Serrinha - Pacujá.

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Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO

Centro de Ciências Humanas e Sociais – CCH Museu de Astronomia e Ciências Afins – MAST/MCT

Programa de Pós Graduação em Museologia e Patrimônio – PPG-PMUS


Mestrado em Museologia e Patrimônio

Adelmo Braga da Silva

UNIRIO / MAST - RJ, Março de 2016


SERRINHA (PACUJÁ-CE): VALOR
PATRIMONIAL, MUSEALIZAÇÃO E
CONSERVAÇÃO.

por

Adelmo Braga da Silva


Aluno do Curso de Mestrado em Museologia e Patrimônio
Linha 02 – Museologia, Patrimônio e Desenvolvimento Sustentável

Dissertação de Mestrado apresentada ao


Programa de Pós-Graduação em Museologia
e Patrimônio.

Orientadora: Professora Doutora Deusana


Maria da Costa Machado

UNIRIO/MAST - RJ, Março de 2016


i

FOLHA DE APROVAÇÃO

Dissertação de Mestrado submetida ao corpo docente do Programa de Pós-


graduação em Museologia e Patrimônio, do Centro de Ciências Humanas e
Sociais da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO e
Museu de Astronomia e Ciências Afins – MAST/MCT, como parte dos
requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Museologia e
Patrimônio.

Aprovada por

Prof. Dr. ______________________________________________


Profª. Drª. Deusana Maria da Costa Machado
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO

Prof. Dr. ______________________________________________


Profª. Drª. Teresa Cristina Moletta Scheiner
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO

Prof. Dr. ______________________________________________


Profª, Drª. Aline Rocha de Souza Ferreira de Castro
Museu da Geodiversidade - UFRJ

Rio de Janeiro, Março de 2016


ii

Braga da Silva, Adelmo.


B547
Serinha: Valor Patrimônial, Musealização e Conservação/ Adelmo
Braga da Silva. - Rio de Janeiro: UNIRIO, 2016. Orientador: Deusana
Maria da Costa Machado

143

Dissertação (mestrado) Universidade Federal do Estado do Rio de


Janeiro / Centro de Ciências Humanas e Sociais - CCH / Programa de
Pós-graduação em Museologia e Patrimônio, 2016.

1. Museologia 2. Patrimônio. 3. Serrinha. 4. Musealização. 5.


Conservação. I. Deusana Maria da Costa Machado. II. Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro, Centro de Ciências Humanas e
Sociais / Programa de Pós-graduação em Museologia e Patrimônio.
III. Título.
iii

Às minhas famílias,
Do Ceará
e do Rio de Janeiro
iv

AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos aqueles que contribuíram de forma direta e indireta para a
construção deste trabalho, todas as informações e sugestões que recebi serviram para
complementar a pesquisa.
Ao meu irmão Carlos Alberto, pela companhia e atenção dada em todas as visitas
realizadas na Serrinha e também por facilitar a aproximação com os moradores da
Serrinha.
À Deusana Machado, minha orientadora, com sua agenda sempre lotada sempre
arrumou tempo para escutar e ajudar a resolver os problemas intelectuais e pessoais,
partilhando seu conhecimento e tornando-se amiga para além dos muros da
universidade.
Ao Senhor Raimundo Abreu e Senhora Laurita Pereira, pela acolhida em sua
residência na Serrinha, sempre com simples e importantes palavras que contribuíram
para este trabalho.
Aos professores do PPG-PMUS que tanto contribuíram para as reflexões nesta
dissertação
Aos Colegas de Turma do PPG-PMUS, Raniele Menezes, Karina Muniz, Rita Matos,
Rosa Gonçalves, Eduardo Pimentel, Vânia Ventura, Teresa Silveira, Raquel Villagran,
Glória Gelmini, Mariana Novaes, Ana Audebert, Denise Argenta, Joana Lima, Marcela
Sanches e Inês Gouveia que contribuíram com discussões e reflexões diversas sobre
patrimônio no decorrer do curso.
À Prefeitura Municipal de Pacujá, em especial o vice-prefeito Alex Melo e o Secretário
de Meio Ambiente Francisco Oliveira pela boa vontade de participar da pesquisa e
contribuir com informações.
À Professora Somália Viana, pelos esforços nos estudos da Paleontologia e
reconhecimento do Patrimônio de Pacujá.
Ao Gustavo Berriel, por estar sempre ao meu lado ajudando e apoiando em todas as
horas.
À Josiane Kunzler, pela companhia nas leituras, viagens e apresentações e por tornar-
se uma verdadeira amiga.
A todos os pesquisadores que contribuíram com seus trabalhos que agregaram mais
possibilidades de interpretação dos temas da pesquisa.
v

RESUMO

SILVA, Adelmo Braga da. Serrinha (Pacujá – CE): Valor Patrimonial, musealização e
conservação. Orientador: Deusana Maria da Costa Machado. UNIRIO/MAST. 2016.
Dissertação.

Investigamos nesse estudo as potencialidades patrimoniais apresentadas por uma área de


nome Serrinha, no Município de Pacujá, Ceará, Brasil, articulando contribuições vindas dos
campos da Museologia e do Patrimônio em interface com os outros conhecimentos diversos
que foram identificados no desenvolvimento da pesquisa. Tratamos de questões que permeiam
o estudo do Patrimônio em perspectiva integral e polissêmica. Encontramos muitos desafios no
percurso da pesquisa, considerando que o tema Áreas Naturais e Patrimônio possui ainda
escassa produção. Partimos de reflexões teóricas que envolvem os temas Natureza,
Patrimônio e Musealização e buscamos integrar estes conhecimentos com os elementos que
apresentam potencial patrimonial da Serrinha. As informações dos valores atribuídos à
Serrinha foram obtidas através do levantamento da produção científica, aplicação de
questionários com os moradores de Pacujá e entrevistas com os moradores da Serrinha,
pesquisadores e representantes da administração pública municipal, deste modo, após
confrontarmos estas informações obtivemos resultados que demostram múltiplas formas de
valorar, de se apropriar e de perceber os elementos que compõem o potencial patrimonial da
Serrinha, nos permitindo enfatizar a importância da integração da musealização com outras
formas de conservação, que nesse estudo de caso apontou a criação de uma Área de
Proteção Ambiental junto a um possível Museu de território. Vislumbramos que essa união
pode gerar frutos positivos quando pensamos a manutenção da biodiversidade,
geodiversidade, cultura, história, no nível local, gerando uma experiência aplicável em muitos
outros cenários.

Palavras-chave: Museu. Patrimônio. Serrinha. Musealização.


vi

ABSTRACT

SILVA, Adelmo Braga da. Serrinha (Pacujá – CE): Valor Patrimonial, musealização e
conservação. Supervisor: Deusana Maria da Costa Machado. UNIRIO/MAST. 2016.
Dissertation (Master’s).

In this study We investigated the heritage potentialites presented by an area called Serrinha,
situaded in Pacujá city, State of Ceará, Brazil, articulating contributions coming from Museology
and Heritage in interface with other diverse knowlede that have been identified in the
development of this research. We deal with issues that permeate the study of Heritage in
polisemic and integral perspectives. We meet many challenges in the course of the research,
whereas the theme of Natural Areas and Heiritage still has little academic production. We start
from teoretical reflections involving the themes Nature, Heritage and Musealization and We are
looking to integrate this knowledge with the elements that present heritage potential in Serrinha.
The Serrinha’s assigned values informations were obtained by surveying the scientific
production, application of questionnaires with residents of Pacujá and interviews with the
residents of Serrinha, Researchers, and representatives of the municipal public administration,
that way, after confronting this informations We got results that show multiple forms to value, to
appropriate and perceive te elements that composse the Serrinha’s heritage potential, allowing
us to emphasize the importance of integration of musealization with other forms of
conservation, that in this case study pointed out the creation of an APA - Área de Proteção
Ambiental (Category of conservation area regulated by Ministry of the Environment of Brazil)
next to this idea a possibleTerritory Museum. We envisage that this union can generate positive
results when we consider the maintenance of biodiversity, geodiversity, culture, history, in the
local level, generating experience applicable in many other scenarios.

Keywords: Museum. Patrimony. Serrinha. Musealization.


.
vii

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 1

NATUREZA, PATRIMÔNIO E MUSEALIZAÇÃO. 10

1.1 - A RELAÇÃO SER HUMANO E NATUREZA. 11


1.2 – PATRIMÔNIO 18

1.3 - MUSEALIZAÇÃO: CAMINHOS DE INSTITUCIONALIZAÇÃO E PROTEÇÃO DO


PATRIMÔNIO 38
I.3.1 – Os Modelos Conceituais de Museu 38
I.3.2 – Musealização 45
I.3.3 – Preservação e conservação: Conceitos chave para a Museologia 46

1.4 – CONSIDERAÇÕES 46

SERRINHA: OLHARES PARA O MÚLTIPLO PATRIMÔNIO 48

2.1 – CARACTERIZAÇÃO DO ESPAÇO E AMBIENTE 49


2.2– CARACTERIZAÇÃO SOCIAL. 52
2.3 – A PRODUÇÃO CIENTÍFICA SOBRE A SERRINHA. 55
2.4 - ENTENDENDO O CONTEXTO: O MUNICÍPIO DE PACUJÁ 60
2.5 – A SERRINHA E O MUSEU DE PACUJÁ 61
2.6 - O POTENCIAL PATRIMONIAL DA SERRINHA 66
II.6.1 – Elementos da geodiversidade 67
II.6.2 – Fósseis 67
II.6.3 – Cachoeira 68
II.6.4 – Monumentos Rochosos 68
II.6.5 - Nascente 70
II.6.6 - Cavernas 71
2.7 - CONSIDERAÇÕES SOBRE OS ELEMENTOS ENCONTRADOS NA SERRINHA 73

II.7.1 – Elementos da Geodiversidade 75


II.7.2 – Elementos da Biodiversidade 76
II.7.3 – Elementos Culturais 79
II.7.4 – Casa de Farinha 79
II.7.5 - A casa do Seu Raimundo 80
2.7.6 - Arqueologia 81

2.8 – OS MÚLTIPLOS OLHARES PARA A SERRINHA. 79


II.8.1 - O morador da Serrinha 80
II.8.2 - O pesquisador 82
II.8.3 - Os agentes políticos 83
II.8.4 – O morador de Pacujá 84
II.8.5 – A apropriação do Território 102

CAMINHOS PARA A CONSERVAÇÃO DA SERRINHA. 105

3.1 - SERRINHA: PATRIMÔNIO NÃO INSTITUCIONALIZADO. 106


3.2 – A EXPERIÊNCIA DO MUSEU DE PACUJÁ FOI UMA FORMA DE
INSTITUCIONALIZAR O PATRIMÔNIO DA SERRINHA? 109
3.3 – A DIMENSÃO PATRIMONIAL DA SERRINHA 111
III.3.1 – O potencial Científico 111
III.3.2. – O potencial Turístico 111
III.3.3 – Potencial Educativo 112
viii

3.4 – AS “PEDRAS NO CAMINHO”: EMPECILHOS PARA O ACESSO E 112


PRESERVAÇÃO DA SERRINHA
3.5 – A CONSERVAÇÃO DA SERRINHA 113
III.5.1 - A criação de uma Área de Proteção Ambiental na Serrinha 113
3.6 - CAMINHOS PARA UM PATRIMÔNIO INTEGRAL: A MUSEALIZAÇÃO APLICADA À 117
SERRINHA
3.7 – CONSIDERAÇÕES 122

CONSIDERAÇÕES FINAIS 124

REFERENCIAS 129

ANEXOS 139
ix

SIGLAS E ABREVIATURAS UTILIZADAS:

APA - Área de Proteção Ambiental


CAME – Conferência dos Ministros da Educação Aliados
CCIR - Certificado de Cadastro de Imóvel Rural
CIAM – Congresso Internacional de Arquitetura Moderna
CNPQ - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente
DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
IBDF - Instituto brasileiro de Desenvolvimento Florestal
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Esatística
ICMBio - Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.
ICOFOM - International Committee for Museology, ICOM (Comitê Internacional de
Museologia do Conselho Internacional de Museus)
ICOM - International Council of Museums (Conselho Internacional de Museus) - órgão
filiado à UNESCO
ICOMOS – International Council of Mouments and Sites
INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
IPECE – Instituto de Pesquisa e Estatística do Ceará
IPHAN – Instituto de Patrimônio Artístico e Histórico Nacional
IUCN – União Internacional para a Conservação da Natureza
OIM – Office International de Musées
ONU – Organização das nações unidas
SESI – Serviço Social da Indústria
SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservação
TICs – Tecnologias da Informação e Comunicação
UFPI - Universidade Federal do Piauí
UN – United Nations - Nações Unidas.
UNEP - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
UNESCO - Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura.
UNIRIO – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
UVA - Universidade Estadual Vale do Acaraú
x

LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 – Localização Geográfica da área do complexo Serrinha. (Google Maps,
adaptado)
FIGURA 2 - Localização Geográfica da área da Serrinha. Escala –1:10.000 (Google
Maps/IBGE, adaptado)
FIGURA 3– Fotografia panorâmica da Serrinha a partir do Açude Milhãs, com
esquema da concepção local e a concepção científica. (Acervo do Autor)
FIGURA 4 – Fotografias comparativas do final do verão (período seco) e início do
inverno (período chuvoso) ressaltando que foram fotografadas num intervalo de 25
dias. (Acervo do Autor)
FIGURA 5 – Aspectos de trilha na Serrinha. Em alguns trechos como na foto à direita
a largura máxima é de 50 cm, em outros a irregularidade do terreno impossibilita até a
passagem de motocicletas. (Acervo do Autor)
FIGURA 6 – Mapa do Município de Pacujá, com localidades e fronteira com outros
municípios – disponível em tamanho maior em anexos. (IPECE, 2014 adaptado)
FIGURA 7 – Museu de Pacujá, vista externa. (Acervo do Museu)
FIGURA 8 – Planta baixa da casa e organização do Museu (SILVA, 2003, p. 32)
FIGURA 9 – A e B: Icnogênero Planolites Nicholson. C: Icnogênero Skolitos
Haldeman, o traço na foto mede 3cm (VIANA et al, 2010).
FIGURA 10 - Fotografia da Cachoeira dos Tucanos em dia chuvoso. (Acervo do autor)
FIGURA 11- Fotografia da Pedra do Gorila. (Acervo de Antonio Alancardé)
FIGURA 12 - Fotografia da Pedra do salto do veado. (Acervo do autor) FIGURA 13 -
Fotografia da Pedra do jacaré. (Acervo de Antonio Alancardé FIGURA 14 - Fotografia
da nascente. (Acervo do Autor)
FIGURA 15 – Foto panorâmica da Caverna do Limão.
FIGURA 16 – Interferência humana recente imitando pintura rupestre (A) e pichações
(B) (Acervo do autor).
FIGURA 17 – Lista de cavernas cadastradas no Cadastro Nacional de Cavernas (Base
de dados da Sociedade Brasileira de Espeleologia)
FIGURA 18 – Mapa com a distribuição espacial dos elementos da geodiversidade
apresentados (Google Maps, adaptado)
FIGURA 19 – Aves fotografadas na Serrinha. A - Caracara plancus. Nome Local:
Gavião. B - Eupsittula cactorum . Nome local Periquito. A fotografia foi feita na casa do
Senhor Raimundo Abreu, que possui um periquito domesticado. (Acervo do autor)
xi

FIGURA 20 – Lagartos fotografados nas visitas à Serrinha. A - Não conseguimos obter


o nome científico. Nome Local: Calanguinho. B – Ameiva ameiva. Nome local: Calango
verde. C - Tupinambis merianae. Nome local: Tejo. (Acervo do autor)
FIGURA 21 – Exemplo de plantas xerófilas características do Bioma Caatinga: A –
Opuntia cochenillifera. Nome local: Palma; B- Bromelia laciniosa, Nome local:
Macambira. C - Cereus jamacaru, Nome local: Mandacarú. (Acervo do Autor)
FIGURA 22 – Exemplos de flores da família Commelinaceae da Serrinha. (SANTOS et
al, 2015)
FIGURA 23 – Fotografias da Casa de Farinha da Serrinha, que se encontra
desativada.
FIGURA 24 – Fotografias casa do Senhor Raimundo. (Acervo do Autor)
FIGURA 25 – 1 – Batedor e 2 – Objeto esférico encontrados na Serrinha. (Acervo do
Museu de Pacujá)
FIGURA 26 – Esquema das relações dos olhares para a Serrinha.
FIGURA 27 - Gráfico com a representação por divisão de sexos entre os
entrevistados.
Figura 28 - Gráfico com a representação de entrevistados por faixa etária.
FIGURA 29 - Gráfico com a representação de entrevistados por faixa de escolaridade
Figura 30 - Gráfico com a representação do vínculo empregatício/ocupação dos
entrevistados.
FIGURA 31 - Gráfico com a representação da distribuição de entrevistados pelo local
onde fixam residencia.
FIGURA 32 - Gráfico com a representação do tempo em que os entrevistados moram
no Município de Pacujá
FIGURA 33 - Gráfico com a representação dos tipos de abastecimento de água dos
entrevistados
FIGURA 34 - Gráfico com a representação dos locais onde os entrevistados se
informam.
FIGURA 35 - Gráfico com a representação de visitas dos entrevistados em Museus.
FIGURA 36 - Gráfico com a representação do número de museus visitados pelos
entrevistados.
FIGURA 37 - Gráfico com a representação dos tipos de Museus visitados pelos
entrevistados.
FIGURA 38 - Gráfico com a representação do número de entrevistados que visitaram
o Museu de Pacujá.
FIGURA 39 - Gráfico com a representação da impressão dos entrevistados sobre o
Museu de Pacujá.
xii

FIGURA 40 - Gráfico com a representação dos sentidos atribuídos a patrimônio pelos


entrevistados.
FIGURA 41 - Gráfico com a representação das palavras associadas como patrimônio.
Figura 42 - Gráfico com a representação da quantidade de entrevistados que já
visitaram a Serrinha.
FIGURA 43 - Gráfico com a representação do número de visitas na Serrinha
realizadas pelos entrevistados.
FIGURA 44 - Gráfico com a representação dos elementos mais importantes para os
entrevistados que já visitaram da Serrinha.
FIGURA 45 - Gráfico com a representação da percepção dos entrevistados em relação
a políticas públicas de acesso e preservação na Serrinha.
FIGURA 46 - Gráfico com a representação dos valores atribuídos à Serrinha pelos
entrevistados.
FIGURA 47 - Gráfico com a representação da opinião dos entrevistados acerca de
opções para divulgação da Serrinha.
FIGURA 48 – Acampamento na Caverna do Limão. (Acervo de Wagner Brito)
FIGURA 49 – Cerimônia de Batismo Católico na Nascente da Serrinha. (Acervo de
Maria Souza)
Figura 50 - Áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade da Caatinga.
(SILVA et al, 2004, p. 351)
Figura 51 – Área da Serrinha em relação à Pacujá e Campo Lindo. (Google Earth,
adaptado)
xiii

INTRODUÇÃO
1

INTRODUÇÃO

A presente dissertação abordou a relevância patrimonial da Serrinha no


contexto do município de Pacujá (CE), através da análise e discussão dos registros da
cultura, da geodiversidade e da biodiversidade, com a finalidade de ressaltar seu
potencial como Museu.
Serrinha é um complexo geomorfológico que envolve uma feição
geomorfológica de mesmo nome, a Serra da Bananeira, o Serrote do Pontal e o
Serrote São Tomé. Ela ocupa uma área de aproximadamente mil hectares de relevo
montanhoso cuja altitude máxima ultrapassa 500 metros acima do nível do mar. Está
localizada a aproximadamente nove quilômetros da zona urbana do Município de
Pacujá, no estado do Ceará (Figura 1).

SERRA

DA

IBIAPABA

FIGURA 1 – Localização Geográfica da área do complexo Serrinha. (Google Maps,


adaptado)

A escolha da Serrinha como estudo de caso se definiu pela continuação dos


estudos do autor da dissertação em relação ao Patrimônio de Pacujá, mais
especificamente a partir de um Museu desativado, que era um expoente da
representação do Patrimônio da Serrinha e de outros locais do município. O Museu de
Pacujá deu visibilidade não só às peças do acervo, mas aproximou a comunidade de
Pacujá em relação aos potenciais da Serrinha, abrindo também a experiência para os
visitantes, principalmente pesquisadores de muitos locais do Brasil.
Ao pensarmos na análise do patrimônio da Serrinha, pretendemos ressaltar as
relações indissociáveis existentes entre geodiversidade, biodiversidade e elementos
2

culturais da região. Devido às condições geomorfológicas a Serrinha se destaca na


paisagem e cria ambientes distintos da depressão sertaneja (categoria de relevo onde
a cidade de Pacujá está inserida) e da Serra da Ibiapaba. Pelo baixo nível de
ocupação humana é um espaço privilegiado do desenvolvimento de espécies da fauna
e flora da Caatinga, assim como, para atividades de lazer.
As condições ambientais apresentadas na localidade tanto em aspectos
geológicos quanto climáticos, dificultam o acesso e a permanência humana no local,
apresentando uma vegetação densa e diversificada. Apresenta um ambiente
característico de Caatinga, com dois momentos climáticos distintos, uma metade do
ano em período chuvoso e a outra seca, criando uma metamorfose da paisagem. No
período chuvoso, toma o verde e o colorido das flores diversas. Nos períodos secos, o
aspecto torna-se de cor cinza e esbranquiçada. Após as primeiras chuvas, a
vegetação recupera suas folhas. O acesso às áreas onde estão cachoeira, cavernas e
formações rochosas só pode ser realizado em caminhada por trilhas íngremes onde
não há acesso de automóveis.
Compreendendo a inter-relação de todos os aspectos (históricos,
arqueológicos, geológicos, ambientais, etc.) da Serrinha e do município de Pacujá,
podemos entender o Patrimônio tanto em sua forma integral quanto nos seus vários
aspectos específicos. A primeira contempla conjuntamente os fenômenos culturais e
naturais de forma indivisível, única e sem pertencer exclusivamente a uma área do
conhecimento. A segunda é capaz de receber adjetivações para especificar a sua área
de importância. Compreendemos, portanto, o Patrimônio de forma polissêmica,
destacando perspectivas diferentes para as suas particularidades, abrangência e
potencialidades, com atenção em sua conservação e os processos envolvidos.
Compreendendo o Patrimônio de forma integral e polissêmica, uma área
natural apresenta perspectivas diferentes ao se considerar suas particularidades,
abrangência e potencialidades. Às vezes tomado como monumento no sentido de obra
ou ambiente intocável nos faz perceber a necessidade de refletir como estamos nos
relacionando com o Patrimônio.
Buscamos relacionar as concepções das diversidades biológicas, geológicas e
culturais, entendendo que há um processo de interdependência conceitual e prática
que possibilita uma visão ampla acerca do Patrimônio múltiplo e diverso que estamos
tratando.
A Declaração internacional dos Direitos à Memória da Terra, que é um
documento pensado pelos especialistas em Ciências da Terra de 30 países, reunidos
em um Simpósio do Patrimônio Paleontológico em 1991, na cidade Francesa de
3

Digne, traz reflexões que servem de base para pensarmos essa relação de
geodiversidade e biodiversidade, entre eles destacamos seu quinto artigo:
5 -A terra com seus 4500 milhões de anos de idade é o
berço da vida, da renovação e das metamorfoses dos
seres vivos. A sua larga evolução, a sua lenta
maturação, deram forma ao ambiente em que vivemos.
(CARTA DE DIGNE, 1991).

Essa relação entre os seres humanos e o meio ambiente é inerente à


existência humana, pois foi se consolidando ao longo da história da humanidade e,
consequentemente, gerando diferentes concepções e pontos de vista da Natureza.
Para pensarmos nas concepções de natureza e patrimônio nos dias atuais, é
necessário fazer a conexão com a criação das áreas naturais protegidas, as quais se
tornaram o principal mecanismo de proteção da biodiversidade e geodiversidade,
fundamentadas constitucionalmente como práticas de conservação da natureza.
Todo o processo de criação dessas áreas de proteção está impregnado de
valoração, mesmo que na maioria das vezes não compartilhada pela comunidade
local, mas remetendo a um valor de excepcionalidade e de identidade que diretamente
as caracterizam como patrimônio.
Observando o panorama nacional no que diz respeito à preservação e as
ações de conservação do patrimônio, vemos que nosso país ainda caminha
vagarosamente com ações pouco efetivas de patrimonialização. A situação ainda é
mais complicada quando a área é rica em materiais de valor comercial. Há
pouquíssimas punições e a legislação dos órgãos responsáveis pela fiscalização
destes patrimônios, como o DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral),
IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), IBAMA (Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e Secretarias do
Meio ambiente, ainda não são suficientes para garantir uma proteção integral.
O Livro de Tombo do Patrimônio Arqueológico, Etnográfico e paisagístico do
IPHAN, documento no qual se registram os monumentos naturais, os sítios e
paisagens declarados como patrimônio, nos elucida que ainda são insuficientes os
registros e iniciativas de tombamento dessas categorias diante do tamanho do
território nacional e sua diversidade natural. Isto não significa o desinteresse dos
órgãos responsáveis em relação à preservação. Podemos atribuir a esta situação a
limitação da legislação de tombamento que contemplam apenas os casos
considerados excepcionais.
As atividades acima descritas são realizadas pelos órgãos federais que estão
em contato direto com o Patrimônio: IPHAN, ICMBio (Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade), IBAMA (Instituto de Meio Ambiente e Recursos
4

Naturais Renováveis), além desses podemos citar o DNPM( Departamento Nacional


de Produção Mineral) que tem a missão de gerir o patrimônio mineral brasileiro,
lidando com as formações geológicas e paleontológicas.
Existem portarias conjuntas entre DNPM, IBAMA e ICMBio, mas elas tem
objetividade em resolverem assuntos ligados aos conflitos, entre as gestões dessas
autarquia, como podemos observar na Portaria Conjunta DNPM/IBAMA/ICMBIO Nº
104:
Art. 1º Fica criado o Comitê Permanente Mineração e
Meio Ambiente - CP/MIMA, órgão colegiado consultivo e
paritário, que tem como objetivos principais avaliar,
orientar, propor e monitorar a elaboração e a aplicação
de atos normativos, instrumentos e procedimentos
conjuntos, sempre buscando a convergência de
interesses, bem como assessorar aos dirigentes destas
autarquias nas suas decisões, de modo a solucionar os
conflitos entre as gestões dos recursos minerais e dos
recursos ambientais, no interesse público, social e
econômico sustentável. (BRASIL, 2009).

A preservação do patrimônio natural em sua essência visa assegurar a


proteção de formas bióticas e abióticas que compõem o ambiente, contemplando
também os aspectos históricos e sociais que estão envolvidos em suas expressões. O
Museu como espaço de fluidez da informação associado às possibilidades e
conhecimentos locais podem ajudar no desenvolvimento de ações que elucidem o(s)
patrimônio(s) de Pacujá.
A partir da pesquisa de monografia do autor, que abordou a história do Museu
de Pacujá, foram surgindo indagações acerca da estruturação do mesmo. A partir
disso foi observada a importância da Serrinha para a constituição do museu e foram
surgindo outros questionamentos acerca da relação da população do Município de
Pacujá com a Serrinha.
A escolha da área da Serrinha como foco da análise, se deu através das
potencialidades apontadas pelos relatos de pesquisadores, moradores de Pacujá e
representantes da administração pública municipal, contato este realizado durante a
pesquisa de monografia e ampliado para a pesquisa de dissertação.
Iniciamos a pesquisa partindo da reflexão acerca da valoração do território
pelos atores associais que estavam mais envolvidos, que eram: Os moradores que
habitam a Serrinha, os moradores de Pacujá e os pesquisadores. Durante o processo
de pesquisa surgiram outras perguntas: A Serrinha é reconhecida como patrimônio?
Quais as definições de patrimônio para esses atores sociais? Como os atores sociais
envolvidos se relacionam com a área? E entre si? A Serrinha tem possibilidade de ser
um museu ou como uma Área natural protegida? Quais relações o poder público
5

mantém na área? Como a Museologia, campo interdisciplinar autônomo, pode


contribuir para a preservação de uma Área Natural Protegida?
Como as contribuições da Museologia para as Áreas Naturais no Brasil e os
trabalhos relativos à musealização deste patrimônio situam-se de forma ainda pouco
debatida dentro do próprio campo disciplinar, e também dentro das outras áreas
diretamente envolvidas com o assunto, foi um dos desafios da pesquisa tratar o
assunto de forma densa, valendo destacar as contribuições do Programa de Pós
Graduação em Museologia e Patrimônio (PPG-PMUS) da Universidade Federal do
Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) mais especificamente as dissertações de Aline
Souza e Elisama Beliani, textos que serviram de referência e abriram horizontes para
os temas fronteiriços e interdisciplinares que foram abordados nessa dissertação.
Partindo das possibilidades encontradas no campo da Museologia e do
Patrimônio em relação às necessidades da pesquisa concentramos o foco em três
pontos: o primeiro diz respeito às relações natureza/Ser Humano/Patrimônio/Museu; o
segundo, nas possibilidades de aplicação dessas temáticas nas áreas naturais
protegidas; e o terceiro a aplicação dos conceitos do campo dos campos da
Museologia e do Patrimônio na Serrinha, suas possibilidades de institucionalização e
suas relações com a população.
A partir dos pontos acima mencionados, o objetivo geral da pesquisa-
dissertação buscou analisar e discutir o valor patrimonial da Serrinha, considerando os
bens da geodiversidade, da biodiversidade e da cultura, através dos múltiplos olhares
das esferas sociais envolvidas; possibilitando a elaboração de estratégias de
musealização e conservação para a área estudada.
O trajeto da pesquisa-dissertação possibilitou alcançar também os seguintes
objetivos específicos:
• Criar referências para os bens da geodiversidade, da biodiversidade e da
cultura da Serrinha.
• Distinguir os vários valores patrimoniais lançados pelas esferas sociais que
se relacionam com a área.
• Ressaltar a importância da preservação do Bioma Caatinga, da
geodiversidade e dos bens culturais, considerando a Serrinha um sistema
integrado e sua consonância com o conceito de Patrimônio.
• Expor a desativação do Museu de Pacujá, como pratica do descaso com o
patrimônio arqueológico, paleontológico, geológico, espeleológico e cultural.
• Identificar políticas públicas em instâncias governamentais que assegurem a
proteção ambiental e cultural da Serrinha.
6

Por tratar de questões que permeiam o estudo do Patrimônio em perspectiva


polissêmica, dando ênfase aos múltiplos olhares lançados pelas esferas sociais
envolvidas e às discussões sobre musealização e estratégias de conservação do meio
ambiente, o referente trabalho está vinculado na Linha de pesquisa 2 - Museologia,
Patrimônio integral e desenvolvimento, analisando a valoração do Patrimônio da
Serrinha pelos olhares múltiplos da comunidade; pautada em contribuições vindas da
Museologia em interface com os conhecimentos diversos que compõem a pesquisa. É
importante destacar que esse trabalho integrou o projeto INVENTÁRIO, VALORAÇÃO
E MUSEALIZAÇÃO DA GEODIVERSIDADE DOS PARQUES MUNICIPAIS,
ESTADUAIS E FEDERAIS NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO (RJ), BRASIL, sob a
coordenação da professora Dra. Deusana Machado, cujos objetivos estão em
identificar e avaliar a potencialidade patrimonial da geodiversidade dos parques
municipais, estaduais e federais, e espaços museais afins, do município do Rio de
Janeiro; bem como melhorar ou propor sua musealização, visando uma melhor
apreensão da importância da geodiversidade como Patrimônio e sua inter-relação com
a biodiversidade e a pluralidade cultural. Apesar dos objetivos do projeto estar
centrados no município do Rio de Janeiro, essa dissertação fez parte de uma ação
desenvolvida pelo mesmo, com finalidade de analisar e discutir a potencialidade
patrimonial da geodiversidade e biodiversidade e sua apropriação pelos diversos
grupos sociais em outras áreas geográficas do Brasil.
Em virtude dos objetivos a serem alcançados, trabalhamos com quatro
hipóteses iniciais básicas:
1. Serrinha tem vários eixos de valores patrimoniais: Geológico, Espeleológico,
Paleontológico, Arqueológico, Ambiental, Biológico, Histórico e Cultural.
2. Serrinha tem potencialidade de ser um museu de território.
3. A sociedade do município de Pacujá não reconhece Serrinha como Patrimônio.
4. A esfera governamental municipal não mantém políticas públicas ambientais e
ou patrimoniais para a área da Serrinha.
A metodologia da pesquisa foi pautada em quatro eixos: levantamento
bibliográfico e documental; trabalho de campo; realização de entrevistas e aplicação
de questionários e confronto de dados obtidos.
Buscamos levantar literaturas especializadas sobre patrimônio, musealização e
conservação para dar suporte aos temas abordados na pesquisa além das políticas
públicas que podem se relacionam com o estudo.
O aporte bibliográfico configurou-se em sua maioria como base teórica para o
desenvolvimento da dissertação.
7

Em relação às informações sobre a Serrinha, numa primeira etapa fizemos o


levantamento de todas as informações disponíveis sobre a área. Mesmo sendo
escassas, existem produções cientificas na área de paleontologia e botânica, além de
painéis com fotos e descrição de alguns dos representantes dos bens da
geodiversidade e da biodiversidade da Serrinha, feitos pela Secretaria Municipal de
Ação Social de Pacujá, ofícios enviados à prefeitura, reportagens nos jornais
impressos Diário do Nordeste e O Povo.
A leitura e análise da bibliografia e dos documentos foram realizadas com o
intuito de gerar uma base de dados com os bens de geodiversidade, da biodiversidade
e da cultura da Serrinha, com intenção de criar referências para outras áreas do
conhecimento que se apropriarem dos seus potenciais.
Na Análise bibliográfica e documental confrontamos as produções e demais
documentos levantados sobre a área e sua catalogação com as bibliografias
correspondentes no que diz respeito ao estudo do Patrimônio, relacionando os vários
valores patrimoniais encontrados na Serrinha.
No trabalho de campo realizamos visitas à Serrinha e à cidade de Pacujá
durante os meses de Novembro de 2014 a Janeiro de 2015, retornando em Agosto de
2015. As visitas à Serrinha tiveram objetivo exploratório e documental no sentido
fotográfico e de identificação dos locais onde ocorrem afloramentos fósseis, caverna e
outros elementos que compõem a Geodiversidade e Biodiversidade da área. No
primeiro período de trabalho de campo, foram feitas visitas, na cidade de Pacujá, à
Prefeitura, Secretaria de Meio Ambiente, Secretaria de Assistência Social e local do
acervo do antigo Museu de Pacujá, para levantamento bibliográfico e de informações
sobre a área de estudo. Também, ocorreu a aplicação de questionários para a
população de Pacujá e entrevistas orais com os moradores da Serrinha. No segundo
período, foi visitada a área da Serrinha e novamente aplicados questionários na cidade
de Pacujá, totalizando ao todo 400 questionários.
Em relação às metodologias de entrevista usamos dois tipos:
1- Questionário semiestruturado - baseado no modelo usado na dissertação de Aline
Souza (SOUZA, 2009) (aplicado em São José de Itaboraí – RJ) e a metodologia de
pesquisa social proposta por Gil (2008), adaptados para as questões específicas
dessa pesquisa, com intuito de ser um suporte analítico das opiniões dos envolvidos
nas questões abordadas na pesquisa. O público maior foi de estudantes da rede
pública da educação básica, a partir do Ensino Fundamental II, mas buscamos manter
um espectro amplo de perfis, abrangendo aposentados, trabalhadores dos diversos
segmentos, desempregados, donas de casa e servidores públicos.
8

2- História Oral: Outros suportes metodológicos foram entrevistas abertas usando a


metodologia da História Oral, baseando-se principalmente nos autores Paul
Thompsom(1998) e Alessandro Portelli(1990). As entrevistas foram feitas com
pesquisadores que atuaram na área da Serrinha, inclusive os que ajudaram na
montagem do museu de Pacujá, além dos moradores da Serrinha e representantes da
administração municipal de Pacujá.
A partir da metodologia de questionário semiestruturado, elaboramos a base de
dados das entrevistas e fizemos a montagem de gráficos e tabelas no programa
Microsoft Excel 2010®, visando identificar os valores patrimoniais das diferentes
esferas entrevistadas. Somado a estes dados usamos as informações das entrevistas
abertas, que passaram pelo processo de gravação em formato MP3 utilizando
gravador de smartphones, as entrevistas foram transcritas e transcriadas com a
remoção de vícios de linguagem. Ambas serviram para a criação de um panorama
para identificar e discutir os múltiplos olhares patrimoniais da Serrinha.
Os dados coletados em campo, fontes e bibliografia sobre Serrinha
possibilitaram a confecção de um mapa simples da área a partir do Google Maps ®,
contemplando e evidenciando os locais das formações de cavernas, cachoeira,
monumentos de rocha e das áreas já identificadas com ocorrência de fósseis.
A fotografia foi uma metodologia essencial para concretizar visualmente o
patrimônio a ser discutido: imagens da área em geral, dos afloramentos, cavernas, da
fauna, da flora e da diversidade dos tipos de Patrimônio encontrados na região.
A partir das intepretações de todos os tipos de dados obtidos e das
informações de políticas públicas nos três níveis governamentais, discutimos quais os
tipos de Patrimônio encontrados na região, como as várias esferas se apropriavam
dos mesmos, quais estratégias de musealização e conservação para a
geodiversidade, biodiversidade e cultura da Serrinha eram mais adequadas e se a
área tinha um potencial de museu de território.
A dissertação foi organizada em três capítulos que englobam os assuntos
apresentados acima.
O capítulo 1 traz a discussão de alguns modelos de concepção de “natureza”,
especialmente do modo ocidental, traça um breve histórico da relação Ser Humano e
Natureza relacionando com o Patrimônio e suas transformações teóricas. São
abordados os conceitos de Biodiversidade e Geodiversidade e sua relação com a
Cultura. Os modelos conceituais de Museu são discutidos e são apresentadas outras
contribuições do campo da Museologia como Musealização, com ênfase nos
processos de preservação e conservação.
9

No Capítulo 2 apresentamos o estudo de caso fazendo uma caracterização


geral do espaço físico que trata essa pesquisa, também é abordada a realidade social
em que os atores envolvidos estão inseridos. Elencamos a produção científica já
existente sobre a Serrinha e mostramos o contexto municipal em que a área estudada
está presente. Nesse capítulo usamos o recurso da fotografia com frequência para dar
suporte aos elementos da biodiversidade, geodiversidade e cultura que queremos
destacar. O panorama de olhares é montado com base nas metodologias de
entrevistas, mostrando os perfis dos grupos encontrados e suas apropriações para
com a Serrinha.
O Capítulo 3 traz as considerações e percepções alcançadas com a pesquisa.
No primeiro tópico discutimos sobre o status não institucional da Serrinha perante as
esferas administrativas. Abordamos a experiência do Museu de Pacujá, uma iniciativa
ímpar para a relação dos munícipes com o Patrimônio local. Depois de discutir os
múltiplos olhares dos atores envolvidos na pesquisa, apresentamos os potenciais
patrimoniais da Serrinha e seus usos, assim como os empecilhos para a preservação
da área. Desse modo, sugerimos medidas de conservação e musealização
compatíveis com a realidade encontrada na pesquisa.
Por fim, a conclusão apresenta uma síntese das respostas às questões
norteadoras desta pesquisa, bem como algumas reflexões sobre a pesquisa e as
perspectivas para desdobramento do trabalho.
10

CAPÍTULO 1

Natureza, Patrimônio e
Musealização.
11

Capitulo 1 - Natureza, Patrimônio e Musealização.


1.1 - A relação ser humano e natureza.

O conceito de natureza apresenta perspectivas diferentes conforme o lugar de


fala ou a base teórica que o sustenta. Caberia expor aqui as várias visões das
diversas áreas do conhecimento sobre natureza, entretanto apresentaremos algumas
definições e aspectos de natureza que darão suporte a discussão.
Partindo da contribuição lexicográfica de matriz portuguesa, vemos a definição
de natureza em vertente estática: “1. Todos os seres que constituem o universo” e
outra mais dinâmica: “2. Força ativa que estabeleceu e conserva a ordem natural de
tudo” (FERREIRA, 1999 p.481).
A palavra natureza em Português vem do latim natura, originalmente
significando “ação de fazer nascer”. Natureza é, pois, a “faculdade geradora”, “o
princípio de tudo que nasce” e “o conjunto de tudo o que nasce” (BRANCO, 1999
p.144).
No livro Vocabulário básico do meio ambiente temos a definição de natureza
como: “Conjunto de todos os bens e fatores que compõem o Universo; natura”
(MOREIRA, 1990 p.160).
Para Siqueira (2002, p.33), o conceito moderno de natureza apresenta um
dualismo: um quanto a produção antrópico-cultural e outro quanto a relação biótica e
abiótica, sendo este último relacionado a um mundo que tem história geológica
anterior a antrópica e ligada a um espaço não construído pela razão ou pela técnica.
A partir dessas definições e apontamentos acerca de natureza, entendemos
que o conceito contemporâneo de natureza envolve além do seu significado de força
geradora, outros fatores sociais e culturais, até individuais, dando suporte para cada
indivíduo conceituar aquilo que considera natureza, assim concordamos com Carvalho
(1991), que afirma:
Evidentemente a definição ou a conceituação do que seja natureza
depende da percepção que temos dela, de nós próprios, e, portanto,
da finalidade que daremos para ela, isto é, depende das formas e
objetivos de nossa convivência social. (CARVALHO, 1991, p.13).

Isso fica explícito quando observamos a relação que os seres humanos vão
desenvolvendo com o meio ambiente ao longo da história da humanidade e,
consequentemente, gerando diferentes concepções e pontos de vista da Natureza.
Portanto as explicações e as definições acerca da natureza jamais
se dissociarão das ideias, e dos objetivos de mundo que a explique
ou a defina. Neste sentido podemos afirmar que a história da
natureza confunde-se com a história dos homens devido aos
mesmos não se relacionarem com ela de forma abstrata e genérica,
mas mediados pelas necessidades impostas pelo relacionamento
12

que mantém entre si. (OLIVEIRA & BUCHALA, 2013, p. 4).

Antes da existência do gênero Homo, as espécies primatas antecessoras já


transformavam a natureza e a utilizavam para a sobrevivência. Os australopitecos
ocuparam o leste da África entre 6,5 a 1,5 milhão de anos antes de nossa era. Mas
esses “macacos do Sul”, já que essa é a etimologia da palavra australopiteco, eram
muito afastados do homem de hoje. Sua capacidade craniana era da ordem de 500
cm³, ou seja, um terço daquela do homem atual, e ainda eram imperfeitamente
bípedes. Várias espécies de australopitecos eram vegetarianas, enquanto outras,
como o Australopithecus afarensis (espécie representada notadamente pela famosa
Lucy), um dos ancestrais supostos do gênero Homo, eram onívoros: viviam da coleta e
completavam sua alimentação na estação seca por meio da caça de pequenos
mamíferos, répteis, insetos etc. Para tal, eles utilizavam eventualmente pedras e
bastões como ferramentas (MAZOYER & ROUDART, 2009, p.60).
No período Paleolítico, o Homo sapiens sapiens lascava ossos e,
principalmente, pedras para empregar na extração de raízes e no abate de animais,
aperfeiçoando ferramentas para suas necessidades. Também utilizava a natureza na
sua expressão artística através da pintura rupestre, às vezes feita de pigmentos
vegetais, minerais e gordura animal.
O Homo sapiens sapiens é o autor de progressos técnicos muito
rápidos e variados. Desde o primeiro período de sua história, no
paleolítico recente (ou superior) que se estende de 40.000 a 11.000
anos antes de nossa Era, assiste-se a uma profusão de novidades.
A utilização de pedras duras, cada vez mais finamente talhadas, por
percussão, por pressão e, em alguns casos, após aquecimento
prévio, é cada vez mais variada e especializada. Fabricam-se,
então, diferentes tipos de buris, furadores, raspadores, facas,
trinchetes, machados, lamparinas à óleo etc. [...] Finalmente, o que
emerge com o Homo sapiens sapiens é uma fantástica abundância
de objetos e de representações sem utilidade imediata. Tudo se
passa como se as faculdades criadoras da espécie ultrapassassem
suas necessidades materiais e pudessem responder a todos os tipos
de aspirações transcendentes de ordem estética, simbólica ou
memorial. Esse acréscimo de criatividade se manifesta pela pintura,
da gravura de paredes de certas grutas, pela ornamentação de
objetos de uso corrente como as armas, os utensílios e as diversas
vestimentas, e pela fabricação de objetos de arte como as
estatuetas, pequenos objetos de baixo relevo, as pedras gravadas,
as placas, hastes ornamentadas em osso ou em marfim cinzelado.
Os motivos representam, sobretudo, os animais e cenas de caça,
raramente tipos humanos. (MAZOYER & ROUDART, 2009, p. 64).

Essas são as primeiras evidências da relação intrínseca do meio ambiente com


a criação de relações pessoais, produção material e espiritual dos seres humanos,
representando os princípios culturais. Embora, aparentemente, pelos indícios
arqueológicos os seres humanos não se consideravam diferentes dos demais
elementos da natureza. (CARVALHO, 1991).
13

No período Neolítico, há uma grande mudança na relação homem e natureza,


com a domesticação de plantas e animais, iniciando o processo de sedentarização e
passando a construir moradias. Há uma especialização do uso da madeira e da pedra,
surgindo os primeiros núcleos urbanos e já existe troca de materiais, em sua maior
parte, grãos. Há o domínio dos metais, ampliando o panorama de ferramentas e
utensílios. A natureza passa a ser cultuada sendo atribuída a divindades ligadas
principalmente à colheita.
Há aproximadamente 12.000 anos antes de nossa Era começa a se
desenvolver um novo processo de fabricação de instrumentos, o
polimento da pedra. Essa novidade inaugura o último período da Pré
- história, o neolítico. Este se prolongará até o aparecimento da
escrita e da metalurgia. Entre 10.000 e 5.000 anos antes de nossa
Era, algumas dessas sociedades neolíticas tinham, com efeito,
começado a semear plantas e manter animais em cativeiro, com
vistas a multiplicá-los e utilizar-se de seus produtos. Nessa mesma
época, após algum tempo, essas plantas e esses animais
especialmente escolhidos e explorados foram domesticados e,
dessa forma, essas sociedades de predadores se transformaram por
si mesmas, paulatinamente, em sociedades de cultivadores.
(MAZOYER & ROUDART, 2009, p. 70).

A fixação do ser humano gerou questionamentos quanto ao comportamento


dos outros elementos da natureza, estimulando a concepção de causas ocultas e
forças invisíveis como controladoras. Essas ideias alimentaram a concepção de uma
natureza sobrenatural e atribuíram poderes a certos indivíduos da sociedade de
desvendar seus mistérios.
A agricultura estimulou uma série de desenvolvimentos tecnológicos,
provocando também avanços na relação com o meio ambiente. Ela pode ter sido um
dos principais fatores na criação do primeiro registro de alfabeto pictórico na
Antiguidade, que é talhado em tábuas de argila na Mesopotâmia.
Apenas se conhecem épocas, povos e locais de onde se deram os
primeiros registros escritos, os chamados cuneiformes,
desenvolvidos pelos sumérios na Mesopotâmia, por volta de 4.000
a.C., embora alguns historiadores situem seu aparecimento há mais
de seis mil anos (GOMES, 2007, p. 4).
Essa escrita se desenvolveu na civilização egípcia, ligada ao registro de cultos,
colheitas, identificações das estações e movimentos de cheias e vazantes do rio Nilo.
Vivendo em terras desérticas, o povo egípcio fez das terras férteis do Nilo um oásis de
cultivo agrícola, desenvolvendo técnicas de irrigação, construção naval e erguendo
grandes edificações.
Todo mundo sabe que o Egito é a terra das pirâmides, essas
montanhas de pedra que se erguem como marcos desgastados
pelas intempéries no horizonte distante da história. Por mais
remotas e misteriosas que pareçam, elas contam-nos muito sobre a
nossa própria história. Falam-nos de uma terra que estava tão
14

completamente organizada que foi possível empilhar esses


gigantescos morros tumulares durante a vida de um único rei; e
falam-nos de reis que eram tão ricos e poderosos que puderam
forçar milhares e milhares de trabalhadores ou escravos a labutarem
por eles, ano após ano, a cortarem as pedras, a arrastá-las para o
local da construção e a deslocá-las por meios sumamente primitivos
até que o túmulo ficasse pronto para receber o rei (GOMBRICH,
1999, p.25).

É nesse desenvolvimento cultural e tecnológico que se inicia a dicotomia ser


humano - natureza. Nesse contexto, ocorre a concepção de domínio de algo
inconstante, imprevisível e instintivo. Somente na Grécia (Por meados do século V
a.C), com o advento da Filosofia, essa separação começa a tomar maiores
proporções.
Em terras mais ocidentais, a Grécia, com suas pólis espalhadas pelo território
com mais de mil ilhas, conseguiu desenvolver a filosofia e a política, base do
pensamento ocidental, além do desenvolvimento de princípios da química, medicina e
matemática.
É da antiguidade grega a influência que chega até os dias atuais, da separação
de homem e natureza do pensamento que tem dominado o “mundo ocidental”.
A busca constante de coerência, no sentido racional, é a
característica do pensamento ocidental, que levou a “racionalizar”
todas as concepções e procura de soluções, enquanto a coerência
buscada pelo oriental não é uma coerência de ordem racional, mas
sim de uma identidade que compõe a natureza. (BRANCO, 1999,
p.148)

É ingênuo concluir que a contribuição dos muitos filósofos ligados à tradição


da filosofia greco-romana1 se sobrepôs e predominou no mundo ocidental por que é
superior às das civilizações antecessoras orientais e ocidentais. Devemos considerar
a complexidade do processo histórico que se desenvolveu no ocidente.
Pautado na razão, o ser humano se separa da natureza e cria perspectiva
para poder compreendê-la e interpretá-la. De um pensamento pré-socrático, onde a
physis compreendia a totalidade de tudo que há, o pensamento ocidental deu outras
significações para natureza: matéria prima, paisagem e meio de toda a atividade
humana.
Com Sócrates e Platão, um conceito de natureza distinto dos pré-socráticos
passa a se estabelecer com maior valorização do ser humano em detrimento dos
fatores naturais. Mas é Aristóteles que se debruça sobre a busca do sentido da physis
“a substância (ousía) das coisas que possuem, como tais, o princípio imanente do

1
A filosofia greco-romana foi a maneira com que os antigos gregos e romanos sistematizaram, nos
últimos cinco séculos antes de Cristo, uma forma de conhecimento, um modo de reflexão ou uma teoria
da realidade. Esta filosofia pode ser classificada em dois períodos: o cosmológico e o antropológico
clássico (AYER, 1975).
15

movimento” (ARISTÓTELES, Met. V, 4, 1015 a 13-15 apud KOIKE, 1999 p. 174).


Retomando o processo histórico da relação: Ser humano e Natureza,
observamos outra mudança significativa, sobretudo com a influência judaico cristã
onde a oposição homem-natureza e espírito-matéria adquiriu maior dimensão, pois
“Deus criou o homem à sua imagem e semelhança”. Assim, o homem seria dotado de
um privilégio (GONÇALVES, 2006, p.32).
Na Idade Média, com o domínio da Igreja católica no ocidente, a natureza
ganha visão bíblica: os feudos apresentavam uma estrutura convergente com esse
pensamento da Igreja. Foram criados para ser autossuficientes economicamente, mas
para servir a um senhor, tendo uma produção agropastoril, e trocas entre feudos
consistindo em grande parte de animais e alimentos cultivados ali mesmo pelos
vassalos e arrendatários a serviço do senhor feudal.
A alteração da relação do homem com a natureza vai se
consolidando à medida que se amplia o comércio e,
consequentemente, surge uma nova dinâmica espacial geográfica.
Essa nova estrutura produtiva e organizacional, que nasce com o
capitalismo, vai redimensionando não somente a base para a
produção de riquezas, mas, principalmente, a ideologia e a
concepção popular da ciência e do universo. A economia medieval
tinha suas bases econômicas fixadas, sobretudo, em recursos
orgânicos e renováveis, como a madeira, a água, o vento e a força
de tração animal. Assim, o novo modelo de produção traria uma
concepção de realidade diferente, além de se estruturar em um
patamar inédito em relação ao meio natural. A natureza agora era
elemento imprescindível para a obtenção dos lucros e para a
evolução competitiva dos nascidos Estados nacionais (MERCHANT,
1992, p. 112).

A Idade Moderna, com as grandes navegações, traz o domínio do mar em


todos os continentes e de novos territórios. Isso promoveu uma revolução científica
onde a visão mecanicista da natureza se instala, a qual passa a ser compreendida por
fragmentos, dando origem às especializações da Ciência.
Essa visão mecanicista (racionalista) de mundo e a prática científica
tradicional que consolida o antropocentrismo empreende, a partir do
século XVII, um processo gradativo de separação humana da
dinâmica natural do mundo. Dinamiza-se, a partir daí, uma nova
visão de meio natural essencialmente utilitarista. Cientificamente,
consolida-se então, a concepção da ciência-manipulação que,
aliada à emergência do fenômeno tecnológico moderno, define uma
condição humana de estar sobre o mundo e com o mundo ao dispor
da ação conhecedora e transformadora humana. (BATISTELA &
BONETI, 2008, p. 1005).

É com Descartes, que essa oposição homem-natureza, espírito-matéria,


sujeito-objeto se tornará mais completa, colocando-se como eixo norteador do
pensamento moderno e contemporâneo. O conhecimento cartesiano vê a natureza
como um recurso, um meio para atingir um fim. O antropocentrismo irá afirmar a
16

capacidade que o humano tem de modificar a natureza ( GONÇALVES, 2006, p.33).


A Modernidade promoveu uma separação ontológica entre natureza
e cultura, entre mito e razão e, finalmente, entre presente e passado
- visando explicitar a apreensão do possível. E neste universo
desenvolveu o conceito de patrimônio, como cristalização do fazer
humano no tempo e como instancia de legitimação da natureza
enquanto objeto de pertencimento do homem. Para o homem
moderno, a aceitação da mudança (quando existe) se faz sempre
num quadro de expectativa da permanência: as formas mudam, a
essência permanece; nada é deixado ao Acaso, e o inesperado é
entendido como o desastre, o erro, a demasia. Patrimônio é, assim,
o que foi produzido, criado, instituído – o que faz prova da
capacidade humana de habitar o mundo natural e, por meio dele,
criar e desenvolver cultura. É neste sentido que se desenha e
populariza o termo patrimônio cultural - conceito que está na base
do uso do patrimônio como retórica do passado e que reifica a
noção de conjunto patrimonial como núcleo fundador de espaços
ocupados. (SCHEINER, 2004, p.152).

Situada no período de transição entre a Idade moderna e a contemporânea a


revolução industrial muda o padrão de consumo e acelera o uso dos recursos naturais
para os diversos fins, ajudando bastante no avanço da ciência e tecnologia. O
“Progresso” da humanidade, particularmente desde meados do século XIX, tem sido
em grande parte o resultado da nossa capacidade de obter e usar os elementos da
biodiversidade e geodiversidade que o planeta Terra tem para oferecer. Na
contemporaneidade, o pensamento ambientalista nos mostra que a economia global
de hoje é esmagadora, considerando o uso desequilibrado dos recursos naturais da
Terra.
As ideologias que modelaram as mentalidades e as instituições das
nações ocidentais criam um conjunto de condições favoráveis ao
crescimento e permitem um lugar de escolha na vida econômica,
pois a felicidade passa pela satisfação de necessidades elásticas
por essência. Elas favorecem a Inovação: A expressão Revolução
Industrial é enganosa; as inovações que marcam seu início no
século XIII não são mais do que signos prematuros. Não há
sociedade de progresso sem esforço constante de eliminação de
condicionantes. É esta ótica somente que se pode compreender o
conjunto de transformações ocorridas nestes dois últimos séculos.
(CLAVAL, 2007, p. 233).

A partir do século XIX, a natureza passa a ser cada vez mais um objeto a ser
possuído e dominado. A natureza caminhou para as subdivisões científicas em física,
química, biologia, enquanto o Homem tornou-se o foco da história, antropologia,
psicologia etc. A tentativa de pensar o Homem e a Natureza de forma orgânica torna-
se mais difícil, até porque a divisão não se dá somente enquanto pensamento (
GONÇALVES, 2006, p.34).
Na aurora do século XX, a reflexão acerca das proposições idealistas
de pensadores, como William Morris e John Ruskin, fundamentou as
plataformas originárias do chamado urbanismo ecológico e
organicista e, ainda, abalizaram as teorias modernas de restauro do
17

patrimônio. A combatividade e os projetos inovadores dos referidos


personagens motivaram a organização de eventos internacionais,
cuja finalidade centrou-se na busca de soluções para os desafios da
preservação do patrimônio numa época de significativa expansão
urbana e industrial. Não menos relevante foi o alcance da destruição
causada pelos confrontos bélicos decorrentes da II Guerra Mundial
(1939-1945), uma vez que este trouxe à tona a necessidade de se
criar expedientes internacionais de proteção ao patrimônio, além de
afiançar o restauro de monumentos e a reconstrução de inúmeras
cidades (FUNARI e PELEGRINI, 2006).

Além do papel essencial para sobrevivência e manutenção da vida, a Natureza


propicia as fontes materiais e imateriais da produção cultural. É inspiração para a arte,
literatura, música e outras formas de expressão da cultura. Portanto, pensar natureza
é pensar o Patrimônio. Mesmo nas camadas mais profundas, o legado da
materialidade configurada em elementos químicos está presente. É válido destacar
aqui o poder e influência da ciência no conceito contemporâneo de natureza, o mundo
microscópico e o atômico incorporaram outras percepções, novas possibilidades de
ver a imensidão que o olho nu não dá conta, e isso ocorre também no lado oposto, o
desenvolvimento de instrumentos que alcançam outras galáxias, permitindo a inserção
de realidades espaciais que não fazem parte do cotidiano. As ciências que se ocupam
em estudar os fenômenos e o complexo que envolve os processos da natureza
também são responsáveis pelo alargamento conceitual e adição de novos elementos e
significados.
Nesse contexto, a apropriação humana do meio natural cria produtos que
adicionados à valoração, ao legado, à transmissão de conhecimentos e às tradições
transformam a natureza em cultura.
“Dizer que a cultura se opõe à natureza não é correto, pois não se sabe onde
se situam os limites de uma e de outra” (CHOULET,1991. p.54). As necessidades
humanas são culturais e não naturais. Até seu modo de alimentar-se inclui hábitos
(culinários e sociais) que podem não ser considerados como instintivos. Ele não
poderia ser homem se não possuísse traços eminentemente culturais, como o uso da
linguagem. Nesse sentido a própria concepção de natureza é um ato cultural
(BRANCO, 1999, p.154).

Em vista do exposto, sabemos que muitas são as definições, para efeitos do


tema “cultura”, Partindo do conceito defendido pela UNESCO vemos que:
A cultura deve ser considerada como o conjunto dos traços
distintivos espirituais e materiais, intelectuais e afetivos que
caracterizam uma sociedade ou um grupo social e que abrange,
além das artes e das letras, os modos de vida, as maneiras de viver
juntos, os sistemas de valores, as tradições e as crenças.
(UNESCO, 2002, online)
18

Porém, como um conceito polissêmico, que ganha novas significações e


abordagens, conforme o eixo de interpretação, consideramos a reflexão de Geertz:
O conceito de cultura que eu defendo, (...) é essencialmente
semiótico. Acreditando, como Max Weber, que o homem é um
animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu,
assumo a cultura como sendo essas teias e sua análise; portanto,
não como uma ciência experimental em busca de leis, mas como
uma ciência interpretativa, à procura do significado.(GEERTZ, 1973,
p.15).

Como produto da relação Ser Humano e Natureza, a cultura material e


imaterial acompanha e se transforma dentro do processo histórico, adaptando-se ás
necessidades dos grupos humanos nos diferentes períodos e espaços. A diversidade
natural está presente na diversidade da expressão cultural. Até os dias atuais, as
sociedades, que não participam do processo de importação de material de outros
locais, usam aquilo que está presente ao seu redor para a sua sobrevivência,
alimentação, construção, vestimenta, alimentação animal, utensílios e expressões
artística, ritualística e religiosa.
Os seres humanos são parte da natureza e, como todas as outras espécies do
planeta, dependem de ecossistemas saudáveis para a sua sobrevivência. A natureza
nos fornece materiais essenciais, como água potável, alimentos e demais matérias
que transformamos e utilizamos para nosso sustento e nos mantém como espécie
dominante no planeta. A reflexão que estamos traçando nos levará aos caminhos que
a natureza e o patrimônio podem apresentar quando são pensados e praticados em
concordância com a promoção da preservação de ambos.

1.2 - Patrimônio
O conceito contemporâneo de Patrimônio, assim como o de natureza, é dotado
de uma carga histórica que nos ajuda a compreender o pensamento e ações que
atribuímos ao termo que utilizamos rotineiramente. É importante destacar que neste
estudo consideramos que o patrimônio está ligado às concepções influenciadas pela
cultura ocidental.
Traçando uma linha temporal baseada no sentindo de pertencimento e
herança, podemos remeter ao período romano, onde Patrimonium faz referência ao
conjunto de bens transmitidos ao filho pelo pai (chefe de família). Essa herança era
respaldada pela Lei das XII Tabuas, base do Direito Romano (NÓBREGA, 1968 apud
LIMA, 2012). A ligação de parentesco se fazia através da agnação, conferindo o direito
de sucessão, a religião doméstica, a família e o direito de propriedade. Dessa forma o
principal vínculo existente era o culto religioso doméstico, comandado pelo pater
19

famílias, pois era o dono da casa e mantenedor das tradições. Essas tradições eram
praticadas desde os períodos mais remotos e influenciaram a criação das leis do
Direito Romano onde, inicialmente, a família se apropria da terra (altar sagrado) pela
religião doméstica com um deus cultuado apenas por ela (COULANGES, 2006). Por
isso, o Patrimônio Romano correspondia ao “conjunto de direitos aos bens e às
atribuições sociais do pai, herdado pelo primogênito” (FARIA, 1962 apud LIMA, 2012).
Esse papel, na geração e manutenção de propriedades, bens e valores,
permite-nos pensar no patrimônio com sentido de herança e sucessão, sentidos que
ainda atualmente são atribuídos à palavra patrimônio.
Para Scheiner (2004), a ideia de patrimônio fundamenta-se essencialmente na
imaterialidade e está ligada às percepções de tempo, espaço, matéria e movimento
das diferentes culturas, ao longo do processo civilizatório - sendo, portanto, muito
anterior ao Direito Romano. Mais que legado jurídico, o patrimônio seria um conjunto
de valores essenciais à constituição e manutenção da identidade de cada grupo social
e, portanto, um conceito fluido, já que as identidades se modificam no tempo e no
espaço. Patrimônio seria, então, o que cada indivíduo ou grupo reconhece e valoriza
como seu.
A instalação do Cristianismo no mundo ocidental, principalmente na Idade
Média, agregou ao conceito de patrimônio o valor do culto religioso doméstico romano
para o coletivo, dando um sentido de coletividade social. Isto é, adicionaram-se novos
valores simbólicos através de cultos e devoção a objetos sagrados, principalmente a
devoção às relíquias cristãs e aos templos e locais sagrados, mas como práticas
sociais (SANTOS, 2012).
A Idade Contemporânea trouxe uma visão para o conceito de patrimônio. O
momento histórico que deflagrou essa reviravolta foi a Revolução Francesa com todas
as suas transformações políticas, econômicas e sociais para a França. Até a
Revolução Francesa, a palavra patrimônio era mais comumente utilizada como
herança ou de domínio religioso. O sentido público apareceu 02 de outubro de 1789,
quando a Assembleia Nacional Constituinte nacionalizou os bens do clero e criou
assim a ideia de um bem coletivo. Em 1794, o Abade Henri Grégoire forneceu uma
definição próxima da concepção atual: “os monumentos: devem ser protegidos em
virtude da ideia de que os homens não são apenas os guardiões da propriedade cuja
família tem o direito de responsabilizá-lo” (HERMON-BELOT, 2000, p.43).
Pela primeira vez, vemos o Estado tomando para si a salvaguarda legal de
bens que considerasse relevante para a caracterização de nação. Nesse cenário,
todos os pertences da Igreja, realeza e nobreza passam para o Estado, surgindo a
ideia de patrimônio, que ecoa até hoje, como algo que pertence a toda uma nação e,
20

como tal, deve ser preservado pelo poder público e representar uma identidade
nacional (FONSECA, 2009).
Para os revolucionários, a conservação do patrimônio e a luta contra o
vandalismo tiveram um objetivo educacional. A inserção dos bens como pertencentes
ao Estado e o processo de reconhecimento de cidadania e identidade social do
indivíduo promoveram a institucionalização do Patrimônio - Patrimonialização. Isto se
deu como resultado da ação dos comitês e assembleias populares (CHOAY, 2001
p.97 apud LIMA 2002).
Durante o período pós Revolução Francesa e o século XIX o conceito de
patrimônio passou a ser confundido, na maioria das vezes, com a noção de
monumento histórico (DEVALLÉES & MAIRESSE, 2013), pois o seu princípio estava
embasado prioritariamente em bens imóveis. A criação da Comissão de Monumentos
Históricos, em 1837, e, posteriormente, a promulgação da lei de 30 de março de 1887
(FRANÇA, 1887) institucionalizou três tipologias de patrimônio material: Imóveis e
Monumentos Históricos; Objetos Móveis e escavações (Foullies).
A Revolução Industrial provocou novos significados na maneira de pensar
patrimônio. Ocorreu no final do século XVIII na Grã-Bretanha e se instalou
definitivamente no século XIX. Foi um importante momento de passagem do processo
manual e artesanal para o da industrialização, modificando significativamente as
estruturas econômicas, políticas e sociais. Nessa atmosfera, o processo de destruição
do patrimônio se acelerou, mas também tornou-se visível por maior número de
pessoas devido à possibilidade de deslocamento de massas. Isso possibilitou ao
patrimônio estar sob a visão de destruição e preservação.
Como Fonseca (2009) descreveu, o século XIX foi a consolidação de dois
modelos de patrimonialização na Europa que foram exportados para outros países: o
modelo anglo-saxão e o modelo francês:
O modelo anglo-saxônico com o apoio de associações civis, voltado
para o culto ao passado e para a valorização ético-estética dos
monumentos, e o modelo francês, estatal e centralizador, que se
desenvolveu em torno da noção de patrimônio, de forma planificada
e regulamentada, visando ao atendimento de interesses políticos do
Estado (FONSECA, 2009, p. 62).

O século XX trouxe outras contribuições para pensarmos sobre o patrimônio.


Guerras Mundiais, o papel dos grandes Estados, o desenvolvimento de transportes e
comunicações, o progresso da saúde, alterações demográficas, conquista dos céus e
espaço, as armas de destruição em massa, genocídio, todos se combinam para fazer
deste século um período excepcional em história humana, na medida em que não
deixaram qualquer “parte” do planeta, longe das convulsões políticas e sociais pelo
21

nível de globalização da informação e da economia. Destacamos ainda a


concretização de muitos campos do conhecimento e disciplinas nas diversas áreas.
No que tange ao estudo do Patrimônio, ressaltamos a influência das ciências
humanas, sociais e naturais que desde o século XIX, de maneira perceptivelmente
mais acentuada, desenham suas fronteiras, interligando-se, separando-se, e criando
dentro das próprias áreas novas disciplinas para dar conta dos desafios que surgem.
História, História da Arte, Antropologia, Sociologia, Arqueologia, Geologia, Biologia e
Ecologia influenciaram notavelmente a percepção monumental do patrimônio,
predominante até meados do século XX.
Inserida nesse contexto, aparece a denominação de monumento natural nas
legislações de proteção do patrimônio. O modelo conceitual utilizado para sustentar a
preservação dessas áreas tem matriz mais antiga, podendo ser associada à criação
do primeiro Parque Nacional do mundo: Yellowstone em 1872. Segundo Ribeiro e
Scifoni:
O paradigma de Yellowstone definiu três aspectos essenciais: 1. o
reconhecimento da importância de um mundo natural em estado
primitivo, 2. objeto primeiro de proteção pelo Estado, uma vez que
ela implica em interesse público e, 3. a ênfase dada aos aspectos
estéticos, estes constituindo o fundamento maior da valoração.
(RIBEIRO & SCIFONI, 2006)

É interessante salientar que a criação do Primeiro Parque Nacional no Brasil


ocorreu em 1937, o Parque Nacional de Itatiaia, sob o governo de Getúlio Vargas,
recebendo influência de Yellowstone, mas adaptando-se as condições sócio-políticas
brasileiras da época. Não só no Brasil, mas em todo o mundo, foram medidas
derivadas do modelo americano de Parque Nacional e criando outras formas e
categorias de áreas protegidas, não somente públicas, mas também privadas
No Brasil, as décadas de 1920 e 1930 marcam ainda uma série de iniciativas
relacionadas à preservação do patrimônio natural do país – que incluem a realização,
em 1934, no Museu Nacional, da Primeira Conferencia Brasileira de proteção à
Natureza - cujos textos mencionam, entre outras coisas, a necessidade de criar
parques nacionais para evitar a destruição de nossas florestas; a metodização da
extração da madeira; o controle da caça; a difusão, nas escolas, de programas de
„amor à natureza‟; a destruição de monumentos arqueológicos; a proteção aos
índios e o cumprimento ao Código Florestal (PÁDUA, 1986).
Ainda na década de 30 do século XX, o meio ambiente não estava
contemplado no conceito de Patrimônio em vigência, que era considerado como o
“Patrimônio Histórico e Artístico Nacional” presente no decreto-lei nº 25, de 30 de
novembro de 1937:
22

Constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos


bens móveis e imóveis existentes no País e cuja conservação seja
de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis
da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico
ou etnográfico, bibliográfico ou artístico.(BRASIL, 1937)

Esse decreto-lei, que também instituía o tombamento, refletia o período da


valorização do nacionalismo da Era Vargas e demonstrava a valoração atribuída ao
patrimônio que legitimasse o estado-nação pautado na busca por elementos
constitutivos da identidade brasileira.
O meio ambiente estaria relacionado ao código florestal (Decreto 23.793, de
23/01/1934) e código de caça e Pesca (Decreto nº 23.672, de 2 de Janeiro de 1934),
ambos criados em 1934, caracterizando as primeiras áreas de proteção da fauna.
(BRASIL, 1934, a, b).
Ainda no século XX a ideia de patrimônio sofreu a influência da criação de
órgãos internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), criada em
1945 e preocupada com a devastação que a Europa sofreu por causa da guerra e com
o processo de urbanização. Logo após, em 1946 foi criada a Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), assegurando a entidade
como primeira instituição em nível global a ter como uma das finalidades a
salvaguarda do patrimônio cultural o estímulo da criação e a criatividade e a
preservação das entidades culturais e tradições orais, assim como a promoção dos
livros e a leitura.
O grande desenvolvimento das metrópoles no início do século XX, a I Grande
Guerra Mundial e o efervescente movimento artístico e arquitetônico das décadas de
20 e 30 do século XX instigaram as primeiras discussões sobre o restauro de
monumentos arquitetônicos de importância histórica, artística e científica. A Sociedade
das Nações, juntamente com o Escritório Nacional de Museus, realizou o I Congresso
de Arquitetos e Técnicos de Monumentos, tendo como documento a primeira Carta de
Atenas (1931). Esse documento é considerado o primeiro movimento de
internacionalização do Patrimônio. (UNESCO,2003).
Para o Patrimônio Natural, desde a criação de parques, as áreas naturais
protegidas nos vários locais do globo passaram a despertar interesse internacional
pela questão preservacionista, evidenciado pela criação de órgãos, convenções e
demais meios organizacionais que se pautaram em dar atenção à gestão dos recursos
naturais, como podemos citar a criação em 1948 da IUNC (União Internacional para a
Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais) e mais tarde a partir da Carta de
Veneza, o ICOMOS (Conselho Internacional de Monumentos e Sítios) ambos
associados a ONU.
23

Podemos atribuir essas atividades a um processo que Ribeiro (2001) definiu


como a ordem ambiental internacional, que buscou estabelecer, por meio de acordos e
tratados, uma gestão dos recursos naturais que fossem problemas comuns, resultado
das diversas formas que a relação sociedade-natureza adquiriu ao longo da história, e
ultrapassem as fronteiras dos Estados Nacionais. Essa ordem ambiental internacional
influenciou e influencia, até os dias atuais, o entendimento e a forma de tratamento
utilizado pela comunidade internacional sobre o Patrimônio e Meio Ambiente.
Outro órgão importante criado em 1946 foi o Conselho Internacional de Museus
(ICOM), que reúne profissionais de museus do mundo inteiro, promovendo
desenvolvimento profissional, além da grande contribuição para o estudo do
Patrimônio. A partir da criação do ICOM, criou-se uma rede internacional que
alavancou os estudos da Museologia, que trouxe contornos científicos para a área,
com contribuições principalmente do Comitê Internacional para a Museologia
(ICOFOM), criado em 1977, para “pesquisar, estudar e difundir a base teórica da
museologia como uma disciplina científica independente, analisando criticamente as
principais tendências da museologia contemporânea”. (ICOFOM, 2015, online)
A partir da metade do século XX intensificaram-se as ações e os estudos
acerca do Patrimônio, que deixou de ser uma preocupação local ou de cada país para
ganhar status internacional.
Há uma bem traçada estratégia: enquanto à UNESCO cabem as
questões que devem ser discutidas em âmbito paraestatal, mas
homologadas e atuadas dentro dos limites nacionais dos Estados-
membros, ao ICOM e organismos similares compete elaborar as
diretrizes teórico-metodológicas e as recomendações de caráter
ético, em nível internacional, ligadas ao campo específico de
atuação a que se refere cada órgão. (...) a UNESCO atua
verticalmente, o ICOM e similares desenvolvem uma atuação
transversal, que lhes permite desenvolver as mais interessantes
interfaces (SCHEINER, 2009, p. 44)

A interpretação do conceito de patrimônio ganhou outras formas, herdando a


concepção material, podemos observar as divisões em Patrimônio Cultural e Natural.
Surge, também, uma preocupação de tratar a questão de patrimônio em nível
internacional, assim como discutir o patrimônio em locais de conflito, conservação e
preservação de monumentos históricos; problemas de tráfico ilícito; problemas de
propriedade cultural; a proteção a paisagens e sítios naturais; e a acessibilidade aos
museus (ICOM, 1962 apud SCHEINER 2012).
Essas discussões geraram inúmeras convenções em 1972, no âmbito das
Nações Unidas. Essas conferências iniciaram com a Mesa Redonda de Santiago, que
aconteceu em maio de 1972, quando um grupo de profissionais da Museologia se
24

encontrou e discutiu o sentido do patrimônio integral, a partir das discussões sobre o


Museu Integral.
Em Junho de 1972, ocorreu a I Conferência das Nações Unidas sobre o
Ambiente Humano, em Estocolmo Suécia. A finalidade principal dessa conferência
seria o debate das nações sobre a degradação ambiental e da biodiversidade do
planeta e como isso estaria interferindo na sobrevivência da humanidade.
Outra convenção importante aconteceu em Paris, em novembro deste mesmo
ano, I Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, também
nomeada Convenção do Patrimônio Mundial ou simplesmente Convenção (UNESCO,
1972c). O documento elaborado por ela colocou o patrimônio sob a perspectiva
universal, institucionalizando o patrimônio em nível internacional. Foi a partir dela que
ocorreu a criação da lista de Patrimônio Mundial e a definição de Patrimônio Cultural e
Natural.
[Patrimônio cultural:] os monumentos: obras arquitetônicas, de
escultura ou de pintura monumentais, elementos ou estruturas de
natureza arqueológica, inscrições, cavernas e grupos de
elementos que tenham um valor universal excepcional do ponto
de vista da história, da arte ou da ciência;
Os conjuntos: grupos de construções isoladas ou reunidas que,
em virtude de sua arquitetura, unidade ou integração na
paisagem, tenham um valor universal excepcional do ponto de
vista da história, da arte ou da ciência;
Os sítios: obras do homem ou obras conjugadas do homem e da
natureza, bem como áreas que incluam sítios arqueológicos, de
valor universal excepcional do ponto de vista histórico, estético,
etnológico ou antropológico.
(...)
Patrimônio natural: os monumentos naturais constituídos por
formações físicas e biológicas ou por grupos de tais formações,
que tenham valor universal excepcional do ponto de vista estético
ou científico;
As formações geológicas e fisiográficas e as zonas nitidamente
delimitadas que constituam o habitat de espécies animais e
vegetais ameaçadas e que tenham valor universal excepcional do
ponto de vista da ciência ou da conservação; Os sítios naturais
ou as zonas naturais estritamente delimitadas, que tenham valor
universal excepcional do ponto de vista da ciência, da
conservação ou da beleza natural. (UNESCO, 1972).

Essas convenções possibilitaram que debates sobre políticas de preservação


do patrimônio e a relação sustentável de desenvolvimento local e do Estado fossem
iniciados por governos, agências promotoras de desenvolvimento e comunidades
sociais. Em pauta, existia a ideia do bem estar da sociedade e sua relação com o meio
ambiente.
A consolidação do Patrimônio Cultural e Natural gerou ampliações de novas
valorações. A absorção de uma temática mais oriental levou a discussão ao
Patrimônio Cultural Imaterial e ao Patrimônio Cultural Subaquático, culminando na
25

Convenção para salvaguarda do Patrimônio Subaquático em 2001 e na Convenção da


salvaguarda do Patrimônio Cultural Intangível em 2003, ambas realizadas com
representantes de todos os países membros da UNESCO reunidos em Paris.
(DESVALLÈS; MAIRESSE, 2013)
Essa ideia da preservação do Patrimônio Imaterial ganhou a adesão e simpatia
mundial. Podemos observar no texto da Convenção para o Patrimônio Cultural
Imaterial a presença deste pensamento:
“Entende-se por patrimônio cultural imaterial as práticas,
representações, expressões, conhecimentos e saber-fazer - assim
como os instrumentos, objetos, artefatos e espaços culturais que
lhes são associados.
que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos
reconhecem como fazendo parte de seu patrimônio cultural. Esse
patrimônio cultural imaterial transmitido de geração em geração é
recriado permanentemente pelas comunidades e grupos em função
de seu meio, de sua interação com a natureza e de sua história, e
lhes confere um sentimento de identidade e continuidade,
contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e
à criatividade humana. Para os fins da presente Convenção, só será
levado em consideração o patrimônio cultural imaterial conforme os
instrumentos internacionais existentes relativos aos direitos do
homem, e de acordo com a exigência do respeito mútuo entre
comunidades, grupos e indivíduos, e de um desenvolvimento
sustentável” (UNESCO, 2003).

Observamos que a categoria Patrimônio Imaterial desde o final do século XX


vem recebendo muitas contribuições e discussões em torno do reconhecimento e
valoração desta:
A noção de patrimônio, essencialmente definida sobre as bases de
uma concepção ocidental da transmissão, foi amplamente afetada
pela globalização de ideias, cujo testemunho é o princípio
relativamente recente do patrimônio imaterial. Essa noção,
originária dos países asiáticos (notadamente do Japão e da Coreia),
funda-se sobre a ideia de que a transmissão, por ser efetiva,
repousa essencialmente sobre a intervenção humana, da qual
2
provém a ideia de tesouro humano vivo : (DESVALLÈS;
MAIRESSE, 2013, p. 75)

Outras formas de apresentação do Patrimônio entraram em debate e criaram


diferentes maneiras de perceber a relação entre o ser humano e seu espaço, sua
história, a natureza e até mesmo a forma de comunicar e armazenar a memória.
Dentre eles o Patrimônio Industrial, que possui um comitê internacional para seu
estudo e conservação, e também o Patrimônio digital ou virtual, que ainda é
consideravelmente recente e toma cada dia mais espaço no cotidiano com a

2
Para a UNESCO um Tesouro humano vivo é uma pessoa que tenha dominado a prática da música, da
dança, dos jogos, de manifestações teatrais e de ritos de valor artístico e histórico excepcional em seu
país, como definidos na recomendação sobre a salvaguarda da cultura tradicional e popular” (UNESCO,
1993)
26

aproximação e desenvolvimento das Tecnologias da Informação e Comunicação


(TICs).
Como observamos na trajetória da internacionalização do Patrimônio, esse
está ainda em construção. Quando se trata de Patrimônio e Meio Ambiente, a criação
de novos conceitos se tornou imprescindível, dentre eles os de Biodiversidade e de
Geodiversidade, nas décadas de 80 e 90 do século XX, respectivamente, ambos os
termos presentes na base da discussão do que será preservado, conservado e
valorado. (WILSON, 1997; SILVA et al, 2008)
Biodiversidade ou diversidade biológica – é um conceito discutido por muitos
especialistas das diversas áreas da ciência e expresso de muitas maneiras com o
sentido de traduzir o conceito de variedade da vida. Escolhemos a definição cunhada
pela Convenção pela Diversidade Biológica, fruto das articulações que deram origem
ao Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA em Português –
UNEP em Inglês) e assinada, em 1992, por 150 países (Inclusive Ratificada pelo
Brasil).
Diversidade biológica significa a variabilidade existente entre
organismos vivos de todas as fontes, abrangendo, entre outros,
ecossistemas terrestres, marinhos e outros aquáticos, bem como os
complexos ecológicos de que são parte; isso inclui a diversidade de
todas as espécies, entre espécies e ecossistemas. (PNUD, 2002)

Geodiversidade, termo também de definições múltiplas, é em essência a


variedade de elementos e fenômenos inerentes à Terra. Escolhemos aqui trabalhar
com o conceito dos Geógrafos Serrano Cañadas e Ruiz Flaño:
Geodiversidade é toda a diversidade de partículas, elementos e
sítios que materializam a variabilidade da natureza abiótica.
Acrescentam a esse conceito elementos litológicos, tectónicos,
geomorfológicos, pedológicos, paleontológicos, hidrológicos e
topográficos, além de processos físicos na superfície da terra, nos
mares e nos oceanos. (CAÑADAS & FLAÑO, 2007 p.82).
A partir desses conceitos, montamos um panorama para interpretarmos a
relação Patrimônio e Meio ambiente, percebendo a enorme gama de potencialidades
que ele traz por estar presente nessa amplitude nos meios bióticos e abióticos.
Embora sejamos um dos integrantes desse patrimônio da humanidade - a
biodiversidade – seus elementos não tem escapado das consequências nefastas de
nossas atividades expansivas, sofrendo elevados índices de degradação, resultando
perdas inestimáveis para toda a sociedade.
Dentre as maiores ameaças à preservação da diversidade biológica,
provocadas pela intensa alteração ambiental causada pelo avanço e utilização do
espaço pela espécie Homo sapiens, a degradação e a fragmentação de habitats se
destacam pelo seu alto potencial de provocar a extinção de espécies e ecossistemas.
27

Bensusan (2006) enfatizou que este problema é “um processo dinâmico


constituído basicamente de três componentes: a perda de habitats na paisagem como
um todo; a redução do tamanho dos remanescentes e o crescente isolamento do
fragmento por novas formas de uso”.
Inserida nesta perspectiva, a proteção à diversidade biológica e ao
ecossistema baseia-se no mecanismo de criação de áreas protegidas, fundamentado
constitucionalmente como práticas de conservação da natureza.
A preocupação com geodiversidade, biodiversidade, suas manutenções e
conservações são inerentes ao estudo do Patrimônio, cabendo um amplo debate com
múltiplos profissionais no tratamento das questões específicas de cada caso.
Esse debate deverá levar em consideração a apropriação humana dos
elementos do meio ambiente o qual gera uma relação intrínseca da natureza com
cultura, como Pereira et al (2005, p.13) afirmam:
Geodiversidade e biodiversidade dependem uma da outra e
interagem mutuamente, procurando o planeta nesse balanço, um
equilíbrio. Se objetivarmos a importância da geodiversidade para o
Homem, facilmente se conclui que este esteve sempre dependente
dela, sendo mesmo determinante para evolução da civilização.

Tratando, também, da relação entre Geodiversidade e Biodiversidade, a


Museóloga Aline Souza afirmou:
A geodiversidade está em constante relação com a
biodiversidade. Não é possível falar em preservação da flora, sem
considerar o solo, os minerais o relevo que também influenciam os
hábitos de vida da fauna. Esse é apenas um dos muitos exemplos
que existem e podem corroborar para tal integração. (SOUZA, 2009,
p. 18)

É possível atribuir da Geodiversidade e Biodiversidade muitos valores,


ajudando a enfatizar a necessidade da preservação de ambas. Destacamos valores
adaptados de Brilha (2005) que melhor se adequam as possiblidades dessa pesquisa.
Valor intrínseco: Valor da própria biodiversidade e geodiversidade nelas
mesmo e por elas mesmas, considerando que, independentemente de seu possível
uso por seres humanos, a diversidade da vida na Terra deve ser preservada e que os
seres humanos têm o dever moral de respeitar isso.
Valor patrimonial: Valor Cultural, de identidade, de história da biodiversidade
e geodiversidade, o que as torna, ou alguns dos seus elementos ou processos, um
patrimônio a preservar, para as gerações presentes e futuras.
Valor instrumental: biodiversidade e geodiversidade como provedoras de
recursos e serviços úteis e até mesmo essenciais para o funcionamento das
sociedades humanas.
28

Para pensarmos o Patrimônio e o Meio Ambiente na contemporaneidade, é


necessário fazer a conexão com a criação das áreas naturais protegidas em esfera
global que se multiplicaram mais fortemente nas últimas três décadas do século XX.
Segundo o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) a área
ocupada com sítios protegidos quadruplicou desde a década de 1970 (RIBEIRO &
SCIFONI, 2006).
Na legislação brasileira, somente na Constituição de 1988 o termo Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional é substituído por “Patrimônio Cultural”. O artigo 216 da
Constituição Federal assim conceitua patrimônio cultural:
Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de
natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em
conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à
memória dos diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira, nos quais se incluem:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais
espaços destinados às manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico,
artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico
(BRASIL, 1988).
VI
O conceito é assim ampliado de maneira a incluir as contribuições dos
diferentes grupos formadores da sociedade brasileira. Essa mudança incorpora o
conceito de referência cultural e significa uma ampliação importante dos bens
passíveis de reconhecimento. Dentro dessa concepção, notamos que os elementos
culturais estão misturados aos naturais, apesar destes primeiros estarem mais
representados na constituição. A natureza é contemplada diretamente nos aspectos
paisagístico, paleontológico e ecológico.
Mesmo não contemplando em totalidade os elementos da geodiversidade e
biodiversidade, o conceito de Patrimônio na Constituição de 1988 anuncia um perfil da
identidade brasileira ligada à Natureza e dá suporte para o poder público, com a
colaboração da comunidade, de ser o agente que promoverá e protegerá o patrimônio
brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação,
e de outras formas de acautelamento.
Com auxílio dessa base constitucional e a partir de uma estrutura já existente
das unidades de conservação, desenhada nos anos 1950 e 1960 por especialistas que
atuaram no Instituto brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), o país concebeu
nos anos 2000, um Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). O
processo de elaboração e negociação desse Sistema durou mais de dez anos e gerou
uma grande polêmica entre os ambientalistas.
29

A lei do SNUC dispõe, além das categorias de unidades de


conservação, sobre os objetivos e diretrizes do sistema; sobre o
processo de criação, implantação e gestão das unidades; sobre as
reservas da biosfera e, ainda, sobre uma série de outras questões
em suas disposições transitórias. Com relação aos objetivos do
SNUC, vale a pena mencionar que entre os que tradicionalmente
constam desse tipo de documento, como contribuir para a
manutenção da biodiversidade, promover o desenvolvimento
sustentável, proteger paisagens de notável beleza cênica, promover
a pesquisa científica e a educação ambiental, há um objetivo que
chama a atenção por seu teor de inovação. Trata-se da proteção
dos “recursos naturais necessários à subsistência de populações
tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e cultura e
promovendo-as social e economicamente.” (BENSUSAN, 2006,
p.34).

Essas categorias foram influenciadas pela IUCN, quando no 4º Congresso


Mundial de Parques Nacionais, em 1992, em Caracas, na Venezuela, onde se
estabeleceu um conjunto de categorias de áreas protegidas, abaixo listadas, adotado
pela IUCN em 1994, e que vigora até nossos dias.
As Categorias de áreas protegidas reconhecidas pela IUCN são:

Categoria Ia - Reserva natural estrita: área natural protegida, que


possui algum ecossistema excepcional ou representativo,
característica geológicas ou fisiológicas e/ou espécies disponíveis
para pesquisa científica e/ou monitoramento ambiental.
Categoria Ib - Área de vida selvagem: área com suas características
naturais pouco ou nada modificadas, sem habitações permanentes
ou significativas, que é protegida e manejada para preservar sua
condição natural.
Categoria II - Parque nacional: área designada para proteger a
integridade ecológica de um ou mais ecossistemas para a presente
e as futuras gerações e para fornecer oportunidades recreativas,
educacionais, científicas e espirituais aos visitantes desde que
compatíveis com os objetivos do parque.
Categoria III - Monumento natural: área contendo elementos
naturais
– eventualmente associados com componentes culturais –
específicos, de valor excepcional ou único dada sua raridade,
representatividade, qualidades estéticas ou significância cultural.
Categoria IV - Área de manejo de habitat e espécies: área sujeita a
ativa intervenção para o manejo com finalidade de assegurar a
manutenção de habitats que garantam as necessidades de
determinadas espécies.
Categoria V - Paisagem protegida: área onde a interação entre as
pessoas e a natureza ao longo do tempo produziu uma paisagem de
características distintas com valores estéticos, ecológicos e/ou
culturais significativos e, em geral, com alta diversidade biológica.
Categoria VI – Área protegida para manejo dos recursos naturais:
área abrangendo predominantemente sistemas naturais não
modificados, manejados para assegurar proteção e manutenção da
biodiversidade, fornecendo, concomitantemente, um fluxo
sustentável de produtos naturais e serviços que atenda as
necessidades das comunidades.(IUNC, 1994)
30

No Brasil as Unidades de Conservação da Natureza ou UC são normatizadas


pelo SNUC que divide as categorias de unidades de conservação federais em dois
grandes grupos: proteção integral e uso sustentável. Cada um desses grupos possui
diversas categorias de unidades; o grupo de proteção integral é formado por cinco
diferentes categorias, sendo elas Estação Ecológica, Reserva Biológica, Parque
Nacional, Monumento Natural e Refúgio de Vida Silvestre.
Já no grupo de uso sustentável, as categorias são: Área de Proteção
Ambiental, Área de Relevante Interesse Ecológico, Floresta Nacional, Reserva
Extrativista, Reserva de Fauna, Reserva de Desenvolvimento Sustentável, Reserva
Particular do Patrimônio Natural.
Cada uma dessas categorias possui especificidades em seu objetivo, posse,
manejo e restrições de acesso. Em linhas gerais o grupo de proteção integral
proporciona para a área um maior controle do acesso e restrição para ocupação
humana. No grupo de uso sustentável há ocupação humana em sua maioria e um
maior nível de visitação pública. (BRASIL, 2000)
Esse modelo de áreas protegidas carrega um senso de valorização de tal
forma que podemos diretamente incluí-lo no conceito de patrimônio. Muitas dessas
unidades de conservação, no Brasil e no mundo, são reconhecidas como Patrimônio
da Humanidade3.
A partir do trajeto relatado até aqui percebemos como Patrimônio é um
conceito dinâmico, altera-se junto ao espaço e tempo acompanhando as tendências e
assuntos que se mostram através da cultura, ciência, arte, religião, meio ambiente,
enfim de muitos fatores que representam esse sentido de valoração, de uma escala
local até uma internacional. Assim destacamos as palavras de Desvallées,
conceituando o Patrimônio:
(...) conjunto de todos os bens ou valores, naturais ou criados pelo
homem, materiais ou imateriais, sem limite de tempo nem de

3
Patrimônio Mundial ou da Humanidade é um local (como uma floresta, montanha, lago, ilha, deserto,
monumento, construção, complexo ou cidade) definido pela UNESCO, uma agência das Nações
Unidas (ONU), como de importância cultural ou física especial para o mundo. A lista é mantida pelo
Programa do Património Mundial, que é administrado pelo Comité do Património Mundial, composto
por 21 países-membros eleitos. A Convenção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural, adotada em
1972 pela Organização das Nações Unidas para a Ciência e a Cultura (UNESCO), tem como objetivo
incentivar a preservação de bens culturais e naturais considerados significativos para a humanidade.
Trata-se de um esforço internacional de valorização de bens que, por sua importância como referência e
identidade das nações, possam ser considerados patrimônio de todos os povos.
Cabe aos países signatários desse acordo indicar bens culturais e naturais a serem inscritos na Lista do
Patrimônio Mundial. As informações sobre cada candidatura são avaliadas pelos órgãos assessores da
Convenção (Icomos e IUCN) e sua aprovação final é feita, anualmente, pelo Comitê do Patrimônio
Mundial, composto por representantes de 21 países. O Brasil ratificou a Convenção, em 1978. Texto
retirado do Site do IPHAN. Disponível em < http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/24> Acesso em
Fevereiro de 2015
31

espaço, que seriam simplesmente herdados de ascendentes e


ancestrais de gerações anteriores ou reunidos e conservados para
serem transmitidos aos descendentes de gerações futuras. O
patrimônio é um bem público no qual a preservação deve ser
assegurada pelas coletividades. (...) A adição de recursos naturais e
culturais de caráter local contribui para a concepção e para a
constituição de um patrimônio de feição universal (DESVALÉES,
2000, p. 41)

Estudar o Patrimônio envolve aspectos multidisciplinares, transdisciplinares e


interdisciplinares. Isso reflete a diversidade de olhares que podemos lançar para um
mesmo elemento e receber as várias nuances da composição deste. Então, é lógico
entender que profissionais das mais diversas áreas se ocupam em analisar as
possibilidades que podem surgir, revelando as especificidades que compõem cada
realidade a ser analisada.
Destacamos a importância das Cartas Patrimoniais, que desde 1931,
representam interesses locais, regionais e internacionais no trato com o Patrimônio,
com foco na manutenção e preservação deste. As cartas patrimoniais representam
produtos de intensas discussões envolvidas em determinados momentos históricos.
São documentos que sintetizam as principais questões de consenso, oferecendo
indicações de caráter geral. Possuem, portanto, caráter indicativo, ou, no máximo,
prescritivo. São documentos que servem como base deontológica para os
profissionais envolvidos na preservação e na patrimonialização, mas, como dentro das
normatizações, estão sujeitos a interpretações (KUHL, 2010).
Sendo documentos construídos coletivamente, as cartas seguiram as
tendências das discussões já citadas aqui, como podemos observar na tabela abaixo,
onde resumimos as ideias principais de algumas:
32

Período Local Especificação Observações/Conteúdo


1931 Atenas Carta de Atenas Foco para o reconhecimento de uma ação interdisciplinar na conservação dos monumentos.
Responsabilidade dos Estados de inventariar os seus bens (documentação internacional).
Escritório
Internacional
Anos dos Museus
30 Carta de Atenas Análise dos problemas e sugestões para a cidade, baseadas nas quatro funções do urbanismo:
habitar, trabalhar, recrear-se e circular.
1933 Atenas CIAM –
Congresso
Internacional de
Arquitetura
Moderna
33

Período Local Especificação Observações/Conteúdo


Recomendação Proteção, salvaguarda e controle não apenas aos sítios isolados, mas aos
relativa à territórios aos quais eles pertençam. Estímulo à criação pelos Estados de
Anos 60 1962 Paris salvaguarda da órgãos governamentais e apoio a não-governamentais de proteção.
beleza e do caráter Enfoque na questão educativa.
das paisagens e
sítios

Conferência Geral
da UNESCO – 12ª
sessão
1964 Veneza Carta de Veneza Foco na necessidade de um "plano internacional" de conservação e
restauração dos monumentos. Definição de monumento histórico e sua
Carta internacional conservação e restauração como atividade interdisciplinar (ciências e
sobre conservação e técnicas). A consevação depende de sua "função útil à sociedade", mas
restauração de com limites nas adaptações. Não se deve deslocar o monumento, apenas
Anos 60 monumentos e sítios sob perigo de perda.

II Congresso
internacional de
arquitetos e técnicos
dos monumentos
históricos
1964 Paris Recomendação Definição de "bens culturais". Recomenda o controle sobre as
sobre medidas exportações dos bens. Medidas: Identificação e inventário dos bens,
destinadas a proibir instituições de proteção, acordos bilaterais e multilaterais, colaboração
34

e impedir a internacional, restituição ou repatriação de bens, publicidade em caso de


exportação, a desaparecimento de bem, direito dos adquirentes de boa fé e ação
importação e a educativa
transferência de
propriedades ilícitas
de bens culturais
Conferência Geral
da UNESCO – 13ª
sessão
35

Período Local Especificação Observações/Conteúdo

Anos 70 1972 Estocolmo Declaração de Recomendações para necessidade de um ponto de vista e de princípios comuns
Estocolmo para inspirar e guiar os povos do mundo na preservação e na melhoria do meio
ambiente
Declaração sobre o
ambiente humano
1972 Paris Convenção sobre a Definições do patrimônio cultural e natural e sua proteção nacional e internacional.
salvaguarda do Criação de um comitê intergovernamental. Criação do "Fundo do Patrimônio
patrimônio mundial, Mundial". Definição para as condições para assistência Internacional. Programas
cultural e natural educativos.

Conferência Geral da
Unesco – 17ª sessão
36

Período Local Especificação Observações/Conteúdo


Anos 80 1980 Austrália Carta de Burra Realizado pelo ICOMOS – Conselho internacional de monumentos e sítios.
Definições do documento: bem, significado cultural, substância, conservação,
manutenção, preservação, restauração, reconstrução, adaptação, uso
compatível. Recomendações quanto a: conservação, preservação,
restauração, reconstrução, adaptação e procedimentos.

1981 Florença Carta de Florença Realizado pelo ICOMOS e Comitê internacional de jardins e sítios históricos.
Definição e objetivos e recomendações para manutenção, conservação,
restauração, utilização, proteção legal e administrativa de jardins históricos e
sítios.

1982 Nairóbi Declaração de Realizado pela UNEP – Organização das Nações Unidas para o Meio
Nairóbi Assembléia Ambiente. Revisão da conferência de Estocolmo. Recomendações para
mundial dos Estados proteção e melhoramento do meio ambiente.
37

Período Local Especificação Observações/Conteúdo


Anos 90 1991 Digne Declaração Proteger e apreender a conhecer o passado da Terra, esse livro escrito antes
Internacional dos do nosso advento e que é o património geológico.
Direitos à Memória
da Terra

1997 Mar del Carta do Mar del Aponta a "integração cultural" como prioridade. Recomendações para o
Plata
Plata sobre o registro, catalogação, estudo e difusão do patrimônio intangível.
patrimônio intangível

1997 Fortaleza Carta de Fortaleza Atribui ao IPHAN o dever de identificar, documentar, proteger, fiscalizar,
preservar e promover o patrimônio cultural brasileiro. “considerados em toda
Patrimônio imaterial: a sua complexidade, diversidade e dinâmica, particularmente, as formas de
estratégias e formas expressão; os modos de criar, fazer e viver; as criações científicas, artísticas
de proteção e tecnológicas”, com especial atenção àquelas referentes à cultura popular.

Período Local Especificação Observações/Conteúdo


Anos 2003 Paris Carta sobre a Reconhece que os recursos de informação e de expressão criativa são
2000 Preservação do cada vez mais produzidos, distribuídos, acessados e mantidos em formato
Patrimônio Digital digital, criando um novo legado - o patrimônio digital e lança estratégias e
políticas para a preservação deste patrimônio.
38

Diante do recorte de algumas cartas podemos observar que a preocupação


com a preservação é intrínseca ao estudo do Patrimônio. Desde o início do século XX
existem alianças internacionais, grande parte sendo gerenciada pela UNESCO, que
propõem recomendações, medidas e indicações para a comunidade internacional no
trato com o Patrimônio.
O próprio conceito de Patrimônio remete à ideia de valor, o que nos
permite lembrar o seu caráter de signo. Lembremos aqui, mais uma
vez, que o Patrimônio é uma poderosa construção sígnica,
constituída e instituída a partir de percepções identitárias e
integralmente vinculada ao sentimento de pertença – a partir do qual
se reflete em todos os jogos da memória e se expressa em todas as
representações sociais. (...) Impregnado de um sentido econômico,
expressa as relações que cada grupo social estabelece com a
natureza ou com sua produção cultural – estando diretamente
influenciado pelas maneiras sob as quais cada sociedade
compreende Natureza e Cultura. (SCHEINER, 2006)

Entendendo as múltiplas acepções acerca de Patrimônio, vemos o quão


polissêmico é o termo. Podemos pensar da instancia individual a global, pois a
valoração, a identidade e o pertencimento são elementos chave do Patrimônio, assim
devemos considerar também o valor simbólico que também lhe é atribuído.

1.3- Musealização: caminhos de institucionalização e proteção


do Patrimônio
1.3.1 – Os Modelos Conceituais de Museu
O campo da Museologia traz contribuições de suma importância para a
compreensão da relação Homem, Natureza e Patrimônio, pois seu lugar de fala e de
reflexão, o Museu, desde que começou a se desenhar, é composto dessa relação
traduzida na cultura material.
Fundamentados no construto antropológico, os estudos de cultura
material constituem um dos vieses legítimos de estudo do universo
dito “museológico”, ajudando a compreender as múltiplas relações
existentes entre os museus e a produção material da atividade
humana, em todos os tempos e espaços. Neste viés, são formadores
de uma das alternativas de “relação específica” entre o Humano e o
Real, de que tratam as bases teóricas da Museologia: o Museu
Tradicional. (SCHEINER, 2015, p.18).

A trajetória dos modelos de Museu nos leva inicialmente a reflexão do termo


Museion (em grego Μουσεῖον), associado a ao antigo Templo das Musas, colina de
Hélicos, Grécia, local onde se depositavam oferendas às filhas de Mnemosyne e Zeus,
respectivamente, a deusa da Memória e o soberano dos deuses do Olimpo. As
oferendas, segundo a tradição, iniciaram o que se passou a identificar como
39

‘coleções’, conjuntos de bens que fazem parte do histórico museológico. (LIMA, 2012,
p.38).
Porém, como base documental da trajetória do modelo Museu, em se tratando
de um espaço do conhecimento com participação de ‘sábios’, os mestres, ao modo
dos modernos especialistas e seus ramos do conhecimento, pode-se tomar como
marco identificador e segundo um modelo arcaico o Museion, em Alexandria, Egito,
século III a.C., identificado como um complexo cultural integrando representações das
categorias da natureza e da cultura, apresentadas sob forma de:
(...) esculturas expostas de modo permanente em meio aos espaços
das áreas naturais; exibia espécimes vivos nos seus jardins botânico
e zoológico (ao modo dos atuais museus vivos); desenvolvia estudo
do cosmos no observatório astronômico; tomava sob sua guarda, no
arquivo, os registros dos relatos e dos atos ocorridos inclusive sob a
forma de imagens (relevos) (LIMA, 2007, p. 4).

O contexto desenhado há mais de dois mil anos identifica-se como locus da


Memória e da Preservação, reunindo o Museu, a Biblioteca e o Arquivo – um quadro
no qual o Museu se inseriu, integrando as representações de um local, reunindo fontes
de consultas, que constituem elementos fundamentais para sua ação como centro de
pesquisa.
O espaço egípcio promovia com seu elenco de atividades e exercia
pela união de homens, animais e áreas verdes um modelo integrador
de Patrimônio, ou seja, a conjugação da herança do homem e da
natureza em processo unificado e caro à Museologia, um museu de
caráter integral. (LIMA, 2012, p.39).

Recolher evidencias da natureza e da ação humana - movimento que, na


origem, é contemporâneo (e talvez mesmo anterior) ao Homo Sapiens – tornou-se, ao
longo do tempo, uma prática sistemática de muitos grupos sociais. Vinculada ao
estudo do passado longínquo ou recente, esta prática floresceu a partir da
Renascença europeia, quando o conhecimento se volta para o estudo e articulação
das evidencias segundo critérios de semelhança e analogia; e tenta-se constituir
microcosmos especulares onde a representação se daria pela repetição, mas também
"pela tentativa de (re)criar pequenas totalidades" (SCHEINER, 1998, p. 54).
Neste sistema integrado de similitudes onde o homem ocupa o
lugar central, como catalisador e irradiador de todas as relações, o
Museu se realiza como espelho de mundo, sob a forma do
gabinete de curiosidades; e se institui como aula, onde a certeza
dos fatos se dá pela presença da coleção. (SCHEINER, 2015,
p.22, grifo da autora)

É no gabinete de curiosidades que se inicia, no âmbito do Museu, uma relação


que perdura até os nossos dias: a relação organizada entre evidência material,
memória e linguagem, possibilitando o jogo da interpretação (SCHEINER, 1998, p. 54)
40

É a partir do século XVII que o Museu passaria a ser percebido


primordialmente como um espaço físico, de reunião dos testemunhos materiais da
natureza e do saber humano; de estudo e de busca do conhecimento; e de produção
intelectual:
Começam a se definir então dois modelos representacionais do
fenômeno Museu:
a) o Museu Tradicional Ortodoxo (em francês - musée, muséum),
reatualização dos gabinetes de curiosidades, de medalhística e
outras artes; e dos gabinetes de experimentos alquímicos, derivados
em laboratórios de estudo cientifico. Espaço arquitetônico que abriga
objetos e espécimes recolhidos do mundo e ali trabalhados por
especialistas, em procedimentos sistemáticos de pesquisa,
documentação e conservação, organiza-se sob a forma de coleções
articuladas de artefatos ou espécimes, mas também de obras de arte
ou de instrumentos científicos.
b) o Museu Tradicional com Coleções Vivas (muséum),
configurado a partir dos “jardins de plantas”, dos herbários e das
coleções de animais vivos das antigas ménageries. Edifício ou
espaço aberto, que abriga espécimes recolhidos do mundo, ali
trabalhados por especialistas, em procedimentos sistemáticos de
pesquisa, documentação, conservação e exposição - com o
diferencial de estar-se lidando com uma coleção cujos elementos
integrantes nascem, crescem, reproduzem-se e morrem (e, no caso
das coleções zoológicas, precisam ser alimentados). São exemplos
dessa tendência o jardim botânico criado por Richet de Belleval em
Montpellier (1593), junto à faculdade de Medicina - o mais antigo
jardim botânico da França e segundo da Europa; e o Jardim de
Plantas e Gabinete do Rei (Luís XIII), fundados em 1623 por Guy de
la Brosse, com coleções de plantas medicinais. (SCHEINER, 2015,
p.24-25)

A conjugação dos aspectos voltados para reunir, sobretudo preservar sob o


extrato da responsabilidade, expandiu-se e consolidou-se com práticas associadas ao
conhecimento. Em dimensão museológica, o modelo institucional se revelou a partir da
Revolução Francesa (século XVIII), quando se deu a nacionalização dos bens dos
nobres e da Igreja. Entre 1789 e 1830, foram criadas comissões “ditas dos
Monumentos” e dos “Monumentos Históricos” (CHOAY, 2001, p. 99) em razão da
premência e necessidade em abrigar e conservar o Patrimônio nacionalizado. No caso
dos objetos, bens móveis, inicialmente tiveram no Louvre o local escolhido para
acolher numeroso material histórico, lugar simbólico por excelência – antiga residência
real até Luis XIV, o Rei Sol. Em 1793, o conjunto selecionado se constituiu em
coleções do então criado Museu do Louvre. (LIMA, 2012.p.39).
É justamente ao final do século XVIII que o Museu Tradicional se consolida
como modelo representacional do saber do mundo - "espaço per se de apresentação
de evidencias sobre as relações entre o mundo e o humano (...) permeadas por uma
articulação visceral entre presente e passado, pois só é possível pensar o novo a partir
do já acontecido" (SCHEINER, 2014, p.366).
41

Por força da fragmentação do universo do conhecimento em espaços de


especialização, consolidada no decorrer do século XIX, quando os saberes foram
determinando as ‘fronteiras’ de seus domínios, desenhando os campos do
conhecimento para exercer suas propostas teóricas e intervenções práticas,
estabeleceu-se a especialização temática aplicada como tipologia para o Museu.
Composição na qual o perfil das instituições tornou-se moldado em consonância com
o elemento biface que fomenta as pesquisas nos seus espaços museológicos: as
coleções e as facetas do assunto ligado ao enfoque/área do conhecimento que as
toma sob seu olhar interpretativo. (LIMA, 2012, p.38)
Recebeu, por conseguinte, contribuições advindas das aplicações
disciplinares dos diferentes ramos do conhecimento que, aliados ao
campo da Museologia e atuando nos Museus por meio de
abordagens dadas às coleções, pouco a pouco se tornaram
partícipes com sua interpretação, conforme se verifica e segundo as
tradicionais divisões que ainda persistem na nomenclatura: museu
histórico, museu artístico, museu científico ou de ciências, como nos
dedicados, por exemplo, aos conteúdos das áreas da História, das
Artes ou das Ciências – Museu Histórico Nacional; Museu de Arte
Moderna; Museu de Astronomia e Ciências Afins. (ILIMA, 2012, p. 40)

Entre o final do século 19 e primeiras décadas do século 20, é considerado o


período em que há a profissionalização e institucionalização da Museologia no mundo.
Nesta época surge o primeiro periódico abordando questões
museológicas, Zeitschrift für Museologie und Antiquitätenkunde
(Alemanha, 1878), inicia o ensino em Museologia, na École du Louvre
(França, 1882), surge o primeiro código de ética museológico
(Alemanha,1918) e é fundada a primeira entidade nacional de
profissionais de museus, a Museums Associaton (Inglaterra, 1889).
Nesta mesma época surgiu a American Association of Museums
(Estados Unidos da América, 1906), que desenvolverá importante
papel na disseminação de conhecimentos museológicos. Surgem
outros periódicos nacionais abordando assuntos museológicos, na
Inglaterra Museums Jornal (1902), Alemanha, Museumskunde (1905),
nos Estados Unidos da América, Museum Work (1919) (CRUZ, 2008,
p.3)

Com o fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), foi criada a Sociedade das
Nações. Em 1922 foi criado no âmbito da Sociedade, o Comitê Internacional de
Cooperação Intelectual (CICI) e o filósofo francês Henri Bergson foi eleito seu primeiro
presidente. Anos depois, em 16 de janeiro de 1926, o governo francês cria o Instituto
Internacional de Cooperação Intelectual (IICI), com o intuito de organizar as reuniões
da CICI e executar suas decisões, bem como agir em prol do desenvolvimento
intelectual no mundo. (VALDERRAMA, 1995, p. 1-18)
A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) faz com que as atividades da
Sociedade das Nações, bem como dos organismos sob sua subordinação, entre eles
o Escritório Internacional de Museus, parem de atuar Mesmo com a interrupção das
42

atividades do Instituto Internacional de Cooperação Intelectual, o sentimento de


cooperação intelectual continuava em seus países membros. Nos últimos anos de
guerra, representantes dos países aliados realizaram reuniões com o intuito de criar
uma nova instituição nos moldes do IICI. Foi criada a Conferência dos Ministros de
Educação Aliados (CAME), que se reuniram entre 1942 e 1945. Em junho de1945, foi
criada a Organização das Nações Unidas (ONU), em substituição à Sociedade das
Nações. Em 4 de novembro de 1946, foi instituída a Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, 1987)
Com relação aos museus, também o sentimento de cooperação internacional
não encerrou. Com a interrupção das atividades do Escritório Internacional de Museus
durante o período de beligerância, alguns diretores de museus da França, Suíça,
Holanda, Bélgica, Inglaterra e membros da comissão preparatória da UNESCO,
liderados pelo norte americano Chauncey J. Hamlin, presidente do comitê político da
American Association of Museum, reuniram-se em Londres, Inglaterra, em agosto de
1946, e decidiram criar um Conselho Internacional de Museus (ICOM) (CRUZ, 2008,
p.6,7)
O ICOM é considerado o herdeiro do Escritório Internacional de Museus (Office
International des Musées – OIM), que objetivava “o estabelecimento de vínculos entre
todos os museus do mundo, a organização de intercâmbios e congressos, assim como
a unificação dos catálogos” (MAIRESSE, 1998, p. 25)
Os Comitês do ICOM representam instâncias de legitimidade cultural do
campo. Considerados “como corpos profissionais”, cada um dos trinta e um Comitês
“dedica-se ao estudo de um tipo particular de museu ou a determinada disciplina
relacionada ao museu” (ICOM, 2002).
Os associados, profissionais de diferentes áreas do conhecimento
relacionadas aos vários temas e enfoques tratados pela
Museologia, perfilam-se em categorias individuais e institucionais,
respectivamente: profissionais de Museu e instituições de caráter
museológico. Assim sendo, em concordância com o conceito da
criação e da diretriz para desempenho, formalizaram-se dedicados
tanto ao estudo de uma tipologia (especialidade) de Museu quanto
a específicas disciplinas relacionadas ao Museu, como também
associando atividades realizadas pelos seus grupos componentes.
(LIMA, 2012, p.41).

O Museu, ao longo do século XX, a partir da segunda metade e com maior


empenho no último quartel, reforçou sua presença e função social no cenário cultural.
Esse novo momento constitui um exemplo expressivo no qual o modelo de
Museu atende às demandas socioculturais que se articulam em nível de postura
política e de participação cidadã, ocorrendo um movimento de reafirmação do papel
social dos Museus, voltado à inserção da história de diversos grupos na função de
43

protagonistas para a elaboração dos espaços musealizados e, ao mesmo tempo,


reforçando a luta pela Preservação, procedimentos inspirados em novos formatos
interpretativos. Pode-se citar, nessa postura assumida pelo campo, o modelo
Ecomuseu, conceito criado em 1971 por Hugues de Varine:
(...) que posteriormente desenvolveu o conceito em colaboração com
outro museólogo francês, Georges Henri Rivière, dando origem a um
movimento internacional onde se têm vindo a integrar projetos
museológicos muito diversificados, associados também aos conceitos
de “museu de comunidade” e de “museu de território” (ECOMUSEU
MUNICIPAL DO SEIXAL, 2010).

A definição original da dupla de museólogos é a seguinte:


(...) museu aberto, interdisciplinar, apresentando o homem no tempo
e no espaço, no seu ambiente natural e cultural, convidando a
totalidade de uma população a participar do seu próprio
desenvolvimento por diversos meios de expressão, baseados
essencialmente na realidade dos sítios, edifícios, objetos, coisas reais
que falam mais que as palavras ou as imagens que invadem a nossa
vida (ECOMUSÉE CREUSOT MONTCEAU, s.d.).

O modelo comunitário, que pode ocorrer em qualquer tipologia museológica,


segundo afirmativa do teórico da Museologia Hugues de Varine (1993, p. 11), “começa
com as pessoas e não com os objetos”.
No contexto da América Latina houve, ainda, um momento que se deve
apontar como marcante: a Mesa Redonda de Santiago, no Chile, organizada pelo
ICOM em 1972. A Declaração de Santiago afiançou, no campo museológico, a
conjugação dos ambientes cultural e natural em resposta a necessidades voltadas
para mudanças que, naquele momento, se impunham ao campo. Determinaram-se os
“Princípios de Base do Museu Integral” e verifica-se que “um dos resultados mais
importantes a que chegou a mesa-redonda foi a definição e a proposição de um novo
conceito de ação dos museus: o museu integral, destinado a proporcionar à
comunidade uma visão de conjunto de seu meio material e cultural” (UNESCO , 1972)
Fazendo uma reflexão sobre a prática museológica e a trajetória do Museu
Integral, Scheiner afirma:
A evolução da prática museológica nos leva a observar que, a partir
dos anos 1960, os museus, de modo geral, começaram a incorporar
as metodologias de ação participativa, adotando perspectivas da
ecologia humana, da geografia humana e da história do cotidiano,
num genuíno esforço de abrir-se em direção aos diferentes
segmentos sociais. A experiência dos museus exploratórios veio
reforçar essa tendência, incorporando as metodologias de
experimentação do conhecimento em processo. [...]Quanto ao
argumento de que o ecomuseu gerou novas práticas museológicas,
poderíamos dizer que estas dizem respeito essencialmente às
metodologias de apreensão e documentação de conjuntos
patrimoniais, ao cruzamento de referências do patrimônio material e
imaterial – os inventários de paisagens; e também ao
desenvolvimento de estratégias de conservação pelo uso. A grande
44

renovação dos ecomuseus no que diz respeito à prática museológica


consiste no modo de atuar as funções básicas da Museologia –
relativizando o poder do especialista pelo compartilhamento das
decisões com as lideranças comunitárias. Eis aí, transformada em
ação, a proposta do Museu Integral. (SCHEINER, 2012, p.15).

Já no final do século XX, no ciclo dos chamados novos patrimônios


musealizados, a era das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) gravou sua
presença no domínio museológico expressando-se pela modalidade digital no espaço
cibernético, ambiente no qual os Museus, em larga escala, são “autodenominados
Museus Virtuais” (LIMA, 2009, p. 2.451, grifo do autor)
Nos museus, a inserção do computador permitiu permitiu acelerar a automação
de acervos, além de desenvolver redes e sistemas de informação mais aperfeiçoados,
que revelassem com maior rapidez aos usuários consistentes processos de
catalogação e informação museológica. Assim, o ponto alto na transformação da
interação comunicativa e de informação aconteceu com o crescimento da Internet.

Através dessa nova ferramenta, o usuário passou a experimentar


uma nova autonomia frente a um mar de informações, pelo acesso à
“rede das redes”. A Internet expandiu as possibilidades de
disseminação da informação das instituições museológicas para
inúmeros usuários. Os museus, assim, podem estar pela primeira
vez, libertos de seu localismo inerente e da fisicalidade que requer
que seus usuários sejam ‘visitantes em pessoa’. Os visitantes virtuais
são os usuários dos museus através da Internet que podem ser
também visitantes presenciais das instituições museológicas.
(CARVALHO, 2006)

Vimos que o Museu tem várias formas de apresentação, os modelos


conceituais, mudaram acompanhando as transformações sociais, culturais, políticas e
tecnológicas. O Museu vai além da coleção. Nas suas várias concepções estão
contemplados espécimes, territórios, os fazeres e saberes, exemplares em conjunto e
isolados da atividade humana ou da natureza e a relação com o real, muitos desses
podendo ser acessados ou visitados de forma virtual, desenhando assim os modos da
relação Ser humano e Patrimônio pelas possibilidades que o(s) Museu(s)
apresenta(m).

1.3.2 – Musealização
Pertencente à área da Museologia, o conceito de Musealização será explorado
aqui mediante as possibilidades que as ações ligadas ao termo podem ofertar para a
valoração e preservação do Patrimônio.
No livro Conceitos-chave de Museologia temos a seguinte definição:
45

A musealização designa o tornar-se museu ou, de maneira mais


geral, a transformação de um centro de vida, que pode ser um centro
de atividade humana ou um sítio natural, em algum tipo de museu. A
expressão “patrimonialização” descreve melhor, sem dúvida, este
princípio, que repousa essencialmente sobre a ideia de preservação
de um objeto ou de um lugar, mas que não se aplica ao conjunto do
processo museológico. De um ponto de vistamais estritamente
museológico, a musealização é a operação de extração, física e
conceitual, de uma coisa de seu meio natural ou cultural de origem,
conferindo a ela um estatuto museal – isto é, transformando-a em
musealium ou musealia, em um “objeto de museu” que se integre no
campo museal. (DESVALLÈS & MAIRESSE, 2013, p. 56-57),

Nesta definição podemos perceber como a Musealização é um processo amplo


e que pode abarcar também áreas naturais passíveis de transformação em Museu.
A Musealização constitui-se no conjunto de ações, orientadas por critérios e
valores definidos pela própria Museologia, para coletar, documentar, conservar,
interpretar e difundir registros do Real como testemunhos do homem e do seu meio.
(SCHEINER, 2011)
Um objeto de museu não é mais um objeto destinado a ser utilizado ou
trocado, mas transmite um testemunho autêntico sobre a realidade. Essa remoção da
realidade já constitui em si uma primeira forma de substituição (DESVALLÉES, 1998).
Os objetos musealizados, assim como as coleções, adquiriram valores culturais
distintos de seus originais (cultural ou natural), transformando-se, em face disso, em
Patrimônio.
A musealização ultrapassa a lógica única da coleção para estar
inscrita em uma tradição que repousa essencialmente sobre a
evolução da racionalidade, ligada à invenção das ciências modernas.
O objeto portador de informação, ou objeto-documento musealizado,
inscreve-se no coração da atividade científica do museu.
(MAIRESSE, 2013. p.58)

A musealização do meio ambiente adquire uma nova função – de representar


o patrimônio natural. Existe uma releitura de seu significado original.

Passo a passo, há cerca de pouco mais de um século, as funções


definidoras do ambiente atual nos museus (Patrimônio Musealizado)
que se voltam aos planos do “estudo, educação e lazer” (ICOM,
2007) e estão sedimentadas nos procedimentos que envolvem
atividades ligadas à preservação, pesquisa, documentação,
informação e comunicação, traçaram suas diretrizes que comungam
atividades com idêntico teor desenvolvidas para os estudos e
divulgação do Patrimônio (musealizável). As atividades nomeadas
são comuns nos dois processos de institucionalização:
Patrimonialização e Musealização. (LIMA, 2012)

Cabe observar que a Musealização da natureza é uma oportunidade tanto para


a consolidação, divulgação e conservação do meio ambiente quanto para os
profissionais da Museologia. Estes ganham mais campo de trabalho e podem
46

contribuir de maneira crítica na apropriação e conservação do patrimônio a serviço da


melhoria da relação ser humano e Natureza.

1.3.3 - Preservação e conservação: Conceitos chave para a Museologia


Na museologia, a preservação engloba todas as operações envolvidas quando
um objeto entra no museu, isto é, todas as operações de aquisição, entrada em
inventário, catalogação, acondicionamento, conservação e, se necessário,
restauração.
Em geral, a preservação do patrimônio conduz a uma política que começa com
o estabelecimento de um procedimento e critérios de aquisição do patrimônio material
e imaterial da humanidade e seu meio, cuja continuidade é assegurada com a gestão
das coisas que se tornaram objetos de museu, e finalmente com sua conservação.
Neste sentido, o conceito de preservação representa aquilo que é fundamental para
os museus, pois a construção das coleções estrutura o seu desenvolvimento e a
missão do museu. A preservação constitui-se em um eixo da ação museal, sendo o
outro eixo o da difusão aos públicos. (DESVALLÈS & MAIRESSE, 2013, p. 86).
Preservação é uma palavra que envolve inúmeras políticas e opções de ação,
incluindo tratamentos de conservação. Preservação é a aquisição, organização e
distribuição de recursos, a fim de impedir posterior deterioração ou renovar a
possibilidade de uso. (CONWAY, 1997, p. 6)
O termo conservação está mais comumente ligado à atividade que têm por
objetivo fornecer os meios necessários para garantir o estado de um objeto contra
toda forma de alteração, a fim de mantê-lo o mais intacto possível para as gerações
futuras.
As atividades de conservação, em sentido amplo, condensam as
operações de segurança geral (proteção contra roubo ou vandalismo,
incêndios ou inundações, terremotos ou tumultos) (DESVALLÈS &
MAIRESSE, 2013, p. 86).

Preservação, portanto, é entendida pelo seu sentido geral e abrangente, onde


as atividades de conservação e restauração estão inseridas.

1.4 - Considerações:
As discussões que foram apresentadas nesse capítulo nos mostram processos
históricos e teóricos acerca dos temas Natureza, Patrimônio e Museu. A relação entre
Ser Humano e Natureza teve uma transformação bastante significativa desde que os
filósofos, na Grécia, começaram a se debruçar sobre o assunto. O pensamento e as
necessidades humanas também acompanharam esse processo de mudanças e a
natureza foi sendo usada cada vez mais de maneira utilitarista, com foco no acúmulo
47

de riquezas que posteriormente se transformou em capital.


Caminhamos em passos rápidos para uma sociedade global cada vez mais
conectada e instantânea, e esses processos dependem da extração de recursos
finitos, principalmente o mundo das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs),
com materiais provenientes da extração mineral e considerando também, o aumento
das demandas por transportes, que ainda massivamente dependem dos combustíveis
fósseis, causando desde perturbações a ecossistemas locais, até um aumento de
gases poluentes na atmosfera. Desse modo, ao pensar a nossa relação com o
planeta, vemos que a natureza, em suas múltiplas formas, é o nosso Patrimônio
essencial.
A Museologia como campo do conhecimento em desenvolvimento, dotada de
caráter transdisciplinar, pode ter um papel significativo na construção de um
pensamento crítico em relação ao uso dos recursos naturais. As possibilidades de
musealização nos Parques, Florestas, Monumentos Naturais e demais áreas de
preservação ambiental passíveis desse processo abrem campos de atuação não só
para museólogos, mas para a gama de áreas do conhecimento e seus profissionais
que podem estar presentes nesses locais. O Museu há algum tempo, transcendeu seu
espaço físico de imóvel delimitado, representando, agora, formas de pensar e atuar
junto às sociedades e seus desafios.
48

CAPÍTULO 2

Serrinha: Olhares para o múltiplo


patrimônio
49

2 - Serrinha: Olhares para o múltiplo patrimônio


2.1. – Caracterização do espaço e ambiente

Serrinha é uma denominação local para um complexo geomorfológico que


envolve além da Serrinha, a Serra da Bananeira, o Serrote do Pontal e o Serrote São
Tomé (SOUSA, 2002).
Essa área está localizada a aproximadamente nove quilômetros da zona
urbana do Município de Pacujá, no estado do Ceará, com uma área de
aproximadamente mil hectares de relevo montanhoso que ultrapassa 500 metros
acima do nível do mar, destacando-se do relevo baixo da região chamado depressão
sertaneja (Figuras 2 e 3).
A Serrinha é uma pequena extensão de terra, situada a Sudeste da sede do
município de Pacujá (4º3‟19‟‟S/40º41‟54‟‟), ligada à Serra da Ibiapaba, norte do
Estado do Ceará.

FIGURA 2 –Localização Geográfica da área da serrinha. Escala –1:10.000 (Google Maps e IBGE,
adaptado)
50

FIGURA 3 – Fotografia panorâmica da Serrinha a partir do Açude Milhãs, com esquema da


concepção local e a concepção científica. (Acervo do Autor)

As condições ambientais apresentadas na localidade, tanto em aspectos


geomorfológicos quanto climáticos, dificultam o acesso e a permanência humana no
local, apresentando uma vegetação densa e diversificada.
A Serrinha situa-se numa área predominante do Bioma Caatinga, apresentando
dois momentos climáticos distintos, uma metade do ano em período chuvoso e a outra
seca, criando uma metamorfose de paisagem (Figura 4).

FIGURA 4 – Fotografias comparativas do final do verão (período seco) e início do inverno


(período chuvoso) ressaltando que foram fotografadas num intervalo de 25 dias. (Acervo do Autor)
51

Para alcançar Serrinha vindo do centro de Pacujá, percorrem-se nove


quilômetros de estrada de terra em direção sul, até chegar a um distrito de Pacujá
chamado Bom Gosto, de lá todo o percurso é feito a pé.
O acesso às áreas das cavernas, cachoeira, nascente de água e formações
rochosas só pode ser realizado em caminhada por trilhas íngremes onde não há
entrada de automóveis (Figura 5).

FIGURA 4 – Aspectos de trilha na Serrinha. Em alguns trechos como na foto à direita a largura
máxima é de 50 cm, em outros a irregularidade do terreno impossibilita até a passagem de
motocicletas. (Acervo do Autor)

O território da Serrinha faz limite geográfico com outros dois municípios, Graça
e Reriutaba, existindo acesso por este segundo, mas o grande fluxo de pessoas que
visitam e mantém contato com a área são provenientes de Pacujá (com. verb. ABREU,
2015). Por motivo de recorte para a realização da pesquisa de dissertação optamos
por focar na relação entre Serrinha e o município de Pacujá, já que os elementos
analisado situam-se no território deste município.
52

FIGURA 6 – Mapa do Município de Pacujá, com localidades e fronteira com outros municípios – disponível
em tamanho maior em anexos. (IPECE, 2014 adaptado)

2.2– Caracterização social.

Devido aos aspectos geomorfológicos e ausência de infraestrutura da Serrinha,


atualmente, existem apenas três famílias morando na região. Foram elas que nos
informaram acerca da ocupação da área, através da metodologia da história oral.
Foram realizadas entrevistas com o Senhor Raimundo Abreu (conhecido
regionalmente como Raimundo Serrinha), com a Senhora Maria Rodrigues e a
Senhora Antônia Rodrigues, chefes das três famílias residentes na Serrinha.
O Senhor Raimundo Abreu relata:
O papai veio pra cá em cinquenta e dois (1952) antes eu não sei se já
tinha gente por aqui, ele nunca me falou. Nós morávamos na
Reriutaba, aí ele tinha um gado que sempre vinha comer aqui em
cima, e era só no verão, por que acabava a forragem e os animais
tinha que comer, como eu sempre gostei de cuidar de gado eu
sempre vinha com ele, desde menino eu sempre gostei de mais daqui
e tinha vontade de ficar, mas como não tinha nenhuma casa não
dava, então quando eu fiquei rapaz, comecei a juntar dinheiro pra
casar com a minha mulher, a Laurita, então depois eu vendi um gado
e construí minha casinha aqui em 78 (1978) e não saio daqui nunca
4
mais. (com. verb. ABREU, 2015)

Para a Senhora Maria Rodrigues:


Eu morava no Bom Gosto, me mudei pra cá em oitenta (1980), depois
que casei, neste tempo só tinha o Raimundo aqui, meu marido tinha

4
Na transcrição das entrevistas foram retirados vícios de linguagem e houve correção gramatical.
53

umas cabeças de gado, e achou que aqui em cima era melhor pra
criar. Então eu me mudei com ele, depois eu trouxe a Antônia pra
morar com a gente, ela veio pra ajudar e nunca mais quis morar em
outro lugar [...] Como aqui antigamente era tudo São Benedito, até o
Pacujá era, só quem eu sei que andava aqui era o povo de lá, mas
não sei dizer o ano. (com. verb. RODRIGUES,M, 2015)

A Senhora Antônia Rodrigues relata:


A Maria que me trouxe para morar aqui. Eu vim pra ajudar na casa, e
depois ajudei no resguardo do primeiro filho dela. Eu me casei em 87
e como gostava muito daqui quis que meu marido viesse morar aqui
também [...] A única pessoa que eu sei que vinha aqui antigamente
era o pai do Raimundo, ele já me falou essa conversa. (com. verb.
RODRIGUES, A, 2015)

Não encontramos nenhuma fonte documental ou bibliográfica sobre a


ocupação da área, mesmo em São Benedito, que era o Município onde situava o
território antes da emancipação política de Pacujá, que ocorreu em 1956.
O único documento que tivemos acesso que atesta a ocupação da Serrinha foi
o Certificado de Cadastro de Imóvel Rural - CCIR expedido pelo Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária-INCRA do Senhor Raimundo Abreu, o documento não
possui georeferenciamento5. O senhor Raimundo Abreu é o único morador da Serrinha
que possui o CCIR.
A história da ocupação da Serrinha torna-se acessível pela memória oral,
expressada pelos moradores locais através das entrevistas. Conforme relatado pelo
Senhor Raimundo Abreu, No início da década de 1950 o pai dele, Francisco Abreu,
trazia o rebanho bovino para se alimentar das pastagens na Serrinha, por que o verão
(período seco no Ceará) logo acaba com a vegetação no sertão além da dificuldade de
encontrar água.
A Serrinha manteve-se como local de melhores condições para a criação de
gado durante o verão. Só em 1978, foi construída a primeira casa, onde até hoje
moram o Senhor Raimundo Abreu e sua esposa Laurita Pereira, que não tiveram
filhos.

5
Georreferenciar um imóvel é definir a sua forma, dimensão e localização, através de métodos de
levantamento topográfico. O Incra, em atendimento ao que preconiza a Lei 10.267/01, exige que este
georreferenciamento seja executado de acordo com a sua Norma Técnica para Georreferenciamento de
Imóveis Rurais, que impõe a obrigatoriedade de descrever seus limites, características e confrontações
através de memorial descritivo executado por profissional habilitado - com a emissão da devida
Anotação de Responsabilidade Técnica (ART), por parte do CREA - contendo as coordenadas dos vértices
definidores dos limites dos imóveis rurais, georreferenciadas ao Sistema Geodésico Brasileiro, com a
precisão posicional de 50 cm sendo atingida na determinação de cada um deles (art. 176, § 4º, da Lei
6.015/75, com redação dada pela Lei 10.267/01). O INCRA só passou a exigir o georreferenciamento no
cadastro em 2003. Trecho retirado do site do INCRA. Disponivel em: <www.incra.gov.br/o-que-e-
georreferenciamento> Acesso em Agosto de 2015.
54

A segunda casa foi construída em 1980 para abrigar a Senhora Maria


Rodrigues e seu esposo, Inácio Marques (in memoriam). O casal teve cinco filhos,
mas nenhum ficou morando na Serrinha, migraram para as zonas urbanas dos
municípios de Pacujá e Reriutaba, a Senhora Maria justifica que eles foram buscar
melhores condições para estudar e trabalhar.
A terceira casa foi construída em 1987 para a família de Antônia Rodrigues e
Francisco José Silva. Antônia é irmã de Maria Rodrigues e em 1981 veio morar na
Serrinha para ajudá-la com a casa e as crianças. Em 1987 ano do casamento de
Antônia nasceu a única filha do casal, Jocélia Rodrigues. Atualmente ela mora sozinha
com a filha.
A ocupação da Serrinha se deu basicamente para a criação de gado, as três
famílias que ocuparam e ocupam a área viram uma opção de pasto e água mais
duradouros que na depressão sertaneja. Além da criação do gado, aves e suínos, os
moradores locais, vivem de agricultura de subsistência, plantando feijão, milho,
urucum e mandioca.
Outro ponto de destaque na história da ocupação da Serrinha foi a construção
da casa de farinha, que é um nome dado para o espaço de processamento da
mandioca e seus derivados, muito comum nas cidades sertanejas do nordeste.
Segundo o Senhor Raimundo Abreu foi construída em 1985 para processar a
produção de mandioca da Serrinha e de locais vizinhos. Ele relata:
Pense numa coisa boa que tinha aqui! Era a casa de farinha, era
animada de mais, foi construída em oitenta e cinco (1985), era do
Seu Nonato, juntava o que a gente tirava aqui dos roçados mais
outras mandioca que vinham lá de baixo, por que aqui não dava
muito[...] Vinha gente de todo canto pra cá, foi a época melhor, tinha
forró a noite inteira e as mulheres faziam muito café e chá pra comer
com as tapioca e os bejú. Nunca comi uma farinha como a que era
feita lá, mas que pena que acabou. Tudo vai acabando né.[..] durou
até 94, é muito difícil hoje quem queira trabalhar com farinhada. (com.
verb. ABREU, 2015)

A casa de farinha não funciona atualmente, só há restos de sua estrutura, que


está se desfazendo pela ação do tempo e dos agentes naturais, como chuva, sol e
vento, mas está presente na memória dos moradores locais e da região que
frequentaram o espaço.
Na Serrinha não há energia elétrica nem abastecimento de água, as três
famílias utilizam uma pequena nascente, água subterrânea que emerge para a
superfície, que é represada na propriedade do Senhor Raimundo. Além das pessoas,
a água também é utilizada para a criação do gado e o cultivo de algumas plantas,
principalmente as de fins medicinais e frutíferas.
55

A casa do Senhor Raimundo faz parte do imaginário local e dos pesquisadores


que estiveram na Serrinha, como ambiente acolhedor e necessário de visitar para
conseguir chegar às cavernas com a orientação ou até companhia dele.
A Serrinha apresenta uma ocupação humana aparentemente recente, mas
existem vestígios de que há muitas lacunas para serem preenchidas através de
olhares científicos para as pistas que se encontram no local.

2.3– A produção Científica sobre a Serrinha

Segundo relatos dos moradores locais (com. Verb. ABREU, 2015;


RODRIGUES A, 2015; RODRIGUES M, 2015), as visitas à Serrinha por parte da
população de Pacujá, Reriutaba e Graça ficaram frequentes a partir da década de
1990, quando as cavernas, conhecidas localmente como furnas, passaram a ser
usadas para acampamentos e a prática popularizou-se nesses três municípios,
sobretudo em Pacujá.
A partir desse hábito de visitação, no ano de 2001 Antônio Alancardé
Leopoldino, um morador de Pacujá, que na época era graduando em Pedagogia viu
um potencial de pesquisa para além das cavernas, a Serrinha apresentou vestígios
que poderiam ser estudados pela Arqueologia e Paleontologia. Abaixo vemos o relato:
A pesquisa de Pacujá tinha iniciado em 2001, foi iniciada por mim,
mais especificamente na parte das cavernas, que tem na comunidade
da Serrinha e logo após a visitação das cavernas, umas que eu fiz em
Março de 2001, eu tive a ideia de iniciar uma pesquisa na parte da
Geografia lá dessa área das cavernas, em 2002 eu viajando,
explorando aquela área eu descobri algumas marcas em pedras e
essas marcas que estavam impressas nas rochas eram icnofósseis,
são marcas, vestígios de animais muito antigos, então a partir daí
junto a pesquisa da paleontologia eu iniciei também a pesquisa em
arqueologia. (com. verb. LEOPOLDINO, 2012)

Quando Antônio Alancardé fala que ele iniciou a pesquisa e fez pesquisa na
Serrinha ele está se referindo à pesquisa como coleta de informações com os
moradores e coleta de materiais que ele julgou ter valor arqueológico ou
paleontológico.
A curiosidade e a vontade de adquirir conhecimento acerca dos achados da
Serrinha fizeram Antônio Alancardé iniciar a busca por profissionais que dessem conta
do material encontrado. Como se tratavam de materiais rochosos os primeiros
contatos foram realizados com geólogos que trabalhavam na cidade de Sobral (polo
econômico e acadêmico da região norte do Ceará).
O primeiro geólogo que visitou a área foi Celso Lira Ximenes, que fez uma
visita sem fins acadêmicos para conhecer as cavernas, mas já apontou possibilidade
das marcas nas rochas serem icnofósseis.
56

O inicio das atividades acadêmicas na Serrinha foram marcadas pelo contato


com a Professora Dra. Maria Somália Sales Viana, da Universidade Estadual Vale do
Acaraú – UVA, que é especialista em paleontologia e tem laboratório de paleontologia
no Museu Dom José6, ambos com sede em Sobral. O contato foi feito por Antônio
Alancardé, como relata a professora:
Quem primeiro me falou da serrinha foi o Alan... Alancardé... [...].
Então o Alan na época ele colecionava objetos de arqueologia, ele
me procurou no Museu Dom José com alguns artefatos e eu expliquei
para ele a diferença de Arqueologia e Paleontologia, e não saberia
muito falar a respeito daquilo, então ele tirou da bolsa umas
fotografias dizendo: Professora eu acho que são inscrições rupestres,
me mostrou os traços na rocha, né, e bom eu disse: Realmente isso
não é arqueologia, não são inscrições rupestres e aí eu pedi pra ver,
e então fui com ele lá. Ele já tinha levado outro Geólogo lá, outro
paleontólogo que era o Celso Ximenes e quando eu falei ele lembrou
que realmente o professor Celso já tinha dito que poderiam ser
icnofósseis. Então eu fui lá e vi, ele me mostrou em princípio a
serrinha pra gente, foi o primeiro lugar que ele me levou. Então lá na
serrinha a gente identificou essas formas, eu fiquei maravilhada, é um
local com muitas pistas, é uma área muito extensa com uma
biodiversidade impressionante, então a partir desse dia a gente
começou ir todo semestre eu levava os alunos e a gente começou a
se familiarizar e a ver melhor as formas, então essas formas
começaram a fazer parte de projetos de pesquisa. (com. verb. VIANA,
2012)

Esse contato além de iniciar a atividade acadêmica na Serrinha propiciou o


início da divulgação da Serrinha em nível estadual. A partir das visitas e primeiros
estudos paleontológicos na área, houve diversas reportagens sobre a Serrinha,
chegando a ser capa do jornal de maior circulação no estado do Ceará. (ver anexo).
Apesar de a atividade acadêmica ter iniciado na Serrinha a mais de dez anos, o
material produzido sobre a área ainda não da conta das possibilidades que a área
apresenta. Ainda são poucos os estudos e não estão acessíveis com facilidade para
os moradores de Pacujá ou mesmo para pesquisadores.
Para a dissertação realizamos o levantamento das publicações que já foram
produzidas sobre a Serrinha ou algum elemento da área. Os dados foram obtidos nas
bibliotecas da Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA e plataforma Lattes do
CNPQ.

6
O Museu Dom José é considerado o 5° do Brasil em arte sacra e arte decorativa, composto por um
acervo com mais de 30.000 peças, distribuídas em 16 variadas coleções, nas quais se destacam:
imaginária, porcelana, cristais, numismática, paleontologia, arqueologia, armaria, mobiliário,
ourivesaria, iconografia, indumentária, acessórios e adereços. O imponente sobrado de estilo luso-
brasileiro foi construído em 1844, pelo major João Pedro Bandeira de Melo e é considerado como o
mais expressivo patrimônio cultural de Sobral. (UNIFOR, 2015)
57

Ano Autor(es) Título Área do Tipo de Meio de


conhecimento publicação acesso

2004 VIANA, M. S.S e LEOPOLDINO, A.A Descoberta dos fósseis mais antigos do Geologia/ Artigo Físico
Ceará: Icnofósseis de Pacujá (Formação Paleontologia
Tianguá, Ordoviciano-Siluriano da Bacia
do Parnaíba)

2005 XIMENES, C.L Cavernas areníticas de Pacujá Geologia/ Artigo Físico


Espeleologia

2005 VIANA, M. S. S.; AGOSTINHO, Sonia ; LIMA Considerações icnofaciológicas sobre a Geologia/ Artigo Físico
FILHO, M. F. ; LEOPOLDINO, A. A. ; CUNHA, Formação Tianguá, Siluriano da Bacia Paleontologia
L. L. T. ; ROCHA, L. A. S do Parnaíba.
58

2009 CHAVES, A. P. P. e VIANA, M. S. S. Novo icnogênero encontrado na Geologia/ Artigo Físico


localidade de Serrinha, Município de Paleontologia
Pacujá, Estado do Ceará

2010 VIANA, M. S. S.; OLIVEIRA, P. V. ; SOUSA, M. Ocorrências icnofossilíferas do grupo Geologia/ Artigo Físico e
J. G. ; BARROSO, F. R. G. ; VASCONCELOS, serra grande (Siluriano da bacia do Paleontologia digital
V. A. ; MELO, R. M. ; LIMA, T. A. ; OLIVEIRA, Parnaíba)
G. C. ; CHAVES, A. P.

2010 PONTE FILHO, F.A.M ; SALES, M. M. ; LIMA, Composição florística do sítio Serrinha, Biologia/ Artigo Físico e
G. S. ; MATA, M.F ; ANDRADE, I. M. ; SOUZA, Pacujá, Ceará, Brasil Botânica digital
E.B

2011 BRANDÃO, E.K.S ; MARREIRA, E. M. ; Rubiaceae da Serrinha, Pacujá, Ceará, Biologia/ Artigo Físico
SOUZA, E. Brasil Botânica
59

2013 SILVA. A.B. Achados da Serrinha: Gênese e História Monografia Físico


trajetória do Museu de Pacujá

2015 SANTOS, A. S.; SILVA, M. F. S. ; Commelinaceae da Serrinha, Pacujá, Biologia/ Artigo Digital
NASCIMENTO, M. G. P. ; MELO, L. M. B. ; Ceará – Brasil Botânica
ANDRADE, I. M.
60

A partir dos dados da tabela vemos que além do numero pequeno de trabalhos,
eles se concentram em paleontologia e botânica, e foram realizados por apenas duas
universidades, Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA e Universidade Federal
do Piauí – UFPI.
O único estudo de espeleologia é um resumo dos aspectos sobre 4 das 8
cavernas encontradas na Serrinha e o único estudo na área de ciências humanas é
sobre a história do Museu de Pacujá.
A Serrinha apresenta potencial de pesquisa ainda pouco explorado, muitos
elementos da biodiversidade, geodiversidade e da cultura local ainda estão para se
descobrir e conhecer, neste sentido, buscaremos no tópico seguinte indicar as
possibilidades de pesquisa pensando na importância da preservação destes
elementos.

2.4 – Entendendo o contexto: O município de Pacujá


O município de Pacujá possui cerca de 6000 habitantes (IBGE, 2010), está
localizado a 309 km de Fortaleza, na microrregião Noroeste do Ceará. Historicamente
esse território está ligado a uma Fazenda de nome Belmonte, que não existe
atualmente, mas era localizada onde hoje se encontra a Igreja Matriz e seu entorno.
Segundo o IBGE a formação administrativa inicia em quando é criado o Distrito
com a denominação de Pacujá, pela lei nº 2054, de 24-11-1883, subordinado ao
município de Ibiapina. Pelo decreto nº 65, de 27-06-1892, foi transferido do município
de Ibiapina para o de Sobral. Em divisão administrativa referente ao ano de 1911,
passou a ser denominado de distrito de Pacajá pertencente ao município de Sobral,
assim permanecendo até 1933. O decreto nº 1271, de 29-05-1934 o transferiu do
município de Sobral para o de São Sebastião. Em divisões territoriais datadas de 31-
12-1936 e 31-12-1937, o município de São Benedito abarcou o município de São
Sebastião, que foi extinto, consequentemente, englobando o distrito de Pacujá sob a
antiga denominação. Elevado à categoria de município de mesmo nome, pela lei
estadual nº 3692, de 17-07-1957, desmembrando-se de São Benedito. Entretanto, a
sede urbana do município só foi instalada em 22-09-1957.
A História econômica do município é pautada no cultivo da agricultura de
subsistência e baseada principalmente na pecuária e culturas de milho e feijão, além
de outras atividades de menor abrangência como o artesanato de palha de Carnaúba
e Couro. Segundo o IBGE (2010) o fluxo comercial gira em torno de estabelecimentos
comerciais de pequeno e médio porte, onde as principais fontes de renda são os
61

empregos públicos (representando 10% da população) e beneficiários da Previdência


Social.
O município apresenta climas variando entre o Tropical Quente Semiárido, nas
partes mais baixas, até Tropical Quente sub-umido, nas partes mais altas (onde está
localizada a Serrinha). O relevo onde está sede do município á caracterizado como
depressão sertaneja que é um tipo de relevo rebaixado e aplanado que domina a
paisagem interiorana cearense (AB SÁBER, 1969), com altitude média de 150 metros.
Apesar da importância econômica pequena para o estado do Ceará, esse
município possui um potencial patrimonial ainda pouco divulgado. Foram achados
alguns elementos da geodiversidade, como a primeira ocorrência de fósseis da Fauna
de Ediacara no Nordeste do Brasil, com idades estimadas de pelo menos 560 Milhões
de anos (BARROSO, 2012); dois tipos de arenitos e formação de cavernas e
cachoeira. Além dos aspectos da geodiversidade, destacam-se também os achados
arqueológicos de objetos em pedra polida, lascada e cerâmica ainda sem datação e
estudos.

2.5 - A Serrinha e o Museu de Pacujá


O museu de Pacujá foi uma instituição que partiu da iniciativa particular de
Antônio Alancardé Leopoldino, que coletava material que ele julgava ter valor
arqueológico no município de Pacujá, inicialmente na Serrinha e depois em outros
locais do município durante os anos de 2001 a 2004. A busca pelos artefatos
arqueológicos levou ao encontro de outros materiais, então Alancardé sentiu
necessidade de procurar outros profissionais para dar conta do que ele estava
encontrando.

Ao mesmo tempo em que foi se deparando com estes


vestígios arqueológicos Antonio Alancardé percebeu
formas estranhas e diferentes em algumas rochas da
Serrinha, em 2002 ele convidou o Geólogo Celso Lira
Ximenes a visitar a área que levantou a hipótese daquelas
formas serem icnofósseis, mas essa informação só se
confirmaria em 2003 depois do contato de Antonio
Alancardé com a Professora Maria Somália Sales Viana,
da Universidade Estadual Vale do Acaraú -UVA. (SILVA,
2013 p.22)

A partir de um ideal pessoal, ele foi à busca de parcerias para ajudá-lo e dar
suporte para concretizar as suas ideias para o acervo que ele possuía, somados com
as pesquisas iniciadas em 2003, pela professora Somália Viana e equipe do
Laboratório de Paleontologia da UVA.
No início do ano 2003, com a residência já bastante ocupada com objetos
62

coletados no município, Alancardé viu que o espaço não era o ideal e já não tinha
mais lugar para novas aquisições, somando isso a vontade de compartilhar os
achados com o público, ele pensou na criação do Museu de Pacujá. A partir
disso

começou a procurar parcerias, inicialmente com amigos e depois com a Associação


Amigos de Pacujá.
Um dos envolvidos no processo e com papel substancial para a concretização
do Museu de Pacujá foi o Raimundo de Moura Oliveira, que no período era graduado
em Filosofia e professor da rede estadual de ensino. Entrou como curioso e admirador
da Arqueologia e ajudou Alancardé na busca pelas peças e posteriormente no
processo de consolidação do Museu de Pacujá.
[...] A gente começou a fazer um trabalho de conscientização com
as comunidades, sobretudo nos locais de maior ocorrência e a
comunidade disponibilizava o material para que a gente pudesse
levar para um local que ele pudesse ser preservado, então diante
dessa situação chegou um momento que na casa do professor Alan
já não tinha como a gente guardar esse material, até por que a
gente sabe que esses materiais arqueológicos são patrimônio da
humanidade, não são bens particulares e a gente não tinha esse
direito, nem temos de guardar esse material como se fossem um
bem pessoal, aí veio a ideia de criar o Museu. (com. verb.
OLIVEIRA, 2013 )

Neste cenário entra em cena a Associação Amigos de Pacujá foi uma


instituição de caráter comunitário que existia desde 1997, criada com a finalidade de
apoiar projetos de democratização da informação e acesso à cultura. Alancardé, que
em 2003 era o presidente da associação, articulou e mobilizou os membros da
associação para a criação do Museu de Pacujá.
O primeiro Passo foi a criação do Comitê Municipal de Preservação da
Serrinha dentro da Associação, que conseguiu gerar um laudo de visita técnica de um
analista ambiental do Parque Nacional de Ubajara.
A vistoria ocorreu em 17 de Junho de 2003 e laudo ficou pronto em 26 de junho
de 2003, onde é observado o potencial espeleológico (exploração de cavernas) da
Serrinha e solicitados uma análise de um setor que trata exclusivamente de cavernas
e é ligado ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (IBAMA). Foi sugerido ao município a criação de uma “Unidade de
Conservação Municipal” visando garantir a preservação do patrimônio espeleológico,
bem como a flora e a fauna da região, levando ao técnico sugerir que a região se
enquadraria no caso como um Monumento Natural Municipal e desenvolver um
63

trabalho de educação ambiental junto às Escolas e comunidades locais, alertando


para a necessidade de preservação das cavernas e da biodiversidade da área7
Embora recomendada desde 2003, a Unidade de Conservação Municipal
nunca foi criada. Alancardé relata:
Nós enquanto associação, buscamos a prefeitura para dar inicio no
projeto da criação da unidade de conservação, mas nenhum
vereador e nem o prefeito demostraram comprometimento com a
causa, fizemos algumas reuniões, sempre ficava a promessa, mas
nada se concretizou, faltou interesse público, talvez eles achassem
que o apoio à criação do Museu já era suficiente. (com. verb.
LEOPOLDINO, 2013)

A partir das pesquisas da paleontologia, relatórios e visitas técnicas tornou-se


mais viável a concretização do Museu, então Antônio Alancardé iniciou buscas por um
espaço que pudesse abarcar o acervo e que apresentasse características que não se
distanciasse estruturalmente das casas da região.
Através de contato e com moradores de Pacujá Antônio Alancardé vislumbrou
uma casa típica de fazenda no bairro Alto do Cravatá, então ele entrou em contato
com a proprietária, a Senhora Marlene Alves, e conseguiu que ela cedesse a casa
para a montagem do Museu, que não estava ocupada há alguns anos. (SILVA, 2013).

FIGURA 7 – Museu de Pacujá, vista externa. (Acervo do Museu)

7
As informações estão contidas num documento intitulado “Laudo Técnico de vistoria na localidade de
Serrinha –Pacujá” realizada pelo Chefe do Parque Nacional de Ubajara: Antonio Emanuel Barreto Alves
de Sousa em 26 de junho de 2003. Acervo do Museu de Pacujá
64

Antonio Alancardé, naquele momento sem experiência na área de Museologia


foi montando o Museu intuitivamente. A exposição das peças representava aquilo que
ele imagina a respeito do contexto das mesmas. A disposição das peças tentava
representar o contexto ambiental, no sentido de que estariam dispostas as peças em
consonância com informações representadas por dioramas. (SILVA, 2003)
Na parte de Paleontologia houve assessoria realizada pela Professora Maria
Somália Viana, que em entrevista nos relata:
O que é importante é a história de como mostrar a ideia do
diorama, como montar as informações, no geral o Alan
transformou aquilo numa identidade pacujaense (risos) ficou um
pouco diferente daquilo que eu imaginava, das informações que
eu dei pra ele, mas ficou com o jeito do Alan e com o jeito de
Pacujá. (com. verb. VIANA, 2012)

Como o Museu não teve um prédio planejado, o acervo foi adaptado aos
ambientes da casa, evidenciando o tamanho do acervo de cada área de acordo com o
tamanho das salas.

FIGURA 8 – Planta baixa da casa e organização do Museu (SILVA, 2013, p. 32)

A primeira sala foi nomeada Sala de Arqueologia Dra. Niéde Guidon, em


homenagem a Arqueóloga que descobriu diversos sítios arqueológicos no Piauí,
inclusive restos do que seriam os habitantes humanos mais antigos do continente
americano. Na sala ficaram expostos machados, batedores, peças de cerâmica que
podem ser urnas funerárias, diversidade de almofarizes, além da montagem de lanças
65

e outros objetos da cultura Neolítica, completando com um diorama que representava


um homem primitivo de forma genérica.
A segunda sala era a Sala de Paleontologia Dra. Somália Viana, em
homenagem a Pesquisadora e Professora que contribuiu significativamente para as
pesquisas paleontológicas no município de Pacujá. Reproduzindo como seria Pacujá a
cerca de 450 milhões de anos atrás, quando a região era mar, o que se comprova
pelos fósseis marinhos encontrados na Serrinha, com exemplares da Serrinha e outros
doados pela professora Somália de outros locais do Ceará, além de um diorama que
representava o ambiente do período Ordoviciano da escala do tempo geológico.
A terceira sala era a de Geologia, representando a formação geológica da
região quando ocorreu uma brecha vulcânica, com duas réplicas de vulcões que
simulavam atividade e um diorama com vulcões em erupção. Além de variedades de
rochas encontradas no Município de Pacujá e de outros municípios brasileiros.
A quarta e última sala de visitação era a Sala de “antiguidades”, que numa
vertente etnográfica exibia objetos antigos, a maioria doados por moradores do
município e ajudavam a contar a história de Pacujá, como a primeira televisão do
município, telefone, máquina de costura, estribos, serrotes, peças sacras, entre outras.
Além das salas de exposição o Museu de Pacujá possuía ainda outros dois ambientes:
a sala de Administração, onde ficou a secretaria da instituição, além de manter a
cozinha da casa como local para preparo e consumo de alimentos.
Após a montagem o Museu de Pacujá só passou a funcionar a partir de um
acordo entre a Prefeitura Municipal e Antônio Alancardé, que foi deslocado de seu
cargo de auxiliar administrativo para ser diretor do Museu, além disso, a prefeitura
cedeu um profissional de serviços gerais para auxiliar nas demandas possíveis. (com.
verb. LEOPOLDINO, 2012)
O Museu de Pacujá foi inaugurado em 24 de Março de 2005, funcionando nos
turnos manhã e tarde, Além de Antônio Alacardé e Raimundo de Moura Oliveira, oito
jovens pacujaenses trabalharam de maneira voluntária para que o museu funcionasse.
A justificativa do Museu de Pacujá baseava-se na preservação do Patrimônio
Histórico, Cultural e Natural da região que se desfaz e se extingue através das ações
humanas, podendo levar ao desconhecimento de partes importantes da História local.
O Museu de Pacujá se propõe a pesquisar e preservar as riquezas históricas e
naturais, buscando o apoio de outras entidades, empresas privadas, órgãos
governamentais ou qualquer cidadão que quisesse ser parceiro. (SILVA, 2013)
Além de receber visitas o Museu de Pacujá passou a ter um importante papel
social, com atividades realizadas em sua maioria atendendo as comunidades que
66

estavam em sua volta que abrangiam o bairro Alto do Cravatá e bairro Barro Branco,
atividades que foram inclusas nas atividades cotidianas do Museu.
Durante os dois primeiros anos de funcionamento o Museu de Pacujá, com o
pouco recurso investido pela prefeitura foi se mantendo com suporte de um projeto de
Educação de jovens e adultos do Serviço Social da Indústria (SESI), que ocorria no
período noturno e atendia os jovens e adultos dos bairros próximos.
A partir de 2008, período em que houve mudança de gestão municipal, o
Museu perdeu a ajuda dada pela prefeitura, que na época justificava estar numa
situação financeira difícil, mas resolveria a situação até o fim do ano de 2009, além
disso, na época o Diretor teve que se mudar para Sobral por motivos pessoais.
Antônio Alancardé esteve na direção do Museu de Pacujá durante o período de
2005 ao início de 2009, e a partir daí o Museu de Pacujá passou a ficar sem direção e
sem funcionamento contínuo entre 2009 e 2011. Em fevereiro de 2011 e a prefeitura
se responsabilizou pelo espaço e despesas que ainda eram geradas e mandava
periodicamente funcionários para limpeza. O Museu de Pacujá só abria para visitas
mediante contato com a prefeitura. Em dezembro de 2012 a proprietária da casa onde
funcionava o Museu de Pacujá pediu a casa para reforma e informou que não poderia
mais cedê-la, então a prefeitura retirou todo o acervo e guardou em um depósito da
antiga banda de música da cidade (SILVA 2013) onde está até os dias atuais, apenas
com uma exposição de fósseis, montada pela professora Somália Viana. Não funciona
como museu, não tem atividades regulares. O acesso à exposição e ao acervo ocorre
com contato com antecedência com as secretarias de educação ou de cultura do
Município de Pacujá.
A história do Museu de Pacujá reflete nuances da relação da população com o
patrimônio e mais nitidamente das administrações que passaram pelo município e
tiveram oportunidade de explorar os potenciais tanto da Serrinha quanto do museu,
mas não buscaram este caminho.
A observação dessas relações entre os vários atores envolvidos na Serrinha
com o patrimônio, ou possíveis elementos que podem vir a ser reconhecidos como
patrimônio, será mais aprofundada nesta pesquisa através de análises que serão
discutidas em tópicos seguintes.

2.6 – O potencial patrimonial da Serrinha

Não temos o objetivo de catalogar a diversidade de elementos naturais e


culturais da Serrinha, mas indicar o potencial de alguns elementos que são
encontrados na Serrinha, baseando-se em visitas nos locais, entrevistas com os
67

moradores da Serrinha, além de considerar a produção já realizada na área para criar


referências para os olhares científicos.

2.6.1 – Elementos da geodiversidade


A geodiversidade da Serrinha possui uma produção acadêmica com estudos
de paleontologia e espeleologia há mais de uma década. São as duas áreas que estão
com estudos mais avançados, mas existem outros elementos da geodiversidade que
ainda não possuem nenhum estudo, a seguir listaremos os elementos da
geodiversidade, seguindo a ordem da trilha de subida da parte baixa até a parte mais
alta da Serrinha.

2.6.2 - Fósseis
A Serrinha possui lajeados de arenitos esbranquiçados do Grupo Serra
Grande, Siluriano da Bacia do Parnaíba. Esse complexo geomorfológico é a
representação de relíquias da borda da bacia.
Um icnofóssil é o resultado da atividade de um organismo, que pode vir a ser
preservado em um sedimento, rocha ou corpo fóssil (FERNANDES & CARVALHO,
2007. p.8). Na serrinha são encontrados diversos icnogêneros espalhados por mais de
dois quilômetros de trilha. A seguir vemos alguns exemplos encontrados:

FIGURAS 9: A e B: Icnogênero Planolites Nicholson. C: Icnogênero Skolitos Haldeman, o traço


na foto mede 3cm. (VIANA et al, 2010)
68

2.6.3 - Cachoeira
Após a subida da parte mais íngreme da trilha da Serrinha o caminho fica
bifurcado, a Norte um pouco mais de subida até as cavernas que estão nos pontos
mais altos e a Sul uma área conhecida pelos moradores locais como Tucanos, onde
existe uma cachoeira chamada cachoeira dos tucanos, com uma queda d’água de
aproximadamente 30 metros(Figura 10). O fluxo d’água que forma a cachoeira
mantém-se apenas quando o período chuvoso é intenso e costuma ficar totalmente
seca na maior parte do ano. Não há estudo sobre a qualidade da água e não há
monitoramento ou medidas de conservação e segurança do local e dos
frequentadores.

FIGURA 10 - Fotografia da Cachoeira dos Tucanos em dia chuvoso. (Acervo do autor)

2.3.4 -Monumentos Rochosos


Após a parte mais íngreme da trilha, em direção Norte, estão localizadas
formações rochosas que os moradores locais associaram a figuras animais pela forma
69

que a rocha ou aglomeração de rochas apresenta (Figuras 11 a 13). Estes


monumentos não estão catalogados nem georreferenciados por algum
órgão/Instituição.

FIGURA 10 - Fotografia da Pedra do Gorila. (Acervo de Antonio Alancardé)

FIGURA 11 - Fotografia da Pedra do salto do veado. (Acervo de Antonio Alancardé)


70

FIGURA 13 - Fotografia da Pedra do jacaré. (Acervo de Antonio Alancardé)

2.6.5 – Nascente
Percorrendo a trilha em direção às cavernas, chegando na propriedade do
Senhor Raimundo encontra-se uma nascente, chamada localmente de olho d’água.
O conceito de nascente não é bem uniforme na literatura
especializada. Não apenas na Geografia, mas em todas as
ciências, cada pesquisador utiliza a definição mais conveniente
para seu estudo, criando diversas ideias do que venha a ser uma
nascente. Por isso, é comum ocorrer enganos e desentendimentos
na comparação dos resultados de diferentes trabalhos. (FELIPPE
& MAGALHÃES, 2002)

Diante da das diferentes conceituações que o termo apresenta escolhemos a


do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), que é vigente em todo o país.
Para o CONAMA uma nascente é o local onde aflora naturalmente, mesmo que de
forma intermitente, a água subterrânea (BRASIL, 2002)
Esta água subterrânea que aflora na serrinha atualmente encontra-se
represada (Figura 14), mas em área de livre acesso, sendo a única fonte de água para
as três famílias que moram na Serrinha e seus cultivos de plantas, bovinos e suínos.
Além da população local, os visitantes e pesquisadores comumente usam a nascente
para refrescarem-se depois da subida da trilha. Não há estudo da qualidade da água
ou catalogação da nascente. (com. verb. ABREU, 2014).
71

FIGURA 14 - Fotografia da nascente. (Acervo do Autor)

2.6.6 - Cavernas
O atrativo mais procurado pela população na área da Serrinha são as
cavernas, chamadas localmente de furnas ou grutas, são as ultimas paradas da trilha,
localizadas a altitudes que ultrapassam os 500 metros acima do nível do mar. O
potencial espeleológico da área já foi descrito pelo geólogo Celso Ximenes, segundo
ele:
As primeiras explorações revelaram que a principal importância das
cavidades da Serrinha é de natureza ecológica, pois são abrigos para
espécies de anfíbios, répteis, aves e pequenos mamíferos,
principalmente morcegos, além de muitas espécies de invertebrados.
Foram constatadas oito cavidades, formadas em rochas areníticas,
encravadas na localidade da Serrinha,. (XIMENES, 2005)

Uma das cavernas, chamada localmente de furna do limão é bastante utilizada


para acampamentos, mas não há um uso consciente com a integridade da
biodiversidade que depende da caverna para existir, em nossas visitas podemos ver
lixo orgânico e inorgânico deixado pelos visitantes além da depredação e pichação em
algumas cavernas (Figura 16).
As oito cavernas estão catalogadas na Sociedade Brasileira de Espeleologia,
mas não há ações constantes de vistoria e preservação por parte da instituição ou de
algum órgão público (Figura 17)
72

FIGURA 15 – Foto panorâmica da Caverna do Limão. (Acervo do autor)

FIGURAS 16 – Interferência humana recente imitando pintura rupestre (A) e


pichações (B). (Acervo do autor)

FIGURA 17 – Lista de cavernas cadastradas no Cadastro Nacional de Cavernas


(Base de dados da Sociedade Brasileira de Espeleologia)
73

2.7 – Considerações sobre os elementos encontrados na Serrinha


2.7.1 – Elementos da Geodiversidade
Os elementos da geodiversidade da Serrinha mostrados dão um panorama de
como a área é rica neste aspecto e necessita de muitas pesquisas que explorem o
potencial oferecido.
Além de olhares científicos, verificamos a falta de órgãos públicos, em qualquer
esfera administrativa, que atuem na preservação da área.
Com base nas visitas de campo, utilizando aparelho de Sistema Global de
Posicionamento (GPS) e o Google Maps, montamos um mapa para dar noção da
distribuição dos elementos da geodiversidade da Serrinha.

FIGURA 18 – Mapa com a distribuição espacial dos elementos da geodiversidade


apresentados (Google Maps, adaptado)
74

2.7.2 – Elementos da biodiversidade.


As informações sobre a biodiversidade da Serrinha até o período do
levantamento de fontes para esta dissertação estão relacionadas apenas a estudos
florísticos realizados pelo herbário da Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA e
Laboratório de botânica da Universidade Federal do Piauí - UFPI, onde há a
catalogação de algumas espécies que ocorrem na Serrinha.
Os potenciais de estudos da biodiversidade já foram descritos por Ximenes
(2007):
O ecossistema local lembra campos rupestres de altitude, comuns
nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. A vegetação é
diferenciada da Caatinga. Estudos botânicos e de fauna podem
revelar espécies vegetais e animais importantes ou até novas.

Fatos que já foram comprovados na parte de botânica pelos estudos do


Herbário da UVA.
A vegetação é constituída de Caatinga com transição para o Cerrado.
A altitude varia de 180 a 480 m, com temperaturas variando de 26° a
28°C. O estado de conservação da vegetação e a ausência de
estudos florísticos nessa área motivaram a realização de pesquisas.
[...] Com os dados obtidos nesse estudo, pode-se constatar que as
Rubiaceae coletadas são representativas da variação das condições
ecológicas ao longo do gradiente de altitude e expressam o contato
das floras da Caatinga e do Cerrado, consistindo numa importante
área para estudos florísticos. (BRANDÃO et al, 2011)

Os estudos florísticos são os únicos que contribuem para o conhecimento da


biodiversidade da serrinha, ficando as demais expressões da biodiversidade sem
informação e catalogação.
Ressaltamos a importância de mais estudos sobre a biodiversidade da
Serrinha, até um olhar leigo percebe a diversidade de animais e plantas e existentes
na área. A soma das condições climáticas e da geodiversidade criam um ambiente
diferenciado, gerando uma biodiversidade também diferenciada.
A soma das condições climáticas e da geodiversidade criam um ambiente
diferenciado, gerando uma biodiversidade também diferenciada.
A Serrinha, eu comparo como se fosse o Planeta Terra no sistema
solar. A Serrinha está num ponto muito equilibrado
ambientalmente, geologicamente e esse equilíbrio é uma faixa de
terra muito pequena, só são mil hectares, mas aí por estar em
uma área tão pequena e ter uma diversidade tão grande de tudo
eu comparei ao nosso planeta dentro do sistema solar, [...] mas na
Serrinha existiam coisas que não existem em nenhum outro lugar
na mesma região. (com. verb. LEOPOLDINO, 2012)
75

Nas nossas visitas à Serrinha pudemos observar grande variedade de animais


e plantas, principalmente aves (Figura 19), repteis (Figura 20), insetos, e muitas
plantas (Figuras 21 e 22), principalmente xerófilas (xerófilos são organismo com
grande adaptação a falta de água e umidade) características do bioma Caatinga
(Figura 21).

FIGURA 19 – Aves fotografadas na Serrinha. A - Caracara plancus. Nome Local:


Gavião. B - Eupsittula cactorum . Nome local Periquito. A fotografia foi feita na casa do
Senhor Raimundo Abreu, que possui um periquito domesticado. (Acervo do autor )

FIGURA 20 – Lagartos fotografados nas visitas à Serrinha. A - Não conseguimos


obter o nome científico. Nome Local: Calanguinho. B – Ameiva ameiva. Nome local:
Calango verde. C - Tupinambis merianae. Nome local: Tejo. (Acervo do autor)
76

FIGURA 21 – Exemplo de plantas xerófilas características do Bioma Caatinga: A – Opuntia


cochenillifera. Nome local: Palma; B- Bromelia laciniosa, Nome local: Macambira. C - Cereus
jamacaru, Nome local: Mandacarú. (Acervo do Autor)

FIGURA 22 – Exemplos de flores da família Commelinaceae da Serrinha.


( SANTOS et al, 2015)
77

Além dos exemplos descritos acima vale ressaltar o grande número de


morcegos existentes na Serrinha que utilizam as cavernas como habitat, além de um
pequeno mamífero roedor, chamado localmente de Preá (com. verb ABREU, 2015).

2.7.3 – Elementos Culturais.


Apesar da baixa densidade demográfica a Serrinha apresenta elementos
culturais próprios, frutos da interação de seus moradores e demais frequentadores da
área que se apropriam do espaço e criam hábitos diferentes, valoram de maneira
diferente e mantém relações diferentes com a geodiversidade e biodiversidade locais.
2.7.4 – Casa de Farinha
Iniciando pela visão dos moradores da Serrinha podemos destacar a casa de
farinha (Figura 23), que mesmo desativada, faz parte da memória de todas as três
famílias que residem na Serrinha, todas lembram com saudosismo o funcionamento
dela e fazem referencia como um lugar de memória representativo do modo de vida
local, pautado na agricultura de subsistência e no consumo quase exclusivo de
alimentos cultivados na Serrinha.

FIGURAS 23– Fotografias da Casa de Farinha da Serrinha, que se encontra


desativada.
78

Atualmente, a casa de farinha está bastante deteriorada. Segundo o Senhor


Raimundo Abreu, após o fim das atividades, na década de 90, o proprietário não fez
nenhum reparo, deixando a construção exposta à ação do tempo e agentes naturais
de deterioração.

2.7.5 - A “Casa do Seu Raimundo”


O Senhor Raimundo Abreu é a referência regional da Serrinha, tanto que é
conhecido popularmente como Raimundo Serrinha. A casa dele e da esposa, Laurita,
situa-se na parte final da trilha, cerca de 400 metros das cavernas. Ponto onde o
visitante normalmente refresca-se na nascente e é convidado pelo Senhor Raimundo
para entrar, tomar café e dependendo do horário, convidado para o almoço ou jantar.
Todos os pesquisadores que frequentam ou frequentaram a Serrinha com
regularidade que foram entrevistados citam a casa do Senhor Raimundo como parada
obrigatória, pois o casal Raimundo e Laurita é sinônimo de hospitalidade,
generosidade e boas conversas, além de ser o ponto de informação para não se
perder pela trilha.

FIGURA 26 – Fotografias casa do Senhor Raimundo. (Acervo do Autor )


79

2.7.6 - Arqueologia
Foram encontrados dois objetos líticos próximos de uma caverna na Serrinha:
um batedor e um objeto esférico (com. verb. LEOPOLDINO, 2012), mas não há
pesquisa feita por arqueólogo ou projetos de pesquisa arqueológica de
órgão/universidade na Serrinha. Os objetos foram coletados por Alancardé Leopoldino
em 2001 (na época estudante de Pedagogia) e encontram-se atualmente no acervo do
Museu de Pacujá.

FIGURA 25 – 1: Batedor e 2 : Objeto esférico encontrados na Serrinha. (Acervo do


Museu de Pacujá)

2.8– Os múltiplos olhares para a Serrinha.


A Serrinha, como território e lugar de memória apresenta uma rede de relações
distintas. Os olhares lançados, dotados de especificidades produzem interpretações
diferentes que refletem nas maneiras diferentes que as pessoas que mantém contato
com a Serrinha.
Para tentar entender essa teia de relações que envolvem a Serrinha é
necessário se atentar a quatro perfis com os quais nos deparamos na pesquisa, são
eles:
 Morador da Serrinha: As três famílias que habitam na Serrinha.
 Morador de Pacujá: Pessoas que frequentam a Serrinha, principalmente para
lazer, procedentes do Município de Pacujá.
 Pesquisador: Profissionais que já desenvolveram alguma pesquisa na
Serrinha, a maioria não é do Município de Pacujá.
 Agentes políticos: Representantes da administração pública municipal.
80

Cada um desses perfis apresentam relações específicas com a Serrinha,


sendo possível traçar os quatro tipos de relações mais comuns. No esquema abaixo
traçamos a teia de relações, destacando o elo principal de cada esfera, baseando – se
na produção já existente sobre a Serrinha.

FIGURA 26 – Esquema das relações dos olhares para a Serrinha.

Através das metodologias aplicadas nesta pesquisa (entrevistas, questionários,


levantamento bibliográfico e visitas de campo) podemos obter mais informações
destas relações e os diferentes olhares em tensão para a Serrinha.
Levando em consideração o tempo de pesquisa de Dissertação e as metodologias
foram adotadas de acordo com a possibilidade e adequação para cada um dos perfis
levantados.

2.8.1 - O morador da Serrinha.


Atualmente residem três famílias na Serrinha. Foi entrevistada uma pessoa
representante de cada família utilizando o modo de entrevista aberta.
As três famílias vivem da agricultura de subsistência, além da atividade
agrícola o Senhor Raimundo Abreu e a Senhora Laurita, tem renda extra pela criação
de gado, e as Senhoras Maria Rodrigues e Antônia Rodrigues recebem aposentadoria
81

rural. A Senhora Laurita possui o ensino fundamental incompleto e os outros


moradores são analfabetos.
A relação com a Serrinha está ligada principalmente à memória de vida e o uso
da terra para o sustento e moradia.
Todo mundo pergunta por que eu continuo aqui no meio do mato,
sem energia, sem água encanada, mas minha história tá toda aqui
né. Tudo o que eu tenho hoje, mesmo sendo pouco eu batalhei e
construí tudo aqui na Serrinha. (com. verb. ABREU, 2015).

A relação dos moradores com os pesquisadores conforme os relatos de ambas


as partes sempre foram aprazíveis, no começo das visitas houve estranhamento, mas
conforme as visitas de pesquisadores aumentaram eles passaram a ver as visitas
como algo rotineiro e importante.
Quando o Alan (Antônio Alancardé) começou a vir pra cá procurando
essas pedras eu achava muito estranho, parecia coisa de doido. As
furnas (cavernas) tudo bem, mas essas pedras eu não entendo ainda.
Depois que a Somália veio e passou a trazer alunos de Sobral, de
Fortaleza, passou a vir mais gente ver essas pedras, a Somália já
explicou pra mim e sei da importância para os estudos, mas eu não
entendo muito bem não. (com. verb. RODRIGUES, 2015)

Percebemos a dificuldade que os moradores da Serrinha têm para assimilar os


conhecimentos principalmente paleontológicos e arqueológicos, são informações que
não fazem parte da formação nem do cotidiano deles, mas apesar da pouca
familiaridade eles se mostram sensíveis e sempre dispostos a ajudar, cedendo a casa
como um abrigo à sombra, oferecendo água e café para todos que chegam a suas
casas e até sendo guia na trilha até as cavernas.
Em relação à visualização e valoração da Serrinha e de seus elementos como
patrimônio percebemos que a associação feita à palavra patrimônio direciona-se ao
sentido de posse, levando à declaração de que patrimônio é a casa, os animais e a
terra como propriedade. Em relação à criação de medidas de conservação na Serrinha
percebemos que os moradores são conscientes do valor científico que a Serrinha
possui e neste sentido reconhecem o valor coletivo de acesso e proteção da Serrinha.
Pra mim patrimônio é minha casa, aliás, o patrimônio que eu tenho
é minha casa, o terreno que ela está e minhas criações (animais).
[...] Aqui deve ser protegido mesmo, as riquezas que tem aqui são
de todo mundo (com. verb. RODRIGUES, 2015)

Patrimônio pra mim é um terreno, uma casa. A Serrinha é


importante né, se não fosse, as pessoas não iam vir pra cá, as
pessoas que pesquisam. [...] Eu acho que é pra preservar sim,
principalmente as furnas e os fósseis, por que é um bem de todos
né. (com. verb. ABREU, 2015)
82

2.8.2 - O pesquisador.
Baseando-se no levantamento da produção acadêmica sobre a Serrinha,
podemos afirmar que a pesquisa na Serrinha se concentra em duas áreas: Nas
geociências, com destaque para a paleontologia, e na biologia, com destaque para a
botânica. Cabe destacar que o perfil do pesquisador da Serrinha é de profissionais e
estudantes que são de fora da região de Pacujá.
As pesquisas já realizadas baseiam- se principalmente em visitas de campo,
com observação in situ dos espécimes, que são fotografados, alguns medidos e
analisados posteriormente resultando na confecção de artigos e outros trabalhos
científicos.
Diante da impossibilidade de entrevistar todos os pesquisadores selecionamos
dois que possuem o maior número de publicações/trabalhos realizados na Serrinha,
além de serem bastante citados pelos moradores da Serrinha como visitantes ativos.
São eles os professores Elnatam Bezerra e Maria Somália Sales Viana, ambos da
Universidade Estadual Vale do Acaraú.
Os dois professores destacam em suas entrevistas a diversidade e o potencial
patrimonial da Serrinha, reconhecendo que os estudos desenvolvidos ainda
representam um número pequeno diante das possibilidades que a Serrinha apresenta.
A professora Somália Viana além de ter ajudado na criação do Museu de
Pacujá, é personagem ativa na proteção de outros afloramentos fósseis que ocorrem
no Município de Pacujá.
Os pesquisadores reconhecem o papel primordial de aproximação com a
população da Serrinha e do Município de Pacujá. Acreditam que a adesão da
população facilita o trabalho do pesquisador e da preservação de tantos “bens que são
patrimônios de Pacujá”.
Os moradores da Serrinha fazem o lugar ainda melhor, são pessoas
tão simples, mas com uma receptividade magnifica, todas as vezes
que fui lá sentei e tomei café com o “Seu” Raimundo e a Dona
Laurita. [...] Não adianta o pesquisador querer a preservação do
patrimônio sozinho, a população tem que estar sensibilizada ou pelo
menos sensível às ações que devem ser tomadas neste sentido.
(com. verb. VIANA, 2012)

Desde a primeira vez que eu fui na Serrinha eu fiquei impressionado


com a diversidade que a área apresenta, então me interessei em
trazer os alunos para fazer estudos botânicos lá, que ainda são
poucos, por que o material que se encontra na Serrinha tem bem
mais a oferecer [...] Infelizmente eu não pude dar o retorno que a
comunidade da Serrinha e de Pacujá merecem [...] A Universidade
não tem força sozinha ela precisa que os habitantes pelo menos
queiram proteger esses bens que são patrimônios de Pacujá (com.
verb. BEZERRA, 2015)
83

2.8.3 - Os agentes políticos


Nesta categoria consideramos como agentes políticos os representantes da
administração pública municipal, justificando que não encontramos ações de
representantes dos governos estadual ou federal na Serrinha.
Solicitamos à prefeitura uma entrevista com a Prefeita do Município de Pacujá,
Senhora Maria Lucivane de Souza, mas foram adiadas três vezes e indicado então o
vice-prefeito Alex Melo para ser porta voz da prefeitura. Além dele também foi
entrevistado o Secretário de desenvolvimento rural e meio ambiente José Oliveira.
Alex Melo possui graduação em administração e já tem no currículo 16 anos na
administração municipal, divididos entre o cargo de vereador e vice-prefeito. Na
entrevista ele demostrou bastante interesse na busca de projetos de conservação para
a Serrinha, e justificou que a prefeitura sabe e reconhece o valor da Serrinha como um
patrimônio local, mas que não tem recursos para custear sozinha a execução e
manutenção de projetos e ações neste sentido.
Eu não sou um frequentador assíduo da Serrinha, mas sei da
importância que a Serrinha tem para o nosso município, é um
patrimônio de todos os pacujaenses que merece um respaldo
maior sim da administração pública, não só municipal, mas nas
outras esferas [...] Infelizmente um município pequeno como o
nosso que depende quase exclusivamente do fundo de
participação dos municípios para pagar todas as despesas fica
complicado se comprometer sozinho para garantir o
funcionamento de projetos de preservação da área. (com. verb.
MELO, 2015)

O Secretário de desenvolvimento Rural e Meio ambiente José Oliveira possui


graduação em saneamento ambiental e está há quase quatro anos na secretaria, ele
reconhece a importância da Serrinha como um espaço único e que merece o cuidado
e proteção não só da prefeitura, mas dos órgãos estaduais e federais que atuam na
proteção do meio ambiente. Ele justifica a ausência de ações da secretaria se
baseando no pouco recurso que a secretaria recebe e que o valor quase em totalidade
é destinado para as ações do desenvolvimento rural, sentindo a necessidade do
desmembramento da secretaria em duas para que haja recursos e pessoal próprio
para cuidar das questões ambientais no município.
Como representante da Secretaria de Meio ambiente do município eu
gostaria de destacar a importância que a Serrinha tem para o nosso
município, um potencial que não é explorado, mas não é por falta de
vontade, a própria estrutura administrativa é um empecilho para isso,
os recursos repassados são destinados para os programas e projetos
do desenvolvimento rural, pode até parecer falta de interesse, mas
com o pouco que sobra para a pauta do meio ambiente só dá para
fazer as ações aqui mesmo na sede do município. [...] Eu sonho
ainda ver a criação de um Parque na Serrinha, seja ele de qualquer
nível governamental e creio que é um desejo de muitos pacujaenses.
(com. verb. OLIVEIRA, 2015)
84

Percebemos que a relação da administração municipal com a Serrinha é


pautada em discursos de justificativa orçamentária para a ausência de políticas de
acesso e preservação por parte da prefeitura na Serrinha. Em outro ponto de vista
observamos que apesar da aparente visualização da Serrinha como um patrimônio de
Pacujá a administração parece estar alheia até mesmo á divulgação e o acesso ás
informações sobre a Serrinha. O único local onde havia painel com fotos e
informações sobre a Serrinha, na Secretaria de Ação Social, foi ocupado por outras
demandas desde a posse da administração atual e não foi substituído ou relocado
posteriormente. Em nenhum local da administração municipal é possível encontrar
atualmente referências e informações sobre a Serrinha.

2.8.4 – O morador de Pacujá


Pacujá possui uma população de cerca de 6 mil habitantes (IBGE, 2010) e para
obter as informações sobre os olhares da população do município foi utilizada a
metodologia de questionário por amostra. (ver o modelo em anexos)
Utilizamos o modelo de pesquisa social proposta por Gil (2008) onde é
conceituada como o processo que, utilizando a metodologia científica, permite a
obtenção de novos conhecimentos no campo da realidade social.
Realidade social é entendida aqui em sentido bastante amplo,
envolvendo todos os aspectos relativos ao homem em seus múltiplos
relacionamentos com outros homens e instituições sociais. Assim, o
conceito de pesquisa aqui adotado aplica-se às investigações
realizadas no âmbito das mais diversas ciências sociais, incluindo
Sociologia, Antropologia, Ciência Política, Psicologia, Economia etc.
(GIL, 2008, p.26)

Dentro do modelo de pesquisa social o que mais se adequou a nossa proposta


foi a amostragem por intencionalidade, caracterizada como um tipo de amostragem
não probabilística e que consiste em selecionar um subgrupo da população que, com
base nas informações disponíveis, possa ser considerado representativo de toda a
população.
Os questionários foram aplicados em um número de pessoas determinado pela
formula para cálculo de amostras para populações finitas, quando a população não
supera 100.000 elementos, que é o caso de Pacujá, que no último censo (IBGE, 2010)
registrou 5.986 habitantes. Obedecendo a seguinte fórmula:
85

Onde:
n = Tamanho da amostra
a² = Nível de confiança escolhido, expresso em número de desvios-padrão
p = Percentagem com a qual o fenômeno se verifica
q = Percentagem complementar
N = Tamanho da população
e² = Erro máximo permitido
A percentagem com qual o fenômeno se verifica no caso desta pesquisa é
relacionada a uma estimativa percentual de pessoas que já estiveram na serrinha
trabalhamos com o percentual de 22%.O erro permitido foi de 4% e um nível de
confiança de 95% que representa 2 desvios. Assim obtivemos o seguinte resultado:
n= 2²x22x78x5896 = 41.087.904 = 400,37
4²(5986-1) + 2²x22x78 102.624

Foi arredondado o número para 400 aplicações de questionários. Assim o


número total de entrevistados representa 6,68% do total da população do Município
segundo o último censo (IBGE, 2010).
Os questionários foram aplicados em duas escolas, nas secretarias de
educação e ação social, em estabelecimentos comerciais e em residências, urbanas e
rurais do Município de Pacujá.
É importante destacar que no caso da aplicação nas escolas o questionário foi
preenchido mediante explicação para cada turma de alunos o motivo da pesquisa e
instruções de como deveria ser corretamente preenchido, nos outros casos o
entrevistado preencheu com acompanhamento individual do entrevistador.
Os dados dos questionários foram inseridos em base de dados no programa
Microsoft Excel 2010 ® gerando tabelas e posteriormente gráficos com os resultados
de cada questão.

Parte 1 – Identificação dos entrevistados


A primeira parte do questionário visa a identificação do entrevistado, uma
caracterização pessoal, idade, nível de escolaridade, situação de moradia e os meios
de acesso à informação.
86

A idade mínima foi estabelecida em 12 anos de idade, período esse em que no


grau escolar o aluno está em média no 6º ano do ensino fundamental e já entrou em
contato com disciplinas que se aproximam dos temas apresentados na pesquisa, além
disso seria mais prudente para a pesquisa alcançar um público que possivelmente
teve contato com o Museu de Pacujá
O grupo entrevistado apresentou equilíbrio entre os gêneros, onde os homens
representaram 47% e as mulheres 53% da população (Figura 27), predominando a
faixa etária de 16 a 35 anos (Figura 28). Esse resultado não ficou muito afastado da
proporção encontrada no censo de 2010 do IBGE quanto ao gênero e á faixa etária
mais populosa no último censo.

Representação em número de entrevistados


Homens Mulheres
168 232

Figura 27 - Gráfico com a representação por divisão de sexos entre os entrevistados.


87

Representação em número de entrevistados


12 a 15 16 a 21 22 a 35 36 a 55 56 a 70 Mais de 70
72 109 117 77 23 2

Figura 28 - Gráfico com a representação de entrevistados por faixa etária.

O nível de escolaridade principal foi Ensino Médio Incompleto (42%) e


Completo (19%), ficando distante da realidade do censo de 2010 (Figura 29). Isso
pode ser justificado pelos locais de aplicação dos questionários onde a maioria foi
alunos do Ensino médio, além disso, o relativo alto número de pessoas graduadas e
pós-graduadas representam em geral os professores das escolas e funcionários
públicos.

Representação em número de entrevistados


1º Grau 1º Grau 2º Grau 2º Grau Superior Superior Pós-
Analfabeto Completo Incompleto Completo Incompleto Incompleto Completo Graduação
11 21 23 76 169 37 41 22

Figura 29 - Gráfico com a representação de entrevistados por faixa de escolaridade


Os dados de vínculo empregatício e ocupação também sofreram influência dos
locais de aplicação dos questionários, apresentando maior proporção para estudantes
(Figura 30). Vale destacar que o Município de Pacujá é um dos municípios brasileiros
com maior taxa de emprego público por habitante, percentual que beira os 10%
(IPECE, 2015), mostrando certo nível dependência econômica da população em
relação aos empregos públicos. Outro fato notável que também apareceu nos
questionários são os empregos sem carteira assinada, característica do mercado de
trabalho baseado em empregos informais.
88

Representação em número de entrevistados


Trabalhador Trabalhador
Funcionário Procurando Dona de Aposentado/
com vínculo sem vinculo Estudante Outro
Público trabalho Casa Pensionista
empregatício empregatício
23 73 45 25 177 21 15 21

Figura 30 - Gráfico com a representação do vínculo empregatício/ocupação dos


entrevistados.
Em relação ao local onde os entrevistados fixam residência, os níveis variaram
cerca de 10% em relação ao censo de 2010, justificado pelo maior número de
aplicações na zona urbana do município.

Representação em número de entrevistados


Zona Rural Zona Urbana
104 296
89

Figura 31 - Gráfico com a representação da distribuição de entrevistados pelo local onde


fixam residência.
No questionário foi perguntado o tempo que o entrevistado reside no Município,
esse dado dá mais segurança de que o entrevistado conhece a região e tem mais
possibilidades de conhecer a Serrinha. Foi observado que mais de 90% dos
entrevistados sempre moraram ou moram há mais de 10 anos no município (Figura
32)..

Representação em número de entrevistados


Sempre morou Até 5 anos 5 a 10 anos Mais de 10 anos
281 16 14 89

Figura 32 - Gráfico com a representação do tempo em que os entrevistados moram no


Município de Pacujá.
Uma das carências da região é o acesso a água. Os dados obtidos foram de
80% dos entrevistados possui abastecimento de rede pública (Figura 33), índices
muito próximos aos da população total do censo de 2010, onde rede residencial cobre
77% dos domicílios e os poços artesianos 10%, outros 13 %.
90

Representação em número de entrevistados


Rede residencial Poço Artesiano Nascente Carro Pipa Outro
322 57 18 2 1

Figura 33 - Gráfico com a representação do tempo em que os entrevistados moram no


Município de Pacujá.

Em relação aos locais de acesso à informação por parte dos entrevistados


observamos a característica de cidade do interior, onde a oralidade ainda tem muita
importância e faz parte do cotidiano popular, outro dado que ressaltamos é o uso da
internet que aparece como segundo maior local de acesso á informação, influenciado
pela faixa etária jovem que foi alcançada e tabém pela facilidade do acesso à internet
pelos smartphones.
91

Figura 34 - Gráfico com a representação dos locais onde os entrevistados se informam.

Parte 2 – Museu e Patrimônio

A segunda parte do questionário é focada na obtenção de informações dos


olhares para o patrimônio como conceito e materialidade, informações acerca da
visitação de museus e dos tipos de museus visitados, além das possíveis relações que
o entrevistado tem com a Serrinha.
Iniciamos com a questão referente ao hábito de visita em museus, obtendo um
resultado equilibrado. Percebemos durante a aplicação que houve reflexo do não
funcionamento do Museu de Pacujá principalmente na resposta dos estudantes que
atualmente estão no ensino médio e não conheceram o Museu quando este estava em
funcionamento. O museu mais próximo está a aproximadamente 50 km do Município.
92

Representação em número de entrevistados


Sim Não
236 164

Figura 35 - Gráfico com a representação de visitas dos entrevistados em Museus.


O número de Museus visitados também reflete a falta de Museus na região de
Pacujá, mais da metade dos entrevistados afirmaram ter visitado apenas um Museu
(Figura 36).

Representação em número de entrevistados


1 2 a5 6 a 10 Mais de 10
126 103 6 1
Figura 36 - Gráfico com a representação do número de museus visitados pelos
entrevistados.
93

A tipologia de museu mais visitada assinalada foi a de Museu de Ciências (186


entrevistados) (Figura 37), dando indícios que o Museu mais visitado pelos
entrevistados foi o Museu de Pacujá. Entretanto, este museu provocou muitas dúvidas
no preenchimento dos questionários. Alguns entrevistados achavam que era um
museu histórico, outros um “museu municipal”, mas o foco do Museu de Pacujá era a
Arqueologia e ramos das Geociências.
O segundo museu mais visitado, conforme observação, e que gerou dúvidas no
ato do preenchimento do questionário, foi o Museu Dom José, em Sobral, um museu
histórico.
Outro dado relevante é a falta de costume de visitar museus virtuais mesmo
com o alto número do uso da Internet como meio de acesso à informação (Figuras 34
e 37).

Figura 37 - Gráfico com a representação dos tipos de Museus visitados pelos


entrevistados.
A questão seguinte veio confirmar que o museu mais visitado pelos
entrevistados foi o Museu de Pacujá, ressaltando a importância do museu para o
município (Figura 38).
94

Representação em número de entrevistados


Sim Não
186 50

Figura 38 - Gráfico com a representação do número de entrevistados que visitaram o


Museu de Pacujá.
Muitos entrevistados comentaram que não tinham parâmetros para avaliar o
Museu de Pacujá, pois foi o único que tinham visitado com afirmações de que “era o
que a gente tinha, então era bom”. O museu de Pacujá, que funcionava em uma casa
onde não houve mudanças estruturais para sua organização, foi lembrado durante o
preenchimento do questionário como uma instituição que faz falta para o município
(Figura 39).

Representação em número de entrevistados


Bom Ruim Regular Ótimo
111 8 42 25
Figura 39 - Gráfico com a representação da impressão dos entrevistados sobre o Museu
de Pacujá.
95

Para obter dados sobre a relação dos entrevistados com o Patrimônio como
conceito tentamos aproximar os sentidos em uma linguagem mais acessível diante da
diversidade de perfis dos entrevistados.
Observamos que o sentido de patrimônio como “algo importante para todos” foi
o mais assinalado, estando presente em 47% do total de questionários, demonstrando
associação do patrimônio com o sentido coletivo (Figura 40). Outras nuances
observadas em 43% do total de questionários foram atribuição de patrimônio como
“algo com valor para ciência e história”, demonstrando uma associação clássica (no
sentido do erudito, do que se aprende). O mesmo percentual de 43% do total de
questionários atribuiu patrimônio a “herança/ dinheiro/ terreno”, revelando a atribuição
de patrimônio ao sentido material e de transmissão de bens materiais com valor
monetário (Figura 40).
A associação de patrimônio como “algo da natureza” só esteve presente em
12,5% dos questionários, dando indícios do valor e importância dados pelos
entrevistados em relação ao potencial de patrimônios naturais encontrado na Serrinha
e em outros locais do Município de Pacujá.

Figura 40 - Gráfico com a representação dos sentidos atribuídos a patrimônio pelos


entrevistados.
96

Outra forma de compreender a percepção de patrimônio pelos entrevistados foi


utilizando palavras que eles assinalaram como patrimônio. Observamos que a visão
do patrimônio como algo material ficou bem definida, com destaque para a palavra
“casa”, presente em 64,75% das respostas e “um prédio antigo” em 58%. “pintura de
arte” foi a terceira mais associada, estando em 52% das respostas, fazendo alusão ao
sentido do senso comum em atribuir as produções das belas artes como patrimônio
(Figura 41).
Em relação a palavras que podem ser atribuídas ao patrimônio imaterial
observamos que 36% associaram o patrimônio com “algo sagrado”, mas ligamos este
fato a importância da religião na realidade dos pesquisados, onde a religiosidade
ainda está arraigada nos hábitos diários. O baixo número de reconhecimento da
comida tradicional “baião-de-dois” e da “lenda do menino vaqueiro”, que são
elementos extremamente cotidianos e representativos da cultura local nos leva a
observar a dificuldade da população em perceber estes elementos como
representantes do patrimônio imaterial.
Outro ponto de destaque é a maior associação que a palavra “rocha” teve com
patrimônio em relação as palavra “plantas” e “animais”, fugindo do senso comum.

Figura 41- Gráfico com a representação das palavras associadas como patrimônio.
97

Direcionando para o assunto mais afim com a pesquisa, havia questões sobre
a relação dos entrevistados com a Serrinha. No primeiro tópico temos a porcentagem
de entrevistados que já visitaram a pesquisa, o número obtido chegou próximo do
estipulado na fórmula do cálculo para populações finitas referente à aplicação do
questionário, 22%, no resultado obtivemos 30% (Figura 42)

Você já foi na serrinha?

30%
Sim
Não
70%

Representação em número de entrevistados


Sim Não
122 278
Figura 42 - Gráfico com a representação da quantidade de entrevistados que já visitaram a Serrinha.

Observamos que o perfil do visitante da Serrinha é em sua maioria de pessoas


que foram apenas uma vez, representados por quase metade das que já estiveram na
Serrinha. Ficamos surpreendidos com o número de pessoas que já foram mais de 5
vezes representando 15% do total (Figura 43).

Representação em número de entrevistados


1 2 3 4 5 ou mais
58 27 12 7 18

Figura 4 - Gráfico com a representação do número de visitas na Serrinha realizadas


pelos entrevistados.
98

Para os entrevistados que já estiveram na Serrinha foram questionados os


elementos que eles destacam como mais importantes na Serrinha. O elemento mais
citado foi “cavernas”, demostrando que a atividade mais praticada pelas pessoas que
vão à Serrinha é a visita às cavernas. O segundo mais citado foi a nascente,
destacando a importância da água em um local quase desabitado, quente e seco. O
terceiro mais citado foi a casa do Senhor Raimundo, sendo mais destacada que
fósseis. Observamos a importância que a casa do Senhor Raimundo tem para os
visitantes. Esse lugar, além de ser um ponto de apoio, para muitos entrevistados é a
hospitalidade dele e da esposa que fica na lembrança. O quarto item mais citado
foram os fósseis. Entretanto, alguns entrevistados revelaram não saber que há fósseis
na Serrinha (Figura 44).
A casa de farinha, a paisagem e as plantas foram assinaladas no mesmo nível.
A casa de farinha mesmo desativada ainda está viva na memória dos visitantes. As
plantas também chamam atenção dos visitantes, como já explanado, muitas só são
encontradas na Serrinha. Os animais são de difícil visualização, os mais comuns são
os pássaros, morcegos e lagartos.
Citado na categoria outros tivemos a cachoeira, o baixo índice pode ser ligado
ao fato da cachoeira passar a maior parte do ano seca.

Figura 44 - Gráfico com a representação dos elementos mais importantes para os


entrevistados que já visitaram da Serrinha.
99

Os entrevistados responderam se percebiam interesse e políticas públicas em


todos os níveis administrativos em relação ao acesso e preservação da Serrinha.
Apenas dois entrevistados responderam que a prefeitura municipal tem interesse,
demostrando que a imensa maioria não acha que há interesse público nesse
aspecto.(Figura 45)

Representação em número de entrevistados


Sim Não
2 398
Figura 45 - Gráfico com a representação da percepção dos entrevistados em relação a
políticas públicas de acesso e preservação na Serrinha.
Observando os valores patrimoniais que os entrevistados atribuem à Serrinha,
mesmo os que nunca foram lá identificam na Serrinha algo de valor. A maioria a vê
como um espaço de lazer (compare Figuras 42 e 46). Dentro desta concepção está a
prática de acampamento e a caminhada pela trilha. O reconhecimento do valor
paleontológico foi o segundo mais percebido e o valor arqueológico, o quarto.
Podemos associar isso à influência da divulgação em jornal sobre os fósseis da
Serrinha, além da visibilidade dada para a Arqueologia e Paleontologia no Museu de
Pacujá.
O valor histórico atribuído não vem do caráter cientifico da história como
ciência, está próximo do sentido de senso comum, onde há a associação de qualquer
elemento “antigo” a algo histórico.
Um pequeno número de entrevistados visualiza valor econômico na Serrinha e
ainda há outro pequeno grupo que não percebe nenhum valor.
100

Figura 46 - Gráfico com a representação dos valores atribuídos à Serrinha pelos


entrevistados.
Os entrevistados mostraram que caminhadas e trilhas na Serrinha seriam um
bom meio de divulgação. É importante ressaltar que o número de registros reflete o
interesse da maioria dos entrevistados de conhecer a Serrinha (Figuras 42 e 47).
A maior parte dos entrevistando também assinalou palestras como um
instrumento de divulgação, refletindo a necessidade que a população tem em se
aproximar da produção sobre a área, já ficou observado que há pouco ou nenhum
retorno à população das pesquisas já realizadas.
O acesso a Serrinha que até atualmente é feito por estrada de terra foi também
visto como um fator importante para a divulgação da área. Cartazes e programas de
rádio completam as opções assinaladas.
Deixamos um espaço na opção outro para o entrevistado sugerir além das
opções disponíveis, e o que eles escreveram foi divulgação na internet e criação de
um parque na serrinha.
101

Figura 52 - Gráfico com a representação da opinião dos entrevistados acerca de opções


para divulgação da Serrinha.

2.5.5 - Os “não ditos” do questionário.


A aplicação de questionário não revela apenas aqueles dados expostos nas
opções assinaladas pelos entrevistados, mas também outra série de informações que
surgem das percepções e inquietações expressas pelos entrevistados antes, durante e
depois da aplicação.
O questionário por si só, gera tensões e curiosidade acerca dos motivos da
pesquisa. Uma série de dúvidas é lançada em relação ao entrevistador e a pesquisa,
isso se acentua mais se considerarmos que em municípios com numero pequeno de
população, está no senso comum que “todo mundo se conhece”. Foram comuns
perguntas como: Por quê você me escolheu? Pra que vai servir essa pesquisa? Vai
fazer com quantas pessoas? Você trabalha no IBGE? Neste sentido buscamos
responder todas as dúvidas dos entrevistados e deixar o mais esclarecido possível as
finalidades do questionário, ressaltando a importância de cada entrevistado para a
pesquisa.
Na aplicação com professores e funcionários públicos das secretarias
municipais de educação e ação social houve ainda mais dúvidas e até desconfiança
em relação à aplicação dos questionários, alguns professores e funcionários
perguntaram se tinha alguma ligação com a prefeitura ou se poderiam ser afetados de
algum modo pela participação na pesquisa. Do mesmo modo explicamos de maneira
clara os objetivos para deixa-los confortáveis para o preenchimento do questionário
De maneira geral percebemos boa vontade e interesse dos entrevistados em
participar da pesquisa. Em relação ao preenchimento do questionário houve
preocupação de ter certo e errado em algumas questões, então deixávamos explícito
102

para o entrevistado que o questionário não estava pautado na premissa de perguntas


em busca de respostas corretas, mas da captação das opiniões e olhares sobre os
elementos discutidos.
Foi comum entre os entrevistados o comentário sobre a necessidade de
preservação da Serrinha e a falta de ações da prefeitura municipal neste sentido.
Como constatado no resultado do questionário a maior parte dos entrevistados nunca
esteve na Serrinha e muitos entrevistados relataram que não foram por falta de
oportunidade, já que para ir necessita de um mínimo conhecimento da trilha.
Fugindo da exatidão estatística os “não ditos” revelam olhares que não devem
ser ignorados, mas somados aos dados obtidos, no sentido de ampliar o horizonte de
interpretações.

2.8.5 - Apropriação do Território:


Podemos pensar a apropriação do Território da Serrinha em três eixos:
 A apropriação que os moradores fazem (as três famílias que vivem lá);
 A apropriação que os pesquisadores fazem e
A apropriação que os visitantes e moradores da região de Pacujá fazem. Aqui
podemos incluir a esfera política, normalmente, componentes dessa população Na
apropriação dos moradores da Serrinha, há uma relação cotidiana e constante, há
dependência e uso dos recursos da natureza para a sobrevivência, as memórias estão
fortemente ligadas com as vivencias da agricultura e pecuária.
Os moradores que vivem na Serrinha possuem uma própria definição da
dimensão espacial local, eles não entendem todo o complexo geomorfológico em
unidade como Serrinha, fazem divisões baseadas na vivência, pela tradição oral,
mantém uma relação de sustento, de dependência do que a terra produz para a
manutenção da vida, valoram a Serrinha pela instância afetiva, pela memória
construída em cada experiência de vida única.
Na apropriação pelos pesquisadores há a relação científica de observação e
estudos, não há hábito de acampamento, a visita ocorre durante o período diurno. Há
contato com os moradores locais, mais especificamente para auxiliar na trilha até às
cavernas.
Diante do apresentado em relação à Serrinha e os olhares lançados pelos
grupos pesquisados realizamos algumas reflexões sobre a distinção destes olhares e
as formas múltiplas que estes apresentam.
Acerca dos pesquisadores, observamos que a visita à Serrinha já vem com
objetivos estabelecidos, prevalecendo o olhar crítico e o método científico, onde a
103

Serrinha e seus elementos físicos e simbólicos são objetos de análise. Alguns


pesquisadores mantêm uma relação próxima e até íntima com os moradores da
Serrinha, outros só fazem a visita de campo sem conhecer a face social local. Os
próprios pesquisadores reconhecem que o retorno que as pesquisas podem oferecer a
população de Pacujá e aos moradores da Serrinha é falho.
As informações obtidas através da amostragem acerca dos moradores de
Pacujá revelam uma pluralidade de olhares e relações. Muitos moradores de Pacujá
mantém a concepção do território da Serrinha igual ou próxima da usada pelos
moradores da Serrinha, em especial os que têm o hábito de visita frequente, outros
visualizam como complexo geomorfológico. Alguns valoram como patrimônio
de Pacujá e outros como uma apenas uma área de deleite.
Em geral as visitas dos moradores de Pacujá tem por objetivo o lazer. A grande
maioria apresenta memórias ligadas à pratica da caminhada na trilha e visita nas
cavernas, outro grupo do hábito de acampar nas cavernas.
Na apropriação pelos visitantes e moradores da região de Pacujá, destacamos
a utilização das cavernas para acampamento (Figura 48), a apropriação de uma
caverna como oratório e a utilização da nascente para batismo (Figura 49).

FIGURA 48 – Acampamento na Caverna do Limão. (Acervo de Wagner Brito)

FIGURA 49 – Cerimônia de Batismo Católico na Nascente da Serrinha. (Acervo de Maria


Souza)
104

O contato com os moradores locais vai do pedido de auxílio para chegar às


cavernas até assíduos frequentadores da casa do Senhor Raimundo. Criando
diferentes perfis de visitantes e diferentes apropriações.
A valoração ocorre de maneira plural, alguns reconhecem os valores
científicos, representados principalmente pelos achados paleontológicos e
arqueológicos, outros generalizam estas descobertas como fatos históricos e a maior
parte dos entrevistados observa que há pouco ou nenhum retorno da produção
científica para o município de Pacujá.
Não é possível pensar a Serrinha de forma homogênea, pois não existe um
conceito único de Serrinha utilizado pelas pessoas que mantêm relações com esse
complexo geomorfológico
Existem Serrinhas, formas diferentes de valorar, formas diferentes de se
relacionar e de enxergar os elementos que compõe a paisagem, o território. Há a
Serrinha do cotidiano, da relação íntima com a história de vida. Há a Serrinha da
pesquisa, do descobrimento e análise. Há a Serrinha do lazer, das experiências de
aventura. Há promessas à Serrinha. Há Serrinha para se descobrir
105

CAPÍTULO 3

Caminhos para a conservação da


Serrinha.
106

3 - Caminhos para a conservação da Serrinha


Após a apresentação do estudo de caso, buscaremos refletir sobre os
potenciais patrimoniais da Serrinha e as ações para sua conservação, nos atentando
às demandas que foram demostradas no capitulo 2, dentro das possibilidades teóricas
e institucionais que podem ser aplicadas à realidade da área nos níveis municipal,
estadual e federal. Partimos do pressuposto de que seja observada a importância das
relações estabelecidas a nível local para que sejam alcançadas as demais estancias.

3.1 – Serrinha: Patrimônio não institucionalizado.


O reconhecimento de algo como patrimônio está ligado às necessidades e
discursos que apreendem elementos considerados portadores de uma memória
coletiva. A patrimonialização pode ser interpretada como o “ato que incorpora à
dimensão social o discurso da necessidade do estatuto da preservação” (LIMA, 2012,
p.34). Isto é, a patrimonialização de um Bem supõe colocá-lo num processo de
institucionalização, de proteção, envolvendo instrumentos legais e metodológicos e,
também, expressões de poder, acarretados por valorações distintas aos bens culturais
e/ou naturais dadas por diferentes grupos sociais (FERREIRA, 2014).
Para pensarmos esse “estatuto de preservação” no caso da serrinha é válido
relembrar o sentido da palavra preservação dentro do campo da Museologia, que
remete à ideia de coleção, tangendo os processos que vão desde a aquisição até os
processos mais incisivos como a restauração. (DESVALLÈS & MAIRESSE, 2013). No
caso da Serrinha não estamos lidando com uma coleção, ou objeto de museu, mas
sim com um conjunto de bens com potencial de musealização, desse modo
necessitando um alargamento no conceito de preservação. Por isso optamos por
utilizar o termo conservação em vez de preservação desde o titulo da dissertação, pois
nesse caso o termo conservação, que está contemplado no conjunto de processos da
musealização, deve ser acompanhado pelo sentido de conservação usado pelas
ciências naturais, extrapolando a visão de um objeto de museu, considerando que as
riquezas bióticas e abióticas demonstradas fazem parte de um ambiente único, em
que o ecossistema necessita de equilíbrio para funcionar. Pensamos que para haver
um processo de musealização efetivo na área é necessário primordialmente pensar
sua conservação.
Nos estudos de Ecologia vemos a preferência pelo termo conservação ao invés
de preservação quando estamos tratando de áreas naturais. Historicamente essa
discussão sofreu grande influência nos Estados Unidos, por volta do final do século
XIX, onde surgiram as correntes de pensamento conhecidas como conservacionismo
e preservacionismo (ECKHOLM, 1982). O preservacionismo vê a conservação da
107

natureza da forma como essa é em seu estado natural, vê no humano um de


degradante para o meio ambiente. Esta corrente de pensamento tem em suas
convicções, aponta para que a natureza seja mantida sem nenhuma interferência
humana.
O Preservacionismo aborda a proteção da natureza
independentemente de seu valor econômico e/ou utilitário,
apontando o homem como o causador da quebra deste
“equilíbrio”. De caráter explicitamente protetor, propõe a criação de
santuários, intocáveis, sem sofrer interferências relativas aos
avanços do progresso e sua consequente degradação. Em outras
palavras, “tocar”, “explorar”, “consumir” e, muitas vezes até
“pesquisar”, torna-se, então, uma atitude que fere tais princípios.
De posição considerada mais radical, este movimento foi
responsável pela criação de parques nacionais, como o Parque
Nacional de Yellowstone, em 1872, nos Estados Unidos. (SILVA
apud ARAGUAIA, 2011, p 15)

Por sua vez o movimento conservacionista lança sobre a natureza uma


sugestão para uso racional e consciente de matéria-prima e bens naturais, com o
auxílio e manejo criterioso pelos seres humanos.
Podendo ser identificado como o meio-termo entre o
preservacionismo e o desenvolvimentismo, o pensamento
conservacionista caracteriza a maioria dos movimentos
ambientalistas, e é alicerce de políticas de desenvolvimento
sustentável, que são aquelas que buscam um modelo de
desenvolvimento que garanta a qualidade de vida hoje, mas que
não destrua os recursos necessários às gerações futuras.
Redução do uso de matérias-primas, uso de energias renováveis,
redução do crescimento populacional, combate à fome, mudanças
nos padrões de consumo, equidade social, respeito à
biodiversidade e inclusão de políticas ambientais no processo de
tomada de decisões econômicas são alguns de seus princípios.
Inclusive, este propõe que se destinem áreas de preservação, por
exemplo, em ecossistemas frágeis, com um grande número de
espécies endêmicas e/ou em extinção, dentre outros. (SILVA apud
ARAGUAIA, 2011, p 16)

Desse modo é claro ao longo do desenvolvimento dessa pesquisa que o termo


conservação se adequa ao estudo de caso exposto, pois como já mostrado até o
momento, existe uma complexidade de relações sociais junto aos interesses acerca da
proteção do(s) ambiente(s) existente(s) na Serrinha.
Através dos múltiplos olhares lançados pelos atores sociais envolvidos na
pesquisa, vistos no segundo capítulo, podemos atribuir à Serrinha valores patrimoniais
potenciais, que demostram a relevância da área para esses atores, porém, somente
os valores identificados não garantem ações de conservação na área. Desse modo,
vemos que a institucionalização da Serrinha ainda não faz parte da realidade
sociopolítica de Pacujá.
108

Considerando os grupos sociais alcançados nessa pesquisa, observamos que


o discurso de conservação está presente em todos eles. No caso dos moradores da
Serrinha, é necessário ressaltar que esse discurso não foi concebido pelos mesmos.
Eles, primeiramente, tiveram contato com pesquisadores, que lhes passaram
informações e explicações sobre elementos de seu cotidiano (especialmente
elementos da geodiversidade e biodiversidade), fazendo-os adquirir novos
significados. Isso fica explícito nas falas dos moradores quanto à percepção das
cavernas e dos fósseis como algo importante e merecedores de preservação.
Entretanto, outro elemento do cotidiano muito próximo a eles, como por exemplo, a
nascente de água, é vista como recurso para a sobrevivência e não como algo que
necessite de preservação. Para esses moradores, há dificuldade de apropriar-se da
Serrinha enquanto patrimônio, em caráter integral. Além disso, não está presente no
discurso deles a percepção de que os mesmos fazem parte da Serrinha valorada
como patrimônio.
O discurso de conservação também foi percebido na consulta aos moradores
da cidade de Pacujá. Embora, não possamos atribuir esse discurso à totalidade da
população da cidade, os dados obtidos nos questionários e o contato direto com os
moradores mostram a existência de preocupação por ações efetivas para a
conservação Serrinha.
Na bibliografia levantada e nas entrevistas realizadas com os pesquisadores é
constante a atenção dada para a biodiversidade e geodiversidade, criando discursos
de reconhecimento do potencial do(s) patrimônio(s) da Serrinha e apontando a
necessidade de conservação desses elementos e da área.
Nas entrevistas com representantes da esfera política ficou evidente a ciência
da prefeitura quanto à necessidade de ações de proteção da Serrinha, demonstrando
ser a única base de relação entre essa esfera e a Serrinha.
Apesar da constância dos discursos de todos os atores envolvidos sobre a
necessidade de medidas de proteção para Serrinha, até a escrita da dissertação, não
havia nenhum movimento da esfera política nessa direção. Isso enfraquece o
processo de patrimonialização da Serrinha, na medida em que falta algo que possa
garantir as medidas de conservação, assim há necessidade das ações de proteção da
Serrinha ganharem contornos mais nítidos, de serem estabelecidas para além das
ideias e neste sentido enxergamos o horizonte da institucionalização.
Institucionalizar significa dar ou adquirir caráter de instituição; tornar (-se)
institucional; oficializar (-se); arraigar (-se), estabelecer (-se). (FERREIRA, 1999,
p.341) Desse modo pensamos que a Serrinha pode ganhar caráter oficial e tomar
109

forma institucional, podendo partir dos vários modelos de áreas protegidas e também
dos modelos conceituais de museus já discutidos no capítulo I.
A justificativa para a institucionalização da Serrinha ultrapassa as opiniões
locais. As evidências científicas apresentadas foram legitimadas por pesquisadores
que atuam em outras áreas do Estado do Ceará e até mesmo do Brasil. Ressaltamos,
todavia, que a população do município de Pacujá é primordial para que esses
processos ocorram, pois a valoração, a teia de relações e apropriações provém em
sua grande maioria desse grupo de pessoas.
A partir da análise das informações levantadas no Capítulo II acerca da
Serrinha buscaremos sugerir quais propostas estão mais próximas da realidade da
Serrinha e mais se adequam às necessidades encontradas

3.2 – A experiência do Museu de Pacujá foi uma forma de institucionalizar


o Patrimônio da Serrinha?
Antes de adentrar nas possibilidades de institucionalização e conservação,
partimos da experiência que o Museu de Pacujá teve em relação à Serrinha,
observando quais contribuições existem para pensarmos a Serrinha como patrimônio.
O Museu de Pacujá não foi uma instituição que nasceu a partir de
um planejamento prévio e específico, tanto na questão de espaço
quando nas prerrogativas da Museologia, pois os envolvidos
diretamente no processo, como declara Antônio Alancardé, não
possuíam nenhuma formação na área de museologia, baseando-
se apenas em exemplos e utilizando a criatividade para adequar
as peças para aquilo que eles acreditavam ser o “novo museu”
(SILVA, 2013, p.18)

Vislumbrando o Museu como uma instituição e a Musealização como um


processo de institucionalização, podemos pensar na aplicação desta diante da
realidade de Pacujá. Marília Cury (1999, p. 50) parte do pressuposto de que
“musealização é valorização de objetos”, e que esta se dá em diferentes momentos de
um processo que tem início com a seleção de um objeto para integrar uma coleção,
etapa em que ocorreria uma “ação consciente de preservação”. No caso de Pacujá os
contornos dessa ação consciente não são nítidos, como já demostrado no capitulo
anterior os critérios e os processos que construíram o acervo do Museu de Pacujá não
tiveram planejamento ou se adequaram as condições da Musealização.
O Museu de Pacujá foi portador dos objetos representativos de elementos da
geodiversidade e da arqueologia da Serrinha e pensando no processo de
musealização mais a fundo. Observamos que a aquisição foi feita sem o rigor
documental necessário, muitas peças, principalmente as de arqueologia, chegaram
sem nenhuma informação de procedência, afetando diretamente a documentação que
110

ficou carente de informações básicas. A pesquisa só estava vinculada aos icnofósseis,


deixando todo o resto do acervo carente desse processo. A conservação das peças
estava prejudicada pela falta de profissionais capacitados para atuar com as tipologias
de materiais encontradas no acervo, além disso, a casa onde o museu funcionava não
possuía estrutura para armazenagem, reserva técnica ou outros ambientes para a
realização de procedimentos necessários à conservação. A comunicação no sentido
expositivo existiu adaptada às condições do pouco recurso financeiro disponível, já no
sentido ligado à pesquisa sobre as coleções não houve confecção de catálogos,
estudo de coleção ou outras publicações em que o Museu de Pacujá olhasse para si.
Desse modo sem uma musealização efetiva somada aos demais problemas
apresentados no segundo capítulo, fica evidente a fragilidade da experiência que foi o
Museu de Pacujá como instituição.
Embora tenha sido uma iniciativa particular de montar uma coleção com peças
arqueológicas e paleontológicas da Serrinha e de outros locais do município, o Museu
de Pacujá foi o responsável por iniciar a divulgação da Serrinha em nível municipal, e
foi além, atraindo visitantes e pesquisadores de muitos outros locais do país. Mesmo
que o processo de musealização não tenha ocorrido em totalidade, foi um passo inicial
que permitiu a população do Município de Pacujá o contato com um patrimônio
selecionado.
O Museu de Pacujá ao tornar-se porta-voz do discurso da preservação da
memória da Serrinha, expressa através dos achados arqueológicos e paleontológicos
elucidou o que foi elencado como patrimônio, dando novos contornos, agregando
valores e olhares para objetos que passaram a ser reconhecidos como constituintes
do patrimônio local. Consideramos então o Museu de Pacujá como um esboço de um
processo de institucionalização do Patrimônio Serrinha e ressaltamos a importância
que ele teve para a história e memória do município de Pacujá.

3.3 - A Dimensão Patrimonial da Serrinha


Para se falar na institucionalização e proteção de algo é essencial que
pensemos nos motivos que nos levam valorar tal coisa. A razão obvia que fundamenta
a conservação de qualquer lugar é naturalmente, seu valor patrimonial.
No caso da Serrinha, a consulta aos grupos que estão em tensão com a área
revelaram múltiplas formas de valoração, permitindo a visualização dos potenciais que
dão caráter patrimonial à Serrinha. Conforme as informações já destacadas no
segundo capítulo, podemos destacar os seguintes valores e potenciais:

3.3.1 - O potencial científico


111

Os elementos da biodiversidade, da geodiversidade e da cultura local


apresentam ainda muitas lacunas para serem preenchidas, porém os estudos nas
áreas de paleontologia e botânica já apontam a importância geológica e biológica da
área.
Os icnofósseis da Serrinha tornaram-se conhecidos como os mais antigos
registros fósseis do Ceará, os afloramentos estão espalhados por mais de dois
quilômetros, apresentando pelo menos quatro icnogêneros diferentes (VIANA et al.
2010).
Na área de Botânica já foram identificadas doze espécies da família Rubiaceae
(BRANDÃO et al, 2010) e seis espécies da família Commelinaceae, (SANTOS et al.
2015). Os estudos apontam que podem ocorrer outras espécies.
O potencial científico da Serrinha não está apenas nas constatações que as
pesquisas já chegaram, mas sim na abertura e oportunidade que elas abrem para
novas pesquisas.

3.3.2 - O potencial turístico


As características de apropriação do território da Serrinha dão um indicativo
para a possibilidade de desenvolvimento de atividades turísticas, como observamos no
capítulo II é comum à prática de acampamento e caminhada pela trilha da Serrinha por
moradores de Pacujá e municípios vizinhos.
Além dessas atividades já existentes, há possibilidades de integrar os
potenciais da biodiversidade, da geodiversidade e dos elementos culturais, criando
oportunidades para o turismo:
1 – Científico: a partir dos estudos já realizados com atenção aos fósseis.
2 – Ecológico: relacionado ao bioma Caatinga com sua biodiversidade
encontrada, principalmente no que diz respeito à observação de aves, répteis e
mamíferos somados a expressividade da flora.
3 – Geoturismo: levando em consideração as várias formas de expressão da
geodiversidade, como os monumentos rochosos, a cachoeira, a nascente de água,
fósseis, exploração de todo o complexo de cavernas disponíveis.
4 - Histórico-cultural: contando a história da ocupação e o modo de vida da
comunidade local.

3.3.3 - Potencial educativo


A Serrinha pode representar para o Município de Pacujá uma oportunidade de
explorar a área como ferramenta para o desenvolvimento de atividades de educação
patrimonial e ambiental, sobretudo, a partir da instalação de ações preservacionistas
112

que visem à conservação da Serrinha. Nas escolas visitadas durante a pesquisa


contatamos que não há temáticas ou ações educativas associadas à área.
Todos os níveis educacionais podem ser alcançados a partir de estruturas que
deem suporte às atividades possíveis de ser desenvolvidas, como caminhadas,
observação da biodiversidade e suas ramificações, aulas de campo a partir da
geodiversidade local, enfim oportunidades para diversas áreas do conhecimento.
Diante das informações expostas e do percurso dessa pesquisa fica evidente
que há valoração e reconhecimento dos potenciais patrimoniais da Serrinha e que as
medidas que visem a institucionalização/proteção/conservação estão em consonância
com o pensamento coletivo de quase a totalidade da população, dos gestores e dos
pesquisadores ouvidos nessa pesquisa.

3.4 – As “pedras no caminho”: Empecilhos para o acesso e conservação da


Serrinha
As visitas realizadas na Serrinha junto aos resultados obtidos nos questionários
aplicados nos permitem pensar sobre dois principais problemas encontrados em
relação ao acesso e preservação da Serrinha, que são: o acesso à trilha da Serrinha e
a questão das propriedades privadas existentes no território.
Como relatado no Capitulo II, para chegar à Serrinha partindo da área urbana
do Município de Pacujá percorrem-se nove quilômetros em estrada de terra, no
caminho todo o terreno é muito irregular, não há estrutura para a passagem de
veículos de grande porte como ônibus, não é comum nem mesmo o uso de carro para
chegar até a Serrinha. O meio de transporte mais utilizado devido à dificuldade de
acesso é a motocicleta.
Com a chegada do período chuvoso na região a situação piora, não há
estrutura de drenagem no caminho, que é composto basicamente por areia e em
alguns trechos calçamento com rochas, criando obstáculos que variam de bolsões de
lama até a falta de aderência entre o pneu e as rochas que ficam escorregadias com a
água, podendo causar graves acidentes.
Desse modo observamos a necessidade da melhoria do acesso à Serrinha,
muitos entrevistados disseram nunca ter ido à Serrinha pela dificuldade de acesso,
então não faz sentido o reconhecimento de um patrimônio e sua preservação se não
há acesso garantido e seguro até ele. Vale ressaltar que o acesso facilitado, sem
ações de fiscalização da área pode causar muitos problemas.
O outro ponto polêmico e que pode gerar problemas para os modos de
conservação é a incerteza da posse da terra na Serrinha. Vimos que dos moradores
da Serrinha o único que possui documentação comprobatória da posse de terra é o
113

Senhor Raimundo Abreu, mas ele mesmo relata que existem outras propriedades
particulares na Serrinha, de pessoas que não moram lá: “Tem vários terrenos aqui que
tem dono sim, os nomes dos donos eu não sei, mas as cercas não estão aí atoa, não
é? eu também não sei se eles têm os documentos” (com. verb. ABREU, 2015). Desta
forma a possível demarcação do território que poderá ser institucionalizada corre o
risco de encontrar questões referentes à posse das terras na Serrinha.
Procuramos a prefeitura, através das Secretarias de desenvolvimento rural e
meio ambiente que afirmaram não ter este tipo de controle. O outro órgão consultado
foi o Instituto Nacional da Colonização e Reforma Agrária – INCRA sede Ceará, onde
obtivemos a reposta de que não havia dados de posse de terra cadastrado no órgão
além do Senhor Raimundo Abreu, mesmo com essas informações não descartamos a
possibilidade de haver registro em outros locais de possíveis proprietários de terra na
Serrinha.

3.5 – A Conservação da Serrinha:


As demandas que surgiram durante a pesquisa, referentes aos olhares que se
mostraram sensíveis à conservação da Serrinha somadas aos resultados obtidos nos
permitem pensar em estratégias que possam colaborar para ações que se direcionem
à conservação da área da Serrinha e de seus componentes aqui apresentados.

3.5.1 A criação de uma Área de Proteção Ambiental na Serrinha


Além dos elementos da biodiversidade, geodiversidade e da cultura mostrados,
é necessário lembrar-se do bioma em que o território da Serrinha está inserido quando
pensamos nas estratégias para a preservação.
A Caatinga é o único bioma que pode ser considerado totalmente brasileiro,
ocupando predominantemente a Região Nordeste, com algumas áreas no Estado de
Minas Gerais. A vegetação da Caatinga não apresenta a exuberância verde das
florestas tropicais úmidas e o aspecto seco das fisionomias dominadas por cactos e
arbustos sugere uma baixa diversificação da fauna e flora. Para desvendar sua
riqueza, é necessário um olhar mais atento, mais aberto. Assim ela revela sua grande
biodiversidade, sua relevância biológica e sua beleza peculiar. (LEAL et al, 2003, p.9).
Contrastando com a relevância biológica da Caatinga, o bioma pode ser
considerado um dos mais ameaçados do Brasil, pois grande parte de sua superfície já
foi bastante modificada pela utilização e ocupação humana e ainda muitos estados
são carentes de medidas mais efetivas de conservação da diversidade, como a
criação de unidades de conservação de proteção integral. (LEAL et al, p.10).
114

A Serrinha pode ser visualizada como um típico exemplo da situação em que a


Caatinga se encontra, com enormes potenciais para estudos científicos, mas sem
ações efetivas que deem conta das demandas de estudo e preservação.
O estudo e a conservação da diversidade biológica da Caatinga é
um dos maiores desafios da ciência brasileira. Há vários motivos
para isto. Primeiro, a Caatinga é a única grande região natural
brasileira cujos limites estão inteiramente restritos ao território
nacional. Segundo, a Caatinga é proporcionalmente a menos
estudada entre as regiões naturais brasileiras, com grande parte
do esforço científico estando concentrado em alguns poucos
pontos em torno das principais cidades da região. Terceiro, a
Caatinga é a região natural brasileira menos protegida, pois as
unidades de conservação cobrem menos de 2% do seu território.
Quarto, a Caatinga continua passando por um extenso processo
de alteração e deterioração ambiental provocado pelo uso
insustentável dos seus recursos naturais, o que está levando à
rápida perda de espécies únicas, à eliminação de processos
ecológicos chaves e à formação de extensos núcleos de
desertificação em vários setores da região. (Leal et al p. 13)

Uma pesquisa realizada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária –


EMBRAPA identificou e descreveu as áreas prioritárias para a conservação da
biodiversidade da Caatinga pautada em níveis de importância biológica, e como
podemos observar na Figura 50 , a área da Serrinha área 5, chamada Planalto da
Ibiapaba do Norte/Jaburuna.
Na área 5 estão localizados os municípios de Tianguá, Frecheirinha, Ubajara,
Mucambo, Ibiapina, São Benedito, Graça, Carnaubal, Guaraciaba do Norte, Croata,
Reriutaba, Ipu, Ipueiras, Ararendá, Coreaú, Pires Ferreira, Pacujá, zona de litígio CE-
PI, Pedro II, Piracuruca, Cariré.
O estudo detectou que a área Planalto da Ibiapaba do Norte/Jaburuna possui
importância biológica extrema, justificada pela expressividade encontrada na flora,
aves, mamíferos, repteis e anfíbios, sendo assim prioritária para a conservação da
Caatinga e recomendada que proteção integral para a área.
115

Figura 50 - Áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade da Caatinga.


(SILVA et al, 2004, p. 351)
Retomando as informações sobre as Unidades de Conservação no Brasil, já
explanadas no Capitulo I, vemos que o SNUC divide as Unidades de Conservação em
dois grupos.
As Unidades de Conservação de Proteção Integral não permitem moradia
humana, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais - em
atividades como pesquisa científica e turismo ecológico, por exemplo. As Unidades de
Conservação de Uso Sustentável admitem a presença de moradores. Elas têm como
objetivo compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável dos recursos
naturais.
Dentro dos tipos de unidades do grupo sustentável o que mais se aproxima da
realidade da Serrinha é a Área de Proteção Ambienta (APA)l, na definição temos:
116

A Área de Proteção Ambiental é uma área em geral extensa, com


um certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos,
bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a
qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem
como objetivos básicos proteger a diversidade biológica,
disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade
do uso dos recursos naturais (BRASIL, 2000)

A Serrinha possui grau de ocupação humana, é dotada de atributos abióticos


(elementos da geodiversidade apresentados), bióticos (elementos da biodiversidade
apresentados e outros a serem descobertos), estéticos (paisagem diferenciada de
toda a região), culturais (elementos materiais e simbólicos das relações sociais) e de
acordo com as entrevistas e questionários representam valores e apropriações
importantes para os moradores da Serrinha e de Pacujá.
A criação de uma APA na Serrinha poderá também assegurar contra
possíveis avanços da área urbana de um distrito do Município de Reriutaba,
chamado Campo lindo, que fica bem próximo à área da Serrinha (figura 51),
barrando construções e explorações inadequadas para uma área a importância
biológica já demonstrada.

Figura 51 – Área da Serrinha em relação à Pacujá e Campo Lindo. (Google Earth,


adaptado)

Desse modo percebemos que a criação da Área de Proteção Ambiental na


Serrinha além de ser um modo efetivo de preservar e institucionalizar a área e seus
componentes pode ter papel significativo na conservação da Caatinga.
117

3.6 - Caminhos para um patrimônio Integral: A musealização aplicada à Serrinha


As informações levantadas sobre a Serrinha no que diz respeito às
configurações e potencialidades naturais e culturais junto aos aspectos de valoração e
percepções das esferas sociais envolvidas, nos direcionam a uma forma de
pensamento holística. Com uma visão que considera o todo, pensar a Serrinha como
patrimônio é pensar um Museu de território suas potencialidades.
Esclarecemos no texto que tratamos a Serrinha considerando todos os
elementos que fazem parte do complexo geomorfológico, não apenas no sentido
físico, ligado as expressões da geodiversidade e biodiversidade, mas considerando
também os moradores e suas relações socioculturais.
A musealização aqui será pensada em processo, na soma de ações que
podem ajudar a pensar a conservação da Serrinha e consequentemente atribuir um
perfil institucional.
Antes de adentrar na Musealização relembremos que o conceito de Museu
Integral remete ao de “patrimônio integral” influenciado sobre uma percepção holística
do meio ambiente como apresenta Davalon:
O meio ambiente sobre o qual nos questionamos hoje não é mais
(apenas?) o dos homens para o homem, mas o das coisas tácitas,
antes colocadas como entorno de nossas representações
ordinárias, tudo o que não interessava a ninguém". Esta relação
singular com o meio ambiente, onde "as coisas da natureza serão
o patrimônio, vai oferecer (...) uma forma original de
socialização"(DAVALON et al., 1992, p. 21 apud SCHEINER,
2012)

Scheiner (2012) pensando nos valores fundamentais da Mesa de Santiago


relembra que a ideia de Museu Integral já havia sido anunciada pelo menos duas
décadas antes de Santiago, na definição evolutiva de ecomuseu proposta por Hugues
de Varine, a autora ainda lembra que apesar de haver mitos sobre a criação do termo
ecomuseu na Mesa de Santiago e de outros fatos importantes para a Museologia
como a criação da Nova Museologia, o que marca Santiago é reflexão de que os
museus tradicionais também devem e ser integrais.
Devemos, entretanto, reconhecer que os ecomuseus "foram precoces
em reconhecer a importância da herança intangível, da linguagem,
das crenças e do relacionamento humano, e em identificar as
diferenças que existem entre lugares e suas comunidades" (Song,
2005, p. 37-42), buscando, de modo mais direto, as relações entre
prática museológica e práticas sociais. Falemos, então, de influências
mútuas: os ideais e as práticas dos ecomuseus incorporaram as
metodologias existentes no universo museológico, e ajudaram a
desenvolver métodos de ação mais sintonizados com as
necessidades de grupos específicos. (SCHEINER, 2012)
118

O Ecomuseu assim como áreas de proteção ambiental/parques


naturais/geoparques e sítios arqueológicos/paleontológicos musealizados fazem parte
do modelo conceitual Museu de Território, onde o processo de musealização ocorre in
situ, ou seja, as referencias musealizadas não são separadas do contexto, todo o
ambiente/território é musealizado.
Vemos que a Serrinha se encaixa dentro de mais de um dos perfis de Museu
de Território citados acima, seu potencial de se tornar uma Área de Proteção
Ambiental, ter sítios paleontológicos já identificados, possibilidades de pesquisa para
sítio arqueológico, expressividade da geodiversidade que pode levar a criação de um
geoparque e somado esses fatores está a população com hábitos e memórias ligadas
a ocupação do território.
Vale ressaltar que essas alternativas não excluem umas as outras e podem se
complementar. O Museu de Território pode existir, por exemplo, em uma APA que
tenha em seu território sítio(s) arqueológico(s).
Tomando por base os questionários aplicados vemos a importância dada pelos
visitantes da Serrinha para os moradores locais, a casa do “Seu Raimundo” foi o
segundo item colocado como mais importante na Serrinha, atrás apenas das
cavernas, as entrevistas realizadas com os pesquisadores reforçam essa tese.
Diante da importância dada à presença e aos hábitos desenvolvidos pelos
moradores a proposta de ecomuseu na Serrinha nos parece estar adequada a
realidade de valoração.
Um dos desenvolvedores do conceito, Henri Rivière, define ecomuseu como:
Um ecomuseu é um instrumento que um poder e uma população
concebem, fabricam e exploram juntos. Este poder, com os
especialistas, os recursos que ele fornece. Esta população, segundo
suas aspirações, seus saberes, suas faculdades de escolha. Um
espelho no qual esta população se olha para se reconhecer, no qual
ela procura uma explicação para o território ao qual ela está unida,
junto àquela população que a precedeu, na descontinuidade ou na
continuidade das gerações. Um espelho que esta população tem às
suas ordens para melhor se conhecer, com respeito ao seu trabalho,
seus comportamentos, sua intimidade. Uma expressão do homem e
8
da natureza. (RIVIÈRE, 1980, p. 443-445).

Acreditamos que a característica local da valorização da tradição oral somada


ás características dos moradores da Serrinha são outro ponto positivo para a
concepção de um ecomuseu, reforçando essa idéia Hugues de Varine (1993, p. 11),
nos fala que o ecomuseu “começa com as pessoas e não com os objetos”.

8
Tradução de Felipe Carvalho. Trecho retirado do site do Ecomuseu de Santa Cruz. O que é um
ecomuseu. Disponível em < http://www.ecomuseusantacruz.com.br/sobre/o_que_e> Acesso em
Fevereiro de 2016
119

No entanto, ao pensarmos no enquadramento teórico do modelo de Ecomuseu


para a Serrinha, caímos no arcabouço de uma das premissas que sustentam esse
modelo, o caráter participativo da autogestão. Apesar de a comunidade estar integrada
ao território, é notório que a mesma não tem condições de gerir a área. São apenas
três famílias, mantendo seus afazeres diários, domésticos, de agricultura e pecuária.
Mesmo com a demonstração de saber a importância do território em que vivem, suas
vidas convergem para uma relação baseada essencialmente na apropriação da área
como moradia e sustento.
O complexo geomorfológico Serrinha chega a ter mais de sete quilômetros de
extensão, onde estão distribuídos os bens e seus potenciais descritos no capitulo II.
Esses elementos não estão concentrados em uma área pequena, mas em toda a
extensão do complexo, assim, dentro dos modelos possíveis, vislumbramos uma
maior compatibilidade da Serrinha com um Museu a céu aberto, onde esses
elementos passiveis de musealização, podem em conjunto integrar o Museu.
Dentro da opção pelo modelo conceitual Museu de Território, abordaremos o
processo de musealização e como este pode acontecer aplicado à realidade da
Serrinha. A musealização aqui é entendida como processo científico que ter por
finalidade a preservação.
Pensamos que a parceria para a criação do Museu pode ser bastante
proveitosa se for criada em instância municipal e se houver um diálogo entre os
moradores de Pacujá, moradores da Serrinha, Prefeitura Municipal de Pacujá e
pesquisadores.
A musealização de um território consiste num processo em que o sítio natural e
ou cultural não recebe apenas proteção, visando simplesmente medidas de
conservação, mas passa a ser um objeto museológico, que compreende as etapas de
musealização, ultrapassando a lógica de um bem material catalogado como uma peça
expositiva. Desse modo, pensamos essas etapas em relação ao que conseguimos
captar durante a pesquisa em relação aos elementos musealizáveis.

Seleção
Como não estamos tratando de peças móveis e sim de um território onde a
maior parte dos elementos é fixo, o processo é a seleção das referências a serem
musealizadas. A musealização abrange todo o território de forma simbólica, pois o que
será de fato preservado tem q ser selecionado. A seleção deverá ser feita com o
acordo e diálogo entre os envolvidos, com atenção à demanda dos moradores da
serrinha e visitantes.
120

No caso da Serrinha já há muitos elementos que podem ser selecionados pelos


valores representativos, pelos próprios moradores, pelos moradores de Pacujá, pela
administração pública local e pelos pesquisadores. São eles: A casa de farinha, A
cachoeira, as cavernas, os afloramentos fósseis, a nascente, os monumentos
rochosos.

Documentação
Para Loureiro (2008, p. 26) A documentação no âmbito museológico inicia-se a
partir de uma integração de todas as áreas do conhecimento ali presentes. A análise,
base essencial de qualquer partido documentário, requer subsídios permanentes das
várias áreas do conhecimento. Neste sentido a documentação de um território que
apresenta uma diversidade de elementos considerável há essencialidade para a
integração dos múltiplos olhares científicos, como vimos já existem alguns estudos na
Serrinha, mas poucos em relação ao total de elementos que apresentamos no
território.
A elaboração da documentação da Serrinha obrigatoriamente deve ter
museólogo, geógrafo, geólogo, historiador, paleontólogo, arqueólogo, biólogo,
espeleólogo e outros especialistas que possam aplicar suas metodologias específicas
para construir uma base robusta de informações que assegurem os dados da
diversidade encontrada.

Gestão
A gestão é a atividade atribuída às ações que garantam o funcionamento do
Museu. A gestão do museu de território vai depender de sua criação, afiliações e
finalidades.
A gestão museológica, ou administração de museus, é definida,
atualmente, como a ação de conduzir as tarefas administrativas do
museu ou, de forma mais geral, o conjunto de atividades que não
estão diretamente ligadas às especificidades do museu (preservação,
pesquisa e comunicação). museológica compreende essencialmente
as tarefas ligadas aos aspectos financeiros (contabilidade, controle de
gestão, finanças) e jurídicos do museu, à segurança e manutenção
da instituição, à organização da equipe de profissionais do museu, ao
marketing, mas também aos processos estratégicos e de
planejamento gerais das atividades do museu.(DESVALLÉS &
MAIRESSE, 2013 p.13)

Considerando a possibilidade da criação de uma APA na Serrinha, enxergamos


uma coexistência entre a gestão desta e a do Museu. O planejamento é um ponto
central na gestão, e nesse caso, envolve pessoas que usam a área para muitas
121

atividades, sendo necessários diálogos formais que geram acordos entre os interesses
da sociedade local e a gestão do Museu e ou da APA.
Estabelecer normas de uso e ocupação do solo e fazê-las cumprir,
em áreas urbanas, envolve uma série de medidas e
procedimentos aos quais a população em geral já está, em parte,
acostumada. Porém, sempre gera descontentamento e tentativa
de negociação por parte do proprietário quando estas medidas
não estão de acordo com as suas necessidades ou com a
destinação pretendida para a área. Da mesma forma, estabelecer
normas de uso e ocupação do solo em áreas de proteção
ambiental, na maioria das vezes, áreas não consideradas urbanas
e portanto não submetidas à legislação urbana, é tarefa difícil. Isto
porque existe a mentalidade de que todos têm o direito de uso dos
recursos naturais, indefinidamente, sem nenhuma restrição. Na
tentativa de conquistar esta nova mentalidade, ou seja, aquela de
admitir que a área de sua propriedade (CORTÊ, 1997,p.67)

Analisando o processo de gestão em áreas protegidas Cortê (1997) afirma que


a gestão ambiental exercida de forma autoritária e impositiva mostrou-se ineficiente,
conseguindo alcançar poucos objetivos estabelecidos. Ainda de acordo com a
pesquisadora, as gestões com mais êxito são baseadas no modelo de parceria ou co-
gestão, que se caracteriza como uma descentralização das atividades de
gerenciamento por apenas um órgão, tendo comumente a participação de prefeituras,
universidades e concessionária de serviços públicos.
No percurso da pesquisa notamos um interesse mútuo em relação aos
pesquisadores, principalmente da Universidade Estadual Vale do Acaraú e da
Prefeitura de Pacujá em relação a possibilidades de ações de preservação da área,
vislumbramos nesse contato um inicio do que pode ser a gestão na institucionalização
da Serrinha.

Conservação
Com a diversidade de patrimônios é necessário aplicação de variadas
conservações. A conservação está cada vez se tornando mais científica, analítica e
minimalista, requerendo conhecimentos específicos para suas aplicações. A
conservação de Museus de território não é feita como em objetos e coleções, mas a
partir da busca pela integridade do conjunto de elementos que estão presentes.
Conservar a Serrinha como Museu de território relaciona-se principalmente a
manutenção da integridade ambiental e da proteção dos elementos da geodiversidade
e biodiversidade, neste caso seria ideal que a proteção não fosse apenas de ordem
museológica e em nível municipal, mas sim em comunhão com os órgãos de proteção
ao meio ambiente, em níveis estadual e federal.
122

Pesquisa
Como já demostrado durante o texto a Serrinha possui um vasto potencial para
pesquisa, e sendo um museu aumentam as possibilidades de haver um olhar para si e
chances de explorar as lacunas existentes.
No museu, a pesquisa constitui o conjunto de atividades intelectuais
e de trabalhos que têm como objeto a descoberta, a invenção e o
progresso de conhecimentos novos ligados às coleções das quais
ele se encarrega ou às suas atividades. (DESVALLÈS &
MAIRESSE, 2013, p.77)

Ao abrir as oportunidades de pesquisa na Serrinha, essa etapa da


musealização servirá também para integrar ações que podem envolver as
Universidades e escolas que desejarem realizar pesquisas na área.

Comunicação
A exposição e a divulgação de pesquisas em catálogos, revistas, etc. são os
dois principais pontos da comunicação ligada ao processo de musealização. A
Serrinha com possibilidades de ser museu de território dá a oportunidade de serem
comunicados elementos que podem se transformar em ferramentas pedagógicas tanto
para o Museu quanto para professores, estudantes e visitantes em geral.
É uma oportunidade de extrapolar os limites locais e chegar a públicos mais
distantes, de levar as contribuições já existentes e as contribuições potenciais para
fora do Museu. A comunicação em uma área natural protegida também representa um
apoio à conservação, pois o conhecimento aplicado às exposições, totens, placas e
sinalizações são instrumentos da comunicação que tornam os olhares mais sensíveis
aos cuidados e importância daquele(s) patrimônio(s) presente.

3.7 - Considerações
Como mencionado ao longo da apresentação, uma das intenções dessa
pesquisa baseia-se na análise das evidencias múltiplas que encontramos no contato
com as bibliografias, fontes e entrevistas, para apontar os caminhos possíveis para a
conservação da Serrinha.
A importância biológica e da geodiversidade, são elementos que já possuem
um número considerável de pesquisas e podem ser usados como pontos chave na
justificativa das medidas de proteção na Serrinha, contribuindo diretamente para a
conservação do bioma Caatinga.
Somando os dados obtidos através das metodologias de entrevistas
juntamente com a bibliografia sobre a área, reforçamos que a falta do caráter
institucional exclui muitas possibilidades do aproveitamento dos potenciais da
123

Serrinha. Dessa forma, a patrimonialização, que pode se dar de maneiras plurais, é


vislumbrada a partir da realidade local em consonância com os modelos de área
natural protegida (APA) e dos modelos conceituais de museus (Museu a céu aberto).
Pensamos que a convergência dessas formas de institucionalização pode melhorar e
até alargar as relações existentes entre a população do município de Pacujá e a
Serrinha, diante dos potenciais e possibilidades já apresentados.
124

CONSIDERAÇÕES FINAIS
125

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pensar Patrimônio e Museu a partir da conservação da natureza implica no
reconhecimento do caráter essencial da nossa relação com o Planeta. Fazemos parte
de um organismo vivo, com sistemas interdependentes, plurais, em constante
adaptação e mutação. Antes de ser Patrimônio, a Natureza é a energia que gera a
diversidade abiótica e biótica, regente de todos os elementos necessários à vida.
O cunho plural da Natureza exige olhares múltiplos, pois essa também se dá
em processos específicos, gerando as singularidades que se estendem por vários
domínios. Assim, os olhares do campo da Museologia e do Patrimônio para a
Natureza devem estar abertos às contribuições dos diferentes campos do
conhecimento. No caso dessa pesquisa usamos da transdiciplinaridade para
desenvolver os argumentos que sustentam a relação Homem – Natureza.
O estudo de caso desenvolvido a partir do segundo capítulo procurou abordar
as potencialidades de um território, enxergando a proteção ambiental e a
musealização como processos compatíveis e aplicáveis na realidade selecionada para
o objeto de análise, que foi a Serrinha, localidade do Município de Pacujá, estado do
Ceará.
Levando em consideração o aporte bibliográfico, de fontes e documental
levantado para a pesquisa, concluímos que os trabalhos que enveredam na temática
ainda são poucos, tendo as Ciências Sociais uma maior Contribuição em relação às
Ciências Naturais.
Partimos da hipótese de que Serrinha tem vários eixos de valores patrimoniais,
que são: Geológico, Espeleológico, Paleontológico, Arqueológico, Ambiental,
Biológico, Histórico e Cultural. Para verificar essa ideia nos apoiamos na bibliografia
existente sobre a área e nas metodologias de contato com a população e com os
pesquisadores, que foram as entrevista e questionários, concluindo que esses
valores estão presentes nos discursos dos grupos sociais envolvidos que se
relacionam com a área. Esses valores não são expressos ou reconhecidos de forma
homogênea por esses grupos, pois eles se relacionam de formas diferentes com a
Serrinha. Ao decorrer da pesquisa, principalmente após a realização das entrevistas e
aplicação de questionários, nos deparamos com quatro perfis de apropriação da
Serrinha, então decidimos elencá-los:
 Morador da Serrinha: As três famílias que habitam na Serrinha.
 Morador de Pacujá: Pessoas que frequentam a Serrinha, principalmente para
lazer, procedentes do Município de Pacujá.
 Pesquisador: Profissionais que já desenvolveram alguma pesquisa na
126

Serrinha, a maioria não é do Município de Pacujá.


 Agentes políticos: Representantes da administração pública municipal.

Desse modo, pudemos identificar os múltiplos valores e as relações específicas


que cada grupo mantém. O olhar dos pesquisadores é aquele de quem valorou e sabe
a importância daquele local para a(s) ciência(s).
Para a população local da Serrinha, a referência daquele espaço não são os
fósseis ou outros elementos ligadas às pesquisas, mas sim, a memória afetiva com o
local, como foi observada na relação com a Casa de farinha.
O grupo morador de Pacujá se apresenta como o mais diverso, alguns mantêm
características de valoração e apropriação próxima às percebidas nos moradores da
Serrinha, outros sabem e valoram a partir dos elementos científicos, mas a maioria
atribui a Serrinha valor de lazer e deleite, em relação à caminhada na trilha e
acampamento nas cavernas.
A esfera política compreende a importância científica e ambiental da Serrinha,
mas não investe diretamente os recursos públicos, justificando a falta de ações pela
pouca verba que o município recebe. É o grupo menos atuante na Serrinha.
Após o contato com as formas que a Serrinha é apropriada, valorada,
vivenciada e interpretada, observamos que prevalece uma multiplicidade, não é
possível pensá-la de forma homogênea, pois não existe entre os grupos analisados
uma concepção base, usada por todos.
A análise de usos e discursos dos grupos nos mostrou diferentes demandas e
interesses para com o território. O desafio então foi encontrar possibilidades que
abrangessem as potencialidades da área, os anseios dos grupos e as relações já
existentes rumo à preservação da Serrinha.
Considerando as proporções espaciais, os bens da geodiversidade, da
biodiversidade e da cultura, pensamos que será eficiente para a Serrinha a criação de
uma Área de Proteção Ambiental – APA, pois como discutido, essa categoria de
unidade de conservação, proposta pelo Sistema Nacional de Unidades de
Conservação – SNUC, contempla todos os requisitos presentes na Serrinha. Essa
criação da APA seria um movimento conjunto dos grupos envolvidos, mas sendo
prudente, a nosso ver, que o poder público, representado pela prefeitura Municipal de
Pacujá, inicie esse movimento, justificado pelo maior alcance administrativo de suas
ações. Lembrando que a gestão da APA pode ser compartilhada com as
universidades que já desenvolveram trabalhos na Serrinha e também abrindo para
outras instituições que tiverem interesse, ressaltando inclusive a necessidade
demostrada pelo estudo da EMBRAPA, de áreas de conservação do Bioma Caatinga.
127

Após esse passo rumo à institucionalização da Serrinha, destacamos o


potencial de Museu a céu aberto apresentado na área. Esse poderá suprir a carência
desse tipo de instituição na região de Pacujá, pois ficou claro que a população se
interessa e tem apreço pelos museus, relatado pela falta que o extinto Museu de
Pacujá faz.
Observamos que já existe uma semente de institucionalização plantada pelo
Museu de Pacujá quando esteve em funcionamento regularmente, e este pode ser
integrado nas múltiplas possibilidades enxergadas em relação à institucionalização e
preservação/conservação da Serrinha.
A convergência e ou coexistência da APA e do Museu no caso da Serrinha,
nos remete a pensar sobre o Patrimônio e Museu Integral, pois poderá haver a
inserção do individuo ao seu meio ambiente, oportunizando relações mais estreitas
com a pluralidade de formas da natureza que são encontradas naquele território. A
visão holista do Museu Integral pode gerar práticas pedagógicas em todos os níveis
educacionais. A integração de conhecimentos científicos e populares está nesse seio,
contribuindo para a formação de pessoas mais críticas e conscientes sobre as
relações com a natureza.
A musealização se mostra como um processo que pode dar novos significados
e novas oportunidades para a Serrinha, principalmente na exploração dos seus
potenciais científicos e na ampliação da dimensão social que pode ser abrangida,
sendo representando um instrumento de desenvolvimento para o município de Pacujá.
Sob o olhar do patrimônio integral e do Museu integral, esse futuro museu
dialogará com os muitos e fragmentados patrimônios que existem ali e interagem entre
si e, além de integrar o patrimônio natural e cultural, será ainda mais rico e complexo
se enxergar a população ao entorno, suas histórias e relações com aquele local. Essa
população também deve ser considerada como agente ativo na preservação do(s)
Patrimônio(s).
A pesquisa nos leva a refletir sobre a importância do museólogo como
profissional mediador diante dos desafios encontrados no campo do Patrimônio, e
enxergamos neste papel a oportunidade de ser um agente de comunhão dos saberes
em prol do desenvolvimento social integrado ao meio ambiente.
O caso da Serrinha nos ajuda a refletir sobre maneiras que possibilitem a
integração da população com o patrimônio e da população entre si, se empenhando
para que um grupo de pessoas se torne uma comunidade que tem identidade com o
seu território, não apenas por questões utilitárias, mas também, por perceberem e
valorizarem patrimônio de forma integral.
Temos a intenção de que essa pesquisa contribua com a Museologia em
128

caráter interdisciplinar. Acreditamos que essa característica própria da Museologia de


se apropriar dos diversos campos do conhecimento através dos inesgotáveis campos
de existência do museu, em sua pluralidade de modelos, dá um perfil mediador e
aproximador do humano com o real.
Ao finalizar a pesquisa, acreditamos que conseguimos alcançar os objetivos
inicialmente propostos e confirmamos as hipóteses formuladas, pensando neste
trabalho como um legado para a população pacujaense, no sentido de contribuir para
o desenvolvimento de ações que levem à apropriação consciente das riquezas
singulares mostradas ao longo da dissertação.
129

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139

ANEXOS
140

ANEXOS

1 – MAPA DE PACUJÀ (IPECE, 2014)

2- FAC-SIMILE DA CAPA DO DIÁRIO DO NORDESTE 1 DE ABRIL DE 2004


141
142

3– QUESTIONÁRIO APLICADO (MODELO)

Nº do Questionário: _________________

Laboratório de Estudos
de Comunidades Paleozoicas

Pesquisa de Opinião com a População de Pacujá


Apresentação – Bom dia, meu nome é Adelmo Braga, sou estudante e estou fazendo uma
pesquisa com os moradores de Pacujá sobre o dia-a-dia da população. Você (Sr) (Sra) poderia
me ajudar?

Parte 1 – Identificação
(P1)Nome_____________________________ (P2)Sexo: □M □F
(P3) Idade □ 12 a 15 anos □ 16 a 21 □ 22 a 35 □ 36 a 55 □ 56 a 70 □+ de 70
(P4) Escolaridade:
□ Analfabeto □ 1º Grau Completo □ 1º Grau Incompleto □2º Grau Completo □ 2º
Grau Incompleto □ Superior Incompleto □ Superior Completo □ Pós- Graduação
(P5) Situação econômica (vinculo empregatício)
□ Trabalhador com vínculo empregatício □ Trabalhador sem vinculo empregatício
□ Funcionário Público □ Procurando trabalho □ Estudante □ Dona de Casa
□ Aposentado/ Pensionista □ Outro
(P6) Onde você fixa residência?
□ Zona Rural _______________ □ Zona Urbana
(P7)Quantos anos mora na cidade?
□Sempre morou □ Até 5 anos □ 5 a 10 anos □ Mais de 10 anos
(P8)O abastecimento da sua casa é?
□ Rede residencial (CAGECE) □ Poço Artesiano □ Nascente □ Carro Pipa □
Outro _____________
(P9) Quais meios ou ambientes você utiliza para ficar informado das coisas que ocorrem
na cidade ? (Pode marcar mais de 1)
□ Em casa, com a família e vizinhos □ Na escola □ Bar/ Bodega/ Padaria
□ Igreja □Rádio □ Sindicato □ Internet □ Jornal
□ Outros _________________

Parte 2 – Patrimônio
(P10) Você já visitou um museu? □ Sim □ Não – Vá para P15
(P11) Quantidade de Museus visitados:
□ 1 □ 2 a 5 □ 5 a 10 □ + de 10
(P12) Tipos de museus visitados (Pode marcar mais de 1)
143

□ Museu histórico □ Museu artístico □ Museu de Ciência □ Centro Cultural □


Museu de Território □ Museu Virtual □ Outro ______________

(P13) Você visitou o Museu de Pacujá


□ Sim □ Não – vá para P15
(P14) Qual sua impressão quando visitou o museu
□ Bom □ Ruim □ Regular □ Ótimo
(P15) Quando você ouve a palavra Patrimônio o que você pensa:(Pode marcar + de 1)
□ Castelo/ Palácio □ Algo que tenha valor para a ciência ou história
□ Algo importante para mim □ Algo velho □ Algo da Natureza
□ Algo Que é importante para todos □ Herança – dinheiro objetos/terreno
□ Cultura
(P16)Na sua opinião, o que você considera patrimônio.(Pode marcar mais de 1)
□Uma rocha □Um Osso □Algo sagrado □Uma pedra □Uma árvore □Uma cidade
□Uma casa □Plantas e animais □Artesanato □Baião-de-dois □Uma montanha
□Um trem □Uma invenção da ciência □Uma paisagem □O planeta Terra
□Uma pintura de arte □Uma dança □Uma poesia □Lenda do Menino Vaqueiro
□Um prédio antigo □Não considero nada.
(P17) Você já foi na Serrinha?
□Sim □Não – vá para a P20
(P18) Quantas vezes?
□1 □2 □3 □4 □ 5 ou mais
(P19) O que você destacaria de importante na Serrinha
□cavernas □ casa de farinha □ fósseis □ Casa do Senhor Raimundo □ Nascentes
de água □ Plantas □ Animais □ Paisagem □ Outro _________
(P20) Você percebe algum interesse/plano governamental de acesso e preservação na
Serrinha?
□ Sim - ___________________________________
□ Não
(P21) Marque os valores que você considera embutidos na Serrinha:
□ Geológico □ Arqueológico □ Paleontológico □ Lazer
□ Histórico □ Econômico □ Nenhum □ Outro____________
( P22) O que poderia ser feito para uma maior divulgação da Serrinha:
□ Palestras □ Nada, está bom assim
□ Cartazes □ Programas de Rádio
□ Caminhadas e trilhas até lá □ Melhorar o acesso
□ Outro ___________________________________

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