FUNDEF Tarcília Edna Fernandes Do Nascimento
FUNDEF Tarcília Edna Fernandes Do Nascimento
FUNDEF Tarcília Edna Fernandes Do Nascimento
Este trabalho de monografia tem como objetivo analisar os dados referentes aos recursos
financeiros disponíveis ao Município de Juiz de Fora para a Manutenção e Desenvolvimento do
Ensino (MDE), dando ênfase no impacto do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
Fundamental e Valorização do Magistério (Fundef) nas finanças do município, bem como sobre
suas implicações para a melhoria da qualidade do ensino na década de vigência do fundo. Busco
compreender as implicações da focalização de recursos no ensino fundamental e da centralidade
que o município ganha como responsável por esse nível de ensino, por meio do impacto do
Fundo nas finanças do município, bem como os efeitos traduzidos em melhoria da qualidade do
ensino. O trabalho se estrutura em três capítulos, os quais apresentam em primeiro lugar uma
recapitulação histórica e política das políticas de fundos no Brasil redemocratizado e uma revisão
bibliográfica que será norteadora de todo o trabalho. Em seguida, encontra-se a análise dos dados
financeiros coletados nas secretarias da fazenda e educação do município, onde procuro
relacionar as receitas e despesas municipais aos dispositivos legais de vinculação de recursos à
educação, dando ênfase àqueles destinados ao Fundef. E por fim proponho um diálogo com
pesquisa realizada antes da implementação do Fundo, para verificar em que medida as
preocupações apresentadas quando da expectativa de implementação do fundo persistiram em
debate durante a sua vigência.
This monograph aims to analyze the data for the financial resources available to Juiz de Fora city
for Maintenance and Development of Education (MDE), emphasizing the impact of the “Fundo
de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério”
(FUNDEF) in the city finances, as well as their implications for improving the education quality
during the term of this fund. I try to understand the implications of the focus in resources to
primary education and the centrality that the city wins being responsible for this level of
education, through the impact of the Fund on the finances of the city as well as the effects turned
to improving the education quality. The work is divided into three chapters, first a historical and
political funds policies in redemocratized Brazil and a literature review that will guide all the
work. Then, a financial analysis of the data collected from the Department of Education and
Finances of Juiz de Fora is done, where I try to relate the revenue and expenses of the city with
legal mechanisms linking education resources, emphasizing those intended for FUNDEF. Finally
I propose a dialogue with the research conducted before the implementation of the Fund, to
ascertain if the concerns raised when the fund expected implementation, persisted in debate over
its lifecycle.
Introdução.....................................................................................................................................09
Considerações Finais....................................................................................................................38
Referências Bibliográficas............................................................................................................40
ÍNDICE DE TABELAS, GRÁFICOS E QUADROS
Tabela 01 - Composição dos recursos destinados e aplicados no ensino em Juiz de Fora - 1998 a
2007................................................................................................................................................17
Gráfico 01 - Evolução das matrículas nas redes municipal e estadual..........................................19
Tabela 02 - Recursos aplicados em MDE em relação aos recursos vinculados ao Fundef em Juiz
de Fora............................................................................................................................................21
INTRODUÇÃO
No terceiro capítulo pretendo resgatar investigação feita por Rosimar Oliveira sobre os
possíveis efeitos do Fundef em Juiz de Fora antes de sua implementação, com a intenção de
compará-los com os reais valores do primeiro ano do fundo e verificar em que medida as
preocupações apresentadas quando da expectativa de implementação do fundo persistiram em
debate durante a sua vigência.
A busca para as respostas destes pontos-chaves se deu pela coleta de dados sobre a
gestão dos recursos do Fundef nas Secretarias de Educação e Fazenda Municipais,
recolhendo-se os documentos contábeis e todos os demais utilizados na prestação de contas
anual e trimestral dos recursos, bem como os documentos orçamentários referentes ao
planejamento e execução das despesas. Após coletados, os dados constituíram uma série
histórica abrangendo o período de 1998 a 2007, tendo sido sistematizados e atualizados de
acordo com o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) 1, podendo, assim,
revelar o significado das relações entre os valores, uma vez que os índices de inflação anual
influenciam substantivamente nas análises de uma série histórica de dados financeiros. Além
das fontes mencionadas, foram utilizadas informações obtidas a partir de entrevistas com
respostas livres aplicadas às gestoras educacionais que assumiram o posto de secretárias
municipais de educação no período de vigência do Fundef.
1
O IPCA/IBGE verifica as variações dos custos com os gastos das pessoas que ganham de um a quarenta
salários-mínimos nas regiões metropolitanas de Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre,
Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo, Município de Goiânia e Distrito Federal.
http://www.portalbrasil.eti.br/ipca.htm
11
Por ter sido tratada em termos muito amplos, a Emenda sofreu alguns impasses de
aplicação, pois possibilitou interpretações contraditórias, podendo compreender gastos com
merenda escolar, assistência médica, construção de ginásios de esporte em escolas, etc.
Somente em julho de 1985 a aplicação pretendida destes recursos pode ser regulamentada
pela Lei 7.348, que delimitou o que poderia ser compreendido como gastos com a
Manutenção e Desenvolvimento do Ensino.
Nesse contexto, Vanilda Paiva (1990) ressalta a importância dos fundos públicos para
a ampliação do acesso à educação escolar. Um significado importante do fundo público é
que, com a criação deles, é possível direcionar recursos específicos para uma área específica,
como, por exemplo, o Fundo Nacional do Ensino Primário, criado em 1942, o qual
possibilitou avanços importantes no que diz respeito à expansão das escolas públicas. A
autora cunhou a expressão “pressão-intrassistêmica” para mostrar que a partir do atendimento
de um determinado nível da demanda educacional a sociedade passa a exigir a ampliação do
acesso aos níveis de ensino imediatamente posteriores.
12
O FEF foi extinto em fins de 1999, entretanto em março de 2000 foi aprovada a EC nº
27, responsável pela criação da Desvinculação de Receitas da União (DRU), que deu
continuidade às políticas de desvinculação das receitas da União, desvinculando 20% dos
impostos federais. Deste modo ficou sendo legalmente obrigatória a aplicação de apenas
14,6% das receitas. Segundo Fernando Haddad, ministro da educação do governo Lula, a
perda provocada pela DRU de 1994 a 2007 teria totalizado 100 bilhões em valores atualizados
em 2008. (DAVIES, 2008).
Deveria ser fixado a cada ano um valor mínimo nacional por aluno e o governo federal
complementa esses recursos sempre que, no âmbito de cada Estado, seu valor anual por aluno
não alcançar o mínimo definido nacionalmente. Portanto, a parcela de recursos federais para a
composição do Fundef somente é alocada a título suplementar com o objetivo de assegurar
um valor mínimo por aluno/ano aos governos estaduais e municipais onde este valor per
capita não for alcançado.
União. Porém, a reduzida participação complementar da União, tendo em vista o baixo valor
mínimo aluno/ano, limita a função redistributiva da União no financiamento do ensino
fundamental, segundo determina a Constituição Federal (art. 221), impedindo um avanço na
política de correção das desigualdades interestaduais proposta pelo Fundef (VAZQUEZ,
2005).
Portanto, a EC 14/96 estabeleceu caráter constitucional para uma medida que já vinha
sendo adotada pelo Estado de Minas Gerais. O que ocorreu foi uma simplificação dos
princípios, uma vez que limitou o universo das matrículas públicas no ensino fundamental e o
montante dos recursos às receitas redistribuídas. A aprovação pelo Congresso acelerou o
processo de municipalização da educação em muitos municípios, devido ao fato de ter
submetido todos os entes federados a esta política.
16
A média de aplicação dos recursos vinculados ao ensino no período de 1998 a 2007 foi
de 28,31%, e a variação média dos percentuais aplicados no ensino no período de 1998 a 2007
foi de 4,09%. Comparando os percentuais anuais nesse período, observamos que no ano de
1998 foram aplicados 6,86% a mais que essa média, em relação a 2004 (2,76%), abaixo dessa
média, e a 2007 cujo percentual foi de 1,77% abaixo da média do período. Temos, portanto,
que o percentual de aplicação variou sem grandes elevações, exceto pelo primeiro ano de
formação do Fundef.
Avaliando o período, como um todo, pode-se dizer que em 1998 houve uma maior
remessa percentual de recursos, isto se deveu à evolução das matrículas a partir de 1997, um
ano antes da implantação do Fundef, quando houve um incremento de matrículas na rede
municipal. Neste processo o número de matrículas no ensino fundamental passa de 26.786 em
1997 para 32.872 em 1998, o que representa um incremento de 6.086 matrículas entre um ano
e outro. Entretanto, é curioso destacar que no ano de 2007 a média de aplicação de 28,31%
nem sequer foi alcançada, e foi justamente neste ano que ocorreu a implantação do Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da
Educação (Fundeb).
O fato é que, ainda que o percentual aplicado no ensino tenha diminuído em relação à
média do período, os recursos financeiros vinculados ao ensino em 2007 aumentaram 8,59%
em relação ao ano anterior e 83,31% em relação a 1998. Isso se deveu à modificação na
composição da base de vinculação das receitas, sem, contudo, que houvesse aumento real de
19
Para Helena Ribeiro (2010) não houve uma transferência direta de matrículas da rede
estadual para a rede municipal; o aumento evidenciado se deu pela contagem da EJA como
ensino regular. É importante destacar que esta modalidade de ensino não estava incluída na lei
do Fundef, configurando-se como um artifício para a arrecadação destes recursos, já que a
implantação do Fundef passou a restituir as receitas vinculadas às esferas de governo
proporcionalmente às matrículas efetivadas nesse nível de ensino. Esse mecanismo que induz
à municipalização do ensino fundamental alimentou a ânsia dos prefeitos em manter ou
ampliar seus recursos para a educação sob a pena de ver seus recursos serem redistribuídos
para outros municípios de maior capacidade de atendimento.
45000
35000
REDE ESTADUAL
30000
25000
20000
15000
10000
5000
0
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Fonte: MEC / INEP Esplanada dos Ministérios.
enfrentada com mais tranquilidade, confirmando uma autonomia que já vinha sendo gestada
ao longo do tempo (SARMENTO, 2005).
Neste caso, diante do fato de Juiz de Fora ter passado a receber mais recursos com a
política redistributiva do Fundef e sem, contudo, ter ampliado significativamente sua esfera de
atendimento, entendemos que a rede possa garantir um critério mais elevado de qualidade.
Esta garantia depende de estratégias eficazes de gestão do sistema de ensino e, sobretudo, de
investimentos para adaptação tanto da rede física, quanto do quadro de pessoal. Para Rosimar
Oliveira (2001), uma situação positiva quanto aos efeitos da implementação do Fundef
poderia desdobrar-se num aumento de gastos municipais em equipamentos, obras ou materiais
e serviços.
60% APLIC.
ANO FUNDEF OBRIGATÓRIO MAGISTÉRIO %
1998 20.070.762,09 12.042.457,25 18.398.722,96 91,66
1999 24.444.653,97 14.666.792,38 19.634.724,4 80,32
2000 28.204.012,3 16.922.407,38 19.447.248,13 68,95
2001 33.168.389,28 19.901.033,57 23.442.172,31 70,67
2002 33.889.644,43 20.333.786,66 29.654.475,05 87,5
2003 36.701.047,77 22.020.628,66 33.208.027,55 90,48
2004 40.412.786,63 24.247.671,89 36.215.158,79 89,61
2005 48.861.459,63 29.316.875,78 38.274.269,48 78,33
2006 51.703.785,67 31.022.271,4 42.024.921,86 81,28
2007 59.717.611,28 35.830.566,77 51.712.351,58 86,59
Fonte: Prestação de Contas do Município de Juiz de Fora. Valores nominais corrigidos pelo IPCA de 31/12/2009
Pelos dados apresentados na Tabela 07, obtidos nas atas do CACS, podemos observar
que as outras despesas citadas na Tabela 06 representam gastos empregados,
substancialmente, em MDE, ou seja, ações voltadas à consecução dos objetivos das
instituições educacionais de atendimento ao ensino fundamental. Inserem-se no rol destas
ações despesas relacionadas à aquisição, manutenção e o funcionamento das instalações e
equipamentos necessários ao ensino, uso e manutenção de bens e serviços, remuneração e
aperfeiçoamento dos profissionais da educação, aquisição de material didático, transporte
escolar, entre outros. Ao estabelecer quais despesas podem ser consideradas como de
manutenção e desenvolvimento do ensino a LDB, pressupõe que o sistema coloque o foco da
educação fundamental na escola e no aluno. Daí a necessidade de vinculação necessária dos
recursos aos objetivos básicos da instituição educacional.
O Fundef trouxe bônus e ônus para os municípios de Minas Gerais. Para alguns
estudiosos, significou o aumento de recursos, para outros, perda deles. Um bônus é a
possibilidade de disciplinar o processo de gasto público da área de educação, coibindo os
gestores do sistema a realizarem gastos de forma a atender apenas a seus interesses
particularistas, ou realizar despesas em outros níveis de ensino, desviando, assim, a direção
dos gastos e o foco dos problemas. A criação do Fundef, no entender do ex-ministro Barjas
Negri (1997), representou “uma minirreforma tributária, ao introduzir nos critérios de partilha
e de transferências de parte dos recursos de impostos uma variável educacional, o número de
alunos, equalizando o valor a ser aplicado por aluno, no âmbito da unidade da Federação.
Essa variável deveria reduzir as disparidades na qualidade do ensino, nas condições físicas
das escolas e nos salários dos professores, pelo simples fato de a dependência administrativa
do sistema escolar dos municípios ter à sua disposição o mesmo valor por aluno/ano”
(CASTRO, 1998). Os recursos destinados à educação foram concebidos em função do
planejamento econômico e tal planejamento direcionou o quanto pode ser investido em
educação.
Como ônus deve-se destacar a situação dos municípios que devido a sua baixa
capacidade tributária e atendimento educacional perdem recursos para outros municípios na
política redistributiva do Fundef. Além disso, o calculo é realizado com base em valores
mínimos, podendo contar com suplementação da União somente no caso deste valor mínimo
não ser alcançado, houve também o aumento da demanda gerencial, sem a respectiva
capacidade administrativa. Mas, sobretudo o Fundef não induziu à equidade pretendida pela
padronização de um valor/aluno/ano definido nacionalmente.
30
35000000,00
SALDO RETIDO
30000000,00
SALDO REDISTRIBUIDO
25000000,00
20000000,00
15000000,00
10000000,00
5000000,00
0,00
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Fonte: Prestação de Contas do Município de Juiz de Fora.
100000000,00
90000000,00
APLICADO MDE
80000000,00
SALDO DE REDISTRIBUIÇÃO
70000000,00
60000000,00
50000000,00
40000000,00
30000000,00
20000000,00
10000000,00
0,00
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Fonte: Prestação de Contas do Município de Juiz de Fora.
negativo nas receitas totais destes municípios que mantêm um atendimento educacional
relativo à sua demografia, ou seja, baixo, pois desconsiderou os aspectos socioeconômicos e
culturais. Além disso, atribuir o mesmo custo por aluno para cidades em situações econômicas
distintas é considerar como homogêneas situações que são extremamente heterogêneas.
Tento em vista que sua produção acadêmica foi de fundamental importância para a
proposição deste trabalho, bem como a elaboração, pretendi estabelecer um diálogo frutífero
com seus estudos iniciados em 1996. Na monografia de bacharelado, Rosimar elaborou uma
análise dos dados financeiros educacionais de Juiz de Fora, cujo objetivo era demonstrar,
numa previsão, o impacto do Fundo na receita do município se ele entrasse em vigência no
ano de 1996, baseando-se nas seguintes variáveis: número de alunos, receita vinculada à
educação e receita vinculada ao ensino fundamental. Com base neste estudo, ela buscou
estabelecer projeções acerca de como o impacto do Fundo agiria em Juiz de Fora, levando em
consideração a sua lógica redistributiva e a realidade do município. O presente trabalho
elaborado em 2010 busca neste capítulo confirmar as previsões de Rosimar sobre o
comportamento do Fundo no Município. Apresento aqui uma comparação entre os valores
previstos por Rosimar e os valores aplicados em 1998, ano em que o fundo de fato entrou em
vigência, com a intenção de demonstrar coerência entre os cálculos de previsão e o
comportamento real do Fundo.
A Lei que cria o Fundo subvincula 15% das receitas dos municípios provenientes de
transferências - FPM, IPI e ICMS - ao Fundo Estadual. No ano de 1996, Juiz de Fora
arrecadou, das receitas referidas, cerca de 41 milhões. Desse total, caso a obrigatoriedade da
Lei estivesse vigorando, aproximadamente 6 milhões seriam destinados ao Fundo. Sabendo
que o retorno do total depositado dependeria do número de alunos matriculados na rede
municipal no ensino fundamental e este número era 27.512 e que o mínimo nacional
estabelecido era de R$ 300,00 por aluno, Juiz de Fora receberia mais de 8 milhões do Fundo.
Assim, com base na prospecção feita em 1996, Juiz de Fora, com a criação do Fundo,
veria aumentada sua receita para o ensino fundamental em cerca de 2 milhões.
R$ 6.158.452,58 / 27512 = R$
Valor/aluno/ano com recursos do próprio município 223,84
Valor total que deve ser aplicado obedecendo ao 27512 x R$300,00= R$
valor/aluno/ano do estabelecido pelo estado 8.253.600,00
R$ 8.253.600,00 – R$
Saldo obtido na redistribuição intraestadual 6.158.452,58 = R$ 2.095.147,42
Fonte: OLIVEIRA, R de F. Fundo de manutenção e desenvolvimento do ensino fundamental e valorização do
magistério: um estudo de política educacional e da repercussão na rede municipal de Juiz de Fora. Juiz de Fora:
UFJF, 1996.
Estes cálculos tentam refletir os impactos do Fundo se a lei entrasse em vigor naquele
ano, e previu um incremento de mais de 2 milhões de reais. Vejamos agora como estes valores
se portaram em 1998, primeiro ano de implementação do Fundef.
R$ 6.930.503,62 / 32872= R$
Valor/aluno/ano com recursos do próprio município 210,83
Valor total que deve ser aplicado obedecendo o 32872 x R$ 300,00 = R$
valor/aluno/ano do estabelecido pelo estado 9.861.600,00
R$ 9.861.600,00 – R$
Saldo obtido na redistribuição intraestadual 6.930.503,62 = R$ 2.931.096,40
Fonte: Prestação de Contas do Município de Juiz de Fora. Valores nominais corrigidos pelo IPCA de
31/12/2009.
Contudo, Juiz de Fora, não representa a realidade da maioria dos municípios do País.
Assim como não representa a realidade dos municípios do Estado de Minas Gerais. Pois se
Juiz de Fora ganhou com a política de redistribuição, outros municípios de Minas Gerais
perderam estes recursos, uma vez que, associada ao significativo ganho em Juiz de Fora, a
complementação da união no estado, durante toda a vigência do Fundo, foi nula. Este foi um
ponto problemático levantado por Rosimar ainda em 1996, pois para ela, na formulação do
fundo, a União pareceu interessada em redistribuir os recursos existentes, sem ampliá-los,
obrigando os que arrecadam mais a financiar o ensino fundamental daqueles que arrecadam
menos e investem menos. Mas o que constatamos é que a redistribuição não segue esta lógica
na prática, já que são justamente os municípios menores e de pouca arrecadação que perdem
seus recursos para os outros, devido à sua baixa capacidade de atendimento. O que
concluímos é que de fato a ausência de recursos da União impediu que o objetivo de equidade
fosse alcançado efetivamente, tanto em âmbito intraestadual quanto em âmbito interestadual.
Outros aspectos dos efeitos do fundo foram levantados por Rosimar antes de sua
implementação e que continuaram em debate nos estudos contemporâneos ao fundo. Um
deles alerta para possíveis riscos para os Planos de Carreira docente, que sofreriam mudanças
significativas com a criação do fundo e a obrigatoriedade de se aplicar um mínimo de 60% na
remuneração do magistério. Com relação a isto, pudemos observar neste trabalho que a
aplicação dos recursos do Fundef se concentraram fortemente nesta função. Para Rafaela
Azevedo e Lílian Lima (2010), em trabalho elaborado sobre a valorização dos profissionais
do magistério no período de vigência do Fundef, mudanças significativas ocorreram neste
período no que tange à carreira docente, tais como o atual plano de carreira, a diminuição da
carga horária de vinte para quinze horas semanais e 10% do salário base por participação em
reuniões pedagógicas.
37
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sobre os dados do município pesquisado observamos que os valores gastos com MDE
no Município de Juiz de Fora atendem à legislação no que concerne à vinculação de no
mínimo 25% das transferências constitucionais. Outra coisa que deve ser destacada é o fato de
o cálculo do Fundef ser feito pelo número de matrículas no ensino fundamental, isto eleva a
busca por atendimento deste nível de ensino, pois para manter ou ampliar seus recursos para a
educação se faz necessária uma crescente municipalização do ensino fundamental, ainda que
para isso ocorra, em alguma medida, uma contagem fraudulenta. Esta situação foi analisada e
demonstrada por Ribeiro (2011), sobre a inclusão do EJA na contabilidade das matrículas do
ensino fundamental para recebimento dos recursos do Fundef em Juiz de Fora.
O que se percebe, portanto, é que Juiz de Fora foi privilegiada com ganho de
significativos recursos para o ensino fundamental, sem, contudo, ter tido esta significância
refletida em qualidade de ensino, já que o Ideb de Juiz de Fora, tanto das séries iniciais do
Ensino Fundamental como das séries finais, estão abaixo do índice de Minas Gerais e do
Brasil. O que nos leva a concluir que uma reforma educacional eficiente que possa enfrentar
os problemas da educação brasileira demanda mais investimentos da União, pois estamos
assistindo a uma transferência de obrigações dos outros entes da Federação para os
municípios, sem a devida transferência de recursos.
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