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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA


CAMPUS DE BOTUCATU
FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRONÔMICAS

Revisão Bibliográfica
Uso de VANTs na aplicação de defensivos agrícolas

ALUNO: GUILHERME WILSON MIYASHIRO


ORIENTADOR: PROFESSOR TITULAR CARLOS GILBERTO RAETANO

Revisão Bibliográfica de Trabalho de Curso apresentado à Faculdade de Ciências


Agronômicas para a obtenção do título de Engenheiro Agrônomo

Botucatu - SP
2020
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MIYASHIRO, G. W. Revisão Bibliográfica Uso de VANTs na aplicação de defensivos


agrícolas, 2020. 30 f. Relatório de Trabalho de Curso para obtenção do título de Engenheiro
Agrônomo, Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista, Botucatu,
2020.
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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA


CAMPUS DE BOTUCATU
FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRONÔMICAS

Revisão Bibliográfica de Trabalho de Curso

GUILHERME WILSON MIYASHIRO

ORIENTADOR: PROFESSOR TITULAR CARLOS GILBERTO RAETANO

Botucatu - SP
2020
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AGRADECIMENTOS

Ao Professor Dr. Carlos Gilberto Raetano (FCA-UNESP), pela minha primeira


experiência, e oportunidade de estágio na Faculdade. Pela orientação e receptividade em
momentos cruciais;

Aos docentes da FCA/UNESP, Campus de Botucatu, transmitindo seus


conhecimentos científicos e empíricos, além do incentivo de emancipar o meu espírito
crítico das coisas e a capacidade de elaborar o planejamento, metodologia, e a redação
científica;

Aos funcionários da FCA/UNESP, Campus de Botucatu e colegas de turmas;

À minha Família e amigos;

Só tenho a agradecer, apesar de ser uma conquista individual, jamais deixarei de


exaltar a colaboração de todos por essa conquista, pois ninguém chega ao topo sozinho.

Botucatu - SP
2020
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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................. 7

2 DESENVOLVIMENTO .................................................................. 11
2.1 CLASSIFICAÇÕES ............................................................................................ 11

2.2 COMPONENTES ....................................................................................... 14

2.3 PANORAMA ........................................................................................................ 15

2.4 APLICAÇÃO/PULVERIZAÇÃO COM VANTS ................................... 20

3 CONCLUSÃO .................................................................................. 28

4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................... 29

Botucatu - SP
2020
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RESUMO

O aumento populacional e a crescente demanda por alimentos ao redor do mundo exigirão


que os países aumentem a produção agrícola de suas culturas com a elevação dos índices
de produtividade em detrimento a uma diminuição da área geográfica por habitante.
Segundo a FAO, a população mundial precisa encontrar novas soluções para aumentar a
produção de alimentos em 70% até 2050. A resposta para esse desafio é a adoção e
utilização adequadas dos serviços de Tecnologia da Informação e Comunicações (TIC),
oferecendo recursos que podem aumentar a produção dos agroquímicos, como pesticidas
e fertilizantes e, ao mesmo tempo, minimizar o custo funcional. Ainda há espaço para se
melhorar o que é feito hoje, especializando o amplo conhecimento que se utiliza a campo.
As tecnologias que estão sendo empregadas em Veículos Aéreos Não Tripulados
(VANTs) estão evoluindo rapidamente e se apresentam como grande promessa e os
sistemas autônomos estão se tornando mais sofisticados e confiáveis. Nesse trabalho será
retratado o panorama atual do uso de VANTs nas operações de aplicação de defensivos
agrícolas. Assim como suas propostas, tendências e gargalos da aplicação de defensivos
pelos VANTs.
Palavras-chave: VANTs, Agricultura de precisão, Pulverização com VANTs, Drones na
agricultura.

ABSTRACT

Population growth and growing demand for food around the world will require countries
to increase agricultural production of their crops by raising yield rates to the detriment of
a decrease in the geographical area per inhabitant. According to FAO, the world
population needs to find new solutions to increase food production in 70% until 2050.
The answer to this challenge is the appropriate adoption and use of Information
Technology and Communications (ICT) services, offering resources that can increase the
production of agrochemicals, such as pesticides and fertilizers and, at the same time,
minimize the functional cost. There is still room to improve what is done today,
specializing the wide knowledge that is used in the field. The technologies that are being
used in Unmanned Aerial Vehicles (UAVs) are evolving rapidly and are presenting great
promise and autonomous systems are becoming more sophisticated and reliable. In this
work, the current panorama of the use of UAVs in operations for the application of
7

pesticides will be portrayed. As well as its proposals, trends and bottlenecks in the
application of pesticides by UAVs.
Keywords: UAVs, Precision Agriculture, UAV crop-spray, Drones in agriculture

1. INTRODUÇÃO

A agricultura é uma atividade de domínio pelo homem, desde os primórdios de


sua existência. Inicialmente caracterizada por uma atividade nômade e de subsistência e
nos dias atuais priorizando grandes áreas com máxima exploração dos recursos naturais
e sócio econômicos. Para essa mudança foi necessário a exploração de novas áreas de
cultivo, além de investimento e aperfeiçoamento dos fatores de produção para obter níveis
de produtividade suficiente para alimentar a população mundial. Com o crescimento
exponencial da população mundial, maior foi a exigência por produtos de origem
agrícola.

Segundo Geller et al. (2017), a produção de grãos deve aumentar em 24,2%, no


Brasil, até 2027 e exigirá grandes investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Os
avanços tecnológicos na agricultura têm por objetivo principal aumentar a eficiência da
produção (apud ZART et al., 2019).

O aumento populacional e a crescente demanda por alimentos ao redor do mundo,


exigirão que os países aumentem a produção agrícola de suas culturas com a elevação dos
índices de produtividade em detrimento a uma diminuição da área geográfica por
habitante. Estimativas mostram que a população brasileira poderá crescer 40% nos
próximos dez anos e a população mundial chegará a nove bilhões de habitantes (FAO,
2015). Fato que, segundo o órgão mundial, exigirá que até 2050 a produção agrícola
aumente em 60% sua produtividade em detrimento a diminuição da área agricultável por
habitante (ARTIOLI; BELONI, 2016).

De acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação


(FAO) e a União Internacional de Telecomunicações (UIT), a população mundial precisa
encontrar novas soluções para aumentar a produção de alimentos em 70% até 2050. A
resposta para esse desafio é a adoção e utilização adequadas dos serviços de Tecnologia
da Informação e Comunicações (TIC), oferecendo recursos que podem aumentar a
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produção dos produtos agroquímicos, como pesticidas e fertilizantes e, ao mesmo tempo,


minimizar o custo funcional (RADOGLOU-GRAMMATIKIS et al., 2020).

Por conseguinte, para sanar essa lacuna é necessário produzir mais, no entanto,
para conseguir este feito e torná-lo sustentável, não necessariamente necessita de mais
área de cultivo nas propriedades.

No passado, a disponibilidade tecnológica era limitada a animais e equipamentos


manuais, com a ascensão dos motores a combustão surgiram as mais diversas máquinas
agrícolas que possibilitaram a expansão da agricultura e da produtividade. Paralelamente
a isso, perdas nas operações agrícolas sempre foram comuns e reais, seja ela das mais
diversas origens (insumos, mão-de-obra, má calibração) o que afeta diretamente o fator
econômico e a produtividade final da lavoura, como também o ambiental.

Ainda há espaço para se melhorar o que é feito hoje, simplesmente especializando


o amplo conhecimento que se utiliza na condução das lavouras (MOLIN, 2017).

A chave para contornar essas perdas, e com isso produzir mais e com melhor
qualidade, é a aquisição e aplicação de novas tecnologias, na qual corrigiriam os erros e
diminuiriam custos, tornando uma área ainda mais produtiva. O termo que emprega tais
conceitos tecnológicos, focado em sanar as lacunas dentro da agricultura convencional,
chama-se agricultura de precisão.

Sendo introduzida em meados da década de 1990, no Brasil, a Agricultura de


Precisão (AP) é utilizada em todas as áreas onde há variabilidade nas operações. E com a
AP houve o aporte de novas tecnologias e alternativas para a otimização do setor agrícola.

Entretanto, o conhecimento pela Agricultura de Precisão ainda é pouco explorado


nos principais estados brasileiros de acordo com pesquisa realizada em que 73,2% dos
entrevistados (produtores) conhecem pouco e 8,5% desconhecem totalmente e, apenas
18,3% tem conhecimento mais aprofundado sobre os benefícios do uso da Agricultura de
Precisão (ARTIOLI; BELONI, 2016).

A agricultura de precisão constitui um novo método de gerenciamento de culturas,


no qual produtos agroquímicos, como pesticidas, fertilizantes e água de irrigação, são
aplicados proporcionalmente com base nas necessidades específicas das culturas, uma
vez que podem variar espacial e temporalmente. Os objetivos principais da agricultura de
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precisão são: a) aumentar o rendimento das culturas; b) melhorar a qualidade dos


produtos; c) fazer uso mais eficiente dos produtos agroquímicos; d) economizar energia;
e) proteger o ambiente físico contra a poluição. (RADOGLOU-GRAMMATIKIS et al.,
2020).

O desenvolvimento dos veículos aéreos não tripulados (VANTs) surgiu como uma
importante opção na agricultura de precisão. Seu uso na área agrícola e em missões de
reconhecimento tem sido favorável e facilitado pelo atual estágio de desenvolvimento
tecnológico, principalmente pela redução do custo e do tamanho dos equipamentos e pela
necessidade de otimização da produção (JORGE; INAMASU, 2014).

Segundo Zarco (2012), neste contexto, o uso de drones no Brasil torna-se um


aliado na Agricultura de Precisão por ser muito mais preciso, permite detectar e monitorar
grandes áreas quase que em tempo real. Por meio de imagens geradas consegue-se
identificar onde combater as pragas, ou receber reforços de adubação no solo de forma
mais específica, evitando se assim desperdícios, e consequentemente trazendo ao
produtor um aumento de produtividade (apud ARTIOLI; BELONI, 2016).

O relatório sobre VANTs divulgado pela Association for Unmanned Vehicle


Systems International prevê que a legalização de drones comerciais criará mais de € 70
bilhões em impacto econômico (como receitas, criação de empregos) entre 2015 e 2025,
e que a agricultura de precisão contribuirá com a maior parte desse crescimento
(VEROUSTRAETE, 2015).

Para Ottos (2014) existe muita especulação sugerindo que os VANTs são
provavelmente a próxima onda mais importante da tecnologia agrícola. Os VANTs
podem em determinadas situações substituir completamente os trabalhadores agrícolas
em situações de risco (KRISHNA, 2017).

Os drones têm muitas formas de uso para a agricultura e muito mais estão sendo
criados todos os anos. A flexibilidade dos sistemas VANTs, juntamente com os recursos
adicionais específicos, indicam que há algo para todas as aplicações agrícolas. O custo
está ficando mais acessível à medida que mais empresas entram no mercado, juntamente
com a economia já que os sistemas se pagam em um tempo curto (STEHR, 2015).
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Atualmente vem sendo usado em maior escala no georreferenciamento,


monitoramento e mapeamento agrícola, porém a tecnologia de aplicação tem
proporcionado alternativas para cada vez mais, os VANTs serem usados na aplicação de
defensivos em larga escala.

Em levantamento realizado por Artioli; Beloni (2016), com produtores rurais,


91,4% dos entrevistados utilizariam o serviço prestado pelo drone para obter imagens da
plantação, mapeamento dos nutrientes do solo ou monitoramento das pragas.

Apesar dos avanços no século passado, os VANTs ainda são considerados por
muitos em sua fase embrionária. As tecnologias que estão sendo empregadas em VANTs
estão evoluindo rapidamente e se apresentam como grande promessa. Os sistemas
autônomos estão se tornando mais sofisticados e confiáveis (JORGE; INAMASU, 2014).

Nesse trabalho será retratado o panorama atual do uso de VANTs nas operações
de aplicação de defensivos agrícolas. É importante destacar que apesar dos avanços
tecnológicos e de bons resultados em testes, é necessário mão-de-obra capacitada para
lidar com esse novo segmento e suas tecnologias.

Mesmo assim são grandes os desafios para a massificação da adoção dessas


técnicas para os próximos anos e, provavelmente, o maior deles é o correto entendimento
dos preceitos básicos e a disponibilidade de gente com essa bagagem de conhecimento
para atuar no setor (MOLIN, 2017).

Existem algumas lacunas a serem preenchidas no que diz respeito ao uso dos
drones pelos profissionais do agronegócio brasileiro. A falta de conhecimento dos
equipamentos e empresas disponíveis no mercado, a deficiência na operacionalização, o
custo de aquisição e a falta de regulamentação da Agência Nacional de Aviação Civil
[ANAC], restringem a uma maior utilização do produto nos principais estados do
agronegócio brasileiro (ARTIOLI; BELONI, 2016).

Além disso, deve ser dada importância às demais práticas, como tratamento
localizado de plantas invasoras, pragas e doenças, num contexto moderno que contempla
a aplicação minimizada de insumos visando à economia e o menor impacto ambiental
possível. Aliás, essa área da AP tem evoluído pouco (MOLIN, 2017).
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Ciente dos desafios e da crescente evolução para a viabilidade desta tecnologia,


este trabalho tem como objetivo apresentar as novidades até o presente momento na
agricultura, o panorama atual e quais são as dificuldades enfrentadas pelo setor.

2. DESENVOLVIMENTO

Para melhor elucidação do conteúdo aqui apresentado, este item estará separado
em 4 subseções. As duas primeiras, Classificação e Componentes, introduzem elementos
técnicos e genéricos dos VANTs comerciais, já o Panorama traz o atual cenário e as
projeções futuras dos VANTs comerciais e agrícolas. Por fim tem-se a Aplicação de
defensivos com VANTs, onde o assunto desta tecnologia será abordado com maior
detalhamento em operações de pulverização agrícola, mostrando as tendências e gargalos
desse segmento, assim como a situação atual.

2.1 CLASSIFICAÇÕES

Os VANTs são aeronaves capazes de voar autonomamente sem a presença de um


piloto. Geralmente, a missão de voo do VANT é predefinida, ou um piloto pode controlar
seu movimento e direção através de comandos de tele operação remota a partir de uma
estação terrestre.

Embora essa tecnologia tenha evoluído rapidamente no século 21, as primeiras


tentativas de implantar os VANTs foram iniciadas para fins militares a partir da Primeira
Guerra Mundial.

Mesmo que os primeiros VANTs tenham se envolvido em operações militares, a


rápida evolução de novas tecnologias, como sensores de imagem, Unidade de Medidas
Inerciais (IMU) (MIRZAEI), radar de abertura sintética (CHAN) e Global Navigation
Satellite Systems (GNSS) (DOW) resultou em desenvolvimento de VANTs civis capazes
de auxiliar na evolução de vários campos, como agricultura de precisão, geomática,
logística e monitoramento de infraestrutura (apud RADOGLOU-GRAMMATIKIS et al.,
2020).
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Como a tecnologia é importada de áreas paralelas, ela tem seus tipos e


peculiaridades. Hoje em dia tem-se variedades e diferentes classificações dessas
aeronaves.

Os drones comerciais são classificados com base na variedade de características.


Segundo Arjomani (2013), independentemente do tipo e objetivo dos drones, alguns dos
caracteres mais importantes de desempenho dos drones são: (a) peso, (b) autonomia e
alcance de voo, (c) altitude máxima, (d) carga da asa, (e) tipo de motor e (f) fonte de
energia. Portanto, drones são frequentemente classificados usando os caracteres acima
como critério (apud KRISHNA, 2017).

Segundo Jorge; Inamasu (2014), os VANTs podem ser classificados pela sua
categoria funcional como alvos, sistemas de reconhecimento ou monitoramento, combate,
logística e de Pesquisa e Desenvolvimento.

Quanto ao alcance e altitude os VANTs são classificados como:

a. De mão, com 600 m altitude e alcance 2 km;


b. Curto alcance, com 1500 m de altitude e 10 km de alcance;
c. OTAN, de 3000 m de altitude e alcance até 50 km;
d. Tático, de 5500 m de altitude e alcance de 160 km MALE (altitude média,
alcance longo), até 9000 m de altitude e alcance de 200 km;
e. HALE (altitude alta, alcance longo), acima de 9100 m e altitude e alcance
indefinidos;
f. HIPERSÔNICO, 15200 m de altitude e alcance acima de 200 km;
g. ORBITAL em baixa órbita;
h. CIS, transporte lua-terra;

Além do alcance e altitude, diferem em asa fixa ou rotativa (multirotores). Os


multirotores oferecem um conjunto de vantagens tecnológicas que otimizam sua
performance, tais como: Estabilização autônoma das atitudes em voo da plataforma
obtido pelo acionamento direto de quatro ou mais hélices e sistema de controle
embarcado; Pouso e decolagem vertical (VTOL) permitindo uso em espaço restrito,
necessitando apenas 1m² de área; Possibilidade de programação de voo estacionário ou
avanço em alta velocidade até pontos pré-determinados (coordenadas geográficas), por
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computador; Comando de retorno autônomo para a base operacional; Baixo peso da


plataforma e alto potencial de carregamento (sensores e câmeras embarcados);
Possibilidade de uso de câmeras especiais, como infravermelho (FLIR) e de alta resolução
(HD) de foto e vídeo; Estação Base (em terra) com integração de dados de voo, captura
de imagem e cartografia; Alta capacidade de customização para diferentes aplicações. No
entanto, em geral usa motores elétricos e cuja bateria não supera os 30 minutos de
operação e a capacidade de carga (payload): 800 g a 4,0 kg.

Já o VANT de asa fixa de pequeno porte, como o tipo asa delta, também é uma
opção interessante para a área agrícola. No entanto são também muito suscetíveis aos
ventos fortes. Mas de uma forma geral é o que apresenta menos problemas de operação
para usuários que iniciam a atividade (JORGE; INAMASU, 2014).

Segundo Vergouw (2016), com base nas características aerodinâmicas, os VANTs


podem ser classificados em três tipos:

a. de asa fixa;

b. de asa rotativa;

c. híbridas.

Podendo também serem classificados com base no tamanho e peso. Vários países
e pesquisadores classificaram os VANTs com base em seu tamanho e peso. Por exemplo,
a Inspetoria Holandesa de Meio Ambiente e Transporte diferencia os VANTs de leves e
pesados.

E, por fim tem-se a classificação dos VANTs com base na fonte de energia.
Existem quatro combustíveis principais para um VANT (VERGOUW apud
RADOGLOU-GRAMMATIKIS et al., 2020):

a. querosene;

b. células de bateria;

c. células de combustível;

d. células solares.
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Os VANTs relacionados ao domínio agrícola são divididos em três categorias:

a. monitoramento da vegetação, de áreas degradadas, insetos-pragas e


doenças, níveis de fertilidade, etc;

b. pulverização de produtos químicos e biológicos visando o controle


fitossanitário das culturas agrícolas e florestais, além de distribuição de Inimigos
Naturais (IN) nas áreas de cultivo;

c. aplicações diversas.

Vários tipos de VANTs são produzidos por empresas em todo o mundo. Alguns
deles são personalizados para uma função específica, como imagens de recursos naturais,
aplicação de pesticidas em taxas variadas e detecção de doenças (KRISHNA, 2017).

No geral, os VANTs de uso agrícola são produzidos por empresas especializadas


nessa área, ou apenas um modelo comercial genérico que atenda aos requisitos (tempo de
bateria, suporte de carga, tipo de motor e hélice) da operação.

2.2 COMPONENTES

A estrutura de um VANT pode ser projetada para cada ocasião e finalidade, como
visto anteriormente as aeronaves se diferenciam por suas particularidades estruturais.

Todavia há componentes matriciais que são unânimes em todos os modelos e


seguem padrões de fábrica, independente da sua utilização. Nas subseções seguintes serão
abordados, especificamente, quais apetrechos e componentes que melhor se encaixam
para a atividade agrícola, especificamente, na aplicação de defensivos.

Segundo Austin (2010), o projeto de VANTs é comparável ao de aeronaves


tripuladas, com exceção dos sistemas necessários para a acomodação e segurança dos
tripulantes. Além disso conta com itens estruturais básicos como: Conjunto propulsivo;
Hélices; Motor; Sistemas Mecânicos (transmissão, engrenagens, eixo e sistema de
conversão de energia), Estrutural (corpo) e Sistemas eletroeletrônicos (apud ZART et al.,
2019).
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Segundo Jorge; Inamasu (2014), além da aeronave (estrutura e motores), o VANT


é composto de uma estação de controle em solo, o (Ground Control Station) GCS através
da qual é possível planejar a missão a ser executada e acompanhar todo o trabalho
realizado remotamente. Em geral possibilita visualizar o mapa do local a ser monitorado,
com a referência da posição do VANT.

O VANT possui também um (Sistema de Posicionamento Global) GPS acoplado,


assim como, uma unidade de navegação inercial. O veículo não aceita comandos de
movimento diretamente ligados pelo GPS, devido à grande margem de erro deste,
recorrendo a uma unidade de navegação inercial (IMU) garantindo uma melhor precisão
da posição. A navegação inercial é utilizada por foguetes, submarinos, navios também
para determinar coordenadas.

O piloto automático ou Autonomous Flight Control System (AFCS) é um pacote


integrado (software) normalmente fornecido pelo fabricante. O AFCS recebe o controle
da estação de solo (GCS) através da telemetria de controle do sistema que atua de forma
autônoma.

Desses itens de série, o GPS é o responsável pela precisão, e o Piloto Automático


(AFCS) seria a interface e a “inteligência artificial”. Sendo tudo isso gerenciado a partir
da estação em solo (GCS).

Deste ponto já é perceptível como a agricultura de precisão atua: os serviços de


tecnologia da informação e comunicação, sensoriamento remoto, redes wi-fi, entre outros
campos tecnológicos e científicos, se convergem para proporcionar alternativas onde há
gargalos produtivos e operacionais.

2.3 PANORAMA

A agricultura acompanha e adapta as tecnologias usadas nos mais diversos campos


de atuação humana. Desde o motor a combustão até aeronaves utilizados com sucesso no
setor agrícola, estas tecnologias tendem a ter uma precisão volátil, o que por vezes pode
gerar transtornos e prejuízos. E que se tornam um dos fatores limitantes a maximização
da produção.
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Mesmo o uso da aplicação terrestre ainda sendo majoritário, o uso de aeronaves é


cada vez mais comum em tal tarefa principalmente pelo fato de aumentar a agilidade na
operação. Entretanto, alguns fatores podem acarretar perdas no rendimento da produção
(áreas não cobertas pela aplicação dos defensivos) ou mesmo prejuízo aos produtores
(aplicação sobreposta dos defensivos, multas por aplicação de defensivos na borda
externa da lavoura) (COSTA et al. 2011).

Sem dúvida, a aplicação aérea é uma ferramenta de extrema valia, quando é


realizada dentro de critérios técnicos bem definidos e acompanhada por pessoal técnico
especializado (PASSOS et al., 2014).

A tendência atual é adotar agricultura de precisão, em que os insumos são


aplicados (aplicação aérea de fertilizantes líquidos ou granulares, desfolhantes,
reguladores de crescimento ou pesticidas) a taxas variáveis (apud KRISHNA, 2017).

Relatórios mais recentes sugerem que o uso de drones em talhões de pequeno a


médio tamanho pode ganhar popularidade em um futuro próximo, já que drones são
menos onerosos, eficientes e mais fáceis de manusear do que os aviões. Os agricultores
poderiam então direcionar trabalhadores ou usar drones equipado com tanques de
herbicidas e pulverizadores de taxa variável, para aplicar herbicidas somente em locais
que exigem isso. (KRISHNA, 2017).

O uso de VANTs para aprimorar os processos de cultivo é auspicioso, pois eles


podem realizar missões de monitoramento e pulverização, otimizando a eficiência dos
pesticidas e fertilizantes, detectando pragas e doenças possíveis em tempo hábil, além de
facilitar o procedimento de pulverização. Portanto, tendo como fator motivador os
desafios existentes no domínio da agricultura e as grandes capacidades oferecidas pelo
VANT. Os VANTs podem transportar tanques cuja capacidade pode superar 10 litros.
Além disso, a taxa de descarga de líquidos pode atingir ou mesmo superar um litro por
minuto, possibilitando assim cobrir um hectare por 10 minutos (RADOGLOU-
GRAMMATIKIS et al., 2020).

As empresas de produção de VANTs agrícolas afirmam que o controle de pragas


e ervas daninhas com o uso da tecnologia VANT pode se tornar muito comum em 2025
(YOUNG et al., 2014; JENKINS; VASIGH, 2013 apud KRISHNA, 2017).
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Na última década, os agricultores começaram a usar VANTs para monitorar suas


áreas, além de auxiliar a programas de agricultura de precisão. Estima-se que 80 a 90%
do crescimento do mercado de drones na próxima década venha da agricultura. A
facilidade de uso e a capacidade de especializar cada sistema significa que haverá um
VANT para cada situação. (KRISHNA, 2017).

Conforme Costa (2011) os veículos aéreos não tripulados têm se tornado cada vez
mais baratos principalmente pelo fato de diversas funções de controle terem migrado da
camada de hardware para a camada de software. Isso tem facilitado o uso e permitido a
aplicação de múltiplos VANTs em tarefas singulares.

Segundo Stehr (2015), o custo dos VANTs pode variar de $1000 para um sistema
inicial e pode chegar de $ 10.000 a US $ 20.000, dependendo do tamanho da máquina e
de quaisquer câmeras ou recursos extras adicionados. Estes sistemas são projetados ter
peças facilmente substituíveis em caso de colisão. Comparar que para as várias centenas
de dólares por hora custa ter um avião pilotado sobrevoar um campo e não demora muito
para cobrir o custo (Anderson, 2014). O dinheiro economizado pela segmentação áreas
para aplicações de fertilizantes e pesticidas podem ser calculadas no preço também.

No contexto nacional, segundo a rede Agroservices (BAYER, 2015), as soluções


com drones para a agricultura têm um custo que varia entre R$ 400 (apenas o drone,
modelo mais simples disponível no mercado) e R$ 250 mil (com câmeras e softwares), a
depender da complexidade do aparelho e suas finalidades.

Segundo Krishna (2017), o uso do drone já está em moda em algumas culturas e


regiões do mundo. Por exemplo, o cinturão da soja (soy belt) nos Estados Unidos da
América recebeu drones em 2010, e desde então eles estão se tornando comuns na
agricultura através de seu uso na soja (United Soybean Board, 2014). No Japão,
atualmente 40% dos colheita de arroz é pulverizada, usando VANTs de asa rotativa. Esses
VANTs se movem rapidamente sobre campos de arroz inundados, aplicando defensivos
líquidos, pós ou granulados. Os VANTs também foram utilizados para pulverizar
herbicidas e outros produtos químicos fitofarmacêuticos em campos de apoio a culturas
como trigo, aveia, rabanete, videira e citros (Universidade da Califórnia, Davis, 2014;
CREC, 2015; GMITTER, 2015).
18

O Japão em particular faz muito aplicações pontuais de herbicidas em arrozais e


em seus campos montanhosos menos acessíveis (DONNERSTEIN, 2013). Porém, o
tamanho pequeno dos aviões limita a carga útil, portanto, não se espera que todas as
aplicações químicas sejam feitas por VANTs (STEHR, 2015).

Williams (2013) relatou que o uso de drones para o controle de plantas daninhas
estão aumentando na Dinamarca. Com tais equipamentos evita-se a aplicação desenfreada
de doses maiores de herbicidas em todos os campos de colheita. Os drones liberam
quantidades apropriadas de herbicidas somente em locais infestados de ervas daninhas
(apud KRISHNA, 2017)

Atualmente a indústria produz em larga escala esses dispositivos. Por existir há


mais de 20 anos, drones domésticos são amplamente comercializados ao redor do globo,
o que faz com que haja diminuição dos preços. Consequentemente, esse cenário atual
fomenta pesquisadores e empresas a tornar cada vez mais acessível e viável tal tecnologia
para os mais diversos usos agrícolas.

Um olhar para empresas de drones na América do Norte, Europa e Extremo


Oriente sugere claramente que, os drones vão ocupar quase todas as regiões agrárias do
mundo (KRISHNA, 2017).

De acordo com Sylvester (2018), as vendas de UAV na Alemanha atingiram


400.000 unidades em 2017 e, provavelmente, se aproximarão de 1 milhão em 2020. Da
mesma forma, o grupo NPD (National Purchase Diary Panel), que é um provedor global
de informações, estima que as vendas de UAV em os EUA dobraram em 2017,
registrando um aumento de 117% em comparação com o ano anterior (apud
RADOGLOU-GRAMMATIKIS et al., 2020).

De acordo com a Associação Internacional de Sistemas de Veículos Não


Tripulados (AUVSI), 80% dos VANTs serão utilizados para fins agrícolas em um futuro
próximo. Portanto, os VANTs terão papel crucial no desenvolvimento do setor agrícola
(RADOGLOU-GRAMMATIKIS et al., 2020). Krishna (2017) reforça essa projeção
quando menciona que 80 a 90% do crescimento do mercado de drones na próxima década
venha da agricultura.
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No Brasil, apesar da baixa popularidade tem algumas empresas do setor agrícola


que atuam com VANTs. Um estudo realizado por Artioli; Beloni (2016), por meio da
segmentação de mercado com base na análise demográfica foi possível fazer um
levantamento do perfil do consumidor que atua neste mercado e quais as principais
características desse cliente. O perfil do profissional mapeado no presente estudo são
usuários que possuem fazendas de 120 a 240 hectare e que exercem, na maioria das
propriedades, o cultivo de soja e milho.

Por meio dos dados coletados na pesquisa de Artioli; Beloni (2016), este é um
tema novo e que merece um aprofundamento maior pelo fato de que 67,1% dos
entrevistados conhecem pouco sobre este novo equipamento, 30% desconhecem
totalmente o que seria este produto e apenas 2,9 % conhece muito bem. Além disso,
daqueles que afirmaram terem conhecimento sobre o uso do VANT, apenas 18,6% sabem
qual é o seu real benefício, os demais 81,4%, da amostra não possuem nenhuma
informação a respeito deste novo produto.

As oportunidades representam a parte mais promissora do negócio, em virtude do


mercado de VANTs apresentar grande potencial de expansão e com crescimento de 20 a
30% ao ano, uma vez que a aceitação por parte dos agricultores é bem favorável
(ARTIOLI; BELONI, 2016).

Assim, nota-se que existe um nicho de mercado a ser explorado, devido a


crescente demanda por este tipo de produto, porém com alguns pontos que devem ser
aprimorados para o êxito do uso desta nova tecnologia, como melhor divulgação das
empresas que atuam neste segmento, consultoria e cursos aos agricultores e assistência
técnica nos principais polos do agronegócio brasileiro (ARTIOLI; BELONI, 2016).

Um exemplo prático é a empresa Bio TI, de Araçatuba (SP), que espera oferecer
aos produtores rurais o serviço de mapeamento do solo cobrando entre R$ 5,00 e R$ 10,00
por hectare, um custo menor ao gasto hoje pelos agricultores que está ao redor de R$
20,00 a R$30,00 por hectare se tornando uma técnica bastante atrativa (drone) em
substituição aos modelos atuais da AP (ARTIOLI; BELONI, 2016).

Mesmo com o notável e crescente avanço tecnológico e do barateamento de custo,


ainda existem gargalos que trazem dificuldades em fazer dos VANTs, um pulverizador
20

agrícola de larga escala. Na subseção seguinte será mencionado os empecilhos e algumas


alternativas para contornar tais gargalos até o momento.

2.4 APLICAÇÃO/PULVERIZAÇÃO COM VANTS

Nessa subseção serão abordadas as propostas, tendências e gargalos da aplicação


de defensivos pelos VANTs, segundo os autores.

A agricultura envolve muitas regiões com ampla variação de terreno, recursos


hídricos, sistema de cultivo, ocorrência de doenças / pragas e retornos econômicos. Os
VANTs adequados para cada situação deverão aparecer em diferentes regiões agrícolas
do mundo. (KRISHNA, 2017).

Todos os problemas recorrentes da pulverização convencional (terrestre e aérea),


compilam um cenário propício para o advento dos VANTs no setor agrícola,
principalmente na área fitossanitária, onde há uma estima e punições muito altas sobre
questões relacionadas a saúde e ambiente.

Dizem que drones e agricultura de precisão são um ajuste natural. No entanto, o


fato mais importante é que, os drones são excelentes apostas, quando tem que lidar com
produtos químicos perigosos, como pesticidas (KRISHNA, 2017).

Da visão produtiva os VANTs, teoricamente, conseguiriam preencher lacunas


onde a agricultura convencional falha. Além de economizar agroquímicos, insumos,
operadores, combustível, sendo uma alternativa muito mais atrativa que a pulverização
aérea tripulada, é também uma alternativa muito menos danosa ao ambiente.

Para Diaz-Varela (2014), os drones também podem ser adotados na pulverização


das lavouras crescendo em terrenos ondulados ou montanhosos. Por exemplo, pulverizar
as colheitas de arroz cultivada em regiões montanhosas ou terraços, como nas Filipinas
ou no Japão, é uma possibilidade clara. Para isso será necessário profissionais agrícolas
qualificados para lidar com os drones no controle da pulverização (apud KRISHNA,
2017).
21

Segundo Artioli; Beloni (2016), o uso de drones no Brasil torna-se um aliado na


Agricultura de Precisão por ser muito mais preciso, permite detectar e monitorar grandes
áreas quase que em tempo real. Por meio de imagens geradas consegue-se identificar onde
combater as pragas, ou receber reforços de adubação no solo de forma mais específica,
evitando se assim desperdícios, e consequentemente trazendo ao produtor um aumento
de produtividade (ZARCO, 2012).

Para entender melhor como se utilizar dos VANTs para a pulverização, deve-se
conhecer quais os limites enfrentados pela pulverização convencional aérea, já que ambas
são aeronaves.

A incorreta pulverização aérea, normalmente ocorre devido à falta de treinamento


e gera prejuízos além de aumentar os riscos de contaminação de pessoas e do ambiente.
São operações mal ordenadas que geram casos como o do município de Lucas do Rio
Verde (MT), em que durante uma aplicação aérea de defensivos sobre uma lavoura,
acabou atingindo a região urbana da cidade promovendo intoxicação de pessoas e animais
devido ao vento, que levou essas partículas para fora do campo tratado (PASSOS, 2014).

Segundo Dhouib (2016), os agroquímicos são utilizados para aumentar a eficácia


das culturas e mitigar possíveis doenças de plantas e pragas. No entanto, seu uso extensivo
pode gerar vários problemas no ambiente humano, como desastres ambientais e doenças
humanas como câncer, distúrbios neurológicos e complicações no sistema respiratório.
(apud RADOGLOU-GRAMMATIKIS et al., 2020).

Para pesquisadores do ICMCUSP, o uso de agroquímicos é essencial na


agricultura de larga escala. Esses defensivos químicos, em geral, são pulverizados
manualmente sobre as lavouras ou com o auxílio de tratores. Mesmo quando usam algum
tipo de proteção, como máscaras, os trabalhadores rurais ficam expostos ao produto, que
pode provocar sérios problemas de saúde como câncer e efeitos adversos ao sistema
nervoso central e periférico (Revista FAPESP, 2015).

A matéria da Revista FAPESP (2015), ainda evidência o Brasil como o maior


consumidor de agrotóxicos. A venda no país cresceu substancialmente nos últimos anos,
saltando de US$ 2 bilhões em 2001 para mais de US$ 8,5 bilhões em 2011, segundo um
relatório do Instituto Nacional do Câncer (INCA) sobre os riscos para a saúde humana do
uso de agrotóxicos. Controlar a quantidade de agroquímicos aplicados nas lavouras, por
22

sua vez, é muito difícil. A pulverização quase sempre está sujeita a fatores
meteorológicos, como a velocidade e direção do vento, que podem comprometer sua
aplicação na área de cultivo, espalhando-o por áreas vizinhas.

Muitos trabalhos propuseram sistemas de pulverização terrestre ou aéreo para o


gerenciamento adequado das quantidades de pesticidas, mas eles não levam em
consideração as condições climáticas, como a mudança da velocidade e direção do vento,
resultando em vários danos e desastres, como a poluição do meio ambiente, regiões não
pulverizadas e possíveis falhas econômicas devido à sobreposição de pesticidas
(RADOGLOU-GRAMMATIKIS et al., 2020).

Segundo Passos (2014) partículas geradas pela pulverização até chegarem ao solo
sofrem interferência principalmente de três fatores climáticos: Temperatura, umidade
relativa do ar e velocidade do vento. Além desses fatores relacionados ao ambiente, Costa
(2009) aponta os seguintes parâmetros que interferem na aplicação dos produtos
fitossanitários: volume de pulverização, faixa de deposição, manobras com aeronaves,
alvo biológico, agrotóxico e calda de pulverização, diâmetro das gotas, espectro de gotas
e deriva.

Conforme literatura consultada, grande parcela de erros associada à pulverização


agrícola convencional se deve as variáveis climáticas. Em especial, a deriva, onde tem
gerado os maiores agravantes ambientais e sanitários.

A deriva é o deslocamento das gotas desde o ponto de lançamento até atingir o


alvo, e considerada intolerável, principalmente se o produto aplicado pode causar danos
a pessoas, culturas e animais fora da área de tratamento (AGROTEC, 2004). Este
fenômeno é muito importante e é uma das principais preocupações quando se fala de
aplicações com aeronaves (PASSOS, 2014).

Esse problema será mais fácil de controlar, já que os VANTs voam muito perto
do dossel e muito pouca quantidade de pesticidas escorre para o solo / solo. Os VANTs
aplicam pesticidas apenas em áreas afetadas por pragas, não em todos os lugares no
campo. Portanto, atualmente, VANTs com capacidade de aplicação de pesticidas em taxa
variável são escolhidos com mais frequência na América do Norte (KRISHNA, 2016).
23

É interessante pontuar que apesar de um tempo no mercado, essa tecnologia


(VANTs) não é usualmente utilizada em larga escala na tecnologia de aplicação, e tem
demonstrado desafios para operações em grandes propriedades.

De acordo com Adauto Andrade (Pulveriza aviação agrícola) para propriedades


menores que 200 hectares não se compensa utilizar a pulverização aérea (aviões
tripulados) (apud PASSOS et al., 2014).

Segundo Mozaffari (2018), a área máxima que um único VANT pode cobrir
depende de suas características técnicas e carga útil (apud RADOGLOU-
GRAMMATIKIS et al., 2020). O grande responsável por essa inviabilidade é, sem
dúvidas, a curta duração da sua autonomia e o número ainda limitado de VANTs nas
operações, incapacitando operações mais longas.

Um desafio mais significativo é o tempo limitado de bateria dos VANTs,


especialmente para grandes culturas. O estabelecimento de mecanismos adicionais
movidos a energia solar pode resolver esse grave problema. (RADOGLOU-
GRAMMATIKIS et al., 2020).

Segundo Zart et al. (2019), ainda que alguns desses VANTs já tenham boa
aceitação no mercado, a grande maioria possui baterias LiPo como fonte de energia, que
os limita a uma autonomia de 10 a 45 minutos. Uma forma de contornar esse problema é
utilizando um sistema de propulsão híbrida, como por exemplo, um motor de combustão
interna como fonte primária de energia e um gerador elétrico para converter a energia
mecânica para elétrica, para atender os sistemas que necessitam desta.

O conjunto propulsivo é um subsistema muito crítico em projeto de aeronaves. A


engenharia envolvida no projeto de um motor é bastante complexa e a abordagem adotada
pelo grupo foi de comprar o motor que melhor se adéque às características da missão. De
maneira simplificada, deseja-se um motor capaz de fornecer a potência necessária para
manter a aeronave em voo, ainda prover potência para o sistema de geração de energia
elétrica, além disso é requerido que o motor tenha a menor massa possível.

Portanto, segundo Radoglou-Grammatikis et al. (2020), para aplicações em larga


escala, como grandes fazendas e florestas, um grupo colaborativo de VANTs pode ser
24

adotado, formando direções de pesquisa em um campo chamado Flying ad hoc–Network


(FANET).

Uma rede ad-hoc consiste em vários nós que podem se comunicar diretamente,
sem exigir nenhuma infraestrutura existente ou um ponto de acesso centralizado.
Consequentemente, a FANET é uma rede ad-hoc em que os nós são VANTs
(RADOGLOU-GRAMMATIKIS et al., 2020).

Para contornar problemas climáticos e de deriva são utilizados sistemas de redes


sem fio ad-hoc, possibilitando que cada aeronave possa receber o sinal e redistribui-lo a
outra, funcionando como um repetidor de sinal. Também é proposto uso de delimitação
por sensores nas bordas das lavouras, e o uso de dados climatológicos em tempo real.

No entanto, vale ressaltar que uma plataforma de pulverização baseada em VANT


deve ser sincronizada com um processo de monitoramento aéreo das culturas
(mapeamento das localidades com injúrias), proporcionando assim o uso eficiente e
preciso dos produtos agroquímicos. Essa abordagem combinada pode não apenas
minimizar a quantidade de agroquímicos, mas também contribuir para a proteção
ambiental (RADOGLOU-GRAMMATIKIS et al., 2020).

Para Krishna (2016), mais importante é o sistema de pulverização instalado no


VANT. O sistema de pulverização deve liberar defensivos químicos, a taxas fixadas pelo
suporte de decisão por sistemas computacionais ou determinados manualmente. A autora
afirma ainda, que o padrão de pulverização e gotas com VANTs, foram semelhantes aos
alcançados utilizando pulverizadores terrestres ou instalados em aeronaves tripuladas.
Existem variações de equipamentos de pulverização, tipos de bicos e software de
computador que regula pulverizações de pesticidas. Sistemas apropriados podem ser
montados e adotados no VANT. Segundo Zhu (2014), apenas uma pequena variedade de
modelos de VANTs equipados com sistemas de liberação de pesticidas estão disponíveis
no mercado. (apud KRISHNA, 2016).

Resultados de experimentos no Napa Valley mostrou que os drones podem liberar


10 a 40 litros de pesticida por hectare. Os drones têm uma taxa de trabalho efetiva de 2 a
5 hectare por hora. Habilidades e experiência do operador de VANT também são
importantes. (KRISHNA, 2016).
25

Outro problema da aplicação com VANTs é a pulverização indevida na borda


externa da lavoura. Costa (2011) propõem o uso de redes ad-hoc nos VANTs e sensores
distribuídos nos limites da lavoura. Quando um sensor detecta níveis altos de
concentração deve informar ao VANT para que este se afaste da borda. O problema,
entretanto, é que pode demorar diversos segundos até que o defensivo chegue ao solo e
seja detectado pelo sensor. Neste meio tempo, o VANT já pode estar fora do alcance de
comunicação do sensor, que tipicamente tem uma área de comunicação limitada.

O processo da aplicação dos defensivos é controlado com base no feedback de


sensores posicionados no terreno da lavoura. Um aspecto importante considerado é de
que o controle deva ser robusto para suportar espaços de tempo extremamente curtos no
laço de controle. A informação recuperada dos sensores permite que os VANTs apliquem
os defensivos apenas nas áreas delimitadas, considerando mudanças na orientação e
intensidade do vento (COSTA et al., 2011).

Sendo assim, é possível o uso de VANTs repetidores (o sensor envia a


comunicação para um VANT que tem como função seguir o VANT responsável pela
pulverização). Dessa forma, um dos VANTs seguidores tem como papel realizar a leitura
sensorial sempre que um VANT estiver próximo o suficiente de um sensor. Como
resposta, o sensor deve retornar à concentração química presente e a sua localização
geográfica. Assume-se que os sensores têm GPS ou que foram colocados em posições
geográficas predefinidas. Se os sensores estiverem perto suficientes do VANT
responsável pela pulverização, então eles podem transmitir a informação diretamente.

Para manter alta a robustez do sistema, Costa (2011) propõem o uso de dois
VANTs repetidores (ad-hoc). O VANT pulverizador, de tempos em tempos, transmite
sua posição, direção, e velocidade aos VANTs seguidores. Isso permite ajustar a
velocidade e a direção de acordo a se manter na área de comunicação tanto dos sensores
como do VANT pulverizador.

Considerando que a situação pode mudar rapidamente devido a condições


climáticas, o uso de um protocolo de roteamento (transmissão de mensagens) capaz de
lidar com tal dinamicidade é necessário. O protocolo de roteamento que mais se enquadra
em tal necessidade é o protocolo oportunista, o qual pressupõe que um caminho de
26

comunicação pode quebrar com frequência ou pode não existir em determinados


momentos (BISWAS; MORRIS, 2004; WESTPHAL, 2006, apud COSTA et al., 2011).

Segundo Radoglou-Grammatikis (2020), a qualidade dessa comunicação pode


depender de muitos fatores, como mobilidade do VANT, disponibilidade de largura de
banda, restrições ambientais e geográficas, além da complexidade da sincronização entre
os VANTs.

De acordo com Mukherjee (2018), para implantar uma rede ad-hoc, os seguintes
parâmetros devem ser levados em consideração: mobilidade do VANT, localização,
recursos energéticos, modelo de propagação por rádio, atributos e alterações topográficas,
densidade de VANT, modelo de mobilidade de fotografia, modelo de mobilidade de
ponto de vista aleatório e modelos de mobilidade (apud RADOGLOU-GRAMMATIKIS
et al. 2020).

Diante das possibilidades de uso dessas aeronaves, a aderência de redes ad-hoc e


a possibilidade de uso de múltiplos VANTs simultaneamente (sistema de enxame). Os
cientistas da computação Bruno Squizato Faiçal, Heitor Freitas e o professor Jó Ueyama,
do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo
(ICMCUSP) de São Carlos, interior paulista, desenvolveram, com apoio da FAPESP, um
sistema inteligente e autônomo de pulverização de agroquímicos com drones.

O sistema desenvolvido pelos pesquisadores do ICMCUSP prevê o uso


orquestrado de um drone de asas rotativas, na forma de hélices, e uma rede de sensores
sem fio instalada ao redor da área de cultivo. Baseia se em um sistema de inteligência
artificial capaz de ajustar a rota da aeronave de acordo com condições meteorológicas
específicas. Segundo eles, isso se dá por meio do cruzamento de dados gerados pelo drone
com os obtidos em tempo real pelos sensores instalados às margens da área a ser
pulverizada.

‘’Primeiro, o drone faz alguns voos de treinamento em diferentes alturas e


condições meteorológicas para conhecer o padrão de deposição de seu sistema de
pulverização e a influência causada pelas condições meteorológicas”, explica Faiçal.
“Essas informações são armazenadas para que mais tarde sejam usadas para construir um
modelo de conhecimento que permita ao drone tomar decisões durante a pulverização em
condições meteorológicas semelhantes às anteriores ou inéditas.”
27

Ao se aproximar dos sensores instalados ao redor da área pulverizada, o VANT


verifica se as informações por ele geradas conferem com as obtidas em tempo real pelos
equipamentos no solo. Com base no cruzamento dessas informações, o sistema é capaz
de regular a liberação do produto químico sobre a lavoura. A ideia é que a aeronave e
demais sensores funcionem de modo autônomo, com uma estação de controle e um
técnico para monitorar o andamento do processo.

As coordenadas registradas no sistema de navegação do VANT, em concordância


com os cálculos cruzados entre a aeronave e os sensores, determinam a potência de uma
bomba que regula a quantidade de agroquímico liberado. Quanto maior for a potência,
mais produto é liberado. Segundo os pesquisadores, isso (taxa variável) favorece uma
pulverização mais segura e precisa, capaz de melhorar a cobertura da aplicação e a
qualidade do processo de cultivo, garantindo maior aproveitamento dessas substâncias
pelas plantas com menos prejuízo ao ambiente.

Krishna (2016), ainda reforça essa ideia, quando afirma que VANTs são as
melhores escolhas quando o assunto é aplicação de taxa variável de pesticidas e outros
produtos químicos agrícolas. Com a adoção da tecnologia dos drones pode-se reduzir de
maneira gritante 30-90% dos agroquímicos em comparação com os métodos tradicionais
de pulverização.

Para Córdoa; Cavichioli (2016), uma das maneiras de atingir o aumento produtivo
é com a aplicação de defensivos de forma controlada, evitando sobretaxa, balizamentos e
amenizando a contaminação do meio ambiente. Tais aplicações podem ser realizadas
através de VANTs, podendo ser até cinco vezes mais rápidas do que com máquinas
tradicionais, como tratores (apud ZART et al., 2019).
Krishna (2016) afirma em seu livro que, no geral, drones com sistemas de
pulverizadores são eficientes e mais seguro para a população humana ao redor das
fazendas e para os trabalhadores agrícolas. Ao mesmo tempo, oferece retornos
econômicos significativamente altos. Drones utilizam quantidades muito baixas de
pesticidas, se técnicas de precisão e taxa variável bicos são usados. Portanto, os drones
reduzem o custo do material pesticida.
28

3. CONCLUSÃO

Como é notável a atuação dos VANTs, em especial na agricultura de precisão, é


possível dispor de alternativas para solucionar as adversidades relacionadas à viabilidade
das operações com esses dispositivos, como o advento de novas fontes energéticas, uso
de sensores, redes sem fio ad-hoc e aplicação em taxa variáveis (possibilitando o esquema
de enxame para cobrir grandes áreas e manter a estabilidade e precisão da operação, além
de adaptar a aplicação para necessidade de cada talhão).

No Brasil, Artioli; Beloni (2016) sugerem que a falta de conhecimento dos


equipamentos e empresas disponíveis no mercado, a deficiência na operacionalização, o
custo de aquisição e a falta de regulamentação da Agência Nacional de Aviação Civil
[ANAC] restringem uma maior utilização do produto nos principais estados do
agronegócio brasileiro. Por outro lado, a aceitação do uso dos drones como uma
alternativa às técnicas atuais é alta, o que mostra uma grande oportunidade de aprimorar
e expandir este segmento, em virtude do mercado de drones apresentar forte potencial de
expansão e com crescimento de 20 a 30% ao ano.

Contudo, segundo Costa (2011), ainda restam diversos trabalhos a serem


desenvolvidos, notadamente:

a. Modelar de maneira mais real o comportamento do defensivo no ar;


b. Implementar a camada de aplicação do VANT para que este possa mudar
de rota de acordo com as respostas dos sensores da lavoura;
c. Modelar a simulação com um enxame de VANTs;
d. Validar o projeto em lavouras de diferentes dimensões e formatos;
e. Especificar o uso de hardware para o projeto.

Já para Radoglou-Grammatikis (2020), embora as redes ad-hoc possam oferecer


vários benefícios com relação às aplicações de agricultura de precisão em larga escala,
esse campo é caracterizado por certos problemas. Primeiro, a maioria dos aplicativos de
software existentes é projetada para gerenciar e controlar apenas um único VANT. Além
disso, mesmo que haja alguns aplicativos compatíveis com um sistema ad-hoc, sua
funcionalidade é limitada, pois eles não conseguem lidar com eficiência mediante falha
29

de um VANTs ou com a adição de uma nova área de destino. Finalmente, um novo


conjunto de regulamentos e regras, especialmente dedicado a ad-hoc, deve ser
determinado.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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pulverização agrícola - Grupo de Sistemas Aeroespaciais e Controle, Universidade
Federal de Santa Maria, Santa Maria – RS, 2019.

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