Sábado #670
Sábado #670
Sábado #670
JANTARES DISCRETOS
RESTAURANTES
À PORTA FECHADA
www.sabado.pt N.º 670 – SEMANAL – 2 A 8 DE MARÇO DE 2017 – €3,20 (CONT.)
ESPECIAL19PÁGS.
INTERROGATÓRIOS
FATAIS
Tudo o que Salgado e Bataglia
revelaram sobre os milhões de Sócrates
“A coincidência destas “Eu disse ‘sim, Ricardo,
operações com aquelas se precisas, eu faço. Desde
datas do Hélder Bataglia, que me transfiras o dinheiro,
é o Diabo. Foi o Diabo ” eu faço esses pagamentos’”
RICARDO SALGADO HÉLDER BATAGLIA
Sumário 2 MARÇO 2017
www.sabado.pt
Destaque
Portugal
Interrogatório O que disseram RicardoSalgado e Hélder Bataglia 26
Portugal
Reportagem O estilo de Marcelo, depois de um ano em Belém 50
Polémica Secretário de Estado investiu na empresa da mulher 56
Nomeação Do governo para o regulador da energia 59
Mundo
Iraque A “prisão dos horrores” do Estado Islâmico 60
50
RICARDO PEREIRA
Dinheiro
SELFIE-MANMARCELO EM ACÇÃO Offshores A montanha de onde pode sair um rato 62
PELO PAÍS: UM ANO DE PRESIDÊNCIA
Sociedade
Anda a pé por todo o lado, dá dores de cabeça à segurança e na Casa Entrevistadevida João Perry, 76 anos de aventuras 66
Civil já houve quem tivesse de meter uns dias para recuperar o fôlego
Bolívia As zebras que põem ordem no trânsito 72
Doença Não suporta ouvir os outros comer? Não é único 73
Destaque GPS Turismo Os chefs que vêm dos Açores 74
Só é possível entrar em alguns Apelidos Fundir o nome da mãe e do pai? Há quem o faça 78
dos bons restaurantes de Por-
Família
tugal depois de tocar à campai-
nha. Tam- Grávidas Vão à terapia para serem mães perfeitas 80
PEDRO ZENKL
26 bém uma
Social
LUSA
entrevista
com o ar- Espanha O regresso em apoteose da diva Isabel Pantoja 82
AS REVELAÇÕES DE quitecto Si-
SALGADO E BATAGLIA za Vieira; e Desporto
O que disseram os dois homens a estreia Entrevista Patrícia Mamona: a carreira e o que vai seguir-se 84
quando foram ouvidos pelo Mi- do novo
Opinião
nistério Público no âmbito da ope- Wolverine
ração Marquês
E mais...
José Nuno Alberto
4 Bastidores 14 Nuno Costa Santos 88 Alexandre Pais
Pacheco Rogeiro Gonçalves
6 Editorial 23 Pedro Marta Santos
Pereira 48 90
10 Do Leitor 25 Obituários
8
11 A Abrir 81 Dulce Garcia
www.sabado.pt
Alimentação 20 A 26 DE
Conheça os benefí- + LIDAS FEVEREIRO
cios dos alimentos
01. A MORTE DE REN HANG
que usa todos os dias
O controverso fotógrafo
Espinafres, couve-roxa,
chinêsexpôsem váriospaíses
agrião, nozes, romã e
outros que ajudam a pre-
02. AMIZADE COLORIDA
venir doenças crónicas
As regras para manter uma
relação saudável
Fotografia
Animais que parecem
03. VISITOU 193 PAÍSES
posarparaacâmara
Aartesurrealista A aventura de Cassandra De
Veja as estrelas do que
deBrianDettmer Pecol durou 18 meses e 26 dias
podia ser um calendário
3
Do director 2 MARÇO 2017
www.sabado.pt
B
BASTIDORES
Os dois interrogatórios
demoraram horas
As revelações
e decorreram ambos
na sala 2 do DCIAP, a 5 e 18
de Salgado
de Janeiro. São, portanto,
muito recentes as
e Bataglia
explicações que os dois
deram sobre os milhões 15 dias de expirar o prazo (17
de José Sócrates e Zeinal
Bava, entre vários outros A de Março) definido pela pro-
curadora-geral da República,
Joana Marques Vidal, para que seja
concluída a investigação da Operação
Marquês, a SÁBADO revela, em pri-
meira-mão, o conteúdo de dois depoi- Henrique Espada, a quem demos a g
mentos-chave no processo: o de Ricar- missão de o seguirdurante umasema- Patrícia Mamona
voa na praia,
do Salgado, histórico presidente do na. À UCCLA, chegou 20 minutos an- antes da
BES, e Hélder Bataglia, fundador do tes da hora marcada e começou pela entrevista à
BES Angolae pai dafilhade umaprima parte final, baralhando tudo e todos. SÁBADO, na qual
confessa que
de José Sócrates. Na Póvoa de Varzim, fez questão de quando deixar
Os dois interrogatórios demoraram dar uma volta maior do que a prevista as pistas pode ser
horas e decorreram ambos na sala 2 pelos anfitriões só para falar com ma- médica ou
dedicar-se
nifestantes da CGTP. E muito do que à televisão
Marcelo faz, todos os dias, nem consta (para ler nas
da agenda oficial. Não por improviso, págs. 84 a 87)
mas porque o Presidente, que tomou
posse faz um ano no próximo dia 9,
estácansado de enchentes mediáticas
e sabe que anunciando asuapresença
a enchente é maior. Além disso, man-
tém privadaaagendaprivada: domin-
go, por exemplo, teve uma tertúlia em
!
casade amigos.
Uma reportagem com a marca SÁ-
BADO, para ler nas págs. 50 a 55.
B
Perry, uma vida intensa
g do Departamento Central de Investi- A entrevista esteve marcada para o
Marcelo Rebelo de gação e Acção Penal (DCIAP). O pri- Teatro Aberto, mas João Perrypreferiu
Sousa no porto da
Póvoa do Varzim meiro a 5 de Janeiro (Bataglia) e o se- fazê-la na casa onde vive desde 1975,
a activar uma gundo a 18 (Salgado). São, portanto, e para onde já não carrega coisas pe-
balsa salva vidas muito recentes as explicações que os sadas – vive num quarto andar sem Uma noite
dois deram sobre os milhões de José elevador, entre oito toneladas de livros a não perder
no Musicbox
Sócrates e muitos outros movimentos e documentos. Desde que foi operado Depois das exposi-
de dinheiro, beneficiando os próprios à coluna, deixou de ser ele a levá-las, ções no Espaço San-
ou, por exemplo, os antigos líderes da pede sempre aalguém. ta Catarina e no res-
taurante Largo ao
PT – Zeinal Bava e Henrique Grana- Durante a conversa com a jornalista Tacho, o projecto
deiro, constituídos arguidos pelo Mi- Ana Taborda, o actor foi bebendo – e Uma Página para
nistério Público na semana passada. oferecendo – café de Timor: “É ópti- Emoldurar, da SÁ-
Um grande especial da SÁBADO, mo, dá-me um speedfantástico.” BADO/GPS e do Ge-
rador, toma conta
para ler nas págs. 26 a 44. Aos 76 anos, já deixou o hábito de do Musicbox, numa
pregar partidas, mas não totalmente: noite com muita
B “Sempre as fiz, agora não, não tenho música e animação,
Na estrada com Marcelo paciência. Se me perguntarem sou ca- que vai juntar Maria
B Vidigal, Tó Trips,
Marcelo Rebelo de Sousa é um Presi- paz de sugerir coisas, mas já não as Alex Cortez e o DJ
Director dente difícil de seguir, como testemu- executo.” Umaemocionante entrevis- GPS. A não perder,
Rui Hortelão nhou a jornalista da SÁBADO Maria tade vida, paralernas págs. 66 a 71. W já dia 18.
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Opinião 2 MARÇO 2017
www.sabado.pt
E
EDITORIAL porexplicarrelacionadas comemprés-
timos de amigos e avales do banco pú-
Em Portugal, há um
governante que escondeu
A nova arma blico;háumex-Presidentequefaloude
escutasaoPaláciodeBelém,quepatro-
dados sobre offshores; um
Governo que resiste a fazer
de arremesso cinou um encontro discreto do seu as-
sessor pessoal com um jornalista num
uma auditoria forense à
CGD; e um líder espiritual
da política café daAv. de Romae que não se coíbe
de voltarao temaparase ilibardo que o
da esquerda que aceita dar
apoio a um governador
moderna seu próprio homem de confiança de
décadas escreveu emlivro; hátodo um
que classificou de “um grupo que estoirou com dois colossos
perigo para Portugal” transparênciaé aarmade arre- empresariais portugueses (BES e PT) e
6
Opinião
O
ALAGARTIXA res, com a mesma repulsa politica-
mente correcta com que defendem
E O JACARÉ É vê-los a Trump. Não, meus caros amigos, não
há sofisticação nenhuma, nem é pre-
É preciso um grande saber
de economia e finanças
defender os ciso um curso de Economia e Gestão
para perceber os offshores, pelo con-
parase perceberas virtudes
dos offshores, e só os igna-
seus, a atacar trário, percebe-se muito bem paraque
servem e o que são.
ros é que falam mal dos
offshores, essa benévola
os seus Bem demais. W
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2 MARÇO 2017
www.sabado.pt
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Do leitor [email protected] www.sabado.pt
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2 MARÇO 2017
www.sabado.pt
Aabrir
opções ou decisões.”
Filhoealuno É Miguel Caetano que
Miguel Caetano gere e autoriza os pedidos
foi aluno do pai de consulta da documen-
durante dois tação do arquivo Marcello
anos na Facul- Caetano, depositado na
dade de Direito. Torre do Tombo. Em
“Posso dizer que Junho de 2007, foi contac-
conheci o pro- tado por Francisco Marti-
fessor: a história nho, professor do Depar-
do cerimonial da tamento de História da
entrada nas au- Universidade de São Pau-
las, do reparo ao lo, o que deu origem a
aluno sem gra- uma investigação publica-
vata e da expli- da no livro Marcello Cae-
cação a uma tano – Uma biografia
aluna sobre as 1906-1980, lançado no
h razões que leva- fim do ano passado pela
Caetano estudante: vam a condicio- editora Objectiva.
dentro do regime nar o acesso das O filho do último presi-
era considerado
da “ala moderna”
mulheres às car- dente do Conselho do Es-
reiras de magis- tado Novo deixa claro que
trados judiciais não esperava uma hagio-
são perfeitamen- grafia de Marcello Caeta-
te plausíveis” no, mas afirma que “basta
dar maior ou menor rele-
vo a determinados perío-
dos ou factos políticos
para alterar a projecção
da personagem no seu
período histórico”.
O livro serve de pretexto
a uma análise de Miguel
É O FILHO, Caetano à vida do pai em
MIGUEL, QUE 10 pontos-chave, que ten-
ABIOGRAFIADE CAETANO GERE E AU-
TORIZA OS
ta enquadrar no que seria
o seu pensamento. Se-
CRÍTICA A propósito da mais recente biografia do sucessor de Salazar, DO PAI, NA 1. A rejeição de uma
escrita por Francisco Martinho, o seu terceiro filho, Miguel, analisa a vida TORRE DO democracia parlamentar
do pai em 10 pontos. O texto integral, em exclusivo, está no site da SÁBADO TOMBO “Marcello Caetano nunca
aceitou como adequada
uem conhecer o pode ler na íntegra o tex- mente do pai sobretudo a ao seu país uma democra-
“
Q meu currículo cí-
vico conclui rapi-
to) – de Miguel Caetano à
última biografia sobre o
partir da reeleição de
Américo Thomaz para a
cia parlamentar. Qualquer
dos seus alunos sabia isso,
damente que não fui pro- sucessor de Salazar. Presidência da República, e os seus Manuais de
priamente um apoiante O terceiro filho do últi- em 1972. Mas há uma Ciência Política também
do Estado Novo, o que mo chefe de governo do diferença entre concordar eram bem explícitos
não impediu que tivesse regime deposto a 25 de com o pai em tudo e quanto à sua posição. Por
tido uma relação franca e Abril de 1974 foi por tentar compreendê-lo – isso, em momento algum
aberta com o meu pai ao exemplo fundador da e disso não desistiu: “Ha- enganou fosse quem fosse
longo dos anos 60 e 70.” SEDES (Associação para o bituei-me a procurar per- com falsas promessas. (…)
Arranca assim a crítica – Desenvolvimento Econó- ceber o meu pai, Marcello Mesmo quando fala em
escrita em exclusivo para mico e Social), em 1970, Caetano, mesmo que não Miguel eleições e na possibili-
o site da SÁBADO (onde tendo divergido politica- concordasse com as suas Caetano dade de serem eleitos Q
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Aabrir
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2 MARÇO 2017
www.sabado.pt
PUB
a não adequação da solu-
Livro ção proposta ao que se
passou em 1974 e 1975,
Marcello creio que a alternativa
Caetano – Spínola não passou de um
Uma perigoso mito, que desen-
Biografia cadeou uma situação rapi-
(1906-1980) damente incontrolável.”
Autor
Francisco 9. O exílio
Martinho “Não creio que Marcello
Editora Caetano tivesse concorda-
Objectiva do com a publicação inte-
gral da sua correspondên-
cia, pois deixou instruções
aos filhos para destruírem
a correspondência particu-
lar (de portugueses) por ele
recebida no Rio de Janeiro,
por entender que em
situações anormais as
pessoas dizem coisas de
que facilmente se arrepen-
deriam noutra situação.”
10. Conclusão
“Vencido no dia 25 de
Abril pelo golpe militar
que ocorrera em Portugal,
motivado pela insatisfação
dos militares com a conti-
nuação da guerra colonial,
insatisfação em que se
misturavam reivindica-
ções de tipo corporativo
com outras de ordem polí-
tica, [Marcello Caetano] é
afastado da chefia do Go-
verno e acusado de ter fa-
lhado uma oportunidade
Limites única para assegurar a
“Considero Mar- transição entre o Estado
cello Caetano Novo de Salazar e uma
bem mais mo- outra realidade política de
derno que Sala- contornos indefinidos.
zar. (…) O que Onde falhara Marcello
não deixo, no Caetano? Teria sido possí-
entanto, é de fa- vel com outra política,
zer referência arriscando mais na linha
aos limites da da abertura e da liberali-
intenção zação? Nunca ninguém o
modernizadora saberá. Talvez o problema
de Caetano”, herdado por Marcello
escreve Caetano representasse a
Francisco impossível quadratura do
Martinho, autor círculo. Talvez...” W
da biografia,
num texto de Leia o texto integral e a
resposta a resposta de Francisco Mar-
Miguel Caetano tinho em www.sabado.pt
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Aabrir www.sabado.pt
Fotografia contada
O marginal ameno
c
A Hong Kong Economic and Trade Office in Brussel e a Câmara Casamento
Shirley Lam
de Comércio e Indústria Portuguesa celebraram a entrada no comparou a relação
novo ano chinês, do Galo de Fogo, com um almoço em Lisboa China-Hong Kong
com um casamento,
em que são dois
Memória países e um sistema
Artur Lami contou que com o avanço da
O tecnologia, a sala de mercados de Hong
Nuno Costa Santos
Kong faz parte da memória, sendo
Escritor
agora uma espécie de museu
Uma nesga
de eterno
Foi junto à praia da Granja,
território onde Sophia de
Mello Breyner passava os
Verões, numa casa de família,
reduto do poema Casa Bran-
ca, que espreitei, no maldito
iPhone, uma notícia sobre o
livro de Cavaco Silva Quinta-
Feira e Outros Dias. É nos lu-
gares mais líricos que nos dá O brinde
para devorar os mais prosai- (Da esquerda para a direita) Rui Miguel Nabeiro, CEO da Delta Cafés; Ilídio Serôdio, presidente PCG da
Profabril e vice-presidente da Câmara de Comércio Luso-chinês; Mário Patinha Antão, vice-presidente
cos assuntos. Banco Português de Gestão; Gabriela César, adjunta do chefe da Delegação Económica e Comercial
Estava aí em trabalho e, du- de Macau em Lisboa; Artur Lami, director-geral para as Actividades Económicas; Shirley Lam,
rante uma pausa, em vez de representante especial para as Relações Económicas e Comerciais de Hong Kong junto da UE; Cai Run,
aproveitar o sol marítimo, se- embaixador da República Popular da China; e Miguel Horta e Costa, director da Câmara de Comércio
gui um alerta digital e consu-
mi, um a um, os citados consi-
derandos do ex-Presidente O TRIUNFO DOS OS GATOS PREFEREM AS MULHERES
sobre o ex-primeiro-ministro. GENÉRICOS REVELA UM ESTUDO PUBLICADO NA
Até que consegui abandonar REVISTA BEHAVIOURAL PROCESSES.
essa espuma e olhar a que ti- MEDICAMENTOS
nha em frente. Mais de 800 medicamentos
OS FELINOS TÊM UMA RELAÇÃO MUI-
E então vi a Granja de Sophia, genéricos, um recorde absolu- TO MAIS INTENSA COM AS DO-
sobre a qual falou assim a Maria to, foram aprovados em 2016 NAS DO QUE COM OS HOMENS
Armanda Passos: “Há lugares nos EUA (um espelho da reali- EM GERAL. DUAS EXPLICAÇÕES:
sagrados, sabe? Mas isso são dade mundial). Só nos EUA, a
coisas que se escrevem nos con- poupança ao sistema de saúde
SENTEM O INSTINTO MA-
tos e nos poemas e que não se que os genéricos trouxeram na TERNAL DAS MULHERES E
dizem numa entrevista.” Pude última década é astronómica: A VOZ FEMININA SOA-
fantasiar o que era estar naquele 1.700.000.000.000 euros. -LHES MELHOR.
sítio antes da Internet. Foi aíque
nasceu A Menina do Mar, livro
de tantas infâncias, inspirado
numa história que a sua mãe lhe O MEDIATISMO DE
contava sobre uma rapariga que VALE E AZEVEDO
morava nos rochedos. “Essa
menina representava para mim LIVROS
a felicidade perfeita porque al- De que modo o ex-presidente
moçava no mar, dormia no mar, do Benfica construiu uma
vivia no mar.” Sim, feliz a hora identidade que o tornou pro-
em que me libertei da armadilha tagonista da agenda dos des-
do noticiário. Não podemos dei- portivos portugueses? Esta é a
xar que a actualidade atrapalhe pergunta a que responde o li-
uma nesga de eterno. W vro A Ascensão Mediática de
Vale e Azevedo, de António
Varela, jornalista de Record.
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2 MARÇO 2017
www.sabado.pt
OS PEDIDOS MAIS
Oemoji RIDÍCULOS EM VOO
favorito é... VIAGENS
Um upgrade para a primeira classe é
uma exigência comum, mas há quem vá
mais longe. A Rumbo, agência de via-
gens online, recolheu os pedidos mais
estranhos dos passageiros de avião.
…o coração. Antes o
símbolo preferido dos
utilizadores do Face- QUER ALMOÇAR COM
book era o polegar le- BERLUSCONI? TEM €30 MIL?
vantado, sinal de “gos- SOLIDARIEDADE
to”. Mas desde há um Sílvio Berlusconi aceitou participar num almo-
ano, quando aquela ço solidário cuja receita reverte para a recons- Escorrega Peluche
trução das localidades do centro de Itália Posso usar um Vou levar um boneco
rede social lançou o afectadas por sucessivos terramotos. Em me- escorrega em vez gigante. Mas não se
Facebook Reactions – nos de 24 horas, as ofertas para almoçar com da escada para sair preocupem, não
uma lista de emojis o ex-primeiro-ministro italiano superaram os do avião? precisará de comida
para interagir com as 30 mil euros. O leilão, promovido pela Charity
Stars e pela Cruz Vermelha, estará aberto até
publicações –, o mais 16 de Março. Berlusconi, de 80 anos, é apre-
usado passou a ser o sentado como “famoso por ser um génio da
coração. comunicação e um político popular”.
Hospedeira Estranhos
Quero ser servido Quero saber quem
por uma hospedeira, se vai sentar ao meu
mas tem de ser sexy, lado. Odeio viajar
muito sexy com desconhecidos
Aniversário Bombons
Posso sentar-me Nada de comida para
ao lado do piloto? mim. Só bombons,
É que faço e que não sejam
anos hoje… de café
Rainha Cactos
É a nossa lua-de-mel. Sei que é um assunto
Têm de tratar a picante, mas posso
minha mulher como levar cactos na
uma rainha! bagagem?
15
2 MARÇO 2017
Aabrir www.sabado.pt
1
Amor à primeira vista
3
Amo-te
9
Juntos para sempre
100
Sou-te dedicado Para ti (lha)
JOÃO COSTA, activador de negócios
h
108
Queres casar comigo? Uma revolução na segurança aquática
Um dispositivo inovador promete diminuir o risco de afogamento. Trata-se de uma bóia
insuflável portátil para ser usada como se fosse um relógio de pulso
365
Vou amar-te todos os dias talizadas por afogamentos têm, muitas
da minha vida vezes, prognóstico reservado.
Depois de perder um amigo por afo-
gamento, o mentor do Kingii foi moti-
vado a criar um dispositivo que pudes-
999
O meu amor é infinito
se ajudar alguém em situações de pe-
rigo no mar, nos rios ou piscinas. Este
equipamento de segurança asseme-
lha-se a um relógio de pulso – é uma
espécie de pulseira salva-vidas. Possui
uma alavanca, que activa um pequeno
cilindro de CO2, para accionar o en-
chimento de uma bóia e projectar a
pessoa para a superfície. A bóia é reu-
tilizável através da inserção de um
novo cartucho de CO2.
ais de 370 mil pessoas mor- Este produto não substitui outros sis-
16
Promoção semanal, às 5ªs
5 s feiras de 16 de Fevereiro a 5 de Outubro de 2017. PVP 1ª
1 entrega 1€; PVP 2ª
2 entrega 3,95€ ; PVP restantes entregas 6,95€. Colecção de 34 entregas, cada uma composta por fascículo + oferta de peças. Preço total da colecção 227,35€.
Preços válidos para Portugal Continental, IVA incluído. Promoção limitada ao stock existente. Para mais informações 210494414 (dias úteis das 9H30 às 13H00 e das 14H30 às 18H30). À venda numa banca perto de si ou em loja.xl.pt.
O
COLECÇÃO
Diversão dos
pés à cabeça
€6,95
CORPO HUMANO
TODAS AS SEMANAS
Fascículo + Oferta de Peças
DIVIRTA-SE A APRENDER A ANATOMIA
Insólito
SÓNIA BENTO
!
Tinta para o cabelo
que varia de cor
A empresa britânica
The Unseen lançou
uma tinta para o cabelo
que pode assumir duas
cores, consoante a tem-
peratura do ambiente. !
Fire é uma mistura de Agente apressado
compostos químicos de Um agente da polícia que
Lauren Bowker, a quem deveria estar com pressa
chamam A Alquimista. para voltar ao trabalho
saiu de um posto de ga-
solina, na Flórida, EUA,
! ! com o bocal da manguei-
Meditarnocemitério ra de combustível pendu-
Liu Taijie, uma chinesa
de 30 anos, divorciada,
Golpe na disfunção eréctil rado no carro. Só deu
conta do que se passava
montou um negócio iné- Não imagina porque é que este mestre chinês de kung-fu quando foi avisado por
dito para ajudar mulheres é conhecido como Virilha de Aço? É simples: Wei Yaobin outro motorista, que tirou
a superarem os divórcios. leva pontapés na zona genital repetidas vezes e nem pes- a foto. O bocal foi devol-
É radical: reúne-as em vido à bomba.
taneja. Afirma mesmo que a prática é eficaz para comba-
cemitérios e coloca-as
em meditação, deitadas ter a disfunção eréctil e a ejaculação precoce. O mestre
mostra a técnica pelas ruas de Louyang, na China, mas os
em campas abertas. “Eu
pensei em cometer suicí- seus vídeos tornaram-se virais na Net e ele quer popula- €1.365
dio quando me divorciei”, rizar em todo o mundo o seu estilo de kung-fu.
explica Liu, que se casou Em vez de oferecer flo-
aos 19 anos. res à namorada, um
homem da província
! de Jilin, na China, fez
O EXCESSO DE VELOCIDADE um bouquet com notas
dobradas em forma de
LEVOU OS MORADORES DE flor, que davam uma
HOPEMAN, UMA VILA NA ESCÓ- soma de 10 mil yuans
CIA, A VESTIREM COLETES COMO SE (€1.365). O arranjo era
FOSSEM POLÍCIAS E A USAR SECADO- para comemorar o Ano
do Galo do zodíaco chi-
RES PARA SIMULAR RADARES. nês e ele jura que foi
O OBJECTIVO É DISSUADIR OS para dar sorte à rapari-
CONDUTORES DE ACELERAREM. ga e não para se exibir.
! ! ! !
Michelin por engano Polícia ajuda nos TPC Rouba carro e pede Presa por dançar
O restaurante Le Incapaz de resolver um tra- ajuda ao próprio dono A norte-americana
Bouche à Oreille, da balho para casa – a equação 1. Abbotsford é uma pequena Brittany Fultz alegou ino-
pequena cidade (8 + 29) x 15 –, Lena Draper, cidade, situada no extremo oeste cência após ter sido presa
francesa de Bourges, de 10 anos, pediu ajuda pelo do Canadá, onde neva imenso. Por por realizar uma dança
recebeu uma estrela Facebook à Polícia de Ma- isso roubar carros ali é arriscado, já erótica para um idoso de
Michelin por engano e rion, nos Estados Unidos. E que podem ficar presos na neve. 100 anos, num asilo do
encheu-se de clientes teve resposta: “Os números 2. Foi o que aconteceu a um ho- Ohio, EUA. “O homem
espantados com a mo- entre parêntesis devem ser mem que invadiu uma casa duran- sabia exactamente o que
déstia da sala. O Guia resolvidos primeiro. Assim, o te a madrugada e roubou uma van. se estava a passar”, disse
Michelin apressou-se a problema é 37 x 15”. “Resol- 3. Só que ficou preso na neve em o advogado de defesa
pedir desculpa: há ou- ver emergências é o nosso frente a um café e, para seu azar, de Fultz, acusada de
tro restaurante com o trabalho”, explicaram depois foi pedir ajuda ao próprio dono da crime sexual por ter
mesmo nome em Paris. os polícias. carrinha. Acabou preso. exibido os seios e o rabo.
20
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Aabrir
As frases da semana
F
Papa Francisco, Associated Press
“Há aqueles que dizem: ‘Eu sou católico, vou sempre à missa.’
Algumas destas pessoas deviam dizer: ‘A minha vida não é cristã,
pago salários baixos, exploro as pessoas, lavo dinheiro’ (...) Há
muitos católicos assim. Se isto é um católico, mais vale ser ateu”
F F F F
Ferro Rodrigues Lindsay Lohan, Pedro Santana Lopes Stephen Bannon
“A minha imparcialidade é total. actriz, US Weekly “Não se justificaria que o PSD “Os media, tal como estiveram
É evidente que há pessoas que “[No e o CDS celebrassem também errados durante a campanha ,
continuam a pensar que a um acordo parlamentar estão errados sobre o que está
maioria é a mesma de há um ano
aeroporto] para responder à maioria a acontecer agora. (…) Os media
e meio, mas, infelizmente para mandaram- parlamentar que se formou?” mainstream deviam entender
elas, não é e, portanto, têm que -me tiraro Provedor da Santa Casa da Misericórdia, uma coisa: todas as suas
Correio da Manhã
se habituar às novas regras” lenço que promessas [de Trump]
Presidente do parlamento, acusado de vão ser implementadas”
parcialidade por Assunção Cristas, Lusa trazia na F Chefe de estratégia de Trump, CBS
cabeça. Foi António Ventura
F a primeira “Se estiverem dois candidatos F
Luís Montenegro vez que me em pé de igualdade e um deles George Clooney
“O que está a acontecer no for maçon, é compreensível “Stephen Bannon é um produtor
parlamento é um escândalo
apontaram que se favoreça o maçon” e realizador falhado. Escreveu
democrático, com a anuência poruma Historiador e professor catedrático, i um musical rap, baseado em
do primeiro-ministro e com questão ra- Shakespeare, sobre os conflitos
a anuência dos seus acólitos, cial. Fiquei F em Los Angeles, que nunca
que criaram uma nova Tomas Sedlacek conseguiu avançar. Fez muito
realidade dos ‘donos disto tudo’”
chocada. “Hoje, os menos escrupulosos dinheiro com Seinfeld. É um
Líder parlamentar do PSD, RR Foi estra- prometem o impossível. Se elitista de Hollywood”
nho… Sou retirarmos o poder de fazer Actor, Canal +
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Aabrir www.sabado.pt
Indiscretos
F.E.; M.E.S.; M.H.E.; O.L.O.; S.B.
k
“Está a brincar?”
Na sexta-feira, na tomada de
posse da nova direcção da CIP,
Mira Amaral informou um ami-
go de que Francisco Louçã tinha
sido nomeado para o conselho
consultivo do Banco de Portu-
gal. Não o convenceu:
“Ah, isso é uma brincadeira.” k
“Não, é verdade.” Ao cuidado de todos os
“Não pode ser, está a brincar.” caçadores de talentos
“Não estou, é verdade, garanto, Na Internet, as listas são como os
soube-se agora.” chapéus: muitas e para todos os
... Silêncio... gostos. E a moda já chegou ao
parlamento. Ascenso Simões, de-
putado do PS, usou a sua página
k no Facebook para retratar o que
Moedas ao tem sido uma vida cheia: já apa-
pequeno-almoço receu na TV, já escreveu um li-
O comissário europeu para vro, já mudou de look, já assistiu
a Investigação, Ciência e ao entardecer na praia, entre
Inovação tomava o peque- tantas outras coisas (42 no total).
no-almoço na Eric Kayser, Só não fez uma tatuagem ou um
no Amoreiras Plaza, no últi- piercing, nem experimentou
mo domingo. Carlos Moedas mergulho ou cantou num ka-
mora num condomínio pri- raoke. O coro da Assembleia da
vado, no outro lado da rua. República que se cuide!
k
EDUARDO CATROGA, EX-MI-
NISTRO DAS FINANÇAS E
AGORA PRESIDENTE DO CON-
SELHO GERAL E DE SUPERVI-
SÃO DA EDP, JANTAVA AO
BALCÃO DA MARISQUEIRA
SETE MARES, NO PASSADO
SÁBADO. SOZINHO...
k k
LUSA
50 anos O presidente
k no cinema sem sede
Tatuagem cumprida O cinema São Jorge,
em Lisboa, foi o lo-
É à quinta-feira, pelas
11h, que André Couto,
Motorizadas potentes, artes marciais, músi- cal que Paulo Pires presidente da Junta
ca, gatos, músculos e tatuagens são os te- escolheu para cele- de Freguesia de Cam-
mas que marcam a página de Miguel Tiago brar o seu 50º ani- polide, responde a
versário, no domin- dúvidas e reclama-
no Instagram. Numa espécie de teaser, o go, 26. O actor – ções. No dia 23, num
deputado do PCP, que se destacou na co- que grava a série vídeo em directo na
missão de inquérito do BES, foi mostrando Madre Paula, para a página de Facebook
as várias fases de uma supertatuagem no RTP – juntou ali da junta, falou à po-
amigos, entre os pulação durante 1h20
seu braço esquerdo, que teve início em No- quais Fernanda Ser- sem beber um gole de
vembro de 2015 e que entretanto terminou. rano e Rui Vilhena. água, nota O Corvo.
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Obituários
RUI MIGUEL TOVAR
Ren Hang Nada de modelos, porque lhe to- Weiwei, que o ajudou a tornar-se
lhiam a liberdade criativa. Prefe- internacionalmente conhecido.
(1987-2017) ria trabalhar com os amigos que Para além da China, expôs em
Controverso, tido como um fotografava nus, em posições que vários países – Holanda, Itália,
dos principais nomes da nova resultavam surreais e sexuais. França, Portugal, Suécia, Israel e
geração de artistas chineses, Censurado, o jovem fotógrafo foi Estados Unidos – e a prestigiada
foi várias vezes censurado e algumas vezes preso pelas auto- editora Taschen publicou algum
preso por causa das suas foto- ridades chinesas. Controverso, do seu trabalho. Nascido a 30 de
grafias de nus, surreais e se- Ren Hang viu-se apadrinhado Março de 1987 na província de
xualmente explícitas por outro artista mal-amado do Changchun, suicidou-se na sex-
regime chinês, o famoso Ai ta-feira, 17, aos 29 anos. D.N.
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Destaque
“
Ricardo Salgado
pediu-me para
lhe fazer um
favor. Não se
dizia não ao dr.
Ricardo Salgado
naquela altura
HÉLDER BATAGLIA
SÓCRATES:TODAS
Num interrogatório explosivo, o empresário luso-angolano Hélder Bataglia revelou que Rica
a Carlos Santos Silva. Confrontado, o banqueiro negou tudo: afirmou que mal conhecia
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Estou
“
profundissi-
mamente
chocado com
tudo isto.
Nunca vi tanta
mentira junta
RICARDO SALGADO
AS REVELAÇÕES
rdo Salgado lhe pediu para utilizar as suas contas para fazer chegar discretamente dinheiro
Santos Silva e que nunca foi íntimo de Sócrates. PorAntónio José Vilela, Fernando Esteves e Rui Hortelão
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Destaque
HÉLDER
S
ASDASDSAD
SADASD SAD
AS DAS DSA
DAS DASD
Sentado ao lado do advogado Rui Patrício, o empresá- ASD SA
rio luso-angolano tinha as mãos entrelaçadas em cima DASDSAD
da mesa castanha quando o procurador Rosário Tei- ASD ASD
xeira, sentado ao lado da colega Ana Catalão, anun- SADADAS D
ciou para a gravação: “Vamos proceder ao interroga-
tório complementar do arguido Hélder Bataglia no
processo 122/13.8 TELSB. O sr. Hélder Bataglia vai ser
novamente ouvido como arguido.”
Enquanto ouvia o formalismo habitual do início do
interrogatório judicial na sala 2 do Departamento Cen-
tral de Investigação e Acção Penal (DCIAP), em Lisboa,
Bataglia recostou-se por momentos na cadeira e colo-
cou as mãos junto às pernas. Vestia um fato escuro e g continuou a folhear um pequeno dossiê, que tinha em
gravata em tons carregados de azul. De seguida, voltou Hélder Bataglia cima da secretária, sem olhar sequer para o procura-
negociou durante
à posição inicial, mesmo em frente ao inspector tribu- meses com o MP: dor. As “especificações” citadas pelo Ministério Público
tário Paulo Silva. só testemunharia (MP) eram os pontos 26, 27, 28 e 30 da nova indiciação
“Os factos que aqui estão são essencialmente os em Lisboa se o que o DCIAP já fornecera a Bataglia. Mas o objectivo
não prendessem
mesmos, mais uma especificação (…)”, disse-lhe Rosá- primeiro era esclarecer quem tinha corrompido quem.
rio Teixeira, referindo-se ao anterior interrogatório “Já em Novembro de 2010, o arguido Hélder Bataglia
ocorrido em Angola, no ano passado e por via de carta recebeu numa conta por si controlada, aberta em
rogatória. Um interrogatório no qual Bataglia recusara O EMPRESÁ- nome da Green Emerald junto do Crédit Suisse, a
falar sobre os milhões do BES que entraram nas suas RIO LUSO- quantia total de 15 milhões de euros com origem na
contas e depois saíram para as contas suíças alegada- -ANGOLANO conta titulada pela ES Entreprises. Tal montante pago a
mente controladas por Joaquim Barroca e Carlos San- DENUNCIOU coberto de um pretenso contrato de prestação de ser-
tos Silva, alegado testa-de-ferro do ex-primeiro-mi- O BANQUEI- viços destinava-se, na realidade, conforme acordado
nistro José Sócrates, suspeito de corrupção na Opera- RO RICARDO entre o arguido e responsáveis do GES [Grupo Espírito
ção Marquês. SALGADO Santo], a repartir em parte para a esfera pessoal de Ri-
A 5 de Janeiro passado, enquanto decorria a leitura COMO cardo Salgado e outros responsáveis do GES, para
dos (novos) indícios judiciais, o advogado Rui Patrício CORRUPTOR além de compensar o arguido pelo pagamento que de-
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SEPRECISAS,
Rosário Teixeira: “Vamos entrar nos segun-
dos 15 milhões que vêm mais uma vez atra-
vés da ES Entreprises direitos às suas socie-
dades, a Markwell e a Monkway. O que é
que se recorda disto? Estamos a falar de
BATAGLIA q
va, eu disse que sim, se tinha conta na UBS, eu tam-
bém disse que sim, e se eu podia fazer esses pagamen-
tos. Eu disse ‘sim, Ricardo, se precisas, eu faço. Desde
que me transfiras o dinheiro, eu faço esses pagamen-
tos’. E aproveitei também para lhe dizer: ‘Se vais fazer
O fim da amizade esses 12, vê se vem mais algum [risos] devido à nossa
Hélder Bataglia reco- dívida antiga.’ Era uma coisa que eu repetidamente in-
nheceu no interrogató- sistia com ele, não todos os anos, mas todos os meses.
rio que andou anos Para não se esquecer [Bataglia insistiu no interrogató-
ressabiado porque, ale- rio que Salgado lhe prometera dinheiro por conseguir
gadamente, Ricardo a licença em 2001 para o BES Angola, mas que o ban-
Salgado não lhe queiro andara sempre a adiar o pagamento] (…) Ele
reconheceu o que fez fez-me esse pedido e foi assim que foi.”
no BES Angola – nunca RT: “Então, vamos lá ver, os termos desse pedido (…)
pagou o que lhe devia ficou com a ideia que era o Carlos Santos Silva?”
HB: “Ele perguntou-me se conhecia o Carlos Santos
Silva e que era para entregar ao Carlos Santos Silva,
exactamente.”
RT: “Sem lhe dar detalhes para o que é que era?”
HB: “Não me deu detalhe nenhum, nem eu lhe per-
veria realizar em sede de um aparelho de negócios guntei. Na altura, como deve saber, eram coisas que
com o Grupo Lena a propósito de um imóvel em An- não se perguntavam ao dr. Ricardo Salgado, não é? Ele
gola [a venda de um terreno, no Kanhangulo]…” pedia-me, eu devia-lhe favores, o maior de todos era
O procurador Rosário Teixeira continuou a leitura apoiar-me na Escom, o segundo era se ele cumpria e
durante mais algum tempo até ser necessária uma de- me pagava as minhas compensações pelo que eu tinha
cisão. “São estes os factos que vão ficar no auto”, feito [no BESA].”
concluiu, questionando se o arguido queria prestar BATAGLIA RT: “E, logo nessa altura, ele deu-lhe alguma ideia
declarações e salientando que não era intenção do DIZ QUE dos montantes que estariam ali em causa ou se eram
MP “repisar” o que Bataglia já dissera em Angola. NUNCA PER- uma sucessão de operações ao longo do tempo?”
Para a investigação, as novas declarações do empre- GUNTOU A HB: “Ele disse que ia fazer umas operações até um
sário eram fundamentais, isso sim, para “tentar en- SALGADO montante de 12 milhões de dólares.”
contrar aqui uma história mais coerente, no sentido PARA QUE Paulo Silva: “A questão dos dólares é porque está ha-
de ter uma sequência cronológica”. Naquele dia e ERAM OS bituado em Angola ou…”
naquela sala, depois de complexas negociações de 12 MILHÕES HB: “Estou habituado aos dólares em Angola, foram
bastidores que se arrastaram durante meses entre a ENVIADOS euros, não é? [Gargalhada]. Peço desculpa.”
defesa do empresário e o MP (os investigadores pro- A SANTOS RT: “Em termos dessa operação, isso ia aparecer nas
meteram a Bataglia que levantavam o mandado de SILVA suas contas. Obviamente, o dr. Ricardo Salgado co- Q
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enquadramentos históricos, mas voltou depois à famí- NO INTER- ro e que ele lhe emprestou “por várias vezes, cerca de
lia de Sócrates e ao negócio imobiliário das salinas. ROGATÓRIO, 7,5 ou 8 milhões de dólares”. Que deu instruções ao
Disse que a Escom chegou a fazer um projecto imobi- HÉLDER banco suíço UBS para transferir o dinheiro para uma
liário para o local, que demorou a ser aprovado pelas BATAGLIA conta de José Paulo também na Suíça e que a dívida só
autoridades de Angola. O terreno já urbanizado teria NUNCA teria começado a ser paga em 2013 quando José Paulo
um valor potencial de 122 milhões de dólares, segundo DISSE QUE lhe ofereceu sociedade num negócio que estava a
os estudos citados pelo empresário. Mas o procurador O DINHEIRO montar numas outras salinas que a família Pinto de
interrompeu-o: “No estado em que aquilo se encontra- DO BES ERA Sousa tinha em Angola. A família de Sócrates entrava
va não era esse o valor.” PARA com o terreno e o projecto para produzir 100 mil tone-
HB: “Não, era 14/15 milhões, mas com o projecto SÓCRATES ladas de sal por ano (Angola é importadora de sal) e
aprovado valia 122 milhões. A área era tão boa que a Bataglia via abatidos 4 milhões da dívida: ficava com
Mota e Companhia [actual Mota-Engil] comprou nou- 50% da nova empresa. Bataglia disse que mais tarde
tro sítio, por trás, por muito mais dinheiro.” José Paulo lhe pagou quase tudo o que lhe devia.
PS: “Houve algum adiantamento para esse negócio?” “Hoje, deve-me muito pouco”, disse ainda na manhã
HB: “Não me recordo, francamente. Mas normal- do interrogatório de Janeiro passado.
mente há sempre, não é? Deve ter havido dois ou três (…)
milhões de dólares de adiantamento, em 2008.” i Rosário Teixeira: “Emprestou-lhe sem qualquer ga-
PS: “Quando é que adquirem os restantes 30%?” O inspector rantia?”
tributário Paulo
HB: “Mais tarde, talvez um ano depois, em 2009. Silva decidiu Hélder Bataglia: “Sim, Sim.”
Quando senti que aquilo era uma coisa muito interes- interromper as RT: “E sem nada escrito também?”
sante, propus comprar os restantes 30%, mas não que- escutas a Ricardo HB: “Para mim, é como se fosse família, não ia fazer
Salgado no caso
riam vender. Por incrível que pareça, foi a irmã, que, Monte Branco um contrato com ele.”
enfim, é a mãe da minha filha, que mais se opôs, por- por falta de meios Paulo Silva: “Mas disse-nos que eram 8 milhões.”
que era uma coisa do pai. Eles são muito ligados a HB: “Sim, não fiz…”
Benguela, mas lá reuniram e adquirimos o terreno.” PS: “Não é propriamente uma quantia…”
PS: “Para si, comprar os restantes 30% e pagá-los em HB: “Mas veio a revelar-se que eu tinha razão porque
2013 é completamente impossível?” no fundo recebi praticamente a quantia toda. Pratica-
HB: “O quê? Em 2013, os restantes 30%? Não sei, mente. E tenho outros contratos que fiz e não recebi os
agora tinha de verificar. São tantos os negócios, tantas fundos e tenho ainda hoje litígios em tribunal.”
as operações, que eu não me lembro (…) normalmente, (…)
não demora tantos anos a pagar.” RT: “Tinha alguma razão ou percepção que esses
(...) pagamentos e essas responsabilidades [de José
PS: “Sobre essa relação com a família Pinto de Paulo] tinham a ver com Carlos Santos Silva?”
Sousa, depois teve uma filha com Maria Filome- HB: “Nenhuma. ”
na, (...) como é que a conheceu? [Conheceu] Pri- (…)
meiro o José Paulo ou a Maria Filomena?” RT: “E se eu lhe disser que boa parte desses 8
Hélder contou que o pai era muito amigo do milhões de dólares, que passaram para a conta
pai de José Paulo e de Maria Filomena, em An- da Gunter [offshore controlada por José Paulo]
gola. Que tinha conhecido desde sempre a fa- estiveram em aplicações financeiras e andaram lá
mília Pinto de Sousa, que se lembrava de “an- naquelas brincadeiras que os suíços fazem com o
dar com José Paulo ao colo” e de estar muitas dinheiro tão bem como ninguém? Portanto, apa-
vezes em casa deles. “Conhecia a Maria Filo- rentemente não era para pagar a ninguém.”
mena desde pequenina. Passava lá a vida em HB: “Sr. procurador, não foi isso que ele me dis-
casa porque a mãe era uma cozinheira ex- se. Eu cumpri com aquilo que ele me pediu (…).”
traordinária e eu adorava ir lá a casa e que RT: “(…) a tal grande urgência, necessidade, que
me convidassem para almoçar.” lhe foi invocada, o dinheiro esteve investido em
Paulo Silva: “E já nessa altura também aplicações financeiras.”
estava lá a mãe do sr. engº José Só- HB: “É uma coisa que eu desconhecia completa-
crates, não era?” mente. Ele pediu-me o dinheiro, eu emprestei-lhe o
Hélder Bataglia: “Nunca a vi, dinheiro e não lhe pedi explicações para que era o
não me lembro desse detalhe. dinheiro (…)”
Talvez, mas não me lembro.” (…)
Depois, a conversa chegou a PS: “Sabia da proximidade do Carlos Santos Silva
tempos bem mais próximos, com o engº José Sócrates.”
às dificuldades sentidas pela HB: “Sim, o Zé Paulo dizia-me que eles eram ami-
família Pinto de Sousa em An- gos de infância.”
gola e em Lisboa, especial- PS: “E o sr. Hélder, como conheceu o engº José
mente por José Paulo. Bataglia Sócrates?”
contou que o amigo lhe foi pedindo muito dinhei- HB: “Por via familiar, em casa do Zé Paulo, há Q
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NUNCANAMINHA
VIDAPENSEIQUE
ISTOPUDESSE
ACONTECER
D
De fato escuro, pulôver amarelo e gravata castanha, Ri-
cardo Salgado parecia desconfortável na cadeira sim-
ples, quase rudimentar, que lhe destinaram na sala 2 do
Departamento Central de Investigação e Acção Penal
(DCIAP). A seu lado, para o assessorarem, estavam os
advogados Francisco Proença de Carvalho e Adriano
Squilacce. E à sua frente, para o interrogarem, encontra-
va-se a dupla mais falada da justiça portuguesa: o pro-
curador Rosário Teixeira e o inspector tributário Paulo
Silva, que desde Setembro de 2013 investigam, no âmbi-
to da Operação Marquês, suspeitas de corrupção ao ex-
-primeiro-ministro José Sócrates.
Depois de milhares de horas de escutas telefónicas, de
dezenas de vigilâncias, cartas rogatórias, buscas e inter-
mináveis interrogatórios, o caso encaminha-se para o
fim. E, acreditam os investigadores, tudo é agora mais
claro do que no início, porque o corruptor já tem um
nome – e encontra-se mesmo ali sentado a cerca de um
metro de distância. Chegara a hora de lhe dizerem por-
que o chamaram.
Rosário Teixeira passou 31 longos minutos a ler a indi-
ciação contra Salgado. Há fundamentalmente duas
rão sido utilizados por Ricardo Salgado esquemas finan-
ceiros – em que o empresário luso-angolano Hélder Ba-
taglia terá desempenhado um papel nuclear – para fazer
chegar discretamente a totalidade de 22 milhões de euros
a José Sócrates.
Em conclusão, Ricardo Salgado é suspeito de vários cri-
mes: abuso de confiança, corrupção activa, branquea-
mento de capitais e fraude fiscal qualificada. Mas, subli-
grandes frentes de batalha: a OPA falhada da Sonae à nhou Rosário Teixeira, o caso não está fechado: “Obvia-
Portugal Telecom (PT), em que o Ministério Público sus- mente que estes factos não são uma posição definitiva no
peita que Sócrates terá sido pago pelo BES para bloquear processo. São, digamos assim, um tema de conversa ou a
as intenções de Belmiro de Azevedo, favorecendo as “A ÚLTIMA diligência deste interrogatório (…) Seria útil a colaboração
pretensões de Ricardo Salgado. E há a venda da opera- VEZ QUE do senhor doutor no sentido de esclarecer a razão de ser
dora de telecomunicações Vivo à Telefónica e a poste- ESTIVE dos respectivos factos.”
rior entrada da PT no capital da operadora brasileira Oi, COM JOSÉ Ricardo Salgado ficou em choque. Tirou vários aponta-
em que, uma vez mais, os investigadores estão conven- SÓCRATES mentos numa folha de papel enquanto Rosário lia a indi-
cidos de que Sócrates foi subornado por Salgado. FOI EM ciação. Com os cotovelos assentes na mesa e as mãos en-
Para justificar os indícios em causa, Rosário Teixeira ar- ABRIL DE trelaçadas junto à boca, não escondeu o seu desalento.
gumentou com depoimentos, buscas e informações de 2011, ANTES “Senhor procurador, devo dizer que estou profundamente
cartas rogatórias que comprovarão, por exemplo, que te- DA TROIKA” chocado, profundissimamente chocado com tudo isto.
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soubesse o que sei hoje não lhe tinha pago, não é?”
Paulo Silva: “E para isso foi feito algum contrato?”
RS: “Não sei. O senhor inspector é uma pessoa muito
cuidadosa e meticulosa mas peço-lhe que acredite que
não tinha tempo para a parte administrativa.”
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ESTREIA EXCLUSIVA
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PUB
h
Na orla do BES, foi criada
a ES Enterprises, a entidade
offshore de onde, acredita
o MP, foram feitos
os pagamentos a Sócrates
©ABC STUDIOS
RT: “A ordem que aqui está é que em 2007 há uma
transferência da ES Enterprises para a Markwell de 7 mi-
lhões. Desses 7 ele agarra em 3 e põe na sociedade Gunter
que é do senhor José Paulo, primo de José Sócrates.”
RS: “[Risos] É o filme que passa atrás das nossas costas e
que só agra é que eu estou a realizar!”
RT: “A seguir a estes 7 milhões (…) há mais três transfe-
rências de 5 milhões de euros (a última já é em 2009),
que perfazem 15 milhões de euros (…) o que perfaz 22
milhões. Pronto. Estes 22 milhões entregues ao senhor
Hélder Bataglia são o quê? Estamos a falar de tudo rela-
cionado com poços de petróleo mais os 3 milhões da
compensação da licença do BESA?
RS: “Exactamente. Desenvolvimento dos projectos. O
nder um
Hélder Bataglia tinha o compromisso de desenvolver os
o defe
com
projectos e estava constantemente a pedir recursos para
efeitos não sei de quê, para contribuir para o desenvolvi-
mento dos projectos. Se ele depois pegava no dinheiro e
entregava a alguém lá no Congo-Brazzaville ou em Ango-
la eu não faço ideia. O compromisso dele era desenvolver
os projectos e trazer os poços de petróleo.”
RT: “Então este dinheiro que aqui está não é apenas
uma remuneração do success fee e do trabalho...”
RS: “Com certeza que não.”
RT: “Era também para ele próprio contribuir para esse
desenvolvimento dos projectos.”
RS: “Exactamente.”
Estava na hora de introduzir Carlos Santos Silva na con-
versa. Alicerçado no depoimento de Hélder Bataglia [que
dissera que Ricardo Salgado lhe pedira para utilizar as
suas contas offshore no sentido de fazer chegar discreta-
mente dinheiro a Carlos Santos Silva, alegado testa-de-
ESTREIA T3
ferro de José Sócrates], o MP quis explorar a relação entre
Salgado e o amigo do ex-primeiro-ministro. TERÇA 7
Rosário Teixeira: “Conhece o engenheiro Carlos
Santos Silva?”
Ricardo Salgado: “Nunca o vi e é uma situação para 23:10H
mim de uma enorme perplexidade porque pelo que per-
cebi os recursos foram parar a Carlos Santos Silva.”
RT: “Certo.”
RS: “Eu vou-lhe dizer o que conheço do Grupo Lena.”
RT: “Está a associar o Carlos Santos Silva ao Grupo
Lena...”
RS: “E não é?” Q
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Destaque
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PUB
vendesse a Vivo e queria que ficássemos no Brasil. Saí-
ram notícias com afirmações do Sócrates de que a PT ti-
nha de ficar no Brasil (…) O Brasil estava a crescer muito,
era muito importante a operação mas se a Vivo fosse
vendida e se houvesse a alternativa de uma outra com-
panhia, nesse caso a Oi Telemar, havia talvez a possibi-
lidade de se fazer uma parceria.”
RT: “Mas que não estava garantida na altura.”
RS: “Não estava garantida e mais uma vez fomos leva-
dos à certa, mas agora por brasileiros.”
Ricardo Salgado passou então a explicar detalhada-
mente a ruína do negócio alegadamente arquitectado
por ele, por Sócrates, Zeinal Bava e Henrique Granadei-
ro. E de como terá sido por causa da situação calamitosa
que encontraram na Oi que foram pagos os milhões a
Zeinal Bava.
Ricardo Salgado: “A situação da Oi Telemar era dramá-
tica. No Brasil, qualquer cliente de companhia de telefo-
nes em que o serviço não esteja à altura põe imediata-
mente um processo. A Oi Telemar tinha milhares, se não
milhões, de processos distribuídos pelo Brasil. E ainda
ninguém tinha avaliado isso. Foram avaliar a empresa,
Há pessoas que
afirmam que foi o
senhor que pediu
para haver contas Ricardo
de passagem para
dinheiros
ROSÁRIO TEIXEIRA
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Destaque www.sabado.pt
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O maior prémio de literatura infantil
do país está de volta.
De 21 de F
!
"
#$
%
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Iniciativas SÁBADO 2 MARÇO 2017
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KILAS,OMAUDAFITA
O cartaz da comédia de José Fonseca e Costa, rodada no início
Schopenhauer
É o pensador do 6º livro da
colecção DescobriraFilosofia
dos anos 80, é o terceiro de cinco que aSÁBADO lhe oferece
Foi um filósofo alemão
do século XIX, conhecido pela
sua obra O Mundo como Von-
tade e Representação (1818).
Schopenhauer – O
pessimismo torna-
-se filosofia é o livro
que acompanha a
SÁBADO na próxima
semana e custará
Crónica dos Bons 9,95 euros. O próxi-
Malandros
mo é de David Hume.
16 de Março
GraphicNovelsMarvel
A SÁBADO lança colecção
com os maiores super-heróis
Esta semana a SÁBADO
vem acompanhada pelo
primeiro de 60 livros, de capa
Branca de Neve dura, da colecção Graphic
23 de Março Novels da Mar-
vel, por €2,99. A
segunda entre-
ga custará
€6,99 e as res-
tantes (até 19
de Abril de
2018), €11,99.
j
Kilas, o Mau da
Fita é oferecido
com a próxima
O corpo humano
SÁBADO A SÁBADO traz a terceira
caixa com peças para
a obra de José Fonseca e seia-se numa obra de Tabajara montar um esqueleto
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Opinião
O
O que nos diz o atraente s filmes sempre revelaram Claro que não podemos confundir
psicodrama dos Óscares, muito sobre o mundo. Ou regimes políticos e sociedades onde a
misturado de Carnaval e falsificando-o, ou traduzin- censura é uma regra, e aqueles onde
comício, sobre a sociedade do as realidades mais cruas, as ob- constitui uma excepção.
americana, e, já agora, sessões, as modas e os medos, e às Hollywood, apesar das pragas, dos
sobre a humanidade? vezes exilando-se dele, para os abis- tiques e das taras, continua a ser um
Entre humildade e mos risonhos da fantasia. apreciável reservatório de liberdade
humidade, há respostas Há filmes de ópio para as massas, artística e de criação. Não é o único
sobretudo quando estas parecem que- pólo de cinema do mundo – com o
rê-lo, e filmes “de autor”, que podem crescimento da indústria europeia e
ser verdadeiros tesouros, epifanias e asiática, do Magrebe e do Mashrek, e
dádivas à humanidade, ou só uma ex- com o tímido aparecimento da filmo-
tensão egoísta da personalidade tor- grafia comercial africana – mas tra-
tuosado realizador. ta-se de um farol reconhecido, para o
Há filmes que brincam com o pú- bem e para o mal.
blico, e filmes que se tomam dema- Este ano, voltámos às perplexidades
siado a sério. e paradoxos. A rábula final, com os
Os Óscares, e o seu ritual, fazem atropelos em jeito de comédia de en-
parte deste universo, onde a proibi- ganos, pode colocar na mente o filme
ção económica, a auto-restrição, a Moonlight(na foto, o realizador, Barry
Jenkins), ou ridicularizá-lo.
Mas este merece atenção especial:
retrata, de formainteligente, subtil e às
vezes ternurenta, um caminho trá- Q
O j
Medir as palavras
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O h O
Do bloco ao banco Reflectir e
relembrar
É absurdo acusar Francisco Louçã Editado o clássico de AnthonyGiddens
de “traição”, ou “oportunismo”, ao (nafoto), CapitalismoeModernaTeo-
entrar no órgão consultivo do Ban- riaSocial: grande tentativade explica-
co de Portugal (BdP). Talvez por ig- ção, em 1972, do “modelo” que ainda
norância, confunde-se um regula- nos domina. De Fernando Ângelo, Os
dor com um balcão comercial. Ora Flechas, investigação sériasobre tema
o BdP é o árbitro acima dos regi- controverso: as lendárias forças espe-
mes, não o agiota dos romances de ciais daPIDE/DGS, em Angola. Quanto
cordel. Com “capitalismo” ou “so- aTimothy Garton Ash, escreve o volu-
cialismo”, teria sempre de existir, e j moso Liberdade de Expressão, pas-
só se deve lamentar que “existisse” seio labiríntico sobre as formas de co-
pouco, ou de forma tardia, em casos municar, nesta carruagem do milénio.
recentes. Quanto à competência do E Han Eun-Mi, em Ainda Estou Viva,
ex-bloquista, a sua melhor defesa é conta uma versão, vivida e sofrida, da
a de Cavaco Silva. Num recente li- Coreia do Norte: não a superpotência
vro de memórias, o ex-PR e profes- lunática, mas o mundo da miséria. Na
sor de Economia, insuspeito de música, A Dança dos Pássaros, ou a
trotskismo, distingue Louçã, apon- Orquestra do Hot Club a revisitar An-
PEDRO CATARINO
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Portugal
ESTE HOMEM
TEM UM CASO
COM O PAÍS
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Q voa de Varzim. No
porto, as mulheres
penduram-se nele,
agarram-lhe as faces,
abraçam-no, espremem-lhe o cor-
po para caber melhor no enquadra-
mento da selfie. Até tira uma foto
com um cão ao colo do seu dono,
os três muito apertados. Há beijos,
abraços, fotos, gente quase emo-
cionada, um ambiente de festa de
casamento – e ele é o noivo. Os co-
mentários em volta são de fãs a
suspirar pela estrela: “Ai, que já te-
nho, já tenho, já tirei”; “É que não
saio daqui sem dois beijinhos”;
“Queria tanto, mas não sei se vá,
achas que vá?, vou, vou”; “Assim
fica cansadinho, coitadinho”. Uma
comenta-lhe os olhos, ele “são ver-
des, perigosos”, ela não se fica, “os
meus são castanhos, de encantos
tamanhos”, e ele ri-se. Um casal
vai-se embora feliz, selfie tirada,
“ainda bem que viemos, eu não te
disse?”. Marcelo retribui sempre:
trata velhotas com um “oooh, mi-
nha filha” carinhoso, distribui,
“ooohh minha querida” com abun-
dância. Faz selfies triplas e quádru-
plas, todos juntinhos, agarra a mão
de quem está ao lado, abre os bra-
ços para incluir tanta gente quanto
possível, ajuda quando o/a fotógra-
fo/a não sabe nem inverter a câma-
ra do telemóvel.
Os homens são mais contidos nos
comentários, mas não se ficam (“O
homem é mesmo acessível”, “É um
RICARDO MEIRELES
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Portugal
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Portugal
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entrar em directo nos telejornais das O AVISO: sição: “Significa ainda Governo for-
oito e era demasiado em cima da “TEMOS DE te mas oposição ou oposições não
hora para permitir fazerem-se peças CRESCER menos fortes. É preciso trabalhar
para os mesmos. E o Presidente teve MUITO MAIS todos os dias para garantir estes
pena. Queria ter sido mais ouvido. E DO QUE OS dois termos fortes de uma alternati-
o que tanto queria dizer que “sub- 1,6% OU 1,7% va para o Governo de Portugal.
verteu” planos? POR ALGUNS E ainda pediu “convergências de
Com o ministro das Finanças, Má- PREVISTOS regime” (nunca usa “pactos”) “nas
rio Centeno, sentado na fila da fren- PARA 2017” políticas externa, de defesa, de se-
te do auditório, sentenciou: “Temos gurança, financeira pública e priva-
de crescer muito mais do que 1,4% da, de justiça e de reforma do Esta-
em 2016 ou mesmo 1,6, ou 1,7 por “EU DEITO do”. Criticou a oposição dizendo
alguns previstos para 2017. Apenas ÁGUA NA que “o uso instrumental do tema
valores claramente acima de 2%, FERVURA, [do valor da dívida pública] nas pi-
com acento tónico no investimento MUITAS cardias conjunturais é dispensável”,
e nas exportações, serão penhor de VEZES ANTES numa frase que pareceu dirigida a
um processo verdadeiramente sus- DE ELA CO- Cristas, que em vários debates con-
tentável.” Além disso, “temos de fa- MEÇAR A SU- frontou António Costa com a ques-
zer cair ainda mais o desemprego”, BIR”, AFIRMA tão. E pareceu dirigir-se a Passos
manter a trajectória do défice e À SÁBADO Coelho quando afirmou que a cha-
verti tudo.” De facto, acontece-lhe “continuar a equilibrar as contas ex- ve do sucesso no sistema bancário,
com frequência subverter progra- ternas” e garantindo justiça social. “noutras democracias europeias, a
mas, agendas e discursos pré-elabo- É preciso “muito mais investi- começar nas nossas vizinhas, resi-
rados. Neste caso, o comentário mento, o que implica efectiva for- diu em não introduzir neste domí-
prova duas coisas: que a responsa- mação de poupança, passos em nio querelas tácticas” – isto numa
bilidade pelo que disse a seguir é falta na consolidação do sistema semana dominada pela segunda
mesmo só dele (aliás, proferiu em financeiro”. E ainda “incentivo fis- comissão de inquérito à CGD.
Novembro que “não há fontes de cal e estabilidade clara em matéria À SÁBADO, Marcelo disse que
Belém, a única fonte de Belém sou laboral”. E “não perceber este im- neste primeiro ano de presidência o
eu”); e que reflectiu sobre o que ia perativo nacional do crescimento é que mais o preocupou foram “as
dizer. Não foi um acaso ou impulso: privilegiar o dia-a-dia em vez de questões do défice e do cumpri-
havia intenção, e não era pouca. Es- olhar para Portugal com visão de mento dos compromissos interna-
tranhamente, o discurso, com reca- médio e longo prazo”. Televisão cionais – mas isso já esperava –, e
dos, directas e indirectas para quase Depois elencou condições para nunca mais: a banca – e isso não esperava”. E o
todo o espectro político, teve pouco que isso aconteça: “Estabilidade po- admite voltar, que torna a função mais cansativa é
impacto na comunicação social. lítica, que significa ausência de cri- quando muito, a opção que fez por “apostar na
Marcelo queixar-se-ia até, depois, ses políticas, num tempo em que o a falar de livros função preventiva. Eu deito água na
reflectindo sobre um erro de avalia- respeito das legislaturas ganha e só de livros. fervura, muitas vezes antes de ela
ção próprio: “A hora era péssima maior importância.” Com o Gover- Mas o regresso começar a subir. A minha maneira
para os telejornais.” Não dava para no arrumado, virou-se para a opo- ao comentário de ser é fazer pontes. Não me zango
político está pessoalmente com ninguém.”
afastado. Belém No final da intervenção na CIP
fecha esse ciclo deixou uma nota pessoal sobre a
forma activa e interventiva como
exerce o cargo. Poderia, diz, falan-
do na terceira pessoa, “ter optado
pela posição mais cómoda de se
preservar, a benefício de um ale-
gado ou hipotético reforço de au-
toridade para decisões de emer-
gência última ou para juízos histó-
ricos acerca dos desconcertos do
sucedido”, numa alusão a fazer
j lembrar (sem nunca o nomear) o
Ao lado de Mário recente livro de Cavaco Silva. E
Centeno e de Cal- terminou: “Mas escolheu não cor-
RICARDO PEREIRA
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Portugal
ENTRE
MARIDO E
MULHER...
... o Estado não mete a colher. João
Vasconcelos foi sócio de um fundo que
investiu dinheiros comunitários no
negócio da mulher. Por BrunoFariaLopes
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PUB
OS BUSINESS vestimento feito pela Go Big or Go
ANGELS Home: um aumento de capital de
PÕEM 35% 400 mil euros, 260 mil oriundos do
DO SEU BOL- FINOVA. Os restantes 140 mil euros
SO E 65% foram postos em partes iguais pe-
VEM DOS los seis sócios identificados nos es-
FUNDOS PÚ- tatutos da Go Big or Go Home, pes-
BLICOS DO soas conhecidas no empreendedo-
FINOVA rismo nacional: Armindo Monteiro
(presidente da Compta e ex-presi-
dente da Associação Nacional de
Jovens Empresários – ANJE), Fran-
cisco Maria Pinto Balsemão (admi-
nistrador da Compta, da Impresa,
ex-presidente adjunto da ANJE e fi-
lho de Francisco Balsemão), Jorge
Santos Carneiro (presidente da Sa-
ge Portugal), João Filipe Neto (fun-
100
milhões
dador da NDrive e ex-administra-
dor da própria Eco Choice), João
Dotação total Vasconcelos (ex-vice-presidente
do FINOVA da ANJE e, à data, assessor do pri-
para investir meiro-ministro José Sócrates) e
em inovação Tiago Gali Macedo. A Eco Choice
empresarial foi também o maior dos três inves-
timentos feitos pela Go Big or Go
Home, absorvendo mais de metade
do capital de 270 mil euros posto
pelos sócios, que aprovaram a ope-
ração por unanimidade.
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Portugal www.sabado.pt
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DOGOVERNOPARAOREGULADOR
Primeiro, Seguro Sanches nomeou aeconomistasuaadjunta. Depois, indicou-aparaaERSE. Por Octávio Lousada Oliveira
8 de Janeiro de 2016 o secre- FALTA académica, de forma sólida e muito riana Janelas Oliveira – que não res-
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Mundo
UMACASA,
UMAPRISÃO,
UM INFERNO
A habitação de um ex-oficial iraquiano foi usada
pelo grupo terrorista para torturar e matar centenas
de pessoas perto de Mossul. Por Octávio Lousada Oliveira
FOTOS REUTERS
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Dinheiro
Controlo
O dinheiro transferido
e declarado, em tese já
foi sujeito a tributação
em Portugal – se assim
for não há ilegalidade
A pilha
As Bahamas foram o
offshore que recebeu Empresas
mais dinheiro oriundo São responsáveis
de Portugal em 2015: por cerca de 98%
4,8 mil milhões das transferências
para paraísos fiscais
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ATRAI O FISCO
ela ganhos muito magros de receita. E há boas razões para isso. Por Bruno Faria Lopes
Hong Kong
E junto vasto de operações
que totaliza cerca de 10 mil
milhões de euros foi co-
municado pelos bancos ao Fisco,
mas alegadamente não foi analisa-
E o Panamá – são dois do pelo Fisco – este é, em resumo,
destinos constantes o caso mais recente a marcar a po-
nas transferências lítica portuguesa, noticiado pelo
financeiras a jornal Público a 21 de Fevereiro. As
partir de Portugal Finanças informam que estão a in-
vestigar as operações em causa
para determinar as razões do não
tratamento e, sobretudo, quanto
ficou por apurar de imposto devido
aos cofres do Estado. As responsa-
bilidades dos bancos no reporte
destas operações e os dados dos
Em 2011 últimos relatórios oficiais de com-
As acções inspectivas bate à fraude e evasão fiscal suge-
do Fisco a estas trans- rem uma resposta possível a esta
ferências renderam última questão: deverá ser muito
apenas 500 mil euros baixo o montante de impostos que
em imposto por cobrar ficou por apurar, sobre o qual o
Estado dispõe de uma janela legal
de 12 anos para cobrar.
Os referidos relatórios publica-
dos desde 2010 revelam resulta-
dos parcos do cruzamento entre o
chamado Modelo 38 – que os
bancos enviam ao Fisco com a
descrição dos pagamentos feitos a
partir de contas dos seus clientes
para contas em paraísos fiscais –
Menos off e outras declarações. Em 2015 –
Acordos de troca de in- ano-recorde de transferências
formações entre o Fis- para offshores, já fora do período
co e vários destes “pa- que motiva a polémica actual –
raísos” foram celebra- dos 377 procedimentos inspecti-
dos nos últimos anos vos a estas operações resultou
apenas 1 milhão de euros de
ISTOCK
imposto em falta. Q
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Dinheiro
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uma organização
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PUB
O QUE MAIS milhão de euros de receita, a acção
PREOCUPA inspectiva no IVA valeu 597 mi-
NÃO SÃO AS lhões de euros cobrados, cerca de
TRANSFE- 78% do total recuperado nesse ano
RÊNCIAS no combate à fraude e à evasão.
PARA Os offshores significam uma per-
OFFSHORES, da de receita para todas as outras
MAS ENTRE jurisdições e representam um pro-
OFFSHORES blema de transparência – os rendi-
mentos do dinheiro ali depositado
são taxados no offshore (muitas ve-
3, 4 E 5 DE MARÇO
zes com imposto zero); por outro
lado, é através dos offshores (so-
bretudo da triangulação entre dife-
rentes offshores) que se canaliza
dinheiro para financiar actividades
Os planos ilícitas. Vários Estados, incluindo
de actividades Portugal, têm celebrado acordos de
do Fisco troca de informação com algumas
prestam
relativamente
dessas jurisdições e a Comissão
Europeia prometeu uma resposta
O melhor Show da Europa,
pouca atenção à musculada ao problema após a di-
fiscalização das vulgação dos Panama Papers, uma depois do Show de Munique!
transferências fuga massiva que revelou como a
para offshores elite mundial se protege da tributa-
ção com os offshores.
Quanto se perdeu?
Segundo o Expresso, que cita uma
fonte anónima, o Ministério das Fi-
nanças já apurou o imposto em fal-
ta relativo às transferências para
offshores que terão ficado por fis-
calizar. A SÁBADO perguntou a
fonte oficial das Finanças se o valor
766
milhões
já foi apurado e quanto é o imposto
em falta, mas até ao fecho da edi-
Impostos ção não obteve resposta.
recuperados em A revelação da saída de 10 mil
2015 no comba- milhões de euros para offshores
te à fraude e à acabou por marcar a agenda me-
evasão. Cerca diática e política. Paralelamente à
de 78% vem de questão do não tratamento da in-
inspecções na formação declarada pelos bancos
área do IVA – algo que as Finanças estão a in-
vestigar – está a publicitação dessa
informação. Paulo Núncio, ex-se-
cretário de Estado na era PSD/CDS,
começou por afirmar que a res-
“SE NÃO ponsabilidade pela não publicação
FOSSE O DI- das estatísticas era dos serviços da
NHEIRO QUE AT, mas acabou por ser contrariado
VAI E VEM DE pelo ex-director-geral dos Impos-
OFFSHORES tos, José Azevedo Pereira – e aca-
NÃO HAVIA bou por assumir numa nota à co-
BOLSA DE municação social a “responsabili-
LISBOA”, DIZ dade política” pela não publicação, 3 E 4 MARÇO DAS 14H30 ÀS 21H00 • 5 MARÇO DAS 14H30 ÀS 20H00
UM EX-GO- demitindo-se das funções que ti-
VERNANTE nha até ao momento no CDS. W Hotel Pestana Palace
Rua Jau, 54 / Alto de Santo Amaro
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Lisboa
Sociedade
Entrevistadevidaa
JOÃOPERRY
Erao Perryzinho, filho do actorcom o mesmo nome e apelido. Estreou-se aos
12 anos, viveu em Paris, Londres e NovaIorque, roubou comprimidos para
umatentativafalhadade suicídio, “coisade adolescentes”. Tem 76, umapeça
em cena, outraem preparação. Por AnaTaborda(texto)eAlexandreAzevedo (fotos)
“Vivimelhorsem
paixões?Vivi.
Senãonão
teriavivido”
reino dele começou por h autocontemplações, mas posto em
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bolo de arroz para mim era só para para o edifício onde a coisa se passa. ções. A minha mãe às vezes prepara-
encher a barriga. E eu não queria en- Havia sempre muitos bombons e F va-me, depois percebia que era em
cher a barriga, queria ser arquitecto, caramelos, pelo menos a minha “Não tive vão e o cenário desaparecia.
contrariando a vontade da minha recordação prioritária era essa. essas coisas. E preparavaárvore de Natal?
mãe, que queria que eu fosse médico. O seu pai foi protagonistade uma Natais, Não, que me lembre nunca. Não tive
O meu pai não queria que fosse nada, peçade Humberto Delgado, Asas, aniversários, essas coisas. Natais, aniversários, não.
tenho impressão, não teve tempo que estreou no Natal de 1942, a24 nunca. Sentia É bom, regimenta a pessoa.
para isso. de Dezembro. inveja, às Tentou perceberporquê?
O seu pai, que o levavaao teatro. Foi um dos Natais em que o meu pai vezes. Ébom, Para quê? Não tinha. Sentia inveja, às
Levava-me para o teatro, nunca ao não foi, com certeza. Foi bom, fiquei regimenta a vezes. Mas preencher vazios de
teatro, é diferente. Ir para o teatro é ir educado nessa história das celebra- pessoa” afecto com símbolos que não têm Q
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Sociedade
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Avida
das queimadas. A minha mãe pediu, las coisas de lamber os outros para os
o meu pai bateu-me, assim com o culpar. Do abandono, da atenção?
chinelo, ou o que foi, não me lembro,
sei que não me aleijou. Depois fe-
1942
Com a mãe e o pai
Não deixou nada?
Nada, tomei aquela porcaria com
chei-me na despensa, disse que só – também João água [termal] Vichy, para não estra-
saía quando ele pedisse perdão. Perry – numa praia gar o estômago, porque água da tor-
E ele pediu? da Costa de neira nem em caso de morte tomo,
Não, de maneira que fui comendo Caparica deitei-me e tive imensa pena de
uns palitos La Reine que havia por lá, mim. Fui salvo por sorte. Estava
bebendo um licor de tangerina. À numa pensão e nos últimos dois me-
noite, a minha mãe foi lá, tens que ir ses tinha mudado para um quarto
para a cama, silêncio, já devia estar a
dormir e fiquei. Até que o meu pai lá
1943
Aos 2 anos
maior, uma benesse porque era Natal
e havia pouca gente. E um casal que
veio, pelas 11h, hora a que acordava. e meio, na praia. habitualmente ia para lá, de repente
Não sei o que disse, só sei que saí. “Era chato, muito pariu uma criança e precisavam de
Jábebiacom essaidade? chato, sempre a um sítio maior. Como às vezes me
Sim, com uma palhinha, licores. Nin- perguntar coisas” esquecia das chaves, devem ter-lhas
guém dava por nada. Devia ficar um dado e eles encontraram-me.
bocado paulado, claro, era maluco. Eram muitos comprimidos?
E aos 12 anos, quando começou no Os bastantes para ter patinado, estive
teatro, que papel fazia? em coma dois dias, fizeram-me uma
Era filho da Amélia Rey Colaço, foi ela lavagem ao estômago selvática, fi-
que me convidou. Eram muito afecti- quei todo ferido, uma porcaria. De-
vos comigo. Não tive razão de queixa pois fui posto fora [de Paris], estive
nenhuma até ter para aí 17 anos. A inibido de ir lá uns tempos, porque
adolescência é uma época terrífica, a não se pode atentar contra a existên-
pessoa está-se a ajustar a um mundo cia. Serviu-me para fazer currículo e
que não percebe, quer mudar a ma- para me safar da vida militar.
neira de ser dos outros e não conse- Foi porisso que não foi àtropa?
gue, tudo o que faz eles emolduram Estive internado novamente, deixei
dizendo que é diferente, como se di- de falar, fui despido para a parada e
ferente não fosse bom. Ah és novo, deram-me como incapaz. Não sabia
que bom, que bom depende de como até que ponto o que dizia era mentira
a pessoa está a organizar o seu dicio-
nário. Depois coincidiu com o Romeu
1953
Estreou-se em
ou verdade, não estava bom da cabe-
ça, tinha um medo horrível da guerra.
e Julieta, pff. Rapaziadas, no Matar alguém que se conhece é pos-
Foi nessaalturaque foi viverpara Teatro Nacional. sível, se me irritarem. É um excesso?
Paris e que tomou demasiados Era filho de Amélia Sim. Mas uma pessoa que não se co-
comprimidos? Rey Colaço nhece? Para defender um sítio que
Sim. É daquelas coisas de adolescen- não é o teu? Porque és de um país
tes românticos, ou pós-românticos. que diziam ser o teu? Eu não me sen-
Adolescentes. Paris é o abandono, a tia integrado, nunca me tinham pas-
desilusão. Estive lá oito meses, até ao sado a mão pelo pêlo. Não era justiça,
Natal, depois o Natal é aquela coisa.
Como arranjou os comprimidos?
1967
Numa das peças
consciência social, nenhum aparato
desses de defesa, só medo, incoerên-
Roubava nas casas das pessoas onde que fez com cia e não agressividade.
ia, geralmente essas coisas estão nas Eunice Muñoz, Quando veio de Paris para
casas de banho, debaixo dos lavató- de quem também Portugal veio sozinho?
rios ou nos armários. Tirava daqui já foi encenador Sim, mas como estava podia até vir
uns tantos, depois outros tantos, na bagageira de um carro que nem
quando achei que tinha suficientes notava. Estar em coma durante uns
para fazer uma saída triunfal...
...não conseguiu.
1971
Numa rua de
dias dá cabo de todo o sistema, que-
res é que não te chocalhem muito.
Foi bom, o destino, doloroso e vexa- Nova Iorque, nos Como é que depois de passarpor
tório, muito. É um acto falhado, é tempos em que isso põe umapistolanabocae
preciso uma coragem muito grande estudava teatro filmao videoclipe LyfeIsLong
para se conseguir mesmo emborcar e na Village (Rodrigo Leão & ScottMatthew)?
pensar que não se vai voltar atrás. E Já morri tantas vezes em cena que
não escrever cartas lamechas, aque- quando for a morte real vou pensar Q
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Sociedade
Q que é ensaio geral. Nunca morri Conhecia muito bem o Vasco, tinha
por me suicidar, engraçado. Mas ali vivido em casa da Maria Helena [Ma-
não se vê nada, só a pistola, é pouco, tos, sua mulher] com o meu pai, gos-
é pouco. Mas lá está, aquilo é uma tava imenso dela e ela de mim. Uma
paixão, uma coooisa de amor. vez trouxe-me umas fotografias deles
E porisso não gostade paixões?
Nem pensar, é uma doença. Ou as
1973
“Ao João,
os dois nos Alpes. Devia ter aceitado,
mas disse: “Ah, já tenho.” Não tinha
pessoas não percebem o que é e cha- afectuosamente, nada, mas aquilo na minha cabeça
mam ao vento uma tempestade, Eugénio [de era uma traição à minha mãe. Senti-
aqueles que têm uma paixão três ve- Andrade]” – a -me mesquinhito, parolo, grosseiro.
zes ao ano estão a falar de uma coisa dedicatória do E o Vasco Santana, como era?
que nem sei o que é. Como é que poeta foi escrita Profundamente depressivo, como
conseguem entrar e sair da máquina no Porto quase todos os cómicos, mas muito
de lavar miolos e depois voltar a pôr afectivo. Fui substituir o Henrique
a cabeça na centrifugação? Gostam Santana, que se tinha pegado de
de adrenalina? Saltem das pontes. amuos com o pai, o que era fre-
Portanto, teve umapaixão que de-
morou aresolver.
1976
Na praia onde
quente, parece, e tinha saído da
peça. Era novo e inexperiente, só fiz
Seis meses. Não repetível, não Amália asneiras, tinha que tirar a pasta de-
desejável, nada. Foi a única. Tinha 28 Rodrigues tinha baixo do braço do mestre-de-obras,
anos, estava muito desprevenido. casa, junto a um que era o Vasco, fiz tanta força que
E viveu melhorsem paixões? pescador da zona lhe dei com o cotovelo num olho.
Melhor? Vivi. Senão não teria vivido. “Tu és mesmo doido rapaz, parecias
A paixão é uma obsessão, não dá es- um bezerro”, dizia o Vasco. No outro
paço. O amor não é isso. dia ensaiei mais umas vezes e lá
O teatro é um palco de excessos. correu melhor.
Não se identificacom esse lado? E em 1971, aos 26 anos, conseguiu
Não, possivelmente porque sou umabolsadaFundação Ford e foi
excessivo. E reprimo essa parte.
Lembra-se datal estreiaaos 12
1982
O médico de Vila
estudarparaNovaIorque. Onde é
que tinhaaulas?
anos, napeçaRapaziadas? Faia. Já não tinha Na Village. A maior parte dos profes-
Não, lembro-me da expectativa que a certeza da sores já conhecia de cá, do Conserva-
tinha das críticas. Naquela altura era novela: “Fiz várias tório, mas tiraram-me o tapete. Esta-
isso que mantinha ou não a peça em vezes de médico” va habituado a trabalhar em silêncio,
cartaz. A primeira vez que saiu uma ali havia aulas com as janelas abertas,
crítica que me apontava defeitos de os carros da polícia a passar, as am-
dicção [quando fez o Romeu e Julie- bulâncias e os bêbedos a atirarem
ta, aos 18, 19 anos] foi uma surpresa garrafas contra as portas. Agora acho
tão grande e avassaladora… que é um sítio chique.
Como é que lidou com acrítica? E deu-se bem com os americanos?
Decidi ficar, para provar que estavam Tive que resistir às solicitações, não
enganados. É estúpido, não é? Mas é
uma energia.
1997
Fernando Krapp
tinha presilhas para me aguentar. Às
18h já estava bom para voltar para
E porque é que foi paraParis? Escreveu-me esta casa e eles queriam todos continuar,
Tinha dinheiro e queria-me ir embo- Carta, com a só mais um sítio, só mais um cocktail,
ra. A herança do meu pai era um amiga Alexandra eu já nem via nada, queria era deitar-
seguro, só recebi quando cheguei à Lencastre -me, ao outro dia tinha aulas cedo.
maioridade, e para a do meu avô Entre Paris e NovaIorque ainda
tinha um tutor, um irmão da minha viveu em Londres. Que outros
mãe que organizou o dinheiro da mundos játinhavisto?
maneira que entendia e quando eu Tinha estado nos primeiros Jogos
cheguei havia muito pouco para en- Olímpicos de Roma [1960], mas não
tender. Quando fiz 18 anos proclamei
à família da minha mãe que nunca
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Em O Pai é um
vi nada, passei a vida a entrar e a sair,
comia pouquíssimo porque quando
mais lhes voltava a falar. E foi assim. homem com aquelas marabuntas saíam do estádio
E asuamãe aceitou isso bem? Alzheimer e com invadiam tudo o que era ao preço
Não. Rosnou vários anos [risos]. uma relação difícil que eu podia pagar. Tanta melancia
Também trabalhou nacompanhia com a filha que eu comi porque era a única coisa
de Vasco Santana. Como foi? que havia à fartazana. No regresso
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A vergonha resulta
Cidades de El Alto e Sucre
também já têm zebras
O medo da vergonha, mais do
que o receio do castigo por deso-
bedecer às regras de trânsito, é o
segredo do êxito, dizia Antanas
h Mockus quando era presidente
As riscas brancas no chão da câmara de Bogotá.
formam o paso de cebra
GETTY IMAGES
ATRAVESSAR
tantes e turistas sejam zebras
por um dia.
Põem ordem no trânsito, de fato às riscas. Este projecto premiado que estão a ser aplicados na cons-
tem a ajuda de 225 jovens em situação de risco. Por Maria Espírito Santo trução da Casa da Zebra, um espaço
de encontro para a comunidade.
Corridas e flexões
Primeiro, eram os fatos em que
ançam para os peões que EM forma de praticar a cidadania. cabiam duas pessoas. Depois chegou
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NÃO SUPORTAOUVIR
PESSOAS ACOMER?
Nem o clique de uma caneta ou o som dos talheres no prato? Então é possível
que sofra de uma condição chamada misofonia. Por Lucília Galha
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Sociedade
CHEFSMADE
INAÇORES
Os seus alunos já disputam e ganham concursos de barman
ou de gastronomia, em Portugal e na Europa. Uma fórmula
de êxito com 15 anos. Por Mónica Franco (textos) e Marisa Cardoso (fotos)
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T
BrunoJarimba
Fez parte da equipa que abriu o Anfiteatro
antes de voltar, ao fim de 15 anos, a Macau,
terra da mãe, com menos de 1.000 euros
mas nenhuma certeza, uma aventura
recompensada
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Sociedade www.sabado.pt
j
Nos EUA são
salgadas e
cobertas com
manteiga e
já podem fazer-se
acompanhar de
bebidas brancas
PIPOCAS,
eva vodka com aroma a ciadas a um conceito de dine-in
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Sociedade
AIMPORTÂNCIADE SE CHA
Paddy Cosgrave, fundador da Web Summit, decidiu atribuir ao seu primeiro filho um apelido
com o da mulher, a modelo Faye Dinsmore. O bebé chama-se Cloud Cosmore. Em Portugal,
J
amais um casal português se
lembrou de fundir os seus
apelidos na hora de registar os
filhos. No entanto, se há atri-
buto que não escasseia no cérebro
PADDY
COSGRAVE
, +
FAYE
DINSMORE
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Família
GRÁVIDASQUE
SERESOLVEM
NODIVÃ
Cada vez mais mulheres procuram ajuda psicológica
pré-maternidade. Por ansiedade, depressão e por
quererem ser mães perfeitas. PorLucíliaGalha
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O
Dulce Garcia
Subdirectora
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Social
ISABELPANTOJAVOLT
Passado mais um episódio trágico na sua vida, a reina dela copla reapareceu. Está mais magra,
Polémicasetragédias
Com 60 anos, e 40 de carreira, a
vida de Isabel Pantoja tem sido
marcada por polémicas e tragé-
dias. Esta foi a sua segunda retira-
da por um longo período. A pri-
meira foi quando ficou viúva, nos
anos 80: o marido, Francisco Ri-
vera, Paquirri, morreu com 36
GETTY IMAGES
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AEMAPOTEOSE
rejuvenescida e triunfante. Viu uma plateia de 10 mil pessoas a gritar o seu nome. PorSóniaBento
(Kiko) Rivera com Irene Rosales, no DEPOIS DE nunca venderia aquela propriedade,
O casamento do ano início de Outubro passado. Posou VENDER até porque 53 por cento são dela e o
Acantorae o toureiro mais para um exclusivo da Hola!, cantou e QUASE resto do filho, só que também ele
famosos daépocacasaram-se lembrou que só lhe faltava um mês e TODO O SEU tem uma avultada dívida de impos-
meio para voltar a ser livre. Na ver- PATRIMÓ- tos. Aos 33 anos, Kiko, mais conhe-
Paquirri era casado e tinha dade, faltava menos: a 28 de Outu- NIO, VIVE cido por Paquirrín, nunca teve pro-
dois filhos pequenos quando se bro a pena foi dada por cumprida. NUM APAR- fissão e viveu sempre à custa da
envolveu com Isabel Pantoja. Di- TAMENTO mãe. Participou em reality shows e
vorciou-se e casou-se com a Doismilhõesdedívidasaofisco DE TRÊS tornou-se cantor e DJ. A reina de la
cantora, a 30 de Abril de 1983. Um mês depois, lançou o disco Has- ASSOALHA- copla tem outra filha, Isa, que adop-
Foi, então, “o casamento do ta que Se Apague el Sol, que havia DAS tou no Peru, em 1996, e a quem deu
ano”. Nove meses gravado no México, no Verão de EM MADRID o seu próprio nome, Maria Isabel.
depoi, nasceu Fran- 2014. Em dificuldades, Pantoja teve Isa tem sido igualmente uma fonte
cisco (Kiko Rivera), de desfazer-se de quase todo o pa- de problemas para a mãe: aos 18
o primeiro e único trimónio, que chegou a estar avalia- anos, teve um filho e a sua instável
filho do casal mais do em 10 milhões de euros. Foi o vida amorosa leva-a com frequên-
famoso dessa dé- caso da mansão em La Moraleja, cia às capas das revistas.
cada em Espanha. uma das zonas mais exclusivas de Isabel Pantoja escolheu Madrid
Madrid, que vendeu muito abaixo para encerrar um dos piores capítu-
do preço de mercado. Liquidada a los da sua vida e refazer a sua roti-
multa, a artista tem ainda uma dívi- na. Alugou um apartamento de três
rante um ano, Isabel, então bapti- da ao fisco de quase 2 milhões de assoalhadas no centro da cidade,
zada pela imprensa como “viúva euros, o que a obrigou a pôr à venda junto ao Parque do Retiro, onde
de Espanha”, recolheu-se com o La Cantora, pela qual pede 7 mi- vive com a mãe e o irmão Agustín,
filho bebé na quinta La Cantora, lhões de euros. Ela sempre disse que que também é seu agente. À porta
uma propriedade de 500 hectares 1 há sempre um ajuntamento de pa-
que o marido lhe deixou, em Cá- Em 2013, des- parazzi e de fãs, que vão dar
diz. A ausência tornou-a desejada. maiou ao sair apoio, oferecer presentes e até di-
Quando regressou, em 1985, Mari- do tribunal que nheiro das suas poupanças à diva
a condenou
nero de Luces, o disco- homena- em dificuldades.
gem a Paquirri, vendeu um milhão 2 Neste regresso, não passou des-
de exemplares, tornando-a a ar- Pantoja no percebida a mudança de imagem
programa El Hor-
tista mais bem paga de Espanha. da cantora que tantas vezes teve a
REUTERS
miguero – quase 5
Em 2013, Isabel Pantoja foi conde- 1 milhões viram Rainha Sofia na plateia dos seus
nada a 24 meses de prisão e a uma espectáculos. Além de ter perdido
multa de 1,14 milhões de euros por bastante peso, o seu rosto está re-
branqueamento de capitais, no âm- juvenescido. Os especialistas ga-
bito da operação Malaya – um me- rantem que la tonadillera
gaprocesso de corrupção imobiliária, aplicou botox, para tirar os pés
que envolveu também Julián Muñoz, de galinha, ácido hialurónico, para
o ex-autarca de Marbelha com quem harmonizar o nariz, e fez um en-
viveu durante seis anos, e que conti- chimento nos lábios. Uma questão
nua na cadeia. Isabel foi presa a 21 que jornais e revistas de Espanha e
de Novembro de 2014 e saiu em li- da América Latina vão continuar a
berdade condicional a 2 de Março do debater: depois do triunfo em Ma-
ano passado. Desde então viveu re- drid, a cantora seguiu em tournée:
colhida em La Cantora. Só apareceu primeiro Chile, depois Peru,
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Desporto
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Entrevista
PATRÍCIAMAMONA
Três dias antes de partir para Belgrado, onde vai disputar os
Europeus de Pista Coberta (3 a 5 de Março), a campeã do triplo
salto falou à SÁBADO dos objectivos para 2017 e até abordou
o pós-carreira: poderá ser médica, fazer próteses ou dedicar-se
à televisão. E quer ser mãe depois dos Jogos Olímpicos
de Tóquio 2020. PorCarlosTorreseAlexandreAzevedo(fotos)
“Num bom
saltonãosinto
dores, nãosinto
nada. Ficonum
modozen”
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Desporto
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Cantinho do Tovar
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Opinião 2 MARÇO 2017
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PARECE QUE
FOI ONTEM
“Ninguém ganhou a última
guerra nem ninguém ganhará
a próxima” – Eleanor Roosevelt
(1884-1962), ex-primeira-dama
dos Estados Unidos
jgi
1 de Março de 1941: os meus
pais, Vitalina e António,
casavam-se em Lisboa. E
uma guerra
e um
casamento
A 28 de setembro de 1940, o meu
pai, que prestava serviço militar na
Marinha, enviou do Funchal, de bordo
do contratorpedeiro Douro, um postal bem e a cerimónia realizou-se a 1 de dafuturavindaao Mundo do escriba.
para a minha mãe, em Lisboa, no qual março de 1941, na igreja de Santa Tomei consciência desses anos difí-
escrevia: “Afinal, houve paquete para Catarina, em Lisboa, na calçada do ceis, ou melhor, ainda mais difíceis
levar o correio antes do que se espe- Combro, perto do Chiado, numa rua porque toda a década de 40 foi má,
rava. Mas ainda te não posso dizer que tinha imensas sapatarias – hoje, através dos relatos do meu pai, que fa-
nada a respeito do movimento do na- não resta uma! lavacom reverênciado seu contrator-
vio”. Eram momentos de incerteza, O espetro daguerracontinuariapre- pedeiro – de cujo convés se atiravam à
estava-se em plena Segunda Guerra sente na vida dos meus pais, que só água, com uma corda atada à cintura,
Mundial e o receio de que Portugal em 1945, após o armistício, começa- os marinheiros que não sabiam nadar.
pudesse vir a participar no conflito ram a tratar do aumento da família e Um dia, ingenuamente, perguntei-lhe:
não se dissipava. Por outro lado, os “E se aparecesse um submarino ale-
meus pais tinham casamento aponta- i mão, vocês afundavam-no?” Arespos-
do para daí a meses e pairava a dúvi- Setembro de 1940: atracado ta retrata uma época: “Bem, isso seria
no porto do Funchal, o
da sobre a sua realização. contratorpedeiro Douro complicado. Só para pôr o barco a na-
Felizmente, tudo acabou por correr aguardava ordens de Lisboa vegareram precisas duas horas...” W
C g
Ex-director Record
1 de março de 1942: há 75 anos, no
Alexandre primeiro aniversário do casamen-
Pais to, o meu pai enviava um telegra-
www.alexandrepais.pt ma de bordo do Douro
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edp.pt
G E M
G A RA
O DA
S ALT LCO
Á O PA
D A O
P A R
O O O
O bom O mau O vilão
Um imperativo conxitusinal La La Land Pluralidade
Saber português vai deixar de ser Nem sei quantas palavras poderia Recentemente, garantiram-me que
critério de aquisição da nacionali- escrever sobre os Óscares. Talvez o dr. Louçã sabe umas coisas de
dade. Com um único gesto, abate- duas: não vi. Nos últimos anos, salvo Economia, e que as alucinações in-
-se a cansativa frase de Fernando a ocasional fita decente, o que me fantis que profere em público são
Pessoa e justifica-se o linguajar do chega do cinema são as fitas inde- apenas para consumo de fanáti-
primeiro-ministro. É, porém, redu- centes protagonizadas pelas “estre- cos. Até por experiência própria,
tor atribuir apenas ao dr. Costa a las” em cartaz. “Hollywood” desatou eu sabia que o dr. Louçã mente so-
responsabilidade pela abertura a levar-se a sério e perdeu a piada bre tudo à sua volta. Aprendi que
em causa. Liga-se a televisão, toda. Aquela gente convenceu-se também mente a si próprio. Resta
abre-se os jornais, espreita-se as de que lhe compete esclarecer as apurar se no Banco de Portugal te-
ditas redes sociais e fica-se fasci- massas em vez de se limitar a entre- remos o académico que vive neste
nado pela tortura a que a língua é tê-las. O resultado do delírio nota-se mundo ou o populista que afirma
incessantemente sujeita. Ou nem no lixo em que participam e atinge desejar outro, cheio de unicórnios,
O isso: de facto, o que hoje espanta o clímax na celebração anual, que igualdade e campos de reeduca-
Sociólogo é ver alguém exprimir-se em por- voltarei a ver quando atribuírem o ção trotskistas. Entretanto, há que
Alberto tuguês razoável. Exigir o mesmo a prémio para o Maior Pedante. Mas nomear Ferraz da Costa para a di-
Gonçalves estrangeiros seria pura xenofobia. percebo a dificuldade na escolha. recção do BE a bem da pluralidade.
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