Os Alimentos No Novo Código Civil - Áurea Pimentel

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PEREIRA, Áurea Pimentel. Os Alimentos no Novo Código Civil.

Revista da EMERJ,
v. 6, n. 21, p. 28, 2003.
Origem
1) Officium pietatis: Nos primórdios das civilizações, os alimentos encontraram
suas raízes no direito natural, constituindo dever moral (p. 29)

2) pietatis causa: “os alimentos prestados pelo marido à esposa, diziam-se


concedidos pietatis causa, espelho da situação de inferioridade, restrição de
direitos e discriminação em que vivia a mulher, a exemplo dos filhos e dos
escravos, submetidos a autoridade do pater familias, que sobre eles detinha,
inclusive, o poder de vida e morte (ius vitae et necis)”. (p. 29)

3) ius positum: sob “os alimentos passaram a constituir dever legal, com indiscutível
conteúdo de ordem pública, subsumidos a normas e princípios jurídicos,
disciplinadores da forma de sua prestação”. (p. 29)

Artigo 1.694 - previsão, no sentido de que os alimentos, devidos entre parentes; pelos
cônjuges e pelos companheiros, sejam concedidos de modo a garantir àqueles o que
efetivamente necessitem “para viver de modo compatível com a sua condição social”. (p.
30)

Pensão: “no Código de 2002, continuou-se admitindo a possibilidade de os alimentos


serem prestados sob forma de pensão, ou, alternativamente, via da concessão pelo
alimentante, ao alimentando, de hospedagem e sustento, agora com a previsão da garantia
de haver, ainda, o último do primeiro, a percepção do necessário para a sua educação,
quando menor (art. 1.701) , mantida, de resto, a submissão, ao prudente arbítrio do juiz,
da admissão de tal forma alternativa de prestação (arts. 403, parágrafo único e 1.701,
parágrafo único)”. (p. 31)

Anuência do Credor: “silenciou, porém, o legislador, a respeito da necessidade da


anuência do credor – expressamente prevista no artigo 25 da Lei 5.478/68 – como
condição para a admissão do cumprimento da obrigação alimentar, em sua forma
alternativa, anuência essa que, todavia, entendemos, deva continuar a ser exigida,
subsistente, que há de se ter, para aplicação, a Lei 5.478/68, cujas disposições, com a
edição do novo estatuto civil pátrio, não resultaram revogadas” (p. 31)

Revisão do valor pago: [...] “da regra rebus sic stantibus cuidou o legislador, no novo
Código Civil, no art. 1.699, repetindo, com pequenas alterações de redação, a norma do
art. 401 do Código Civil de 1916, expressa a admitir a possibilidade do quantum da
pensão originalmente fixado, ser revisto quando: sobrevier mudança na situação de quem
os recebe”, conforme o caso autorizando que se conceda: “exoneração, redução ou
majoração do encargo”. (pp. 31-32)

Princípios

i) Proporcionalidade: antes previsto no artigo 400 do CC. De 1916, ao estabelecer que


os alimentos devem ser fixados tendo presente o binômio: “necessidades do reclamante e
recursos da pessoa obrigada”. (p. 32)
ii) Condicionalidade: “São devidos os alimentos quando quem os pretende não tem bens
suficientes, nem pode prover pelo seu trabalho, à própria mantença, e aquele, de quem
se reclamam, pode fornecê-los sem desfalque do necessário ao seu sustento.” (p. 32)

iii) Princípio da irrenunciabilidade: alimentos são irrenunciáveis e insuscetíveis de


cessão, compensação ou penhora: “No Código de 2002, teve ainda o legislador o cuidado
de haver o direito à percepção dos alimentos como irrenunciável e insuscetível de cessão,
compensação ou penhora, no artigo 1.707expressamente proclamando: “Pode o credor
não exercer, porém lhe é vedado renunciar o direito a alimentos, sendo o respectivo
crédito insuscetível de cessão, compensação ou penhora.” (p. 32)

Obs.: “A cláusula ou convenção pela qual alguém se compromete a não usar da ação de
alimentos é nula. Nulidade absoluta.” (Obra citada, p. 216/217). P. 33

iv) Princípio da Incessibilidade: tem-se que não pode o direito à percepção de alimentos
ser cedido a terceiro, porque a fixação de pensão alimentar é feita tendo presente as
condições pessoais (intuito personae) do credor dos alimentos e os recursos do devedor.

v) Princípio da Incompensabilidade do crédito alimentar: “[...] encontra-se no Código


Civil de 2002, proclamado no artigo 1.707 reafirmado no artigo 373, II, do mesmo código,
este último dispositivo expresso a declarar excluída a possibilidade de se proceder à
compensação de dívidas: “se uma se originar de comodato, depósito ou alimentos.”
Anote-se que, no artigo 1.707, do novo estatuto civil pátrio, cuidou ainda o legislador de
proclamar, o crédito de alimentos, como insuscetível de penhora, previsão que não se lia
no C.C. de 1916, mas que sabidamente se encontra inserida no artigo 649, VII, do CPC”.
(p. 34)

Não sucessão pós morte do dever do pagamento de pensão por parte dos herdeiros:
“[...] Pontes de Miranda, citando Álvaro Velasco, in Praxis Partitionum et Collationum”:
“Falecendo o alimentário, o direito a alimentos não se transmite a seus herdeiros porque
a pensão tinha por fim manter o beneficiado, e tal razão deixou de existir. Os alimentos
só são devidos durante a existência do necessitado. Alimenta solum debentur pro
tempore,quo alimentandus vivit et pro tempore decurso post eius mortem ad haeredes,
non transmittantur.” (Tratado de Direito de Família, v. III, p. 216).

“[...] o que desaparece, com a morte do alimentando, é o próprio direito à


continuidade à prestação dos alimentos, subsistindo, para seus herdeiros, o
indiscutível direito de reclamar, do alimentante, o que este deixou de pagar em vida
ao credor da pensão, o que se entende perfeitamente porque, como observa com absoluta
correção Pontes de Miranda, tais alimentos constituem “direito definitivamente adquirido
pelo alimentário: já fazia parte de seu patrimônio; e como tal é perfeitamente
transmissível”. (pg. 35)

“E acrescenta o douto jurista (Pontes de Miranda): “o que já era devido continua a ser
suscetível de ser reclamado; pois que não se excluiu a pretensão ligada aos alimentos
vencidos e à indenização pela inexecução, ou outra causa semelhante; exclui-se, tão-só,
a hereditariedade do direito.” (ib idem,v. III, p. 216)”.(p. 36)

Novo caráter: (pensão pós mortem) “[...] é Carvalho Santos quem observa, citando o
pensamento de Clóvis Bevilacqua: “estes atrasados não constituem mais pensão
alimentar, assumem o caráter de uma dívida comum que deixou de ser paga.” (Código
Civil Brasileiro Interpretado, v. VI, p. 192)” (p; 36).

Caminho correto: (visão da autora) “[...] a norma do artigo 23 da Lei 6.515/77, na


verdade, se referia, exclusivamente, ao débito alimentar deixado pelo devedor de
alimentos, falecido, débito esse que, então, devia ser considerado como passado aos
herdeiros do alimentante, nos limites das forças da herança” (p. 38)

a) Paulo Dourado de Gusmão, forte a proclamar que: “ou se interpreta assim,


restritivamente, a norma do artigo 23 da Lei do Divórcio, ou se tem de reconhecer
que a mesma contém heresia jurídica”. (Dicionário de Direito de Família, p. 43)
– (p. 38)

b) “João Claudino de Oliveira e Cruz, sobre a matéria, expressado em sua obra já


referida, invocando o magistério de Clóvis Bevilacqua: “A obrigação alimentar é
personalíssima, tanto pelo lado ativo como pelo lado passivo. Os herdeiros do
alimentário poderão reclamar alimentos como parentes, invocando direito
originário, se tiverem. Os sucessores do devedor respondem pelos atrasados, mas
estes não mais terão o caráter de pensão alimentícia, mas sim de dívida comum,
que entrará no passivo da herança.” (Obra citada, p. 28)”. (p. 38)

c) Art. 1700 - “A obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do


devedor, na forma do artigo 1.694.” (p. 38)

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