BRASIL Nao Aprende Cortesia PDF 1
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Brasil,
uma
economia
que não
aprende
Novas perspectivas para
entender nosso fracasso
Brasil,
uma
economia
que não
aprende
Novas perspectivas para
entender nosso fracasso
Bibliografia
ISBN 978-65-991040-0-8
20-36254 CDD-338.981
Índices para catálogo sistemático:
2020
Apresentação.................................................................................................. 13
1. Introdução.................................................................................................. 25
Referências Bibliográficas......................................................................... 197
Apoiadores....................................................................................................217
João Sayad
P
aulo Gala e André Roncaglia oferecem aos leitores
interessados um livro com um título instigante: Brasil, uma
economia que não aprende. Já na casa dos 77 anos, arrisco a pele
para sugerir que o Brasil já foi uma economia que ensinou. Nos idos de
1978, uma missão chinesa aportou às terras de Pindorama para obser-
var e indagar das façanhas brasileiras na caminhada para a industrial-
ização e o desenvolvimento. Nesse momento, fumegavam no Império
do Meio as reformas de Deng Xiaoping e o Brasil liderava com folga
a marcha da industrialização entre os países então ditos “em desen-
volvimento”, hoje apelidados de “emergentes”. A visita chinesa ocor-
reu um ano antes do gesto americano empunhado por Paul Volcker
em outubro de 1979. A elevação da taxa de juro pelo Federal Reserve
deu impulso à “nova expansão americana”. À sombra do fortalecimen-
to do dólar, os Estados Unidos impuseram a liberalização financeira
Urbi et Orbi, assim como impulsionaram a metástase produtiva para o
Pacífico dos pequenos tigres, e do Novo Dragão chinês.
No livro Os antecedentes da tormenta ousei escrever que, em
todas as etapas, o capitalismo em seu movimento engendra transfor-
mações financeiras, tecnológicas, patrimoniais e espaciais que decor-
rem da interação de duas forças: 1) o processo de concorrência movido
pela grande empresa, sob a tutela das instituições nucleares de “gover-
nança” do sistema: a finança e o Estado hegemônico; e 2) as estratégias
nacionais de “inserção” das regiões periféricas. As transformações que
O
desenvolvimento econômico é uma transformação
estrutural que leva pessoas da agricultura para a indústria e
depois para os serviços modernos, um processo conhecido
como Revolução Industrial. Trata-se, no jargão dos economistas, de
uma mudança do lado da oferta da economia ou, nos termos de Bres-
ser-Pereira (2014), uma sofisticação tecnológica do tecido produtivo.
Países que têm uma estrutura produtiva complexa e sofisticada têm
empresas que investem muito em pesquisa e desenvolvimento de pro-
dutos e serviços (P&D). Empresas de países de estrutura produtiva po-
bre não têm porque investir nessas áreas. O Brasil passa cada vez mais
para esse segundo grupo de economias, uma vez que parou seu pro-
cesso de industrialização no meio do caminho. Viramos reféns do que
os economistas chamam de armadilha de renda média, um ponto em
que o país esgota seu estoque ocioso de mão de obra antes de atingir
um estágio de sofisticação produtiva mais avançado. Vale dizer, ocu-
pamos nossos trabalhadores em atividades de baixa produtividade, es-
pecialmente serviços não escaláveis, agropecuária, commodities e in-
dústrias de baixa intensidade tecnológica.
O Brasil conseguiu avançar muito em sua transformação es-
trutural até os anos 1980; chegou na metade da jornada, parou e depois
começou a regredir. Nosso sistema produtivo caminhou no sentido de
diversificação e aumento da complexidade até os anos 2000, depois re-
grediu e voltou a se especializar em produtos menos complexos. Quase
conseguimos nos desenvolver, faltou pouco. No início dos 1980 a pro-
dução industrial brasileira era maior do que a chinesa e a coreana soma-
O
processo de desenvolvimento sempre intrigou os
economistas. Pensadores do passado como o italiano Antonio
Serra, de Nápoles, no início do século XVII; John Cary, de Bris-
tol, no final do século XVII; ou Duarte Ribeiro de Macedo, de Portugal,
na mesma época se indagavam sobre o que fazer para acelerar o progres-
so do reino e alcançar riqueza para todos. Veneza se tornou poderosa aos
olhos de Antonio Serra porque conseguiu criar um cluster de indústrias,
inovação, aprendizagem, comércio e pessoas qualificadas, num processo
de “cumulação causativa”. Estes fatores juntos colocaram Veneza numa
trajetória diferente daquela em que Nápoles se encontrava. Para Serra,
Nápoles com sua estrutura agrária não seria capaz de resolver seus pro-
blemas econômicos sem criar uma base produtiva semelhante à de Ve-
neza. Para o embaixador português em Madri, Duarte Ribeiro de Mace-
do, a pobreza de Portugal nos anos 1600 estava relacionada à ausência de
manufaturas e indústrias no Reino (o termo usado na época era artes);
um pouco disso se observava na Espanha, que perdeu suas manufaturas
da região de Segóvia para outros países. Para Duarte Ribeiro de Macedo,
o atraso de Portugal estava ligado à ausência de processos produtivos
mais sofisticados como o que se via nas manufaturas inglesas e holande-
sas. John Cary, grande comerciante de Bristol, explicou a dinâmica das
manufaturas da Inglaterra em seu belíssimo livro de 1695 An essay on the
state of England in relation to its trade, its poor, and its taxes, for carrying on
the present war against France (Cary, 2010). Muito antes de Adam Smith
Bangladesh e Vietnã
O setor de serviços