ART A Gestão Escolar No Novo Ensino Médio
ART A Gestão Escolar No Novo Ensino Médio
ART A Gestão Escolar No Novo Ensino Médio
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RESUMO: Este artigo apresenta resultados parciais de uma pesquisa de cunho qualitativo que tem
como objetivo compreender a gestão e a organização do trabalho na escola a partir da implantação
do Novo Ensino Médio (NEM). O objeto se constitui da necessária reflexão acerca da reforma do
Ensino Médio, implementada por meio da Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017, que promoveu
uma profunda reorganização dessa etada da escolarização no Brasil. Tendo como campo empírico
duas escolas localizadas em territórios de alta vulnerabilidade social do estado de Minas Gerais, a
pesquisa tem como ancoragem metodológica a análise documental e a realização de entrevistas com
integrantes da equipe gestora. Como referencial analítico, buscou-se evidenciar a dupla dimensão
do tempo na gestão do trabalho na escola, a dimensão organizadora e a dimensão diferenciadora,
compreendidas como elementos centrais da complexidade que adquire a gestão escolar a partir da
implantação do NEM. Como apontamentos que adquirem aqui um sentido de conclusão, percebe-se
que o tempo se constitui como a principal dimensão organizadora e diferenciadora do trabalho na
gestão escolar. Essa percepção se torna evidente na tentativa de equacionar a interação entre o
tempo escolar e o tempo social dos estudantes, na jornada ampliada do tempo integral, na
estratificação presente nos diferentes tempos que constituem a realidade dos estudantes
trabalhadores, ou, ainda, na noção de um tempo infinito que intensifica o trabalho dos gestores. Em
todos os cenários, o NEM pode representar um aprofundamento das desigualdades que permeiam a
história antiga e recente da etapa.
ABSTRACT: This article presents partial results of a qualitative research that aims to understand
the management and organization of work at school, following the implementation of the New
Secondary Education (NEM). The object is the necessary reflection on the reform of the stage,
implemented through Law no. 13,415, of February 16, 2017, which promoted a profound
reorganization of secondary education in Brazil. Having two schools located in highly socially
vulnerable territories in the state of Minas Gerais as empirical field, the methodological anchoring
of the research has been documentary analysis and interviews with members of the management
team. As an analytical reference, we sought to highlight the double dimension of time in the
management of work at school, the organizing dimension and the differentiating dimension,
understood as central elements of the complexity that school management acquires from the
implementation of the NEM. As notes that acquire a sense of conclusion here, it is clear that time
constitutes the main organizing and differentiating dimension of work in school management. This
perception becomes evident in the attempt to equate the interaction between school time and social
1
Universidade Federal de Minas Gerais. Professora Adjunta da Faculdade de Educação e dos Programas de Pós-
graduação em Educação (PPGE) e Mestrado Profissional (PROMESTRE). Orcid: https://orcid.org/0000-0003-1491-
6282. E-mail: [email protected].
Agradecimentos: Este estudo apresenta resultados da pesquisa “Organização do Trabalho Docente e Gestão
Pedagógica no Novo Ensino Médio de Minas Gerais”, desenvolvida com apoio da FAPEMIG, por meio do Edital
Universal 01/2022, sob o código APQ-01417-22.
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time of students, in the extended full-time day, in the stratification present in the different times that
constitute the reality of working students, or, even, in the notion of an infinite time that intensifies
the work of managers. In all scenarios, the NEM may represent a deepening of the inequalities that
permeate the ancient and recent history of the stage.
INTRODUÇÃO
2
Concordamos com Margulis (2001) quando afirma que é inadequado que falemos em juventude, uma vez que há
diferentes maneiras de ser jovem, considerando-se outras categorias como a economia, a sociedade e a cultura. Além
dessas, acrescentamos que há também desiguais maneiras de ser jovem, sobretudo quando consideramos as juventudes
pobres e periféricas.
3
A alcunha ganha força na mídia a partir da apresentação dos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), baseados na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2012 e divulgados em 2013. Os dados
revelaram que o número de jovens de 15 a 29 anos que não estudava nem trabalhava, chegava a 9,6 milhões, ou seja,
uma em cada cinco pessoas da respectiva faixa etária. Passados dez anos dessa estatística nefasta, os dados da PNAD
divulgados em 2023, apontam uma realidade pouco alterada, totalizando mais de 10,9 milhões de jovens, ou seja, 22,3%
dos brasileiros na referida faixa etária sem acesso à educação e ao mercado de trabalho.
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É esse o cenário desenhado no período que antecede a implantação do Novo Ensino Médio
(NEM), tema deste estudo, que tem como objetivo investigar como se dá a gestão do tempo na
escola do NEM. Para isso, considera-se essa dimensão na organização do trabalho na escola e na
relação que a gestão escolar estabelece com os diferentes sujeitos. Pretende-se, ainda, evidenciar os
principais desafios que se apresentam para a gestão escolar nesse contexto de tantas mudanças.
Na consecução desse objetivo, foram selecionadas duas escolas que ofertam a etapa do
Ensino Médio em seus diferentes formatos. As duas escolas estão localizadas em territórios de alta
vulnerabilidade social do estado de Minas Gerais. Essas são características muito importantes para
compreensão dos diferentes tempos, educacionais e sociais, que precisam ser considerados na
gestão de uma escola com estudantes que, na maioria das vezes, enfrentam o duplo desafio de
trabalhar e estudar.
O percurso metodológico parte da análise documental, que buscou elucidar o percurso da
implantação do NEM no estado de Minas Gerais, e da entrevista semiestruturada4, que tratou de
abordar elementos constituvos da gestão escolar no processo de organização dos tempos e espaços,
a partir da reconfiguração da etapa. Para melhor elucidar a problemática da pesquisa, este texto está
organizado da seguinte forma: a primeira parte aborda um breve histórico do Ensino Médio; a
segunda especifica as principais temáticas referentes à reforma da etapa; a terceira parte discute o
NEM no contexto local.
Compreender a persistência das críticas ao Ensino Médio brasileiro demanda uma breve
incursão em seu percurso desde seu surgimento, evidenciando a origem do cenário atual e de seus
condicionantes. Há um processo histórico de produção e reprodução de desigualdades no Ensino
Médio, uma realidade do passado e do presente que tem desviado as juventudes mais pobres de dar
continuidade ao processo de escolarização, apostando no trabalho precário e precoce como
estratégia de ganhar a vida. Uma estratégia desenhada normativamente, com diferentes marcos
legais que concorreram, a partir da segunda metade do século XX, para compor uma política
educacional contenedora no Segundo Grau/Ensino Médio, para desviar demanda e “blindar” o
4
A pesquisa foi desenvolvida com aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG (CEP/UFMG), conforme
parecer n. 6.516.503 e CAAE n. 71480123.9.0000.5149.
[...] cumpre registrar que o Ensino Fundamental tem um status definido para o
conjunto dos seus alunos. Não resulta dúvida do caráter formativo do Ensino
Fundamental. Também o Ensino Superior possui uma função reconhecida para
seus estudantes: a de propiciar a qualificação prévia à habilitação profissional [...]
E o Ensino Médio? Expressando um momento em que se cruzariam idade,
competência, mercado de trabalho e proximidade da maioridade civil, ele expõe
um nó das relações sociais no Brasil, manifestando seu caráter dual e elitista,
através mesmo das funções que lhe são historicamente atribuídas: a função
formativa, a propedêutica e a profissionalizante (CURY, 1998, p. 74-75).
Para se ter uma ideia do desafio da universalização do Ensino Médio, no Plano Nacional de
Educação de 2014 (PNE 2014-2024), atualmente em vigência, a Meta 3, relativa ao Ensino Médio,
pretende: “[u]niversalizar, até 2016, o atendimento escolar para toda a população de 15 a 17 anos e
elevar, até 2020, a taxa líquida de matrículas no Ensino Médio para 85%, nessa faixa etária”
(BRASIL, 2014, n. p.). Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) de 2019
mostravam que o desafio a ser enfrentado ainda é grande, considerando que, no Brasil, somente
67% da população masculina e 77% da feminina, entre 15 a 17 anos de idade, estavam cursando o
Ensino Médio ou concluíram a educação básica, sendo que aproximadamente 30 % desse
contingente encontrava-se em condição de distorção idade-série.
O mapa da desigualdade apresentado pela PNAD de 2019 também demostrava a face
econômica da desigualdade educacional, ao verificar que, a cada dez jovens de 15 a 17 anos dos
domicílios mais ricos, nove estavam no Ensino Médio, mas apenas sete a cada dez residentes nos
lares mais pobres frequentam a escola na etapa adequada, o que significa que três encontram-se em
defasagem escolar ainda no Ensino Fundamental, ou simplesmente estão fora da escola por
abandono ou evasão. A medição estatística das assimetrias na educação demonstra, também, o
distanciamento entre os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE), tidos como exemplos de desempenho, e o Brasil, no que tange ao investimento em
educação nos anos anteriores à reforma do Ensino Médio. Em 2015, o gasto anual por estudante dos
países da OCDE era de U$ 10. 010,00, enquanto no Brasil esse investimento foi de U$ 3.872,00.
É nesse cenário de desigualdades persistentes que o NEM se materializa, tomando forma a
partir de cinco eixos principais: a) a flexibilização curricular, b) a ampliação da carga horária, c) a
instituição da Política de Fomento à Implementação de Escolas de Ensino Médio em Tempo
Integral, d) a criação dos Itinerários Formativos e) a inserção da Base Nacional Comum Curricular
no currículo do Ensino Médio. As mudanças construídas na macropolítica educacional, em um
processo político distanciado do princípio da gestão democrática da educação, repercutem nos
micros espaços escolares, reorganizando tempos e currículos de forma apartada da realidade dos
estudantes e da infraestrutura das escolas públicas.
Nesse sentido, para a organização do trabalho na escola, os principais referentes da Lei nº
13.415/2017 foram a carga horária e a organização curricular, reduzindo a complexidade dos
problemas da etapa ao currículo. A ampliação da carga horária estabeleceu um aumento de 800 para
no mínimo 1.400 horas anuais, sendo que essa ampliação se daria de forma progressiva, devendo os
sistemas de ensino ofertar, no prazo máximo de cinco anos a partir da promulgação da referida lei,
pelo menos 1.000 horas anuais de carga horária. A composição do currículo do EM pela Base
Nacional Comum Curricular (BNCC) foi outro referente, tendo sido definido que a composição do
currículo, no que tange so cumprimento da BNCC, não poderia ser superior a 1.800 horas, de
acordo com a definição dos sistemas de ensino.
Além da carga horária destinada à BNCC, o NEM é composto por cinco Itinerários
Formativos: linguagens; matemática; ciências da natureza; ciências humanas; e formação técnica e
profissional. Nesse último Itinerário Formativo, existe a possibilidade de se ofertar cursos
ministrados por profissionais com notório saber, sem formação acadêmica específica – as temáticas
são definidas pelos sistemas de ensino; as disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática seriam as
únicas obrigatórias nos três anos do EM. Assim, de acordo com a reforma, o currículo do NEM
passou a ser composto pela BNCC e por itinerários formativos, que são organizados por meio da
oferta de diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância para o contexto local e a
possibilidade dos sistemas de ensino.
No NEM, a centralidade de uma formação baseada na individualidade, na competência
técnica, nas habilidades como propulsoras do empreendedorismo, simplifica e subverte o direito à
educação integral em uma corrida individualizada pelo emprego. Essa visão estreita aparta a
empregabilidade de sua natureza intrinsecamente atrelada a políticas econômicas e sociais mais
amplas, e não como consequência meritocrática de escolhas assertivas durante o Ensino Médio.
Esse perfil de oferta é preconizado pelo Banco Mundial em seu documento orientador publicado na
primeira década deste século, sob o título de “Ampliar oportunidades y construir competencias para
los jóvenes – Uma agenda para la educación secundaria”, e cujas recomendações podem ser
percebidas no NEM.
Dessa forma, o NEM vai distanciando as escolas de uma educação para a cidadania, de
qualidade socialmente referenciada, signatária da gestão democrática na elaboração de seu Projeto
Político Pedagógico, para se constituir como um espaço representativo do neoliberalismo renovado,
procurando conduzir os comportamentos com base em duas lógicas principais: a concorrência e o
modelo da empresa imposto a todas as instituições (DARDOT; LAVAL, 2016; FERREIRA;
CYPRIANO, 2022).
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A base é a formação para o trabalho, mesmo sem garantia de existência de postos ou de uma
política de empregabilidade dos jovens, que devem assumir não somente a responsabilidade pelo
seu futuro, mas, ainda, projetar a sua vida, responsabilizando-se pelo poder de concorrência de seu
país na economia globalizada. Uma carga imensa para as juventudes brasileiras pobres e
trabalhadoras, que devem se converter em empreendedoras de si mesma, nesse contexto de
individualização do social.
das escolas oferta mais de uma etapa, e promoveram uma tentativa, nos anos seguintes, de uma
municipalização forçada do Ensino Fundamental.
A partir da Portaria nº 727, a categoria tempo passa a ser a organizadora do NEM, maior
tempo na escola significando melhoria dos indicadores e a solução dos problemas que legitimando o
discurso de reforma da etapa. As duas escolas que constituíram o campo desta pesquisa, ainda em
andamento, implementaram o Ensino Médio em Tempo Integral (EMTI) desde o início de sua
implementação. Ssão escolas que atendem alunos moradores de territórios de alta vulnerabilidade
social, têm em média 410 estudantes e atendem nos três turnos. Da mesma forma, as duas escolas
ofertam o Ensino Médio regular, o integral (Propedêutico e Profissional) e a EJA. A escola 1 ainda
oferta um curso técnico na modalidade subsequente no turno da noite e o Ensino Fundamental
diurno.
Na organização do EMTI nas duas escolas, o tempo escolar se sobrepõe ao tempo social, à
vida real dos estudantes, desse modo, esse mesmo tempo garantidor da permanência e da aquisição
das habilidades e competências necessárias, vai se constituir como um elemento diferenciador e
estratificador:
[q]uando iniciou o tempo integral na escola, a adesão não foi tão alta, é porque a
realidade desses estudantes é uma realidade de trabalhar em algum comércio para
contribuir em casa, ou de ajudar a família em casa mesmo, olhar um irmão ou
sobrinho, cuidar da avó ou avô doente, muitos deles até queriam, mas não tinha
como ficar na escola o dia todo, ainda mais aqui que é uma comunidade muito
carente (Diretor da escola 1).
A solução encontrada em algumas escolas foi a manutenção de três tipos de jornada escolar,
a primeira com a manutenção do regular, a segunda com a ampliação de uma hora aula, criando na
escola o sexto horário, e a terceira o tempo integral, além da oferta da EJA. Essa diversidade de
oferta complexificou exponencialmente a gestão escolar, criando situações inesperadas e, por vezes,
constrangedoras.
Um dos problemas que apareceu nesse início foi de como controlar esses formatos
todos de horário, era difícil saber quem era de qual, às vezes os estudantes do
integral iam embora junto com os do regular, outros do regular ficavam na escola
mais tempo e tinha o problema das refeições, quando os que não eram do integral
almoçavam e depois faltava para os meninos do integral (Diretor da Escola 2).
Até mesmo o orçamento parecia desconectado da realidade, pois o EMTI de Minas Gerais
tinha a previsão de atender 21.000 estudantes, com um recurso de R$ 2.000,00 (dois mil reais)
anuais, por aluno. A título de exemplo e comparação, o Colégio Militar de Belo Horizonte
(CMBH), estabelecimento público de Ensino Médio e referência de desempenho, tinha, no período,
um custo por aluno anual de R$ 19.441,29 (dezenove mil quatrocentos e quarenta e um reais e vinte
e nove centavos) por aluno.
Com o avanço da reforma e a necessidade de implantação do NEM até 2022, novos termos e
e novas adjetivações passaram a integrar o rol de organização do trabalho na escola. Assim, aos já
existentes matriz e componentes curriculares, uniram-se os novos itinerários, portfólio de
aprofundamentos, catálogo de eletivas, projeto de vida, preparação para o mundo do trabalho e
disciplinas integradoras. Tudo isso constitui elementos de complexificação da gestão escolar e de
intensificação do tempo de trabalho.
Você tem que imaginar que muito dessa mudança foi feita na pandemia, então eu
nem sei quantas horas a gente trabalhava, na escola e depois em casa ligando para
os estudantes e explicando como seria, A Secretaria deu as formações e enviou
muito material, mas era tudo no horário das aulas ou fora do horário, noite, final de
semana (Diretor da escola 1).
Eu nem sei dizer o tanto de horas semanais que nós trabalhamos na organização do
NEM, foram muitas horas de formação e de reunião e tudo isso junto com a gestão
da escola, que não parou nem um dia na mudança para esse modelo novo, eu penso
que teve semana de mais de 60 ou 70 horas trabalhando, inclusive sábado e
domingo (Diretor da escola 2).
A gente ficou sabendo que ia ter mesmo uma reforma quando iniciou aquela
consulta pública, daí uma professora tentou entrar e não conseguiu, outras forma
tentando e iam falando como seria, foi assim que tomamos conhecimento de
maiores detalhes a reforma, mas aqui ninguém foi consultado diretamente. Quando
começou fomos trocando a roda com o carro andando mesmo (Diretor da Escola
1).
Olha, para ser sincera a gente não participou e nem foi consultada, até hoje se você
me pedir para explicar direitinho para alguém a reforma e todas as possibilidades
de organizar o currículo e os horários, eu não saberia. É muita coisa e não tivemos
tempo de preparar, foi sendo feito no dia a dia mesmo (Vice-Diretora da Escola 2).
Aqui na escola nós fizemos propaganda no bairro e alugamos até um carro de som
para divulgar as mudanças no Ensino Médio. Como era período de férias a gente
precisava passar para os estudantes e as famílias que eles ficariam mais tempo na
escola e que poderiam escolher os itinerários (Coordenadora Pedagógica da Escola
1).
Teve estudante que passou para o noturno ou para a EJA, e não foi só para
trabalhar em qualquer serviço não, teve alguns que entraram no programa de menor
aprendiz, que é oficial e mesmo assim não permite estudar no integral, além de
ganhar muito pouco. A gente fica com o coração apertado e tenta falar para não sair
do integral, mas a necessidade da família é mais forte (Diretor da escola 2).
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Na escola, apesar das 45 h/a os estudantes tem poucas aulas da Formação Geral,
pois outras disciplinas entraram, tem turma que tem uma aula só de Geografia, por
exemplo, isso é muito ruim para o estudante e para o professor, que tem uma carga
horaria reduzida, pegando contrato de poucas aulas (Diretor da escola 1).
Aconteceu aqui na escola do professor pegar uma disciplina que não é a dele para
completar a carga e ficar na escola, uma eletiva que tem a ver com a disciplina dele
ou não, o Projeto de Vida é assim, acaba pegando quem tem poucas aulas ou os
contratados. (Diretor da escola 2).
Desde a sua promulgação, a reforma do Ensino Médio foi alvo de críticas em praticamente
todos os seus aspectos, no distanciamento entre a organização do tempo pretendida e a realidade dos
estudantes das escolas públicas brasileiras, na pouca atenção dada às Ciências Humanas, no
tecnicismo que orienta as escolhas formativas e, sobretudo, na possibilidade de aprofundamento das
desigualdades educacionais, uma vez que os estudantes que podem realmente escolher seus
itinerários e permanecer na escola o dia todo, não são os oriundos da famílias mais pobres.
Nas análises já realizadas e naquela que propomos na pesquisa parcial aqui apresentada, o
tempo constitui um elemento organizador/desorganizador da escola. Como no trabalho
contemporâneo, o tempo na escola estratifica e se antagoniza om outros tempos de vida. A
fragmentação e individualização dos tempos de trabalho levam ao surgimento de uma pluralidade
de novos tempos laborais, que se colocam, cada vez mais, em total assincronia com os outros
tempos sociais, como o da família, do descanso, do lazer, da educação etc. Menos visível, por sua
vez, é o aprofundamento do processo de intensificação do tempo de trabalho, sobretudo a partir dos
anos 1980 e 1990, quando se difundem novas mudanças tecnológicas, organizacionais e de gestão,
que se somam às antigas manifestações (BOISARD et al., 2002).
A interpretação se faz pertinente, considerando que o tempo ampliado do NEM se apresenta
como preparação necessária para o trabalho, estando ausente da proposta as demais representações
do tempo na vida dos estudantes e dos trabalhadores da escola, um tempo que também exprime um
sistema de valores, crenças, normas, leis, vivências, representações e poderes, que conformam a
formação cidadã, humanizadora e integral das juventudes.
Em mão contrária, a duração do tempo no NEM exprime um sistema de diferenciação,
estratificação e, possivelmente, persistência das desigualdades que se propõe a enfrentar. Para esse
propósito é importante criar condições materiais para a permanência ampliada. No que tange à
gestão, o volume de tempo de trabalho é alvo de grande intensificaçao: no caso dos estudantes, o
tempo de escola aumenta, no caso dos trabalhadores da educaçao, o trabalho invade os tempos
social, familiar, de lazer, desorganizando a vida dos gestores escolares. Por fim, desafiados por um
tempo de trabalho infinito, as equipes de gestão das escolas são alijadas da construção democrática,
colegiada e comunitária do Projeto Político Pedagógico das escolas onde atuam, cumprindo, na
maioria das vezes, uma agenda administrativa e pedagógica construída externamente, sem que as
singularidades da escola e do território no qual ela se insere componham essa agenda.
REFERÊNCIAS
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1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e 11.494, de 20 124 de junho 2007,
que regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização
dos Profissionais da Educação, a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-
Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e o Decreto-Lei nº 236, de 28 de fevereiro de 1967; revoga a
Lei nº 11.161, de 5 de agosto de 2005; e institui a Política de Fomento à Implementação de Escolas
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