Abandono e Adoção: Universidade Candido Mendes Pós-Graduação "Lato Sensu" Projeto A Vez Do Mestre
Abandono e Adoção: Universidade Candido Mendes Pós-Graduação "Lato Sensu" Projeto A Vez Do Mestre
Abandono e Adoção: Universidade Candido Mendes Pós-Graduação "Lato Sensu" Projeto A Vez Do Mestre
Abandono e Adoção
Orientadora:
Ana Paula Alves Ribeiro
Rio de Janeiro
Agosto 2010
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
Adoção e Abandono
INTRODUÇÃO
Capitulo I
1.1 As Evoluções das Leis de Adoção no Brasil
A princípio, a adoção surgiu somente para suprir a necessidade do casal
infértil. Não se pensava em dar uma família a uma criança abandonada.
A palavra adoção deriva do latim adoptare, significando o ato de
escolher, dar seu nome a alguém. Sob o aspecto jurídico, pode o instituto ser
conceituado como ato jurídico solene pelo qual se cria um laço de filiação entre
duas pessoas, com total desligamento do adotando de sua família biológica.
Tal instituto introduziu-se no Brasil a partir das Ordenações Filipinas e é a
primeira lei a cuidar do tema, de forma não sistematizada.
De acordo com Eunice Granato, a primeira lei referente à adoção no
Brasil data de 22 de setembro de 1828, que transferia da Mesa de Desembargo
do Paço para os juízes de primeira instância, a competência para a expedição
de carta de perfilhamento.
Mais tarde, conforme relata Caio Mário da Silva Pereira, no Brasil, a
adoção foi sistematizada pelo Código Civil de 1916 (art. 368 a 378) e deu
nascimento a uma relação jurídica de parentesco civil entre adotante e
adotado, com a finalidade de proporcionar a filiação a quem não a tivesse de
seu próprio sangue. Estabelecia como pressuposto a ausência de filhos
legítimos ou legitimados, só os maiores de cinqüenta anos podiam adotar e a
diferença mínima de idade entre adotante e adotado era de dezoito anos; duas
pessoas somente poderiam adotar em conjunto se fossem casadas; não se
poderia adotar sem o consentimento da pessoa, debaixo de cuja guarda
estivesse o adotando, menor ou interdito; o adotando, quando menor ou
interdito, poderia desligar-se da adoção no ano seguinte em que cessasse a
interdição ou menoridade; o vínculo da adoção poderia ser dissolvido se as
duas partes (adotante e adotado) anuíssem ou se o adotado cometesse
ingratidão contra o adotante. A adoção era feita por escritura pública.
O parentesco resultante da adoção era limitado ao adotante e adotado,
salvo quanto a impedimentos matrimoniais. Os direitos e deveres que
resultavam do parentesco natural não se extinguiam pela adoção, exceto o
pátrio poder, transferido aos pais adotivos.
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Tudo isso, bem como tratamento distinto entre filhos naturais e adotivos
quanto à partilha de bens, tornava a adoção pouco utilizada. Note-se que a
exigência de que o adotante não tivesse filhos legítimos ou legitimados
comprova que a finalidade primordial da adoção era suprir a vontade de
pessoas inférteis e não proteger a criança e garantir seu direito de ser criada
em uma família. No dia 12 de outubro de 1927, o Decreto 17.943-A consolidou
as leis relativas a menores, instituindo o Código de Menores, primeiro da
América Latina, como instrumento de proteção da infância e adolescência,
vítima da omissão e transgressão da família.
Contudo, não trouxe nenhuma alteração acerca da adoção. A Lei nº.
3.133 de oito de maio de 1957 alterou os requisitos indispensáveis para que a
adoção fosse possível: a idade mínima do adotante foi diminuída para trinta
anos e a diferença de idade entre adotante e adotado, para dezesseis anos.
Foi abolida a necessidade do casal adotante não possuir filhos, passando-se a
exigir que os adotantes fossem casados há, pelo menos, cinco anos (o que não
era necessário em 1916). Estabelecia ainda, a Lei nº. 3.133/57, que a adoção
poderia ser dissolvida por vontade do adotado, no ano seguinte em que
completasse a maioridade, pelo mútuo consentimento das partes e nos casos
em que se admitia a deserdação.
O parentesco resultante da adoção tinha efeitos apenas para o adotante
e adotado. Em se tratando de sucessão hereditária, o adotante tinha direito a
apenas metade do quinhão a que tinham direito os filhos biológicos, desde que
os filhos biológicos fossem nascidos depois da adoção. Se ao tempo da
adoção os adotantes tivessem filhos biológicos, o filho adotivo nada receberia.
Em 1965 entra em vigor a Lei nº. 4.655, criando a figura da legitimação
adotiva. Com isso, passaram a existir duas formas de adoção: aquela prevista
pelo Código Civil, alterada pela Lei 3.133/57 e a disciplinada pela nova lei. Por
essa, o adotado ficava quase equiparado nos direitos e deveres do filho
legítimo, salvo nos casos de sucessão hereditária. Essa lei estabelecia a
possibilidade de ser conferido ao menor o nome do legitimante, como também
a mudança de prenome. Assim os pais adotivos podiam dar ao menor o
prenome que escolhessem, acrescentando os apelidos de família que eles
próprios ostentavam. Era possível a legitimação da criança menor de sete anos
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e que estivesse sob a guarda dos requerentes há três anos. Era também
permitida a legitimação adotiva, em favor do menor, com mais de 7 (sete) anos,
desde que à época em que completou essa idade, já estivesse sob a guarda
dos legitimantes.
A Lei nº 6.697, de 10 de outubro de 1969, instituiu o chamado Código de
Menores, que introduziu a adoção plena, substituindo a legitimação adotiva da
Lei 4.655/65, que foi expressamente revogada, e também admitiu a adoção
simples. Essa lei destinava-se à proteção dos menores até dezoito anos de
idade que se encontrasse em situação irregular.
A Constituição Federal de 1988 igualou os direitos de todos os filhos, ao
tratar da Ordem Social, no Título VIII, Capítulo VII, da Família, da Criança, do
Adolescente e do Idoso (arts. 226 a 230), estabelecendo no § 6º do art. 227:
“Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os
mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações
discriminatórias relativas à filiação”.
O adotado ficava com os mesmos direitos dos filhos naturais, salvo na
hipótese de sucessão, se concorresse com filho biológico superveniente à
adoção.
A seguir, em 13 de julho de 1990, foi publicada a Lei nº 8.069/90,
conhecida como Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que teve origem
no art. 227 da Constituição Federal. Revogou expressamente o Código de
Menores (lei 6.697/79) e dispôs que a adoção de criança ou adolescente menor
de 18 anos seja por ela regida (art. 39).
Após a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, a visão
do instituto mudou de ângulo e passou-se a enxergar a adoção como uma
forma de proteger a criança que por algum motivo estivesse sem a proteção de
seus pais biológicos.
Capitulo II
2.1. Adoção
na ficha de inscrição tem todas as opções de escolhas; idade, cor, doença etc.
todas essas opções dificultam, ainda mais, o processo de adoção.
“O preparo daqueles que se dispõe a adotar, e se cadastram para tanto,
é muito importante. Imprescindível um preparo e uma avaliação a nível psico-
pedagógico. Poder-se-á, nessa oportunidade, desvendar quais os valores que
regem os pretensos adotantes. O que os levou a isso? Quais as expectativas
que os nutrem? Como é o filho sonhado? Sem dúvida, nessa avaliação valores
éticos, morais e espirituais terão decisivos papéis”.
“É ótimo que cada adotante possa vir a ser um disseminador da rica
experiência de gestar e fazer nascer um filho do amor e da razão. Portanto,
não se adota, e não se deve adotar sem querer.” (Freire, 1994, p. 223).
atitude da sociedade para com eles está bem assinalada pela variedade de
nomes que se lhes outorgam e as reações que estes despertam.
Logo que os passos para uma adoção foram completados, a partir do
momento em que a criança foi entregue aos pais adotivos, os pais biológicos
tornam-se os pais esquecidos, ou seja, ocultos. As instituições de adoção
manejam o critério de que o anonimato e a privacidade para todas as partes
são vitais para o êxito do caso, pelo que quanto mais rapidamente
desapareçam os pais biológicos, melhor para o bem estar de todos. Inclusive
deles mesmos, já que devem padecer ao separar-se de seus filhos.
Devemos levar em conta que aqueles que se separam de seus filhos,
levam, quase com segurança, uma grande carga de angústia, de sensação de
fracasso ou de sentimento de culpa; estes sentimentos podem agravar-se, se
as instituições que decidem a adoção das criança pressionam para realizar
uma separação excessivamente precoce.
“Muitas mães solteiras, especialmente, se jovens, quando decidem
entregar seus filhos, são praticamente forçadas a separar-se de seus filhos
antes mesmo de estar em condições de fazê-lo. Esta pessoa não provém
unicamente das instituições; o grupo social ao qual a mulher pertence orienta
também para duas direções aparentemente opostas, mas, que tem como
conseqüência, impedí-la de trabalhar sobre seus sentimentos ambivalentes e
oferecer-lhe uma oportunidade para elaborar sua decisão”.
(Freire, 1994, p. 77).
Capitulo III
Este ato também teve uma grande influência aqui no Brasil. Segundo
Venâncio apud Motta (2001), durante a colonização, surgiu o abandono,
caracterizado pelo abandono de crianças em calçadas e florestas. Por conta de
traição e amores ilícitos, muitas crianças sofreram; uns foram mortos e outros
foram abandonados.
O governo dava o auxílio a essas crianças abandonadas, o acolhimento
nas Santas Casas de Misericórdia, através da roda dos expostos. (Motta,
2001).
No início, o povo apoiava, mas depois, houve protestos contra as
instituições que acolhiam essas crianças abandonadas, alegando que o
acolhimento era uma forma de incentivo para que agissem com mais crianças
abandonadas e que também houvesse mais infidelidades.
O abandono das crianças era mais freqüente nas cidades do que no
interior, porque, além das leis, também existia a punição da Igreja, que não
permitia filhos fora, ou antes, do casamento. Por esse motivo, muitas mulheres
que tiveram filhos, por algum motivo, fora do padrão, escolheram abandonar o
filho para que, assim, pudessem proteger suas famílias para que não houvesse
uma desestruturação. Enquanto que no campo, longe da lei e da punição da
igreja, havia pouco abandono, porque a maioria vivia de pesca e de agricultura,
com trabalhos que exigiam muitos braços. Sendo assim, os filhos ajudariam
nessa atividade, levando em conta que eles começavam a trabalhar desde
cedo.
Então podemos constatar que, na época, as mulheres que abandonaram
os filhos, não abandonavam com a finalidade de dar aos seus filhos uma
chance de vida melhor, mas sim, porque preferiam ser bem vistas na
sociedade.
Podemos observar que, conforme o tempo passa a história do abandono
também muda, e hoje, as mães continuam abandonando seus filhos pelos
mesmos motivos, e por outros motivos que surgiram ao longo do tempo.
Observa-se que, nos dias de hoje, as instituições acolhedoras de crianças
abandonadas aumentaram e muitas crianças, hoje, têm chances de uma vida
melhor dentro de uma nova família, através da adoção.
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3.2. Abandono
necessidade de toda criança de ser amada e de amar. Sendo que os pais que
rejeitam a sua criança se beneficiam, também, desse direito, que lhe é
reconhecido. Entretanto, é o bem-estar da criança, o valor soberano, que deve
ser protegido.” (Freire, 1994, p. 67).
CONCLUSÃO
Muitas são as famílias que querem adotar crianças, muitas são as
crianças sem famílias, mas, muitos também são os problemas que envolvem a
adoção no Brasil.
Incontáveis crianças são abandonadas por pais logo que nascem e são
encaminhadas a instituições que as abrigam e que devem ter um caráter
transitório, ou seja, ali elas deveriam ficar até que pudessem ir para uma
família substituta.
Infelizmente, a maior parte dessas crianças cresce e se desenvolve sem
conhecer o que é uma família. Não que não existam famílias que as queriam,
mas, por não estarem juridicamente em condições de serem adotadas. Para
que uma criança esteja em condições de adoção, primeiramente, ela não deve
ter vínculo familiar. Quando abandonadas, não se tem o nome dos pais e seus
endereços, ou, quando se tem, não são encontrados; e se as crianças têm
esses vínculos elas estão disponíveis para adoção. É preciso entrar
juridicamente com a destituição de o pátrio poder.
O Ministério Público tem legitimidade para propô-la, independentemente
de uma ação de adoção, para que desta forma, e aí já em condições de
adoção, estas crianças possam ser apresentadas às famílias interessadas.
A experiência tem mostrado ser a adoção um instituto em que se pode
confiar e que pode ser convertido numa autêntica filiação, apresentando-se
como uma solução eficaz, não só para os casais sem filhos, mas, sobretudo,
no atendimento a infância abandonada ou privada dos cuidados mais
elementares.
“A adoção, em sentido estrito, significa o processo jurídico através do
que se estabelece independente do fato normal da procriação, o vínculo da
filiação. Adoção em sentido amplo significa o ato de assumir, aceitar, usar,
resolver receber como filho.” (Moraes, 1983, p. 65).
Ele merece a nossa luta, nosso trabalho para que o seu mundo, o nosso
mundo, seja melhor, sem preconceitos. Não é necessário que ele seja visto e
rotulado pela sociedade como filho adotivo, às vezes no sentido pejorativo. Ele
é filho, isto basta você o quis você o assumiu de forma expressiva pela adoção;
não importa sua procedência, sua cor, sua origem.
Precisamos abraçar a causa, ir à luta e desmistificar os preconceitos que
dificultam a adoção e a educação de nossos filhos. Precisamos reivindicar junto
ao órgão de representatividade judicial, para que estes não negligenciem as
novas leis que estão para serem postas em prática, e que não sejam
interpretadas de forma distorcida, dando origem às injustiças, mas sim
adequadamente, buscando soluções reais e precisas, e que suas aplicações
possam assegurar, com prioridade, todos os direitos da criança e do
adolescente, proporcionando-lhes proteção integral.
A sociedade precisa saber que um filho adotivo é tão ou mais importante
que um biológico. Um filho da barriga às vezes vem sem os pais quererem,
mas, o do coração é sempre muito, muito esperado. Com a convivência, ele se
torna parecido com os pais adotivos. Não deviam existir critérios para a escolha
da criança, como já se falou exaustivamente, é preferível efetuar a adoção o
mais precocemente possível.
Toda criança sem lar é, por definição, adotável, e é desejável que ela
seja recebida por uma família, independentemente de sua idade, cor, saúde,
origens. A adoção de crianças deficientes é a isenção com que o tema deve
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ser tratado; nem os pais que entregam os filhos para adoção devem ser alvos
de execração pública, nem os que os recebem devem ser vistos como
benfeitores.
As situações de adoção envolvem muitas variáveis, mas, existe uma
predominância, a dos casais estéreis de classe média para cima, da
preferência por crianças recém-nascidas, com características físicas
semelhantes a dos pais adotivos. Por outro lado, nas camadas mais pobres da
população é muito comum a figura do “filho de criação”, do agregado, da
criança acolhida depois de abandonada no portão, da criança dada pela mãe.
O que se observa é que a adoção é vista como um empreendimento
ousado e arriscado, ou como uma prova de generosidade dos pais. São ambas
as atitudes mistificadoras que só fazem prejudicar a criança, levando-a a se
sentir diferente. O ideal é que a adoção seja conhecida e “esquecida”, por
todos, que não sirva para explicar todos os comportamentos, desvios, opções
de vida do indivíduo.
A adoção é uma circunstancia de vida que não deve ser julgada ou
supervalorizada. Estou certa de que, atingido este estágio ideal de naturalidade
diante da adoção, muito mais crianças poderão conhecer a felicidade de ser
criadas em lares normais, com erros e acertos, mas, sobretudo, com amor.
Com relação à diferença de cor, penso que o maior problema não estaria
necessariamente nos pais adotivos, se eles foram preparados para essa
aceitação, mas, no preconceito existente na nossa sociedade, que infelizmente,
ainda não está preparada para aceitar, com naturalidade, diferenças raciais. No
caso de crianças que apresentam deficiências, tal preconceito estaria, sim, nos
pais adotivos.
Portanto, enfatizo o que coloquei anteriormente, para se adotar uma
criança de qualquer idade, raça ou portadora de alguma deficiência, o
importante mesmo é acreditar que ela é para nós uma dádiva de Deus.
É preciso lembrar sempre que a adoção é uma pista de mão dupla, que,
como as crianças, a família também tem seus limites. Tomando como exemplo,
o caso das adoções inter-raciais, elas só terão sucesso se resultar de
movimento bastante natural, de dentro para fora, partindo dos pretendentes.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS