Resenha SIlvio Almeida

Afonso Corrêa Cavagnoli Soares – 00302623
Oficina de Leitura e Escrita de Textos Históricos

Professor: Mathias Seibel Luce
Resumo do livro “O que é racismo estrutural?”
O livro “O que é racismo estrutural? ” é uma obra de autoria de Silvio Almeida,

publicada no ano de 2018 pela editora Letramento, como parte da coleção “Feminismos
Plurais”, coordenada pela filósofa Djamila Ribeiro. Importante trabalho de teoria social
contemporânea, o livro é um estudo do racismo na sociedade brasileira, assim como
suas origens, sua constituição, e seu desenvolvimento sob a ótica de diferentes
perspectivas das ciências sociais, como história, sociologia, ciência política, direito e
economia. O autor, Silvio Luiz de Almeida, doutor em filosofia e direito pela USP,
diretor-presidente do Instituto Luiz Gama e professor das universidades Mackenzie e
São Judas Tadeu, em São Paulo, conta também com outros trabalhos publicados, que
abordam temas sobre questão racial, marxismo e o direito.
O livro inicialmente faz uma análise das raízes históricas do racismo no Brasil,
com o desenvolvimento da noção de raça no século XVII, em conjunto com o legado da
escravidão no país. É então feito um “raio-x” da questão racial, sendo enunciadas e
diferenciadas as três formas de racismo presentes na sociedade: individual, institucional
e estrutural. Individual, o preconceito particular, de um indivíduo frente a um grupo
específico, nesse caso a população negra brasileira, é a concepção tradicional, do senso
comum acerca do racismo, mas não somente a sua única faceta. O racismo institucional
é também analisado, sendo ele o sistema que confere privilégios e desvantagens a
determinados grupos sociais, a partir do poder do aparato governamental e institucional.
A partir desse conceito é respondida a pergunta do título do livro, com a apresentação
do conceito do racismo estrutural, que, como explicado pelo autor, “as instituições são
apenas a materialização de uma estrutura social ou de um modo de socialização que tem
o racismo como um dos seus componentes orgânicos. Dito de modo mais direto: as
instituições são racistas porque a sociedade é racista”.
Silvio Almeida elucida, em um primeiro momento, o aspecto ideológico do

racismo estrutural, a noção de como é naturalizado o modo de pensar racista e a
presença velada da ideologia que justifica as desvantagens enfrentadas pela comunidade
negra. A “normalização” de problemas sociais como o fato de a população negra,
especialmente as mulheres, serem o grupo de menor renda média na sociedade, e serem
a maior parte das empregadas domésticas, ou o fato de negros serem a grande maioria
da população carcerária no país, é um exemplo do racismo, o qual se manifesta na
forma da ideologia que molda as ações e opinões da população, naturalizando a
presença de estruturas sociais racistas. O discurso da meritocracia é também uma das
formas do discurso racista, que procura justificar os privilégios da população branca e as
adversidades enfrentadas pelos negros pela via de uma suposta maior capacidade dos
privilegiados.
“O racismo não é um dado acidental, mas a forma constitutiva dos estados

modernos”. A síntese de Silvio Almeida sobre a realidade política contemporânea frente
ao racismo evidencia o fato de que o estado moderno e o racismo são, ao mesmo tempo,
uma instituição e ideologia que não se separam. Os dilemas étnico-raciais adotam uma
forma particular no estado capitalista, como um meio de manutenção da ordem vigente.
O autor, a partir disso, traça um paralelo com os conceitos de biopolítica e necropolítica,
de como o racismo é um mecanismo fundamental de poder para o estado moderno.
No campo do direito, Almeida avalia os principais contrapontos sobre o estudo

do racismo. De um lado defende-se que o direito é a melhor forma de combate ao
racismo, uma vez que pode promover a igualdade e desenvolver políticas de combate a
ele. Já sob outra perspectiva, o direito reproduziria todas as estruturas sociais da
sociedade a qual se insere, de forma que é parte da sua ação também as práticas racistas
como ideologia. São expostos modelos históricos tanto do direito utilizado como
fundamento legal para a opressão sistemática das minorias, como o trabalho de
movimentos sociais, na área, para o desenvolvimento de leis antirracistas e projetos de
inclusão igualitária.
Já no âmbito da economia, a abordagem sobre raça e economia trata,

essencialmente, sobre as desigualdades. São diversas as formas pelas quais o racismo se
manifesta nesse campo, como por exemplo a ideia das “causas cumulativas”, em que
pelas desvantagens enfrentadas desde o início da vida, como falta de acesso à educação,
a ascensão social da população negra se torna muito mais difícil, de forma que se impõe
o sistema econômico, cujo racismo é um veículo fundamental para seu
desenvolvimento. Contraponto econômico, o argumento meritocrático, nesse caso, visa
culpar o indivíduo pelo próprio fracasso, não levando em conta questões estruturais, de
opressão sistemática, fugindo do debate sobre a questão racial.
O conteúdo do livro é de grande relevância na atualidade, visto que

manifestações muito emblemáticas do racismo estrutural têm sido observadas
recentemente. Entre elas, o caso, ainda não solucionado, do assassinato da socióloga e
vereadora Marielle Franco, no início do ano. Defensora dos direitos humanos e crítica à
política das UPPs, implantada no Rio de Janeiro, foi silenciada por um assassino
desconhecido, em condições que levam a crer que havia a intenção de calar e encerrar
sua luta contra as estruturas de poder e dominação das comunidades pobres e negras das
favelas. A tese de Marielle, citada no livro de Silvio Almeida, aborda o tema do
necropoder e a dominação das autoridades, o mesmo poder que, no futuro próximo,
causou sua morte. Por esse e outros casos, a leitura de “O que é racismo estrutural?” é
de grande importância, dada a conjuntura atual, por ser uma análise concisa, porém de
grande significado e valor, sobre as estruturas sociais racistas contemporâneas.
Bibliografia
ALMEIDA, Silvio Luiz de. O que é racismo estrutural?. Belo Horizonte (MG):
Letramento, 2018.

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“O racismo não é um dado acidental, mas a forma constitutiva dos estados

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