Sofrimento Psíquico e o Trabalho
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Sofrimento Psíquico e o Trabalho - Irella Borges dos Santos Barbosa
1. INTRODUÇÃO
O mundo do trabalho vem sofrendo inúmeras transformações em suas variadas dimensões que interferem no modus de existir dos homens, mas é no âmbito subjetivo principalmente que se amplia o elo do sujeito com o seu trabalho e as relações advindas desta integração constroem sua identidade. O trabalho possui uma fundamental importância na saúde física e mental das pessoas, portanto a forma como nos relacionamos com o trabalho, terá reflexos positivos e/ou negativos na vida dos indivíduos.
Considerando esse contexto, o interesse pelo tema surgiu a partir de uma inquietação latente a respeito do entendimento de questões norteadoras do trabalho e de suas interfaces no desenvolvimento do psiquismo dos indivíduos.
Tais inquietações representam os reflexos do caminhar da pesquisadora, uma vez que, em uma análise mais filosófica, se é o resultado das experiências objetivas e subjetivas de nossa existência. No entanto, foi na minha relação íntima com a experiência com o trabalho, que identifiquei grandes movimentos de transformação em minha maneira de agir e de pensar sobre as coisas e sobre a vida.
Quando iniciou a jornada pela sobrevivência no mundo material, o que oficialmente se deu aos dezessete anos de idade, por meio do primeiro registro na Carteira de Trabalho e Previdência Social – CTPS, alguns conflitos imediatamente se instauraram: primeiro, a questão da necessidade de sobrevivência. Sem trabalho, não há como sobreviver, comer, pagar contas, morar, viver. Percebe-se, logo aí, que o trabalhador possui apenas o seu corpo e o seu tempo como objeto barganha.
Outra questão importante incide na percepção de que, ao doar praticamente todo o tempo disponível e força física, saúde e energia para o trabalho em troca da sobrevivência, não há condição satisfatória para alcançar outro lugar, a não ser um lugar de fadiga e do sofrimento físico e psicológico. Gera-se, então, um sentimento de revolta e a sensação de aprisionamento em uma escravidão, em uma servidão, que pertence a um sistema cíclico, em que tudo é constituído para não se chegar a lugar nenhum.
Assim, ao buscar sair desse quadro sufocante e implacavelmente adoecedor, a busca pelo conhecimento pareceu ser uma alternativa viável, capaz de grandes transformações.
No entanto, ao tentar buscar um caminho, ao qual nomeio desalienação
, torna-se perceptível que o próprio sistema capitalista proporciona amarras; é permitido estudar, porém com grandes limitações. A própria educação, algo que se nota, tem que estar a serviço da manutenção da alienação e da manutenção do sistema.
Isso ocorre na minha história pessoal da pesquisadora que estudou sempre em escola pública e grande parte da vida escolar se deu no período noturno, para se tornar possível trabalhar durante o dia. Os estudos se davam nos finais de semana, fazendo cursos e tentando suprir as lacunas de base de uma educação deficitária.
O pensamento inicial era graduar na universidade pública – em especial, na UFU – Universidade Federal de Uberlândia, no curso de Medicina. Logo foi possível perceber que isso estava distante da realidade, era coisa de gente que tinha condição de se manter
. Logo após, veio o desejo pelo curso de Psicologia. Foram várias tentativas, situação que gerou extremo abalo na questão da autoestima. No entanto, jamais se cogitava a desistência. O curso de psicologia era de período integral, e novamente ficava inacessível. Para resolver a questão, a pesquisadora cursou Letras noturno, conseguindo concluir o curso em 2003, uma vitória significativa.
Concomitantemente, foram havendo promoções no trabalho, de telefonista a subgerente comercial em uma grande seguradora. Nesse contexto laboral, exatamente, deu-se a experiência de grandes desafios: a concorrência desleal, a pressão desumana para o cumprimento de metas a qualquer custo, o assédio moral e sexual, o aviltamento da mulher no trabalho, que ganha salários menores executando mesmas funções que os homens, a discriminação por ser mulher que tem que provar o tempo todo ser uma profissional que sabe o que está fazendo, ser explorada pela empresa, trabalhar horas excedentes, dentre outras coisas.
Entretanto, foi somente após o encontro com a maior de todas as experiências subjetivas, a maternidade, que verdadeiramente houve contato com meu desejo e perceber o adoecimento psíquico no qual já havia imersão, devido à incompatibilidade da vida profissional e suas enormes exigências, sobrecarga de trabalho com a vida pessoal, agora também intensificada com as exigências da maternidade.
Por questões não mais de sobrevivência como outrora, mas por necessidade de equilíbrio psíquico, de saúde e bem estar, por buscar uma satisfação e felicidade até então almejados sem sucesso, deu-se o encontro de respostas para tantos questionamentos no trabalho como psicóloga e pesquisadora.
Dessa forma, na prática como psicóloga clínica emergiu o encontro frequente com muitas questões relacionadas a adoecimentos psíquicos decorrentes de pressões no trabalho e problemas de conciliação do mundo do trabalho com o mundo pessoal, principalmente em mulheres após a maternidade. Nas vivências como trabalhadora, por meio do resgate das experiências vividas até o momento, com inúmeras questões relacionadas ao meu papel como profissional, mãe, esposa, cidadã e estudante foram percebidas. Sobretudo a partir do encontro com a psicanálise e com a teoria marxista é que se deu o entendimento do poder desalienador do conhecimento, da educação.
É nesse contexto que se deu a interpelação para a procura de entender melhor a problemática da influência que o trabalho tem na vida, tanto profissional como pessoal, referente a uma busca por uma via sublimatória de realização dos desejos inconscientes, conforme preconiza Freud (1920-1922).
Por meio de reflexões e inquietações sobre esta sociedade capitalista opressora, na qual temos uma falsa sensação de estarmos livres para escolhermos o que queremos ser, na qual temos uma falsa ideia de que está em nossas mãos sermos felizes, bem sucedidos e realizados – percebeu-se a importância de alcançar a maioridade de que fala Kant (1784), alcançando um pensamento próprio.
Sem dúvida, algumas questões acercam o tempo todo. Questões profundas e pertinentes no contexto caótico em que vivemos, em que o pensar não tem lugar. O mundo é muito rápido, toma a vez a ação sem pensamento. Assim as pessoas vivem hoje e assim vão adoecendo, sem saber o que ocorre com elas.
A pulsão¹ da pesquisadora sem dúvida leva para o lado oposto. Por isso, a busca pela pesquisa consiste em uma tentativa interna de elaborar ou trabalhar
o assunto, principalmente, na tentativa de uma análise crítica sobre a problemática da precarização e o sofrimento psíquico do trabalhador.
A escolha pelo objeto de estudo, o trabalhador em sofrimento psíquico, decorre também de uma percepção interior à própria prática profissional. O psicólogo clínico é um trabalhador que sofre também as influências de forma direta ou indireta da precarização do seu trabalho. Muitas vezes não há um entendimento dos profissionais quanto a essa precarização e às vivências clínicas com clientes que relatam variados tipos de sintomas decorrentes de sofrimentos pelos quais passam em suas realidades laborais. Considerando isso, torna-se possível acreditar na importância dessa pesquisa e no potencial de desmistificação destas questões pouco compreendida para os psicólogos. Creio também que o presente estudo pode incentivar mais pesquisas nessa área.
Em decorrência da importância que o trabalho alcança no desenvolvimento da vida humana como um todo – tanto nos aspectos sociais que constituem a identidade dos sujeitos quanto nos aspectos psíquicos relacionados à construção de sentidos que cada indivíduo realiza sobre o seu fazer –, o tema torna-se indispensável para quem quer conhecer um pouco mais sobre o ser humano.
Para alcançar melhor entendimento sobre o homem, ao que parece, as ciências foram divididas de forma didática entre ciências humanas e da natureza. O homem foi dividido em corpo e mente e o comportamento foi cindido entre influências de forças externas e internas. A tentativa nesse trabalho é fazer uma adjeção entre essas várias partes do saber humano de forma a alcançar novos olhares.
Isso posto, na tentativa de encontrar pontos de interseção e novos diálogos entre os temas abordados nesse trabalho, reconhecer uma maior necessidade de interação entre os saberes para que sejam alcançados melhores entendimentos sobre a complexidade moderna e, ainda, por acreditar na importância de uma visão mais ampliada sobre as questões do humano, torna-se importante construir uma narrativa histórica sobre a construção da psicologia como ciência juntamente com as influências do pensamento filosófico de constituição e base, para compreender melhor a serviço de quê ou de quem a ciência psicológica constrói seu discurso.
Nesse sentido, estudar sobre o trabalho, o trabalhador e suas condições socioeconômicas, bem como sobre as influências biopsicosócioculturais as quais o sujeito sofre, representa um importante e rico nicho de pesquisa, repleto de indagações e questionamentos. Em outras palavra, o trabalho ocupa parte importante em nossa existência e, ao estudar as representações deste, poderemos alcançar respostas, resolver conflitos internos, bem como transformar a realidade.
Neste bojo, o sofrimento psíquico do trabalhador é um recorte dentro de um extenso universo. É um reflexo negativo dos tipos de relações desumanizadas que passam a existir entre os indivíduos dentro de um sistema socioeconômico, vigente em determinadas sociedades e inscrito em um tempo histórico determinado, reflexo que afeta organizações de trabalho em todo o mundo.
Sob tal matiz, vale lembrar, o trabalho é responsável também pela humanização do homem, de modo que a precarização deste trabalho desumaniza o sujeito e suas relações, interferindo de forma violenta na forma de ser e agir dos indivíduos. O trabalhador não percebe as influências alienantes em seu processo de formação, reprodução e manutenção do capitalismo, cujo domínio passa pela aprovação da ciência para sua disseminação.
Portanto, estudar o sofrimento psíquico do trabalhador é importante principalmente no entendimento das novas relações de trabalho que se complexificaram
(ANTUNES, 2015) com o advento do crescimento do capitalismo e que continuam sofrendo grandes transformações. Consequentemente, torna-se possível entender melhor o homem em suas relações inter e intrapsíquicos, para que se alcance uma análise mais aprofundada da subjetividade dos sujeitos e suas relações com o ambiente.
Entendendo que o sofrimento psíquico acontece como um processo multidimensional, seus reflexos são fatalmente percebidos dentro e fora do contexto laboral, ou seja, possui repercussões na vida íntima das pessoas que vão além de simples afetamentos contidos na vivência exclusiva do trabalho. A partir disso, podemos perceber a dimensão simbólica que o trabalho pode alcançar. Assim sendo, é fundamental conhecer as condições de trabalho dos homens, pois é nessa condição que o homem é forjado, desenvolve-se, humaniza-se ou se desumaniza.
O processo de humanização, na teoria de Marx, está fortemente enraizado no desenvolvimento da categoria trabalho como pressuposto fundamental da separação entre homem e animal:
Pode-se distinguir os homens dos animais pela consciência, pela religião e por tudo que se queira. Mas eles próprios começam a se distinguir dos animais logo que começam a produzir seus meios de existência (MARX; ENGELS, 1989, p. 13)
No entanto, na sociedade capitalista o trabalho é explorado em suas diversas formas, determinando dessa forma a desumanização, em um movimento repleto de contradições. A reflexão sobre o trabalho, então, passa necessariamente pela questão da educação como instrumento particular do processo educacional, o qual pode ser tratado de forma a contribuir ou negar o processo de humanização. A humanização do homem promovida pelo trabalho e não somente para o trabalho, bem como a promoção dessa humanização pela educação e sua práxis são fundamentos da humanização, uma