Estudo de Estradas Não Pavimentadas Minas Gerias - Tese

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TACIANO OLIVEIRA DA SILVA

ESTUDO DE ESTRADAS NÃO PAVIMENTADAS DA MALHA


VIÁRIA DO MUNICÍPIO DE VIÇOSA-MG

Tese apresentada à Universidade Federal


de Viçosa, como parte das exigências do
Programa de Pós-Graduação em Engenharia
Civil, para obtenção do título de Doctor
Scientiae.

VIÇOSA
MINAS GERAIS – BRASIL
2009

2
3
Dedico esta tese:

Aos meus pais, Clarice e José Carlos.


Aos meus irmãos, Tácio e Joseane.
À minha esposa, Claudete.
À minha filha, Clarice.

ii
AGRADECIMENTOS

A Deus – Ser Supremo, que nos concedeu o dom da vida, conhece os nossos
pensamentos bem antes de nossas ações e se coloca diante de nós a todo o momento.
Com a certeza de uma vida trilhada em vossos ensinamentos estaremos em paz Consigo
e com o nosso próximo.
Aos meus pais – é um momento especial que retrata a emoção, o carinho e a
gratidão que ao longo dos anos me incentivaram na jornada dos estudos, fazendo-me
sentir cada vez mais orgulhoso e reconhecedor de que todo sacrifício não é em vão, mas
sim, um passo decisivo para novos caminhos.
Aos meus irmãos Tácio e Joseane – pelo otimismo e apoio sempre transmitidos.
À minha esposa Claudete e a minha filha Clarice – pela compreensão que
ajudaram a transformar a realidade dos momentos ausentes em júbilo, na conquista
deste título e da minha realização profissional.
Ao Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de Viçosa
(DEC/UFV) – pela disponibilização da infra-estrutura necessária à realização desta
pesquisa.
Ao professor Carlos Alexandre Braz de Carvalho – Pela excelente orientação,
incentivo contínuo, apoio, ensinamentos e sincera amizade.
Aos professores Dario Cardoso de Lima e Maria Lúcia Calijuri – pela co-
orientação, prudência nas valiosas sugestões e críticas durante a realização deste
trabalho.
Ao professores Carlos Cardoso Machado, Geraldo Luciano de O. Marques e
Márcio Marangon – por participarem da banca examinadora e contribuírem para a
melhoria deste trabalho.
Aos colegas do Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil da UFV pela
agradável convivência.
Aos Eng. Agrimensores Daniel Rodrigues, Joaquim Júnior e Márcio Neri –
amigos que incondicionalmente acreditaram, apoiaram e constituíram, continuamente, a
equipe de pesquisa de campo.
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB) – pelo apoio
financeiro concedido nos últimos 18 meses para a realização deste trabalho.
Por fim, externo os meus agradecimentos a todos que direta ou indiretamente
contribuíram para a concretização deste trabalho.

iii
BIOGRAFIA

TACIANO OLIVEIRA DA SILVA, filho de José Carlos Mascarenhas da Silva e


Clarice Oliveira da Silva, nasceu em 14 de abril de 1975, na cidade de Cruz das Almas -
BA.
Em agosto de 1995, iniciou o Curso de Engenharia Civil, na Universidade
Estadual de Feira de Santana (UEFS), Feira de Santana – BA, graduando-se em outubro
de 2001.
Em abril de 2002, iniciou o curso de Pós-graduação em Engenharia Civil, área de
concentração em Geotecnia, ao nível de mestrado, na Universidade Federal de Viçosa
(UFV), Viçosa-MG, submetendo-se a defesa de tese em fevereiro de 2004.
Em março de 2005, iniciou o curso de Pós-graduação em Engenharia Civil, área
de concentração em Mecânica dos Pavimentos, ao nível de doutorado, na Universidade
Federal de Viçosa (UFV), Viçosa-MG, submetendo-se a defesa de tese em março de
2009.

iv
CONTÉUDO

Página

RESUMO.................................................................................................. viii
ABSTRACT.............................................................................................. ix

1.0 Introdução geral....................................................................................... 1


1.1 Generalidades....................................................................................... 1
1.2 Justificativas......................................................................................... 4
1.3 Objetivos da pesquisa........................................................................... 5
1.3.1 Objetivos gerais................................................................................. 5
1.3.2 Objetivos específicos........................................................................ 6
1.4 Hipótese................................................................................................ 6
1.5 Organização do trabalho...................................................................... 6
Referências bibliográficas.......................................................................... 7

2.0 Sistemas de classificações geotécnicas de solos: estudo de caso


aplicado à rodovia não pavimentada VCS 346, Viçosa-MG................ 9
2.1 Introdução............................................................................................ 10
2.2 Classificação USC................................................................................ 12
2.3 Classificação TRB................................................................................ 13
2.4 Material e métodos............................................................................... 14
2.4.1 Solos........................................................................................... 14
2.4.2 Métodos...................................................................................... 15
2.4.2.1 Ensaios de caracterização geotécnica............................ 15
2.4.2.2 Classificação MCT........................................................ 15
2.5 Resultados e discussão......................................................................... 17
2.5.1 Considerações iniciais................................................................ 17
2.5.2 Resultados das classificações USC e TRB................................. 19
2.5.3 Resultados da classificação empregando-se a metodologia
MCT........................................................................................................... 20
2.5.4 Comparação entre os resultados das classificações USC e
TRB e da metodologia MCT...................................................................... 22
2.6 Conclusões........................................................................................... 25
2.7 Agradecimentos.................................................................................... 25
Referências................................................................................................. 26

3.0 Condições de serventia de estradas não pavimentadas: estudo de


caso aplicado às vias vicinais de Viçosa-MG......................................... 28
3.1 Introdução............................................................................................ 29
3.1.1 Considerações gerais.................................................................. 29
3.1.2 Fundamentação teórica............................................................... 30
3.2 Defeitos em estradas não pavimentadas............................................... 32
3.2.1 Tipos de defeitos........................................................................ 33
3.2.1.1 Seção transversal inadequada......................................... 33
3.2.1.2 Ondulações/Corrugações................................................ 34
3.2.1.3 Excesso de poeira........................................................... 35
3.2.1.4 Buracos/Panelas............................................................. 36
3.2.1.5 Trilhas de rodas.............................................................. 37

v
Página

3.2.1.6 Segregação de agregados............................................... 37


3.2.1.7 Drenagem lateral inadequada......................................... 38
3.3 Metodologia......................................................................................... 39
3.3.1 Área de estudo........................................................................... 39
3.3.2 Seleção e divisão dos trechos experimentais............................ 40
3.3.3 Constituição e treinamento da equipe de avaliação.................. 41
3.3.4 Inspeção nos trechos e unidades amostrais............................... 41
3.3.4.1 Inspeção subjetiva nos trechos e unidades amostrais..... 42
3.3.4.2 Inspeção objetiva nas unidades amostrais...................... 43
3.4 Resultados e discussão......................................................................... 43
3.5 Conclusões........................................................................................... 46
3.6 Agradecimentos.................................................................................... 46
Referências................................................................................................. 46

4.0 Influência do tráfego de veículos comerciais em rodovias vicinais...... 49


4.1 Introdução............................................................................................ 50
4.2 Fatores de equivalência de carga.......................................................... 51
4.3 Carga por eixo...................................................................................... 55
4.4 Pressão de enchimento dos pneus....................................................... 55
4.5 Metodologia......................................................................................... 57
4.6 Resultados e discussão......................................................................... 58
4.6.1 Cálculo do número N para a rodovia vicinal VCS 346.............. 58
4.6.2 Deflexão recuperável como resposta estrutural......................... 61
4.6.3 Relações entre deflexões recuperáveis....................................... 61
4.6.4 Tensões verticais na superfície do subleito................................ 68
4.7 Conclusões........................................................................................... 70
4.8 Agradecimentos.................................................................................... 71
Referências bibliográficas.......................................................................... 71

5.0 Ensaios geotécnicos físicos e mecânicos para avaliação de subleito


de rodovias vicinais de baixo volume de tráfego................................... 74
5.1 Introdução............................................................................................ 75
5.2 Solos de regiões tropicais..................................................................... 76
5.3 Materiais e métodos............................................................................. 78
5.3.1 Área de estudo............................................................................ 78
5.3.2 Solos........................................................................................... 79
5.3.3 Métodos...................................................................................... 79
5.3.3.1 Ensaios de caracterização geotécnica............................. 79
5.3.3.2 Ensaios de compactação e Índice de Suporte
Califórnia (CBR)........................................................................................ 80
5.3.3.3 Classificação MCT......................................................... 80
5.4 Resultados e discussão......................................................................... 81
5.4.1 Ensaios de caracterização geotécnica, compactação e CBR....... 81
5.4.2 Classificação MCT...................................................................... 85
5.5 Conclusões........................................................................................... 87
5.6 Agradecimentos.................................................................................... 88
Referências................................................................................................. 88

vi
Página

6.0 Sistemas de informação geográfica como suporte à gerência de


manutenção de rodovias vicinais não pavimentadas............................ 91
6.1 Introdução............................................................................................ 92
6.2 Concepção e implantação de um SGM para rodovias não
pavimentadas…………………………………………………………….. 93
6.3 Sistemas de informação geográfica………………………………….. 94
6.3.1 Introdução……........................................................................... 94
6.3.2 Principais características e funções……………………………. 94
6.4 Uso de SIG em rodovias não pavimentadas…………………………. 95
6.5 Material e Método…………………………………………………… 96
6.5.1 Área de estudo…………………………………………………. 96
6.5.2 Descrição do material………………………………………….. 97
6.5.2.1 Equipamentos………………………………………….. 97
6.5.2.2 Programas computacionais…………………………….. 97
6.5.3 Aplicação da metodologia em um estudo piloto………………. 97
6.5.3.1 Descrição da metodologia……………………………... 98
6.5.3.1.1 Introdução…………………………………… 98
6.5.3.1.2 Avaliação das condições de serventia das vias 98
6.5.3.1.3 Cálculo do índice de serventia relativa por
trecho viário (IST)...........………………………………………………... 102
6.5.3.1.4 Inserção dos dados no software SIG ArcView 105
6.6 Resultados e discussão………………………………………………. 106
6.6.1 Geração de mapa temático…..………………………………… 107
6.7 Conclusões…………………………………………………………... 113
6.8 Agradecimentos……………………………………………………… 114
Referências.......................……………………………………………….. 114

7.0 Conclusões gerais..................................................................................... 117

8.0 Recomendações para trabalhos futuros................................................. 119

vii
RESUMO

SILVA, Taciano Oliveira da, D.Sc., Universidade Federal de Viçosa, Março de 2009.
Estudo de estradas não pavimentadas da malha viária do município de Viçosa-
MG. Orientador: Carlos Alexandre Braz de Carvalho. Co-orientadores: Dario
Cardoso de Lima e Maria Lúcia Calijuri.

A parte inicial deste trabalho direcionou-se ao estudo geotécnico de solos de


subleitos de vias não pavimentadas, com o objetivo de identificá-los segundo as
classificações geotécnicas: USCS (Unified Soil Classification System), TRB
(Transportation Research Board System) e Metodologia MCT (Miniatura,
Compactado, Tropical). A análise dessas classificações contribuiu para a geração de
um conjunto de dados geotécnicos de referência sobre solos tropicais e possibilitou
encontrar agrupamentos entre sistemas geotécnicos tradicionais de classificação e a
metodologia MCT. Ensaios mecânicos foram também realizados nos referidos solos
para a avaliação de suas condições de suporte o que permitiu confrontar as suas
potencialidades em termos de resistência com as previstas nas classificações
geotécnicas anteriormente citadas. Também avaliou-se a eficiência de alguns
métodos de classificação funcional de estradas não pavimentadas em vários trechos
de vias não pavimentadas da malha viária do município de Viçosa-MG. Ainda, foi
apresentado e testado um método de avaliação funcional que representou com mais
propriedade as condições de serventia dos trechos viários anteriormente citados, o
que contribuiu para a concepção de um modelo de gerência de manutenção. Da
mesma forma, foi analisada a influência da carga por eixo e da pressão de
enchimento dos pneus, representativas do tráfego comercial sobre uma estrutura
típica de pavimento de rodovias vicinais. Sobre esta estrutura, foram investigadas as
deflexões superficiais recuperáveis e as tensões verticais no topo do subleito. Por
fim, um estudo sobre o uso de sistemas de informação geográfica (SIG) como
suporte à gerência de manutenção de rodovias não pavimentadas, foi realizado
abrangendo os seguintes tópicos: (i) a possibilidade do emprego desta técnica para
avaliação da condição de serventia de vias não pavimentadas e (ii) armazenamento
das informações geradas em ambiente SIG, com o propósito de facilitar o manuseio,
processamento, visualização e análise dos dados coletados para tomada de decisões
de forma planejada.

viii
ABSTRACT

SILVA, Taciano Oliveira da, D.Sc., Universidade Federal de Viçosa, March, 2009.
Study of unpaved road of the road network of the municipal district of Viçosa-
MG. Adviser: Carlos Alexandre Braz de Carvalho. Co-advisers: Dario Cardoso de
Lima and Maria Lúcia Calijuri.

The initial part of this work directed to the study of soils in geotechnical subgrades of
unpaved roads, aiming to identify them as geotechnical classifications: USCS (Unified
Soil Classification System), TRB (Transportation Research Board System) and MCT
Methodology (Miniature, Compact, Tropical). The analysis of these classifications
contributed to the generation of a set of geotechnical data of reference on tropical soils
and has found groups of geotechnical traditional systems of classification and
methodology MCT. Mechanical testing was also performed in these soils for the
evaluation of its support conditions which allowed comparing their potential for
resistance with the aforementioned classifications geotechnical. Also evaluate the
efficiency of some methods of functional classification of unpaved roads in several road
sections of unpaved roads the road network in the municipal district of Viçosa-MG.
Still, it was presented and tested a method of functional assessment that was more
property conditions of use of the road sections above, which contributed to the design of
a model of management of maintenance. Similarly, was analyzed the influence of axle
load and tire pressure, representative of commercial traffic on a typical pavement
structure of vicinal roads. In this structure, were investigated the recovered surface
deflections and the strains upright in the top of the subgrade. Finally, a study on the use
of geographical information systems (GIS) to support management of maintenance of
unpaved roads, was conducted covering the following topics: (i) the possibility of using
this technique for assessing the serviceability unpaved roads and (ii) storage of
information generated in GIS environment in order to facilitate the handling,
processing, visualization and analysis of data collected for decision making in planned.

ix
1
INTRODUÇÃO GERAL

1.1 Generalidades

Estradas não pavimentadas freqüentes no meio rural são justamente aquelas não
revestidas por quaisquer tratamentos superficiais, betuminosos ou de cimento portland,
e têm, geralmente, sua camada superficial constituída por solo local, às vezes em
mistura com agregado granular, decorrente da sua manutenção. De um modo geral,
essas estradas são de baixo volume de tráfego e, quase sempre, desprovidas de um
adequado sistema de gerência de manutenção. Este fato advém da escassez de recursos
financeiros municipais destinados a atender toda a malha viária do município, seja esta
pavimentada ou não, visto que as estradas não pavimentadas, em quase toda a sua
totalidade encontram-se sob jurisdição municipal.
Via de regra, no estado de Minas Gerais as estradas não pavimentadas são
oriundas do aproveitamento de trilhas e caminhos existentes, condicionadas a um
traçado geométrico carregado de fortes rampas e curvas acentuadas que refletem uma
adequação à topografia acidentada de parte significativa do estado. Estudos acerca da
conservação de estradas vicinais apontam o transporte de sedimentos e os problemas de
erosão do solo nas margens de estradas e o conseqüente carreamento de materiais para
os leitos dos rios como fatores de agravamento das condições ambientais e da qualidade
dos recursos hídricos BAESSO e GONÇALVES (2003).
Em sua grande maioria, no estado de Minas Gerais as estradas não pavimentadas
interligam os pólos agropecuários do interior do estado a rodovias estaduais e federais
pavimentadas, escoando as produções agropecuárias e abastecendo os grandes centros
consumidores. De acordo com a ANTT (2005), no estado de Minas Gerais 87,64% das
rodovias municipais ainda se encontram em leito natural, conforme apresentado na
Tabela 1.

1
Tabela 1: Extensão total da malha viária do estado de Minas Gerais (km)
Ano/Percentagem 2004 %
Extensão total das rodovias (km) 272.027 100,00
Extensão total das rodovias não pavimentadas (km) 249.116 91,58
Extensão total das rodovias municipais (km) 239,578 88,07
Extensão total das rodovias municipais pavimentadas (km) 1.166 0,43
Extensão total das rodovias municipais não pavimentadas (km) 238.412 87,64

Apesar da grande extensão, as estradas não-pavimentadas constituem um tema


pouco abordado. Os problemas dessas vias são considerados, pelos órgãos gestores,
muito simples de resolver, como se não houvesse necessidade de técnica e nem de
técnicos especializados para solucioná-los. A maioria dos usuários de estradas não-
pavimentadas considera que a solução mais eficiente para os problemas de manutenção
dessas vias sejam a pavimentação. Entretanto, ignora que o custo de pavimentação é
alto, e que apenas a manutenção adequada dessas estradas resolve grande parte dos
problemas relacionados à sua condição de serventia.
Os defeitos das estradas não pavimentadas brasileiras não apresentam um
diagnóstico profundamente conhecido, porque não são muitos os estudos a respeito do
assunto, dificultando sobremaneira qualquer tratamento a ser dado para o
restabelecimento total da via (FERREIRA, 2004).
Por conseguinte, para a grande maioria das estradas vicinais brasileiras não
pavimentadas a raspagem ou patrolagem da plataforma continua sendo o único tipo de
tratamento, independente do tipo, nível de severidade e densidade dos defeitos. De
forma danosa, esse procedimento causa o afundamento do leito estradal, que em
algumas situações tendem alcançar o horizonte saprolítico. A Figura 1 apresenta uma
situação em que o patrolamento excessivo, em um trecho viário da estrada vicinal VCS
346 no município de Viçosa-MG, atingiu um bueiro de greide.

2
Bueiro de greide

Bueiro de greide

Figura 1: Bueiro de greide aparente devido o patrolamento excessivo

De acordo com Griebeler (2002), a exposição de horizontes de baixa estabilidade


deve ser evitada, tendo em vista a maior suscetibilidade destas à ação dos fatores
erosivos. É comum, na construção e manutenção de estradas não pavimentadas, a
necessidade de cortes profundos nos perfis do solo, provocando a exposição de
horizontes menos estáveis. Costa et al (1995) salientam que a exposição do horizonte C
tem causado muitos danos às estradas porque trata-se de horizonte com agregação fraca
e de baixa estabilidade, ficando bastante suscetível à ação erosiva da água quando
exposto.
A erosão provocada pela água no leito e nas margens de estradas não
pavimentadas é um dos principais fatores para sua degradação. Grace III et al (1998)
salientam que mais de 90% do sedimento produzido em áreas florestais provém das
estradas, sendo a drenagem inadequada um dos principais fatores responsáveis por essas
perdas.
Em estradas não pavimentadas, de pouco tráfego, a erosão hídrica pode ser
relevante na própria superfície de rolamento. Contudo, a partir de determinada
intensidade de tráfego, a resistência do material de revestimento supera a resistência
necessária para evitar a erosão hídrica (NOGAMI e VILLIBOR, 1995). Entretanto, Reid
e Dunne (1984) comentam que o tipo e a intensidade de trânsito a que as estradas estão
sujeitas é fundamental para a produção de sedimentos. Relatam que, em observações
realizadas em estradas florestais, a produção de sedimentos durante períodos de tráfego
intenso foi 7,5 vezes superior à evidenciada em estradas que não eram utilizadas. A
Figura 2 apresenta uma caixa coletora em um trecho viário da estrada vicinal VCS 346
no município de Viçosa-MG, totalmente obstruída, devido à grande quantidade de
materiais finos carreados.

3
Figura 2: Caixa coletora obstruída em trecho viário da VCS 346, Viçosa-MG.

A redução dos problemas de erosão nas estradas não pavimentadas pode ser
obtida pela adoção de medidas que evitem que a água proveniente do escoamento
superficial, tanto aquele gerado na própria estrada como o proveniente das áreas às suas
margens, acumule-se na estrada e passe a utilizá-la para o seu escoamento. A água
escoada pela estrada deve ser coletada nas suas laterais e encaminhada, de modo
controlado, para os escoadouros naturais, artificiais, bacias de acumulação ou outro
sistema de retenção localizado no terreno marginal (GRIEBELER et al, 2005).
Segundo Baesso e Gonçalves (2003), um adequado sistema de drenagem
constitui-se no aspecto mais importante para o bom funcionamento das estradas não
pavimentadas; uma estrada vicinal revestida e não contemplada com apropriados
dispositivos de drenagem estará com a sua plataforma seriamente comprometida na
primeira chuva mais intensa que ocorrer.

1.2 Justificativas

As publicações existentes no Brasil sobre estradas não pavimentadas ainda são


limitadas. Atualmente, existem alguns manuais que tratam dessas questões, dentre os
quais se destacam: Conservação de Estradas Não Pavimentadas, publicado pelo DNER
(1981), Estradas Vicinais de Terra – Manual Técnico para Conservação e Recuperação,
desenvolvido pelo IPT em duas edições, 1985 e 1988 (SANTOS et al, 1985, 1988),
Estradas Rurais – Técnicas Adequadas de Manutenção, publicado por BAESSO &
GONÇALVES (2003). No entanto, para avaliação da serventia dessas estradas, alguns
deles possuem limitações, pelo fato de serem adaptações de obras desenvolvidas em
outros países em que as características de suas estradas diferem muito das encontradas
no Brasil, principalmente no que se refere ao clima, tipo de solo e topografia.

4
As seguintes questões motivaram o desenvolvimento dessa pesquisa: (i) baixo
padrão construtivo freqüentemente verificado nas estradas não pavimentadas; (ii)
necessidade de classificação geotécnica dos solos, conforme as condições pedológicas
brasileiras; (iii) método de classificação funcional de estradas não pavimentadas, mais
representativo das condições das vias brasileiras; (iv) influência do tráfego de veículos
comerciais em estradas não pavimentadas; (v) ensaios geotécnicos físico-mecânicos
para avaliação da potencialidade do subleito de estradas não pavimentadas e (vi)
utilização de sistemas de informação geográfica (SIG) como suporte à gerência de
manutenção de vias não pavimentadas.
Quanto à gerência de estradas não pavimentadas, percebe-se a necessidade da
produção de mapas que apresentem a localização e a respectiva condição de serventia
das superfícies estradais, sendo esta uma aplicação ideal para os sistemas de
informações geográficas (SIG), que possibilitam combinar informações gráficas
(referenciadas espacialmente) e alfanuméricas (atributos).

1.3 Objetivos da pesquisa

1.3.1 Objetivos gerais

São objetivos gerais deste trabalho:


a) selecionar trechos viários da malha não pavimentada do município de Viçosa-
MG, para fins de classificação geotécnica de solos, levantamento das condições
estruturais e de serventia. Para a avaliação das condições de serventia será
utilizado o método de EATON et al (1987a, 1987b) e das condições estruturais
será utilizado ensaios geotécnicos físicos e mecânicos e a análise da influência
de fatores de tráfego nas camadas de reforço e/ou subleito, permitindo uma
abordagem da mecânica dos solos e dos pavimentos;
b) apresentar um método para avaliação das condições das superfícies das estradas
não pavimentadas, implementando adaptações ao método de CORREIA (2003)
e verificar a sua aplicabilidade às condições locais.
c) inserir as informações geradas pelo método apresentado para avaliação das
condições das superfícies das estradas não pavimentadas em um ambiente SIG,
de maneira a facilitar a identificação dos trechos mais desfavoráveis e a
visualização dos trechos evidenciados pelas consultas (Queries) envolvendo a
combinação de fatores (índices).

5
1.3.2 Objetivos específicos

São os objetivos específicos deste trabalho:


a) realizar inspeções objetivas e subjetivas em trechos e unidades amostrais de vias
não pavimentadas da malha viária do município de Viçosa-MG para
determinação do URCI (Unsurfaced Road Condition índex), de acordo com o
método para classificação funcional de estradas não pavimentadas, proposto por
EATON et al (1987a, 1987b);
b) prever valores de deflexões recuperáveis e tensões verticais no topo do subleito
da estrada não pavimentada VCS 346, em função dos fatores de tráfego carga
por eixo e pressão de enchimento;
c) utilizar o SIG ArcView 3.2 para estabelecer procedimento metodológico para
tomada de decisão e armazenar e manipular informações referentes às condições
de serventia de superfícies de estradas não pavimentadas, como auxílio à modelo
de gerência de manutenção dessas vias.

1.4 Hipótese

O estudo geotécnico de solos oriundos dos subleitos para obtenção de algumas de


suas propriedades físico-mecânicas, as avaliações objetiva e subjetiva da condição de
serventia de superfície de rolamento, a análise da influência dos fatores carga por eixo e
pressão de enchimento dos pneus relacionados ao tráfego comercial e a inserção e
manipulação das informações supracitadas em um ambiente SIG, são contribuições à
formulação de um modelo de gerência de manutenção para estradas não pavimentadas.

1.5 Organização do trabalho

Apresenta-se neste item a estrutura geral do trabalho, com uma síntese do que
trata cada capítulo. O trabalho está dividido em 6 capítulos, incluindo o Capítulo 1 –
Introdução Geral já apresentado.
O Capítulo 2 aborda um estudo comparativo entre as classificações geotécnicas
tradicionais de solos USC (Unified Soil Classification System), TRB (Transportation
Research Board System) e a Metodologia MCT (Miniatura, Compactado, Tropical) para
um caso aplicado à rodovia municipal não pavimentada VCS 346.

6
O Capítulo 3 retrata a adaptação do método de classificação de estradas não
pavimentadas proposto por EATON et al (1987a, 1987b) às condições encontradas em
estradas vicinais do município de Viçosa-MG, considerando a sua potencialidade como
ferramenta de suporte a gerência de manutenção dessas vias.
O Capítulo 4 apresenta a influência da variação da carga por eixo e da pressão de
enchimento dos pneus sobre as deflexões superficiais recuperáveis e tensões verticais no
topo do subleito, numa dada estrutura de pavimento considerada representativa das
estradas vicinais do município de Viçosa-MG.
O Capítulo 5 aborda a viabilidade técnica do uso de solos locais,
preferencialmente os de comportamento geotécnico laterítico, em camadas de reforço
do subleito de rodovias vicinais de baixo volume de tráfego, através de resultados de
ensaios geotécnicos físicos e mecânicos.
O Capítulo 6 aborda a concepção de um modelo de gerência de manutenção –
SGM, específico para rodovias não pavimentadas, composto de duas etapas. A primeira
refere-se às adaptações ao método de CORREIA (2003), utilizando-se os níveis de
severidade de defeitos preconizados por BAESSO e GONÇALVES (2003). A segunda
etapa consiste no armazenamento e processamento de todas as informações geradas no
método apresentado no SIG ArcView 3.2, com vista a facilitar o manuseio, o
processamento, a visualização e a análise dos dados coletados.

Referências bibliográficas

BAESSO, D. P. e GONÇALVES, F. L. R. Estradas Rurais – Técnicas Adequadas de


Manutenção. Departamento de Infra-Estruturas do Estado de Santa Catarina –
DEINFRA/SC. Florianópolis – SC. 204 p. 2003.
CORREIA, J. A. B. Um Modelo de Análise de Defeitos em Estradas Não
Pavimentadas de Suporte à Concepção de um Sistema de Gerência de Pavimentos.
2003. 101p. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Transportes). Centro de
Tecnologia, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza-CE.
COSTA, L. M., JUCKSCH, I. e GJORUP, G. B., Manejo de solos, in: Curso de
Atualização em Fertilidade de Solos. Módulo 15. Brasília, DF.: ABEAS; Viçosa, MG:
Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Solos e Nutrição de Plantas, 1995.
DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM – DNER.
Conservação de Estradas Não Pavimentadas. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Instituto de
Pesquisas Rodoviárias. 85 p. 1981.

7
EATON, R. A.; GERARD, S.; CATE, D. W. Rating Unsurfaced Roads – A field
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8
2
SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÕES GEOTÉCNICAS DE SOLOS: ESTUDO DE
CASO APLICADO À RODOVIA NÃO PAVIMENTADA VCS 346, VIÇOSA-
MG.

Resumo - Este artigo aborda um estudo comparativo entre as classificações geotécnicas


tradicionais de solos USC (Unified Soil Classification System), TRB (Transportation
Research Board System) e a Metodologia MCT (Miniatura, Compactado, Tropical) para
um caso aplicado à rodovia municipal não pavimentada VCS 346, no município de
Viçosa-MG, considerando-se várias amostras deformadas de solos coletadas no subleito
da referida via. Os principais objetivos deste estudo são contribuir para a formação de
um banco de dados geotécnicos sobre classificações de solos tropicais e analisar o
desenvolvimento de correlações entre os sistemas geotécnicos tradicionais de
classificação e a metodologia MCT. O programa de laboratório envolveu a realização
dos seguintes ensaios: (i) granulometria conjunta; (ii) limites de Atterberg (LL e LP);
(iii) massa específica dos grãos do solo; (iv) compactação Mini-MCV; e (v) perda de
massa do corpo-de-prova por imersão em água. Os resultados deste estudo
possibilitaram verificar que após a classificação das amostras, várias correlações entre
os sistemas de classificações geotécnicas coincidiram com aquelas propostas na
metodologia MCT e, considerando as características pedogenéticas da região de Viçosa-
MG, para o grupo NG’, houve a contribuição dos grupos SC, SM e CL do Sistema USC
e o grupo A-4 do Sistema TRB.
Palavras-Chave: Classificações geotécnicas de solo; Metodologia MCT; Solos de
subleito.

GEOTECHNICAL SOIL CLASSIFICATION SYSTEMS: CASE STUDY APPLIED


TO THE VCS 346 UNPAVED ROAD, VIÇOSA-MG.

Abstract - This paper addresses a comparative study among the traditional


geotechnical soil classifications systems USC (Unified Soil Classification) and TRB
(Transportation Research Board), and the MCT methodology (Miniature, Compacted,
Tropical) applied to a case study involving the laboratory geotechnical characterization
of disturbed samples from the subgrade of the VCS 346 municipal unpaved road,

9
located in Viçosa – MG. The main goals of this study are to contribute to the formation
of a database directed to the geotechnical classification of tropical soils and to analyze
the development of correlations among the traditional classification systems and the
MCT methodology. The laboratory testing program encompassed: (i) grain-size
distribution; (ii) Atterberg limits (LL and PL); (iii) unit weight of solid mater; (iv) mini-
MCV compaction; and (v) specimen loss of weight via water immersion. The results of
this research allowed after verifying that the classification of samples, several
correlations between the systems of classifications geotechnical coincided with those
proposed in MCT methodology and considering the characteristics of the region
pedogenetic Viçosa, Minas Gerais, for the group NG 'there was a contribution groups
of SC, SM and CL System USC and the group A-4 System TRB.
Keywords: Geotechnical soil classification systems, MCT methodology, subgrade soils.

2.1 Introdução

Os solos resultam do intemperismo por desagregação e alteração das rochas. A


intensidade dos processos intempéricos está diretamente associada com os seguintes
fatores: material de origem (rocha), relevo, clima, organismos vivos e tempo. Em
projetos de estradas, que se caracterizam por apresentarem grandes extensões no sentido
longitudinal, os solos encontrados nos subleitos dessas vias, devido às suas
peculiaridades físico-químicas e mineralógicas, apresentam em geral comportamentos
geotécnicos bastante diferenciados.
Identificar e classificar os solos são trabalhos essenciais em quase todos os
estudos geotécnicos para a construção de barragens, cortes e aterros, fundações de
grandes estruturas e obras viárias (COZZOLINO e NOGAMI, 1993). Para o engenheiro
civil, que atua na construção de estradas, esta ação possibilita selecionar segmentos
homogêneos de rodovias, conferindo aos mesmos importantes suportes para tomada de
decisão, no que diz respeito ao projeto de pavimentos.
A diversidade e a enorme diferença de comportamento apresentada pelos diversos
solos perante as diferentes finalidades de interesse da engenharia levaram a um natural
agrupamento dos mesmos em conjuntos distintos, aos quais podem ser atribuídas
determinadas propriedades geotécnicas. É desta tendência racional de organização da
experiência acumulada, que surgiram os sistemas de classificação dos solos (PINTO,
2000).

10
Do ponto de vista da engenharia, um sistema de classificação pode ser baseado no
potencial de um determinado solo para uso em camadas de um pavimento, fundações,
ou como outro material de construção. Devido à natureza extremamente variável do
solo, é inevitável que em qualquer classificação ocorram casos onde é difícil se
enquadrar o solo em uma única categoria, ou seja, sempre vão existir casos em que um
determinado solo poderá ser classificado como pertencente a dois ou mais grupos. Do
mesmo modo, o mesmo solo pode ser inserido em grupos que pareçam radicalmente
diferentes, em diferentes sistemas de classificação.
Os dois sistemas de classificação de solos mais difundidos no meio geotécnico são
o Unified Soil Classification (USC) e o Transportation Research Board (TRB). Estes
sistemas baseiam-se nos Limites de Atterberg (LL e LP) e na granulometria dos solos e
foram criados com finalidades viárias, desenvolvidos na década de 40 do século passado
por solicitações dos americanos, devido à necessidade de se construir inúmeras pistas de
pouso e decolagem durante a Segunda Guerra Mundial.
Deve-se ressaltar que estes dois sistemas de classificação foram desenvolvidos em
países de clima temperado, podendo não apresentar resultados satisfatórios quando
utilizados na classificação de solos tropicais, principalmente os de comportamento
laterítico, segundo a visão de Nogami e Vilibor, cuja gênese é bastante diferenciada da
apresentada nos solos de clima temperado. Nogami e Villibor (1995) citam o
desempenho satisfatório de vários trechos experimentais executados com solos arenosos
finos lateríticos, antes considerados inapropriados pelos critérios tradicionais. Esses
sucessos acarretaram a comprovação das limitações dos procedimentos tradicionais para
a escolha de solos para bases estabilizadas granulometricamente. Isso levou à
necessidade de se desenvolverem critérios mais apropriados, não relacionados
demasiadamente a fatores pedológicos e nem a propriedades índices tradicionais, porém
mais ligados a propriedades mecânicas e hidráulicas dos solos compactados. Tal fato
propiciou o desenvolvimento de uma nova metodologia, no início da década de 80, que
passou a ser denominada MCT e que inclui também uma nova classificação de solos
tropicais.
Contudo, o sistema de classificação MCT apresenta algumas dificuldades, como
por exemplo: número de golpes requerido no ensaio de compactação Mini-MCV,
grande quantidade de dados e curvas a serem trabalhados e tempo necessário para a
classificação dos solos em torno de 48 horas. Isto dificulta não apenas o seu emprego,
mas também a disseminação deste sistema de classificação para a finalidade em vista.
Desta forma, vários pesquisadores, a exemplo de MARSON (2004), estudaram esta

11
classificação a fim de torná-la mais abrangente e menos trabalhosa, com procedimentos
mais simples visando promover uma classificação mais precisa das diferenças de
comportamento entre classes genéticas de solos.
Diante do exposto, busca-se nesta pesquisa realizar um estudo comparativo entre
as classificações geotécnicas tradicionais USC e TRB e a metodologia MCT aplicadas a
um estudo de caso envolvendo a caracterização geotécnica do subleito de um trecho da
rodovia não pavimentada VCS 346, localizada no município de Viçosa – MG. Destaca-
se que a cidade de Viçosa apresenta clima classificado como tropical de altitude, com
inverno seco e verão com alta intensidade pluviométrica, sendo do tipo mesotérmico
úmido Cwa, segundo a classificação de Köppen (GOLFARI, 1975). A precipitação
média anual é de 1.221 mm (DNM, 1992).

2.2 Classificação USC

A classificação USC é resultante do trabalho conjunto do Bureau of Reclamation


e do U. S. Corps of Enginners, assistido pelo professor Arthur Casagrande, da
Universidade de Harvard, foi publicado, em 1953, pelo Waterways Experiment Station
como aperfeiçoamento e ampliação do sistema elaborado por Casagrande para
aeroportos em 1943. Este sistema de classificação baseia-se na identificação dos solos
de acordo com as suas qualidades de textura e plasticidade, agrupando-lhes de acordo
com o seu comportamento quando usado em estradas, aeroportos, aterros e fundações
(DNIT, 2006).
O princípio deste sistema de classificação é que os solos grossos podem ser
classificados de acordo com a sua curva granulométrica, ao passo que o comportamento
de engenharia dos solos finos está intimamente relacionado com a sua plasticidade. Ou
seja, os solos cuja fração fina não existe em quantidade suficiente para afetar o seu
comportamento são classificados de acordo com a sua curva granulométrica, enquanto
que os solos cujo comportamento de engenharia é controlado pelas frações finas (silte e
argila), são classificados de acordo com as suas características de plasticidade.
A estrutura desse sistema de classificação é composta pela distribuição dos solos
em três divisões, grossos, finos e altamente orgânicos, mantendo-se o número e o
símbolo dos grupos, porém associando-se a cada um deles um único nome, exceto para
argilas e siltes orgânicos.
As quatro maiores divisões do Sistema Unificado de Classificação dos Solos são
as seguintes: (1) - Solos grossos (pedregulho e areia), (2) - Solos finos (silte e argila),

12
(3) – Solos orgânicos e (4) - Turfa. A classificação é realizada na fração de solo que
passa na peneira #200 (75 mm), devendo-se anotar a quantidade de material
eventualmente retida nesta peneira. São denominados solos grossos aqueles que
possuem mais do que 50% de material retido na peneira #200 e solos finos aqueles que
possuem mais do 50% de material passando na peneira #200. Os solos orgânicos e as
turfas são geralmente identificados visualmente. Cada grupo é classificado por um
símbolo, derivado dos nomes correspondentes na língua inglesa: Pedregulho (G), do
inglês "gravel"; Argila (C), do inglês "Clay"; Areia (S), do inglês "Sand"; Solos
orgânicos (O), de "Organic soils" e Turfa (Pt), do inglês "peat". A única exceção para
esta regra advém do grupo do silte, cuja letra representante, M, advém da língua sueca
"mjäla" (VARGAS, 1977).

2.3 Classificação TRB

A classificação TRB teve origem na classificação do Public Roads


Administration. Fundamenta-se na granulometria, limite de liquidez e índice de
plasticidade e foi proposta para analisar materiais para base e sub-base de pavimentos.
Para esta classificação, os solos são reunidos em grupos e subgrupos, em função
de sua granulometria, limites de consistência e do índice de grupo. Na Figura 1 é
apresentado o quadro de classificação dos solos, segundo a classificação TRB.
Determina-se o grupo do solo, por processo de eliminação da esquerda para a direita, no
quadro de classificação. O primeiro grupo a partir da esquerda, com o qual os valores do
solo ensaiado coincidirem, será a classificação correta (DNIT, 2006). Os "solos
granulares" compreendem os grupos A-l; A-2, A-3 e os "solos finos" os grupos A-4, A-
5, A-6 e A-7, três dos quais divididos em subgrupos.
Neste sistema de classificação o índice de grupo (IG) atribui um valor ao solo, o
qual varia inversamente à capacidade de suporte do subleito, sob boas condições de
drenagem e compactação, ou seja, se o solo possuir IG igual a zero será considerado
bom material e, quanto mais elevado for o seu valor, pior será este material como
camada para composição de estrutura de pavimento (PASTORE e FORTES, 1998).

13
Figura 1: Quadro de classificação dos solos (TRB)

2.4 Material e métodos

2.4.1 Solos

As amostras deformadas de solos utilizadas neste trabalho, em número de doze,


foram coletadas no subleito da rodovia municipal não pavimentada VCS 346, localizada
na área rural do município de Viçosa, Minas Gerais, Brasil. De cada ponto de coleta,
extraíram-se aproximadamente 40 kg de solo, em profundidades variando na faixa de 60
a 80 cm. A Figura 1 ilustra as amostras de solo coletadas nas estacas 1 + 00 e 30 + 00 da
estrada não pavimentada VCS 346.

14
Figura 1a: Amostra deformada de solo Figura 1b: Amostra deformada de solo
coletada na Est. 1 + 00 da VCS 346 coletada na Est. 30 + 00 da VCS 346

2.4.2 Métodos

Inicialmente, as amostras de solos foram secas ao ar, destorroadas, passadas na


peneira #4 (4,8 mm) e acondicionadas em sacos plásticos e armazenadas, para serem
empregadas em vários ensaios geotécnicos.

2.4.2.1 Ensaios de caracterização geotécnica

Os ensaios geotécnicos para a caracterização tradicional das amostras foram os


que seguem: granulometria conjunta (ABNT, 1984a), limites de Atterberg (ABNT,
1984b) e (ABNT, 1994) e massa específica dos grãos do solo (ABNT, 1984c).

2.4.2.2 Classificação MCT

As amostras de solo referenciadas anteriormente também foram identificadas,


segundo a Metodologia MCT. Para isto, realizaram-se os ensaios de Mini-MCV e perda
de massa por imersão, conforme os procedimentos prescritos em (DNER, 1994a), com
necessárias consultas complementares a (DNER, 1994b), (DNER, 1994c), (DNER,
1994d) e (DNER, 1994e).

2.4.2.2.1 Ensaio de compactação Mini-MCV e moldagem dos corpos-de-prova

As amostras utilizadas neste ensaio foram passadas na peneira #10 (2,0 mm). O
ensaio Mini-MCV consiste, basicamente, da compactação de corpos-de-prova em
dimensões reduzidas (diâmetro de 50 mm) em energias variáveis, até alcançar a
exsudação ou o número de 256 golpes. É executado com energia de compactação
variável e massa úmida de solo constante, obedecendo-se às seguintes etapas: (i)

15
pesagem de, no mínimo, 5 porções de solo, cada uma com 1 kg, e armazenamento
destas em sacos plásticos, com posterior adição de água, de modo a se obter teores de
umidade crescentes, mantendo-se as porções fechadas em embalagens plásticas até o
inicio do processo de compactação; (ii) pesagem de 200 g de solo para cada teor de
umidade, iniciando-se o processo de compactação pelo ponto mais úmido; (iii)
aplicação de números sucessivos de golpes, medindo-se as alturas dos corpos-de-prova
a cada 4n golpes; (iv) encerramento do processo de compactação quando a diferença de
altura (An - A4n) for menor que 0,1 mm, quando ocorrer exsudação ou quando o
número de golpes totalizar 256; (v) repete-se a seqüência de (i) a (iv), para outros teores
de umidade.
Para cada amostra analisada foram confeccionados cinco corpos-de-prova
compactados dinamicamente, para diversos números de golpes, com uma variação de
umidade em torno de 2% para cada corpo-de-prova, sendo que estes foram compactados
na ordem do mais úmido para o mais seco. A Figura 2 mostra o ensaio Mini-MCV e
moldagem dos corpos-de-prova, para uma das amostras de solo coletada na rodovia
vicinal não pavimentada VCS 346.

Figura 2: Ensaio de compactação Mini-MCV e moldagem de corpos-


de-prova de uma das amostras de solo coletada na VCS 346

2.4.2.2.2 Ensaio de perda de massa por imersão

Finalizada a compactação Mini-MCV dos corpos-de-prova, os mesmos são


preparados para a obtenção da perda de massa por imersão em água. O procedimento
utilizado consistiu em promover a extrusão de cerca de 10 mm do corpo-de-prova do
16
molde metálico, colocando-se em seguida o conjunto na posição horizontal dentro de
um recipiente com água, com uma cápsula para a coleta do material desprendido da
porção exposta do corpo-de-prova. Cada amostra foi deixada em imersão por um
período de tempo em torno de 20 h, com uma lâmina de água de, aproximadamente, 1
cm acima da superfície externa do molde. A Figura 3 mostra os corpos-de-prova em
imersão de uma das amostras de solo coletadas na rodovia vicinal não pavimentada
VCS 346.

Figura 3: Ensaio de perda de massa por imersão de uma das amostras de solo coletada na VCS
346

2.5 Resultados e discussão

2.5.1 Considerações iniciais

As amostras de solo 1, 2, 4, 5, 10, 11 e 12 foram pedologicamente classificadas


como Argissolos Vermelho-Amarelos (PVA), apresentando horizonte B textural pela
translocação de argila do horizonte A para o horizonte B. De acordo com Carvalho
Filho (1989), mineralogicamente, essas amostras podem apresentar quartzo, caulinita e
gibbsita nas frações silte e argila. Na fração areia, é possível constatar a presença de
pseudomorfo de mica. Em relação aos óxidos de ferro, a hematita é a forma mais
dominante, ocasionando tonalidades mais avermelhadas e, também, há presença de
goethita.
Os solos 3, 8 e 9 foram pedologicamente classificados como Cambissolos
Latossólicos (CL), apresentando horizonte A com alguns centímetros de espessura e
horizonte B incipiente maior do que 50 cm. Os CL são formados a partir do
rejuvenescimento dos Latossolos devido à erosão geológica. São solos rasos e expostos

17
freqüentemente à erosão, com manto de intemperismo do horizonte C bem profundo,
que às vezes mostram-se na superfície.
Os solos 6 e 7 foram pedologicamente classificados como Latossolos Vermelho-
Amarelo (LVA), sendo considerados bastante intemperizados e lixiviados, com perfis
profundos ou muito profundos de seqüência de horizontes A-B-C, com horizonte B
latossólico. Mineralogicamente apresentam predominância de caulinita, goethita,
hematita e traços de gibbsita. A maior presença de hematita confere a esses materiais
uma tonalidade mais avermelhada (TRINDADE, 2006).
Na Tabela 1, encontram-se informações sobre a distribuição granulométrica
(ABNT, 1995), os limites de Atterberg e o peso específico dos grãos das doze amostras
de solos estudadas.

Tabela 1: Resultados dos ensaios geotécnicos: granulometria, limites de Atterberg, peso


específico dos grãos dos solos
Propriedades Amostras de Solos
Analisadas 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12
Argila
40 50 18 55 44 15 49 26 66 55 74 67
(I d 0,002 mm)
Silte
22 15 23 17 31 28 17 21 4 15 4 2
(0,002 < I d 0,06mm)
Areia fina
18 18 19 15 9 22 14 21 14 7 4 13
Granulometria ABNT (%)

(0,06 < I d 0,2mm)


Areia média
18 16 36 12 15 34 18 31 15 20 16 17
(0,2 < I d 0,6mm)
Areia grossa
2 1 4 1 1 1 2 1 1 3 2 1
(0,6 < I d 2 mm)
Pedregulho
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
(I > 2 mm)
LL (%) 50 51 35 72 61 65 54 46 65 57 59 65
LP (%) 26 33 35 44 24 44 34 27 42 45 41 32
IP (%) 24 18 0 28 37 21 20 19 22 12 18 33
Ȗs (kN/m3) 26 28 22 28 28 24 29 29 27 28 23 31

18
2.5.2 Resultados das classificações USC e TRB

A Tabela 2 contém os resultados das classificações USC e TRB para as doze


amostras de solos investigadas nesta pesquisa.

Tabela 2: Classificação dos solos segundo os Sistemas USC e TRB


Classificações Designação das Amostras
Geotécnicas Solo Solo Solo Solo Solo Solo Solo Solo Solo Solo Solo Solo
Tradicionais 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12
USC CL MH SM MH CH SM MH SC MH MH MH CH
A- A- A- A- A- A- A- A- A- A- A-
TRB A-4
7-6 7-5 7-5 7-6 7-5 7-5 7-6 7-5 7-5 7-5 7-5

A Tabela 3, retirado do Manual de Pavimentação do DNIT (2006), contém a


correlação entre as classificações de solo TRB e USC. Verifica-se através desta tabela
que os resultados encontrados para as doze amostras estudadas estão condizentes com a
referida literatura.

Tabela 3: Inter-relações entre a classificação de solo TRB e USC (DNIT, 2006)


Classificação Unificada
Classificação
Possível, mas
TRB Mais provável Possível
improvável
A-1-a GW – GP SW – SP GM – SM
SW – SP – GM –
A-1-b GP ----
SM
A-3 SP ---- ----
GW – GP – SW –
A-2-4 GM – SM GC – SC
SP
GW – GP – SW –
A-2-5 GM – SM ----
SP
GW – GP – SW –
A-2-6 GC – SC GM – SM
SP
GM – GC – SM – GW – GP – SW –
A-2-7 ----
SC SP

19
Tabela 3: Inter-relações entre a classificação de solo TRB e USC (DNIT, 2006).
Continuação.
Classificação Unificada
Classificação
Possível, mas
TRB Mais provável Possível
improvável
A-4 ML – OL CL – SM – SC GM – GC
OH – MH – ML –
A-5 CL – SM – SC GM – GC
OL
A-6 CL ML – OL – SC GC – SM – SC
GM – SM – GC –
A-7-5 OH – MH ML – OL – CH
SC
OH – MH – GC –
A-7-6 CH – CL ML – OL – SC
GM – SM

2.5.3 Resultados da classificação empregando-se a metodologia MCT

Na Tabela 4 encontram-se informações sobre a classificação das amostras


segundo a Metodologia MCT.

Tabela 4: Índices classificatórios e classificação das amostras segundo a Metodologia


MCT
Índices classificatórios
Amostras Classificação MCT
c’ d’ Pi (%) e’
Solo 01 2,44 28,8 123,00 1,24 NG’
Solo 02 2,89 64,2 98,00 1,09 LG’
Solo 03 2,00 9,40 284,00 1,71 NG’
Solo 04 3,67 66,2 22,00 0,81 LG’
Solo 05 2,44 21,3 0,00 0,98 LG’
Solo 06 2,56 19,2 104,50 1,28 NG’
Solo 07 2,33 21,7 10,00 1,00 LG’
Solo 08 2,00 35,7 107,00 1,18 NG’
Solo 09 2,78 42,5 0,00 0,78 LG’
Solo 10 1,78 13,6 10,00 1,10 NG’

20
Tabela 4: Índices classificatórios e classificação das amostras segundo a Metodologia
MCT. Continuação.
Índices classificatórios
Amostras Classificação MCT
c’ d’ Pi (%) e’
Solo 11 2,44 38,0 27,00 0,93 LG’
Solo 12 3,11 51,5 0,00 0,73 LG’

Observa-se na Tabela 4 que alguns valores do coeficiente c’, que correlaciona-se


com a granulometria do solo, tiveram valores numéricos mais alto que o valor limite de
2,5, determinado pelo ábaco de classificação MCT. O procedimento utilizado nessa
pesquisa como forma de minimizar essa restrição, após a repetição dos ensaios Mini-
MCV das referidas amostras, foi à utilização do valor máximo referente a esse
coeficiente no ábaco apresentado na Figura 2. O valor da deformação entre uma leitura
e a seguinte, de 0,05 mm/golpes, de acordo com Nogami e Villibor (2000) para finalizar
o ensaio Mini-MCV é muito baixo, alcançando-se na maioria das vezes a série de 256
golpes, quando o material não exsuda antes pelo topo e/ou base do cilindro, o que causa
curvas de deformabilidade quase sempre com descontinuidade acentuada, embutindo
determinado grau de complexidade na determinação do parâmetro c’.
Na Figura 2, plotam-se as amostras de solo analisadas, segundo as suas
classificações MCT (NOGAMI e VILLIBOR, 1995) e numerações pré-estabelecidas.

21
Figura 2 – Ábaco para classificação segundo a Metodologia MCT, com a localização
das doze amostras de solo analisadas

2.5.4 Comparação entre os resultados das classificações USC e TRB e da


metodologia MCT

A Tabela 5 apresenta o resultado da classificação pedológica, USC, TRB e MCT e


a topografia dos pontos de coletas das amostras de solo analisadas.

Tabela 5: Classificação pedológica, USC, TRB e MCT e a topografia dos pontos de


coleta das amostras de solo analisadas
Classificações
Designação Topografia geotécnicas Classificação Classificação
das amostras da estrada tradicionais MCT Pedológica
USC TRB
Argissolo
Solo 01 Plana CL A-7-6 NG’ Vermelho-
Amarelo
Argissolo
Solo 02 Plana MH A-7-5 LG’ Vermelho-
Amarelo

22
Tabela 5: Classificação pedológica, USC, TRB e MCT e a topografia dos pontos de
coleta das amostras de solo analisadas. Continuação.
Classificações
Designação Topografia geotécnicas Classificação Classificação
das amostras da estrada tradicionais MCT Pedológica
USC TRB
Câmbissolo
Solo 03 Plana SM A-4 NG’
latossólico
Argissolo
Solo 04 Plana MH A-7-5 LG’ Vermelho-
Amarelo
Argissolo
Solo 05 Plana CH A-7-6 LG’ Vermelho-
Amarelo
Latossolo
Solo 06 Plana SM A-7-5 NG’ Vermelho-
Amarelo
Latossolo
Solo 07 Plana MH A-7-5 LG’ Vermelho-
Amarelo
Câmbissolo
Solo 08 Plana SC A-7-6 NG’
latossólico
Câmbissolo
Solo 09 Declive suave MH A-7-5 LG’
latossólico
Argissolo
Solo 10 Plana MH A-7-5 NG’ Vermelho-
Amarelo
Argissolo
Solo 11 Aclive suave MH A-7-5 LG’ Vermelho-
Amarelo
Argissolo
Solo 12 Aclive suave CH A-7-5 LG’ Vermelho-
Amarelo

23
Considerando-se os resultados apresentados na Tabela 5, segundo a Metodologia
MCT pode-se afirmar que os materiais estudados variaram de argilas lateriticas a não
lateríticas, de acordo com o TRB, entre os grupos A-7-5 e A-7-6, com apenas uma
amostra pertencente ao grupo A-4, pelo Sistema USC o grupo predominante foi o MH,
bem como pela classificação pedológica se verificou a presença marcante de argissolo
vermelho-amarelo.
Com as constatações apresentadas na Tabela 5, procedeu-se à elaboração das
Tabelas 6 e 7, onde se agrupou os resultados das duas classificações geotécnicas
tradicionais com aqueles da Metodologia MCT e as recomendações de NOGAMI e
VILIBOR (1995).

Tabela 6: Resultados das correlações encontradas para os Sistemas USC e TRB e a


Metodologia MCT para os diferentes solos analisados
Classe e grupos da classificação MCT
Classificações geotécnicas tradicionais Não lateritico Lateritico
NG’ LG’
CL
SM MH
USC
SC CH
MH
A-4
A-7-5
TRB A-7-5
A-7-6
A-7-6

Tabela 7: Correlação entre a Metodologia MCT e os Sistemas USC e TRB, segundo


NOGAMI e VILLIBOR (1995)
Classificações Classes e grupos da classificação MCT
geotécnicas Não laterítico Laterítico
tradicionais NA NA’ NS’ NG’ LA LA’ LG’
MS MH
SP SM, CL MH SP
USC SC SC ML
SM ML, MH CH SC
ML CH
A-2 A-4 A-6
A-2 A-6
TRB A-2 A-4 A-5 A-7-5 A-2
A-4 A-7-5
A-7 A-7-5 A-7-6

24
Comparando-se os resultados da Tabela 6 com as proposições apresentadas na
Tabela 7, para o grupo LG´, verificou-se que as correlações obtidas são semelhantes as
apresentadas por NOGAMI e VILLIBOR (1995). Entretanto, considerando o processo
geológico e/ou pedológico típico da região de Viçosa-MG, para o grupo NG’, houve a
contribuição dos grupos SC, SM e CL do Sistema USC e o grupo A-4 do Sistema TRB.
As propriedades dos grupos de solos apresentados podem ser assim sumarizadas (DNIT,
2006): (i) SC - areias argilosas e misturas de areia e argila; (ii) SM - areias siltosas,
misturas de areia e silte: (iii) CL - argilas inorgânicas de baixa e média plasticidade,
argilas pedregulhosas, arenosas e siltosas; (iv) A-4 - silte não plástico ou
moderadamente plástico, incluindo, também, misturas de solo fino siltoso com até 64%
de areia e pedregulho retidos na #200; (vi) NG´: argilas, argilas arenosas e argilas
siltosas; e (vii) LG´- argilas e argilas arenosas.

2.6 Conclusões

Os resultados encontrados nesta pesquisa são uma contribuição aos agrupamentos


propostos por NOGAMI e VILLIBOR (1995), visto que para o grupo NG’ da
classificação MCT, foram acrescidos os grupos SC, SM e CL do Sistema USC e o
grupo A-4 do Sistema TRB. Entretanto, os procedimentos metodológicos para
identificação dos solos pelos sistemas TRB, USC e MCT são muito distintos.
Analisando-se as propriedades granulométricas desses grupos de solo, conclui-se que é
possível correlacioná-los.
Entretanto, destaca-se que prever o comportamento mecânico de solos tropicais
através dos Sistemas USC e TRB é uma prática que tem suscitado críticas nos meios
geotécnicos e rodoviários brasileiro, haja vista que os mesmos baseiam-se apenas nas
propriedades físicas (granulometria e limites de Atterberg), enquanto que na
classificação MCT são investigadas as propriedades mecânicas e hidráulicas dos solos.

2.7 Agradecimentos

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB), pela


concessão da bolsa de pesquisa ao primeiro autor e a Universidade Federal de Viçosa -
UFV, através do Departamento de Engenharia Civil pelo suporte na coleta das amostras
deformadas de solos e nos ensaios geotécnicos de laboratório.

25
Referências bibliográficas

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26
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VARGAS, M. Introdução à mecânica dos solos. São Paulo: McGraw-Hill, 1977.
509p.

27
3
CONDIÇÕES DE SERVENTIA DE ESTRADAS NÃO PAVIMENTADAS:
ESTUDO DE CASO APLICADO ÀS VIAS VICINAIS DE VIÇOSA-MG

Resumo - Neste artigo, aborda-se a adaptação do método de classificação de estradas


não pavimentadas proposto por EATON e outros às condições encontradas em rodovias
vicinais do município de Viçosa-MG, considerando a sua potencialidade como
ferramenta de suporte a gerência da manutenção destas vias. Este estudo foi
desenvolvido a partir de avaliações subjetivas, realizadas com o emprego de uma escala
de notas, e objetiva, em obediência à metodologia de EATON e outros, que foram
conduzidas por uma equipe que executou inspeções de campo planejadas, atribuindo-se
notas a vinte unidades amostrais, possuindo cada uma delas 50 metros de comprimento
e representativas de dez trechos analisados de vias não pavimentadas. A análise dos
dados desta pesquisa possibilitou concluir que: (i) não houve correlação entre os
resultados das avaliações subjetiva e objetiva, sendo que a aplicação da metodologia de
EATON e outros à gerência da manutenção de vias não pavimentadas pode não refletir
as suas prioridades reais; (ii) a avaliação subjetiva do trecho e a avaliação subjetiva do
conjunto de suas unidades amostrais são correlatas, indicando ser coerente o emprego
deste procedimento.
Palavras-Chave: Estradas não pavimentadas; Métodos de classificação; Avaliações
objetiva e subjetiva.

SERVICEABILITY OF UNPAVED ROADS: CASE STUDY APPLIED TO


VIÇOSA-MG´S VICINAL NET ROADS

Abstract – This paper addresses the adaptation of the method of classification of


unpaved roads developed by EATON and others to the field conditions of vicinal roads
from the city of Viçosa-MG, Brazil, considering its potentiality as a support tool for the
management of these roads maintenance. This study it was developed encompassing
subjective evaluation, carried through with the application of a note scale, and
objective evaluation, in obedience to the methodology of EATON and others, which
were performed by a team that executed planned field inspections, attributing notes to
the twenty sample units, each one 50 meters long and representing ten analyzed

28
unpaved road sections. Conclusions are as follows: (i) it was not observed any
correlation between data from the objective and the subjective field evaluations, leading
to the conclusion that application of the EATON and others methodology can be
misleading to the management of the maintenance of unpaved not reflecting theirs real
priorities; (ii) there is correlation between the subjective evaluation of the road sections
and the subjective evaluation of all of its sample units, indicating to be consistent the
application of this procedure.
Keywords: Unpaved roads; Classification methods; Objective and subjective
evaluations.

3.1 Introdução

3.1.1 Considerações gerais

As estradas exercem importante papel no desenvolvimento econômico e social de


um país. No Brasil, até então, a opção pelo transporte de carga por rodovias é a mais
requerida, principalmente no escoamento da produção industrial e agrícola
(TRINDADE et al, 2005). Dada à amplitude da malha rodoviária brasileira não
pavimentada, que atualmente se encontra em torno de 1,45 milhões de quilômetros de
extensão (ANTT, 2005) e ao papel socioeconômico que a mesma desempenha,
identificar os seus problemas e apontar soluções é sem dúvida uma medida importante
para garantir suas boas condições de serventia.
Na maioria das vezes, os órgãos responsáveis pela manutenção e/ou construção
das vias vicinais não pavimentadas estão vinculados a municípios e, também, a
empresas florestais. Observa-se, ainda, que as prefeituras desses municípios, além de
não possuírem recursos financeiros suficientes destinados à manutenção e à reabilitação
dessas vias ainda se deparam com o desconhecimento técnico necessário à realização
racional destas atividades, que devem ser adaptadas para as suas realidades de corpo
técnico e equipamentos. Quanto às empresas florestais, de acordo com Lopes et al
(2002), na década de 80, estimava-se a extensão da malha rodoviária florestal brasileira
em 600 mil quilômetros, número este que foi atualizado por OLIVEIRA et al (2007)
para, aproximadamente, 618 mil quilômetros, demandando grandes volumes de serviços
especializados de manutenção e reabilitação das vias. Por outro lado, aumentaram nos
últimos anos as exigências em termos de solicitações dessas estradas, devido ao
crescimento do volume de tráfego pesado.

29
A forma inadequada de manutenção das estradas não pavimentadas e seu
abandono por um longo período de tempo trazem como conseqüência uma superfície
muitas vezes intrafegável, dificultando a circulação de pessoas e mercadorias, e
acarretando, via de regra, danos ambientais, com o assoreamento de corpos d água e o
lançamento de sedimentos provenientes de material carreado pelas águas das chuvas
sobre áreas agricultáveis.

3.1.2 Fundamentação teórica

Segundo Greenstein e Hudson (1994), a avaliação da superfície de uma via não


pavimentada é o processo que visa fornecer subsídios para o planejamento de atividades
que possam contribuir para manter ou resgatar a sua integridade estrutural e funcional.
Para o órgão rodoviário responsável, esta ação auxilia na priorização das atividades de
manutenção de forma a otimizar os recursos disponíveis para tal fim.
Não é comum se empregar as avaliações objetiva e subjetiva para fins de
qualificação da superfície das estradas não pavimentadas. A avaliação subjetiva
possibilita averiguar a condição da superfície de uma via, segundo o ponto de vista dos
usuários, empregando-se um valor definido como Present Serviceability Rating (PSR)
que no Brasil, de acordo com (DNIT, 2003), é conhecido como Valor de Serventia
Atual (VSA). Durante a avaliação, o VSA é obtido através da média aritmética de notas
atribuídas a uma via pelos membros de uma equipe de avaliação com a função de
representar a opinião dos seus usuários. Esses avaliadores, devidamente treinados,
percorrem um trecho de uma estrada numa determinada velocidade operacional e, de
dentro do veículo, atribuem notas subjetivas de acordo com uma escala de valores
previamente definida, indicando suas opiniões quanto ao conforto e suavidade
percebidos durante o percurso no trecho avaliado.
Já a avaliação das condições da superfície de forma objetiva, segundo Hass et al.
(1994), sustenta-se em dados coletados a respeito dos defeitos existentes nos trechos da
estrada a ser analisada, ou seja, os seus tipos, severidade e densidade. Para o
levantamento dos defeitos na estrada, é necessário que os tipos a serem considerados
sejam selecionados e as definições de aparência sejam cuidadosamente estabelecidas.
As definições devem estar escritas e acompanhadas por fotografias ou figuras que
ajudem na sua identificação, incluindo critérios para avaliar o grau de severidade e
medir a sua extensão.

30
Um método de classificação objetiva e subjetiva e um manual de campo para a
avaliação das condições da superfície e da drenagem de uma rede de estradas não
pavimentadas foram desenvolvidos por EATON et al. (1987a), com o objetivo de auxiliar
os municípios e órgãos rodoviários na manutenção de suas estradas não pavimentadas.
Segundo o método, o índice das condições das rodovias não pavimentadas (ICRNP) é o
Unsurfaced Road Condition Index (URCI), que corresponde ao PCI (Pavement
Condition Index) do Sistema PAVER (Sistema de Gerência de Manutenção de
Pavimentos). O URCI é um indicador numérico que varia numa escala de 0 a 100,
baseado no cálculo dos valores-dedução (Deduct Values), também apresentados em uma
escala de valores de 0 a 100, onde o valor zero indica que um defeito em particular não
tem impacto nas condições da estrada e o valor 100 indica um defeito extremamente
comprometedor para o colapso da via. A Tabela 1 apresenta, de forma resumida, os
tipos de defeitos considerados e a forma de medição.

Tabela 1: Tipos de defeitos e critério de medição, de acordo com EATON et al (1987a)


Designação dos defeitos Critério de medição
Seção transversal inadequada Metro linear
Drenagem lateral inadequada Metro linear
Corrugações Área
Segregação de agregados Metro linear
Buracos Número
Poeira Altura e densidade da nuvem
Trilhas de roda Área

A avaliação de estradas não pavimentadas pelo método descrito por EATON et al


(1987a) é baseada em dois tipos de inspeção. Um deles é a rápida vistoria subjetiva da
estrada; o outro refere-se à medida detalhada dos defeitos em unidades amostrais
representativas do trecho avaliado. A avaliação subjetiva consiste em percorrer a estrada
a uma velocidade aproximadamente constante, em torno de 40 km/h, e verificar de
dentro do veículo as condições da superfície e de drenagem. Após este primeiro contato,
são selecionadas as unidades amostrais da estrada, com áreas variando de 150 m2 a 350
m2, nas quais serão medidos e quantificados os defeitos existentes, levando em
consideração o seu nível de severidade, considerado as graduações Baixas, Médias e
Altas, enquadrando-se, pois, em critério de avaliação objetiva.

31
De posse de todos os dados obtidos, a densidade dos defeitos é calculada em
função das suas incidências na área analisada, ou seja, pela razão entre a quantidade do
defeito e a área da unidade amostral. Com o valor da densidade, acha-se o valor-
dedução correspondente, a partir de curvas de níveis de severidade existentes para cada
tipo de defeito. Após o cálculo, todos os valores-dedução individuais da unidade
amostral são somados, originando o valor-dedução total (TDV). A partir do gráfico com
curvas de correção para cada quantidade de defeitos com valor-dedução maior ou igual
a 5 pontos na unidade amostral, encontra-se o URCI. Através deste índice, as estradas
não pavimentadas são classificadas com base em uma escala de valores que estão
relacionados na Tabela 2.

Tabela 2: Escala de classificação de estradas não pavimentadas em função do URCI


URCI Classificação
100 – 86 Excelente
85 – 71 Muito boa
70 – 56 Boa
55 – 41 Regular
40 – 26 Ruim
25 – 11 Muito ruim
10 – 0 Péssima

O uso de procedimentos de avaliação de estradas não pavimentadas elaborados


para condições diferentes das encontradas no Brasil, como é o caso do método de
EATON et al (1987a), pode gerar resultados divergentes da realidade encontrada na
inspeção de campo, justificando-se desta forma o desenvolvimento de pesquisas nesta
área. Considerando esse aspecto, o presente trabalho teve como objetivo correlacionar
os resultados de avaliações objetivas com subjetivas, segundo as instruções contidas no
método de EATON et al (1987a), com o intuito de verificar a sua aplicabilidade a
rodovias vicinais não pavimentadas da área rural do município de Viçosa, Minas Gerais,
Brasil.

3.2 Defeitos em estradas não pavimentadas

Entende-se por defeito (patologia) qualquer alteração na superfície da estrada que


tem influência negativa nas suas condições de rolamento. Essas alterações estão

32
hierarquizadas em graus ou níveis de severidade que variam de acordo com a
interferência na trafegabilidade da via.
Considera-se severidade de um defeito a dificuldade ou a quantidade de
dificuldades que um tipo de defeito impõe ao movimento de veículos. Na prática, os
graus ou níveis de severidade são determinados pela ocorrência de limites pré-definidos
para medidas ou classificações sobre defeitos identificados em levantamentos de campo,
e são classificados, segundo EATON et al (1987a), usualmente como: não aplicável,
baixa, média ou alta.

3.2.1 Tipos de defeitos

A avaliação das condições da superfície de rolamento de estradas vicinais não


pavimentadas é feita por meio do levantamento dos defeitos em campo. Para fins de
utilização em sistemas de gerência de manutenção de vias, o levantamento de campo
envolve a seleção dos defeitos mais significativos, com suas respectivas medidas, e a
avaliação da extensão e severidade de cada um deles.
Os tipos de defeitos citados nesta pesquisa e as respectivas classificações dos seus
graus de severidade são baseados nos métodos de avaliação de estradas não
pavimentadas contido no manual de EATON et al (1987a), com algumas adaptações a
realidade brasileira citadas por ODA (1995) e observações pertinentes apresentadas por
FONTENELE (2001).

3.2.1.1 Seção transversal inadequada

De acordo com Oda (1995), a seção transversal inadequada é o resultado de uma


superfície sem declividade transversal para direcionar a água para as sarjetas. Esta
condição é evidenciada pela água escoando ao longo da superfície de rolamento e
conseqüentemente pela erosão causada pela intensidade da chuva. As condições da
seção transversal são avaliadas pela facilidade de escoamento da água da superfície da
estrada para um local que não influencie as condições de rolamento.
Eaton et al (1987a) e o RSMS (1991) classificam a qualidade da estrada de acordo
com os níveis de severidade e extensão do defeito. De acordo com as Figuras 1, 2 e 3,
os níveis de severidade da seção transversal inadequada são:
- Baixa: superfície completamente plana (sem declividade transversal);
- Média: superfície em forma de “bacia”;
- Alta: grandes depressões nas trilhas das rodas na superfície da estrada.

33
Figura 1: Seção transversal com superfície sem declividade (ODA, 1995)

Figura 2: Seção transversal com superfície em forma de bacia (ODA, 1995)

Figura 3: Seção transversal com grandes depressões nas trilhas das rodas (ODA, 1995)

Fontenele (2001) considera os seguintes níveis de severidade:


- Baixo: superfície praticamente plana, com pouca ou nenhuma ocorrência de
defeitos;
- Médio: superfície em forma de bacia com moderada ocorrência de defeitos;
- Alto: elevada ocorrência de defeitos, com grandes depressões nas trilhas de roda.

3.2.1.2 Ondulações/Corrugações

As ondulações constituem sulcos em intervalos regulares ou irregulares no sentido


perpendicular à direção do tráfego. Sua ocorrência se deve à falta de capacidade de
suporte do subleito e ausência ou deficiência do sistema de drenagem.
A Figura 4 apresenta a ocorrência de ondulações identificadas nas estradas
vicinais não pavimentadas.

34
Figura 4: Defeito ondulações/corrugações (SANTOS et al, 1988)

As ondulações regulares ocorrem em estradas planas formadas por solos arenosos,


enquanto que as ondulações irregulares ocorrem em estradas formadas por solos
argilosos que, ao secarem, se contraem formando o defeito (SANTOS et al, 1988).
Segundo Eaton et al (1987a) e Fontenele (2001), os níveis de severidade
considerados são:
- Baixo: profundidades menores que 2,5 cm;
- Médio: profundidades entre 2,5 e 7,5 cm;
- Alto: profundidades maiores que 7,5 cm.

3.2.1.3 Excesso de poeira

A poeira é causada pelo excesso de material fino no leito da estrada que durante o
período seco fica sem umidade, formando, pela ação abrasiva do tráfego, as nuvens de
poeira (SANTOS et al, 1988).
A Figura 5 apresenta a ocorrência de poeira identificada nas estradas vicinais não
pavimentadas.

Figura 5: Defeito poeira (SANTOS et al, 1988)

35
Conforme Eaton et al (1987a) e Fontenele (2001), os níveis de severidade
considerados são:
- Baixo: pouca poeira, nuvem fina, não obstrui a visibilidade, altura menor que 1,0
m;
- Médio: poeira moderada, nuvem moderadamente densa, obstrui parcialmente a
visibilidade, altura entre 1,0 e 2,0 m, tráfego lento;
- Alto: muita poeira, severa obstrução da visibilidade, altura superior a 2,0 m,
tráfego muito lento ou parado.

3.2.1.4 Buracos/Panelas

São depressões em forma de bacia produzidas pela continua expulsão das


partículas sólidas da superfície da estrada pelo tráfego onde há empoçamento de água.
Os buracos aparecem devido à deficiência de drenagem, provavelmente ocasionada pela
falta de abaulamento transversal.
A Figura 6 apresenta a ocorrência do defeito buraco verificado nas estradas
vicinais não pavimentadas.

Figura 6: Defeito buraco/panela (SANTOS et al, 1988)

Oda (1995) e Fontenele (2001) consideram os níveis de severidades para o defeito


buraco, conforme apresentado na Tabela 3.

Tabela 3: Níveis de severidade para o defeito buracos/panelas


Profundidade (cm)
Diâmetro médio
< 5,0 5,0 – 15,0 15,0 – 25,0 > 25,0
(m)
Níveis de severidade
< 1,50 baixo médio médio alto
1,50 – 2,50 baixo médio alto alto
2,50 – 3,50 baixo médio alto alto
> 3,50 baixo médio alto alto

36
3.2.1.5 Trilhas de roda

O afundamento de trilha de rodas constitui uma depressão na superfície da estrada


nos locais onde as rodas dos veículos comerciais transitam, conforme ilustrado na
Figura 7. A ocorrência deste defeito se deve às cargas repetidas do tráfego. O
afundamento de trilha de roda pode ocorrer por consolidação ou por tensões cisalhantes
repetidas. Quando se manifesta por tensões cisalhantes repetidas se verifica o fenômeno
solevamento.

Figura 7: Defeito afundamento de trilhas de rodas (SANTOS et al., 1988)

Fontenele (2001) considera os seguintes níveis de severidade:


- Baixo: profundidades menores que 5,0 cm;
- Médio: profundidade entre 5,0 e 10,0 cm;
- Alto: profundidades maiores que 10,0 cm.

3.2.1.6 Segregação de agregados

A ação do tráfego provoca o lançamento de material granular para as laterais ou


centro das estradas formando bermas, conforme ilustrado na Figura 8. A segregação
ocorre devido à adição de material granular para aumentar o atrito entre os pneus e a
superfície de áreas argilosas, sem a adequada compactação. Devido à má compactação,
o material acaba se desagregando e ficando solto e com a passagem contínua dos
veículos os agregados são jogados para fora do caminho das rodas.

37
Figura 8: Defeito segregação de agregados (ODA, 1995)

Eaton et al (1987a) e Fontenele (2001) classificam, para o defeito segregação de


agregados, os seguintes níveis de severidade:
- Baixo: bermas menores que 5,0 cm de altura;
- Médio: bermas entre 5,0 e 10,0 cm de altura;
- Alto: bermas maiores que 10,0 cm de altura.

3.2.1.7 Drenagem lateral inadequada

Este defeito é verificado quando as sarjetas estão cobertas de vegetação lindeira,


cheias de entulhos ou de material granular assoreado. Essa situação dificulta o
escoamento da água e, conseqüentemente, provoca o seu empoçamento, erodindo a
borda da estrada.
Eaton e Beaucham (1992) e USACE (1995) classificaram para o defeito drenagem
lateral inadequada, os seguintes níveis de severidade:
- Baixo: (i) baixas quantidades de poças de água ou (ii) evidência quanto à sua
ocorrência nos dispositivos de drenagem, (iii) vegetação, detritos ou fragmentos
de pedras depositados sobre os dispositivos de drenagem.
- Médio: (i) moderada quantidade de poças de água ou (ii) evidências quanto a sua
ocorrência nos dispositivos de drenagem, (iii) vegetação, detritos ou fragmentos
de pedras depositados sobre os dispositivos de drenagem e, (iv) erosões nos
dispositivos de drenagem;
- Alto: (i) alta quantidade de poças de água ou (ii) evidências quanto à sua
ocorrência nos dispositivos de drenagem, (iii) vegetação, detritos ou fragmentos
de pedras depositados sobre os dispositivos de drenagem e, (iv) erosões nos
dispositivos de drenagem, (v) água fluindo superficialmente à pista ou se
infiltrando na plataforma.

38
3.3 Metodologia

As atividades descritas neste item sobre o método que utiliza o URCI para
classificar estradas não pavimentadas estão baseadas nos trabalhos de EATON et al
(1987a, 1987b) e EATON (1988). Este método foi escolhido por ser utilizado por
BAESSO e GONÇALVES (2003) na classificação objetiva de rodovias não
pavimentadas como subsidio para sistemas de administração de manutenção de estradas
vicinais não pavimentadas, e relatos de ODA (1995) e VIVIANI (1998), quanto à
adaptação da avaliação objetiva do mesmo a realidade brasileira. O procedimento de
campo abrangeu avaliações subjetivas e objetivas de unidades amostrais e trechos de
estradas não pavimentadas do município de Viçosa, através de uma equipe de
avaliadores.

3.3.1 Área de estudo

O município de Viçosa, com uma área de 300,2 km², está localizado ao norte
da Zona da Mata do estado de Minas Gerais, a 229 km de Belo Horizonte, Brasil,
entre as latitudes de 20º 41’ 20” S a 20º 49’ 35” S e as longitudes de 42º 49’36” W a
42º 54’27” W, a uma altitude média de 650 metros. Limita-se ao norte com os
municípios de Teixeiras e Guaraciaba, ao sul com Paula Cândido e Coimbra, a leste
com Cajuri e São Miguel do Anta e a oeste com o município de Porto Firme (IBGE,
2008), conforme mostra a Figura 9.

39
Figura 9: Localização do município de Viçosa – MG.

3.3.2 Seleção e divisão dos trechos experimentais

Para este estudo estabeleceu-se que as estradas selecionadas para investigação


experimental deveriam ser de fácil localização, possuir variedade de tipos de solos e
serem próximas à cidade. Essas estradas possuem uma denominação de acordo com o
plano rodoviário do município de Viçosa – VCS (Lei municipal nº 160 de 17/04/1978
atualizada para 2000). A Tabela 4 contém a denominação das estradas não
pavimentadas inspecionadas neste estudo e suas respectivas extensões.

Tabela 4: Estradas não pavimentadas inspecionadas e suas respectivas extensões.


Estrada não pavimentada Extensão (km)
VCS 346 3,0
Trecho da VCS 493 1,5
VCS 296 4,1

A necessidade de divisão das estradas em porções menores, denominadas de


trechos, se dá pela observação da não uniformidade das características das vias não
pavimentadas. De acordo com Weaver e Clark (1977), deve-se ter atenção na

40
determinação de um tamanho mínimo de trecho de estudo que permita que o avaliador
tenha tempo suficiente para adquirir uma percepção mais realista sobre a condição da
superfície de rolamento do trecho inspecionado. Quando a extensão do trecho for muito
grande, o avaliador pode perder a percepção para o propósito em vista, se atentando
apenas em julgar os últimos metros do trecho avaliado. Assim, a cada trecho com
extensão entre 750 e 1.000 metros de comprimento, recomendam-se duas unidades
amostrais, cada uma com 50 m de comprimento, como as mais representativas de
defeitos.
Após o planejamento das vias em estudo, segundo considerações de BAESSO e
GONÇALVES (2003), foram definidos 10 trechos das três rodovias não pavimentadas
selecionadas para serem inspecionados pela equipe de avaliação. Inicialmente, a escolha
dos mesmos baseou-se no julgamento de dois avaliadores, devidamente instruídos para
a finalidade em vista, que percorreram as vias em um veículo de passeio a uma
velocidade de aproximadamente 40 km/h, o que permitiu selecionar, subjetivamente, as
unidades amostrais observadas como as mais representativas de defeitos daquele trecho.
A extensão de cada unidade amostral foi delimitada através de piquetes de madeira, com
auxílio de uma trena, de forma a permitir a sua identificação numa inspeção posterior.

3.3.3 Constituição e treinamento da equipe de avaliação

O experimento contou com uma equipe composta de cinco avaliadores do


Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de Viçosa – UFV, que
percorreram as estradas não pavimentadas em estudo, para realizar as avaliações
subjetivas e objetivas dos trechos e unidades amostrais previamente selecionados. Na
escolha para composição da referida equipe, não foram consideradas as características
dos membros relativas ao sexo, idade, experiência de condução de veículos, na busca de
se representar à opinião dos usuários dessas vias. Os membros da equipe de avaliação
receberam um treinamento inicial sobre os procedimentos de campo e os tipos de
defeitos que poderiam ser encontrados, seus níveis de severidade e a forma de medi-los.

3.3.4 Inspeção nos trechos e unidades amostrais

As avaliações realizadas pela equipe de avaliadores foram divididas em duas


etapas: avaliação subjetiva dos trechos e unidades amostrais para a determinação do
URCIEQUIPE e avaliação objetiva das unidades amostrais para a obtenção do URCIEATON.

41
3.3.4.1 Inspeção subjetiva nos trechos e unidades amostrais

A primeira etapa da avaliação subjetiva consistiu do percurso de todos os


avaliadores em um mesmo veículo (Volkswagen Kombi) nos trechos selecionados, a
uma velocidade de aproximadamente 40 km/h, onde um dos avaliadores ficou
responsável pelo aviso aos demais sobre o ponto inicial e final dos trechos. Durante o
percurso os avaliadores deram a cada trecho uma nota individual, de 0 a 100, que
representasse a condição de sua superfície a partir da qualidade de viagem por eles
percebida.
Na segunda etapa, os avaliadores foram conduzidos ao ponto inicial de cada
unidade amostral e a percorreram a pé, procurando observar a condição superficial em
que ela se encontrava. Cada avaliador atribuiu-lhe, de acordo com sua percepção, uma
nota que descrevia o estado desta superfície, usando para tanto a mesma escala utilizada
para classificar o trecho. Ao final da avaliação subjetiva foi feita a média aritmética das
notas atribuídas aos trechos e unidade amostrais pelos avaliadores, encontrado o
URCIEQUIPE dos referidos, respectivamente. A Figura 10 ilustra a avaliação subjetiva da
primeira unidade amostral com extensão de 50 metros, compreendida entre a Est. 17 +
00 e a Est. 17 + 50, do primeiro trecho da VCS 296 e do veículo utilizado na avaliação
subjetiva dos trechos analisados das estradas não pavimentadas.

Figura 10a: Avaliação subjetiva da Figura 10b: Veículo utilizado na


primeira unidade amostral do primeiro avaliação subjetiva dos trechos
trecho da estrada não pavimentada analisados das estradas não
VCS 296 pavimentadas

42
3.3.4.2 Inspeção objetiva nas unidades amostrais

Após a classificação das unidades amostrais pela equipe de avaliação, os defeitos


existentes em cada unidade amostral foram verificados e registrados, segundo o
procedimento do manual de campo do método do URCI (EATON et al, 1987a). Para
verificação das dimensões de cada defeito e suas severidades e densidades, apenas o
pesquisador e três auxiliares fizeram a medição para determinação do URCIEATON das
unidades amostrais. Já o URCIEATON de cada trecho foi obtido através da média
aritmética dos URCIEATON das suas unidades amostrais. A Figura 11 ilustra parte da
avaliação objetiva da segunda unidade amostral, compreendida entre a Est. 42 + 00 e a
Est. 42 + 50 m, do terceiro trecho da estrada não pavimentada VCS 296.

Figura 11a: Medição da plataforma da Figura 11b: Medição dos defeitos de


superfície da estrada vicinal VCS 296 acordo com EATON et al (1987a)

3.4 Resultados e discussão

A qualidade de viagem captada pelos usuários, de acordo com POTTER et al


(1992), constitui a medida mais importante no desempenho de uma rede rodoviária,
fornecendo respostas válidas para apoiar os órgãos responsáveis pela manutenção
rodoviária. Carey e Irick (1960) afirmaram que apenas o julgamento de uma equipe de
usuários pode estabelecer o nível de serviço de uma estrada.
Os índices de condição de rodovias não pavimentadas (URCI) das unidades
amostrais e respectivos trechos, obtidos subjetivamente em campo (URCIEQUIPE) e
também pelo método de EATON et al (1987a) – URCIEATON foram confrontados para
análise da relação existente entre eles. Através desta análise, buscou-se verificar a
eficiência da equipe de avaliadores para notificar as condições de serventia de estradas

43
não pavimentadas. Na Figura 12, apresentam-se os valores dos URCI obtidos das
unidades amostrais, de acordo com o método de EATON et al (1987a) e notas atribuídas
às referidas unidades pela equipe de avaliação.

Índices de Condição de Rodovias Não Pavimentadas das Unidades Amostrais

100
80
URCI

60
40
20
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
URCI(Eaton) 10,0 10,0 10,0 10,7 6,4 10,0 3,6 17,1 18,0 19,0 10,0 11,0 7,0 18,0 8,0 17,0 18,0 25,0 16,0 22,0
URCI(Equipe)(Médio) 51,0 31,9 44,6 51,0 51,4 53,7 31,7 41,7 55,2 61,4 53,4 59,4 27,4 29,8 21,6 48,2 44,2 46,8 45,2 40,2
Unidades Amostrais

Figura 12: Valores de URCI obtidos das unidades amostrais dos trechos das estradas
não pavimentadas investigadas

A Figura 13 apresenta os valores dos URCI dos trechos das estradas não
pavimentadas, obtidos pelo método de EATON et al (1987a), através das médias dos
URCI das unidades amostrais contidas em cada um desses trechos e pela equipe de
avaliadores, através das médias das notas atribuídas a cada trecho pelos seus
componentes.

Índices de Condição de Rodovias Não Pavimentadas dos Trechos

100

80

60
URCI

40

20

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
URCI (Eaton) (Média) 10,0 10,4 8,2 10,4 18,5 10,5 12,5 12,5 21,5 19,0
URCI (Equipe) (Média) 46,4 44,6 41,2 36,8 51,4 50,6 39,6 38,6 48,2 50,0
Trechos

Figura 13: Valores de URCI obtidos dos trechos das estradas não pavimentadas
investigadas

44
Na comparação entre as classificações das unidades amostrais e trechos
representados nas Figuras 12 e 13, existe uma disparidade significativa, o que reforça a
afirmação de ODA (1995) sobre a necessidade de adaptação do método de EATON et al
(1987a) às condições encontradas nas estradas não pavimentadas brasileiras.
Ratificando essa afirmação, também se observou que certos tipos de defeitos existentes
nos trechos inspecionados não eram mencionados no método de EATON et al (1987a),
o que tornou necessária uma aproximação a outros tipos de defeitos similares aos
considerados no referido método.
De acordo com EATON et al (1987a), as classificações dos trechos de estradas
não pavimentadas são obtidas a partir da média das classificações das unidades
amostrais de cada trecho. Para verificar a representatividade das avaliações subjetivas
da equipe de avaliação, foram calculados os URCIEQUIPE de cada trecho sob duas
condições: (i) a partir das médias das notas atribuídas pela referida equipe às suas
unidades amostrais (condição 1) e (ii) a partir dos valores médios atribuídos
diretamente ao trecho (condição 2). A Figura 15 apresenta as duas condições.

Comparação dos Valores de URCI obtidos para os Trechos na Avaliação Subjetiva

100
80
URCI

60
40

20
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
URCI (Condição 1) 46,4 44,6 41,2 36,8 51,4 50,6 39,6 38,6 48,2 50,0
URCI (Condição 2) 41,5 47,8 52,6 36,7 59,1 56,4 28,6 34,9 45,5 42,7
Trechos

Figura 15: Comparação dos valores de URCI obtidos subjetivamente para os trechos das
estradas não pavimentadas

Avaliando-se os resultados apresentados na Figura 15, observa-se que as


avaliações subjetivas das unidades amostrais e dos trechos se mostraram satisfatórias,
visto que os valores URCIEQUIPE encontrados pelas duas condições anteriormente
citadas foram bem próximos.

45
3.5 Conclusões

Os resultados obtidos permitem concluir que a comparação entre os índices de


condição de estradas não pavimentadas provenientes do método de EATON et al
(1987a), URCIEATON, e os atribuídos pela equipe de avaliação, URCIEQUIPE,
apresentaram valores discrepantes, o que reflete a necessidade de adaptação deste
método às condições das estradas não pavimentadas brasileiras. Portanto, não se
recomenda o uso do método de EATON et al (1987a) para o suporte e gerência de
manutenção de estradas não pavimentadas da rede de vias vicinais da área rural do
município de Viçosa.
Outro aspecto de interesse é que com base nos valores de URCIEQUIPE apresentados
na Figura 15, conclui-se que o critério de avaliação subjetiva aplicado aos trechos
inspecionados nesta pesquisa denota coerência quanto a eficiência da equipe de
avaliação com relação às condições de serventia das estradas vicinais inspecionadas,
refletindo adequadamente as condições de campo da superfície de rolamento dessas
vias.

3.6 Agradecimentos

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB), pela


concessão da bolsa de pesquisa ao primeiro autor e ao Departamento de Engenharia
Civil da Universidade Federal de Viçosa (DEC/UFV) pelo suporte nas inspeções das
estradas vicinais não pavimentadas estudadas.

Referências

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Estatístico dos Transportes Terrestres. Brasília – DF. 2005.
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State Campus, Albany, New York. 1977.

48
4
INFLUÊNCIA DO TRÁFEGO DE VEÍCULOS COMERCIAIS EM RODOVIAS
VICINAIS

Resumo – Este artigo aborda a influência da variação da carga por eixo e da pressão de
enchimento dos pneus sobre as deflexões superficiais recuperáveis, numa dada estrutura
de pavimento considerada representativa das estradas vicinais do município de Viçosa-
MG. Os Fatores de Equivalência de Cargas (FEC) obtidos nesta pesquisa,
fundamentados em deflexões recuperáveis no topo do subleito e tomando-se por base a
estrutura anteriormente mencionada submetida a diferentes formas de carregamento,
foram próximos aos adotados pelo Departamento Nacional de Infra-Estrutura de
Transportes (DNIT), para pavimentos flexíveis. Verificou-se, ainda, que a aplicação de
níveis mais críticos de carregamento interfere significativamente na vida útil do
pavimento; dependendo da combinação da carga por eixo e da pressão de enchimento
dos pneus, a vida útil da estrada pode reduzir cerca de 89%. Investigaram-se, ainda,
neste trabalho, dois métodos para dimensionar a espessura do revestimento primário
para rodovias não pavimentadas. Um deles empírico, qual seja, o método do DNIT para
dimensionamento de pavimentos flexíveis; o outro, fundamentado em teoria elástica
para sistemas de camadas. Para o dimensionamento de estradas não pavimentadas
melhoradas com uma camada de revestimento primário (sistema de duas camadas),
concluiu-se que o procedimento mais adequado foi o emprego da teoria elástica.
Palavras-Chave: Carga por eixo, pressão de enchimento dos pneus, desempenho de
pavimento

INFLUENCE OF TRAFFIC COMMERCIAL VEHICLES ON VICINAIS ROADS

Abstract - This paper addresses the influence of the variation of axle load and tire
pressure on the recoverable superficial deflections in one given pavement structure
considered representative of the vicinal roads of the city of Viçosa-MG, Brazil. Based
on the recoverable deflections in the sub-grade top of the vicinal roads submitted to
different loading forms, the resulting Load Equivalence Factors (LEFs) have been close
to those adopted by the Brazilian National Infrastructure Transportation Department
(DNIT) for flexible pavement design. Also, it was verified that the application of more

49
critical loading levels affects significantly pavement serviceable life. Besides, depending
on the applied combination of axle load and tire pressure, road pavement serviceable
life can drop 89%. In this research it was also investigated the application of two
procedures for designing sub-grade reinforcement layer thickness of non-paved roads;
one empirical using the DNIT´s Flexible Pavement Design criteria and the other based
on elastic theory applied to a two layer system. Concluding remark is that the use of the
elastic theory proved to be the best procedure for designing non-paved road systems.
Keywords: Axle load, tire pressure, pavement performance

4.1 Introdução

O tráfego comercial que solicita um pavimento é o carregamento a ser


considerado nos métodos de dimensionamento, como destaca BALBO (2007), sejam
eles empíricos ou mecanísticos. Portanto, existe uma importante necessidade de se
padronizar o tráfego, pois na realidade o mesmo apresenta-se de forma bastante
complexa: veículos diferentes, cargas aleatórias, várias configurações de eixo e rodas,
velocidades variáveis, etc. Por esses motivos, é usual representar o tráfego total e a
intensidade das cargas transportadas por meio do número (N) que expressa um tráfego
virtual que produz o mesmo efeito destrutivo do tráfego real.
A partir de estudos desenvolvidos pela AASHTO Road Test, no final da década de
50, determinou-se que um eixo simples de roda dupla com carga de 18.000 lb ou 82 kN
(8,2 tf) e 563 kPa (80 psi) de pressão de enchimento dos pneus seria considerado um
eixo padrão. Os efeitos destrutivos de cargas quaisquer por eixo sobre pavimentos
podem ser atribuídos, comparativamente, ao provocado por um determinado número de
passagens do eixo padrão. Pode-se ter correlação de cada tipo de eixo ou conjunto de
eixos ao eixo padrão através do Fator de Equivalência de Cargas (FEC).
As maiores críticas ao cálculo do número N acontecem devido aos procedimentos
empíricos sobre os quais está fundamentada a determinação do FEC expresso em dano
relativo à configuração de um eixo padrão de 82 kN (TIMM e NEWCOMB, 2002). Os
referidos autores comentaram que pesquisas desenvolvidas em inúmeras pistas
experimentais indicam que o FEC é regido pelo tipo e espessura do pavimento, conjunto
de eixos, valor da carga por eixo, pressão de enchimento e condições ambientais.
Um aspecto que merece destaque é a definição de FEC para as vias vicinais
brasileiras, que em geral não apresentam tratamento superficial específico e são
constituídas apenas do solo local, sendo denominadas de estradas de superfície não

50
tratada. Nesse caso, segundo Yoder e Witczak (1975), o uso de material local para
construção destas vias é a regra, em vez da exceção. Nesse caso, é comum o emprego de
um revestimento primário nessas vias, constituído de solo granular com espessura da
ordem de 20 a 30 cm de material solto, do que resulta uma espessura de 15 a 25 cm,
após compactação, de acordo com as especificações técnicas para revestimento primário
de alguns departamentos de estradas de rodagem (DERs), a exemplo dos estados da
Bahia, Paraná e Santa Catarina.
Considerando os aspectos técnicos das vias vicinais brasileiras não pavimentadas, o
objetivo deste estudo foi analisar a influência da variação dos fatores carga por eixo e
pressão de enchimento dos pneus sobre as deflexões superficiais recuperáveis, com base
na teoria elástica aplicada a um sistema de duas camadas para o pavimento de uma
estrada vicinal no município de Viçosa-MG.
Tendo em vista a significativa amplitude da malha viária não pavimentada do
Brasil, que segundo a ANTT (2005), já alcança aproximadamente 1,45 milhões de
quilômetros de extensão, o estudo da influência do tráfego comercial e a análise para
dimensionar espessuras de camadas de revestimento primário para essas vias são
relevantes tendo em vista o papel que elas desempenham conjuntamente com as
rodovias pavimentadas. Visto que essas vias vicinais têm caráter de vias capilares de
circulação de bens de consumo (cargas), o que seguramente obriga que elas possuam
condições estruturais próximas as que atendem as solicitações de tráfego das vias
pavimentadas.

4.2 Fatores de equivalência de carga

Ao abordar o assunto tráfego de veículos comerciais em estradas vicinais é


fundamental que se comente sobre os fatores de equivalência de carga por eixo (FEC),
que são utilizados para converter o número de solicitações do tráfego real que solicita a
via num número equivalente de operações de um eixo padrão (eixo simples de rodas
duplas de 8,2 toneladas/eixo), que sob o ponto de vista teórico irá provocar no
pavimento o mesmo efeito destrutivo.
Os dois modelos mais usados para determinação do FEC no Brasil são os da
AASHTO – American Association of State Highways and Transportation Officials e
USACE – United States Army Corps of Engineers.
Segundo Albano (2005), o FEC tem sido largamente utilizado como medida de
desempenho estrutural de pavimentos porque, comparativamente, mede os efeitos que

51
os excessos de carga por eixo provocam nos pavimentos flexíveis. Pinto e Preussler
(2001) relatam que os FEC da AASHTO baseiam-se na variação da serventia,
dependem do tipo de pavimento e do número estrutural (SN) e que os FEC oriundos do
USACE avaliam os efeitos do carregamento considerando a deformação permanente.
Pereira (1985) comenta que o número genérico Ni de solicitações de uma carga de
eixo Wi é equivalente a um número Np de solicitações de outra carga de eixo Wp
tomada como referência ou padrão, quando as Ni solicitações da carga Wi provocam a
mesma deterioração que as Np solicitações da carga Wp, sobre a mesma estrutura de um
pavimento. Desta forma, na Equação 1:

Np
FEC (1)
Ni

em que: o FEC representa o fator de equivalência da carga Wi, referido à carga de eixo
Wp, assumida como padrão.
Os estudos de PEREIRA (1985) demonstraram ainda que, para algumas equações
de dimensionamento de pavimentos flexíveis, como é caso da utilizada pela Califórnia
Division Highways (CDH), a razão Np/Ni é invariável e independente das
características do pavimento e do subleito, definindo-se FEC de acordo com a Equação
2:

m
Np § Wi · n
FEC ¨ ¸ (2)
Ni ¨W ¸
© p ¹

em que: m e n são constantes.


Os estudos desenvolvidos pela AASHTO indicam que o FEC varia entre outros
fatores, em função da carga por eixo, segundo uma relação elevada a expoentes
próximos de quatro (NRC, 1990). Albano (2005) comenta que outras organizações,
como a USACE, adotam expoentes ainda maiores, ou seja, próximos de seis.
No Brasil existem dois grupos de FEC utilizados tradicionalmente para calcular o
número N. Um deles é o adotado pelo Departamento Nacional de Infra-Estrutura de
Transportes (DNIT), com origem no trabalho de TURNBULL et al (1962) para eixo
simples e duplo, onde a referência do dano no pavimento é o afundamento plástico no

52
subleito. A Tabela 1 apresenta as expressões matemáticas de FEC adotados pelo DNIT,
de acordo com o USACE.

Tabela 1: Expressões matemáticas de FEC adotados pelo DNIT (USACE) (DNER,


1998).
Tipo de eixo Cargas (tf) Equações (P em tf)

0,0 – 8,0 FEC 2,0782 ˜ 104 ˜ P 4,0175


Eixo simples
• 8,0 FEC 1,8320 ˜106 ˜ P 6, 2542

0,0 – 11,0 FEC 1,5920 ˜ 104 ˜ P 3, 4720


Tandem duplo
• 11,0 FEC 1,5280 ˜ 106 ˜ P 5, 4840

0,0 – 18,0 FEC 8,0359 ˜105 ˜ P 3,3549


Tandem triplo
• 18,0 FEC 1,3229 ˜107 ˜ P 5,5789

Os outros são os FEC que compõem o método de projeto DNER PRO 159/85, que
às vezes são chamados como da AASHTO, cujas expressões têm origens distintas
(QUEIRÓZ, 1981, 1982). A Tabela 2 contém as equações de FEC utilizadas no referido
método de projeto.

Tabela 2: Expressões matemáticas de FEC utilizadas no método de projeto de reforço


DNER PRO 159/85.
Tipo de eixo Equações (P em tf) Origem
4 , 32
§ P ·
Eixo simples de roda simples FEC ¨ ¸ GEIPOT (1977)
© 7,77 ¹
4 , 32
§ P ·
Eixo simples de roda dupla FEC ¨ ¸ (AASHTO, 1972)
© 8,17 ¹
4 ,14
§ P ·
Eixo tandem duplo FEC ¨ ¸ (AASHTO, 1972)
© 15,08 ¹
4 , 22
§ P · (TREYBIG e VON
Eixo tandem triplo FEC ¨ ¸
© 22,95 ¹ QUINTUS, 1976)

Pereira (1992) apresenta uma extensa abordagem sobre fatores de equivalência


empírico-mecanísticos e informa que a hipótese de ocorrência de linearidade entre
cargas atuantes e deflexão recuperável correspondente foi comprovada na maioria das

53
seções de pavimentos flexíveis estudadas pela Califórnia Division of Highways (CDH).
A constatação de uma sensível proporcionalidade entre carga por eixo e deflexão
recuperável também foi observada pelo referido autor, que considera a deflexão
recuperável como resposta estrutural. Portanto, a proporcionalidade entre cargas e
deflexões para eixo simples de rodas duplas pode ter o FEC expresso de acordo com a
Equação 3 de PEREIRA (1992).

5 , 959 5, 959
§ Wi · § Di ·
FEC ¨ ¸ ¨ ¸ (3)
¨W ¸ ¨D ¸
© p¹ © p¹

sendo Di a deflexão recuperável devido à ação de uma carga genérica Wi e D p a

deflexão recuperável provocada por uma carga padrão D p de 82 kN.

Schmidt e Ceratti (1987), com base na proposição da linearidade entre cargas por
eixo e deflexões recuperáveis correspondentes e com apoio em indicações intrínsecas
aos procedimentos PRO-10 e PRO-11 do atual DNIT, sugerem a adoção de expoentes
com valores próximos de 6,0. Os referidos autores reconhecem que o assunto é
controverso, pois muitas entidades conceituadas preconizam valores de expoente em
torno de 4,2. De acordo com Albano (2005), alguns insucessos verificados após 1984,
quando o então DNER substituiu o emprego dos fatores da USACE pelos da AASHTO
no projeto de reforço, estimularam esta recomendação, mais cautelosa e conservadora.
A partir dos estudos de SCHMIDT e CERATTI (1987), confirmados por
PEREIRA (1992), resolveu-se desenvolver a abordagem dos FEC para a verificação do
desempenho de pavimentos em função da variação conjunta da carga por eixo (Ce), da
pressão de enchimento (Pe) e da espessura do pavimento, de acordo com a Equação 4 de
PEREIRA (1992).

5, 959
§ Dij ·
FEC ¨ ¸ (4)
¨D ¸
© pp ¹

em que: Dij é a deflexão máxima recuperável provocada por uma carga de eixo (Ce)i e

uma pressão de enchimento ( Pe) j e D pp a deflexão máxima recuperável provocada por

uma carga padrão de 82 kN e uma pressão de enchimento padrão de 522 kPa (80 psi).

54
4.3 Carga por eixo

Com o tráfego de veículos comerciais nas rodovias, as cargas são transmitidas aos
pavimentos por rodas pneumáticas simples ou duplas arranjadas em eixos simples e
tandem, duplos ou triplos. A ação do tráfego, não só pela carga transportada, mas
também pela freqüência com que solicita o pavimento, provoca diferentes níveis de
deterioração à estrutura do pavimento. No Brasil, a legislação vigente a partir de 1998
estabelece valores máximos permissíveis de carga de acordo com o tipo de eixo,
conforme apresentado na Tabela 3.

Tabela 3: Cargas máximas legais vigentes no Brasil (BALBO, 2007).


Carga possível por pneu
Eixo Carga máxima legal (kN)
(kN)
Eixo Simples de Roda Simples 60,00 30,00
Eixo Simples de Roda Dupla 100,00 25,00
Eixo Tandem Duplo 170,00 21,25
Eixo Tandem Triplo 255,00 21,25

Fernandes Jr. et al (2007) comentaram que um dos principais agentes causadores


da deterioração dos pavimentos é a carga por eixo, não havendo relação direta entre o
peso bruto total combinado (PBTC) e o desempenho dos pavimentos. Veículos pesados
podem ser poucos danosos aos pavimentos, desde que a carga total seja distribuída por
um número suficiente de eixos.

4.4 Pressão de enchimento dos pneus

Os pneus utilizados no AASHTO Road Test eram representativos daqueles que


estavam em uso no final da década de 50, que eram os tradicionais pneus de lonas com
pressões de enchimento da ordem de 517 a 522 kPa (75 a 80 psi). Desde então, os
fabricantes de pneus estão introduzindo no mercado os pneus radiais com melhores
condições de suportar maiores pressões e cargas (NRC, 1990).
A evolução do uso de pneus radiais e de maiores pressões de enchimento nos
Estados Unidos da América também foi percebida por KIM et al (1989), em que dados
levantados mostraram que 87% dos pneus eram radiais com média de pressão de 703
kPa (102 psi) e 565 kPa (82 psi) para os pneus de lonas.

55
Albano e Lindau (1998) relataram os resultados de uma pesquisa de campo junto
ao posto do Pedágio da RS-240, no município de Portão – RS, em que foram levantadas
uma série de informações, dentre as quais a pressão de enchimento dos pneus
integrantes de uma amostra representativa de 275 caminhões dos quais foram coletados
dados de 1815 pneus. Os principais resultados encontrados foram pressão média de 655
kPa (95 psi) para a amostra de pneus dianteiros e de 717 kPa (104 psi) para a amostra de
pneus traseiros.
Kim et al (1989) comentaram que o transporte de carga por caminhões tem
apresentado uma tendência de crescimento do peso bruto total (PBT). Observaram ainda
que, com o aumento da carga por eixo, o uso de maiores pressões nos pneus tem se
tornado mais usual entre os transportes pesados.
Segundo Albano (2005), vários estudos teóricos e experimentais têm confirmado
que a pressão de contato não é igual à pressão de enchimento, nem se distribui
uniformemente sobre uma superfície circular. Fernandes Jr (1994) relata que a
superfície de contato aproxima-se da elipse para pneus de lonas ou do retângulo para
pneus radiais a medida que a carga por eixo aumenta ou a pressão de enchimento
diminui.
A forma, o valor e a distribuição da pressão de contato é uma questão com certo
grau de complexidade e de difícil generalização, visto que muitos fatores influenciam as
determinações das variáveis citadas, tais quais carga por eixo, pressão de enchimento
dos pneus, tipo, tamanho e estado do pneu, velocidade e etc.
De acordo com Albano (2005), existe um consenso entre os fabricantes de pneus e
engenheiros rodoviários de que a alta pressão nos pneus reduz a área de contato com o
pavimento, de modo que o peso por roda é distribuído sobre uma área menor. O
incremento das pressões de enchimento ajuda a reduzir a vida útil do pavimento,
aumentando a incidência de deformações permanentes provocadas por trilhas de roda.
Existe um acréscimo generalizado na pressão de enchimento dos pneus praticado
por transportadores, particularmente se o pneu é de fabricação radial. Desta forma, os
FEC, derivados da AASHTO Road Test, com valores de pressão de enchimento de 527 a
563 kPa (75 a 80 psi), adotados nos EUA e Brasil estão, provavelmente, inadequados e
necessitando serem revisados.

56
4.5 Metodologia

Para uma dada estrutura de pavimento, representativa da malha viária não


pavimentada do município de Viçosa – MG, estrada vicinal não pavimentada VCS 346,
este estudo aborda a influência dos fatores carga por eixo e da pressão de enchimento
dos pneus na resposta elástica estrutural. Em função dos dados disponíveis na pesquisa,
foi escolhida a deflexão superficial como medida do desempenho do pavimento. Para
tais fins, definiram-se três níveis de carga por eixo, como segue:
- C1 = 82 kN (8,2 tf): carga correspondente ao eixo padrão de 18.000 lb, considerada
baixa;
- C2 = 100 kN (10,0 tf): carga máxima, permitida pela legislação brasileira, para eixo
simples de rodas duplas, considerada normal;
- C3 = 120 kN (12,0 tf): carga 20% acima da máxima permitida, considerada alta.

Da mesma forma, foram utilizados três níveis de pressão de enchimento dos


pneus, que foram escolhidos de acordo com Albano (2005) e recomendações contidas
em catálogos de fabricantes de pneus, quais sejam:
- P1 = 563 kPa (80 psi): pressão padrão utilizada na pista experimental da AASHTO e
normalizada para determinação da deflexão, conforme o ME 24/94 do DNER (DNER,
1994), que tem sido adotada em diversos métodos de dimensionamento de pavimentos;
- P2 = 633 kPa (90 psi): pressão considerada média;

- P3 = 703 kPa (100 psi): pressão considerada alta, de acordo com estudo de ALBANO
(2005) sobre efeitos dos excessos de carga sobre a durabilidade de pavimentos.

A estrutura do pavimento da estrada vicinal VCS 346 está descriminada na Tabela


5.

Tabela 5: Estrutura do pavimento da estrada vicinal VCS 346.


Camada Material Espessura (cm)
Revestimento Primário Saibro 20,0
Argissolo vermelho-amarelo
Subleito Semi-infinita
de comportamento laterítico.

57
Os dados referentes aos materiais das camadas da estrutura do pavimento da
estrada vicinal VCS 346, são apresentados na Tabela 6.

Tabela 6: Dados relativos aos materiais das camadas do pavimento analisado.


Coeficiente de Módulo de
CBR*
Camada Poisson resiliência (Mr)
(%)
(μ) (kgf/cm2)
Revestimento 0,40 1.000 10
primário
Subleito 0,45 600 6
* Os valores de CBR foram obtidos em ensaios de laboratório na energia de compactação do Proctor
normal, tanto para o subleito quanto para a camada de revestimento primário.

Os módulos de resiliência (Mr) contidos na Tabela 6 foram estimados através da


Equação 5 de HEUKELOM e KLOMP (1962)1, apud PINTO e PREUSSLER (2001).

Mr 100 ˜ CBR (5)

em que: Mr = Módulo de resiliência (kgf/cm2).


Os coeficientes de Poisson foram fixados de acordo com os valores apresentados
por BALBO (2007).
Os valores das deflexões superficiais para a determinação dos FEC empírico-
mecanísticos foram obtidos através da utilização do programa computacional ELSYM5.
O referido programa é utilizado para o cálculo de tensões, deformações e deslocamentos
em sistemas de camadas elástico-lineares.

4.6 Resultados e discussão

4.6.1 Cálculo do número N para a rodovia vicinal VCS 346

A contagem volumétrica do tráfego, inclusive de veículos de carga do tipo 2C,


ônibus e caminhões, foi obtida, na forma direta, na estrada vicinal VCS 346 no
município de Viçosa-MG. Esta estrada faz a ligação entre o campus da Universidade

1
Heukelom, W; Klomp, A. J. G. Dynamic testing as a mens of controlling pavements during and after
construction . Proceedings. 1° Intern. Conference on the Structural Design of Asphalt Pavements Ann
Arbor, University Michigan, 1962.

58
Federal de Viçosa – UFV e a rodovia federal BR 120. Possui um tráfego leve, com
menos de 50 veículos comerciais por dia, que servem como transportes de encomendas
e entregas na cidade de Viçosa ou no interior do campus da UFV.
O volume diário médio de tráfego (VDM) geralmente é obtido com base em
contagens volumétricas de veículos mistos durante os 365 dias do ano para abrigar todas
as condições de sazonalidade semanais ou mensais do tráfego que se utiliza de uma
seção da via. Por essa razão, o VDM é freqüentemente denominado de VDManual.
Neste estudo, o VDManual foi determinado, para a categoria de veículo 2C, após a
contagem volumétrica do tráfego por cinco dias consecutivos, gerando ao final a média
das passagens dessa categoria de veículo. Essa média foi considerada um valor diário
que foi multiplicado pelo fator de expansão (1,07). Esse fator de expansão foi
determinado pela razão entre os números de veículos comerciais tipo 2C que trafegaram
pela via em estudo no quinto (30 veículos) e primeiro (28 veículos) dia da contagem
volumétrica do tráfego, conforme recomenda BALBO (2007). O VDManual para o caso
em estudo foi de aproximadamente 26 veículos comerciais tipo 2C/dia.
Os valores dos pesos por conjunto de eixos para a categoria de veículo analisada
são apresentados na Tabela 7. A partir desses valores, determinaram-se os FEC que
foram calculados de acordo com as expressões matemática adotadas pelo DNER (1998),
apresentadas na Tabela 1.

Tabela 7: Pesos por conjunto de eixos para a categoria de veículo 2C - DNER (1998).

Peso por conjunto de eixo (tf) Fator de equivalência de carga


Categoria
CE1 CE2 CE3 CE1 CE2 CE3

2C 6,0 10,0 --- 0,278 3,289 ---

O Fator de Veículo (FV) foi determinado a partir dos FEC calculados na Tabela 7.
O FVinicial é a soma dos FEC para cada conjunto de eixo da categoria de veículo em
estudo. O conceito de Fator de Eixo (FE) não é usado neste caso. Este procedimento
considerando o FV por categoria surgiu no Brasil a partir de QUEIRÓZ (1982) em
adição ao procedimento até então adotado, que considerava o conceito de FV para a
frota de veículos como um todo (SOUZA, 1966).

59
A partir do valor de FVinicial e da porcentagem absoluta (100%) da categoria de
veículo (Pinicial) em estudo, obteve-se o FV da frota comercial pela Equação 6. Diante do
exposto, chegou – se ao fator de veículo igual 3,567.

FV
¦ P inicial ˜ FVinicial
(6)
100

Considerando uma taxa anual de crescimento linear de tráfego t = 3%, um período


de projeto P = 5 anos, e o fator climático regional (FR) de 1,4, para altura média anual
de chuva entre 800 e 1500 mm, de acordo com SENÇO (1997), fundamentado na
precipitação média anual de 1.221 mm para a região de Viçosa-MG, encontrou-se um
valor de N 2,55 ˜105 operações equivalentes do eixo padrão, de acordo com as
Equações 7 e 8.
VDM 0 ˜ (2  p ˜ t )
VDM m (7)
2

em que: VDMm é o volume diário médio de tráfego, no ano médio do período de projeto
(veículos/dia); VDM0 é o volume diário médio de tráfego no início do primeiro ano do
período de projeto (veículos/dia); p é o período de projeto, em anos e t é a taxa anual de
crescimento do tráfego, em porcentagem.

N 365 ˜ VDM m ˜ p ˜ FV ˜ FR (8)

em que: N é o número de solicitações do eixo padrão; VDMm é o volume diário médio


de tráfego, no ano médio do período de projeto, em veículo/dia; p é o período de
projeto, em anos; FV é o fator de veículo, isto é, o número que multiplicado pelo
número de veículos que trafegam na via fornece diretamente o número de eixos
equivalentes ao eixo padrão; FR é o fator climático regional, utilizado para considerar as
variações de umidade às quais os materiais constituintes do pavimento estão sujeitos
durante as estações do ano.

60
4.6.2 Deflexão recuperável como resposta estrutural

Neste estudo, são apresentados valores de deflexões recuperáveis, determinadas


pelo programa computacional ELSYM5, para situações típicas de carregamento,
conforme mostra a Tabela 8.

Tabela 8: Valores de deflexões recuperáveis previstas no topo do subleito em função da


carga por eixo e pressão de enchimento.
Carga por eixo (kN)
Pressão de
enchimento 82 100 120
kPa (PSI) Deflexões recuperáveis (0,01 mm)
563 (80) 98,90 120,00 142,00
633 (90) 99,30 120,00 143,00
703 (100) 99,60 121,00 144,00

4.6.3 Relações entre deflexões recuperáveis

Todos os valores de deflexão recuperável Dij foram divididos por D pp 98,90 ,

que é a medida da deflexão em 0,01 mm decorrente da combinação dos níveis-padrão


dos fatores carga por eixo de 82,0 kN e pressão de enchimento de 563 kPa (80 psi). Os
quocientes das referidas divisões foram elevados à potência de 5,959, conforme
Equação 4, obtendo-se os FEC empírico-mecanísticos correspondentes às
determinações do estudo.
A Tabela 9 apresenta os valores de FEC para cada combinação dos níveis de carga
por eixo e pressão de enchimento dos pneus.

Tabela 9: Valores de FEC empírico-mecanísticos calculados.


Pressão de enchimento kPa (PSI)
Carga por eixo
563 (80) 633 (90) 703 (100)
(kN)
Fator de Equivalência de Carga (FEC)
82 1,000 3,166 8,632
100 1,024 3,166 9,000
120 1,043 3,326 9,382

61
A Figura 1 ilustra a variação dos FEC em função da carga por eixo e da pressão
de enchimento dos pneus.

Fator de Equivalência de Carga 5

0
563 633 703
Pressão de Enchimento dos Pneus (kPa)
82 kN/eixo 100 kN/eixo 120 kN/eixo

Figura 1: Variação dos FEC empírico-mecanísticos calculados.

Como parâmetro para comparação com a variação dos FEC empírico-

mecanísticos, calculou-se outro conjunto de valores de FEC utilizando a relação § Dij ·


¨ ¸
¨D ¸
© pp ¹

elevada ao expoente médio de 4,298, apresentado por PEREIRA (1992), oriundo do


experimento da AASHTO para cargas por eixo de 80 a 120 kN, conforme apresentado
na Tabela 10 e ilustrado na Figura 2.

Tabela 10: Valores de FEC empírico-mecanísticos da AASHTO segundo Pereira


(1992).
Pressão de enchimento kPa (PSI)
Carga por eixo
563 (80) 633 (90) 703 (100)
(kN)
Fator de Equivalência de Carga (FEC)
82 1,000 2,296 4,733
100 1,017 2,296 4,878
120 1,031 2,379 5,027

62
6

Fator de Equivalência de Carga


5

0
563 633 703
Pressão de Enchimento dos Pneus (kPa)
82 kN/eixo 100 kN/eixo 120 kN/eixo

Figura 2: Variação dos FEC empírico-mecanísticos de acordo com Pereira (1992).

De acordo com Albano (2005), o parâmetro FEC tem sido largamente utilizado
como medida de desempenho de pavimentos flexíveis porque, comparativamente, mede
os efeitos que os excessos de carga por eixo provocam nestas estruturas. Nas duas
situações apresentadas nas Tabelas 9 e 10, observa-se que quanto maior o nível da carga
por eixo e da pressão de enchimento dos pneus, mais representativo é o efeito destrutivo
ao pavimento em termos de deflexões recuperáveis.
Relacionando-se a deflexão recuperável a partir dos FEC, com a vida do
pavimento, nas Tabelas 11 e 12 e nas Figuras 3 e 4 apresenta-se o desempenho do
pavimento com base na evolução dos FEC e na redução da vida útil. As previsões de
redução da vida útil da estrutura do pavimento (%) para os casos em estudo foram
determinadas pela Equação 9.

§ FEC pp ·
RVU (%) 100  ¨ ˜100 ¸ (9)
¨ FEC ¸
© ij ¹

em que: RVU(%) é a previsão de redução da vida útil da estrutura do pavimento, em


porcentagem; FECpp é o fator de equivalência de cargas referente ao eixo padrão e FECij
é o fator de equivalência de cargas referente ao um eixo qualquer.

63
Tabela 11: Evolução dos FEC empírico-mecanísticos calculados e redução da vida útil
do pavimento.
Condições de Pressão de Redução da vida
carregamento enchimento kPa FEC (Calculado) útil
(kN/eixo) (psi) (%)
82 kN (Padrão) 563 (80) 1,000 0,00
100 kN (Máxima) 633 (90) 3,166 68,41
120 kN (Excesso) 703 (100) 9,382 89,34

100
9,382
Redução da vida útil do pavimento (%)

80

3,166
60

40

20

1,000
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Fator de Equivalência de Carga (FEC)

Figura 3: Redução percentual da vida útil do pavimento em função do FEC empírico-


mecanístico.

A Tabela 12 apresenta um resumo da redução de vida útil prevista para a estrutura


do pavimento estudado considerando-se os valores dos FEC empírico-mecanísticos
calculados com o expoente médio 4,298 utilizado pela AASHTO, de acordo com
PEREIRA (1992).

Tabela 12: Evolução dos FEC empírico-mecanísticos da AASHTO segundo PEREIRA


(1992) e redução da vida útil do pavimento.
Condições de Pressão de Redução da vida
carregamento enchimento kPa FEC (AASHTO) útil
(kN/eixo) (psi) (%)
82 kN (Padrão) 563 (80) 1,000 0,00
100 kN (Máxima) 633 (90) 2,296 56,45
120 kN (Excesso) 703 (100) 5,027 80,11

64
100

Redução da vida útil do pavimento (%)


5,027
80

60
2,296

40

20

1,000
0
0 1 2 3 4 5 6
Fator de Equivalência de Carga (FEC)

Figura 4: Redução percentual da vida útil do pavimento em função do FEC empírico-


mecanístico da AASHTO, de acordo com PEREIRA (1992).

Adotou-se a variação do FEC como medida de previsão de vida útil da estrutura


do pavimento. A metodologia desta análise está embasada nas considerações
apresentadas por ALBANO (2005).
Considerando os FEC empírico-mecanísticos calculados, com o expoente b =
5,959 na Equação 4, conforme apresentado na Tabela 11 e Figura 3, ao se passar de um
N igual 2,55 x 105 operações da carga por eixo padrão (carga por eixo igual a 82 kN e
pressão de enchimento dos pneus igual a 533 kPa) para um N calculado com 100 kN de
carga por eixo e pressão de enchimento dos pneus igual a 633 kPa (90 psi), a redução da
vida útil prevista para o pavimento foi da ordem de 68,41%. Do ponto de vista teórico, a
vida útil do pavimento diminuiria para 3,42 anos. A mesma análise é aplicada para os
demais valores dos fatores de equivalência de carga (FEC) apresentados na Tabela 12 e
Figura 4.
Para a estrutura do pavimento investigada neste trabalho, foram determinados os
valores das deflexões recuperáveis no topo do subleito e a 20 cm de profundidade
abaixo desta superfície, obtidas com o auxílio do programa ELSYM5, calculadas para
eixo simples de roda simples com carregamentos de eixo apresentados nas Tabelas 13 e
14. Em seguida, foram obtidos em função das referidas deflexões elásticas os valores
dos FEC, utilizando-se a Equação 4. Também, foram encontrados os FEC para os
mesmos carregamentos a partir do ábaco contido no DNIT (2006) para eixo simples de
roda simples. O propósito desta análise foi à determinação de valores do expoente b
para a obtenção dos FECs oriundos do ábaco acima citado em função das deflexões
recuperáveis superficiais e a 20 cm de profundidade da superfície do subleito, conforme
consta nas Tabelas 15 e 16.

65
A Tabela 13 contém os valores das deflexões recuperáveis no topo do subleito
(0,01 mm) em função da carga por eixo e pressão de enchimento dos pneus de 80 PSI
ou 563 kPa.

Tabela 13: Valores de deflexões recuperáveis no topo do subleito (0,01 mm) em função
da carga por eixo e pressão de enchimento dos pneus.
Carga por eixo (tf)
Pressão de
enchimento 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0
kPa (PSI) Deflexões recuperáveis (0,01 mm)
563 (80) 50,8 65,8 80,8 94,8 108,0

A Tabela 14 contém os valores das deflexões recuperáveis (0,01 mm) a 20 cm de


profundidade da superfície do subleito, em função da carga por eixo e pressão de
enchimento dos pneus de 80 PSI ou 563 kPa.

Tabela 14: Valores de deflexões recuperáveis (0,01 mm) a 20 cm de profundidade


abaixo da superfície do subleito em função da carga por eixo e pressão de enchimento
dos pneus
Carga por eixo (tf)
Pressão de
enchimento 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0
kPa (PSI) Deflexões recuperáveis (0,01 mm)
563 (80) 28,8 37,8 47,2 56,2 65,2

As Tabelas 15 e 16 apresentam os valores dos FEC empírico-mecanísticos


calculados com o emprego da Equação 4 e da utilização do ábaco do DNIT (2006).
Também, os valores dos expoentes para obtenção dos valores dos FEC (DNIT) em
função das deflexões superficiais e a 20 cm de profundidade da superfície do subleito.
O expoente para a determinação do FEC (DNIT) pela Equação 4, foi determinado
pela Equação 10.

ln( FECij )
Exp.FEC ( DNIT ) (10)
§D ·
ln¨ ij ¸
¨D ¸
© pp ¹

66
em que: Exp.FEC(DNIT) é o expoente estimado para a Equação 4, em função do valor
do FEC obtido do ábaco do (DNIT, 2006); ln (FECij) é o logaritmo neperiano do valor
do FEC obtido do abado do (DNIT, 2006) e ln (Dij/Dpp) é o logaritmo neperiano da
razão entre a deflexão recuperável referente a um eixo qualquer e a deflexão
recuperável referente ao eixo padrão.

Tabela 15: Valores de FEC calculados e obtidos do ábaco do DNIT (2006) e da


Equação 4 em função das deflexões recuperáveis no topo do subleito.
Expoente para obter
Carga/eixo (tf) FEC Calculado FEC (DNIT)
FEC (DNIT)
3,0 0,019 0,015 5,950
4,0 0,088 0,035 5,971
5,0 0,299 0,150 5,975
6,0 0,777 0,250 5,957
7,0 1,689 0,550 5.956

Tabela 16: Valores de FEC calculados e obtidos do ábaco do DNIT (2006) e da


Equação 4 em função das deflexões recuperáveis a 20 cm de profundidade da superfície
do subleito.
Expoente para obter
Carga/eixo (tf) FEC Calculado FEC (DNIT)
FEC (DNIT)
3,0 0,006 0,015 5,867
4,0 0,028 0,035 5,959
5,0 0,105 0,150 3,290
6,0 0,297 0,250 1,488
7,0 0,720 0,550 5,973

Para a determinação dos valores dos FEC (DNIT, 2006) para eixo simples de roda
simples, em função das deflexões recuperáveis superficiais, o valor médio do expoente
b, da Tabela 15, contido na Equação 4 para esta análise foi de 5,962, muito próximo do
valor apresentado na equação original. Esta análise mostrou que, para eixo simples de
roda simples os valores dos FEC (DNIT, 2006) encontrados em função das deflexões
recuperáveis e do carregamento de eixo são muito próximos. Assim, se a estrutura do
pavimento estiver trabalhando num regime elástico linear, os FEC podem ser
determinados tanto por uma análise mecanicista quanto pelos ábacos do DNIT (2006).

67
Já para os valores dos FEC (DNIT, 2006) para eixo simples de roda simples, em
função das deflexões recuperáveis a 20 cm de profundidade da superfície do subleito, o
valor médio do expoente b encontrado utilizando-se a Equação 4 foi de 4,515. Com este
expoente, os valores dos FEC se aproximam mais dos oriundos do experimento da
AASHTO como citado por PEREIRA (1992).

4.6.4 Tensões verticais na superfície do subleito

Neste trabalho, realizou-se ainda um estudo das tensões verticais atuantes na


superfície do subleito. Para a estrutura e parâmetros de deformabilidade contidos nas
Tabelas 5 e 6 e carregamentos apresentados na Tabela 8, foram obtidas as tensões
verticais na superfície do subleito através do programa computacional ELSYM5, cujos
valores encontram-se reproduzidos na Tabela 17. Calculou-se a tensão vertical
admissível no subleito, pela Equação 11 estabelecida em 1962 por Heukelom e Klomp.

0,006 ˜ M R
V vadm (11)
1  0,7 ˜ logN

em que: V vadm é tensão vertical admissível no topo do subleito; M R é módulo de

resiliência do subleito em kgf/cm2 e N é o número de aplicações de carga.

Aplicando-se a Equação 9, para um valor de módulo de resiliência de 600 kgf/cm2


obtido pela Equação 5 e para um valor de N igual a 2,55 x 105 solicitações do eixo
padrão, obteve-se um valor de tensão vertical admissível ( V vadm ) no topo do subleito de

78,3 kPa.

Tabela 17: Valores das tensões verticais previstas no topo do subleito para espessura da
melhoria do subleito de 0,20 m.
Condições de Tensão vertical no topo
Pressão de enchimento
carregamento do subleito
kPa (psi)
(kN/eixo) (kPa)
82 kN (Padrão) 563 (80) 167
100 kN (Máxima) 633 (90) 200
120 kN (Excesso) 703 (100) 235

68
Analisando-se os valores da tensão vertical no topo do subleito apresentados na
Tabela 17, observa-se que todos os valores superaram a tensão vertical admissível. Isto
evidência que a espessura do revestimento primário com a rigidez que lhe foi conferida
é insuficiente para suportar a carga do tráfego. Outra análise que, ainda, se realizou,
consistiu em se determinar qual deveria ser a rigidez da camada do revestimento
primário para atender à tensão vertical admissível no topo do subleito, preservando-se a
sua espessura de 20 cm, determinando-se o módulo de elasticidade de 7.500 kgf/cm2
para a referida camada. Sendo que, este é um valor difícil de ser alcançado, salvo o
emprego de técnicas de estabilização química de solos, por exemplo.
A Tabela 18 contém os resultados das tensões verticais no topo do subleito para
uma espessura da camada do revestimento primário de 40 cm.

Tabela 18: Valores das tensões verticais previstas no topo do subleito para espessura da
melhoria do subleito de 0,40 m.
Tensão vertical no topo
Condições de Pressão de enchimento
do subleito
carregamento (kN/eixo) kPa (psi)
(kPa)
82 kN (Padrão) 563 (80) 69
100 kN (Máxima) 633 (90) 84
120 kN (Excesso) 703 (100) 100

Analisando-se os resultados contidos na Tabela 18, observa-se que com o


aumento da espessura da camada de revestimento primário, as tensões verticais no topo
do subleito reduziram consideravelmente. Para o eixo padrão, a tensão vertical prevista
no topo do subleito foi menor do que a tensão admissível. Para os demais
carregamentos, as tensões verticais superaram à admissível.
Se fosse utilizado o método empírico do DNIT (2006) para o dimensionamento de
pavimentos flexíveis, considerando-se os valores CBR contidos na Tabela 6 e um
N 2,55 ˜105 operações equivalentes do eixo padrão, a espessura requerida para
proteger o subleito quanto às deformações plásticas excessivas seria de 42 cm. Neste
dimensionamento, considerou-se o material do revestimento primário como sendo
granular de coeficiente de equivalência estrutural igual a 1. Assim, por este método, se a
rigidez da camada do revestimento aumentasse, a sua espessura não sofreria alteração.

69
4.7 Conclusões

Confirmou-se, via análise da variação da máxima deflexão recuperável e dos FEC,


que a carga por eixo representa um dos fatores mais importantes na deterioração do
pavimento. A análise possibilitou também avaliar a influência da pressão de enchimento
dos pneus no desempenho do pavimento estudado.
Utilizando-se FEC empírico-mecanísticos calculados pela Equação 4 e os
derivados dos estudos da AASHTO, ambos apresentados por PEREIRA (1992),
conclui-se que a avaliação com FEC decorrente do último sinaliza maior longevidade
para o pavimento estudado. Como já se antevia para a condição mais crítica de
carregamento que foi a carga por eixo de 120 kN e pressão de enchimento dos pneus de
703 kPa (100 psi), o FEC obtido pela Equação 4 foi extremamente significativo, ou seja,
igual a 9,382. Para este valor, a vida útil da estrutura do pavimento analisado diminuiu
89,34% em relação à vida útil estimada com o FEC obtido com a carga padrão. Assim,
teoricamente, a vida útil prevista para a estrutura do pavimento seria da ordem de 0,5
anos.
Na análise da determinação do FEC (DNIT, 2006) para eixo de simples de rodas
duplas, em função das deflexões recuperáveis, conclui-se que o conhecimento do
carregamento por eixo e da pressão de enchimento dos pneus da frota comercial que
utiliza a via não pavimentada, representa com mais evidência a realidade das
solicitações da estrutura do pavimento, do que simplesmente empregar informações
sobre o volume médio diário de tráfego misto.
Em termos de dimensionamento da espessura da camada de revestimento primário
(estrutura com duas camadas), tendo em vista os parâmetros de rigidez e
deformabilidade adotados para a estrutura e carregamentos apresentados nas Tabelas 5 e
6, verifica-se que:
x quando se emprega o método empírico do DNIT (2006) para dimensionamento
de pavimentos flexíveis, sendo a camada do revestimento primário granular, a
sua espessura fica condicionada à rigidez do subleito. Em outras palavras, se o
suporte do revestimento primário aumentar, não haverá alteração na espessura
da referida camada, pois a mesma não deixará de ser granular, salvo alterações
em sua estrutura via técnicas de estabilização química de solos ou mistura de
outros materiais capazes de modificar a sua resistência à tração;
x pela teoria elástica, se houver ganhos de rigidez do revestimento primário, por
exemplo, através do aumento da energia de compactação, a sua espessura tende

70
a diminuir, devido à redução da tensão vertical no topo do subleito. Assim, este
método parece mais adequado para a finalidade pretendida.
A estabilização química dos materiais empregados (solo-agregado) na camada de
melhoria ou reforço do subleito das estradas vicinais pode vir ser uma alternativa para
se alcançar a resistência mecânica que o pavimento necessitará para suportar as
solicitações do tráfego comercial. Uma vez que, pode-se alcançar camadas menos
espessas que as determinadas pelo método de dimensionamento do DNIT (2006) para
atender a mesma solicitação de tráfego.

4.8 Agradecimentos

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB), pela


concessão da bolsa de pesquisa ao primeiro autor e ao Departamento de Engenharia
Civil da Universidade Federal de Viçosa (DEC/UFV) pelo suporte computacional para a
análise dos dados.

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73
5
ENSAIOS GEOTÉCNICOS FÍSICOS E MECÂNICOS PARA AVALIAÇÃO DE
SUBLEITO DE RODOVIAS VICINAIS DE BAIXO VOLUME DE TRÁFEGO

Resumo - Este artigo aborda a viabilidade técnica do uso de solos locais,


preferencialmente os de comportamento geotécnico laterítico, em camadas de reforço
do subleito de rodovias vicinais de baixo volume de tráfego, através de ensaios
geotécnicos físicos e mecânicos e da classificação MCT (Miniatura, Compactado,
Tropical). Para este propósito, consideraram-se amostras deformadas de solos coletadas
no subleito das estradas VCS 493 e VCS 296, pertencente à malha rodoviária vicinal do
município de Viçosa-MG. O programa de estudo de laboratório envolveu a realização
dos seguintes ensaios: (i) granulometria conjunta; (ii) limites de Atterberg (LL e LP);
(iii) massa específica dos grãos do solo; (iv) compactação e CBR realizados na energia
do Proctor normal; (v) compactação Mini-MCV; e (vi) perda de massa do corpo-de-
prova por imersão em água. Os resultados desta pesquisa possibilitaram verificar que os
solos de comportamento laterítico foram enquadrados no grupo LG’ na classificação
MCT e que, mesmo apresentando valores de Limite de liquidez e Índice de plasticidade
elevados, quando compactados na energia do Proctor normal e, conseqüentemente,
imersos em água, não apresentaram expansão significativa no ensaio de CBR.
Palavras-Chave: Estradas não pavimentadas; Solos; Reforço de subleito

GEOTECHNICAL MECHANICAL AND PHYSICAL TESTING FOR


EVALUATION OF SUBGRADE OF LOW VOLUME OF TRAFFIC VICINAL
ROADS

Abstract – This paper addresses the technical feasibility of using local soils, preferably
the behavior of geotechnical lateritic in layers of reinforcement of subgrade of low
volume of traffic vicinal roads through physical and mechanical geotechnical testing
and rating MCT (Miniature, Compacted, Tropical). For this purpose, considered to be
deformed samples of soil collected in subleito of roads VCS 493 and VCS 296,
belonging to the vicinal roads network in the municipal district of Viçosa-MG. The
laboratory testing program encompassed: (i) grain-size distribution; (ii) Atterberg
limits (LL and PL); (iii) unit weight of solid mater; (iv) compaction and CBR in the

74
energy of standard Proctor; (v) mini-MCV compaction; and (vi) specimen loss of
weight via water immersion. The results have enabled found that the soils of behavior
lateritic were framed in the classification in the MCT group LG 'and that even with
values of limit liquidity and high plasticity index, when compressed in the energy of
standard Proctor and, consequently, immersed in water, showed no significant
expansion in the testing of CBR.
Keywords: Unpaved Roads; soils; Reinforcement of subgrade

5.1 Introdução

Em sua grande maioria, no estado de Minas Gerais as rodovias municipais


interligam os pólos agropecuários do interior do estado a rodovias estaduais e federais
pavimentadas, escoando as produções agropecuárias e abastecendo os grandes centros
consumidores. De acordo com ANTT (2005), no estado de Minas Gerais 87,64% das
rodovias municipais ainda se encontram em leito natural.
Segundo Charman (1988) apud D´ÁVILA (1996), as estradas não pavimentadas
constituem área do conhecimento em que muito pouca tecnologia formal foi
desenvolvida. Praticamente a totalidade das especificações técnicas existentes para
revestimento primário para este tipo de estrada se fundamenta nos ensaios tradicionais
de classificação de solos: análise granulométrica e limite de Atterberg.
O baixo volume de tráfego da maioria das rodovias vicinais repercute de maneira
positiva porque condiciona uma estrutura de pavimento mais econômica. Entretanto o
método de dimensionamento tradicionalmente utilizado no Brasil (DNIT, 2006),
estabelecido na década de 1960, não se mostra uma ferramenta adequada para o
dimensionamento de pavimentos flexíveis de baixo volume de tráfego, pois ao se
empregar este método, incorre-se numa extrapolação das dimensões das camadas do
pavimento, que pode conduzir a estruturas pouco econômicas. Por outro lado, na
maioria das vezes não possibilita a utilização de materiais locais que apresentam bom
comportamento mecânico, diferentemente da metodologia MCT (Miniatura,
Compactado, Tropical) que pode ser empregado atualmente para a seleção de materiais
locais, que poderia reduzir os custos de pavimentação das referidas vias.
De acordo com Thuler (2005), a utilização de solos de comportamento laterítico
em bases de pavimentos de baixo volume de tráfego já está consagrada em vários
estados do Brasil, principalmente no estado de São Paulo, apesar destes materiais não
atenderem às especificações do método de dimensionamento do DNIT. Sabe-se que a

75
necessidade de melhor se classificar os solos tropicais levou ao desenvolvimento da
metodologia MCT (Miniatura, Compactado, Tropical) por NOGAMI e VILLIBOR
(1995), baseados em pesquisa de laboratório e de campo realizados a partir do início da
década de 70. Essa metodologia classifica os solos em grupos de comportamento
laterítico e não-laterítico. No município de Viçosa-MG várias ocorrências de solos
podem apresentar comportamento laterítico sob os critérios da metodologia MCT,
conforme estudos de AZEVEDO (1999).
Diante deste contexto, busca-se nesta pesquisa avaliar, através de ensaios
geotécnicos físicos e mecânicos, a viabilidade técnica do uso de solos locais,
preferencialmente de comportamento laterítico, em camadas de reforço do subleito de
rodovias vicinais de baixo volume de tráfego. Para este fim, foram selecionadas, para
este estudo, no município de Viçosa-MG duas rodovias não pavimentadas de baixo
volume de tráfego. Essas rodovias, além de atenderem a pequenas comunidades e
propriedades rurais, apresentam características comuns como: plataforma de
terraplenagem pequena (5 a 8 metros), pontos sinuosos com curvas de raio pequeno,
deficiência de drenagens superficial e profunda.

5.2 Solos de regiões tropicais e subtropicais

Segundo Nogami e Villibor (1995), solos tropicais podem ser definidos como
sendo aqueles que apresentam peculiaridades de propriedades e de comportamentos
decorrentes de processos geológicos e/ou pedológicos típicos de regiões tropicais e
subtropicais úmidas.
Solos tropicais são tratados normalmente, pela engenharia, como solos residuais.
No caso dos solos saprolíticos isso é uma verdade. Contudo, os solos lateríticos
geralmente apresentam certo transporte, evidenciando-se a importância dos
conhecimentos pedológicos para não estimar erroneamente a origem dos mesmos com
relação ao seu substrato geológico. Os minerais primários, nos solos lateríticos, em
decorrência do intemperismo, já desapareceram, restando apenas os mais resistentes
(NOGAMI e VILLIBOR, 1995).
Classicamente o termo residual é atribuído a todo solo derivado do intemperismo
in situ de uma rocha, e que não foi removido do seu local de origem por algum agente
transportador como água, vento ou a ação da gravidade. Não existe uma terminologia
consensual para descrever as várias classes de solos residuais (BERNARDES, 2003).

76
A decomposição e a desintegração da rocha nos processos intempéricos, em
regiões tropicais e subtropicais , têm características próprias, onde o imtemperismo
químico é intenso, ocasionando a decomposição dos silicatos. A abundância de chuvas e
altas temperaturas possibilitam e aceleram os processos de lixiviação destes elementos
através da hidrólise, levando à formação de argilas e concentrações de óxidos de ferro e
alumínio (DAVISON DIAS, 1988). Estes processos conduzem à formação do horizonte
B evoluído, que em alguns casos é denominado laterítico ou residual maduro, ou de
horizonte C menos evoluído, que mantém a estrutura e minerais primários da rocha-
mãe, denominado saprolítico ou residual jovem. A pedologia denomina estes solos,
respectivamente, como horizonte B, latossólico ou textural e como horizonte C
(horizonte saprolítico).
Solos lateríticos são solos bem intemperizados, característicos de áreas bem
drenadas, que ocupam as camadas mais superficiais. Apresentam coloração em que
predominam as matizes vermelho e amarelo, com uma macroestrutura aparente
homogênea e isotrópica. Sua constituição mineralógica é caracterizada pela presença de
quartzo e de outros minerais com resistência mecânica e química (magnetita, ilmenita,
turmalina, zircão) na fração areia. A fração argila é constituída de argilominerais,
geralmente a caulinita, e óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio (COZZOLINO e
NOGAMI, 1993).
De acordo com Nogami e Villibor (1995), os solos saprolíticos (Horizonte C) são
originados da decomposição e/ou desagregação de uma rocha consolidada e, em
condições naturais, constituem camadas subjacentes às lateríticas. Sua macroestrutura se
caracteriza pela heterogeneidade e anisotropia, geralmente com cores variadas, manchas
e mosqueamentos herdados da rocha matriz ou desenvolvidos pelo intemperismo.
Apresentam uma composição mineralógica muito variada, que depende do tipo de rocha
matriz e do seu grau de intemperização. Na fração areia, podem ocorrer minerais como
mica e feldspatos e, na fração argila, minerais expansivos da família das ilitas e das
montmorilonitas. A fração silte pode apresentar uma mineralogia muito variada e
peculiar, como macrocristais de caulinitas e micas, que podem impor comportamento
peculiar a estes solos (COZZOLINO e NOGAMI, 1993).
Ao contrário de solos lateríticos, onde predominam os efeitos dos processos
pedogenéticos, a influência do material de origem é bastante pronunciada nos solos
saprolíticos. Contudo, à medida que o grau de inemperismo aumenta, o material de
origem passa a ter pouca ou nenhuma influência sobre o comportamento de solos
residuais formados (TOWNSEND, 1985). Assim, o índice de vazios dos solos

77
saprolíticos é dependente da textura da rocha de origem e do processo isovolumétrico de
alteração e substituição pseudomórfica dos minerais primários da rocha. A preservação
da estrutura original da rocha permite que os solos saprolíticos tenham índices de vazios
elevados (PERAÇA, 2007).

5.3 Material e métodos

5.3.1 Área de estudo

O município de Viçosa, com uma área de 300,2 km², está localizado ao norte
da Zona da Mata do estado de Minas Gerais, a 229 km de Belo Horizonte, Brasil,
entre as latitudes 20º 41’ 20” S a 20º 49’ 35” S e as longitudes 42º 49’36” W a 42º
54’27” W, a uma altitude média de 650 m. Limita-se ao norte com os municípios de
Teixeiras e Guaraciaba, ao sul com Paula Cândido e Coimbra, a leste com Cajuri e
São Miguel do Anta e a oeste com o município de Porto Firme (IBGE, 2008),
conforme se apresenta na Figura 1.

Figura 1: Localização das estradas vicinais VCS 493 e VCS 296 no município de
Viçosa-MG

78
5.3.2 Solos

As amostras deformadas de solo utilizadas nesta pesquisa, em número de


quatorze, foram coletadas no subleito das estradas vicinais não pavimentadas VCS 493
e VCS 296, localizadas na área rural do município de Viçosa, Minas Gerais, Brasil. De
cada ponto de coleta, extraíram-se aproximadamente 40 kg de solo, em profundidades
variando na faixa de 60 a 80 cm. A Figura 2 apresenta duas amostras de solos coletadas
nas estacas 15 + 00 e 41 + 00, respectivamente das estradas vicinais não pavimentadas
VCS 493 e VCS 296.

Figura 2a: Amostra deformada de solo Figura 2b: Amostra deformada de solo
coletada na Est. 15 + 00 da VCS 493 coletada na Est. 41 + 00 da VCS 296

5.3.3 Métodos

Inicialmente, as amostras de solos foram secas ao ar, destorroadas, passadas na


peneira #4 (4,8 mm), acondicionadas em sacos plásticos e armazenadas, para serem
empregadas em vários ensaios geotécnicos.

5.3.3.1 Ensaios de caracterização geotécnica

Os ensaios geotécnicos para a caracterização tradicional das amostras foram os


que seguem: granulometria conjunta (ABNT, 1984a), limites de Atterberg (ABNT,
1984b) e (ABNT, 1994) e massa específica dos grãos do solo (ABNT, 1984c). A Figura
3 apresenta o ensaio de granulometria conjunta e massa específica dos grãos do solo
realizado para amostras de solos deformadas coletadas nas estradas vicinais não
pavimentadas VCS 493 e VCS 296.

79
Figura 3a: Ensaio de granulometria conjunta das amostras Figura 3b: Ensaio de massa específica
de solos coletadas nas rodovias vicinais não pavimentadas dos grãos do solo das amostras de solos
VCS 493 e VCS 296 coletadas nas rodovias vicinais não
pavimentadas VCS 493 e VCS 296

5.3.3.2 Ensaios de compactação e Índice de Suporte Califórnia (CBR)

Os ensaios de compactação foram realizados na energia do ensaio Proctor


Normal, segundo a metodologia descrita na (ABNT, 1986), para fins de determinação
do peso específico aparente seco máximo (Ȗdmáx) e da umidade ótima (Wot) em solos no
estado natural. Definidos os parâmetros ótimos de compactação, determinaram-se os
valores dos parâmetros CBR e expansão das amostras de solo analisadas, de acordo com
(DNER, 1994a).

5.3.3.3 Classificação MCT

As amostras de solo referenciadas anteriormente também foram identificadas,


segundo a Metodologia MCT. Para isto, realizaram-se os ensaios de Mini-MCV e perda
de massa por imersão, conforme os procedimentos prescritos em (DNER, 1994b), com
necessárias consultas complementares à (DNER, 1994c), (DNER, 1994d), (DNER,
1994e) e (DNER, 1994f).

5.3.3.3.1 Ensaio de compactação Mini-MCV e moldagem dos corpos-de-prova

As amostras utilizadas neste ensaio foram passadas na peneira #10 (2,0 mm). O
ensaio Mini-MCV consiste, basicamente, da compactação de corpos-de-prova em
dimensões reduzidas (diâmetro de 50 mm) em energias variáveis, até alcançar a

80
exsudação ou o número de 256 golpes. É executado com energia de compactação
variável e massa úmida de solo constante, obedecendo-se às seguintes etapas: (i)
pesagem de, no mínimo, 5 porções de solo, cada uma com 1 kg, e armazenamento
destas em sacos plásticos, com posterior adição de água, de modo a se obter teores de
umidade crescentes, mantendo-se as porções fechadas em embalagens plásticas até o
inicio do processo de compactação; (ii) pesagem de 200 g de solo para cada teor de
umidade, iniciando-se o processo de compactação pelo ponto mais úmido; (iii)
aplicação de números sucessivos de golpes, medindo-se as alturas dos corpos-de-prova
a cada 4n golpes; (iv) encerramento do processo de compactação quando a diferença de
altura (An - A4n) for menor que 0,1 mm, quando ocorrer exsudação ou quando o
número de golpes totalizar 256; (v) repete-se a seqüência de (i) a (iv), para outros teores
de umidade.
Para cada amostra analisada foram confeccionados cinco corpos-de-prova compactados
dinamicamente, para diversos números de golpes, com uma variação de umidade em
torno de 2% para cada corpo-de-prova, sendo que estes foram compactados na ordem do
mais úmido para o mais seco.

5.3.3.3.2 Ensaio de perda de massa por imersão

Após a compactação Mini-MCV dos corpos-de-prova, os mesmos são preparados


para a obtenção da perda de massa por imersão em água. O procedimento utilizado
consistiu em promover a extrusão de cerca de 10 mm do corpo-de-prova do molde
metálico, colocando-se em seguida o conjunto na posição horizontal dentro de um
recipiente com água, com uma cápsula para a coleta do material desprendido da porção
exposta do corpo-de-prova. Cada amostra foi deixada em imersão por um período de
tempo em torno de 20 h, com uma lâmina de água de, aproximadamente, 1 cm acima da
superfície externa do molde.

5.4 Resultados e discussão

5.4.1 Ensaios de caracterização geotécnica, compactação e CBR

Os solos são identificados e classificados, comumente, em Mecânica dos Solos,


sobretudo nos estudos preliminares ou nas obras de pequeno vulto, mediante a
determinação de propriedades físicas via ensaios de granulometria e de limites de

81
Atterberg. A Tabela 1 apresenta as informações referentes à distribuição granulométrica
(ABNT, 1995), os limites de Atterberg e índice de plasticidade, pesos específicos dos
grãos das quatorze amostras de solos analisadas. As Tabelas 2 e 3 introduzem,
respectivamente, os resultados dos ensaios de compactação e CBR das referidas
amostras.

Tabela 1: Resultados dos ensaios geotécnicos: granulometria, limites de Atterberg e


índice de plasticidade, peso específico dos grãos dos solos
Propriedades Amostras de solos
analisadas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
Argila
(I d 0,002 73 41 50 67 31 50 61 28 51 72 44 38 47 74
mm)
Silte
(0,002 < I d 6 25 4 19 18 15 15 21 11 7 23 16 26 10
0,06mm)
Areia fina
(0,06 < I d 8 10 14 4 18 14 4 20 17 6 12 19 5 3
Granulometria ABNT (%)

0,2mm)
Areia média
(0,2 < I d 12 23 31 9 29 20 17 28 20 14 20 23 16 11
0,6mm)
Areia grossa
(0,6 < I d 2 1 1 1 1 4 1 3 3 1 1 1 4 6 2
mm)
Pedregulho
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
(I > 2 mm)
LL (%) 92 48 55 72 49 54 90 61 58 84 58 85 55 76
LP (%) 42 31 32 37 26 31 52 21 35 43 30 36 36 37
IP (%) 50 17 23 35 23 23 38 40 23 41 28 49 19 39
Ȗs (kN/m3) 28 27 28 27 27 28 27 25 27 27 28 28 27 28

82
Tabela 2: Parâmetros de compactação: umidade ótima e peso específico aparente seco
máximo

Parâmetros do Ensaio de Compactação


Umidade ótima - Peso específico aparente seco máximo -
Amostras de solos
wot (%) Ȗdmáx (kN/m3)
1 31,92 14,27
2 21,79 16,37
3 19,37 17,12
4 29,20 14,14
5 21,34 16,17
6 30,00 14,05
7 39,09 12,54
8 30,56 14,16
9 28,19 14,24
10 30,08 14,32
11 28,00 14,47
12 25,90 15,20
13 30,16 14,49
14 31,16 13,66

83
Tabela 3 – CBR (%) e ExpansãoCBR das amostras analisadas

Amostras de solos CBR (%) ExpansãoCBR (%)


1 2,61 0,21
2 3,24 0,42
3 4,92 0,30
4 8,16 0,78
5 4,92 0,72
6 8,42 0,23
7 8,42 0,62
8 2,61 0,21
9 6,52 0,61
10 3,24 0,51
11 8,42 0,62
12 6,52 0,67
13 4,92 0,29
14 8,42 0,40

Os índices físicos limite de liquidez (LL) e índice de plasticidade (IP), ainda são
utilizados para se avaliar a variação de volume dos solos compactados, bem como a
variação do seu teor por secagem (contração) ou por imersão em água (expansão). A
variação de volume excessiva, sobretudo das camadas subjacentes ou constituintes dos
pavimentos, é comumente considerada como indesejável para o bom comportamento
mecânico dos materiais empregados em camadas de pavimentos flexíveis. Para as
finalidades rodoviárias, (DNIT, 2006) adota um máximo de 25% para Limite de
liquidez e 6% para o Índice de plasticidade, para materiais empregados em camadas de
base estabilizadas granulometricamente.
No entanto, NOGAMI e VILLIBOR (1995) baseados em experiências de
laboratório e de campo relataram que os referidos índices possuem aplicações limitadas
para os casos de solos e condições ambientais tropicais, o que pode ser verificado, nessa
pesquisa, nos resultados de índice físicos e expansão das amostras analisadas, como
consta na Tabela 1, em que se têm amostras de solos com LL elevados (acima de 50%),
que expandem muito pouco, quando ensaiados nas condições presentes para a
determinação dos valores de CBR de acordo com (DNER, 1994a). De acordo com os
autores supracitados isso tem ocorrido em amostras de solos classificados

84
pedologicamente como latossolos e argissolos, que são solos representativos da área de
estudo dessa pesquisa conforme estudos de AZEVEDO (1999).

5.4.2 Classificação MCT

Na Tabela 4 encontram-se informações sobre as classificações das amostras


apresentadas segundo a Metodologia MCT (NOGAMI e VILLIBOR, 1995) e a
classificação pedológica vigente (SANTOS et al, 2006).

Tabela 4: Índices classificatórios e classificações das amostras selecionadas segundo a


metodologia MCT e a pedologia
Amostras Índices classificatórios Classificação Classificação
de solos c’ d’ Pi (%) e’ MCT pedológica
1 2,44 10,4 0 1,24 NG’ Saprolítico
2 3,11 22 82 1,29 NG’ Saprolítico
3 3,22 42,6 23 0,89 LG’ Saprolítico
Latossolo
4 4,78 8,04 0 1,36 NG’ Vermelho -
Amarelo
5 4,22 26 58 1,11 LG’ Saprolítico
Argissolo
6 4,78 15,1 0 1,10 LG’ Vermelho -
Amarelo
Latossolo
7 3,56 5,8 0 1,51 NG’
Vermelho Amarelo
8 3,11 4,6 260 1,90 NG’ Saprolítico
Argissolo
9 4,78 14 0 1,13 NG’ Vermelho –
Amarelo
10 4,00 17,7 0 1,04 LG’ Saprolítico
Latossolo
11 4,78 19,4 69 1,20 NG’ Vermelho -
Amarelo

85
Tabela 4: Índices classificatórios e classificações das amostras selecionadas segundo a
metodologia MCT e a pedologia. Continuação.
Amostras Índices classificatórios Classificação Classificação
de solos c’ d’ Pi (%) e’ MCT pedológica

Latossolo
12 4,22 6,0 82 1,61 NG’ Vermelho -
Amarelo
13 4,22 85 69 0,97 LG’ Saprolítico
Latossolo
14 4,22 20,5 0 0,99 LG’ Vermelho -
Amarelo

A geologia do município de Viçosa-MG é constituída por rochas referentes ao


Pré-Cambriano, compreendendo gnaisses diversos e migmatitos. Ao longo dos vales e
das vias fluviais, aparecem os sedimentos quaternários, constituindo depósitos
aluvionares de caráter argiloso, argilo-arenoso ou arenoso (IGA, 1976). Algumas das
amostras de solo que foram classificadas pela metodologia MCT como pertencentes ao
grupo NG’ compreendem os saprolíticos argilosos. De acordo com Nogami e Villibor
(1995), se classificam nesse grupo os solos superficiais pedogenéticos não lateríticos.
Alguns trechos das estradas vicinais investigadas possuem o leito estradal bastante
encaixados no terreno natural devido ao processo errôneo de conformação da
plataforma por patrolamento excessivo, existindo pontos críticos que alcançaram o
horizonte saprolítico, como mostra a Figura 4.

86
Figura 04: Trechos da estrada vicinal VCS 296 encaixados no terreno natural

As amostras de solos 1, 2, 3, 5, 8, 10 e 13 foram classificadas pedologicamente


como saprolíticos possivelmente provenientes do gnaisse, mineralogicamente, na fração
areia dessas amostras, foi possível constatar a presença de pseudomorfo de mineral
micáceo, embora as amostras 3, 5, 10 e 13 tenham sido classificadas pela metodologia
MCT com pertencentes ao grupo LG’. A presença desse mineral no solo, segundo
Nogami e Villibor (1995) pode elevar o limite de liquidez, como constatado nos
resultados apresentado na Tabela 1; causar a diminuição da massa específica aparente
seca máxima quando compactado e elevar a umidade ótima de compactação, de acordo
com o apresentado na Tabela 2, além da diminuição da capacidade de suporte, conforme
valores apresentados na Tabela 3.
De acordo com Nogami e Villibor (1995) os integrantes mais freqüentes do grupo
LG’ da classificação MCT, do qual fazem parte algumas amostras, tais quais as
amostras 6 e 14, têm sido as argilas e as argilas arenosas, que constituem o horizonte B
dos solos conhecidos pedologicamente por latossolos e argissolos. A colapsibilidade em
estado natural, por imersão em água, é uma propriedade freqüentemente observada nos
solos desse grupo, sobretudo quando apresentam partículas bem desenvolvidas. Nessa
condição, apresentam-se altamente permeáveis, apesar de serem granulometricamente
argila, de acordo com analise e relato de AZEVEDO (1999).

5.5 Conclusões

Para este estudo as amostras de solo coletadas nos subleitos pertencentes ao


horizonte B, em unidades pedológicas de maior ocorrência no município de Viçosa-

87
MG, apresentaram condições geotécnicas favoráveis, tais quais valores CBR e expansão
CBR significativos para os solos pertencentes às classes pedológicas dos argissolos e
latossolos, para serem utilizadas em pavimentos de rodovias de baixo volume tráfego de
acordo com a classificação MCT e ensaios geotécnicos físicos e mecânicos.
Os solos de comportamento laterítico foram enquadrados pela metodologia MCT
no grupo LG’. Esses solos mesmo possuindo elevados valores de LL e IP, quando
compactados na energia do ensaio Proctor normal, e conseqüentemente, imersos em
água não tiveram expansão CBR significativa.
Numa possível determinação de composições solo-agregado, em que o principal
componente é um solo de comportamento laterítico, para utilização em camadas de
pavimento, para a região de Viçosa é relevante considerar a natureza mineralógica
micácea desses, visto que, esse mineral tem influência significativa sobre a resposta
mecânica desses solos sob a ação das cargas rodoviárias, segundo NOGAMI e
VILLIBOR (1995).

5.6 Agradecimentos

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB), pela


concessão da bolsa de pesquisa ao primeiro autor e a Universidade Federal de Viçosa -
UFV, através do Departamento de Engenharia Civil pelo suporte na coleta das amostras
deformadas de solos e nos ensaios geotécnicos de laboratório.

Referências

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88
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TOWNSEND, F. C. Geotechnical characteristic of residual soils. Journal of
Geotechnical Engineering. v. 111, n° 1, p. 77-94. 1985.

90
6
SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA COMO SUPORTE À
GERÊNCIA DE MANUTENÇÃO DE RODOVIAS VICINAIS NÃO
PAVIMENTADAS

Resumo – Este artigo aborda a concepção de um modelo de sistema de gerência de


manutenção – SGM, específico para rodovias não pavimentadas, contribuindo para o
desenvolvimento de duas etapas. A primeira delas consistiu na adaptação de um método
de avaliação da condição de serventia de estradas não pavimentadas, para ser utilizada
em rodovias vicinais no município de Viçosa-MG. Para este fim, foi definido um Índice
de Serventia Relativa por Trecho Viário (IST), utilizando-se níveis de severidade de
defeitos comumente encontrados nessas vias. Na segunda etapa, todas as informações
geradas no método apresentado foram armazenadas e processadas em um sistema de
informação geográfica (SIG), com o objetivo de facilitar o manuseio, o processamento,
a visualização e a análise dos dados coletados. A avaliação e a visualização de trechos
viários em condições prioritárias de intervenção podem ser feitas, comprovando-se a
eficácia do método como suporte para as atividades de manutenção. A partir deste
estudo, presume-se que o referido método, com as devidas adaptações, venha a
contribuir na formulação de sistemas de gerência de manutenção de rodovias vicinais de
outras regiões brasileiras.
Palavras-Chave: Rodovias não pavimentadas; Método de análise de defeitos;
Sistema de gerência de manutenção

GEOGRAPHIC INFORMATION SYSTEMS AS SUPPORT FOR MAINTENANCE


MANAGEMENT OF UNPAVED VICINAL ROADS

Abstract – This paper addresses the design of a model management system of


maintenance - MSM, specific to unpaved roads, contributing to the development of two
stages. The first was the adaptation of a method for assessing the serviceability unpaved
roads, to be used on vicinal roads in municipal district of Viçosa-MG. To this end, an
index was defined road section serviceability index (RSI), using levels of severity of
defects commonly found in these roads. In the second stage, all information generated
in the proposed method were stored and processed in a geographic information system
(GIS), to facilitate the handling, processing, visualization and analysis of data

91
collected. The evaluation and visualization of road sections under priority of
intervention can be made, showing up the effectiveness of the method as a support for
the activities of maintenance. From this study it is assumed that the method, mutatis
mutandis, will contribute to the formulation of management systems for maintenance of
roads neighborhood of other Brazilian regions.
Keywords: Unpaved vicinal roads; Method of analysis of defects; Management system
for maintenance

6.1 Introdução

As estradas não pavimentadas constituem significativa parcela do total da rede


rodoviária no Brasil, aproximadamente 1,45 milhões de quilômetros de extensão, de
acordo com a ANTT (2005), e desempenham importante papel socioeconômico, visto
que funcionam como vias de ligações para escoamento da produção do setor primário às
rodovias pavimentadas, bem como o acesso às áreas urbanas.
Do ponto de vista político, observa-se que o repasse dos recursos estaduais e
federais é limitado para atender às demandas sociais dos municípios. Por isso, a
alocação desses recursos deve ser realizada racionalmente. Um sistema de gerência de
manutenção (SGM) para rodovias não pavimentadas, com certeza, será de grande valia
para a alocação dos mesmos.
Desta maneira, percebe-se que, para as administrações municipais atender
satisfatoriamente às demandas relacionadas à manutenção das rodovias não
pavimentadas, torna-se essencial a implantação de um sistema de gerência, em que
sejam utilizados métodos otimizados para a análise da condição funcional e da
priorização dos investimentos nas referidas vias.
Um dos ganhos que podem ser obtidos com o uso de um sistema de informação
geográfica (SIG), em relação à forma tradicional de analisar a condição de serventia das
rodovias vicinais não pavimentadas, é a redução da subjetividade. O SIG possibilita a
tomada de decisões mais técnica e menos pessoal, sobre um banco de informações
multidisciplinar.
Este estudo apresenta aspectos relativos à implementação de um sistema de
informação geográfica na concepção de uma proposta de gerência para a manutenção de
trechos da malha viária não pavimentada do município de Viçosa-MG. Esses aspectos
são apresentados a partir de análises espaciais ocorridas num ambiente SIG, através de
um projeto integrador, que possibilita trabalhar com bancos de dados externo e interno

92
ao sistema. A geração de informações em banco de dados externo ao SIG, e a posterior
inclusão das mesmas ao sistema convencionou-se chamar na literatura técnica de
vinculação fraca ou loose - coupling.
Diante do exposto, o objetivo desse estudo é apresentar um modelo de gerência
para manutenção de rodovias não pavimentadas do município de Viçosa-MG, através do
software SIG ArcView 3.2.

6.2 Concepção e implantação de um SGM para rodovias não pavimentadas

O processo de concepção de um sistema de gerência de vias não pavimentadas é


algo complexo, pela grande quantidade de informações multidisciplinares. Um SGM
não toma decisões, mas auxilia o tomador de decisões. Dessa forma, todas as
informações armazenadas devem ser coerentes com a realidade da região que abrange as
vias inspecionadas, para a concepção de um modelo consistente.
A implantação de um SGM, na maioria das vezes, depara na resistência de
mudança de padrões operacionais pré-estabelecidos pelas entidades gestoras das malhas
rodoviárias. Assim, as principais etapas do processo de implantação de um SGM, de
acordo com CORREIA (2003), são:
a) conscientização e decisão da entidade gestora da malha rodoviária para
implementar o SGM;
b) composição de uma equipe técnica para as atividades de desenvolvimento e
implantação do sistema;
c) composição de uma equipe de coordenação do SGM, com autonomia sobre as
decisões e coordenação das atividades e intervenções do SGM;
d) organização e desenvolvimento do sistema, segundo os objetivos previamente
definidos;
e) aplicar o SGM recém criado, primordialmente, em pequena escala para a
aferição de suas potencialidades;
f) aperfeiçoamento e aplicação completa do SGM recém criado para toda a malha
viária inspecionada.

93
6.3 Sistemas de informação geográfica

6.3.1 Introdução

Nos vários campos do conhecimento humano, faz-se necessário o emprego de


conhecimentos geográficos ou espaciais no processo de tomada de decisão. Isso ocorre,
por exemplo, desde atividades cotidianas como na análise logística de serviços de infra-
estrutura urbana, ou mesmo na gerência de recursos naturais da qual originou, ao final
da década de 60, o primeiro sistema de informação geográfica, denominado Canada
Geographic Information System (CGIS) (DEMERS, 1997).
Segundo Malczewski (1999), as definições sobre sistemas de informação
geográfica baseiam-se em dois aspectos básicos do sistema: a tecnologia empregada e a
forma de solucionar problemas. Neste contexto, sistemas de informação geográfica
podem ser definidos como um conjunto de ferramentas que possibilitam a entrada, o
armazenamento, a manipulação, a análise e a interpretação de dados espaciais
(MARBLE et al, 1984). Também, conforme explanado por BROTEN (1996), um SIG
pode ser compreendido como um sistema de gerenciamento de dados computadorizado.

6.3.2 Principais características e funções

De uma forma geral, os sistemas de informações geográficas podem ser


subdivididos em quatro subsistemas principais:
a) Subsistema de entrada de dados: é responsável pelo processo de aquisição ou
recebimento dos dados, reformatação, georreferenciamento, compilação e
documentação dos dados recebidos. Esses dados podem ser de várias naturezas:
mapas tradicionais a serem digitalizados, tabelas, gráficos, mapas digitais, fotos
aéreas, imagens de satélites, levantamentos topográficos, coordenadas de um
sistema de posicionamento global (GPS), dentre outros. Durante o processo de
entrada de dados é fundamental que se tenha o cuidado de trabalhar com dados
confiáveis para que não gerem informações imprecisas.
b) Subsistema de armazenamento e gerenciamento de dados: é responsável pelo
armazenamento, organização e chamada dos dados contidos no universo de
estudo. A base de dados pode ser expandida, atualizada, recuperada e
compartilhada por vários usuários. Dentre esses dados, distinguem-se as
entidades geográficas e os objetos. Uma entidade geográfica representa um

94
elemento do mundo real, enquanto um objeto é uma representação, no SIG, de
uma entidade geográfica. Dessa forma, os objetos que representam os dados
espaciais, podem registrar a sua localização na forma gráfica por meio de um
ponto, linha ou polígono. A estes objetos são relacionados atributos, que são
dados não espaciais que descrevem as suas características (MALCZEWSKI,
1999).
c) Subsistema de análise e manipulação de dados: neste subsistema os dados são
manipulados para se obter informações úteis segundo o objetivo da aplicação.
Nessa etapa, os objetos são tratados e definidos segundo seus atributos e vários
métodos de reclassificação e as buscas de objetos são processadas. Dessa forma,
pode-se identificar o que são pontos, linhas e polígonos representados em um
mapa temático, como ocorre quando se precisam localizar trechos de rodovias
não pavimentadas que demandam intervenções prioritárias de manutenção.
Aqui, se processam funções fundamentais e avançadas, tais como: mensuração,
para o cálculo associado a pontos, linhas, áreas e volumes (DANGERMOND,
1986).
d) Subsistema de saída de dados: é o subsistema responsável pela interpretação
dos dados, ou seja, o formato de saída das informações demandadas, que podem
ser na forma de mapa, tabelas diagramas ou combinações de formatos. Em
outras palavras, disponibilizar ao usuário os resultados da análise e
processamento dos dados do sistema de informações geográficas, que podem ser
exibidos, salvos em formato digital apropriado e impressos (DEMERS, 1997).

6.4 Uso de SIG em rodovias não pavimentadas

As estradas não pavimentadas necessitam de gerência de atividades de


manutenção, de tal forma que haja um planejamento contínuo de manutenção e
reabilitação da malha viária. Com a utilização desse sistema, criam-se perspectivas de
soluções mais eficazes que possam garantir melhores condições de serventia aos seus
usuários, mesmo sob influências climáticas adversas (MOREIRA, 2003).
A implementação de um SGM depende principalmente de três fatores: dados
confiáveis, modelos realísticos para o processamento dos dados e programas amigáveis
para a organização dos dados e apresentação dos resultados (BERTOLLO, 1997).
Bloser e Colbert (2003) relataram que sessenta e cinco municípios da Pensilvânia,
nos Estados Unidos da América, adotaram como ferramenta para o gerenciamento e

95
administração de rodovias não pavimentadas o SIG ArcView 3.2. Foram classificados
mais de 30.000 km de rodovias não pavimentadas em um período de seis meses, e a
principal contribuição foi à identificação de 11.000 pontos de contaminação de
ambientes e qualidade de água em córregos.

6.5 Material e Método

6.5.1 Área de estudo

O município de Viçosa, com uma área de 300,2 km², está localizado ao norte
da Zona da Mata do estado de Minas Gerais, a 229 km de Belo Horizonte, Brasil,
entre as latitudes de 20º 41’ 20” S a 20º 49’ 35” S e as longitudes de 42º 49’36” W a
42º 54’27” W, a uma altitude média de 650 metros. Limita-se ao norte com os
municípios de Teixeiras e Guaraciaba, ao sul com Paula Cândido e Coimbra, a leste
com Cajuri e São Miguel do Anta e a oeste com o município de Porto Firme (IBGE,
2008), conforme mostra a Figura 1, que também apresenta as estradas vicinais VCS
346, VCS 296 e trecho viário da VCS 493, que são objetos deste estudo.

Figura 1: Localização do município de Viçosa – MG.

96
6.5.2 Descrição do material

Para a realização deste trabalho foram utilizados equipamentos e programas


computacionais, descritos a seguir:

6.5.2.1 Equipamentos

x Computador tipo notebook com processador de 1,73 GHz, 1GB de memória RAM,
HD de 120 GB, para o processamento dos dados no formato digital;
x Estação total eletrônica e GPS topográfico que foram utilizados nos levantamentos
topográficos das rodovias vicinais inspecionadas, de acordo com os procedimentos
prescritos na (ABNT, 1994).

6.5.2.2 Programas computacionais

x Software Topograph 98 SE, para processamento dos dados topográficos


coletados e definição dos traçados horizontais das rodovias vicinais levantadas;
x Software AutoCAD 2004, © Autodesk, Inc (1982 – 2003), para a divisão dos
traçados horizontais das rodovias vicinais em trechos viários, de acordo com a
marcação em campo;
x Software GIS ArcView 3.2a, © Environmental System Research Institute, Inc.,
para a operacionalização de um modelo de gerência de manutenção de rodovias
não pavimentadas.

6.5.3 Aplicação da metodologia em um estudo piloto

Para aplicar esta metodologia, foram utilizadas as rodovias não pavimentadas


VCS 346, trecho viário da VCS 493 e a VCS 296, localizadas no município de Viçosa -
MG. Essas rodovias foram escolhidas por servir de artérias de ligação entre rodovias
pavimentadas de circunscrição estadual e federal e pela proximidade ao campus da
Universidade Federal de Viçosa (UFV), o que facilitou o transporte de pessoas e
equipamentos para as finalidades do trabalho.

97
6.5.3.1 Descrição da metodologia

6.5.3.1.1 Introdução

A apresentação da metodologia para um modelo de gerência de manutenção de


rodovias não pavimentadas, com auxílio do software SIG ArcView 3.2, em função dos
tipos de defeitos, de acordo com BAESSO e GONÇALVES (2003) e adaptação da
metodologia de (CORREIA, 2003) à realidade das vias do município de Viçosa-MG,
tem como principal propósito o estudo da condição de serventia de trechos viários de
três rodovias não pavimentadas inspecionadas. Esta condição foi expressa através de um
índice de serventia relativa por trecho viário (IST) que, por sua vez, tem como objetivo
retratar a condição superficial do pavimento sob avaliação, para classificar em que
condições se encontram as vias no momento do inventário dos defeitos e também
definir uma escala de prioridades para as vias sujeitas a intervenções de manutenção.
Esta condição está relacionada com a quantidade e o tipo de defeitos nos trechos das
vias em consideração, servindo para diagnosticar quais delas necessitarão de
manutenção urgente e, também, para o planejamento de intervenções a médio e longo
prazos.

6.5.3.1.2 Avaliação das condições de serventia das vias

Para se fazer inventários de defeitos em estradas não pavimentadas existem vários


procedimentos. Neste estudo, adotou-se um procedimento baseado em BAESSO e
GONÇALVES (2003), considerando o seguinte cenário:
x necessidade de uma atualização periódica, a cada seis meses ou logo após um
período de chuvas intensas, do banco de dados relativo aos defeitos da superfície
de rolamento da rodovia;
x o defeito poeira não foi incorporado nesta avaliação, visto que seus níveis de
severidade são atribuídos segundo um processo perceptivo visual, em que se
busca estimar a altura da nuvem de poeira oriunda da passagem de um veículo
em velocidade de aproximadamente 40 km/h;
x levantamento amostral preconizado dos defeitos.

Assim, com o intuito de facilitar a determinação do índice de serventia relativa


por trecho viário (IST), a partir de adaptações à metodologia de CORREIA (2003) à

98
realidade das rodovias não pavimentadas do município de Viçosa-MG, adotou-se o
procedimento para a caracterização dos defeitos presentes na superfície de rolamento
das referidas vias, de acordo com BAESSO e GONÇALVES (2003). Esta avaliação foi
feita percorrendo, a pé, as unidades amostrais dos trechos das rodovias não
pavimentadas inspecionadas, e anotando-se em planilha elaborada para esse propósito,
os valores das áreas das unidades amostrais abrangidas e o número de ocorrência dos
defeitos, com os seus respectivos atributos de severidade, conforme apresentado na
Tabela 1.

Tabela 1: Planilha de inventário de defeitos – características das unidades


amostrais/unidade amostral 1 do trecho 1 da VCS 493.
Sigla da rodovia: VCS 493 Data: 12/06/08
Trecho: 01 Comprimento da UA (m): 50
Unidade amostral (UA): 01 Largura da UA (m): 5,40
Condição climática: nublado Inspetor: Taciano/Márcio
Desenho da unidade amostral (UA) Tipos de defeitos:
Obs: Estaca 2 + 50m à Estaca 3 + 00, 81** – Seção transversal imprópria (m)
Seção em corte. 82 – Drenagem inadequada (m)
83 – Corrugações (m2)
84 – Buracos (no de ocorrências)
85 – Trilhas de roda (m2)
86 – Segregação de agregados (m)
Quantidade de defeitos e severidade
Tipo de defeito 81 82 83 84 85 86
Quantidade B - 15 32,2 100
e M 50 -
Severidade* A 100 -
* Os atributos de severidade são os seguintes: B: Baixo, M: Médio e A: Alto.
** Código de defeitos do método de EATON et al (1987).

Foram observados os tipos de defeitos listados a seguir:

a) Seção transversal imprópria: uma rodovia não pavimentada deve ter sua seção
transversal configurada com declividade transversal adequada, suficiente para
escoar águas superficiais precipitadas no corpo da plataforma. Os níveis de
severidade considerados por BAESSO e GONÇALVES (2003) para esse tipo de
defeito são os seguintes:
- Nível B (Baixo): a rodovia não apresenta qualquer declividade transversal;
- Nível M (Médio): a seção transversal da rodovia apresenta forma parabólica;
- Nível A (Alto): a rodovia contém severas depressões na pista.

99
O defeito seção transversal imprópria é medido em metros lineares (m) por
unidade amostral, ao longo do eixo da rodovia ou paralelamente a este. Diferentes
níveis de severidade podem existir em uma mesma unidade amostral.

b) Drenagem inadequada: a drenagem é um sério problema para estrada não


pavimentada, quando os seus dispositivos não existem ou não estão funcionando
adequadamente. Os níveis de severidade considerados por BAESSO e
GONÇALVES (2003) para esse tipo de defeito são os seguintes:
- Nível B (Baixo): (i) baixas quantidades de poças de água ou (ii) evidência quanto
à sua ocorrência nos dispositivos de drenagem, (iii) vegetação, detritos ou
fragmentos de pedras depositados sobre os dispositivos de drenagem;
- Nível M (Médio): (i) moderada quantidade de poças de água ou (ii) evidências
quanto à sua ocorrência nos dispositivos de drenagem, (iii) vegetação, detritos ou
fragmentos de pedras depositados sobre os dispositivos de drenagem e, (iv)
erosões nos dispositivos de drenagem;
- Nível A (Alto): (i) alta quantidade de poças de água ou (ii) evidências quanto à
sua ocorrência nos dispositivos de drenagem, (iii) vegetação, detritos ou
fragmentos de pedras depositados sobre os dispositivos de drenagem e, (iv)
erosões nos dispositivos de drenagem, (v) água fluindo superficialmente à pista ou
se infiltrando na plataforma.

O defeito drenagem é medido em metros lineares (m), paralelamente ao eixo da


pista da rodovia. O comprimento máximo desse defeito é limitado ao dobro do
comprimento da unidade amostral.

c) Corrugações: são depressões transversais à pista, ocorrendo em intervalos


regulares de distância. De acordo com BAESSO e GONÇALVES (2003), estas
ondulações perpendiculares à direção do tráfego causam muito desconforto ao
usuário. Este tipo de defeito surge principalmente onde o trecho for
encascalhado com material granular variando entre 5 e 10 mm sem ligante. O
tráfego vai acumulando o material em ondulações transversais à estrada,
causando significativa trepidação nos veículos (SANTOS et al, 1988). Os níveis
de severidade considerados por BAESSO e GONÇALVES (2003) para esse tipo
de defeito são os seguintes:

100
- Nível B (Baixo): as depressões oriundas das corrugações têm profundidade
menor que 3,0 cm;
- Nível M (Médio): as depressões oriundas das corrugações têm profundidade
entre 3,0 e 8,0 cm;
- Nível A (Alto): as depressões oriundas das corrugações têm profundidade maior
que 8,0 cm.

As corrugações são medidas em metros quadrados (m2) para uma dada unidade
amostral. A quantidade medida não poderá exceder à área da unidade amostral. Por
exemplo, uma unidade amostral pode ter 230 m2 com nível de severidade média e 50 m2
com nível de severidade alta, de acordo com BAESSO e GONÇALVES (2003).

d) Buracos: são depressões na superfície da rodovia que ocasionam a desintegração


da pista pela perda dos materiais constituintes da camada. Os níveis de
severidade desse defeito são baseados nas dimensões dos buracos e medidos em
baixa, média e alta severidade por unidade amostral, conforme apresentado na
Tabela 2.

Tabela 2: Níveis de severidade para o defeito buraco, de acordo com BAESSO e


GONÇALVES (2003)
Diâmetro médio (ĭ)
Profundidade (h)
(m)
(cm)
ĭ ” 0,30 0,30 < ĭ ” 0,60 0,60 < ĭ ” 0,90 ĭ > 0,90
1”h<5 Baixo Baixo Médio Médio
5 ” h ” 10 Baixo Médio Alto Alto
h > 10 Médio Alto Alto Alto

e) Trilhas de roda: são depressões que ocorrem paralelamente ao eixo da pista.


Caracteriza-se pela presença de deformações plásticas na estrutura e subleito da
estrada, causada pela ação combinada do tráfego repetitivo e influências
climáticas. O tipo de material existente no leito e subleito da estrada, bem como
as suas condições de compactação exercem grande influência na amplitude das
trilhas de roda. Os níveis de severidade considerados para esse tipo de defeito
são os seguintes (BAESSO e GONÇALVES, 2003):

101
- Nível B (Baixo): trilha de roda com profundidade menor que 3,0 cm;
- Nível M (Médio): trilha de roda com profundidade entre 3,0 e 8,0 cm;
- Nível A (Alto): trilha de roda com profundidade superior a 8,0 cm.

Os defeitos trilhas de roda são medidos em metros quadrados (m2) de área em


uma dada unidade amostral. Por exemplo, uma unidade amostral pode ter 240 m2 com
este tipo de defeito com severidade alta e 75 m2 com nível de severidade baixa.

f) Segregação de agregados: o tráfego intenso em rodovias não pavimentadas pode


causar eventualmente a perda de agregados da superfície de rolamento. Como
conseqüência, as frações desagregadas tendem a se concentrar paralelamente à
direção do tráfego formando bermas no centro e ao longo das margens da pista
(BAESSO e GONÇALVES, 2003). De acordo com esses autores, os níveis de
severidade considerados para esse tipo de defeito são os seguintes:
- Nível B (Baixo): bermas de agregados com altura até 5,0 cm nas margens da
pista ou nas áreas menos utilizadas pelo tráfego;
- Nível M (Médio): bermas de agregados com altura entre 5,0 e 10,0 cm nas
margens da pista ou nas áreas menos utilizadas pelo tráfego.
- Nível A (Alto): bermas de agregados com alturas maiores que 10,0 cm nas
margens da pista ou nas áreas menos utilizadas pelo tráfego.

O defeito segregação de agregados é medido em metros lineares (m)


paralelamente ao eixo da rodovia em uma unidade amostral. Por exemplo, uma unidade
amostral com 50 m de comprimento, pode possuir três bermas com média severidade,
uma em cada margem da pista e outra no meio. Para a condição mencionada, a medida
desse defeito é de 150 m com média severidade.

6.5.3.1.3 Cálculo do índice de serventia relativa por trecho viário (IST)

O índice de serventia relativa por trecho viário (IST) é calculado em função das
características dos defeitos e dos impactos que os mesmos provocam sobre o estado da
superfície de rolamento da via. Seu valor é obtido a partir da contribuição das unidades
amostrais, representativas de trechos inspecionados.
As medidas dos defeitos nesta metodologia são baseadas em valores dedutíveis. O
valor dedutível é um número de 0 (zero) a 3 (três), em que o valor zero significa que o

102
defeito não tem impacto na condição de serventia estrada ou que ele inexiste na unidade
amostral e o valor três significa que a condição de serventia está completamente
comprometida com o defeito. O cálculo do índice de serventia relativa por trecho viário
(IST) é composto das seguintes etapas:
a) definição dos trechos, com extensão variando entre 750 e 1000 m;
b) definição das unidades amostrais, com extensão de 50 m, podendo ter pequenas
variações em curvas;
c) classificação dos defeitos quanto ao tipo e representações nas unidades
amostrais;
d) representação vetorial dos trechos inspecionados com os respectivos defeitos
levantados nas suas respectivas unidades amostrais;
e) mensuração dos defeitos no sistema de informação geográfica e a atribuição do
fator de ponderação (fp), obtido de acordo com os atributos de severidades do
tipo de defeito. Os atributos de severidade “Baixo”, “Médio” e “Alto”
correspondem aos valores 1, 2 e 3, respectivamente;
f) cálculo da densidade superficial relativa do defeito por unidade amostral
(DSRdef), que consiste no quociente entre área, extensão ou quantidade do tipo
de defeito pela área da unidade amostral, conforme a Equação 1.

fa
DSR def (1)
A u.a

em que: DSRdef é a densidade superficial relativa do tipo de defeito na unidade


amostral, fa é a freqüência absoluta do tipo de defeito na unidade amostral e Au.a é o
valor da área da unidade amostral em m2;

g) determinado os valores de fp e DSRdef para cada tipo de defeito, o produto entre


eles consiste em um valor indicativo da severidade relativa da unidade amostral
por defeito, e é expresso em valores com uma casa decimal, variando de 0,0 a
3,0, sendo denominado de índice de serventia da unidade amostral por tipo de
defeito (ISUdef), conforme ilustra a Equação 2.

ISU def f p ˜ DSR def (2)

em que: ISUdef é o índice de serventia da unidade amostral por tipo de defeito, fp é o


fator de ponderação do atributo de severidade de cada defeito verificado na unidade

103
amostral e DSRdef é a densidade superficial relativa do tipo de defeito na unidade
amostral.

h) de posse dos valores do índice de serventia da unidade amostral por tipo de


defeito (ISUdef) determina-se o valor do índice de serventia relativa da unidade
amostral, que será o quociente entre o somatório dos valores dos ISUdef por tipo
de defeito e o número de tipos de defeitos verificados na unidade amostral,
conforme a Equação 3.

ISU
¦ ISU def
(3)
n

em que: ISU é o índice de serventia relativa por unidade amostral, ȈISUdef é o somatório
dos valores dos ISUdef da unidade amostral e n é o número de tipos de defeitos
verificados na unidade amostral inspecionada.

i) com os valores dos índices de serventia relativa das unidades amostrais (ISU),
calcula-se os índices de serventia relativa por trecho viário (IST), de acordo com
a Equação 4, e cujos atributos de classificação são apresentados na Tabela 3.

ISU u.a.1  ISU u.a.2


IST (4)
2

em que: IST é o índice de serventia relativa por trecho viário e ISUu.a.1 e ISUu.a.2 são os
índices de serventia relativa das unidades amostrais do trecho inspecionado.

Tabela 3: Classificação funcional de trechos viários de rodovias não pavimentadas em


função do IST (CORREIA, 2003)
Cor representativa no
IST Classificação
SIG ArcView 3.2
0,0 – 0,1 Excelente
Verde
0,2 – 0,3 Bom
0,4 – 0,6 Regular Amarelo
0,7 – 0,9 Ruim
1,0 – 1,4 Muito ruim Vermelho
1,5 – 3,0 Péssima

104
Quanto às adaptações feitas nesse trabalho à metodologia de CORREIA (2003),
salienta-se que em sua pesquisa o referido autor selecionou trechos retilíneos com 100
m de comprimento. Neste estudo, optou-se por selecionar trechos com extensão entre
750 e 1.000 m, compostos por duas unidades amostrais com extensão de 50 m cada
uma, atendendo aos limites estabelecidos por BAESSO e GONÇALVES (2003). A
outra adaptação feita à metodologia de CORREIA (2003) foi na determinação dos IST,
que ficou definido como sendo a média dos valores dos índices de serventia relativa por
unidades amostrais (ISU). O referido autor sugeriu que fosse utilizado o maior valor do
índice de serventia relativa por trecho por defeito (ISTdef) como parâmetro para a
determinação dos IST.

6.5.3.1.4 Inserção dos dados no software SIG ArcView

A premissa básica para o desenvolvimento do modelo proposto de gerência de


manutenção de rodovias não pavimentadas é que o software SIG ArcView 3.2, a partir
da análise de uma base de dados, possa emitir relatórios ou mapas indicando ao tomador
de decisão as condições funcionais da superfície de rolamento das vias com base no IST
e sua localização. Para isso, foi necessária então, dentro da área de abrangência deste
estudo, a construção de uma base de dados referente às rodovias inspecionadas, sendo
cadastrados os tipos de defeitos e os dados relativos à localização espacial. Sobre esta
base de dados foram gerados, posteriormente, os mapas temáticos, que são os produtos
principais do modelo de gerência proposto.
Com as informações obtidas em campo, processou-se o cálculo do IST de cada
trecho viário inspecionado. Através delas, compôs-se a base de dados tabular do projeto
que, depois de inserido no SIG ArcView 3.2, mediante a técnica de loose-coupling,
passou a compor os atributos de cada trecho.
A Tabela 4 apresenta parte da planilha eletrônica que foi inserida no software SIG
ArcView 3.2 e os atributos de severidade utilizados para determinar o índice de
serventia relativa por trecho viário (IST) da rodovia não pavimentada VCS 493. Para
elaboração dessa planilha de cálculo, utilizou-se o software Microsoft Excel, planilha
eletrônica 2003, em decorrência da facilidade de manipulação e inserção dos dados,
além da possibilidade de exportação dos mesmos para o formato dBASE IV, que é o
formato utilizado pelo Software SIG ArcView 3.2 para importar banco de dados
externos.

105
Tabela 4: Planilha de inventário dos defeitos e classificação funcional das unidades
amostrais e trechos da VCS 493
Área
ID Rodovia Trecho U.A U.A Defeito fa fp DSRdef ISUdef ISU IST
2
(m )
2 VCS 493 1 1 270 S.T.I 50 2 0,2 0,4
2 VCS 493 1 1 270 D.I. 100 3 0,4 1,1
2 VCS 493 1 1 270 Corrug. 0 0 0,0 0,0
0,3
2 VCS 493 1 1 270 Buracos 15 1 0,1 0,1
2 VCS 493 1 1 270 T.R. 32,2 1 0,1 0,1
2 VCS 493 1 1 270 S.A. 100 1 0,4 0,4
0,3
2 VCS 493 1 2 225 S.T.I 50 2 0,2 0,4
2 VCS 493 1 2 225 D.I. 100 3 0,4 1,3
2 VCS 493 1 2 225 Corrug. 0 0 0,0 0,0
0,3
2 VCS 493 1 2 225 Buracos 30 1 0,1 0,1
2 VCS 493 1 2 225 T.R. 22 1 0,1 0,1
2 VCS 493 1 2 225 S.A. 100 1 0,4 0,4
2 VCS 493 2 1 200 S.T.I 50 2 0,3 0,5
2 VCS 493 2 1 200 D.I. 100 3 0,5 1,5
2 VCS 493 2 1 200 Corrug. 0 0 0,0 0,0
0,5
2 VCS 493 2 1 200 Buracos 61 1 0,3 0,3
2 VCS 493 2 1 200 T.R. 21,6 1 0,1 0,1
2 VCS 493 2 1 200 S.A. 100 3 0,5 1,5
0,5
2 VCS 493 2 2 225 S.T.I 50 2 0,2 0,4
2 VCS 493 2 2 225 D.I. 100 3 0,4 1,3
2 VCS 493 2 2 225 Corrug. 0 0 0,0 0,0
0,5
2 VCS 493 2 2 225 Buracos 53 1 0,2 0,2
2 VCS 493 2 2 225 T.R. 14,9 1 0,1 0,1
2 VCS 493 2 2 225 S.A. 100 3 0,4 1,3
ID: identificador relativo à rodovia, U.A: unidade amostral, S.T. I: seção transversal imprópria, D.I:
drenagem inadequada, Corrug.: corrugações, T.R.: trilha de roda, S.A.: segregação de agregados.

6.6 Resultados e discussão

Na Tabela 6, são apresentados os índices de serventia relativa por trecho viário


(IST), obtidos pelo método apresentado neste estudo, conjuntamente com as respectivas
identificações e extensões dos trechos inspecionados.

106
Tabela 6: Índices de serventia relativa do trecho (IST) obtidos pelo método apresentado
Rodovia Trecho Extensão (m) IST Classificação
VCS 346 1 800 0,3 Bom
VCS 346 2 800 0,5 Regular
VCS 346 3 750 0,4 Regular
VCS 346 4 750 0,5 Regular
VCS 493 1 750 0,3 Bom
VCS 493 2 750 0,5 Regular
VCS 296 1 1.000 0,8 Ruim
VCS 296 2 1.000 0,7 Ruim
VCS 296 3 1.000 0,5 Regular
VCS 296 4 1.000 0,4 Regular

As informações sobre as condições de serventia da superfície de rolamento das


rodovias não pavimentadas obtidas pelo método apresentado foram inseridas no SIG
ArcView 3.2 para a identificação e visualização em mapa temático do sistema viário dos
trechos prioritários para fins de intervenção de manutenção.

6.6.1 Geração de mapa temático

Foi criado um projeto no SIG ArcView 3.2, a partir de arquivos com a extensão
DXF, provenientes dos levantamentos topográficos das rodovias inspecionadas,
contendo trechos viários dessas vias. Esses dados gráficos no SIG ArcView foram
convertidos do formato DXF para o formato Shapefile. Essa conversão teve como
objetivo permitir a edição de informações sobre o tema (dados gráficos), como por
exemplo, identificador e nome das rodovias, numeração de trechos e unidades
amostrais, área das unidades amostrais, tipos de defeito, dentre outros. A inserção de
valores não seria possível se o projeto tivesse outra extensão que não fosse a Shapefile
(SHP).
Com os arquivos inseridos no SIG ArcView 3.2, criou-se uma VIEW que é a
apresentação do mapa digital das rodovias não pavimentadas inspecionadas. Nesta
VIEW, foi adicionada uma tabela de atributos que, através de identificadores dos trechos
viários, guardou-se correspondência com o mapa digital da VIEW. A Figura 2 apresenta
a VIEW do projeto, mostrando trechos das estradas não pavimentadas inspecionadas, as
principais rodovias pavimentadas, os bairros e o limite do município de Viçosa-MG.

107
Figura 2: Representação dos trechos viários das rodovias inspecionadas.

A tabela de dados com o nome “cálculo IST trechos” no formato dBASE IV, com
os tipos de defeitos e suas severidades, foi importada para o software SIG ArcView 3.2 e
convertida para o formato shapefile do tipo linha. A Figura 3 apresenta a planilha para o
cálculo do IST no formato dbf, após aplicação da técnica de loose-coupling.

Figura 3: Tabela para o cálculo do IST desenvolvida para o método apresentado

108
Além da visualização, o software ArcView 3.2 possui ferramentas que
possibilitam realizar análise exploratórias de dados coletados e gerados. Uma dessas
ferramentas particularmente úteis é a que possibilita a realização de consultas (Queries).
A consulta QUERY permite selecionar informações específicas de um determinado tema
e, através de operadores lógicos, relacioná-las com informações de outros temas. Neste
estudo, esta ferramenta foi utilizada para selecionar os trechos viários prioritários de
manutenção, de acordo com o índice de serventia relativa do trecho viário (IST).
Para auxiliar nesta tarefa, outros atributos desses trechos podem ser
convenientemente utilizados no SIG ArcView 3.2 na realização de consultas
complementares. A vantagem de realizar esta tarefa no ArcView é que o software
possibilita a visualização dos trechos viários nas mais variadas condições de serventia.
Determinou-se qual seria o critério de decisão para a priorização da manutenção
dos trechos das rodovias inspecionadas, que consistiu na adoção do índice de serventia
relativa por trecho viário (IST), para um intervalo referente à codição ruim na escala de
classificação.
Na janela da ferramenta Query Builder, o campo “Fields” armazena os atributos
referentes ao tema selecionado, como por exemplo, rodovia, trecho, unidade amostral,
defeitos, entre outros. Assim, constroem-se as Queries desejadas com os atributos,
utilizando-se os operadores lógicos disponíveis.
Para identificar os trechos viários cujos atributos satisfazem às condições da
Query, utilizou-se a tecla New Set. O ArcView, então, destacou automaticamente, em
amarelo, estes trechos. Assim, puderam-se evidenciar os trechos viários que apresentam
condição de serventia ruim, de acordo com a escala de classificação do IST. A Figura 4
apresenta o resultado da consulta Query para os trechos considerados ruins, de acordo
com a escala de classificação funcional do método IST.

109
Figura 4: Resultado da consulta Query dos trechos considerados ruins pelo método IST

A Figura 5 apresenta o resultado gráfico da consulta Query, em que os trechos


viários que aparecem na cor vermelha apresentam condições de serventia ruins e muitos
ruins, de acordo com a escala de classificação do método IST.

Figura 5: Apresentação gráfica da consulta Query dos trechos com condições de


serventia ruim, de acordo com método IST

110
A Figura 6 apresenta o resultado da consulta Query para os trechos considerados
regular, de acordo com a escala de classificação funcional do método IST.

Figura 6: Resultado da consulta Query dos trechos considerados regular pelo método
IST

A Figura 7 apresenta o resultado gráfico da consulta Query, em que os trechos


viários que aparecem na cor amarela apresentam condições de serventia regular, de
acordo com a escala de classificação do método IST.

111
Figura 7: Apresentação gráfica da consulta Query dos trechos com condições de
serventia regular, de acordo com método IST

A Figura 8 apresenta o resultado da consulta Query para os trechos bons, de


acordo com a escala de classificação funcional do método IST.

Figura 8: Resultado da consulta Query dos trechos considerados bons pelo método IST

112
A Figura 9 apresenta o resultado gráfico da consulta Query, em que os trechos
viários que aparecem na cor verde apresentam boas condições de serventia, de acordo
com a escala de classificação do método IST.

Figura 9: Apresentação gráfica da consulta Query do trecho com boa condição de


serventia, segundo o método IST

Para os trechos viários selecionados, a partir da escala de classificação do IST,


precisa-se estabelecer uma ordem de prioridade para a execução dos serviços de
manutenção. Os critérios de decisão para a determinação da ordem em que os trechos
receberão tais serviços podem ser baseadas no volume de tráfego e, de forma
complementar, a sua composição, em parâmetros ambientais e sócio-econômicos. No
entanto, neste estudo não se utilizou desse critério, devido aos valores dos parâmetros
supracitados serem muito próximos para os trechos considerados ruins pela escala de
classificação do IST e pelos referidos trechos serem contíguos.

6.7 Conclusões

O índice de serventia relativa por trecho viário (IST) aplicado neste estudo,
baseado na metodologia de CORREIA (2003) foi desenvolvido com base em
experiências de campo e observação às características da seção transversal da
plataforma e suas patologias. Como o IST baseou-se na quantidade e severidade dos

113
defeitos, sua avaliação é de fácil compreensão, tendo a vantagem de ser transferível a
outras regiões brasileiras.
Verificou-se que em função dos defeitos encontrados nos 10 trechos viários
inspecionados, a implantação de dispositivos de drenagem, com restauração do greide
original, quando possível, constitui a intervenção mais indicada para estas vias, visto
que o defeito drenagem foi o que teve o maior peso, em função da sua quantidade e
severidade, na determinação dos índices de serventia relativa por trecho viário (IST).
No modelo de gerência de manutenção apresentado e testado neste estudo, o SIG
ArcView 3.2 otimizou o processamento e o manuseio dos dados coletados em campo e
proporcionou uma melhor visualização dos resultados das consultas, além de viabilizar
a seleção dos trechos viários críticos para intervenção de manutenção.
As informações relativas ao estudo geotécnico de subleito para determinação de
algumas propriedades físico-mecânicas, a análise da influência dos fatores carga por
eixo e pressão de enchimento, relativos ao tráfego comercial, também podem
implementar o modelo de gerência de manutenção apresentado neste estudo para
estradas não pavimentadas.

6.8 Agradecimentos

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB), pela


concessão da bolsa de pesquisa ao primeiro autor e à Universidade Federal de Viçosa -
UFV, através do Departamento de Engenharia Civil, pela disponibilização de toda infra-
estrutura necessária para a realização deste estudo.

Referências

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Engenharia de Transportes). Centro de Tecnologia, Universidade Federal do Ceará,
Fortaleza-CE.

114
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115
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Vicinais de Terra - Manual Técnico para Conservação e Recuperação. Instituto de
Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo S.A., 2ª Edição, São Paulo. 1988.

116
7
CONCLUSÕES GERAIS

Com base nos estudos apresentados nos capítulos anteriores, apresentam-se as


seguintes conclusões:
x para os materiais analisados para o estudo comparativo entre as classificações
geotécnicas tradicionais USC e TRB e a metodologia MCT, os solos de
comportamento não laterítico se enquadraram no grupo NG’, que compreende
sobretudo os saprolíticos argilosos, o que pareceu coerente pela geologia do
município de Viçosa-MG que é constituída por rochas referentes ao Pré-
Cambriano, compreendendo gnaisses diversos e migmatitos.
x os solos de comportamento laterítico que se enquadraram no grupo LG’ em que
os integrantes mais freqüentes são as argilas arenosas que constituem o
horizonte B dos solos conhecidos pedologicamente por latossolos e argissolos,
embora apresentando elevados valores de LL e LP, quando compactados na
energia do ensaio Proctor Normal e conseqüente imersão em água, não
apresentaram expansão expressiva no ensaio CBR.
x os resultados das classificações geotécnicas tradicionais USC e TRB e da
metodologia MCT tornaram possível estabelecer agrupamentos, concluindo que
as propriedades típicas desses grupos de solo, sob o ponto de vista
granulométrico, estabelecem condições propícias para este propósito.
x a aplicação do método de EATON (1987) às vias não pavimentadas investigadas
nesta pesquisa, apresentou valores de índices de condições de estradas não
pavimentadas (URCI) muito divergentes, o que corrobora a necessidade de
adaptações à realidade brasileira para sua aplicação.
x percebeu-se na análise da variação da máxima deflexão recuperável e da tensão
vertical no subleito que a amplitude da carga por eixo e da pressão de
enchimento dos pneus são fatores que influenciam consideravelmente o processo
de deterioração de camadas de reforço de subleito de estradas não pavimentadas.
x na determinação do FEC (DNIT, 2006), para eixo simples de rodas duplas, em
função das deflexões recuperáveis previstas, ficou evidente que as informações
sobre o carregamento por eixo e pressão de enchimento dos pneus da frota

117
comercial que solicita a via não pavimentada, são mais coerentes do que
simplesmente basear-se em informações sobre o volume médio diário do tráfego
misto.
x para reforço de subleito de estradas não pavimentadas, alcançar a resistência
mecânica requerida para a via, o processo de estabilização química é uma opção
viável para se atingir camadas menos espessas, porém com a rigidez necessária
para atender a função estrutural.
x a utilização do método de dimensionamento empírico-mecanístico e da
metodologia MCT, são recursos eficazes para um melhor aproveitamento de
solos locais em estruturas de pavimento de rodovias não pavimentadas.
x para a metodologia de avaliação de condições da superfície de rolamento para
estradas não pavimentadas através de um índice próprio e de simples aplicação,
o índice de serventia relativa por trecho viário – IST, desenvolvido com base em
experiência de campo e observação das patologias dessas superfícies,
verificações do IST para condições adversas são de grande contribuição, visto
que não houve aplicações em outras regiões.
x o modelo de gerência apresentado e testado neste estudo é simples do ponto de
vista técnico, mas é constituído das principais etapas que qualquer outro SGM
contempla, além de usar uma ferramenta SIG, que se integra completamente ao
modelo de gerência e aumenta a capacidade de suporte à decisão. Ressalta-se
ainda, que mesmo simples, é capaz de interagir com quaisquer outros sistemas e
possibilitar atualização do seu banco de dados, por exemplo, com informações
provenientes de estudos geotécnicos de subleitos para obtenção de parâmetros
físico-mecânicos e análise da influência dos fatores carga por eixo e pressão de
enchimento, relativos ao tráfego comercial.

118
8
RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

A fim de complementar os resultados obtidos nesta pesquisa, seguem algumas


sugestões para pesquisas futuras:
x coletar amostras de solo de subleito de vias não inspecionadas da malha viária
não pavimentada do município de Viçosa-MG, com o propósito de fomentar
novos agrupamentos entre as classificações geotécnicas tradicionais (USC e
TRB) e a metodologia MCT.
x estudar o comportamento dos solos analisados nesta pesquisa quanto à
resistência mecânica e à abrasão imposta pelo ação do tráfego no contato pneu-
superfície de rolamento. O último fator é relevante para qualificar solos para
revestimento primário e não foi avaliado neste trabalho.
x avaliar os solos investigados neste trabalho quanto à erosão hídrica;
x em função dos níveis de severidade do defeito drenagem inadequada observados
em todos os trechos viários inspecionados nesta pesquisa, salienta-se a
importância de se procederem estudos hidrológicos que possam subsidiar a
implantação de dispositivos de drenagem para a malha viária não pavimentada
do município de Viçosa-MG.
x estudo de composição de custos relativos à manutenção de estradas não
pavimentadas, englobando equipamentos, materiais, mão-de-obra e produção de
equipes;
x testar a operacionalidade do método apresentado nesta pesquisa para avaliação
das condições de serventia de superfície de rolamento, em vias não
pavimentadas de outras regiões, tendo em vista as diferenças de geometria, de
volumes e tipos de tráfego.

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