Universidade Federal Do Rio Grande Do Sul Centro de Estudos E Pesquisas em Agronegócios Programa de Pós-Graduação em Agronegócios

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM AGRONEGÓCIOS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONEGÓCIOS

Cainã Lima Costa

BIOECONOMIA: UMA ABORDAGEM NA AGROPECUÁRIA

Porto Alegre
2019
2

Cainã Lima Costa

BIOECONOMIA: UMA ABORDAGEM NA AGROPECUÁRIA

Dissertação de Mestrado apresentada ao


Programa de Pós-Graduação em
Agronegócios do Centro de Estudos e
Pesquisa em Agronegócios (CEPAN) da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
como requisito parcial para a obtenção do
título de Mestre em Agronegócios.

Orientadora: Profa. Dra. Letícia de Oliveira

Porto Alegre
2019
3

Cainã Lima Costa

BIOECONOMIA: UMA ABORDAGEM NA AGROPECUÁRIA

Dissertação de Mestrado apresentada ao


Programa de Pós-Graduação em
Agronegócios do Centro de Estudos e
Pesquisa em Agronegócios (CEPAN) da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
como requisito parcial para a obtenção do
título de Mestre em Agronegócios.

Aprovada em _____ de _______________ de 2019.

BANCA EXAMINADORA

____________________________
Prof. Dr. Edson Talamini – UFRGS – PPG Agronegócios

____________________________
Prof. Dr. Álvaro Vigo – UFRGS – Instituto de Matemática e Estatística

____________________________
Prof. Dr. Omar Inacio Benedetti – Instituto Brasileiro de Bioeconomia - INBBIO

____________________________
Orientador Profa. Dra. Letícia de Oliveira – UFRGS – PPG Agronegócios
4
5

Dedico o trabalho aos meus pais e minhas


irmãs, pelo apoio, força e incentivo. Também
dedico a todas às crianças adultas que,
quando pequenas, sonharam em se tornar
cientistas, mas não tiveram oportunidades.
6

AGRADECIMENTOS

Deus por me alcançar todos os dias com sua misericórdia e graça, por me iluminar
com sua presença, dando-me abrigo e conforto. Por não me deixar esquecer que habita em
mim e que sustenta todos os dias.
Aos meus pais, Éder e Ivani, pela compreensão e apoio ininterrupto durante toda a
minha vida.
As minhas irmãs, Damiana e Leonara, pelo companheirismo e incentivo na minha
trajetória acadêmica, também ao meu padrinho Luciano e sua esposa Carol que se fizeram
presente nesta recente trajetória com uma acolhida especial na capital.
A minha orientadora, Professora Dra. Letícia de Oliveria, pelos ensinamentos,
compreensão, análise e sugestões para a realização deste trabalho. Quero expressar minha
gratidão pela forma que conduziu minha orientação.
Aos pesquisadores Dr. Álvaro Vigo, Dr. Edson Talamini e Dr. Omar Benedetti por
aceitarem contribuir com a avalição do trabalho.
A todos os meus colegas do PPG-Agronegócio, que fizeram parte desta caminhada,
em especial os membros do grupo NEB-AGRO pessoas inspiradoras, agradeço pelos
conselhos e amizade.
A todos os meus amigos, que de forma direta ou indireta participam da minha vida.
De maneira distinta agradeço a amizade fortalecida e ao suporte aqui em Porto Alegre dos
colegas de engenharia e apartamento Gabriel, James, Matheus e Régis.
7

“...Se é pouco o que vos deixo, o pouco é muito,


porque há tudo de mim neste tão pouco...”

(Apparicio Silva Rillo)


8

RESUMO

As abordagens ligadas a bioeconomics e bioeconomy emergiram das preocupações


ambientais contemporâneas e contribuem para o agronegócio enfrentar os desafios do século
XXI. Ambas linhas científicas estão engajadas em desenvolver estudos considerando as
peculiaridades dos recursos biológicos e econômicos. O objetivo geral do presente estudo é
identificar as principais abordagens relacionadas ao termo bioeconomia na agropecuária.
Para essa pesquisa utilizou-se uma análise sistemática da literatura, com observações
quantitativas e qualitativas dos dados obtidos nos principais indexadores de periódicos
internacionais. Os resultados alcançados mostram que as aplicabilidades em bioeconomia no
contexto do agronegócio podem ser conceituadas através de quatro conteúdos (natureza
abordagens, modelagem bioeconômica, inovações biotecnológicas e substituição de
biomassa) e destacáveis em seis grandes áreas (políticas para inovações, insumos agrícolas,
uso da terra, uso da água, emissões e plantas daninhas. Porém, devido ao caráter
interdisciplinar dos artigos encontrados, a interconexão destes conceitos nos resultados
qualitativos aponta a inserção da bioeconomia nos diferentes setores agrícolas e suas
aplicabilidades mais recorrentes. Em relação aos resultados quantitativos, verificou-se a
partir da análise de correspondência o baixo nível de correlação com os atributos da revisão
da literatura, mas indicam que as duas vertentes podem complementarem-se, trazendo novas
oportunidades para os setores agrícolas.
Palavras-chave: Agropecuária. Modelagem Agrícola. Interdisciplinaridade. Conceito
Bioeconomia. Análise Sistemática.
9

ABSTRACT

Studies related to bioeconomics and bioeconomy emerged from contemporary environmental


concerns and contribute to agribusiness to face meet the challenges of the 21st century. Both
scientific lines are engaged in developing studies considering the peculiarities of biological
and economic resources. The general objective of the present study is to identify the main
approaches related to the term bioeconomics in agribusiness. For this research a systematic
analysis of the literature was used, with quantitative and qualitative observations of the data
obtained in the main indexers of international journals. The results show that bioeconomic
applicability in the context of agribusiness can be conceptualized through four contents
(nature approaches, bioeconomic modeling, biotechnology innovations and biomass
substitution) and can be distinguished in six large areas (policies for innovations, agricultural
inputs, use of land, water use, emissions and control of weeds). However, due to the
interdisciplinary character of the articles found, the interconnection of these concepts in the
qualitative results points to the insertion of the bioeconomy in the different agricultural
sectors and its most recurring applicability. Regarding the quantitative results, it was verified
from the correspondence analysis the low level of correlation with the attributes of the
literature review, but indicate that the two aspects can complement each other, bringing new
opportunities for the agricultural sectors.
Keywords: Farming. Agricultural Modeling. Interdisciplinarity. Bioeconomics concept.
Systematic Analysis.
10

LISTA DE ABREVIATURAS

ASL – Análise Sistemática de Literatura


CE – Comissão Europeia
EUA – Estados Unidos da América
GM – Geneticamente Modificado
GR – Graus de relevância
ha – Hectares
11

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 16
1.2 OBJETIVOS ............................................................................................................... 19
1.2.1 Objetivo Geral ........................................................................................................ 19
1.2.2 Objetivos específicos............................................................................................... 19
1.3 JUSTIFICATIVA ....................................................................................................... 20
2. REFERENCIAL TEÓRICO-CONCEITUAL ...................................................... 21
2.1. Bioeconomics ............................................................................................................. 22
2.2 Bioeconomy ................................................................................................................ 40
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS........................................................... 51
3.1 Estratégia de seleção ................................................................................................... 51
3.2 Critérios de exclusão ................................................................................................... 52
3.3 Análise de elegibilidade .............................................................................................. 53
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 54
4.1 Seleção de periódicos .................................................................................................. 54
4.2 Análise quantitativa..................................................................................................... 55
4.3 Análise qualitativa....................................................................................................... 66
4.3.1 Bioeconomics........................................................................................................... 66
4.3.2 Bioeconomy ............................................................................................................. 78
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 97
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 100
APÊNDICE .............................................................................................................. 116
12

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Assimetrias de bioeconomics ..............................................................................30


Quadro 2 - Fundamentos da abordagem bioeconômica integrativa ......................................38
Quadro 3 - Bioeconomy e os conceitos governamentais .......................................................44
Quadro 4 - Perspectivas de bioeconomy na literatura ...........................................................45
Quadro 5 - Protocolo de pesquisa .........................................................................................52
Quadro 6 - Matriz de correlação analítica .............................................................................63
Quadro 7 - Setores e níveis de aplicação ..............................................................................67
Quadro 8 - Modelagem bioeconômica na agricultura ...........................................................70
Quadro 9 - Modelagem bioeconômica na pecuária...............................................................74
Quadro 10 - Modelagem bioeconômica de sistemas integrados ...........................................74
Quadro 11 - Políticas para inovações ....................................................................................79
Quadro 12 – Insumos agrícolas .............................................................................................83
Quadro 13 - Uso da terra .......................................................................................................88
Quadro 14 - Gestão agropecuária ..........................................................................................91
13

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Número de artigos excluídos ...............................................................................55


14

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 16
1.2 OBJETIVOS ............................................................................................................... 19
1.2.1 Objetivo Geral ........................................................................................................ 19
1.2.2 Objetivos específicos............................................................................................... 19
1.3 JUSTIFICATIVA ....................................................................................................... 20
2. REFERENCIAL TEÓRICO-CONCEITUAL ...................................................... 21
2.1. Bioeconomics ............................................................................................................. 22
2.2 Bioeconomy ................................................................................................................ 40
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS........................................................... 51
3.1 Estratégia de seleção ................................................................................................... 51
3.2 Critérios de exclusão ................................................................................................... 52
3.3 Análise de elegibilidade .............................................................................................. 53
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 54
4.1 Seleção de periódicos .................................................................................................. 54
4.2 Análise quantitativa..................................................................................................... 55
4.3 Análise qualitativa....................................................................................................... 66
4.3.1 Bioeconomics........................................................................................................... 66
4.3.2 Bioeconomy ............................................................................................................. 78
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 97
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 100
APÊNDICE .............................................................................................................. 116
15
16

1 INTRODUÇÃO

A capacidade de comunicação, organização e atuação em sociedade do ser humano


foram evidenciadas quando o homem dominou ecossistemas para satisfazer suas
necessidades básicas de sobrevivência. A evolução social com o desenvolvimento da
agricultura, criação das primeiras ligas metálicas e domesticação dos animais fez com que os
pequenos grupos, que outrora viviam isolados, progredissem até formar cidades e
expandissem atividades produtivas a fim de começar a comercialização dos excedentes
agrícolas (HARARI, 2014). Esse avanço, embora incipiente, trouxe a primeira demanda
ambiental ao “ser econômico” com a escassez de terras para produção e o surgimento da
necessidade de buscar novas fronteiras agrícolas. Em consequência, se iniciava a expansão
marítima, o mercantilismo, as grandes revoluções comerciais e, principalmente, a era
industrial formando a base denominada de crescimento econômico das sociedades
(HUBERMAN, 1971; RANDALL, 1987).
Desde então alcançar o crescimento econômico tornou-se uma meta em qualquer
economia no mundo e para viabilizar as estruturas produtivas, tecnológicas e sociais, existe
uma necessidade constante de mudança conforme as ações humanas vão se desenvolvendo
(BANCO MUNDIAL, 1992; KUZNETS,1974). Estas alterações foram impulsionadas de
forma significativa ao longo do século XX, especialmente no período de 1930 a 1980, com
saltos tecnológicos, mudanças de padrões monetários e modernização do setor agrícola
(SADER, 2000; ALMEIDA, 2001). O período de modernização que consolidou grandes
potências econômicas resultou em ganhos de renda e expectativa de vida (LOMBORG,
2001). Esses fatos ao mesmo tempo relativizaram as questões ambientais, onde o
crescimento, como uma condição necessária, não eliminou a pobreza e nem as disparidades
sociais (ANDRADE & ROMEIRO, 2012).
Mudanças, notadamente no setor agrícola, para maximizar o bem-estar do homem
seguiram corroborando para que o meio ambiente fosse servil ao seu consumo, porém
estavam acompanhadas de um “despertar para consciência ecológica” registrado em 1970
com o documento “limites para o crescimento”, publicado pelo Clube de Roma (DE
OLIVEIRA, 2012). Em virtude deste fato histórico, uma série de discussões internacionais
preocupadas em garantir o “nosso futuro comum” ganhava espaço (CMMAD, 1988). Desta
forma, satisfazer as necessidades atuais sem sacrificar as demandas de gerações futuras
17

balizariam audiências mundiais sobre o tema ‘Meio Ambiente’, com conferências,


formulação de estratégias e metas para promover o “desenvolvimento e/ou crescimento
sustentável” (BARONI, 1992).
Crescer e desenvolver divergem principalmente quanto aos mecanismos de
intervenção, uma condição progressiva maior e/ou melhor é dependente de um ecossistema
natural que evolui, mas não cresce. Já a economia como seu subsistema é passível de contínuo
desenvolvimento contanto que respeite os acréscimos toleráveis. O progresso então é factível
em melhorias qualitativas de uma economia física (DALY, 1997). Atualmente, tal ênfase é
um sinônimo para crescimento sustentável, embora exista limites para produção de bens e
serviços. Em algumas situações, enfatiza-se um possível crescimento ilimitado rotulado
como “sustentável” (DALY, 2004).
A evolução técnica trouxe efeitos colaterais inesperados por mais que os objetivos
passados estivessem errados. Logo, tornar novas tecnologias viáveis está presente nas
discussões de muitas áreas do conhecimento (GRUNWALD, 2018), as quais demonstram
significativa capacidade técnica em prospectar e utilizar recursos naturais para os mais
diversos fins. Portanto, conciliar eficiência econômica, necessidades sociais e prudência
ecológica é um importante mecanismo para que suas pesquisas tenham uma aceitação
generalizada (ROMEIRO, 1999). Consequentemente, o ganho de eficiência necessita de um
ritmo acelerado frente o crescimento econômico, de maneira que, ainda que tenha uma
ascensão, haja também uma viabilidade de alcançar alguns equilíbrios ambientais
(WEAVER et al., 2017).
Frente ao uso acentuado dos recursos naturais e possíveis esgotamentos em nível
biofísico da terra, fenômenos que prefiguram mudanças econômicas em diferentes setores
deram início a um olhar interdisciplinar no qual muitos cientistas estudam, planejam e
executam relações formais entre um “novo crescimento” ou “decrescimento” respeitando os
limites biológicos. Como uma das respostas a esses questionamentos, ainda no século XX, o
termo “Bioeconomic” (BONAIUTI, 2011) surgiu para designar e interligar as áreas das
ciências matemáticas, naturais e sociais com os saberes da Biologia e Economia (TULLOCK,
1999). A importância da essência biológica em que os processos econômicos são dependentes
entre si, não apresenta uma verificação e hierarquização de princípios, assim, vem
mostrando-se como uma área de estudos abrangente.
Os campos acadêmicos envolvidos na temática possuem diferentes visões de análise
em eficiência, gerenciamento e limitação no uso dos recursos, sejam eles renováveis ou não.
Teorias clássicas e modernas oriundas de áreas disciplinares se fazem necessárias para traçar
18

a direção ou magnitude do esgotamento dos recursos naturais frente as diretrizes básicas da


natureza (GOWDY, 1991; WILEN, 1985). As forças de mercado e competições entre agentes
econômicos também fazem parte deste escopo (MARK et al., 1985; HERTEL et al., 2013).
Essa ótica de investigação tem espaços e períodos distintos na literatura científica, as
primeiras abordagens são sinalizadas por estudos sobre a dinâmica populacional de espécies,
modelagem na gestão de recursos naturais e uma perspectiva entrópica da economia
(GORDON, 1954; SCHAEFER, 1957; GEORGESCU-ROEGEN, 2012). Um pouco antes da
virada do milênio, novas aplicações surgiram impulsionadas pelas instituições políticas como
uma forma de gerenciar os recursos biológicos para uso industrial com a terminologia
“bioeconomy” (ENRIQUEZ, 1998; BIRNER, 2018; LEVIDOW & BIRCH, 2012).
Essas aplicabilidades formam questões de estudo no século XXI desafiando o setor
agropecuário em continuar produzindo alimentos para o mundo e, ao mesmo tempo,
disponibilizar biomassa para fins não alimentares implicando uma divisão econômica
estabelecida entre detentores da biodiversidade e produtores de biotecnologia. Essa cisão,
porém, não limitar-se-á em fronteiras nacionais e regionais e poderá perpassar os
ecossistemas cujo os limites naturais nem sempre obedecerão aos contornos geopolíticos. As
estratégias para esta trajetória estão em grande parte fundamentadas no uso crescente de
matérias primas produzidas pelo agronegócio, indicando um possível risco na competição
pelo uso da terra para produção de alimentos, energia e matérias primas industriais em um
cenário interligado entre a “transformação da biomassa” e os “avanços da genômica”.
Contudo, estes desdobramentos deverão observar as bases ambientais, culturais e políticas
ao mesmo tempo que ocorrem os avanços científicas ou tecnológicos (GALEMBECK et al.,
2009).
Diante deste contexto, este trabalho tem como problema de pesquisa as seguintes
questões: Como as abordagens de bioeconomia, no inglês, Bioeconomy e Bioeconomics,
estão relacionadas com a agropecuária? Quais as aplicabilidades conceituais/práticas entre
os termos Bioeconomy e Bioeconomics utilizados?
19

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral

Para responder o problema de pesquisa apresentado, o objetivo principal deste


trabalho é identificar as abordagens bioeconômicas na produção científica relacionando-as
ao contexto agropecuário?

1.2.2 Objetivos específicos

Especificamente, busca-se:
a) Conceituar os termos bioeconomics e bioeconomy.
b) Identificar as aplicações da bioeconomia na agropecuária.
c) Mapear as principais áreas de destaques e temáticas presentes nos diferentes
segmentos da agropecuária.
d) Apontar as semelhanças e divergências entre as abordagens encontradas.
20

1.3 JUSTIFICATIVA

O crescimento econômico desafia o mundo moderno a ter cautela frente a utilização


dos recursos naturais, devido a finitude e as limitações na reposição destes. Algumas
projeções indicam que a extração de insumos deverá aumentar 119% de 2015 para 2050 e as
emissões de gases de efeito estufa crescerão 41% (HATFIELD-DODDS et al., 2017). Neste
sentido, está presente a necessidade de novas formas de produção e consumo. Entre as
alternativas a bioeconomia é considerada pela comunidade científica como um campo
promissor para proporcionar soluções (EL-CHICHAKLI et al., 2016).

No entanto, as pesquisas sobre o assunto possuem direcionamentos distintos, devido


as aplicabilidades em bioeconomics e bioeconomy. Mesmo que ambas linhas científicas
utilizem dos recursos biológicos e econômicos, principalmente nas atividades do
agronegócio, este estudo justifica-se por um olhar holístico para as especificidades e suas
aplicações. De modo geral, proporcionam uma avaliação integrada dos sistemas “solo-planta-
animal” com as devidas contribuições socioeconômicas e cautelas ambientais, assim, como
também o desenvolvimento de novos produtos e processos industriais.

É necessário compreender as principais relações destas abordagens em virtude da


ligação direta que possuem com as cadeias produtivas agrícolas. Com o passar dos anos, o
setor “agro” negocial tornou-se mais integrado a um ramo diversificado de indústrias
(DESMOND & SIEBER, 2009). A modificação das atividades primárias poderá expandir-se
com à evolução constante da bioeconomy que tem como objetivo principal o
desenvolvimento de produtos a partir de recursos renováveis.

Assim, um nicho de rápido crescimento para vários bens de consumo com base
biológica (bioplásticos, biopolímeros, entre outros), deve substituir cada vez mais produtos
dependentes do petróleo, ampliando a bioeconomia. Contudo, muitas vezes não é perceptível
que esse desenvolvimento significa obter uma grande quantidade de matérias-primas
provenientes do setor agrícola (BASTOS, 2018). Essa transição, não estará isenta de
implicações ambientais e políticas, as quais a bioeconomics com suas proposições poderá
auxiliar mensurando os impactos produtivos frente ao uso dos recursos naturais.
21

2. REFERENCIAL TEÓRICO-CONCEITUAL

A ciência interdisciplinar não tem um ponto de partida claro podendo ter sido
originada de reflexões passadas sobre as desvantagens da especialização das disciplinas. O
paradigma mecanicista desenvolvido por René Descartes em meados do século XVII deu
origem ao tratamento dos conteúdos de forma fragmentada sobre a complexa realidade em
que se encontravam, e consequentemente, ao formato disciplinar das pesquisas (NOVIKOFF
& CAVALCANTI., 2017). Embora existisse hierarquias entre as diversas áreas do
conhecimento com suas claras distinções, a investigação de uma mesma adversidade
abordada interdisciplinarmente pelo estabelecimento de métodos científicos permite que
problemas complexos possam ser solucionados a partir de uma visão holística (LEIS, 2005).
A história da ciência mostrou que a especialização em torno de um único objeto não causou
desinteresses recíprocos entre partes dominantes de uma área específica. Desta forma, o
diálogo científico corporativo e colaborativo, existente há muito tempo, vem a desvendar
problemáticas, tornando-se uma importante ferramenta de elucidação (NICKELSEN &
KRÄMER., 2016).
A interdisciplinaridade na pesquisa foi sintetizada pelo cientista Sir Karl Raimund
Popper, inspirado em entender como as atividades indutivistas clássicas, baseadas em
métodos científicos, favoreciam-se do empirismo para o crescimento de novos
conhecimentos. Segundo Popper (2014, p.88): “Nós não somos estudantes de algum assunto,
mas estudantes de problemas. E os problemas podem atravessar as fronteiras de qualquer
assunto ou disciplina”.
Neste sentido interações entre os impactos no meio ambiente causados pelos seres
vivos despertaram novas abordagens. No âmbito da ciência econômica e biológica, estes
reflexos traçam um percurso histórico com origem na economia tradicional até a moderna.
Os recentes insights entre a biociência e economia política no campo de pesquisa foram
denominados de bioeconomia (MOHAMMADIAN, 1999; MENDOZA et al., 2018).
Com o objetivo de esclarecer conceitos envolvidos no emprego da expressão,
primeiramente é necessário distinguir sua grafia. Na língua portuguesa o vocábulo
bioeconomia possui um único formato, composto do radical grego “bios” encontrado em uma
série de palavras híbridas como biologia. Literalmente podemos compreende-la como
“estudo da vida”, porém, quando o radical é combinado com “economia” ele pode representar
um neologismo polissêmico, mesmo que tenhamos um entendimento conceitual estabelecido
22

sobre essas palavras. Na língua inglesa, as palavras que fazem referência ao campo são
“bioeconomic” e “bioeconomy”. O significado de “economic” (econômico) e “economy”
(economia) presentes na união terminológica implicam em discussões e aplicabilidade
distintas, e nem sempre perceptíveis nas publicações acadêmicas.
Para estudar essas particularidades, o tópico será dividido em duas seções. A primeira
seção apresenta os conceitos de “bioeconomics”. Na segunda seção os conceitos encontrados
na “bioeconomy”.

2.1. Bioeconomics

Para entender como o termo Bioeconomic foi estabelecido que é necessário observar
as raízes históricas da economia e sua preocupação ambiental. Essa ciência foi, ao longo do
tempo, equacionando os problemas de escassez dos recursos para atender os desejos do
homem moderno (ROMAN, 1996). Desta forma, do ponto de vista material, a solução para
muitas economias vem sendo transformar bens naturais em produtos e serviços (CECHIN,
2008).
Na década de 1750, os princípios da riqueza natural foram reconhecidos pelos
fisiocratas, fundadores da primeira escola científica de economia (NEILL, 1949). Para eles,
a agricultura era uma fonte de enriquecimento real da sociedade desde que permanecesse em
sintonia com a dinâmica natural dos ecossistemas. Manifestam-se como os percursores a
favor da melhor utilização dos recursos naturais (ROCHA, 2004).
A relevância do meio ambiente no crescimento econômico compõe uma trajetória
desde os chamados economistas clássicos. Adam Smith, David Ricardo e John Stuart Mill
postulavam, no final do século XVIII, em seus modelos a inevitabilidade de um “estado
estacionário” em virtude da finitude dos recursos naturais e do impedimento de uma
produtividade gradativa. Esses economistas ainda alertavam que a expansão do sistema
econômico poderia tonar-se uma barreira técnica (CAIXETA ANDRADE, 2012).
Em meados do século XIX, com o nascimento da escola neoclássica e o auge da
revolução industrial, a entrada e saída de insumos eram constantes e contornáveis pelo
homem implicando em um profundo uso dos bens na intenção de obter ganhos de escala e
crescimento econômico (BARROS & AMIM, 2006). O aumento não tinha uma limitação
23

significativa imposta pelo meio ambiente e os avanços tecnológicos superavam as possíveis


restrições presentes no sistema (CAIXETA ANDRADE, 2012).
O funcionamento do sistema econômico relativizava as fontes de insumos naturais e
as representações matemáticas deste período, como, por exemplo, a função de produção
contendo apenas as variáveis capital e trabalho. O progresso técnico poderia superar
indefinitivamente os limites impostos pela disponibilidade de recursos naturais (ROMEIRO,
2010).
Em 1960 torna-se evidente a necessidade de integrar as externalidades ambientais
com os componentes presentes no sistema de produção. A Economia Neoclássica passa a
considerar de forma explícita a atribuição do meio ambiente em fornecer recursos naturais
(MUELLER., 1996) e os processos econômicos assimilariam os resíduos e os rejeitos da
produção e consumo (SANTOS et al., 2010).
Segundo Enríquez (2010), os fatores básicos da função de produção (Y), são o capital
produzido pelo ser humano (K), o trabalho (L) e os recursos naturais (R), expressos na
(Equação 1). Então é compreendido o papel da natureza em fornecer insumos gratuitamente
a partir dos fatores capital e trabalho. Anteriormente a função neoclássica, conforme a
Equação 2, suprimiu o fator (R) demonstrando um certo desinteresse ao capital natural
existente nos processos econômicos.
= ( , , ) Eq.(1)

= ( , ) Eq.(2)

Em 1970, o conceito de “capital natural” foi sugerido e tornou-se uma linha de


pensamento neoclássica frente ao crescimento econômico (VIVIEN, 2008). Conforme o
mesmo autor, o “capital gerado pelas sociedades” deveria ser capaz de compensar uma
diminuição na quantidade de “capital natural” assegurando a capacidade produtiva individual
e o bem-estar. Estes raciocínios teóricos formaram os conceitos de substituição de recursos
que progrediram perante as demandas ambientais. Conforme descrito por Solow (1992),
trocas ocorridas no espaço temporal significariam que: a geração presente estaria
consumindo o “capital natural”, mas, em troca, repassando capacidade de produção em forma
de amenidades, conhecimento e habilidades para gerações futuras.
Destas observações, emergiu as análises neoclássicas presentes na Economia dos
Recursos Naturais modelando a utilização de terras agrícolas, recursos minerais, florestais e
hídricos, enfim, todos os recursos naturais reprodutíveis e não reprodutíveis (ENRÍQUEZ,
2010). Neste viés a preocupação está em reconhecer o padrão ótimo de uso destes recursos,
24

identificando o manejo apropriado dos recursos renováveis e qual a taxa ótima de depleção
dos recursos não renováveis (ANDRADE, 2010).
De modo particular, os recursos renováveis são regidos pelos fenômenos biológicos
e possuem como característica principal a dinamicidade como, por exemplo: o crescimento
de árvores, multiplicação dos animais e plantas. Porém, os mesmos podem chegar a um
esgotamento, principalmente, quando localizados em espaços de uso e acesso comum devido
a incompatibilidade entre as dinâmicas biológicas (indicador de sua evolução) e econômica
(indicador do ritmo de exploração) (ENRÍQUEZ, 2010).
Estas dinâmicas diferem-se entre si, pois na biológica o estoque de recursos não é fixo
e cresce proporcionalmente conforme as condições naturais específicas. Ao expandirem-se
estão submetidas a um limite máximo definido pela capacidade de suporte do seu
ecossistema. Na perspectiva econômica poderá haver uma pressão sobre determinado recurso
se o seu nível de extração exceder o crescimento. Em síntese, o principal estímulo da
Economia de Recursos Naturais é identificar qual a trajetória de exploração de uma
população animal ou vegetal submetida a uma dada taxa de extração (ENRÍQUEZ, 2010).
Esta exploração possui um modelo geral derivado do pensamento neoclássico, com a
meta de reconhecer as situações impostas aos sistemas para alcançar o “ótimo econômico” e
proporcionar ao produtor o melhor benefício – o lucro máximo. Na forma analítica descrita
por Enríquez (2010), o estoque " " de um recurso " " em qualquer tempo " " é resultante
das diferenças entre as taxas naturais de recomposição e exploração, ambas em função do
tempo, tal como indicado na expressão matemática da (Eq. 3):

= ( ) − ℎ( ) Eq.(3)

A taxa natural de recomposição de é representada por ( ) e a taxa de utilização


por ℎ( ). O lucro “ ”, é obtido a partir do uso desse recurso (Equação 4) que indica as
consequências da taxa de recomposição e da taxa de utilização do recurso ao longo do tempo,
como demostrado a abaixo:
= [ ( ); ℎ( ); ] Eq.(4)

A partir da Equação 4, a regra de produtividade marginal da acumulação ótima do


capital é determinada, pela qual a produtividade marginal de ′ é igual a taxa de desconto
“δ” como segue na representação:
25

′ = = Eq.(5)

Salienta-se, como um resultado do modelo geral de exploração que a taxa de


produtividade dos recursos não garante a igualdade da taxa de desconto já que está em função
de variáveis que não correspondem a dinâmica biológica (ENRÍQUEZ, 2010).
A Economia quando contextualizada nas problemáticas ambientais divide-se em
abordagens convencionais e modernas, diferenciando-se conforme os problemas estudados,
tipos de recursos e setores considerados. Os indicadores de escassez podem estar
caracterizados por neoclássicos e/ou biofísicos e são solucionáveis com programações
matemáticas avançadas de otimização e maximização (VAN DEN BERGH & NIJKAMP,
1998). Paralelamente a este contexto, surgiu a Economia Ecológica como uma opção
moderna defendendo um pluralismo metodológico que acrescenta procedimentos e
instrumentos de análise, inclusive, provenientes da Economia Neoclássica (SAES &
ROMEIRO, 2018).
Mesmo que existam conceitos comuns, a principal diferença é como as duas visões
enxergam a inserção da economia neste contexto. Na convencional, a biosfera é avaliada
separadamente da macroeconomia. Na abordagem moderna ocorre o inverso, aceita-se a
economia como um subsistema aberto onde as condições físicas e químicas irão ser
influenciadas por um sistema maior derivando-se na utilização de energia e matéria prima
(CECHIN & VEIGA, 2010).
É necessário entender as distinções dos sistemas que são fundamentais para o
enquadramento ecológico. Em Sistemas Isolados não há troca com meio exterior entre
energia e matéria, o único exemplo neste caso é o próprio universo. De modo oposto, os
Sistemas Abertos trocam matéria e energia com o meio ambiente, como o caso do sistema
econômico. Já os Sistemas Fechados importam e exportam energia, mas não matéria. Um
exemplo é o planeta Terra (CECHIN & VEIGA, 2010).
Tais pressupostos trazem o entendimento da existência de um metabolismo energético
de fluxo solar, absorvido pela terra e dissipado na forma de calor. Esse fenômeno mantêm o
funcionamento dos ecossistemas e a economia interage como um sistema aberto. Porém, o
tradicional “diagrama de fluxo circular” da economia convencional, ilustrado na Figura 2.1,
mostra que a circulação da produção, insumos e dinheiro permanece isolada (CECHIN &
VEIGA, 2010).
26

Na situação apresentada pela Figura 1, nada entra ou sai do sistema, e também não há
absorção e liberação de resíduos. As empresas produzem bens e usam insumos através dos
três fatores neoclássicos da produção: a terra, o trabalho e o capital. Os agentes econômicos
exploram, compram, produzem e consomem em um processo internamente fluído. Na área
externa do diagrama estão apenas os fluxos monetários. O consumo ininterrupto da mesma
energia e matéria chama a atenção pelo fato de contradizer a mais básica das ciências da
natureza - a física (CECHIN & VEIGA, 2010).

Figura 1- Diagrama de fluxo circular

Fonte: (CECHIN & VEIGA,2010)

Em contrapartida, estudos verificaram a existência dos limites para transformação de


energia e matéria, dado que os recursos em um ecossistema possuem características de não
renovabilidade. As Leis da Termodinâmica, especificamente a Entropia, foram conceitos
introduzidos na economia por Georgescu-Roegen a fim de elucidar as diretrizes naturais em
que todos os processos econômicos são dependentes. O autor esclarece a diferença qualitativa
existente e a irreversibilidade do atual sistema econômico (GEORGESCU-ROEGEN, 2012).
Para o esclarecimento do que é entropia torna-se indispensável o entendimento da 1ª
e 2ª lei da termodinâmica. O primeiro princípio indica que a quantidade de energia presente
em um sistema isolado é constante, enquanto o segundo refere-se que a qualidade da energia
no mesmo sistema tende a degradação sendo fundamental para realização de trabalho. A
medida de entropia tem como parâmetro a qualidade de como a energia está disposta, as quais
27

podem caracterizarem-se por “livres”, “presas” ou “não utilizáveis”, sendo a última o


indicador de degradação (CECHIN, 2008).
Consequentemente, a maneira como “tratamos as energias” dita o equilíbrio dos
sistemas. Quando o homem acessa naturalmente uma fonte de energia, pode-se dizer que a
energia está livre, entretanto, sua degradação é contínua chegando ao estado de energia presa.
Entre estes dois estados de transformação ocorre a geração de calor e trabalho. Este processo
da origem a Lei da Entropia, postulando que no sistema fechado, a energia aumenta
constantemente e a ordem inicial do sistema é transformada em uma desordem contínua onde
estão presentes as energias não utilizáveis (GEORGESCU-ROEGEN, 2012).
A partir dos princípios físicos apresentados, podemos compreender que todos os
organismos vivos fazem uso dos recursos ambientais disponíveis (de baixa entropia)
transformando-os em produtos de valor econômico (de maior entropia). Nas palavras de
Georgescu-Roegen (2012) “o custo de todo empreendimento biológico ou econômico é
sempre maior do que seu produto. Em termos da entropia, as atividades produtivas traduzem-
se em déficits”. Neste ponto, a tecnologia ocupa um papel central quando associada a melhor
utilização dos recursos frente a escassez das fontes de baixa entropia.
Para melhor aproveitamento dos recursos naturais é necessário apurar a sua
disponibilidade entrópica. Os recursos naturais estão dispostos no meio ambiente na forma
de energia livre por duas fontes distintas: a dos minérios com estoque finito de extração e na
forma de radiação solar, energia captada por fluxos e responsável pela fotossíntese, fenômeno
vital para manutenção da vida terrena (GEORGESCU-ROEGEN, 2012). Herman Daly
utilizou a metáfora de “mundo vazio” e “mundo cheio” para estes pressupostos (DALY,
2005).
Uma maneira visual de assimilar as ideias da Economia Ecológica está presente nesta
analogia utilizada por Daly, ilustrada na Figura 2. O referente autor é um dos principais
seguidores de Georgescu-Roegen e responsável pela formalização do pensamento de
Economia Ecológica.
28

Figura 2 - Visão de mundo vazio

Fonte: (DALY adaptado por ENRÍQUEZ, 2010)

A diferença dos dois “mundos” de DALY tem uma conotação histórica entre a
passagem da baixa densidade populacional até chegar aos padrões de consumo atuais,
conflitantes com a integridade ecossistêmica. Na Figura 3 está representado a visão do mundo
cheio, onde possuímos alto custo de oportunidade no uso dos recursos naturais. Em outros
tempos, desconsiderar o meio ambiente era compreensível porque o “mundo vazio” tinha
uma pequena escala de produção e o elemento de escassez era o capital de manufatura
(DALY, 2005).
Figura 3 - Visão de mundo cheio

Fonte: (DALY adaptado por ENRÍQUEZ, 2010)


29

Nas ilustrações o reposicionamento das economias segue as definições térmicas


descritas anteriormente. Porém, deve ser enfatizado o ciclo de reciclagem expresso pelas
setas, o qual é maior no mundo cheio, pois só uma parcela dos resíduos não aproveitável
possui um reuso no processo produtivo, a outra é descartada no meio ambiente. Em parte, o
descarte é absorvido pela natureza conforme sua capacidade de resiliência, ou na forma de
acumulação (poluição) aumentando os estoques de energia não utilizável. Esse impacto pode
comprometer os serviços ecossistêmicos e, fatalmente, elevar o nível de entropia do sistema,
um exemplo é o aquecimento global (ENRÍQUEZ, 2010; DALY, 2005).
Conforme elucida Daly (2005), quando o mundo era vazio havia muitos rios e
aquíferos sem nenhuma interferência humana próximo a eles, de tal modo que o custo de
oportunidade do uso desses rios era aproximadamente zero e o conceito de externalidade não
tinha menor importância. Por conseguinte, o mundo tornou-se superpovoado e “cheio”, e os
sistemas econômicos passaram a pressionar a capacidade do capital natural e seus serviços
ambientais, compondo um custo de oportunidade alto. Diante disto, o conceito de
externalidade adquiriu uma importância crescente. Estes comentários vão ao encontro dos
projetos para novas extrações minerais que necessitam ter mais benefícios do que custos
ambientais.
Na trajetória apresentada até o momento, algumas questões econômicas e ambientais
foram descritas em vista da reflexão sobre o tema. A partir do modelo de exploração geral
neoclássico, aplicações empíricas com o nome de “Bioeconomics Models” gradualmente
espalharam-se no tratamento dos recursos naturais. Entre eles, ocorreram enfoques especiais
para os recursos pesqueiros, florestais e de biodiversidade (MCCONNEL & SUTINEN,
1970; TOUZA et al., 2008; CLARK, 1976). Estas abordagens possuem como essência a
busca da otimização entre variáveis biológicas e econômicas utilizando modelos empíricos.
A partir de uma reflexão econômica e social, o romeno, Nicholas Georgescu-Roegen
concebeu um diferente significado para a palavra “bioeconomics”. Em vista da humanidade
ser a única espécie cuja a sobrevivência depende intrinsecamente de instrumentos
exossomáticos, ou em outras palavras, instrumentos que são construídos por seres humanos
e não herdados geneticamente no momento do nascimento. Segundo Georgescu-Roegen
(2012 p.116) “ao transcendermos os limites biológicos naturais, passamos a sobreviver com
uma estratégia inteiramente diferente das outras espécies: “ela não é apenas biológica, nem
é puramente limitada ao econômico, tornando-se bioeconomic”. Desta forma, a interpretação
da ligação das duas palavras contribuirá para sobrevivência da humanidade estando
diretamente relacionada com a evolução exossomática do homem moderno.
30

Esse raciocínio configura-se como singular, não podendo ser representado


especificamente por uma linha científica da economia, mas de modo interdisciplinar convoca
elementos da biologia evolutiva, economia institucional e análise biofísica (MAYUMI, 2009;
MIERNYK, 1999). Atualmente nossas ferramentas (exossomáticas) estão condicionadas a
exploração dos recursos disponíveis de baixa entropia, seja para energia ou matéria prima.
De tal maneira, a abordagem “bioeconomics” de Georgescu-Roegen é compreendida por uma
estrutura de assimetrias ligadas as três fontes de energia já vistas anteriormente a livre, a
presa e a não utilizável (GEORGESCU-ROEGEN, 2012).
Na composição de cada uma das assimetrias está representado todos os anos de estudo
do autor, que para nomeá-los chamou de elementos “bioeconomics”. Apesar da difícil
descrição literária desses elementos, o Instituto Momentum, uma organização que trabalha
com os conceitos de decrescimento econômico, resumiu brevemente as questões que
confrontam a humanidade conforme o Quadro 1.
Quadro 1 - Assimetrias de bioeconomics

Assimetrias Questões
1ª A parte terrestre é um “estoque”, enquanto a parte solar pode ser considerada como um
fluxo. Podemos extrapolar a exploração dos recursos da Terra, mas em nenhum momento
poderemos recuperar as radiações solares recebidas por nossos descendentes para formar
esses estoques.
2ª Diante da 1ª assimetria e da impossibilidade de transformar energia em matéria, o ponto
crítico da humanidade, em vista da premissa de “bioeconomics”, é a disponibilidade e a
exploração das matérias primas encontradas na crosta terrestre, seja ela qual for (carvão,
ferro, petróleo entre outros). O fluxo de energia do sol continuará a aquecer a terra e as
florestas continuarão dispostas a uso fruto das gerações vindouras.
3ª A quantidade de energia recebida da radiação solar é infinitamente superior aos estoques de
energia livre disponíveis na Terra. As reservas totais de combustíveis fósseis representam
apenas cerca de duas semanas da radiação solar recebida pelo planeta.
4ª A energia solar recebida pela Terra é altamente dispersa, e sua exploração industrial
apresenta imensas desvantagens em comparação com as energias extremamente
concentradas já disponíveis no planeta. Usar energia solar direta equivaleria a utilização da
energia cinética liberada por cada gota de chuva antes de atingir o solo. Infelizmente, a luz
solar não produz rios ou lagos, o que facilitaria significativamente sua exploração,
coletando-a como energia hidráulica.
5ª A exploração da energia solar está isenta de poluição: a radiação, usada ou não por humanos,
terminará sem dúvida sua jornada sob a forma de calor, contribuindo para o equilíbrio
termodinâmico do planeta. A exploração de todas as outras formas de energia irá
inevitavelmente produzir poluição de forma prejudicial e implacável.
6ª Todos os seres vivos do planeta dependerão, em última instância, da energia solar para sua
sobrevivência. A competição por essa energia é muito mais feroz na natureza pelos seres
humano. O homem não é uma exceção e sabe como explorar impiedosamente grandes
quantidades de energia graças a seus utensílios exossomáticos. Ele procurou abertamente
exterminar todas as espécies que lhe subtraem o alimento ou que se alimentam às suas
custas. Essa luta contra outras espécies pelo alimento (em última análise pela energia solar)
traz a crença comum e uma orientação positiva perante toda inovação tecnológica, como o
caso de introduzir técnicas agrícolas modernas ao sistema econômico.
Fonte: Adaptado por CARTON & SINAÏ de Georgescu-Roegen (2013)
31

Considerando o funcionamento da agricultura moderna (agronegócio) e suas relações


entre indústria, comércio e produção primária, os arranjos econômicos destas conexões
surgiram para viabilizar a alimentação dos povos, é sabido que o homem é o único ser capaz
de interferir nos limites de produção deste setor. Segundo Georgescu-Roegen (2012) essa
intervenção pode não ocorrer apenas na garantia da comida, mas também na eficiência da
transformação de energia solar em alimentos. Com o tempo, as práticas primitivas da
agricultura trouxeram imensos benefícios, vinculadas as técnicas de lavrar, dinamizar o solo
e fertilizá-lo com matérias orgânicas. Entretanto, essa evolução foi marcada pelo crescimento
demográfico, avanço das áreas agriculturáveis e pelos subprodutos da revolução industrial.
O último avanço reside na extensão dos processos de baixa entropia mineral,
transferidos para a agricultura substituíram a antepassada originalidade biológica das práticas
agrícolas. No setor agronômico, esse processo é marcante e a mecanização substituiu o
homem e os animas de tração, e por fim, os fertilizantes químicos permutaram a adubação
orgânica (GEORGESCU-ROEGEN, 2012). Em virtude da pressão populacional é inevitável
reforçar a produtividade do cultivo com tais elementos tecnológicos. Frequentemente novos
fertilizantes, pesticidas e variedades de cerais de alto rendimento são garantias diante das
necessidades de sobrevivência humana (VANLOQUEREN & BARET, 2009).
Todavia tais modernizações, a longo prazo, serão contrárias aos interesses da
bioeconomic proposta por Georgescu-Roegen (2012) por serem equivalentes a uma
substituição do elemento mais abundante de todos, a energia solar, por elementos escassos.
Mesmo que as técnicas modernas aumentem a quantidade de fotossíntese, o aumento será
compensado proporcionalmente ao esgotamento dos recursos de baixa entropia do meio
terrestre, ou seja, o único bem cujo a escassez seria problemática (CLEVELAND, 1991).
Diante do exposto, inevitavelmente chegará um momento que os rendimentos
produtivos serão decrescentes em consequência da maior substituição dos estoques de
energias para desenvolver a agricultura moderna (GIAMPIETRO & PIMENTEL., 1993).
Essas observações sinalizam a necessidade de reduzir as tendências em incrementar inputs
de energia terrestre (contabilizadas a partir da extração mineral), exigindo que as técnicas
agrícolas evoluam com uma baixa dependência dos recursos de baixa entropia
(GEORGESCU-ROEGEN, 2012). Hoje repensar alternativas para substituir o maquinismo
agrícola torna-se complexo, pois os avanços foram surgindo para sustentar altas densidades
demográficas.
32

Ressalta-se neste ponto o alerta para o desenvolvimento da produção primária escrito


a mais de quarenta anos pelo cientista Georgescu-Roegen (2012, p.124):

Agricultura altamente mecanizada e densamente fertilizada possibilita a


sobrevivência de uma grande população , mas ao preço de um esgotamento
maior dos recursos , o que, a supor a continuidade da situação, significa
proporcionalmente mais redução de vida futura. Além disso, se a produção de
alimentos “em complexos industriais” vier a ser uma regra geral, diversas espécies
associadas à agricultura tradicional poderão ir aos poucos desaparecendo. Com
isso, o homem corre o risco de chegar a um impasse ecológico sem possibilidade
de volta.

Nota-se que o setor agrícola de certa maneira se transformou desde então, inovações
atuais estão contribuindo para eficiência no uso dos recursos naturais, como por exemplo a
agricultura de precisão, práticas agrícolas de baixo carbono, avanço da produção de orgânicos
e também o surgimento da utilização de energias alternativas renováveis (CASSMAN, 1999;
NORSE, 2012; SMITH, 2016; JEBLI & YOUSSEF, 2017). Contudo, a palavra
“bioeconomic” de interesse do estudo, em uma configuração que não necessariamente
alicerça-se com as teorias do cientista Georgescu-Roegen, já possuem enfoques diferentes e
estão sendo integradas para formular avaliações holísticas neste sentido.
Este contraponto, segundo Janssen & Van Ittersum (2007), ocorre no campo de
pesquisa denominado “Bioeconomics and Models Agricultural”, onde as perspectivas
econômicas e biológicas compõem uma avaliação integrada para sistemas de produção
agrícola. Assim, possuem a característica de mensurar os impactos produtivos da agricultura
sob diversos fatores econômicos, tendo em vista às restrições agroecológicas. Na essência
destas abordagens está a formulação de modelos matemáticos, como no caso dos primeiros
estudos bioeconômicos empíricos para sistemas extrativistas.
De modo geral, Kruseman (2000) descreve que a estrutura destas aplicações deixa
visível dois componentes principais: o primeiro possui questões socioeconômicas pertinentes
ao comportamento do produtor, a estrutura de mercado, os arranjos institucionais e os
incentivos políticos; o segundo contempla a degradação dos recursos em termos dos
processos biofísicos: ciclagem da água e dos nutrientes, crescimento de plantas e animais,
emissões de gases e a lixiviação de poluentes no solo.
Combinar e processar as informações de ambos componentes não implica
necessariamente em abordagens integradas, resultando em uma análise que não se encaixa
33

de forma inequívoca a outra. Logo, uma difícil comunicação científica de muitos domínios
devido a linguagem específica de diversos cientistas para tratar os fenômenos naturais é
observada (KRUSEMAN, 2000). A viabilidade de sobrepor essas barreiras é expressar os
problemas de forma quantitativa, formato que unificou as interpretações permitindo uma
comunicação satisfatória entre os agentes.
Os modelos bioeconômicos no contexto do agronegócio podem permitir o ajuste de
tecnologias aos incentivos políticos e interesses mercadológicos, buscando eficiência
econômica e ambiental na combinação de informações das ciências biofísicas e sociais. Nos
últimos anos, vários esforços nesse sentido surgiram com o tema abordando especificamente
unidades rurais (ROBERT et al., 2016). Neste estudo, a temática é utilizada para enfatizar a
interdisciplinaridade encontrada nos problemas avaliados. King et al., (1993, p.389) definiu
essas aplicabilidades como:
Um modelo bioeconômico é uma representação matemática de um sistema
biológico gerenciado. Modelos bioeconômicos descrevem processos biológicos e
preveêm os efeitos das decisões de gestão sobre esses processos. Eles também
avaliam as consequências das estratégias de manejo em termos de alguma medida
de desempenho econômico.

O conceito de modelo, em geral, pode ser definido como uma representação da


realidade, com essa virtude eles não abrangem toda a realidade e são, portanto, abstrações
(KRUSEMAN, 2000). Os mecanismos mais simples neste sentido são os modelos mentais,
capazes de representar qualitativamente uma realidade. Logo, são muito utilizados para
representar a construção de hipóteses, teorias e modos de explicação, auxiliando no
esclarecimento de uma realidade (GOUVEIA, 1999). Os modelos mentais são os primeiros
passos para chegar até os modelos quantitativos formais que as ciências exatas geralmente
utilizam (ALMEIDA & TAUHATA, 1981).
Genericamente, os modelos formais estão divididos, segundo Kruseman (2000), em:
● Modelos teóricos: representam matematicamente as relações causais sob uma parte
da realidade a ser explicada. Consistem em hipóteses sobre as relações de um dado
fenômeno. Não é necessário que estes sejam parametrizados, ou seja, expressem o
estado de um sistema e seus processos com as funções e grandezas independentes as
quais são chamadas de parâmetros;
● Modelos parametrizados: representam a realidade com base nos modelos teóricos
já parametrizados, de tal maneira que possam explicar com precisão um determinado
fenômeno físico;
34

● Modelos de simulação: descrevem e explicam a realidade, mas também permitem a


experimentação a partir de uma configuração hipotética. Estes devem estar baseados
nos modelos teóricos e parametrizados. O uso da simulação permite fazer previsões
para espaços temporais distintos;

As modelagens possuem três finalidades: descrição, explicação e previsão. A


descrição é o início da formalização de um modelo mental, carece de agregar os diferentes
fenômenos observados em relacionamentos consistentes em termos de definições.
Geralmente a explicação ocorre posteriormente sob um conjunto de indicadores mensuráveis,
o qual interpretará a relação entre esses indicadores a fim de relatar algo significativo em
retrospectiva sobre um determinado fenômeno. O último atributo, a previsão, utiliza dos
modelos para explicar uma situação futura (KRUSEMAN, 2000).
Um quesito importante é a escala de tempo e o nível de agregação das modelagens.
A escala de tempo registra os períodos temporais observados como: passado, presente e
futuro. O modo como o tempo é incorporado no modelo pode variar, alguns serão estáticos,
estáticos comparativos e dinâmicos. No nível de agregação serão definidos os espaços físicos
observados como por exemplo: uma parcela de terra, fazendas, regiões e/ou superiores
(municípios, estados e países) (KRUSEMAN, 2000).
Segundo Rabbing et al., (1994) os modelos parametrizados e de simulação estão entre
os mais difundidos nas ciências agrárias. Estes distinguem-se em três objetivos gerais: i)
estudos descritivos e comparativos; ii) estudos exploratórios e iii) estudos de planejamento.
Os descritivos irão fornecer um panorama atual do sistema agrícola investigado, nos
explorativos os autores buscam verificar as possibilidades e potencialidades de uma fazenda
ou região ao longo prazo. Aqueles caracterizados como de planejamento referem-se a
modelos de previsão de curto e longo prazo para orientar a análise estratégica e tática de
intervenções políticas direcionadas.
Estes pressupostos didáticos preliminares assumem também a classificação de
empíricos (teóricos e parametrizados) e mecanísticos (parametrizados e simulados). Os
empíricos descrevem o sistema estudado fundamentalmente por relações matemáticas
(BROWN, 2000). Na sua consistência esses modelos estão presentes com uma ou mais
equação associada às peculiaridades locais. Nos mecanísticos, um nível maior de
complexidade contorna uma gama maior de fenômenos envolvendo em sua base de análise
processos fisiológicos enredados no crescimento de uma cultura ou população animal
(CASTRO et al., 2018).
35

Em um primeiro momento é difícil qualificar as áreas envolvidas na modelagem


bioeconômica, devido aos distintos acoplamentos dos submodelos agrários e econômicos
existentes em único modelo chamado de bioeconômico (BROWN, 2000). O exercício de
compará-los torna-se uma tarefa complexa. Para Kruseman (2000) a dificuldade ocorre não
apenas porque os objetivos dos estudos do campo são diversificados, mas porque há
diferenças em relação às premissas básicas que orientam os modelos envolvidos. As
suposições básicas tendem a depender das ciências que estão participando do escopo. Embora
procedimentos multi ou interdisciplinar sejam prescritos nesse tipo de pesquisa, muitas
vezes, existe uma disciplina que irá prepondera. Nota-se então uma quantia significativa e
heterogênea de abordagens.
Corrêa et al., (2011) descreve um caminho razoável para explicitar a modelagem na
agricultura e estabelecer os seus “diagnósticos de funcionamento” por um ou mais processos,
dessa maneira, explorar as oportunidades e aplicabilidades científicas destes métodos de
pesquisa. No setor agrícola é notável muitos experimentos utilizar a teoria econômica, em
específico a microeconomia sob os postulados da função de produção a qual integra-se a
outras áreas.
O escopo das técnicas neste âmbito depende de duas maneiras de representar o
processo de produção, conforme elenca Flichman et al., (2011): i) considerar as quantidades
físicas de insumos necessários para gerar uma unidade de produção (exemplo: terra, adubos,
animais e/ou sementes) e ii) caracterizá-los através dos custos de produção (exemplo:
medição monetária dos insumos).
Uma função objetivo de engenharia comumente é atribuída para representar de forma
explícita a tecnologia adotada na produção (exemplo: kg de fertilizantes/ha, m³ de água, entre
outros) formando um vínculo entre variáveis biofísicas e econômicas (GULATI & MURTY,
1979). Na agropecuária as práticas produtivas em sua essência podem ser representadas por
sistemas biofísicos, desta forma os autores quantificam as variáveis físicas, podendo elas
serem de entrada ou saída. Como saída das atividades são verificados os níveis de impacto
ambiental (FLICHMAN & JACQUET, 2002).
O elemento básico dos estudos é a atividade de produção agrícola e não o bem
econômico (produto), uma percepção diferente que enxerga os produtos (exemplo: grãos,
animais e florestas) não como elementos básicos de análise, mas investiga o processo de
produção que permitiu chegar até eles. Cada produto agrícola tem diferentes formas de ser
manufaturado e cada uma delas é composta por um conjunto de atividades, as quais podem
resultar em mais de um produto (FLICHMAN et al., 2011).
36

O modo tradicional de modelagem para tais situações é definir os coeficientes


técnicos presentes nas atividades, que convencionalmente estão relacionados a uma unidade
de fator fixo, como o caso da (terra), e não a uma unidade de produto (RUBEN et al., 1999).
Porém, aplicações diferenciadas avaliam separadamente os processos para produzir uma
mesma mercadoria percebendo as externalidades ambientais sob as práticas escolhidas.
O diferencial está em propor uma análise onde as atividades têm várias saídas, ou
seja, caracterizar uma produção conjunta de atividades, e nestas condições um único produto
pode pertencer a várias práticas formando os “processos de produção”. Conforme Flichman
et al., (2011), o lado positivo e negativo destas operações combinadas é melhor observado
tornando-se novas políticas de integração que estejam ligadas as atividades, não
exclusivamente aos produtos, identificando-as.
Uma produção conjunta é destacada na Figura 4 com um exemplo didático para
avalição do trigo “wheat”, palha “straw” e NO3 (FLICHMAN et al., 2011). O último fator
representa o fornecimento do nitrogênio ao solo na forma de nitrato, um composto presente
em muitos fertilizantes (ADDISCOTT et al., 1991). As relações implícitas de causalidade
são descritas pelas múltiplas entradas e saídas (incluindo externalidades ambientais) até obter
os três “produtos”. O impacto de cada entrada e saída pode ser avaliado separadamente,
quando é identificado a contribuição de cada atividade na produção. A construção dos
modelos bioeconômicos passa então a enquadrar variáveis biofísicas em uma função
matemática que expressa a produção (FLICHMAN et al.,2011).

Figura 4 - Diagrama de produção conjunta

Fonte: (Flichman et al., 2011)


37

O conjunto de expressões matemáticas é descrito conforme Flichman et al., (2011),


representado pela Figura 5, considerando cada atividade agrícola concebida no processo de
produção, com várias saídas e entradas. Cada especificação adotada pelos autores implica em
consequências não triviais. A partir disto é possível escolher a programação matemática do
modelo, incluindo os custos econômicos e as externalidades ambientais dos recursos naturais
relacionados a produção agrícola.
Os custos geralmente são definidos a partir de pesquisas de engenharia, informações
estatísticas e submodelos biofísicos. Enfatiza-se que as modelagens devem ilustrar os custos
ambientais e econômicos pelas atividades e não por produtos. Desta forma, segundo
Flichman et al., (2011) serão observados os custos e suas especificidades por atividades na
formulação do modelo, a entrada dos custos muitas vezes é não linear, porém o custo médio
é igual ao custo marginal, os custos reais por produto serão não lineares e, portanto, o custo
marginal normalmente aumentará proporcional ao nível de produção. A causa do acréscimo
na agropecuária geralmente está atribuída a presença do fator limitante fixo (terra), mas
também poderá ser outro fator de limitação natural, como a água. As externalidades
ambientais poderão ser tratadas como custos, desde que sejam identificados e medidos como
um produto físico (exemplo: toneladas de erosão do solo, kg de poluição NO3, etc). Para
capturar estas informações os modelos biofísicos dinâmicos simulam os diferentes produtos
relacionados com uma atividade agrícola dentro de uma estrutura integrada.

Figura 5 - Conjunto de variáveis na modelagem agrícola

Fonte: (Flichman et al., 2011)

Existem muitos propósitos e formatos na execução dos problemas agropecuários, os


quais são delineados por funções e solucionáveis com a programação matemática
bioeconômica. Contudo, o enfoque do trabalho não se caracteriza por uma revisão criteriosa
38

destes atributos e, portanto, será sinalizado um escopo geral das ferramentas com a finalidade
de entender a sua usabilidade nos setores do agronegócio, verificando seus principais
objetivos e resultados. Um básico esboço dos aspectos fundamentais das funções integrativas
é absorvido da revisão criteriosa realizada por Castro et al, (2018), compondo o Quadro 2
com os itens principais.

Quadro 2 - Fundamentos da abordagem bioeconômica integrativa

Representa a racionalidade econômica do processo decisório, e é onde estão descritas as


Funções atividades do sistema com os coeficientes para respostas produtivas. Possuem um conjunto de
Objetivo restrições que definem as condições operacionais podendo estar formuladas para um único ou
múltiplo objetivo.
Os métodos para incluir a incerteza são: i) programação estocástica: representados por funções
Integração da
de probabilidade para parâmetros de sistemas reais e ii) programação não estocástica: possui
incerteza
natureza determinística, ou seja, estudos levarão o um único resultado definido.
Modelos estáticos: tem a capacidade de mostrar o que acontece ao longo do tempo, mas o
Integração da
próprio tempo não é incorporado no modelo, todas decisões são para um único período.
dinâmica do
Modelos dinâmicos: incorporam o tempo em sua estrutura para considerar variáveis de
tempo
decisão em função do tempo.
A captura de integração entre os processos biológicos e as decisões humanas adotadas muitas
vezes podem ser não linear, chamados de modelos integrados complexos. São caracterizadas
Integração da
por múltiplos equilíbrios dinâmicos ou longos períodos de desequilíbrio e possuem um
dinâmica do
conjunto desconhecido de variáveis reais. De outro modo, tem-se a integração em modelos
sistema
convencionais que não permitem a captura das relações dinâmicas não-lineares, assim o
conjunto de variáveis possui valores mínimos ou máximos e são utilizadas equações lineares.
Fonte: Elaboração a partir de Castro et al., (2018)

Em uma grande parcela das aplicações com modelagem bioeconômica está presente
a otimização. A partir dela as programações matemáticas poderão ter rotinas de otimização
diferentes, sendo adaptadas conforme a formulação do problema observado e do tipo de
função adequada. Considerando os aspectos fundamentais do Quadro 2 e devido o potencial
de importância da otimização, Castro et al., (2018) elencaram as seguintes opções em termos
de programações para tais abordagens, conforme ilustra a Figura 6.
39

Figura 6 - Configurações da modelagem bioeconômica

Fonte: Castro et al., (2018)

Com o fluxograma de técnicas apresentadas na Figura 6, os autores optam


primeiramente pelo tipo de função objetivo verificando o seu grau de incerteza e o tratamento
com o tempo. Sempre considerando a dinâmica específica do problema (biológica,
econômica e social) presente nos sistemas agropecuários. A imagem representa a
estruturação dos modelos mecanicistas mais usuais que visam integrar objetivos de
sustentabilidade do setor na tentativa de evitar efeitos adversos como: a depleção do solo,
perda de nutrientes e gestão dos recursos naturais (BROWN, 2000). O grande desafio destes
métodos é incluir vários objetivos de maneira que se obtenha uma visão integrada de todos
os processos produtivos (CASTRO et al., 2018). Nos próximos parágrafos são descritos
brevemente as características principais dos elementos da Figura 6.

Na programação linear um conjunto de coeficientes de entradas e saídas é definido


pelo programador observando a limitação dos recursos e as possíveis restrições para as
atividades. A modelagem a ser otimizada considera as atividades e restrições para uma meta
específica do autor, como por exemplo o lucro. É uma técnica versátil onde os recursos
podem ser melhor alocados e geralmente são denominados variáveis de decisão (JANSSEN
& VAN ITTERSUM, 2007). Em programações não lineares todas atividades devem garantir
a não linearidades dos coeficientes de entrada e saída. Uma abordagem utilizada para quando
o estudo tem a preferência de maximizar o retorno econômico e espera ao mesmo tempo que
o risco financeiro seja delimitado (HÄRTL et al., 2013). Como ambos objetivos geralmente
não podem ser alcançados simultaneamente utilizando a opção linear, a programação não
linear fornece uma solução viável, pois há a combinação do retorno esperado e o risco
40

envolvido na função objetivo. Nas programações de múltiplos objetivos integram-se


informações e metas além da maximização do lucro. A maneira mais simples de utilizá-la é
selecionar o que será maximizado e minimizado no modelo, especificando os objetivos frente
as restrições (TEM BERGE et al., 2000).

Os graus de incerteza referem-se a robustez dos dados envolvidos no sistema em


análise e devem estar de acordo com a função modelada. Na programação estocástica busca-
se uma disponibilidade de dados ocorridos em eventos futuros e/ou adversos (ROTZ, 1989).
A aleatoriedade destas informações muitas vezes explica satisfatoriamente a natureza dos
processos. Utiliza-se funções probabilísticas que caracterizem aos sistemas reais, geralmente
com dados históricos para as variáveis ambientais, de preços e uso dos insumos (DA SILVA
& KNOKE, 2009). A opção de programação não estocástica robusta visa englobar pequenas
quantidades de informações sobre parâmetros bem definidos, abordando a incerteza através
da formulação de restrições. É comum a robustez estar atribuída a criação de cenários perante
ao sistema observado, gerando as combinações possíveis para aquela problemática
(HILDEBRANDT & KNOKE, 2009).

2.2 Bioeconomy

Os sistemas de produção que marcaram o século XX possuem muitos processos com


dependência de recursos não renováveis e são vistos como não sustentáveis. Em decorrência
disso, identifica-se uma transição em diversos sistemas tecnológicos voltados para a
produção de energia e materiais (TORRES, 2015). Desta transformação surgiu um novo setor
chamado de ‘Bioeconomy” que pretende colaborar frente as futuras problemáticas ambientais
(BIBER-FREUDENBERGER, 2018). Uma indústria em desenvolvimento que se estabelece
como um “novo setor econômico” de base biológica visando a integração setorial para
solucionar déficits socioeconômicos (RONZON & M’BAREK, 2018).
Na constituição desta abordagem diversos autores, empresas e países estão adotando
metas para integrar as matérias-primas renováveis em seus processos produtivos (KIRCHER,
2014). No entanto, é preciso um esforço significativo onde as estratégias políticas, as
inovações e a gestão contribuam com cadeias produtivas tradicionais (MACIEJCZAK,
2015). Inserido neste contexto o agronegócio pode tornar-se um elo primordial para tal
consolidação, em vista da sua capacidade de operacionalizar a produção e distribuição de
41

suprimentos agrícolas, desde unidades de transformação primária até a esfera agroindustrial.


A expertise adquirida com a cadeia de alimentos o coloca como um setor habilitado para
coordenar os diversos arranjos que trabalham com matérias primas biológicas (DENTONI et
al., 2012).
O termo Bioeconomy começa a ser difundido antes da virada do milênio quando dois
geneticistas, Juan Enriquez Cabot e Rordrigo Martinez, vislumbraram que os avanços
ocorridos na ciência genômica poderiam modificar a economia mundial pelas transformações
que aconteciam na área da biociência, trazendo novas aplicabilidades para indústrias e
empresas do ramo (VON BRAUN., 2014). Segundo Enriquez (1998), as ciências naturais
seriam fundamentais para a formação deste novo setor. Em função das novas descobertas
científicas, posteriormente desencadeou-se um movimento de planejamento estratégico
identificado nas principais economias mundiais (VON BRAUN., 2014; THE WHITE
HOUSE, 2012; COMISSÃO EUROPEIA, 2005).
De acordo com Petermann & Aguilar (2018), um aspecto central para propulsão do
setor é uso de biotecnologias. Uma revolução tecnológica que iniciou com fermentação de
matérias orgânicas e estendeu-se até manipulação genética. Algumas dessas bases são as
sequências de inovações ocorridas neste sentido: a estruturação da dupla hélice do DNA
(1953), regulação da síntese proteica (1961) e no isolamento dos genes (1969) (BUD, 1991).
Essas técnicas com o tempo foram aprimoradas com novos processos e produtos de ganhos
expressivos para setores como a química, farmacêutica, medicina e agricultura
(MCKELVEY et al., 2004).
No avanço dessas agendas há também um posicionamento quanto a utilização de
biomassa, um recurso que ao longo do tempo perdeu o enfoque, devido ao percurso histórico
de uso das energias provenientes do carvão, petróleo, gás natural e as mais contemporâneas
fontes alternativas (CORTEZ et al., 2008; JEBLI & YOUSSEF, 2017). Hoje, porém, em
maior ou menor magnitude, a maioria dos países está promovendo ações em prol das fontes
renováveis, motivados pela concentração específica dos recursos minerais em determinadas
áreas do globo, que além de ser finitos, sua exploração tornou-se cada vez mais cara
(ESCOBAR et al., 2009). Seguindo nessa linha, a modernização ecológica também despertou
a consciência da população para redução no consumo dos derivados do petróleo visando
diminuir a emissão de gases promotores do efeito estufa (BERGENDAHL et al., 2018).
Neste ponto, segundo Cortez et al., (2008), quando analisamos as tecnologias
suficientemente maduras e disponíveis para serem empregadas comercialmente, somente a
biomassa utilizada em processos modernos com elevada eficiência tecnológica possui a
42

flexibilidade de suprir a carência energética para os derivados do petróleo. Os processos


químicos mostraram que é possível produzir biopolímeros, energia elétrica, biocombustíveis
entre outros bens e esse potencial de aproveitamento retornou aos debates estratégicos.
Assim, estabelecer bioprocessos envolvendo tecnologias elementares ou altamente
sofisticadas é necessário (DALENA et al., 2017).
Desta forma, percebe-se uma ligação histórica entre a pesquisa científica e o
desenvolvimento da Bioeconomy, em específico, na compreensão de dois mecanismos. O
primeiro em nível molecular (genético), onde o objetivo principal é projetar novos produtos
verificando a maneira de implementá-los a partir de processos industriais. O segundo é
estabelecer o fornecimento estável de matérias primas biológicas a um sistema capaz de
transformá-las em bens que substituam a dependência dos recursos fósseis (BIRNER, 2018).
Nota-se que estes encaminhamentos já ocorriam antes da conexão das palavras “bio” e
“economy” contando com a participação e interdisciplinaridade do agronegócio (WÜNSCH,
2014; FARIA et al., 2016; GRAFF et al., 2014). Em virtude dos novos interesses estratégicos
é recomendável entender quais elementos estão neste contexto e como será o direcionamento
da produção primária.
Esses interesses levaram ainda na primeira década do século XXI a formulação de
muitas definições para uma mesma palavra. A maneira como define-se Bioeconomy é
importante tendo em vista seus atributos, os quais são refletidos nas estratégias políticas e
programas de pesquisas (PRIEFER et al., 2017). O enfoque de cada elemento pode implicar
na adoção de caminhos específicos, não apenas por parte dos países, mas também pelas
entidades que de alguma forma são responsáveis pelo seu desenvolvimento. É de interesse
do estudo observar e contextualizar as estratégias políticas, inovações, uso de insumos
agrícolas, bem como a gestão produtiva dos recursos biológicos em relação ao agronegócio.
No âmbito político estratégico, a Bioeconomy insere-se como uma nova dimensão
dentro dos elementos existentes no sistema socioeconômico, os quais, em grande escala,
estimulam o progresso de diversas formas, como realizar planos de ações (agendas)
(STAFFAS et al., 2013). O desenvolvimento destes estudos geralmente visa reduzir alguma
dificuldade encontrada nas federações, sejam elas sociais, econômicas e ambientais
(RONZON & M’BAREK, 2018). Existem muitas formas de realizar o diagnóstico que
viabilize estes instrumentos contornando os mais diversos interesses. Assim, em específico,
a oportunidade foi idealizada pela Comissão Europeia (CE). Entre os seus motivos
particulares, distinguiu-se por dois fatores principais: atingir a sustentabilidade e estabelecer
43

a eficiência no uso dos recursos renováveis (COMISSÃO EUROPEIA, 2005; PFAU et al.,
2014).
Esses fatores impulsionaram estratégias específicas, a primeira e mais relevante foi a
responsabilidade em difundir o campo, seguida em conceituá-lo de maneira que desse sentido
a uma série de ações governamentais. Desta forma, quando se é mencionado a palavra
corriqueiramente a mesma está vinculado a um conceito institucional (DE BESI &
MCCORMICK, 2015). No entanto, as estratégias poderão sofrer variações conforme as
percepções do ambiente a onde estão sendo desenvolvidas. Considerando que a partir das
estratégias particulares de cada país, surgem e modificam-se os conceitos necessário para
identificar os principais elementos transitórios deste fenômeno. Conforme o sistema ilustrado
na Figura 7, a sinergia entre tais elementos: conhecimento, P&D, viabilidade de utilização
dos insumos (recursos renováveis), processos compatíveis de transformação e a aceitação do
mercado podem reconfigurar a dinâmica das estratégias e dos novos conceitos
(MACIEJCZAK, 2015).

Figura 7 - Análise estratégica em bioeconomy

Fonte: Adaptado de (MACIEJCZAK, 2015)

Os primeiros conceitos formais narrados, de acordo com o Quadro 3, surgiram a partir


de 2005 como resultado do trabalho de cúpulas federativas para o desenvolvimento
estratégico. Nas primeiras descrições buscava-se enfatizar o papel da conversão das matérias
primas e o apelo ecológico no desenvolvimento de novas tecnologias (COMISSÃO
EUROPEIA, 2005). Em 2007 uma necessidade emergiu a fim de especificar os setores
envolvidos caracterizando-os nas principais áreas científicas e os componentes de produção
44

que iriam ser manufaturados: alimentos, materiais, produtos químicos e energia


(COMISSÃO EUROPEIA, 2007). Em um mesmo período a Organização para Cooperação
e Desenvolvimento Econômico (OCDE), realizou algumas reflexões valorizando e
incentivando os conhecimentos que estavam envolvidos no novo setor (OCDE, 2009).

Quadro 3 - Bioeconomy e os conceitos governamentais

Comissão Marco Inicial (2005) Especificação Setorial (2007)


Europeia "A bioeconomia constitui uma conversão "Todos os sistemas de produção que utilizam
(CE) ecológica e ecologicamente eficiente dos processos bioquímicos e biofísicos, incluindo todas
recursos biológicos renováveis para as ciências naturais e tecnológicas relacionadas
alimentos, energia e outros produtos que são necessárias para produção de produtos
industriais". úteis. Estão no contexto das aplicações
biotecnológicas desde a agricultura até as
indústrias, incluindo as biorrefinarias, produção de
bioenergia e os bioquímicos".
OCDE Determinação da política de Relato frente as estratégias expostas pela
desenvolvimento (2006) CE (2009)
"Recomenda-se que a bioeconomia seja o "A bioeconomia significa a troca de conhecimentos
conjunto agregado de operações resultantes das ciências naturais com novos
econômicas em sociedade, que usa os produtos ecoeficientes e competitivos,
valores latentes (ocultos) embutidos nos ecologicamente corretos".
produtos e nos processos biológicos para
acelerar o aumento e alcançar a
prosperidade para cidadãos e nações".
Estados Projeto Nacional de Bioeconomia (2012)
Unidos “Uma bioeconomia é aquela baseada no uso de pesquisa e inovações nas ciências biológicas
para criar atividade econômica e benefício público. A bioeconomia dos EUA está ao nosso
redor: novas drogas e diagnósticos para melhorar a saúde humana; culturas agrícolas de maior
rendimento; biocombustíveis emergentes para reduzir a dependência do petróleo; e
intermediários químicos de base biológica”.
Fonte:(COMISSÃO EUROPEIA, 2006, 2007; OCDE, 2006, 2009; THE WHITE HOUSE, 2012).

Afim de concretizar constantemente as estratégias citadas acima, os objetivos


políticos dirigem-se principalmente para a construção e transferência do conhecimento
(BORGE & BRÖRING, 2017). No eixo da agricultura as pesquisas são voltadas para o
aprimoramento da produção de biomassa, obtida a partir de recursos biológicos reprodutíveis
de origem animal ou vegetal. A investigação para o processo de transformação dos materiais
biológicos busca o aprimoramento das reações bioquímicas, mecânicas e termoquímicas
(ADAMOWICZ., 2017). Ressalta-se que neste ciclo de inovações o produtor rural poderá
beneficiar-se “antes da porteira” e “após a porteira”.

Essas modificações eventualmente refletem em toda a cadeia do agronegócio. O


seguimento irá sofrer pequenas alternâncias em virtude das proposições institucionais. A
jusante ou a montante do setor, deve-se considerar que uma unidade de produção rural terá
45

conexões diferenciadas entre as entradas, processamento e saída dos materiais biológicos.


Ao passo que inovações como novas espécies de cultivo demandarão ajustes técnicos em
nível de propriedade, agroindústria e comercialização.

Os efeitos políticos da Bioeconomy para cadeia produtiva agrícola mesmo que


tratados por um novo conceito recentemente sofreram mudanças. Retoma-se para essa
discussão os dois mecanismos apresentados anteriormente, os quais são difundidos na
literatura como área de perspectivas para “inovação biotecnológica” e “substituição de
recursos” (BUGGE et al., 2016). Conforme o Quadro 4, desenvolvido por Birner (2018), as
evidências históricas do termo na primeira década do século XXI são apresentadas.

Quadro 4 - Perspectivas de bioeconomy na literatura

Substituição de recursos Inovação biotecnológica


Perspectiva
(2000-2010) (2010-2018)
Novas tecnologias de
“Pico do petróleo”, escassez
Relação com recursos fósseis exploração de petróleo; preços
de recursos fósseis energéticos
baixos voláteis
Acordo climático de Paris e
Expectativa de que os preços
Principais forças motrizes avanços nas ciências
continuarão a aumentar
biológicas
Inovação para o
Razão Geral Substituição de recursos
desenvolvimento sustentável
Fonte: (BIRNER, 2018)

Os eventos citados trouxeram consequências no direcionamento dos objetivos


estratégicos para as duas perspectivas. Quando ocorreu o “pico petrolífero” as taxas de
extração atingiram um nível elevado e os preços dos combustíveis fósseis aumentaram
abrindo vantagem para utilização da biomassa como fonte energética e material, assim a
promoção da perspectiva de substituição de recursos elevou-se. A chamada crise do petróleo
entre os anos 2007 e 2008 impulsionaram as políticas para biocombustíveis com implicações
importantes tanto para a Bioeconomy como também ao agronegócio (BOMB, 2007). É
destacável que houve tensão neste período entre garantir produção de alimentos ou usá-las
para desenvolver as biomassas (BIRNER, 2018; AJANOVIC, 2011). Em paralelo, ocorreu
uma atenção especial para desenvolver pesquisas, aumentando a produtividade da biomassa
como uma opção alternativa que não fosse conflitante com a produção de alimentos (SIMS
et al., 2006).
O progresso em termos científicos para a percepção de substituição de recursos
emergiu com a segunda geração de biocombustíveis, os quais são feitos a partir de matérias
46

primas diferentes, e, portanto, impulsionaram novas tecnologias para extrair energia útil
(HOMBACH et al., 2016). Diferentemente da primeira geração de biocombustíveis que
carecem dos açúcares e óleos vegetais também encontrados em culturas alimentícias, as
matérias primais da segunda geração incluem biomassa lignocelulósica, culturas lenhosas e
resíduos agrícolas (ULHOA, 2014; GUPTA & TUOHY, 2013). Novas cultivares resistentes
as intempéries ambientais foram tidas como uma opção produtiva para terras marginais,
aquelas inapropriadas para a produção de alimentos (VAN DER WEIJDE, 2017).

Atuais opções de exploração do petróleo derrubaram o preço dos combustíveis


fósseis, fazendo com que a perspectiva de substituição dos recursos fosse um pouco
desmerecida. A principal argumentação estratégica passou a ser a proteção do clima, embora
não seja um fato novo. O acordo de Paris trouxe novas justificativas plausíveis para substituir
o recurso mineral (BIRNER, 2018). Sabe-se que essa troca de matéria prima continua sendo
importante, mas no contexto da geração de novos conhecimentos em Bioeconomy a
perspectiva de inovação biotecnológica ganhou um espaço maior nos últimos dez anos. Esse
contorno estratégico é documentado pela (Conselho Alemão de Bioeconomia - BÖR), com
seguinte citação:

“Originalmente, o conceito de uma economia de base biológica foi promovido à


luz do esperado esgotamento rápido de reservas de gasolina, gás e carvão. No
entanto, a mudança para a bioeconomia não é mais impulsionada
predominantemente pelas expectativas de aumento dos preços dos combustíveis
fósseis. Tendo em conta a exploração de novas reservas fósseis e devido a
melhorias na eficiência energética, este argumento tornou-se menos proveniente,
mas permanece estrategicamente essencial. Sem grandes ajustes, a emissão
contínua de gases de efeito estufa e as mudanças relacionadas às condições
climáticas danificarão irreversivelmente o ecossistema global e envolverão riscos
econômicos incalculáveis” (BÖR, 2014, p.1)

Esse levantamento realizado pelo órgão consultivo, independente do governo federal


alemão, é apenas um dos tantos trabalhos que essa organização vem promovendo sobre
Bioeconomy. O conselho alemão identificou informações da ascensão da Bioeconomy em
muitos países, incluindo países industrializados e em desenvolvimento. O objetivo foi
verificar em qual situação estratégica os países estão trabalhando com os conceitos
relacionadas. A Figura 8 ilustra uma visão global do estado de desenvolvimento alcançado
até 2017.
47

Figura 8 - Políticas mundiais de bioeconomy

Fonte: (BÖR, 2017)

Como observado pela Figura 8, as políticas mundiais de bioeconomia estão sendo


desenvolvidas em todo o mundo. No estudo é observado que as inovações biotecnológicas
e/ou substituição de recursos renováveis incidem em quarenta e cinco países, desenvolvendo
estratégias políticas nacionais com impacto significativo. Oito regiões foram classificadas
como estratégias dedicadas (União Europeia, Finlândia, Alemanha, Japão, Malásia, África
do Sul, EUA e os países nórdicos ocidentes). O destaque de estratégia dedicada ocorre por
estes países atribuírem um olhar holístico de implementação que visa a transição de base
biológica em vários nichos produtivos, diferenciando-se dos demais que possuem uma
política setorial especifica (BÖR, 2017).
No âmbito geral, as principais metas e objetivos estratégicos em Bioeconomy sob a
perspectiva das inovações em biotecnologias está relacionada ao crescimento econômico e à
criação de empregos. Assumindo as prerrogativas da mudança climática e aspectos
ambientais as inovações neste eixo buscam reduzir os impactos (COMISSÃO EUROPEIA,
2010). Para gerar valor com as descobertas a vínculo maior com sistemas de inovação e
regulação governamental altos investimentos em pesquisa, procedimentos para registro
intelectual e a legalização dos inventos são a chave para essa dimensão (LEWANDOWSKI,
2015).
48

Nota-se que em certo ponto ambas perspectivas se encontram. Particularmente, no


setor agrícola novas tipologias de cultivares poderão contribuir posteriormente nas
agroindústrias pela perspectiva de substituição de recursos.
Historicamente os agricultores manipulam plantas e animais através de reprodução
seletiva a fim de criar inovações desejadas e necessárias (GOODMAN et al., 2008). No
século XX, o incremento tecnológico permitiu que a biotecnologia fizesse mudanças
significativas no agronegócio, selecionando características para aumentar a produtividade
resistindo a pragas e secas (SILVEIRA et al., 2005). O produto pioneiro do setor de
alimentação utilizando biotecnologia agrícola foi vendido em 1990 e, em 2003, 7 milhões de
agricultores já utilizavam culturas biotecnológicas. Mais de 85% desses agricultores estavam
localizados em países em desenvolvimento (ABSP, 2004).
No setor agrícola as inovações biotecnológicas em Bioeconomy consistem em
técnicas de aprimoramento que incluem a engenharia genética, diagnósticos e marcadores
moleculares, entre outros. Esses avanços científicos habilitam a modificação dos organismos
vivos como: plantas, animais e microrganismos. No trato com os cultivares as técnicas de
modificação mais comuns são: criação tradicional, mutagênese, poliploide, fusão de
protoplastos, interferência de RNA, transgênicos e edição de genoma (SILVEIRA et al.,
2005).
Uma das fundamentais buscas da biotecnologia agrícola moderna está na técnica de
DNA recombinante de maneira especial na transgenia, método que permite apurar o trabalho
de produção, abatendo o tempo na obtenção de novas características para espécies vegetais
(FALEIRO et al., 2011). Além disso, permite a solução de barreiras naturais entre as espécies,
ou seja, consegue isolar as características genéticas desejáveis de uma célula, e agrupá-las à
outra, realizando o melhoramento da planta em questão (CARRER, 2010).
Embora muito discutido na literatura especializada, existem razões primordiais pelas
quais estes procedimentos têm sido objetos de pesquisa e cada vez mais são adotados nos
sistemas agrícolas. Os autores Altman & Hasegawa (2011) destacam alguns motivos: a
densidade demográfica mundial e a carência de quantidade e qualidade de alimentos; a
consideração de que a saúde das populações sofrem influências das doenças causadas por
patógenos e outros organismos e pela qualidade dos alimentos, sobretudo a respeito das
vitaminas e minerais; o aumento da temperatura global seguida pelos riscos bióticos e
abióticos que implicam na modificação de culturas para resistir a ecossistemas modificados;
e pelas adaptações do consumo humano de novos produtos como biomateriais e
biocombustíveis.
49

Antes de ascender na agricultura, a concentração dos estudos biotecnológicos estava


relacionada primeiramente a saúde humana e animal utilizando microrganismos para o
desenvolvimento de antibióticos, um exemplo é a penicilina, descoberta por Fleming, em
1929. Em 1953, com descrição do DNA tornou possível a manipulação de qualquer espécie
viva (CARRER et al., 2010). Na agricultura em detrimento do avanço populacional, a
produtividade precisou ser elevada reduzindo o uso de adubos químicos e agrotóxicos,
buscando-se “fortalecer” plantas e animais domésticos com defesas genéticas contra
patógenos e pragas (SAMBUICHI et al., 2012).
Os anos de 1960 e 1970, trouxeram significativas mudanças para agricultura mundial.
Os países em desenvolvimento deram início a Revolução Verde, época marcada pela
intensificação agrícola a partir de programas estratégicos de melhoramento genético clássico,
uso intensivo de insumos e mecanização. Nessa época, importantes espaços de pesquisa
começam a investigar profundamente a biotecnologia aplicada à agricultura, período no qual
a engenharia genética inicia a transferência controlada de genes para vegetais, ocorrendo a
fabricação de vacinas transgênicas e outras proteínas terapêuticas (AZEVEDO &
FUNGARO, 2000; VIEIRA FILHO & FISHLOW, 2017).

Destas descobertas, surgiu o primeiro cultivar transgênico da história no ano 1983. O


melhoramento genético das plantas com sequenciamento permitiu que a substância chamada
“nopalina” estivesse inserida no DNA circular da bactéria “Agrobacterium tumefaciens” e
fosse transferida para uma variedade de tabaco. Tal experimentação abriu os caminhos para
o avanço transgênico com novas características e anos depois a primeira espécie alimentícia
destinada ao mercado seria lançada (BARTON et al, 1983; CARRER et al., 2010).
Desde então, surgiram várias investigações e novas aplicações de técnicas em
biotecnologia para o aprimoramento dos vegetais. No ano de 1995, outras culturas
geneticamente modificadas foram disponibilizadas para uso comercial. O milho, a canola, o
algodão e a soja tiveram características específicas adquiridas pela tecnologia de DNA
recombinante. No ano 2000 o genoma foi sequenciado pela primeira vez permitindo um
grande avanço em relação ao estudo das características essenciais de como as plantas
funcionam e à possibilidade de modificação genética (CARRER et al., 2010).
Uma tendência estratégica para Bioeconomy agrícola é que mais eventos com genes
estejam disponíveis na produção primária com combinações que confirmem a resistência de
doenças, sendo tolerantes a fatores ambientais como a falta de umidade e outros estresses
abióticos. Segundo Dias & Carneiro (2015) espera-se benefícios não só para produtor
50

primário, mas que sejam inclusos aspectos ao consumidor final, com aumento de valores
nutricionais (maior teor proteico; maior produção de ácidos graxos benéficos, como o ácido
oleico e o ômega-3), maior capacidade de conversão em biocombustíveis (milho) e maior
qualidade da fibra (algodão).
As inovações em Bioeconomy a serem contextualizados aos agronegócios
concentram-se sob vários aspectos, como na descoberta de técnicas de obtenção de
variedades geneticamente modificadas, tanto para o manejo ambiental quanto para o
consumidor final desses produtos. Entretanto, o uso da biotecnologia pode ser aplicado não
apenas na produção de organismos geneticamente modificados como também no controle
através de insumos produtivos, favorecendo o produtor de forma indireta.
Nessa visão, entende-se que as principais metas da biotecnologia agrícola pretendem
atingir os seguintes quesitos: sustentabilidade (o desenvolvimento laboratorial técnico
atendendo os cuidados ao ambiente); segurança alimentar (produzir alimentos com qualidade
e quantidade necessárias para alimentar a crescente população, com substâncias essenciais
como vitaminas, lipídios, carboidratos, e outros); e na produção de novos biomateriais (como:
biofármacos, biocombustíveis e bioplásticos produzidos a partir de plantas) (DIAS &
CARNEIRO, 2015).
51

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para responder o objetivo proposto e realizar a análise de literatura utilizou-se os


pressupostos normativos de uma revisão sistemática de literatura e uma integração da análise
quantitativa de correspondência, identificando as abordagens sobre Bioeconomia no âmbito
científico e como estão contextualizadas no agronegócio; e, um estudo qualitativo a fim de
objetivar as temáticas da bioeconomia. A análise sistemática de literatura (ASL) foi realizada
com base nos requisitos do método PRISMA Statement (Preferred Reporting Items for
Systematic reviews and Meta-Analyses) (MOHER et al., 2009) com o propósito de acumular
informações existente na literatura de forma planejada. Com o auxílio do método de revisão
foi possível mapear o estado da arte em que o tema se encontra.
O método de PRISMA consiste em três principais vertentes: seleção, exclusão e
elegibilidade, e serão abordados no decorrer do capítulo.

3.1 Estratégia de seleção

A análise sistemática inicial abordou palavras, em inglês, no título, resumo e palavras-


chaves, em alguns dos principais bancos de dados disponíveis eletronicamente. A pesquisa
utilizou as expressões “bioeconomy”, “bioeconomic”, e suas variações, “bio-economy, “bio-
economic” e “biobased economy” no título, e, o prefixo ‘agri*’ adicionado ao tópico da
pesquisa. Dessa maneira, restringindo a pesquisa aos trabalhos que de alguma forma estão
relacionados com o setor agrícola (agriculture, agribusiness, agricultural, etc.).
A opção pelos bancos de dados das plataformas “Scopus”, “Science Direct”,
“SciELO” e “Web of Science”, para a seleção dos periódicos, foi para abranger uma maior
coleta de artigos sobre o assunto. Em especial, a SciELO foi designada para que as obras da
América Latina que não estão inclusas nas coleções renomadas possam estar na revisão.
Os termos de busca exploraram os acervos digitais das quatro plataformas diferentes,
durante um intervalo de tempo de 2008 até 2018. O intuito da pesquisa foi identificar as
diferenças quanto a empregabilidade dos termos e compor o referencial teórico do trabalho.
A pesquisa dos artigos foi realizada no dia 23 de maio de 2018 e atualizada em 10 de janeiro
52

de 2019 a atualização foi necessária para incluir na análise os últimos artigos publicados no
ano de 2018.
O protocolo para esta pesquisa foi configurado a partir da estruturação composta no
Quadro 5 e demonstra seus principais parâmetros de estratégia de busca.
Quadro 5 - Protocolo de pesquisa

Protocolo de pesquisa
“bioeconomy” OR “bioeconomic” OR “bio-economic”
Variações de palavras OR “bio-economy” OR “biobased economy” (Tille)
AND agri* (Topic).
Período de busca 2008 a 2018
Base de dados SciELO; Scopus; Science Direct; Web of Science.
Fonte: dados da pesquisa

3.2 Critérios de exclusão

Identificados os artigos da análise sistemática e suas informações foi realizada a


organização em uma planilha eletrônica (Excel) com registros do título, nome do periódico,
autores e ano da publicação. Os primeiros passos de exclusão são para artigos duplicados,
usando o menu dados do software Excel e a opção remover células duplicadas. Além do
auxílio da função foi verificado manualmente a repetição de títulos, autores e aqueles
arquivos com mesmo conteúdo, mas em idiomas diferentes.
Após finalizada a etapa de remoção de artigos idênticos, foram definidos os critérios
de exclusão. No total foram utilizados 5 critérios:
1. O artigo traz descrições de bioeconomia contextualizadas ao agronegócio?
Esse critério teve como objetivo identificar na leitura dos resumos aplicações
ligadas às operações produtivas e comerciais dos agentes em cadeias como:
agricultura, pecuária, florestal, aquicultura e integração.
2. O trabalho menciona de forma clara as variáveis biológicas (índices
zootécnicos, agronômicos e ambientais) e econômicas (índices econômicos,
financeiros e sociais)? Tal critério tinha função de suprimir os artigos que não
davam ênfase nestes elementos de bioeconomia;
53

3. O acesso do material estava aberto para instituição UFRGS (Universidade


Federal do Rio Grande do Sul) ou CAPES Brasil (Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).
4. Os artigos possuem caráter científico com elementos textuais padrão
(introdução, objetivos, referencial teórico, metodologia e conclusão).

3.3 Análise de elegibilidade

Selecionados os artigos remanescentes pelos critérios de exclusão, uma nova etapa


de triagem qualitativa, a elegibilidade, foi elaborada. Os periódicos classificados e
armazenados em planilha eletrônica conforme o tópico 3.2, que os catalogou pelo título,
autoria, ano, base de dados e periódico, foram submetidos a uma análise de conteúdo, com
sentido de eleger para síntese os documentos que de alguma maneira justificaram e/ou
responderam à pergunta de revisão “Como as abordagens bioeconomics e bioeconomy estão
relacionadas com o agropecuária?
Ao estudar as obras usa-se a estratégia de desmembramento da questão objetivo
observando, em um primeiro momento, qual problema de pesquisa em bioeconomia o artigo
está abordando. Logo, é verificado o debate dos recursos naturais e inovações
biotecnológicas em alguma das atividades do agronegócio e/ou área de relação. Desta forma,
a análise minuciosa da elegibilidade qualificou 57 artigos envolvidos e 7 problemáticas
diferentes, os artigos que não foram eleitos tem suas justificativas descritas no apêndice.

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