Dasilva Ingrid Program A
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Resumo: Este trabalho é parte de uma dissertação que buscou analisar possibilidades
para o trabalho da matemática através do Programa de Educação Financeira – Ensino
Médio. No que diz respeito ao ensino de matemática, percebe-se uma forte ligação desta
com a educação financeira na realidade dos alunos, porém essa discussão precisa buscar
uma reflexão, propõe-se então que, nas aulas de matemática, essa discussão seja feita
na perspectiva da educação matemática crítica. Neste trabalho, buscou-se identificar nos
livros do professor, para o trabalho com educação financeira no Ensino Médio, se há
orientações para o desenvolvimento das atividades propostas para o aluno e se estas
indicam o trabalho das questões a partir da matemática, em caso afirmativo, procurou-se
identificar os ambientes de aprendizagem propostos por Skovsmose (2000) que essas
orientações podem proporcionar. Através das análises, percebe-se que as atividades de
educação financeira, propostas no livro do aluno, podem proporcionar contextualização do
ensino de matemática e sugerem, na maioria dos casos, que o trabalho se dê a partir da
realidade dos alunos, mas torna-se necessário que as orientações sejam mais
específicas, no que diz respeito aos conhecimentos matemáticos, para auxiliar os
professores com o trabalho em sala de aula.
Palavras-chave: Educação Matemática; Educação Financeira Escolar, Ensino Médio.
Abstract: This work is a part of a discussion that sought to analyze possibilities for the
work of mathematics through the Programa de Educação Financeira- Ensino Médio.
Relating to mathematics teaching is but this discussion needs to take place in a way to
seeks reflection, proposes, in mathematics education, the discussion from the perspective
of critical mathematical education. In this work, we have tried to identify in the teacher's
books about the work with financial education in High School, if there are guidelines for the
development of the activities proposed for the student and if these indicate the work of the
questions from mathematics, If so, we sought to identify the learning environments
proposed by Skovsmose (2000) that these guidelines can provide. Through the analysis, it
can be seen that the financial education activities, proposed in the student's book, can
Introdução
A inserção da educação financeira nas escolas vem sendo bastante discutida em
vários países, como Inglaterra, França, Portugal, entre outros. No Brasil essa discussão
foi impulsionada pelas ações desenvolvidas pela Estratégia Nacional de Educação
Financeira (ENEF), instituída através do decreto nº 7.397 de 2010. A ENEF surgiu a partir
de iniciativas do Comitê de Regulação e Fiscalização dos Mercado Financeiro, de
Capitais, de Seguros, de Previdência e de Capitalização (COREMEC). As propostas
desenvolvidas pela ENEF para a disseminação da educação financeira para a população
teve inspiração no trabalho desenvolvido pela Organização para a Cooperação de
Desenvolvimento Econômico (OCDE), mas, foram adaptadas para a realidade brasileira,
tendo o MEC participado da proposta para o Brasil.
A ENEF propõe inicialmente dois programas, um para adultos que pretende
atender aposentados e mulheres assistidas pelo programa bolsa família e um para jovens
e crianças que busca atingir alunos do Ensino Fundamental e Médio. Este último é que
será foco da análise deste artigo. O Programa de Educação Financeira nas Escolas –
Ensino Médio está sendo implementado em escolas públicas de todo o país. Dentre os
objetivos para esse grupo, estão:
(i) para construir um pensamento financeiro sólido, e (ii) desenvolver
comportamentos autônomos e saudáveis, permitindo que eles sejam os
protagonistas de sua própria história, com total capacidade de decidir e
planejar para o que eles querem para si mesmos, suas famílias e os
grupos sociais aos quais pertencem. (BRASIL, 2013, p. 12).
Para atender aos objetivos do programa, o Comitê Nacional de Educação
Financeira (CONEF), que é um dos órgãos participantes da ENEF organizou um material
didático composto por três livros para o aluno, três livros para o professor e três cadernos
de atividades para o aluno. Esse material foi distribuído pelo Ministério da Educação
(MEC) para cerca de mil escolas públicas, atingindo assim, três mil professores e
quarenta e cinco mil estudantes, sendo investidos para isso cerca de dois milhões de
reais (BRASIL, 2010). Além desse investimento, há previsão que esse programa venha a
ser expandido nos próximos anos, o que torna necessário pesquisas que busquem
compreender as possibilidades de trabalho com esse programa em sala de aula.
Apesar da crescente discussão sobre a inserção da educação financeira nas
escolas, esse tema ainda é bastante novo, de forma que não há orientações específicas
nos documentos nacionais oficiais de educação para o desenvolvimento do trabalho com
educação financeira. Assim, o livro oferecido para o professor vem servindo como base
para o trabalho com educação financeira nas escolas públicas do país que receberam o
material para implementação do programa.
Educação Financeira
A matemática é, muitas vezes, citada como fator de insucesso escolar, isso pode
acontecer por ser trabalhada, de forma geral, distanciada da realidade dos alunos e com
pouca ou nenhuma contextualização. Nesse sentido, muitos autores que pesquisam sobre
educação matemática buscam novas propostas de ensino que possa aproximar a
matemática vivenciada pelos alunos em seu cotidiano da matemática ensinada nas
escolas.
Uma dessas propostas baseia-se na educação matemática crítica que foi inspirada
em diversos autores ao redor do mundo. No Brasil, a educação matemática crítica foi
fortemente influenciada pelos pensamentos de Paulo Freire, que propunha na década de
1970 uma educação que fosse libertadora, como também buscasse o desenvolvimento do
pensamento crítico por parte dos alunos e por Ubiratan D’Ambrósio que na década de
1970 desenvolveu a etnomatemática que busca valorizar os conhecimentos matemáticos
adquiridos e usados pelos alunos fora da escola.
O principal autor da educação matemática crítica é Skovsmose que afirma que o
movimento de educação matemática crítica “se preocupa fundamentalmente com
aspectos políticos da educação matemática” (SKOVSMOSE, 2001, p. 7). Além disso,
defende-se a ideia de que “para ser crítica precisa reagir a contradições sociais”
(SKOVSMOSE, 2001, p.101). Assim, torna-se fundamental que a educação financeira
seja trabalhada, em aulas de matemática, na perspectiva da educação matemática crítica,
pois esta sugere um ensino de matemática que, através da contextualização, conteste a
sociedade em sua organização política, econômica e social.
Podemos pensar em trabalhar a educação financeira nas aulas de matemática
através dos cenários para investigação, propostos por Skovsmose (2000), que seriam “um
terreno sobre o qual as atividades de ensino e aprendizagem acontecem” (2014, p.45), ou
seja, “um ambiente que pode dar suporte a um trabalho de investigação” (SKOVSMOSE,
2000, p. 2).
Procedimentos Metodológicos
O material distribuído pelo MEC para o trabalho com educação financeiras nas
escolas é composto por: três livros para o aluno, três livros para o professor e três
cadernos de atividades para o aluno, ambos são denominados de Blocos, tendo assim,
Blocos 1, 2 e 3 para o aluno, Blocos 1, 2 e 3 para o professor e Blocos 1, 2 e 3 do
caderno de atividades para o aluno, como mostram as figuras a seguir:
Fonte: Educação Financeira nas Escolas: Ensino Médio – Livro do Aluno - Bloco 1, p. 49
Apesar de divididos por Blocos a orientação é que cada livro pode ser trabalhado
em qualquer ano do Ensino Médio, não necessitando assim, terminar um Bloco para
começar outro. Além disso, o material proposto para os alunos não é um material
direcionado para uma disciplina específica e a orientação é que esse trabalho se dê de
forma transversal.
Este trabalho buscou identificar nos livros do professor se há orientações para o
trabalho com esses Experimente!, encontrados nos livros do aluno. Em caso afirmativo,
procurou-se analisar se essas orientações indicam o trabalho com a matemática e, no
caso de haver tais orientações, investigou-se se essas orientações podem facilitar a
prática para os cenários para investigação proposto por Skovsmose (2000), fortalecendo
uma aprendizagem crítica por parte dos estudantes.
De forma geral, a análise foi feita considerando: 1) se há orientações para as
atividades Experimente!; 2) as relações com a matemática contidas nos livros do
professor, para o trabalho com as atividades propostas no livro do aluno (Experimente!);
2) os ambientes de aprendizagem que essas orientações podem proporcionar, ambas
serão apresentadas a seguir.
Figura 7: Exemplo – Orientação que abordam conceitos matemáticos e sugere que sejam
apresentados aos alunos.
Figura 8: Exemplo – Orientação que abordam conceitos matemáticos e sugere que sejam
apresentados aos alunos pelo professor de matemática.
Pela tabela acima, percebe-se que apenas o Bloco 1 possui os três tipos de
orientação em que são abordados conceitos matemáticos, assim, nesse Bloco tem-se um
equilíbrio maior entre as categorias apresentadas. Em contrapartida, no Bloco 2
encontram-se, 11 orientações que abordam conceitos matemáticos e três que abordam
conceitos matemáticos com sugestão que sejam apresentados com os alunos e no Bloco
3, tem-se 12 orientações que abordam conceitos matemáticos e apenas uma que aborda
conceitos matemáticos e sugere que sejam apresentados aos alunos.
Ao todo, 37 orientações contidas no manual do professor para o trabalho com os
Experimente! apresentam algum tipo de orientação para trabalho com a matemática.
Compreende-se que apenas sugerir que em algum momento pode ser usado algum
conteúdo matemático pode não ser suficiente para que o professor compreenda a
dimensão da atividade no que diz respeito aos conteúdos matemáticos que podem estar
envolvidos, de forma que consideramos importante que os conhecimentos matemáticos,
bem como de qualquer outra disciplina, que possam ser mobilizados durante a realização
das atividades, sejam devidamente explicitados nas orientações ao professor.
Esta consideração é bastante pertinente quando se considera que o material
didático, proposto para o trabalho com educação financeira, tem como orientação a
abordagem transversal de modo que pode ser trabalhado por professores de qualquer
área de ensino. Assim, parece fundamental que os conceitos que serão mobilizados nas
atividades sugeridas estejam claros, para que os professores se sintam mais seguros
para trabalhar as atividades em sala, organizando e articulando conhecimentos de
diferentes campos, inclusive, possibilitando uma abordagem em sala de aula envolvendo
outros professores.
Nas atividades que possuem orientações que demonstram a necessidade de algum
uso da matemática, foram também identificados os ambientes de aprendizagem
propostos Skovsmose (2000) que tais atividades, a depender da abordagem feita pelo
professor, podem desenvolver.
Fonte: Programa de Educação Financeira nas Escolas – Ensino Médio -Livro do Professor
–Bloco 1- p.19
Considerações Finais
Submissão: 24/04/2017
Aceite: 15/03/2018