N. Ramos 2011 Educar para A Interculturalidade
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E
DUCAÇÃO
E FORMAÇÃO
DE ADULTOS
POLÍTICAS, PRÁTICAS E INVESTIGAÇÃO
E
DUCAÇÃO
E FORMAÇÃO
DE ADULTOS
POLÍTICAS, PRÁTICAS E INVESTIGAÇÃO
C onc e pç ão gr á f ic a
António Barros
P r é -I m pr e s s ão
SerSilito-Empresa Gráfica, Lda
E x ecuç ão gr á f ic a
ISBN
978-989-26-0136-6
D e pósito l eg a l
340309/12
© D e z e m bro 2011, I m pr e ns a da U n i v e r si da de de C oi m br a
Educar para a interculturalidade e cidadania:
princípios e desafios.
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Natália Ramos
Universidade Aberta
Introdução
Esta Convenção tem por objetivo criar condições que permitam às culturas desenvol-
verem-se e interagirem abertamente, de modo a um enriquecimento mútuo, pertencendo
aos Estados, em colaboração com a sociedade civil, intervirem através de ações concretas
a diferentes níveis: ao nível nacional (através dos governos); ao nível internacional (através
do controlo coletivo dos Estados signatários); ao nível nacional e transnacional (através
da sociedade civil).
A crescente mobilidade populacional e cooperação transnacional proporcionam o con-
tacto de grande diversidade de culturas e identidades, vindo colocar desafios às populações
autóctones e migrantes e às relações interculturais e exigir um novo paradigma na pesquisa
e intervenção, que designámos de Paradigma Intercultural.
A reflexão sobre a diversidade cultural, através deste paradigma, implica processos
dinâmicos e multidimensionais (Bierbrauer & Pedersen, 1996) e reenvia aos conceitos de
reciprocidade, de complexidade (Morin, 1990), de complementaridade (Devereux, 1992) e
de facto social total (Mauss, 1950, Mead, 1950).
O Paradigma Intercultural vem desafiar os paradigmas tradicionais e implica várias
constatações e perspetivas:
• uma constatação de ordem sociológica, tendo em conta que a maioria das nossas socie-
dades são e serão cada vez mais multiculturais;
• uma opção de ordem ideológica, já que a multi/interculturalidade é, potencialmente,
uma riqueza para o conjunto da sociedade;
• uma visão estratégica, tendo em conta que para passar do multiculturalismo ao
interculturalismo, torna-se necessário promover a relação entre as culturas, sem, no
entanto, anular a identidade de cada uma delas;
• uma perspetiva multi/interdisciplinar, na medida em que os objetos do domínio inter-
cultural são objetos complexos, plurais, heterogéneos e pluridimensionais, que não
podem ser reduzidos a uma única abordagem disciplinar;
• uma perspetiva sistémica e multidimensional, necessária a uma visão global, integrativa
e interacionista da complexidade e da diversidade e à construção de um pluralismo
comum, implicando, ao mesmo tempo, o reconhecimento dos indivíduos e das
culturas e a integração das representações, práticas, políticas e contextos;
• um processo dinâmico e dialético, onde o intercultural exige a tomada de consciência
da alteridade e da diversidade, das identidades individuais e coletivas, das interações
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entre os indivíduos e os grupos e, ainda, das relações entre o Eu e o Outro;
• uma perspetiva psicossocial e pedagógica, visto que as problemáticas interculturais
implicam o desenvolvimento de competências culturais, sociais, pedagógicas, comuni-
cacionais, de competências individuais e de cidadania, que permitam interações sociais
harmoniosas entre os indivíduos e as culturas e que promovam a consciencialização
cultural, a comunicação intercultural e o funcionamento democrático das sociedades;
• uma perspetiva sociopolítica, tendo em conta, que o interculturalimo não é somente
um objetivo em si, mas, também, um instrumento para promover a coesão social, o
exercício da cidadania, a igualdade de oportunidades e uma integração adequada da
diversidade cultural e das minorias.
Considerações Finais
Estamos de acordo com Wolton (2003), quando assinala que “Aprender a gerir a
diversidade cultural constitui a verdadeira riqueza das sociedades futuras”.
A aquisição e o desenvolvimento de competências interculturais são objetivos funda-
mentais para fazer face à diversidade e complexidade que caraterizam o tecido social atual
e para a educação das crianças, jovens e adultos e dos cidadãos, em geral.
É necessário solidificar os quatro paradigmas da educação para o século XXI defen-
didos por Delors (1996), ou seja: aprender a ser; aprender a conhecer; aprender a fazer;
aprender a viver juntos.
Como salienta a UNESCO (2001), a educação para formar os cidadãos do século XXI,
o século da (s) interculturalidade (s) e da (s) cidadania (s) deverá promover: o conhecimento
e respeito da diversidade cultural e a comunicação intercultural; o acesso na igualdade e
equidade; a aprendizagem ao longo da vida; a solidariedade nacional e internacional; a
formação de cidadãos, não só nacionais, mas também do mundo; uma cultura humanista
que inscreva os homens e as mulheres no mundo e na tomada de consciência do destino
comum a todos os Homens.
A pluralidade e a heterogeneidade dos mundos contemporâneos exigem aprender a
viver a multiplicidade de pertenças e de referências, não sob a forma de dicotomias, de
exclusividade e de exclusão, mas de um modo plural, contínuo e complementar.
O objetivo da interculturalidade não é a separação do universal e do particular, mas
a reunião, ou seja, a organização de um contexto social e relacional integrativo que tenha
em conta um processo dialético ligando o Eu e o Outro, a abertura ao mundo e o reco-
nhecimento das identidades e da alteridade.
É importante um paradigma de abordagem da diversidade cultural e dos grupos mino-
ritários, não como um problema, mas como um recurso de capacitação e revalorização de
identidades culturais e de cidadania, uma oportunidade de desenvolvimento individual,
social e cultural e um processo de educação e resiliência. Isto, de modo a fortalecer as
competências dos indivíduos e dos grupos para se consciencializarem dos seus direitos
e deveres e para enfrentarem a mudança e o seu próprio desenvolvimento, integração e
destino, de uma forma positiva e participativa.
A perspetiva intercultural, a diversidade e alteridade deverão ser integradas numa perspetiva
mais ampla de construção da sociedade e de igualdade de oportunidades, devendo estar no
centro do processo educativo e do desenvolvimento humano e social, sendo importante que se
faça da diversidade cultural, da mobilidade e das relações interculturais, um desafio e oportuni-
dade de enriquecimento e de comunicação ao ritmo de um mundo global e de uma sociedade
aberta, plural e solidária, partilhando tradições culturais, espaços, competências e recursos.
Como salienta Delors (1996), “é necessário assumir a diversidade e a multipertença como
uma riqueza. A educação à pluralidade é não só uma proteção contra a violência, mas também
um princípio ativo de enriquecimento cultural e cívico das sociedades contemporâneas”.
Referências Bibliográficas