O Outro Lado Da Valorização Docente Fundf
O Outro Lado Da Valorização Docente Fundf
O Outro Lado Da Valorização Docente Fundf
GÉSSICA P. RAMOS
Abstract: The article discusses teacher evaluation in the São Paulo municipal district,
considering the effects of the association between teacher valorization and municipal
educational organization in the context of the implementation of the Fund for the
Maintenance and Development of Primary Schooling and the Valorization of Education
Professionals (FUNDEF). The results reveal local problems in the implementation of
this Fund in light of teacher evaluation, which involves, among other factors, salary
differences, different work entailments, and re-concentration of local power.
Keywords: municipal educational organization; teacher valorization; FUNDEF;
local proximity.
Professor do município eles são inseguros porque eles são muito vigiados. Então
eles têm medo (!), até de se colocar, você entendeu (?), com clareza. Às vezes, eles
se omitem por medo de perder o emprego (...) (Entrevistada 14).
(...) quando você está muito próximo, como você está numa cidade pequena (!), todo
mundo se julga seu patrão! Todo mundo tem autoridade! É uma coordenadora, é
a Secretária, é vereador (Entrevistada 10).
Eu acho que a [professora] do estado, a administração olha assim como que... Você
não dá grande importância: “ah..., do estado...”. E as do município não. As do
município elas olham assim “esse aqui é meu!”. Você entendeu? “Esse aqui é meu!
Esse aqui eu posso fazer isso (!), eu posso fazer aquilo!” (Entrevistada 14).
Do caso estudado, várias lacunas legais podem ser apontadas como impedi-
tivos para o alcance do objetivo explícito do FUNDEF de valorização dos docentes,
especialmente por intermédio de uma política de municipalização do ensino tal como
efetivada na localidade.
Um dos aspectos destacados pelos entrevistados dizia respeito ao relaciona-
mento tumultuado entre os professores estaduais (cedidos) e os professores munici-
pais ocasionado pela falta de isonomia salarial e de regulamentação da lei 9.424/96
sobre essa situação. Como constatado anteriormente, vários professores comentaram
a desunião que a falta de isonomia gerou entre esses grupos, especialmente por conta
da divisão das verbas no “rateio” de final de ano.
Pela lei 9.424/96, em seu artigo 3°, inciso IX, os estados e os seus respectivos
municípios poderiam “celebrar convênios para transferências de alunos, recursos humanos,
materiais e encargos financeiros” para os quais estaria prevista “a transferência imediata de
recursos do Fundo correspondentes ao número de matrículas que o Município” assumisse,
ou seja, a transferência de recursos não contempla o número de profissionais assumidos.
Embora os 60% das verbas do fundo municipal parecessem legalmente servir apenas para
remuneração dos profissionais municipais e para o ressarcimento do salário do docente
estadual, em Américo Brasiliense, o seu rateio no final do ano abriu espaço para que os
professores estaduais cedidos se beneficiassem da divisão, de modo que esses valores não
fossem utilizados para aumentar o salário-base local. Pelo que parece, essa situação não
havia sido legalmente prevista em suas conseqüências. Apenas havia sido estabelecido
Nesse sentido, de acordo com a maioria dos entrevistados, essa “qualidade” era o
que parecia estar sendo buscado pelo município. Mas a que custo para os professores?
A distância da lei
no tocante à concepção docente de valorização
Nota final
Referências
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_____. Lei n. 9.394 de 20 de dezembro de 1996b. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Na-
cional.
_____. Lei n. 9.424 de 24 de dezembro de 1996c. Dispõe sobre o Fundo de Manutenção e Desenvol-
vimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério.