Ana Paula Correa Carvalho PDF
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O Curso de Especialização em
Conservação de Bens Culturais
Móveis da Escola de Belas Artes
da UFRJ: Contribuições para a
preservação do patrimônio
O Curso de Especialização em
Conservação de Bens Culturais
Móveis da Escola de Belas Artes da
UFRJ: Contribuições para a preservação do
patrimônio
por
FOLHA DE APROVAÇÃO
Aprovada por:
AGRADECIMENTOS
A todos que colaboraram com seus depoimentos nas entrevistas realizadas e que
muito enriqueceram este trabalho: Ozana Hannesch, Alejandra Saladino, Thaís Slaibi,
Denise Oliveira, Denise Regis, Helen Ikeda, Marylka Mendes, Regina Capela, Claudia
Nunes, Fátima Bevilaqua, May Christina Cunha, Almir Paredes Cunha, Orlando da Rosa
Faria, Maria Luisa Soares, Carlos Terra e Edson Motta Júnior. Ao amigo Lenon Braga
pelo compartilhamento de documentos sobre Ariadne Motta. A Galdino Guttmann Bicho,
Joyce Brandão, Jacqueline Assis, Anna Echternacht, pela atenção e informações
prestadas.
vii
Aos meus amigos, em especial: Márcia Regina Botão, Cláudia Penha, Aurea
Chagas, Áurea Dias, Denise Barbosa, Valéria Leite, Suzana Neres, Vilma Silva, Laurinda
Maciel, Lilian Suescun e Richard Pinto.
À Nara Barreto, Fernando Jesus, Declair Amorim, Victor Louvisi, Janaina Ângelo,
Fabiano Cataldo, Ana Paula Pacheco, José Carlos Camello (in memoriam), Rosângela
Coutinho, Ozana Hannesch, Ana Garcia e Edmar Gonçalves, pelo apoio de sempre.
Aos meus irmãos: Giselle, Washington Luis, Ana Lúcia e Cláudio Márcio (in
memoriam); à minha mãe Dila, às sobrinhas (Karem, Beatriz e Bianca); aos familiares,
em especial Joelson e Marlene Andrade. Muito grata por tudo!
À minha querida filha Juliana (Juju) e eterna companheira nessa grande aventura
pela vida e o “mundo dos museus, do patrimônio”...
viii
RESUMO
ABSTRACT
CARVALHO, Ana Paula Corrêa de. The Specialization Course of Movable Cultural
Property of UFRJ: contributions to the preservation of heritage. 2017. Thesis (doctorate) –
Postgraduate Program in Museology and Heritage, UNIRIO/MAST, Rio de Janeiro, 2017.
269p. Supervisor: Ivan Coelho de Sá.
LISTA DE FIGURAS
Figura 2- Capa do livro Introdução à Técnica de Museus. Volume II. Fonte (a autora,
2017).
Figura 10- Turma do Terceiro Curso em visita técnica. Fonte: Acervo pessoal Ozana
Hannesch.
Figura 12- Capa da primeira edição do Livro: Restauração- Ciência e Arte. Fonte: (a
autora, 2015).
Figura 13- Capa do livro Conservação: Ciência e Arte. Fonte: (a autora, 2015).
Figura 17- Localização dos Logradouros da Região da Sé. Fonte: (GARCEZ, 1992,
s/p).
Figura 20- Destaque da pichação que causou danos à obra. Fonte: (GARCEZ, 1992,
s/p).
Figura 24- Esquema de mapeamento dos riscos de danos externos ao prédio. Fonte:
(SLAIBI 1989, p.4).
Figura 25- Planta desenha pela autora, demonstrando a área a ser modificada.
Fonte: (SLAIBI 1989, p.11).
Figura 26- Planta esquemática desenhada pela autora, demonstrando como ficaria a
área após as modificações propostas. Fonte: (SLAIBI 1989, p.12).
xv
Tabelas
Tabela 3- Carga horária dos Cursos. Fonte: (organizado pela autora, 2015).
Tabela 4- Distribuição das disciplinas por áreas. Fonte: (organizado pela autora, 2015).
Gráficos
Gráfico 1- Gráfico demonstrativo mostrando as áreas de graduação dos egressos. Fonte:
(Organização da autora, 2015).
Quadro
Quadro 1- Resumo das disciplinas ministradas por área. Fonte: (organizado pela autora,
2016).
xvi
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................... 02
3.1 A Escola de Belas Artes e uma breve trajetória das disciplinas de Conservação-
Restauração.................................................................................................................. 109
3.2 O início da Pós-Graduação no Brasil e sua ressonância na UFRJ......................... 111
3.3 A criação da Pós-Graduação em Artes Visuais...................................................... 120
3.4 Trajetória do Curso de Especialização em Conservação de Bens Culturais.......... 122
3.5 Considerações gerais sobre os Cursos................................................................... 145
3.6 Perfil do corpo docente............................................................................................ 151
xvii
4.3.1 A Conservação dos Bens Culturais Móveis por seus detentores leigos, de
Ariadne Motta............................................................................................................ 183
REFERÊNCIAS....................................................................................................................... 211
ANEXOS................................................................................................................................... 233
1
INTRODUÇÃO
2
disciplinar sem saber sobre sua história e seu processo de construção, bem como quem
foram seus atores sociais? Quais eram suas práticas e representações?
Nesse sentido, as fontes primárias constituem importantes subsídios para a
pesquisa, o conhecimento e a consolidação do campo disciplinar.
No ano de 2012, a Prof.ª Marylka Mendes doou à EBA seu arquivo pessoal
referente à sua atuação como professora. A parte documental inclui referências
relacionadas aos mais de trinta anos como professora na EBA ministrando disciplinas
ligadas à Restauração, além da sua atuação na área da Conservação - Restauração de
bens patrimoniais em seu ateliê particular. Nos itens encontrados no acervo, destacamos:
ementas das disciplinas ministradas, material didático, livros, periódicos especializados,
laudos técnicos de conservação, fotografias, caderneta de anotações, mobiliário
específico (mesa de sucção, entre outros). Importante ressaltar que, entre os documentos
doados, encontramos os referentes ao Curso de Especialização em Conservação de
Bens Culturais, tais como: os processos de criação, ementa das disciplinas,
correspondências, entre outros. Chamou-me a atenção a organização e arranjo da
documentação feita pela professora durante 30 anos, sobretudo as caixas, pastas e
dossiês sobre o Curso de Especialização. Atualmente o acervo faz parte do Arquivo do
Museu D. João VI e está em fase de organização técnica, englobando o tratamento
arquivístico, a higienização e o acondicionamento. O acervo constitui uma importante
fonte primária para futuras pesquisas em diversas temáticas e suas interfaces com a
Conservação-Restauração.
A minha formação em Museologia e a escolha por atuar na área da Conservação-
Restauração (nas áreas dos museus, arquivos e bibliotecas) me permitiu perceber que a
Museologia e a Conservação são campos disciplinares que estão interligados no que se
refere à Preservação do Patrimônio Cultural. No Brasil o Curso de Museus do Museu
Histórico Nacional – MHN, atual Escola de Museologia da UNIRIO, inicialmente formava
Conservadores de Museus. Este era o nome mais correto para denominar os museólogos
nas décadas de 1930 até 1960. Somente a partir da década de 1970 é que a
denominação Conservador de Museus passou a ser suplantada pela de museólogo. Na
contemporaneidade, na lei que regulamenta a profissão de museólogo, no artigo Art. 3º
dentre as atribuições da profissão de Museólogo, está: “coletar, conservar, preservar e
divulgar o acervo museológico".4
4BRASIL Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para assuntos Jurídicos. Lei nº 7.287, de 18 de
dezembro de 1984. Dispõe sobre a regulamentação da profissão de Museólogo. Disponível em:
<https://corem2r.wordpress.com/legislacao/lei-7287/>. Acesso em: 29 jun.2016.
4
5 Nesta tese adotaremos as seguinte terminologias: Conservação-Restauração (ao nos referirmos ao Campo
Disciplinar), conservação-restauração (para a ação ou ato), conservador-restaurador (profissional que atua no
Campo). Marie Berducou (1996), no artigo: Introduction to Archaeological Conservation, prefere usar o termo
conservação-restauração e ressalta que são termos vinculados. Segundo a autora na prática os dois
procedimentos não são facilmente separáveis. Estes dois termos colocados lado a lado implicam, no seu
conjunto, a conservação no sentido mais amplo e a restauração no sentido restrito, em conformidade com a
visão anglo-saxónica. Eles têm a vantagem de esclarecer certas ambiguidades e podem ser traduzidos sem
muitos equívocos de uma língua para outra (ao contrário de seu uso separado). (BERDUCOU, 1996, p.255).
5
Dessa forma, podemos considerar que a década de 1980 foi marcada pela
evidência na Conservação Preventiva, o que irá se refletir, também, na própria proposta
da Criação do Curso de Especialização em Conservação da EBA/UFRJ. Como pudemos
observar, através da análise das ementas e conteúdos programáticos das disciplinas, a
escolha das disciplinas curriculares norteava-se pelo o que se considerava patrimônio na
época, como deveria ser preservado e como ensinar a preservar, ou seja, constituindo
uma estreita conexão com a preservação do patrimônio musealizado6. Neste sentido, um
dos interesses deste trabalho é justamente procurar compreender essa rede de relações
e de compartilhamento entre Museologia e Preservação, entre as décadas de 1980 e
1990, no Rio de Janeiro.
No âmbito brasileiro a formação em Conservação-Restauração consistia, desde o
século XIX, em um conhecimento prático proveniente dos museus. Desta forma, os
museus capacitavam seus próprios conservadores-restauradores.
A origem mais remota da preocupação em inserir a Conservação-Restauração
como conteúdo disciplinar ocorreu na grade do Curso de Museus, criado em 19327, no
Museu Histórico Nacional. A disciplina principal que estruturava este Curso, Técnica de
Museus, previa em seu programa a unidade Noções de Restauração que consistia num
misto de conceitos:
9 As disciplinas da EBA ensinavam Restauração de Obras em suporte papel, óleo sobre tela (pintura) e
escultura.
7
10Sobre a história da Universidade, no ano de 2013, participei de um Curso de Extensão na própria UFRJ,
cuja temática era: “A trajetória e os Desafios da Universidade Pública Brasileira”. O curso foi bastante
proveitoso e despertou ainda mais meu interesse pela história do ensino, da universidade no Brasil e,
especificamente, da história da UFRJ.
8
Objetivos Específicos:
QUESTÕES
IV - Elaborar entrevistas para obter dados como forma de subsidiar e estruturar nosso
estudo, procurando enriquecer as fontes sobre a temática. Os depoentes foram alguns
ex-professores das disciplinas de Conservação e os gestores do curso, em especial,
Almir Paredes, Marylka Mendes e Edson Motta Júnior. Além de alguns alunos egressos
do curso, personagens importantes para o campo de análise que foram identificados ao
longo da pesquisa. Assim, foram feitas gravações com depoimentos dos principais atores
que conseguimos localizar e conversar a respeito de sua história de vida, com ênfase no
10
11 Esta metodologia de pesquisa pressupõe a realização de uma entrevista, cujo desenvolvimento se dá por
meio de um roteiro elaborado à priori e que procura desvendar os aspectos importantes da trajetória do
depoente, bem como de sua inserção no tema de nossa tese com sua percepção acerca de tais fatos.
As entrevistas foram gravadas e ao final os depoentes assinaram um termo de cessão para que os
depoimentos fossem usados como fonte de pesquisa para a elaboração da tese. As entrevistas foram
transcritas e o conteúdo é utilizado na redação do trabalho, visto que se constituiu em uma fonte primária de
pesquisa.
12
A história oral tem sido utilizada como uma metodologia de pesquisa mais fortemente no Brasil a partir dos
anos 1970, sobretudo com a criação do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do
Brasil - CPDOC e seu Programa de História Oral, da Fundação Getúlio Vargas - FGV, um dos mais
conceituados no país e certamente o primeiro a ser institucionalizado como tal.
11
13
Ver o VI Seminário do Museu D. João VI – Histórias da Escola de Belas Artes: revisão crítica de sua
trajetória. Organizado pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais – PPGAV-EBA-UFRJ. O seminário
teve como objetivo abordar/apresentar/debater trabalhos que visavam a trajetória diversificada e complexa da
antiga Academia Imperial de Belas Artes, depois Escola Nacional de Belas Artes e agora Escola de Belas
Artes da UFRJ. Disponível em >https://joaosextoseminario.wordpress.com/apresentacao/< acesso em:
29/08/2015. A Escola de Belas Artes foi oficialmente fundada com a criação da Escola Real das Ciências
Artes e Ofícios, por Decreto-Lei de D. João VI, em 12 de agosto de 1816.
12
CAPÍTULO 1
MUSEOLOGIA E CONSERVAÇÃO
15
Para atingir seus objetivos o capítulo encontra-se dividido em três partes: na primeira
apresentaremos como embasamento teórico a análise micro histórica como campo de
observação e as reflexões do sociólogo francês Pierre Bourdieu sobre campo científico,
considerações fundamentais para as discussões em torno da ideia da Museologia e da
Conservação. Trataremos da construção da Museologia como campo disciplinar, a partir
da apresentação de um breve panorama histórico sobre a Museologia e suas áreas de
atuação prática, a chamada Museologia Aplicada à documentação, à exposição e à
conservação. Daremos destaque à Conservação. Na segunda parte discutiremos a
interface entre a Museologia e a Preservação, focando também na formação do
profissional de conservação. Na terceira parte, finalizando o capítulo são abordadas
questões relacionadas à Conservação Preventiva em perspectiva.
Nesta tese utilizamos como embasamento teórico a análise micro histórica como
campo de observação para a percepção da temática abordada e as reflexões do
sociólogo francês Pierre Bourdieu sobre campo científico, considerações fundamentais
para as discussões em torno da ideia da Museologia e da Conservação como campo
disciplinar. Mais especificamente o que buscamos é ressaltar a interface entre a
Museologia, a Preservação e a Conservação.
Para muitos autores, como LEVI (1992), a Micro-História corresponde a uma prática
historiográfica em que os referenciais são variados e múltiplos. Para BARROS (2007) a
Micro-História é um campo de análise que se refere a um objeto bem distinto: uma
determinada maneira de se aproximar de certa realidade social ou de construir o objeto
historiográfico. A Micro-História estaria relacionada a uma abordagem, mais do que a
qualquer outro ponto (BARROS, 2007, p. 169).
A Micro-História surge também com a chamada Nova História, como uma
resposta a crise epistemológica que ocorreu no campo ao longo das décadas de 1960 e
1970, quando o modelo mais tradicional de análise baseado no marxismo e
estruturalismo entrou em crise com os imprevistos acontecimentos políticos e sociais que
se deram no mundo. Não era mais possível explicar o momento com as ferramentas
metodológicas e as fontes que se tinha até então. Surgiu necessidade de revisão dos
modelos teóricos, dos sistemas de paradigmas e revisão dos instrumentos de pesquisa
16
(LEVI, 1992, p. 134). Neste contexto, a Micro-História funcionou como uma possível
resposta que enfatizava uma redefinição de conceitos, uma análise aprofundada dos
instrumentos e métodos existentes. Desde os anos 1980, os historiadores começariam a
considerar as escalas de observação, assim como a Micro-História ganharia
gradativamente um lugar importante no debate historiográfico. Mesmo assim, inicialmente
ela foi recebida como uma proposta incômoda, tal como a história oral, pois que pretendia
romper com um modelo e os hábitos da historiografia dominante até então (REVEL,
2010, p. 434).
A Micro-História se caracteriza por análises bastante detalhadas e uma constante
aproximação com outras ciências sociais e humanas, principalmente a Antropologia.
Além disso, a Micro-História busca uma descrição mais fidedigna do comportamento
humano por meio de um modelo que reconhece o resultado das negociações, das
manipulações, das escolhas e das decisões individuais diante de uma realidade narrativa
prolixa, mas que ao mesmo tempo, oferece muitas possibilidades de interpretação e
liberdades pessoais.
De acordo com Barros (2007) o objeto de estudo do micro historiador não precisa ser
o espaço micro recortado, mas poderia englobar “uma prática social específica, a
trajetória de determinados atores sociais, um núcleo de representações, uma ocorrência
(por exemplo, um crime) ou qualquer outro aspecto” que possa ser considerado
“revelador em relação aos problemas sociais ou culturais que está disposto a examinar”
(BARROS, 2007, p 169). No caso de biografias ou a “história de vida” de um sujeito, o
historiador frequentemente escolherá um indivíduo anônimo, pois seu interesse não está
propriamente na biografia dele, mas nos aspectos que poderá perceber por meio de um
exame micro localizado desta vida (BARROS, 2007, p. 169).
A Micro-História trabalha com o fragmento como um elo por meio do qual se pretende
enxergar uma questão social mais ampla ou um problema histórico ou cultural
significativo. Segundo BARROS (2007), os fragmentos são apresentados aos
historiadores como um percurso possível para realizar sua “análise intensiva” ou sua
“descrição densa” (técnica antropológica utilizada por Clifford Geertz e com a qual dialoga
a Micro-História). Daí ser comum a preferência por narrativas sobre as “vidas” ou sobre
as trajetórias individuais para a realização desta observação intensiva (BARROS, 2007,
p. 174). Contudo, a análise micro histórica não se restringe apenas aos indivíduos, mas
também serve como campo de observação para a percepção de todo um regime do
imaginário, uma determinada “prática” que era realizada por certo grupo social (BARROS,
2007, p. 175). A escolha do historiador também pode recair sobre determinada
comunidade micro localizada, mas como já dissemos nunca o verdadeiro objeto de que
17
Dizemos que quanto mais autônomo for um campo, maior será o seu
poder de refração e mais as imposições externas serão transfiguradas, a
ponto, frequentemente, de se tornarem perfeitamente irreconhecíveis. O
grau de autonomia de um campo tem por indicador principal seu poder
14 O paradigma indiciário tem a sua origem na segunda metade do século XIX e revela as possibilidades
epistemológicas abertas pelas obras do crítico de arte Giovanni Moroni; romancista Conan Doyler; e
psicanalista Sigmund Freud (GINZBURG et al. 1980, p. XI).
19
Acrescenta ainda que a diferença entre um campo e um jogo é que “o campo é um jogo
no qual as regras do jogo estão elas próprias postas em jogo” (BOURDIEU, 2004, p.28-
29). Já sobre as propriedades específicas dos campos científicos, Bourdieu afirma que
“quanto mais os campos científicos são autônomos, mais eles escapam às leis sociais
externas” (BOURDIEU, 2004, p.30). Destacando, contudo, que existe um paradoxo com
relação à produção de “pulsões destrutivas” e ao controle dessas mesmas pulsões pelos
campos. Para o sociólogo:
Para Bourdieu, o campo é o lugar onde convivem duas formas de poder que, por
sua vez, correspondem a duas espécies de capital científico, o poder temporal ou político
e o poder específico ou prestígio pessoal. O primeiro tipo corresponde ao poder
institucional e institucionalizado, consequência da ocupação de postos de comando e
direção nas instituições científicas, à participação em comissões e comitês de avaliação e
“ao poder sobre os meios de produção (contratos, créditos, postos etc.) e de reprodução
(poder de nomear e de fazer as carreiras) que ela assegura” (BOURDIEU, 2004, p. 36). O
segundo tipo de poder é resultado do reconhecimento dos pares ou dos mais destacados
entre eles e, de certa forma, independe das instituições.
Diretamente relacionado às disputas do campo científico está o que Bourdieu
denomina de capital científico. Esse pode ser dividido em capital científico de duas
espécies com leis de acumulação diferentes: o capital científico “puro” e o capital
científico da instituição. O primeiro é adquirido a partir das “contribuições reconhecidas ao
progresso da ciência, as invenções ou as descobertas (as publicações, especialmente
nos órgãos mais seletivos e mais prestigiosos, portanto aptos a conferir prestígio à moda
de bancos de créditos simbólicos, são o melhor indício) ” (BOURDIEU, 2004, p.36). Já o
segundo tipo, o capital científico da instituição, é consequência de estratégias políticas
que envolvem a participação em comissões, bancas de teses e de concursos, colóquios,
cerimônias e reuniões, entre outras atividades. As formas pelas quais o capital científico é
transmitido também divergem. Enquanto o capital científico “puro” é muito difícil de
transmitir na prática, exigindo “um longo e lento trabalho de formação, ou melhor, de
21
la ciência que estudia los museos, se trata de uma convención reciente com la que se busca superar
anteriores confusiones terminológicas y variantes linguísticas, históricas y nacionales.” (LORENTE, 2012, p.
15, tradução livre).
23
em construção” (AQUILINA, 2011, p.1)19. O autor acrescenta que o seu objeto de estudo
também é alvo de discussão, sendo para alguns tudo o que se relaciona com a instituição
museu e com suas principais atividades, incluindo as coleções, a conservação, as
exposições, entre outras atividades. Para outros estudiosos o objeto de estudo da
Museologia é o objeto "musealizado20" (musealia21) e, numa visão mais filosófica
defendida por autores como Anna Gregorova e Zbyněk Stránský, a museologia trata da
relação específica entre homem e realidade, sendo o museu uma das formas de
expressão dessa relação (AQUILINA, 2011, p.1-2). A respeito das definições ao campo
da Museologia Waldisa Rússio questiona:
19 No original: “Thus, over the years, museology has been defined as an art, a practice, a science, an applied
science, a science in the making, etc.” (AQUILINA, 2011, p.1, tradução livre).
20
A musealização é uma forma de preservação. Inclui “uma série de ações sobre os objetos, quais sejam:
aquisição, pesquisa, conservação, documentação e comunicação” (Cury, 2005, p. 26).
21
Stránský, em 1970, propôs o termo musealia para designar as coisas que passam pela operação de
musealização e que podem, assim, possuir o estatuto de objetos de museu. (DESVALLÉES; MAIRESSE,
2013, p.57).
22 Tradução livre da versão em inglês: “An Unprejudiced Consideration of Chambers of Art and Nature”
alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) sobre o aumento das coleções,
arranjo estético e função educacional dos museus; e o do etnólogo alemão Gustav
Friedrich Klemm que em 1837 elabora a primeira historiografia de museus “versando as
coleções de arte e de ciências na Alemanha (GUARNIERI, 2010, p. 243). Entre as
publicações citadas destacamos o manual Museografia: Guida per una giusta ideia ed un
utile allestimento dei musei, escrito por Neickel e revisado por Johann Kanold, que traz
descrições e comentários sobre conservação e catalogação de vários museus ou
gabinetes europeus do período, além de ser a primeira publicação em que aparece o
termo museografia (LORENTE, 2012, p.15). Assim, segundo os autores citados
anteriormente o termo museografia é anterior ao termo museologia cuja origem, ou
primeiro registro, ainda é objeto de estudo de diversos autores.
Ainda sobre o termo museografia, os Conceitos Chave (2013) nos informam que o
mesmo apresenta três sentidos específicos: o primeiro deles refere-se ao fato de na
contemporaneidade o termo ser utilizado como referência à parte prática ou aplicada da
Museologia, ou seja, o “conjunto de técnicas desenvolvidas para preencher as funções
museais, e particularmente aquilo que concerne à administração do museu, à
conservação, à restauração, à segurança e à exposição” (DESVALLÉES; MAIRESSE,
2013, p.58); o segundo sentido é o uso do termo museografia como “a arte da
exposição”; e o terceiro sentido baseia-se na etimologia da palavra que designava o
conteúdo de um museu e teria sido concebida para “facilitar a pesquisa das fontes
documentais de objetos, com o fim de desenvolver o seu estudo sistemático. Essa
acepção, que permaneceu ao longo de todo o século XIX, persiste ainda em algumas
línguas, particularmente na russa (DESVALLÉES; MAIRESSE, 2013, p.60).
Para Lorente (2012) o termo museologia é documentado em alemão pelo menos
desde 1839 com a publicação do livro de Georg Rathgeber cujo título em alemão é
Aufbau der niederländischen Kunstgeschichte und Museologie e em espanhol é
Estructura de la historia del arte y de la museologia holandesa (LORENTE, 2012, p.15).
Já para Peter Van Mensch a origem do termo situa-se na obra de Phillip Leopold Martin
intitulada Praxis der Naturgeschichte23, de 1869, utilizada como referência à “exposição e
preservação de coleções naturália”. Contudo, o uso generalizado do termo se dá após o
início da publicação24 de uma revista alemã sobre Museologia e antiguidades
denominada Zeits chrift für Museologie und Antiquitätenkunde sowie verwandte
Wissenschaften (LORENTE, 2012, p. 16). A seu editor, J.G. Theodor Grasse, é atribuída
23 Segundo Jesús Pedro Lorente, o termo Museologia aparece mais precisamente na segunda parte da
publicação de P.L. martin intitulada Dermoplastik und Museologie (LORENTE, 2012, p. 15).
24 Segundo Waldisa Rússio a revista alemã foi publicada entre os anos de 1878 e 1883. (GUARNIERI, 2010,
p. 244).
25
a frase: “Se alguém trinta ou mesmo vinte anos atrás tivesse falado ou escrito sobre
museologia como uma ciência, teria despertado em muitas pessoas um sorriso de
compaixão ou desprezo. Agora, isso é diferente” (KLAUSEWITZ apud LORENTE, 2012,
p.16)25. Essa frase de 1883, além de apresentar um debate que se intensificaria em
meados do século XX, fortalece a ideia da Museologia como disciplina relacionada às
questões técnicas, expositivas e de conservação. Nessa breve história dos termos,
Waldisa Rússio faz referência a um periódico espanhol publicado em Madrid a partir de
1871 especializado em museus, arquivos e bibliotecas (GUARNIERI, 2010, p. 244).
Sobre as definições de museologia e museografia no século XIX, Janick Daniel Aquilina
afirma que: “Em suma, pode-se dizer que existem essencialmente dois pontos de vista
sobre museologia e museografia no século XIX. Elas podem ser entendidas ou como a
descrição dos museus e suas coleções ou como as técnicas associadas à gestão e
apresentação de coleções” (AQUILINA, 2011, p. 11)26.
Como a história do termo Museologia está diretamente relacionada à história dos
museus, apesar de não se restringir a eles, é possível associá-los para melhor
compreendê-los. Para atingir tal objetivo Waldisa Rússio Camargo Guarnieri apresenta
um panorama com cinco momentos fundamentais “da evolução dos museus, do fazer
museal, da profissão e da formação profissional” (GUARNIERI, 2010, p. 246). O primeiro
momento compreende a Antiguidade e o Museu de Alexandria é o exemplo maior ainda
que esse se afaste dos demais museus da Antiguidade e se aproxime mais do que
entendemos por campus universitário. Ainda assim, “Fala-se de museu e existe uma
prática museal, ancilar das ciências (que hoje diríamos básicas) e, por isso mesmo,
desempenhada pelos cientistas dessas áreas” (GUARNIERI, 2010, p. 247). O segundo
momento é a Renascença, momento em que se inicia a diferenciação entre as galerias
de arte e os gabinetes de curiosidades, entre Arte e Ciência. Surgem os primeiros
“conservadores” de museus: os produtores das obras. Para Guarnieri: “O fazer museal é,
nesse momento, essencialmente coleta e crescimento das coleções, e a noção de
restauro abarca desde a restauração verdadeira até a cópia para fins de segurança”
(GUARNIERI, 2010, p. 247). O terceiro momento marca a passagem do museu do
iluminismo para o Museu do Romantismo e os modelos emblemáticos são o Museu do
25 No original: “Si alguien hace treinta o incluso veinte años hubiera hablado o escrito de la museologia como
uma ciência, habria suscitado em muchas personas uma sonrisa de compassión o de desprecio. Ahora
claramente esto es distinto” (KLAUSEWITZ apud LORENTE, 2012, p.16, tradução livre).
26
No original: “In sum, it can be said that there are essentially two points of view regarding museology and
museography in the 19th century. It is understood either as the description of museums and their collections
or as the techniques associated with the management and presentation of collections” (AQUILINA, 2011,
p.11, tradução livre).
26
Louvre, do Prado e o Britânico. Nesse período ocorre a consagração dos museus que
passam a ser nacionais e seus “conservadores” dotados do “notório saber”. Para
Guarnieri, nessa altura “Museologia e Museografia são então sinônimos, e o clímax da
reflexão, à Museologia como ciência dos museus ” (GUARNIERI, 2010, p. 248, grifo da
autora). O quarto momento da evolução dos museus, que corresponde ao crescimento
das cidades, à industrialização e à modernização, é caracterizado pela especialização e
pela profissionalização. Sobre esse momento Guarnieri afirma que:
27 O texto foi publicado em 1989, portanto, atualidade se refere ao período final do século XX.
28 UNESCO é sigla para Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. Foi fundada,
em 1946, com o objetivo de contribuir para a paz e segurança no mundo, através da educação, da ciência, da
cultura e das comunicações.
29
O museólogo Mário Barata, participou da criação do ICOM, o que “foi decisivo para que, no mesmo ano,
fosse criada no Brasil a representação nacional do ICOM” (CHAGAS; NASCIMENTO JUNIOR, 2007, p.38).
27
outro lado, Luigi Salermo, em texto denominado “Museo e Collezione”, afirmava que a
museologia se ocupava de todos os problemas do museu e sua finalidade é estudar,
30
conservar, relacionar e tornar acessível para atualidade os testemunhos da civilização
(CHAGAS, 1994, p.15).
Nesse sentido, destacamos igualmente o I Simpósio sobre Teoria Museológica,
realizado na cidade de Brno, Tchecoslováquia, cujo debate foi centrado em torno da
seguinte questão: qual seria o objeto de estudo da museologia? Contudo, ao final do
evento, seus participantes não chegaram a um consenso a este respeito. Segundo Van
Mensch:
Nos anos 1970, o conceito de Museologia como ciência dos museus foi o
ponto de vista dominante na República Democrática Alemã, a partir das
dissertações dos alemães J. Jahn (1979) e de K. Schreiner (1982) (
MENSCH, 1994, p.5).
30Este texto foi publicado na Enciclopedia Dell’Arte, vol. IX, Veneza/ Roma, em 1962. (CHAGAS, 1994, p.15).
28
Nessa época, em 1971, surge outro conceito de museu, o Ecomuseu, criado por
Hugues de Varine e Henri Riviére “numa associação entre museu e meio ambiente,
museus integrados, museus de sítios, museus de bairros e de cidades” (CHAGAS, 2009,
p.209).
Já em 1976 é criado dentro do Comitê Internacional para a Museologia
(ICOFOM), como parte do ICOM e se tornando, desde então, um dos principais fóruns
para debates museológicos internacionais. Vinos Sofka, então presidente do ICOFOM,
entre os anos de 1977 a 1989, começa a questionarem congressos internacionais como
definir museologia e “qual a sua identidade como disciplina acadêmica e sua
consistência? Qual a sua estrutura científica própria? Qual a relação entre essa estrutura
31 CAMERON, Duncan. Le musée: un temple ou un forum (1971), pp. 77- 97 dans Vagues, une anthologie
de la nouvelle muséologie, Volume 1, Éditions W.M.E.S, France, 1992.
32 Segundo Varine (1995). Neste encontro única língua de comunicação seria o espanhol, e no qual os
especialistas convidados seriam todos latino-americanos. Como os participantes seriam eles mesmos
museólogos de alta reputação, nos pareceu inútil prever intervenção de outros museólogos (1995, p.18).
29
Nesse sentido Stránský nos anos 1980, define Museologia como uma área que
tem uma natureza de ciência social, pertencente à esfera das disciplinas da memória e
documentação científica e contribui especificamente para a compreensão da sociedade
humana (STRANSKY apud BARAÇAL, 2008, p.31).
Em 1980 foi realizado no México o encontro do ICOM com o tema “Museologia
uma ciência em formação” que contou com a participação de vários especialistas, entre
eles Grevoverá, Klaus Schreinner, Stránský, Vinos Sofka, Waldisia Russo. Segundo
Klaus Schreinner: “A ciência médica não é a ciência dos hospitais, nem a pedagogia é a
ciência das escolas. Assim também a museologia não pode ser a ciência dos museus”
(SCHREINER,1981, p.58, tradução nossa)38. Já Gregorová considerava:
33 Editado pelo Comitê Internacional de Museologia – ICOFOM do Conselho Internacional de Museus ICOM
da UNESCO. Fazia parte do comitê editorial da revista V.T Jensen, W Klausewitz, A.M. Razgon e V. Sofka.
34 Esta publicação foi criada em 1983 para substituir a publicação MuWop.
35 Segundo Cerávolo (2004) “A denominação Museological Working Papers dada à natureza bilíngue do
ICOM passou a receber sua denominação também em francês DoTraM – Documents de travail sur la
muséologie. A abreviação e a denominação em inglês se estabeleceu como preferencial” (Cerávolo, 2004, p.
325).
36 Título original: Museology - Science or just practical museum work?. Vinoš (org.), MUWOP: museological
working papers/DOTRAM: documents de travail en Muséologie, Museology - science or just practical museum
work? Stockholm: ICOM, International Committee for Museology/ICOFOM; Museum of National Antiquities, v.
1, 1980.
37
Título original: Interdisciplinarity in museology. Vinoš (ed.), MUWOP: museological working papers/
DOTRAM: documents de travail en Muséologie. Interdisciplinarity in Museology. Stockholm: ICOM,
International Committee for Museology/ ICOFOM/Museum of National Antiquities, v. 2, 1981.
38 No original: “Medical science is not the science of hospitals, neither is pedagogy the science of schools. So
museology cannot be the Science of musems A ciência médica não é a ciência dos hospitais, nem a
pedagogia é a ciência das escolas. Assim também, a museologia não pode ser a ciência dos museus”
(SCHREINER,1981, p.58, tradução nossa).
30
39No original: “Museology is a science studying the specific relation of man to reality, consisting in purposeful
and systematic collecting and conservation of selected inanimate, material, mobile, and conservation of
selected inanimate, material, mobile, and mainly three-dimensional objects documenting the development of
nature and society and making a thorough scientific and cultural-educational use of them” (GREGOROVÀ,
1980, p.19).
31
Peter Van Mensch (1994) apresenta um resumo sobre a trajetória das discussões
sobre Museus e Museologia debatidos e apresentados ao longo dos anos pelos teóricos
no ICOFOM, agrupando-as:
XIX, apresenta uma mudança de sentido. Antes orientado para o objeto passa a ser
orientado para a sociedade e entendido como um fenômeno. Para a autora:
Rangel (2015) afirma que “O museu no século XXI se apresenta como uma
instituição paradigmática das atividades culturais. São espaços altamente complexos que
devem ser compreendidos em todas as suas nuances”. Para o autor a museologia não
possui uma concepção que seja comum a todos que se debruçam sobre a discussão da
área:
Para finalizar é possível afirmar que tanto a Museologia como o Patrimônio estão
em constante reelaboração e transformação. Desta forma, todas as discussões sobre
Museologia, Patrimônio ou sobre “os objetos de estudos da museologia” nos levam a
perceber que a preservação e a conservação do patrimônio constitui uma importante
estratégia para que possamos compreender parte da história e da cultura dos grupos e
dos atores sociais. Por outro lado, a Museologia e o patrimônio estão sujeitos, muitas
vezes, às manipulações políticas e/ou a serem usados ideologicamente.
A trajetória traçada até o momento permite afirmar que os pontos de contato entre
os museus, a Conservação, a Museologia e a Preservação são inúmeros. Mais do que
pontos de contato, para alguns estudiosos, como Dominique Poulot, o Museu e a
Conservação estão intrinsecamente relacionados. Nas palavras do autor: “O vínculo entre
museu e conservação foi determinante para a emergência e o desenvolvimento da
instituição” (POULOT, 2013, p.22). Contudo, se o Museu e o conceito de Museologia
sofreram alterações ao longo do tempo o mesmo pode ser dito com relação ao de
Preservação. Esse último conceito, considerado em uma visão muito próxima do senso
comum, como sinônimo de Conservação e/ou Restauração, é entendido atualmente de
forma mais ampla. Solange Zúñiga (2002) ao tratar da importância da Preservação para
arquivos públicos e privados aborda um ponto crucial quando fala de Preservação: o
desencontro entre preservação e acesso. No contexto tratado pela autora o problema
está colocado para os acervos arquivísticos, mas podemos expandir o mesmo para as
diversas tipologias de acervo e utilizá-lo como um dos elementos de análise da interface
37
Desses descompassos surgem os problemas que até hoje afetam a gestão dos
museus. Retornando às reflexões de Zúñiga, para a pesquisadora no momento atual, os
profissionais de preservação já conseguem entender o problema de uma forma mais
abrangente, considerando que o estado físico de um único bem está relacionado com um
sistema de preservação que “vai desde o documento propriamente dito até o edifício,
tudo devidamente intermediado pelas condições ambientais” (Zúñiga, 2002, p. 71-72). A
mesma autora nos informa que Preservação, no âmbito das instituições arquivísticas, “é
entendida de forma extremamente abrangente, compreendendo todas as ações
desenvolvidas pela instituição visando a retardar a deterioração e possibilitar o pleno uso
de todos os documentos arquivísticos sob sua custódia” (Zúñiga, 2002, p. 73). A autora
ainda discorre sobre a desconfiança com que as ações de conservação preventiva foram
recebidas entre os conservadores e restauradores, que as consideravam de menor
importância. Um ponto importante de seu trabalho é a tabela de autoria de Lisa Fox que
considera a Preservação um “guarda-chuva sob o qual se abrigariam tanto as atividades
preventivas quanto interventivas” (FOX apud Zúñiga, 2002, p. 74). Abaixo a tabela
apresentada por Lisa Fox segundo Solange Zúñiga:
40 “Um museu é uma instituição permanente sem fins lucrativos ao serviço da sociedade e seu
desenvolvimento, aberto ao público, que adquire, conserva, pesquisa, comunica e exibe o patrimônio tangível
e intangível da humanidade e seu ambiente para fins de educação, estudo e diversão.” ICOM Statutes,
adopted by the 22nd General Assembly (Vienna, Austria, 24 August 2007) Article 3 - Definition of Terms,
section 1. Disponível em: http://archives.icom.museum/hist_def_eng.html. Acesso em: 20/11/ 2017.
39
coleções. Como consequência desse duplo entendimento surgiu, segundo os autores dos
Conceitos Chave, “um campo profissional distinto, o dos arquivistas e gestores de
coleções. O conceito de preservação serve para dar conta desse conjunto de atividades”
(DESVALLÉES; MAIRESSE, 2013, p.81). Um último aspecto apontado pelos autores são
os novos problemas do campo da preservação: os problemas relacionados às fronteiras
entre preservação e comunicação ou pesquisa; as políticas de aquisição e de alienação
do patrimônio; as questões sobre “o que conservar e o que rejeitar” e a aquisição de
“objetos patrimoniais imateriais” que obrigam ao estudo de novas técnicas de
conservação (DESVALLÉES; MAIRESSE, 2013, p.81).
O último ponto de análise neste primeiro capítulo compreende a discussão em
torno da formação do conservador, durante muitos anos associada aos museus e ao
campo da Museologia. Já há alguns anos percebe-se a tentativa de independência do
campo com a criação de cursos de especialização, mas esse movimento de
emancipação ganhou força com o surgimento de cursos específicos para formação de
conservadores em universidades brasileiras.
A proximidade da Conservação com o mundo dos museus e da Museologia pode
ser percebida de diversas formas, incluindo os treinamentos de Museologia. A não mais
existente Associação de membros do ICOM – AMICOM publicou no ano de 1977,
Introdução ao estudo dirigido de museologia com questões sobre as diversas atividades
de um museu acompanhadas de bibliografia específica. Suas autoras, Fernanda de
Camargo e Almeida-Moro e Lourdes M. Martins do Rego Novaes, acreditavam que:
41
Artigo original em alemão: G.S. Graf Adelmann, “Restaurator und denkmalpflege” in Nachrichtenblatt der
Denkmalpflege in Baden-Württemberg,vol.8, n.3,1965
42
Fonte: ICOM-CC. The Conservator-Restorer: a Definition of the Profession. Copenhagen, September 1984.
ICOM Committee for Conservation.
Disponível: <http://icom.museum/fileadmin/user_upload/pdf/professions/Theconservator-restorer.pdf> Acesso
em: 29/06/2017.
43 Este termo é utilizado neste texto como uma adaptação, pois o mesmo profissional é chamado de
“conservador” nos países de língua inglesa e de “restaurador” nos países de língua latina ou germânica.
Boletim ABRACOR – ano VIII - Nº 1- julho de 1988.
41
Interessante ressaltar que o mesmo documento destaca que está normativa foi
importante para poder distinguir a função da profissão do conservador das demais
profissões que também atuam e contribuem para o campo da conservação, como
arquitetos, cientistas, engenheiros especializados em conservação, pois já são sujeitos a
normas profissionais reconhecidas.45 Para tanto, os futuros conservadores-restauradores
devem receber uma formação artística, técnica e científica baseada em uma educação
completa e geral. Neste sentido, o documento aborda, ainda, a importância da
cooperação interdisciplinar como sendo de primordial importância, pois, atualmente, o
conservador-restaurador deve agir como membro de uma equipe. Ele não precisa ser um
grande conhecedor de arte ou história da cultura e também de química e/ou outras
ciências naturais ou humanas. Este documento está em consonância com o pensamento
de muitos teóricos do campo da Conservação, como, Paul Phillippot46, ao considerar que
a conservação-restauração não é uma mera atividade técnica, mas essencialmente uma
ação de caráter cultural. Sendo importante a atuação e colaboração interdisciplinar. Nas
Palavras do autor:
1971 e como Diretor até 1977. Um dos grandes estudiosos do campo da conservação. Na ocasião de sua
morte, o ICCROM publicou uma nota constando o resumo de sua atuação:>http://www.iccrom.org/paul-
philippot-1925-2016/ < Acesso em: 03/06/2017.
42
47 No original: “For if restauration is today considered one of the rare domains within which humanista culture
and technology (the human Science and the exact sciences) can merge, it is clear that it will not be able truly
to develop except to the extent that the range of its cultural function is understood and sustained by society”
(PHILIPPOT, 1996, p.228, tradução livre).
48
No original: “un scientifique n'a pas la connaissance sensible de la matière qu'a le restaurateur ni le réflexe
culturel de l'historien chargé du projet global; le métier du restaurateur ne consiste pas à jongler avec les
produits chimiques ni à être le spécialiste du microscope électronique à balayage ; l'historien ne peut avoir la
même connaissance intime de la matière que ses deux partenaires. L:essentiel est d'être convaincu que
chacun est important et irremplaçable. De plus, un certain temps est nécessaire pour l'acquisition d'un
vocabulaire commun et précis: le dialogue sera alors fructueux et la recherche utile” (BERGEON,1996, p.21,
tradução livre).
49
ICOM-CC- Terminology to characterize the conservation of tangible cultural heritage. Resolution adopted
by the ICOM-CC membership at the 15th Triennial Conference, New Delhi, 22-26 September 2008.
50
No original: “Conservation - all measures and actions aimed at safeguarding tangible cultural heritage while
ensuring its accessibility to present and future generations. Conservation embraces preventive conservation,
43
remedial conservation and restoration. All measures and actions should respect the significance and the
physical properties of the cultural heritage item”. Fonte: ICOM-CC- Terminology to characterize the
conservation of tangible cultural heritage. Resolution adopted by the ICOM-CC membership at the 15th
Triennial Conference, New Delhi, 22-26 September 2008.
51 No original: “Preventive conservation - all measures and actions aimed at avoiding and minimizing future
deterioration or loss. They are carried out within the context or on the surroundings of an item, but more often
a group of items, whatever their age and condition. These measures and actions are indirect – they do not
interfere with the materials and structures of the items. They do not modify their appearance.” Fonte: ICOM-
CC- Terminology to characterize the conservation of tangible cultural heritage. September 2008.
52 No original: “Remedial conservation - all actions directly applied to an item or a group of items aimed at
arresting current damaging processes or reinforcing their structure. These actions are only carried out when
the items are in such a fragile condition or deteriorating at such a rate, that they could be lost in a relatively
short time. These actions sometimes modify the appearance of the items.” Fonte: ICOM-CC- Terminology to
characterize the conservation of tangible cultural heritage. September 2008.
53 No original: “Restoration – all actions directly applied to a single and stable item aimed at facilitating its
appreciation, understanding and use. These actions are only carried out when the item has lost part of its
significance or function through past alteration or deterioration. They are based on respect for the original
material. Most often such actions modify the appearance of the item.” Fonte: ICOM-CC- Terminology to
characterize the conservation of tangible cultural heritage. September 2008.
44
Aloísio Arnaldo Nunes Castro (2008) comenta que segundo dados do Laboratório
de Conservação e Restauração da Biblioteca Nacional de Florença, quase um milhão de
unidades bibliográficas foram atingidas pelas águas (CASTRO, 2008, p.49). Dessa forma,
a inundação da cidade de Florença trouxe mudanças para o campo da conservação e
restauração de papel: a intervenção no objeto único, considerada principalmente estética,
deu lugar a uma visão global do problema. Nesse sentido, para Maria Luisa Ramos de
Oliveira Soares:
54No original: “El 4 de noviembre de 1966 se produjo La peor de su historia: La marea subió un metro y
ochenta centímetros, y El agua anego la Plaza de San Marcos un metro y veinte centímetros. Como
consecuencia de esas inundaciones, se está produciendo La desintegración de los muros a causa de La
humedad y La sal marina, que corroe y desintegra los materiales de construcción, los revestimientos y las
maderas.” (MIGUEL, 2002, p.256).
46
55 Doutor em química trabalhava com conservação pela metodologia científica. Em 1924, começa a trabalhar
no British Museum, no departamento de pesquisa científica e industrial. Em 1959, torna-se o primeiro diretor
do Centro Internacional para o Estudo da Preservação e Restauração de bens Culturais (ICCROM),
permanecendo na direção até 1971.
56 Robert Howord Garry Thomson (1925-2007) trabalhou entre 1955-1960 como químico pesquisador na
58
No original: "Los últimos - entre los cuales estoy yo - incluyen hasta la legislación que protege los Bienes
Culturales” (GUICHEN, 2009, p.42, tradução nossa).
59 Eugène Emmannuel Violet-le-Duc (1814-1879). Arquiteto, um dos principais teóricos do século XIX sobre
os bens culturais. Publicou diversos livros, entre eles o verbete “Restauração” (VIOLET-LE-DUC, 2004).
60 Camillo Boito (1836-1914). Arquiteto italiano e autor da obra: “Os Restauradores”, escrita em 1884. Alguns
princípios por ele defendidos permanecem até os dias atuais, norteando a teoria contemporânea da
restauração de bens culturais (BOITO, 2004).
49
61 Cesare Brandi (1906-1988). Formado em direito e letras, dedicou sua carreira à crítica e à história da arte,
à estética e à restauração. Foi um dos fundadores do Instituto Centrale del Restauro (ICR) em Roma. Em
1963 publica a obra “Teoria da Restauração” (BRANDI, 2004).
62
The creation of a conservation record recognizes that conservation and restoration work is not an end in
itself but part of a series of ongoing processes which last for the whole of the object´s life. It also
acknowledges that there are many people who will come after the present conservator who will need
information about the object and who will undertake further investigation, revelation or preservation work. Thus
in the history of conservation the creation of conservation record marks one of the crucial changes from a craft
to a profession” (CAPPLE, 2003, p. 70, tradução livre).
50
Com o que foi exposto podemos dizer que não existe um modelo único de
Conservação Preventiva, mas sim um conjunto de estratégias que podem e devem ser
utilizadas da forma que determinado grupo/comunidade julgar necessário. Neste capítulo
analisamos a construção do campo disciplinar da Museologia e da Conservação a partir
de um panorama histórico das disciplinas. Concluímos que a Conservação surge no
âmbito dos museus e aos poucos vai adquirindo autonomia, embora, até os dias de hoje
ainda estejam intimamente relacionadas. O capítulo foi finalizado com as perspectivas
futuras para a Conservação Preventiva. Após esse embasamento teórico analisaremos
no capítulo seguinte alguns aspectos das políticas públicas culturais brasileiras que
acreditamos, tenham contribuído para criação do Curso de Especialização em
Conservação de Bens Culturais Móveis da Escola de Belas Artes da UFRJ em 1989.
Além disso, será analisada a trajetória profissional da Prof.ª Marylka Mendes, uma das
fundadoras do curso, e examinado o processo que levou à fundação da Associação
Brasileira dos Conservadores e Restauradores/ABRACOR.
51
CAPÍTULO 2
relação pode ser constatada pela participação dos mesmos atores tanto nas discussões a
nível nacional como internacional.
Um dos intelectuais que desejou a criação do Museu foi Gustavo Adolfo Luiz
Guilherme Dodt da Cunha Barroso. Barroso nasceu em Fortaleza, no Ceará, em 29 de
dezembro de 1888.
Em 1907 ingressou na Faculdade de Direito no Ceará, onde se manteve até 1909.
Em 1910 transferiu-se para a cidade do Rio de Janeiro, então Distrito Federal, onde
concluiu em 1911, na Faculdade de Direito, o seu bacharelado em ciências jurídicas e
sociais. Atuou como professor em diversas escolas, além de ter fundado e/ou colaborado
com vários jornais e revistas. Esse personagem foi fundamental para a Museologia
brasileira tendo sido o primeiro diretor do Museu Histórico Nacional, e se mantido no
cargo por mais de 30 anos. Assim, o museu representava a identidade da nação, sendo
“Uma ponte museológica entre o século XX e o século XIX, entre a República e o
Império, entre os agentes heroicos do presente e do passado” (CHAGAS, 2009, p.89).
Ivan Coelho de Sá, outro pesquisador do campo da Museologia, aponta para o
importante aspecto do início da história da Museologia no Brasil, indicando que as
primeiras propostas estavam em consonância com a conjuntura internacional. Sendo
assim, para o autor:
No Brasil, nas décadas de 1920 e 1930 houve “significativos avanços nas políticas
de preservação, como as propostas de órgãos de proteção ao patrimônio: Pernambuco
(1923 e 1928), Minas Gerais (1924) e Bahia (1927 e 1930)” (SÁ, 2012, p.13). Outro fato
importante foi a criação no Museu Histórico Nacional em 1934, da Inspetoria Nacional de
Monumentos, que foi dirigida por Gustavo Barroso mais de três anos. “Esse serviço foi o
embrião inicial do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional” (CHAGAS, 2009,
p.47).
63
Criado pelo Decreto- Lei nº 21.129, de 07/03/1932. Diário Oficial, 15/03/1932. Elevado à categoria de
instituição de nível superior em 1943. “Em 1951, com a outorga de mandato universitário ao Curso de
Museus pela Universidade do Brasil, durante a reitoria de Pedro Calmon. Em 1979, quando foi incorporado a
então recém-criada Universidade do Rio de Janeiro (UNIRIO)” (CHAGAS, 2009, p.98).
55
incluía uma variedade de conhecimentos. Em 1944, houve uma primeira grande reforma
no Curso de Museus:
64Cuja a primeira tradução para o português foi realizada para a Inspetoria de Monumentos Nacionais, pela
recém formada e depois Prof.ª do e coordenadora do Curso de Museus, Nair de Moraes Carvalho, em 1937.
E que serviu de material didático para disciplina Técnica de Museus (SÁ, 2012, p.15).
56
Nacional, conseguiu implantar o laboratório de restauração deste órgão (SÁ, 2012, p.18).
57
378. De acordo com o art. 46, a finalidade desse órgão era o tombamento68, a
conservação, o enriquecimento e o conhecimento do patrimônio nacional, conforme
podemos observar neste artigo transcrito abaixo:
Nesse período, as ações da política cultural giravam em torno dos debates sobre
a questão do patrimônio nacional, especialmente sobre a questão da “função do Estado
na identificação, seleção, preservação e divulgação desse patrimônio e seu papel na
formação da identidade brasileira” (MAIA, 2011, p. 61). Assim, a questão do patrimônio
adquiriria significados políticos e seria um elemento essencial na construção de um
sentimento nacionalista.
O projeto de criação dessa instituição foi concebido por Mário de Andrade, em
1936 e tinha como objetivo a proteção do patrimônio nacional numa vertente bastante
nacionalista. Quando foi criado, o SPHAN estava subordinado ao Ministério da Educação
e Saúde que era dirigido por Gustavo Capanema. O SPHAN se incluía na categoria de
Instituições de Educação Extraescolar dos Serviços Relativos à Educação (REZENDE et
al, 2014).
A criação do SPHAN, segundo Silva (2001) ilustra o processo de intervenção do
Estado e também a preocupação de políticos, intelectuais, e artistas, como Mário de
Andrade com a identificação e preservação de um patrimônio cultural brasileiro. Essa
visão de patrimônio englobava um olhar de arte mais amplo, que abarcava “qualquer
produção humana capaz de transformar algo natural em cultura” (SILVA, 2011, p. 23).
Esse aspecto incluía a arte popular, contudo, limitava a noção de patrimônio à
preservação de vestígios do passado, caracterizados, sobretudo pelos “monumentos”
arquitetônicos. É interessante observar que SPHAN funcionaria a partir de um Conselho
Consultivo formado por:
Também é digno de nota que, entre os anos de 1937 e 1969, a instituição foi
dirigida por Rodrigo de Melo Franco de Andrade que imprimiu sua marca na
administração da instituição ao longo dos 30 anos em que ficou na direção, por promover
significativas mudanças no projeto original de Mário de Andrade. Durante esse tempo, as
noções de "tradição" e de "civilização" foram decisivas para os projetos da instituição,
porque enfatizavam a relação do patrimônio nacional com o passado. De acordo com o
verbete “SPHAN” do Dicionário FGV/CPOC:
Como pode ser observado no texto da Lei nº 378, acima citado, destacam-se duas
instituições museais de grande expressividade nacional: 1) o Museu Histórico
Nacional (MHN), a quem caberia a “guarda, conservação e exposição das relíquias
referentes ao passado do país e pertencentes ao patrimônio federal” (BRASIL, Lei 378,
artigo 47, 1937). Além disso, caberia ao MHN à gestão do primeiro curso de Museologia
do país, criado em 1932, que seria responsável pela formação de técnicos que
cuidariam da seleção, guarda e preservação desse patrimônio; 2) o Museu Nacional de
Belas Artes (MBA)69, que seria responsável por “a recolher, conservar e expor as obras
de arte pertencentes ao patrimônio federal” (BRASIL, Lei 378, artigo 48, 1937).
69 O Museu Nacional de Belas Artes foi criado pela Lei 378 de 13 de janeiro de 1937, artigo 48.
59
Essa íntima relação existente entre esses dois museus nacionais e o SPHAN
permitiria entre outras coisas, não só a formação de um corpo técnico especializado que
atuaria muitas vezes na elaboração de políticas públicas culturais junto aos órgãos
governamentais, bem como prestaria serviços ligados à preservação do patrimônio
histórico e artístico nacional em anos posteriores, tanto de forma pública, como em
instituições privadas. A proximidade existente entre os profissionais egressos desses dois
museus com o SPHAN /IPHAN70 e com outras instituições culturais como, por exemplo, a
FUNARTE colaborou para a existência do Curso de Especialização em Conservação de
Bens Culturais Móveis da Escola de Belas Artes da UFRJ. O aprofundamento dessas
relações será apresentado no capítulo 3, da presente tese.
Sendo assim, podemos dizer que o projeto político cultural, principalmente do
primeiro governo Vargas, continha dois objetivos: 1) a exaltação da cultura nacional; 2) a
censura a qualquer coisa que pudesse manchar a ideia de um “Brasil” sério, trabalhador
e pacífico. Essas visões caracterizariam a nossa identidade nacional e foram expressas
nas escolhas do que seria preservado como patrimônio nacional.
É importante lembrar que, além do SPHAN, outra estrutura organizacional era
responsável pela concepção de políticas culturais no governo de Vargas. O Conselho
Nacional de Cultura (CNC) que foi criado pelo Decreto 526, de julho de 1938, para
coordenar todas as atividades concernentes ao desenvolvimento cultural realizado pelo
MES. Esse Conselho seria composto por sete membros, escolhidos pelo presidente da
República e que possuíssem alguma afinidade com o campo cultural. Quatro desses
membros seriam funcionários do próprio MES.
Conforme nos explica Costa (2011), o CNC era composto por “seis comissões:
Comissão Nacional de Literatura, Comissão Nacional de Teatro, Comissão Nacional de
Cinema, Comissão Nacional de Música e Dança, Comissão Nacional de Artes Plásticas e
Comissão Nacional de Filosofia e Ciências Sociais. Cada comissão era composta por
cinco membros, com mandatos de dois anos e nomeados pelo Presidente da República”.
Competia também ao CNC, segundo o artigo 3º, fazer um balanço das atividades
culturais públicas e privadas, a fim de classificá-las e “tirar o máximo proveito delas”, bem
como sugerir ao Estado, formas de ampliar, aperfeiçoar os serviços e financiar as
instituições culturais. Cabia também ao CNC estudar as instituições de caráter privado, a
fim de conceder benefícios.
70 O nome SPHAN foi substituído primeiro pela sigla DPHAN (Diretoria de Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional) em 1946. Posteriormente o DPHAN ficaria conhecido como IPHAN (Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Brasileiro) em 1970.
60
A década de 1960 também pode ser caracterizada por uma efervescência cultural
em todo o mundo e também no Brasil. Várias áreas da cultura como Música, Cinema,
Teatro e Literatura passam por um processo que refletia grande criatividade, ousadia e
ao mesmo tempo, rebeldia, como por exemplo, no movimento do Tropicalismo e no
Cinema Novo. Muitos artistas e intelectuais repensavam a questão da dependência
econômica do país e subdesenvolvimento influenciados pelas ideias de esquerda e
propunham mudanças na política como um todo e também na cultura nacional.
Dessa forma, durante seu curto governo, Jânio Quadros (janeiro-agosto de 1961)
que sucederia Juscelino, criaria novas atribuições para o CNC, através do Decreto nº.
50.293 de 23 de fevereiro de 1961. O “novo” CNC englobaria os seguintes órgãos:
1967 a 1975. Além disso, havia uma preocupação com a defesa e conservação com o
patrimônio histórico e artístico, embora já existisse um órgão que cuidasse da proteção
do patrimônio como o DPHAN. Dessa forma, a instalação do CFC para coordenar a
política cultural brasileira denuncia uma mudança nos rumos da cultura brasileira.
De acordo com os Decretos de criação e o Regimento, o CFC71 era formado por
vinte e quatro intelectuais72 e possuía como um dos seus objetivos organizar o setor
cultural. A estrutura do CFC estava dividida em quatro câmaras: Artes, Ciências
Humanas, Letras e Patrimônio Histórico e Artístico. Para os membros do Conselho que
elaboraram este projeto, esta divisão era constituída dos elementos definidores da cultura
nacional. Os conselheiros foram divididos entre as Câmaras de acordo com sua formação
e experiência profissional. Eram escolhidos pelo presidente do CFC73 e nomeados pelo
presidente da República. Sua permanência no cargo durava, em média, dois anos para
um terço dos conselheiros, podendo ser conduzidos novamente ao cargo apenas uma
vez e o restante teria o mandato de quatro anos74.
Como vimos anteriormente, o CFC herdou do CNC entre outras obrigações, a de
incentivar a criação dos Conselhos Estaduais de Cultura (CECs) e dos Conselhos
Municipais de Cultura (CMCs) considerados fundamentais para o planejamento e a
execução de políticas culturais que abrangessem todo o território nacional. A criação de
conselhos estaduais e municipais era necessária à formação de um “sistema nacional de
cultura” capaz de atender às diversas demandas regionais constitutivas da nacionalidade.
A base desse sistema seriam os conselhos municipais de cultura articulados com os
conselhos estaduais (MAIA, 2011, p. 72).
A primeira reunião nacional entre os conselheiros do CFC, o MEC e Conselhos
Estaduais de Cultura (CECs) ocorreria em 12 de fevereiro de 1968, convocada pelo
71 Conforme o Decreto 60.237 de fevereiro de 1967, o CFC herdaria os funcionários e o acervo do acervo do
antigo Conselho Nacional de Cultura criado, durante o governo de Vargas.
72 Esse número foi alterado posteriormente para 26, no Decreto-lei nº. 74.583 de 1974 (BRASIL, Decreto nº,
74.583, art. 1º, de 1974).
73
De acordo com Maia (2011), o Conselho teve três presidentes: Josué Montello (1967-1968), Arthur Cezar
Ferreira Reis (1969-1972) e Raymundo Moniz de Aragão (1973-1974). Os membros fundadores do CFC
foram: Presidente do Conselho – Josué Montello; Câmara de Artes – Clarival do Prado Valladares
(presidente), Ariano Suassuna, Armando Sócrates Schnoor, José Candido Andrade Muricy, Octávio de Faria,
Roberto Burle Marx; Câmara de Letras – Adonias Aguiar Filho (presidente), Cassiano Ricardo, João
Guimarães Rosa, Moyses Vellinho, Rachel de Queiroz; Câmara de Ciências Humanas – Arthur Cezar
Ferreira Reis (presidente), Augusto Meyer, Djacir Lima Menezes, Gilberto Freyre, Gustavo Corção, Manuel
Diégues Júnior; Câmara do Patrimônio Histórico Artístico Nacional – Afonso Arinos de Mello Franco
(presidente), Hélio Vianna, Dom Marcos Barbosa, Pedro Calmon, Raymundo Castro Maya, Rodrigo Mello
Franco de Andrade (MAIA, 2011, p. 64).
74 Esse período foi modificado para seis anos, no Decreto 74.583, para os 24 membros do Conselho
nomeados pelo Presidente da República, e para o Diretor-Geral do Departamento de Assuntos Culturais e o
Diretor de Instituto Nacional do Livro, chamados de membros natos, o período não seria pré-fixado (BRASIL,
1974).
66
Por fim, o documento recomendava que a adoção dessas medidas ocorresse por
meio de convênios entre Estados, órgãos federais especializados, MEC (por meio do
DPHAN) e o CFC. No final do encontro, foi apresentado o Compromisso de Brasília que
contava com vinte três tópicos, ressaltando a necessidade de estados e municípios
adotarem medidas específicas para criação de órgãos de defesa do patrimônio sob a
orientação do DPHAN, que interagissem junto com órgãos federais na questão da
preservação do patrimônio cultural e naturais nacionais e regionais. Além disso, era
necessário elaborar uma legislação estadual e municipal para o setor e ampliar os
recursos orçamentários. Destacamos ainda, o investimento na formação de mão-de-obra
especializada sob a orientação de órgãos federais; a proteção da documentação através
da criação de arquivos; a preservação dos cemitérios e túmulos de valor histórico; a
criação de museus regionais com a função precípua de documentar. Ambos os pontos
visavam uma educação cívica, nos moldes do modelo educacional do Regime Militar
(MAIA, 2011, p.79).
O CFC possuía apenas o caráter normativo, consultivo e fiscalizador, conforme
nos explica Maia (2011) tal como definido no seu Regimento. O Conselho se tornaria
encarregado da distribuição das verbas; do financiamento de instituições públicas e
privadas do setor cultural; do assessoramento ao ministro da Educação e Cultura; da
definição das áreas de atuação do Estado; da realização de convênios com instituições;
da elaboração de regulamentos e resoluções; organização de campanhas nacionais de
cultura; e da defesa do patrimônio cultural (MAIA, 2011, p. 64).
De acordo com Calabre (2006), os seis estados mais contemplados com verbas
do CFC em 1971, foram: “Guanabara - 41,78%; Pará - 10,96 %; Minas - 9,52%, São
Paulo - 7,58%, Pernambuco - 6,83% e Rio Grande do Sul - 5,87%” (CALABRE, 2006,
p.85). Essa concentração de recursos no Estado da Guanabara, antiga capital do país
poderia ser justificada porque o estado ainda concentrava muitos órgãos ligados à
cultura, incluindo até o próprio CFC. Além disso, já contava com um CEC, e vários CMC
bem organizados, possivelmente em função de existirem verbas federais disponíveis e do
estado possuir o principal centro de formação de profissionais e técnicos na área do
Patrimônio: O Museu Histórico Nacional com o Curso de Museologia. Essa concentração
de recursos poderia explicar também o destaque que o Estado do Rio de Janeiro teve no
início da década de 1980.
Como observamos anteriormente, o CFC estava dividido em quatro Câmaras:
Artes, Ciências Humanas, Letras e Patrimônio Histórico e Artístico. De acordo com Maia
(2011), esta “divisão era considerada decisiva pela comissão que elaborou o projeto do
Conselho por constituir os elementos considerados definidores da cultura nacional”.
68
75
Embora Calabre (2006) em seu artigo não tenha dito qual conferência seria apresentada a proposta
relacionada abaixo, possivelmente se tratava da Comissão Internacional para o Desenvolvimento da
Educação presidida por Edgard Faure foi constituída em 1971 e que concluiria seus trabalhos em março de
1972. O Relatório Final incluiria o envio de missões especiais para proceder à troca de ideias, visitas e
reuniões com inúmeras instituições educacionais, estudos de documentos pertinentes e entrevistas com
diversos especialistas de credibilidade internacional no mundo todo (WERTHEIN et al., 2000, p.14).
69
76
Segundo o Relatório da UNESCO para educação superior a abrangência da atuação da agência
compreende as “áreas da Educação, Ciência e Tecnologia, Cultura e Comunicação indica que, por intermédio
da generalização do conhecimento, a humanidade atingir padrões aceitáveis de convivência humana e de
solidariedade” (WERTHEIN, et al., .2000, p.11).
70
77 Pelo Decreto nº. 66.967, de 27 de julho de 1970, parágrafo 5º, alínea III.
71
78 Segundo o verbete do Dicionário da FGV, podemos definir: “Desenvolvimentismo” como “Nome dado à
estratégia política de desenvolvimento adotada durante o governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), que
visava acelerar o processo de industrialização e superar a condição de subdesenvolvimento do país”. O
desenvolvimentismo como modelo econômico postulava que o crescimento dependia diretamente da
quantidade dos investimentos e da produtividade marginal do capital; estes dois elementos estavam ligados
ao investimento estrangeiro, que os fazia variar em função de sua própria importância. O desenvolvimentismo
como ideologia de um desenvolvimento autônomo no âmbito do sistema capitalista proclamava por sua vez a
riqueza e a grandeza nacional, a igualdade social, a ordem e a segurança. [...] O desenvolvimentismo trazia
também uma concepção de grandeza nacional como destino. O Brasil, ao ultrapassar seu estágio de
subdesenvolvimento, ocuparia uma posição de destaque no mundo, dada a sua riqueza natural, sua
extensão territorial e o valor do seu povo. O desenvolvimentismo foi retomado e aprofundado enquanto
modelo econômico e ideologia do desenvolvimento pelos governos militares que assumiram o poder após
março de 1964. (ABREU, Alzira Alves In Dicionário Histórico e Biográfico Brasileiro, FGV/CPDOC, 2010).
79 O PCH também ficou conhecido como Programa das Cidades Históricas.
73
De acordo com Silva (2001) Política Cultural possuía uma preocupação dupla. A
primeira era de promover a continuidade das manifestações culturais tidas como
características do povo brasileiro, isto é, preservação do que é considerado patrimônio
cultural brasileiro e por isso, alicerce da identidade nacional; e a segunda era se adaptar
às mudanças impostas pelo desenvolvimento nacional e internacional através do
incentivo à criatividade e inovação do campo cultural, tal qual é definida logo na primeira
página do documento: “apoiar e incentivar as iniciativas culturais de indivíduos e grupos e
de zelar pelo patrimônio cultural da Nação, sem intervenção do Estado, para dirigir a
cultura” (Política Nacional de Cultura, 1975, p. 5). A Política Nacional de Cultura visava:
82 O Conselho Nacional de Cinema foi criado pelo Decreto Federal nº 77.299, de 16 de março de 1976.
79
83A Companhia de Defesa do Folclore Brasileiro foi criada pelo Decreto nº 43.178, de 5 de fevereiro de 1958.
No entanto passou a incorporada à FUNARTE em 1976.
80
84 A FUDACEN foi criada pela Lei nº 7.624, de 5 de novembro de 1987, artigo 1º, Inciso II.
84
Nos anos 1990, com o governo Collor, a FUNARTE85 seria extinta e criou-se em seu
lugar, pela mesma lei, o Instituto Brasileiro de Arte e Cultura (IBAC) subordinado à
Secretaria de Cultura que, por sua vez, ocuparia o lugar do Ministério da Cultura. O IBAC
tinha as seguintes atribuições:
85 A partir da assinatura da Lei nº. 8.029 de 12 de abril de 1990, artigo 1º, Inciso II, alínea a.
86 A FCB foi criada pela Lei nº 7.624, de 5 de novembro de 1987, artigo 1º, inciso III e incorporaria as
atribuições da Empresa Brasileira de Filmes S.A. (EMBRAFILME).
85
(SPHAN) - resultante da união do IPHAN, CNRC, PCH mais a Fundação Nacional Pró-
Memória; e a Secretaria de Assuntos Culturais (SEAC) mais a FUNARTE. A união destas
duas secretarias e das duas fundações de apoio respectivamente à SEAC aumentaria
muito a autonomia do campo da cultura dentro do MEC, e com o tempo se tornaria o
embrião do futuro Ministério da Cultura. Todavia as subsecretarias existiram entre 1981 e
1982.
A criação dessas duas secretarias ou subsecretarias no início da década de 1980,
deixa muito visível à coexistência de duas visões muito diferentes sobre as políticas
culturais dentro do MEC. A primeira visão, a patrimonialista, era representada pela
Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) que fazia o papel de um
órgão regulador e normativo, tal como o IPHAN. Já a Fundação Nacional Pró-Memória
fazia o papel de um órgão executivo e já que era um órgão mais novo e provido de maior
financiamento. Por outro lado, a vertente mais ligada à produção cultural que tinha na
Secretaria de Assuntos Culturais (SEAC) seu braço normativo e na FUNARTE, seu braço
executivo.
A partir dos esforços dos servidores, intelectuais, artistas e de alguns gestores da
área da cultura, em 1985 deu-se, através do Decreto 91.144, de 13 de março, a criação
do Ministério da Cultura (MinC). Nas considerações que justificariam a criação do
Ministério da Cultura, o então presidente José Sarney (1985-1990) atribui a sua criação
ao processo de modernização e desenvolvimento do país que apresentava as seguintes
características: a estrutura do MEC se tornara incapaz de cumprir simultaneamente as
exigências dos dois campos: Educação e Cultura; haveria a necessidade de métodos,
técnicas e instrumentos diversificados, de reflexão e administração que exigiriam políticas
específicas e bem caracterizadas, justificando o desmembramento da atual estrutura
unitária em dois ministérios autônomos; no MEC os assuntos ligados à cultura nunca
poderiam ser objeto de uma política mais consistente, visto que a problemática
educacional atraía sempre mais atenção; o Brasil não poderia mais prescindir de uma
política nacional de cultura, coerente com os novos tempos e com o desenvolvimento já
alcançado pelo País. Assim, caberia ao MinC atuar em duas frentes: letras, artes, folclore
e outras formas de expressão da cultura nacional; e patrimônio histórico, arqueológico,
artístico e cultural. (BRASIL, 1985).
Seriam englobados pelo MinC os seguintes órgãos e fundações de acordo com o
artigo 3º, do referido Decreto: CFC, CNDA, CONCINE, Secretaria de Cultura (SEC),
EMBRAFILME, FUNARTE, Pró-Memória, Fundação Casa de Rui Barbosa e Fundação
Joaquim Nabuco. No organograma do MinC dentro da estrutura básica, subordinada ao
Órgão de Assistência Direta e Indireta ao Ministro, situava-se a Secretaria de Cultura.
86
Dentro das Estruturas Intermediárias presididas pelo Ministro de Estado, estava alocado
o CFC. E por fim, nas entidades vinculadas estariam entre outras a Fundação Pró-
Memória e a FUNARTE.
Com as primeiras eleições diretas para presidente, entraria no poder Fernando
Collor de Melo (1990-1992) que, como uma das suas primeiras ações, extinguiu o
Ministério da Cultura87 e transformou em Secretaria de Cultura (SEC). A SEC se tornaria
um órgão de assistência direta e imediata ao Presidente da República com a finalidade
de:
Além disso, a Lei 8.029 também de 12 de abril de 1990, extinguiria entre outras: a
Fundação Nacional de Artes (FUNARTE); a Fundação Nacional de Artes Cênicas
(FUNDACEN); e a Fundação Nacional Pró-Memória (PRÓ-MEMÓRIA). Em lugar, da
FUNARTE, da FUNDACEN, e da Fundação do Cinema Brasileiro (FCB), o governo
instituiria o Instituto Brasileiro da Arte e Cultura (IBAC), sob o regime jurídico de
Fundação, para o qual serão transferidos o acervo, as receitas e dotações orçamentárias,
bem como os direitos e obrigações das fundações já citadas. Já a Secretaria do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) e a Fundação Pró-Memória seriam
transformadas na autarquia denominada Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural
(IBPC). Aliás, o IBPC também herdaria as competências, o acervo e as receitas e
dotações orçamentárias da SPHAN e da fundação Pró-Memória.
Segundo Rezende et al (2015), consta no verbete “IBPC” que ocorreram inúmeros
protestos e manifestações de intelectuais contrários a essa e outras mudanças na
estrutura e nas atribuições do órgão como, por exemplo, a supressão do Conselho
Consultivo e a diminuição da ação executiva da instituição. A perda do nome também
acarretaria prejuízo à “marca” Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que ganhara
legitimidade e popularidade ao longo dos mais de cinquenta anos de sua atuação. No
entanto, os defensores da nova denominação do Instituto consideravam a mudança de
nome mais coerente com a ampliação do conceito de patrimônio cultural prevista na
Constituição de 1988.
O IBPC teria por finalidade a promoção e proteção do patrimônio cultural brasileiro
nos termos da Constituição Federal, especialmente em seu art. 216, de acordo com o
artigo 2º, Inciso II da Lei 8,029. Conforme o estatuto do IBPC, a finalidade do Instituto
era:
88 Acervo Marylka Mendes. Circular 01/89 do coordenador subprograma Bens Móveis aos membros do
comitê de Consultores. Maio de 1989.
89 É importante ressaltar que naquele momento já tramitava na UFRJ a documentação referente à criação do
coordenador do Subprograma, Carlos Régis Leme Gonçalves, informando sobre atividades em curso.
93 Entre os nomes componentes do comitê gestor, alguns pertenceram ao corpo docente do curso de
especialização em conservação de bens culturais da UFRJ. No próximo capítulo trataremos com mais
detalhes da sua atuação acadêmica.
91
94 Francês, com formação em química. Atuou como assistente técnico do ICCROM, ocupando o cargo de
responsável pelo Programa de Formação de Pessoal Técnico. Se especializou em Clima (umidade e
temperatura) nos museus, tendo publicado inúmeros trabalhos a respeito.
95 Esse curso originou, posteriormente, o Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais- CECOR .
96 Disponível em: enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa9624/rescala. Acesso em: 03/09/2017.
92
Manutenção e Conservação das Coleções cuja bibliografia traz como referência a obra
de Gaël de Guichen Humidity and temperature in museums, publicada originalmente em
1976. Além disso, o pesquisador é uma referência nas disciplinas relacionadas à
Preservação-Conservação, da Escola de Museologia da UNIRIO desde a década de
1980, principalmente no que tange à Conservação Preventiva.
Segundo SÁ (2012), a Prof.ª Violeta Cheniaux97 participou ativamente deste
processo tendo, inclusive, “atuado como intérprete, do curso preservação de acervos
museológicos: clima e iluminação, ministrado por Gaël de Guichen, promovido pela
Fundação nacional Pró-Memória e pelo ICCROM” (SÁ, 2012, p.26).
No ano de 1979, atendendo ao convite da Prof.ª Waldisa Russio do Curso de Pós-
Graduação em Museologia da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo,
com apoio da Secretaria da Industria, Comércio, Ciência e Tecnologia, Gaël ministrou um
seminário especial sobre iluminação e climatização em museus. Ele realizou ainda várias
visitas técnicas e uma palestra no Museu da Indústria, Comércio e Tecnologia de São
Paulo que, posteriormente, após a tradução de Waldissa Russio, tornou-se a publicação
intitulada Museus Adequados a Abrigar Coleções? (GUICHEN, 1980). Ao longo dos anos
Gaël de Guichen retorna ao Brasil em diversos momentos para participar de seminários e
cursos de formação. Na figura (03), tempos uma imagem de Gaël, no ano de 1979.
99 Fundação Pró-Mémoria. Rio de janeiro 30 de maio de 1990. Documento encaminhado pelos membros da
Comissão Nacional de Ensino e Pesquisa em Conservação de Bens Culturais - CNEPC .
100 A extinção da FNPM já foi tratada no item 2.1.2 do presente capítulo.
95
Para a presente tese a “história” as ações do Comitê terminam aqui. Apesar do teor
aparentemente melancólico da correspondência acima, fica evidente que houve um
grande empenho por parte de todos os envolvidos na tentativa de consolidação do campo
da conservação no Brasil. Ressaltamos, contudo, que as consequências das ações do
Comitê precisam ser ainda objeto de pesquisas futuras.
101
Referência: Circular 01/90. Entre Carlos Regis Leme Gonçalves aos membros da Comissão data
15/07/90. São Paulo.
102 Neste trabalho abordaremos especificamente as duas primeiras décadas de atuação da ABRACOR,
ressaltando alguns aspectos da sua contribuição que se relacionam com o tema da tese.
96
Sobre esse encontro, ocorrido na Igreja do Mosteiro de São Bento, Almir Paredes
Cunha destaca a sua preocupação em relação à formação:
103 Fundada em 1963 no Rio de Janeiro, a Associação Brasileira de Museologia tem como
finalidades: congregar estudantes e profissionais que atuam na área de museus e afins, incentivar o
intercâmbio cultural e científico dos museus, promover cursos, conferências e difundir os conhecimentos
museológicos.
99
América Latina, como a Associación para La Conservación del Patrimonio Cultural de Las
Américas (APOYO)104 criada em 1989.
Os membros fundadores da ABRACOR tiveram uma relação direta com o Curso
de Especialização em Bens Culturais da UFRJ, seja ocupando cargos na associação
e/ou escrevendo artigos em seus anais e boletins. A diretoria da ABRACOR no biênio
1990/1992 foi presidida por Antônio Carlos Nunes Baptista (Biblioteca Nacional) e
participavam da direção Sérgio Burgi (Primeiro secretário) e Marylka Mendes (Primeiro
tesoureiro). Havia ainda os cargos do conselho administrativo, do conselho fiscal e
suplentes. Na reprodução da fotografia abaixo, podemos observar alguns dos ex-
diretores da ABRACOR que tiveram relação direta com o Curso de Especialização da
UFRJ, conforme observaremos nos próximos capítulos desta tese. Segundo Soares
(2016), esta fotografia foi tirada na sede da Associação Brasileira de Museologia - ABM
durante o período em que a ABRACOR ficou abrigada na sede da ABM105:
104 APOYO “es un grupo informal de miembros internacionales con la misión de apoyar la conservación y
preservación del patrimonio cultural material de las Américas. Fue fundado en 1989 por un grupo de
miembros interesados del AIC (American Institute of Conservation of Historic and Artistic Works, que es la
Asociación de Conservadores profesionales de los EE. UU.), pero ha funcionado independientemente de
este. Disponível em: http://www.apoyonline.org/missiones.htm. Acesso em: 03/09/2017.
105
A ABM funciona na Rua Álvaro Alvim, no centro do Rio de Janeiro, e tem sede própria diferente da
ABRACOR que nunca teve sede própria. A ABRACOR já ocupou o ateliê da Marylka Mendes, a sede da
ABM, a Fundação Casa de Rui Barbosa, a FUNARTE, entre outros espaços. Atualmente encontra-se sem
sede, estando parte de seu acervo na Biblioteca do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST) formando
a coleção especial denominada ABRACOR.
100
sido ensinada para gerações de profissionais africanos de museu e possui relação direta
com as políticas de conservação. Para Godonou “Se a coleção é o coração do museu,
pode-se dizer que a documentação é sua cabeça; ambos constituem os órgãos vitais da
instituição e sua constante interação é essencial para sua sobrevivência”108. Na figura (5)
abaixo Gaël de Guichen e Alan Godonou em sessão do X Congresso da ABRACOR.
108
No original: “If the collection is the heart of the museum, it may be said that documentation is its head;
both constitute the vital organs of the institution and their constant interaction is essential for its survival”.
Disponível em: http://www.unesco.org/culture/museum/html_eng/mi201.shtml. Acesso em: 03/09/2017.
102
Figura 6 - (a, b): à esquerda capa do Bulletin of the Internacional Council of Museums (Vol.40.
n.º I/ 1987) e à direita capa do Boletim da ABRACOR (Ano III. nº1 julho/1988).
109 Coordenadora de projetos do ICCROM-Roma ingressou na equipe do ICCROM em 1993. Sua primeira
tarefa no ICCROM foi coordenar o Curso de Conservação dos Princípios Científicos. Atuou na
implementação de várias atividades de treinamento em Roma e em outros lugares, na conservação de bens
culturais móveis.
110 Foi Diretor do Patrimônio Histórico da Argentina nos anos de 1980.
103
Outra temática recorrente nos Boletins eram os artigos que abordavam a questão
da formação. No ano de 1996, por exemplo, encontramos dois artigos: um publicado por
Beatriz Coelho intitulado A formação dos Conservadores/Restauradores no Brasil:
Histórico e Critérios para Avaliação e outro de Marylka Mendes intitulado Formação
Profissional de Conservadores–restauradores de Bens Culturais: realidade ou Utopia? É
interessante observarmos que ambas, Beatriz Coelho e Marylka Mendes, foram
responsáveis por programas de formação em especialização em universidades federais,
UFMG-CECOR e UFRJ-EBA, respectivamente. Em seu artigo, Coelho (1996), apresenta
um amplo histórico sobre a questão da formação do conservador - restaurador no Brasil
destacando as principais instituições responsáveis pela formação, entre elas a UFMG e a
UFRJ, suas contribuições e reconhece o crescimento da área. Por outro lado, ressalta
que:
112A autora está se referindo ao seminário sobre formação, já tratado acima, que apontou as áreas em que
mais se necessitava de mão-de-obra qualificada.
106
(MENDES, 1996, p.11). Destacamos que o debate capitaneado pela ABRACOR, com a
divulgação das discussões apresentadas acima, teve um grande alcance.
Um momento importante na trajetória da ABRACOR e da sua contribuição para o
Campo do patrimônio e Preservação foi a realização do 12º Encontro Trienal do ICOM-
CC no Brasil. O Encontro foi resultado da atuação de Maria Luísa Ramos de Oliveira
Soares, presidente da ABRACOR entre os anos (1996-2001), que esteve presente na
reunião do ICOM, na cidade francesa de Lyon. Naquele momento, a então presidente
conquistou, em nome da ABRACOR, o direito de sediar no Rio de Janeiro o 12th
Triennial Meeting ICOM-CC, pela primeira vez na América Latina em uma disputa em que
a Grécia foi derrotada por 7 votos a zero. O Encontro foi realizado em setembro de 2002
no Rio de Janeiro. Abaixo algumas fotos do evento figuras (7) e (8):
CAPÍTULO 3
O CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM
CONSERVAÇÃO DA UFRJ
109
3.1 A escola de Belas Artes e uma breve trajetória das disciplinas de Conservação-
Restauração.
A Escola de Belas Artes foi oficialmente fundada com a criação da Escola Real
das Ciências Artes e Ofícios por Decreto-Lei de D. João VI, em 12 de agosto de 1816. A
Escola, como outras instituições:
113Arquivo do Museu D. João VI, Escola de Belas Artes da UFRJ (AMDJVI – EBA/UFRJ). Livro de registro
das atas da Congregação da Academia Imperial de Belas Artes (AIBA), 1841, p. 467. (CASTRO, 2013, p. 33).
111
114 Decreto nº. 14.572, que aprova a Aprova o Regimento da Universidade do Rio de Janeiro. Disponível em:
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1920-1929/decreto-14572-23-dezembro-1920-508004-
publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 29/06/2015.
115 Decreto nº. 14.572, que aprova a Aprova o Regimento da Universidade do Rio de Janeiro. Disponível em:
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1920-1929/decreto-14572-23-dezembro-1920-508004-
publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 29/06/2015.
112
116
BRASIL. Decreto nº 21.321, de 18 de junho de 1946. Aprova o Estatuto da Universidade do Brasil.
Disponível em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1940-1949/decreto-21321-18-junho-1946-326230-
publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 27/03/ 2016.
114
Seguindo essa mesma linha de pensamento abordada por Fávero (2006), Cunha
(2007b), afirma que “o principal efeito do CNPq na modernização do ensino superior no
Brasil tenha sido indireto, produzido pelas centenas de professores bolsistas” (CUNHA,
2007b, p.133). Desta forma, ao retornarem ao Brasil, esses professores tentaram
implementar o que vivenciaram em universidades no exterior. Além dessa questão, o
CNPq fornecia subsídio para compra de equipamentos de pesquisa para os laboratórios
ligados aos institutos de pesquisa especializados. Mesmo assim:
115
alguns modelos e/ou formas de pensar a Universidade: modelo francês, modelo alemão e
o modelo norte-americano. O modelo alemão era caracterizado, sobretudo, pela
valorização do saber livre: “Em especial a faculdade de filosofia, onde se desenvolvia o
cultivo do saber livre e desinteressado de aplicação prática” (CUNHA, 2007b, p.18). Já o
modelo norte-americano, que começou a ser pensado ainda na década de 1940,
preconizava o controle dos recursos materiais e humanos da universidade. Assim:
Na então Universidade do Brasil - UB, atual UFRJ, foi ainda na década de 1940
que se começou a trabalhar com a organização em departamentos:
Cabe destacar que o departamento terá uma função central na criação de novas
disciplinas e implementação de cursos como ocorreu, por exemplo, no caso da pós-
graduação em Especialização em Conservação de Bens Culturais Móveis, objeto de
estudo dessa tese. O Curso de especialização foi efetivado após aprovação pelo
Departamento de Artes Base da Escola de Belas Artes da UFRJ.
Voltando a trajetória dos cursos de pós-graduação no Brasil, na então
Universidade do Brasil é pensada uma reforma universitária e, de acordo com Fávero
(2006) “é criada uma Comissão Especial, pelo Conselho Universitário, em fevereiro de
1962, para tratar da questão”. Desta forma:
Importante destacar que esse parecer tem forte influência norte-americana. Como
ressalta Santos são abundantes os termos em língua inglesa como: “master, doctor,
college, graduate school, undergraduate, qualifying, scholarship, major, acreditation”.
(SANTOS, 2003, p. 632). O parecer aponta ainda os conceitos de pós-graduação para as
especificidades sensu stricto e sensu lato:
117 LEI Nº 5.540, DE 28 DE NOVEMBRO DE 1968. Fixa normas de organização e funcionamento do ensino
superior e sua articulação com a escola média, e dá outras providências. Disponível em:
>http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1960-1969/lei-5540-28-novembro-1968-359201-normaatualizada-
pl.pdf. Acesso em: 19/08/2016.
118 DECRETO-LEI. No 465, DE 11 DE FEVEREIRO DE 1969. Estabelece normas complementares à lei nº
Por outro lado, conforme destaca Fávero (2006): “Embora comece de fato a existir
na Universidade pesquisa institucional com auxílios financeiros, essa prática ainda não
pode ser generalizada a todas as áreas” (FAVERO, 2006, p.30). A mesma autora relata
um fato ocorrido com a Prof.ª Eulália Lobo, da área de História:
120 Formado em Desenho pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1959), graduação em Filosofia pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (1959), graduação em Museologia pelo Museu Histórico Nacional
(1963), especialização em Cerâmica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1961), especialização em
Mosaico pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1961), doutorado em História Social pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (1974), aperfeiçoamento em Curso de Artes Industriais pelo Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais (1960), aperfeiçoamento em Introdução à Pintura pelo Museu Nacional de
Belas Artes (1962), aperfeiçoamento em Técnicas Físicas e Químicas Aplicadas aos Objetos pelo Museu
Nacional de Belas Artes (1962), aperfeiçoamento em Arte Italiana XV pela Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (1974), aperfeiçoamento em Tecnologia Educacional pelo Instituto Bennett de Ensino (1975) e
aperfeiçoamento em Classificação do Tecido Histórico pela Centre Internacional D'étude Des Textiles
Anciens (1978). Tem experiência na área de Artes, com ênfase em Fundamentos e Crítica das Artes.
121 A Prof.ª Cordélia Eloy de Andrade Navarro foi diretora da Escola de Belas Artes entre os anos de 1982-
1984.
122 Em 1985, o professor Almir Paredes Cunha apresentou, por parte da Escola de Belas Artes, a solicitação
de regulamentação dos cursos de Pós-Graduação em Artes da Escola de Belas Artes (Processo nº.
27.241/85). Infelizmente, não conseguimos localizar o processo no DGDI.
122
Centro de
Letras e
Artes- CLA
Figura 9 - Organograma de funcionamento do Centro de Letras e Artes - CLA no ano em que foi
implementado o Curso de Especialização em Conservação de Bens Culturais Móveis. (Organizado pela
autora, 2015).
123 A Prof.ª Marylka Mendes formou-se em pintura na Escola de Belas Artes, em 1952. Entre os anos de
1966/67, foi bolsista CAPES no Curso de Restauração, Escuela de Formación Profissional de Restauración,
Instituto Central de Restauración - em Madri, Espanha. Sua carreira como Prof.ª, teve início como auxiliar de
ensino na Escola de Belas Artes em 1957. Em 1979 passou a ser Prof.ª adjunta. Sendo representante dos
Professores Adjuntos junto à Congregação (entre 1981-83) e Representante dos professores junto ao
Conselho universitário (1982). Foi Prof.ª das disciplinas: Modelo vivo I e II, desenho artístico II e Conservação
e restauração I e II. Além de Coordenadora do Curso de especialização em Conservação. Participou de
várias associações de conservação. Sendo uma das Fundadoras da ABRACOR, a qual foi presidente durante
os anos de 1982/88. Ministrou aulas na disciplina de pintura de cavalete, dentro do curso do CECOR, em
Belo Horizonte. E manteve durante mais de 30 anos, um ateliê de restauração no Bairro da Glória, no Rio de
Janeiro. Este ateliê era equipado com maquinários específico, como a mesa de vácuo-pressão utilizada em
processos de restauração, baseada no projeto original de Mikkel Scharff, do Konservatorskolen det Kongelige
Danske Kunstakademi. O projeto da mesa foi inicialmente desenvolvido por duas desenhistas industriais
oriundas da Escola de Belas Artes da UFRJ. Posteriormente o engenheiro Galdino Guttmann Bicho
aperfeiçoou o projeto.
123
124 Processo N. 23079.10.859/89-32. Página 20. Assunto: Aprovação do Curso. Arquivado: Divisão de
Gestão Documental da Informação - DGDI. Código: 33.08.45
125 O CEPG, Conselho de Ensino para Graduados, é o órgão deliberativo da estrutura superior da
Universidade responsável pelas diretrizes didáticas e pedagógicas dos cursos de pós-graduação. Disponível
em : >http://app.pr2.ufrj.br/pr2/oQueECEPG< . Acesso em: 29/06/2016.
124
126No acervo da Prof.ª Marylka Mendes encontramos informações sobre cada uma dessas propostas de
Cursos, incluindo: programas das disciplinas, ementas, bibliografias, entre outras informações. Constituindo
uma importante fonte para futuras pesquisas.
125
127 O outro Curso implementado foi o de Especialização em Restauração de Obras de Arte, organizado e
coordenado pelo professor Edson Motta Júnior, implementado em 1992 e que durou dois anos. Formando
uma turma. Essa Especialização teve como modelo o Curso de Conservação oferecido no Courtauld Institute
of Art . Segundo Edson Motta Júnior (2017): “como a Profa. Elza [Maria Rodrigues Pimentel Lesaffre], chefe
de Departamento, era da área de escultura, ela queria um curso de restauro de escultura. Então criamos um
grupo de restauro de escultura. E quem dava as aulas era um professor chamado Joaquim [de Lemos e
Sousa]”. Este Curso merece ser estudado em futuras pesquisas. Referência sobre o Curso: Relatório do
Curso de Especialização em Restauração de Obras de Arte. Localização: Arquivo Central da UFRJ - Divisão
de Gestão Documental e da Informação - DGDI. Número: 23079.23766/1996.
126
Grande parte dos professores era de fora da UFRJ, às vezes, de outros Estados do
Brasil, a exemplo dos professores oriundos do CECOR/UFMG, ou da própria UFRJ, mas
de outras Unidades como, do Instituto de Química, do Instituto Alberto Luiz Coimbra de
Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia - COPPE e do Museu Nacional
(Departamento de Antropologia). Outros professores eram de Importantes Instituições do
Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa - FCRB, Arquivo Nacional - AN,
Biblioteca Nacional - BN, Museu Histórico Nacional - MHN, entre outras Instituições.
O Curso foi organizado em módulos, com aula o dia todo. Ou seja, era período
integral, cinco dias por semana. Um dos motivos da organização por módulos, com
128 Realizado no Rio de Janeiro de 2 a 4 de dezembro de 1985. Na ocasião, muitos profissionais se reuniram
e se organizaram em dez grupos de trabalho.
129 Ao invés de usarem a terminologia turmas, chamavam de Curso. Dessa forma, a primeira turma, seria o
elevada carga horária, seria para facilitar a estádia e até mesmo porque a remuneração
era pouca, conforme nos afirmou Mendes (2015).
Podemos dizer que a prof.ª Marylka participava de uma ativa “rede humana”:
Por outro lado, para que o Curso funcionasse efetivamente, seria importante
contar com uma infraestrutura especial, isto é, como um Laboratório de Conservação e
de Restauração que abrangesse uma grande gama de materiais. No ano de 1987, foi
elaborado um anteprojeto para criação de um Centro ou Instituto Nacional do Restauro
de autoria da própria prof.ª Marylka Mendes, com a colaboração, na montagem do estudo
preliminar do projeto, dos professores Antonio Carlos Nunes Baptista, Edson Motta
Júnior, além do estudante do 7º período de Arquitetura, Jorge Pftau de Carvalho.
O anteprojeto, oficialmente intitulado Montagem de um Centro de Pesquisa em
Conservação-Restauração de Bens Culturais Móveis: Um estudo preliminar. Tinha como
finalidade o exercício de pesquisa em Conservação-Restauração de bens culturais nas
áreas de Pintura de Cavalete, Têxteis, Papel, Metal, Escultura, Material Etnográfico e
Arquitetura, assim como realizar o restauro do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Ver: ANEXO A- figuras (1 e 2).
A relevância do projeto estava sedimentada na carência notória de pesquisa
sistemática no campo da Conservação de bens culturais. Em razão disso, elaborou-se
um anteprojeto de um Centro de Pesquisa Interdisciplinar que explorasse o potencial
oferecido pelo Campus Universitário visando fomentar o desenvolvimento de atividades
científicas.
O Projeto foi aprovado pela direção da Escola de Belas Artes, através do diretor
Fernando Pamplona e, posteriormente, pelo Reitor. Sendo ainda aprovado no Minc -
Fundação Pró-Memória e Museu Nacional de Belas Artes. O Centro ou Instituto Nacional
de Restauração seria, então, criado na Cidade Universitária. A Ideia do projeto de criação
do Centro ou Laboratório Nacional de Restauro foi apresentada e defendida no CEG
tendo Como relatora a prof.ª Samira Nahid Mesquita que ressaltou os seguintes fatos:
128
130
Arquivo Central da UFRJ (DGDI). Anteprojeto/criação do Centro ou Instituto Nacional de Restauro da
UFRJ (0146-5) Doc.:0000070/1987. Número: 23079.016787/1987-84.
131 Arquivo Central da UFRJ (DGDI). Anteprojeto/criação do Centro ou Instituto Nacional de Restauro da
132Celso Ferreira Cunha, foi professor titular de Língua Portuguesa da Faculdade de Letras da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, de onde foi Decano do Centro de Letras e Artes. Arquivo Central da UFRJ (DGDI).
Anteprojeto/criação do Centro ou Instituto Nacional de Restauro da UFRJ (0146-5) Doc.: 0000070/1987.
Número: 23079.016787/1987-84. Página:15.
130
Tabela 2- Resumos dos cursos: professores e disciplinas ministradas (organizado pela autora, 2015).
131
Tabela 2 (CONTINUAÇÃO) - Resumos dos cursos: professores e disciplinas ministradas (organizado pela
autora, 2015).
132
Tabela 2 (CONTINUAÇÃO) - Resumos dos cursos: professores e disciplinas ministradas (organizado pela
autora, 2015).
Tabela 2 (final) - Resumos dos cursos: professores e disciplinas ministradas (organizado pela autora, 2015).
(seis turmas) haviam compreendido uma experiência bem-sucedida. Por esse motivo,
havia sempre a indicação de que fosse repetida no próximo semestre.
O Primeiro Curso teve seu início em 20 de março de 1989 e terminou em 30 de
julho do mesmo ano. No documento intitulado: “Curso de Conservação em Bens Culturais
Móveis relatório final de Atividades” encontramos as seguintes informações sobre o
Curso:
O Curso de Especialização em Conservação de Bens Culturais Móveis,
da Escola de Belas Artes, constituiu uma iniciativa inédita no âmbito da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, bem como do próprio Rio de
Janeiro133.
Com carga horária de 600h e duração de quatro meses, foi realizado em regime
de tempo integral, com carga horária semanal de 40h. Colaboraram na coordenação os
professores Almir Paredes da Cunha (Subcoordenador), Edson Motta Junior134 (Assessor
Didático), Helenise Monteiro Guimarães (Assessora Administrativa) e Antonio Carlos
Nunes Batista (Assessor Técnico-Científico). No total quatorze professores foram
responsáveis por ministrarem as aulas, mas somente três eram professores efetivos da
UFRJ: Almir Paredes, Marylka Mendes e Edson Motta Junior. Em depoimento, o
Professor Edson Motta Junior (2017) destaca que: “no final dos anos oitenta tivemos
Cursos de Conservação, não de restauração. O primeiro foi organizado por mim e pela
Marylka” (MOTTA JUNIOR, 2017).
Inscreveram-se 33 candidatos, tendo sido selecionados 17 para preencher as
vagas oferecidas. Deste total de 17 alunos, 15 concluíram o Curso com excelente
aproveitamento sendo que 02 dois foram desligados por não terem cumprido os
requisitos de frequência mínima de 85%.
O Curso constou de 13 (treze) disciplinas135 136
: Critérios Estéticos e Históricos
para Conservação; Introdução às Ciências dos Materiais; Documentação; Meio Ambiente
133
Relatório Final de Atividades do Primeiro Curso de Especialização em Conservação de Bens Culturais
Móveis. Julho de 1989. Realizado por Marylka Mendes. Coleção Marylka Mendes.
134 Edson Motta Júnior é Bacharel em História pela Universidade Federal Fluminense (1978), Mestre em
História e Crítica da Arte pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1996) e Doutor em 'Conservacion y
Restauracion de Patrimonio' pela Universidade Politecnica de Valencia (2004). Atualmente é Professor
Adjunto IV da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de Artes, com ênfase em
Restauro, atuando principalmente nos seguintes temas: restauração, pintura, escultura, arte contemporânea
e arte brasileira.
135 Ofício nº183/88 - Enviado pela coordenadora do Curso de Conservação em Bens Culturais Móveis,
Marylka Mendes ao Professor Almir Paredes Cunha, Diretor da Pós-Graduação da EBA. 1988. Arquivo do
Museu D. João VI, Acervo Marylka Mendes.
136
Ainda sobre as escolhas das disciplinas, estava em consonância com a recomendação do Conselho
Internacional de Museus - ICOM para a formação e os estudos teóricos, que deveriam incluir as seguintes
matérias: história da arte e das civilizações; métodos de pesquisas e de documentação; conhecimento da
técnica e dos materiais; teoria e ética da conservação; história e tecnologia da conservação-restauração;
química, biologia e física dos processos de deterioração e dos métodos de conservação. Documento
elaborado pelo ICOM intitulado: “O conservador-restaurador: uma definição da profissão; lembrando que este
134
documento foi traduzido pelo Boletim da ABRACOR, em 1988” (Boletim ABRACOR - ano VIII - N o 1 - julho
de 1988).
137 Carta de Marylka Mendes encaminhada à Lygia de Carvalho Pape. 11 de Outubro de 1989. Arquivo do
Essa comissão na qual faz referência ao Artigo 9º era justamente para verificar,
entre outras questões, a titulação dos docentes. Já no Artigo 7º encontramos:
142 RESOLUÇÃO CEPG Nº 01/88: Dá normas que regulamentam a organização e o regime didático-científico
dos cursos de pós-graduação na UFRJ. Disponível:
>http://app.pr2.ufrj.br/public/suporte/pr2/cepg/resolucaoCEPG/1988_01.pdf< . Acesso em: 29/06/2016
143 Processo N. 23079.10.859/89-32. Página 41. Assunto: Aprovação do Curso. Arquivado: Divisão de
144 Processo N. 23079.10.859/89-32. Páginas 14-29. Assunto: Aprovação do Curso. Arquivado: Divisão de
Gestão Documental da Informação- DGDI. Código: 33.08.45
145 RESOLUÇÃO CEPG Nº 01/88: Dá normas que regulamentam a organização e o regime didático-científico
146 Foi Diretor do Projeto Regional do Patrimônio Cultural Urbano e Ambiental para América Latina e Caribe,
entre os anos de 1976 - 1995.
147 Carta de Marylka Mendes a Sylvio Mutal. 5 de setembro de 1989. Arquivo do Museu D. João VI. Acervo
Marylka Mendes.
139
148Memorando s/nº de Marylka Mendes ao Diretor da Escola de Belas Artes. Autorização de oferecimento do
4º Curso de Especialização em Conservação de Bens Culturais Móveis. 1º de abril de 1992. Arquivo do
Museu D. João VI. Acervo Marylka Mendes.
141
149 O Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural (IBPC) foi uma das denominações que recebeu a instituição
federal de preservação do patrimônio cultural entre 1990 e 1994. O Instituto sucedeu a Secretaria do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e a Fundação Nacional Pró-Memória, esta última, junto com a
Fundação Nacional de Arte (Funarte), extinta em 1990 (BRASIL,1990b). Fonte:
>http://portal.iphan.gov.br/dicionarioPatrimonioCultural/detalhes/54/instituto-brasileiro-do-patrimonio-< Acesso
em: 04/08/2016.
150 Documento: Convênio de Cooperação e Intercambio Técnico Científico, Cultural e Pedagógico. Entre a
Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ e o Instituo Brasileiro do Patrimônio Cultural (IBCP) - Museu
Histórico Nacional. Rio de Janeiro 17 de dezembro de 1991. Arquivo do Museu D. João VI, Acervo Marylka
Mendes.
142
Histórico Nacional que dentre tantas conveniências reconhecemos como uma escola-
viva”151.
A própria prof.ª Marylka Mendes, em entrevista, destacou a questão da dificuldade
em se obter salas no próprio prédio da EBA:
Eu fiquei sem sala. Eu fui procurar um grande amigo meu que foi diretor
da EBA (Fernando Pamplona). Ele disse: se vira. Não me deu sala… Fui
procurar o Fórum de Ciência e Cultura na Praia Vermelha, foi dito que eu
não poderia. Pelo artigo tal que não permite (MENDES, 2015).
Prezados Senhores,
151 Carta de Marylka Mendes à diretora do Museu Histórico Nacional Vera Tostes. Rio de Janeiro 16 de
setembro de 1994. Arquivo do Museu D. João VI, Coleção Marylka Mendes.
152 Carta da Associação de Apoio à Cultura, Educação e Promoção Social - VITAE à Marylka Mendes.
Projeto B-20820/3B002 - Curso de Conservação de Bens Culturais Móveis. São Paulo,7 de junho de 1994.
Arquivo do Museu D. João VI, Acervo Marylka Mendes.
143
153
Livro de registro das Atas da Congregação da Escola de Belas Artes ocorridas no período de 1994-1996.
Localização: M:03 P:05 C:314.
154 Documento elaborado por Antonio Carlos Nunes Batista enviado à Coordenação Geral da Pós-graduação
da EBA solicitando abertura do 6º Curso. Arquivo do Museu D. João VI, Acervo Prof.ª Marylka Mendes.
144
subsistência, o que seria contornado por um horário de tempo parcial, que possibilitaria
um trabalho no resto do dia. Mesmo alguns servidores de instituições públicas se
beneficiariam deste horário parcial, pois, algumas delas se negavam a liberar
integralmente seus funcionários, alegando falta de pessoal, principalmente aquelas
localizadas no Rio de Janeiro e arredores. Estas instituições permitiriam, no entanto, o
afastamento parcial de membros de sua equipe para a melhoria de sua formação e,
consequentemente, a melhor proteção dos bens culturais sob sua guarda.
Pelos motivos acima expostos, necessidade constante de pessoal especializado e
flexibilidade de horário, a proposta era de que o Curso passasse a ser oferecido em
caráter regular, todos os anos, pela Direção Adjunta de Pós-Graduação da Escola de
Belas, e com horários de funcionamento que se alternariam uma vez em tempo integral e
outra em tempo parcial.
No entanto, o Sexto Curso foi o último a ser oferecido. E um dos motivos para seu
término foi a aposentadoria da prof.ª Marylka Mendes, conforme já mencionamos. Além
da dificuldade financeira para manter os professores que não eram do quadro da UFRJ,
uma vez que os professores que eram da UFRJ, não recebiam para ministrarem aulas.
Nas palavras da prof.ª Marylka Mendes:
O último curso, a Universidade disse que não pagava mais, que nós já
estávamos tempo suficiente para termos professores de dentro da
universidade eu tentei argumentar, um quadro de professoras da
restauração, não se formava em dois três dias. Não existia professor
para isso.... Houve uma avaliação da Universidade. Eu já não era mais
professora de lá, já havia me aposentado. Eu me propus a entrar em
contato com os profissionais e que tínhamos Staff para fazer isso:
Biblioteca Nacional, IPHAN, Casa de Rui Barbosa.... Me propus a
trabalhar de graça. Mas não tive apoio de ninguém. Acabou o curso. Um
curso que foi bom, com gente muito séria, que não faltava por nada.
Ninguém reclamava por causa do salário e o salário, era muito ruim.
(MENDES, 2015).
Importante destacar que houve algumas mudanças entre um curso e outro, tanto
em termos qualitativos (como veremos mais detalhadamente adiante) quanto do
conteúdo e das cargas horárias das disciplinas. No que concerne à carga horária,
apresentamos na tabela (3) a seguinte distribuição por Curso:
Carga Horária
Cursos Ano
Primeiro 1989 600h
Segundo 1989 600h
Terceiro 1991 748h
Quarto 1992 748h
Quinto 1994 748h
Sexto 1996 704h
Tabela 3: Carga horária dos Cursos (organizado pela autora, 2015).
O Curso oferecia uma média de carga horária bem maior do que o recomendável
para uma Pós-Graduação, pois, a exigência do MEC era que Cursos de Pós-Graduações
tivessem duração mínima de 360 horas. Uma das justificativas seria que a natureza do
curso de especialização “lato sensu” tinha como objetivo preparar profissionais para o
exercício de uma atividade que exigia uma enorme gama de conhecimentos teóricos e
um acúmulo de experiências práticas:
155Documento elaborado por Antonio Carlos Nunes Batista enviado à Coordenação Geral da Pós-graduação
da EBA solicitando abertura do 6º Curso. Arquivo do Museu D. João VI, Acervo Marylka Mendes.
146
Grupos Disciplinas
Documentação/Exames
Grupo 4: Patrimônio e áreas afins: (Humanas Cultura Material; História da Arte;
e Sociais Aplicadas)
Grupo5: Pesquisa Metodologia da pesquisa
Quadro 1 - Resumo das disciplinas ministradas por área. (Organizado pela autora, 2016).
Grupo 5 - - 5% 5% 5% 4%
Outras Atividades - - 5% - - -
156 A Prof.ª Ecyla Brandão trabalhou na Escola de Belas Artes da UFRJ (1950-1985), juntamente com o
professor Almir Paredes Cunha criou, em 1979, o Museu D. João VI, na EBA. Foi responsável, entre 1962 e
1982, por vários setores dos Museus Histórico Nacional, Museu Nacional de Belas Artes e Museu da
República. Referência: >http://www.museus.gov.br/ex-funcionaria-doa-colecao-de-anais-do-museu-historico-
nacional-ao-cenedom/<. Acesso em: 29/06/2016.
150
Os livros aos quais a prof.ª Marylka Mendes se refere são os que foram doados à
EBA. Encontramos, juntamente com os livros doados, “Uma listagem bibliográfica”,
datada de 1994 e organizada por Thais Helena Almeida, aluna do Segundo Curso.
Podemos observar nesta lista, publicações: periódicos, boletins, jornais de várias
Instituições e/ou organizações. Entre essas publicações, destacamos: The Getty
Conservation Institute; Canadien Conservation Institute, Institut Royal du Patrimoine
Artistique Koninklijk – IRPA; Journal of the American Institute for Conservation;
International Centre for the preservation of Cultural Property – ICCROM.
As áreas temáticas (materialidade): papel, madeira, pedra, pintura de cavalete,
abordadas sobre os vários campos: Ciência dos Materiais (química), Conservação
Preventiva Museus/ Museologia, História da Arte. Entre os livros encontrados abordando
essas temáticas, destacamos: “Curso de Preservação de Acervos Museológicos”, de
Gaël de Guichen. UNESCO-ICCROM. Rio de Janeiro, 1984; “Introdução à Técnica de
Museus”, de Gustavo Barroso, 1946.
151
Observamos que não existe uma grande variação entre titulação dos
professores dos cursos nos países da América Latina. Todos os cursos
possuem professores doutores, mestres e especialistas. O corpo
docente é proporcional às disciplinas oferecidas (VELOSO, 1998, p.
120).
157 Os cursos que fizeram parte do levantamento feito pela autora foram: Curso de Especialização/
Restauração de Bens Culturais Móveis - CECOR /UFMG; Curso de Especialização em Conservação de Bens
Culturas Móveis - EBA/UFRJ, Licenciatura em Arte com Mención em Restauración - Pontifícia Universidad
Católica de Chile; Programa de Restauración de Bienes Muebles - Universidad Externado de Colombia e
Instituto Colombiano de Cultura - Colcutura; Curso de Graduação em Museologia - Centro Nacional de
Conservación - Cuba; Curso Técnico de Restauração e Museologia - Universidade Tecnológica Equinocional;
Curso de Restauración em Pintura de Cavallete (escultura, pintura e Mural ); Programa de Conservación y
Restauración - Instituto Superior Tecnológico Yachay Wasi-Peru; Licenciatura em Conservación y
Restauración de Bienes Culturales Muebles, Escuela Nacional de Conservación, Restauración y Museografia
Manuel del Castillo Negrete e Instituto Nacional de Antropologia y Historia (VELOSO, 1998, p.38).
152
159 Conforme consta na página 5, no dossiê de implantação da pesquisa Divisão de Gestão de Documentos e
da Informação- DGDI- UFRJ. Processo Nº.2379.027133/1991-26. Projeto de Pesquisa Docente (0693-9).
160 Divisão de Gestão de Documentos e da Informação - DGDI - UFRJ. Processo Nº.2379.027133/1991-26.
CECOR - UFMG, MAE-USP, NTPR e CECRE da UFBA, LACRE da Fundação Casa de Rui Barbosa,
ABER/SENAI, PROSERV e a Coordenadoria de Documentação da Pró-Memória (GONÇALVES, 2005).
156
162 É importante destacar que analisaremos algumas publicações em que foram envolvidos em conjunto,
parte do corpo acadêmico do Curso.
157
Figura 11- Capa da publicação Base de Dados sobre Materiais Empregados em Conservação e
Restauração de Bens Culturais
No ano 2011 foi lançada uma nova versão desta obra, revista e ampliada. Contou
com a organização de Thais Helena de Almeida Slaibi, Denise O. Guiglemeti, Wallace A.
Guiglemeti e Marylka Mendes.
163 Instituições e pessoas que colaboraram: Arquivo Público do Estado de Santa Catarina; Atelier de
Restauração M.M, Biblioteca Nacional, Centro de Conservação e Preservação – PROPRESERV, IN-Foto/
FUNARJ, Fundação Casa de Rui Barbosa, Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco,
Fundação Joaquim Nabuco. Imprensa Nacional (Laboratório de Restauração), Arquivo Nacional, Museu de
Arte de Goiânia, Museu de Biologia Professor Mello Leitão e Fundação Nacional Pró-Memória. Contou ainda
com a colaboração de Maria de Fátima Castro Neves e Carlos Regis Gonçalves.
159
A primeira edição da obra “Restauração: ciência e arte” datada de 1996; esse livro
pôde ser editado por um resíduo financeiro da Associação de Apoio à Cultura, Educação
e Promoção Social - VITAE para publicação do Banco de Dados. Conforme depoimento
de Marylka Mendes (2015) “Devido ao confisco monetário imposto pelo governo Collor de
Mello, sobrou um resíduo financeiro que optou-se por aplicá-lo no pagamento da
tradução de dois livros clássicos que são o escopo da Restauração: Ciência e Arte”. Na
ocasião dos primeiros entendimentos com a Editora da UFRJ para a publicação, a prof.ª
Marylka era coordenadora do Curso de Especialização e Antonio Carlos Nunes Baptista,
presidente da ABRACOR. Infelizmente por motivos internos da Editora da UFRJ houve
atraso, sendo este publicado somente em 1996. Na figura (12) abaixo, capa da primeira
Edição:
Professor Artigo
Carlos Regis Leme
Gonçalves Informática e Conservação: perspectivas no Brasil
T.A.G Krätzig165 & Adair IDEAS- Pesquisa sobre degradação de Materiais Pétreos em Monumentos
E. Marques Históricos
Luis de Miranda A restauração de Obras de Arte metálicas
Antonio Carlos Q.
Mascarenhas As variações dimensionais nos bens culturais em madeira
Marylka Mendes Restauração de pinturas Barrocas de Manuel da Costa Athayde
Almir Paredes A História e a preservação de Bens Culturais
Tabela 6- Artigos publicados por professores do Curso. (Organização da autora, 2015).
164 Liliane Kleiner, publicou em 1981, a Obra: “ Les solvants”, pela editora do Institut Royal du Patrimoine
Artistique, contendo 129 páginas.
165 Não ministrou disciplina no Curso, mas colaborou na produção do artigo.
161
166
Artigo do Adair Marques foi publicado originalmente pela Editora Druck und Verlagsgesellschaft, da
Cidade de Aachen, Alemanha, por ocasião das comemorações pelos 20 anos de cooperação científica e
tecnológica entre as Repúblicas do Brasil e da Alemanha.
162
Desta forma, a autora destaca ainda que o trabalho contou com a participação do
professor Almir Paredes Cunha, professor de História da Arte da EBA/UFRJ.
Dialogando com a linha de pensamento exposta por Mendes em seu artigo, o
último artigo, de autoria do professor Almir Paredes Cunha: “A História da Arte e a
Preservação de Bens Culturais - uma colaboração Bilateral”. O autor primeiramente
163
Como podemos observar, assim como Mendes (2005), Cunha também enfatiza a
importância e necessidade do conservador-restaurador ter conhecimento prévio ao
intervir nas obras, o que pode ser obtido através da troca de informações entre
profissionais com formações distintas, contribuindo de uma forma mais eficaz na
preservação dos bens culturais.
Foram traduzidos 15 artigos. A opção pela tradução se deu pelo fato de que,
segundo os organizadores:
Na tabela (7), abaixo, temos a relação dos artigos traduzidos e seus títulos
originais:
Controle de pragas em
museus: a utilização de Museum Management and Curatorship,
produtos químicos e os Oxford: Elsevier Science, v.9,n. 4, p.419-423,
Martyn J. Linnie problemas de saúde correlatos 1990.
XI Triennial Meeting Edinburgh: International
Council of Museums/ Commitee for
Formação de mofo em Conservation, 1996, Edimburgo. Preprints.
ambientes tropicais: discussão Londres: James& James Science Publishers
Graeme Scott Ltd, 1996, v.1.p.163-176
Poluição do ar em interiores: International Journal of Museum Management
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CAPÍTULO 4
RESSONÂNCIAS: ENTRE UTOPIA E
REALIDADE
168
Como podemos observar no gráfico (1), acima, grande parte dos alunos tem
origem na Museologia, nas Belas-Artes e na Arquitetura, áreas que já tinham alguma
aproximação com a conservação. No gráfico (2), abaixo, podemos observar a
proveniência dos egressos:
Gráfico 2 – Gráfico demonstrativo de origem dos egressos. (elaborado pela autora, 2017).
169
Para Helen Rose Takahashi Ikeda; Orlando da Rosa Faria e Denise de Oliveira Regis Maya foram
realizadas entrevistas via e-mail.
171
Senhor Professor,
Pelo presente estou encaminhando a V, Sa, o material relativo ao Curso
de Conservação de Bens Culturais Móveis, abaixo relacionado:
1- Estrutura do Curso
2- Edital para a prova de seleção
3- Programa para a prova de seleção
4- Bibliografia sugerida para prova de seleção
5- Calendário das disciplinas - módulos.
6- Programa das disciplinas171
170 Ressaltamos que não tivemos acesso a todos os editais, programas de seleções de todos os Cursos
(Turmas). Assim, nossa análise será baseada nos documentos que conseguimos encontrar.
171 Ofício número 183/88 – Pós-Graduação/EBA/CLA/UFRJ. Da Coordenadora do Curso de Conservação em
Bens Culturais Móveis ao Professor Almir Paredes Cunha. Assunto: informações sobre o Curso de
Conservação de Bens Culturais Móveis.
172
Já no Edital para segunda turma, além das etapas citadas acima, encontramos a
exigência da prova de língua estrangeira, em Inglês, etapa classificatória que consistia na
tradução de texto. Além da exigência, como critério de avaliação, de experiência anterior
em atividades vinculadas ao setor.
No programa de seleção da primeira turma (1989), podemos observar os temas e
tópicos a serem estudados para prova de seleção:
172 Conforme documento enviado da coordenadora do Curso de Especialização em Bens Culturais Móveis
ao Diretor - Adjunto de Pós-Graduação. Data. 04/09/1991.
173 Nesta informação tomamos como exemplo o Edital da Primeira Turma do Curso.
174 Nesta informação tomamos como exemplo o Edital da Primeira Turma do Curso.
173
Podemos observar a amplitude dos temas. Nota-se que eles não eram
direcionados a área de restauração, mas sim a temas de conservação e de políticas de
proteção e preservação internacionais e nacionais.
Para oferecer subsídios, como bases ao estudo, foram disponibilizados textos na
secretaria do Curso dos programas de Pós-Graduação em Artes visuais na EBA/ UFRJ e
na Biblioteca da Fundação Casa de Rui Barbosa. A seguir, apresentamos a lista com a
bibliografia do Primeiro Curso:
175Programa da prova de seleção do ano de 1989. Fonte: (documento disponibilizado por Thais Helena de
Almeida Slaibi).
174
176
Documento compartilhado por Thais Helena de Almeida.
177 Bibliografia apresentada para o processo seletivo do Quinto Curso. Fonte: Acervo Marylka Mendes
175
Ponto número1:
a. Tecer considerações sobre a instalação de reservas técnicas quanto à
conservação de Bens Culturais Móveis.
b. Como avalia a atuação dos Museus, Arquivos e Bibliotecas brasileiros na
preservação da memória nacional?
Ponto número 2:
a. Fale sobre os aspectos que devem ser observados na preservação de
acervos de valor histórico e artístico.
b. Tecer considerações sobre a necessidade de formação para profissionais
da Conservação e da Restauração.
Ponto número 3:
a. Qual a importância dos documentos (recomendações) nacionais e
internacionais sobre proteção do Patrimônio Cultural?
b. Tecer Considerações sobre a instalação de exposições, a preservação
dos Bens Culturais Móveis em acervos. 179
178 Formada pelo Curso de Museus - Museu Histórico Nacional (1956) e com doutorado em Arqueologia
romana pela Universidade de Coimbra (1973). Atuou principalmente nos seguintes temas: arqueologia,
museus, museologia, educação ambiental, museus abertos, ecomuseus e arqueologia ambiental.
179
Questões das provas para seleção da quarta Turma.
176
Já Frazão (2017), lembra: “o Antônio Carlos falava que não existe conservador-
restaurador que não entende química, se você não entende você destrói um acervo.”
(Frazão, 2017). Por outro lado, Contursi, teve facilidade por ter conhecimento prévio:
“Como eu tenho uma formação na área biomédica, eu já tinha estudado química,
biologia... para mim não era uma novidade” (CONTURSI, 2017).
Ainda sobre os professores, Slaibi ressalta: “Era um pessoal de ponta, que estava
"antenado" com o que estava sendo feito no resto do mundo” (SLAIBI, 2017). Assim:
Por outro lado, Hannesch (2017) lembra-se das aulas sobre cultura material:
“Tivemos uma base geral sobre cultura material e do que a cultura material pode trazer
180Personagem de uma série norte-americana durante os anos de 1985 - 1992. Interpretado por Richard
Dean Anderson, que solucionava problemas usando o conhecimento científico.
179
para área do patrimônio, apesar da gente não lidar diretamente do que a gente chama
hoje [2017] de patrimônio”. E destaca:
182
Carta da Prof.ª Marylka Mendes endereçada a Maria Cristina Ramos Pinto Dias Lima, Priora da Igreja de
Nossa Senhora Monte do Carmo. Rio de Janeiro 16/12/2016.
181
na base de dados Minerva, da UFRJ183 onde nada foi localizado. Uma das Bibliotecárias
da Escola de Belas Artes foi contatada e informou que as monografias não eram
guardadas, somente dissertações e teses184. Contudo, foi encontrada no acervo de
Marylka Mendes uma listagem contendo alguns dados de trabalhos entregues pelos
alunos, aos quais nos propusemos analisar a partir de dois aspectos: a) aquelas que se
conseguiu alguma informação, e b) outras em que tivemos acesso a integra do
documento, seja pelo envio pelos próprios alunos que foram entrevistados, ou em duas
que foram localizadas nos acervos bibliográficos da ABRACOR, custodiado pela
Biblioteca do MAST. Com os dados elaboramos a tabela (8), na sequência:
culturais. Mas que está gradualmente se movendo no uso comum185. Nesse sentido, os
conceitos sobre “bem cultural” irão variar de acordo com a concepção de cultura e de
patrimônio dos grupos sociais. Além disso, podemos perceber, nestas monografias, uma
abordagem para além das questões técnicas. O que está em consonância com o que se
esperava da formação do conservador, que jamais deveria perder de vista a necessidade
de desenvolver e aprofundar a compreensão dos fatores técnicos, científicos, históricos e
estéticos e que contribuísse não somente à preservação, mas também a uma mais
profunda compreensão dos acontecimentos históricos e artísticos relativos aos abjetos
tratados186.
Na ocasião, o incentivo aos cursos de Pós-Graduação e o aperfeiçoamento da
área de Pós-graduação foi burilando os procedimentos e exigências, o que também se vê
refletido na trajetória desta especialização. Não havia inicialmente a exigência de uma
monografia, depois passou a ser requerida; também a forma de apresentação dos
trabalhos começou a se assemelhar às exigências acadêmicas atuais, ainda que não
totalmente. Ao mesmo tempo, são documentos probatórios do que se pensava e como a
Conservação na época foi apreendida por estes egressos, permitindo-nos perceber o
“resultado final” entre o perfil desejável e o que efetivamente se concretizou. Nestes
textos se reflete uma formação marcada pelo aprendizado que se quis cunhar.
A seguir, apresentaremos, por ordem alfabética de autor, os resumos de seis
monografias de conclusão de Curso, dos egressos: Ozana Hannesch, Ariadne Barbosa
de Sousa Motta, Regina Mara Capela Frazão, Helen Rose Takahashi Ikeda, Thais
Helena de Almeida Slaibi e Paulo Cesar Garcez. Ressaltamos que essas monografias
analisadas foram as únicas encontradas. Alguns entrevistados relataram que não
guardaram a própria monografia ou que não fizeram cópia.
4.3.1 – A Conservação dos Bens Culturais Móveis por seus detentores leigos, de
Ariadne Motta
Não destruam tuas casas, não queimem seus livros, conservem tuas
relíquias para que os filhos dos teus filhos saibam contar com orgulho a
tua história.
(Frase de um membro da Comunidade da Cidade Histórica de Serro/MG)
185
As propriedades culturais são classificadas duas grandes categorias: Os Bens móveis que são livros,
manuscritos e outros objetos de caráter artístico e/ou arqueológico, além das coleções científicas; e os Bens
Imóveis: tais como monumentos e edifícios arquitetônicos, artístico e histórico. Além de lugares de interesse
arqueológicos (Daifuku 1969).
186
De acordo como o documento “o conservador-restaurador: uma definição da profissão”, elaborado pelo
comitê do ICOM para restauração, através do Grupo de Trabalho para a Formação em Conservação e
Restauração, em 1984. Fonte: Boletim ABRACOR - ano VIII – N.º 1 - julho de 1988.
184
atuar abordando e apoiando a conservação, com ênfase nas comunidades nas quais os
objetos ou os bens culturais estão inseridos.
E essa mudança cultural, deveria ser vista como resultado da dinâmica interna do
grupo em relação a contatos com sistemas culturais externos. Neste sentido, podemos
observar que a autora fez uma interface com as disciplinas ofertadas no curso (como
apresentamos no capítulo anterior, as disciplinas e seus conteúdos programáticos). Há
uma ênfase dela em aliar as questões teóricas ao fazer prático-metodológico. Para
autora, o tema escolhido foi devido: “aos questionamentos existentes sobre uma
abordagem mais sistemática com relação à diversidade de materiais e técnicas que
compõem o acervo documental, arquivístico e artístico” (IKEDA, 2017).
Ao mesmo tempo, a autora reconhece que uma das formas de se consolidar um
campo disciplinar é definindo sua metodologia. Percebe-se a ênfase na temática
conservação preventiva, o que fica evidente em todo texto.
189
Não nos cabe discorrer sobre a restauração, pois esta é uma outra
atividade a ser analisada detidamente pelos inúmeros aspectos que
envolve. O que desejamos é propor a discussão sobre quais os limites
da atividade de conservação e restauração, com referência à intervenção
no objeto (HANNESCH, 1992a, p.23).
Há outro aspecto que pode ser destacado em seu trabalho, que tem relação com
a formação da aluna durante o Curso e seu encontro com o campo da arte e da
antropologia, das concepções de cultura: [...] “Tivemos uma base geral sobre cultura
material e do que a cultura material pode trazer para área do patrimônio”. (HANNESCH,
2017). Voltando a análise do Trabalho de Conclusão, a autora destaca:
187 Formada em arquivologia, ver nota biográfica, no anexo "B", HANNESCH, O.. A Conservação de Bens
Culturais. In: Metodologias de Preservação de Bens Culturais, 1992, Rio de Janeiro. VI Seminário Nacional
da ABRACOR. Rio de Janeiro: ABRACOR, 1992. p. 151-174.
188 Encontra-se disponível na Biblioteca do Museu de Astronomia e Ciências Afins - MAST.
190
Paulo Cesar Garcez apresentou como tema para monografia final do quarto Curso
de Especialização, “abordar criticamente as soluções adotadas pelo Departamento do
Patrimônio Histórico Paulistano para conservação de obras de mármore ao relento, nos
logradouros públicos de São Paulo” (1992, p.1). A monografia abordou, portanto, os
seguintes temas: o uso dos mármores em obras de arte ao relento no ocidente: aspectos
históricos; A proteção à obras de arte em logradouros públicos no exterior e no Brasil:
Teoria e legislação; A conservação dos mármores ao relento: problemas, técnicas e
partidos de intervenção; Os mármores paulistanos ao relento e sua conservação através
da DPH. Apresentou ainda, conclusão, notas e bibliografia, contendo 71 páginas.
Garcez enfatizou que o tema era relevante para a pedra e seus fatores de
degradação, bem como para as medidas de conservação e restauro dispensadas aos
monumentos culturais: “tem sido objeto frequente da imprensa nacional e estrangeira.
Indicando que há um maior interesse e conscientização por parte do público e da
demanda de informações gerais sobre tais aspectos” (GARCEZ, 1992, p.1). Elencou,
ainda, as causas dos danos causados aos monumentos e acrescentou:
O que motivou Frazão pela escolha do tema foi seu interesse pela Moda:
Esse vestido de apenas trinta e sete anos não tem nem condições de ser
manuseado pelos técnicos da Casa, devido ao acelerado processo de
decomposição de suas fibras e do descolamento de seus bordados, pois
cada vez que é manuseado, perde partes do bordado ou do tecido
(FRAZÃO, 1992, p. 75).
Nas considerações finais, a autora faz uma crítica à sua conservação, ressaltando
que:
Figura 25 - Planta desenhada pela autora, Figura 26 - Planta esquemática desenhada pela
demonstrando a área a ser modificada (SLAIBI autora, demonstrando como ficaria a área após as
1989, p.11). modificações propostas (SLAIBI 1989, p.12).
192 Bacharel em História (FFLCH-USP, 1981), Especialização em Bens Culturais Móveis (Escola de Belas
Artes - UFRJ, 1991-1992), Especialização em Celulose e Papel (Pós-Graduação Lato Sensu, 2016), Curso
Técnico em Celulose e Papel (2004/ 2005). Atua na área de Conservação e Restauração de Documentos,
Livros e Obras de Arte em Papel desde 1983, tendo trabalhado em Instituições como Instituto de Pré-História
(USP 1981), Museu Paulista-USP (Museu do Ipiranga, 1985-1986), Museu de Arte Contemporânea (1989),
Fundação Bienal de São Paulo (1989-1990), Museu Lasar Segall (1988 - 1989). Atelier particular desde 1990,
Proprietária de MEI (Microempresa) desde 2011.
199
da cultura as obras restauradas por esta especialista causaram quando foram ou são
expostas? Ou quantas pesquisas foram realizadas tendo como fonte documentos
conservados e restaurador por Ikeda? Sobre seu aproveitamento no Curso, Helen
ressalta:
193Segundo depoimento do Professor Edson Motta Júnior em entrevista concedida à autora dessa tese.
(MOTTA JUNIOR, 2017).
200
Foi um curso muito bom que me deu uma base muito boa quando, logo
depois, eu consegui uma bolsa para estudar nos Estados Unidos. Foi o
primeiro curso de referência de acesso para quem queria ingressar na
área da Conservação. E desse curso saíram excelentes profissionais.
Uns foram para o CECOR, eu fui fazer o mestrado em Nova Iorque... E a
metodologia e o conteúdo do curso foram muito importantes. Quando eu
estudei nos Estados Unidos eu tinha um conhecimento sobre
Conservação que os meus colegas de turma não tinham e foi esse curso
que me deu toda essa base (NUNES, 2017).
Considero que foi válido para minha formação. É claro que ninguém
sairia dali preparado para o mercado de trabalho. Até porque, como eu
falei, ele era mais conceitual, teórico do que prático. [...] E também a
parte de fotografia, que eu nunca tinha visto, a parte de papel, coisas
que eu nunca havia visto. A parte teórica de todas elas foi muito
interessante. Eu acho que só somou ao meu conhecimento. Como eu
falei, eu não iria sair para o mercado de trabalho, mas essa também não
era a proposta do curso. Em seis meses, que na realidade não chegam a
ser seis meses o semestre, não capacita nenhum profissional em área
nenhuma para o mercado de trabalho (PAIVA, 2017).
Uma parte que merece destaque na pesquisa desta tese é a relação entre os
egressos do Curso com a ABRACOR. Aqui, retornaremos ao pensamento de Bourdieu
(2004) em relação ao campo científico, já trabalhado no capítulo 1 desta tese. É certo que
a Prof.ª Marylka Mendes detinha o poder político, institucionalizado, ao ocupar o cargo de
coordenadora, aliado também ao prestígio pessoal. Dessa forma, ao convidar os alunos a
fazerem parte da ABRACOR, busca o fortalecimento de um campo do saber, contribuindo
para sua autonomia. Bourdieu considera que é difícil e demorado aos que estão se
inserindo ou se firmando no campo científico:
Já Claudia Regina Nunes (2017), em entrevista, assim relata como entrou para
ABRACOR:
Dessa forma, a ABRACOR acabou por dividir espaço com a ABM, conforme já
relatamos no capítulo 2. Outra forma de se compreender a relação entre os egressos
com a ABRACOR é analisando os artigos publicados nos Anais e Boletins da ABRACOR.
Como apresentaremos no levantamento feito nos primeiros anais e boletins da
ABRACOR, nos artigos publicados por egressos (de autoria própria ou compartilhados).
Conforme podemos observar no anexo C, entre os anos de 1988 a 1998 foram
publicados 26 artigos. Dentre esses artigos, 25 foram sobre atividades teórico-práticas,
metodologia ou resultados de pesquisas sobre conservação e restauração. Encontramos
um artigo sobre a formação do conservador. Já nos Boletins da ABRACOR, entre 1996 a
1998, encontramos quatro artigos, sendo três resultados das atividades de conservação-
restauração e um sobre formação do conservador194.
Assim, podemos dizer que o curso de Especialização em Conservação de Bens
Culturais Móveis alcançou seu objetivo ao formar profissionais com a consciência de que
era preciso contribuir para consolidação do campo da Conservação, pois: “qualquer que
seja o campo, ele é objeto de luta tanto em sua representação quanto em sua realidade”.
(BOURDIEU, 2004, p.28-29). Uma luta da qual participam os vários agentes sociais
tantos internos, quanto externos ao campo. O perfil dos egressos, portanto, foi decisivo
para atender às expectativas do Curso.
Mais do que formar e diplomar, podemos observar que a Prof.ª Marylka, bem
como os outros professores, quase todos integrantes da ABRACOR, buscavam passar
para os estudantes uma ideia de sentimento de classe, de identidade. Na qual eles
poderiam e deveriam defender, seja através de suas filiações, publicações ou
compartilhando os conhecimentos adquiridos.
194 Uma parte do levantamento sobre os artigos com a temática “documentos gráficos em papel”, nos foi
fornecida pela pesquisadora Ana Carolina Neves Miranda. A pesquisadora fez um levantamento sobre os
artigos publicados pela ABRACOR com a temática conservação-restauração de papel, no âmbito do projeto
de pesquisa; “Identificação da terminologia aplicada ao diagnóstico do estado de conservação e às propostas
de tratamento de documentos gráficos em papel”, coordenado por de Antônio Carlos Augusto Costa e Ozana
Hanesch, do Laboratório de Conservação de Papel - LAPEL do Museu de Astronomia e Ciências Afins-
(MAST).
205
CONSIDERAÇÕES FINAIS
206
CONSIDERAÇÕES FINAIS
causas. Dessa forma, o capital humano está para além da questão material. Assim,
temos o sujeito social e histórico, que possui determinadas pretensões.
A riqueza da trajetória histórica deste curso é uma história que está sendo
organizada e sistematizada de forma inédita. Em síntese, podemos dizer que a
experiência de pensar o que existe de importante nessa história pode vir a suscitar novas
pesquisas e debates. Sobretudo o período estudado na UFRJ, onde ocorreu outro Curso
de Especialização em Restauração de Obras de Arte entre 1992 e 1994, baseado no
modelo do Curso de conservação do Courtauld Institute of Art, coordenado pelo prof.
Edson Motta Júnior.
Entre a realidade e a utopia, tivemos egressos do Curso que foram atuar na área,
seja na Conservação-Restauração na prática, na academia, na pesquisa ou/e na luta
para o reconhecimento profissional. Das utopias sobrou o irrealizável, a ilusão do que
poderia ter se tornado um dos momentos cruciais para que o Rio de Janeiro se
mantivesse em evidência no campo da Conservação e da Conservação Preventiva. Não
podemos esquecer que tínhamos já aqui um Curso de Museologia, com disciplinas de
Preservação e de Conservação Preventiva. Além da Escola de Belas, a antiga capital
federal concentrava outras grandes instituições de relevância para o florescimento do
campo, como: museus, arquivos e bibliotecas alguns com seus próprios laboratórios de
conservação-restauração.
Atualmente, posta a complexa conjuntura nacional e internacional, estamos diante
de um grande desafio que indica caminhos com muitas perdas e retrocessos, não só
nesta área, mas em diversas áreas. Contudo, também, como a história está aberta,
podemos ter outros caminhos, contornos e possibilidades mais favoráveis ao cenário da
educação.
210
REFERÊNCIAS
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SÁ, Ivan Coelho de; GIBELLI, Alessandra; KETZER, Daisy. A formação de profissionais
em conservação no Brasil. In: GRANATO, Marcus; ROCHA, Claudia Regina; SANTOS,
Claudia Penha dos (Org.). Conservação de acervos. Rio de Janeiro: MAST, 2007. p.
145-161. (Mast Colloquia, v. 9).
SANTOS, Ana Lúcia Felix dos; AZEVEDO, Janete Maria Lins de Azevedo. A pós-
graduação no Brasil, a pesquisa em educação e os estudos sobre a política educacional:
os contornos da constituição de um campo acadêmico. Revista Brasileira de Educação,
Pernambuco, v. 14, n. 42, p. 534-605, set./dez. 2009.
SARLO, Beatriz. Tempo passado: cultura da memória e guinada subjetiva. São Paulo:
Companhia das Letras, 2007.
VASCONCELOS, Ana Teresa A.; SANTOS, Juliana Amaral dos. Os cartazes da sala
FUNARTE: uma visão da política cultural de 1978-2005. (Escritos, 4). Disponível em:
<http://www.casaruibarbosa.gov.br/escritos/numero04/ana.pdf >. Acesso em: 10 jul. 2017.
VENTROMILLA, Clayton Daunis. Política cultural nos anos 70: controvérsia e gênesis
do Instituto Nacional de Musica da FUNARTE. Disponível em:
<http://www.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/palestras/Politicas_Culturais/II_Seminario
_Internacional/FCRB_ClaytonDaunisVetromilla_Politica_cultural_nos_anos_70.pdf>.
Acesso em: 20 jun. 2017.
WERTHEIN, Jorge; CUNHA, Célio da. Fundamentos da nova educação. Brasília, DF,
2000. (Cadernos da UNESCO. Série Educação, v. 5). Disponível em:
<http://unesdoc.unesco.org/images/0012/001297/129766por.pdf>. Acesso em: 20 jul.
2017.
ARQUIVOS CONSULTADOS:
Carta de Marylka Mendes à diretora do Museu Histórico Nacional Vera Tostes. Rio de
Janeiro 16 de setembro de 1994. Arquivo do Museu D. João VI, Acervo Marylka Mendes.
Documento elaborado por Antonio Carlos Nunes Batista enviado à Coordenação Geral da
Pós-graduação da EBA solicitando abertura do 6º Curso. Acervo Marylka Mendes.
Ofício nº061/96 enviado por Vera Lucia Bottrel Tostes a Antonio Carlos Nunes Batista.
Confirmação para realização do Curso de Especialização no MHN. Rio de Janeiro
fevereiro de 1996. Acervo Marylka Mendes.
ANEXOS
234
ANEXO A
235
ANEXO A – Figura 1
Setores do laboratório
Fonte: Arquivo Central da UFRJ (DGDI). Anteprojeto/criação do Centro ou Instituto Nacional de Restauro da
UFRJ (0146-5) Doc:0000070/1987.Número: 23079.016787/1987-84. Página 9.
236
ANEXO A – Figura 2
Organograma
Fonte: Arquivo Central da UFRJ (DGDI). Anteprojeto/criação do Centro ou Instituto Nacional de Restauro da
UFRJ (0146-5) Doc.: 0000070/1987.Número: 23079.016787/1987-84. Página 5.
237
ANEXO A – Figura 3
Fonte: Arquivo Central da UFRJ (DGDI). Anteprojeto/criação do Centro ou Instituto Nacional de Restauro da
UFRJ (0146-5) Doc.:0000070/1987.Número: 23079.016787/1987-84. Página 1
238
ANEXO A – Figura 4
Desenho da fachada do prédio e planta do primeiro pavimento
Fonte: Anteprojeto para criação do Centro ou Instituto Nacional do Restauro. Desenho da fachada do prédio e
planta do primeiro pavimento.1987. Arquivo do Museu D. João VI. Acervo Marylka Mendes.
239
ANEXO A – Figura 5
Planta do segundo pavimento
Fonte: Anteprojeto para Criação do Centro ou Instituto Nacional do Restauro. Planta segundo pavimento,
1987. Arquivo do Museu D. João VI. Acervo Marylka Mendes.
240
ANEXO A – Figura 6
Carta enviada pela Diretora do Museu ao coordenador Antonio Carlos Nunes Baptista
confirmando que o Sexto Curso poderia ser realizado no MHN.
ANEXO B
ANEXO B
Primeira Turma
Denise Nenhum Rio de Janeiro Possui Graduação em Pintura Escola de Belas Artes da
Oliveira resultado foi Universidade Federal do Rio de Janeiro (1998).
Guiglemeti encontrado Especialização em Conservação de Bens Móveis pela
Data da busca: Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de
13/03/2017 Janeiro (1989). Especialização em Conservação e
243
Deolinda Nenhum Rio de Janeiro Possui graduação em Pintura pela Escola de Belas Artes da
Conceição resultado foi UFRJ (1985). Especialista em Conservação de Bens
Taveira encontrado Culturais Móveis (1989) e em Gestão do Patrimônio Cultural
Moreira Data da busca: Integrado ao Planejamento Urbano da América Latina pelo
13/03/2017 ITUC, AL. Cátedra da UNESCO. Foi no período de 2011 a
2014 superintendente de Patrimônio Histórico e Artístico da
Secretaria de Estado da Cultura de Goiás. Tem experiência
na área de Artes, com ênfase em Conservação de Bens
Culturais Móveis, e na Gestão.
Eduardo Nenhum Petrópolis, RJ
Fernandes de resultado foi
Mello encontrado
Data da busca:
13/03/2017
Elizabeth do Nenhum Rio de Janeiro Atualmente trabalha na empresa Libra Cultural, na área de
Valle Souto resultado foi conservação e restauração.
Soares encontrado
Data da busca:
13/03/2017
Fátima Nenhum Porto Alegre, RS Museóloga no Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico
Bevilaqua resultado foi Nacional (IPHAN) é formada pela UNIRIO e possui
Contursi encontrado especialização em Metodologia do Ensino Superior pela
Data da busca: UERJ, e História da Arte Sacra pela Faculdade de São
13/03/2017 Bento, RJ. Chefe da Seção de Exposição e Coordenadora
técnica do Paço Imperial, Rio de Janeiro; Diretora do Museu
Casa de Benjamin Constant, Santa Teresa, Rio de Janeiro.
Laura Pereira Nenhum Rio de Janeiro
de Castro resultado foi
encontrado
Data da busca:
13/03/2017
Luciana Nenhum Formada em Educação artística no Instituto Metodista
Coutinho da resultado foi Benett. Especialização em Conservação de Bens Culturais
Silveira encontrado Móveis (1989). Mestre em Conservação Têxtil pelo Textile
Data da busca: Conservation Center/ Courtauld Institute of Art na Inglaterra
13/03/2017 (1995). Atuou na área de conservação e restauração de
têxteis em instituições como: Museu Paulista na Divisão de
Acervo e Curadoria, British Museum e Victoria and Albert
Museum.
Maria da Nenhum Rio de Janeiro
Glória Silva resultado foi
Lagoeiro encontrado
Data da busca:
13/03/2017
May Christina http://buscatextu Rio de Janeiro Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela
Cunha Paiva al.cnpq.br/busca Universidade Santa Úrsula (1984). Possui também
textual/visualiza graduação em Pintura pela Escola de Belas Artes/UFRJ
cv.do?id=K4723 (1991). Especialista em Conservação de Bens Culturais
244
Segunda Turma
Nome Lattes Naturalidade Observações
Geraldina Andrade Nenhum resultado foi encontrado Tiros, MG
Data da busca: 13/03/2017
Ilza de Sant’anna http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual São Paulo, SP Possui graduação em
Pizarro /visualizacv.do?id=K4786816H6 Arquitetura e Urbanismo pelo
13/03/2017 Instituto Metodista Bennett
(1997). Tem experiência na
área de Arquitetura e
Urbanismo.
Ligia Borges de Nenhum resultado foi encontrado São Paulo, SP
Andrade Data da busca: 13/03/2017
Marcia de Paiva Nenhum resultado foi encontrado Rio de Janeiro
Data da busca: 13/03/2017
Mariselena Pedrosa Nenhum resultado foi encontrado Resende, RJ
Fausltich Data da busca: 13/03/2017
Martha Ricardo Corrêa- Nenhum resultado foi encontrado Rio de Janeiro
Barbosa Data da busca: 13/03/2017
Terceira Turma
Nome Lattes Naturalidade Observações
Adrianna Nenhum resultado foi Título do trabalho final:
Figueiro encontrado Museu de Folclore Edson Carneiro:
Filard Data da busca: 13/03/2017 madeira e conservação.
Afonso Nenhum resultado foi Formação em museologia. Foi
Bensabat encontrado museólogo do Museu do Colégio Pedro II
Pinto Vieira Data da busca: 13/03/2017 e responsável pelo Laboratório de
Digitalização do Acervo Histórico.
Ângela Nenhum resultado foi
Carolina encontrado
Castro Vieira Data da busca: 13/03/2017
Helen Rose Nenhum resultado foi São Paulo Bacharel em História (FFLCH-USP,
Takahashi encontrado 1981). Especialização em Bens Culturais
Ikeda Data da busca: 13/03/2017 Móveis pela Escola de Belas Artes/UFRJ
(1991-1992), Especialização em Celulose
e Papel (Pós-Graduação Lato Sensu,
2016), Curso Técnico em Celulose e
Papel (2004- 2005). Atua na área de
Conservação e Restauração de
Documentos, Livros e Obras de Arte em
Papel desde 1983, tendo trabalhado em
Instituições como Instituto de Pré-História
(USP, 1981), Museu Paulista-USP
(Museu do Ipiranga, 1985-1986), Museu
de Arte Contemporânea de São Paulo
(1989), Fundação Bienal de São Paulo
(1989-1990), Museu Lasar Segall (1988-
1989). Atelier particular desde 1990.
Proprietária de Microempresa desde
2011.
Lúcia Mafra Nenhum resultado foi
da Silva encontrado
Data da busca: 13/03/2017
Orlando da Nenhum resultado foi Vitória, Espírito Graduação em Artes
Rosa Faria encontrado Santo Plásticas pela Universidade Federal do
Data da busca: 13/03/2017 Espírito Santo – UFES; Especialista em
conservação de bens culturais móveis –
UFRJ (1992); Especialista em História da
Arte e Arquitetura no Brasil Pontifícia
Universidade Católica do Rio de
Janeiro PUC-RIO e Mestre em História
Social da Cultura, PUC-RIO. Atualmente
é professor adjunto do Centro de Artes
da Universidade Federal do Espírito
Santo e faz doutorado na Escola de
Belas Artes da Universidade de Lisboa,
Portugal.
Ozana http://buscatextual.cnpq.br/bu Rio de Janeiro Possui graduação em Arquivologia pela
Hannesch scatextual/busca.do Universidade Federal Fluminense (1989),
Data da busca: 13/03/2017 especialização em Conservação de Bens
Culturais pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro (1992). Mestre em Museologia e
Patrimônio, pela UNIRIO (2013). Até janeiro de
2011, foi responsável pelo Laboratório de
Conservação e Restauração de Papel -
LAPEL, subordinado à Coordenação de
Documentação e Arquivo do Museu de
Astronomia e Ciências Afins - MAST. É
membro da Câmara Técnica de Preservação
de Documentos do Conselho Nacional de
Arquivos - CONARQ. Professora Colaboradora
do Mestrado Profissional em Preservação de
246
Quarta turma
Quinta Turma
Nome Lattes Naturalidade Observação
Catarine de Cássia Nenhum resultado Título da monografia: Sobrados da Penha:
Lambe foi encontrado uma proposta para preservação, conservação
Data da busca: e tombamento.
13/03/2017
Cristine Bicalho Nenhum resultado Título da monografia: Pinturas e esculturas
Canêdo Freitas foi encontrado conservadas no Museu D. João VI.
Data da busca:
13/03/2017
Darsone Aparecida Uit Nenhum resultado Título da monografia: Paramentos religiosos
foi encontrado da Igreja Nossa Senhora do Monte do
Data da busca: Carmo.
13/03/2017
Juarez Fonseca Nenhum resultado Título da monografia: Museu Histórico
Mendes Guerra foi encontrado Nacional: climatização ou aclimatização de
Data da busca: acervos 1994/1995.
13/03/2017
Mônica Moreira da Título da monografia: Preservando a memória
Silva do papel.
Sexta Turma
Nome Lattes Naturalidade Observação
Alejandra http://buscatextual.cnpq.br/b Buenos Aires, Buenos Aires, 1971. Bacharel em
Saladino uscatextual/visualizacv.do?i Argentina. Museologia pela Universidade Federal do
d=K4796714A3 Estado do Rio de Janeiro (1995);
Especialista em Conservação de Bens
Data da busca: 13/03/2017 Culturais Móveis pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (1996); Mestre
em Memória Social pela Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro
(2004); Doutora em Ciências Sociais pela
Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (2010) e Mestre em Arqueologia
pelo Museu Nacional/Universidade
Federal do Rio de Janeiro. É professora
adjunta do Departamento de Estudos e
Processos Museológicos, Escola de
Museologia, Universidade Federal do
249
ANEXO C
ANEXO C
Anais da ABRACOR
Anais Ano Autores Artigo Págin
as
IV Volume I 1988 MASCARENHAS, Os Produtos Preservadores para a madeira e a 1a
Antônio Carlos restauração dos Bens Culturais. 21
IV Volume I 1988 MASCARENHAS, Os insetos xilófagos, os monumentos e os museus. 1a
Antônio Carlos 26
IV Volume II 1988 MENDES, Marylka Cursos de Extensão em Conservação-Restauração de s/p
Bens Culturais Móveis da Universidade Federal do Rio
de Janeiro.
IV Volume II 1988 SOUSA, Luiz Antônio Análise de materiais constitutivos de obras de arte: 1a9
Cruz. exemplo de aplicação em telas de Manoel da Costa
Athayde.
V 1990 MENDES, Marylka; As seis telas de Manuel da Costa Athayde do Museu 6a
CUNHA, Almir Mineiro. 15
Paredes.
V 1990 MOTTA, Edson Jr.; A aparência dos vernizes, uma avaliação prática. 30 a
VOREN, Camilla Van. 44
V 1990 MASCARENHAS, Ensaios Laboratoriais de durabilidade natural de três 123 a
Antonio Carlos madeiras brasileiras face à ação de térmitas de madeira 130
Queiroz. seca.
VI 1992 OLIVEIRA, Denise. Aplicação de compressas para remoção de vernizes. 8a
17
VI 1992 PAIVA, May Christina Adaptação de um suporte para reentelamentos 18 a
Cunha Paiva. transparentes. 22
VI 1992 MOREIRA, Deolinda Fixação e consolidação de camada pictórica e 30 a
Conceição Taveira. substratos; eliminação de micro-organismos. 51
VI 1992 HANNESCH, Ozana A conservação de bens culturais moveis. 151 a
173
VII 1994 HANNESCH, Ozana; Climatização de acervos: um estudo de caso. 75 a
ROCHA, Solange. 81
VII 1994 MENDES, Marylka; Influências, Comportamentos e Tendências na Formação 118 a
HORTA, João Carlos. do Corpo de Arte no Brasil. 123
VII 1994 MENDES, Marylka; et Residência Rural do Século XIX no vale do Paraíba e 124 a
al. seu Processo de Restauração. 126
VII 1994 NUNES, Cláudia Restauração do Estofamento de palinha: Satte de Ducan 147 a
Regina. Phyfe. 152
VII 1994 PAIVA, May Cristina O desenvolvimento de um método para tratamento de 158 a
Cunha de. uma pintura sobre eucatex/duralex, com deformações 161
panares.
VII 1994 SOUZA, LUIZ. A.C Uma contribuição ao Estudo da Policromia nas 270 a
esculturas mineiras dos períodos Barroco e Rococó 275
VIII 1996 MENDES, Marylka; Projeto para a Restauração dos painéis do Palácio Pedro 217 a
OLIVEIRA, Denise. Ernesto, Câmara Municipal do Rio de Janeiro. 224
VIII 1996 SILVEIRA, Luciana A escolha de abordagens na conservação de têxteis 281 a
Coutinho da. arqueológicos, vista no tratamento de duas túnicas pré- 286
colombianas.
VIII 1996 MIRANDA, Luiz Aplicação de “spots tests” na restauração do Palácio 339 a
Roberto Martins de; Pedro Ernesto, Rio de Janeiro. 342
entre outros.
VIII 1996 LAGO, Dalva C. Produtos de Corrosão formados em monumentos de 343 a
Baptista do; bronze. 347
252
MIRANDA, Luiz
Roberto Martins de
IX 1998 Regis, Denise Viana; A Capela do Santíssimo da Igreja do Mosteiro de São 28 a
Souza, Luis A. C. Bento do Rio de Janeiro: aspectos científicos do estado 31
de conservação.
IX 1998 SOARES, Maria Arte contemporânea: criação e implantação de um 181 a
Luisa R.O; ente Núcleo de Pesquisa e Treinamento no Rio de Janeiro. 190
outros.
IX 1998 NUNES, Cláudia A restauração da Batalha de Campo Grande. Pedro 204 a
Regina; Trucco Américo-1871. 209
Richard E.
IX 1998 NUNES, Cláudia A restauração do traje da coroação do Imperador D. 321 a
Regina. Pedro II: uma intervenção com adesivo Beva 371. 323
IX 1998 NUNES, Cláudia Uma restauração de têxteis atípica: as roupas de 324 a
Regina. Carmem Miranda. 326
Boletins da ABRACOR