Revista Do Brasil, 1916

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REVISTA

DO

BRASIL
SUMMARIO

HLCEU AMOROSO Lmn . . . Pelo passado nacional


(com illustraes)... 1
JHCOMIMO DEFINE Ao sabor do sonho ... 16
AMADEU AMARAL O dialecto caipira ... 22
OLAVO BILAC Edipo (sonetos). . , / . . 34
da Hcademia Brasileira

JOO LUSO 0 "Salon" de 1916 (com


illustraes) 37
JOO RIBEIRO Afranio Peixoto .... 51
da ncademia Brasileira
FREDERICO VlLLAR A organisao naval . . 60
LIMDOLPMO XAVIER A propsito da Confern-
cia algodoeira . . . 6
V. DA SILVA FREIRE ... O problema municipal . 74
COLLABORADORES Resenha do mez .... 93
(Continua na pagina seguinte)

PUBLICAO MENSAL
N. 9 - ANNO I VOL III SETEMBRO, 1916

REDiCtO E ADKrNISTRtlO
RUA DA. BOA VISTA, 53
S. PAULO - BRASIL
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montes da Justia e Assistncia, C. V. L. Bibliographia
Movimento artstico Movimento literrio Liga da Defesa
NacionalA comedia orthographica Clinicas escolares gratuitas
O imposto sobre a renda O nacionalismo na Argentina
A arte nas escolas francezas Publicaes recebidas As
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caricaturas do mez (cinco reproduces).

Com o numero de abril a "Revista do Brasil" comple-


tou o seu primeiro volume, de 464 paginas, com indice alpha-
betico e analytico que j foi remettido a todos os assignantes.
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ciculos, 6$000. Pelo correio, mais 00 ris.
O segundo volume completou-se com o fasciculo do mez
de Agosto sendo o indice distribudo com o presente numero.
A "REVISTA DO BRASIL" s publica trabalhos inditos

Revista do rasif
PUBLICAO MENSAL DE SCIENCIAS,
LETRAS, ARTES, HISTORIA E ACTUALIDADES
PROPRIEDADE DE UMA
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DlRECTORES ; JLIO MESQUITA REDACTOR-CHEFE : PLNIO BARRETO
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RUA DA BOA VISTA, 52 S. PAULO


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des da Europa, Estados Unidos da America do Norte, Brasil e
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dia, frica do Sul e Egypto.
Emittem-se saques sobre as succursaes do Banco e seus cor-
respondentes.
Encarrega-se da compra e venda de fundos, como tambm
do recebimento de dividendos, transferencias telegraphicas, emis-
so de cartas de credito, negociao e cobrana de letras de cam-
bio, coupons e obrigaes sorteadas e todo e qualquer negocio
bancrio legitimo.
Recebe-se dinheiro em conta corrente e em deposito
abonando juros como segue:
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Aviso prvio de 30 dias. 3 % Seis mezes 472 o/o
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deposito de Rs. 50$000, e com as entradas subsequentes nunca in-
feriores a Rs. 20$000, at o limite de Rs. 10:OOO$O0O abonando
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bados, dia em que o Banco fechar 1 hora da tarde.
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tncia das damnlnhas formigas, no haver mais motivo de queixa
dos prejuzos causados por to terrvel praga.
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vantagens da machlna "Luiz da Silva", bastam os testemunhos de
centenas de lavradores que se consideram felizes em possuir a refe-
rida machina, e a fama justa que attestam os milhares de testemu-
nhos que presenciam os maravilhosos effeitos e a economia que se
verifica com a ftppUcao da machina "Luiz da Silva" e do ingre-
diente "Buffalo".
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Pixe, contendo todas as qualidades deste e ou-
tras ainda devido ao seu beneficiamento. E' per-
feitamente fluido e applicavel a frio.
Dentre os vrios misteres a que se destina so-
bresae o seu emprego nos materiaes que se
acham expostos ao ar ou sujeitos deteriorao,
substituindo com muita vantagem quer em qua-
lidade ou custo, todas as tintas e preparados at
hoje usados nos postes de madeira, madeiramen-
to em geral, postes e vigas de ferro, pois que
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hoje que os Arailos CIIAT-
TANOOGA 1 silo os nmis pr-
ticos e 'jiu ntelhores resul-
tados tm dado na lavoum,
pitis encerram em si os pon-
tos capites que Interessam
os lavradores, HmpUeidaie,
economia e dmraMUiade e
so Caceis de manejar.
NSo comprem A K A DOS,
DBSCSCADORB8 de arroz
ou caf, ENGENHOS de can-
oa e nem qualquer outra
maehlba sem primeiro ve-
rem os nossos; pois so su-
periores a todos os outros
sol> todos os pontos de vista.
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Carrinhos - Caladores - Ceifadciras
Correias - Cortadores - Cultivadores
Debulbadores - Descascadores de ar-
roz e caf - Desintegradores - Desna-
tadelras - Encerados - Engenbos de
canoa - Esbrugadores de caf e arroz
Forjas - Grades de dentes - Macbinas
para fazer cangica - Moendas de can-
na a mo - Motores a vapor e a
kerozene - Ps de cavallo Folias de
madeira - Qnebradores de torros
Semeladelras - Separadores de caf
c arroz - Serras - Torradores de
caf, etc.

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PELO PASSADO NACIONAL

Venho de um grato colloquio com as cousas do nosso


passado. Na retina se me estampam ainda a alvura das capelli-
nbas montanhezas, entre o anil do co e o verde das frondes, o
porte symbolico dos cruzeiros, a pedra corroda dos velhos
chafarizes, os muros negros, as arvores ancis. Por algum
tempo, curto em dias, mas longo em meditao e saudade,
conversei as sombras dos nossos mortos nas ruinas das nossas
paizagens. E se ouso agora tomar da penna, porque delles,
dos nossos mortos amados, ouvi uma longa queixa sentida
contra o desamparo em que os deixam os brasileiros de hoje.
E' a voz das mortas geraes que falia por minha voz; a voz
dos homens que primeiro desbravaram o terreno nacional, a
dos que primeiro assentaram a pedra angular da nossa ptria.
Acorrei, filhos ingratos desta Terra: vinde ouvir a lamentao
das ruinas!
Villa Rica e o Tejuco, hoje Ouro Preto e Diamantina,
incarnaram a epopia bandeirante. A capital do ouro e a
capital do diamante foram a dupla expresso do sonho radioso,
que permittiu e realison a conquista do Serto. O Ouro era o
sol que aquecia as imaginaes aps as noites de desalento; os
Diamantes as estrellas que consolavam as ambies, passados
os dias de borrasca e descrena. Os hardidos aventureiros do
sec. XVII seguiam, terra a dentro, envolvidos num nimbo
deslumbrante de fantasia. Em Portugal, assumia o Brasil as
propores de um Cypango fabuloso, onde das arvores pendes-
sem folhas de esmeralda, rolassem os rios guas de lquidos
crystaes, e o azul do co, trazido pelas enxurradas, viesse
formar no seio da terra as saphyras. Chegavam do Reino levas
IOVISTA DO BRASIL

de homens vidos de ambio que, levados pelos paulistas


mtimoratos, iam desbravar as selvas, rasgar estradas, fundar
os lares da ptria futura. E em chegando ao serto do ouro
ou margem dos rios diamantinos, no lhes pungia o corao
a saudade da ptria distante; a riqueza, to fartamente offerta
pela nova terra, s lhes punha nalma o desejo de uma outra
patna, mais ardente, mais desafogada, mais acolhedora. O
sonho da independncia acarinhou a fronte do primeiro mine-
rador, que teve de pagar aos homens do Keino o fructo quasi
total dos seus esforos e das suas pesquizas. Villa Rica e o
lejuco oram, em todos os tempos, dois brazeiros da liberta-
o da terra. Quando por mais no fosse, s por isso, devemos
ajoelhar-nos pxedosamente beira destes dois tmulos, onde

rr^mi^aSazas com que o B^ b^ -


Nesse territrio herico das Minas Geraes so muitas as
Grades Mortas: Ouro Preto, Diamantina, Marianna, Sabar
S. Joo d'EI Rey, Serro, Caeth e varias outras, tiveram
outrora uma vida brilhante e florescente, de que o viver
actual no mais do que uma pallida lembrana. Em todas
ellas o presente um mero evocador. Eis a funco das Cidades
Mortas: accordar em nossas almas o respeito pelas coisas de
antanho, penhor seguro de um amor positivo s coisas do pre
sente. Para sermos verdadeiros patriotas, para alcanarmos
esse patriotismo superior em que o corao um simples colla-
borador da razo, precisamos commover o nosso espirito ante
o espectaculo da tradio. O passado um grande educador
communicando-nos essa commoo indispensvel ao trabalho'
fecundo das idias, mas as suas lies s so verdadeiramente
instructivas, quando tm por scenario o quadro em que elle se
desenrolou. No Brasil, sobretudo, agonisante inin<>-oa de
patriotismo, de urgente necessidade guardar para a nossa e
para as geraes vindouras a moldura do nosso passado E
os homens que o fizeram, prdigos nao foram em obras P r.c
trucoes, maior deve ser o nosso desvelo pelo pouco que nos
resta das pocas vividas.
Pois bem, por sobre a nossa Terra, vasia de monumentos
encanecidos, sopra um grande vento iconoclasta. Ouv
cada passo o ruir de uma velha pedra: so a ignorancia^o!1
homens e a marcha do tempo, em sua marcha iuexorlvel Br t
PKLO TASSADO NACIOXAr,

sileiros que me ledes, se, como a mim, vos enche o peito um


grande amor pelo torro natal, no ouvireis sem um grito de
revolta o que vos vou contar da situao em que jazem alguns
monumentos da tradio nacional.

Corramos os olhos por Diamantina. A ''Casa do Contra-


cto" , sem duvida, o primeiro monumento da cidade. Logo
em seguida descoberta dos diamantes, cuidou a metrpole
de extorquir aos mineradores o mximo de contribuio. Em
1735, aps haver ensaiado vrios systemas de arrecadao,
tentou o do "contracto". O arrematante pagava uma taxa fixa
por um certo numero de escravos, fosse ou no feliz com a
minerao; era uma nova frma do antigo imposto de capi-
tao. Na "Casa do Contracto", residia o chamado "Contra-
ctador dos Diamantes". Abi habitou o celebre Felisberto
Caldeira Brant, o contractador romntico, que, nas salas da
velha morada, manteve uma vida de luxo, entremeada de
saraus e recepes deslumbrantes. De uma daquellas sacadas,
foi elle um dos primeiros que sonhou com a emancipao da
terra brasUeira. Alli veiu tambm morar Joo Fernandes de
Oliveira Filho, o contractador nababesco, que depois construiu
para a sua amante a chcara fora da cidade. Durante 40 amios
aquelles muros ancios viram passar a theoria cryvtallina dos
diamantes.
Hoje, na "Casa do Contracto" est sendo installado o
Palcio do Bispo. No , porm, uma installao; uma muti-
lao! Comearam os adaptadors da velha Casa por levantar
a inevitvel platibanda, tirando inteiramente o caracter s
grandes beiradas do telhado colonial. Dado o primeiro golpe,
precipitaram-se os outros. Os dois pateos nobres de entrada
foram emparedados, rasgando-se uma porta ao centro. Demoli-
das as duas escadarias que davam accesso aos sales de cima,
construiu-se uma escada ao meio, cujas linhas so um diploma
de mau gosto. As saccadas salientes, que quebravam a monoto-
nia da larga fachada, desappareceram, substitudas por grade-
sinhas de ferro forjado, ao nivel dos humbraes. Foram sacri-
legamente arrancados os batentes massios das janellas e por-
tas, de rijo lenho e talho elegante, e aproveitada a sua madeira
para... os degraus das novas escadinhas da entrada! E' um

REVISTA DO URASIL

caminhar de dolorosas surprezas! Ao lado esquerdo da facha-


da, sob pretexto de dar ingresso livre capella (cuja disposio
tambm foi completamente alterada), construram certa ezcres-
cencia curiosa, que tenta ser uma escada e uma varanda, com
coberta... de lousa vermelha e branca! E para completar essa
restaurao innominavel, estampou o pretencioso mestre de
obras, em pleno corao da platibanda, entre arabescos doentios,
uma data, que para ns a da morte da "Casa do Contracto"-
1915.
Eis o que resta do mais nobre monumento tejuquense 1
Quanto s igrejas diamantinas, todas ellas, de mal a peior,
sustentam o peso do tempo. N. 8. do Amparo, na rua da Qui-
tanda, mal se agenta sobre as traves desconjuntadas. A de
S. Francisco, que foi o mais aristocrtico templo do Tejuco,
est com a fachada toda em linhas oblquas, e a nave amparada
em duas vigas tremulas, que esperam pacientemente o dia
prximo da ruina total.
Subindo a dura ladeira que conduz; ao alto dos Correios,
depara-se-nos a capella de X. S. da Luz, toda vestdinha de
azul, como um anjo de procisso. Mas, ai!, o pobre anjinho
da montanha vai morrer mingoa. Abrem-lhe as paredes
fendas temerosas; a cada rajada que passa fogem-lhe algumas
telhas, e as guas do co, ingratamente, vo minando o que foi
feito por amor do co. Sim, porque capellinha azul tambm
no falta a sua historieta tocante. Foi o caso. que uma nobre
Senhora portugueza, da famlia dos Corte Real, i). Thereza
Maria de Jesus, achando-se em Lisboa em 1755, prometteu
Virgem erigir-lhe uma capella, em um ponto longnquo da
terra, caso escapasse catastrophe que arrazava a cidade
pombalna. E, de facto, tendo sobrevivido ao terremoto, partiu-
se para o Brasil, e foi cumprir a sua promessa no mago do
Districto Diamantino, onde os caracteres, deprimidos pela
ambio e pelas riquezas, tanto exigiam os recursos da f. Essa
1). Thereza Maria de Jesus no uma mera figura de legenda;
pois, no archivo da Igreja de N. S. do Carmo, em Diamantina!
encontrei um termo de 27 de Novembro de 1804, em que n!
Thereza Maria de Jesus declara que pagar Ordem do Carmo!
por aluguer da casa pertencente mesma Ordem fronteira
Capella, cem oitavas de ouro, para nella morar emquanto
vivesse, deixando aos seus herdeiros o encargo de pposegnimn

k
rrj.O PASSADO NACIONAL

nesta contribuio, por seis mezes depois de sua morte. E na


sacristia da capella de N. S. da Luz existe o retrato a leo
da nobre Senhora, amortalliada no habito das Carmelitas.
A gratido dos homens no procurou combater a obra do
tempo; auxiliou-a, pelo contrario. O quadro, que conservou os
traos da dama piedosa de Lisboa, jaz atirado a um canto, no
meio de tocheiros quebrados e restos de andores, velado por
immemorial manto de poeira. O prprio sacristo, a quem
me dirigi, para que espanasse um pouco a tela, ficou surpreso
de ver surgir, entre as nuvens de p, a figura severa de uma
morta, que parecia estigmatisar a incria dos vivos. A' sabida,
num jardim que ladeia a capella, um dos "sagrados" onde, at
1915, se enterraram os mortos de Diamantina, deparei com
uma velha pia de gua benta, de granito, de talho massio e
curioso, atirada a um canto do muro.
Perguntando ao sacristo porque motivo tinham jogado
para alli aquella pia to interessante, respondeu-me o cndido
homem: "Essa a velha; ns agora j temos outra nova de
loua.. .". Entre ns, no so s as sacristes de Diamantina
que pensam assim. . .
Mas no foi s o retrato de D. Thereza de Jesus que soffreu
o olvido dos homens: o seu prprio tmulo no mereceu res-
peito. Ha uns 20 annos. ao reconstruirem a capella, com a
irreverncia que caracterisa os nossos mestres de obras, demo-
liram a fachada antiga, e fizeram a nova uns cinco metros para
traz, alheia ao desenho da primitiva. No caso, porm, mais gra-
ve ainda era o desrespeito, pois o tmulo da boa senhora, que
quizera ser enterrada no adro de sua capella, ficou fora da
igreja, numa calada, servindo de lage aos transeuntes. E o
corpo daquella que tanto mereceu do co, feito capim a crescer
entre as pedras, serve hoje de alimento s gallinhas vorazes
que ciscam pelos arredores! Tambm, quem sabe se o recons-
tructor da capella no foi um discreto, a quem occorreu o racio-
cinio de Hamlet sobre Csar? Se a argila de Csar s merecia
tapar o buraco de um muro, justo que o p de D. Thereza
de -Jesus sirva de pasto s gallinhas...
A tradio em Diamantina se refugiou num largo, num
delicioso largo, onde as sombras do passado vivem por entre a
paz das coisas do presente. Pois ahi mesmo, nesse remanso da
tradio, no parou a irreverncia dos homens. A um canto da
REVISTA DO BRASIL

praa, toda antiga, construiu a edilidade diamantina a nova


priso, pintadinha de amarello, e coberta de telha franceza 1
Eu sou dos que subscrevem o conceito do tradicionalista
Charles Maurras: "Qui dit antiquit ne dit pas sacrement;
notre vie a le droit de dtrnire pour reconstruire; le monde
n est pas un muse". A admirao do velho pelo velho, sem
outrasignificao, uma das abuses romnticas a que o mes-
mo Maurras chamou de badauderie vnrante". Mas, inter-
romper mu bello sonho um sacrilgio, e foi o que veiu fazer
a mna pnso diamantina no velho Largo do Rosrio. Porque
perturbar o descano de antigas sombras, quando lugar sobrava
ela cidade para se construir a nova habitao dos presos? A
Velh
mTntetT f Pedras s e Justifica quando absoluta-
enSaV
ntalo en?r t ntensfic^o da vida; e o critrio ado-
ptado entre ns est muito longe desta verdade singela
Como grato, ao envez desta municipalidade pouco ciosa
da8 tradies de sna cidade, ver, por exemplo, a edilidade de
Campinas construir uma casa para as suas andorinhas! Todas
as tardes, as avesinhas andejas, depois de vagabundearem pelos
campos verdes que se alongam ourela da cidade, depois de
pousarem nos fios telegraphicos, justificando a attitude im
memorial em que as immortalisou Antnio Nobre, vm revoln
tear sobre a cidade amiga, setteando os ares, em massa para
ganhar o pouso que lhes reservou a intelligencia campiS
Admirvel exemplo, e tal porque ainda se no extinguiu a raa
dos prefeitos no gnero daquelle adorvel "sous-prefet" nn
conto de Daudet, que velou a face da Musa dos Comidos iZ
colas, para fazer versos na relva, mastigando violetas "ao
cantar dos rouxines no bosque de verdes carvalhos
Voltando ao nosso Largo... _ felizmente, a differena de
nvel no terreno esconde, a quem ahi entra pelo lado de dma
a vista da nova construco. E as velhas sombras podero
ainda, por longo tempo, dormir e sonhar no seu velho largo
A todos os que conhecen. a historia do Tejuco ficou na
imaginao a paizagem encantadora do nue foi -V "^ T
Xica da Silva", mandada construir Zl VoJ^Zl t
referido Joo Fernandes de Oliveira Filho, para a lua amante
que de encantos, como disseram os contemporneos, s se os
tinha secretos. Hoje, no Queluz diamantino pastam philoso-
phicamente os bois, entre os restos das muralhas e as ribas
PELO PASSADO NACIONAL

pantanosas do lago; e a imagem do Abandono, to prodiga-


mente reproduzida pelas nossas velhas cidades, alli encontrou
mais um dos seus desolados nichos.

Se tal a situao na capital do districto diamantino,


melhor se nos no depara o estado da antiga capital das Minas.
Sobre as pedras de Ouro Preto tambm pesa o guante da igno-
rncia humana e dos ultrajes dos annos. O antigo Palcio dos
Capites Generaes, construdo pelo engenheiro Jos Fernandes
Pinto de Alpoim, em 1744, sob o governo de Gomes Freire de
Andrade, foi profundamente remodelado para acolher a Escola
de Minas. Apezar disso, porm, juntamente com o antigo Pal-
cio da Gamara, hoje Cadeia, que o defronta, guarda quasi
intacto o caracter original. So esses dois os mais perfeitos e
os mais expressivos monumentos da gloriosa Villa Rica do
Pilar de Ouro Preto. Descendo a rua do Ouvidor, antolha-se-
nos a deliciosa igreja de S. Francisco de Assis, no antigo largo
do pelourinho, construida pelo traado do Aleijadinho. esse
mutilado de gnio, que durante a segunda metade do sculo
XVIII, espalhou pela provncia das Minas Geraes, os fructos
de sua pericia. Antnio Francisco Lisboa foi o seu nome, mas
as deformidades horrveis, de que uma molstia tardia lhe
cobriu o corpo, emprestaram-lhe aquelle cognome, pelo qual
conhecido. Andava de joelhos, e trabalhava com o escopro
atado aos tocos dos braos, pois os dedos lhe haviam cabido!
Viveu e morreu na misria, largado dos homens, a quem mal-
queria. As suas obras principaes se encontram em Ouro Preto,
na igreja do Carmo e na capella das Almas, em S. Joo d'El
Rey na matriz e na capella de S. Francisco, em SabarA, em
Marianna, em Sta. Luzia, e sobretudo em Congonhas, onde,
na egreja do Bom Jesus de Mattosinhos, esculpio a figura dos
prophetas, e os trs Passos da Ceia, da Priso e do Horto, que
mereceram uma meno de St. Hilaire. Em S. Francisco de
Assis varias obras ficaram do artista mineiro, to espontneo
e delicado, a quem s faltou uma educao artstica altura
de seu engenho, para o equiparar aos maiores. Sobre o portal
nobre de entrada do Templo, rasgou o Aleijadinho um medalho
em granito, com a figura de S. Francisco de Assis, recebendo
as chagas. E' talvez a sua obra prima, pelo acabado das minu-
O REVISTA DO BRASIL

cias, e pela riqueza de expresso, que se desprende de todo o


conjunoto. Pois bem, essa obra centenria e bella, no mereceu
a menor proteco contra as intempries, que trabalham, lenta
mas seguramente, na destruio dos contornos. Dos anjos que
circundam o medalho, a vrios j faltam os membros mais
salientes. A pedra vai sendo atacada, e nada impede que, dentro
de outro sculo, do quadro encantador de hoje s reste uma
superfcie lisa! Porque no ensaiar alli o qne foi feito nos
portaes da igreja de S. Petronio em Bolonha, com os baixo-
relevos de Jacopo delia Quercia, isto , estender, maneira do
vidro nos quadros, pequenas telas de arame, que protegem a
esculptura, sem quasi perturbar a viso? E' de pouco dispendio
e farto resultado.
Fronteiras quasi egreja ficam as casas modestas,
outr'ora habitadas por Thomaz Antnio Gonzaga e Cludio
Manuel da Costa. Nada as indica,- nem uma placa simples, e,
portas a dentro, tambm nada resta de ento. Onde os inuu-
h meros objectos daquelle interessantissimo "auto de seqestro",
citado por Affonso Arinos na sua admirvel "Atalaia Bandei-
rante"? S Deus o saber... A casa de Tiradentes, se bem me
lembra, na rua de S. Jos, foi comprada quasi em runas por
Affonso Arinos, esse; saudoso amante inegualavel do passado
nacional. Hoje, que vai ser delia?... E que vai ser dos dois
curiosos chafarizes de 1752 e 1762, na rua do Ouvidor e na do
Vira Saia, e do Chafariz das Cabeas, ao p da casa de Marilia?
Esto todos reduzidos a pouco menos que ruinas!
Na matriz de Antnio Dias pouco resta de antigo. Foram
todos os altares reformados nesse incolor estylo "Casa Sucena"
a qne se vai reduzindo a nossa arte sacra, hoje sem a menor
originalidade. S resistiu o altar de N. S. da Boa Morte, a
cujos ps est enterrado o Aleijadinho. Nenhuma grade se
levantou em torno do tmulo, assim que raros so aquelles
que respeitam o ultimo leito do triste esculptor mineiro, de
que s se v uma lage suja, com as inscripes apagadas! De-
solador esquecimento dos homens!

No curto espao de um artigo no me proponho a ser


completo, seno a citar factos esparsos, recolhidos ao sabor
de uma peregrinao. Fallei em Diamantina e em Ouro Preto,
PELO PASSADO NACIONAL

Em cima : Egrejas do "Rosapio e S. Francisco, em "Diamantina.


Em bai^o : A "Casa do Confracto", na mesma cidade.
TKIX) PASSADO NACIONAL 11

mas por toda a parte grassa o mesmo mal. Em Curvello cae


a capellinha inicial, cedendo o lugar a uma nova e soberana-
mente feia igreja dos Redemptoristas allemes. Em Bello Hori-
zonte demolida inutilmente a velha matriz de Curral d'El
Rey, para a substituirem por alguma inexpressiva capellinha
gothica. Em Sumidouro, que da Quinta de Ferno Dias Paes
Leme? E se passarmos a S. Paulo, torro dos bandeirantes
no menor o descalabro. Avulta o arrasamento da Igreja do
Collegio, para se construir o novo palcio do governo. Essa
capella era nada menos que o sanctuario fundado por Anchieta
em 1554, e porteriormente remodelado. A sua significao no
tinha s de paulista, mas de amplamente nacional. Com o p
de suas paredes desappareceu um dos mais puros symbolos da
ptria!
No somente a demolio o terror das velhas pedras.
Como vimos com a Casa do Contracto em Diamantina, a res-
taurao talvez ainda mais grave. A morte pde justificar-se,
mas nunca a tortura. Ser atheu um direito, mas mofar da
religio nos sanctuarios prprio de almas rebaixadas. Pois
a restaurao aquella tortura, essa caricatura. Ainda quan-
do a presidem um grande sentimento artstico e um respeito
severo ao passado, ella acceitavel se inevitvel; o resultado
nico fazer do edifcio uma imagem fria do que foi. Mas, se
a restaurao se faz, como entre ns, sem a minima preoccu-
pao pelo primitivo aspecto do edifcio j no seno um
vandalismo. A nova fachada, as novas torres, as novas alas, so
outras tantas tnicas de Nessus sobre o corpo da antiga cons-
truco. Em S. Paulo, soffreu o supplicio da restaurao a
capella de N. S. do O', que hoje se ostenta, sem nenhum cara-
cter original, sobre as ruinas da velha ermida de Manoel Preto.
Mas no solitrio o seu soffrer, porque, pelo Brasil alm,
outras muitas irms de infortnio gemem na mesma tortura.
Do littoral paulista, por exemplo, tenho noticia do lamentvel
estado em que as reformas deixaram as duas capellas clssicas
de Conceio de Itanhaen, um dos primitivos lares mysticos
no Brasil, logar de especial devoo do bemaventurado Joseph
de Anchieta, o S. Francisco de Assis de nossas selvas.
Se a Igreja do Collegio no soube inspirar piedade febre
do alvio e da picareta, se a ermida de N. S. da Esperana
no commoveu os restauradores, guarda ainda S. Paulo, na
12
REVISTA DO BRASIL

que ellas elevem a dnn ^f ^ E dUr0' POrm' (le dizer


dos homens Como vooT8 .T ^ ^^ ^ a0 desvel0
esses veneraverrestos dos f . ^ qUe hOJe Se encont
*e M'Boj, fJnZTvor M ^T1 SeCUlOS' eS a ^J1^8
r de POIlteS 0 Chr0nSta
TrememL as paLle^t . ' l^
fachada roida Enl T^"' inC~hna"Se tragicamte a pobre
E como M'Boy pinr-PreSSn
Co"a Pinheiros,
oy, uotia,
0
^ Um PT0Xm0
Conceio, etc
deseillac
-

<;T^ :Ji*Tj:Tr
trnees e peT-vs tr.diS
T e o fao com org iho e
-
' " -p-
m V1VO 0 am0r PelaS Velhas co
^-
rnenl eu" luU
!evZccam ^^^ Se no ^ niassa, pelo
ment. r, adas superiores da populao. E insta-

tristur
va-lhes esse esnertap,,^ A a de nossas rninas. 8ir-
mCentVO para no
obra encetada? ^ ^qnearem na

aindf h?S;ue%znerenn?' ^ 0raea aPenaS a a 0ntar


P ' ^to
gueando ^8^' colM^T ""^f ' 0 e ultima
te, va-
tristissima e to flhn T Um faCt0 para essa reha
B. Anton^^^eTo^m ^et^pT ^ ^

testemunha inS^y^a^r mo"!68" T^ Uma

i
de ^-cisefr^ti^r.e^r^
um Crncificado sangrento, qne se eleva ao fnndo n
^ gU,aS

do quadro celebre de Giotto. Torneava o 2l 'ZTfT ^


azulejo no gnero das de 8. Vicente de Fora em T v^ ^
1Sboa (lil
Igreja da Graa na Bahia, e da de s V '
representando, em vrios qnadros, actos da^T piV, ^f'
,la
quelle suave bemaventurado. Pois bem ha non "
annOS reSo1
veram os dirigentes da Ordem arrancmos TT ' -
to de que a capella, com os azn^T pLeS ^ ^ PreteX-
Foram estas as P^prias palavrj^o CriST^^t"
dofacto! Fui encontrar os pobres aj^^^^
PELO PASSADO NACIONAL 13

toados a um canto, cobertos de p, e em parte j estra-


gados e quebrados, ao fundo da igreja, numa antiga co-
sinha da Ordem! E no parou ahi o padecer da humilde
capellinha. O mesmo pavoroso engenho architectonico, que ou-
sou arrancar os azulejos, desnudando as paredes, construiu, ao
fundo, um coro de linhas deplorveis, cortando ao meio duas
janellas, que nem ao menos muradas foram! S a prpria viso
dos factos pde convencer de tanta ignorncia! Para que nada
faltasse a uma obra de devastao absoluta, pintaram de va-
rias cores a cantaria da fachada, e de pixe o Cruzeiro de pedra
que se levanta entrada do templo!
Alis, o costume de se brochar o granito, e de se acafelar
as estatuas, est espalhado pelo nosso territrio. E' um caso
typico o da Cathedral Metropolitana do Rio, cuja fachada de
cantaria tinha sido toda caiada, o que deu lugar a um Aviso
indignado de Ferreira Vianna, quando Ministro do Imprio
em 1889. E j que me referi ao Rio de Janeiro, cumpre notar
que elle se no isenta no descalabro geral do respeito ao pas-
sado. J me vai longa a exposio, que eu quizera tanto mais
incisiva quanto mais breve, e portanto, respeito ao Rio, limito-
me a lembrar um facto entre mil: a canalisao do rio da Ca-
rioca. Foi bocca desse rio, conta a historia, ou pelo menos a
tradio, que em 1501 se levantou a primeira Casa de Pedra
do territrio, precursora da cidade de Estacio de S e madri-
nha de seus habitantes. Naquellas guas se abeberaram as gera-
es, desde os navegadores, que aqui vinham refrescar, aos
cidados de hoje. O seu nome se gravou na mente de todos os
viajantes, na obra de todos os historiadores. E como era pit-
toresco o seu curso sinuoso, acompanhando a rua das Laran-
geiras, com o velho muro recoberto de musgo! Pois nada lhe
valeu para mover os reconstructores da cidade ao respeito.
Hoje, a rua das Larangeiras perdeu o companheiro, e o rio dos
navegantes de 1501 jaz transformado num reles esgoto!
Por esse facto se v que o desvio da tradio, e portanto
da lgica das coisas, no se manifesta unicamente pelo desres-
peito aos monumentos. Nem s elles exprimem o encadeiamento
racional da vida de um povo. Entre ns, como por toda a par-
te, aquelle desequilbrio se traduz por varias frmas. Ora,
como vimos, a canalisao de um rio histrico; ora, como no
Palcio do Cattete, a substituio de ornamentos ou symbolos.
14
REVISTA DO BRASIL

e que fez dizer a Machado de Assis qe o Palcio, depois das


estatuas, ficou parecendo uma commoda de ps para o ar-
ora a mauia, verdadeira molstia nacional, de trocar, a td
o propsito e sem propsito, os nomes das ruas, e que l hoie
se estende at aos nomes geographicos! E como esses mil ou
tros casos, que a todos occorrem.

No proseguirei, porm. Era meu intuito lanar o alarma


entre aquelles cuja voz pde ser ouvida. Citei alguns fac^'
se qmzesse completar a resenha, teria de fazer uma nomenX-
tnra de todos os nossos velhos monumentos, pois o ma , e no
morrem os qne acabo de mencionar, uma'epidemia naton^
Nada pde justificar o descaso pelo nosso passado Se lhe
na^..., os s, a excepcionaJ ni;lil,if|(,Micia '^^

ftcioa, avnlta o seu valor moral, a sua significaro histrica

dls ^ r1 ^V6"11111 em volume' erocando "La Grande Piti


thLo^'! f/T^^0 era,n as ****** eatheSraef^
one' os de tZZV ^^ qW ^ dfendia' ma - ^P^
Xs ponularis ! ^^^^ OU meSm0 aS """"""nas qnadri-
ca^ninlms ' ^ ^'^ " OS <'rUZer08' ^e a - T>'"os

pare^r^^::1^:0^ qu,,h i h:
- " - --1:
-
A
erm,li,S t,,emem
os chafarizes qT^ ^0^' " ^ '
para os noss^ n.eXs ^ ^J" ^0 ^n68 '
noca l^i^tn fQ niniiiados. E ja que vivemos numa
ao menos utii e
Srs qn^rm ^ ^
nossos prinu^-s a, r ;..;'"; 'T*'^"
^^^
08
^igio* dos
POVO em infncia a^r^r1'^ COn, , ,,:U:n0
; 8
- ^"'^ Um
n0 ha
duvida, mas no podereLs L./ ^ ^ P^ ^'
prezarmos o que para n^ Z **** * QOa8a mSS&0 Se ]
' ^-
i-spoctiva das o Sns o.rTtUe+0 ^^ da
'>atria
- A
em formao; e ^ n^La ^ '-""-dial dos povos
a obra da oonstm -.o nacl^ A ^"f0 qUe d0Ve <ome^r
R11,,Ie,,,a d0 braS
leiro de hoje reunidos nn^ "" -
nacional, em todas as ZX^Z^ir^^ E^
isso, preciso qne ao artista an i^r.^ ^"vaaaae. i^ para
ntista, ao junsconsnlto, ao architecto,
PELO PASSADO NACIONAL 15

ao polaco, ao militar, ao industrial, no sednza unicamente a


originalidade; "s se tem o direito de ser original sem o que-
rar , disse-o Joaquim abuco. A arte, a literatura, o estylo
a organisao verdadeiramente nacionaes sero uma conse-
qncia lgica do nosso meio, do nosso clima, da nossa filiao
tias nossas tendncias. Hoje, o espirito brasileiro est inteira-
mente obliterado por estranhas influencias; os artfices do
futuro, trabalhando pela boa Obra, que no desprezem o aspe-
ctaculo de nossas origens, quando o mimetismo ainda nos no
havia de todo descaracterisado. E' preciso encarar o passado,
ler o caracter do presente atravs das lantejoulas artificiaes
e comprehender o futuro, para tentar, ento, logicamente, algo
<Je definido pelo espirito nacional. Tratemos portanto de guar-
dar as roupagens do nosso bero, para os obreiros do futuro
I onhamos um freio fria demolidora e restauradora. Keha-
bilitemos o passado nacional I

ALCEU AMOROSO LIMA.


AO SABOR DO SONHO

Foi numa noite de carnaval. Encontraram-se tarde, quando


todos recolhiam e o delirio festivo findava.
Andavam ambos pelo mesmo largo; cruzaram-se sob a
fronde benigna dos platanos, brandamente illuminada pelos
lampies esparsos.
Ella ia ao lado de um homem edoso, seu pae decerto Dur-
val vinha s. Ao avistal-a moderou o passo. Os seus olhares
encontraram-se, detiveram-se e penetraram-se docemente
Uma suavidade tumultuosa, um bem inesperado e immen-
so, pareceu a Durval que brotava entre ambos enchendo a terra
mudando a face das coisas. '
Depois, pouco a pouco a realidade resurgia, destacava-se,
como que impregnada de surpreza e de sonho
Durval seguiu com os olhos o vulto que se afastava.
Suave e bella! O seu talhe fino, enroupado de branco, tinha
um encanto matutmo. Os seus olhos eram profundos, pensativos,
cheios de uma seriedade que prendia
Transparecia nella no sei que de ideal e doce, de recluso e
ardente, a denunciar uma alma que vive e brilha acima das
mesquinharias, das falsidades e das impurezas communs da exis-
tencia.
Durval parou indeciso, revolvendo a sua emoo. Depois
poz-se a seguil-a, de longe.
Por acaso ou intencionalmente, ella voltou-se um instante e
olhou-o.
Um claro o atravessou. Seria ella deveras a eleita, a que
se sonha confusamente e mal se ousa esperar, o bem indizivel e
supremo para o qual anhelava a sua alma^
Como o seu olhar fora doce e confiante," cheio de vaga nostal-
gia e envolvente suavidade!
AO SABOR DO SONHO 17

J uma confilencia mutua parecia prendel-os.


Presentia-a sensitiva, sonhadora, dolente. A sua alma devia
ter a poesia e a tristeza de uma paisagem outomnal, em que as
arvores ferrugentas se cobrem do pathetico burel da prpria
fronde resequida.
EUa devia conhecer a tristeza das primeiras illuses fana-
das, a melancholia dos sonhos que murcham e tombam como as
folhas mortas.
Mas, por isso mesmo, que recalcado ardor, que acrysolada
paixo, que abundncia e vehemencia de vida interior no have-
ria nella?
Imaginou-a isolada e mesta, num desses ambientes estreitos
e burguezes onde o tdio e a melancholia medram, enchendo o
vasio das vidas e das almas.
Ahi, na sua quasi solido, o amor e o sonho vieram acordar-
lhe e accender-lhe a alma ingnua.
Amara, ou antes, julgara querer a algum, mas o que ella
amara fora o seu prprio sonho, o reflexo divino da sua inno-
cencia, as illuses e as miragens seductoras que ella encarnara
a esmo, povoando o mundo de encantamento.
Quem poderia dizer as luctas, as desilluses, as desesperan-
as que soffrera?
Mas por certo a sua alma ardente e pura triumphara, se
enriquecera de dor e de esplendores, se acolhera e sublimara no
seu prprio fogo.
A' bruteza e misria da realidade, ella oppoz a serena bel-
leza do seu mundo interior, a doura melancholica do sonho.
Fora das cohibencias, das chatices e das protervias da rea-
lidade, a sua alma pairou livre e resplendente.
Vago e luminoso, abstracto e vehemente, o amor habitou
nella como uma mystica flamma que consome e illumina.
Celeste fuso de dois seres, abnegado dom de si mesmo,
meiga religio que anihila e transhumana, era assim que ella
o comprehendia e queria.
Assim, a sua prpria alma a isolava, o seu prprio sonho
punha entre ella e o mundo uma etherea e refulgente nuvem
que lhe era, ao mesmo tempo, refugio e degredo, priso e en-
cantamento.
Mas a esperana, o pre-agoirar do milagre, as possibilidades
maravilhosas que num momento transformam e divinisam a
18 REVISTA DO BRASIL,

existncia, deviam luzir, longinquas e mysteriosas, no fundo da


sua alma.
Quantas vezes ellas no lhe teriam perpassado deante, num
claro quasi irreal e fugace como estrellas cadentes?
Agora mesmo, nessa noite de carnaval, por entre o bulicio
festivo da cidade, no sentira ella uma anci desconhecida, um
presago palpitar feito de duvida e esperana, de inquietude e
aspirao ?
Por isso, talvez, os seus olhos tiveram para elle esse secre-
to entendimento, essa dolente e maviosa doura.
Como ella, Durval vinha cheio de anciedade vaga, de pai-
xo contida, de sonhos e desesperanas errantes.
Mais do que um mero encontro, uma casualidade occulta
uma similitude de almas e de destinos os approximava e con-
graava.
Um presentimento fulgido alumbrou-o. Pareceu-lhe que a
felicidade, silenciosa e fugaz passava junto delle esflorando-o
e sornndo-lhe. Uma suavidade immensa invadiu-o. No sei que
de bom e puro illuminava e revestia a terra, propagava a espe-
rana, submettia a vida presciente ordenao do sonho e do
ideal, reunia e completava as almas que, sem saber, se busca-
vam e attrahiam atravs do vasto universo.
Durval sentia-se outro; uma f nova reconciliava-o comsi-
go mesmo, com o mundo, com o azul, com as estrellas. . . Dean
te delle o vulto delia movia-se branco e mavioso, com a graa
esbelta de uma ave nivea que a lua prateia.
Durval seguia-a enlevado. De quando em vez, o estranho
e o areo da aventura davam-lhe a impresso de caminhar num
romance.
Atravessavam um outro largo, depois enfiaram uma rua
longa, meio s escuras, silente e erma quellas horas.
De repente, os dois vultos pararam junto a uma casa; uma
porta abriu-se e fechou-se atraz delles, e tudo recahiu na deser-
ta quietude anterior.
Durval parou desapontado.
Sumira-se. Nem pudera ver bem a casa em que ella
entrara. Talvez nunca mais a tornaria a ver!
Um vago despeito lhe mordia a alma.
Mas passaria por l outras vezes, saberia quem era, tor-
naria a ver os seus olhos, doces e profundos, sentiria crescer e
AO SABOR DO SONHO jg

florir essa sympathia mutua que to docemente se annuncia-


ra. . . yuem sabe?. . .
Afagando esses pensamentos, Duryal volveu os passos
para casa. passos
Mas j um lento desanimo se lhe infiltrava na alma In
6 e aere0 0 SeU SOnh0 Parecia d
n^Z T*
passar da viso que o originara. esmanchar-se com o
O que elle julgara ver nella no fora mais do que um
imagmoso reflexo, do que a introspeco da sua prpria alma.
et(.rrSUantai, VeZeS n0 Se enganara assim? No era esse o seu
ei-erno escolho, o suave e arcano malefcio que o tolhia?
Essas creaturas donairosas, apenas entrevistas, animava-
ao Seu sonho, emprestava-lhes as suas aspiraes, os seus
esejos, os seus devaneios, penetrava-as de no sei que celeste
e amorosa perfeio, e depois se admirava que fossem alheias
uirrerentes, estranhas, como que inclusas numa outra esphera
dam^ntl ^^ humanidade' ^ue as distanciava delle indefini-

Demais, no era natural que assim fosse? Como podia elle


<uTT PaSSO encontrar essas almas puras e ardentes, acendra-
IhP 0m7stlcismo do amor e do sonho, em que se casavam e se
dadivl aVam/0d0S OS ardore8 e todas as P^ezas, uuma s
auiva plena, funda engolfante como uma onda celeste?
e bnl^6 e COm0 encontrar essas mythicas figuras de poemas
Flni! ',V1SOeS SUaves e misteriosas como as Beatrizes e as
esvaia ?Umnosas chymeras que, mal baixavam terra, se
svaiam deixando a saudade e a tristeza dos sonhos desfeitos?
V0 reluctar
sonho T ^ -Continuamente elle superpunha o
nho a.Vlda' vestia
de phantasia a realidade.
consta 1^ ag0ra
- Sobre eSSa gentil e va
^ desconhecida
"a todo um ingnuo e seduzente romance.
dour^reco^-t a fizera bella. P^ra, sentimental, plena de
Por7 ' resumbrante de mysterio e fascinao,
deSSa ima em
taria? g detida, quem sabe o que se occul-

tinctTvaa1VeaZue^~SerZnI10 VUlgar e
^^ Uma alma simPles e ^
dolencias oL^0 PO e arrebat SqUer sus eitar
P esse vasto mundo de
Podia Zl M amentos que elle lhe attribuira.
ia ser. Mas que importava isso? A sua entidade real
20 REVISTA DO BRASIL

a sua physionomia moral e psychica, no existiam para elle,


no as sabia, no fundo no as queria saber.
EUa era a creatura enygmatica e suggestiva, a apparencia
fugaz e doce que elle vestia do seu sonho, que elle povoava da
sua alma.
Vaga e afeioavel, elle animava-a, recreava-a, fazia-a sua,
e como todo creador formava-a sua imagem e semelhana.
Sonho e belleza, illuso e realidade, aspirao e intravi-
dencia, fundiam-se no seu espirito, numa s dramaticidade
intima, numa s entidade vaga, mysteriosa, que lhe arroubava
a alma.
Atravs delia toda uma immensidade mystica palpitava e
esplandecia.
Dr, ternura, anceio, saudade, desafogavam-se e exhau-
riam-se idealmente nella. Na prpria immensidade do sonho,
ella, a figura real, se apoucava e escurecia, incorporada e dis-
persa numa aspirao sem meta, numa ultra-terrena beatitude,
num extravasar d'alma que de si mesmo se paga e se enebria'
Durval sentiu envolvel-o e enleval-o a graa pura do so-
nho. Pareceu-lhe que nenhuma realizao, nenhuma estreita
aventura humana podia ir alm delle, approximar-se siquer da
sua fulgida beatitude.
Oh, a doce virtude, o dom divino da poesia e do sonho!
Que bem havia no inundo comparvel a esse? Era isso que elle
amava e queria em eterno, sobre todas as coisas, o mundo novo
que o attrahia e arrastava, a ptria ideal que elle presentia e
buscava atravs de todos os antolhos, de todas as apparencias
varias e fugazes, de todos os aspectos innumeraveis da vida e
da realidade.
Ao p delle, tudo o mais lhe parecia rudimentar e bronco
como um tosco simulacro, como um balbucio vo, como uma
argila vil e sem forma.
Sem elle, o mundo era momo e safaro, cruel e absurdo, um
monstruoso acervo de apparencias sem nexo, de frontejantes
inercias, de foras obscuras e adversas, em batalha. Acima dei-
las, radioso e immortal, transfigurador e divino, o sonho domi-
nava a vida, a matria, a immensidade.
Era elle que desentenebrecia a existncia, divinisava o cos-
mos, incutia s coisas a alma ardente, nuanada, profunda.
AO SABOR DO SONHO 21

Tel-o era senhorear o mundo, era possuir todos os bens


num s, indefinido, absoluto, ineffavel.
Mais do que nunca, Durval sentiu-lhe o invadente encanto,
a occulta e soberana magia.
Omnimodo e divino elle parecia fundir-se com a serena
belleza das coisas, viver na mystica amplido da alma, diluir-
se em harmonia e beatitude. Na sua pura gloria a gentil desco-
nhecida se transhumanava
Durval sentiu a doce victoria do sonho. Como uma aspi-
rao celeste, como um mytho que elle mesmo creara, Ella pai-
rou, abstracta e meiga, incontingente e pura, sobranceira
van realidade.
Assim sublimada, emanava delia inundando-lhe a alma e
renovando-lhe o mundo, uma intima belleza, uma satisfao
ideal e sem termo, uma serena e abenoada claridade. . .
E mais uma vez, Durval bemdisse o tnue e immenso qui-
nho que lhe tocara em sorte sobre a terra: o poder de sonhar,
e o condo de viver satisfeito e contente dentro do seu sonho. ..

JACOMINO DEFINE.
O DIALECTO CAIPIRA

Tivemos, at ha cerca de vinte e cinco a trinta annoa um


comeo de dialectao bem pronunciado, no territrio da anti-
ga provincia de S. Paulo. E' de todos sabido que o nosso falar
cmpira bastante caracterstico para ser notado pelos mais
desprevemdos como um systema distincto e inconfundvel
dominava em absoluto a grande maioria da populao e esten-
dia a sua influencia prpria minoria culta. As mesmas clas-
ses educadas e as pessoas bem falantes no se podiam esquivar
a essa influencia. Foi o que criou aos paulistas, ha j bastante
tempo, a fama de corromperem o vernculo com muitos e feios
vcios de linguagem. Quando se tratou, no Senado do Imprio,
de criar os cursos jurdicos no Brasil, tendo-se proposto So
Paulo para sede de um delles, houve quem allegasse contra
isto o linguajar dos naturaes, que inconvenientemente conta-
minaria os futuros bacharis, oriundos de differentes circums-
cnpoes do paiz...
Essa dialectao iria longe, se as condies do meio no
houvessem soffndo uma serie de abalos, que partiram os fios
continuidade da sua evoluo. Ao tempo em que o celebre
falar paulista reinava sem contraste sensvel, o caipirismo
nao existia apenas na linguagem, mas em todas as manifesta-
es da nossa vida provinciana. De algumas dcadas para c
tudo entrou a transformar-se. A substituio do brao escravo
pelo assalariado afastou da convivncia quotidiana dos
brancos grande parte da populao negra, modificando assim
um dos poderosos factores da nossa differenciao dialectal Os
genuinos caipiras, os roceiros ignorantes e atrazados, come-
aram tambm a ser postos de banda, a ser atirados mar-
gem da vida collectiva, a ter uma interferncia cada vez
O DIALECTO CAIPIRA 23

menor nos costumes e na organisao da nova ordem de


coisas. A populao cresceu e mesclou-se de novos elementos.
Construiram-se vias de conamunicao por toda a parte, inten-
&ificou-se o commercio, os pequenos centros populosos que
viviam isolados passaram a trocar entre si relaes de toda
a espcie, e a provncia entrou por sua vez em contacto
permanente com a civilisao exterior. A instruco, limita-
dssima, tomou extraordinrio incremento. Era impossvel
que o dialecto caipira deixasse de soffrer com to grandes
alteraes do meio social.
Hoje, elle acha-se acantoado em pequenas localidades que
no acompanharam de perto o movimento geral do progresso
c subsiste, fora dahi, na bocca de pessoas idosas, indelevel-
mente influenciadas pela antiga educao. Entretanto, certo
remanescentes do seu predomnio de outrora ainda flutuam
na linguagem corrente de todo o Estado, em luta com outras
tendncias, creadas pelas novas condies. Essas outras
tendncias iro continuando, naturalmente, a obra inces-
sante da evoluo autnoma do nosso falar, que persistir
fatalmente em divergir do portuguez peninsular, do portugue
clssico e at do portuguez corrente nas demais regies do
paiz. Mas essa evoluo j no ser a do dialecto caipira.
Este acha-se condemnado a desapparecer em breve. Legar,
sem duvida, alguma bagagem ao seu substituto, mas o pro-
cesso novo se guiar por outras determinantes e por outras
leis particulares. Desappareceu quasi por completo a influen-
cia do negro, cujo contacto com os brancos cada vez menor
e cuja mentalidade por seu turno se modifica rapidamente.
O caipira torna-se de dia em dia mais raro, havendo zonas
inteiras do Estado, como o chamado Oeste, onde s com
difficuldade se poder encontrar um representante genuno
da espcie. A instruco e a educao, hoje muito mais diffun-
didas e mais exigentes, vo combatendo com xito o velho
caipirismo, e j no ha nada to commum como se verem
rapazes e creanas cuja linguagem differe profundamente da
dos pes analphabetos. Por outro lado, a populao extran-
geira, muito numerosa, vai infiltrando as suas influencias, por
emquanto pouco sensiveis, mas que por fora se faro notar
mais ou menos remotamente. Os filhos dos italianos e dos
srios e turcos apparentemente se adaptam com muita facili-
24 REVISTA DO BRASIL

dade phonetica paulista, mas na verdade trazem-lhe modi-


ficaes physiologicas imperceptveis, que se iro aos poucos
revelando em phenomenos differentes dos que at aqui se
notavam.
O que pretendemos neste despretencioso trabalho (de que
pedimos excusa aos competentes) caracterizar esse
ialecto "caipira", ou, se acham melhor, esse "momento" da
dialectao portuguesa em S. Paulo. No levaremos, por isso,
em conta todos os paulistismos que se nos tm deparado, mas
apenas aquelles que se filiam na antiga corrente popular.
E' claro que no esta uma tarefa simples, para ser
levada a cabo com xito por uma s pessoa, muito menos por
um hospede em glottologia. Mas bom que se comece, e dar-
nos-emos por satisfeito se tivermos conseguido fixar duas ou
trs idas e duas ou trs observaes aproveitveis, neste
assumpto, por emquanto, quasi virgem de vistas de conjuncto,
sob critrios objectivos.
Fala-se muito num "dialecto brasileiro", expresso j
consagrada at por autores notveis de alm-mar; entretanto,
at hoje no se sabe ao certo em que consiste semelhante dia-
lectao, cuja existncia por assim dizer evidente, mas cujos
caracteres ainda no foram bem discriminados. Nem se podero
discriminar, emquanto no se fizerem estudos srios, positivos,
minuciosos, limitados a determinadas regies. O falar do
norte do paiz no o mesmo que o do centro ou o do sul. O
de S. Paulo no igual ao de Minas. Mesmo no interior deste
Estado se podem distinguir sem grande esforo varias zonas
dialectaes o litoral, o chamado "norte", o sul, a parte
confinante com o Tringulo mineiro. Seria de desejar que
muitos observadores imparciaes, pacientes e methodicos se dedi-
cassem a recolher elementos em cada uma dessas regies,
limitando-se estrictamente ao terreno conhecido e banindo por
completo tudo quanto fosse hypothetico, incerto, no verificado
pessoalmente. Teramos assim um grande numero de pequenas
contribuies, restrictas em volume e em pretenso, mas que
na sua simplicidade modesta, escorreita e seria prestariam
muito maior servio do que certos trabalhos mais ou menos
vastos, que de quando em quando se nos deparam, repositrios
incongruentes de factos recolhidos a todo preo e de generali-
zaes e filiaes quasi sempre apressadas. Taes contribuies
O DIALECTO CAIPIRA 25

permittiriam um dia o exame comparativo das varias modali-


dades locaes e regiones, ainda que s das mais salientes, e por
elle a discriminao dos phenomenos communs a todas as
regies do paiz, dos pertencentes a determinadas regies e dos
privativos de uma ou outra fraco territorial. Ento se saberia
com segurana quaes os caracteres geraes do "dialecto brasi-
leiro", quantos e quaes os "subdialectos", o grau de vitalidade,
as ramificaes, o dominio geographico de cada um. E ento
se teria dado um verdadeiro passo para o conhecimento da nossa
tenebrosa formao psychologica, passo cujas mltiplas conse-
qncias no ser necessrio esboar.

I. ALTERAES PHONETICAS
1.
1. Antes de tudo, deve notar-se que a prosdia caipira (tomando o
termo prosdia numa accepo lata, que tambm abranja o rythmo e
musicalidade da linguagem) differe essencialmente da portugueza.
O tom geral da palavra & lento, plano e igual, sem a variedade
de inflexes, de andamentos e esfumaturas que enriquece a expresso das
emoes na pronuncia o portugueza.

2. Os accentos em que a voz mais demoradamente carrega, na


prolao total de um grupo de palavras, no so em geral os mesmos
que teria esse grupo na bocca de um portuguez; e as pausas que o divi-
dem na linguagem corrente so aqui mais abundantes, alm de distri-
budas de modo diverso. Na durao das vozes livres igualmente differe
muito o dialecto: se, proferidas pelos portuguezes, as vozes breves
duram "um tempo" e as longas "dois", pode-se dizer, comparativa-
mente, que no falar caipira duram as primeiras dois tempos e as
segundas quatro.
Este phenomeno est estreitamente ligado lentido da fala, ou,
antes, se resolve num simples aspecto delia, pois a linguagem vagarosa,
cantada, se caracteriza justamente por um estiramento mais ou menos
excessivo das vozes livres. (1)

d) "Cantada" se lhe chama vulgarmente; mas preciso notar que ape-


sar disso multo menos musical do que aquella que no assim qualificada,
prosdia portugueza mais musical, porque comporta multo maior variabili-
aade de rythmos, de Inflexes e modulaes, destinados, jft a pr em relevo o
valor dos termos empregados, j& a dar phrase o colorido das emoes que a
acompanham. O sr. Sald Ali, no livro "Difflculdades da Lngua Port.", cap. I,
dedica um interessante estudo a este assumpto.
26 REVISTA DO BRASIL

3. Tambm decorre dessa mesma lentido, como um resultado


natural, o facto de que o adoamento e elliso das vozes livres tonas,
coisas communs na pronunciao portugueza, so aqui pheuomenos
relativamente raros. Com effeito, comprehende-se bem que o portuguez,
na sua pronunciao vigorosa e rpida, torture muito mais os vocbulos,
abreviando-os pelo enfraquecimento e suppresso das vozes tonas
internas, ligando-os uns aos outros pela absorpo das tonas finaes
nas vozes que se lhes seguem: aubradu, p'dau, c'ra, 'sp'ranca, titru,
d'hoj'em diante, um^ugust'assemblia. Da mesma fomja, comprehende-
se que o caipira paulista, no seu pausado falar, que por forga ha de
apoiar-se mais demoradamente nas vozes livres, no pratique em to
larga escala essas mutaes e ellises.
O caipira (como, em geral, todos os paulistas) pronuncia, em regra,
claramente as vozes tonas, qualquer que seja a posio das mesmas
no vocbulo: esperana, sobrado, pedao, coroa, e recorre poucas vezes
synalepha. Nos prprios monosyllabos tonos me, te, se, de, o, que, etc,
as vozes livres conservam o seu valor typico bem distlncto, ao contrario
do que succede com os portuguezes, em cuja pronunciao normal ellas
se ensurdeceram, assumindo tonalidades especiaes.
Pde dizer-se que no dialecto no ha vozes surdas: todas soam
distinctamente, salvos os casos de queda ou de synalepha. Dahi provm
o dizer-se que os caipiras "acoentuam todas as vogaes", o que falso,
mas explica-se. E' que no se leva em conta a durao relativa das
tonas e tnicas, a que atraz nos referimos.

4. No podemos, porm, attribuir inteiramente influencia da


lentido e pausa da fala essa melhor conservao das vozes livres
itouas, no dialecto.
O pheuomeno , naturalmente, complexo, e so complexas as suas
causas; mas impossvel negar que existe pelo menos uma estreita
correlao entre um e outro facto.

5. Seria, alis, muito interessante um estudo acu-ado das feies


especiaes da prosdia caipira, com o objectivo de discriminar a parte
que lhe toca na evoluo dos differentes departamentos do dialecto.
Chegar-se-ia de certo a descobertas muito curiosas, at no domnio dos
factos syntaticos. A differenciao relativa collocao dos pronomes
oblquos, no Brasil, deve explicar-se, em parte, pelo rythmo da fala e
pelo alongamento das vozes livres. (2) Esses pronomes, no portuguez
europeu, se antepem ou pospem a outras palavras, que os attrahem,
incorporando-os. Prosodicamente, no tm existncia autnoma: so
sons ou grupos de sons, destinados a addicionarem-se aos vocbulos
accentuados, segundo leis naturaes inconscientemente obedecidas

(2) Veja-se o notvel trabalho do sr. professor Said AH "Dltflculda-


des da Lngua Port.", cap. II.

O DIALECTO CAIPIRA 27

(enclise, proclise). Passaudo para o Brasil, a lngua teve que submet-


ter-se a outro rythmo, determinado por condies physiologicas e psy-
chologicas diversas: era o sufficiente para quebrar a continuidade das
leis de attraco que agiam em Portugal. O alongamento das vozes
livres, dando maior amplido aos pronomes na pronuncia, tornando
mais sensvel a sua individualidade, veiu accentuar, de certo, aquelle
offeito.

2.
6. Os phonemas do dialecto so pelo geral os mesmos do portuguez,
se no levarmos em conta as variantes physiologicas que sempre existem
entre povos diversos e at entre fraces de um mesmo povo; variantes
essas de que, pela maior parte, s6 a phonetlca experimental poderia dar
uma notao precisa. Cumpre, entretanto, observar o seguinte:
a) s post-vocalico tem sempre o mesmo valor: uma linguo-dental
ciciante, no se notando jamais as outras modalidades conhecidas entre
portuguezes e mesmo entre brasUeiros de outras regies; o s propria-
mente sibilante, assobiado, e bem assim o chiante, so aqui desconhe-
cidos. Para produzir este som a lingua projecta a sua ponta contra os
dentes da arcada inferior e encurva-se de modo que os bordos lateraes
toquem os dentes da arcada superior, s deixando uma pequena abertura
sob os incisivos: modo de formao perfeitamente igual ao de c em
cedo. (3)
b) r inter e post-vocalico (arara, carta) possue um valor peculiar
paulista ; uma linguo-palatal. Na sua prolao, em vez de projectar a
ponta contra a arcada dentaria superior, movimento este que produz a
modalidade portugueza, a lingua leva os bordos lateraes mais
ou menos at os pequenos molares da areada superior e vira a extremi-
dade para cima, sem tocal-a na abobada palatal. No ha quasi nenhuma
vibrao tremulante. Para o ouvido, este r caipira assemelha-se bastante
ao r inglez post-vocalico. E', muito provavelmente, o mesmo r brando dos
autochtones. Estes no possuam o rr forte ou vibrante, sendo de notar

(3) No portuguez ha dois sons de s : o reverso, "produzido com o bordo


anterior da ponta da lingua na parte interna das gengivas dos Incisivos supe-
riores" ( o s final de syllaba, como em mies) e o apical, produzido "com o
ftpice da lingua nas gengivas dos incisivos SUPERIORES " (s=:c, como em passo,
taco, saber, sapato). Esta a classificao do sr. Kibeiro de Vasconclloz, na
sua aram. Port. No Brasil tambm se distinguem dois sons de 8, embora o seu
niodo de producao, e portanto os seus valores, n5o sejam exactamente os mes-
mos que em Portugal. Para o caipira e, em geral, para os paulistas, s6 ha um
8
0 S = C, quer modifique voz anterior, quer posterior: caber, apato, catigo;
e o modo de producao desse som, que corresponde ao apical portuguez, differe
sensivelmente do deste, como se v pela descripo que fazemos no texto e pela
que faz o sr. Vasconclloz.
28 REVISTA DO BRASIL

que com o modo de produco acima descripto impossvel obter a vibra-


o desse ultimo plionema. (4)
c) A explosiva gutural gh tem uma tonalidade especial, sobretudo
antes dos semidiphtbongos cuja prepositiva u, casos em que freqente-
mente se vocaliza (u-ua, lu-ua = gua, lgua).
d) ch e } palataes so freqentemente explosivos, como ainda se
conservam entre o povo em certas regies de Portugal, no inglez {chief,
majesty) e no italiano (cieo, genere).
e) A consonncia palatal molhada Ih no existe no dialecto.

7. Os pbenomenos de differenciao pbonetica que caracterizam o


dialecto resumem-se desta forma :

VOZES LIVRES

As tnicas, em regra, no soffrem alterao. O nico facto impor-


tante a assignalar com relao a ellas que, quando seguidas de s ou z,
no final dos vocbulos, se diphtbongam pela intromisso de i: rapiz,
mis, pis, nis, lis (rapaz, ms, ps, ns, luz). (5)

8. Quanto s tonas :
Na syllaha postnica dos vocbulos graves, conservam o seu valor
typico. No se operou aqui a permuta de e final por i, que se observa em
outras regies do paiz (aquelli, sti) como no se operou a de o por u
ipovu, igu), pbenomeno este que se manifestou em Portugal, ao que
parece, a partir do sculo XVIII.
Nos vocbulos esdrxulos, a tendncia para supprimir a voz livre
da penltima syllaba e mesmo toda esta, fazendo grave o vocbulo
(ridico, ligite, cosca, musga, em vez de ridculo, legitimo, ccega,
musica ).
9. Nas syllabas pretonicas, alteram-se mais, como se ver das
seguintes notas:
10. e a) Inicial, apparece mudado em i nasal, em exame,
eleio, egual, exemplo e outros vocabs.: inzame, inleio,
ingu (1) , inzempro.
A nasalao de e inicial seguido de a? pbenomeno vellio da
lngua: enxame-<-examen, enxada-<-exada, enxui-

(4) E' claro que n&o fazemos questo da denominao, que poder ser
substituda por qualquer outra; aqui s6 nos Interessa o facto. Ao / port.
chama-lhe o sr. Vasconclloz ancipite reverso.
(5) O motivo da apparlco deste i que, como observa De Gregono
("Glottologla", cap. III), "dopoch emettiamo una vocale qualunque, e senza
interrompere Ia corrente dl arla rlmettiamo Ia lngua a suo posto. Ia comparsa
dl i dovr naturalmente segulre."
O DIALECTO CAIPIRA 29

t o -<- exsuctum Enxempro encontra-se nos escriptores do


tempo anterior aos clssicos. Do mesmo modo inlion (eleio).

b) Mediai, muda-se freqentemente em i (tisra, Tiodoro), sobre-


tudo se ha outro i na syllaba seguinte: pirigo, dilicao, minino, atrivio,
intilligente, pidi(r), iidi(r), pitio (assimilao regressiva).
Na pronuncia normal portug. tem-se dado, em taes casos, justa-
mente o phenomeno contrario (dissimilao), embora nem sempre se
substitua i por e na escripta: menino, preguia, vezinho,
menistro. O caipira ainda conserva, como remanescente do que
aprefldeu dos portuguezes, a este respeito, o nome prprio Vergilio, que
pronuncia com e.
Este pbonema perdura intacto nos derivados e nas formas flexio-
nadas, quando tnico nas palavras originrias : pretura, pretinha, prete-
jado, pedrento, medroso.

H- o Mediai, muda-se muitas vezes em u: tabuleta, cusinha,


dumingo, sobretudo nos verbos em ir, que o tm na syllaba immediata-
mente anterior tnica : ingul(r), buU(T), tuss(r), surti(r).
A possuir corresponde a forma dialectal pissu(T), que tambm
existe em gallego. (6)
Nos verbos em ar e er, conserva-se: co6r(r), corta(T), hroqueir),
intortir), soffr(r), pod(T). Conserva-se tambm nos derivados
e nas formas flexionadas, quando tnico nas palavras originrias:
locura, bogura, porcada, mortinho, rodro.
Conserva-se geralmente, aberto, nos diminutivos de nomes que o
tm assim: prtinha, ptinho, cbrinho (ao contrario do que se d em
outros pontos do paiz, notadamente em Minas, onde estes diminutivos
tm o fechado).
4

12. e (en, em) Inicial, muda-se em in: imprego, incurt(T),


insino, imborn (1).
Em inteiro e indireitar, ao contrario, depara-se s
vezes o t mudado em e {entro, endereit(T), provavelmente por assi-
milao regressiva. Alis, as formas enteiro, enteiramente,
endereitar, encontram-se em documentos portuguezes anteriores
reaco erudita.

13. o (on, om) Mediai, muda-se em Z, em lumbi (Ib) o, arnun-


(r), cume(r), cumpadre, cumigo, cunversa, ciime(T) e em geral
nos vocbulos cuja syllaba inicial co.

(6) Leite de Vasconcellos, "Textos Arcbaicos".


30 REVISTA DO BRASIL

GRUPOS VOCALICOS (ACCF.NTUADOS OU NO)

14. ai (diphth.) _ Antes da palatal co, reduz-se prepositiva:


laxo, baxro, faxa, caxa, paxo. (Cp. 15)

15. ei (diphth.) Reduz-se a quando seguido de r a; ou -


muro, araure, cUro, Pxe, <Uxe, aujo, MJo, intTraZ '' * ^ ''
Nos vocbulos em que seguido de o ou a, como ceio veia
tambm apparece s VeZes representado por : cUo, vl cu C^L
evoluo destas palavras no portuguez: ch e 1 o^-c h o^c h o
^-'cheno^pienum); v e 1 a ^-v 6 a ^ va etc.

(
melrfeml:X TCTo~ ^f^^ 0U
' ^^ **-

noJ: s^Smo^o T17 "^ " f^ ^ ^ ^ "


tal syncretismo no existe o. tf08 0U ' ^ Para 0 CaPra
anDarecpm ^ vocbulos onde esses dlphthongos

^ oir
0
joz*zrr,
lavolra t
a
^a,'"" -^is
toca, frxo, "-e "*"
trxa, has
nunca
toicinho, ito, afoito hiS^ "^ ^ 0S' n0te
' C0isa' OOe-
etc S*. h f ^coto, moita, e nunca dous, noute,

PuLeU prnelTlT' ^ rarSSmaS-8 A ^ ^ ^^


dos sons . /"ro.rre dT.TeT ^^ ^ ^ ^ deante

Se co^-aerr:; rrx.T^r6"0 tnico recae em ow este


'
m rn!\feome,
vtrsfe, f ^ ees ~ ^^ de ^CabulOS reduz-se a e grave; viaje,
corre.
Parece-nos Intil aocenf-no..
e em outras de Idntica er^ ^ f ^"^ ^rt^^ y^Sem
nasal graphado ^^7 .^ ^ Verdadeir0 di^0^
e^eodlpbtbongonasalo^^pl^1',^ ^ mesma forma f0rma
etc. ( b u ,

18 - (o) _ ., Na Drepo,lQ!1<> oo^ ^^ ^ ^

b) Nas palavras bom, tom e


to, so. som muda-se em o: Mo,
O DIALECTO CAIPIRA 31

19. io (hiato) Final de vocbulo, dlpbtbonga-se sempre em u:


paviu, tu, riu.

CONSONNCIAS

20. b e v Muda-se s vezes uma na outra, dando lugar a varias


formas syncreticas:

hurhia e vevia (borbulba)


hassra e vassra
herruga e verruga
Mete e vitc (bill.ete)
catortro e cavortro
jabuticaba e jabuticava
Pricicaba e Pricicava (Piracicaba)
mangaba e mangava (fructa)
bespa
vagao
bamo (vamos)

21. d Cae, na syllaba final do gervmdio: chegano = chegando,


an<iano = andando, Vt!no = vendo, cano, pono, e tambm no
advrbio quando, s vezes.

22. gh Quando compe syllaba com os semidipbtbongos ua, u,


ue, u, u, u, como em guarda, gua, tigura, sagi,
torna-se quasi imperceptvel, vocalizando-se freqentemente em u.
Neste caso, esse u diphtbonga-se com a vogai anterior, e o segundo u
continua a formar semidlpbthongo com a vogai seguinte: au-ua, tiu-ura.
su-ui.

23. 1 a) No final das syllabas, muda-se em r: quarqu, papr,


mr, arma.
Na locuo tal qual, cae apenas o segundo I, porque o primeiro
se tornou intervocalico: talequ. E' ainda digna de nota a locuo
adverbial malem (transcripta como se pronuncia), que quer diaer
"passavelmente", "soffrivelmente", "assim assim". Ter provindo de
malemal, ou de malamal, ou ainda de " m a 1, m a 1 ... " ?
(Fazer um servio moewd(l): passavelmente, antes mal que bem;
passar malem de sade: assim assim.)
As palavras terminadas em ai, ei, ... freqentemente apparecem
apocopadas: m, s, iorn = mal, sol, jornal. No inferir dahi
que bouve queda de l. Esse l mudou-se primeiro em r, e depois caiu este
phonema, de accordo com uma das leis mais rgidas, e mais facilmente
verificveis, da phonetica paulista. E' de notar-se ainda que a pronuncia
32 REVISTA DO BRASIL

em questo (m, s) mais commum entre os negros, que, submet-


tidos. em geral, ao imprio das mesmas leis, quando no mesmo meio,
no deixam entretanto de differir dos caboclos e brancos em mais de
um ponto.
b) Quando subjunctivo de um grupo, iguamente se muda em r:
eraro, compreto, cramir), fr.
Esta troca um dos vicias de pronuncia mais radicados no falar
dos paulistas, sendo mesmo freqente entre muitos dos que se acham,
por educai) e posio social, menos em contacto com o povo rude.
(Cp. 6-bi.
24. r a) Cae, quando final de palavra: anda, muic, esquece, subi,
vap, Arth.
Conserva se, entretanto, geralmente, em alguns monosyllabos accen-
tuados, tende decerto infludo nisso a posio proclitica habitual: dr,
cr, cr, par. Conserva-se tambm no monosyl. Atono por, pela mesma
razo, assim como, raras vezes, em palavras de mais de uma syllaba:
amor, suor. Nos verbos, ainda que monosyllabos, cae sempre, provavel-
mente pela influencia niveladora da analogia: v, , p.
b) Esta consonncia de extrema mobilidade no seio dos vocbu-
los, dando lugar a metatheses e hypertheses freqentssimas. (27, 1-j)

25. s Cae, quando final de palavra barytona: arfre ( a 1 f e -


r e s ) , pire (pires) , hamo (vamos) , imo ( 1 m o s ) .
Conserva-se nos adjectivos determinatlvos e nos pronomes, aluda que
barytonos, o que se explica, em parte, pela posio proclitica habitual:
duas cata, minhas fila, arguas pessoa, aquclles minino, ellcs, ellas. A
prova que, quando no est em prclse, freqentemente se submette
regra : <i'iiiillas so as MINHA, estas so SUA. Em parte, porm, essa
conservao se deve necessidade de manter um signal de pluralidade.
Voltaremos opportunamente a este ponto, que mais do dominio dos
phenomenos psychologicos na morphologia, do que de ordem phonetca.

26. Ih Vocaliza-se em : espaiado, maio, muic, /io=:espa-


Ihado, malho, mulher, filho.
Cp. o que se d com o l molhado em Cuba, na Argentina ( c a j e =
calle. cabajo = caballo) e na Frana, onde desde o sculo
XVIII comeou a accentuar-se a tendncia para a vocalizao deste
phonema (batie, Chantil = batallle, Chantilly).

3.
27. Alm das alteraes francamente normaes, que ficaram regis-
tradas, ha toda uma multido de modificaes accdentaes, de que dare-
mos alguns exemplos:
O DIALECTO CAIPIRA 33

a) abrandamento : guspe = c u s p o. musya _ m n s i c a.


E' de notar que nos esdrxulos ccega, nlfego e latego se
d o contrario: ccica (e coca), nfico, ltico.
b) assimUao progressiva: Carro = C a r 1 o s ; regressiva:
6irro = bilro; hispicio, imt>igo = \i os vicio, umbigo; ara, tsinha-
ra = oY&, senhora; osconc(i = a 1 c a n a r ; ci/udo, bbado, sbu-
do = cgado, bbado, sabbado; <ifirro = l i g e 1 r o (f/ palatal
explosivo = dg).
c) Apherese: (ap) parece, ii)magina, {ar)rependeu, (ar)raMca,
(a.)lamhique, (a\)gibra.
d) Syncope: ps(se)co = p s s e g o, i(t8(i)/a = in u s i c a, ep(i)-
rito, ca(s)tiar, Jer(ni)mo, ridic(nl)o.
e) Apocope: Ligite{mo).
f) Prothese : alembrd = 1 e m b r a r, avo = v o a r, arripiti = r e -
p e t i r.
g) Epenthese: rec-u-luta, Ing-a-laterra, g-A-ramini.
h) Epithese: palctor.
agardec.
i) Metathese: perciso, pertenc, purcisso, partelra,
aquerditir).
j) Hyi>erthese: agoro (algodo), cardao, chacoalha (r).
largato.

Devem meneionar-se ainda as formas procliticas:

de senhor nh, se, seu, s;


de senhora nh, se, sca, sa;
de minha mea (encontra-se em antigos dcs. da
lingua com as graphias mea, mha) ;
de sua sa.

No pretendemos abranger aqui, nem seria este o lugar prprio, to-


das as influencias modificadoras a que esto sujeitos os vocbulos. Mais
tarde teremos occasio de voltar ao assumpto.

AMADEU AMARAL.
POESIA
EDIPO

A PITEIA

"Repetiu-me Apollo o vaticlnio: que eu


seria o assassino de meu pae; e rei; e
marido de minha me, sem a conhecer;
e tronco de uma prole infame!..."
(SOPHOCLES. Edipo-Rei.)

Em Delphos. Com pavor, de p, no dito escuro,


Edipo escuta... O deus, rugindo de ira e ameaa.
Pela boca da Pithia em xtase, devassa
O tempo, e o arcano vu destrama do futuro:

" Rolars do fastigio ignomnia e desgraa!


" Rompendo de um mysterio o impenetrvel muro,
" Num solio ensangentado e num fhalamo impuro
" Gerars, parricida, a mais odiosa raa!"

E' a Esphinge, a gloria, o reino, o assassinio de Laio,


E o amor sinistro... Assim troveja a voz de Apollo
E enche o sacrario... O cu carrega-se de hruma;

Fuzila; estruge o cho; reboa no antro o raio...


E, emquanto Edipo tomba inanime no solo,
Sobre a tripode a Pithia, em baba, ullula e escuma.
POESIA 35

II

A E8PHINGE

"BemviruJo sejas cidade de Cadmo,


nosso libertador e nosso rei, que, com a
tua penetrao de espirito e o auxilio
divino, levantaste o tributo de sangue
que pagvamos & cruel Esphinge!"
(SOPHOCLES. Edipo-Bei.)

Perto de Thehas, junto a um monte, sobre o Ismcno,


guia e mulher, serpente e abutre, deusa e harpia.
Tapando a estrada, espera, aterrava e sorria
O monstro seductor, horrivel e sereno:

"Devoro-te, ou decifra!" Era fascinio o aceno;


A voz, morna e sensual, tinha affecto e ironia.
eu Graa e repulsa; e a luz dos olhos escorria
e Fluido filtro, estillando um prfido veneno.

Mas Edipo desvenda o enigma... Ruge em fria


O Grifo, e escarva o cho, bate contra o rochedo.
Rola em vascas, em sangue ardente a areia tinge,

E fita o campeador no uivar da extrema injuria...


E o Heroe recua, vendo, entre esperana e medo.
Rancor e compaixo no verde olhar da Esphinge.

III
JOGA8TA

" Trevas espessas! eterna, horrvel noite!


sou dilacerado pelo espinho da dr e pela
memria dos meus crimes!"
(SOPHOCLES. Edipo-Rei.)

Edipo v cumprir-se o orculo funesto:


Thebas entregue, em luto, peste que a devasta,
E, sobre o throno em sanie e o leito deshonesto,
Morta, infmia da terra e asco do cu, Jocasta.
36 REVISTA DO BRASIL

Louco, vociferando, erguendo a grita e o gesto


Contra os deuses, mordendo a poeira em que se arrasta,
O msero, medindo o parricidio e o incesto,
Quer da vista apagar a lembrana nefasta:

Os dois olhos, s mos, das orbitas arranca


Em sangue borbotando, em lagrimas fervendo,
Para o pavor matar na esmagada retina...

Mas, cego embora, v Jocasta hedionda, branca.


Enforcada, a oscillar, como um pndulo horrendo,
Compassando, fatal, a maldio divina.

IV

ANTIGONA

"Disse-me tambm o orculo que morre-


rei aqui. quando tremer a terra, quando o
trovo rolar, quando o espao brilhar. . . "
(SOPHOCLBS. Edipo em Colona.)

A terra treme. Rola o trovo. Brilha o espao.


Chega Edipo a Colona, em andrajos, immundo,
Sombra anciosa a fugir do prprio horror profundo,
Ruina humana a cair de misria e cansao.

Mas, quando o ancio vacilla, orpho da luz do mundo,


Antigona lhe estende o corao e o brao,
E, filha e irm, recolhe ao maternal regao
0 rei sem throno, o pae sem honra, moribundo.

E' o ninho (a terra treme...) amparando o carvalho,


A flor sustendo o tronco! Edipo (o espao brilha...)
Sorri, como um combusto areai bebendo o orvalho.

E' o fim {rola o trovo.. .)-a miseranda sorte:


O cego v, fitando o cu do olhar da filha,
Na cegueira o esplendor, e a redempo na morte.

OLAVO BILAC.
O "SALON" DE 1916

Nada menos de seiscentos e sessenta e um trabalhas cons-


tam do catalogo da XXIII Exposio Geral de Bellas Artes.
E ha ainda um "appendice"! Este sbito augmento da pro-
duco artstica nacional, que, primeira vista, deveria reju-
bilar toda a gente, no agradou a muitos e a alguns verdadei-
ramente escandalizou. E' que, pelos modos, a Commisso do
Salon, desejando dar ao publico, por occasio da celebrao
do centenrio do ensino artstico no Brasil, uma impresso
largamente satisfatria do que se tem aproveitado e cami-
nhado de D. Joo VI para c, resolveu afrouxar um tanto as
exigncias do exame e fazer vista grossa a certas vulgaridades
e deficincias, nos ltimos annos banidas do nosso certame
official. A ser assim e no queremos faltar ao respeito da
Commisso, mas parece-nos bem que foi seguiu-se, de certo
modo, aquelle critrio attribuido por G. Ferrero Allemanha
moderna, numa conferncia em que o illustre publicista estabe-
leceu a distinco entre o progresso quantitativo e o qualita-
tivo . . . Ora, aquelles que, no presente caso, defendem tal
orientao, allegam a necessidade da benevolncia, da bitola
baixa, para animao dos jovens artistas, a quem outros est-
mulos desgraadamente faltam numa terra e numa poca to
avessas a idealismos. Mas o effeito, se bem o reflectimos, antes
se nos afigura pernicioso. Porque, animando-se, com o jbilo
da exhibio, e porventura do prmio, os inexperientes ou mal
dotados cultores da Arte, nenhum servio til se presta mes-
ma Arte e evidentemente se concorre para que os outros, os
verdadeiros, os bons esmoream e desanimem. Ha sempre,
entre as obras expostas, lado a lado, alguma coisa de tradicio-
nal, de convencional, que as equipara, as irmana como dignas
vimas das outras. E o que a uns expositores enche de orgulho.
I
gg REVISTA DO BRASIL

a outros, por fora, ha de causar desgosto. Depois, a verdade


que o Salon no tem por fim especial encorajar, estimu-
lar quem quer que seja. A sua funco consiste, ou deve con-
sistir, acima de tudo, no julgamento dos trabalhos que lhe sao
enviados. Nos centros mais cultos, figurar num certame offi-
cial de arte representa, no a obteno dum favor ou incentivo,
mas a conquista duma justia irrecusvel. Est claro que nao
vamos ao extremo de recommendar ao nosso Jury o mesmo
rigor com que, por exemplo, os Artistes Franais recusam an-
nualmente milhares de telas, gessos ou mrmores; mas, dentro
da relatividade que as circumstancias impem, desejaramos que
a entrada nestas Exposies Gteraes no dependesse, em tao
grande escala, de condies alheias ao real valor das obras e
assim envolvesse, por si s, uma frma de consagrao.
No nos alongaremos, porm, a discutir uma questo que,
alm do mais, um facto consummado. Houve demasiada tole-
rncia - eis o que ningum pe em duvida - e no apenas em
relao ao mrito dalguns concorrentes, como tambm no to-
cante a regras ou praticas nestes casos estabelecidas. Assim,
por exemplo, se acceitaram quadros j vistos em exposies
particulares e at em estabelecimentos commerciaes. Franca-
mente, dar excessiva importncia ao lado numrico e minto
pouca ao lado do interesse. O Salon soffreu, por isso. O que,
porm, mais o prejudicou - sobretudo, se attendermos sua
feio histrica e commemorativa - foi a ausncia de vrios
mestres, cuja indifferena ou birra no tm, no caso, suffi-
ciente explicao. O sr. Visconti, por exemplo, no compare-
ceu; nem o sr. Belmiro; nem o sr. Rodolpho Bernardelli. O sr.
Henrique Bernardelli enviou os excellentes medalhes "a fres-
co" que se destinam fachada da Escola e que, distribudos
por duas sacadas, em cavalletes baixos e em locaes acanha-
dos, mal se deixam apreciar; e o sr. Rodolpho Amoedo apenas
concorreu com photographias das suas composies decorati-
vas para o foyer do Theatro Municipal. Escusado ser accen-
tuar a falta que estes gros bonnets fazem sentir ao publico
visitante; e bem se imaginam os commentarios dos maldizen-
tes e a indignao dos patriotas, para quem o facto respectiva-
mente significa que os "Velhos" esto esgotados e o paus mais
que perdido!
Dos medalhes da pintura, pois, s concorreu o sr. Joo
O "SALON,, DE llC) 39

Lucilio de Albuquerque: -- "Retirada da loaguna

Georgina de Albuquerque: Arvore de^Naal


O "SALON,, DE 1916 41

Baptista, infatigavel na sua paixo laboriosa e moralmente


obrigado a prestigiar o Salon, agora que a Direco das Bel-
las Artes lhe est confiada. As suas paisagens so technica-
mente impeccaveis. Nellas se patenteia uma factura paciente,
escrupulosa, sem arrebatamentos e sem xtases de maneira
a dar a impresso de que o mestre trabalha sobretudo com a
conscincia. Ns, que, em Arte como em tudo o mais, soffremos
de incurvel sentimentalismo, preferiramos obras menos corre-
ctas, em que accentuadamente transparecesse a emoo do ar-
tista, jbilo, magua, enthusiasmo, apprehenso ou lauguidez
sonhadora, deante do trecho de natureza que o inspirou. Isto,
porm, significa um reparo pessoal, sem nenhuma pretenso
theorica, doutrinaria; e de certo o que se nota nas paisagens
do sr. Joo Baptista, a impassibilidade da perfeio.
Ha, no Salon, uma "grande machina", a Expedio
Laguna, do sr. Lucilio de Albuquerque. A' frente de innumera
cavalhada, Garibaldi dirige a manobra do transporte dum dos
seus barcos, puxado, sobre eixos e rodas, a juntas de bois; ao
longe, vem outro barco, tirado pelo mesmo systema e seguido
doutros cavalleiros, a perder de vista; e ao alto, o co sereno
e luminoso sorri benignamente esforada aventura. Em ou-
tros quadros, bem menores e bem mais simples, tem o sr. Lu-
cilio conseguido affirmar melhor a sua individualidade. No
ha, porm, negar que desta audcia dum artista relativamente
m
oo, resultou uma obra que deve ser olhada com respeito e
francamente louvada. A perspectiva est estudada e obtida
dum modo j magistral; em alguns dos bois que puxam o
grande barco, v-se bem a contraco penosa do arranco, o
violento esforo da avanada... Emfim, o sr. Lucilio trium-
phou; e no foi sem justia que o Jury lhe conferiu a Grande
Medalha de Ouro. Sua esposa, a sra. Georgina de Albuquerque,
teve a Grande Medalha de Prata. E' o que se chama um casal,
mesmo em arte, feliz. A Arvore de Natal representa tambm a
obra maior e mais difficil at hoje emprehendida pela artista.
E num interior de casa burgueza, onde se rene, em torno do
pinheiro gentil, de variegados, luminosos fructos, um bando de
crianas; j muitas prendas foram distribudas; ao fundo, as
pessoas grandes contemplam a alegria dos pequeninos; e no
primeiro plano, ao canto da tela, ha uma moa ao piano e um
rapaz que enlevadamente a olha, como se, no rosto que resu-
42 REVISTA DO BRASIL

me aquelle ambiente familiar e festivo, visse todo o seu


futuro. Esta nota d ao assumpto uma particularidade tocan-
te; e algumas figuras, como a meninota que, de frente para o
observador, examina a nova boneca, sriazinba, compenetrada,
um tanto commovida, so, na verdade, interessantes. Um en-
tendido notaria talvez, no conjuncto, certa falta de harmonia,
de equilbrio; mas seria, talvez, uma simples impertinencia...
A sra. Georgina de Albuquerque no , neste Salon, a
nica artista victoriosa. Realmente, o bello sexo faz-se repre-
sentar, com brilho e dignidade. A sra. Fedora do Rego Montei-
ro que, ha pouco, nos chegou de Paris e fez uma exposio nu-
merosssima, onde no rareavam as bellas obras, obteve a Pe-
quena Medalha de Prata, com um retrato a pastel, acceito no
Salon des Artistes Franais. A sra. Adelaide Lopes Gonalves
que j ha dois annos obteve aquelle prmio, expe quatro "pas-
teis", reveladores do seu constante progresso, especialmente o
de titulo Bordando que, sem pretenso a retrato, surprehende
uma linda physionomia, nos seus traos delicados e na sua
fina expresso. No toucador o principal dos quadros expos-
tos pela sra. Sylvia Meyer, discpula do sr. H. Bernardelli e
cuja intuio artstica nobremente se vae assignalando. A ar
tista affrontou alli varias difficuldades, como o reflexo do
espelho, a variedade dos accessorios, a luz ambiente que
venceu com muita habilidade e espirito. Citaremos ainda, com
especial louvor, uma figurinha de creana (n. 339 do Catalogo)
que positivamente deliciosa; e mais no citamos, porque o
espao destinado a este artigo mal nos permitte fazer referen-
cia a uma obra de cada expositor que nos interessa. Mas, con-
tinuando: Da sra. Beatriz Pompeu de Camargo, ha, no Sa-
lon, nada menos de quinze trabalhos a leo e dois a aquarella.
Entre os primeiros, destaca-se o retrato Minha irm, executa-
do com uma espcie de ingenuidade sympathica e captivante;
e impressionam tambm de modo agradvel algumas paisa-
gens, pelas quaes se v como a artista interpreta delicada-
mente a natureza. A sra. Helena P. da Silva expe uma Cabe-
a de Expresso que realmente a tem. Ha uma esculptora
premiada, a sra. Hermelinda Repetto; na seco Gravura de
Medalhas, obteve a Grande Medalha de Prata a sra. Dinorah
d fimas Enas; e nas Artes Applicadas conquistou idntico
prmio a sra. Johanne Brandt, professora eximia, cujos traba-
O "SALON DK 1916 4H

o seu
tocan-
para o
etrada,
Jm en-
monia,
icia...
alon, a
repre-
Vlontei-
o nu-
a Pe-
LMto no
aalves
"pas-
lente o
ehende
/. Baptista da Costa: - Velhas mangueir
ia sua
expos-
delli e
A ar-
exo do
que
a, com
alogo)
rque o
eferen-
s, con-
no 8a-
arella.
cecuta-
vante;
paisa-
licada-
Cabe-
Iptora
ira de
inorah
lentico
traba- Marques Campo : - Uma nuvem
O "SALON DE 1916 45

lhos ha muito se tomaram notveis e so hoje imitados por


uma infinidade de discipulas. Talvez nesta apressada lista fe-
minina, tenhamos omittido alguns nomes... Perdo! Ko foi
propriamente por querer!
As obras do sr. Carlos Oswaldo occupam na Exposio
logar deveras saliente e honroso. So dez quadros a leo, onde
a technica do joven artista assume um raro caracter de perso-
nalidade, e algumas finssimas, preciosas aguas-fortes. Dos
trabalhos a leo, particularmente nos seduziu o Garoto, cuja
vibrante, comnumicativa expresso faz pensar na inspirao
milagrosa dum Velasquez e recorda, entre os modernos pinto-
res, o grande interprete de physionomias que Columbano.
Reconhecemos, porm, como mais valiosa a Sonata de Beetho-
ven, onde as duas figuras, a mulher ao piano dando embora
a impresso de ter os braos compridos de mais e o homem
abraado ao violoncello, compem uma scena intensamente
espiritual. Outro artista de singular temperamento o sr. He-
llos Seelinger que, occupado, durante o anuo, com trabalhos de
decorao fora do Rio, nos no offerece, infelizmente, as coisas
novas e fortes que delle se devem sempre esperar. Como obra
desconhecida, s nos d a fantasia allegorica Tormentum
belli, de arrojada concepo e phrenetico movimento. O sr.
Seelinger obteve, ha annos, o Prmio de Viagem; desta vez,
coube elle a um artista muito moo, o sr. Dias Jnior, em
quem mestres e crticos fundam as melhores esperanas. Inti-
tula-se Abel e Caim o quadro premiado e apresenta duas aca-
demias de adolescente, executadas com bastante segurana.
A
l>el, de p, a fronte erguida, o olhar extatico, agradece ao Se-
nhor o ter-lhe acceitado as offertas modestas; Caim, sentado,
as mos entre os joelhos, curte sombriamente o seu despeito
e
J talvez premedite o seu crime. Ha neste trecho paradisaco
um talude, indicativo, sem duvida, de quanto se achava, no
den, adeantado o servio de Obras Publicas... Mas o quadro
mteressa verdadeiramente, a serio; as figuras tm linha e tm
-xpressao; e os planos de paisagem succedem-se acertada e
harmoniosamente.
Era concorrente do sr. Dias o sr. Henrique Cavalleiro, outro
rapaz magnificamente dotado e como aquelle destinado a hon-
rar, um aj^ a pjntura brasileira. Entre os seus quadros, sa-
ueuta-se o retrato do sr. A. P. numa pose muito natural, com


46 REVISTA DO BRASIL

as feies caprichosamente modeladas; e Juventude, uma figu-


ra feminina, suave e sadia, sahindo dum fundo de larga folha-
gem, por traz da qual fulgura o sol. Este trabalho denota,
alm do mais, um gosto, uma comprehenso de belleza que no
so nada communs em tal edade. O sr. Oavalleiro conquistou a
Grande Medalha de Prata, como o sr. Pedro Bruno, de quem
admirmos, entre outras telas, a Noite de luar, cheia de po-
tico sentimento, com a sua luz aperolada fundindo-se no lilaz
da paisagem, a sua casuarina, o seu portal agreste, onde uma
figura de mulher parece possuda da belleza e da melancolia
que a rodeiam. Egual prmio coube ao sr. Luiz Christophe que,
em duas paisagens de Therezopolis, affirma, com superior en-
genho, as suas j reconhecidas aptides para o gnero.
Os quadros do sr. Antnio Rocco, s agora conhecido no
Rio, collocam-se entre os melhores da Exposio "Minatori"
Primeiros soccorros um trabalho que empolga a atteno do
visitante, pela factura larga, espontnea, vigorosa. Um oper-
rio, victima dum desastre, jaz por terra, sem acordo, morto tal-
vez; um companheiro, ajoelhado, examina-lhe o ferimento pa-
voroso; outros, de p, aguardam, compungidos e anciosos, a
revelao que aquelle lhes vae fazer... Sente-se em tudo aquillo
o pulso forte e desenvolto dum pintor de boa raa, educado em
boa escola. No se pode deixar de citar, do mesmo artista, a
tela Passano i Bersaglieri, onde, duma sacada, varias mulhe-
res do povo, bellas e robustas creaturas, contemplam, num mixto
de ternura e enthusiasmo, as tropas que, em baixo, devem ir
galhardamente desfilando. Tambm pela primeira vez expe
no nosso Salon, e com soberbo destaque, o sr. Henrique Vio que,
alm dalgumas paisagens de enrgico e vibrante colorido, nos
offerece uma figura de ancio, em suave repouso, tratada de
maneira a fazer lembrar os mestres antigos, cuja obra ficou
e parece sempre nova e um retrato do escrulptor F. C,
singularmente expressivo. No estrangeiro, mas educado na
Europa e ainda residente em Madrid, o sr. Leopoldo Gotuzzo
manda-nos sete obras dignas da melhor atteno, entre ellas
um JS/ de mulher, em que, tratando um modelo j longe da
primeira mocidade mas ainda perto da segunda, o artista con-
segue interessantes effeitos de carnao. A figura est meio
deitada num divan coberto de velludo verde escuro e descana
a cabea nas costas da mo esquerda; na cintura, desenham-
O "SALON,, DE 191G 47

T^ias Jnior : Abel e Caim fl^c/erse/?.-'Retrato do major}. C.

f\ntonio T^occo : 1 minatori


O "SALON DE 1916 49

se bem os refegos duma gordura que comea a pronunciar-se;


as pernas estendem-se numa sensao de preguia e abandono;
tudo est feito com propriedade e apparente facilidade; mas
onde o pintor deixou a melhor demonstrao dos recursos da
sua technica, foi no rosto, apanhado num ligeiro escoro e
modelado a preceito. A notar do mesmo artista, duas variantes
dum typo de velho alcolico e um Estudo de cabea (asso-
biando).
No Salon, abundam os retratos. O sr. Guttmann Bicho que
f
oi discpulo do sr. A. Petit mas est deixando de o parecer e faz
do retrato a sua especialidade, expe nada menos de sete, quasi
todos de homens de letras e nos quaes assignala a sua continua
emancipao e aperfeioamento. O sr. Ziliani, alm duma obra
oe combate social, Ouerra alia guerra, exhibe um auto-retrato.
eiI
i quatro interpretaes de luz artificial, trabalho bastante
curioso. O sr. Marques Jnior, que cultiva com particular
carinho e graa o retrato a sanguina, apresenta tambm um,
a leo, deveras aprecivel; e no retrato, brilham ainda os srs.
Alfredo Andersen, norueguez domiciliado em Curityba; Gaspar
Coelho de Magalhes, um dos melhores alumnos que tem tido
o mestre H. Bernardelli assim como, na paisagem, se distin-
guem os srs. Levino Fanzeres, que tanto aproveitou da sua
estadia na Europa; B. Pinto, Arthur Lucas, Raul Bevilacqua,
J^- tambm brilhante figurista; Marques Campo, Annibal
Mattos, Antnio Castanho, Edgar Parreiras, digno discpulo
^e seu tio; Miguel Capllonch, Joo Baptista Paula Frana,
iaulo Valle Jnior.
Na seco de Aquarellas, Pasteis e Desenho, o sr. H. Colom
surprehendeu grandemente aquelles que apenas o conheciam
como despretencioso, embora habilissimo, decorador. As suas
paisagens a aquarella encerram, alm de poderoso cunho indi-
idual, um toque de poesia que encanta. No houve, neste
certame, mais sensacional revelao. Doutros artistas que
uiais ou menos aqui se salientam, falamos j a propsito
a seco de Pintura. Mas seria grave injustia no mencionar
1
iluminuras, de seductora imaginao e peregrina graa de
composio, do sr. Correia Dias; as endiabradas, irresistiveis
c
arges do sr. Raul Pederneiras que no Salon defende os cre-
1
os da Caricatura; as paisagens a aquarella e a serio
outro afamado caricaturista, o sr. Vasco Lima; e os retratos
50 REVISTA DO BRASIL

<lo sr. Valle de Souza Pinto, cujo crayon pede meas aos mais
apurados e fieis.
A seco de Esculptura est, como sempre, numericamente
fraca. O sr. Rodolpho Pinto do Couto que, no nosso meio
artstico, occupa lugar distinctissimo e continua a no ser
pelo Jury sufficientemente recompensado, expe duas Cabeas
em bronze, as quaes, sem nenhum favor, devem ser consideradas
duas verdadeiras obras de arte. Sua esposa a sra. Mcolina Vaz
Pinto do Couto, tem, na Republica do Brasil, um bello traba-
lho em mrmore. Os srs. Antonino de Mattos, Antnio Pitanga,
Francisco de Andrade, Modestino Kanto, Jorge Soubre vo
(Unido cada vez melhor conta de si. Ha um novo de talento: o
sr. Paulo Mazzucchelli, discpulo do sr. Corra Lima. Podemos
passar Gravura de Medalhas e Pedras Preciosas, onde o sr.
Adalberto Mattos prmio de viagem em 1909 e actual professor
do Lyceu de Artes e Officios mantm a palma que, pelo menos,
nestas Exposies Geraes, parece ter-lhe definitivamente pas-
sado para as mos o seu insigne mestre Girardet. Vem depois
a Architectura, com vrios projectos acadmicos do professor
Ludovico Berna; alguns Estudos admirveis do sr. Victor
Dubugras; projectos do sr. Samuel das Neves... e nada mais.
Decididamente, os architectos fizeram greve. Na Gravura e
Lithographia, triumpha o sr. Carlos Oswaldo, j citado e faz
bem boa figura o sr. Argemiro Cunha. E chegamos finalmente
s Artes Applicadas, com a sra. Brandt, a quem tambm j
fizemos referencia, a sra. Marga Harier, as sras. Nazareth:
Marina, Alice e Aracy.
Eis o que tnhamos a dizer, nesta singela resenha que
absolutamente no aspira a critica e nem sequer visa foros de
boa reportagem. Em resumo: Um bom Salon, maneira
daquelle famoso poema

"que seria melhor, no sendo to comprido..."

JOO LUSO.
ios mais

cameute
?so meio
no ser
Cabeas
ideradas
liua Vaz
AFRANIO PEIXOTO
Io traba-
Pitanga, He fought his doubts and gathered streugth:
ibre vo He would not make his jugement blind.
ilento: o
Podemos Tennyson.
ide o sr.
professor
o menos, ^o ha quinze annos talvez, chegava ao Rio, vindo da pro-
v
nte pas- incia, um joven medico trazendo, pelo melhor da bagagem,
m depois lllna
infinita esperana.
professor Era um espirito brilhante, culto e subtil. Artista por tem-
. \'ictor peramento, cedia desde logo primeira gravitao implacvel
ida mais. ^ue era a de buscar a grande cidade onde se formam as repu-
ravura e taes e se alcana aquelle prazer, no raro amargo, de ser um
ido e faz o
s eleitos da boa popularidade.
nalmente Jlio Afranio Peixoto, trazia ainda occultas outras ambi-
mbem j es que ijjg parecjam ento ingenuamente avultadas. Ha pou
azareth: cos
^ias, em pagina de confisso ad familiares contava elle
sua sede de apparecer no velho rgo, no Jornal do Commer-
enha que ' subscrevendo um longo artigo. Imaginava com isso ter aos
foros de ^eus ps o mundo absorto. Mas, a grande cidade, cheia de
maneira Preoccupaes e empreitadas, no tem lazeres longos; os gran-
es artigos j no so lidos, guardam-se para amanhan como
s
negcios graves, ou entram naquella famosa definio que
eram de Racine: Cest coup sr, le plus grand des poetes
Won ne lit jamais.
USO. Eu o leria comtudo, porque sou um grande ledr, e por-
ine um casual encontro e approximao feliz de um momento
J me havia dado o instincto divinatrio de que tinha diante
niim um grande espirito.
Falta a Afranio, porm, a prolixidade que acaricia como
c a
va bastante para vencer os philisteus.
52 REVISTA DO BRASIL

Conheci-o em instante prematuro ainda, na alvorada d


eeu dia esplendido.
Outra ambio do Afranio era a de uma longa viagem s
terras de civilizao e ao oriente clssico. No queria o futuro,
sem essa precedncia retrospectiva; queria antes de tudo jun-
tar, trazer ao presente os deuses lares da tradio e do pas-
sado. Somos todos ns, emfim, da raa dos navegadores e tra-
zemos no sangue o appetite do priplo do mundo. Dentro de
ns todos ha uma voz longnqua da primeira metempsychose
que nos chama a regies longnquas. Eu, de mim, tambm
senti essa poesia e verdade, como um retorno ao seio mater-
nal; numa das minhas viagens escrevia eu a Souza Bandeira:
"O que eu sinto e me parece que no vim, mas voltei."
Essa reintegrao quasi normal nos americanos, impe-
rativa nos temperamentos artsticos.
Que queremos l, longe? Nem o sabemos.
Vagamente presentimos o sentido desse magnetismo. Po-
deria dizel-o Afranio, em quem se harmonizam a sciencia e a
subtileza, numa primorosa pagina se quizesse escrevel-a.

Jlio Afranio, para o convvio literrio da grande cidade


no trazia s comsigo o ornamento do rythmo e da poesia. J
no seria pouco. EUe era, de certo, um poeta pela intensidade
do sentimento, mas juntava a isso outros dons de graa, de
eloqncia, e de espirito.
E' difficil e rara, supponho eu, essa unio saudvel de
humour, de meditao e de sympathia. E mais difficil ainda
k o sentimento delicado da proporo e da medida; e claro
que no o alcanou de um lance. Pode todavia dizer com
Emerson: To ascend one step we are better served through
our sympathy.
O ambiente acaba cedendo a essa presso. Era pois de pre-
ver o seu triumpho.
***

O romance foi a primeira manifestao de valor de Afra-


nio Peixoto, e por onde fez o seu primeiro contacto com o
AFEANIO PEIXOTO 53

da d grande publico. Machado de Assis foi, delle como de todos ns,


- mestre admirvel.
em s A Esphinge foi acolhida com applausos, lida com avidez
uturo, e interesse e por milhares de leitores em uma terra onde, ao
o jun- Que dizem, pouco ou nada se l. E', certamente, um livro de
o pas- valor.
e tra- ; Mas, devo dizel-o, no traduzia ainda a sua inteira feio
tro de mtellectual como eu a havia presentido. No me dava a mim,
ychose julgando-a severamente, a impresso prpria e integral do seu
mbem caracter. Para um publico mais numeroso ou mais futil, era
mater- talvez o que convinha. Os primeiros livros raras vezes excel-
iei
deira: n, e so aventuras sempre arriscadas. Ha vontade de dizer
^udo e mesmo dizer de mais. O escriptor no quer ignorar o
se
impe - u publico, e os seus differentes pblicos; e assim no pde
evitar a tendncia do commentario, do arabesco e dos rendi-
hados que subvertem a symetria e a simplicidade das linhas
geraes.
o. Po-
ia e a Ha na Esphinge, mau grado a solidez do conjuncto, um
excesso de episdios esparsos, embora architectados com des-
cuidosa elegncia.
Um destes, entretanto, num capitulo remoto, fez logo en-
rever o grande veio de ouro, a verdadeira jazida preciosa que
veiu a
revelar mais tarde o auctor de Maria Bonita.
cidade ^o aquellas as paginas mais bellas da Esphinge e as mais
da. J commovedoras. Creio que um ou outro dos seus crticos des-
sidade co lu e
sse trecho primoroso, quasi pagina de reminiscencias,
a, de mais radiante e o mais communicativo do livro.
Alli que se sentia o temperamento ou o caracter verda-
vel de eir
o do romancista. O tempo veiu cedo confirmal-o. A Es-
ainda l lnge conta ainda com os seus leitores favoritos que lhe asse-
; oliiro gurani
um xito certo.
r com E
realmente o merece.
irougb
***
le pre-
O livro principal de Afranio sem duvida alguma o ro-
m
ance de Maria Bonita.
^nternecedora e profunda, de uma simplicidade elegante
Afra- ncantadora, do mesmo lance uma historia sertaneja e
a
com o ' ^ agora e de todos os tempos.
54 REVISTA DO BRASIL

E' o romance da Belleza, como ella , fonte de amor e de


morte, de exaltao e de crime.
E' eterna a sua philosophia. O mundo agita-se no meio
de ideaes contradictorios. A Belleza um Mal; vale tanto
como a Verdade, disse Renan o que talvez uma justifi-
cao dos seus malefcios. Sempre foi assim. Nem ao menos
tem ella a conscincia das desordens que semeia entre os
mortaes.
Dessa lenda ou verdade, intil discutir a veracidade ou
a evidencia.
O homem primitivo no compreheudeu jamais as catas-
trophes sociaes e polticas sem um crime de amor. A destrui-
o da civilizao asitica foi Helena; a da monarchia em
Koma foi Lucrecia, a da republica foi Cleopatra.
No Ramayana a formosa Sita; no Volsunga Saga Bry-
nhilda. E' da fogueira infernal da paixo, nos paizes de gelo
ou de sol que resultam todas as catastrophes.
A Belleza viciosa ou casta, santa ou impura, inconsciente
ou maligna, sempre ella a origem dos grandes flagellos.
"Elena vidi per cui tanto reo tempo si volse."
Dessa tradio, enraizada at o eixo da terra, que se
formou o thema j cristalizado em obras primas e sempre
novas da poesia universal.
Afranio no precisaria dos recursos clssicos para esse
thema universalmente humano. Elle, porm, um clssico.

Lde-o, se o no conheceis, este livro admirvel.


Maria Bonita no s uma jia preciosa da nossa lte
ratura; a mais bella alma da nossa paisagem americana.
Ao fechar o livro, sente se em toda a perspectiva, a sobrie-
dade das linhas, a perfeio, o concerto das partes que o com-
pe, a mo dextra e segura que o architectou, a imaginao
que o creou inspirando-lhe as palpitaes da vida.
Romance ou verdade? perguntamos na ultima pagina.
A paisagem illuminada e cheia de ar bem a nossa pela
colorao e fragancia da floresta nativa. Ainda hoje no se
apaga do meu espirito o leit motiv do rio que passa e da canoa
que desliza como atravessando aquelle scenario trgico, com
AFRAXIO PEIXOTO 55

a indifferena immoral da natureza, risonha e luminosa, a tes-


temunhar tanta tristeza humana.
Os prprios incidentes do livro concorrem, como brutescos
gothicos, pelo contraste, a engrandecer e a avolumar as lagri-
mas das coisas.
Era este o livro que eu esperava e previa do delicado
humour, da subtileza e da sympathia humana que caracteri-
zam o auctor.
Maria Bonita realiza a plenitude das suas qualidades de
observador da vida e conseguintemente do artista.
Parece-me agora que elle imagina talvez o reverso da me-
dalha, segundo aquella exegese de Horacio, demasiado sensual
para que mesmo em latim possa aqui ser transcripta.
Leiam-n'a no Don Juan de Byron que a repete ipsis lit-
teris.
Pois que nas mesmas Helenas e nas que no o parecem,
ha outros magnetismos estranhos e trgicos, sempre a mu-
lher, d vida ou morte, quem empresta vida s obras de arte
definitivas.
Maria Bonita at agora a obra prima do romancista.
***
Foi numa hora de lazer e desenfado, quando j senhor de
i, da segurana e intrepidez da sua penna, que Afranio Pei-
xoto pensou em escrever um livrinho para as escolas.
A escola entre ns uma espcie de mundo fechado aus-
tero, e exclusivo, onde no entra a graa gil e irreflectida da
juventude. E' assim ou qTierem que assim ella seja.
Fizeram-n'a, escola, um convento e um crcere, s alu-
miada por um fresta regimental em cujas reixas de ferro no
penetram seno as verdades e as mentiras convencionaes.
Data de sculos o usus delphini, a mutilao sacrosanta,
que se generaliza agora para alm da obscenidade literria at
alcanar a regio da historia.
O livro Minha terra e minha gente, sincero, franco, antes
optimista, leal e verdadeiro, pareceu a subverso da pedagogia
tradicional.
No se diz ao doente a doena desesperadora e incurvel.
E' certo. Mas onde que a creana um doente? no , antes,
o mais saudvel de todos os seres?
56 REVISTA DO BRASIL

Creio sinceramente que Afranio Peixoto no commetteu


ima mconveniencia. Pode ser que num ou noutro ponto, des-
ouido.sainente e sem faltar compostura que sempre uma das
feies da sua personalidade, dissesse mais do que convinha.
feei que a segunda edio do seu livro ter a menos mui-
tas coisas. E' este um signal de commedimento da sua auto-
crixici.
O que , todavia, certo e indubitavel que elle tocou em
um dos problemas mais srios da nossa educao civica.
Se necessrio fazel-a sem desanimo nem desconsolaes
neCeSSar0 fazela sem fraude e
embuste ^^ em calculado
A questo grave e merece toda nossa vigilncia. No
somos um paiz de saturao histrica onde o torvelinho das
paixes ja desappareceu por uma longa tradio da ordem,
bomos um paiZ ermo, favorvel tanto virtude como ao crime
e as suas attenuantes, terra de governos factcios, de habitan-
ZlT X' Ildfferena g^al. Temos que reclamar novas
^egras e attudes diversas mais adequadas ao improviso per-
petuo da nossa situao.
im JL1108? peclasoSia' como a nossa poltica, no pde ser
impunemente copiada dos catecismos exticos.
P n^T6?0 tle Saber 0 que devemos ensinar
uma questo,
gUe,n I,de Pedir
de vista "^ Privilegi0 do ^u ponto
E nem ha esse dogmatismo ferrenho nos paizes cultos.
vaS Pli,nr)gr-'SS(Vla consciencia histrica faz-se por successi-
nessas " a<'!0eS prVle ios e da
g convenincias. Ha pouco,
vmo 1 T eSCOlaS' a reli^i0 d0 estad0 ^a um exclusi^
vi.mo, hoje, uma tolerncia ou coisa nenhuma.
tra nrecon ^ ' "^ 9ente no um livro herrimo con-
im Hbelln r^'^? ^ eSCrpt0 COm a vehemencia que teria
um libello. E' absolutamente falso, dizel-o.
grac^ n^r1!* ^^ daS C0Sas (d8se ^^ com eterna
S E J n T^ algUma con^erao. E' bom respei-
to nas coisas
unao . 0 "^ ^ meUtra C0I1Vem dar-lhe am ^
co? humanas.

***
AFRANIO PEIXOTO 57

Devemos pensar como Lessing e comprehender a necessi-


8. tlade de que os homens saibam onde o patriotismo cessa de ser
um
LS a virtude.
Ao meu vr, o vicio comea quando entramos a hyperbo-
lizar as nossas boas probabilidades ou quando as sujeitamos
a um eclipse desnecessrio.
O dr. J. Kpke, educador emrito e de autoridade reconhe-
cida, parece ter adoptado a doutrina perigosa e mals das
reservas mentaes e da falsificao pelo silencio.
A sua critica a Minha terra e minha gente de Afranio Pei-
xoto absolutamente falha e contradictoria, e o que peior,
ado o seu prestigio, um conselho involuntrio de abastarda-
mento do caracter infantil, o que, digamos desde logo, no
Podia estar na sua inteno, nem nos seus princpios.
A fora mais til da educao o habito ou o costume.
' a tradio do vicio ou da mentira uma das foras mais
rebeldes extirpao. E' do seu e do meu tempo, a lepra da
escravido e a fora maior que a sustinha era a da inrcia. A
os ns que nascemos no meio delia, o monstruoso crime pa-
ia coisa natural, como aos prprios negros o parecia. Nunca
i mais difficil tarefa aos abolicionistas que criar a indigna-
o, A ternura e a inconsciencia da poca infantil acompa-
, nhavam o homem e o embalavam na illuso do crime at a
idade madura.
fsto ser talvez excellente para viver, para entrar na vida
ciai sem complicaes. Mens sana in corpore sano. A sade
0
espirito deve ignorar os enredos tenebrosos que o cercam.
randum est, como comea o aphorismo tomado a Juvenal.
Ias, no pde ser. Grave ou leve, a ignorncia sempre
uma enfermidade.
O dr. Kopke na sua critica d lies de composio lite-
rria: o livro necessita de calor, estylo, graa, vigor, mais en-
siasmo, mais dramaticidade na exposio, etc. Parece que
e excessivo da sua parte e da sua qualidade de mero pedagogo
ainda que illustre, chamar a contas um escriptor de fina repu-
tao, como Afranio. Aqui, seria prefervel ficar calado. Tal
por exemplo o teor desta phrase incomprehensivel para quem
conhea os dois auctores:
Quiz o dr. A. P. ser simples e grave como convm a um
58 REVISTA DO BRASIL

historiador, e, para tal, fez-se frio e concentrado quando


quente e expansivo que age sobre as creanas."
Quando o critico fala da "narrao secca e fleugmatica
da Minha terra e minha gente" a impresso que tenho a de
que absolutamente no leu o livro, ou leu-o ao acaso, e de traz
para diante. E alis neste mesmo trecho o critico denomina
a obrinha de Minha gente e minha terra.
Isto no succedeu, de certo, bem se v. O livro, porm, a
quem quer que o leia, d a impresso que foi fundido de um
jacto e, de tal arte, que os seus defeitos so de meras rebarbas
e asperezas que naturalmente vo desapparecer na edio
prxima.
Os homens de idas preconcebidas so sempre crticos
mesquinhos.
A critica do dr. J. Kpke foi infeliz e contraproducente,
pois que transformou a sua equao pessoal em lei para todos
os temperamentos.
Sem duvida, todos ns queremos como queriam os gregos
nos seus gymnasios que fossem os jovens kals h' agaths, na
belleza dupla da fora e do espirito. No ha alicerces do meio
para o fim e nem ha que pedir aos homens feitos a demolio
das patranhas que lhes insinuaram na infncia. Que estranho
methodo!
O dr. J. Kopke sabe muito bem que desde Joo VI o gran-
de imprio geographico, fundado na America, exigiu uma hy-
perbole correspondente nas coisas moraes, tendncia j obser-
vada pelos historiadores; e dahi essas extravagncias e exag-
geros de grandeza que at hoje perduram.
Na literatura didactica de outros paizes encontramos os
mais vehementes libellos contra os defeitos nacionaes 1).

0) Oito aqui apropositadamente o de um "educador" e "me-


dico", o dr. Langermann. Bastaria citar os capitulos "Alkoholismus",
"Tuberkulose", "Lues", "Nervositat", etc. So coisas mais hedion-
das que as verdades histricas da "incapacidade eleitoral" ou da
"caudilhagem" ou das "olygarchias".
Os norte-americanos por vezes supprimem o capitulo da "guerra
da seccesso" para evitar a tradio do dio de raas. Afranio com-
metteu, de certo, um erro falando da questo de raas no Brasil. B'
uma suppresso que se impe no seu livro. Com boa vontade e menos
malcia o dr. Kopke descobriria outras mais ou menos censurveis.
AFRANIO PEIXOTO 59

Devemos ser indifferentes ao preconceito do povileo (Fo-


lo
rurteil der Vlkerschaft, na expresso de Lessing sobre os
excessos do patriotismo) ; a ethica social est acima de todos
os interesses politicos sem excluir os da educao como entre
ns existe.
Minha terra e minha gente sem embargo da critica que
despertou e talvez com algum auxilio delia, abriu caminho e
no precisa, pois, de outra apologia. E' um livro de combate e
a
<lo bom combate.
im
as
o
Concluo com estas reflexes o breve e imperfeito esboo
que fiz da individualidade de Afranio Peixoto. Elle princi-
palmente um temperamento literrio, um espirito culto, sub-
t e elegantssimo. Nas suas paginas j agora duradouras,
definil-o- melhor o tempo, sempre propicio s justias defi-
nitivas.
Sinto, porm, que fui incompleto. A personalidade do
os
artista e a do homem douto tem aspectos mltiplos que esca-
na
eio pam minha frgil competncia de juiz.
E nem eu sou juiz. Sou o velho mestre inhabil que vae
;o
tesapparecendo com a tranquillidade e a alegria dos que pas-
iho
sam acreditando num futuro melhor para a terra commum.
an-
JOO RIBEIRO.
hy-
ser-
ag-

os

me-
us",
ion-
da

erra
:om-
. B'
nos
FACTOS E IDEAS

ORGANISAO NAVAL
A FUSO DOS QUADROS

O problema mais importante, dos que exigem, actualmente,


immediata soluo em nossa Marinha, a "fuso dos qua-
dros", isto , a organisao de um QUADRO NICO, composto com
os actuaes officiaes "de Marinha" reunidos aos "engenheiros
machinistas", sahidos todos da mesma Escola Naval, com o
mesmissimo curso.
Para melhor orientar os leitores, direi que na organisa-
o da Marinha Nacional, o seu pessoal dividido em seis Cot-
pos: "da Armada", "de Machinistas", "de Sade", "de Com-
missarios" e de "Engenheiros Navaes".
Os Corpos da "Armada" e de "Machinistas" so oriundos
da Escola Naval.
Os Corpos de "Commissarios" e de "Sade", so consti-
tudos mediante concursos exigindo-se mais, dos mdicos e
pharmaceuticos, o respectivo diploma por uma das nossas
faculdades.
O Corpo de Engenheiros Navaes preenche os seus claros
com Officiaes de Marinha, mediante concurso.
A "fuso" dos officiaes de "Marinha" com os "de Machi-
nas", no um problema novo nem exclusivo da Marinha
Brasileira.
Todas as foras navaes do mundo, soffrem as conseqn-
cias da evoluo extraordinariamente rpida do material
a bordo dos navios das esquadras modernas.
FACTOS E IDEAS 61

Isso obrigou-as a uma cada vez maior atteno para os


estudos da metalurgia, da mecnica, da electricidade, etc. e
uahi a uma crescente "especialisao" do seu pessoal.
Antigamente os navios militares exclusivamente vela
entravam em combate sob o commando dos "nobres" ou mi-
litares de terra e no dos homens do mar, que os dirigiam e
cuja misso limitava-se ento s manobras nuticas propria-
mente ditas: As galeras romanas abordavam-se e a lana e o
chuo decidiam da aco...
S no fim do sculo XV Henrique VII deu o nome de
Officiaes de Marinha" aos "mestres" que conduziam os
navios.
E s no reinado de Elisabeth, no fim do sculo XVI, que
estes "profissionaes" da vida do mar, foram nomeados "cap-
ains", exercendo o commando dos navios no mar na paz
- na guerra, no mais sujeitos aos "nobres", ou a qualquer
0
tente, utra autoridade, temporria, durante os combates.
qua- Em nossa Marinha, como em todas as outras Armadas, a
com PPario do vapor veio surprehender o pessoal marujo na
ais
eiros completa ignorncia de tudo quanto se relacionava com
a
om o mecnica.
O mesmo succedera nas velhas marinhas europas, nas
misa- es os "lobos do mar", os grandes chefes marinheiros, julga-
Cot- uma verdadeira deshonra" dirigir "carvoeiros", como
s
Com- classificavam os novos navios movidos a vapor ou que
a
m apenas uma pequena machina auxiliar das velas.
mdos Mas nada pde resistir invaso da "luz divina", que
na das sciencias e das artes, fructos do gnio humano, revo-
onsti- onando usos e costumes e diffundindo a civilisao.
cos e . tempos que j l vo, os boteiros do Weser quebraram
ossas avio a vapor de Denis Papin e os operrios de Lyon des-
am os teares mecnicos de Jacquard...
laros co + sempre a lucta intil do carro de boi desesperado,
ntra o caminho de ferro triumphante...
[achi-
rinha

quen- tev f0m OS ProSressos ^a metallurgia e da mecnica, a gvea


terial ann orosameilte que dar lugar machina; os complicados
Parelhos dos navios vela foram substitudos por mastros
1

62 REVISTA DO BRASIL

singelos, para fixao dos "paus de carga", ou das platafor-


mas guarnecidas com artilharia de pequeno calibre; e, mais
tarde, com "antenas" de telegraphia sem fio... E o vento dei-
xou de ser o agente propulsor, que passou a ser o vapor gerado
nas caldeiras...
Desta maneira, o "Marinheiro", propriamente dito, aquelle
que fazia profisso exclusiva da direco do navio e da ma-
nobra dos seus apparelhos (mastros, vergas e velas), desappa-
receu quasi inteiramente.
Ao mesmo tempo os progressos da artilharia, o seu alcan-
ce cada vez maior e preciso de tiro; os servios de elevadores
de munio; os machinismos de movimentos das torres e de carga
e manobra dos grossos canhes, etc, etc.; os modernos torpedos,
tubos de lanamento e apparelhos de pontaria; os submarinos
e os seus complexissimos machinismos, etc. etc. transformaram
o nauta em um verdadeiro "machinista" pois cabrestan-
tes, guinchos, servo-motores (para o movimento dos apparelhos
de governo do navio), canhes, torpedos, machinas de compri-
mir ar, thermo-tanques (machinas frigorficas para refrigera-
o dos paioes de munio, etc), no so seno formas varias
da "machina" sob seus mltiplos aspectos.
Nesta conformidade, do velho nauta propriamente dito,
restava apenas a "navegao" complicada, embora, pelas
grandes velocidades dos navios modernos, mas simplificada
pelos novos chronometros, sextantes e agulhas e pelos novos me-
thodos, cada vez mais fceis e mais fidedignos, na determinao
do ponto da posio do navio, no mar.
O espirito rotineiro, que benevolamente classificamos como
"espirito conservador", das velhas marinhas, atadas por inaba-
lveis "tradies", tem impedido a revoluo imposta s novas
organisaes navaes.
Em sua bellissima these "fuso e especialisao", diz o
meu brilhante collega Brito e Cunha que "logo que o vapor
substituiu o vento e que ao lado da machina foi o navio inva-
dido pela electricidade, os americanos sentiam, com grande cla-
rividencia e preciso, "a necessidade do marinheiro mecnico".
Os fundamentos da nova organisao dos quadros da Mari-
nha Americana, diz elle, ficaram assentados desde 1864. A Es-
cola de Annapolis, como a nossa, formava ao mesmo tempo
"machinistas" e "officiaes de marinha".
FACTOS E IDEAS 63

Em 1889 estabeleceu-se nos Estados Unidos que todos os


ito dei- Aspirantes fossem educados pelo mesmo molde, durante os trs
gerado primeiros annos, separando-se os cursos (de "machinas" e "ma-
rmha") s posteriormente, notando-se que cada um desses cur-
aquelle sos inclua um resumo das matrias ensinadas no outro.
da ma- A bordo, nos dois annos de applicao que completavam o
esappa- rocinio, era adoptada a mesma orientao.
Em todas as marinhas do mundo a desigualdade de cultivo
i alcan- de origem tem dado lugar a lastimveis desconfianas e des-
^adores mtelligencias entre officiaes "de marinha" e "machinistas",
e carga como dera antigamente razo a iguaes conflictos entre "pilo-
rpedos, os
' e officiaes sabidos da nossa velba Academia de Marinha.
tiarinos
Ns no escapmos a essa infelicidade e s depois de ver-
maram bos "machinistas" e officiaes "de marinha" sabirem da mesma
trestan-
^n*e a Escola Naval tivemos a ventura de vr desappare-
arelhos C1
das semelhantes "desconfianas e desintelligencias". E desde
compri- que a origem e conhecimentos scientificos identificaram-se, ne-
Crigera-
ouiua razo mais poderia ser capaz de determinar sentimentos
varias
l11^ no fossem os da ba camaradagem, da confiana e do
Preo, entre officiaes "de marinha" e "machinistas" da mesma
;e dito, asse social e com o mesmo preparo tecbnico.
pelas
Muitas das attribuies que antigamente eram exclusiva-
ificada
ente dos "machinistas" e constituam verdadeiros "segredos
vos me-
Profissionaes", esto hoje sendo brilhantemente desempenhadas
inao x
clusivamente por officiaes de "Marinha".
s como Os leitores da Revista do Brasil podero julgar das
z
inaba- oes em que eu me apoio, quando souberem que os nossos sub-
3 novas ersiveis as jias da nossa Armada esto hoje inteira-
mente entregues aos brilhantes officiaes "de marinha" que os
commandam e dirigem sem "machinista" a bordo.
, diz o
vapor As torres dos nossos couraados complexos de machinas
o inva- . ressantissimas esto hoje, igualmente, entregues aos offi-
ide cla- _ es "de marinha" que as manobram! Haver machinas mais
anico". iadas do que as dos nossos modernos torpedos automveis?
-No "D ~
Mari- " .fois nao so officiaes "de marinha" os torpedistas?!
A Es- No se fundiu no mesmo Corpo de Marinheiros Nacio-
tempo naes, os "foguistas", os "artilheiros", os "telegrapbistas", os
escaphandristas", os "torpedistas", os "signaleiros"? Porque
n
ao fazer a mesma cousa com os Officiaes?!
64 EEVISTA DO BRASIL

Alm de tudo, acontece que o novo regulamento da Escola


Naval em vigor prev essa "fuso" e a nossa actual orga-
nisao naval no d outra fonte para o recrutamento de offi-
ciaes machinistas!...
Porque, pois, hesitar em normalisar uma situao de
fado j existente, e dar esse grande golpe na rotina conser-
vadora? Porque insistir em querer dois quadros de officiaes
"de marinha',' e "machinistas" excessivamente grandes para
a nossa pequena Esquadra, se hasta um delles para a mais com-
pleta satisfao dos servios, desde que seja devidamente orga-
nisado e secundado por um Corpo de Mecnicos que j existe
precisando apenas maior desenvolvimento technico?
No somos ns, na Marinha "artilheiros", "torpedistas
especialidades adquiridas em nossas magnficas Escolas Profis-
sionaes para Officiaes e Marinheiros TODOS D'UM CORPO "NI-
CO"? No existem realmente, no Corpo de Machinistas, as espe-
cialidades de "caldeiras", "motoras", "auxiliares" e "electri-
cas", constituindo todos, no entretanto, UM MESMO CORPO?
e "mineiros", "telegraphistas" e "submarinos", divididos por
ESPECIALISE-SE, POIS, O CORPO NICO!

Confirme-se a extinco do Corpo de "Machinistas", dan-


do-se desenvolvimento nova "especialidade", numa Escola
Superior de Machinas, para officiaes e accommodando-se com
este intuito o regulamento da Escola Naval.
E, depois, chegados aos postos de mais de quatro gales,
concorram todos ao Almirantado, mediante um curso de qua-
tro mezes em cada uma das nossas Escolas Profissionaes da
Armada, seguidos de um anno de estudos na Escola Naval de
Guerra!
Que passo daramos para a frente!
Que colossal economia para o Thesouro Nacional no en-
cerra esse pequeno punhado de medidas!
Isso to claro! Ser impossvel resistir antipatriotica e
cegamente a um ideal que marcha victorioso pela estrada larga
do Bom Senso, satisfazendo aos mais altos interesses do doe
Brasil!
A fuso e a especialisao dos quadros da Marinha
aguardam apenas um gesto nobre do Congresso Nacional para
darem todo o resultado til que prevemos para o futuro da
FACTOS E IDAS 65

Armada Nacional, qual sobram todos os elementos intelle-


ctuaes e moraes para poder competir com as mais adiantadas
marinhas do Mundo!
Que esse "gesto" no tarde, pois!

FREDERICO VILLAR.
CapItSo de Corveta

A
PROPSITO DA CONFERNCIA ALGODOEIRA

Varias coisas indicam neste momento um reactivo forte


a vida econmica nacional: o movimento em torno do car-
ao brasileiro, o inicio da exportao de carnes congeladas,a
Procura das madeiras, a alta do algodo, as medidas para
extinco das sauvas, o Congresso do Milho, em Bello Hori-
onte, e de Pecuria no Rio Grande, e finalmente a Conferncia
A1
godoeira.
A crise trouxe-nos a conscincia exacta da nossa situao
0
Brasil resolveu agir, firme e forte. Tarde, mas ainda a
. P0- O governo federal e alguns governos dos Estados esto
. numa attitude resoluta de aco, e ao lado delles as associa-
s
do commercio, industria e lavoura, todos num esforo con-
gado. Haja vista a ultima conferncia realizada entre os
rectores dessas classes e o chefe da Nao, de que j os jor-
aes notjciaram og (jetajjjeg Haja vista a formao do coope-
ivismo nos Estados, a convocao da Conferncia das Tari-
para Setembro prximo e a unio de esforos do poder
s
ativo e o do executivo para a economia e cumprimento
nossos compromissos externos. No momento actual, se dor-
rnios, somos tragados. Comprehendemos isto. Acordamos a
cenapo.
Ias o de que vamos falar hoje da Conferncia Algo-

dr. Miguel Calmou comprehendeu muito bem que faria


^ grande servio Nao, sendo o chefe de um movimento
k
^ e sentido. Encetou a propaganda em fins do anno passado,
gora o trabalho chega ao seu apogeu.

I
66 REVISTA DO BRASIL

Abre-se a 1. de Junho a Conferncia. Cerca de trinta the-


ses esto escriptas, estudando os vrios assumptos relativos
ao algodo. Autoridades reconhecidas trouxeram o seu con-
curso. Governos estaduaes e municipaes accorreram a prestar
mo forte ao tentamen. O Governo Federal d todo o prestigio
ida, promettendo pr em pratica o que fr deliberado pela
Conferncia. Uma exposio se far, em que sejam postas em
relevo as faces todas do problema, e onde os competentes e os
interessados encontrem campo para os estudos e deduces con-
cernentes a algodo brasileiro.
J na Exposio Nacional de 1908 vimos o que a indus-
tria da nossa tecelagem. O Brasil comprehendeu que tinha uma
riqueza a zelar.
Agora vamos proteger a planta e tratar do seu cultivo e
desenvolvimento. O grande Estado de S. Paulo mostrou desde
logo o seu empenho em cooperar para o maior brilho desse ten-
tamen. Emquanto os outros Estados reservaram de 30 a 60
metros quadrados de espao nas salas da Bibliotheca Nacio-
nal, para a exposio de suas fibras e plantas, S. Paulo pede
300 metros e projecta j uma segunda exposio de tecidos
para o anno prximo.
Vamos, pois, fazer umas rpidas consideraes sobre este
magno problema e passar em revista alguns factos que devem
ser estudados neste momento.

Na situao actual do Brasil, e da America Latina otn


geral, muito serio o conjuncto de problemas sociaes e eco-
nmicos, que se impem nossa considerao.
Por um lado, isolados do grande centro productor de capi-
tes e energias a Europa, devastada pela guerra, cir-
cumscripta hoje defesa de suas fronteiras ameaadas simul-
taneamente de todos os lados, onde cada grupo tenta a con-
quista dos mercados e da hegemonia universal, pelas armas,
estiolando ahi as suas foras e retirando de ns os auxlios e
as iniciativas; por outro lado, confinados numa educao roti-
neira e na carncia de recursos, para tentar a nossa emanci-
pao, a America do Sul, e o Brasil de preferencia, se sentem
como que desnorteados neste furaco geral que vem abalando
o mundo ha perto de dois annos.
PACTOS E IDEAS 67
the-
tivos Acostumados a receber o dinheiro e o brao do Occidente,
a a ro
con- P visionar-se alli do necessrio para a vida, os povos
star ^vos, quer da America, quer da frica ou da Oceania, colhi-
8
tigio de surpreza nesta luta, vm-se a braos com uma crise ful-
pela auora, de capites e manufacturas, com que a sua vida se
; em mha sombra das riquezas accumuladas da Europa, e
e os je vao escasseando, dia a dia, proporo que o duello
a
con- l ascende na sua marcha assustadora.
P^rallelamente, escassa para ns esse elemento primor-
idus- de Progresso o brao civilizado,
uma ^rojectemos um olhar sobre o futuro.
guerra avana no seu scenario incandescente,
vo e ezeseis milhes de homens j esto fora de combate. Du-
esde s e oitenta mil contos por dia se consomem no morticnio
geral.
ten- coniIn
a 60 ti 1 ercio universal, paralyzado. O incndio a devorar
acio- usinas, homens, campos, cidades e capites.
pede computo final desta tragdia, pde ser expresso num
nico termn. -i
icimo. o anmqmlamento! ^ .
ndos
0 guando o ultimo canho soar nas collinas do Occidente,
este Qp . naes conductoras do progresso humano estar
jvem os ^0' prostrado Pela fadiga e pelo esgotamento. Ento, sobre
^ . 0mbros da Europa, se ir de novo reerguer o mundo des-
eSSe ra
os ^ balho levar meio sculo. Sero precisos todos
CUrs s
pat . P ^a fortuna publica e particular, para reedificar o
OIUo
rot criminosamente desbaratado em fogo e sangue. E
os cofr
eco- Ca es, devastadas as cidades e usinas, assolados os
e Vas os os
terr ^ lares, com os mares ermos de navios e a
gos a einpobrecida de homens, que nos poder advir de l? Lon-
capi- 0S sero
seu Poucos para cicatrizar as feridas e cuidar do
cir-
reStabeleCmento
imul- vital ' tal como 0 doente q116 rene o fluido
Para reviver das suas cinzas.
con-
mas, loch iada potleremos esperar de l. Pelo contrario, j o Mo-
uerra n
ios e VTP + + ^ os levou grande parte dos braos validos, que
roti- furando lentamente,
anci- seiva l am reco^ll^(ios os cordes da bolsa que alimentava a
Dtem rican porcos, e j se fala na mobilizao de capites ame-
11ma
ando a vid i bomba aspirante, vae-se drenando de ns
a ente
locad ^Ue OS caPitaes europeus nos trouxeram. E col-
5 llesse
transe, para quem appellar?
68 REVISTA DO BRASIL

Para ns mesmos! Para a reserva das nossas energias.


Para as nossas terras, para a nossa intelligencia e o nosso
brao!
Temos, verdade, a America do Norte, para nos empres-
tar os capites e nos fornecer do conforto que a Europa nos
retirou. Mas quem pode prever o que ser amanhan o problema
norte-americano, em face do drama actual? Para que esperar
do vizinho, se podemos agir por ns? O capital americano ha
de ser sempre caro e no precisa expanso. Sobra-lhe o campo
em casa. A prpria Europa bate-lhe s portas, pedindo-lhe
dinheiro, armas, manufacturas, alimento. Por que preos nos
ho de vir s mos o que reclamamos, o que o nosso conforto
exige? No nos illudamos. E' cuidando de ns mesmos que ha-
vemos de fazer face crise. E' explorando as nossas jazidas de
carvo e ferro, que ahi se ostentam cubiosas; fomentando
a pecuria e enriquecendo os nossos campos de boa criao,
para que a carne no se exgote pela suco europa; incenti-
vando a lavoura sobre todos os seus aspectos, do ensino, do
credito, do transporte, do intercmbio fcil e da exportao;
saneando os campos da praga de animaes damninhos, que
enfezam o gado e destroem as plantas; promovendo coope-
rativas, bancos, congressos agrcolas; finalmente, ensinando
a arte moderna do trabalho intelligente e mecnico; abrindo
novas fontes de renda, e trabalhando com afinco, que havemos
de collocar-nos altura dos nossos destinos.
J ahi temos o caf e a borracha. Cuidemos em mais
outros ramos. Se esses peccam pela superproduco, creemos
novas culturas e novas industrias.
As vias de communicao j penetram pelo interior, indo
buscar o producto da terra longnqua. Paremos nesse afan.
Cubramos de renda essas estradas que nos custaram suores de
sangue. Os portos esto abertos. Levemos-lhes gneros, para
movimental-os. As linhas centraes correm parallelas: cruze-
mos entre ellas as estradas de automveis. O protecciouismo
creou a industria fabril: consolidemos essa industria, dando-
lhe vida prpria, aperfeioando os processos e barateando a
matria prima. Para isso, preciso a instruco, o esforo e
a iniciativa conjugada.
Um povo, como diz Listz, s independente, quando, ao
FACTOS E IDEAS
69

lado de um grande territrio, ten. mna agricultura, um cdigo,


uma literatura e uma industria.

^Ze-Cio. Ma. tod "T ^^^r^Z -d:


agricultura. Creemoa ""^J^" *Z Antea a ve.luaa-
mos proporo da nossa iique^. ^ lograram o
como aVgiaterra, a Allemax^a e^J^a ^l^r^ o
proteccionismo, quando as suas ^dustrias estaca ^
l producto precisava de expanso^s 1*^* l ar 0
tria creada com esse regimen: a fabril. ^noB, p '
partido que nos cumpre ^sse avano e -^^^^
nacional, de forma a termos em casa os recui ,
vida.Entre essas industrias hoje P-^peras. ten.os como a pim
cipal a de fiao e tecidos, que representa hoje " ^Pltal ^
leita.el, e uma somma de trabalho realmente ^no^.Jecon
siderarmos o numero de famlias ligadas a ^^^^
capital nella mobilizado, o brao nacional ^^^-^
que dahi advm ao patrimnio brasllfr0' P^^^da no
algodo e o seu mltiplo beneficiamento, at ^a jf^^
commercio, bem como a renda de impostos ^^ della ^^
a Unio, os Estados e os municpios, devemos conclun que m
longe estamos de uma emancipao salutar.
E diante desse vulto que vae tomando tal ^trm con^
eluimos que criminosos seriamos a nossos propnos O^ se
no cuidssemos de accelerar essa emancipao, que se avismha.

Passemos uma rpida revista na nossa industria de


tecidos. TT.ail com um
Trezentas e trs fabricas "-cionam o ^J/no
capital de trezentos e oitenta mil .f^^^'^do Se-
annualmente duzentos e oitenta mil contos e emprega
tenta e sete mil operrios. d
Para fazermos um calculo aPProximad%f n "J^ que orga-
fibra e a cada Estado da Unio, tomemos ^e <P-dr0 *** 0rg
nizou o Centro Industrial do Brasil, recentemente.
-

70 REVISTA DO BRASIL

Num." de Capital Produco Ope-


fabricas rrios
H Alagoas 10 5.585:000$ 5.900 000$ 2.010
Bahia 13 20.514:000$ 15.418 000$ 5.505
Cear 10 2.440:000| 2.620 990
Districto Federal .. 35 101.248:000$ 69.870 000$ 14.035
Espirito Santo 3 1.290:000$ 1.100 000$ 230
Maranho 13 12.670:000$ 10.480 000$ 3.870
Minas Geraes 59 23.942:000$ 20.445 000$ 8.048
Parahyba do Norte.. 1 1-700:000$ 1.800 000$ 580
Paran 8 685:000$ 612 173
Pernambuco 9 19.550:000$ 15.950 000$ 3.720
Piauhy 1 1-100:000$ 1.100 000$ 300
Kio Grande do Norte 1 2.800:000$ 720 000$ 280
Rio Grande do Sul.. 12 9.135:000$ 10.095 000$ 2.582
Rio de Janeiro 27 50.540:000$ 33.700 000$ 7.991
Santa Catharina ... 15 1.752:000$ 1.382 000$ 463
So Paulo 78 117.032:000$ 85.1Q7 200$ 23.590
Sergipe 8 8.449:( 6.300 000$ 2.979

303 380.432:000$ 282.689:950$ 77.346

Como do quadro acima muitas fabricas no se atem s ao


algodo, e exploram tambm os tecidos de juta, l, seda e
linho o Centro Industrial chegou ao seguinte resultado: pro-
duco desta ultima espcie 40.790:000$, distribuda pelos Es-
tados de Bahia (1.118:000$), Districto Federal (7.900:000$),
Maranho (700:000$), Minas Geraes (445:000$), Pernambuco
(950:000$), Rio Grande do Sul (5.095:000$), Rio de Janeiro
(4.200:000$), Santa Catharina (82:000$) e So Paulo
(20.300:000$); produco de tecidos de algodo nos 17 Esta-
dos 241.899:000$000. O consumo de algodo em rama para
essas fabricas de 47.801.000 kgs. No tm industria de tece-
lagem Matto Grosso, Goyaz, Par, Amazonas. Todo o algodo
consumido pelas fabricas acima de produco nacional. O
Brasil no importa algodo em rama. Pelo contrario, exporta
em grande escala. Pelos dados da Estatstica Commercial, a
nossa exportao tem sido a seguinte, a partir de 1902:

ll
FACTOS E IDEAS 71
7

Toneladas Valor total Valor por kilo

1902 32.137 10.701:352| $757


1903 28.235 11.765:910$ $944
1904 13.262 7.364:728$ 1$233
1905 24.081 10.290:790$ $710
1906 31.668 14.726:492$ $790
1907 38.036 15.417:841$ $981
1908 3.565 1.832:514$ $924
1909 9.968 5.260:551$ $947
1910 11.160 7.932:732$ 1$206
1911 14.647 8.713:568$ 1$004
1912 16.774 9.221:294$ $928
1913 37.423 20.512:711$ $925
1914 30.434 16.556:096$ $928
1915 5.223 2.550:856$ 1$051

Como se v, j uma contribuio respeitvel para o nosso


patrimnio publico. Se longe est do caf e da borracha, que
enriquecem o errio nacional, o primeiro com uma media que
oscilla a partir de 1905 entre 324 a 700 mil contos e o segundo
em igual periodo de 113 a 377 mil contos, devemos convir que
j um contingente animador e nos promette um mundo de
esperanas, em face do consumo sempre crescente da fibra e
da nossa produco que se desenvolve accentuadamente de
annos para c.
Um calculo recente fez ver que dos 1.500.000.000 de habi-
tantes da terra, a metade semi-vestida e 250.000.000 ainda
no usa roupas.
Como a civilizao tende a vestir essa massa que ainda
est no periodo primitivo, a escala do consumo de tecidos tende
a subir sempre.
Em 1913-1914 o consumo mundial do algodo foi de
27.703.000 fardos pesando cada um 227 kgs., ou sejam 6.288.581
toneladas. Cinco annos antes, em 1908-1909, a produco foi de
22.271.000 fardos, e em 1903-1904, isto , um lustro atraz, fora
de 17.015.000. O augmento por quinquennio, pois, attingiu em
media a 27 por cento. O preo do algodo tambm elevou-se nos
ltimos annos, em conseqncia da procura sempre crescente.
Assim, o producto americano valia em 1894 no mercado
72 REVISTA DO BRASIL

de Liverpool 660 ris, cada kg., ao cambio de 12 d.; de 1899 a


1903 o preo foi de 954 ris; de 1904 a 1908 elevou-se a 1|017 e
de 1909 a 1913 attingiu a 1|256.
O Dr. Pereira Lima, quando divulgou estes dados na
S. N. de Agricultura, trouxe realmente um argumento poderoso
para o facto. Temos assim provado com a mathematica que o
mundo vae absorvendo mais algodo, proporo que os annos
passam e a humanidade augmenta em conforto.
De facto, esta preciosa fibra um companheiro insepar-
vel do homem, em todas as suas phases.
E' do algodo que a humanidade tira o agasalho contra o
frio e as intempries, e se cobre para apparentar a decncia
social. E' o leito, onde dormimos; a cordoalha, a vella do
navio, a alcatifa, o envoltrio, o arminho que pensa as feridas
nos hospitaes, o scenario dos theatros, a emballagem dos
productos da terra. Delle se faz hoje tecido quasi igual seda
na finura e no relevo e j delle os sacerdotes antigos da ndia
e do Egypto vestiam os seus paramentos e os reis orientaes os
seus trajos nobres. Hoje elle est disseminado por toda a terra,
e veste o rico e o pobre, a dama e a serva, o operrio e o burguez.
E a cambraia, a baptiste. a tule. o gorguro, a ganga, a
chita. No s ahi. E' tambm o algodo-polvora, de prodigioso
effeito explosivo, que as artes bellicas utilizam, e ainda o
algodo-nitratado da industria til. Assim, est elle nas artes
da paz e da guerra; para construir e para destruir; para o bem
e para o mal.
No temos culpa que os homens utilizem a ingnua natu-
reza, para effeitos damnosos. Tambm o aeroplano est servindo
para destruir os homens e o submarino est devastando as ma-
rinhas mercantes...
Mas retomemos o fio. A preciosa malvacea que o algodo
vae entrando tambm noutros domnios do bem estar humano.
O seu caroo vae sendo cada vez mais aproveitado para a indus-
tria, como precioso alimento e condimento das perfumarias.
Nos Estados Unidos havia j em 1903, 98 companhias pode-
rosas, com 232 moinhos de moer essa preciosa semente, extra-
hindo delia leos, pastas e farinhas no valor de 125.000.000 de
dollars. A prpria casca aproveitada para o fabrico do papel.
Se calcularmos agora que a industria algodoeira arrasta
comsigo a do polvilho, e que as nossas matrias corantes espe-


FACTOS E IDEAS 73

ram ser aproveitadas para as tinturarias, hoje privadas das


nilinas allemans; que as florestas esto cheias de essncias
tintoriaes inexploradas, e que o fabrico do papel se implanta no
Brasil, exigindo os refugos do algodo; que cerca de 250.000
pessoas j vivem dos salrios ganhos pelos 77.000 operrios
fabris, e que para produzir 75.000.000 de kilos de algodo uma
considervel massa de populao rural recebe o seu conforto;
se considerarmos tudo isso, e mais, que as terras do Brasil pro-
duzem o algodo desde o Amazonas at Santa Catharina em
condies iguaes ou superiores aos principaes paizes algodoei-
ros do mundo, temos a medida exacta da importncia ,desta
industria, que deve constituir um pivot da nossa vida, ao lado
do caf, da borracha e da pecuria.
Esperemos pela reaco, que comeou com as declaraes
da plataforma do actual presidente da Republica e se concretiza
agora na aco da Sociedade Nacional de Agricultura, de cujas
luzes e patriotismo muito esperamos.
Acordemos.' Ainda tempo!

LINDOLPHO XAVIER
"

O PROBLEMA MUNICIPAL
DO PONTO DE VISTA AMERICANO

[De uma conferncia realisada no Gr-


mio Polytechnico, a 6 de Setembro)

Est, de novo, na berra o problema municipal. Est, ou finge


estar. No Congresso Federal vae aecesa a discusso em torno de um
projecto de remodelao do Conselho Fluminense. No Estadoal tam-
bm foi roto o costumado silencio a propsito de nova modificao
no processo de escolha do executivo Paulistano. Corre a tinta a tal
respeito, com fartura, pelas columnas da imprensa das duas capi-
tes. No fundo, porm, ficar tudo como d'antes. So simulacros, nSo
realidades, referentes ao problema.
E' elle, comtudo, dos mais importantes. Pol-o em logar de des-
taque a constituio de 1891, garantindo a autonomia dos munic-
pios. E de todo evidente a necessidade de que a franquia conferida
seja bem aproveitada. "As cidades, dil-o Malthie, so centros de
influencia para o bem como para o mal. Pela sua industria, commer-
cio, sciencia, cultivo, intellectualidade, conduzem ellas o mundo e em
grande parte lhe determinam o destino. Se a sua gente corrupta,
immoral, ignorante, depravada, fica por ellas contaminado o corpo
inteiro da nao. Se a sua administrao ce em bancarrota, corre
perigo o estado, seja em virtude da massa da prpria populao que
representam ou, ainda, porque a conducta do paiz inteiro se deixa
affectar profundamente pelas ms condies dos agrupamentos ur-
banos. "
Ningum melhor collocado do que o conhecido autor para enun-
ciar a proposio. Os Estados Unidos do Norte, sua ptria, batem
nesse particular a culminncia do que pde ser imaginado em matria
de desgoverno e corrupo. Quando Bryce publicou a sua obra mo-
numental, em 1888, referia-se ao caso nos termos mais cathegoricos.
"No ha negar que o governo municipal seja a mais assignalada fal-
lencia da America. As lacunas do governo da Unio no tm grandes

I
O PROBLEMA MUNICIPAL 75

responsabilidades nos males de que soffre o bem estar da populao.


E as culpas dos Estados so meras insignificancias se as comparar-
mos com a extravagncia, venalidade e desequilbrio que caracteri-
sam a administrao da maioria das grandes cidades." Nas mais pe-
quenas mesmo, accrescenta no ser necessrio recorrer ao micros-
cpio para observar os resultados do alastrar de to peonhentos
germens.
No ser talvez esse, a rigor, o aspecto do problema Brasileiro.
Outros pontos o approxlmam entretanto, vamos vel-o, e to intima-
mente, do aspecto da questo no norte do continente; o exame dos*
dados que alli se apresentam de tal modo suggestivo quando os enfi-
leiramos ao lado dos que nos dizem respeito; que difficll se torna
resistir tentao de estabelecer o parallelo, de procurar isolar os
elementos mais decisivos, pol-os em relevo, determinar-lhes a influen-
cia, o alcance desta, as modificaes teis e possveis de que so sus-
ceptveis.
Sem de modo algum pretendermos generallsar, parece-nos que o
primeiro resultado de um esforo nesse sentido seria o reconhecimento
da coexistncia de um grupo de condies idnticas. B communs a
toda a America, no apenas ao Brasil e aos Estados Unidos. Socieda-
des novas as de todas essas naes, no perodo da adolescncia quan-
do muito, compostas por elementos de Immigrao, heterogneos e de
opportunidades de fortuna rpida, bruscamente mutveis, sem o freio,
o temperador da cultura anterior nem da tradio organisada, a for-
mao dos seus agrupamentos communaes deveria forosamente dar
logar a concepes anlogas de poltica administrativa, ao appareci-
mento de ideaes semelhantes, l pratica de erros equivalentes. A copia
da frma constitucional ir favorecer ainda a tendncia creao
do typo, no qual a differena de estructura social abrira fronteiras
secundarias entre as varias espcies.
Seja ou no verdadeira a observao, exista ou no o typo do
"problema municipal Americano", a ponta do veu que vamos tentar
levantar sobre o dos Estados Unidos e sua evoluo, posterior ao
tempo em que Bryce o julgava com tamanha mas to justa severidade,
deixa entrever um quadro cujo proveito se nos affirma incontestvel.
Servir, pelo menos, para mostrar, sob figura precisa e concreta,
qual o processo de que deita mo uma democracia, a mais velha d
nosso continente, para sanar males to graves que pareciam, de co-
meo, incurveis. E', a falta de melhor, um consolo, uma esperana,
nesta poca de descrena, iudifferena e torpor nacionaes, em que
vivemos.
Lio, ou balsamo apenas, ter no seu activo uma vantagem
certa. Foge das abstraces que custam sempre to caro aos que
dellas despertam. No sae do campo das noes praticas e comesi-
nhas. No representar um simulacro. Esboar uma realidade.

li

76 REVISTA PO BRASIL

*
* *

Poderia, em primeiro logar, ter dado o problema municipal, nos


Estados Unidos, ensejo a soluo menos viciosa do que a j aqui
apontada?
Para responder, com clareza, interrogago, examinemos qual
a questo a resolver. Acha-se ella perfeitamente enunciada nas linhas
iniciaes do ultimo relatrio da capital da Pennsylvania. Eil-as: "Pre-
zado leitor Faa-me o favor de esquecer que est com um docu-
mento official deante dos olhos. Leia estas paginas como se foram
a exposio dos esforos, tentados por uma dona de casa, tendo tido
em mira o tornar Philadelphia o melhor logar do mundo para vir
morar. E, de facto, este volume no mais do que o balano animal
de uma criadagem de 4.000 empregados municipaes, ao servio de
uma famlia de 1.600.000 municipes."
Haver alguma differena entre este objectivo e o que assume,
moral e materialmente, obrigao de satisfazer uma grande socie-
dade anonyma de servio collectlvo como, por exemplo, a nossa Com-
panhia. Paulista? Nenhuma. Somente em circumstanclas anormaes,
que reflectem um vicio dos termos da concesso ou uma m com-
prehenso dos seus prprios interesses, se d o caso de se encontra-
rem estes os da empresa em conflicto com os do publico.
Afastadas essas causas de erro. acham-se collocados os municipes,
como os accionistas que recebem uma delegao da communldade
mediante certas clusulas, em frente necessidade de pr em aco
o trabalho de grande numero de assalariados de modo a garantir a
vida, a propriedade, a economia e conforto da populao. So esses
os dados fundamentaes.
Como procede o accionista que significa, portanto, para o caso,
um municipe duplamente zeloso? Escolhe um grupo de nomes para
a gesto superior dos seus interesses. D preferencia aos mais recom-
mendaveis pela prudncia e tino, pela experincia e xito j provados
em commetimentos parecidos, pela grande somima de capital empatado
em ttulos. Pouco se lhe d o que qualquer delles pense a respeito
dos negcios pblicos em geral. Presidencialista, eleger um parla-
mentarista; livre-cambista, dar preferencia a um proteccionista; o
que procura no director o atilamento. Se a poltica alguma vez in-
flue na sua deciso para pol-a ao servio dos seus interesses imme-
diatos, nunca para collocar estes na dependncia daquella. Acha elle,
no seu raciocinar simplista, que as opinies partidrias nada tm que
vr com o conseguir fazer andar os trens com regularidade, sem des-
carrilamentos, permittindo a distribuio de dividendos. Tal qual
como o municpio pode ter boas estradas, ruas bem dispostas, cala-
das e limpas, gua potvel em quantidade e esgotos sem darem exha-

Ife
O PROBLEMA MUNICIPAL 77

laes. qualquer que seja a maneira de vr do intendente a respeito


da "diviso dos poderes" ou da neutralidade no conflicto europeu.
Como procedem, por seu turno, os directores? Dividem entre si
os assumptos que devem ser resolvidos, para que cada um estude e
informe os collegas sobre o que melhor conhece. No se occupam,
porm, dlrectamente na superintendncia dos servios technicos. Vo
para isso procurar a competncia que lhes podem offerecer os profis-
sionaes de officio que contratam como inspector geral, chefe de linha,
chefe de locomoo, chefe de escriptorio, chefe de trafego e caixa.
Consultam cada um dos responsveis, ouvem aquelle que d unidade
de aco a todos os repartimentos do conjunto, e em seguida delibe-
ram como julgam conveniente. E a responsabilidade a base do sys-
tema. Sempre que ella observada e respeitada, anda tudo direito.
O que no d conta do recado f' eliminado. No reeleito o director,
sente-se mal e pede demisso o inspector, despede o chefe da loco-
moo o machinista pouco cuidadoso.

E' exactamente ou quasi, no fundo, essa organisao que re-


produz o governo municipal na Allemanha. "Veja-se Berlim; compara
Albert Shaw, um dos norte-americanos que mais abriu os olhos dos
seus patrcios sobre coisas municipaes, os accionistas aos eleitores da
capital da Prssia, a directoria ao conselho municipal composto
de 126 membros, o inspector geral ao primeiro burgomestre e os
chefes de cada uma das reparties ou magistrados aos chefes de
linha, movimento ou traco. O executivo Berlinense formado de
34 nomes, includos os do primeiro "oberbrgermeister" e segun-
do burgomestres. Metade delles ou dezesete so pagos e nomeados
por doze annos, os outros dezesete servem gratuitamente e so esco-
lhidos por seis annos.
Os pagos so designados em virtude da sua competncia technica
especial, exactamente como os directores da Paulista escolhem os
seus engenheiros principaes e guarda-livros. Vae buscal-os o conselho
aos funccionarios de carreira das outras cidades em que se hajam
distinguido o celebre Dr. Forckenbeck que Imprimiu cidade o^
seu cunho actual, no momento de ser convidado para o posto, a que
emprestou tanto luzimento, era burgomestre de Breslau ou tira-os
das administraes publicas da nao; os vencimentos elevados pa-
gos pela municipalidade tornam tentadores esses convites. Compre-
hende esse elemento pago os ramos da sciencia jurdica e de finanas,
thesouraria, architectura e construco, instruco e hygiene publica.
E os titulares de semelhantes designaes so, na realidade, vitaU-
cios, pois somente a sua m conducta que tem dado logar a de-
misses.

I
78 REVISTA DO BRASIL

A outra metade, no remunerada, 6 tambm designada pelo con-


selho que recorre, para esse fim, a nomes de autoridade nos assumptos
municipaes, embora no profissionaes de carreira como os lentes
das Universidades, ou a pessoas tendo servido anteriormente no pr-
prio conselho, onde deixaram traos vivos da sua passagem. D esta
cathegoria logar a nivel por tal modo elevado de competncia techni-
ca e capacidade de direco, que no rara a transferencia de seus
membros para postos equivalentes da cathegoria dos remunerados. E
reciprocamente. Aqui tambm, note-se, a designao por seis annos
f nominal; os membros no remunerados do executivo de Berlim so,
de facto, vitalcios.
Onde encontrar a explicao, a origem de uma entrosagem to
perfeita de competncia que fez desta, como das outras cidades alle-
mans, os modelos que por toda a parte so citados? Em primeiro
logar no meio, farto e abundante, de profissionaes especialisados.
No de hoje, nem de hontem, que os assumptos municipaes fazem
parte dos programmas das faculdades de direito e sciencias admi-
nistrativas, bem como das escolas technicas. Sem taes habilitaes
intil procurar collocao nas reparties respectivas.
Em segundo logar, no corpo eleitoral, "sul generis", que escolhe
os conselheiros, os quaes, por sua vez sabem, to ajuizadamente, operar
por seleco. B' esse corpo dividido em trs classes, correspondendo,
cada uma, a um tero do producto das contribuies e de modo que,
no primeiro tero, esto os maiores contribuintes, no segundo os que
se lhes seguem em Importncia; no terceiro ficam os restantes. Con-
cretisando: num dos crculos de Berlim, um vereador eleito pelo pri-
meiro tero dependia de um corpo de suffragio de 2.045 pessoas, no
segundo tero esse numero subia apenas a 13.049 para alcanar, no
ultimo, 96.543. E a capital do Imprio no o melhor campo de exem-
plificao. Essen estaria nesse caso, pois j apresentou as propores
de 2, 243 e 5.367; 4, 353 e 12.197. Houve anno mesmo, em que o
conselheiro do primeiro tero foi eleito por "um" voto.
E', em resumo, a garantia completa da distinco administrativa,
em toda a escala, operada sem a menor interveno da poltica em
um meio de recursos technicos abundantes. Dahi os resultados que
nos maravilham quando visitamos aquelle paiz.
Sem produzir to grande impresso no leigo, entretanto egual-
mente surprehendente a organisao ingleza; talvez mais, mesmo,
visto no corresponder a um systema de suffragio restricto, como
o Germnico. Tivesse o Inglez consagrado parte technica do proble-
ma, j no diramos o carinho minucioso do Allemo, mas simples-
mente o cuidado em manter o seu ensino ao nivel do Prancez, para
ns ponto fora de duvida que alcanaria resultados egualmente bri-
lhantes, apezar de no ter ao seu servio a legislao feudal que
aplana o caminho s autoridades Allemans na confeco das suas
cidades.
O PROBLEMA MUNICIPAL 79

E' por esse lado que claudica o apparelho. Mas a contextura so-
cial, a teia da organisao municipal Britannica to robusta e to
bem ajustada que, na generalidade e de conjuncto, no so menos
preciosos os fructos. E' de tradio que os cargos de eleio sejam
confiados aos homens mais respeitveis e mais experimentados do
logar. Pela seqncia de um habito inveterado pois que se effectua
a seleco do corpo dirigente, no pela lei. O que esta determina
que no se realise o escrutnio quando o numero dos candidatos no
seja superior ao das vagas a preencher. Pois bem. Em pocas de
grande agitao poltica, mesmo, tm-se visto circumscripes que
em grande numero se acham no caso de dispensar a consulta ao' elei-
torado. Tanto vale dizer como a intromisso da poltica em regra
alheia escolha dos vereadores.
Reunem-se estes e constituem o executivo por meio dos presi-
dentes das differentes commisses em que o conselho se divide, se-
gundo a natureza dos negcios a tratar. Mas esses presidentes, no
so, em geral, os conselheiros eleitos. So antigos membros do conse-
lho cujo tempo de servio e competncia anteriormente demonstrada
os designam escolha dos sabidos directamente das urnas. Pde a
capacidade excepcional abreviar a durao do estagio que corrente
exigir do vereador at lhe ser conferida essa distinco. Ligam, po-
rm, os Inglezes, tal apreo a essa lio da experincia, que signifi-
cativo o exemplo de Chamberlain, o grande homem de estado, aguar-
dando doze annos como simples vereador de Birmingham para, eleito
"alderman", vir a ser o benjamim dos "sheriffs" da Gran-Bretanha.
E', numa palavra, a fidelidade ao systema de "pupilage", o
aprendizado, to enraizado nos costumes do povo que ainda l o ve-
mos praticado de preferencia, e nem sempre com vantagem, l for-
matura do estudante por meio do curso regular em escola ou
faculdade.
Que o systema, considerado em bloco, , porm, incomparavel-
mente superior ao que poder produzir a inverso dos papeis, demons-
tra-o. saciedade, a sua comparao com a organisao Franceza.
E' em Frana muito mais aperfeioado e exigente o preparo do
Nfunccionario. Pode sem favor ser este considerado de primeira or-
dem, qualquer que seja o ramo da administrao em que o formos
buscar. Tem defeitos, sem duvida, inherentes a uma burocracia
que o sentimento de conservao prpria da nao tornqu tarda e des-
confiada, afim de resistir aos sobresaltos de uma historia poltica
irrequieta. A matria prima, todavia, inexcedivelmente superior em
no importa que grau da hierarchia administrativa. Os sobresaltos,
a que acabamos de alludir, fazendo sentir a aco perturbadora da
poltica em toda a esphera superior dos servios pblicos, contra-
riam, desmancham, quando no inutilisam, toda a vantagem da com-
petncia technica com que poderiam contar os municpios. A capital
pariziense, por exemplo, est praticamente impossibilitada de qual-

I
i

80 REVISTA DO BRASIL

quer obra importante e utilidade geral. Uma votao de crditos


correspondentes no oramento fica virtualmente subordinada, no ao
que toda a metrpole tenha a lucrar com um notvel melhoramento
intelligentemente localisado em um dos seus pontos, mas ao ganho
immediato que os negociantes de cada circumscripo possam aufe-
rir da affluencia temporria, alli, de certo numero de trabalhadores
que comem... e bebem nos botequins do bairro. Assim, quando se
approva o dispendio de vinte milhes, estft implicitamente entendido
que cada "arrondlssement" fica com a sua quota proporcional. No
poderd contar com a sua reeleio o vereador que se no curve im-
posio. A organisao do corpo director produz pois a seleco inver-
tida; o menos escrupuloso que conta com maiores probabilidades.
Nada mais necessrio accrescentar.

Servir-nos-emos de uma comparao, para exprimir os trs aspe-


ctos do problema municipal que tommos para pontos de referencia.
Sabe-se que a engenharia um composto de dois elementos: as
mathematicas e o senso pratico. Quando um indivduo consegue en-
feixar ambos, o preparo e a experincia reflectida, tem elle o estofo
de um grande engenheiro. Pde o preparo ser deficiente; um espirito
superiormente equilibrado capaz, ainda assim, de dar logar a pro-
fissional que corra parelhas com o primeiro. Haja, porm, o refi-
nado preparo que houver, se com elle no coincidir o tino e a facul-
dade de apreciao, nunca teremos homem que preste.
Semelhantemente, conjuga por completo a organisao munici-
pal Alleman uma direco independente e esclarecida com a compe-
tncia technica apropriada. O resultado superior.
Nem sempre concorre esta ultima, ou apenas delia se dispe em
dose limitada, na organisao municipal lugleza. O primeiro factor
tem, porm, tal peso e -lhe conferida influencia to considervel
que os fructos rlvalisam com os da primeira.
No falta, em contraposio, competncia technica apropriada
. organisao Franceza. A entrosagem eleitoral oppe-se, entretanto,
liberdade de aco dos que devem dar o impulso inicial; prejudica
a perturba a athmosphera poltica a formao do critrio sereno que
s com tempo e traquejo consente na avaliao exacta das coisas;
afugenta e elimina essa mesma athmosphera os concursos que maior
utilidade teriam. Medocres so por tal motivo as conseqncias. No
ha quem tal ignore.

E' chegado o momento de satisfazer a nossa curiosidade. Pode-


riam, estariam os Estados Unidos em condies de conseguir, para

*
O PROBLEMA MUNICIPAL, 81

os seus problemas municipaes, solues differentes das que j vimos


apreciadas por alto?
Seria milagre.
Para que se no supponha a inteno, que no existe, de pr em
cabeas alheias carapuas que nos pertenam, passamos a traduzir,
letra as palavras de algum que no assumpto conquistou grande
nomeada, no tanto pelo que tem dito ou eseripto como pelo que pra-
ticamente realisou. Adeante veremos a influencia e producto da aco
e0rg e Urnham: eSCreVe elle n0 Ilumero de Jum
^
Nationali ^
Municipal Beview": o ^te anno da

Amerlcano facto
Dos^uirTrjrm 7. K " ^e ter sempre considerado bastante o
a n0 8eUe l0gar
STo Lt a ^ I Partl,llar ^o ^u credo poUtlco para jul-
gal-o apto a desempenhar qualquer cargo administrativo official
comnerM^ ^ 0 .haVer-8e PeSa<lo pelo pescoo no medico, no advogado, no
deToverndo OU, nVer?lr0' dando-lhe - o* costados na cadeira de legisiador,
de governador do Estado, de prefeito da cidade, na firme convlcgSo de vel-o
esseermndoaS,eXCe
aS
!lente ,S' r^^886 OU na0 d0 rl8Cado- Na ^^ ia^o c'
reIativament
ZnLT, e ao Palz. Pretendo apenas Indicar aigumas con-
admin^rL^1"11 a8 ^^ ^^^ CO"en tUdo s mU maravilhas emquanto as
adminstraeoes municipaes eram de extrema simplicidade; tratava-se apenas de
*oZZ ^ ^^tando. A' medida, porm, que o desenvoivimento se Ia
accentuando e augmentando foi a complexidade da matria com agentes taes como
o transporte electrico e a vapor, distribuies de gua, luz e forga, etc, comeou
a
IL x . ^ S e aS nossas municipalidades entraram a cahir em descre-
..f,0, S! JUlSUe Ser minba 0Plnlao que a entrega de posies de mando e res-,
ponsabilldade entre as mos de gente sem preparo nem traquejo, seja a causa
umca desse Juzo desfavorvel. Foi, porm, decerto factor dos mais influentes.
u que positivo que a partir de ento o Amerlcano deu em ficar descontente
com a administrao municipal, emprehendendo a campanha para "pr fora os
tratantes" e entregar o basto a gente de bem.
"Observe-se que ainda uma nova frma da velha obsesso americana.
No se pedia capacidade, mas antes honestidade. Bastava, pois, que um homem
fosse honrado. O resto viria por si.
"Nao tardou egualmente que fosse verifiado serem os homens honestos
e bem intencionados incapazes como os outros, a menos de tambm possurem qua-
lidades supplementares, de dar bons administradores s nossas cidades."

Estes perodos definem a situao.


Ora, nos Estados Unidos, a ausncia completa dos funccionarios
de carreira da Allemanha ou Francezes, ou dos especialistas tecbnicos
que a estabilidade administrativa fez crear na Inglaterra, collocava
portanto esses homens, mesmo aquelles a quem as relaes polticas
no tolhiam os movimentos, em situao de desamparo o mais completo
que possvel imaginar.
Para encurtar razes, nenhum dos dois elementos que definimos,
necessrios constituio dp uma organisao administrativa regular,
marcava alli a sua existncia.
Fcil vr as conseqncias, mormente nas grandes cidades e
mesmo em perodos relativamente remotos, de vida menos complicada.
Uma commisso, encarregada pelo Estado de Nova York de
82 REVISTA DO BRASIL

estudar novo plano de organlsao municipal, fazia commentarios


desta ordem ao accrescimo da divida da cidade do mesmo nome, que
passara, em 16 annos, de dezoito a 113 milhes de dollars. "Essa
quantia teria sido mais do que sufficiente para executar a totalidade
das obras necessrias a uma grande metrpole durante um sculo,
ornamentando-a ao mesmo tempo com esplendores de archltectura e
arte. Em vez disso, os pontes e ces esto construdos em materiaes
de pouca durago; as ruas esto pessimamente caladas; os esgotos
na sua maior parte so imperfeitos, insufficientes e acham-se em mau
estado; os edifcios pblicos so imprprios e srdidos. . . Para falar
verdade, a maior parte da divida da cidade representa um monte de
dinheiro deitado fora ou mal applicado".

*
* *
Entretanto, o anno passado, a 30 de Agosto, realisava-se a con-
veno nacional de Nova York. O nosso conhecido e grande homem
publico norte-americano Elihu Root, que a presidia, encaixava os
seguintes perodos no seu discurso inaugural:
"A administrao das nossas cidades!... Porque, ha vinte annos, guando
James Bryce escreveu a sua "American Commonwealth", era de facto o governo
municipal na America um mytho e uma vergonha nacional. Graas aos cus,
esto essas administraes em franco caminho de rehabilitaao, rehabliitando-
nos assim a todos ns. O governo das cidades Americanas hoje em geral bem
superior ao governo dos Estados. Desafio algum a que sustente o contrario."

Ficou sem resposta o repto. Essa a verdade. Sob pretexto de


as ensinarem a governar-se, intervinham outr'ora a cada passo os
Estados na vida das Municipalidades. Hoje, com ellas que tm de
aprender. E pouco, bem pouco, contriburam para tal transformao.
Tudo quanto esta deve s legislaturas estadoaes se limita a
disposies legaes, de constituio, e feitas, ainda assim, a pedido
dos prprios municipes as mais das vezes. Sob presso dos mais
directamente interessados na boa gesto das coisas municlpaes, acha-
se de facto em via de desapparecimento na America do Norte o typo
de governo municipal que agora encontramos entre ns, com um
legislativo numeroso, tanto mais quanto maior o agrupamento, e um
executivo que l sempre foi de eleio directa.
Aos poucos substltue-se-lhe o typo conhecido pelo nome de
"commission government". Cinco pessoas em geral formam essa
commisso, com funces inteiramente anlogas s dos directores de
uma companhia de estradas de ferro, como no exemplo a que anterior-
mente recorremos. Enfeixa essa commisso todos os poderes do muni-
cpio. Elegem o seu presidente, ou este j eleito directamente para
o cargo. Repartem entre si os diversos ramos da administrao dos
quaes cada um fica sendo o chefe do executivo, e o responsvel por-
tanto. Quando o "mayor", ou presidente, de eleio directa, faz elle
O PROBLEMA MUNICIPAL, 83
\
essa distribuio de servios. E fica, de ordinrio, com a adminis-
trao dos negcios geraes, pertencendo a cada um dos outros as
finanas, os melhoramentos pblicos, a hygiene e instruco, a segu-
rana. Quando reunidos, formam o legislativo com todas as sua?
attribuies.
Nada menos de 465 quatrocentas e sessenta e cinco
cidades se dirigem por esse systema. Melhor seria dizer municpios,
pois que se entre ellas se encontram agglomeraes comparveis a
S. Paulo, como sejam a sua homonyma norte-americana, Buffalo,
Nova Orleans, Denver, Jersey City e Portland, tambm apparecem as
de dez mil habitantes para baixo, com caracter accentuado de centros
ruraes. Em to elevado numero contam-se quatro insuccessos. que
talvez venham a ser mais teis para o bem geral, do que os assignala-
dos xitos contados, pois permittiram descobrir e esboar previses
para evitar futuros desastres.
Attribuem os especialistas da matria as vantagens obtidas, em
primeiro logar, demarcao franca das responsabilidades. Era isso
impossvel, ou quasi, com os grandes conselhos. Perturbavam elles a
aco do executivo de tal modo que este arranjava sem difficuldade
attenuantes, seno explicao, para os erros commetidos. Em segundo
logar, o sentimento da responsabilidade produziu o emprego, cada
vez mais generalisado, da actividade profissional. Augmentou consi-
deravelmente o numero de contadores, bacharis em direito e enge-
nheiros com pratica e conhecimentos especiaes dos assumptos de que
iam occupar-se.
Cidades como Des Moines populao actual 104.000 habitan-
tes, ou mais ou menos o tamanho de Santos em que o dficit era
chronico, elege a sua primeira commisso em Junho de 1907. Entra
ella em fuuces a 1." de Abril de 1908.
No fim de oito aunos de experincia apresenta os seguintes
resultados: 1 Extinco do dficit a partir do segundo anno; 2 -
Applicao de cerca de 400 contos por anno em melhoramentos de
caracter permanente; 3 Keduco de taxas na proporo de dois
e meio millesimos por dollar. E' aqui citada a capital do lowa a titulo
de exemplo por permittir approximao com o importante porto
Paulista, por ser possvel apanhar todos os particulares do systema
no relatrio que foi apresentado recentemente Associao Commer-
cial de Norfolk onde as coisas no andam boas e que delegou a
trs dos seus membros o encargo de ir examinar como ellas se passa-
vam em outros logares; finalmente, porque no constitue specimen dos
mais perfeitos.
Surgiram alli duas causas perturbadoras, que so os pontos
mais fracos do systema. Havia, na commisso, um antigo empreiteiro
de obras da cidade, homem respeitado e conceituado. Nella entrou,
tambm, um advogado, especialisado em matria criminal. Por engano
dos outros, ou por qualquer outro motivo, puzeram o empreiteiro na
84 REVISTA DO BRASIL

policia e segurana e o bacharel nas obras publicas. . . Entre as


funces de dois outros membros da commisso rebentou um confli-
cto de attribules. B as que por lei pertenciam ao "mayor" e &
prpria commisso no permittiram pr cobro aos transtornos que dahl
resultaram. Dizem, porm, os dois industriaes e o commerciante de
Norfolk no seu relatrio: "de tanta gente que consultmos na cidade
a opinio unanime que a gesto ba e que a modificao foi das
mais proveitosas".
Ha, verdade, continuam elles, alguns que lhe encontram
defeitos. No nos occuparemos dos que preferem o antigo conselho,
com as suas lacunas, porque o acham "democrtico" ao passo que
reputam "anti-democratica" a forma actual. O que achamos existir
realmente falta de unidade na administrao por no haver um
orgam que centralise a aco do executivo o que se torna sobretudo
nocivo em caso de conflicto. E' por isso que lhe preferimos a outra
frma de governo municipal a do "city-manager piau" que vimos
funecionar admiravelmente em Dayton e Springfield.
Sob esse nome realmente conhecido o systema mais recente e
que parece realisar a melhor soluo para as condies da America do
Norte. Trata-se, no fundo, de uma simples modificao da organisao
anterior. Differe delia, porm, em que a commisso elege, ou melhor,
nomeia um gerente o "manager" que superintende todo o execu-
tivo da cidade e que assiste a todas as reunies dos commissarios elei-
tos, excepto s quo forem convocadas par^ estatuir sobre a sua
demisso.
Parece intil explicar a essncia do systema. E' o principio da
responsabilidade directa levado ao mais alto grau. E' egualmente o
principio da competeucia. Setenta e seis municpios, com populao
urbana que vae desde Dayton com 130.000 at Oollinsville com 1.234,
o empregam actualmeute. Goza o "gerente municipal" de regalias que
no permlttem a sua demisso, aps seis mezes de servio, seno com
certas e determinadas justificaes. A carreira do fuuccionalismo mu-
nicipal, que fora aberta por assim dizer, com a forma anterior, dilatou-
se. Uma obra recente "The city manager: a new profession" d
conta desta corrente. Est-se vendo avolumar nos Estados Unidos a
existncia de uma nova classe, anloga dos burgo-mestres profis-
sionaes alleman. As grandes universidades apparelham o ensino para
esse objectivo, como j as escolas de commerclo, direito e technicas
tinham anterlomente aberto series para a contabilidade, o contencioso
e a engenharia municipaes.
Foi, na verdade, o Ideal allemo que inspirou directamente o
movimento. Sempre consideraram os americanos, desde os precurso-
res da sua reforma municipal estamos em presena de um verda-
deiro "movimento" e de uma ldima "reforma" o "magistratsrath"
como "a glorificao dos capazes, experimentados e entendidos testa
dos negcios que a caracterstica do systema Inglez". So estas as

ik
O l-KOULKMA Mr.VIClPAL gg

prprias palavras de A^ert Shaw a pags. 316 da sua obra "MunicipaJ


emTs^T11 ln COIltI16ntal Europe
" P^Ucada ha quasi trinta annos.

.^o Ttn,ha 0im0d0 germnico uma falha que o impedia de ser appll-
cado, tal qual. no nosso continente. Leia-se Woodruff _ National Mu-
nxc^ Review, de Janeiro deste anno _ "Annos e annos esteve a
attenao dos americanos presa com a efficiencia das cidades da Alle-
t^co' t maraVmada Pelos admirveis resuUados da sua admt-
nOS POda POrm a rov
? ^ P eitar a liCo desde logo, por ser
muxto dxfferente a nossa situao. AUi. essa excellente gestL pove-
mente maxs de uma prenda ou concesso da classe superior, do que
do desabrochar dos desejos e aspiraes do prprio povo Ora o nosso
recteamd;acqm' 'l' ^ POder attUgir
Perfeao
^^ a ac"
ma larga
uma larta extenso
T ^ * **** COTPO
do suffragio."
Se alaStra Cada
-z -a- *<*>

h^? l^.0 qUe atraZ escrevemos sobre a Allemanha compre-


hende sem difficuldade a apreciao.
o*r,*E q^em VU 0 qUe acabm<>s de expor examinou e ficou conhe-
cendo a forma sob a qual essa aspirao se est crystallisando, com o
maior proveito, alis, para o povo norte-americano.
t^a COT lhe ^^ Sld0 facU ir vericando que a prpria essncia de
toda a estructura a de uma organisao commercial pura e simples,
Dusmess-like ' como a preconisaram francamente os directores do
em tUd0 Semelbante de uma
TaKon" ^ande empresa ou "corpo-

No analysmos, todavia, ainda, o que de mais essencial, interes-


sante e instructivo nos offerece essa evoluo em que se revela toda
a pujana e elasticidade de uma verdadeira democracia, em cujas
veias corre o sangue particularista dos Anglo-Saxes.
Por isso mesmo dissemos que os governos dos Estados tinham
contnbuido "apenas" com leis de modificao constitucional, permit-
tmdo trilhar e pr em pratica a orientao escolhida. Por felicidade
para os americanos, os que o futuro ha de registar na sua historia
como sendo grandes reformadores da vida nacional, deram sempre s
leis, e s disposies nellas expressas, o valor limitado e secundrio
que umas e outras de facto tm. Suppozeram sempre egualmente a
ida contraria como o mais perigoso dos erros, a mais funesta das
illusoes. Nunca deixaram de chamar a attenao de todos para esse
ponto fundamental; agora, mesmo, aps os triumphos alcanados,
no canam; advertem, previnem, acautelam.

"Para avaliar como os resultados tm sido satlsfactorlos, bastar vr como


se exprime a opinio pela bocca da gente mais respeitvel, pelas columnas dos
jornaes, pelas recentes eleies. De todos os lados se multiplicam as provas de
apreo pelas novas formas de governo municipal. Mas, simultaneamente, vo-nos
chegando aos ouvidos commentarlos que significam pontos de vista errneos rela-
tivamente ao papel que desempenha o systema na nossa vida municipal. Palam
86 REVISTA DO BRASIL

nlguns como se as formas em si fossem responsveis por todas as melhorias Jft


realisadas; outros, como se da sua Introduco devesse resultar, "Ipso facto",
uma transformao dos males existentes. O systema do "clty-manager" real-
mente de todos o mala, o unlco pratico e commerclal (business-llke) e representa
effectlvamente o que ha de melhor conhecido em matria de administrao muni-
cipal ; se elle no for comtudo acompanhado por um sentimento publico actlvo,
organlsado e vigilante, por si pouco mais conseguir do que os systemas nossos
conhecidos dos tempos Idos.
"A concepo que os americanos desses tempos possuam a respeito das
administraes municlpaes caracterlsava-se essencialmente por uma demasiada
influencia attribuida lei e ffirma de governo. Ha ainda muitos para quem
todo o problema consiste em reformar constituies e leis orgnicas. Mas a nossa
nova concepo envolve apenas a utlllsao da forma de governo mais apropriada
a satisfao perfeita de uma opinio publica bem informada e esclarecida; se
o systema do "clty-manager" hoje to popular porque elle synthetlza precisa-
mente essa opinio.
"Fazer leis!... Mas isso nunca foi objectivo serio. Mostrou o senador Root
na sua recente orao que durante um perodo de dez annos, os vrios corpos
legislativos do palz promulgaram para cima de sessenta e duas mil leis. O primeiro
resultado de semelhante exhuberancia o ser-se levado a attrlbuir maior
influencia ft aco da lei que do indivduo. Outra, crear um povo de violadores
da lei; Inconscientemente em grande maioria, mas nem por isso menos desastrosa-
mente com o andar dos tempos. Pouca consistncia offerece a nao que deposita
as suas esperanas gOmente na lei. No licito esperarmos bons e proveitosos
governos unicamente porque foram promulgadas leis bem feitas; os que se
interessam pela redempo das cidades americanas e pela sua collocao em alto
nivel de honestidade, integridade e efflclcncia, devem diligenciar por baseal-as
no espirito como nas Instituies publicas. A reforma, no pensar de muitos,
consiste em introduzir na lei as idas de que so manacos, impondo-as por
tal modo a toda a communidade. O homem publico digno desse nome procura,
para comear, despertar no espirito dos seus patrcios a noo da importncia
do governo municipal como factor dominante na vida da sua casa, e na da com-
munidade. Procura incutir-lhe o sentimento da responsabilidade que lhe incumbe.
a tal respeito. Somente ento que trata de lhe pOr ao alcance o apparelht-
mento prprio para agir de conformidade com taes noes e sentimentos.
"Senti sempre o mais completo accrdo com o que pensava Carl Schurz.
Dizia esse lllustre biographo de Lincoln e um dos fundadores desta Liga que
era prefervel dlspflr de leis feitas pelo demnio e executadas pelos anjos do que
constituies celestiaes postas em aco por mafarricos. Por outras palavras, o
primeiro objectivo duma associao da natureza da nossa consiste em fazer
desabrochar e desenvolver um sentimento collectlvo firme, seguro e substancial,
em favor de uma administrao efflcaz e democrtica; dirigir em seguida esse
sentimento, uma vez formado, por caminho certo e desembaraado."

Sao de Clinton Rogers Woodruff, secretario da "National Muni-


cipal League", as palavras acima, insertas no relatrio lido na vig-
sima primeira reunio annual dessa sociedade, que se realisou em
Dayton por motivo da importncia dessa cidade e do magnifico
xito alli obtido sob o "city-manager plan" a 17 de Novembro
ultimo.
Foi a "National Municipal League" que promoveu todo o "movi-
mento", do qual sahiu a "reforma" de cujas conseqncias principaes
O PROBLEMA MUNICIPAL 87

demos at agora uma rpida e summaria ia. geral. No se equivoque


o leitor. No confunda a obra da Liga com as centenas de tentativas
de reviso das constituies municipaes, levadas a cabo anteriormente
na America do Norte e visando apenas modificaes de pura forma.
Relativamente "frma", a Liga somente preconisou uma desde o
comeo, a "commercial e pratica" (busluess-like), com duas modali-
dades, a "city-commission plan" e o "eity-manager plan", das quaes
a ultima, essa mesma, no passa de simples modificao da primeira.
Jft as mostrmos.
O que far todavia a immorredoura gloria dessa associao bene-
mrita o movimento de ideas e de aces a que a sua influencia deu
logar, provocando o levantamento das populaes dos municpios pela
demonstrao dos erros comettidos, dos remdios possveis, do inte-
resse em pr cobro aos primeiros, applicar os segundos.
Encontrou a Liga nas grandes universidades e escolas do paiz
os seus primeiros e mais preciosos auxillares. Seria erro suppr,
porm, que essas instituies se limitaram a abrir cursos e a ministrar
o ensino que hoje constitue uma especialidade vastssima, to vasta
que a bibliographia destes ltimos quinze annos e publicada ha alguns
mezes pelo Professor Munro, da Universidade de Harward, abrange
nada menos de cinco mil entradas. Note-se mais que essa bibliogra-
phia no entra em miudezas technicas, no tem a preteno de ser
exhaustlva mas apenas de assignalar os pontos capites em cada
ramo, visa quasl exclusivamente a produco americana e, final-
mente, producto da collaborao de cerca de duas dzias de nomes.
Dil-o o lllustre cathedratico de "organisao municipal" do mais antigo
estabelecimento de ensino do seu paiz, accrescentando sobre o ultimo
ponto que procedeu dessa forma porque nSo ha mais homem algum
que, ssinho, seja hoje capaz de apanhar todo o problema municipal,
mesmo em seus termos geraes. Essa sua modstia permitte medir a
extenso da ignorncia em que aqui se vive, em que viviam alis os
Estados Unidos ao ser fundada a Liga.
Bastar dizer que mais da metade da bibliographia de Munro
de 1910 para c, sendo quatro quintas partes posterior a 1905. No
admira. A maior parte do material accumulado, condensando obser-
vaes locaes e prprias nao, devido ao esforo da Liga e a
misso desta, ao comear, no era fcil nem dilatada.
Para conseguir o desenvolvimento nos dois sentidos, recorreu-se
a um rgo especial, uma "agency" como o denominam os america-
nos. O rgo foi, neste caso, o "Bureau of Municipal JResearch". Fun-
daram-nos em primeiro logar os estabelecimentos de instruco: con-
tam-se uns vinte deste gnero. Varias municipalidades os Imitaram.
Finalmente, em diversas cidades, grupos de municipes interessados,
promoveram a sua creao sob os auspcios de importantes entidades
de todas as classes, agindo como "trustees".
Forma o fundo de uma dessas organisaes uma bibliotheca ou
88 REVISTA DO KASIL

archlvo: alguns destes so notveis no ramo particular a que de pre-


ferencia se consagraram. Como a aco desses repositrios documen-
taes seria forosamente lenta, e a das academias egualmente, encar-
rega-se de lhe promover o rendimento utll uma serie de inquritos
experimentaes ou de simples estudo, visando de preferencia questes
de interesse palpitante na occasio e por qualquer motivo. Assim, no
Elo, ultimamente, no teria sido o Club de Engenharia que teria
aberto debates a respeito da rede telephonica. Um "bureau" teria
publicado desde logo informaes precisas sobre as concesses anlo-
gas, sobre as tarifas, sobre as rendas e custeio dessa natureza de
empresas, quantidade de dados, emfim, que com difficuldade os
nossos engenheiros tero obtido, tendo tido segundo toda a probabili-
dade que se contentar, as mais das vezes, com os Incompletos ou
tendenciosos, que lhes foram fornecidos pelos interessados. E, se o
"bureau" dispuzesse de meios sufficientes, algum de conhecimentos
e capacidade teria posto os vereadores e o publico ao corrente de toda
a operao.
Nem sempre o "bureau" encontra as portas abertas no seu
caminho. Foi o que succedeu de comeo ao de Philadelphia, de quem
foi alma esse George Burnham de que promettemos assignalar a
obra, por elle mesmo alis espirituosamente contada em um ban-
quete que teve logar naquella cidade, a 6 de Abril do anno passado.

" Organisados em 1908, no primeiro anno da administrao Reyburn, cedo


nos apercebemos de que ramos mais ou menos suspeitos fis autoridades ; resol-
vemos por isso tatear o logar de menor reslsteucla para Investir a praa. Demos
com elle na repartio de educao que ento era dirigida pelo doutor Brum-
baugh. O nosso primeiro Inqurito visou o funccionamento da seco de educao
compulsria, a cargo da qual se achava a vadlagem e o analphabetlsmo dos
menores. Logo ficou patente que o funcclonarlo frente desse servio njo tinha
competncia alguma; fez-se um relatrio a tal respeito com um estudo
sobre a reorganlsaao da seco. Foi o relatrio archlvado e nessa situao
permaneceu algumas semanas. Perguntmos repartio se tenclonava ou no
publlcal-o, ou se seriamos ns que deveramos fazel-o. Rea Usou-se, vista disso,
sem demora a reorganlsaao da seco, sendo dispensado o chefe incapaz.
"Emprchendemos em seguida um estudo completo sobre a educao dos
negros na cidade. To bem lanado foi o esforo que a actual disposio do
servio a esse respeito lhe obedece por completo, e o governo dos Estados Unidos
mandou publicar o nosso relatrio.
"Preparou-se depois um regulamento completo para as escolas; outros
estudos no mesmo departamento, entre os quaes um concernente & Inspeco
medica, tiveram a boa sorte de se imperem e de serem aproveitados.
"Mas a mais Importante, talvez, das Iniciativas da nossa misso foi a da
repartio das finanas munlclpaes. E' preciso declarar desde j que o seu chefe
nos franqueou por Inteiro o acesso e fol-nos do mais valioso auxilio. Chammos
como consultor uma reconhecida autoridade na matria, o Professor Cleveland,
do "bureau" de Nova York. Resultado com a boa vontade do chefe da repar-
tio, 3& remodelado, de alto a baixo, o systema de contabilidade na opinio
dos entendidos, no ha hoje no paiz inteiro municpio que possua melhor servio
desta natureza. Achamo-nos a caminho de poder organisar oramentos em bases
perfeitamente sclentlflcas; estou certssimo de que o conselho municipal ha de
O PROBLEMA MUNICIPAL 9

acabar por adoptar o plano; necessrio, porm, primeiramente, convenccl-o, e


ao publico, da impreterivel necessidade de assim proceder.
Outro servio que entrou em primeiro logar em contacto comnosco foi o
de hygiene e assistncia. O seu chefe que sempre nos dispensou bom acolhimento,
mostrou-nos a difficuldade que ihe causava a falta de uma consolidao das leis
do Estado, referentes sua seco. Essas leis haviam sido promulgadas pelo
legislativo estadual em perodos diversos, sem nexo nem coordenao, e affecta-
vam profundamente a liberdade individual e o direito de propriedade. Foi feita
a consolidao e serfi elia certamente o ponto de partida de obra ainda mais til.
"Em cooperao com outros "bureaus", levamos a effeito um estudo sobre
a mortalidade das creanas da cidade. Delle resultou a creao de um servio
de hygiene Infantil. Procedeu-se a outro estudo complementar sobre o supprlmento
do leite. De mos dadas com a repartio official, teve logar a exposio lctea,
comprehendendo todas as phases importantes da questo.
"Abriu-se um inqurito no hospital de doenas contagiosas, dando em
conseqncia o montar-se alli uma contabilidade e um cadastro sanitrio com-
pleto. Parallelamente, estudou-se o problema da inspecSo aos productos ali-
mentares. O nosso relatrio, agora terminado, vae ser publicado pelo Phipps
Institute. Veremos, depois da discusso que ter logar, se as nossas concluses
devem ou no ser adoptadas.
"No departamento da segurana publica, fizemos imprimir e acceitar um
manual para uso dos rondantes. Ha dezesete annos que o antigo no era revisto
pde bem imaginar-se como era defeituoso e Incompleto. Tommos a iniciativa
de crear escolas para os agentes de policia e bombeiros. Os resultados tm sido
bons. Foi organisada, por um dos nossos membros, uma serie de instruces
completas, e dois regulamentos motivados, tratando de preveno em matria
de incndio.
"Na repartio de guas, foi reorganisada a contabilidade. Na do patrimnio,
um estudo cuidadoso levou a modificar a distribuio interna dos servios. Eram
conservados os paos municipaes por processo desordenado; cada uma das
reparties se occupava apenas com as prprias dependncias. Apresentamos um
relatrio a esse respeito cujas concluses, em parte aproveitadas, }& permittem
uma economia de 30.000 dollars annuaes. Acreditamos que o aproveitamento
total venha a dar-se, elevando essa economia a 50.000.
"Durante a administrao do prefeito "mayor" Reyburn, abrimos uma
devassa sobre os pezos e medidas usadas no municpio. E' difficil calcular a
quantidade de combinaes fraudulentas de toda a espcie que foi descoberta.
Dahi, a creao do actual servio de aferio, cujo funccionar excellente.
"A pedido do foro municipal, acabmos de estabelecer um systema de
fichas para a diviso do servio domstico ; por esse systema, alm da organlsao
de estatsticas, ser possvel auxiliar a obra de assistncia e soccorros das ins-
tituies de beneficncia da cidade.
"Finalmente, transformmos o nosso escrlptorio em verdadeira escola
pratica de preparo para os candidatos a empregos pblicos. Os oito que dalli sahi-
ram, mostraram as vantagens do aprendizado recebido, tendo um sido engajado
posteriormente por uma administrao particular e outro voltado para o nosso
servio."

Diga-se, de passagem, a propsito deste final, que a Liga tem


influido poderosamente nos Estados Unidos sobre o preparo e condi-
es de admisso dos aspirantes a cargos officiaes, por intermdio
de uma outra associao filiada sua obra de educao civica e pro-
paganda, a "National civil service reform league". Tem sido a tarefa
desta ultima, talvez, o mais poderoso dique para defender a adminis-
trao da influencia da poltica; sob os seus auspcios tm sido crea-

A
90 REVISTA DO BRASIL

dos verdadeiros estatutos para os funeclonarios pblicos, regulando-


se-lhes as condies de admisso e promoo aos postos superiores e
garantindo-se-lhes, tambm, a estabilidade.
No menciona, o resumo que transcrevemos, uma outra conse-
qncia, embora indirecta, da aco do "bureau" de Philadelphla. A
aco, toda amigvel e nada estrepitosa alias, desse grupo de homens
de boa vontade, no podia deixar de despertar a emulao, ou cime
bem orientado, das autoridades. Foi em virtude desse sentimento que
a administrao municipal da cidade entregou a gesto das "obras
publicas" a um dos mais eminentes collaboradores de Taylor, Morris
Llevellyn Cooke, a cujas iniciativas nos referimos no primeiro numero
da "Revista do Brasil" e que alli tem realisado verdadeiros milagres,
para os olhos dos que no sabem quanto prodgio capaz de produzir
o systema.
No menciona, como ns deixamos de mencionar, muita outra
particularidade, cada qual mais interessante, mas que triplicaria ou
quadruplicaria o artigo, afastando-nos do nosso escopo principal.
E' esse o de mostrar, bem claramente, de modo concreto, o
processo seguido pelos rehabilitadores do governo municipal ame-
ricano.
Escolhemos, muito de caso pensado, o exemplo de Philadelphla.
Trata-se de uma grande municipalidade, cuja administrao passou,
em poucos annos, por transformao profunda e benfica. E, entre-
tanto, no se lhe tocou, nem de longe, na forma de governo.
O cuidado, o grande, nico esforo dos que a si chamaram pro-
mover essa transformao, foi o de se approximar dos que occupavam
as posies officiaes e mostrar-lhes, de maneira pratica e indiscutvel,
como era. possvel terminar com o ruim, melhorar o soffrivel, conso-
lidar o bom.
A primeira condio para poder chegar a esse resultado era pr
em jogo experincia e competncia. Foi-lhes isso facilitado pelas orga-
nisaes idnticas anteriores, todas ellas desenvolvidas pelo estudo
especial do assumpto.
Outra condio era saber-se impor, no por meios escusos, mas
pela prpria autoridade. Impr-se mansamente, mas impr-se. O
caminho, ningum mais o ignora. Era esclarecer o espirito publico, tor-
nal-o activo, vigilante.
Era pol-o ao corrente, com exactido e lealdade, do que se pas-
sava nas regies de uma administrao em que elle era directamente
interessado.
Foi esse o trabalho da Liga. Onde elia exerceu a sua presso,
sob taes moldes, o esforo foi irresistvel. Como irresistvel seria entre
ns, ou em qualquer parte, se alguns se dispuzessem a tental-o.
O PROBLEMA MUNICIPAL 91

*
* *

Comprehender-se- agora, com certeza, por que motivo consider-


mos meros simulacros os esforos que entre ns se esto assignalando
neste momento relativamente ao problema municipal. Aos projectos
pendentes nos dois Congressos, o Federal e o de S. Paulo, se oppem
os defensores da autonomia municipal.
Pensaro, porventura, os illustres representantes da opinio
nacional que por meio de disposies legislativas que tornaro
effectiva tal autonomia? Pura illuso, talvez generosa, mas sempre
illuso.
S ha um meio de amparar a autonomia das municipalidades. E'
ensinar-lhes a saber fazer uso apropriado dessa franquia, que , no
ha negal-o, da mais alta utilidade. No caso contrario, a tutella se
impe, de uma ou outra forma. E no vemos como os governos dos
Estados, ou o da Unio, seriam capazes de dirigir melhor interesses
puramente locaes. A experincia, alis, tem provado ambas as coisas.
Devemos conserval-a, pois. certo. Mas essa obrigao implica
uma outra: a de proporcionar-lhes todos os meios que so efficazes
ao esclarecimento, soluo dos problemas que lhes dizem respeito.
E nesse particular, seja a Unio quer os Estados, que detm no Brasil
em suas mos a alta direco do ensino secundrio e superior, ainda
esto por fazer a mais pequena tentativa.
Tambm no consta que nenhum dos acerrimos paladinos da
prerogativa tenha tomado a mais modesta iniciativa nesse sentido.
Ainda nos achamos, pois, quanto matria, na phase "inicial",
estril, por que passaram os Estados Unidos e anteriormente foi as-
signalada. Aguardamos o remdio da lei, e nada mais.
Esse alis o trao de unio entre os dois campos. Pensa por sua
vez o illustre autor da reforma projectada para o conselho municipal
do Klo, que mudando o recrutamento do eleitorado, vae chegar a resul-
tados mais acertados. (*)
Poder, no contestamos, esse eleitorado o das corporaes que
representam as varias faces da actividade social do municpio -
possuir qualidades que faltavam ao antigo.
Escolher quem sabe? gente mais experimentada e respei-
tvel. Passaramos assim exactamente segunda modalidade de opi-
nio que se formou na America do Norte, com as mesmas probabi-

(*) Manda a justia dizer que em nada de semelhante incidiu o relator


do projeeto pendente do congresso do Estado. O sr. dr. Alcntara Machado pro-
nunciava no mesmo dia, quasi & mesma hora em que falvamos ao Grmio, a
mais intelligente defeza da medida proposta, reduzindo-a & sua justa importncia
e demonstrando uma comprehenso do assumpto pouco commum entre ns.

92 REVISTA DO BRASIL

lidades de chegar ao insuccesso que alll foi verificado. Basta ter acom-
panhado a marcha, a seqncia da aco que l foi preciso desenvol-
ver at, emflm, se poder chegar a resultados apreciveis, para se aper-
ceber do que nos esperaria.

E' mister que nos convenamos da realidade. Emquanto os alum-


nos das nossas escolas, mormente das superiores, sahirem, como
1 sahem, quasi sem idfa do que seja o problema municipal de conjuncto,
emquanto sobretudo, por meio da imprensa e dos outros meios de
propaganda, no se incutir no espirito do publico, e o que mais , no
da classe dirigente que quasi por completo o ignora o que esse
problema, qnaes os seus aspectos, importncia e complexidade, nada
de til e profcuo ser conseguido.
Poderemos ter abertas no horisonte escuro; a aco de um
honiciu do qualidades fora do commum ser, de quando em vez, capaz
de assignalar a sua passagem pela administrao alcanando resulta-
dos tanto mais admirveis quanto, quasi sempre a maior parte de
esforo lhe pertencera em absoluto.
Tm j sido registados casos desses. So excepes regra. Esta.
quasi unanime, a de deixar situaes difficels e onerosas para os
vindouros, em opposio ao que a experincia technica do momento j
permitte evitar. Os incidentes por ns publicados anteriormente, a res-
peito do plano de melhoramentos de S. Paulo e da creao da capital
mineira, falam mais alto por si do que quaesquer commentarlos que
porventura provoquem.
Mostram elles o que nos est faltando por completo, de alto a
baixo, sem que ningum parea dar por isso. Ainda neste momento,
na fundao da escola de Altos Estudos, na capital da UniSo, se cui-
dou, e muito assisadamente, na educao do nosso pessoal diplomtico
e consular. Naquelle de que esto carecendo os nossos municpios no
se pensou comtudo. E entre os dois aspectos da actividade nacional
deixo imparcialidade dos competentes decidir qual mais premente
e digno de interesse.
Sirva-nos de consolo saber que j outros, no nosso continente,
praticaram o mesmo erro. . .
Mas que nos no seja levado a mal fazermos votos e jogarmos a
nossa pedra para que a experincia desses, que to cara lhes custou,
nos faa arrepiar carreira, quanto mais cedo melhor.

Setembro, 1916.
V. DA SILVA FKEIRE.

A
RESENHA DO MEZ

MONLOGOS dos homens constitue o eterno re-


banho incapaz de outra coisa que
repetir o que j foi dito. Isto
Houve tempo em que certos es- apenas meia verdade. O immenso
piritoa refinados, ou com pretenses rebanho humano divide-se em dois
a isso, gostavam de exalar a Dan- ramos: o dos espritos que s acham
sa dignidade de arte de primeira bem pensado aquillo que j foi pen-
ordem. No lhes faltava argumen- sado antes delles e o dos espritos
tos, e at argumentos impressio- que s acham bem pensado aquillo
nantes. A Dansa era uma das pri- que ainda ningum pensou, ou que
meiras manifestaes humanas da i elles julgam que ningum pensou.
arte; irman da Poesia e da Musi- Ha os que s pensam por copia, e
ca, procurava, como uma e outr.i, ha os que s pensam por paradoxo.
traduzir a belleza atravs de emo- Uns e outros julgam que pensam
es. Ao numero e ao rythmo da- admiravelmente.
quellas duas irmana, casava as har- Os eathetas da Dansa tiveram
monias visuaes das artes plsticas, continuadores. Dentro de algum
a graa das attitudes nobres, aladas, tempo j no havia gente chie,
o prestigio festivo da cr. Fundiam- gente de gosto e gente de ta-
se nella, pois, numa como synthese, lento que no arriscasse, em cada
em minutos de supremo prazer es- opportunidade, o interessante para-
thetico, todos os encantos e todos doxo com o ar de quem acabava
os amavios da Poesia, da Musica, de descobril-o na vspera. Surgiram
da Pintura e da Esculptura, das ar- danarinas reformadoras, avanando
tes dynaraicas e das artes estticas, perturbadoramente, com attitudes
mas, para maior gloria, para extranhas, hieraticas, pelo caminho
mais rara valia e mais divino es- que os esthetas das salas e dos jor-
plendor, ella reunia ainda todos os naes abriam calorosamente atravs
encantos da Arte ao grande, ao pro- da estupidez burgueza. O publico
fundo, ao perturbador encanto da viu, applaudiu era preciso ap-
Vida. Em fim, no faltava matria plaudir e eis o paradoxo dos pre-
para argumentao aos novos esthe- cursores posto em midos para o
tas. Mas a principal razo por que gasto dos camarotes de segunda or-
elles proclamavam com entono a su- dem, nos intervallos. Universalizou-
perioridade da Dansa no era nada se afinal a opinio dos esthetas re-
disso. A razo principal estava em finados e raros. O paradoxo de hon-
que a opinio cheirava a paradoxo tem o lugar commum de hoje em
ha espritos que s gostam de dia.
pensar por paradoxos. Costuma dizer- Mas o engraado que ainda ha
se que apenas OB phosophos pen- cavalheiros que, repetindo-o, se jul-
sam verdadeiramente, e que o resto gam paradoxaes, que o insinuam naa
M REVISTA DO BRASIL

conversaes com uma pronunciada logica, e a conscincia moral. Consi-


inteno de pater, que o escrevem derando o facto moral como a ex-
com a secreta esperana de serem presso transcendente do real, o seu
tidos por uns originaes de truz. Ao estudo de alguma sorte psycholo-
lado desses, que esto um pouqui- gico. A evoluo progressiva vem
nho atrazados, ha os mais sagazes
confirmar a sua raiz subjectiva a
os que j perceberam que o pa-
radoxo deixou de o ser ha bem tem- sua permanente condio de facto
po, e que, para conservar a sua di- humano. O facto moral condicionado
expresso vulgar, racional, explica
gnidade de paradoxaes perante a
prpria conscincia, atacam a Dan- a sua fatalidade histrica, o seu em-
sa com idas radicalmente oppostas pirismo por assim dizer herico. E'
s acceitas, negando-lhe tudo... Qual que elle representa uma somma con-
arte, qual nada! Impostura, que . sidervel de experincias accumula-
Uns e outros parte o que das tendo por si mesmo um va-
ha de radicalmente insincero nessas lor profundo. Est na tradio a for-
attitudes deliberadas tm a sua a da conscincia moral, que to
dose de razo. Tudo depende do obscuramente vem vencendo no tem-
ponto de vista em que nos collocar- po os desequilbrios das suas aven-
mos, ou considerando a questo in turas e contra-tempos. E' que o fa-
abstracto, ou tomando-a in concre- cto moral est sujeito aos interesses
to... YORIK. complexos dos grupos sociaes e s
suas varias frmas de sensibilidade.
Mas, o facto moral por sua natureza
psychologica permitte experincia
OS NOVOS HORIZONTES DA humana a creao de novos valores
JUSTIA E ASSISTNCIA ou valores invertidos, como ensinava
Nietzsche. E' a necessidade parti-
cular que sentia o philosopho de dar
(REFLEXES PHILOSOPHICAS) matria ardente dos instinctos fr-
ma de sentimentos humanos. Quaes
so os elementos de inhibio (pois
Montesquieu ligando o estudo das a humanidade no posse uma orga-
leis humanas s leis naturaes
creava o principio das seiencias mo- nisao social perfeita e. nem a pro
raes, acreditadas de fundamento bio- pria ida de justia compativel
lgico pelos deterministas puros. No com o fundamento permanente da
me cabe nesta opportunidade refu- vida, a lucta), quaes os elemen-
tal-os, nem avanar como novidade o tos dominadores das impulses ins-
caracter psychologico consciente da tinctivas? Na nossa civilisao actual
sociologia. E' o conceito de Dur- temos uma s: a lei, embora cons-
ckheim e de Tarde, que, ultimamente, cincia e lei sejam duas creaes do
negava psychologia direitos de ci- espirito e no causas preexistentes
dade (pois a sociedade no uma como preceita Boutroux. Mas, para
entidade objectiva), dando-lhe equi- realizar uma cultura sria do esfor-
valentes racionaes directamente liga- o moral, preciso crer crer no
dos s leis de imitao prprias ao sentido mystico da revelao, do mi-
organismo social e mais caractersti- lagre, do divino. E' uma necessida-
co ainda da sua nova orientao de que se condiciona necessidade
scientifica: aco intermental, psy- particular do espirito. E' uma justi-
chologia intermental e, finalmente, da ficao provisria, porm coherente
mter-psychologia. Fouill fazendo a ao nosso ponto de vista restricto
analyso interpsychologica do eu no quanto possvel ao idealismo racio-
facto consciente (Morale des les nal e no uma metaphysica especu-
Forces), ohega, como lembra G-aul- lativa e theorica, como se deu com
tier, affirmao do facto moral o socratismo. Com applicao drecta
sem postular qualquer differena de aos phenomenos sociaes, a sociologia,
natureza entre a conscincia pura e frma de conhecimento, temos de fa-
simples, seja a conscincia psycho- zer naturalmente uma dissociao de
RESENHA DO MEZ 95
idas. O espirito critico deatre o prpria matria, pela sua alma que
fundamento do idealismo, tal foi o e o movimento, d, em ultima ana-
sentido <Ja philosophia de Kant, que lyse, esta emoo do continuo que
resolve as antinomias como entida- _o fundamento consciente da intui-
des lgicas e necessrias, exemptas o bergsoniana. Agora, feito o
de contradico, dando as duas pri- equilbrio dos themas philosophieos
meiras partes da Critica da Razo
pura, partes em que Kant faz a psy- necessrios eomprehenso da ma-
ehologia da these e da antithese, tria, do eu consciente, da lei de dis-
uma noo das mais contestveis da sociao implicando a noo de pro-
doutrina analytica do mestre de Koe- gresso, pudemos melhor analysar e
nigsberg. Modernamente, para Gaul- julgar da importncia philosophica
tier, o termo philosophico por excel- da ultima conferncia do sr. Ataul-
leneia a antithese. Pelo primado da pho de Paiva, sobre os novos hori-
zontes da Justia e Assistncia. O
these Evellin e outros crticos da Ra- illustre conferencista se inscreve com
zo pura, tentam a refutao do idea- a corrente dos evolueionistas que
lismo. . . Era agora a occasio pro consideram a justia como o prin-
picia para indagar at que ponto o cipio geral do progresso, preceituan-
ideal pde entrar no dominio dos do que, "ao oonjuneto da evoluo
factos?
da vida social, deve estar inteira-
E' mesmo possvel lembrar a as- mente ligado o da evoluo do direi-
similao precria to corrente hoje to". Logo aps apura e identifica a
entre sentir e conhecer derivando dis- concepo moderna do direito com
to o mysticismo philosophico con- o conceito do progresso e discute
temporneo, a corrente romntica do brilhantemente as opinies dos so-
idealismo bergsoniano, tendo-se ar- cilogos modernos inscriptos contra
ruinado j o pragmatismo de W. a sua these, em particular Faguet,
James e Peirce. So propriamente que faz sentir no haver progresso,
philosophias impressionistas. O im- e sim, progressos, o que no fundo'
pressionismo philosophico como o es- resulta um paradoxo. Desenvolve o
thetico, , de alguma sorte, passa- conferencista a sua these confirman-
geiro e falso. Donde resulta insuffi- do a sua ida de progresso, trans-
ciente todo o trabalho intelleetual formado numa necessidade, numa
desenvolvido de Kant a Nietzche: verdade. Proseguindo e desenvolven-
systematisao do personalismo das do conscientemente o seu thema, bem
impresses (Almachio Diniz). Mae- amparado pelo raciocnio natural ao
terlinck, no seu ensaio sobre a jus- fundamento lgico da questo, o ora-
tia, commenta muito bem o nosso dor, seguro da sua orientao scien-
momento philosophico (pragmatismo tifica (empirismo objectivo) embo-
radical ou idealismo racional f) e as- ra disfarando a emoo intelleetual,
segura que em poltica, como em que a vida e a alegria do pensa-
literatura, como em philosophia, co- mento, e pois a sua harmonia e bel-
mo em todas as seiencias, o obser- leza, no esquece na pesquiza racio-
vador vae vencendo o imaginativo. nal da verdade a observao directa,
...a noo da experincia que se como methodo psychologico de estu-
affirma
a
essencial ao conhecimento. do dos problemas sociaes e moraes.
fortuna singular do empirismo Mas, faltando ao equilbrio espiri-
armado. Servir a prpria cultura da tual, no desenvolvimento da sua the-
morai os meios empricos! Justifi- se, o conferencista diz ser a soli-
cada a dissociao do conhecimento dariedade a caracterstica singular
do moralismo, deste da ideologia, te- dos tempos modernos, o que na nos-
mos precisado a attitude final dos sa opinio pde ser considerado como
metaphysicos racionalistas domi- uma viso poltica transcendente,
nados pela exaltao apaixonada da nunca como uma realidade philoso-
vida como fonte de alegria e bel- phica essencial. A lueta o caracter
leza (passagem da sensao per- permanente da vida social a so-
cepo), vendo no phenomeno esthe- ciedade sendo um organismo vivo!
tico o instincto social por excellen- Chegamos, finalmente, ao ponto
eia, o instincto da representao. A culminante da erudita conferncia do
96 REVISTA DO BRASIL

sr. Ataulpho de Paiva o centro


de projeeo mental dos novos ho- BIBLIOGRAPHIA
rizontes da Justia e Assistncia,
aos trs grandes factores das novas JAKSON DE FIGUEI-
instituies sociaes: o internaciona- BEDO: Algumas reflexes
lismo, o mutualismo e o solidarismo. sobre a philosophia de Fa-
O internacionalismo um facto, de rias Brito (Profisso de f
accordo. O mutualismo, que o ora- espiritualista) Elo de Ja-
dor assgnalou ha tempos como uma neiro Typ. da "Revista
necessidade moral (o sentido da vida dos Tribunaes" 1916.
de essncia moral), para a defesa
social dos humildes, faz a sua tra- A apreciao do presente volume
jectoria em linha recta, vencendo as- tarefa complicada. Elle intitula-
sim o caminho mais curto. Emfim, se, tem por motivo e encerra refle-
assignalando a intermittente crise do xes sobre os livros de Farias Brito.
pacifismo, o orador proclama, com Mas a critica (no caso, simples no-
o seu ardente optimismo, sonhador ticia de calendrio) no chamada
a dizer sobre estes, seno a contar,
activo como , a sua fora moral e por maior, quanto sabe das "Be-
vencedora na conscincia collectiva flexes''. O intuito do noticiarista
dos povos. E' o pacifismo scientifi- esse mesmo. Tambm nisso est a
eo, racional, o que trata de melho- escusa de sua pressa.. .
rar a aco de um modo intelligente. Ha almas que parecem votadas
O pacifismo armado, procurando sys- adorao. Por muito que este ins-
tematirar as foras elementares, caho- tincto se disfarce, a necessidade de
ticas e violentas da natureza. O ora- adorar reponta sempre, como forma
dor mostra que existe esta corrente ineoercivel de sua actividade. Jack-
de cordialidade no nosso paiz, servi- son de Figueiredo assim, em ex-
dor, desde o imprio, das causas no- tremo afeioado a querer bem. Todo
bres e santas, quaes as da justia e do juizo, nelle, parte do affeeto. Do
progresso. "O sonho ha de caminhar affecto por si mesmo e do affeeto
parallelamente aco", um dos pelos outros. Desta intensidade emo-
pensamentos mais felizes do orador, tiva, diniana o feitio do livro, que ,
de onde se prova a sua viso interior antes de tudo, um lauatur ao es-
espiritualisada. No difficil assim eriptor cearense. Depois, no correr
explicar a sua larga sympathia hu- do trabalho, dominando^), certo tom
mana, pois a sua vida interior se pessoal, no sentido de uma preoc-
transmuta na vida social. A sua ex- cupao de abrir, indifferena do
presso feliz {curiosa felicitas, leitor, refolhos da prpria alma. As
"Reflexes" se assemelham, por este
como dizia Petronio, um puro parna-
modo, a um schema de vida emocio-
siano da antigidade latina). Em nal. L. Stein criou, para typos deste
synthese este o seu schema psy- molde, a denominao de confessa-
chologico: intelligencia constructiva, res, porventura simples euphemismo,
f no racional, optimismo pela cons- atraz do qual se divisa o ilettante,
cincia dos valores humanos, tendn- to bem desenhado por Goethe como
cia ao divino inconsciente, equilbrio sendo o espirito em que se cruzam,
nas razes de ordem intellectual, sen- immediatamente, teclmiea e fanta-
timento apurado da frma, com o sia. Tal a impresso que se recebe
limite da realidade, sem a ironia e de phrases onde, subentendida a cons-
a duvida que so as formas de nos- cincia, fala o A. de "realisao do
talgia do infinito. O seu pensamento divino", "divino imperfeito", e de
no fundo de essncia pragmtica outras em que elle, voltando os olhos
e considera os problemas sociaes para o mundo do seu espirito, se
as attitudes immanentes da alma, da confessa, ao mesmo passo, crente e
vida e da morte, como dizia Carlyle, atormentado por uma duvida infini-
condicionados suprema Justia. A ta. Velhos aspectos de idas de Fi-
tragdia da vids, , pois, para elle, chte, feitas, a seu despeito, singu-
de essncia moral. C. V L. laridades exquisitas, depois que o
RESENHA DO MEZ 97
romantismo estendeu at philoso- idea recebe expresso differente, o
phia as azas potentes da imaginao. que leva duvida segurana do syste-
Filiado a esta escola de pensamento ma. Aqui, o principio divino despe
e de expresso, natural que o A. os effeitos de entidade suprema de
no escapasse viso hegeliana do que o "pensamento uma fulgura-
mundo, embora lhe no seja fami- ao", para cahir na trvalidade do
liar a obra do grande dialectico. O noumenon. Qual dessas hypotheses a
prooeasus de Hegel encontrou aga- melhor, nao o sei dizer. No primeiro
salho no conceito da evoluo es- caso, se procuro na intelligencia hu-
foro permanente do cosmos pana mana o ponto de partida, sou fora-
adquirir conscincia de si mesmo (pg. do a attribuir ao Deus imaginado
63) conceito, creio eu, de ntel- precariedade e limitao; se, ao re-
ligencia difficil, seno impossvel, vez, affirmo a identidade entre Deus
fora dos cyclos hegelianos.. . e noumenon, estabeleo uma deter-
Por estranho ao convvio de guias minao, o que eqivale negao
eminentes, mesmo daquelles de que de noumenalidade. Noumenon no
mais devera approximar-se, como Fi- uma cousa, nem entidade. Do pon-
chte, Schelling, Hegel, Schlegel, ads-
tricto a receber de segunda mo, to de vista do conhecimento, o
desfigurado, o material de traba- enigma no se deixa decifrar. Phi-
lho, peeca, muita vez, o A., assim losopho j houve que poz, evi-
no criticar o escriptor cearense, como dencia, sob os olhos da avidez hu-
nos juizos que aventura sobre esp- mana, os perigos de tentativas con-
ritos de mais peso e vulto. Falhas, gneres, que todas fracassam, ao em-
e no pequenas, encerram, por exem- bate de paralogsmos, antinomias e
plo, as palavras de commentario demais escolhos, que a razo conhe-
philosophia de Kant (pags. 45 e ce e a fantasia no alcana. . .
121) ; de todo em todo ingnuas se Jackson de Figueiredo, fiel ao seu
me afiguram as observaes a res- modelo, contorna ento o problema,
impondo ida um elemento emo-
peito ao j caduco genis generalis- cional e sujeitando a razo f.
simum (pgs. 38 e segs.).
O sentimento a fonte nica do
A 'quelle descaso pelo convvio pro- nosso conhecimento (pag. 65) e, ao
veitoso^ dos grandes mestres, juntam- mesmo tempo, uma fulgurao de
se, porm, um inexcedivel desvelo por Deus. Seu mestre, Novalis, disse-o
Novals e um absorvente apego s com mais simpleza: "A esphera do
theorias delle. Ida j em Novals espirito o domnio do milagre". E
contida, ha de ecoar aqui, nas "Re- Deus , afinal, a fulgurao de mi-
flexes" de Jackson de Figueiredo. nha f. Ainda aqui se encontram
O "idealismo mgico" do torturado mestre e discpulo. . .
cavalleiro da blaue Blume, esplen- A educao religiosa, recebida pelo
dido cantor da noite e suas sombras, A. em collegio protestante, no lhe
resurte nas paginas do escriptor pa- passou pela alma, ao que parece,
trcio, inteiro, indivisvel, integral. com a violncia das tempestades in-
Num e noutro, no progono e no timas; , porm, asss verosimil del-
epgono, o mundo se reflecte como ia se tenha desprendido, suavemente,
uma imagem symbolca do espiri- gota a gota, a unco religiosa de
to , de^ cuja conquista resulta; o sua ida, o mystcismo que o trao
amor e_ o amen do universo": a fundamental nas "Beflexes".
imaginao exerce o grande poder, Mas ser o mystcismo philoso-
e a arte representa o grau mximo phia?. . . F. D.
da evoluo abstracta. Adiante. Para
Jackson Deus o supremo refugio. VESPASIANO RAMOS:
A intelligenoia humana conhece-o Coisa alguma... Rio, 1916
porque, entre eUa e Deus, se inter-
pe, hgando-os, o infinito (pag. 36) Editor, Jacintho Ribeiro dos
Santos.
Alis, tal conhecimento seria impos-
svel, consoante lio de Malebran- O A. deve ser bem moo: reconhe-
ciie. "Deus quer deusas", disse No- ce-se isso porque se percebe sem
vals. Noutra pagina, entretanto, essa pena que tem talento e ainda no

.
98 REVISTA DO BRASIL

tem individualidjade. Quando se tem HLIO LOBO A's


talento e no se tem individualida- Portas da Guerra Edi-
de, porque ainda se principiante o do Jornal do Commer-
na arte e na vida. No ha no livro cio.
nenhuma nota pessoal forte um
modo particular de sentir as coisas, J est publicado o novo livro do
uma maneira independente de pen- sr. Hlio Lobo, A 's Portas da Guer-
sar, um geito nico de buscar a ra, de que a Revista do Brasil repro-
expresso prpria. O poeta limita- duziu, ha mezes, um interessante ca-
se aos themas communs do emocio- pitulo.
nismo melanclico deante do amor, O joven escriptor e diplomata es-
dos mysterios do nosso destino, das tuda neste volume, o conflicto entre
imperfeies humanas e das agruras o Brasil e Uruguay em 1864 a pro-
da vida; e a sua expresso potica psito de offensas e aggravos de
e phraseologica se molda por typos toda ordem, feitos pelos uruguayos
conhecidos: aos brasileiros e nao brasileira.
Minha me ! Na existncia dolorosa, Esse episdio da nossa historia di-
O teu filho, por ngremes caminhos, plomtica e militar tem uma impor-
Viajor perdido em seiva tenebrosa. taincia extraordnaria. Do couflicto
Chora, a faita da iuz dos teus carinhos. com o Uruguay nasceu, ou, por ou-
tra, tomou pretexto a guerra do Pa-
Natai. Chego fi fazenda. As borboletas raguay; muito delicada foi tambm
Cruzam-se em frente chcara. Anoitece. nessa occasio a aco da nossa di-
Ha boninas e rosas e violetas :
Um cu de rosas tudo ali parece. plomacia e preponderante o peso dos
nossos recursos militares.
Inda hoje, e sempre, recordando aqueila Nada mais lucidativo para o co-
Manha primeira em que nis dois nos vimos. nhecimento das nossas deficincias e
Quanta saudade que sentimos delia. das nossas vantagens, assim de or-
Quanta saudade que ns dois sentimos ! dem material como de ordem intel-
E assim por todo o livro: um sa- lectual, do que o exame desse epis-
bor persistente de "coisa j lida", dio. Opulencia da nossa diplomacia,
encarnada superiormente em Silva
um colorido gerai de impessoalidade
Paranhos, bravura de nossas foras
por tudo, por mais que o poeta fale
representadas pela figura herica de
de si. Mas, se elle moo, como pa-
rece, isto passa. Nos moos, as im- Tamandar, desorganisao completa
do nosso apparelho militar, attestada
presses das leituras recentes, o en-
pela deplorvel invaso do Uruguay
thusiasmo pelos autores favoritos, o
e ausncia de educao poltica re-
apego exaggerado s formas exterio- velada pela demisso brutal e injus-
res do pensamento abafam freqen- tificvel de Silva Paranhos, ahi esto
temente toda originalidade e toda algumas das lies que, do ponto de
sinceridade: um dia, porm, o joven vista brasileiro, se colhem desse exa-
poeta se descobre, reentra em si,
me. Outras ha importantes tambm,
commovido e espantado de haver fu- mas bastam essas para tornar at-
gido tanto de si prprio; e ento
trahente e significativo o estudo des-
elle comea realmente a ser um poe- se capitulo da nossa historia.
ta. Faaanos votos por que isto se d,
quanto antes, com o sr. Ramos. As J conhecida e apreciada
a maneira sobriamente distincta com
suas qualidades de versificador so
que o sr. Hlio Lobo escreve os seus
apreciveis; o seu verso em geral
fluente, claro, elegante: trabalhos de historia. Despido de
fantasias e declamaes, o seu estylo,
Prometteste voltar ! Nao voltes, Christo : sempre sereno e medido, talvez um
Sers preso de novo, s horas mudas. pouco frio, frieza alis calculada e
Depois de novos e divinos actos,
procurada, a frieza do motivo, tor-
Porque, na terra, deu-se apenas isto : na-o um narrador substancioso e ele-
Multiplicou-se o numero dos Judas
. . . B vae crescendo a prole de Pilatos. gante na sua brevidade, que se acom-
panha com muito prazer e que se
Podiam multiplicar-se os exemplos. deixa com muito pezar. Ao critrio
de historiador allia-se nelle uma dose
RESENHA DO MEZ 99
elevada de sentimento artstico, de de arte que ella parece pregar, e que
sorte que a documentao dos aeus sobretudo pregam os seus enthusias-
trabalhos, por abundante que seja, e tas, para justificar, elevar e propa-
sempre o , nunca produz no leitor gar o culto da dansa como expres-
essa impresso de fadiga e aridez so de estados de alma e de idas,
que constitue a atmosphera natural isso que deve ser acolhido ainda
dos relatrios officiaes e dos livros com cautelosas reservas.
de erudio feitos sem talento lite-
rrio. _Os seus trabalhos so slidos
mas no so pesados.
O volume A 's Portas da Guerra l-
se de uma assentada, sem saltar uma Estreou a 21, a Grande Companhia
nota e sem contornar uma trans- Lyrica de que primeira figura Ma-
eripo. . . ria Barrientos. Como a nossa Revis-
O livro inteiro interessante e de ta j, estava a entrar para o prelo,
principio a fim tratado com o mes- s no numero seguinte poderemos re-
mo cuidado. Merecem destaque, en- ferir-nos temporada lyrica em So
tretanto, os captulos Ss na Ame- Paulo.
rica, Desarmados e todos os que se
referem a Bio Branco e sua misso
no Prata.
MOVIMENTO
LITERRIO
MOVIMENTO
Acabam de apparecer dois livros
ARTSTICO de valor: a Historia da Literatura
Brasileira, obra posthuma de Jos
THEATROS Verssimo, e Ironia e Piedade, vrios
eacriptos de Olavo Bilac, edies da
Isadora Duncan visitou o Rio e Livraria Alves. A Historia da Lite-
S. Paulo este mez. A impresso ge- ratura, composta com aquelle amplo
ral foi grande e forte, e o publico, conhecimento dos assumptos, rigoro-
se no proporcionou enormes casas sa probidade e desapaixonada isen-
artista, sobretudo em S. Paulo, o que caracterizam a obra critica
lhe fez entretanto um acolhimento do illustre amazonense, , com cer-
intelligente e cordial. E' imposs- teza, e seja qual fr o julgameaito
vel, porm, como sempre acontece em que se faa das idas e opinies ex-
coisas de arte, muito misturadas postas, um livro precioso, como bem
sempre de moveis extramhos, entre poucos tm sabido de mos de ori-
os quaes avultam os criados pelo
snobismo social e pelo eabotinismo tieos no Brasil. Ironia e Piedade
literria, saber-se at que ponto a um collar de deliciosas chronicas e
danarina americana agrada intima- divagaes, feitas com muita ahna
mente ao freqentador mdio dos e muita forma, como tudo o que sae
theatros. das mos do nosso grande poeta, que
A nossa opinio que Isadora tambm um grande prosador.
Duncan uma creatura extraordin- A propsito: estes dois livros sur-
ria, um caso raro de hipertrophia da giram sem o mais leve rudo. Algu-
sensibilidade esthetica num dado sen- mas rpidas linhas de noticirio em
tido. Essa hipertrophia levada a um um ou outro jornal, e mais nada.
certo ponto o que constitue o g- Isto, num paiz onde se faz tanto
nio, e no ser absurdo enxergar rumor em torno de quanto folheto
genialidade nessa mulher que tem surge a lume com assignaturas des-
to penetrante e mysteriosa intuio conhecidas, constitue um contraste
da belleza antiga, e que a tra- chocante e inexplicvel. Mas no
duz, originalmente, dando movimen- dos jornaes a maior culpa: a grande
to, emoo e vida ao que s vemos culpa dos editores, que ainda no
immoto e frio nos primores da esta- se convenceram de que o commercio
tuaria e da pintura. Mas a doutrina de livros precisa absolutamente,

100 REVISTA DO BRASIL

como todo coinmercio, de aununcio A mesma Sociedade, que j publi-


e de reclame. No com meia dzia cou dois alentados volumes de confe-
de linhas em trs ou quatro jornaes rncias realizadas sob os seus aspi-
que se ha de levar a todo o publico cios, deu composio mais um vo-
ledor do paiz a nova do appareoi- lume, consagrado inteiramente bel-
mento de um livro, muito memoa mo- la serie de Affonso Arinos sobre
ver a curiosidade e despertar o in- "Lendas e Tradies Brasileiras", e
teresse dos refractarios. E' indis- dar comeo ao quarto volume logo
pensvel chamar a atteno do pu- que o sr. dr. Alfredo Pujol termine
blico, insistentemente, por interm- a sua brilhante serie sobre Machado
dio da imprensa, do prospecto, da de Assis.
circular, do affiche, de todos os meios
decorosos. Nada disto se faz, mas
depois proclama-se que o publico no LIGA DA DEFESA
l, no sabe lr, no quer lr.
NACIONAL
A recepo do poeta Goulart de Pundou-se no Rio de Janeiro, a
Andrade na Academia Brasileira ef- Liga a Defesa Nacional, graas
fectuar-se- no dia 30 do corrente. iniciativa dos srs. Olavo Bilac, Pedro
Lessa e Miguel Calmou. A primeira
directoria da Liga esta: Presiden-
te, o sr. Wencealau Braz, presidente
So caaididatos eleio, nas va- da Republica; vice-presidentes: gene-
gas existentes na mesma Academia, ral Caetano de Paria, ministro da
conforme se verificou no encerra- Guerra; vice-almirante, Alexandrino
mento das inscripes: o sr. Baro de Alencar, ministro da Marinha;
Homem de Mello, na vaga de Jos Dr. Pandi Calogeras, ministro da
Verssimo; os srs. Miguel Couto e Fazenda; conselheiro Ruy Barbosa,
Osear Lopes, na de Affonso Arinos; conselheiro Joo Alfredo, monsenhor
o sr. Ataulpho de Paiva, na de Ar- Vicente Lustosa de Lima, dr. Pedro
thur Orlando. Lessa, dr. Miguel Couto, dr. Miguel
Calmon e dr. Gabriel Osrio de Al-
meida. Thesoureiro, Affonso Vizeu.
Est-se imprimindo nesta capital Secretario geral, Olavo Bilac.
um livro de sonetos de Guilherme de Essa directoria foi eleita no dia 7
Almeida "Ns", com illustraes do corrente mez. quando se effectuou
de Corra Dias. Esse livro, lido, ha no salo da Bibliotheca Nacional,
dias, perante um grupo de homens a primeira reunio do directorio or-
de letras e amigos do autor, na re- ganisador. Dizendo os fins da Liga,
daco do "Estado", causou excel- falou o sr. Olavo Bilac:
lente imjiresso.
"O paiz j sabe, pela rama, o que
esta Liga pretende fazer: estimu-
lar o patriotismo consciente e cohe-
O interessante trabalho do sr. sivo; propagar a instruco prima-
dr. Alberto Seabra "Os versos ria, profissional, militar e civica; e
ureos de Pithagoras", que uma defender: com a disciplina, o traba-
srie de conferncias, ser editado lho; com a fora, a paz; com a cons-
em volume logo que se termine a pu- cincia, a liberdade; e, com o culto
blicao nesta revista. do herosmo, a dignificao da nossa
historia e a preparao do nosso por-
vir. O intuito principal dos que nos
Devem realisar conferncias lite- animam este: a fundao de um
rrias, ainda este anuo, na Sociedade centro de iniciativa e de encoraja-
de Cultura Artstica, desta capital, mento, de resistncia e de conselho,
os srs. Alfredo Pujol, Alberto Paria, de perseverana e de continuidade
Alberto de Oliveira, Medeiros e Al- para a aco dos dirigentes e para
buquerque e Oliveira Lima. o labor tranquillo e assegurado dos
RESENHA DO MEZ 101

dirigidos. O patriotismo individual, e na humildade da minha fervorosa


a crena pessoal, a conscincia pr- esperana, acredito que este dia ser,
pria nunca estiveram ausentes do para a nossa historia, o complemen-
maior numero das almas brasileiras. to e o remate da obra de 7 de Se-
Mas esses sentimentos oscillam e va- tembro de 1822. Inaugura-se hoje a
cillam numa vaga disperso; e, nessa victoria da inteira e verdadeira In-
mesma disperso deplorvel, perdem- dependncia da nossa nacionalidade.
se e dissipam-se os esforos isolados. Recebei com carinho a Liga da De-
A extenso do territrio, a pobreza fesa Nacional, creao de Pedro Les-
das communicaes, o accordo pouco sa e Miguel Calmon. Deus vos ins-
definido de uma federao mal com- pire, e a ptria vos abenoe!"
prehendida, a mingua da ventura em
muitos sertes desamparados, a in-
opia da instruco popular susten-
tam e aggravam esta desorganiza- A EDUCAO
o. A descrena e o desanimo pros- NACIONAL
tram os fortes; o descontentamento
e a indisciplina irritam os fracos; O sr. A. Carneiro Leo realisou nes-
a communho enfraquece-se. E' tem- ta capital, nos dias 24, 29 e 31 de
po de protestar e de reagir contra Agosto, trs conferncias sobre educa-
esse fermento de anarchia e essa ten- o. Versava a primeira sobre "O
dncia para o desmembramento. O Brasil e a educao popular". O con-
protesto e a reaco esto nesta Liga, ferenoista, depois de mostrar a si-
cujo titulo claro e synthetico. A tuao social, econmica e moral do
defesa nacional tudo para a Na- paiz, affirmando a urgncia de edu-
o. E' o lar e a ptria; a organi- car o povo na 3scola do trabalho,
zao e a ordem da famlia e da so- na pratica da aco, no culto da
ciedade; todo o trabalho, a lavoura, energia, no desenvolvimento das qua-
a industria, o commercio; a moral lidades individuaesfactores nicos e
domestica e a moral poltica; todo seguros para a formao de uma
o mecanismo das leis a da adminis- nacionalidade poderosapatenteou o
trao; a economia, a justia, a ins- desastre da nossa orientao aban-
truco; a escola, a officina, o quar- donando a massa ignorncia e di-
tel; a paz e a guerra; a historia e a rigindo a minoria para as profisses
poltica, a poesia e a philosophia; publicas. E assignalou a necessidade
a sciencia e a arte; o passado, o pre- de iniciativa, de aco perseverante,
sente e o futuro da nacionalidade. virtudes somente adquiridas numa
Todo este programma vasto e com- educao pratica que procure, antes
plexo no pde ser estudado e escla- de tudo, animar o homem a no con-
recido pela minha palavra incompe- tar seno comsigo prprio, a no es-
tente. Fundada a Liga, devemos hoje perar pelos outros, a ser capaz de se
confiar-vos esta misso altamente desembaraar, de se affirmar sosi-
nobre. Pedimos s vossas luzes um nho. Diz sympathisar com os pro-
estatuto para a Liga, e um corpo de cessos e methodos de ensino paulista,
doutrinas e de exemplos, de boa pa- mas deseja um desenvolvimento maior
lavra e de boa aco, que sejam guia da educao popular, porque ser por
e conforto para o governo e para ella que se ha de affirmar o Brasil
o povo. A's vossas mos entregamos futuramente como uma das mais pu-
toda a segurana do Brasil. Quize- jantes nacionalidades. A segunda
mos que esta primeira reunio do conferncia foi sobre "Educao Ci-
directorio central se realizasse neste vica". O sr. Carneiro Leo clama
dia. Assim celebraremos, sem solen- pelo alevantamento do amor da p-
n ida de, mas com o simples e sereno tria. Para amar a Ptria preciso,
respeito dos verdadeiros crentes, o antes de tudo, que a conheamos. E'
anniversario da Independncia. E pela sua geographia e a sua historia,
quizemos que esta celebrao se fi- pelo cultivo cuidadoso da lingua
zesse neste lugar, a casa dos que chegaremos a esse fim. E' tam-
livros, o templo das idas, cre- bm pelo servio militar obrigat-
bro do Brasil. Na minha cousciencia. rio, mas deseja que o exercito se edu-
102 REVISTA DO BRASIL

que. As fileiras, como esto, no po- poder e dever saber encontral-os e


dem ser ainda esse ncleo de civis- mostral-os aos seus educandos.
mo e de reaco contra o afrouxa-
mento nacional. Depois preciso ver
a maneira de executar esse servio. REVISTAS E JORNAES
Se se fosse misturar desordeiros e
desclassificados, aos nossos moos, HOMENS
nossa juventude, obteramos um de-
sastre, onde esperaramos uma sal- E COISAS NACIONAES
vao. Se se fosse arredar dois an- A COMEDIA ORTHOGRAPHICA
nos, a fio, dos seus estudos, das suas
profisses, dos seus trabalhos, o ado- Ha tempos, o glottologista Bru-
lescente patrcio, despovoando os
not foi encarregado pelo ministro de
campos, perturbando a vida da mo- Instruco da Frana de apresentar
cidade brasileira ainda seria um
um plano de reforma da orthogra-
grande mal. Mas, feito por alguns phia. Apresentou-o. Tal foi, porm,
mezes apenas annualmente, ainda que
a opposio que se levantou contra a
durante vrios annos, ser uma me-
proposta do illustre scientista, que
dida magnfica. acharam prudente deixar o projecto
E eoncle: Sem a historia que
dormindo na pasta ministerial. Sa-
nos incuta a magnificncia do nosso
lientaram-se nessa campanha os lite-
passado e a geographia que nos mos-
ratos, que l, como em outras partes,
tre os fulgores do nosso paiz, a gran-
ainda se tm na conta de unicos de-
deza do nosso territrio, o servio fensores e guardas da sua lingua,
militar obrigatrio que nos habitue ida que tinha a sua razo de ser
cooperao pela segurana da p- ha um sculo atraz, quando se jul-
tria e a educao que affirme o di- gava que as lnguas se fixam ao at-
reito, a justia, as verdades liberaes tingirem um certo grau de perfeio
do presente e a esperana de um literria, mas indefensvel desde que
grandioso futuro, o nosso civismo se constituiu a seiencia da lingua-
ter a consistncia das declamaes gem. As prineipaes objeces eram
retumbantes e vasias, que no apro- as seguintes:
veitar nem ptria, nem a decla-
madores nem a ningum. A reforma pretendia fazer a or-
Sobre "Processos de Educao mo- thograplda andar mais de pressa do
ral" que versou a derradeira pa- que a lingua (objeco de Berthe-
lestra do nosso collaborador. Nella lot). Ora, a verdade que o au-
o conferencista d a sua opinio so- tor do projecto pretendia apenas que
bre a maneira de orientar e con- a orthographia no permanecesse to
duzir o indivduo desde o bero e a atrazada em relao marcha evo-
escola, atravez as vieissitudes da lutiva da lingua: a orthographia
vida. Insurge-se contra o exclusivis- actual com pouca differena a mes
mo do ensino moral abstracto, en- ma do sculo XIII, e nesse perodo
tendendo que a educao moral deve de setecentos annos a lingua mudou
depender das condies vitaes psy- muitissimo. Basta recordar que Join-
chicas e do meio em que vivem os ville escrevia moi, eu, e pronunciava
educandos. Cita vrios episdios, in- mo-i; escrevia mains, mos, e pro-
numeras observaes curiosas e con- nunciava ma-ins. Hoje, pronuncia-se
vincentes de psychologos, educadores mo, men, e escreve-se da mesma
e moralistas em auxilio de sua these. forma que nos tempos de Joinville.
E termina dizendo que os meios A reforma desfiguraria a lingua.
suggestivos so sempre salutares O contrario que era verdade: a
quando a vitalidade est em condi- orthographia actual que desfigura
es de consentir que elles actuem. a lingua, no s porque est atra-
Nesse momento, ento, os actos da zada de sete sculos em relao a
vida diria, uma leitura, o conunen- ella, como porque, reagindo sobre a
tario de um facto, tudo rico em pronuuciao de muitas palavras,
motivos moraes e todo o educador lhes modifica indebitamente a for-
RESENHA DO MEZ 103
ma, reiutroduzindo nellas sons j jeces dessa ordem nada ha que
dsappareci(los ou emprestando-lhes dizer. So irrespondveis.
sons que ellas nunca tiveram (como Ha cerca de dez annos, a Acade-
em ompter, onde um errado zelo mia Brasileira adoptou uma reforma
etymologico collocou um p injusti- proposta por certo grupo de acad-
ficvel ). micos, frente dos quaes se achava
A reforma era anti-etymolo/ica, e o sr. Medeiros e Albuquerque. Essa
a etmologia deve ser a base de todo reforma, entretanto, no foi acceita
systema orthographico. Tambm officialmente, no logrou ser segui-
no verdade que a reforma fosse da seno por poucos eseriptores, e
anti-etymologioa. Em certo sentido, entre estes nem estavam sequer to-
nenhuma orthographia pode deixar dos os acadmicos. Quatro annos de-
de ser etymologica. Quer se escreva pois, surge a reforma portugueza,
lais ou l, a palavra a mesma e a elaborada por uma commisso de 11-
sua origem no pode ser obscurecida. lustres philologos. Adoptada official-
Haveria at vantagem para os ety- mente e obedecida pela maioria dos
tnologistas em escreverem-se os vo- jomaes e dos eseriptores, essa refor-
cbulos como se pronunciam, porque ma encontrou no Brasil a mesma op-
assim os erros e fantasias orthogra- posio que em Frana se levaptou
phicas no os levariam a perdei a contra o projecto Brunot. Beedita-
pista s formas evolutivas que estu- ram-se aqui todas as objeces le-
dassem. Demais, isto de etymologias vantadas em Frana contra esse pro-
no tem nenhuma importncia prati- jecto. Para responder aos advers-
ca para o eommum dos homens. A rios de c bastaria recapitular a
maior parte destes podem aprender discusso travada vrios amnos antes
a escrever doigt com gt e philosophie naquelle paiz. Assim, a reforma por-
com dois ph, mas nem por isso ficar tugueza, que devia ser acolhida, a
sabendo de onde vieram esses voc- querermos razoavelmente agir, como
bulos. uma pequena sorte-grande que nos
A reforma rompia com a tradio. livraria de uma situao de desordem
Ao contrario; ella procurava fa- desagradvel e prejudicai, naufra-
zer que se voltasse velha tradio gou por completo no Brasil. Conti-
de todas as linguas, interrompida nuamos a ser o nico paiz do mundo
modernamente: considerar a ortho- civilisado onde cada um escreve como
graphia como uma simples vestimen- lhe parece, onde nem sequer nas es-
ta da lingua, sem direitos prprios, colas officiaes se observa um sys-
obrigando-a a acommodar-se quanto tema orthographico nico.
mais ao corpo a que se destina. Ultimamente, a Academia resolveu
estudar a reforma portugueza, pare-
A reforma era de um phoneticismo ce que num intuito de accordo. Mas
exagerado. Outro erro: no era pouco provvel que se consiga esse
"phonetica" e reforma proposta. A effeito. Por um lado, a opposio j
orthographia phonetica, systema em se levanta de novo por todos os can-
que a cada som corresponde um ni- tos, destruidora, tenaz, e por outro
co signal e a cada signal um nico lado a Academia, autora de um pla-
som, no pode ser usada pelo pu- no, difficilmente se resolver a abrir
blico, por sua complicao, e nin- mo do seu, anterior em data, para
gum sabe disto melhor do que os acceitar o extranho. Entretanto se
lingistas, que empregam o systema ella se collocasse num poeto de vista
nos aeus trabalhos scientificos espe- elevado, como o dos interesses supe-
ciaes, quando tratam de distinguir riores da lingua e da literatura, se-
com certo rigor as numerosas diffe- ria fcil a conciliao. Partiria do
renas de sons existentes na lingua. principio que todo systema orthogra-
Por fim, surgiram objeces senti- phico deve ter por objectivo servir
mentaes, como a dos que se oppu- a quantos escrevem em lingua por-
nham abolio do y porque esta tugueza, e portanto deve regular-se,
letra, alm de outras virtudes, sug- no pela pronumeiao de Lisboa, d
geria logo a forma do lys... A ob- Alemtejo, do Minho ou do Eio de
304 REVISTA DO BRASIL,

Janeiro, mas por todas ellas, procu- A semente dessa organisao foi
rando, no represental-as todas, mas lanada no Districto Federal em
a todas accommodar-se. Ora, sob este 1909. Data dessa poca a iniciao
critrio, a reforma portugueza su- no territrio brasileiro do servio de
perior brasileira. Considerado isto, inspeco medica escolar em cujo
e ainda que aquella j est official- plamo collaboraram profissionaes de
mente adoptada em Portugal e j atilada competncia. Suspenso pou-
l seguida por toda a gente, nada co depois esse servio, em fins de
ha de melhor a fazer do que saltar 1915 o professor Azevedo Sodr, que
por cima de preocoupaes estreitas ento exercia as funees de Dire-
e perfilbal-a. sem restrices. Alle- ctor ila Instruco Publica, o resta-
gam alguns que os portuguezes a fi- beleceu, como um corollario lgico
zeram sem se incommodar com o pa- do seu complexo programma de re-
recer dos brasileiros competentes, som modelao do ensino primrio e ele-
consultal-os, como que resolvidos a mentar nas escolas do Districto Fe-
impol-a. Ser melhor, por todos os deral, dando-lhe a designao de
"Inspeco Medica Escolar", que se
motivos, que no ae leve a questo ocoupa de todas as questes que in-
por esse caminho. Limitemol-a ao se- teressam a collectividado infantil no
guinte: a reforma portugueza boa, seu tramscurso pelos estabelecimentos
ou no ? Accommoda-se, ou no, aos municipaes de ensino. A esse ser-
hbitos prosdicos dos brasileiros em vio deve-se, porm, addicionar,
geral? Se sim, adoptemol-a logo. Se sem perda de tempo e como com-
no^ tambm ser prefervel adop- plemento lgico do benemrito ser-
tarmol-a, ainda que com alguma res- vio de puericultura nacional, or-
trico, a continuarmos na anarchia ganisado pelos poderes pblicos, a
deplorvel em que vivemos; porque creao das clinicas escolares gratui-
emfim um systema, e um systema tas, que no Rio de Janeiro tero a
bem feito, e um systema que garan- funeo de acudir, de modo pratico
tir a unidade orthographica nos e effectivo, parte indigente ou ne-
dois paizes. Demais, se formos en- cessitada da sua populao infantil,
trar em comsideraes extranhas ao concedendo-lhe graciosamente o soc-
mrito da reforma, talvez tenhamos corro medico, pharmaceutieo e at
de reconhecer que antes dos portu- mesmo dietetico, que deve revalidar
guezes andaram mal os brasileiros, a sua sade no caso de estar avaria-
pois a reforma adoptada psla nossa da ou combalida. Trabalhando com
Academia anterior de vrios an- o apoio moral e material da Munici-
nos official de Lisboa. No cure- palidade no interior dos meios po-
mos disso. Tratemos de fazer obra de bres, ella exerceria o papel de uma
bons amigos da nossa velha e nobre fora intelligente e activa, habiimca-
lingua portugueza, de attender aos te dirigida contra os factores mxi-
mltiplos interesses ligados manu- mos da mortalidade infantil: a mi-
teno da unidade. (Amadeu Ama- sria e a ignorncia. Uma vez assi-
ral o Estado de S. Paulo.) gnalada pela autoridade sanitria a
molstia ou affeco que priva o edu-
cando de comparecer s aulas, o soc-
CLINICAS ESCOLARES GRATUITAS corro daquellas clinicas no deve
tardar.
Entre as muitas falhas e omisses A organisao das Clinicas Esco-
que de longa data prejudicavam o lares gratuitas no Districto Federal
ensino primrio na Capital da Repu- uma necessidade inadivel, que no
blica destacava-se a que se referia pode ser discutida nem impugnada,
organisao de uni servio regular so fr levada em linha de conta a
de inspeco medica nas escolas, ar- grande massa de crianas indigentes
chitectado sobre bases rigorosamente ou quasi indigentes que freqentam
technicas e dentro das quaes se dis- annualmente os estabelecimentos de
puzessem todos os instrumentos- de ensino da Municipalidade. Em 1910
defesa sanitria da ereana. a cifra das matrculas subiu a ....
RESENHA DO MEZ 105

67.985, no seiwio fora cl acerto contribuintes. O fisco prussiano pos-


deduzir desse total cerca de um ter- sue illimitados poderes para conhe-
o de escolares reconhecidamente po- cer o total das rendas de cada indi-
vduo; e o contribuinte abandona-
As Clinicas Escolares Gratuitas, do do ao poder discricional da admi-
mesmo modo que a assistncia den- nistrao publica, que lhe pde vio-
taria, encarada pelo seu valor pro- lar a liberdade individual e at o
phylatieo, e as Colnias de frias, segredo dos negcios. Esse imposto
promettidas aos infantes convale- , em summa, a expresso do que ha
ceiites e deprimidos, lympliatieos e de mais duro e mais rigido numa le-
debilitados, so, neste momento em gislao fiscal; e representa, sob a
que todos os paizes cultos defendem forma moderna, um estado de escra-
a vitalidade dos seus filhos, procu- vido, de absoluta dependncia da
ram melhorar a sua raa, amparam personalidade humana autoridade
as classes proletrias e do combate legal. O Einkommensteuer no
indigencia e ao egoismo, um ins- uma'innovao fiscal dos nossos
trumento prestimoso, porquanto sal- tempos: ao contrario, a sua origem
vando as crianas pobres das garras bastante remota. J em 1812 o
da morte, rehabilitam valores sociaes systema de declarao fiscalisada
que no devem ser amnullados, pro- era admittido na Prssia, com pe-
tegem unidades econmicas em for- nalidades severas, tanto que a me-
mao e que no podem sair da cir- tade do capital oceulto podia ser
culao, sob pena de abalarem os cr- confiscado. A resistncia encontra-
ditos e o progresso das nacionalida- da na primeira tentativa persuadiu
des novas a que pertencem. (Dr. Luizi o legislador a renunciar ao imposto.
Barbosa Jornal do Commercio). Em 1820 recorreu-se a uma diviso
em classes e subclasses, devendo o
contribuinte, a juizo do fisco, in-
HOMENS screver-se numa classe ou noutra. A
cada subclasse correspondia uma
E COISAS ESTRANGEIRAS taxa uniforme. A primeira lei do
imposto sobre a renda na Prssia
O IMPOSTO SOBRE A RENDA
foi promulgada em 1852 e modifi-
O tvpo mais perfeito do imposto cada em 1873, depois da abolio
geral sobre a renda, e aquelle em dos diversos impostos de origem
que a fiscalisao levada ao limite feudal. Finalmente, em 1891 a de-
extremo, o Einhommensteur Vi- clarao voltou a ser obrigatria.
cente na Prssia. Esse imposto sobre lssa declarao e a verificao del-
a renda tem vrios defeitos, entre os ia constituem presentemente a base
quaes: a obrigatoriedade da declara- do systema prussiano. Ha commis-
o, a taxao arbitraria e os pode- ses especiaes que conservam o con-
rea disorieionaes dos agentes pbli- tribuinte sob uma rigorosa fiscali-
cos. Apesar do rigor das medidas sao. E no emtanto, a fraude
coercitivas, de trs declaraes uma freqente. "Adquire-se a convico
contestadu. E, o que mais, o de que numerosas declaraes so
imposto no d grande lucro ao Es- inexactas e que a maioria dessas
tado. "E' preciso reconhecer, escre- declaraes falsas no contesta-
ve o sr. Caillaux, que em theoria o da", confessa um conhecido polti-
imposto allemo sobre a renda e co. Ha casos, alm disso, em que
quasi perfeito. Infelizmente, o sys- difficil mesmo ao contribuinte mais
tema ideal da declarao produz, na cor.si-iencioso, avaliar com certeza
pratica, resultados bem medocres". os lucros de uma empreza commer-
Effectivamente, em theoria o Ein- mercial ou agrcola. E orno conse-
hommensteucr seria propriamente a qncia de tudo isso registrou-se, em
forma ideal do imposto sobre a ren- 1912, sobre uma renda taxavel de
da, ae, no interesse das finanas pu- 16 bilhes de marcos, apenas a som-
blicas no fosse necessrio verifi- ma de 377 milhes recolhida para
car a declarao obrigatria dos o imposto sobre a renda.
106 REVISTA DO BRASIL

Mais do que o exemplo da Prs- ou do commerciante. E ainda aqui


sia, porm, os partidrios do im- encontramos em vigor um systema
posto total sobre a renda, citam o essencialmente inquisitorial, que vio-
da "livre Inglaterra", que apre la o segredo dos negcios e levanta
sentam como o modelo das naes protestos unanimes. Quando as fi-
submettidas a esse imposto. Entre- nanas do Estado se adiavam em
tanto, quando se considera impar- boas condies, o fisco acceitava
cialmente o systema do income tax, como exacta a declarao do com-
se constata que o povo inglez no merciante; mas, de 1907 em dian-
est ainda bem habituado a tole- te, o Thesouro inglez mais rigo-
ral-o, e que, sob muitos aspectos, roso e exige a apresentao dos li-
seria prefervel o antigo systema da vros de eommercio e, sob juramen-
Frana. O income tax foi introduzi- to, sujeita a interrogatrios os em-
do na iTiglaterra em 1799 para sus- pregados. Depois do principio da
tentar a luota contra Napoleo; e, guerra houve varias modificaes
apesar da elevada taxa de* 10 % do income tax com o fim de lhe
deu apenas 150 milhes, contra a augmentar os rendimentos. No an-
espectativa de Pitt que contava com no fiscal de 1912-13 esse imposto
250 milhes. Em 1801, com grande produziu 41.206.000 libras esterli-
satisfao do povo, foi supprimido; nas, com a taxa de um shilling e
mas, em 1803, reencetadas as hos- dois pemoe. A lei financeira de 1915
tilidades, appareceu o imposto ce- elevou a taxa a 2 shillings e 6 pen-
dular, que occasionou a mais pro- ce, e, no discurso de Setembro des-
funda averso. Em 1815, lord Bron- se anno o ministro das Finanas pe-
gham acabou com esse imposto, pro- diu um novo augmento de 40 "l.
mettendo que, na Inglaterra, nunca Vejamos agora o systema em vi-
se veria outro semelhante. Todavia co- gor na Frana. Antes de 1789 era
mo em 1840 as finanas do paiz no continua a lueta entre o fisco e os
haviam melhorado, e depois de uma contribuintes. A Revoluo pz ter-
violenta crise industrial e operaria, mo a isso, inaugurando o systema
Robert Peel restabeleceu o income de medir a riqueza do indivduo pe-
tax para um periodo renovvel de los signaes exteriores delia, impondo-
trs annos; e at os ltimos tempos lhe a taxa proporcional: o nico sys-
esse imposto no se havia incorpo- tema, na verdade, que applicavel
rado na lei do oramento, mas era num paiz "onde a Constituio, os
objecto de um voto especial. principies, as leis, os costumes, pres-
A Historia d sufficiente teste- crevem toda espcie de Inquisio".
munho das difficuldades encontra- Os novos impostos estavam j em vi-
das pelo fisco, mesmo na Inglater- gor quando um "dficit" de 60 mi-
ra, para estabelecer o imposto sobre Ihe foi constatado no oramento de
a renda. O income tax ce sobre as 1793. O oramento de 1792 era de
icndas nas suas prprias fontes: o 600 Tuilhos ao todo, sendo preciso
inquilino deve descontar o imposto manter mais uma fonte de imposto.
ilo aluguer que paga ao senhorio; O deputado Vernier apresentou en-
o industrial dos salrios que paga to um projecto de taxa sobre o lu-
aos operrios e empregados; o ban- xo, em que avaliava em mil francos
queiro dos titules que paga aos o necessrio vida, para cada pae
clientes. E' um imposto cedular, e cada me de famlia, e em 500
sendo cinco as cdulas, cada uma para cada filho: essas sommas eram
das quaes formando uma taxa es- isentas do imposto sobre o luxo que
pecial perceptvel de modo diverso. devia recahir progressivamente so-
Mas, se fcil exigir uma taxa pre- bre as cifras maiores. "A nica dif-
cisa sobre os alugueres, sobre os fieuldade, declarava o prprio Ver-
salrios, sobre os titules; se pos- nier, ser a de descobrir o verda-
svel avaliar a rendas dos immoveis, deiro lucro liquido do contribuin-
e estimar arbitrariamente os lucros te". E estranho que a lei votada
dos agricultores, bem mais difficil em 1914 reproduza nas linhas prin-
conhecer os lucros do industrial eipaes, exactamente esse projecto de

\
RESENHA DO MEZ 107
1793. O imposto sobre a renda em vidual. As duas idas tinham a van-
Frana uma taxa nova, porque tagem de dar resultado muito me-
no substitue nenhuma j existente. lhor do que o que se espera da nova
S deve reeahir sobre 500.000 con- lei sobre o imposto. Mas no tra-
tribuintes, no mximo. Ser appli- riam o inventario dos patrimnios
cado a todas as pessoas, mesmo es- que parece ser o fim principal a
trangeiras que tenham em Frama que se visa. Ser, porm, no mo-
moradia habitual. So isentos de memto actual aconselhvel seme-
imposto: os celibatarios e as nubeis, lhante inventario? Ser til e pru-
cuja renda liquida for inferior a dente constatar officialmente, a di-
5.000 francos; os casados sem fi- minuio da riqueza publica que os
lhos, cuja renda no fr alm de acontecimentos sem duvida nenhuma
7.000 francos; os casados que tive- oocasionaramf (Etienne Falck
rem uma pessoa a seu cargo e cuja Le Correspondant, Paris).
renda no fr alm de 8.000 fran-
cos. O imposto normal de 2 por cen-
to, mas a lei prev reduces em O NACIONALISMO NA ARGENTINA
casos esrpeciaes. O contribuinte no
obrigado a declarar a sua renda: Sejam quaes forem as suas fon-
se no o faz nos dois primeiros me- tes, o sentimento nacional argenti-
zes do anno, recebe um aviso do fis- no singularmente ardente. A pre-
cal, ecmcedendo-lhe mais um mez de sena no solo argentino, de grande
prazo, e prevenindo-o de que, pas- numero de estrangeiros no faz se-
sado esse novo prazo, a sua renda no que esse sentimento se torne
ser fixada em tal quantia. O "con- mais ardente nos argentinos de nas-
trleur" no pde recorrer seno cimento; e os prprios estrangeiros
aos elementos certos de que dispe lhe soffrem o contagio: os que che-
para verificar as declaraes, mas garam crianas ao paiz, se conver-
os meios de investigao de que dis- tem quasi sempre em patriotas ar-
pe a administrao publica so gentinos e os filhos tm, alm do
muito vastos. Se o contribuinte re- amor ptria argentina, um pro-
clama contra a cifra fixada pelo fis- fundo desdm pela terra de que os
cal, dever produzir provas suffi- pes procedem. No se pde dar
cientes, sem as quaes a quantia no uma definio do sentimento nacio-
poder ser alterada. Quando se nal argentino que abranja todas as
abrir uma successo, o Thesouro per- formas diversas que esse sentimen-
ceber as taxas no pagas ainda. O to revestiu desde a formao da
grande agente executor da lei pois naeionalidale. A historia argentina
o fiscal verificador das contribui- teve primeiro as lutas da indepen-
es directas: elle quem recebe as dncia, depois longos esforos para
declaraes, as discute, as recusa, e dar ao paiz uma contribuio e
quem estabelece a avaliao do fis- uma organisao administrativa
e emfim o movimento contempor-
co. Se a avaliao arbitraria, o
contribuinte pde reclamar. Mas neo de emancipao econmica. Ca-
da gerao teve, pois, a sua misso,
com que provas! Livros, aotos au-
o seu ideal; cada gerao, consa-
thenticos. Assim, um negociante
grando-se a problemas novos, tem a
que quizer reclamar ter que pr
sua maneira de ser patriota. Mas
em publico a sua situao commer- nem por isso renega a tradio das
cial. E' inevitvel: o imposto pes- geraes precedentes. No ha tal-
soal sobre a renda baseado sobre a vez outro paiz onde a imprensa, a
declarao no pde existir sem in- Universidade e a escola trabalhem
quisio fiscal. Para salvar o con- com tanto accordo em preservar a
tribuinte dessa dependncia, foram recordao das glorias nacionaes.
suggeridos outros alvitres. Paul Le- Essa propaganda tem dado os seus
roy-Beaulieu queria augmentar de fructos. No encontrareis um ra-
um deeimo os impostos existentes. pazote ou uma menina que no se
Touron apresentou um contra-proje- levante logo, orgulhosamente, ao ou-
cto que respeitava a liberdade indi- vir o nome de San Martin. As pai-
\
108 REVISTA DO BRASIL

xes polticas da gerao da orga- mais indifferente s riquezas, e nas


nisao nacional, a de TJrquiza e a crianas. Os problemas polticos no
tle Mitre, de Sarmiento e de Alber- interessam a grande massa. Isso,
di, no se dissiparam logo que as porm, no quer dizer que seja fra-
guerras civis se aplacaram e quan- co o sentimento nacional. Nunca ou-
do o paiz se pz a trabalhar. Elias tro povo teve mais clara conscincia
vivem ainda, mantidas por alguns da sua solidariedade. O orgulho na-
nacionalistas que crem poder en- cional coexiste muito bem com a in-
contrar nas grandes doutrinas do differena pelas instituies polti-
federalismo ou do militarismo um cas do paiz. Tanto menos se exige
programma de partidos contempor- que a administrao contribua para a
neos. Esforos vos, poltica artifi- formao da riqueza quanto maior
cial de historiadores que procuram a confiana no prprio paiz, nos
no passado um quadro para um pre- seus recursos naturaes e na sua po-
sente to differente. Os program- pulao laboriosa. Em alguns, a f
mas dos partidos polticos argenti- nacional to profunda, que esto
nos parecem dever cada vez mais or- persuadidos de que o paiz to rico
ganisar-se em torno dos graves pro- e to protegido da natureza, que p-
blemas da criao e da distribuio de supportar mesmo o luxo de um
mau governo. Cada perturbao eco-
da riqueza, porque a formao da nmica aotiva as lutas polticas._ E
sua potncia econmica tem sido, essas revivescencias do espirito cvi-
desde ha 50 annos, o centro da vida co, to bruscas, s vezes, que sur-
do paiz. O sentimento nacional ar- prhendem at os prprios polticos
gentino , pois, anterior ao periodo do paiz, no se explicam seno pela
da expanso econmica. Elle no fora persistente do sentimento na-
desapparecer com ella, nem foi ella cional atravez das fluctuaes da
que lhe deu o seu matiz actual. O vida poltica. (Pierre Dens Be-
amor da ptria se confunde, em todo vue es Nations Latines, Paris).
argentino, com o legitimo orgulho que
lhe inspira a sua riqueza, a rapidez
dos seus progressos, o logar que o paiz
veiu a ocoupar dentro de poucos an- A ARTE NAS ESCOLAS FRANCEZAS
nos, no commercio mundial. O pa-
triotismo argentino alimenta-se das Disse Michelet: "Em todas as
estatsticas e dos graphicos infinita- pocas, a esculptura e a pintura
mente repetidos e renovados, que no offerecem apenas modelos de
traduzem as diversas formas dessa imitao, mas os mais fecundos tex-
criao de riqueza, estatsticas do tos para a iniciao intellectual. Es-
commercio exterior, do movimento ses textos se casam maravilhosamen-
de fundos nos bancos, das vendas te com os da literatura, e os com-
de terra, da extenso das culturas, pletam. O que Kabelais e Shakes-
etc. No ha um jornal que no for- peare no podem exprimir sobre tal
nea tudo isso, com o que nunca se ida, tal nuana ou tal aspecto do
cana o publico: a sua melhor am- seu sculo, dito por Vinci, por Cor-
brosia mesmo essa. regio, por Miguel ngelo, ou Jean
A satisfao pessoal que d ao Goujon". No , pois, somente pe-
commerciante a extenso dos seus los seus eacriptores que a influencia
negcios, ao proprietrio a alta de franeeza se faz sentir no estrangei-
preo das suas terras, ao agricultor ro. Os artistas, sobretudo os pinto-
a opulencia das suas colheitas tu- res e esculptores, tanto antigos co-
do isso explica o sentimento de or- mo modernos, so outros tantos pro-
gulho collectivo. Este sentimento pagadores da civilisao franeeza.
decorre naturalmente, porque a pros- Desgraadamente, porm, mesmo na
peridade dos indivduos est estrei- Frana os grandes mestres da arte
tamente ligada do paiz mas no so muito conhecidos. Donde
existe por si mesmo, independente- vem essa indifferena do publico t
mente de todos os sentimentos indi- E' que elle no preparado para
viduaes, existe no mais pobre, no esse estudo. Ora, preciso que a
RESENHA DO MEZ 109
historia da arte seja ensinada nas es- gal A guerra e a PreparaSo Mi-
colas. Como, porm, introduzir nos litar Portugueza, por Joo de Bar-
programmas, j to sobrecarrega- res; A honestidade de Btelvina,
amante, por Joo do Rio; Sonho do
dos, mais esse ramo? Primeiro, Desejo, por M. Cardoso Martha; Ea
estendendo os exercicios literrios de Queiroz, por Augusto de Castro;
a assumptos da historia da arte. Em Versos, por Coelho de Carvalho;
Evocao, por Xavier Marques; No-
logar de pedir, por exemplo, ao alu- men... Numen... Lumen..., por
mno, que compare o sentimento da Jos S. de Rezende; Os Zeppelins
natureza em Lamartine e Chateau- sobre Pariz, por Paulo Osrio; A
briand (o que elles fazem custa de divida portugueza, por Anselmo de
Andrade; Cego, por Delfim Guima-
livros), poder-se-lhes-ia dizer: "Ide res; Soror gua, por Nuno Simes;
ao Louvre, vede as obras de Millet O porto-franco de Lisboa nas suas
e as de Claude Lorrain. Depois, ex- relaes com o Estado de S. Paulo,
por Vasco Morgado.
ternae a vossa impresso sobre a A GUIA N. 55 A Frana,
sua interpretao da natureza". le- por Teixeira de Pascoaes; Humo-
so faria com que o alumno desenvol- rismo melanclico, por Gomes Leal;
vesse a sua observao, o seu espiri- Terras do Sul, por Villa-Moura;
Canto de Outono, por Matheus de
to critico, a sua erudio histrica, Albuquerque; Um problema liter-
e o seu estylo. Em segundo logar, rio, por Jos Teixeira Rego; O gi-
no ensino secundrio a historia da gante desperta, por Carlos Maul;
arte poderia ter um logar especial, Ambiciosa, por Joo Luso; Portu-
gal e a guerra, por Luis da Cmara
de sorte que fosse ensinada com mais Reys.
largueza. Ter-se-ia ento o synchro- LA GRANDE REVUE Agosto
nismo da historia, propriamente di- de 1916 Principaes artigos: "Let-
ta, a historia das literaturas e a tres d'un volontaire oclombien"
e "Le Sourire de Tlle de France",
historia da arte. Depois, devia-se fa- de Hernando de Bengoechea; "L'En-
zer com que os eapiritos novos dos alu- tente conomique des Allis", por
mnos tivessem, sobre a arte, um Henri Lorin; "Mimi, notre refugie",
fundo solido e preciso, deixando de nor Mathilde Dons; "La Guerre et
les Dominions britanniques", por
adoptar apreciaes livrescas, sobre a Henri Carr; "Le Miracle du Feu",
arte. B isso se conseguiria falando- por Mareei Berger.
Ihes dos grandes mestres com a pr- MERCURE DE FRANCE N. 436
pria linguagem dos seus quadros que, 16 de Agosto Principaes
ou seriam vistos nos museus, dire- trabalhos: "Odilon Redon", por
Andr Fontainas; "Posies", por
ctamente, ou por meio de reprodue- Louis Le Cardonnel; "Memorial de
es, e at mediante projeces ci- Ia Vie des martyres'op,'r CCCeeC
nematographicas. (Georges Will Ia Vie des martyres", por Denis
Mercure de France, Paris). Thvenin; "La Question des noms
et Ia proposition Honnorat", por
Georges Maurevert; "Un Prcur-
seur de Verhaeren", por Albert de
PUBLICAES Bersaucourt; "En marge du Ci-
nema", por Jacques Dyssord;
RECEBIDAS "Dans les remous de Ia bataille
por Isabelle Rimbaud.
Durante o mez foram enviadas , LA REVUE HEBDOMADAIRE
"Revista do Brasil" as seguintes N. 34 19 de Agosto:"La Guerre
publicaes: chez les abeilles", por Gaston Bon-
DA TRIBUNA E DA IMPREN- nier; "Les Antcedents de Tallian-
SA, por Dario Velloso Curity- ce franco-russe", por Gustave Fa-
ba, Paran, Brasil Edio do gniez; "L^lphabet", por Andr
"Myrto e Accia" 1916. Toulomon: "La Conversion de
HORROR A' FORMA HUMANA, Rousseau", por Gerhard Grau; "Les
por Gasto Franca Aamaral Bretons Ia guerre", por Charles
Rio de Janeiro Typ. "Revista Geniaux; "Le "Chatiment" de Lou-
dos Tribunaes" 1916. vain racont aux petits Alleman-
des , por Alexandre Masseron.
QUADROS DA GUERRA, por
Antnio Faria S. Paulo Fo- RASSEGNA NAZIONALB Flo-
cai & Comp. 1916. rena, 16 de Julho I muti-
lati e gli orfani di guerra, ci che
REVISTAS per essi si pensa, si giudica, si fa e
Bi far. ngelo Ragghianti e Sal-
ATLANTIDA Lisboa N. 10 vatore Dalmazzoni; Per una rie-
15 de Agosto: Brasil e Portu- tampa di "Fede e Bellezza" dei
110 REVISTA DO BRASIL

Tommaseo, Guido Battelli; Per dl- nalidade do Estado, O ensino do Di-


fendere, Alter Ego; Intorno alia reito, A celebrao da Chave na
tragdia francese, Luciano Genna- Academia ou Festa Symbolica da
rl; Visioni serene (Sul Lemano), Atteno, Abolio dos termos de
Gaetano Rocchi; Gli enti flsici, bem viver e de segurana, A unifor-
1 Grecci e gl'Italiani, Pietro Pa- midade, a simplicidade e a economia
gninl; II mondo dl Dolcetta, Ro- do nosso processo forense. As idas
manzo, Mario Pratesi. de soberania, autonomia e federa-
o, artigos pelo dr. Joo Mendes
THE NORTH AMERICAN RE- Jnior. Provimento dos cargos
VIEW Julho de 1916 No- de professores extraordinrios ef-
va York Artigos principaes: fectivos nas Faculdades de Direi-
The National conventions, do to, pelo dr. J. M. Azevedo Mar-
Editor; Washington and Entan- ques.
gllng alliances, Roland G. Us-
her; Germany's financial posi- REVISTA DE COMMERCIO E
tion, H. J. Jennings; The forces INDUSTRIA S. Paulo, Agosto de
behind the Russian offensive, 1916 Artigos principaes: As nos-
Charles Johnston; The Irish In- sas jazidas mineraes, do dr. Rog-
surrection, Sydney Brooks; The rio Fajardo; As organisaes fi-
Statesmanship of Yuan Shi Kai, nanceiras; A divida Publica do
William Blliot Griffis; The peace Brasil ,artigos do dr. F. T. de Sou-
problem, John Bassett Moore; Has za Reis; Consultas e Pareceres, dos
America gone too far In democra- drs. Alfredo Pujol, Carvalho de
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PORTO ALEGRE N. 2 An-
REVISTA COMMERCIAL Mon- no 2.
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Agosto. LA COLNIA N. 22 Anno
II S. Paulo.
REVISTA DA FACULDADE DE
DIREITO DE S. PAULO Vol. A LAVOURA Orgam da Socie-
XX Anno de 1912 Defesa da dade Nacional de Agricultura
aco cambial. Deposito ou consi- Na 1 a 6 Anno XX Rio de
gnao. Simplificao processual, Janeiro.
Das assemblas de accionistas, n-
dice das leis mais notveis do Es- ANNAES PAULISTAS DE ME-
tado de S. Paulo, e da Administra- DICINA E CIRURGIA Anno IV
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o n. 8 o seu segundo volume de 400 pagi-
nas, cujo ndice acompanha este numero.

O n. 7, de 25 de Julho trouxe o seguinte


summario:
F. T. DE SOUZA REIS A moodn inrtnlllon no Brasil (concluso).
SOUZA BANDEIRA KUIIIUH dn arlNtot-rncin rural.
AMADEU AMARAL Poenla.
JOO KOPKE Educailo moral v cirlca (concluso).
H. IXGLEZ DE SOUZA Iniolaviio.
VEIGA MIRANDA A probidade literria.
PLNIO BARRETO Leonor Telles.
IIOCHA POMBO A terra paulitita e as suas grrandes legendas.
JOO FERRAZ Salubridade pubiiea no Instado de S. Paulo.
COLLABORADORES Resenha do mei.

KKSKNHA DO MK7. Monlogos, Yorik Ilrasil-Ar^entIIII, Re-


dacao O Direito Criminal Moderno, M. O. H. Blblio-
^rraiiiiia (Sensaes i reflexes O eombustivel na Keo-
nomia Vniversal I;I;;I de Queiroz luy Barbosa) Tri-
bunal medieo A questilo shakespeareana Opinies so-
bre o *'Don Quixote" As fruetas eontrn as doenas
O Banho de Sol A longevidade das mulheres As ea-
rieaturas do me/, (trs caricaturas reproduzidas).

N. 8 - 25 de Agosto;
DK. OLYMPIO PORTUGAL Campos do Jordo.
SAMUEL DE OLIVEIRA Sylvlo Bomero e a alma brasileira.
MONTEIRO LOBATO Boeeatorta (novella).
OCTAVIO MENDES Teixeira de Freitas.
ANTNIO SALLES Poesia.
ALBERTO SEABRA Os versos ureos de Pythasoras (II).
RESENHA DO MEZ Monlogos, Yorik As armas de S. Paulo,
J. William Ramsay L. Metehnikoff Theatros Bel-
las Artes Movimento literrio Faeuldades de Letras e
Philosophia A instrue<;o militar obrigatria O gado
vaeeum no Brasil A riqueza dos norte-amerlvanos A
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