Saude Do Solo - M1
Saude Do Solo - M1
Saude Do Solo - M1
Saúde do Solo e
Sustentabilidade Agrícola
Sumário
Apresentação.................................................................................................................... 5
Introdução......................................................................................................................... 7
Aula 1 | A maquinaria biológica é a base da saúde do solo........................................... 8
1.1.1 Introdução.......................................................................................................... 8
1.3 Conclusão............................................................................................................ 26
Bibliografia..................................................................................................................... 27
Editorial
©2022 Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
https://www.gov.br/agricultura/pt-br
Coordenação Editorial
Equipe Técnica
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Embrapa
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Apresentação
Solos saudáveis são solos biologicamente ativos, produtivos e resilientes, ou seja,
com melhor performance diante de problemas advindos de estresses abióticos (ex:
falta de chuva) e bióticos (ex: ocorrência de doenças). Além disso, solos saudáveis
produzem plantas mais nutritivas, possuem maior potencial de sequestro de carbono,
maior eficiência no uso de nutrientes e melhor capacidade de biorremediação de
pesticidas. Tudo isso resulta em maior lucratividade tanto no aspecto econômico
quanto no ambiental.
Mas como saber se o solo onde cultivamos nossas lavouras esta saudável ou
doente? O que fazer para manter solos saudáveis?
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Esse E-book foi criado com base na publicação:
MENDES, I.C; SOUSA, D. M. G. ; REIS JUNIOR, Fábio Bueno dos ; ALVES DE CASTRO
LOPES, ANDRÉ . Bioanálise de solo: como acessar e interpretar a saúde do solo.
Planaltina: Embrapa Cerrados, 2018 (Circular Técnica, 38).
https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1110832/
bioanalise-de-solo-como-acessar-e-interpretar-a-saude-do-solo
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Introdução
Olá! Sejam bem-vindos e bem-vindas ao Módulo 1 do curso Saúde do Solo,
Tecnologia BioAs e Sustentabilidade Agrícola.
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Aula 1 | A maquinaria biológica é a base da saúde do
solo
1.1.1 Introdução
Os solos do planeta se formaram durante bilhões de anos de evolução da Terra.
Os processos que formaram os solos favoreceram a existência dos pré-requisitos
físicos, químicos e biológicos para que plantas pudessem se desenvolver fora dos
oceanos com a devida estabilidade.
Mas foi somente há cerca de 12.000 anos, quando os seres humanos começaram
a guardar as sementes para plantar a colheita da próxima temporada, que, nós, a
humanidade, demos um passo que mudou significativamente a vida aqui na Terra:
começou a agricultura!
Com essa nova tecnologia que era a agricultura, as comunidades humanas foram
ficando muito dependentes das plantas e do solo e, de maneira recíproca, as plantas
cultivadas (ou domesticadas) e o solo também ficaram dependentes da ação dos
seres humanos.
Não é por acaso que “o maior desafio para a agricultura neste século XXI consiste
em aumentar a produção de alimentos baratos e saudáveis, com lucratividade e a
um baixo custo ambiental e social”. (Mendes et al. 2019, p. 2)
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PALAVRA DE ESPECIALISTA
Químicos Físicos
pH, Al, Textura
Ca+Mg, Matéria
Densidade
P, K orgânica Cap. ret. H2O
?
Figura 1. Até julho de 2020, a presença de bioindicadores para avaliar a saúde dos solos ainda não fazia
parte das rotinas de análises de solo. A lacuna deixada pela ausência do componente biológico nessas
análises foi preenchida pela bioanálise do solo (BioAS). | Fonte: Mendes et al. 2019, p. 3
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Mas, o que é BioAs? Vamos aprender juntos!
PALAVRA DE ESPECIALISTA
Além de serem invisíveis a olho nu, a maior parte das espécies microbianas que
habitam o solo não crescem em meios de cultura nos laboratórios. Estima-se
que um único grama de solo possui cerca de 1 bilhão de bactérias, 1 milhão de
actinomicetos e 100 mil fungos. Em termos de número de espécies por grama
de solo, os números variam de 2000 a 8,3 milhões (Gans et al., 2005; Schloss
and Handelsman, 2006). Independentemente do grau de conservadorismo
da estimativa utilizada, esses valores dão uma ideia da imensa diversidade
metabólica das comunidades microbianas do solo e, consequentemente, da
diversidade de processos em que elas atuam. (Mendes et al., 2019, p. 3)
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matéria orgânica biomassa viva =
3% 5% da MOS
Físicas
macrofauna Químicas
8%
MICROORGANISMO Biológicas
raízes 70%
22%
PALAVRA DE ESPECIALISTA
Enquanto as plantas, por meio da fotossíntese, fazem a conexão do céu com a
terra, ou seja, atmosfera com o solo, os microrganismos são os responsáveis
diretos pelo”funcionamento” do solo, participando de processos que vão
desde a sua formação até a decomposição de resíduos orgânicos, resultando
na reciclagem dos nutrientes minerais utilizados pelas plantas e depositados
em seus tecidos.
Paralelamente, os microrganismos também atuam nos processos que
resultam na formação da matéria orgânica do solo (MOS), com consequente
sequestro de carbono e mitigação de gases de efeito estufa, além de atuarem
na biorremediação de áreas contaminadas por poluentes e agrotóxicos.
Essa capacidade de o solo funcionar para a prestação desses importantes
serviços ambientais é a base do conceito de ”Qualidade do Solo” (QS) e, por
isso, a inclusão de parâmetros ligados ao componente biológico do solo (aqui
denominados bioindicadores) nas avaliações de QS é primordial.
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A despeito da importância do solo para a humanidade, o interesse pelo
tema “Qualidade ou Saúde do solo” é relativamente recente (Doran e Parkin,
1994) e inovou ao destacar a importância do funcionamento do solo não só
para a produção biológica (grãos, carne, madeira, agroenergia, fibras, etc.)
mas também para o funcionamento global dos ecossistemas. Aspectos
relacionados à saúde das pessoas, plantas e animais (solos saudáveis,
ambientes saudáveis) e a qualidade do ar e da água (armazenamento e
filtragem de água, sequestro de carbono, etc.) deixam claro que a qualidade do
solo vai muito além da produção de grãos, carne, madeira, agroenergia, fibras.
Por isso, é possível ter um solo com baixa qualidade, mas cujas elevadas
produtividades estejam relacionadas a entradas de adubos e pesticidas, uma
condição que não é sustentável em longo prazo. (Mendes et al., 2019, pp. 3-4
– adapt.)
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Aula 2 | Por que bioanalisar o solo?
1.2.1 Introdução
Certamente, em algum momento da sua vida, você já precisou fazer um exame de
sangue, não é? Então, você deve lembrar que o médico solicita esse exame chamado
hemograma para que, analisando as substâncias que compõem seu sangue, ele
possa verificar se há falta ou excesso de algum componente importante que possa
vir a causar alguma doença e isso o ajuda a tomar decisões sobre como cuidar da
sua saúde.
Imagine agora que seu hemograma deu excelentes resultados e seu médico, ao
avaliar suas taxas, lhe fez elogios, incentivou a continuar suas práticas de boa saúde,
suspendeu aquele remédio que agora não precisa mais ser tomado e até liberou
você para, com moderação, ter uma alimentação mais livre e flexível. Da mesma
forma, para agricultores que já adotam sistemas de manejo conservacionistas,
a bioanálise serve como um incentivo e estímulo, uma vez que os aumentos de
matéria orgânica, principalmente nos solos tropicais argilosos, levam mais tempo
para serem observados e, geralmente, não são muito expressivos.
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PALAVRA DE ESPECIALISTA
Indicador
Soja
Pousio ? Indicador
Soja
Braquiaria $
Biomassa Microbiana 131 Biomassa Microbiana 410
ß - Glucosidase 62 ß - Glucosidase 233
Solo c/ baixa atividade Solo c/ alta atividade
Sulfatase 28 biológica = solo menos
Sulfatase 223 biológica = solo mais
produtivo produtivo
Fosfatase Ácida 589 Fosfatase Ácida 1.005
Figura 3. Exemplo do uso da bioanálise do solo, como suporte para tomada de decisão de manejo por
agricultores. | Fonte: Mendes et al., 2018, p. 16
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Como o próprio nome sugere, a biomassa microbiana do solo avalia a massa dos
microrganismos no solo e é expressa como mg de C (carbono), N (nitrogênio), e/ou
P (fósforo) nos microrganismos por quilograma de solo.
PALAVRA DE ESPECIALISTA
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1.2.3 Por que avaliar bioindicadores?
Por estarem relacionados a vida do solo, o s bioindicadores são mais sensíveis para
avaliar sua saúde detectando com m ais antecedência as alterações que acontecem
no solo por causa do seu uso e do manejo.
Al Ca Mg K P MOS
Tratamento pH
--- cmolc/dm3 --- --- mg/dm3 --- g/kg
Soja/Milho 5,87 0,04 4,22 1,39 113 12,7 22,0 b
Soja/Milho + U.
5,89 0,03 4,48 1,96 108 10,1 24,7 a
ruziziensis
Soja/U. brizantha 6,06 0,04 4,57 1,55 141 13,8 24,1 ab
CV(%) ns ns ns ns ns ns 6
Ca, Mg e Al: extrator (KCI 1 mol/L; P e K: extrator Mehlich-1; MOS: método Walkley & Black.
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Tabela 2. Indicadores microbiológicos de um LV de Cerrado, sob SPD, em sistemas
agrícolas com e sem braquiária (0 cm a 10 cm), no sudoeste goiano.
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Nesse experimento, são avaliados oito sistemas de produção incluindo o monocul-
tivo, sucessão e rotação de culturas. Veja na Figura 4 as diferenças entre os trata-
mentos, com base na cobertura do solo pelos resíduos vegetais, no oitavo cultivo
de soja.
Figura 4. Aspecto visual da cobertura do solo nos tratamentos do experimento de rotação de culturas na
soja, em Itiquira, MT (SPD – Sistema de plantio direto; SPC – Sistema de preparo convencional). | Fonte:
Mendes et al., 2018, p. 8
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Até a safra 2013/2014, as diferenças nas produtividades da soja entre os vários
tratamentos não foram muito acentuadas. A produtividade média do pior tratamento,
em termos de manejo (monocultivo de soja sob SPC) foi de 61 sc/ha e não diferiu
significativamente dos demais tratamentos (Mendes et al., 2017). No entanto, no
sétimo cultivo (2014/2015), com o uso de uma cultivar superprecoce (TMG 7262
RR cujo ciclo foi de 98 dias), a ocorrência de um veranico em janeiro de 2015
possibilitou evidenciar, pela primeira vez, o início do declínio dos tratamentos com
monocultivo de soja. Na Figura 5, ilustra-se o aspecto geral da soja no tratamento
1 (soja/pousio) e no tratamento 3, em que a cultura é inserida num esquema de
sucessão com a braquiária (U. ruziziensis), durante o veranico de janeiro de 2015.
No tratamento com soja/pousio, a produtividade de grãos foi de 29 sc/ha, enquanto,
no tratamento soja/braquiária, a produtividade de grãos foi de 59 sc/ha, ou seja,
diferença de 30 sc/ha entre os dois tratamentos. Entretanto, apesar da diferença
significativa na produtividade de grãos, as características químicas dos solos (0 cm
a 10 cm) desses tratamentos foram semelhantes (Tabela 3). A única exceção foi a
MOS cujo teor no tratamento com braquiária foi 1,5 vezes maior que no tratamento
soja/pousio, ou seja, 50% a mais em razão da presença dessa planta de cobertura. A
semelhança entre as características químicas do solo nos dois tratamentos mostra
a insuficiência do conceito mineralista (baseado apenas nos teores absolutos
dos nutrientes no solo) para explicar resultados como esses. Áreas com teores
semelhantes de nutrientes, mas com produtividades de grãos distintas, evidenciam
a importância do componente biológico do solo.
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Fotos: Claudinei Kappes
Figura 5. Aspecto visual do desenvolvimento da soja (cv. TMG 7262 RR) no veranico da safra 2014/2015,
após sete safras consecutivas de monocultivo (a) e em sucessão com braquiária (b) sob SPD, em Itiquira,
MT.
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Tabela 3. Propriedades químicas do solo, na camada de 0 a 10 cm, nos tratamentos
com soja/pousio e soja/braquiária do experimento de rotação de culturas na soja,
em Itiquira – MT (safra 2015/2016).
MOS pH Al H+Al Ca Mg P K
Tratamento
g/kg H2O ------ cmolc/dm3 --------- -- mg/dm3 --
MOS – matéria orgânica do solo (Walkley & Black); H+Al (acetato de cálcio a pH 7,0); Ca, Mg e Al (KCl 1
mol/L); P e K (Mehlich-1).
1
Valores de CBM (carbono da biomassa microbiana) expressos em mg de C/kg de solo; valores de
atividade de β-glicosidase, fosfatase ácida e arilsulfatase expressos em mg de p-nitrofenol/kg de solo/h.
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Conforme verificado no exemplo de Rio Verde, esses resultados mostram que,
embora as duas áreas apresentassem características químicas semelhantes, o
componente biológico era completamente distinto. O solo biologicamente mais
ativo, por meio da inserção da braquiária no sistema de produção, foi também o mais
produtivo. No caso em questão, a estabilidade produtiva do sistema de sucessão
de culturas foi mantida pelo aporte de palhada proveniente do uso da braquiária e
seus benefícios ao longo do tempo, enquanto, no tratamento sob monocultivo, a
ausência de palhada na superfície culminou em visível perda de vigor da soja. Esses
dados também demostram que o solo sob braquiária foi mais tamponante, estável
e resiliente, ou seja, suportou melhor uma situação de estresse quando comparado
ao solo com o monocultivo.
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Figura 6. Em função do aumento no aporte de resíduos vegetais ao solo, o aumento na atividade biológica
é o primeiro degrau na escalada da melhoria de um solo. | Fonte: Adaptado de Hatfield, 2017.
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Tabela 5. Classes de interpretação de bioindicadores para Latossolos Vermelhos
argilosos de cerrado, sob cultivos anuais, na camada de 0 cm a 10 cm, utilizando
o conceito Fertbio: específica para amostras de solo coletadas na fase de pós-
colheita e secas ao ar.
Classe de interpretação
Bioindicador1
Baixo Moderado Adequado
CBM ≤ 152 153-324 >325
ß - Glicosidase ≤ 66 67-115 >116
Sulfatase ≤ 30 31-70 >71
Fosfatase Ácida ≤ 263 264-494 >495
1
Valores de C da biomassa microbiana expressos em mg de C/Kg de solo; valores de atividade de
ß-glicosidase, fosfatase ácida e arilsulfatase expressos em mg de p-nitrofenol/kg de solo/h.
Fonte: Adaptado de Mendes et al. (2018).
PALAVRA DE ESPECIALISTA
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Como forma de avaliar e atestar a saúde do solo, o grupo de pesquisa em
Bioindicadores da Embrapa se empenh ou para estabelecer bases robustas
para que as análises microbiológicas f izessem parte das rotinas de análises
de solo no Brasil.
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1.3 Conclusão
Nas aulas deste Módulo 1, você conheceu os conceitos de saúde do solo e sua
importância para a sustentabilidade agrícola. Além disso, você refletiu sobre o
porquê de a maquinaria biológica do solo ser a base da saúde do solo e aprendeu a
descrever as vantagens da manutenção de solos saudáveis.
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Bibliografia
HATFIELD, J. L.; SAUER, T. J.; CRUSE, R. M. Soil: the forgotten piece of the water,
food, energy nexus. In: Advances in Agronomy, v. 143, p. 1-46, 2017.
_____. Temporal variation and critical limits of microbial indicators in oxisols in the
Cerrado, Brazil. Geoderma Regional, v. 12, p. 72-82, 2018.
MENDES, Iêda de Carvalho et al. Qualidade biológica do solo: por que e como ava-
liar. Rondonópolis: Boletim de Pesquisa da Fundação MT; 2017.
_____. Soil enzymes activities in Cerrado´s grain-crops farming systems with Bra-
chiaria. In: WORLD CONGRESS ON INTEGRATED CROP-LIVESTOCK-FOREST SYS-
TEMS; INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON INTEGRATED CROP-LIVESTOCK SYS-
TEMS, 3., 2015, Brasília, DF. Towards sustainable intensification: proceedings.
Brasília, DF: Embrapa, 2015.
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Este produto foi realizado no âmbito do Projeto de Cooperação Técnica BRA/IICA/16/001 - MODERNIZAÇÃO ESTRATÉGICA - MAPA, em contrato
celebrado entre a AVANTE BRASIL INFORMÁTICA E TREINAMENTOS LTDA. e o INSTITUTO INTERAMERICANO DE COOPERAÇÃO PARA A AGRICULTURA
– IICA.