aproveitamento energético tem sido objeto de
estudos e inventários desde os anos 1970, e o seu histórico revela o lento, mas progressivo,

Voltar ao sumário 47
ENERGIA EÓ LICA

descortinamento de um potencial energético natural de relevante magnitude existente


no país (CENTRO DE PESQUISAS DE ENERGIA ELÉTRICA, 2001). Com a aceleração mundial
do aproveitamento eólico em escala e a instalação dos primeiros parques eólicos no
Brasil, no final da década de 1990, iniciaram-se as primeiras medições anemométricas
específicas para estudos de viabilidade, com uso de torres de 30-50m e equipamentos
com precisão e procedimentos requeridos para a finalidade. Essas medições concen-
traram-se, inicialmente, nos Estados do Pará, Ceará, Paraná, de Santa Catarina e do Rio
Grande do Sul.
Conforme apresentado na Unidade 1 (item 1.3), a publicação do Atlas do Potencial
Eólico Brasileiro em 2001 estimou o potencial eólico do país em 143GW, com base em
velocidades médias de vento iguais ou superiores a 7m/s e torres de 50m de altura, sufi-
cientes para tecnologias de turbinas eólicas daquela época. Sem dúvida, aquele Atlas foi
um marco importante para o desenvolvimento do setor eólico no Brasil. Mais tarde, em
2013, novas simulações foram realizadas (CENTRO DE PESQUISAS DE ENERGIA ELÉTRICA,
2017), considerando ventos em alturas de 30m até 200m, e com isso, o potencial eólico
do Brasil foi atualizado, estimado em 880GW, sendo 522GW tecnicamente viáveis.
O atlas eólico da Figura 2.4 mostra as áreas com bom potencial eólico no Brasil,
permitindo identificar as regiões Sul e Nordeste como áreas de bons ventos para geração
de energia eólica.

Figura 2.4 – Atlas eólico para o território brasileiro e alguns países da América do Sul, para
velocidades de vento em alturas de 100m, 150m e 200m

Fonte: Adaptado de Global Wind Atlas (2022).

2.3.4 Comportamento probabilístico dos ventos

Para se estimar o comportamento dos ventos em determinada região, também se


utiliza o tratamento estatístico dos dados obtidos, cujas técnicas têm sido amplamente
aplicadas no Brasil e em vários outros países.

Voltar ao sumário 48
ENERGIA EÓ LICA

A partir de medições de direção e velocidade dos ventos pelas estações anemo-


métricas, constrói-se um histograma da distribuição de frequência dos dados de ventos
(isto é, velocidade dos ventos versus número de ocorrências em determinado período).
A distribuição da velocidade do vento ajustada ao histograma pode ser descrita por uma
distribuição de Weibull.
Outra variável importante para o projeto de parques eólicos é a direção predomi-
nante do vento. Normalmente, as direções são divididas em setores, por exemplo, de
22,5º, a partir dos quais se determina a rosa dos ventos.
A previsão de vento para fins de geração eólica para qualquer localidade pode
ser realizada com o uso de dados disponibilizados por modelos numéricos regionais
ou globais (MARTINS; GUARNIERI; PEREIRA, 2008). Nos últimos anos, com o avanço
tecnológico, a disponibilidade do recurso eólico tornou-se bastante acessível, através
de empresas que desenvolveram e oferecem serviços pela internet, em que se pode
adquirir séries temporais históricas, em formatos que podem ser utilizados por softwares
de engenharia (LIMA, 2016).
A maioria dos estudos relacionados à potência dos ventos se concentra no problema
do ajuste de distribuições estatísticas aos dados de velocidade do vento. Os resultados
desses estudos também indicam a distribuição de probabilidade de Weibull como a que
melhor se ajusta a esses dados (SANSIGOLO, 2005).
Apesar de todos os avanços e desenvolvimentos recentes dos modelos numéricos
de previsão de tempo e clima, os resultados atuais ainda possuem um razoável grau
de imprecisão e incertezas (CENTRO DE PESQUISAS DE ENERGIA ELÉTRICA, 2017), uma
vez que os modelos numéricos (como o modelo Brams) representam uma simplificação
de um sistema real e que as imperfeições da modelagem ocorrem do conhecimento
incompleto dos processos físicos, da formulação matemática simplificada dos processos
modelados, assim como dos processos que ocorrem em escalas que não podem ser
representados na solução numérica adotada.
Por esses motivos, faz-se necessário ajustar/calibrar os resultados dos modelos
numéricos tornando-os, assim, uma base de dados mais coerente com as condições
observadas em campo e, consequentemente, um produto de melhor resultado para os
usuários finais.
A análise estatística do vento constitui parte fundamental do projeto de geração
eólica, e as condições normais representam o regime de ventos que ocorrerão normal-
mente durante a operação da turbina. As condições normais necessitam do seguinte
conjunto de informações sobre o vento:
• distribuição de probabilidade da velocidade e direção do vento;
• perfil da velocidade do vento com a altura;
• turbulência do vento.

Voltar ao sumário 49
ENERGIA EÓ LICA

Mesmo que uma área apresente um recurso eólico que seja interessante do ponto
de vista energético, restrições locais podem inviabilizar seu aproveitamento. Entre eles se
destacam: tipo de terreno, logística e infraestrutura. Certos locais dificultam a instalação
de parques eólicos, como aqueles localizados em terrenos considerados complexos,
assim chamados por apresentar regiões muito íngremes. Esse tipo de terreno interfere
sensivelmente no escoamento do vento, dificultando sua modelagem em softwares de
engenharia, que podem resultar em consequências catastróficas para o projeto (LIMA,
2016).

2.4 O Terreno e o vento


A localização do parque eólico é um dos fatores mais importantes a serem conside-
rados antes da instalação das turbinas eólicas. O parque pode estar numa área ventosa,
mas o local pode estar rodeado de obstáculos, como árvores, casas ou até mesmo
comunidades residindo próximo ao terreno. Estas condicionantes podem ter um efeito
indesejado e não apenas sobre o aumento das turbulências de vento, mas também na
própria velocidade do vento que poderia ser fortemente reduzida.
Assim, as características topográficas de uma região influenciam o comportamento
dos ventos, uma vez que, em uma determinada área, podem ocorrer diferenças de
velocidade ocasionando a redução ou aceleração na velocidade vento. A velocidade do
vento pode variar significativamente em curtas distâncias (centenas de metros).
Para qualquer fluido em movimento, a velocidade do fluxo aumenta à medida
em que este se afasta das superfícies que o delimitam. Portanto, a velocidade do vento
aumenta com a altura em relação à superfície da Terra de forma dependente da rugosi-
dade do terreno. Em terrenos planos (baixa rugosidade), esta variação é muito menos
significativa do que em terrenos irregulares (alta rugosidade), sendo as áreas urbanas
classificadas nesta segunda categoria. Por isso, as turbinas eólicas são geralmente ins-
taladas em torres elevadas, nas quais as velocidades são significativamente maiores do
que na superfície.
Dessa forma, os procedimentos para avaliar o local no qual se deseja instalar
aerogeradores devem levar em consideração os parâmetros regionais que influenciam
nas condições do vento (BARROS, 2017), como:
• variação da velocidade com a altura;
• rugosidade do terreno, caracterizada pela vegetação, utilização da terra e
construções;
• presença de obstáculos nas redondezas, como construções, casas, morros;

Voltar ao sumário 50
ENERGIA EÓ LICA

• relevo, que pode causar efeito de aceleração ou desaceleração no escoamento


do ar.
Além das variações topográficas e também de rugosidade do solo, a velocidade
também varia seu comportamento com a altura da turbina eólica. Quanto maior a altura
do centro dela e quanto melhor estiver localizada, menor será a turbulência no vento e
o fluxo de vento será mais constante.
Outra questão local importante está relacionada às questões de logística e infra-
estrutura. Equipamentos pesados (e, no caso das pás, muito compridas) devem ser
deslocados para o local escolhido, muitas vezes, obrigando a abertura ou ampliação de
acessos e estradas. O acesso à rede elétrica é outro fator a ser considerado, pois é de
responsabilidade do empreendedor. Assim, esses fatores de logística e acessos podem
impactar financeira e/ou ambientalmente, podendo inviabilizar o empreendimento
(LIMA, 2016).
Construções isoladas (casas, silos, galpões) e árvores grandes podem ter influência
significativa sobre os ventos locais. O grau de turbulência depende da permeabilidade
do obstáculo, como no caso das árvores, e no ângulo de ataque do vento ao obstáculo.
Esses obstáculos devem ser detalhadamente documentados e considerados no projeto.
Em média, gera-se 10MW de potência eólica por km2 do terreno (LIRA et al., 2017).
Embora a área de instalação seja grande, o solo efetivamente ocupado é muito pequeno
(em torno de 3%).
A existência de áreas de preservação permanentes, reservas indígenas, quilombolas,
por exemplo, podem impedir a construção de parques eólicos. Esse impedimento não
ocorre apenas pela instalação do parque, mas também pelo impacto que causará durante
a fase de construção, sobretudo se estradas, acessos e linhas de transmissão tiverem
que ser construídos e/ou ampliados nesses locais. Nível de ruído e rotas de migração
de pássaros são outros fatores que devem ser considerados, conforme discutido na
Unidade 1.
Investigação do solo é outra questão não menos importante, uma vez que toneladas
em fundação e equipamentos são erguidos numa área muito pequena. Em determinadas
regiões do Nordeste brasileiro, há ocorrência de cavernas subterrâneas, que podem
tragar todo o conjunto do aerogerador. Dessa forma, uma consulta preliminar ao órgão
ambiental responsável pela região é recomendável para se avaliar essas questões.
Portanto, ao procurar um bom local para instalar turbinas eólicas, muitos fatores
diferentes devem ser considerados. Como visto, o fator mais importante é o recurso eólico,
uma vez que as condições locais, como morros e montanhas, edificações e vegetação,
influenciam o vento e devem ser consideradas em um cálculo mais detalhado de quanta
energia os aerogeradores serão capazes de produzir no local.

Voltar ao sumário 51
ENERGIA EÓ LICA

A região Nordeste tem abrigado os parques eólicos mais produtivos do Brasil,


como visto na Tabela 2.2 da Unidade 1, sendo o principal foco dos investidores do setor
por concentrar os ventos alísios do Atlântico Sul, que são fortes, estáveis e favoráveis à
geração de energia no país.

2.5 Energia e potência do vento


Ao se considerar o cilindro imaginário representado pela Figura 2.5, com um fluxo
de ar de massa m, movendo-se à velocidade V perpendicular à seção transversal A, a
energia cinética E desse fluxo de ar passando pela área de seção transversal A é dada
pela Equação 2.1:

[2.1]

A potência P disponível no vento é definida como a derivada da energia no tempo,


dada pela Equação 2.2:

[2.2]

onde:
P: Potência disponível no vento [W];
dE/dt: Fluxo de energia no tempo [J/s];
Fluxo de massa de ar [kg/s];
V: Velocidade do vento [m/s];
ρ: Densidade do ar [kg/m³];
A: Área da seção transversal [m²].

Voltar ao sumário 52
ENERGIA EÓ LICA

Figura 2.5 – Representação esquemática de fluxo de ar de massa m,


movendo-se a uma velocidade V, em um cilindro de seção transversal A

Fonte: A autora (2022).

Pela Equação 2.2 verifica-se, portanto, uma relação direta entre a potência disponí-
vel no vento e a densidade do ar. Ela , por sua vez, varia com a temperatura e a pressão
atmosférica (de acordo com a equação de estado dos gases perfeitos). Como a altitude
do local afeta a temperatura ambiente e a pressão atmosférica, a densidade do ar é
dependente dessas variáveis. Pela Equação 2.2 também é possível inferir que a potência
que pode ser extraída do vento é diretamente proporcional ao cubo da velocidade. Como
a velocidade do vento varia ao longo do dia, do mês, do ano e até mesmo ao longo dos
anos, a variação do vento no tempo é a principal característica a ser determinada e,
consequentemente, da energia eólica que poderá ser extraída pelo aerogerador.
Essas variações são muito importantes e não são determinísticas. O estudo é feito
por análise probabilística (conforme apresentado anteriormente nesta Unidade 2),
pois apresenta uma característica estocástica e sua velocidade é uma variável aleatória
contínua.

Voltar ao sumário 53
ENERGIA EÓ LICA

2.6 Atividades
Questão 1. O período de "safra dos ventos" no Brasil vai de…
a) outubro a fevereiro.
b) março a agosto.
c) junho a novembro.
d) janeiro a julho.

Questão 2. A instalação de usinas de energia eólica requer um conjunto de


características geográficas, entre elas a:
a) ocorrência de chuvas frequentes.
b) frequência constante de ventos.
c) incidência elevada de radiação.
d) abundância de chuvas no verão.
e) existência de relevos irregulares.

Questão 3. O vento é o movimento do ar em


relação à superfície terrestre. Ele se deve à existência
de gradientes de pressão atmosférica, e sua distri-
buição é representada pelas isóbaras (linhas com o
mesmo valor de pressão atmosférica). O vento também
sofre influências do movimento de rotação da Terra,
podendo-se destacar, entre outras, a força de desvio
conhecida por efeito Coriolis. Esse efeito atua sobre os
ventos, deslocando sua trajetória ao longo das isóbaras,
conforme os hemisférios do planeta.

Com base no texto acima e em seus conheci-


mentos, em relação aos centros de alta pressão (A),
pode-se representar corretamente a circulação dos
ventos nos Hemisférios Sul (HS) e Norte (HN), conforme
o esquema indicado em:

Voltar ao sumário 54
ENERGIA EÓ LICA

Questão 4. Nas turbinas eólicas, é comum ver o instrumento da figura abaixo,


que é muito simples usado para fornecer informações relativas à direção do vento. O
nome do instrumento mostrado na figura é:
a) catavento.
b) barômetro.
c) anemômetro.
d) biruta.

Questão 5. Com que aparelho se determina a velocidade dos ventos?


a) anemômetro.
b) barômetro.
c) higrômetro.
d) biruta.

2.7 Leitura Complementar


• EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA (EPE). Instalação de Estações Anemomé-
tricas: Boas práticas. 2015. Disponível em: https://www.epe.gov.br/sites-pt/
publicacoes-dados-abertos/publicacoes/PublicacoesArquivos/publicacao-236f.
Acesso em: 07 set. 2022.

• LIMA, J. M. Modelo Meteorológico-Estocástico para Previsão da Geração de


Energia Eólica. Tese (Doutorado em Engenharia), Programa de Pós-Graduação
em Engenharia de Recursos Hídricos e Ambiental, Universidade Federal do
Paraná 2016, 197f. Disponível em: https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/
handle/1884/48191/R%20-%20T%20-%20JOAO%20MARCOS%20LIMA.pdf?-
sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 20 set. 2022.

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EN E RGIA EÓLIC A

Unidade 3
TURBINAS EÓLICAS
ENERGIA EÓ LICA

3.1TURBINAS
3. Introdução
EÓLICAS

Foi apresentado, nas unidades anteriores, que a energia dos ventos pode ser
usada para gerar energia mecânica ou eletricidade. A energia mecânica pode ser usada
para tarefas específicas (como moer grãos ou bombear água), em que as máquinas são
chamadas de moinhos de vento, moinhos eólicos ou cataventos. Mas, para converter a
energia dos ventos em eletricidade, são utilizadas torres de energia eólica, os chamados
aerogeradores, turbinas eólicas ou geradores eólicos.
Existem diferentes tipos de geradores eólicos, mas todos utilizam a mesma estrutura
básica e componentes para funcionar. Nesta Unidade, serão apresentados os compo-
nentes de uma turbina eólica e suas funções, bem como o processo de conversão de
energia dos ventos em eletricidade.

3.2 Classificações e tipos de turbinas eólicas


Atualmente, existem inúmeras turbinas eólicas disponíveis comercialmente, com
geometrias e dimensões variáveis. Elas s podem ser classificadas em função de vários
aspectos, como porte (em função da potência que é capaz de gerar), número de pás,
direção do eixo de rotação das pás, velocidade de rotação etc., como apresentado a seguir.
Quanto ao porte, as turbinas eólicas podem ser classificadas em: pequeno porte
(até 50kW), médio porte (de 50kW até 1.000kW) e grande porte (acima de 1.000kW).
Quanto ao número de pás, as turbinas podem ter duas, três ou múltiplas pás. Pode-
-se fabricar as pás em uma variedade de formas e designs, mas as turbinas de grande
porte normalmente têm uma configuração padrão de três pás em um eixo horizontal,
e usam-se pás grandes e anguladas para capturar o vento, alcançando uma boa relação
entre desempenho operacional, peso da estrutura e custos (fabricação, instalação e
operação).
Outro fator importante que contribui para a utilização de um baixo número de
pás é o alto custo deste componente. Os rotores com uma e duas pás, embora tendo
a vantagem de diminuir os custos da turbina, têm um projeto do rotor mais complexo
para evitar os esforços mecânicos causados pela rotação das pás na torre (MARQUES,
2004). Além disso, os rotores com uma e duas pás também apresentam problemas de
ruído, devido à necessidade de uma maior velocidade rotacional para produzir a mesma
quantidade de potência que um rotor de três pás. Por outro lado, os rotores com três
pás possuem uma distribuição mais balanceada do peso sobre a área de varredura do
rotor. Dessa forma, são dinamicamente mais estáveis. Como consequência, as turbinas

Voltar ao sumário 57
ENERGIA EÓ LICA

de três pás são certamente eficientes e funcionam bem em baixas rotações, o que resulta
na produção de menos ruído e um aumento significativo de sua vida útil.
Quanto à forma de interação do vento com o perfil aerodinâmico das pás, as tur-
binas eólicas podem ser de arrasto (ou arraste) ou de sustentação.
As turbinas de arraste utilizam a força de arraste (que atua sobre uma área per-
pendicular à direção do vento), ou seja, são turbinas em que o vento empurra as pás,
forçando o rotor a girar. Ou seja, o vento, fluindo sobre as pás, provocará o surgimento
de uma força de arraste. Nas turbinas de arraste, a velocidade das pás não pode ser
maior que a velocidade do vento, o que limita sua eficiência; por isso são frequente-
mente usadas para bombear pequenos volumes d’água com ventos de baixa velocidade.
Apresentam potências em torno de 0,5 kW para um rotor com diâmetro da ordem de
5 m (LIMA, 2016).
Já as turbinas de sustentação utilizam pás com perfil aerodinâmico, cuja força
resultante da interação do vento com o rotor não possui somente a componente de
arraste na mesma direção da velocidade relativa (que é a soma vetorial da velocidade
do vento e a velocidade das pás), mas também uma componente perpendicular à velo-
cidade relativa, denominada de força de sustentação. As turbinas de sustentação usam
pás com geometria que se assemelham a asas de aviões, e por possuírem alta velocidade
e baixo torque, são mais adequadas para geração de eletricidade. Por isso, são as mais
empregadas em parques eólicos atualmente.
Quanto ao eixo de rotação, as turbinas podem ser classificadas em horizontais ou
verticais. As turbinas eólicas com rotor de eixo vertical (Figura 17) são mais seguras,
fáceis de construir, podem ser montadas mais próximas do solo e lidam muito melhor
com condições de turbulência. O tamanho delas facilita as operações de manutenção, e
possuem uma velocidade de arranque menor em relação às turbinas de eixo horizontal,
o que traz vantagens no caso de baixa velocidade dos ventos.
As turbinas verticais são indicadas para áreas urbanas, por serem mais silenciosas e
pelo fato de conseguirem captar o vento em qualquer direção. Por outro lado, por serem
mais baixas, as turbinas verticais são menos eficientes do que as de eixo horizontal. Isso
porque a intensidade do vento próximo ao solo é menor, além de geralmente serem
mais caras.
Turbinas pequenas de eixo vertical costumam ser a melhor opção para residências
e prédios em centros urbanos porque são pequenas; produzem baixo nível de ruído; têm
custo de manutenção acessível; podem produzir eletricidade em condições adversas e
são fáceis de serem instaladas e operadas.
A turbina vertical do tipo Savonius (Figura 3.1a) foi desenvolvida e patenteada
por Sigurd J. Savonius, em meados de 1929 na Finlândia. Esse rotor atua sob as forças
de arrasto, predominantemente, mas existe contribuição da força de sustentação, as
quais proporcionam a rotação da turbina. É por causa deste mecanismo (combinação

Voltar ao sumário 58
ENERGIA EÓ LICA

das forças de arrasto e sustentação) que uma Savonius é capaz de desenvolver alto
torque de partida mesmo sob baixas velocidades de vento, acarretando baixo custo de
implantação e reduzindo o impacto ambiental, sendo por isso utilizadas basicamente
para moer grãos e bombear água.
A turbina Darrieus (Figura 3.1b) foi desenvolvida por volta da década de 1920
pelo francês G.J.M Darrieus. A principal força motriz dessas turbinas são as forças de
sustentação. As turbinas do tipo Darrieus possuem rendimentos superiores às Savonius
e, basicamente, constituem-se de pás curvas ou retas ou helicoidais (duas ou três) de
perfil aerodinâmico atadas pelas extremidades e pelo eixo vertical, criando sustentação
para se movimentar e gerar energia elétrica. Esses rotores podem atingir alta velocidade,
com um torque de partida aproximadamente nulo.

Figura 17 – Exemplos de diferentes turbinas eólicas de eixo vertical para


geração de eletricidade: (a) Savonius. (b) Darrieus. (c) Giromill. (d) Gorlov.

Fonte: Canva for Education (2022).

A turbina vertical do tipo Giromill (Figura 3.1c) é do tipo sustentação, apresentando


duas a cinco pás retas de perfil aerodinâmico, orientadas verticalmente. Seus componentes
apresentam boa resistência mecânica, devido aos esforços aos quais são submetidos, e
trabalham melhor quando sujeitos a condições de escoamento turbulento. As turbinas
verticais do tipo Gorlov (Figura 3.1d) são um modelo mais novo, com pás helicoidais,
sendo uma evolução das turbinas Giromill.
As turbinas eólicas de eixo horizontal (Figura 3.2) são compostas por conjuntos de
duas, três ou múltiplas pás. São as mais utilizadas pelo seu alto rendimento aerodinâ-
mico, bem superior ao das turbinas de eixo vertical, compensando seu custo elevado,
além de serem utilizadas na produção de eletricidade em grande escala. As turbinas de

Voltar ao sumário 59
ENERGIA EÓ LICA

eixo horizontal podem ainda ser classificadas, baseadas na posição do rotor em relação
à torre, em upwind e downwind. Nas turbinas downwind, o vento incide na área de
varredura do rotor por trás da turbina eólica. Nas turbinas upwind, o vento incide na
área de varredura do rotor pela frente da turbina.

Figura 3.2 – Exemplos de turbinas eólicas de eixo horizontal para


geração de eletricidade, com duas e três pás

Fonte: Canva for Education (2022).

Teoricamente, cada terreno necessita de um projeto especial de turbina eólica para


otimizar o aproveitamento da energia do vento local. Contudo, o projeto e construção
de turbinas personalizadas se tornaria economicamente inviável. Por isso, os fabricantes
de aerogeradores utilizam projetos modulados que consigam atender às especificidades
de cada projeto eólico.
Assim, a norma da IEC (sigla em inglês para Comissão Eletrotécnica Internacional)
n° 61400-1:2005, foi criada para tratar dos requisitos de projetos desses equipamentos e
apresenta o conceito de classes de turbinas, visando garantir a integridade das turbinas
no sentido da engenharia do processo, ou seja, que os equipamentos implantados nos
parques eólicos estejam dentro das normas de operação e segurança para as condições
encontradas.
A norma da IEC utiliza a velocidade de referência do vento como parâmetro base
para definir as classes de aerogeradores. Esse valor é calculado como a máxima velocidade
medida em 10 minutos com período de recorrência de 50 anos. A norma estabelece que
a distribuição de probabilidade da velocidade média móvel de 10 minutos do vento se
aproxima de uma distribuição de Rayleigh na altura do Hub. Outra variável é a intensidade
de turbulência encontrada no equipamento.

Voltar ao sumário 60
ENERGIA EÓ LICA

Portanto, a intensidade e a turbulência do vento no local da instalação são os


parâmetros utilizados para definir as quatroclasses de aerogeradores pela IEC (Tabela
3.1), pois dizem respeito aos principais esforços aos quais o aerogerador será submetido.

Tabela 3.1 – Classes dos aerogeradores, segundo a norma internacional IEC


61400-1:2005

Velocidade de Velocidade média Velocidade extrema


Classe
referência anual em até 50 anos

Classe-I 50 m/s 10 m/s 70 m/s

Classe-II 42,5 m/s 8,5 m/s 59,5 m/s

Classe-III 37,5 m/s 7,5 m/s 52,5 m/s

Classe-S Valores definidos pelo fabricante/ projetista do aerogerador

Fonte: Adaptado de Windbox (2020).

Levando em consideração o regime de ventos no Brasil, em regiões montanhosas


a velocidade média do vento durante o ano ultrapassa os 11m/s, ao mesmo tempo em
que em regiões de campo aberto ela não passa dos 7m/s. Analisar isso, portanto, permite
ao empreendedor fazer as escolhas que possibilitam produzir eletricidade durante um
tempo maior, sem ser necessário parar o equipamento. Isso porque existem controladores
que, caso sejam detectadas velocidades maiores que a nominal (velocidade na qual o
equipamento atinge a potência nominal ou de convergência), irão provocar uma rotação
das pás do aerogerador, causando uma redução das forças aerodinâmicas atuantes no
perfil da pá e provocando, consequentemente, redução na extração da potência dos
ventos. Esse assunto será abordado com mais detalhes na Unidade 4.

3.3 Componentes de uma turbina eólica


Embora pareça bastante simples, uma turbina eólica é um sistema complexo, no
qual conhecimentos em diversas áreas (aerodinâmica, mecânica, eletromagnetismo e
engenharia de controle) são necessários.
A energia eólica tem a maior participação no mercado de energias renováveis no
mundo. Mas, o planejamento e construção de parques eólicos representam uma decisão
complexa, afetada por diferentes aspectos técnicos, econômicos, ambientais e sociais. As
tecnologias de produção de energia eólica envolvem uma força de trabalho altamente
qualificada e uma modernização da base da indústria local.
A fabricação de aerogeradores é definida como um sistema de produção por projeto,
uma vez que trabalha com itens discretos e customizados, com baixos níveis de estoque,

Voltar ao sumário 61
ENERGIA EÓ LICA

baixo volume e alta variedade de produtos, alta flexibilidade, alta especialização de mão
de obra, baixo nível de automação e maior dificuldade no planejamento, programação
e controle da produção, diferentemente do sistema de produção contínua, como é o
caso do processo de refino de petróleo (LUCENA, 2021).
Turbinas eólicas são atualmente compostas por diversos componentes e sistemas,
conforme ilustrado na Figura 3.3: pás do rotor, gerador, controles eletrônicos (sensores,
atuadores, sistemas de hardware e software), sistema de transmissão (controle de passo,
cubo, montagem, eixo principal, rolamentos e caixa multiplicadora), fundação, torre,
sistema elétrico (cabos de alimentação, proteção contra raios, conversor e transforma-
dor), freio e sistema de guinada.
A nacele da turbina eólica é uma cabine que abriga todos os componentes da
turbina, por isso é a parte mais pesada do aerogerador, podendo chegar a mais de 100
toneladas em algumas máquinas. Dentro da nacele, encontram-se os seguintes com-
ponentes: controladores e inversores, plataforma de serviços, sistema de aquecimento
de ar, gerador, motores de posicionamento da nacele, luva de acoplamento, sistema de
freios, plataforma da nacele, caixa multiplicadora, sistema hidráulico, sistema de trava do
rotor, aquecedor de óleo e eixo principal. A parte externa da nacele da turbina eólica é
uma estrutura tipo cabine que protege todos os componentes da parte interna, podendo
ser feita de fibra de vidro. Um dos principais problemas que atingem essa estrutura é o
dano na sua vedação hermética. Isso pode trazer consequências, como a corrosão das
partes internas, que acabam ficando mais expostas (LUCENA, 2021).
As pás e o cubo (peça que conecta as pás ao eixo de baixa velocidade de rotação)
são chamados de rotor. O rotor transfere a energia cinética do vento para um eixo gira-
tório que aciona um gerador para produzir energia elétrica.
O gerador elétrico é o equipamento que faz a conversão da energia de rotação do
eixo do rotor em energia elétrica. Possui um campo magnético, que é criado por ímãs
permanentes ou eletroímãs feitos de materiais de terras raras. O uso de geradores de
indução com rotor gaiola em turbinas eólicas é amplamente aceito. Isso se deve ao fato de
que essas máquinas são simples, têm elevada razão potência/volume e requerem pouca
manutenção devido à ausência de escovas. Por isso, podem oferecer uma vantagem de
custo significativo sobre outros tipos de geradores (LUCENA, 2021).
No entanto, comumente, o gerador de indução é controlado por conversores de
potência, que aumentam o custo do sistema. Além disso, uma desvantagem comum
de máquinas de indução com rotor em gaiola de esquilo é o baixo fator de potência,
sobretudo, quando operam com baixos valores de escorregamento (diferença entre a
velocidade no eixo do rotor e a velocidade do campo girante magnético) (NASCIMENTO
et al., 2014).
As torres podem ser feitas de aço tubular, de treliças ou de concreto. Como a velo-
cidade do vento aumenta com a altura, as torres são altas para capturar mais energia.

Voltar ao sumário 62
ENERGIA EÓ LICA

A maioria dos aerogeradores de grande porte possuem torres de aço cônicas e são de
eixo horizontal devido a sua maior eficiência na produção de energia.
A caixa multiplicadora de velocidades (também chamada de caixa de transmissão,
ou de engrenagens) tem por princípio elevar a velocidade de rotação de um eixo ao passo
que reduz o torque mecânico nesse eixo. É composta por eixos, mancais, engrenagens
de transmissão e acoplamentos. O projeto tradicional de uma turbina eólica consiste
em colocar a caixa multiplicadora entre o rotor e o gerador de forma a adaptar a baixa
velocidade do rotor à velocidade de rotação mais elevada dos geradores convencionais.
Mais recentemente, alguns fabricantes desenvolveram com sucesso aerogeradores sem
a caixa multiplicadora e abandonaram a forma tradicional de montar turbinas eólicas.
Assim, ao invés de utilizar a caixa de engrenagens com alta relação de transmissão,
necessária para elevar a rotação dos geradores, utilizam-se geradores múltiplos de baixa
velocidade e grandes dimensões (LUCENA, 2021).
As turbinas também possuem um mecanismo de orientação direcional (yaw drive,
chamado de sistema de guinada ou controle de giro) para manter o rotor de frente para
o vento quando o vento mudar de direção.

Figura 3.3 – Representação esquemática dos componentes de uma turbina eólica

Fonte: Lucena (2021).

Voltar ao sumário 63
ENERGIA EÓ LICA

Mesmo que as naceles na maioria das turbinas de eixo horizontal sejam controladas
para capturar o vento da forma mais eficiente possível, o rotor pode ser danificado em
condições de tempestade e ventos de velocidade extremamente alta. É por isso que as
pás atacam o vento ortogonalmente para evitar que girem fora de controle.
Os freios a disco podem ser do tipo mecânico, elétrico ou hidráulico e são usados
para impedir que as pás rotacionem muito rápido, como um sistema auxiliar para a
turbina em condições adversas de operação.
O controlador é utilizado para a partida e/ou desligamento da turbina, através do
monitoramento de todas as partes da turbina.
As fundações são estruturas de concreto armado para enraizar firmemente as
turbinas no solo a fim de suportarem ventos fortes e condições ambientais adversas.
Os mancais são peças essenciais para o bom funcionamento de grandes aerogera-
dores e incluem: mancais principais, mancais de geradores, mancais de pás, mancais de
caixa de engrenagens e mancais de guinada. Considerando que as cargas e velocidades
de rotação dos mancais dos aerogeradores mudam consideravelmente devido aos fluxos
dinâmicos do vento, em caso de condições extremas de operação, os mancais sofrerão
cargas excessivas e poderão ser potencialmente danificados (LUCENA, 2021).
Os rolamentos das pás são componentes das turbinas eólicas que conectam o cubo
do rotor e a pá do rotor; eles podem inclinar lentamente as pás nos ângulos desejados
para controlar as cargas e a potência da turbina eólica e, assim, otimizar a produção de
energia elétrica. A falha dos rolamentos da pá pode reduzir drasticamente a produção de
energia, portanto, o diagnóstico de falha do rolamento da pá é extremamente importante
para evitar custos de reparo e falhas inesperadas (LUCENA, 2021).
As principais dificuldades no diagnóstico de rolamentos de pás de baixa velocidade
são os fracos sinais de vibração de falha que são mascarados por muitos distúrbios de
ruído e os dados limitados de vibração efetiva.
O sistema de pitch traz a pá para a posição desejada adaptando o ângulo de ataque
aerodinâmico (como será apresentado adiante) e também é usado para o sistema de
frenagem de emergência da turbina. A rede neural tem sido utilizada para melhorar os
parâmetros do controlador do ângulo de passo em aerogeradores de passo variável,
uma vez que este ajuste afeta a velocidade do rotor e as cargas mecânicas nas pás.
Mecanismos tradicionais de controle de pitch coletivo só podem lidar com distúrbios
simétricos. Por outro lado, o advento do controle de passo individual oferece novas opor-
tunidades para compensar cargas assimétricas ou periódicas nas pás. No entanto, como
a dinâmica da turbina eólica é altamente não linear e existem incertezas significativas

Voltar ao sumário 64
ENERGIA EÓ LICA

na modelagem, o complicado acoplamento dinâmico entre os componentes da turbina


deve ser considerado. A mitigação de carga periódica significativa, bem como o alívio
da fadiga em campos de vento de velocidade variável são alcançados por uma estrutura
de controle de pitch individual robusto multivariável.

3.3.1 Evolução tecnológica das turbinas eólicas

Em termos de evolução tecnológica das máquinas eólicas, o aumento do tamanho


das turbinas nos últimos anos tem desempenhado um papel importante na maior geração
de energia. Conforme mostrado na Figura 4, nas décadas de 1980 e 1990 o diâmetro
do rotor tinha cerca de 15-40m de comprimento, produzindo 50-100kW. De 2010 até
os dias atuais, houve um crescimento considerável no tamanho dos aerogeradores,
atingindo a marca de 14MW de potência nominal e 222m de diâmetro de rotor para
projetos offshore já desenvolvidos comercialmente.
O aumento do tamanho médio das pás tem sido o principal determinante da área
varrida de um aerogerador, ou seja, aerogeradores mais eficientes captam mais ener-
gia por unidade aerogeradora e proporcionam uma redução substancial nos custos de
energia eólica, mesmo em áreas com menor velocidade do vento.
Desde 2009, a área média varrida de uma turbina dobrou devido a pás 20% mais
longas e a eficiência altamente aprimorada das turbinas levou a uma redução de 50%
no custo da energia eólica nos mercados atacadistas (LUCENA, 2021).
Além disso, à medida que o tamanho do rotor aumenta em relação à potência do
gerador, a turbina terá uma velocidade de vento nominal mais baixa e operará com mais
frequência na potência máxima.
O aumento da altura do cubo das turbinas eólicas reduz a influência do atrito da
superfície, permitindo que elas operem em regimes de recursos de maior qualidade,
onde as velocidades do vento são mais altas, com um efeito composto na produção de
energia.
Certamente, turbinas eólicas de grande porte acopladas à eletrônica de potência,
que possibilitam a operação em velocidade variável e proporcionam maior produção
de energia eólica por turbina instalada em um determinado local. Ademais, máquinas
com maior capacidade de geração de energia permitem o uso de menos unidades por
parque eólico e, portanto, menos partes móveis, menores custos de balanceamento do
sistema e maior confiabilidade.
O aumento da capacidade média dos aerogeradores continuará a ser uma ten-
dência de longo prazo, juntamente com o aumento do número de parques eólicos
offshore, denotando uma otimização das infraestruturas elétricas e de construção civil

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ENERGIA EÓ LICA

e, simultaneamente, uma redução gradual e importante dos custos gerados em kWh.


Além disso, a diminuição do número de aerogeradores em um parque, sem dúvida,
suaviza o impacto visual (GLOBAL WIND ENERGY COUNCIL, 2020).
Por outro lado, a durabilidade dos componentes da turbina enfrenta desafios
crescentes devido principalmente à exposição de longo prazo a tensões mecânicas mais
altas e ambientes hostis.
Embora as turbinas eólicas de hoje tenham se beneficiado de décadas de avanços
em pesquisa e inovação, acredita-se que a próxima geração de máquinas aprimoradas
precisará de novos desenvolvimentos em conhecimento e tecnologia. Em contraste,
conversores, redutores e geradores estão sujeitos a melhorias evolutivas lentas (LUCENA,
2021).
A busca por turbinas inteligentes levou a novas tecnologias para monitoramento
e controle de cargas. As estratégias de produtos modulares levaram à expansão do
portfólio dos fabricantes de turbinas eólicas, permitindo a reutilização de componentes
estratégicos entre os produtos, bem como a customização para atender às necessidades
de clientes globais que possuem diferentes condições de vento. Na verdade, as pás, a
torre e a caixa multiplicadora são os maiores custos de uma turbina (GLOBAL WIND
ENERGY COUNCIL, 2020).
Nesse contexto, a demanda por pás de rotor mais longas impõe alguns critérios
interdependentes para melhor seleção de materiais: custo, desempenho operacional
(integridade do material, avaliação do ciclo de vida e condições ambientais do parque
eólico), capacidade de fabricação (tempo, produtividade, eficiência energética) e métodos
de reciclagem. No entanto, é esperado que os resíduos de materiais da indústria eólica
continuem aumentando (LUCENA, 2021).
A fabricação de aerogeradores demanda diversos tipos de materiais: aço (para
torres, naceles e rotores), concreto protendido (para torres e fundações), materiais
magnéticos (para caixas de engrenagens), alumínio e cobre (para naceles) e compósitos
poliméricos (para as pás do rotor). Especificamente, os principais aspectos de projeto
para pás de turbinas eólicas são a seleção de material e design (LUCENA, 2021).

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ENERGIA EÓ LICA

3.3.2 Pás de turbinas eólicas

A forma da pá deve ser aerodinâmica, e seu material deve ser rígido (para evitar
falhas devido à deflexão e flambagem), forte (vida de fadiga de longo prazo adequada
em condições adversas, incluindo ventos inconstantes, carga de gelo e relâmpagos)
e leve (para reduzir a massa total e os custos). Além disso, uma pá eólica precisa ser
rígida o suficiente para evitar bater na torre, adaptando-se continuamente às mudanças
nas condições do vento e tendo uma vida útil de 20 anos, além de uma superfície que
combata a erosão e elimine umidade e sujeira.
Por essa razão, as pás eólicas de grande porte são feitas de material compósito –
uma combinação macroscópica de materiais poliméricos e cerâmicos, possuindo uma
interface reconhecível, que juntos proporcionam um produto superior a qualquer um
deles isolado. Desde a década de 1960, o compósito polimérico é um material de enge-
nharia avançada amplamente utilizado em diversas aplicações de alto desempenho, como
aeroespacial, civil, automobilística, naval e eólica, devido às suas excelentes proprieda-
des mecânicas e químicas, substituindo materiais convencionais. Outra característica
importante dos materiais compósitos é a sua anisotropia – a variação da propriedade
física de um material em função da direção considerada.
A produção de pás de turbinas eólicas é um sistema de fabricação por projetos
muito complexo, com bastantes processos manuais que dificultam a padronização e o
controle de qualidade. A logística e a cadeia de suprimentos também são alguns desafios
na gestão da produção, devido às grandes dimensões das pás exigidas hoje.
Compósitos de matriz polimérica (principalmente resina à base de epóxi ou poli-
éster) reforçados com fibras de vidro ou carbono são geralmente usados para fabricar
pás eólicas. As espumas de madeira balsa, politereftalato de etileno (PET), cloreto de
polivinila (PVC) ou poliuretano (PU) são frequentemente colocadas como materiais de
enchimento/núcleo estruturais.
As pás, normalmente, são produzidas combinando fibras e resina em um molde
aberto que definirá o formato final da pá, utilizando o processo de infusão a vácuo,
conforme apresentado na Figura 3.4. Este processo utiliza pressão (vácuo) para conduzir
a resina em um sistema composto por um laminado (materiais secos) colocados em um
molde devidamente preparado com agente desmoldante (cera). Comumente, as peças
feitas por infusão a vácuo não são colocadas em autoclaves para curar resinas termofixas,
o que representa a grande vantagem desse processo, pois as autoclaves aumentam os
custos de produção (LUCENA; LUCENA, 2019).

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ENERGIA EÓ LICA

Figura 3.4 – Representação esquemática do processo de infusão a vácuo,


para fabricação de pás eólicas

Fonte: Lucena (2021).

A colocação do reforço seco (fibras e espumas) no molde é tradicionalmente um


processo manual feito por dezenas de trabalhadores. Por causa disso, as áreas locais
podem apresentar enrugamento e ondulações no tecido de vidro. Essas imperfeições
do tecido impactam negativamente na resistência e rigidez da pá e comprometem o
desempenho mecânico da turbina eólica em serviço. Após a colocação das fibras secas,
o molde é encapsulado e selado em saco plástico a vácuo, seguido da injeção de resina
líquida no molde e cura por aquecimento do molde com água ou resistências elétricas. É
importante garantir que todas as fibras sejam completamente impregnadas pela resina
e que não permaneçam áreas secas no produto final (LUCENA; LUCENA, 2019).
Em geral, o processo de infusão a vácuo atende satisfatoriamente a necessidade
de fabricação de compósitos, permitindo uma boa relação fibra/resina e uma adesão
satisfatória entre matriz e reforço, desejável para a transferência de carga eficiente e
não delaminação (descolamento das camadas do laminado) durante uma solicitação
mecânica.
Um esquema dos principais materiais e elementos estruturais de uma pá de turbina
eólica, que é oca por dentro, é apresentado na Figura 3.5. Bordo de ataque é a parte
da pá que primeiro entra em contato com o ar, enquanto que o bordo de fuga é sua
borda traseira, ou seja, onde o fluxo de ar, separado pelo bordo de ataque, junta-se,
novamente, ao bordo de fuga.

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ENERGIA EÓ LICA

A pá eólica possui componentes pré-fabricados estruturais, como longarinas (spar-


caps e shear webs), núcleos de enchimento de PVC, PET, PU ou madeira balsa, caixa de
balanceamento e cabo de para-raios. Os sparcaps e as shear webs atuam aumentando
a resistência mecânica da pá. Enquanto os sparcaps são colocados junto com o tecido
de vidro antes da infusão, as shear webs são coladas nas cascas após a infusão, mas
antes do fechamento da pá, o qual ocorre com a colocação de um adesivo de colagem
nos bordos das cascas. Essa é a etapa final de produção, antes do acabamento (quando
são feitos reparos, lixamento dos bordos, pintura, instalação de para-raios, pesagem e
balanceamento das pás, além de colocação de outros acessórios, como serrilhados e
geradores de vórtex (LUCENA; LUCENA, 2019; LUCENA, 2021).

Figura 3.5 – Representação esquemática da seção transversal de uma pá


eólica e seus componentes estruturais

Fonte: Lucena (2021).

3.4 Atividades
Questão 1. A madeira de balsa é usada em que parte da turbina eólica?
a) torre.
b) nacele.
c) fundação.
d) pá.

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ENERGIA EÓ LICA

Questão 2. Como se chama o processo de fabricação de pás eólicas?


a) pré-impregnação.
b) injeção plástica.
c) infusão a vácuo.
d) Rotomoldagem.

Questão 3. Não é um componente da pá eólica:


a) spar cap.
b) rolamento.
c) shear web.
d) caixa de balanceamento.

Questão 4. O local onde fica o gerador da turbina eólica se chama…


a) nacele.
b) rotor.
c) torre.
d) cubo.
e) fundação.

Questão 5. A turbina eólica de grande porte mais utilizada comercialmente


possui quantas pás?
a) 2
b) 3
c) 4
d) 5

Questão 6. O epóxi usado na fabricação de pás eólicas é um material...


a) metálico.
b) polimérico.
c) cerâmico.
d) compósito.

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ENERGIA EÓ LICA

Questão 7. O núcleo de enchimento das pás eólicas pode ser de:


a) madeira de balsa.
b) espuma de PET.
c) espuma de PVC.
d) Todas acima são corretas.

Questão 8. Na pá eólica, spar cap é o mesmo que:


a) longarina.
b) bordo de ataque.
c) bordo de fuga
d) caixa de balanceamento.

Questão 9. Qual o tempo de vida útil de uma turbina eólica de grande porte?
a) 1 ano.
b) 5 anos.
c) 10 anos.
d) 20 anos.
e) 50 anos.

Questão 10. Qual a vantagem da turbina de eixo vertical em relação à horizontal?


a) captura o vento em todas as direções.
b) emite menores níveis de ruído.
c) boa para centros urbanos e residências.
d) todas as sentenças acima são corretas.

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ENERGIA EÓ LICA

3.5 Leitura Complementar


• PICOLO, A. P.; RÜHLER, A. J.; RAMPINELLI, G. A. Uma abordagem sobre a energia
eólica como alternativa de ensino de tópicos de física clássica. Rev. Bras. Ensino
Fís., v. 36, n.4, 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbef/a/fmxzk-
4CKmm8msVRqqy9Qkbp/?lang=pt. Acesso em: 10 out. 2022.

• PINTO, R. J.; SANTOS, V. M. L. Energia Eólica no Brasil: Evolução, Desafios e Pers-


pectivas. 2019. Journal on Innovation and Sustainability, v. 10, n.1, 2019. Dispo-
nível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/risus/article/view/41807/27981.
Acesso em: 10 out. 2022.

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EN E RGIA EÓLIC A

Unidade 4
GERAÇÃO EÓLICA
ENERGIA EÓ LICA

4.
4.1GERAÇÃO EÓLICA
Introdução

As turbinas eólicas contam com modernas tecnologias para transformar os ventos


em eletricidade, utilizando um processo indireto para converter a energia eólica em
elétrica. Primeiro, a energia eólica é transformada em energia mecânica e, depois, em
eletricidade, como será apresentado neste capítulo.

4.2 Potência de uma turbina eólica


Por meio das turbinas eólicas, a energia cinética, contida no vento, é convertida
em energia mecânica pelo giro das pás do rotor e transformada em energia elétrica pelo
gerador. As turbinas eólicas se encontram inseridas na camada superficial da atmosfera,
utilizando a energia do vento em uma ampla faixa de alturas. A potência de uma turbina
depende do tamanho das pás do rotor e da velocidade do vento.
A potência disponível do vento é diferente da potência extraída pelo aerogerador,
pois, na prática, somente uma parte do potencial eólico total é utilizada pelos geradores,
como veremos a seguir.

4.2.1 Potência extraída do vento e o Limite de Betz

Vimos na Unidade 2 que a potência P disponível no vento (4.1) é definida como a


derivada da energia no tempo, dada por:

[4.1]

onde:
P: Potência disponível no vento [W];
ρ: Densidade do ar [kg/m³];
A: Área da seção transversal [m²];
V: Velocidade do vento [m/s];

Voltar ao sumário 74
ENERGIA EÓ LICA

Para determinar a potência extraída do vento por uma turbina eólica de eixo hori-
zontal, temos que assumir um duto de ar, mostrado na Figura 4.1.
A equação da continuidade de Bernoulli (Equação 4.2) define que a vazão de um
fluido é constante para diferentes localizações ao longo de um tubo de vazão, consideran-
do-se que não há fluxo de massa através dos limites do tubo de vazões e assumindo-se
que a densidade do ar é constante, o que é válido para velocidades de vento menores
que 100 m/s (fluido incompressível).
Assim, tem-se:

[4.2]

onde:
Q: vazão volumétrica do ar que atravessa a turbina eólica dentro do tubo de vazões
[m³/s].
V é a velocidade do ar nas pás da turbina [m/s];
A é a seção da turbina [m²];
V1 é a velocidade do ar na entrada do duto (antes das pás da turbina) [m/s];
V2 é a velocidade do ar na saída do duto (após a turbina) [m/s];
A1 é a seção do tubo de corrente antes da turbina [m²];
A2 é a seção do tubo depois da turbina [m²].

Figura 4.1 – Representação esquemática da Lei de Betz através de um tubo


de corrente

Fonte: adaptado de Almeida (2007).

Voltar ao sumário 75
ENERGIA EÓ LICA

Ao converter a energia cinética do vento, a turbina eólica provocará a redução de


velocidade do vento na saída do rotor, o que resultará no aumento da área do tubo de
vazões da Figura 4.1, de acordo com a Equação 4.2.
Assim, a potência do vento extraída pela turbina eólica (Pt) é a diferença de potência
entre o fluxo de ar na entrada e na saída do rotor eólico, ou seja conforme Equação 4.3:

[4.3]

onde:
Pt: Potência extraída do vento pela turbina eólica [W];
Pe: Potência disponível no vento na entrada do rotor eólico [W];
Ps: Potência disponível no vento na saída do rotor eólico [W].

De acordo com a teoria publicada pelo físico alemão Albert Betz, em 1919, mesmo
para os melhores aproveitamentos eólicos (turbinas de 2 ou 3 pás de eixo horizontal),
recupera-se apenas um máximo de 59% da energia do vento. Essa fração é conhecida
como Coeficiente de Betz (Limite de Betz). Essa Lei determina que a fração máxima de
energia que pode ser aproveitada em uma turbina eólica é de 59%. Isso significa que
o máximo que poderia ser extraído da potência disponível no vento seria em torno de
60%. Ou seja, uma turbina eólica ideal só pode diminuir a velocidade do vento em 2/3
da sua velocidade original.
Com base nessas considerações, a potência máxima aproveitada (teórica) pode,
então, ser calculada a partir da Equação 4.4:

[4.4]

onde:
Pt: Potência extraída do vento pela turbina eólica [W];
Cp: Coeficiente de potência (adimensional);
ρ: Densidade do ar [kg/m³];
A: Área da seção transversal [m²];
V: Velocidade do vento [m/s].

Voltar ao sumário 76
ENERGIA EÓ LICA

Cp é o coeficiente de potência (a quantidade de potência disponível no vento que


pode ser convertida em potência mecânica por uma turbina eólica), normalmente utilizado
para comparar a eficiência de diferentes turbinas eólicas. Pela teoria de Betz, Cp = 0,59.
Além disso, tem-se, ainda, a limitação de potência do próprio aerogerador (perdas
mecânicas, elétricas e aerodinâmicas), como atrito, geometria das pás, ineficiências
do projeto aerodinâmico da turbina, perdas na caixa multiplicadora, no gerador, trans-
formador e sistemas elétricos associados, baixando ainda mais esse rendimento a,
aproximadamente, 42% da potência total disponível no vento.
Para turbinas que utilizam a força de arrasto para movimentar o rotor, o valor de Cp
é menor que 0,2, enquanto que para turbinas que utilizam a força de sustentação para
o movimento do rotor, o valor de Cp pode alcançar 0,5 (MARQUES, 2004).
As perdas no multiplicador são causadas, principalmente, pelo atrito entre as
engrenagens, o que gera perda na forma de calor, podendo ser minimizadas com uso
de óleo lubrificante e refrigeração das engrenagens. É necessário que o óleo seja subs-
tituído periodicamente, uma vez que o atrito e o calor gera degradação, reduzindo o
rendimento do multiplicador (LIMA, 2016).
Os geradores apresentam perdas mecânicas, elétricas e magnéticas. As perdas
mecânicas são causadas pelo atrito das partes móveis, como mancais e ventilação. Já as
perdas elétricas ocorrem devido à circulação de corrente elétrica nos seus enrolamen-
tos que, por causa do efeito Joule, transformam parte da energia em calor. Já os fluxos
magnéticos no núcleo do gerador, tanto no estator como no rotor, provocam perdas por
histerese, por correntes parasitas e por saturação magnética, que também produzem calor.
Os transformadores têm perdas eletromagnéticas semelhantes aos geradores. Como o
equipamento é estático, não apresenta perdas associadas ao movimento (LIMA, 2016).
Os sistemas elétricos têm perdas associadas aos fenômenos eletromagnéticos,
tais como: efeitos Joule e Corona, dependendo do tipo de dispositivo. Como esses
sistemas usam disjuntores, chaves, cabos, capacitores e pontes conversoras, diversas e
diferentes perdas estão presentes. Entretanto, esses equipamentos são caracterizados
por apresentarem rendimento superior a 95%.
Assim, o rendimento total da turbina eólica leva em consideração todas as perdas,
ou seja, o rendimento individual de cada componente, incluindo a turbina eólica. Assim,
a potência máxima aproveitada (real) pode ser calculada por meio da Equação 4.5:

[4.5]

Voltar ao sumário 77
ENERGIA EÓ LICA

onde Ƞ é o rendimento (eficiência) da turbina eólica.


Isso significa que a potência extraída pela turbina eólica:
• é diretamente proporcional à densidade do ar (p). Então, à medida que a den-
sidade do ar aumenta, a potência da turbina aumenta;
• é diretamente proporcional à área (A) varrida pelas pás da turbina. Então, se o
comprimento da pá aumenta, o raio da área varrida aumenta também, ampliando
a potência da turbina;
• é proporcional ao cubo da velocidade do vento (V). Isso indica que se a velocidade
do vento dobra, a potência da turbina ampliará oito vezes.

4.2.2 Curva de potência de um aerogerador

A curva de potência de um aerogerador (Figura 4.2) é um gráfico que define qual


será a potência elétrica disponível no equipamento para uma determinada velocidade
de vento. Normalmente os aerogeradores estão projetados para começar a girar a velo-
cidades em torno de 3 a 5m/s. É chamada de velocidade de partida (ou de conexão).
Em geral, o vento precisa atingir uma velocidade mínima de 10km/h para que a turbina
funcione (velocidade de operação normal, que pode ser constante ou variável, depen-
dendo do tipo de gerador e do sistema de controle utilizado). A região compreendida
entre a velocidade nominal e a velocidade máxima é chamada de região de limitação de
potência, sendo utilizada para limitar a potência de saída no valor nominal da turbina
eólica para velocidades do vento entre 12-25m/s. Os principais métodos de limitação
de potência são a perda aerodinâmica passiva e ativa, e também o controle de passo
(descrito adiante).
Por segurança, um sistema de frenagem desliga a turbina automaticamente,
quando ela se encontra acima de sua velocidade máxima de operação (acima de 25m/s,
ou 90km/h). Não é viável dimensionar todos os componentes da turbina eólica para
extrair a potência contida em altas velocidades do vento (>25m/s), pois o custo desta
produção extra de energia será muito alto, visto que altas velocidades de vento acon-
tecem esporadicamente.
Então, para essas velocidades de vento, a turbina eólica deve ser desligada de modo
a não danificar os componentes desta turbina. A velocidade típica de desligamento da
turbina eólica é na faixa de 20-25m/s. A maioria das turbinas eólicas utilizam sistemas
de frenagem que podem atuar, mecanicamente, no eixo da turbina, ou aerodinamica-
mente, no rotor. Por questões de segurança, é requerido por normas que as turbinas
eólicas tenham no mínimo dois sistemas de freio. Normalmente, o freio principal é o
freio aerodinâmico e o sistema de freio auxiliar é o freio mecânico que atua no eixo de
alta velocidade.

Voltar ao sumário 78
ENERGIA EÓ LICA

Figura 4.2 – Exemplo de curva de potência de um aerogerador

Fonte: adaptado de Sansigolo (2005).

Para se obter a curva de potência, um anemômetro (dispositivo que mede a


velocidade do vento) é colocado na nacele do aerogerador. A partir das leituras dele,
são registradas as potências elétricas que, teoricamente, estariam disponíveis no equi-
pamento. Assim, a potência de uma turbina eólica varia com a velocidade do vento, e
cada turbina eólica terá uma curva característica de desempenho de energia.
Com a curva de potência, é possível prever a produção de energia de uma turbina
eólica, sem considerar os detalhes técnicos de seus vários componentes. Vale ressaltar
que, para uma aquisição mais eficiente dos dados, é preciso que o vento não esteja
variando com rapidez. Mesmo assim, o processo ainda apresenta erros associados. Isso
porque não é possível medir o vento que passa pelo rotor do aerogerador de forma
exata, então, toma-se como base a média das velocidades obtidas e constrói-se o gráfico.
A Figura 24 mostra as curvas de potência de turbinas eólicas de diferentes fabricantes.

Figura 4.3 – Curvas de potências de aerogeradores de diferentes fabricantes

Fonte: Drenan et al. (2019).

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ENERGIA EÓ LICA

4.3 Controle de potência de uma turbina eólica


A pá do rotor de uma turbina eólica tem um perfil especialmente projetado, similar
aos usados para asas de aviões, de forma que as forças aerodinâmicas geradas ao longo
do seu perfil convertem a energia cinética do vento em energia mecânica rotacional,
como apresentado na seção anterior.
As turbinas eólicas para geração de eletricidade usam dois princípios de controle
aerodinâmico diferentes (Figura 4.4): um passivo, chamado controle estol (stall control)
e um controle ativo, chamado controle de passo (pitch control).

Figura 4.4 – Representação esquemática da curva de potência para


diferentes tipos controles das pás: controle de passo e estol

Fonte: Adaptado de Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (2008).

4.3.1 Controle de estol passivo

O controle de estol passivo funciona, reagindo à velocidade dos ventos. Nesse tipo
de controle, as pás do rotor são fixas e não podem ser giradas em torno de seu eixo
longitudinal. Então, devido ao ângulo ser fixo, quando o valor da velocidade ultrapassa
o nominal, ocorre o efeito estol, que nada mais é do que o momento no qual o escoa-
mento do vento em torno do perfil da pá “descola” de sua superfície. E isso ocasiona
variações na potência da turbina devido à diminuição de sua sustentação e aumento
na força de arrasto.
Assim, o ângulo de passo é escolhido de tal maneira que, para velocidades de
ventos maiores que a nominal, o fluxo em torno do perfil da pá do rotor se descola
da superfície (estol), ou seja, o fluxo se afasta da superfície da pá, surgindo regiões de
turbulência entre ele e a superfície.

Voltar ao sumário 80
ENERGIA EÓ LICA

Para evitar que o estol ocorra em todas as posições radiais das pás ao mesmo tempo
— o que reduziria drasticamente a potência do rotor — , as pás possuem uma torção
longitudinal que as levam a um suave desenvolvimento de estol. Sob todas as condições
de velocidade de vento superior à nominal, o fluxo em torno dos perfis das pás do rotor
é, pelo menos, parcialmente deslocado da superfície, produzindo sustentações menores
e forças de arrasto mais elevadas.
As turbinas que utilizam esse tipo de controle são mais simples do que aquelas que
utilizam o controle por passo, uma vez que tem uma estrutura de cubo mais simples,
menos manutenção devido a um número menor de peças móveis e autocontrole de
potência (CENTRO DE PESQUISAS DE ENERGIA ELÉTRICA, 2008).
As desvantagens desse método de controle de potência são: alta fadiga mecânica
causada por rajadas de vento, partida e parada não assistidas e variações na máxima
potência devido a variações na densidade do ar.

4.3.2 Controle de passo

O controle de passo é um mecanismo que permite que a pá gire ao redor do pró-


prio eixo, não tendo regiões de estol. Esse sistema é utilizado para limitar a potência de
saída durante algumas condições adversas, quando a velocidade do vento é muito alta,
e também, em alguns casos, para maximizar a potência de saída da turbina eólica para
baixas velocidades do vento.
É um sistema de controle ativo, que necessita de um sinal do gerador de potência.
Sempre que a potência nominal do aerogerador for ultrapassada, devido ao aumento das
velocidades do vento, as pás do rotor serão giradas em torno de seu eixo longitudinal,
mudando o ângulo de passo para aumentar o ângulo de ataque do fluxo de ar (CENTRO
DE PESQUISAS DE ENERGIA ELÉTRICA, 2008).
Esse processo reduz as forças aerodinâmicas atuantes e a extração de potência
do vento pela turbina. As pás dos aerogeradores que apresentam esse tipo de controle
podem girar em torno de 90° de forma a encontrar o ângulo de ataque adequado.
Para todas as velocidades do vento superiores à nominal, o ângulo de ataque é
escolhido de tal maneira que a turbina eólica produza apenas a potência
nominal. Sob todas as condições de vento, até que a turbina atinja a potência
nominal, o fluxo em torno dos perfis da pá do rotor é bem aderente à superfície, produ-
zindo sustentação aerodinâmica e pequenas forças de arrasto. Após atingir a potência
nominal do gerador, para manter a potência constante, basta alterar o ângulo de ataque
das pás de forma a produzir o estol e, dessa forma, a perda de sustentação suficiente
para manutenção da potência transferida pelo rotor.

Voltar ao sumário 81
ENERGIA EÓ LICA

As turbinas com controle de passo são mais sofisticadas e caras que as de passo
fixo (controladas por estol), pois necessitam de um sistema de variação de passo, porém
apresentam as seguintes vantagens:
• permitem controle da potência ativa sob todas as condições de vento;
• podem alcançar a potência nominal mesmo sob condições de baixa densidade
do ar, como em grandes altitudes e altas temperaturas;
• maior produção de energia sob as mesmas condições, sem redução da eficiência
na adaptação ao estol da pá;
• partida simples do rotor pela mudança de passo;
• dispensa o uso de grandes freios para paradas de emergência, feitas pela mudança
de passo (freio aerodinâmico);
• cargas das pás do rotor decrescentes para ventos acima da potência nominal;
• posição de embandeiramento das pás do rotor para ventos extremos e massa
das pás do rotor menores (nesta posição, as pás são alinhadas paralelamente à
direção do vento, para evitar o contato com a torre do aerogerador).
Tais vantagens permitem a turbina eólica: manter a produção nominal de energia,
manter o fluxo dos ventos aderente ao perfil da pá, dar sustentação ao equipamento,
reduzir a força de arrasto e preservar a estrutura da pá.

4.3.3 Controle de estol ativo

O controle de estol ativo corresponde a um sistema de controle de potência e velo-


cidade híbrido, que mistura os controles de estol e de passo. Nesse caso, o passo da pá
do rotor é girado na direção do estol e não na direção da posição de embandeiramento
(menor sustentação), como é feito em sistemas de passo normais (LIMA, 2016).
No controle por estol ativo, o ângulo das pás varia negativamente até alcançar
a posição de estol passivo, quando passa a atuar como tal, também sendo conhecido
como controle de pitch negativo. Em velocidades maiores, o controle encontra os
mesmos problemas do estol passivo. Outra desvantagem é a dificuldade na previsão do
comportamento aerodinâmico na posição de estol.
As vantagens desse sistema são:
• mudanças mínimas no ângulo do passo; possibilidade de controle da potência
sob condições de potência parcial (ventos baixos);
• a posição de embandeiramento das pás do rotor para cargas pequenas em
situação de ventos extremos;
• construção mais simples do que as turbinas com controle de passo.

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ENERGIA EÓ LICA

4.4 Velocidade de Ponta de uma Turbina Eólica


Outro conceito bastante importante no estudo de turbinas eólicas é a relação λ
(tip speed ratio), que representa a relação entre a velocidade linear1 na ponta da pá da
turbina eólica e a velocidade do vento (Equação 4.6):

[4.6]

onde:
ω: velocidade angular de rotação da pá [rad/s];
R: comprimento da pá [m];
V: velocidade do vento [ms/s].

A ponta da pá de uma turbina eólica de grandes proporções (100m de altura com


50 m de comprimento de pá, por exemplo) desloca-se em altíssima velocidade, sofrendo
efeitos aerodinâmicos semelhantes aos da asa de um avião ou aerofólio de um carro de
Fórmula 1. Assim, se uma pá de 50 m de comprimento girar a 15 rpm, a velocidade da
ponta da pá será de 4.700 m/min ou 280 km/h.
Por isso, a relação λ é uma relação fixa entre a velocidade da ponta da pá e a velo-
cidade do vento, e ela determina o perfil aerodinamicamente otimizado das turbinas
eólicas.
Caso o rotor da turbina eólica gire lentamente, a maior parte do vento passará sem
perturbações através do espaço entre as pás do rotor, não extraindo a energia que o fluxo
de ar poderia oferecer. De modo alternativo , se o rotor gira muito rapidamente, as pás
funcionarão como uma parede sólida bloqueando o vento. Portanto, as turbinas eólicas
são projetadas para uma razão de velocidade de ponta média ideal com o intuito de
extrair o máximo de energia do vento possível. A razão de velocidade de ponta depende
do perfil do aerofólio utilizado, do número de pás e do tipo de turbina empregada. Em
geral, turbinas eólicas de eixo horizontal com três pás operam com um λ entre 6 e 8.
Os valores típicos de velocidade das pontas das pás variam de 60 a 100m/s, gerando,
assim, uma potência entre 5-10kW e 2-3MW. Caso o sistema eólico seja conectado à

1 Considera-se que a velocidade linear de um corpo em movimento circular uniforme é igual ao produto
da velocidade angular pelo raio da trajetória descrita pelo corpo.

Voltar ao sumário 83
ENERGIA EÓ LICA

rede elétrica, é necessário gerar energia com o rotor, operando em uma rotação típica
para frequência de 60Hz (Brasil) ou 50Hz (Europa). Para o caso brasileiro, é necessário,
então, elevar a rotação para até algo em torno de 1800rpm.
A relação λ da velocidade da ponta da pá é importante para o controle de frequência
do aerogerador, como veremos a seguir.

4.5 Controle de velocidade de uma turbina eólica


A eletricidade produzida pela turbina eólica a partir da energia dos ventos deve
estar na frequência padronizada da rede elétrica. Porém, a frequência de geração elétrica
varia com a rotação do gerador elétrico que, por sua vez, varia com a rotação da turbina.
Essa rotação é afetada pela velocidade do vento, que é uma variável sem controle.
Nesse sentido, na atualidade existe um grande número de conceitos de controle
para turbinas eólicas como velocidade fixa ou variável, e a possibilidade de se usar
geradores assíncrono ou síncrono, como apresentado a seguir.
Existem duas formas de converter a potência rotacional em eletricidade:
• com um sistema de acionamento indireto que emprega uma caixa multiplicadora
de engrenagens para aumentar a velocidade de rotação do eixo que aciona o
gerador. A caixa de engrenagens (gearbox) conecta o eixo de baixa velocidade
com o eixo de alta velocidade e aumenta a velocidade rotacional de, aproxima-
damente, 10-60rpm para, aproximadamente 1200-1800rpm, que é a velocidade
requerida para os geradores assíncronos;
• usando um sistema de acionamento direto que não possui caixa de engrenagens
devido à presença de um conversor de potência em escala real com geradores
multipolares (gerador síncrono excitado ou síncrono de ímã permanente), que
operam em baixa velocidade.
Nos geradores síncronos, a frequência é diretamente proporcional ao número de
pólos do estator de ímã permanente e à velocidade de rotação do rotor. Os geradores
síncronos são a principal fonte de geração de eletricidade hoje, convertendo a potência
mecânica das turbinas eólicas em energia elétrica para a rede. Além disso, é possível
usar redutores com conversor de potência em escala real e, portanto, geradores maiores
e mais caros são desnecessários.
Os geradores síncronos magnéticos permanentes são apropriados para uso em
turbinas eólicas devido à estabilidade e segurança durante a operação normal e às
pequenas dimensões gerais quando comparados aos geradores síncronos de rotor
bobinado. Além disso, eles não requerem uma alimentação CC adicional para circuito

Voltar ao sumário 84
ENERGIA EÓ LICA

de excitação ou enrolamento. Assim, um gerador síncrono multipolar pode operar em


baixas velocidades e na ausência de caixa de engrenagens (LUCENA, 2021).
A tendência é para configurações de conversores de potência em escala real com
gerador síncrono de ímã permanente multipolar, pois reduzem as perdas e são mais leves
do que os tipos com gerador síncrono excitado, especialmente para grandes parques
eólicos offshore.

4.5.1 Turbina eólica com velocidade constante

Turbinas de velocidade fixa foram pioneiras na indústria de turbinas eólicas. Elas


são simples, confiáveis e suas partes elétricas têm baixo custo.
Manter o rotor da turbina eólica com velocidade constante é a maneira mais simples
de operar uma turbina eólica: é usado um gerador assíncrono conectado diretamente
à rede. Com o sincronismo do gerador de indução, o rotor opera com velocidade apro-
ximadamente constante porque o sistema elétrico, mais forte, mantém a frequência
do gerador e, em consequência, a velocidade do rotor. O torque da turbina varia de
acordo com a mudança da velocidade do vento, resultando em maior escorregamento
do gerador, o qual fornecerá maior potência (LIMA, 2016).
A relação λ entre a velocidade da ponta da pá e a velocidade do vento não pode
ser mantida constante durante a operação, o que significa que a eficiência aerodinâmica
alcança seu ponto ótimo apenas com uma velocidade do rotor, que é a velocidade do
vento de projeto da pá do rotor. Nas outras velocidades do vento, a eficiência é menor
que a máxima. Para melhor adaptar a operação do rotor ao ponto ótimo do projeto
aerodinâmico, os fabricantes, frequentemente, utilizam geradores de indução de dupla
velocidade, que permite mudar a velocidade do rotor em dois estágios. Nas baixas
velocidades, o gerador opera com uma rotação baixa (número de pólos maior) e, em
velocidades de vento altas, opera com alta velocidade rotacional (número de pólos
menor) (LIMA, 2016).
A operação de aerogeradores de velocidade constante, de um ou dois estágios,
é a maneira mais simples de controle de velocidade do rotor porque a frequência da
rede elétrica assume o controle da velocidade. Estas máquinas usam geradores elétricos
assíncronos, ou de indução de um dois estágios, cuja maior vantagem é sua construção
simples e barata, além de dispensarem dispositivos de sincronismo. As desvantagens
destes geradores são as altas correntes de partida e sua demanda por potência reativa.
As altas correntes de partida podem ser suavizadas por um tiristor de corrente, ou de
partida (LIMA, 2016).

Voltar ao sumário 85
ENERGIA EÓ LICA

4.5.2 Turbina eólica com velocidade variável

Turbinas de velocidade variável são, atualmente, as mais utilizadas. Suas vantagens,


comparadas às de velocidade constante, são numerosas. Uma característica importante
deste tipo de turbina é o desacoplamento entre o sistema de geração e a frequência
da rede, tal característica permite que as turbinas sejam mais flexíveis em termos de
controle e operação ótima.
O rotor de velocidade variável, normalmente, combina-se com o sistema de controle
de ângulo de passo, que permite uma ampla faixa de adaptações a diferentes condições
de operação (LIMA, 2016).
A ideia básica da turbina eólica com velocidade variável é o desacoplamento da
velocidade de rotação e, consequentemente, do rotor do aerogerador, da frequência
elétrica da rede. O rotor pode funcionar com velocidade variável ajustada à situação
real da velocidade do vento, garantindo um desempenho aerodinâmico maximizado.
Uma vantagem é a redução das flutuações de carga mecânica. As desvantagens são os
altos esforços de construção e a geração de harmônicos, associados à conversão de
frequência, que podem ser reduzidos significativamente com o uso de filtros que, por
sua vez, aumentam os custos.
As turbinas eólicas com velocidade variável podem usar geradores síncronos ou
assíncronos.
A conexão ao sistema elétrico é feita por meio de um conversor de frequência
eletrônico, formado por um conjunto retificador/inversor. A tensão produzida pelo
gerador síncrono é retificada e a corrente contínua resultante é invertida, com o con-
trole da frequência de saída sendo feito eletronicamente através dos tiristores. Como
a frequência produzida pelo gerador depende de sua rotação, que será variável em
função da variação da rotação da turbina eólica. Entretanto, por meio do conversor, a
frequência da energia elétrica fornecida pelo aerogerador será constante e sincronizada
com o sistema elétrico (LIMA, 2016).
Quando são usados geradores assíncronos, ou de indução, é necessário prover
energia reativa para a excitação do gerador, que pode ser feita por autoexcitação,
usando-se capacitores adequadamente dimensionados, de forma similar ao caso do
aerogerador com velocidade constante. Neste caso, deve-se instalar os capacitores
antes do retificador, uma vez que o conversor de frequência faz isolamento galvânico no
sistema, não permitindo a absorção de energia reativa externa, seja do sistema elétrico
ou de capacitores (LIMA 2016).
Outra opção é o uso de geradores assíncronos duplamente alimentados, isto é,
com dois enrolamentos que apresentam velocidades síncronas diferentes. O uso de
enrolamento rotórico associado a uma resistência variável, em série, permite o controle
da velocidade do gerador pela variação do escorregamento, mantendo a frequência

Voltar ao sumário 86
ENERGIA EÓ LICA

elétrica do gerador no valor definido pelo sistema elétrico ao qual o aerogerador está
conectado (LIMA, 2016).
Para manter a máxima eficiência aerodinâmica, o rotor deve mudar sua velocidade
rotacional de acordo com a velocidade do vento. Em outras palavras, ventos baixos com
velocidades do rotor baixas, e ventos altos com velocidades do rotor altas.
De acordo com Lima (2016), essas máquinas apresentam as seguintes vantagens:
• maior extração da energia do vento;
• flutuações pequenas de potência em relação à potência nominal;
• cargas menores no rotor devido à ação de rajadas;
• pequenas taxas de variação de passo;
• baixa velocidade do rotor em condições de baixa velocidade do vento, que reduz
consideravelmente a emissão de ruído.

4.6 Efeito esteira


Um parque eólico pode conter dezenas de turbinas eólicas instaladas próximo
uma das outras.
Como as turbinas eólicas extraem energia do vento para gerar eletricidade, o
fluxo de ar atrás da turbina é fortemente perturbado, reduzindo a energia disponível. A
velocidade do vento diminui e a turbulência aumenta. Imagine tal qual um fluxo de água
muda quando colocamos um objeto flutuando nele. O mesmo acontece com o vento,
embora neste caso seja muito menos visível.
Essa mudança no fluxo do vento é o que chamamos de efeito esteira (do inglês,
wake effect) e é um dos maiores causadores da perda da produtividade de um parque
eólico. Por isso, no desenvolvimento de um novo parque eólico, é necessário assegurar
que as turbinas sejam bem posicionadas para não haver interferência entre si.
O efeito esteira depende de muitos fatores. Os dois fatores mais importantes são:
• a interação entre a turbina e o vento. Em palavras simples, dependendo da
forma como uma turbina opera, quanto mais interação houver entre ela e o
vento, maior será o efeito esteira. Isso geralmente acontece quando a turbina
está operando com empuxo máximo, pouco antes de começar a embandeirar
suas pás. À medida que as turbinas atingem sua potência nominal, elas captam
menos energia do vento e, portanto, o efeito esteira é menos significativo;
• quão turbulento é o fluxo antes de atingir a turbina eólica. Se o fluxo de vento já
é muito turbulento (devido a um terreno complexo ou instabilidade atmosférica,

Voltar ao sumário 87
ENERGIA EÓ LICA

por exemplo), a esteira que a turbina irá gerar é menos importante do que
em condições muito estáveis e de baixa turbulência, como vemos em parques
eólicos offshore.
À medida que o fluxo do vento é perturbado, as turbinas localizadas à jusante da
primeira turbina verão velocidades de vento mais baixas, reduzindo, assim, sua produção
anual de energia. Essa redução na produção não é o único efeito: como o fluxo do vento
é mais turbulento, a turbina a favor do vento sofrerá maiores cargas e mais vibrações,
o que pode eventualmente reduzir a vida útil de suas turbinas eólicas. Esses efeitos são
muito mais importantes em parques eólicos maiores, onde dezenas de turbinas são
agrupadas e seus diferentes efeitos de esteira são combinados entre si (Figura 4.5).

Figura 4.5 – Efeito esteira em um parque eólico offshore

Fonte: Canva for Education (2022).

O cálculo do efeito de esteira é um dos problemas significativos nos parques eóli-


cos e precisa ser modelado para diminuir a perda de energia devido ao efeito esteira.
Os projetistas de parques eólicos recomendam uma distância de duas a três vezes o
diâmetro do rotor da turbina na linha perpendicular à direção do vento, e de quatro a
cinco vezes o diâmetro do rotor nas filas paralelas à sua direção.

Voltar ao sumário 88
ENERGIA EÓ LICA

4.7 Atividades
Questão 1. A potência nominal de 5MW de uma turbina eólica é igual a…
a) 5 mil watts.
b) 50 mil watts.
c) 500 mil watts.
d) 5 milhões watts.

Questão 2. Pretende-se dimensionar-se as pás de um aerogerador de forma a


se obter uma potência mecânica de 750kW com uma velocidade de vento de 13,8 m/s.
Considera-se um coeficiente de potência Cp igual a 0,2. Qual deverá ser o comprimento
da pá ou seja, o raio do círculo varrido pela turbina? Considere a densidade do ar igual
a 1,2kg/m³ a 15°C e 1atm.

Questão 3. Dada a curva de potência do aerogerador abaixo, determine:

a) A partir de qual velocidade dos ventos o equipamento começa a gerar energia?


b) Qual a velocidade nominal?
c) Qual o valor da potência máxima que esse equipamento é capaz de gerar?
d) Qual a velocidade máxima que consegue manter a geração de energia?

Questão 4. Um parque eólico aproveita a força dos ventos para gerar eletricidade
de maneira totalmente limpa, usando para isso turbinas eólicas. O gráfico a seguir mostra
como a potência de uma das turbinas eólicas do parque varia em função da velocidade
do vento que atinge suas pás. Nesse sentido, é correto afirmar que:

Voltar ao sumário 89
ENERGIA EÓ LICA

a) A potência máxima que o parque pode fornecer em sua operação é de 3,0kW.


b) A potência do parque cresce linearmente com a velocidade do vento.
c) O máximo desempenho do parque se dá entre as velocidades 36km/h e 54km/h.
d) A área da figura delimitada pela curva e pelo eixo das velocidades representa o tra-
balho realizado na operação.

Questão 5. Estudos experimentais mostram que a potência P gerada por um


certo tipo de turbina eólica doméstica é função do módulo da velocidade V do vento,
de acordo com a expressão: , em que V é medida em km/h e P em watts.
Com base nessas informações, assinale as alternativas verdadeiras:
I. A potência gerada por um vento estável de 5km/h é de 450W.
II. A geração de, pelo menos, 97.200W de potência ocorrerá quando o módulo da velo-
cidade do vento for de, no mínimo, 30km/h.
III. A potência gerada está representada por uma função crescente.
IV. A potência gerada ficará quatro vezes maior quando o módulo da velocidade do
vento duplicar.
V. A variação de potência será de 25.200W, quando a velocidade variar de 10 km/h para
20km/h.

Voltar ao sumário 90
ENERGIA EÓ LICA

4.8 Leitura Complementar


• MORIM, R. B. Controle Individual de Passo para Turbinas Eólicas utilizando
Controlador Adaptativo. Dissertação (Mestrado em Engenharia Elétrica) —
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica,Universidade Federal de
Santa Maria, Santa Maria, 2019. 148f. Disponível em: https://repositorio.ufsm.
br/bitstream/handle/1/17349/DIS_PPGEE_2019_MORIM_RICARDO.pdf?se-
quence=1&isAllowed=y. Acesso em: 22 set. 2022

• MARQUES, J. Turbinas Eólicas: Modelo, Análise e Controle do Gerador de Indu-


ção com Dupla Alimentação. Dissertação (Mestrado em Engenharia Elétrica)
– Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica,Universidade Federal de
Santa Maria, Santa Maria, 2004. 158f. Disponível em: https://repositorio.ufsm.
br/bitstream/handle/1/8442/JEFERSON%20MARQUES.pdf?sequence=1&i-
sAllowed=y. Acesso em: 21 set. 2022.

Voltar ao sumário 91
EN E RGIA EÓLIC A

Unidade 5
PROJETO, INSTALAÇÃO E MANUTENÇÃO DE
SISTEMAS EÓLICOS
ENERGIA EÓ LICA

5.1 Introdução
O vento como fonte de energia está disponível gratuitamente e de forma ilimitada
em todo o globo terrestre, conforme apresentado na Unidade 2. Nos últimos anos, o
uso da energia eólica evoluiu para uma das principais tecnologias de energia renovável
em todo o mundo. Um parque eólico pode ter dezenas e até centenas de aerogeradores
para aproveitar a força dos ventos e converter energia mecânica em energia elétrica.
Este processo não libera emissões de CO2 prejudiciais ao meio ambiente e, por isso, a
energia eólica ajuda a conter o aquecimento global.
Construir um parque eólico pode demorar vários meses e envolve muitas ativida-
des complexas de engenharia. As etapas de construção de um parque eólico envolvem:
projeto; preparação do terreno e da base (fundação); montagem do aerogerador (edi-
ficação); comissionamento e operação.
Durante as etapas de projeto e construção do parque eólico, são empregados pro-
fissionais de diversas áreas, como Logística, Segurança do Trabalho, Direito e Engenharia
(Civil, Mecânica, Elétrica, de Produção, de Energia, de Materiais e Ambiental), sendo
necessária mão-de-obra qualificada com formação técnica, tecnológica e superior.
Com o início do funcionamento do parque eólico, as atividades de operação e
manutenção (O&M) irão ocorrer durante todo o tempo de vida útil dos aerogeradores,
que gira em torno de 20 anos. Ao fim da vida útil das turbinas eólicas, estas poderão
ser descomissionadas (decomissioning), ou repotencializadas (repowering) para mais
alguns anos de vida.

5.2 Projeto
A etapa de projeto é composta por vários estudos para determinar se o parque
eólico é viável do ponto de vista técnico e comercial. O projeto começa com a definição
da área de instalação e análise do potencial eólico local, no momento em que são esta-
belecidos parâmetros importantes, como a velocidade média anual do vento no local e
o potencial eólico para a geração de energia elétrica, apresentados a seguir.

5.2.1 Escolha do local

Existem vários fatores que determinam a seleção do local para instalação de um


parque eólico, embora existam três pontos principais a serem considerados na escolha
do local: o recurso eólico, a conexão com a rede e a densidade populacional.

Voltar ao sumário 93
ENERGIA EÓ LICA

As condições de relevo, solo, vegetação e acessibilidade ao local onde será cons-


truído o parque eólico são levantadas nesta fase inicial do projeto, a fim de garantir a
viabilidade técnica, jurídica e ambiental do parque.
Como as turbinas eólicas são máquinas de grande porte, é necessário definir a
área do empreendimento. Projetos eólicos normalmente exigem uma área de 70m2 de
terra por turbina que esteja livre de construções. Além disso, as turbinas devem estar
a, pelo menos, 300m de qualquer construção, especialmente residências. Os parques
eólicos devem seguir diretrizes rígidas ao serem construídos perto de casas. A ocorrência
de muitas residências próximas a um projeto reduz a oportunidade de colocação de
turbinas em locais otimizados.
Se um local em potencial tiver bom recurso eólico, conexão com a rede e densidade
populacional adequada, estudos adicionais serão realizados para identificar quaisquer
restrições que possam tornar o local inviável, como patrimônio cultural e histórico,
biodiversidade e espécies ameaçadas de extinção.
No Brasil, a maior parte dos parques eólicos se localiza em áreas remotas, distantes
dos centros consumidores, dado que esses locais costumam abrigar os melhores ventos
para a geração eólica. Mas, no caso de se escolher um local urbano, deve-se considerar
que existem restrições à colocação de turbinas eólicas perto de aeroportos. Normalmente,
um projeto precisa estar a pelo menos 4,5 km de um aeroporto público. Os regulamentos
variam de acordo com o país, tamanho do aeroporto e a altura da turbina.

5.2.2 Medição e determinação do potencial eólico local

O objetivo de um parque eólico é extrair energia do vento e convertê-la em energia


elétrica para consumo em nossas residências e empresas. Normalmente, quanto maior
a velocidade média do vento em uma área, mais energia disponível para extração.
As estimativas iniciais do recurso eólico são obtidas a partir de mapas atlas de vento
de baixa resolução que são verificados com dispositivos de sensoriamento remoto, ou
estações anemométricas que fornecem dados muito mais detalhados de direção (com
uma biruta) e velocidade (com anemômetros), conforme foi apresentado na Unidade
2. Esses dados serão analisados após um período de tempo especificado no projeto
(geralmente 3 anos), e uma decisão sobre a implantação do parque eólico naquela região
poderá ser feita com precisão.
Considerando que o potencial eólico é diretamente proporcional ao cubo da velo-
cidade, a medição da velocidade do vento se torna um parâmetro de análise crítica.
Logo, em relação à velocidade, são necessários registros de medições ininterruptas de
abrangência de no mínimo um ano e na altura exata da torre eólica, ou então, duas
medições em alturas diferentes – para realizar a extrapolação dos dados e descobrir as
medições na altura da torre. A direção do vento torna-se importante apenas no momento
da instalação das turbinas no parque eólico (ROSSETO, 2014).

Voltar ao sumário 94
ENERGIA EÓ LICA

5.2.3 Estimativa da produção anual de energia

Para se estimar a Energia Anual Gerada, em kWh/ano, de uma turbina eólica,


deve-se primeiro coletar as medições do vento em um período de um ano. A partir
da obtenção destes dados, pode-se construir um histograma, como exemplificado na
Figura 5.1, para determinar qual a frequência de ocorrência, em porcentagem, de cada
velocidade do vento. Em seguida, caso se disponha da curva de potência da turbina
eólica certificada pelo fabricante, é possível determinar, através do cruzamento de cada
medição da velocidade do vento com a potência da curva do aerogerador, a potência
gerada durante cada velocidade do vento.

Figura 5.1 – Exemplo de histograma da frequência da velocidade do vento em um determi-


nado terreno, ao longo de um ano, para estudo do recurso eólico local

Fonte: Rosseti (2014).

Se a curva de potência da turbina eólica ou o histórico das medições do vento não


estiver disponível, o rendimento total fornecido pelo sistema eólico poderá ser calculado
através da equação da potência da turbina. Essa potência dependerá do coeficiente de
potência da turbina eólica (Cp), do rendimento do aerogerador (η), da densidade do ar
(ρ), da área do rotor (A) e da velocidade média do vento (V). Todas essas características
estão presentes na Equação 5.1 apresentada na Unidade 4:

[5.1]

Voltar ao sumário 95
ENERGIA EÓ LICA

É importante que os ventos sejam regulares, não sofram turbulências e nem


estejam sujeitos a fenômenos climáticos como tufões. Como a quantidade de energia
produzida por uma turbina eólica varia de acordo com o tamanho das suas pás e,
obviamente, com o regime de ventos da região, após a definição do potencial eólico e
da área do empreendimento, o próximo passo é a elaboração do projeto de micrositing,
apresentado a seguir.
Atualmente, a aerodinâmica de aerogeradores abrange modelagem, previsão do
desempenho mecânico e otimização das pás do rotor. Além disso, a otimização do layout
dos parques eólicos desempenha um papel importante e desafiador, especialmente em
terrenos complexos, devido às interações dos fluxos da camada limite no terreno e efeito
esteira de turbinas eólicas, o que dificulta a modelagem (CHURCHFIELD; SIRNIVAS, 2018;
PORTÉ-AGEL; BASTANKHAH; SHAMSODDIN, 2019).

5.2.4 Projeto de micrositing

O projeto de micrositing inclui a definição do arranjo físico do parque (a disposição


das turbinas), tipo e quantidade de turbinas, fabricante, altura das torres, potência
nominal dos aerogeradores, previsão de geração anual de energia e a capacidade máxima
de produção.
A energia elétrica gerada por um parque eólico precisa ser transportada para os
locais onde as pessoas vivem e trabalham. Dado que nossa atual infraestrutura de trans-
missão foi originalmente projetada como um sistema centralizado, torna-se cada vez
mais difícil encontrar capacidade de sistema adequada para novos projetos de energias
renováveis que normalmente não estão localizados nessas áreas. Este pode ser um dos
obstáculos mais desafiadores na seleção de um local para um parque eólico.
Nessa fase, também, são realizados estudos do solo para a construção da fundação
e da infraestrutura necessária para o abastecimento da energia (estudo da distância do
cabeamento elétrico até a subestação mais próxima e projeto logístico para a distribuição
da eletricidade gerada pelas linhas de transmissão).
O projeto do parque eólico também necessita de um estudo de impacto ambiental
e socioeconômico (EIA/Rima), visando avaliar e precisar a intensidade e dimensão dos
impactos gerados pelo empreendimento no local e, com isso, obter as licenças ambientais
para construção e operação do parque.

5.2.5 Estudo de viabilidade econômica e financeira

Diante de qualquer empreendimento, sempre é necessário avaliar os custos, para


tal é necessário realizar uma análise financeira. Os custos com a implantação, operação e
manutenção de um parque eólico estão na casa de centenas de milhões de reais, por isso
o estudo da viabilidade econômica e financeira é imprescindível para sua implantação.

Voltar ao sumário 96
ENERGIA EÓ LICA

O estudo de viabilidade econômica e financeira consiste em avaliar todos os custos


inerentes ao empreendimento, tanto os custos de implementação, denominados CAPEX
(que vem do inglês capital expenditure) e pode ser compreendido como as despesas
de capital ou investimentos em bens de capitais. Ou seja, o CAPEX engloba os custos
relacionados à aquisição de equipamentos e instalações (MICHEL, 2020).
Os custos de operação, conhecidos como OPEX (do inglês, operational expenditure)
focam nas despesas operacionais e no investimento em manutenção dos equipamentos.
Ou seja, são os gastos, como despesas com funcionários, combustível, manutenção de
equipamentos, seguros contra sinistros, impostos e serviços terceirizados (MICHEL, 2020).
O custo inicial de implantação do parque abrange todos os custos envolvidos para
entregar o empreendimento pronto para a utilização. Dentro desse valor, está embutida
quantia para a compra das turbinas eólicas. Estima-se que 70% do montante total do
investimento inicial está ligado à compra de aerogeradores.
A estrutura de capital diz respeito às fontes de recursos utilizadas por um investi-
dor em um investimento específico. Nesta estrutura, há duas fontes possíveis: o capital
próprio e o capital de terceiros (como linha de crédito obtida diretamente do Banco
Nacional do Desenvolvimento, BNDES).
Segundo Helfert (2000), Ildeu et al. (2014) e Lopes (2018), os métodos para análise
da viabilidade econômica de um projeto eólico incluem:
• Demonstrativo de Resultado de Exercício (DRE): neste item são mostrados os
lucros e as despesas obtidas em um período específico de tempo, incluindo
débitos que não estão envolvidos em caixa, como depreciação e amortização de
alguns ativos, e também impostos. Estão inclusos nesse DRE: compras de bens
e serviços, despesas de comercialização, depreciação de ativos, vendas à vista
ou a prazo, salários pagos.
• Demonstrativo do Fluxo de Caixa: concentra os resultados operacionais e as
mudanças no balanço patrimonial, fornecendo uma análise dinâmica das últimas
mudanças no caixa, que mostram o resultado das decisões tomadas durante um
determinado período de tempo.
• Fluxo de Caixa Descontado (FCD): considera o valor da moeda no tempo e usa para
verificar se a margem do fluxo de receita do projeto vale mais que o custo para
a criação do produto ou serviço do projeto. Ou seja, o dinheiro que se tem hoje
vale mais do que o dinheiro que pode ser ganho no futuro, pois o dinheiro que
o empregador possui hoje pode ser investido para gerar lucro, depositado, etc.
• Taxa interna de Retorno (TIR): método que calcula a taxa de juros a ser aplicada
no valor presente das entradas de fluxo de caixa esperadas, para que o valor das
entradas de caixa seja igual ao valor do investimento original. De modo geral,
quanto maior a taxa interna de retorno, mais rentável é o projeto, e se a TIR

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ENERGIA EÓ LICA

estudada for maior que a taxa mínima de atratividade (TMA), a empresa estará
aumentando seu patrimônio com o projeto.
Para o cálculo da receita do parque eólico, deve-se observar o valor praticado
nos leilões de energia da ANEEL. Esses leilões ocorrem para promover o incremento na
geração de energia em nível nacional.
Os valores pagos às empresas geradoras seguem um valor de geração fixo esti-
pulado. Esse valor é conhecido como energia contratada, a qual se estipula pela EPE, e
com base nestes valores, os pagamentos são realizados às empresas.

5.3 Preparação do terreno e fundação


Esta etapa costuma durar entre quatro e doze meses. A preparação do terreno inicia
com a sua limpeza, terraplanagem, nivelamento e pavimentação dos acessos (estradas)
aos aerogeradores. Também são colocadas estacas nas bases dos aerogeradores para
interligação ao solo. Essas estacas serão, posteriormente, incorporadas ao bloco da
fundação (Figura 5.2), dando sustentação à torre do aerogerador.
É feita a montagem das ferragens, conexões elétricas e civis para transmissão de
energia. Essa parte, geralmente, leva mais tempo e, dependendo de sua complexidade,
dura entre seis e dezoito meses.
A concretagem da fundação do aerogerador acontece em três etapas: montagem
das ferragens (etapa que emprega mão de obra da construção civil e mais de 30 toneladas
de ferro para cada base); montagem das conexões elétricas e civis necessárias para a
transmissão de energia, bem como concretagem da base propriamente dita, que requer
cerca de 50 caminhões de concreto por torre.

Figura 5.2 – Exemplo de uma fundação de turbina eólica

Fonte: Canva for Education (2022).

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ENERGIA EÓ LICA

Finalmente, quando as obras civis são concluídas, os componentes das turbinas


eólicas são trazidos e montados.

5.4 Montagem das turbinas eólicas


Assim que a cura do concreto é concluída, inicia-se a montagem das turbinas
eólicas, também chamada de etapa de edificação, que começa pelas torres, que podem
ser de aço tubular ou treliçado, ou ainda de concreto. As torres são divididas em blocos
(tramos) sobrepostos. Dependendo do tamanho e porte do parque eólico, a edificação
das turbinas pode durar de doze a vinte e quatro meses (Figura 5.3).

Figura 5.3 – Tipos de torres de turbinas eólicas

Fonte: Canva for Education (2022).

Durante a montagem das torres, também ocorre a montagem das subestações


elétricas do parque. Após essa etapa, é realizada a interligação elétrica dos aerogeradores
com as subestações através de cabos subterrâneos. Nessa fase, também são montadas
as linhas de transmissão aéreas, interligando os parques à subestação coletora.
Com a torre erguida, pode-se iniciar a instalar a nacele, suporte em que fica o
gerador e o sistema de transmissão de energia. O gerador é, então, montado (Figura
5.4). Essa é uma das fases mais complexas da montagem, pois é preciso ter as condições
atmosféricas ideais (ventos muito fortes, por exemplo, impedem a instalação).

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ENERGIA EÓ LICA

Figura 5.4 – Edificação da nacele de uma turbina eólica de 4,5 MW, contendo em seu inte-
rior o gerador elétrico e todos os componentes elétricos e mecânicos da turbina

Fonte: Esta Ltc. (2022).

Uma vez montado o gerador, são feitas as conexões das 3 pás ao cubo do rotor
(Figura 5.5). Essa montagem pode ser feita no solo e depois, o conjunto é içado por gruas
e conectado à nacele ou, então, cada pá é içada individualmente e conectada, uma a
uma, no cubo do rotor. E assim, a montagem do aerogerador é concluída.

Figura 5.5 – Tipos de montagem das pás da turbina eólica: (a) Montagem individual de cada
pá ao cubo do rotor. (b) Montagem das três pás ao cubo do

Fonte: (a) Cranes Today Magazine (2022); (b) Acker (2014).

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ENERGIA EÓ LICA

5.5 Comissionamento, testes e início de


funcionamento do aerogerador

Antes de o aerogerador começar a funcionar efetivamente, cada unidade deve


passar por testes e verificações de tensão e de eletricidade produzida.
Mas, podem-se testar os componentes das turbinas eólicas ainda em fábrica. E, no
local da instalação (no parque), podem ser testados antes da edificação. Alguns testes são
realizados antes do início das obras, outros durante a construção e comissionamento e
outros, quando o parque eólico está concluído e produzindo energia durante o período
de responsabilidade por defeitos.
A definição de comissionamento não é padronizada; mas, em geral, respeita o
processo de assegurar que os sistemas e componentes da turbina sejam instalados,
testados, operados e mantidos de acordo com as necessidades e requisitos operacionais
do proprietário do parque eólico.
O comissionamento é uma atividade essencial para garantir que a turbina eólica
seja capaz de funcionar corretamente e produzir eletricidade de forma mais eficiente.
Os procedimentos que fazem parte da operação da turbina, integram também rígidos
protocolos de segurança, a fim de que o projeto seja concluído com sucesso tanto sob
o aspecto de qualidade, quanto de segurança.
No comissionamento, também, são feitas inspeções precisas das pás, verificando
sua integridade estrutural por dentro e por fora. Equipes especializadas e experientes
de técnicos de acesso por corda certificados pela IRATA (Industrial Rope Access Trade
Association) são necessários para estas atividades de inspeção e manutenção. Comple-
mentando o acesso por corda, pode-se utilizar plataformas de acesso às pás.
Nas torres, são feitos testes, como: inspeção dimensional, inspeção do revestimento,
ensaios não destrutivos, verificação da integridade das soldas contra corrosão (no caso de
torre de aço). Nos componentes elétricos, são feitos ensaios no gerador, transformador,
sistema conversor, cabos elétricos, etc. Nos componentes mecânicos, são feitos testes
na caixa de engrenagens, sistemas de guinada e passo, etc.
Normalmente, é preciso ter a conexão à rede para fazer o comissionamento – isso
significa que a subestação do parque eólico (ou a conexão à rede) deve estar pronta.
Caso contrário, um sistema de alimentação por baterias precisará ser alocado ao parque.
Uma lista muito longa de itens é verificada no comissionamento. Alguns dos princi-
pais testes são de execução com o aerogerador conectado à rede, produzindo energia, e
servem para verificação de sistemas de proteção, teste de medições de potência, além
de muitos testes mecânicos. É desejável que a turbina eólica funcione e produza energia
por muitas horas seguidas sem falhas. No entanto, podem haver atrasos se não houver
vento suficiente para realizar os testes.

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ENERGIA EÓ LICA

Há também um comissionamento separado para o transformador principal, a


subestação (sistemas de proteção, equipamentos de medição de potência e os cabos.
O sistema SCADA1 também é avaliado no comissionamento.
No teste de desempenho, é determinada a curva de potência e nível de ruído acús-
tico do aerogerador, conforme descrito na Unidade 4. A curva de potência é a relação
entre o vento e a saída da turbina eólica. É fundamental que o aerogerador produza
tanto quanto o esperado – caso contrário, as premissas básicas por trás do modelo de
negócios do projeto estarão erradas.
A disponibilidade de todo o parque eólico é avaliada no comissionamento. Disponi-
bilidade significa que o parque eólico (e todo e qualquer aerogerador) está operando por
uma porcentagem relevante de tempo (95%, 97% ou até mais, dependendo do contrato).
A disponibilidade a longo prazo de uma turbina eólica comercial é, geralmente,
superior a 97%. Esse valor significa que, nesse percentual do tempo, a turbina estará
disponível para funcionar se houver vento adequado. Esse valor é superior aos cotados
para centrais convencionais. Normalmente, levará um período de cerca de seis meses
para que o parque eólico atinja a operação comercial completa e madura e, portanto,
durante esse período a disponibilidade aumentará de um nível de cerca de 80-90% após
o comissionamento para 97%, ou mais, durante a operação no longo prazo (EUROPEAN
WIND ENERGY ASSOCIATION, 2022).
Ao final do comissionamento, todo o sistema tem que funcionar sem falhas por
muitas horas de geração de energia. Normalmente, o fornecedor do parque eólico
oferece uma garantia entre dois e cinco anos. Essa garantia, geralmente, cobre a perda
de receita, incluindo o tempo de inatividade para corrigir falhas e um teste da curva de
potência da turbina. Se a curva de potência for considerada defeituosa, o reembolso
será feito através do pagamento de indenização por danos morais.
Para parques eólicos modernos, raramente há problemas em atender às curvas de
potência garantidas, mas a disponibilidade, principalmente para novos modelos, pode
ser menor do que o esperado nos primeiros anos de operação. À medida que o uso do
modelo aumenta, esses problemas são resolvidos e a disponibilidade cresce.

1 O termo SCADA vem do inglês: Supervisory Control and Data Acquisition, que em português quer dizer
Sistema de Controle e Aquisição de Dados. O sistema SCADA é utilizado para monitorar e atuar sobre as variáveis
selecionadas por meio de sensores e atuadores. Essas variáveis podem ser: temperatura, pressão atmosférica,
velocidade de vento, umidade, etc.

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ENERGIA EÓ LICA

5.6 Operação e manutenção do parque eólico


Após o comissionamento, o parque eólico será entregue à equipe de operação
e manutenção (O&M). Manter as turbinas eólicas girando com eficiência e segurança
durante sua vida útil pode envolver uma ampla gama de conhecimentos. Como o parque
não consiste apenas de turbinas eólicas, é necessária a manutenção de toda a instalação,
incluindo as subestações.
As tarefas de manutenção e seus custos associados dependerão do tamanho do
parque e do projeto das instalações. Quanto maior a qualidade na fase de construção,
menores são os custos de O&M.
Uma equipe típica será composta por duas pessoas para cada 20 a 30 turbinas
eólicas em um parque eólico. Para parques eólicos menores, pode não haver uma
equipe de O&M dedicada, mas serão feitos arranjos para visitas regulares de uma equipe
regional. O tempo típico de manutenção de rotina para uma turbina eólica moderna é
de 40 horas por ano.
Para garantir que a turbina eólica permaneça funcional e operacional, produzindo
eletricidade mais eficiente, vários serviços de manutenção são necessários, desde manu-
tenção na caixa de engrenagens até reparos estéticos (como pintura da pá). Reparos no
bordo de ataque devido à erosão são bastante frequentes.
Durante o período de funcionamento do parque, algumas licenças de construção
obtidas antes da construção dele podem ter alguns requisitos de reporte ambiental
em curso, por exemplo, a monitorização de ruído, atividade aviária ou outro interesse
da flora ou fauna. Da mesma forma, dependendo dos regulamentos locais, pode haver
deveres regulatórios a serem executados em relação ao operador da rede elétrica local.
Portanto, além das atividades corriqueiras de O&M, muitas vezes há uma função de
gerenciamento a ser desempenhada em paralelo. Muitos parques eólicos são objeto de
financiamento de projetos e, portanto, atividades regulares de relatórios aos credores
também serão necessárias.

5.6.1 Danos em turbinas eólicas em operação

As turbinas eólicas devem ser inspecionadas regularmente em serviço e reparadas


em caso de defeitos. Uma vez que muitos parques eólicos estão em áreas remotas e
sujeitos a duras condições de trabalho, garantir a integridade dessas estruturas de grande
porte é um desafio difícil e, certamente, qualidade e segurança são requisitos para as
equipes de manutenção (LUCENA, 2021).
Durante a vida útil, as turbinas eólicas estão sujeitas a condições ambientais, tais
como: turbulência atmosférica, cisalhamento do vento da camada limite atmosférica,

Voltar ao sumário 103


ENERGIA EÓ LICA

direções do vento que mudam no tempo e no espaço e efeitos da esteira de turbinas


eólicas vizinhas. Esse é um dos principais desafios na otimização do projeto, operação,
controle e integração à rede dos parques eólicos. A turbulência da camada limite
atmosférica influencia os fluxos de esteira das turbinas e sua superposição, pois são
responsáveis ​​por consideráveis ​​perdas de potência nas turbinas e cargas de fadiga em
parques eólicos, aumentando os custos de manutenção.
Os principais danos nas turbinas eólicas durante o ciclo de vida são causados ​​por
desgaste geral, cargas de fadiga e condições ambientais (raios, gelo, vento forte, chuva,
granizo, ondas e diferenças de temperatura) e incluem: erosão superficial e no bordo de
ataque, receptores de raios danificados, geradores de vórtice danificados, delaminação,
falha nas fibras da pá, descolagem das juntas adesivas das cascas intradorso e extradorso,
rachaduras superficiais e internas, ferrugem, oxidação, falha do sistema de controle, quebra
de componentes e falha da rede (LUCENA, 2021). Detectar danos durante a operação
de turbinas eólicas, embora custosos e perigosos, é de fundamental importância para
minimizar o tempo de inatividade e evitar possíveis falhas estruturais catastróficas. A
Figura 5.6 exemplifica alguns danos comuns em turbinas eólicas durante sua vida útil.

Figura 5.6 – Danos em turbinas eólicas durante sua vida útil:(a) Delaminação da pá. (b) Pane elétrica na
nacele. (c) Erosão no bordo de ataque. (d) Dano por queda de raio. (e) Fadiga mecânica

Fonte: Canva for Education (2022).

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5.6.2 Manutenção de turbinas eólicas

Conforme apresentado anteriormente, na Unidade 3, as pás do rotor são feitas


de material compósito e durante a vida útil, passam por centenas de milhões de ciclos
de fadiga.
Tanto a degradação da pá eólica quanto os procedimentos de reparo representam
os processos multiescala, controlados por efeitos geométricos (como a geometria da
pá), efeitos mecânicos (resistência do compósito e adesivos, tipo de revestimento e
distribuição de tensões no material) e efeitos físico-químicos (mecanismo de cura do
adesivo polimérico, umidade, temperatura e raios UV do ambiente) (MISHNAEVSKY
JUNIOR, 2019).
As técnicas de reparo de pás compreendem, principalmente, revestimento, fixação
de remendo de reforço, injeção e cura de adesivos. Em condições de vento forte, a ponta
de uma pá de 60m, por exemplo, gira a uma velocidade próxima a 320 km/h e essa alta
velocidade é, sem dúvida, uma das causas do desgaste das pontas das pás (delaminação),
como mostra a Figura 5.6a.
Recentemente, grandes esforços têm sido feitos para reduzir os custos de operação
e manutenção da energia eólica, utilizando tecnologias emergentes, tais como: automa-
ção, análise de simulação numérica e inteligência artificial (INTERNATIONAL RENEWABLE
ENERGY AGENCY, 2019b; MISHNAEVSKY JUNIOR., 2019; LUCENA, 2021).
Fibras de carbono/epóxi impressas em 3D com autoaquecimento podem ser apli-
cadas no degelo de turbinas eólicas para diminuir o tempo de degelo em 85%. Outro
exemplo é o uso de simulações computacionais no estudo da dinâmica dos fluidos
aplicada à modelagem e controle de parques eólicos, no sentido de auxiliar a equipe
de operadores de processo a minimizar o impacto do efeito esteira da turbina, ou seja,
a influência agregada na produção de energia no parque resultante das mudanças na
velocidade do vento, causadas pelo impacto das turbinas umas sobre as outras.
Dessa forma, investigar o desempenho do parque eólico em diferentes condições
atmosféricas é importante para considerar o efeito esteira de parques eólicos vizinhos
e o possível impacto dos parques eólicos que serão construídos no futuro. Um método
preciso baseado na produção de energia, distribuição de vento e perda de esteira foi
relatado na literatura (WU et al., 2020) para otimizar o layout do parque eólico, consi-
derando o benefício de produção anual e os custos de energia, cabos e terrenos que
certamente são determinados por ambas as localizações de turbinas eólicas no parque
e os layouts de cabo.
Os sistemas para monitorar o desempenho operacional de uma turbina eólica e
seus componentes compreendem combinações de sensores e equipamentos de pro-
cessamento de sinal e podem ser on-line (e, portanto, fornecer feedback instantâneo da

Voltar ao sumário 105


ENERGIA EÓ LICA

condição) ou off-line (os dados são coletados em intervalos regulares de tempo, usando
sistemas de medição não integrados no aerogerador).
Uma visão detalhada de um sistema de monitoramento de condição de turbina
eólica normalmente inclui: velocidade do vento, potência ativa e reativa, ângulo de
guinada, status de comando, operacional e falha, dados elétricos e mecânicos, dados
meteorológicos, dados de rede e dados estatísticos.
A inspeção manual de turbinas eólicas é uma atividade de alto risco que requer
muito tempo para avaliar cada turbina em uma usina. Outra característica é o tempo de
operação de cada turbina, que diminui quando ela deve estar parada durante a inspeção.
Normalmente, são necessários grandes guindastes para fornecer acesso para inspeção
de perto dos vários componentes da turbina eólica (LUCENA, 2021).
Atualmente, esses problemas são superados pela inspeção, realizada com câmeras
no solo ou, utilizando veículos aéreos não tripulados (drones) (Figura 5.7), que informam
a localização e o tamanho dos danos: rachaduras, delaminação, descoloração, descola-
gem, derramamento de óleo e hot-spot (pontos quentes).

Figura 5.7 – Inspeção não destrutiva de turbina eólica: (a) Com o uso de
câmera de alta resolução no solo. (b) Com o uso de drone

Fonte: Canva for Education (2022); Ventus Group (2022).

Vários tipos de técnicas não destrutivas podem ser acopladas em drones: câmeras
visuais e infravermelhas, fontes radiográficas, sistemas ultrassônicos e de alta frequên-
cia, que estão preparados para gerar, coletar e transferir as imagens/dados, em tempo
real e sem fio, para as ferramentas de inspeção utilizadas. Outras técnicas comuns de
monitoramento são: parâmetros de processo, monitoramento de desempenho, análise
de vibração, análise de óleo, medição de deformação e efeitos elétricos.

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ENERGIA EÓ LICA

Com os recentes avanços na tecnologia de drones, muitas imagens de alta resolução


de turbinas eólicas são rotineiramente adquiridas e, posteriormente, analisadas por
especialistas para identificar danos iminentes à superfície. A análise automatizada de
imagens de inspeção de drones com o auxílio de inteligência artificial (como algoritmos
de aprendizado de máquina) pode reduzir os custos de manutenção de turbinas eólicas
devido ao menor trabalho manual envolvido e menor necessidade de mão de obra de
inspeção propriamente dita.
Modelos de rede neural para detectar danos superficiais em pás eólicas têm sido
utilizados para reduzir o tempo e o risco assumidos para o monitoramento da saúde
estrutural de turbinas eólicas. Ao utilizar amostras das condições reais das pás com
fotografias de drone, o restante das pás da turbina eólica no local pode ser previsto com
86% de erro R-quadrado (MARTINEZ et al., 2019).
Por outro lado, a qualidade das fotos e vídeos feitos por drones é fortemente
influenciada pelas condições de iluminação, distância do objeto e movimento do veículo,
induzido por efeitos ambientais. Apesar disso, as oportunidades de inovação e avanços
mais promissores na tecnologia de drones caminham para o uso de drones autônomos
para serviços de manutenção, como a entrega de peças de reposição em um parque
eólico offshore ou em uma planta remota para reparo (LUCENA, 2021).
Nesse sentido, os veículos aéreos não tripulados parecem ser bons em encontrar
danos visíveis e externos, mas são falhos para detectar danos internos, como descon-
tinuidades subsuperficiais. Por esse motivo, a robótica de alta tecnologia controlada
remotamente (que pode dimensionar superfícies verticais ou invertidas) permite inspe-
ções autônomas com custos acessíveis e pode detectar danos subsuperficiais, usando
câmeras de ultrassom avançadas para inspeção bidimensional e tridimensional das
camadas de materiais compósitos da pá eólica (LUCENA, 2021). Além disso, o impacto
ou o estresse excessivo da turbulência podem criar danos subsuperficiais que são pouco
evidentes, visualmente, na pá.
Os parques eólicos onshore, geralmente, estão localizados longe das cidades onde a
eletricidade é necessária. Linhas de transmissão devem ser construídas para transportar
eletricidade do parque eólico para a cidade. Além disso, terrenos viáveis para
​​ instalação
de aerogeradores podem concorrer com usos alternativos mais valorizados do que a
geração de eletricidade. A natureza aleatória associada à componente turbulenta do
vento e a necessidade crescente de quantificar, cada vez mais rigorosamente, os efeitos
induzidos pelo vento em sistemas estruturais flexíveis, levou ao desenvolvimento de
modelos probabilísticos para prever e simular a potência e monitorar o desempenho
das turbinas eólicas.
Espera-se que os parques eólicos mantenham uma operação confiável por longos
períodos com pouca intervenção humana. Neste contexto, a otimização de componentes
eletrônicos para melhorar a proteção contra umidade (reduzindo a falha dos módulos

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ENERGIA EÓ LICA

de potência por condensação e acúmulo de água) e com menos peças (para melhorar
a confiabilidade dos componentes e reduzir o número de defeitos ou falhas) são imple-
mentadas pelos fabricantes de eletrônica de potência.
As altas taxas de crescimento e desenvolvimento da energia eólica nas últimas
décadas levaram a um grande aumento na complexidade e escala dos sistemas de con-
versão, bem como na otimização das tecnologias de fornecimento de energia e modos
de consumo de energia, incluindo: rede elétrica inteligente e medição, tecnologia de
armazenamento de eletricidade, transmissão de energia por longas distâncias, produção
de equipamentos energeticamente eficientes altamente econômicos e ecologicamente
corretos e transporte elétrico (como tecnologias veículo-rede e rede-veículo) (LUCENA,
2021). À medida que a computação e as comunicações da camada cibernética se tornam
mais complexas, os sistemas de energia eólica estão cada vez mais expostos a vulnera-
bilidades, falhas de software e ataques cibernéticos.
Por essa razão, os sistemas de conversão de energia eólica devem ser seguros,
protetores e sustentáveis. Na perspectiva dos desafios e oportunidades de expansão da
tecnologia de energia eólica, há a necessidade de colaboração interdisciplinar, como ocorre
entre a ciência dos materiais e a engenharia aerodinâmica, para melhor compreender
as condições ambientais em áreas onde as turbinas mais altas irão operar, bem como as
restrições de materiais associadas ao aumento de escala e à necessidade de interação
entre os locais das turbinas com as características das linhas de transmissão gerais. As
unidades fora da rede tendem a aumentar devido à viabilidade econômica eficiente em
áreas isoladas em comparação com parques eólicos conectados à rede. As iniciativas
governamentais voltadas à eletrificação rural, juntamente à crescente integração da
infraestrutura de microrredes, são fatores-chave que podem fortalecer ainda mais o
potencial da indústria eólica global. Baixos custos de instalação e esquemas regulatórios,
incluindo alimentação tarifária e medição líquida, incentivarão a participação da indústria
na rede. O desenvolvimento contínuo de infraestrutura de eletricidade baseada em ser-
viços públicos para atender à crescente demanda por eletricidade em áreas residenciais
aumentará ainda mais o negócio eólico nas próximas décadas (LUCENA, 2021).

5.6 Aspectos de segurança em instalação e


manutenção de sistemas eólicos

Além dos cuidados com a operação e manutenção dos aerogeradores num parque
eólico, a segurança dos trabalhadores e do próprio empreendimento deve também ser
garantida, de forma a atender as normas de segurança estabelecidas pelo Ministério
do Trabalho e Emprego.
Segundo a ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENERGIA EÓLICA E NOVAS TECNOLOGIAS
(ABEEólica, 2022), a construção dos parques eólicos criou quase 196 mil postos de
trabalho ou 10,7 empregos por MW instalado de 2011 a 2020.

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ENERGIA EÓ LICA

Conforme apresentado na Unidade 1, na operação e manutenção de parques


eólicos são necessárias pequenas equipes com grau de qualificação mínimo em nível
técnico. Ter as equipes de trabalho capacitadas e ter as instalações em perfeito estado
de conservação contribuem para minimizar os riscos de acidentes. O gerenciamento
do risco elétrico é fundamental no setor eólico, pois os sistemas produtores de energia
elétrica precisam atender às normatizações de segurança.
A construção de um parque eólico envolve situações em que o trabalhador está
exposto a algum tipo de risco, como: quedas, lesões, choques elétricos, ergonomia,
espaço confinado, instalação em área de risco, trabalho em altura e condições meteo-
rológicas adversas.
No setor eólico, profissionais de Saúde e Segurança do Trabalho atuam propondo
medidas que evitem acidentes e garantem um ambiente de trabalho mais controlado
e livre de riscos para a realização de atividades ao longo de todas as etapas do projeto
do parque eólico.
As orientações da NR-10 (Norma Regulamentadora n° 10) tratam da Segurança em
Instalações e Serviços em Eletricidade (BRASIL, 2019) e aplicam-se às fases de geração,
transmissão, distribuição e consumo, incluindo ainda as etapas de projeto, construção,
montagem, operação e manutenção das instalações elétricas, como é o caso dos par-
ques eólicos. Seu principal objetivo é garantir a segurança e a saúde dos trabalhadores
que, de alguma forma, entram em contato com instalações elétricas, ou que exerçam
serviços com eletricidade.
A NR-10 deve ser considerada e aplicada em todas as fases do projeto eólico:
fabricação de componentes de aerogeradores, logística, edificação e comissionamento
do parque, operação e manutenção, repotencialização, descomissionamento e gestão
de resíduos.
Ainda que um parque eólico possua poucos trabalhadores que realizam manutenção
no interior das turbinas, um dos principais desafios da indústria é o fato das turbinas se
incendiarem. Esses incidentes representam as maiores preocupações entre projetistas,
fabricantes, produtores e seguradoras, uma vez que acarretam danos consideráveis como
perdas diretas decorrentes do sinistro, interrupções da produção, e danos na própria
imagem das empresas produtoras (WINTER; SEGALOVICH, 2018).
Algumas características das turbinas eólicas, como a alta concentração de poten-
ciais fontes de ignição na nacele; a impossibilidade de combate ao fogo por brigadas
de incêndio devido à altura das torres e a localização das turbinas em lugares remotos
aumentam os riscos de fogo em parques eólicos. Além disso, as turbinas eólicas possuem
itens de elevado valor financeiro, de forma que os custos com reparo e substituição de
peças após um incêndio podem chegar ao valor original da turbina.
Em casos de incêndios na subestação central de um parque eólico, há a desconexão
do abastecimento de energia de todas as máquinas à rede. Uma falha nesta situação

Voltar ao sumário 109


ENERGIA EÓ LICA

torna os custos de reparo e tempo por hora parada mais elevados (WINTER; SEGALOVICH,
2018). Em situações mais extremas, existe, ainda, a possibilidade da queda de torres e
componentes que podem atingir demais partes do sistema, gerando focos de incêndios
secundários. Devido às longas distâncias entre os parques eólicos e as estações de combate
a incêndio, somadas aos fortes ventos presentes nestas regiões, os focos disseminam-se
rapidamente, podendo chegar a níveis de incêndios florestais - em muitos casos difíceis
de serem combatidos. Nessas situações, além dos custos diretos ao sistema, os danos
ao meio ambiente são irrecuperáveis.
Além disso , o risco de queda de raios deve-se não somente à grande estrutura
das torres dos aerogeradores, mas também às elevadas altitudes às quais são expostos
quando instalados. Sistemas de proteção não dimensionados e/ou não implementados
corretamente, ou em que as devidas manutenções não sejam executadas, podem fazer
com que riscos de incêndio aumentem. Além disso, em uma instalação elétrica todos
os condutores estão expostos a facilitar o caminho de sobretensões transitórias, provo-
cando, assim, perturbações na alimentação de todos os sistemas elétricos conectados.
Ademais, uma descarga atmosférica pode vir a produzir efeitos secundários, tais como:
efeitos eletrodinâmicos, térmicos, magnéticos e eletromagnéticos; sobrecarga; danos
e desprendimento de componentes; incêndios florestais; e contaminação (óleo) dos
aerogeradores (BONFIM; YAMANISHI, 2017).
Com os meios atualmente disponíveis, as brigadas de incêndio não têm qualquer
chance de combater um incêndio em turbinas eólicas se a nacele ou rotor forem afe-
tados. As escadas da plataforma giratória da brigada de incêndio não atingem a altura
necessária e, portanto, uma nacele que está em chamas não pode ser alcançada de fora.
O caminho para a nacele via escada ou elevador de uma turbina em chamas também é
perigoso para os bombeiros e, portanto, isso também não é uma opção. Os bombeiros
estão expostos ao risco de serem feridos pela queima de peças que caem, mesmo no
chão, no entorno da turbina (WINTER; SEGALOVICH, 2018).
Toda a área da turbina eólica deve ser declarada área para não fumantes. Todos os
trabalhadores presentes na planta, sejam equipes de serviço ou funcionários de empresas
externas autorizadas, devem receber instruções regularmente sobre prevenção de riscos
de incêndio, funcionalidade dos sistemas e instalações de proteção contra incêndios
presentes no parque eólico, além de saber como lidar com eles, como se comportar
corretamente em casos de incêndio e o uso correto de extintores. Sugere-se, também,
a realização de testes de alarmes de incêndio, ensaios para implementação do plano
de emergência e evacuação da nacele e envolver o corpo de bombeiros local nestes
treinamentos e simulações (CONFEDERATION OF FIRE PROTECTION ASSOCIATIONS IN
EUROPE, 2022).

Voltar ao sumário 110


ENERGIA EÓ LICA

5.8 Parques eólicos híbridos


Com a crescente implantação de infraestruturas para geração eólica e solar pelo
mundo, surgem novos desafios em relação à adequação da capacidade de geração de
longo prazo e equilíbrio de sistemas de curto prazo, ambos essenciais para manter a
estabilidade e confiabilidade do sistema de rede elétrica no futuro.
No entanto, para aumentar consideravelmente a participação da energia eólica
nos mercados de energia e acelerar a transição energética global, são necessárias várias
mudanças, segundo a Global Wind Energy Council (2020):
• um foco contínuo em soluções para conectar a eólica e outras energias limpas
à rede;
• melhorias no transporte de grandes quantidades de energia renovável por dis-
tâncias maiores e com mais eficiência;
• consolidação da tecnologia do hidrogênio para descarbonizar setores em que a
eletrificação direta é um desafio;
• aumento da capacidade de armazenamento de energia em períodos de excesso
de oferta.
Com a expansão da capacidade eólica, a demanda por sistemas de armazenamento
de energia aumentou significativamente, e novas soluções, como a hibridização, estão
sendo progressivamente implementadas em mercados maduros e emergentes para
apoiar a integração de energia eólica e outras renováveis.
Consequentemente, células de combustível e baterias são os dois dispositivos mais
promissores para atender a demanda por energia renovável. Para acelerar a transição
energética global, grandes empresas do setor eólico estão interessadas em iniciativas
para acelerar a colaboração com setores como o hidrogênio verde.
A variabilidade na oferta de energia elétrica deve ser considerada para maximizar
a penetração da energia eólica no sistema elétrico e garantir um alinhamento perma-
nente entre oferta e demanda. Nessa perspectiva, a combinação de diferentes fontes
renováveis ​​tem sido, cada vez mais, escolhida para tornar a geração de energia mais
previsível, principalmente solar e eólica, que podem operar de forma complementar,
reduzindo a ociosidade do sistema de transmissão.
As usinas híbridas podem otimizar o uso da rede de transmissão e reduzir a varia-
bilidade diária e mensal das fontes eólica e solar. Além disso, a construção de usinas
de diferentes fontes em um mesmo local, também, pode ser atrativa para um melhor
aproveitamento do solo e ganhos sinérgicos na construção, operação e manutenção.

Voltar ao sumário 111


ENERGIA EÓ LICA

A China foi o principal mercado de sistemas híbridos solar/eólico no ano de 2018, e


as projeções indicam que continuará sendo o principal consumidor nas próximas décadas
(INTERNATIONAL RENEWABLE ENERGY AGENCY, 2019a).
Devido à natureza intermitente do sol e do vento, os sistemas de armazenamento
de energia que usam baterias tornam-se necessários para fornecer energia de forma
consistente. Outras tecnologias de armazenamento são: armazenamento de energia de
ar comprimido adiabático, volantes, energia para gás e supercapacitores.
A tecnologia de baterias armazena energia quimicamente e pode ser localizada
no ponto de demanda ou no nível da rede; permite maiores quantidades de eletrici-
dade renovável e contribui para a confiabilidade do sistema. O progresso recente está
tornando as baterias mais seguras e eficientes, e o mercado mudou da implantação de
baterias de sódio-enxofre para baterias de baixa temperatura (íon-lítio, chumbo-ácido,
níquel-cádmio). Portanto, o armazenamento em bateria está se tornando uma opção
importante para flutuações de fornecimento de energia renovável de curto e longo prazo
(de segundos ou horas).
No entanto, várias barreiras precisam ser superadas antes que o armazenamento
em bateria seja totalmente integrado como uma opção dominante no setor de energia:
questões de desempenho e segurança, barreiras regulatórias e aceitação da concessionária.
Sem dúvidas, o advento de usinas híbridas eólica-solar com armazenamento de
baterias levarão a uma demanda considerável no mercado com a rápida queda nos
custos da energia solar fotovoltaica nos últimos anos. Espera-se que a complementa-
ridade dessas duas tecnologias e sua disponibilidade em diferentes épocas gerem um
sistema de custo muito baixo e um nível mais alto de confiabilidade de fornecimento
(MEHRJERDI, 2020).
Por causa disso, as empresas estão estudando maneiras de como o hidrogênio
pode integrar a eletricidade eólica offshore nas redes atuais e futuras. Os parques eólicos
híbridos podem usar a eletricidade excedente gerada pelas turbinas eólicas para produzir
gás hidrogênio (através da eletrólise da água) que pode ser armazenado e, quando a
produção eólica não atender à demanda, esse hidrogênio verde poderá ser consumido
em células de combustível para geração de eletricidade (armazenamento sazonal) ou ser
utilizado como matéria-prima para a indústria química para a produção de fertilizantes
ou metanol verde, por exemplo.
Os custos do hidrogênio verde em 2019 variaram entre US$ 2,50/kg a US$ 4,50/kg,
dependendo principalmente do custo do eletrolisador (GLOBAL WIND ENERGY COUNCIL,
2020). O hidrogênio produzido pela eletrólise pode ser comprimido e armazenado em
um sistema de tanque, para ser descarregado quando houver necessidade de energia.
Alternativamente, os resíduos agrícolas têm sido considerados uma alternativa eficaz
para cobrir o déficit de energia eólica em sistemas híbridos eólico-biomassa (TAJEDDIN;
ROOHI, 2019).

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ENERGIA EÓ LICA

Outra solução é por meio de uma plataforma de hidrogenação offshore disponí-


vel, onde o hidrogênio líquido pode ser convertido em gás natural sintético (amônia)
antes do transporte do navio para os usuários finais para vários fins. Como o transporte
marítimo é uma forma de transporte relativamente cara, os eletrólitos também podem
ser implantados em áreas costeiras conectadas por cabos submarinos de alta tensão a
subestações, para que o hidrogênio verde possa ser transportado diretamente com dutos
de hidrogênio em terra ou com caminhões após compressão (GLOBAL WIND ENERGY
COUNCIL, 2020).
Uma terceira solução inovadora para hidrogênio offshore visa a usar o excesso de
energia eólica offshore para alimentar eletrólitos localizados em plataformas de petróleo
e gás para produzir hidrogênio verde a partir da água do mar. Nesse caso, a infraestrutura
existente de extração, de processamento e de transporte de gás natural das platafor-
mas de petróleo offshore pode ser adaptada para produzir, armazenar e transportar o
hidrogênio gerado em parques eólicos híbridos. O hidrogênio é misturado na linha de
exportação de gás e transportado para terra através da infraestrutura de gás existente.
Essa solução já é amplamente utilizada por produtores de gás industrial para abastecer
indústrias químicas e de refino.

5.9 Turbinas eólicas ao fim da vida útil


Ultimamente, a expansão da fonte de energia eólica tem gerado uma quantidade
cada vez maior de descarte de resíduos associados ao descomissionamento de aeroge-
radores que chegam ao fim de sua vida útil, trazendo um impacto ambiental negativo
como consequência, pois não existem tecnologias de reciclagem bem estabelecidas até
o momento, afinal são máquinas relativamente novas e inovadoras.
Por isso, a reciclagem de turbinas eólicas antigas é vista como uma prioridade para
a indústria eólica. Embora hoje cerca de 85% da massa total das turbinas eólicas possa
ser reciclada (WIND EUROPE, 2019; SOMMER; STOCKSCHLÄDER; WALTHER, 2020), o
maior desafio está associado à gestão de resíduos das pás eólicas, pois são feitas de
materiais compósito e os tratamentos para fibras sintéticas (com alto teor inorgânico)
e resinas termofixas (reticuladas e infusíveis) são complexos e ainda precisam de mais
pesquisa e desenvolvimento.
Enterrar pás eólicas em desuso (como mostrado na Figura 5.8) é uma prática que
está sendo cada vez mais proibida em países europeus, que já possuem grande quanti-
dade de aerogeradores com mais de 15 anos de uso.
A trituração da pá eólica em pellets, para serem incorporadas como carga em
novas peças compósitas, é a forma mais simples e barata de se reaproveitá-la, mas a

Voltar ao sumário 113


ENERGIA EÓ LICA

demanda por esse tipo de material reciclado é inferior à quantidade de resíduos gerados
pelo mercado eólico e por isso mais soluções tecnológicas são desejáveis.

Figura 5.8 – Aterros para pás de turbinas eólicas em desuso

Fonte: Rasmussen (2020).

A Figura 5.9 ilustra o ciclo de vida Figura 5.9 – Ciclo de vida de uma turbina eólica e
a necessidade de alinhamento entre os atores da
de uma turbina eólica, que começa com energia eólica e as novas tecnologias
a fabricação de seus componentes e sis-
temas, seguido pelo transporte até o local
do parque eólico (na maioria das vezes em
áreas remotas) e montagem (comissiona-
mento). Uma vez que o parque eólico entra
em operação, são realizadas manutenções
preventivas e corretivas rotineiramente.
Ao final da vida útil, a turbina eólica pode
ser repotencializada para uma máquina
mais moderna (repowering), ou desativada
(decomissioning), com a intenção de reci-
clar a maioria dos componentes. Pesquisa,
desenvolvimento e inovação devem estar
alinhados com todas essas etapas para um
melhor aprimoramento das tecnologias de Fonte: Lucena (2021).
energia eólica.
Considerando os progressos atuais e futuros da energia eólica em todo o mundo,
espera-se que os materiais residuais aumentem. Sommer, Stockschläder e Walther
(2020) estimaram que 570Mton de resíduos plásticos reforçados com fibra ocorrerão
entre 2020 e 2030, apenas na União Europeia, sendo 18Mton (menos de 4%) de resíduos
plásticos reforçados com fibra de carbono. Certamente, a reciclagem de turbinas eólicas

Voltar ao sumário 114


ENERGIA EÓ LICA

demanda soluções logísticas e tecnológicas para desmontagem, coleta, transporte, gestão


de resíduos e reintegração na cadeia de valor.
Juntamente ao crescimento da capacidade eólica instalada nas décadas de 2020
a 2050, outra questão notável é a substituição de aerogeradores no final de sua vida
útil. Muitas turbinas podem durar mais de 15 anos, mas apenas em alguns mercados a
substituição é economicamente atraente, especialmente quando a turbina está localizada
em alguns dos melhores locais de recursos eólicos.
Outra possibilidade é a repotenciação de projetos existentes para prolongar sua
vida útil, em que a manutenção e modernização dos sistemas eólicos por meio da subs-
tituição de componentes mais antigos por tecnologias avançadas podem melhorar os
benefícios socioeconômicos obtidos nas instalações iniciais. A repotenciação total ou
parcial também possibilita a utilização de turbinas avançadas em locais com os melhores
recursos eólicos terrestres; no entanto, a expansão das interligações de rede primitivas
menores é necessária na maioria dos projetos (LUCENA, 2021).
A maioria dos componentes de uma turbina eólica (fundação, torre, caixa de engre-
nagens e gerador) já é reciclável ​​e tratada adequadamente (CHEN; WANG; NI, 2019).
Por outro lado, os sistemas termofixos (à base de resina epóxi) das pás são difíceis de
reciclar e este é um desafio intersetorial, uma vez que os compósitos poliméricos são
atualmente empregados em diversos sistemas estruturais.
Ainda faltam mais pesquisas para entender a complexidade da reciclagem de
compósitos poliméricos. Jensen e Skelton (2018) descreveram amplamente as práticas
de reutilização e reciclagem mecânica relacionadas a pás eólicas, incluindo aplicações
para fins arquitetônicos, bens de consumo e material de enchimento industrial. Mas,
processos químicos e térmicos, como combustão e pirólise, certamente envolvem maior
transformação do material e, portanto, exigem mais conhecimento e investimentos.
Hoje, a principal tecnologia de reciclagem de grandes volumes de resíduos compósitos
ocorre através do reaproveitamento de seus componentes minerais no processamento
de cimento (WIND EUROPE, 2020).
No entanto, tem sido cada vez mais relatada na literatura a viabilidade da pirólise
para recuperar fibras de carbono e vidro de compósitos poliméricos termofixos (RAHI-
MIZADEH et al., 2020). Sob atmosfera inerte, o compósito é aquecido para produzir gás,
óleo e resíduos sólidos – que podem atuar como combustíveis e produtos químicos para
novas aplicações. Desta forma, as fibras podem ser recuperadas para preparar novos
compósitos termofixos e termoplásticos, embora algumas propriedades mecânicas das
fibras possam ser deterioradas. Por isso, aditivos precisam ser incorporados para preser-
var a resistência mecânica das fibras recicladas, deixando-as mais próximas das virgens.
Um grande problema envolvendo a combustão e pirólise de compósitos de pás
eólicas é o fato de possuírem componentes feitos por polímeros clorados, como o núcleo

Voltar ao sumário 115


ENERGIA EÓ LICA

de PVC, que ao ser aquecido, degrada-se termicamente, formando compostos tóxicos,


como a dioxina.
O estudo realizado por Hu et al. (2018) relatou a utilização de resíduos de pás de
turbinas eólicas para realizar um sistema de co-pirólise de lodo a 600°C, na presença
do agente ativador KOH, uma vez que a co-pirólise pode aumentar a quantidade de car-
bono sequestrado de lodo de esgoto através da introdução de outro carbono contendo
precursores.
Considerando o pilar ambiental da sustentabilidade, calcula-se que a reciclagem de
um parque eólico de 60MW no final de seu ciclo de vida pode economizar mais de 80TJ
de energia e pode evitar mais de 7Mton CO2 (JENSEN, 2018), ou seja, recursos naturais
podem ser economizados para as gerações futuras.
Uma tendência emergente na reciclagem de pás inclui a investigação de diferen-
tes polímeros para substituir matrizes termofixas (epóxi e poliéster), como a resina de
poliuretano (PU), que pode aproveitar a temperatura de cura mais baixa combinada
com viscosidades mistas ultra-baixas para reduzir o tempo de ciclo e o ferramental
custo. Se as resinas termoplásticas forem comprovadamente viáveis ​​para a fabricação
de pás, será possível realizar a união secundária de elementos estruturais compósitos
e, principalmente, reciclar as pás ao final de sua vida útil.
A substituição de sistemas de resina termofixa por termoplástica na fabricação
de pás eólicas tem sido cada vez mais estudada com o objetivo de economizar custos
(devido ao ferramental não aquecido); tornar menores os tempos de ciclo de fabricação
e recuperar matérias-primas da parte aposentada.
O desenvolvimento de resinas de moldagem líquidas que podem ser infundidas
em reforços e curadas à temperatura ambiente para produzir um termoplástico de alto
peso molecular pode promover a reciclagem das pás retiradas, uma vez que a pá pode
ser triturada e incorporada a materiais termoplásticos virgens para criar novos pellets
para moldagem de plástico indústria.
Nessa linha, Cousins ​​et al. (2019) determinaram a viabilidade de reciclar com-
ponentes compósitos de uma pá de turbina eólica de 25 m feita de fibras de vidro em
uma matriz de resina termoplástica comercial. O trabalho conduzido por Murray et al.
(2019) demonstrou que uma pá termoplástica com comprimento de 61,5m custa 4,7%
menos que uma pá epóxi equivalente, evidenciando que a tecnologia termoplástica para
infusão de resina nas pás do rotor, embora nova, é econômica e tecnicamente viável.

Voltar ao sumário 116


ENERGIA EÓ LICA

5.10 Considerações finais


A indústria eólica continuará crescendo nas próximas décadas em todo o mundo
para fornecer energia limpa e renovável, evitando danos ambientais irreversíveis e as
mudanças climáticas.
Apesar do grande progresso feito recentemente por políticas e tecnologias inova-
doras no setor eólico, os países ainda estão longe de alcançar o pleno acesso às energias
renováveis ​​para eletricidade, cozinha limpa, aquecimento e transporte.
Para cumprir essas metas, é necessário aprimorar as tecnologias existentes rela-
cionadas aos parques eólicos e desenvolver novas soluções para fabricação, transporte,
comissionamento, operação, manutenção e descomissionamento de aerogeradores,
bem como sistemas de controle, inspeção em tempo real, armazenamento de energia
e materiais recicláveis.
Isso requer o fortalecimento de parcerias entre os centros de pesquisa e toda a
cadeia produtiva eólica, envolvendo profissionais de diferentes áreas das Ciências Exatas
e Engenharia, especialistas no mercado regulatório, analistas, arqueólogos e profissionais
de logística.
Um futuro movido à energia eólica permite a criação de oportunidades de emprego
e a reutilização da experiência existente na indústria de combustíveis fósseis para a
consolidação de parques eólicos offshore. O hidrogênio verde deve ser a grande aposta
para as próximas décadas, para aumentar substancialmente a participação da energia
eólica nos setores de uso final e reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

5.11 Atividades
Questão 1. As baterias na geração eólica servem para:
a) transportar energia.
b) aumentar a tensão elétrica.
c) armazenar energia.

Questão 2. Qual o grande problema das pás eólicas em desuso?


a) são difíceis de serem recicladas.
b) passam 3 anos para se decompor no ambiente.
c) demoram meses para retornar ao país onde foram fabricadas.

Voltar ao sumário 117


ENERGIA EÓ LICA

Questão 3. O termo "descomissionamento" se refere…


a) à montagem das pás do rotor da turbina eólica.
b) à edificação do aerogerador.
c) à desmontagem do aerogerador no fim de sua vida útil.

Questão 4. Entre os novos materiais para pás eólicas, pode-se citar:


a) fibras naturais, como o bambu, em algumas regiões da pá.
b) resinas mais fáceis de serem recicladas, como poliuretano.
c) ambas afirmações acima são corretas.

Questão 5. O desgaste físico da pá devido ao atrito com o vento é chamado de:


a) corrosão no bordo de ataque.
b) erosão no bordo de ataque.
c) oxidação no bordo de ataque.

Questão 6. O "repowering" de uma turbina eólica se refere...


a) ao processo de edificação do aerogerador.
b) à substituição total ou parcial de sistemas e componentes de um aerogerador.
c) à montagem das 3 pás ao rotor da turbina eólica.

Questão 7. Qual técnica não destrutiva é usada com muita frequência na inspeção
de pás eólicas?
a) partículas magnéticas.
b) ultrassom.
c) líquido penetrante.

Questão 8. A técnica de inspeção não destrutiva que utiliza uma câmera de


infravermelho é chamada de:
a) ultrassom.
c) raios-X.
d) termografia.

Voltar ao sumário 118


ENERGIA EÓ LICA

Questão 9. Que parte da turbina é mais difícil de reciclar?


a) a torre.
b) a nacele.
c) o gerador.
d) as pás.
e) os mancais de rolamento.

Questão 10. Qual Norma Regulamentadora (NR) do Ministério do Trabalho e


Emprego trata da segurança em instalações e serviços em eletricidade?
a) NR-6.
b) NR-10.
c) NR-12.
d) NR-15.
e) NR-22.

5.12 Leitura Complementar


• ROSSETO, C. Avaliação Econômica da Implantação de Turbinas Eólicas por meio
da Análise de Riscos. Revista da Graduação, v. 7, n. 1, 2014. Disponível em:
https://revistaseletronicas.pucrs.br/index.php/graduacao/article/view/17830.
Acesso em: 12 out. 2022.

• WINTER, A. C.; SEGALOVICH, R. N. Análise das Condições de Segurança em Usinas


Eólicas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Elétrica).
Departamento Acadêmico de Eletrotécnica, Universidade Tecnológica Federal
do Paraná, Curitiba, 100f. 2018. Disponível em: http://repositorio.utfpr.edu.br/
jspui/bitstream/1/10114/1/CT_COELE_2018_1_17.pdf. Acesso em: 28 out. 2022.

Voltar ao sumário 119


ENERGIA EÓ LICA

Gabarito
UNIDADE 1
1.D / 2.C / 3.B / 4.B / 5.C / 6.D / 7.B / 8.A / 9.D / 10.B / 11.A

UNIDADE 2
1.C / 2.B / 3.B / 4.D / 5.A.

UNIDADE 3
1.D / 2.C / 3.B / 4.A / 5.B / 6.B / 7.D / 8.A / 9.D / 10.D

UNIDADE 4
Questão 1. D

Questão 2. Substituindo os dados do problema na Equação 5, temos:

Como:
Temos:

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ENERGIA EÓ LICA

Questão 3. a) No gráfico, observa-se que o equipamento começa


a sua geração de energia a partir de ventos com 3m/s.
b) O aerogerador atinge sua potência nominal (potên-
cia máxima) na faixa dos 11m/s (velocidade nominal).
c) O maior valor de capacidade de geração é de cerca de
3300kW. d) A geração consegue ser mantida com velocidade
de vento entre 11m/s e 19m/s e depois começa a cair.

Questão 4. C (pois 36km/h e 54km/h correspondem, respecti-


vamente, a 10m/s e 15m/s. No gráfico, é no intervalo dessas velo-
cidades que se gera a máxima potência no equipamento.

Questão 5.
I. Verdadeira.
II. Verdadeira.

III. Verdadeira. P aumenta com o aumento da velocidade.


IV. Falsa. e

V. Verdadeira.

UNIDADE 5
1.C / 2.A / 3.C / 4.C / 5.B / 6. B / 7.B / 8.C / 9. D. / 10.B

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ENERGIA EÓ LICA

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REALIZAÇÃO

MINISTÉRIO DA MINISTÉRIO DE
EDUCAÇÃO MINAS E ENERGIA

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