02 - O Desejo de Filho Na Adoção Homoparental - Hugo Bento
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02 - O Desejo de Filho Na Adoção Homoparental - Hugo Bento
O desejo de filho
na adoção homoparental:
uma perspectiva
psicanalítica
Produção Editorial
Coordenação Editorial: Gisele Moreira
Revisão: Clarisse Cintra
Capa: Luiza Aché
Diagramação: Leonardo Paulino Santos
B42d
Formato: ebook
Requisitos do sistema:
Modo de acesso: world wide web
Inclui bibliografia
ISBN: 978855968134-5 (recurso eletrônico)
23/02/2017 23/02/2017
Sumário
Prefácio XI
Introdução XXIII
Conclusão 113
Referências 115
Posfácio 133
Prefácio
Por Luis Flávio Silva Couto1
Boa leitura,
L. F.
Referências
7
Freud afirmou que, quanto à menina, “seu reconhecimento da distinção anatômica
entre os sexos força-a a afastar da masculinidade e da masturbação masculina, para
novas linhas que conduzem ao desenvolvimento da feminilidade” (1925/1996, p.
284). Prossegue: “Enquanto, nos meninos, o complexo de Édipo é destruído pelo
complexo de castração, nas meninas ele se faz possível e é introduzido através do
complexo de castração” (FREUD, 1925/1996, p. 285).
1 A concepção freudiana do “desejo de filho” 29
8
Após constatar a falta de pênis em si mesma e na mãe, a menina passa por um pro-
cesso de introjeção: “A identificação com a mãe pode ocupar o lugar da ligação com
ela. A filha se põe no lugar da mãe, como sempre fizera em seus brinquedos; tenta
tomar o lugar dela junto ao pai e começa a odiar a mãe que costumava amar, e isso
por dois motivos: por ciúme e por mortificação pelo pênis que lhe foi negado. Sua
nova relação com o pai pode começar tendo por conteúdo um desejo de ter o pênis
dele à sua disposição, mas culmina noutro desejo – ter um filho dele como presente.
O desejo de um bebê ocupou assim o lugar do desejo de um pênis, ou, pelo menos,
dele foi dissociado e expelido (split off).” (FREUD, 1938-40/1996, p.207)
1 A concepção freudiana do “desejo de filho” 31
9
Ao propor a diferenciação entre o desejo de engravidar e o desejo de maternidade em
um artigo intitulado “Ter filhos é o mesmo que ser mãe?”, Maria Elisa Pessoa Labaki
(2007) apresenta o percurso teórico que realizou na obra de Freud a fim de identifi-
car os motivos que levam as mulheres a desejarem ter filhos. Neste trabalho, a refe-
rida autora afirma que é possível depreendermos do texto freudiano duas dimensões
patológicas do desejo de filho: o desejo de filho corresponde a um sintoma histérico
e, também, o desejo de filho é uma busca pelo objeto-fetiche. Quanto ao desejo
de filho em sua vertente histérica e sintomática, Labaki (2007, p. 77) refere-se à
substituição da “inveja intolerável do pênis” pelo anseio de ter filhos, expressando-se
como “o retorno deslocado para o filho do desejo recalcado da menininha de portar
o pênis”. Sobre o desejo de filho como busca pelo objeto-fetiche, a autora pontua:
“se ter o filho é a prova de que a percepção sobre a falta estava errada, ou, ao menos,
de que pode ser driblada, mediante a presença de um substituto obliterante, então
a premissa de castração perde temporariamente seu efeito” (LABAKI, 2007, p.81).
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Uma perspectiva psicanalítica | Hugo Leonardo Goes Bento
Que isto tem a ver com o desejo? Uma vez que o ob-
jeto causa de desejo, por estrutura, é perdido e para sem-
pre irrecuperável, a cadeia significante é marcada por uma
falta estruturante. Na perspectiva lacaniana é, exatamente,
por conter o registro de uma falta que o deslocamento
libidinal pode acontecer na trilha associativa. Assim, a es-
trutura metonímica indica que
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Uma perspectiva psicanalítica | Hugo Leonardo Goes Bento
12
Julgamos importante registrar que, enquanto redigimos este trabalho, tramita
no Congresso Nacional Brasileiro um projeto de lei popularmente conhecido como
“Estatuto da Família”. Dentre outros objetivos, este projeto de lei visa estabelecer
o seguinte conceito de família: “o núcleo social formado a partir da união entre um
homem e uma mulher, por meio do casamento ou união estável” (PL 6583/2013).
Autorizamo-nos a chamar o grupo afetivo caracterizado por vínculos de cuidado, re-
conhecimento e proteção constituído por casais homoafetivos e seus filhos de família.
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Uma perspectiva psicanalítica | Hugo Leonardo Goes Bento
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Paradójicamente, el discurso psicoanalítico y el discurso religioso están juntos em
torno a la condena al matrimonio homossexual, como si la Iglesia encontrara em el
psicoanálisis un “coadyuvante” para defender su posición sobre la família.
2 Considerações sobre os debates acerca da adoção homoparental 63
16
Em seu Seminário, o psicanalista afirmou: “o ser sexuado não se autoriza mais que
por si mesmo” (LACAN, 1973-74/1974, p.52).
78 O DESEJO DE FILHO NA ADOÇÃO HOMOPARENTAL:
Uma perspectiva psicanalítica | Hugo Leonardo Goes Bento
2.2.1 Da mãe
2.2.2 Do pai
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