Resumo Silvio Almeida
Resumo Silvio Almeida
Resumo Silvio Almeida
3 concepções de racismo
Concepção individualista
Como se o Racismo não fosse algo de natureza política. Assim, seriam apenas aplicadas
sanções civis.
Sob esse ângulo, apenas existiriam indivíduos racistas e não instituições racistas.
Quem pratica atos racistas deve ser responsabilizado mas não podemos deixar de apontar
que a concepção individualista é limitada ao não abordar uma reflexão dos efeitos concretos
do racismo. Apenas flutua em uma moralidade: “ racismo é errado”, “ como alguém é racista
no século XXI?”.
Concepção institucional
Absorver = normalizar!
Como?
Assim, a desigualdade racial e o racismo são parte das instituições e não uma ação isolada
e individual. Determinados grupos raciais utilizam os mecanismos institucionais para impor
seus interesses.
Poderes institucionais ( escola, estado) podem alterar o racismo pela ação ou omissão:
podem tanto modificar os mecanismos discriminatórios quanto estabelecer novos
significados para raça, inclusive atribuindo vantagens sociais para grupos historicamente
discriminados.
Também demonstra que o Racismo transcende o âmbito da ação individual e frisa que a
dimensão do poder é elemento constitutivo das relações sociais. O poder de um grupo sobre
o outro!
Algo que é possível quando há controle direto ou indireto de determinados grupos sobre o
aparato institucional
O Racismo é parte da ordem social e não algo criado pela instituição. É apenas reproduzido
pela instituição!
● Uma sociedade que tem o racismo presente na vida cotidiana, as instituições que
não tratam de maneira ativa a desigualdade racial como um problema, irão observar
práticas racistas como normais. (piadas, silenciamento,isolamento etc.)
Se o racismo é inerente à ordem social, a única forma de uma instituição combatê-lo é por
meio da implementação de práticas antirracistas efetivas.
É dever da instituição que realmente se preocupe com a questão racial investir na adoção
de políticas que visem:
2. a liderança institucional de pessoas negras basta quando não se tem poder real, projetos
e/ou programas que possam de fato incidir sobre problemas estruturais, como as questões
da ordem da economia, da política e do direito?
● O racismo, como processo histórico e político, cria as condições sociais para que,
direta ou indiretamente, grupos racialmente identificados sejam discriminados de
forma sistemática. Ainda que os indivíduos que cometam atos racistas sejam
responsabilizados, o olhar estrutural sobre as relações raciais nos leva a concluir que
a responsabilização jurídica não é suficiente para que a sociedade deixe de ser uma
máquina produtora de desigualdade racial.
Conclusão:
Racismo e Necropolítica
● Se para Foucault o Estado nazista foi o ponto exemplar da fusão entre morte e
política, a síntese mais bem-acabada entre “Estado racista, Estado assassino e
Estado suicidário” foi, todavia, a experiência colonial a sua gênese.
● O colonialismo não mais tem como base a decisão sobre a vida e a morte, mas tão
somente o exercício da morte, sobre as formas de ceifar a vida ou de colocá-la em
permanente contato com a morte.
Foi com o colonialismo que o mundo aprendeu a utilidade de práticas como “a seleção de
raças, a proibição de casamentos mistos, a esterilização forçada e até mesmo o
extermínio dos povos vencidos foram inicialmente testados”.
É aí que se revela o necropoder: nesse espaço que a norma jurídica não alcança, no qual o
direito estatal é incapaz de domesticar o direito de matar.
O direito de guerra
A peculiaridade do terror colonial é que ele não se dá diante de uma ameaça concreta ou de
uma guerra declarada; a guerra tem regras, na guerra há limites. Mas e na ameaça da
guerra? Qual o limite a ser observado em situações de emergência, em que sei que estou
perto da guerra e que meu inimigo está próximo? É nesse espaço de dúvida, que o modelo
colonial de terror se impõe. A iminência da guerra, a emergência de um conflito e o estresse
absoluto dão a tônica para o mundo contemporâneo, em que a vida é subjugada ao poder
da morte.
● Dizer que a guerra está próxima e que o inimigo pode atacar a qualquer momento é
a senha para que sejam tomadas as “medidas preventivas”, tais como: toques de
recolher, “mandados de busca coletivos”, prisões para averiguação, invasão noturna
de domicílios, destruição de imóveis, autos de resistência etc.
Nesse contexto, o direito não é o limite do poder estatal sobre os corpos humanos e sobre o
território, mas somente serve como fundamento retórico do assassinato.
A ocupação colonial não pode ser entendida apenas como um evento restrito ao século XIX,
mas como uma nova forma de dominação política em que se juntam os poderes disciplinar,
biopolítico e necropolítico. A colônia como forma de dominação pode agora ser instituída
dentro das fronteiras dos Estados como parte das chamadas políticas de segurança
pública.
A descrição de pessoas que vivem “normalmente” sob a mira de um fuzil, que têm a casa
invadida durante a noite, que têm de pular corpos para se locomover, que convivem com o
desaparecimento inexplicável de amigos e/ou parentes é compatível com diversos lugares
do mundo e atesta a universalização da necropolítica e do racismo de Estado, inclusive no
Brasil.
É o que nos revela Marielle Franco em sua dissertação de mestrado “UPP – a redução da
favela a três letras: uma análise da política de segurança pública do Estado do Rio de
Janeiro”. Ao analisar a atuação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), implantadas
nas favelas do Rio de Janeiro, Marielle Franco procura demonstrar como esta política se
desenvolveu em um duplo processo: a instituição de um controle social militarizado nas
favelas e, simultaneamente, a abertura do território à lógica da mercantilização. Franco
afirma que algo relevante a ser considerado são as políticas de controle social implicadas
nas propostas administrativas da organização democrática. Estas viabilizam ou forjam as
dimensões do Estado. Projetos institucionais de enquadramento do “anormal”, nos termos
impostos por uma espécie de controle da “saúde coletiva e individual”, transmutam na base
das estratégias do Estado para lidar com o novo problema: o paradigma da participação na
gestão da população favelada.