Serrinha - Pacujá.
Serrinha - Pacujá.
Serrinha - Pacujá.
Centro de Ciências Humanas e Sociais – CCH Museu de Astronomia e Ciências Afins – MAST/MCT
por
FOLHA DE APROVAÇÃO
Aprovada por
143
Às minhas famílias,
Do Ceará
e do Rio de Janeiro
iv
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos aqueles que contribuíram de forma direta e indireta para a
construção deste trabalho, todas as informações e sugestões que recebi serviram para
complementar a pesquisa.
Ao meu irmão Carlos Alberto, pela companhia e atenção dada em todas as visitas
realizadas na Serrinha e também por facilitar a aproximação com os moradores da
Serrinha.
À Deusana Machado, minha orientadora, com sua agenda sempre lotada sempre
arrumou tempo para escutar e ajudar a resolver os problemas intelectuais e pessoais,
partilhando seu conhecimento e tornando-se amiga para além dos muros da
universidade.
Ao Senhor Raimundo Abreu e Senhora Laurita Pereira, pela acolhida em sua
residência na Serrinha, sempre com simples e importantes palavras que contribuíram
para este trabalho.
Aos professores do PPG-PMUS que tanto contribuíram para as reflexões nesta
dissertação
Aos Colegas de Turma do PPG-PMUS, Raniele Menezes, Karina Muniz, Rita Matos,
Rosa Gonçalves, Eduardo Pimentel, Vânia Ventura, Teresa Silveira, Raquel Villagran,
Glória Gelmini, Mariana Novaes, Ana Audebert, Denise Argenta, Joana Lima, Marcela
Sanches e Inês Gouveia que contribuíram com discussões e reflexões diversas sobre
patrimônio no decorrer do curso.
À Prefeitura Municipal de Pacujá, em especial o vice-prefeito Alex Melo e o Secretário
de Meio Ambiente Francisco Oliveira pela boa vontade de participar da pesquisa e
contribuir com informações.
À Professora Somália Viana, pelos esforços nos estudos da Paleontologia e
reconhecimento do Patrimônio de Pacujá.
Ao Gustavo Berriel, por estar sempre ao meu lado ajudando e apoiando em todas as
horas.
À Josiane Kunzler, pela companhia nas leituras, viagens e apresentações e por tornar-
se uma verdadeira amiga.
A todos os pesquisadores que contribuíram com seus trabalhos que agregaram mais
possibilidades de interpretação dos temas da pesquisa.
v
RESUMO
SILVA, Adelmo Braga da. Serrinha (Pacujá – CE): Valor Patrimonial, musealização e
conservação. Orientador: Deusana Maria da Costa Machado. UNIRIO/MAST. 2016.
Dissertação.
ABSTRACT
SILVA, Adelmo Braga da. Serrinha (Pacujá – CE): Valor Patrimonial, musealização e
conservação. Supervisor: Deusana Maria da Costa Machado. UNIRIO/MAST. 2016.
Dissertation (Master’s).
In this study We investigated the heritage potentialites presented by an area called Serrinha,
situaded in Pacujá city, State of Ceará, Brazil, articulating contributions coming from Museology
and Heritage in interface with other diverse knowlede that have been identified in the
development of this research. We deal with issues that permeate the study of Heritage in
polisemic and integral perspectives. We meet many challenges in the course of the research,
whereas the theme of Natural Areas and Heiritage still has little academic production. We start
from teoretical reflections involving the themes Nature, Heritage and Musealization and We are
looking to integrate this knowledge with the elements that present heritage potential in Serrinha.
The Serrinha’s assigned values informations were obtained by surveying the scientific
production, application of questionnaires with residents of Pacujá and interviews with the
residents of Serrinha, Researchers, and representatives of the municipal public administration,
that way, after confronting this informations We got results that show multiple forms to value, to
appropriate and perceive te elements that composse the Serrinha’s heritage potential, allowing
us to emphasize the importance of integration of musealization with other forms of
conservation, that in this case study pointed out the creation of an APA - Área de Proteção
Ambiental (Category of conservation area regulated by Ministry of the Environment of Brazil)
next to this idea a possibleTerritory Museum. We envisage that this union can generate positive
results when we consider the maintenance of biodiversity, geodiversity, culture, history, in the
local level, generating experience applicable in many other scenarios.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 1
1.4 – CONSIDERAÇÕES 46
REFERENCIAS 129
ANEXOS 139
ix
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 – Localização Geográfica da área do complexo Serrinha. (Google Maps,
adaptado)
FIGURA 2 - Localização Geográfica da área da Serrinha. Escala –1:10.000 (Google
Maps/IBGE, adaptado)
FIGURA 3– Fotografia panorâmica da Serrinha a partir do Açude Milhãs, com
esquema da concepção local e a concepção científica. (Acervo do Autor)
FIGURA 4 – Fotografias comparativas do final do verão (período seco) e início do
inverno (período chuvoso) ressaltando que foram fotografadas num intervalo de 25
dias. (Acervo do Autor)
FIGURA 5 – Aspectos de trilha na Serrinha. Em alguns trechos como na foto à direita
a largura máxima é de 50 cm, em outros a irregularidade do terreno impossibilita até a
passagem de motocicletas. (Acervo do Autor)
FIGURA 6 – Mapa do Município de Pacujá, com localidades e fronteira com outros
municípios – disponível em tamanho maior em anexos. (IPECE, 2014 adaptado)
FIGURA 7 – Museu de Pacujá, vista externa. (Acervo do Museu)
FIGURA 8 – Planta baixa da casa e organização do Museu (SILVA, 2003, p. 32)
FIGURA 9 – A e B: Icnogênero Planolites Nicholson. C: Icnogênero Skolitos
Haldeman, o traço na foto mede 3cm (VIANA et al, 2010).
FIGURA 10 - Fotografia da Cachoeira dos Tucanos em dia chuvoso. (Acervo do autor)
FIGURA 11- Fotografia da Pedra do Gorila. (Acervo de Antonio Alancardé)
FIGURA 12 - Fotografia da Pedra do salto do veado. (Acervo do autor) FIGURA 13 -
Fotografia da Pedra do jacaré. (Acervo de Antonio Alancardé FIGURA 14 - Fotografia
da nascente. (Acervo do Autor)
FIGURA 15 – Foto panorâmica da Caverna do Limão.
FIGURA 16 – Interferência humana recente imitando pintura rupestre (A) e pichações
(B) (Acervo do autor).
FIGURA 17 – Lista de cavernas cadastradas no Cadastro Nacional de Cavernas (Base
de dados da Sociedade Brasileira de Espeleologia)
FIGURA 18 – Mapa com a distribuição espacial dos elementos da geodiversidade
apresentados (Google Maps, adaptado)
FIGURA 19 – Aves fotografadas na Serrinha. A - Caracara plancus. Nome Local:
Gavião. B - Eupsittula cactorum . Nome local Periquito. A fotografia foi feita na casa do
Senhor Raimundo Abreu, que possui um periquito domesticado. (Acervo do autor)
xi
INTRODUÇÃO
1
INTRODUÇÃO
SERRA
DA
IBIAPABA
Digne, traz reflexões que servem de base para pensarmos essa relação de
geodiversidade e biodiversidade, entre eles destacamos seu quinto artigo:
5 -A terra com seus 4500 milhões de anos de idade é o
berço da vida, da renovação e das metamorfoses dos
seres vivos. A sua larga evolução, a sua lenta
maturação, deram forma ao ambiente em que vivemos.
(CARTA DE DIGNE, 1991).
CAPÍTULO 1
Natureza, Patrimônio e
Musealização.
11
Isso fica explícito quando observamos a relação que os seres humanos vão
desenvolvendo com o meio ambiente ao longo da história da humanidade e,
consequentemente, gerando diferentes concepções e pontos de vista da Natureza.
Portanto as explicações e as definições acerca da natureza jamais
se dissociarão das ideias, e dos objetivos de mundo que a explique
ou a defina. Neste sentido podemos afirmar que a história da
natureza confunde-se com a história dos homens devido aos
mesmos não se relacionarem com ela de forma abstrata e genérica,
mas mediados pelas necessidades impostas pelo relacionamento
12
1
A filosofia greco-romana foi a maneira com que os antigos gregos e romanos sistematizaram, nos
últimos cinco séculos antes de Cristo, uma forma de conhecimento, um modo de reflexão ou uma teoria
da realidade. Esta filosofia pode ser classificada em dois períodos: o cosmológico e o antropológico
clássico (AYER, 1975).
15
A partir do século XIX, a natureza passa a ser cada vez mais um objeto a ser
possuído e dominado. A natureza caminhou para as subdivisões científicas em física,
química, biologia, enquanto o Homem tornou-se o foco da história, antropologia,
psicologia etc. A tentativa de pensar o Homem e a Natureza de forma orgânica torna-
se mais difícil, até porque a divisão não se dá somente enquanto pensamento (
GONÇALVES, 2006, p.34).
Na aurora do século XX, a reflexão acerca das proposições idealistas
de pensadores, como William Morris e John Ruskin, fundamentou as
plataformas originárias do chamado urbanismo ecológico e
organicista e, ainda, abalizaram as teorias modernas de restauro do
17
1.2 - Patrimônio
O conceito contemporâneo de Patrimônio, assim como o de natureza, é dotado
de uma carga histórica que nos ajuda a compreender o pensamento e ações que
atribuímos ao termo que utilizamos rotineiramente. É importante destacar que neste
estudo consideramos que o patrimônio está ligado às concepções influenciadas pela
cultura ocidental.
Traçando uma linha temporal baseada no sentindo de pertencimento e
herança, podemos remeter ao período romano, onde Patrimonium faz referência ao
conjunto de bens transmitidos ao filho pelo pai (chefe de família). Essa herança era
respaldada pela Lei das XII Tabuas, base do Direito Romano (NÓBREGA, 1968 apud
LIMA, 2012). A ligação de parentesco se fazia através da agnação, conferindo o direito
de sucessão, a religião doméstica, a família e o direito de propriedade. Dessa forma o
principal vínculo existente era o culto religioso doméstico, comandado pelo pater
19
famílias, pois era o dono da casa e mantenedor das tradições. Essas tradições eram
praticadas desde os períodos mais remotos e influenciaram a criação das leis do
Direito Romano onde, inicialmente, a família se apropria da terra (altar sagrado) pela
religião doméstica com um deus cultuado apenas por ela (COULANGES, 2006). Por
isso, o Patrimônio Romano correspondia ao “conjunto de direitos aos bens e às
atribuições sociais do pai, herdado pelo primogênito” (FARIA, 1962 apud LIMA, 2012).
Esse papel, na geração e manutenção de propriedades, bens e valores,
permite-nos pensar no patrimônio com sentido de herança e sucessão, sentidos que
ainda atualmente são atribuídos à palavra patrimônio.
Para Scheiner (2004), a ideia de patrimônio fundamenta-se essencialmente na
imaterialidade e está ligada às percepções de tempo, espaço, matéria e movimento
das diferentes culturas, ao longo do processo civilizatório - sendo, portanto, muito
anterior ao Direito Romano. Mais que legado jurídico, o patrimônio seria um conjunto
de valores essenciais à constituição e manutenção da identidade de cada grupo social
e, portanto, um conceito fluido, já que as identidades se modificam no tempo e no
espaço. Patrimônio seria, então, o que cada indivíduo ou grupo reconhece e valoriza
como seu.
A instalação do Cristianismo no mundo ocidental, principalmente na Idade
Média, agregou ao conceito de patrimônio o valor do culto religioso doméstico romano
para o coletivo, dando um sentido de coletividade social. Isto é, adicionaram-se novos
valores simbólicos através de cultos e devoção a objetos sagrados, principalmente a
devoção às relíquias cristãs e aos templos e locais sagrados, mas como práticas
sociais (SANTOS, 2012).
A Idade Contemporânea trouxe uma visão para o conceito de patrimônio. O
momento histórico que deflagrou essa reviravolta foi a Revolução Francesa com todas
as suas transformações políticas, econômicas e sociais para a França. Até a
Revolução Francesa, a palavra patrimônio era mais comumente utilizada como
herança ou de domínio religioso. O sentido público apareceu 02 de outubro de 1789,
quando a Assembleia Nacional Constituinte nacionalizou os bens do clero e criou
assim a ideia de um bem coletivo. Em 1794, o Abade Henri Grégoire forneceu uma
definição próxima da concepção atual: “os monumentos: devem ser protegidos em
virtude da ideia de que os homens não são apenas os guardiões da propriedade cuja
família tem o direito de responsabilizá-lo” (HERMON-BELOT, 2000, p.43).
Pela primeira vez, vemos o Estado tomando para si a salvaguarda legal de
bens que considerasse relevante para a caracterização de nação. Nesse cenário,
todos os pertences da Igreja, realeza e nobreza passam para o Estado, surgindo a
ideia de patrimônio, que ecoa até hoje, como algo que pertence a toda uma nação e,
20
como tal, deve ser preservado pelo poder público e representar uma identidade
nacional (FONSECA, 2009).
Para os revolucionários, a conservação do patrimônio e a luta contra o
vandalismo tiveram um objetivo educacional. A inserção dos bens como pertencentes
ao Estado e o processo de reconhecimento de cidadania e identidade social do
indivíduo promoveram a institucionalização do Patrimônio - Patrimonialização. Isto se
deu como resultado da ação dos comitês e assembleias populares (CHOAY, 2001
p.97 apud LIMA 2002).
Durante o período pós Revolução Francesa e o século XIX o conceito de
patrimônio passou a ser confundido, na maioria das vezes, com a noção de
monumento histórico (DEVALLÉES & MAIRESSE, 2013), pois o seu princípio estava
embasado prioritariamente em bens imóveis. A criação da Comissão de Monumentos
Históricos, em 1837, e, posteriormente, a promulgação da lei de 30 de março de 1887
(FRANÇA, 1887) institucionalizou três tipologias de patrimônio material: Imóveis e
Monumentos Históricos; Objetos Móveis e escavações (Foullies).
A Revolução Industrial provocou novos significados na maneira de pensar
patrimônio. Ocorreu no final do século XVIII na Grã-Bretanha e se instalou
definitivamente no século XIX. Foi um importante momento de passagem do processo
manual e artesanal para o da industrialização, modificando significativamente as
estruturas econômicas, políticas e sociais. Nessa atmosfera, o processo de destruição
do patrimônio se acelerou, mas também tornou-se visível por maior número de
pessoas devido à possibilidade de deslocamento de massas. Isso possibilitou ao
patrimônio estar sob a visão de destruição e preservação.
Como Fonseca (2009) descreveu, o século XIX foi a consolidação de dois
modelos de patrimonialização na Europa que foram exportados para outros países: o
modelo anglo-saxão e o modelo francês:
O modelo anglo-saxônico com o apoio de associações civis, voltado
para o culto ao passado e para a valorização ético-estética dos
monumentos, e o modelo francês, estatal e centralizador, que se
desenvolveu em torno da noção de patrimônio, de forma planificada
e regulamentada, visando ao atendimento de interesses políticos do
Estado (FONSECA, 2009, p. 62).
2
Para a UNESCO um Tesouro humano vivo é uma pessoa que tenha dominado a prática da música, da
dança, dos jogos, de manifestações teatrais e de ritos de valor artístico e histórico excepcional em seu
país, como definidos na recomendação sobre a salvaguarda da cultura tradicional e popular” (UNESCO,
1993)
26
3
Patrimônio Mundial ou da Humanidade é um local (como uma floresta, montanha, lago, ilha, deserto,
monumento, construção, complexo ou cidade) definido pela UNESCO, uma agência das Nações
Unidas (ONU), como de importância cultural ou física especial para o mundo. A lista é mantida pelo
Programa do Património Mundial, que é administrado pelo Comité do Património Mundial, composto
por 21 países-membros eleitos. A Convenção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural, adotada em
1972 pela Organização das Nações Unidas para a Ciência e a Cultura (UNESCO), tem como objetivo
incentivar a preservação de bens culturais e naturais considerados significativos para a humanidade.
Trata-se de um esforço internacional de valorização de bens que, por sua importância como referência e
identidade das nações, possam ser considerados patrimônio de todos os povos.
Cabe aos países signatários desse acordo indicar bens culturais e naturais a serem inscritos na Lista do
Patrimônio Mundial. As informações sobre cada candidatura são avaliadas pelos órgãos assessores da
Convenção (Icomos e IUCN) e sua aprovação final é feita, anualmente, pelo Comitê do Patrimônio
Mundial, composto por representantes de 21 países. O Brasil ratificou a Convenção, em 1978. Texto
retirado do Site do IPHAN. Disponível em < http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/24> Acesso em
Fevereiro de 2015
31
Conferência Geral
da UNESCO – 12ª
sessão
1964 Veneza Carta de Veneza Foco na necessidade de um "plano internacional" de conservação e
restauração dos monumentos. Definição de monumento histórico e sua
Carta internacional conservação e restauração como atividade interdisciplinar (ciências e
sobre conservação e técnicas). A consevação depende de sua "função útil à sociedade", mas
restauração de com limites nas adaptações. Não se deve deslocar o monumento, apenas
Anos 60 monumentos e sítios sob perigo de perda.
II Congresso
internacional de
arquitetos e técnicos
dos monumentos
históricos
1964 Paris Recomendação Definição de "bens culturais". Recomenda o controle sobre as
sobre medidas exportações dos bens. Medidas: Identificação e inventário dos bens,
destinadas a proibir instituições de proteção, acordos bilaterais e multilaterais, colaboração
34
Anos 70 1972 Estocolmo Declaração de Recomendações para necessidade de um ponto de vista e de princípios comuns
Estocolmo para inspirar e guiar os povos do mundo na preservação e na melhoria do meio
ambiente
Declaração sobre o
ambiente humano
1972 Paris Convenção sobre a Definições do patrimônio cultural e natural e sua proteção nacional e internacional.
salvaguarda do Criação de um comitê intergovernamental. Criação do "Fundo do Patrimônio
patrimônio mundial, Mundial". Definição para as condições para assistência Internacional. Programas
cultural e natural educativos.
Conferência Geral da
Unesco – 17ª sessão
36
1981 Florença Carta de Florença Realizado pelo ICOMOS e Comitê internacional de jardins e sítios históricos.
Definição e objetivos e recomendações para manutenção, conservação,
restauração, utilização, proteção legal e administrativa de jardins históricos e
sítios.
1982 Nairóbi Declaração de Realizado pela UNEP – Organização das Nações Unidas para o Meio
Nairóbi Assembléia Ambiente. Revisão da conferência de Estocolmo. Recomendações para
mundial dos Estados proteção e melhoramento do meio ambiente.
37
1997 Mar del Carta do Mar del Aponta a "integração cultural" como prioridade. Recomendações para o
Plata
Plata sobre o registro, catalogação, estudo e difusão do patrimônio intangível.
patrimônio intangível
1997 Fortaleza Carta de Fortaleza Atribui ao IPHAN o dever de identificar, documentar, proteger, fiscalizar,
preservar e promover o patrimônio cultural brasileiro. “considerados em toda
Patrimônio imaterial: a sua complexidade, diversidade e dinâmica, particularmente, as formas de
estratégias e formas expressão; os modos de criar, fazer e viver; as criações científicas, artísticas
de proteção e tecnológicas”, com especial atenção àquelas referentes à cultura popular.
‘coleções’, conjuntos de bens que fazem parte do histórico museológico. (LIMA, 2012,
p.38).
Porém, como base documental da trajetória do modelo Museu, em se tratando
de um espaço do conhecimento com participação de ‘sábios’, os mestres, ao modo
dos modernos especialistas e seus ramos do conhecimento, pode-se tomar como
marco identificador e segundo um modelo arcaico o Museion, em Alexandria, Egito,
século III a.C., identificado como um complexo cultural integrando representações das
categorias da natureza e da cultura, apresentadas sob forma de:
(...) esculturas expostas de modo permanente em meio aos espaços
das áreas naturais; exibia espécimes vivos nos seus jardins botânico
e zoológico (ao modo dos atuais museus vivos); desenvolvia estudo
do cosmos no observatório astronômico; tomava sob sua guarda, no
arquivo, os registros dos relatos e dos atos ocorridos inclusive sob a
forma de imagens (relevos) (LIMA, 2007, p. 4).
Com o fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), foi criada a Sociedade das
Nações. Em 1922 foi criado no âmbito da Sociedade, o Comitê Internacional de
Cooperação Intelectual (CICI) e o filósofo francês Henri Bergson foi eleito seu primeiro
presidente. Anos depois, em 16 de janeiro de 1926, o governo francês cria o Instituto
Internacional de Cooperação Intelectual (IICI), com o intuito de organizar as reuniões
da CICI e executar suas decisões, bem como agir em prol do desenvolvimento
intelectual no mundo. (VALDERRAMA, 1995, p. 1-18)
A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) faz com que as atividades da
Sociedade das Nações, bem como dos organismos sob sua subordinação, entre eles
o Escritório Internacional de Museus, parem de atuar Mesmo com a interrupção das
42
1.3.2 – Musealização
Pertencente à área da Museologia, o conceito de Musealização será explorado
aqui mediante as possibilidades que as ações ligadas ao termo podem ofertar para a
valoração e preservação do Patrimônio.
No livro Conceitos-chave de Museologia temos a seguinte definição:
45
1.4 - Considerações:
As discussões que foram apresentadas nesse capítulo nos mostram processos
históricos e teóricos acerca dos temas Natureza, Patrimônio e Museu. A relação entre
Ser Humano e Natureza teve uma transformação bastante significativa desde que os
filósofos, na Grécia, começaram a se debruçar sobre o assunto. O pensamento e as
necessidades humanas também acompanharam esse processo de mudanças e a
natureza foi sendo usada cada vez mais de maneira utilitarista, com foco no acúmulo
47
CAPÍTULO 2
FIGURA 2 –Localização Geográfica da área da serrinha. Escala –1:10.000 (Google Maps e IBGE,
adaptado)
50
FIGURA 4 – Aspectos de trilha na Serrinha. Em alguns trechos como na foto à direita a largura
máxima é de 50 cm, em outros a irregularidade do terreno impossibilita até a passagem de
motocicletas. (Acervo do Autor)
O território da Serrinha faz limite geográfico com outros dois municípios, Graça
e Reriutaba, existindo acesso por este segundo, mas o grande fluxo de pessoas que
visitam e mantém contato com a área são provenientes de Pacujá (com. verb. ABREU,
2015). Por motivo de recorte para a realização da pesquisa de dissertação optamos
por focar na relação entre Serrinha e o município de Pacujá, já que os elementos
analisado situam-se no território deste município.
52
FIGURA 6 – Mapa do Município de Pacujá, com localidades e fronteira com outros municípios – disponível
em tamanho maior em anexos. (IPECE, 2014 adaptado)
4
Na transcrição das entrevistas foram retirados vícios de linguagem e houve correção gramatical.
53
umas cabeças de gado, e achou que aqui em cima era melhor pra
criar. Então eu me mudei com ele, depois eu trouxe a Antônia pra
morar com a gente, ela veio pra ajudar e nunca mais quis morar em
outro lugar [...] Como aqui antigamente era tudo São Benedito, até o
Pacujá era, só quem eu sei que andava aqui era o povo de lá, mas
não sei dizer o ano. (com. verb. RODRIGUES,M, 2015)
5
Georreferenciar um imóvel é definir a sua forma, dimensão e localização, através de métodos de
levantamento topográfico. O Incra, em atendimento ao que preconiza a Lei 10.267/01, exige que este
georreferenciamento seja executado de acordo com a sua Norma Técnica para Georreferenciamento de
Imóveis Rurais, que impõe a obrigatoriedade de descrever seus limites, características e confrontações
através de memorial descritivo executado por profissional habilitado - com a emissão da devida
Anotação de Responsabilidade Técnica (ART), por parte do CREA - contendo as coordenadas dos vértices
definidores dos limites dos imóveis rurais, georreferenciadas ao Sistema Geodésico Brasileiro, com a
precisão posicional de 50 cm sendo atingida na determinação de cada um deles (art. 176, § 4º, da Lei
6.015/75, com redação dada pela Lei 10.267/01). O INCRA só passou a exigir o georreferenciamento no
cadastro em 2003. Trecho retirado do site do INCRA. Disponivel em: <www.incra.gov.br/o-que-e-
georreferenciamento> Acesso em Agosto de 2015.
54
Quando Antônio Alancardé fala que ele iniciou a pesquisa e fez pesquisa na
Serrinha ele está se referindo à pesquisa como coleta de informações com os
moradores e coleta de materiais que ele julgou ter valor arqueológico ou
paleontológico.
A curiosidade e a vontade de adquirir conhecimento acerca dos achados da
Serrinha fizeram Antônio Alancardé iniciar a busca por profissionais que dessem conta
do material encontrado. Como se tratavam de materiais rochosos os primeiros
contatos foram realizados com geólogos que trabalhavam na cidade de Sobral (polo
econômico e acadêmico da região norte do Ceará).
O primeiro geólogo que visitou a área foi Celso Lira Ximenes, que fez uma
visita sem fins acadêmicos para conhecer as cavernas, mas já apontou possibilidade
das marcas nas rochas serem icnofósseis.
56
6
O Museu Dom José é considerado o 5° do Brasil em arte sacra e arte decorativa, composto por um
acervo com mais de 30.000 peças, distribuídas em 16 variadas coleções, nas quais se destacam:
imaginária, porcelana, cristais, numismática, paleontologia, arqueologia, armaria, mobiliário,
ourivesaria, iconografia, indumentária, acessórios e adereços. O imponente sobrado de estilo luso-
brasileiro foi construído em 1844, pelo major João Pedro Bandeira de Melo e é considerado como o
mais expressivo patrimônio cultural de Sobral. (UNIFOR, 2015)
57
2004 VIANA, M. S.S e LEOPOLDINO, A.A Descoberta dos fósseis mais antigos do Geologia/ Artigo Físico
Ceará: Icnofósseis de Pacujá (Formação Paleontologia
Tianguá, Ordoviciano-Siluriano da Bacia
do Parnaíba)
2005 VIANA, M. S. S.; AGOSTINHO, Sonia ; LIMA Considerações icnofaciológicas sobre a Geologia/ Artigo Físico
FILHO, M. F. ; LEOPOLDINO, A. A. ; CUNHA, Formação Tianguá, Siluriano da Bacia Paleontologia
L. L. T. ; ROCHA, L. A. S do Parnaíba.
58
2010 VIANA, M. S. S.; OLIVEIRA, P. V. ; SOUSA, M. Ocorrências icnofossilíferas do grupo Geologia/ Artigo Físico e
J. G. ; BARROSO, F. R. G. ; VASCONCELOS, serra grande (Siluriano da bacia do Paleontologia digital
V. A. ; MELO, R. M. ; LIMA, T. A. ; OLIVEIRA, Parnaíba)
G. C. ; CHAVES, A. P.
2010 PONTE FILHO, F.A.M ; SALES, M. M. ; LIMA, Composição florística do sítio Serrinha, Biologia/ Artigo Físico e
G. S. ; MATA, M.F ; ANDRADE, I. M. ; SOUZA, Pacujá, Ceará, Brasil Botânica digital
E.B
2011 BRANDÃO, E.K.S ; MARREIRA, E. M. ; Rubiaceae da Serrinha, Pacujá, Ceará, Biologia/ Artigo Físico
SOUZA, E. Brasil Botânica
59
2015 SANTOS, A. S.; SILVA, M. F. S. ; Commelinaceae da Serrinha, Pacujá, Biologia/ Artigo Digital
NASCIMENTO, M. G. P. ; MELO, L. M. B. ; Ceará – Brasil Botânica
ANDRADE, I. M.
60
A partir dos dados da tabela vemos que além do numero pequeno de trabalhos,
eles se concentram em paleontologia e botânica, e foram realizados por apenas duas
universidades, Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA e Universidade Federal
do Piauí – UFPI.
O único estudo de espeleologia é um resumo dos aspectos sobre 4 das 8
cavernas encontradas na Serrinha e o único estudo na área de ciências humanas é
sobre a história do Museu de Pacujá.
A Serrinha apresenta potencial de pesquisa ainda pouco explorado, muitos
elementos da biodiversidade, geodiversidade e da cultura local ainda estão para se
descobrir e conhecer, neste sentido, buscaremos no tópico seguinte indicar as
possibilidades de pesquisa pensando na importância da preservação destes
elementos.
A partir de um ideal pessoal, ele foi à busca de parcerias para ajudá-lo e dar
suporte para concretizar as suas ideias para o acervo que ele possuía, somados com
as pesquisas iniciadas em 2003, pela professora Somália Viana e equipe do
Laboratório de Paleontologia da UVA.
No início do ano 2003, com a residência já bastante ocupada com objetos
62
coletados no município, Alancardé viu que o espaço não era o ideal e já não tinha
mais lugar para novas aquisições, somando isso a vontade de compartilhar os
achados com o público, ele pensou na criação do Museu de Pacujá. A partir
disso
7
As informações estão contidas num documento intitulado “Laudo Técnico de vistoria na localidade de
Serrinha –Pacujá” realizada pelo Chefe do Parque Nacional de Ubajara: Antonio Emanuel Barreto Alves
de Sousa em 26 de junho de 2003. Acervo do Museu de Pacujá
64
Como o Museu não teve um prédio planejado, o acervo foi adaptado aos
ambientes da casa, evidenciando o tamanho do acervo de cada área de acordo com o
tamanho das salas.
estavam em sua volta que abrangiam o bairro Alto do Cravatá e bairro Barro Branco,
atividades que foram inclusas nas atividades cotidianas do Museu.
Durante os dois primeiros anos de funcionamento o Museu de Pacujá, com o
pouco recurso investido pela prefeitura foi se mantendo com suporte de um projeto de
Educação de jovens e adultos do Serviço Social da Indústria (SESI), que ocorria no
período noturno e atendia os jovens e adultos dos bairros próximos.
A partir de 2008, período em que houve mudança de gestão municipal, o
Museu perdeu a ajuda dada pela prefeitura, que na época justificava estar numa
situação financeira difícil, mas resolveria a situação até o fim do ano de 2009, além
disso, na época o Diretor teve que se mudar para Sobral por motivos pessoais.
Antônio Alancardé esteve na direção do Museu de Pacujá durante o período de
2005 ao início de 2009, e a partir daí o Museu de Pacujá passou a ficar sem direção e
sem funcionamento contínuo entre 2009 e 2011. Em fevereiro de 2011 e a prefeitura
se responsabilizou pelo espaço e despesas que ainda eram geradas e mandava
periodicamente funcionários para limpeza. O Museu de Pacujá só abria para visitas
mediante contato com a prefeitura. Em dezembro de 2012 a proprietária da casa onde
funcionava o Museu de Pacujá pediu a casa para reforma e informou que não poderia
mais cedê-la, então a prefeitura retirou todo o acervo e guardou em um depósito da
antiga banda de música da cidade (SILVA 2013) onde está até os dias atuais, apenas
com uma exposição de fósseis, montada pela professora Somália Viana. Não funciona
como museu, não tem atividades regulares. O acesso à exposição e ao acervo ocorre
com contato com antecedência com as secretarias de educação ou de cultura do
Município de Pacujá.
A história do Museu de Pacujá reflete nuances da relação da população com o
patrimônio e mais nitidamente das administrações que passaram pelo município e
tiveram oportunidade de explorar os potenciais tanto da Serrinha quanto do museu,
mas não buscaram este caminho.
A observação dessas relações entre os vários atores envolvidos na Serrinha
com o patrimônio, ou possíveis elementos que podem vir a ser reconhecidos como
patrimônio, será mais aprofundada nesta pesquisa através de análises que serão
discutidas em tópicos seguintes.
2.6.2 - Fósseis
A Serrinha possui lajeados de arenitos esbranquiçados do Grupo Serra
Grande, Siluriano da Bacia do Parnaíba. Esse complexo geomorfológico é a
representação de relíquias da borda da bacia.
Um icnofóssil é o resultado da atividade de um organismo, que pode vir a ser
preservado em um sedimento, rocha ou corpo fóssil (FERNANDES & CARVALHO,
2007. p.8). Na serrinha são encontrados diversos icnogêneros espalhados por mais de
dois quilômetros de trilha. A seguir vemos alguns exemplos encontrados:
2.6.3 - Cachoeira
Após a subida da parte mais íngreme da trilha da Serrinha o caminho fica
bifurcado, a Norte um pouco mais de subida até as cavernas que estão nos pontos
mais altos e a Sul uma área conhecida pelos moradores locais como Tucanos, onde
existe uma cachoeira chamada cachoeira dos tucanos, com uma queda d’água de
aproximadamente 30 metros(Figura 10). O fluxo d’água que forma a cachoeira
mantém-se apenas quando o período chuvoso é intenso e costuma ficar totalmente
seca na maior parte do ano. Não há estudo sobre a qualidade da água e não há
monitoramento ou medidas de conservação e segurança do local e dos
frequentadores.
2.6.5 – Nascente
Percorrendo a trilha em direção às cavernas, chegando na propriedade do
Senhor Raimundo encontra-se uma nascente, chamada localmente de olho d’água.
O conceito de nascente não é bem uniforme na literatura
especializada. Não apenas na Geografia, mas em todas as
ciências, cada pesquisador utiliza a definição mais conveniente
para seu estudo, criando diversas ideias do que venha a ser uma
nascente. Por isso, é comum ocorrer enganos e desentendimentos
na comparação dos resultados de diferentes trabalhos. (FELIPPE
& MAGALHÃES, 2002)
2.6.6 - Cavernas
O atrativo mais procurado pela população na área da Serrinha são as
cavernas, chamadas localmente de furnas ou grutas, são as ultimas paradas da trilha,
localizadas a altitudes que ultrapassam os 500 metros acima do nível do mar. O
potencial espeleológico da área já foi descrito pelo geólogo Celso Ximenes, segundo
ele:
As primeiras explorações revelaram que a principal importância das
cavidades da Serrinha é de natureza ecológica, pois são abrigos para
espécies de anfíbios, répteis, aves e pequenos mamíferos,
principalmente morcegos, além de muitas espécies de invertebrados.
Foram constatadas oito cavidades, formadas em rochas areníticas,
encravadas na localidade da Serrinha,. (XIMENES, 2005)
2.7.6 - Arqueologia
Foram encontrados dois objetos líticos próximos de uma caverna na Serrinha:
um batedor e um objeto esférico (com. verb. LEOPOLDINO, 2012), mas não há
pesquisa feita por arqueólogo ou projetos de pesquisa arqueológica de
órgão/universidade na Serrinha. Os objetos foram coletados por Alancardé Leopoldino
em 2001 (na época estudante de Pedagogia) e encontram-se atualmente no acervo do
Museu de Pacujá.
2.8.2 - O pesquisador.
Baseando-se no levantamento da produção acadêmica sobre a Serrinha,
podemos afirmar que a pesquisa na Serrinha se concentra em duas áreas: Nas
geociências, com destaque para a paleontologia, e na biologia, com destaque para a
botânica. Cabe destacar que o perfil do pesquisador da Serrinha é de profissionais e
estudantes que são de fora da região de Pacujá.
As pesquisas já realizadas baseiam- se principalmente em visitas de campo,
com observação in situ dos espécimes, que são fotografados, alguns medidos e
analisados posteriormente resultando na confecção de artigos e outros trabalhos
científicos.
Diante da impossibilidade de entrevistar todos os pesquisadores selecionamos
dois que possuem o maior número de publicações/trabalhos realizados na Serrinha,
além de serem bastante citados pelos moradores da Serrinha como visitantes ativos.
São eles os professores Elnatam Bezerra e Maria Somália Sales Viana, ambos da
Universidade Estadual Vale do Acaraú.
Os dois professores destacam em suas entrevistas a diversidade e o potencial
patrimonial da Serrinha, reconhecendo que os estudos desenvolvidos ainda
representam um número pequeno diante das possibilidades que a Serrinha apresenta.
A professora Somália Viana além de ter ajudado na criação do Museu de
Pacujá, é personagem ativa na proteção de outros afloramentos fósseis que ocorrem
no Município de Pacujá.
Os pesquisadores reconhecem o papel primordial de aproximação com a
população da Serrinha e do Município de Pacujá. Acreditam que a adesão da
população facilita o trabalho do pesquisador e da preservação de tantos “bens que são
patrimônios de Pacujá”.
Os moradores da Serrinha fazem o lugar ainda melhor, são pessoas
tão simples, mas com uma receptividade magnifica, todas as vezes
que fui lá sentei e tomei café com o “Seu” Raimundo e a Dona
Laurita. [...] Não adianta o pesquisador querer a preservação do
patrimônio sozinho, a população tem que estar sensibilizada ou pelo
menos sensível às ações que devem ser tomadas neste sentido.
(com. verb. VIANA, 2012)
Onde:
n = Tamanho da amostra
a² = Nível de confiança escolhido, expresso em número de desvios-padrão
p = Percentagem com a qual o fenômeno se verifica
q = Percentagem complementar
N = Tamanho da população
e² = Erro máximo permitido
A percentagem com qual o fenômeno se verifica no caso desta pesquisa é
relacionada a uma estimativa percentual de pessoas que já estiveram na serrinha
trabalhamos com o percentual de 22%.O erro permitido foi de 4% e um nível de
confiança de 95% que representa 2 desvios. Assim obtivemos o seguinte resultado:
n= 2²x22x78x5896 = 41.087.904 = 400,37
4²(5986-1) + 2²x22x78 102.624
Para obter dados sobre a relação dos entrevistados com o Patrimônio como
conceito tentamos aproximar os sentidos em uma linguagem mais acessível diante da
diversidade de perfis dos entrevistados.
Observamos que o sentido de patrimônio como “algo importante para todos” foi
o mais assinalado, estando presente em 47% do total de questionários, demonstrando
associação do patrimônio com o sentido coletivo (Figura 40). Outras nuances
observadas em 43% do total de questionários foram atribuição de patrimônio como
“algo com valor para ciência e história”, demonstrando uma associação clássica (no
sentido do erudito, do que se aprende). O mesmo percentual de 43% do total de
questionários atribuiu patrimônio a “herança/ dinheiro/ terreno”, revelando a atribuição
de patrimônio ao sentido material e de transmissão de bens materiais com valor
monetário (Figura 40).
A associação de patrimônio como “algo da natureza” só esteve presente em
12,5% dos questionários, dando indícios do valor e importância dados pelos
entrevistados em relação ao potencial de patrimônios naturais encontrado na Serrinha
e em outros locais do Município de Pacujá.
Figura 41- Gráfico com a representação das palavras associadas como patrimônio.
97
Direcionando para o assunto mais afim com a pesquisa, havia questões sobre
a relação dos entrevistados com a Serrinha. No primeiro tópico temos a porcentagem
de entrevistados que já visitaram a pesquisa, o número obtido chegou próximo do
estipulado na fórmula do cálculo para populações finitas referente à aplicação do
questionário, 22%, no resultado obtivemos 30% (Figura 42)
30%
Sim
Não
70%
CAPÍTULO 3
forma institucional, podendo partir dos vários modelos de áreas protegidas e também
dos modelos conceituais de museus já discutidos no capítulo I.
A justificativa para a institucionalização da Serrinha ultrapassa as opiniões
locais. As evidências científicas apresentadas foram legitimadas por pesquisadores
que atuam em outras áreas do Estado do Ceará e até mesmo do Brasil. Ressaltamos,
todavia, que a população do município de Pacujá é primordial para que esses
processos ocorram, pois a valoração, a teia de relações e apropriações provém em
sua grande maioria desse grupo de pessoas.
A partir da análise das informações levantadas no Capítulo II acerca da
Serrinha buscaremos sugerir quais propostas estão mais próximas da realidade da
Serrinha e mais se adequam às necessidades encontradas
Senhor Raimundo Abreu, mas ele mesmo relata que existem outras propriedades
particulares na Serrinha, de pessoas que não moram lá: “Tem vários terrenos aqui que
tem dono sim, os nomes dos donos eu não sei, mas as cercas não estão aí atoa, não
é? eu também não sei se eles têm os documentos” (com. verb. ABREU, 2015). Desta
forma a possível demarcação do território que poderá ser institucionalizada corre o
risco de encontrar questões referentes à posse das terras na Serrinha.
Procuramos a prefeitura, através das Secretarias de desenvolvimento rural e
meio ambiente que afirmaram não ter este tipo de controle. O outro órgão consultado
foi o Instituto Nacional da Colonização e Reforma Agrária – INCRA sede Ceará, onde
obtivemos a reposta de que não havia dados de posse de terra cadastrado no órgão
além do Senhor Raimundo Abreu, mesmo com essas informações não descartamos a
possibilidade de haver registro em outros locais de possíveis proprietários de terra na
Serrinha.
8
Tradução de Felipe Carvalho. Trecho retirado do site do Ecomuseu de Santa Cruz. O que é um
ecomuseu. Disponível em < http://www.ecomuseusantacruz.com.br/sobre/o_que_e> Acesso em
Fevereiro de 2016
119
Seleção
Como não estamos tratando de peças móveis e sim de um território onde a
maior parte dos elementos é fixo, o processo é a seleção das referências a serem
musealizadas. A musealização abrange todo o território de forma simbólica, pois o que
será de fato preservado tem q ser selecionado. A seleção deverá ser feita com o
acordo e diálogo entre os envolvidos, com atenção à demanda dos moradores da
serrinha e visitantes.
120
Documentação
Para Loureiro (2008, p. 26) A documentação no âmbito museológico inicia-se a
partir de uma integração de todas as áreas do conhecimento ali presentes. A análise,
base essencial de qualquer partido documentário, requer subsídios permanentes das
várias áreas do conhecimento. Neste sentido a documentação de um território que
apresenta uma diversidade de elementos considerável há essencialidade para a
integração dos múltiplos olhares científicos, como vimos já existem alguns estudos na
Serrinha, mas poucos em relação ao total de elementos que apresentamos no
território.
A elaboração da documentação da Serrinha obrigatoriamente deve ter
museólogo, geógrafo, geólogo, historiador, paleontólogo, arqueólogo, biólogo,
espeleólogo e outros especialistas que possam aplicar suas metodologias específicas
para construir uma base robusta de informações que assegurem os dados da
diversidade encontrada.
Gestão
A gestão é a atividade atribuída às ações que garantam o funcionamento do
Museu. A gestão do museu de território vai depender de sua criação, afiliações e
finalidades.
A gestão museológica, ou administração de museus, é definida,
atualmente, como a ação de conduzir as tarefas administrativas do
museu ou, de forma mais geral, o conjunto de atividades que não
estão diretamente ligadas às especificidades do museu (preservação,
pesquisa e comunicação). museológica compreende essencialmente
as tarefas ligadas aos aspectos financeiros (contabilidade, controle de
gestão, finanças) e jurídicos do museu, à segurança e manutenção
da instituição, à organização da equipe de profissionais do museu, ao
marketing, mas também aos processos estratégicos e de
planejamento gerais das atividades do museu.(DESVALLÉS &
MAIRESSE, 2013 p.13)
atividades, sendo necessários diálogos formais que geram acordos entre os interesses
da sociedade local e a gestão do Museu e ou da APA.
Estabelecer normas de uso e ocupação do solo e fazê-las cumprir,
em áreas urbanas, envolve uma série de medidas e
procedimentos aos quais a população em geral já está, em parte,
acostumada. Porém, sempre gera descontentamento e tentativa
de negociação por parte do proprietário quando estas medidas
não estão de acordo com as suas necessidades ou com a
destinação pretendida para a área. Da mesma forma, estabelecer
normas de uso e ocupação do solo em áreas de proteção
ambiental, na maioria das vezes, áreas não consideradas urbanas
e portanto não submetidas à legislação urbana, é tarefa difícil. Isto
porque existe a mentalidade de que todos têm o direito de uso dos
recursos naturais, indefinidamente, sem nenhuma restrição. Na
tentativa de conquistar esta nova mentalidade, ou seja, aquela de
admitir que a área de sua propriedade (CORTÊ, 1997,p.67)
Conservação
Com a diversidade de patrimônios é necessário aplicação de variadas
conservações. A conservação está cada vez se tornando mais científica, analítica e
minimalista, requerendo conhecimentos específicos para suas aplicações. A
conservação de Museus de território não é feita como em objetos e coleções, mas a
partir da busca pela integridade do conjunto de elementos que estão presentes.
Conservar a Serrinha como Museu de território relaciona-se principalmente a
manutenção da integridade ambiental e da proteção dos elementos da geodiversidade
e biodiversidade, neste caso seria ideal que a proteção não fosse apenas de ordem
museológica e em nível municipal, mas sim em comunhão com os órgãos de proteção
ao meio ambiente, em níveis estadual e federal.
122
Pesquisa
Como já demostrado durante o texto a Serrinha possui um vasto potencial para
pesquisa, e sendo um museu aumentam as possibilidades de haver um olhar para si e
chances de explorar as lacunas existentes.
No museu, a pesquisa constitui o conjunto de atividades intelectuais
e de trabalhos que têm como objeto a descoberta, a invenção e o
progresso de conhecimentos novos ligados às coleções das quais
ele se encarrega ou às suas atividades. (DESVALLÈS &
MAIRESSE, 2013, p.77)
Comunicação
A exposição e a divulgação de pesquisas em catálogos, revistas, etc. são os
dois principais pontos da comunicação ligada ao processo de musealização. A
Serrinha com possibilidades de ser museu de território dá a oportunidade de serem
comunicados elementos que podem se transformar em ferramentas pedagógicas tanto
para o Museu quanto para professores, estudantes e visitantes em geral.
É uma oportunidade de extrapolar os limites locais e chegar a públicos mais
distantes, de levar as contribuições já existentes e as contribuições potenciais para
fora do Museu. A comunicação em uma área natural protegida também representa um
apoio à conservação, pois o conhecimento aplicado às exposições, totens, placas e
sinalizações são instrumentos da comunicação que tornam os olhares mais sensíveis
aos cuidados e importância daquele(s) patrimônio(s) presente.
3.7 - Considerações
Como mencionado ao longo da apresentação, uma das intenções dessa
pesquisa baseia-se na análise das evidencias múltiplas que encontramos no contato
com as bibliografias, fontes e entrevistas, para apontar os caminhos possíveis para a
conservação da Serrinha.
A importância biológica e da geodiversidade, são elementos que já possuem
um número considerável de pesquisas e podem ser usados como pontos chave na
justificativa das medidas de proteção na Serrinha, contribuindo diretamente para a
conservação do bioma Caatinga.
Somando os dados obtidos através das metodologias de entrevistas
juntamente com a bibliografia sobre a área, reforçamos que a falta do caráter
institucional exclui muitas possibilidades do aproveitamento dos potenciais da
123
CONSIDERAÇÕES FINAIS
125
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pensar Patrimônio e Museu a partir da conservação da natureza implica no
reconhecimento do caráter essencial da nossa relação com o Planeta. Fazemos parte
de um organismo vivo, com sistemas interdependentes, plurais, em constante
adaptação e mutação. Antes de ser Patrimônio, a Natureza é a energia que gera a
diversidade abiótica e biótica, regente de todos os elementos necessários à vida.
O cunho plural da Natureza exige olhares múltiplos, pois essa também se dá
em processos específicos, gerando as singularidades que se estendem por vários
domínios. Assim, os olhares do campo da Museologia e do Patrimônio para a
Natureza devem estar abertos às contribuições dos diferentes campos do
conhecimento. No caso dessa pesquisa usamos da transdiciplinaridade para
desenvolver os argumentos que sustentam a relação Homem – Natureza.
O estudo de caso desenvolvido a partir do segundo capítulo procurou abordar
as potencialidades de um território, enxergando a proteção ambiental e a
musealização como processos compatíveis e aplicáveis na realidade selecionada para
o objeto de análise, que foi a Serrinha, localidade do Município de Pacujá, estado do
Ceará.
Levando em consideração o aporte bibliográfico, de fontes e documental
levantado para a pesquisa, concluímos que os trabalhos que enveredam na temática
ainda são poucos, tendo as Ciências Sociais uma maior Contribuição em relação às
Ciências Naturais.
Partimos da hipótese de que Serrinha tem vários eixos de valores patrimoniais,
que são: Geológico, Espeleológico, Paleontológico, Arqueológico, Ambiental,
Biológico, Histórico e Cultural. Para verificar essa ideia nos apoiamos na bibliografia
existente sobre a área e nas metodologias de contato com a população e com os
pesquisadores, que foram as entrevista e questionários, concluindo que esses
valores estão presentes nos discursos dos grupos sociais envolvidos que se
relacionam com a área. Esses valores não são expressos ou reconhecidos de forma
homogênea por esses grupos, pois eles se relacionam de formas diferentes com a
Serrinha. Ao decorrer da pesquisa, principalmente após a realização das entrevistas e
aplicação de questionários, nos deparamos com quatro perfis de apropriação da
Serrinha, então decidimos elencá-los:
Morador da Serrinha: As três famílias que habitam na Serrinha.
Morador de Pacujá: Pessoas que frequentam a Serrinha, principalmente para
lazer, procedentes do Município de Pacujá.
Pesquisador: Profissionais que já desenvolveram alguma pesquisa na
126
REFERÊNCIAS
130
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS:
ABREU, Raimundo. Entrevista concedida a Adelmo Braga da Silva. Pacujá-CE.
Janeiro de 2015. Correção de gramática e vícios de linguagem. A entrevista encontra-
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BENSUSAN, N. Conservação da biodiversidade em áreas protegidas. Rio de
Janeiro: Editora FGV, 2006.
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Fonseca. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.
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Janeiro : Serviço de Comunicação Social da Petrobrás, 1990
MOSCOVICI, Serge. Essai sur l’histoire humaine de la nature. Paris: Flammarion,
1968
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http://www.mma.gov.br/estruturas/sbf_chm_rbbio/_arquivos/cdbport_72.pdf> Acesso
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RIBEIRO, Wagner Costa; SCIFONI, Simone. Preservar: por que e para quem?.
Revista Patrimônio e Memória, UNESP – FCLAs – CEDAP, v.2, n.2, 2006.
SILVA, Jose Maria Cardoso da; TABARELLI, M. (Org.) ; Fonseca M. (Org.) ; Lins, L. V.
(Org.) . Biodiversidade da Caatinga: áreas e ações prioritárias para a
conservação.. 1. ed. Recife e Brasília: Universidade Federal de Pernambuco &
Ministério do Meio Ambiente, 2004.
VIANA, Maria Somália Sales. Entrevista concedida a Adelmo Braga da Silva. Sobral-
CE. Outubro de 2012. Correção de gramática e vícios de linguagem. A entrevista
encontra-se sob posse da autor. 21 min. Não publicada.
1982.
139
ANEXOS
140
ANEXOS
Nº do Questionário: _________________
Laboratório de Estudos
de Comunidades Paleozoicas
Parte 1 – Identificação
(P1)Nome_____________________________ (P2)Sexo: □M □F
(P3) Idade □ 12 a 15 anos □ 16 a 21 □ 22 a 35 □ 36 a 55 □ 56 a 70 □+ de 70
(P4) Escolaridade:
□ Analfabeto □ 1º Grau Completo □ 1º Grau Incompleto □2º Grau Completo □ 2º
Grau Incompleto □ Superior Incompleto □ Superior Completo □ Pós- Graduação
(P5) Situação econômica (vinculo empregatício)
□ Trabalhador com vínculo empregatício □ Trabalhador sem vinculo empregatício
□ Funcionário Público □ Procurando trabalho □ Estudante □ Dona de Casa
□ Aposentado/ Pensionista □ Outro
(P6) Onde você fixa residência?
□ Zona Rural _______________ □ Zona Urbana
(P7)Quantos anos mora na cidade?
□Sempre morou □ Até 5 anos □ 5 a 10 anos □ Mais de 10 anos
(P8)O abastecimento da sua casa é?
□ Rede residencial (CAGECE) □ Poço Artesiano □ Nascente □ Carro Pipa □
Outro _____________
(P9) Quais meios ou ambientes você utiliza para ficar informado das coisas que ocorrem
na cidade ? (Pode marcar mais de 1)
□ Em casa, com a família e vizinhos □ Na escola □ Bar/ Bodega/ Padaria
□ Igreja □Rádio □ Sindicato □ Internet □ Jornal
□ Outros _________________
Parte 2 – Patrimônio
(P10) Você já visitou um museu? □ Sim □ Não – Vá para P15
(P11) Quantidade de Museus visitados:
□ 1 □ 2 a 5 □ 5 a 10 □ + de 10
(P12) Tipos de museus visitados (Pode marcar mais de 1)
143