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Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO

Centro de Ciências Humanas e Sociais – CCH


Museu de Astronomia e Ciências Afins – MAST/MCTI

Programa de Pós Graduação em Museologia e Patrimônio – PPG-PMUS


Doutorado em Museologia e Patrimônio

O Curso de Especialização em
Conservação de Bens Culturais
Móveis da Escola de Belas Artes
da UFRJ: Contribuições para a
preservação do patrimônio

Ana Paula Corrêa de Carvalho

UNIRIO / MAST - RJ, janeiro de 2018


ii

O Curso de Especialização em
Conservação de Bens Culturais
Móveis da Escola de Belas Artes da
UFRJ: Contribuições para a preservação do
patrimônio

por

Ana Paula Corrêa de Carvalho,


Aluna do Curso de Doutorado em Museologia e Patrimônio
Linha de Pesquisa 01 - Museu e Museologia

Tese de Doutorado apresentada à Coordenação


do Programa de Pós-Graduação em Museologia
e Patrimônio.

Orientador: Professor Doutor Ivan Coelho de Sá

UNIRIO/MAST - RJ, janeiro de 2018


iii

FOLHA DE APROVAÇÃO

O CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM CONSERVAÇÃO DE BENS


CULTURAIS MÓVEIS DA ESCOLA DE BELAS ARTES DA UFRJ:
CONTRIBUIÇÕES PARA A PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO

Tese de Doutorado submetida ao corpo docente do Programa de Pós-graduação


em Museologia e Patrimônio, do Centro de Ciências Humanas e Sociais da
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO e Museu de
Astronomia e Ciências Afins - MAST/MCT, como parte dos requisitos necessários
à obtenção do grau de Doutor em Museologia e Patrimônio.

Aprovada por:

Prof. Dr. ________________________________________________


Ivan Coelho de Sá - PPG-PMUS/UNIRIO/MAST
Orientador

Prof. Dr. ________________________________________________


Marcus Granato - PPG-PMUS/UNIRIO/MAST

Prof. Dr. ________________________________________________


Marcio Ferreira Rangel - PPG-PMUS/UNIRIO/MAST

Prof.ª Dra. ______________________________________________


Maria Luisa Ramos de Oliveira Soares - UFRJ

Prof. Dr. ________________________________________________


Aloisio Castro Nunes - UFJF

Prof.ª Dra. ______________________________________________


Helena Cunha de Uzeda PPG-PMUS/UNIRIO/MAST
(suplente interno)

Prof.ª Dra. ______________________________________________


Claudia Penha dos Santos- MAST
(suplente externo)

Rio de Janeiro, janeiro de 2018


iv

Carvalho, Ana Paula Corrêa de.


C331 O Curso de Especialização em Conservação de Bens
Culturais Móveis da Escola de Belas Artes da UFRJ / Ana Paula
Corrêa de Carvalho. 2018.
269 f. : il. ; 30 cm.
Orientador: Ivan Coelho de Sá.
Tese (doutorado) – UNIRIO/CCH, Programa de Pós-
Graduação em Museologia e Patrimônio; MAST, 2018.
Bibliografia: 211-232.
1. Patrimônio histórico - Conservação e restauração.
2. Conservador/Restaurador - Formação - Brasil. I. Sá, Ivan
Coelho de. II. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.
Centro de Ciências Humanas. III. Museu de Astronomia e
Ciências Afins. IV. Título.
CDD 069.53
v

Para Jubdwan da Silva Corrêa (vó Binha) in memoriam,


Claudia Penha, Marylka Mendes, Almir Paredes,
Maria Luisa Soares (Kuka)
e a todos que atuam na Museologia,
na Conservação-Restauração
e na Preservação do Patrimônio Cultural.
vi

AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador e amigo o Prof. Dr. Ivan Coelho de Sá (PPG-PMUS/MAST)


pela paciência, pela generosidade e pela orientação.

Ao Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio


(PPGPMUS/UNIRIO/MAST), a todos os professores e colegas pela a oportunidade de
poder refletir sobre a Museologia.

Aos professores: Prof. Dr. Marcus Granato (PPG-PMUS/UNIRIO), ao Prof. Dr.


Marcio Ferreira Rangel - PPG-PMUS/MAST, à Prof. Dra. Maria Luisa Ramos de Oliveira
Soares – UFRJ e ao Prof. Dr. Aloísio Nunes – UFJF, por aceitarem fazer parte da Banca
e por suas valiosas contribuições para elaboração deste trabalho.

A todos do MAST, em especial: Márcia Cristina Alves, Maria Lucia de Niemeyer


Matheus Loureiro, Simone Santos, Ricardo Dias, Marcus Granato, Márcio Rangel,
Wellington Ricardo Pessanha, Ozana Hannesch, Ana Cristina Garcia, Alessandro Silva,
Eloisa Helena Almeida, Lucia Lino, Mónica Viol, Thiago Pinheiro, Ana Carolina Miranda,
Antonio C. Costa, Tânia Dominici, Jéssica Maria da Silva, Maria Elena Venero, Jair
Santos. Minha eterna gratidão pela acolhida e atenção com que sempre me receberam!

A todos da Escola de Belas Artes da UFRJ, sobretudo: Vilma Silva, Rosani


Godoy, Wanessa Oliveira, Vanessa Nofuentes, Renata Carvalhaes. Aos colegas: Carlos
Terra, Sônia Gomes Pereira, e em especial à Benvinda de Jesus, pela força e apoio de
sempre.
A todos do Arquivo Central da UFRJ, da Divisão de Gestão da Documentação e
da Informação, em especial à Isabel Cristina Quintino pelo apoio e disponibilidade em
ajudar.

A todos que colaboraram com seus depoimentos nas entrevistas realizadas e que
muito enriqueceram este trabalho: Ozana Hannesch, Alejandra Saladino, Thaís Slaibi,
Denise Oliveira, Denise Regis, Helen Ikeda, Marylka Mendes, Regina Capela, Claudia
Nunes, Fátima Bevilaqua, May Christina Cunha, Almir Paredes Cunha, Orlando da Rosa
Faria, Maria Luisa Soares, Carlos Terra e Edson Motta Júnior. Ao amigo Lenon Braga
pelo compartilhamento de documentos sobre Ariadne Motta. A Galdino Guttmann Bicho,
Joyce Brandão, Jacqueline Assis, Anna Echternacht, pela atenção e informações
prestadas.
vii

Aos meus amigos, em especial: Márcia Regina Botão, Cláudia Penha, Aurea
Chagas, Áurea Dias, Denise Barbosa, Valéria Leite, Suzana Neres, Vilma Silva, Laurinda
Maciel, Lilian Suescun e Richard Pinto.

À Nara Barreto, Fernando Jesus, Declair Amorim, Victor Louvisi, Janaina Ângelo,
Fabiano Cataldo, Ana Paula Pacheco, José Carlos Camello (in memoriam), Rosângela
Coutinho, Ozana Hannesch, Ana Garcia e Edmar Gonçalves, pelo apoio de sempre.

Aos Estudantes do Curso de Conservação da EBA/UFRJ em especial, a


Francisco Silva (in memoriam), Renata Meireles, Pablo Soeiro, Jéssica Ohara Pacheco,
Daianne Novaes, Guilherme Xavier, Leonardo Tavares, Maria G. Moura, César Casimiro,
Aline Lima, Sheila Araújo, Ademildes Ayres, Zoray Teles e Lucia Helena Gomes. Muito
obrigada pelo carinho, apoio, atenção e paciência!

Aos meus irmãos: Giselle, Washington Luis, Ana Lúcia e Cláudio Márcio (in
memoriam); à minha mãe Dila, às sobrinhas (Karem, Beatriz e Bianca); aos familiares,
em especial Joelson e Marlene Andrade. Muito grata por tudo!

À minha querida filha Juliana (Juju) e eterna companheira nessa grande aventura
pela vida e o “mundo dos museus, do patrimônio”...
viii

(...) O fundamental em cada história abordada não é ‘descobrir


o que realmente se passou’ [...] e sim tentar compreender
como se produzem e se explicam as diferentes versões que
os diversos agentes sociais envolvidos apresentam para
cada caso.
Sidney Chalhoub, 1986.
ix

RESUMO

CARVALHO, Ana Paula Corrêa de. O Curso de Especialização em Bens Culturais


Móveis da UFRJ: Contribuições para a preservação do patrimônio. Museu de Astronomia
e Ciências Afins (MAST). 2017. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-Graduação em
Museologia e Patrimônio, UNIRIO/MAST, Rio de Janeiro, 2017. 269p. Orientador: Ivan
Coelho de Sá.

São recentes os trabalhos visando problematizar questões ligadas ao campo da


Conservação – Restauração abordando a história sobre a formação do conservador no
Brasil. Pensando nesse aspecto e como contribuição para reflexão sobre a consolidação
do campo, temos como objeto de estudo analisar a formação no Curso de Especialização
em Conservação de Bens Culturais Móveis da Universidade Federal do Rio de Janeiro
entre os anos de 1989 até 1996, suas contribuições para o campo do patrimônio. O
Curso de Especialização foi implementado na década de 1980 e fez parte de um período
fértil no âmbito da Conservação no Brasil e em especial no Rio de Janeiro. As questões
propostas nesta tese buscam compreender a rede de relações e de compartilhamento
entre Museologia, Preservação e Conservação. Em termos metodológicos teremos por
base a micro-história e os conceitos apontados por Bourdieu. Os procedimentos
metodológicos incluíram: a pesquisa bibliográfica, a pesquisa documental em fundos
arquivísticos e entrevistas realizadas com alguns atores sociais envolvidos no curso. Ao
final da tese são apresentados os perfis do corpo docente, discente e seus reflexos sobre
o campo dos Museus e do Patrimônio.

Palavras-chave: Museologia, Patrimônio, Conservação-Restauração, Curso de


Especialização em Bens Culturais Móveis.
x

ABSTRACT

CARVALHO, Ana Paula Corrêa de. The Specialization Course of Movable Cultural
Property of UFRJ: contributions to the preservation of heritage. 2017. Thesis (doctorate) –
Postgraduate Program in Museology and Heritage, UNIRIO/MAST, Rio de Janeiro, 2017.
269p. Supervisor: Ivan Coelho de Sá.

Academic works aimed at problematizing issues related to the field of Conservation


Restoration and the history of formation of the conservation in Brazil are recent. Thinking
about this aspect as a contribution to reflection on the consolidation of the field, this thesis
has as object of study the analysis of the formation of The Specialization Course of
Movable Cultural Property of University Federal of Rio de Janeiro between the years of
1989 to 1996 and his contributions to the field of the heritage in Brazil. The specialization
course was implemented in 1980's and was part of fertile period of conservation in Brazil,
especially in Rio de Janeiro. The question proposed in this thesis is to understand the
network of relations between Museology, Preservation and Conservation. Methodological
terms were based in the microhistory and the concepts pointed out by Bourdieu. This
research made use of bibliographical resources, documentary funds and interviews
conducted with some social actors involved in the course. At the end of the thesis are
presented the profiles of the teachers, students and the reflections in the field of museums
and heritage.

Keywords: Museology, Heritage, Conservation-Restoration, The Specialization Course of


Movable Cultural Property.
xi

SIGLAS E ABREVIATURAS UTILIZADAS

ABRACOR - Associação Brasileira dos Conservadores e Restauradores de Bens


Culturais
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas
ACCR - Associação Catarinense de Conservadores e Restauradores de Bens Culturais
ABER - Associação Brasileira de Encadernação e Restauro
APCR - Associação Paulista dos Conservadores e Restauradores de Bens Culturais
ABM - Associação Brasileira de Museologia
AN - Arquivo Nacional
AIBA - Academia Imperial de Belas Artes
ABC - Academia Brasileira de Ciências
AMICOM - Associação de Membros do ICOM
BN - Biblioteca Nacional
CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CFC - Conselho Federal de Cultura
CEC - Conselho Estadual de Cultura
CMC - Conselho Municipal de Cultura
CNC - Conselho Nacional de Cultura
CNDA - Conselho Nacional de Direitos Autorais
CNPEC- Comissão Nacional de Ensino e Pesquisa em Conservação
CONCINE - Conselho Nacional de Cinema
CIN - Conservation Information Network
CNEPC - Comissão Nacional de Ensino e Pesquisa em Conservação de Bens Culturais
CLA - Centro de Letras e Artes
COREM - Conselho Regional de Museologia
CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil
CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
COPPE - Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia
CEG - Conselho de Ensino e Graduação
CECOR - Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais
CEPEG - Conselho de Ensino para Graduados
CECs - Criação dos Conselhos Estaduais de Cultura
GEMD - Grupo Executivo de Manutenção e Desenvolvimento
DVST - Divisão de Saúde do Trabalhador
DGDI - Divisão de Gestão da Documentação e da Informação
DPHAN - Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
DAC - Departamento de Assuntos Culturais
ENBA - Escola Nacional de Belas Artes
EBA - Escola de Belas Artes
EMBRAFILME - Empresa Brasileira de Filmes S.A.
PAC - Programa de Assuntos Culturais
PNC - Plano Nacional de Cultura
SEC - Secretaria de Cultura
IBRAM - Instituto Brasileiro de Museus
ICOFOM - Comitê Internacional de Museologia do Conselho Internacional de Museus
ICOM - Conselho Internacional de Museus
ICOMFOM-LAM - Subcomitê regional para América Latina e Caribe do Comitê
Internacional de Museologia do Conselho Internacional de Museus
InFOTO/FUNARTE- Instituto de Fotografia da Fundação Nacional de Artes
LAPEL - laboratório de Conservação e Restauração de Papel
xii

MAE-USP - Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo


MAST - Museu de Astronomia e Ciências Afins
MEC - Ministério da Educação e Cultura
USAID - United States Agency for International Development
MES - Ministério da Educação e Saúde
MinC - Ministério da Cultura
MINON - Movimento da Nova Museologia
MESP - Ministério da Educação e Saúde Pública
NUMMUS - Núcleo de Memória da Museologia no Brasil
NUPRECON - Núcleo de Preservação e Conservação de Bens Culturais
MHN - Museu Histórico Nacional
UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro
UNIRIO - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais
UFF - Universidade Federal Fluminense
LACORD - Laboratório de Conservação e Restauração de Documentos
UFPEL - Universidade Federal de Pelotas
UFJF - Universidade Federal de Juiz de Fora
FUNARTE - Fundação Nacional de Arte
FUNDACEN- Fundação Nacional de Artes e Ciências
FGV/CPDOC-Fundação Getúlio Vargas/ Centro de
FNPM - Fundação Nacional Pró-Memória
FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos
FBN - Fundação Biblioteca Nacional
FGV - Fundação Getúlio Vargas
IBAC - Instituto Brasileiro de Arte e Cultura
IBPC - Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural
IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
FCB - Fundação do Cinema Brasileiro
FCRB - Fundação Casa de Rui Barbosa
CNRC - Centro Nacional de Referência Cultural
SPHAN - Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
SPHAN- Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
UNESCO - Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura
USP - Universidade de São Paulo
OEA - Organização dos Estados Americanos
PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PCH - Programa Integrado de Reconstrução de Cidades Históricas
PHC - Programa de Cidades Históricas-
PNC - Plano Nacional de Cultura
REUNI - Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades
Federais
VITAE - Associação de Apoio à Cultura, Educação e Promoção Social
xiii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Capa do livro Introdução à Técnica de Museus. Volume I. Fonte (a autora,


2017).

Figura 2- Capa do livro Introdução à Técnica de Museus. Volume II. Fonte (a autora,
2017).

Figura 3- Gael de Guichen em São Paulo em 1979. Fonte: (GUICHEN, 1980).

Figura 4- Ex-diretores da ABRACOR. Fonte: ABRACOR (1999).

Figura 5- Gäel de Guichen e Alan Godonou em sessão do X Congresso da


ABRACOR. Fonte: Acervo particular de Maria Luisa Ramos de Oliveira Soares.

Figura 6- (a,b): Bulletin of the Internacional Council of Museums (Vol.40.no.I 1987) e


à direita capa do Boletim da ABRACOR (Ano III. nº1 julho/1988).

Figura 7- Maria Luisa Ramos de Oliveira Soares, presidente da ABRACOR.


Palestrando no 12th Triennial Meeting ICOM-CC. Fonte: Acervo particular de Maria
Luisa Ramos de Oliveira Soares.

Figura 8- Membros do ICOM-CC durante o 12th Triennial Meeting ICOM-CC. Fonte:


Acervo particular de Maria Luisa Ramos de Oliveira Soares.

Figura 9- Organograma de funcionamento do Centro de Letras e Artes - CLA.


(Organizado pela autora, 2015).

Figura 10- Turma do Terceiro Curso em visita técnica. Fonte: Acervo pessoal Ozana
Hannesch.

Figura 11- Capa da publicação Base de Dados sobre Materiais Empregados em


Conservação e Restauração de Bens Culturais. Fonte: (a autora, 2015).

Figura 12- Capa da primeira edição do Livro: Restauração- Ciência e Arte. Fonte: (a
autora, 2015).

Figura 13- Capa do livro Conservação: Ciência e Arte. Fonte: (a autora, 2015).

Figura 14- Ilustração do Manual de Conservação. Fonte: (MOTTA, 1992, p. 3).

Figura 15- Ilustração do Manual de Conservação. Fonte: (MOTTA, 1992, p. 3).

Figura 16- Imagem da capa do Manual publicado pelo Instituto do Patrimônio


Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Fonte: (MOTTA, 1996, p. 3).
xiv

Figura 17- Localização dos Logradouros da Região da Sé. Fonte: (GARCEZ, 1992,
s/p).

Figura 18- Frisos em relevo do pedestal de Anhanguera. Fonte: (GARCEZ, 1992,


s/p).

Figura 19- Imagem da Obra Anhanguera, destacando seu estado de conservação.


Fonte: (GARCEZ, 1992, s/p).

Figura 20- Destaque da pichação que causou danos à obra. Fonte: (GARCEZ, 1992,
s/p).

Figura 21- Fotografia do vestido, destacando o estado de conservação. Fonte:


(FRAZÂO, 1992).

Figura 22- Fotografia do vestido, destacando o estado de conservação. Fonte:


(FRAZÃO, 1992).

Figura 23- Reprodução do Mapa da Ilha do Fundão, no ano de 1989. Destacando a


área estudada pela autora, com a respectiva legenda. Fonte: (SLAIBI 1989, p.5).

Figura 24- Esquema de mapeamento dos riscos de danos externos ao prédio. Fonte:
(SLAIBI 1989, p.4).

Figura 25- Planta desenha pela autora, demonstrando a área a ser modificada.
Fonte: (SLAIBI 1989, p.11).

Figura 26- Planta esquemática desenhada pela autora, demonstrando como ficaria a
área após as modificações propostas. Fonte: (SLAIBI 1989, p.12).
xv

LISTA DE TABELAS, GRÁFICOS E QUADROS:

Tabelas

Tabela 1- Tabela com os conceitos de Preservação, Conservação Preventiva e


Conservação- Restauração. Fonte: (ZÚÑIGA, 2002, p.75).

Tabela 2- Resumos dos cursos: professores e disciplinas ministradas. Fonte: (organizado


pela autora, 2015).

Tabela 3- Carga horária dos Cursos. Fonte: (organizado pela autora, 2015).

Tabela 4- Distribuição das disciplinas por áreas. Fonte: (organizado pela autora, 2015).

Tabela 5- Professores que participaram do Curso de Especialização em Conservação de


Bens Culturais Móveis. (Organização da autora, 2015).

Tabela 6- Artigos publicados por professores do Curso. (organização da autora, 2015).

Tabela 7- Relação dos artigos traduzidos (organização da autora, 2015).

Tabela 8- Informações encontradas sobre as monografias de alguns alunos.

Gráficos
Gráfico 1- Gráfico demonstrativo mostrando as áreas de graduação dos egressos. Fonte:
(Organização da autora, 2015).

Gráfico 2- Gráfico demonstrativo de origem dos egressos. Fonte: (organização da autora,


2015).

Quadro

Quadro 1- Resumo das disciplinas ministradas por área. Fonte: (organizado pela autora,
2016).
xvi

SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................... 02

Cap. 1 MUSEOLOGIA E CONSERVAÇÃO........................................................................ 15

1.1 Considerações iniciais.............................................................................................. 15

1.2 A Museologia como Campo Disciplinar.................................................................... 22


1.3 Considerações sobre Museologia na contemporaneidade:
a questão do patrimônio........................................................................................... 32
1.4 A interface entre Museu, Conservação, Museologia e Preservação:
as bases da formação profissional .......................................................................... 36
1.5 A Conservação Preventiva em perspectiva ............................................................. 44

Cap. 2 AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A ÁREA CULTURAL NO BRASIL: SUBSÍDIOS


PARA A CRIAÇÃO DO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM CONSERVAÇÃO DE
BENS CULTURAIS MÓVEIS DA ESCOLA DE BELAS ARTES DA
UFRJ.............................................................................................................................. 52

2.1. As políticas públicas brasileiras para a área cultural............................................... 53


2.1.1 Criação do Museu Histórico Nacional e do Curso de Museus:
contribuições para preservação............................................................................... 53
2.1.2 Alguns antecedentes: da Era Vargas ao Regime Militar................................ 56
2.1.3 Os anos de 1990 e as políticas públicas........................................................ 82
2.2 O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento/UNESCO- (PNUD) e a
Conservação de Bens Culturais no Brasil: subprograma “Bens Culturais
Móveis”.................................................................................................................... 88
2.3 A criação da ABRACOR e a questão da identidade profissional: a busca pela
formação.................................................................................................................. 95

Cap. 3 O CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM CONSERVAÇÃO DA UFRJ................... 109

3.1 A Escola de Belas Artes e uma breve trajetória das disciplinas de Conservação-
Restauração.................................................................................................................. 109
3.2 O início da Pós-Graduação no Brasil e sua ressonância na UFRJ......................... 111
3.3 A criação da Pós-Graduação em Artes Visuais...................................................... 120
3.4 Trajetória do Curso de Especialização em Conservação de Bens Culturais.......... 122
3.5 Considerações gerais sobre os Cursos................................................................... 145
3.6 Perfil do corpo docente............................................................................................ 151
xvii

3.7 Análise das publicações......................................................................................... 156


3.7.1 Banco de dados: Materiais Empregados em Conservação-Restauração de
Bens Culturais.......................................................................................................... 156
3.7.2 Restauração: Ciência e Arte………….........................…................................. 159
3.7.3 Conservação: Conceitos e Práticas............................................................... 163

Cap. 4 RESSONÂNCIAS: ENTRE UTOPIAS E REALIDADES...................................... 168

4.1 Considerações iniciais deste capítulo..................................................................... 168

4.2 Traçando o perfil dos Egressos.............................................................................. 168

4.2.1 O perfil desejável pelo Curso........................................................................... 171

4.2.2 As Expectativas dos egressos no Curso......................................................... 176

4.3 Aspectos necessários para a obtenção do grau de especialista ............................ 179

4.3.1 A Conservação dos Bens Culturais Móveis por seus detentores leigos, de
Ariadne Motta............................................................................................................ 183

4.3.2 Conservação preventiva em acervos culturais: metodologia de


pesquisa de Helen Ikeda ......................................................................................... 187

4.3.3 A conservação de Bens Culturais Móveis, de Ozana Hannesch...................... 189

4.3.4 A Conservação de Obras de Arte em Mármore ao relento nos logradouros


públicos paulistanos: uma visão crítica da atuação do Departamento do
Patrimônio Histórico, de Paulo Garcez..................................................................... 190

4.3.5 O vestido de Baile usado por Dona Sara Kubitschek na posse do


Presidente JK, Regina Frazão.................................................................................. 193

4.3.6 Relatório de um Projeto de Reforma para o Museu de Conservação e


Restauração da UFRJ, de Thais Slaibi..................................................................... 195

4.4 Considerações sobre os egressos após formação................................................. 198

CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................. 206

REFERÊNCIAS....................................................................................................................... 211

ANEXOS................................................................................................................................... 233
1

INTRODUÇÃO
2

São recentes os trabalhos visando problematizar questões ligadas ao campo da


Conservação – Restauração abordando aspectos sobre a formação destas áreas no
Brasil. Dentre os poucos existentes, podemos destacar a tese de Aloísio Arnaldo Nunes
de Castro “Do restaurador de quadros ao conservador-restaurador de bens culturais: o
corpus operandi na administração pública brasileira de 1855 a 1980”, na qual, logo no
início, o autor afirma que em relação à história da Conservação no Brasil, devemos
“voltar os olhos para a realidade da América Latina e, em particular, para o Brasil, em
razão das nossas singularidades históricas e culturais”. Ainda, segundo CASTRO:

Há carência de pesquisas acadêmicas sobre as práticas e


representações preservacionistas construídas e legitimadas no espaço
social brasileiro, assim como sobre o processo de circularidade cultural e
de apropriação dos múltiplos saberes inerentes às Artes e à
Conservação-Restauração de Bens Culturais no Brasil. Se, de um lado,
constata-se essa lacuna historiográfica, de outra parte, a História da
Conservação-Restauração no Brasil constitui-se um universo temático
pleno de possibilidades interpretativas, contemplando posicionamentos
críticos, questionadores e reflexivos (CASTRO, 2013, p.16).

O interesse em trabalhar esta temática surgiu justamente da necessidade de


compreender a trajetória da área da Conservação. Em 2011, ingressei como docente do
Curso de Graduação em Conservação e Restauração,1 da Escola de Belas Artes da
UFRJ. Ministrei a disciplina Princípios da Conservação e da Restauração2, dentre outras.
Ao tentar elaborar uma bibliografia básica para esta disciplina pude perceber o quanto é
escassa a bibliografia que aborde a trajetória da Conservação-Restauração no Brasil,
bem como, a história da Conservação-Restauração na própria Escola de Belas Artes, da
UFRJ. Em umas das aulas ministradas comentei sobre o projeto de criação do
Laboratório Nacional de Restauração. Este projeto foi elaborado por professores da EBA,
da área de Preservação, no início da década de 1980, com o objetivo de exercitar a
pesquisa em Conservação-Restauração de bens culturais, assim como realizar o
“restauro do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional3.” O assunto despertou interesse
dos alunos que solicitaram referências sobre o tema. Informei que precisaria pesquisar,
já que temos fontes primárias sobre o projeto. Dessa forma, como consolidar um campo
1 O Curso foi implementado em 2010, por meio do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e
Expansão das Universidades Federais (Reuni), que tem como principal objetivo ampliar o acesso e a
permanência na educação superior.
2 Esta disciplina era ministrada para o primeiro período do Curso de Graduação tendo como ementa:
Introdução aos conceitos norteadores das teorias da conservação e da restauração de bens culturais.
Conceitos/termos: preservação, conservação, restauração, ciência da conservação e conservação
preventiva. Principais correntes teóricas: teorias “clássicas” e teorias contemporâneas. Desafios da
contemporaneidade. Códigos de ética. Considerações sobre a história da conservação e restauração no
Brasil.
3 Arquivo Central da UFRJ (DGDI). Anteprojeto/criação do Centro ou Instituto Nacional de Restauro da UFRJ

(0146-5) Doc.: 0000070/1987.Número: 23079.016787/1987-84.


3

disciplinar sem saber sobre sua história e seu processo de construção, bem como quem
foram seus atores sociais? Quais eram suas práticas e representações?
Nesse sentido, as fontes primárias constituem importantes subsídios para a
pesquisa, o conhecimento e a consolidação do campo disciplinar.
No ano de 2012, a Prof.ª Marylka Mendes doou à EBA seu arquivo pessoal
referente à sua atuação como professora. A parte documental inclui referências
relacionadas aos mais de trinta anos como professora na EBA ministrando disciplinas
ligadas à Restauração, além da sua atuação na área da Conservação - Restauração de
bens patrimoniais em seu ateliê particular. Nos itens encontrados no acervo, destacamos:
ementas das disciplinas ministradas, material didático, livros, periódicos especializados,
laudos técnicos de conservação, fotografias, caderneta de anotações, mobiliário
específico (mesa de sucção, entre outros). Importante ressaltar que, entre os documentos
doados, encontramos os referentes ao Curso de Especialização em Conservação de
Bens Culturais, tais como: os processos de criação, ementa das disciplinas,
correspondências, entre outros. Chamou-me a atenção a organização e arranjo da
documentação feita pela professora durante 30 anos, sobretudo as caixas, pastas e
dossiês sobre o Curso de Especialização. Atualmente o acervo faz parte do Arquivo do
Museu D. João VI e está em fase de organização técnica, englobando o tratamento
arquivístico, a higienização e o acondicionamento. O acervo constitui uma importante
fonte primária para futuras pesquisas em diversas temáticas e suas interfaces com a
Conservação-Restauração.
A minha formação em Museologia e a escolha por atuar na área da Conservação-
Restauração (nas áreas dos museus, arquivos e bibliotecas) me permitiu perceber que a
Museologia e a Conservação são campos disciplinares que estão interligados no que se
refere à Preservação do Patrimônio Cultural. No Brasil o Curso de Museus do Museu
Histórico Nacional – MHN, atual Escola de Museologia da UNIRIO, inicialmente formava
Conservadores de Museus. Este era o nome mais correto para denominar os museólogos
nas décadas de 1930 até 1960. Somente a partir da década de 1970 é que a
denominação Conservador de Museus passou a ser suplantada pela de museólogo. Na
contemporaneidade, na lei que regulamenta a profissão de museólogo, no artigo Art. 3º
dentre as atribuições da profissão de Museólogo, está: “coletar, conservar, preservar e
divulgar o acervo museológico".4

4BRASIL Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para assuntos Jurídicos. Lei nº 7.287, de 18 de
dezembro de 1984. Dispõe sobre a regulamentação da profissão de Museólogo. Disponível em:
<https://corem2r.wordpress.com/legislacao/lei-7287/>. Acesso em: 29 jun.2016.
4

A consolidação da Conservação-Restauração5 enquanto campo disciplinar


autônomo se faz presente atualmente pelas implementações de algumas graduações em
Conservação e Restauração, sendo as da Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ,
da Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG e da Universidade Federal de Pelotas -
UFPEL, resultado da adesão ao Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e
Expansão das Universidades Federais (Reuni).
Durante minha graduação em Museologia (1994-1999), falava-se muito em dois
Cursos de Especialização em Conservação e Restauração no Brasil: o primeiro deles era
o Curso do Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais - CECOR da
Universidade Federal de Minas Gerais/ UFMG e o outro o de Especialização em
Conservação da Universidade Federal do Rio de Janeiro/ UFRJ. No entanto, o Curso da
UFRJ funcionou apenas até 1996 quando foi realizado o concurso de admissão para a
última turma. Lembro-me perfeitamente dos colegas e dos profissionais da Conservação-
Restauração lamentando o término do curso.
Pensando nesse aspecto, e como contribuição para reflexão sobre a consolidação
do campo, temos como proposta de estudo nessa tese analisar a formação no Curso de
Especialização em Conservação de Bens Culturais Móveis da UFRJ entre os anos de
1989 até 1996, sua trajetória e contribuições para o campo da preservação.
O Curso de Especialização foi implementado na década de 1980, que, segundo
autores, como Sá (2007) e CASTRO (2013) fez parte de um período fértil no âmbito da
Conservação no Brasil e em especial no Rio de Janeiro. Como exemplo, podemos citar a
criação da Associação Brasileira dos Conservadores e Restauradores – ABRACOR, e no
âmbito acadêmico, tivemos a criação de núcleos e laboratórios voltados à preservação.
No Curso de Museologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UNIRIO por
iniciativa da Prof.ª Violeta Cheniaux, foi criado, em 1986, o NUPRECON - Núcleo de
Preservação e Conservação de Bens Culturais. Foi “o primeiro do gênero no país, uma
vez que enfatizava a Conservação Preventiva, sobretudo o controle ambiental” (SÁ,
2007, p.148). Na Universidade Federal Fluminense - UFF foi inaugurado em 1988 o
Laboratório de Conservação e Restauração de Documentos (LACORD), pelo Prof. Gilson
Cruz de Oliveira.

5 Nesta tese adotaremos as seguinte terminologias: Conservação-Restauração (ao nos referirmos ao Campo
Disciplinar), conservação-restauração (para a ação ou ato), conservador-restaurador (profissional que atua no
Campo). Marie Berducou (1996), no artigo: Introduction to Archaeological Conservation, prefere usar o termo
conservação-restauração e ressalta que são termos vinculados. Segundo a autora na prática os dois
procedimentos não são facilmente separáveis. Estes dois termos colocados lado a lado implicam, no seu
conjunto, a conservação no sentido mais amplo e a restauração no sentido restrito, em conformidade com a
visão anglo-saxónica. Eles têm a vantagem de esclarecer certas ambiguidades e podem ser traduzidos sem
muitos equívocos de uma língua para outra (ao contrário de seu uso separado). (BERDUCOU, 1996, p.255).
5

Dessa forma, podemos considerar que a década de 1980 foi marcada pela
evidência na Conservação Preventiva, o que irá se refletir, também, na própria proposta
da Criação do Curso de Especialização em Conservação da EBA/UFRJ. Como pudemos
observar, através da análise das ementas e conteúdos programáticos das disciplinas, a
escolha das disciplinas curriculares norteava-se pelo o que se considerava patrimônio na
época, como deveria ser preservado e como ensinar a preservar, ou seja, constituindo
uma estreita conexão com a preservação do patrimônio musealizado6. Neste sentido, um
dos interesses deste trabalho é justamente procurar compreender essa rede de relações
e de compartilhamento entre Museologia e Preservação, entre as décadas de 1980 e
1990, no Rio de Janeiro.
No âmbito brasileiro a formação em Conservação-Restauração consistia, desde o
século XIX, em um conhecimento prático proveniente dos museus. Desta forma, os
museus capacitavam seus próprios conservadores-restauradores.
A origem mais remota da preocupação em inserir a Conservação-Restauração
como conteúdo disciplinar ocorreu na grade do Curso de Museus, criado em 19327, no
Museu Histórico Nacional. A disciplina principal que estruturava este Curso, Técnica de
Museus, previa em seu programa a unidade Noções de Restauração que consistia num
misto de conceitos:

A disciplina Técnica de Museus (Parte Geral) da 1º Série terá como


introdução o estudo das finalidades sociais e educativas dos museus e
compreenderá os seguintes tópicos: organização, arrumação,
classificação, catalogação, adaptação de edifícios e noções de
restauração (grifo nosso)8.

Segundo Sá (2012, p.14) as referências bibliográficas dos conteúdos de


Museografia e Preservação constituíram o que havia de mais recente nas décadas de
1920, 1930 e 1940, como os artigos da revista Mouseion (1927- 46), La Conservation des
Monuments d’Art et d’Histoire (1933), inclusive as propostas da Carta de Atenas de 1931,
e nos anais da Muséographie I e II (1935). Em Noções de Organização, Arrumação,
Catalogação e Restauração (BARROSO, 1946, p.1-97) pode-se perceber ideias e
propostas bastante modernas para época e ainda consideradas atuais:

6 Equivalente em francês: muséalisation; inglês: musealisation; espanhol: musealisación; alemão:


Musealisierung; italiano: musealizzazione (DESVALLÉES ; MAIRESSE, 2013 p.56).
7 Decreto-Lei nº 21.129, de 07/03/1932. Diário Oficial, 15/03/1932.
8 Decreto nº 16.078, de 13/07/1944. Aprova o Regulamento do Curso de Museus do Museu Histórico

Nacional. Diário Oficial, 15/07/1944.


6

Antes de tudo, a conservação deve ser eminentemente preventiva. Toda


higiene é preferível aos remédios. [...] Respeitar sempre a pátina, que é
a assinatura do tempo. [...] Em matéria de restauração, nos casos
concretos, é impossível determinar regras gerais fixas, porque cada caso
apresenta caráter particular. [...] É preciso não confundir pátina com
sujeira. [...] Os monumentos devem conservar os traços de todas as
épocas, que são a sua própria história. [...] A ação da umidade
atmosférica está capitulada entre as mais perniciosas. Essas variações
não devem oscilar para permitir uma boa conservação. [...] (apud, Sá,
2012, p.15).

A partir das décadas de 1960 e 1970, a disciplina Técnica de Museus transforma-


se no sentido de buscar a consolidação da Museologia como campo disciplinar.
Desenvolve-se igualmente o conceito de Museologia Aplicada, ou seja, a relação
interdisciplinar da Museologia com as funções básicas inerentes ao processo de:
Musealização-Documentação, Comunicação-Exposição e Preservação-Conservação. No
Curso de Museologia - denominação assumida pelo antigo Curso de Museus quando
transferiu-se para a Universidade Federal do Rio de Janeiro - UNIRIO (1977) - os
conteúdos de Preservação-Conservação foram inseridos em disciplinas de Museologia-
Museografia pertinentes à questões ligadas ao acondicionamento em Reserva Técnica,
monitoramento ambiental, higienização, transporte e manuseio, isto é, com ênfase na
Conservação Preventiva, conceito que será a tônica das discussões preservacionistas na
década de 1980, como já observado. Estes dados são importantes não somente para
contextualizar os primórdios do ensino da Conservação, conjugados à Museologia, mas
também para destacar esta relação interdisciplinar que consiste no cerne deste estudo.
Por outro lado, o ensino da Conservação-Restauração de forma autônoma,
disciplinar, se deu na década de 1950, no Curso de Pintura da Escola de Belas Artes da
UFRJ. Neste período a disciplina assume uma identidade própria. Até então, os
professores das disciplinas de Escultura e Pintura, por exemplo, eram os responsáveis
pelas intervenções e pela formação e ensino de como conservar ou restaurar.
Dessa forma, é importante analisar como se formou e se desenvolveu o
pensamento preservacionista na Escola de Belas Artes da UFRJ, bem como as políticas
de Preservação ao longo do tempo. Nesse sentido, o ensino da Restauração9 não
constitui um fim, uma ação em si mesma. Ele se relaciona com o patrimônio e com o que
ele representa, com a memória e com critérios de “escolhas”, com políticas de
preservação e com leis de proteção ao patrimônio. Ao mesmo tempo, é reflexo da
conjuntura política, histórica e social do momento em que algo é nomeado “patrimônio
cultural”.

9 As disciplinas da EBA ensinavam Restauração de Obras em suporte papel, óleo sobre tela (pintura) e
escultura.
7

Ana Maria Macarrón Miguel (2007) compreende que a conservação e a


restauração de bens culturais são fenômenos em que estão envolvidos não só os
aspectos técnicos e materiais, mas também critérios condicionados pelas ideias
religiosas, políticas, filosóficas e estéticas vigentes em cada período. Seguindo esse
mesmo pensamento, Maria José Martínez Justicia (2008) ressalta que em toda
intervenção restaurativa é necessário não só pensar na questão técnica, mas, sobretudo,
na formação histórico-artística para que se permita refletir sobre as obras em sua
globalidade, estabelecendo um diálogo com as mesmas.
No caso das universidades10, especificamente nos cursos de pós-graduação lato
sensu, perceberemos a influência que as políticas públicas para a pós-graduação no
Brasil exerceram, por exemplo, a partir da Reforma de 1968 e da Definição dos Cursos
de Pós-Graduação e do Plano Nacional de Educação (BRASIL, 1975). Especialmente,
como a pós-graduação se institucionalizou na UFRJ, principalmente no caso do Curso de
Especialização em Conservação de Bens Culturais, objeto de estudo desta tese. Assim,
os documentos, fontes primárias para elaboração e fundamentação de alguns tópicos
desta tese estiveram por, um longo tempo (cerca de 30 anos), silenciados nas estantes
dos arquivos do Museu D. João VI, ou mesmo no Arquivo Central da UFRJ.
“[...] O documento não é inócuo. É antes de mais nada o resultado de uma
montagem, consciente ou inconsciente” (LE GOFF, 1997, p.103). Para além dos
documentos encontrados nos arquivos, as entrevistas realizadas com alguns atores
sociais participantes desse processo, desde a criação do curso, sua implantação e seu
encerramento, permitiram compreender os ditos e interditos no transcurso do mesmo,
completando e abrindo lacunas e despertando novas possibilidades de interpretação.
Assim, está tese tem como objetivo geral:

 Analisar o Curso de Pós-graduação em Conservação, da Escola de Belas Artes


da UFRJ, no período de sua existência e suas ressonâncias em museus e outras
instituições de patrimônio nas décadas de 1990-2000, tendo como base teórica a
relação entre os campos disciplinares da Museologia e da Conservação.

10Sobre a história da Universidade, no ano de 2013, participei de um Curso de Extensão na própria UFRJ,
cuja temática era: “A trajetória e os Desafios da Universidade Pública Brasileira”. O curso foi bastante
proveitoso e despertou ainda mais meu interesse pela história do ensino, da universidade no Brasil e,
especificamente, da história da UFRJ.
8

Objetivos Específicos:

1- Identificar o espaço interdisciplinar e as inter-relações entre a Museologia e a


Preservação-Conservação.

2- Correlacionar a criação do Curso de Pós-Graduação com as políticas de Preservação


das décadas de 1980 e 1990.

3- Investigar os fatores que motivaram a realização do curso de especialização em


Conservação.

4- Identificar o perfil dos alunos e sua atuação profissional no âmbito da Preservação.

5- Refletir sobre a contribuição do curso nas atuações profissionais dos egressos.

6- Analisar, por amostragem, a produção acadêmica do curso, identificando os principais


temas na qual esta produção foi focada.

Esta tese se insere na linha de pesquisa 1 - Museu e Museologia, por abordar a


Museologia como campo disciplinar, em suas relações com os diferentes campos do
saber.

QUESTÕES

Qual era o espaço social de atuação do profissional - conservador no Rio de


Janeiro que trabalhava com preservação de bens culturais móveis (museus e patrimônio)
nas décadas de 1980 e 1990?

Quais as contribuições do Curso de Especialização em Conservação de Bens


Culturais Móveis na formação de profissionais e na consolidação das suas atuações e na
ideia de uma identidade de classe/área de Conservação?
9

Qual era o espaço que a Conservação-Restauração ocupava na Pós-Graduação


da Escola de Belas Artes da UFRJ nas décadas de 1980 e 1990?

Sobre a metodologia nos basearemos numa análise qualitativa. Para alcançar os


objetivos propostos realizaremos os seguintes procedimentos metodológicos:

I - Levantamento bibliográfico e revisão bibliográfica, abordando os seguintes temas:


fundamentos teóricos sobre Museologia e Conservação; histórico da disciplina de
Conservação na Escola de Belas Artes; história sobre a Pós-Graduação no Brasil.
II - Verificar a produção intelectual: os planos de aulas, cursos, notas pessoais,
entrevistas, palestras e publicações feitas pelos professores das disciplinas de
Conservação e Restauração do Curso de Especialização. Além dos documentos
acadêmicos oficiais do Curso, como Decretos, Regulamentos, Relatórios, Portarias,
Livros de Registros de Alunos, Fichas de Matrícula e Livro de Atas.
III – Análise e interpretação de fontes primárias, localizadas no:

 Arquivo do Museu D. João VI, da Escola de Belas Artes da UFRJ


que registra a história administrativa da Escola de Belas Artes,
como livros de matrícula, atas e correspondência, além do Acervo
da Prof.ª Marylka Mendes;
 Arquivo Permanente da UFRJ (Divisão de Gestão da
Documentação e da Informação - DGDI);
 Biblioteca do Museu de Astronomia e Ciências Afins - MAST -
Coleção Especial da ABRACOR;
 Acervo do Núcleo de Memória da Museologia no Brasil - NUMMUS,
da Escola de Museologia da UNIRIO.

IV - Elaborar entrevistas para obter dados como forma de subsidiar e estruturar nosso
estudo, procurando enriquecer as fontes sobre a temática. Os depoentes foram alguns
ex-professores das disciplinas de Conservação e os gestores do curso, em especial,
Almir Paredes, Marylka Mendes e Edson Motta Júnior. Além de alguns alunos egressos
do curso, personagens importantes para o campo de análise que foram identificados ao
longo da pesquisa. Assim, foram feitas gravações com depoimentos dos principais atores
que conseguimos localizar e conversar a respeito de sua história de vida, com ênfase no
10

Curso de Especialização em Conservação de Bens Culturais Móveis da Escola de Belas


Artes da UFRJ11.
As narrativas que transpareceram nas entrevistas realizadas são fontes para o
estudo da história do Curso de Conservação e estes depoimentos guardam sua
potencialidade como elemento que conta, que elabora e que reflete uma dada realidade.
Este aspecto que pode soar como altamente subjetivo, não é menosprezado hoje pela
historiografia, embora nem sempre tenha sido assim, uma vez que no início o uso desta
metodologia, nos meios acadêmicos, foi bastante criticado por estar imersa em
subjetividade. Contudo, atualmente estas críticas não fazem sentido, já que todas as
fontes de pesquisa podem ter um grau de subjetividade que está contido no olhar de
quem pesquisa. Assim, uma fotografia, um recorte de jornal, um documento textual
também terá um peso de peculiaridade de quem o olha e o toma para si como fonte de
pesquisa12.
Desta forma, a história oral é hoje um método respeitado e aceito
academicamente, desde que seus pressupostos sejam seguidos. Ou seja, é preciso que
haja um projeto de pesquisa que delineie as questões que serão abordadas e os
objetivos sejam bem estruturados, os depoentes identificados e suas participações sejam
justificadas como importantes para a pesquisa e as entrevistas sejam guiadas com os
parâmetros recomendados: os de isenção do entrevistador e respeito com o depoente,
sua opinião e trajetória/história de vida sem julgamentos, além de não guiar nem interferir
no curso da entrevista para um resultado mais profissional.

O processo de acolhimento de novas fontes para a historiografia faz parte do


movimento chamado de “Nova História”, que identificou e incorporou novas fontes de
pesquisa para o campo. Tais fontes que, antes da década de 1970 e 1980, nem sempre
foram consideradas como pertinentes ou ideais, agregaram os feitos do chamado
‘homem comum’ e não apenas a história dos grandes nomes e heróis deveria
transparecer, pois elas não refletiam a sociedade e suas complexidades. Assim, as
fotografias e os depoimentos, dentre outras fontes, podem ser vistos hoje como veículo

11 Esta metodologia de pesquisa pressupõe a realização de uma entrevista, cujo desenvolvimento se dá por
meio de um roteiro elaborado à priori e que procura desvendar os aspectos importantes da trajetória do
depoente, bem como de sua inserção no tema de nossa tese com sua percepção acerca de tais fatos.
As entrevistas foram gravadas e ao final os depoentes assinaram um termo de cessão para que os
depoimentos fossem usados como fonte de pesquisa para a elaboração da tese. As entrevistas foram
transcritas e o conteúdo é utilizado na redação do trabalho, visto que se constituiu em uma fonte primária de
pesquisa.
12
A história oral tem sido utilizada como uma metodologia de pesquisa mais fortemente no Brasil a partir dos
anos 1970, sobretudo com a criação do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do
Brasil - CPDOC e seu Programa de História Oral, da Fundação Getúlio Vargas - FGV, um dos mais
conceituados no país e certamente o primeiro a ser institucionalizado como tal.
11

de transmissão de historicidade e da experiência individual do homem comum, mas que


podem refletir também o coletivo de uma sociedade da qual este indivíduo faz parte
(BURKE, 1992).
Pretende-se focar essa investigação, sobretudo, nas décadas de 1980 e 1990, por
ser o período que abrange nosso objeto de estudo – o Curso de Pós-Graduação em
Conservação de Bens Culturais Móveis. Entretanto, também por ter sido um período de
grande movimentação destes campos, principalmente no Rio de Janeiro. Sendo criada,
inclusive, a Associação Brasileira dos Conservadores e Restauradores de Bens Culturais-
ABRACOR, que refere-se a uma busca para o fortalecimento do campo da Conservação-
Restauração e de sua autonomia.
Outro fator relevante é que, neste ano em que completou 200 anos, a EBA se
mobilizou em torno de atividades de preservação de sua memória.13 No entanto,
conforme relatou o prof. Almir Paredes Cunha em entrevista: “O que acontece é que nós
temos perdido muitas coisas... E as memórias vivas da Escola estão morrendo”.
(CUNHA, 2016).
Esta tese está constituída em quatro capítulos: O primeiro capítulo sobre
Museologia e Conservação encontra-se estruturado em três partes: na primeira
apresentaremos como embasamento teórico a análise da micro-história como campo de
observação e as reflexões do sociólogo francês Pierre Bourdieu sobre campo científico,
considerações fundamentais para as discussões em torno da ideia da Museologia e da
Conservação. Trataremos da construção da Museologia como campo disciplinar a partir
da apresentação de um breve panorama histórico sobre a Museologia e suas áreas de
atuação prática, a chamada Museologia Aplicada: à documentação, à exposição, e à
conservação. Daremos destaque à Conservação. Na segunda parte discutiremos a
interface entre a Museologia e a Preservação, focando também na formação do
profissional de Conservação. Na terceira parte, finalizando o capítulo são abordadas
questões relacionadas à Conservação Preventiva em perspectiva.
No segundo capítulo, analisaremos alguns aspectos das políticas públicas
culturais brasileiras que acreditamos que tenham contribuído para a criação do Curso de

13
Ver o VI Seminário do Museu D. João VI – Histórias da Escola de Belas Artes: revisão crítica de sua
trajetória. Organizado pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais – PPGAV-EBA-UFRJ. O seminário
teve como objetivo abordar/apresentar/debater trabalhos que visavam a trajetória diversificada e complexa da
antiga Academia Imperial de Belas Artes, depois Escola Nacional de Belas Artes e agora Escola de Belas
Artes da UFRJ. Disponível em >https://joaosextoseminario.wordpress.com/apresentacao/< acesso em:
29/08/2015. A Escola de Belas Artes foi oficialmente fundada com a criação da Escola Real das Ciências
Artes e Ofícios, por Decreto-Lei de D. João VI, em 12 de agosto de 1816.
12

Especialização em Conservação de Bens Culturais Móveis, da Escola de Belas Artes da


UFRJ em 1989, assim como influenciado a formação do seu corpo docente.
Analisaremos a criação do Museu Histórico Nacional e do Curso de Museus e
suas contribuições para preservação. Abordaremos pelo menos três momentos históricos
onde ocorreram uma série de mudanças nas políticas culturais no campo do patrimônio.
De acordo com Lia Calabre (2007a) estes três momentos são: o governo de Getúlio
Vargas (1930-1945 e 1950-1954) quando ocorre a estruturação formal da área da Cultura
através da criação de instituições ligadas ao Ministério da Educação e Saúde (MES),
como, por exemplo, a criação do Curso de Museus (1932), do Serviço do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) (1937-1946) e o Conselho Nacional de Cultura
(1938); o Regime Militar, especialmente durante o governo dos presidentes: Emílio
Garrastazu Médici (1969-1974) e Ernesto Geisel (1974-1978), quando acontece um
intenso processo de renovação da ação pública no campo da cultura com a criação do
Conselho Federal de Cultura (1967-1975) e de instituições como a FUNARTE (1975-
1990), a Fundação Pró-Memória (1979-1990); e, por fim, o governo de Fernando Collor
de Mello (1990-1992) quando ocorreu um movimento de desmonte das políticas públicas
culturais anteriores, com a intervenção governamental que causou grandes prejuízos
para instituições e projetos.
Após a análise das políticas públicas focalizaremos o Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento/UNESCO - (PNUD) e sua relação com a preservação de
bens culturais no Brasil buscando destacar as ideias iniciais para o campo da
Conservação-Restauração e Patrimônio. Nesse contexto, destacaremos a participação,
ações ou propostas dos membros brasileiros que atuavam na comissão entre os quais
destacavam-se a Prof.ª Marylka Mendes.
Finalizando esse capítulo, trataremos da fundação da Associação Brasileira dos
Conservadores e Restauradores/ABRACOR, a primeira associação no país com a
finalidade de agregar os profissionais da área. A criação dessa associação pode ser
entendida como um dos resultados do debate em torno das políticas públicas culturais.
No capítulo três, abordaremos a trajetória do Curso de Pós-Graduação em
Conservação da UFRJ. Analisaremos seus antecedentes na Escola de Belas Artes, os
motivos que levaram à sua criação. Apresentaremos a atuação de docentes, as
disciplinas por eles ministradas, seus referenciais teóricos - metodológicos e suas
produções acadêmicas (pesquisas e publicações). Na elaboração do capítulo, as
entrevistas com Marylka Mendes (2015), Almir Paredes Cunha (2016), Maria Luisa
Ramos de Oliveira Soares (2016) e Edson Motta Júnior (2017) que tiveram papel basilar,
no citado Curso, foram importantes no sentido de elucidar algumas questões
13

fundamentais para a compreensão do objeto de estudo, bem como as fontes primárias,


Documentos do Arquivo do Museu D. João VI e Documentos do Arquivo Central da UFRJ
(DGDI), além dos documentos do Arquivo Marylka Mendes (EBA/UFRJ).
O quarto capítulo, apresenta um perfil do corpo discente visando verificar suas
relações com o Curso e suas produções. Em outra etapa, analisa as contribuições que a
formação em especialização em Conservação de Bens Culturais teve em suas vidas
profissionais e no campo da preservação do patrimônio e dos museus. Serão analisadas
fontes primárias como atas e relatórios, bem como será realizada a análise de entrevistas
com alguns egressos. Apresenta, ainda, as considerações finais desta pesquisa.
Assim, acreditamos que ao trabalhar este tema no doutorado em Museologia e
Patrimônio colaboramos para rever uma parte da história da própria Escola de Belas
Artes, através de uma reflexão crítica. Acreditamos, também, que este trabalho
contribuirá como subsídio a todos que trabalham ou se interessam pela temática da
Preservação.
14

CAPÍTULO 1
MUSEOLOGIA E CONSERVAÇÃO
15

CAP. 1 - MUSEOLOGIA E CONSERVAÇÃO

Para atingir seus objetivos o capítulo encontra-se dividido em três partes: na primeira
apresentaremos como embasamento teórico a análise micro histórica como campo de
observação e as reflexões do sociólogo francês Pierre Bourdieu sobre campo científico,
considerações fundamentais para as discussões em torno da ideia da Museologia e da
Conservação. Trataremos da construção da Museologia como campo disciplinar, a partir
da apresentação de um breve panorama histórico sobre a Museologia e suas áreas de
atuação prática, a chamada Museologia Aplicada à documentação, à exposição e à
conservação. Daremos destaque à Conservação. Na segunda parte discutiremos a
interface entre a Museologia e a Preservação, focando também na formação do
profissional de conservação. Na terceira parte, finalizando o capítulo são abordadas
questões relacionadas à Conservação Preventiva em perspectiva.

1.1 Considerações iniciais

Nesta tese utilizamos como embasamento teórico a análise micro histórica como
campo de observação para a percepção da temática abordada e as reflexões do
sociólogo francês Pierre Bourdieu sobre campo científico, considerações fundamentais
para as discussões em torno da ideia da Museologia e da Conservação como campo
disciplinar. Mais especificamente o que buscamos é ressaltar a interface entre a
Museologia, a Preservação e a Conservação.
Para muitos autores, como LEVI (1992), a Micro-História corresponde a uma prática
historiográfica em que os referenciais são variados e múltiplos. Para BARROS (2007) a
Micro-História é um campo de análise que se refere a um objeto bem distinto: uma
determinada maneira de se aproximar de certa realidade social ou de construir o objeto
historiográfico. A Micro-História estaria relacionada a uma abordagem, mais do que a
qualquer outro ponto (BARROS, 2007, p. 169).
A Micro-História surge também com a chamada Nova História, como uma
resposta a crise epistemológica que ocorreu no campo ao longo das décadas de 1960 e
1970, quando o modelo mais tradicional de análise baseado no marxismo e
estruturalismo entrou em crise com os imprevistos acontecimentos políticos e sociais que
se deram no mundo. Não era mais possível explicar o momento com as ferramentas
metodológicas e as fontes que se tinha até então. Surgiu necessidade de revisão dos
modelos teóricos, dos sistemas de paradigmas e revisão dos instrumentos de pesquisa
16

(LEVI, 1992, p. 134). Neste contexto, a Micro-História funcionou como uma possível
resposta que enfatizava uma redefinição de conceitos, uma análise aprofundada dos
instrumentos e métodos existentes. Desde os anos 1980, os historiadores começariam a
considerar as escalas de observação, assim como a Micro-História ganharia
gradativamente um lugar importante no debate historiográfico. Mesmo assim, inicialmente
ela foi recebida como uma proposta incômoda, tal como a história oral, pois que pretendia
romper com um modelo e os hábitos da historiografia dominante até então (REVEL,
2010, p. 434).
A Micro-História se caracteriza por análises bastante detalhadas e uma constante
aproximação com outras ciências sociais e humanas, principalmente a Antropologia.
Além disso, a Micro-História busca uma descrição mais fidedigna do comportamento
humano por meio de um modelo que reconhece o resultado das negociações, das
manipulações, das escolhas e das decisões individuais diante de uma realidade narrativa
prolixa, mas que ao mesmo tempo, oferece muitas possibilidades de interpretação e
liberdades pessoais.
De acordo com Barros (2007) o objeto de estudo do micro historiador não precisa ser
o espaço micro recortado, mas poderia englobar “uma prática social específica, a
trajetória de determinados atores sociais, um núcleo de representações, uma ocorrência
(por exemplo, um crime) ou qualquer outro aspecto” que possa ser considerado
“revelador em relação aos problemas sociais ou culturais que está disposto a examinar”
(BARROS, 2007, p 169). No caso de biografias ou a “história de vida” de um sujeito, o
historiador frequentemente escolherá um indivíduo anônimo, pois seu interesse não está
propriamente na biografia dele, mas nos aspectos que poderá perceber por meio de um
exame micro localizado desta vida (BARROS, 2007, p. 169).
A Micro-História trabalha com o fragmento como um elo por meio do qual se pretende
enxergar uma questão social mais ampla ou um problema histórico ou cultural
significativo. Segundo BARROS (2007), os fragmentos são apresentados aos
historiadores como um percurso possível para realizar sua “análise intensiva” ou sua
“descrição densa” (técnica antropológica utilizada por Clifford Geertz e com a qual dialoga
a Micro-História). Daí ser comum a preferência por narrativas sobre as “vidas” ou sobre
as trajetórias individuais para a realização desta observação intensiva (BARROS, 2007,
p. 174). Contudo, a análise micro histórica não se restringe apenas aos indivíduos, mas
também serve como campo de observação para a percepção de todo um regime do
imaginário, uma determinada “prática” que era realizada por certo grupo social (BARROS,
2007, p. 175). A escolha do historiador também pode recair sobre determinada
comunidade micro localizada, mas como já dissemos nunca o verdadeiro objeto de que
17

se ocupa o historiador será a comunidade em si mesma, como seria o caso da História


local e, sim, determinado aspecto que incide transversalmente sobre esta comunidade
(BARROS, 2007, p. 175).
Nesse tipo de abordagem o problema de como se acessa o conhecimento do
passado é solucionado por meio de indícios, sinais e sintomas (LEVI, 1992, p.154). A
escolha do micro recorte não deve ser confundida com o estudo de caso e tampouco com
o recorte monográfico (algo que, na verdade, é realizado pelo historiador para tornar
viável uma pesquisa direcionada, independente da sua abordagem ou enfoque). No caso
da Micro História, não se trata de recortar para permitir uma análise, mas o próprio
recorte existe em função de um problema é este recorte que define o problema. O
problema e o recorte estão intimamente ligados. Na verdade, não se tem um problema
anterior para o qual é estabelecido um recorte no interesse de viabilizar a pesquisa, e
nem se tem um recorte prévio dentro do qual vão surgindo os problemas que o
historiador se empenhará em examinar, como em um estudo de caso (BARROS, 2007, p.
175).
A preocupação dos micro historiadores em evitar generalizações simplificadoras pode
levá-los a novos modos de estruturação do texto e que nem sempre coincidem com os
que têm sido empregados pela historiografia tradicional. Com relação a isto, não é raro
que os micro historiadores experimentem efetivamente novos modos de exposição
textual. A Micro-História tende a trabalhar com a ideia de que expor o texto de um
determinado modo é favorecer certa maneira de ver e por isto alguns dos principais
expoentes desse novo modo de abordar a História costumam dar tanta importância aos
aspectos mais propriamente literários de suas narrativas (BARROS, 2007, p. 176).
Os historiadores incorporam às suas explicações, os procedimentos de pesquisa em
si, as limitações documentais, as técnicas de presunção e as construções interpretativas.
Essa forma narrativa rompe com a historiografia tradicional ao apresentar a realidade
como objeto. Na Micro-História o ponto de vista do pesquisador é parte essencial da
narrativa. O processo de pesquisa é explicitamente descrito, as limitações documentais
são expostas, a formulação de hipóteses e as linhas de pensamentos seguidas, não são
mais implícitas, escamoteadas (LEVI, 1992, p. 153).
Em sua narrativa o micro historiador busca explorar as diversas possibilidades de
escrever um texto polifônico, no qual o ponto de vista vai se deslocando ao invés de ser
apresentado como um ponto de vista unificado por um narrador exterior que seria o
próprio historiador (BARROS, 2007, p. 176). Outra forma de se compreender de maneira
integral o que se propõe com a abordagem micro historiográfica refere-se ao tratamento
intensivo com as fontes, com a peculiaridade de observar os indícios que ajudarão a
18

construir outra análise historiográfica como uma reinterpretação. O modo predominante


de analisar as fontes na Micro-História é como usado por Carlo Ginzburg que o chama de
“paradigma indiciário”14. Implica também naquilo que se denomina “análise intensiva” das
fontes (BARROS, 2007, p. 17).
Nessa abordagem o que se procura é a convicção de que a escolha de uma escala
peculiar de observação fica associada a efeitos de conhecimentos específicos e que tal
escolha pode ser posta a serviço de estratégias de conhecimento. Para explicar, usamos
a metáfora de que focalizar um objeto não é unicamente aumentar ou diminuir seu
tamanho no visor, e sim modificar sua forma e sua trama. A escolha de uma ou outra
escala de representação não equivale a representar em tamanhos diversos uma
realidade constante, e sim a transformar o conteúdo da representação mediante a
escolha do que é representável (REVEL, 2010, p. 438).
Segundo Bourdieu (2004), para compreender uma produção cultural, seja ela
literária, científica ou de qualquer outra natureza, não basta referir-se ao seu contexto de
produção ou tampouco referir-se ao seu contexto social, contentando-se em estabelecer
uma relação direta entre texto e contexto. Ao contrário, para o autor:

Existe um universo intermediário que chamo de campo literário, artístico,


jurídico, científico, isto é, o universo no qual estão inseridos os agentes e
as instituições que produzem, reproduzem ou difundem a arte, a
literatura ou a ciência. Esse universo é um mundo social como os outros,
mas que obedece a leis sociais mais ou menos específicas (BOURDIEU,
2004 p. 20).

Ao apresentar a ideia de campo, o autor destaca que o espaço (campo) é


relativamente autônomo, formando um microcosmo dotado de suas leis próprias. No
entanto, possui uma autonomia parcial, principalmente em relação ao macrocosmo.
Dessa forma, uma das grandes questões tratadas pelo autor, se refere aos campos (ou
subcampos) científicos, suas disciplinas e o grau de autonomia que eles usufruem. Pois,
para Bourdieu: “O campo científico é um mundo social e, como tal, faz imposições,
solicitações, etc., que são, no entanto, relativamente independentes das pressões do
mundo social global que o envolve” (BOURDIEU, 2004, p.22). Dessa forma, ressalta que
os campos são como microcosmos relativamente autônomos:

Dizemos que quanto mais autônomo for um campo, maior será o seu
poder de refração e mais as imposições externas serão transfiguradas, a
ponto, frequentemente, de se tornarem perfeitamente irreconhecíveis. O
grau de autonomia de um campo tem por indicador principal seu poder

14 O paradigma indiciário tem a sua origem na segunda metade do século XIX e revela as possibilidades
epistemológicas abertas pelas obras do crítico de arte Giovanni Moroni; romancista Conan Doyler; e
psicanalista Sigmund Freud (GINZBURG et al. 1980, p. XI).
19

de refração, de retradução. Inversamente, a heteronomia de um campo


manifesta-se, essencialmente, pelo fato de que os problemas exteriores,
em especial os políticos, aí se exprimem diretamente (BOURDIEU, 2004,
p.22).

Nessa perspectiva “Todo campo, o campo científico por exemplo, é um campo de


forças e um campo de lutas para conservar ou transformar esse campo” (BOURDIEU,
2004, p.22-23). É na relação entre essas forças, nas lutas entre os diferentes agentes,
que se criaram os espaços. Esses mesmos agentes são responsáveis pelo comando das
intervenções científicas, dos lugares de publicação, dos temas que escolhemos para
pesquisa, dos objetos de estudos. Terão maiores oportunidades no campo os agentes
com maior capital de crédito científico e que ocuparem uma boa posição. Para o autor: “É
a estrutura das relações objetivas entre os agentes que determina o que eles podem e
não podem fazer. É a posição que eles ocupam nessa estrutura que determina ou
orienta, pelo menos negativamente, suas tomadas de posição” (BOURDIEU, 2004, p.22).
Assim, a estrutura de um campo é definida pela distribuição do capital científico ou, dito
de outra forma, os agentes (indivíduos ou instituições) caracterizados pelo volume de seu
capital determinam a estrutura do campo em proporção ao seu peso, que, por sua vez,
depende do peso de todos os outros agentes, isto é, de todo o espaço. Para Bourdieu,
cada campo é o lugar de constituição de uma forma específica de capital. Assim, o capital
científico é uma espécie particular do capital simbólico que consiste no reconhecimento
(ou no crédito) atribuído pelo conjunto de pares-concorrentes no interior científico
(BOURDIEU, 2004). No entanto, é importante ressaltar que um campo não se orienta
totalmente ao acaso.
Outro conceito de Bourdieu relevante para a nossa discussão sobre o campo
disciplinar da Museologia e da Conservação é o de habitus que, de uma forma sintética,
pode ser entendido como a ponte entre o que é individual e coletivo. Para o autor:

Habitus, isto é, maneiras de ser permanentes, duráveis que podem, em


particular, leva-los a resistir, a opor-se às forças do campo. Aqueles que
adquirem, longe do campo em que se inscrevem, as disposições que
não são aquelas que esse campo exige, arriscam-se, por exemplo, a
estarem sempre defasados, deslocados, mal colocados, mal em sua
própria pele, na contramão e na hora errada, com todas as
consequências que se possa imaginar. Mas eles podem também lutar
com as forças do campo, resistir-lhes e, em vez de submeter suas
disposições às estruturas, tenta modificar as estruturas, tentar modificar
as estruturas em razão de suas disposições, para conformá-las às suas
disposições (BOURDIEU, 2004, p.28-29).

Complementando o conceito de habitus, Bourdieu reforça a ideia de que todo


campo, seja a sua representação como a sua realidade, é sempre objeto de luta.
20

Acrescenta ainda que a diferença entre um campo e um jogo é que “o campo é um jogo
no qual as regras do jogo estão elas próprias postas em jogo” (BOURDIEU, 2004, p.28-
29). Já sobre as propriedades específicas dos campos científicos, Bourdieu afirma que
“quanto mais os campos científicos são autônomos, mais eles escapam às leis sociais
externas” (BOURDIEU, 2004, p.30). Destacando, contudo, que existe um paradoxo com
relação à produção de “pulsões destrutivas” e ao controle dessas mesmas pulsões pelos
campos. Para o sociólogo:

Quanto mais um campo é heterônomo, mais a concorrência é imperfeita


e é lícito para os agentes fazer intervir forças não-científicas. Ao
contrário, quanto mais um campo é autônomo e próximo de uma
concorrência pura e perfeita, mais a censura é puramente cientifica e
exclui a intervenção de forças puramente sociais (argumento de
autoridade, sanções de carreira etc.) e as pressões sociais assumem a
forma de pressões lógicas, e reciprocamente: para se fazer valer aí, é
preciso fazer valer razões; para aí triunfar, é preciso fazer triunfar
argumentos, demonstrações e refutações” (BOURDIEU, 2004, p.30).

Para Bourdieu, o campo é o lugar onde convivem duas formas de poder que, por
sua vez, correspondem a duas espécies de capital científico, o poder temporal ou político
e o poder específico ou prestígio pessoal. O primeiro tipo corresponde ao poder
institucional e institucionalizado, consequência da ocupação de postos de comando e
direção nas instituições científicas, à participação em comissões e comitês de avaliação e
“ao poder sobre os meios de produção (contratos, créditos, postos etc.) e de reprodução
(poder de nomear e de fazer as carreiras) que ela assegura” (BOURDIEU, 2004, p. 36). O
segundo tipo de poder é resultado do reconhecimento dos pares ou dos mais destacados
entre eles e, de certa forma, independe das instituições.
Diretamente relacionado às disputas do campo científico está o que Bourdieu
denomina de capital científico. Esse pode ser dividido em capital científico de duas
espécies com leis de acumulação diferentes: o capital científico “puro” e o capital
científico da instituição. O primeiro é adquirido a partir das “contribuições reconhecidas ao
progresso da ciência, as invenções ou as descobertas (as publicações, especialmente
nos órgãos mais seletivos e mais prestigiosos, portanto aptos a conferir prestígio à moda
de bancos de créditos simbólicos, são o melhor indício) ” (BOURDIEU, 2004, p.36). Já o
segundo tipo, o capital científico da instituição, é consequência de estratégias políticas
que envolvem a participação em comissões, bancas de teses e de concursos, colóquios,
cerimônias e reuniões, entre outras atividades. As formas pelas quais o capital científico é
transmitido também divergem. Enquanto o capital científico “puro” é muito difícil de
transmitir na prática, exigindo “um longo e lento trabalho de formação, ou melhor, de
21

colaboração, que leva muito tempo” (BOURDIEU, 2004, p.36-37), as regras de


transmissão do capital científico institucionalizado se assemelham às de “qualquer outra
espécie de capital burocrático”, assumindo a forma de uma “eleição” “pura” como, por
exemplo, os concursos (BOURDIEU, 2004, p.37). Completando suas considerações
sobre esse tema, Bourdieu afirma que:

Por razões práticas, o acúmulo das duas espécies de capital é, como já


indiquei, extremamente difícil. E podem se caracterizar os pesquisadores
pela posição que eles ocupam nessa estrutura, isto é, pela estrutura de
seu capital científico ou, mais precisamente, pelo peso relativo de seu
capital “puro” e de seu capital “institucional: tendo, num extremo, os
detentores de um forte crédito específico e de um frágil peso político e,
no extremo oposto, os detentores de um forte peso político e de um frágil
científico (em especial, os administradores científicos)” (BOURDIEU,
2004, p.38).

Finalizando nosso entendimento sobre a caracterização do campo científico em


função das reflexões de Pierre Bourdieu, o último elemento a ser abordado é a autonomia
do campo científico. Para o autor “quanto mais a autonomia adquirida por um campo for
limitada e imperfeita” mais os “poderes temporais” poderão interferir em lutas exclusivas
do próprio campo (BOURDIEU,2004, p.38). Assim, “Toda estratégia de um erudito
comporta, ao mesmo tempo, uma dimensão política (específica) e uma dimensão
científica, e a explicação deve sempre levar em conta, simultaneamente, esses dois
aspectos” (BOURDIEU, 2004, p.41). Como forma de aumentar a cientificidade de um
determinado campo o sociólogo francês sugere como caminho o aumento da autonomia
desse mesmo campo, com a criação de “barreiras de entrada”. Nas palavras do próprio
autor:

Quer dizer que, nesses universos, para fazer progredir a cientificidade,


é preciso fazer progredir a autonomia, criando barreiras na entrada,
excluindo a introdução de armas não especificas favorecendo formas
reguladas de competição, somente submetidas às imposições da
coerência lógica e da verificação experimental (BOURDIEU, 2004, p.41-
42, grifo nosso).

Todas as ponderações de Bourdieu ajudam a entender como os campos


científicos são locais de disputa nos quais interesses diversos convivem. Principalmente
campos de natureza interdisciplinar como a Museologia e a Conservação.
22

1.2 A Museologia como Campo Disciplinar

Qualquer campo do conhecimento caracteriza-se por estar sempre em constante


mudança, com ressignificações que o colocam em consonância com o seu tempo. Com a
Museologia e a Conservação, não acontece de forma diferente, as duas disciplinas que já
se constituíram em uma única disciplina, há alguns anos caminham por trajetórias
diferentes. Contudo, felizmente, as duas ainda mantêm muitos pontos de contato.
Destacar, ainda que brevemente, a trajetória da Museologia ajuda a entender como a
Conservação começa a ganhar independência, principalmente a partir da especialização
das disciplinas científicas que fundamentam o campo da Conservação, como a Química,
Biologia e a Climatologia. Desta forma, salientamos, sobretudo, como a Museologia se
constituiu nas décadas de 1970, 1980 e 1990 buscando contextualizar o período em que
surgiram os primeiros cursos de especialização em Conservação no Brasil.
Autores contemporâneos se dedicam ao estudo da Museologia como disciplina,
investigando ainda suas relações com os conceitos de museu e de Museografia.
Ressaltamos que nossas considerações sobre esses termos se baseiam nas reflexões de
três teóricos do campo: Jesús Pedro Lorente15, Janick Daniel Aquilina16 e Waldisa Rússio
Camargo Guarnieri17.
Os autores utilizados concordam que os sentidos atribuídos aos termos mudaram
ao longo do tempo acarretando uma grande confusão terminológica. Jesús Pedro Lorente
afirma que “embora hoje em dia o termo museologia seja utilizado em todos os idiomas
para se referir à ciência que estuda museus, essa é uma convenção recente que procura
superar confusões terminológicas anteriores e variantes linguísticas, históricas e
nacionais” (LORENTE, 2012, p.15)18. As reflexões de Janick Daniel Aquilina caminham
na mesma direção quando afirma que pesquisas realizadas ao longo das últimas cinco
décadas confirmam a variedade de entendimentos em torno do termo Museologia que já
foi definida “como uma arte, uma prática, uma ciência, uma ciência aplicada, uma ciência

15Atualmente é Professor Titular do Departamento de História da Arte da Universidade de Zaragoza. É


Licenciado em Filosofia e Letras pela Universidade de Zaragoza. Especializado em Museologia pela École
Louvre. É doutor pela Universidade de Leicester (Reino Unido).
16 Atualmente trabalha no Ministério do Patrimônio canadense. É Mestre em Museologia pela Universidade

de Montreal. Possui bacharelado em sociologia. Tem interesse na história da museologia.


17 Museóloga e professora, graduou-se pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Ingressou

no serviço público estadual. Especializou-se com mestrado e doutorado na área de museologia.


18 No original: “aunque hoy em día el témino museologia está extendido em todos los idiomas para referirse a

la ciência que estudia los museos, se trata de uma convención reciente com la que se busca superar
anteriores confusiones terminológicas y variantes linguísticas, históricas y nacionales.” (LORENTE, 2012, p.
15, tradução livre).
23

em construção” (AQUILINA, 2011, p.1)19. O autor acrescenta que o seu objeto de estudo
também é alvo de discussão, sendo para alguns tudo o que se relaciona com a instituição
museu e com suas principais atividades, incluindo as coleções, a conservação, as
exposições, entre outras atividades. Para outros estudiosos o objeto de estudo da
Museologia é o objeto "musealizado20" (musealia21) e, numa visão mais filosófica
defendida por autores como Anna Gregorova e Zbyněk Stránský, a museologia trata da
relação específica entre homem e realidade, sendo o museu uma das formas de
expressão dessa relação (AQUILINA, 2011, p.1-2). A respeito das definições ao campo
da Museologia Waldisa Rússio questiona:

Como caminharam, ao longo da História, os museus, o fazer museal, a


Museologia, a profissão e a formação profissional? Se tivermos em conta
que as palavras que designam o conhecimento e o fazer e, até mesmo,
sua base institucional foram ‘abolidas’ ou esquecidas a ponto de serem
reinventadas, teremos uma ideia mais aproximada dos caminhos
percorridos (GUARNIERI, 2010, p. 245).

Aceitamos a proposta de Waldisa Rússio e buscamos entender como a


Museologia se constituiu a partir da análise dos caminhos percorridos. Para essa autora o
interesse por temas museológicos surgiu espontaneamente e foram, em um primeiro
momento, objeto de interesse de colecionadores. Para Rússio os trabalhos considerados
pioneiros são: o do holandês Samuel Quiccheberg, de 1565, que além de tentar elaborar
uma teoria das coleções propõe a organização da coleção de objetos do mundo em 5
(cinco) classes e 53 (cinquenta e três) sub-classes (AQUILINA, 2011, p. 4); o de Johann
Daniel Major, de 1674, intitulado Unvorgreiffliches Bedencken von Kunst – und
NaturalienKammern insgemein (Uma Consideração Imparcial das Câmaras de Arte e
Natureza)22 que discute a necessidade humana de coletar e propor maneiras de
organizar e conservar uma coleção (SCHULZ apud AQUILINA, 2011, p.5); o de Caspar
Friedrich Neickel, de 1727, intitulado Museographia; o de Denis Diderot, de 1765, um
ensaio sobre a organização racional do Louvre; o de Lafont de Saint - Yenne que durante
a Revolução Francesa clama em panfletos por “museus para o povo”; os do poeta

19 No original: “Thus, over the years, museology has been defined as an art, a practice, a science, an applied
science, a science in the making, etc.” (AQUILINA, 2011, p.1, tradução livre).
20
A musealização é uma forma de preservação. Inclui “uma série de ações sobre os objetos, quais sejam:
aquisição, pesquisa, conservação, documentação e comunicação” (Cury, 2005, p. 26).
21
Stránský, em 1970, propôs o termo musealia para designar as coisas que passam pela operação de
musealização e que podem, assim, possuir o estatuto de objetos de museu. (DESVALLÉES; MAIRESSE,
2013, p.57).
22 Tradução livre da versão em inglês: “An Unprejudiced Consideration of Chambers of Art and Nature”

(AQUILINA, 2011, p.5).


24

alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) sobre o aumento das coleções,
arranjo estético e função educacional dos museus; e o do etnólogo alemão Gustav
Friedrich Klemm que em 1837 elabora a primeira historiografia de museus “versando as
coleções de arte e de ciências na Alemanha (GUARNIERI, 2010, p. 243). Entre as
publicações citadas destacamos o manual Museografia: Guida per una giusta ideia ed un
utile allestimento dei musei, escrito por Neickel e revisado por Johann Kanold, que traz
descrições e comentários sobre conservação e catalogação de vários museus ou
gabinetes europeus do período, além de ser a primeira publicação em que aparece o
termo museografia (LORENTE, 2012, p.15). Assim, segundo os autores citados
anteriormente o termo museografia é anterior ao termo museologia cuja origem, ou
primeiro registro, ainda é objeto de estudo de diversos autores.
Ainda sobre o termo museografia, os Conceitos Chave (2013) nos informam que o
mesmo apresenta três sentidos específicos: o primeiro deles refere-se ao fato de na
contemporaneidade o termo ser utilizado como referência à parte prática ou aplicada da
Museologia, ou seja, o “conjunto de técnicas desenvolvidas para preencher as funções
museais, e particularmente aquilo que concerne à administração do museu, à
conservação, à restauração, à segurança e à exposição” (DESVALLÉES; MAIRESSE,
2013, p.58); o segundo sentido é o uso do termo museografia como “a arte da
exposição”; e o terceiro sentido baseia-se na etimologia da palavra que designava o
conteúdo de um museu e teria sido concebida para “facilitar a pesquisa das fontes
documentais de objetos, com o fim de desenvolver o seu estudo sistemático. Essa
acepção, que permaneceu ao longo de todo o século XIX, persiste ainda em algumas
línguas, particularmente na russa (DESVALLÉES; MAIRESSE, 2013, p.60).
Para Lorente (2012) o termo museologia é documentado em alemão pelo menos
desde 1839 com a publicação do livro de Georg Rathgeber cujo título em alemão é
Aufbau der niederländischen Kunstgeschichte und Museologie e em espanhol é
Estructura de la historia del arte y de la museologia holandesa (LORENTE, 2012, p.15).
Já para Peter Van Mensch a origem do termo situa-se na obra de Phillip Leopold Martin
intitulada Praxis der Naturgeschichte23, de 1869, utilizada como referência à “exposição e
preservação de coleções naturália”. Contudo, o uso generalizado do termo se dá após o
início da publicação24 de uma revista alemã sobre Museologia e antiguidades
denominada Zeits chrift für Museologie und Antiquitätenkunde sowie verwandte
Wissenschaften (LORENTE, 2012, p. 16). A seu editor, J.G. Theodor Grasse, é atribuída

23 Segundo Jesús Pedro Lorente, o termo Museologia aparece mais precisamente na segunda parte da
publicação de P.L. martin intitulada Dermoplastik und Museologie (LORENTE, 2012, p. 15).
24 Segundo Waldisa Rússio a revista alemã foi publicada entre os anos de 1878 e 1883. (GUARNIERI, 2010,

p. 244).
25

a frase: “Se alguém trinta ou mesmo vinte anos atrás tivesse falado ou escrito sobre
museologia como uma ciência, teria despertado em muitas pessoas um sorriso de
compaixão ou desprezo. Agora, isso é diferente” (KLAUSEWITZ apud LORENTE, 2012,
p.16)25. Essa frase de 1883, além de apresentar um debate que se intensificaria em
meados do século XX, fortalece a ideia da Museologia como disciplina relacionada às
questões técnicas, expositivas e de conservação. Nessa breve história dos termos,
Waldisa Rússio faz referência a um periódico espanhol publicado em Madrid a partir de
1871 especializado em museus, arquivos e bibliotecas (GUARNIERI, 2010, p. 244).
Sobre as definições de museologia e museografia no século XIX, Janick Daniel Aquilina
afirma que: “Em suma, pode-se dizer que existem essencialmente dois pontos de vista
sobre museologia e museografia no século XIX. Elas podem ser entendidas ou como a
descrição dos museus e suas coleções ou como as técnicas associadas à gestão e
apresentação de coleções” (AQUILINA, 2011, p. 11)26.
Como a história do termo Museologia está diretamente relacionada à história dos
museus, apesar de não se restringir a eles, é possível associá-los para melhor
compreendê-los. Para atingir tal objetivo Waldisa Rússio Camargo Guarnieri apresenta
um panorama com cinco momentos fundamentais “da evolução dos museus, do fazer
museal, da profissão e da formação profissional” (GUARNIERI, 2010, p. 246). O primeiro
momento compreende a Antiguidade e o Museu de Alexandria é o exemplo maior ainda
que esse se afaste dos demais museus da Antiguidade e se aproxime mais do que
entendemos por campus universitário. Ainda assim, “Fala-se de museu e existe uma
prática museal, ancilar das ciências (que hoje diríamos básicas) e, por isso mesmo,
desempenhada pelos cientistas dessas áreas” (GUARNIERI, 2010, p. 247). O segundo
momento é a Renascença, momento em que se inicia a diferenciação entre as galerias
de arte e os gabinetes de curiosidades, entre Arte e Ciência. Surgem os primeiros
“conservadores” de museus: os produtores das obras. Para Guarnieri: “O fazer museal é,
nesse momento, essencialmente coleta e crescimento das coleções, e a noção de
restauro abarca desde a restauração verdadeira até a cópia para fins de segurança”
(GUARNIERI, 2010, p. 247). O terceiro momento marca a passagem do museu do
iluminismo para o Museu do Romantismo e os modelos emblemáticos são o Museu do

25 No original: “Si alguien hace treinta o incluso veinte años hubiera hablado o escrito de la museologia como
uma ciência, habria suscitado em muchas personas uma sonrisa de compassión o de desprecio. Ahora
claramente esto es distinto” (KLAUSEWITZ apud LORENTE, 2012, p.16, tradução livre).
26
No original: “In sum, it can be said that there are essentially two points of view regarding museology and
museography in the 19th century. It is understood either as the description of museums and their collections
or as the techniques associated with the management and presentation of collections” (AQUILINA, 2011,
p.11, tradução livre).
26

Louvre, do Prado e o Britânico. Nesse período ocorre a consagração dos museus que
passam a ser nacionais e seus “conservadores” dotados do “notório saber”. Para
Guarnieri, nessa altura “Museologia e Museografia são então sinônimos, e o clímax da
reflexão, à Museologia como ciência dos museus ” (GUARNIERI, 2010, p. 248, grifo da
autora). O quarto momento da evolução dos museus, que corresponde ao crescimento
das cidades, à industrialização e à modernização, é caracterizado pela especialização e
pela profissionalização. Sobre esse momento Guarnieri afirma que:

O fazer museal, pela própria diversificação dos acervos e emergência de


novos públicos, abandona a mera descrição, passando pela prática e
absorção de técnicas que, entretanto, ainda estarão demasiadamente
centradas no conhecimento físico-externo dos objetos; mas, aos poucos,
evolve para uma Museologia que é conhecimento suscetível de ser
transmitido (disciplina acadêmica, conhecimento formalizado)
(GUARNIERI, 2010, p. 249).

O quinto momento corresponde à atualidade27 descrita como uma época de


rápidas e profundas mudanças sociais, de evidenciar os conflitos e desigualdades
sociais. Nesse contexto, o papel dos museus é questionado tanto no que se refere à sua
filosofia como à sua ação prática. A Museologia caminha para a interdisciplinaridade
assim como a necessidade de profissionalização (GUARNIERI, 2010, p. 249).
Em 1946, com o apoio da UNESCO28, é criado o Conselho Internacional de
Museus – ICOM29 para promover os interesses da museologia e de outras disciplinas
relacionadas à gestão e às atividades dos museus (educação, exposição, documentação,
conservação, entre outras). Muitos museólogos e profissionais de museus faziam parte
de sua direção. Nas décadas seguintes, os pesquisadores da área da museologia se
dedicaram a investigar as bases teóricas e conceituais desta disciplina. Um dos principais
questionamentos era responder se a museologia era uma ciência e qual seria seu objeto
de estudo.
Paralelamente a UNESCO organiza vários seminários voltados para a temática
do campo dos Museus e dentre destes citamos o Seminário Internacional de Museus
Regionais que analisou a Função Educativa dos Museus, realizado no Rio de Janeiro, em
1958. Outro que vale a pena chamar a atenção foi o Quinto Seminário Regional da
UNESCO, realizado no México, em 1962 com a temática “Museu e Comunidade”. Por

27 O texto foi publicado em 1989, portanto, atualidade se refere ao período final do século XX.
28 UNESCO é sigla para Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. Foi fundada,
em 1946, com o objetivo de contribuir para a paz e segurança no mundo, através da educação, da ciência, da
cultura e das comunicações.
29
O museólogo Mário Barata, participou da criação do ICOM, o que “foi decisivo para que, no mesmo ano,
fosse criada no Brasil a representação nacional do ICOM” (CHAGAS; NASCIMENTO JUNIOR, 2007, p.38).
27

outro lado, Luigi Salermo, em texto denominado “Museo e Collezione”, afirmava que a
museologia se ocupava de todos os problemas do museu e sua finalidade é estudar,
30
conservar, relacionar e tornar acessível para atualidade os testemunhos da civilização
(CHAGAS, 1994, p.15).
Nesse sentido, destacamos igualmente o I Simpósio sobre Teoria Museológica,
realizado na cidade de Brno, Tchecoslováquia, cujo debate foi centrado em torno da
seguinte questão: qual seria o objeto de estudo da museologia? Contudo, ao final do
evento, seus participantes não chegaram a um consenso a este respeito. Segundo Van
Mensch:

Nos anos 1970, o conceito de Museologia como ciência dos museus foi o
ponto de vista dominante na República Democrática Alemã, a partir das
dissertações dos alemães J. Jahn (1979) e de K. Schreiner (1982) (
MENSCH, 1994, p.5).

Nas décadas de 1970 a 1980, os pesquisadores Awraam M. Razgon, Josef Benes


e Klaus Schreiner, elaboram suas concepções acerca da Museologia e enfatizaram que
uma das atribuições da área seria a preservação dos objetos e das coleções (MENSCH,
1994, p.5). Essas mesmas décadas foram marcadas por muitos movimentos sociais,
como a luta pelos direitos civis, o feminismo, as manifestações contra as ditaduras na
América Latina, além dos movimentos para descolonização, sobretudo em muitos países
do continente africano. Acenando para uma mudança na concepção do conceito de
patrimônio. Segundo Chagas e Nascimento Junior (2007), a musealização como prática
específica ultrapassou a fronteira dos museus institucionalizados e foi além:

Tudo passou a ser museável ou passível de musealização [...] casas,


fazendas, escolas, fábricas, estrada de ferro, músicas, minas de carvão,
cemitérios, gestos, campo de concentração, sítios arqueológicos,
notícias, planetários, jardins botânicos, festas populares, reservas
biológicas - tudo isso poderia receber o impacto de um olhar
museológico (Chagas e Nascimento Junior, 2007).

Nesse sentido, podemos considerar o processo de musealização como uma forma


de preservação. Assim, “O objeto portador de informação, ou objeto-documento
musealizado, inscreve-se no coração da atividade científica do museu” (DESVALLÉES;
MAIRESSE, 2013, p. 57). A musealização, como processo científico, compreende
necessariamente o conjunto das atividades:

30Este texto foi publicado na Enciclopedia Dell’Arte, vol. IX, Veneza/ Roma, em 1962. (CHAGAS, 1994, p.15).
28

De preservação (seleção, aquisição, gestão, conservação), de pesquisa


(e, portanto, de catalogação) e de comunicação (por meio da exposição,
das publicações, etc.) ou, segundo outro ponto de vista, das atividades
ligadas à seleção, à indexação e à apresentação daquilo que se tornou
musealia (DESVALLÉES; MAIRESSE, 2013, 2013, p.58).

Por outro lado, o próprio conceito e a função de museus serão postos em


perspectiva. No artigo: “Le musée: un temple ou un forum?” de Ducan Fergusou
Cameron, publicado em 197131, o autor questiona se o Museu deveria ser um templo ou
poderia ser voltado a pensar e debater as questões sociais.
Nesse âmbito em 1972, é realizada em Santiago do Chile uma reunião para se
debater a função social do museu. Essa reunião ficou conhecida como a “Mesa Redonda
do Chile32”, que resultou em um documento denominado Carta de Santiago. Assim, os
museus deveriam “intensificar seus esforços na recuperação do patrimônio cultural, para
fazê-lo desempenhar um papel social e evitar que ele seja disperso fora dos países
latino-americanos” (Carta de Santiago, 1972). Além disso, discutiriam o progresso frente
aos desafios que os países membros passavam em meio a diferentes crises e como isso
impactaria na visão de patrimônio e também nos museus. Segundo Araújo e Bruno, a
ideia compartilhada:

Desperta a atenção dos profissionais para todo um patrimônio à espera


de musealização, para a importância da participação comunitária em
todas as instâncias museológicas e impôs novos métodos de trabalhos
(ARAÚJO e BRUNO, 1995, p.6).

Nessa época, em 1971, surge outro conceito de museu, o Ecomuseu, criado por
Hugues de Varine e Henri Riviére “numa associação entre museu e meio ambiente,
museus integrados, museus de sítios, museus de bairros e de cidades” (CHAGAS, 2009,
p.209).
Já em 1976 é criado dentro do Comitê Internacional para a Museologia
(ICOFOM), como parte do ICOM e se tornando, desde então, um dos principais fóruns
para debates museológicos internacionais. Vinos Sofka, então presidente do ICOFOM,
entre os anos de 1977 a 1989, começa a questionarem congressos internacionais como
definir museologia e “qual a sua identidade como disciplina acadêmica e sua
consistência? Qual a sua estrutura científica própria? Qual a relação entre essa estrutura

31 CAMERON, Duncan. Le musée: un temple ou un forum (1971), pp. 77- 97 dans Vagues, une anthologie
de la nouvelle muséologie, Volume 1, Éditions W.M.E.S, France, 1992.
32 Segundo Varine (1995). Neste encontro única língua de comunicação seria o espanhol, e no qual os

especialistas convidados seriam todos latino-americanos. Como os participantes seriam eles mesmos
museólogos de alta reputação, nos pareceu inútil prever intervenção de outros museólogos (1995, p.18).
29

e outros campos de pesquisa e a que áreas estariam relacionadas?” (CERÁVOLO, 2004,


p.242). Pondo em perspectiva qual realmente seria a identidade da profissão.
Dessa forma, com apoio de especialistas foi organizada a publicação da Revista
Museological Working Papers (MuWop)33 e a publicação da ICOMFOM Study Series –
ISS34 “A MuWoP35 e o ISS se alinham ao principal objetivo enunciado pelo ICOFOM: o de
tratar a Museologia como área de pesquisa, ciência e disciplina acadêmica”
(CERÁVOLO, 2004). Em 1980, em sua primeira edição36, a temática era a seguinte: a
Museologia seria uma ciência ou somente um trabalho prático de museu? Já o número 2
da Revista Muwop37, de 1981, o tema central apresentado foi a interdisciplinaridade:

O tema sobre a interdisciplinaridade foi abordado por dois ângulos,


formando dois conjuntos de textos e grupos de discussão. O “grupo da
museologia” apresentando os pontos de vista entre interdisciplinaridade
e Museologia [...] E o “grupo de museu”, comentando a
interdisciplinaridade na relação entre museu e suas atividades
(CERÁVOLO, 2004, p.325).

Nesse sentido Stránský nos anos 1980, define Museologia como uma área que
tem uma natureza de ciência social, pertencente à esfera das disciplinas da memória e
documentação científica e contribui especificamente para a compreensão da sociedade
humana (STRANSKY apud BARAÇAL, 2008, p.31).
Em 1980 foi realizado no México o encontro do ICOM com o tema “Museologia
uma ciência em formação” que contou com a participação de vários especialistas, entre
eles Grevoverá, Klaus Schreinner, Stránský, Vinos Sofka, Waldisia Russo. Segundo
Klaus Schreinner: “A ciência médica não é a ciência dos hospitais, nem a pedagogia é a
ciência das escolas. Assim também a museologia não pode ser a ciência dos museus”
(SCHREINER,1981, p.58, tradução nossa)38. Já Gregorová considerava:

33 Editado pelo Comitê Internacional de Museologia – ICOFOM do Conselho Internacional de Museus ICOM
da UNESCO. Fazia parte do comitê editorial da revista V.T Jensen, W Klausewitz, A.M. Razgon e V. Sofka.
34 Esta publicação foi criada em 1983 para substituir a publicação MuWop.
35 Segundo Cerávolo (2004) “A denominação Museological Working Papers dada à natureza bilíngue do

ICOM passou a receber sua denominação também em francês DoTraM – Documents de travail sur la
muséologie. A abreviação e a denominação em inglês se estabeleceu como preferencial” (Cerávolo, 2004, p.
325).
36 Título original: Museology - Science or just practical museum work?. Vinoš (org.), MUWOP: museological

working papers/DOTRAM: documents de travail en Muséologie, Museology - science or just practical museum
work? Stockholm: ICOM, International Committee for Museology/ICOFOM; Museum of National Antiquities, v.
1, 1980.
37
Título original: Interdisciplinarity in museology. Vinoš (ed.), MUWOP: museological working papers/
DOTRAM: documents de travail en Muséologie. Interdisciplinarity in Museology. Stockholm: ICOM,
International Committee for Museology/ ICOFOM/Museum of National Antiquities, v. 2, 1981.
38 No original: “Medical science is not the science of hospitals, neither is pedagogy the science of schools. So

museology cannot be the Science of musems A ciência médica não é a ciência dos hospitais, nem a
pedagogia é a ciência das escolas. Assim também, a museologia não pode ser a ciência dos museus”
(SCHREINER,1981, p.58, tradução nossa).
30

Museologia é uma ciência que estuda a relação específica do homem


com a realidade, consistindo na coleta e na conservação conscientes e
sistemáticas de objetos inanimados, materiais e móveis (sobretudo
tridimensionais) que documentam o desenvolvimento da natureza e da
sociedade, fazendo uso pleno científico, cultural e educativo dos
mesmos (GREGOROVÁ, 1980, p.19, tradução nossa).39

Ainda na década de 1980, segundo CERÁVOLO, na Europa surge um grupo


germânico de teóricos de museus “com ideias similares inspiradas em autores pós-
modernos como Walter Benjamin, Jean Baudrillard, Henri-Pierre, Jeudy e Herman Lubbe.
E cita a publicação Die elt als Museum de 1987”. Para este grupo, a questão central da
discussão era a musealização. Desse grupo, apenas Zbynek Stransky participava do
ICOM (CERÁVOLO, 2004, p.253). Ainda, segundo a autora, havia outro grupo:

Formado pelo departamento de Museums Studies (Leicester University)


com forte tendência ao estruturalismo. Pós-moderno, seguia autores
como Foucault, Barthes, Bourdieu e era dirigido por Susan Pearce,
contando com Eilean Hooper-Greenhill e Gaynor Kavanagh. Assentava-
se na ideia de museologia/atividade de museu. Produzira muitas
publicações, entre elas a nova museologia (The New Museology) em
conexão explicita para Van Mensch com o movimento francês da “nova
museologia” (CERÁVOLO, 2004, p.253).

Esses grupos não eram voltados ao estudo da Museologia como disciplina


acadêmica, por outro lado, em 1984, foi organizada em Quebec uma reunião cujo
objetivo retomou algumas questões debatidas na Mesa Redonda de Santiago do Chile.
As questões eram a função social do museu, a valorização de iniciativas locais e o
reconhecimento das variadas formas e tipologia de museus. Este encontro resultou em
um documento denominado Declaração de Quebec.
Dessa forma, surge em 1984, o Movimento Internacional da Nova Museologia
(MINOM). De acordo com Cerávolo (2004, p.254):

Não havia dúvidas sobre a função de preservação e educação


desempenhadas pelos museus, mas alguns pensadores questionavam a
posição dos museus estratificados numa hierarquia “de cima para baixo”
ou da instituição para o público. Tais questionamentos em relação à
Museologia tradicional provocaram descontentamentos que acabaram
por resultar no movimento da Nova Museologia (CERÁVOLO, 2004,
p.254).

39No original: “Museology is a science studying the specific relation of man to reality, consisting in purposeful
and systematic collecting and conservation of selected inanimate, material, mobile, and conservation of
selected inanimate, material, mobile, and mainly three-dimensional objects documenting the development of
nature and society and making a thorough scientific and cultural-educational use of them” (GREGOROVÀ,
1980, p.19).
31

O termo denominado como Nova Museologia teria surgido durante a reunião do


ICOFOM em Londres em 1983 “sobre o tema: museu, território, sociedade-novas
tendências novas práticas” o francês André Desvalles incorpora o termo ‘nova
museologia’ (CURY, 2005, p.50). Por outro lado, na opinião de Cury (2005) na realidade,
não é outra em contraste com a antiga, mas sim um modelo metodológico de interação
entre o patrimônio cultural e a sociedade (CURY, 2005, p.63). Já CERÁVOLO (2004),
considera:

O cerne dessa concepção de museu localizava-se numa noção ampla de


patrimônio, “dito patrimônio total”. Essa proposição casa-se com a
proposta de que os museus se dessacralizassem, se socializassem e se
envolvessem com populações ou comunidades, guiados pela
aproximação com do patrimônio, ampliando a noção desse e do que
poderia ser um acervo (e não os preterindo). A inserção da comunidade
no processo seria de tal monta que todos poderiam se tornar
“conservadores de museus” (CERÁVOLO, 2004, p. 260).

Peter Van Mensch (1994) apresenta um resumo sobre a trajetória das discussões
sobre Museus e Museologia debatidos e apresentados ao longo dos anos pelos teóricos
no ICOFOM, agrupando-as:

a) A museologia como estudo da finalidade e organização dos museus;


b) A museologia como estudo da implementação e integração de um
certo conjunto de atividades, visando à preservação e uso da herança
cultural e natural: 1. Dentro do contexto da instituição museu; 2.
Independente de qualquer instituição;
c) A museologia como estudo 1. Dos objetos museológicos, 2. Da
musealidade como uma qualidade distintiva dos objetos de museu.
D) A museologia como o estudo de uma relação específica entre homem
e realidade ( MENSCH, 1994, p.12).

Na década de 1990, o ICOFOM se regionaliza e é criado o ICOFOM-LAM (grupo


regional do ICOFOM para América Latina e Caribe), com o objetivo de desenvolver a
teoria museológica na região. Inicia-se a produção sistemática de teoria museológica em
português e espanhol. Atualmente existem diversos grupos de pesquisas que se dedicam
ao estudo da teoria e história da museologia.
32

1.3 Considerações sobre Museologia na contemporaneidade: a questão do patrimônio

Entre as tendências contemporâneas do pensamento museológico destacam-se


os estudos relacionados ao campo do patrimônio, que por sua natureza interdisciplinar
atraem um grupo considerável de pesquisadores. Chagas e Nascimento Junior (2007),
ambos estudiosos do campo da Museologia, acreditam que as relações entre museus e
patrimônio não nasceram e não se esgotaram no século XX. Assim, na atualidade as
categorias museu e patrimônio podem ser consideradas complementares e,
consequentemente, uma não se reduz obrigatoriamente a outra, ou seja, os museus não
são apêndices do campo patrimonial. Para os autores é possível pensar que os museus
“estão inseridos no campo patrimonial, mas, ainda assim, é forçoso reconhecer que têm
contribuído frequentemente, de dentro para fora e de fora para dentro, para forçar as
portas e dilatar o domínio patrimonial” (CHAGAS; NASCIMENTO JUNIOR, 2007, p.40).
Já com relação ao patrimônio cultural é possível afirmar que a nossa visão sobre o
mesmo foi ampliada graças às reflexões de Hugues de Varine-Boham que o categorizou
em três grandes grupos: o primeiro compreende os elementos e recursos naturais; o
segundo remete aos elementos não tangíveis tais como o conhecimento, as técnicas, o
saber fazer; e o terceiro reúne todas as coisas, objetos, artefatos e construções.
(LEMOS, 1985, p. 8-10). Como observamos acima, a diversidade de objetos de estudo
do campo do patrimônio cultural nos dá uma pista da diversidade dos estudos que estão
sendo realizados. Contudo, para tornar o tema ainda mais complexo precisamos
considerar outro elemento: a própria museologia.
Tereza Scheiner (2005) identifica três grupos da teorização em Museologia: um
que considera a teoria museológica como possível a partir de uma teoria do patrimônio,
consequentemente, para existir a Museologia dependeria de uma outra área de
pensamento; para o segundo grupo a teoria seria o resultado da prática museal, portanto,
onde não há práxis não há teoria; e para o terceiro grupo a Museologia seria uma filosofia
ou ciência. Nesse caso, a teoria seria a própria base da estrutura disciplinar. Scheiner é
uma das pesquisadoras que mais se aproxima dos conceitos de patrimônio e
patrimonialização, focando na diferenciação entre estes e os conceitos de museu e
musealização. O ponto central para a compreensão do pensamento de Scheiner é o
entendimento de que os conceitos de Museu e Patrimônio são apreendidos como
constantemente em processo, tornando instáveis todos os demais conceitos
relacionados. E, por estarem sempre em movimento, constituem-se na interface entre os
demais saberes. O Museu seria o termo fundador do campo e este, em função de
mudanças ocorridas na ciência e filosofia do mundo ocidental desde o final do século
33

XIX, apresenta uma mudança de sentido. Antes orientado para o objeto passa a ser
orientado para a sociedade e entendido como um fenômeno. Para a autora:

Torna-se, então, possível admitir o Museu como fenômeno,


independente de um local e de um tempo específicos, possível de existir
simultaneamente em muitos lugares, sob as mais diversas formas e
manifestações. Esta é a grande contribuição da pesquisa teórica em
Museologia, [...] que permitirá o desenvolvimento da Museologia e a sua
estruturação como campo disciplinar, dentro da ética da pluralidade
(SCHEINER, 1997, p.94).

Apesar da importância da referência história não é possível deixar de observar


que a categoria patrimônio, entendido como o resultado de valoração de um determinado
recorte do Real, trouxe uma ampliação para o campo da Museologia facilitando a relação
com outras categorias com as quais está intrinsecamente relacionado, tais como
memória, sociedade, identidade, ética e representação. Entender as relações entre o
Real e sociedade significa investigar os elementos históricos e antropológicos que
articulam os diferentes recortes do Real, a relação entre o todo e a parte, assim como o
estudo das dimensões material e institucional. Os conceitos de Real e identidade
articulam-se a partir do momento em que a identidade é a apropriação do Real pelo
pensamento, deixando a percepção sensorial em segundo plano. O que gera
conhecimento gera verdade através do conhecimento das coisas em sua verdade. O
nome das coisas define a identidade, havendo uma relação entre Ideia - Nome -
Significado. Dizer o nome das coisas é uma forma de instituir o Real. Uma característica
dos conceitos de identidade e identidade cultural, conceitos tão presentes no campo da
Museologia e do Patrimônio, é a subjetividade. Ao contrário do senso comum, autores
como Scheiner e Soares, argumentam que o conceito de identidade não diz respeito à
semelhança, mas se refere à subjetividade humana. Nesse sentido, Scheiner e Soares,
citando Heidegger, afirmam que;

Construída pela ‘consciência de si’, a identidade diz respeito a um


‘pertencer’ que quer dizer estar atrelado à unidade de um sistema. O
‘pertencer junto’ a algo (Zusammengehören), desta forma, significa um
‘pertencer’ que está subordinado a este ‘junto’, e não o contrário, de
modo que todo pertencimento só pode se dar na relação com o mesmo
(HEIDEGGER apud SOARES & SCHEINNER, 2010, p. 13).

Partindo do pressuposto de que o Real jamais poderá ser apreendido em sua


totalidade, e que só a partir de um dado recorte é possível analisá-lo, chega-se a
conclusão de que as coisas só existem na relação com as outras coisas. Nesta
perspectiva a ética não poderia ser imposta, pois reside no entendimento de que tudo
34

que existe é o que é. No campo da Museologia e do Patrimônio tal perspectiva aponta


para o reconhecimento e o respeito ao patrimônio mundial como meio de valorização das
diferenças culturais entre os povos, deslocando do centro do debate as noções de
patrimônio como herança material e de cultura superior ou evoluída. Como consequência
os agentes criadores e detentores de um dado patrimônio decidem os rumos que querem
dar aos seus patrimônios, colocando em segundo plano os agentes estatais.
Na concepção de Scheiner, a Museologia já pode ser entendida como o campo
disciplinar que trata das relações entre o fenômeno museu e as suas diferentes
aplicações à realidade, configuradas a partir das visões de mundo dos diferentes grupos
sociais. Integram o seu corpo teórico as análises de conjuntura, desenvolvidas a partir de
uma visão transdisciplinar, interligando as diferentes visões de natureza, cultura e
sociedade apresentadas pelos demais campos do conhecimento. “Nesse sentido, os
limites da Museologia serão definidos também na relação, melhor dizendo, no
cruzamento na interface com outros campos disciplinares” (SCHEINER, 2009, p.49). Ainda
de acordo com essa autora, a Museologia não trata dos museus, mas do fenômeno
museu, sendo um campo disciplinar específico com uma teoria própria. Nas suas
palavras:

Museologia, portanto, já pode ser entendida como o campo disciplinar


que trata das relações entre o fenômeno Museu e as suas diferentes
aplicações à realidade, configuradas a partir das visões de mundo dos
diferentes grupos sociais (SCHEINER, 2009, p.49).

Como contraponto ao pensamento de Scheiner, consideramos a concepção de


Museu e Museologia apresentada por Loureiro (2005). Segundo o autor, os inúmeros
estudos e reflexões acerca da Museologia não definem clara e profundamente o seu
estatuto epistemológico. Não há consenso quanto àquilo em que se constitui a
Museologia: alguns a consideram ciência enquanto outros a aproximam da Filosofia.
Cabe lembrar que atualmente os cursos de graduação e pós-graduação em Museologia
no Brasil são avaliados pela Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
- CAPES/MEC como sendo uma subárea da Comunicação e Informação. Até o ano de
2016 a Museologia era classificada como uma subárea das Ciências Sociais Aplicadas. A
mudança de área também provocou muitos questionamentos.
Para Loureiro (2005) a Museologia é um conjunto multidisciplinar de saberes e
discursos de caráter teórico e instrumental voltado para a medição das redes de
significados e sentidos produzidos pelos seres humanos. Assim, para o autor, Museologia
pode ser definida como:
35

O território de interdiscursos de ordem histórica, cultural e estética. Este


recorte objetivamente, por outro lado, postula processos modelizadores
de criação da linguagem museológica que originam os discursos
expositivos museológicos. Enfatiza-se o discurso expositivo tendo em
vista ser a exposição elemento essencial do museu e determinante das
práticas museológicas (LOUREIRO, 2005, p.29).

De acordo com o pensamento de Loureiro, a Museologia possui um solo teórico


ainda pouco cristalizado e em permanente mudança. Desse modo, tem a possibilidade de
reunir e organizar diferentes lógicas e esferas do conhecimento dispondo-as a serviço de
objetivos comuns. Sobre qual seria o objeto de estudo da Museologia, o autor questiona
o “real” enquanto objeto de estudo. Para o autor, as referências ao objeto de estudo da
Museologia devem ser feitas no plural: “objetos de estudo”. Neste caso, pluralidade não
significa totalidade, mas pressupõe uma articulação vinculada orgânica e essencial.
A pesquisadora Marilia Xavier Cury (2009) entende a Museologia a partir de um
ternário: homem/sociedade, patrimônio/objeto e cenário/território. Em suas palavras:
“Assim, a produção da museologia pode ser considerada aquela em que o objeto de
estudo trata do ternário, mesmo que considerando uma de suas partes, sem perder, no
entanto, a perspectiva do todo” (CURY, 2009, p.29). A autora argumenta que a
Museologia é uma transdisciplina em formação fazendo com que a aproximação e
reciprocidade com outras áreas seja essencial para a construção da transversalidade, da
estrutura epistemológica transdisciplinar e do quadro teórico-conceitual (CURY, 2009,
p.29). Sobre o objeto da museologia e sua conservação, esse é aquele que foi retirado do
contexto natural ou circuito econômico e/ou funcional, adquirindo um estatuto
diferenciado. Para Cury “O objeto museológico não é um objeto em um museu e sim
aquele que sofre as ações que compõem a musealização por meio do processo
curatorial” (CURY, 2009, p.33).
Suely Moraes Cerávolo (2009), outra pesquisadora do campo, considera que
como área de conhecimento a Museologia conta com uma história a ser rememorada. Os
delineamentos para a formação da teoria museológica foram gerados no plano
internacional, principalmente no decorrer das décadas de 1970 e 1980. De acordo com a
autora:

A museologia como área de conhecimento científico se concretiza sobre


indícios variados do patrimônio Cultural e natural (o objeto), em qualquer
lugar que eles se apresentem (o lugar), através de procedimentos de
preservação, conservação, documentação, exposição, educação,
divulgação de conhecimentos (os instrumentos) (CERÁVOLO, 2004,
p.207).
36

Rangel (2015) afirma que “O museu no século XXI se apresenta como uma
instituição paradigmática das atividades culturais. São espaços altamente complexos que
devem ser compreendidos em todas as suas nuances”. Para o autor a museologia não
possui uma concepção que seja comum a todos que se debruçam sobre a discussão da
área:

[...] o museu é “uma estrutura altamente complexa, diretamente


relacionada ao homem e ao seu processo de desenvolvimento social,
político, científico e cultural.” [...] A rejeição do museu como objeto de
pesquisa foi o sintoma de determinada conjuntura sociocultural que não
cabe nos dias atuais. Cada vez mais o museu se apresenta como um
objeto múltiplo e complexo e exige nossa análise sobre a discussão da
área (RANGEL, 2015, p 416).

Para finalizar é possível afirmar que tanto a Museologia como o Patrimônio estão
em constante reelaboração e transformação. Desta forma, todas as discussões sobre
Museologia, Patrimônio ou sobre “os objetos de estudos da museologia” nos levam a
perceber que a preservação e a conservação do patrimônio constitui uma importante
estratégia para que possamos compreender parte da história e da cultura dos grupos e
dos atores sociais. Por outro lado, a Museologia e o patrimônio estão sujeitos, muitas
vezes, às manipulações políticas e/ou a serem usados ideologicamente.

1.4 A interface entre Museu, Conservação, Museologia e Preservação: as bases da


formação profissional

A trajetória traçada até o momento permite afirmar que os pontos de contato entre
os museus, a Conservação, a Museologia e a Preservação são inúmeros. Mais do que
pontos de contato, para alguns estudiosos, como Dominique Poulot, o Museu e a
Conservação estão intrinsecamente relacionados. Nas palavras do autor: “O vínculo entre
museu e conservação foi determinante para a emergência e o desenvolvimento da
instituição” (POULOT, 2013, p.22). Contudo, se o Museu e o conceito de Museologia
sofreram alterações ao longo do tempo o mesmo pode ser dito com relação ao de
Preservação. Esse último conceito, considerado em uma visão muito próxima do senso
comum, como sinônimo de Conservação e/ou Restauração, é entendido atualmente de
forma mais ampla. Solange Zúñiga (2002) ao tratar da importância da Preservação para
arquivos públicos e privados aborda um ponto crucial quando fala de Preservação: o
desencontro entre preservação e acesso. No contexto tratado pela autora o problema
está colocado para os acervos arquivísticos, mas podemos expandir o mesmo para as
diversas tipologias de acervo e utilizá-lo como um dos elementos de análise da interface
37

entre Museologia e Preservação. Essa possibilidade é aberta justamente pelo


entendimento lato sensu do conceito de Preservação. Para a autora:

O desencontro aparente parece ter sido fruto de uma época em que a


atividade de preservação, então compreendida como equivalente a
restauração, concentrava-se quase que exclusivamente no tratamento
dispensado a itens individuais, e apenas a eles. Restauradores
“refaziam” o que o público desfazia, o que os levava a evitar que esse
público tivesse acesso aos bens mais valiosos, entrando em fragosa
colisão com os arquivistas, sequiosos por bem cumprir sua função de
disponibilizar esses mesmos bens (ZÚÑIGA, 2002, p. 71).

Desses descompassos surgem os problemas que até hoje afetam a gestão dos
museus. Retornando às reflexões de Zúñiga, para a pesquisadora no momento atual, os
profissionais de preservação já conseguem entender o problema de uma forma mais
abrangente, considerando que o estado físico de um único bem está relacionado com um
sistema de preservação que “vai desde o documento propriamente dito até o edifício,
tudo devidamente intermediado pelas condições ambientais” (Zúñiga, 2002, p. 71-72). A
mesma autora nos informa que Preservação, no âmbito das instituições arquivísticas, “é
entendida de forma extremamente abrangente, compreendendo todas as ações
desenvolvidas pela instituição visando a retardar a deterioração e possibilitar o pleno uso
de todos os documentos arquivísticos sob sua custódia” (Zúñiga, 2002, p. 73). A autora
ainda discorre sobre a desconfiança com que as ações de conservação preventiva foram
recebidas entre os conservadores e restauradores, que as consideravam de menor
importância. Um ponto importante de seu trabalho é a tabela de autoria de Lisa Fox que
considera a Preservação um “guarda-chuva sob o qual se abrigariam tanto as atividades
preventivas quanto interventivas” (FOX apud Zúñiga, 2002, p. 74). Abaixo a tabela
apresentada por Lisa Fox segundo Solange Zúñiga:

Tabela 01: Tabela com os conceitos de Preservação, Conservação Preventiva e


Conservação/Restauração. Fonte: Zúñiga, 2002, p.75.
38

A publicação Conceitos Chave da Museologia (2013) envereda por essa mesma


direção entendendo preservar em um sentido amplo. Além disso, preservar representa o
que é essencial para os museus e um dos eixos da ação museal (o outro eixo é o da
difusão aos públicos). Para os autores dos Conceitos Chave “Na museologia, a
preservação engloba todas as operações envolvidas quando um objeto entra no museu,
isto é, todas as operações de aquisição, entrada em inventário, catalogação,
acondicionamento, conservação e, se necessário, restauração” (DESVALLÉES;
MAIRESSE, 2013, p.79). Orientaria, assim, políticas que englobam critérios e
procedimentos de aquisição do patrimônio material e imaterial, gestão e conservação dos
objetos de museus.
Cabe ressaltar aqui as considerações feitas nesta mesma publicação sobre
Conservação, que inclui, ainda, definições para conservação preventiva, conservação
curativa e restauração. Além disso, em um primeiro momento, é apontado que as
“atividades de conservação têm por objetivo fornecer os meios necessários para garantir
o estado de um objeto contra toda forma de alteração, a fim de mantê-lo o mais intacto
possível para as gerações futuras” (DESVALLÉES; MAIRESSE, 2013, p.79-80). A
afirmação feita em um dado momento de que “Em sua prática, o conceito de
‘conservação’ é comumente preferido em detrimento ao de ‘preservação’” pelos
profissionais de museu chamou nossa atenção. Apesar dos autores recorrerem à
tradição, surgida após a Revolução Francesa, que passa a designar os profissionais
museais como conservateurs para justificar tal assertiva, não me parece que a mesma
ainda se aplique.
Uma observação interessante é feita com relação ao atual conceito de museu40 do
Comitê Internacional de Museus (ICOM) que utiliza do termo “conservação” para incluir
as noções de aquisição e de conservação. Ainda que o termo conservação seja utilizado
em um sentido mais amplo, englobando o inventário e o acondicionamento em reserva,
não deixa de ser esse um importante elemento de análise. Poderíamos nos perguntar: o
ICOM tem uma visão conservadora da instituição museu? Não é possível responder
apenas a partir da definição de museu, mas a questão nos remete certamente as
disputas do campo científico apontadas por Pierre Bourdieu. Os autores apontam que
essa visão difere da do Comitê de Conservação do ICOM (ICOM-CC) mais ligado às
atividades de conservação e de restauração do que à gestão ou ao regimento de

40 “Um museu é uma instituição permanente sem fins lucrativos ao serviço da sociedade e seu
desenvolvimento, aberto ao público, que adquire, conserva, pesquisa, comunica e exibe o patrimônio tangível
e intangível da humanidade e seu ambiente para fins de educação, estudo e diversão.” ICOM Statutes,
adopted by the 22nd General Assembly (Vienna, Austria, 24 August 2007) Article 3 - Definition of Terms,
section 1. Disponível em: http://archives.icom.museum/hist_def_eng.html. Acesso em: 20/11/ 2017.
39

coleções. Como consequência desse duplo entendimento surgiu, segundo os autores dos
Conceitos Chave, “um campo profissional distinto, o dos arquivistas e gestores de
coleções. O conceito de preservação serve para dar conta desse conjunto de atividades”
(DESVALLÉES; MAIRESSE, 2013, p.81). Um último aspecto apontado pelos autores são
os novos problemas do campo da preservação: os problemas relacionados às fronteiras
entre preservação e comunicação ou pesquisa; as políticas de aquisição e de alienação
do patrimônio; as questões sobre “o que conservar e o que rejeitar” e a aquisição de
“objetos patrimoniais imateriais” que obrigam ao estudo de novas técnicas de
conservação (DESVALLÉES; MAIRESSE, 2013, p.81).
O último ponto de análise neste primeiro capítulo compreende a discussão em
torno da formação do conservador, durante muitos anos associada aos museus e ao
campo da Museologia. Já há alguns anos percebe-se a tentativa de independência do
campo com a criação de cursos de especialização, mas esse movimento de
emancipação ganhou força com o surgimento de cursos específicos para formação de
conservadores em universidades brasileiras.
A proximidade da Conservação com o mundo dos museus e da Museologia pode
ser percebida de diversas formas, incluindo os treinamentos de Museologia. A não mais
existente Associação de membros do ICOM – AMICOM publicou no ano de 1977,
Introdução ao estudo dirigido de museologia com questões sobre as diversas atividades
de um museu acompanhadas de bibliografia específica. Suas autoras, Fernanda de
Camargo e Almeida-Moro e Lourdes M. Martins do Rego Novaes, acreditavam que:

Não podemos esquecer do mecanismo que o museu necessita para sua


sobrevivência e, é aí que está o trabalho do museólogo: na
documentação, na classificação, na leitura museológica, na pesquisa, na
manutenção e conservação das coleções, no planejamento das
exposições, na cooperação de apoio a ação educativa e cultural
integrada, bem como na planificação dos museus (ALMEIDA; NOVAES,
1977, p. 11).

Um dos capítulos deste livro é dedicado à Manutenção e Conservação das


Coleções. Possui 32 perguntas sobre os mais diversos temas relacionados à área, tais
como, formas de acondicionamento do acervo, mobiliário adequado, condições
ambientais adequadas a guarda à de acervos, iluminação, espaços adequados para
construção de museus, cuidados necessários para exposição de objetos, entre outros
itens (ALMEIDA; NOVAES, 1977, p. 48-50). A bibliografia sugerida também se mostra
bem diversificada e completa ocupando um total de 15 páginas e nela constam nomes
como Gaël de Guichen (ALMEIDA; NOVAES, 1977, p. 50-64).
40

Nossas reflexões sobre a formação do conservador foram norteadas a partir de


dois documentos: o primeiro elaborado pelo ICOM em 1984 intitulado: O conservador-
restaurador: uma definição da profissão e um segundo documento, de 2008, também
elaborado pelo ICOM e que normatiza alguns dos conceitos usados no campo da
Conservação-Restauração. O documento O conservador-restaurador: uma definição da
profissão foi elaborado pelo comitê do ICOM para restauração, através do grupo de
trabalho para a Formação em Conservação e Restauração. Assim:

Este documento é baseado em um texto alemão41, preparado por Agnes


Ballestrem e submetido, enquanto que documento de trabalho, ao
Comitê de normas e formação do ICCROM, por ocasião de sua reunião
em novembro de 1978. O grupo de trabalho para formação em
conservação e restauração do Comitê do ICOM para conservação
discutiu pela primeira vez este documento em sua reunião de Zagreb em
1978. Uma versão revisada foi apresentada nas publicações preliminares
da reunião trienal do Comitê de Conservação em 1981 em Ottawa,
Canadá (referência 81/22/0) com uma introdução de H. C. Von Imhoff.
Ela foi reescrita por Eleanor McMillan e Paul N. Perrot. A nova versão foi
apresentada e adotada por unanimidade, com pequenas emendas,
durante a reunião provisória do Grupo de Trabalho para a formação em
conservação e restauração, em Dresden, a 5 de setembro de 1983. O
Documento foi submetido em seguida ao Conselho de Direção do
Comitê quando de sua reunião em Barcelona a 26 de novembro de
1983. O Conselho de Direção solicitou um estudo complementar da
redação desta Definição, antes que o Grupo de Trabalho a apresentasse
à totalidade do Comitê, no curso de sua reunião trienal em Copenhague,
em setembro de 1984. Esta última versão foi revisada por Raj Isar, Janet
Bridgland e Cristopher Von Imhoff entre novembro de 1983 e agosto de
198442.

A finalidade deste documento elaborado pelo ICOM é estabelecer os objetivos,


princípios e necessidades fundamentais da profissão de conservador-restaurador por
considerar que, na maioria dos países, a profissão de conservador-restaurador43 ainda
está em vias de definição ou consolidação. Assim, qualquer pessoa que restaura, é
chamado de conservador ou restaurador, qualquer que seja seu conhecimento e nível de
formação. De acordo com o documento cabe ao conservador-restaurador, as atividades

41
Artigo original em alemão: G.S. Graf Adelmann, “Restaurator und denkmalpflege” in Nachrichtenblatt der
Denkmalpflege in Baden-Württemberg,vol.8, n.3,1965
42
Fonte: ICOM-CC. The Conservator-Restorer: a Definition of the Profession. Copenhagen, September 1984.
ICOM Committee for Conservation.
Disponível: <http://icom.museum/fileadmin/user_upload/pdf/professions/Theconservator-restorer.pdf> Acesso
em: 29/06/2017.
43 Este termo é utilizado neste texto como uma adaptação, pois o mesmo profissional é chamado de

“conservador” nos países de língua inglesa e de “restaurador” nos países de língua latina ou germânica.
Boletim ABRACOR – ano VIII - Nº 1- julho de 1988.
41

relacionadas à Conservação-Restauração que consistem em exame técnico, preservação


e conservação-restauração de bens culturais. Assim, de acordo com o documento:

As atividades profissionais do conservador-restaurador diferenciam-se


daquelas das profissões artísticas e artesanais. Um dos critérios
fundamentais desta diferença é que por sua atividade conservador-
restaurador não cria objetos culturais novos. Reconstruir fisicamente
aquilo que já existe ou que não pode ser preservado é encargo do
artesanato ou de profissões artísticas como serralheiros, decoradores,
ebanistas, douradores, etc... Entretanto todos estes podem se beneficiar
consideravelmente com as descobertas e conhecimentos dos
conservadores-restauradores.
Por ser o risco de uma manipulação ou transformação nociva de um
objeto, inerente a toda intervenção de conservação ou restauração, o
conservador-restaurador deve trabalhar em estreita colaboração com os
responsáveis pelas coleções e com outros especialistas. Em conjunto
eles devem distinguir o necessário do supérfluo, o possível do
impossível, a intervenção que valoriza a qualidade do objeto daquela que
vai em detrimento de sua integridade.44

Interessante ressaltar que o mesmo documento destaca que está normativa foi
importante para poder distinguir a função da profissão do conservador das demais
profissões que também atuam e contribuem para o campo da conservação, como
arquitetos, cientistas, engenheiros especializados em conservação, pois já são sujeitos a
normas profissionais reconhecidas.45 Para tanto, os futuros conservadores-restauradores
devem receber uma formação artística, técnica e científica baseada em uma educação
completa e geral. Neste sentido, o documento aborda, ainda, a importância da
cooperação interdisciplinar como sendo de primordial importância, pois, atualmente, o
conservador-restaurador deve agir como membro de uma equipe. Ele não precisa ser um
grande conhecedor de arte ou história da cultura e também de química e/ou outras
ciências naturais ou humanas. Este documento está em consonância com o pensamento
de muitos teóricos do campo da Conservação, como, Paul Phillippot46, ao considerar que
a conservação-restauração não é uma mera atividade técnica, mas essencialmente uma
ação de caráter cultural. Sendo importante a atuação e colaboração interdisciplinar. Nas
Palavras do autor:

44 Fonte: Boletim ABRACOR – ano VIII - Nº 1- julho de 1988.


45
Fonte: Boletim ABRACOR – ano VIII - Nº 1- julho de 1988.
46 Paul Philippot (1925-2016) foi um dos fundadores do ICCROM, atuando como Diretor Adjunto de 1959 a

1971 e como Diretor até 1977. Um dos grandes estudiosos do campo da conservação. Na ocasião de sua
morte, o ICCROM publicou uma nota constando o resumo de sua atuação:>http://www.iccrom.org/paul-
philippot-1925-2016/ < Acesso em: 03/06/2017.
42

Pois se a restauração é hoje considerada um dos raros domínios em que


a cultura e a tecnologia do humanismo (a ciência humana e as ciências
exatas) podem ser feitas, é claro que não será capaz de se desenvolver
verdadeiramente na medida em que a sua gama A função cultural é
compreendida e sustentada pela sociedade47 (PHILIPPOT, 1996, p.228).

Seguindo essa linha de pensamento, Ségolène Bergeon (1996) no artigo “La


recherche en conservation-restauration: pour l’´émergence d’une discipline”, afirma que a
interdisciplinaridade requer a constituição de uma equipe de parceiros, de um lado a
paridade de responsabilidade e de consideração e de outro, usando um vocabulário
comum, os esforços não negligenciáveis das distintas partes:

Um cientista não tem o conhecimento sensível da matéria que tem um


restaurador, nem o reflexo cultural do historiador encarregado do projeto
global; O ofício do restaurador não consiste em fazer malabarismo com
os produtos químicos e nem em ser o especialista no microscópio
eletrônico de varredura; o historiador não pode ter o mesmo
conhecimento íntimo do material que seus dois parceiros. O essencial é
estar convencido de que cada um é importante e insubstituível. Além
disso, um certo tempo é necessário para a aquisição de um vocabulário
comum e preciso: o diálogo será então frutífero e a pesquisa
útil48(BERGEON, 1996, p.21).

Já a resolução do ICOM-CC, de 2008, ocorrida na 15ª Conferência, em Nova


Delhi49, buscou normatizar os conceitos do campo da Conservação. Dentre outros
conceitos apresentados, destacamos os conceitos de Conservação, Conservação
Preventiva e Restauração. Segundo esse documento foi acordado que as definições
seriam:

Conservação - Todas aquelas medidas ou ações que tenham como


objetivo a salvaguarda do patrimônio cultural tangível, assegurando sua
acessibilidade às gerações atuais e futuras. A conservação compreende
a conservação preventiva, a conservação curativa e a restauração.
Todas essas medidas e ações deverão respeitar o significado e as
propriedades físicas do bem cultural em questão. (tradução nossa)50

47 No original: “For if restauration is today considered one of the rare domains within which humanista culture
and technology (the human Science and the exact sciences) can merge, it is clear that it will not be able truly
to develop except to the extent that the range of its cultural function is understood and sustained by society”
(PHILIPPOT, 1996, p.228, tradução livre).
48
No original: “un scientifique n'a pas la connaissance sensible de la matière qu'a le restaurateur ni le réflexe
culturel de l'historien chargé du projet global; le métier du restaurateur ne consiste pas à jongler avec les
produits chimiques ni à être le spécialiste du microscope électronique à balayage ; l'historien ne peut avoir la
même connaissance intime de la matière que ses deux partenaires. L:essentiel est d'être convaincu que
chacun est important et irremplaçable. De plus, un certain temps est nécessaire pour l'acquisition d'un
vocabulaire commun et précis: le dialogue sera alors fructueux et la recherche utile” (BERGEON,1996, p.21,
tradução livre).
49
ICOM-CC- Terminology to characterize the conservation of tangible cultural heritage. Resolution adopted
by the ICOM-CC membership at the 15th Triennial Conference, New Delhi, 22-26 September 2008.
50
No original: “Conservation - all measures and actions aimed at safeguarding tangible cultural heritage while
ensuring its accessibility to present and future generations. Conservation embraces preventive conservation,
43

Conservação Preventiva - Todas aquelas ações que tenham como


objetivo evitar ou minimizar futuras deterioração ou perdas. Elas são
realizadas no contexto ou na área circundante ao bem, ou mais
frequentemente em um grupo de bens, seja qual for sua época ou
condições. Estas medidas e ações são indiretas - não interferem nos
materiais e nas estruturas dos bens. Não modificam sua aparência.
(tradução nossa)51
Conservação curativa - Todas aquelas ações aplicadas de maneira
direta sobre um bem ou um grupo de bens culturais que tenham como
objetivo deter os processos danosos presentes ou reforçar a sua
estrutura. Essas ações somente se realizam quando os bens se
encontraram em um estado de fragilidade adiantada ou estão se
deteriorando a um ritmo elevado, de tal forma que poderiam perder-se
em um tempo relativamente curto. Estas ações às vezes modificam
aspectos dos bens. (tradução nossa).52
Restauração - todas aquelas ações aplicadas de maneira direta a um
bem individual e estável, que tenham como objetivo facilitar sua
apreciação, compreensão e uso. Estas ações somente se realizam
quando o bem perdeu uma parte de seu significado ou função através de
alterações passadas. Baseia-se no respeito ao material original. Na
maioria dos casos, estas ações modificam os aspectos do bem.
(tradução nossa).53

Ainda, ao final do documento, é destacado o quanto é difícil se chegar a um


consenso sobre os conceitos e definições do campo. Justamente por não termos muitas
vezes variações de um mesmo termo ou conceito que dependem do idioma.
Com relação às profissões do campo museológico, os Conceitos Chave (2013)
trazem uma contribuição relevante a partir da caracterização do museógrafo e de sua
relação com outros profissionais de museu. Além disso, destaca a necessidade de que o
museógrafo (ou museólogo) conheça os métodos de conservação e contextualiza o
surgimento das especialidades profissionais. O perfil desejado para um museógrafo, que
no Brasil corresponderia ao museólogo, é o do profissional que:

remedial conservation and restoration. All measures and actions should respect the significance and the
physical properties of the cultural heritage item”. Fonte: ICOM-CC- Terminology to characterize the
conservation of tangible cultural heritage. Resolution adopted by the ICOM-CC membership at the 15th
Triennial Conference, New Delhi, 22-26 September 2008.
51 No original: “Preventive conservation - all measures and actions aimed at avoiding and minimizing future

deterioration or loss. They are carried out within the context or on the surroundings of an item, but more often
a group of items, whatever their age and condition. These measures and actions are indirect – they do not
interfere with the materials and structures of the items. They do not modify their appearance.” Fonte: ICOM-
CC- Terminology to characterize the conservation of tangible cultural heritage. September 2008.
52 No original: “Remedial conservation - all actions directly applied to an item or a group of items aimed at

arresting current damaging processes or reinforcing their structure. These actions are only carried out when
the items are in such a fragile condition or deteriorating at such a rate, that they could be lost in a relatively
short time. These actions sometimes modify the appearance of the items.” Fonte: ICOM-CC- Terminology to
characterize the conservation of tangible cultural heritage. September 2008.
53 No original: “Restoration – all actions directly applied to a single and stable item aimed at facilitating its

appreciation, understanding and use. These actions are only carried out when the item has lost part of its
significance or function through past alteration or deterioration. They are based on respect for the original
material. Most often such actions modify the appearance of the item.” Fonte: ICOM-CC- Terminology to
characterize the conservation of tangible cultural heritage. September 2008.
44

Leva em conta as exigências do programa científico e de gestão das


coleções, e busca uma apresentação adequada dos objetos
selecionados pelo conservador. Ele conhece os métodos de
conservação ou de inventário dos objetos de museu. Ele participa da
cenografia a partir dos conteúdos. (...) O seu papel como chefe ou
encarregado de um projeto é, sobretudo, o de coordenar o conjunto das
competências (científicas e técnicas), trabalhando no seio do museu
para organizá-las e, por vezes, confrontá-las e arbitrá-las. Outras
funções específicas foram criadas para realizar tais tarefas: a gestão de
acervos é muitas vezes conferida aos especialistas em documentação, o
chefe de segurança é responsável pela segurança e supervisão dos
espaços, o responsável pela conservação é o especialista na
conservação preventiva e nas medidas de conservação
reparadora/conservação curativa e de restauração. (...) Esses aspectos
fazem dos muséographes os intermediários entre os conservateurs, os
arquitetos e o público. Esses papéis variam, no entanto, e dependem de
o museu ou o espaço da exposição ter ou não um conservateur
liderando o projeto. O desenvolvimento do papel de alguns especialistas
dentro dos museus (arquitetos, artistas, curadores, etc.) levou a um
refinamento do papel do muséographe como intermediário
(DESVALLÉES; MAIRESSE, 2013, p.59-60).

Em uma das notas de rodapé do verbete dedicado à Museografia há uma


informação sobre o termo conservador que foi mantido nos Conceitos Chave (2013) para
se referir ao contexto brasileiro. Contudo, no contexto português encontra-se o termo
“conservador” empregado para designar um profissional diverso do “conservador-
restaurador”. Na mesma publicação encontra-se, no verbete intitulado Profissão, a
informação de que conservateur foi, de fato, a “primeira profissão museológica
específica” (DESVALLÉES; MAIRESSE, 2013, p.82) e que era o responsável “por todas
as funções diretamente relacionadas com os objetos de uma coleção, isto é, a sua
preservação, pesquisa e comunicação” (DESVALLÉES; MAIRESSE, 2013, p.82). Os
autores informam ainda que a tradução direta de conservateur do francês para o
português seria conservador. Contudo, a tradução direta não condiz com o sentido de
conservador no Brasil, pois enquanto na França os profissionais são recrutados a partir
de uma escola específica o Institut National du Patrimoine/ Instituto Nacional do
Patrimônio o mesmo não ocorre no Brasil. Essa situação talvez esteja começando a
mudar em função dos novos cursos de graduação em conservação no país. O termo
ainda aparece como sinônimo de curator no contexto inglês. Nesta tese, utilizamos os
conceitos normatizados pelo ICOM.

1.5 A Conservação Preventiva em perspectiva

Na contemporaneidade uma tendência amplamente enfatizada por profissionais


da área de conservação do patrimônio é a Conservação Preventiva. Se no âmbito da
45

conservação e da restauração as décadas de 1960 e 1970 foram pautadas pelas teorias


científicas, ancoradas tanto nas ciências humanas quanto nas ciências exatas, com os
novos paradigmas o foco no objeto único foi alterado para as coleções e para a
conservação preventiva. Este movimento encontra paralelo na Museologia que passa a
ter novas responsabilidades para além da “preservação material dos objetos”.
Na área da Conservação, a década de 1970 foi marcada pela decisão de vários
museus e universidades de criar seus próprios laboratórios de pesquisa sobre objetos
artísticos. Não por acaso nessa mesma década se sistematizaram as políticas públicas
de Preservação. Um acontecimento marcante e que preocupou conservadores e
restauradores, bem como autoridades ligadas a UNESCO, foi a inundação ocorrida na
cidade de Veneza em 1966, assim descrita por, Ana Maria Miguel Macarrón:

Em 4 de novembro de 1966, ocorreu o pior de sua história: a maré subiu


a um metro e oitenta centímetros, e a água inundou a Piazza di San
Marco a um metro e vinte centímetros. Como consequência dessas
inundações, ocorre a desintegração das paredes devido à umidade e sal
marinho, que corrói e desintegra materiais de construção, revestimentos
e madeira (MACARRÓN MIGUEL, 2002, p.256).54

Aloísio Arnaldo Nunes Castro (2008) comenta que segundo dados do Laboratório
de Conservação e Restauração da Biblioteca Nacional de Florença, quase um milhão de
unidades bibliográficas foram atingidas pelas águas (CASTRO, 2008, p.49). Dessa forma,
a inundação da cidade de Florença trouxe mudanças para o campo da conservação e
restauração de papel: a intervenção no objeto único, considerada principalmente estética,
deu lugar a uma visão global do problema. Nesse sentido, para Maria Luisa Ramos de
Oliveira Soares:

Já não era possível o improviso, o amadorismo, enfim, a catástrofe em


sua desordem, proporcionou e estabeleceu novos paradigmas que,
através de muitas avaliações, veio a proporcionar uma clara visão sobre
as atividades desenvolvidas em diferentes centros de pesquisa e núcleos
de restauro na Europa e nos Estados Unidos (SOARES, 2006, p.54).

Além da enchente de Florença, outro episódio fez com que aumentasse a


preocupação em torno da Preservação: a inundação do Rio Tejo, em Portugal. A partir
desses eventos há a preocupação, por parte de diversas instituições, na qualificação da
mão-de-obra. Nesse panorama são incentivados os intercâmbios e troca de experiências

54No original: “El 4 de noviembre de 1966 se produjo La peor de su historia: La marea subió un metro y
ochenta centímetros, y El agua anego la Plaza de San Marcos un metro y veinte centímetros. Como
consecuencia de esas inundaciones, se está produciendo La desintegración de los muros a causa de La
humedad y La sal marina, que corroe y desintegra los materiales de construcción, los revestimientos y las
maderas.” (MIGUEL, 2002, p.256).
46

entre as instituições, resultando na propagação de novas técnicas e ideias sobre


Conservação-Restauração; entre elas, a Conservação Preventiva. Gaël Guichen, uma
das referências do campo, considera que entre os anos de 1957 e 1977 o que se
denominava conservação preventiva se limitava ao controle do clima. No entanto,
destaca como importante o livro Intitulado Conservação de antiguidades e obras de arte:
reparo tratamento e restauração, escrito por Harold Plenderleith55, conservador e
arqueólogo escocês (1898-1977). Na introdução, seu autor defende que os fatores de
agressão ao patrimônio cultural se dividem em três blocos: a umidade, a contaminação e
a negligência.
A definição de Conservação Preventiva também é alvo de estudos de diversos
outros autores. Para Caldeira, a Conservação Preventiva surgiu como campo de trabalho
e pesquisa científica nos Estados Unidos, na década de 1980. Para os norte-americanos
consiste na atividade responsável por todas as ações tomadas para retardar a
deterioração e prevenir danos aos bens culturais por meio da provisão de adequadas
condições ambientais e humanas (2006, p.99). No Brasil, Froner e Rosado (2008)
ressaltam que a década de 1980 foi marcada pelas teorias de Garry Thomson56,
principalmente na obra The Museum Environment (1982). Thomson destacou que os
problemas relacionados à climatização (o controle da luz, da temperatura e da umidade),
influenciam na preservação da coleção.
Guichen afirma que no período entre 1975 e 1990 há um aumento do número de
agressores do patrimônio e, por essa razão, em 1975, o ICCROM realiza um curso
chamado Preservação nos Museus. Com duração de duas semanas, o curso permitiu
reconhecer a importância do clima na preservação, destacando formas de preservação
do acervo não usuais naquele momento como a organização das reservas técnicas e o
registro sistemático das coleções. Ainda sobre o curso, Guichen comenta: “Este curso se
dirigia a administradores, conservadores de museus, arquitetos e conservadores-
restauradores. O curso abordava quatro agressores: o clima, a luz, o roubo e o fogo,
sendo um dos professores principais Garry Thomson”. Ele tem uma importância
fundamental para a Conservação Preventiva tendo organizado a primeira conferência
sobre climatologia e museu para o Instituto Internacional para a Conservação (CII) no ano
de 1968, em Londres, Inglaterra. Entre os anos de 1960 e 1985 foi chefe do

55 Doutor em química trabalhava com conservação pela metodologia científica. Em 1924, começa a trabalhar
no British Museum, no departamento de pesquisa científica e industrial. Em 1959, torna-se o primeiro diretor
do Centro Internacional para o Estudo da Preservação e Restauração de bens Culturais (ICCROM),
permanecendo na direção até 1971.
56 Robert Howord Garry Thomson (1925-2007) trabalhou entre 1955-1960 como químico pesquisador na

National Gallery em Londres.


47

departamento científico da National Gallery e sua contribuição para o campo é explicitada


na citação abaixo:

O papel do departamento científico é garantir a segurança da coleção


através da "conservação preventiva", que envolve o monitoramento
cuidadoso da luz, temperatura e umidade. No entanto, quando Thomson
começou sua carreira na National Gallery em 1955 essas preocupações
não foram totalmente compreendidas ou apreciadas. O cuidado com as
coleções de museus concentrava-se principalmente na reparação e
restauração, o que inevitavelmente levava a um ciclo de intervenções e a
perda de autenticidade, já que o material original em objetos decorativos
e de belas artes era alterado ou substituído. (tradução livre)57

Nos anos 1990 intensifica-se o interesse pela Conservação Preventiva marcando


uma nova postura com relação à Conservação por parte dos conservadores. Gaël
Guichen descreve a primeira conferência dedicada ao tema da Conservação Preventiva,
realizada em Paris em 1992 com apoio da UNESCO: “foram três dias de comunicações e
discussões intensas que resultaram na publicação chamada ‘conservação preventiva’.
Pela primeira vez foi possível ver, em um só volume, estudos de todos os principais
agressores do patrimônio” (GUICHEN, 2009, p.40). Em 1994, o Intenational Institut for
Conservation – IIC organizou outra conferência com o tema Preventive Conservation,
Theory and Resarch que também resultou numa publicação sobre Conservação
Preventiva. Guichen (2009) observa que os debates ocorridos durante as conferências
abordavam a Conservação Preventiva sempre pelo viés das condições ambientais.
Contudo, para o autor, a conservação preventiva abrange fatores para além das
condições ambientais e, principalmente, envolve uma nova maneira de entender a gestão
do patrimônio. Para o autor, portanto:

Quem antes pensava em “objeto”, hoje tem que pensar em “coleções”.


Quem antes pensava em “conservador-restaurador”, hoje tem que
pensar em “equipe multidisciplinar”. Quem antes pensava em “sala”, hoje
tem que pensar em edifício. Quem antes pensava em “clima”, hoje tem
que pensar em “conjunto de agressores”. Quem antes pensava a “curto
prazo”, hoje tem que pensar a “longo prazo”. Quem antes pensava em
“segredo”, hoje tem que pensar em difusão. Quem antes pensava
“como”? “Hoje tem que pensar por quê?” (GUICHEN, 2009, p.40).

A visão de preservação de Gaël de Guinchen está em consonância com o


pensamento de Hugues de Varine acerca da relação entre os museus, os objetos e o
57 No original: "The role of the scientific department is to ensure the safety of the collection through
"preventive conservation", which involves the careful monitoring of light, temperature and humidity. When
Thomson began his career at the National Gallery in 1955, however, these concerns were not fully understood
or appreciated. The care of museum collections concentrated principally on repair and restoration, which
inevitably led to a cycle of interventions and a loss of authenticity as original material in decorative and fine art
objects was altered or replaced." Disponível em: http://www.telegraph.co.uk/news/obituaries/1553331/Garry-
Thomson.html. Acesso em: 22/11/ 2017.
48

homem. A citação seguinte mostra essa filiação expressando a preocupação de Gaël


para além da materialidade da preservação do objeto:

Os museus se relacionam com os objetos e com o público. Nós


construímos Museus para os Objetos. É tempo de construir museus para
os objetos e para os homens. Hughe de Varine - Bohan afirma que
'temos construídos muitos museus para os objetos. É tempo de construí-
los para os homens' (GUICHEN, 1980, s/p).

Com relação aos profissionais envolvidos nas atividades de Preservação, Gaël de


Guinchen afirma que as tarefas anteriormente atribuídas aos amadores transformaram-se
em atividade profissional. As qualidades exigidas seriam as seguintes: "o conhecimento
administrativo e de gestão e o conhecimento específico das coleções; conhecimento dos
meios de comunicação e de animação para divulgar a riqueza dos museus" (GUICHEN,
1980, s/p). Para esse autor a restauração dos objetos competiria ao restaurador que em
suas palavras significa: “a restauração é, pois, deixada para os casos extremos e a
profissão de restaurador exige anos de preparação e muitos outros treinamentos,
reciclagem e aperfeiçoamento” (GUINCHEN, 1980, s/p). De acordo com Guichen (2009)
o conceito de Conservação Preventiva tem se ampliado ao longo dos anos, contudo, hoje
ainda não é possível precisar seus limites sendo também possível identificar dois grandes
grupos: um deles utiliza o modelo clássico e considera apenas os agressores naturais
enquanto o outro se utiliza de um conceito expandido e inclui também o inventário e a
documentação. Nas palavras do autor: "O último - no qual me incluo - inclui até a
legislação que protege os bens culturais" (GUICHEN, 2009, p.42)58.
Sobre a documentação fazer ou não parte das atividades pertencentes à
Conservação Preventiva é importante ressaltar que a bibliografia sobre o tema é unânime
em afirmar que todas as práticas relacionadas à Conservação devem ser registradas, da
higienização até a restauração. Contudo, embora identificadas como essenciais, as
medidas que devem ser adotadas para que a informação gerada durante as atividades de
Conservação não seja perdida ainda são pouco estudadas. Desde o século XIX autores
como Eugène Emmannuel Violet-le-Duc59 e Camillo Boito60 e na década de 1960, Cesare

58
No original: "Los últimos - entre los cuales estoy yo - incluyen hasta la legislación que protege los Bienes
Culturales” (GUICHEN, 2009, p.42, tradução nossa).
59 Eugène Emmannuel Violet-le-Duc (1814-1879). Arquiteto, um dos principais teóricos do século XIX sobre

os bens culturais. Publicou diversos livros, entre eles o verbete “Restauração” (VIOLET-LE-DUC, 2004).
60 Camillo Boito (1836-1914). Arquiteto italiano e autor da obra: “Os Restauradores”, escrita em 1884. Alguns

princípios por ele defendidos permanecem até os dias atuais, norteando a teoria contemporânea da
restauração de bens culturais (BOITO, 2004).
49

Brandi61, reconhecem a importância dos registros escritos ou fotográficos das atividades


de Conservação e Restauração. Autores contemporâneos como Chris Capple
diferenciam a Conservação Preventiva de Conservação Interventiva e esta diferenciação
reflete diretamente no entendimento de como deve ser o registro das informações em
Conservação. A primeira busca reter as condições ideais do objeto, através das mais
variadas formas (legislação, educação pública, preservação direta do objeto, etc.),
enquanto a Conservação Interventiva procura, através da mediação física e química com
o objeto, prevenir a deterioração. A Conservação Preventiva caracteriza-se, ainda, por
estar voltada para uma coleção de objetos, já a segunda é focada em cada objeto
individualmente (CAPPLE, 2003, p.37-38). A primeira pode ser realizada por profissionais
ou voluntários treinados em conservação, mas não especializados. A segunda precisa
necessariamente ser feita por especialistas em conservação, colocando as práticas
documentárias relacionadas às atividades de conservação como exclusivas desses
profissionais além de estarem relacionadas a cada um dos objetos individualmente. O
mesmo autor destaca a importância dos registros da fase de intervenção direta sobre o
objeto ao afirmar que:

A criação de um registro de conservação reconhece que o trabalho de


conservação e restauração não é um fim em si mesmo, mas faz parte de
uma série de processos em andamento, que duram para toda a vida do
objeto. Ele também reconhece que há muitas pessoas que virão depois
do presente conservador que vão precisar de informações sobre o objeto
e que realizarão uma investigação mais aprofundada ou trabalho de
preservação. Assim, na história da conservação a criação do registro de
conservação marca uma das mudanças cruciais de um ofício para uma
profissão (CAPPLE, 2003, p. 70)62.

Segundo Guichen, a concepção de Conservação Preventiva pode seguir o


determinado no Plano de Conservação Preventiva apresentado em Havana, no ano de
2000, durante o Curso Regional de Conservação Preventiva, organizado pelo ICOM,
onde a Conservação Preventiva:

É a concepção, coordenação e execução de um conjunto de estratégias


sistemáticas organizados no tempo e no espaço, desenvolvidas por uma

61 Cesare Brandi (1906-1988). Formado em direito e letras, dedicou sua carreira à crítica e à história da arte,
à estética e à restauração. Foi um dos fundadores do Instituto Centrale del Restauro (ICR) em Roma. Em
1963 publica a obra “Teoria da Restauração” (BRANDI, 2004).
62
The creation of a conservation record recognizes that conservation and restoration work is not an end in
itself but part of a series of ongoing processes which last for the whole of the object´s life. It also
acknowledges that there are many people who will come after the present conservator who will need
information about the object and who will undertake further investigation, revelation or preservation work. Thus
in the history of conservation the creation of conservation record marks one of the crucial changes from a craft
to a profession” (CAPPLE, 2003, p. 70, tradução livre).
50

equipe interdisciplinar com o consenso da comunidade a fim de


preservar, resguardar e difundir a memória coletiva no presente e
projetá-la para o futuro para reforçar a sua identidade cultural e elevar a
qualidade de vida (GUICHEN, 2009, p.42).

A Conservação Preventiva no entender de Maria Luisa Ramos de Oliveira Soares


(2008) seria o conjunto de procedimentos que visa retardar a degradação dos materiais
dos suportes dos documentos através da melhoria e controle das condições do ambiente
nas áreas de guarda e dos meios de armazenagem, cuidados com acondicionamento e
uso adequado dos acervos. Por outro lado, a autora considera que:

Todas as formas de conservação são preventivas. Todas buscam manter


o objeto em seu estado atual, tentando evitar as alterações que poderão
se produzir no futuro. Neste sentido, todas as formas de conservação
previnem as alterações futuras. Mas quando no campo da conservação-
restauração se fala de conservação preventiva, estamos nos referindo a
todas as operações de conservação que intervêm sobre o entorno
(SOARES, 2008, p.1).

Já Ivan Coelho de Sá (2012), ressalta que o desenvolvimento do conceito de


conservação preventiva traz consigo o pressuposto de uma postura científica da
Restauração:

Que converge para a necessidade de laboratórios e pesquisas. Somente


a efetiva concretização de laboratórios de conservação possibilitará um
exercício pleno às disciplinas de preservação-conservação,
proporcionando uma conscientização maior dos futuros profissionais
(SÁ, 2012, p.30).

Com o que foi exposto podemos dizer que não existe um modelo único de
Conservação Preventiva, mas sim um conjunto de estratégias que podem e devem ser
utilizadas da forma que determinado grupo/comunidade julgar necessário. Neste capítulo
analisamos a construção do campo disciplinar da Museologia e da Conservação a partir
de um panorama histórico das disciplinas. Concluímos que a Conservação surge no
âmbito dos museus e aos poucos vai adquirindo autonomia, embora, até os dias de hoje
ainda estejam intimamente relacionadas. O capítulo foi finalizado com as perspectivas
futuras para a Conservação Preventiva. Após esse embasamento teórico analisaremos
no capítulo seguinte alguns aspectos das políticas públicas culturais brasileiras que
acreditamos, tenham contribuído para criação do Curso de Especialização em
Conservação de Bens Culturais Móveis da Escola de Belas Artes da UFRJ em 1989.
Além disso, será analisada a trajetória profissional da Prof.ª Marylka Mendes, uma das
fundadoras do curso, e examinado o processo que levou à fundação da Associação
Brasileira dos Conservadores e Restauradores/ABRACOR.
51

CAPÍTULO 2

AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A ÁREA


CULTURAL NO BRASIL: SUBSÍDIOS PARA A
CRIAÇÃO DO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO
EM CONSERVAÇÃO DE BENS CULTURAIS
MÓVEIS DA ESCOLA DE BELAS ARTES DA
UFRJ
52

CAP. 2. AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A ÁREA CULTURAL NO BRASIL: SUBSÍDIOS


PARA A CRIAÇÃO DO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM CONSERVAÇÃO DE BENS
CULTURAIS MÓVEIS DA ESCOLA DE BELAS ARTES DA UFRJ

Neste capítulo, analisaremos alguns aspectos das políticas públicas culturais


brasileiras que acreditamos que tenham contribuído para a criação do Curso de
Especialização em Conservação de Bens Culturais Móveis, da Escola de Belas Artes da
UFRJ em 1989, assim como influenciado a formação do seu corpo docente.
Analisaremos a criação do Museu Histórico Nacional e do Curso de Museus e
suas contribuições para preservação. Abordaremos pelo menos três momentos históricos
onde ocorreu uma série de mudanças nas políticas culturais no campo do patrimônio. De
acordo com Lia Calabre (2007a) estes três momentos são: o governo de Getúlio Vargas
(1930-1945 e 1950-1954) quando ocorre à estruturação formal da área da Cultura através
da criação de instituições ligadas ao Ministério da Educação e Saúde (MES), como, por
exemplo, a criação do Curso de Museus (1932), do Serviço do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (SPHAN) (1937-1946) e o Conselho Nacional de Cultura (1938); o
Regime Militar, especialmente durante o governo dos presidentes: Emílio Garrastazu
Médici (1969-1974) e Ernesto Geisel (1974-1978), quando acontece um intenso processo
de renovação da ação pública no campo da cultura com a criação do Conselho Federal
de Cultura (1967-1975) e de instituições como a FUNARTE (1975-1990), a Fundação
Pró-Memória (1979-1990); e, por fim, o governo de Fernando Collor de Mello (1990-
1992), quando ocorreu um movimento de desmonte das políticas públicas culturais
anteriores, com a intervenção governamental que causou grandes prejuízos para
instituições e projetos.
Após a análise das políticas públicas, focalizaremos O Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento/UNESCO - (PNUD) e sua relação com a Conservação
de bens culturais no Brasil buscando evidenciar as ideias iniciais para o campo da
Conservação-Restauração e do Patrimônio. Nesse contexto, salientaremos a
participação, ações ou propostas dos membros brasileiros que atuavam na comissão
entre os quais destacava-se a Prof.ª Marylka Mendes.
Finalizando o capítulo, trataremos da fundação da Associação Brasileira dos
Conservadores e Restauradores/ABRACOR, a primeira associação no país com a
finalidade de agregar os profissionais da área. A criação dessa Associação pode ser
entendida como um dos resultados do debate em torno das políticas públicas culturais,
especificamente das voltadas para a área da Preservação do patrimônio. Esta inter-
53

relação pode ser constatada pela participação dos mesmos atores tanto nas discussões a
nível nacional como internacional.

2.1. As políticas públicas brasileiras para a área cultural


2.1.1 Criação do Museu Histórico Nacional e do Curso de Museus: contribuições
para a preservação

O Museu Histórico Nacional foi inaugurado, em 1922, pelo Presidente Epitácio


Pessoa, durante a Exposição do Centenário da República, e sua criação atendeu aos
anseios de parte da sociedade brasileira. Para o pesquisador Mario Chagas:

O pleito por museus históricos de caráter nacional partia de vários


setores da intelectualidade. Mais se aproximava o esperado centenário
da Independência, mais essa demanda se fortalecia com a retórica da
urgência de se construir um local que celebrasse a memória da nação
(CHAGAS, 2009, p.87).

Um dos intelectuais que desejou a criação do Museu foi Gustavo Adolfo Luiz
Guilherme Dodt da Cunha Barroso. Barroso nasceu em Fortaleza, no Ceará, em 29 de
dezembro de 1888.
Em 1907 ingressou na Faculdade de Direito no Ceará, onde se manteve até 1909.
Em 1910 transferiu-se para a cidade do Rio de Janeiro, então Distrito Federal, onde
concluiu em 1911, na Faculdade de Direito, o seu bacharelado em ciências jurídicas e
sociais. Atuou como professor em diversas escolas, além de ter fundado e/ou colaborado
com vários jornais e revistas. Esse personagem foi fundamental para a Museologia
brasileira tendo sido o primeiro diretor do Museu Histórico Nacional, e se mantido no
cargo por mais de 30 anos. Assim, o museu representava a identidade da nação, sendo
“Uma ponte museológica entre o século XX e o século XIX, entre a República e o
Império, entre os agentes heroicos do presente e do passado” (CHAGAS, 2009, p.89).
Ivan Coelho de Sá, outro pesquisador do campo da Museologia, aponta para o
importante aspecto do início da história da Museologia no Brasil, indicando que as
primeiras propostas estavam em consonância com a conjuntura internacional. Sendo
assim, para o autor:

Se analisarmos, ainda que superficialmente, os primórdios da


preservação no Brasil e fixarmos como ponto de partida a década de
1930 veremos que as iniciativas pioneiras dessa época estavam em
sintonia com o contexto internacional (SÁ, 2012, p.13).
54

No Brasil, nas décadas de 1920 e 1930 houve “significativos avanços nas políticas
de preservação, como as propostas de órgãos de proteção ao patrimônio: Pernambuco
(1923 e 1928), Minas Gerais (1924) e Bahia (1927 e 1930)” (SÁ, 2012, p.13). Outro fato
importante foi a criação no Museu Histórico Nacional em 1934, da Inspetoria Nacional de
Monumentos, que foi dirigida por Gustavo Barroso mais de três anos. “Esse serviço foi o
embrião inicial do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional” (CHAGAS, 2009,
p.47).

Após dez anos da inauguração do Museu Histórico Nacional, é criado o Curso de


Museus63 em 1932. Esse curso foi criado durante a gestão de Rodolfo Garcia (1930-32).
O Museu Histórico Nacional e o Curso de Museus são instituições fundamentais neste
cenário contribuindo para o desenvolvimento da museologia no Brasil. Dessa forma:

Esse processo singular, que condicionou o desenvolvimento da


museologia brasileira, não tem precedentes em países Latino-
americanos ou nos países do chamado Terceiro Mundo. Nos Estados
Unidos, os primeiros programas de formação em museologia
remontavam às duas primeiras décadas do século XX. No mundo
europeu, a principal referência era a Escola do Louvre, fundada em
1882, consagrada ao ensino da história das civilizações, das belas-artes
e das técnicas de conservação do patrimônio cultural (CHAGAS, 2009,
p.99).

Em consonância ao pensamento de Chagas (2009), Sá (2012) considera a


criação do Curso de Museus uma iniciativa pioneira no contexto das políticas de
preservação do patrimônio. A esse respeito Sá (2012) destaca a importância de uma das
disciplinas do Curso de Museus, "Técnicas de Museus", momento em que primeira vez
são utilizados os termos conservação e restauração. A esse respeito o autor afirma que:

Principalmente em relação à disciplina Técnicas de Museus, por trata-se


de um estudo totalmente inédito no Brasil. Pela primeira vez os termos
conservação e restauração foram motivo de uma disciplina de formação,
abordando critérios e escolas teóricas (SÁ, 2012, p.30).

O perfil desejável aos formandos na época, chamados “conservador de museus”,


era o do "especialista". Portanto, era necessária uma formação sólida e específica, que

63
Criado pelo Decreto- Lei nº 21.129, de 07/03/1932. Diário Oficial, 15/03/1932. Elevado à categoria de
instituição de nível superior em 1943. “Em 1951, com a outorga de mandato universitário ao Curso de
Museus pela Universidade do Brasil, durante a reitoria de Pedro Calmon. Em 1979, quando foi incorporado a
então recém-criada Universidade do Rio de Janeiro (UNIRIO)” (CHAGAS, 2009, p.98).
55

incluía uma variedade de conhecimentos. Em 1944, houve uma primeira grande reforma
no Curso de Museus:

Sua duração passou de dois para três anos e a disciplina técnica de


museus foi dividida em geral, básica e aplicada. No programa de
técnicas de museus-parte geral, básica e aplicada. No Programa de
técnica de museus parte geral, oferecida no primeiro ano, forma
mantidos os conteúdos noções de restauração (SÁ, 2012, p.14).

Segundo Sá (2012) a disciplina Técnica de Museus, pretendia atender às funções


dos museus. Gustavo Barroso foi o responsável pela sua concepção ministrando-a até
1951. Os textos utilizados por Barroso na sua estruturação "correspondiam aos estudos
mais recentes em termos de museologia, patrimônio e preservação" (SÁ, 2012. p.14).
Nas obras escritas por Barroso é possível perceber a influência de teóricos como: Viollet-
Le-Duc, Camillo Boito, além da Carta de Atenas de 1931.64
Gustavo Barroso, munido de seu arcabouço conceitual e de sua atuação como
professor do Curso de Museus, também organiza e sistematiza seus conhecimentos na
obra: Introdução à Técnica de Museus. Esse livro é considerado um marco para o campo
dos Museus, da Museologia e do Patrimônio e que estava em consonância com a
Europa, em termos de estudo dos museus, das coleções e da Conservação. O livro
aborda questões sobre segurança, conservação, restauração, iluminação, entre outros
assuntos. Nas Figuras (1 e 2) abaixo, apresentamos a imagem das obras:

Figura 1 – Capa do livro Introdução à Figura 2 – Capa do livro Introdução à


Técnica de Museus. Volume I. Fonte (a Técnica de Museus. Volume II. Fonte (a
autora, 2017). autora, 2017).

64Cuja a primeira tradução para o português foi realizada para a Inspetoria de Monumentos Nacionais, pela
recém formada e depois Prof.ª do e coordenadora do Curso de Museus, Nair de Moraes Carvalho, em 1937.
E que serviu de material didático para disciplina Técnica de Museus (SÁ, 2012, p.15).
56

Poucas foram as modificações no currículo do Curso até a década de 1960, sendo


trabalhados conteúdos referentes à Preservação: restauração, regras e princípios
técnicos65: Segundo Sá, os tópicos caracterizam-se por:

Provavelmente, nestes tópicos eram trabalhados aspectos gerais das


teorias da restauração, pois esta mesma Reforma de 1944 criou as
disciplinas arquitetura e pintura66, nas quais constavam, pontualmente,
conteúdos de conservação e restauração dos monumentos, ao passo
que na disciplina pintura, além das questões técnicas, estéticas e
estilísticas, três tópicos do programa referiam-se, de forma mais ampla, à
conservação-restauração (SÁ, 2012, p.14).

As aulas práticas, nas décadas de 1930 a 1970, segundo a Prof.ª Ecyla


Castanheiro Brandão, que ministrou a disciplina pintura de 1964 a 1974, aconteciam no
Laboratório do IPHAN, pois o curso não possuía as condições adequadas. Sá faz
considerações sobre esse problema, na citação abaixo:

Não havia condições de aulas práticas no Curso de Museus e, para


superar essa dificuldade, levava os alunos para visitar o Laboratório do
IPHAN, onde o Prof. Edson Motta67 fazia explanação e demonstrações
sobre tratamentos técnicos de pintura (SÁ, 2012, p.14).

Em suma, podemos dizer que o Curso de Museus e, posteriormente o Curso de


Museologia da UNIRIO, sempre tiveram em sua grade curricular, disciplinas relacionadas
à preservação e à conservação de acervos, com ênfase em Conservação e Conservação
Preventiva. Sobretudo após a criação do NUPRECON. Ao longo de toda a sua trajetória o
curso de Museus vem contribuindo para o campo da Museologia, do Patrimônio e da
Preservação.

2.1.2 Alguns antecedentes: da Era Vargas ao Regime Militar

A maioria dos especialistas parece concordar que o início da política cultural


brasileira se confunde com o início do projeto político nacionalista de modernização do
país proposto por Getúlio Vargas, na década de 1930. Talvez, um dos exemplos mais
emblemático desses anos iniciais na política cultural no campo do patrimônio
(especialmente do patrimônio material edificado) tenha sido à criação do Serviço do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), em 13 de janeiro de 1937, pela Lei nº

65 Curso de Museus (Mandado Universitário) - Instruções para matrícula. Ministério da Educação/Museu


Histórico nacional. Rio de Janeiro, 1956, p.14. (apud, SÁ, 2012, p.14).
66 Curso de Museus (Mandato Universitário) – Instruções para Matrícula, 1956, p. 32. (apud, SÁ, 2012, p.14).
67 Somente em 1947, dez anos após a criação do DPHAN, Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico

Nacional, conseguiu implantar o laboratório de restauração deste órgão (SÁ, 2012, p.18).
57

378. De acordo com o art. 46, a finalidade desse órgão era o tombamento68, a
conservação, o enriquecimento e o conhecimento do patrimônio nacional, conforme
podemos observar neste artigo transcrito abaixo:

Art. 46. Fica criado o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico


Nacional, com a finalidade de promover, em todo o Paiz e de modo
permanente, o tombamento, a conservação, o enriquecimento e o
conhecimento do patrimônio histórico e artístico nacional [sic] (BRASIL,
Lei 378, art.46, 1937).

Nesse período, as ações da política cultural giravam em torno dos debates sobre
a questão do patrimônio nacional, especialmente sobre a questão da “função do Estado
na identificação, seleção, preservação e divulgação desse patrimônio e seu papel na
formação da identidade brasileira” (MAIA, 2011, p. 61). Assim, a questão do patrimônio
adquiriria significados políticos e seria um elemento essencial na construção de um
sentimento nacionalista.
O projeto de criação dessa instituição foi concebido por Mário de Andrade, em
1936 e tinha como objetivo a proteção do patrimônio nacional numa vertente bastante
nacionalista. Quando foi criado, o SPHAN estava subordinado ao Ministério da Educação
e Saúde que era dirigido por Gustavo Capanema. O SPHAN se incluía na categoria de
Instituições de Educação Extraescolar dos Serviços Relativos à Educação (REZENDE et
al, 2014).
A criação do SPHAN, segundo Silva (2001) ilustra o processo de intervenção do
Estado e também a preocupação de políticos, intelectuais, e artistas, como Mário de
Andrade com a identificação e preservação de um patrimônio cultural brasileiro. Essa
visão de patrimônio englobava um olhar de arte mais amplo, que abarcava “qualquer
produção humana capaz de transformar algo natural em cultura” (SILVA, 2011, p. 23).
Esse aspecto incluía a arte popular, contudo, limitava a noção de patrimônio à
preservação de vestígios do passado, caracterizados, sobretudo pelos “monumentos”
arquitetônicos. É interessante observar que SPHAN funcionaria a partir de um Conselho
Consultivo formado por:

2º O Conselho Consultivo se constituirá do director do Serviço do


Patrimonio Historico e Artistico Nacional, dos directores dos museus
nacionaes de coisas historicas ou artísticas, e de mais dez membros,
nomeados pelo Presidente da Republica [sic]. (BRASIL, 1937).

68 Segundo o verbete do Dicionário Histórico e Biográfico Brasileiro do FGV/CPDOC “Tombamento” é o


principal instrumento legal pelo qual o Estado põe sob sua guarda, para conservar e proteger, bens culturais
móveis e imóveis que, por seu valor arqueológico, etnográfico, bibliográfico ou artístico, passam a integrar o
chamado patrimônio cultural do país.
58

Também é digno de nota que, entre os anos de 1937 e 1969, a instituição foi
dirigida por Rodrigo de Melo Franco de Andrade que imprimiu sua marca na
administração da instituição ao longo dos 30 anos em que ficou na direção, por promover
significativas mudanças no projeto original de Mário de Andrade. Durante esse tempo, as
noções de "tradição" e de "civilização" foram decisivas para os projetos da instituição,
porque enfatizavam a relação do patrimônio nacional com o passado. De acordo com o
verbete “SPHAN” do Dicionário FGV/CPOC:

Os bens culturais classificados como patrimônio deveriam fazer a


mediação entre os heróis nacionais, os personagens históricos, os
brasileiros de ontem e os de hoje. Essa apropriação do passado era
concebida como um instrumento para educar a população a respeito da
unidade e permanência da nação (SPHAN, 2010).

Como podemos observar, o patrimônio histórico e artístico tinha uma importante


função educativa. Os “bens culturais” fariam a mediação entre os “heróis” nacionais e o
povo brasileiro. Esses “heróis” criariam um sentimento de identidade nacional capaz de
unificar o povo debaixo de uma ideologia política. E, também, é claro que essa política
deveria evitar os possíveis conflitos sociais. Para isso, os museus assumiriam um
importante papel pedagógico, conforme já abordamos neste capítulo. De acordo com o
Artigo 46, § 3º da Lei de criação do SPHAN, os museus deveriam desenvolver uma
íntima colaboração com o órgão, conforme podemos observar abaixo:

§ 3º O Museu Historico Nacional, o Museu Nacional de Bellas Artes e


outros museus nacionaes de coisas historicas ou artísticas, que forem
creados, cooperarão nas actividades do Serviço do Patrimonio Historico
e Artistico Nacional, pela fórma que fôr estabelecida em regulamento
[sic]. (BRASIL, 1937).

Como pode ser observado no texto da Lei nº 378, acima citado, destacam-se duas
instituições museais de grande expressividade nacional: 1) o Museu Histórico
Nacional (MHN), a quem caberia a “guarda, conservação e exposição das relíquias
referentes ao passado do país e pertencentes ao patrimônio federal” (BRASIL, Lei 378,
artigo 47, 1937). Além disso, caberia ao MHN à gestão do primeiro curso de Museologia
do país, criado em 1932, que seria responsável pela formação de técnicos que
cuidariam da seleção, guarda e preservação desse patrimônio; 2) o Museu Nacional de
Belas Artes (MBA)69, que seria responsável por “a recolher, conservar e expor as obras
de arte pertencentes ao patrimônio federal” (BRASIL, Lei 378, artigo 48, 1937).

69 O Museu Nacional de Belas Artes foi criado pela Lei 378 de 13 de janeiro de 1937, artigo 48.
59

Essa íntima relação existente entre esses dois museus nacionais e o SPHAN
permitiria entre outras coisas, não só a formação de um corpo técnico especializado que
atuaria muitas vezes na elaboração de políticas públicas culturais junto aos órgãos
governamentais, bem como prestaria serviços ligados à preservação do patrimônio
histórico e artístico nacional em anos posteriores, tanto de forma pública, como em
instituições privadas. A proximidade existente entre os profissionais egressos desses dois
museus com o SPHAN /IPHAN70 e com outras instituições culturais como, por exemplo, a
FUNARTE colaborou para a existência do Curso de Especialização em Conservação de
Bens Culturais Móveis da Escola de Belas Artes da UFRJ. O aprofundamento dessas
relações será apresentado no capítulo 3, da presente tese.
Sendo assim, podemos dizer que o projeto político cultural, principalmente do
primeiro governo Vargas, continha dois objetivos: 1) a exaltação da cultura nacional; 2) a
censura a qualquer coisa que pudesse manchar a ideia de um “Brasil” sério, trabalhador
e pacífico. Essas visões caracterizariam a nossa identidade nacional e foram expressas
nas escolhas do que seria preservado como patrimônio nacional.
É importante lembrar que, além do SPHAN, outra estrutura organizacional era
responsável pela concepção de políticas culturais no governo de Vargas. O Conselho
Nacional de Cultura (CNC) que foi criado pelo Decreto 526, de julho de 1938, para
coordenar todas as atividades concernentes ao desenvolvimento cultural realizado pelo
MES. Esse Conselho seria composto por sete membros, escolhidos pelo presidente da
República e que possuíssem alguma afinidade com o campo cultural. Quatro desses
membros seriam funcionários do próprio MES.
Conforme nos explica Costa (2011), o CNC era composto por “seis comissões:
Comissão Nacional de Literatura, Comissão Nacional de Teatro, Comissão Nacional de
Cinema, Comissão Nacional de Música e Dança, Comissão Nacional de Artes Plásticas e
Comissão Nacional de Filosofia e Ciências Sociais. Cada comissão era composta por
cinco membros, com mandatos de dois anos e nomeados pelo Presidente da República”.
Competia também ao CNC, segundo o artigo 3º, fazer um balanço das atividades
culturais públicas e privadas, a fim de classificá-las e “tirar o máximo proveito delas”, bem
como sugerir ao Estado, formas de ampliar, aperfeiçoar os serviços e financiar as
instituições culturais. Cabia também ao CNC estudar as instituições de caráter privado, a
fim de conceder benefícios.

70 O nome SPHAN foi substituído primeiro pela sigla DPHAN (Diretoria de Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional) em 1946. Posteriormente o DPHAN ficaria conhecido como IPHAN (Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Brasileiro) em 1970.
60

Observamos que na definição das atividades que estavam incluídas no


“desenvolvimento cultural” atribuído ao CNC, algumas se confundiam com as atribuições
do SPHAN, principalmente aquelas relacionadas com a conservação do patrimônio
histórico, conforme podemos observar abaixo, no parágrafo 2º, alínea “c”.

Parágrafo único. O desenvolvimento cultural abrange as seguintes


atividades:

a) a produção filosófica, científica e literária;


b) o cultivo das artes;
a conservação do patrimônio cultural (patrimônio histórico,
c)
artístico, documentário, bibliográfico, etc.)
d) o intercâmbio intelectual;
a difusão cultural entre as massas através dos diferentes
e) processos de penetração espiritual (o livro, o rádio, o teatro, o
cinema, etc.);
a propaganda e a campanha em favor das causas patrióticas ou
f) humanitárias;

a educação cívica através de toda sorte de demonstrações


g)
coletivas

h) a educação física (ginástica e esportes);

i) a recreação individual ou coletiva. [sic].


(BRASIL, 1938, grifo nosso).

É muito interessante notar que a definição de “desenvolvimento cultural” presente


no Decreto dava ênfase às atividades relacionadas ao campo da educação e da
propaganda, corroborando para o fato de que, durante o governo de Getúlio Vargas, a
Cultura era vista como um recurso pedagógico poderoso para divulgação da ideologia
“varguista”.
De acordo com Costa (2011) as “atribuições do CNC eram somente de
planejamento e levantamento, utilizados para elaborar sugestões que contribuíssem para
o aperfeiçoamento dos serviços culturais do Ministério da Educação e Saúde”. (COSTA,
2011, p. 3). Assim, o CNC acabaria tendo um tímido papel dentro do MES, pois as
decisões, neste período, no campo da Cultura e da Preservação do Patrimônio ficando a
cargo dos ministros e também dos diretores de órgãos como o SPHAN, até ser recriado
no início da década de 1960.
A partir do Decreto-lei nº. 8.534, de 1946, ocorre uma modificação na designação
da instituição e o SPHAN passa se chamar Diretoria do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (DPHAN) (1946-1970). No mesmo ano, o Decreto nº. 20.303, define a
61

nova estrutura organizacional e cria um Regimento Interno, de modo que os cargos


técnicos foram sendo ocupados por muitos intelectuais ligados ao movimento modernista
de 1922, que fariam pesquisas e inventários em diversas regiões do Brasil, sendo
remunerados temporariamente por isso. Entre estes estão: Lucio Costa, Paulo Thedim
Barreto, Alcides Rocha Miranda, Gilberto Freyre, Oscar Niemeyer e Godofredo Rebelo de
Figueiredo Filho (REZENDE et al, 2015, p. 2).
A DPHAN continuaria subordinada ao MES até 1953, quando o Ministério da
Educação foi desmembrado do Ministério da Saúde e criou-se o Ministério da Educação
e Cultura. De acordo com o Decreto-lei nº. 8.534 de janeiro de 1946, art. 2º, a DPHAN
teria como finalidade: “inventariar, classificar, tombar e conservar monumentos, obras,
documentos e objetos de valor histórico e artístico existentes no país” (BRASIL, Lei
8.534, art. 2º, 1946). Entre as finalidades específicas estavam:

I - a catalogação sistemática e a proteção dos arquivos estaduais,


municipais, eclesiásticos e particulares, cujos acervos interessem à
história nacional e à história da arte no Brasil;
II - medidas que tenham por objetivo o enriquecimento do patrimônio
histórico e artístico nacional;
III - a proteção dos bens tombados na conformidade do decreto-lei
número 25, de 30 de novembro de 1937 e, bem assim, a fiscalização
sobre os mesmos, extensiva ao comércio de antiguidades e de obras de
arte tradicional do país, para os fins estabelecidos no citado decreto-lei:;
IV - a coordenação e a orientação das atividades dos museus federais
que Ihe ficam subordinados, prestando assistência técnica aos demais;
V - o estimulo e a orientação no país da organização de museus de arte,
história, etnografia e arqueologia, quer pela iniciativa particular, quer pela
iniciativa pública;
VI - a realização de exposições temporárias de obras de valor histórico e
artístico, assim como de publicações e quaisquer outros
empreendimentos que visem difundir, desenvolver e apurar o
conhecimento do patrimônio histórico e artístico nacional [sic] (BRASIL,
1946).

A nova estrutura organizacional do DPHAN seria formada pelo diretor e seu


gabinete, por duas divisões, às quais se subordinavam quatro Seções, e por um Serviço
Auxiliar. O Conselho Consultivo permanecia assistindo à Diretoria. (REZENDE et al,
2015, p. 1). Segundo os autores, a Diretoria dispunha de uma estrutura que compreendia
duas Divisões: 1) a de Estudos e Tombamento que estava dividida em: a) Seção de Arte;
b) Seção de História e 2) a de Conservação e Restauração que estava dividida em: a)
Seção de Projetos; b) Seção de Obras.
Dentro da Divisão de Estudos e Tombamento, a Seção de Arte ficaria responsável
por elaborar um inventário dos monumentos, obras arquitetônicas, pinturas e outros tipos
62

de obra de arte de valor histórico e artístico em diferentes regiões do país, de modo a


colaborar com as outras atividades da Diretoria. Além disso, desenvolveria estudos e
análises comparativas para a classificação desses bens culturais. Já a Seção Histórica
seria responsável por inventariar os manuscritos, os impressos que possuíam valor
histórico ou artístico, assim como a documentação iconográfica que constituem fontes
primárias ou secundárias para o estudo da história da arte no Brasil, criando assim, uma
justificativa para o tombamento dos mesmos.
A Divisão de Conservação e Restauração compreendia: a Seção de Projetos que
desenvolvia estudos técnicos dos monumentos e obras de arte que necessitavam de
reparação ou restauração, e que deveriam ser incluídas em um plano de ação
pormenorizado. Além disso, a Seção deveria desempenhar uma espécie de “vigilância”
sobre os bens tombados e os monumentos naturais, além de prestar assistência técnica
aos museus federais através de obras e equipamentos, bem como organizar exposições
temporárias. À Seção de Obras caberia a fiscalização das obras de restauração nos bens
tombados e nos museus subordinados à Diretoria.
Mesmo uma análise superficial da estrutura do DPHAN, deixa clara a
preocupação da instituição com os bens culturais edificados. Essa preocupação fica
evidente principalmente na Divisão de Conservação e Restauração que se ocupava
quase que exclusivamente da preservação dos bens tombados e monumentos históricos,
o que poderia ser justificado, em parte, por seu quadro técnico muitas vezes ser
compostos por arquitetos, entre eles, os renomados Oscar Niemayer e Lúcio Costa. Uma
segunda vertente de atuação dentro do DPHAN, porém menos expressiva, estaria ligada
à Conservação de obras de arte. Essa opção pelos bens culturais edificados ficaria muito
evidente nas ações do órgão durante toda a década de 60 e 70, como veremos na
sequência.
Para muitos especialistas, os anos 1960 foram uma época marcante porque se
aprofundavam as diferenças entre o mundo capitalista e o socialista. Cada vez mais, os
EUA viam a América Latina como um território de influência política, econômica e cultural.
Nesse período, o Brasil ainda carregava um sentimento otimista, gerado pelos altos
índices de crescimento econômico que começaram em meados da década anterior.
Juntava-se a isso o orgulho pela a construção de Brasília. O projeto desenvolvimentista
implantado no governo de Juscelino Kubitschek (1956-1960) contribuiria para o grande
desenvolvimento da infraestrutura do país e, ao mesmo tempo, criaria uma dependência
econômica, principalmente dos EUA e endividamento externo, o que culminaria em uma
crise política e econômica e no Golpe de 1964, implantando uma ditadura no país.
63

A década de 1960 também pode ser caracterizada por uma efervescência cultural
em todo o mundo e também no Brasil. Várias áreas da cultura como Música, Cinema,
Teatro e Literatura passam por um processo que refletia grande criatividade, ousadia e
ao mesmo tempo, rebeldia, como por exemplo, no movimento do Tropicalismo e no
Cinema Novo. Muitos artistas e intelectuais repensavam a questão da dependência
econômica do país e subdesenvolvimento influenciados pelas ideias de esquerda e
propunham mudanças na política como um todo e também na cultura nacional.
Dessa forma, durante seu curto governo, Jânio Quadros (janeiro-agosto de 1961)
que sucederia Juscelino, criaria novas atribuições para o CNC, através do Decreto nº.
50.293 de 23 de fevereiro de 1961. O “novo” CNC englobaria os seguintes órgãos:

Art. 2º O Conselho Nacional de Cultura será integrado pelas seguintes


Comissões, que ora ficam criadas: Comissão Nacional de Literatura;
Comissão Nacional de Teatro; Comissão Nacional de Cinema; Comissão
Nacional de Música e Dança; Comissão Nacional de Artes Plásticas
(BRASIL, 1961).

Entre as treze atribuições do CNC descritas no Decreto de 1961, parágrafo 3º,


destacamos: o estabelecimento da política cultural do governo, por meio de um plano
geral a ser elaborado, e programas anuais de aplicação; propor ao Estado a
reestruturação, ampliação ou extinção de órgãos culturais da União a sua articulação
dentro do plano geral de estímulo à cultura e a criação de órgãos novos para atender as
necessidades culturais brasileiras; estimular a criação de Conselhos Estaduais de Cultura
e propor convênios com órgãos dessa natureza, para unidade e desenvolvimento de
políticas próprias para o setor; e por fim, articular-se com todos os órgãos culturais da
União, podendo requisitar deles o que necessitar para o cumprimento de suas
atribuições.
Notamos nessas atribuições e em outras, a definição de um caminho para a
política cultural que seria trilhada durante o Regime Militar e incorporada pelo Conselho
Federal de Cultura, cerca de cinco anos mais tarde, como, por exemplo, a construção de
uma Política Cultural para atender às necessidades do país e a articulação com outros
órgãos de cultura do governo, a fim de oferecer e receber ajuda técnica. Contudo, muitas
das ações do CNC acabaram sendo descontinuadas com o Golpe de 1964, embora o
órgão em si não tenha sido extinto, mas reformulado dois anos depois.
A partir do Golpe de 1964, a Cultura assumiria novamente um papel relevante no
projeto político e ideológico. Nesse período encontramos uma série de ações estatais
que aparentemente são contraditórias entre si. Ao passo que o aparelho do Estado agiria
contra as ações culturais que fossem de encontro à ideologia vigente, o Regime investiria
64

na infraestrutura na área de telecomunicações que sustentaria o discurso de


modernização, segurança e integração nacional. Além disso, apoiaria a criação de
diferentes órgãos governamentais que seriam responsáveis pela elaboração de uma
política nacional de cultura.
O governo de Castelo Branco (1964-1967), primeiro presidente após o golpe civil-
militar, seria marcado pela continuidade da discussão sobre a necessidade da elaboração
de uma política nacional de cultura. Como um dos desdobramentos dessa discussão,
temos a criação do Conselho Federal de Cultura (CFC), criado pelo Decreto-lei nº. 74, de
21 de novembro de 1966, porém suas atividades só começaram ocorrer a partir da
publicação do Decreto-lei nº. 60.237, 17 de fevereiro de 1967. O CFC sucederia o CNC
na elaboração das diretrizes da política cultural brasileira. As duas principais ações do
CFC deveriam estar centradas na preparação de um Plano Nacional de Cultura e no
estímulo à criação de Conselhos de Cultura nos estados e municípios (CALABRE,
2007(a), p. 84), tal como já apareciam nas atribuições do Plano Nacional de Cultura no
CNC.
De acordo com o Decreto 74, artigo 4º, o Plano Nacional de Cultura seria
elaborado em conjunto com o Plano Nacional de Educação em sessões conjuntas do
Ministério da Cultura e o Ministério da Educação. Após a instalação do CFC, o Decreto
nº. 60.448, artigo 3º, de 13 de março de 1967, consolidaria a importância e as atribuições
do CFC através da preparação de um Regimento. Esse Regimento determinava algumas
atribuições do Conselho:

(2) Formular a política cultural nacional, no limite das atribuições do


Conselho; (...) 4) Cooperar para a defesa e conservação do patrimônio
histórico e artístico nacional; 5) Decidir sobre a concessão de auxílios às
instituições culturais oficiais e particulares de utilidade pública, tendo em
vista a conservação e guarda de seu patrimônio artístico ou bibliográfico
e a execução de projetos específicos para a difusão cultural; (...) 7)
Opinar, para efeito de assistência e amparo do Plano Nacional de
Cultura, sôbre os programas apresentados pelas instituições culturais do
País; 8) decidir sôbre os convênios que hajam de ser feitos com os
Conselhos Estaduais de Cultura, visando ao levantamento das
necessidades regionais e locais e ao desenvolvimento e integração da
cultura no País; 10) Elaborar o Plano Nacional de Cultura, com os
recursos oriundos do Fundo Nacional de Educação (Fundo Nacional de
Ensino Primário, de Ensino Médio e de Ensino Superior) ou de outras
fontes, orçamentárias ou não, postas ao seu alcance; [sic] (BRASIL,
1967).

Como podemos verificar no texto do Decreto 60.448, o CFC ficaria responsável


pela elaboração da Política Cultural Nacional e também do Plano Nacional de Cultura, se
tornando, assim, o principal órgão responsável pelas políticas culturais entre os anos de
65

1967 a 1975. Além disso, havia uma preocupação com a defesa e conservação com o
patrimônio histórico e artístico, embora já existisse um órgão que cuidasse da proteção
do patrimônio como o DPHAN. Dessa forma, a instalação do CFC para coordenar a
política cultural brasileira denuncia uma mudança nos rumos da cultura brasileira.
De acordo com os Decretos de criação e o Regimento, o CFC71 era formado por
vinte e quatro intelectuais72 e possuía como um dos seus objetivos organizar o setor
cultural. A estrutura do CFC estava dividida em quatro câmaras: Artes, Ciências
Humanas, Letras e Patrimônio Histórico e Artístico. Para os membros do Conselho que
elaboraram este projeto, esta divisão era constituída dos elementos definidores da cultura
nacional. Os conselheiros foram divididos entre as Câmaras de acordo com sua formação
e experiência profissional. Eram escolhidos pelo presidente do CFC73 e nomeados pelo
presidente da República. Sua permanência no cargo durava, em média, dois anos para
um terço dos conselheiros, podendo ser conduzidos novamente ao cargo apenas uma
vez e o restante teria o mandato de quatro anos74.
Como vimos anteriormente, o CFC herdou do CNC entre outras obrigações, a de
incentivar a criação dos Conselhos Estaduais de Cultura (CECs) e dos Conselhos
Municipais de Cultura (CMCs) considerados fundamentais para o planejamento e a
execução de políticas culturais que abrangessem todo o território nacional. A criação de
conselhos estaduais e municipais era necessária à formação de um “sistema nacional de
cultura” capaz de atender às diversas demandas regionais constitutivas da nacionalidade.
A base desse sistema seriam os conselhos municipais de cultura articulados com os
conselhos estaduais (MAIA, 2011, p. 72).
A primeira reunião nacional entre os conselheiros do CFC, o MEC e Conselhos
Estaduais de Cultura (CECs) ocorreria em 12 de fevereiro de 1968, convocada pelo

71 Conforme o Decreto 60.237 de fevereiro de 1967, o CFC herdaria os funcionários e o acervo do acervo do
antigo Conselho Nacional de Cultura criado, durante o governo de Vargas.
72 Esse número foi alterado posteriormente para 26, no Decreto-lei nº. 74.583 de 1974 (BRASIL, Decreto nº,
74.583, art. 1º, de 1974).
73
De acordo com Maia (2011), o Conselho teve três presidentes: Josué Montello (1967-1968), Arthur Cezar
Ferreira Reis (1969-1972) e Raymundo Moniz de Aragão (1973-1974). Os membros fundadores do CFC
foram: Presidente do Conselho – Josué Montello; Câmara de Artes – Clarival do Prado Valladares
(presidente), Ariano Suassuna, Armando Sócrates Schnoor, José Candido Andrade Muricy, Octávio de Faria,
Roberto Burle Marx; Câmara de Letras – Adonias Aguiar Filho (presidente), Cassiano Ricardo, João
Guimarães Rosa, Moyses Vellinho, Rachel de Queiroz; Câmara de Ciências Humanas – Arthur Cezar
Ferreira Reis (presidente), Augusto Meyer, Djacir Lima Menezes, Gilberto Freyre, Gustavo Corção, Manuel
Diégues Júnior; Câmara do Patrimônio Histórico Artístico Nacional – Afonso Arinos de Mello Franco
(presidente), Hélio Vianna, Dom Marcos Barbosa, Pedro Calmon, Raymundo Castro Maya, Rodrigo Mello
Franco de Andrade (MAIA, 2011, p. 64).
74 Esse período foi modificado para seis anos, no Decreto 74.583, para os 24 membros do Conselho
nomeados pelo Presidente da República, e para o Diretor-Geral do Departamento de Assuntos Culturais e o
Diretor de Instituto Nacional do Livro, chamados de membros natos, o período não seria pré-fixado (BRASIL,
1974).
66

presidente da República: Arthur da Costa e Silva (1967-1969). Foram convidadas outras


autoridades do MEC e dos Ministérios do Planejamento e das Relações Exteriores, além
das Comissões de Educação e Cultura do Senado Federal e da Câmara dos Deputados.
O objetivo dessa reunião era a discussão pertinente ao Plano Nacional de Cultura (MAIA,
2011, p.73). Essa reunião foi marcada pela presença de vinte e dois Conselhos, muitos
dos quais organizados às pressas, apenas para atender a uma ordem governamental,
mas sem nenhuma estrutura, denunciando a incerteza da área cultural no país. O
principal objetivo dessa reunião era promover a articulação dos CECs e CMCs com o
CFC. No entanto, muitos CECs não possuíam orçamento necessário para implementar
ações, outros não possuíam organização necessária, com algumas exceções como os
CECs do Rio de Janeiro, com vinte conselhos municipais, que promoveram dois
encontros estaduais em 1972 e 1973. Além disso, podemos citar os CECs do Pará,
Pernambuco e São Paulo como uma das poucas exceções (MAIA, 2011, p. 73). A
reunião não geraria nenhum documento de muita expressão, mas influenciaria os
representantes de estados, municípios e união para divulgarem os dados relativos à
situação do patrimônio cultural juntamente com as necessidades mais urgentes de cada
local.
Esse documento só apareceria dois anos mais tarde, em 1970, quando foi
realizada uma reunião entre os governadores e o Ministro da Educação e Cultura, Jarbas
Passarinho (1969-1974) para se discutir um compromisso de defesa desse patrimônio. O
“Encontro dos Governadores sobre a Defesa do Patrimônio Histórico e Artístico do Brasil”
foi realizado em Brasília, entre primeiro e três de abril de 1970, e foi coordenado por
Arthur Cezar Ferreira Reis, presidente do Conselho, e Pedro Calmon, presidente da
Câmara de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional do CFC. Entre os assuntos
abordados nessa reunião estavam a “criação dos patrimônios estaduais” e sua função
como órgãos congêneres à DPHAN; a formação de recursos humanos especializados em
restauração, identificação e catalogação de acervos; dotação orçamentária e captação de
recursos (MAIA, 2011, p. 77). Entre as medidas que deveriam ser adotadas pelos órgãos
regionais estavam:

À proteção do patrimônio histórico e artístico, nos moldes da DPHAN; dotação


orçamentária dos estados da federação e a participação da União em programas
nacionais; formação de equipe técnica nos estados; infraestrutura estadual, com
a criação de arquivos, bibliotecas, Casas de Cultura, museus e parques;
restauração dos bens tombados; defesa dos monumentos funerários; ampliação
da legislação sobre a comercialização das obras de arte; elaboração de uma
legislação que estimule a preservação de bens tombados pelos proprietários;
encontros anuais entre os órgãos estaduais e a DPHAN; auxílio técnico e
financeiro aos municípios possuidores de conjuntos arquitetônicos tombados.
(MAIA, 2011, p. 78).
67

Por fim, o documento recomendava que a adoção dessas medidas ocorresse por
meio de convênios entre Estados, órgãos federais especializados, MEC (por meio do
DPHAN) e o CFC. No final do encontro, foi apresentado o Compromisso de Brasília que
contava com vinte três tópicos, ressaltando a necessidade de estados e municípios
adotarem medidas específicas para criação de órgãos de defesa do patrimônio sob a
orientação do DPHAN, que interagissem junto com órgãos federais na questão da
preservação do patrimônio cultural e naturais nacionais e regionais. Além disso, era
necessário elaborar uma legislação estadual e municipal para o setor e ampliar os
recursos orçamentários. Destacamos ainda, o investimento na formação de mão-de-obra
especializada sob a orientação de órgãos federais; a proteção da documentação através
da criação de arquivos; a preservação dos cemitérios e túmulos de valor histórico; a
criação de museus regionais com a função precípua de documentar. Ambos os pontos
visavam uma educação cívica, nos moldes do modelo educacional do Regime Militar
(MAIA, 2011, p.79).
O CFC possuía apenas o caráter normativo, consultivo e fiscalizador, conforme
nos explica Maia (2011) tal como definido no seu Regimento. O Conselho se tornaria
encarregado da distribuição das verbas; do financiamento de instituições públicas e
privadas do setor cultural; do assessoramento ao ministro da Educação e Cultura; da
definição das áreas de atuação do Estado; da realização de convênios com instituições;
da elaboração de regulamentos e resoluções; organização de campanhas nacionais de
cultura; e da defesa do patrimônio cultural (MAIA, 2011, p. 64).
De acordo com Calabre (2006), os seis estados mais contemplados com verbas
do CFC em 1971, foram: “Guanabara - 41,78%; Pará - 10,96 %; Minas - 9,52%, São
Paulo - 7,58%, Pernambuco - 6,83% e Rio Grande do Sul - 5,87%” (CALABRE, 2006,
p.85). Essa concentração de recursos no Estado da Guanabara, antiga capital do país
poderia ser justificada porque o estado ainda concentrava muitos órgãos ligados à
cultura, incluindo até o próprio CFC. Além disso, já contava com um CEC, e vários CMC
bem organizados, possivelmente em função de existirem verbas federais disponíveis e do
estado possuir o principal centro de formação de profissionais e técnicos na área do
Patrimônio: O Museu Histórico Nacional com o Curso de Museologia. Essa concentração
de recursos poderia explicar também o destaque que o Estado do Rio de Janeiro teve no
início da década de 1980.
Como observamos anteriormente, o CFC estava dividido em quatro Câmaras:
Artes, Ciências Humanas, Letras e Patrimônio Histórico e Artístico. De acordo com Maia
(2011), esta “divisão era considerada decisiva pela comissão que elaborou o projeto do
Conselho por constituir os elementos considerados definidores da cultura nacional”.
68

(MAIA, 2011, p. 63). Os membros do Conselho foram alocados segundo as suas


habilidades e áreas de atuação. A Câmara de Letras recebia as demandas de bibliotecas,
Centros Culturais e também da Academia de Letras, além dos pedidos de publicações,
periódicos, aquisição de livros para as mesmas instituições. Lia Calabre (2006) chama a
atenção para o fato de que os membros da Câmara de Letras eram, em sua maioria,
literatos e escritores. A Câmara de Ciências Humanas recebia os pedidos de recursos
para os institutos históricos e geográficos de todo o país, arquivos públicos, museus de
ciências e institutos de estudos brasileiros, que se caracterizavam em sua maioria por
pedidos de verbas para compra de livros, periódicos, “publicações de estudos e
reedições de obras clássicas, seminários nacionais e internacionais, compra de
equipamentos e auxílios para preservação de acervos” (CALABRE, 2006, p. 86). À
Câmara de Patrimônio caberia à conservação e restauração de obras de arte, patrimônio
histórico edificado e tombado, monumentos e museus. No caso deste último, o prédio do
museu era uma obrigação da área de patrimônio, mas muitas vezes a compra de
equipamento ou a aquisição e proteção do acervo ficava a cargo de outras áreas,
conforme nos diz Calabre (2006). A Câmara de Arte ficaria responsável pelos grupos
musicais, orquestras, conservatórios, grupos teatrais e escolas de arte. Também se
responsabilizaria pela área de obras de artes, reforma de teatros e de grupos que não
haviam sido tombados. Portanto, as verbas estariam direcionadas principalmente para a
aquisição de instrumentos e equipamentos, e para o financiamento de turnês de
orquestras, balés e óperas, além de uma demanda para a “radiodifusão educativa e para
a aquisição de filmes documentários” (CALABRE, 2006, p. 86).
Digno de nota era a contribuição do CFC em eventos internacionais, ligados à
Educação e Cultura como, por exemplo, os eventos relativos à UNESCO. Calabre (2006)
relata uma proposta que seria apresentada em uma desses eventos75, pelo então diretor
Arthur Reis. A reunião para discussão dessa proposta teria ocorrido na Academia
Catarinense de Letras, em 1971, e como consequência estabeleceria os seguintes
pontos:
1 - Realização de inventários das instituições culturais mundiais.
2 - Elaboração de estudos sobre as repercussões que a urbanização
está promovendo sobre as atividades culturais das populações rurais.
3 - Encorajamento aos Estados-membros na defesa não só dos
monumentos arquitetônicos, mas também dos conjuntos urbanos.

75
Embora Calabre (2006) em seu artigo não tenha dito qual conferência seria apresentada a proposta
relacionada abaixo, possivelmente se tratava da Comissão Internacional para o Desenvolvimento da
Educação presidida por Edgard Faure foi constituída em 1971 e que concluiria seus trabalhos em março de
1972. O Relatório Final incluiria o envio de missões especiais para proceder à troca de ideias, visitas e
reuniões com inúmeras instituições educacionais, estudos de documentos pertinentes e entrevistas com
diversos especialistas de credibilidade internacional no mundo todo (WERTHEIN et al., 2000, p.14).
69

4 - Realizações de estudos das culturas em perigo de extinção e


estabelecimento de um centro internacional de documentação
relacionado com a preservação das culturas.
5 - Fomento ou apoio da UNESCO aos estudos de medidas que criem
recursos financeiros.

6 - Patrocínio da UNESCO na realização de estudos sobre sistemas de


isenção ou redução fiscal para pessoas físicas ou jurídicas que prestem
auxílio às atividades culturais (CALABRE, 2006, p. 91).

Nessa proposta fica evidente a grande importância que a UNESCO teria na


América Latina, tanto no que diz respeito à Educação como na proteção do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional. Essa interferência da UNESCO nas políticas públicas
educativas e culturais pode ser observada, desde o final da Segunda Guerra Mundial
(1946)76. No entanto, no que se refere à proposta descrita acima, Calabre (2006)
comenta que mesmo dois anos após a conferência, as medidas não foram
implementadas porque os países foram contra as duas últimas proposições devido aos
altos custos financeiros (CALABRE, 2006, p. 91).
De acordo com Maia (2011), entre os anos de 1967 e 1975, o CFC “promoveu
convênios; financiou projetos; investiu na publicação de obras de referência sobre a
cultura nacional” entre elas: o Dicionário Bibliográfico Brasileiro, a Revista Brasileira de
Cultura; bem como propôs importantes anteprojetos de lei para a institucionalização do
setor cultural e reformulação de suas principais instituições (MAIA, 2011, p. 80). Devido à
restrição de verbas com o passar dos anos, a implementação de projetos sempre foi
restrita. Apesar disso, segundo a mesma autora, a política desta instituição só apresentou
sinais de esgotamento em meados da década de 1970 quando ocorreu uma nova
estruturação do setor cultural, que acarretou um novo direcionamento dos recursos para
a produção cultural que era vista como a melhor opção para responder ao processo de
desenvolvimento (MAIA, 2011, p. 80).
É importante enfatizar que, de acordo com Maia (2011), essa visão do patrimônio
como elemento indispensável à civilização e à modernidade, que foi institucionalizada na
gestão de Rodrigo Melo Franco de Andrade no SPHAN//DPHAN, foi também apropriada
por muitos integrantes do CFC que a mantiveram incorporada às suas práticas, afinal,
muitos daqueles que participaram no SPHAN/DPHAN, integraram-se ao CFC (MAIA,
2011, p. 67). Deste modo, com o passar dos anos, a noção de patrimônio seria ampliada

76
Segundo o Relatório da UNESCO para educação superior a abrangência da atuação da agência
compreende as “áreas da Educação, Ciência e Tecnologia, Cultura e Comunicação indica que, por intermédio
da generalização do conhecimento, a humanidade atingir padrões aceitáveis de convivência humana e de
solidariedade” (WERTHEIN, et al., .2000, p.11).
70

e incorporaria o conceito, os hábitos, costumes, danças, modos de agir e pensar,


invenções nas áreas científicas e artísticas etc. (Idem).
Na perspectiva dos conselheiros do CFC, o Estado desempenhava um papel
fundamental na manutenção das políticas públicas culturais, pois era o único capaz de
assegurar uma infraestrutura necessária para proporcionar a “liberdade” a diferentes
formas de expressão artística. Deste modo, segundo Maia (2011) o Estado não
apareceria apenas como um censor da produção cultural, como ficaria muito evidente no
Ato Institucional nº. 5. Ao contrário, o “Estado garantiria que o setor cultural que
colaborasse com o Regime que ele não sofreria qualquer pressão que orientasse,
subordinasse ou limitasse sua produção” (MAIA, 2011, p. 68).
Na prática o CFC também esboçaria uma mudança de visão dentro do MEC.
Cada vez mais havia uma distinção entre as áreas de Educação e Cultura, mesmo que a
primeira ainda prevalecesse sobre a outra. Essa distinção só se consolidaria anos mais
tarde.
No ano de 1970 aconteceu uma reorganização na estrutura ministerial no MEC,
entre elas, uma nova denominação para o DPHAN que passou a se chamar Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).77 Esse Decreto criaria o Departamento
de Assuntos Culturais (DAC), do qual o DPHAN passaria a ser subordinado, e adotaria o
nome de Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Esta nova estrutura não
causaria grandes mudanças na organização administrativa do Instituto até praticamente o
final da década de 1970, mas daria mais agilidade na tomada de decisões.
No início dos anos 70 havia uma preocupação comum dentro da UNESCO com a
preservação do patrimônio natural, e também cultural mundial que se refletiu em muitas
conferências e programas ao longo da década. Podemos destacar, entre essas, a
Conferência sobre a Biosfera, de 1968, que procurou discutir os impactos produzidos na
biosfera pela ação do homem, bem como as possíveis soluções para o problema. Nessa
conferência procurava-se harmonizar o desenvolvimento com a preservação da biosfera,
o que corresponderia ao que chamamos atualmente de “desenvolvimento sustentável”.
No campo cultural, destacamos a Mesa Redonda de Santiago (Chile) em março de 1972,
conforme já destacamos no capítulo anterior. Esta conferência, realizada por profissionais
latino-americanos foi uma discussão sobre problemas sociais, econômicos e culturais dos
países da região e o papel dos museus e da educação nessa dinâmica. A ideia era achar
respostas para os problemas locais pelo ponto de vista dos locais e não pelo olhar dos
europeus ou norte-americanos.

77 Pelo Decreto nº. 66.967, de 27 de julho de 1970, parágrafo 5º, alínea III.
71

Também destacamos a Convenção sobre a Proteção do Patrimônio Mundial,


Cultural e Natural (Paris) de novembro de 1972. Essa Conferência era o resultado do
senso comum que o patrimônio natural e cultural estava ameaçado de destruição, não só
pela degradação natural, mas principalmente pelo desenvolvimento social e econômico
dos países. Sendo assim, o desaparecimento desse patrimônio era uma perda
irreversível para a humanidade. O documento redigido nos últimos dias do evento, 23 de
novembro de 1972, assegurava a salvaguarda de “bens” naturais e culturais que fossem
de importância para o mundo. Na visão do documento, na maioria das vezes, os Estados
eram ineficientes na defesa desse patrimônio. Assim, seria necessária uma assistência
da comunidade internacional para que esse patrimônio não desaparecesse. Neste
sentido, destacamos o artigo 5º, deste documento, que trata da criação de instituição de
políticas nacionais e/ou regionais para a proteção de diferentes tipos de patrimônio
conforme podemos ver abaixo:

a. Adotar uma política geral que vise determinar uma função ao


patrimônio cultural e natural na vida coletiva e integrar a proteção do
referido patrimônio nos programas de planificação geral;

b. Instituir no seu território, caso não existam, um ou mais serviços


de proteção, conservação e valorização do patrimônio cultural e natural,
com pessoal apropriado, e dispondo dos meios que lhe permitam cumprir
as tarefas que lhe sejam atribuídas;

c. Desenvolver os estudos e as pesquisas científicas e técnica e


aperfeiçoar os métodos de intervenção que permitem a um Estado
enfrentar os perigos que ameaçam o seu patrimônio cultural e natural;
[grifo nosso] (UNESCO, Artigo 5º, Alíneas a, b, c; Paris, 1972).

Como podemos perceber, havia uma preocupação da UNESCO em incentivar os


Estados membros a formular políticas de proteção do seu patrimônio natural e cultural
que pudesse ter uma grande importância simbólica para as populações locais ou mesmo
mundial. Além do mais, a organização também atuaria através de incentivos e apoio
técnico na criação de instituições locais ou regionais que trabalhassem sobre a temática
da proteção do patrimônio. Neste sentido, o Brasil já havia saído na frente, pois desde a
década de 1930 havia criado o SPHAN como órgão estatal responsável pela salvaguarda
do patrimônio nacional e possuía um dos Cursos mais antigo para formação de
profissionais de museus, o já citado Curso de Museus do Museu Histórico Nacional-
MHN, criado em 1932. Apesar disso, não existiria desde então uma política efetiva que
contemplasse todos os aspectos de proteção do patrimônio nacional, embora, já
houvesse um esforço para isso como veremos à frente.
72

Outro aspecto muito interessante sobre essa conferência da UNESCO são os


artigos que tratam da formação de técnicos para junto aos Estados na questão da
seleção, guarda e preservação do patrimônio. No artigo 5º, alínea “e”, os Estados teriam
a obrigação de ”fomentar a criação ou o desenvolvimento de centros nacionais ou
regionais de formação em matéria de proteção, conservação ou valorização do
patrimônio cultural e natural e estimular a pesquisa científica nesse campo” (UNESCO,
Artigo 5º, alínea e, Paris, 1972). O artigo 23 do documento, nos chama a atenção para a
participação da UNESCO tanto na formação de técnicos pela assistência técnica e
também pelo apoio financeiro aos Estados e as instituições de ensino, conforme
podemos notar abaixo:

O Comitê do Patrimônio Mundial pode também prestar assistência


internacional a centros nacionais ou regionais de formação de
especialistas de qualquer nível nas áreas de identificação, proteção,
conservação, valorização e reabilitação do patrimônio cultural e natural.
(UNESCO, Artigo 23, Paris, 1972).

Durante a década de 1970 havia também a necessidade de adequação das


instituições governamentais, já existentes, ao novo modelo político desenvolvimentista78
adotado durante a Ditadura Militar. Era preciso modernizar sua política de preservação
considerando o desenvolvimento e o crescimento das cidades (SILVA, 2001, p. 106) e
necessário diminuir os conflitos gerados entre o interesse público e privado derivado do
tombamento das edificações.
O IPHAN adotaria uma nova estratégia relacionada: proprietários, Igrejas e Poder
Público que possuíam bens culturais passíveis de ser tombados. O discurso era de que
não haveria conflito entre preservação e desenvolvimento, mas sim um interesse comum
que agregaria valor econômico ao valor cultural. Assim, o IPHAN adotaria o discurso do
“potencial turístico de preservação” exemplificado pela política “Programa Integrado de
Reconstrução de Cidades Históricas”79 (PCH). O PCH foi, possivelmente, um dos

78 Segundo o verbete do Dicionário da FGV, podemos definir: “Desenvolvimentismo” como “Nome dado à
estratégia política de desenvolvimento adotada durante o governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), que
visava acelerar o processo de industrialização e superar a condição de subdesenvolvimento do país”. O
desenvolvimentismo como modelo econômico postulava que o crescimento dependia diretamente da
quantidade dos investimentos e da produtividade marginal do capital; estes dois elementos estavam ligados
ao investimento estrangeiro, que os fazia variar em função de sua própria importância. O desenvolvimentismo
como ideologia de um desenvolvimento autônomo no âmbito do sistema capitalista proclamava por sua vez a
riqueza e a grandeza nacional, a igualdade social, a ordem e a segurança. [...] O desenvolvimentismo trazia
também uma concepção de grandeza nacional como destino. O Brasil, ao ultrapassar seu estágio de
subdesenvolvimento, ocuparia uma posição de destaque no mundo, dada a sua riqueza natural, sua
extensão territorial e o valor do seu povo. O desenvolvimentismo foi retomado e aprofundado enquanto
modelo econômico e ideologia do desenvolvimento pelos governos militares que assumiram o poder após
março de 1964. (ABREU, Alzira Alves In Dicionário Histórico e Biográfico Brasileiro, FGV/CPDOC, 2010).
79 O PCH também ficou conhecido como Programa das Cidades Históricas.
73

desdobramentos mais significativos no Brasil, da Conferência de Paris, da UNESCO de


1972.
O PCH adotaria a política de preservação conjugada com o aproveitamento do
potencial turístico das cidades históricas. O objetivo desse programa era descentralizar a
política de preservação, dividindo a responsabilidade entre o governo Federal e os
estados. Além disso, o PCH incentivou o desenvolvimento de órgãos de preservação nos
estados. De acordo com Silva (2001), o PCH era composto pelo corpo técnico do IPHAN,
membros do Ministério da Educação e Cultura, membros do Ministério do Planejamento
(através da SUDENE)80, Ministério da Indústria e Comércio (através da EMBRATOUR)81,
Secretaria de Planejamento da Presidência da República. (SILVA, 2001, p. 107). O PCH
foi um passo decisivo para começar o processo de transformação pelo qual a instituição
passaria ao longo da década de 1970, já que entre outras coisas incentivaria uma
descentralização da proteção do patrimônio, e fomentaria a criação de órgãos análogos
nos estados e cidade.
Com a Portaria nº. 230, de 30 de março de 1976, o IPHAN adotaria um novo
regimento interno e modificaria a organização do Instituto. De acordo com o Dicionário do
Patrimônio Cultural do IPHAN (2015) foram criadas quatro novas Diretorias Regionais
nas regiões Norte, Sul e Centro-Oeste. Além das duas existentes no Sudeste e no
Nordeste. Caberia ao Instituto:

A catalogação sistemática e a proteção dos arquivos estaduais,


municipais, eclesiásticos e particulares, cujos acervos interessem à
história nacional e à história da arte no Brasil. A coordenação e a
orientação das atividades dos museus federais que lhe forem
subordinados [...] e o estímulo e a orientação no País da organização de
museus de arte, história, etnografia e arqueologia. A realização de
exposições temporárias de obras de valor histórico e artístico, assim
como de publicações e quaisquer outros empreendimentos que visem
difundir, desenvolver e apurar o conhecimento do patrimônio histórico,
artístico, arqueológico e paisagístico do País (REZENDE et al. 2015).

80 De acordo com o verbete “SUDENE” do Dicionário Histórico e Biográfico Brasileiro do CPDOC/FGV, a


Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) criada pela Lei 3.692 de 15 de dezembro de
1959. Seu objetivo era promover e coordenar o desenvolvimento dos Estados do MA, PI, RN, PB, PE, CE,
AL, SE, BA e parte de MG. Esse projeto procurava diminuir as diferenças entre as regiões Centro-Sul e
Nordeste do país através da intervenção do Estado. A SUDENE foi criada como autarquia subordinada à
Presidência da República. OLIVEIRA, Lúcia Lippi In SSUDENE (verbete) Dicionário Histórico e Biográfico
Brasileiro CPDOC/FGV, 2010.
81 A Empresa Brasileira de Turismo (EMBRATUR) criada pelo Decreto-lei nº. 55 de 15 de novembro de 1966

como empresa pública vinculada ao Ministério da Indústria e Comércio.


74

Fariam parte dessa nova organização Administrativa também as Divisões tais


como: a Divisão de Museus e de Difusão Cultural, a Divisão de Arqueologia, Divisão de
Pessoal e Divisão de Execução Orçamentária e Financeira REZENDE et al. Dicionário
do IPHAN do Patrimônio Cultural, 2015). Essas modificações dariam maior autonomia ao
Instituto frente ao DAC, já que possuía uma estrutura administrativa estabelecida, bem
como deixaria mais explícita a disputa entre a vertente patrimonialista encabeçada pelo
IPHAN e vertente tecnicista exemplificada pelos técnicos do PAC. Em 1979, o IPHAN se
fundiria com outros órgãos e se tornaria a Fundação Nacional Pró-Memória, conforme
veremos mais à frente.
Relembramos que durante a gestão de Jarbas Passarinho (1969-1974) ocorreram
diversas modificações dentro da estrutura do Ministério da Educação e Cultura, que
deram mais dinamismo ao MEC e que impactaram de forma definitiva no que se
entenderia como política cultural nos anos posteriores. O Decreto nº 66.967, de 27 de
Julho de 1970, que instituiu novos departamentos no Ministério como DAC contariam com
Grupos-Tarefa que atuariam “sempre mediante administração por objetivos”, cuja
regulamentação seria feita pelo Ministro. Os Grupos-Tarefa seriam compostos por:

[...] Técnicos e pessoal especializado ou administrativo, recrutados, de


preferência, dentre servidores do MEC ou requisitados, terão sempre trabalho de
natureza transitória ligado ao objetivo do projeto ou atividade; seus integrantes,
bem como os das Assessorias Técnicas de que trata o § 1º do artigo 1º dêste
Decreto, poderão ser retribuídos em caráter eventual mediante recibo, na forma
da legislação vigente. [sic] (BRASIL, 1970).

De acordo com o Decreto mencionado acima, no artigo 17, os grupos constituídos


possuíam como funções principais a) estudar os aspectos funcionais das programações
de trabalho e os de natureza jurídica, administrativa e financeira dos órgãos; b) estudar e
propor medidas que visassem a extinção, fusão transformação ou transferência de
órgãos do MEC, para o âmbito de outras entidades públicas de modo a implementar
gradativamente as medidas previstas na reforma administrativa federal; entre outras
atribuições. Como veremos mais a frente, à criação de departamentos como o DAC seria
crucial para o estabelecimento de novos padrões para a política cultural no país.
Como um dos desdobramentos dessa nova organização do MEC, temos em 1973,
a elaboração das Diretrizes para Política Nacional de Cultura. De acordo com Fernandes
(2013), estas procuravam fazer a relação entre a Política de Segurança Nacional com o
desenvolvimentismo. A cultura deveria ser apresentada de uma forma “moderna” ao
povo. O documento apontava para a necessidade da criação de um organismo na área
75

da Cultura, como um Ministério ou adaptação de algum já existente, aumentando-lhe a


área de abrangência, a hierarquia, assim como poderes de planejamento, execução, e
avaliação, de forma a promover a integração harmônica com outros órgãos da esfera
pública. Essa proposta encontrou muita resistência dentro do MEC, principalmente
porque sugeria a criação do Ministério da Cultura. No entanto, esse projeto não foi muito
adiante, e embora fosse publicada, logo foi substituída pelo Programa de Ações Culturais
(PAC), meses mais tarde.
O PAC abrangeria “o setor de patrimônio, as atividades artísticas e a capacitação
de pessoal, tendo como premissa levar a todos os brasileiros uma cultura acessível”.
(VASCONCELOS et al., 2011, p. 204). Esse Programa de Ação contava com uma
estrutura mais dinâmica e privilegiada dentro da própria estrutura do MEC, pois ficava
subordinado diretamente ao DAC.
O PAC retomaria a discussão sobre a necessidade de o Estado interferir no
desenvolvimento cultural nos moldes do documento “Diretrizes”. Porém, diferente dele, a
ideia de um Ministério da Cultura não aparecia e o projeto possuía mais limitações de
tempo e recursos. Entre os objetivos do PAC estavam à preservação do patrimônio
histórico e artístico; o incentivo à criatividade; a difusão das atividades artísticas culturais
e a captação de recursos (SILVA, 2001, p. 104).
O PAC obtivera diversas vantagens do governo federal, pois além de possuir
recursos que outras áreas não possuíam. Sua estrutura era mais flexível e permitia a
contratação de funcionários fora dos quadros do MEC. Dotado de uma verba suficiente
para mover as atividades culturais, o Programa tinha como meta instalar um calendário
artístico, que ficou conhecido como programa de financiamento de eventos culturais do
governo. A FUNARTE herdaria “muitas de suas peculiaridades e a execução de seus
recursos, absorvendo todas as áreas culturais do Ministério” (VASCONCELOS et al.,
2011, p. 204). A atuação do PAC foi tão decisiva, que o DAC se tornaria o Departamento
mais importante dentro do MEC durante esse período (VASCONCELOS et al., 2011, p.
204).
Com a posse do novo ministro da Educação e Cultura, Ney Braga (1974-1978) no
governo de Ernesto Geisel (1974-1978) o setor cultural sofreria profundas modificações.
Durante esse período, a área cultural do MEC contava com significativos recursos. Além
disso, Ney Braga havia escolhido para cargos estratégicos do Ministério, intelectuais de
prestígio ligados à área da cultura. Se, por um lado, ainda existia a censura às
expressões culturais contrárias ao regime, o governo procurava prover uma abertura
política gradual, por aumentar o investimento nas áreas de comunicação, bem como na
criação de órgãos que cuidasse da política cultural.
76

Em 1975, seria confeccionada a Política Nacional de Cultura com participação


do CFC que contribuiria com as normas e incentivo; e do PAC que atuaria no que se
refere à seleção e financiamento de instituições que executaria os projetos. A Política
possuía fundamentos ideológicos semelhantes aos das Diretrizes para Política Nacional
de Cultura, isto é, a cultura era vista como base para o desenvolvimento nacional, numa
visão essencialista e industrial da Cultura (FERNANDES, 2013, p.183) conforme
podemos observar neste trecho citado abaixo:

Nesse rumo de concepções e na conformidade de nossa vocação


democrática, a Política Nacional de Cultura entrelaça-se, como área de
recobrimento, com as políticas de segurança e de desenvolvimento;
significa, substancialmente, a presença do Estado como elemento de
apoio e estímulo à integração do desenvolvimento cultural dentro do
processo global de desenvolvimento brasileiro (Política Nacional de
Cultura, 1975, p. 30).

De acordo com Silva (2001) Política Cultural possuía uma preocupação dupla. A
primeira era de promover a continuidade das manifestações culturais tidas como
características do povo brasileiro, isto é, preservação do que é considerado patrimônio
cultural brasileiro e por isso, alicerce da identidade nacional; e a segunda era se adaptar
às mudanças impostas pelo desenvolvimento nacional e internacional através do
incentivo à criatividade e inovação do campo cultural, tal qual é definida logo na primeira
página do documento: “apoiar e incentivar as iniciativas culturais de indivíduos e grupos e
de zelar pelo patrimônio cultural da Nação, sem intervenção do Estado, para dirigir a
cultura” (Política Nacional de Cultura, 1975, p. 5). A Política Nacional de Cultura visava:

A construção do futuro de um país e da grandeza de seu povo não se


fundamenta, somente, em alicerces materiais. O espírito que o anima, e
que é o responsável maior por sua identidade, merece preferência na
elaboração do planejamento nacional. [sic] (Política Nacional de Cultura,
1975, p. 8).

Entre as diretrizes que norteavam a Política Nacional de Cultura, podemos


destacar:
(...) 2. A proteção, a salvaguarda e a valorização do patrimônio histórico
e artístico e ainda dos elementos tradicionais geralmente traduzidos em
manifestações folclóricas e de artes populares, características de nossa
personalidade cultural, expressando o próprio sentimento da
nacionalidade; (...).
4. O estímulo à criação nos diversos campos das letras, das artes e
artesanato, das ciências e da tecnologia, bem como a outras expressões
do espírito do homem brasileiro, visando à difusão desses valores
através dos meios de comunicação de massa;
77

5. O apoio à formação de profissionais, que contribua para desenvolver


uma consciência nacional capaz de zelar e dar continuidade ao que é
culturalmente nosso; (Política Nacional de Cultura, 1975, p. 24-25).

Observamos, no trecho acima, que a ênfase da política estatal no campo da


cultura havia mudado radicalmente. Embora a Política Nacional ainda expressasse um
forte espírito nacionalista, como é comum no discurso do Regime Militar, o foco passaria
a partir de agora para as manifestações culturais de forma mais subjetiva. Se antes
órgãos como o DPHAN colocavam sua atenção na proteção do patrimônio histórico e
artístico nacional, principalmente no patrimônio edificado, a ênfase agora estava na
valorização das manifestações artísticas nacionais e na cultura como um fenômeno de
massa. Ganharia destaque o incentivo à produção cultural e à generalização do consumo
que seriam feitos por meios dos “veículos” de comunicação de massa, como rádio e
principalmente a televisão. A própria ideia de “preservação” dos bens culturais havia
mudado. De acordo com a própria Política, “Preservar não sugere uma atitude de
conservação no sentido de mero registro ou exposição, sob diferentes formas de museus.
O que se pretende é manter a participação vivencial do povo em consonância com os
valores que inspiram a vida em sociedade” (Política Nacional de Cultura, 1975, p. 29). A
preservação estaria muito mais ligada aos valores sociais que à materialidade.
Vale a pena chamar a atenção para o fato de que o mesmo documento trata da
necessidade de se “capacitar recursos humanos para a área da cultura”, a fim de suprir a
“irregular e exígua formação de profissionais com conhecimentos básicos específicos”.
Essa característica seria responsável em grande parte pelos problemas na área uma vez
que as propostas não contemplavam a criação de cursos de graduação específicos para
a área de preservação. Como programa de ação o documento sugeria:

j) criar cursos de extensão com o objetivo de divulgar aspectos do


patrimônio histórico, artístico e arqueológico, das riquezas naturais, das
características musicais e literárias, da biografia de escritores, artistas ou
cientistas, bem como a promoção de cursos de curta duração para o
aperfeiçoamento e atualização de especialistas nas áreas da cultura; I)
estimular a concessão de bolsas de estudo, inclusive no estrangeiro,
para incentivar o aperfeiçoamento da criatividade nos diferentes campos
da cultura; (Política Nacional de Cultura, 1975, p. 37).

E nesse sentido as universidades teriam um papel importantíssimo porque não só


contribuiriam com a formação dos técnicos que trabalhariam na área da cultura através
de cursos de extensão, mas também atuariam na identificação, seleção, pesquisa e
guarda do patrimônio nacional conforme podemos perceber no texto abaixo:
78

3. Universidades, que se constituem focos capazes de contribuir para o


surgimento do espírito científico e criativo, associando análises e
pesquisas, às quais caberia: (...)
b) promover estudos e pesquisas, em nível de planejamento próprio ou
em convênio com outras instituições culturais, para levantamentos de
acervos arqueológicos, históricos, etnográficos, artísticos ou folclóricos,
centralizando os dados em organizações de livre acesso aos estudiosos;
c) incentivar o levantamento da documentação histórica, científica e
artística de referência imediata ao Brasil, de diversa data ou atual, retida
em fontes estrangeiras, para a obtenção de reproduções ou reprografias
destinadas às instituições brasileiras atinentes a cada especialização;
d) constituir centros de documentação iconográfica e de reprografia dos
acervos e manifestações culturais de suas áreas;
e) criar cursos de extensão com o objetivo de divulgar aspectos do
patrimônio histórico, artístico, etnográfico ou folclórico, assim
como das riquezas naturais e preservação do meio ambiente,
visando ao aperfeiçoamento e à atualização de especialistas nas
diversas áreas da cultura;
(Política Nacional de Cultura, 1975, p. 40-41, grifo nosso).

Podemos concluir que a Política Nacional de Cultura seria o reconhecimento


oficial da cultura no plano de desenvolvimento nacional, porque promoveria uma nova
visão para cultura. Acima de tudo, deixa clara a preponderância de um projeto político
sobre outro. Se antes, a visão patrimonialista era dominante, com a Política Cultural, a
ênfase passa para a produção cultural, numa visão muito mais tecnicista e dinâmica da
cultura, indicando uma abertura “controlada” da política.

Talvez a maior contribuição da Política nacional tenha sido a aprovação do Plano


Nacional de Cultura (PNC). O PNC foi elaborado pelo PAC, no final de 1975 e
oficialmente lançado em janeiro de 1976. O PNC estava centralizado na ideia da
organização de um sistema que pudesse coordenar a ação dos vários organismos no
campo da cultura, valorizando a produção cultural nacional. (CALABRE, 2007, p. 5). O
PNC oficializava um conjunto de diretrizes para orientar as atividades na área da cultura.
O estabelecimento dessa nova diretriz por outro órgão que não fosse o CFC deixava
claro o enfraquecimento político do órgão que via sua atuação, a cada ano que passava,
perder espaço político e verbas para outros órgãos que foram criados na esfera federal.
Por fim, o CFC foi extinto em 1990, durante a gestão do presidente Fernando Collor de
Melo. Além disso, como citado anteriormente, no período da gestão do Ministro Ney
Braga foram criados novos órgãos, entre eles o Conselho Nacional de Cinema82, e a

82 O Conselho Nacional de Cinema foi criado pelo Decreto Federal nº 77.299, de 16 de março de 1976.
79

Fundação Nacional de Arte (FUNARTE), assim como foram reformulados a Campanha


de Defesa do Folclore Brasileiro83 e a EMBRAFILME (CALABRE, 2005, p. 5).

A FUNARTE foi criada, por meio do Decreto nº. 6.312, de 16 de dezembro de


1975, para ser um dos órgãos executores das novas diretrizes políticas do governo. A
sua fundação tinha como objetivo “promover, incentivar e amparar, em todo o território
nacional, a prática, o desenvolvimento e a difusão das atividades artísticas, resguardada
a liberdade de criação, nos termos do art. 179 da Constituição” (BRASIL, 1975). A
FUNARTE havia sido criada para ser o embrião do Ministério da Cultura. Inicialmente a
FUNARTE incorporaria as seguintes instituições: o Serviço Nacional de Teatro, o Museu
Nacional de Belas Artes, a Campanha de Defesa do Folclore e a Comissão Nacional de
Belas Artes. (BRASIL, Lei nº. 6.312, art. 1º, § 2º, 1975). Três anos depois, com a
reorganização do MEC, a FUNARTE receberia o Museu Villa Lobos. No entanto, essas
incorporações encontraram bastante resistência, porque as instituições temiam perder a
sua autonomia. Com o tempo a FUNARTE se tornaria responsável apenas por algumas
áreas de produção cultural que ainda não contavam com organização como artes
plásticas, música e fotografia.
Outro fato importante também ocorrido em 1975, fora da esfera do MEC, foi a
organização de um grupo de trabalho formado pelas seguintes instituições: Secretaria de
Tecnologia Industrial do Ministério da Indústria e Comércio, Fundação de Cultura do
Distrito Federal, Secretaria da Presidência da República, do MEC, do Ministério do
Interior, do Ministério das Relações Exteriores, da Caixa Econômica Federal e da
Fundação da Universidade de Brasília (FERNANDES, 2015, p.13). Esse grupo de
trabalho daria origem a um projeto que mais tarde seria conhecido como Centro Nacional
de Referência Cultural (CNRC). Idealizado pelo designer Alísio Magalhães, Severino
Gomes (Ministro da Indústria e Comércio) e Wladimir Murtinho (Secretário de Cultura do
Distrito Federal) esse projeto tinha como objetivo preservar os valores de formação para
a cultura brasileira. Possuía como metas principais: o desenvolvimento econômico, a
preservação cultural e a criação de uma identidade para os produtos brasileiros, além de
estudar alguns aspectos e especificidades da cultura e do produto cultural brasileiro.
Em 1976, com os resultados alcançados pelo grupo de trabalho, foi assinado um
convênio entre a Secretaria de Planejamento, o Ministério das Relações Exteriores, o
Ministério da Indústria e do Comércio, a Universidade de Brasília e a Fundação Cultural
do Distrito Federal para a efetivação do CNRC. Entre os primeiros programas

83A Companhia de Defesa do Folclore Brasileiro foi criada pelo Decreto nº 43.178, de 5 de fevereiro de 1958.
No entanto passou a incorporada à FUNARTE em 1976.
80

implantados pelo Centro estavam o mapeamento da atividade artesanal, o da história da


tecnologia e da ciência no Brasil e alguns levantamentos socioculturais e de
documentação (CALABRE, 2005, p.5).
De acordo com Silva (2001) o CNRC representou para a política de preservação
histórica e artística, o mesmo que o PAC representou para a produção cultural porque
havia dinamizado o que anteriormente se resumiria a restauração de monumentos de
“pedra e cal”. O CNRC seria uma proposta mais moderna da vertente patrimonialista de
Mário de Andrade para os problemas na área do Patrimônio, advindos de política de
conservação de bens culturais que se achava esgotada pelo tempo, pelos recursos, pelos
excessos e pela estrutura administrativa burocratizada. No entanto, esse projeto só se
consolidaria de fato em 1979, quando se fundiria com o IPHAN e com o PCH, se
tornando a Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN).
No ano de 1978, o Ministério da Educação e Cultura passaria novamente por uma
reestruturação ainda no final da gestão de Ney Braga. O Decreto nº. 81.454, de 17 de
março, rearranjaria uma série de órgãos dentro do MEC. O artigo 1º mostra que ainda
estariam sob a competência do MEC, a Educação e Ensino (com exceção do Ensino
Militar); a Cultura, o Patrimônio Histórico e Artístico e o Desporto. Dentro do novo
organograma do Ministério, o Conselho Federal de Cultura (CFC) juntamente com o
Conselho Nacional de Direitos Autorais (CNDA), o Conselho Nacional de Cinema
(CONCINE) e outros quatro conselhos, fariam parte dos Órgãos Colegiados. O CFC
ficaria responsável pela formulação da Política Nacional de Cultura, mas exerceria uma
função normativa conforme nos fala o artigo 9º do decreto.
De acordo com o artigo 3º, § 5, do Decreto citado acima, seria criada ainda a
Secretaria de Assuntos Culturais (SEAC), responsável pelo IPHAN e pela FUNARTE. A
finalidade da SEAC seria “planejar, coordenar e supervisionar a execução da política
cultural e das atividades relativas à Cultura em âmbito nacional e prestar cooperação
técnica e financeira às instituições públicas e privadas, de modo a estimular as iniciativas
culturais” (BRASIL1978). Como podemos observar a partir desse momento a SEAC
assumiria o papel do DAC como órgão executor da Política Nacional de Cultura, já que o
próprio DAC e o Instituto do Livro seriam transferidos e absolvidos pela SEAC (BRASIL,
1978). No que se refere ao IPHAN, o mesmo decreto reafirma sua autonomia que, apesar
de ainda ser subordinado a SEAC, teve ampliada a sua área de atuação. A subordinação
da FUNARTE à SEAC afetaria drasticamente o futuro da instituição, pois introduz uma
instância intermediária entre ela e o MEC, que aos poucos enfraqueceria o papel da
fundação frente ao poder público.
81

É interessante chamar a atenção para o fato de que, dentro do MEC, coexistem


dois grupos que se alternavam no poder e que interferiam diretamente nos rumos das
políticas culturais vigentes. O perfil de atuação da FUNARTE atenderia ao grupo ligado à
produção cultural. O outro grupo, como veremos mais a frente, atenderia a vertente mais
ligada ao IPHAN.
Segundo Vasconcelos et al (2011) o início da década de 1980 foi para a FUNARTE
um momento de enfrentamento de desafios internos e externos propostos pelas
constantes mudanças políticas no MEC e pelas próprias questões colocadas por
servidores, pela gestão da Direção Executiva e pelas demandas da sociedade.
A tão esperada abertura política se aproximava e a FUNARTE fazia uma inflexão
sobre seu papel como instituição pública de Cultura, buscando alcançar uma abrangência
nacional por meio do apoio a projetos que procurassem integrar mais as diferentes
manifestações culturais dentro do país e uma melhor distribuição de recursos. Fazia parte
da “estratégia de sobrevivência” apoiar financeiramente e também colaborar com a
formação de técnicos, através dos centros de formação e da assessoria técnica que
foram referência dentro e fora do Brasil por muito tempo. Deste modo, a instituição
poderia assegurar sua importância no cenário político nacional por repassar
conhecimento e estabelecer parcerias.
No ano de 1979, por meio do Decreto nº 84.198, de 13 de novembro, artigo 1º, o
IPHAN passaria por outra modificação em sua estrutura administrativa. O governo de
João Figueiredo (1979-1985) criaria um novo órgão central e superior ao IPHAN, a
Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN). A finalidade desta
Secretaria seria inventariar, classificar, tombar, conservar e restaurar monumentos,
obras, documentos e demais bens de valor histórico, artístico e arqueológico, assim como
proteger o acervo paisagístico brasileiro. Como percebemos a SPHAN assumiria
basicamente as mesmas funções do IPHAN.
Alguns dias mais tarde, no dia 17 de dezembro, a Lei nº. 6.757, instituía a Fundação
Nacional Pró-Memória que foi criada para funcionar ao lado SPHAN formando uma
organização dual trazendo maior dinamismo às instituições. A Fundação estaria
“destinada a contribuir para o inventário, a classificação, a conservação, a proteção, a
restauração e a revitalização dos bens de valor cultural e natural existentes no País”
(BRASIL, 1979). A Fundação Pró-Memória seria composta por um Conselho formado por
cinco membros, designados pelo ministro da Educação e Cultura. No mesmo Decreto, no
artigo 2º, a Fundação Nacional Pró-Memória assumiria todo o patrimônio do extinto
IPHAN.
82

Art. 2º São transferidos ao domínio da Fundação, e passam a integrar o


seu patrimônio, os bens móveis e imóveis da União, que estavam em
uso ou sob a guarda de responsabilidade do extinto Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (BRASIL, 1979).

No documento Proteção e Revitalização do Patrimônio Cultural do Brasil: Uma


trajetória da Secretaria de Patrimônio Histórico e Artístico Brasileiro (SPHAN/Pró-
Memória), publicado em agosto de 1980, descreve quais seriam os campos de atuação
da Instituição:
 Identificar, restaurar, preservar e revitalizar os monumentos, sítios e bens
móveis necessários;
 Inventariar documentação dos bens culturais do passado e do presente;
 Buscar explicitação das características regionais visando a integração do
país;
 Devolução ao público usuário - particularmente ao contexto sociocultural a
que pertencem os originais (PROTEÇÃO E REVITALIZAÇÃO DO
PATRIMÔNIO CULTURAL ,1980, P. 30).

É importante enfatizarmos que nesse mesmo documento da SPHAN/Pró-


Memória, havia uma preocupação com a relevância do trabalho em conjunto com outras
instituições internacionais e nacionais de caráter estadual e municipal, em favor de
preservação de patrimônio e de identidade cultural e também uma preocupação com a
formação de pessoal técnico em diversos níveis, integrando aos objetivos da SPHAN/
Pró-Memória (BRASIL, SPHAN/ Pró-memória, 1980, p. 30).

2.1.3 – Os anos de 1990 e as políticas públicas

O avanço da abertura política, em 1982, com as primeiras eleições para governos


estaduais em todo o território nacional aumentou o número de secretarias estaduais de
cultura, que anteriormente eram apenas departamentos vinculados às secretarias de
educação. Com isso, começou a haver um fortalecimento político e administrativo do
setor cultural no país. Além disso, foram organizados muitos Fóruns Nacionais de
Secretários de Cultura que contaram com a presença da FUNARTE e se tornaram
instrumentos permanentes de reivindicações, tanto em nível governamental quanto da
sociedade de forma geral.
83

De acordo com Vasconcelos et al. (2011) em 1983 foi concretizado o “Documento


de Ação” resultante da discussão interna entre servidores e a direção da FUNARTE.
Entre os desafios apresentados, estavam: trabalhar com um conceito mais abrangente de
arte/cultura, que não deixaria de lado as manifestações culturais regionais das regiões
Norte, Nordeste e Centro-Oeste, integrando-as por assim dizer ao país inteiro e também
a própria instituição. Outra questão proposta pelo documento era a descentralização da
administração e o fortalecimento dos institutos que faziam parte da fundação. Naquele
mesmo ano, foi instituída uma avaliação interna de desempenho e criado um grupo de
trabalho para avaliar tanto os membros de todos os institutos e como os da assessoria
técnica. Esse grupo de trabalho discutia temas centrais para instituição: os objetivos da
instituição, seu objeto de ação, sua abrangência, sua integração e formação de recursos
humanos. (VASCONCELOS et al, 2011, p. 209).
O ano de 1985 foi crucial para a FUNARTE porque ocorreram diversas
mobilizações, reivindicações e mudanças consideráveis na administração pública da
cultura brasileira. Segundo Vasconcelos et al. (2011), a criação do Ministério da Cultura
(MinC) trouxe transformações sensíveis no desenvolvimento das ações da instituição.
Logo após a criação do Ministério, a FUNARTE sofreria alterações em sua estrutura
interna, com mudanças constantes de presidentes e diretores executivos, cujos
interesses eram completamente diferentes. Nesse contexto, “o conhecimento do trabalho
realizado pela instituição e a importância da ação de seus funcionários era quase nulo”
(VASCONCELOS et al, 2011, p. 214). A autora supracitada acredita que estes
acontecimentos se davam em decorrência da desvalorização dos funcionários e da
desestabilização dos quadros internos e desagregação da instituição.
Com a desvinculação do Instituto Nacional de Artes Cênicas, em 1987, foi criado a
Fundação Nacional de Artes Cênicas (FUNDACEN), uma antiga reivindicação do setor84,
a FUNARTE sofreria um dano sensível. Uma das implicações dessa separação foi a
perda de um importante trabalho desenvolvido pelo Instituto, que possuía projetos
próprios e o prejuízo causado pela falta da Assessoria Técnica da Direção Executiva, que
atendia às demandas nacionais da Fundação. Como consequência direta disso, a
FUNARTE acabou se tornando uma “instituição reativa que passou a se consumir em vãs
tentativas de se fazer ouvida e na luta por sua sobrevivência” (VASCONCELOS et al,
2011, p. 214).

84 A FUDACEN foi criada pela Lei nº 7.624, de 5 de novembro de 1987, artigo 1º, Inciso II.
84

Nos anos 1990, com o governo Collor, a FUNARTE85 seria extinta e criou-se em seu
lugar, pela mesma lei, o Instituto Brasileiro de Arte e Cultura (IBAC) subordinado à
Secretaria de Cultura que, por sua vez, ocuparia o lugar do Ministério da Cultura. O IBAC
tinha as seguintes atribuições:

a) formular, coordenar e executar programas de apoio aos produtores e


criadores culturais, isolada ou coletivamente, e demais manifestações
artísticas e tradicionais representativas do povo brasileiro;
b) promoção de ações voltadas para difusão do produto e da produção
cultural;
c) orientação normativa, consulta e assistência no que diz respeito aos
direitos de autor e direitos que lhe são conexos;
d)orientação normativa, referente à produção e exibição cinematográfica,
videográfica e fonográfica em todo o território nacional. (BRASIL,1990).

Como podemos perceber o IBAC sucedeu à FUNARTE nas suas atribuições de


cuidar da produção cultural brasileira tendo herdado o acervo da extinta Fundação
Nacional de Arte (FUNARTE), o acervo da Fundação Nacional de Artes Cênicas
(FUNDACEN) e da Fundação do Cinema Brasileiro (FCB)86. No estatuto do Instituto
aprovado pelo Decreto n° 99.601, de 13 de outubro de 1990, o IBAC teria a função de
“promover e incentivar a produção, a prática e o desenvolvimento das atividades
artísticas e culturais no território nacional” (BRASIL, 1990). É interessante notar que no
mesmo estatuto, no artigo 3ª, Inciso I, está listado entre uma das atribuições do Instituto
apoiar e incentivar a “produção, pesquisa e conservação da documentação, no campo
das atividades artísticas e culturais, visando a identidade cultural do País;” (BRASIL,
1990). Para isso, seria criado o Departamento de Pesquisa e Documentação que ficaria
responsável por “coordenar, supervisionar e executar as atividades voltadas para a
manutenção, conservação, preservação e guarda do acervo das artes da cultura, bem
assim estudos e pesquisas no campo da informação documental” (BRASIL, 1990). Em
1994, através da Medida Provisória nº 610, de 08 de setembro a denominação de IBAC
foi alterada novamente para FUNARTE. A partir desse momento a instituição passa a
buscar um caminho dentro do universo das políticas públicas de cultura, que consiga
alcançar o cidadão através de projetos de fomento e divulgação da arte nacional.
No início dos anos 1980, a Portaria 274, de 10 de abril de 1981, do MEC, instituiria
um novo órgão central para o campo da cultura dentro do MEC, a Secretaria de Cultura
(SEC). A SEC englobaria dentro de sua estrutura as duas secretarias já existentes, que
se tornariam subsecretarias: a Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

85 A partir da assinatura da Lei nº. 8.029 de 12 de abril de 1990, artigo 1º, Inciso II, alínea a.
86 A FCB foi criada pela Lei nº 7.624, de 5 de novembro de 1987, artigo 1º, inciso III e incorporaria as
atribuições da Empresa Brasileira de Filmes S.A. (EMBRAFILME).
85

(SPHAN) - resultante da união do IPHAN, CNRC, PCH mais a Fundação Nacional Pró-
Memória; e a Secretaria de Assuntos Culturais (SEAC) mais a FUNARTE. A união destas
duas secretarias e das duas fundações de apoio respectivamente à SEAC aumentaria
muito a autonomia do campo da cultura dentro do MEC, e com o tempo se tornaria o
embrião do futuro Ministério da Cultura. Todavia as subsecretarias existiram entre 1981 e
1982.
A criação dessas duas secretarias ou subsecretarias no início da década de 1980,
deixa muito visível à coexistência de duas visões muito diferentes sobre as políticas
culturais dentro do MEC. A primeira visão, a patrimonialista, era representada pela
Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) que fazia o papel de um
órgão regulador e normativo, tal como o IPHAN. Já a Fundação Nacional Pró-Memória
fazia o papel de um órgão executivo e já que era um órgão mais novo e provido de maior
financiamento. Por outro lado, a vertente mais ligada à produção cultural que tinha na
Secretaria de Assuntos Culturais (SEAC) seu braço normativo e na FUNARTE, seu braço
executivo.
A partir dos esforços dos servidores, intelectuais, artistas e de alguns gestores da
área da cultura, em 1985 deu-se, através do Decreto 91.144, de 13 de março, a criação
do Ministério da Cultura (MinC). Nas considerações que justificariam a criação do
Ministério da Cultura, o então presidente José Sarney (1985-1990) atribui a sua criação
ao processo de modernização e desenvolvimento do país que apresentava as seguintes
características: a estrutura do MEC se tornara incapaz de cumprir simultaneamente as
exigências dos dois campos: Educação e Cultura; haveria a necessidade de métodos,
técnicas e instrumentos diversificados, de reflexão e administração que exigiriam políticas
específicas e bem caracterizadas, justificando o desmembramento da atual estrutura
unitária em dois ministérios autônomos; no MEC os assuntos ligados à cultura nunca
poderiam ser objeto de uma política mais consistente, visto que a problemática
educacional atraía sempre mais atenção; o Brasil não poderia mais prescindir de uma
política nacional de cultura, coerente com os novos tempos e com o desenvolvimento já
alcançado pelo País. Assim, caberia ao MinC atuar em duas frentes: letras, artes, folclore
e outras formas de expressão da cultura nacional; e patrimônio histórico, arqueológico,
artístico e cultural. (BRASIL, 1985).
Seriam englobados pelo MinC os seguintes órgãos e fundações de acordo com o
artigo 3º, do referido Decreto: CFC, CNDA, CONCINE, Secretaria de Cultura (SEC),
EMBRAFILME, FUNARTE, Pró-Memória, Fundação Casa de Rui Barbosa e Fundação
Joaquim Nabuco. No organograma do MinC dentro da estrutura básica, subordinada ao
Órgão de Assistência Direta e Indireta ao Ministro, situava-se a Secretaria de Cultura.
86

Dentro das Estruturas Intermediárias presididas pelo Ministro de Estado, estava alocado
o CFC. E por fim, nas entidades vinculadas estariam entre outras a Fundação Pró-
Memória e a FUNARTE.
Com as primeiras eleições diretas para presidente, entraria no poder Fernando
Collor de Melo (1990-1992) que, como uma das suas primeiras ações, extinguiu o
Ministério da Cultura87 e transformou em Secretaria de Cultura (SEC). A SEC se tornaria
um órgão de assistência direta e imediata ao Presidente da República com a finalidade
de:

Planejar, coordenar e supervisionar a formulação e a execução da


política cultural em âmbito nacional, de forma a garantir o exercício dos
direitos culturais e o acesso às fontes da cultura; apoiar e incentivar a
valorização e a difusão das manifestações culturais, promover e proteger
o patrimônio cultural brasileiro (BRASIL, 1990).

Além disso, a Lei 8.029 também de 12 de abril de 1990, extinguiria entre outras: a
Fundação Nacional de Artes (FUNARTE); a Fundação Nacional de Artes Cênicas
(FUNDACEN); e a Fundação Nacional Pró-Memória (PRÓ-MEMÓRIA). Em lugar, da
FUNARTE, da FUNDACEN, e da Fundação do Cinema Brasileiro (FCB), o governo
instituiria o Instituto Brasileiro da Arte e Cultura (IBAC), sob o regime jurídico de
Fundação, para o qual serão transferidos o acervo, as receitas e dotações orçamentárias,
bem como os direitos e obrigações das fundações já citadas. Já a Secretaria do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) e a Fundação Pró-Memória seriam
transformadas na autarquia denominada Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural
(IBPC). Aliás, o IBPC também herdaria as competências, o acervo e as receitas e
dotações orçamentárias da SPHAN e da fundação Pró-Memória.
Segundo Rezende et al (2015), consta no verbete “IBPC” que ocorreram inúmeros
protestos e manifestações de intelectuais contrários a essa e outras mudanças na
estrutura e nas atribuições do órgão como, por exemplo, a supressão do Conselho
Consultivo e a diminuição da ação executiva da instituição. A perda do nome também
acarretaria prejuízo à “marca” Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que ganhara
legitimidade e popularidade ao longo dos mais de cinquenta anos de sua atuação. No
entanto, os defensores da nova denominação do Instituto consideravam a mudança de
nome mais coerente com a ampliação do conceito de patrimônio cultural prevista na
Constituição de 1988.
O IBPC teria por finalidade a promoção e proteção do patrimônio cultural brasileiro
nos termos da Constituição Federal, especialmente em seu art. 216, de acordo com o

87 Lei 8.028 de 12 de abril de 1990, artigo 27, Inciso V.


87

artigo 2º, Inciso II da Lei 8,029. Conforme o estatuto do IBPC, a finalidade do Instituto
era:

I - formular e coordenar a execução da política de preservação,


promoção e proteção do patrimônio cultural, em consonância com as
diretrizes da SEC/PR;

II - formular e promover programas de cooperação técnica e


aperfeiçoamento de recursos humanos voltados para a conservação e
preservação do patrimônio cultural;

III - desenvolver estudos e pesquisas, visando à geração e incorporação


de metodologias, normas e procedimentos para a conservação e
preservação do patrimônio cultural;

IV - promover a identificação, o inventário, a documentação, o registro, a


difusão, a vigilância, o tombamento, a desapropriação, a conservação, a
restauração, a devolução, o uso e a revitalização do patrimônio cultural;
(BRASIL, 1991).

Dentro da estrutura do IBPC destacamos as funções do Departamento de


Identificação e Documentação a quem competia o estabelecimento de normas e
diretrizes para a identificação, registro, documentação e proteção do patrimônio cultural
brasileiro, assim como orientar e assessorar outros órgãos nessa área (BRASIL, 1991).
Já ao Departamento de Proteção cabia:

I - formular diretrizes, elaborar e coordenar programas e projetos nas


áreas de conservação e proteção de bens de interesse cultural;

II - estabelecer critérios, métodos e procedimentos que orientem a


abordagem de questões referentes à proteção e conservação dos bens
móveis e imóveis, nos termos da legislação pertinente (BRASIL, 1991).

Destacamos esses dois departamentos porque eram justamente eles que


cuidariam de uma forma mais direta do treinamento e da pesquisa na área de
Conservação. Em 1991, um Conselho Consultivo foi incorporado novamente à estrutura
do IBPC e foi chamado de Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural. Somente em
1994 a instituição teria o nome Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(IPHAN) restituído, por meio da Medida Provisória nº 610, de 08 de setembro de 1994.
Como podemos observar nesse capítulo, durante toda trajetória da política cultural
brasileira, que começa na década de 1930, com o governo Vargas, assistimos uma
tensão crescente no campo cultural. De acordo com Bourdieu (2004) todo campo
científico é um campo de força, portanto, toda política cultural foi uma expressão dessa
luta interna entre grupos, visões e objetivos diferentes em relação à Cultura. Se, por um
88

lado, no início, a política cultural possuía uma visão essencialmente patrimonialista e


nacionalista, como no projeto de Mário de Andrade, com o tempo, vemos um
deslocamento dessa visão, que se ampliaria muito a partir da década de 1970, após a
conferência sobre patrimônio da UNESCO, em Paris.
As muitas mudanças que ocorreram, principalmente no final da década de 1970 e
início dos anos de 1980, no Ministério da Educação e Cultura, colaboram para que as
visões diferentes sobre a cultura se alternassem no poder. A vertente patrimonialista
representada pelo SPHAN//DPHAN/IPHAN, e a que privilegiava a produção cultural,
representada pelo PAC e, posteriormente, pela FUNARTE, contribuíram juntas para a
autonomia do campo através da SEC e posteriormente do Ministério da Cultura. Ao
mesmo tempo, tanto um grupo como outro sofreram muito com o desmonte das políticas
públicas culturais no início dos anos 1990.
Nesse contexto, percebemos uma constante preocupação de ambos os grupos
com a formação técnica para que as propostas políticas se consolidassem. A visão de
que a cultura desempenhava um importante papel na construção da identidade nacional
era o combustível necessário para alimentar os esforços que levaram muitos profissionais
do campo cultural a não só buscarem estratégias de preservação das próprias
instituições, através da difusão do conhecimento através de pesquisa, mas também pela
necessidade de treinamento de técnicos que pudessem assumir esse papel localmente.
Acreditamos que, de uma forma geral, as ideias surgidas ao longo do processo
anteriormente descrito foram responsáveis direta e indiretamente, não só pela formação
dos docentes do Curso de Especialização em Conservação, mas também pela própria
criação do Curso. Esse encontrou na esfera do recém-criado Ministério da Cultura, um
momento propício para se estruturar, já que o campo cultural havia chegado a um breve
momento de estabilidade. Todavia, assim como o campo cultural, o Curso também
sofreria um grande revés com a extinção do MinC e a desvalorização de toda a política
cultural que sustentava as instituições que cooperavam com o Curso.

2.2- O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento/UNESCO - (PNUD) e a


Conservação de Bens Culturais no Brasil: subprograma “Bens Culturais Móveis”.

No âmbito do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento -


UNESCO/PNUD foi criado, no ano de 1988, o Programa de Conservação de Bens
Culturais no Brasil resultado da ação do Ministério da Cultura e a da Secretaria do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - Fundação Pró-Memória. Esse Programa
apresentava dois subprogramas dedicados exclusivamente à preservação dos bens
89

culturais móveis e imóveis.88 O programa apresentado pelo governo brasileiro previa a


aplicação de recursos da ordem de US$ 150 mil em um período de três anos
(1988/1989/1990) na execução de dois subprogramas básicos: “Conservação de Bens
Móveis” e “Conservação de Bens Imóveis”. Os objetivos gerais a serem atingidos em
ambos os níveis eram: promover a documentação e a avaliação dos Programas e das
diretrizes nacionais de proteção do patrimônio cultural; contribuir para o conhecimento e
integração dos recursos existentes nesse domínio; apoiar a formação de profissionais e
auxiliar na consolidação e desenvolvimento das instituições de conservação.
No caso específico da conservação de bens móveis as atividades previstas pelo
PNUD incluíam o apoio aos núcleos de conservação já existentes no Brasil, como por
exemplo, os do CECOR/UFMG, da Escola de Belas Artes da UFRJ, da Escola de
Arquitetura da UFBA89, do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP, da
FUNARTE, da FCRB e da Pró-Memória (MENDES, 1989), e a promoção da integração
com os Centros de Conservação da América Latina. Além dos núcleos, o apoio do
Programa era dirigido também aos programas de formação em funcionamento no País,
buscando a identificação dos recursos e carências do campo, particularmente em termos
de formação. Chamamos a atenção para o fato de que, na documentação do Curso de
Conservação da Escola de Belas Artes da UFRJ havia inúmeras parcerias entre os
professores do curso e as instituições listadas acima como, por exemplo, entre a
Fundação Pró-Memória e entidades internacionais de fomento como a UNESCO.
Cabe ainda, no que tange à presente tese, analisar as ações da coordenação do
Programa e também do comitê gestor criado no âmbito do subprograma “Bens Móveis”,
principalmente pela relação direta entre parte dos membros convidados a comporem o
citado comitê e suas atuações enquanto docentes do Curso de Especialização em
Conservação de Bens Culturais da UFRJ. Na reunião de coordenação do Programa,
realizada em 23/3/198990, foi deliberada a criação de um comitê de consultores a ser
composto por coordenadores de centros de formação e pesquisa na área de
Conservação e Restauro, por representantes de instituições ou programas nacionais de
preservação especialmente convidados e pelos coordenadores do programa PNUD/BRA.

88 Acervo Marylka Mendes. Circular 01/89 do coordenador subprograma Bens Móveis aos membros do
comitê de Consultores. Maio de 1989.
89 É importante ressaltar que naquele momento já tramitava na UFRJ a documentação referente à criação do

Curso de Especialização em Conservação de Bens Culturais Móveis. Paralelamente a Universidade


continuava a oferecer disciplinas isoladas de conservação e de restauração em algumas de suas
graduações.
90 Referência: Fundação Nacional Prómemória. UNESCO/PNUD/BRA/88 “conservação de Bens Culturais no

Brasil - subprograma Bens Móveis”. 23/3/1989.


90

Assim, caberia aos integrantes do Comitê colaborar na orientação e desenvolvimento do


Programa, particularmente no que se refere à:

Redação de pareceres sobre tópicos apresentados pela Coordenação do


Programa; análise dos documentos a serem reunidos na pesquisa sobre
recursos brasileiros em conservação e restauro; colaboração na
realização de um Seminário Nacional sobre o tema; contribuição na
redação de um documento e diagnóstico de diretrizes para o setor;
indicação de prioridades para aplicação dos recursos ao Programa.91

Importante ressaltar, que por decisão da coordenação do Programa, toda


comunicação entre seus membros seria realizada basicamente por correspondência,
estando prevista uma única reunião conjunta durante a realização do Seminário Nacional
que avaliaria os resultados do Programa.
Foram convidados a integrar o comitê consultor92, os seguintes nomes: Maria de
Lourdes Parreiras Horta, Coordenadora Geral de Acervos Museológicos da FNPM;
Beatriz Ramos de Vasconcellos Coelho, Diretora do Centro de Conservação e
Restauração, da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais; Maria
Luisa Ramos de Oliveira Soares, Coordenadora do Laboratório de Restauração da Casa
de Rui Barbosa; Sérgio Burgi, Coordenador do Centro de Conservação de Materiais
Fotográficos do Instituto Nacional de Fotografia e presidente da Associação Brasileira de
Conservadores e Restauradores dos Bens Culturais – ABRACOR; Marylka Mendes,
Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Conservação da Escola de Belas
Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ; Mario Mendonça, Coordenador
do Núcleo de Tecnologia da Preservação e da Restauração da Faculdade de Arquitetura
da Universidade Federal da Bahia; Augusto Froehlich, responsável pelo Laboratório de
Conservação do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade Federal de São
Paulo e coordenador adjunto do Programa de Apoio à Conservação de Acervos
Arqueológicos e Etnográficos (USP/FNPM). Integrava ainda o Comitê, Ecila Ford,
assessora de Cooperação Técnica Internacional da FNPM e coordenadora executiva do
Programa PNUD/BRA/88 e o professor Carlos Régis Leme Gonçalves93, que além de

91 Referência: Fundação Nacional Prómemória. UNESCO/PNUD/BRA/88 “conservação de Bens Culturais no


Brasil- subprograma Bens Móveis”. 23/3/1989.
92 Fonte: Circular 01/89 da Fundação Pró-memória, enviada aos membros do comitê de Consultores pelo

coordenador do Subprograma, Carlos Régis Leme Gonçalves, informando sobre atividades em curso.
93 Entre os nomes componentes do comitê gestor, alguns pertenceram ao corpo docente do curso de

especialização em conservação de bens culturais da UFRJ. No próximo capítulo trataremos com mais
detalhes da sua atuação acadêmica.
91

Coordenador do Subprograma de Bens Móveis, era Presidente da Sociedade de Estudos


em Conservação e Restauro (FNPM, 1989).
Importante destacar que no mesmo documento, a Circular 01/89, da Fundação Pró-
Memória, o coordenador do Subprograma, Carlos Régis Leme Gonçalves, citado
anteriormente, informa ao Comitê de Consultores que o plano de aplicação de recursos
havia disponibilizado U$$ 10 mil para compra de equipamentos, entre eles os de
informática, e aquisição de livros para as bibliotecas dos principais Institutos de
Conservação do país. Seriam contempladas as seguintes bibliotecas: do CECOR/UFMG;
da Faculdade de Arquitetura da UFBA; da Escola de Belas Artes da UFRJ e do
MAE/USP. Neste sentido, a Fundação Pró-Memória participaria com o aparato técnico e
burocrático e os organismos internacionais com o financiamento. Esta Comissão foi
denominada “Comissão Nacional de Ensino e Pesquisa em Conservação de Bens
Culturais – CNEPC”.
Além do financiamento, o Programa incentivava a realização de convênios com
especialistas estrangeiros como Gaël Guichen94, Anton Ranjer e Agnés Ballestran, entre
outros. Aliás, alguns especialistas estrangeiros tiveram importante atuação na formação
de conservadores no Brasil como, por exemplo, no Curso de Especialização em
Conservação e Restauração de Bens Culturais95 que funcionou na UFMG, em Belo
Horizonte, a partir 1978. Esse curso foi financiado pelo Programa de Cidades Históricas-
PHC, da Secretaria de Planejamento da Presidência da República e ministrado
inicialmente por muitos restauradores do IPHAN, como João José Rescala96 e Jair
Afonso Inacio. Com apoio da UNESCO e do Proyecto Regional del Patrimonio Cultural y
Dessarrollo do PNUD/UNESCO, dirigido pelo senhor Sylvio Mutal, o Curso da UFMG
pode contar, também, com especialistas estrangeiros, como Martha Plazas de Fontana
(colombiana), Josep Maria Xarrié i Rovira (catalão), Guillermo Joyco (chileno), entre
outros (COELHO, 1996).
Com relação aos professores estrangeiros trazidos pelo Programa, ressalta-se a
atuação de Gaël de Guichen que, desde a década de 1970, como colaborador do
ICCROM, esteve diversas vezes no Brasil. Em 1977, esteve em São Paulo em
colaboração com o Comitê Brasileiro do ICOM e da Associação de Membros do ICOM-
AMICOM. Essa associação, inclusive, publicou em 1977 o livro Introdução ao Ensino da
Museologia (ALMEIDA; NOVAES, 1977) tendo um de seus capítulos dedicado à

94 Francês, com formação em química. Atuou como assistente técnico do ICCROM, ocupando o cargo de
responsável pelo Programa de Formação de Pessoal Técnico. Se especializou em Clima (umidade e
temperatura) nos museus, tendo publicado inúmeros trabalhos a respeito.
95 Esse curso originou, posteriormente, o Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais- CECOR .
96 Disponível em: enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa9624/rescala. Acesso em: 03/09/2017.
92

Manutenção e Conservação das Coleções cuja bibliografia traz como referência a obra
de Gaël de Guichen Humidity and temperature in museums, publicada originalmente em
1976. Além disso, o pesquisador é uma referência nas disciplinas relacionadas à
Preservação-Conservação, da Escola de Museologia da UNIRIO desde a década de
1980, principalmente no que tange à Conservação Preventiva.
Segundo SÁ (2012), a Prof.ª Violeta Cheniaux97 participou ativamente deste
processo tendo, inclusive, “atuado como intérprete, do curso preservação de acervos
museológicos: clima e iluminação, ministrado por Gaël de Guichen, promovido pela
Fundação nacional Pró-Memória e pelo ICCROM” (SÁ, 2012, p.26).
No ano de 1979, atendendo ao convite da Prof.ª Waldisa Russio do Curso de Pós-
Graduação em Museologia da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo,
com apoio da Secretaria da Industria, Comércio, Ciência e Tecnologia, Gaël ministrou um
seminário especial sobre iluminação e climatização em museus. Ele realizou ainda várias
visitas técnicas e uma palestra no Museu da Indústria, Comércio e Tecnologia de São
Paulo que, posteriormente, após a tradução de Waldissa Russio, tornou-se a publicação
intitulada Museus Adequados a Abrigar Coleções? (GUICHEN, 1980). Ao longo dos anos
Gaël de Guichen retorna ao Brasil em diversos momentos para participar de seminários e
cursos de formação. Na figura (03), tempos uma imagem de Gaël, no ano de 1979.

Figura 3 - Gaël de Guichen em São


Paulo em 1979. Fonte: (GUICHEN,
1980).

97 Museóloga especializada em Conservação de Bens Culturais. Mestre em Administração de Centros


Culturais - CCH/UNI-RIO, 1991, com a dissertação A formação do museólogo no controle da luz e da
umidade para a preservação de acervos: um estudo a partir de museus da Fundação de Artes do Rio de
Janeiro. Professora da Escola de Museologia (1981-1996), do Centro de Ciências Humanas da Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro - CCH - UNIRIO. Ministrou as disciplinas Museografia e Preservação de
Bens Culturais. Implantou o ensino regular da Conservação Preventiva no Curso de Museologia. Em 1987,
criou no CCH o primeiro laboratório de Conservação Preventiva do Brasil, o NUPRECON - Núcleo de
Preservação e Conservação de Bens Culturais, coordenando-o até 1996. Em 1997 este Núcleo passou a
denominar-se NUPRECON Violeta Cheniaüx (SÁ; SIQUEIRA, 2007 p.238).
93

Além do estímulo a vinda de especialistas, o Programa de Bens Móveis tinha


entre as ações previstas a realização de um levantamento de dados sobre os acervos e
equipamentos disponíveis nas instituições das quais os consultores faziam parte,
incluindo o acervo bibliográfico e lista de periódicos. A ideia era elaborar uma lista
conjunta com as necessidades de novas aquisições. Além disso, caberia a FNPM e à
Sociedade de Estudos em Conservação e Restauro a criação de um banco de dados
informatizado sobre profissionais e centros de conservação, reunindo os arquivos já
existentes. Uma das metas mais ambiciosas era o estímulo às iniciativas que levassem à
constituição de um Sistema Nacional de Conservação.
O objetivo era criar uma rede nacional que pudesse ser integrada a rede
internacional Conservation Information Network98- CIN. A redação do documento, no que
tange ao levantamento da infraestrutura existente e das necessidades de equipamentos
de informática, ficou sobre a responsabilidade de Sergio Burgi e Carlos Regis. Ainda, no
ano de 1989, estava prevista a realização de um seminário sobre as temáticas tratadas
pelo Comitê e, para tanto, seriam destinados pela UNESCO recursos para vinda de dois
especialistas estrangeiros, a serem indicados pelo Comitê.
Entre as atribuições do comitê estava o levantamento das necessidades de
pesquisa no campo da Conservação. Neste sentido, a Comissão Nacional de Ensino e
Pesquisa em Conservação de Bens Culturais - CNEPC, reunida no Rio de Janeiro, de 28
a 30 de maio de 1990, após discutir detalhadamente diretrizes políticas para as
atividades de ensino e pesquisa, chegou às seguintes conclusões:

As Universidades, por sua vocação oferecem as condições ideais para o


desenvolvimento da pesquisa no campo da Conservação e favorecem a
associação desta com as atividades de docência;
A Circulação da informação sobre conservação no Brasil é insatisfatória.
Há falta de publicações especializadas e de um sistema de divulgação
dos trabalhos já concluídos ou em curso. Essa sistematização deve ser
interligada com os bancos de dados internacionais;
Há necessidade da constituição de um conselho de alto nível composto
por conservadores-restauradores que formule sugestões sobre as linhas
prioritárias de pesquisa e orientar alocação de recursos;
A formação do Conservador/restaurador deve ser em nível de pós-
graduação, por tratar-se de área interdisciplinar de arte e ciência
aplicada;
O desconhecimento da experiência internacional de pesquisa tem levado
a frequentes duplicações de trabalhos, com consequente desperdício de
recursos;

98 Para maiores informações sobre a Rede consultar http://www.bcin.ca/English/bcin.html. Acesso em:


31/08/2017.
94

Há necessidade de se formar uma memória técnica da conservação no


país, especificamente no que concerne à experiência dos órgãos de
preservação;
Deve-se procurar despertar o interesse das universidades para execução
de pesquisa nas áreas da conservação, inclusive na seleção de temas
para dissertação de mestrado.99

Nesta etapa, eram membros do CNEPC: Augusto Froehlih (coordenador técnico do


Programa de Apoio à Conservação de Acervos Arqueológicos e Etnográficos MAE-
USP/FNPM; Beatriz Vasconcelos - Diretora do Centro de Conservação e Restauração de
Bens Culturais - UFMG; Carlos Régis Leme Gonçalves - Coordenador Técnico do
programa de Apoio à Conservação de Acervo Arqueológico e Etnográfico, MAE-USP/;
Cristina Furlani - Coordenadora do Curso de Conservação e Restauração de
Documentos Gráficos, Material de Arquivo e Bibliotecas, SENAI/ABER; Eugênio de Ávila
Lins - Coordenador do Curso de Especialização em Conservação e Restauração de
Monumentos e Conjuntos Históricos - UFBA; João Sócrates de Oliveira - Chefe do
Departamento Técnico da Cinemateca Brasileira/ FNPM; Marco Elízio de Paiva-
Coordenador do Curso de Especialização em Conservação e Restauração de Bens
Culturais Móveis - CECOR/UFMG; Maria Cristina Joly (chefe em exercício) do
Laboratório de Conservação e Restauração da Fundação Casa de Rui Barbosa; Mário
Mendonça de Oliveira- Coordenador do Núcleo de Tecnologia da Preservação e da
restauração, UFBA/SPHAN/FNPM; Marylka Mendes - Coordenadora do Programa de
Pós-Graduação em Conservação de Bens Culturais Móveis da Escola de Belas Artes,
EBA/UFRJ e Sérgio Burgi - Coordenador Técnico do Centro de Conservação e
Restauração Fotográfica - Pró-Preserf, INFoto/FUNARTE.
Contudo, todas as ações foram paralisadas com a extinção da FNPM100 e,
consequentemente, do próprio Comitê. O que fica evidenciado na correspondência entre
Carlos Regis Leme Gonçalves aos membros da Comissão, em 15/07/90, assim se refere
à Extinção da Fundação pró-Memória:

O processo de extinção foi acelerado com a nomeação de um


Inventariante e o início da revisão do quadro funcional. Nos dias
subsequentes a Dra. Ecila Ford, Coordenadora Executiva do Programa,
comunicou que a cooperação técnica fora extinta por força de portaria
determinando que os convênios internacionais fossem geridos no futuro
exclusivamente ao nível de Ministério ou Secretaria de Estado,
cancelando, portanto, a competência da Fundação. Logo a seguir a Dra.
Ecila foi devolvida à sua instituição de origem (FINEP) enquanto os
coordenadores de Bens Móveis e Imóveis (Carlos Regis e Lia Motta)

99 Fundação Pró-Mémoria. Rio de janeiro 30 de maio de 1990. Documento encaminhado pelos membros da
Comissão Nacional de Ensino e Pesquisa em Conservação de Bens Culturais - CNEPC .
100 A extinção da FNPM já foi tratada no item 2.1.2 do presente capítulo.
95

retornaram aos seus departamentos. Um relatório geral da ACTI foi


enviado à nova administração incluindo um balanço do Programa
“conservação de Bens Culturais no Brasil”. Cópia da documentação
pertinente foi entregue pela ex-coordenadora ao prof. Augusto da Silva
Telles (que no Cargo de Presidente da Fundação designou os
coordenadores) comprometendo-se este a propugnar pelo
prosseguimento das atividades dentro do planejado.
Até a presente data não foi possível esclarecer qual agência
encaminhará novos projetos e supervisionará a aplicação de recursos.101

Para a presente tese a “história” as ações do Comitê terminam aqui. Apesar do teor
aparentemente melancólico da correspondência acima, fica evidente que houve um
grande empenho por parte de todos os envolvidos na tentativa de consolidação do campo
da conservação no Brasil. Ressaltamos, contudo, que as consequências das ações do
Comitê precisam ser ainda objeto de pesquisas futuras.

2.3 A criação da ABRACOR e a questão da identidade profissional: a busca pela


formação

No processo de constituição do campo da Conservação, além da trajetória do


Comitê anteriormente apresentada, merece destaque outro movimento que culmina com
a criação da ABRACOR. Ressaltamos que os quase todos os atores envolvidos com o
Comitê também se envolveram na fundação e/ou consolidação da Associação e,
consequentemente, na criação do curso de especialização em conservação, a começar
pela própria coordenadora do curso, a Prof.ª Marylka Mendes. A ABRACOR foi fundada
em 30 de maio de 1980102 como uma sociedade civil, de direito privado, sem fins
lucrativos, de duração indeterminada e de âmbito nacional. A associação foi criada para
dignificar e proteger, como órgão de classe, os profissionais conservadores-
restauradores de bens culturais. Segundo seu estatuto tinha por objetivos:

Criar, incentivar e promover meios adequados ao desenvolvimento das


técnicas de conservação e restauro de bens culturais, através de
entrosamento com entidades públicas e privadas, nacionais e
internacionais e seus associados;
Promover a valorização, o aperfeiçoamento e a difusão dos trabalhos de
conservação e restauração, organizando convenções, congressos, ciclos
de estudos, conferências, cursos, seminários e outras reuniões dos
profissionais de classe;

101
Referência: Circular 01/90. Entre Carlos Regis Leme Gonçalves aos membros da Comissão data
15/07/90. São Paulo.
102 Neste trabalho abordaremos especificamente as duas primeiras décadas de atuação da ABRACOR,

ressaltando alguns aspectos da sua contribuição que se relacionam com o tema da tese.
96

Colaborar com entidades culturais, públicas ou privadas com


colecionadores e outros interessados, em planejamento, orientação,
consultoria e assistência técnica relativa a trabalhos de conservação e
restauração;
Amparar e defender os interesses gerais da classe, bem como
representa-la perante os poderes públicos Federal, Estaduais e
Municipais, associações, entidades e órgãos privados no que possa
fomentar a coesão, o fortalecimento e a expansão da classe (ABRACOR,
1980).

Para participar dos quadros da Associação, os membros poderiam ser inscritos


em quatro categorias de sócios: efetivo, institucional, benemérito e honorário. Mais tarde,
em 1987, foram aprovadas novas categorias de sócios: titular, aspirante, colaborador e
estudante. Marylka Mendes, fundadora e presidente entre os anos de 1980 e 1988, assim
definiu sua criação:

Meu amigo Almir Paredes e eu fundamos a Associação de classe, que


funcionou na minha casa porque não havia local. Nós começamos a
juntar as pessoas que faziam restauro para um seminário e congresso.
Talvez o congresso mais importante que nós tivemos. Foi realizado na
Igreja de São Bento. Essa publicação é muito importante. Fomos
procurar desde restaurador de jardins a instrumentos musicais, todos
que se diziam restauradores e que faziam restauração. Durante 15 dias,
ficamos no mesmo local morando lá e fazendo um documento sobre o
que se existia no Brasil. Foi o primeiro grande movimento que nós
fizemos no Brasil (MENDES, 2015).

Sobre esse encontro, ocorrido na Igreja do Mosteiro de São Bento, Almir Paredes
Cunha destaca a sua preocupação em relação à formação:

A ABRACOR saiu quando, na verdade, nós tínhamos nos reunido para


criar um curso. E aí também o problema do curso: Como vamos criar o
curso? O que acontece é que os cursos de pós-graduação tinham uma
série de exigências. Tínhamos que ter doutores, tínhamos que ter
mestrandos, tínhamos que ter mestres. E nós não tínhamos ninguém
com esse perfil. Então, foi muito difícil por causa disso (CUNHA, 2016).

Ainda, segundo Cunha (2016), a questão da formação de conservadores só foi


efetivamente abordada quando ele passa a coordenar os programas de pós-graduação
na Escola de Belas Artes da UFRJ. Só neste momento foi possível a implementação de
um curso de especialização em conservação. Sobre o fato de o curso ser de
especialização, Cunha (2016) afirma que essa modalidade de curso não necessitava de
um corpo docente com alta titulação, característica relativamente comum dos cursos de
pós de áreas em vista de consolidação. Para Cunha: “Então vamos tentar um curso de
Especialização. Especialização. Certo? Porque aí é mais fácil, para especialização você
não precisa de os professores terem titulações muito alta” (CUNHA, 2016).
97

A ABRACOR foi essencial na criação do curso de especialização em conservação


da UFRJ. Na verdade, segundo Almir Paredes a Associação surge justamente em função
da necessidade de se pensar a formação de conservadores no Brasil, sendo a criação de
cursos um dos caminhos possíveis. Assim, o professor afirma que: “Porque o que
acontece é que a ABRACOR não foi pensada. Por acaso ela apareceu. Porque a gente
estava pensando em fazer um curso. E o curso não saiu e saiu uma Associação de
Classe” (CUNHA, 2016). Cunha lembra ainda que na ocasião se reuniram restauradores
que haviam feitos cursos no exterior, como Maria Luisa Ramos de Oliveira Soares e
Marylka Mendes. Sobre ter sido o escolhido como primeiro presidente da ABRACOR,
Cunha ressalta que:

Eu fui o primeiro presidente da ABRACOR porque o que acontece é que,


na época, tinha muita gente que restaurava pintura, que restaurava papel
entre outras materialidades. Então, eu sempre digo, eu fui eleito porque
não havia ninguém brigando comigo, eu não estava tomando o espaço
de ninguém. Então eu fui o primeiro da ABRACOR. (...) Eu tenho
consciência de que não é porque eu era maravilhoso não. É porque não
existia ninguém para fazer frente a mim. Eu era o único. Então tudo
bem, vai ser o presidente, então essas coisas também de vaidade
(CUNHA, 2016).

Após ser então constituída, a ABRACOR passou a realizar de forma sistemática


seminários, fóruns e encontros. Não temos como objetivo uma análise profunda de todos
os seminários e atividades da ABRACOR, no entanto, analisaremos mais profundamente
o Seminário Sobre Formação e Treinamento Profissional para Preservação de Bens
Culturais, realizado no Rio de Janeiro em 1985. Esse Seminário foi o primeiro da
ABRACOR com temática dedicada à formação profissional e resultou na publicação de
um relatório final. Além do apoio da XEROX do Brasil e Senai - Departamento Nacional, o
Seminário foi patrocinado pela Fundação Nacional Pró-Memória e FINEP, o que explicita
a rede de relações dos associados e colaboradores da ABRACOR.
A estruturação do Seminário se pautou na organização de grupos de trabalho
(GTs), que tiveram total liberdade na adoção de diferentes metodologias de trabalho, ou
seja, “de modo geral, balizaram-se no levantamento preliminar de cada área”
(ABRACOR, 1985). Por sua vez os grupos de trabalhos constituíram-se a partir das
seguintes áreas: encadernações; instrumentos musicais; jardins históricos; madeiras;
materiais fotográficos; metais; materiais etnográficos, arqueológicos e têxteis;
monumentos arquitetônicos; papeis; telas e pinturas murais. Na ocasião foi publicado
ainda um levantamento sobre as instituições brasileiras que dispunham de laboratórios
de conservação e restauração, pessoal técnico especializado e que proporcionavam
98

estágios de formação profissional. A maior parte das instituições participantes localizava-


se na cidade do Rio de Janeiro, indicando a importância dessa cidade, sobretudo nas
décadas de 1980 e 1990, na construção do campo da conservação. Outro dado
interessante é que no GT sobre papel, cuja coordenadora foi Ingrid Beck e o relator
Antônio Carlos Nunes Batista, há uma observação no relatório: “as disciplinas de
conservação-restauração dos cursos de arquivologia, biblioteconomia, belas-artes, etc.
deverão se restringir apenas aos aspectos de conservação, não habilitando os alunos a
praticarem atividades de restauro” (ABRACOR, 1985, p.30-31). Podemos observar,
então, que há uma preocupação constante em delimitar as áreas de atuação dos
diversos campos disciplinares. Observa-se que não há uma referência explícita a
Museologia.
Em suma, o objetivo do Seminário era a constituição de uma comissão
interinstitucional de trabalho para atuação no campo de formação profissional para a área
de preservação de bens culturais. Compunham essa Comissão “representantes das
instituições reunidas neste painel, bem como as demais instituições que possam
contribuir nesse respeito” (ABRACOR, 1985). Sobre os representantes das instituições é
importante ressaltar que havia um representante do Ministério da Cultura do Rio de
Janeiro e também de outras Instituições públicas e de fomento. Segundo Mendes (1996),
na época estiveram presentes ao Seminário representantes desde instituições de guarda
de acervo, de universidades, do SENAI e representantes de agências financiadoras entre
elas a CAPES e CNPq (MENDES, 1996, p.10).
Com relação ao modelo institucional, Soares (2016), em depoimento a esta
pesquisadora, afirma que a ABRACOR teria se inspirado em organizações como The
American Institute for Conservation of Historic & Artistic Works (AIC), criado 1972, o
ICOM-CC, criado em 1967, e em associações como a Associação Brasileira de
Museologia - ABM103. Posteriormente, a ABRACOR influenciou a criação de outras
associações regionais no Brasil como a Associação Catarinense de Conservadores e
Restauradores de Bens Culturais (ACCR), fundada em 1987; a Associação Brasileira
de Encadernação e Restauro (ABER), criada em São Paulo em 1988 e a Associação
Paulista dos Conservadores e Restauradores de Bens Culturais (APCR), criada em
1994. Destacamos também as relações estabelecidas com algumas associações na

103 Fundada em 1963 no Rio de Janeiro, a Associação Brasileira de Museologia tem como
finalidades: congregar estudantes e profissionais que atuam na área de museus e afins, incentivar o
intercâmbio cultural e científico dos museus, promover cursos, conferências e difundir os conhecimentos
museológicos.
99

América Latina, como a Associación para La Conservación del Patrimonio Cultural de Las
Américas (APOYO)104 criada em 1989.
Os membros fundadores da ABRACOR tiveram uma relação direta com o Curso
de Especialização em Bens Culturais da UFRJ, seja ocupando cargos na associação
e/ou escrevendo artigos em seus anais e boletins. A diretoria da ABRACOR no biênio
1990/1992 foi presidida por Antônio Carlos Nunes Baptista (Biblioteca Nacional) e
participavam da direção Sérgio Burgi (Primeiro secretário) e Marylka Mendes (Primeiro
tesoureiro). Havia ainda os cargos do conselho administrativo, do conselho fiscal e
suplentes. Na reprodução da fotografia abaixo, podemos observar alguns dos ex-
diretores da ABRACOR que tiveram relação direta com o Curso de Especialização da
UFRJ, conforme observaremos nos próximos capítulos desta tese. Segundo Soares
(2016), esta fotografia foi tirada na sede da Associação Brasileira de Museologia - ABM
durante o período em que a ABRACOR ficou abrigada na sede da ABM105:

Figura 4 - Da esquerda para direita: Sérgio Burgi, Claudia Nunes, Antônio


Carlos, Maria Luisa Soares e no centro Marylka Mendes. Todos ex-diretores da
ABRACOR. Fonte: ABRACOR (1999).

104 APOYO “es un grupo informal de miembros internacionales con la misión de apoyar la conservación y
preservación del patrimonio cultural material de las Américas. Fue fundado en 1989 por un grupo de
miembros interesados del AIC (American Institute of Conservation of Historic and Artistic Works, que es la
Asociación de Conservadores profesionales de los EE. UU.), pero ha funcionado independientemente de
este. Disponível em: http://www.apoyonline.org/missiones.htm. Acesso em: 03/09/2017.
105
A ABM funciona na Rua Álvaro Alvim, no centro do Rio de Janeiro, e tem sede própria diferente da
ABRACOR que nunca teve sede própria. A ABRACOR já ocupou o ateliê da Marylka Mendes, a sede da
ABM, a Fundação Casa de Rui Barbosa, a FUNARTE, entre outros espaços. Atualmente encontra-se sem
sede, estando parte de seu acervo na Biblioteca do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST) formando
a coleção especial denominada ABRACOR.
100

Em 1990 ocorreu o 5º Seminário da ABRACOR, realizado no Rio de Janeiro.


Sendo esta uma entidade sem fins lucrativos, a publicação de materiais bibliográficos não
era uma tarefa fácil. Para visibilizar a publicação dos anais do Encontro, a ABRACOR
contou com o apoio da Universidade Federal do Rio de Janeiro, através da coordenação
do Curso de especialização em Conservação de Bens Culturais da Escola de Belas
Artes. O êxito da empreitada contou ainda com a colaboração da Gráfica Universitária.
Segundo Mendes:

Já os primeiros Anais, nós fizemos na própria xerox da universidade.


Fizemos um seminário muito bom. Quem era presidente da ABRACOR
era o Sergio Burgi. Nós fizemos o Seminário e nos comprometemos que
entregaríamos só os primeiros Anais (exemplares). Mas a universidade
entrou em greve... Fui para porta da gráfica e chamei os funcionários e
perguntei: “quanto vocês querem ganhar para fazerem pelo menos 20
volumes?” Eles disseram: “se a senhora me der uns 3.000 reais eu
aceito”. Depois, o resto, saiu quando terminou a greve... Tudo isso é
muito trabalho (MENDES, 2015).

Já o 7º Seminário da ABRACOR ocorreu em Petrópolis, no Rio de Janeiro, em


novembro de 1994. Contou com participantes de diversos estados brasileiros e outros
oriundos de 13 países estrangeiros, incluindo Argentina, Bolívia, Chile, Estados Unidos e
Inglaterra. Neste mesmo seminário, foi criado um Comitê de Preservação, com
representantes das diversas associações profissionais: bibliotecários, arquivistas,
museólogos, conservadores-restauradores.
Os seminários da ABRACOR abrangiam temáticas em eixos como formação,
atuação profissional, metodologias, código de ética e artigos técnicos das variadas
materialidades. Eram realizados encontros bianuais e entre os anos de 1985 e 2000
foram realizados cerca de dez congressos da ABRACOR nas seguintes cidades: Rio de
Janeiro, Olinda, Gramado, Salvador, Ouro Preto e São Paulo. Buscava-se, portanto, uma
abrangência nacional e os primeiros eventos, seminários e congressos, demostravam
uma preocupação com a organização deste campo de conhecimento, de sua legitimidade
perante seus pares, associados e a sociedade em geral. O X Congresso da ABRACOR,
realizado em São Paulo, contou com a participação de colaboradores estrangeiros como
Gaël de Guichen, David Grattan106, May Cassar e Alan Godonou107. Sobre esse último
especialista, procedente do Benin, gostaríamos de citar a sua premissa básica que tem

106 Cientista, pesquisador e ex-gestor do Canadian Conservation Institute (Canadá).


107
Especialista em conservação preventiva pela Universidade de Paris I (Panthéon-Sorbonne) trabalhou
como pesquisador na Benin’s Direction des Musées, Monuments et Sites e posteriormente como curador do
Palais Royal in Porto-Novo. Desde 1996 é responsável pelo ICCROM’s PREMA Programme (Prevention in
the Museums of Africa) em Porto-Novo, além de participar ativamente de treinamentos para profissionais
africanos. Disponível em: http://www.unesco.org/culture/museum/html_eng/mi201.shtml. Acesso em: 03/09/
2017.
101

sido ensinada para gerações de profissionais africanos de museu e possui relação direta
com as políticas de conservação. Para Godonou “Se a coleção é o coração do museu,
pode-se dizer que a documentação é sua cabeça; ambos constituem os órgãos vitais da
instituição e sua constante interação é essencial para sua sobrevivência”108. Na figura (5)
abaixo Gaël de Guichen e Alan Godonou em sessão do X Congresso da ABRACOR.

Figura 5 - Gaël de Guichen e Alan Godonou em sessão do X Congresso da


ABRACOR. Fonte: Acervo particular de Maria Luisa Ramos de Oliveira Soares.

Uma importante contribuição da ABRACOR para o campo da conservação foram


os seus boletins que passaram a ser editados a partir de 1985. Tratava-se de uma
publicação trimestral distribuída gratuitamente a todos os sócios. A importância dessas
publicações pode ser analisada em um contexto no qual constata-se a ausência de
publicações técnicas. A esse respeito Mendes (1996) afirma que:

No que diz respeito à produção de literatura especializada, é nula a


publicação de livros e revistas técnicas. Também se constata que muitas
técnicas estão desaparecendo com os velhos artesãos/artífices em
função da industrialização cultural. Urge resgatar e preservá-las através
do incentivo ao estudo, difusão e transmissão de conhecimento. O êxito
dessa empreitada poderia ser viabilizado através da produção de
material bibliográfico (MENDES, 1996, p.11).

O conteúdo dos boletins da ABRACOR era constituído por relatos de


experiências, artigos técnicos, relatórios, resumos de monografias, notas de falecimento,

108
No original: “If the collection is the heart of the museum, it may be said that documentation is its head;
both constitute the vital organs of the institution and their constant interaction is essential for its survival”.
Disponível em: http://www.unesco.org/culture/museum/html_eng/mi201.shtml. Acesso em: 03/09/2017.
102

resumos biográficos, divulgação de eventos da Associação, cartas e correspondências,


além de anúncios de venda de materiais. Colaboradores internacionais, como Katrina
Simila109 e Silvio Goren110 também escreviam para os boletins. Ainda, segundo Soares
(2016), o formato do Boletim foi inspirado no de outros como o do ICOM. A figura 6 (a, b)
abaixo permite comparar os boletins do ICOM e da ABRACOR:

Figura 6 - (a, b): à esquerda capa do Bulletin of the Internacional Council of Museums (Vol.40.
n.º I/ 1987) e à direita capa do Boletim da ABRACOR (Ano III. nº1 julho/1988).

Sobre os artigos técnicos publicados no Boletim da ABRACOR é interessante


ressaltar que os mesmos eram submetidos a um corpo editorial e passavam por revisão
pelos pares. Os artigos deveriam ainda: “objetivar a divulgação de aspectos e/ou
progressos numa área da conservação-restauração, redigidos de forma didática, de
modo a tornarem-se contribuições educacionais aos especialistas e não técnicos na área
de referência” (ABRACOR, 1998). Além disso, não havia restrições quanto à área do
conhecimento. Os artigos poderiam abordar os mais diversos temas como explicitado
abaixo:

Sobre pesquisas realizadas ou em andamento em conservação-


restauração, métodos, técnicas, aparelhagens e acessórios
desenvolvidos nos laboratórios e/ou ateliês. Incluem-se ainda temas
sobre políticas de preservação de bens culturais e formação profissional,
assim como quaisquer outros que se enquadrem nos objetivos do
Boletim (ABRACOR, 1998).

109 Coordenadora de projetos do ICCROM-Roma ingressou na equipe do ICCROM em 1993. Sua primeira
tarefa no ICCROM foi coordenar o Curso de Conservação dos Princípios Científicos. Atuou na
implementação de várias atividades de treinamento em Roma e em outros lugares, na conservação de bens
culturais móveis.
110 Foi Diretor do Patrimônio Histórico da Argentina nos anos de 1980.
103

A obrigatoriedade de que as publicações obedecessem às normas da Associação


Brasileira de Normas Técnicas-ABNT contribuía para estimular a troca internacional e o
compartilhamento das experiências. Ressalta-se que esses Boletins e Anais eram
distribuídos e/ou enviados à bibliotecas para o compartilhamento das informações. Em
uma comunicação para a seção de Cartas & E-mails do Boletim da ABRACOR
encontramos a seguinte correspondência assinada pelo professor Norivaldo dos Anjos,
da pós-graduação em Entomologia, e por Dóris Magna Avelar de Oliveira, diretora da
Biblioteca Central, ambos da Universidade Federal de Viçosa:

Nós já sabemos da realização dos Congressos organizados pela


ABRACOR bem como, já examinamos alguns de seus Anais.
Infelizmente, a Biblioteca Central de Nossa Universidade não possui
nenhum exemplar desses Anais, o que deixa os estudantes à margem
dos acontecimentos no âmbito das pesquisas apresentadas em tais
congressos. Assim sendo, venho consultar-lhes sobre a possibilidade de
doação dos Anais que estiverem disponíveis em seus estoques para a
Biblioteca Central da Universidade Federal de Viçosa. Tal Biblioteca é
uma das melhores do Brasil, tendo moderno prédio, grande acervo de
livro e informatizado sistema de consultas. Isto posto, os referidos Anais
estarão bem guardados e conservados para o uso de toda a comunidade
local e internacional.111

Outra temática recorrente nos Boletins eram os artigos que abordavam a questão
da formação. No ano de 1996, por exemplo, encontramos dois artigos: um publicado por
Beatriz Coelho intitulado A formação dos Conservadores/Restauradores no Brasil:
Histórico e Critérios para Avaliação e outro de Marylka Mendes intitulado Formação
Profissional de Conservadores–restauradores de Bens Culturais: realidade ou Utopia? É
interessante observarmos que ambas, Beatriz Coelho e Marylka Mendes, foram
responsáveis por programas de formação em especialização em universidades federais,
UFMG-CECOR e UFRJ-EBA, respectivamente. Em seu artigo, Coelho (1996), apresenta
um amplo histórico sobre a questão da formação do conservador - restaurador no Brasil
destacando as principais instituições responsáveis pela formação, entre elas a UFMG e a
UFRJ, suas contribuições e reconhece o crescimento da área. Por outro lado, ressalta
que:

111 Boletim da ABRACOR: (Março/abril/maio de 2000).


104

Funcionam ainda em algumas dessas Universidades, em cursos de


Belas Artes, Museologia e Biblioteconomia, disciplinas de introdução à
conservação, nas áreas de pintura, escultura, livros, documentos e obras
em papel, além de instituições que oferecem estágio em algumas dessas
áreas (COELHO, 1996).

A autora, no entanto, questiona se esta formação está sendo feita de maneira


adequada e quantos restauradores estão sendo preparados em disciplinas que não têm a
formação de restauradores como seu objetivo. Consequentemente pergunta como
poderíamos aquilatar a qualidade dos profissionais que estamos formando. Ressalta,
também, que os cursos de pós-graduação nacionais são avaliados pela CAPES e que
essas avaliações são conhecidas e respeitadas pelas universidades. E complementa:

Em geral, essas avaliações mais respeitadas, têm tomado por base, o


número, a qualificação e a produção dos professores, bem como sua
dedicação à área do Curso, as instalações, os equipamentos e as
bibliotecas; a seleção, a avaliação e a evasão de alunos e o posterior
aproveitamento dos que concluem o curso. São dados bem objetivos e
que podem ser levantados previamente para que, sem preconceitos,
possa ser feito um julgamento e se estabeleçam diretrizes para o
aperfeiçoamento do que se faz nesse campo e neste momento no Brasil
(COELHO, 1996).

Ao final do artigo, a autora julga necessário que a ABRACOR realize um


Seminário para debater justamente as questões referentes aos cursos de pós-graduação
e suas respectivas avaliações. Já o Artigo escrito por Marylka Mendes, destaca alguns
pontos que colaboram para o lento desenvolvimento do campo da conservação no Brasil.
Para Mendes:

Muitos fatores concorrem para o lento crescimento da área. Alguns são


lugares comuns nos discursos, porém devem ser citados, por exemplo, a
baixa dotação de recursos humanos e financeiros públicos dirigidos às
atividades de preservação de bens culturais tem sido uma constante nos
diversos governos que se sucedem, qualquer que seja a esfera
administrativa: federal, estadual e municipal (MENDES, 1996).

Mendes argumenta que as instituições governamentais de preservação não têm


ampliado e/ou renovado seus quadros de pessoal através da contratação de
especialistas em conservação-restauração. “Ao contrário, têm se deixado levarem pelo
modismo da ‘terceirização de serviços’, favorecendo a mão de obra desqualificada”.
(MENDES, 1996). Em seguida, a autora apresenta um panorama reconhecendo os
esforços feitos no âmbito da formação do conservador. No entanto destaca que a
formação profissional é incipiente e aquém das necessidades da área, porque não
105

abrange a maioria das especialidades arroladas no Seminário112 como prioritárias


(MENDES, 1996). Dessa forma:

As instituições governamentais de preservação, das administrações


federal, estadual e municipal, têm dado pouco apoio aos cursos
realizados no País, para tanto no que tange ao patrocínio dos mesmos
como por, comumente, dificultarem a liberação de funcionários para
participarem dos cursos, sejam na condição de alunos ou como
professores (MENDES, 1996).

A autora apresenta ainda a própria dificuldade enfrentada ao implementar e


coordenar o Curso de Especialização em Conservação da UFRJ, objeto de estudo dessa
tese e que será abordado no próximo capítulo. Suas preocupações coincidem com as
apontadas por Beatriz Coelho no que diz respeito à formação em cursos os mais
variados. Para Mendes:

Quem são nossos profissionais? Oriundos de cursos no exterior,


treinados dentro de atelier, alunos de disciplinas inseridas em currículos
escolares e/ou oriundos de curso de curta duração. Como avaliar a
capacitação entre pessoas [conservador e/ou restaurador] que passam
por cursos cujas cargas variam desde 10, 20 até mais de 2000 horas
aula. Não há consenso a respeito do tipo de habilitação conferida pelos
cursos, do currículo mínimo de disciplinas a serem ministradas e da
respectiva carga horária aula (MENDES, 1996, p.11).

Ao final do artigo, a autora faz uma crítica às disciplinas sobre conservação-


restauração oferecidas pelas escolas de Belas Artes que não se destinam à formação de
conservadores/restauradores, mas à formação do artista plástico. Para a pesquisadora:

Vem servindo para a “formação” de profissionais, apesar de que tais


disciplinas objetivam, de fato, complementarem a formação do artista
plástico. Em razão da carga horária exígua, essas disciplinas
proporcionam pouco conhecimento técnico e quase nenhuma
experiência na prática do fazer. Cabe também citar que diversas
instituições de guarda de acervo - museus, arquivos e bibliotecas -
oferecem cursos esporádicos. Além da carga horária de horas aula
mínima, os assuntos também são abordados de maneira superficial. Por
não serem instituições de ensino formal, os certificados conferidos pelas
mesmas não têm maior significação (MENDES, 1996, p.11).

Complementando a crítica final do artigo, a autora diz que é preciso reunir


novamente os profissionais da área ligados à formação, bem como as instituições ligadas
ao patrimônio e preservação, para discutirem essas temáticas e problemas da atualidade

112A autora está se referindo ao seminário sobre formação, já tratado acima, que apontou as áreas em que
mais se necessitava de mão-de-obra qualificada.
106

(MENDES, 1996, p.11). Destacamos que o debate capitaneado pela ABRACOR, com a
divulgação das discussões apresentadas acima, teve um grande alcance.
Um momento importante na trajetória da ABRACOR e da sua contribuição para o
Campo do patrimônio e Preservação foi a realização do 12º Encontro Trienal do ICOM-
CC no Brasil. O Encontro foi resultado da atuação de Maria Luísa Ramos de Oliveira
Soares, presidente da ABRACOR entre os anos (1996-2001), que esteve presente na
reunião do ICOM, na cidade francesa de Lyon. Naquele momento, a então presidente
conquistou, em nome da ABRACOR, o direito de sediar no Rio de Janeiro o 12th
Triennial Meeting ICOM-CC, pela primeira vez na América Latina em uma disputa em que
a Grécia foi derrotada por 7 votos a zero. O Encontro foi realizado em setembro de 2002
no Rio de Janeiro. Abaixo algumas fotos do evento figuras (7) e (8):

Figura 7 - Maria Luisa Ramos de Oliveira Soares, presidente da ABRACOR.


Palestrando no 12th Triennial Meeting ICOM-CC. Fonte: Acervo particular de Maria
Luisa Ramos de Oliveira Soares.
107

Figura 8- Membros do ICOM-CC durante o 12th Triennial Meeting ICOM-CC.


Fonte: Acervo particular de Maria Luisa Ramos de Oliveira Soares.

O panorama apresentado nesse capítulo foi fundamental para compreendermos


como se deu o processo de criação do curso, desde a importância das políticas públicas
do período, o apoio internacional e a ação dos diversos atores, que atuaram, quase que
simultaneamente, nessas diversas instâncias. No próximo capítulo analisaremos o curso
de especialização, sua estrutura e atuação do corpo docente.
108

CAPÍTULO 3
O CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM
CONSERVAÇÃO DA UFRJ
109

CAP. 3 O CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM CONSERVAÇÃO DA UFRJ

No capítulo 3 abordaremos a trajetória do Curso de Pós-Graduação em


Conservação da UFRJ. Analisaremos seus antecedentes na Escola de Belas Artes, os
motivos que levaram à sua criação. Apresentaremos a atuação de docentes: as
disciplinas por eles ministradas, seus referencias teóricos - metodológicos e suas
produções acadêmicas (pesquisas e publicações). Na elaboração do capítulo, as
entrevistas com Marylka Mendes (2015), Almir Paredes Cunha (2016) e Maria Luisa
Ramos de Oliveira Soares (2016) que tiveram papel basilar, no sentido de elucidar
algumas questões fundamentais para a compreensão do objeto de estudo. Bem como as
fontes primárias: Documentos do Arquivo do Museu D. João VI e Documentos do Arquivo
Central da UFRJ (DGDI), além dos documentos do Arquivo Marylka Mendes
(EBA/UFRJ).

3.1 A escola de Belas Artes e uma breve trajetória das disciplinas de Conservação-
Restauração.

A Escola de Belas Artes foi oficialmente fundada com a criação da Escola Real
das Ciências Artes e Ofícios por Decreto-Lei de D. João VI, em 12 de agosto de 1816. A
Escola, como outras instituições:

Visava dar ao Brasil um perfil atualizado, lançando as bases de


instituições que promovessem a infraestrutura econômica - necessária
ao desempenho capitalista - e à fundamentação cultural - indispensável
à formação de uma elite local, segundo os parâmetros iluministas
(PEREIRA, 2010, p. 59).

Porém, a Escola Real das Ciências Artes e Ofícios só foi efetivamente


implementada após dez anos da sua fundação, ou seja, em 1826, a partir da qual foi
denominada de Academia Imperial de Belas Artes. Contou com a colaboração dos
membros da Missão Artística Francesa, entre os quais destacamos nomes como Jacques
Lebreton (responsável pela equipe), Grandjean de Montigny (arquiteto), Nicolas Taunay e
Jean-Baptiste Debret (pintores), Auguste Taunay (escultor), Charles Pradier (gravador).
Assim, o principal objetivo da Missão consistia na “fundação de uma Academia Imperial
de Belas Artes na cidade do Rio de Janeiro” (PREREIRA, 2010, p. 59). Naquela época a
Academia Imperial passou a ter um prédio próprio, projetado por Grandjean de Montigny.
110

Na República passou a se chamar Escola Nacional de Belas Artes. Em 1971,


passa a ser Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro - EBA/
UFRJ.
No momento da chegada da Missão Artística Francesa havia uma pequena
coleção de quadros trazidos por Joaquim Lebreton e, posteriormente, outras obras da
coleção que pertenciam a D. João VI foram agrupadas, formando a Pinacoteca da
Academia Imperial de Belas Artes. A consolidação desta coleção fez com que surgisse a
necessidade de se manter e mesmo restaurar as obras. Castro (2013) analisou os
relatórios da Academia Imperial de Belas Artes - AIBA de 1841113 e, segundo o autor, foi
possível observar a necessidade da existência de um “restaurador de painéis para
conservação da Coleção Nacional que vai se deteriorando” (CASTRO, 2013, p. 33). No
entanto, Castro ressalta que:

Somente após o decorrer de treze anos da reunião de 1841 é que se


verificam referências sobre o ingresso do profissional no quadro de
funcionários da AIBA. Assim, em 23 de setembro de 1854, o Decreto nº.
805 autorizava o Governo Imperial a reformar a Academia de Belas Artes
e previa no Art. 1º/5º, a criação do “lugar de Conservador e Restaurador
de Quadros” (CASTRO, 2013, p. 14).

Neste sentido “na década de 1850, tomando-se a Academia Imperial de Belas


Artes (AIBA) como cenário privilegiado, surge em 1855 a figura do “Restaurador de
quadros e Conservador da Pinacoteca” (CASTRO, 2013, p.16). No entanto, a atuação
deste restaurador estava aliada à pratica artística, ou seja, era o artista – restaurador
cujas ações de intervenção estavam baseadas na prática da restauração. Ainda de
acordo com Castro (2013), já em 1911, no novo regulamento para a ENBA, aparece a
necessidade de se contratar um conservador-restaurador. Para este autor: “pela primeira
vez se constata, nos documentos oficiais públicos, a denominação expressa pelo binômio
“conservador-restaurador” (CASTRO, 2013, p.86).
Observamos, portanto, que a questão da relação do artista-restaurador teve uma
longa trajetória na Escola de Belas Artes. Somente na década de 1950 a Escola de Belas
Artes passou a oferecer uma disciplina específica para restauração ministrada pelo
professor Edson Motta que ofertou a mesma até a década de 1980:

“Teoria, Conservação e Restauração da Pintura” na Escola de Belas


Artes da Universidade do Brasil (atual UFRJ), cadeira por ele criada a
convite do então diretor da Escola Prof. Carlos Otávio Flexa Ribeiro
(CASTRO, 2013, p.203).

113Arquivo do Museu D. João VI, Escola de Belas Artes da UFRJ (AMDJVI – EBA/UFRJ). Livro de registro
das atas da Congregação da Academia Imperial de Belas Artes (AIBA), 1841, p. 467. (CASTRO, 2013, p. 33).
111

Essa disciplina contemplava três áreas (materialidades) respectivamente: papel,


imaginária e pintura. Com aulas teóricas e práticas, que eram realizadas em um pequeno
laboratório. Atendendo uma necessidade do campo da Conservação e da Restauração,
iniciou-se na EBA, entre as décadas de 1970 e 1980, um movimento para se organizar
Cursos de Especialização na área de Conservação, período este motivado, sobretudo,
pela política e ênfase na Pós-Graduação no Brasil.

3.2- O início da Pós-Graduação no Brasil e sua ressonância na UFRJ.

A UFRJ foi criada oficialmente, com o nome de Universidade do Rio de Janeiro,


pelo Decreto n.º 14.343, de 7 de setembro de 1920, sancionado Presidente Epitácio
Pessoa. Ainda, em 1920 foi aprovado o primeiro regimento da Universidade114 que em
seu artigo primeiro destacava qual seria o objetivo da Universidade do Rio de Janeiro:
“estimular a cultura da ciência, estreitar entre os professores os laços de solidariedade
individual e moral e aperfeiçoar os métodos de ensino”115.
É importante ressaltar que a Universidade foi criada a partir da união dos
primeiros cursos superiores no Brasil: a Escola Politécnica (Real Academia de Artilharia,
Fortificação e Desenho, fundada em 1792); a Faculdade Nacional de Medicina
(anteriormente Academia de Medicina e Cirurgia, criada em 1808); Faculdade Nacional
de Direito, criada em 1891; e Escola Nacional de Belas Artes (antiga Escola Real de
Ciências, Artes e Ofícios fundada em 1816). Posteriormente, através da Lei n.º 452, de 5
de julho de 1937, passa a se denominar Universidade do Brasil, tendo se tornado
autônoma através do Decreto-lei n.º 8.393, de 17 de dezembro de 1945. Já pela Lei n.º
4.831, de 5 de novembro de 1965, passou a denominar-se Universidade Federal do Rio
de Janeiro.
A Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ foi, portanto, a primeira
instituição universitária federal criada pelo governo federal, pois:

Da Colônia à República, tentativas são feitas em favor da criação de


universidades no Brasil. Até o final do período monárquico, mais de duas
dezenas de propostas e projetos foram apresentados sem êxito; após a
Proclamação da República, as primeiras tentativas também se frustraram
(FÁVERO, 2006, p.17).

114 Decreto nº. 14.572, que aprova a Aprova o Regimento da Universidade do Rio de Janeiro. Disponível em:
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1920-1929/decreto-14572-23-dezembro-1920-508004-
publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 29/06/2015.
115 Decreto nº. 14.572, que aprova a Aprova o Regimento da Universidade do Rio de Janeiro. Disponível em:

http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1920-1929/decreto-14572-23-dezembro-1920-508004-
publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 29/06/2015.
112

Entre as tentativas de criação de universidades, podemos citar: a Universidade de


Manaus (1909), a Universidade de São Paulo (1911) e a Universidade do Paraná (1912).
Contudo, apenas nas décadas de 1920 e 1930 tivemos no Brasil importantes movimentos
sociais/culturais que se respaldavam em novas ideias e novas formas de ver o mundo
cujas ideias provocaram mudanças importantes na sociedade brasileira nas décadas
seguintes, conforme destaca Schwartzman:

Com movimentos culturais, sociais e políticos que teriam consequências


de peso nas décadas seguintes. Em São Paulo a Semana de Arte
Moderna de 1922 retirou da pintura e da literatura as muletas do
classicismo arcaico, permitindo-lhes um maior contato com a realidade
brasileira e com as experiências artísticas mais vibrantes da Europa
(SCHWARTZMAN, 1979, p. 4).

Dessa forma, após a criação da Universidade do Brasil, retomaram-se as discussões


sobre o problema da Universidade no Brasil conforme ratifica a seguinte citação: “Tal
debate, nos anos 20, adquire expressão graças, sobretudo, à atuação da Associação
Brasileira de Educação (ABE) e da Academia Brasileira de Ciências (ABC)” (FÁVERO,
2006, p.22). Tanto a ABE e ABC, defendiam a modernização e ampliação do sistema
educacional brasileiro. Sobre os problemas em relação à Universidade no Brasil,
destacavam-se: sua função na sociedade, qual o modelo de universidade seria mais
adequado à realidade brasileira levando em consideração as especificidades de cada
estado brasileiro e a questão da autonomia universitária.
Já na década de 1930, no âmbito político, tivemos a centralização do aparelho do
Estado, ou seja, os diversos setores da sociedade foram centralizados. Assim, em 1930 é
criado o Ministério da Educação e Saúde Pública. Desta forma: “A partir de 1935, a
abertura suscitada pela Revolução de 30 passa a ser vista como um erro a ser corrigido.
Essa tendência se amplia, assegurando um clima propício à implementação do Estado
Novo” (FÁVERO, 2006, p.22). Ainda segundo a autora:

Com a “insurreição Comunista”, o Congresso renuncia às suas


prerrogativas e delega ao presidente plenos poderes, sendo decretado o
“estado de sítio” e o “estado de guerra” em todo o território nacional
(FÁVERO, 2006, p.22).

Neste contexto, em 1935 o Ministério da Educação e Saúde Pública (MESP),


passa por uma reorganização, na qual:
113

O Ministro Capanema, destacou a importância de uma Universidade


padrão: “não queremos afirmar com isso, que todas as universidades do
Brasil devam ser iguais à Universidade Federal”. Ao contrário, cada
região do país deve dispor de sua Universidade, de feição característica,
organizada e orientada segundo exigências locais (FÁVERO, 2006,
p.23).

Em termos acadêmicos, foi na década de 1940, através do artigo nº 71 do Estatuto da


Universidade do Brasil116, que aparece pela primeira vez o termo pós-graduação no que
tange à organização da Pós-Graduação no Brasil. De acordo com este artigo:

Art. 71. Os cursos universitários serão os seguintes:


a) cursos de formação;
b) cursos de aperfeiçoamento;
c) cursos de especialização;
d) cursos de extensão;
e) cursos de pós-graduação;
f) cursos de doutorado.
(BRASIL, 1946).

Já sobre especialização e sua competência, no artigo 74 do mesmo Estatuto


encontramos:

Art. 74. Os recursos de especialização serão os destinados a ministrar


conhecimentos aprofundados nos diferentes ramos de estudos
filosóficos, científicos, artísticos ou técnicos, pela forma estabelecida no
regimento e de acordo com programas previamente aprovados pela
Congregação (BRASIL, 1946).

No entanto, o alicerce para a institucionalização da pós-graduação se deu,


sobretudo, a partir da década de 1950 quando começou a se ampliar a pesquisa no Brasil
contando, inclusive, com apoio das agências de fomento. Não que antes não houvesse
pesquisa no país, mas esta acontecia em torno somente dos poucos professores
catedráticos, ou seja, dependia mais do professor catedrático, que atuava de forma
individual, e, muitas vezes, com recursos próprios e não da instituição. Por outro lado:

Na década de 1950 começaram a ser firmados acordos entre os Estados


Unidos e Brasil que implicavam uma série de convênios entre escolas e
universidades norte-americanas e brasileiras por meio do intercâmbio de
estudantes, pesquisadores e professores (SANTOS, 2003, p. 628).

116
BRASIL. Decreto nº 21.321, de 18 de junho de 1946. Aprova o Estatuto da Universidade do Brasil.
Disponível em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1940-1949/decreto-21321-18-junho-1946-326230-
publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 27/03/ 2016.
114

Em âmbito internacional, nas décadas de 1940 e 1950, a pesquisa científica e


tecnológica se desenvolveu largamente voltada principalmente para a questão militar,
ligada à preocupação com segurança: “Embora essa inserção fosse mais diretamente
perceptível no centro da produção capitalista, houve tentativas de reproduzi-la, tal qual no
âmbito da periferia, inclusive no Brasil” (CUNHA, 2007b, 130). Seria o início do processo
de modernização da universidade brasileira, que contou ainda com o auxílio de
especialistas norte-americanos. Os mesmos que prestaram serviços ao Ministério da
Aeronáutica do Brasil, visando o desenvolvimento e a criação de um instituto tecnológico.
Dessa forma, foram firmados acordos entre o Ministério da Educação e Cultura e a
United States Agency for International Development (MEC/USAID) para assessorar a
implantação de um novo modelo de universidade, tendo como base, o modelo norte-
americano. No entanto, Cunha (2007c) chama a atenção para um aspecto importante,
segundo o qual a concepção de universidade calçada nos modelos norte-americanos não
foi imposta pela USAID, mas sim:

Foi buscada, desde fins da década de 1940, por administradores


educacionais, professores e estudantes, principalmente aqueles como
um imperativo da modernização e, até mesmo, da democratização do
ensino superior em nosso país. Quando os assessores aqui
desembarcaram, encontraram um terreno arado e adubado para semear
suas ideias (CUNHA, 2007c, p. 24).

Neste âmbito, tivemos ainda a criação do Conselho Nacional de Pesquisa - CNPq,


através da Lei 1.310, de 15 de janeiro de 1951. Para Fávero (2006):

Não resta dúvida de que a criação do Conselho Nacional de Pesquisas


(CNPq), em 1951, cujo objetivo precípuo era desenvolver a pesquisa
científica e tecnológica em todos os campos do conhecimento, devendo
para tanto fixar critérios de concessão de bolsas, sobretudo a
professores e pesquisadores, bem como auxílio às universidades para a
implantação de núcleos de pesquisa, muito contribuiu para essa
renovação dentro da universidade (FÁVERO, 2006, p.30).

Seguindo essa mesma linha de pensamento abordada por Fávero (2006), Cunha
(2007b), afirma que “o principal efeito do CNPq na modernização do ensino superior no
Brasil tenha sido indireto, produzido pelas centenas de professores bolsistas” (CUNHA,
2007b, p.133). Desta forma, ao retornarem ao Brasil, esses professores tentaram
implementar o que vivenciaram em universidades no exterior. Além dessa questão, o
CNPq fornecia subsídio para compra de equipamentos de pesquisa para os laboratórios
ligados aos institutos de pesquisa especializados. Mesmo assim:
115

Todo esse esforço de montagem de um aparelho extra - universitário de


pesquisa científica e tecnológica resultou da tentativa de suprir as
deficiências das universidades, reconhecidas como lugar próprio onde a
pesquisa deveria ser realizada (CUNHA, 2007b, p. 132).

É importante ressaltar também, a criação da Coordenação Nacional de


Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES, pelo Decreto 29.741, de junho
de 1951. A CAPES objetivava a organização dos profissionais especializados “para
atender às necessidades dos empreendimentos públicos e privados, que visassem ao
desenvolvimento econômico e social do País” (FÁVERO, 2006, p.30). A CAPES era
ainda responsável pela avaliação dos programas de Pós-Graduação.
No caso da UFRJ, foi ainda na década de 1950 que surgiu o movimento que
pedia a mudança para tempo integral e dedicação exclusiva dos docentes, reivindicação
essa que foi finalmente atendida nesta mesma década. Dessa forma, os professores
puderam incluir a pesquisa em suas disciplinas. Tanto o CNPq como a CAPES
contribuíram para o desenvolvimento da pós-graduação no Brasil, pois propiciaram os
alicerces indispensáveis ao desenvolvimento da pesquisa.
A década de 1960 foi pautada por muitas críticas no que se refere à educação
superior no Brasil com a apresentação de várias propostas para sua reformulação. De
acordo com Cunha, “Foi durante o período 1946/1964 que essas críticas atingiram
praticamente todo o ensino superior, tendo o próprio Estado como uma das suas
principais fontes” (CUNHA, 2007b, p.128). Uma das principais mudanças visando uma
modernização seria o fim do sistema de cátedra e a implementação dos departamentos,
pois:

As Universidades eram compostas de faculdades, as quais podiam


manter autonomia jurídica. A faculdade era composta de cátedras, cada
qual correspondendo a uma certa área do saber. A reunião de certas
cátedras compunha a série, e a sequência desta, o curso. A cátedra
tinha no professor catedrático o titular vitalício, somente substituído em
por morte, afastamento ou jubilação (aposentadoria) (CUNHA, 2007b, p.
18).

Ainda segundo Cunha (2007b), ao catedrático estavam vinculados professores


assistentes, “livres docentes e auxiliares, a quem cabiam às tarefas docentes das
disciplinas ou das turmas que resultavam da subdivisão da cátedra. Os auxiliares de
ensino eram indicados pelo próprio catedrático” (CUNHA, 2007b, p. 18). Havia ainda, a
Congregação, composta pelos professores catedráticos e alguns livres docentes.
É importante ressaltar que muitas propostas contaram com apoio e/ou foram
elaboradas por um grupo de trabalho de professores universitários. Havia na época
116

alguns modelos e/ou formas de pensar a Universidade: modelo francês, modelo alemão e
o modelo norte-americano. O modelo alemão era caracterizado, sobretudo, pela
valorização do saber livre: “Em especial a faculdade de filosofia, onde se desenvolvia o
cultivo do saber livre e desinteressado de aplicação prática” (CUNHA, 2007b, p.18). Já o
modelo norte-americano, que começou a ser pensado ainda na década de 1940,
preconizava o controle dos recursos materiais e humanos da universidade. Assim:

O conhecimento a ser ensinado se fragmentava em disciplinas, já


deslocadas das matérias correspondentes às cátedras, no nível da
universidade, a agregação das disciplinas dava origem aos
departamentos, por processos indutivos (ao contrário do processo
dedutivo que originava a cátedra); no nível do estudante, resultava no
currículo a ser composto mediante um sistema peculiar de contabilidade
- o crédito (CUNHA, 2007c, p. 21).

Na então Universidade do Brasil - UB, atual UFRJ, foi ainda na década de 1940
que se começou a trabalhar com a organização em departamentos:

Quanto às faculdades e escolas, são organizadas em departamentos


dirigidos por um chefe, escolhido entre os respectivos catedráticos.
Ainda que pareça estranho, na UB, embora a cátedra fosse a unidade de
fato operativa de ensino e pesquisa, ela passa a existir, ao menos
legalmente, “integrada” a um departamento, a partir de 1946 (FÁVERO,
2006, p.27).

Cabe destacar que o departamento terá uma função central na criação de novas
disciplinas e implementação de cursos como ocorreu, por exemplo, no caso da pós-
graduação em Especialização em Conservação de Bens Culturais Móveis, objeto de
estudo dessa tese. O Curso de especialização foi efetivado após aprovação pelo
Departamento de Artes Base da Escola de Belas Artes da UFRJ.
Voltando a trajetória dos cursos de pós-graduação no Brasil, na então
Universidade do Brasil é pensada uma reforma universitária e, de acordo com Fávero
(2006) “é criada uma Comissão Especial, pelo Conselho Universitário, em fevereiro de
1962, para tratar da questão”. Desta forma:

Constituída a comissão é decidido que seria de grande interesse e


importância fazer uma consulta à comunidade acadêmica da própria
instituição, bem como de outras universidades, igualmente interessadas
nos problemas universitários (FÁVERO, 2006, p.30).

Para Santos, “O grande impulso para os cursos de pós-graduação do Brasil só se


deu na década de 1960”. Segundo o autor:
117

Já no início da década houve uma iniciativa importante na Universidade


do Brasil na área de Ciências Físicas e Biológicas (seguindo o modelo
das graduate schools norte americanas), resultado de um convênio com
a Fundação Ford, e outra na mesma universidade, na área de
Engenharia, com a criação da Comissão Coordenadora dos Programas
de Pós-Graduação em Engenharia (COPPE) (SANTOS, 2003, p. 628).

No caso da pós-graduação foi através do Parecer nº 977/65, de 3 de dezembro de


1965 do Conselho Federal de Educação, que se formaliza a pós-graduação no Brasil,
através do enunciado do relator Newton Lins Buarque Sucupira que apresentava como
objetivos:
1) formar professorado competente que possa atender à expansão
quantitativa do nosso ensino superior garantindo, ao mesmo tempo, a
elevação dos atuais níveis de qualidade;
2) estimular o desenvolvimento da pesquisa científica por meio da
preparação adequada de pesquisadores;
3) assegurar o treinamento eficaz de técnicos e trabalhadores
intelectuais do mais alto padrão para fazer face às necessidades do
desenvolvimento nacional em todos os setores (BRASIL,1965).

Importante destacar que esse parecer tem forte influência norte-americana. Como
ressalta Santos são abundantes os termos em língua inglesa como: “master, doctor,
college, graduate school, undergraduate, qualifying, scholarship, major, acreditation”.
(SANTOS, 2003, p. 632). O parecer aponta ainda os conceitos de pós-graduação para as
especificidades sensu stricto e sensu lato:

Em primeiro lugar impõe-se distinguir entre pós-graduação sensu stricto


e sensu lato. No segundo sentido a pós-graduação, conforme o próprio
nome está a indicar, designa todo e qualquer curso que se segue à
graduação. [...] Embora pressupondo a graduação esses e outros cursos
de especialização, necessariamente, não definem o campo da pós-
graduação sensu stricto. Normalmente os cursos de especialização e
aperfeiçoamento tem objetivo técnico-profissional específico sem
abranger o campo total do saber em que se insere a especialidade
(BRASIL, 1965).

Ainda, sobre a questão da influência norte-americana na implantação dos


primeiros cursos, Santos ressalta que: “influência essa que se deu principalmente na sua
estrutura, ficando os critérios de avaliação mais próximos dos modelos europeus não-
anglo-saxões” (SANTOS, 2003, p. 630). Como podemos observar, fica nítido qual deveria
ser o objetivo específico de um curso de pós-graduação (especialização). Ainda sobre a
especialização, no mesmo parecer, encontramos:
118

Cursos pós-graduados de especialização ou aperfeiçoamento podem ser


eventuais, ao passo que a pós-graduação em sentido próprio é parte
integrante do complexo universitário, necessária à realização de fins
essenciais da universidade (BRASIL, 1965).

Essa pós-graduação em sentido próprio a qual o autor se refere, seria o mestrado


ou doutorado. Por outro lado, ainda segundo o parecer:

Certamente a pós-graduação pode implicar especialização e operar no


setor técnico profissional. Mas neste caso a especialização é sempre
estudada no contexto de uma área completa de conhecimentos e
quando se trata do profissional o fim em vista é dar ampla
fundamentação científica à aplicação de uma técnica ou ao exercício de
uma profissão (BRASIL, 1965).

Posteriormente, em 1968117, tivemos uma nova reforma universitária, assim, “a


transformação do perfil da intelligentzia universitária investigada relaciona-se intimamente
com a hegemonia do modelo norte-americano de universidade, implantado com a
Reforma Universitária de 68” (PAULA, 2000 p.190). Esse modelo teve grande
repercussão na UFRJ. Dessa forma:

A atuação e a produção intelectuais, pós-década de 70, serão orientadas


segundo os critérios da burocratização e racionalização universitárias,
associados aos parâmetros do crescente processo de especialização
científica. Este último, no que se refere à área de ciências humanas,
acentua-se nos anos 80, quando a maioria da produção intelectual se
concentrará nos departamentos universitários (PAULA, 2000, p.190).

Outro fator importante, em relação à pós-graduação, foi o Decreto-Lei n° 465/69118


que “exigia para as universidades federais os graus de mestre e doutor na carreira
universitária e o percentual de docentes que atendessem esse requisito era muito baixo”
(LAMBERT, 1998, p.81). Logo os professores deveriam ter formação especifica. Assim:

Paulatinamente esse propósito foi estendido à capacitação de


professores da rede estadual, municipal e particular e aos profissionais
liberais de várias áreas do conhecimento humano, o que sem dúvida
provocou o crescimento de programas tanto stricto quanto lato sensu
(LAMBERT, 1998, p.81).

117 LEI Nº 5.540, DE 28 DE NOVEMBRO DE 1968. Fixa normas de organização e funcionamento do ensino
superior e sua articulação com a escola média, e dá outras providências. Disponível em:
>http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1960-1969/lei-5540-28-novembro-1968-359201-normaatualizada-
pl.pdf. Acesso em: 19/08/2016.
118 DECRETO-LEI. No 465, DE 11 DE FEVEREIRO DE 1969. Estabelece normas complementares à lei nº

5.539 de 27 de novembro de 1968 e dá outras providências. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del0465.htm. Acesso em: 29/06/2016.
119

Por outro lado, conforme destaca Fávero (2006): “Embora comece de fato a existir
na Universidade pesquisa institucional com auxílios financeiros, essa prática ainda não
pode ser generalizada a todas as áreas” (FAVERO, 2006, p.30). A mesma autora relata
um fato ocorrido com a Prof.ª Eulália Lobo, da área de História:

É o que deixa entrever a professora Eulália Lobo, referindo-se à


pesquisa em história: “Antes, o que ocorria era a pesquisa individual,
como uma publicação por conta própria, por alguma editora particular”.
Mas, no período 1967/1968, passa a existir pesquisa institucional, com
verbas. “Havia um pequeno Conselho, chamava-se o ‘Conselhinho’ da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, responsável pela distribuição de
verbas para a pesquisa. Nesse período, o CNPq também apoia a área
de História”. E a professora completa: “Lembro que passei três horas
para convencer a CAPES que deveria dar bolsa para a pesquisa
histórica. Foi uma luta e uma conquista porque a história não tinha o
mesmo status de outras áreas de conhecimento” (FAVERO, 2006, p.30).

Ainda sobre essa questão da “hierarquia entre os saberes”, Fávero (2006),


ressalta que as funções de destaque na UFRJ eram ocupadas por profissionais que
gozavam de grande prestígio nas grandes Escolas ou de determinados cursos:

Assim, podemos entender por que, de 1920 a 1965, os reitores dessa


Universidade, sem exceção, saíram das três grandes escolas: Medicina,
Direito e Engenharia, de onde emanam, em geral, as propostas de
outorga de títulos honoríficos e o encaminhamento de muitas decisões a
respeito da abertura de concursos para preenchimento de cátedras
(FÁVERO, 2006, p.30).

No entanto, o segundo regimento interno da UFRJ, publicado em 1970, no que se


refere à Pós-Graduação, percebemos que havia, ao menos oficialmente, o
reconhecimento de que a pesquisa deveria abranger todos os campos do conhecimento.
Assim, de acordo com o artigo número 289:

Art. 289 - Procurar-se-á incrementar a pesquisa em todos os campos dos


conhecimentos, não só quanto às ciências matemáticas e da natureza,
mas, ainda, quanto às ciências humanas, à filosofia, à teoria e às
técnicas educacionais, e, ao mesmo passo, incentivar a criação artística
e literária119 (UFRJ, 1970).

Como podemos observar, são citadas no regimento as áreas de letras e artes, ou


seja, o documento tenta contemplar todos os campos do conhecimento. Mesmo que a

119 Universidade Federal do Rio de Janeiro - Regimento Geral. Disponível em:


>http://www.consuni.ufrj.br/images/Legislacao/Regimento_Geral_1970_atualizado.pdf. Acesso em:
29/06/2016.
120

realidade se mostrasse diferente, conforme o depoimento da Prof.ª Eulália Lobo citado


por Maria de Lourdes de Albuquerque Fávero.
Desta forma, sobretudo a partir das décadas de 1980 e 1990, as universidades
brasileiras se transformam, “na medida em que ampliaram consideravelmente o número
de alunos, de docentes e de funcionários, multiplicaram o número de funções e cargos
administrativos, assim como o número de instâncias e órgãos decisórios” (PAULA, 2000,
p. 190-191). Essa ampliação dos corpos discentes e docentes, a criação dos inúmeros
cargos administrativos, toda essa transformação citada pela autora, iremos perceber no
processo de implantação do primeiro mestrado em Artes Visuais da Escola de Belas
Artes e do Curso de Especialização em Conservação de Bens Culturais Móveis.

3.3 A Criação da Pós-Graduação em Artes Visuais

A criação do Curso de Pós-Graduação em Artes Visuais - mestrado, veio atender


a uma necessidade da própria Universidade Federal do Rio de Janeiro, ou seja, da
necessidade de docentes com formação acadêmica (mestres e doutores). No âmbito da
reforma universitária, ressaltamos a Lei nº 5.540, de 28 de novembro de 1968, que entre
outras questões, fixava as normas de organização e funcionamento do ensino superior.
Conforme já citamos anteriormente.
Desta forma, tivemos a departamentalização na Escola de Belas Artes. Segundo
Delmás (2012), assim foram organizados os departamentos entre as décadas de 1970-
1980:
O Departamento de Desenho Industrial (BAI) - responsável pelo curso de
Desenho Industrial e o de comunicação visual;
O Departamento de Artes Utilitárias (BAU) - responsável pelos cursos de
Artes Cênicas, Composição Paisagística e Composição de Interior;
O Departamento de Análise e Representação da Forma (BAF) - não
sendo diretamente responsável por nenhum dos cursos da Escola de
Belas Artes, era denominado “departamento meio” e atendia aos
mesmos nas disciplinas de formação artística ligadas ao Desenho
Artístico e à Plástica.
O Departamento de Integração Cultural (BAC), denominado
“departamento meio” - não era diretamente responsável por nenhum dos
cursos, mas oferecia a todos 465h de aulas em disciplinas teóricas como
a História da Arte, a Estética, a Cultura Contemporânea e os Estudos de
Problemas Brasileiros, disciplina obrigatória em todos os cursos da UFRJ
durante o regime militar.
O Departamento de Técnicas de Representação (BAR), considerado
“departamento meio” - como os dois outros anteriores, por oferecer
disciplinas a todos os cursos da Escola de Belas Artes no ciclo básico.
(DÉLMAS, 2012, p. 145-146).

Além do Departamento de Artes Base - BAB, efetivamente implementado em


1979, faziam parte deste Departamento os Cursos de Graduação em Pintura, Escultura e
121

Gravura. Ao mesmo tempo ocorreu a busca pela consolidação da pós-graduação na


EBA. Para Almir Paredes Cunha120:

Nessa época em que eu era substituto eventual da Prof.ª Cordélia121, ela


me indicou, me nomeou para diretor adjunto de pós-graduação. Até...
mais ou menos, eu fui criticado “Como é que a Escola vai ter um diretor
de pós-graduação se não tem pós-graduação? ” (CUNHA, 2016).

Já a escolha do primeiro mestrado na EBA ser em Artes Visuais122 foi devido ao


fato do professor responsável pela implementação da pós-graduação, Almir Paredes
Cunha, ser da área: “eu comecei a tratar da pós-graduação na Escola. Como a minha
área era a de História da Arte, eu então, logicamente, pensei na área de História da Arte”
(CUNHA, 2016). Ainda, segundo Cunha:

Eu e uma Prof.ª, também de História da Arte, Maria Luiza Falabella, ela


me ajudou e então a gente olhando o que estava acontecendo na
Faculdade de Letras, como é que eram os cursos da Letras, a gente foi
adaptando para Escola e aí a gente fez um curso de Mestrado em
História da Arte. Mas eu também era restaurador. Então, logicamente, eu
pensei num outro curso porque o problema também dos restauradores é
que ninguém tinha titulação (CUNHA, 2016).

Importante destacar que o Curso de Letras ao qual o professor Cunha se refere


fazia parte do Centro de Letras e Artes - CLA, criado em 1967. O CLA era constituído
pela Decania e suas Unidades: Escola de Belas Artes, Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo, Escola de Música e Faculdade de Letras como podemos observar no
organograma abaixo:

120 Formado em Desenho pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1959), graduação em Filosofia pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (1959), graduação em Museologia pelo Museu Histórico Nacional
(1963), especialização em Cerâmica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1961), especialização em
Mosaico pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1961), doutorado em História Social pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (1974), aperfeiçoamento em Curso de Artes Industriais pelo Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais (1960), aperfeiçoamento em Introdução à Pintura pelo Museu Nacional de
Belas Artes (1962), aperfeiçoamento em Técnicas Físicas e Químicas Aplicadas aos Objetos pelo Museu
Nacional de Belas Artes (1962), aperfeiçoamento em Arte Italiana XV pela Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (1974), aperfeiçoamento em Tecnologia Educacional pelo Instituto Bennett de Ensino (1975) e
aperfeiçoamento em Classificação do Tecido Histórico pela Centre Internacional D'étude Des Textiles
Anciens (1978). Tem experiência na área de Artes, com ênfase em Fundamentos e Crítica das Artes.
121 A Prof.ª Cordélia Eloy de Andrade Navarro foi diretora da Escola de Belas Artes entre os anos de 1982-

1984.
122 Em 1985, o professor Almir Paredes Cunha apresentou, por parte da Escola de Belas Artes, a solicitação

de regulamentação dos cursos de Pós-Graduação em Artes da Escola de Belas Artes (Processo nº.
27.241/85). Infelizmente, não conseguimos localizar o processo no DGDI.
122

Centro de
Letras e
Artes- CLA

Faculdade Escola de Escola de Faculdade


de Música Belas Artes- de Letras
Arquitetura e EBA
Urbanismo-
FAU

Figura 9 - Organograma de funcionamento do Centro de Letras e Artes - CLA no ano em que foi
implementado o Curso de Especialização em Conservação de Bens Culturais Móveis. (Organizado pela
autora, 2015).

Assim, os professores do Departamento de Artes Base criaram o Mestrado em


Artes Visuais. Já o Curso de Especialização em Conservação de Bens Culturais estava
subordinado à Diretoria de Pós-Graduação, em atendimento à demanda da Universidade
e sua estrutura organizada em departamentos, conforme já mencionamos anteriormente.

3.4 Trajetória do Curso de Especialização em Conservação de Bens Culturais

Durante a pesquisa de campo para este trabalho, diversas vezes surgiu a


pergunta: você está pesquisando o Curso de Pós-Graduação da prof.ª Marylka123? O
Curso da prof.ª Marylka? O que levou-me a questionar sobre a Institucionalização do

123 A Prof.ª Marylka Mendes formou-se em pintura na Escola de Belas Artes, em 1952. Entre os anos de
1966/67, foi bolsista CAPES no Curso de Restauração, Escuela de Formación Profissional de Restauración,
Instituto Central de Restauración - em Madri, Espanha. Sua carreira como Prof.ª, teve início como auxiliar de
ensino na Escola de Belas Artes em 1957. Em 1979 passou a ser Prof.ª adjunta. Sendo representante dos
Professores Adjuntos junto à Congregação (entre 1981-83) e Representante dos professores junto ao
Conselho universitário (1982). Foi Prof.ª das disciplinas: Modelo vivo I e II, desenho artístico II e Conservação
e restauração I e II. Além de Coordenadora do Curso de especialização em Conservação. Participou de
várias associações de conservação. Sendo uma das Fundadoras da ABRACOR, a qual foi presidente durante
os anos de 1982/88. Ministrou aulas na disciplina de pintura de cavalete, dentro do curso do CECOR, em
Belo Horizonte. E manteve durante mais de 30 anos, um ateliê de restauração no Bairro da Glória, no Rio de
Janeiro. Este ateliê era equipado com maquinários específico, como a mesa de vácuo-pressão utilizada em
processos de restauração, baseada no projeto original de Mikkel Scharff, do Konservatorskolen det Kongelige
Danske Kunstakademi. O projeto da mesa foi inicialmente desenvolvido por duas desenhistas industriais
oriundas da Escola de Belas Artes da UFRJ. Posteriormente o engenheiro Galdino Guttmann Bicho
aperfeiçoou o projeto.
123

Curso e as relações entre a prof.ª Marylka, responsável pela coordenação do Curso de


Especialização e o processo de institucionalização do Curso como uma Pós–Graduação
da Escola de Belas Artes da UFRJ.
Porém, ao analisar a documentação referente à implantação do Curso,
verificamos o longo caminho percorrido desde o início, quando o Curso começou a ser
pensado, planejado, estruturado até a sua implantação de fato. A proposta inicial para o
Primeiro Curso de Especialização em Conservação foi apresentada ao Departamento de
Artes Base, da Escola de Belas Artes - BAB/EBA, em 14 de maio de 1981124. A
aprovação pelo Conselho Departamental ocorreu em 28 de maio de 1981 e pelo
Conselho de Ensino para Graduados - CEPG125, em 19 de maio de 1988. Levou cerca de
sete anos, entre a apresentação da proposta, a aprovação e a implantação efetiva.
Podemos considerar que nas décadas de 1980 e 1990 existiu, na Escola de Belas
Artes da UFRJ, o desejo de estruturar Cursos de Especialização na área da
Conservação-Restauração, sobretudo. Como podemos observar no artigo publicado por
Marylka Mendes nos Anais do IV Congresso da ABRACOR, em 1988:

A conservação do Patrimônio Cultural brasileiro exige profissionais


habilitados e equipes interdisciplinares. A formação oferecida no país, no
entanto é insuficiente, forçando o envio, a cada ano, de um grande
contingente de bolsistas para estágios, que resultam em baixo nível de
assimilação. Por outro lado, multiplicam-se no país os cursos
improvisados, de curtíssima duração que aviltam a profissão e
contribuem para a destruição do acervo nacional (MENDES, 1988 s/p).

Ainda, nas palavras da autora, “tendo em vista essas questões a Universidade


Federal do Rio de janeiro (UFRJ) resolveu implantar a partir de março do próximo ano,
um extenso programa de formação que inclui”:

(I) Um Curso de Pós-Graduação “lato sensu” (Especialização) em


Conservação com duração de um semestre. Oferecido
anualmente.
(II) Um Curso de Pós-Graduação “lato-senso” (Especialização) em
Conservação e Restauro com duração de dois anos e
especialização nas áreas de papéis têxteis e pintura de cavalete;
(III) Um Curso para técnicos em Conservação, nível médio, com
duração de um semestre;
(IV) Auxiliares de conservação;

124 Processo N. 23079.10.859/89-32. Página 20. Assunto: Aprovação do Curso. Arquivado: Divisão de
Gestão Documental da Informação - DGDI. Código: 33.08.45
125 O CEPG, Conselho de Ensino para Graduados, é o órgão deliberativo da estrutura superior da

Universidade responsável pelas diretrizes didáticas e pedagógicas dos cursos de pós-graduação. Disponível
em : >http://app.pr2.ufrj.br/pr2/oQueECEPG< . Acesso em: 29/06/2016.
124

(V) A instalação de um Centro de Conservação-Restauração com os


laboratórios, ateliês e demais recursos necessários para
atividades didáticas126.

Segundo a autora, a decisão de nuclear na UFRJ um programa com esses objetivos


levou em consideração diversas condições favoráveis entre as quais:

A experiência internacional aponta exclusivamente que só a


Universidade oferece uma plataforma de recursos tecnológicos e
educacionais indispensáveis para a pesquisa e formação na área da
conservação.
A UFRJ já oferece disciplinas de conservação há 30 anos, possuindo no
seu quadro professores especializados em conservação e restauração
vinculados à Escola de Belas Artes.
A UFRJ possui amplos laboratórios em termos científicos e educacionais
como departamentos de Química, Física, Biologia. Além de um Centro
de Tecnologia aparelhado para todas as tarefas de análise e
estabelecimento de metodologia de conservação.
A Cidade do Rio de Janeiro é a maior concentração no país de museus,
institutos de preservação, cursos de arte, centros de estudos
antropológicos etc., além de apresentar uma posição geográfica
favorável para o estabelecimento de atividades de âmbito nacional.

Existe, hoje, no país, ainda que dispersos em diferentes instituições, um


número de especialistas habilitados no exterior com experiência de mais
de dez anos e títulos acadêmicos sólidos o suficiente para constituir um
quadro diversificado de professores de alto nível. A maior parte desses
profissionais reside no Rio de Janeiro.

Mendes considerava ainda que um programa de formação na UFRJ poderia


complementar e consolidar uma política nacional de formação: “Tendo por base o papel
das três Universidades Federais funcionando também como centros de excelência em
áreas complementares (MENDES, 1988). Assim:

(I) A Universidade Federal de Minas Gerais, através do Centro de


Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis (CECOR)
concentrada na área de pintura e madeira policromada;

(II) A Universidade Federal da Bahia concentrada na área de


conservação de monumentos e conjuntos históricos.

(III) A Universidade Federal do Rio de Janeiro, Concentrada na área


de papéis, têxteis e pintura de cavalete.

126No acervo da Prof.ª Marylka Mendes encontramos informações sobre cada uma dessas propostas de
Cursos, incluindo: programas das disciplinas, ementas, bibliografias, entre outras informações. Constituindo
uma importante fonte para futuras pesquisas.
125

Já sobre o Curso de Pós-Graduação “lato sensu” (Especialização) em


Conservação de Bens Culturais, a autora considerava que o campo da preservação
dividia-se, em duas áreas: Conservação (que abordava os cuidados necessários para
preservar as coleções com o mínimo de interferência) e Restauração (métodos, técnicas
e filosofia do tratamento de objetos danificados). Dessa forma:

Considerando-se, atualmente, que a conservação abrange uma série de


conhecimentos sobre ciências dos materiais que deve fazer parte da
formação de todos que lidam com cultura material: museólogo,
arqueólogo, arquivistas, bibliotecários, etc. já o campo da restauração
exige uma capacitação específica que inclui treino e técnicas
construtivas diferentes para cada tipo de objeto ou material: pintura,
mobiliário, instrumentos musicais, etc. (Mendes, 1988).

Ainda segundo Mendes, o programa de Especialização da UFRJ, optou por uma


“atitude inovadora”, pois, estabeleceria cursos e certificados específicos para cada área:

Através de um Curso de Especialização de Bens Culturais será possível


obter o Certificado de Conservador após, no mínimo, a frequência a um
semestre de cursos, enquanto para obter o grau de especialização em
Conservação-Restauração (especificamente o profissional da área)
exige-se um Curso de quatro semestres com intensa prática de
laboratório e ateliê, complementado por estágio de um semestre. No
primeiro caso as turmas serão de 40 alunos enquanto no segundo caso
apenas 5 alunos serão admitidos para cada área de conhecimento (obra
de arte sobre papel, documento sobre papel, pintura de cavalete, têxteis)
(MENDES, 1988).

Para seguir com este programa, Mendes sugeriu convidar especialistas de


diferentes instituições nacionais e estrangeiras, complementando desta forma, o quadro
de professores.
Ao analisarmos este período (décadas de 1980-1990), percebemos que grande
parte dessas ideias e objetivos explicitados por Mendes, não foram implementados. No
entanto destacaremos um momento significativo: o Curso de Especialização em
Conservação de Bens Culturais Móveis, objeto de estudo desta tese127.
Importante destacar que preocupação com a necessidade da formação já estava
presente nos Congressos da ABRACOR, como podemos observar no Seminário

127 O outro Curso implementado foi o de Especialização em Restauração de Obras de Arte, organizado e
coordenado pelo professor Edson Motta Júnior, implementado em 1992 e que durou dois anos. Formando
uma turma. Essa Especialização teve como modelo o Curso de Conservação oferecido no Courtauld Institute
of Art . Segundo Edson Motta Júnior (2017): “como a Profa. Elza [Maria Rodrigues Pimentel Lesaffre], chefe
de Departamento, era da área de escultura, ela queria um curso de restauro de escultura. Então criamos um
grupo de restauro de escultura. E quem dava as aulas era um professor chamado Joaquim [de Lemos e
Sousa]”. Este Curso merece ser estudado em futuras pesquisas. Referência sobre o Curso: Relatório do
Curso de Especialização em Restauração de Obras de Arte. Localização: Arquivo Central da UFRJ - Divisão
de Gestão Documental e da Informação - DGDI. Número: 23079.23766/1996.
126

Formação Profissional para Preservação de Bens Culturais128. Dentre os fundadores da


ABRACOR, estavam muitos atores sociais que foram professores do Curso de Pós-
Graduação: Marylka Mendes, Maria Luisa Ramos Soares, Almir Paredes Cunha, Sérgio
Burgi, Solange Zuñiga, entre outros (Conforme apresentamos no capítulo anterior). É
importante lembrar que muitos professores tiveram uma formação na Europa ou nos
Estados Unidos, tendo contato com os principais centros de formação em Conservação e
Restauração de bens culturais. À Prof.ª Marylka Mendes coube a Coordenação nas cinco
primeiras edições129. Somente o 6º Curso a coordenação ficou a cargo do prof. Antônio
Carlos Nunes Batista.
É interessante destacar a trajetória para implantação do Curso, bem como a
tramitação para sua institucionalização e efetivação. O Curso de Especialização – lato
sensu, não tinha a obrigatoriedade de ser oferecido regularmente, como o caso do
Mestrado – stricto sensu, como iremos observar na Especialização em Conservação.
Após a realização de cada curso era enviado um relatório ao Conselho de Ensino para
Graduados CEPEG, responsável pela regulamentação dos Cursos de Pós-Graduação na
UFRJ.
Verificamos também, a rede de relações envolvendo outros atores sociais que
participaram e contribuíram para efetivação dos Cursos, como os professores. Estes
foram selecionados segundo o critério que levava em conta suas atuações no campo da
Conservação e/ou em áreas afins, assim:
Quem era da universidade não recebia para ministrar aula. Os outros
que vinham de fora recebiam, mas era pouco salário. Davam aula
porque achavam importante (MENDES, 2015).

Grande parte dos professores era de fora da UFRJ, às vezes, de outros Estados do
Brasil, a exemplo dos professores oriundos do CECOR/UFMG, ou da própria UFRJ, mas
de outras Unidades como, do Instituto de Química, do Instituto Alberto Luiz Coimbra de
Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia - COPPE e do Museu Nacional
(Departamento de Antropologia). Outros professores eram de Importantes Instituições do
Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa - FCRB, Arquivo Nacional - AN,
Biblioteca Nacional - BN, Museu Histórico Nacional - MHN, entre outras Instituições.
O Curso foi organizado em módulos, com aula o dia todo. Ou seja, era período
integral, cinco dias por semana. Um dos motivos da organização por módulos, com

128 Realizado no Rio de Janeiro de 2 a 4 de dezembro de 1985. Na ocasião, muitos profissionais se reuniram
e se organizaram em dez grupos de trabalho.
129 Ao invés de usarem a terminologia turmas, chamavam de Curso. Dessa forma, a primeira turma, seria o

Primeiro Curso, a segunda turma, o Segundo Curso e assim sucessivamente.


127

elevada carga horária, seria para facilitar a estádia e até mesmo porque a remuneração
era pouca, conforme nos afirmou Mendes (2015).
Podemos dizer que a prof.ª Marylka participava de uma ativa “rede humana”:

Ao se falar em uma “rede humana” para cada campo disciplinar, também


temos de ter em vista, é claro, que estas redes encontram-se
frequentemente interferidas por uma “rede institucional” (universidades,
institutos de pesquisa, circuitos editoriais de revistas científicas), e
também por uma constelação de grupos de pesquisa e outras formas de
parcerias e associações dentro da qual esta vasta rede humana também
se acomoda de uma maneira ou de outra. A rede humana do campo
disciplinar, desta forma, assume aqui a forma de uma “comunidade
científica” (Barros, 2011, p.263).

Por outro lado, para que o Curso funcionasse efetivamente, seria importante
contar com uma infraestrutura especial, isto é, como um Laboratório de Conservação e
de Restauração que abrangesse uma grande gama de materiais. No ano de 1987, foi
elaborado um anteprojeto para criação de um Centro ou Instituto Nacional do Restauro
de autoria da própria prof.ª Marylka Mendes, com a colaboração, na montagem do estudo
preliminar do projeto, dos professores Antonio Carlos Nunes Baptista, Edson Motta
Júnior, além do estudante do 7º período de Arquitetura, Jorge Pftau de Carvalho.
O anteprojeto, oficialmente intitulado Montagem de um Centro de Pesquisa em
Conservação-Restauração de Bens Culturais Móveis: Um estudo preliminar. Tinha como
finalidade o exercício de pesquisa em Conservação-Restauração de bens culturais nas
áreas de Pintura de Cavalete, Têxteis, Papel, Metal, Escultura, Material Etnográfico e
Arquitetura, assim como realizar o restauro do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Ver: ANEXO A- figuras (1 e 2).
A relevância do projeto estava sedimentada na carência notória de pesquisa
sistemática no campo da Conservação de bens culturais. Em razão disso, elaborou-se
um anteprojeto de um Centro de Pesquisa Interdisciplinar que explorasse o potencial
oferecido pelo Campus Universitário visando fomentar o desenvolvimento de atividades
científicas.
O Projeto foi aprovado pela direção da Escola de Belas Artes, através do diretor
Fernando Pamplona e, posteriormente, pelo Reitor. Sendo ainda aprovado no Minc -
Fundação Pró-Memória e Museu Nacional de Belas Artes. O Centro ou Instituto Nacional
de Restauração seria, então, criado na Cidade Universitária. A Ideia do projeto de criação
do Centro ou Laboratório Nacional de Restauro foi apresentada e defendida no CEG
tendo Como relatora a prof.ª Samira Nahid Mesquita que ressaltou os seguintes fatos:
128

O professor Pamplona alude à possível utilização da Lei Sarney, por


parte do Minc. E finaliza o ofício ao Reitor sugerindo que a Universidade
tome a iniciativa, junto ao Ministério da Cultura, para que se forme uma
Comissão interministerial, MinC/MEC, com representantes da UFRJ, da
Fundação Pró-Memória, do SPHAN e do Museu Nacional de Belas
Artes130.

Ainda destaca que, a disciplina de Restauro fazia parte do currículo da EBA,


despertando grande interesse entre alunos e técnicos especialistas. A relatora reconhece
que a importância e a grandeza do projeto são de honrar qualquer universidade de
qualquer país que preze sua história e sua cultura e que, por este motivo, merece da
UFRJ todos os esforços Junto ao Governo Federal, particularmente dos Ministérios da
Cultura e da Educação, sem esquecer o da Ciência e Tecnologia, a fim de ver-se
construído nesta Cidade Universitária um Centro ou Instituto Nacional de Restauro.
O CEG opinou favorável à Criação de um Centro ou Instituto Nacional de
Restauro, em 22/09/1987, como podemos observar na cópia do oficio de nº 595 enviado
pelo Reitor Horácio Macedo ao então Ministro da Cultura Celso Furtado. Ver: (ANEXO A-
figura (3). Neste documento, o reitor ressalta que a Criação do Centro ou do Instituto:

Propiciaria, além disso, a realização de cursos de graduação, de pós-


graduação e cursos de extensão universitária. As possibilidades de
colaboração estrangeiras seriam inúmeras e interessantes em virtude
dos peculiares problemas da restauração de obras de arte em climas
tropicais131.

Mesmo tendo parecer favorável em várias instâncias, sendo muito elogiado e


desejado por toda comunidade acadêmica, o projeto/criação do Centro ou Instituto
Nacional do Restauro não foi implementado. Sendo arquivado e fazendo parte do arquivo
permanente da UFRJ. No entanto, consideramos interessante pensar que, foi uma
proposta que se efetivada, teria fornecido suporte, com espaço adequado para pesquisa
e atividades de conservação para o Curso de Especialização em Conservação de Bens
Culturais ou até mesmo outros Cursos de Pós-Graduação e/ou extensão que a Escola de
Belas Artes pudesse ofertar. A ideia de que a UFRJ deveria ter um Instituto ou Centro
voltado à conservação e à restauração foi defendida por professores não diretamente
ligados a estas áreas. O Prof. Celso Ferreira Cunha, que se pronunciou várias vezes em

130
Arquivo Central da UFRJ (DGDI). Anteprojeto/criação do Centro ou Instituto Nacional de Restauro da
UFRJ (0146-5) Doc.:0000070/1987. Número: 23079.016787/1987-84.
131 Arquivo Central da UFRJ (DGDI). Anteprojeto/criação do Centro ou Instituto Nacional de Restauro da

UFRJ (0146-5) Doc:0000070/1987.Número: 23079.016787/1987-84.


129

reuniões de Conselho Superior no sentido de criar-se na UFRJ um Instituto de Patologia


do Livro, nos moldes dos que existem, por exemplo, em Roma e em Madri132.
O espaço físico para localização do Centro de Restauração da UFRJ pertencia ao
Grupo Executivo de Manutenção e Desenvolvimento GEMD. Ver: ANEXO A - figuras (4 e
5), onde podemos observar o desenho da fachada de como ficaria após as obras.
Atualmente, o espaço pertence à Divisão de Saúde do Trabalhador - DVST e ao Galpão
de Linguagens Visuais do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de
Belas Artes da UFRJ.
Embora não efetivamente implementado, algumas aulas do Curso de
Especialização ocorreram neste espaço, que foi adaptado. Para que pudesse ser
utilizado como salas de aula.
Em suma, podemos dizer que a não efetivação do Centro ou Instituto Nacional do
Restauro fez com que parte das aulas fosse realizada em Instituições parceiras, tais
como a Biblioteca Nacional, a Casa de Rui Barbosa, e, em especial o Museu Histórico
Nacional.
Em termos de divulgação, eram enviados telegramas aos Jornais, e também
comunicado a vários museus e Instituições de patrimônio. No estado do Rio de Janeiro,
como em outros estados.
O Objetivo de todos os Cursos (turmas) era a formação de profissionais para
atuarem na área de Preservação dos bens culturais. Na tabela (2) abaixo, apresentamos
um resumo dos cursos oferecidos, seus professores e disciplinas ministradas:

132Celso Ferreira Cunha, foi professor titular de Língua Portuguesa da Faculdade de Letras da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, de onde foi Decano do Centro de Letras e Artes. Arquivo Central da UFRJ (DGDI).
Anteprojeto/criação do Centro ou Instituto Nacional de Restauro da UFRJ (0146-5) Doc.: 0000070/1987.
Número: 23079.016787/1987-84. Página:15.
130

Tabela 2- Resumos dos cursos: professores e disciplinas ministradas (organizado pela autora, 2015).
131

Tabela 2 (CONTINUAÇÃO) - Resumos dos cursos: professores e disciplinas ministradas (organizado pela
autora, 2015).
132

Tabela 2 (CONTINUAÇÃO) - Resumos dos cursos: professores e disciplinas ministradas (organizado pela
autora, 2015).

Tabela 2 (final) - Resumos dos cursos: professores e disciplinas ministradas (organizado pela autora, 2015).

Sobre o regime didático, destaca-se na metodologia o recurso de aulas teóricas


expositivas com auxílio de meios áudios-visuais. Foram realizados ainda alguns
seminários com o intuito de complementar os conteúdos ou temáticas abordadas. Já a
metodologia das aulas práticas constava de demonstrações nos ateliês de conservação-
restauração e/ou de visitas técnicas a Instituições relacionadas a estas áreas. As
atividades práticas concernentes às disciplinas foram realizadas na própria UFRJ e em
Instituições do Rio de Janeiro
Como apoio à pesquisa, os estudantes tinham à disposição, além das bibliotecas
da UFRJ, outras bibliotecas, como a da Fundação Casa de Rui Barbosa e a do SPHAN.
Em todos os cursos a coordenação do Curso promovia debates semanais entre os alunos
e professores para avaliar o desenvolvimento de cada disciplina, com vista ao
aprimoramento do Curso.
Todos os Cursos eram finalizados com um relatório elaborado pelo coordenador.
Ao analisarmos estes relatórios encontramos a afirmativa de que todos os seis Cursos
133

(seis turmas) haviam compreendido uma experiência bem-sucedida. Por esse motivo,
havia sempre a indicação de que fosse repetida no próximo semestre.
O Primeiro Curso teve seu início em 20 de março de 1989 e terminou em 30 de
julho do mesmo ano. No documento intitulado: “Curso de Conservação em Bens Culturais
Móveis relatório final de Atividades” encontramos as seguintes informações sobre o
Curso:
O Curso de Especialização em Conservação de Bens Culturais Móveis,
da Escola de Belas Artes, constituiu uma iniciativa inédita no âmbito da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, bem como do próprio Rio de
Janeiro133.

Com carga horária de 600h e duração de quatro meses, foi realizado em regime
de tempo integral, com carga horária semanal de 40h. Colaboraram na coordenação os
professores Almir Paredes da Cunha (Subcoordenador), Edson Motta Junior134 (Assessor
Didático), Helenise Monteiro Guimarães (Assessora Administrativa) e Antonio Carlos
Nunes Batista (Assessor Técnico-Científico). No total quatorze professores foram
responsáveis por ministrarem as aulas, mas somente três eram professores efetivos da
UFRJ: Almir Paredes, Marylka Mendes e Edson Motta Junior. Em depoimento, o
Professor Edson Motta Junior (2017) destaca que: “no final dos anos oitenta tivemos
Cursos de Conservação, não de restauração. O primeiro foi organizado por mim e pela
Marylka” (MOTTA JUNIOR, 2017).
Inscreveram-se 33 candidatos, tendo sido selecionados 17 para preencher as
vagas oferecidas. Deste total de 17 alunos, 15 concluíram o Curso com excelente
aproveitamento sendo que 02 dois foram desligados por não terem cumprido os
requisitos de frequência mínima de 85%.
O Curso constou de 13 (treze) disciplinas135 136
: Critérios Estéticos e Históricos
para Conservação; Introdução às Ciências dos Materiais; Documentação; Meio Ambiente

133
Relatório Final de Atividades do Primeiro Curso de Especialização em Conservação de Bens Culturais
Móveis. Julho de 1989. Realizado por Marylka Mendes. Coleção Marylka Mendes.
134 Edson Motta Júnior é Bacharel em História pela Universidade Federal Fluminense (1978), Mestre em

História e Crítica da Arte pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1996) e Doutor em 'Conservacion y
Restauracion de Patrimonio' pela Universidade Politecnica de Valencia (2004). Atualmente é Professor
Adjunto IV da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de Artes, com ênfase em
Restauro, atuando principalmente nos seguintes temas: restauração, pintura, escultura, arte contemporânea
e arte brasileira.
135 Ofício nº183/88 - Enviado pela coordenadora do Curso de Conservação em Bens Culturais Móveis,

Marylka Mendes ao Professor Almir Paredes Cunha, Diretor da Pós-Graduação da EBA. 1988. Arquivo do
Museu D. João VI, Acervo Marylka Mendes.
136
Ainda sobre as escolhas das disciplinas, estava em consonância com a recomendação do Conselho
Internacional de Museus - ICOM para a formação e os estudos teóricos, que deveriam incluir as seguintes
matérias: história da arte e das civilizações; métodos de pesquisas e de documentação; conhecimento da
técnica e dos materiais; teoria e ética da conservação; história e tecnologia da conservação-restauração;
química, biologia e física dos processos de deterioração e dos métodos de conservação. Documento
elaborado pelo ICOM intitulado: “O conservador-restaurador: uma definição da profissão; lembrando que este
134

e Degradação de Bens Culturais; Museografia e Conservação; Iniciação aos Processos


de Conservação-Restauração: Obras de Arte sobre Papel; Iniciação aos Processos de
Conservação-Restauração: Fotografias e Registros Magnéticos; Iniciação aos Processos
de Conservação-Restauração de Têxteis; Iniciação aos Processos de Conservação-
Restauração de Artefatos em Madeira; Iniciação aos Processos de Conservação-
Restauração de Pintura de Cavalete; Iniciação aos Processos de Conservação-
Restauração: Artefatos em Pedra Vidro e Cerâmica; Iniciação aos Processos de
Conservação-Restauração: Acervos Arquivísticos e Bibliográficos; Iniciação aos
Processos de Conservação Restauração: Materiais Arqueológicos e Etnográficos.
As disciplinas foram ministradas sob a forma de módulos, com duração de uma
ou duas semanas. As aulas e atividades práticas foram realizadas em sala de aulas da
EBA/UFRJ - no Museu D. João VI e no Centro de Restauração da UFRJ (prédio do
GEMD). Sobre o espaço de realização, Mendes (2016), destaca que:

O primeiro curso nós fizemos na lavanderia. Lá no fundo do Fundão. Um


professor da arquitetura que tinha uma sala e nós levamos os móveis,
arrumamos a sala e fomos para lá (MENDES, 2015).

O espaço que a prof.ª Marylka chama de “Lavanderia da UFRJ”, pertencia ao


Grupo Executivo de Manutenção e Desenvolvimento GEMD. Havia um projeto para que
lá funcionasse o Centro de Restauração da UFRJ (prédio do GEMD), conforme já
mencionamos acima. Já no Prédio da Reitoria, no 7º andar, se localizavam as salas de
aulas onde foram ministradas algumas disciplinas.
Encontramos um documento da coordenação do Curso, solicitando a Lygia de
Carvalho Pape (então diretora do Museu D. João VI), permissão para visitar o Museu
como recurso didático para complementar as informações apresentadas em aula137·.
Foram ainda, realizadas atividades práticas em outras Instituições, como:
Biblioteca Nacional, Fundação Casa de Rui Barbosa, INfoto/ FUNARTE, Museu Nacional,
Museu Naval, Museu da República e Teatro Municipal.
Ainda como atividade do Curso os alunos puderam participar de palestras
organizadas pela coordenação. Os palestrantes eram nomes atuantes no âmbito da
Conservação e da Restauração, como, Agnes Ballestrem138 que proferiu a palestra: O

documento foi traduzido pelo Boletim da ABRACOR, em 1988” (Boletim ABRACOR - ano VIII - N o 1 - julho
de 1988).
137 Carta de Marylka Mendes encaminhada à Lygia de Carvalho Pape. 11 de Outubro de 1989. Arquivo do

Museu D. João VI, Acervo Marylka Mendes.


138 Na ocasião de sua morte, em 2007, aos 71 anos, o ICCROM publicou um pequeno resumo de sua

atuação. Disponível em:


135

Conservador-Restaurador: uma definição da profissão, no dia 12/06/89, no Auditório da


Confederação Nacional da Indústria. Embora sua área de especialização fosse (Escultura
Policromada), ao longo de sua carreira Agnes esteve profundamente interessada na ética
e na teoria da Conservação - Restauração e na formação da identidade profissional das
pessoas que trabalhavam nestas áreas. Colaborou ainda, para o ICCROM e o ICOM-CC,
realizou inúmeras palestras em várias partes do mundo, principalmente na América
Latina. Foi Diretora do “Centro Research Laboratory Objects os Art and Science”
(Amsterdã, Holanda).
Já Bettina Raphael apresentou a palestra: “Monitoração e Controle Ambiental”, no
Auditório da FNPM, em 19/06/89. A palestrante era química e especialista em
preservação de artefatos etnográficos e arqueológicos incluindo a conservação
preventiva desses objetos tridimensionais. Atuou no Smithsonian Institution, entre outras
Instituições. Brian Considine apresentou a palestra “Os métodos de Restauração do
Acervo em Madeira, utilizados no Museu Paul Getty”, no Auditório da FNPM, em
22/06/89. Considine era especializado em conservação de objetos tridimensionais e tais
como: mobiliário, escultura, têxteis, vidro, metais, pedra e salas de painéis, tendo atuado
como restaurador do Museu Paul Getty (California, USA).
Em documento datado de 28 de novembro de 1989, encaminhado à Diretora
Adjunta de Pós-Graduação, prof.ª Liana Silveira, o prof. Edson Motta Junior pede
demissão do cargo de Assessor Didático do Curso de Especialização139.
Antes de apresentarmos alguns aspectos específicos sobre o Segundo Curso, é
importante ressaltarmos que mesmo o relatório sobre o Primeiro Curso, tendo sido
aprovado pelo Conselho de Ensino para Graduados - CEPEG em documento datado de
27/09/1989140 encontramos uma exigência feita por parte do próprio CEPEG em relação à
titulação dos professores, na qual era exigido o título de doutor. Segundo o documento
elaborado pela Comissão de Curso do CEPEG, responsável pela fiscalização das normas
que regulamentavam a organização e o regime didático-científico dos cursos de pós-
graduação na UFRJ, a titulação dos professores deveria atender às exigências do artigo
9º da regulamentação de cursos:

http://www.iccrom.org/ifrcdn/eng/news_en/2007_en/various_en/04_19obitBallestrem_en.shtml. Acesso em:


05/04/2016.
139
Relatório Final de Atividades do Primeiro Curso de Especialização em Conservação de Bens Culturais
Móveis. Julho de 1989. Realizado por Marylka Mendes. Acervo Marylka Mendes.
140 Processo N. 23079.10.859/89-32. Página 42. Assunto: Aprovação do Curso. Arquivado: Divisão de

Gestão Documental da Informação- DGDI. Código: 33.08.45


136

Art. 9º Após o período de implantação e quando for recomendado pela


comissão especial de que trata o § 3º do art. 7º, os cursos pleitearão seu
credenciamento pelo CFE141.

Essa comissão na qual faz referência ao Artigo 9º era justamente para verificar,
entre outras questões, a titulação dos docentes. Já no Artigo 7º encontramos:

§ 3º O CEPG indicará comissões especiais de 3 (três) membros, a fim de


proceder ao acompanhamento do funcionamento dos cursos em
implantação. Estas devem indicar, após prazo adequado, se o curso
deve ser reconhecido ou desativado142.

Assim, a relatora Maria de Fátima Oliveira Gonçalves solicitou o envio ao CEPEG


dos currículos dos professores não titulados para apreciação dos membros do Conselho.
O cumprimento da exigência seria necessário para autorização de criação da próxima
turma do Curso de Especialização.
Os Professores não titulados eram: Carlos Régis Lemes Gonçalves, Edson Motta
Júnior, Adair Evangelista de Souza Marques, Beatriz Ramos Coelho, Pedro Vasques e
Antonio Grosso. Entretanto, a despeito da exigência do CEPEG, estes professores foram
mantidos no corpo docente do Segundo Curso.
Como justificativa em relação à titulação, a prof.ª Marylka Mendes, então
Coordenadora, enviou algumas informações complementares:

É imperiosa a necessidade de uma ação eficaz na preservação dos Bens


culturais de nosso País, que sujeitos ao desgaste, à ação do tempo, ao
abandono e agravos de um clima tropical, estão a exigir cuidados
especializados. Todos os programas, até agora postos em práticas
nesse sentido, tem esbarrado com inúmeras dificuldades, destacando-se
entre elas o reduzido número de profissionais especializados que se
encontram concentrados em duas ou três capitais da federação. Tal fato
inviabiliza o funcionamento de maior amplitude na Área de Conservação
de Bens Culturais no Brasil. Assim, torna-se fundamental a formação de
pessoal especializado na área acima referida, como base para uma
prática de largo alcance a ser desenvolvida no País143.

Nesse mesmo dossiê organizado pela prof.ª Marylka, e enviado ao CEPG, é


possível verificar, como exemplo, o currículo do prof. Pedro Vasques, que conta de 15

141RESOLUÇÃO CEPG Nº 01/88: Dá normas que regulamentam a organização e o regime didático-científico


dos cursos de pós-graduação na UFRJ. Disponível:
>http://app.pr2.ufrj.br/public/suporte/pr2/cepg/resolucaoCEPG/1988_01.pdf<. Acesso em: 29/06/2016

142 RESOLUÇÃO CEPG Nº 01/88: Dá normas que regulamentam a organização e o regime didático-científico
dos cursos de pós-graduação na UFRJ. Disponível:
>http://app.pr2.ufrj.br/public/suporte/pr2/cepg/resolucaoCEPG/1988_01.pdf< . Acesso em: 29/06/2016
143 Processo N. 23079.10.859/89-32. Página 41. Assunto: Aprovação do Curso. Arquivado: Divisão de

Gestão Documental da Informação- DGDI. Código: 33.08.45


137

páginas datilografadas144. Vasques foi responsável pela disciplina de Documentação no


Curso. Diplomado em Cinema pela Universidade de Sorbonne Nouvelle, Paris (Diplôme
d’Etudes et Recherches Cinematographiques) participara, em 1985, como coordenador
da Mesa-Redonda “A Universidade Brasileira e o ensino da fotografia na 37ª Reunião
anual da SBPC - Sociedade Brasileira para o Ensino da Ciência. Além de ter ministrado
outros cursos na área. No entanto, não possuía titulação (doutorado), uma das
exigências. Mas, conforme consta na Resolução Nº 01/88145 do CEPG:

Art. 4º Aos docentes de Curso Pós-Graduação exigir-se-á atividade


criadora, demonstrada pela produção de trabalhos originais de valor
comprovado em sua área de atuação, e formação acadêmica adequada,
representada pelo título de doutor ou equivalente.
Parágrafo único. Em casos especiais, a juízo do CEPG, o título de doutor
poderá ser dispensado desde que o docente tenha alta qualificação por
sua experiência e conhecimento em seu campo de atividade.

Este era exatamente o caso da maioria dos docentes do Curso de Especialização,


ou seja, embora alguns não tivessem mestrado e/ou doutorado, tinham “alta qualificação”
por suas experiências e conhecimento em seus campos de atividades, conforme
exigência do CEPG. Desta forma, o Segundo Curso obteve finalmente o parecer
favorável por parte do CEPG que serviu de base inclusive para o oferecimento de outras
turmas.
Assim, o Segundo Curso teve início em 18 de setembro de 1989 e terminou em 26
de janeiro de 1990, realizado em regime de tempo integral, com carga horária semanal
de 40h, sendo mantido como subcoordenador o prof. Almir Paredes Cunha.
Inscreveram-se 13 candidatos, dos quais 9 prestaram provas e desses 08 (oito)
foram aprovados, dos alunos que realizaram o Curso, 07 concluíram o mesmo com
excelente aproveitamento e 1 foi desligado por não ter cumprido os requisitos de
frequência mínima de 85%.
Assim como no Primeiro Curso, o Segundo Curso também constou de 13
disciplinas, ministradas em forma de módulos. Foram ofertadas as mesmas disciplinas do
Curso anterior.

144 Processo N. 23079.10.859/89-32. Páginas 14-29. Assunto: Aprovação do Curso. Arquivado: Divisão de
Gestão Documental da Informação- DGDI. Código: 33.08.45
145 RESOLUÇÃO CEPG Nº 01/88: Dá normas que regulamentam a organização e o regime didático-científico

dos cursos de pós-graduação na UFRJ. Disponível:


>http://app.pr2.ufrj.br/public/suporte/pr2/cepg/resolucaoCEPG/1988_01.pdf< . Acesso em: 29/06/2016
138

As atividades práticas concernentes às disciplinas foram realizadas em diversos


locais, a saber: Biblioteca Nacional, salas de aulas da EBA/UFRJ, Museu D. João VI,
Centro de Restauração da UFRJ (Prédio do GEMD), além do INFoto/FUNARTE, do
Museu Carmem Miranda, do Museu do Índio e do Teatro Municipal.
Sobre as palestras ofertadas aos alunos do Segundo Curso destacamos duas
palestras: uma ministrada por Antônio José Moraes Cunha, engenheiro da Cia. Industrial
de Papel Pirahy, sobre “Tecnologia da Fabricação do Papel”, apresentada no Módulo
sobre papel, no dia 04/12/1989. E outra proferida por Bertha Gleiser Ribeiro, no dia
15/11/1989, no módulo “Iniciação aos Processos de Conservação-Restauração: Materiais
Arqueológicos e Etnográficos”.
Como fato interessante ocorrido no âmbito do segundo curso destacamos uma
carta, datada de 5 de setembro de 1989, da coordenadora do Curso e encaminhada a
Sylvio Mutal146, então representante da Organização dos Estados Americanos - OEA na
América Latina:

Temos a satisfação de agradecer a Visita da Senhora Katrina Smilla, do


Projeto Regional de Patrimônio Cultural e Desenvolvimento –
PNUD/UNESCO, realizada em agosto desse ano, quando teceu
oportunas considerações sobre o plano do curso de Lato Senso em
Conservação de Bens Culturais Móveis, recém-implantado na Escola de
Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Aproveitamos o momento para solicitar a V.S.A que, com base nas
informações da Sra. Similla, nos encaminhe sua apreciação sobre o
nosso plano de curso.
Muito apreciaríamos também que nos informasse que tipo de apoio o
PNUD/UNESCO oferece ao desenvolvimento de Cursos nessa área de
conservação-restauração, bem como formas de viabilizá-los147.

Podemos observar a tentativa de conseguir apoio internacional para o Curso


através do Projeto de Preservação do Patrimônio Cultural Andino - PNUD/UNESCO, com
a colaboração da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura (UNESCO), assim:

O órgão das Nações Unidas propôs aos governos do Equador, da


Colômbia, do Peru e da Bolívia o chamado Projeto de Preservação do
Patrimônio Cultural Andino - PNUD-Unesco. No caso equatoriano, o
projeto teria início com a criação de um grande escritório de restauração
de obras de arte e de um programa de inventário do patrimônio cultural.
(POZZER, 2011, p.88)

146 Foi Diretor do Projeto Regional do Patrimônio Cultural Urbano e Ambiental para América Latina e Caribe,
entre os anos de 1976 - 1995.
147 Carta de Marylka Mendes a Sylvio Mutal. 5 de setembro de 1989. Arquivo do Museu D. João VI. Acervo

Marylka Mendes.
139

Esse Projeto, ligado ao governo equatoriano, fomentou, ainda, publicações e o


cursos bem como auxílio em bolsa para especialização no exterior. No entanto, não
encontramos nenhum documento em resposta ao ofício enviado.
Dando continuidade, foi organizado o 3º Curso de Especialização em
Conservação de Bens Culturais Móveis, da Escola de Belas Artes - UFRJ, que iniciou-se
em 9 de setembro de 1991 e terminou em 17 de janeiro de 1992, sendo realizado em
regime de tempo integral, com carga horária semanal de 44 h.
Inscreveram-se dezessete candidatos, dos quais treze prestaram provas e
desses, dez foram aprovados, tendo um desistido. Dos nove restantes, sete terminaram o
curso com aprovação e dois foram reprovados.
O Curso contou com 16 disciplinas, três a mais do que nos dois Cursos
anteriores, são elas: Cultura Material; Metodologia da Pesquisa; Embalagem e
Transporte de Obra de Arte.
Com o falecimento do prof. Carlos Regis Leme Gonçalves em 09 de setembro de
1991, o Módulo: “Iniciação aos Processos de Conservação-Restauração: Materiais
Arqueológicos e Etnográficos” foi administrado pelas professoras: Maria Helena Fenelon
Costa, Lianan Maria Kneip, Celeida Tostes e Liana O’Campo. A aula da prof.ª Liana
O’Campo foi ministrada no dia 13 de dezembro de 1991 no NUPRECON.
As atividades práticas foram realizadas em diversos locais: salas de áudio visual
da EBA/UFRJ, Biblioteca Nacional, Museu Chácara do Céu, Museu de Arte Moderna,
Museu Histórico Nacional e Museu Nacional de Belas Artes. Na figura (10) abaixo,
podemos observar a foto da turma em visita técnica ao Museu Chácara do Céu:

Figura 10 - Turma do Terceiro Curso em visita técnica. No centro, acima, se vê


Ozana Hannesch e sentada, ao lado esquerdo, Helen Ikeda.
Fonte: Acervo pessoal Ozana Hannesch.
140

Foram apresentadas oito palestras. Lydio Introcaso Bandeira de Mello abordou o


tema: “A Obra do Artista: definição e técnica”, no seu próprio ateliê. Luiz Antônio Pizarro,
artista plástico, apresentou o tema: “A Obra do Artista: definição e técnica”, também no
seu ateliê; palestrante Cláudio Valério Teixeira, explanou sobre “Restauração das
Batalhas do Avaí e Guararapes”, na Galeria do Século XIX, no Museu Nacional de Belas
Artes. João Carlos de A, de P. Horta, apresentou o tema: “Técnicas de Fotogravuras” no
Ateliê de Gravuras da EBA/UFRJ. Neyde Gomes de Oliveira, Museóloga Museu Chácara
do Céu discorreu sobre “as coleções”. Iole de Freitas, artista plástica, abordou o tema
“Exposição - Espaço e Obra, Museu Histórico Nacional”. Jean Boghici - Marchand, falou
sobre: “O mercado de arte e sua influência no momento de arte”, no Museu Histórico
Nacional. Sérgio Sahione Fadel, colecionador, discorreu sobre “Depoimento de um
colecionador de arte”, no Museu Histórico Nacional.

Dando continuidade, em memorando datado de 01º de abril de 1992, a


coordenadora, encaminha ao Diretor da EBA um pedido para autorização de
oferecimento do 4º Curso de Especialização em Conservação de Bens Culturais Móveis:

Tendo em vista o êxito do funcionamento dos 1º, 2º e 3º cursos de


Especialização em Conservação de Bens Culturais Móveis e as
constantes solicitações de informações sobre a existência de novo curso,
solicitamos a V.S providências junto aos diferentes Colegiados desta
Universidade no sentido de ser autorizado o oferecimento do 4º Curso de
Especialização em Conservação de Bens Culturais Móveis, a ser
ministrado de julho a novembro de 1992.148

Diante da resposta positiva foi lançado o Edital de seleção para o 4º Curso.


Foram ofertadas as seguintes disciplinas: Cultura Material; Introdução à Ciência dos
Materiais; Documentação/Exames; Meio Ambiente e Degradação de Bens Culturais;
Iniciação aos Processos de Conservação-Restauração: Obras de Arte sobre Papel, Tela
e Madeira; Iniciação aos Processos de Conservação-Restauração: Artefatos em madeira;
Iniciação aos Processos de Conservação-Restauração: Artefatos em Pedra; Iniciação aos
Processos de Conservação-Restauração: Artefatos em Têxteis; Iniciação aos Processos
de Conservação-Restauração: Materiais Arqueológicos e Etnográficos; Iniciação aos
Processos de Conservação-Restauração: Artefatos em Metal; Iniciação aos Processos de
Conservação-Restauração: Acervos Arquivísticos e Bibliográficos; Iniciação aos
Processos de Conservação-Restauração: Registros Magnéticos; Metodologia da

148Memorando s/nº de Marylka Mendes ao Diretor da Escola de Belas Artes. Autorização de oferecimento do
4º Curso de Especialização em Conservação de Bens Culturais Móveis. 1º de abril de 1992. Arquivo do
Museu D. João VI. Acervo Marylka Mendes.
141

Pesquisa; Embalagem e Transporte de Obras de Arte; O Papel do Estado na


Conservação de Bens Culturais; História da Arte. Ressaltamos que a Disciplina: “O Papel
do Estado na Conservação de Bens Culturais” foi ofertada pela primeira vez. Já a
disciplina Museografia, não foi ofertada.
Já o 5º Curso, também com duração de 04 meses, teve seu início em 29 de
agosto de 1994 e término em 16 de dezembro do mesmo ano, sendo realizado em
regime de tempo integral, com carga horária semanal de 44 horas. Disciplinas
ministradas: Cultura Material; Introdução às Ciências dos Materiais: Documentação/
Exames; Meio Ambiente e Degradação de Bens Culturais; Iniciação aos Processos de
Conservação-Restauração: Obras de Arte sobre Papel, Tela e Madeira; Iniciação aos
Processos de Conservação-Restauração: Artefatos em madeira; Iniciação aos Processos
de Conservação-Restauração: Artefatos em Pedra; Iniciação aos Processos de
Conservação-Restauração: Artefatos em Têxteis; Iniciação aos Processos de
Conservação-Restauração: Artefatos em Metal; Iniciação aos Processos de
Conservação-Restauração: Acervos Arquivísticos e Bibliográficos; Iniciação aos
Processos de Conservação-Restauração: Registros Magnéticos; Metodologia da
Pesquisa; O Papel do Estado na Conservação de Bens Culturais; História da Arte. Por
não ter professor específico não foi ofertada a disciplina Iniciação aos Processos de
Conservação-Restauração: Materiais Arqueológicos e Etnográficos. Em substituição os
alunos participaram do VII Seminário da ABRACOR - realizado na cidade de Petrópolis,
no Rio de Janeiro.
O Curso teve como diferencial o fato de ter sido realizado quase integralmente no
Museu Histórico Nacional, através de um convênio entre a UFRJ e o Instituto Brasileiro
do Patrimônio Cultural (IBPC),149 “com o objetivo de estabelecer cooperação e
intercâmbio técnico científico cultural pedagógico”150. Em carta enviada ao Museu
Histórico Nacional, em 16 de setembro de 1994, a pela prof.ª Marylka Mendes, ressalta
“as aulas, conforme combinado, serão apresentadas nas dependências do Museu

149 O Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural (IBPC) foi uma das denominações que recebeu a instituição
federal de preservação do patrimônio cultural entre 1990 e 1994. O Instituto sucedeu a Secretaria do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e a Fundação Nacional Pró-Memória, esta última, junto com a
Fundação Nacional de Arte (Funarte), extinta em 1990 (BRASIL,1990b). Fonte:
>http://portal.iphan.gov.br/dicionarioPatrimonioCultural/detalhes/54/instituto-brasileiro-do-patrimonio-< Acesso
em: 04/08/2016.
150 Documento: Convênio de Cooperação e Intercambio Técnico Científico, Cultural e Pedagógico. Entre a

Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ e o Instituo Brasileiro do Patrimônio Cultural (IBCP) - Museu
Histórico Nacional. Rio de Janeiro 17 de dezembro de 1991. Arquivo do Museu D. João VI, Acervo Marylka
Mendes.
142

Histórico Nacional que dentre tantas conveniências reconhecemos como uma escola-
viva”151.
A própria prof.ª Marylka Mendes, em entrevista, destacou a questão da dificuldade
em se obter salas no próprio prédio da EBA:

Eu fiquei sem sala. Eu fui procurar um grande amigo meu que foi diretor
da EBA (Fernando Pamplona). Ele disse: se vira. Não me deu sala… Fui
procurar o Fórum de Ciência e Cultura na Praia Vermelha, foi dito que eu
não poderia. Pelo artigo tal que não permite (MENDES, 2015).

O Curso contou com auxílio financeiro da Associação de Apoio à Cultura,


Educação e Promoção Social - VITAE. Em Carta datada de 7 de julho de 1994,
encontramos152:

Ref.: Projeto B-20820/3B002- “Curso de Conservação de Bens Culturais


Móveis”

Prezados Senhores,

Levamos ao conhecimento de V. Sas. Que a Vitae aceita patrocinar o


projeto referência no montante de 8.080 URVs (Oito mil e oitenta
unidades de valor). Os recursos do projeto deverão ser gerenciados pela
Associação de Amigos do Museu Histórico Nacional.
Atenciosamente,
Gina Gomes Machado
Gerente de Projeto

Importante destacar que a Associação de Apoio à Cultura, Educação e Promoção


Social - VITAE foi muito atuante, segundo Almeida e Herencia (2012):

A Fundação Vitae, uma associação civil sem fins lucrativos surgida no


país em meados dos anos 1980, foi uma das três entidades criadas a
partir da venda de empresas do conglomerado alemão Hochschild,
dedicado à atividade mineradora, com atuação na Europa, desde o
século XIX, e na América do Sul, ao longo do século XX (ALMEIDA;
HERENCIA, 2012, p.1).

Foi, portanto, com o apoio financeiro da Associação de Apoio à Cultura, Educação


e Promoção Social - VITAE e do Museu Histórico Nacional, que o quinto curso pôde ser
concretizado.

151 Carta de Marylka Mendes à diretora do Museu Histórico Nacional Vera Tostes. Rio de Janeiro 16 de
setembro de 1994. Arquivo do Museu D. João VI, Coleção Marylka Mendes.
152 Carta da Associação de Apoio à Cultura, Educação e Promoção Social - VITAE à Marylka Mendes.

Projeto B-20820/3B002 - Curso de Conservação de Bens Culturais Móveis. São Paulo,7 de junho de 1994.
Arquivo do Museu D. João VI, Acervo Marylka Mendes.
143

A Proposta para o Sexto Curso foi apresentada à Coordenação Geral da Pós-


Graduação da EBA, aprovada em 14 de novembro de 1995 e homologada pela
Congregação em 11 de dezembro de 1995153.
A coordenação ficou a cargo do prof. Antônio Carlos Nunes Batista, da Biblioteca
Nacional. Por motivo da aposentadoria da prof.ª Marylka Mendes.
O Sexto Curso de Especialização em Conservação de Bens Culturais Móveis foi
oferecido em caráter intensivo, com a duração de um semestre letivo, em horário integral,
à semelhança dos outros Cinco Cursos anteriores. Com início das aulas em 18 de março
de 1996 e término em 5 de julho de 1996, sendo oferecidas as seguintes disciplinas:
Introdução à Ciência dos Materiais; Documentação/ Exames; Meio Ambiente e
Degradação de Bens Culturais; Iniciação aos Processos de Conservação-Restauração:
Obras de Arte sobre Papel, Tela e Madeira; Iniciação aos Processos de Conservação-
Restauração: Acervos Arquivísticos e Bibliográficos; Iniciação aos Processos de
Conservação-Restauração: Artefatos em Madeira; Iniciação aos Processos de
Conservação-Restauração: Têxteis; Iniciação aos Processos de Conservação-
Restauração: Obras em pedra; Iniciação aos Processos de Conservação-Restauração:
Obras em Metal; Iniciação aos Processos de Conservação-Restauração: Materiais
Arqueológicos e Etnográficos; Iniciação aos Processos de Conservação-Restauração:
Fotografias e Registros Magnéticos; O Papel do Estado na Conservação de Bens
Culturais.
Em documento de solicitação para abertura do 6º Curso elaborado pelo
coordenador, prof. Antônio Carlos Nunes Batista154, há também uma crítica em relação ao
regime de tempo integral, uma vez que, inicialmente o curso fora estruturado em um
semestre letivo, em regime de horário integral, para possibilitar o seu oferecimento a uma
clientela oriunda de todo o Brasil, sobretudo profissionais que já em atividade na guarda e
preservação do patrimônio cultural, mas sem a necessária formação específica. Sendo
assim, o afastamento destas pessoas de seus locais de trabalho seria mais fácil por um
curto espaço de tempo. Entretanto, esta filosofia, no decorrer dos cincos cursos
anteriores, mostrou-se uma faca de dois gumes. Se por um lado satisfazia às
necessidades de uns, deixava de lado aqueles que, não sendo funcionários públicos -
passiveis de liberação por suas instituições - ficavam impedidos de o frequentarem por
não poderem dedicar-se integralmente a ele, em virtude de compromisso com a sua

153
Livro de registro das Atas da Congregação da Escola de Belas Artes ocorridas no período de 1994-1996.
Localização: M:03 P:05 C:314.
154 Documento elaborado por Antonio Carlos Nunes Batista enviado à Coordenação Geral da Pós-graduação

da EBA solicitando abertura do 6º Curso. Arquivo do Museu D. João VI, Acervo Prof.ª Marylka Mendes.
144

subsistência, o que seria contornado por um horário de tempo parcial, que possibilitaria
um trabalho no resto do dia. Mesmo alguns servidores de instituições públicas se
beneficiariam deste horário parcial, pois, algumas delas se negavam a liberar
integralmente seus funcionários, alegando falta de pessoal, principalmente aquelas
localizadas no Rio de Janeiro e arredores. Estas instituições permitiriam, no entanto, o
afastamento parcial de membros de sua equipe para a melhoria de sua formação e,
consequentemente, a melhor proteção dos bens culturais sob sua guarda.
Pelos motivos acima expostos, necessidade constante de pessoal especializado e
flexibilidade de horário, a proposta era de que o Curso passasse a ser oferecido em
caráter regular, todos os anos, pela Direção Adjunta de Pós-Graduação da Escola de
Belas, e com horários de funcionamento que se alternariam uma vez em tempo integral e
outra em tempo parcial.
No entanto, o Sexto Curso foi o último a ser oferecido. E um dos motivos para seu
término foi a aposentadoria da prof.ª Marylka Mendes, conforme já mencionamos. Além
da dificuldade financeira para manter os professores que não eram do quadro da UFRJ,
uma vez que os professores que eram da UFRJ, não recebiam para ministrarem aulas.
Nas palavras da prof.ª Marylka Mendes:

O último curso, a Universidade disse que não pagava mais, que nós já
estávamos tempo suficiente para termos professores de dentro da
universidade eu tentei argumentar, um quadro de professoras da
restauração, não se formava em dois três dias. Não existia professor
para isso.... Houve uma avaliação da Universidade. Eu já não era mais
professora de lá, já havia me aposentado. Eu me propus a entrar em
contato com os profissionais e que tínhamos Staff para fazer isso:
Biblioteca Nacional, IPHAN, Casa de Rui Barbosa.... Me propus a
trabalhar de graça. Mas não tive apoio de ninguém. Acabou o curso. Um
curso que foi bom, com gente muito séria, que não faltava por nada.
Ninguém reclamava por causa do salário e o salário, era muito ruim.
(MENDES, 2015).

Importante relacionar a narrativa de Mendes (2015) com a consideração de


Hostins (2006) ao afirmar que a partir dos anos de 1980, com a retomada da democracia
pós-ditadura: “inaugura-se um momento de redução do financiamento público para a
educação, de ampliação das relações com o setor produtivo, de burocratização e rigidez
das estruturas”. (HOSTINS, 2006, p.155). Seguindo este mesmo pensamento de Hostins,
Santos & Azevedo (2009), afirmam que:
145

A recessão dos anos de 1980-1984 veio aprofundar uma crise na


universidade que perpassou toda a década de 1980, configurada
principalmente pelas limitações de recursos para a pós-graduação
(Santos & Azevedo 2009, p. 538).

Dessa forma, mesmo contando com algumas disciplinas ministradas por


professores da UFRJ, além do apoio do Museu Histórico Nacional, conforme ofício
endereçado ao Coordenador do Curso Antonio Carlos Nunes Baptista ver: ANEXO B-
figura (1), não foi o suficiente para dar continuidade ao Curso de Especialização.

3.5 Considerações Gerais sobre os Cursos

Importante destacar que houve algumas mudanças entre um curso e outro, tanto
em termos qualitativos (como veremos mais detalhadamente adiante) quanto do
conteúdo e das cargas horárias das disciplinas. No que concerne à carga horária,
apresentamos na tabela (3) a seguinte distribuição por Curso:

Carga Horária
Cursos Ano
Primeiro 1989 600h
Segundo 1989 600h
Terceiro 1991 748h
Quarto 1992 748h
Quinto 1994 748h
Sexto 1996 704h
Tabela 3: Carga horária dos Cursos (organizado pela autora, 2015).

O Curso oferecia uma média de carga horária bem maior do que o recomendável
para uma Pós-Graduação, pois, a exigência do MEC era que Cursos de Pós-Graduações
tivessem duração mínima de 360 horas. Uma das justificativas seria que a natureza do
curso de especialização “lato sensu” tinha como objetivo preparar profissionais para o
exercício de uma atividade que exigia uma enorme gama de conhecimentos teóricos e
um acúmulo de experiências práticas:

Essas só podem ser efetivamente dominadas pelo corpo discente se


forem repetidas em número suficiente e numa complexidade crescente, o
que justifica a carga horária, quase o dobro do que normalmente,
constitui um curso de especialização.155

155Documento elaborado por Antonio Carlos Nunes Batista enviado à Coordenação Geral da Pós-graduação
da EBA solicitando abertura do 6º Curso. Arquivo do Museu D. João VI, Acervo Marylka Mendes.
146

O conteúdo das disciplinas, inclusive bibliografia, ficava a cargo do professor


responsável. Ao analisarmos as disciplinas ofertadas, suas ementas, conteúdo
programático e bibliografia, percebemos que o Curso tinha um interesse voltado para a
Preservação e a Conservação, o que podemos explicar nas disciplinas, como “Introdução
às Técnicas”, “Compreender o Processo de Conservação” ou “Demonstrações de
Técnicas de Conservação”, ou seja, o foco era mais compartilhar como eram os
processos de Conservação dos bens patrimoniais, através de demonstrações nos ateliês
de Conservação-Restauração e/ou em visitas técnicas às instituições relacionadas com
as áreas.
Dessa forma, a Restauração, restringia-se a aparecer no compartilhamento nas
apresentações de estudos de caso. Percebe-se uma preocupação com disciplinas
relacionadas à cultura e ao patrimônio, bem como a relação do profissional (sua função
social) com estes bens. Essa era uma discussão com bastante ênfase no âmbito,
sobretudo da Museologia, principalmente após a Mesa de Santiago (1972), e o
“Movimento da Nova Museologia” (1985), cuja principal temática era a função social dos
museus, como já mencionamos no capítulo 1.
Importante destacar que qualquer elaboração de um currículo de disciplinas é uma
construção social. Que envolve diversos interesses, validando um campo disciplinar.
Pois, “os conhecimentos curriculares, enquanto conhecimentos selecionados constituem
um corpo de saber legitimado” (Lopes, 1998, p.60). A construção e a legitimação de
saberes não são neutras. Para Lopes e Macedo (2011), as disciplinas: “atendem a
determinadas finalidades da educação e, por isso, reúnem sujeitos em determinados
territórios, sustentam e são sustentadas por relações de poder que produzem saberes”
(LOPES; MACEDO, 2011, p.121). Ou seja, se contrapõem aos mais diversos aspectos:
sociais, políticos, culturais, entre outros.
A seguir, apresentaremos no quadro (01) um resumo das disciplinas ofertadas
pelos seis cursos. Para tanto, organizamos em cinco grupos correspondendo às áreas de
abrangência:
147

Grupos Disciplinas

Grupo1: Ciências dos Materiais e Processos


Introdução à Ciência dos Materiais.
de Degradação

Meio Ambiente e Degradação de Bens


Culturais;
Grupo 2: Preservação/Conservação
Embalagem e Transporte de Obras de Arte;
Preventiva
Museografia e Conservação;

O Papel do Estado na Conservação de Bens


Culturais.
Iniciação aos Processos de Conservação-
Restauração de: Fotografias e Registros
Magnéticos; Materiais Arqueológicos e
Grupo3: Metodologia de Etnográficos; Obras em Metal; Obras em
Pedra; Artefatos em Madeira; Obras sobre
Preservação/Conservação/Restauração
Papel, Tela e Madeira; Acervos Arquivísticos
e Bibliográficos; Artefatos em Têxteis; Vidro.

Critérios Estéticos e Históricos da


Conservação;

Documentação/Exames
Grupo 4: Patrimônio e áreas afins: (Humanas Cultura Material; História da Arte;
e Sociais Aplicadas)
Grupo5: Pesquisa Metodologia da pesquisa

Quadro 1 - Resumo das disciplinas ministradas por área. (Organizado pela autora, 2016).

Já na tabela (4), abaixo, podemos observar a distribuição das disciplinas por


grupo. Grupo1: Disciplinas sobre Ciências dos Materiais e Processos de Degradação;
Grupo 2: Disciplinas sobre Preservação/Conservação Preventiva; Grupo 3: Disciplinas
sobre Metodologia de Preservação/Conservação/Restauração; Grupo 4: Disciplinas
Patrimônio e áreas afins: (Humanas e Sociais Aplicadas); Grupo 5: Disciplina sobre
Pesquisa:
148

Tabela 4 - Grupos de Disciplinas (em %) por Curso realizado

Grupo de Disciplinas (%) 1º 2º 3º 4º 5º 6º


Curso Curso Curso Curso Curso Curso
Grupo 1 6% 6% 11% 11% 11% 11%

Grupo 2 20% 20% 16% 21% 22% 22%

Grupo 3 67% 67% 48% 48% 48% 57%

Grupo 4 - - 15% 15% 14% 6%

Grupo 5 - - 5% 5% 5% 4%

Outras Atividades - - 5% - - -

Entre os 1º e 2º Cursos, não houve mudança no que tange ao conteúdo


programático e a divisão/ distribuição das disciplinas. Os Cursos tiveram carga horária
total de 600h. Ficando a maior carga horária entre as disciplinas do Grupo 2-
Preservação/ Conservação Preventiva e Grupo 3- Metodologia de Preservação/
Conservação/ Restauração.

Como podemos observar na tabela acima, houve um aumento na carga horária


nos 3º, 4º, 5º Cursos, entre as disciplinas do Grupo 2- Preservação/ Conservação
Preventiva e Grupo 3- Metodologia de Preservação/ Conservação/ Restauração.
Um destaque fica para disciplina de Metodologia da Pesquisa, que não foi
ofertada nos dois primeiros cursos. Área de predominância do Curso eram disciplinas
ligadas à Teoria e Prática da Conservação-Restauração, ou seja, o Grupo 2. Seguido de
disciplinas do Grupo 3.
Observamos que algumas áreas abrangentes eram já “tradicionalmente”
abordadas no Brasil, como pintura, obra em papel, (inclusive eram áreas que já foram
ofertadas na própria EBA, enquanto disciplinas). Além de realizarem visitas em
Instituições com grande atuação nessas áreas, como a Fundação Biblioteca Nacional -
FBN e a Fundação Casa de Rui Barbosa - FCRB. Outras áreas eram ainda pouco
consolidadas, como: artefatos em têxteis e obras em pedra e em vidro. No entanto, eram
materialidades presentes nas coleções em acervos de museus e outras Instituições no
âmbito cultural. Neste sentido, resultou numa grande contribuição do curso no que tange
à formação de mão-de-obra qualificada para atuar na preservação dos bens culturais.
Percebemos que havia uma preocupação em abordar a temática sobre Critérios
Estéticos e Históricos para Conservação e a profissão do Conservador-Restaurador,
149

como exemplo, foram organizados palestras e seminários, com convidados que se


destacavam em suas áreas de atuação: a prof.ª Beatriz Ramos de Vasconcelos Coelho
- “A formação de Conservadores-Restauradores”. Prof. Carlos Régis Leme Gonçalves -
“A Restauração como Processo de Conhecimento” e a prof.ª Maria Luiza Ramos de
Oliveira Soares - “A prática da Conservação”. Agnes Ballestrem sobre “a profissão do
Conservador”. Prof. Sérgio Burgi - “A Contribuição das Entidades de Classes no
Desenvolvimento da Profissão de Conservador-Restaurador”.
Questão ligada à cultura: percebemos que em todos os cursos foram ofertadas
disciplinas que abordavam a questão. Como a disciplina “Cultura Material” ofertada nos
Cursos, que buscava abordar os vários aspectos das inter-relações entre cultura e
sociedade, meio ambiente e etnia. Numa análise da bibliografia, ofertada pelo Prof.
Roberto Verschleisser, no Quarto Curso, podemos observar autores como Guillermo
Bonfil Batalla e Nestor Garcia Canclini que abordam a cultura com ênfase nas questões
da América Latina.
Destacamos ainda, a participação da prof.ª Maria Heloisa Fenelon Costa, antropóloga
responsável pelo Setor de Etnografia e Etnologia do Museu Nacional da UFRJ, proferiu a
palestra: “O sentido da Cultura Material”. Além da participação do prof. Ulpiano Toledo
Bezerra de Menezes, da USP, que apresentou - “Os Estudos de Cultura Material”.
Já sobre Museologia e Museografia e sua relação com a conservação, encontramos a
disciplina Museografia e Conservação que foi ministrada por Solange Sampaio Godoy e
Fátima Bevilaqua Contursi. Essa última consistia na demonstração teórico-prática dos
princípios da conservação aplicados na preservação do patrimônio cultural móvel sob a
guarda de museus; abordando/apresentando os diferentes setores dos museus: reserva
técnica, segurança, exposição, restauração, etc.
Nos 3º e 4º Cursos a disciplina, ministrada por Fátima Bevilaqua Contursi,
abordou um pouco mais da museografia, apresentando definição e conceitos básicos.
Escolas Museográficas. Ressaltamos que não encontramos a bibliografia utilizada nas
disciplinas.
Ainda em relação aos museus, tivemos palestra da prof.ª e museóloga Ecyla
Castanheira Brandão156, sobre “As Coleções dos Museus de Arte: Problemas de
Conservação”. Na temática sobre Coleções.

156 A Prof.ª Ecyla Brandão trabalhou na Escola de Belas Artes da UFRJ (1950-1985), juntamente com o
professor Almir Paredes Cunha criou, em 1979, o Museu D. João VI, na EBA. Foi responsável, entre 1962 e
1982, por vários setores dos Museus Histórico Nacional, Museu Nacional de Belas Artes e Museu da
República. Referência: >http://www.museus.gov.br/ex-funcionaria-doa-colecao-de-anais-do-museu-historico-
nacional-ao-cenedom/<. Acesso em: 29/06/2016.
150

Sobre as disciplinas ligadas às ciências, observamos que a bibliografia era


atualizada na época. Como exemplo a disciplina Introdução à Ciência dos Materiais, da
qual na bibliografia encontramos referência aos autores: Geogio Torraca e Liliane
Masschelein - Kleiner. Segundo Froner:

Na década de oitenta, Giorgio Torraca publica um trabalho intitulado


Química aplicada à Restauração, em que os compostos químicos,
grupos funcionais, compostos nitrogênios, polaridade, atração entre
moléculas, classificação das interações, materiais proteicos e sintéticos
são analisados a partir da prática ou do uso na restauração. A tabela de
solventes químicos de Liliane Masschelein Kleiner e o método de
limpeza aquosa de Richard Wolbers são difundidos e utilizados na
prática do dia a dia (FRONER, 2005, p.7).

A bibliografia sobre “Ciência dos materiais” e sobre Conservação e Restauração,


era praticamente toda estrangeira: inglês, espanhol, francês e alemão. O que é um
reflexo do próprio Campo da Conservação e suas matrizes teórico/metodológicas
basicamente europeias e norte-americanas. Mendes (2015) ressalta sua preferência pela
restauração praticada na Alemanha:

Foi na Alemanha que se começou a falar sobre restauração com


tecnologia. O que pode se ver nos livros que estão lá. As referências.
Está tudo organizado eu sempre fui didática. Não foi nada invenção
minha eu sempre usei o que aprendi no mundo. Aqui no Brasil não se
fazia isso, nos anos 60, 68 quando eu vim da Europa (MENDES, 2015).

Os livros aos quais a prof.ª Marylka Mendes se refere são os que foram doados à
EBA. Encontramos, juntamente com os livros doados, “Uma listagem bibliográfica”,
datada de 1994 e organizada por Thais Helena Almeida, aluna do Segundo Curso.
Podemos observar nesta lista, publicações: periódicos, boletins, jornais de várias
Instituições e/ou organizações. Entre essas publicações, destacamos: The Getty
Conservation Institute; Canadien Conservation Institute, Institut Royal du Patrimoine
Artistique Koninklijk – IRPA; Journal of the American Institute for Conservation;
International Centre for the preservation of Cultural Property – ICCROM.
As áreas temáticas (materialidade): papel, madeira, pedra, pintura de cavalete,
abordadas sobre os vários campos: Ciência dos Materiais (química), Conservação
Preventiva Museus/ Museologia, História da Arte. Entre os livros encontrados abordando
essas temáticas, destacamos: “Curso de Preservação de Acervos Museológicos”, de
Gaël de Guichen. UNESCO-ICCROM. Rio de Janeiro, 1984; “Introdução à Técnica de
Museus”, de Gustavo Barroso, 1946.
151

3.6 - Perfil do corpo docente

Veloso (1980) analisou a atuação dos docentes em alguns Cursos de Pós-


Graduação no Brasil e na América Latina157, incluindo a Pós-Graduação Especialização
em Conservação de Bens Culturais da UFRJ:
Esta análise feita na década de 1980 nos fornece importante informação sobre o
perfil/ formação dos docentes, segundo a autora:

Observamos que não existe uma grande variação entre titulação dos
professores dos cursos nos países da América Latina. Todos os cursos
possuem professores doutores, mestres e especialistas. O corpo
docente é proporcional às disciplinas oferecidas (VELOSO, 1998, p.
120).

Nesse sentido, realizamos um levantamento dos professores que ministraram


disciplinas no Curso de Especialização da EBA, suas áreas de formação bem como
instituições de origem como podemos observar na tabela (5), abaixo:

157 Os cursos que fizeram parte do levantamento feito pela autora foram: Curso de Especialização/
Restauração de Bens Culturais Móveis - CECOR /UFMG; Curso de Especialização em Conservação de Bens
Culturas Móveis - EBA/UFRJ, Licenciatura em Arte com Mención em Restauración - Pontifícia Universidad
Católica de Chile; Programa de Restauración de Bienes Muebles - Universidad Externado de Colombia e
Instituto Colombiano de Cultura - Colcutura; Curso de Graduação em Museologia - Centro Nacional de
Conservación - Cuba; Curso Técnico de Restauração e Museologia - Universidade Tecnológica Equinocional;
Curso de Restauración em Pintura de Cavallete (escultura, pintura e Mural ); Programa de Conservación y
Restauración - Instituto Superior Tecnológico Yachay Wasi-Peru; Licenciatura em Conservación y
Restauración de Bienes Culturales Muebles, Escuela Nacional de Conservación, Restauración y Museografia
Manuel del Castillo Negrete e Instituto Nacional de Antropologia y Historia (VELOSO, 1998, p.38).
152

Tabela 5 - Professores que participaram do Curso de Especialização em Conservação de


Bens Culturais Móveis. (Organização da autora, 2015).
153

Tabela 5 (Continuação) - Professores que participaram do Curso de Especialização em


Conservação de Bens Culturais Móveis. (Organização da autora, 2015).

Tabela 5 (Continuação) - Professores que participaram do Curso de Especialização em


Conservação de Bens Culturais Móveis. (Organização da autora, 2015).

Como podemos observar na tabela (5), em função de localização de suas


instituições de origem, verificamos que dos trinta e cinco professores doze eram da
154

UFRJ, dezenove eram professores de outras Instituições do Rio de Janeiro e quatro


professores de outros estados. Em suma, grande parte do corpo docente era externa.
Na questão da formação dos docentes, a área de predominância era em Artes,
Museologia, História e Arquitetura. Na área “ciência dos materiais” destacamos a
predominância na formação em Química. A propósito da especialização específica
voltada para Preservação/Conservação/Restauração, encontramos o total de treze
docentes, sendo dez com formação ou especialização no exterior.
Sobre as pesquisas realizadas pelos professores e que se relacionavam
diretamente com o Curso, destacamos o prof. Adair E. Marques que participou do Projeto
Internacional Pesquisa sobre Materiais Pétreos em Monumentos Históricos. O Projeto
IDEAS (Investigations into devices Environmetal Attack on Stones) foi realizado no
contexto da cooperação técnica entre a República Federal da Alemanha e a República
Federal do Brasil. Era um projeto interdisciplinar denominado “Steinzerfall” (degradação
de materiais pétreos), promovido pelo Bundesminister für Forschung und Technologie –
BMFT, “pela primeira vez, uma cooperação internacional e interdisciplinar de grande
envergadura na área da pesquisa de influências ambientais na degradação de
monumentos históricos diferentes” (MARQUES; KRÄTZIG 2005, p. 339). O prof. Adair
Marques ministrou aulas nos 1º, 2º, 3º e 4º Cursos, na disciplina intitulada: Iniciação aos
Processos de Conservação-Restauração: Artefatos em Pedra, Vidro e Cerâmica. Além
do Curso da UFRJ, este professor participou de outros projetos de pesquisa em Minas
Gerais sobre preservação de materiais pétreos. Percebemos a influência da sua pesquisa
nos seus planos de aula, conteúdos programáticos e ementas apresentadas no Curso de
Especialização da UFRJ.
Já o prof. Almir Paredes, acompanhou desde começo a implementação do Curso,
tendo participado do 1º, 2º e 3º Cursos, ministrando as disciplinas de História da Arte e
de Conservação de Têxteis. Conforme seu depoimento: “eu me sinto mais professor de
História da Arte do que restaurador” (CUNHA, 2015). Embora assim tenha afirmado em
depoimento, o prof. Almir Paredes Cunha é especializado em Restauração de Têxteis158.
Destacamos, ainda, sua contribuição no reconhecimento da importância da
interdisciplinaridade entre os campos História da Arte e da Conservação-Restauração:

158 Participou de Curso de Extensão Universitária em Restauração de Têxteis na Fundação Calouste


Gulbenkian e do Curso de Aperfeiçoamento em Classificação do Tecido Histórico no Centre Internacional
D’étude Des Textiles Anciens. Ainda em relação ao campo da Conservação, foi um dos incentivadores da
criação do Museu D. João VI, em 1979.
155

Quando falamos de colaboração bilateral entre preservação e a história


da arte, temos em vista que, como contrapartida à ajuda que o
conhecimento da história da arte possibilita ao profissional de
preservação para uma intervenção segura, o historiador da arte se
beneficia da intimidade do restaurador com os elementos materiais da
obra, que confirma e esclarece o conhecimento técnico utilizado nas
obras de arte produzidas ao longo dos períodos artísticos (CUNHA,
2005, p. 402).

Realizamos, além disso, uma busca no Sistema de Acompanhamentos de


Processos - SAP da Divisão de Gestão Documental e Informação - DGDI da UFRJ, com
as palavras chave “projeto de pesquisa docente” - “pesquisa docente” - “Escola de Belas
Artes”. O intuito era encontrar pesquisas cadastradas por docentes que se relacionassem
com o Curso de Especialização. Encontramos um projeto de pesquisa da prof.ª Marylka
Mendes, intitulado: “Influências, comportamento e tendências na formação do corpo de
Arte no Brasil”, aprovado em reunião do Departamento de Análise e Representação da
Forma, em 30 de abril de 1991 e pela Congregação da EBA em Sessão de 04 de junho
de 1991. Este projeto foi cadastrado e aprovado pelo CEPG e pela Comissão de
Fomento à Pesquisa, estando diretamente relacionado ao Curso de Especialização em
Conservação de Bens Culturais Móveis.159
O objetivo da pesquisa da prof.ª Marylka Mendes era “fazer o levantamento e
catalogação das técnicas e processos de elaboração de obras de arte empregados por
artistas plásticos brasileiros contemporâneos das modalidades desenho, gravura e
pintura”160. O projeto se justificava pelo fato do conhecimento sobre as técnicas e os
materiais empregados pelos artistas brasileiros ser de grande interesse para
historiadores de arte, professores de artes plásticas, museólogos, conservadores-
restauradores e os próprios artistas. Faria parte da pesquisa, além da prof.ª Marylka
Mendes, o fotógrafo e cineasta João Carlos Horta. Já as parcerias seriam feitas com a
ABRACOR e o Instituto Brasileiro de Arte e Cultura (IBAC).
Ainda no que se refere à pesquisa destacamos a participação dos professores:
Marylka Mendes, Carlos Regis Leme Gonçalves, Maria Luisa Ramos de Oliveira Soares,
Antônio Carlos Nunes Batista, Sérgio Burgi, entre outros, na Comissão Nacional de
Ensino e Pesquisa em Conservação - CNPEC161. Essa Comissão integrava o Programa

159 Conforme consta na página 5, no dossiê de implantação da pesquisa Divisão de Gestão de Documentos e
da Informação- DGDI- UFRJ. Processo Nº.2379.027133/1991-26. Projeto de Pesquisa Docente (0693-9).
160 Divisão de Gestão de Documentos e da Informação - DGDI - UFRJ. Processo Nº.2379.027133/1991-26.

Projeto de Pesquisa Docente (0693-9).


161 Além de alguns docentes do Curso de Especialização em Conservação, fazia parte representantes do:

CECOR - UFMG, MAE-USP, NTPR e CECRE da UFBA, LACRE da Fundação Casa de Rui Barbosa,
ABER/SENAI, PROSERV e a Coordenadoria de Documentação da Pró-Memória (GONÇALVES, 2005).
156

das Nações Unidas para o Desenvolvimento e a Fundação Nacional Pró-Memória /MINC.


Conforme já mencionamos no capítulo 2.

3.7- Análise das Publicações

As publicações são excelentes fontes como referencial teórico de alguns


professores do Curso162, tanto na escolha da bibliografia estrangeira (tradução de artigos)
quanto nos textos elaborados especialmente para essas publicações. Ao analisarmos as
publicações, percebemos que linha de matriz teórica estava em consonância com os
temas abordados nas ementas, bibliografias e conteúdo programático do Curso de
Especialização. Assim, são contempladas áreas, como: “Ciência” dos materiais,
conservação dos artefatos/objetos, Antropologia, História da Arte e sua interfase com a
Conservação-Restauração, Conservação Preventiva e processos de restauração de
artefatos culturais em madeira, metal, entre outros. A prof.ª Marylka Mendes (2015), em
entrevista, foi enfática ao ressaltar as dificuldades para publicar:

Os livros foram publicados pela Editora da Universidade. O primeiro livro


foi Arte e Ciência. E quem pagava a tradução? Tem que pagar.... Tem
que ser uma pessoa ligada à química e restauro. Eu consegui que a
universidade pagasse. Mas isso foi implorando, como se fosse coisa
pessoal, entende? (Mendes, 2015).

Mesmo com as dificuldades relatadas foram publicadas três obras. A seguir


apresentaremos uma análise das publicações.

3.7.1- Banco de Dados: Materiais Empregados em Conservação-Restauração de


Bens Culturais

Na Década de 1980 no âmbito da Conservação-Restauração intensificou-se a


organização e implementação das Bases de Dados e das chamadas “Redes de
Informações”. No texto Informática e Conservação: perspectivas no Brasil, Gonçalves
(2005), aborda a relação entre a conservação de bens culturais e o campo da tecnologia
aplicada. Destacando as bases de dados de bibliografia de grande importância para a
Conservação-Restauração, como a Art archaeology Technical Abstracts (AATA), principal
repertório bibliográfico no campo de estudos da cultura material. Além das Bases do
ICCROM, do ICOMOS, do Getty Conservation Institute, do Conservation Anaytical

162 É importante destacar que analisaremos algumas publicações em que foram envolvidos em conjunto,
parte do corpo acadêmico do Curso.
157

Laboratory da Smithsoniam Institution e o do Canadian Conservation Institute. Segundo


Goncalves:

No exterior, muitos profissionais e instituições de diferentes áreas


dispõem de redes que funcionam quase como “clubes eletrônicos”,
oferecendo boletins com notícias do “sócio”, correio seletivo, apoio ao
consumidor, teleconferências e muitas outras facilidades. Bases e Redes
(GONÇALVES, 2005, p. 329).

No contexto da América Latina, no Chile foi publicado um Banco de Dados


intitulado: Indice de materiales y productos utilizados en conservación y restauración de
bienes culturales en Chile Centro Nacional de Restauración (Chile), pela Universidad
Católica de Chile. Escuela de Arte. Programa de Restauración, editado pelo Centro
Nacional Restauración, em 1989, com 492 páginas.
Em Ofício enviado pela ABRACOR, assinado pelo seu Presidente Sérgio Burgi,
encontramos uma solicitação pedindo a colaboração do Curso de Especialização em
Conservação de Bens Culturais no sentindo da elaboração e estruturação de um Banco
de Dados sobre Materiais para conservação-restauração usados no Brasil.
Lançado em 1990, pela parceria entre a ABRACOR e Universidade Federal do
Rio de Janeiro, a obra: Banco de Dados: Materiais Empregados em Conservação-
Restauração de Bens Culturais, na forma de livro, contou com a pesquisa e organização
dos professores: Sérgio Burgi, Marylka Mendes e Antonio Carlos Nunes Batista, tendo
apoio da Associação de Apoio à Cultura, Educação e Promoção Social - VITAE.
Segundos os organizadores do Banco de Dados:

Na acepção generalizada, Banco de Dados é um conjunto de


informações armazenadas em local específico e num formato
processável por computador, independente do meio de armazenamento
(BATISTA, et al, 1990, p.5).

O Banco de Dados foi datilografado e constava de 257 páginas. Na figura (11),


abaixo, a capa da publicação de 1990:
158

Figura 11- Capa da publicação Base de Dados sobre Materiais Empregados em Conservação e
Restauração de Bens Culturais

Esta publicação trata de materiais e produtos químicos utilizados na área da


conservação - restauração no Brasil, e é considerado como referência para pesquisa e
estudos sobre materiais usados na conservação-restauração dos bens culturais no Brasil.
Como parte da metodologia de produção da obra, foi enviado um questionário
para algumas instituições e/ ou profissionais do campo da preservação163 perguntando
quais produtos usavam em suas atividades e para qual finalidade. Dessa forma, o Banco
de Dados, através da informação organizada, facilitaria a comunicação entre os pares,
bem como serviria para consulta em caso de dúvidas. A Base de Dados contemplou
quatro áreas da Conservação-Restauração:

Pintura de Cavalete, Madeira Policromada, Obras de Arte sobre


papel/livros e documentos/encadernação e materiais fotográficos. Foram
elaborados formulários específicos com abrangência nas principais
etapas de tratamento como, por exemplo: tratamento do suporte,
tratamento das camadas pictóricas, desinfestação, imunização,
higienização, tratamentos químicos, montagem e acondicionamento.
(BATISTA, et al, 1990, p.5).

No ano 2011 foi lançada uma nova versão desta obra, revista e ampliada. Contou
com a organização de Thais Helena de Almeida Slaibi, Denise O. Guiglemeti, Wallace A.
Guiglemeti e Marylka Mendes.

163 Instituições e pessoas que colaboraram: Arquivo Público do Estado de Santa Catarina; Atelier de
Restauração M.M, Biblioteca Nacional, Centro de Conservação e Preservação – PROPRESERV, IN-Foto/
FUNARJ, Fundação Casa de Rui Barbosa, Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco,
Fundação Joaquim Nabuco. Imprensa Nacional (Laboratório de Restauração), Arquivo Nacional, Museu de
Arte de Goiânia, Museu de Biologia Professor Mello Leitão e Fundação Nacional Pró-Memória. Contou ainda
com a colaboração de Maria de Fátima Castro Neves e Carlos Regis Gonçalves.
159

3.7.2 Restauração: Ciência e Arte

A primeira edição da obra “Restauração: ciência e arte” datada de 1996; esse livro
pôde ser editado por um resíduo financeiro da Associação de Apoio à Cultura, Educação
e Promoção Social - VITAE para publicação do Banco de Dados. Conforme depoimento
de Marylka Mendes (2015) “Devido ao confisco monetário imposto pelo governo Collor de
Mello, sobrou um resíduo financeiro que optou-se por aplicá-lo no pagamento da
tradução de dois livros clássicos que são o escopo da Restauração: Ciência e Arte”. Na
ocasião dos primeiros entendimentos com a Editora da UFRJ para a publicação, a prof.ª
Marylka era coordenadora do Curso de Especialização e Antonio Carlos Nunes Baptista,
presidente da ABRACOR. Infelizmente por motivos internos da Editora da UFRJ houve
atraso, sendo este publicado somente em 1996. Na figura (12) abaixo, capa da primeira
Edição:

Figura 12 - Capa da primeira edição do Livro:


Restauração - Ciência e Arte.

Essa publicação é muito importante para o campo da Conservação porque


marcou uma época em que era difícil, como já mencionamos, obter textos, artigos ou livro
de referência, principalmente em português. Outra questão é o caráter científico: a
publicação foi avaliada pelo corpo editorial da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Na apresentação do livro, encontramos a seguinte consideração:
160

A organização do livro teve um caráter didático, visando demostrar a


natureza interdisciplinar de conhecimentos e a prática profissional na
área de restauração-conservação de bens culturais. Reunimos nesta
obra as traduções de dois textos clássicos que julgamos relevantes para
o desenvolvimento da área de preservação de patrimônio cultural e
acrescentamos textos de alguns especialistas e professores do Curso de
Conservação de Bens Culturais Móveis, da Escola de Belas Artes/UFRJ
(MENDES; BAPTISTA, 2005).

A primeira parte do livro apresenta a tradução de dois artigos clássicos sobre


vernizes e um terceiro sobre exame com raios X. O primeiro, “Os solventes”, da Prof.ª
Liliane Masschelein-Kleiner, química do Institut Royal du Patrimoine Artistique, de
Bruxelas164, texto que aborda as propriedades e características químicas dos solventes e
vernizes comumente usados em obra de arte. O outro texto traduzido é do professor
Richard Wolbers, biólogo da Universidade de Delaware e aborda os princípios químicos e
bioquímicos da remoção de vernizes a partir do uso de enzimas e sabões em
substituições aos clássicos. O terceiro é do professor Nestor Barrio, sobre aplicações de
Raios X infravermelho e ultravioleta para documentar e/ou investigar o interior de objetos
de arte. Os autores desses artigos constavam da bibliografia de algumas disciplinas do
Curso de Especialização (em seus idiomas Originais) como, o artigo de Liliane
Masschelein Kleiner e J. Deneyer: Contribution à l'étude des solvants utilisés en
conservation, publicado pelo ICOM, em 1981, constou da bibliografia da Disciplina
“Introdução às Ciências dos materiais”.
Na segunda parte do livro, encontramos artigos de professores do Curso de
Especialização, além de textos traduzidos, como podemos observar na tabela (6) abaixo:

Professor Artigo
Carlos Regis Leme
Gonçalves Informática e Conservação: perspectivas no Brasil
T.A.G Krätzig165 & Adair IDEAS- Pesquisa sobre degradação de Materiais Pétreos em Monumentos
E. Marques Históricos
Luis de Miranda A restauração de Obras de Arte metálicas
Antonio Carlos Q.
Mascarenhas As variações dimensionais nos bens culturais em madeira
Marylka Mendes Restauração de pinturas Barrocas de Manuel da Costa Athayde
Almir Paredes A História e a preservação de Bens Culturais
Tabela 6- Artigos publicados por professores do Curso. (Organização da autora, 2015).

164 Liliane Kleiner, publicou em 1981, a Obra: “ Les solvants”, pela editora do Institut Royal du Patrimoine
Artistique, contendo 129 páginas.
165 Não ministrou disciplina no Curso, mas colaborou na produção do artigo.
161

Ressaltamos que os assuntos apresentados nos artigos pelos professores


formam as temáticas abordadas em sala de aula.
No artigo “Informática e Conservação: perspectivas no Brasil”, do professor Carlos
Regis Gonçalves (2005), já mencionado anteriormente, apresenta um panorama sobre o
uso da informática e das Bases de Dados no campo da preservação. Ressalta as Bases
de Dados de interesse público existentes no Brasil e suas perspectivas:

O emprego da informática entre nós ainda é incipiente, apesar das


condições favoráveis existentes. [...] A utilização limita-se, quase que
exclusivamente, a duas áreas: curadoria de coleções e processamento
de dados de análises (GONÇALVES, 2005, p. 331).

Para mudar ou melhorar esse quadro a solução, segundo o autor, seria a


existência de uma boa oferta de equipamentos e programas nacionais e disponibilidade
de “redes de pacote” para acesso a baixo custo. Interessante observar que Gonçalves faz
menção aos recursos usados na informática, disponibilizados para as universidades:

Vastos recursos de informática estão disponíveis nas principais


universidades, e a elas também estão vinculados os principais centros
de formação em conservação e laboratórios de restauração do país,
entre os quais o CECOR da Universidade Federal de Minas Gerais, o
CECRE da Universidade Federal da Bahia e a pós-graduação em
Conservação da Universidade Federal do Rio de janeiro, além dos
grandes museus nacionais (GONÇALVES, 2005, p. 332).

Já o artigo do professor Adair E. Marques com colaboração de T.A.G Krätzig fala


sobre o projeto IDEAS - Pesquisa sobre degradação de Materiais Pétreos em
Monumentos Históricos166. O autor ressalta a importância da preservação dos materiais
pétreos, que são considerados aparentemente “indestrutíveis”, mas que na verdade
também estão sujeitos a processos de degradação. Na primeira parte do artigo, é
ressaltado o contexto da cooperação técnica entre a República Federal da Alemanha e a
República Federal do Brasil. Em seguida, são apresentados os primeiros objetos de
pesquisa: a Catedral de Aachen; a Igreja do Senhor do Bom Jesus de Matozinhos, em
Congonhas; e a Igreja e o Colégio do Caraça.

166
Artigo do Adair Marques foi publicado originalmente pela Editora Druck und Verlagsgesellschaft, da
Cidade de Aachen, Alemanha, por ocasião das comemorações pelos 20 anos de cooperação científica e
tecnológica entre as Repúblicas do Brasil e da Alemanha.
162

O artigo seguinte é de autoria do professor Luis de Miranda: “A restauração de


Obras de Arte metálicas”. O autor destaca a necessidade de se estabelecer uma
metodologia para restauração de obras de arte em metal, a qual consiste na: pesquisa
histórica; análise não destrutiva; análise do ambiente; e recuperação propriamente dita.
Segundo Miranda (2005, p. 359): “Tal metodologia tem sido usada em nível mundial com
sucessos relativos, pois a mutabilidade ambiental não é acompanhada pela devida
monitoração e manutenção que o objeto restaurado”. Afirma ainda, que na restauração
há uma parte “filosófica” presente em todas as etapas.
No artigo: As variações Dimensionais nos Bens Culturais em Madeira, o professor
Antonio Carlos Q. Mascarenhas destaca a ação da umidade na madeira e suas
consequências. Segundo o autor:

Lidar com os problemas decorrentes da flutuação da umidade das peças


de madeira é indispensável ter, entre outros conhecimentos, aqueles
relativos às características físicas das madeiras, do microclima, das
espécies empregadas e aquelas a empregar e estar sempre atentos,
pois a madeira jamais deixará de trabalhar (MASCARANHAS, 2005, p.
374)

Essa abordagem em relação à conservação da madeira foi a mesma utilizada em


suas aulas ministradas no Curso de Especialização, conforme observamos na análise
das ementas das disciplinas ministradas.
O artigo de autoria da prof.ª Marylka Mendes “Restauração de pinturas Barrocas
de Manuel da Costa Athayde” apresenta todas as etapas dos procedimentos de
restauração da obra. Nele a Prof.ª enfatizou que seu trabalho se baseou na
interdisciplinaridade, pois:

O restaurador deve ter um bom conhecimento da obra do artista. Nesse


sentido, a análise estilística, os resultados de exames laboratoriais e a
farta documentação fotográfica são elementos indispensáveis ao êxito do
processo de restauração, entendido como o resgate das características
originais do objeto cultural (MENDES, 2005, p. 386).

Desta forma, a autora destaca ainda que o trabalho contou com a participação do
professor Almir Paredes Cunha, professor de História da Arte da EBA/UFRJ.
Dialogando com a linha de pensamento exposta por Mendes em seu artigo, o
último artigo, de autoria do professor Almir Paredes Cunha: “A História da Arte e a
Preservação de Bens Culturais - uma colaboração Bilateral”. O autor primeiramente
163

apresenta um resumo sobre os pensamentos dos teóricos Viollet-le-Duc, Ruskin e Camilo


Boito. Ressalta que “embora nem sempre fique óbvio, é fundamental para ambas as
atividades - preservação e história da arte - a colaboração entre seus respectivos
profissionais” (CUNHA, 2005, p.398). Interessante observarmos a concepção de Cunha
sobre preservação:

A preservação visa à conservação ou à restauração do patrimônio


cultural que testemunha o passado histórico, representativo de uma
época, em sua verdadeira dimensão e definido a sua individualidade. A
preservação tem se tornado cada vez menos intuitiva, transformando-se
em uma atividade científica. Ela se apoia em um caráter formal, sem
perder de vista seus aspectos técnicos e funcionais, a fim de não
conduzir a resultados deficientes (CUNHA, 2005, p. 399).

Como podemos observar, assim como Mendes (2005), Cunha também enfatiza a
importância e necessidade do conservador-restaurador ter conhecimento prévio ao
intervir nas obras, o que pode ser obtido através da troca de informações entre
profissionais com formações distintas, contribuindo de uma forma mais eficaz na
preservação dos bens culturais.

3.7.3- Conservação: Conceitos e Práticas

A obra “Conservação: conceitos e práticas”, voltada à preservação de coleções de


artefatos culturais, foi organizada por Marylka Mendes, Luciana Silveira, Fátima
Bevilaqua e Antonio Carlos Nunes Batista, e foi lançada pela Editora da UFRJ em 2001,
com 338 páginas. Nas palavras dos organizadores:

A decisão de organizar este livro resultou da constatação de que a


conservação preventiva de bens culturais caminha lentamente como
práxis rotineira, devido à inobservância ou ao desconhecimento de
medidas de salvaguarda de artefatos culturais, aliados, na maioria dos
casos às dificuldades financeiras das instituições (MENDES et al,
2011.p. 12).
164

Abaixo, na figura (13), podemos observar a capa da primeira edição:

Figura 13 - Capa do livro Conservação:


Ciência e Arte

Foram traduzidos 15 artigos. A opção pela tradução se deu pelo fato de que,
segundo os organizadores:

A modesta produção brasileira de literatura específica, acrescida pela


contenção financeira para aquisição de material bibliográfico - quer no
plano individual, institucional ou governamental -, contribui
expressivamente para que a circulação de informações deixe a desejar,
pois estas permanecem dispersas, devido à extensão territorial do país
(MENDES et al, 2011.p14).

Na tabela (7), abaixo, temos a relação dos artigos traduzidos e seus títulos
originais:

Tabela 7 - Relação dos artigos traduzidos (organização da autora, 2015).

Autor Título do Artigo traduzido Referência Artigo original

S. Keene (org.) Care of Collection Leicester


Susan M. Bradley Os Objetos têm vida finita? Reads in Museum Studies. Londres: Routledge
1994, p. 51-59.
Preservação de acervos em Conservation, The GCI Newsletter, v.n.2, p.17-
Colin Pearson países Tropicais 218. 1997
Konstanze Bachmann (org). Conservation
Concerns: a Guide for Collectors and Curators.
Nova York: Cooper- Hewitt National Museum of
Controle de Temperatura e Design- Smithsonian Institution, 1992. p, 23-28.
Ann Brooke Umidade em Acervos
Craddock Pequenos
Konstanze Bachmann (org). Conservation
Konstane Bachmann Concerns: a Guide for Collectors and Curators.
165

e Rebecca Anne Nova York: Cooper- Hewitt National Museum of


Rushfield Princípios de Armazenamento Design- Smithsonian Institution, 1992. p, 5-10.
Materiais de Exposição: os The Scottish Society for Conservation and
bons, os maus e os feios Restauration (SSCR): Exhibittion and
Jean Tétreault Conservation. Edimburgo: SSCR, 1994.
II Coloque International de L’Araafu: La
Materiais de Construção, Conservation Préventive. Anais. Paris: Araafu,
Jean Tétreault materiais de destruição 1992, p.163-176.
Timár-Balázsy, Ágnes; Eastop, Dinah.
Ágnes Timár- Materiais de armazenamento Chemical Principles of Textile Conservation.
Balázsy e Dinah e exposição Londres: Butterworth Heinemann Publishers,
Eastop 1998.
Textile Symposium 97- Fabric na Exibition: na
Interdisciplinary Approach, Ottawa, 1997.
Anais. Ottawa: Canadian Conservation
Stefan Michalski A decisão sobre Iluminação Institute, 1997. p.97-104.
Controle de Pragas em International Conference on Biodeterioration of
Vinod Daniel e Colin Museus: visão geral Cultural Property, 1998. Teerã. Anais. Teerã,
Pearson 1998.

Controle de pragas em
museus: a utilização de Museum Management and Curatorship,
produtos químicos e os Oxford: Elsevier Science, v.9,n. 4, p.419-423,
Martyn J. Linnie problemas de saúde correlatos 1990.
XI Triennial Meeting Edinburgh: International
Council of Museums/ Commitee for
Formação de mofo em Conservation, 1996, Edimburgo. Preprints.
ambientes tropicais: discussão Londres: James& James Science Publishers
Graeme Scott Ltd, 1996, v.1.p.163-176
Poluição do ar em interiores: International Journal of Museum Management
Norbert S. Baer e efeitos sobre materiais and Curatorship, Oxford: Elsevier Sciense, v.4,
Paul N. Banks culturais e históricos n.1.p.9-20, 1985.
Os Museus do Reino Unido: III Coloque International de L’Araafu: La
abordagem estratégica da Conservation, restuaration des biens culturels-
gestão ambiental La Préventive, 1992 , Paris. Anais. Araafu,
May Cassar 1992,p. 85-91.
Desenvolvimento de uma XI ICOM Triennial Meeting, 1996, Edimburgo,
Susan M. Bradley política ambiental para o Anais. Londres: James& James Science
Museu Britânico Publishers Ltd, 1996, v.1.p.8-13.

Como observamos na tabela acima, dos 15 artigos, 14 foram escritos na década


de 1990 e publicados em Anais ou em periódicos como: do Comitê de Conservação do
Conselho Internacional de Museus - ICOM /CC; do Canadian Conservation Institute; a
publicação Museum Studies, da Universidade de Leicester; além das publicações
resultantes dos Colóquios Internacionais sobre Conservação Preventiva, entre outras.
Observamos que nos artigos há uma preocupação em enfatizar que os objetos e
coleções se relacionam com outras áreas do museu, como no artigo de Susan M.
Bradley, no qual a autora destaca:

Muitos objetos sobreviveram até hoje apenas por estarem guardados em


museus. Mas os museus não são apenas lugares onde se guardam
objetos: eles são também locais de pesquisa, ensino e exposição. A
combinação dessas atividades com a conservação resultou na
sobrevivência dos acervos, que os museus deverão continuar a fazê-lo
(BRADLEY, 2011, p.31).
166

Assim, a publicação estava em consonância com as discussões e preocupações


teórico-metodológicas sobre conservação preventiva bem como coleções em instituições
culturais, que se intensificaram no Brasil, sobretudo, nas décadas de 1980 e 1990.
Neste sentido, podemos observar que o Curso de Especialização em Conservação de
Bens Culturais buscou por uma metodologia científica e acadêmica, com disciplinas,
inclusive de metodologia, além da interface com a história da arte, museologia,
antropologia, química, entre outros campos.
Se por um lado, buscou institucionalizar-se seguindo as regras acadêmicas como:
aprovação em todas as instâncias, incluindo Departamentos, Conselhos Universitários, e
se destacou com a tentativa de criação de um Centro de Pesquisa ou Instituto Nacional
de Restauro, os inúmeros documentos, memorandos, pedindo ou justificando as
necessidades e especificidades de um campo em vias de consolidação. Por outro lado,
percebemos uma falta de apoio estrutural, como salas de aula dedicadas e instalações
mais adequadas, o que se contrapõem ao aceite (institucionalização) e o rigor e, às
vezes, a burocratização acadêmica. Se no começo da pesquisa me causava estranheza
ao se referirem ao Curso como “o Curso da Prof.ª Marylka”; ter percorrido os fundos
arquivísticos do Arquivo Central da UFRJ - DGDI, bem como o acervo doado pela prof.ª
Marylka, seus manuscritos, notas e cadernetas, processos, nos fez perceber o outro lado
da História, os atores sociais envolvidos entre os ditos e interditos de um Campo.
No próximo capítulo apresentaremos um perfil do corpo discente visando verificar
suas relações com o Curso, suas produções. Em outra etapa, analisaremos as
contribuições que a formação em especialização em Conservação de Bens Culturais teve
em suas vidas profissionais e no campo da preservação, do patrimônio e dos museus.
167

CAPÍTULO 4
RESSONÂNCIAS: ENTRE UTOPIA E
REALIDADE
168

CAP. 4 – RESSONÂNCIAS: ENTRE UTOPIA E REALIDADE

Este capítulo apresenta um perfil do corpo discente visando verificar suas


relações com o Curso, suas produções. Em outra etapa, analisa as contribuições que a
formação em especialização em Conservação de Bens Culturais teve em suas vidas
profissionais e no campo da preservação do patrimônio e dos museus. Serão analisadas
fontes primárias, como, atas, relatórios, bem como será realizada a análise de entrevistas
com alguns egressos.

4.1 - Considerações iniciais deste capítulo

Em qualquer área do conhecimento, ao nos especializarmos se supõe


direcionarmos nossa livre escolha para uma área mais específica de atuação. Podendo
vir de um desejo pessoal (ideológico), uma necessidade profissional ou os mais variados
motivos. Qual ou quais seriam os anseios dos estudantes? O que realmente buscavam?
Porém, por outro lado, quem seleciona, ao elaborar editais bem como os
conteúdos programáticos, têm a ideia de um “público alvo” ou um perfil desejável do
profissional que se deseja formar. Qual seria então o perfil desejável?
No capítulo anterior, abordamos o corpo docente, suas respectivas formações,
publicações, dentre outros. Neste, destacaremos o corpo discente. No entanto,
separamos em itens e subitens para uma melhor organização da tese.
Em outras palavras: os docentes e discentes, em conjunto, formam um novo
espaço. E que espaço seria esse? Espaço de troca. Espaço que vai além das salas de
aulas, do ateliê: se estende aos profissionais que palestraram, às visitas técnicas e,
possivelmente, às conversas entre o intervalo de uma aula e outra.

4.2. Traçando o perfil dos Egressos


Na busca de traçar uma trajetória do perfil dos egressos do Curso, analisamos os
Editais para as provas de seleção, o programa de seleção, bem como a bibliografia.
Ressaltamos que as fichas de inscrição dos alunos não estavam todas completas.
Em alguns cursos constavam o estado de origem, profissão, em outras, não. Um dado
chama a atenção nesta observação: o número considerável de funcionários públicos, que
se explica pelo Curso ser em período integral e de não ter bolsa. O que dificultava a
permanência no Rio de Janeiro, uma vez que muitos vinham de outros Estados da
169

Federação. Além de grande parte do patrimônio e do bem cultural ser vinculados ao


serviço público.
Apesar de constar da inscrição da candidatura, não foi possível encontrar os
currículos dos egressos. Assim, como metodologia para traçar o perfil dos egressos foi
realizada busca dos nomes na base de dados da plataforma Lattes, do CNPq167, nas
categorias: doutores e demais pesquisadores (mestre, graduados, estudantes, técnico,
entre outros). Pesquisei, também no Livro de Registro de sócios da ABRACOR, além de
pesquisas em Conselhos Regionais, redes sociais e na produção do Núcleo da Memória
da Museologia no Brasil - NUMMUS.
Na documentação pertencente ao acervo da Prof.ª Marylka Mendes, encontramos
registrados 53 egressos ao todo. Neste sentido, para fins de análise nesta tese, iremos
considerar o universo de 53168 egressos. Tendo por base as informações obtidas nas
listas de inscrição das turmas elaboramos dois gráficos: Na imagem abaixo,
apresentamos o gráfico (1) com o perfil dos alunos por área de formação:

Gráfico 1 – Gráfico demonstrativo mostrando as áreas de graduação dos egressos. (elaborado


pela autora, 2017).

Como podemos observar no gráfico (1), acima, grande parte dos alunos tem
origem na Museologia, nas Belas-Artes e na Arquitetura, áreas que já tinham alguma
aproximação com a conservação. No gráfico (2), abaixo, podemos observar a
proveniência dos egressos:

167Plataforma Lattes, disponível em: > http://lattes.cnpq.br/<. Acesso em: 29/12/2016.


168No anexo "D" temos as informações com dados biográficos, naturalidade, entre outras informações dos
egressos em que foi possível obter algumas informações.
170

Gráfico 2 – Gráfico demonstrativo de origem dos egressos. (elaborado pela autora, 2017).

Importante ressaltar, que tivemos uma egressa de nacionalidade argentina. Mas,


como podemos observar nos gráficos, uma parte significativa dos estudantes, 31%, era
do Rio de Janeiro.
Foram realizadas dez entrevistas, das quais sete foram gravadas. Foi elaborado
um roteiro de entrevista com os eixos temáticos a serem abordados no decorrer das
entrevistas. Após a realização das entrevistas, foi feita a transcrição de cada uma, tendo
sido todas formalmente cedidas. As três entrevistas não gravadas, foram realizadas, via
internet devido a dificuldades de acesso aos depoentes, já que as pessoas estavam fora
do Rio de Janeiro. Como critério, buscou-se escolher os egressos em três categorias:
profissionais que no momento presente atuam: na área acadêmica, em instituições
públicas e como autônomos. Os entrevistados foram os seguintes169:

 May Christina Cunha Paiva;


 Thais Helena de Almeida Slaibi;
 Denise Oliveira;
 Regina Mara Capela Frazão;
 Fátima Bevilaqua Contursi;
 Helen Rose Takahashi Ikeda;
 Ozana Hannesch;
 Orlando da Rosa Faria;
 Alejandra Saladino;
 Denise de Oliveira Regis Maya.

169
Para Helen Rose Takahashi Ikeda; Orlando da Rosa Faria e Denise de Oliveira Regis Maya foram
realizadas entrevistas via e-mail.
171

Sobre os depoimentos, alcançados por meio de entrevistas realizadas, é


importante ressaltar que “o tempo próprio da lembrança é o presente: isto é, o único
tempo apropriado para lembrar e, também, o tempo do qual a lembrança se apodera,
tornando-o próprio” (SARLO, 2007, p. 10). Daí a necessidade de tentarmos compreender
as diferentes versões que os diversos agentes sociais envolvidos apresentam para cada
caso.
Ao narrar sobre sua experiência profissional individual e a memória que dela faz
parte, e memória aqui compreendida como quer Eclea Bosi, em Memória e Sociedade:
lembranças de velhos, (BOSI, 1994). No qual disserta sobre os caminhos da memória e
do ato de lembrar, nos quais a memória e a narrativa são retrabalhadas, assim, o
conceito está impregnado da experiência atual do depoente, o que não significa dizer que
não seja verdadeira ou original.

4.2.1 O perfil desejável pelo Curso

No capítulo anterior, também analisamos as disciplinas ministradas, os conteúdos


programáticos. O que nos permitiu perceber também qual era o perfil desejável pela
coordenação e pelo grupo que elaborou o Curso170.
Dessa forma, em relação ao primeiro processo seletivo, em ofício enviado ao Prof.
Almir Paredes, em 26 de outubro de 1988, pela Prof.ª Marylka Mendes, encontramos a
seguintes informação:

Senhor Professor,
Pelo presente estou encaminhando a V, Sa, o material relativo ao Curso
de Conservação de Bens Culturais Móveis, abaixo relacionado:

1- Estrutura do Curso
2- Edital para a prova de seleção
3- Programa para a prova de seleção
4- Bibliografia sugerida para prova de seleção
5- Calendário das disciplinas - módulos.
6- Programa das disciplinas171

Como podemos observar, no Ofício enviado, para que os Cursos fossem


autorizados, oficializados, e iniciar formalmente seu processo com pedido de abertura,

170 Ressaltamos que não tivemos acesso a todos os editais, programas de seleções de todos os Cursos
(Turmas). Assim, nossa análise será baseada nos documentos que conseguimos encontrar.
171 Ofício número 183/88 – Pós-Graduação/EBA/CLA/UFRJ. Da Coordenadora do Curso de Conservação em

Bens Culturais Móveis ao Professor Almir Paredes Cunha. Assunto: informações sobre o Curso de
Conservação de Bens Culturais Móveis.
172

era necessário enviar ao Professor responsável pela Pós-Graduação, os seis itens


listados acima. No capítulo anterior, analisamos os itens 1 (estrutura dos Cursos) e o 6
(programas das disciplinas). Neste capítulo, analisaremos os editais, os Programas de
seleção e a Bibliografia sugerida para a prova de ingresso. Através da análise do
processo seletivo pretende-se compreender o perfil desejável dos alunos a ocuparem as
vagas.
Antes de passarmos para a análise dos Editais, é importante destacar que os
editais não mudaram muito entre um Curso e outro. Neste sentido, destacaremos as
especificidades ou pequenas mudanças entre eles.
O processo de seleção era elaborado pela comissão de avaliação composta por
professores internos, além de um professor externo. No Terceiro Curso tivemos a Banca
examinadora composta pelos professores Almir Paredes Cunha, Marylka Mendes
(professores internos da UFRJ) e Antônio Carlos Nunes Batista (professor externo)172.
Coube a esta a elaboração de um Edital. Poderiam inscrever-se candidatos com
formação em: “Belas Artes, Arquitetura, Filosofia, Museologia, Letras, Ciências Sociais,
outros a critério da Coordenação do Curso”173. Além das áreas citadas, na terceira edição
ainda aparece: Arquivologia, Física, Química, Biologia e Biblioteconomia. Como podemos
observar, havia uma amplitude no que tange às áreas de formação, ou seja, não era
somente para alunos oriundos da área das ciências humanas. Além disso, ao relatar que
ficaria “a critério da Coordenação do Curso”, abre-se a possibilidade para outras áreas de
formação.
Sobre o processo seletivo, consistia nas seguintes etapas:

a) Apreciação do Curriculum Vitae.


b) Prova de Conhecimento sobre Conservação de Bens.
Culturais, de acordo com o Programa previamente divulgado.
c) Entrevista com a Comissão de Avaliação 174.

Já no Edital para segunda turma, além das etapas citadas acima, encontramos a
exigência da prova de língua estrangeira, em Inglês, etapa classificatória que consistia na
tradução de texto. Além da exigência, como critério de avaliação, de experiência anterior
em atividades vinculadas ao setor.
No programa de seleção da primeira turma (1989), podemos observar os temas e
tópicos a serem estudados para prova de seleção:

172 Conforme documento enviado da coordenadora do Curso de Especialização em Bens Culturais Móveis
ao Diretor - Adjunto de Pós-Graduação. Data. 04/09/1991.
173 Nesta informação tomamos como exemplo o Edital da Primeira Turma do Curso.
174 Nesta informação tomamos como exemplo o Edital da Primeira Turma do Curso.
173

1- Noções sobre patrimônio cultural: artístico e histórico


2- O Patrimônio Cultural no Brasil - Histórico de sua Proteção - o
SPHAN
3- Legislação Internacional de Patrimônio Cultural
4- Legislação Brasileira sobre patrimônio Cultural
5- Os Documentos (recomendações) internacionais sobre Proteção
do Patrimônio Cultural: Cartas de Veneza, Atenas, Normas de Quito, etc.
6- Os Documentos (recomendações). Brasileiros sobre proteção do
Patrimônio cultural: Compromisso de Brasília, Compromisso de
Salvador, etc.
7- Os organismos Internacionais de proteção de Patrimônio Cultural:
UNESCO, etc.
8- Os organismos Brasileiros de proteção do patrimônio cultural:
SPHAN, secretarias Municipal/estadual de patrimônio, etc.
9- Os Museus e seu papel na preservação do patrimônio cultural
móvel:
 O pessoal e sua formação.
 Conservação/preservação/segurança
 Reserva técnica e Exposição
 O Manuseio das Obras
 Etc.
10- Noções sobre Conservação do patrimônio Cultural: causas de
deterioração e problemas de preservação175.

Podemos observar a amplitude dos temas. Nota-se que eles não eram
direcionados a área de restauração, mas sim a temas de conservação e de políticas de
proteção e preservação internacionais e nacionais.
Para oferecer subsídios, como bases ao estudo, foram disponibilizados textos na
secretaria do Curso dos programas de Pós-Graduação em Artes visuais na EBA/ UFRJ e
na Biblioteca da Fundação Casa de Rui Barbosa. A seguir, apresentamos a lista com a
bibliografia do Primeiro Curso:

1- CARTA de Venecia; Normas de Quito; Cartas de Atenas-


Documentos: Recomendation sobre la Proteccion en el âmbito Nacional
del Patrimonio Cultural y Natural. Paris, UNESCO, 1978. 29p.
2- CARTA de Veneza. Veneza, S.e., 1964.

3- GUICHEN, Gaël de. Climatização em Museus - Fichas Técnicas -


ICCROM - Roma. Tradução CECOR/UFMG, BH, 1986.

4- GUICHEN, Gaël de. Curso de Preservação de Acervos


Museológicos. Rio de Janeiro, MEC - Secretaria da Cultura - Apostila.
62p.

5- La Conservación de Los Bienes Culturales. Paris, UNESCO, 1969.


361p.

6- L’ORGANISATION des Musées - Conseils Pratiques. Paris,


UNESCO, 1959.

175Programa da prova de seleção do ano de 1989. Fonte: (documento disponibilizado por Thais Helena de
Almeida Slaibi).
174

7- PREVENÇÃO e segurança nos Museus/Direção dos Museus.


Ministério da Cultura e Meio Ambiente [da] França; tradução [de]
Fernanda de Camargo e Almeida Moro [e] Lourdes M. Martins do Rego
Novaes. Rio de Janeiro, Associação de Membros do ICOM. Comitê
Técnico Consultivo de Segurança, 1978. 216p.

8- PROTEÇÃO do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Rio de


Janeiro, Ministério da Educação e Saúde - Serviço de Documentação,
s.d., folheto nº 52-47p.

9- PROTEÇÃO e Revitalização do Patrimônio Cultural no Brasil: uma


trajetória. Brasília, Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
- MEC - SPHAN, 1980. N.º 31. 196p.

10- TELLES, Augusto Silva. Proteção do Patrimônio Histórico e


Artístico, Monumental, Móvel e Paisagístico. Separata p. 84-93176.

Outro documento importante que analisamos foi a Bibliografia indicativa para o


processo seletivo do Quinto Curso:

 La Conservación de los Bienes Culturales - Museos e Monumentos XI.


Paris, UNESCO, 1969, 361p.

 Carta de Venecia, Normas de Quito, Carta de Atenas - documentos.


Recomendacion sobre la Proteccion en el Ambito Nacional del
Patrimônio Cultural y Natural. Paris, UNESCO, 1978, 29p.
 CARTA de Veneza. Veneza, s.e.,1964.

 PREVENÇÃO e Segurança nos Museus/Direção dos Museus. Ministério


da Cultura e Meio Ambiente da França, tradução de Fernanda Camargo
e Almeida Moro e Lourdes M. Martins do Rego Novaes. Rio de Janeiro,
Associação dos Membros do ICOM. Comitê Técnico Consultivo de
Segurança, 1978, 261p.

 PLENDERLEITH, H. J. The Conservation of Antiquities and Works of Arts-


Treatment, repair and restauration. London, Oxford University Press,
New York, Toronto, 1956, 373p.

 HISTÓRIA Mundial da Arte. Everard m. Upjonh, Paul S. Wingert, Jean


Garton Mahler. Livraria Martins Fontes Editora Ltda., 6 Vs.

 MORO, Fernanda C. A. Museus: aquisição/documentos. Livraria Eça


Editora, RJ, 1986.177

Como podemos observar, há pouca mudança entre a bibliografia indicativa do


primeiro e do quinto cursos. Destacamos o acréscimo na bibliografia do tema história da
arte e museus e documentos, com a Obra de Fernanda Moro178.

176
Documento compartilhado por Thais Helena de Almeida.
177 Bibliografia apresentada para o processo seletivo do Quinto Curso. Fonte: Acervo Marylka Mendes
175

Percebe-se o enfoque mais na questão da preservação, ao indicar obras


clássicas, como as publicações fomentadas pela UNESCO, além de outras publicações,
a cargo do órgão da Cultura Brasileira, como Ministério da Cultura e SPHAN. Há ênfase
em literatura estrangeira, mesmo que de forma traduzida; como exemplo a de Gaël de
Guichen. Ressaltamos que Guichen atuou no Brasil como consultor, oferecendo várias
oficinas e cursos, colaborando ainda mais para difusão da ideia de uma conservação
preventiva, conforme já abordamos no capítulo 2 desta tese.
A Bibliografia indicada servia como orientação, podendo o candidato utilizar outros
autores de relevância na área. A prova escrita era composta por três questões
dissertativas. Como exemplo das questões elaboradas pela Banca, podemos citar os
pontos sorteados para a Prova de Seleção do quarto Curso de Conservação:

Ponto número1:
a. Tecer considerações sobre a instalação de reservas técnicas quanto à
conservação de Bens Culturais Móveis.
b. Como avalia a atuação dos Museus, Arquivos e Bibliotecas brasileiros na
preservação da memória nacional?

Ponto número 2:
a. Fale sobre os aspectos que devem ser observados na preservação de
acervos de valor histórico e artístico.
b. Tecer considerações sobre a necessidade de formação para profissionais
da Conservação e da Restauração.

Ponto número 3:
a. Qual a importância dos documentos (recomendações) nacionais e
internacionais sobre proteção do Patrimônio Cultural?
b. Tecer Considerações sobre a instalação de exposições, a preservação
dos Bens Culturais Móveis em acervos. 179

Essas questões eram sorteadas e comunicadas 1h antes da prova. As questões


elaboradas pela banca, bem como a bibliografia, nos levam a afirmar que o perfil
desejável do futuro estudante, era alguém interessado em atuar na área de conservação
pensando sua totalidade, ou seja, pensar nas múltiplas coleções presentes nas
Instituições Culturais, de forma conjunta. Ao mesmo tempo, as questões elaboradas
estavam em consonância entre os temas e tópicos propostos aos estudantes.

178 Formada pelo Curso de Museus - Museu Histórico Nacional (1956) e com doutorado em Arqueologia
romana pela Universidade de Coimbra (1973). Atuou principalmente nos seguintes temas: arqueologia,
museus, museologia, educação ambiental, museus abertos, ecomuseus e arqueologia ambiental.
179
Questões das provas para seleção da quarta Turma.
176

4.2.2 As Expectativas dos egressos no Curso

Podemos questionar: O que buscavam esses estudantes? Dentre os estudantes,


um perfil em específico chamou-nos a atenção. Eram candidatos com formação em
museologia. Pelo fato da Museologia ser uma área que oferecia disciplinas de
conservação e conservação preventiva. Interessante destacar que os egressos oriundos
da museologia, buscavam um aprofundamento em relação às questões sobre
conservação. Conforme contatamos nos depoimentos de Saladino (2017), Frazão (2017),
(2017) e Contursi, (2017):
Saladino (2017) afirma que ao abrirem as inscrições para a especialização lato
sensu considerou que seria interessante participar, já que não havia perspectiva de se
inserir no mercado de trabalho de imediato e aprofundar sua formação em Museologia no
tema específico da Conservação. Assim, considerou que naquele momento iria ser um
diferencial, pois, ao se capacitar, iria se estabelecer melhor no mercado de trabalho:

Eu achei esse curso fundamental naquele momento. O primeiro e


principal, porque ele efetivamente me ajudou a aprofundar uma parte da
minha formação na Museologia. A gente teve Conservação de uma
forma muito tópica, no NUPRECON, com a Violeta Cheniaüx. A gente
tinha um espaço muito bom, mas a gente não tinha possibilidade dentro
da grade curricular para se aprofundar naquilo. Então eu achei excelente
por isso. Me possibilitou me destacar profissionalmente naquele
momento muito conturbado e sem expectativas, principalmente para
quem não tinha “tecido suas redes” ainda como discente, como eu que
demorei para fazer o networking” (SALADINO, 2007).

Assim como Saladino, Fátima Bevilaqua Contursi, também formada em


museologia, foi buscar na especialização uma oportunidade em aprender mais. A mesma
já atuava na área de conservação:

Na museologia fui atuar no Paço Imperial em 1986, na equipe de


montagem de exposição. A montagem de exposição tem toda essa
questão da conservação: embalagem, manuseio. Eu soube do Curso de
Especialização em conservação. Eu estava no Paço. Me interessei pela
disciplina de conservação na graduação, mas não se aprofundava muito.
Mas o meu foco já era a conservação. A minha ótica era conservação
mesmo (CONTURSI, 2017).

Em seu depoimento, Regina Capela, narra como tomou conhecimento do curso e


quais os motivos que a levou buscar o curso no ano de 1992, na época, era museóloga
do Museu da República:
177

Em 1992 a Marylka enviou uma correspondência aqui para o Museu


falando do curso de Conservação, perguntando se haveria algum
funcionário interessado. Eu me interessei, junto com duas amigas, a
Ariadne, que tinha ido comigo para Minas, e a Regina Osório, que me
substituiu em Diamantina, mas já estava aqui no Rio, no Paço Imperial.
Então nós três decidimos fazer, fizemos a prova e conseguimos passar
(FRAZÃO, 2017).

Já Maya (2017) buscava a capacitação profissional para trabalhar com


conservação de bens culturais.
No depoimento, Hannesch deixa claro que esperava uma formação mais
específica voltada para sua área de atuação: Conservação-Restauração de papel. No
entanto, com o decorrer do curso, a mesma teve outro entendimento sobre o campo da
conservação: “Abriu um leque para nossa visão referente a que essa parte de
conservação fosse entendida de uma forma mais ampla, mais do que eu desejava
especificamente, que era o tratamento de conservação-restauração de papel”, pois:

Eu fui para o Curso com uma expectativa de aperfeiçoar meus


conhecimentos no material que eu trabalhava aqui no museu, que era o
papel. No meu caso houve uma ampliação da minha visão dentro da
área de conservação, porque ao tomar contato com vários outros tipos
de materiais, pude verificar que algumas problemáticas eram inerentes
aos diferentes materiais em relação a parte de climatização, dos
conhecimentos sobre os materiais e os exames técnicos.
(HANNESCH, 2017).

Havia também, os egressos da própria EBA e que já tinham cursado disciplinas


isoladas nas graduações, como afirma Guiglemeti (2017):

Minha graduação é em Pintura. Quando eu ingressei nas disciplinas


“Teoria da Pintura”, “Análise da Composição”, “Restauração de Papel” e
“Restauração de Pintura”, eu conheci o Edson Motta, que estava
voltando do mestrado em Londres, e ele deu um gás e no semestre
seguinte eu passei a ser monitora das disciplinas de “Teoria da Pintura”
e “Restauração de Pintura”. Naquele momento eu fiquei dividida, porque
eu vi que eu gostava da Conservação e então eu continuei como
monitora durante um ano e meio, até concluir a graduação. Então eu
deixei o meu emprego e em 1988, eu já tinha concluído a graduação em
Pintura e então ingressei nessa especialização em Conservação
(GUIGLEMETI, 2017).

Pudemos observar ao longo dos depoimentos, o perfil desejado, era, portanto,


candidatos que já tivessem uma atuação e afinidade na área da conservação. O que
ficou bem evidente ao cruzarmos as informações do edital com as informações obtidas
com as entrevistas.
178

Quanto às percepções que os estudantes tiveram sobre seus professores,


conteúdos e metodologias, encontramos um destaque para as disciplinas ligadas à
química ou ciências. Por serem disciplinas não comuns na área de ciências humanas ou
sociais aplicadas. Porém muito importante para o campo da conservação. Como já
mencionamos no capítulo anterior. Conforme podemos observar nos depoimentos de
Guiglemeti (2017), Saladino (2017) e Paiva (2007):

A disciplina de Fundamentos da Química, com o Antônio Carlos, foi a


grande dificuldade porque todos vinham de áreas das Belas Artes, só
tínhamos visto química no segundo grau, mas o Antônio Carlos tinha um
jeito de ensinar a Química que encantava a gente. Ele era uma pessoa
tranquila, uma figura ímpar (GUIGLEMETI, 2017).

Teve um professor que as duas primeiras aulas dele eram só sobre


química e era um desespero para a gente. Porque geralmente quem é
da área de humanas sociais aplicadas costuma fugir de Matemática,
Física e Química. A gente tem que ter fundamentos básicos, a gente tem
que entender como base na formação. Fora isso a necessidade de estar
sempre up to date, se atualizando (SALADINO, 2017).

Na área de química, por exemplo, chamávamos o professor de


MacGyver. A turma brincava e chamava ele era o MacGyver 180. Ele era
muito bom professor de química. Então eu já fui para o CECOR com
uma boa base de química (PAIVA, 2017).

Já Frazão (2017), lembra: “o Antônio Carlos falava que não existe conservador-
restaurador que não entende química, se você não entende você destrói um acervo.”
(Frazão, 2017). Por outro lado, Contursi, teve facilidade por ter conhecimento prévio:
“Como eu tenho uma formação na área biomédica, eu já tinha estudado química,
biologia... para mim não era uma novidade” (CONTURSI, 2017).
Ainda sobre os professores, Slaibi ressalta: “Era um pessoal de ponta, que estava
"antenado" com o que estava sendo feito no resto do mundo” (SLAIBI, 2017). Assim:

Era o professor que passava a bibliografia, disponibilizava os textos e a


gente tirava cópia. Porque eram alguns textos em inglês, francês eu não
me lembro, mas português, algumas bibliografias em português. A gente
recebia os textos e sempre ficava um aluno responsável para fazer cópia
para os outros. E era uma carga grande de leitura, o curso era de
especialização, mas tinha uma carga elevada (SLAIBI, 2017).

Por outro lado, Hannesch (2017) lembra-se das aulas sobre cultura material:
“Tivemos uma base geral sobre cultura material e do que a cultura material pode trazer

180Personagem de uma série norte-americana durante os anos de 1985 - 1992. Interpretado por Richard
Dean Anderson, que solucionava problemas usando o conhecimento científico.
179

para área do patrimônio, apesar da gente não lidar diretamente do que a gente chama
hoje [2017] de patrimônio”. E destaca:

Na época chamávamos bens cultuais. Passamos a usar patrimônio


depois. Começamos a entender o papel de cada acervo, dos artefatos na
preservação da história. O professor Roberto Verschleisser era da área
da Antropologia abriu nossa ideia para quebra de preconceito, para
aquilo que era o artesanal, o que era o diferente... [...] que não existe
uma evolução, que cada cultura tem uma forma diferente de se
expressar. (HANNESCH, 2017).

Em entrevista, Hannesch afirmou do grande aproveitamento que teve nas aulas


de história da arte. Formada em arquivologia, ela destaca a importância de ter conhecido
mais sobre essa temática:

Quando vimos a parte de história da arte, quando começamos a discutir


que cada cultura tem uma forma de se expressar, e que isso tem origem
não só nos materiais que ela tem disponível nas suas regiões, no seu
entorno, como também, nas formas de expressão, nos desenhos e nas
estéticas... e de acordo com o próprio grupo e com as diferentes épocas
que se valora (HANNESCH, 2017).

Em suma, os alunos vieram de áreas distintas e tiveram como complemento


inúmeras disciplinas, formando profissionais com um conhecimento mais amplo não só
na conservação (finalidade do curso), mas nas disciplinas afins como foi possível
observar.

4.3 – Aspectos necessários para a obtenção do grau de especialista

No documento sobre o Terceiro Curso encontramos: Requisito para a Concessão


de Certificado ou Diploma:

 Frequência mínima de 85% por Módulo


 Aproveitamento mínimo nas disciplinas do Curso
 Elaboração de Trabalho Final entregue no prazo181.

A coordenação atuava no sentido de buscar promover a elaboração do trabalho


final de conclusão do curso por interceder e localizar instituições que fossem beneficiárias
de estudos e, ao mesmo tempo, contribuísse para formação do aluno. Nesse sentido,
como indício dessa ação foi localizada uma carta da Prof.ª Coordenadora endereçada à
senhora Maria Cristina Ramos Pinto Dias Lima, então Priora da Igreja Nossa Senhora do

181 Documento sobre o Regime didático do Terceiro Curso.


180

Monte do Carmo, na rua Primeiro de Março, no Centro do Rio de Janeiro. Neste


documento informa sobre a existência do Curso de Especialização e, ao mesmo tempo,
solicita autorização para que a aluna Darsonone Aparecida Viti, do Quinto Curso,
pudesse conhecer e pesquisar a coleção do acervo de paramentos religiosos
pertencentes a Igreja do Carmo:

Paralelamente aos conhecimentos técnicos apresentados no Curso


previmos [um estudo] como trabalho final. Uma monografia de assunto
escolhido pelo aluno e no qual tenha se destacado durante o Curso. A
Aluna Darsone Aparecida Viti, vem demostrando o maior interesse na
Conservação de materiais têxteis (MARILKA, 2016)182.

Muito provavelmente a resposta da Igreja foi positiva, já que a aluna Darsone


apresentou sua monografia intitulada: Paramentos religiosos da Igreja Nossa Senhora do
Monte do Carmo, completando assim, um dos pré-requisitos para aprovação e conclusão
do Curso de Especialização.
A partir da terceira Turma os Trabalhos de Conclusão de Curso TCCs passaram
ainda a serem avaliados por uma Comissão. Na ocasião, essa comissão foi composta
pelos professores: Marylka Mendes, Almir Paredes Cunha e Antônio Carlos Nunes
Baptista, que atribuíram conceitos de A a D. Chama atenção também que esta banca foi
a mesma do processo seletivo, conforme já relatamos acima.
Verificou-se que a quinta Turma passou por igual processo a análise das
monografias. O tema continuava a ser escolhido pelo aluno e ficava a cargo dos
professores internos uma orientação, ainda que isso não fosse oficialmente estabelecido.
O trabalho final foi avaliado por Comissão julgadora composta por: Marylka Mendes e
Carlos Terra e professor externo, Antônio Carlos Nunes Baptista.

O trabalho final: era uma monografia e cada um dizia o que queria,


escolhiam o tema. Alguns trabalhos muitos bons. Que deveriam ser
aproveitados pela experiência e pelo conhecimento. Alguns escolhiam,
vamos dizer: papel ou outro tema. Às monografias do curso eram ótimas
para pensar o que se fazia naquela época. Nós tivemos excelentes
pessoas ali (MENDES, 2015).

Para poder analisar as monografias que foram elaboradas pelos estudantes,


buscou-se fazer um levantamento e localização das mesmas. Inicialmente pesquisamos

182
Carta da Prof.ª Marylka Mendes endereçada a Maria Cristina Ramos Pinto Dias Lima, Priora da Igreja de
Nossa Senhora Monte do Carmo. Rio de Janeiro 16/12/2016.
181

na base de dados Minerva, da UFRJ183 onde nada foi localizado. Uma das Bibliotecárias
da Escola de Belas Artes foi contatada e informou que as monografias não eram
guardadas, somente dissertações e teses184. Contudo, foi encontrada no acervo de
Marylka Mendes uma listagem contendo alguns dados de trabalhos entregues pelos
alunos, aos quais nos propusemos analisar a partir de dois aspectos: a) aquelas que se
conseguiu alguma informação, e b) outras em que tivemos acesso a integra do
documento, seja pelo envio pelos próprios alunos que foram entrevistados, ou em duas
que foram localizadas nos acervos bibliográficos da ABRACOR, custodiado pela
Biblioteca do MAST. Com os dados elaboramos a tabela (8), na sequência:

Tabela 8 – Informações encontradas sobre as monografias de alguns alunos.


Organizada pela autora, 2016.
Aluno/autor Título Ano Orientador
1-Alejandra Saladino Conservação de Materiais Antônio Carlos
Modernos. Nunes Baptista.
2-Ariadne Barbosa de S. Motta A Conservação dos Bens Culturais 1992
Móveis por seus detentores leigos
3- Regina Mara Capela Frazão O vestido de baile usado por Dona 1992 Almir Paredes
Sara Kubitschek na posse do
Presidente JK
4-Helen Rose Takahashi Ikeda Conservação Preventiva em
acervos Culturais: metodologia de
pesquisa
5-Thais Helena de Almeida Desenvolvimento de área para 1989 Antonio Carlos
Slaibi guarda de acervos. Nunes Batista
6-Ozana Hannesch A Conservação de Bens Culturais. 1992 Marylka Mendes
7-Adrianna Figueiro Filard Museu de Folclore Edson Carneiro:
madeira e conservação
8-Afonso Bensabat Pinto Conservação: o descompasso
Vieira entre Estado e particular.
9-Ângela Carolina Castro Avaliação do estado de
Vieira conservação dos acervos culturais
da UFJF e proposta sobre
procedimentos técnicos para sua
preservação.
10-Lúcia Mafra da Silva O mármore: importância do seu
uso na arte e na arquitetura
11-Orlando da Rosa Faria Estudo sobre o Estado de
Conservação do Museu do Colono.

183Minerva: Base de dados da UFRJ> http://www.sibi.ufrj.br/< . Acesso em: 8/10/2017.


184Atualmente a UFRJ conta como O Repositório Institucional (RI) denominado (PANTHEON), cujo a missão
é reunir, preservar e disseminar a produção acadêmica da UFRJ em todas as áreas do conhecimento, em
consonância com o movimento de livre acesso à informação científica. Assim, todo material de pesquisa ou
extensão produzidos por alunos, professores, pesquisadores e/ou funcionários da UFRJ são preservados em
formato digital. Inclusive, monografias de Especializações. Sobre PANTHEON:
>http://www.pantheon.ufrj.br/terms/guidance.jsp< Acesso: 8/10/2017.
182

12-Rita Luciana Galvão Corrêa A conservação das peças de prata


do Acervo do Museu Histórico
Nacional
13-Sérgio Oliveira Dias Museu Seraphicum de Santa
Teresa - Espírito Santo
14-Anna Luzia Lemos Saiter Os papéis do Espirito Santo. Marylka mendes.

15-Paulo César Garcez Marins A Conservação de Obras de Arte 1992


em Mármore ao relento nos
logradouros públicos paulistanos:
uma visão crítica da atuação do
Departamento do Patrimônio
Histórico.
16-Mônica de Medina Coeli MAM - Acervo em Papel. Marylka Mendes
17-Catarine de Cássia Lambe Sobrados da Penha: uma proposta
para preservação, conservação e
tombamento.
18-Cristine Bicalho Canêdo Pinturas e esculturas conservadas
Freitas no Museu D. João VI
19-Darsone Aparecida Uit Paramentos religiosos da Igreja
Nossa Senhora do Monte do
Carmo
20-Juarez Fonseca Mendes Museu Histórico Nacional: 1995
Guerra climatização ou aclimatização de
acervos
21-Mônica Moreira da Silva Preservando a memória do papel

Em grande parte das 21 monografias, que constavam na listagem, não foi


possível entender claramente quem era o orientador.
Pelas temáticas escolhidas pudemos observar que eram relacionadas às
questões de preservação, ambiente de guarda, conservação dos acervos e metodologia
de intervenção, além de serem sobre materialidades abordadas em sala de aula (como,
têxteis, papel, madeira, pedra, a função do Conservador). Infelizmente não tivemos
acesso a parte dessas monografias, por motivos já mencionados.
De uma forma geral, podemos dizer que as monografias de conclusão
abordavam temáticas mais ligadas à preservação, à conservação, aos museus e às
coleções. Geralmente tinham relação muito estreita com a área de atuação dos
estudantes. Percebe-se, em alguns casos, a preocupação e o desejo de multiplicar e
difundir o conhecimento através da publicação de artigos, manuais e apresentação de
trabalhos em Congressos. Por outro lado, podemos observar a concepção de bem
cultural entendida por estes egressos presentes nas escolhas de suas temáticas. Daifuku
(1969) considera que a expressão "bem cultural" é usada para satisfazer a necessidade
de uma designação que incluiu a maioria dos objetos materiais associados às tradições
183

culturais. Mas que está gradualmente se movendo no uso comum185. Nesse sentido, os
conceitos sobre “bem cultural” irão variar de acordo com a concepção de cultura e de
patrimônio dos grupos sociais. Além disso, podemos perceber, nestas monografias, uma
abordagem para além das questões técnicas. O que está em consonância com o que se
esperava da formação do conservador, que jamais deveria perder de vista a necessidade
de desenvolver e aprofundar a compreensão dos fatores técnicos, científicos, históricos e
estéticos e que contribuísse não somente à preservação, mas também a uma mais
profunda compreensão dos acontecimentos históricos e artísticos relativos aos abjetos
tratados186.
Na ocasião, o incentivo aos cursos de Pós-Graduação e o aperfeiçoamento da
área de Pós-graduação foi burilando os procedimentos e exigências, o que também se vê
refletido na trajetória desta especialização. Não havia inicialmente a exigência de uma
monografia, depois passou a ser requerida; também a forma de apresentação dos
trabalhos começou a se assemelhar às exigências acadêmicas atuais, ainda que não
totalmente. Ao mesmo tempo, são documentos probatórios do que se pensava e como a
Conservação na época foi apreendida por estes egressos, permitindo-nos perceber o
“resultado final” entre o perfil desejável e o que efetivamente se concretizou. Nestes
textos se reflete uma formação marcada pelo aprendizado que se quis cunhar.
A seguir, apresentaremos, por ordem alfabética de autor, os resumos de seis
monografias de conclusão de Curso, dos egressos: Ozana Hannesch, Ariadne Barbosa
de Sousa Motta, Regina Mara Capela Frazão, Helen Rose Takahashi Ikeda, Thais
Helena de Almeida Slaibi e Paulo Cesar Garcez. Ressaltamos que essas monografias
analisadas foram as únicas encontradas. Alguns entrevistados relataram que não
guardaram a própria monografia ou que não fizeram cópia.

4.3.1 – A Conservação dos Bens Culturais Móveis por seus detentores leigos, de
Ariadne Motta

Não destruam tuas casas, não queimem seus livros, conservem tuas
relíquias para que os filhos dos teus filhos saibam contar com orgulho a
tua história.
(Frase de um membro da Comunidade da Cidade Histórica de Serro/MG)

185
As propriedades culturais são classificadas duas grandes categorias: Os Bens móveis que são livros,
manuscritos e outros objetos de caráter artístico e/ou arqueológico, além das coleções científicas; e os Bens
Imóveis: tais como monumentos e edifícios arquitetônicos, artístico e histórico. Além de lugares de interesse
arqueológicos (Daifuku 1969).
186
De acordo como o documento “o conservador-restaurador: uma definição da profissão”, elaborado pelo
comitê do ICOM para restauração, através do Grupo de Trabalho para a Formação em Conservação e
Restauração, em 1984. Fonte: Boletim ABRACOR - ano VIII – N.º 1 - julho de 1988.
184

A citação acima é a epígrafe do Trabalho de Conclusão do quarto Curso de


Especialização em Conservação de Bens Culturais Móveis, de autoria da aluna Ariadne
Barbosa de S. Motta, museóloga, intitulado: “A Conservação dos Bens Culturais Móveis
por seus detentores leigos e Manual de Manutenção de Obras de Arte para encarregados
de Igrejas e Casas Históricas” (MOTTA,1992). Esta epígrafe resume a linha de
pensamento da autora em relação à preservação de Bens Culturais.
Motta escreve em sua monografia que: “a intenção de desenvolver um trabalho
voltado a valorização e, acima de tudo, para a capacitação dos zeladores e outros
detentores leigos de obras de arte, nasceu em 1984” (MOTTA, 1992 p.1), pois: “Naquela
ocasião, através de Programa Nacional de Museus e do grupo de Museus e Casas
Históricas de Minas Gerais, fui designada para trabalhar na Cidade do Serro, onde, seria
implantado um complexo museológico” (MOTTA, 1992 p.1). No trabalho fica claro que a
aluna acreditava que todos eram capazes, através do diálogo entre conservadores e
leigos, de conservar o patrimônio.
O trabalho de conclusão foi então elaborado em duas partes. A primeira mais
teórica voltada para os leitores técnicos, historiadores, museólogos, conservadores,
restauradores e de outras disciplinas afins. A segunda parte, o manual de como
conservar propriamente dito, direcionado aos mantenedores (MOTTA, 1992). Totalizando
220 páginas, incluindo bibliografia.
Por outro lado, podemos observar a preocupação da autora em não está
oferecendo um: “catálogo de receitas ou um manual de milagres. Mas sim, como uma
tentativa nova, pioneira, portanto, passível de erros, que procurou, através do ‘educar
para preservar’, uma forma alternativa de preservação” (MOTTA, 1992, p. 3). A autora,
além de apresentar a bibliografia no trabalho, ressaltou que se baseou também, em suas
experiências pessoais e em entrevistas realizadas com zeladores. Nas figuras (14) e (15)
abaixo, podemos observar aspecto do Manual, parte do trabalho de Conclusão de Curso:
185

Figura 14 - Ilustração do Manual - podemos Figura 15 - Ilustrações em como proceder em caso


observar uma parte do manual, com ilustrações e de sinistro, como enchentes. O que fazer como
sinal de positivo ou negativo. Do que poderia ou medidas preventivas, durante o acidente e após.
não ser feito no bem cultural, no canto superior, Aqui mais uma vez a autora usa ilustrações para
direito, podemos observar a ilustração referente ao ajudar na compreensão e didática (MOTTA,1992,
tecido (indumentária) (MOTTA,1992, p. 3). p. 3).

O Manual apresentava também uma lista com o material necessário para os


procedimentos de conservação, além dos endereços com nomes dos responsáveis pelos
Núcleos do Patrimônio Histórico, o IBPC - Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural,
antigo SPHAN/Pró-memória. Assim, nas palavras da autora: “Não corra riscos. Não
confie em quem não é técnico. Procure a equipe do patrimônio histórico que, assim como
você e sua comunidade, só desejam preservar os bens culturais” (MOTTA, 1992, p. 144).
Aborda ainda os cuidados com funcionários e monumentos, como conservar: pinturas,
tecidos, metais, mobiliário, entre outros. Adriane Motta participou, ainda, como sócia
fundadora, em 1999, da criação dos Anjos, Grupo Voluntário Pela Preservação da Arte e
da Cultura, localizado na Igreja do Rosário em Tiradentes, MG. Esta observação vem
reforçar mais uma vez, seu interesse em trabalhar com toda a comunidade no âmbito da
preservação dos bens. Na figura (16) apresentamos a capa desse Manual, que foi
publicado pelo IPHAN, em 1996:
186

Figura 16 - Imagem da capa do


Manual publicado pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN), 1996. Contendo
129 páginas.

O Manual tinha o intuito de facilitar a comunicação com o público leigo


acentuando o caráter do que fazer e do que não fazer. Mas sem ser impositivo, pois
poderia causar um impacto negativo a este tipo de público. Agregada à publicação, Motta
promovia oficinas em localidades do interior, reunindo paroquianos em paróquias
específicas. Ensinava confeccionar embalagens, apontava para não usarem fitas
adesivas, ensinava a transportar, bem como outros procedimentos básicos, porém
fundamentais e com um discurso voltado para a realidade das comunidades.
No Brasil, sobretudo na década de 1980, o campo da conservação buscava
nortear-se pelo reconhecimento da conservação preventiva e o sentido de pensar o
conjunto dos bens ou coleções, como parte integrante da competência necessária a
formação do conservador, conforme já abordamos nos capítulos 1 e 2 desta tese. Por
outro aspecto, percebia-se a consolidação do pensamento da ampliação do conceito de
bem cultural que, desde a década 1970, vinha abordando e reconhecendo as mais
diversas formas de produção cultural como patrimônio, sobretudo após a Mesa de
Santiago do Chile (1972), e do Movimento da Nova Museologia - MINON (1985), dentre
outros eventos. Nesta época, apontava-se para a diversidade das tipologias de museus,
como os Museus Comunitários e os Ecomuseus, em que os atores sociais ou as
comunidades passaram a possuir um peso considerável nos níveis decisórios, no que
tange à preservação de seus Bens Culturais. Ariadne Motta compreendia a importância
do profissional com formação específica na área da Conservação-Restauração. Decidiu
187

atuar abordando e apoiando a conservação, com ênfase nas comunidades nas quais os
objetos ou os bens culturais estão inseridos.

4.3.2 - Conservação preventiva em acervos culturais: metodologia de pesquisa, de Helen


Ikeda

Em sua monografia Helen Rose Takahashi Ikeda (1992) procurou equacionar os


diversos parâmetros envolvidos na compreensão dos mecanismos estruturais referentes
à guarda, preservação, pesquisa e divulgação do acervo cultural. Baseou sua análise a
partir dos princípios teórico-práticos consolidados no campo da conservação preventiva,
e que definem como ponto fundamental o conhecimento profundo das características
físico-químicas dos materiais constitutivos dos bens culturais. Sua monografia constou de
43 páginas datilografadas, além de extensa bibliografia. A proposta da monografia foi:

A estruturação de uma abordagem teórico e científica para o estudo do


objeto cultural, e que seria elaborada a partir de três vertentes:
metodologia da pesquisa científica, cultura material e história da arte
(IKEDA, 1992, p. 2).

Sobre a escolha da temática, em entrevista a autora afirmou: “foi devido aos


questionamentos existentes sobre uma abordagem mais sistemática com relação à
diversidade de materiais e técnicas que compõem o acervo documental, arquivístico e
artístico” (IKEDA, 2017).
A autora abordou os seguintes tópicos: política cultural de instituições públicas e
conservação de acervos culturais; ciência dos materiais e atividades museológicas;
bibliográficas; exame e documentação; museografia: conceituação/planejamento de
exposição; conclusão; proposta para pano de estudo (IKEDA, 1992).
Dizia Ikeda que, no Brasil, no campo da Conservação-restauração de bens culturais,
não há tradição em pesquisa e registro de dados obtidos por métodos científicos
tradicionais: “inicialmente, devemos tentar compreender este fenômeno dentro do
contexto de política cultural, científica e tecnológica definidas pelo governo federal” (Ikeda
1992, p. 1). E continua:
Desde 1982 quando foram definidas, pelo Conselho Nacional de
Pesquisas e Desenvolvimento Tecnológico-CNPq, as linhas mestras
para os cursos de Graduação e Pós-Graduação, não foram
estabelecidos trabalhos significativos dentro da política para área
cultural; época em que justamente se consolidavam, por volta de 1980,
as atividades de conservação e restauração nos organismos municipais,
estaduais e federais no país (IKEDA, 1992, p. 1).
188

Assim, a política cultural das instituições deveria ser definida, basicamente, a


partir de alicerces sedimentados no conhecimento profundo do acervo cultural cabendo
“ao conservador permear os vários níveis estruturais que definem a política institucional e
criar um conjunto de ações com as áreas técnico-administrativas” (IKEDA, 1992, p.5).
Isso garantiria, segundo a autora, as condições básicas de segurança, preservação e
planejamento das atividades de conservação. Já a busca de novos e melhores métodos
científicos de conservação, segundo Ikeda, compreenderia três fases:

Identificação do problema, que pode ter origem em tratamentos


inadequados; análise científica do problema e proposição de uma
solução teórica; e a aplicação da teoria na prática e experimentação por
restauradores em estreita colaboração com os cientistas (1992, p.43).

Podemos ressaltar a preocupação da autora no que tange à disseminação do


conhecimento no campo da Conservação-Restauração, que proporcionaria o
aperfeiçoamento profissional.

Não devemos excluir ou trabalhar com descuido um objeto que não se


enquadre dentro de nossos próprios valores culturais, e nem mesmo
devemos nos limitar a ser treinados apenas dentro de nosso único meio
cultural (questão da objetividade). Se a variação do contexto cultural
estrutura a nossa cultura, devemos tentar conciliar uma unidade
biológica com a grande diversidade cultural humana (IKEDA,1992, p.43).

E essa mudança cultural, deveria ser vista como resultado da dinâmica interna do
grupo em relação a contatos com sistemas culturais externos. Neste sentido, podemos
observar que a autora fez uma interface com as disciplinas ofertadas no curso (como
apresentamos no capítulo anterior, as disciplinas e seus conteúdos programáticos). Há
uma ênfase dela em aliar as questões teóricas ao fazer prático-metodológico. Para
autora, o tema escolhido foi devido: “aos questionamentos existentes sobre uma
abordagem mais sistemática com relação à diversidade de materiais e técnicas que
compõem o acervo documental, arquivístico e artístico” (IKEDA, 2017).
Ao mesmo tempo, a autora reconhece que uma das formas de se consolidar um
campo disciplinar é definindo sua metodologia. Percebe-se a ênfase na temática
conservação preventiva, o que fica evidente em todo texto.
189

4.3.3 - A conservação de Bens Culturais Móveis, de Ozana Hannesch

A monografia apresentada por Ozana Hannesch187 teve como título: “A


conservação de Bens Culturais Móveis”. Este trabalho foi posteriormente publicado pelo
Museu de Astronomia e Ciências Afins - MAST, numa publicação periódica institucional
denominada Notas Técnicas-Científicas, no ano de 1994188. Tinha o total de 26 páginas,
incluindo bibliografia. A aluna apresentou um panorama sobre a conservação de acervos,
abrangendo desde os conceitos de conservação, passando pelas ações de prevenção,
tais como: controle de umidade e de temperatura, iluminação, poluição atmosférica,
insetos, dentre outros. Em outra instância é apresentada e problematizada a questão da
intervenção no âmbito da conservação-restauração, através dos procedimentos que
visam a estabilização, preocupando-se em apresentar as ambiguidades existentes na
prática. Aqui se percebe a preocupação em destacar a natureza das ações de
Conservação-Restauração serem ações conscientes, nas palavras da autora: “O
conservador e/ou restaurador deve estar consciente de que realizou o melhor que
poderia ser feito". (HANNESCH, 1992a, p.23). Ainda, segundo a autora: “Isto requer
constante atualização e um exame cuidadoso dos novos métodos divulgados, a fim de
comprovar e atestar sua utilização”. (HANNESCH, 1992a, p.23). Verifica-se que a aluna
quis evidenciar o sentido de qual seria o papel e a atuação do Conservador no âmbito da
conservação dos Bens Culturais. Assim, ela buscou ressaltar a função do profissional
conservador e quais os limites entre conservar e restaurar os objetos:

Não nos cabe discorrer sobre a restauração, pois esta é uma outra
atividade a ser analisada detidamente pelos inúmeros aspectos que
envolve. O que desejamos é propor a discussão sobre quais os limites
da atividade de conservação e restauração, com referência à intervenção
no objeto (HANNESCH, 1992a, p.23).

Há outro aspecto que pode ser destacado em seu trabalho, que tem relação com
a formação da aluna durante o Curso e seu encontro com o campo da arte e da
antropologia, das concepções de cultura: [...] “Tivemos uma base geral sobre cultura
material e do que a cultura material pode trazer para área do patrimônio”. (HANNESCH,
2017). Voltando a análise do Trabalho de Conclusão, a autora destaca:

187 Formada em arquivologia, ver nota biográfica, no anexo "B", HANNESCH, O.. A Conservação de Bens
Culturais. In: Metodologias de Preservação de Bens Culturais, 1992, Rio de Janeiro. VI Seminário Nacional
da ABRACOR. Rio de Janeiro: ABRACOR, 1992. p. 151-174.
188 Encontra-se disponível na Biblioteca do Museu de Astronomia e Ciências Afins - MAST.
190

O papel da atividade de conservação nas instituições que preservam


bens culturais é enorme. Não deve limitar-se apenas às preocupações
puramente técnicas, mas deve envolver o conhecimento histórico e
artístico dos objetos. Neste sentido, o conservador deve trabalhar sua
sensibilidade, entendendo o valor do bem cultural e sua representação.
(HANNESCH,1992a, p.23).

Sobre a bibliografia utilizada como referência na monografia, encontramos autores


como Garry Thompson, na obra: The Museum Environment e Antonio Carlos
Mascarenhas sobre os insetos xilófagos e produtos usados na preservação189.

4.3.4 A Conservação de Obras de Arte em Mármore ao relento nos logradouros


públicos paulistanos: uma visão crítica da atuação do Departamento do
Patrimônio Histórico, de Paulo Garcez.

Paulo Cesar Garcez apresentou como tema para monografia final do quarto Curso
de Especialização, “abordar criticamente as soluções adotadas pelo Departamento do
Patrimônio Histórico Paulistano para conservação de obras de mármore ao relento, nos
logradouros públicos de São Paulo” (1992, p.1). A monografia abordou, portanto, os
seguintes temas: o uso dos mármores em obras de arte ao relento no ocidente: aspectos
históricos; A proteção à obras de arte em logradouros públicos no exterior e no Brasil:
Teoria e legislação; A conservação dos mármores ao relento: problemas, técnicas e
partidos de intervenção; Os mármores paulistanos ao relento e sua conservação através
da DPH. Apresentou ainda, conclusão, notas e bibliografia, contendo 71 páginas.
Garcez enfatizou que o tema era relevante para a pedra e seus fatores de
degradação, bem como para as medidas de conservação e restauro dispensadas aos
monumentos culturais: “tem sido objeto frequente da imprensa nacional e estrangeira.
Indicando que há um maior interesse e conscientização por parte do público e da
demanda de informações gerais sobre tais aspectos” (GARCEZ, 1992, p.1). Elencou,
ainda, as causas dos danos causados aos monumentos e acrescentou:

Relacionando com os fatores ligados ao próprio desinteresse social e


estatal em preservar seus marcos culturais, os acervos de mármore
sofrem continuamente os efeitos do vandalismo, das intempéries, dos
ataques biológicos, e da poluição atmosférica (GARCEZ, 1992, p.34).

189 Artigo publicado nos Anais do ABRACOR, em 1988.


191

Para o autor, a solução seria a pesquisa, documentação e utilização de recursos


tecnológicos e interdisciplinares, além da conscientização social como forma de não
descaracterizar a proposta existencial da obra. Já ao órgão responsável pela
conservação do acervo, caberia a elaboração de um programa de preservação para os
acervos concebidos de forma interdisciplinar (GARCEZ, 1992).
O autor destaca que no trabalho monográfico adotou o conceito de preservação
acolhido pelo ICOM, e publicada pelo ICCROM, com tradução do Boletim da ABRACOR,
o qual diz que a “preservação é a ação empreendida para retardar ou prevenir a
deterioração ou os acidentes a que os bens culturais estão sujeitos. Pelo controle do
meio-ambiente e/ou o tratamento de sua estrutura ao máximo” (GARCEZ, 1992, p.1). No
entanto, o autor ressaltava que tais conceituações e nomenclaturas não eram de
aceitação unânime.
Garcez destaca também que optou na monografia pelo termo conservador na
acepção descrita durante o quarto Curso de Especialização em Conservação de Bens
Culturais Móveis: “que é aquela ligada à noção de que a esse profissional cabe
prioritariamente a preservação preventiva do bem em questão. Ficando atuação técnica
direta de conservação, só quando devidamente capacitado” (GARCEZ, 1992, 39). Na
figura (17), podemos observar o mapeamento do local de análise das obras em mármore,
incluído por Garcez em seu texto:

Figura 17 - Localização dos logradouros da


Regional Sé, com esculturas de mármore
(Garcez, 1992, s/p).
192

E nas figuras (18), (19) e (20), observamos a escultura Anhanguera, de autoria do


escultor italiano Luigi Brizzolara, inserida na Avenida Paulista em 1924. Segundo Garcez,
esta obra era um exemplo do comprometimento do mármore pela ação dos ácidos: “é
alarmante a perda de estrutura original, bem como a presença de mutilações, (sic)
provavelmente ensejadas pelo processo físico-químico do mármore de Carrara” (1992,
s/p). Registrou, ele, que a obra também apresentava diversas fissuras, além da pichação.

Figura 18 - Frisos em relevo do pedestal de Figura 19 - Imagem da Obra Anhanguera,


Anhanguera, destaque para o estado de destacando seu estado de conservação
conservação (Garcez, 1992, s/p). (Garcez, 1992, s/p).

Figura 20 - Destaque da pichação, que causou


danos à obra (Garcez, 1992, s/p.).

Finalizando a monografia, Garcez aponta algumas diretrizes no âmbito da


conservação, que poderiam ser aplicadas, sempre ressaltando a necessidade de serem
ações interdisciplinares.
193

4.3.5 - O vestido de baile usado por Dona Sara Kubitschek na posse do


Presidente JK, Regina Frazão.

O que motivou Frazão pela escolha do tema foi seu interesse pela Moda:

Eu sempre gostei de moda. “Anos Dourados” eu acho a coisa mais


fantástica do mundo. A Bossa Nova... foi uma junção de várias artes, que
era a música, o Cinema Novo... E a gente tinha o vestido da Sarah
Kubitschek aqui e abrangia têxtil, que era o que eu queria. Então eu
consegui juntar nessa minha monografia tudo o que eu gostava. E o
Museu que eu trabalhava (FRAZÃO, 2017).

Dessa forma, o trabalho de conclusão de Curso apresentado por Regina Mara


Capela Frazão190 teve como objetivo ser:

Uma dissertação sobre o vestido de baile usado por dona Sara


Kubitschek na posse do Presidente Juscelino, tendo como moldura a
segunda metade da década de cinquenta com enfoque para a moda e a
conservação do vestido acima citado (FRAZÃO, 1992, p.1).

O trabalho foi dividido em capítulos, além da introdução, abordou a era JK, o


acervo, a moda, têxteis, o bordado, peça escolhida, a conservação do vestido, conclusão,
bibliografia e anexo, no total de 80 páginas. Nos anexos destacam-se as fotos do vestido
e das condições físicas e ambientais da Reserva Técnica do Museu da República.
A monografia apresenta uma análise de como era feita a conservação do acervo
na reserva técnica do Museu da República: “Periodicamente é vistoriado e higienizado
pelos técnicos do setor, visando a conservação e integridade do mesmo” (FRAZÃO,
1992, p. 26). Ao abordar as condições físicas e ambientais da Reserva Técnica, a autora
destaca que o espaço era insuficiente para o acondicionamento das coleções. Assim,
ressalta que: “A coordenadoria de Obras do Museu vem elaborando projeto para
construção de um novo prédio para reserva técnica” (FRAZÃO, 1992, p. 28).
Na sequência, a autora apresenta a peça escolhida e destaca que o vestido faz
parte do acervo desde 1960, tendo ficado em exposição até 1983: “tendo recebido
iluminação natural e artificial direta e também poeira e poluição” (p. 68). Em seguida a
autora propõe um plano para conservação do vestido, que foi recolhido à reserva técnica.
Nas figuras (21) e (22) que seguem, são mostradas imagens do aspecto do vestido
apresentado pela autora na época:

190 Ver nota biográfica no anexo 1.


194

Figura 21 - Fotografia do vestido, Figura 22 - Fotografia do vestido,


destacando o estado de conservação destacando o estado de conservação
(FRAZÃO, 1992, anexo 13). (FRAZÃO, 1992, anexo 13).

Sobre o estado de conservação a autora salienta:

Esse vestido de apenas trinta e sete anos não tem nem condições de ser
manuseado pelos técnicos da Casa, devido ao acelerado processo de
decomposição de suas fibras e do descolamento de seus bordados, pois
cada vez que é manuseado, perde partes do bordado ou do tecido
(FRAZÃO, 1992, p. 75).

Nas considerações finais, a autora faz uma crítica à sua conservação, ressaltando
que:

Apesar de todo fluxo tecnológico começando no referido período e


permanecendo até hoje, constata-se, que bens culturais e históricos
como esse vestido, merecem pouca atenção ou quase nenhuma dos
detentores dessas tecnologias tão beneficiadas pelas iniciativas do
Presidente JK (FRAZÃO, 1992, p.74).

Neste caso, a autora buscou enfatizar os aspectos ligados à conservação


preventiva, destacando o ambiente no qual o objeto (vestido) estava inserido.
195

4.3.6- Relatório de um Projeto de Reforma para o Museu de Conservação e


Restauração da UFRJ, de Thais Slaibi.

A monografia apresentada por Thais Helena de Almeida Slaibi191 (1989) é


composta de 25 páginas manuscritas. A autora propôs como tema a criação de um
Museu de Conservação e Restauração para a UFRJ. O local escolhido para ser
implementado este Museu seria próximo à lavanderia da UFRJ, conforme podemos
observar na ilustração apresentada em seguida, figura (23):

Figura 23 - Reprodução do Mapa da Ilha do Fundão no


ano de 1989. Destacando a área estudada pela autora,
com a respectiva legenda (SLAIBI, 1989, p.5).

A proposta seria promover um estudo para adaptar e possibilitar transformar um


dos edifícios do Campus da UFRJ em Museu. Para essa finalidade, na monografia foram
abordadas questões gerenciais, como o estudo do ambiente e do entorno no qual o
prédio estava inserido. Assim descreve Thais Slaibi:

O conhecimento desses aspectos favorecerão o próprio projeto,


diminuindo seus custos, sua manutenção, aumentando sua segurança e
proporcionando uma conservação mais adequada aos objetos
destinados a este espaço, prolongando o tempo de vida destes, em
função dos fatores de deterioração (SLAIBI, 1989, p.3 ).

191 Ver nota biográfica no anexo B.


196

A autora, ao apresentar o mapeamento, dividiu em danos externos encontrados,


como o fato do local escolhido por ela para sediar o museu, ser próximo à marcenaria e à
lavanderia da UFRJ. “Localizada entre a lavanderia em questão, a marcenaria ainda traz
sérios riscos no que diz respeito ao acúmulo de pó, proveniente da transformação da
madeira em objetos” (SLAIBI 1989, p.7). Já a lavanderia, com uma grande proximidade
do edifício estudado, apresentaria também riscos devidos “a fumaça lançada pela sua
chaminé [que] contém poluentes responsáveis pela degradação dos materiais que
constituem o edifício, bem como o possível acervo” (SLAIBI 1989, p.7). Foram ainda,
considerados riscos quanto aos danos externos: o lixo deixado próximo ao edifício; a
Baía da Guanabara, pois a proximidade com o mar traria sérios problemas; e a Av. Brasil,
pela concentração elevada de poluentes do ar, conforme mostrado nas ilustrações
incluídas pela autora em seu texto figura (24), abaixo:

Figura 24 - Esquema de mapeamento dos


riscos de danos externos ao prédio (SLAIBI
1989, p.4).

Assim, o projeto do Museu, com a respectiva proposição de reforma, ocuparia o


segundo pavimento do edifício, transformando a área definida em uma sala de exposição
e uma reserva técnica, conforme podemos observar nas figuras (25 e 26).
197

Figura 25 - Planta desenhada pela autora, Figura 26 - Planta esquemática desenhada pela
demonstrando a área a ser modificada (SLAIBI autora, demonstrando como ficaria a área após as
1989, p.11). modificações propostas (SLAIBI 1989, p.12).

A autora apresentou possíveis soluções para cada um dos problemas elencados.


E, em seguida, abordou os problemas internos encontrados no edifício: “Relativos aos
danos quanto à impropriedade de alguns elementos, quando à segurança e à má
conservação para nova finalidade” (SLAIBI 1989, p.17). Entre as preocupações
levantadas pela autora, relacionadas à proteção e à conservação, destacamos: janelas
externas, iluminação, fiação, aparelho de ar-condicionado, móveis, calor, entre outros. A
autora apresentava detalhadamente qual seria a possível solução para as situações
relatadas. Ao analisarmos a monografia de Slaibi (1989), percebemos claramente a
influência das temáticas ligadas à conservação preventiva e preservação, onde uma das
premissas é justamente conhecer o local ou o edifício que abrigará o Museu, as coleções,
buscando principalmente mapear os danos sugerindo modificações.
198

4.4- Considerações sobre os egressos após formação:

Em função destas reflexões, ou seja, do que já observamos, elaboramos um


último item que tem relação com a atuação dos especialistas formados. Buscamos traçar
um paralelo entre o que o curso ofereceu aos alunos e o que os alunos produziram,
verificando a interface entre área de formação básica (graduação), o que foi ofertado no
curso e a produção teórica. Tudo isto tendo como referências algumas narrativas
apresentadas por egressos do curso em seus depoimentos.
É possível analisar efetivamente os impactos, através de um levantamento em
meio a lacunas? Qual metodologia se pode utilizar para analisar os impactos? Teríamos
como mensurar?
Podemos dizer que não existe neutralidade, nossas decisões são decisões muitas
vezes políticas, econômicas e sociais. Em outras palavras seria somente a influência do
curso na atuação desses profissionais ou o somatório de tudo: de suas vivências,
desejos, vida particular, crenças políticas, religiosas... E como mensurar nossas ações?
Como pode um palestrante saber o alcance de suas palestras? Dito em outras palavras,
será possível avaliar todos os impactos?
Atualmente, uma das formas de se avaliar os impactos sociais se dá sobre o
campo acadêmico pelo quantitativo e qualitativo das publicações de uma determinada
pessoa, pelo número de participação em bancas (de concurso e de formação), por cargos
públicos ocupados. No entanto, no campo da Conservação-Restauração, em uma área
teórico-prática, mas sem formação e pós-graduação consolidada no país e sem veículos
de difusão científica próprios ou especializados, como mensurar? Citamos, como
exemplo, a egressa Helen Rose Takahashi Ikeda192, da turma de 1991-1992. Antes de
cursar a especialização, já atuava na área de conservação em um museu. Na época
trabalhava em Conservação e Restauração de obras de arte em papel do Museu Lasar
Segall - São Paulo/SP. Desde então, atuou em várias instituições, conservando e
restaurando diversos acervos de grande importância para memória e o patrimônio. No
entanto, numa busca feita na Plataforma Lattes, não encontramos o currículo da Helen
Ikeda. Neste sentido, qual ferramenta ou metodologia podemos usar para definir ou não
se as atividades realizadas foram ou não relevantes? Qual a contribuição para o campo

192 Bacharel em História (FFLCH-USP, 1981), Especialização em Bens Culturais Móveis (Escola de Belas
Artes - UFRJ, 1991-1992), Especialização em Celulose e Papel (Pós-Graduação Lato Sensu, 2016), Curso
Técnico em Celulose e Papel (2004/ 2005). Atua na área de Conservação e Restauração de Documentos,
Livros e Obras de Arte em Papel desde 1983, tendo trabalhado em Instituições como Instituto de Pré-História
(USP 1981), Museu Paulista-USP (Museu do Ipiranga, 1985-1986), Museu de Arte Contemporânea (1989),
Fundação Bienal de São Paulo (1989-1990), Museu Lasar Segall (1988 - 1989). Atelier particular desde 1990,
Proprietária de MEI (Microempresa) desde 2011.
199

da cultura as obras restauradas por esta especialista causaram quando foram ou são
expostas? Ou quantas pesquisas foram realizadas tendo como fonte documentos
conservados e restaurador por Ikeda? Sobre seu aproveitamento no Curso, Helen
ressalta:

Superou todas as minhas expectativas, na época, de consolidar meus


conhecimentos na área da conservação e restauração de obras em
papel e de acervo museológico em geral. A estrutura básica desse curso
deve ser uma referência à estruturação dos cursos de formação
profissional na área, não somente pela eficácia dos métodos
pedagógicos adotados, como por possibilitar a vivência intensa na
interdisciplinaridade inerente aos estudos de acervos culturais
museológicos, particulares e institucionais (IKEDA, 2016).

Já, Fátima Bevilaqua Contursi, aluna da primeira turma, se tornou professora no


mesmo Curso logo após se formar. Ao mesmo tempo, trabalhava no Paço Imperial, onde
era servidora, pois considerava importante o contato com o “mundo real”:

Além da minha formação em museologia, eu trabalhava no Paço. Então


tem uma coisa interessante que é a realidade do trabalho. Para
despertar o aluno para prestar atenção no tema é preciso mostrar como
funciona na prática, no mundo real. Se você é conservadora, é uma
questão de prestar atenção no objeto, está atento. [...] observar durante
a exposição. Tem que saber não tanto fazer a intervenção porque é uma
questão de restauração, mas saber perceber o que está acontecendo. É
muito mais isso o trabalho do conservador... saber olhar e mitigar os
danos. (Contursi, 2017)

O fato de ter se tornado professora do Curso foi provavelmente um


reconhecimento de sua experiência prévia e de sua união da prática com a gestão de
coleções em uma instituição pública que, apesar de não ter acervo, estava
constantemente recebendo para exposição uma série de obras de arte de diferentes
partes e artistas, o que fazia com que esta expertise fosse aproveitada para vivência dos
próprios alunos.
Ao terminarem o Curso, alguns egressos sentiram a necessidade de continuar a
se especializarem na área, como o fez Mônica de Medina Coeli193, egressa do quarto
Curso, que logo após formada, em 1994, cursou a Especialização em Conservação e
Restauração de Pintura, coordenada pelo professor Edson Motta Júnior, na mesma
Escola de Belas Artes da UFRJ. Já Claudia Regina Nunes, Denise de Oliveira
Guiglemeti, Denise Regis Maya, May Christina Cunha Paiva, entre outros, foram
complementar seus estudos participando de outra especialização em conservação e

193Segundo depoimento do Professor Edson Motta Júnior em entrevista concedida à autora dessa tese.
(MOTTA JUNIOR, 2017).
200

restauração, agora no CECOR- UFMG. Ozana Hannesch foi se aprofundar na área de


papel em curso da ABER/SENAI, em São Paulo e em Taller para América Latina,
promovidos pelo ICCROM, no Chile.
Posteriormente, alguns especialistas foram atuar na área de conservação e
restauração como autônomos, seja com seu próprio atelier ou empresas de restauração,
como Helen Ikeda e Denise Oliveira Guiglemeti. Vários continuaram em instituições
públicas como servidores: Regina Capela (Museu da República), Ozana (Museu de
Astronomia e Ciências Afins - MAST), Fátima Bevilaqua Contursi e Claudia Nunes
(servidoras do IPHAN). Outros seguiram carreira acadêmica, como Alejandra Saladino e
May Christina Cunha Paiva (professoras da UNIRIO). Em ambos os casos, continuaram
passando informação e contribuindo para novas gerações de conservadores, seja
ministrando Cursos e/ou treinando estagiários. Ainda sobre o curso e a formação, nas
opiniões de Contursi (2017), Nunes (2017), Frazão (2017) e Ikeda (2016):
Contribuiu muito. Eu acho uma pena ele ter acabado. Porque quando eu
fiz, havia especialistas de cada área, pessoas com grande experiência e
reconhecimento dos seus trabalhos. Foi muito importante sim e até hoje
é importante porque ampliou muito o meu conhecimento para atuar na
área. Eu costumo dizer que quem trabalha com patrimônio, de qualquer
época, é imprescindível que treine o olhar para reconhecer problemas.
Outro dia eu precisei fazer o diagnóstico de quatro obras do Portinari que
seriam emprestadas para o MAC de São Paulo e eu pude fazer essa
análise baseada em todo conhecimento que eu adquiri no curso
(CONTURSI, 2017).

Foi um curso muito bom que me deu uma base muito boa quando, logo
depois, eu consegui uma bolsa para estudar nos Estados Unidos. Foi o
primeiro curso de referência de acesso para quem queria ingressar na
área da Conservação. E desse curso saíram excelentes profissionais.
Uns foram para o CECOR, eu fui fazer o mestrado em Nova Iorque... E a
metodologia e o conteúdo do curso foram muito importantes. Quando eu
estudei nos Estados Unidos eu tinha um conhecimento sobre
Conservação que os meus colegas de turma não tinham e foi esse curso
que me deu toda essa base (NUNES, 2017).

Um legado que o Curso tenha deixado? O legado? Eu respondo pelo


Laboratório de Conservação do Museu da República. E eu tenho uma
meta aqui, que eu acho que é utópica, que é ser a única reserva técnica
que o acervo esteja todo pronto para sair em exposição. Eu acho que é
utopia, mas eu já consegui algumas prateleiras de acervo prontas
(FRAZÃO, 2017).

Alavancou minha carreira profissional, abrindo portas de Instituições


Técnicas (SENAI SP e PR), e Acadêmicas (cursos de pós-graduação em
Museologia, MAE-USP, Instituto de Química-IQ USP, Instituto de Física-
USP). Proporcionou a consolidação de meu conhecimento na área de
obras em papel, estimulou e possibilitou desenvolver pesquisas
científicas, elaboração de projetos de pesquisa e desenvolvimento de
produtos (pedido de patente INPI Abril 2016, em andamento) (IKEDA,
2016).
201

Já Paiva (2017), Faria (2017) e Saladino (2017) destacam a formação voltada à


conservação:

Considero que foi válido para minha formação. É claro que ninguém
sairia dali preparado para o mercado de trabalho. Até porque, como eu
falei, ele era mais conceitual, teórico do que prático. [...] E também a
parte de fotografia, que eu nunca tinha visto, a parte de papel, coisas
que eu nunca havia visto. A parte teórica de todas elas foi muito
interessante. Eu acho que só somou ao meu conhecimento. Como eu
falei, eu não iria sair para o mercado de trabalho, mas essa também não
era a proposta do curso. Em seis meses, que na realidade não chegam a
ser seis meses o semestre, não capacita nenhum profissional em área
nenhuma para o mercado de trabalho (PAIVA, 2017).

Foi importante para perceber como proceder relativamente a meios,


materiais e procedimentos corretos relativos à conservação de bens
culturais móveis (FARIA, 2017).

Os princípios e os fundamentos eu guardei. Na verdade, se consolidou o


que a gente aprende na Museologia com o que foi passado na
Conservação. A Conservação é algo muito complexo porque é
multidisciplinar. [...] Fora isso a necessidade de estar sempre up to date,
se atualizando (SALADINO, 2017).

Em entrevista, Hannesch (2017) pontua o quanto foi importante aprender a


diferença de conservar para preservar e qual seria o papel a ser desempenhado pelos
museólogos, bibliotecários e arquivistas:

Naquela época o Curso me mostrou essa diferença: conservávamos


para preservar; o arquivista, o bibliotecário, o museólogo conservam
para preservar. Eles trabalhavam na preservação. Minha capacidade de
enxergar isso foi muito alcançada pelo Curso. Qual seria o papel de cada
um na gestão dessa preservação? Então, o restaurador teria um papel
mais especializado. O conservador ele teria um papel mais de gestão,
mas uma gestão também especializada porque demanda um
conhecimento específico. E os atores, os gestores de acervo, eles teriam
um papel também na preservação dos acervos, dentro de suas próprias
áreas (HANNESCH, 2017).

Atualmente, Ozana Hannesch, atua tanto na área técnica (no laboratório de


Conservação e Restauração de Papel – LAPEL) do Museu de Astronomia e Ciências
Afins (MAST) quanto na área acadêmica, enquanto Prof.ª convidada do Programa de
Pós-Graduação em Preservação de Acervos de Ciência e Tecnologia Mestrado
Profissional (PPACT-MAST), tendo ainda sido Prof.ª em cursos de graduação de
Arquivologia e de Biblioteconomia, entre os anos de 2005 e 2007, na Universidade
Federal Fluminense.
202

Uma parte que merece destaque na pesquisa desta tese é a relação entre os
egressos do Curso com a ABRACOR. Aqui, retornaremos ao pensamento de Bourdieu
(2004) em relação ao campo científico, já trabalhado no capítulo 1 desta tese. É certo que
a Prof.ª Marylka Mendes detinha o poder político, institucionalizado, ao ocupar o cargo de
coordenadora, aliado também ao prestígio pessoal. Dessa forma, ao convidar os alunos a
fazerem parte da ABRACOR, busca o fortalecimento de um campo do saber, contribuindo
para sua autonomia. Bourdieu considera que é difícil e demorado aos que estão se
inserindo ou se firmando no campo científico:

[...] Somente por um longo e lento trabalho de formação, ou melhor, de


colaboração, que leva muito tempo; e mesmo se ele pode também, como
todos os detentores de capital simbólico “consagrar” os pesquisadores,
formados ou não por eles, fazendo sua reputação, assinado com eles,
publicando-os, recomendando-os para as instâncias de consagração etc.
(BOURDIEU, 2004, p.36-37).

Para focarmos no papel da ABRACOR, analisaremos os depoimentos coletados


através das entrevistas realizadas, bem como apresentaremos o levantamento feito nos
primeiros anais e boletins, da instituição supracitada, e nos artigos publicados por
egressos (de autoria própria ou compartilhados). Segundo Hannesch (2017) e Guiglemeti
(2017), assim se deram suas aproximações com a ABRACOR:

Quando começamos a ter aula no ateliê da Marylka, a ABRACOR


também era nesse mesmo espaço. Passamos a conviver com as
pessoas que eram da ABRACOR e isso nos motivou a fazer parte desse
grupo, que eram os profissionais que faziam parte da conservação-
restauração no Brasil, e que tinham se organizado dentro de uma
Associação, dez anos antes. Isso fez com que pudéssemos não só
buscar informação, porque essas pessoas eram os profissionais que
estavam atuando no Rio de Janeiro, como também ficarmos atualizados
com as discussões realizadas nos congressos dentro da área, e com a
bibliografia. Por isso que teve interesse da maior parte dos alunos de se
filiarem. Quando concluí o Curso fui participar da diretoria da ABRACOR,
juntamente com outras pessoas dos Cursos anteriores e com alguns
professores, a convite da Marylka (HANNESCH, 2017).

Eu me interessei pela ABRACOR por conta de eu ter vivido todo esse


processo dentro do ateliê da Marylka. E foi um período em que o Antônio
Carlos, a Marylka e o Sérgio Burgi estavam bastante atuantes. Eu me
associei logo após a conclusão do curso de especialização porque o
Antônio Carlos disse que logo que nós obtivéssemos uma titulação já
ingressássemos numa associação de classe, de conservadores-
restauradores. Então, a partir dali eu me associei à ABRACOR e fiquei
no ateliê da Marylka durante um ano. Em 1990 eu fui para o CECOR,
onde o curso de especialização durava dois anos e abrangia pintura de
cavalete e escultura em madeira policromada. Quando eu concluí o
curso, em 1992, eu apresentei a minha monografia num seminário da
203

ABRACOR que aconteceu na Caixa Cultural. E foi aí que a Marylka me


convidou a fazer parte da diretoria, ocupando o cargo de tesoureira, que
até então era dela. Eu disse que ainda estava em Minas e a Marylka
disse que não tinha problema porque a Cláudia, que seria a presidente,
estava nos Estados Unidos e então quando ela voltasse nós
assumiríamos. E assim aconteceu. Eu entrei para a diretoria da
ABRACOR logo que concluí o curso do CECOR. O grupo era Thaís,
Cleide Messi, Sandra Baruki, Solange Zuñiga, como vice, Cláudia Nunes
presidente, Thaís Almeida e Ozana Hannesch (GUIGLEMETI, 2017).

Como pudemos observar nos depoimentos, as duas formas de participar


atenderam ao pedido e chamado da Prof.ª Marylka (HANNESCH, 2017) e (GUIGLEMETI,
2017). Sendo que Guiglemeti foi “aceita” ou convidada a fazer parte do grupo, após
apresentar trabalho no seminário. Fato que contribuiu para sua afirmação enquanto
conservadora-restauradora, uma vez que já era filiada desde que se formou.
Nesse sentido, o depoimento de Slaibi, reforça a relação entre a sala de aula e a
associação:

Nós tivemos aula também no ateliê da Marylka, nós estivemos lá na


Marylka e a ABRACOR funcionava dentro do ateliê da Marylka, ficou lá
por mais de 10 anos. E aí, com esse envolvimento da gente na área da
conservação, se inscrever e se associar à ABRACOR foi um pulo. Então
acho que todos nós ali saímos da sala de aula para nos inscrever na
ABRACOR. E então se criou esse grupo que saíram todos com a
especialização e já associados à ABRACOR (SLAIBI, 2017).

Já Claudia Regina Nunes (2017), em entrevista, assim relata como entrou para
ABRACOR:

Quando eu voltei dos Estados Unidos. A minha chapa era formada


basicamente por alunos que fizeram o curso. Numa vinda ao Brasil,
durante o mestrado, eu fui visitar o ateliê da Marylka e ela me disse que
a ABRACOR estava abandonada, que ninguém queria assumir a
diretoria e perguntou se eu gostaria de assumir. Eu disse que não
poderia porque estava cursando o mestrado nos Estados Unidos. Ela
disse que ela montaria a chapa e que quando eu chegasse, eu assumiria
o cargo. E aí eu aceitei e ela montou a chapa, mas eu só conhecia a
Denise, que tinha estudado comigo. Aí a gente começou a trabalhar.
Fizemos o 1º Congresso Internacional, que foi em Petrópolis, mas nós
tínhamos apenas R$120,00 em caixa. A Solange Zuñiga, que era vice-
presidente, dizia que nós seríamos presas quando acabasse o evento
(risos). Nós fizemos em Petrópolis porque conseguimos apoio da
Universidade Católica. Nós também abrimos a ABRACOR para a filiação
de estudantes, o que não era possível (NUNES, 2017).

E relata a relação de conflito quando sugeriu a mudança da sede da ABRACOR,


que até então funcionava no atelier da Marylka, para outro local, buscando autonomia:
204

O jornal da ABRACOR era impresso com ajuda de um amigo que fazia


parte de um sindicato, e eu ia lá na sede fazer a impressão. A sala da
ABRACOR ficava no ateliê da Marylka, o que causava vários
empecilhos. Nós fizemos um projeto para a Fundação VITAE, solicitando
computadores e impressora, a Fundação VITAE nos agraciou, mas disse
que nós precisaríamos ter uma sede própria. Então nós nos juntamos a
ABM, Associação Brasileira de Museologia, porque eles tinham uma
sede própria, mas não estavam conseguindo pagar todas as despesas
(NUNES, 2017).

Dessa forma, a ABRACOR acabou por dividir espaço com a ABM, conforme já
relatamos no capítulo 2. Outra forma de se compreender a relação entre os egressos
com a ABRACOR é analisando os artigos publicados nos Anais e Boletins da ABRACOR.
Como apresentaremos no levantamento feito nos primeiros anais e boletins da
ABRACOR, nos artigos publicados por egressos (de autoria própria ou compartilhados).
Conforme podemos observar no anexo C, entre os anos de 1988 a 1998 foram
publicados 26 artigos. Dentre esses artigos, 25 foram sobre atividades teórico-práticas,
metodologia ou resultados de pesquisas sobre conservação e restauração. Encontramos
um artigo sobre a formação do conservador. Já nos Boletins da ABRACOR, entre 1996 a
1998, encontramos quatro artigos, sendo três resultados das atividades de conservação-
restauração e um sobre formação do conservador194.
Assim, podemos dizer que o curso de Especialização em Conservação de Bens
Culturais Móveis alcançou seu objetivo ao formar profissionais com a consciência de que
era preciso contribuir para consolidação do campo da Conservação, pois: “qualquer que
seja o campo, ele é objeto de luta tanto em sua representação quanto em sua realidade”.
(BOURDIEU, 2004, p.28-29). Uma luta da qual participam os vários agentes sociais
tantos internos, quanto externos ao campo. O perfil dos egressos, portanto, foi decisivo
para atender às expectativas do Curso.
Mais do que formar e diplomar, podemos observar que a Prof.ª Marylka, bem
como os outros professores, quase todos integrantes da ABRACOR, buscavam passar
para os estudantes uma ideia de sentimento de classe, de identidade. Na qual eles
poderiam e deveriam defender, seja através de suas filiações, publicações ou
compartilhando os conhecimentos adquiridos.

194 Uma parte do levantamento sobre os artigos com a temática “documentos gráficos em papel”, nos foi
fornecida pela pesquisadora Ana Carolina Neves Miranda. A pesquisadora fez um levantamento sobre os
artigos publicados pela ABRACOR com a temática conservação-restauração de papel, no âmbito do projeto
de pesquisa; “Identificação da terminologia aplicada ao diagnóstico do estado de conservação e às propostas
de tratamento de documentos gráficos em papel”, coordenado por de Antônio Carlos Augusto Costa e Ozana
Hanesch, do Laboratório de Conservação de Papel - LAPEL do Museu de Astronomia e Ciências Afins-
(MAST).
205

CONSIDERAÇÕES FINAIS
206

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa tese abordou a trajetória do primeiro Curso de Especialização em


Conservação de Bens Culturais Móveis no Brasil e suas contribuições para a
preservação do patrimônio cultural nacional e para a institucionalização do campo da
conservação no Brasil. Tomamos por embasamento teórico a análise micro-histórica
como campo de observação para a percepção da temática abordada e as reflexões do
sociólogo francês Pierre Bourdieu sobre campo científico, considerações fundamentais
para as discussões em torno da ideia da Museologia e da Conservação como campos
disciplinares. Nesse sentido, foi possível investigar a inter-relação entre o pensamento
museológico e os conceitos de conservação, compreendendo a importância da
interdisciplinaridade e as categorias em comum entre os dois campos, além de suas
singularidades. Baseamo-nos em uma análise qualitativa. Utilizamos, dentre os
procedimentos metodológicos, como a análise de documentos arquivísticos, as
entrevistas. Assim, realizamos alguns encontros com atores sociais participantes desse
processo, envolvendo aspectos desde a criação do curso, até sua implantação e seu
encerramento os quais permitiram compreender os ditos e interditos no transcurso do
mesmo. Essas narrativas tornaram-se elementos cruciais da pesquisa, a partir do
momento em que complementaram informações antes parciais e também abriram
lacunas que despertaram novas possibilidades de interpretação.
Com base no levantamento e análise de todas as informações obtidas foi possível
localizar a origem da inserção da Conservação-Restauração como conteúdo disciplinar
no momento em que ocorreu a formação da grade do Curso de Museus em 1932. A partir
das décadas de 1960 e 1970, no Curso de Museologia – denominação assumida pelo
antigo Curso de Museus quando se transferiu para a Universidade Federal do Estado do
Rio de Janeiro (a UNIRIO) em 1977 – os conteúdos de Preservação-Conservação foram
inseridos em disciplinas com ênfase na Conservação Preventiva, conceito que constituiu
a tônica das discussões preservacionistas na década de 1980, como anteriormente
observado.
Por outro lado, analisamos ainda alguns aspectos das políticas públicas culturais
brasileiras. Entendemos que o apoio internacional e a ação dos diversos envolvidos, que
atuaram, quase que simultaneamente, nessas diversas instâncias, contribuíram para a
criação do Curso de Especialização em Conservação de Bens Culturais Móveis da
Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (a UFRJ) em 1989. Da
mesma forma, influenciaram tal criação a formação de seu corpo docente, a reforma de
1968 e a institucionalização da pós-graduação no Brasil. Conseguimos apontar qual era o
207

espaço que a Conservação-Restauração ocupava na Pós-Graduação da Escola de Belas


Artes da UFRJ nas décadas de 1980 e 1990. Ao analisarmos as disciplinas ofertadas
pelo Curso de Especialização em Conservação de Bens Culturais Móveis, suas ementas,
conteúdo programático e bibliografia, percebemos que o Curso tinha um interesse voltado
para a Preservação e a Conservação de forma interdisciplinar. Assim, o interesse era
predominantemente compartilhar como eram os processos de conservação dos bens
patrimoniais, através de demonstrações nos ateliês de Conservação-Restauração e/ou
em visitas técnicas às instituições relacionadas com as áreas. Sem deixar, contudo, de
estar em consonância com o que já era praticado em termos de formação de
especialistas para o campo em questão – o que se evidencia nas participações de
palestrantes das diversas áreas presentes no Curso, inclusive profissionais estrangeiros.
Embora reconhecido e institucionalizado pela Universidade, essa não lhe conferiu
o apoio necessário, como espaço físico satisfatório ou mesmo a criação do desejado
Laboratório Nacional de Restauração. Percebemos a partir dos depoimentos dos
docentes e egressos do Curso que embora tivessem sofrido com as condições
inadequadas, o conteúdo ministrado foi satisfatório. Isso deveu-se em grande medida,
segundo os depoimentos coletados, ao esforço da coordenadora e do próprio corpo
docente, ambos considerados, como atuantes e capacitados.
Destacamos o apoio imprescindível ao Curso por parte do Museu Histórico
Nacional (MHN), cedendo o espaço físico para aulas (salas), através da professora Ecyla
Castanheira Brandão, então diretora desse museu. O Museu Histórico Nacional sempre
esteve envolvido na questão da preservação, pois foi nessa mesma instituição que foi
criado em 1932 o Curso de Museus, que formava os Conservadores de Museus
(denominação atribuída aos museólogos da época). Além do Museu Histórico Nacional,
outras instituições foram de fundamental apoio à iniciativa do curso, como o Instituto de
Fotografia da Fundação Nacional de Artes (INFoto/FUNARTE), a Biblioteca Nacional
(BN), a Casa de Rui Barbosa (FCRB), entre outras.
Alicerçados na análise do perfil dos egressos, é possível perceber que muitos já
atuavam na área do patrimônio, tendo assim oportunidade de se aperfeiçoarem. Nas
monografias às quais tivemos acesso as temáticas escolhidas refletem o objetivo do
Curso: formar especialistas em Conservação. Outro legado importante foi a criação e
fundação da Associação Brasileira dos Conservadores e Restauradores (ABRACOR), a
primeira associação no país com a finalidade de agregar os profissionais da área. A
concretização dessa associação pode ser entendida como um dos resultados do debate
em torno das políticas públicas culturais fomentadas nesse ambiente.
208

Na década de 1990 observamos que a falta de apoio do Estado, a omissão na


elaboração de políticas públicas, bem como a introdução de um período neoliberal,
configuraram um cenário em que o estado do Rio de Janeiro, que até a década de 1980
era considerado o epicentro da Conservação-Restauração no Brasil, não mais consegue
implantar ou manter cursos de pós-graduação no âmbito da Conservação. É sabido que a
pós-graduação contribui no processo de consolidação de um campo disciplinar, uma vez
que impulsiona trabalhos de reflexão teórica para este mesmo campo. E, portanto,
compreendemos que o espaço deixado pelo encerramento do curso representou uma
grande perda deixando uma lacuna.
Nesse sentido, destacamos o papel da professora Marylka Mendes como uma
intelectual que fez um grande esforço para que o curso acontecesse. Uma peculiaridade
notória é o fato de seu empenho ser frequentemente confundido com uma “questão
pessoal”. Diante de um difícil elemento estrutural da política de educação que é o não
investimento consistente nesta área, com a ausência do financiamento pelo Estado, essa
professora começou a atuar muito através de suas articulações e conhecimentos para
poder dar conta de viabilizar e sustentar a existência deste curso, fazendo uso do seu
prestígio pessoal e temporal (ou político), enquanto ocupante do cargo de coordenadora.

Marylka Mendes publicou um artigo no Boletim da ABRACOR, em 1988, falando


com satisfação sobre a criação de Cursos de Pós-graduação na EBA, no campo da
conservação e da restauração, incluindo a especialização da qual foi coordenadora. No
entanto, após quase oito anos, em 1996, publica um outro artigo intitulado: Formação
Profissional de Conservadores-Restauradores de Bens Culturais: realidade ou utopia?
Esse artigo deriva justamente de suas conclusões e constatação sobre a baixa dotação
de recursos humanos e financeiros públicos dirigidos às atividades de preservação de
bens nas três esferas administrativas públicas - federal, estadual e municipal. Ela perde o
tom de esperança percebido no artigo de 1988, trocando-o por um quase que pessimista
em relação a todo o trabalho realizado, frente a não valorização efetiva por parte do
Estado e sua via política de educação, mais precisamente da universidade.
O trabalho do Museólogo e do Conservador, entre outros profissionais, não é uma
atividade neutra, mas, pelo caráter científico, pode passar a ideia de neutralidade. Ao
contrário, é uma atividade permeada de conflitos, tensões, contradições e intenções dos
sujeitos que realizam e operam esse trabalho, pois, qualquer que seja o campo, ele é
objeto de luta. No caso desta tese, são os sujeitos acadêmicos, intelectuais que estão na
área e que têm opiniões divergentes e até mesmo colidentes por diversos motivos e
209

causas. Dessa forma, o capital humano está para além da questão material. Assim,
temos o sujeito social e histórico, que possui determinadas pretensões.
A riqueza da trajetória histórica deste curso é uma história que está sendo
organizada e sistematizada de forma inédita. Em síntese, podemos dizer que a
experiência de pensar o que existe de importante nessa história pode vir a suscitar novas
pesquisas e debates. Sobretudo o período estudado na UFRJ, onde ocorreu outro Curso
de Especialização em Restauração de Obras de Arte entre 1992 e 1994, baseado no
modelo do Curso de conservação do Courtauld Institute of Art, coordenado pelo prof.
Edson Motta Júnior.

Entre a realidade e a utopia, tivemos egressos do Curso que foram atuar na área,
seja na Conservação-Restauração na prática, na academia, na pesquisa ou/e na luta
para o reconhecimento profissional. Das utopias sobrou o irrealizável, a ilusão do que
poderia ter se tornado um dos momentos cruciais para que o Rio de Janeiro se
mantivesse em evidência no campo da Conservação e da Conservação Preventiva. Não
podemos esquecer que tínhamos já aqui um Curso de Museologia, com disciplinas de
Preservação e de Conservação Preventiva. Além da Escola de Belas, a antiga capital
federal concentrava outras grandes instituições de relevância para o florescimento do
campo, como: museus, arquivos e bibliotecas alguns com seus próprios laboratórios de
conservação-restauração.
Atualmente, posta a complexa conjuntura nacional e internacional, estamos diante
de um grande desafio que indica caminhos com muitas perdas e retrocessos, não só
nesta área, mas em diversas áreas. Contudo, também, como a história está aberta,
podemos ter outros caminhos, contornos e possibilidades mais favoráveis ao cenário da
educação.
210

REFERÊNCIAS
211

REFERÊNCIAS

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ARQUIVOS CONSULTADOS:

Arquivo Histórico do Museu D. João VI da Universidade Federal do Rio de Janeiro


(UFRJ)

Anteprojeto para Criação do Centro ou Instituto Nacional do Restauro. Desenho da


fachada do prédio e planta do primeiro pavimento. 1987. Acervo Marylka Mendes.

Anteprojeto para Criação do Centro ou Instituto Nacional do Restauro. Planta do segundo


pavimento. 1987. Acervo Marylka Mendes.
231

Carta da Associação de Apoio à Cultura, Educação e Promoção Social - VITAE à Marylka


Mendes. Projeto B-20820/3B002 - Curso de Conservação de Bens Culturais Móveis. São
Paulo, 7 de junho de 1994. Acervo Marylka Mendes.

Carta de Marylka Mendes a Sylvio Mutal. 5 de setembro de 1989. Arquivo do Museu D.


João VI. Acervo Marylka Mendes.

Carta de Marylka Mendes à diretora do Museu Histórico Nacional Vera Tostes. Rio de
Janeiro 16 de setembro de 1994. Arquivo do Museu D. João VI, Acervo Marylka Mendes.

Carta de Marylka Mendes encaminhada à Lygia de Carvalho Pape. 11 de outubro de


1989. Acervo Marylka Mendes.

Cronograma de Desenvolvimento do Quarto Curso de Especialização em Conservação


de Bens Culturais Móveis. Dezembro de 1992. Realizado por Marylka Mendes. Acervo
Marylka Mendes.

Cronograma de Desenvolvimento do Quinto Curso de Especialização em Conservação


de Bens Culturais Móveis, 1994. Realizado por Marylka Mendes. Acervo Marylka
Mendes.

Cronograma de Desenvolvimento do Sexto Curso de Especialização em Conservação de


Bens Culturais Móveis, 1996. Realizado por Antonio Carlos Nunes Batista Acervo
Marylka Mendes.

Documento: Convênio de Cooperação e Intercambio Técnico Científico, Cultural e


Pedagógico. Entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ e o Instituto Brasileiro
do Patrimônio Cultural (IBCP) - Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro 17 de dezembro
de 1991. Acervo Marylka Mendes.

Documento elaborado por Antonio Carlos Nunes Batista enviado à Coordenação Geral da
Pós-graduação da EBA solicitando abertura do 6º Curso. Acervo Marylka Mendes.

Documentos: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento-UNESCO/PNUD.


Conservação de Bens Culturais no Brasil - Comitê de Consultores. 1988. Acervo Marylka
Mendes.

Documentos: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento-UNESCO/PNUD.


Conservação de Bens Culturais no Brasil-Comissão Nacional de Ensino e Pesquisa em
Conservação. 1988. Acervo Marylka Mendes.

Relatório Final de Atividades do Primeiro Curso de Especialização em Conservação de


Bens Culturais Móveis. Julho de 1989. Realizado por Marylka Mendes. Acervo Marylka
Mendes.

Relatório Final de Atividades do Segundo Curso de Especialização em Conservação de


Bens Culturais Móveis. Janeiro de 1990. Realizado por Marylka Mendes. Acervo Marylka
Mendes.

Relatório Final de Atividades do Terceiro Curso de Especialização em Conservação de


Bens Culturais Móveis. Janeiro de 1992. Realizado por Marylka Mendes. Acervo Marylka
Mendes.
232

Livro de Registro das Atas da Congregação da Escola de Belas Artes ocorridas no


período de 1994-1996. Localização: M:03 P:05 C:314.

Listagem Bibliográfica da Biblioteca Particular da Profª Marylka Mendes. 1994. Acervo


Marylka Mendes.

Memorando s/nº de Marylka Mendes ao Diretor da Escola de Belas Artes. Autorização de


oferecimento do 4º Curso de Especialização em Conservação de Bens Culturais Móveis.
01º de abril, de 1992. Acervo Marylka Mendes.

Ofício nº061/96 enviado por Vera Lucia Bottrel Tostes a Antonio Carlos Nunes Batista.
Confirmação para realização do Curso de Especialização no MHN. Rio de Janeiro
fevereiro de 1996. Acervo Marylka Mendes.

Ofício nº183/88 - Enviado pela coordenadora do Curso de Conservação em Bens


Culturais Móveis, Marylka Mendes ao Professor Almir Paredes Cunha, Diretor da Pós-
Graduação da EBA. 1988. Acervo Marylka Mendes.

Arquivo Permanente da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. Divisão de


Gestão da Documentação e da Informação - DGDI

Documento: Criação do Curso (0672-6) Doc: 000070/1989 e Doc: 00000/1988.


Documento: Projeto de Pesquisa Docente (0693-9) Doc: 000312/1991 nº
23079.027133/1991-26.

Documento: Anteprojeto/criação do Centro ou Instituto Nacional de Restauro da UFRJ


(0146-5) Doc:0000070/1987. Número: 23079.016787/1987-84.
233

ANEXOS
234

ANEXO A
235

ANEXO A – Figura 1
Setores do laboratório

Fonte: Arquivo Central da UFRJ (DGDI). Anteprojeto/criação do Centro ou Instituto Nacional de Restauro da
UFRJ (0146-5) Doc:0000070/1987.Número: 23079.016787/1987-84. Página 9.
236

ANEXO A – Figura 2

Organograma

Fonte: Arquivo Central da UFRJ (DGDI). Anteprojeto/criação do Centro ou Instituto Nacional de Restauro da
UFRJ (0146-5) Doc.: 0000070/1987.Número: 23079.016787/1987-84. Página 5.
237

ANEXO A – Figura 3

Ofício ao Ministro da Cultura

Fonte: Arquivo Central da UFRJ (DGDI). Anteprojeto/criação do Centro ou Instituto Nacional de Restauro da
UFRJ (0146-5) Doc.:0000070/1987.Número: 23079.016787/1987-84. Página 1
238

ANEXO A – Figura 4
Desenho da fachada do prédio e planta do primeiro pavimento

Fonte: Anteprojeto para criação do Centro ou Instituto Nacional do Restauro. Desenho da fachada do prédio e
planta do primeiro pavimento.1987. Arquivo do Museu D. João VI. Acervo Marylka Mendes.
239

ANEXO A – Figura 5
Planta do segundo pavimento

Fonte: Anteprojeto para Criação do Centro ou Instituto Nacional do Restauro. Planta segundo pavimento,
1987. Arquivo do Museu D. João VI. Acervo Marylka Mendes.
240

ANEXO A – Figura 6
Carta enviada pela Diretora do Museu ao coordenador Antonio Carlos Nunes Baptista
confirmando que o Sexto Curso poderia ser realizado no MHN.

Fonte: Arquivo do Museu D. João VI. Acervo Marylka Mendes.


241

ANEXO B

Lista dos Alunos


242

ANEXO B

Lista dos Alunos

Primeira Turma

Nome Lattes Naturalidade Observações


Ana Cristina Nenhum Curitiba, PR Cursou Especialização em Conservação Restauração na
Thomé resultado foi Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG. Atuou como
encontrado Restauradora autônoma.
Data da busca:
13/03/2017
Bety Nenhum União da Vitória, Foi Chefe da Divisão de Preservação da Biblioteca Pública
Terezinha resultado foi PR do Paraná. Atuou como Assistente de Restauração do
Brykcnski encontrado Centro de Conservação e Restauração da Secretária de
Data da busca: Estado da Cultura e do Esporte do Estado do Paraná-
13/03/2017 CCR/SECE, nas décadas de 1980 e 1990.
Carlos Manuel Nenhum Rio de Janeiro Formado em Arquitetura. Atualmente é arquiteto da
Silveira da resultado foi Prefeitura do Rio de Janeiro.
Silva encontrado
Data da busca:
13/03/2017
Claudia Nenhum Petrópolis, RJ É especialista em conservação e restauração de patrimônios
Regina Nunes resultado foi históricos e artísticos. Bacharel em Pintura pela Escola de
encontrado Belas Artes (UFRJ), Pós-Graduação em Conservação de
Data da busca: Bens Culturais Móveis pela Escola de Belas Artes (UFRJ), é
13/03/2017 Mestre em Museum Studies: Textiles and Costume
Conservation pelo The Fashion Institute/State University of
New York. Trabalhou três anos no The Metropolitan Museum
of Art, onde ganhou duas Fellowsiphs (Graduate Student -
1990 e The Polaire Weissman – The Costurme Institute -
1992) e por último foi Assistent Conservator no Upholstery
Lab/Objects Conservation Department - 1993), além de
ter trabalhado no Museum of American Folk Art/NY,
ATTATA Foundation/New York, e Merchant´s House/New
York. Participou de cursos de Mesa Térmica no Smithsonian
Institute e Adesivos aplicados na Restauração no Canadian
Conservation Institute e de cursos de especialização de
Conservação de Têxteis organizados pela OEA e estagiou
na Fundação Casa de Rui Barbosa no LACRE. Foi
Presidente da ABRACOR no Biênio 92-94, Chefe do
Laboratório de Conservação e Restauração do Museu
Imperial, o qual projetou e onde desenvolveu importantes
projetos tais como: Desinfestação de Obras de Arte com
Atmosferas Anóxicas (patrocínio CNPq, White Martins e
Viscase) 1993-2000. Trabalhou no Museu Nacional de Belas
Artes no Lab. de Restauração de Pinturas, na Restauração
de Molduras e foi Chefe de Gabinete (2000-2004).
Atualmente, é Conservadora e Restauradora da
Superintendência do IPHAN-RJ, atuando na área de Bens
Móveis e Integrados sendo responsável pela orientação e
fiscalização das restaurações artísticas, bem como análise
de projetos. É também doutoranda do Curso de
Doutoramento em Bens Culturais móveis da Universidade
Católica do Porto, Portugal (2014/2018).

Denise Nenhum Rio de Janeiro Possui Graduação em Pintura Escola de Belas Artes da
Oliveira resultado foi Universidade Federal do Rio de Janeiro (1998).
Guiglemeti encontrado Especialização em Conservação de Bens Móveis pela
Data da busca: Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de
13/03/2017 Janeiro (1989). Especialização em Conservação e
243

Restauração de Pinturas de Cavalete e Esculturas pela


Escola de Belas Artes /CECOR da Universidade Federal de
Minas Gerais (1992). Atuação profissional: Atelier de
Restauração Marylka Mendes (1989 a 1990); conservação e
restauração de acervos das Instituições e/ou empresas:
Museu da República - RJ; Instituto Benjamim Constant Rio
de Janeiro - RJ; Museu Nacional de Belas Artes; Museu de
Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM - RJ; Coleção do
Consulado Geral da Itália; Coleção Roberto Marinho - CRM;
Museu de Arte do Rio de Janeiro. Entre outras instituições.
Foi: Membro da Diretoria da ABRACOR, nos períodos: 2015-
2017, 2013-2015, 2011-2013, 2009-2011, 2002 – 2003, 2000
– 2002, 1997 – 1998, 1995 – 1996 e 1992 –1994.Foi
Membro do Centro de Estudos de Imaginária Brasileira –
CEIB Período: 2000 – 2007

Deolinda Nenhum Rio de Janeiro Possui graduação em Pintura pela Escola de Belas Artes da
Conceição resultado foi UFRJ (1985). Especialista em Conservação de Bens
Taveira encontrado Culturais Móveis (1989) e em Gestão do Patrimônio Cultural
Moreira Data da busca: Integrado ao Planejamento Urbano da América Latina pelo
13/03/2017 ITUC, AL. Cátedra da UNESCO. Foi no período de 2011 a
2014 superintendente de Patrimônio Histórico e Artístico da
Secretaria de Estado da Cultura de Goiás. Tem experiência
na área de Artes, com ênfase em Conservação de Bens
Culturais Móveis, e na Gestão.
Eduardo Nenhum Petrópolis, RJ
Fernandes de resultado foi
Mello encontrado
Data da busca:
13/03/2017
Elizabeth do Nenhum Rio de Janeiro Atualmente trabalha na empresa Libra Cultural, na área de
Valle Souto resultado foi conservação e restauração.
Soares encontrado
Data da busca:
13/03/2017
Fátima Nenhum Porto Alegre, RS Museóloga no Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico
Bevilaqua resultado foi Nacional (IPHAN) é formada pela UNIRIO e possui
Contursi encontrado especialização em Metodologia do Ensino Superior pela
Data da busca: UERJ, e História da Arte Sacra pela Faculdade de São
13/03/2017 Bento, RJ. Chefe da Seção de Exposição e Coordenadora
técnica do Paço Imperial, Rio de Janeiro; Diretora do Museu
Casa de Benjamin Constant, Santa Teresa, Rio de Janeiro.
Laura Pereira Nenhum Rio de Janeiro
de Castro resultado foi
encontrado
Data da busca:
13/03/2017
Luciana Nenhum Formada em Educação artística no Instituto Metodista
Coutinho da resultado foi Benett. Especialização em Conservação de Bens Culturais
Silveira encontrado Móveis (1989). Mestre em Conservação Têxtil pelo Textile
Data da busca: Conservation Center/ Courtauld Institute of Art na Inglaterra
13/03/2017 (1995). Atuou na área de conservação e restauração de
têxteis em instituições como: Museu Paulista na Divisão de
Acervo e Curadoria, British Museum e Victoria and Albert
Museum.
Maria da Nenhum Rio de Janeiro
Glória Silva resultado foi
Lagoeiro encontrado
Data da busca:
13/03/2017
May Christina http://buscatextu Rio de Janeiro Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela
Cunha Paiva al.cnpq.br/busca Universidade Santa Úrsula (1984). Possui também
textual/visualiza graduação em Pintura pela Escola de Belas Artes/UFRJ
cv.do?id=K4723 (1991). Especialista em Conservação de Bens Culturais
244

404H1 Móveis pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1989).


Especialista em Conservação e Restauração de Bens
Data da busca: Culturais Móveis pela Universidade Federal de Minas Gerais
13/03/2017 (1993). Trabalhou como Conservadora-Restauradora
Naturalidade: independente de 1993 até 2012. Professora Auxiliar de
Ensino I na Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro, desde 2012. Tem experiência na área de
Museologia, com ênfase em Preservação/Práticas de
Restauração.
Naida Maria http://buscatextu Dom Pedrito, RS Graduação em Licenciatura em Desenho e Plástica pela
Vieira Correa al.cnpq.br/busca Federação de Estabelecimentos de Ensino Superior (1979).
textual/visualiza
cv.do?id=K4756
656Z7
Data da busca:
13/03/2017
Thais Helena http://buscatextu Visconde do Rio Possui mestrado em Patrimônio e Cultura pela Universidade
de Almeida al.cnpq.br/busca Branco, MG Federal de Viçosa/MG (2005). Especialização em
Slaibi textual/visualiza Conservação de Bens Culturais pela Universidade Federal
cv.do?id=K4798 do Rio de Janeiro/RJ (1998). Graduação em Licenciatura em
222J6 Educação Artística Habilitação em Artes Plásticas, pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro/RJ (1987). É
Data da busca: servidora e restauradora do Laboratório de Restauração da
13/03/2017 Fundação Biblioteca Nacional, atuando principalmente em
Naturalidade livros de Obras Raras da Real Biblioteca, obras de arte e
documentos. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação
em Memória Social, na Universidade Federal do Estado do
Rio de Janeiro, UNIRIO. Presidente da Associação Brasileira
de Conservadores-Restauradores de Bens Culturais,
ABRACOR, no período de 2009 a 2011.

Segunda Turma
Nome Lattes Naturalidade Observações
Geraldina Andrade Nenhum resultado foi encontrado Tiros, MG
Data da busca: 13/03/2017
Ilza de Sant’anna http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual São Paulo, SP Possui graduação em
Pizarro /visualizacv.do?id=K4786816H6 Arquitetura e Urbanismo pelo
13/03/2017 Instituto Metodista Bennett
(1997). Tem experiência na
área de Arquitetura e
Urbanismo.
Ligia Borges de Nenhum resultado foi encontrado São Paulo, SP
Andrade Data da busca: 13/03/2017
Marcia de Paiva Nenhum resultado foi encontrado Rio de Janeiro
Data da busca: 13/03/2017
Mariselena Pedrosa Nenhum resultado foi encontrado Resende, RJ
Fausltich Data da busca: 13/03/2017
Martha Ricardo Corrêa- Nenhum resultado foi encontrado Rio de Janeiro
Barbosa Data da busca: 13/03/2017

Solange de Souza Nenhum resultado foi encontrado Rio de Janeiro


vergano Data da busca: 13/03/2017
245

Terceira Turma
Nome Lattes Naturalidade Observações
Adrianna Nenhum resultado foi Título do trabalho final:
Figueiro encontrado Museu de Folclore Edson Carneiro:
Filard Data da busca: 13/03/2017 madeira e conservação.
Afonso Nenhum resultado foi Formação em museologia. Foi
Bensabat encontrado museólogo do Museu do Colégio Pedro II
Pinto Vieira Data da busca: 13/03/2017 e responsável pelo Laboratório de
Digitalização do Acervo Histórico.
Ângela Nenhum resultado foi
Carolina encontrado
Castro Vieira Data da busca: 13/03/2017
Helen Rose Nenhum resultado foi São Paulo Bacharel em História (FFLCH-USP,
Takahashi encontrado 1981). Especialização em Bens Culturais
Ikeda Data da busca: 13/03/2017 Móveis pela Escola de Belas Artes/UFRJ
(1991-1992), Especialização em Celulose
e Papel (Pós-Graduação Lato Sensu,
2016), Curso Técnico em Celulose e
Papel (2004- 2005). Atua na área de
Conservação e Restauração de
Documentos, Livros e Obras de Arte em
Papel desde 1983, tendo trabalhado em
Instituições como Instituto de Pré-História
(USP, 1981), Museu Paulista-USP
(Museu do Ipiranga, 1985-1986), Museu
de Arte Contemporânea de São Paulo
(1989), Fundação Bienal de São Paulo
(1989-1990), Museu Lasar Segall (1988-
1989). Atelier particular desde 1990.
Proprietária de Microempresa desde
2011.
Lúcia Mafra Nenhum resultado foi
da Silva encontrado
Data da busca: 13/03/2017
Orlando da Nenhum resultado foi Vitória, Espírito Graduação em Artes
Rosa Faria encontrado Santo Plásticas pela Universidade Federal do
Data da busca: 13/03/2017 Espírito Santo – UFES; Especialista em
conservação de bens culturais móveis –
UFRJ (1992); Especialista em História da
Arte e Arquitetura no Brasil Pontifícia
Universidade Católica do Rio de
Janeiro PUC-RIO e Mestre em História
Social da Cultura, PUC-RIO. Atualmente
é professor adjunto do Centro de Artes
da Universidade Federal do Espírito
Santo e faz doutorado na Escola de
Belas Artes da Universidade de Lisboa,
Portugal.
Ozana http://buscatextual.cnpq.br/bu Rio de Janeiro Possui graduação em Arquivologia pela
Hannesch scatextual/busca.do Universidade Federal Fluminense (1989),
Data da busca: 13/03/2017 especialização em Conservação de Bens
Culturais pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro (1992). Mestre em Museologia e
Patrimônio, pela UNIRIO (2013). Até janeiro de
2011, foi responsável pelo Laboratório de
Conservação e Restauração de Papel -
LAPEL, subordinado à Coordenação de
Documentação e Arquivo do Museu de
Astronomia e Ciências Afins - MAST. É
membro da Câmara Técnica de Preservação
de Documentos do Conselho Nacional de
Arquivos - CONARQ. Professora Colaboradora
do Mestrado Profissional em Preservação de
246

Acervos de Ciência e Tecnologia - PPACT do


MAST. Tem experiência na área de
Preservação de Acervos Científicos, com
ênfase em Conservação e Restauração de
documentos em suporte papel.
Rita Luciana Nenhum resultado foi
Galvão encontrado
Corrêa Data da busca: 13/03/2017
Sérgio Nenhum resultado foi Espirito Santo Bacharel em Artes Plásticas (UFES).
Oliveira Dias encontrado Conservador de Bens Culturais Móveis
Data da busca: 13/03/2017 (UFRJ). Foi Coordenador de Preservação
do Acervo do Arquivo Público do Estado
do Espírito Santo. Atua na área de
conservação e Restauração no Estado
do Espírito Santo.

Quarta turma

Nome Lattes Naturalidade Observação


Anna Luzia http://buscatextual.cnpq.br/b Possui graduação em Economia pela
Lemos uscatextual/visualizacv.do?i Universidade Federal do Espírito Santo (1980),
Saiter d=K4736888Z8 especialização em Conservação de Bens
Data da busca: 13/03/2017 Culturais Moveis pela Escola de Belas
Artes/UFRJ (1993). Na época de inscrição no
curso, trabalhava no Departamento Estadual de
Cultura, em Villa Velha – ES.
Ariadne Nenhum resultado foi Formada em Museologia pela UNIRIO. Na
Barbosa de encontrado época de inscrição no Curso, trabalhava no
Sousa Data da busca: 13/03/2017 IBPC, Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural.
Motta Em 1984, atuou nos serviços no Museu
Regional do IPHAN, na área exercia atividades
na área de conservação e restauração de bens
móveis. Atuou em Ouro Preto e em outras
cidades Mineiras. Faleceu em agosto de 2001,
sendo sepultada na Cidade de Tiradentes.
Elza Dias Nenhum resultado foi Formação em Museologia pela UNIRIO.
Osório encontrado Especialização em Conservação de Bens
Data da busca: 13/03/2017 Culturais móveis. Na época de inscrição no
Curso, trabalhava no IBPC - Instituto Brasileiro
do Patrimônio Cultural. Atuou entre 2001 até sua
aposentadoria em 2008, no Laboratório de
Conservação e Restauração do Museu Imperial.
Ficando responsável pela conservação e
restauração dos acervos arquivísticos e
bibliográficos.
Regina Nenhum resultado foi Belo Formada em Museologia pela UNIRIO (1980).
Mara encontrado Horizonte, Especialista em Conservação de Bens Culturais
Capela Data da busca: 13/03/2017 Minas Gerais Móveis pela Escola de Belas Artes/UFRJ (1992).
Frazão Atuou como estagiária do Museu Histórico.
Permaneceu em Minas Gerais de 1984 a 1991.
De 1984 a 1986 em Diamantina, onde dirigia a
Casa de Xica da Silva, o Museu do Diamante e
a Biblioteca Antônio Torres. Em 1991, volta
para o Rio de Janeiro e cursa especialização na
UFRJ. Atualmente responde pelo Laboratório de
Conservação do Museu da República. Na época
de inscrição no Curso, trabalhava no IBPC-
Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural.
Paulo http://buscatextual.cnpq.br/b São Paulo Possui Bacharelado em História pela
247

César uscatextual/visualizacv.do?i Universidade de São Paulo (1991), Licenciatura


Garcez d=K4797607H em História pela Universidade de São Paulo
Marins Data da busca: 13/03/2017 (1995) e Doutorado em História Social pela
Universidade de São Paulo (1999). Professor
doutor MS3 do Museu Paulista da Universidade
de São Paulo, docente do Programa de Pós-
graduação da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da USP e do Programa de Pós-
graduação em Museologia da USP. Partenaire
internationale do projeto “Du Monde en miniature
au jardin planétaire: imaginer, vivre e (re)créer le
jardin de mondes anciens à nos jours”, sediado
na Université Sorbonne Paris Cité,
desenvolvendo pesquisa sobre o Parque da
Independência, São Paulo. Tem experiência na
área de História, com ênfase em História do
Brasil, atuando principalmente nos seguintes
temas: museus de história, história cultural,
história urbana, história da arquitetura no Brasil,
identificação e gestão do patrimônio cultural.
Editor de Anais do Museu Paulista: História e
Cultura Material desde janeiro de 2005 e
Presidente da Comissão de Pesquisa do Museu
Paulista da USP (biênio 2016-2018). Foi Chefe
do Departamento de Acervo e Curadoria do
Museu Paulista da USP (2012-2016), Vice-
Coordenador do Programa de Pós-Graduação
em Museologia da USP (2014-2016), Vice-
Diretor do Centro de Preservação Cultural da
USP (2006-2009), Diretor da Divisão de Difusão
Cultural do Museu Paulista da USP (2009-2011)
e Presidente da Comissão de Pesquisa da
mesma instituição (2010-2014). Conselheiro do
Conselho do Patrimônio Histórico, Arqueológico,
Artístico e Turístico do Estado de São Paulo
(CONDEPHAAT), entre 2013 e 2015. É membro
do International Council of Museums (ICOM-
BR), do International Committee for University
Museums and Collections (UMAC/ICOM-BR) e
do Internacional Council of Monuments and
Sites (ICOMOS-BR).
Luiz Nenhum resultado foi Arquiteto. Atuou no Museu Naval e
Fernando encontrado Oceanográfico da Marinha.
M. da Data da busca: 13/03/2017
Costa
Araújo
Maria Nenhum resultado foi Formada em Direito. Na época de inscrição no
Celeste de encontrado Curso,
Azevedo Data da busca: 13/03/2017 Trabalhava na TV Manchete, Ltda.
Lustosa
Marcelo http://buscatextual.cnpq.br/b Bacharel em Gravura pela Escola de Belas
José uscatextual/visualizacv.do?i Artes/UFRJ (1992 - 1993). Especialização em
Frazão d=K4218050U0 Conservação de Bens Culturais Móveis. (Carga
Izaquiel Data da busca: 13/03/2017 Horária: 748h). Universidade Federal do Rio de
Janeiro, UFRJ, Brasil.
Mônica de http://buscatextual.cnpq.br/b Formação: História- PUC (1992–1993).
Medina uscatextual/visualizacv.do?i Especialização em Restauração de pinturas
Coeli d=K4288542J2 (1993-1995). Universidade Federal do Rio de
Data da busca: 13/03/2017 Janeiro. Especialização em conservação de
bens móveis e imóveis (1992–1993).
Especialização em História da Arte e da
Arquitetura no Brasil (1991- 1993). Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro .
Nelson http://buscatextual.cnpq.br/b Possui graduação na Faculdade de Arquitetura e
Porto uscatextual/visualizacv.do?i Urbanismo da Universidade Federal do Rio de
248

Ribeiro d=K4706690Y6 Janeiro (1985), atuou na Opera Prima


Data da busca: 13/03/2017 Arquitetura e Restauro Ltda.
Obs.: por e-mail, Nelson Porto informou que
nunca cursou a especialização na UFRJ. No
entanto, seu nome consta como egresso.
Regina Nenhum resultado foi Museóloga. Atuou no IBPC - Instituto Brasileiro
Coeli R. encontrado do Patrimônio Cultural, no Paço Imperial.
Ozório Data da busca: 13/03/2017

Regina Museóloga. Trabalhou no Museu Nacional.


Rocha dos
Santos
Renato Nenhum resultado foi Formação: projeto gráfico/direito/arqueologia
Jose I. encontrado Na época de inscrição no Curso, era do
Milhiolo Data da busca: 13/03/2017 departamento de Comunicação Visual da Escola
de Belas Artes/UFRJ.

Quinta Turma
Nome Lattes Naturalidade Observação
Catarine de Cássia Nenhum resultado Título da monografia: Sobrados da Penha:
Lambe foi encontrado uma proposta para preservação, conservação
Data da busca: e tombamento.
13/03/2017
Cristine Bicalho Nenhum resultado Título da monografia: Pinturas e esculturas
Canêdo Freitas foi encontrado conservadas no Museu D. João VI.
Data da busca:
13/03/2017
Darsone Aparecida Uit Nenhum resultado Título da monografia: Paramentos religiosos
foi encontrado da Igreja Nossa Senhora do Monte do
Data da busca: Carmo.
13/03/2017
Juarez Fonseca Nenhum resultado Título da monografia: Museu Histórico
Mendes Guerra foi encontrado Nacional: climatização ou aclimatização de
Data da busca: acervos 1994/1995.
13/03/2017
Mônica Moreira da Título da monografia: Preservando a memória
Silva do papel.

Sexta Turma
Nome Lattes Naturalidade Observação
Alejandra http://buscatextual.cnpq.br/b Buenos Aires, Buenos Aires, 1971. Bacharel em
Saladino uscatextual/visualizacv.do?i Argentina. Museologia pela Universidade Federal do
d=K4796714A3 Estado do Rio de Janeiro (1995);
Especialista em Conservação de Bens
Data da busca: 13/03/2017 Culturais Móveis pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (1996); Mestre
em Memória Social pela Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro
(2004); Doutora em Ciências Sociais pela
Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (2010) e Mestre em Arqueologia
pelo Museu Nacional/Universidade
Federal do Rio de Janeiro. É professora
adjunta do Departamento de Estudos e
Processos Museológicos, Escola de
Museologia, Universidade Federal do
249

Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).


Desenvolve pesquisas sobre os campos
do patrimônio e dos museus, com ênfase
na gestão do patrimônio cultural
(principalmente os temas da preservação
e socialização do patrimônio mundial e
do patrimônio arqueológico). Atualmente
é professora efetiva do Mestrado
Profissional em Patrimônio Cultural do
IPHAN, museóloga do Museu da
República (IBRAM/MinC), pesquisadora
externa do Grupo Gestión del Patrimonio
Cultural (Universidad Complutense de
Madrid) e coordenadora da Rede de
Museus e Acervos
Arqueológicos/REMAAE, junto a Eunice
Batista Laroque e Mara Vasconcelos

Título: Conservação de Materiais


Modernos.
Orientador: Antônio Carlos Nunes
Baptista.
Denise Rio de Janeiro Formada em Museologia pela UNIRIO
Viana (1994). Especialista em Conservação
Regis pela UFRJ (1996) e em Conservação e
Maya Restauração pelo CECOR/UFMG (1998).
Atua em diversos projetos de
conservação e restauração. Atuou como
Conservadora no Arquivo Público do
Estado do Rio de Janeiro (2001-2003).
250

ANEXO C

Artigos publicados pelos discentes e


docentes do Curso de Especialização nos
Anais e Boletins da ABRACOR
251

ANEXO C

Artigos publicados pelos discentes e docentes do Curso de Especialização


nos Anais e Boletins da ABRACOR

Anais da ABRACOR
Anais Ano Autores Artigo Págin
as
IV Volume I 1988 MASCARENHAS, Os Produtos Preservadores para a madeira e a 1a
Antônio Carlos restauração dos Bens Culturais. 21
IV Volume I 1988 MASCARENHAS, Os insetos xilófagos, os monumentos e os museus. 1a
Antônio Carlos 26
IV Volume II 1988 MENDES, Marylka Cursos de Extensão em Conservação-Restauração de s/p
Bens Culturais Móveis da Universidade Federal do Rio
de Janeiro.
IV Volume II 1988 SOUSA, Luiz Antônio Análise de materiais constitutivos de obras de arte: 1a9
Cruz. exemplo de aplicação em telas de Manoel da Costa
Athayde.
V 1990 MENDES, Marylka; As seis telas de Manuel da Costa Athayde do Museu 6a
CUNHA, Almir Mineiro. 15
Paredes.
V 1990 MOTTA, Edson Jr.; A aparência dos vernizes, uma avaliação prática. 30 a
VOREN, Camilla Van. 44
V 1990 MASCARENHAS, Ensaios Laboratoriais de durabilidade natural de três 123 a
Antonio Carlos madeiras brasileiras face à ação de térmitas de madeira 130
Queiroz. seca.
VI 1992 OLIVEIRA, Denise. Aplicação de compressas para remoção de vernizes. 8a
17
VI 1992 PAIVA, May Christina Adaptação de um suporte para reentelamentos 18 a
Cunha Paiva. transparentes. 22
VI 1992 MOREIRA, Deolinda Fixação e consolidação de camada pictórica e 30 a
Conceição Taveira. substratos; eliminação de micro-organismos. 51
VI 1992 HANNESCH, Ozana A conservação de bens culturais moveis. 151 a
173
VII 1994 HANNESCH, Ozana; Climatização de acervos: um estudo de caso. 75 a
ROCHA, Solange. 81
VII 1994 MENDES, Marylka; Influências, Comportamentos e Tendências na Formação 118 a
HORTA, João Carlos. do Corpo de Arte no Brasil. 123
VII 1994 MENDES, Marylka; et Residência Rural do Século XIX no vale do Paraíba e 124 a
al. seu Processo de Restauração. 126
VII 1994 NUNES, Cláudia Restauração do Estofamento de palinha: Satte de Ducan 147 a
Regina. Phyfe. 152
VII 1994 PAIVA, May Cristina O desenvolvimento de um método para tratamento de 158 a
Cunha de. uma pintura sobre eucatex/duralex, com deformações 161
panares.
VII 1994 SOUZA, LUIZ. A.C Uma contribuição ao Estudo da Policromia nas 270 a
esculturas mineiras dos períodos Barroco e Rococó 275
VIII 1996 MENDES, Marylka; Projeto para a Restauração dos painéis do Palácio Pedro 217 a
OLIVEIRA, Denise. Ernesto, Câmara Municipal do Rio de Janeiro. 224
VIII 1996 SILVEIRA, Luciana A escolha de abordagens na conservação de têxteis 281 a
Coutinho da. arqueológicos, vista no tratamento de duas túnicas pré- 286
colombianas.
VIII 1996 MIRANDA, Luiz Aplicação de “spots tests” na restauração do Palácio 339 a
Roberto Martins de; Pedro Ernesto, Rio de Janeiro. 342
entre outros.
VIII 1996 LAGO, Dalva C. Produtos de Corrosão formados em monumentos de 343 a
Baptista do; bronze. 347
252

MIRANDA, Luiz
Roberto Martins de
IX 1998 Regis, Denise Viana; A Capela do Santíssimo da Igreja do Mosteiro de São 28 a
Souza, Luis A. C. Bento do Rio de Janeiro: aspectos científicos do estado 31
de conservação.
IX 1998 SOARES, Maria Arte contemporânea: criação e implantação de um 181 a
Luisa R.O; ente Núcleo de Pesquisa e Treinamento no Rio de Janeiro. 190
outros.
IX 1998 NUNES, Cláudia A restauração da Batalha de Campo Grande. Pedro 204 a
Regina; Trucco Américo-1871. 209
Richard E.
IX 1998 NUNES, Cláudia A restauração do traje da coroação do Imperador D. 321 a
Regina. Pedro II: uma intervenção com adesivo Beva 371. 323
IX 1998 NUNES, Cláudia Uma restauração de têxteis atípica: as roupas de 324 a
Regina. Carmem Miranda. 326

Boletins da ABRACOR

Ano Número Data Autor Artigo Páginas


III X 1996 MENDES, Formação de conservadores-
Marylka. Restauradores de Bens Culturais:
Realidade ou utopia?
VIII 1 1988 VASQUEZ, O Museu de Arte Moderna do Rio de 29 a 37
Pedro. Janeiro e a Fotografia.
VIII 1 MENDES, Mesa térmica: breve histórico de sua 38 a 41
Marylka; evolução.
MOTTA, Edson
Jr; PFAU, Jorge.
VII 1 1988 BAPTISTA, CIPA da Biblioteca Nacional: 78 a 81
Antonio Carlos importância na política de proteção
Nunes. ao acervo bibliográfico.

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