Laudo Técnico Estruturas de Concreto e Fundações

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LAUDO TÉCNICO ESTRUTURAS DE CONCRETO E FUNDAÇÕES

TRE/AL – Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas

RESPONSÁVEIS TÉCNICOS:
Eng. Civil Fernando Régis Azevedo Viana – CREA RNP 020568745-8
Eng. Civil Victor Gama Carnaúba Azevedo – CREA RNP 021246104-4

Dezembro.2016
Sumário
1- OBJETIVO..................................................................................................................................... 4
2- INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 4
3- RELATO DO CLIENTE ............................................................................................................... 5
4- DADOS DO IMÓVEL ................................................................................................................... 5
5- INVESTIGAÇÃO DAS PATOLOGIAS ..................................................................................... 7
5.1- INSPEÇÃO VISUAL DA ESTRUTURA ................................................................................. 7
5.2- ENSAIO DE CARBONATAÇÃO .......................................................................................... 21
5.4- TESTE DE PERCUSSÃO ..................................................................................................... 23
6- CLASSIFICAÇÃO DAS ANOMALIAS ................................................................................... 24
7- SOLUÇÕES PARA REPARO DAS PATOLOGIAS ............................................................. 27
7.1- RECUPERAÇÃO ESTRUTURAL (PILARES, VIGAS E LAJES) .................................... 27
7.1.1- Etapas de execução ..................................................................................................... 27
7.1.1.1- Remoção do substrato de concreto contaminado .............................................. 27
7.1.1.2- Limpeza e passivação das armaduras ................................................................. 31
7.1.1.3- Construção da ponte de aderência ....................................................................... 34
7.1.1.4 - Reconstituição da seção da peça. ....................................................................... 35
7.1.1.5- Cura da peça estrutural recuperada ..................................................................... 38
7.1.1.6- Injeção para reparo de fissuras ............................................................................. 38
8- CONCLUSÃO ............................................................................................................................. 40

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Figura 1 - Vista externa do prédio...................................................................................................... 6
Figura 2 - Vista aérea do edifício ....................................................................................................... 7
Figura 3 – Desplacamento do concreto viga da cobertura ............................................................ 8
Figura 4 – Armadura exposta devido ao cobrimento do aço insuficiente .................................... 8
Figura 5 - Desplacamento do concreto viga da cobertura ............................................................. 9
Figura 6 – Desplacamento do concreto e revestimento na laje de cobertura da sala de
máquinas do elevador ......................................................................................................................... 9
Figura 7 – Serviço de recuperação realizado ................................................................................ 10
Figura 8 – Armadura com cobrimento insuficiente ........................................................................ 10
Figura 9 - Pequenas Fissuras em viga de amarração do Platibanda ........................................ 11
Figura 10 - Fissura na base do pilar ................................................................................................ 11
Figura 11 – Elevado índice de infiltrações atacando as peças estruturais ............................... 12
Figura 12 - Local da junta de dilatação da estrutura .................................................................... 12
Figura 13 - Vigas de bordo da edificação com desplacamento .................................................. 14
Figura 14 - Fissura entre a laje a parede lateral da rampa.......................................................... 15
Figura 15 - Bloco de Fundação com sinais de umidade .............................................................. 16
Figura 16 - Fissura na Cisterna ........................................................................................................ 16
Figura 17 - Fissura na junta de dilatação ....................................................................................... 17
Figura 18 - Pilar com desplacamento e corrosão na armadura .................................................. 18
Figura 19 - Parede de Contenção com desplacamento e corrosão da armadura ................... 18
Figura 20 - Parede de Contenção com armadura em processo de corrosão ........................... 19
Figura 21 - Ensaio de Profundidade de Carbonatação em Pilares ............................................ 19
Figura 22 - Ensaio de Profundidade de Carbonatação em paredes de contenção ................. 20
Figura 23 - Poço no subsolo para rebaixamento do lençol freático ........................................... 20
Figura 24 - Teste de Percusão ......................................................................................................... 24
Figura 25 - Região deteriorada de um pilar (ou viga). .................................................................. 28
Figura 26 - Delimitação da área de reparo estrutural. .................................................................. 28
Figura 27 - Delimitação geométrica das bordas da recuperação. .............................................. 28
Figura 28 - Remoção cuidadosa do material contaminado. ........................................................ 29
Figura 29 - Exposição correta das armaduras corroídas. ............................................................ 30
Figura 30 - Ocorrência de áreas de degradação muito próximas. ............................................. 30
Figura 31 - Delimitação de áreas de reparo não recomendada. ................................................ 31
Figura 32 - Geometria indicada para áreas de recuperação contíguas. ................................... 31
Figura 33 - Complementação de seção de armadura. ................................................................. 32
Figura 34 - Procedimento de limpeza da armadura...................................................................... 33
Figura 35 - Procedimento de limpeza da armadura...................................................................... 33
Figura 36 - Passivação das barras de armadura .......................................................................... 34
Figura 37 - Nova limpeza para execução da ponte de aderência. ............................................. 34
Figura 38 - Saturação para receber a ponte de aderência. ......................................................... 35
Figura 39 - Execução da ponte de aderência. ............................................................................... 35
Figura 40 - Umedecimento da interface do contato. ..................................................................... 36
Figura 41 - Condição correta de saturação. ................................................................................... 36
Figura 42 - Condição inaceitável de saturação com encharcamento. ....................................... 36
Figura 43 - Recomposição da seção............................................................................................... 37
Figura 44 - Cura final do reparo. ...................................................................................................... 38
Figura 45 - Colocação dos bicos injetores e calafetação da fissura. ......................................... 39
Figura 46 - Colocação dos bicos injetores e calafetação da fissura. ......................................... 40
Figura 47 - Equipamento utilizado para injeção de fissuras. ....................................................... 40

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DADOS DO CONTRATO:
CONTRATANTE: TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL EM ALAGOAS
CONTRATO: 39/2016
CONTRATADA: CONSTRUTORA MAXXI LTDA
OBJETO DO CONTRATO: Elaboração de Laudo de Avaliação Estrutural
e do Projeto Executivo de Recuperação Estrutural para o Antigo Edifício-Sede do
TRE/AL.
INICIO DO CONTRATO: 21 de dezembro de 2016
PRAZO: 45 dias
RESPONSÁVEIS TÉCNICO: Eng. Civil Fernando Régis Azevedo Viana e Eng. Civil
Victor Gama Carnaúba Azevedo.
ART: AL20160053039

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1- OBJETIVO

O presente laudo técnico tem como objetivo apresentar uma análise da situação
atual do prédio da antiga Sede do Tribunal Regional Eleitoral, no estado de Alagoas,
quanto às condições atuais de durabilidade e desempenho de seu sistema
estrutural, sugerindo processo (s) para recuperação da(s) patologia(s) encontradas.
O edifício, que possui como solução construtiva o sistema estrutural em concreto
armado e fundações em estacas.

A edificação fica localizada na Praça Visconde de Sinimbu, S/N, Centro, Maceió-


AL. CEP:57020-720.

2- INTRODUÇÃO

Este trabalho caracteriza-se pela inspeção das condições estruturais da


edificação, tendo como escopo um diagnóstico geral sobre o prédio da antiga Sede
do Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas, identificando as anomalias e falhas sejam
elas construtivas, funcionais ou de uso e manutenção – com as respectivas
classificação do grau de risco aos usuários, ao meio ambiente e ao patrimônio – que
interferem e prejudicam a saúde e habitabilidade, frente ao desempenho dos
sistemas construtivos e elementos vistoriados da edificação.

Neste contexto, a ANOMALIA representa a irregularidade relativa à construção e


suas instalações, enquanto que a FALHA diz respeito à manutenção, operação e
uso.

Nos dias 19, 20, 21 e 22 de dezembro de 2016, foram realizadas as vistorias


técnicas com registro em fotos/imagens, realização de ensaios não destrutivos e
semi-destrutivos para identificação de possíveis causas das patologias observadas,
e a realização de uma entrevista com os responsáveis pela edificação, para
identificação de características da edificação, bem como a existência de
documentação técnica da edificação, tais como projetos, especificações, registros da
construção/intervenções posteriores, bem como o testemunho a respeito de

4
eventuais problemas de uso do imóvel, e a respeito da existência de um plano de
manutenção e sua operacionalização.

3- RELATO DO CLIENTE

Os projetos de fundações e estruturais da edificação não foram disponibilizados


pelo proprietário do imóvel, que relatou não possuir os mesmos.

O imóvel, segundo informações, não possui um plano de manutenção


implantado, não existindo qualquer intervenção preventiva ou corretiva no sistema
estrutural da edificação.

Outra informação importante é a de que se observam grandes oscilações no


nível do lençol freático no local de instalação da edificação, tendo inclusive sido
necessária a instalação de um poço provido de bombas para a realização
permanente de esgotamento de água daquela área.

Foi informado que no ano de 1999 foi criado mais um pavimento que não
existia originariamente na edificação, e que a referida ampliação foi adequadamente
orientada tecnicamente a partir de estudos e projetos elaborados pelo Engenheiro
Daniel Farias.

Foi também informado que as primeiras observações de patologias no


sistema estrutural da edificação datam do primeiro semestre do ano de 2010.

Os responsáveis pela edificação também informaram que a única modificação


que ocorreu no entorno foi a construção de galerias de águas pluviais, e que após
sua execução passou-se a observar um maior volume de águas no subsolo do
prédio.

Também há o testemunho de que não foram observadas evoluções nas


patologias do sistema estrutural da edificação.

4- DADOS DO IMÓVEL

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Edificação: Antiga Sede do Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas

Endereço: Praça Visconde de Sinimbu, S/N, Centro, Maceió-AL. CEP:57020-720

Uso: Institucional

Número de pavimentos: 08 pavimentos (Térreo + subsolo + 6 pavimentos)

Tipo de estrutura: Concreto Armado

A inspeção foi classificada como nível 2, utilizando como parâmetro os níveis


definidos na Norma de Inspeção Predial do IBAPE, representada como vistoria para
a identificação de anomalias e falhas aparentes eventualmente identificadas com o
auxílio de equipamentos e/ou aparelhos, bem como análises de documentos
técnicos específicos, consoante à complexidade dos sistemas construtivos
existentes. Com relação ao uso, a edificação é classificada como de uso regular,
pois sua utilização está em perfeita consonância com o objeto e finalidade da
construção original, não havendo quando desvio relativo ao tipo de utilização.

Figura 1 - Vista externa do prédio

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Figura 2 - Vista aérea do edifício

5- INVESTIGAÇÃO DAS PATOLOGIAS

5.1- INSPEÇÃO VISUAL DA ESTRUTURA

Investigação de patologias na estrutura de concreto armado que são


visualmente identificáveis, tais como a presença de fissuras, trincas, infiltrações,
desplacamento do concreto dentre outras. Essa inspeção serve para determinar a
utilização de ensaios mais aprofundados na estrutura e identificação da origem das
patologias.

A inspeção visual identifica aspectos que estão documentados nas fotos


seguintes.

5.1.1. Pavimento: Cobertura.

7
Figura 3 – Desplacamento do concreto viga da cobertura

Figura 4 – Armadura exposta devido ao cobrimento do aço insuficiente

8
Figura 5 - Desplacamento do concreto viga da cobertura

Figura 6 – Desplacamento do concreto e revestimento na laje de cobertura da sala


de máquinas do elevador

9
Figura 7 – Serviço de recuperação realizado

Figura 8 – Armadura com cobrimento insuficiente

10
Figura 9 - Pequenas Fissuras em viga de amarração do Platibanda

Figura 10 - Fissura na base do pilar

11
Figura 11 – Elevado índice de infiltrações atacando as peças estruturais

Figura 12 - Local da junta de dilatação da estrutura

12
As principais patologias nos elementos estruturais de concreto deste
pavimento são derivadas dos processos de carbonatação do concreto e do
cobrimento insuficiente da armação, que criam as condições para a deflagração dos
processo de oxidação do aço, do aparecimento de fissuras e do desplacamento do
concreto, indicando um elevado risco ao sistema estrutural da edificação nestas
área. Outro fator que tem contribuído para esta deterioração dos elementos
estruturais nesta região, é o elevado índice de infiltrações devido a deficiências no
sistema de impermeabilização. Esta deficiência permite que as peças estruturais
tenham um ataque mais constante dos agentes agressivos que são transportados
pela água, fazendo assim com que todo um processo de despassivação do aço
ocorra de forma mais acelerada.

Outras evidências que são observadas também são provenientes do processo


de carbonatação do concreto, devido principalmente a ataque de cloretos por
respingos de marés e por poluição característica da área aonde está localizada a
edificação.

A idade avançada da edificação e sua localização também contribuem de


forma direta com a ocorrência das patologias observadas.

5.1.2. Pavimento: Pavimentos-tipo (1º. Pav., 2º. Pav., 3º. Pav., 4º. Pav. e 5º. Pav.)

13
Figura 13 - Vigas de bordo da edificação com desplacamento

Nas inspeções que foram realizadas, não se observou qualquer evidencias de


patologias associadas ao sistema estrutural da edificação, exceto no vigamento de
bordo que apresentava fissuras e em alguns locais até desplacamento do concreto.
Creditamos esta patologia como sendo proveniente de processo de oxidação da
armação do elemento estrutural que se deveu a dois motivos principais, que são o
cobrimento insuficiente da armadura e o processo avançado de carbonatação do
concreto.

Todos os outros elementos estruturais (pilares e lajes, além das outras vigas)
não apresentavam patologias visíveis.

No 5º. Pavimento há situações que são agravadas pelas infiltrações


provenientes das áreas abertas do pavimento de cobertura.

5.1.3. Pavimento: Térreo

14
Figura 14 - Fissura entre a laje a parede lateral da rampa

A única observação que foi feita durante os processos de inspeção na


edificação foi o aparecimento de fissuras que se desenvolvem no encontro entre a
laje do piso térreo e a parede lateral destas rampas. Creditamos está patologia ao
processo de deformação da laje rampa, e também devido a modificação de
utilização destas áreas do que fora originalmente concebidas. Este tipo de patologia
neste elemento estrutural não tem influencia no sistema de equilíbrio da edificação.
5.1.4. Pavimento: Subsolo

15
Figura 15 - Bloco de Fundação com sinais de umidade

Figura 16 - Fissura na Cisterna

16
Figura 17 - Fissura na junta de dilatação

17
Figura 18 - Pilar com desplacamento e corrosão na armadura

Figura 19 - Parede de Contenção com desplacamento e corrosão da armadura

18
Figura 20 - Parede de Contenção com armadura em processo de corrosão

Figura 21 - Ensaio de Profundidade de Carbonatação em Pilares

19
Figura 22 - Ensaio de Profundidade de Carbonatação em paredes de contenção

Figura 23 - Poço no subsolo para rebaixamento do lençol freático

O subsolo da edificação é um dos ambientes com maiores índices de


deterioração dos elementos estruturais.

20
O aparecimento e a evolução dos problemas observados são derivados
principalmente do elevado nível do lençol freático e da pequena espessura de
cobrimento da armação das peças estruturais de concreto armado. A idade da
edificação também contribui para o aparecimento das patologias observadas, pois
processos como o de carbonatação evoluem com o decorrer do tempo de exposição
do concreto a certas condições que originam este processo.

Na figura 23 registramos a existência de poço provido de bomba, que é


utilizado para o rebaixamento do lençol freático.

Registramos também o aparecimento de fissuras que não são de caráter


estrutural, como as que se desenvolvem nos pontos de encontro entre materiais de
naturezas e características distintas, como é caso das observadas no reservatório.
Além destas também há aquelas que se desenvolveram exatamente no local da
junta de dilatação da estrutura, devido ao fato de que o material que foi empregado
não possui as características de desempenho apropriados para aquela função.
Estas patologias não possuem relevância para o sistema estrutural da edificação.

5.2- ENSAIO DE CARBONATAÇÃO

O composto químico que desencadeia o fenômeno da carbonatação do


concreto é bem conhecido, facilmente encontrado nos centros urbanos. Nestes
ambientes, o concreto está exposto à alta concentração de gás carbônico (CO2).
Esse dióxido de carbono penetra nos poros do concreto, dilui-se na umidade
presente na estrutura e forma o composto chamado ácido carbônico (H2CO3).

Este ácido reage com alguns componentes da pasta de cimento hidratada e


resulta em água e carbonato de cálcio (CaCO3). O composto que reage
rapidamente com (H2CO3) é o hidróxido de cálcio (Ca(OH)2).
O carbonato de cálcio não deteriora o concreto, porém durante a sua formação
consome os álcalis da pasta (ex: Ca(OH)2 e C-S-H) e reduz o pH.

O concreto normalmente possui pH entre 12,6 e 13,5. Ao se carbonatar, estes


números reduzem para valores próximos de 8,5. A carbonatação inicia-se na

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superfície da estrutura e forma a “frente de carbonatação”, composta por duas zonas
com pH distintas (uma básica e outra neutra). Esta frente avança em direção ao
interior do concreto e quando alcança a armadura ocorre a despassivação do aço e
este se torna vulnerável.

Após a despassivação, o processo de corrosão será iniciado se ao mesmo


tempo houver umidade (eletrólito), diferença de potencial (exemplo: diferença de
aeração ou tensões entre dois pontos da barra ou do concreto), agentes agressivos
(exemplo: CO2 ou fuligem) e oxigênio ao redor da armadura.

Os danos causados são vários, como fissuração do concreto, destacamento


do cobrimento do aço, redução da seção da armadura e perda de aderência desta
com o concreto.

Resumidamante, a carbonatação depende de fatores como:

* Condições ambientais: altas concentrações de CO2 aumentam as chances de


ataque ao concreto;

* Umidade do ambiente: poros parcialmente preenchidos com água na superfície do


concreto apresentam condição favorável;

* Traço do concreto: altas relações a/c, resultam em concretos porosos e, portanto,


aumentam as chances de difusão de CO2 entre os poros;

* Lançamento e adensamento: se o concreto tiver baixa permeabilidade (compacto),


dificultará a entrada de agentes agressivos;

* Cura: processo fundamental para reduzir o efeito da carbonatação.

O concreto mal curado possui microfissuras que o enfraquecem. A pré-


existência de fissuras nas estruturas facilita a entrada do CO2 e pode acelerar a
carbonatação. No livro Propriedades do Concreto, Adam Neville cita que através de
pesquisas observou-se que o aumento do período da cura, ampliando a molhagem
de um dia para três dias, reduziu a profundidade de carbonatação em cerca de 40%.

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O ensaio de carbonatação consiste na visualização da alteração do pH do
concreto de cobrimento, utilizando uma solução de fenolftaleína que serve como
indicador de pH. O ensaio consiste na aspersão de fenolftaleína em regiões onde o
concreto encontra-se desplacado e/ou regiões fraturadas com o uso de
equipamentos.

Este ensaio visa indicar a alteração de pH do concreto, sabendo-se que o aço


carbono pode despassivar-se com um pH em torno de 11,5. A fenolftaleína
apresenta uma coloração rosa a vermelho-carmim com pH entre 8,3 e 9,5, ou
somente vermelho-carmim para pH acima de 9,5, identificando que a possibilidade
de corrosão do aço presente na estrutura nas regiões com coloração em vermelho-
carmim.

A norma DIN EN 14630 (2007) recomenda a aspersão da solução de


fenolftaleína perpendicularmente à área fraturada, até que o concreto esteja
saturado. A frente de carbonatação é o valor médio da espessura da camada
incolor.

5.4- TESTE DE PERCUSSÃO

O teste de percussão trata-se de ensaio para detectar regiões onde a estruturas está
comprometida internamente, através da identificação de um som cavo ao golpear o
concreto com um martelo. Esse som é característico de falhas de concretagem ou
desplacamento do concreto por processo de corrosão da armadura.

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Figura 24 - Teste de Percusão

Durante esse ensaio foi observado a presença de som cavo apenas nos pilares que
já apresentavam desplacamento do concreto. Em todos os outros elementos
estruturais da edificação não se observou a existência de som cavo.

6- CLASSIFICAÇÃO DAS ANOMALIAS

As anomalias são classificadas de acordo com sua origem, que podem ser:

1) Endógena: quando relacionadas aos problemas da construção ou projeto do


prédio;
2) Anomalias funcionais: quando relacionadas à perda de funcionalidade por
final de vida útil – envelhecimento natural;
3) Falhas de uso e manutenção: quando relacionadas à perda precoce de
desempenho por deficiências no uso e nas atividades de manutenção
periódicas.

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ANOMALIA CLASSIFICAÇÃO OBSERVAÇÕES

Corrosão de armaduras Endógena Áreas com insuficiência


do concreto de cobrimento da
armação, e concreto
com grau de porosidade
que permitiu o acesso
de agentes agressivos e
as condições para
desencadeamento das
reações de oxidação da
armadura.

Fissuras, trincas e Endógena Anomalias que derivam


desplacamento de do processo de corrosão
concreto nos elementos nas armaduras de
estruturais concreto.

Infiltrações nos Falha de manutenção Áreas com falhas de


elementos estruturais impermeabilização que
possibilitam o
aparecimento de
condições nocivas à
vida útil dos elementos
estruturais, bem como a
existência de nível
elevado do lençol
freático interferindo nos
elementos estruturais do
subsolo da edificação.

Após a classificação quanto a origem da anomalia, faz-se necessário a


classificação quanto ao risco que a anomalia representa.

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1) Risco Crítico: Relativo ao risco que pode provocar danos contra a saúde e
segurança das pessoas e/ou meio ambiente, perda excessiva de
desempenho causando possíveis paralisações, aumento de custo,
comprometimento sensível de vida útil e desvalorização acentuada,
recomendando intervenção imediata;
2) Risco Regular: Relativo ao risco que pode provocar a perda de funcionalidade
sem prejuízo à operação direta de sistemas, perda pontual de desempenho
(possibilidade de recuperação), deterioração precoce e pequena
desvalorização, recomendando programação e intervenção a curto prazo;
3) Risco mínimo: Relativo a pequenos prejuízos à estética ou atividade
programável e planejada, sem incidência ou sem a probabilidade de
ocorrência dos riscos críticos e regulares, além de baixo ou nenhum
comprometimento do valor imobiliário; recomendando programação e
intervenção a médio prazo.

ANOMALIA GRAU DE RISCO OBSERVAÇÕES

Corrosão de armaduras Crítico Recomendada


do concreto intervenção imediata

Fissuras, trincas e Crítico Recomendada


desplacamento de intervenção imediata
concreto nos elementos
estruturais

Infiltrações nos elementos Crítico Recomendada


estruturais intervenção imediata

26
7- SOLUÇÕES PARA REPARO DAS PATOLOGIAS

7.1- RECUPERAÇÃO ESTRUTURAL (PILARES, VIGAS E LAJES)

Toda execução dos serviços de recuperação das estruturas de concreto, deve


ser precedida de um completo mapeamento das áreas aonde deverão ocorrer as
intervenções. O aludido mapeamento deve ser realizado através da completa
averiguação de regiões com o aparecimento de fissuras, trincas e desplacamentos,
bem como com a inspeção ao toque (batida com martelo) para se delimitar as áreas
aonde serão realizadas as intervenções. Nos projetos de recuperação estrutural
estas áreas estão delimitadas dentro do que foi levantado no momento da realização
das inspeções técnicas na edificação. O mapeamento no momento da execução dos
trabalhos é essencial pois os processos de anomalias verificados na estrutura têm o
caráter evolutivo no decorrer do tempo, e certamente as áreas de intervenção
deverão estar ampliadas em função do interregno de tempo entre a feitura do
presente laudo e a efetiva ação de executar os serviços.

Toda a área a ser reparada e toda a sua área de influência, deverá


obrigatoriamente ser escorada de forma a garantir a integridade da edificação e a
segurança de todos.

7.1.1- Etapas de execução

7.1.1.1- Remoção do substrato de concreto contaminado

O procedimento padrão para a recuperação das áreas contaminadas por


corrosão das armaduras consiste em retirar todo o concreto deteriorado até que se
obtenha a exposição completa de uma superfície do concreto sã e íntegra.

Imaginemos uma área contaminada exposta de um pilar (ou viga) conforme


mostrado na Figura 25.

27
Figura 25 - Região deteriorada de um pilar (ou viga).
A primeira providência deve ser o estabelecimento de um contorno
geométrico linear bem definido da área a ser recuperada, conforme mostrado na
Figura 26.

Figura 26 - Delimitação da área de reparo estrutural.


Essa delimitação geralmente é feita com a utilização de um equipamento de
serra com disco diamantado que estabelece um bordo reto com pelo menos 5mm.
de profundidade, como mostrado na Figura 27.

Figura 27 - Delimitação geométrica das bordas da recuperação.

28
Uma vez delimitada a área a ser tratada passa-se à remoção do concreto
contaminado.

Especial cuidado deve ser tomado para que o processo de remoção não seja
muito agressivo a ponto de introduzir microfissuras na massa de concreto
decorrentes da energia empregada. Caso isso aconteça, todas as partículas sólidas
aderidas, assim como pós e poeiras devem ser completamente retirados.

Figura 28 - Remoção cuidadosa do material contaminado.


Observar que deve ser exposta toda a armadura eventualmente corroída,
significando que deve ser removido de 1,5 a 2 cm. do concreto situado abaixo (por
detrás) das barras expostas. Esta providência tem por objetivo garantir um bom
acesso que permita a correta limpeza das barras da armadura assim como permitir o
completo envolvimento e passivação da mesma quando colocado o material de
reparo.

Não deve ser permitida, sob qualquer pretexto, a retirada do material apenas
nas laterais das barras da armadura corroída, deixando a sua parte posterior ainda
imersa no concreto contaminado.

Caso isso aconteça será inevitável a formação de uma pilha de corrosão


eletroquímica, gerada pela diferença dos materiais, uma vez que parte inferior do
concreto funcionará como ânodo e a parte nova, recuperada, funcionará como
cátodo, originando um processo de corrosão muito mais acelerado e agressivo que o
anteriormente detectado.

A conformação ideal para o desmonte é a mostrada esquematicamente na


Figura 29.

29
Figura 29 - Exposição correta das armaduras corroídas.
Caso ocorram manifestações de corrosão muito próximas umas das outras é
de todo conveniente que as áreas de reparos sejam agrupadas em uma única área
de geometria bem definida, conforme pode ser observado nas Figuras 30, 31 e 32.

Nesse caso não se deve fazer uma delimitação de áreas limítrofes como
indicado na Figura 31, que mostra uma configuração não recomendada, pois deixa
filetes de material antigo entre as áreas de material novo.

A conformação indicada é a mostrada esquematicamente na Figura 32, onde


as áreas limítrofes foram englobadas em uma única área bem delimitada.

Figura 30 - Ocorrência de áreas de degradação muito próximas.

30
Figura 31 - Delimitação de áreas de reparo não recomendada.

Figura 32 - Geometria indicada para áreas de recuperação contíguas.


7.1.1.2- Limpeza e passivação das armaduras

Se constatada uma redução (perda) de seção transversal da armadura após a


operação de limpeza das mesmas da ordem de 15% a 25% da seção original da
barra é recomendável a colocação de armadura suplementar para que seja
recomposta a seção de aço originalmente recomendada. Essa nova armadura
deverá estar convenientemente ancorada, seguindo rigorosamente as
recomendações das normas estruturais. Caso a nova armadura esteja previamente
imprimada o comprimento de ancoragem a ser adotado deve ser aumentado. Essa
substituição é mostrada esquematicamente na Figura 33.

31
Figura 33 - Complementação de seção de armadura.
Apesar de permitida pelas normas técnicas estruturais a utilização de solda
para diminuir o comprimento de ancoragem, se possível, deve ser feita com
cuidados especiais para que as altas temperaturas envolvidas no processo não
alterem tanto as características do aço como a qualidade do concreto. Antes desse
procedimento é recomendável a constatação de que o aço existente admite os
procedimentos de solda.

A limpeza das armaduras é fator fundamental para o resultado da


recuperação proposta.

Para tanto, todo o produto de corrosão aderido às superfícies das barras das
armaduras deverá ser completamente retirado antes que sejam colocados os
materiais de reparo.

Viabilizam-se os procedimentos de eliminação da corrosão baseados em


limpeza rigorosa utilizando lixas e mesmo jatos de areia ou limalhas. No caso em
foco devem ser feitos uma escovação intensa (escova de aço) e lixamento.

Em hipótese alguma deve ser utilizado zarcão para a pintura das armaduras
de concreto armado.

32
As Figuras 34 e 35 abaixo mostram alguns dos procedimentos mais usuais
para a limpeza da corrosão das barras da armadura tais como escovas de aço, lixas
e espátulas.

Figura 34 - Procedimento de limpeza da armadura.

Figura 35 - Procedimento de limpeza da armadura.

Após a limpeza das armaduras é feita a “passivação” das mesmas com a


utilização de primer anticorrosivo.

Como produtos recomendados para a passivação das armaduras citamos a


linha Masterseal e Emaco (P22) da MBT, ou Nitobond da Fosroc ou ainda SikaTop
108 Armatec.

A Figura 36 indica como deve ser feita a passivação da armadura. É


fundamental que a parte inferior das barras da armadura estejam totalmente
imprimadas para que a passivação tenha êxito.

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Figura 36 - Passivação das barras de armadura
Terminada a etapa correspondente à passivação das armaduras tratadas
contra a corrosão passa-se à próxima etapa, que é a da construção da ponte de
aderência.

7.1.1.3- Construção da ponte de aderência

Sempre é aconselhável a construção de uma ponte de aderência nos reparos


de áreas com manifestação de corrosão das armaduras. A ponte de aderência, além
de permitir uma completa aderência entre o reparo e o substrato de concreto
funciona também como uma barreira de proteção para a região do reparo.

A primeira etapa dessa construção é a limpeza cuidadosa da superfície que


vai receber a ponte de aderência, conforme indicado na Figura 37.

Figura 37 - Nova limpeza para execução da ponte de aderência.


Após a limpeza, e imediatamente antes de se aplicar a ponte de aderência, as
superfícies interessadas deverão ser umedecidas. Deve ocorrer saturação da
superfície sem que, entretanto, ocorram encharcamentos, conforme mostrado na
Figura 38.

Em faces inferiores muitas vezes usa-se a aplicação de estopas ou sacos de


aniagem molhados para conseguir o objetivo de saturar a superfície do concreto
onde se aplicará à ponte de aderência.

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Figura 38 - Saturação para receber a ponte de aderência.
Finalmente deve ser construída a ponte de aderência conforme mostrado na
Figura 39.

Figura 39 - Execução da ponte de aderência.


O ideal é a utilização de uma ponte de aderência cimentícia (de preferência)
ou epoxídica (neste último caso é muito importante que a aplicação da camada
seguinte seja feita dentro do período de atividade da resina epóxi), como por
exemplo, a linha Emaco da MBT.

A etapa seguinte consiste na reparação da área afetada para a recomposição


da geometria original da peça.

7.1.1.4 - Reconstituição da seção da peça.

Finalmente, a última etapa de recuperação consistirá na recomposição da


seção de modo a se completar o reparo estrutural.

Mais uma vez é recomendado o umedecimento da interface de contato de


reparo, conforme indicado na Figura 40.

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Figura 40 - Umedecimento da interface do contato.
A superfície deverá ser saturada, mas de modo a permanecer
superficialmente seca, sem encharcamentos, conforme mostrado nas Figuras 41 e
42.

Figura 41 - Condição correta de saturação.

A Figura 41 mostra uma condição ideal de umedecimento (saturação) da


interface, em que ocorre a umidade, mas não se verifica o encharcamento da
superfície, diferentemente do que é mostrado na Figura 42, onde a superfície se
encontra encharcada, condição que nunca pode ocorrer para esta etapa do reparo
estrutural.

Figura 42 - Condição inaceitável de saturação com encharcamento.


Saturada a interface pode-se passar à recomposição do substrato de concreto
na área da reparação, conforme mostrado na Figura 43.

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Figura 43 - Recomposição da seção.
Para a recomposição da seção os produtos utilizados devem atender aos
seguintes requisitos básicos:

 Capacidade de aderência.
 Possuir retração compensada.
 Ter módulo de elasticidade compatível com o sistema de reparo.
 Possuir baixa permeabilidade.
 Ter resistência mecânica compatível com a do elemento no qual irá atuar
 Ter suficiente resistência à agressividade do meio ambiente.
 Ter suficiente resistência a ataques químicos.

Para a recomposição das seções dos reparos recomendamos a utilização de


argamassas da série Emaco da MBT, ou da série Renderoc da Fosroc, ou SikaTop
ou ainda Zentrifix da MC Bauchemie.

É muito importante considerar que o reparo em superfícies verticais e em faces


inferiores deve ser feito em camadas, conforme a orientação do fornecedor do
produto. Quando a superfície é horizontal, face superior de lajes ou topos de vigas
os produtos indicados admitem a aplicação em uma só camada, principalmente os
grautes.

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7.1.1.5- Cura da peça estrutural recuperada

Após a recomposição da seção é essencial que seja procedida a sua cura,


que deve durar pelo menos 07 dias, se a peça não for revestida ao fim de 72 horas.
Esse procedimento é mostrado na Figura 44.

Figura 44 - Cura final do reparo.


Muitas vezes, pela própria posição da peça de concreto, não será possível a
cura pelos processos mais convencionais como a imersão, o lançamento de água
pulverizada continuamente e (ou) o contato com esponja saturada. Neste caso
recomenda-se a adoção da cura química com produto apto a não criar uma barreira
de aderência posterior para os revestimentos ou outros acabamentos.

Em resumo, quando a superfície a ser curada tiver que receber revestimento


posterior a preferência será de cura por imersão, aspersão ou contato com espoja
ou tecido saturado. Em qualquer hipótese deverá haver a remoção posterior por
lavagem (uso de jato de água de alta pressão com bico em leque) e escovação
intensa antes da aplicação de qualquer revestimento.

7.1.1.6- Injeção para reparo de fissuras

Para reparos profundos muitas vezes se torna necessário à injeção nas


fissuras existentes para que se possa reconstituir a integridade da seção.

Os procedimentos abaixo indicados são recomendados para fissuras com


abertura maior que 0,3mm:

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Colocação de bicos injetores espaçados de no máximo 30cm ao longo do
desenvolvimento da fissura, calafetando a mesma após a colocação dos bicos com
argamassa epoxídica ou de poliéster, conforme indicado nas Figuras 45 e 46.

Figura 45 - Colocação dos bicos injetores e calafetação da fissura.


Após o posicionamento dos bicos injetores e da calafetação das fissuras deve
ser feito um teste de comunicabilidade do sistema dos bicos injetores por meio de
injeção de ar comprimido.

De modo geral é muito difícil a injeção e mesmo a selagem de fissuras com


aberturas médias inferiores a 0,2mm.

Depois de feito o teste de comunicabilidade as fissuras são obturadas com


resinas específicas injetadas através dos bicos com a utilização de equipamentos
semelhantes ao mostrado na Figura 47. O procedimento padrão é o de começar a
injeção pelo bico mais inferior até que a resina purgue no bico imediatamente
superior. Obtura-se então, o bico pelo qual se iniciou a operação e transfere-se a
injeção para o bico por onde ocorreu a purga do material. O processo continua
nessa sequência até que se consiga a obturação completa da fissura. Normalmente
as resinas de injeção são grautes à base de epóxi, auto adensáveis, com alta fluidez
e baixa viscosidade.

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Figura 46 - Colocação dos bicos injetores e calafetação da fissura.

Figura 47 - Equipamento utilizado para injeção de fissuras.

8- CONCLUSÃO

O sistema estrutural da edificação apresenta patologias de elevada importância


conforme colocado neste laudo técnico, advindas principalmente de falhas de
execução como nos casos observados nos elementos estruturais que apresentam
ataques severos a armação, devido principalmente a falta de cobrimentos
adequados da armadura e a qualidade do concreto que permitiu o acesso de
elementos que atacaram a ferragem desencadeando o processo de oxidação.

Também vale pontuar nesta análise a idade da edificação, aonde já se pode


registrar uma perda de desempenho de seus elementos, além da ausência de um
plano de manutenção implantado que contemple o sistema estrutural em ações
periódicas de prevenção que objetive a manutenção de sua vida útil por maiores
períodos.

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Relacionado às fundações, não se observou qualquer patologia que pudesse ser
creditada a este sistema da edificação. As únicas patologias que foram observadas
foram nos blocos de fundação que estão no subsolo e que deverão ter tratamento
análogo aos que foram determinados para as estruturas de concreto.

Registramos principalmente a necessidade de ações imediatas no sentido de


realizar as obras de recuperação estrutural propostas para a perfeita manutenção
das características funcionais da edificação com a garantia da segurança de seus
ocupantes e usuários, bem como a preservação do patrimônio em plenas condições
de utilização.

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