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CHRONICA
DA COMPANHIA DE JESU
DO

ESTADO DO BRASIL
E DO QUE OBRáRM SEUS FILHOS N'ESTA PARTE DO NOVO MUNDO.
EM QUE SE TRATA

Dii mnm dh companhia de jesii nas partes do buasii,

DOS FUADAMENTOS QUE n'eLLAS LANÇAR.\M


E CONTINUARAM SEUS RELIGIOSOS, E ALGUMAS NOTICIAS ANTECEDENTES,
CURIOSAS E NECESSÁRIAS DAS COUSAS d'aQUELLE ESTADO

TELO PADRE

simAo de vascoivcellos,
DA MESMA COMPANHIA.
TOMO PRIMEIRO (e UNICO)

SEGUNDA EDIÇÃO CORRECTA E AUG.MENTADA

YOLITME II

Em easa do Editor A. J. Fernandes Lopes, rua , 132 — 134.


mdccclxv.
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CHROIVIGÂ

DA COMPAIVHIA DE JESU

t)ò

ESTADO 00 BRASIL

VOLUME SEGUADO
k&íMnúj
\m. M /í!!/A'iií!!;» ;

Jlíáíiíi ou Ou

Typogiaphia do l*aiiorania, rua dos Sapateiros


íwilgo Rua do Arco do Eaiideira, 112).
CHRONICA
DA COMPANHÍA DE JESU
DO

ESTADO DO BRASIL
E DO QUE OBRARAM SEUS FILHOS N'ESTA PARTE
DO NOVO MUNDO.

EM QUE SE TRATA

Dl mjUM u mmmm de jesu nus pautes do brusil,


DOS FUJVDAMENTOS QUE n'eLLAS LANÇARAM
E CONTINUARAM SEUS RELIGIOSOS, E ALGUMAS
NOTICIAS ANTECEDENTES
ê
CURIOSAS E NECESSÁRIAS DAS COUSAS d'aQUELLE
ESTADO

SIMÃO DE VASCONCELLOS,
DA MESMA COMPANHIA.
TOMO PRniEIRO (E UMCO)

SEGUNDA EDIÇÃO CORRECTA E AUGMENTADA

'
VOLUME 11

-Em casa da Editor A. J. Fernandes


Lopes, rua Áurea, 132 — 134.
MDCCCLXV.
Jióáfic. Ou OUÂTJ:;

T^giapiiia lio l'aiiorania, ru;i ilos


S^ipatciros
ívulso Rua do Arco (lo Eandcira, 1121
CHRÔNICA
DA COMPANHÍA DE JESU
DO

ESTADO DO BRASIL
E DO QUE OBHARAM SEUS FILHOS
.N'ESTA PAUTE DO NOVO MUX
MUNDO.
EAI OLE .SE TRATA

Dl mnm dii compumiiii de jesu ms partes do brasil,


DOS FUNDAJIENTOS QVK NELLAS
E CONTLy-ARAM SEUS «ELir.IOSOS, EA\CMl\M
E ALGIMAS NOTrcÍS
CIRIOSAS E NECESSÁRIAS DAS >TrCEnEXTE. '
COUSAS DAQUELLE EsÍado

PBLO- PADRB

SHIAO DE VASCONCELLOS,
DA MESMA COMPANHIA.
TOiMO PRIMEIRO (E U.MCO)

SEGUNDA EDIÇÃO CORRECTA E


AUGMENTADA

VOLUME H

Em casa do Editor A. J.
Fernandes Lopes, rua Áurea,
132-134.
•MDCCCLXV.
Éfl

6 LIVRO IH DA CHROMC.V DA COMPANHIA DE JESU

1 Estão na mao tio grande Pai dos cellciros os tempos prósperos,


e sazão
das searas: e assi como acontece muitas vezes, que a aimos férteis
siiccc-
dem os estéreis; assi também na nossa seara espiritual
da Baliia, á fertili-
dade dos annos passado^ stiécéde «'este de ^563
colheita menos copiosa. Foi a
causa huma terrivel intempérie de ares, ou corrupção,
que a modo de peste
contaminou a mór parte da terra. Teve principio da
banda da ilha de Itá-
pai-ica, deu sobre a cidade, e d'ahi
pela costa marítima correndo ao Norte
foi levando as aldeãs de S. Paulo,
S. João, S. Miguel, e outras muitas,
que
por aquella parte estavão de Christãos, e Gentios,
e escaçamente deixou viva
a quarta paj|e áàs moradores d-elléf
orçob-se ótíaerú à passante de
trinta mil al||às, as da Capitania
da Bahia somente, espectacui por huma
parte misecÉido, pov outra pesa dar gr-aças^o
Ceo (cujos são estes lanços)
porque parece esteve cubicando o fruto já assazoado
dos dous annos passa-
dos, d| tantas almas reduzidas á graça por
meio cia agoa bautismal; e quiz
aprov^^p^fellas antes que por sua natural inconstância podessém per-
verter-seT^^ís^Se imitou a occasião de crescimento
dos bautizados, não foi
pequeno o serviço de Doos que estes servos seus obrarão
em acudir aos
que cahirão doentes, e preparar os- que acabavão; porque,
como forão dito-
sos nos princp(^ de sua christandade,
fossem tambeii tos fms d"ella.
o-
Andavão volantes em varias estancias, onde á volta dos
já christãos, bau-
tizarão in extremis muitos milhares de adultos
gentios, que provavelmente
correrião perigo, se não fossem em maré tão ditosa.
2 Começou a doença por graves dores
do interior das entranhas, que
lhes fazia apodrecer os fígados, e bofes: e logo veio
a dar em bexigas, tão
podres, e peçonhentas, qu^-ihes cahião as carnes a
pedaços cheas de bichos
mal-choirosos. Não sabião os Padres a quem primeiro acudir; porque no
mesmo tempo espiravão muitos em
diversos lugares, e não era possível
deixar o que já tinha posse, por acudir ao que
a não tinha. Aconteceo ao
Padre Gregório Serrão, que assistia na aldeã de Itáparica,
eslando aju-
dando hum d'estes a bem morrer, dizcr-lhe hum moço,
que havia parido
huma índia iraipiella mesma hora no meio do terreiro (cousa conmuia
no
tem])o d"aquella doença, pelo ai)erto de dores que
causava) e deixara o
parto» desamparado, e se fora, e (jue a criança llcava
a ponto de morrer
iiíiligio-se o zeloso obreiro, porque era necessário
ir acudir áqnella alma,
e por outra parle havia pei'igo de deixai' csfouli^a. No meio
desias anciãs
disse o hidio, que estava morrendo: «Não tomes
in:n[\, Padie, acudo a esla
DO ESTADO DO BRASIL (anNO DE 15G3) 7
alma, que eu esperarei por ti.» Foi o Padre, achou duas crianças gémeas,

liuma já morta, outra a ponto de morrer: bautizou esta, foi ella ao Ceo, e
o Padre tornou ao seu doente, que achou ainda vivo, mas esperando por
momentos por elle. D'este exemplo se podem tirar muitos do aperto d es-
ta contagiosa doença.
3 N'este anno chegarão de Portugal mais quatro operários, o Padre
Quiricio Caxa, e os Irmãos Balthasar Alvares, Sebastião de Pina, eLuis
Car-
valho. Este ultimo vinha só por doença experimentar os ares do Brasil,
e
não achando melhoria voltou ao Reino. O Padre Quiricio começou a ler na
Bahia huma classe de grammatica. Os outros dous forão ajudar ás aldeãs.
4 Na Capitania de S. Vicente, especialmente na parte maritima, tudo
erão assaltos, mortes, e cattiveiros feitos pelos Tamoyos, que cada vez
bião
crescendo em numero, e parecia que tinha a divina Justiça amarradas as
mãos d'aquelles moradores pêra sua defesa: não contentes os inimigos com
assaltos, trattavão já de acommeter toda a terra, e apoderar-se d'ella. Á
vista destas occasiões andava feito o Padre Nóbrega hum zeloso Pin>pheta,
bradando dor púlpitos, e praças penitencia; porque estava persuadido o
santo velho, que tinhão os Tamoyos a justiça da sua parte, e que
Deos pu-
gnava por elles, porque os Portugueses lhes quebrarão ás pazes, os as-
salteárão, cattivárão, e entregarão alguns a outros índios
seus contrários,
pêra que os matassem, e comessem; e não havia arrependimento d"estes
peccados. Este cuidado lhe atravessava a alma; e depois de meditar
annos
inteiros sobre elle, sentia em seu coração no tempo que trattava com Deos,
grandes impulsos de metter-se entre atjuelles bárbaros, ou pêra acabar
ir

pazes com elles, ou pêra acabar entre elles a vida.


'5 Trattou Nóbrega este seu pensamento com os do governo da repu-
blica, estava claro que havia de sahir approvado, pois o ganho vinha
e
a
ser de todos, e o risco era de hum só, e de nenhum d'elles:
quanto mais
que resolução era sem duvida do alto, como por muitas provas se vio,
a
e o deu depois a entender o venerável Joseph de Anchieta companheiro
seu'
dizendo que custara a Nóbrega dous annos inteiros de continuas, e fervo-
rosas orações este requerimento. Fiado pois em o poder divino, que
tira
fontes de penedos duros, e nas causas tão justificadas que o movião,
de-
pois de renovados os votos da Religião, na primeira oitava
de Paschoa se
despedio de seus Religiosos, e escolheo por companheiro da missão
tal su-
jeito, que com razão duvidarão depois os homens, qual dos dous obra-
ra i<i'ella maiores maravilhas, se o superior, se o súbdito? Era
este o ve-
- — -«— — ^—

8 LlVaO III DA CIiaOMCA DA COMPANHIA DE JESU

neravel Irmão Josepli de Anchieta, bem


conhecido, e respeitado já então
ate entre os índios; grande lingoa
brasílica. Ciiegái'ão os doi.s .Missionários
aos primeiros lugares fronteiros dos
Tamoyos, e daqui os levou em pes^
soa, e em
barca própria Francisco Adorno, nobre
genovez, homem rico da
lerra, c grande amigo da Companliia;
c tendo partido a 21 de \bril do
loG3, chegarão aos lugares principaes das
praias dos Tamoyos a quatro de
^laio do mesmo anno.

6 Este lugar fronteiro dos Tamoyos,


como cousa tão celebre, n'aquello
tempo por terra barbara, inimiga, e tragadora da
carne de chrislãos, e ho-
je por ter sido theatro das acções do
duus varões tão illustres, que consa-
grarão aquelles montes, e aquellas praias com
sua santidade; he justo que
como foi por elles assinalado, seja também por
nós conhecido. Dista este
lugar, por computo do mesmo Joseph,
vinte e seis legoas de S Vicente
correndo ao Norte altura de vinte e três grãos,
e hum quarto. Tem seii
principiovmdo da villa de S. Sebastião da ultima ponta da
enseada que
chamao dos Maramomís, í^-ontcira á ilha dos Porcos,
correndo ao Sul as
três enseadas seguintes, dos Portos,
de Uubatyba, e Larangeiras, até en-
testar com o grão Cairuçu, penedias
disformes, espanto dos navegantes- e
pelo sertão cerco horrível de altas serranias,
incultas, impenetráveis, mu-
ros em fim eternos da natureza. Este era
o sitio daquelles bárbaros: d^aqui
sabia o mór terror dos Portugueses
d-aquellas partes: e dY-stas praias des-.
pcdíão numero de canoas guerreiras formidável:
e do sertão exércitos te»,
merosos de frecheiros, que como feras rompião as mattas, c trcpavão a pene-
dia porá acommetter, e não podião cllcs
ser penetrados, nem acommetidos.
7 Estas praias me trazem á memoria as que lá íingião
os poetas do rio
Achoronte: porque em chegando á noticia d-aquclla gontc barbara, que
tinha desembarcado em as suas gente estranha, armarão logo suas ca-
iKjas a impedir-lhe o passo (qual outro Acheronte,
e Cerbero;) chegan-
do porém aquellas veneradas presenças de Nóbrega,
e Anchieta, já conlie-
cidos d'elles por fama de homens iniiocentes,
amigos de Dcos, e pais de
índios: e muito mais ouvindo a eloquência
das saudações de Josei)hemsua
própria lingoa, ficarão satisfeitos, liái'ão^so delles, e entrarão na barca sem
medo algum: ouv(rão-nos, metèi-ão-nos em porto seguro junto a hum ilhen,
e despedirão-se. Ao dia seguinte viei'ão os Principaes de duas
das ald.-as
pêra traltar princípios das pazes, e deixando no
barco du/.c mancelMis eni
reféns, mandarão que partissem estes a S.
Vicente, e cllw le\áião pe^^
terra os Padres com musli-as de tlevidu respeilo.

i
DO ESTADO DO BRASIL (AXNO DE 1363) ^

Caoquíra, entre
8Forão hospedados na casa de hnm velho por nome
boa Índole, capaz, e pêra
os TamoYos Principal, e posto que gentio, de
Antes de alguma outra cousa, armarão
com elles de grande authoridade.
hum arvoredo, coberta de palmas, pobre, mas lim-
os Padres Igreja entre
primeiro sacriíicio que vira
pa, e decente: aqui fizerão aos nove de Maio o
graças dos nossos pelas
entre si aqnella gente barbara, primeira acção de
primeiro propiciatório pelas que esptravão re-
mercês até alli recebidas, e
ceber em missão tanto do serviço de Deos. Com estes' sacriíicios continua-

reverencia d'aquella gente,


rão todos os dias; e era grande o espanto, e
que nunca vira cousa semelhante. Feita Igreja, em
vez de sino, a vozes al-

doutrina, primeiro os meninos, e depois os gran-


tas convocavão á santa
bandos, huns á novidade do acto, outros á noticia
des, que concorrião a
breves dias, deveras; por-
dos filhos por curiosidade: porém logo passados
palavras, que co-
que flcavão convencidos da eloquência de Joseph, e suas
com frases, semelhanças,
mo setas penetravão os corações, explicando-lhcs
elles muito gostão, os mystc-
e metaphoras próprias de sua nação, de que
rios de nossa santa Fé; em forma, que refere
o mesmo Joseph, que breve-

chegarão a ficar instruídos, e poderão ser bautizados, se estiverão


mente
rigor dos cas-
cm parte segura; e que fazia n'elles grande imprcsão o
tigos eternos, com que havião de ser punidos os que comião carne huma-
commctião semelhantes delictos: pasmavão e promotião emendar-se.
na, c
A mesma doutrina annunciárão nas aldeãs circunvizinhas, muitas, e nume-
rosas, e mostravão aífeição aos Padres, tendo-os em conta de
homens que
trattão com Deos, superiores a todos seus Payés, que tem em conta depro-
phetas.
9 chegavão a descobrir-lhes todas suas traças de guerra; e as que

tinhão preparado pêra de novo acommeter aos Portugueses: por mar erao
as canoas duzentas, por terra erão todos os arcos que
habitavão as ribei-

ras do rio Parahiba, com pacto feito, que dessem todos juntos sem cessar
até acabar com a Capitania, e senhorearem a terra. Então dcrão por mais

bom empregados os trabalhos e perigos de sua missão, quando á vista

d"estes aprestos consideravão os dos nossos tão diminuídos em forças.

Estando as cousas n"cstes termos tão bem assombrados, -foi corren-


10
do a costa a fama, sempre acrescentada, de conib os Padres erão chega-
dos á paragem chamada por sua língoagcni Iperoyg, e o a que vinhão: c a
esta voz todos os ipic habitavão nas parles do Rio de Janeiro, interessados
ua mesma guerra, se allerárão, tomando mal o tralto das pazes. Partirão

I
10 LIVRO III DA CUROMCA DA CO.MPAMIÍA
DE JESL"

LZn
entre todos primeiro
'

com dez
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'"^''^'^ ''''''''

canoas a ponto de guerra


'' concertos. Chegou

grande Principal chan^ado esquinadas Imm


"
Aimbiré, amigo dos FraLes "ê
eTogro
de es mimicissimo dos Portugueses,
do em huma barca com huma
porque fora assalt ado
ferropea nos pés, donde
fugira ara
Sesn
b Te
^
brado se«,..e da injuria, e de natureza tão cruel,
comme eo contra
que por hum eriVou«
elle huma de vinte mulheres quentinha
a mTidoú abrir

Z'^T:^:T-
ares, tratou de noite
com
^^^^ P°*^ ^'^^^'^ 'aldeã
os seus, que
o.leiS":
sem duvida os matassem na melhor
occasiao,que pudessem, e apoz isso lançassem mão do
tugueses que alli os trouxerão.
baixo ' edoT Pr
^
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''"''"'" "''"''''
'' '^'' ^'^^"'"'^ desejando os anciãos da
teria trftarlTn
erra tratar das pazes, quizerão se
achasse presente este Principal
anoas, por ser entre elles das de/
de grande authoridade:
sendo a d io

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r çao estava forte, desejoso
os dons servos de Deos;
porém seu co-
de padecer a mãos dos
por causa Tão Tus a infiéis
'" '""' ° ^'-^^P™i-Í ^- ^-igidJ a seu intel Ta'
pS" cX"
pnm 1
a condição que propoz
coni grande arrogância foi,
que lhe havião
de_ entregar primeiro três
Principaes dos índios de S.
Vicente que e i!
nhao apartado dçs seus, dando-lhe
guerra em favor dos chrisL'
e s
mata , e comer. A esta proposta
tão iniqua responderão os
Padres coni
grande quietação, e modéstia,
dando razão da impossibilidade: po
qxie pediao, erão q e o
jã da Igreja de Deos, e amigos dos
Português s: c .enl
as.., nao era possível
entregar-lhos, porque irião contra
a lei deDeos e
paavra dada: que enlre christãos
a primeira cousa que
andava ante 'os
olho., era a guarda da
fé, e lealdade a quem
a prometião, e que tendo a
.romethdo aquelles Principaes,
como quenão elles que a qiíebn.ssem'
tc-s daqui ora
an-
bem que tomassem exemplo pêra folga,' de
ter por anii^ros
'" ^^"^^^""^^"« I^^^«^'-« dada: e o contrario devião
Inn^''" r"''f' que finando cs-
l'-'- iKu, coll.^guulo
com a(,uelles se qu.-brava a fé, lambem se
quebraria com ,„. por oulras vias poderião moslrar os
elles:
seram amigos seus, mas ,p,o não
Porl n^es
convinha por esla.
12 Disserão os Padres, e moverão com
suas razões os circunslantes,
DO ESTADO DO BRASIL (AiNÍSO DE 1363) 11

porém o peito d'este bárbaro ficou tão duro, colno de primeiro, e concluio
com mais soberba, e arrogância com estas palavras, em seu estylo: «Pois
que vós outros sois escaços de meus contrários, que têm morto, e comido
os meus, e não os quereis entregar, não tenhamos pazes.» E virou-se descor-
Si
tezmente a outra parte, estando os qnc o seguião armados, com o olho
n'ello, esperando o minimo aceno do que houvessem de fazer: porém nes-
te estado tomou a mão o velho Pindobuçú, Capitão da aldeã, e com taes
palavras lhe mostrou sua pouca razão, que não ousou passar adiante, ou
por que entre esta gente he grande o respeito que se guarda aos velhos,
os quaes venerão como pais, ou porque Deos lhe intimou a eíTicacia com
que faltava. Não era comtudo cousa fácil ,a desfazer a difficuldade daquel-
le apaixonado Principal, que dependião as pazes muito de, seu voto ;
por-
fallava em nome de muitos, que erão quasi todos os do Rio de Janeiro, mas
pêra divertir o negocio assentarão hum meio do Ceo, e foi
ditado, parece,
que o ponto dos três Principaes que pedia, se mandasse propor a S. Vi-
cente, ás cabeças maiores do governo. Aceitou o bárbaro a condição, e
quiz elle ser o embaixador da proposta, confiado que ou saliiria com a
sua, ou com suas canoas perturbaria o estado das pazes, assalteando os
lugares dos Portugueses. Porém Deos dispoz ao contrario; porque os Pa-
dres escreverão aos da republica, que de nenhum modo dessem ouvidos a
proposta tão Ímpia, aiada que por negal-a pozessem em perigo seus Lega-
dos de serem mortos, e comidos dos bárbaros: segundo o que, não teve
effeito esta parte: nem também a outra da intenção do embaixador; por-
que foi recebido, e tratado dos Portugueses cora taes favores, que entrou
contente, e de paz.
13 Livres os Padres d'cste perigo, entrarão no segundo mais apertado:
porque andando ambos na praia encommendando-se a Deos como costu-
mavão, virão que vinha huma canoa a toda a pressa, esquipada com trinta
remgiros, e demorava pêra o porto onde estavão. E era o caso que vinha
n'esta Paranápucú, que quer dizer mar espaçoso, índio Principal, filho do
Capitão que governava aquella mesma aldeã, onde os Padres então habita-
Yão, por nome Pindobuçú, que significa palma grande, muito amigo nosso:
deixando atrás oito canoas que capitaneava, sabendo as novas de que tra-
tavão os Padres de pazes, e tinhão persuadido a ellas seu pai, vinha a to-
da a pressa resokto a tirar a vida a taes embaixadores, por perniciosos
ao bem commum de sua nação: e tinha dado ordem aos seus, que em che-
gando lançassem mão dos Padres, e que elle os mataria. «Porque meu pai
Í2 LlVnO III DA ClinONICA DA COMPANHIA Di; JESr

(dizia elle) lie velho, c nem por isso me ha de matar.» Tudo isto tinha pas-
sado entre elles. Vendo pois os servos de Deos a canoa, sabendo mui bom
qn3o mal tomada fora sua vinda de todos os do Rio de Janeiro,
e que ti-
rihão conspirado em sua morte, suspeitarão logo o que
era, e começarão a
retirar-se ao povoado da aldeã, distante como quinhentos
passos (por não
dar occasião elles mesmos a seu mão intento, achando-os alli fora
de po-
voado) senão que como era velho, c fraco o Padre Nóbrega,
á vista de tan-
tos romeiros hia mui devagar; e o ma)s foi, que havendo
de passar hum
ribeiro ao fim da praia, cuja, agoa dava pela cintura, fez
menção de querer
tirar as botas, que por respeito de doença trazia; mas como havia de gas-
tar tempo, e a canoa vinha voando, a grande caridade do companheiro
o
tomou como estas erão fracas por quebradas, quiz parece o Ceo
ás costas, o
sahir com huma representação graciosa; porque a poucos passos andados
alli

gemendo com a carga, deu por fim com o pobre velkona agoa. Quefarião
á vista do aperto da morte? Tomarão por conselho esconder-se entre o ar-
voredo, c descalçando
as botas, e despindo a mais roupa molhada,
afpii

por de grande peso. ficou somente com o interior, que não escusava
a mo-
déstia, 6 descalço. Tomou
Josepli o fato molhado ás costas, e tornarão a
intentar o caminho: porém
era esta ladeira Íngreme, não podia Nóbrega su-
bil-a, c já hião ouvindo-se as vozes, c bater
dos remos dos que chegavão:
foi' forçatornar a esconder-se no matto, e pôr-se em oração, tratando

mais das almas, que das vidas. Eis que no meio d"esta alllicção
succede
outra; porque sentirão que entrava no matto huma pessoa
que vinha pêra
elles: porém foi ajudada do Ceo; porque cliogando
mais ao perto, acharão
ser hum índio que descera da aldeã, e a caso entrara. Este os
ajudou a
em salvo dentro da casa do Principal I'iii-
levar quasi ás costas, e os pôz
dobuçú, pouco antes que os da canoa chegassem.
li Porém não se acabou a comedia; porque estava ausente da casa
o
senhor delia, cm quem coníiavão os nossos, e vinlião chegando os contrá-
rios. Pois que remédio? O Coo parece que andava do propósito compondo
scenas, pêra sahir depois com hum íim alegre: ])orquc entrando o senhor
da canoa acompanhado de muitos seus em casa do pai, achando-o ausente,
c aos religiosos postos de joollios, encommendando-se a Deos, ere/.andoas
vesporas do Santo Sacramenlo (porque era o dia seguinte do Corpo do
Deos) esperando por seu ultimo trago: no tempo que chegou a sua prc-
sença aiiuelle animo damnado, conccbeo lai Imoi', e respeito, que íicou pa-
rado. Cnnverleo a 1'uria cm pratica: e ouvindo as jialavras, especiahneiilc
DO ESTADO DO BRASIL (anXO DE ÍoG3) 13»

de Josepli, eloquente era sua lingoa, acabou de mudar-se, confessou de pla-


no o intento com que com que entrara naquella casa; mas que
partira, e
em vendo suas presenças, e ouvindo suas palavras, ficava já trocado, e per-
suadido que pessoas taes não vem com treição, ou engano.
15 Veio de fora o velho Pindobuçú, senhor da casa, e sabendo do suc-
cesso do filho, mostrou rosto alegre, significando que sentiria muito se suc-
cedera algum mal aos Padres. Era índio de boa capacidade, e chamando o
filho á parte, lhe fez huma pratica sobre a gravidade de costumes que vira
em seus hospedes: gabou-lhe sua aprazível presença, sua grande constância
de animo, desprezador de todos os trabalhos, e como entre tantos que pro-
curarão oíTendel-os nunca descomposerão sua serenidade; e concordou em
tudo com o conceito que formara o filho. Iluma cousa sobre todas as outras
linha admirado esta gente, e era esta a grande continência que guardavão;
porque tendo-lhe offerecido os Principaes d'aquellas aldeãs liberalmente fi-
lhas, e irmãs (costume commum entre elles, com a mesma chaneza, e fa-
cilidade, que se brindarão huma cu3'a, ou copo de vinho) vião que sem-
pre os Padres as regeitárão. D"isto pasmavão; e chegarão a perguntar-lbes,
como era possível aborrecerem o que todos os outros homens apetccião?
Respondeo-lhes a isto o Padre Nóbrega tirando da algibeira humas disci-
plinas, mostrando-lhas, c dizendo, que magoando com aquellas seu corpo,
asseguravão a continência, e se defendião de Ímpetos lascivos, e movimen-
tos desordenados da carne. Aqui ficarão elles mais atónitos de cousa tão,
nova. Tinhão aos Padres por amigos de Deos; e entre todos Pindobuçú não
cessava de praticar aos seus, que erão homens que fallavão com Deos, aos
quaes elle descobria seus secretos: e aos do Rio de Janeiro dizia, que vis-
sem que se algum aggravo fiies fazião, havião de fazer vir do Ceo mortan-
dade de pestes contra elles. Punha-lhes exemplo: «Se nós outros temos me-
do de nossos Pajés (são seus feiticeiros) e não ousamos offendel-os: quanto
mais o devemos ter d"estes Abares (assi chamão aos Padres) que são ver-
dadeiros Payés, fallão com Deos, e nos lançarão (se quizerem) camarás de
sangue, e febres malignas, com que todos morramos?» Com estas praticas de
Pindobuçú, ninguém se atrevia a tratar mal os Padres, e tratava-os elle co-
mo filhos, e lhes pedia o encommendassem a seu Deos: que não temessem;
que elle, e os seus se porião em terreiro por elles. Consultava-os todos os
dias, ouvindo com grande attenção especialmente os mysterios da creação
do mundo, e encarnação do Filho dOífDeos: e sendo combatido por varias

I
LIVRO IH DA nHRONICA DA COMPANHIA DE JESU

vezes (los q\ie cada dia viiihão do Rio, que matassem os Padres, sempre
os defendeo abominando a tal resolução. Achava-se sempre presente á missa,
e pasmava de ver aquellas sagradas ceremonias; e foi de maneira seu apro-
veitamento, que por premio do Ceo foi este venturoso índio Pindobuçu,
depois de perfeito catliecumeno dos Padres, hum grande christão, notável
entre muitos; e como tal obrou até o fim da vida.
16 Chegava-se o tempo de concluir o assento das pazes; entrarão ou-
tra vez em conselho, presentes os Padres. Aqui desabafarão cntJío algims
dos anciãos, queixando-se de antiguas magoas. Dizião, que os Portugueses
forão os primeiros que quebrarão as pazes firmadas de huma e outra pai-
te, lhes fizerão guerra, e os cattivãrão, e tratarão como bestas de carga
«Vós outros (dizião elles) quando nós começámos a guerra contra Temiminós,
gente do grande Gato, confiados na multidão de arcos de nossos inimigos, os aju-
dastes, pelejando com elles contra nós; mas Deos nos ajudou, e podemos mais:
porém agora...» E mui bem o Padre Nóbrega, quê tudo o
aqui callárão. Sabia
que dizião era verdade: e parecendo-lhe fazia melhor negocio em conceder
com elles, disse-lhes assi: «Eu, porque sei que Deos está irado contra os
meus, me com vós outros, pêra com isso o aman-
offereci a vir tratar pazes

sar: porém agora por não se hão de quebrar estas pazes; que>
sua^ parte

por isso trago eu cá a minha cabeça, e a de meu companheiro sem medo


algum, porque trato verdade. Mas também vos afilrmo d'aqui, que se vos
outros as quebrais, entendei que a ira de Deos se ha de virar contra vós,
e haveis de ser destruídos.» Este ditto de Nóbrega, affirma o Padre Joseph,
que não foi somente ameaça, mas prophecia, que depois se vio cumprida á ris-
ca; porque todos os que quebrarão estas pazes, experimentarão os amea-
çados castigos. Por prophecia a tiverão os mesmos índios, e como tal a fo-
rão publicando pelas aldeãs, e com ella metião medo aós que tinhão pen-
samento contra o que alli assentarão; no que sempre se acharão constan-

tes os moradores de Iperuy, epelo contrario fraqueárão os do Rio de Janei-


ro, e Cabo Frio.
17 Havia dous mezes que residião os Padres entre os índios, e não se
acabavão de concluir as pazes, porque dependião ainda de algumas circuns-
tancias; pêra que estas tivessem efleito, parcceo ser mui necessária a jircsen-
ça dos Padres em S. Vicente, e assi lho significavão os do governo d'aquella
villa;porém os bárbaros, que ainda de todo se não davão por seguros, des-
confiarião sem duvida, se antes da ullima averiguação se lhe fossem os lega-
dos das pazes. Pelo que, feita n"esta diniculdade orarão, rcsolveo o Padre Jo-
tTis^

DO ESTADO DO BRASIL (annO DE 1363) 15

seph corasigo, que seria serviço de Deos partir a contenda, e contentar a hu-
ma e outra parte, hindo o padre Nóbrega, e ficando elle; e assi lho intimou.
Sentia Nóbrega haver de partirse sem ultimo effeito, e muito mais deixando
o companheiro só entre bárbaros: vendo comtudo a resolução que o mesmo
Joseph tomara, e tinha por de Deos, e a necessidade urgente de sua ida pêra
bem das pazes, e que ficavão assi contentes os índios, cujo desgosto seria oc-
casião de muito damno n'esta matéria, resolveo partir-se. *

18Havia de embarcar-se Nóbrega ao outro dia pelamánhãa;na noite an-


tecedente teve Joseph conhecimento sobrenatural de três casos occuítos, que
Deos lhe revelou, e elle communicou ao Padre Nóbrega por causas justas. Foi
o primeiro, quen'aquella própria noite entrarão os bárbaros a fortaleza deS.
Vicente, matarão o Capitão d"ella, e sua mulher, e levarão cattiva sua familia.
Segundo, que fulano (homem conhecido, e amigo de Nóbrega) por desastre
de hum carro que passou por cima delle, era fallecido. Terceiro, que chega-
ria cedo a S, Vicente hum galeão de Portugal carregado de fazendas. Com a
noticia d'estas três prophecias partio Nóbrega na manhãa destinada, não mui-
to espantado de que soubesse cousas tão occultas (pela experiência que tinha
do seu grande espirito) o companheiro que deixava. ChegouaS.Vicentenofim
de Junho do corrente anno, e averiguou logo com magoa sua,, serem verdadei-
ras as duas primeiras prophecias; porque os inimigos tinhão entrado a forta-
leza, morto o Capitão, e sua mulher, e levado cattiva toda sua familia; e O'

amigo era morto pelo successo triste do carro. A terceira prophecia se cum--
prio logo; porque depois de chegado cinco dias, aportou o galeão que dis-
sera àquella villa, dando por tudo Nóbrega muitas graças a Deos. Foi re-
cebido em S. Vicente como aquelle que era pai de todos, e que de presen-
te tinha acabado a cousa de mais importância d'aquella repubOca, tanto á
sua custa, e sem opressão alguma do povo. Começou a tratar com os da
governo acerca da ultima averig^iação das pazes, informou-os, e concluio
tudo em bem. Aos Tamoyos que alli achou fez grandes mimos, e agasalha-
dos, levando-os a nossas aldeãs, e recreando-os, a fim de ficarem conten-
tes, e firmes na paz. Porém emquanto o Padre Nóbrega em S. Vicente
trata estas cousas, tornemos a acompanhar a Joseph, que ficou só entra
gente barbara, continuando reféns das pazes.
19 Não sei que maior prova podia fazer o Ceo em huma alma muito
mimosa sua, que de propósito quizesse lavrar pêra si, que a que fez com
o nosso Joseph. Não he hum espectáculo de Deos, dos anjos, e dos homens,
ver hum mancebo na flor da idade, de trinta annos ainda não cabaes, no
lê' Livno m í)A nunoMcA da coupamiia de jesu

mór vigor da naturoza, o quando a carne c sangue mais scnhoroa. metido


em tLM-ra baibai-a, entre liomens feras, entre mulheres nuas, elle comsigo
só, sem quem pudesse notar-llie excessos, com combales continuos, eqiia-

si necessários, de olhos, de ouvidos, da carne^ dos homens, do diabo, c


do próprio inferno? Pião sei em que Ur Caldeorum podia ser mais apura-

do hum Abrahão,nem em que terra IIus hum Job! Ai do só (diz o Espi-


rito Santo) porque se cahir não tem qeum o levante. Aqui hum christão só,
hum religioso só, entre tantas occasiões de peccado, e morte, onde se ca-
hir nãotem quem o levante, nem quem o console, nem quem o anime, ou
communique sacramento algum O certo he, que a nao ser Joseph, ao apar-
!

tardo companheiro se lhe apartaria o coração, e tremeria de pés, e mãos ou-


tro qualquer homem, Enti-egãrão-sc muitos ás Thebaida?, aos ermos, aoa
desertos,: n"es[es porém, se erão sós. não erão tão mal acompanhados: po-
rém Joseph fica só em deserto, e fica acompanhado de gente péssima, de sua
infidelidade, de sua inconstância, e de sua crueldade. lie só no meio de
hum povo bárbaro, c de Imma Babylonia.
20 Queria lavrar aqui o Ceo hum novo modo de Anaclioreta só^ e
acompanhado; que juntamente vencesse o diíficultoso da solidão, e da má
companhia: hum Santo Antão solitário no ermo, e hum Abrahão acompa-
nhado em Caldeai lavrava aqui hum homem raro, hum santo único, hum
exemplar de varões illustres, compostos das perfeições de muitos: hum
Joseph na castidade, hum Abrahão na obediência, hum Moysés nos segre-
dos do Ceo, hum Job na paciência, hum Elias no zelo, e hum David na hu-
mildade : hum portento de maravilhas, e assombro do mundo. E este he
o companheiro que Nóbrega deixa só, e acompanhado de bárbaros.
2i Bem vio Joseph o estado em que ficava; bem sabia que era neces-
sário haver-se como só, e como mal acompanhado:
de guardar-se de trata
si, e de guardar-se d"aquella gente barbara. Pêra tratar de guardar-sc a
si, era força haver-se como morto ao tropel de objectos toi-pes, que erão
necessários onde a natureza não conhecia pejo, e a honestidade não era
conhecida; que he guerra mais forte. Era continua sua penitencia, cilicio,

jejum, contemplação, que divertião a alma a Dcos, c após ella os olhos, c


desejos. Em semelhantes exercícios he sabido que passava a mór parte das
noites, por que os dias podessc gastar cm bem dos homens. Tomou em
primeiro lugar por advogada da empresa, e muito em especial de'sua cas-
tidade, a Virgem Senhora nossa, no meio d"estc incêndio de Babvlonia. E
DO ESTADO DO BRASIL (AíNMO DE 1563) 17

era tal o elíeito de sua protecção, qae não chegou a elle o raiiiirao calor,
nem ainda fumo daquelle fogo infernal.
22 Aqui fez promessa á Senhora de compor a sua vida era verso. Mas
como cantaria versos de Sião em terra alheia, onde nem tinha livros, nem
papel, nem tinta, nem penna? A tudo deo traças o amor da Senhora. Sa-
hía-se á praia do mar, e alli junto ao brando murmurar das agoas, pas-
seando com os olhos no Ceo compunha os versos, e logo virando-os à praia
fazia d'ella branco papel em que os escrevia, pêra melhor metel-os na me-
moria. Oh que sentimentos! oh que considerações, 'e qiie conceitos aqui di-

zia I Deo principio á obra por sua puríssima Conceição, fòi seguindo íódos
os passos de sua vida, ehegou a sua felicíssima Assumpção, e subio com
olla ao alto íhrono da sua gloria : não ficou passo da sagrada Escrittara,
prophecia, ou ditto celebre de Santo, que não enxerisse em seus cantos.
Foi depoimento commum dos índios, que virão por vezes n'esta praia hu-
ma avezinha graciosamente pintada, que com brando vôo andava como fa-

zendo festa, em quanto .Toseph hia compondo, e escrevendo, e lhe saltava

brincando, ora nos hombros, ora nas mãos, ora na cabeça: ou pêra mos-
trar a Joseph o cuidado que o Ceo tinha d"elle, oa para mostrar aos índios
o com que havião de respeital-o. Isto que os índios aflirmárão, depoz tam-
bém que vira hum homem Portuguez, que áquelías praias chegara. E não
será esta a vez derradeira, que vejamos em Joseph semelhaates favores.
23 O que eu tenho pêra mim sobre aqueila avezinha, he, que descia
ella em galardão de
a trazer-lhe o despacho do que pretendia da Virgem,
seu trabalho, e amor dom da confirmação da pureza por que o
; e era o ;

cantou assi o mesmo Joseph em seus versos, dizendo, que ella o guardara
puro, e limpo de todo o pensamento lascivo. E assi o disse depois de mui-
tos annos a hum Padre amigo, queixando-se-lhe este de pensamentos im-
portunos, e tentações de sensualidade: aconselhou-lhe, que não pedisse a
Deos lh'as tirasse, mas que lhe desse vencimento n'ellas; e acrescentou:
«Porque eu sei outro (lie certo que fallava de si) que o pedio desta ma-
neira, e foi ouvido; porque combatido largo tempo de semelhantes tenta-
ções, favorecido de Deos, e sua Mãi santíssima, não só não cahio, mas
recebeo promessa segura de não cahir jamais. Fez o amigo o que Joseph
lhe aconselhara, e dentro de três dias o assegurou, que d"alli em, diante
cessaria aquelia importuna batalha de suas tentações : e experimentou-o
assi.

24 Não foi este sóraeníf pr =mio de seu doce cantar : teve também
VOL. U
18 LlVltO III DA CHHONICA DA COMPANHIA DE JESU

revelação da Virgem, que passaria grandes assombros, e espantos da mor-


te entre aquelles bárbaros: porém que Dão o matarião; porque queria que
acabasse, e aperfeiçoasse sua Vida. Assi o disse o mesmo Josepli por sua
própria boca ;
porque tardando a resposta da paz dos de S. Vicente, enfa-
dados os bárbaros, feitos feras cruéis, dizendo-liie hum dia: «Joseph appa-
relha-te, e farta-te de ver o Sol ;
porque tal dia temos assignado pêra fa-

zer banquete de ti, se até então não vier reposta dos teus.» Respondeo-
Ihes Joseph com o sorriso na boca : «Eu sei mui bem que me não haveis
de matar.» E perguntado depois porque fallava com tanta confiança, disse
claramente, que pela palavra que a Virgem lhe dera, que não consentiria
que alguém o matasse antes de acabar sua Vida.
25 Parece que hia igualmente poetisando, e prophetizando este servo
de Deos; porque por este mesmo tempo, em quanto as pazes se acabavão
de averiguar, enfadados de esperar alguns Tamoyos, ou levados de sua na-
tural inconstância, não obstante as tregoas, derão assalto em certa parte
de S. Vicente, e trouxerão a Iperoyg alguns Portugueses cattivos. 'Tratou
Joseph sobre seu resgate e como o preço concertado tardasse mais do
;

que assentarão, resolverão os bárbaros fazer pasto dos Portugueses que- :

rendo executal-o chegou Joseph, e com espirito do Ceo lhes prometteo


assi: «O dia que vem, quando o Sol chegar a tal lugar (mostrando-lho com
o dedo) hão de vir sem duvida alguma os que trazem o preço do resgate;
só até então peço que espereis.» E disse-lhes os nomes dos homens que o
trazião, o numero, e qualidade das peças de panno, e ferramenía (que este
he o dinheiro dos índios) e concluía, que empenhava sua cabeça, e se vissem
que não era verdade, lh'a quebrassem. Satisfeitos os bárbaros com a es-
perança de tão boas peças, dando inteiro credito a Joseph, que tinhão por
Payéguaçú dos Ghristãos, desistirão, e virão com seus olhos o elfeito, assi co-
mo Joseph o pintara: tomarão seu resgate, e entregarão livres os cattivos. Dcs-
ta tão singular prophecia faz menção o Padre Estevão Paternina na Vida que
traduzio de latim em castclliano do Venerável Padre Joseph, liv. 2, cap. 5.

26 Chegara a esta terra barbara hum Ayres Fernandes, amigo do Josei)h,


com certa occasião; trattavão os índios em segredo de caltival-o, c fazer d"cllc

hum banquete: foi avisado o pobi-e homem, e desejava acolhcr-se d'aqucl-


la praia avara: não tinha porém embarcação: assaz aflligido deo conta ao
irmão Joseph de seu grande perigo rospondeo-lhc elle «A'ão tendes que
: :

temer, amigo, por que em (ai jiarleda praia haveis de achar amanhã huma
embarcação, em (jue vos salvareis.» Disse, c succcdco assi. Estas são as
DO ESTADO DO BRASIL (a\NO DE 1363)

obras de Joseph só: as de acompanhado são as seguintes. O


tempo todo
que lhe sobejava de si, do trato de Deos, e da Virgem, empregava em pro-
veito dos bárbaros. Todos os dias tomava horas
assinaladas pêra failâr
com elles do bem de suas almas, e declarar-lhes a doutrina chrJstãa : dl-
zia-lhes que havia outra premio pêra bons, e castigo pêra máos, es-
vida,
peciahnente pêra os homicidas, e tragadores de carne humana:
e houve
muitos que se abstiverão por tempo d'estes peccados (e não
podia chegar
a mais a efficacia da doutrina.) Podéra bautizar quasi
todas aquellas aldeãs;'
mas attendendo ao perigo de retrocederem ficando sós, o não fazia bau- :

tizava somente os que estavão in extremis.


Entre estes he notável o caso
seguinte. Parira huma índia, e vinha expirando a creatura, tratavão
sepul-
tal-a: a este tempo chegou Josepli, pedio-a, bautizou-a, e cobrou logo vi-
da: clMmou-lhe Maria, entregou-a a seu pai,
que era hum fdho de Pindo-
buçú, por nome Quiraaobuçú. Foi caso este maravilhoso de que ficarão
pasmados os índios. :
.o<í
27 Mais espantoso foi outro caso, e mais celebrado dos índios. Tinha'
certa velha enterrado vivo hum menino filho de
sua nora a que chamam Mara-
bá (quer dizer de mistura) aborrecivel entre esta gente; e era
que o pano a índia
em poder do marido, tendo sido gerado por outro, com quem fora casada
primeiro: e não era parto adulterino, como cuidou o Padre Paternina aci-
ma citado. Foi Joseph avisado do caso depois de passada mais de meia
ho-
ra; e indo ao lugar, desenterrou-o, bauíizou-o vivo, e são,
e eníregou-o a
mulher segura pêra que o criasse. Succedeo o caso a 28 de Junho
do pre-
sente anno; e foi semelhante a outro que lhe acontece©
em S. Vicente: foi
assi. Tivera noticia que huma gentia havia parido hum
filho, e vendo que
era mostruoso em algumas partes do corpo, envergonhada contra toda a
piedade de mãi, o escondera, e enterrara vivo: acudio á pressa,
desenter-
rou-o ainda com vida, applicou-lhe a agoa do bautismo, e logo entre suas
mesmas mãos morreo, pêra viver eternamente. Vião os bárbaros estas ma-
ravilhas, e tinhão a Jooseph por mais que homem. :h
28 Porém não desiste o inferno. N'este meio tempo, primeiro de
Julho
do. corrente anno, chegarão do Rio de Janeiro oito
canoas guerreiras deTa-
moyos, com intenção ainda de matarem o Legado das pazes, de
cujo trato
sempre se aggravárão porém depois de saltarem em terra,
:
chegando a
fallar com Joseph, e ouvindo suas
palavras, ficarão outros, e disserão, que
tmhão razão os cjiue dizião que este era o grão Payé guaçú
dos Christãos,
que amarrava as mãos aos homens.
20 Ln-RO III DA CHRONICA DA COMPAXHLV DE JESC

29 Aos seis de Julho chegarão as canoas que tinhão ido a S. Vicente


com o Padre Nóbrega; e com a vinda d'estas intentou o inimigo, pai das
discórdias, armar hum enredo terrivel. Chegarão dizendo que vinhão fu-
gindo porque lhes dissera hum escravo, que os Portugueses os querião
matar; e que com effeito hum Domingos
de Braga matara hum índio da
companhia de Aimbiré (aquelle Principal, que tinha ido sobre a proposta

^
da primeira junta) e fizera que hum seu irmão lhe quebrasse a cabeça.

Com estas mentiras ficarão triumphantes todos os moradores do Rio, que ti-

nhão vindo com má intenção contra Joseph; e dando-lhe credito, se levantarão


I
,;
logo, 6 na seguinte madrugada fugirão, pretendendo levar comsigo a Jo-
t seph, e certa gente que tinha vindo de S. Vicente. Porém Pindobuçú, e
'^'

outros Principaes de Iperoyg, os defenderão, reprehendendo aquelles de


..' maneira, que hum d'elles corrido cahio na conta de feito tão feio p(ír dit-
' - to de hum só escravo, e se ficou dizendo qua queria antes morrer com os
Portugueses. Seguirão os outros seu caminho ; e hum por nome Caãocjuira
o mais poderoso entre todos, teve ao menos poder pêra entrar de passa-
gem na casa de Joseph, e assombral-o, dizendo-lhe a modo de ameaça
«Ex-aqui que imos fugindo, porque os teus nos querião matar : a isto nos

mandastes a S. Vicente, pêra que nos consumissem a todos?» Mas disse
e foi-se. Ficou Joseph turbado com taes novas, porém logo soube o fun-
damento d'ellas.

30 Ainda bem estes não tinhão ido, quando chegarão outras dez ca-
noas do Rio, cuja gente logo veio buscar a com grandes estrondos,
Joseph
e carrancas: mas chegando a sua presença, nenhum se atreveo a lançar-llie
a mão. Fizerão comtudo opera que só tinlião licença do Ceo, e da Virgem;
e por cinco dias continues o assombrarão, e roubarão a pobreza que ti-

nha, intentando leval-o a suas terras, ou ao menos hum Portuguez, que


alli estava á sua sombra, chamado António Dias, que tinha ido a resgatar

sua mulher, e filhos cattivos em as guerras passadas. Resistirão porém os


da aldeã valerosamente ; até que o Principal Pindobuçú (que só por res-
peito de segurar as pazes, e serem elles hospedes, tivera paciência) enfa-
dado já, se foi a elles com a espada de pão na mão, a vozes alias dizendo

assi: "Não querem estes vagabundos senão quebrar cabeças de bran-


cos? pois eu o não hei de consentir, que tenho empenhado minlia palavra,
e hei de fazer pazescom elles: e saibão que este Payé que aqui tenho he
o grande Payé dos Christãos, conselhpiro de Deos; e se alguém o oflender,
ha de ver a morle sobre si, e os seus: c saibão lambem que aqucllc Pur-
DO ESTADO DO BItVSIL (aNNO DE 1563) 21

luguez António Dias faz as casas dos Padres, e do Deos dos Chrístãos (is-

to dizia porque era pedreiro) e se alguém lhe empecer, que ha Deos de


tornar~se contra elle, como se offendera aos Padres.» Isto dizia com tal

braveza, bater de pé, e palmas (sinal de desafio) que acudirão os seus ar-
mados, e houverão de vir ás frechadas porém os contrários callárão. A
:

grande fidelidade d'este Principal, mostrava bem o que depois havia de


vir a ser. Daqui foi ter com o irmão, e lhe disse: «Filho Joseph, não te-
nhas medo; porque bem vês o como eu torno por ti por isso falia tam-
:

bém com Deos, que me dê larga vida (não sabia ainda então mais pedir;)
não hajas medo que te deixe matar, ainda que os teus matem os meus em
S. Vicente; porque sei que tratas verdade. Será porém mal, se as cousas
que por aqui se dizem forem assi.» Agradeceô-lhe Joseph o officio de pai,
prometeo-lhe sua intercessão diante de Deos; e com animo assocegado lhe
assegurou, que cedo havia de ver que era falso tudo o que se dizia.
31 Não tardou Deos em acudir pelos seus; porque quando mais esta-
vão embravecidos aqueHes bárbaros, chegou á praia o próprio índio da
companhia de Aimbiré, de quem dizião que fora morto por Domingos de
Braga, e declarou o fundamento do enredo todo: e foi, que este índio; por

hum medo mal fundado que teve, semeteo pelos mattos, e acabo de hum
mez que por elles andou, chegava então vivo, e sáo, como todos o vião
mostrando ser mentira tudo o que se dissera. E após este vierão logo ap-
parecendo outros índios, dos quaes se tinhão semelhantes desconfianças
e contarão estes, como o padre Nóbrega os levara a Itanhaè, e fizera pa-
zes entre elles e aquelles moradores, abraçando-se de parte a parte na
igreja pêra mais segurança: e depois os ajuntara em Piratininga, e fizera
o mesmo: e logo assentarão as mesmas pazes com os do rio Parahíba, e os
Tupis discípulos dos Padres, de Piratininga, e Mayranhaya, também na
Igreja; e conversavão, e tratavão huns com os outros como amigos e ir-

mãos. Aqui acabarão de ficar envergonhados os que tão facilmente crerão


vencido o inimigo, que os perturbara; e todos se mostrarão satisfeitos das
pazes, e Joseph livre de seus assombros e tido cada vez em mór conta de
Payé guaçú dos Christãos.
32 Dada por boa
a confirmação das pazes, fez o Irmão Joseph com-
muas e particulares
demonstrações de acções de graças a Deos nosso Se-
nhor, que por espaço de cinco mezes de seu desterro tirara o fim deseja-
do de tantos. Sendo tempo de despedir-se, segando a ordem que tinha do
Padre Nóbrega, achava ainda difficuldades; porque a affeição que lhe tinhão
22 LIVHO III DA CUROMCA DA ÇOMPAMIIA DE JESf

e elle tinha áqiielles bárbaros, fazia presa na vontade. Elles ciioravão


a fal-
ta de Josepli seu amigo, o Payé maior, que adivinhava seus successos fu-
turos, boa doutrina, que os curava, sangrava, e con-
que lhes ensinava a
solava em suas doenças e Joseph chorava mais sentidamenle, ver ficar
:

tantas almas desamparadas do remédio de sua salvação, tão dóceis,


e ins-
truídas já; e o que mais he, tão desejosas do sagrado bautismo. Cortava-
Ihe este sentimento a alma; e era tão forçosa n'elle a causa de
partir-se
como a de ficar-se. Considerava também por outra via aquelle lugar, que
fora pêra elle outro como desíerro de Patmos pêra o mimoso João Evan-
geUsta; porque alli gozara entre o rigor do desterro, e assombros da mor-
te, tão mimosas illustrações, e favores de Deos, e de sua Mãi santíssima,
que podia chamar-lhe com razão lugar de suas consolações. Tudo isto vem
a dizer humas suas palavras, que deixou escrittas sobre este desterro:
são
as seguintes, faltando na terceira pessoa. «Assi esteve o Irmão (a saber
Joseph) até meado Setembro entre os Tamoyos, entregue á providencia di-
vina, e muito consolado, passando muitos tragos da morte, cpie causavão
os que vinhão do Rio, e outros combates espirituaes, de que nosso
Senhor
o. livrou, etc.»

33 Houve por fim de partir-se este provado Abrahão do lugar de Vr


Caldeorum; este Moysés mimoso do cattiveiro do Egypto; e o perseguido
Joseph de seu desterro, aos í4 de Setembro de 1663 em huma pobre canoa de
casca de hum madeiro, barca fraca pêra tão fortes mares: porém Joseph
tomara bons pilotos, a Christo, e a Virgem Senhora nossa, mãi sua, em
primeiro lugar. Além d'estes levavão á sua conta Cunhambéba, grande ami-
go seu, o que trouxera de S. Vicente as ultimas novas das pazes. A este
se entregou Joseph como a Superior na viagem, e por elle se deixou go-
vernar nos perigos grandes que teve. Ainda aqui não cessão embustes so-
bre as pazes: chegando a descansar á ilha dos Porcos, acharão alli huma
canoa de índios do Rio (causa de todas as contendas:) estes pretenderão
tornar arruinar contra Joseph o coração de Cunhambéba. «Tu donde vás?
(lhe dizem) Sabe que nós outros vimos fugindo, por que os moradores de
Piratininga quebrarão as pazes, matarão a hum nosso, e os Portugueses
vierão após nós até a Britioga, e prctendérãe matar-nos ás arcabuzadas.»"
Bastantes causas erão estas pêra mudar qualquer coração, quanto mais o
de índios: porém Cunhambéba rcspondeo-lhes assi: «Ide embora, que eu
bera sei que os christãos são bons, e tratão verdade: se isso foi assi, vós
outros lhe darieis a causa. » E deo ao remo com a mesma firmeza que dantes.
m M
BO ESTADO DO BRASIL (aNNO DK 1563) 23

34 Passada esta, entra outra tormenta, conjurada parece pelo mesmo in-
ferno, por ver se poderia acabar no mar, o que não poderá na terra: brama
o vento, descompõe-se o mar, e as ondas açoutão a barca, e remeiros,
chegão a ponto de perder-se. Que faria huma barquinha, casca de huma ar-
vore, ainda não bem seca? Começa a gemer com o peso, a alagar-se com
a agoa, dando-se por perdidos os índios: porem não Joseph, que tinha orá-
culo da Virgem Mai sua, que não havia de morrer antes de perfeiçoar sua
Vida. Animava os índios que tivessem confiança em Deos, lançassem fora a
agoa, não desamparassem o remo, porque sem duvida havião de ir a
salvamento. Tudo virão os índios (não sem admiração da confiança de Jo-
seph:) applacou a tormenta, chegarão ao porto, saltarão em terra, e forão

recebidos com applausos aos 21 de Setembro: foi levado Joseph como em


triumpho por homem do Ceo, vencedor de tantas difficuldades, que alcan-
çara victorias. Aqui se informou Cunhambéba, e achou ser embuste o que dis-
serSo os da canoa do Rio de Janeiro, e ficou mais firme na verdade dos Pa-
dres.
35 Restituído Joseph a sua casa, e a seus amados Irmãos, recreado, e
agasalhado nos próprios corações, especialmente do Padre Nóbrega, o supe-
rior, e companheiro de seus trabalhos, que não se fartava de abraçal-o, e
dar-lhe os parabéns da chegada, e do successo de seu desterro: o primei-
ro tempo que teve acabou de dar cumprimento á palavra que dera á Virgem
Senhora nossa, patrona sua, de perfeiçoar sua Vida. Começou a desenrolar
d'aquelle thesouro felicíssimo de sua memoria por ordem de livros, cantos e
capítulos, toda aquella comprida serie,não menos que de quatro mil cento e
setenta e dous versos, que fazem dous mil o. oitenta e seis dísticos: prodigio-
so parto de memoria! Acabado de limar, e escrever o poema, offereceo-o á
Virgem sua Mãi, com a dedicatória seguinte:

En íibi qiicB vovi, Mater sanctissima, quonãam


Carmina, cúm scevo cingerer hoste latiis.

Dum mea Tamuias prcesentia mitigai hostes.


Tracto que tranquillum pacis inermis opus:
Hic tua materno me gratia fouit amore.
Te corpus tutum, mensque regente fuit,
Sa;pius optavi. Domino inspirante, dotores,
3?' LIVRO 111 DA ClUíO.MCA DA COMPANHIA DE JESU

,. Duraque Cíim savo fimere vinda pali.


wirciíl -.fí. At siml passa tamen meritam mea vota repulsam,
Scilícet Hernas gloria tanta decet.

36 Por esta dedicatória poderá ver o que entender da matéria, que he


digno de coraparar-se nosso poeta com qualquer dos melhores da antiguidade.
O sentido da dedicatória he este. «Eis aqui, Mãi Santíssima, os versos que of-
quando me vi cercado de inimigos feros, e quando
fereci a vossos louvores,

socegava com minha presença os Tamoyos, e desarmado tratava de pazes en-


tre armados bárbaros. Aqui teve vossa benevolência com amor de mãi cuida-
do de mim, em sombra de vosso amparo vivi seguro no corpo, e alma. Muitas
vezes desejei, com divinas inspirações, padecer dores, prisões, e morte; po-
rém não meus desejos, porque a gloria tão sublime chegão
forão admittidos
só os graíides Heróas.» Pela facilidade, doçura, e devação cordial d"esta dedi-
poderá julgar o espirito de todos os mais versos: os quaes não po-
c=itoria se

derei deixar de tresladar n'este


volume sem offensa de tão grande author, e
de tão pia obra; e ainda do gosto dos que bem sabem de poesia. Porém
como não podem verter-se tantos versos em portuguez, pêra os que não
entendem latim; contentem-se estes com aquelle breve exemplo da dedica-
tória: e os latinos acharão por extenso todo o poema fielmente escritto no
cabo d'este tomo, onde poderão vel-o: porque assi nem perdem os que
sabem este thesouro, nem ficão os que não sabem atalhados com clle sem
proveito, no meio da lição. E acabão-se aqui os reféns de Jdí^eph.
37 No Espirito santo trabalhavão os Padres em aquietar as dissensões
prejudiciaes entre Portugueses, e índios, e especialmente em reduzir ás al-
deãs os que d'ellas tinhão fugido com pretexto de aggravos; e já com o di-
vino favor se hião amansando aquelles corações magoados: muitos vencião
com boas razões, e muitos com ameaças dos castigos e penas da outra vi-
da; e tornavão assentar suas aldeãs com grande serviço de Deos, e do bem
commum; porque além do que importava a suas almas, fazião estos corpo
com os nossos, e crão ajuda de nossa defensão, e temor dos que ainda fi-
cavão inimigos. Entre estes se acabarão de recolher os que andavão espa-
lhados da gente do grande Gato: e por meio de todos os reduzidos, se es-
perava na Capitania grande melhoria de paz.- N'estes sertões erão grandes
os trabalhos dos nossos, quando andavão, a modo de pastores, correndo as
mattas em busca de ovellias fugidas; porque não sõ tinhão contra si a re-
sistência dos mesmos que buscavão, mas também os perigos d"aquelles a
rir'--'-
ifCTHi^-O-^i ':
~<G?<iíe»NÍJ'*

DO ESTADO DO BRASIL (aNNO DE 1564) 25

quem fugião, por estarem em armas; e era força que quando os encontra-
vão, os tratassem, ao menos com disfavores, com assombros, e terrores da
morte. Vio-se aqui huma protecção especial do Geo; porque encontrando-se
muitas vezes por essas mattas os Padres com estes inimigos, e andando
assanhados como feras; nunca ousarão, não só matal-os, mas nem ainda a
pôr mãos n'elles, pelo respeito grande que lhes tinhão, de homens que fal-

lavão coni Deos, e fazião vida inculpável; antes dizião, que a ninguém ren-
derião seus arcos, senão a elles: e davão já esperanças d'isso; porém até
agora ficão em sua pertinácia, e> com elles ainda alguns dos fugidos, que
pertencião ás aldeãs, a que não foi possível chegar.
38 Cousa commum he andarem os males acompanhados, e que a huma
peste se siga logo peste. Experimentarão este teor da natureza (bem á sua
custa) os moradores da Bahia: o anno passado de 1563 passou gemendo
toda esta Capitania com huma quasi peste, ou corrupção pestilente, que ti-

rou a vida a três partes dos índios (estrago miseravell) Entra o anno de
1364, e vemos que entra com elle huma terrível fome, com nova mortan-
dade, e não pequena angustia dos Padres que das aldeãs tinhão cuidado.
Foi a causa da fome a mesma que a da doença, a intempérie do ar, appli-

cada primeiros aos corpos, agora aos frutos : era lastima grande ;
porque
nascendo estes fermosos, alegrando a vista, e incitando a esperança, mor-
rião no melhor mal logrados; murchando primeiro vencidos da injuria dos
tempos, até cahir em terra, seguindo os passos de homens apestados. Erão
em grande quantidade os que acabavão cada dia por essas aldeãs a mãos
d'esta fome tyranna: e era necessário aos Padres trocar o género de traba-
lho; e o que dantes applicavão á conversão das almas, appUcal-o agora a
remédio dos corpos: buscavão-lhes o sustento da vida; porém o mais que
podião ajuntar, vinha ser nada entre tantos. Curavão-nos, animavão-nos,
preparavão-nos, sacramentavão-nos, sepultavão-nos; e n'estas obras andavão
em perenne hda, correndo as aldeãs adjutores volantes, porque os residen-
tes não bastavão.
39 N'esta fome tão deshumana, não acabavão os males com os que mor-
rião: porque os vivos das aldeãs vizinhas á cidade, levados do aperto, che-
gavão a vender-se a si mesmos por cousas de comer. Houve tal que entre-
gou a sua hberdade por huma só cuia de farinha pêra livrar a vida; outros
se alugávão pêra servir toda a vida ou parte d'e!la: outros vendião aos pró- :' í

prios filhos que gerarão; outros aos que não gerarão, fingindo os seus: a
tudo isto persuade a dura fome, e necessidade (que por isso lhe chamou o t: í

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i«ipai

26 LIVRO 111 DA CllRONICA DA COMPANHIA DE JESy

poeta, 3íalé suada fumes, et turpis egeslas.)


E o que lie mais, que semen-
trevir contrato algum, com títulos somente suppostos, eião muitos senho-
reados dos Portugueses, ficando destruídas aldeãs
numerosas, que com suo-
res de tantos annos tinhão recolhido os Padres,
e- reduzido ao grémio da
igreja das mattas bravas de sua gentilidade. Três
aldeãs das mais remotas,
e das mais populosas, a de Nossa Senhora da
Assumpção de Tapépitanga!
a de S. Miguel de Tapéragoá, e a de Santa Cruz
de Jagoaripe, pêra onde
se havia mudado a de Itaparica por causa da
fome, e por lhe meterem em
cabeça seus feiticeiros, que procedia esta em castigo de se haverem sujei-
tado a Christãos, forão desamparadas, espalhando-se
os moradores d"ellas
por suiis antiguas mattas buscando comedia.

40 Todos estes desarranjos notáveis cortavão o corarão aos Padres,


es-
pecialmente ao Padre Gram, vendo se hião mallogrando
frutos tão cresci-
dos, no mesmo tempo, em que houverão de
madurar; deixando frustrados
os suores^ de tantos e tão incansáveis trabalhadores,
que com tanto alTc-
clo cavarão, plantarão, e podarão. Não perderão comtudo as esperanças os
obreiros do Senhor: tornão a penetrar as m.attas,
vão-se em busca dos que
fugião, e depois de feitos largo tempo habitadores das brenhas, converte-
rão seus feiticeiros, e convertidos estes, tornarão a reduzir
os inconstantes
fugitivos. Os Padres João Pereira, Adão Gonçalves,
Jorge Rodrigues, e ou-
tro Inrão, estiverão a ponto de serem mortos
dos que fugirão das' aldeãs
de Tapéragoá, e Tapépitanga, onde residião, por querer
impedil-os, e es-
caparão por successo tido por milagroso. Com os presentes
infortúnios, e
com os do anno passado, por mais diligencia que poserão
os Padres, fica-
rão só cinco aldeãs, que depois se reduzirão a quatro,
tendo chegado a ser
tantas, e tão florentes, como temos visto os annos
passados. Outro traba-
lho resultou da fugida; porque foi descomposta, e
cada qual tirava por on-
de bem lhe parecia, e n'ella morrerão alguns índios: voltarão
muitos sem
mulheres, e querião casar; mas como se não soubesse se
orão mortas estas,
ou se forão parar a outra parte, era força esperar talvez longo
tempo por
averiguar a verdade, não sem grande moléstia dos índios, c dos Padres.
41 Houve grandes embaraços, e duvidas de consciência, nos que com-
prarão os índios na forma acima referida. Rccorrco-se a Lisboa
ao Tribu-
nal (? 1 Mesa Qj Consciência, c d"elle veio a resolução
seguinte. «Que o pai
podia em direiio vender ao cm
filho caso de apertada necessidade: e que qual-
quer se podia vender a si mesmo pêra gosar do preço.» Havida esta reso-
lução, eptiãrã? cn: onsulta na cidade da Bahia o Bispo D. Pedro Leilão com
DO ESTADO DO BRASIL (ANNO DE 1564) 27

o Governador Mem de Sá, o Ouvidor geral Braz Fragoso, e o Padre Pro-


vincial Luís da Gram: e pareceo bem que se publicasse ao povo a resolu-
ção da Mesa da Consciência, porque com ella ficassem quietos os que com-
prarão na forma conteúda, e os que forão comprados fora d'ella se tives-
sem por livres. Porém como os moradores da Bahia, e de toda a costa,
estavão feitos senhores de tão grande quantidade de índios vendidos fora
do direito por tios, e irmãos, e parentes, que não tinhão domínio sobre
elles; determinou-se que os taes erão livres: vistas com tudo as grandes
difficuldades que se allegavão de se largarem todos estes índios do serviço
dos Portugueses; e porque podião ir outra vez meter-se entre os gentios,
com dispêndio de suas almas, e não sem perigo da repubhca, foi permit-
tido que ficassem em casa dos que os tinhão, com os condições seguintes. Que
os ditos índios assi mal havidos fossem avisados de sua Uberdade; mas que co-
mo livres servissem a aquelles que os resgatarão em suas vidas, por evitar os
inconvenientes que do contrario se podião seguir: e que fugindo os taes índios,
os podessem os amos mandar buscar, e castigar: e com condição que os amos,
em reconhecimento de sua liberdade, lhes pagassem em cada hum anno
por seu serviço aquillo que justamente lhes fosse taxado: com declaração,
que continuando elles a fugir pêra o gentio, sendo depois da primeira vez,
perdessem a soldada de hum anno, em recompensa do que os amos per-
derão em buscal-os. E outro si, que os possuidores dos ditos índios, os
não poderião vender, nem dar, nem trocar, nem levar fora do Brasil: e o
que os não quizesse possuir com as condições apontadas, os podesse tor-
nar a dar aos que lhos venderão, sem titulo de dominio que tivesse sobre
elles, e estes lhe tornassem o preço.
42 Porém nem estas condições se guardarão, nem a resolução sérvio
de mais que de cattívarem mais índios com capa de vendidos por si mes-
mos, ou por seus pais; porque enganavão os pobres, e quando hião ao re-
gistar, fazião que dissessm o que quer ião: sendo que (tirando poucos na
força da fome sobredita) raramente se achará que índio se vendesse a si,

ou a filho legitimo: nem suas necessidades são taes, que se não possão re-
mediar sem semelhante rigor de vendas, contrarias á liberdade natural, tão
estimada d'el[es, e de todos os homens. Nem também a condição permit-
tida do serviço dos índios por toda a vida; posto que por seu- estipendio,
deixava de ser violenta, e quasi modo de cattiveiro, a não intervirem gran-
des razões verdadeiras, que a cohonestassem. (l!

43 No mesm.o tempo se fez consulta sobre outra praga mais universal.


^e^^ftf^amt

2S LIVRO ni DA CimONICA DA COMP.A-NHIA DE JESU

que despovoava as aldeãs: e era esta a capa de huma


sentença, que fora
promulgada contra os índios Caetés, dando a todos por
escravos, e toda
a sua descendência (como já n'outra parte
dissemos) pela morte qúederão
ao Bispo D. Pedro Fernandes Sardinha. E como nas aldeãs
da Bahia havia
grande quantidade de parentes dos Caetés, e não só estes
se havião
por cattivos, mas á volta d'elles outros
que o não erão, com qualquer
sombra de o ser; despovoavão-se as aldeãs de todo. A este
grande mal
tendo respeito o mesmo Governador, e o Ouvidor geral,
moderarão a sen-
tença dada, e exceptuarão os que se reduzissem ás
Igrejas onde havia ca-
thecismo da Fé: porque estes não poderião ser escravos.
Porém a limitação

i não foi de fruto; porque elles, ou se não acolhião ás Igrejas,


não estavão
ou
seguros dos Portugueses, e como desesperados fugião, e
ahi
morrião á fome, ou se metião com seus próprios inimigos, e
morrião a
mãos violentas: até que cahindo em tantos desarranjos os Ministros
se o fazião

Reaes,
revogarão de todo a sentença; mas foi a tempo que
poucos d'elles erão vi-
vos. ,

44. ,A
estes excessos, e a outros semelhantes acudirão
os Reis, como
verdadeiros Catholicos; e por descargo de consciência, mandarão
que não
fossem cattivos, senão aquelles que fossem tomados em
guerra justa (apon-
tando juntamente as condições da justiça da guesTa) e aquelles
que fossem
resgatados das cordas: com declaração, que tanto que estes
servissem tem-
po bastante pêra satisfação do preço que por elles se deo, ficassem livres.
Porém por que ainda assi forão informados os Reis de muitos enganos que
n'esta matéria se commetião, El-Rei D. Philippe Segundo em li de Novembro
de 1595, revogando todas de seus antecessores, mandou que so-
as leis
mente fossem cattivos os que fossem tomados em guerra justa, feita
por
Reai Provisão assinada por elle, e de outra maneira não. Em 30
de Julho
do anno de 1609 passou Sua Magestade outra lei, em que revoga todas
as passadas, e declara era que revoga todas as passadas, e declara todos
os índios do Brasil, assi bautizados, como por bautizar, por livres, con-
forme a nascimento natural; e manda que por taes sejão tidos,
direito, e

e havidos: e acrescenta assi: «E por quanto sou informado, que cm


tempo
de alguns Governadores se cattivavão muitos genlios contra a forma da lei
d"El-Rci meu senhor, e pai; hei por bem, e mando, que todos sejão pos-
tos em
sua liberdade, c se tirem logo do poder de quacsqucr pessoas que
os tiverem, sem embargo que digão que os comprarão, o que por cattivos
lhes forão julgados por sentença: as quaes compras, e scnlenças declaro
^ rt"-.:

làii

DO ESTADO DO BfUSIL (anNO DE ifJ64) 'fS

por nullas, por serem contra direito.» Á qual lei, supposío que se veio com

embargos na cidade da Bahia á execução, e se replicou a Sua Magestade,


não obstantes os embargos, e replica, tornou a passar outra lei em 10 de
Setembro de 1610, em que confirma a passada. E ultimamente esta meá-
ma foi confirmada por El-Rei D. Philippe Quarto, passada em Lisboa em 31
de Março de 1640, e registada na Bahia no mesmo anno; em que manda, que
nenhum índio de qualquer qualidade, ainda que seja infiel, possa ser cat-
itvo, nem posto em servidão, por nenhum modo, causa, ou titulo; nem

possa ser privado do dominio natural de seus bens, filhos, ou mulher,


aggravando apertadamente as penas passadas, como ahi se pôde ver.
4o Já n'este tempo era o numero de obreiros d'esta Província mais ac-
crescentado: porque na Bahia erão os Padres dez, e os Irmãos quinze: em S-.
Vicente, e Piratininga, dezoito por todos; no Espirito santo dous, dous em
Porto seguro, dous em Pernambuco, e três nos Ilheos, como logo veremos.
E pêra que podessem com mais desembaraço empregar-se na cultura dos
índios, e Portugueses, n'esíe mesmo anno o Sereníssimo Rei D. Sebastião,
pai amoroso da Companhia, com animo não menos liberal que christão, do-
tou o CoUegio da Bahia de huma côngrua porção, pêra sustento de até ses-
senta Religiosos, applicada na redizima d'esta Capitania, que pelo tempo
se reduzia a dinheiro, vinte mil réis pêra cada sujeito; que vem a fazer
três mil cruzados. Tudo consta de sua Real Provisão, passada em 7 de
Novembro de 1564. Pela qual mercê a este Príncipe reconhecemos por fun-
dador, com os suffragios costumados em nossa Religião. Verdade he que
teve El-Rei D. João seu avô vontade de fundar o diíto Collegío, e tinha
dado principio a elle quando falíeceo: o que sempre reconheceremos n'es-
íe pio Rei, com os mais favores de pai, que fez á Companhia; em particu-
lar á de Portuga!, e a esta do Brasil. Com tudo, como a doação do dote
certo, e determinado, foi feita por El-Rei D. Sebastião, a elle temos por
fundador. O que quizemos advertir aqui, porque alguns Authores nomeão
a El-Rei D. João absolutamente fundador do Collegio da Bahia, igualmente

com o de Coimbra em Portugal, e o de S. Paulo na índia. Assi o tem o


Padre António de Vasconcellos na Descripçuo dos Reis de Portugal, na Vida ii
I
d'El-Rei D. João: e o Padre Balthasar Telles nas Chronicas de Portugal
parte u, liv. 6, cap. 54, num. 3, levados parece do fundamento que apon-
tei; porque teve vontade de fundar o Collegio, e deo principio a elle.
46 Estemesmo anno em o mez de Fevereiro passou a melhor vida na
Casa professa de Roma o Padre Diogo Laines, Geral de nossa Companhia,
n
30 LIVRO 111 DA CHROMCA DA CO.MPAMIIA DE JESU

com sentimento, não só de toda ella, mas de toda a Corte Pontifical. Nes-

ta Provincia fizerão demonstrações do sentimento devido; porque era na


verdade pai amoroso d"ella, e mui zeloso da conversão de sua
gentilidade.
Foi varão raro, igualmente nos dotes da graça, que nos da
natureza: e de
quem disse o Cardeal Alexandrino, que logo foi eleito em Summo Pontifi-
ce,chamado Pio V, que com sua morte perdera a Republica Christãa hum dos
mais insignes defensores d'elia. Outro lUustrissimo Cardeal disse,
que ha-
vendo estado em Roma quasi cincoenta annos, não vira morte mais senti-
da. Muitos Príncipes fora da Itália lhe fizerão exéquias
sumptuosas. E o

4 Cardeal Augustano Otho Truches, nas que lhe celebrou em


de luto, vestio o sepulcro de purpura; porque dizia, que a
Delinga, em vez
memoria de
hum tão grande varão se havia de celebrar com festa, e não com luto. A
nós, em perda de cabeça tão grande, nos toca mais
o sentimento de sua
morte, que o historial-a. Póde-se ver no Padre Francisco
Sacchino, nas Chro-
nicas da Companhia de Jesus, liv. 8, desde o numero duzentos, adiante;
e no Padre Ribadeneira, dos quatro Geraes da Companhia;
e no Padre Eu-
sébio Nieremberg, de Varoens illustres da Companhia;
e outros.
47 Na villa da Capitania dos Ilheos se edificava este anno com grande
calor, Templo, e Casa pêra Religiosos da Companhia,
com as esmolas, e
animo hberal dos moradores: e residião ahi três Religiosos d"ella com boa
aceitação,e fruto. Verdade he que eram antiguos os desejos d"estes
cida-
dãos desde o anno de 1553, em que por ali passou o Padre
Nóbrega,
quando hia a visitar S.Vicente, e lhe pedirão Padres, que lhes assistissem,
como alli dissemos. Porém como então erão ainda poucos os sujeitos n"es-
ta Provincia, só sabemos que forão a esta villa muitas vezes cm missão, e
chegarão a estar de residência em huma aldeã perto d"ella; mas na vili»
só d'este anno por diante temos noticia que estivessem de assento;
e que
o primeiro que começou a residir foi o Padre Francisco Pires, depois
de
ter sido Reitordo Collegio da Rabia, com o Padre Rallhasar Alvares: e es-
te achamos escripto que fizera alli grande fruto nos índios, cuja liugoa sa-
bia; mas não particularizão casos alguns.

^
48 E já que n'este anno começamos a ser moradores, será bem que
n'elle digamos alguma cousa dos primeiros princípios (festa Capitania, c
Tem seu principio esta Capitania dos lllicos da ilha Tinharé, onze, ou
villa.

doze legoas da Rabia correndo ao Sul (como está julgado por


sentença de
Mem de Sá, Governador do Estado, c de seu Ouvidor geral Rraz Fragoso)
e vai correndo d'cste lugar ao mesmo ]-unio cincoenta
legoas por costa.
DO ESTADO DO BRASIL (anNO DE 1S64) M
até acabar no porto e rio de Santa Cruz, três legoas da villa de Porto
se-
guro, pouco mais ou menos; porque ainda não estão demarcadas por esta
parte as duas capitanias de Illieos, e P01I0 seguro. lie terra fértil, amena,
regadia, capaz de riquezas, de grandos canaveaes, e engenhos, de páos
preciosos, brasis, jacarandás, saçafrás, e outros, e de todo o género de man-
timentos brasílicos. He retalhada de grandes e caudalosos rios. (Deixando
os menores) o rio do Camamú, distante seis legoas de Tinharê, em altura
de quatorze gráos, he hum
dos mais capazes rios de toda esta costa pêra
grandes povoações, e commercios. A barra he fácil e espaçosa, a modo
de
duas, por respeito da ilha chamada de Quiépe, que tem junto á boca. En-
trão por ella grandes náos chegadas ã ponta da banda do Sul nadão em
sete ou oito braças. Da barra pêra dentro ha huma formosa bahia, á qual
de diversas partes correm ribeiras de agoa doce a pagar-lhe tributo.
Traz
suas agoas muito do interior da terra, posto que não he navegável
mais
que até seis ou sete legoas, por impedimento de huma grande cachoeira.
49 Deste a seis legoas ha outro
rio chamado das Contas. Vé-se na bo-
ca d'elle hum ilheo pequeno,
he capaz de navios ordinários, he navegável
até oito legoas não mais, por respeito de huma cachoeira.
D "esta pêra ci-
ma se pôde também navegar, se lá se fizerem acommodadas embarcações.
Está em quatorze gráos, e hum quarto. Em abono do arvoredo d'este rio,
he celebre aquelle espantoso cedro, que desceo por elie abaixo, e sahinào
pela barra fora se achou lançado á praia, de tão crescido tronco,
e anno-
sos braços, que deo só elle a madeira toda á fabrica de
huma Igreja da
Santa Misericórdia, que dos Ilheos, sem que algum outro páo
fez a villa
entrasse n'ella: não chegão aqui os cedros tão gabados do Líbano.
50 Em distancia de outras seis legoas está o rio chamado Taygpe, cau-
daloso em agoas: rega grandes, e remontadas mattas; metem-se n'elle ou-
tros muitos de menos conta. Tem huma alagoa fermo-
seu nascimento de
sa, que contêm em si duas
de arvoredo. Não faço caso de ou-
ilhas cheias
tros dous somenos, que entre este e o rio das Contas desembocão
ao mar,
Vemoão, e Japarapé.
51 De Taygpe ao rio de S. Jorge, que he o da villa dos Ilheos, ha duas
legoas de distancia, tem três ilheos na barra, e junto a estes ha surgidouro, Ih
e os navios que hão de entrar vão pelo canal. Norte, e Sul, com o ilheo gran-
de: são férteis seus arredores, está em quinze gráos escaços:
do de S. Jor-
ge a duas legoas está o rio Curuygpe, de menos conta. Deste a doze le-
goas desemboca no mar o rio chamacio Patype, fecundíssimo de mattas do
manp

32 LI\TlO m DA GHRO.MCA DA COMPANHIA DE JESU

estimado páo brasil: se bem pêra enriquecer aos homens cora este Ihe-
souro, não he capaz de embarcações grandes, que fartem por huma vez
seus desejos; em barcos menores he força que o tragão dos interiores de
suas mattas, por falta de barra accommodada. Junto a este, menos distan-

cia que de duas iegoas, corre o Rio Grande em quinze grács e meio de
altura: tem junto á boca três mattas de matto a modo de ilhas: bom sur-
gidouro de fora na ponta da barra do Norte, lugar seguro de navios pe-
quenos, que podem também entrar no rio, e achão na barra ao principio
duas braças do canal; logo huma, e d'ahi em diante três, quatro, e cinco.
He navegável até oito, dez Iegoas; de grandes pescarias, e férteis arredo-
res: entrão n"elle no sertão muitos rios, e alagoas, que fazem seu bojo di-
latado: achão-se n'elle mais de vinte ilhas habitáveis: e este he aquelle rio,
que guia a grandes haveres, e minas do sertão, como já n'outra parte dis-
semos; pelo qual abaixo descerão em canoas de cascas de arvores muitos
dos companheiros de António Dias Adorno, que subindo pelo rio das Cara-
vellasacima desentranhara estes sertões, e descobrira esmeraldas, saphiras,
e outros mineraes.
52 Depois do Rio Grande cinco Iegoas, desagoa no mar o rio Boygcpi-
çába. D'este a quatro Iegoas e meia o rio de Santo António; dahi a duas
o rio de Cernambitygba: todos três caudalosos, posto que de somenos bar-
ra, e d'este ultimo ao de Santa Cruz correm duas Iegoas, e he o em cujo

porto entrarão as náos da índia de Pedro Alvares Cabral, que descobrirão


este novo mundo: está em altura de dezaseis grãos e meio. E temos des-
critto a costa d'esta Capitania.

53 D'esta fez mercê El-Rei D. João o Terceiro a Jorge de Figueiredo Cor-


rêa, Escrivão de sua Real Fazenda: mas como este por lazão de seu cargo a
não podesse vir povoar em pessoa, mandou em seu lugar a Francisco Ro-
meiro, Cavalleiro Castelhano, homem prudente, e animoso, com huma frota,
provida de aprestos, e moradores necessários pêra a nova povoação; tudo
á custa do senhor da terra. Partio de Lisboa esta frota, chegou á costa, e foi
desembarcar no porto de Tinharé. Começou a povoar no alto do morro de
S. Paulo: mas descontentando-lhe o sitio depois de descoberto o rio dos
Ilheos (chamado assi pelos três que tem junto á barra, dos quaes toma
não só a viila, mas toda a Capitania, o nome) passou-se pcra ellc com toda
a gente; e era esta em
grande parte da boa nobi-eza de Portugal, (lue por
vários respeitos vinhão a povoar estas partes.
oi N'esta parte se foi forliíicando, e assentando a villa^ a que liôz por

>
iUMi

DO ESTADO DO liRASIL (ANNO DE 1564)

nome S. Jorge, a contemplação do senhor da terra. Na mesma paragem


sustentou os primeiros annos importunas guerras do gentio selvagem Tu-
pinaquí, até que por tempos fez itizes com elles, e os trattou de tão boa
maneira, que elies mesmos lhe forão de grande ajuda pêra que a Capitania
fosse em crescimento. Abrio commercio com homens ricos de Portugal, e
fabricou quantidade de engenhos de assucar, com que em breve cnnobreceo
a terra. Está esta villa em altura de quinze grãos escaços.
55 Andarão os tempos, e Jeronymo de Larcão, filho de Jorge de Fi-
gueiredo, vendeo, com licença d'El-Rei, esta Capitania a Lucas Gíraldes,
que meteo grande cabedal, e acrescentou o commercio, e fabrica de
n'ella

engenhos. Porém como tudo varia o tempo, estando a villa n^este estado,
moveo o inferno, ou peccados dos homens, o gentio chamado Aimoré, o
mais bárbaro, e prejudicial de toda a costa, inimigo de Portugueses, e tra-
gador de suas carnes; o qnal descendo do intimo das brenhas, começou a
fazer assaltos nas fazendas dos campos, roubando, matando, e comendo
grandes, e pequenos, com tal fereza, e continuação, que tiverão por me-
lliorlargar-lhe os arredores, e acolher-se á villa; onde ainda não vivião se-
guros; e forão forçados muitos casaes acolher-se á Bahia, por escapar com
vida: até que o Governador Mem de Sá no anno de 1560, foi desafrontar
este povo, e castigou severamente os delinquentes: tornando a ter melhoria,
posto que não a de seus principies, até que haja cabedal de importância,
que excite commercio na terra, sem o qual não pôde haver opulência.
56 No principio d'este anno preparou o Governador Mem de Sá na
Bahia huma frota, que enviou ao Rio de Janeiro. O fundamento d"esta di-
remos primeiro, e depois iremos após ella, a ver o fim que tem. O funda-
mento d'esta expedição foi o seguinte. Tinha Mem de Sá cscritto da Bahia
á Rainha D. Catharina, que governava Portugal, o successo da guerra que
fizera contra Villagailhonna enseada do Rio de Janeiro, rendendo-o, e pon-
do por terra a fortaleza que alli tinha, na forma que dissemos no anno de
1560. Foi festejada a nova como merecia, e approvado tudo o que alli se
obrou: huma só cousa doo a entender a Rainha, e Conscllieiros, que não
satisfizera, e foi, o não deixar presidiada a fortaleza com
gente Portuguez.
Por esta causa, e porque juntamente tinha chegado a nova das pazes, que
por meio de Nóbrega, e Josepli se assentarão entre Tamoyos e Poi'tugue-
ses; chamou
a Rainha a Estacio de Sá, sobrinho do Governador Mem de
Sá, homem
de coração, e prudência; e mandando preparar dous galeões,
providos de aprestos de guerra, e soldadesca, mandou que tomasse entre-
YOL. n 3
34 LlVnO lU DA ClinO.MCA DA COMPAMilA DE JESU

ga (l'elles, e lhe ordenou que fosse á Bahia, e ahi estivesse ás ordens do


Governador geral seu tio; porque queria que daquella cidade fosse a hu-

ma empreza de seu serviço á enseada do Rio de Janeiro.


57 Chegou Estado de Sã á Bahia, e abertas as cartas da Rainha, con-

linhao (depois de dar-se por bem servida do que com seu valor obrara

n'aqQella enseada o Governador Mem de Sá) que considerando o tempo


accommodado, assi pelo bom successo passado de nossas armas, como pe-
que depois d'isso se assentarão com os índios Tamovos; parecia boa
las pazes,

occasião de meter gente nossa no Rio de Janeiro, senliorear a terra, lan-


çar de todo fora o Francez, e começar a povoar n'aquel[aparte: pcraoque
lhe mandava aquelle Capitão de effeito com duas nãos de guerra, que ag-
gregadas ao poder do Estado, serião bastantes pêra a empreza; c tudo fi-
casse a sua ordem, e disposição. O cuidadoso Govei'nador, que nenhuma
outra cousa mais desejava, vendo-se com tão bom Cai)itão, e soccorro, ag-

gregando a elle os navios da costa, e alguma gente, mililar, com a mór


presteza que pôde aviou a frota, e a despedio no pi^incipio do anno cor-
rente, com o regimento seguinte. Que fosse demandar a barra do Rio de
Janeiro, e entrasse n"ella a som de guerra, e observasse alli as disposi-

ções, e conselhos do inimigo, e se achasse occasião que prometesse es-


perança de victoria, procurasse mar alto, c ahi rompes-
tirar o inimigo ao

se com elle, com os índios Tamoyos:


fazendo sempre por conservar as pazes
e ordenando-lhe por fim do regimento, que podendo tomar conselho com
o Padre Nóbrega, não obrasse cousa de importância sem elle, pelo grande
conceito que tinha de sua virtude, e prudência.
08 Chegou o Capitão mór Estacio de Sá á barra do Rio de Janeiro no
mez de Fevereiro: e a primeira cousa que fez, foi despedir d"allil'.um bar-

co a S. Vicente com cartas ao Padre Nóbrega, pedindo-lhe (juizessc avis-

tar-se com elle era pessoa, por serviço d'El-Rei, na conformidade que o
Govei-nador seu tio o dispunha em seu regimento, o mais presto que fosse
])0ssivel. Entretanto foi correndo a costa, e postos d'ella, o achou jjorditto
de hum Francez que tomarão, que os Tamoyos do Rio de Janeirt) linhão
alterado as pazes, e estavão em guerra. Duvidarão os homens do mar, e
alguns soldados; mas logo á custa de seu sangue se desenganarão, porque
entrando cm bateis da bariva pêra dentro a fazer aguada em huma ribeira,
himi d"clles que mais se empenhou, foi acommelido de self canoas de Ta-
movos, de cujas mãos, supiioslo que escapou, foi com morte de quah'o
marinheiros frechados. Declarou esto successo a du\ida, c logo a foi mos-
DO ESTADO DO BRASIL (a.\i\0 DE Ío64) 3Q

irando mais ás claras a experiência; porque estava tudo ardendo cm apres-


tos de guerra: os portos por onde podia ser acommetido o inimigo,
cober-
tos de canoas armadas: as praias cheias de Tamoyos empennados, ferindo
o ciião, e os ares, ameaçando rompimento de guerra: tudo disposições in-
dustriadas pela nação Francesa. Inteirado de tudo o Capitão
mór Estado de
Sá (depois de alguma experiência de menor empenho, sahindo dos en-
feita

contros feridos alguns soldados, e outros mortos sem effeito) pondo


em
conselho o que vião do gi'ande poder do inimigo, e de como usava de cau-
tela, não querendo sahir ao mar a batalha; e como não era
bastante o po-
der com que se achavão pêra sahir em terra, por falta principalmente de
embarcações pequenas: e sobre tudo porque teve noticia por via de hum
cattivo dos Tamoyos fugido, que estava S. Vicente em guerra (ditto
que
concordava com a tardança do Padre Nóbrega;) resolveo que era bem ir
áquella Capitania; porque de sua ida resulíavão muitos bens, soccorrer
a
terra, avistar-se com o Padre Nóbrega, e prover-se de embarcações de re-
mo, e mantimentos.

59 Porém aconíeceo aqui hum successo tido por milagroso; porque parti-
da a armada no mez de Abril, emhuma quinta feira da semana santa, logo na
sexta seguinte á meia noite chegou o Padre Nóbrega em huma lancha, com
mais dous companheiros, e como vinha com vento tormentoso, desejosos
de abrigar-se d'elle, suppondo que tinha entrado a armada, embocárão
a
barra, e surgirão de dentro: senão que quando contentes do
successo, ao
primeiro arraiar da manhãa, começarão a descobrir o horizonte,
em vez das
nossas nãos de guerra, se voem metidos entre infinidade de canoas arma-
das inimigas :
e o que mais he, sem remédio de poder tornar pêra fora
porque o vento, que na entrada lhe fora favorável, á sabida lhe ficava con-'
trario. Que faria huma
lanchinha só desarmada, entre tão grandes estron-
dos de guerra entre gente feroz, e deshumana, que nem o nome
sabe de
bom quartel? Davão-se por perdidos os marinheiros,
encommendando-se a
Deos os Padres, e sobre todos mostrava grande confiança Nóbrega.
Ex que
no meio d'esta afflição começão a apparecer os velames dos galeões,
e em
pouco espaço entrão a barra, e lanção ferro junto aos nossos. E foi
o caso,
que^o mesmo contraste de tormenta que trouxera os Padres, fez
arribar os
galiões,que no dia antecedente tinhão partido. Á vista de tão grande suc-
cesso, se prostrarão de joelhos todos, reconhecendo
a mercê do Ceo: e logo
o seguinte Domingo de Paschoa sairão, em terra na ilha chamada Villagaiihon,
36 LIVRO III DA CUUONICA DA COMPANHIA DE JESU

onde disserão missa, e fez Nóbrega Imm sermão ao povo, em acrão de graças.
60 Avistado aqui o Capitão mór com o Padre Nóbrega, e tomando de no-

vo conselho com elle, convierão que era bem irem a S. Vicente refazer-se,
assi de mantimentos, como de embarcações de remo, com que podessem as-

sistir o tempo necessário, e acommeter á ligeira os postos onde não podião che-

gar navios grandes. Derão á vela, e dentro em breves dias chegarão ao porto
de Santos. Achou o Capitão que continuavão aqui as pazes firmes com osTa-
moyos de Iperoyg, entre os quaes estivera Nóbrega, e Joseph; e que moravão
muitos d'elles entre os Portugueses, e com sua frecha os defendião de al-

guns Tupis inimigos: especialmente o fiel Cunhambêba, que assentara casa


com tuda sua gente fronteiro aos mesmos Tupis, só por nossa amizade. E
pelo contrario achou que os Tamoyos do Rio de Janeiro tinlião feito por
toda aquella costa varias hostilidades, inimigos de toda a paz, e socego.
Em S. Vicente começou o Capitão mór a experimentar graves difficuldades

acerca da empreza, movidas por varias pessoas da mesma armada, ás quaes


não parecia bem acommeter em tal occasião de tempo. Dizião que o ini-
migo era innumeravel, fortificado em casa própria, com mantimentos á mão,
com embarcações tão ligeiras, com o mesmo vento, com armas que jamais

lhe podião faltar, industriados na guerra pela gente Francesa, cujos princi-
pies tinhão experimentado: e que tudo o contrario achávamos em nós; porque
éramos poucos, acommetiamos com o peito à frecha, em terra alhea, onde não
sabíamos dos postos que podem fazer a nosso intento, os mantimentos acaba-
dos, a terra impossibilitada a dar-nos outros, pelos assaltos contínuos dos
inimigos, as embarcações grandes, e pesadas, a munição limitada, e nossa
gente Portuguesa pouco destra no pelejar dos índios: que poderia succeder
huma desgraça, que desse que chorar: que sempre foi prudência, não ar-
riscar a graves perigos, onde a empreza he voluntária, e pôde esperar oc-
casião segura. Isto dizião; e a esie fim movião muitas traças, huns com

zelo, outros com por enfadados.


receio, outros

Gl O Padre Nóbrega, que tinha gastado muitas noites cm oração com


Dcos sobre o successo d'esta empreza, e tinha sentimento do Ceo, que ha-
via de sahir com effeito, que se havia de povoar o Rio, e
que os estorvos
oppôz-se firmemente a todos os pareceres
crão invenções do inferno:
contrários. Dizia que as emprezas grandes não se acabavão sem tra-
balho, nem sem perigo; e que á vista da imporlancia d"esta. nenhum
ou perigo devia reputar-se por grande: porqui^ se, pônins diante
trabalho,
dos olhos a Capitania d"El-Uci assolada; o inimigo pujanlo, e resoluto a
.7\ '\í,'?

mBmmmammsB-

DO ESTADO DO BRASIL (annO DE 1564) 37

acabal-a; a ponca potencia da terra pêra resistir-lhe; e o poder de Portu-


gal, e Brasil empenhado pêra libertal-a, parece qne nem a Portugal, nem
ao Brasil, nem ú Capitania, nem á reputação portuguesa, convém que fique
mallogrado cabedal, que tem custado tanto, e tantos annos ha que que he
esperado. Que dirá Portugal, o Brasil, esta Capitania, e os próprios inimi-
gos, se depois de tão grande fama de poder, virem que voltamos as
costas
sem sangue? Mais honra em tal caso mostrar essas costas feridas na
seria
peleja, que sans sem porque feridas mostrariam desgraça da fortu-
pelejar;
na, e sans mostrarião desdouro da fama. Quanto mais, que
nem o inimigo
he tão formidável, nem suas fortificações são muralhas, nem suas
armas vo-
mitão fogo, como as nossas somente excede em mantimentos,
;
e canoas
ligeiras: porém eu (dizia clle) aindo que com tão
poucas posses, me obrigo
a remediar esta falta a Vossa Senhoria. Concluía, que dilatasse
o coração
com grandes esperanças em Deos, porque de sua parte lhe pronosticava
successo venturoso, e entendia que era servido o Ceo, que d'esta vez
se edi-
ficasse cidade Real no Rio de Janeiro.

62 Era grande o conceito que tinha o Capitão mor da prudência, e


virtude de Nóbrega, até então por fama, agora
já p«r experiência. Tomou
per modo de oráculo do Ceo as palavras do Pdare, e propôz de cumpril-o
á risca. E na verdade a santidade do sujeito, a resolução com que fallou,
a impressão que fez no Capitão, o fim que teve no
successo, tudo mostra
que foi mais que humana sua resolução. .Joseph de Anchieta diz n'esta ma-
téria as palavras seguintes. «O Padre Nóbrega, como tinha por traçada de
Deos esta jornada, e grandíssima confiança, por não dizer certeza,
que se
havia de povoar o Rio de Janeiro, poz-se contra todos
com grande cons-
tância.» Até aqui as palavras de Joseph. Mostrou
ainda mais o intento ou-
tra reposta que deo o mesmo Nóbrega n'esta
oçcasíão; porque dizendo-iho
o Capitão mór no principio, entrado então, ao que parece, das razões con-
trarias: «Padre Nóbrega, e que conta darei a Deos, e a El-Rei, se lan-
çar a perder esta armada?» Respondeo elle com confiança
mais que huma-
na: «Senhor, eu darei conta a Deos de tudo; e se
fôr necessário irei á pre-
sença do Rei, e responderei ahi por vós.»
63 Ficou com todas estas cousas tão convencido, e resoluto
o Capitão
mór, que nenhuma cousa da terra (dizia elle) jamais
o trocaria. Porém pêra
persuadir aos soldados descontentes, foi
necessária nova lida de Nóbrega:
andava, e clesandava aquellas duas icgoas,
que ha de S. Vicente a Santos,
onde estavão com o Capitão: praticava com os de mais razão,
mostrava-
38 LT^T,0 IIÍ DA CilP.OMCA DA COMPANHIA DE JESl'

lhes a muita que havia pêra que não deixassem em flor esperanças de fru-
tos tão grandes, a gloria que se lhes seguiria da victoria, e o pesar que
contrahirião da retirada. Fazia-lhes fácil o apresto, offerecia-sc a grande
parte d"elle, rljudava-os, favorecía-os em suas petições, e ccnrencia-lhes os

ânimos. Levou-os a recrear á nossa Casa de S. Vicente por alguns dias, o


á villa de Piratininga outros; onde forão mui bem agasalhados, e aliviarão

os cuidados com tão grande variedade de vistas, e com verem os índios


de nossas aldeãs armados a seu modo, e animados pêra a mesma erapre-
za. Aqui fez cpae se assentassem pazes na presença do Capitão mór, e em
nome do Govarnador geral seu tio, entre os nossos, e alguns Principaes do
sertão, c{ue estavão em guerra. Descerão seguros sobre sua palavra, e ren-
derão os arcos, e se offerecêrão muitos d'elles á jornada, e ajudarão com
seus mantimentos: com que ficarão os Portugueses mais confirmados, que
Dens traçava o fim desejado: c na verdade, d'aqm houverão grande parle
do que necessitavão, assi de gente, como de mantimentos. E veio a ser de
três efíeitos esta sabida a Piratininga: confirmou os ânimos dos soldados,
deixou em paz aquelle sertão, e proveo do que necessitava a armada.
G4 Feito o sobreditto, desceo das serras Nóbrega, e no maritimo correo as
villas, e lugares todos, mais com espirito, que com forças da carne: prega-
va, e animava em publico, e em particular sobre o apresto dcemprezatão
importante, publicando perdões de delitos em nome do Governador ge-
gral aos que se embarcassem; e com sua industria, o auíhoridade ajuntou
hum soccorro considerável de Portugueses mestiços, e índios, e de canoas,
e bastimentos, que juntos a outros, que logo chegarão da Bahia, e Espiri-
to santo, fizerão provimento cabal, e bem fora do que suppunhão os que
votarão pela parte contraria; e com elle se aprestava a armada. Porém co-
mo esta não ha de sahir ao fim que pretende se não em principio do an-

no seguinte; cheguemos primeiro á Bahia, e depois voltaremos a ser pre-

sentes ao successo d"clla.


6o Na Bahia dava cuidado o successo da armada: porque lbi'ão notórias

as razões que no Rio pêra desistir da empreza, c não eião sabidas as


tivera

que tinha pêra remedial-as. Era entrado o principio do anno de 1365, etudn
era rumores incertos. Trazia isto afiligido a Mem de Sá, por Governador, por
tio, por zelador do serviço d"El-Rei, e do Estado que lhe linha entregue.
Estando entre estes cuidados, chegarão cartas do sol)rinho e Nobr(«ga; o sobri-
nho relatava o muito quetinha obrado o Padre; o Padre e muito que linha obra-
do o sobrinho: c ambos couvinhão, cm como estavão remediadas as faltas da
.f-

DO ESTADO DO BRASIL (anNO DE 1363) 39

armada, que partiria a seu intento, contentes os soldados, e com esperan-


ça de victoria. Com estas novas respirou a Baliia, que tinha metido empe-
nhos grandes, e arreceava vêl-os mallogrados.
66 No nosso Collegio da Companhia, accrescentou o Padre Provincial
os estudos com huma nova classe de Latim, e com huma lição de Theolo-
gia moral, a qual lia o Padre Quiricio Caxa, da matéria de virtudes, e ví-

cios. No cuidado da conversão dos índios não descansava o espirito do


Padre Gram: traçou fazer este anno nas aldeãs o mór apparato de celebri-
dade dos OlTicios da semana santa, que até então houvera, com jubileo, i\

que pedira a Roma, pêra os três dias últimos : porque quanto mais esta-
vão diminuídos aquelles povos das desgraças passadas, tanto mais lhe pa-
recia necessário animar esses poucos, porque tornassem ao fervor antíguo:
e não foi sem fruto : porque os assistentes afervorárão-se ; e dos ausentes
muitos largarão o sertão, e acudirão á fama do celebridade.
67 N'este mesmo anno houve em Roma Congregação dos Padres pro-
fessos da Companhia, e n'ella foi eleito em Geral perpetuo de toda ella o
santo Padre Francisco de Borja, Duque que fora de Gandia, e espelho que
então era de santidade,em lugar do Padre Diogo Laínes de boa memoria,
que o anno antecedente passara a melhor vida. Logo que foi eleito á pri-
meira posse de seu generelado, elegeo por Visitador geral d'esta Província
do Brasil em nome seu o Padre Jgnacio de Azevedo, que se achara na
Congregação por Procurador geral da índia, e Brasil: aquelle grande espe-
lho de perfeição religiosa, que depois veio a consagrar os mares com seu
próprio sangue, e de quarenta companheiros, derramado pela Fé Catholi-
ca, amãos de hereges Hugonotes, como em seu lugar se dirá; que por ora
somente se alegra esta Província com a boa nova de sua eleição, esperan-
do alegrar-se o anno seguinte com sua boa vinda.
68 Na villa do Espirito santo acabou o curso d'esta presente peregri-
nação o Padre Diogo Jacome. Foi este Padre Coadjutor espiritual na Com-
panhia, grande servo de Deos, e de abrasadas entranhas na salvação das
almas. Pela conversão d'estas deo o ultimo vale á pátria, e aos collegios
de Europa, e se veio meíter nos desertos entre a gentilidade do Brasil,
em companhia do Padre Manuel de Nóbrega no anno de 1549. Na Bahia
experimentou com elle as ingratidões, e dureza d'aquella matta até então
bravia, dos corações dos índios, com muito fruto, e ganho seu de gran-
des actos de penitencia, e mortificação. Foi mandado pela obediência a
soccorrer a Capitania de S. Vicente em companhia do Padre LeonardoNu-
40 LIVRO III r,A CIIROMC.V DA COMPAXIIIA DE }FSV

nes; e-foi companheiro deveras nas asperezas dos princípios d^arfiiella

conversão, vivendo em estreita pobreza, e áspera penitencia : ajudando a


pedir de porta em porta o corporal sustento ; correndo valles, passando
rios, atravessando serras, por frioS excessivos, e sempre roto, e a pé, por
bem das almas.
69 Este luimilde servo do Senhor, foi dos primeiros que começarão a
introduzir com zelo santo o exerci tarem-sc os nossos em obras manuaes
quando não tinlião que fazer, por exercido de humildade, e occupação ho-
nesta do corpo, á imitação dos antiguos Padres do ermo. Á sua conta to-
mou elle o de torneiro (officio que por habilidade somente aprendeo) c
todo o tempo que lhe sobejava, lavrava rosários de contas, que repartia
aos que necessitavão, com interesse, que por si e por ellc rezassem a
Deos, e á Virgem Senhora nossa. E a exemplo d"este zeloso official, apren-
derão logo muitos dos nossos, qual a pedreiro., carpinteiro, sapateiro, etc.
com que ajudavão os Collegios, e edificavão os povos.
Ultimamente foi mandado á Capitania do Espirito santo, e encargado
70
da residência de huma aldeã (de duas que havia) do índio Principal,
alli

chamado o grande Gato. Aqui depois de trabalhar incansavelmente, com


zelo de varão apostólico, na cultura d'aquella gente barbara, de trazer á
Fé, cathoquizar, e bautizar grande numero delles, por fim de seus traba-
lhos quiz o Senhor acabar de lavrar este servo seu com huma cruel pesti-
lência de bexigas que veio sobre aquellas aldeãs, tão deshumana, que con-
taminou quasi todos, e raros dos contaminados deixou com vida. Yio-sc
alli bum espectáculo lastimoso; porque as casas igualmente servião dohos-
pitaes de enfermos, que de cimitcrio de mortos: os vivos entre os mortos
erão quasi iguaes, e não sabíeis de quaes havíeis de ter mais compaixão;
se dos vivos pcra acudir a seu remédio, ou se dos mortos i)era usar com
elles da commua piedade de huma sepultura. Aquelles vos chamavão a vo-
zes, estes com o cheiro pestífero de quatro em quatro huns sobre outros
podres, e corruptos. O Padre Diogo metido entre elles de dia, e de noite
com outro companheiro Pedro Gonçalves, erão os Sangradores, os Cirur-
giões, os Médicos, e juntamente os Parochos, e Recoveiros, e em tudo sós;
porque á presença do tão grande miséria, apenas achavão quem ajudasse
a levar hum defunto a sagrado; ou porque todos erão enfermos, oníjorcpie
os que o não erão assi fugião da corrupção, c mão cheiro d"elles, como
da mesma morte. Tal houve (jue em meio do caminho fiigio, deixan-
do o }ii\so do defunlo lodo em as mãos dos l'adres, (jue cahiião de fra-
.-f\r»A'^'-
'JHIIII.IIIilliJ,l mu

DO ESTADO DO BRASIL (aNNO DE 1565) 41

queza com elle. Não he novidade n'esta gente; cuja natureza he tão endu-
recida por silvestre, que em qualquer doença trabalhosa desamparão os
pais aos filhos, e os fillios aos pais: assi o fizerão muitos n'esta, acoliien-

do-se o que pêra isso tinha forças, pêra o sertão, sem respeito algum da
natureza, ou da graça.
71 Cansado pois de tão excessivo trabalho, consumido a puro desgos-
to de tão triste successo, vendo tão brevemente desfeita, assolada, e des-
amparada huma numerosa aldeã, que cordialmente amava, por quem sua-
ra, e trabalhara tanto, perdeo o alento, e forças, e entrou em huma gran-
de febre. Com esta foi trazido á Casa davilla: e ainda aqui quiz Deuspro-
val-o com novo refino de trabalho, e de obediência: porque cuidando o
Superior, passados alguns dias, que estava melhor, vendo a grande neces-
sidade d'aquella aldeã quasi despovoada, convidou só por alto o Padre pê-
ra tornar a ella: porém aquelle que em toda sua vida fora exemplo de obe-
diência, não quiz na morte diminuir o lustre d'ella. E supposto que o vi-

gor vital lhe significava o contrario, poz-se comtudo nas mãos do Superior
e Porém sérvio a ida de voltar presto com mais hum acto de virtude
foi.

heróico;mas com o alento já tão perdido, que quasi chegou morto. No


pouco tempo que lhe restou de vida, tudo era suspirar ao Ceo, com actos
abrazados, pedindo a Deos misericórdia, pêra si, e pêra os que vira aca-
bar n'aquella cruel peste, tão faltos de soccorro espiritual. Chegou o quinto
dia depois de sua vinda, e recebidos os Sacramentos todos, abraçado com
huma devota Imagem, deixou esta carne mortal, e como se crê, go-
foi,

zar este bom servo do descanso eterno, no mez de Abril doannode 1565.
Jaz sepultado na nossa Igreja de San-Tiago d"aquella villa. D'este varão dei-
xou huma lembrança o Padre Joseph de Anchieta, e falia d'elle com pala-
vras maiores, chamando-lhe varão de muita obediência, de grande zelo da
salvação dos índios, que trabalhou muito entre elles, com grande charida-
de até acabar a vida; e finalmente que veio a morrer por obediência. E
na verdade dois quilates enxergo grandes n'esta morte : que arriscou este
servo de Deos a vida pela charídade dos índios, a quem pretendeo acudir;
e pela obediência do Superior, a quem pretendeo satisfazer. Escrevem
d'este servo fiel, o Padre Francisco Sacchino nas Chronicas de nossa Com-
panhia, part. Hl, liv. I, do numero cento e cincoenta e oito por diante : o
padre Balthasar Telles nas Chronicas de Portugal, part. i, liv. ut, cap. 10.
E o Padre Joseph de Anchieta nos Notados, pag. 22.
72 Em S. Yicente achava-se já o Capitão mór Estacio de Sá com sua

/;
r wmt w
42 UWíO II! DA CimOMCA DA COMPANHIA DE JESU

armada preparada, e prestes; seis na\ios de guerra, alguns barcos


ligeiros
e nove canoas de Mestiços, e índios. Com estes mandava
o Padie Nóbrega
dous Religiosos, Gonçalo de Oliveira, e Joseph de Anchieta, pêra aní-
mal-os e dirigil-os em hmna e outra lingoa, em que erão peritos. Partirão
do porto, chamado pela lingoa dos índios Buriqiijika, a vinte
de Janeiro
d'este presente anno, dia dedicado a S. Sebastião, que por bom pronos-
tico tomarão por patrão da empresa, por
?er tão grande martyr, e por
ser nome de seu Rei D. Sebastião. Chegarão a occiípar a barra do Rio
de
Janeiro ao principio do mez de Março: aqui lançarão ferro junto ás ilhas
que estão próximas a ella, esperando pela não Capitania, que á medida
de
sua grandeza, e contraste de mar, ede ventos pouco lavoraveis,
vinha mais
devagar.
73 Aconteceo aqui hum caso digno de memoria, demostrador do suc-
cesso futuro. Porque os índios do Espirito santo impacientes
com a espe-
ra da Capitania, e mantimentos, que também tardarão, e
sobre tudo de
sua natural inconstância, estavão amofinados pcra partir-se com
suas ca-
noas pêra suas terras, e desamparar os Portugueses. Chegavão a ponto
de
executar a tenção: ex que Joseph em lugar distante, sentio em si impul-
so de ir visital-os; e chegando á falia com elles, sem ouvir-lhes nada, lhes
estranhou sua resolução. Vendo-se descobertos, derão a causa, que esta-
vão alli morrendo á fome, e não podião mais esperar. Então, com grande
confiança no Ceo, lhes empenhou Joseph sua palavra que não seria assi, :

se não que antes que o Sol chegasse a tal parto do Ceo, mostrando-lira,
chegarião sem duvida os mantimentos, e após elles pouco depois a uáo
Capitania. Cousa maravilhosa Não erão diítas as palavras, quando appa-
!

recêrão trcs barcos, que erão mandados a buscal-os ao Espirito santo.


Pasmarão os índios, e fizerão conceito do succcsso mais que humano: obe-
decerão a tudo, resolutos a ajudar na empresa e logo era a manhãa se-
:

guinte chegou também a não Capitania, tudo em cumprim.enlo daditapro-


phccia do Padre Joseph.
74 Juntas já as embarcações, entrarão íodns a bai'ra do Rio d(^ .íani^i-

i'o: salta em terra a infaníeria, c começa a foilificar-sc com trincheiras, u


fossos, no lugar onde depois chamarão Yilla velha, junto a hum penedo al-
tíssimo, que pela forma se diz Pão de assucai", e outra penedia, que por
outro lado cercava, com ({ue ficavão em parle defendidos, lluma só cousa

descontentava do lugar, que depois de roçadas as maítas. acharão agoa de


alagoa, c cila tão grossa, e nociva, que arrecearão causasse doenças nos
mm ÉÊmm BH^^^'

DO ESTADO DO BRASIL (aNNO DE 1565) 43

soldados. O qne considerandohum Josepli Adorno, Genovez nobre, mora-


dor de S. Vicente, e humPedro Martins Namorado, tomarão á sua conta
(entre as mais occupações) fazer com sua gente Iram poço, ou cacimba,
a conquistar os
donde beberão agoa doce. D'este lugar havião de sahir

nossos, e havião de ser conquistados com desigual poder; porque suppos-

to que erão espantosas aos índios nossas armas de fogo, e nossas náos
possantes: era muita mais formidável a grande multidão de canoas volan-
tes, e guerreiras, a centos, e infinidade de Tamoyos armados, que cobrião
os mares, e as praias todos a som de guerra: elles em seus lugares cer-

cados, valados, insolentes das victorias passadas, e sobre tudo ajudados,

e animados com náos de alto bordo da nação Francesa. São estes Tamoyos
entre todas as nações do Brasil ousados no acommeter, sagazes nas ciladas,
no arco destríssimos": despedem a seta com tal força, que passa o escu-
'do, e chega ao braço: tal vez succede passado o corpo todo, continuar a
frecha, e pregar qualquer arvore ainda tremulando. Com esta gente o ha-
vião os nossos.
75 Joseph, e seu companheiro Oliveira, fazião praticas aos soldados

Europeos, não costumados a tal modo de guerra. Dizião-lhes, que era uso

do gentio o que vião; mas que á vista d^aquelles estrondos, e ferocidade,

em vendo o fogo de nossos arcabuzes, se acobardão, e fogem: que aco-


metessem que erão verdadeiros os Padres.
constantes, e experimentarião
Aos índios nossos confederados praticavão em sua lingoa própria; lembra-
vão-lhes a perfídia contraria, com que quebrarão seus inimigos a palavra
das pazes; os insultos que não obstantes ellas lhes fizerão, cattivando, ma-
tando, e comendo as mulheres, e filhos de muitos d'elles, pretendendo as-
solar, e acabar sua Capitania: sobre tudo lhes trazião á memoria os feitos
valentes de seus antepassados; que he o mais fino da rhetorica pêra per-
suadir esta gente.
76 O Capitão mór Estacio de Sá mandando ajuntar a infantaria, fallou-

Ihes n'esta forma: «Soldados companheiros, poucas palavras barstão a âni-

mos hontem nossa empresa; depois de largo tempo


resolutos: não he de
c de varias fortunas, vimos a ver o que havemos de gozar. A hum' ponto
chegamos, que ou nos ha de custar a vida, ou nós havemos de tiral-a a
todos estes bárbaros. D'esta estancia não haja fazer péatraz: por hum lado
nos cercão estes penedos, por outro as agoas do Oceano; pela mão direita
e esquerda nossos contrários se d'este cerco houvermos de sair, he
:

força que seja rompendo inimigos estes não são tão duros de vencer.
:

|v;(

'>
I '-:

44 LlVnO III DA CIinONICA DA COMPANHIA DE JESU


I'
como os penedos; nem tão difficultosos
de passar, como o Oceano: aqiielles
seus estrondos calão os ouvidos, mas
não os corações o som de nossa :

mosquetaria cala-lhes ouvidos, e peitos: á vista


d^esta os vereis logo ou
cair, ou fugir: não podem medir-sc seus arcos com nossos arcabuzes, nem
^
suas frechas com nossos pelouros. Tenho por escusado pór diante
dos olhos
as justas causas que aqui nos trouxerão:
de todos he sabida a arrogância
d'estes selvagens licenciosos, os ódios
antiguos, e presentes, com que sem^
pre nos quebrarão a fé, e lealdade, desprezando
a confederarão de nossa
gente, e admittindo a de nossos contrários:
os intentos de destruir-nos os
assaltos de mar, e terra, com que perturbão toda a costa, roubando, cat-
tivando, matando, e comendo como feras as carnes
humanas dos nossos
e bebendo-lhes o sangue. Assaz de justificada está nossa vingança •
não
será bem que continuem tantos damnos,
nem que se diga pelo mundo' que
tendo metido na empresa tanto poder, Portugal,
o Brasil, Rei e o Estado-
ficarão huns e outros frustrados.
Acabe-se de huma vez com esta pra-^a'
tirem-se de assombro os moradores, livre-se
a terra, levantemos n'ella "ci-
dade, e fique esta por memoria de nossa
resolução e trabalhos- e pêra
exemplo dos vindouros, e freio de semelhantes
bárbaros. »E como ficarão
animados os soldados, dirão os successos seguintes.
77 O primeiro assalto que derão os inimigos
aos nossos, foi pouco
depois de alojados, aos seis de Março, quasi
provando sua disposição e
valor.Acommeterão, segundo seu costume, empennados, com
repentinos
alaridos, estrondo de vozes, e arcos, que entre aquella grande
penedia do
sitio fazia pavor, e espanto. Acharão
porém valor, e resistência, qual não
cuidavão pelejou-sc por huma e outra parte
: com esforço; e sabemos que
parou o estrondo na morte somente de hum índio
nosso já Christão, dos
naluraes dos campos de Piratipinga, o qual
poderão fazer prisioneiro, c
tanto que o houverão ás mãos, per;a terror
de seus contrários, o amarrár-
rão em hum pão, fazendo d"elle alvo de suas
frechas, a cujo rigor acabou a
vida. Saio-lhe<5 com tudo cara a valentia;
porque em lugar de se acovarda-
rem, ficarão os nossos com tanto brio á vista de
tal crueldade, que rom-
pendo tranqueiras sairão fora após elles, matarão a muitos, poscrão
os vi-
vos em desconcertada fngida, c fizerão presa nas canoas em
que tinhão
vindo, c se aproveitarão os índios de seus
costumados despojos.
78 Aos doze 'do mesmo mcz tiverão noticia os nossos, que os Ta-
inayos eslavão em cilada com vinte e sotte canoas de guerra, em postos onde de
forçai havia de ir a dar nossa geiíle. Aprestarão dez canoas com duas lan-
lípi^ JK
Mi

DO ESTADO DO BRASIL (aNNO DE 1365) 45

chás de remo, e forão acommetel-os, com tão boa fortmia, que ao pi'imei-
i

ro encontro se íizerão senhores de I)uma das principaes canoas, e as de-


mais fagirão á força de remo, quaes tímidas aves á vista de hum armado
gavião.
79 Forão estes dous successos principio de maiores victorias : á vista
d'elles se conta, que desprezavãp já os nossos os arcos inimigos, e canta-
vão aquillo da Escrittura. (íArcus fortium superatus est, et infirmi accinti sunt
robore.y) Fortes podíamos chamar aos arcos de tanta multidão de T amoyos,
que cobríão os campos; e fraco se podia chamar nosso poder em compa-
ração do de tantos bárbaros; pelo que sendo tão grandes nossos successos
contra eUes, era visto que sahía nosso valor da mão de Deos; e com esta
consideração animava Joseph, e seu companheiro, a nossa soldadesca. Foi
cousa notada, que quasi todas as semanas d'allí em diante alcançavam os
nossos successos fehces, ou em emboscadas, uso commum de pelejar dos
bárbaros, ou a peito descoberto, mais conforme ao nosso; matando, e cat-
lívando muitos dos inimigos, sem perda considerável dos nossos.
80 Vio-se aqui hmn favor conhecido do Ceo, admirado não só entre nós,
mas entre os mesmos inimigos : porque muitos pelouros dos Franceses
davão em os peitos dos nossos, como se derão em duro ferro, caindo aos

pés, ou tornando frustrados pêra trás: e as feridas que alguns recebião


ainda que mortaes, com tal facilidade saravão, que era força attribuir-se a
cura ao favor divino. O que, porque mais claramente sd visse, e não pu-
desse ser attribuido a arte humana de hum Cirurgião Ambrósio Fernandes,
que alh curava, e pretendia attribuir estes successos a sua gram perícia
succedeo, que no primeiro encontro que depois houve, saindo elle ao con-
flicto ficou morto; e comtudo, com a mesma facihdade viviam d'alli em
diante os soldados mortalmente feridos. He caso que refere o Padre Joseph
de Anchieta: e diz, que huns o attribuião a favor da Virgem nossa Senhora,
em cuja devação andavão destros os soldados: outros ao Martyr insigne S.
Sebastião, cujo favor por Padroeiro invocavão; e foi Joseph companheiro,
e testemuhlia de vista fidedigna.
81 Foi mais notável o successo, que aconteceo nos primeiros de Ju-
nho. Apparecerão á vista de nosso arraial três náos poderosas, e bem ar-
tilhadas dos Franceses, e liuma somma innumeravel de canoas de guerra,
que as acompanhavão ; contavão-se cento e trinta, quasi o resto de todo o
poder inimigo. Presentarão batalha aos nossos, festivaes todos, com suas ' I

costumadas librés de tintas, e pennas, alaridos de vozes,_e búzios, que

\ í
*t> LIVRO 111 DA CHHOMCA DA COMPANHIA Dt JESC

alroavão os mares, e os monles; c só pòdc cuidul-os, qimn


sabe o costu-
me d'estes bárbaros. Lançava cada qaal a frecha mais
empenriada, c de
mais estima, sobre o arraial, por principio de guerra, e como
desafio. Não
desfallecem porém os corações cios nossos: e primeiro tjue
tudo rece-
bem-os com semelhantes sinaes de festn, disparando solire elles cjuaníidade
de artilharia, e arcabuzaria, com Ião bom emprego, que a capitania ini-
miga (feridos, e perturbados os marinheiros) dar á costa entre
foi huma
penedia, d onde apenas depois de grande força, e alguns mortos,
a tirarão
pêra o mar. Salva a capitania, acommetêrão os inimigos em
ordem de
guerra: as três nãos Francesas (qual outro Etlina) desfazendo-sc
cm fogo
de pelouros, bombas, alçanzias: os Tamoyos cobrindo os ares com nuvens
de frechas, que vindo caindo sobre o arraial a som do estrondo da artilha-
ria, representava hum chuveiro entre trovões medonho. Porém sérvio de
amparo a procteção do insigne Martyr S. Sebastião, que com fé invocarão;
porque passada a tormenta, correndo-se as estancias, não se achou morto
algum; sendo que da parte inimiga o forão muitos, e os vivos postos em
fu-
gida; porque não eslava também ociosa no mesmo tempo da tormenta nossa
artilharia.

82 Aqui refere o Padre Josepli de Anchieta hum caso tido por mila-
groso n'aquelle Estava no tempo do combate referido, na Igreja,
arraial.
posto em oração o Padre Gonçalo de Oliveira, encommendando a Deos
o
successo (qual Moyses o dos filhos de Israel:) era esta feita de palma;
e
a)mo as frechas vinhão de
alto, ti-espassavão o tecto, e lados; o foi cousa

admirável, que sendo em


grande quantidade, ficarão todas a redor do Pa-
dre, pregadas no chão, sem que alguma d"ellas lhe tocasse.
Virão isto os
que recorrião de quando em quando á Igreja, c espantados do
successo,
que tinhão por milagre, cobravão novo animo pêra tornar á guerra.
83 Tornando ao intento: o Capitão Estacio de Sa, não satisfeito de
d(!-
fender-se dentro do arraial, quiz mostrar que tinha poder
pêra buscar o
inimigo fora d'elle: acommetêo as náos Francesas, e fez n"ellas
destroço de
muitos mortos, e feridos com a artilharia de sua Capitania.
Despedi o no
mesmo tempo esquadras, que acommetessem as aldeãs dos contrários, ou-
tras as canoas de pesca, que erão grande numero; e em
todas lizerão boas
presas: de duas aldeãs especialmente ílzci-ão piisioneiros os moraddros
todos: com que ficou assaz atormentado o inimigo.
84 Aos quinze de Outubro seguinte foi outro successo digno de hislo-
r-ia. Sahirão sette canoas nossas em busca de presa, mas \irão-se a ponlc
DO EST.-VDO DO BUASIL (AN^NO DE 1564) 47

serem ellas prisioneiras do inimigo: porque líies sabirão de cilada sessenta


e quatro, que dando ao remo velocissimo, em breve tempo as poserão em
cerco perigoso ;
porque de todas as partes juntamente despedião frechas
contra ellas: começou-se alli huma peleja bem ferida de buma e outra parte:
erão os nossos de resolução, e valor; porém no meio de tão grande poder
era força arreceassem o successo. E:v que neste conflicto acodem de soc-
corro aos nossos outras sette canoas, á vista das quaes, como se forão cem,
tomaram animo os soldados contra sessenta e quatro: acommetem já aquel-
les, dos quaes erão acommetidos; e depois de larga peleja, sabirão com vi-

ctoria, senlioreando quatro canoas, destroçando, e pondo em fugida as de-


mais.
8o Seja a ultima não menos illustre façanha d'este anno. Sabira o capi-
tão mór Estacio de Sá com hum troço de seus soldados, com intento de
dar sobre buma aldeã : teve noticia no caminho, como em outra mais afa-
mada se tinha ajuntado numerosa quantidade de índios, por causa de certa
devação chamada a Santidade: converteo o açoute sobre esta, e pondo-a
em cerco assi a opprimio a ferro, e a fogo, que exceptos poucos que po-
derão fugir, todos os outros, ou morrerão, ou se entregarão cattivos: pas-
sarão de trezentos. Forão feridos alguns dos nossos, entre os quaes bum
soldado por nome António da Lagea, querendo livrar buma mestiça de Sam
Vicente, que entre os inimigos estava cattiva, ficou cercado do incêndio; e
sábio d'elle tão maltratado, que sendo levado ao arraial, em breves dias
acabou a vida.
86 Neste tempo foi chamado d'ealre o estrondo das armas pêra a ci-
dade da Bahia o irmão Joseph de Anchieta a ordenar-se de ordens sacras:
e de caminho lhe ordenou o padre Manoel de Nóbrega (a cujo cuidado
estava o governo de Sam Vicente, e o da capitania do Espirito santo) que
visitasse a casa, e aldeãs, que alli tinha a Companhia, e disposesse n'el-

las o que melhor julgasse, afim de maior perfeição. Bem se deixa ver
deste feito, o grande conceito que tinbão os Superiores, da prudência,
authoridade, e virtude de Joseph; pois a bum homem ainda não Sacerdote
encarregão de oflicio de tanto porte na Religião. Em lugar de Joseph acu-
diu o padre Manoel de Nóbrega ao arraial com outros companheiros, pêra
o Padre Gonçalo de Oliveira, os quaes revezava por vezes, com occasião
de soccorros, que mandava frequentemente ao Capitão mór, e soldados de
refresco, canoas e Índios, animando-os, e consolando-os com siias cíulas,

a levar por diante a empresa, que entendia era de Deos.


ma

48 LIVRO III DA CIinOMCA DA COMPANHIA DE JESU

87 No Espirito santo fez Joscph tle caminho o officio a que fora man-
dado; e foi hum ahvio geral de toda aquella villa. Em nossa Casa conso-
lou, e animou os Religiosos, tristes ainda da fresca jnorte do bom compa-
nheiro o Padre Diogo Jacome, e lastimados do rigor da cruel pestilên-
cia passada. Visitou as aldeãs, e chorou com os índios suas misérias, e

com sua costumada eloquência na própria lingoa brasílica, os animou a le-


var com paciência
aquelle açoute, que Deos lhes quiz mandar por seus
por ventura pêra salvação dos cjue n'elle acabarão a vida.
altos juízos, e
Dispoz e remediou muitas cousas na Casa, e aldeãs, de maior perfeição, e
serviço de Deos : e deixando edificada aquella villa com suas praticas, c
conhecida santidade, se embarcou, seguindo sua viagem pêra a cidade da
Bahia.
88 O anno de mil e quinhentos e sessenta e seis continuava na Bahia
o Padre Luis da Gram na reformação das aldeãs, que, como vimos, os
annos passados ficarão assoladas de doenças, e fomes: mas já com seu fa-
vor, e ajuda das duas cabeças, ecclesiastica e secular, ambas zelozas do
bem dos índios, tinhão tornado a seu teor antíguo, posto que não ao nu-
mero de sua gente, as cinco que ficarão. No Collegio continuava o aumen-
to das classes de Latim, e Casos, com frequência de estudantes, e reforma-
ção de doutrina. Chegou a este Collegio o Irmão Joseph de Anchieta, que
no fim do anno passado dissemos partira pêra esta cidade com escalla pela
capitania do Espirito santo. Foi recebido commummente de todos como me-
recião suas grandes virtudes, notórias já em todo o Brasil. Este hospede
conton mais por extenso ao Governador Mem de Sá (como quem fora tanta
parte em tudo) o estado da guerra do Rio, as maravilhas que Deos tinha
obrado por meio do Capitão mór Estacio de Sá, e seus soldados; porém
dizia,que como erão os inimigos innumeraveis, de forca se havião de ir
extinguindo de vagar com tão limitado poder, como era o nosso: que se
queria Sua Senhoria, que a guerra se acabasse por huma vez, seria neces-
sário meter mais cabedal ; e que com este lhe parecia que estava certa a
ultima victoria: e poderíamos então fundar a cidade, que Sua Alteza preten-
dia, afugentados por huma vez os Tamoyos pcra seus sertões, o presidia-
das por algum tempo as estancias marítimas. Toda esta pratica de Joseph
agradou muito a Mem de Sá, por ser conforme ás mais verdadeiras noti-
cias, e experiência. O Bispo I). Pedro Leitão ordenou logo de ordens sa-
cras ao Irmão Joseph, com grande alegria dos corações de ambos : do
Bispo, porque estava vendo os serviços de Deos que havião de resultar
DO ESTADO DO BRASIL (a.\NO DE 1366) 49

c|aqaellas ordens a toda a Igreja do Brasil : de Joseph, porque desejava


(ímpregar-se com mais fructo no serviço das almas.
89 Esperavá-se com grande cuidado o padre Ignacio de Azevedo, que
o anno passado dissemos fora eleito na Congregação de Roma por Visitador
geral d'esta Província (e foi o primeiro que teve) com grandes poderes, e
graças do Padre Geral, e de Sua Santidade o Papa Pio Quinto, que então
governava a Igreja de Deos. Por este tempo tinha chegado de Roma a
Portugal, buscado companheiros, embarcado-se pêra o Brasil, centro de
seus desejos; e achava-se então nas ilhas do Cabo verde. Aqui deo mostras
de quem era, no publico, e no particular, ajudando aquelles moradores no
exercício de nossos ministérios, per si, e per seus companheiros, com lou-

vável fructo. Sahía pelas praças, à imitação de hum Xavier no Oriente; en-
toava o signal da Cruz, e após elle ensinava a Doutrina Christãa aos meni-
nos, e á volta destes aos grandes, com melhoramento de muitos peccado-
res. Ouvia-se como hum pregão do Ceo n"aquella terra, com grande agra-
do espiritual de todo o povo, e do Bispo que então era d'aquella Diecesi,
que pedio lhe deixasse por escrito a forma da doutrina que ensinava, pêra
ir continuando com ella.

90 Chegou finalmente á Bahia o Padre Ignacio de Azevedo em vinte e


quatro de Agosto do presente anno: foi tãobem recebido como desejado :

parece pronosticavão já os corações de todos a mór ventura a que havia


de subir, de consagrar seu sangue pela Fé de Christo. Trazia patente de
nosso Reverendo Padre Geral (grande aífeiçoado seu, pelo tempo era que
o communicãra em Portugal) com todos seus poderes pêra que visitasse a
Província, disposesse as cousas de nossa Companhia na forma das Consti
tuições que de novo se tinhão praticado, e voltasse a Roma, se bem lhe
parecesse, a dar plenária informação; porque era esta lá desejada, e tinha
fallecido na viagem o Padre Leonardo Nunes, que a levava. Trazia comsigo

pêra soccorro d"esta seara do Brasil cinco obreiros, a saber: os Padres


Amaro Gonçalves, António da Rocha, e Balthasar Fernandes, e os Irmãos
Pedro Dias, e Estevão Fernandes, além de outros dous, que trouxera pêra
cá receber na Companhia, Dono^igos Gonçalves, e António de Andrade; e
quasi no mesmo tempo chegarão mais dous Padres, Miguel do Rego, e
António de Aranda.
91 O
assento da patente, e o teor d'ella, que está lançada no livro das
Visitasdo Coliegio da Bahia, he o seguinte. «Aos vinte e quatro dias do
mez de Agosto de loGG chegou o Padre Ignacio de Aze\cdo da Companhia
VOL. IJ 4
50 LIVRO ni DA CHROMCA DA COMPANHIA DE JESU

de Jesii, professo de quatro votos, a este CoUegio da cidade do Salvador


Bahia de Todos os Santos, o qual por mandado, e ordem de nosso Padre
Geral Francisco de Borja, veio a visitar esta Província do Brasil: e estando
aqui o Padre Luis da Gram, Provincial, e os mais Padres do CoUegio, e os
que residião nas aldeãs dos índios, que pêra esse eíTeito forão chamados, fal-

lou a todos e lhes deo razão de sua vinda, e fez ler a Patente que trazia
de nosso Padre Geral, cujo treslado era este : Francíscus de Borjea Sociela-
tis Jesu Prwpositus Generalis, cliarissimo in Christo fratri Domino Tgnatio

de Azevedo Professo ejusdem Societatis, saJutem In eo, qui est vera saltis.

Cúm visitationis múnus ad profeetum, et honam gobernationera nostroe Socie-

tatis per necessariíim pernos ipsos ohlre in Provinda Brasilice non possimus:
cúmqiie de tua integritate, prudentia, et nostri Instituti plena cognitione

multúm in Domino confidamos: te nobis ad prcedictum múnus substituendiim


esse duximus. In prosdicta ergo Provinda te visitalorem cum omnia ea au-

thoritate, quam nos in proesentia habituri essemus, et alioqnin juxta tnstrn-


ctionem, quam á nobis Iiabes, tam in ipsum Províndalem, et Redores (quos,
si videbitur, offidis suis libevare, et alios subslituere possís) quam in alias

quásiiis personas, Collegia, ac Domos Sodetatis, constiluiinus, in nomine

Patris, et Filii, et Spirltus sancti: et ejns bonitatem precanmr, ut luce suw

sapientide te in omnibus dirigere, et gratice suce donis jiivare, ut ad ipsíus


gloriam, et animarum profeetum transigas, dignetur. Romcs 24 Februaril
dS66. Frandsciis.
92 O estado em que achou esta província, era o seguinte. No CoUegio
da Bahia havia trinta Religiosos, huma Classe de ler, escrever, e doutrina
christãa dos meninos, duas de Latim, huma de Casos. Tinha annexas cin-
co aldeãs, e cada qual d'eUas hum Padre, e hum Irmão. Em Pernambuco
residião dous Religiosos. Na viUa dos Ilheos três. Na de Porto seguro dons.
Na do Espirito santo quatro, com Classe de meninos de ler, escrever, e
V
doutrina, e duas aldeãs. Em S. Vicente doze com duas Classes, huma
de ler, escrever, e doutrina, e outra de Latim. Em Piratininga seis com
algumas aldeãs. Na guerra do Rio de Janeiro dous. Três mezes, depois
de chegado, gastou o Padre Ignacio em visitar o CoUegio da Bahia, c suas
aldeãs, dispondo as cousas com grande zelo, segundo as Constituições,

que trazia approvadas de novo pelo Summo Pontífice. Era n"cstc tempo Rei-
n"eUe estava lodo o poder,
tor d'cste CoUegio o Padre Gregório Serrão; e
e administração até aquelle tempo: porém o Padre Visitador distinguio os

^
DO ESTADO DO BP.ASiL (ANNO BE 1506) 51

officios na forma das novas Constituições, fazendo Ministro, que em segun-


do lugar governasse as cousas do Gollegio, e Sottoministro Irmão coadju-
tor, que cuidasse das cousas mais meudas da Casa, e zelasse sobre a ob-
servância das Regras, como já estava em uso em outras partes da Compa-
nhia, com mais alivio dos Superiores ordinários, e mais facilidade do governo.
93 Dispostas estas, e semelhantes cousas, deixando o Padre Affonso
Pires, Religioso de provada virtude, em lugar do Padre Provincial, pêra
melhor observância das regras novamente introduzides, e pêra que andan-
do volante pelas aldeãs, as visitasse, consolasse, e confessasse os que n'ellas

vivião; e deixando outrosi ordem, que se acrescentasse o edifício do Gol-


legio, e começasse Casa de Noviciado: tratou de embarcar-se a visitar o

resto da Provinda, e ver-se com o Padre Manoel de Nóbrega, de cujo con-


selho tinha grande estima. Estava n'este tempo de partida pêra o Rio de
janeiro o Governador Mem de Sá com soccorro a concluir as cousas da
guerra, e fundar alh huma cidade por ordem d'El-Rei D. Sebastião, na con-
formidade do parecer de Joseph. Hia com elle o Bispo D. Pedro Leitão a
visitar a sua Diecesi. N'esta tão boa occasião se embarcou o Padre Ignacio
de Azevedo, e levou comsigo o Padre Provincial Luis da Gram, e os Padres
Joseph de Anchieta de novo ordenado, António Rodrigues, Balthasar Fer-
nandes, e António da Rocha; e derão á vela em Novembro do presente an-
no de 1566.
94 Em S. Vicente continuavão nossos Religiosos, e geralmente todos
os moradores, com mais com as pazes dos Tamoyos vizi-
cjnieíaç.ão,

nhos, e com a guerra dos mais aíTastados, cpie os Portugueses lhes fazião
no Rio. O Padre Nóbrega, como tão empenhado no successo d'ella, desve-
lava-se apertando com Deos, e despedindo soccorros cada passo de canoas,
gente e mantimentos, que agenciava com o povo, e índios.
95 Os successos da guerra do Rio forão vários por todo este anno, mas
de ordinário venturosos de nossa parte; porque continuava o favor de seu
padroeiro o invicto Martyr S. Sebastião. Desconfiavão já os Tamoyos do
segredo de suas ciladas; porque até os pássaros, dlzião ehes, nos avisavão
d'ellas: e foi o caso gracioso. Estavão estes bárbaros postos em cilada em
humas ilhas fora da barra, onde cosfcumavão ir a pescar as canoas: alli es-
condidos perseverarão alguns dias, esperando conjunção da chegada das
nossas: eis que no próprio dia em que estas havião de. partir, apparece so-
bre o arraial hum pássaro grande, chamado Rabiforçado, atravessado com hu-
ma frecha, voando de huma pêra outra parte. Pararão os In dios das canoas, e por j .1
1
-^ti

32 LIVRO ni DA CIinOMCA DA COMPANHIA DF, JESU

este pássaro, como se trouxera recado, souberão que nas diltas ilhas esta-

rão seus contrários; porque são aqucUes pássaros naturaes d'el[as, e de lá


vinha este voando: e coUegirão que o frecharão os Tamoyos, que alH devião es-
tar em cilada; e logo do empennar da frecha o virão mais claro: pararão com
as canoas, e soffrêrão antes a falta de peixe, por evitar as frechas de seus con-
trários.

96 Deixando outros de menos conta, direi o ultimo successo, digno da


memoria dos séculos. Aconteceo meiado de Jullio d"este corrente anno de
1566, e foi assi. Depois que experimentarão os Tamoyos o como ferião
nossas armas, e que pelejando em tantas occasiões, não lhes hia bem do
partido, determinarão, aconselhados dos Franceses, empenhar por huma vez
o poder. Meterão o resto de sua potencia em cento e oitenta canoas bem
armadas, guiadas pelos mais destros Capitães seus, e da nação Francesa
(cem d'estas capitaneava hum affamado bárbaro por nome Guaixará, senhor

de Cabo Frio.) Partio esta grande chusma mui em segredo até certa para-

gem, cousa de huma legoa distante do arraial dos Portugueses, e alli ficou em
escondida cilada no resaco detrás de huma ponta, que fazia o mar. D'aqui des-
pedirão hum pequeno numero d'ellas, industriadas n'esta forma; que fossem
offerecer bat.alha aos Portugueses defronte de seus alojamentos, e que sa-
hindo-lhes (como aquelles que não desprczão desafio algum) fingissem que
vinhão retirando-se, e os trouxessem pouco e pouco, até metèl-os na cila-
da, donde sahiria o resto das canoas, e matarião aquella parte de seus ini-

migos, que sempre serião os mais lustrosos, e esforçados; os quaes dimi-


nuídos, acommeterião o arraial com menos resistência.
07 Tinha partido de nosso arraial huma canoa, em que hia hum Fran-
cisco Velho,mordomo do Martyr S. Sebastião seu padroeiro, em busca de ma-
deira pêrahuma Capella do Santo. Esta foi a primeira que encontrou as poucas
dilto: poscrão-na em
canoas, que a modo de negaça vinhão ao intento já
cerco, brigavão com ella com detença manhosa. Era á vista do arraial, en-

trou em zelo o Capitão mor, pretendeo soccorrel-a, e buscando canoas,


ou se tinhão
achou somente quatro (porque as demais, ou erão á pesca,
acolhido enfadadas da guerra, espccialmenlc as de
duus Mamalucos valen-

tes, Domingos Luis, e Domingos


de Braga, que pouco antes tinhão iiartido pê-
o melhor dos Capitães da guerra,
ra S. Vicente.) N'cstas quatro se embarcou
acommetcr o .inimigo: porém elle, que eslava bem industriado, aos
e foi
primeiros lanços do combate virou as cosUis, e
deo a fiigir: seguirão os
valor; porém (piando cuidavão que
nossos o alcance com seu costumado
DO ESTADO DO BRASIL (aNNO DE 1566) 5^

levavão de vencida estas poucas, descobrirão a ponta, e d'ella virão que


sahia,rompendo os mares, o restante da maquina de canoas que faitavão
pêra cento e oitenta, ligeiras como vento, a vinte e trinta por banda, igual-
mente remeiros, e frecheiros, açoutando as agoas, atroando os ares, en-
chendo as nuvens de frechas, e como celebrando já a victoria, que davão

por ganhada. E na verdade assi fora sem duvida, se o Ceo com maravilha
clara, e o invicto padroeiro S. Sebastião, não acudirão com favor seu pro-
digioso; porque hindo resistindo-lhes os nossos valerosamente, appellidando
o Santo padroeiro, de improviso ao disparar de huma roqueira na fúria
maior da peleja, tomou fogo a pólvora da canoa, e levantou hum incêndio
grande, a cuja vista, como de portento insólito, levantou juntamente hum
grande alarido a mulher do Principal da canoa contraria, que seguia os
nossos (e estes costumão embarcar comsigo em semelhantes actos) dizendo
a vozes, que havia hum incêndio mortal, que havia de consumir aos seus,
que fugissem, fugissem á pressa. E foi bastante o espanto d'esta só índia
pêra meter tal terror em toda a chusma, que não só aquellas, mas todas
as outras canoas fizerão volta, e se pozerão em fugida desordenada, quaes
se viera sobre elles o fogo de hum monte Ethna. Ficarão desassombrados
os nossos, e então começarão a contar de espaço, e com mais advertência

o numero extraordinário de embarcações, com quem o havião, e não acaba-


vão de crer o perigo de que Deos os livrara por meio de seu Santo padroeiro.
98 Em desembarcando em terra forão á Igreja, e fizerão acção de gra-
ças por tão evidente favor, que attribuião commummente ao invicto Martyr
Padroeiro: e d'aqui ficou introduzida n'esta cidade a festa das Canoas, que
até o tempo presente costuma celebrar-se todos os annos em dia do Mar-
tyr S. Sebastião. Aqui souberão mais em forma as circunstancias todas do
caso; porque os Tamoyos todos na mesma conformidade perguntavão de-
pois aos nossos com grande quem era aquelle soldado gentilho-
espanto,
mem, que andava armado no tempo do conflicto, e saltava intrépido em
nossas canoas? «Porque a vista d'este (dizião) nos meteo terror. E foi a cau-
sa de fugirmos, igualmente a do incêndio. Foi tido o caso por milagroso.
Eu n'isto não determino nada; acho porém que fazem força as palavras de
Joseph, que escrevendo d'elie diz assi. «A mão de Deos andou alli, e mos-
trou n'esta occasião sua misericórdia, e providencia: foi medo que Deos
nosso Senhor pôz aos índios á vista d'aquelle incêndio; e particular favor
do glorioso Martyr S. Sebastião, que alli foi visto dos Tamoyos, que per-
guntavão depois, quem era hum soldado que andava armado, muito gen-
m
34 Livno m DA crinoMCA DA compjV?,-hia de jesu

tilhomem, saltando de canoa em canoa, e os espantara, e fizera fugir?» Mui-


to faz em favor d'este caso o ditto de tão grande varão.
99 Estando n'estes termos as cousas da guerra, entrou o anno de 1567,
e com armada do Governador Mem de Sá, que da Baliia tinha par-
ells a

tido em Novembro passado, no Rio de Janeiro. Foi a alegria geral dos sol-
dados, que tinlião passado espaço de dous annos tão grandes perigos, e
trabalhos, como se deixa ver de guerra tão continua, e sitio tão incommo-
do, ^ falto de sustento humano.E nós, supposto este encontro, escusare-
mos subir este anno á Bahia, como costumávamos: porque n'esta armada
vem o bom dos Religiosos d'aquelle Cóllegio; nem delle temos por hora
mais que as noticias do fruto ordinário.
100 Constava a armada de bom numero de navios, supposto que se não
diz o certo. Trazia soldados de valor, e entrou a barra aos dezoito de Ja-
neiro na antevéspera do Martyr S. Sebastião (e já começa o favor do Santo
Padroeiro, c o bom pronostico de futuros successos;) o que não advirto sem
causa: porque entrando da barra pêra dentro, considerando Mem de Sá, e
seus adjuntos, a boa estreia da conjuncção do tempo, resolverão que no
próprio dia do Santo acommetessem sem mais demora as principaes forti-

ficações do inimigo (que vinhão a ser duas aldeãs de môr conta, abasteci-
das de gente, fossos, cavas, e artilharia, que parecião inexpugnáveis;) por
que era de crer, que quem lhes dava a boa fortuna do tempo, lhes daria
também a do suecesso prospero. Saltarão' em terra, proposerão-se outra
vez as razões, presente, o Capitão mór Estacio de Sá, e os que tinhão voto
nas armas: e ajustando-as com as circunstancias presentes, parecerão boas,
e que o repente do assalto causaria maior terror no inimigo incerto do
poder, que não depois de certificado; e nos soldados vindos de novo seria
mais firme o esforço, antes de chegar a considerar o poder contrario. Lan-
çou o Bispo sua benção, encommendárão os Religiosos o negocio a Deos,
concordarão todos em hum voto feito ao Padroeiro sagrado, e ficou firme
a resolução, porém em secreto.
101 Descansarão o dia da vespora do Santo (se descansar permitem
grandes cuidados) e ao romper da manhãa do seguinte dia cstavão dispos-
tos a rompimento dous batalhões, tirados da flor da Infantai-ia da armada,
e arraial, a cargo do Capitão mór Estacio de Sá: e feita primeiro brcvo
falia com o nome do Santo Padroeiro na boca, acommclèrão igualmente a
ferro e fogo a fortificação principal: era esta a de Uraçúmiri, mais diílicul-
íosa por sitio, e presidio maior de Tamoyos, e soldados Franceses: e de-

«h^B
DO ESTADO DO BRASIL (ANNO DE 1567) S5

pois de vários successos, encontros, e recontros (porque estava pertinaz, e


mui forte) foi com estrago lastimoso, por que dos Ta-
entrada, e vencida,
moyos não com vida. Dos Franceses morrerão dous no conflicto, e
ficou lium

cinco que houverão ás mãos os Portugueses, forão pendurados em hum


páo, pêra escarmenta de outros: á vista de tão triste espectáculo, ficarão

tremendo as demais aldeãs.

102 Morrerão dos nossos onze, ou doze; entre os quaes o de mais


conta foi hum Gaspar Barbosa, Capitão de mar e guerra, e juntamente da
jurisdição de Porto seguro, homem de grandes partes, de muito esforço, e
virtude, grande devoto da Companhia, cuja perfeição pretendia imitar: fi-

zera voto de não virar jamais as costas em guerra contra hereges, ou gen-
tios, mas aceitar antes as feridas a peito descoberto pela Fé de Christo
no mesmo dia em que morreo, recebera da mão de hum nosso o Corpo
consagrado de Christo. Porém o que meíeo em intimo sentimento a todos
os soldados que sahio da briga mal ferido o Capitão mór Estacio de
foi,

Sá, do qual, como não morreo na empreza, diremos depois de alcançada a


segunda victoria, tristezas com alegrias.
por não misturar
103 com Uruçúmiri, acommeteo a nossa soldadesca o Prin-
Concluído
cipal da segunda aldeã, por nome Paranápucuy: porém como estava esta
em ilha rasa, chamada do Gato, foi necessário conduzir artilharia, e bater-
Ihe as cercas, que erão dobradas, e fortíssimas: mas em breve tempo fo-

rão postas por terra com todas suas casas, e mortos quantidade dos bár-
baros. Fizerão muitos d'elles corpo em huma casa forte entrincheirada, c
valada: porém forão postos em cerco, e apertados de maneira, que se en-
tregarão a partido da vida, mas não da liberdade. Morreo dos nossos hum
só Portuguez, e alguns dos índios. Á vista doestas duas victorias, ficarão

os Tamoyos desenganados do nosso poder, e desconfiados do dos France-


ses, que os ajudavão: fugirão huns até parar no mais escondido de suas
brenhas; outros pedirão pazes, que forão concedidas, e constrangidos elles
a guardal-as por medo.
104 Fizerão os Portugueses acção de graças publicas ao invicto Martyr
S. Sebastião seu Padroeiro, e tão empenhado em seus favores. Tomarão
posse d'aquellas fermosas enseadas, moradas que forão de inimigo tão can-
sado, e pertinaz. Arrasarão as forças contrarias, e começarão ^ traçar for-
tificações poderosas de pedra e cal, com que por huma vez segurassem a
terra, e podessem edificar a cidade tão desejada.

105 Porém no meio d'estes nossos applausos, em quanto cavamos ali-


50 I.IVRO III DA CIIROMCA DA COMPAXIIIA I)E JESU

corsps. se levantão primeiras pedras, columiias de nossos


c
vencimentos,
segQindo a varia condirão da fortuna, e a lição da sagrada
Escrittura, quan-
do diz: Exlrema gaudij ludus occupat; he bem os celebremos juntamente
com lagrimas, cavando sepulturas, e entregando á terra o corpo do esfor-
çado, e magnânimo Capitão mór Estado de Sá; o qual, depois de passado
hum mez do primeiro confliclo, passou a melhor vida, da ferida mortal de
huma frechada, que recebeo noTosto no mesmo tempo em que alcançava
huma victoria de tanta importância, e em que houvera de
começar a gozar
do fruto de seus grandes trabalhos. Deve o Rio de Janeiro a este Capitão eter-
nas saudades, por cujo sangue goza a liberdade em que hoje se vê. Foi varão
mereceKor da nobreza de seus antepassados, lustre de sua descendência,
e exemplar de conquistadores valerosos. Sobrinho foi do Governador Mem
de Sá, mas foi herdeiro de seu valor, e christandade, sofredor de todos os
trabalhos; e na pureza, inteireza de vida, e de seu officio, exactíssimo.
De quem refere o Padre Joseph de Anchieta, qiie sendo depois traslada-
dos seus ossos, experimentara hum servo de Deos de nossa Companhia
(atrevo-me a cuidar por conjecturas, que foi o mesmo Padre Joseph) que
sabia d'elles hum cheiro suave, como sinal de que goza sua alma da feli-
cidade da Gloria. Fizerão-lhe exéquias tristes militares, com pranto, e sen-
timento de todos: e tiverão os Padres oração fúnebre sobre suas virtudes.
E pêra mim o mais importante louvor, he o que dá d"cste Capitão o Padre
Joseph de Anchieta, como aquelle que tanto o conhecia: e diz assi de sua
própria mão, e letra. «N esta conquista, que durou alguns annos, andavão
os homens como religiosos, confiados em Deos, e na presença do Capitão
mór Estado de Sá: o qual, além de seu grande esforço, e prudência, era
a todos exemplo de virtude, e religião diristãa: e bera mostrou o Padre
Nóbrega, que foi regido n'esta matéria pelo divino Espirito, pelas muitas
e insignes victorias, que por misericórdia sua houverão tão poucos Portu-
gueses de tanta multidão de Tamoyos ferocissimos, costumados por tantos
annos a ser vencedores e dos Franceses Luthei'anos, que comsigo trazião,
;

^tc.» São palavras do venerável Padre. E fatiando da morte em particular


diz, que falleceo com grandes sinaes de virtude, que em toda aquella con-
quista tinha mostrado. Foi substituído no lugar d"este Capitão Salvador Cor-
rêa de Sá, consobrinho seu, e sobrinho do mesmo Governador Mem de Sá,
que proscguio a einpi eza como logo veremos, e propagou a nuii nobre fa-
mília dos Sás n"csla Capitania; a qual por successão continua, qual se lora
DO ESTADO DO BRASIL (ANNO DE 1S67)

herança, povoou, edificou, e defendeo o que Irama vez conquistou por ar-
mas, sendo sempre terror do inimigo.
106 N'este lugartempo agora, quando já nos vemos senhores de
lie

seus districtos, demos noticia, ainda que breve, do sitio d'elles.


qiie

Entre o promontório, a que lioje chamamos Cabo Frio, e aquella paragem


da terra, que corresponde ao Trópico Austral, a que chamamos da Ilha
Grande, corre hum pedaço da America, dos mais notáveis que fabricou
a natureza: porque no meio d'estes dous extremos, altura de vinte e três
gráos, e vinte e três e meio, parece tomou á sua conta a mesma natureza
industriosa, sahir com hum tal sitio, que igualmente fosse inexpugnável a
inimigos, seguro a amigos, e proveitoso a todos os viventes. Consta este
de huma bahia, e de hum recôncavo grandioso, na forma que logo diremos,
e tem por nome Rio de Janeiro. Foi este sitio sempre formidoloso a todo o
inimigo marítimo: porque na verdade he temerosa, e liorrivcl aquella mu-
ralha natural, que vai cercando toda esta paragem junto ao mar, das mais
estranhas penedias, que jamais se virão. Assombro he das armadas mais for-
tes, quando chegando de mar em fora a ter vista da terra, em vez de praias
que alegrem, começão a ver apparencias disformes de rochedos tão altos,

que sobem ás nuvens, e espantão os homens. Segundo as figuras que fa-

zem, põem os nomes, o


assi lhes Frade, a Gavia, a Cella, e outros seme-
lhantes. Quando já vem chegando á barra, se vêem levantados de hum, e
outro lado, quaes dous gigantes fortes, dous monstruosos corpos de solido
penedo, a que chamão Pães de assucar, que dando com as cabeças em as
nuvens, lavão os pés nas agoas. Vomita cada qual d'elles, quasi de suas
próprias entranhas, fogo, e pelouro, quando entrão em cólera, de duas for-
talezas reaes. Não ha capitania inimiga que ouse embocar; porque a barra
he de novecentas braças somente: o encostar a hum ou a outro penedo,

he naufragar: e o tomar o canal pelo meio, he esperar a fúria do canhão á


mão tente de huma e outra parte das forças. E quando fosse possível a en-

trada, não he possível a sabida; porque de força ha de voltar ao som da


maré, e obedecer aos pês de hum d'estes penedos, experimentando seus
perigosos tiros.
107 Pelo terreno vai rodeando toda a bahia, e recôncavo do Rio de
Janeiro, aquella espantosa serrania, que já por vezes temos ditto corre a
cosia toda: e com a parte d'ella mais áspera, chamada a montanha dos Ór-
gãos (porque á maneira d'aquelles instramectos vão levantando em ordem
desigual montes sobre montes, fazendo a altura immensa, que excede as
«Oí

58 LIVRO Hl DA CimOXICA DA COMPAMÍIA DE JESU

nuvens, c chega parece á segunda região do ar) represenlão aquelles gran-


des montes muralhas, ou torres formidáveis, postas entre nós, c os bárba-
ros que habilão a outra parte: porque alli fulmina a natureza em tempos
tormentosos taes raios, coriscos, e estrondos disformes de trovões, que
assombrão a terra. Chegarão a suspeitar as nações agrestes, que cstavão
armados de propósito pêra defensa dos homens Portugueses. São comtudo
alegres em tempos de bonança aquelles picos inaccessiveis, por sua forma,
altura, e fermosura, revestidos de verde arvoredo, e arrebentando em ribei-
ras de agoa, que despenhadas dos altos cumes, vem a pagar tributo ao
mar, e alegrão os olhos dos moradores.
108 He o alagamar da barra pêra dentro huma estendida-e fermosa bahia,
emula da de Todos os Santos, formada das enchentes do Oceano, que em-
bocando pela barra dentro, chegão ({uasi a lavar os pés d'aquelles montes
a que chamamos Órgãos. Tem este alagamar, ou bahia, como oito legoas
de diâmetro, e vinte e quatro de circunferência. Está entreçachada de ilhas,
boqueirões, e esteiros: estes ornados da verdura dos mangues, e vermelho
dos pássaros a que chamão goarazes, fazem a vista aprazível. As ilhas fa-
zem numero de quarenta entre maiores e menores, com grossas fazendas
de moradores. Desembocão n'ella vários e caudalosos rios, huns do sertão,
outros das serras circunvizinhas, que com
o doce de suas agoas fazem
guerra continua ás do mar, querendo prevalecer cada qual d'eUas. He abun-
tissima de pescado, em tanta demasia, que houve tempo em que era ne-
cessário navegar com cautela em embarcações rasas, pêra evitar o perigo
dos peixes, que saltando deliuma e oatra paiie, cahião dentro: esuccedia
ser talvez com dispêndio dos olhos e rosto dos que navegavão. He facilis-
simo o meneio e serviço dos arredores, que cortão estas agoas de dia e de
noite, fazendo alegre a vista, e suave o commercio. Todo o circuito d"esta ba-
hia está hoje povoado de moradores de fazendas grossas, entre as quaes avultão
mais as dos engenhos de assucar, que passão de cem quando isto escrevo,
supposto que não tão grandes maquinas como as da Bahia de Todos os Santos.
109 Depois dos successos referidos, a que forão presentes, partio o
Padre Visitador ígnacio de Azevedo, e o Padre Provincial Luis da Gram,
Joscph de Anchieta, e os mais companheiros, com o Bispo D. Pedro Lei-
tão pêra S. Vicente. Aqui foi notável a alegria com que estes santos com-
panheiros se avistarão com o Padre Nóbrega : porque o Bispo era seu
conhecido de Coimbra, e sabia de sua virtude, e prudência, c vinha
desejoso de coinmunical-o, e ajudar-se de seu conselho: da mesma

W^
DO ESTADO DO BRASIL (ANNO DE 1567) 59

maneira o Padre Visitador, Provincial; e Joseph de Ancliieta, amigos Ínti-


mos seus em o Senhor. Acharão o santo velho consumido de trabalhos, e
mortificações, occasionadas parte do tempo, e parte que elle mesmo to-

mava por occasiões d'elle. Tratarão os Padres, Visitador, Provincial, e Nó-


brega, acerca do estado das cousas, e as que erão da Religião procurarão
ajustar na melhor ordem de perfeição, segundo as constituições de novo
approvadas, que já deixara introduzidas na Bahia; e entre as primeiras de-
terminarão, que se fundasse hum Collegio "no Rio de Janeiro, na forma que
o Sereníssimo Dom Sebastião desejava, com dotação de até cincoenta su-
jeitos.Virão as cousas do culto divino d'aquelle Collegio, a observância dos
Religiosos, o meneio da casa, e exemplo d'ella, o seminário, e escola da
doutrina christãa dos meninos, a classe de latim, e o modo de ajudar aos
próximos, interior, e exterior, acharão pouco que reformar e era grande :

a consolação de Ignacio, de que em tão breve tempo obrasse n'estas par-


tes a Companhia tanto. Partio a visitar a Casa de Piratininga, e folgou mui-
to de ver o que os Padres alli tinhão feito, e padecido. Abrazava-se este
grande servo do Senlior, quando via, e ouvia a multidão de gentihdade
d"aquellas campinas, e mattas: e pelo fruto dos que já estavão domésticos,
debaixo do ensino dos Padres, tirava o que podia fazer-se com todos, se
houvesse bastante numero de obreiros; e já d'alli hia acendendo em seu
peito desejo de ir por essa Europa toda, bradando, e congregando tra-
balhadores pêra tão estendida seara. Perguntava, e especulava o modo da
conversão dos índios, de sua natureza, costumes, doutrina, sujeição, e
aproveitamento: estas erão suas maiores praticas, e seus maiores pensa-
mentos. Com elles gastava o tempo, prégando-lhes por interprete, animan-
do-os, favorecendo-os: e erão estes seus principaes empenhos. Parecia que
queria metel-os dentro do coração; e mostral-o-ha mais algum dia, quando
chegue a dar a mesma vida por causa d'elles. Ordenadas, e dispostas 'as

cousas da casa, e aldeãs de índios, voltou a S. Vicente ; e não se fartava

por aquelle caminho de dar graças ao Autor da natureza, quando levanta-


va os olhos â compostura d'aquella penedia, d'aquelles bosques, e d"aquel-
las brenhas, por huma parte de tanta aspereza, e por outra de tanta va-
riedade de vistas; porque erão aquellas serras admiráveis, de que já temos
ditto, e achava que excedião a própria fama, e lhe arrebatavão o espírito-
De S. Vicente resolveo partir-se pêra o Rio, e levar comsigo o Padre Nó-
brega, pêra cabeça do Collegio, que alli determinava fundar, e pêra que
60 LIVRO III DA CnnONICA DA COMPANHIA DE JE?r

gozasse alli do friilo dos trabalhos, desvelos, e afílições, com qiio procu-
rara, e ajudara a liberdade d'aquella terra.
110 Porém antes que parta, refiramos primeiro algumas revelações de

m cousas occaltas, que Deos aqui communicou a seu servo Joseph. Fizera el-
le huma sabida fura do CoUegio, em companhia de seu amigo Nóbrega; e
succedeo aposentarem-se huma noite em certa casa, onde também se aga-
salhava hum certo Aires Fernandes secular, morador já do Rio de Janeiro:
quando a deshoras da noite, ouvio o secular, que falíava Joseph com Nó-
brega, e lhe dizia as palavras seguintes: «Padre meu, demos graças a Deos,
que alcançarão os nossos agora huma victoria dos inimigos. » Notou Aires
Fernandes a pratica, e depois foi testemunha d'ella, além do Padre Nóbre-
ga. Não padece duvida que revelou Deos aqui a Joseph a victoria: a duvi-
da he que victoria fosse? Não achamos clareza; porque aquella maravilhosa
das cento e oitenta canoas da cilada dos Tamoyos, no Rio, succedeo estan-
do Joseph na Bahia, Irmão ainda ; e a revelação foi feita em S. Vicente,

depois de Sacerdote. Nem também foi a insigne victoria, que alli alcançou
o Governador, onde morreo Estacio de Sá seu sobrinho; porque a esta foi"

presente Joseph, e os mais Padres, que tinlião vindo da Bahia, logo em


chegando: somos logo forçados a dizer, que foi de algum outro encontro
considerável, que succedeo no Rio, ou Cabo Frio, estando ausente : qual
este fosse, he incerto, e devia ser importante, pois o Ceo se empenhou em
communicar-lhe o suceesso d"elle.

m Mais espantoso foi o caso seguinte. Na villa de S. Vicente, estan-

ht do huma índia Christãa, e casada, fazendo com outra irmãa sua, das mes-
mas qualidades, certa obra de cera (olficio em que ganhava sua vida) fez

entre outras, duas velas da mesma cera pêra si, e sendo perguntada da
irmãa porá que as fazia? Respondeo: «Faço-as pêra dar ao Padre Joseph,
pêra que diga huma missa por mim quando eu for santa : » queria dizer

martyr; e com effeito levou as velas ao Padre, e lhe communicou o seu


intento. O que mais passarão, ou que conhecimento tivesse d"csla resolu-
ção, não n os consta; constou porém, que dando assalto cm S. Vicente os
Tamoyos do Cabo Frio, que eslavão rebeldes, cnti'e outras presas (]U0 fi-

zsrão, levarão esta índia, a qual preteudco o Capitão da empresa violar;


resistio valorosamente, dizendo em lingoa brasílica: «Eu sou christãa, c

casada; não hei de fazer treição a Deos, e a meu marido: bem podes ma-
tar-me, e fazer de mim o que quizeres.» Deo-se por atfrontado o bárbaro,
e cm vingança Hie acabou a vida com grande crueldade, fazeiído-a santa.
DO ESTADO DO BRASIL (aNNO DE 1567) 61

ou martyr como ella dissera. Estava Joseph emS. Vicente, distante d'aquel-
le lugar trinta legoas, e com tudo mesmo dia, illustrado do Ceo,
n'aquelle
accendeo as duas velas que ella lhe dera, e com ellas disse missa de mar-
tyr, com as orações, e lições, que costuma dizer a Igreja, e com o nome
da mesma índia nos lugares, onde o ordena o Ceremonial, na missa de
liuma Santa martyr. E perguntado por seu Superior Nóbrega, que santa
era aquella, por quem dissera missa; respondeo: «Por fulana (nomeando a
índia, bem conhecida em S. Vicente) que este mesmo dia foi morta a mãos

de hum Tamoyo bárbaro, por guarda fiel da Lei de Deos, e da honesti-


dade, e subio logo ao Ceo.» E veio depois noticia publica do caso todo,
como o com todas suas circunstancias.
dissera,
112 He semelhante a este outro caso, quando dizendo missa de hum
defunto particular em dia de S. João Evangelista, huraa das oitavavas do
Nascimento do Senhor, lhe perguntou o mesmo Nóbrega seu Superior,
porque causa em dia festival dizia missa triste de defunto, fora das cerc-
monias do missal? Respondeo assi: «Porque esta noite passada morreo no

Collegio da Companhia de Nossa Senhora de Loreto, hum Sacerdote con-


discípulo meu antiguo em Coimbra, e quiz ajudar aquella alma com esta
missa.» Perguntou mais o Padre Nóbrega pela estado d'aquella alma? Res-
pondeo: «Que depois do Offer tório, quando chegou ás palavras: Omnis ho-
nor, et gloria, entrara- no Ceo.» Quem não se espantará da facilidade das
prophecias d'este servo de Deos, e da candura, e serenidade com que as
confessava, a seu Superior? ou porque a isso o constrangia o grande res-
peito da obediência: ou porque assi o obrigava o mesmo Espirito divino
pêra doutrina nossa.
113 Partio o Padre Ignacio de Azevedo de S. Vicente no mez de Ju-
lho do presente anno de 1567, em companhia do mesmo Bispo D. Pedro
Leitão, e dos Padres Provincial, Nóbrega, e Joseph de Anchieta : e n'esta
viagem acontoceo a estes companheiros hum caso milagroso da protecção
d,a mão divina. Foi ancor*^ a embarcação defronte do porto a que chama-
mos com nome corrupto Britióga, por falta de ventos: era vespora do Apos-
tolo San-Tiago; quizerão os Padres ir dizer missa a terra, meterão-se era
o batel o Padre Ignacio, Gram, Nóbrega, e Joseph, com outros passagei-
ros: ex que chegando ao meio do caminho, levanta-se huma grande balea
(se não dissermos serpente infernal) assanhada, ao que pareceo, de algu-
mas frechadas que lheth'árão do navio; ou dolorida de algum filho, que per-
dera: como quer que fosse, ella levantando a cabeça medonha, e parte do
M

62 LIVRO III DA CHRONICA DA COMPANHIA DE JESU

corpo sobre a agoa, foi seguindo após o batel, horrenda, e temerosa, le-

vando diante de si montes de agoa, e batendo as azas com tão disformes


gestos, que todos se derão por perdidos : e com mais evidencia quando
chegando já ao batel, meteo a cabeça debaixo, e juntamente levantou a
cauda sobre elle, como pêra descarregar a pancada. Aqui se prostrarão to-
dos de joelhos, e com as mãos ao Ceo levantadas, em termos de morrer,
alagado já o batel com agoa, pedião a Deos misericórdia; e junto com elles
o Bispo e os mais do navio, que os estavão vendo. Não permitíio porém o Ceo
que acabassem desastradamente tão grandes e importantes servos seus; por-
que aquelle monstro marinho, como mandado de algum poder occulto, ou qual
se obedecera ás mãos levantadas ao Ceo, parou com o golpe da cauda, e se
foi escoando por proa, deixando o batel fora de afflições, posto que quasi
alagado.
114 Este successo teve o Padre Joseph por milagre, com que Deos
amansou aquelle monstro, pêra que não descarregasse a pancada, e diz
assi: «Abalroou a balea o batel, e passando por debaixo d"elle levantou a
cauda sobre a popa, onde hião os Padres, como pêra dar a pancada; mas
amansou-a Deos nosso Senhor de maneira, que a tornou a pôr na agoa
quietamente.» São palavras suas. E attribuindo-se commummente o mila-
gre á intercessão de Joseph, o humilde servo o attribue ao Padre Ignacio,
6 mais companheiros, dizendo assi: «Estava o Bispo, e os mais do navio
a la mira, esperando o successo com grande temor; mas confiados que não
perigarião, por ir alli o Padre Ignacio com seus companheiros.» Todos os
quatro erão homens santos ; a cada qual d'elles se píkle aítribuir o favor
do Ceo: Joseph o attribue a todos, e todos o attribuem a Joseph. O Pa-
dre Joseph suspeitou que o monstro marinho viera assanhado das frechas
de alguns dos navios : outros tiverão pêra si que vinha embravecido por
perda do filho, que cuidando ser o batel, se fora a elle, metendo-se de-
baixo,como costumão, ao filho, dando-lhe as costas pêra leval-o, ou dar-lhe
de mamar: outros julgarão que era o macho, e buscava a consorte: qual-
quer das cousas podia ser a occasião natural; porém o espirito que insti-
gou o monstro (ao que se mostra) foi outro, tirado das palavras de Joseph,
e podemos cuidar que pretendia o Dragão infernal revestido no monstro
assanhado, tirar do mundo, e Igreja de Deos o mais florido da Companhia
do Brasil. Tornarão os Padres pêra o navio, c ao seguinte dia do bem-
aventurado Apostolo San-Tiago cantarão missa solemnc cm acção de gra-
ças, c dcrão á vcUa.
DO ESTADO DO BUASIL (anNO DE 1567)

115 Chegarão ao Rio, e acharão o Governador Mem de Sá occupado


na edificação da nova cidade, em lugar distante do arraialhuma legoa.
Esta mandou fortificar com aigumas Forças, e a barra com duas de huma
e outra parte, fechando a porta a inimigos.
No coração da cidade deo si-
onde os Padres escolherão, pêra fundação de hum CoUegio; e logo em
tio,

nome de S. A. o Sereníssimo Rei D. Sebastião de saudosa memoria, Prin-


clpe liberal, lhe applicou dote de renda necessária pêra sustento de até
cincoenta Religiosos; que aceitou, e agradeceo em nome de toda a Com-
panhia, o Padre Visitador Ignacio de Azevedo. A escrittura authentica do
ditto dote se passou depois em Lisboa, firmada pela mão Real em 6 de
Fevereiro do seguinte anno de 1568, e diz assi: «Por quanto nos consta
do que a Republica Christãa recebe do Collegio da Ba-
fruto, e proveito,

hia, eque os Padres da Companhia de Jesu trabalhão, com a divina graça,


não só por afugentar as trevas da infidelidade com a luz evangélica, mas
também por promover os Christãos com doutrina, e exemplo : e porque
considerando nós o instituto d'esta Rehgião, e seu modo de viver, espera-
mos que estes frutos da divina gloria, e Republica Christãa, crescerão ca-
da dia mais, crescendo o numero dos ditos Religiosos, e edificando-se mais
Collegios,como sabemos que tinha intenção de fazer El-Rei meu avô e se-
nhor, que Deos haja: Havemos por bem, que se faça outro Collegio na Ca-
pitania de S. Vicente pêra cincoenta Religiosos da ditta Companhia, osquaes
n'esía Capitania, e nas outras vizinhas a ella, aonde os Religiosos do Col-
legio da Bahia, não podem abranger, se occupem em ensinar a doutrina
christãa aos fieis, e em converter os infiéis á nossa santa Fé, pêra que as-
si ajudando-se huns aos outros, espalhem o som da pregação Evangélica
por todos os termos de nossa jurisdicção no Brasil. E a cada hum dos dit-
tos Rehgiosos se dará tanto de minhas rendas pêra seu mantimento, e ves-
tido, quanto se dá a cada hum dos que no Collegio da Bahia vivem. Dada
em Lisboa em 6 de Fevereiro de 1568.
116 Aquelie herege João Boles, de quem dissemos no anno de 1559,
que fora fugido do Rio a S. Vicente, e dera aUi em que entender ao Pa-
dre Gram, em atalhar seus falsos dogmas: agora dá que fazer acjui ao Pa-
dre Joseph: porque depois de ser mandado preso á Bahia, foi trazido (não
se diz a causa porque) a este Rio de Janeiro, porventura pêra que fosse
castigado no lugar onde começara a fazer suas heregias, ou porque alli te-
ria commetido outro algum delito grave: como quer que seja: o Gover,
nador Mem de Sá mandou que fosse justiçado a mãos de hum algoz, o
64 LIVRO III DA CimOMCA DA COMPANHIA DE JESU

a olhos dos mesmos inimigos (que ainda rcstavão.) Pêra ajudal-o em tão
duro transe, foi chamado o Padre Joseph de Anchieta : achou o herege
pertinaz em seus errados fundamentos, pedio que se detivesse mais tem-
po a execução da justiça, e entre aqueilas tregoas da vida fallou o no-
vo Sacerdote ao reo com tão grande espirito, e eíBcacia de razões, que
converteo seu empedernido coração, e veio a reconcihar com a santa
Igreja aquella ovelha perdida, e quasi tragada do lobo infernal, com
applauso do Ceo, e dos homens. Porém aconteceo aqui hum caso digno
de ser sabido: porque o algoz, quando foi á execução do castigo, como
era pouco destro no officio, detinha o penitente no tormento demasia-
damente, com agonia e impaciência conhecida. Joseph, que via este er-
ro tão grande, e receava que por impaciência se perdesse a alma de hum
homem, por natural colérico, e tão pouco havia convertido ; entrou em
zelo, reprehendeo o algoz, e instruio-o de como havia de fazer seu
officio, com a brevidade desejada: acto de fina caridade. Sabia muito ]^em
Joseph a pena das leis ecclesiasticas, que suspendem seu ofQcio a todo
aquelle que sendo sacerdote acelera a execução da morte, em qualquer
occasião que seja, inda que pia porém preponderava com elle mais a ca-
:

ridade que devia ao próximo; e respondeo aos que lhe perguntarão a cau-
sa de tal resolução, d'esta maneira. «Porque o damno de minha suspensão
não he oííensa de Deos, e tem remédio com porém
a absolvição da Igreja:
o damno d"aquella alma, se alli se perdera por impaciência, era peccami-
noso, e não podia remediar-se : e pela salvação de huma alma vivera eu
suspenso toda a minha vida.» Oh resolução da engenhosa caridade! O Gover-
nador Mem de Sá depois d'este castigo partio pêra a Baliia, contente dos
successos que Deos lhe dera, deixando com o governo d"aquellas partes a
seu sobrinho Salvador Corrêa de Sá.

ií'
117 Intitulou-se a cidade do Rio de Janeiro, cidade de S. Sebastião,
assi do nome de seu Rei, como do Santo seu defensor, de que havia re-
cebido tão grandes favores, e esperava outros. O Padre Visitador, depois
de postas em ordem as cousas importantes, deixando por cabeça, e Supe-
rior, assi do CoUegio do Rio, como das Casas de Sam Vicente, Santos,
Piratininga, e Espirito santo, com todas as aldeãs annexas, ao Padre Nó-
brega, pêra que todas fossem influídas do vigor, e esjjirito de tão grande
varão, com o Padre Joseph, companheiro antiguo de seus trabalhos; cm-
barcou-se pêra a Bahia: indo visitando de caminho as Capitanias do Espi-
rito santo, Porto seguro, o Ilheos, cujos Religiosos por ludas aqueilas es-

><» »*
iam

DO ESTADO DO BKASIL (AKNO DE 1568) 65

tancias consolava, animava, e se compadecia dos trabaliios que alli padecião


com entranhas de pai.
'118 No Espirito santo deo o gráo de Coadjutor formado ao Padre An-
tónio da Rocha. N'esta, e em todas as Capitanias, visitou com grande cui-

dado as aldeãs dos índios, deixando n'ellas varias instrucções acerca de


sua conversão, e doutrina. Approvou, e reformou os Seminários da boa
criação dos meninos. Acerca dos bautismos dos índios, deixou as adver-
tências seguintes. Os innocentes, assi das aldeãs onde os nossos residem,
como das que visitão frequentemente, se podem bautizar: porém os lllhos
dos que vivem pelo sertão em partes onde não são visitados, não se bau-
tizem, porque se ficão depois entre seus pais, sem quem lhes ensine as
cousas de Deos: salvo quando estiverem pêra morrer, ou vierem viver en-
tre nós. Os adultos das aldeãs onde os nossos residem, procurem orde-
nar-lhes que casem ao tempo que os bautizão, tendo idade pêra isso: po-
rém quando isto não poder ser, não lhes deixem de dar o bautismo, sendo
aliás idóneos. Nas aldeãs onde não residem os nossos, ainda que as visi-

tem, não parece que devem bautizar os grandes, senão quando os casa-
rem, não sendo velhos, ou doentes, ou tão pequenos, que se não presuma
que são já ruins, nem se irão pêra os gentios. Assi mesmo os que vem do
sertão, não devem ser bautizados, senão depois que estiverem fixos entre

os Christãos, e huns e outros se instruirão muito bem nas cousas da Fé,


antes do bautismo. Procure-se que todos os nossos aprendão a lingoa da
terra, e usem ensinar n'ella aos índios.
119 Chegou á Bahia o Padre Ignacio de Azevedo no mez de, Março de
1568, e foi n'ella tão geral a alegria, quão geral era o conceito que de sua
santidade se tinha ;
porque entre os nossos somente sua vista era refor-
mação, e entre os seculares era respeito, e reverencia : a huns e outros
ganhava os corações de maneira, que o que approvava, era bom, e o que repro-
vava era Imáo. Chegou a dizer-se d"e}le, que se sempre estivera presente, podia
ser Visitador sem regra, nem preceito: e dizião bem; porque he mais forçoso o
exemplo, que o preceito; e o Padre Ignacio sendo por geração tão illustre, era

exemplo de humildade; sendo de compleição tão dehcada, era exemplo de mor-


tificados; sendo antiguo, exemplo de modernos; sendo mestre, exemplo de

noviços ; sendo letrado, exemplo de discípulos ; sendo adiantado na virtu-


de, exemplo de principiantes; e sendo Visitador, era vivo exemplo de súb-
ditos: bastava só entrar em hum Collegio, {)era logo ficar visitado.
120 Seu enxoval era segundo sua grande pobreza: trazia sempre com-
• VOL. II 5
C6 LIVRO III DA CHRONICA DA COMPANHIA DE JESU

sigo hum saquinho, c ifelle metidos os iuslrumenlos de vários ollicios

mocaiiicos ; c em qualquer parte que estivesse, elle era o çapateiro pêra

remendar seus çapatos, o alfaiate pêra remendar seus vestidos, e assi dos
demais. Estas erão as suas fidalguias, g á vista d"estas desapparecião os
fumos todos do lustre mundano. Em
outro saquinho trazia os instrumen-

tos do suas mortificações, cilicios, disciplinas, cruzes espinhosas, ele, c

era tanto o rigor com que castigava seu corpo, e tal o ecco de seus açou-

tes quando entrava comsigo em juizo, que não podia esconder-se : e era

este o melhor espertador dos qne dormiãe á madrugada, Tinha graça par-
ticular pêra servir em officios baixos quando menos se imaginava, com
:

qualquer pequena occasião que occorria, e com a chaneza com que o po-

derá fazer hum noviço, hia ajudar á cosinha, dispensa, refeitório, servia á

meza, e fazia acções semelhantes; e era esta a melhor reprehensão de des-


cuidados, e huma reformação, ou visita pratica, que obrigava mais que as
Regras aos maiores, aos menores, aos superiores, aos súbditos, aos aiili-

guos, aos modernos, aos mestres, aos discípulos, aos provectos, e princi-

piantes.
121 Iluma das primeiras cousas que trazia assentado na alma, era o
promover a boa criação da mocidade, assi no estudo das letras, como no
noviciado, escola do espirito: cm huma e outra cousa poz os olhos, e ap-

plicou seu patrocínio, não sem fruto; porque crescerão com effeito a gran-

de estado: visitando, reformando e augmentando as classes, c casa de


noviços; deixando instrucções pêra cilas mui accommodadas. As aldeãs
ir dos índios visitou com especial affecto: e era grande a força do espirito,
(jue o movia a procurar a salvação da Gentilidade: rom[)ião-sc-lhe as

entranhas de ver que não podião os nossos acudir a toda, e cuida-

va do dia, o de noite nos meios que teria pêra a cultura de tão Nasta
seara.
12i A quatro do mez de ?iIaio deo gráo do Coadjutores espirituacs
formados aos Padres Diogo de Mello: e de Coadjutor
de Freitas, c João
temporal formado ao Irmão Duarte Fernandes os primeiros que vio a :

Companhia do Brasil, segundo as novas Constituições approvadas. Logo


Provincial, e assentou com
no mez de Junho seguinte celebrou Congregação
declarações necessárias, assi ao modo da pro-
os Padres professos algumas
i)a''acão da Fé Catholica, como da
boa consiM-vação da Companhia neste
Aqui sahirãd lãnbcni roíilimiados seus (li>S!\ji)s; ponjue supposíoque
Estado.
nosso RCN crendo Padre Geral deixara só cm sua rloiçim o \oUar a Roma
DO ESTADO DO «KASIL (anXO DE 1568) 67

a dar relação da Província, ou mandar outro, como melhor lhe parecesse,


e tendo elie' em maleria de padecer pela salvação dos Brasis ardente zelo,
parecftido-lhe que em semelhante viagem podia fartar-se de trabalhos e
arriscar a própria vida por bem de suas almas: e representando-llie seu
grande espirito, que eí'a bem ir apresentar-se diante do Summo Pastor
d'estas ovelhas, e do Geral de nossa Companhia, gritando por soccorro e
obreiros pêra ellas, inclinando-se por esta razão a tornar a Roma: não quiz
confiar-se comtudo de seu parecer em matéria tão grave, e quiz que en-
trasse na Congregação a escollia do que fosse mais a propósito pêra este
intento: porque sendo eile o eleito, iria pela obediência ; e sendo outro,
entenderia que o Ceo o ordenou por melhor. Sahirão da Congregação con-
íirmados em tudo seus desejos, e foi nomeado por Procurador geral da
Província, com applauso de todos: não foi necessário mais. Aparelhou em
breve as cousas, e partio com effeito a quatorze de Agosto do presente
anno de 1568, deixando a todos igualmente cheios de saudades, que de
esperanças: o fructo doestas dirão os successos futuros,
123 Deixara ordenado o Padre Visitador, que visto instar o tempo de
sua partida pêra Roma, e não poder ir elle em pessoa, como desejava, fos-
se o Padi'e Provincial Luis da Gram a Pernambuco, entabolar alli a resi-
dência por tantas vezes começada, e pedida de novo com instancia d'aqnel-
les povos. Levou comsigo o Provincial os Padres Diogo de Freitas, e
Amaro Gonçalves, e outros Religiosos, cujo numero não consta. Chegou no
mez de Julho, e depois de haver empregado-se no bera d'aquelia gente, e
exercitado em ella com seu costumado espirito os ministérios da Com-
panhia, com grande aceitação, e fruto, deixou por Superior da residência
o Padre Diogo de Freitas, e voltou ao Coilegio da Bahia a exercitar obri-
gações de seu oíficio. Abrio o Padre Superior classe de ler, escrever, c
doutrina dos meninos, fundamento primeiro da vida de hum Christão. E
pouco depois chegando de Portugal o Padre Aifonso Gonçalves, e o Ir-
alli

mão João Martins, encarregou o cuidado da escola ao Padre Affonso Gon-


çalves, e o de lumia classe de Latim ao Padre Amaro Gonçalves; com que
os moradores íicárão contentes, porque desejavão havia tempo esta boa cria-
ção de seus filhos: e como já erão mais em numero os Religiosos, acudião,
não somente ás necessidades da villa em que residião, senão tauibem volantes
ás vizinhas donde erão chamados, e n'cllas a grandes necessidades espiriíuaes.
i24 No Rio ds Janeiro continuava o Governador Salvador Corrêa de
Si com o novo ediricio da cidade, e o Padre Nóbrega com o do Coilegio
•íxm

C8 LIVRO III DA CHRO.MCA DA COMPANHIA DF. JESU

de nossa Companhia: porém estava já mui deljilitado o vigor corporal d"cs-

te antiguo obreiro; padecia grandes accidentes de sangue, e malencolia, que


o chegavão a apertos grandes: e o que ultimamente llie causou sentifiiento
maior, foi ver-se em l)reve tempo destituido de hum dos companheiros,
que muito o ajudava. Era este o Padre António Rodrigues, que no princi-
pio d'este anuo, em 20 de Janeiro passou d'estavida a gozar da eterna. Era
este bom Padre Portuguez, natural de Lisboa: seguia no mundo as armas;
e embarcado em huma Armada Castelliana, passou ás partes do Rio da Pra-
ta, onde esteve alguns annos. Porém aqui (a tempo que menos o cuidava)
lhe offereceo o Ceo occasião ao parecer dos homens errada, mas muito a
propósito a sua salvação, que por esta via lhe estava traçada. E foi, que
entrou em huma resolução temerosa de deixar a vida que seguia, e vir-se
por terra do Rio da Prata a S. Vicente, distante duzentas legoas, i)or ca-

minhos solitários, asperrrimos, usados só de feras ou índios montanheses,


com perigo evidente de dar em suas mãos, e ser comido d"elles. Tudo ven-
cia o amor da pátria, que por este meio determinava tornar a ver, não tra-

tando então da celeste a que Deos o guiava.


123 Todos estes perigos não obstantes, chegou o nosso peregrino sol-

dado, guiado mais da fortuna desua predestinação, qae de cuidados próprios,


ãvilla de S.Vicente. N'esta tentava pôr em execução os pensamentos de pas-

')
sar a Lisboa pátria sua, onde tinha ainda vivo o pai: sonão que a força da
V-
predestinação traçava outra coasa; e entre os maiores fervores de seus
aprestos, sentio ferido o coração como de agudas settas, e á volta ircstas

huma força interior, que llic batia rijamente á porta, c lhe propunha ante
os olhos a inconstância das cousas d"esla vida, seus perigos, trabalhos, e
enganos: occorrião-lhe os que tinha passado na guerra, e os do ultimo seu
caminho, e dizia comsigo: «Quem me promette melhorias no tempo que me
resta de vida? Não se costumão a emendar os tempos: raramente os vemos
melhorados, peiorados si: alem de que parece ingratidão não saber agra-
decer a Deos o passado, nem saber escarmentar pcra o futuro. N"estes pen-
samentos labutava só comsigo o bom soldado, sem Iregoas, nem comer,
nem dormir de susi)enso. Communicou-os ao Padre Manoel da Nóbrega,
arbitro naquella terra comnium de todas as questões de espirito; c pcdin-
do-lhe com força inferior a Companhia, foi aduiiltido n"ella pelo mesmo
Padre na era de mil e (iiiinlientos e ciiiroonla e três, como j,i dis-

semos.
126 Logo que entrou na Rcligiãi.» esle scr\o liei da \inha do Senhor,
no KSTADO DO BRASIL (aNNO DE 1368) 60

começou a tral)alhar n"ella, como aquelle que se achava devedor do jornal

recebido. Foi levado ainda noviço a Piratininga, atravessando a pé descal-


ço aquellas fragosas serranias; è como sabia o Padre Nóbrega o que n'elle

tinha, e juntamente a perícia da lingoa brasílica, e zelo dos índios, de que


Deos o dotara, largou-lhe a mão a que trabalhasse no bem d'estas almas.
Foi notável o fruto que fez o Irmão António Rodrigues: cattivava os índios
com sua boa graça, penetrava o sertão trinta e quarenta legoas de cami-
nho, com summa pobreza de todo o necessário, confiado na providencia do
Senhor que servia. Aqui tratou com grande quantidade de índios, fez-lhes

Igreja, cathequizou-os, e converteo a muitos, vivendo entre elles três ou


quatro annos, bautizando os que morrião, e dispondo os vivos: a estes pre-
gava dos bens, e males da outra vida, com tanta eloquência, por suas mes-
mas frases, e uso de fallar do sertão (cousa que este gentio mais venera)
que suspendia os corações, e era estimado e querido de todos. Tornou por
obediência pêra Piratininga: aqui lhe coube grande parte da carga, e trabalhos,
com que n'aquelle lagar se ajuntarão no principio as aldeãs dos gentios.
Ajudou a trazer muitos do sertão, feito pregoeiro da Bé evangélica, por

mattos e serras, por frios e geadas cruéis daquelle clima, pobre sempre,
sempre descalço, e sempre alegre.

127 Na instrucção dos filhos dos índios foi estremado: ensinava-lhes


por sua mesma lingoa a policia de que erão capazes, e á volta da doutrina
christãa, ler, escrever, cantar, e tanger instrumentos músicos pêra o culto
divino; porque em tudo era destro: e era em tal forma, que elles sós offi-

ciavão destramente todas as festas da Igreja. Faltavão lingoas na Bahia, que


ajudassem a cultivar a matta brava de sua grande gentilidade em seus prin-
cípios: entre outros foi chamado a ella o Irmão António Rodrigues, e jun-

tamente pêra se ordenar de. ordens sacras. Feito Sacerdote, capaz já de


maiores empresas, forão sem numero os trabalhos e perigos da vida, que
padeceo em amansar aquelles feros corações: reduzio grandes bandos das
]3renhas do sertão á Igreja de Deos, domesticou seus bárbaros costumes,
allumíou seus rudes entendimentos, cathequizou, e illustrou nas agoas sa-
cramentaes da vida eterna, incrível multidão de Pagãos. A elle em fim se
attribue grande parte da conversão de cincoenta mil almas, e formação de
todas as aldeãs, que se assentarão n"aquellas partes, desde o Camamú, de-
zoito legoas da banda do Sul da cidade, até qnasi o Rio Real, quarenta le-
goas d' ella ao Norte. Assi o dá a entender o Padre .Toseph de Anchieta em
huma saudosa lembrança, que deixou escritta d'este servo fiel, por estas
70 LIVRO III DA CHRONICA DA COMPAMIIA DE 3rSV

palavras: «O Padre Anionio Rodrigues tomou pela obediência a handeira da


Cruz de segundo que como alferes hia dianíe pregan-
Clirislo, e eile era o

do aos índios, e ajuntando-os em aldeãs gi^andes, onde se fizcrão todas as


Igrejas que houve na Bahia, desde o Camamii, até perto do Rio Real; das
quaes se colheo tanto fruto, salvando-se muitos milhares de almas.» Atéqui
as palavras do venerável Padre.
128 Da Bahia voltou este grande obreiro da vinha do Senhor ao Rio
de Janeiro, em companhia do Governador Mem
de Sít, no anno de lo67.
Aqui refinou o fervor, parece que advinhando
quão pouco lhe restava de

vida; porque tendo assentado pazes o Governador com alguns dos
Tamoyos,
e estando ainda mui frescas, e elles mui vários por sua natureza, e sem-
pre infestos aos Portugueses: talou com tndo seus sertões, e foi tratar com
ellesintrépido as cousas de sua salvarão; resolvendo, que sempre fazia
í* cousa grata a Deos, ou vivo convertendo as almas, ou morto padecendo por
cilas. Não morreo a mãos de Tamoyos, porque destes foi bem ouvido; íi-
zerão grande conceito d'elle, e lhe ajudarão a levantar Igreja, e Casa cm
suas terras, ouvindo todos suas prègarôes, e doutrinas. Morreo porém por
juízos do Ceo; porque quando havia de esperar os mores frutos de seus
trabalhos, cahio em cama gravemente, e se recolheo ao Collegio: onde no
tempo que lhe restou de vida, foi hum exemplo de paciência, e conformi-
dade com o querer divino. Passava os dias, e as noites em contínuos sus-
piros, e jaculatórias ao Ceo: pedia do intimo das entranhas perdão, junta-
w.
mente a Deos, e aos homens, de seus erros passados, e do mal que sou-
bera aproveitar-se dos meios que lhe dera a Religião. Depois de muitas ve-
zes confessado, e reconciliado em dia de S. Sebastião de mil c quinhentos
e sessenta e oito, foi visitar a Igreja por seu pé, e logo lornando-se ao cu-
bículo, n'aquelle mesmo dia, depois de recebidos os Sacramentos, entre fer-
vorosos coUoquios deo a alma a seu Criador, sendo de idade de cincoenta
e dous annos, tendo quatorze da Companhia, e levantado em louvor do cul-
to divino nove templos em diversas aldeãs de índios. Foi sepultado na Igre-
ja do mesmo Collegio do Rio de Janeiro, com sentimento geral de todos,
havendo hum anno que tinha chegado da Bahia. í^^oi sempre homem do
i grande coração, c igualmente tenro, e devoto. Tinha familiar trato com
Deos, tratava asperamente seu corpo, c ainda quando soldado no século
era exemplo n"estas matérias aos companheiros: e quando fazia entradas,
e postas, gastava grande parte da noite cm orarão mental, e vocal, donde

iMi tt^i^ mm
BO ESTADO DO BRASIL (aNNO BE 1368) 71

sempre concebeo esperanças de que o Ceo lhe linha guardado meio oíncaz
de sua salvação; como vio em eíTeito.

129 O Padre Nóbrega, ainda que já mui quebrado, e doente, acudia

com força do espirito a remediar muitas necessidades, que o tempo, e lu-

gar occasionavão em hum que começava a edificar-se em huma


Collegio,

cidade, que escaçamente tinha lançado primeiros fundamentos, e entre


gen-

te nova no sitio, que tratava somente de principiar modo de vida, e esco-

colher sorte de terra, de cujas plantas pudesse sustentar-se. Ajudava jun-


tamente ao Capitão mór, que o Governador Mem de Sá seu tio lhe deixa-

ra encommendado (segundo costumava) e ao ditto Capitão ordenado, que


não fizesse cousa de sustancia sem conselho do Padre. Aciidia á doutrina,
e instrucção dos índios que tinhão vindo das Capitanias, especialmnnte do
Espirito santo, em ajuda da guerra; fazendo-os ajuntar nas terras do Col-
legio em huma grande aldeã, que depois floreceo, e foi em augmento, assi
em christandade, como em numero de gente, que se lhe aggregou; e sér-

vio sempre de baluarte, e defensão da cidade contra Tamoyos, Franceses,


e Ingleses.
130 Aqui por fim d'este anno porei hum caso digno de memoria, ain-
da que com duvida, se foi n'esteou n"outro anno dos seguintes; o que im-
porta pouco. Yivia n"esta terra hum índio, homem de grande coração, e

esforço, e na destreza, e prudência militar superior a todos; fiel aos Por-


tugueses, e perfeito Christão. Tinha obrado grandes façanhas na§ guerras

passadas em defensão dos Portugueses, primeiro em S. Vicente contra os

gentios Tamoyos, que tinhão posto em grande aperto a terra. Ajudara a


defender a Capitania do Espirito santo com sua gente (cujo Principal era)
contra os Franceses, que pretenderão fazer' entrada n"aquella villa; com tão

boa opinião de soldado, que veio a ser assombro do inimigo. Era seu
nome, quando gentio Ararigboya, depois de bautizado foi Martim Affonsodc
Sousa. Na primeira guerra, em que Mem de Sá rendeo a força de Villagai-
Ihon, ouvindo o valor d'este índio, o levou comsigo do Espirito santo com
toda sua gente; e fez taes façanhas em armas, aqui, e em todos os súcces-
sos seguintes de muitos annos, que mercceo ser reputado entre os princi-
paes Capitães de conta.
131 Este índio pois, acabadas as guerras, mandou o Governador Mem
de Sá assistir com sua gente em huma paragem fronteira á cidade, distan-

cia de huma legoa, por nome hoje S. Lourenço. Aqui, depois de assenta-
da sua aldeã, intentarão as reliquias dos Tamoyos vencidas, que possuião
>-s i.ivp.o !í! n.v r.iinnxicA iw compaxima vr. jKsr

o Cabo Frio, inimigos seus capitães, liavel-o ás mãos, o fazer (rdle hum
alegre Ijantiueíc. Adiarão occasião a propósito; porque havendo de carre-
gar em seu dístriío de pão brasil quatro náos de Franceses, pcdirão-lhes
que antes de partirem fossem seus Capitães n"este acommelimenlo: e como
dependião os Franceses em suas drogas d"estes bárbaros, houverão de con-
descender com seus intentos. Derão á vela as quatro náos, oito lanchas
guerreiras, e hum numero de canoas sem conto. Entrarão a som de guerra
a barra do Rio de Janeiro, ainda então sem forcas, nem artilharia que lhe
impedisse o passo; e cora3 nem a mesma cidade estava cercada, teve-sc
por perigoso o caso, porque o inim.igo chegou inopinadamente: seu poder
era grande, o nosso mui fraco; e se acommetèrão corria risco n"aquelie dia
a cidade. Fizerão os nossos coração, mandarão Embaixadores aos France-
ses sobre o intento de sua vinda: responderão que elles hião a entregar nas
mãos dos Tamoyos a Martím vUTonso de Sousa. Ficou mais desassombrada
a cidade, posto que receosa que levando victoria do Indiò voltassem sobre
ella. Mandou o Governador a toda a pressa a S. Vicente em busca de soc-
corro de canoas, e gente, preparou trincheiras, ordenou que todos estives-
sem em armas, e despachou aviso a toda a pressa, com algum soccorro
que pôde, a Martira Affonso de Sousa, de cujo successo dependia o nosso,
e a quem devíamos favorecer por benemérito da republica toda.
132 Ao som do aviso não desmaiou o valeroso índio: pôz logo em cer-
ca de valjos e estacada sua aldeã, e recolhendo somente os que erão de guer-
ra, e os Padres da Companhia Gonçalo de Oliveira, e Balthasar Alvares, que
com elles esta vão, mandou sahir toda a gente inútil a lugares seguros, c
esperou com grande coração, e esforço o inimigo. Desembarcou este em
terra, e virão então que era seu poder formidável em comparação do com

que se achavão; porque as quatro náosjogavão muita artilharia, as oito lan-


chas lançarão de si summa de Franceses de armas de fogo: as canoas tão gran-
de multidão de Tamoyos, que cobrião as praias, apercebidos todos, como
aquelles que vinhão a effeito.
133 Porém no meio d'esta perplexidade, traçava o Ceo hum successo
de fama; e foi assi, que os inimigos dando por certa a victoria, aquelle dia
que sahirão em terra quizerão descansar, e não fizerão nada. Succedeo que
aquella mesma noite entrou n'ella o soccorro que tinha despedido o Governa-
dor da Cidade, tic poucos Poilugucscs, mas de olTeito, com alguns hidios: tudo
capitaneava Duarte Martins .Moui-ão, liomem de valoi'. Visto este soccoiro,
chorou de alegria o Capitão Martim Aiíonsu, c depois de exagerar aos seus

^tmiÊm Mtnrii
DO ESTADO DO BP./VSIL (ANNO DE 15G8) 73

grandes louvores da lealdade dos Portugueses, qae era tão apertada occa-
sião se iiãO' esquecerão d'eUes, e depois de trazer-lhes á memoria as faça-
nhas de seus antepassados, e as que elles tinhão obrado na continuação
d'aquellas guerras tão prolongadas, tomou huma resolução digna de coração
esforçado; e confiado no valor dos seus, e no silencio e escuro da noite,
mandou romper as cercas, e appellidando o nome de Jesu, e do Martyr S.
Sebastião, acommetco o inimigo de improviso. Travou-se aqui huma bem
ferida batallia; porque os nossos, á voz e exemplo de seu Capitão, parecião
leões; e como derão em corpo desconcertado, fazião no inimigo grande es-
trago: por outra parte a mesma multidão fazia resistência, e pelejavão forte-

mente os mais esforçados; mas como sem ordem, e entre a confusão da noi-

te,houverão por fim de voltar as costas, e pôr-se em fugida. Seguirão os


nossos o alcance, e com pouco damno recebido, fizerão huma grande ma-
tança, castigando o atrevimento dos bárbaros, e desafrontando sua gente.
134 Em quanto huns e outros soldados andavão occupados na briga, as
náos francesas que estavão junto á praia, com a vazante da maré ficarão em se-
co, e fizerão pendor de maneira, que não podião jogar artilharia; o que adver-

tindo alguns dos nossos, assestarão contra ellas hum falcão pedreiro, que
tinha vindo no soccorro, e vomitafido nos convezes virados a terra à mão
tente nuvens de pedras, matarão muitos dos Franceses, e destroçarão al-
guma enxarcea miúda. Acabada esta memorável victoria, clareou a manhãa,
e virão então suas magoas; e mal puderão as relíquias dos Franceses re-
duzir-se a suas náos, e as dos Tamoyos a algumas de suas canoas. Assi
confusos, e envergonhados desembocarão a barra, com menos brios dos
com que entrarão. Fizerão resenha, e achárão-se mui raros, e que levavão
que chorar largos tempos; e aquelles que sahindo soberbos, vinhão amea-
çando banquetes das carnes dos contrários, deixavão agora semeadas as
praias de seus defuntos corpos. Chegarão ao Cabo Frio, planteárão os Ta-
moyos seus mortos, e os Franceses repararão seus navios, e se partirão
menos alegres a suas terras, deixando com esta ultima victoria o Rio de Ja-
neiro desassombrado. Soube do caso El-Rei D. Sebastião, louvou o esforço
do índio, mandou-lhe peças de estima, e entre ellas hum habito de Chris-

to com tença, e hum vestido de seu próprio corpo.

13o N'este tempo chegou o soccorro que o Governador mandara pedir


a S. Vicente ; e achando concluído o a que vinhão, tomarão em ponto de
honra volíar-se sem fazer de guerra. Mandou o Governador que fos-
effeito

sem ao Cabo Frio, fazer alguns assaltos n'aquelles inimigos, menos pujan-
f-iW

74 I.IVRO 111 UA CHUOMCA DA COMPANHIA DE JKSU

tes ja, etomassem lingoa do que se passava entre elles.


Achárãoqiic erão
partidas as quatro náos Francesas, e que em
seu lugar tinto chegado huma
bera artilliada, carregada de mercadorias : voltarão com a noiicia: e como
eslavao os do Rio victoriosos, e os de S. Vicente
desejosos de pelejar, vie-
r3o todos facilmente em que fossem com suas
canoas acommoter e rendei-
aquella náo Francesa. Partio o mesmo
Governador em pessoa com gente
de effeito, e chegando a ser avistados dos montes
do Cabo Frio, fizerão os
Tamoyos aviso aos Franceses, entre os ciuaes sérvio de riso o poder de
pequenas canoas contra huma náo artilhada, de porte de mais de duzentas
toneladas. Porém chorarão logo o que rirão; porque as canoas acommete-
rão huma madrugada por huma e outra parte,
e ganharão de repente os
costados; donde por mais que a náo estava
preparada de artilharia, enxa-
retada, e guarnecida de soldados armados, e
artificios de fogo, a artilharia
não fazia eíieito, porque jogava pelo alto, e ficavão-lhe
as canoas debai.xo:
e da mesma maneira todas as mais armas de fogo ficarão frustradas: por-
que as frechas \arejavão os bordos de maneira, fjue não
era possível che-
gar a elles sob pena de morte. Já n'este tempo
sentião os Franceses a força
das pequenas canoas, e julgavão que não era cousa
de riso. Acorameterão
os nossos a subida três vezes; mas coilo ao entrar ficavão a peito desco-
berto, forão rebatidos com os piques, e com alcanzias de fogo e n"estes
:

encontros três vezes cáhio o Governador ao mar armado, sem saber nadar,
e três vezes foi livre pelos índios, que no
mar são o mesmo que peixes
nadadores.
136 Durava a briga mui travada de parte
a parle: o principal que de-
fendia o convés esforçadamente, era o Capitão da náo, vestido
de armas
brancas, jogando de duas espadas, e acudindo com
valor a todos os suc-
eessos entenderão os nossos, que n"este consistia a gadelha do inimigo
:

mas como andava armado todo, não podião as frechas penetral-o. Entrou
em zelo hum destro frecheiro, perguntou se tinhão aquellas armas algum
lugar, por onde entrasse huma frecha? Disserão-llie que pela viseira: bas-
tou o ditto, disparou a frecha, deo no mesmo lugar,
penetrou-lhe o olho.
e o interior da cabeça, e deo com o armado Capitão no
convés, c com os
corações dos soldados por terra; porque vendo defunto seu Capitão,
e mui-
tos soldados mal feridos, desmaiados se recolherão a baixo
da coberta. En-
trarão os nossos, e a breves lanços rendidos os Franceses,
se lizcrão se-
nhores da náo, á vista dos mesmos Tamoyos contrários, que como escal-
dados, não se atreverão a ajudar seus amigos. Mandou o Governador dar

mtm
HiU

DO ESTADO DO BRASIL (ANNO DE 1568) yo II

á vela, e entrou com a náo em o Rio. Deo saco aos soldados, que em breve
tempo apparecêrão todos vestidos dos melhores panos. A artilharia applicou
pêra defensa da cidade, e veem-se hoje algumas das peças na fortaleza de
Santa Cruz na barra. A náo mandou ao Governador Mem de Sá seu tio,
com relação do caso; e ficou elie com gloria de tão grande empresa, não
tomando cousa alguma de despojo pêra si. Estes últimos feitos acrescenta-

rão grande terror ás nações estranhas, e vierão dalli em diante com mais
cautela a estas partes.
OlIARTO

DA

li

DA COMPANHIA DE JESII

-<St^@>-

^^í.

Contém a historia notável cU marlijrio insigne dos quarenta Marii/-


res da Companhia de Jesu do Brasil, Ignacio de Azevedo, e seus com-
panheiros, com breve summa de suas vidas. A morte ditosa do vene-
rável Padre Manoel da Nóbrega, fundador, c primeiro Provincial
d' esta
Provinda, e suas heróicas virtudes. E o Poema da Vida da Virgem-
Senhora nossa, r.omposto por modo admirável, pela venerável Padre Joseph
de Anchieta, prometido no livro terceiro d\'stLi obra pêra este lugar.

tfM
msmÊim •tg
àm IlL^

DO ESTADO DO BRASIL (ANNO DE 1569) 77

1 No anno de 15G9 nenhuma ouLra cousa achamos na Bahia, nem ainda


nas mais Capitanias, senão saudades, e esperanças. Saudades, da ausência
do bom Padre Ignacio de Azevedo, Visitador que fora seu, e depois en-
viado a Roma por Procurador, e protector geral da Província, que levara
comsigo as alFeições de todos. Esperanças, porque n'elle fundavão augmen-
tos grandes do bem do Estado : e não sabião fallar n'outra cousa, corações
tão grandemente empenhados.
2 Mas já que o anno está desoccupado, em lugar de correr a Provincia
(segundo costumamos) façamos digressão fora d'ella, e arrebate comsigo a
historia, aquelle que leva após si as vontades ;
que bem he tenhão véspe-
ras, solemnidades grandes; e que este anno as faça ás do seguinte. Chegou
Ignacio a Lisboa, e chegou com elle hum trasordinario fervor, com que se
abalou Portugal á voz das cousas do Brasil, ainda então novas, e á voz da
vinda de huma pessoa tão conhecida e amada n"aquel!e Reino. Seu antiguo
e intimo amigo o lUuslrissimo Arcebispo de Braga, D. Frei Bertholameu
dos Martyres lhe mandou as boas vindas por escritto, animando-o a levar
a diante a empresa começada, signiíicando-lhe a inveja grande que tinha
d"ella : e como sabia que hia á santa cidade de Roma, lhe mandou huma
carta pêraSua Santidade o Santo Padre Pio Quinto; que me pareceo trasla-
dar, porque se veja o grande conceito que este excellente Prelado tinha da
pessoa do Padre Ignacio de Azevedo. O teor da carta he o seguinte.

Carta do Arcebispo de Braga D. Frei Bertholameu dos Martyres pêra o Papa


Pio Quinto.

Beaíissimo Padre.

3 «Depois de beijar os bemaveníurados pés de Vossa Santidade: Igna-


cio de Azevedo, Sacerdote da Companhia de Jesu, Visitador e Preposito
Provincial da mesma Companhia nas partes do Brasil, vai a Roma tratar
com Vossa Santidade alguns negócios de muita importância, tocantes á
mesma Companhia e porque eu tenho bem conhecido sua grande virtude,
:

e o desejo que tem de sofrer trabalhos, e levar sobre si a Cruz de Chris-


to, de que elle (desprezada a nobreza do mundo) se quiz fazer verdadeiro
imitador, assi na pobreza, abnegação, e desprezo de si mesmo, como tam-
bém no zelo, c aproveitamento das almas, e no augmento da religião chris-
taa, de que tem dado a todos boas mostras, assi n'esta Diecesi de Braga,
LIVRO ÍV DA CHROMCA DA COMPANHIA DE JESC

onde por alguns annos me ajudou muito, como nas partes do Brasil, doudo
pouco ha veio : me pareceo cousa muito pia pedir a Vossa Santidade o queira
favorecer, e o receba com aquellas paternaes entranhas, e amoroso animo,
com que costuma receber e abraçar todas aquellas cousas que ajudão ao
culto divino, e á salvação das almas f assi que Vossa Santidade o pôde ter
por hum varão apostólico, e cheio do Espirito santo ;
porque n^essa conta
o tem todos aquelles que n'esta Província de Portugal o conhecem : pelo
qual todo o favor que Vossa Santidade lhe mostrar, e toda a ajuda que lhe
der pêra seus ministérios, tudo tenho pêra mim será muito agradável e
li
'

aceito diante de nosso Senhor, cujas vezes Vossa Santidade tem em a terra;
ao qual clementíssimo Senhor, peço acrescente os annos de vida a Vossa San-
tidade, com os quaes lhe faça muito serviço em a terra. De Braga, em qua-
tro de Março de mil e quinhentos e sessenta e nove. O Arcebispo Primaz.»
< 6 1

Este he o traslado da carta, que até hoje se guarda no Cartório do Colle-


gio de Coimbra; e hum dos maiores testemunhos da virtude de Ignacio de
Azevedo, onde vemos que hum Prelado tão excellente lhe chama varão
apostólico, cheio do Espirito santo.
4 Os Religiosos de nossos Collegios, parece querião despovoal-os ; os
estudantes seculares, seus estudos ; os oíliciaes suas tendas, e pátrias, a
fim de serem recebidos, e irem-se com elle á empresa das almas : até fa-
mihas inteiras se oíTerecião passar á sua sombra
que a povoar a terra : e o
mais he, que pêra todas estas cousas se mostrava prompto o favor, e li-
beralidade real do Sereníssimo Rei D. Sebastião, a quem foi grata sua che-
gada, e santos intentos : de todo este alvoroço era causa, a opinião da grande
virtude e nobres talentos do Padre Ignacio de Azevedo, que cattivava aos
que o ouvião, e a com que obrava o Ceo, pêra os fins que tinha decretado.
5 Deixando em flor de esperanças todos estes desejos, partio Ignacio
pêra Roma, no mez de Maio do corrente anno de 1569, e foi segunda ad-
miração, o como n'esta Corte Pontifícia foi recebido do Papa, Cardeaes, c
nosso Reverendo* Padre Geral, assi pela fama de sua muita qualidade, e
igual virtude,como das cousas que relatava das partes do Brasil, até então
pouco conhecido. O Sumrao Pontiílce Pio Quinto lhe deo benévolas audiên-
cias, e concedeo privilégios largos, e entre estes todos aquelles que linha
concedido á índia: indulgência plenária pêra todos os que o acompanhassem:
coq)os de Santos do estima, e entre estes a santa cabeça de huma das
onze mil Virgens : c sobretudo llio deo licença i)era tirar retraio da santa
imagem da Vii'gem Senhora nossa, que pintou S. Lucas ao natural: da quni
wasmmmsm milk

DO ESTADO DO BRASIL (aNíSO DE 1569) 79

nenhum dos Summos Pontiíices passados o deixarão tirar, porque só esta fosse
110 mundo de maior reverencia. Não só do Papa era notável agraça e benevolên-

cia com que era tratado, mas também dos Cardeaes, e de todos aquelles se-

nhores estrangeiros. De nosso Reverendo Padre Geral Francisco de Borja


foi recebido com tanto alvoroço, quantos erão os desejos que tinha havia

muitos annos de ouvir plenária relação do que chamavão novo mundo, e


quanto era o conceito que tioha dos dotes d'este grande varão. Mostrava
receber particular consolação de tudo o que ouvia da conversão da genti-
lidade d'estas partes : e persuadia-se, que era grande a empresa, e não
menor a necessidade de obreiros d"eUa. Resolveo, que pêra este fim era
mui a propósito o zelo de Iguacio, e a grande experiência que tinha; e feita
consulta com seus assistentes, o elegeo por Provincial do estado : e pêra
que ião bom Capitão juntasse soldados em quantidade, e qualidade, quaes
por então se representava serem necessários, deo licença que podesse tra-
zer da Província de PorLugal todos aquelles ([ue ella podesse conceder-lhe;
e das mais Províncias por onde passasse, três dos que pedissem em cada
huma d'ellas, e seu Provincial e elle approvassem. Deo-lhe ultimamente hum
retrato da santa imagem de S. Lucas, pêra que o offerecesse de sua parte
á Rainha D. Caiherina, que governava Portugal. Nenhuma cousa empren-
deo em Roma bem de seus
pêra santos intentos, por grandes diíTiculdades
([ue tivesse, que com effeiío não conseguisse. Bastava somente dizer missa
])or seu intento, e vel-o posto em eífeito.

() De Roma chegou ígnacio a Portugal, e chegarão com elle, e após


elle, hum numero grande de companheiros, que segundo as condições da
licença se aggregái'ão das Provindas estranhas á voz da milicia do Ceo
Theologos Imns, outros Philosophos, outros Humanistas, outros officiaes
de varias artes, todos mui necessários. Vinha entre elles hum insigne pin-
tor Aragonez : este em quanto esteve em Portugal tirou quatro retratos da
sagrada imagem de S. Lucas nruito ao natural
três ílcárão nos CoUegios
:

de Coimbra, Évora, e Santo Antão, o quarto veio pêra o da Bahia, e n'elle


se conserva porque o principal original, foi apresentado á Rainha pelo Pa-
:

dre Torres, em nome do Santo Padre Francisco de Borja, como tinha man-
dado a qual mosh'ou alegrar-se muito de tão perfeita peça, e prometeo
:

que por sua morte a deixaria á Casa de S. Roque, como com effeito dei-
xou. Não descansava o espirito de ígnacio, tratou de alistar companheiros,
c aceitou por seus aquelles a quem tinha dado palavra, quando partira pêra
Roma, com Ijcneplacito de seus Superiores, além ,dc outros que de novo
^

80 LINHO IV DA CIIUOMCA DA COMPANHIA DE JESí

pedião ; e despejaria os CoUegios, se só seguira desejos próprios, c doá


que querião segiiil-o. D"estes, e de alguns que escolhco estudantes, e mes-
tres de officios de muitas partes de Portugal, formou iuima boa compa-
nhia de setenta escolhidos soldados, apostados a toda a L-rtuua : não me-
tendo em conta muitos outros, que aceitou pêra irem á prova servindo na
viagem, e serem recebidos no Brasil.
7. Hia }á chegando a peste, que tinha entrado em Portugal, a alguns
dos bain-os de Lisboa : nem era segura a Cidade; nem o Collegio, e Casa
de S. Roque d''ella, podião reter tantos hospedes conmiodamente. Foi for-
ça, ou da occasião, ou do Ceo, retirar-se Ignacio com os seus, aonde pa-
rece que o guiava o espirito, a hum lugar deserto, separado como duas
í'il legoas do reboliço da cidade, no meio de huma charneca entre Caparica e
Azeitão, vestido de hervas cheirosas, alecrim, rosmarinho, e grandes pi-
nheiraes, aonde além do balido do gado, susurro das abelhas, e ecco do
Oceano, que por huma parte o cerca, poucas outras vozes se ouvem: seus
arredores são toscos, e silvestres, cercados parte de medos de área infor-
mes, parte de montas de silvado, e tojo, covas de feras, e horror de gente
humana. Aqui comtudo se deixa conhecer a concórdia discorde da sagaz
natureza; porque onde o sitio per si he tão desabrido, ahi mesmo dos cu-
mes d'esses medos, e eminências toscas, se descobre huma das mais fer-
mosas vistas que podem ter olhos humanos: porque olhando pêra o terre-

no, descobre toda a circunferência d'aquelle grande vaile, cujo diâmetro


corre desde a montanha de Palmela, até Nossa Senhora do Cabo, de muitas
legoas, e varias apparencias. Avultão d"alli a penitente serra da Arrábida,
a fresca montanha de Cintra, o famoso monte de S. Luis, e os escalvados

de área, que vão morrer na fértil pescaria da grande alagoa Albofeira.


Avulta pêra outra banda muita parte da fermosura da cidade de Lisboa, o
mais aprazível de seus altos, torres, guaritas, cimborios, e eirados. Avul-
tão por fim d'aquellas eminências, o espaçoso do mar Atlântico, suas im-

mensas agoas, seus bem assombrados horizontes, o arcpieado de suas lon-


gas enseadas, que até perder-se de vista vão alvejando desde a ponta da
Trafaria até o cabo chamado do Espichel. Sitio he este por todas as con-
dições apontadas acommodado pêra retiro de quem quer contemplar. Fi-
zera mercê d'elle aos Padres da Companhia de Lisboa, o sempre saudoso
Rei D. Sebastião, cujo era. Pcra este lugar tão natural a sua inclinação, c
intento, se retirou ignacio, com gosto seu, e de seus comjiauheií^os. Aqui
fez resenha este bom Capitão, e foi pi-ovando cm primeiro lugar, ijual ou-

i
ii

DO ESTADO DO BRASIL (anNO DE 1369) 81

iro Gedeão, os soldados que na empresa serião de effeito : e como tão e: -

perimentado na milicia do Ceo, ao primeiro beber das agoas conheceo es


esforçados,- e os pusilaniraos: a estes tdrnon a restituir aos lugítrésd^onde

vierão; com os outros entrou cni exercício, como logo veremos.

8 A solidão foi sempre inai de bons espíritos ; os Antonios, os Hila-

riões, os Arsenios, e todos aqucUcs santos Padres habitadores das Thebai-


das, e outros semelhantes desertos, o estão mostrando. Considerava-se

Ignacio como era Thebaidas, pelo solitário do sitio; como em Paraíso ter-

reno, pelo deleitoso dos campos; e como cm Religião regular, pelo commu-
nicavel dos companheiros; e apostava-se a ajuntar em hum todos estes três

modos de viver. Se tivera este santo varão revelação expressa depeos(de


qué mOf consta, posto que se duvida) do alto fím a qtie o tinha destinado,
de derramar o sangue por Christo, não se apostara com mais fervor a
preparar a si, e aos seus em espirito, oração, cruzes, trabalhos, e mortifica-

ção. Foi um ensaio estè autecedente, d'aquclla ultima tragedia. Dispoz alli

huma offícina de toda a prática do espirito : e começando elle por si, fez-se

noviço, com capa de ensinar a noviços. Repartio aquella breve Casa, e re-
duzio a dous géneros somente quantos n'ella estavão, noviços,- e antiguos.
Erão quarenta os noviços ; separou estes em os altos da Casa, nos baixos

os demais. Tomou á sua conta o officio de Mestre, nlas com razão duvi-

dava quem o via, se era Mestre, ou noviço: seli ensino era todo pratico:

o que queria fizessem os noviços, fazia elle: mais era âUínetessariÒ'


olho, que o ouvido recolhia-se, porque estivessem recolhidos; óráVa, por-
:

que orassem: elle era o primeiro nos ofíicios baixos, no varrer a casa,
limpar a cozinha, servir á mesa, trazer lenha do matto, e agoa da fonte.
9 He admirável a força do exemplo: hão tinhão passado muitos dias,
quando á vista de seu Superior feito noviço, queriãô todos sernoviços: os
mais antiguos forão os primeiros que começarão a pedir de joelhos, serem
principiantes. Fazia-se rogar o prudente íiíestre, e concedia depois de
muitos rogos o que desejava dar no primeiro, e como á força O que dava
cora toda a liberdade; porque assi fizesse elle prova das vontades, o fizes-
sem etlas estimação do que se concedia. Vierão todos a alcançar 'ò mesmo,
e veio toda a Casa a ser Noviciado : só na morada havia distinção entre

noviços e antiguos, e no demais erão communs os exercieiíis. Havia duas


horás' de oração mental com campa tangida pcra tudos, hiuraa pela manliãa,

á tarde outra: duas vezes se íaiigia ao exame do consciência, segundo o

costume comrnum da Companhia ; e o restante da maníiãa se gastava na


VOL. u 6
82 LIVKO IV DA CllUOMCA DA CO.MIU.MIIA DE JESU

reza das Horas Canónicas, confissões, missa, communliões, e recolín-


niento.
10 O refeitório era casa mais de mortificação, que de refeição: alli se
vião huns prostrados por terra, outros cm cruz, (julros de joelhos, outros
disciplinando-se, outros dizendo suas culpas em publico; c os que comião,
sentidos, e envergonhados de não fazerem elles o mesmo. Acabada a mesa,
juntavão-se igualmente a fallar de Deos que a continuar penitencias, Jiuns
de bruços com a boca no chão, outros com o lenço nos olhos, outros com
mordaça na boca, e peias em os pés, dizendo suas faltas, e recebendo j-e-
prehensões por ellas : costume santo dos noviços da Companhia porem ;

'I
V aqui estylo vigoroso.
1 As praticas, e conferencias fazião-se quasi quotidianas. Era pêra ver
aquelle religioso Consistório de setenta Padres, e Ii-mãos, assentados por
terra, ouvindo mais dictames de espirito, que conceitos de entendimento.
Praticava-lhes ordinariamente o Padre Ignacio, e erão suas praticas todas
da Cruz, e trabalhos, do apparelho pêra a morte, e da verdadeira humil-
dade : e como condizião as praticas com as acções do que praticava, ac-
cendia em os mesmos desejos os que o ouvião. Erão setas de fogo os sen-
timentos que exprimia a alias vozes muitas vezes, levado do espirito: «Ir-
mãos (dizia) haveis de sentir com lagrimas de sangue i)assar poi- vós occa-
.sião de mortificação, e não lançar mão d"ella : haveis de envergonhar-vos,
levar-vos o outro o merecimento da obra de humildade, lançar primeiro mão
á vassoura no refeitório, e ao esfregão na cozinha.» Aqui lhes dava desenga-
nos do que havião de padecer em sua empresa ; dos pei-igos dos mares, dos
trabalhos do Brasil, dos duros corações com que havião de tratar, dos ser-
tões que havião de penetrar, e das fomes, calmas, c tragos da morte, que
havião de passar : que havião de achai-se muitas vezes sós entre gentios bar-
ijaros,no meio de occasiões de perigo, sem testemunha de suas acções, sem
i<acramentos, e sem consolação alguma humana que se d"alli não levavão :

espirito, podião desmaiar, e perder-se : e quem pêra isto não sentisse airi-

mo, era melhor não se pôr a perigo.


12 Alli n'aquclla habitação, limitada pêra quasi cem lioniens, aciíavaa

industria do Padre Iguacio lugar, em que de ordinário eslavão recolhidos


em espirituaes exercícios, separados do tratlo dos outros, seis, sete, e mais
l^eligiosos, por espaço de oito ou dez dias: sabidos estes, entiavão outros,

sem interpolação. Além de lodos estes exercícios, pedião outros os que


t-Tão mais ícrvoíTisus, qii'' se lhe conccdirio soj-Mindo seu opiíito, e talvez
idb.

DO ESTADO DO UUASIL (ANNO DE 1369) 83

se negavão por evitar excessos. Tinhão em casa continuamente o Santissi-

mo Sacramento presente : e costumava a dizer Ignacio, que não teria por


noviço o que não visitasse este Senhor nove vezes ao menos no dia: diante

d'elie se vião commummente Religiosos postos em oração. E porque se


veja bem a sede com que n'ella entravão, porei hum exemplo. Andava aju-
dando á cozinha o Irmão Francisco Peres Godoi era dia, em que havia :

mais que fazer, e não havia tido ainda sua oração significou-lhe o cozi- :

nheiro que continuasse, porque elle lhe assinaria tempo houve que tra- :

balhar até huma hora depois do meio dia; então lhe disse: «Irmão Godoi.
vá ter agora sua oração, até que eu o chame.» Foi, com tal sede, que es-

teve n'ella sete horas inteiras, desde a huma até ás oito horas da noite,
diante do Santíssimo Sacramento, até que notando o refeitório, que fal-

tara na cea, feita diligencia o acharão continuando no mesmo lugar: sendo


chamado do Superior, e perguntado por aquelle excesso; rtspondeo, que
o cozinheiro, a quem servia, lhe dissera, que fosse ter sua oração até que
o chamasse, e que o não tinha chamado. Com esta santa simplicidade, o

com esta forma de espirito se procedia n'aquella escola de virtude.


13 No louvável' costume da Companhia de tirar os Santos por sorte
todos os mezes, achava grandes ganhos. Introduzio, que o Santo que cada
hum tirasse, o celebrasse com singulares devações, fallando de seus lou-

vores no próprio dia, tomando n'elle disciplina, dizendo a culpa, e fazendo


outras mortificações, cada hum segundo seu fervor.
14 Os ofíicios baixos erão appetecidos com aquella industria, com que
os altos são buscados no mundo. Veríeis huns trabalhar no Refeitório, ou-
tros na cozinha, outros varrer os aposentos; e os que erao oílicios mais
humildes, mais desejados, e pedidos á competência de joelhos, e concedi-
dos por favor.
1 Com outra invenção, e juntamente recreação de espirito, sahio aquelle

mestre d'elle. Todos os dias de manhãa, antes, ou depois da missa, levava


a Communidade em procissão pelos campos; porque á vista do ameno dos
arvoredos, e das flores, espertasse os ânimos ao louvor do Criador d'el]as.
Sahião todos cantando as Ladainhas, correndo certas cruzes distantes, e ao
pé d'estas postos de joelhos, acabavão entoando em canto de órgão, aDulce
lignum, dulces clavos, etc.» e concluía O Padre Ignacio com três orações,
huma da Cruz, outra do Rei, e a terceira, aRespice, quce sumus Domine,
etc.» Os merecimentos de todas estas obras applicava pelas necessidades

da Igreja, conversão dos infiéis, reducção dos hereges, pelo Papa, pelo Rei,
84 LIVRO IV DA CIIROMCA DA COMPANHIA DE JESU

e pelos que estavão em pcccado mortal : e costumava este santo varão di-
zer, que já não esperava n'esta vida ter melhor tempo, que o (jue passava
n'aqueUe seu Vai de rosal.

16 ;
Estes erão os exercícios cspirituaes da escola de perfeição de Igiia-

cio::o tempo que sobejava d' elles (porque nenhum instante cessasse) em-
pregava em exercidos corporaes. Huns lião, outros escrevião, outros es-
tudavão, outros piíitavão, outros fazião obras de carpinteiro, çapateiro,
alfaiate. Saliião com peças necessárias pêra o Brasil, e occupavão santamente
o tempo. Partião huns. á: buscar lenha ao matto, outros agoa, outros cai-
queja, outros rosmaninho, e grãa. Da grãa ííiziuo Unas liiitas; da carqueja
camas em que dormião, e huma cortiça por cabeceira; porque colchões
de lãa não se: usavão, senão pêra doentes, ou achacosos. Estes colchões
lhes ensipou! a,;fazer^ Ignacio, ingenhoso em tudo pela charidado : e logo ã
vista de hum que fizera, ficarão muitos feitos mestres. Despedia-os outras
vezes de dou s em dous, qual Christo seus Discípulos, a doutrinar, c pe-
regrinar por diversos lugai'es. Partião vestidos pobremente, a pé, c pedindo
esmola de porta em porta nas. villas, e lugares por ondepassavão; c exer-
citavão n'estas, missões diversos actos de pobreza, e mortificação, e lazião
fruto no próximo.
17 Tinha entrado o annp de lo70, tempo acommodado ])i'ra a viagem
do Brasil, Çjpra força deixar, aquella santa Companliia seu Vai de losal.
que pela sohdão do lugar, c largo uso de cnico mezes, llies parecia já Pa-
]"aiso: passarão, não sem lagrimas, á Casa de S. Roque; e em quinze dias,
(jue ahi se detiverão, vio.aquclla cidade hum raro exemplo de perfeição.
EncQnti'a,vão,-se pelas praças, e ruas a cada passo Padres, e Irmãos da mis-
são ,dp, Brasil ;:,liunsçom,çeiri nhãs ás costas, levando da Ribeira o peixe,
do açougue a carne : outros iios Ilospilaes fazendo as camas aos enfermos,
varre.i;ido-lhes a ^
casa, ç praticando-lhes da paciência, e da conformidade
com, Í)e08;,,pU|tr,0Si nascadeas : outros fazendo doutrinas aos meninos: pre-
paração de viagem tão santa.

18 Fazia-se prestes coni calor a frota (pie aquelle aiiiiu havia de ir ao
Brasil, e com ella o Govca^nador (faquelle Estado D. Lnis de Vasconcellos,
o iiãp chegava o. ni.\o San-Tiago, (jue o Padre Ignacio fretara de meias n.i

cidaçlejílo Portg pef^.,cstí^ viagem. Tinha isto dado cuidado; poríjue cviu)

muitos os Religiosos, c forçoso acconnnodal-osconi violência nos outros na-


vios da frota. Poirm no meio dos maiores cuidados. e\ que apparece a
náo desejada, lança ferro no porto, c hniça fora nu\ens de inagõa> do Pa-
DO ESTADO DO BRASIL (anNO DE 1570) 8S'

dre Ignacio, e de seus companheiros. N'esta náo se embarcou logo com


trinta e nove d'elles, e faziãopor todos quarenta o Padre Pedro Dias na
:

náo do Governador com vinte, e o Padre Francisco do Castro eõm dous


Irmãos na náo das Orphãas (chamada assi pelas què levafa'por mandado
d'El-Rei D. Sebastião, desamparadas do tempo da peste,' p^éra lio Brasil se

casarem, e povoarem aquella nova terra) não entrando em conta outros


que hião em todas as três nãos pêra receber no Brasil, se procedessem
bem na viagem. Deixou em terra outros, de cujo espirito conheceo que
não erão pepa esta empresa, ou por falta de animo, 'OU des virtude; tornando

a mandar a seus CoUegios os que erão da Companhia,' por mais talentos

outros que tivessem, e a suas terras os que ainda erão seculares: pêra cuja
distinção, e conhecimento, lhe tinha dado o Ceo dom particular.

19 Despregarão as náos as velas aos ventos, e despregarão nossos Re-


ligiosos ás lagrimas as portas: não por saudades da patná, e COíIegios de

Europa, a cpiem davão o ultimo vale; mas por Vér-se postos em caminho
da grande empresa, que desejavão. O coração do homem he leal': parece
adivinhava já o conílicto em que passado pouco tempo se havia de ver. A
capitania do Governador era humafermosa náo da índia; a sotto capita-
nia a náo San-Tiago. N'esta náo formarão hum Gollegio os nossoè, da invo-
cação do mesmo Santo: e como levavão fretada íimetaded'elld', traçarão
hum corredor, ou dormitório debaixo da coberta, com camarotes de^ huma
e outra parte, do masto do meio até a popa, cujo entre-vão servia de Re-'
feitorio. Tomarão posse do fogão, fizerão n'elle de taboas buma cozinha'/

pêra que podessem os Irmãos exercitai' oíTtóio' de hurnildade, e oharidade,


fazendo elles de comer pêra toda a náo, sem trabalho algum dos outros
passageiros. Aqui tinhão todos os mais officios de Refeftoreiro, Despenseiro.
Enfermeiro, Sacristão; e todos os exercícios espirituaíes c&stuínMós, ' eom
^'
campa tangida, a mesma perfeição doS CoUegios. ' '
'

*
!' '
'

20 Não só entre si, também no convés,' e'XéMtaVy'ô'á''iiósS6s'pibsi:if-í


ficios. Todos os dias ensinavão a doutrina christãa:ácudíao a ôlla todos -ôà'
da náo, desde o Capitão até o gurumete menor: folg-avão de respondeíP^
levados de prémios que lhes davão. Á tarde cantavão as Ladainhas em mii^-
sica de órgão: os domingos, e festas levantavão altares com incos para-

mentos, e com a imagem santíssima pintada por S. Lucas; e dizia o Padre


Ignacio missa, se não consagrando (por consideração dos perigos domar,
e uso d'a([ueUes tempos) fazendo comtudo no mais aquellé Santo sacrifício

com a mór solemnídade possível. Assistião os mareantes com círios bentos


86 LIVRO IV DA CHROMCA DA COMPANHIA DE JEÍU

nas mãos; e no fim da missa, tirada a casula, fazia Igiiacio pi vgação, ordi-
nariamente da cliaridade,com que nos havemos de amar Imns aos outros.
Com estas, e com praticas particulares, e principalmente com o exemplo
de tantos Religiosos, andava toda a não tão composta, como se fora huma
Religião : raramente se víão n'ella jogos, nem juramentos, nem outras pa-
lavras descompostas. Cobrou tanto dominio sobre os corações, que acabou
com elles que lhe entregassem as cartas, dados, e livros profanos, de que
usavão : e era pêra ver diante d'elie hum grande numero de maços, de da-
dos, autos, coplas, e comedias profanas, fazer d"elles publico cadafalso,
queimando-os, e lançando-os ao mar, sem repugnância alguma dos dono?:
em cujo lugar dava Contemptus mundis. Cartilhas da doutrina, Horas da
Senhora, e pêra a Communidade deo hum Fios Sanclorum, que pozerão
em publico, por onde todos lião. Tirou Santos hum dia, e ensinou aquella
gente como se havia de encommendar cada hum ao que lhe coubesse por
sorte. E os mesmos exercícios fazião, o Padre Pedro Dias, e Francisco de
Castro nas náos em que hião.
21 Constava a frota de sette náos, e huma caravela: hia toda junta em
conserva, e tanto á falia, que podião communicar-se Imns com os outros
de dia festejavão^se com salvas de artilharia: e porque de noite houvesse tam-
bém algum alivio do espirito, mandava o Padre Ignacio cantar alguns Mú-
sicos que levava, os Irmãos Magalhães, Álvaro Mendes, e Francisco Peres
Godoj, ao som de huma harpa, prosas devotas e era ; a musica tão sen-
ÍC tida e saudosa de noite sobre o mar, que fazia levantar os espirites, e atra-
hia a si os navios, que pêra ouvil-a se chegavão mais perto : o Padre Igna-
cio subia ao Ceo, rompia em lagrimas, e parecião-lhe aquellas as vésperas
das alegrias que cedo esperava,
li' t% Chegarão á ilha da Madeira, e acpii forão os nossos agasalhados no
CoUegio novo, que tinha mandado fundar n'esta cidade El-Rei D. Sebastião,
pelos Padres Manuel de Siqueira, Belchior de Oliveira, e Pedro Coresma, que
tinhão sido companheiros em Vai de rosal. Ahraçárão-se com grande ale-
gria, renovarão alli as saudadas d"aquella solidão, e recreárão-se em o Se-
nhor, segundo a possibilidade da Casa. Houve em toda aquella terra refor-
mação espiritual, emquanto alli estiverão estes hospedes: chegarão cm tem-
po de jubileo, e concurso ;de gente, e quando vião tantos da Companhia
exercitar seus ministérios, sua modéstia, e mortificação, todos folgavão de
cònfessar-sc com ellcs, e aproveitar-sc de seus conselhos, c espirito, lou-
mumm *íi-v:r^i^-'\ > :;-^v':>'n.>-.'«vv

DO ESTADO DO BRASIL (aNNO DE 1570) 87

vando ao Ceo por ver tantos sujeitos desterrados das pátrias ir habitar ne-

tre gentios bárbaros.

23 Detinha-se o Governador com sua frota, esperando tempos accom-


modados, por arrecear as calmarias de Guiné: porém a náo San-Tiago pe-
dia instantaneamente licença pêra chegar á ilha da Palma, huma das Caná-
rias: não parecia bem ao Governador a resolução do mestre d'ella, pelo
perigo dos inimigos cossarios, que commummente infestavão aquella para-
gem: mas como allegasse que era forçosa sua ida, porque trazia fazendas
de partes, e havia de carregar outras n'aquella ilha pêra o Brasil, segundo
as ordens e contractos de seus correspondentes; e que emquanto alli se

detinha a frota, podia fazer seu negocio, e ir encontrar-se com ella ao mar,
houve de alcançar licença. Havida esta, propuserão os Religiosos, que não
convinha ir n'esta náo o Padre Ignacio', cabeça de todos, e em quem es-

tribava o peso da missão: que mandasse outro em seu lugar, e fosse elle

em companhia da Armada. Porém não era este o varão, que havia de me-
ter aos outros em trabalhos, e perigos de morte, e ficar-se elle de fora
era o mesmo, que em Vai de rosal ensinava, que havia hum Religioso de
chorar com lagrimas de sangue levar-lhe outro a occasião de humildade,
e mortificação.
24 Tradição he, que foi dizer missa a Nossa Senhora do Monte, e tor-
nou d'el!a resoluto, não só a ir elle, mas a representar o perigo aos com-
panheiros, e não levar comsigo senão acpielles, nos quaes se visse animo

apostado. (Se foi sentimento, ou revelação de Deos, não o resolvo que ;

houve suspeitas d'isso, si.) O publico foi, que chamou a todos. Padres, e
Irmãos, e lhes fez huma pratica eíTicaz, na qual, com palavras sabidas do
intimo da alma, lhes propoz as razões do perigo, e o fez tão presente, co-
mo se já o vira com os olhos: que quem não sentia em si animo pêra dar
a vida a mãos de hereges, valia mais ficar-sc com a frota. A esta pratica

se inflamarão os corações dos companheiros em dobrado fervor: responde-


rão, que erão mui contentes de dar a vida por quem a dco por elles; que
isto era o que vinhão buscar; que perdel-a entre gentios no Brasil, ou en-
tre hereges no mar, o mesmo vinha a ser, senão que por mãos d'estes se-
ria mais gloriosa sua coroa. Fraqueárão comtudo quatro Noviços avistado
encarecimento do perigo da morte; aos quaes com muito boa vontade con-
cedeo licença pêra ficarem com o Padre Pedro Dias. (E aqui se virão os
secretos dos juizos divinos, que nenhum d'estes Noviços perseverou na
Companhia; porque os que não tiverão coração pêra merecer o dom futu-
88 Í.IVRO :V DA CIIP.O.MCA DA COMPANHIA DE JF.St'

ro, fossem despojados do presente, que já possuião.) A mesma pralica fez


aos marinheiros, g passageiros, pi'opondo-llie com igual eílicacia a contin-
gência em que estavão de encontrar cossarios inimigos, e arriscar as vidas:
e aos vinte e nove de Junho, dia consagrado aos hemaventurados Apósto-
los S. Pedro, e S. Paulo, disse missa na igreja de San-Tiago, e sacramen-
tou a todos, 3ssi Religiosos, como seculares da náo, pêra a partitja.
25 Erão do mez de Junho do anno presente de mil e quinhen-
já trjnta
tos e setenta, quando depois de despedidos com lagrimas dos companhei-
ros que ficavão, coino aquelles que mais se não havião de ver n'esta vida.
do Governador, e de toda a mais frota, recebidos na não San-Tiago os
Irmãos João de Majorca, António Fernandes, Affonso de Bayena, e outro

fn\'
(jue qui^erão ir em lugar dos que fraqueárão, partio, como a sacrifício,
aquelle rebanho de cordeiros do Senhor, levando após si de
os corações
todos. Hum dia só havia que tinha dado á vela, quando chegou recado ao
Govern,ador D, Luis, que apparecião solire Santa Cruz, porto da mesma
líi
ilha, cinco nãos francesas, vindas da Rochela, por capitão Jaques Soria,
inimigo capital de Cathoiicos, e infestissjmo de Jesuítas. Prevendo elle o
perigo dos nosgos, cora zelo christão procurou entretel-os, ou rendel-os
se podesse. Mandou preparar alguns navios a toda a pressa, e ao romper
da alva sahio era pessoa con.tra os inimigos: porém elles, ou por que an-
davão occupados com presas que havião tomado, ou porque sentirão a for-
ça de nossas nãos, não acceiíárão o conflicto, fazendo-sc á vela pêra o mar
na volta das Cí?narias.

26 Hia n'este tempo a náo San-Tiago conquistando os mares, e os nos-


sos Q Ceo cora suspiros: não se.ouvião outras vozes n"aquelle cenáculo,
onde se recolherão, se não da morte, de dar a vida pela Fé (e iie cons-
tante fama, que houve aqui revelação divina da coroa de Martyres de que
havião de gozar.) O Padre Ignacio especialmente a este fim dirigia todas
.suas praticas. «Oh Irmãos (dizia) se fosse o Ceo servido, que nos tirassem
estas vidas pelo amor de Deosl Oh quem que se vira já
fora tão ditoso,
derramando salgue a raãos de hum herege pela Fé Calhoiica!)) Depoz o
Irmão Sanches, que forão mais de cincoenta vezes, as que lhe ouvio estas
(' semelhantes palavras. Sette dias gastarão até chegar á terra, e forão
elles sette dias de aparelho peir. a morte: as.si Iraiavão d'ella, como se já
a vir'ão presente: nem consentião que na náo se fallasse iToutra maleria.
Yigiavãa seu quarto dous marcantes, quando já alta noite, imaginando
que dormião os Padres, e não erãu ouvidos, coniorárãu a travar entre si
iMÉlÉÍií

no ESTADO DO BRASIL (ANNO DE 1570) 89

praticas pouco convenientes. Oavio-os ,o Iraião Bento, de Castro, que esta-

va em pousava debaixo: e respondeo-lhes com o som de huma dis-


vela, e

ciplina tão rigorosa, que: osfez caliar


envergonhados. O mesmo fez com

outros o Irmão Domingos .Fernandes ;: e ficarão d alli tão ensinados, que


v,
não fallárão mais cousas idesconceritadas. ,. ;

27 Avistarão ao seltimo dia a terra desejada;, amas era o vento rijo, e


escaco, e não poderão tomar a Cidade: foi força recolher-se
em hum porto
junto a Terça coríe,-. por, não desgarrar. Morava aqui
hmii fidalgo Francez,

abundante de beas de foítima, tque se.icriára na cidade do Porto com o Pa-


dre Ignacio: este lembrado da antigua amizade, e conhecimento, orecebeo
e hospedou hamanissimameníe. Mostrou-lhe a
grandeza de sua casa, quasi

palácio de hum Príncipe, as peças ricas de seu uso, especialmente as de


huma formosa igreja que tinha, adornada de ricos paramentos de seda, e
borcado; e depois d"isso seu jardim: cousas todas que podião recrear a
vista de qualquer hospede. Tudo lhe agradecia Ignacio, e os
companheiros;

e muito mais o animo com que desejava recreal-os: porém n'outros praze-

res íinbão postos os olhos, a cuja vista ficavão estes mui atraz. Tratou
Igna-

cio de cousas do espirito com seu hospede: era elle igualmente magni-

fico e pio; confessou-se com elle, disse-lhe missa, e commungou-o em sua


'

Igreja. ' .!'.•!

28 Profundos são os segredos de DeD6;\,nãí0 pôde o homem dar alcan-

ce aos secretos de sua divina providencia: cinco dias gastou nesta paragem
este santo varão, e todos elles. empregou aquelle bom amigo empersuadir-lhe,
que fosse por terra dalii á cidade da Palma, porque era somente caminho de
íreslegoas, epor mar tinha grandes rodeios, e enseadas, e havia perigo de
encontrar cossarios, ordinários em aquella paragem; que elle daria caval-

gaduras, camelos -e todo o necessário pêra os Religiosos, e todas suas


cousas: e comtudo não pôde sahir com seu intento. Ao principio esteve

duvidoso, Ignacio; porque por huma parte. obrigava-o a charidade do amigo,

por outra fazia-se-Ihe difficultoso deixar a não, e sua companhia: e depois


de maiores instancias, chegou a mandar preparar pêra ir por terra, desem-
barcando pêra isso elle, e os companheiros: a este fim se foi a dizer mis-
sa, e commungou-os por despedida: porém aqui o que Deos lhe deo a sen-

tirnão se sabe ao certo: o que se vio foi que d'aquella missa^ ficou troca-
do, e tratou logo cie embarcar-se, eir por mar. Costumava este santo varão
nas cousas de maior importância consultar na missa com Deos, e dava-lhe
ello a sentir muitas vezes o que queria se fizesse: era sabido entre os Re-
m

90 1.IVR0 IV DA CHROMCA DA COMPANHIA DE JKSU

ligiosos este seu costume; e d'esta vez


notarão que sahio como homem en-
Yergonhado, qual se houvera consentido em alguma tentação : e juntos os
Religiosos lhes disse: «Eu estava em irmos por terra, pelo perigo que ha
de cossanos; porém, irmãos, estes que nos
podem fazer, senão mandar-nos
mais cedo ao Ceo? Estou resoluto em que
vamos por mar: assi o sinto em
o Senhor.» Que homem houvera que, levando
esta resolução por prudên-
cia humana, não julgara que era
acto menos discreto, querer antes entre-
gar-se a riscos tão grandes, indo por
mar, que ir por terra, com tanta se-
gurança, e commodidade? Comtudo assi o
destinava o Ceo, que por este
'
meio hia traçando a seus servos a coroa que
logo veremos. Foi despedir-
se do amigo, que n'este fim mostrou
mais fina a liberalidade de animo
Mandou prover todos os Religiosos do necessário, e
'
\
a náo de refrescos e
matolotagem de carneiros, galinhas, coelhos, favos de
mel, pães de assucar,
tudo com abundância. Acompanhou-os ao
mar, onde foi festejado com to-
da a salva da artilheria, e convidado com huma
religiosa merenda de cousas
da da Madeira; e abraçando todos os nossos, se
ilha
despedio com lagrimas.
29 Partio aquella Companhia do Porto de Terça
Corto, huma quinta feira
pela manhã: e como o vento era pouco
favorável, depois de feito vagaroso
circuito, ao romper da manhãa do
sabbado, se acharão defronte de Palma
com três legoas ao mar. Porém outro era o porto,
e outra era a palma
mais feliz, pêra onde Deos os guiava; porque
quando com alegria dos ma-
reantes preparavão o bordo pêra terra clamou
do alto topo do maslo gran-
de o gageiro: «Vela, vela:» e emquanto asseguravão
a vista os debaixo,
tornou a clamar: «Apparecem mais quatro menores,
demorão a tal parle.»'
Foi grande a perturbação dos mareantes, como
soem em semeliiantes ca-
sos: huns lançavão discursos, que seria a frota de D. Luis
de Vasconcel-
los, que deixarão na Madeira; porque a Capitania representava
a náo da
índia: porém passou pouco espaço, e desenganárão-se
que erãonáos Francesas
30 E porque desde logo saibamos que esquadra he esta, e que intento
traz;he de saber, que depois das notórias revoltas do
tempo do Christia-
nissimo Rei de França Carlos Nono com os
hereges Ilugonotes, da treicão
com que tirarão a vida ao Catholico
Duque de Guisa, e da com qne pi-e-
tendião prender aopróprio Rei, e a Rainha sua mãi, por defender a Fé
Romana; e ultimamente do castigo que n'clles executou o mesmo
Cai-los
Nono, com morte de trinta mil do mais granado*; levanfando-se o restante
CJHK^^^Jv^^

PO ESTADO DO BRASIL (aNNO DK 1570) 91

Rochela, Montalvão,
dos Hugonotes com algumas das forças de Trança,
e outras; os que vivião junto ao mar, faltando-lhes a extensão
Montpelier,
da terra, tomarão o officio de piratas; e eitre estes,
hum dos mais famo-
Jaques Soda, grande herege, inimigo
sos cossarios d'aquelle tempo, foi

capital de Papistas, e sobre tudo de Jesuítas, que assi lhe chamavão: ti-
illia de Pal-
nha sido Almirante do affamado Pé de pão, quando saqueou a
e era agora Almirante da Rainha de Navarra Madama
Joanna^ do la
ma,
Brit, epor ordem sua infestava os mares com quatro nãos fortemente ar-
madas, e com ellas sahira este amio da Rochela. Este cossario pois, era o
que vião os da nossa náo San-Tiago; este o que foi visto na ilha da Madeira,
onde roubou, e abrasou alguns navios ; contra quem sahio o Governador

D. Luís: devia de como era partida a náo San-Tiago; e qual o lobo


ter falia
rafeiros, e vai bus-
carniceiro, que deixa o rebanho vinda com medo dos
car a ovelha que se apartou: tal o cossario Jaques Soria, não
usando aco-
metter as náos de D. Luis, busca e acomette a de San-Tiago, só e desgar-
rada. Chamava-se a sua capitania a náo Príncipe: era hum
galeão, trazia

trezentos homens armados de saias de malha, e armas brancas, e a arti-

lharia toda era de bronze.


31 Á vista de tão poderoso inimigo, que podia fazer a náo San-Tiago
de pequeno porte, fraca artilharia, e quarentahomens de peleja quasi des-
armados? Parecia huma pequena casa em comparação de huma grande tor-
fizerão resolução
re. Comtudo não perderão os ânimos os Portugueses, e

entre si de defei^der como esforçados seu partido, ate perder as vidas, ou

alcançar victoria. Prepararão a toda a pressa as cousas necessárias, desíize-


rão o refeitório dos Padres pêra jamais o não tornar a ser, assestarão
n'ella a artilharia, fizerão xareta, lançarão paveses, e bandeira de guerra,

e esperarão o inimigo.Porém entre preparações tão acesas, e em quanto

o impulso da guerra rompe aposentos, desfaz retiros, toca caixa, toma ao


convés, praça de armas militares, vejamos o que fazem os soldados da
milícia de Christo.
32 Era pêra ver o coração intrépido de Ignacio no meio dos seus,
como estavão juntos, no fim das Ladainhas, com a Imagem da Yirgem nas

mãos, fallando-lhes assi: «Oh Irmãos de minhas entranlias! segundo me diz o

coração, será esta a ultima pratica que n'esta vida mortal vos faça: não são
necessárias muitas palavras, onde o tempo he tão breve, e os corações tãc

dispostos. Temos chegado ao fim de nossos desejos: á vista estamos do

porto, e palma da mór estima, que podião esperar nossos trabalhos; hoje.
92 i.ivp.o IV DA cnnoMcv da companhia de jf.su

hoje, nos tem a venliira guardado tiue enlremos juiilos, como ostamos, a
^ozar daquella terra venturosa, e d\aquella companhia feliz do Senhor,
que
nos redemio com seu sangue; d'esta Senhora, que até aqui nos favoreceo,
e dos Santos, que sempre invocámos. E que mellior porto
que este? e que
melhor palma? Oh bem afortunados traballios! quão bem empregadas acha-
reis agora as penitencias da solidão de Yal de rosal, vossos cilícios, vossas
disciplinas, vossas vigílias! agora vos abrem estas o porto, agora vos
for-
mão a palma, com que haveis de entrar triumphando n'aqiiellas piacas
eternaes, que tanto desejáveis. Oh Irmãos meus, que ventura tão grande!
pêra tio ditosa fortuna vos formou a natureza, lavrou o espirito, pi-edes-
tinou a graça. Oh feliz sorte! Que venha esta a reduzir-nos a hum breve momen-
to de tempo, os annos largos do Brasil, de seus sertões, de seus gentios, e
de suas dilatadas cruzes? e jâ, e já morramos todos, pêra que queremos
a vida, senão pêra comprar em hum momento Ao
o eterno peso da gloria?»
som d"esta pratica ultima, ultima manda, e como testamento de pai, assí como
estavão de joelhos, levantados os olhos e as mãos ao Ceo, romperão todos em
vozalta, n'estas palavras: «Faea-se em nós a vontade do Senhor: d"aqui lhe

dedicamos nossas vidas, e estamos preparados a dar o sangue por seu


amor.
33 Vinha n"cst.e comenos infunadas as velas a capitania de Jaques So-
ría, qual ave de rapina, seguindo a presa da pomba, com curso velocíssi-
mo. Pedio o Capitão da náo ao Padre Ignacio alguns dos companheiros
pêra ajudar a peleja, supposto o numero limitado de sua gente; animou-os
o servo de Deos; e já que estavão determinados, os advertio, que peleja-
vão contra hereges inimigos da Fé, e da Santa igreja Romana, em cuja
briga sempre ficavão com vicloria, ou vencendo aos inimigos, ou morrendt)
a mãos de hereges pela Fé de Christo. E supposto que seus companheiros

por Rehgiosos não erão aptos pêra armas, ileo-lhcs para os animar na bii-
ga, dos mais esforçados, cjue pêra isto se offerecèrão, o
Irmão Manoel Alva-
res, João de Majorga, Gonçalo Henriques, Manoel Pacheco, Domingos Fer-
nandes, Francisco Peres, António Soares, o padre Pedro de Andrade, Es-
tevão Zurara, João de S. Martim, c João de Bayena: assínou-lhes seu oíli-
cio, animar c esforçar aos que pelejassem, acudir com conforto aos cansa-
dos, retirar os feridos, cural-os, confessal-os, o protestar a altas vn-zos, en-
tre as armas, a Fé de Chiisto, e Igreja l»oniana.
o\ Chegava já a tiro de peça a náo di> Jai[ues Soria ; diMi principio
^Y"*^"-'^-"^

DO ESTADO DO BUASIL (anNO DE '1570) 83

com imm pelouro, a que amainasse a nossa; foi a reposta disparar n'ella

tpda a artilharia; quecomo a náo era grande, e a soldadesca basta, fez


bom emprego, e matou a muitos. Aqui começou a acceudeírse a peleja,
desfazendo-se em fogo de parle a parte: ambas as náos. Preparou Jaques
pela nossa, e pretendeo meter-lhe gente; mas como não podia aferral-a,
saltárãOi dentro três homens ai;madqs s(Jmente„ entre os quaes liia o Sotto
capitão, segunda pessoa de Jaques>,iil!Ída;ero!' grande .cojata. Brigarão estes

no convés valentemente; e como bem armados poderão res:istirialgmii tem-


po, até que vencidos, meio vivos forão lançados ,ao mar, com grande sen
timonto de Soria, que estava á vista. Instigado da dor, acometteo a se-

gunda e terceira vez, mas íambfimisemi.effeito; porque querendo saltar al-


guns ria náo, cahirão ao mar armados,, 6; íorão ao fundo. .tíõiiaia-rSei. de rai-
va Jaques Soria, vendo h'ustrados S8,us intentos; resólveu-se, qiáe era' ne-
cessário mais força; volLoa a quarta vez, trazendo comsigo as outras qua-
tro náos, cercou a nossa, e atravessando, elle ,por proa, as quatro pelos

lados, dispararão sobre ella toda a artilharia, com díimno, e morte de al-

guns Portugueses: acabada a fumaça, bytando arpéo,,, lançou-lhe. dentro


cincoenla soldados de armas bi'ancas, o dando por certa a victoria, pela
differença conhecida de poder a poder, poz-se de largo a ver o successo
do alto da popa de seu galeão.
33 Travou-se a briga cruelissima, pelejando esforçadamente de huma e
outra parte; liuns defendendo a causa de sua liberdade, vida e fé; outros
a de sua cobiça, impiedade, e mortal ódio. Porém aqui he bem se veja

agora o esforço do capitão ígnacio, por tantas vezes prometido, e pêra aqui
guardado. Non sicut mori siciit solent ujnmi mortuus est Abner. Aquelle
posto, que huma vez escolheo vivo, esse mesmo cobrio na guerra seu cor-
po morto, esse mesmo lavou com seu sangue. No meio da náo. ao pé do mas-
lo principal o adiarão os inimigos, o acabarão a pé quedo. Poderão
alii
!i

tirar-lhe a vida, mas não as aimas; porque o escudo da santa Imagem da


Virgem, que pintou S. Lucas, e tinlia embraçado, nenhum lli'o pode tirar

das mãos, por mais que pretendeo fazel-o o rancor dos hereges. D'alli pro-
testava a Fé Romana, d'alli erão ouvidas por cima do estrondo das armas,
estas suas palavras : «Irmãos, defendei a Fé de Christo, pelejai esforçada-
mente pela Igreja Calholica Romana; contra hereges o haveis, que andâo
errados, e fora do caminho da verdade.» Adi recebeo a pé quedo da mão
de hum herege, que ou^'ia suas vozes, e via seu sagrado escude, mettido
cm ódio, c furoi', huma cutilada cruel, com que lhe fendeo a cabeça, e
miÊÊÊÊÊm

94 LIVHO lY DA CIIHOMOA DA COMI-AMIIA DE JESU

descoljrio os cérebros. Aqui outras quatro lançadas, a cujo rigor desfaleceo


o corpo, mas não o brio. Cahio sobre seu sangue no mesmo lugar, onde
!

cantara Ladainhas, fizera falia aos Irmãos, tivera oração, esperara o confli-
clo, animara os soldados, prostestara a Fé, e reprehendera os hereges. Po-

rém estava ainda forte o espirito, e por mais que o ruido era grande, fo-
rão ouvidascm todo o convés estas suas palavras: «Sejão-me testemunhas
o mundo, e os Anjos, e os homens, que morro pela Fé Catholica, e Igreja
Ronlana, e por tndo o que ella confessa!...»

36Aqui acodirão os companheii'OS á voz de seu pastor ferido. O Pa-


dre Andrade se abraçou com elle, com laços tão fortes de amor, que não

poderão apartal-os: ambos foi força retirar a hum camarote junto ao


leme, onde ultimamente se reconciliou com o mesmo Padre. Chegavão to-

dos banhados em lagrimas de sangue, e ensanguenlavão-se no bemdito Mar-


tyr, abraçavão, e beijavão suas feridas: elle porém despedia-se d^elles ba-

nhado de alegria, e por seu ultimo amor lhes rogava, que não chorassem
por sua morte, antes se alegrassem: «Fez-me Deos pastor vosso (dizia) he
bem que vá aparelhar-vos o lugar: o mesmo disse Christo a seus Discípu-

los: Vado pavare vobis locum: Oh filhos meos, quão suave lie a morte por
Christo! nenhum desmaie, morrei todos por elle!» E n'estas palavras escoado
do sangue, fixos os olhos na santa Imagem da Virgem, que nunca largara

sem sinal de sentimento algum, passou a gozar do premio de seus grandes


trabalhos.
37 Seguio a seu pastor immediatamentc o esforçado Irmão Bento de

Castro: o qual ao primeiro furor do inimigo despedido dos mais Irmãos,


se foi meter entre os que brigavão, armado só com a espada vencedora
da santa Cruz, porque por ella fosse conhecido, e desse claro tcstemuniio
da Fé que professava: e animando a altas vozes aos nossos, que pelejas-
sem pela Igreja Romana, e desenganando os hereges de sua cegueira, foi
passado com três arcabuzadas: e não sendo bastantes pêra que cahisse tão
grande constância, carregou sobre elle o ódio mortal dos hereges, c á for-

ça de sette punhaladas, dadas á mão tente, no mesmo lugar, onde come-

çara, com a mesma constância de espirito, protestando a Fé em que mor-


ria, e abraçado com a Cruz de Christo, cahio desmaiado, envolto
vm sen
sangue, e meio vivo foi O terceiro em ordem foi o
logo laiiçado ao mar.
Irmão Diogo Pires de Nicéa, chamado de antes o .Mimoso, nunca mais que

agora do Ceo, que junto ao lugar donde morrera smi capitão, deo cons-

tantemente a vida a mãos de hum cruel moldado, que accío em ódio de


DO ESTADO DO BRASIL (ANISO DK 1S70) 9^

ouvir suas vozes com que protestava a Fé Romana, o buscou com huma
lança, e atravessado de parte a parte o lançou ao mar.
38 A estes seguirão na palma da victoria aquelles apostados soldados,
que seu bemdito Padre Ignacio havia destinado á guerra. Estes, e outros
guerreiros valerosos, que se lhe ajuntarão, depois de despedidos de seu
pastor, tomada sua benção, e composto aquelle santo corpo defunto, tor-
narão á briga, com novo brio, quaes elephantes á vista do sangue, de que
vinhão tingidos. «Eia Irmãos (dizião) morramos todos, sigamos a nosso ca-
pitão.» O Irmão João deMayorga pintor, cançado igualmente de animar,
e
protestar a Fé, entre os combates, por espaço grande, conhecido pela rou-
peta, e barrete que trazia da Companhia, acommetido não menos
que de
seis ou sete soldados da seita pérfida, foi lançado vivo, e sem ferida algu-
ma, mas com mais crueldade, ao mar. Os Irmãos Gonçalo Henriques do
Porto, Manoel Rodrigues de Alcochete, Manoel Pacheco de Ceita, e Este-
vão de Zurara Biscainho, embebidos no vivo da peleja, acudindo a huma
e outra parte, animando os soldados, protestando a Fé, e o ser de filhos
da Companhia, nem souberão da morte de seu pai Ignacio, nem os que
concorrerão a despedir-se d"elle, souberão da sua; só conhecerão que forão
lançados ao mar, como tinha feito aos outros o furor herético porque ;

tornando á peleja, nunca mais os virão na náo.


39 O irmão Manoel Alvares não tem a menor parte em tão grande em-
presa: defeudeo sempre sobre a xareta, e castellos
de popa: seu valor foi
insigne: igualmente desprezava a morte, que os inimigos: aquella procura-
va, protestando a Fé a vivas vozes, que atroavão todo o convés, e erão
ouvidas até nas nãos distantes: estes detestava por cegos, errados filhos
!'S
de perdição. Cessava já o furor da briga, mas não cessava o esforçado sol-
dado de Christo com a ]n'otestação de sua Fé arremetem os infernaes
:

saiões, e fartão n'elle seu rancor : retalhão-lhe o rosto, estendem-lhe as


pernas, e fazem-lhe em pedaços as canelas com os canos de arcabuzes e ;

nãoquizerão acabal-o, por que não acabasse sua pena. Retirárão-no os Irmãos
pêra si, e vendo que sentião seu tormento, virado a elles, lhes disse: «Ir-
mãos, tende-me inveja, não lastima; que eu confesso que nunca mereci a
Deos tão grande bem: quinze annos ha que estou na Companhia, passão
de dez que peço a viagem do Brasil, e me aparelho pêra ella, e
com só
esta morte mo dou por bem pago de todos meus serviços.
40 A este tempo o Capitão da náo mortalmente ferido, vindo-se reti-
rando do castello de popa, onde pelejara animosamente, entrou no camaro-
06 LIVRO IV DA CimOMCA DA COMPANHIA DE JESlT

te em que estavão os Irmãos postos em oração diante das sagradas Ima-


gens: o que vendo o furor dos hereges que o virilião seguindo, depois de

aeabarem de matar o Capitão^ detestando o acto dos servos de Deos como


idolatria, fizerão impeto sobre elles: Ao Irmão Braz Ribeiro Braciíarense, de

vinte e quatro amoã de idade, sete mezes não mais da Companhia, que-
brarão o casco da cabeça, até lhe espalharem os cérebros com as maçãs do
suas espadas, deixando-o morto. Ao Irmão Pedro de Fontoura, também
Braeharense, cortarão com huma cutilada o queixo inferior da boca, e com
Ao Irmão António Corrêa Portuense derão huma grande pan-
elle a lingoa.

cada na cabeça com os cabos de outra espada, queixando-se elle aos de-
mais Irmãos por ser tão duro, que ficava ainda com vida.
41 Morto o Capitão, que pelejava com valor, e mortos os Irmãos, que
metião coração no conflicto, acabou-se a briga, e rendeo-se a náo San-Tiago.
Dos nossos morrerão quinze ou dezaseis, os mais d"elles forão depois lan-

çados ao mar pelos Franceses ainda vivos, mas mal feridos, por escusar
trabalho em cural-os. Dos hereges morrerão trinta; entrando em conta os

que acabarão com a artilharia nas nãos inimigas: e não foi maior o nume-
ro porque vinhão annados por todo o corpo. Seja exemplo o de h.um lio-
memdomarnatural do Porto: era esforçado, não tinha outra arma mais que
huma lança, com esta fez bote a hum d'estes armados, e deo com oUe no
convés, foi sobre
. elle, e querendo matal-o, nem achou com cjue, nem por
onde: tirou-lhe a espada da mão, mas não pode tirar-lha do braço, ondo
vinha amarrada. Que remédio? Lembrou-se o bom Portalcs, que trazia hu-
ma faca pendurada á illiarga, tirou-a da bainha, mas não achava por onde
empregal-a, ate que descobrio certa junta em huma das ilhargas, por ahi

a meteo, e lhe acabou a vida; mostrando seu esforço, c juntamente a dif-

liculdade de matar hum homem bem armado.


42Espalhárão-sc logo os vencedores a tomar posse por varias parles
da não, e a saquear, segundo seu costume, pelos baixos, c camarás. Aqui
se vio mais que em outra parte o ódio d"estes inhumanos hci-cges pêra com
os nossos: porque sendo assi que acabada a guerra, por commum direito

das gentes, em sangue frio, nem se mata, nem se afronta rendido algum,

aem o fazião aos que o ferirão, e matarão: com tudo, quaesIiiliosHircanos

em rebanhe sõ sem pastor, nem rafeiros que possão defendcl-o. achando

debaixo das cobertas os Padres, c Irmãos, ([ue ficarão acompanhando o


corpo defunto de seu mestre Ignacio, curando os feridos, (> lodos elleslaes
do trabalho, que crão dignos de compaixão^ usarão cora cUes então da maicr

^k«::í$i»
v^ÉÉHHHMHliSHl

DO ESTADO DO DííASlL (Ar^NO DE 1570) 97

crueldade: vendo alii vivo aiuda o esforçado Irmão Manoel Alvares lidando

com morte á força de dores excessivas das feridas mortaes que lhe.de-
a
rão, conhecendo que era aquelle que animava, e protestava a Fé, do cas-
tello da popa o lançarão assi meio vivo ao mar. O mesmo fizerão ao Ir-

mão Fontoura no meio das penas de seu queixo, e lingoa cortada,- ainda
vivo.

43 Porém o que sobre tudo intimamente lhes magoou as almas, foi que
dentre os braços lhe tirarão aquelles algozes do inferno, o venei'avei e san-
to corpo defunto de seu amado pai Ignacio, relíquia ultima de sua consc-
lação, e consolação derradeira de seus vivos exemplos, e o lançarão tam-
bém ao mar: arrancárão-lho dos braços, mas não dos olhos; porque com
estes o seguirão ainda do alto do bordo, até desapparecer; e forão teste-
munhas de hum caso insólito, notoiio em toda aquella náo, que andava o
santo cadáver boiante sobre as agoas com os braços abertos em forma de
cruz; porque aqueile que vivera em cruz, em- cruz morresse; nem fosse
ao fundo aquelle, que não tivera o commum peso sensual da carne. Jul-
gárão-no por portento todos os da não, que com cuidado o notarão até o
perderem de vista, sabendo mui bera, que hum cadáver frio se vai ao fun-
do da mesma maneira que hum sacco de terra. Oh se nunca perdêramos do
vista, os que somos filhos d'esta sua Província do Brasil, tão grande exenir
pio d'aquelle, que não só em vida, mas ainda na morte, nos ensinou a ver-
dadeira mortificação da Cruz! Bem sei que
diz Ilichardo Vestegano no seu
Theatro da crueldade que até lançado ao mar levou Igna-
hei^eíica foi. 54,
cio a Imagem da Virgem comsigo, sem que lha pudessem tirar:
porém nós
sabemos, que depois de lançado ás agoas, andou sempre em crnz sem.
Imagem: podia ser que lançado com ella, alli a largasse ás ondas, antes
que a hereges; e trocasse então a que fora companhia na
vida, por seguir
a Imagem do Filho na morte. E assi parece o entendem muitos authores,
quando Imagem santa. Aos que ficarão vivos mortificarão es-
fallão d'esta

tes hereges de maneira, que fora menos pena lançal-os logo a morrei- com
o pai morto: gozarão ao menos até espirar, da vista e companhia de quem
tanto amavão. Porém em quanto esta hora sua não chegava (porque
não
ousavão os algozes tudo o que querião) afron!avão-nos de palavras, e obras,
chamando-lhes perros, diabos. Papistas, Jesuítas, Presbyteros (as maiores
afrontas a seu parecer) dando-llies bofetadas, e punhadas por desprezo:
e
(Vesíe modo apremiados, lhes entregarão o traballio da bomba, porque se
hia a náo ao fundo, aberta das bonibaidadas do principio da briga.
VOL. u 7
_1 "1

98 I.lVnO IV DA CHtiOMCA DA COMPANHIA DE JESU

44 Façamos aqui hiima digressão, em quanto por ora se occupão com


a bomba. Jaques Soria, a quem do peito não saliira o sentimento da mor-
te do seu Sotto Capitão, que da popa de sua não vira matar, no
principia

da guerra, mandou que fossem levados a sua presença, o Mestre, e Cala-


fate da náo San-Tíago, cjue o ajudarão a malar: levárão-lhe
também entre.
estes o Irmão Simão da Costa, mancebo como de vinte annos. Noviço que
começava a ser da Companhia, mas debaixo ainda de trajes seculares: não
se sabia a causa; suspeitava-se, que como era de boas partes, e bem apes-
soado, cuidarião que era fdho de algum grosso mercador, e quererião ti-
rar d'elleo porte das fazendas da náo. A este em primeiro lugar chamou
Ja-

I
'''
ques Soria; e a primeira pergunta foi: «Se era Jesuíta, ou não?» Porém Simão,
Ih'
supposto que negando sabia que escaparia da morte, foi filho leal, confes-
sou claramente que era Religioso, irmão d'aquelles, que pouco havia derão
a vida pela Fé Romana: do que indignado Jaques Soria, logo alli lhe man-
dou cortar a cabeça, e lançar ao mar. Ditosa alma! Consummatus in brevi
explevit têmpora imdta. Em segundo lugar tratou do caso do Mestre da náo,
as cabeças, por matado-
e Calafate, e forão sentenciados a morrer cortadas
res de huma pessoa principal.

45 Tornemos agora aos Irmãos c|ue estão á bomba, cansados igualmen-

te de trabalhar, e de esperar sua ultima sorte. Chegavão já a desfallecer, tevo


Capitão, que então era
lastima ã'elles o Padre Andrade, e vendo estar o
Monsieur Mariim, no castello de popa, conversan-
hum sobrinho de Jaques,
igualmente com os seus e os nossos homens da náo, humana e amiga-
do
velmente; foi-se a elle, e pedio-lhe tivesse compaixão dos Innãos, que che-
foi cruclissima, bem
gavão a não poder ter-se em pé de fraqueza. A reposta
parecida ao ódio que logo veremos do tio: arremeterão quaes lobos feros
pisárão-no a couces e punhadas, lançárão-ihe por des-
ao cordeiro manso,
da xareta abaixo, tão pisado,
prezo o barrete ao mar, ea clle por derradeiro
sangue por boca, e narizes. Oh feras deshumanas! a hum ho-
que lançava
mem rendido, desarmado, confiado em vossa presença?
Qm
humanidade,

que cortesia he esta? Não sabe o ódio, quando he entranhnvel, usar de leis

impiedade lhes acendeo os coraçíjes


de cortesia, nem de misericórdia. Esta
maior. Quiserão que todos os Ii-mãos passassem pelo mesmo
pêra outra
levárão-nos da bomba pcra o castello de proa, com as mesmas
contraste;
e tonnenlo. Aqui se apparclliavão já
os sei'vosdo Senhor pêra se-
injurias,

rem lançados ao mar: porém não era chegada a hoi-a do poder dos minis-
das trevas; crão somente preparações da morto; lirárâu-ihc a lodos
tros

«
Av'
iiiiiíiiíii

DO ESTADO DO líRASIL (annO DE 1570) 99


roupetas, e barretes, e não ,'se faríavão de afrontar e maltratar de novo
com mais rancor aos que vião com coroa na cabeça, pêra cora elles cousa
abominável.
46 No meio d este transe, teve a sorte que desejava o Irmão Manoel
Fernandes^ o qual quando hia passando pêra o castello de proa,
colheo-o
a seu geito hum d'aquelles algozes (impaciente da
tardança da sentença que
esperava) junto ao bordo, e tomando-o nos braços, deo com
elle ao mar;
sem mais outra causa, que a de seu ódio herético. Feito este ensaio,
des-
pidos todos, e desbarretados, os tornarão á bomba. Aqni
tem lugar o pe-
queno Aleixo, de quatorze até cjuinze annos na idade, de muitos
no juizo
a este tomarão quatro hereges, e o piscárão a pancadas,
até lhe arrebentar
o sangue pelos narizes: veio-sea os outros Irmãos, sua vulnera jactans,
di-
zendo estas palavras: <iOmnia possum ineo,qui me confortai. Era
sabbado,y>

fizerão os hereges seu jantar, como quem elles erão,


de galinhas, e outras
carnes que acharão na não: e quando foi ao comer, ou porque houve en-
tre ellesalgum cora rasto de humanidade, ou por quererem experimentar
(e he o mais certo) o que logo virão; mandarão ao
Padre Andrade alguma
parte da ditta carne, pêra comer elle, e os companheiros.
Porém o reso-
luto observante da lei da Igreja Romana, cp^ial outro forte Eleazaro,
querendo
antes líiorrer á fome, que ser visto consentir em seu herético
abuso, to-
mou a carne, e lançou-a logo ao mar, em presença do mesmo Francez que
a trouxera: tomarão por descortezia o que era fineza t.
da Fé; mas como es-
peravão por horas a ultima vingança, contcntárão-se por
então, com amea-
çal-os de morte sómentei
47 mesmo dia á tarde, cansados já os servos do Senhor do
N'aquelle
trabalho da bomba, e desejosos de experimentar o ultimo
acto de tão lar-
ga tragedia, e os hereges igualmente de tirar do mundo aquelles
que tinhão
por escoria d'elle; depois de varias idas e vindas do batel,
Jaques Soria,
infestissimo inimigo de Jesuítas (pelas razões que atrás dissemos das re-
voltas de França, desde a morte do Catholico Duque de Guisa, rebellião
contra o Rei, e castigo de mil
trinta dos ílugonotes, em que os Pa-
dres da Companhia de Jesu, como sempre, fizerão as partes dos Catholi-
cos, que defendião a Romana Igreja contra estes hereges) no seu galeão
deo sentença, que fossem mortos os Jesuítas' da não San-Tiago, por serem
seus contrários, porque hião pregar falsa doutrina ao Brasil: acrescen-
e
tando, que se estes não forão, já elles com os demais
Franceses serião to-
dos hims. Dada esta sentença, qual homem que pretende dar
grande nova,
100 LlVnO IV DA CIIUOMCA DA COMPANHIA DE JESU

e pedir alviçaras por cila, vai primeiro que todos a leval-a; tal se liouve no
caso este Juiz iniquo, quiz ellc mesmo pronunciar sentença por sua boca,

e ser o primeiro que levasse esta grande nova de morte aos ministros de
I

sua profissão, que a desejavão como a vida. Estende as velas ao galeão,


prepara peia não San-Tiago, e diz a altas vozes: «Lançai, lançai ao mar estes
perros Jesuítas, que vão pregar falsa doutrina ao Brasil.»
48 Ouvida a sentença (oh furor carniceiro!) veríeis de improviso aquelle
convés cheio dos ministros das trevas licenciosos. Raras são as historias,
ainda dos tyrannos mais severos, onde a sede do sangue dos martyres fos-
se tão refinada. Não cabem na náo de prazer: preparão os
algozes seus

instrumentos, dividem o mianso rebanho em duas partes, bombordo, e es-


tibordo, e vão fartando-se do sangue innocente aquelles lobos carniceiros;
com esta differença, que os de mais idade, ou sinalados com tonsura cleri-
calna cabeça, passavão primeiro a punhaladas, e depois os lançavão ao mar;
sinaes, lançavão sem feridas.
e os que erão de menos idade, e sem os taes
Andrade, como era principal entre todos, foi o pri-
O Padre Diogo de assi

meiro no padecer, passado a cruéis punhaladas, e meio vivo entregue ás


ondas vorazes. Da mesma maneira os irmãos Domingos Fernandes, Antó-
outros, ou tonsurados, ou
nio Soares, Francisco Pires Godoi, e todos os
eu onde foi a crueldade mais severa, se nY'S[es, ou nos
maiores: e não sei
que forão de todo vivos ao mar.
49 Aqui se vio hum espectáculo, ao Ceo festival, c aos homens lasti-

varias mudanças,
moso: pouco menos de trinta nadadores representando
protestando a Fé em que morrião, invocando os celestiaes moradores, ani-
outros, e despedindo-sc os que acabavão dos que ainda
raando-se huns aos
lutavão com as ondas; e estes depois de enfraquecidos de nadar, seguindo

ultimamente os demais. Oh mar Atlântico! Com mais razão te chamarias

desde agora mar Vermelho! Ditoso porto, e ilha da Palma, cujas praias fo-

felices Iriumphadores! Estavãu


rão lavadas com ondas de sangue de tão
vendo toda esta tragedia os homens Portugueses, queda náo San-Tiago no-
depois com copia de lagrimas.
tavão todas estas variedades, e as referião
trinta e nove os que n"este ultimo acto, e nos
antecedemos dorão as
Forão
o Senhor, por c^)cáiú providen-
vidas; porque o quadragésimo guardou
pêra que como testemunha de vista, entre as mais, pudesse rela-
cia sua,

tar-nos por menor toda esta historia.

Kra este o Irmão João Sanches, ])()Uco mais que de quaturze annos
fJO
em (pie os Franceses lizei'ão exame dos Religiosos,
de idade: na occasião
mÊÊÊÊ

DO ESTADO DO BRASIL (aNNO DE lo/O) 101

foi conhecido d'elles por cozinlieiro: disserão: «Bon garçon, vete, vete a la

cocina. Faltou-lhe a occasião, mas não o animo. Porém lie o numero de


quarenta sagrado: e aconteceo aqui o que lá aos outros quarenta, que pa-
decerão pela Fé n'aquella celebre alagoa frigidissima, onde faltando hum,
supprio o Ceo com outro, que foi o quadragésimo. Entre os Irmãos que
os hereges arrebatarão da bomba pêra a morte, levarão de mistura dous man-
cebos seculares, cuidando serem da Companhia: e como taes, comellesos
lançarãoao mar: porém com sorte mui diversa; porque hum d'elles, cla-
mando quanto pôde que não era Religioso, morreo contra sua vontade o :

outro consentindo no erro, morreo voluntariamente, e mereceo ser o qua-


dragésimo dos Religiosos, recebido na Companhia do Ceo, antes que o
fosse na da terra. S. João, nome usado na Provinda de
Chamava-sc d'antes
Entre-Douro e Minho, donde era natural, e nome quasi de João Sanches
lido ao contrario, como pronostico de que havia de ser Santo, e de que
havia de supprir as vezes do Irmão João Sanches: virá a chamar-se S. João
Adauto; Santo por sua morte, adauto por ser acrescentado a trinta e no-
ve, fechando o numero quarenta. O que se entende da resolução d'este
bemaventurado mancebo, he : como pedia a Companhia, e erão grandes os
desejos de ver-se filho d'ella, acompanhando sempre os Religiosos em suas
afílicções, e trabalhos; entendeo que era também obrigado seguil-os n"aquel-
ie trago ultimo; ou persuadido que era já da Companhia, ou que pêra o
ser bastava morrer como elles: e com razão por estes desejos, e effeitos,
he contado entre os filhos da Companhia.
51 Oh venturoso dia 15 de Julho de 1570! digno que se escreva na
memoria dos homens, pois nos livros da Eternidade está escritto: n'este
entrou nos palácios celestes este esquadrão de vencedores com palmas em
as mãos, sahindo do mar, vermelhos em seu sangue. Aquella grande serva do
Deos, a Madre Theresa de Jesu, posta em grande contemplação, e arreba-
tada em espirito, os vio ir entrando no Ceo com laureolas todos de Mar-
tyres gloriosos; e entre elles conheceo especialmente hum, que lhe era
propinquo em sangue, com particular alegria, e favor do Senhor. Descobrio
ellao caso a seu confessor. Escreveo-o Padre Fr. Diogo de Yepes, Bispo do
Taraçona, na Vida d'esta Santa: e o Padre António de Yasconcellos na Des-
cripção de Portugal. O Padre Eusébio Nieremberg diz, que houve outras
semelhantes revelações sobre a entrada no Ceo d'estas almas ditosas: posto
que não declara quaes fossem. E no tomo iv dos Varões illustres refere, que
apparecêrão em companhia do ditoso Irmão Pedro Aldeã do nossa Compa-
.1 'i

r
102 UXRO IV DA CHROMCÀ DA COMPANHIA DE JRSU

nhia em grande resplandor com coroas de flores, e palmas em as mãos,


a certos casados de bomcom circunstancias dignas de todo o cre-
viver; e

dito. Foi applaudida pelo mundo esta tão insigne vicloria, depois de tão

ferida batalha: e chegando ao Summo Pontífice Pio Quinto, diz humas pa-
lavras, com que parece que os canonizava; porque passando naquelle mes-
mo tempo hum Motu próprio em favor dos filhos da Companhia, disse d'el-
les assi: «Os quaes não contentes com os fins da terra, ]jenetrárão até as
índias Orientaes, e Occidentaes: e alguns d'ellcs de tal maneira forão cons-
trangidos do amor de Deos, c]ue pródigos de seu próprio sangue pêra
plantarem mais efficazmente n'aquellas partes a palavra do Senhor, se sub-
meterão a martyrío voluntário.
52 O Poeta Francisco Bentio celebra o triumpho d"estes Martyres no
liv, 3, e 6 de seu Poema; e diz assi

Huc ibant: his Diictor erat tum nomine fdix


Tum pietate igens Ignalius: extulit illurn
Azebeda domus: Sorias oppressit euntes:
Crudelis Sorias, tetram cui tahida mentem
Ex Erebo sublata lues infecerat, et se

Hostem Ponliftci magno, sacrisqtie ferebat

Ritibus, infeclumque tenebat navibus (tquor.


Nam guia non procul á terra defeccrat afflans
A tergo, piippmque farens, et linlea ventus:
Accipiter veliU imbellem tellure coíumham
Càm sedit, leporemvê cilus vcnator in altis

Montibus, et 7iiveo vallatís aggerc campís'.


Asseqiiitur Prcedo, ratibusque inslruclus, et arniis

Comimis invadit, circimstant scilicet unam


Quinqiie rates, ncc opus longo cerlamíne: plure3
Vicere, irrumpit Sorias, recipitque lenetque
Navigium, et vultu, verbisque minamtibus instat,
Mox studium ralas extingui sic posse virorwn.
Quos docuit Romana jides: saturara cruore,
Utere sorte data: Romanain inicrftce vwssem:
Ipse sais claviat, Sumerge cadavera ponlo:
!Pr.

DO ESTADO DO BRASIL (ANNO DE 1370) i03

El simitl hoc, simul Ignatij, qui amplexus habebat


Virginis efjigiem Marice, veramqm tiieri

Seque suosque fidem suprema in morle professas.


Et socijs ânimos addebat, et hostibus iras,
Pectora transadigit tello, vasliimque per oequor
Cum sacra jacit efjigie, quam nulla revellit
Vis admoia viro: hinc sócios furibundus ad unum
Terque quaterque addens exuta in corpora ferram,
Christum implorantes pelagi projecit inundas,
Hoe circum effuso rubiienmt sangiiine; at illi

Protinus et médio petierunt cequore ccelum,

53 Depois de tomada vingança nos corpos, passarão aquelles ministros


do inferno a tomal-a nas cousas religiosas, e santas. Acharão entre outras,
quantidade de reliquias, rosários, Agnus Dei, e óleos sagrados, que o beis-
díto Padre Jgnacio levava pêra o Brasil: tudo isto espalharão com furor
diabohco pelo convés da náo, pisando-o a couces, e depois lançando-o ao
mar. Era huma d'estas reliquias meia cabeça de huma das Santas Virgens
onze mil, encaixada em hum meio corpo de feitio lustroso. A santa cabe-
ça trilharão aos pés: o corpo trouxerão por desprezo pendurado da gavia,
dizendo o Capitão por zombaria, que o levava, porque se parecia com hu-
ma sua filha: porém pagou a descortesia; porque veio sobre elle huma
grande tormenta de muitos dias, e foi forçado lançal-a ao mar, ou por en-
trar em consideração da santidade d'aquella Imagem
ou por ter offendida,
pêra que procedia aquelle infortúnio de levar comsigo peça tão detestá-
si

vel a seu parecer; e he o mais certo. Hum fermoso pedaço do sagrado


lenho da Cruz de Christo lançarão em o fogo, com lastima e lagrimas do
Irmão Sanclies, que estava á vista, a quem disserão por escarneo: «Olha,
olha, Papista, como arde!» Em hum sagrado Crucifixo fizerão opprobrios
inauditos: levantárão-no em alto, arremedando o canto dos Clérigos Roma-
nos; e logo dêrão com elle sobre huma mesa, Et super mlríera dolorum ejus
addiderunt, iterum crucifigentes Filium Bei, não cessando aquelles cães rai-

vosos de dar-lhe punhaladas, e fazer-lhe afrontas, até tornal-o em pedaços.


Armarão hum altar, revestirão-se dos ornamentos santos, contrafazendo e
arremedando o sacratíssimo sacrifício da missa, e ceremonias da Igreja Ro-
mana, levantando por hóstia hum grande Agnus Dei, que depois pisarão a
LIVRO IV DA CURO.MCA DA COMPANHIA DE JKSU

couces, e dosfizerão a punlialailas, bebíTulo, c IjriníUindo Imns a oiilros pe-


los sagrados cálices.

54 Tremem as carnes só de ouvir Ião grandes sacrilégios, e não tre-


mião aqiieres corações obstinados. He hum dos milagres da Omnipotência
divina, que á vista de semelhantes desacatos seus, suspenda os raios de

sua justíssima vingança: e lie por ensinar-nos aquelle Senhor das misericór-
dias o soffrimento, que devem do de seu Criador: e pêra
ter as cr-iaturas avista
mostrar-nas quão caro lhe custa castigar almas que redimio: virá porém o
tempo da vingança: «Dies enim ultionís ín corde meo» diz o Senhor. Perdocárão
comtudo os heregos aos ornamentos mais ricos, não por misericórdia, mas por
cubica: da mesma maneira a duas Imagens da Virgem, por curiosidade so-
mente da pintura, ambas tiradas do próprio retrato que pintou S. Lucas,
líuma d'estas foi a com que morreo o bemaventurado Ignacio, ainda chea de
seu sangue : e esta por divino mysterio com as nódoas ainda do sangue,
veio ter ás mãos dos Padres do Brasil, que no Collegio da Bahia a guarda-
rão até o amio de lí)68(*), com a veneração que merece peça tão santa.'
55 Acabada esta sacrílega tragedia, depois de recreados três dias na
Gomeira, huma das ilhas das Canárias, do trabalho de tão grandes façanhas,
partio a esquadra dos ministros da iniquidade pêra sua terra. A náo San-
Tiago, depois de cinco mezes de viagem, e fazer nove presas no mar, che-
gou á Rochela, cidade de abominação de todas as seitas, e heregias: hou-
ve noticias das muitas presas que trazia, e foi bem recebida da Rainha Ma-
dama Joanna de la Brit ; mas reprovada delia, e de todos os povos, a
crueldade de que usara .laques Soria com os da Companhia: que até entre
hereges se estranhão desatinos tamanhos. O Irmão Sanches houve licença,
e se partio d'alli a Bayona : foi hospedado no CoUogio da Companhia de
Jesu de Unhaté, onde contava esta historia, e tremião as carnes dos que
a ouvião. Chegou ultimamente a Lisboa, e ouvida a longa narração da tra-
gedia, não houve quem tivesse as lagrimas, já de mágoa, já de alegria:
renovavão então os amigos a memoria do passado tempo de Yal de rosal,
e Gonferião aquelles princípios santos com estes íins ditosos. Bem se diz,
que o cutello do sangue dos Martyres faz mais fecunda a I^eja de Deos
assi se vio aqui; porque em lugar de quarenhi que p.a(lecerão, se oíTercceo
dobrado numero pêra ir ao Brasil, a ver se alcançavão semelhante sorte
por esses mares, magoados os que na primeira a não pudérão alcançar em
companhia de tão grande pastor.
Esta dala c cvidcaícmcntc erraria: [lorcm não sabemos como rcsliluil-a. [I. F daS.j
M ':fjK :j •,. '^A • <r:'?v : ^.

iffiiiOiLtim m

DO ESTADO DO BRASIL (ANNO DE 1570) 105

5G Foi o Padre ígiiacio de Azevedo natural da illustre cidade do Por-


to: era seu pai Dom Manoel de Azevedo, Comendador de S. Martinho ;

des antiguas o claras famílias dos Malafayas, e Azevedos, que obrarão fa-
çanhas conhecidas em defensão do Reino, no tempo d'El-Rel Dom João o
Primeiro, e conquistas de Africa. Sua criação mostrou bem o que Deos
havia de vir a fazer n'elle: parece que do ventre da mãi trouxe comsigo
a devação da Virgem. Entre os regalos da casa de seus pais, sendo ainda
de pequena idade Dom Ignacio de Azevedo, trazia hum sacco de cilicio
branco continuamente á raiz das carnes, dedicado por voto, que pêra isso
fez á Virgindade da Senhora, devação que ainda continuou depois de en-

trado na Companhia, até que sabida dos Superiores, lhe irritarão o voto,
em cujo lugar começou a rezar o Rosário, e Officio da Immaculada Con-
ceição por toda sua vida, com tão cordial amor á Virgem, como bem mos-
trou o affecto, mais que natural, com que o vimos morrer apertado com
sua santa Imagem, sem que algaem lh'a pudesse tirar. E d'esta se pôde
coUegir as demais devações e espirito de nosso Dora Ignacio, ainda quan-
do moço, e secular.
57 Sendo já de idade mais crescida, como era filho mais velho, fez

n'elle casa e morgado seu pai, e muito moço entrou de posse d'elle. Era
discreto, prudente, amável, e digno de maiores estados: lustroso no fausto
de sua casa, a seus criados nada penoso: no trato de sua pessoa, trajos,

cavallos, arreios, e o mais necessário a hum mancebo tão bem dotado da


natureza e da fortuna, brioso, porém não soberbo: porque toda esta appa-
rencia tinha já então por figura do mundo, que como a de breve tragedia ha-
via de acabar. Não só os de dentro da casa, mas também os de fora, enxer-
gavãoem Dom Ignacio este animo. Havia na micsma cidade do Porto hum
homem nobre, visinho seu, por nome Henrique de Gouvea (nomeado por
vezes nas Chronicas da Companhia de Portugal) em quem infundirão gran-

de espirito as pregações do fervoroso Padre Francisco de Estrada, quando


n'aquella cidade pregava, e desejava elle imitar o espirito de seu Mestre,
convertendo almas, por meio da entrada da Religião da Companhia, então
nova no mundo, e de que elle tinha feito grande conceito. Por visinhança
conhecia mui bem este varão o bom espirito de Dom Ignacio, e sua boa
disposição: foi a tratar com elle a huma quinta, cabeça de seu morgado,
distante cinco legoas, junto a Paço de Sousa, chamada a quinta de Barbo-
sa: e aqui a breves palavras de Deos, o da vaidade do mundo, qual fogo
cm pólvora disposta, se accendêrão em grandes labaredas de maior per-
" T

106 LlVnO IV DA CHaOMCA DA COMPANHIA DE JKSU

feição. Partirão ambos pêra Coimbra, t^máião alli os exercícios do Sanío


Ignacio por trinta dias, e saiiio d'elles Dom Ignacio de todo resoluto : re-
nunciou o morgado em Dom Francisco de Azevedo, ou Attaide, seu ir-
mão, por ser mais vellio que Dom Jeronymo de Azevedo, taraljem irmão
^seu (aquelle tão conhecido nas historias por conquistador daillia de Ceilão,
e seis annos Viso-Rey da índia) e livre dos cuidados e impedimentos do
século, retirou-se ao lugar deserto da Companhia, na flor da idade
de
vinte e hum annos, e na era do Senhor de mil e quinhentos e quarenta c
sete.

58Entrando no noviciado, lançou na virtude tão fecundas raizes, que


foi exemplo de Noviços: era fallado entre todos o fervor de D. Ignacio. E
porque. este Dom que trazia comsigo (permittido então nos princípios da
Companhia) se não chamasse ao foro antíguo, procurou com todas as veras
abnegar-se, e transformar-se em homem plebeo, por actos de verdadeira
humildade, e mortificação. Aprendeo oíTicios mechanícos com tal appUcaçãô.
como se por elles houvera de ganhar sua vida : chegou a ser perfeito ça-
pateiro, alfaiate, colxoeiro, etc, e d'estes se prezou de maneira, que por
toda sua vida trouxe comsigo os instrumentos d'elles; e era elle o melhor
remendão de seus çapatos e vestidos, antepondo o dom ultimo d"este offi-
cio ao primeiro Dom da nobreza, e ajuslando-se com aquelle principio do
espirito, Ama nesciri, et pro nihilo repitlari. A este tom erão os domais exer-
cícios de humildade, e m.ortificação: ii'esta parece hia já desde aquelle tempo
começando a martyrisar seu corpo: cobrio-se
de perpetuo cilicio: suas cos-
tas andavão sempre inchadas, cheias de pisaduras, o vergões dos açoutes :

chegou a tanto grão o odío com que o perseguia, que foi necessário reti"
ral-o do noviciado ao campo do Casal de Sanfins, porque li\esse algumas

tregoas comsigo mesmo.


59 Foi-lhe concedido aqui aquelle dom de lagrimas, porque tanto sus-
pirava Sanío Agostinho persignai evidente do divino amor: erão n'elle tão co-
pfosas, que deixava ordinariamente regada a terra aonde tinha oração: e
era tal o effeito d"ellas, que se abrasava entre essas agoas na charidade de
Deos, e do próximo. Pedía-lhe o espirito dcsterrar-se pêra partes mais re-
motas do mundo, onde dado vale a tudo o que chamamos carne, e sangue,
se empregasse somente com o Criador, e com as criaturas mais bucais da
torra, por respeito d"eilc: esto espirito era o com que depois procurou a
missão da índia, Brasil, ou outras partes semelhantes entre gentios, ou here-
ges. Não determino tratar por menor seus grandes pensamentos, e suas
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DO ESTADO DO BRASIL (aNNO DE 1570) 107

grandes obras: direi só algumas mais necessárias pêra nosso exemplo, e

sem ordem de tempos.


60 He digno da memoria de todos os filhos da Companhia o caso cele-

bre, que lhe aconteceo quando tornava da missão de Barcellos. Trazião só hum
jumento em que se revesavão elle e o companheiro: chegados a Braga, on-
de já era Reitor, e tão conhecido do Arcebispo, e de toda a cidade, como
veremos, foi a questão, qual d'elles havia de ir a cavallo, e qual a pé pela
cidade até nosso CoUegio? Deo que fosse o Irmão no jumento,
â escolha,

e que elle o levaria de cabresto;ou que o Padre fosse a cavallo, e o Irmão


o levasse de rédea. Não soube o companheiro dehberar-se resolveo-se o ;

Padre, que fosse o Irmão o cavalleiro, e elle o lacaio. Entrou D. Ignacio de


Azevedo pelas portas da cidade, passou a praça, e as mais ruas até che-
gar â nossa portaria, qual moço de mulas, levando o jumento em que hia
o Irmão pelo cabresto. Oh exemplo raro! Julgou por melhor este varão en-
trar homem de pé, que de cavallo, por não parecer-se em alguma maneira
com o antiguo D. Ignacio. Em todos seus caminhos ou hia a pé, ou com
de mortificação, que vinhão a entrar em mais custo e d'este
taes traças :

modo visitou a Província, sendo Vice-Provincial: e quando hia a cavallo,


era em jumento, do qual elle mesmo pelo caminho, e quando chegava á
estrebaria, tinha cuidado.
61 Corrião em estreita amizade este santo varão, e o notável D. Frei
Bertholameu dos Martyres Arcebispo de Braga, Primaz das Hespanhas
(que logo se conhecem, e amão os santos:) quiz aquelle venerável Arcebis-
po, que o acompanhasse Ignacio á sua igualmente celebre e trabalhosa vi-
sitadas terras do Barroso. N'este caminho era de ver o como ambos se mor-
tificavão ácontenda estes servos de Deos; o que toca ao Primaz, relata a lenda
de sua vida; o que toca a Ignacio, relatava depois, como testemunha fidedigna,
o mesmo Arcebispo, com honra do Padre, e da Companhia. Comião ambos
em huma meza, e com titulo de primor de polidos, mais gastavão em mor-
tificar o apetite, que em Não havia pão alvo por aquelles
satisfazer a natureza.

lugares, achou-se hum só pêra a meza do Arcebispo, andou este na meza a


titulo de primor de hum pêra outro, tanto tempo, que quando já chegarão

a comel-o, era peor que a própria broa, por dnro, e bolorento: a este teor
levavão as cousas da mesa, e por aqui hião as da cama, e do mais trata-

mento do corpo.
62 Voltando da visila, despedio-se Ignacio do Arcebispo em seu palá-

cio na cidade de Braga pêra o Collcgio do Porto: mas como não pudesse
^ ':i

108 LIVRO IV DA CIinOMCA DA COMPAXIIIA DE JESU

partir-se n'aquelle dia, foi a recolhcr-se ao Hospital de S. Marcos com 93u com-
panheiro o Padre Pedro Lopes, pretendendo fazel-o na manhã seguinte: porém
foi tão grande o ajuntamento de penitentes, que concorreo a elle, que foi ne-
cessário confessar até passado meio dia (que não perdia occasião de ganhar al-
mas, ainda á conta de perder jornada.) N'e3ta mesma hora estava á meza o Arce-
bispo, e fallando pêra os creados que assistião, disse: «Aonde irá agora o
nosso bom companheiro Ignacio?» «Eu o deixei no Hospital de S. Marcos
pouco lia», respondeo hum d"cllcs: ficou edificado sobre maneira o santo
Prelado, mandou chamar os Padres, levou-os nos braços, e resolveo-se aqui
em fundar o CoUegio que temos n'aquella cidade, cortando por inconvenien-
tes grandes, que n'isso entrevinhão: dizendo, que estes diligentes obreiros
mandara Deos á sua Igreja pêra Coadjutores dos Bispos, que tèm sobre si a

carga das almas: e foi o primeiro Reitor daquelle CoUegio o mesmo Pa-
dre Ignacio, que não menos o edificou no material das obras, rpie no es-

piritual dos sujeitos, e a toda a cidade com exemplo.


63 Erão princípios, estava o CoUegio falto de alfaias de casa, e pas-
savão a cada passo hospedes por elle: a cama do Picitor, boa ou má, era
de hum d'eUes, c elle se agasalhava sobre huma taboa. O mesmo era na chari-
dade com os necessitados de casa, ou de fora: repartia com estes as pe-
ças de seu vestido, até ficar-ss elle exposto ao frio. Representou-Uie hum
súbdito, que tinha necessidade de bum gibão; que era tempo de grandes
frios: despedio-o com boas esperanças, despio o seu, e mandou-o ao súb-
dito: mas como ficasse muito mal enroupado, e erão rigorosos os frios, e

por ventura tinha já dado também a camisa, entrou em escrúpulo de po-


der Contrahir alguma doença entre tanto rigor; foi-se á estrebaria, tomou
huma coberta que servia de hum jumento, fez-lhe hum buraco no meio,
raeleo-o na cabeça, e fez d"elle gibão, com mais alivio contra o tempo
mas como fosse descoberto o furto da alfaia do jumento pelo que d'elle ti-

nha cuidado, esendo-lhe imputado, respondeo queaquellejubão se mudara


de humjumento pêra outro: e a este teor erão sem conto suas mortifica-
(>)es.Era incansável no confessionário, e púlpito: nem pêra estas occupa-
ções era impedimento n"clle, o ser Superior. Sendo Reitor do Braga, de Santo
Antão, eVice-Provincial, do mesmo modo se applicava a estes ofiicios, que
SC o não fora. Pedirão-lhe os moradores da villa de Barcellos, sendo Rei-
tor de Braga, hum pregador, c confessor pêra toda a quaresma; não ha-
\ia quem fosse, entregou o ofiicio de Reitor a outro, c foi elle mesmo, jul-

gando por m;tis (nirnsa aqiioUa oi't'npação (jnc esta. N"aquella (juarcsma
DO ESTADO DO BRASIL (aNNO DK 1570) 1U9

pregou todos os domingos, quartas, e sextas feiras, na villa de Barcellos, e


depois de pregar descia do púlpito ao confessionário, e n'elle aturava até
a huma hora depois do melo dia: os demais dias da semana discorria pe-
los lugares visinhos a pé, com seu bordão na mão, a pregar, fazer doutri-
nas, e confessar aquella gente.
64 Tinha notável e conhecido dom de Deos pêra sahir com tudo o que
emprehendia de serviço seu: e em chegando a leval-o ao santo sacrifício da
missa, ou oração mental, onde todo se enlevava na presença de seu Senhor,
nenhuma cousa despintava de seus desejos, por mais que parecesse difficil;

e forão algumas tidas por milagrosas. Nem falíavão outros favores exte-
riores, que Deos fazia por seu servo. Indo pêra BarceUos, achou o rio que
hia de monte a monte; e em quanto cuidavão como havião de passal-o, de-
poz o companheiro, que se acharão da outra parte, sem saber como; por-
que affirmava, que nem vira barca, nem entrara em rio, nem se molhara.
Passavão outra vez o mesmo rio em hum barquinho em tempo de enchen-
tes, e com a mesma força de agoas : ex que chegando á veia d'elle mais
furiosa, vinha descendo com a mesma fúria huma grande arvore inteira,
que a tempestade trouxera- das mattas ao rio: deo-se o barqueiro por per-
dido, começou a lastimar seu infortúnio: o servo de Deos o animou que
n
não temesse; e chegando-se ao bordo da barquinha, pegou de hum ramo
da arvore, e desviou d"ella toda aquella machina, como se fora huma palha.
Semelhante caso foi este ao da outra grande arvore, que S. Martinlio des-
viou do caminho na cidade de Turon, e de que faz tanta estima S. Gregó-
rio: aquella era só de estorvo ao uso da gente, e esta nossa de perigo da
barca, e passageiros. Foi trazido ao CoUegio de Évora hum endemoninha-
do, sobre o qual os Padres fizerão todos os exorcismos que costuma a Igreja,
sem effeito algum: estava ígnacio no coro posto em oração, veio-se d'elle,
chegou ao homem endemoninhado, lançou-lhe as contas que trazia na mão
ao pescoço, e logo huma benção; e foi o mesmo que desamparar logo o
corpo o espirito infernal. Do mesmo servo de Deos se refere, que tendo
o CoUegio de Braga falta de pão, e sendo avisado do Refeitoreiro, mandou
comtudo que tangesse em Deos: no ponto que
á meza, e tivesse confiança
tangerão, chegou á portaria huma mulher com huma alcofa de pães, e
entregues elles, não foi mais vista, nem conhecida; e foi tido o caso como

sobrenatural. Celebra-o Sacchinonoliv. vi, da part.nidas Chronicas, n.° 261.


Como estes crão os demais iiensamcntos, e obras d'cste grande varão, das

(juacs como emoulras parlcsde Portugal, Brasil, Itália, c viagem ultima, temos
110 LI\"RO IV DA CHRONICA DA COMPANHIA DE JESU

feito menção, julgamos ser bastante o ditto: especialmente, porque sua mor-
te insigne canonizou os feitos e obras de toda sua vida, segundo aíiuella

sentença italiana: «Ch un bel morir tutta la vita honora.»

G5 Não deixarei de apontar aqui o fim que tiverão alguns dos tyrannos
que tirarão a vida a este varão santo, e a seus santos companheiros. Ja-

ques Soria principal tyranno, morreo raivando, qual perro furioso, com
temor e espanto dos que o vião. Assi o escreve Pedro Jaricli, e o confir-
ma hum Francez Calvinista Rochelense, na Recopilação que fez dasr cousas-
dos Portugueses no capitulo 20. Dom Rodrigo da Cunha, Arcebispo dignissi-
mo que foi de Braga, e depois de Lisboa, na segunda parte que fez dos
Arcebispos Bracharenses, capitulo nono, diz, que quatro soldados (devião
ser os das quatro lançadas de Ignacio) ficarão subitamente cegos; e que as-
si o testemunhou de vista hum Simão Cabreira, que
se achou presente-

Por outra via foi milagrosa a conversão de hum d'estes monstros; porque en-
trando em huma Igreja de Catholicos a fazer zombaria das ceremonias san-

tas, foi de repente ferido da mão de Deos com tremor horrendo de corpo,
qual de outro Caim: mas começando a padecel-o, reconheceo o castro da
Ceo, pedio favor á Virgem, cuja era a Igreja, foi ouvido, e sarou no cor-
po, e na alma; porque confessou seu peccado publicamente,
abjurou sua

heregia, e pedio perdão com contrição, e lagrimas. Conta o caso Pedro Ja-
rich: e o trazem também as Cartas annuas da Companhia do anuo de 1594,

em que aconteceo.
66 Do bemdito Padre Ignacio de Azevedo escreverão, o Padre Ribade-
neira no livro 3 da Vida do Santo Padre Francisco de Borja, cap. 10.
O
Padre Orlandino, e o Padre Sacchino na primeira, e segunda parte das
Chronicas da Companhia: e mais largamente o mesmo Sacchino, na terceira
parte, liv. 6, do num. 208 por diante. O Padre Luis Gusmão em
sua His-

toria das missões, liv. 2, cap. 4o. Pedro Jarich no segundo tomo
de seu

Thesouro Indico, liv. 1 cap. 25. O Padre Frei Luis de Sousa na Vida do
Arcebispo Frei Bertholameu dos Martyres, liv. 1, cap. 19. Jacobo Damião
liv. 3, cap. 9. O Padre André Escoto na Vida do Beato Padre
Francisco de Borja

em latim, liv. 3, cap, 10. Bencio em seu poema dos três ^ilarlyivs, liv. 6.

Eusébio Nieremberg dos Varões illustres da Companhia, tom. 2, foi. 245.

Bertholameu Guerreiro, sua Gloriosa Coroa, parte terceira do cap. 3. Bal-


em
thesar Telles na primeira parte das Chronicas de Portugal, liv. 2, cap. 18. e
na segunda parle das mesmas, liv. 4, cap. 0. E o Padi^e Mauricio de
nos-

Companhia, que por relação do Irmão Sanclies, (jue escapou, e outras


sa
LIVRO IV DA CimONICA DA COMPANHIA DE JESU 111

pessoas fidedignas, escreveo miudamente esta historia em Imm livro ma-


nuscripto, fundamento principal, donde se tirou o que trazem os demais
authores.
67 Celebra Geraldo Montano em sua Centúria o santo varão Ignacio de
Azevedo com os versos seguintes:

Qui noviis ille pngil, cujiis de peclore ftisus


Nerciis in medijs oisluat ignis aquis?
Non undce, flucliisque viram, íeretesque sarissw
Obruere, ingesto nec valei amne Thelis.

Effigiem Divce manibus lenet ille potentis,


Vellere, nec ferrum hanc, nec Libitina polest.
Alma fules, pietasque. sacros de vértice crines
Solvit, et csquoreas fletibus augst aquas.

Sed cJiaris anle omnes, sed nec charis ipsa, nec cmnes
Flexenmt ânimos pérfida turba tuas.

EPILOGO DOS MAIS COMPANHEIROS QUE MORRERÃO PELA FÈ DE CHRISTO

08 O Irmão Bento de Castro, Portuguez, natural de Cliacim do Bispa-


do de Miranda, de 27 annos de idade, nove da Companhia, estudante, com
Ires arcabuzadas, e sete punhaladas, meio vivo lançado ao mar: foi o pri-
meiro de todo este santo esquadrão que deo a vida pela Fé Romana, hiii-

do meter-se qual soldado valeroso entre os inimigos que entravão a náo,


só com a cruz na mão, insígnia das armas de Christo. Desde Noviço pe-
dia a occasião de martyrio. Fazia na náo officio de Mestre de noviços, em
virtude e charidade insigne.
69 O Irmão Diogo Pires de Nicea, Portuguez, natural da Villa de Nisa,
Priorado do Crato, estudante philosopho, atravessado de huma lançada, foi
lançado ao mar. Este bemaventurado mancebo teve a occasião de seu di-
toso fim, seguinte. Faltando hum dia em sua classe, mandou-o o Mestre cas-
tigar, recebeo o castigo com sujeição, mas depois d'elle deo a escusa que
tivera pêra faltar a sua obrigação; dizendo, que fora ao Mosteiro de Val-
verde, legoa e meia da cidade de Évora, pedir áquelles Religiosos o ad-
mitissem por Irmão. Sentio-se o Mestre de não ter dado tão santa escusa,
louvou-lhc o intento, e contou-lhe acaso a escolha que outros estudantes
-^ 1

112 LIVRO IV DA CIIROMCA DA COMPANHIA DE J£SU

fizerão de acompanhar o Padre Ignacio de Azevedo pêra Lisboa, e dalii


feitos Religiosos pêra o Brasil. Foi este o meio da predestinação do nosso
estudante; bastou tocar-se, e logo assentou em seu coração caminhar em
busca de Ignacio, e ser hum de seus companheiros, e de effeito foi rece-
bido d'elle, e hum dos mais fervorosos que chegarão a alcançar a ditosa
palma.
70 O Irmão João deMayorga, Pintor, Castelhano, natural do Reino de
Aragão, de trinta e cinco annos de idade, três da Companliia, vivo ao mar.
71 O Irmão Gonçalo Henriques, Portuguez, natural da cidade do Por-
to, Diácono, ao mar.

72 O Irmão Manoel Rodrigues, natural da villa de Alcochete, estudan-


te, ao mar.
73 O Innão Manoel Pacheco, Portuguez, natural da cidade de Ceita,
ao mar.
74 O limão Estevão Zurara, natural de Biscaya, Coadjutor, ao mar.
Era este Irmão Roupeiro no Collegio de Placencia, de grande virtude, e
amado de todos seguio de boa vontade ao Padre Ignacio, por que estan-
:

do em
exercidos espirituaes, lhe mostrou o Ceo, que n'esta missão havia de
dar a vida pela Fé Catholica. Assi o declarou depois seu Confessor, a quem
ells descobrio a revelação, que era n'aquelle tempo o Padre Joseph da Cos-
ta. Refere este successo o Padre Sacchino, na iii parte das Chronicas da
Companhia, liv. 6, n.° 233; e Eusébio Nierembsrg no tomo ii dos Varões
illustres da Companhia, foi. 234, columna 2.^ no principio. Estes quatro Ir-
mãos acima immediatos forão lançados dos hereges ao mar no tempo da
briga, não se sabe se mortos, ou vivos, ou feridos: nem cites souberão
da morte de seu pai Ignacio, impedidos do estrondo das armas.
75 O Irmão Manoel Alvares, Portuguez, natural da cidade de Évora,
Coadjutor, retalhado o rosto a cutiladas, e feitas em pedaços as canelas das
pernas, e ossos dos braços com canos de arcabuzes, ainda vivo
foi lançado
II

ao mar. Era este Irmão pastor, guardava seu gado na simplicidade do cam-
po quando entrou na Religião: havia quinze annos que vivia n'ella com bom
exemplo: não sabia as especulaçijes do
espirito, porem sabia a praxe d'el-
le, e com que mereceo rcvelar-lhc Deos a ditosa morte que
tanto acerto,
havia de padecer por seu amor. Sahia hum dia de seu cubículo, a tempo
(fue os Religiosos acabavão a hora da oração mental que usa a Companhia,
como arrebentando do peito, ora pondo os olhos no Ceo, ora cruzando os
braços, e outros semelhantes fervores. Noiou a^-aso hum Piidrc !/ravissi-
KTVC^ .^ i-:.-m:tsa^íii''\i»*^r

DO ESTADO DO DKASIL (ANNO DE 1570) 113

mo por nome Pedro Luis, que então era Irmiío, suas acções; eperguntan-
dO'lhe a causa, respondeo cheio de alegria: «Irmão Pedro Luis, não se es-
pante; porque n'esta hora de oração que tivemos, me mostrou o Senhoi',
que hei de ir pêra o Brasil, e que no caminho hei de morrer martyr, e
que me hão de quebrar os braços,- e as pernas por seu amor. » Antiguo he
comraunicar-se Deos aos pastores: e este favor excedeo o de muitos, de
hum Moysés, de hum Jacob, e de hum David. Esta revelação corria como
cousa certíssima no CoUegio de Évora, e se combinou com o com
effeito,

espanto dos que a sabião. Podemos comparar este santo Irmão ahumSan-
Tiago Interciso, pelo modo com que foi retalhado, e despedaçado em ros-
to, braços, e pernas.
76 O Irmão Simão da Costa, Portuguez, natural da cidade do Porto,
Coadjutor, noviço, de vinte annos de idade, degolado e lançado ao mar.
77 O Irmão Manoel Fernandes, Portuguez, natural da villa de Celori-
co, Bispado da Guarda, estudante, vivo ao mar.
78 O Irmão Braz Ribeiro, Portuguez^ natural de Braga, Coadjutor, de
vinte e quatro annos de idade, e sete meses não mais da Conpipanhia, que-
brada a cabeça com a maçã da espada, até lhe saltarem os cérebros, logo es-
pirou.
79 O Padre Diogo de Andrade, Portuguez, Ministro Sacerdote de or-
dens sacras, natural da villa de Pedrógão, foi o primeiro que depois da
sentença de Soria, passado a punhaladas^ meio vivo foi lançado ao mar.
80 O Irmão António Soares, Portuguez, natural da villa de Pedrógão,
Soto Ministro, passado a punhaladas, meio vivo lançado ao mar.
81 O Irmão João Fernandes, Portuguez, natural da cidade de Lisboa,
estudante, com dous annos da Companhia, passado a punhaladas, meio
vivo lançado ao mar.
82 O Irmão Pedro de Fontoura, Portuguez, natural da cidade de Bra-
ga, Coadjutor, cortado o queixo, e a língua, lançado vivo ao mar.
83 O Irmão Luis Corrêa, Portuguez, natural da cidade de Évora, es-
tudante, passado a punhaladas, meio vivo lançado ao mar.
84 O Irmão Luis Rodrigues, Portuguez, natural da cidade de Évora,
estudante, passado a punhaladas, meio vivo lançado ao mar.
85 O Irmão André Gonçalves, Portuguez, natural de Vianna, do Ai-ce-
bispado de Évora, estudante, passado a punhaladas, meio vivo lançado ao mar.
86 O Irmão Affonso Bayena, Coadjutor, mal ferido, e lançado ao mar.
87 O Irmão Francisco Peres de Godoi, Caslelhano, natui^al de Torri-
voL. n 8
Jli LlVllO IV DA CIIROMCA DA COMPANHIA DK Jl^SL'

jos, Bispado de Salamanca, com muitas Icridas iançad j vivo ao mar. D"esle
santo Irmão
escreve o Padre Luis da Ponte, na Vida do Padre Balthesar
Alvares, cujo noviço foi, que estudando em Salamanca, se recolheo a nosso
Collcgio a fazer os exercícios espirituaes de Santo Ignacio, e foi tocado de
Deos pêra deixar o mundo, e recolher-se na Companhia. Era homem ga-
lhardo, e valente, prezava-se muito de seus bigodes, que trazia crescidos,
c autorizados: por estes pi'etendeo o inimigo de nosso bem prendel-o, qual
outro Absalam dos cabellos, com tanta força, que foi o mór impedimento
que se lhe oppunha, e vencendo facilmente o»^ outros, este perseverava ;

porque n"aquelles seus c"abellos cuidava que consistia o sinal da generosi-


dade do homem. Com este pensamento lutava, quando com a mesma ge-
nerosidade, tornando sobre si,obrou huma acção digna de seu valor: to-
mou a tezoura, e alli mesmo por sua mão se cortou os bigodes, degolando
juntamente com este golpe o HoiOfernes que o combatia e d"e3ta maneira :

inhabilitado pêra tornar a sua casa, pedio o recebessem logo: c com ef-
feito, considerado acto tão fervoroso, foi recebido pelos Superiores, e man-
dado a Medina ao noviciado. Aqui procedeo segundo prometia o fervor do
espirito que o chamava, fazendo as cousas de obediência com grande per-
feição. Andando na cozinha esfi'egava as panelas, tachos, e até as próprias
sertãs de ferro, com tanta exacção, que as deixava não só limpas, mas re-
luzentes : c dizendo-Ihe o Irmão Cozinheiro, pêra que era cansar-se tanto
í^f em peças que logo tornavão ao fogo, e a denegrir-se ? Respondeo o pei-

feito noviço: «Eu offereço cada noite á Virgem Seniiora iiossa todas as
obras que faço entre dia, e tenho vergonha de offerece!--lhe huma peça ma!
esfregada, c pouco hmpa.» Oh que bom exemplo pêra nossas obras! Ei'a
homem de todo descarnado, e mortificado em vez de guardanapo branco,
:

(! mimoso, de que no século costumava quando comia no chão no Re-


usar,
feitório, ou em pé, ou de joelhos, como he costume entre noviços, por
acto d(; humildade, e mortificação; levava elle huma rodilha, ou espanador
da cozinhr. mais sujo, e com este alimpava, não só as mãos, mas a boca,
e rosto, folgando de parecer desprezível aos olhos dos homens, por pare-
cer fernioso nos de Deos. Na oração mental, basta dizer que era aijuelle
de quem contámos, que em Vai de rosal perseverou de huma vez sclte
hoi'as continuas de joelhos ante o Sanlissimo Sacramento, só ao sinal (h;

huma palavra do Cozinheiro, ([uc interpretou em sen favor.


88 Andava ])eregrinan(l(i, c «loulriiiamlo cm rotnpanhia ilo li-mão João
de Sá. qi;e depois jni hiiiii ;'r;ir;(lr obreiro do E\angeil)o :
\in-llie o com-
mmmm ^^|CA^».•

DO ESTADO DO BiiASiL (ANNO DE Íii70) Ha


panheiru iiuiu queixo inchado, e cheio de sangue, porque huma grande
bespa lho esíava picando tempo havia ; e a não acudir o Irmão, a deixara
continuar porque já de então hia cosíuraando-se tão bom soldado a der-
;

ramar seu sangue por Chrisío. Era seu Mestre no noviciado aquelle grande
varão de espirito, bem conhecido em toda a Companhia, o fora d'ella, o
santo Padre Baldiesar Alvares: esie nas praticas que fazia a seus noviços,
procurava inlimar-ihes senCenças espirituaes com tal força, que ficavão im-
pressas na aima por toda a vida: eníre ellas «Irmãos meus, foi hum.a esta :

. não degeneremos dos altos pensamentos de filhos de Deos.» Esta sentença


se imprimio tão intimamente no coração do nosso noviço, que lhe veio a
servir na occasião de niór aperto que podia ter n-esta vida; porque -no meio
(l'aquella cruel carniçaria dos hereges, a vozes altas brotava o fervor de
Godoi, animando a seus Irmãos com ellas, como vimos : «Ermanos mios,
no degeneremos do los altos pensamientos.»
89 A occasião com que foi escolhido pêra esta empresa, he também
digna de ser contada e^iíre as mais traças divinas. Estava hum dia este
servo de Deos ao lado de seu santo Mestre Balthesar Alvares, chamou por
elle pêra lhe mostrar certa cousa, e notou que pêra haver de vel-a, foi ns-
cessario virar o Irmão o corpo todo a huma parte; donde cotheo o pru-
dente Mestre que padecia falta de vista de hum dos olhos, e vinha a ser
o esquerdo, chamado da sacra : não negou, dizendo
certificou-se d'elle, e
que havia encoberto aquelle no exame primeiro que se lhe fizera,
deleito
por temer que seria de impedimento pêra ser recebido. Ficou cora tanto
sentimento o Mestre, quão grande era a'affeição que tinha ao noviço; por-
que sabia que os Superiores o despediiúão por aquelle defeito substancial
pêra o Sacerdócio : declarou-lhe este seu sentimento; e considerando seus
grandes desejos de perseverar na Companhia, deo em huma traça; e foi,
que pediria ao Padre ígnacio de Azevedo quizessc leval-o pêra o Brasil,
onde mais se sofria defeito semelhante, e se recompensava com o espirito
que sentia de ajudar aqueíla gentilidade, e outras partes de boa sciencia
de Direito Canónico, e canto de órgão, em que era versado. Tratou com
effeito com o Padre ígnacio, informou-o de tudo, e acabou com- elle fosse
adraittido; serviíido-lhe ac|nel!a falta natural de occasião de tão grande glo-
-
ria, e palma. Tudo isto diz em sustancia o Padre Luis da Ponte no cap. 20
da Vida do Padi^e Balthesar Alvares; e o traz também com pouca dilTcrença
o Padre Sacchino na m parte das Chronicas da Companhia, liv. G, desde
o n." 2íi. Eusébio Nieremborg, toni. 2 dos Varões illustres, foi. 258. Gé-
116 LlVltO IV DA ClinOMCA DA COMPANHIA DIC JKSU

rardo .Monlano dedica a este venturoso Irmão, o epigramnia que se se- '

gue.
Luscus erat, coetuque Peres ne cedat Jcsu

Vertil aã occiduos lumina Solis Equos.


Ecce procul medijs surgenlem conspicil undis.
Laureolam in crines fronde virente suos.

Oceamimqiie secai propéraía ptippe, rapilque ;

Tam bene quis liiscUm posse viderc pulai ?

90 O Irmão António Corrêa, Portuguez, natural da cidade do Poilo,


de idade de quatorze annos, noviço, estudante, foi lançado vivo ao mar.
Tinha este Irmão hum natural de Anjo; era mui dado á oração estando :

*n'ella diante do Santíssimo Sacramento, lhe revelou o Senhor que havia de


ser martyr ;
pelo qual favor viveo consoladissimo o tempo que lhe restou
de vida. Nos exercícios santos de Vai de rosal, foi dos mais fervorosos.
Entre o rigor dos hereges, queixava-se aos Irmãos de que tardasse sua
hora: chegou porém o cumprimento de seus grandes desejos, com extraor-
dinária consolação de seu espirito.
91 O Irmão Gregório Escribano, Ilespanhol, natural de Logronho,
Coadjutor, ao mar vivo. Este Irmão em todo o tempo que os hereges mal-
Iratavão os nossos, esteve doente em cama, sem que entendessem com
elle : porém vendo que, dada a sentença de Jaques Soria, lançavão os com-
panheiros ao mar, se levantou da cama, e se veio meter entre ellcs, que-
rendo morrer animosamente pela 'mesma causa da Fé Romana.
92 O Irmão Álvaro Mendes, Portuguez, natural da cidade de Elvas,
estudante, ao mar vivo. Também este Irmão esteve doente em cama no
tempo em que os hereges executavão suas maldades, e também veio apre-
sentar-se aos tyrannos ao ponto da morte.
93 O Irmão Nicoláo Dinis, Portuguez, natural da cidade de Bragança,
de dezesete annos, estudante, vivo ao mar. Sendo ainda esludanle de fora,
dizia muitas vezes a seu Mestre, que o coração lhe adivinhava que havia

de ser martyr. D'esta maneira se explicava porém depois de i-ecebido,


:

leve outra certeza mais porque estando esperando no Coliegio de Bra-


alta:

gança recado do Padre Ignacio de Azevedo pêra a viagem que linlião con-
certado, entrou na casa onde fazia seu onicio o Irmão DespiMiseiro, e o
;icli(»u i-ebentando de prazer, e como alienado de si dt> puta alegria: ejier-

.
uunlado pela causa, disse: cquc porimo naifuella Imra \W linha re\eladi»
DO ESTADO DO BRASIL (ANNO DE 1370) 117

o Senhor, que d'ahi a pouco tempo havia de ser martyr.» Pêra este fim
tão ditoso se foi depois aperfeiçoando em Vai de rosal : e claro está, que
debaixo da promessa de premio tão grande, nenhuma cousa lhe seria dif-

ficultosa. Deixou Vai de rosal, commeteo a viagem, vio o cumprimento


de seus desejos, e promessa; e virão também os de Bragança a certeza
do que elle lhes disse. Chegarão estas novas áquella cidade, a tempo em
que n'ella assistia o Bispo de Miranda D. António Pinheiro, o qual pregando
ao povo, depois de dar graças* ao Senhor, que quizera servir-se das vidas
de tantos servos seus; discorrendo em especial sobre o Irmão Nicoláo Di-
nis, diz assi : «O nosso Nicoláo que aqui vistes andar pelas ruas de Bra-
gança, he martyr glorioso de Christo, com grande coroa de gloria pêra
sempre; e eu Bispo não sei se me hei de salvar.» Está testemunhado todo
este successo com juramento nos processos authenticos, que se fizerão por
virtude das Remissorias de Sua Santidade, a fim de canonização do Padre
Ignacio, e seus companheiros.
94 O Irmão Domingos Fernandes, Portuguez, natural de Villaviçosa,
Coadjutor, com muitas punhaladas ao mar vivo.
93 O Irmão António Fernandes, Portuguez, natural de Montemor o
novo, carpinteiro, com punhaladas ao mar vivo.
96 O Irmão Francisco Alvares, Portuguez, natural de Covilhãa, Coadju-
tor, com punhaladas ao mar vivo.

97 O Irmão João Çafra, Castelhano, natural de Toledo, Coadjutor, ao


mar.
98 O Irmão Marcos Caldeira, Portuguez, ao mar.
99 O Irmão Francisco de Magalhães, Portuguez, natural da villa de Al-
caçar do sal, estudante, ao mar vivo. Era de nobre geração; provou lou-
vavelmente nos exercidos de Vai de rosal, com satisfação de seu Mestre
Ignacio : da mesma maneira na náo San-Tiago; e foi o que sentio sua morte
sobre todos os outros Irmãos, abraçando-se com seu corpo morto, e cn-
sanguentado-se com elle, até morrer a exemplo seu.
100 O Irmão Simão Lopes, Portuguez, natural da villa de Ourem, es-
tudante, ao mar vivo.
101 O Irmão Aleixo Delgado, Portuguez, natural da cidade de Elvas,
de idade de quatorze annos, estudante, pisado a pancadas, até lançar san-
gue por narizes e boca, ao mar vivo.
102 O Irmão Pedro Nunes, Portuguez, natural da villa de Fronteira,
bispado de Elvas, estudante, mal ferido, ao mar vivo.
118 LIVRO IV DA CHP.O.MCA DA COMPANHIA DE JF.SU

li.: 103 O Irmão Fernão Sanches, Castelhano, esludaníe, mal ferido, ao


mar vivo.
104 O Irmão João de S. Martim, Castelhano, natural de Juncos de To-
ledo, estudante, ferido, ao mar vivo.
mal
10o O Irmão Gaspar Alvares, Poríugucz, natural da cidade do Porto,
Coadjutor, ao mar vivo.
106 O Irmão Amaro Vaz, Portuguez, natural da cidade do Porto, Coad-
jutor, ao mar vivo.
107 O Irmão João Adauto, sobrinho do Capitão da não, aceitando a
morte como Irmão da Companliia, ao mar vivo.
108 He de notar n'e.sía historia, as muitas vezes que Deos nosso Se-
nhor revelou a diversos servos seus o successo que havião de ter que :

parece andava ensaiando por varias partes do mundo as figuras que havião
de representar n'esta tragedia sua, e o que n'el!a havião de dizer. Digno
he de advertência; porém não de espanto aos que sabem., que são estes
mui usados meios de Deos em obras suas grandes porque como seria pos- :

sível ajuntar em hum theatro glorioso ao mundo, anjos, e homens, qua-


renta figuras tão conformes em obrar, e dizer, era hum acto de represen-
tação tão sentida, e tão repugnante á luimana natureza, sem discrepância
alguma em acção, gesto, palavra, ou meneio; se não estiverão fallados no
espirito, que costuma illustrar e unir os corações dos homens? Este espi-
rito foi o que ensaiou tanto d"antes por palavras expressas hum Padre
Ignacio, hum Irmão Estevão Zurara, liura irmão Síanocl Alvares, hum Ir-
mão António Corrêa, hum Irmão Nicoláo Dinis, e os demais companheiros,
senão expressa, tacitamente por sentimentos de coração interiores, onde
não pôde haver erro. Aquella efficacia, e uniformidade com que obravão,
o fallavão em morrer por Deos, em derramar sangue pela fé, cm Vai do
rosal, na viagem, na ilha da Madeira, em Terça corte, e com mais força
quando mais juntos á occasião, como se com os olhos virão o cutelo, e o
tyranno já diante de si, d"onde lhe veio a estes soldados? Que espirito
podia infundir-lha, senão aquelje que ensina as mãos dos seus á guerra, o
dá o esforço que necessitão pêra a victoria? Tudo a fira de nos mostrar
que he particular obra sua, dirigida a fins grandes, que os homens sabem
ouvir, e ver, mas não entender.
109 Pela 'mesma razão, não ha que espantar traçasse o Senhor tantos
outros prodígios nesta mesma historia: que morra raivando o tyranno Ja-

qucs Soria : que ceguem (juarenta dos mais cruéis algozes : que se conver-

?>-ft:j<.-'A;,g:T^Tj>r;i'-><" ^.-y •sJ5<.-'.;»».v^>-

DO ESTADO DO BRASIL (aNaO DE 1370) 119

tão alguns d."elles : c que mostre no mesmo tempo a seus escolhidos em


alegre vista o illustre triumplio, com que entrou no Ceo aquelle feliz es-
quadrão : são traças da divina Providencia, mui ordinárias em cousas suas
grandes ! De que outra maneira se havia de mover hum Pontífice a for-

mar processos jurídicos, a fim de declarar aquella batalha, c sua victoria,


como empresa do Espirito santo, e seus soldados como vencedores do Rei
da Gloria, senão levado de tão forçosos, e efficazes argumentos? No caso
presente não só estão formados estes processos, jurados, eauthenticos por
ordem dos Summos Pontífices, mas já em vésperas (como de sua clemên-
cia paternal esperamos) de declararem ao mundo o premio m.erecido dos
que tão bem correrão, e pelejarão.
HO São tão efficazes os argumentos d'estes processos, que já antes
d'esta declaração, que só pertence ao Summo Pontífice na terra, tem o
mundo dado a estes esforçados varões o titulo de martyres; não porque
queirão com elle canonizal-os, mas porque entendem que he tão justa a
causa, que se atrevem as gentes a pronoslicar a sentença.
111 Assi os iníitulão a cada passo os autores nos livros que imprimem,
o Padre Luis de Gusmão, o Padre Frei Luis de Sousa na Vida do Arcebispo
Frei Bertholameu dos Ãlartyres, o Padre Orlandino, ííistoria da Companhia
de Jesu, o Padre Gordon in Ghronol., o Arcebispo D. Rodrigo da Gunha,
o Padre Luis da Ponte, António Biosio de Signis Ecclesi»,. o Padre Pedro
de Ribadeneira, o Padre Frei Pedro Calvo, o Padre António de Va^concfil-
los, o Padre Maffeo na sua Historia da índia, oPadreRichardo Versagano,

e outros muitos a cada passo. E tu, oh Companhia de Jesu do Brasil, com


razão podes prczar-te de tão insignes filhos^ coui cujos nobres procedi-
mentos te iionraste, e com cujo sangue cresceste. Se á vista de seu san-

gue, dizem os autores naturaes, toma novos brios o generoso elephante:.á


vista de tanto sangue seu, de filhos seus, e quasi veas suas, como não
acommeterá generosa a Companhia do Brasil em occasiões de padecer? Fi-
ze]ã>no já, a exemplo d'estes quarenta, os Correas, os Sousas, os Pintos,
os Bellavías ; pondo os olhos n"este sangue, os demais irmãos
e fal-o-hão,
seus, que esperão no Ceo não faltará n"elles o mesmo esforço, se não fal-

tar a mesma occasião.


112 '

Tornando agora ás nãos do Governador D. Luis de Vasconcelios,


de cuja frota náo San-Tiago, diremos o successo que
nos apartámos com a

tiverão, tocante ao presente anno de 1570emque es íamos, deixando o mais


pêra o seguinte; que na verdade não cabe em tão breve discurso de hum
J20 I.IVRO IV DA CIÍRO.MCA DA COMPAXínA DF. JESl'

SÓ armo, historia de tragedias tão grandes. Sabidas iKJvas da illia da .Ma-


deira do successo da morte gloriosa dos quarenta soldados
de Christo; os
Padres Pedro Dias, Francisco de Castro, e mais companheiros que
alli íi-
cárão, entrando em inveja santa de semelhante sorie, em lugar de chorar
o pai, e irmãos, chorav5o-se a si mesmos; chamavão-se pouco venturosos,
porque ficarão ; e não sabião já o dia em que partissem, pêra ir buscar
por esses mares em segunda instancia a boa dita que na primeira lhes fal-
tara. Mas oh incomprehensiveis juizes do Senhor Quem não cuidara, que
I

por apartar-se das mais a náo San-Tiago, dera em mãos de inimigos, e que
por esperarem as companheiras licárão salvas ? Porém não foi assi, se não
que por aquella se apartar alcançou mais brevemente a coroa, que com
mais dilatados rodeos, estas que esperarão, hão de vir a alcançar depois
açoutadas dos mares por quatorze mezes inteiros de infortúnios, tormen-
III'

tas, 6 doenças.
113 Chegado o tempo, em que, a parecer dos homens do mar, serião
favoráveis os ventos, dando-lhe as velas, sahio ao mar a dilatada frota: fez
sua derrota pelo golfão Atlântico, endereçada á ilha que chamão do Cabo-
verde. N'esta terra, por causa dos ares inclementes aos que de novo aper-
tão, hião contraindo doenças todos os navios, de m.aneira,
que houverão
por melhor fugir d'ella, quaes terras, e praias avaras. Porém não ha fugir
à destinos do Ceo : queria este que padecesse aquella frota, e que só no
porto da Gloria tivesse descanso grande parte dos que n"ella navegavão
porque no ponto que começarão a tomar a volta de Guiné, lugar de calma-
rias, e chuveiros de agoas pouco sãs, o mal, que vinha apoderado de mui-
tos, tomou maiores forças, e ficarão em breve tantos navios, como hospi-
taes de enfermos sobre aquelles mares. Hião os nossos Religiosos divididos
em duas nãos : o Padre Pedro Dias com parte dos Irmãos em huma d'el-
las, e o Padre Francisco do Castro com outra parle na capitania, com a
mesma ordem em tudo, que trazião os da náo San-Tiago. Tiverão aqui bem
em que empregar seus desejos; porque elles erão os enfermeiros, elles os
médicos, e surgiões de todos, acudindo com igual charidade a corpos, e
almas; porque a huns chegava a contagião ás portas da morto, a outros des-
pojava da vida c huns c outi-os necessitavão de amparo, c vigilância de
;

todo o dia, e toda a noile.


114 Passado o rigor da costa de Guiné, não passou o dos ventos, que
paredão conjurar-se contra os pobres navegantes, padecerão desleilastein-
iicsladcs, c apesar do ajoas, o Miituf. depois de loi;!i>o largo, chegarão a
a!*»;"^' r^^- ..i-v^-vVv;.
ÉHÍIi

DO ESTABO DO BRASIL (aNNO DE 1570) 121

avistar terra do Brasil : mas foi pêra dobrada magoa; porque quando to-
mava algum alento a perseguida frota, e queria ir pondo em esquecimento
os trabalhos passados, á vista do descanso imaginado : ex que de novo se
vê combatida de teniveis brizas, e corrente de mares, com que por mais
que preparou em huma e outra volta, não foi possível não só passar o
Cabo de Santo Agostinho, ou tomar terra sua, mas nem ainda aguardar
junto a ella; senão que foi força seguir a dos ventos, e agoas, correndo a
costa até parar na Nova Hespanha o Padre Francisco de Castro, que na
:

Madeira se embarcara com os seus na náo capitania do Governador D. Luis,


foi aportar á ilha de S. Domingos : o Padre Pedro Dias, que hia em outra
náo, á ilha de Cuba, destroçados, doentes, e quasi sem alento. Nos quaes
lugares, porque hão de invernar, e concertar as náos, e se acaba junta-
mente o anno com a viagem, os deixaremos até principio do seguinte, por
tornar á Província, que magoada está chorando a perda de tantos, e tão

grandes obreiros; se bem contente por outra via, com a sorte ditosa de tão

honrados filhos.

115 Sobre golpes tão grandes, outro cruel e deshumano está a ponto
de descarregar com rigor. Aquelle lustre da Companhia do Brasil, alivio

de cansados, e amparo de aíTligidos, o venerável Padre Manoel de Nóbre-


ga, consumido de enfermidades e trabalhos no seu CoUegio do Rio de Ja-
neiro, sentia ir-se arruinando a estatua terrenade sua frágil carne: despe-
dia-se de seus filhos ausentes por cartas, e dizia n'ellas, que desejava des-
atar-se de tão penoso cárcere, e que esperava ver-se com Deos dentro em
breves dias : que não se esquecessem diante da divina Magestade d'aquelle,
que com titulo de pai n'esta Provinda os amara. Julgou-se por cousa ave-
riguada, que tivera conhecimento de Deos do dia certo de sua morte; como
se deixou ver do effeito. Gastava os dias e as noites em suspiros e lagri-
mas, batendo ás portas do Ceo, tanto com mór fervor, quanto via apres-
sar-se o tempo de sua liberdade. Trazia de continuo na memoria as Medi-
tações de Santo Agostinho, e abrazava-se em profundo amor da celeste
pátria, dando ultimo vale a tudo o que era criatura. N'esta forma hia che-
gando-se á terra- aquelle antiguo edifício, e hia Nóbrega contando os dias,

como aquelle que sabia o numero : até que chegada a antevespora do que
havia de ser o derradeiro tão desejado, sahio a despedir-se pela cidade, de casa
em casa, abraçando os amigos, agradecendo-lhes suas boas correspondências,
dizendo se ficassem embora, e o encommendassem a Deos. E perguntado
''
-i

122 LIVRO IV DA CHROMC.V DA CO.\H'A.\IirA DE JESl'

pêra onde partia ? (porque nao vião que houvesse embarcação


pei'a fora)
I respondia com os olhos no Ceo: «Á nossa pátria, á nossa pátria.
116 O seguinte dia vespora do ultimo da vida,
disse missa, o com-
mungou n-ella por viatico. Acalmado o jantar, acliou-sc presente
na confe-
rencia ordinária daCommunldade, fadando com intimo sentimento das cousas
das moradas eternas. Sobre. a tardeJhe sobreveio
liuma dôr intensa, rc-
conciliou-se, e lançou-so em cama pêra
morrer. Aq:ii era muito de notar
ir- a ardente fragoa d^aquelle devoto
peito, o como então scintilava em amor
divino, invocando toda a côrle celestial,
as ires Pessoas da Santíssima Trin-
dade, a santa Humanidade de Christo, por varias
maneiras de suas deva-
ções, a Virgem Senhora nossa, a quem amava ternamonte, e entre
os mais
Santos da Gloria, o invicto Martyr S. Sebastião,
em cujo.padroado morria;
com tal copia de lagrimas, de que sempre teve dom particular,
que enter-
necia os corações mais duros. Chamou os Padres, e Irmãos presentes,
abraçou-se com elles, e lançou-lhes a benção, dizendo: «que folgara muito
de ver n'aquella hora os outros que estavão ausentes;
mas que lá os veria
do Ceo, d'onde era chamado pêra o dia seguinte de
S. Lucas.» Amanhe-
cco o dia desejado, pedio a hum dos Padres
que fosse apressa dizer missa
por elle, antes que espirasse, e com a mesma brevidade
pedio o sacramento
da sagrada unção, cujos passos foi acompanhando
com orações devotíssi-
mas, que provocavão a lagrimas os presentes e acabado
o acto da unção,
:

e o da Ladainha dos Santos, a que sempre


tiii
respondeo pontualmente, disse
estas palavras «Louvado sejaes niBu Senhor, fortaleza minha, refugio
:
meu,
M\ i
e meu que tendes por bem levar-me n"estc dia, e em vossa santa
libertador,
Casa da Companhia de Jesii.» Ditas estas palavras,
pondo os olhos nas Ima-
gens santas, com admirável paz, e soccgo deo a alma ao
Senhor, que a ti-
nha criado, no anno de 1370, em 18 de Outubro, consagrado
ao Evange-
'listaS. Lucas, dia pêra elle de conta, porque-no
mesmo nascera ao mundo,
entrando n"esta vida; e nascera iambem a Deos, entrando em
sua Compa-
nhia; de idade de cincoenta e três annos, vinte
e oito do Religião, no Col-
logio do Rio de Janeiro. Foi sepultado na Igreja d'elle,
com solemnes exé-
quias, lagrimas, o saudades, não só dos Filhos e Irmãos,
mas de grande
wncurso do povo que concorreo a seu enterro. Estão seus ossos esperando
a ultima resurreição da carne; c sua alma, como cremos,
está gozando da
eternidade na pátria dos viventes.
li 7 A vida d"este servo do Senhor foi inereoeíKjra úc sua feliz morte,
p toda digna de uuii dilatada hisíoii;i, porá exemplo ilosíiiiolrabnllião nesta
DO ESTADO DO BRASIL (aNNO DE 1570) 123

Proviíicia, molhodo do perfeitos Religiosos, e edificação de seculares: po-

rém não sofre o estylo que levo a exacção com que devia escrever-se a :

seu tempo se lhe dará livro particular por entretanto reduziremos a com-
:

pendio breve suas largas virtudes. Foi fdho de pais nobres, criado em toda
a perfeição cbristãa versou os estudos das Universidades de Coimbra, e
:

Salamanca, com os augmentos que no principio d'esta obra temos referido.


Deo vale ao mundo, depois de experimentar sua pouca firmeza, e a occa-
sião com que pretendeo afrontal-o, negaiido-lhe o premio da CoUegiaíura

a que se oppuzera, e merecia por suas letras, segundo opinião dos melho-
res Leírades : meio ordinário, que o Ceo costuma tomar na conversão de
homens importantes, que experimentem primeiro o fel do mundo, porque
depois saibão aborrecer seu leite enganoso. Entrou na Companhia na flor da
idade de vinte e cinco annos, já Sacerdote de ordens sacras, e Bacharel formado
em Cânones, na era do Senhorde lS4i, em oCoUegio da cidadede Coimbra.-
i'i8 O venerável Padre Joseph de Anchieta, companheiro seu tão fa-

miliar, em seus apontamentos, tratando das virtudes doeste sorvo de Deos,


diz estas palavras:» A vida do P. Manoel da Nóbrega' foi insigne, e tanto

mais, quanto menos conhecida dos homens ; os quaes eile amava intima-
mente, desejando e procurando a salvação do todos pei'a gloria_ de Deos,
que cheio do soa amor sobre tudo, -tinha diante dos olhos ;
pêra dilatação
da qual, e conhecimento de seu santo nome, todo o Brasil lhe parecia pou-
,

co.»Çomprehonde o venerável Padre nestas poucas palavras em summa (se-


gundo seu costume) as duas príncipaes "virtudes do amor de Deos, e do
próximo: porém he necessário que expliquemos nós estes dous amores
(porque nem todos têm a comprehensão de Joseph.) Nas palavras «cheio
de seu amor sobre tudo,» comprehendia clle os m.ais finos gráos de amor.
D'estes diremos, e depois do amor do próximo.
119 Hum dos indícios do amor de Deos, he quanda hum coração se
sente como ferido da seta do divino arco de tal maneira, que se accende
cm labaredas amorosas em todas as cousas de honra c gloria de seu ama-
do. Assi o sente Santo Agostinho. Quem considerar com attenção a vida d'es-

, te servo de Deos desde sua entrada na Companhia até dar o espirito a seu
Criador, condiecerá que trazia em seu coração esta como ferida incurável
da seta do amor divino ; e que esta o accendia em vivo fogo de servir a
Deos, e em vivo zelo de augmentar, procurar, defender sua honra, e glo-
ria. Esta o constrangia a sahir por esses campos, viUas, cidades de Por-
tugal, e fora d'elle, gritando aos homens, como havião de amar e honrar
I2í I.IYRO IV DA CIIRONIC.V DA COMPANHIA DE JKSU

a seu Deos. A este fim liravão tão


continuas missões, tão continuos fer-
vores, tao continuos zelos: não
reparando em Irabaltios, fomes, prisões
aírontas, e chegar a ser tidopor doudo, á conta de poder atear este amo-
roso mcendio nos corações dos homens.
M li 120 Outro grande indicio deste amor
divino constituem os Santos no
contmuo fervor de fallar de Deos; porque
he certo, que a boca falia do
coração. Que maior e mais continuo fervor de fallar de
Deos, qne o que
vimos n'este varão? Era bem conhecido
em todo o Portugal seu ardente
zelo: era chamado o fervoroso
Gago, quando ainda estava em seus princí-
pios; e cresceo muito este
fogo entre os tições do Brasil: parece sahia de
81 com fervor, e que vomitava chammas
de zelo: toda sua historia está cheia
de passos semelhantes.
121 Santo Agostinho no capitulo 36 de suas
Meditações, chama ás la-
grimas evidente signal do amor divino:
1
«Da-me Senhor (diz elle) o evidente
signal do teu amor, que continuamente
de meus olhos como de duas fon-
tes saião rios de lagrimas, etc.»
Estas são as testemunhas mais abonadas
J: do amor: doestas colhgião Phariseos
ode Christo pêra com Lazaro- .Ecce
quomodo amábát eum., &m lingoas, que callando
fallão, e pregoão o quan-
to nosso coração está cheio
d'esta doçura, que chega a derretel-o
em
agoas. Este concedeo o Senhor a seu
servo Nóbrega: seus olhos andavão
commummente feitos duas fontes de lagrimas, acompanhadas
de suspiros
lie testemunha d'esta verdade seu fiel companheiro
Joseph em muitas par- -

tes de seus Apontamentos. E por


esta razão trazia Nóbrega as cousas des-
ta vida desterradas do coração,
com hum como fastio de todas ellas ne- :

nhuma queria possuir, que Deos não fosse, ou em


ordem a elle.
122 O amor do próximo he outro efficacissimo
indicio, e como irmão
inseparável do amor de Deos; e este fui insigne
em Nóbrega. Quando ain-
da era moderno na Companhia, foi escolhido
pelos Superiores pêra pai
do próximo e foi com tão grande effeito, qual temos
: visto no principio
d esta historia. Muitos annos depois andou em provérbio,
especialmente
cm Coimbra, seu ardente zelo. Fazia de conta, que n-aquelle oJíicio
se lhe
entregavão as necessidades de todos os homens,
das cadeas, dos hospi-
tacs, dos pobres, das viuvas, dos órfãos:
todos trazia como a rol cm seu
coração, com todos se compadecia, e por todos suava
igualmente. Que ca-
bedal não metco na conversão d'aquellc famoso
salteador desesperado do
sua salvação? Depois de esgotadas todas as suas traças
não sahio com n
mais fino do amor do próximo"? «Irmão meu (lhe disse)
eu tomo solire
í'^^
DO ESTABO DO BRASIL (aNNO DE 1370) 125
t
.

mim lodos vossos peccados; eu darei d'elles conta a Deos, e pagarei por
vós.» Que mais fazia luim S. Paulo, quando dizia: «Optabam anathema esse
•pro fratribus méis?» Não foi este o maior eíTeito do amor de hum Deos hu-

manado, tomar sobre si os peccados dos homens: «Qmí peccata nostra ipse
portavit?» Que não zelou sobre a melhoria da outra mulher desesperada,
que protestava que Beelzebub criara o Geo e a terra, o mar, e as áreas, e
que a elle se entregava? Vejão-se os casos do livro primeiro d'esta histo-
ria, e vejão-se os de toda a serie de annos que viveo no Brasil, e verão
grande numero de actos semelhantes, que eu não posso agora repetir.
123 Quem pozer diante dos olhos este varão a pé, com hum bordão
na mão, e o Breviário pendurado do braço, correndo os lugares, villas, ci-
dades, e ainda os Reinos de Portugal, Gastella, Galliza, e Mundo novo : jul-
gará que vê hum Apostolo S. Paulo abrazado em doszelo da conversão
homens. Não houve anciã de caçador, que assi atravessasse montes, e val-
les por alcançar a presa; nem avarento, que assi cavasse a terra por achar

thesouros; ou sequioso, que assi buscasse os rios pêra fartar a sede: como
a anciã, cubica, @ sede, com que o nosso servo de Deos atravessava mon-
tes, valles, rios, mares, reinos inteiros, por ganhar almas. Todos esses
lugares, villas, cidades, reinos, e todo o Novo mundo Brasílico (como d'elle
disse Joseph) era pouco pêra seu ardente amor. Por grande indicio de
amor se reputarão os trabalhos que padeceo Jacob por Racchel, cifrados
em sette annos somente: por todo o tempo de sua religiosa vida trabalhou

Nóbrega pelo amor dos homens todos. Passou calmas, frios, fomes, sedes,
cansaços foi afrontado dos jogadores, maltratado dos caminhantes,
:
morto
de fome dos Gallegos, ameaçado dos Gastelhanos, e preso dos vadios.
124 Que de trabalhos não sopportou por livrar do poder tyrannico de
hum diabo incubo a pobre alma d'aquella mulher, com. quem havia tantos
annos fazia vida como marital, até desapossal-o da
presa? Que de suores
lhe não custou a outra alma, que estando da mão de Satanaz por muitos
annos possuída, a tornou a reconciliar com Deos e Senhor verdadeiro, to-
mando sobre si os acommecimento : d'aquelle péssimo espirito, desafian-
do-o só por só; o qual não se atrevendo ao desafio, tomou por partido
desamparar a casa que injustamente possuía.
123 Pelos seus Brasis em particular, qne de trabalhos não padeceo ?
Que agoas^ que rios, que mares não passou? Que sertões, que serras, que
brenhas nao atravessou, por salvar suas almas? Podta fazer com S. Paulo
huma perfeita ladainha de seus trabalhos, cansaços, fomes, sedes, calmas.
Hy^

lâ6 LlVaO IV CA CilB.ONICA DA C0.\IJ'A:\í1íA de JtSL"

frios,ingrati(b3s, máos trataiaentos, afrontas, treicDes,


e perigos da vida.
Bastava pêra prova de tudo, o exemplo d'aquella sua
gloriosa missão, nunca
assas louvada, quando só com seu companheiro Josepli
vi se foi meter entre os
bárbaros, actualmente inimigos, postos em arm.as, queixosos,
e irritados das
injustiças, e aggravos dos Portugueses. Que não
padecerão? Que transes
!'l não passarão? Que de vezes não seníirão o arco armado,
e a maca do bra-
y ço fero sobre sua cabeça?Que de vezes não esteve a ponto de sQr sacrifi-
cado Nóbrega aos dentes e gula d'aquella gente barbara, por
csti-anbar-lhes
o abuso da carne bumana, de feitiçarias, de ódios, de
vinhos, de multidão
de mulheres, e outros semelhantes erros de sua Gentilidade ?
Se vem a ser
o mór do amor do próximo pôr a vida por elle quem tantas vezes
sinal :

a poz, como Nóbrega, que (juilates de amor não teria?


126 ílavia entre os índios contrários muitos filhos, o fiihaív. de Portu-
gueses, que alli hião dar, por causa da guerra, e outros successos : lasti-
mava o coração de Nóbrega, o ver que estivessem perdidos
entre infiéis
buscava traças pêra seus resgates, e livrava-os dos' dentes e lascívia
dos
bárbaros: os de maior idade punha em estado de matrimonio, com esmolas
que pêra menores accoraodava em casas virtuosas, ou em
isso buscava: os
Seminários, onde aprendessem a doutrina chrislãa. Com os enfermos
cam-
peava com especial, charidade: visitava-os, e soccorria-os com tanto
amor o
affecto, quanto mais erão desamparados, e desprezíveis : tinha por gloria
assistir- lhes a todas suas necessidades. Yierão alta noite à nossa portaria
em busca de hum confessor a toda a pressa, pêra hum homem que es-
tava morrendo, e já sem falia, atravessado de estocadas : não quiz perder
a occasião, M
elle mesmo acudir-lhe, apesar de seus muitos
achaques
chegou, achou que erão as feridas penetrantes, e liie tinhão
roto as tripas:
tomou resolução efficaz, mandou que lh'as cozessem, e no mesmo ponto
em que começárâo a coser, começou o ferido a fallar: tomou juramento de
segredo ao surgião, e ajudante, necessários instrumentos dacui^a, e
no mes-
mo tempo diante d'ellcs o confessou: e foi tudo hum, licar o homem cura-
do na alma, e corpo, e juntamente com a vida não sem espanto dos que
o vião. Celebra o caso Joseph; não sei se só pela boa fortuna do successo,
se porque o julgou mais que humano.
127 Teve noticia que na villa do Santos
íallecera hum morador rico mui
conhecido, mas pouco devoto da Companhia por menos an-endado em sna
consciência: na manhãa seguinte celebrou Nóbrega na Igreja
do Collcgio de
S. Vicente hum solemne Oflicio de nove lições por sua alma com dcmons-
DO ESTADO DO BRASIL (ANNO DE 1370) 127 IM
Iraçòes de amor, e sei)tirnenlo. Assistirão a elie algumas pessoas, as quaes
indo depois á viUa de Santos, acíiárão que o homem estava vivo, e que fo-
ra errada a noticia da morte, equivocada com oiitro morador: referirão ao
reputado defunto o que Nóbrega tinha feito por elie: e foi esta noticia hu-
ffla com que de repente Dcou trocado aquelle coração bro-
voz do Ceo, :

tou estas palavras: «Quem isto me faz cuidando que sou morto, não pre-
tende herdar minha fazenda, mas só a salvação de minha alma.» Com este
conhecimento deo volta á vida, fez-se grande devoto da Companhia, e es-
colheo delia confessores com os quaes chorou por largo tempo os tratos
passados de sua consciência, e viveo com exemplo de todos, e com espe-
ranças fundadas de sua salvação. Toda esta grande mudança attribue Jo-
seph áquella boa obra de Nóbrega: e acrescenta, que não duvida que foi este
homem particularmente favorecido da Virgem Senhora nossa; porque tinha
tão especial reverencia ao nomo sagrado de Maria, que fez resolução de não
chegar em toda sua vida a mulher de semelhante nome, ainda por via do
matrimonio. E o que mais he, que por esta causa regeitou o casamento de
algumas mulheres, só porque tinhão aquelle santo nome. Refere mais, que
chegou a ser íao ajustado, este homem em sua consciência, que só por
evitar os transtornos que comsigO' pôde trazer o officio de Juiz da Repu-
blica, o recusou, a troco de fazer antes á sua custa a obra de huma pon-
te de pedra e cal, com considerável despcza, pêra bem da mesma Repu-
blica.

128 Deste grande amor de Deos, e do próximo lhe nascia a este ser-
vo do Senhor, hum zelo constante, e severo, qual o do Propheta Elias, em
todas as cousas que períencião á honra de Deos, e amor do próximo. Toda
sua lenda está cheia d'este3 exemplos. Note-se aquella constância com que
lá reprehendeo o Conde Castelhano; o Ecciesiastico incontinente, a quem
não pudérão render tantos outros remédios; os pobres fingidos de Galliza;
os que profanavão a Igreja com festas indecentes. Não interveio n'este ca-
so o próprio zelo de Elias? No Brasil seria infinito contar os casos de seu
ardente zelo. Chegou a parecer temeridade o com que sahio a reprehender
os índios bárbaros, gentios ainda, armados, e postos em
terreiro no mon-
teda Bahia que depois chamarão Calvário, quando estavão pêra repartir e
comer o corpo do Tapuya, tirando-lh'o de entre as mãos e dentes; sem que
ousassem levantar mão, ou arco, 'em caso de huma alíronta, a mais dura
qm podia imaginar-se entr^e aquella gente. O mesmo fez em Piratininga: e
a cada passo se vccm actos seus semellianles. \ I
128 LINTÍO IV DA CIIROMCA DA COMPANHIA DE JESU

I
('
129 Achou-se hum dia no mar em huma grande tempestade, e ouvio que
hum dos marinheiros, tomando a vela, pronunciou
a blasphemia seguinte-
I: «Haveis de entrar a pesar de S. Lourenço:»
sahio do camarote, reprehen^
,)l^ deo o marinheiro asperamente, e virado ao
santo, posto de joelhos disse •

«Sejais bemdito glorioso santo: rogai a Deos


que nos não castigue pela blas^
phemia, que diz contra vós este indiscreto homem.
Com esta acção ficou o
marinheiro castigado, os presentes escarmentados,
!li e acudio logo o Santo
com bonança. Era acérrimo defensor da liberdade dos
Brasis não queria :

ouvir de confissão pessoa alguma, que contra


ella tivesse obrado, sem que
restituísse. Sentia summamente os roubos, e assaltos que n'elles9e fazião-
chorava-os com lagrimas de sangue, bradava sobre elles no
publico, e no
particular: e pêra remédio d^estes males se foi como vimos, aos Ta-
entregar,
moyos, pêra applacar a divina Justiça, ou fazendo pazes
I' '

com elles, ou acabando


a suas mãos emsatisfação dos peccadosdos
Portugueses. No tempo em que
exhortava o Capitão Estacio de Sá a libertar o Rio de
Janeiro do poder dos Ta-
moyos, pregando huni dia diante d'elle, e dos soldados de
sua armada, inci-
tando-osa que applacassem a irá de Deos, pelos roubos
feitos aos índios,
que forão gravíssimos: trazendo

m tes ladrões que tem destruído os pobres


a este propósito a historia dos Gabaonitas,
pedirão sette da geração de Saul pêra enforcal-os,
ecom elles applacar a ira
de Deos; concluio com grande efficacia: «Oh se agora
tomassem sette d^es-
que

índios da Bahia, ede todaa costa


e os enforcassem! Nosso Senhor se applacaria,
e se mostraria favorável ao
que pretendemos.»
1)4"
•130 Em nenhum modo de cativeiro de índios consentia, excepto so-
mente no de justa guerra : todos os mais que então se usavão, tinha
por injustos. Dizia que raramente se achou que pai
Brasil vendesse seu ver-
dadeiro filho porque os amão de todo o coração.
; E os que dizem que
se vendem a si mesmos, fazem-n'o porque não
entendem que cousa he
vender liberdade ou porcpie são induzidos com enganos,
;
ou medo don- :

de nasce, que achando-se depois os pobres alcançados,


fogem, e antes
'1 querem ir a morrer pelos mattos a mãos de seus inimigos
que sofrer
cattiveiro. Dizia mais, que obrigal-os a servir
com titulo de forros (como
outros fazem) era o mesmo que cattiveiro; poi-que só tem o nome de h-
vres, e são deixados em testamentos de pais a filhos, e vendidos como
verdadeiros escravos, com titulo de vender o ser\iço. E
concluía ifosia
matéria com estas palavras: «Praza a Deos, cine porVemodiar
os compre-
hendidos n"cstcs peccados, não vão alguns letrados cuin
elles .ao inferno!»

I
S^BBBoR^

DO ESTADO DO BRASIL (aNNO DE 1570) 129

13 í Era tão inteiro no ponto em que se resolvia diante dê Deos em


alguma verdade, que não era bastante pêra se desdizer pôr-se contra elle
o mundo todo, ou ser por isso afrontado, e maltratado como foi muitas ;

vezes, com a mesma constância, e animo. Com esta defendeo contra

todos os povos da Bahia, que era bem reduzirem-se a aldeãs, e Igre-


jas os índios, pêra que n^ellas fossem doutrinadoSj como com eíTeito o fo-
ram no tempo do Governador Mem de Sá, com grande fruto de suas ai-,
mas. Com a mesma defendeo contra tantos^ assi na Bahia como em S.
Vicente,- que era bem que se acommetesse a enseada do Rio de Janeiro; com

tal resolução, como quem a tinha de Deos, e com o fim que vimos. São

sem conto os casos semelhantes.


132 Por estes zelos foi murmurado, e perseguido em diversos tempos
e de diversos modos. De hum homem poderoso, actual Ouvidor da Capitania
de S. Vicente, porqae reprehendia com zelo do Bautista o caso feio de
adultério,- que commetia com huma mulher, que tinha tomado a hum mora-

dor pobre, se lhe maquinava a morte, por meios, de que o Padre teve no-
ticia; porém não desistio de seu zelo, dizendo claramente aos Irmãos, que
sabião de tudo, que morreria por boa causa. E dava-se por tão pouco of-,
fendido, que a este mesmo homem, vindo depois a ser preso, e a estado
miserável, ajudou, e remediou com tal charidade, como se nada soubera de
seu intento: e era este timbre seu, servir aos que o maltratavão ,c,Qmí

tanto mór vontade, quanto era a maior o aggravo, ííí o t>«

133 Notável foi o grande espirito de trabalhar d'este servo de Deos.


Na Bahia dissemos, que dizia missa, pregava, e confessava todos os dias
santos da Quaresma no nosso Collegio da cidade; e logo a pé na mesma ma-
nhãa, indo a Villa velha meia legoa distante, tornava a dizer missa, pre-
gar, e confessar, até não haver quem. De S. Vicente dissemos, que anda-
va em continua volta de huma villa pêra outra villa, exercitando semelhan-
tes ministérios áquelles povos necessitados de Sacerdotes. Vimos a lida
em que alli andou no tempo da armada de Mem de Sà, assi em seu soc-

corro, como em remédio de pobres necessitados. Que de vezes o vimos


atravessar as grandes serras do Paraná Piacába? Que de vezes caminhos ás-
peros, e mattas fechadas n'aquellas partes rigorosas, e sempre a pé, por
mais carregado que andasse de achaques? Seria historia grande querer con-
tar os trabalhos todos d'este varão: veja-se comatlenção sua vida, e achar-
se-ha, que foi hum continuo trabalho.
134 Em todo o género de culto divino era exactíssimo: raltavãon'aquer-
VOL. u 9
'J7f

130 LIVRO IV DA CHRONICA DA COMPANHIA DE JESU


"I

le tempo ornamentos ricos, mas com os pobres de que usava nossa Igreja,
se esmerava sua limpeza, e perfeição. Frequentemente dizia missa solem-
ne em canto de órgão, pêra maior louvor de Deos, e exercício santo dos
índios, que ajuda vão a official-a com suas vozes, e instrumentos músicos,
em que andavão destros. Em quinta feira da Cea do Senhor, não deixou
jamais de lavar os pés aos Irmãos publicamente na Igreja: no fim do qual
acto pregava o Mandato, á imitação de Christo, e muitas vezes também a
Paixão. Era zelozissimo que se pregasse sempre, e a todos a palavra de
Deos: até os Irmãos que não de missa (*) mandava exercitar este ministério
em lingoa portuguesa, e brasílica. Zelava com cuidado sobre as indecencias das
Igrejas: e pêra impedir as que se commetião em alguns actos que se re-
presentavão n"ellas, introduzio, com parecer dos moradores de S. Vicente,
em lugar d'estes, hum muito devoto, a que chamava Pregação universal;
porque servia pêra todos. Portugueses, e índios, e constava de huma e ou-
tra lingoa: concorria a elle toda a Capitania, e representava-se na vespora
do Jubileo de dia de Jesu, que á volta do acto ganhava grande numero de
povo. Aconteceo n'esta representação hum caso tido por milagroso: fazia-se
ella huma tarde em lugar descoberto do adro da Igreja; e foi o mesmo co-

meçar, que aconMiieter o theatro, e todo o horisonte, huma tempestade me-


donha; e sobre os ouvintes se pôz huma nuvem carregada de agoa, que
começava a gotejar grossas pingas, e metia medo a todos: queria recolher-
se o auditório; porém aquelle Religioso que tinha cuidado das figuras, le-
vantando a voz pedio a todos que se socegassem, e deo a sua palavra, que
não choveria antes que a comedia se acabasse: e assi succedeo. Con-
tinuou-se com a obra, que durou três horas, com quietação, e socego, até
perfeitamente se acabar, e recolherem a suas casas os ouvintes: e feito is-

to, desfechou a mais horrenda tempestade de chuvas, ventos, e trovões


que até alli se vira; e deo que cuidar aos homens quem a originara, e quem
á refreara por tanto espaço de tempo, servindo mais de toldo ao acto, que
de impedimento. Este caso traz o Padre Joseph a fim de mostrar o zelo
com que o Padre Nóbrega procurava evitar as indecencias das Igrejas, e
actos profanos: porém a maravilha que n"elle entreveio na suspensão da
tempestade, attribuio-se commummente ao mesmo Joseph; porque elle foi o
que fez a comedia, e assegurou o auditório. Assi o escreve o Padre Pater-
nina, hv. i, cap. 7, e o Padre Pedro Rodrigues em sua Vida manuscripta.

{•) Evidentemente lia aqui falta de palavras, qiio cada hum su|>i)ritá cuiao enicndcr.
(1. r. dii S.J

IL
JÊL

DO ESTADO DO BRASIL (aNNO DE 1570) 131

133 Dizia a missa com grande devação, e copiosas lagrimas: gastava


n'ella hnma hora: e alli se lhe communicava o Senhor intimamente, e al-

cançava de sua divina Magestade muitas mercês. Rezava com a mesma per-
feição o officio divino, sempre com companheiro para mais distincção, e
por suprir o defeito que tinha na lingoa balbuciente. Suas pregações erão
fogo de puro zelo da perfeição christãa; e por outra parte devoto, suave,
e affectuoso; que facilmente se soltava em lagrimas, e provocava com ellas
ao povo. Na oração era continuo, e fervoroso, especialmente em S. Vicen-

te, escreve d'elle seu amigo Joseph, que gastava n'ella a mór parte da
noite, e que n'ella tratava do remédio das cousas, não só tocantes á Com-
panhia, mas também ao bem dos próximos, e augmentos da cbristandade*
e salvação das almas: em cujos negócios tratava depois com tão grande
acerto,que dizião d'elle pessoas graves, que era pêra governar todo o mundo.
Era terníssimo nas lagrimas: qualquer sentimento do Ceo, ou tocar de vio-
la, ou musica devota, o constrangia a desfazer-se n'ellas. Teve fundados

arreceios, que os Tamoyos lhe matarião o Companheiro que com elles dei-

xou quando esteve em reféns: todo aquelle tempo chorava amargamente,


arrebentando em suspiros sentidíssimos, por haver deixado o Irmão: pros-
trava-se na presença de Deos, e allifaltando com elle, dizia: «Ah Irmão meu,

Gomo te deixei só entre bárbaros? Como não fui eu merecedor de morrer


coratigo?» E escrevendo-lhe n'esta occasião, começava assi: «Irmão, se ainda
estaminha vos achar com vida, etc.,» e molhava o corpo do papel de lagri-

mas, mais que de tinta.


136 Foi estremado na observância dos votos religiosos: trazia sempre
diante dos olhos mui especialmente a guarda da pureza virginal. Achando-
se no meio de huma tempestade, disse: que huma das cousas que mais o
consolava no meio d'aquelle perigo, era a guarda do voto de castidade.
Todo o resguardo n'esta matéria lhe parecia pouco; por terra, por mar, por
sertões, por aldeãs de índios, sempre era o mesmo, e sempre com a mes-
ma cautela: castigava, e mortificava sua carne com rigor de cilícios, e dis-
ciplinas. Pasmavão os bárbaros, quando entre elles vivia aquelles três me-
zes de seus reféns, de que offerecendo-lhe mulheres a modo de sua genti-
lidade, as não aceitasse; e que vivendo entre corpos nús, e objectos lascivos,
os não appetecesse. Fazião-lhe a pergunta que alli dissemos: «Se tu hes ho-
mem como os outros, como he possível que não tenhas às paixões dos de-
mais?» Ao que Nóbrega respondeo, tirando da algibeira a disciplina ensan
guentada; de que ficarão admirados, e formarão conceito d'elle, mais que
i;>2 LIMIO IV DA CHHOMCA DA COMPANHIA DE JESU

de homem. O santo varão Ignacio de Azevedo costumava dizer, que era mi-
lagrosa a pureza da Companhia entre as occasiões do Brasil. Milagrosa pa-
rece na verdade a pureza de Nóbrega: que andasse o mais do tempo de sua
vida metido entre occasiões por caminhos, por casas alheas, por sertões, por al-
deasse índios, gente não só lasciva, mas costumada a convidar a ella;e que
alli vivesse tão sem carne, com tão rara cautela, que nem por sonhos vies-
se jamais ao pensamento a alguém hum menos recato de Nóbrega n'esta
hl matéria. Isto mo he milagre? viver em carne em pureza de Anjo!
,,,
•137 Indicio grande de seu interior virginal pôde ser a severidade, com
que estranhava, e castigava as faltas contra esta virtude. Brotava muitas ve-

zes em zelo, e dizia: «Malaventurado será aqiielle, por quem se quebrar o

sello virginal da Companhia.» Quando no anno de 1353, foi visitar a pri-


meira vez a Capitania de S. Vicente, vimos alli aquella severidade com que
se houve contra alguns nossos, que com falsos indícios forão calumniados
por homens seculares mal affectos, e menos fieis nesta matéria. Estava cer-
to que n'estes sujeitos não cabia semelhante maldade; e com tudo assi as-
sombrou seu coração hum só rumor de cousa tão fea, que logo despedi»
da Companhia todos aquelles em quem puzerão boca (e erão dos mais virtuo-
sos) em quanto o Vigário Ecclesiaslico, a quem commetèra o conhecimento

do caso, não averiguou sua innocencia por senteuça, como alli dissemos.
.438 Não foi menor a severidade do. segundo caso, com que n"aquella
mesma visita em Piratininga castigou a outro delinquente secular Mamaluco,
]ião menos que com enterral-o vivo, abrindo cova, celebrando ofTicio, do-

brando sinos, e chegando a ser lançado na sepultura: e quando houve


de alcançar perdão, foi detestando primeiro seu delito (porque era sabido)
pedindo perdão do aggravo que fizera á pureza da Casa em que morara, que
era de porias a dentro com os Religiosos.
li' n 139 A perfeição de sua religiosa obediência era semelhante á de sua
liureza: não foi^uimca necessanúq pêra elle mais que o sinal da vontade de
([ualqucr, que tivesse ajiparencia de Superior: bastava este ]iera dispôr-se

á mais diflicultosa empreza: ctmiesle aceitou aspeirinias missões, som mais


demora, que a de tomar bordão, e líreviario; c sendo liuma d'ellas tão es-
])anlosa, não menos que de hum novo mundo, em que havia de dar o ul-

timo valeã pátria, o a tudo o (jue tinha cm Europa: com a mesma facilida-
de se embarcou, foai que outios se (^abarcarião pei'a lugar de huma gran-
de j,'ecreação. Kt)llrasil, (jiiaiiilii não liiilta Supei'ior. Iblgava de esporar que
;i^ ^;pusas do m;iis laniniMit" ]h>' íii>si,'iii ia:ind;nLb |>i'ln5 de PoUujmI. ou
DO E3TAB0 DO BRASIL (ANNO DE 1570)
«3

de Roma; e estes mandados executava


com muito gosto seu, por mtervir
desejo (como em seu lugar vimos)
de
n'elles a obediência. Tinha grande
que o chamava, e padecia estreita necessida-
ir acudir á' gente de Paraguay,
de/eliberado muitas vezes, que era
de da doutrina da Fé: e comtudo (depois
estar aprestado pêra partir ao dia se^
obra do serviço de Deos, e chegando a
que sentia o contrario o Padre Luís da
Gram,
guínte) bastou significar-lhe
instante desistir; julgando que aquella seria a mor glo-
pêra logo no mesmo
adjunto seu dado pelos Superiores; e com
ria de Deos, só por ser o Padre
qualquer aceno depois que entrou
maior promptidão lhe obedecia á risca a
em sua ausência por Commissario com o governo
por Provincial. Ficando
desejava que hum Irmão de
da Capitania de S. Vicente, e Espirito santo,
havia muita neces-
sufficiencia oajudasse a pregar n'aquellas partes, onde
o feesse: porém significando-lhe
sidade da palavra de Deos, e lhe ordenara
Provincial antes de partir dera a entender, nao era
o Irmão, que o Padre
Irmãos a Portugueses, foi bastante este só smal
de opinião que pregassem
contra a que entendia: mor-
da vontade de seu Superior pêra desistir logo,
ao púlpito, porque, segundo
mente que era o Irmão bem digno de subir

venerável Joseph de Anchieta. Não somente aos Superio-


conjecturas, era o
res aos mesmos súbditos folgava de dar
mostras de obedecer, todas as ve-

zes que contra seu dictame davão razão


digna de aceitar-se. Mostrava-se a
no que obrava, mas no que ensinava:
delicadeza de sua obediência, não só

historia vimos n'esta matéria casos raros. Não chegou a ser


por toda esta
da obediência, o exercido com que provava seus Missionários?
o mais fino
a pregão
O com que provou o Padre Manoel de Paiva, deixando-se vender
o
pelas praças? O com que provou o Padre Vicente Rodrigues, sendo elle

porteiro da venda, levantando pregão, e dizendo em alta voz pelas ruas


receber-llie-hei o lan-
«Quem quer comprar este Sacerdote, venha-se a mira,
mandou-lhe que sc lançasse a rodar por
ço?» Provou o mesmo Padre Paiva,
hum monte abaixo. Ao Padre João Aspilcueta Navarro, que bebesse huma

cheia de azeite, que fosse tomando huma disciplina pelo meio das
tigella
outros semelhantes
ruas da cidade, vestido em trajos de penitente. Estes e
exercidos da obedienda não suppunhão a mór fineza d'ella? E com tudo
pontualmente obedecido; senão que era fervor do
não era por querer ser
espirito da perfeição de tão grande virtude, olhos da
Companhia, c como
porque por
alma d'eUa. Até na doença, e morte fazia provas de obediência;
morrer os verdadeiros filhos da
esta mesma virtude soubessem adoecer, e
«Nãomor-
Companhia. «Pare aqui vossa doença,» disse a Vicente Rodrigues:
raes até eu não tornar,» disse a Salvador Rodrigues: e
obedeceo hum, o outro.
UVRO IV DA CHROMCA DA COMPANHIA DE JESU

140 Que direi de sua religiosa pobreza? Seu enxoval era hum Breviá-
rio, humas contas, hum bordão, discipUna, cilicio, e poucas outras
peças
semelhantes. A
matalotagem dos caminhos era a providencia do Ceo, que
nunca lhe faltou: qualquer comida pêra elle era banquete; ou fosse as hervas

•Â do campo, ou legumes, e cuja de farinha, que os índios lhe davão,


tudo
pêra elle era regalo. Entre os mais religiosos nenhuma singularidade ad-
mitia: seguia sempre a communidade. Do que deixámos dito de suas lar-
gas e continuas missões, e apparato d'ellas, se deixa ver o que aqui dize-
mos. Os hospitaes, as cabanas, os palheiros, os lugares desertos, as chou-
panas dos índios, dão testemunho de sua estremada pobreza. Estremada
foi a com que viveo em Villa velha (quando a principio
chegou á Bahia)
em Nossa Senhora da Ajuda, e Monte Calvário, fazendo as casas por suas
mesmas mãos, indo ao matto, e fonte, trazendo a lenha, e agoa ás costas;
pediudo esmola pêra se sustentar de porta em porta a com que ajudou :
'" í'
a viver em Piratininga, e descreveo Joseph
de Anchieta u'aquella sua Car-
ta que atrás puzemos. Não era esta a verdadeira pobreza evangélica?
Seu
vestido não tinha diíTerença vivendo, do com que foi á cova morto sem :

manteo, sem roupão, huma roupeta velha remendada, alpargatas de car-


dos por çapatos, e talvez descalço: humas botas, que por achaques de sua
mór idade lhe receitarão os médicos, houverão de custar-lhe a vida, quan-
do fugindo aos Tamoyos, cahio no rio, e cheas de agoa lhe impedião o
caminhar. Não poucas vezes lhe faltou a camisa e pêra supprir o defeito
;

d'ellaestando na Bahia, quando hia o Governador geral a nosso Collegio,


pedia hum lenço pêra acommodar ao pescoço; a que chamava sua hypocri-
sia;e sobre tudo louva muito o Padre Joseph de Anchieta a pobreza com
que viveo nos fins de sua vida, no mór rigor de suas enfermidades no Rio
de Janeiro, terra de novo habitada, até o ultimo transe de sua morte, em
hum quasi desamparo de consolo humano.
141Junto com sua religiosa pobreza, a vida toda d'este servo de Deos
foipura mortificação, e himiildade. Estas duas irmãas companheiras o ti-
rarão do berço de seu primeiro noviciado, e o levarão por lugares alheios,
por hospitaes, cadeas, enxovias por desprezos, afrontas, injurias, fomes,
;

sedes, frios, calmas, feito ludibrio das creaturas, como temos visto: fazião
estas jogo d'elle, e elle d"ellas : talvez o buscavão pêra afrontal-o, talvez
pêra lisongeal-o ; e as afrontas o achavão a pé quedo: fugindo como da
morte as lisonjas. Quando vierão a buscal-o os jogadores, os que profana-
vão o templo, c outros pcra mallratal-o, coiislaníc o acharão; mas quando
13»
DO ESTADO DO BRASIL (ANNO DE 1370)

que queria agasaliial-o em sua


Viepão os criados d'aquelle fidalgo Castelbranco,
escondido entre as moulas do sil-
casa,eregalal-oemsHa mesa, acliarão-no
trabalhos, como fugia dos re-
vado: porque com tão bom rosto esperava os
quando em vigor de
galos. Mostrou bem o espirito de sua mortiflcação,
letra entre os mais Padres da Com-
certo diploma, havendo de declarar de sua
se de Professo, ou de Coadju-
panhia, que grão escolhia pêra n elle viver,

palavras dignas de memoria: <^Velim nemre qmd-


tor: assignou com estas
velle.» Quisera
quam sed in omnibus diristum, et hiuic crucifíxum,
velle:
mas em todas as cousas querer a
(diz) não saber querer alguma cousa :

Ghristo, e este crucificado. Foi sempre dos mais affervorados entre


hum
exercidos primeiros de mortificação, tão celebrados da primitiva
aquelles
Sahia pelas ruas em
Companhia dos Religiosos do CoUegio de Coimbra.
porque fosse ludibrio da gente, e objecto de des-
trajos vis, esfarrapados,
prezo a todos. Tinha ordinariamente dous
confessores; hum era Padre, ou-

e recebia d'elle a absolvição: ao


tro Irmão: ao Padre confessava suas faltas,
reprehensão. E quando andava
Irmão referia as mesmas, e recebia delle
(como três mezes en-
somente com Irmão, sem Padre a quem se confessasse
confessava-se e consolava-se com elle, di-
tre os Tamoyos com o Irmão Joseph)
inteiramente todos seus pensamentos, omissões, e faltas; e rece-
zendo-lho
faz sacramento,
bia d'elleabsolvição geral da missa, que posto que não
que são agradáveis ao Se-
cahe sobre actos de humilhação, e mortificação,
merecimento de contrição, e amor de Deos se-
nhor, e podem chegar a ;

gundo o espirito com que forem feitos.


cousas gran-
1 42 Tinha firme confiança no Ceo: e levado d'esta acommetia
vezes paredão excessos: em resolvendo-se na oração, ou na missa,
des,que ás
que algum negodo era serviço e gloria de Deos, nenhum poder o retirava de
emprehendel-o, nem inconvenientes, nem ameaças, nem trabalhos, nem diffi-

culdades algumas. Quando principiava a


grande obra da conversão do Brasil,

apartou de si o Padre Leonardo Nunes com outro Irmão, pêra acudir a


sendo tão somenos em numero os companheiros, como ahi vi-
S. Vicente,
contrario se oppuserão,
mos: e por mais votos, e difficuldades que em
era de Deos, e que os pagaria
não cedeo; por que julgou, que o negocio
porque vierão logo quatro do Reino. Com
dobrados: como reverá succedeo;
apartou de si hum dos mais notáveis obreiros
quando
a mesma confiança
pêra a em-
d'ellemuito necessitava, o Padre João de Aspilcueta Navarro,
Deos por elle outros breve-
preza do mais interior do sertão e deo-lhe
;

acommeteo a empresa de reduzir a povoações


meute. A confiança com que
136 LIVRO IV DA CHHO.MCA DA COMPANHIA DE JESU

08 índios da Bahia, no meio de tantas difíiculdades : a com que empre-


hendeo a insigne obra das pazes dos Tamoyos: e a da conquista, e povoa-
ção do Rio de Janeiro, contra toda a prudência dos homens, foi grande
prova do proposto intento.
143 Não faltarão a este insigne varão casos maravilhosos, com que o
Ceo mostrou approvar seu espirito. Não foi milagroso aquelle caso, quan-
íl
do a modo de desencaixados os elementos, vingarão indignados a lançadas
de raios, as indecencias do culto divino, e o desprezo do servo do Senhor?
Que mais fez em favor de Elias?
144 Na viagem do Brasil, em prova da resolução que dera ao Gover-
nador Thomé de Sousa, que não era agradável a Deos aquella sua deva-
1''
ç3o que fazia, de não comer cabeça alguma, em veneração da do Bautista;
não foi assas sobrenatural aquelle prodigioso desengano, com que traçou
o Ceo, que viesse na linha lançada ao mar, huma só cabeça de peixe ;

porque fosse forçado o fidalgo a comer cabeça? Aquelle império com que
mandou ao Padre Vicente Rodrigues enfermo de hum anno, e perseve-
!|
rante na doença, em virtude da santa obediência, que se levantasse, e fos-
,1

se ajudar ao próximo; não foi confiança milagrosa, em que exercitou acto


de império sobre accidente tão pertinaz? e em que desiste por obedi-
ência o mal ? Este caso celebra Orlandino no livro xi de nossas Chroni-
eas, n.° 78, com titulo de instincto divino, a Divino prorsm, ut videtur, ins-
íinctu, imperai ceg-rnlanti, ut obedientia; nomine morbum abigat, et se pro-
ximis reddat-.í) como dizendo, que obrou aqui Nóbrega com instincto divino,

E mais claro o disse Anchieta em seus Apontamentos.


145 Com a mesma eíTicacia acudia o Ceo por sua vida, que por sua
palavra. Não foi menos admirável o successo com que Deos o livrou do
perigo d'aquella medonha tempestade, quando indo visitar a Província em
/l
companhia do Governador Mem de Sá, se foi o navio ao fundo, e andou
elle sobre as agoas tempo considerável, não sabendo nadar. Imitou aqui
Nóbrega a fé de Pedro sobre o mar : e Christo com elle o favor de não se
afundir em as agoas. Com outra maravilha guardou segunda vez a vida de
seu servo, na occasião da balea, monstro assanhado, que o assaltou no mes-
mo lugar, em companhia do Padre Ignacio de Azevedo, Luis da Gram, c
Joseph de Anchieta. A Nóbrega se attribuio também o milagre da fonte
prodigiosa de Porto seguro, e muitos outros em diversos lugares.
146 A seu espirito de prophecia atlribue o mesmo Joseph, o com que
aíTirmou qos Tamoyos de Igpcroig, que no ponto que quebrassem as pazes
137
DO ESTADO DO BRASIL (ANNO DE 1570)

ser destruídos: o com que ameaçou


graves cas-
aos portugueses, havião de
Vicente, pelas injustiças que commetião contra
tigos aos moradores de S.
como se já os vira, mandando que os Padres,
os índios- com tanta certeza,
ruas publicas tomando disciplma, e
pedmdo ao
e Irmãos sahíssem peías
Rodrigues, enfermo de graves, e con-
Ceo misericórdia. Ao Irmão Vicente
muitos annos sem remédio algum, disse: «Vos
tinuas dores de cabeça havia
quando faltar todo o necessário, e então
Irmão não haveis de sarar, senão
Aconteceo assi, diz Joseph; porque sendo
vos hão de cahir os dentes.»
padecendo alli gravíssimas fomes, e
mandado á missão do Rio de Janeiro,
no aperto da guerra, então sarou perfeitaipente;
falta de tudo o necessário
a cahir os doentes, até
despovoarem a boca, co-
e sarando, lhe começarão
muitos outros casos reconhecerão seu
Em
mo dissera o servo de Deos.
prophecia, Joseph de Anchieta, e outros varões graves d'aquelle
espirito de
de prophecias, ou mila-
tempo E supposto que não depende a santidade
indicio de varões excellentes, e com
que costuma o Ceo
gres; he comtudo
approvar suas obras.
147 E temos em breve summa as cousas notáveis do servo do Se-
visto

nhor o Padre Manoel da Nóbrega, fundador, e primeiro Apostolo da Pro-


proseguirão os que após elle trabalharão
víncia do Brasil: a cujo exemplo
novo mundo. Cuja santidade foi tão rara,
na conversão da gentilidade d"este
com elle varões em todo o género tão íllustres;
que sendo que concorrerão
Anchieta, Luis da Gram, Leonardo Nunes, João Aspílcueta
hum Joseph de
Navarro e tantos outros, quantos
tem mostrado a historia, e venera hoje
esses em comparação de-Nobregase reputavãoasimes-^
a Província- todos
gigante: assíseguíãoaluzdeseu
mos na virtude pygmeos, á vista de hum
assi imitavão seus dictames, assi punhão em execução suas or-
exemplo,
espirito reconhecessem juntas as excellencias
dens como se n'aquelle só
de todos. E não somente no Brasil; em Roma, em Portugal, em o mundo
sua santidade; ao menos pela empresa que tomou a seus
todo foi conhecida
á de hum Xavier ficando partida entre estes dous varões
:
hombros, igual
a Xavier ficou a do
apostólicos a conversão da gentihdade do mundo :

Occidente. Tratarão d'este servo de Deos, o ve-


Oriente; a Nóbrega a do
Joseph de Anchieta em seus Apontamentos. O Padre Orlan-
nerável Padre
Companhia emmuitos lugares de seus
dino primeira parte das Chronicas da
n.° 265. O Padre Balthesar Telles nas Chro-
livro's. Sacchino ni part., liv. 6,
liv. 3, cap. 2, e d^ahi em diante. E nos nada
nicas de Portugal, part. i,

escrever, onde para Nóbrega


mais trataremos por hora pare a penna em
:
LINHO IV DA CUnOMCA DA COMPANHIA DE JESU

;
em obrar a suas empresas especialmenle se dedica este tomo primeiro
:

por primeiro Apostolo do Brasil; como outro se dedicou a Xavier,


por primeiro
Apostolo da índia; outro a Igriacio Patriarclia nosso, por primeiro
Geral da
Companhia. Andarão os tempos, e irão sahindo tomos vários, devidos
a
varões da mesma empresa, que se bem não forão n"ella os primeiros, não
for3o segundos nas virtudes.

'Vi

'
\

FlMg LAUS DEO VIUOIMQUE MAITil,

\
seguem sãoque pmnett no Imo iii, folha 310
os
Os versos que se

d' esta obra n,pornão


interromper a leitura; e são os que o venerável
Padre Joseph de Anchieta compoz, quando esteve em reféns entre os
escrevendo-os na prata em
índios bárbaros, com ajudada Virgem,
lugar de papel, quealli não tinha, nem tinta.

JESUS MARIA
DE BEATA YIRGINE DEI
UlTRE mARIA.
Eloqaar? an sileam, sanctissima Mater Jesu?
Num sileam? laudes eloquar annè tuas?
Mens agitata pij stimulis hortatur amoris
Ut Dominae cantem carmina paucae meae.^
Sed timet impura tua promere nomina linguâ,
Quae sordet multis contemerat malis.
Scilicet illius, quae clausit ventre Tonantem
Audebit laudes lingua profana loqui ?
Mens stupefacta fugit, nisi quòd tuus óptima Virgo
Corde metum pávido cedere cogit amor.
Quid faciam? quare trepidem? cur nostra rigescent
Pectora ? cur de te lingua silebit iners ?
Ipsa loqui cogis, tu vires sufficis ipsa
Dicere conanli, reíTicis ipsa manus.
Tu pietate foves materna, animumque jacentem
Erigis, aethereis accumulasque bonis.
Sydereae tangar si non ego Matrls amore,
Si mea non dicant Yirginis ora decus
Duritiâ silicis, ferrique aeriscpie rigorem
Vinca t, et invictum cor adamanta meum.
Quis mihi virgíneos sub pectore claudere vultus
Praestet, ut ardenter te pia Mater amem?
Tu mihi cum chara sis única Prole voluptas,
Tu desiderium cordis, araorque mei.

») Corresponde ao vol. ii, pag. 2i Ja presente cdiíjúo.


T.EP.SOS DO PADRE JOSEPH DE ANCHIETA

De Conceptio.ne Vinoi.Ms Mari.e

Te prius aethereos verbo quam conderet orbes.


li Ante Deus latam quam fabricarei humnm.
Te prius aeterna concepit mente futuram
ir© %t*n;-.
.
Cum pura Matrem virginitate suam.
O tu qualis eras divini ante ora parentis
w> Cum mundum coeli condita turma foret ?
'
Nondum lativagi diffluxerat aequoris unda.
i M
!'/; Nec vagus
obliquis fluxerat amnis aquis
Nondum faepundo manarant gurgite fontes,
Nec juga constiterant árdua mole gravi
Et tu jam summi concepta in mente Parentis,
Cujus ventre Deus conciperetur, eras.
Qnae foedis mundum
purgares sordibus omnem.
Et íieres plagis vera
medella méis.
Qualis es ó Virgo quantum dilecta superno
!

Artifici qualis forma decorque tuus


!

Tu ventura salus primo promissa parenti,,,, ~. .

Quae Vitam
casto víscera nixa fores. .
't ,
',',',',,

Ut quos mortiferis infecerat Eva venenis,


Concepta Antidotum tu sine labe dares.
Foemineo expavit versutus nomine serpens,
Cujus capta fuit foemina prima dolis,
ScUicet ipsa tuae concepta in ventre parentis
Quod maculat cunctas crimine sola cares.
Cojnminuisque caput sinuosi calce Draconis,
Et depressa tuo sub pede colla tenes.
Tota refulgenti resplendes pulchra decore.
:i:
To ta cares naevo, dalcis amica Dei.
Nulla tuo labes peccati pectori inhaeret
.
Num laedit specimen vel nota parva tuanr:*
'« O speçiosa nimis, virtutum compta nitore,
Quae potes angélicos exuperare choros.
Fige tuum nostro Virgo immaculata decorem
Pectore, forma óculos attrahat ista meos.
Scilicet haec magnos capiebat forma Prophetas,
Qui te carminibus praecinuere suis.
Illi to variis praesignavere liguris.

Optantes Proles ut tua ferret opem.


Quam cuperent illi coeli splendore niteiilis
O formosa óculos cernere Virgo tuos I

Quam coram divinam haurire loquolani,


vollent
Manabalque tuo dulcc quod oi'C meios
141
EM LOUVOR DA VIRGBáVI

Foelíces igitiir, qui te genuere- parentes,


E coelis ortum qui didicere tuum»
O foelix Joacliim, cujus de semine Virgo
Progenita est Natum progenitura Dei.
alvo est
Foelix Anna pai^ens, cujus conclusa sub
Ventre Deum Virgo compositui'a suo.
ventris,
Cui facta es gravidi dulcissima sarcina
Chara patris soboles, et leve matris ónus.
Clausa manens útero nuUi patefacta pnorum
Ostia coepisti jam reserare poli.
Jure supernorum meritas jam praeparat
agmen
Quas referat grates, sancta puella, tibi.
Jure nova exultans per coeli terapia celebrat
Gaudia, quod gigni te sine labe videt.
Per quam mundelur primorum noxa parentum,
Humanum maculas contraliit unde genus.
Per quam nars nostri contractas máxima sordes
Eluat, aêthereis annuraeranda choris.
Jubilet aula poli, sine crimine gignitur
uUo
Aula futura Dei, jubilet aula poli.
Moerat orcus edax, nuUa est in Vn-gine labes
Quae modo concepta est, moerat orcus edax.
Deprime sanguíneas coluber foedissime cristag,
Caudaque contracto palpitet aegra sinu.
Conde superbe tuam sinuato corpore frontem,
Protege cervicem, conde superne caput.
Ecce venit mulier laqueos ruptura dolosos,
Ecce viro mulier fortior, ecce venit.
Quid miser exultas, quod retia miserit olim
In tua non cautos foemina prima
pedes ?
Improbe quid gaudes, mulier quia prmia marilum
Movit, ut inficeret sordibus omne
genus ?
Gignitur en Virgo primi de carne parentis,
Quae tamen ipsius nesciit una scelus.
prioris
Ecce venit maculis mundata, ac lege
Libera, sola tuas non subitura plagas.
inimicitias, et bella horrentia semper
,'.'1
Haec
Terribilis contra teque tuosque geret.
Tu niveo ipsius malus insidiabere calei
Pestífero verrens pectore lapsus humum;
Sanguíneo ut facias lethalia vulnera morsu,
Dirá venenoso dente venena vomens.
ília libi insuUans nec dirá afflabitur
aura,

Nec dente icetur, sanguinolenle, luo.


Ui \T:RS0S do PADRr JOSEPH DH ANCHIETA

Cervicemque premet planta viclrícc snpoibam,


Confringclque tuum comminuelqup capiit.
Tártara nigra tremant eqiiUem turbavit,
:
oqtiumque
Tartareum Yirgo, tártara nigra tremant.
Gautleat ad tantae Conceptum Virginis omuis
Quae gemuit tristi terra sub axe diíi.
En redit ille nitor coeli, íjiciesque serena,
Cui primi obduxit nubUa culpa viri.
Coelica purgatis en rident atria nimbis,
Laetaque placatus protulit ora polus.
Nam tuus ò foelix primae Conceptus honorem
Justitiae relinet munere Vlrgo Dei.
Ut coelum illustres, coelesti luce coruscas,
Et mundum ut mundes, crimine munda vcnis.
Et dolor, et crlmen, diuturni causa doioris,
Corripient celerem te veniente fugam.
Jure polus gaudet, cujus digníssima Princeps
Conciperis, Dominum post paritura suum.
Jure solum gaudet, quia terrae è semine nata
Laus ens astrigeri luxque decorque poli.
Cum terra pontus, cum ponto exultat Olympus,
Cumque creaturis conditor ipse suis.
Maximus immenso laetatur amore Creator
Mira suae spectat cum monimenta manus :

Contmuos vasto cum cernit in aequore motus.


Et varia aequoreis ludere monstra viis
Cum videt immotam tam grandi pondere terram,
Cunctaque materno quae fovet alma sinu :

Astrigeros pulchro cum temperai ordine coelos,


Innumeris florent quae loca spiritibus.
Si de perfecto, quem verbo condidit, orbe
Ille Opifex rerum gaudia summus habet :

Tu certe ex omni, speciosa puellula, parte


Gaudij eris summo máxima causa Patri,
Jubilat ille fovens immoto gaudia
corde
Quòd fecere suae te sine labe manus.
Perfecit manuum super omnia facta suarum
Hoc unum, et relíquis praetulit Autor opus.
jam tellus, nec jam tibi certet Olympus:
ISec tibi
*

Concedunt forma terra polusque tuao.


Coelica inassuetum miralur tui-ba decorem,
Quo nova materno fo(?mina ventre nitos.'
Scilicet eílinxit si te natura minorem,
At divina tibi grafia maior in csl.
',''*^j.''\..

EM LOUVOR DA VIRGEM 143

Ó opus eximium, divinae ó fabrica dextrae


Nobilis, ó totó grandior orbedomus.
Cíim tua laetificet totum Conceptio mundum,
Expers laetitiae cur ego solus ero?
An quia deturpant foedae mea pectora culpae.
Et maculata dolent sordibus ipsa suis ?
Munditiamque lutum, lucemque odere tenebrae ?

Et virtus animo semper acerba maio est ?


Luminaque exhorrent faciem lasciva pudicam?
Torquet et impuros integritatis honos?
Nec mihi (confiteor) corruptam pondere mentem
Tristitiae poterant mergere ad ima gravi
Ni tiio reficeret lacerum clementia pectus,
Totaque materno mens foret orba sinu.
Nam tua lux tenebras pellit, coenumque repurgat
Munditia, et virtus eíTugat orane scelus.
Te sequar impuras puram, tibi pectora nostra

Haerebunt vitiis expolianda suis.


Nam quis de immundo conceptum semine mundet?
Et puro foedas abluat amne notas ?
Nonnè tua hoc faciet, Virgo mundissima, virtus,
Conciperis primo quae sine sola maio?
Ecce ego flagitij consors vilesco paterni,
Primaque de matris crimina ventre tuli,
Totus in immundi submersus gurgite coeni.
Et mea vita suis est putrefacta malis.
Tu fons munditia purus, scelerumque fugatrix.
Tu mihi cor vivis purificabis aquis.
Foelices illi, quorum pia pectora amore,
Et desiderium conflagrai omne tui.

Foelix qui tacitae per arnica silentia noctis


Te meditatur amans, te meditatus amat.
Foelix Virgineae qui observai limina portae,
Assiduusque tuas excubat ante fores.
Qui decora alta tui Conceptus voluit amanti
Pectore, quae vita est áurea porta tuae;
lUe tui dulcem curam experietur amoris,
Menteque cum munda corpore castas erit.
Hauriet á Domino veram donante salutem,
Et vitae inveniel munere dona tuo.
Ó amor, ó bonitas supremi immensa Parentis,
Cujus te mirum dextra poliuil opus.
Laudet eum tanto decorandum numine coelum,
Gratificoques hymnos personet ore novos.

1
,i
!
u» VEnSOS DO PADRE JOSÈPH DE ANCinETÀ

Laudet eiim tanto jam foelix munere terra,


Terra binnm gerans, quod feret oirme Ixjiium,
Mens quoque, summe Pater, mea te veneratur adorans,
Progenitaque meus Virgine laudat amor.
Ó decus, ó geneiis piílcherrima gloria nostri,
Splendor honestatis, munditiaeque nitor,
Hei mihi, cur spí^evi te, formo&issima rerum,
Sparcitiae tarpi caecus amorc meae?
Cur non viderunt tantum mea lumina lúmen?
Cur mea non traxit pectora tanlus odor?
Me miseinim! carnis prodegi animaeque pudoreniy
Contulerat Genitor quas mihi summus opes.
Et procul aufugiens, patrem matremque reliqui,
Offendens factis teque Deumque méis.
Et tandem redeo patrem matremque requirens,
Inveniam ut meritis teque Deumque tuis.
Ante tuos miserum sine me procumbere postes,
Nec mihi clamanti duri ter obde fores.
Istic integras sine me tradacere noctes,
Istic Íntegros me sine ílere dies.
Sit tua visceribus Gonceptio munda voluptas,
amorque méis.
Deliciae, requies, gustus
Hanc ego contemplans, memorique in mente revelvens
Munder, et abscedat turpis imago procul.
ítll Hujus amor foedum protudet castus amorem,
Foetorem pellet pectoris hujus odor.
Ó tu, quae nivei, bona Virgo, pudoris amantes
Diligis, exemplo quem didicere tuo:
Me tibi qui serò mentem corruptus adhaesi^
Seminecem mites cum tetigere manus;
Me refovere tui ne desine pectoris aestu,
i
, I
Flamma tuo tepeat carnis ut igne meae:
Et pollicitum reddat sine faece pudorem,-
tibi
Juratam servans tempus in omne lidem.
Percipis (an fallor) tremulae vaga murmura voeis?
An sopita jaces tegmine ventris adhuc?
Et fortasse tuas obstruxit fertilis aures
Sordibus, et vitiis mens mea foeta suis:
Sed timco immeritò: vani procul esto timores:
Non tallit Matris dulcis imago piae.
Non talem expcrtus ic sum, mitissima: non sic
Ingenij piclas cst mihi lota liii.
Desinct ante leves nox húmida hmdfi-r nires,
Et caderc è gra>idis nuljibus humor aqnae;
EM LOUVOU DA VIRGEM 14li

Ante negent liqnidi diílcissima pocula fontes,


Ante fluens vitreo non cat omne látex
Quam tua non manet pieíatis vena iiquores,
Et stent dulcoris laia íluenta tui.
Ó utinam forti nostras sine fine medullas
Concrement igne tui dulcis amoris amor.

De Outu Beat/e Vírgims Mari^

Quis novus astrigera scinlillat luclfer arce ?


Quis novus Eoo splendet ab axe nitor ?
Quis novus aethereo de culmine fulgurai ignis ?
Quae nova inassueto lamine flamma niicat?
Quae nova lux rádios caocum diífundit in orbem?
Quae nova lux óculos verberai orta meos ?
Maior adest fulgor, rutilantior exit Eous,
Clarins erumpttt per juga celsa jubar.
Maiori video roseam nituisse rubore,
Auroram, nitidis et rubuisse comis.
Pulchrior invebitur croceo spectabilis aethra
Tegmine, flammiferis irrequieta roíis.
Sed quid ago insipiens? óculos caligine mersi
Decipiens nimia lux nova luce meos.
Nunc etenim primúm cunctis claríssima rebus
Haec oritur lampas, lux ubi nulla fuit.

Omnia ab antiqua nascentis origine mundi


Texerat horrifico turba Erel)ea chão.
Omnia nox late nebuloso caeca pavore
Terruerat, tenebris obrueratque nigris.
Nulla polo densas aurora amoverat umí}ras,
iEthere nocturnos nulla fugarat equos.
En primum placidi sub vértice lúmen Olympi,
Quo caruit tenebris obruta terra videt.
Terminai haec noctis tenebras, lucemque divinam
Producii radijs Stella corusca novis.
Praevenii immensum Sohs pulcherrima lúmen,
Perpetuumque praeit nobile mane diem.
Haec Stella est, oritur quae magni ò stirpe Jacobi,
Luxque ienebrarum non habitura vicem.
Ecquid adhuc densis mea mens obduceris umbris ?
Ecquid adhuc óculos nox tenet atra tuos ?
Aspice nasceniem íbrmcà praestant Puellam,
Cujus ab oljscurc lox fugat or be chãos.
VOL. II 10
140 VEnSOS DO PADRE 30SEP11 DF, ANCHIETA

Ut tua coníigerit fulgenti lamina ílamma,


Aspeclam retine terapus in omne semel.
Ipsius eximius delectabere amore,
si

Ipsius eximius te refouebit amor.


Ejus honor verum tibi conciliabit honorem,
Auferet opprobrium scilicet ipsa tuuni.
Ilaec est, si nescis, magni nova gloria mundi.
Gloria magna poli, gloria magna soli.

Haec infames quae nobilitate parentes


est,
Donat, et amissas crimine reddit opes.
Haec est, quae patrum tollit maledicta priorum,
Et generis delet dedecus omne sui.
Hujus in exortu veteses cestere querela,
Et dolor, ò Joachim, íletus, et Anna, tuiís.
Jam uunc, sancte senex, nnllam patiere repulsam
ín Tempíum Dom.ini cum tua (lona feres,
Jam non ad caulas indultum íletibus ibis,
Nec duces têmpora moesla greges.
inter
En tibi laetitiam mundo paritura perennem
* Tristitiae pariter Filia meta tuae.
Inter foecundos multo foecundior omnes.
Et foelix tali prole ferere pater.
Inter foecundas multo foecundior Anua,

i'
Et foelix tanto pignore mater erit.
Foelices nimium foelici sorte parentes,
Quos tanto ornavit summus honore Deus.
Foelix tam longo paíientia tempore conslans,
Quae talem fructum, ceu bona terra, lulit.
Foelix tam mitis, iam néscia vila querelao,
Cui dedit omnipotens praemia tanta raanus.
Foelix ò pietas Templo miserisquc benigna
Paupcribus, tanto magnificaía bono.
Foelices lacrymae tam dulce levamen adepta
Ó foelix nactus gaudia tanta dolor I

Laetare ò Joachim, tua quondam Filia Mater


Facta Dei magnum te quoque i-eddcí avum.
Gaude Anna, efíicieí tua jam tibi Nata Nepotem,
Quem pariet salva virginitate, Deum.
Quo feror impulsu deraens? quo liu-bine raptor?
Quo céleres pi-operant tam sine more jicdos?
Cur oculis ellluilis, nec Virginis ora videlis,
Ora verecundis plus rubicunda rosis?
Cur vos non reíinenl nalae formosa Puella
Lumina, Phebco lumine clara magis?

I.

«Mi
EM LOUVOR DA VIRGEM 147

Fallor ? an et nostras vagiíus percutií aures ?


Quae mihi tam dulces attulit aura sonos?
Fallor? an eí nomen soniiit mihi dalce Mariae,
Et dedií ad nomen machina signa triplex ?
Súbdita virgineum venerantur sydera nomen
Súbdita virgineum nomen adorat húmus.
Terribih pavitant Erebei nomen caetas,
Saevus eí in Stygijs abditar anguis aquís.
Ó mihi mellifluà plenum dulcedine nomen í

Ó nomen miris dulce Mariae modis


Si fmis, ante tuas pro munere paucula Cunas
Captus amore íui carmina, Virgo, canam.

Salve divino tam compía Maria decore,


_
Ut íuus angehcos sií niíor ante choros.
Ó salve humano tam nobilis ore Maria,
Transeaí humanos uí íua forma modos.
Tu male confracíum fortis solida])is Olympum,
Antiqua renovans integriíaíe poios,
ílumana aethcreas implebis gente ruinas
invicto Nati robore freta tui.
Nempe Dei paries intacto viscere natum:
ílle salus cunctis única rebus erit.

Ó Mulier fortis, quae post toí temporis annos


inventa es tandem foemina fortis. Ave.
Ó Urbs divini moles operosa laboris t

Ó Domus Artificem compositura taum 1

Ó nova progénies divinae ó nobile donum,


I

Quod meruií Joachim, mater, eí Anna, manus


Exoreris claro magnorum è sanguine Regum;
Sed genus exuperas nobihtate íuum.
Non ideo es foeiix, magnis quia Regibus orta,
Ista nec à paíribus gloiia, Virgo, venit:
Sed quia te taníam neptem genuere, beaíi,
Dequè íuà paírum gloria laudeí fiuit.
Si bené coníemplor, tu saneia infaníula vitae
Arbor es aeterna fertiliíate gravis.
Cujus in est radix humili benò condita terrae.
Árdua sublimis sydera íangií apex,
Cujus utramque domum contingunt brachia solis,.
Períinguní rami cujos uírumque polum.
Subque íuis foliis operis genus omne animaníum:
Prolegií umbra homines, proíegit umbra feras.
Quippe bonos plácida mitissima protcgis umbra,
VERSOS DO 1'ADI;E JOSEPII DK AXCHICTA

Nec tua com veniuiit respicit uaibra maios.


En mea continuo mens aestuat ignc maloruin:
Protege me sparsis, aiijor amoena, comis.
Inque tuis possim, volucris ceu caelica, ramis
Divinos laeta promere você modos;
Qualcs multiplici fundunt modulamine canlus,
Quos tuus assiduis ignibus urit amor:
Quos juvat ami^ages vlrtutum ambire tuarum,
Perquè tua incessus figere fada suos.
Tu Baculus fragiles sustentans robore vires,
I lu laqueum dúbios nec sinis ire pedes.
Non metuant casum, tibi qui innituntur et haci-enl,
Qui sua committunt omnia, seque tibi.
Respice ut omnis abit, vigor, et genua acgra labascunt,
Confirmet tremulum ne tua dexti-a cadam.
Tu coilis, stillal pingues ubi sylva liquores,
Puraque de mati'is cortice odora fluunt.
Cujus odor vivos reficit, vitaeque rcducit
Quos rapuit fati mors fera lege sui.
Ille mihi Stygio mentem foetore putrcntem,
Foedaque de turpi sustulit ora íimo.
Tu ductus vivae lalòque íluentis aqualis,
Per quem divini ilumina funtis eunt:
Currit inexbausto per quem sacra gurgite lymi)ha,
Uber, et in stcriies labitur amnis agros.
Ó mihi vitalís per te, precor, iiiPaiat humor,
Ne nocuo pectus conílagret igne meum.
Tu vera effigics, divini et imago decoris,
Cujus sydereus splcndor in ore niíet.
In qua ceu speculo magni perfecíio lucet,
Yirtutesque omnes, ingeniumque Dei.
Imprime formosam nostris, bcnedicta, liguram
Pectoribus vitae mundiliae([ue tuae.
Tu Fuimen rapidis comburens crimina fiammis,
Tartareosque cremans sul> Plilegeílioníe duces.
Nomen avernales, ó Virgo Maria, phalanges
Fundit, et affligit, praecipitaque, luum.
IIoc mihi pro telo, bello insurgente, Maria,
Hoc mihi pro Ibrli fuhnine nomen erit.
Tu Gemma ignitos vincens fulgure pyropos,
Aui'ea qua magni fulgui^at aula Dei.
Tu preliosa nimis perhicida margarila,
Ijude sibi ornalinn terra poliisipie [lelunl.
Peclora qtiae \aiio pingis iiiii dcílila cultu.
EM LOUVOR DA VIRGEM 149

Pictaque divino digna favore facis.


Tu latices ole facundos ííydria fundis,
Omniaque pingai vasa íiquore reples;
Debitor unde miser, postquam suo debita solait,
Undc in perpetuam vivere possit, habet.
Languoresque meos óleo pietatis inungens
Efficis ad luctam foríia membra milii.
Tu Jaculum dulci laedens praecordia amore,
Quae nostra ut sanes interiora feris.
Quae rumpis molli penetralia pectoris íctu,
Vulneraque solo lamine magna facis.
Nam quemcumque pijs specíabilis mitis ocellis,
Ille tuo graviter saucius ense gemit.
Tu Luna illustri nunquam variabilis ore,
Cui jugis impleto praesíat inorbe nitor.
Quae luces íenebras inter versantibus atras,
Et lux in caecà nocte diurna micas,
Qui sua luce taa vestigia rexerit, ille
Laetus in occidui lamine solis erit.
Tu Mari, tu magnum, tu magna maior abysso,
Agmina quae condis non muneranda sinu:
Magna ubi cum parvis animalia piscibus errant,
Cunctaque sunt matris tegmine tuta suae.
Sub tua tecta boni fagiunt; nec dura repellis,
Cum miseri fagiunt sub tua tecta mali.
Tu Navis, nuUis quam motibus aequora jactant,
Hórrida quam nullo turbine quassat hyems.
Cujus in hospiíio íranquillum navita cursum
Conficit, et pedibus littora tuta premit.
Tu, sacra ne indomiti vastent altaria tauri,
Perpétuos Templi lamina claudis Obex:
Quem neque tartareae poterunt infringere portae,
Nec malus ostentis haeresiarcha novis.
Obsigna validis nostri precor ostia cordis
Yectibus, ut soli sint adaperta Deo.
Tu placidus Poríus, stacio secura carinis,
Quas agit insani vis furiosa fretí,
En mea, quae diris agitatur cymba procellis,
Ad te jam fesso remige tarda venit.
Torva reluctatur cum saevis marmora ventis:
Porrige, ne pereaí, Virgo benigna, manum.
Tu Quadriga Dei, quae justo excita furore
Proferis bostiles impetuosa mamis.
índu jam robur, dignas accendere in iras,
150 MUnSOS DO PADRE JOSEPIÍ DE AXCIÍIETA

Obruc quae surgunt agmina saova mllii.
Tu Rosa de nec spinis pungoris orta
spinis,
Perpetuo primi veris honore nitens.
Quam nec tristis liyems, hirsutaque frigora laedunt,
Nec maius aestivo marcidat igni polns.
Quac aeterno seros ornabis flore nepolcs,
Quae aeterno primos flore fouebis avos.
Tu Speculum, Signum, Sydus, Slimulusque, Salusque,
Justitiae, fidei, lucis, amoris, hunii.
Justitia iílustra, fidei piigoantia signo
Castra rege, aeternae fundiío lucis opes.
Divino stimula tandem mihi pecíus amore,
Pande salutares ad sacra templa vias.
Tu Tegmen rapidi fervenli solis ab aestu,
A rígida glacie, frigoribus,que nivis
Quo pater Adamus probrum, quo prima pudorem
lUa parens culpae contegeí Eva suae:
Quo mens nuda mihi velamine, nuda tegantur
Membra Creaíori grata futura suo.
Tu generosa virens Jessaea ex arbore Yirga,
Yirga carens nodo, cortice Virga carcns.
A prima modum nec ducis origine culpae,
Cortice nec proprij criminis aspra riges.
Tartareum duro íorquebis fuste tyrannuni.
De malé possessa projiciesque domo.
ípsa tuos molli castigas verbere amicos,
PercussGsque tuo dulcis amore foucs.
Caede meãs crebro pia voitere virgula costas
Dulce íuae faerit ferre flagella manus,
Caede, nihil parcas; debcntur verbera culpis:

Caede, nihil parcas; leviter illa feram.
Si tibi dilectos clemeníi viscere amoris
Percutis, ut charus sim tibi, caedar ego.
Caede, nihil vcreor nê Virga occidar ab ista:
Non novere tuae pernecuisse manus.
Caedis enim sanans, et sanas vulnera caedcns,
Et redit ad plagas vita perempta tuas.
Ó Virga intacto íactura cacumine coelos,
Augraentique tui vix babitura modum.
Exultate poli, collcs gaudero pcrenncs,
Plaudile syderibus florida regna rubris.
Angelici properate cbori, propei'ate ministri,
Allernis céleres ite, redile vijs.

Festivas natao choreas cclebrate puellac,


EM LOUVOR DA YI?>GE?fí m
Carmina fundentes Virginis ante torura.
lUa venit vestras olim sartura ruinas,
ília decus vestris sedibus orta veliit.
Sternite aromaticis cunabuia Virginis herbis.
Pingite purpureis molle cabiie rosis.
Balsameis teneros perfundite odoribus arlus,
Regales gemmis el decoraíe comas.
Formosis Annae consterniíe floribus ulnas,
Quosque sedet dulci pondere pressa finos.
Ó verè íbelix, cassumque gravamine pondus,
Qod sedet in grémio nobilis Anna tuo.
Nec gravis in gravido fuit haec tibi sarcina ventre,
Ulla nec in pariu poena dolorvé fuit:
Jure ne quae mundi venit ablatura dolores
Tristiíia cum tristi damna dolore daret.
Conceptus dulcis dulcem quoque praevenit ortum:
lUe carens maculis, iste dolore fuit.

Dulce tibi teneros involvere vestibus artus,


Amplectique ulnis membra íenella pijs.
Dulce verecundis infingere basia malis,
Dulce labris Natae labra fouere tuis.
Dulce tibi plenas ori inservisse mamillas,
Pellere lacte famem, pellere lacte siíim.

.Dulce tibi incompto cantu sopire puellam


Árida nectarens dum rigat ora liq vor.
Omnia ciim dulci tibi suní dulcíssima Prole,
Plusque tui, quam tu, pectoris illa tenet.
Huc omnes properaíe, gravis qaos sarcina culpae
Deprimit, et pressos tártara versus agit.
Ista Redemptorem pariei modo nata Paella,
Qui grave sublato crimine tolleí ónus.
Ferte pedem pueri, juveniles currite caeíus;
Munera ferte viri,munera ferte senes.
Currite, quí nivei fastigia ad alta pudoris
Ritè per acclives quaerites ire vias.
Haec moUi ducens ad cana cacumina clivo
Yirgineum trito tramite pandet iter.
Ó Domina, ò Virgo formosi zona pudoris:
Si bene quos vincis solvere nemo potest.
Stringe meos casta, benedicta, ligamine lumbos.
Vincula circunda renibus arcta méis.
Haec cape, quae cecini, Virgo pulcherrima, cunis
Turpis abortivus, pauper inopsque tuis.
Lilia plura meus, florum tibi laeta rubenlum
1'**^ VERSOS DO PADRE JOSEPIl DE ANCHIi:TA

h Stemmata nasceiíli pkii-a pararaí amoi'.


Niinc tamen illa tibi pariturae munera servo,
Cum Deus in grémio sederit ipse luo.
Interea dulci disteiilas lacte mamillas.
Et bene praemíinsos sume tenella cibos:
Ut Domini in Tenipliim cresças portanda sacratum,
Grande decus, múnus nobile, clarus honos.
í Me quoque ut in casto pulcliri mihi crescat amoris
Pectore flamma, tui pabulo amoris ale.

De Pr.esematione Virgixis Mari.e

Prodit odorifero fragrans nova Virgula fnmo,


Altaque aromáticos sydera tangit odor.
Ostia jam resera divini grandia Templi
Janitor, et verso cardine pande fores.
Deme sacris adytis velamina summe sacerdos,
Incensum ut Joacliim ponat, et Anna suum:
Divinamque pio sulTimine adoret ad aram
Summa novo venerans numina tliure Dei,
Atria taurino non poliuet ille cruore,
Nec coquet accensis cárnea frusta focis:
Nec summum hircorum placabit sanguine Patrem,
Ante nec aeratas concidet agna fores.
Scilicet Omnipotens, quaecamque in montibus errant
Jumenta, et pingues lata per arva boves,
Quasque feras densis abscondii sylva latebris,
Aerias volucres, lanigerosque greges,
Granimaque, et pulchris vestitos floribus agros
Condidit, et domina temperat ipse manu.
Non haec iratum placabit viclima coelum,
Munera, nec sanctus praeparal islã senex:
Sed merita fundet médio do pectore laudes,
Reddet, et excelso jam sua vota Deo:
Quae pius emisit, maestum cum degerit aevum
Prole carens dulci, ])robra(iuc multa ferens.
Ecce venit tandem foelici pignore loelix.
Et cum dono aras divite dives adil.
A Domino acceptam Domino dabit ipse Mariani,
lít Templi tanto numere crescet bonor.

Ilujas enim molles nnrdi pubentis arislas,


Galbana, Ihus, myriliam, balsama, vincefodor.
Haec dabit innocuuni, qui crimina deleat, Agnum,
Hóstia pro cunclis qui cadei una reis.
EM LOUVOR DA VIRGEM 153

Qui simiil ac diro mitissimus occidet ense,


Cessabiint caedi pinguia coUa boum.
ílle suo vcteres delebit sanguine sordes,
cruor puro piirior amne fluet.
íile
Illesemel sacra mactabitur Agnus ín ara,
Victimaque aeternum toíius orbis erit.
Ergo veni, foelix, ó Yirgo tenerrima, donum,
Accipiant adytis te sacra Templa suis.
Egredere insignis, sedesque relinqne paternas;
Tecia maríent veri te speciosa Patris.
Desine de collo dulcis pendere parentis:
Mater eris Domini jam sine labe tui.
Sperne puellares, divina Infantula, mores:
Maturus mentis jam tibi sensns erit.
Namque íuum summus Rex aetheris optat amorem,
ígne Deus formae carpitor ipse tuae.
Sensibus ille íuos maturis perficit annos,
Arcanique arcam te capit esse sui.
Rumpe moras omnes charos comiíata parentes;
Incipe divinum Virgo triennis opus.
Ecce venis rutilans: acies properate polorum,
Yirgineas vario pingite flore vias.
Ecce venis multis electa ex millibus una,
Sol ut it ignivomis pulcbra per astra rotis.
Ecce venis miro spectabilis ora nilore,
Lucet ut impleto cândida luna globo.
Duceris in Teiíiplum magni nova sponsa Tonantis,
Et terit iusuetas planta tenella vias:
Imparibusque patris vesíigia passibus aeqiia,
Maternamque premis párvula Virgo manum.

DePLORÂTíO ANOI.E VmOÍMTATIS, I^ CONSPECTO


VlRGINIS

ut pátrio profers divinum ò limine vultum,


Spargiíur ambrosius moenibus urbis odor.
Et sensi, aut certe credens sensisse cucurri,
Oblatuni calcans qua rapiebar iíer.
Et dixi: Quid agis, mea mens? age curre, videre
Sicubi forte sacrae Virginis ora potes.
Nec mora, festinis dum cursibus emico, vidi
Ante sacros Templi Virginis ora gradus.
Ut vidi, ut perij jaculo confessus amoris, .

Ut mea traxisti lamina, Yirgo, tuis:

M'.í
1S4 VERSOS DO PADRE JOSEPH DE ANCHIETA

II Ut milii inassiietis ardoribus intima carpsit


Pectoia formosae virgiiiitatis amor:
Certus eram niveo circundarc fracna pudori.
Claustraque perpetuis reddore firma seris:
Perque tuos passu foelici incendcre gressus,
Moribus exultans, cândido Virgo, tiiis.
mea hmiina planta.
liei mihi, fugisti ceíeri
Tardarei gressns cum mora longa meos.
-Ecce ferus telis oppugnans mollibus lioslis
Expugnat robur pectoj-is omne mei:
Claustraque confringens male cuslodila serasqne,
Corporis atque animae depopulavit opes.
Tunc ego jam sero mea tristia damna rependens,
Heu perijt, dixi, virginitatis honos!
Moesta que percutiens geminatis pectora pugnis
Faia doiens planxi talibus atra sonis.
Hei mihi, quis laesil nunquam reparabile clauslrmn?
Quae vis obstructas fregit iniqua fores?
Quae tam saeva tuam rupií, mea vinea, sepem
Bestia? maceriam quis laceravit aper?
Ecce carens muro fis omnia praeda lalroiii,
Ecce patês cunctis pervia focía feris.
Cur me, summe Parens, eduxíi in luminis oras?
Cur tetigi ex matris viscere natus luminm?
Atque utinam, aspicerení ne m^ea tua lumina turpem,
Consumpta in primo limine vita foret.
Ó utinam pulchri labem visura pudoris
Ultima venisset funeris hora mei.
Quippe foret levius consumi funcre, et omnes
Sulphureo poenas sub Phiegcíhonte pati,
Quam tua, sancte Pater, bonitas immensa, potcstas
Suprema, aeterno agnus amore decor,
Quam tua, sancte Pater, factis laesisse nefandis
Numina, et inter óculos foeda patrasse tuos.
Ó anima infoelix, deformis, adultera, faetens,
Turpis, et in turpi corpore clausa manens.
Excute torporem, corruptum concute pectus,
Horrorem sceleris sórdida volue tui.
Quis formam pulcliri tibi (proh dolor!) abslulit oris?
Quis tua tam turpi poUuit era luto?
Tunc illa es, quondam quam vitreus abluit amnis,
Crystallo pectus candidiusqiic dedit?
Quam sacer aethereo pargavit Spiritus ígne,
Excocta ut ílammis áurea tola fores?

J
VM LOUVOR DA VIRGEM m
Tene rato Sponsus junxií sibi foedere summus
Cum tua foecundis crimina lavit aquis?
Dic ubi sacra fides, jarataqiie federa quondam?
Dic ubi proniissus, nec violandus amor?
Pérfida poliiciti temerasíi jura pudoris:
Spretus amor maeret, facta doleíque Mes.
Displicuit Sponsus, placuit tibi íurpis adulter:
Hospitíum Dominí far scelerosus habet.
Sprevisti Regem, Stygium complexa, tyrannum;
Hic herus infamis, nobilis ilie Pater.
Linquis amaíorem, syncerum pellis amicum;
Acciois osorem, te ferus bostis habet.
Sórdida quin piagis Pairem offendisse benignum,
Debuít esse tuus qui til^i solus amor.
Quin scelerata gemis Dominum tempsisse potentem,
A te cui fuerat summus habendus honor.
Quin perjura doles Sponsi violasse suavis
Foedera, adulíerijs et maculasse torum.
Sorde lupariaris turpasti foeda ciibile:
Sponsus abest duicis, tortor acerbus adest.
Quae rabies miserani, quae te tam dirá libido
Abstulit amentem? quae rapuere faces?
Turbo tuum vehemens foedarum mersit aquarum
(Proh dolor!) in faecis síagna profunda caput.
Ecce jaces Regi superorum invisa polorum;
Ecce cares Sponsi coelico amore tui.
Sordibus implicitam íurpis, quem turpis amasti,
Te teneí in foedo perdiíor ille sinu.
Ó jactura gravis nullo reparanda labore!
Ógrande, amissum tempus in omne, bonum!
Ó decor abjecti nunquam rediture pudoris!
Ó decus, ó nunquam restituendus honor!
Ó bona virginitas, Sponso tam grata decoro,
Quis mihi te casus, quae fera ademit hyems?
Sola tui restat nuper mihi duicis imago;
Tu semel infoelix perdita prorsus abes.
Flete oculi tantam vultu squallente ruinam,
Fusaque lascivas sordidet unde genas.
Huc lacrymae, huc gemitus, plancíus; formido, pavores;
Hue doior, huc pallor, terror, et horror ades.
Obruite insano curarum vórtice mentem;
Mergiíe tristitia tártara ad ima caput.
Âut tu, summe Pater, vel me Stygis abde lacunis,
Offendant óculos ne mea facta tuos.
156 VERSOS DO PADRE JOSKP DF. AXCIIIETA

Vel tere contrito catnem cuni corde pi'ocaceni,


Ut jam grata suo sit mea vita Palri.
Haec ego cum gemerem, tristi et mens aegra dolore
Plangeret ad sponsmn certa redire suum;
Delicijs uti turpis suadebat adulter,
Et dare nequitiae libera fraena meae.
Nulla tibi, ajebaí, capienda in morte volnptas:
Dmn licet, in medijs difflue laxus aquis.
Credere visus eram, victiimque libido trahebat
In consueta meãs vinda daíiira maniis.
Inque tenebroso vitiorum mersa baratlu^o
Jam prope laeta sais mens erat ipsa malis.
Cum prope mors esset, nec spes íbret ulla salutis,
Vellet et in lecto foeda jacere suo:
Néscio quis lenis placidae mibi sibilus aurac
Hos dedit inspirans cordis in ore sonos.
Ouam voluere diu coeno lutulentus in isto,
Surge, veni sacros Virginis ante pedes.
Si turpem vultu te exceperit illa sereno,
Ne timeas, sordes abluet illa tuas.
Surgo gravis metem mulíorum mole malorum.
Et vetus in túmido corpore torpor erat.
Dejectusque caput, faciemquc tegente pudore,
Vix veni ante óculos, Virgo benigna, tuos.
Nec visus oculis, nec erat data copia lletus;
Condebant pressae lumina gesta genae.
Nec quibus affarer noram te, cândida, verbis;
Haerebat gélido torpida lingua, metu.
Mens sibi luxuriae pavitabat cônscia turpis;
Attonítus multo crimine totus eram.
Captabam sola divinas aure loquelas,
Dulce tuo ílueret si quid ab ore mibi.
Ecce labris prodit (nisi falsa illusit imago
Indignum) talis vox mibi nota tuis.
Surge, veni mecum sacrata in templa Tonantis:
Tu mibi perpetuo temporc servus eris.
Audivi, et vita simul ac sermone resumpto,
Ecce sequor, dixi, quo benedicta venis.
Mors odiuinque méis, sanctiipie aversio vultus,
Poenaque debctur non moritura malis.
Sed vitam indigno, el dulcem si reddis amorem,
^Ista tuac maior laus pielatis erit.
Ilaec ego, tu facili visa es risisse íavore.
Et snbijl menti s^ios inopina meae:
EM LOUVOR DA VIRGEM 157-

Increvitque tuos imitandi audácia mores,


Teque vel à longe quà licet usque sequi.

InGRESSUS VlRGINlS IN TeMPLUM

Scande gradus igitur quindenos párvula Templi


Sola, nec auxilijs uíere, Vijgo, patris.
Jam tua marmóreas superant solidata columnas
Crura, quibus Templi grande sedebit opus.
Quanta tuos gressus, ò filia Principis, ornat
Gloria! dissimiles quam tulit Eva suosi
lUa voluptatis pascens vaga lumina in horto.
Infausto movit caile superba pedes;
Lethale ut verita decerperet arbore pomum,
Unde hominum premerei mors truculenta genus,
Tu hastura óculos divina luce modestos,
Sacra Immilis fausto tramite Templa petis:
Vitalem ut gignas arbos ubérrima Fructum,
Unde salus mundo, veraque vita fluat.
Exit Isacides, quas claro ò sanguine natas
Maenia regalis celsa Sionis aluní.
Abdita sacrati penetralia linquite Templi,
Currite ad auratae limina prima foris.
Aspicite intento Reginam lumine vestram.
Cândida cui decorat coelicus ora rubor.
Cujus divinum solis rota pulchra decorem
Suspicit, et radijs Cintbía clara suis.
Quae matutinis foelix laudaíur ab astris,
Cui magni exultant pignora cuucta Dei.
Haec, modo quam certos Domino servatis in annos,
Perpetuae doctrix virginitatis erit,
Dirigite bane ânimos, óculos bane fmgite in unam:
lUa manus vestras dirigat, illa pedes.
Haec illa Foemina, cujus
est etenim fortíssima
De extremo pretium proculque venit.
fine,
Quam Deus omnipotens post saecula multa repertam
Sanguine connectet, conjugioqiie sibi
Namque erit aeterni conjux pulcherrima Patris,
Et Nati illaeso sancta pudore parens.
Vir sus invictis confidit viribus ejus,
Correptura citam castra inimica fagam.
Victoremque diu victrix cum vincet Avernum,
Exuvias altis inferet alta polis.
NuUa raali laedent ejus contagia pcctus,
Sed tola incedet splendida vita bonis,
Jt
158 VERSOS DO PADRE JOSEPI! DE ANCHIETA

Sed rogo vel minimam tantorum Virgo honorum,


Quae facis in templo, dic mihi particulam.
Si quis enim cunctas virtutes dicere verbis,
Aut sola vellet volvere mente tuasi:
Mentis inops fureret, citiusque ingentis arenas
Aequoris, aut herbas enumeraret agri;
Aut pluviae guttas, aut vasti sydera coeli,
Aut sylvae densas, quam tua facta, comas.
O foelix Templum Templo formosius isto,
i
Perpetuus cujus pectore fumat odor.
Da mihi, si nequeo sanctae primordia vitae
Dicere, at interno prosequi amore, tuae.
lUe tuam referet pulchram mihi sacpe figuram,
Nec procul à facie te sinet esse mea.

YlTA VlRGIISIS IN TeJIPLO

Tu Domini supplex humilisque Ancilla superni


Virgíneas aptas ad pia dona manus.
Aut niveas tenero deducis pollicc lanas;
Aut írahis ò plena mollia lina colo.
Nunc quatis arguto bombycina pectino fila,
Serica nunc tenui pallia pinguis acu.
Nunc intertexto velamina perficis auro.
Cortinas, mappas, pnrpureasque togas.
Tenuia mAiltiplici vel texis retia modo,
H Aut nectis varijs byssina pensa modis.
Albave distinguis bis tincío carbasa cocco,
Lute avò aéreo texta colore no las.
Assuis aut sacris rediniicula pêndula mithris,
Carbuncios rútilos, sardonycesque rubr^os:
Unde tabernaculum, sacrumquc altarc tegimlur,
Tegmina sacrificans unde minislcr babet.
Amplificai cultum sancii tua dextera Templi,
Nec tibi fií multe lassa labore manus:
Extendisque pias inopi mitissima palmas,
Dextraque pauperibus serapcr aperta tua est.
Mollia virgineís non praoslas olia mcmbris,
Curaque lerreni non subit iilla cibi.

Nam tibi de cnclo coclorum Conditor escas


Mittit, etaelberca pasceris, usque dape.
Servitiumque tibi chorns cxhibiiurus amicum

Aliger aercis ifquc reditque vijs:


Teque Dei matrem quasi jam praesagial alli.
EM LOUVOR DA VIRGEM 159

StatDominae vulíum subditus ante sua.


Non extinguetur caecà tua nocte lucerna; ,

Est tibi nox claro clarior ipsa die.


Ut tua de mulsit tantiilus lumina somnus,
In tacita surgis paupere nocte toro.
Inque tui dulci conclavi sedul acordis
Quem tua dilectum mens pia quaeris amat.
Quaeris, et invento sírictis ampiexibus haeres,
ín cliarique jaces deliciaía sinu.
Hic de divinae claríssima lumina lucis,
Largaque de vitae gaudia fonte bibis.
Hic tibi magnarum reseraí mysteria rerum,
Deliciis recreat dum tua corda suis.
Pascitur ille tui fragrantia pectoris inter.
Lilia, odoriferis clecubat inque rosis.
Ille tibi charus, tu multo charior ilíi:

Exuperat que suo foríis amore tuum.


Ipsa tuos valida firmas virtute lacertos
Gonstrictumque ienes, nec procul ire sinis.
Clausa nec spectas ut .pulsei ad ostia mentis,
Sed patet illi animus nocte dieque tuus.
Cor tibi perpetuo vigiiat sine pondere somni.
Ipsa licet jaceas pressa sopore genas:
Plenaque perpetui ísia ciirismaie lampas olivi
Non extinguendo lumina clara micat.
Ó yigilans Virgo muliebris gloria sexus,
Ó juge soiari pulchrius orbe jubar.
Dum tibi delitiae repient, dum lumina mentem,
Dilecti, huc óculos flecte modesta tuos.
Percute nostra íuis radiis languentia somno
Lumina, unguinibusque Une
divinis
Te videam dilecto nocte fruentem.
tacita ut
Et meus aspecíu ferveat ejus amor;
Nec secreta mei subeam penetralia tecti,
Excipiaí síratus nec mea membra torus;
Munera luminibus nec dom placidissima somni,
Nec requies fessas mulceat uUa genas:
Ni prius inveniam Domino sedemque torumque,
Hospiíio Christum suscipiamque meum. -

Quam dilecta Deo tua sunt habiíacula Virgo!


Quam tua vita illi, quam tua forma placeti
Mens eraí acta tuae percurrere plurima vitae,
Ut tua viía nieac regula recta foret:
Sed superas numero virtuium ac pondere sensum.
160 VERSOS DO PADRE JOSl:;i>II DE A.NCiliETA

Mensquc ávida hausta boaus.


ia iantis deficit
Congressere licèt multa boiía plurima natae.
Ingentes, et opes, divitiasque sibi:
Tu regale tamen supra caput exeris, omnes
Summaque thesaui'OS vix capit ulla íuos.
Multiplicique íuum locupletas muncre pectus,
Innumerasque hauris, nec saliaris opes.
Virgíneo castos accingis robore lumbos..
Et tua divinis legibus ora patent:
Ut decet aeterni templumque araraque futuram. -

Quem maré, quem tellus nec capit aetiira Dei.


Obstupeo tanta perculsus imagine matrem
Cum video patris te foro Yirgo tui.
Hinc tua tam grandi incremento gloria surgit,
Ut cessem victus jam tua facta loqui.
Sat mihi, torque tui divinclum, et compedc amori.<
!
i- Perpetuo plantas ante jacere tuas.
Et qi^ia me specíans clementi lumine tandem
Post te traxisti sub sacra tcmpla Dei:
Et socijs junclum Domine dignaris Jesu
Vivere, nec sancta me proculac de fugas:
Hic tua me foueat pietas, serve íque ruinis
Constrictum triplici me tua fune manus.
Sed trahor invictus, contemplarique luarum
Máxima virtutum lumina cogor adimc.
Qualiter amplexus divinaque basia linguis
Hi Rosida cum clarum retulit hora diem.
Extendique iteram solertcm ad fortia dexiram.
Et digiti fiisum corripuere tui.
Circunstant aliae ducentes fila sorores.
Et sibi mandatum quaeque laborat o[)us.
Miranturque in te jactantes ora, tuaeque
Se gaudent vinci dexícritate manus.
Tu tamen assurgis cunctis, vulíuque modesto
Accipis extremum súbdita Virgo locum.
Obsequioque sacris humili servire ])uellia
Haec tibi cura prior, hic íibi primus honor.
His humilis tergis vestes, sternisque cubile;
His ancilla paras ofíiciosa cibos:
Everrisque domos hilaris, mnndasque calinos.
Et facis abjectum quicquid in aede jacet.
Siquam langor habet. curas solai'is, et ()miu's
Dulcitcr oflicio servi iioíiue Ibves,
Quid facis ò Virgo servilia muiíera li'acian6'.'
EM LOUNOli DA VlUGliM 161

Quod decet ancillas, cur operaris opus?


An nescis quod eris supcrum regina polorum,
Cunctaque sunt pedibiis subjidicnda tuis?
Linque ministerium servis: te purpura, bissus,
Iinperiuin, solium, scepta corona decent.
Sed quid ego stultus meditor? tu máxima temais,
Intima subque liumili pectore claudis amans:
Et minimi gaudes íieri, cunctisque subesse,
Et credis magnum praeter id esse nihil.
Altus cnim (nosti) summa de sede suberbos
Dejicit, atque humiles toUit in alia Deus.
Cum nihil ignores, pateris te cuncta doceri
Parere, abjicies, discere, dulce tibi.
Regiaque occullas animo secreta sub imo,
Quique tibi replet plurimus ora Deum.
Sed male dissimulas; nec enira bene claudilur igni*

Ipsa suo prodit lumine ílamma foras. .

Elucet splendor lacie divinas in ista,


Et tua te sócias fada silente- docent.
Proptera sanctam te concio sacra sororum,
Foclicemque omnes praedicat esse super.
Inque tuis oculis óculos et pector íigunt,
Totius speculum quam bonilaiis habent.
Te juvat aífari, tua gaudent ora tueri,
Xeque pulaut Dominam te decus esse suum.
Tu vero indignam tanto te credis lionorc:
Fis oculis vilis plus nimioque tuis.
Inque dies animam veris virtutibus ornas,
Quod verum est templum veraque theca Dei.
Corpus Uonestalis nivei([ue est forma pudoris;
Unde Deo unituni nobile corpus crit.
Cor tibi cum repleat virtutum llum.cn inundans,
Credis adluic vácuo, pectori incsse nihil.

Cumque creatarum nierilo sis máxima rerum,


Deberi censes infima jure ti!)i.
Tanta tuam Yirgo possedit gratia mentem,
Tanta tuo virtus pectore clausa latet.
Clausa latet noslros, quos Ictria superbia sensus
Tam clarum caecos i'eddidit ante dicm.
Sed nitel ante óculos sunnni clai-issima Palris,
Sydereamque re[)let hice raicanle domnin.
Quo"^magis abjiceris. tanto es sublimior illi,

Postmodo qui thalamum te \olet esse suum.


Jam te respicies postrema sede'locatam,
VOL. U
n
V'}
ÍC- VERSOS DO PADHE JOSEPII UE ANCHIETA

Iiique lua dulces hos dabit aure sonos.


Scande humilis sursum digníssima sede priori,
Accipe jam primum dulcis arnica Jocuin.
ília tibi foelix, et nostris prospera rebus

Adveniet, talem quae feret hora sonum.


Quae tibi Virgo humilis de te nil tale putauli
Sis Domini ut ^íater máxima dicet Ave.
Vive precor, vitam nobis lucemque daíura,
Vive precor, foelix im.minet islã dies.
j\leque humili exorna servum virtute miselluiu,
Qua sine nec Domino, nec tibi gratus ero.
Hac mihi componet pectus, Dominoque parabil
^
Venturo hospiíiurn dulce domumque tibi.
O utinam placidis Dominae sim dignus ocellis
Aspici, et in servis ullimus esse meae.

De Anaumiatione Virgims Maui-k

In tua fert animus pallatia saneia venirc,


Virgo Sioneae gloria prima domus.
Submissoque pias contingere murmure portas,
Pulsanti pandas si mihi forte fores.
Sime forte tua vel parvulus angukis aedis
Excipiat módico delque sedere loco.
Nam juvat aethereos intento lumine vultus
Spectare, ilque óculos si paíiare tuos.
Pande precor soror ò pulcherima, fronte
facili,

Ostia, nec generis despico jura lui.


Si sordet mens nosíra, suis mundabilur undis;
Munditia est maior sordibus islã rncis.
Mens mea virginei quoniam tibi jauua tecti
Jam patet, hic humili cum pictale sede.
Hic sacra pendentur cuncíis raysleria saeclis,
Abdita divinae consiliumquemanus.
Percipe quid facial sapíenti peclore Virgo,
Quasque sacro vocês proferet ore nota.
Dic, quibus insudas sUidijs? quae cnra, laborqua
Instimulat pectus, provida Virgo, tiium?
Scilicet aetherea vocitas super aellicra mente,
Coelestesque ávido peclore quaeris ojjcs.
Et divina omnes mcdilaris focdora noctes,
El divina omnes pascerc lege dics.
Per tractasquc humili sacrata volumiiia rordi\
Priscorum scrutans nivstira dicía Patrum.
EM LOUVOR DA VIRGEM 163
\

Et clausi exopías solui signacula libri


Áurea, coelestes ut resereíitur opes.
Cum recolis primos transgressos jussa parentes,
,Et Domini pactum noe tenuisse Dei;
Et míseros pátria maculatos labe nepotes,
Servili culpae conditione premi;
Promissuraque suo qui mundet sanguine mundum.
Vincula captivis demat et arcta dacem:
Ingerais, et justo pectus concussa dolore,
Virgíneos lachrimis et madefacta sinus,
Attellis coelopalmas, pedibusque voluta
Divina his orans vocibus ora pijs.
Quam, Pater alme, diu capiet te oblivio nosíri,
Ex ardensque tuus zelas ut ignis erit?
Cur tua ab antiquis immanis regna tyrannus
Occupat, injusto servitioque premit?
Cur lanianda damur crudeli praeda leoni?
Péssima cur miseras bestia glutit oves?
Cur truculenta suum dilatant Tártara ventrem
Invida? cur rábido mors vorat ore gregem?
Cur tua, qaam própria piantasti vinea dextra
Deseritur cunctis suffodienda feris?
Cur factura tui vuitus signata decore
Tam faedata malis, iam sine honore jacet?
Parce, benigne Pater, justumque remitte furorem,
Nostrique luminibus respice damna pijs.
Mitte tuam tandem coeli de culmine dextram,
Mitte precor lucis lumina vera tuae.
Iste tuus instus supera mittendus ab arce
Jam veniat pluvij de regione Noíi. •

Egredere in popuii Christo cum Rege salulem,


Et sceleris duro percute fuste caput.
Trade tua summo virgam, Deus optime, Regia;
Judicium Nato trade perenne tuo:
Ut male possesso depellat ab orbe tyrannum,
Judicioque inopes, jastitiaque regat.
Mitte salutiferum, qui terrae íinibus Agnum
Praesit, et império coníerat arma suo;
Moeniaque aeíerna circundet pace Sionis,
Compósito vinclis solvat et orbe reos.
Adveniat fractura qui Pastor ovile fidelis,
AUiget, iníirmum consolidetque pecas.
De varijsque gregem dispersum partibus orbis
CoUigat, in terram restituatque suam.
Í04 VElíSOS DO lUDHE JOSEPH DE ANCHIETA

Pinguibus inque locis, et fliimina propter opimis,


Pascat oves berbis, libere, potet aqua.
Eniteat mundi Servator iit ígnea lampas,
Et vehiti splendor progrediator ovans,
Ut videant omnes felicia saccula gentes,
Inclytus iii totó qiiae dabit orbe tuas,
Ó Rex Emmanuel, magni expectatio mundi,
Omniaqui recto têmpora jure regis.
Surge, veni tandem praecinclus robore dexlram,
Induc jam vires inclyti Nate Dei.
Ó utinam vasti disrumpas moenia coeli,
Inque liumiliem vénias, sancte Redemploi', iiumum.
Ante tuum íluerent liquelacta cacumina vultum,
Terraque contremeret cardine mola suo.
Agmina morderent sordentem hostilia terram,
Lingeret et luteum íui-ba superlia solum.
Fundite divinum in coeleslia templa liquoi-em,
Stillate ò dites ubere rore poli.

Depluite o nubes pleno de viscere Juslum,
Flumina viva sacro cujus ab ore fluant.
Imber inexhaustis foecundet hic omnia lympliil,
Aridaque aethereus teraperet arva látex.
Imbibat è gravidis demissum nubibus imbrem,
Germinet et fructum terra benigna suum.
Quando erit ut vénias tenebris evolvere muridum,
O Sol Occiduas non subiture domos?
Quando Sioneae maculata cubilia natae
Conjugij fácies munda decore tui?
Quando dabis pacem, pacis mitissime Princejjs?
Quando tuaii» mundos sentiet aeger opem?
Quando erit ut dii'imas litem mediator acerbam,
Quam natura gerit cum Patre nostra tuo?
Quando erit ut sanctae soleris moesta Sionis
Moenia, lugentes laetilicesque vias?
Quando humili omnipotens Verbum breviabere terra,
Jura docens Patris nomen opusquc tui?
Sis memor antiquos, Genitor sanctissirae. Paires
Qui iibi cum vera vota tolere íide:
Cum quibus aslricto i)epegisli foedera nodo,
Foedera non iillo dissolvenda die.
Per tiia, perquc tui jurans sacra numina Nafi,
Quos sanclum aelerno Flanion amore Hgal,
Jpsonim Regem venlurum è scinine Gliristtim.
Qui iKipulis loge:^ junque percnne darei.
165
EM LOUVOU DA VIUOEAI

Ciijiis in aeternum cimctas benedictio gentes


Dicet, et obscuro cárcere solvat avos.
ore:
Âspice nos plácido, mititissime Conditor,
Aspicc nos dulci cnm pietate, Pater,
licet indignus natorum uomine
simiis,
Nos
Yita quibns miiltis est rnaculata mahs;
Tu tamen es Patris dignissimus unus honore,
bonis.
Cui scatet inmimeris dextra benigna
ílagellis,
Nos meritis quamuis tua verberei n*a
neqais.
Ipse tamen noster non Pater esse
Non decet, ó Genitor, nomen gravis ira paternum:
Ferto memor nobis nominis hujus opem.
Te dulçor clemens decet, et clementia duicis,
Et atque benignus amor.
facilis pietas,

Si poteritmater quem gessit viscere nati.


Nutrist et maramis, immemor esse sui:
Tu poteris nostri, tua quos sapientia verbo
Condidit, ò clemens, immemor esse, Pater.

Mater acerba tamen; sed tu dulcissimus ipse:


ímpia mater erií, tu sino fmc pius.
Ergo Pater noster laceratum retfice dextra
Quod tua de limo dextera fmxit opus.
Jam satis istc furor laxis se effudit habenis:
Jam satis humani sanguinis ira bibit.
Jam satis ancipitem furibunda exercuit enseni
Justiíia, offensas scilicet uUa suas.

iíqua suum mitli clementia postulat ore


In Patris irato pectore habere locum.
Inveniat tandem: teque, ò bonitatis origo,
Paeniteat tantis nos agitare malis.
Prodeat é pátrio pietas placidissima corde
Foelices olea cincta virente comas:
íratamquo diu dulcedine plena sororem
Placet, et eloquio mitiget aequa pio.
Materno miserum despectans lumine mundum
Laetilicet vultu saecula moesta suo.
EÍTiue puré látex, penetrabile fundere
olivum,
Vivat ut ad tactum mortua terra tuum.
His tua mens studijs vacat, liaec mysteria
voluit:

líaec sacra sunt animi pabula, Virgo, tui:


Cum legis, ignitas cui calculus ora Prophetam
Contigit, hos magna promere você sonos:
Integra concipi et sine semine Virgo virili,

Foelicique tiimens pondere venter erit.


1G6 VtiiSOS DO PADKK JOSEPH DK A.NCHIE IA

Virgoqae perpetuum pariens illaesa piidoi-eni


Virgíneo foeli.t libere pignus alet:
. Cujus et in terris, superiqae per atria notum
yEíheris Eramanviel nobile nomcn erit.
Haec ubi, Virgo, luam íeligere oracula mentem,
Et tácito tantum pectore voluis opus;
Ardet amans aniraus, tantamque videre puellam
Geslit, et haec humili você profata gemis.
ó quae te taiem foelicia saecla videburit,
Virgo Jacoijeas splendida gentis honos?
Qui te foelices gignent, speciosa, parentes,
Et digni tantae munere prolis erunl?
Quae te tam mater in alvo,
foelix poriabit
Molliet, et fauces nectarisimbre tuas?
Sed te quae virtus, quod te decus inclyta quondam
Foemina, quantus lionos, gloria quanta manet!
Quae Dominurn clausi concludes tegmine venlris,
Que sobolem clauso viscere foeta dabis.
Virgíneo vitae quae pasces ubere Verbum,
Materna tractans membra beata manu.
Ó utinam summus Genitor mihi prorog-et annos
Ut videam exortus têmpora laeía tui!
Ó me foelicem, si tantae ancilla parentis.
Si tantaemerear Virginis esse comes!
Plura luquuturam suspiria crebra morantur,
Castaque virgineus pectora mordet amor:
'li Et gemi tus iterans lachrimarum liqueris ibre,
Templa replens coeli queslibus alta piis.
Perque genas rivus calidarum manat aquarum.
Dum justa humanum coníerií; ira genus.
Quid pia contereris tam duro, Virgo dolore?
Excrucias teneros cur gemebunda sinus?
Parce precor tantis onorare tenerrima curis
Pectora, virgíneas laedere parce genas.
Parce verecundum lacrymis violare colorem,
Splendida ne fletus sordidet ora íluens.
Ecce venit plácida Rex mansuetudine cinctus,
Destructura Solimae qui reparabif opus.
Nescis quanta tibi servata est gloria, Virgo?
Ignoras quantus sit tíbi dandus honor?
Quid gemis absentem, quae non violala puellam
Induet immensum cárnea membra Deunr?
Te decus expectai, Mulicr digníssima, tantum:
Sola tui genitrix íntegra Palris eris.
EM LOUVOR DA VIRGEM

Sionis,
Slernetaum thalamum pulcherrima nata
Tende tabernacli byssína vela tui.
Sentio converso torquevi cardine coelum,
Murmuraque angelicis laeía sonare chons.
Jam aeterni, castissime tiirtiir, ad aures
Patris
Divinus gemitus introiere tui.
Confortare Sion, tanicas vestire decoris:
Indue te vires, regia Virgo, novas:
Ut coeleste qaeas comprehendere viscere
rol)ur,

Cum divina tuas influet aura sinus.


Sponsus ab aetherea descendit Olympicus aula,
Impleat uí Sponsae grande cubile saae.
Res nova, ne capiat languens tua lumina
somnus
Mens raea, paírari grande videbis opus,

De Ingressu Angeli ad Mariam Yirginem

Jam pia divinam vicis miseratio mentem,


Et pax iratos lenijt alma sinus,
Jam facilis scindit veíeres concórdia rixas,
Justaque pacificus jurgia pellit amor.
Jam Deus antiquas bónus obliviscitur iras,
Humanumque pio réspicit ore genus.
Scilicet agnovit quod vili è semine natum
Corpoía de sterili pulvere ficía gerit:
sensus
Inque malum pronos, síimulante cupidme,
Diffluere, ut mollis labitur unda, videt.
IJtque paterna solent miserari víscera natos,
Ira nec errantes punit acerba diu:
Sic movet aeícrnum pietas dulcíssima
Patrem,
Cumquc gravi semper mista íurore venit.
Tam procul à nobis scelerum difiecit acervos,
Et mala patratis debita criminibus;
Quàm procul excelso se jungitur aethere tellus,
Et plaga ab occidua distat Eoa domo.
Jam solium virides pingunt coeleste smaragdi,
Altaque jaspideo tecta colore nitent
Divinuraquc íhronum pulchro ciicundat amictu
íris, et ignivomum discolor ornat opus
Spesque datur mundo certam prope adesse salutera,
Quae iam cum plácida pace ligata venit.
Coelica terrenis jungentur, et infiraa summis,
Durabuntquc omnes foedera tanta dies.
Nam Deus unigenum missurus ab aethere -Natum
168 VERSOS DO PADllE JO.SEI'11 IlE ANCHIETA

V(^rll^í iit è sacra Virgine íiat lumii):


I Mitia defigons Galilacis lumina leiris,
Nol)ile Nazarotli flcspicit tirbis opus.
Hic lihi parva quidem, sed magno insignis honore,
Stat doniiis, cxcclsis aeqiia fiiíara polis:
Dcgit ubi exiguis lariljus contenta Puella,
jEtherc quae magno ])OStmodo maior erit.
Qua latet in terris hiimilis sino nomine Virgo,
Qiia íamcn ampla nihil clarins aelhra vident.
Servat ubi intacti signacula clausa pudoris
Quae geret augusto ventris in orbe Deum.
Servat ubi obduclis diuíuina silentia portis.
Cujus opem mundo paucuia verba ferent.
Quae. precor, es mulier, cui talia servat Olvrapus"*
Quis luus est conjux? quod tibi nomen in est?
Vir tuus est Josepb, cui nobilitatis origo
Clarior à magno missa David venit."
Vir tuus ille quidem vera cum cônjuge junctus,
Virginei consors non tamen ille tori.
Cui sedet immoto votum inviolabile corde
Perpetua tecum virginilate frui.
Conjugij quem jin\a tui, ílialamiquè pudici,
Hneredem facient nominis esse tui.
Nam cui mater pater esse putabitur
eris, ille:
Et reget, arbilrio qui regit astra suo.
Talis es, et lateas? nimiumque illustre Maria
'T^l Nomen in obscuro sit sine lande luum?
Scilicet in celsi constrncto cacuminc montis
Urbs coelo eductas osculat alma domos"?
Cur lateat rosei spectabilis orbita solis?
Cyntbia cur lúmen denegct alma suum^
Cur óculos fugiat, fiammis quae accensa coruscis
Ponitur in media clara lucerna domo?
Ó urbs alta, nequis, cupias licèt ipsa, latere,
Sol radians, Phaebe splendida, flanmia micans.
Ut lateas torram, tamen es notissima coelo
Sydera te prodeni, ])rodct et ipso Dous.
Jam supera aligerum domiliens arco ministruni,
Qui secreta (il)i magna rocludal, ait.
Vado saluladnn (juani jiost tot saecla Maiiam
Inveni, arcani liat ut ai'ca mei.
illa moi Nati cum virginilatis lionoie
Mater, (M aeternae causa salulis erit.
Dixit: at ille volal rutilo \)ov inane volatu,
169
EM LOUVOU DA VIRGEM

Igneus ui. mdians aethere vesper ahit


ore
Eííregioque niteiis juvenis pulcherrimus
"inRreditnr tlialami tecta pudica tui:
Miratiisqne luao divina, insígnia mentis,
Talia cunato dal tibi verba genu.
Ó sola immenso gratissima focmina Patri.
Ó prima aeterni cura Parentis, Ave.
Cui divina humilcra rcplevit gratia
mentem,
Cui sacra divinos pector.-j innndat
amor.
Olympi
Omnipotens Dominas tecum est, qni maxmia
Moenia, qni terras solns et aequor habet.
llle tni Dominus fuit omni ícmpore cordis,

Solns habet regimen pectoris omne ím.


Non tibi culpa prior, non est dominata fecunda
Omnipotens Dominus jus habet omne tui.
Nec mors unquam, nec mortis praefuit author
tibi
Omnipotens Dominus jus habet omne tui.
llle tunm semper possedit solus
amorem,
llle tui curas pectoris unus
habet.
Propteréa lata dominaberis inclyta terrae,
Arduaque imperiis serviet acthra Uns.
Tu sola ante omnes digníssima Foemina matfres,
Tu sola ante omnes es benedicta nurus.
Gloria foeminei spectaberis ultima sexus
Gloria foeminei prima decoris eris.
Quem tibi tunc animum credam, sensumque fuisse,
Quis tibi tunc vultus, Virgo modesta, fuit,
Cum tibi coelestis tam mira referret ad aures
Nuntius, aspectum cernuus ante tuum?
Fixa solo castos óculos immobilis haeres,
Pulchraque virgineus contegit ora rubor.
Et turbat novam prudens mirare salutem.
Et pavitans humili talia mente putas.
Quis novus hic sermo tímidas mihi pertigit aures
?

Unde salutandi tam nova forma venit?


Tanta ne ab excelsis veniat reverentia coehs ?
Tantus honor humili? gloria tanta mihi?
Scilicetindignam terra veneretur Olympus ?
Laudibus immodicis magnificer módica ?
Juncta fabro parva vix noscor in urbe
manto.
Et jam magnifica noscar in urbe Dei ?
Foemina muneribus cumuler paupercula tantis ?

Tot mihi divitiae, tot tribuantur opes ?


Me ne polus claro Dominae dignetur lionore.
\EftSOS DO PALIU- JOSKPII KK ANCIIIKTA

Quae vix ancillae sum satis apta locoV


Suinmus in ornaíae Dominus fcrat iacola inenfi<
Perpetuusque hospes pectoris esse mei ?
Jure mihi video insperata ex laude limendum,
.
Cônscia nullius, vilis, inopsque boni.
O humilis, simplex, et prudentissima Yirgo.
Quae tibi tam dubij causa limoris adest?
Cuncta times humilis, meriíò; quia cuncta
timenda
Sunt humili, qui se judicat esse nihii.
Cuncta times simplex; quia simpliciora puella
Saepe solent varia pectora fraude capi.
Cuncta times prudens, prudenti examine pensans
Ne moveat sensum quaelibeí aura tuum :

Ne faciles praebens aures, velut Eva draconi,


Crédula compositis illaqueere plagis.
Sed nihil hic fi'audis non nouit fallere coelum
:
;

Non est in supera fraudibus urbe locus.


Non hic te verbis deludet dulcibus anguis,
Nec levis ut mulier decipiere prior.
Jam te respexit Domiiius, quia summus ab altae
ínfima coelorurn respicit axe Deus.
Quo magis indignam te credis, dignor alto
Exeris, et surgit dejiciendo caput.
Simplicitas humilis, simplexque abjectio
mentis
Spiritui gratam te facit esse Dei.
Quid summam fieri, quid
mirare priorera,
te
ínfima si extremum sumis
in orbe locum'!'
Hoc esset mirum, si infiata superbia habere!
Pectus, eí. à Domino respicerere tuum.
Audi igitur coeli securo nunfia corde,
Uí te digna magis, sic metuenda rninus.
Audisti laudum primordia sola íuarum;
Summus adhuc summi desit honoris'apex.
Máxima jam dixit, dicet maiora deinceps
Qui tibi suspensão coelicus Ales ait.
Parce Maria metu nihil hic tibi, Yirgò, tiraendum
:
•'

Poneverecundum, Yirgo Maria, meíum.


Non refero mundi vanos legaíus honores; :'

Indigna est tanta Yirgine vilis hunuis


Sed quos aeterni sapioníia summa Parentis
Ante tibi mundi grande reservet opus.
Cur pudet aetherei laudari você minisiri,
Nec dignam alloquio le facis esse meò".'
Cut gens flammanlis curvabilnr íncola coeli,.
171
EM LOUVOR DA ViRGEM

Omnis et obsequium serviíiiimque dabit.


Tandem supremi reperisti Paíris amorem;
Est tibi apud magnum gratia magna Deum
Quam pater amisit lethali crimine primus,
Quam qaondam prisci non reperére Patres:'
Tempore quam longo cupidé suspirai Olympus,
Quam lachrymans quaerit languida terra dm.
Condita in immensi secreto corde Pareníis,
Inventa est tandem gratia amorque tibi.

Non nostram appendií Domini sapientia genlera,


Quae te naíiirae conditione praeit
Sed te, quam nostra maiorem gratia gente
Fecit, ut hoc summnm períiciatur
opus.

En tua concepto targebunt viscere Faetu,


Et Natum exacto tempore nixa dabis.
Cujus inauditum sanctumque vncabis Jcsum
Nomen : erií titulo nobiiis ille novo.
Hic erit excelsae P.ex majestatis, et omnem
magna modum.
Ipsius excedet gloria
Qui tibi Natus erit, summi Paíris unicus idem
Filius, et compar nomine mimen erií.
Cui dabit omnipotens solum regali Davidis
Patris, et ímperij fraena tenenda Deus
Isacidaeque domum moderabiíur inclyíus amplam,
.luraque in aeternos sanciet aequa díes.
Ejus erit latis diffusa potentia terris,
Ultima quàque vagum terminat ora fretum.
Quaque jubar pandit, qua vesper claudit Olympum,
Qua polus aethereum voluit uterque globum.
Margine totius (certo sine limite) rnundi
Porriget ímperij brachia longa sui.
Quin et legitimus regnis dominabitur haeres,
Sydereis vero cum genitore Deus:
Scep traque perpetuum princeps gestabit
aeram m
Jlaximus, et dempto saecula fme reget.

De nomine Jesu obiteu et Círgunsione

Haec coeli Interpres: tu dum taciturna sub alto


Pectore responsum praemeditata siles,
Ne mihi succense, ne sim tibi, Virgo, pudori,
Si famulus Dominae pauca locutus ero.
Movit enim mira dulcedine pectus amoris
Quem paries Nati nomen amorque meum.
VERSOS DO PAURr. JOSEPII DE AXCMIETA

Nomen inaiidítiim, mirabile


nomeri Jesus:
Nomen, qiiod próprio nominat ore Deus.
Qiiod sine principio Verbum eructavit ah alio.
Corde quod oxorium perinanet anie dieni.
Dvílcis amor cordis. dulcedinis autor Jesus
Cuncta procui gustu pellil amara suo.
Vera sagiiia animi, panis vitalis Jesus
Languida morlifera liberai ora fame.
Fons indeficicns, fluviusque pereniiis Jesus
Mentis incxliausto temperai amne sitim:
Melliíluoque rapit potatos nectare sensus,
Nec sinit inmiemores nominis esse sui.
.'Eternae lucis diviíius candor Jesus
Nigra repurgato nabila corde lugai.
Forma nitens semper decor immorlalis Jesus,
Quo sine res uUum non babet iiila decus:
Quo sine nil pulcbrum, cum quo sunl omnia pulchr;
Cujus ab aspeclu perdita foj-ma redit.
Fnguen aromaticum, medicina suavis Jesus
Foeda salutari vulnera sanat ope.
Omnipotens virtus, invictum robur Jesus
Fortia dat famulis vincere castra suis.
infinita Dei sapientia Patris Jesus
Jnstitiae recto tramite monstrat iter.
Non secus ac olei pinguis flait humor Jesus.
ímpinguat cordis leniter ima íluens.
Ignis edax cordis consumens ígnis Jesus,
Ardentis gélidos urit amore sinus.
Omne decus terrae, coeli nitor omnis Jesus
Veslit honore solum, veslit honore polnm.
Imber inexliaustae largus pietatis Jesus
Saxea faecundis pectora mollit aquis.
Flammea divini rcstinguit tela furoris.
Ignescit sontem qui populatus humum.
Laetiliac puleus, bonitatis abyssus Jesus.
Ultima meta mali i)riniaque origo boni.
Deliciosus amor, mcdicamen amantis Jesus,
Qui grave sub venis vnlnus amoris alil.
Una salus mundi, libei-tas unira Jesus,
Quo sine lil)t>rtas nulla, nec ulla salus.
Auferct arinali fortissinms arma lyi'anni.
VA maiiicis solvet compedibusqiie. reos.
Pellet Avernalis contagia dirá veneni.
Piimorumqnc ncfas cxitiale patrum.
EM LOUVOR DA
feWiBHÍ *PP'J

VIRGEJI
173
^
Vita peremptorum, queis mors
domiaatar, Jesus
Vita gravem morli morte datura necem.
Nomen adorandum, venerabile nomen Jesus,
Coelica suboixo quod colit aula g«iia.
Nomen terriíicum, quod pertimel Orcus, Jesus,
Turba quod exuUans Tisiphonea tremit.
Mite, salutiferum, mellitum nomen
Jesus,

Poplitibus ílexis quod reveretur húmus.


Tempore deficiar, si nominis bujus Jesu
ímraensum vili prosequar ore decus.
Nec magè proficiam quam si sine mente
iaboi-em

Exiguo vastum condere vase fretum.


Ecce tuo qualis claudetur viscere Natus,
Qualis erit ventris fructus honorque
tui.
'
Talis erit Natus, próprio quem
nomine Jesum
Laeturum mundo, Virgo, vocabis opem.
Jesum
Tale erit hoc nomen: sed quando vocabis
Dic mihi; quando bujus nominis bora
venif?

Nempe tener saxo cum circunsisus acuto


Vulaus in innocua pergrave carne ferel:
Purpureoque pij stillabit rore cruoris,
Unde aeterna salus, vita, medeia fluat:
Vagitusque dabit, dulcisque suavia matris
Ubera captabit moUiculosque suos:
Deque tuis curret lacbrymarum flumen ocellis,
Âh Virgo, et scindet car tibi plaga pium:
Sanguineumque ligans turbabere pallida vulnus,
Dum menti occurret tristior hora tuae:
Cum lacerata truci dilecti funere Nati
Mémbra fovens gladio tragiciere smus.
Intera ílentem super ubera blanda puellum,
Osque gemens palchro pulchrius ore premes.
Yirgineoque dabis roí^antes lacte papillas
jEgra recusantis nectare labra rigans:
El conata gravem frustra lenire dolorem
Saucia sub tenero pectore vulnus ales.
Donec adimpleto coalescat tempore plaga:
Quae pueri angebat membra, ammamquc tuam.
Namque pij nostram lacietis uterque salutem,
Cum pueroque parens, cumque parente puer.
Ecce tuum quando Natum aijpellabis Jesum,
Nempe novum multo sanguino nomon emet,
Quis divina tuum possit sapienlla sensum,
Osíis miranda tuae uosccre fada manus?
174 VEaSOS UO I'ADll£ JOSEPH DE ANCHIETA
r

Circuncidetur Puer, et dicetur Jesus:


Convenient justi nomen opusque rei.
Accipiet caeso peccati ia coi-pore
signum.
Et servatoris noraine ciarus erit.
Sed nil divino non est superabile amori:
Cuncta poíest pietcs: omnia vincit amor
Victus enim nimio, quo nos diiexit
amorc
Ille boni aeternus fons, cí
origo Deus,
Donabit proprium tibi, foeiicissima, IVaUim,
Qui per le nobis frater, et ultor crit:
Assimilisque suae sine labe per orania
genti,
Pcccatiqae, carens crimine, signa geret:
Destruat ut verus peccati corpus Jesus,
.
Filius ille Dei, Filius ille tuus.
O nomen pulchrum, per amaliile nomen Jesu';
Matris amor, Patris gloria, fratris lionor
Lucidior Phoebo, sublimior aethei-e Jesus,
Igne magis calidus, frigidiorque nive,
Ense magis rigidus, leni magè lenis olivo,
Dunor et scopulis, et magè mollis aquis, '

Mitíor et miti succumbes omnibus agno


Fortior, è forti cuncta leone domans.
Mve emeris nullo, cum sis pretiosior auro:
Das, nihil accipiens; non redamatus,
amas,
Tristior es trisli corruptis crimine
acceto:
Laetior es puris faece carente mero.
<í'1 Felle maios poías cum sis dulcedo
perennis
Melle bonos duíci fel bibiturus alis.
O iterum at quae iterum jucundimi nomen Jesus
Mille bonum miris, mille suave modis.
Quis mihi te pulchris sugentem belle labellis
Ubera det matris túrgida lacta puer?
Quis mihi te íimeara praesíet, quem castra
poloruní
Absque tremore tremunt, absque timore t'imenl?
Quis niihi te Iribuat prostra to pectore
adorem,
Nomen honor coeli, gloria nomen humi?
Quis mihi te junget, quis me tibi jungat amore?
Nil nisi dulcedo, nil nisi nomen amor.
Tu benedicta dabis cui se dabit ille, sulque
Patris ut est totus, sic quoque Matris
erit
Quem pctet, ut primae furiosa incendia cuipae
Temperei in nostro pectore, acuta silex.
Ergo manus inopi jam nunc e.xtende benignas:
Si inihi das Jesum, safque supprque
mihi est.

ú'
EM LOUVOR DA VIUGEM

Extinguat flammas lumboruin, ò Yirgo, meurum,


Et durum Pueri vuinus, et ista manus.
Cor mihi scinde petrá, scissoqaò inscribilo Jesuni
Iiidelebilibus sanguineisque notis.
Haeret eaterníim dulcissima nomina cordi,
Ó Jesu pulcher, palchra Maria, meo.
Me violeatiis amor formosi raptei Jesu,
Me raptet bellae Yirginis altus amor.
Sed nimiúm longo sum te sermone moralus
Nominis insólito rap tus amore uovi.
Penniger cxpectat cupidè tua verba minister;
Prome animi tandem grandia sensa toi.

RespOxNSio Yibgims ad Angelu.m, Qlomodo riET himT'

Virgo, quod iu tanto tanlarum cardine rerum


Consiliuin vigili provida mente capis?
Ad primas bumili pavitabas pectore laudes,
Dum tibi nil modicae credis inesse boni.
Quid fácies, summi dum te ad fastigia honoris
Supra homines tolli caelicolasque vides?
Dum fore te Matrem supremi Numinis audis,
Quod vix mensuram laudis liabebit opus?
Nam quo te in coelum plus evebit Angelus aitum,
Hoc te ad vile magis deprimis ipsa soium.
JNon tamen ulla taum turbat dubitatio pectus,
Nec nlens mutanti claudicai aegra íide:
Posse sed id fieri credis, cer toque futurum
Perspicis, ut Vates praecinuere pij.
Et maiora capit crescens tua robora virtus:
Plus tibi fis vilis, plus tibi fis bumilis.
Dum pensans tantam sapienti pectore molem
Maiorem bumanis viribus esse vides.
Omnia nam superat meritorum pondera, sunmiura
Vestire humano corpore posse Deum.
Unde Deo tribuens, cujus sunt omnia, totum
Usurpas bumilis tu tibi, Yirgo, nihil.
Plena fide sanctam, divino et llamine mentem
Ascisci ad tantum te modo credis opus:
Maiorumque fidem magno tua pondere laudura
Magnânima superat credulitate íides.
Credis, et inclinas divinis vocibus aurem,
Âbsque more paret mens facilisque Deo.
Sed dum Yirginei amor, máxima cura subil:
,
176 VEnsos DO i-adhe josepii de Anchieta

Qui tibi magnus amor, máxima cura siibil:


Haeret adhiic animus: Dominiqae facesserc cerlus
Jussa, pudicitiae consulit, adque limctj
Quoque modo possint lieri Iam mira requircns,
Ora verecundi plena ruboris, ais.
!|
Quanam, sancte puer, liet ratione quod iriquis?
Quis modus, istud opus quo peragatus erit?
lutumeatne meus concepto pignore venter,
Ullane sit soboles ubere alenda meo;
Quae semper tactus bominum et commercia fugi,
ii
Permaneoque exors impatiensque viri.
Immaculatus adbuc, misti sine foedere lecti,
Vivit in illaesa virginitate pudor.
Quin etiam mecum primis accrevit ab annis
Perpetuae vebemens integrilatis amor:
Immotumque animo, nunquam violare pudorem,
Nec sacra munditiae solvere jura, sedet.
Si tamen boc jubeor, Dominique futura reposcor
Qualibet immensi conditione Parens;
i
Gaudeo tam grandi quoniam dotabor lionore,
Imperium Domini jam subiturae Dei.
Sed doleo, pulchro dilecti flore pudoris,
Ut íiam mater, si spolianda vocor.
Ergo ne tam miris tam longa silentia verbis,
Tam miro laxas ora modesta modo?
Conceptur a Deum summo invitaris bonore.
M .
>
Et tu cunctando plura requiris adbuc?
Te vocat omnipotens, tua sugat ut ubera, Verbum,
Et te sacrati cura pudoris liabet?
Tantanò munditiae cura est? lantinè pudoris
'
Gloria? virginitas tam pretiosa tibi?
Quid tua solicitant islac puríssima curae
Corda? quid boc liat qua ratione rogas?
Quid refert Matrem, dum sit modo Condilor urbis
Ipse tuus Natus, quolibet esse mndo?
Sed fallor demens: sapientia carnis in alto
Desipit excessus gurgite niersa tui.
Sic tua cacuminis excedit gralia mores.
Solis ut astrorum lux radiosa globos,
Non te primorum docuere exempla pareutum
Talibus intrépido curirrc calce vijs.
Nulla tuos unquam praecrssit Ibemina gressus.
Iloc fibi mostrandfi, quo graderei-is itcr.
Sola sine cxeni})lo sublimia sydoi-a tranans,

\\
EM LOUVOU DA VIUGK.Vl m -'1

Iníima pui verei despíeis arva soli.


piiuvio sc^ilerum cura nori daret obrula magno
ferra íocum pedibus, pulchra Golumba, tuis:
Nec tibj. íiuaerenti per avorum facta priorum.
Digna repería foret, qua sequerere vja:

Linquis humum, celeri transcendis et aelhera penna,


Ut tibi dent superi, quod negat illa, poli:,
Munditiamque bibens njoresque nííentis Olympi,
Non tamen angelícis exastiaris aquis.
Altius excedis fontem bibitura perennem.
Unde bonum jugiter prostuit omne, Deum.
pje suae apprensam dextra bonítatis jn arcam
Mittit, inexbaustas et tibi pandií opes.
Hic pretium nivei reperisti insigne pudoris,
Inde pudicitae venit origo tuae.
pine sitiens hauris foeeundi plena meracj
Pocula, virgineus puUulat unde chorus.
r^am sine principio qui te praevidit ut esses
Yita, salus-, castae duxqu,e comesque viafi;
'

Esse sui voluit non quoliíjet ordine Nati,


Sed mira Matrem sorte, decore, modo-
Hic tibi prima dedit sacri documenta pudorís;
Hoc duce vita tibi, mens, caro labecaret.
Ut tua virginitas locupletet fcrtilis orbem,
Castaque fertilitas sit decus omne poli.

Prima per occultos graderis dux incl.yta calles.


Prima per insólitas tendis ad astra via-s.
Prima iter irrumpens spineta per áspera laíum
Pandis, et incedis per loca senta situ,
Prima salebroso tenuisti tramite cursum,.
Prima teris niveo scrupea saxapede,
Prima per anfractus, scabraeque per avia riqjis

Árdua ad intacti culmina montis abis:


Virgineique locas in veilice signa decoris,
Splendida sole magis, candidiore nive.
Quae modo dura luit, moUissima seniila íiet;
Asperaquae fuerat, te duce lenis erit.

Jam tua virgineae vestigia pulciíra cohorles


Ad tija currentes fulgida signa tercní.
Jam pia munditiae religatus pectora voto
Curret ad exemplum vir, mulierque tnum.
Ó stirps, ò doctrix sorvandi prima pudoris,
Mater bonestatis, virginiíatis iter.
Nympha decus terrae, sa[)o;'iim praeclara poioram
TOL, II
VERSOS DO PADRE JOSEPH DE ANCHIETA

Gloria, virtutiim forma decoris apex.


/Etlira tibi debet, quod vili in corpore coeli
Munditiam duce terra tenet.
fragilis te
Terra tibi debet, quod sedum moribus aethra
Imbuit, aethereis redditur aequa tlironis.

In Elvidium Calmnum, quorum ille perpetuam AUri.e virginitatem,


hic votum virginitatis negat

Sed tumet inílato mundana superbia sensu,


Turbat, et insanus lumina caeca furor.
Nec te splendentis velamine solis amictam
^Eterna clarum virginitate videt.
Nec tibi calcanti corpus variabile lunae
Nil animi votum posse movere videt.
Nec t© Titanis portam radiantis in ortu
Invictis clausam vectibus esse videt.
Nec de signato divinis Fonte sigiilis
'''
Praeter aquam vivam nil íluitasse videt.
r

Nec conclusum muris sublimibus llortum


te
UUi calcandum non patuisse videt.
*
Cuni nequeat rádios divinae cernere lucis,
Unde tuae carnis lux animaeque íluit:
Detrahit aeternae tibi virginitatis honorem,
Et negat attactum te renuisse vJri.
Sed furit invidia íetri stirnulante draconis
Lividus Elvidius, perfidus Elvidius.
Livida pestífero tabescens corda veneno,
lllita vipereo specula felle jacit.
1
1 Foede, quid antiqui turges livore colubri?
Quid rábido rodis Virginis ore decus?
Ausus es accensis, carnale, cupidine flammis
Tradere, qui in médio non Ifagrat igne, rubum?
Ausus es illimem signali fontis in amnem
Ducere coenosos, sus luculente, lacus?
Ausus es intactum scelerala tangere língua,
Numinis aeterni, pestifer bydre, torum?
Ausus es expresso coelesti rore pudicum
Kumpere, et immundis tingere vellus aquis?
Ausus es Eoac divina repagula jxirlae
Demere, signatas et i-oserarc foi-os?
Coiiariá cautos sinuosa involverií cauda
Virgmis. et sacvo lacdcre denlc pedes?
Nam poleris primi \irus superare cbelydri?
EM LOUVOR DA VIRGEM

Num tibi pias sceleris, plus tibi fraudis inest?


insidias sanctae posuit prior ille Puella,
Ut trifido níveos iceret ore pedes.
Tu violare sacrum colubrino dente puderem
Niteris, et turpi contemerare lue.

Sed eaput invicto serpentis calce vetusti


Contudit illa, caput.conteret illa tuum.
Tu Stygis aeternum mergere paludibus, illi

Perpetua intactae gloria carnis erit.


Proh scelus infandum! mortalis seminis unquam
Vas foret aeterni lectus, et arca Dei?
Illa libídinibus substet, cui substat
Olympus?
Illa colet Venerem, quam colit aula
poli?

Appetat illa virum, cujus decus atque nitorem

Appetit aetherei Rex Dominusque throni?


lUud honestatis templum, conclave pudoris,
Munditiae thalamus, justitiaeque domus:
Illa serenato fácies magè lúcida coelo,
UUo esset naevo, vel maculanda nota?
Obmutesce canis, linguam compesco malignam:
Surdescunt aures ad tua verba meae.
Non homines inter, sed spurcos vivere porcos
Dignus es, immundo spurcior ipse sue.
Dignus es Eumenides inter Stygiosque dracones
Sibila Tartareis edere tetra rogis.
Tu mihi decorem:
sola tmm, Virgo integra, fige
Effunde eloquium tu mihi sola tuum.
Sed novus ecce draco squamato pectore terram
Verrit, et ingenti concavat orbe sinus.
Taliane ambiguum telluris monstra cavernae.
An nigra Cocyti stagna lacusque vomant.
Credo equidem "talem Stygio de gurgite pestem
Prodisse, et foedis ex Acherontis aquis.
Pandit hians fauces, pecudes procul ite, cruentas,
Ne vos sanguíneo bellua dente necet.
Lethifer ò tetro prodit Qalviniis Averno,
Mortiferosque affert de Phlegethonte cibos.
Quem cibat ille, perit: procul bine, procul este, percnnem
Qui cupitis vitam: quem cibat ille, perit.

Cedite, Tartarea flagrans sitit igne Clielydrus,


Yiroso strages edit et ore graves.
Nec terrae parcit, supero nec parcít Olympo,
Nec tibi summe Deus, nec sacra Virgo tibi.

Si parcit carnis, mentis tam(ín ille putlori


VERSOS DO PADUE JOSEPII DE ANCHIETA

Et dccus, c!; pretium dclrahit omne luae:


Perpetuacqiie aiiimum, et nunqiiam violabilc corpus
Lege puditiac le rcligasse negat.
Non mirum, aulhoris ciim faclis dieta colicrcnl:
Kon indigna reícrto moriljus ille suis.
Quid tua liiigua potest mundum, Calvine, sonare,
Mersa sit imninndo cum tua vita lacu?
Mutasti insano Chrislura, Calvine, Lyaco;
Jure Deus linguac Bacchus amorque tuae esL
Mutasti Venere imniurJa, Calvine, Manara;
Jure vénus vitae dux dea lexque tuae est.
Ilaec colis, liaec totó coniplectore numina cordc,
^^omine et ingenio nuiuina digna tuo.
Ilaec, Calvine, tibi sunt praestò numina Bacehus
Lingua tibi cst omni lemporc, vita Yenus.
Qui ti[)i sint mores, nomen manifesíat aperte,
Qualis odor vitae, quae documenta, tuura.
Kamque raeas quoties fertur Calvinus ad aures,
Kil nisi cum Veneris vina colore sonat.
Nempe cales scmper vlno Calvine, furiíquc
Luxuries niraij fota calcre meri.
Inde ílt, ut gemina succeiisuá pecíora ílamima
Turpia vinoso poíus ab ore vomas:
Inque volutaljro caeni, spurcis^imus ut sus,.
Foede jaces mane, vespere, nocíe, die.
Utqne alij tecura pajiíer voluantur eodem
Stercore, per similes quos cupisesse tibi:
Proteris.immundo pulcbram pede Alargaritarn»
Virginis integram dilacerasque decus:
Ejus ad exempium nc quis sua pcctora castis
r-Ioribus asíringat, rejiciatquc tuos.
Ébrio deliras, vino, Calvine, madescis,
Tatia non mirum si temulente freniis.
Lingua calens regiiur vino; meliora profuri
Ut, Calvine, velis, non meliora potes.
Cum nomen, Calvine, tuum, moresque superbi
Spurcitiaeque subit turpis imago tuae;
Te variatum oíicrs tam mui tis ora figuris,
Quot vitia in focdn foetida corde geris.
Nunc te calce puto deducere nomen ab alba.
Et vino: mores signat ulrumque tuos.
Calce dealiiaris falsa i)ieíate nilcscens,
Teíjue álbum vulgus credit, et esse piun.i:
Scd luror cxíkhisIÍ. quo totus mergere, vini
?idrí?.''*^-j'*»s»^-?*^«''SS'í»''

181
tM LOUVOU DA VmGEfi

immuntb quod íibi niente lateí.


Prodit, in
sinc niente fidequc pei
omnes
Nunc tibi quod calvus
Calvcre sis cupidus, nomen adesse reor.
Nunc te conspic.io sub ovina pelíe lateníem,
lupuin;
Guttura laxanlem sanguinolenta,
fanere caiiiaâ
Et miseras multo populantem
signa sitis.
NiiUa famis pulsae vel dare ^

:hm milii sus hoxrens setis immunda viueris,

Ter"-a volutaberis qui


recreare làti.
omnia foedas
Oai foetore tno, coníactuquo
^ cibos.
ImniRndo,-et mundos polluis ore
Chelydn,
Interdum reptas immanis more
Squameapestífero pectora felle íumens: _

ignis
Sulphureusqae oculis de scintiUantibus
Dissilit, et terras urit, et
unt aquas:
vommis biaspliemo ex ore venenum,
Et lelbale
Stridet ei horrífico flammea Imgua sono.
spiris, tertaeque volumme
cauclae:
Hos perimis
lllos dente necas, mortiferaquc lue. _

halitus oris,
Foetidus innumeros interíicit
Spirante inficitur quo levis aura,
tui.
figuram
Nunc milú pelle rcfers, facie, gestuquc
dolis:
Vulpis, et instructis insidiare .

pectora technis.
Composittsque capis male provida
simili fallere fraude doces.
Atque alios
offers,
-Jam te vulpinis exutum pellibus
Et rabiosa trucis induis ora canis:
Quam dedit ille íibi speciera, qm decubat
ante

Ostià Tartarae Cerberus atra domus.


umbras,
Tergiminis sontes hic terret faiiciiius
E^ressuque arcet sulphurci putei. _^

Tu maré laíratu obtundis terramquc truauci,


tuas.
Et pavet ad vocês impia turba
mentis manes
Ft leo-is divinae homines ac
"
Non sinis ò tetro mortis abire chão.
Irrnis avaritiae, tumidaeque superbia vuae
° tuae.
Te rapit, et carnis foeda libido
guttura laxas,
Ilaec tria continuo latratu
yena:
Inde tibi rabies dirá furorque
aras,
Cerbereisquc pias discerpis dentrnus
Et pandis rictus in sacra templa
leros:
morsu,
Numiuaque immani laceras coelestia
sacris.
Eruta de tumuli rodis et ossa ^^

Utque tibi aeternae restet spcs nulla salaiis,


VEr.SOS DO PADRE JOSEPII DR AXCMIETA

Cortior nd Síygios sitqiie ruina laciis;


Virginis intaclae rábido teris ore decorem,
Vota nogans animi religiosa pij:
Unde venire Uiis possent medicamina morbis,
Ejus lionoranda si tibi cura forct.
Mensuram scelerum cumnlasti hac labe tuorum:
Accessit cnlpis haec modo sum.ma tuis.
His ubi variantem turpia foi-mis
te vidi
Ora, perit viiltus prorsus imago tui:
Et monstrum invisiim. truculentum, informe videris,
Immane, infandiim, millequc turpe mocUs.
Deniqiie sive caies vini, Calvine, calore,
_
Lenaeoque furit turpis in igne Yenus:
Sive dealbatqs celaris calce, meroque
Proderis, et cnnctos calvere calvus aves;
Seu lúpus, aut porcus cocnosus, truxuò Chelydrus,
Seu fallax vulpes sis, rabidusue canis:
Sive aliud monstrum varijs deforme liguris;
Denique quidquid eris, nil nisi pestis eris,
rSíH Sed fertur tua magna fides, Calvine, fatemur,
In vinum, et sordes est tua magna fides.
Spe tibi mens certa gaudet secura, faíemur,
Uvi
Spe tibi Tartareis certa fiagrare rogis.
Est tua apud Gallos sapientia magna, fatemur,
Insano Gallus potus ab amne furit,
Cum,Calvine, tibi cordis nihil adsit et oris,

m > Ut Gallis sapiens sís, mihi Gallus eris.


Quo rapior? Justae quo me tulit impetus irae?
Mens mea mitte canem, mens mea mitle suem,
Jam pudet immundum, qui nil nisi turpia novit
Aflari: ad Dominam vela reflecte tuam.
1^
Altaque virgineis mulcentibus aequora ventis
Yirginpae caeptum confice laudis iter.

SpIRITUS SANCTUS SUPERYEMET IX TE, ác.


USQUE AD FINEM

Me tua jam revocat claríssima lumina Yirgo,


1
Et dulcedo piae voeis, et oris honos.
Sed stnpor ingeníi religat mihi Irigore pectus,
Nilque moa in tanta lumina luce videní.
Audio syderoum vera til)i vocc ministrum
Dicere, clausuram te Ibre ventre Deuni.
Audio você humili te respondere, pudoi^is
Í83
EM LOUVOR DA VIRGEM

seris.
Esse tui firmis ostia claiisa
gurgite rerum,
MerTor in immenso tantarum
aqms.
Obruitur nimijs et mihi guttur
submittens pectora nu tu
Tu pia divino
Oua íleri expectas hoc Deus arte
velit.

interpretis aure
Audi ergo attenta responsa
Qui tibi quaerenti quomodo
fiet, ait.

communi natura lege patrandum


Non iioc
Vir^o, nec attactus experiere
viri.
almus
SpiritSs adveniens tibi desuper, induet
conteget umbra sinns.
Víscera, et omnipotens
aethereum claudes penetrahbus ignem
Cumque alvi
Munditiae labes non erit uUa tuae.
nixa dolore
Atque ideo paries quem nullo
Magnus erit magni filius ille Dei,
pudori:
Nulla tuo fiet vis illo oriente
virginitatis erit
Illae tuae custos
labitur annos
En quae prole carens per aniles
juncta tibi.
Sanguinis Elisabeth foedere
Concepit summa natum in
foecunda senecta,
Menseque sub sexto jam grave portat ónus.
nescit,
Usque adeo divina nihil sapientia
Dei.
Usque adeo virtus nil nequit alta
Audisti ne pia divina oracula tandem
Virgo puer?
Aure, dedit praepes quae tibi
admirabile gentis,
Virgo decus nostrae super
meae.
Yirgo salus animae, vita, quiesque
dulci saliunt tibi pectora
motu,
Audisti, et
tuus.
Exultatque sacro spiritus igne
En iactura seris obrepet nulla pudoris,
ent.
De que tua genitus carne Redemptor
venter,
Turgebit gravidus divino pondere
ónus.
Nec "ravis exceptum sentiet alvus
utrumque,
Utrumque optabas avide, donatur
decus, virgineusque nitor.
Maternumque
Noli ic^itur Virgo cunctandi innectere causas,
Ansa tibi superest postmodo nulla morae.
immoto cardme valvas
Omnia tuta vides,
Mansuras uteri, claustraque firma
tui.
mentis.
Pande tuae citius secreta oracuia
Et resera faustis dulcia labra sonis.
voluntas,
Annuat aeterno Patri tua prompta
Jam dudum assensum postulat ille tuum.
vocês?
Non ne audis, quales eífundit ab aethere
181 M:r.so>; do paduk josepii dv. anciiieta

,
Qna tilii dulce Paler
clamai in ove Dcus^
i) mihi dilectas iníer charissima naias,
Qinc Verho es canicra sola datura meo.
Da milii, dá cilius vol paiicula verba, vcl iimini
Fac me audire oris mellea verba tiii.
Andin, ut anlo íuos pei^iiocians talia postes
Yerba tonat maono íilius ore Deus?
Eloquerc ò dulcis soror, et pulcbei'rima laxa
GiUtiira, consensiis ostia i)ande tui.
Nnlla meo ingressu p.atiere incendia solis,
Fiet in c^ressu vis tibi nulia meo.
Nam mea iioctiirnis hiimesciint têmpora
gutlis,
Ecce gei-o plenum Ros eí^o rore caput.
Andiri ut aspirans divinus ienibus auris
! f
,
SpirJtus aetorno victus amore sonat.
O tu, pomiferis quae delitiaris in bortis
Casta verecundis têmpora picla rosis.
Eia age fare, moa tiias vox jam personet aures,
Lac tibi de lingua mekjue suave lluat.
Ecqiiid atiiiuc Yirgo nostra spes una salutis,
Ista })udori color reprirait ora rneíns.
Fare, quid expectas? totus tibi supplicat orbis,
Tendi t et evinctás ad tua tecla manns.
Ad lua se incurval sublimis limina Olympus
Subslernecs pedibus sydera .seque tuis.
Ante tuum vuítjnn coelestis turma senalus
Procidit,innumexas ingcminatque preces.
Dirutíi ut antiqui serpentis moenia cauda
Consurgant urbis te pariente suáe.
En tibi crebra pij mittunt suspiria manes.
Quos gravis obscuro cárcere terra tegit.
In^^ralo fruclus ínaraabilis aegra sapore
Singullans aperit gutlura primus bcimo.
Ex])licat ãnllquos
mulier tibi prima dolores^
/Erumnas uteri damnaque mulla sui.
Respiee lugentum lacbrymanlia lamina Patrum,
Perque catenatas pluiima lusli'a manus.
Percipe quae lamenta gravíssima lellus
fiindit
01)ruta vulneribusque lum.ens.
flagitijs,
Criíninibus veniam, saniosis balsama plagis,
Et finem tantis flagitat aegra malis.
Quae sub ulroque i)olo tolerant incommoda gentes
Mille, gemunt Plioebi quae sub uiraque domo.
TrJstia sordeiites diulin-nis nclil)us ora

\1

w^ ' jt
185
EM tom-on CA VIRGEM

Ante tuas plangunt exulnlantque fores. _

Offeríur nostrae pretiurn tibi grande


salutis:

effecta est iílico nosíra salus.


Si capis,
Nos divina suo fecit sapientia verbo
Ocius ad verbum reficieíqiie íuum.
loquenti,
Ergo age, responde paranympho Yirgô
Non nisi cum verbo scandet in astra tuo.
Sit mora parva liceí, qua non effabere verbum;
Talia qiiae diflert gaudia, longa
mora est.
Patri,
Sat tuo supremo placuere sileníia ^

Nunc tua verba Deo sunt placitura magis.


vstam?
Mors fera grassalur, tu condis gutture
Você tua occumbet, tu taciturna siles?
Verburíi
Fare resolve moras, dá verbum, suscipe;
Divinum ut capias, da, pia Virgo, tuum.
puellam/
Mens raea, quid sacram turbas clamore
Ouid strepis ingratis lingua molesta som
s?

boc ingens aniffxO rimata profundo


lUa^opus
Mira suo prudens temporc vertia dabit.
Tu tantum ausculta, nihil haec msi dulce sonabit*
Exuperant dulces illius ora favus.
Jam reserat dulci labra disíiUantia raelle,
Nectareique, fluens imbre saporis ait. _

Ecoe ego supremi postrema ancilla Tonantis,


Ecce ego de ancillis infima serva Dei.

Accipio medijs domíni mandata medullis,


Ausculto dictis obsequiosa tuis.
Fiat sancte tuum juxta mihi nuníie
verbum:
Est mihi prompía Mes, cst mihi
promptus amor,
effata silet Yirgo, totosquc per
artus
Tantum
Dulcis inassueti flamma cáloris abit.
meduUas,
Rosida virgíneas ámplecíitur umbra
Et íenuis clausus permeat aara sinus.
Ilicet arcanura replet sacra
viscera verbum,

Et Virgo Auctorem concipit alma


snum.
Divina humanam vestit substantia formam,
Perfectumque ambit foemina ventre virum.
Tantum divíni potuit violsntia amoris,
fides.
Tantum humilis meruit Virgims alta
Quid sensere Virgo, penetralia cordis,
tui,

Quis tibi sub sancto pectore moíus erat,


Insolitis gravidam cimi motihus
impuht alvum
Conceptus miro vix beno more Puer!
Viscera cum sentis tua dilatata poteníi
i86 VERSOS DO PADRE JOSEPH DE ANCHIETA

Pignore, signatas nec patuisse fores!


Admirans natura pavent, tantique silescit
Conceptus quaerens obstupefacta modum.
Naturae superavit amor communia jura,
Concipitur carnis lege silente Deus.
h W Majcstas immensa tuo se víscera claudit,
Claudere quam mundí machina magna nequit.
Exulta, ó Virgo, summi domus áurea Regis,
Et dulces pleno guttnre plange modos.
Fundo Deo laudes habitatio sancta Sionis,
Maximus in médio jam cubat ipse tui:'
Invictoque tuas praemnijt óbice portas,
Virgíneas signans tempus in omne serás.
Oui te frumenti satiat pinguedine \\\\,
Quod tuus haud uUo semine fundit ager.
Inque tuo cunctis bencdicit pignore natis,
Quos sibi coelestis Patris adoplat amor.
Eloquiumque suum, quo saecula fecit, et orbcm
1 1
),'

Inculta emittit ventris in arva tui.


Salve plena Deo Virgo, ditissima Vírgo,
'

Virgo concubitus néscia, plena Deo.


Salve regale Accubitum, Paradysus amaena,
Paciíici Jesu delitiosa domus.
Salve divini Templum Salomonis honestum,
In quo nil strepuit ingrediente Deo.
Salve divini Requies gratíssima Verbi,
Aula voluptatis, laetitiaeque Torus.
Salve labe carens venter, salvete beata
í ''11
Viscera, virginei Matris avete sinu.
Salve perpetuo vellem tibi dicere venter.
Perpetuo vellem dicere venter ave.
Tu prima humanae naturae gloria venter
Aspectu dives conspicuusquc Dei.
In te divinum dempto velamine vultum
Mens servatoris giorificata videt,
A te prima salus, a te venit ultima mundo,
A te libertas, gratia, vita íluit.
Salve iterum foelix sancto cum pignore Mater
Virginitate nitens, fertilitate pólens.
Dextra tuas dudum tentat mea claudere laudes,
Sed claudunt laudes ostia nulla tuas:
Erumpitquc alio landis de gurgitc gurges,
Néscio quis tantis obviet ager aquis.
Nec mensura tuo, nec adcst modus uUus lionori.
187
EM LOmOR DA MRGEM

Materiaque meac vincitur artis opus.

Cum manus à cepto tentat cessare labore,


Cessantem revocas protinus ipsa manum,
amore
Sed revoca, sine fme tuo revocemur
Regna vocês Nati donec ad alta tui.
intacta Parens, Virgo foecunda,
beato
Ó
Yentre Redemptorem quae sme labe
geris.
amorem,
Te precor aeternae per virginitatis
Et per conceptus gaiidia tanta
tui.

Luxuriae mnndes immundum crimine mundum,


Corda trahatque tui nostra pudoris odor;
Virgineique meus mysteria máxima ventris
Credere discat amor, discat amare fides.

De VisiTATioNE Virginis^^Marive

Ut concepta tuo soboles divina sub


alvo

Implevit ventris grande cubile tui:


paterm
Perque tuam mentem splendoris imago
Illuxit, radijs emicuitque novis:
Pectoribusque tuis jam sacro ílamme plenis
amor:
Est data maior adhuc gratia, maior
montes,
Surgis, et ad celsos ascendis concita
Urbis ubi Solvmae nobile fulget opus.
Yirgo, qiiid exufgis? quis te movet
ardor euntem?
Dulce tuae linquis cur penetrale domus?
Quae semper plácido foviste gaudia nido,
Cur montana velut turtur m alta volas?
Author,
Jam tibi se immensus coelorum tradidit
Et pedibus regnum subdidit omne
tuis.

Surgis ad obsequium famulae Regina?


Deumque
Servitio, atque bumiles subdis ut
abra manus?
Cumque ministeríum totus tibi debeat orbis,
Quae facía est Domini lectus, et ara sui;

Tu taníi titulos oblita, et pondus honoris,


Ancilla properas ut famulere tuae?
Siste gradum Virgo, Regina revertore
coeli;

Ecce tibi ílectit terra polusque genu.


In te verte óculos. Deus est, quem
viscere gestas,

Gloria quem solum, quem decet omnis


honos.
sacra
Quid loquor ab demens? non sunt m.ihi cognita
Consilia, atque animi vis generosa tui.
Utque hebetant aciem radianíia lumina nostram
Dum Phoebi intento suspicit ore roíam:
188 VEnSOS DO PADIifc JÔSEPII DE AXCIIETA

Sicego rimari, Phoebi ò radiosior


orljc
Stella, volomenfis dum jubar omne tuac
Me tua diradians obnubilat
undique virtus
fantaque lux óculos obruit usque
^ meos'
íicdicet alta fugis, cum sis altíssima Yirgo,
Et capis alta magis, quo magis
ima peíis.
Uui íatns aeícriío manans de pectore
summi
Hospitia, introijt ventris in arda
tui;

r Viseret ut mundum culpac


languore jacentem,
Cordaqne mortiferis solvoret aegra malis:
IIic tua divinis cumulat
pia víscera donis,
'íi
Monstratet ínsuetam, qua gradíerc, viam.
'«'li Jlle tibi
tantae du\- esí pictalís, et author,
í\\'
i:
Toque liumilem dum se dojicit esse docet.
»

Quid facias Vírgo, si summa jwteritia


magni
Se tibi majestas subdit et alta Dei?
Illetuam summo descendi ab aethere in alvuum
t

K B

Ut Dominus servis sertíaí ipse suis.
Tu se subdentem subdís, dum subderis, atque
Officuim servi, quod geris ipsa, gerit.
Quodque ohm faciet, matura ut venerit aetas
Divina tractans intima quaeque manu.
Protenus exequeris tu, Jíater liumillima, vili
Servitio tradens te Puerumoue tuum.
Mira Dei bonitas, humJlis quí ventre puellae
Clauditur; atque homihum postmodo servus
erit-
Mira Dei Matris sapientia, deínde futurum
Continuo servum quae facit esse Deum.
Ergo ego selTítium Domino famulante recusem,
ta
ínfima rejícíam turgídus, alta petam?
Servíat aeterni Genítrix digníssima Yerbi
Visa humílí fam.iilàe víx sibi digna loco:
Ipse húmus, et cineris vilíssíma sarcina nullo
Inferior, cunctis alíior esso volim?
Ante precor tristi tabescant vilia lelho
Membra, mihi vili contumulanda solo,
ij: Quam Domini império dura cervíce repugnem
Idquc meís liumeris oxcutiatur nnus:
Vírlulis vè luae, speciosa et liiimilíma Yirgo.
E fluat ex oculís dulcís imago ineis.
Sed perge, et monlis pulcliro'jiiga Irajice gressu^
Divinae effundas uL pielalís aijiias.
Omnia namqiie (íbí cum Nalo munera sumino
Sumiaus ab aeílierca contulit arei; Palcr.
189
EM LaUVOr. DA VIRGEiM

lumina rebus
Oui pias ut eunctis placidissima
" íert miseratus opem;
Figit, et afflictis
Natum,
Inque tua unigenum demisit víscera
laedit ónus.
Visitct ut culpae quos grave
Sic quoque totius curam tibi tradidit orbis.
Auxilium miscris ut miserata serás.
Cum te materno decoravit lionore, benignum
Officium matris fecit babere piae.
Visis enim cunctos miti bona
lumma Mater,
vecat.
Et tua nequicquam nurnina.nemo
Invisis quorum serpunt saniosa
per artus
Ulcera, conspectu mox coeuntque
tuo.

Respicis et saevo cruciatos membra


dolore,

Teque fugit saevus respiciente dolor,


Yisis et liorrisonis quibus aequora
mota procellis

Funera insanis dirá minaníur aquisr


Torvaque sedatis componis marmora
ventis,

Tranquillo aspirans aura secunda mari.


arces,
Visis et obsessas ttirmis hostilibus
Inciissoque fugas castra inimica raetu.
cruentas^
Visis et instructas acies, pugnasque
ílosticaque invicta conteris arma iianu.
sontes,
Visis ia obscuro conclusos cárcere
Speqae bona miseris taedia longa levas.
catenis
Visis et evinctos immitibus aegra
Corpora, et bostili squalida colla jugo:
Pallidaque infractis exolvis corpora vinclis,
Et duro túmidos êxuis aere pedes.
vitae.
Visis in extremo positos discrimine
Auxiliam dextrae qui petiere tuae.
Instantemque arcens longe morientibus Ofcunt
Defunctis facilem pandis in astra viam.
culpis,
Visis in obscoenis immersos pectore
Quos vitae incepit poenituisse suac:
Materno,que foves solamine, Toedaquc nuper
Corda Deum placans jam speciosa facis,
Visis et aeterni gravidus qai numinis
iram
Flagiti^s, poenas nec timuere,
movcnt.
lios prece victa tua Domini clemenlia gratos
amore sui.
íleddit, et ignito carpit
Visis etimmenso quorum pia vita parenli
Labe carens omni crimine munda placat.
ServiUn Domini qui se addixere perenni
Legibus astricti membra animumquo pijs:
190 VEBSOS DO PADRE JOSEPM DE
AACIIIETA

Hos tna delicijs pietas coelestibus


implet
Monbus exornans pectora casta boriis
Hos tua maternis pietas ampiectitur
ulnis '
Inque tuo degunt absque timore
sinu
Cuncta referre libet; sed nec mihi lingua, nec ora
manus, aut mentis sufficit ipse virror
SSec
Desjpiamque magis, quam si comprendere
coner
Littora planguntur quod sinuosa freíis,
Nam quaecunque tenet vel terra pericla, vel
aecíLior
Uuaeque ferus Stygijs evomit Orcus
aquis,
Cuncta tua superas pietatc; nec
abfuit unquam
Mf ilil
Jsta manus miseris, cum petereris opem,
Laetera uti sjleam pietatis ciara
beni^^nac
Signa Dei genitrix, et monimenta
tuae.
Me quoque cjuem penitus vitiorum merserat
alíus
Gurges, et ad Stygios truserat
usqiie lacus
lue quoque visisti miserum.
cui nulla futuri
Supplicij, aut verae cura saluíis
erat.
Me quoque vjsisti, cum nec coelestic mentem
Dona mih\, aut Domini tangeret
ullus amor
Me quoque visisti, quam nec miser ipse
vocabam
Nec me praesidio rebar egere tuo.
Me quoque visisti, me tu prior ipsa vocasti'^
Sed tacm stupidus, surdus inersque
diu
Me miserum, quotíes curis acuebar honeslis
Te stimuhs pectus solhcitante
meuin!
Sed mihi nec virtus, nec vis stinmiantis
amoris,
iNec pietas Matris nota
vocantis erat
Sed tua vox tandem surdas
peneíravit in aures
INoxque mei cordis lumine victa
tuo est
Exextique gravi culpae sub mole
jacentem'
Redditaque est per te vifa salusquc
mihi.
i^rgo quod audivi, quod coeli lumina ccrno
Quod redij ad vitam, quod modo vivo, tuum est

integra, et aeternae ncscia


mortis erit
Hoc sperare tui faciJis clementia
Nati
IIoc tua me pietas diilcis
amorquc'iubet
Adde quod est ingens tua cum bonitale
i.otestas
Lm dedit omnipoíeiís omnia posso
Deus
Lrgo gravem visis fuelici prole parentom
Seuuia, nec longum te ivmoratur iter
Ne^cmontana piam deterrent áspera
mentem
Semita virgíneos nec iapidosa pedes
191
EM LOUVOR DA VIRGEM

Ó vehemens pietas, dulcis vehementia amoris,


vis animi, vivaqae flamma
pij.
Flammea
Perge, precor, Dominam famiilus coraitabor euntem,
per juga celsa meam.
Si licet, et pateris,
Si tamen indignum me dedignabere forsan,
viae:
Qui comes inceptae sim, socmsqiie
At patiere pedum vestigia sacra
tuorum
A longe observans post tua terga premam.
Ibo legens gressus proniis,
figam oscula terrae,
Pulveream signat qua tua planta viam:
Imcumbensque solo suspirijs intima pulsans
Huic, mea mens,..dicam, lumme fige loco.

Hoc impressa tuae vestigia pulvere matris


inest.
Aspicis, liic humilis vis pietatis
Áurea sacrae vix moenia adire Sionis,
si

Hoc sequitur, praeit quo tua mater iter.


Haec sacra virginei praecessit Sarcma
ventris;
fige gradus.
Si sapis, hoc properos tramite
Ilaec sola est, saneiam quac te
perducet m urbem
Semita, qua Natum praetulit illa suum.
sui nimium tibi causa morandi,
Sed jam, Yirgo,
Clivosum tarde dum
tero lentus iter.
Austris
Vos igitur levibus qui curritis ocyus
Aligeri coetus, Íncola turma poli.

ruite ò superi celeri pede culmme


coeli,
Vos
Cingite virgineum sedula turba latus.
vestri,
Haec Thronus est Domini sedesque altíssima
Altior aethereas transgrediturque
domos.
Dignior hoc vobis in vértice fulget
Olympus,
Altior est coelo, quem gerit illa sinu.
puellam,
Per juga praegnantem deducite celsa
Sternentes varij floris odore viam.
rigat ore protusis
Si cum foeda malus lachrymis
Pectora flagitijs, contumerata gemens.
Si vos magna modis pertentant gaudia mins,
Funditis et summo cantica laeta Patri:
gaudia turmis
Haec dabit, haec mulier vestris nova
Corda lavaturum jam paritura Deum.
Haec properat Pueri nondum detergere
nati,
notam;
Primus homo infecit quo genus omne,
salutis,
lUic prima dabit venturae signa
Qua rata divini pignora amoris erunt.
ut vocibus infans
Sciíicet ipsius placidis
Matris adhuc clausus viscerc laetus erit:
19â VERSOS DO PaDÍIE J0SEP!I BK ANCilirCTA

Authorisque sui numen praesontis adorans


Deponet patrij crimen onusque ma!i.
Sic ubi virgineo suraptum de corpore coi'pus
Iiiterimet diris mors truciilenía modis:
Omnia surdentis purgabit crimina muridi,
Et vetus
V in sacro diluet amno scelus.
Ergo tibi nostrae jam nunc pia Yirgo, sala Lis,
Saevaque cnrandi vulnera cura daíur.
I. II !
Jam nunc, quae multa squalobant sordc repurgans;
Efficics summo pectora grata Deo.
Quid magis admirer dubito, Paíris ne benignam,
Qui te tam grandi doiiat bonore, manurai:
An ne luuna tanto firmatum robore psclus
hl Autlioris posses mater ut esse tui.
Utrumque admiror: sed cura tua pecEora cerno,
Templa pudicitiae, justitiaeque domum;
Cuncta tibi à summa video boniíate profecia.
Súbdita cui semper meqs tua, Yirgo, Tuit.
IUíqs est quod liabes, nec te pudet, inclyta Mater^
Accepta authori cuncta referre tuo,
Ille tibi prin^i genitae sine crimine patris

Corporis, atque animae labc carere dedit.


íile tui requiem ventris sibi legit, ut orbem

Sanclificet, longis eripiaíque malis.


Nunc clausus clausum mundabit ventre puelium
Matre pium matris percipieníe sonum.
Post tua vel lento cur non vestigia gressu
Acclivis calcem per juga montis iíer?
Quid miror? eniensi jam transis árdua montis
Culmina, quae est longac meta suprema viae:
Moeniaqiie ingr-edcris regalis sacra Sionis,
Excipit et tectis te Solyma alia suis.
Excipit urbs Ui'bem, divinam arx aspecit Arcem
Cominus. et Porlae pervia porta palet.
(>
Zaccbariaeque domum festinis passibus iníras.
Et tua vox gravidam dulce saluíat anum.
Sensit, et exiguo vix gaudia concii^t infans
Pectore, dum dulces dat tua liugua sonos.
Sensit Joannes, subiíisque pareniis in alvo
Gestibus exullans párvula membi^a movei:
Conspectumque Dei llexis venienlis adorai
Popliiibus, paliias exviliMxjue notas.
Jubilai admiraus vultum vociiinque benigna
Uospitis Eljsabelb, laeliliaque fremil.
EM LOUVOU DA VIRGEM 193

Nec capit insuetos gravida intra víscera inotus,


Quae sacro implevit plurimus igne Deus.
Exilit aethereis agitatata caloribus intiis,
Et petit amplexus, Virgo beata, tuos.
Virgineamque parens tenet infoecunda parentem,
Juncta sinum sinui, pectora pectoribiis.
Et flammae impatiens implet clamorlbus aedem;
Fundit, et ingenti talia você tibi.
O decus, ó nostri claríssima gloria sexus,
Contulit immensus cui bona cuncta Deus,
Tu varijs matres vincis virtutibus omnes,
Tu superas omnes conditione rmrus.
Mille tuae fructus cumulatur dotibus alvi.
Máxima cui virtus, cui sine fine decus.
Máxima totius cui machina serviet orbis
Cuncta dabit Genitor cui moderanda suus.
Quo merui facto tam grandis múnus honoris?
Unde mihi indignae gratia tanta venit?
Tu Domina atque mel Domini dignissima mater
Ad famulam vénias obsequiosa tuam?
Te ne ego supremi foecundam prole parentis
Excipiam laribus vilis inopsque méis?
Ecce salutantis tua vox ut pertigit aures,
Audire ut licui tam pia verba mihi;
Gestijt insolitis exultans motibus infans,
Et mea sunt pulsu viscera mota novo.
Tu nimium foelix, tu miro more beata,
Cujus capta fuit pectore tanta fides.
Namque tibi à Domino quae sunt promissa superno
Stant rata temporibus perficienda suis.
Haec anus ardenti de pectore prompsit honores,
Ó Yirgo, et laudes vaticinata tuas:
Inque tuo vultu íixis obtutibus haeret.
Et tua quo splendent vix capit ora decus.
At tu, Virgo, tuae non immemor óptima sortis
Excutis ex humeris tam grave landis ónus.
Nec virtus humilis, roseique modéstia vuUus,
Nec pudor ingenuus, ne decor oris abest.
Omniaque in summi referens praeconia Patris
Talia melliflua carmina você canis.
Mens mea divinas humilis de pectore laudes
Depromit, Dominum magnificatque suum.
Spiritus inque Deo meus exultavit amato,
Qui solus vitae vita, salusque meae est.
VOL. 11 13
194 VERSOS DO PADIlE JOSEPH DE AXCHItTA

Nam placidis humilem respexit ab aethere servarn


Luminibus nimio victus amore soam.
Propterea foelix, gentesque beata per omnes
Semper ab aetenia posteritate ferar.
Nam mihi magniíicis immensia potcntia dexírao
Divinae ornavit pectora nuda boiíis.
Est illi omnipotens sanctum, et vcnerabile nomen:
ílliiis aeternum gloria numen habet.

Ipsius pielas natos fovet alque nepotes,


Qui Domini casto nomen amore limení.
Ipse suo fortis robiir dedit omne lacerío.
Invicta vires cxerciiiíque nianns.
Perdidit insana tiimelacíos mente snperbos,
:(i Quos furor eiati cordis inanis aget.
^'
1
i
Deposuit summa convulsos sede potentes,
Sublimenque hmuiles fecit babere locum.
1
Quos violenta fames, quos dura exercei egestas
1
Implevit veris perpetuisque bonis.
1 1

? II r Divitijs plenos vácuos demJsit, et omnes


(
Funditus agesías depopnlavit opes.
1 Mente suam recolens píetatam dulciter aiíavO
1

Isacidam puerum suscipit ipse sunra.


Quae quondam nostris promisit patribus implens,
Priscaque cum vera íbedera pacta fide,
Qualia juravit magno immntabiiis Abrae,
Et soboli ipsius tempus in crnne Deus.
Sic fiis, atque óculos íellure morata pudicos
Occultas liumili gaudia dona sinu.
Virgineasque paras mox ad servilia palmas;
Nec famulam famulae te pudei. esse luac.
!lla sibi matrem Domini servire supremi
Nec fert, nec novit qua ratione vetei.
Si Dominam servire sinaí, cui servit Olympus
Sydereus, contra jusque piumque putat.
Si Dominam servire veíat, cui caeícra parení,
Ut Dominae império parcal ipsa, timet.
Quid facíat? prohibere grave est, permiltcrc duruni:
Utraque poena gravis, scd tolei'are minor.
Obsequitur lihcns Dominae servire volenti
Seiva, minisíerijs poríruiturque tuis.
Tantaque sub tácito myisleiia pecíore voluit
Plena Dei muío cum sone mater anus.
Foelix prole i)arens, Ibelicior liospile tanta,
Quae nato et matri seque Dcumque dedit.
E?,i LOUVOn DA V!ít(;E:\5 19ÍÍ

Foeii.x mule senex, luijus tibi munere vocem


Jam dabií immissus corda per ima Deus.
Foelix sancíae piier, cujus foelicior altis
Auspicijs íactu Virginis oríus erit.
Quem teneroque sinu, placidisqiie fovebit in ulnis,
Membra quibus Domini sant refovenda tui.
Ó ego si possem spectaíor adesse, tuasque
Sancta ministrantes cernere, Yirgo, manus.
Ó mihi liceaí íecum simul esse ministro,
Exequereis taníae dum pietaíis opus.
Dum te submisso írancíantem vilia corde
Munera ter jungens cornua luna vident.
Qaae quoniam non est opis omnia dicere nosírae,
Et tibi plus verbis integra vita piacet:
Da, tua sit Yirías mihi semper homillima cordi,
Ire inoffenso per tua facta pede.
Ó Regina, pios ânimos complexa labores
Pectore, iene animo cedere posse meo?
Sed quis erit, mitem qui te mihi praestet egeno?
Qua tuus est misero conciliandus amor?
Omnia cum bistro, vel qaae plaga lúcida coeli,
Yel tenet abstruso íerrae fretumque sinu:
Tu prima ante omnes aegrae fis obvia menti
Pignora praesidij certa datura tui.
Nec pieíaíe aliquis, nec nostri aequarit amore,
Que tibi maternus viscera repleí amor.
Cuncta tuus (fateor) dulcedine vincit Jesus,
Quo sine jucancum est, quo sine dulce nihil.
Sed liceí, invitet pietas divina, repellit
Majesías justo sontia corda metu. _
Tu precibus motam com.ponis mitibus iram,
Nec tua formidat perditus ora réus.
Ante tuos igitur, Mater mitissima, vultus
Mens mea subnixo procidit ecce genu.
Nudus, inops, aeger, crudelibus undeque plagis
Saucius, innumeris uror agorque malis.
Tu quibus indigeant unguentis vulnera nosti,
Ante tuos aegro sat gemuisse pedes.
Ventre tuo nostri clausa esi medicina doloris,
Perpeíuumque tuus drí medicamen amor.
Ad me si mites convertis. Mater, ocellos,
Sufficit in Miltu spes mihi certa tuo esí.
*96 ^'ERSOS DO PADRE JOSEPH DE AXCHIETA -

«
De Partu Virginis Marine

Tandem, sancta Parens, revolutis ordine seclis


Advenit parius hora beata tui.
Hora tibi totis animae exoptala medullis,
,
Nox sacrae, nox omni clarior una die.
O nox, ò cunctis speciosior una diebus:
.
O nox, natalis pulchra decore novi.
O nox, quae verae radiant claríssima lucis
.
Lumino, Phoebeis splendidiora roíis.
O uox, caligo cjua pellitur atra, suusque
.
Redditur immenso itIíus in orbe color.
Qua Deus egreditur puerili carne volutus,
Quem menses clausit Virginis arca no\em.
Quae, precor, ò foelix, quae gaudia, Yirgo, medallas
Pulsarunt cordis nocte silente tui.
Ante tuos óculos jacuit cum parvulus Infans,
Qui Patris ante novum fluxit ab ore jubar;
í 11! Processitque tua carnem vestitus ab alvo,
f
Damna fuit passus nec tuus ulla pudor?
Haec tibi sydereus pavitanti nuntius olim
Promisit laetum cum tibi dixit Ave.
Haec tu submissa cepisti oracula mente,
Nec tua credulitas vana fidesque fuit.
I Nam tua continuo non marcescente pudoris
Intravit summus viscera flore Deus.
Nunc idem egreditur malerni veníris ab aula,
Nec thalami reserat ostia sacra sui.
Ultima respondení primis mysteria caeptis,
Veraqne sub tacita gaudia" mente íbves.
Tunc formosa nimis, cum se decor ipse silentcr
Clausit in hospitij tecta pudica tui.
Nunc formosa magis, cum jam sine murmure viq
'i:
Claustra pudicitae transijt arda tuae.
Haec til3i nox foelix, haec formosíssima venit,
Haec tua lucidius sparsit in ora jubar.
Nempe vcrecundo quamvis aurora colore
Fuigoat, et radijs vesíiat anra novis:
Pulchrius illa Inmeii Phoebeo splendet in ortu,
Cum sua sol liquidis cxerit ora vadis.
Ut primum nata cst Vcrbum paiitnra palernum.
Aurora effulsit, noxqne perada hiil.
Virgínea sed cnim cum nondum accumbcrel aho,
Dcorat adhuc luci gloria magna tuac.
EM LOUVOR DA VIRGEM 197

Ut vero acaibuit, crevit tua gratia, Inxqiie


Incluso Solis lumine maior erat.
Nunc ubi divini rádios diííudit honoris
Editus in lucem lucis origo Deus;
Emicat in totó tua lux nitidissima mundo,
Virgineique decus mater honoris habes.
Sed juvat interea tanti primordia partus,
Nascentisque urbem voluere mente Dei;
Quae domus excepit Dominum, quae regia Christum,
Quae dedit Infanti culcita blanda torum.
Quae comités sacrae, famulae vò fuere Parenti,
Qui Puero cantus, qui sonuere modi.
Nascitur in Bethleem, veteris sub culmine tecti,
Nascentem nudum nuda receptat húmus.
Fit praesepe torus, hinc bos, hinc tardus asellus,
Hinc tacitus pueri pendet in ora senex.
Jubilat alma Parens, Infantulus ore tenello
Vagit, inauditis personat aethra modis.
Cur mea mens torpes ? cur non raagnalia visis
Regia ? quin gressus ad sacra íecta moves ?
Perge age, non illo peliet te lumine durus

Janitor, obstructas objicietve fores.


lUa caret portis, statio est aptissima brutis,
Pervia frigoribus porticus illa patet.
Intrabis tuguri squalentia culmina vilis
Congestà culmis excipiere casa.
Ut Matrem aspicies divino lumine plenam,
Percipe quid partus tempore dulcis agat.
Tu sine, tu sacrae recolam mysteria noctis,
Ó Virgo, et mentis gaudia pura tuae.
Tu sine, praesenti spectem tua lumine facta,
Et cúpida excipiara quos dabis aure sonos.
Tempus adest partus, nox intempesta silescit.
Et juga jam medij dividit alta poli:
Omnia somnus habet plácida resoluta quiete
At tua seu lampas lumina clara micant
Altaque jam dudum miracula mente volutas.
Ora cupis Pueri pulchra videre tui.
Âmplexura sacrum jam mitia brachia corpus,
Foturosque paras frigida membra sinus.
Osculam ja gestis roseis libare labellis.
Et rubra candidulis figere labra genis.
Nectare turgentes jam pressus pollice mammas,
Quas tenero sugat parvulus ore Puer.
il
m VERSOS DO PADKE JOSEPU W.
A.\CH1KT.V

Nunc humili pulsas Jramensum


você Parentem
INunc rsatum bíando
diílciter ore voca^
En prope, ais, paríns jam foelix
hora propinquaf"
Ojiecus, o requics, ú mea cura
Deu>
Jam^tuus exibit Nalus sub luminis
au'^as
Et nudam tangct corpore íecius
humum
JNil mjhi non verum
íuus atlulit ales ab alie
^there, credenti nec milii verba

i ínclmavi aurem, concepi


dedil
viscere Verbuni
Tutaque seruata virginiíale fui
Consule nunc Genitor parientis
summe pudori •

Sit sme VI parlus, sit sine labe, meus


Tene ego, chare Puer, complcxu
seduia molli,
Tene ego materno bclle fovebo
sinu''
Tene meo pulcher laclaberis ubere Nato
Mistaque cum niveo basia lacte '>'

feres
Nascere summe Deus, mea magna
future voiupta<,
Basiolumque oris da mihi dulce lui
Ilaec dum divini succcnsa
cupidine amoris
Voluis, et expectas pignoris
ora sacri •

Nascitur humano vestitum corpore


Verbum,
Et tua virginiías intemerata manet.
Ut viridis profert nitidum ^'irgunc^Ia
florem
^
Nec trusufloris laedilur ipsa sui.
Ut Sol subtili penetrans specularia luce
Illaeso radians itque reditque
viiro.
ti Egreditur porta princeps sublimis Eoa
Limina signatae, nec patuere fores.
Cândidos è tbalamo procedit Sponsus
lionesio
Conjugis aeterno vinctus amore nova.
Quae tibi nunc sanclum perlenlant gaudia
pectus^'
Quae tua laetitiam mcns pia ]\iaLer babel -^

Quae tibi divini ccrnenii Numinis oriuiu


Lux nova perfundit lumina quale decus !

Quid facis in dura Puero tellure jacenti,


Áspera quem duro fiigore vexat liyems? *

Surgis, et aethereo vulíum perfusa


ríilore
Ante Dei flexo procidis cr'a genu.
Flexa genu, et.^tolo vt^nerabile ÍS'umen
adoras
Corpore, in amplexos jam ruiura pios.
Mellifluumque bibis divini infantis amorem,
Talfaque é médio peclore verba sonas.
EM LOUVOR DA VIRGEM

OratíO Matris ad Pueuum REGE?,'S natum.

Ó Deus omnipotens, vasti quem machina mundi


Aulliorem ac Domimim praedicat esse
suum.
Cujus inaccessam tenet ingens gloria lucem,
Cui velut irmaíQS lúmen amictus inest.
Ouem nequit immenso comprendere corpore mundus
^ íe brevis arca mei.
Conclasit ventris
Egressusque meae tener è peneíraliiius alvi,
In yili recubas, lux mea, Naíe, solo.
Non.ne tua ingentem manus inclyía condidit orbem?
Nonne polus^Domino servit uterque tibi?
Cur tibi tam vilem nascenti deligis aedem ?
Regia cur oHam non capit aula tuum?
Tu coelum stellis, variis animalia villis
Induis, et viridi gramine pingis agros.
trementi
At tu nudas humi vagis, lachrymasque
Exprimit è teneris áspera bruma genis.
superns,
Nate decus coeli, soboles Patris aequa
Edite visceribus Nate decore méis.
Ouantus bic est raatri dolor, ó mea Nate voluptas,
"
Yiscera te affiicto qui praemit aegra mihi
Quo te Nate modo duratellure Icvabo?
Qua tua contingam membra beata manu?
Indignam terret, prohibetque attmgere corpus
Me tua majestas, imice Nate Dei.
Sed te si patiar cruciari frigore nudum.
Et tenera in duro membra j acere solo :

Asperius faerit rigido mihi frigore pectus,


Nec superei durus viscera dura lápis.
Ergo íuam tangam, Soboles dulcissima, carnem,
Sola ego de pura quam tibi carne dedi:
Expleboqne meãs refovens tua membra meduUas,
Quoque mihi pectus ílagrat amore fruar
Maternaeque parens pietaíis numera obibo,

Quae licet in cimas officiosa tuas.


engis ipsum,
Ergo veni ò pulcher (simul haec, simul
Invoivis pannis, guttura lacte rigas)
Ergo veni ò pulcher, mea lux, mea gloria, Fili,

Brachia nec matris respue chara tuae.


author,
His tua panniculis rerum Dominator, et
His tua panniculis membra tenella tegam.
m tua nos inopes duríssima ditet egestas
Divinis repiens pectora egena bonis.
-^ YEUSOS DO PADRE JOSEPH DE ANCHIETA

Per te vivit homo, pecudes pascuntiir, avesque,


Yermiculis suum dat tua dextra cibum.
Deqiie tuis mieis eives satiantiir Olympi,
Omnibiis èqiie tua provenit esca manu.
Nunc te dura famos, nunc te si lis áspera vexat,
Uberaque exiguum daul tibi nostra cibum.
Eia age, turgentes, Infans bellissime, mammas,
Accipe : maternum Puer alme, bibe.
lae,
Lao, mea quo Genitor tuas ubera, Nate, replevit
Quod tibi de tenero
pelleret ore sitim.
Ne peta plnra, satis tibi sunt baec muncra, quando
Me tibi vis ma trem, tu meus esse puer.
Uror amorc tui dulci iiqueíacta medullas,
Et mea melliflaus serpit in ossa calor;
Cúm te, vitae Author, divinis spccto labellis
Sugere de mammis parva alimenta méis.
En ego te blandis liominemque Deumque lacertis
Sustineo, ò summi gloria vera poli.
En ego te Natum mater, te filia Patrem,
Te Dominum molli servula gesto sinu.
Ó Infans formose, mei Deus intime cordis,
Ó amor, ò vitae vita beata meae.
Verè ego te nate foelix, ex millibus una
Electa, ut tanto pignore plena forem.
Nunc mihi laetitiae cumulus super additur ingens,
Metaque vix laudi figitur uUa meae.
Cum te, summe Deus, peperi, niveusque pudorls
Cum matris pariter mansit honore nitor.
Cum tamen abjecta Dominum contemplor in acde
Frigore tam duro, pauperieque premi.
Desertum, atque inopem, nudum, cunctisque carentem
Rebus, et hunc arctum vix reperisse locum
Yix mea compescunt lachrymas (simut imber honestits
Largus abit malis) lumina, chare Puer.
Quo tua Majestas requiescet regia lecto ?
Unde parem Domino molle eubile tibi ?
Non hic pulchra rubent Tyrio porfusa colore
Tegamina, non auro seriea texta rigent.
Non est blanda mihi mollitis culcitra lanis,
Qua tua te, lili, maícr egena loeem.
Non avibus nidi desunt, non vul[)ibus antra
Tuta, qiiibus foveaiit se sobolemqiic suam.
At tibi coeloruni Domino, rerum(|ue iiarenti

Decst, ubi reclines têmpora saera, locus. <


EM LOUVOU DA VIRGEM 201

Inter maternas recubare suaviter ulnas,


ínque meo posses molliter esse sinu.
Sed tu dura ciipis, perpessumque áspera ferre

Mollia regalis sciliceí aula tenet.


Yis angusta tibi fiant praesepia cuna,
Aridaque incultum praebeaí herba torum.
His ergo ia síipulis inter jumenta recumbe
Hic sopor in sicco gramine dulcis erit.
Hic tibi, dum teneros mulcebit somnus ocellos
Utraque turgebií lacte mamiila tibi.
Hic benè virgíneo servabitur nbere potus,
Hic tibi non deerií, belle Puelle, cibus.
Dormi, summe Deus, mi dulcis amator, amorque,
Ó fácies oculis deliciosa méis.
His blandire piae, mater dulcíssima, proli,
Vixciue animo claudis gaudia tanta tuo.
Parvulus in foeno recubat, tua gloria, Natus
Tu juxta aethereo lumine plena sedes.
Sydereum plaudit divinis vocibus agmen,
Natalem Domini concelebratque sui.
Ingeminant laudes, resonat vox clara per auras?
Sit decus in superis, gloria, lausque Deo,
Et placidae tellus exulíet munere pacis,

Mittitur è coelo raentibus illa piis.


Diffugiunt tenebra fulget splendoribus aèr,
Et vero exoritur Sole oriente dies.
Pastores currunt, natumque rec enter adoram,
Quem vox coelestis dixerat esse Deum.
Haec te laetitia cumulant, haec laudibus ornant,
Omniaque haec servas pectore verba tuo.
Si sinis, ipse etiam nati ad praesepia Regis _

Corpore prosternar, menteque fusus humi


Ut referam sacras exili carmine laudes
Infanti tenero, vel tibi casta Parens.
Âudebo, accedam, neque eninyme dura repelles,
Nec Pueri ficnt lumina torva mihi.
Sed quis ab aeterni manantem pectore Patris
Ante creaturas saeclaque facta caneí?
Tutius est ejus laudes siluisse silendo :

Redditur immenso laus queque magna Deo.


Ergo tibi pauper munuscula párvula servus
Ó Genitrix, Nato non renuente feram.
Cur tamen abnuerit, tibi qui dedit omnia, seque
Qui tibi tolius fons et origo boni est?
202 VERSOS DO PADRE JOSEPH DE
AXCIliETA

Sed quis percipiet sensus,


quaeve ora sonabunl.
Quae tib! sint carnis, quae tihi
mentis opes'>
lanta íno fulgeí coelesíis
gratia corde,
Ut stupeant formam cuncta creaía
tâara
Agmina miraníur coelestia claudere puris
\ iscenbus summum te poluísse Deum.
LaiDES VíRf;iMS ORDIXE AEPUABKTiCO.

A
Til saci'a es,
qua se divinum condidit aurum,
Uuao mundo largas Arca refundis opes
Unde catenatus Stygij sub jure tvranni
Vendi tus heu miserc jam rediraatur
homo.
Hoc ego tnesauro redimam mea
crimina, et 0IÍ117
Laptivus, tanto m.unere lii)er ero
Nec tua, quae cunctis reserata
est semper egeni*
Claudetur soli dextra benigna mihi
Non docet esse íuus, Natus te, Mater
avaram •
Ut mihi se donet, se dedit il!e tibi.
Divitns post hàc nemo se jacíet
opimis,
Nemo sibi laxas condat avaras opes.'
A te qui purum snpplox non ceperií aurum,
Pauper in aeternum ^ilis, egenus erit.

B
Tu nive candidior Byssus, candorque pudoris
Unde sibisumpsií tegmina digna Deus.
Quae nec corrumpet consumens cuncta vetustas,
Nec mors terribiíi sanguine lenia raanu.
Hoc verura acquiret velamine mundus honorem,
Opprobriique teget signa noíasque sui.
llac íege me túnica, lUatsr: nam corripit aestu*
Lacdit byems, telis dextra inimica ferit.

<
Tu plena es Doniini suavíssima fercula sornans
i

Cella, salutaris
premi iur unde cibus.
Hoc siipori vivunt, foelicia naaiina, libo
Hoc corda bumanum pascitur aegra genus.
O vero vivus, qui venit ab aeíhere.''panis.

'

"Q^SEés.
EM LOUVOU DA VIRGEM 2Q^

Quem tua suscepit ceila, deditque cibum.


Qui materna sic se minuisseí iii alvo
nisi
erat.
Niilbis in orbe loais, qno capereíar
Jam medicam sumpsit de te, pulcliernma, formaiT],
Undeque at menti toíus inesse meae.
Ó mea divinum concludite víscera pastum,
Ne vos sicca siíis perda t, inersque faraes.

Tu Dmmis rutulis circumdatiis undiqiie flammis,


Qui tamen ardeali iaederis igne nihil.
Qaem tua divinum puríssima condidit ignem
Alvus, eí in médio tuta calore fuit.
ulnis,
Jam sine ut ílamma peperisti, amplccteris
Eí roseis praebes ubera plena labris.
En ego mortífero tabesco frigore pectus,
Nec mea divinus corri pi ossa calor.t

Ure tuis gélidas ílammis mihi, Virgo, mednllas,


Cordaque torpenti quae riguere gelu
Perpetuoquô tui Pueri succendar amore,
Et comburat amor me sine fme tuus.

Tu vitae Exemplum, puríssima Mater, honesta,


Ignivomo solis clarius orbe micans.

Tu sola intrépido deserta per avia gressu


Ignotas aperis difficilesque vias.
A te virgíneas nivei dedicsre Plialanges
Quod tererent acto calle pudoris iter.
ín te sanctorum fixerunt lomina turmae,
Perque tuos mores composuere suos.
sobs,
Ut que oculís radians ad se írahit orbita
Sic tua lux mentes, 'sic tua vita trahit.
A te vana puer discií coníemnere carnis
Gaudia, divinas delicíasque sequi.
Per te conjugij facta esí via foedare vinctis,
Quique magis puri dona pudoris amaní.
Denique forma bonos ad se tua pellícit omnes,
Ad se forma potens aítrahií isía maios;
Nam lasciva tuum'cum spectant lumina vultum
Asppctus fiuní luce pudica tui.
204 VERSOS DO PADRE JOSEPII DE
AXCHIETA

Ó radiosa meae tenebras lux disjice noctís,


Ut vjdeam lucem, qua
rapiente trahar
l-orma modesta tai, et formosa
modéstia vulfus
i5it via, et
exemplam, rectaqae norma mihi
Ad te se quoties mea mens convertet amandam
iJa íugiat carnis, da tuus intret amor

Tu Fons, quem sylvae decoratum


fronde virentis
Divma aeterno gemma pudore notai.
guae lluit acterna vinus dulcedine
torrens
linda voluptatis, laetitiaeque '
liquor.
Unde jugis manat, coelestemque irrigat urbem
Amnis mexhaustis impetuosus aqui^^
Hujus ab míluxu divinis arbor in hortis
Consita producit tempore
poma suo
Me miserum, nocuo totus comburor ab aestu
Asperaqne arescens opprimit ora sitis
Nec peto divinis à te, Fons puré,
liquores
Vixque ammam tanto tabidus igne traho.
O pia sinceri
Fons dulcis Mater amoris
Fac moribunda látex irriget ora
tuus'
Fontibus è vívis largus fluat imber
Jesu
Ut de ventre fluant viva fluenta
meo.

Tu Gleba m medio sterilis pinguissima terrae


Cui nulla aestatis vis,
byeraisve nocet.
Quae nullo incurvi procissa es
vomere aratri
Semina nec grémio suscipis ulla tuo.
Unde oritur vi\i frumentí nobile granum,
Grassantem totó quod fugat orbe famem
Hoc moJet immanis pugnis, ílagrísque
satelíes
Mentibus ut fiat panis, et esca pijs.
Quem coquet aeterni flammis Pater almus
amoris
Instrue nodosae, quam ferct ipse, crucis
Fac pia, ceu granum duro molar ipse
labore
Divinoque meum pectus amore coqui.
Dignus ut adjiciar divina ad fercula jianis,
Ft Domino liam mundior csca moo.
203
EM LOUVOR DA VIRGEM

H
septus
Tq pulcher muris sublimibus undique
aqnis.
Hortus est uberibus deliciosus
arbor,
Floribus hic ridet diversi colonbus
Et curvant ramos pondere poma
suo.
spírat amomum,
Hic casiae mites, hic flagrans
croci.
Balsamaque, et rubei palUda fdla
lilia odorem,
Cândida jucundum diffundimt
rosa.
Rubraqne perpetuo splendet lionore
Nam tua virginitas materno insigms bonore
aucta nitet.
Flor et, et aeternis fructibus
semine fructus,
Nascitm- hic verus vitae sine
necis.
Et sevae infringit jura severa
Hoc ego delicias, boc quaeram gaudia
liorto; m ^

Ista voluptatis sola sit aula


meae.
pectora U^uclu,
Hoc mea, da Mater, pinguescant
íluat.
Unde aeterna mihi vita salusque

viscere Solem,
Tu Jubar immensum concludens
diem,
Cum Patre inocciduus qui micat ante
Sionis
Tectaque inextincta coelestis
Ambit et aeterno lumine clara facit.
tribuit splendoris honorem,
praecipuum
Et tibi
Lúcida cum thalamis protulit ora tuis:
in teneJjris mortisque
sedentdjus umbra
Luxque nova
atque necem.
Splenduit, et noctem depulit,
procul tenebras, pulcherrime Lúcifer orbis,
Pelle
mei,
animi noctem, Stella corusca,
Pelle

Tu Lectus florens, in quo Rex otia cepit


Pacificus placide mensibus alta novem.
(mirabile) noslri
In quo naturam generis
Assumpsit sponsam íempus in omne sibi.
idem
Hic homini Deus unitus, Deus
altus, et
homo.
Jam de ventre tuo parvulus exit
sibi íirmo mea pectora nodo.
Alliget ille

No violent sponsi jura fidemque sui.


206 >"EBSOS DO PADRE JOSEPII DE A.NCfníiTA

M
Tu pia,
ta dulcis, íu ciftmentissima
Mafer:
Convenit hoc digno nomsn honore tibi
Mater amicitiae, per qnani, quem fecerat
hoslem
Culpa, Deo tandem jam íit amicus
homo.
Mater honesíatis, formosi Mater amoris
Cândida, totus justitiaeque parens
Mater es, et Virgo, vitae dulcissirnas
Mater-
Quid moror? immcnsi Mater es alma
Dei
Unigenum summi peperisti Paíris, cujnque
Credimus unigenum primigenumqne tuum,
Nempe tuo sokis natus de ventre rcliquit
lilae sum intactae virginitatis iter.
Divinique simul ílammis correptus amoris
ípse sua fratres nos bonitate facit.
Quosque sibi fratres, tibi raansuetissima
natos
Reddit, et accmmilat pignora chara tibi,
Non bine paiiperie, non liinc larguore gravatus
Pellitur, aut vitijs turpia corda
nocens.
Mater uí es justis, injustis sic quoque •
Mater
Omnibus una parens, omnibus una saUis.

Ergo age, fdiolis matris pia viscera pande
i
Te mea mens 3Iatrem sentiat esse suam.
I

Audiat ille preces per ie, raiiissima, nostras


Pro nobis Natus qui íulií esse tuas.

ISf

Tu, benè construxit Domini quem dextera


iXidus
Passer ubi, et turíur coHocet ova pius.
Passer ubi innumeros euat cum (uilure puUos,
Humano indutus corpore nempe Deus.
Spiritus bane noster cliaram sibi deligit
aedem
Hac infirma caro tuta sub arce raaíiet.
Mittimus ad Natum per te pia voia, precesque,
Perque tuas nobis dat sua dona raanus.
'11 Tu milii nidus eris, per te mea munera sumst
JEMrs, nisi ex nieritis non valiíura tuis.

o
Tu simplex, Juimilis, tu maasueludine
jjlena,
Labe carens, cunctae, qua macuianíur, Ovi.s.

k.
^
^^v^
ISHÍBSSSSãÉSái

EM LOUVOR DA VIRGEM

Quae paris, humanas qiii serdes abluet, Agimm,


Flumina cum fundet sanguinis alta sui.
Qui cum dura geret nodosi pondera
ligni

Fiat uí irnmaui victima sacra nece


Et dirè innocuus íondebiím-, o])muíesceí,
Et tácito plagas perferet ore graves
Morteque devicta Stygij de fauce leonis
Innocuus fontes erueí Agnus oves.
Da^mihi, sim miíis, placidoque opprobna
vulíu,

Saevaque pacato funera corde feram.


Ut lavet ille meãs pretioso sanguine sordes,
Oui dabit immiti mitia membra cruci.

Tu Porta es róseo Solis radianlis in ortu


Signata invictis perpeíuisque seris
Qua soli aeterno patefacta est semita Regi,
Solas ea ingreditur, egrediturque via:
íncessusque sui vestigia nuUa relmquens
Per clausas Princeps iíque redit que íeres.
Effice. uti soli pateant mea pecíora
Jesu,

íncola sit mentis solus ut ille meae.

Tu tranquilla Quies, in qua Deus immemor ira


Accubuit, nobis gaudia vera ferens.
Te pariente Deum, totus requievit Olympus
Vera data est terrae, te pariente, quies.
Esto mei requies, expellens crimina cordis,
Tuque, tunsque simul, Yirgo quieta, Puer.

R
ruina,
Tu Robur populo pugnanti, hostique
Cujus ope erecti vinciraus, ille cadit.
Nempe tui virtus nos Nati invicta jacenies
Erigit, et Stygios pellit ab orbe duces.
Imbellis post hac in me, te praeside, saevus
Hostis, ego tutus íegmine Matris ero.
306 VERSOS DO PADRE JQSEPH DE
ANCHIETA

Tu Sepes, qua se Domini substantia sepsit


LI qua munitur vinea magna
Dei
Quae sepía mcursus Ecclesia
fortis aprorum
Arcet, et auclaci terriLat
ore lupos
Propagesque suas poslremum
extendit ad aequor
Iransit et Euphratis
pa^Dinus eius aquas
Fac precor, hanc intra mane.m, '^,
ãÁm sepim
Ne voret mventum bestia saeva foris

S. "f-^T^"''
Palmei, et
'^ '''^' se"^Per inbaerens
in Domini íempus in
omne manens.

T
Tu Turris veri, tectum regale,
Davidis,
Unde
gerit summus bella cruenta
Deus
Hinc fragilem sumpsit puro de
sanguine carnem
gua cum tartareo conferat hoste
manum- '

iradat et aeternis fracta cervice


catenis
Ad coeli pandens gaudia victor iter
Uuisquis ad hanc cursu veloci
confugit arcem
Pugnat, avernales dilaceraíque
manus
Ad te confugio, tutissima
Turris, anlielans •
i, .

^is, precor, Arx animae


praesidiumque meae.

V
Tu foecunda nimis supremi Vinea
Patris
Quara própria sevit, sepsit et ipse
manu
Ex qua colhgitur pinguissimus ille
racemus
Qui ni gremium venit Pafris ab
ore tuum'
Lujus nectareos dulcedo iinraensa
liquores
Vincit, et Hyblaeis nieíla
coacta h\h
Cujus inexhaustus silientia
guttnra succus
Temperai, et vitae fonte perenne
ri^at
Cujus aromáticos flagrantia vincit
odores'
Heddit et ad vilam, quos fera
mors rapuit
Cujus ab humano fugat omnia
nubila corde
Gaudiaquo accumulat laeíiiiamque
iiquor'
Uijus maudilus cordis penetraiia
gestus,
Et sensus dulci raptai amoro sui
Cujus amor ílanmias charissinin
[)ec;o!-a cariiif
El facjl opoli pola calorc mcil
EM LOUVOR DA VIRGEM

Ó Domini plantatio, Vinea foelix,


foelix
splendens Virgo, splendidiorque Parens.
Ó
Nemo tibi pulchrae formosam conferat Hesther,
Nemo tibi Judith fortia facta canat.
Nam siiperat fictam quo res magis ipsa figuram,
Hoc superas omnes tu speciosa magis..
Omiiia cessarunt Evae jam trlstia matris,
Omnis abest partu visque dolorque tuo.
Eva venenosi decepta est fraudibus anguis,
Túrgida tu colubri têmpora calce teris.
Eva novum vetita destruxit in arbore mundum,
Tu renovas fructu saecula cuncta tuo.
Eva per íUe cebras Adamum ex aetliere primum
Dejectum culpae sub juga dura dedit.
Tu supera Adamum deducis ab arce secundam,
Soluis et è culpae nosque patresque jugo.
Eva mali inventrix, allatrix Eva dolorum,
Gaudia tu mundo, tu paris omne bonum.
Eva polum clausit, per te reseratur Olympus
Eva Orei pandit, obstruis ipsa fores.
Eva dedit mortem, tu das sanctissima vitam
Abstulit haec vitam, tu benedicta necem.
Eva notas nostro maculasque impressit honori,
A te jam nobis redditur auctus honor.
Eva suo speciem foedavit crimine nosíram.
Tu laeso turpis abluis ore notas.
Ó formosa Parens, divini forma decoris.
Ore ferens speciem pulchra figura Dei.
Nec te laudando mea mens cxpletur abunde,
Nec mea suffieíunt laudibus ora tuis.
Concipiens Virgo, pariens puríssima Virgo,
Pest partura Virgo saecula cuncta manens.
Quis milii virgineis stringentem pulchra lacertis
Membra det infantis te vehementer amem I

Quis mihi maternum, Dominum quod claudit Jesum


Cor dederit médio claudere corde tuum
Ó dulce, ó plenum divino alveare liquore,
Unde oritnr superans dulcia cuncta favas.
Foelices mentes, foelicia pectora, quorum
Solus hic oblectat munda palata cibus.
llle tuam mira pascit dulcedine mentem,
Pascitur ò mammis dalciter ille tuis:
Inter et ambrosios vincentia dormit odores
Ubera, quac antiquo saní meliora mero:
VOL. 11 14
''Li!

210 VERSOS DO PADRE JOSEPH DE ANCHIETA

Tu tenero blandos capientem peclore somnos


Inspicis, et tacitam flamraeus urit amor.
Jam divina tua reclinas têmpora laeva,
Amplexu Puerom dextra fovetque pio.
Ut sacra desenit jucundus lumina somnus,
Nectareo fauces tu pia lacte rigas.
Nunc labra purpureis infigis púnica malis,
Nuno rósea osciiiis dulcibus ora prennis.
Quid superest? vincor: laude esl tua gloria maior;
Nec mibi dicendi meta modusque subit.
Ut superem linguis quot voluit pontus arenas,
Tu numero laudum meque freíumque praeis.
Digna tibi superi resonent praeconia caetus,
Nec tamen hi possunt reddere digna tibi.
Ille aequale dabit merJli tibi pondus bonoris,
Qui voluit famulam Malris habero locura.
Salve Virgo Parens, Genitrix foecunda salulis,
Cui sedet in m.olii sarcina grata sinu.
Ó formose Puer, labijs tibi gratia plcnis
Efíluit, et pulchro summus ab ore decor.
Cujus inest patrij spíendoris gloria vultu,
Cujus laeta pio lumine ridet húmus.
In te cuncta suos óculos íixere Parente,
Ut des antiquam quae fuget esca famem.
Tu reseras dextram facili pius ore benignam,
Effundens largas munera Patris, opes.
Gumque homini dederis quicquid maris educat unda,
Quidquid alii facilis divite terra sinu:
Te rerum Authorem, te das super omnia nobis;
Hic erat aeterni summus amoris apex.
Parvaque te immensum quem non capit aetberis aula
Ut nostri capiant pecloris hospitia:
Fis Puer exiguus materna clausus in alvo,
lUa tibi dignum praebuit aula torum.
Ó decor, ò forma speciosior omnibus nnus,
Ora, Puer, ]\íalris respice cliara tuae.
Respice, ubi rccubas maternas molliter ulnas,
Virgineosque, fovcnt qui tua membra, sinus.
Respice, quas sugis maiiantes ncclare mammas,
Et labra, quão labijs íigit honesta luis.
Da milii, te amplecíar; tu sis mini solus semper amori;
Da rnilii, le tolo pectoro semper amem.
Curaque tua, per (juam descendit ad ima. Parente
i'^sto quies animi, vitaque parsquo moi.

'v'
íaSíKsè»:»;..í5w5?s^-

EM LOirVOR DA VIRGEM 11

Ó tu foeminei Mater pulcherrima sexus,


Quae vitam nobis sola Deumque paris.
Pande tui miseris materni víscera amoris,
Concipere immensum quae potuere Deum.
Quaeque manus facta es dilecti amplíssima Nati,
Per quam largitur omnia, seque, tui:
Esto mihi semper (decet hoc tua víscera) Mater,
Me Puero aeternum dans, Puerumque mihi.

De Magorum Advento, et adoraticnk



Cum Sol justitíae, cum Patris splendor Jesus
Editus in víli jam foret aede Puer:
Et tua, diva Parens, inter jucunda moratus
Ubera jam paucos cerneret ire dies.
Ecce Magos, magna famulum stipante caterva,
Ducit ab Eoís síella corusca plagís:
Numen ut aeterni venerabíle Regis adorent,
Et sua dení nato dona anímosque Deo
Moenia jam Solymae subeunt excelsa superbae,
Atque ubi sit natus Rex Dominusque, roganí.
Quid Justum, ó Reges, in iníqua quaerítis urbe?
Non benefactorem plebs colít islã suum.
Regnat Idumeus tali víolentus in aula.
Quique malís metam non possuere suis.
Odit avaritiam, quem quaerítis, odit iníquos;
Ditia pauperiem regna reliquít amans.
Yile sibi bospítium nascenti elegit, et urbem,
Natus pauper, inopsque casa.
in exígua
Rex ferus audito turbaíur nomine Regis,
Et sequilur Regem turba superba suum,
Insidiasque parat tenero lúpus ímprobus Agno,
Jamque ávidas fauces bestía pandít hians.
Stulte, quid insanis? non est sapientia contra
Divinae robur, consílíumque manus.
Regnabit soboles tua crudelíssima quondam,
Haeres saevitíae, dire tyranne, tuae.
Hic alba Dominum irridebít veste volutum:
Non tamen addicet, quod cupis ipse, neci.
Procedunt Reges, infidaque urbe relícía
Bethlaei quaerunt moenia parva soli.
Hic vero vates predixerat ore futuram
Ut daret aeternum Virgo sacrata ducem.
Yix urbem egressis, quae nuper tecta latebat

ir'
VruSOS DO PADRE JOSEPII DE AXCHIETA

.
Stella micans ciaram praevia monsli^at iter.
O Solyma iiifoelix, Dominum Regemque poíorum
Spernis, Idumaei jura supcrba colens.
Externi qnaerunt, vaslaeqiie per áspera eremi
Tam longnm peragunt, iit venerentur, iter.
Vos nati Dominum vestro de sanguine nalum
Temnitis, et vultis perdere moine Dcmn.
Illos stella micans Eois traxit ab oris,
Nec vcx exortum prodidit ulla Ducem.
Vobis tot qnondam Christum cccinere propíietae,
,
Sermo quibus Domini veruj in ore fuit.
O miserum! vestrum carpet gens extera fruclum,
A'os perdet saevae mortis arnica fames.
Vos, ò foelices Reges, quos snmmus ab omni
Rex sibi primitias donaquc gente vocal:
Pergite, vos claro deducet tramite sydus,
Ad videm Pueri constituetque domum.
Jamque propinquabant congesto cespite tecto,
Stella supra Infantis stat radiosa caput.
Agnoscunt signum Reges, foribusque propinquant.
Porta sed bane claudit vix tamen ulla casam.
Ititus egena sedet cum Nato Jíater egcno,
Et laeto intrantes excipit ore Wagos.
Ili sternuntur humi facie genibusque voluti,

Regiaque excepit corpora vile solum:


Inventum^que Deum mortali in corpore adoran!,
Virgo tenet blando quem spcciosa sinu.
Mira fides! quaenam vestri penetralia cordis
Gratia? quis Pneri vos penetravit amoi'?
Áurea non ornant Pbrygiae pallaíia vestes,
Quasvè facit tenui decolor Indus acu.
Non cum gemmato diademate purpura fulgot:
Non hic turba frequens, non famulatus àdest.
Villibus indotam cum paupere Maire sedentem,
Cui vile bospitium est, paupereriorf|ue torus.
Qui módico Matris nutrilur ab ubere lacte.
Ilunc bominem, Regem creditis, atque Deum.
Foelices, nam vos millo dclebiiis aevo
Gloria vos vitae praemia cí^rla manenl.
Vestra fides vestrum su|)erat lormissima seclum,
Nec veslram vincet seda riitin-a iidiMu.
Protinus ò teci is ingenlia munera plenis
Depromit Inrga (iuiS(|U(> lii!ari(|Me manu.
Et Pueri ante pedes preliosum pi-ojicit aurum,

\
sjiE3^.i^-J'i£''JLa«s2Íií!i2s&íafc9stiff^^ "^í.

2i3
EM LOUVOn DA VIRGEM

Et myrrham, et fragrans thiiris aroma sacri.


Quid facis interea pulchcrrima Virgo? quod alto
Pectore, quod plura menie revolvis opus?
Deficiam, si mira tiii solatia cordis,
Si referam mentis máxima sensa tuae.
Ta tiJji coíigaudens Domino grataris Jesu,
Cuimeritmii externo jam venit orbe decus.
Nam divina íui gentes jam numina Nati
Agnoscunt, credunt, et reverenter amant.
Illius hi clara praeconia você sonabunt,
Procidet ad Jesu nobile nomen Arabs.
Haec sunt illa, tuo quae regia lingua Puello
Fudií ad argutae fila^ canora lyrae.
Illa, ait, in totum solus dominabitur aequor,
Et qua Sol amplum fmit uterque solam.
jEthiopes flexo spectabunt ipsius ora
Poplite, et hostilis turba relinget humum.
ínsula marmoreis quae circumcingitur undis
Munera pacatum per maré larga feret.
Quique tenent Arabum foelicia Regna supremo
Et sua dona dabunt sceptra Sabae Duci.
Illi omnes subdent sceptrum diademaque
Reges,
Omnis ei totó serviet orbe tribus.
Vivat in aeternum clarum super aethera nomen t I''

Venturi in terras, g!or'aque alta Dei.


Sortiri haec finem dum cernis, et omnia, quondam
Quae vates Nato praecinuere tuo:
Larga tibi exundat per latum gratia pectus,
Membra quoque exultant, intimaque ossa tibi. .

Nec Infantem non praebes Regibus ore,


facili

Ut pedibus íigant oscula multa sacris.


Hi fidei plenum referentes lumine pectus
In patriam remeant, concio sancta, suam.
Sed ne infida feri repetant pallatia Regis
Coelicus aeíhereo spiritus orè monet.
Ergo Magi ven^ant longínquo ex orbe, tuaeque
Grandia dení Proli munera, seque pij:
Et mihi tam rígido strigatur frigore pectus,
Ut manas haec Domino nil dei avara suo?
Sed quid impuro tibi nunc réus offoret ore,
Prodegit Patris qui bona cuncta sui ?
En mea quae tantam fecerunt crimina labem
Tu Sobolis dele cum pietato Parens.
Quaeque libens olim promisi vota, trinodi
214 VKIíSOS DO PAI)H£ JOSEPH
DE AXCIIIETA

Fune Ijgans animuffi, cuncíaque


membra Deo
lUa precor, .^iaíer
pro myrrha, thureque et
auro
Ampiat plácido Filius ore luns
Tu quoque, quae misero curasti
Virgo salutem
Lum mea mens varia sórdida labe foret • '
'

Me yinctum retine dulci, pia Mater,


amora
VI mea sií Domjno victima vita meo.

De PuRiFicATroxE ViRGiNis Marle.

Expectatiis adest sacri post


têmpora partiis
Laetitiae maíer trisíitiaeque dies •

Cum tua in excelso Soboíes sanctissim.a


temnlo
bistetur Patri múnus, lionorque
suo
Nempe quaterdenum jam Sol revolutus in orbem
monet
le hospiíij íinquere tecta
brevis
Sed cur tam vili, purissima
Maíer, in aede
iot retmet clausum te locns
iste dies?
Scihcet, iit legis juxta purgere
tenoiem,
ínque Dei vénias purificaía doraura
Anne tibi naevus primi palris ullus
adhaessit^
Anne Evae attmgit te quoque poena
gravís'>
iVum tua com.muni concepia est ordine Proles?
Anne uteri pandit claustra,
serasque tui'
iiaec lex enixashumano ex semxine m.ntres
Non te, cui soboles esí Deus ipse,
iigat
bubdens uí quaevis communi foemina
legi, '
Curaque te famae non m^ovet ulla íuae ^
Virgineumque decus, Natique exponis
honorera
INemo quid ut vobis m.aius inesse
putef?
Divinae te sola movet reverentia
legis,
Quaeris et extremum qualibet ar^te iocum
Humanaeque sirnul pietatis
vena saluti
Consulis, innumcris esque medeia
malis
Non tu mundiíia, mundissir.iae Mater,
egebaf
Ut sis jn stabulo íot rcmorala
dies:
Cum tuus impuri maculas purgaverit
Orbis
Partus, et immundas laverit
Agnus oves
Sed foedata mei mundentur ut intima
rordis,
Polluit innumeris quod mea vila malis.
Ergo venis magni sacra ta ad (empla Tonantis
Oblatura Palri te, Puei-umque Deo
Quem geris exuKans blandis, leve pondus, in ulni^
Reddit iter duram mellius ille libi.
EM LOUVOP DA VIRGEM 215

It Comes, etsponsam deducit sponsus Joseph,


Non ille ad tantum desidiosus opus.
Sed quibus ornabis divina altaria donis,
Ne vácua ante aras ingrediare Dei?
Turturibus ne tui geminis oblatio Nati
Fiet et exiguo munere notus erií?
OíTerres mitem sacris altaribus agniim,
Absimilis Nato non erat ille tuo.
Qui nunc in servura se dat sine labe Parenti,
Quem redimas parvo proíinus aere Parens:
Post crucis horrenda figendus ut agnus in ara,
Ut redimat mundi sanguine damna suo,
Nec qua merceris fortasse pecunia desit,
Dona tibi nuper deíulit ampla Magus.
Dic, ubi snnt auri tam grandia pondera, Eoi
Quas Arabum tellus áurea misit opes?
Desipio insanus; nec enim tibi pectora taugit
Gemmarum, aut auri cura, furensque fames,
Protinus Eoas siudio pietatis egenis
Sedula divitias partijt ista manus.
Cum Nato amplectens paupérrima pauper Mater
ínfima, cum gemino turíure templa petis.
Ó pietatis apex, ó pauperíatis amatrix,
Abjectam nuper quam super astra vehis:
Da contemnere opes, et honoris nomina vana,
Meque siue in templum te, Puerumque sequi,
Forsitan abjecum non dedignabere servum,
Perpetuo júris qui cupií esse tuií
Quiqui tuos servet niitus: su forsiían olim
Ille tuo per te pignore dignus erit.

Jamque sacri incedis spatiosa per atria templi,


'

Tangis et auraías, limina saneia, fores.


Ecce sonex foelix, seris venerabilis annis,
íntima cui replet Spiritus ossa Dei:
Qui pius optabaí populi mundique salutem
Ora volens Nati cernere pulchra tui:
Jumque diu è coelis hac você animatus agebat
Vix jam decrépitos speque fideque dies.
Ante Dei cernes, renovet qui saecula, Christum,
Quam postrema óculos comprimat hora tuos.
Ecce ubi divino praesensit mmiine adesse
Jam desiderij têmpora laeta sui:
Immemor ille sui, canae immemor ille senectae,
Corripit in Templi limina sacra viam.
21G VERSOS DO PADIIE JOSEPII LE AXCiriF-TA

Ut Piierum vidit, divinaqiic lumina novit,


Unde suum coeli sydcra himen habent'-
Liquitur in lachrymas, et duici elanguet
amore.
^Eterno jncurvans languida memlira
Deo:
Deque íiiis Dorainum rapit in sua brachia Jesuni
Utque olor extrema talia voce cariit.

NUNC DIMITTIS

Ó Domine, ecce dies plácida me in pacc resolvens,


Statque tul Verbi firma, tenaxqiie íidcs.
Lumjna namqne tuam mea jam vidci'e saliitem,
A te qiiae
populis omuibiis nna venit.
Gentibus hic lúmen nimis admirabile caecis,
Inclyíaque Israel gloria plebis erit.
Haec ubi dieta senex, et sacris rito pcractis,
Praecinuit vera gaudia voce tibi:
Canitiem menti lachrymis aíqne ora madescens,
liaec quoque moestitiae daí
tibi verba gemens.
Moesta dies veniet, cum lamenta gravesque
te
Circunstent lachrymae, sanguinensqnc dolor:
Et tua transadiget gladius praecordia acutos,
Haec velot insíantis vulnera moríis eruní.
Nam truculenta tuus palitíur funcra Naíus,
Plurima quo sm-get, plnrima turba cadet.
Quid tibi nunc cordis Virgo! quo íixa do!or3
íngemis horrenda saucia voce senis!
Jam metus Puero materno sedula amore,
Sollicitamque gravis 1e facit esse íiraor.
Ante óculos charae crudclia prolis oberrant
Supplícia, et dirae têmpora acerba nccis.
Quodque olim lethum mitis patietur ut agnus
,
Pectore jam paieris mitis ut agna pio.
O Virgo Genitrix vitae puríssima rerum,
Respice, foeda animi stagna lacusque mei
Evacua, et mundis reple milii corda íluenlis.
Quae è Libano veniunt impetuosa tibi.
Atque aliquid mecum tanli partire doloris,
Protinus ut possim sermlus esse tuus:
Haercscensque tibi Domini fera funera, quaeque
Vulnera cum, Domino perp(>tiere, fleam.
Nec mibi Iam dirae de pccíore morlis imago,
Nec cedat cordis pocna dolorqiie tiii.
EM LOUVOR DA VIP.GEM 2i7

De fuga IN jEgyptum

Ergo erat, ò Mater, seníentia firma Tonantis,


Ut lanais vultiis cerneret ora tuos:
Carnificisque tener cum Matre edicta crnenti
Niliaca effugiens viseret arva Puer.
Nox erat, et summus tenerum cum Matre Puellum
Presserat, et fidei lumina fessa senis.
Ecce Dei jussu sopitum afíatus Josepli
iíthere demissus nuntius ales ait.
Surge citus, rábidos boné custos effuge morsus,
Gnttura pandit IVians sanguinolenta lúpus.
Instat ídumaeus sitienti fauce tyrannus,
Funera molitur Rex truculenta ferus.
Jam Puerum quaeret, lethum meditatus iniquum,
Haeredem Regni quem timet esse sui.
Eia age, venturis Puerum Matremque periolis
Eripe, et vEgypti proíinus arva pete.
Surgit ad aetherei vocês tremefactus Joseph
Ali tis, et Matri coelica jussa refert.
Quo tuo, quo credam subitus, dulcissima Mater,
Pectora perculerit nuntius iste metu!
Scilicet alta animi fibris infixa timoris
Expertem penitus te facit esse fides.
Et vitae authorem, qui condidit omnia, nosti
Non nisi laturum cum volet ipse necem.
Sed pietas Matrem formidine pulsat amantem,
Omnia maternus damna veretur amor:
Sollicitusque timet graviora pericula veris,
Oppugnant varijs qui tua corda modis.
Cogit amor Matrem, famulam divina perurgent
Jussa reluctantes ne patiare moras:
Complexuque fovens dulcem tua viscera Natura,
Acceleras tacitam nocte silente fugam:
Fasciculusciue inter materna sit ubera myrrliae, ,

Qui tibi nunc dulcis botrus amoris erat.


Ecquis in exilio solatia vera, quis uUa
Gaudia promittat firma futura sibi?
Ecce tuus, solo qui torquet sydera nutu,
Natus, et immotus cuncta creata movet: _

Jam patitur pressus terrenae pondere carnís


Humana vários conditione modos.
Tu quoque cum Nato, cui mente immobilis haeres,
Torqueris subitis exagitata malis.
iiií
íj
t S18 VERSOS DO PADRE JOSEPH
DE ANCHIETA
Scilicet aeternae sedes
secura quietis
Coelum est, instabiles non
subitura vices.
Foeta ma .s vanos prodiicit terra
I,
labores
Firma taraen justis nascitnr
unde qui es

Hegna, Palestinae deserit


arva ferae
Nec satis est illi, dura
nostri flagrat amore
Delicias Regni deservisse
sul
Dulcia nunc etiam
profugus cunabula linquit,
tt natale solum, notaque
tecta Puer
.11
Utque voluptatis vetus est ejectus ab horto,
M damna plurima passus homo-
exilij
É 'I
'

^''^"S''' "t perdita'reddat


raníh
Gaudia, '.?.^"f '
coelestis quae Paradysus
habet-
Mu in ignotas cum Matre
expellitur oras
^^f6?am visit Alumnus humum.
q..i n?S-'"'
^"'' ^'' ^'^^^ íncommoda Natum
LTtZ\Z'J'
t^er
longas fuerint concomitata
vias^
íili Scilicet infenso passurus
orbe labores
in
gm supera aeterni venit ab arce Patris
ipse sibi teneros aerumnis
annos,
Ne pars turbinibus temporis
ulla vacet.
Ut tua jam dirus praecordia
vulnerat ensis.
Fraedixit vero quem gravis
ore senex.
Ut memorare velim per
inhospita lutora Nili
Et Pueri et Matris dura
ferentis iter;
Me mea deficiet scribentem singula
dextra,
Nec linguae, aut mentis vis
satis ulla foret.
Ut logitem superos Pueri
Matrisque ministros
Quae cmxit vestrum sedula
turma latus. '

Plunma uti referant rogitanti


plura requiram,
Muperant curae quaelibet ora tuae
scilicet ut narrent, quae
incoramoda, quosque labores
Sis perpessa foris
íuque tuusque Puer
At tua quae varie torserunt
pectora curas
Sola Parens nostri, íuque tuusque Puer
f-rgo libens taceo quae
non satis eloquar unquam
Visceribus maneant dummodo
fixa méis
Teque sequens miti praesentia
damna libenter
Pectora cum Nato. cumque Parente firam.
Haec aut illa feras paulum nescisse nocebit,
Profuerit plácido corde tulisse
nimis
Non tamen oranino fas est mvsteria,
Mater
KM LOUVOR BA VIRGEM

ínclyta, tam mirae praeterijsse fugae.


relinquens
Nocte fugam properas, incrédula regna
Divinum fidei mn
aditura jubar.
caeca
Quemque suis pellet gens própria crimine
Mentibus, hiinc capient extera Regna
sqis.
invehis arvam/
Sed quid in Jígypíi Solem caecam
Qaid tibi cum tenebris, lux radiosa, mgns?
recedet,
Sole quia iEgypti nox ingrediente
Condetur Judae Sole abeunte dies.
ília tribus tácito dum Sol
meat axe diebus,
Perque suis fertur nox tenebrosa rotis:
Obsíupuit densa caligine íecta, suaque
Perfídia poenas nocte nigrante luit.
Tu modo nocturnis veram secura tenebris
Ad tenebras Solem Stella corusca velus.
te hospitio capiet cum prole,
suosque
Utque
Offeret exulibus officiosa lares.
Postmodo te. et Prolem mentis penetralibus abdat,
Cum sua de tenebris exeçet ora fides.
Cum tuus in totó Naíus memorabitur orbe,
Cum Patre. cum sancto Flamine numenidem.
Ó mea mens, caeca si te caligine texit
Culpa, tenebrosis implicuitque malis:
Hanc propera ad Matrem, cujus divma
lacertis

Tegmine sub carnis lucis origo sedet. '

chara fides, bine spes pulcherrima, et


uUo
Hinc tibi
Non defecturus tempere surget amor.
Lux ergo ad tenebras, et portentosa deorum
Ducitur omnipotens ad simulacra Deus.
veri
Uí tenebrae luci cedant, mentitaque
Numinis ingressu numina fracta ruant.
Desinet infausti celebrari planctus Osiris,
Plangetur Nati mors pretiosa tui.
Nec tribuet Serapi divinos Memphis honores,
Cum pressus Domini calce Serapis erit.
Cumque salutiferi celebrabit nomen Jesu,
Sórdida Niiiaci respjet ora bovis.
Sculptile latraníes stupefiet guttur Anubis,
Et vetus immundi corruet ara canis.
Cum Deus atra canum laíratu Regna suorum
Terrebit, Stygios ejicietque lupos.
Alta nec Inachij stabunt vestigia templi,
Bubastisque aris decidet aegra suis.
Scilicet ad nomen cum maximus orbis Jesu
220 VERSOS DO PADRE JOSEPII DE
'

í
A.XCUIETA

Cernua curvato straverit ora


gemi-
Diílcietiam magnae nomen
t
Genitricis Jesu
Alaximus insjgni mundus
honore colet-
Intactamque omnis nolla non
parte bealam
Postentas Matrem você sonante
feret
J^ia age, praecjpites torrentes
siste nefandae
Haeresis, yEgypti quae simulacra
terJs.
JNam tua quae voei coelestis
corde ministri
iraebuit assensum non
dubilante fides
ií.xtinxU totó ílammas
grassantis in orbe
Pestis, et aethereis crimina
lavit aquis.
Cernis ut ingentem Germânia
vasta ruinam
lartareis dederit praecipitata
dob's.
(^ernis, ut exuslis altaribus
Anglia sacris
Monstra colat St3gijs perniciosa
modis
Aspicis, ut noctis tenebris
immersa profundae
Gallia portentis corruit
usa novis,
Infandae exurgunt aiijs regionibus arae,
guaeque mformes construit ora Deus
sibi
westrue foeda manus Genitrix
altaria forti
1}^ Ora superborum claude proterva
canum
guaeque corusca diu fidei splendore
tenebris
Abdita nunc caecis regna decore
carent.
Jníer eis verum divini
Solis lionorem
Quem gestas ulnis, splencbda Stellà, tuis.
bola fides pulchro Romana
\i ut fulgeat ore,
Mortífera invicto calce venena
terens.
Me quoque, me densa tenebrarum nocte sepultum
Cerne oculis Mater luminis alma
pijs
vera quidem mecum primis
accrevit ab annis
Kt Nato, et dulci dante Parente,
fides.
Uuae tamen, ut primis aetas excessit
ab annis
Protinus est culpis morte sepulta
méis.
Ut vero occubuit deformi funerc
rapta,
Exervit vires dirá cupido suas.
Haec mibí vae misero dominatrix
pracfuit olim
Pressit et injusto mollia colla jnoo
í Haec subigens tristi ãcSovim
tyrannide peclus
Raptal)at varijs ad sua vota vijs.
Haec mibi fartareis obiexerat aegra
tenebris
_Lmnina, luce ignis deficiente tiii.
Nil miser ipse minus quam própria
damna videbam
INiI miser horrebam
quam mea damna minus
m miscr ipse magis quam vitae dona
timebam
(rs^s-c^.

221
EM LOUVOR DA VIRGEM

optabam quam fera fala magis,


Nil miser
medullas,
Gratia sordentes defecerat alma
et foedo pectore sanctus amor.
Cesserat
Sed quae servitio nímium dommata premebat
Pectore captivo dica libido mihi,
posito patrare pudore
IIoc scelus, atque illud
Cogebat jussis imperiosa suis.

facilis vilissima munera


servus
Parebam
laetior ipse malis.
Saepè obiens, proprijs
pectore sacro
Ouam procul illud erat pectiis, quod
^ laverat unda tui!

Emanans Nati
maculata decoris
Hei mihi primaevi fácies
Patris,
Nulla sui poterat signa referre
et imago splendida vivi,
lUa Dei species,
In facie, et factis non erat
uUa meis.
pectora sensu,
íntima mortiferis squalebant
lo-ne furens tm'pi quae
pariebat amor.
sensibus ora:
Extera corraptis sordebant
Sic mea vita omni sórdida parte fuit.
sibi íingebat tiirpis
simulacra voluptas,
Tot .

Nequitiae aptabat quot sua


membra modis.
captabat delectamenta, tot aras,
Qiiot sibi
deos.
Tot sibi condebat caeca libido
Quid petis Jlgypíum, quae lummc cassa,
lidei

Numina si alma Dei?


veri respicit
effulsit ab ortu,
Ecce e"0, vera fides cui qrimo
JussaDei turpi caecus amore premor.
veri
ília ignara Dei, cui soli gloria,
ímpia dat falsis thura precesque
dijs.

verum miserandus adoro


falsos
Ipse sciens
Gaudia cum vero praefero falsa Deo.
Memphis profugae solemnia vaccae,
Si celebrat
sui.
Tm^is ego immundi prosequor acta
exutus honorem,
Hei mibi qualis eram divinum
Cum foedi indueram sordibus ora canis!
Idumes
Siste gradum Mater, non instai Alumnus
Prosequiturvò tuum sanguinolentus iter.
situque,
Te miser hic sequitur longo squalore
Effecit tardos cui mala culpa gradus.
Puerum perdam, sed ut unctus ab illo
Non sequor ut
novae.
Restituar vitae perditus ipse
Matrem,
Non sequor ut spoliem jucundo Pignorc
Sed spoliet vitijs ut mihi corda Parens
ílentcm:
Si^tc Parens gressus dulcíssima, rcspice
VERSOS BO PADRE JOSEPH DE
ANCHIETA

Niuníí'n?'''°''/""'^"'
^^ '""'^ d'™"a pios,
iSiltib], Diva, subest
cernenti retro pericli
Te quocnnque flagrans sulphuris ígne
sequar
Omn,a namque tuo extincturí incendia
l^ertur mexhausti lluminis
cuS
unda sinu
In me sunt tenebrae, quas tetro è
pectore pellas
Infundens Solis liimina clara
tui
In me
foeda latent variaram
monstra ferarum
Aumma quae quondam sacra fuere '
mihi
Nempe mihi ut claro splendore
refalserit omni
lempore divino munere vera
fides-
ília íamen multo sine claris mortua
factis
lempore flagiíijs obruta pene
fuit.
Hórrida cessant sceleram portenta
si
meorum
AlDstinuitque suis mensque
maniisque malis'
Si tamen haec odi, si te completor amore '

iu, cui nota mei pectoris '


acta, vides
Lene ego sanguíneo potius
juccumbere letho
h.ligo, quam culpae vel
semel esse réus
^''''' í"clyta'pectus
rra?rrSl''''
Gratia, te Natum ^r-'^-'^'
solliciíante, meum-
Anxia sollicitae lacerant
praecordia curae
Ultima quo claudeí têmpora
vila modo
Nam mala quae colui validis ceu
viribus hostes
Oppugnant valuas impetuosa meãs-
Uualiave insanis turgentia
ílatibus instant
Infirmamque peíunt aequora
saeva ratem-
Obsi taque horrendis
^gypíia regna tenebris
Cum fugiam, Solymae splendida regna
petens-
Perseqmtur saevi furiosa superbia
Re^is
Obsidet angustis et mea castra '
locis
Qua miser evadam? Rex bine
cervicibus inslat
Efferus, bine claudunt
aequora rubra viam
lu pia, tu tanlis fauirix accede
periclis
Ferque mihi afflicto Foemina
Nam
foríis opem
te (nec allor) Virgo solidissima, signTt
Virga ilta yLg)'pti, quam fera regna
tremunt.
Te tenet ille manu, cujus
tcnct omnia dextra,
Praebuit humanas cui tua
vulva manus
Cum victore Deo, quem caraeis indiiis
armis
Expugnas stravil quas Pharaonis
opes
Slare rubrum judeas si
immoto vértice pontum.
Evadam lu]o per freta sicca pede
^qnora si rursum jubeas fnrgentia volui.
IM LOUVOR I)A VIRGEM

Volvetur medijs eíferus hostis aquis.


223
^
Nempe tibi hac olim coeli clamarat ab axe
Agmina victurae fortia você Deus,
Talis arnica mea es, qualis Pharaonica quondam
Merserunt Equites cum fera plaustro mel.
Scilicet ut quondam virgae virtute profundi
Tranavit populos per vada sicca maris;
Crudelisque suo tumidis exercitus undis
Submersus poenas cum Pharaone dedit.
Sic modo te Stigiae pereuní pugnante phalanges,
Effugit et servus cuncta pericla tuus.
Non te nequicquam duici cum pignore summus
Ad Nili ripas imperat ire Deus,
lUe olium teneros edicto Regis iniquo
Infantes diris iníerimebat aquis.
Sed qui fistella latuit bellissimus infans
Eripuit duris seque suosque malis.
Tu fistelia illa es, scirpo contexta palustri,
Quam pix, ne penetrei fluminis unda, livit.
Quis velit m
scirpo malesanus quaerere nodum?
Quis tibi vel minimam dicat inesse notam?
Nec scirpo nodus, mitidae nec noxa Parenti
UUa est: sic vitae scirpus imago tuae est.

Quod nullis fueris carnis penetrabilis undis


Sola fnrens rabies Elvidiana negat.
Perpetuo mentem corpusque bitumine livit

Clarus inoffensae virginitatis honor.


Pix nigra te obsturat, dum tu tibi vilis haberis:
Undiqae contemptu claudiris ipsa tui.
Soli illeingressus, cui terra superbia semper
Desplicet in Matris víscera clausa patet.
Ille novem sacro celatur viscera menses,
Aula pudicitae nec reserata tuae est.
Ille tuís latitans fistella suavis in ulnis
Niliacas profugus nunc petil êxul aquas.
Gumque fero varij vos pulsent turbine lluctus,
Sicca intus tu tamen, atque Puer.
manes
Nam nulla victa est paíientia vestra labore,
Exeruitque suum fluctibus alta caput.
Hic Puer, hic Moyse est multo formosior Infans,
Quem sibi praedives filia Regis alet.
Quem non ignotum Mater dulcíssima nutris,
Ut peragat tutus têmpora prima Puer.
Postmodo cum vires matura adduxerit aetas,
224 TORSOS DO rADIiE JOSEPll DE A.NCUIETA
;
V
Monstrabit manus robora firma suac,
Vulnere prosternet, sabulo tumulabit et liostem,
Qui dura Hebraei percutit ora manu.
Ille qiiibus premi mors est inflicta
paroiilis
Crimine lethiferis ervet ultus aquis:
Ilumadumque genus melioribus obruet undis,
Cum
largas lisso pectore fundet aquas.
lUe tumente feros involvet gurgite currus
Victor, et ostendet Regna beata suis.
Regna quibus pulsi poenas Pharaone kiebant
Sub Stygio, admissis quas meruere malis.
Tunc tibi, quae latitas cum Nato ignota latente
Nobile perpetuo tempore nomen erit:
Sanctaque divinae venerabitur ora Parentis,
.
Ut lateat stirpis foemiua, virque tuis.
O magni domus ampla Tonantis,
fistella brevis,
Omnia quae claudis, me quoque clande sinu.
Conde reum tuto pietatis tegmine, doncs
Abscondat gladiam Judieis ira suum.
Conde fretis, dulcis fiscella, fui^entibus altum,
Ne pereat medijs qui tibi fidit aquis.
Seu te fiscellara, seu malim dicere fiscum,
Quidquid eris, nobis Arca salutis eris.
Si fistella Deum servas fluvialibus undis,
Crimina qui largo ilumine nostra lavet;
Sic etiam fiscus custodis Principis aurnm,
Undé inope veras gratia fundat opes.
Jam sibi divitias promittere pauper opiraas,
Quaeque auro repleat vasa parare potest.
Post tua jam mundns vestigia currat egenus.
Et terrat assíduo vitia tecta pede.
Publica virgíneo servata pecunia fisco
ToUet egesLatis proi'sus ab ore malum.
Quisqiiis babere cupis, flexo pele pcplite Matrem,
Regis inexliaustas illa recondit opes.
Si te saeva fames alieno conficit aerc
Oppressum, nec adest qui tua damna levei:
Huc ades, argentum simul, et Irumcnta dabuntiir,
Debita queis solvas cuncta, levesquc famem.
Porlat in .Eg3ptum divinum Mater Joseph,
Invida quem fratrum perdere turba cupit.
Filius accrcsccns alicnis errat in arvis.
Dum bónus errantes quacrere coei)it oves.
Quo proporás Gcnitrix? (]uo se iiulchcrrinius Infans
EM LOUVOR DA VIRGEM Tíb

Pro ripit aeterni luxque dccorqiie Patris?


Si fugit iit lateat, Patris latitabit in oris:
Bestia nolentem nulla vocare poíest.
itanien, ire cupit qui postmodo vendittis orbcm,
Largiflno redimet sanguinis imbre sai.
Non Madianitae, sed tu dulcissima portas,
. Ira licet fratrum cogat inere fugam.
Scilicet ipse libens Memphiíica pergií in arva,
Ut saevam totó pellat ab orbe famem.
Quem tecum portas placidis amplexa lacertis,
Ipse est frumentum panis et esca Deus,
Non magna baec septem íantum modo panes in annos
Copia durabit, quem sacra íheca vehis.
Sed quam fata diu volvet mortalia íempus
Quamque erií in coeio vita beata diu.
Hoc sacra servarunt casti penetralia veníris,
Hoc grémio condis regia cella tuo.
Ipse est frumentum, tu frumentaria vita,
Non defecturas cella reconudis opes.
Ipse tua aeternam se condit in horrea messem,
Et seges, et sapiens conditor ipse sui.
Ipse sui grátis largitor in omnia largus
Regna, sine argento pabula larga dabit.
Tu sacrata domus nuUo reserabilis aevo,
Cui jugis obsignat íbrtia claustra apudor;
Lata peregrinas revocabis ad ostia gentes,
Ostia maíernus quae reserabií amor.
Quamquo pudor claudií, miseratio pandeí; erilquc
Virgínea hospitibus semper aperta domus,
Ilinc sibi frumentum Chananitides Íncola terra
Isacidae soboles êxul inopsque petet:
Agnoscetque suum longo posí tempore fratrem,
Quem modo in yEgyptum sanguinolento fugat.
Huc agitante famis stimulo citus uiidique totus
Confluet optaíam quaerat ut orbis opem.
Pabula tu vultu pandes divina benigno,
Quaeque penetrali conditur esca tuo.
Nam qui te cellam, qua se bene conderet, amplam
Condidit, ipse sua te facit esse manu,
Ó cella, ó veri servatrix integra panis:
Ó larga, ó miseris semper aperta manus.
Ilinc me foeda gravi mendicum pondere cgestas
Opprimit, hino slimulis pungit acerda fames.
Quid moror? ecce vocas ut dites divos egenum,
VOL. U 15
-26 VERSOS DO PADUE JOSEPII DE ANCHIETA

Divinoqiie famem panem benigna fiiges,


Ad tuajam curro vacuus cellaria pauper;
Panis enim niiUo venditur aere luus.
Non timeo Mgypti fenebras, notemque profundam:
Tu mihi eum Nati lumine lúmen eris.
Ne per senta siíu deserta ignarus aberrem.
Trita viam pedibus signat arena tuis.
Igne bcet nocuo canis aestifer urat arenas,
Me tua roranti proleget umbra sinu.
Non ignota fuit sacro tua gloria vati,
Nobile cum Nati vaticinatur itcr.
Matrem designai nomine nubis,
Ille levis

Cui Deus innixus Memphis in arva venit.


Ut sobolem summi vestires carne Parentis,
Nube novum sanclum Flamen obumbrat opus.
Nubere ut summo naíura humana Tonanti,
Nube tegis carnis Virgo parensqne Deura.
Si caro quam praebes levis est et lúcida nubes.
Tu quoque clara levis nomine nubis eris.
llanc super ascendi t cum blandis moliiter ulnis
Accubat, et vehitur lala per arva Paer.
Sed si fcrs totum superai qui pondere mundum,
Quomodo te quisquis dixerit esse levem?
Ncmpe quia exutam veteris quoque pondere noxa
Te creat, et vectus portiíor ipse lui est.
Si te nulla gravat terrenae sarcina culpae,
Qui potius Natum sydera ad alia vehis.
Ipse quia humanas loturus sanguine sordes
Feri humcris scelerum grande libenter ónus.
Atque ideo iEgyptum, íenebris loca foeta malorum,
yEstus ubi raultum crimine fervet, abis:
Ut tenebras splcndore fuges, uml)raque calori
Obsistas, et opem nubis utramquc feras.
Ul domus Isacidae diunim cervicilnis olim
Excuterct linqucns Rogna supcrba jugum;
Nocte columna novum spargebat llammea lúmen,
Perque diem nubes rosida íegraen crat.
Ul réus in pairiani redcat, saeviquc tyranni
Effugiat dirás per frcía vasla manus:
Eccc columna tuis rutilans portaliir in ulnis,
Undo ignem ca])ii!iit sydera Solque suum.
Tu Pucro nubes, Puer est lilii hicidus ignis,
Ille tuus manai cujus ab ore niloi',

111c decor summi, lux cL claríssima Palris,


©iís^''afcs*i3» 'J

EM LOUVOU DA VIRGEM 227

Gloria quem factum protulit ante jobar;


Nube tamen honorem,
carnis celat splendoris
Ut duplici hostiies robore sternat opes.
Nam nec homo aeíernosine nomine vincera morlem,
Nec sine carne necem posset obire Deus.
Sic totum iEgyptam tetro de cárcere mundmii
Eripiet mortis per freta rubra suae:
Teque tegeníe^tuos rapidi servabit ab aestu,
,
Solis, et ad Goeli gaudia pandet iter.
Ó nubes, míseros dulci quae protegis umbra.
Sidereis levior lucidiorque choris.
Nam superara tui figmenta humana decoris
Naturae ut possint conditione suae;
Te divina facit leviorem. gratia nubem,
Sic tua suspiciunt sedibus ora suis.
Densa quoque es, crassae quae tegmine protegis umbrao
Infirmis, nocuo ne ílagret igne, capuí:
Divinae et rapidiis opponeris ignibus irae,
Ne voret infectos crimina flamma reos.
Si gravidam dicam, gravis es, quae arentia nostfi
Intima largifluo pectoris imbre rigas.
Qua te cumque tamen designei quisque figura,
Tu certe es nubes nocte dieque levis.
Nam te vel minimo gemitu quicumque vocaritj
Protinus ad gemitus ceu levis aura venis.
Poscat opem, varijs cui mutat vita periclis
Posceníi celerem fers, pia Mater, opem.
Te vocet oppressus corpus vò animumvè labore,
Ocior ad vocês aere flentis ades.
Singula ne narrem, facilis potes unde vocari,
Testis pro cunctis sum satisunus ego.
Nam magna obruere cum colluvionemalorum,
Vixque luam tacita você precarer opem:
Affluit indigno rapidís velocior Euris
Sedula, quae misero nunc quoque Mater adest.
Si Indignum penitus levis, et festina tueris,
Quis nubem insanus te negat esse levem?
lUe neget Matris praecordia bianda precanti,
Cui tua defuerit dextera, si quis erit.

Clara, gravis, facilis simul et densíssima nubes


Crimina materno tegmine nostra tegis.
Nunc tener infirmis dum cingitur artubus Infans
Maternis vehitur nube volante sinus.
Postmodo discussa caliginc sparget in orbem
2^8 VEHSOS DO Í'ADHE JOSEPII DE ."CCIIíETA

Lumina fulgoris clara columna sui:


Quamque tuo sumpsit sine labe ò visccre imbcm
lUustrem miris recidet in orbe modis.
Cum lamen aeternis mundiim crcpíurus ab iim!)ris
yEquora sanguínea dividit alta iiece:
Nubila fulgcntem condent tenebrosa columnam,
Solque teget nitidum nocte nigrante capiit.
Tunc decora alta íul, nubes pulcherrima, vultus
Tristia suffusa nubila nocte prement.
Quaeque neci fugiens de tot modo matribus una
Subtrahis ínfantem nocte silente tuum:
Obruta tunc íenebris planges crudelia Nali
Funera, de cunctis matribus una, pij.
Et misera occisi mater credere íatronis,
Quam summi Matrem credimus esse Dei.
Nocte tamen media medias gens salva per undas
Transibit medijs, cccidet hostis, aquis
Tertia cum densas aurora fugaveiit iimbras,
Exeret et nitidum íluctibus ora jubai':
Pulclira resurgentis radiabit ílamma columnae,
Atque novum nubis vestiet ora decus,
ília novos populos per vastara ducet eremum
Urbis in aeternae Ince micante domos.
Tu rorem, et mitem sparges pergentibus umbram,
Auxiliumque levis dura per arva feres.
Utque paret nobis tua lux et gloria Jesus
ín superis sedes, et loca digna polis:
ípse sua vctus Patris petet aíria nube,
Quam caro foecundae Virginis alma dedit.
Ergo tua est niibes qua tectus vivit, et olim
Occidet, et surgcns aelercis alta petet.
Perge Parens igitur; nec te dcteri'cal ingcns
Pignore cum dulci quem patiere labor.
Opprimet anliquos mundi labor isto labores,
Quodque cupis vcnict mentibus alta i)Ptet.
Ncu grave sit longum septem duxisse per aruios
Exilium duri caeca per arva Pbari.
Sic profugus repetet patriae dulcissinia (juondauí
Regna, Dei jussu tempus in omnc rcus.
Coníice Mater itcr durum, Iralie Memi)his in oris
Exule cum Nato (|uas volet ille moi-as.
Eactus homo egredilur noctu l)eus cxul ab Urbe,
Cuinque pio cx lerris pignore iMater abis.
Ut ilagiante die Solymae extra moenia a^ilus,
<;'*^b?^Í»-IÍ^'**'3È'^E*^Síf-'»i!»!iKa»>^;^^'«"

EM LOUVOR DA VIRGEM
229
1

Maíre vidente siium vesperc paret opus.


Perge ergo, et Piierum varijs ale casibns actum,
Mors nostra ul Nati fanere victa cadat.
Et mihi mendico, patrijs procul êxul ab oris
Fer modicam panis dum remorabor opem.
NuUa mihi iEgypti maculent contagia pectus,
Sed patriac aspirei mens peregrina suae.
Utque, ubi letbalis venas penetravit arundo,
Cervus ad algentes currit anbelus aguas:
Sic ego divini percussus arandine amoris,
Saucius ad vivi ilumina fontis eam.
Abseníisque absens Nati Matrisque requiram
Ora oculis tandem conspicienda méis.
Exulat interea medijs obsessa periclis
Vi ta; sed illa tuae est múnus opusque manus.
Cui vitam prestas, fac, clementíssima, scraper
Vivere, sed soli vivere, Virgo, Deo.

De Reditu m terram Israel

Jam satis iEgypti tenebrosis, Maíer, in oris


Delituit pardi rapíus ab ore Paer.
Jam remeare potes, magni jubet autbor Olympi,
Tectaaue Nazareae viscere chara tuae.
Infantes Vigido qui perdidit ense tenellos,
Ne tuus evadat tela cruenta Puer; _

Ipse sibi cuncíis in se crudelior hostis


Conscivit própria funera dirá m.anu.
Occubuiíque lúpus letho multatus acerbo,
Tartareo et poenas sub Phlegelbontc luit.

Quaeque necem Puero cum crudo turba tyranno


Mobta est, jaculis occidit hausta necis.
Suppliciumque imi caligine mersa barathn
Pendit, et in Stygijs abdite luget aquis.
Jam secura potes dulci cum Prole reverti, ,

Jam satis extremo crevit in orbe Puer.


Quod superest vitae stirpi debetnr Judae,
Vera fluet cunctis gentibus undc salus.
ÍIoc sacra Jessaei cecinerunt organa vatis,
Grandia qui Nati personat acta tui.
Quae mihi cum santo fas sit repetisse propheta,
Dum sacrum tali carmine pulsat ebur.
Exit ab ^gypto Israelis sanguine natus,
Linquit et ísacidos Ijarbara regna Puer:
230 VEUS03 r.O PADRE JOSEI-H
V' I
DE ANCHiCTA

Ut nova Judae miracula sanctiis in oris


f^Edat, et occiílti signa stiipenda
Dei.
Hic divina novam genera])it grafia
prolem,
Fiet et in sancíis saní-tior ipse
suis.
Quaeque oiim toti dominobilnr inciytus orbi '
Principiam Solvmae siimot a!i arc;^
fide^
líjcmaré patrantem nova signa videbit, et
undas
ipsiis ponet você jubeníe suas.
Sqiiamigerara snbitò (dicía mirabiic)
praedam
Ejus ad imperium Soie oriente dnhit.
Agnoscentque sui Doniini freta túrgida
plantas
Unda quibus solidam straía parabit iter. '

Hjc rábido flucíns agiianíe Aquilone marinos


Divinum merget dirá procella caput:
Peractumque alias crndeli fiinore in undas
Faucibus excipiet belliia vasla snis.
l:í;,
Donec saeva suos composcaní neíjuora motus.
Et fugiat reíluis mobilo marmor acjuis:
Et vomat in siccum cum besiia littns Jonam,
Jam nuUo hausturum temporc mnrlis aquas
Ipsius adventu Jordanis laeta llncnía
Ceu cursum reírahent obsiupefacla snum.
Cum clamorc sjí, qui non eraí agnitas nlli,
Proeconis súbito prodiius Agnus erit.
En Deus, ecce Dei, dicet, snnctissimais Agnus,
Qui tollet mundi fundilus omne scelus.^
Innocuus puro tingetnr in amne, suaequc
Contacíu csrnis sanctificabit aquns.
Quique ut homo cnlpae sese réus occulit, illum
Osíendent verum coolica signa Dcuni.
Hic meus aeterno cst Natus mibi junclus amore,
Dicet enim summi vox manifesta Palris.
Sanctus in ablutura foecundae more columbae
A supera venict Spiritus arce caput.
Ille bónus dextrac male grátis dona benignac,
Mellifluique amplas dividet oris opôs.
Ilumanamque gerens sub iniquo judice causam
Infandani murfò porfcrct oro necem.
Mox tamen ut victor supei-ata morte resurgot,
Jordanis colori retro redibit aqua.
Seclaque judicio reclae reget omnia virgae,
Qui veluíi sulijt judieis ora rous.
Tunc alti incipient allolere culmina montes,
Quo? maré turbatis obruit anl(> fretis.
Scilicet illa
EJI LOUVOR DA VIRGEM

viram prodibit turma potentum,


231
^
Doctores voluit quos gregis esse sui. _

Subsistent teneri foetis cum maíribus agm,


Quos per laeta pias pascua pastor aget.
retorques?
Dic maré cur refugis? cur retro fluenta
Jordane et refluo corripis amne fugam?
Cur moto ó alti saliistis vértice montes,

Pascentes aries ut salit inter oves?


Cur vos pulsarunt súbito nova gaudia coUes,
Agnus ut in laetis luxuriatur agris?
A Domine hoc venit factum admirabde magno:
Ille est laetitiae causa, et
origo novae.
lUe Dei Natus, cui magni natae Jacobi
Cárnea de intacto viscere membra dabit.
ore,
lUe ubi mansueto populis te proferet
Moribus exiliet concita terra suis.

Ille Jacobae praecordia saxea gentis


Repleri ut liquidis siagna jubebit aquis.
Ille velut puro mananíes gurgite fontes
E dura efflciet ilumina rupe fiuant.
Duritia rígidas viventia pectora caules
Cum sacer in totó moUiet orbe látex.
Nemo sibi hino laudis praeconia judicet uUa,
Non opus liumani roboris iUud erit.
dextra,
Hoc, Domine, invicto faciet tua robore
Laus erit atque. Deus, nominis omne tui.
Barbara nam fortis cum regna invadet Jesus,
Tota cadet flexo terra sobacla genu.
Non Imminum meritis (nam nuUus crmus expers)
Effundes larga munera tanta manu.
Sed própria virtute bónus mitissima pandes,
Pectora, divinus víscera fundet amor.
Omnibus ut praestes aeíernae dona salatis,
Et rata sint oris veraque verba tui.
m quando auxilium tectae caligine gentes
Causeníur dextrae non habuissc tuae. _

Ne quando insanis caccus clamoribus orbis


Mugiat, et verum te neget esse Deufn.
At Deus in summo coelorum vértice noster
Regnat, et in cunctos jus habet omne Deus.
Omniaque omnipotens qui fecit saccula verbo,
Autborem ut noscant cuncta creata suum:
Ipse suo tandem vestito corporc Yerbo
Reficiet lacerum quod fabrícavit opus.
232 VERSOS DO PADIÍK JOSEPII DE
AXCIIIETA

Cumquo fidos
mnndiini Domiiii pcnoírabit
Jcsu
Omni bus cxurgeí
genlibiis una salus
At smulacra Deinii, quac cassac
luminc gentes
L.sss Deos falsa regionc
putaní;
IHa vcl argento siint signa
oíTicía, vcl auro,
Quae facit humaniis qnalibeí arte
labor.
Os iia,)oaní quaraiils, non
possnní ederc verba-
lercjp,iint oculis liimina
nuíla siiis.
At Dominus duici penetrai sermone
niodullas,
Cunctaqijo praesentl lumine
niida vjdet
Vox nuíla illorura surdas penetrabic
ad aures
INare suIj ipsorum non erií
ulius odor
At Dnmnius prona gemi iam capit
aure suorum
Lm pietas suavis vis ut odoris olet
IHa n]hd poterunt stupídis
coniingcre palmis
rson pedjbus gressmn planta
movebit iners
At Doramus fecit, reficií, regit omnia
dextra,'
Lusirat et immoto cuncta creata
pede '

Illormn rigidis síupiierunt rictibus


ora,
Non edent ulluni guttiira miita sonure
At Deus horrendo sonitu períerret
iníquos
dulci electos allicit ore bonos.
Et.

Illispersnniles fiant qui taiia fingunt,


Qinque in eis miscri spem posucrc
suam '
Aí Domus Isacidae Dommo se credidit
uni
Jlle opíata illos protegit
almus ope.
Sémen Aaronis Domine se credidit uni
Illos invicta protegit illc
manu.
Quae se cumquo pia formidinc credit Jesu
Obsequio Dominum gens venerata pio-
ípsius expulso proíecta timorc
sub ai is
Divjnao vivct tuta favoro manus.
Ille memor nostri cooli desccndit ab arce.
Muneraquc indignis contulit ampla bónus.
Seu quos Israel genuit, sen sanctus
Aaron,
Et vari redimet néscia regna Dei.
Larga suit magnis manus ejus, larga
pusillis,
^
Qui Domini casto nomen amoi'e'timcnt.
Et majora dabit nobis, natisque fuluris,
^
Splendida cum vulíus panderit ora sui.
Vos cimiulei donis magni fabricator Olympi,
Cujns et ingenlom dextra creavit lunnum',
Ipse sibi Domiiriis coelorum coiulidit arcem,
Ast bomini terrac regna habitanda dedit.
'^life''/

EM LOUVOR DA VIRGEM 233

Donec inhumaniím terrae sub pondere lethum


Passus, in coeli culmina pandat orans.
Non rcddent Domino praeconia laudis Jesu,
Debita quos culpae mors truculenta vocat:
Nec quos aeternis cruciandos hórrida ílammis
Sorbeí in obscoeno Slyx Phlegethonque lacu.
Sed quos divinus vitali Spiritus aura

Influit, et vivos gratia mater alit.


Gloria ab his Domino dabitur sincera superno
Nunc, et in aethereis jam sino fine polis.
Ecce reversuro Memphis, pia Mater, ab arvis
Quae cecinit Piiero regia lingua tuo.
Quae repetisse, tuas cupidus dum concino laudes,
Indigno licuit te tribueníe mihi.
Sit mihi fas eíiam Dominam rogiíare benignam,
Paucula, dum tantum mens mea voluit opus.
Et quid in iEgypto septem tibi tempus in annos
Volvitur, Herodis dum fugit arma Puer?
Magna tuus mundi compegit m^oenia Natus,
Perfecit tantum sexque diebus opus.
Dixit, et absque uUo sunt condita cuncta
labore,

Dat requiem facto seplimus orbe dies.


Nunc homraem magno confractum pondere culpae
Ut reparet, vitae restituat que novae;
Commoda non numero paucorum humana dierum
Ponderai, excedit pondera cujus amor.
Nempe dies septem tempus veliit omne volutat,
Hcraque perpetuis itque reditque rotis;
Omnipotens laxas donec Deus angat habenas,
Et mitis claudaí têmpora cuncta suis:
Sic tuus á pátria septem Puer exuUat annos,
Nec Puero requies septimus annus erit;"
Sed totó exilium durabít íempore vitae,
In patriae redeat nunc licet arva suae:
Donec regalem coeli subiturus in aulam
Exilij claudat têmpora morte sui.
Hic ergo reditus non Nato meta laboris.
Ultima non Maíri meta laboris erit.
Hic opus, hic labor est, hic longac incommoda
vitae,

Per reliquos vobis 'sunt obeunda dies.


Hic Judaea ferox septem circundata muris
Âd fera jam septem praeparat arma dulcis.
Instructus telis servat ferus atria custos,
Moeniaque assiduis invelerata malis.
234 VERSOS DO PADRE JOSEPH DE
AXCIJIETA

septem vinis ruffus draco faucibus


Jlic
halat
beplemplexque vomií dirá venena '
canut
ISam vitia ut foveat eapitalia
pectore spptem
Pugnanti obsistet geus male íida
Deo
O quod probra tiius Mater mitissima,
Natus
Ut vitia expellat cordibus ista, feret!
Arguet inílatos himiili cum
voce superbo^
Despicient humilem corda superba
Deum
lontifices probris insectabiintur
avari,
Pauperibus largam dam valet esse
manum
í5uadebit nivei donum coeleste pudoris,
Id turba indigne luxuriosa
feret.
Si volet á duris expellere
cordibus iras,
Dulceque fraternae condere pacis
opus-
Divini penitus fraterni et
nomen amoris,
Immemor in mitem saeva caterva freme
Uuo cernet vultu damnantem turpia ventris
Gaudia degeneri dediía turba gulae!
Invídia exacuet tabescens bestia
dentes
Pastorem ut rábido devoret ore piuní.
Denique, cum proprijs síudeat plebs
impigra rebus
In Domini obsequium desidíosa
sui:
Divmum crebra cum voce doccbit bonorem,
Et jussa aeíerni non violanda Dei.
Infremet, ascueíis obsistet et
impius armis
Fataque dcctori reddet acerba fui^or.
Ille nece oppressus,
sed mortis victor acerbae.
Septemplex frangeí calce premente caput
Quoque anguem possint, et septem vincera monstra,
Praestaoit, famuiis robur opemque suis.
íjciliceí ília suis
difmndet munera septem
Flamini, bcsiiles quae populentur opes
Tuque tui servis Genetrix dulcíssima Nati
Praesidmm, murus, janua, turris eris.
Splendida namque tua vitae, et virtutis
imago
Attrahet ad mores pectora nostra
suos.
Teque tui dulci pellectus amore scquetur,
Discere quem Nali juverit acta tui.
Têmpora tu, Mater septemplicis atra
draconis
Conteris, et victrix ad tua signa vocas:
Ut quos exemplo vitae illiisírans
boneslac
Maternac pielas prologai ampla manus.
foelix si lahs defendar tegmina .Malris,
Si tanlac ducar lumiiie liicis ego.
á2s^Oi?**^i2SSí:s.aiiasí9»'S!"»E!«"«s

ESI LOUVOR DA VIRGEM 235

Eia age, post septem remea foeliciter annos,


Septennis videat pátria regna Puer.
Carpat iter longum mansueto vectus asello,
Immotus magni qui vehií orbis ónus.
Et sua nonnunquam vestigia figat arenis,
Árida foecundans grissibus arva suis.
Ut quae nunc spinis squalet male foeda malorum,
Pinguescat fructu postmodo terra bono.
Obsequio Kati, et Maíris cum tempera vitae
Per deserta paírum turma dicabifc ovans.
Tunc foecunda fides fructns produceí opimos,
Et verus vestri mira patrabit amor.
Ergo Puer remea dulci cum Matre benigno,
Cum dulcique Parens prole benigna redi.
Sed cave ne inOdam Solymorum tendaí in urbem.
Declinei mitis tecta cruenta Puer.
Hoc sanctum divina monent oracula Joseph,
Custodit cujus te Pueruraque fides.
Regnat adhuc baeres patriae feritatis, et aulam
Jessidae contra jusque piumque tenet.
Quo tamen ire jubenl? cantaíe ad sancta Prophetis
Moenia Nazaré th, cur speciosa Parens? _

Scilicet uíneqaeant sanctorum nuntia veri


Saneia Propheíarum verba carere fide.
Nam Nazaraeum mertales cmn geret artus
Dicendum, oracnlis praecinuere suis.
Non ille à pátria viríutem nominis urbe
Accipiet, sanctus cum sit ubique Deus:
Sed propriam uí íotum virtutem fundat in orbem,
Saeculaque iliustret ncmine cuncta suo,
Quo nisi Kazareth venial polcherrimus iste
Fios campi, in Matris Virginis ortus agro?
Hic primum emilíet vitae ílorcmtis odorem,
Imperijs Matris sabditus ipse suae.
Postmodo maíurus pendebit ab arbore fructus,
Ut damna antiqui pellat acerba sibi.
Quaeqne olim primi noxa patris arguit arbor
Fiorebit, fnicíum parturietque novum;
Cum Judaeorum Rcx Nazarenus Jesus
ín ligno ligui prima piacla luet:
Et mortem mitis patietur ut agnus atrocem,
Conferat ut vitae funere donae suo.
líaec médio interea meditaberc pectore Mater,
ima tibi ut sensim serpat in ossa dolor.
l.l'

^m Mansos DO PADRK JOSEPH DK


) ,
r
ANCHIETA
Donec in innocuum Natum
qui saeviet cnsis
fransadigat penitus pectoris
ima tui
Interea Solymae regalia
'
5:H,V moenia linnuet
Moenia, quae falso nomina
I
",
pacis habent
'""^ '^'^'^'' «f ^^"cibiis Orei,
\?pSf
Devoret '^^ifí''
ut Natum sanguinolenta
íuum
INon tibi
pax Dominum tranquilla,
quisqae laborum
Sed fera tempestas, sacvaque
bella n anent.
BeHa Puer remuí, pulchra
quia prima Juventa
tí^^-inquillae têmpora
TpIrSf
icmpota cura dun veniení
pacis crunt.
horreníia belli
Vibrabit forti tela corusca
manu-
Percutietque sui verbi virtute
I

superbos
ilii
Quosque iigat laqueis caeca cupido suis.
insurgat Solymae dum trnculentior hoste
Inque decem demens congeret
Mi arma piam '
ioederaquc iratus conjunget pacis
in unum
Crudelem Herodem, Romuleumquc
ducem.
Ut totum belh pugnantem
pondus Jesum
Upprimat, et nullo morto jmante
cadat
Nempe uí adulterij foedum cclarc
pudorem
Dum cupit infaustum turpis
adultcr opus-'
Hetheus subijt crudelia funera
miies
1^^ Cm fratrum ad pugnam dextra negavit opem:
Sic íuus hostiles inter
patietur Jesus
Funera desertus sanguinolenta
manus
Ut tegat incestus, et cjuac
patravit adulter
mr Lninma, obscoenum quícquid in orbe
et
iiatef
Scihcet immensum divini
tegmen amoris
Luneta suo celat facta nefanda
sinu
W' Florem igitur pulchrae Nazaretli
sancta juventae
Possidet, haec sedes florida
pacis erit
flic raihi cum dulci,
Mater pulchcrrima, Nato
Da tacitus plácida têmpora pace
ífl
terram
Hic mea virtutem prodacant
pectora flores,
Sertã sibi faciat floridus unde Puer
Hic tenera oblectet gusíu
quorum ora suavi,
Fac mea det fructus mens
bcne culta bonos.
Postmodo cum veniet Soiymam perimendus
in urbem
iMgendus spmis têmpora, membra
cruci-
Et mibi forte dabit, Matris
prece victus amanli.
Posse simul secum vivere,
posso moi'i
237
EM LOUVOR DA VIUGEM

Remansst Puer IN Templo

En nova praeteritis accedunt taedia crucis,


dolor.
Occupat ecce novus te, pia Virgo,
Cum tuus, ut vitae duodenum venit ad annum,
Restilit in Templo Matre
abeunte Puer.
Matns,
Anxia quis teneraerimetur víscera
Dum pars materni máxima cordis abest?
pignore Templum,
Scandis ad augustum dulci eum
pietatis opus.
Hoc jubet antiquas mos
provolueris ans,
Mente genuque sacris suplex
Deo.
Et pia fers summo dona precesque
diebus,
Ut peragis statis solemnia sacra
Hospitij repetis dulciae tecta tui.
gloria tecum,
Sed quo Mater abis? non est tua
Occultus Solymae restat in urbe Pucr.
Si Natum Mo
dilectum reddis Josepb,
Credit Matri justius ille piae.
eum
Parentes,
Sive tamen ducit via vos diversa
Sive pares uno calle tenetis iter
Quod Puer ignaris subtraxit lumina vobis,
Non tua, non Patris culpa, soporve fmt. _

Sed latet ipse volens, ut vera patescere Patns


Incipiaí summi gloria honorque sui.

Sed charae caput exeraí mclyta Matns


latet, ut
Gloria, quem quaeris nocte
dieque dolens.
Nam quis percipiat quali indefessa labore,
Quali illum quaeras aegra dolore
Parens?

Vix primi spatium fueras emensa


diei,

Cum sua Sol mersis conderet ora rotis.


coruscat
Lux tua non aderat, cujus splendore
iíthera, sibi ílammas mutuat unde
jubar,
radiat splendoribus axis.
Cujus Apollineis
Et placidus totó lucet in orbe
dies.

Quid faceres Mater veri sine lumme


Solis?

fuít illa oculis nox tenebrosa


tuis!
Quam
Quas crediderim moesto de corde querelas
te
Fudisse ad superes ore gemente poios?
íluxit honestas.
Quis tibi per malas lacrymarum
smus?
Quis mádido in teneros imber ab ore
Ut forti cures auimo celare dolorem.
Corda magis fortis fortia vincit amor.
Et fies ábsentem, qnique intima pectoris angit,
Et premil cx oculis flamina larga dolor.
•238
YEHSOS DO PADIIE JOSEPH DE ANCHIETA

O cjaolics coeliim replesli quassikis altuml


.
O quoties vocês audiit aethra tuas!
O quoties summi tua mens ante ora
Tonantis
Procidit! et tales edidií aegra sonos.
Redde tuum Natum Pater optime, Matii
ílenti,
Corque mihi affligi no patiare diu.
Sint saíis horrendi cnm venerit ultima leíhi
manent animo quae toloranda meo
ílora,
ííaec mihi tranquiila dederas jr/jdo
tempore pacis,
.
Dum ventura meus crescit ad arma Puer
O quali, alma Parens, curarum flucíuat aeslu
Cor tibi, dum Nati cuncia pericla times •

Non Ignota tibi esí immensa poteníia Nati,


Cujus habet vitae jura necisque manus.
Sed quae non timeat dilectae incommoda proli
Omnia qui cogit fmgere, Matris amor ?
Ille oculis fácies praesens abseníis Jesu
Haeret Apollineo pulclirior ore tuis.
Teque quod est absens, nec dulcia lumina cernis,
Arguis et pugnis pecLora moesta feris.
Nam tibi sis quamvis nullius
cônscia culpae.
To ta tamen fuerit ne tua culpa times.
Quid metuis Mater perfecto ornaía decore?
Nulla potest animum laedere noxa tuum.
Ecce repentini qui sum tibi causa doloris:
Additur haec culpis nunc quoque culpa méis.
Me miserum expectai delicíi absentia Nati,
Dulci dum Matris subtraliit ora pia.
Ecce ego qui perij, Dominumque Deumque reliqui.
'!!.\ Dum insanas foeda latenter amo.
vitia
Ecce ego, qui à facie jncundae Matris aberrans,
Quaesivi varijs gaudia vana vijs.
Nec mea tangebant Náli divina volúpias
Pecíora, nec Matris deliciosus amor.
lluc miser, atque illuc profugus pastoris
ab ore
Perdi tus errantes more vagabar ovis.
Ergo latet charae duicissimus ora rclinqucns
Matns, et amissus crcditur esse Puer;
Ut miser inveniar, quem vero pcrdidit hostis.
Et procul à Domino fecit abesse meo.
f: Scilicet ille mci si non perijsset amorc
Perditus, omnino non reperiror ego.
111c vagam quaerens deseila pt'r avia
landeni
.Ueperit, ad caulas ille reduxil ovem.
EM LOUVOR DA VIRGEM 239

lUe domum verrens accenso lumine drachmam


Quaerit, et inventa gaadia magna capit.
Et ne sis exors tanti pia Mater bonoris,'
Huc animo anguorem da lacriíymasque tuo.
Tu domus ampla Dei, quem mente, et viscere claudis,

Quam vendicat ipse sibi.


soli autliori
Si domus es Nati, Natus te verrat oportet,
Quaerat ut amissos qui periere reos.
Ecce tui vexat puríssima gaudia cordis,
Et dat tristitiae pocula amara tibi.
In lachrymas dulcem risum convertit acerbas,
Taedia pro laetis lusibus aegra dedit.
Dclitias blandi rapuit bruma áspera veris,
Evertit clarum nox tenebrosa diem.
Túrbida bella animi paeem evertere serenam,
Sic tuta eversa est prole latente domus.
Et qui nunc vivus celat tribus ora dlebus.
Cum maneat vultus forma decorque prior;
Postmodo mutato condet divina decore
Lumina cum mortis tela cruenta feret.
Saxeaque inclusum triduo teget urna cadáver,
Nec tibi lugenti qui medeatur erit;
Donec ab infernis hominem quem perdidit error
Inventum evebat cujus amore peris.
Sic me mors Nati reperit Matrisque dolores,
Qui perij, et vitae causa fuere meae.
Ergo tibi grave flere parumper.
absentem ne sit

Dum latitat cordis gloria luxque tui.


Et mea fac coelum suspiria crebra lacessant:
Nec sileat cordis vox lachrymosa mei.
Et desiderio Domini super astra latentis
Torquear, à Pátria dum procul êxul ago.
Sed quid agis Mater? nunc totam absorbuit ingens,
Nec memorem officij te sinit esse, dolor.
Imò amor absentis crudelis causa doloris
Mira animum stimulat sedulitate tuum:
Cognatosque inter puerum notosque requirens,
SoUicita huc illuc lumina voluis amans.
ílunc illumque rogas, num Natum viderit usque;
Nec semel est eundem sat petijsse tibi.
Saepius inquiris quod terque quaterque rogaras; '

*l

Quoque magis repetis, plus repetisse juvat.


Num vidistis, ais, dulcem mea viscera Natum,
Qui mea \ita mibi est, qui mihi solus amor?
240 VERSOS DO PADRE JOSEPH DE ANCHIETA

Ó una ante omnes mulier pulcharrima, qualis


Est tuus iste Puer, qui tibi solus amor?
Est ne ille obriso cujas pretiosius auro,
Cui terra ad nutum servit, et astra, caput?
Cujus in audito guttur sermone suave
Ora velut dulci nectare nosíra rigat?
Cujus csu Libani forma est pulcherriraa, candor
Coelicus electis omnibus unde venit?
Ille ne melifluus totusque optandiis amanti,
Qui desiderio cor trahit omno sui?
Hic est quem crebris singullibus anxia quaeris,
Ipse idem Matris Filius, atque Dei.
Quis Dominum tamen talem non quaerat amicum
Impiger, et totó cordis amore llagrans?
Si sinis, ibo simul tecura, moestissima Mater,
Forsitan inventus proferet ora mihi.
Sed non invenies inter vestigia notos,
Qui fratres inter ceu peregrinus erit.

Non Natum inveniunt, stimulat qiios gloria carnis,


Sed quos Patris amor, nomen, honorque movet.
Ecce latet Solj^mae, sacrae pete celsa Sionis
Moenia, pacificus Rex tibi jure sedet:
Donec ut optatam superans será praelia pacem
Yisuris summi lumina pulchra Dei.
Non tamen aut Regis petiit, vel praesidis aulam,
Delicijs illa est mollibus ampla domus.
Gloria cui Patris cordi est, durique labores,
Templum Patris adit quem locus ille dccet.
Hic illum invenies bumanis pcctora curis
Exutum, paires imraeraoremqno suos.
Hic residet medius doclorum astaníc corona,
Eloquij fundens prima ílucnía sui.
Multa super sacris divina ex Icgc Prophctis
Oraculis (juondam quae cecinere rogat.
Audit et ipse libens seniores multa rogantes,
Explanans miris verba rogata niodis.
Eructat sensu mysteria magna profundo,
Ignarosquc diu quae laluere docet.
Obstupet admirans doctorum turba loquentem,
Verbaquc doctoris non capit alta novi.
Tanta Pucri sapientia i)eclore ab alto,
lluit

Tanlum divino slillat ab oro meios.


Quis tibi, Diva, fuil post tot suspiria sensus,
Lumina cum Pueri deliciosa vidos?

\
EM LOUVOU DA VIUGEM 241

Quis novus illuxit splendor, cum clarior astris


Lux sua luminibus praebuit ora tuis?
Quo tua laetitiae praecordia ilumine inundant,
•Cum tibi de próprio gaudia fonte fluunt?
Quis tibi pectus amans ignis succendit amoris,
Cum tua replerit corda repcrfcus amor?
Tu pia, tu nosti, tu seis experta dolorem,
Maternus pariat gaudia quanta dolor.
Tu pia, tu sentis; sed nec potes ore profari,
Audire indigno nec licet ista milii. ,

Sed potes optanti lachrymas inferre, quod ipsum,


Gaudia, perdiderim, cum malè quaero miser.
Sed jotes amissum meritis miiii reddere Natum,
Inventum et lachrymis, Virgo benigna, tuis.
Et mihi vel minimum gaudij praestare, replevit
Inventus Matris quo pia corda Puer.
Hoc mihi si praestas, luctu vacuabis amaro.
Addicta aeternum pectora nostra tibi.
Intereà dulcem Matrem Patremque sequatur,
Nazaretli repetens ílorida tecta suae:
"

Mitis ubi vestris divínum Numen obumbrans


Pareat imperijs têmpora longa latens:
Donec terdeno Solymorum in macuibus anno
Jussa palam Patris praedicet alta sui.
Ó Puer immensi soboles veríssima Patris;
Ó decor, ò Matris luxque decusque piae.
Esto Deus cordis sola, ó sine faece voluptas,
Gloriaque aeternum parsque beata mei.
Ó formosa Dei genitrix, miseranda miselli
Luminibus servi refice corda tui.
Solus amor, sola mihi sit cum Matre Puellus,
Pignore cum solo tu mihi solus amor.

De compassione, et pLANcru Vu\gims in morte Filii

Mens mea, quid tanto torpes absorpta sopore?


Quid stertis somno desidiosa gravi?
Nec te cura movet lachrymabilis ulla Parcntis,
Funera quão Nali ílet truculenta sui?
Víscera cui duro íabescunt aegra dolore,
Vulnera dum praesens quae tulit ille videt.
En qaocunquc óculos converteris, omnia Jesu
Occurrent oculis sanguine plena tuis.
Respice, ut aeterni prostrato ante ora Parentis
VOL, 11 IG
Í242 YEllSOS DO 1'ADUE JOSEI'11 DE ANCHIETA

Sangiiiiieus tolo corporc siulor abit.


Respice, ut immanis caplum quasi turba l^lroncm
Proterií;, et laqueis colla manusqiie ligat.
Respice, nt ante Anuam saeviis divina satelles
Duriíer armata perciUit ora manu.
Cernis, ut in Gaipliae conspectu mille siiperbi
Probra humiiis, colaphos, spíitaque foeda tulit.
Nec faciem avertit, cum percuíeretur; et liosti
Yellendam barbam, caesariemque dedií.
Aspice, quam diro crudelis verl^ere íortor
Dilaniet Domini miíia membra íuí.
Aspice, quam duri lacerent sacra têmpora vepres,
Diíluat et puras puicb.ra per ora crnor.
Nonne vides totós lacerum criideliter aríns
Grandia vix humcris pondera ferre suis?
Cernis ut innocuas peracuta cúspide iigno
Dextera tortoris íigit iniqua manus.
Cernis ut innocuas peracuta cúspide planías,
Tortoris figit dexiera saeva croce.
Aspicis ut dura lacera tus in arboro pendet.
Et tua divino sanguine furta iuit.
Aspicequam dirum transfosso in pectore vulnus,
Unde immista íuit sanguine lymplia, palet.
Omnia si nescis. Mater sibi vendicat acgra
Vulnera, quae Naíam sustinuissc vides.
Namque_quot innocuo corpore poenas,
tulit ille in
Pectore tot Mater feri miseranda pio.
Surge, age, et infcnsac per moenia iniqua Sionis
Soliiciío Slaírem pectore qunere Dei.
Signa tibi passim notissima liquit uterque,
Clara tibi ceríis est via fada notis.
Ille viam multo raptatus sanguine íinxit,
ília piis lachrymis moesta rigavit biunum.
Quaere piam Matrcm, forsan solabcre lleniem,
Indulget lachrymis sicubi moesta piis.
Si tanto admittit sollatia nulla dolori,
Quod vitam vitae mors tulit atra suae:
At saltem eífundes laciírymas tua crimina plangcns,
Crimina, quae dirae causa fuerc nocis.
Sed qno te. Mater, turbo tulit iste doloris?
Quae te iilangcníem Aincra terra tcncl?
Num capit ille tuos gemilus lamenla(|ue collis,
Putris ubi bumanis ossibus albel iuimus?
Numiiuid odiforae cruciaris in arlioris umbra.
h::s^

EM LOUVOR DA VIRGEM 243

Uade íiTus Jesus, imcle pependit amor?


Ijic lachrymosa sedes, et primae noxia maíris,
Gaudia crudeli fixa dolore luis.
ília fuit vetita corrupta sub arbore, fructum

Dam legit audaci strJía íoquaxque mann.


Iste tui ventris pretiosus ab arbore Fructus
Dat vitam Matri tempus in omne piae.
Quaeque maio primxi sueco perlere veneni
Suscitai et tradit pignora chara tibi.
Sed perijt tua viía, tui peraniabile cordis
Delitium, vires occubuere tuae.
Raptus ab infesto crudeliíer occidit hoste,
Qiú íibi de mammie dulce pependit ónus.
OccuLuit diris plagis confossus Jesus,
íUe decor mentis, gloria, luxque tuae.
Quotque iiiurn plagae, tot te affixere d olores;
Una etenim vobis vita duobus erat.
Scilicct hunc médio cum serves cerde, nec unquam
Líquerií bospitium pecíoris ille tui:

Ut discerptus lethum crudele subiret,


sic
Scindendum rigido cor fuit ense tibi.
Cor tibi dirá pium mJsere rupere ílagella,
Spina crueníavit cor tibi dirá pium.
ín íe cum clavis conjuravere cruentis
Ommia, quae in ligno Natus acerba tulit.
Sed cur vivis adhuc vita moriente, Deoque,
Cur non es simili tu quoque rapta nece?
Qnando non illo est animam exhalente revulsum
Cor íibi, si vínctos mens tenet una duos?
Non posset, fateor, tantos tua vita dolores
Ferre, nec id nimius sustinuisset amor.
Ni íe divino firmarei robore Natus,
Linqueret ut cordi plura ferenda tuo.
Vivis adhuc Mater plures passara labores.
Ultima te in saevo jam peíet unda mari.
Sed tege maternum vultum, pia lumína conde,
Ecce furens auras verberai hasta leves:
Et sacra deíuncti discindit pectora Nati
ínsuper in médio lancea corde tremens.
Scilicet haec etiam íaníorum summa dolorum
Defuerat plagis adjicienda tuis.
Hoc te suppiicium, vulnus crudele manchai:
ílaec íibi servaia esi poena gravisque dolor.
ín cruce dulci íigi tíLú Prole volcbas
244 ^TBS0S DO PADrj: joseph di; anciiilta

A'irgineasque manus, virgiiicosque pedes,


llle sibi acccpit rigidos cum stipile clavos,
Servata est cordi lancca dirá tuo.
Jam potes, ò Aíater, com])os i^equiescerc voti,
totus abit cordis in ima dolor.
Ilic tibi
Qiiod gélida excepit corpus jaiii morlc soluLum
Sola pio criidam pectorc viilnus liabes.
Ó sacrum vulnus, quod non tam férrea cuspis,
Quam nimius nostri fecit amoris amor.
Ó llumen médio Paradisi è fonte refosum,
Cujus ab uberibus terra tumescit aqiiis.
Ó via regalis, gemmataque jamia coeli,
Praesidij turris, confugijque locus.
O rosa divinae spirans virlutis odorem,
Gerama, Poli solium qua sibi pauper emif.
Nidus, ubi purae sna poiumt ova coUimbae,
Castus ubi tenere pignora lurtur alit.
Ó plaga immensi splendoris boiiore rubesccns,
Quae pia divino pectora amore feris.
Ó vulnus dulci praecordia vulnere fmdens,
Qua patct ad Cbristi cor via lala pium.
Testis inauditi, quo nos síIjí junxit, amoris:
Portus ab aeqapnbus quo fugit ida ralis.
Ad te confugiunt, hostis quibus inslat iniquus;
Tu praesens m.orbis es mediciiia malis.
In te trisíitia pressus solamina carpit,
Et grave de moesto pectore ponit ónus.
'
Per te rcjecto, spe non fallente, timore
íngreditur coeli tecti beata réus.
Ó pacis sedes, ò vivae veiia perennis
jEtcrnam in vitam suiísilienlisaquae.
IIoc est, ò Mater, soli tibi vulnus aiierluni
Tu sola lioc paleris, tu dare sola potes.
Da mihi, ut ingrediar per apertum cúspide pectus,
Ut possim in Domini vivere corde mei.
líac pia divini penetrabo ad víscera amoris,
Ilic milii erit requies, liic mihi cei1a doTiuis.
Ilic mea sanguíneo redimam delicia liquore,
Ilic animi surdes munda iavabil a(|ua.
llis milii sul» teiiis eril, iiis in sedibus omnes
Yiveii' lUiloo dirs. Ilic mihi duice mori.

^^ jw
KM LOUVOR DA VIRGEM

Pl.ANCTUS MaTUIS

Sod stuUis ferio clamoribiis aures,


libi ciir
Si immemorem cogit te dolor esse tai?
Ohruta tristitia, gladio transfixa cruento,
Lugulírisque sedes, et gemebunda solo:
Inque pio lacerara plagis' diroque cadáver
Funere, Virgo tenes heu miseranda smu:
íngeminasque graves planctus, lamentaque fimdens
Membra rigas laclirymis sanguinolenta' piis:
Inque pios questus singultibus intima pulsans
Rumpis, et bos profers ore gemente sonos.
Nate nimis misera vulnus crudeln Parentis,
ííei mihi, tam saevis dilaceraíc
modis.
{') jubar, ó caeca tectum caligine lúmen,
O lux, ò dirá vita perempta nece.
Quae manus indignos ausa est inferre dolores?
Têmpora cur duris sentibus ista rigent?
Quis niveas rupit rigida tibi cúspide palmas ?
"
Quid sacrum vasto vulnere pectus biat?
Quis tibi de pulchro rnsenm tulit ore colorem?
Quid periit vuUus fornia decora lai ?
Hoc ne caput, cnjus mundi ílrmissima nutu
Moenia. cumqne sua sydera mole tremunt?
His ne oculis coeli sedebant astra sereni,
Solquc nitens, mediam cam secat axe dienv?
His ne mel exibat, divinaque balsama labris?
íloccine fons vivis ore íluebat aquis?
Oaene illae, ad quarum morbis languenlia toctum,
Mersaque surgebant corpora morte, manus ?
Ileu quem te aspicio! non est tibi gloria, Fili,
Prima, nec in pulchro pristimis ore decor.
Saeva cruentarunt formosum verbera corpus,
Dissiluere suis omnibus ossa locis.
Squalidus irrepsit liventia pallor in ora.
Barba riget vulsis sanguinelenta pilis.
Bracbia confossis stupuere rigentia palmis,
Frigidus invasi crura pedesque rigor.
Unde^repentinis tumuerunt aeqnora ventis?
Quae caput immersit dirá procella tmnn?
Nate decus coeli, quis te mihi casas ademii?
Qaac fera to ex ulnis absíulit unda mcis^
Quo formosus abit saprcmi splendor .Tesas

Palris? ubi est iMatris qui iait ante Pucr?


240 VERSOS DO PADIíF. JOSEPII DE AXCIIIETA

Tu míseros dulcis consolabnre parentes,


Pignore restituens matribus hansla pijs,
At mihi quis raptum te funere reddeí ace!'it(.!?
Quis lachrymas lergct Matris ab oro tuac?
Quid faciam sine te, dulcissime Nate? quis acgrac
Confugium Matri, quis milii pnríus crii?
Tu mihi eras omni plenus dulcediuc Nalus.
Ta Pater, et Sponsus, tu miiii Fraíer ci-as.
Nunc Mater, jam non Mater, te Katc pcrcmpto,
Fratre, Patre, et Sponso nunc viduaía Íleo.
Non ego teposíhac lassalum solis ab aestu
Excipiam tectis, Agne benigno, méis.
Dulce nec ulterius Malris sino pignoro nomen
Gaudia maternis auribus alta dabit.
Traditus es canibus, mca viscera, Nate ci'uen!is:
Praeda datus saevis es lanianda lupis.
Hei mihi, nuUa subit crudo medicina dolori:
Sola gemo lachrymis exaíiata mcis.
Abstulit una dies maternae gaudia menti:
Tormenta, et luctus attulit una dies.
Nate quies nuper, gladíus modo Nato dóloris;
Ante salus animi, nunc fera plaga mei.
Quod scelus aethereis patrasti lapsus ab oris?
Innocua admisit quod tua vi ta nefas?
Quid caput augustum mxeruit? quo crimine tortor
Supplicio aíllixit têmpora sacra novo?
Quid pia cum puro peccavit lingua palato,
Trisíia ut admisío pocula folie bibat?
Qua tibi pro culpa ferro terebantur acuíao
Cuspidis? innocuae quid nierucro manus?
Qua tibi pro noxa rumpunt crudelia plantas
Vulnera? quid sancti commcruerc pedes?
Quod fidit obfacinus divinum lancca pecius?
Viscera quid cordis commeruei^c pii?
Tu nihil er, meritus: meruere ingenlia miuidi
Flagitia, infundam qua pcpercre necem.
Tantum humana salas nosíraque redcmptio vilae,
Tantus in actcrno pectorc vivit amor.
Nate siles? miserae nec te lamenta Parcjiíis
Viscera, nec tanto rupia dolorc, movcnt?
Quis Palris iniposuit iam moesia silenlia Verl)0?
Cur tua vox flenti non venit ulla milii?
Cur tua, quac mulis solvclxtí vincula iiuguis,
Muta mihi soli nunc lua lingua tacet?
EM LOtrV^OR DA VIRGEM 247

Qna merui cnlpa taniis cnieiaíibus angi ?


Haec de gaudia Nate refers?
te Matri
An quia te blandis recreavi moUiter nlnis,
Et tener in grémio sarcina dulcis eras:
Nane gero te totós laniatum íjebilis artus.
Et iacer in grémio sarcina tristis ades?
An quia puniceis fixi oscula blanda labellis.
Rubra mihi reddit nunc tuus ora cruor ?
Anne fuit crimen distentas nectare mammas
Dulce diu labijs inservisse tuis?

Tristia cur charam voluisti absynthia Ma irem


Sumere? cur bausto cor mihi felle tumel?
Quaenam culpa fuit, quod nulia in pectore amantis
Meta tui, nuUus limes amoris eraí, ? ,

Ecce suavis amor factos mihi tortor acerbus,


Vulneraque infiigit ossibus alta meis.
Quae dona occumbens inopi postrema Parenti,
Quas mihi legitimas Nate relinquis opes?
Hei mihi, confossae palmae, planíaeque rigcntes,
Temnoraque, et dire pectora rapta dabunt.
Verbera cum clavis, nodosurn robur, et bastam
Sortiar, et capitis sertã cruenta tui.
Haec ego jure meo mihi debita muncra saumam,
Succedamque haeres rebus egena tuis.
Hoc cultu incedam spectabilis, bis ero dives
Dotibus, haec condam pectore dona meo.
Et prius bane animam rigido mors auferet
ense,

Quam médio Matris subtrahat illa sinu,


Scilicet est densismea lux immersa tenebris,
Yitaque cradeli concidit hausta nece?
Quo mxBus offcndií facto pius Agmis Jesus,
Quid laesit Natus te, Pater alme, tuus ?
Scilicet ille luat soníis perjuria mundi ?

poenas, quas meruere rei?


Ille ferat

Ne pereant sontes, ad morlem íiaditur insons,


Dilectus servi crimine Natus obit?
'

Jam duro ne hominum mercetur funere vitam?


Jam saeva fuerit morte paranda salus?
Non fuit haec tanti, tua te clemeníia adegit
Omnia qui vincit, te quoque vincií amor.
Plange Sion dulcis crudelia fata Parentis,
Qui moríem pro te, ne morerere, tulií.
Sic mea lux moreris? Sic te, dulcissime Jesu,
Uí vivam, sic te mors truculenta rapit?
VEIiSOS DO PADRE JOSEPH DE AXCIIIETA

í,
Tene Deum diro potiiisse occumbere letho.
Et tua vivat adhnc te porcuntc Parcns?
Certe ego eram vivens qiine to vivente beata,
Niinc foelix morícns to morieníc forem.
Foelix marmoreum, qiio jam condere, sepiilchriim.
Accipiet Mairis quod tua membra vice.
Ipse mea genilus culndsti flnlciter alvo,
Exlincto saxura nunc íibi Icciuy erit.
Sed quis te rapiet Matris violoníus ab uhiis?
Cur oculis aberit moesía fipiii-a méis?
Non potes tnraulo CQMílemur iu uno,
aveiii,
Saxeaquc cxcipiet nos sirnul arca duos.
Ilicego comploxu reíbvens miserai)ile corpus
Contumulanda simul, si patereris, eram.
Sed qnia noji possum crudeicm abrumpere vitam,
Et dolor à facie magnus abesse tua:
Tu pectus Matris servabis, Nate, sepulcbro,
.
Toque suo Mater pecíore condet amans.
O mors, cur gladio mea viscera rumpis acuto?
Sospite cur sobolem Maíre cruenta rapis?
Crudelis, cur mo suI)lato pignoro linquis?
Cur tuiis in Malrem non jacit amia furor?
Blanda fores uno si tolo iitrumque ferires,
Cruxquo sibi fixus perderei una duos.
Saeva necans Nalum, parcens mago saeva Parenli,
Mitis uterque simul, si moreremur, eras.
Ultima in afflictam jam Iorque spicula Matrem;
Quam sino prole facis vivere, coge mori.
Haec et plura gemis Nato, pia Mater, adempto,
Noc superest plagis ulla medella luis.
Quis tua funesto turbavit pectora luctu?
Unde tuo cordi maeror acerbus inest?
Cur tua sordescunt eíTusis ílelibus ora?
Cur oculiâ manant Ilumina larga luis?
Unde tibi gemitus íanli, tantif[ue"dolores?
Viscera quis .Aíaíris reddidit aegra piae?
Quis tua tam diro praecordia vulnerat ense?
Spicula quis vcnis fixit acuta luis?
liasmea, si nescis, fecerunt crimina plagas, ,

dederc mcao vulnera saeva manus.


Ista
I Corpus ego torsis llagris, ego têmpora sortis,
Ipse fidi palmas, innocuosquo pedes.
Ipse lai lis ferro,divinaque viscera ruiii:
Causa fui Nato funeris i})so tuo.
^^^jjr'^:.::vpiHniíí!'>!>fí:smti'.í^'ê»' l,*,;.,4(>,--

249
KM LOUVOR DA VIUGEM

meae meruerunt vulnera culpae:


Scilicet ista
meis.
Ilaec erat, liaec noxis debita poena
Legis ego fractor, puro piat ille cruore
'.

Patris ego laesi numen, et ille luit.


dolores:
Crimeii ego admisi, duros tiilit ille
Mortis ego justa sum réus, ille perit. _

peremi,
Sie ego crudelis Natum Matremque
lile tui cordis vita suavis
erat.

Me miserum, quid agam? justo tumetille furore.


Nec tua non meritas concipit ira minas,
Ceríe ego respicio manuura cum facta
mearam,
Spes°mihi placandae non subit ulla tui.
Ast ubi fata tui subeunt crudelia Nati,
Spes mihi cum dirá máxima morte subit.
Non eris aspecto torvae mihi sanguine frontis.
Te pius immitem non sinit esse cruor.

Ad fera confugiam Materni vulnera cordis.


íliacruci affixum continet aula Deum.
Nec tua, quae liccnt reseratis undique portis
Occludi poterunt mitia corda mihi.
Ut partem condas, non omnia vulnera claudes;
Sunt data, quam posis condere, plura
tibi.
.

Ipse dolor lethi, movit, leniet iram:


quam
íste pii vires sanguis amoris habet.
TQ mites lachrymis absterge parumper ocellos,
Ora tuens Nati sanguinolenta tui
Et tristi aspectu fusi placare cruoris,
Te facili durus non erit ille mihi.
Nil tamen hic parcas, parcet mihi Fihus ohm,
Injice pectoribus tela cruenta meis.
Ut quod multiplici confossum est vulnere pectus
Hora meo vellat pectore nuUa tuum.
Nato,
Has peto per plagas, mitissima, qaas ego
Crudelis Nati quas libi fecit amor.
Fac me vulneribus, fac me fora sanguuie
fuso

Funera pro Domino, cum Dominoque pati.

De gáudio Matris resurgentk Domino.

Ecce resurgit ovans tetri populator averni,


Nobilis exuvijs, et diíione potens.
Excute. moesta Parens, turbata tristia mentis
Nubila, quae Nati mors truculenta tuht.
Ecce tuus vivit tua vita suavis Jesus,
2^ VEnSOS DO PADRE JOSEPil DE ANCHIETA

Dulcis amor cordis, dcliciíimquo íui.


Victor ab infernis reraeat, sacvique draconis
Contudit invicto sqiiamsa colla pede.
Ilie sibisaevani devinxit foedere moríeni,
líiimanuni rapicns iii sua rcgna genos.
Absortamque alto retinebat víscera praedam
Pcrvigil ante laciis férrea claostra sni.
Duraque fera aulhori molitiim funera vitae
ímpia íartareo pectora felle livent
.
Occubuit virtus victi nece jusque iwcendi
Perdidií innocuo dum sine jure nocct:
Fractaque grassaníis sunt jura noceutia morlis,
Et pactum, eí Stygij vincula rupia jugi.
In cruce nam pendens anguem suspendi t Jesus,
Et moriens moríi fata suprema dedit.
Ut laceros artus, et livida memlira rcliquií,
Spiritus infernum luco coruscus adit.
Corripit aeratae ferra ta repagula portas,
Pandit et obscuri limina tetra lacus.
Diffugiunt tenebrae divino lumine vulíus,
Caeca tenebrosis carceris umbra perit.
Obstupct Orcus edax, vas toque absorpía baralhro
I.
)

Agmina vicloris calce prement vom.it.


Exultans spolijs praedaque poíitus opima,
\^ Ad tumuli carpens claustra triumpiíatiter.
Deformesque artus corpusquc exangue revisens.
ti
Hórrida vulncribus membra resumit ovans.
Non jam foeda tamen, non jam passara dolorcm,
Non jam sanguineis contemeraía notis.
Cessitbyems rigidis poenarom dura' pruiiiis.
Noxquc procelíoso sanguinis imbre rigens.
Clara dies plácido rcdiit cum vero, novusque
Pulclirn resurgcntis possidet ora decor,
Non
sic Evo cum matulinus ab oríu
Egreditur rutilo Lúcifer orbe micat.
hVA Non sic Sol splcndet i'adioso lucidus orbe,
Scilicet authori cedit uterque suo.
Surgit ab obscuro railians Lux ipsa scpuichro,
iEtbereus lucet qua rulilanto polus.
1.1 Surgit liomo ablatis specioso à coi'pore plagis,
Quaque neccm poluit cnnditionepaíi.
.iam non formosum díMurpaní borrida vultum
Sj)uta, nec augustini spina cruenta caput.
Squalidus aufugit pallor, livorque tumcscens.
fi!^BWff'^'LV^^?reBgSHBBSBBB^g^^

25 i
EM LOUVOU DA VIRGEM

Yulneraque intorlis ingcminata flagris.


piílchrnm,
Quidquid eratfoedum, reddií nova glona
Gloria viventis jam sins morte Dei,
Non tamen omnino testes alDolevit amoris
Divlni, et dirá signa cruenta necis.
Vulnera confossis radianí ilíustria palniis,

Confessos decorant ^'uinera rubra pedes,


Quae mucrone pii pandit poriCiralia cordis,
Pulchrior in médio pectore plaga rubet.
Surgit homo invictus mortis prosiraíos-, et Orei,
Et Deus, et Nalus, Virgo beaía, tiius.
Qiiid facis? an deíles etiam nunc fanus
acerbnm,
Crudaque quae lacero vnlneríi corde geriS?
Desine ílere, Parens, vivit regnator Jesus,
Suppliciumque animi substulit omne íui.
Nonne audis dulci coelestes você clioreas,
Quae tibi victrici carmina fandit ovans?
Percipe laetitiam coeli Regina perennem
Nobilis, et palmae gaudia miranovae.
Ecce Deus, carnem cui Mater digna dedisíi,
Nec pepulit castae limina clausa domus.
Splendidus et clausi non laedens signa sepulchri
Exiit, ut sociis dixeraí ante suis.
Si tibi compescit nondum saíis iste
doiorem,
Et tormenta crucis núncios atra necis:
Respice, Natus adest insigni clara tnumplii
Signa, Patrum turmas in tua tecia ferens.
Ut tua praesenti conspexit lumina yultu,
Replevit radijs ut tua corda novis:
Quis capiat, qualis íenuit materna voluptas
Pectora, quis Matris vestijt era decor?
Ut liquefacta til)! mens est, cum dulciter aures,

Mellea vox Nati perculit ilia tuasf


Ecce resurrexit nunquam moriturus, et aíti
Perficit extincta morte Parentis opus.
Una omnes gemitus, suspiria crebra, gravesquc
Singultus, ceierem corripuere fugam.
Quo magis in Matrem sae^as exercuit iras
Saeva necis Nato damna ferento dolor: ,

Hoc magis alta tuis sese effudere medulis


Gaudia, cum Nati mors nece vicia fuií.
Primam Natus adit, quoniam reverentia taníam
Jure prior Matrem gloria prima decet.
Prima vides virum, quia semper vixit in alto
li 'li.
2S2 VKRSOS DO PADRE JOSICPH DE ANCHIKTA

Pectoro, qiiam primo donat honore fides,


Prima triumphantem recipis, quia juro dolori
Debentm' cordis gaiidia prima tui.
Agnoscis Natiim, divinumque intus adoras
Numen, et apprensos procidis ante pedes.
Agnoscit Matris vultum, genibusgue voiatam
Erigit, oíTicio fanctus et ipse pio.
Tu Domimim verum, veram colit ille Parentem:
Sic pietas múnus praestat utrinque snum.
Excipis amplexus viventis et oscula Nati,
Dulceque diNÍno quod lluit ore meios.
Undique mira tuos absorbent gaudia sensus,
Undique laelitiae flamina larga fluunt.
Scilicet exultas, animas quod tártara Patrura
Nigra Redemptori restituere tuo.
Quod saevavn extinxit Nati mors liorrida mortem.
Et redijt miseris salusquc reis.
vita
Quod novus exurgit melioribus orbis,
fatis
Cunctaque sunt miris jam reparata modis.
Cum subit aeterni reverentia summa Tonantis,
Quanta venit Nato gloria, quantns bonor!
I!ic tua distentis penitus praecordia venis
Laetitiae norunt vix tenuisse modum.
Nempe Dei summi summa est tibi gloria cordi,
Ille volnpíatis solus origo tuae est.
Fortunata Parens, mérito te magnus Olympus,
Terraque curvato suspicit ampla genu.
Cujus et aethereas domito serpente ruinas
Filius, et victa morte refecit bumum.
Ilaec jam veridici divino pectore vatis
Concinuit Nato regia lingua tuo.
W Scilicet, occumbens infamis funerc ligni
Totius Imperium Rex Deus orbis babet.
Foelix quae proli tales infâmia bonoros.

m Talia quae Matri gaudia poena dedil.


Jam secura potes cunctis gaudere diebus,
Yiribus occubuit mors spoliata suis.
Quo modo procubuit sinc você, ut milis ad aram
Agnus, et inuocuo sanguinc linxit bumuni.
Jam nunc rugibi terrens Stygia anli-a Iroujcndu
Surgit, ut impavidus dum b'cmit ore leo.
\k\
W Nuper ut imbcllis sinc robore captus ab boste
Caplivas dederat vincula in arda manus.
Nunc velul insultans armalo calco lvi'anni

, 1
EM LOUVOR DA V11\CEM

Calcat Avernalis colla superba gigas.


Hic est ille bónus, cui lurpis adultera Joseph
Casta fureris caeco cárcere membra ligat.
Jam JLissu educttim magni stola byssina Regis
Ornat, et aeternam pellit ab orbe famern.
Abjectum imper jam tota iígyptus adorat,
Praedicat, et Dominum terra polusque siium.
Jam sua mandabit paridantur ut horrea cunctis
Gentibus, aggestas et reserabit opes.
Jam venient populi stimulante cupidine edendi,
Undique frumenti quos nova fama trahit.
Ipsi etiam fratres,quorum livore peremptus,
Ut vivant humili pabula você petunt.
Illeream oblitus plácido spectabilis ore.
Distribuit miseris larga alimenta manu.
Provectum súbito mirabitur orbis honore,
Subjicietque novo mitia cola jugo.
Submittent alti sublimia sceptra tyranni,
Et ponent fastus omnia regna suos.
Solus in immenso charum sine fine liiumplaim
Orbe triumpbator Rex Dominusque geret.
Jam splendent alti victricia sceptra trophaei.
Signa salutiferae non supcranda crucis.
Vicit enim magni de sanguine Natus Judac
Ad praedam surgens castra inimica leo.
Dumque resurgentis celebris victoria Nali
Fulgebit titulis nobilitata suis:

Tu quoque magna Parens celebrabere, dulceque Matris


Nomine cum Nati nobilc nomcn erit.
Eia age, mellifluis quoniam largissima rivis
Hac tibi plaudenti gaudia luce íluunt.
Ó pia turbatis moerorem mentibus atrum,
Assiduae sordes quem peperere, fuga.
Jure quidem patitur moeroris foeda voluptas
Damna, voluptati est debita poena dolor.
Sed qui crudelem culpae sine crimine poenam,
Ceu latro cum sonti sponte latrone tulit:
Abluit insonti culpam poenamque cruore,
Gaudiaque ablutis mentibus alta dedit.
Jure malus fateor vincenti subditur Orço,
Porrexit victas cui sine jure manus.
Sed mortis vlctor vicit quoque crimina mortis,
Perpetuae pariunt quae nocumenta necis.
Omniaquc cxclusit dextra viclrice tyranni
2õ4 VERSOS DO PADUE JOSEPH DE ANCHIETA

Arma, quibits fretus funera sacva dabat.


Qaas illi iuvictus vires pugnator ademit,
Contulis oreptis ad fera bella reis.
Jam jacet infractus, populique adversa fidelis
Legitimo vietus praelia Maric timet.
Ergo jube ne qaos fccit victoria NaU
Victores, vietus colla manusque liget.
Illc resiirgitovans nulla nioritiiras in aevo,
Nam sat pro culpis occubuissc semel.
Spemquo resurgendi cunctis post fata rcliquil,
Et vivit vita jam meliore Deo.
Âblata est justis moríis formido peremiis,
Nam benè pro viía vita caduca datur.
iíac ego ne priver, ciilpae qui saepe ruinis
Prostratus subij tristia jura necis:
Te semel, ò Mater, dextram praebeníe resurgam
Yicturus Nato jam sine labe íuo:
Saevaque cum Domini pretioso funere jungens
Funera, vivenlis perfruar ore Dei.

De desiderio, et gáudio Matuis in


ASCEXSIONE FíLII

Emicat alma dies divino iliuslris honore,


Janua qua superi panditur ampla poli.
Quae tuus, ò Mater, conscendit Na tus Olympum,
Garneaque aethereis invchit ora jugis.
Quis taa, quis sensus, quis vcrsat viscera motus.
Dum se luminibus subíraliit ille tuis?
Ilinc dcsidoriuni vcliomens abscntia Nati
Excitai, et médio peciorc vulnus alit.
lUa tuo spccics vultus divina decori,
Illc animo occursaí splendidos oris lioiior.
illi oculi, mriUa qui viacnnt sydera lucc,

Uudc suum coeli mutual aulajubar.


lllud jncxliausto rcpletum noctare gultur,
Quacque suave dabat lingua benigna meios:
Cum lua mclliiiuo mira eruclantis ab oro
Pendebat jniris mens stupefacla modis.
líuuc p'rocul ab diici vcliomens csl angor amanti,
El lali Malrem i)rolo carere diu.
Scilicel amplexus dilecti cxoi)lal, ol omni
Tempore praesenlom rern(M-c gliscit amor.
Ergo luum renrimcl qui íluniinis inipetuí igucm
^^gl?^^*a='?^:« jPWBjijww*
Aje .,

EM LOUVOU DA VIRGEM 253

Istequibus íepeaí fervor amoris aquis.


Figis inunanimem deamantia liimina Natura,
Ascensum coeli dum snper astra parat:
Dulciaque ex alto suspiria pecíore ducens,
Pulchra recessurl suspicis ora gemens.
Ille piae blandis Maíris praecordia verbis
Moilit, et eloquij tcmperat ora sui.
Sed quo sermo ílait divino dulcior ore,

Saucia qui leni fluminc corda rigat;


Hoc maiora tais scrpunt incendia venís.
Flammaque sunt fiammae dulcia verba tuae
Atamen ire sinis, dcsideriumque Parentis
In coelum Nati vincit euntis honor.
Taliaque exundant maíernis gaudia íibris,
Qiialia quae santis, nec potes ipsa loqui.
Nam qui de Patris grémio descendit in alvum
Maíris, et infernae venit in antra domus;
ííic subit ex imis Patris ad consortia terris.
Et sua paulisper subtrahit ora tibi.
líic vir, liic estniveo quem foemina viscere claudis,
Ubere quem sacro cândida Mater alis.
Qui fera fata íulit, divinaque prorsus uí aeger
Carne sub infirma robora texit homo.
Hic idem ascendií, quaeque iili sola dedisti
Sydereis infert cárnea membra polis.
Quodque diu clausit primi tenebrosa parentis
Culpa, novo tandem lumine pandit iter:
Ereptamque Orei truculento è gutture praedam
ínserií Angelicis agmina casta choris:
Moenia disjecía restaurei ut alta Sionis,
Cauda quod aníiqui diruit anguis opus.
ípse choros superans patriae consortia dextrae
Appetit, et summi debita jura loci;

Regnet ubi immenso cumulatus honore, suoque


Yicta superborum conterat ora pede.
Yideraí hae Psaltes, cum sacro flamine plenus
Fatídico tales cdidit ore sonos.
Dixit, et aeternae firma est sententia mentis,
Ad Dominum Dominus talia verba meum.
Altus in aeíerna regna mecum arce, meamque
Ad dexíram aequalis clarus honore sede.
Donec victa tuis supponam hostilia sceptris
Agmina, ceu pedibus sírata scabella tuis.
Proferct Imperium sublimi ex arco Sionis
'1
236 VERSOS bO PADIUi JOSEPII Dt: ANCHIETA

Virga polcstatis per loca canela taac.


In médios Princeps dominaljeris inclytiis liosíes,
Nemo nusquam
1 A
tiio

te curictaruni
victus alj cnse cadit.
mananl primordia renim,
Samque tibi aequali numiiie jiiiielus ego.
Ilac sancti aeterao emitti splendore videbiint,
Quo tua monstraris ora Ijeata dit.
Tu médio de pectore, et alto
sine principio "-

Exútero genuit te Deus ante jubar.


Jaravit Dominus, nec eum jurasse pigebií,
Nec poterit verbi poenituisse siii.

Tu sine fine manes aeterna lege, sacerdos


Ordine pacifici Melcliisedecis eris.
Ipse tibi á dextris Dominus, tu regia franges
Sceptra, dies irae curn volet ampla tuae.
Jucidiique tui demissis vultibus omnes
Horrendum gentes ante tribunal erunt.
Antiquas totó reparabis in orbe rainas,
Multorum in terra communiesque caput.
Torrentes ávido potabis gutture lymplias,
Calce terea arctam dam properantc viam.
Nobilis id circo super alta cacumina coeli
Divinum toUes Rex Dominusque caput.
Ilaec, generosa Parens, magni sacra lingua Pi-oplietae
opus Nati vaticinaía tui.
Dixit,
Cujus ad aspectum cupide licet igne flagranli
Pectoris aspires non patiente moras;
Laeta tamen remanes placidis fotura sab alis
Pignora delicijs lactis alenda tuis.
Scilicet aspicient vultum Genitricis alumnum,
Quae colere incepit turma sacraia íide:
Insolitumque revcrebitur oris lionorem,
tui
Et tantum micabit opus.
fidei luce
Quaque Deum mundo peperisti, ut mortis iniquae
ímpia deleret funere jura suo:
Nunc quoque viventi paiios sacra pignora Nato,
Exulat à vultu dum tua vila Dei.
"ti Plurimaque advenient ad verauí concita vitam
Agraina, vivorum tu pia Mater eris.
Sic amor, et i)ielas pacato augescet in or])e.
Et Domini crescei gloria, crescei bnnos.
Ne tamen abscedens dileclae dulcia .Mairis
LiqueiMl omninò Filias, ora i)ias:
llle vcliil secam Matris super aethera mentem:
KM iOUVOU DA VIRGEM 257

Est animi requies scilicet ille tui.


Tu retinens Natnm cordis penetralibus abdis;
Hic locus est illi dulcis et alta quies.
Sic abiens renianet praesens in pectore Maíris,
Sic is, cum dulci tu qiioque Prole manes.
Posce precor sursum dulcis mea raptet Jesus
Pectora, dum carnis me remoratur ónus.
Fac Dominum médio conclavi cordis amatum
Complectar, coeli dum super alta sedet.
Te quoque, dum longi Natus mihi tarda relido
Prorogat auxilij têmpora, Mater, amem.
Forsitan indignum placidis spectabis ocellis:
Sic pietas Matris major amantis erit.
Allectumque trahes operum splendore tuorum:
Foelix si Matris charus alumnus ego.
Foelix pro dulci si das mihi Prole subire
Pectore sanguineam non trepidante necem.

De Spiritu sancto

Jam super aethereas Dominus conscenderat arces^


Victor ab infernis ampla trophaea ferens:
Ad dextramque Patris sólio sublimis in alto
Sub stratum mundi despiciebat opus.
Praecipuè Solymam defixus lumina in urbem,
Tecta Sionae spectat, amica domus;
Caetus ubi tecum. Mater digníssima, Fratum
Degit, et assíduas fundi t ad astra preces;
Flagrantemque alto suspensus ab aethere mentem,
Expectat Domini grandia dona sul.
Jamque aderat decimus,, postquam penetrarat Olympum
Pontificis summi splendida forma dies:
Cum Pater omnipotens divinam, et Filius, auram
Aspirant superi de regione Poli.
Utqne ruens denso quatit impetuosus ab ax-e
Alta repetino turbine tecta notus:
Moenia sic tonitru terrens excelsa tremendo
Irruit à summo Spiritus ore Patrisf
Implevitque sacram divinis flatibus aedera,
Qua sacer ille chorus, tuque beata sedes.
Flamma simul crebris vibranti lumine linguis
iEtbereo exureos corda calore micat.
Incalvere animi, serpit divinus in altis
Visceribus fibras pectoris Ignis edens.
VOL, 11 17
258 VERSOS DO PADRE JOSEPH DE .VNCillETA

Vix capiunt tantos ílammantia pectora molus,


Intima dum penetrai Spiritus ora riiens.
Erumpunt adytis subitó, linguisque profantur
Omnibns aelerni faeta síupenda Dei.
At tua quis capiat quod pectora ílumen inunde',
Quae repleat mentem gratia, Virgo, tuam?
Sed te quae repleat divino numine plenam,
Alma Parens, meritis graiia adaucta tuis?
In tua se nondurn concluseraí author Olympi,
Vera Patris soboles, viscera íactus homo:
Et jam divinus mentis possessor, et author
Spiritus implerat grandia tecia tuae.
Quid non adducit, thalami cum clausíra pudicí
Implevit sumens cárnea membra Deus?
Ergo quid accipias, cum sis plenissima? namque
Undique vas plenum plenius esse nequit.
%. Sed tibi plena satis cumulo repleiis amoris,
Ut per te nobis det sua dona Deus:
Quaeque tibi superesí, in nos divina redundei
Per Matrem Natis gratia danda tuis.
Spiritus ergo bónus per te suae praestet egenis
Munera, dum tali você precamur opem.
Spiritus alme veni, coelique eiapsus ab arce
Mitte bónus lucis lumina clara tuae.
Huc ades, ó inopum Pater oplime, cujus egenis
Natorum ornari nomine praoslat amor.
Iluc, ades, aethereis cumulas qui pectora donis,
Cordis inextinctmii lúmen, et ignis cdax.
Huc ânimos miti recreans solaminc, menlis
Dulce refrigerium, dulcis et liospes, ades.
Tu bona temperies sacvo fervcntis in aesíu
Solis, et in duro grata laliore quies.
Dulcia pro fletu solalia reddis acerbo,
Tristia ab aíllicío nubila cordc fngans.
Ó lux almíu tuos rutilo splendorc íideles
lUustra, ex auimis nubila densa fugans.
Te sine nil pulclirum, nihil est sine labe, luoque.
Si quid habet vilac, numine vivit homo.
Abluc conlinuis sordentía pectora cuipis,
Aridaque elfusis imbribus ora riges.
Vulnera [jcrcussae sana lethalia mentis,
Flcctequc duritia quae malé colla rigenl.
Divino relbvc frigeniia corda calore,
Obliíiuum crranlis dirige menlis ilcr.
,.,ji0uSgM^.

líM LOU\ OU DA ViUGEM 2(>0

Da septenna tuis, qnorum es spes única, servis


Dona, quibus sanctiim viscera Flamen alis.
Da tibi quae placeat virtntem, ac fino beato
Gaiidere, aeterua laeíiíiaque frui.
Ilac tu, dum sanctus pulsatur você gemenlum
Spiritus, afílicíos respice Mater amans: ...
Teque -precante tuis divini donet amoris :-^">'

Divitias famulis dexíera larga Dei. '•.,j

Qiiaeque semel dederit, longum conservei in aeuuriíí;''

Et nullo noster tempore cesset amor.

De TRANSITU BeAT;E MaRM',

Clarior Eoís effulget splendor ab oris:


Pulchrior haec rutilis initet hora comis,
Hunc fermosa Parens Solis rota clara micantis
Axe tibi revehit splendiore diem.
Haec tibi syderei jam limina pandit Olympi,
Per te quae miseris jam patuere reis.
Regia te ínvitat tuus ad convivia Natus,
Flumina ubi lactis, flumina mellis eunt.
Te vocat ad patriam coeli, tibi debita regna,
Finit et exilij têmpora longa tui.
Ille abijt victa formosus in aethera morte,
imperiumque Patris victor in arce tenet.
Tu Mater nostris remoraris provida rebus,
Exercesque piae dulce Parentis opug.
Pascis adhuc teneros jucundo nectare natos,
Ora carent solidis donec inepta cibis.

Dum tua cròdentes*populos praesentia firmat,


Crescit in ignitis cordíbus aucta fides
Christiadum celeber tua currit ad ostia caetus,
Quos tua pellectos undique fama trahit.

Mirantur sacrae divinum frontis honorem,


Quodque tua aethereum possidet ora decus.
Vix explere queunt ânimos oculosque, tuendo
Lumina solari lucidiora face.
Vix humana tui majestas praedicat oris
Quis fuerit ventris fructus honorque tui.
Et nisi jam noscat Dominum sacra turba Deumque,
Te veri numen credat habere Dei.
Tanta tuo virtus divino effulget in ore,
Tantus honor vitae, gloria tanta tuae.
Foelicem dicunt, omnique ex parte bealam,
260 VERSOS DO PADRE JOSEPII DE AACillETA

Cui sacra virginitas, gloria Matris adest.


Et te foelices coram divina videre
Lumina Reginae qui meruere suae.
Verba quibus licuit coelestis dulcia linguae
Audire, et sacrum Matris ab ore meios.
Quis tibi, quis sensus, cura Nati numen adorans
Confluit ad portas plebs numerosa tuas?
Quae pedibus calcans simulachra obscoena deorum
Ante tues humili procidit ore pedes?
Crescit honor Nati, crescunt tibi gaudia mentis:
Hic est laetitiae fons et origo íuae.
Dum te terra procul coeli remoratur ab aula,
Quae tibi servata est debila jure domus:
Aut raperis sursum, superisque immista quiescis,
Divinoque ignis pascitur igne tuus:
Aut trahis è coelo materni cordis amorem,
Inque tuo Natum pectore voluis amans.
Nunc animo versas foelicia têmpora, menscs
Cum tua conceptum condidii aula novem.
Nunc recolis sacri laetissima têmpora parlus,
Exivit claustri cum síne labe tui:
Virgineoque infans exuxit ab ubero néctar,
Libasti et roseis oscula blanda genis.
iiff Interdum sequeris lassi vestigia Nati,
Dum lacerum Immeris praegave porlat ónus.
Jam repetis fusum tenera de carne cruorem,
llí Octavo cultrum cum tulit aegra die:
Et tua manarunt lachrymarum inmina rivus,
Vagitus querulo cum daret oie Pner.
Jam subeunt menti, quae munera pracslilit agris,
Munera funestis invidiosa viris.
Jam juvat amplecti conspersum sanguine lignum,
..Unde Deus moriens, unde pependit homo.
Quo virtus lassa est, extinctaque vila, salusquc
Languit, et viclrix mors supej'aía fuit.
Jam repetis tumulum, sanctumqiie amplexa cadáver,
Solvitur in lachrymas meus liquefacta pias.
Haec desíderio dulcis medilaris Jesu,
Si qua animi flammam lenqiereL unda lui.
Acrius illa tamen sufCasa acccndilur unda,
Qucmque loves semper forlius uriL amor.
llaerel adliuc oculis Nali ascendenlis imago,
Qui sccum mentem vcxit in aslra tuaiu.
lUiu;? amplexus, divinaíiuc puslulat ora.
^^jtítfflfí^^SS^
^^m^sm^^mm^-

EM LOCVOU DA VIRGEM 26)1

Quac nisi iion aliucl novit amare Deum.


Crebraque post diílcem mittit suspiria Natiim,
Qaaliaquc ò médio pectore promit amor.
Qaalis, u]3i vcnis penetrabilis haesit arimdo,
Flumineas cervus faucius optat aquas:
Talis inexhaustas,Deus alme, aspirat ad undas
Mens mea, quam crudo vulnere loesit amor.
Quando erit ut carnis vinclis ac mole solutus
Ante sul venial spiritus ora Dei?
Luce madent lachrymis mea lumina nocte:
Iste meo semper volvitur ore cibus:
Dum mea mens crebro quem diligit aegra requirens
Dicit,Ubi est vitae luxque Deusque meae?
Quam formosa diu condit mihi Filius oral
Quam procul aufugit Matris ab ore suael.
Haec ego dum crebris meditor singultibus absens,
Deficit, et nimio languet amore sinus.
Huc ades, ò tua te suspirai, et orat
Fili, , \

Mater, in aetbereos egrediamur agros.


Sydereos tecum cupio simul ire per hortos,
Et trahere aeternas te remorante moras. ..;

Te sitit bic animus, te mens haec esurit aegra,

Te cupit intuitu liberiore frui.


Surge age, nec charae differ medicamina Matri
Vulnus alo venis, nec patienter amo.
Te sine nec vivo, nec te sine, Nate, quiesco;
Huc ades, ò Matris vita quiosque tuae.
Pande tuam faciem, divinaf{iie lumina tandem
Detege luminibus conspicienda méis.
Talia dum jactas coelum suspiria in altum.
Ultima ut esiiij luceat hora tui:
Blanda pium Natum pietas, amor urget amantem:
Frangitur, et Matris victus amore venit.
Siste pios gemitus, lachrymas absterge fluentes.
Ultima per róseas haec fluat unda genas.
Eccc tui Jesus, et flamma, et flumen amoris,
Ecce venit fletus causa modusque tui:
Inque tuam septus turmis coelestibus aedem
Intrat, et hos dulci dat til)i você sonos.
En tibi, quem qnaeris tam longis questibus, adsum.
Et Deus, et vitae vita beata tuae.
Rumpe columba moras levlbus pulcherrima pennis.
Nata Patri, Nato Mater amica veni.
Inque meís tandem recuba foeliciter ulnis,
-62 VKnsos DO padue josepii de axchieta

ílic loeus ost iilnae quem morucrc Ume.


Tristis hyems abijt, vencriirU florida veris
Têmpora, purpm-eis deliciosa rosis.
Ilac tiln luxtandem transacta nocte percunis
Luxit, et aeterno clarus iionore dies.
Rumpe moras, ver! Maíer capo gaudia Nali,
Inque sinu Patris nata recumbc tui.
Quis capiat, Virgo, Dominum dom cernis, et audis,
^
Quae fuerit m^entis gloria luxquc tuae?
En vcnio, dulci respondes você, Deumque
Mens tua corpórea libera mole petit.
Inque tui recubat Nati sopiia lacertis,
Dulcis et irrepsit per sacra membra sopor.
Et moreris vitae, Mater, morlisque subactrix
Cogeris humana conditione mori.
Sed dolor omnis abest, et sensus mortis, ul omnis
Abfuit à partu visque dolorque tuo.
Yirgineum nitido servator mármore corpus,
Et níveus condit cândida membra lápis.
Turba frequens Patrum sanctum comitata cadáver
Astat in exéquias offlciosa pias.
Pro lachrymis flores, pro tristi carmina planctu
Fundit, et hos laeto concinit ore modos.
Salve saucta Dei genitrix, Regina triumphans
iEtheris, aeternae nobile mentis opus.
Quod Pater ex útero, medioque è pecíorc Yerbum
Flammiferum solus protulit ante jubar:
Hoc sola intacto tu Maler venli-e tulisli,
pumjmediumi tacite nox peragebac iter.
Aula poli Mater, divini foedcris arca,
Quae miseros miti pectore condis, Ave.
Tu basis es, sanctum quae fulcis áurea Templum,
Robur, et aetberea firma colnmna domus.
Quae mens cumque tuae virtuli innititur, hostes
Vincit, et immoto stat bene firma gradu.
Nata tuum pariens intacto Venlrc Parentcm,
Splendida Virginei forma pudoris, Ave.
Virgíneo nemo tibi, Virgo, siiasit honorem
Delicijs moesli praeposuisse tori.
Sed tu virtulum doctrix, dux óptima vila esl.
Et sequitur gi'cssus foemina, virque luos.
Janua clausa Poli, soli via pervia Regi,
Quae coeli nobis ostia pandis. Ave.
Per te crudelis miscri scrvamur ab Orço,
I
I

í.
EM LOUVOR DA VIRGEM 263

Redditur et saluus, qui fait ante reiís.


Natorumqae Dei pulcbro laeíamur honore,
-
IIoc domi, hoc nobis dat tua vita deciis.
Flamma corusca Poli splendorem Solis obumbrans,
Tristia quae pelUs nubila cordis, Âye._
Jam tua sydereos caeíus, et caetera vincit
quam radians astro minora jubar.
Gloria,
Laudibus ut Matris funus maioríbus ornent,
Omnia sunt meritis inferiora tuis.
in antro?
Car tamen angusto remoratur corpus ;!

Ampla quid in saxo claudiíur aula brevi?


orbe:
Surge Dei templum, totó domus amplior
Non bene lata brevi conditur aetbra loco.
Non decet ut viles rodant puríssima vermes
Viscera, factorem quae genuere suum.
Non decet ut putri tabescat pulvere corpus,
Corpus honestatis forma, pudoris honor.
victor
Tártara qai pedibus calcans post fnnera
Yívit, et infregit jura severa necis.
Hic te dé tumulo divina luce coruscam
Suscitai, inque uínis tollit ad astra suis.
De mihi te levibus, pulclierrima,- prosequar alis,

Sydereae penetras dum loca summa dornus.

Ó utinam semper mea mens tibi serviat uni,


Perpetuusque tai me remurctur amor!

De Exaltatione glorios.e VmciNis Mari.e super omnes


CHOROS AnGELORUM

Jam super excelsi radiosa cacumina Olympi


ToUeris, ó Virgo Mater, et alma Dei.
Jam super Angélicas, assumeris inclyta sedes,
Accipis et primum glorificata locum.
Sydera resplendent, spatiosus panditur aether,
Agmina concedunt inferiora 'tibi:
Et meritae reddunt subeunti munera laudis,
Taliaaue ingenti carmina você canunt.
nostri
Salve VÍrgo Parens Domini digníssima
Ó Dominae, ó nostri gloria prima chori.
Qui vastum mundi pugno complectiíur orbem,
Yisceribus clausit se, benedicta, tuis.
íliasuo nostras reparavit funere sedes,
RefJltque, draco quod laceravit opns.
Eruit, in tenebris quos Tarlarus abdidit
ums,

"iPiPiPii
204 VERSOS DO PADIilí JOSrCPII T)K AXCIIIÍlTA

Ilamanamquc sibi junxií; nmnro gcnns.


Salve iterum nostri castíssima Mater Jcsii,
'
O decus, ò splendor, deliciuniíiiie Poli
Has tibi dum resonant dulci modulamine laudes,
Ulterius tendis tii speciosa gradum.
Virtutes Dominam sursum vcncrantur cunlem
Perque Potestatcs lit via lata tibi.
Te sanctum aeterni thalamumqac thronumque
Parcntis
Magnificaiií, iaudant, glorificantque
Tlironi
Quam sibi delegit Patris Sapientia sedem
Innumeris Cherubim laudibus accumulaní.
Ardorem nimij Seraphim mirantur amoris,
Quo repleta tibi pectora sancta ílagrant:
Cujus adusta liquefiuní viscera íiammis,
tibi
Ignis ut admoto cera
calore fluit.
Corporis integritas nivei sine laijc pudoris,
Et mens, virtutnm quam replet omne genus;
Reginam superum te constitucre Polorum,
Cuncta tibi ut ílcctat coelica turba genu.
Qui te veridici post têmpora longa Prophetae
Viscere clausuram praecinuere Deum;
Jam te divinis i^egnantem laudibus ornanf,
Es cum Prole canunt te sinjD fine tua.
Turba Ducum ac Regum, seniorumque i[!ciyía

H ImperJale tibi ducitur unde genus,


Te colit, ei magni titulis exaltat lionoris.
Te Ma trem Domini progenuisse sui.
Palrum.

Subdit Apostolicus tibi se, pulclierrima,


caetus.
Et pleno laudes intonat ore tuas.
Quicjue suas Agni lavere in sanguine vestes,
Martyrij exornat quos rubicuncUiS honor:
Cândida purpureis incincti têmpora sertis,
Ante tuos gaudent procubuisse pedes.
Cujus ope adjuti tantos mcruere íriumphos.
Hórrida vicerunt praelia cujus ope.
Sacra Sacerdotum Confessorumque caterva
Lumine lata tuo te venera tur amans.
Dulcia Virgineae modulaníur jubila turraae.
Laetitiaque bymnos liI)ei-iore canunt.
Victrices pulchro tibi tendunt online palmas,
Reginam et gaudent anlc ferendo suam.
Tu specie intemoraia lua pulclieriima Regis
Filia, fers pulcbi'os prospere ad alia gradus : •
Regnandum ut capias justo modcraminc coeium,
llpijglIiMiailiTiiíWffPiffíi'^^''^^""^^^^"^'^^^^^'^-

KM LOUVOR DA VIRGEM

Scepíra gerens mi ti saeciila cuncta manu.


Et tanto Angelicis sedeas superedita turmis.
Quanto illis nomen dignius alta geres.
Illi obeunt etenim Domini mandata ministri,

Tu Mater magni diceris esque Dei.


Innumerae pergunt post te, inviolata, puellae,
Pectora porlantes Principis ante thronum.
Quas sibi perpetuo divini Naíus amoris
Conjunxit sponsas foedere, Virgo, tiras.
Ipsa sed ante omnes super exaltata beato
Ante thronum Triadis praemia digna capis.
Omnipotens Natam placidis amplectitur ulnis
Lumine circundans splendidiore Pater:
Et tibi plus cunctis coelestia munera donat,
Mensura ut laudis sit prope nuUa tuae.
Nempe (minor quamvis tuasit) tamen ista superno est,

Cum Paire communis gloria, Virgo, tibi.


Qaod tuus est Natus superi Patris única proles,
Estque idem Natus, qui tuus ipse, Patris.
Filius insigni vestit virtuteParentem,
Et sedem juxta te jubet esse suam.
Cujus in aspectu regali splendida cultu
Virginis effulget gloria, Matris honos.
Ipse amplum vasti Sol verus temperai orbis,
Justitiae claro lumine cinctus, opus.
Ipsa velut plenae fácies perfecta Dianae
In celso resides nobilitata throno:
Regius ut cecinit divino carmine Psaltes,
Ante tuum clamans saecula multa decusç
iEternumque manes testis super astra fidelis,
Quod carnem ex útero sumpserit ipse tuo.
Ut carne aeterno raperet de funere carnem,
Donaretque homini sydera verus homo.
Teque creaturis praeponeret omnibus unam,
Imperium et Matri traderet omne suae.
Spiritus oximio te incendi t sanctus amore,
Providit Sponsam quam sine labe sibi.
Cujus amplexu tu strictius omnibus haeres
Dum frueris vultu deliciosa Dei.
Malorum pulchri te stipant undique fructus.
Et fulciunt rubris languida amore rosis
Virtutum cultu ílorens, et amabilis omni
Pinferis, et varijs dotibus aucta nites.
Jam geris aeternum, coeli Regina, triumphum.
36r, VERSOS DO PADRE JOSEPIÍ DE ANCHIETA

Regale in pulchris et diadema comis.


Terra, maré, et magni servit tibi regia cooii,
Paret et ad iiiitum macliina tota tibi.
Igniyomi rutilo vestris solis amictu,
Sternitar et pedibiis lúcida luna tuis.
Bissinae exornant stella radiante capillos
Luce, corona tuum nam decet ista caput.
Quae superas omnos multo santíssima sanctos,
Vmcis et angélicos purior ipsa choros:
Post vários sancta rcquiescis in urbe labores,
Coelestemque rcgis sancliricaía domum.
Electo in populo divinae munerc dcxtrae
Consita radices altior arbor agis.
Estque aeterna tibi summa cnm pace poteslas
Moenia qua Solymae religiosa nitent,
Et velut in Libani procera cacumina cedrus
Tollit odoriferis sidera ad alta jugis:
Sic tuus ambrosios late diffundit odores
In nívea coeli candidus arce pudor.
Surgit iit in celso cypressus monte Sionis,
íl Sic tibi sublimem suspicit alta Sion,
Et summae immensam speculans deitatis abj^ssum
Clara vides cunctis clarius ora Dei.

w Ut nocte irradiat transacta lucifer orbem,


Sic tuus aethereo splendor in axe micat:
DiíTundisque Polo rádios, et clarius aula
Coelestis rutilat lampadis igne tuae.
Virgíneas ducis per Olympica íempla choreas,
:; Utque satae redoles in Jerichunle rosae
Ut crocus, et nardus fragans, ut spirat amomum,

_
Balsamaque, et cálido thura cremala foco:
Sic tua divinis unguenta flagrantia ílammis;
Sidereae replent urbis odore vias.
Dístillant mirrhae tua vestimenta liquorcm,
Qui non corrumpi peclora nostra sinit.
Cuncta fluunt late de te pigmenta, tuique
Virginei Coelum recreat oris odor.
Ut viror eíTulget speciosae gralus olivae.
Quae gravida ín latis brachia jaclat agris
Datque oleí pingues blandis Ibecunda liquores,
Quod tactu sanat languida membra suo:
Sic tu pulchra nimis coelostibus insita campis
Fertilis aeterno planta virore niles: *
Maternacquc oleum fundens pietalis abundo
f^mismmmiíiê'- li

EM LOUVOR DA VIRGEM

malis:
Mortiferis curas saucia corda
Mollificoqne ungis faeíentes ungume
plagas,

Et medica sanas ulcera tacta manu.


salutem,
Jure petunt omnes à te, pia Virgo,
salus.
cunctis omni es tempore certa
Onae
omnes.
Jure tibi gemitus, lachrymasque effundimus
Omnes materna cum tuearis ope.
rorem,
Funde, precor, nobis coeli, mitissima_,
Et largo steriles de super imbre riga.
vitae.
Quae satã perpetuae Juxta torrentia
Flumina, divinis usque viresos aqms_.
rivi:
Qualis ad undantis decursos confita
comis:
Stat platanus, densis luxuriansque
Tu veniam culpis pietate referta precaris,
multa gravanl:!
Et relevas nocuos, quos mala
Et toa divinas clementia mitigat iras,
Subque alis miseros occulit aequa reos:
moestis,
Luminaque abstergis lachrymis sordentia
Solamen duris dasquè benigna malis:
Tu nos ad coelum directo tramite ducens
via.
Dirigis, et prava non sinis ire
gi^essus,
Per tua qui intrépidos íigit vestigia
Amplectens vitae facta decora tuae:
tnumphans
Hic palmam laudis victo feret hoste
Perpetuae, et veras pacis habebit opes._
camniis
Per te tartareis Cacodemonis aegra
Ira suis peniíús viribus orba
jacet.
mentis miqaus
Qui quondam humanae possessor
Regnabat cunctis imperiosus equis:
gyro
Caecaque multiplici convoluens pectora
Reddebat Stygijs libera corda malis:
Tu saevum expugnas equitem, nimiumque
lurentes
equos:
In nigra praecipites tártara trudis
Yirgineoque teris fallacem calce colubrum,
Reddis et á Stygijs libera corda malis.
Quae totum immani rugi tu circuit orbem,
Comprimitur pedibus bestia saeva tuis.
Ímproba malis,
Et ne sanguineis miserum terat
Sorbeat et vasto ventre cruenta pecus.
Tu virtute tui nitens fortíssima Nati

Bella patrúm fortes ut tueare geris.


Et praedam excutiens confringis more molares,
Gutturaque elidis sanguinolenta ferae:
Vicíricemque refers piignatrix inclyta palmam.
268 NTRSOS DO PADRE JOSKPII DE
ANCHIETA

yEthcrcac pandis osíia lala domiis.


Quin etiam, ut summo fiat via libera coelo
Ipsa patcs faniiilis ampla '
fonestra tuis
Omma qui mortem perimentem morte peremit
>JCtor, et infernas dilaccravit
opcs.
íJic tibidat regnum qnà coeli amplíssima
moles
MaxHTia qiià tellus aequora vasta
palcnt
llic tibi tartareas dat
conculcare catervas
\ictore, et mortis colla snpcrba,
pede.
U loelix tua sors, ó foelicissima vi ta
Corporis, aíque animae gratia
tanta túae.
U loeiícem istum, quo te Rex gloria Jesus
Ad dextram in supero collocat orbe, dicm
Uivjna resonat coeli tibi Cúria
laudes,
Melliíluumque uno concinit ore meios
Tota íuo exultans tellus gratalur
bonori,
Quaque potest pangit carmina você tibi.
Nos quoque te Dominam coeli super alta
sedenlem
Laudamus servi pectore et ore tui.
Laelamur Matrem te praeraisisse bcnignam
Quae nostris fautrix provida i^ebus cris
Quaeque recepisti scandens sublimis ín
altum,
Quae divma tibi dextera dona dedit:
Haec pia distribuas nobis, et semper
habebis
f Munera, quae pueris des pretiosa
Gaudemus, quoniam speramus posse
tuis.
remilli
O clemens per te debita
nostra Parens.
Gaudemus, quoniam nostrae turpissima vitae
Crimina nunc meritis sunt abolenda tuis.
Gaudemus, quoniam nescit tua gloria finem.
Gloria virtuíi debita prima tuac.
Jam Regina tenes dextram, dulcique quiescis
Amplexu Nati collocjuioque Irucns:
Exultasque modis iniris, mcnsuraque amoris
Ista tui nullum novit baberc
modum.
Quò magis Autbori grata est lua forma supremo,
Quò magis artificem diligis ipsa tuum:
íloc te, Virgo, magis colimus, \-cneramur,
amamus.
Et per te cupimus posse placere Deo.
De miclioque altum laudamus i)cctorc Patrom,
Laetaque carminibus solvimus ora novis.
Quòd talem íinxit, talem te fecit, ut olim
Nec similis fueril, sit vè futura tibi.
Ergo prccare tuum, cliarissima Filia Pairem,

t
I
»e5S!SI«SI9«iíT!9^'?!S2í^- "•>-'

269
EM LOUVOR DA VIRGEM

Namque dabit Natae quae volet ipsa suae.


Natum
Ergo precare tiium, Mater mitissima,
Namque dabit Matri quae voiet ipsa suae.
Ergo precare tuura, Virgo pulcherrima, Sponsum,
Namque dabit Sponsae quae volet ipsa suae.
nihil ille negabit,
Posce, feres quaecumque voles,
Cum dederit veotri se manibusque tuis.
Cuncta Pater Nato, Natus dedit omma
Matn
Virgínea miseris distribuenda manu.
Effice jam septem repleri pectora donis
Nostra, quibus mentis Spiníus mtus
alit.

Tolle, precor, sursum nostras de pulvere mentes,


Ut capiant superi gaudia vera Poli.
Fac desiderio divini ardescere vultus, .

Quem requies summa est, summa videre salus.


Da Triadem nobis credendo nosse beatam,
Nascendoque unum semper amare Deum.
Ó Jubar aethereura, coelestis kicifer urbis,
Lucidior media stella corusca die.
Monstra Virgo tuum nobis formosa decorem,
Ostende ò faciem tota decora tuam.
Monstra virginei laetissima lumina vultus,
Quorum lucipoli clariús aula micat.
Lux radiet nobis ocnlorum pura tuorum,
Lumina te ut solam nostra videre juvet.
Eloquere, in nostris vox intonet auribus
ista,

Vox pia quae dulci dulcis ab ore íluit.


menti,
Insere te nostrae plácido cum pignore
Ut nequeat vultus non meminisse tui.
Ut Dominam casto venefetur amore potentem,
Diligat et Matrem debito honore piam.
Liber ut aethereas conscendat spiritus
Arces
Corpórea postquam mole solutus erit.

Tequè cluce, et tecum Domino sine fme fruamur,


Quem trinum, atque unum credimus esse Deum.
Lauta ubi divinae capiamus fercula mensae,
Inque epulis laudem vox modulata sonet:
Perpetuo et Sanctus repetamus carmine, Sanctus,
Sancíus cum Nato Spiritus, atque Pater:
Et per cuncta tuas cantemus saecula laudes,
Nobilis ò Mater, nobilis aula Dei.
270 vEnsos do padre joseph de anchieta

UlTIMLM COLLOQUini AD VlRGLXEM GLORIO?AM,

Ó mea mens, quid adhuc torpenti pigra sopore


médio pulvere lenta jaces?
Stertis, et in
Surge age, rompe moras, siiperi peiíetralia coeli,
Ut Dominam propiàs conliíearis, adi.
Funde preces, lachrymasque pias, et Matris adorans
Numina, virgineos ante recurai^e pedes.
coelum sine mo, mea Mater, abisti?
Scilicet in
Juisti in coelum me sine, Yirgo Parens?
Nec potui vidisse óculos, quibus ignea cedunt
Astra, quibus casti splendor amoris inest?
Pulchra nec audivi labiorum verba tuorum,
Gratia melle favo dulcior unde íluit?
Nec raisero licuit suavi mihi :\íatris ab ore
Excipere extremum,dum petis astra, vale?
Quam mea mens foelix audita hac você valerei!
Quam mihi vi ta foret, quam milii certa salus?
Hei mihi, cur nequij superis tam nota ministris
Inlroijsse tuae limina saneia domus?
Auderem miti prosterni lumina coram,
Amplecíique tuos,
si paterete, pedes:
Plurimaqiie imprimerem maternis oscula plantis,
Pectoris exponens intima vota mei.
Et si muta mihi cum gutture lingua taceret,
At manifesta sui mens tibi signat darei.
Audires certo, nec dedignata, misellum,
Agnosceres famuli voía precesque tui:
Aspiceresque oculis indignum lacta benignis,
Largaque, quam peteret, plus darei ista manus.
íí! Nunc ego desertus, charisque parontibus orbus,
Unde mihi vitae niite juvamcn erat:
Flebilis incedo, procul bine quia dulcis Jesus;
Flebilis incedo, tu quia dulcis abes.
Illevolans nupcr rapidus velut hinnulus, ivit
Ad juga Bethehs deliciosa suae:
Inque sua regnat cinctus virlulibus aula,
Cumque Paire imperium Rex habet alfus idem.
Tu modo me misci'uar lachryaiaruni in vallc relinquens,
Ad collcm thuris pulchra Columba venis:
Inque tui reqiiie foclicia gaudia Nati
Pcrcipis, innumoris acciínmlala bonis.
Lumina divino pacis radiosa decoro,
In médio recubaiis kiminc cinda dio.
LOUVOU DA VlllGEM 271
ICM

Qua Virgo secjuar, qiia te pulcherrima quaram?


te
Nam sine te superant gaudia nnlla mihi.
Forsitan obdormis divino aljsorta sopore,
Nec tibi cura tui, nec tibi cura mei est?
aures,
Cogit ut obtuudam multis tibi vocibus
Qui me sollicitat mistus amore dolor.
Sed til3i ne rumpam jucundi gaudia somni,
Et timor, et chari vox vetat ípsa lui.
Nemo meam clamans dilectam suscitei, inquit,
Ipsa quousqac bbens evigilare velit.
dilecta Dei, ne sim tibi forte
molestus,
Ó
Dic mihi quando voles evigilare hbens?
miquus
Sed quid adhuc dubito? quoties labor urget
..T

Pectora, te toties vis benedicta vocem.


Surge igitur citiús, quia me mea crimina
semper
Excruciant multis nocte dieque modis.
Surge, quid obdormis curarum cura mearum,
Ó arx tuta animae confugiumque meae?
Quare Virgo tiram averlis miíissima vultum,
Nec quam sim vilis, pauper, inopsque vides?
Surge Dei genitrix, faciem converte benignam,
Ut mea mens oculis obviet aegra tuis.
Sed quid ago? en andis; sed vox mea faucibus
Uaeret,

Mens stupet, algescnnt pectora, lingua sílct.

Quid poscam ignoro, posco tamen omnia Mater,


Ò Mater, mea spes, gloria, vita, salus.
Posco tuum Natum Mater, tuas omnia Natus,
Ipse Deus cordis Rex DomJnusque mei.
Spiritus hic solum desiderat ager Jesum,
Ille etenim nobis omnia solus
erit.

Sitmea lux, requies, dalcedo, gloria, virtus,


Sitque meae mentis, sicut amator, amor.
Hanc mihi, quem médio cpncludis corde, videre
Da post exilij têmpora dura mei.
Te quoque cum pulchra desidero Prole viderc
Post acta exilij têmpora dura mei.
Hei mihi, quam muitos durat mea vita per
annos!

Quam nimium longas ducit acerba moras!


erit illa dies, rnisera qua sarcina
carms.
Quando
De qua sumpta fiiit, restitualur humo?
Quando erit, ut coelum mens libera tendat in altum,
Amplexu Domiiii pcrfruitura sui"?
Quando videboHumn, cocli Regina, decorem,
NobiUs 6 animae io cupienlis amor?
272 VKllSOS DO PADRE JOSEPH DE ANCHIETA

Sed quoniam Jesus, ciijus milii vita voluntas


Me
tuus in terris Filius esse jubet:
Dum moror in lerris, óculos super aslra levabo
Invisens Dominae lumina pulchra
meae
Speque gemens dulci cupidum solabor
aiiiorem.
Et desiderio conterar usque tui.
Si potero non esse tui meraor,
inclvta í\íater,
Si te non totó pectore somper
amem.
Si possis non esse méis didcedo
medullis
Intima, laetitiae principiumque
meae:
Ilaereat arenti cíim gutture lingua
palato,
Immemor et penitus sit mea dextra sui.
Tu tibicommissum, mitissima, protege servum
Deque tua tolli ne patiare manu.
Tu clypeus fortis, murus,.sera, janua, lurris,
Óptima tu custos pectoris una mei.
Sed videam citius dulcem, mea gaudia, Jesum
'
Nec miserum lentis me, precor, ure moris.
Pande tuum tandem dulci cum pignore vultum.
Sola meam pellet visio veslra fmmm.
Si mihi, quam
cupio, viveníi cernere formam,
Fas prohibet vestram, cogor et ante mori
Protmus ut videam, moriar, jam vivere nolo
à Opto mori: vera est vita videre Deum.
\i Sed te per Nati communem obtestor
amorem,
Quo tibi non aliquid dulcius esse iwtest.
Ut jubeas posse dedit tuus omnia quando,
(tibi
Nec nequicquam est Filius ipsc Deus)
tibi
Ut jubeas sancto Domini pro nomine Jcsu
Eífuso claudi sanguine fata mibi.
Ut qui me redimens lethum crudelo subivit
Sangumis effundens ilumina larga sui;
Me quoque perpessum crudelia funora servum
Noscat, et aeterno jungat amore sibi.
fi >i'
Qui me plusquam se mitissimus Agnus amavit
Ut summo offerrct me sino labe Palri;
lUe meae novit mortis tempusque modumque:
Nec secus id íieri, quam volet ilíe, volo.
Sed quoniam quoduis liori vult illo, lacitque,
Te precor lioc, clemcns, ut veh"t il!e, volis.
Ut quae labe carens omni conce])ta luisli,
Concludi facias iioc mea fata dic.
Aut (lioc si mavis) tibi ([uo supor aofliorn
Natus
Tradidit ad dexíram regia scej)tra suam.
KM LOUVOU DA VIRGEM 273

Tunc ego, tunc foelix, tiinc omni ex parte beatas,


Tunc venient animae gaudia plena meae.
Ilaec spes ignavum pellet juconda timorem,
Quae manat Nati de bonitate tiii.
Ilaec spes reQciet mihi languida pectora dulcis,
Quae manat Matris de pieíate meae.
Quae liceí aegra cadat, com me, et mea turpia facta^
"
Cum tamen aspicio te, subit alta mihi.
ííaec mihi, Virgo, Parens, in pectorae fixa manebií,
Inque meo vivet non peritura sinu:
Donec, quam spero, veniat praesentia Jesu,
Aspectusque tuus, quo sine fme fruar.
Foelices, quos sancta tui praesentia miUus
Jam fouet, aeternos laetificatque dies.
Qui cura vacui, dubioque timore soluti
Jam tuti Dominam, quam coliiere, rident.

Noster adhuc vario jactatur turbine lembus.


Et vix adversas remige sulcat aquas.
Teque voluptatis pota torrente perennis,
Haec sitit in médio mens agitata sale.
Foelix illa dies, qua pleno è Ilumine totum,
Et Nati, et Matris me satiabit, Amen.

PeTITíONES PI/E AD VlElGINEM MaRIAJI PER ORDINEM


ALPHABETl.

Ara Dei vivens, divini foederiS Arca,


Conde tuo mJserum me benedicta sinu.
Basis adorandum quae Mcis áurea templum,
Pectora sustenta robore nostra tuo.
Cerva, alitur cujus gravissinius ubere foetus,
Pasce tuo mentem lacte benigna meam.
Dume ílagrans, paradise Dei, dulcisqae voluptas,
Sis calor, et requies, dilitiaeque mihi.
Effigies referens divinum pulchra decorem,
In me perpetuo vivat imago Dei.
Flamma corusca Poli splendori Solis obumbranSj
Pelle mei tenebras cordis, et omne Chãos.
Gutta gravis fluvio, dulçor fluit unde perennis>
Mentem arere meam ne patiare siti.
Hydria, qua pinguis ílumen jnge manat olivae,
Unge animi plagas pinguis oliva mei.
Janua clausa Poli, soU via pervia Regi,
Sydereas pandat jam tua dextra fores=
VOL. Jl 18
274 VERSOS DO PADRE JOSEPH DE ANCHIETA

Lana verecundo cocei bis tincta colore,


Tinge tuo, et Jesu pectus amore mihi.
Mensa referta cibo, qui coelnm nutri t, humumque,
Me tuus exsatiet, me creet iste cibiis.
Nata tuum pariens intacto ventre Parentera,
Sit mihi cum par tu vi ta pudica tuo.
Ora maris, statio jactatis fida carinis,
Excipe me, tumidi quem ferit unda freti.
Purpura, Rex sum^psit de qua sil3i íegmina summus,
Exue me culpa, justitiaque tege.
Quadriga, et currus, ferclumque ultoris Jesu,
Da mihi sublimem Yirgo suprema manum.
Regina astrigeros orbes, terramque gubernans,
Facta tua sit vitae regula vita meae.
Sylva virore jugi divini ubérrima íructus,
Me tua foecundis protegat umbra comis.
Turris in aetberea sublimior orbe Sionis,

m Sis arx à saevis bostibus alta mihi.


Vua merum fundehs omnis non pressa saporis.
Me rape, me absorbe, tuque tuusque liquor.
Christigena exhalans divinos área odores,
Nostra tui recreet víscera cordis odor.
Zona pudicitiae, castique ligamen amoris.
Perpetuo renes cinge pudore meos.
!|
Dedicatio operis

En tibi quae vovi, Mater sanclissima, quondam


Carmina, cum saevo cingerer hoste lalus.
Dum mea Tamuyas praescntia mitigat hostes.
Tractoque tranquillum pacis incrmis opus.
Ilic tua materno me gratia fovit amorc.
Te corpus tutum mensque regente 1'uit.
Saepius optavit Domino inspirante dolores.
Duraque cum saevo funere vincla pali.
At sunt passa tamen meritam mea vota repulsam,
Scilicet Ileròas gloria tanta dccet.
EM LOUVOR DA VIRGEM 275

HORyE IjlMACULATISSffiLE CONCEPTIONIS VlRGINlS MaRIjÉ

Ad Matutinum

temporis longi miseratus orbis


Condítor fletum, senio gravatam
Angelum summo sólio Polorum
Mittií ad Annam.
Illesupremae paries senecíae
Filiam dicit superi Parentis,
Quae suo claudet genitum beato
Viscere Verbum.
Haec creaturas superabit omnes,
Omnibus foelix memoranda seclis,

Nuntio gaiidet Joachim beatus


Certus eodem.
Sit Patri, Nato decus, et beato
Flamini, et sanctae meritae Puellae,
Quae carens omni macula creatur
Múnus honoris.

Ad Primajví

Terminat noctis tenebras Maria,


Gaudium mundi jubar exoritur
Praevium Solis, decoratque coelum
Mane rebescens.
Jam maris pulchra mediante Stella
Gaudeat tellus, maré, noxijque
Criminum, Jesu Genitrix benigna
Nascitur orbi.
Jubilant eives, superi, stupescit
Ordo naturae sterilem Parentem;
Virginem nasci sine labe saevus
Ingemit Orcus.
Sit Patri, Nato decus, et beato
Flamini, et mira specie decorae
Virgini, cujus radiatur ortu
Machina laudis.
2'g ^•ersos do padre josepii de anchieta

Ad Tertiam

Missus è coelo Gabriel Mariae


Nunliat Verbum fore vii-ginali
Ventre clausuram Patris, undc manet
Gratia mundo.
Hic Ave cantat, reparatur Eva,
Gratiae Virgo fideique plena
Credit, et magni sobolem Parentis
Concipit alvo.
Spiritus sanctus refovens obumbrat
Quae Dei sese famulam profalur,
ftl
Cumque sacrata gravidam coaptat
Virgine Matrem.
Sit Patri, Nato decus, et beato
Flamini, et laudes meritae Mariae,
Quae Dei Natum meruit sub arca
Claudere ventris.

Ad Sextam.
iii
Surgit in montes propcrans Judae
Virgo praeconem Domini gerentem
Visitans matrem, plácida propinquam
Você salutans.
Audit ut vocem genitrix Mariae,
Ventris exultat puer in cubili
'%
Virginis clausum thalamo supremum
Numen adorans.
Virginem mater resonat beatam,
Sed Creatori referens Maria
Gloram, digno modulatur ore
Jubila laudis.
Sit Patri,Nato decus, et beato
Flamini, et dignae tibi Virgo laudes,
Cujus ad vocês bilaratur infons
Viscere clausus.

Ad Nonam.

Sol rcfulgescit, tenebrae fugantur,


^',ix i'ciuii\ Tesiif, ra(li'Uquc tcriis,
i.uí c!TP'"tuúi caio (Im Paronie
Virgine Verbum.
EM LOUVOR DA VIRGlm 277

Gloriam cantaní acies Polorum


Luminum Patri, placidamque terrae
Nuntiant pacem, Puermnque natum
Urbe Davidis.
Pastor accurrens videt involutum
Parvulum pannis, paleis, jacentem,
Quem sedet juxta, niveoque lactat
Ubere Mater.
Sit Patri, Nato deciis, et beato _

Fiamini, iatactae gravido pudori,


Quae Patris Verbum peperit superni
Gloria Matris.

Ad Vespeuas.

Ó tuum quanti gladius doloris


Cor penetravit Genitrix salutis,
Dimi vides dalcem perimi cruento
Funere Natamí
Nempe cum serves médio repostum
Corde, quos sentit, toleras dolores,

Quae tuum Natum, tibi perforarunt


Vulnera pectus.
Fac simul tecum crucier dolore
Eiulans plagas Domini cruentas,
Vepribus, ílagris, cruce,morte, dirá,
Vulnerer hasta.
Laus Patri, Nato, pariterque sancto
Flamini, et Matri decus ingementi,
Cuí dolor Nati penetravit alto
Corda dolore.

Ad COMPLETORroM

Toliit ad coelos animam Redemptor


ín suis ulnis Geoitricis almae:
Candidum Fratres niveo recondunt
Mármore corpus.
Guria Jesus comitante Olympi
Portat è coelis animam, suoque
Corpori jungi t, meritumque Matri
Pendit honorem.
278 VEIISOS DO PADr.E JOSEPII DE ANCHIETA

Manna de saneio tumulo scaíurit,


Matrem super Angelorum
Trinitas
Ordines tollit, Dominamciiie toti
Praeficit orbi.
Sit Patri, Nato, pariterque sane to
Flamini virlus; Dominaequc mundi,
Quae Deum juxta reside t perennis
Munera laudis.

Recommendatío

lias preces fundo tibi, Virgo Mater,


Quae cares naevo speciosa toía,
Ut mihi in casto tribuas pudicam
Corpore mentem.
Amen.

I.AUS DEO.
Sl'SÍ63aí2S.'aÈaS3KBEli_JiiJ«-_iiim.MiJ.

SUMMARIO CHRONOLOGICO
DOS

LIVROS E IV
SUCCESSOS NOTÁVEIS QUE SE REFEREM NOS
III

DESTA CHRONICA

AN.NO DE i563

n este anno menos copiosa, por occasião de


huma grande
Foi a collieita
pestilência, num. 1. ^ i o
notável, num. l.
,

Qualidade da doença, força do mal, exemplo


Chegão de Portugal quatro obreiros, num. 3. v;^^„fo
Tamoyos em S. Vicente,
Vão por diante com maior força os assaltos dos
num. 4. . ., . .

penitencia, ibid.
Prega o Padre Nóbrega por púlpitos e praças
com eires
Tem sentimento de ir meter-se entre os bárbaros, pêra acabar
pazes, ou pêra acabar entre elles a vida, num. S.

Parte, levando por companheiro o Irmão


Anchieta, ibid.
Descripção do lagar fronteiro dos Tamoyos, num.
7.
„,„,^»^
sacnficao com espanto
São hospedados os Padres; levantão Igreja e
dos barliaros, num. 8.
Ensinão a doutrina christãa, são bem ouvidos, ibid. ^
de guerra, mim. J.
Descobrem os índios a Joseph suas traças e forças
Janeu^o Partem diversos
Foi mal tomado o tracto das pazes no Rio de
Principaes a matar os Padres, e estorval-os,
num.iO.
reposta dos I a-
Entrão em conselho das pazes proposta de Aimbire,
;

num. H.
dres,
Segundo perigo de vida, que tiverão os Padres, num. \ò.
li

?80 SUMMARIO CllRO.NOLOíilCO

Acaba em bem o inlento de Parnnapucíi num Ji


Chega de fora Pindobucu, e pratica qiíe fez
ao liiho, nnm lo
Iim ditoso de Pindobuçu, ibid.
Segundo conselho, razões dos Padres e dos
anciãos, num IG
^''' ^^ ^'^''"^''
' ^'''''' ^'"'^^^ '''^'' °^ J^^''"
Tarol num.'"!?;''^''"''
Traia em S, Vicente do ultimo fim das pazes, num 18
Perigo e segurança, Joseph só e acompanhado,
num l'j
Toma Joseph por advogada a Virgem Nossa Senhora,
c compõe a vida
da mesma Senhoja em verso, num. 21
e 22.
Maravilhas, revelações, e profecias, num 92
a 95
Bautiza huma criança a ponto de morrer,
e dá-lhe'com a grara a vida—
Segundo caso de outro, que bautizou depois de
enterrado,^num ^g e ^7
Enredo diabólico pêra estorvar as pazes,
levantamento dos 'do lUÔ,'
ti Lllll* Ai rJ ,

Chegão índios de S. Vicente, descobre-se o fundamento do enredo ac-


ceitao-se as pazes, num. 31.
Parte Joseph em huma
canoa de casca, num 33
Ultimo embuste contra as pazes, il)i(l.
Padece Joseph huma fera tormenta, num. 3i
Dá Joseph cuniprimento á palavra que dera à Senhora de
perfeicoar -lu
sua
vida, num. 35. ^ .

No Espirito santo trabalhão os Padres em aquietar as dissençõcs


\ entre
i^
Portugueses e índios, num. 37.

AXXO DE 15G4
?•.!'
Fome geral e extraordinária, suas consequências, num. 38 a iO
Compras dos índios, duvidas que houve, e resolução da flieza da Con-

m sciência, num. 41.


Dão-se por livres os índios comprados, fora da resf)lurão
referida ' c o '
maisque sobre isto houve, num. 41 a 44.
Fundação do Collegío da Baliia por El-Rei D. Sebastião, num
45
Passa a melhor vida o Padre Diogo Laines, Geral da
Companhia, num 46
Ediíica-se Templo e Casa pêra os Padres na villa
dos Ilheos, num 47
Descripçao da capitania e villa dos Ilheos, num. 48.
Rio das Contas, num. 4Í).
Ilios Taygpe, de S. Jorge, e outros, num.
50 a 52.
O senhor da capitania Jorge de Figueiredo Corrêa, manda em seu Im^ar
""
Francisco Romeiro, num. 53.
Fortilica-se, e assenta a villa dos Ilheos, num.
54.
Segmido senhor da cai)ilaiiia Lucas Geraldes, guerra dos Aimorés,
mim. 55
iJespede 3!em de Sá huma fi-oía ao Kiu de Janeiro,
num. 5G.
Ap)'esta e desiiedc a fmia. uiiiii. 57.
281
DOS SUCCESSOS NOTÁVEIS

e manda chamar o Padre Nobre-


Chega o Capitão mór â barra do Rio,

salvos os nossos d'entre os


Ta-
SuSêssrmamilhoso com que forão

moyos, num. 59. _ .

os Padres a terra, e fazem acção


de graças, ibid.
Sahem
de Sá pêra S. Vicente, num. 60.
Parte o Capitão mór Esíacio
DiffiGuldades da empreza, ibid.
sobre a empreza, num. 61.
Sentimento e pratica do Padre Nóbrega
mór seguir as palavras de Nóbrega, num. 62.
Determina o Capitão
líaçarcom SNóbrega convence á empreza os ammos dos soldados,

Assenta pazes com alguns Principaes


do sertão, e ajudão estes a empreza,
ibid. -, nr
num. bí.
Ajunta Nóbrega soccorros consideráveis,

ANNO DE lo65

successo da Armada, num 65.


Âcha-se a Bahia em grande cuidado do
de Latim, outra de Theologia
Acrescentão-se na Bahia duas ciasses, huma

Francisco de
HeTeilòTm R^ôma por Geral da Companhia o Santo Padre

He^eKpadíe^ígnacio d' Azevedo por Visitador geral doesta Provinda,

villa do Espirito santo.


Epitome de
Transito do Padre Diogo .lacome na
suas acções, num. 68 a 71.
a barra do Rio, nu™ '^•
Parte a Armada de Estacio de Sá, e chega
o animo dos índios, e aquieta-os
com suas promessas,
Conhece Joseph

em terra, num. 74.


Eníra a Armada no Rio, começão a fortificar-se

os Religiosos pratica aos soldados


Europeos e índios, num. /&.
Fazem
Faz pratica o Capitão mór, num. 76.
„„^ t7
dos nossos, num. / /.
Primeiro assalto do inimigo, e primeira victona
num. 78 a 80.
Secunda victoria, c casos maravilhosos,
notável acommetimento dos inimigos, e
victona que tivemos Q ei-
De hum
frechas dos
Como foi guardado o Padre Gonçalo de Oliveira entre muitas
bárbaros, num. 82.
Sahe o Capitão mór, e faz grande destroço, num.
8-3.

de sessenta e quatro canoas inimigos, num. 84.


Outra victoria
Ultima victoria d"estc anno, num. 85. qa •

sacras, num. ao.


Parte Joseph pêra a Balda, a ordenar-se de ordens
Visita a casa e aldeãs do Espirito santo, num. 87.

'.ÍHMMP
SL-.MMAmo CíIfiOXOLOflIO

ANNO DE 1300

^"'^'' ^''"' ''"^


' ''"^ ''''''^"^' ''''-'' <^« hem das aldeãs,
^^'mTsl
Chega o Irmão Josepli á Bahia, e
ordena-se, ibid
Desejos ^com que na Bahia se
esperava o Padi^e Ignacio de
Azevedo,
Sua viagem e fruito que fez no
Cabo A-erde, ibid

AsSo visi/f fr
Assemo da vjsita, '
^f '^ '^''' ''^^^mos, num. 90.
e forma da patente, num 91
^stado em que achou a Provincia,
num. 9'-^
Parte a visitar a Província
em companhia do Governador e do Bi<íno p
leva comsigo o Provincial,
Joseph de Anchieta e outros três
Ss!
Em S Vicente gozão da quietação das
pazes, num. 9i
Descobrem os nossos índios a cilada de seus contrario;
num 9o
li Successo^maravilhoso, obtido por

Primeiro encontro de
intercessão do niy^rSctstião,
huma canoa de Francisco Velho num 97
'' ^'^''^ '''''' '' ^'^^''' mór: livía Deo' os nos-
lo^^Mr"'"'
Origem da festa das canoas, na cidade do Rio de Janeiro,
num. 98.

AXXO DE loG7

^' ''"^ '"' '''''''^' ''' '^ í^'o de Janeiro,


^^mJm."^' ''S'''''^'

^'^''? ^' ^^
^ fortificação de Uracumiri, pDe-na
"^Tnf?*"
com grande estrago, num. > í ^ na pui
por terra
icna
101.
li

^"^^riástmi^^^' ' ""'-'' ''' ''''' ^- "''-° ^-


''^'' "^^ ^"'''^''' ' '°'"'-'''' ' ''^'^'''' nasensea-
^'dasl num'Tòr'''
Pass^a^o Capitão mór Estado de Sá a melhor vida; suas virtudes,
num.
Descripção do Rio de Janeiro,
num lOG
Serrania dos Órgãos, num. 107.
Bahia do Rio de Janeiro, num.
108.
^''"^"""'
^•"ímm° m'
Tratão os Padres Visitador c
'"'" -' "'''' ^•"^"P-i"''^!'''^^ P^^ni S. Vicente,

Provincia! de sua vigila, ibid


Revelações do Padre Joscpli, num.
110.
MNrim

DOS SUCCESSOS NOTÁVEIS 283

Segunda revelação de Imma índia, que deo a vida pela castidade, num.
111.
Outro caso semelliante, num. 112.
Parte o Padre Ignacio de Azevedo de S. Yjcente,
num. lU.
perigo de huma balea,
Livra Deos a Ignacio e seus companheiros do

Chegão ao Rio, e aceiíão o sitio pêra nosso Collegio no meio da cidade,


num. 115.
Faz-se iustiça do herege João Boles, num. 116. _
Converte o Padre Joseph este herege, e incorre em suspensão do seu
officio sacerdotal, ibid. _ t.- ^ t
Parte o Padre Visitador pêra a Bahia, deixando
no Rio de Janeiro os
Padres Nóbrega e Joseph, num. 117.
caminho as capitanias do Espirito santo, e outras, num.
Hb.
Visita de
he
á Bahia, erecebido com alegria de todos, num. 119.
Chega
Promove a boa creação da mocidade, num. 121.
formatura que
Fazem dous Padres e hum Irmão a primeira profissão de
vio o Brasil, num. 122. •*, n ,

Celebra o Padre Ignacio Congregação Provincial, em


que he eleito Pro-
Província èm Roma; parte pêra ahi a 14 de Agosto,
curador geral da

residência de Pernambu-
Vai o Provincial Luis da Gram a entabolar a
co, num. 123. ,.„ , .

edifício da nova
Continua o Governador Salvador Corrêa de Sá com o
Collegio, num.
cidade no Rio de Janeiro, e o Padre Nóbrega com o do
124.
ate num.
Morte do Padre António Rodrigues, epitome da sua vida, ibid.
128.
Estado do Padre Nóbrega, num. 129.
Do valeroso índio Martim Afíonso de Sousa, num. 130.
Vem contra ellô grande força de inimigos Tamoyos e Francezes, num.
131. , ^ . . .

Prepara-se pêra o conflicto, faz pratica aos seus; matança dos


inimigos,

num. 132 a 134. _,,... , ^


de Cabo-
.

Chega o soccorro de S. Vicente, e parte a tomar falia do mimigo


frio, num. 135. ^ , , -u-i •

Parte o Governador a acommeter huma náo artilhada no


(.abo-lrio, iDia.
136.
Esforço do Capitão da náo, e successo da sua morte, nrnn.
Entrão os nossos a náo, rendem-na, e fazem-se á vela, ibid.
28i Slmmario Ciip.ONOLOr.io

LIVRO QUARTO

AXNO DE Í5G9

Tudo n"estc anno na Bahia são saudades e espcranras do Padre Ignacio,


num. 1.
Chega ignacio a Portugal, causa grande abalo a voz das cousas do Bra-
sil, e da sua santidade, num. 2.

Carta do Arcebispo D. Frei Baríliolomcu dos Jíarívres pêra o Papa Pio


V, num. 3.
Foi grato ao Rei, parte pêra Roma, e do que alli obra, num. 4 e Í5.
Chega a Portugal, e com elle muitos corapanliciros, num. G.
Alista outros conipanheiros, e retira-se com elles pêra Vai de
Rosal,
num. 7.
Dispõe alli huma como oiTicina do espirito, num. 8.
Força do exemplo, moríilicações, exercícios e devações, num. 9 a 10.

ANxXO DK ií)70

Passa o Padre Ignacio com os seus de Vai de Rosal pcra a Casa de S.


Roque; edificação que derão na cidade, num. 17.
Embarcão-se, e parte a frota, num. 18.
Formão os nossos lium collegiò na não San-Tiago, num. 19.
Seus exercidos a bordo, num. 20 c 21.
Chegão á ilha da Madeira, onde são agasalhados, num. 22.
Alcança licença o Mestre da náo San-Tiago pêra ir á ilha da Palma,
num. 23.
Partem da ilha da Madeira, num. 25.
Apparece Jacques Soria com cinco náos, sabe contra elle o Governador
Vasconcellos, e não aceita o conílicto, ibid.
Todo o tratto dos nossos são desejos do maríyrio, num. 2G.
Desembarcão junto a Terça Corte, num. 27.
Ahi gastão cinco dias; resolve-se Ignacio a partir por mar, num. 28.
Partem do porto de Terça Corte, num. 29.
! Avislão cmco náos, que esquadra era, e que intentos traz, ibid. até num. 3 1
Preparações pêra o combate : pratica do Padre Ignacio a seus companhei-
ros, num. 32.
Anima o Padre Ignacio os soldados, num. 33.
Principio da peleja e successos d"ella, num. 31.
Esforço de Ignacio, c protestação da sua fé, num. 3o.
He ferido pelos iicreges, e calic desmaiado, ibid.
Acodem os companheiros, e despedem-se do seu pastor, (pie passa a me-
lhor vida, num. 30.
Successo do Irmão !5euto de Castro, num. 37.

%
fgggflg/tff^gpmmjmmm^^mjLM.im - Jjj "^*»^.

285
DOS SUCCESSOS NOTÁVEIS

E do irmão Diogo Pires de Nicea, fi^-


Successo de outros Irmãos, num. 38,
39 e 4U.
Rendc-se a náo Saii-Tiago, num. 41. _

ibid.
Exemplo de hum soldado esforçado,
Sacme da náo pelos hereges, num. 42. .

Calafete (la náo. e o


presença de Jacques Soria o Mestre e
Sã'°ÍeScs


í.

SeSaStSínSos peia S
SsTnatàores do
lêSdos os
soto-Capitão. ibid
o castello de_prôa, despojados
aiírontas, num. 4y.
de seus vest-

dos e carregados de
os Religiosos, num. 47.
Dá seiltença Jacques Soria contra
abominável sentença, num. 48.
Execução da
Como se houverão no mar, num. 49.
num. oO.
Hp escolhido o Irmão Sanches Cozmhen'0, do
encheo o numero de quarenta, suppnndo a falta Ir-
O Irmão S João
mão Sanches, ibid.
Jesu, num. 51.
Revelação da Madre S. Thereza de
PnpTTia do triumpho dos Martyres,
num. 52. .
tratarão as cousas sagradas,
Sato sícSlego com que os hereges
num. 53. „v
sua terra, num. b&.
Parte a esquadra inimiga pêra a
Bayona e chega a Lisboa ibid
Parte o Irmão Sanches pêra
Ignacio de Azevedo, num. 56 a 64.
Resumo da vida do Padre
Soria, e de alguns de seus companheiros,
?'m Isgraçàdo de Jacques'
num. 65. . p^.
varão Ignacio, num. bb.
Authores que escreverão do santo _

mais companheiros, que morrerão pela fe de Christo, num.


Epilogo dos

antes de declarados pelo Sum-


Jà^o^i^uncfo lhes dá o titulo de Martyres,
~
mo Pontifico, num. 110.
Vasconcellos, num. 112.
Successo do Governador D. Luis de
Parte a frota pêra o Cabo Verde,
onde contrahe doenças, num. 113.
Avistão terra do Drasil, e arribão a
Nova Hespanha, num. 114.
o Padre Nóbrega pêra morrer, num. 118.
Dispõe-se
pela cidade pêra a outra vida ibid.
Sahe a despedir-se
Como se houve no ultimo cha de vida, num. 11b.
da Nóbrega, num. 117
Rerpilação da vida e virtudes do Padre Manoel
a 142.
143.
Casos maravilhosos que lhe acontecerão, num.

Joseph d' Anchieta em louvor da Santíssima Vir.gem


PoSatino do^^Padre
I
^

u
APPENDICE

CHRONICA DA COMPANHIA

DE

JESU
DO ESTADO DO BRASIL

NESTA SEGUNDA EDIÇÃO


IIP

Como docnmenlos comprobativos, •preciosas einleressanlcs por mais

de hum respeito, pareceu conveniente enriquecer a presente edição


com as seguintes cartas cscriptas do Brasil pelo Padre Manoel da
Nóbrega, zeloso e incansável obreiro da vinha do Senhor, e cujos
trabalhos apostólicos figuram tão notavelmente nesta Chronica.
Para
aqui as trasladamos, transcrevendo -as de diversos volumes da Re-
vista DO Institito HiSTonico e Geogsíapiiico do Btiasil, otide
fo-
ram publicadas pela primeira vez, copiadas dos respectivos ori-ginaes,

que se conservam nos Archivos de Lisboa e Rio de Janeiro.

MM
CARTA I

\0 P. M. SlMlO RODRIGUES, PROViNCiAL DA COMPANHIA


DE JESUS EM PORTUGAL

A graça e amor de Nosso Senhor Jesu Cluisto seja sempre em nosso

favor e ajuda. — Amen.


Sômonte darei conta a V. R, de nossa chegada a esta terra, e dff
que n'ella fizemos e esperamos fazer em o Senhor Nosso, deixando os
fervores de nossa prospera viagem aos Irmãos, que mais em particular a
notaram.
Chegámos a esta Bahia a29 dias do mez de Março de 1449. Andámos
na viagem oito semanas. Achámos a terra de paz, e quarenta ou cinco-
enta moradores na povoação que antes era. Receberam-nos com grande
alegria. E achámos uma mao.eira de Igreja junto da qual logo nos apo-

sentámos os Padres e Irmãos em umas casas a par d'ella, que não foi
pouca consolação para nós para dizermos missas c confessarmos. E n"isto
nos occupamos agora.
Confessa-se toda a gente da armada, digo a que vinha nos outros
navios. Porque os nossos doterminámos de os confessar na náo. O primeiro

domingo que dissemos missa foi a quarta dominga da quadragésima.


Disse eu missa cedo, e todos os Padres e Irmãos confirmámos os votos
que tínhamos feito, e outros de novo com muita devoção e conheci-
mento de Nosso Senhor, segundo pelo exterior c licito conhecer. Eu
uréeo ao Governador, e á sua gente na nova cidade que se começa, e o
YOL. U **^
290 APPENDICE

Padre Navarro á gente da terra. Espero cm Nosso Senhor fazei-se Iruilf»,


posto que a gente da terra vive toda em peccado E não ha ne-
moi-tal.
nhum que deixe de ter muitas negras, das quaes estão cheios de fillios
e lie grande mal. Nenhum d'elles se vem confessar, ainda queira Nosso
Senlior que o façam depois. O Irmão Vicente, rijo ensina a doutriíia aos
meninos cada dia, e também tem esciíola de ler e escrever; parcce-me
bom modo este para trazer os índios d"esta terra, os quaes tem grandes
desejos de aprender, e perguntados se querem, mostram grandes dese.
jos.
D'esta maneira ir-lhes-bei ensinando as orações e donlrinando-os na fc
até serem hábeis para o bautismo. Todos estes que tratam comnosco,
dizem que querem ser como nós, senão que não tem com que se cu-
bram como nós. E este só inconveniente tem. Se ouvem tanger á missa

jáacodem, e quanto nos voem lazer, tudo fazem, asscntam-se de giolhos,


batem nos peitos, levantam as mãos ao Ceo. E já um dos principaes
d'elles aprende a ler, e tema lição cada dia com grande cuidado, e em
doQS dias soube o a, ensinámos a benzer, tomando tudo
b, c todo, e o
com grandes desejos. Diz que quer ser Christão, e não comer carne hu-
mana, nem ter mais de uma mullicr, e outras cousas, somente que ha-
de ir á guena, e os que captivar, vendel-os c servir-se delles. Porque
estes d'esta terra sempre tem guerra com outros, e assim andam todos
em discórdia, comem-se uns aos outros, digo os contrários. lie gente
'íí\ I
que nenhum conhecimento tem de Deos. Sem idolos, fazem tudo quanto
I)
i
lhes dizem. Trabalhamos de saber a lingua delles, e nisto o Padre Na-
varro nos leva a vantagem a todos. Temos determinado ir viver com
as
aldeãs como estivermos mais assentados
e seguros, o aprender com
elles a lingua, e ir-lhes doutrinando pouco a pouco. Trabaliiei por lirar
em sua lingua as orações e algumas praticas de Nosso Senhor, e não
posso achar lingua que m"o saiba dizer, porque são elles tão bi-utos que
nem vocábulos tem. Espero de os tirar o mellior (jue puder com um
homem que n'esta terra se creou de moço, o qual agora auda muito oc-
cupado em o que o Governador lhe manda, e não está aqui. Esle lio-
mem com um seu genro he o que mais confirma as pazes com esta g-eii-
te, por serem elles seus amigos antigos. Também achámos um Pi-inci-

pal d"clles já Cin-istão bauti/.ado, o (jual mo disseram, (jue muilas vozes


o pedira; e i)or isso está mal com lodos seus parentes. Um dia, aclian-
do-me eu perto d"elle, deu mna boíelada grande a um dos seus pur
ímm

CARTAS BO PABUE NOBUEGA 2M

de nós, oa outra Cousa semelhante.


Anda muito fervente
nie di//-r m:)l
um barrete vermelho que nos ficou do
e cirande nosso amigo. Demos-lhe
terra com
mar e Immas calcas.Ti'az-nos peixe e outras cousas da
noticia de nossa fé, ensinamos-lh'a. Madru-
<Trande amor. Não tem ainda
depois vai aos moços a ajudal-os as
ga muito cedo a tomar lição, c
seus irmãos e mulheres, e quantos
obras Este diz, que fará Christãos a
que Isa de Ser um grande meio e exem-
puder Espero em o Senhor este

plo para todos os outros, os


quaes lhe vão já tendo grande mveja por

verem os mimos e favores que lhe fazemos.


Um dia comeu comnosco
ou onze, ou mais, dos seus, os quaes se espantaram
á meza perante dez
que lhe dávamos. Pare cc-me que não podemos deixar declara
do favor
roupa que trouxemos a estes que
querem ser Ghrisíãos, repartuido-lh'a
com elles, ao menos por não escandahsar aos
até ficarmos todos iguaes
de Coimbra, se souberem que por falta de algumas ciroulas
meus Irmãos
conhecer a seu Creador e Senbor, e
deixa uma alma de ser christãa, e
mi ia tanto posilus igne chantatis non cremor.
dar-lhe gloria. Ego pro
communicar com
Senhor quer ser conhecido d'esías gentes, e
0^
Certo
sicut aliquem te au^
elles os thesouros dos merecimentos da sua paixão
compelle multas intrare naves et venire
dim propJietantem. E por tanto mi per
Bsmimis inneam suam. Lá não são necessárias le-
ad hanc qunm plantai
Christãos nossos, porém, virtude e zelo da
tras mais que para entre os
necessário. O Padre Leonardo Nunes
honra de Nosso Senhor he cá mui
Seguro, a confessar aqueUa gente que tem no-
mando aos ílheos e Porto
porque me disseram de lá muitas misérias, e assim a
me de Christãos,
p.kle fazer. EUe escreverá a Vossa Reve-
saber o fruito que na terra se
rendíssima de cá largo. Leva por companheiro a Diogo Jacome, para en-
meninos, o que elle sabe bem fazer. Eu o fiz ja en-
sinar a doutrina aos
he um bom filho. Nós todos três confessaremos esta gen-
saiar na náo,

te e depois espero que irá


um de nós a uma povoação grande, das
se chama Pernambuco, e assim
maiores e melhores d'esta terra, que
panes apresentaremos e convidaremos com o Cruxificado.
em muitas
vejo a gente
Esta me agora a maior empreza de todas, segundo
parece
Christianismo lhes dá.
dócil Somente tomo o máo exemplo que o nosso
que ha nove e dez annos que se não confessam. E pa-
porque ha homens
mulheres. Dos Sacerdotes
rece-me cpe pí3e a felicidade em ter muitas
Vossa Reverenchssima de lem-
ouço cousas feas. Parece-me que devia
porque que mais movera o te-
brar a Sua Alteza um Vigário Geral, sei
292 APPKiNDICE

mor da justiça qae o amor do Senhor. E não


ha oleos para un-ri, „,m
para bautizar, faça-os Vossa Reverendíssima vir
no primeiro na\io-'e pi-
rece-me que os havia de trazer um Padre dos
nossos. Também me pa-
rece que Mestre João aproveitaria cá muito,
porque a sua lingua he se-
melhante a esta, e mais aproveitar-nos-hemos cá
da sua Theolooia \ terra
cáachamol-a boa e sãa. Todos estamos de saúde;
Deos seja louvado mais
sãos do que partimos. As mais novas da terra, e da nossa Cidade os Ir-
mãos escreverão largo, e eu também pelas náos
quando partirem Crie
Vossa Reverendíssima muitos íilhos para
cá que todos são necessários
Eu um bem acho n'esta terra, eque não ajudará
pouco a permanecerem
depois na fe, que he será terra grossa. E todos tem bem
o que hão mi-
ter, e a necessidade lhes não fará prejuízo
algum. Estão espantados de
ver a magestade com que entrámos e
estamos, e temem-nos muito o
que também ajuda. Muito ha que dizer doesta
terra; mas deixo-o ao co-
mento dos Charissimos Irmãos. O Governador he
escolhido de Deos para
lâto, faz tudo com muito tento e siso.
Nosso Senhor o conservará para
reger este seu povo de Israel.— r« antem per ora
pro omnibus et presentim
pro fihu quos enutristi.~^LmcQ-ms a
todos a benção de Christo Je^u Dul-
císsimo, D'esta Bahia, 1549.

Manoel da Noduega.


(Revista do Instituto, tom. v, pag. 3^8.)
CARTA H

AO PADRE MESTRE SIMÃO RODRIGUES

A graça e amor de Nosso Senhor Jesu Christo seja sempre


em nos^

so favor — Amen.
Pela primeira via escrevi a V. R. e aos Irmãos largo, e
agora tor-

narei a repetir algumas cousas, ao menos em somma,


porque o por-

tador d'esta, como testemunha de vista, me escusará de


me alargar
muito, e algumas cousas mais se poderão ver pela carta que escre-

vo ao Doutor Navarro. N'esta terra ha um grande peccado., que he te-

homens quasi todos suas negras por mancebas, e outras livres,


rem os
que
que pedem aos negros por mulheres, segundo o costume da terra,
muitas mulheres. E estas deixam-as quando lhes apraz, o
he terem
quer fundar.
que he grande escândalo para a nova Igreja que o Senhor
Todos se me escusam que não tem mulheres com que casem. E conhe-
ço eu que casariam se achassem com quem; em tanto que uma mulher,
ama de um homem casado, que veio n"esta armada, pelejavam sobre

ella a quem a haveria por mulher. E uma escrava do


Governador lhe pe-
diam por mulher, e diziam que lh'a queriam forrar. Parece-me cousa
mui conveniente mandar Sua Alteza algumas mulheres que W tem pouco re-
médio de casamento a estas partes, ainda que fossem erradas, porque
casarão todas mui bem, com tanto que não sejam taes o que de todo
te-

nham perdido a vergonha a Deos, e ao mundo. E digo que todas casarão


mui bem, por que he terra muito grossa e larga, e uma planta que se
294 APfENDICr.

faz uma vez dura dez annos aquolhi novidade, por que assim
como vão
apanhando as raízes plantam logo os ramos, e logo arrebenta.ra.
De ma-
neira que logo as mulheres teriam remédio de vida,
e esles homens re-
mediariam suas almas, e facilmente se povoaria a terra. E
estes aman-
cebados tenho amoestado por vezes, assi em pregações em geral, co-
mo em particular. E uns casam com algumas mulheres se se acham,
outros com as mesmas negras, e outros pedem tempo para venderem
as negras, ou se casarem. De maneira que todos, gloria ao Senhor, se
põem em algum bom meio: somente um que veio n'esía armada, o qual
como chegou logo tomou uma índia gentia, pedindo-a a seu pai',
fazen-
tl^ do-a christãa, porque este he o costume dosPortuguezes
d'esta terra, e cui-
dão n'isto —
ohsequium se prestcire Deo,~ porque dizem não ser
pec-
cado tão grande, não olhando a grande irreverência
(lue se faz ao sa-
cr^inento do bautismo. E este amancebado, não dando
por muitas amoes-
tações que lhe tinha feito, se poz a permanecer com ella, o qual
eu amoes-
tel no púlpito que dentro d"aquélia semana a deitasse fora,
sob pena de
lhe prohibir o ingresso da Igreja; o que fiz por ser peccado mui notó-
rio, e escandaloso, e elle pessoa de quem se esperava outra cousa. E
muitos tomavão occasião de tomarem outras. O que
tudo Nosso Senhor
remediou com isto que lhe fiz. Porque logo a deitou
de casa, e os ou-
tros que o tinham imitado no mal, o imitai^am
também n'isto, que bota-
ram também as suas, antes que mais se soubesse. E agora
ficou grande
li'' meu amigo. Agora ninguém de que se presuma mal merca estas es-
cravas. N'este oíTicio me metti em ausência do Vigário Geral, pare-
cendo-me que em cousas de tanta necessidade, Nosso Senhor me dava
cuidado d'estas ovelhas. Alguns blasferaadorcs
públicos do nome do Se-
nhor havia, os quaes amoestamos por vezes
em os sermões, lendo-lhes as
penas do direito, e amoestando ao Ouvidor Geral
que attcnlasse por isso.
Gloria ao Senlior, vai-se já perdendo esle máo
costume. E se acontece cahir
algum pelo máo costume, vem.se a mim pedir-me
penitencia. N"esles
lermos está esta gente. Agora temo que, vindo
o Vigário Gei'al, que
já he chegado a uma povoação aqui perto, se ousem alargar mais.
Eu la-
drarei quanto puder. Escrevi a Vossa
Reverendíssima acerca dos saltos
que se fazem nesta terra, e de maravilha se acha
cá escravo que não
fosse tomado de salto; e he d^esta maneira
que fazem pazes com os ne-
gros para lhe trazerem a vender o que tem,
e por encano enchem os
navios d'elles, e fogem com cUes; e alguns dizem que o podem fazer por
mmm

CARTAS DO PADRE NÓBREGA 295

os nec^ros terem já feito


mal aos Chvistãos. O que posto que seja assi,
muitos escândalos recebidos de nós. De
maravilha
foi depois de terem
Christãos não fossem causa da guerra edis-
se achará cá terra, onde os
que n'esta Bahia, que he tido por um gentio dos
senção, e tanto
guerra por Christãos. Porque um Pa-
peiores de todos, se levantou a
por lhe um Principal d' estes negros não dar o que lhe pedia, lhe
dre
imaginou que morreu, e mandou aos fi-
lançou a morte, no qae tanto
primeiros escândalos sao por
lhos que o viní^assem. De maneira que os
que, deixando os mãos costumes que eram
causa de Christãos: e certo
fazem avantagem aos Christãos, por-
de seus avós, em muitas cousas
moralmente vivem, e guardam melhoi; a lei da natureza. Al-
que melhor
que seria bom juntal-os, e tornal-os a
guns d'estes escravos me parece
para os ensinar, porque por aqui
sua terra e ficar cá um dos
nossos
grande entrada com todo este gentio. Entre outros saltos
se ordenaria
costa são feitos, um se fez ha
dous annos muito cruel, que
que n'esta
foiirem uns navios a um gentio, que chamam os Chacios, que estão alem
de S Vicente: o qual todos dizem que he o melhor gentio à'esta costa, e
fruito. Elle somente tem duzentas
legoas de
mais apparelhado para se fazer
bautizados muitos. Morreo
terra- entreelles estavam convertidos e

doestes clérigos: e ficou o outro, e


proseguio o fruito: foram alU
um
que digo, e tomaram o padre dentro em umdos navios
ter estes navios
levantaram as velas: os outros que
com outros que com elle vinham, e
ficaram em terra vieram em páos a bordo do navio, que levassem embo-
ra os ne<^ros, e que deixassem o seu padre; e por não quererem os dos

navios, tornaram a dizer que,


pois levavam o seu padre, que levassem
trouxeram, e o padre puze^
também a elles, e logo os recolheram e os
desembarcaram em uma capitania, para ven-
rão em terra; e os negros
e todos se acolheram á Igreja, dizendo que eram
derem alc^uns d' elles,
ajudar a missa, pedindo misericór-
Christãos! e que sabiam as orações, e
e vendidos pelas capitanias des-
dia Não lhes valeo, mas foram
tirados

Agora me dizem que he lá ido o Padre a fazer queixumes.


ta costa
poderá saber mais largo o que passa.
Agora temos assentado com
D'elle
negros, para os tornarmos a sua
o Governador, que nos mande dar
estes

Nunes para os ensinar.


terra, e ficar lá Leonardo
isto muito ao Governa-
Desejo muito que Sua Alteza encommendasse
que entregasse todos os escravos
dor, digo, que mandasse provisão para
sua e que por parte da justiça se sai-
salteados para os tornarmos a terra,
29G APPENDicr;

ba e se lire a limpo, posto que não Iiaja parte, pois trisío dopend.' tan-
to a paz e conversão cVestc gentio. E
Vossa Revercndissima não seja
avarento desses irmãos, e mande mi-itos
para soccorrercm a (antas e
tao grandes necessidades, que se perdem
estas almas ã mingua, pelenle
panem et non est qiii frangaf eis. Lá bom
bastam iaatos religiosos c pre-
gadores, muitos Moyses e Prophctas ha lá.
Esta terra lie nossa empresa
e o mais gentio do mundo. Não deixe
Vossa Reverendíssima mais

que uns poucos para aprender, os mais
venham. Tudo cá lie miséria
quanto se faz. Quando muito ganhão-se cem
almas, posto que corram todo
o reino: ca he grande manchêa. Será
cousa muito conveniente haver do
Papa ao menos os poderes que temos do
Núncio, e outros maiores; e
podermos levantar aliar em qualquer parte, porque os do Núncio não
sao perpétuos. E assi que nos commetta seus poderes acerca deites
saltos,para podermos commutar algumas
restituições, e quietar cons-
ciências e ameaços que cada dia
acontecem; E assi também que as leis
positivas não obriguem ainda este gentio, ate que vão aprendendo de
nos por tempo s. jejuar, confessar cada anno, c outras cousas seme-
lhantes; e assi tamdjem outras graças
e indulgências, e a bulia do San-
tíssimo Sacramento rara esta cidade
da Bahia, e que se possa communi-
car a todas as partes d'esta costa,
e o mais que a Vossa Reverendíssima
ii/' parecer. He mmto necessário cá um
Bispo para consagrar óleos para
os bautizados e doentes, e também
para confirmar os Christãos que se
bautisam, ou ao menos hum Vigário Geral,
para castigar e emendar grandes
males, que assi no ecclesiastico como no
secular se commcttem n"csla co^la
porque os seculares tomão exemplo dos
Sacerdotes, e o gentio de todos, e
tem-se cá que o vicio da carne que não he
peccado, como não hc notavel-
mente grande e consente a heresia que se
reprova na Igreja de Deos—
quod est delendum. Os oleos que mandamos
pedir nos mande. E vindo
Bispo, nao seja dos qnwrui^t sua, sed
quod Jesu Chrísti. Venha para tra-
balhar e não para ganhar.
Eu trabalhei por escolher um bom lugar para o nosso collegio den-
tro na cerca, e somente achei um, que
lá vai por mostra a Sua Alte-
za o qual tem muitos inconvenientes,
porque fica muito junto da Sé
e duas Igrejas juntas não he bom;
e he pequeno, porque onde se ha
de fazer a casa não tem mais que
dez braças, posto que tenha ao com-
prido da costa quarenta, e não tem
onde se possa fazer horta, nem ou-
tra cousa, por ser tudo
costa mui Íngreme, e com muita
sujeição da ci-
297
CARTAS DO PADRE NOBRKGA

muito melhor um teso que


esta
dade E porumlo a todos nos parece
cidade, de
d'onde se ha de estender a
10.0 além da cerca, para a parte
ficar no meio, ou pouco
mae r que antes de muitos annos podemos
P-to, onde -s
":"s da\ente, e está logo ahi uma aldeã ^^^^^^^^^^^
temos nossa haMaçao.
a hautizar, em a qual já
^'l'?^^''^^\;^^
d'clle tem muito lugar
para hortas,
aoua ao redor do coUegio, e dentro
«ri e perto dos Christãos,
assi velhos como novos.
dentro na
Somente
cidade,
me
e po-
Jeun inconveniente o Governador, não ficar
nao convenc ,
gentio, o que me parece que
Ser a ver guerra com o
no collegio hão de ser filhos de todo este
porqu s que hão de estar
E posto que haja guer-
aelo que nós não temos necessidade de
casa.
agora nós andámos, la dormi-
mal: e quando
?a nãoTes pôde fa.er
mais temor, e nos par que e^ -
tempo de
m;s e comemis, que he e^
Quanto mais
a terra se povoar
mos seguros, quanto mais depois que estar en re
engenhos, que hão de
qTpi meiro hl de fazer mal nos
tado he recolher a cidade. Mo
-

des e nós, e quando o mal for muito, nos nos gua -


façam mal a todos, a
mente que eu creio que ainda que guerr
começam a ter; e ainda havendo .

daVao pela aífeição que já nos quanto


seguro entreellesn;estecomeço
m p receria a mim poder
estar
se faça alh.
todos somos de opmiao que
ml depois. De maneira que, cá
trabalhar por lhe fazer dar logo prin-
E Vossa Reverendíssima devia de terra
ao Senhor, e proveito a es^a
pois d-isto resulta tanta gloria
cipio,^
por causa dos officiaes qu_e hao de v.r de
Tm^iLustahe fazer a casa,
ainda que sejao duzentos, he
lá porque a mantenca dos estudantes,
cinco escravos que plantem
mantimen-
muito pouco, porque cora o terem
redes, com pouco se mante-
tos, e outros que
pesquem com barcos, e

farão um algodoal, que cá ha mu.to. Os escravos


rão' e para se vesfir
hão de ser cá seus escravos. He
grande
sãocá baratos, e os mesmos pais
vindo agora o Vigário nos passamos
obra esta e de pouco custo; nós
onde estaremos, Vicente Rodrigues,
nara lá, por causa dos convertidos,
metteo comnosco para nos servir, e esta agora
eu e um soldado que se
Faremos nossa Igreja,
em exercícios, de que eu estou mui contente.
Christãos; e aos domingos e festas vi-
onde ensinaremos os nossos novos
pregarei. O Padre António Pires, e o Padre Navarro
sitarei a cidade, e
he
lhes fazem casas. E portanto,
estarão em outras aldeãs longe, onde já
e hao de vir ja com
necessário Vossa Reverendissima mandar
officiaes,
alvará de Sua
a paga, porque cá diz o
Governador, que ainda que venha
f
298
APPK.NDicr:

Altezapara nos dar o necessário,


não o haverá para isto 0.
cji.e

^rL^vr
n^ 1
•"''' ^^^ ^^^^'
' ^^^^ " "- •'"-- -^^
doT "'' ^""í"' ^^^•^'^"^ ''' «"'-«^
offi-

m^l''e'-es e filhos e
^
nao aceitarão a nossa oh,'a
depois que curaprirem com
Sna A z, p
ambem o trabalho que tem com as
viandas e o mais Ttir
tanto me parece qne haviam dtsso Pnr

mulheres e filhos, e algnns


.le vir de l\ e se IvpI fi t íZ
que H.u:i^.:
mestre para as obras, que he
um sobrinho. de Luiz
^^^^^^^^^Z^Z
Dias, mes' das b a^

p^^b:;ítunr" 'T'
poique basta o tio para as
cuidado do nosso collegio,
obras de Sua Alteza; r ^^p-^^^o^-teúnohe^;
a este haviam de d-ir n
he bom official.
Serão cá multo necessárias
pessoas que teçam algodão
muito e outros officiaes. crue cá In
Ti.balhe Vossa^eveí^ndisína
poHrl a

degradados, que ca ftzem


muito mal; e já que cá viessem,
liavia de ser
para andarem aferrolhados
nas obras de Sua Alteza.
Tamb in ne^. o
estes nmos comeitidos,
ao menos uma camisa a
cada mulher nela ho
nestidade da Religião Christãa,
porque vem todas a esta de i missa

aos na Igieja,e quando as ensinamos.


E d-isto peco ao Padre Mestre
oao tome cuidado por elle
ser parte na conversão
d^esfes giiío.enl
fique senhora nem
parenta a que não importune
paro coufa ílo^; n
e a Uo se haviam de
i applicar todas as restituições
de faz r, e isto agora somente
que lá se houvessem

se vestirem ao diante. Os
no começo, que elles farão
Irmãos iodos estão de saúde,
algodões m^
e f;;zm o offi
ao a que oram enviados: somente
António Pires se ac a ma L, e^-

b"; São' \l^''t"f ''' "^''''^^


^""'^ "''"''' '"'
^- ^--' «
'''''''' '''''''
^- -a'^-^ -
to o ; ];T : '^' ''' '''^''^' ''""'^O'
PO^-°^Cão d-aqui per-

de' sTnv-l 'TT"'"^^' ' ^'' « to^lo^ se espan am


' """ ''' '''' ^"^ ^''^^^° ''''^-'' ^^'^ ^^ '"-'o iV.hto
em n in
ei^inai n
os .
moços e escravos. Agora pouco
ha vieram aqui a consultar-

nmtos tnemos missa cantada com


Diácono e sub-Diacono: eu disse mis-
''"7"" ' ?''''''' ^""'^ ' '^^^"^^"'°- L^^"''>-'lo Nunes e
oulro
outio cleiígo
cl.^í!?'" com
leigos do bons vozes regiam
o coro; fizemos procissão
'

jd ,

3
riSM

CARTAS DO PADRE NÓBREGA

jogou toda a arti.l.a™


a 'Smui"™,i e,n ,uehouve
í- -^^^ - ^
de Po, tu
;
danças e mveuçoes a maneira
,s raas muito enramadas, a me hao
Nunes com D.ogo Jacorue
'ãl Agora he já partido Leonardo dous mezes
o Ouvidor, qne na d aqm a
Íp esnerar auando eu Br com

Ss'":orpre «tamos „
^^^^^^ tr°TX^"Xn?:
^::s;s!'s«^rrn:'Cnireiiazdevo^
"* que cávieramnão
TrslSSadlaeBautisterios, ,»r<,ue os
os que vieram
valiam nad "hão de ser
Romanos, e Bracharenses. porque
rir—os; e assi de muitas capas
e «"—- P»^;'^!™ cot sas
c imagens e crucifixos, e outras
de altares em
tsr muitas partes,

sememar,tes o mais que poder:


tudo o que nos »""™» ^^^ [X^rs
Folgariamos de ver novas do
Congo, mande nol as
1 muito bom recado.
-"l»™=
VosT Rev^ndissima. A todos estes ^--7^- SoTno
™to»»
posto que o de alguns scja se vií. O G«™
amor qne nos tem, chandades. O Ou
nos muitas
Zstra muita vontade. Pêro de Góes
taz

muito. Não falto em Antomo


"dor Gmiemuito virtuoso, e ajuda-nos
Reverendíssima os
todos mande Vossa
Carfoso qu he nosso pai. A -
issima a gnma t
Sade i— António Pires P»*- ^ossa
os.
Reve.en
""^
r°amenta de orpinleiro,
porque «"<= l'^"»» ^„^ '"*

pede muitas sementes; o Padre ^


, Nav aiJro
Rodriaues porque he hermitão,
pedi, porque nos fazem 7'^
e e:oriivL,'que ji lá --^imoT
pedimos sua ^ã
todas se perguntam a mim.
E todos
vidas nue cá ha, que
com Nosso Senhor. Ago a -
benção e ser fa oi-ecidos em suas orações
alguns nosau-
disciplina ás sextas feiras, e
V mos de maneira que temos
dam disciplinar; l
por os que estão em peccado --'»"; »;;;^-
luas
do Purgatório, e o mesmo sedapela
d'este -eníio, e por as almas
com uma cimpaiiiha segundas e
quartas feiras. »-, "™ "»^,
Temos nossos exames 4 noiíle, e ante manhaa uma hora ''«
°WJ ''
visitar o próximo, e celebrar, e
o mais tempo
Senlior
"""^f ™«f„f "f
por seus filhos e por mim.
Resta-me pedir que rogue a Nosso
300
AppnxDicr:

Bal,ia , ,x de Agosto de 1S49.


,„,„„ „,, ^.„„„^,,^
(Revista do Instituto, \o\.
v, pag. 43-).)

CARTA III

AO PADRE MESTRE Sí.MÃO

"""' "' ""'*'" ''»"" «™"»^


vor.ii™^." -«J^ ^'"'P™ em nosso ft-

Depois de ter escripto a Vossa


Reverendíssima poslo g„e brevemen
e, segundo meus
desejos, succedeo não
ogar para fazer esta. e
tornar-ll,e
se parlir a ca.-a? h é
":
Z
terra, e o aparellm <,ue
a eucommendar
tem paraserauitos converterem.
as «tid esl
Ecertoremuit

Nao se devia consentir embarcar


Sac«-dote sem ser sua vida muito á,

l!t '.<-. ^«„„„„ „„,.„„, f„„,, „„„^ ,„



™»,. Hontem que foi Domingo
,„ „,„„^,^_
.Li
de Ramos, apresentei ao Go
/Z
um para se baufzar depois de , ,

doutrinado, o ^ual era o maio


rio Que os Cbrislãos até ôn ra
agora tiveram, recebeo-í co, , o" K pe™' i

ca *
c IMO t
1,1'™-"' '" "' " ""'• ""« S- -riioraé as rk, porque
''°,''"'' *='
luhain pao nenlium.
E isto so sabe da fama que anda
entre dles
,jm pa„es eor„, ,.„Ua„u,H e.s.
Esbío daqui pe to umas
guradas era uma rocha, que pi d tt
todos di,.ein ser in suas. Como ti rmós
iios>o. omcio^ divinos. Estão na
Igreja sem lhes ninguém
eesinar nnis
-evote que os nossos Cliristãos.
Finalmente pcrdeníse ámiuri-J^-;;:
«p

301
CAUTAS DO PADRE NÓBREGA

O Governador nos tem esco-


Mur operários quiajcm sati alba est mesis.
valle para nós, parece-me
que teremos agua, e assmi
lhido hum bom
aqui com-
m'o dizem todos. Aqui devíamos de fazer nosso valhacouto, e d
Geral
bater todas as outras partes.
Ha cá muita necessidade de V.gano
com amor procedendo, se busque a glo-
para que elle com temor, e nós
pelas cartas dos Irmãos.
ria do Senhor. O mais
verá

Vale semper in Domino mi pr.


Et hcneiic nos omnes in Chrislo Jem.

-Da Bahia 4549.


^^^^^^^ ^^^ ^^^^^^^^

(Revista do InsHtuto, vol. v, pag. 433.)

CARTA IV

INFORMAÇÃO DAS TERRAS DO BRASIL,


DIRIGIDA AOS PADRES DA PROVÍNCIA
DE PORTUGAL

Brasil vos posso dar. Padres e


informação que d'estas parles do
A
terra mil legoas de costa, toda po-
Irmãos charissimos, he que tem
esta

que anda nua, assim mulheres como homens, tirando al-


voada de gente,
onde as mulheres andam vesti-
gumas partes mui longe d'onde estamos,
com panos de algodão, pela terra ser mais
das á maneira de siganas,
mui temperada, de tal maneira, que o in-
fria que esta, a qual aqui
he
verão, ainda que seja mais quente,
verno não he frio nem quente, e o
terra mui húmida, pelas muitas
aguas
bem se pôde soffrer; porém he
miúdo, pelo qual as arvores e as her-
que chovem cm todo tempo mui a
verdes. Em partes he mui áspera, por causa dos mon-
vas estão sempre
tes e matas, que sempre
estão verdes.
os da terra, ainda que nao
Ha n'ellas diversas fruitas que comem
as de as quaes também creio se danam cã, se se
são tão boas como lá,

e ainda duas vezes no


anno;
plantassem; porque vejo que se dão uvas,
que fazem mmto damno, as-
porém são poucas, por causa das formigas,
m APl'E\r)ICK

SI n isto como em outras cousas. Cidras, laranjas, limões,


muita quantidade, e figos tão bons cm dão-se
como os de lá. O mantimento com-
mum da terra he uma raiz de páo, que chamam
mandioca, da qualí-
em uma farm ha do que comem todos,
turado c.m a fannha, faz hmn
e dá também vinho o - qLm
pão que escusa o de trigo. Ha muif
pe -

caça de mato, e patos que criam


os índios: bois, vaccas, ovelhas,
cabras
e galinhas se dao também na terra, e ha dc-Ilas grande quantidade
'''''''
""^ ^^'^™^"^-«« «oyanazes, ou-
Canu? Este he T'"'"'
tros Canjo.. F^
hum gentio melhor que nenhum d^esta
,

costa
Os quaes foram, não ha muitos
annos, dous frades Castelhanos ensi-
'"' ^''"í ''' *^°"'"'™' '^"^ ''^^^ ''''' d«
m 'ir^^
;
paia mulheres, como de freiras, e
recolhimento
outras de homens, como de frades
h isto durou mudo
tempo, até que o diabo levou lá
uma náo de sal-
teadores e cativaram muitos d^elles.
Trabalhámos por recolher os toma-
dos e alguns temos já para os
levar á sua terra, com os
quaes irá um
Padre dos nossos. Ha outra casta
de gentios que chamam Gaimares-
gente que mora pelos matos, e
he
nenhuma communicacão tem comosCliris-
taos, pelo
que se espantam quando nos
vêm, e dizem que somos seus
irmãos, porque trazemos barbas
como elles, as quaes não trazem to-
) los os outros, antes se rapão
até as pestanas, e fazem buracos nos bei-
ços, _e nas ventas dos narizes, e põem uns ossos n elles, que parecem de-
mónios E assi alguns, principalmente os feiticeiros, trazem todo o
rosto cheio d ejles. Estes gentios são como gigantes, trazem hum arco
mui forte na mao, e em a outra hum páo mui grosso,
com que pelejam
íif com os contrários, e facilmente os
espedaçam, fogem pelos matos, e são
mm temido_s entre todos os outros.
Os que communicam com nós mitros
ate agora sao de duas castas, uns
se chamam Topinaquis, e os outros Topi-
nambas. Estes tem casas de palmas
mui grandes, c d-pllas em que pou-
sarão cmcoenta I.idios com suas mulheres
e filhos. Dormem em redes
de algodão junto do fogo, que toda
a noule [em aceso, assim por
amor
do frio, porque andão nús, como
também pelos demónios que dizem fu-
gir do fogo Pela qual causa
trazem tições de noute quando
vão fura
Esta gentilidade nenhuma cousa adora,
nem conhecem a Deos; s.unento
aos trovões chamão Tupu.e, qur
he como q„em diz cousa divina
sim nos nao 1em..s ouiro vocábulo
E as-
mais conv,M,i.n(o para os Ira/er
ao
conhecimento de Deos, que chamar-lhe
„l'ai Tupane^^

3
rfH MNP

303
CAUTAS DO PADRK NOUÍíEGA

umas ceremonias da maneira seguinte.


Somente entre cUes se fazem
vem uns feiticeiros de mui longes terras, fingin-
De certos em certos annos
sua vinda llie mandam alimpar os
do trazer santidade, e ao tempo de
festas, segundo seu costume; e an-
caminhos e vão recebel-os com danças e

lagar andam as mulheres de duas em duas pelas casas,


tes que che-^uem ao
publicamente as faltas que fizeram a seus maiidos
umas ás outras,
dizendo
chegando o feiticeiro com mmta festa ao
Em
e pedindo perdão d-elJas.
e põe huraa cabaça, que traz em fi-
lu-^ar entra em uma casa
escura,
para seus enganos, e mudando
gura humana, em parte mais conveniente
junto da cabaça, lhes diz que nao curem
sua própria voz em a de menino
que o mantimento por si crescerá, e que
de trabalhar, nem vão á roça,
nunca lhes faltará que comer, e que por si virá a casa, e que as encha-
a cavar, e as frechas irão ao mato por caça para seu senhor, e
das irão
contrários, e cativarão muitos para
que lião de matar muitos de seus
promette-lhes larga vida, e que as velhas se hão de
seus comeres, e
as filhas que as dêem a quem quizerem: e outras cou-
tornar moças, e
com que os engana, de maneira que
sas semelhantes lhes diz e promette,
alguma cousa santa e divina, que lhes diz
crêem haver dentro na cabeça
come-
aquellas cousas, as quacs crêem. Acabando de fallar o feiticeiro,
çam a tremer, principalmente as mulheres, com grandes tremores em seu
corpo que parecem demoninhadas
(como de certo o são), deitando-se
pelas bocas, e nisto lhes persuade o feiticeiro que
em terra, escumando
e a quem isto não faz tem-o a mal.
Depois
então lhe entra a santidade;
em as enfermidades dos gentios usam
lhe offerecem muitas cousas, e
feitiçarias. Estes são os
também estes feiticeiros de muitos enganos, e
que cá temos, e fazem crer algumas vezes aos doentes
mores contrários
facas, tesouras, e cousas se-
que nós outros lhes mettemos em o corpo
melhantes, e que com isto os matamos. Em suas guerras aconselham-se

agouros que tem de certas aves.


com elles, alem dos
Quando cativam algum, trazem-no com grande festa com uma corda
e dão-lhc por mulher a filha do Principal, ou qualquer
pela garganta,
mais o contente, e põe-no a cevar como porco, até
que o hajam
outra Ve ver a festa, e
que ajuntam todos os da comarca a
de matar. Para o se

um dia antes que o matem lavam-no todo, e o dia seguinte o tiram, e


põe-no em um terreiro atado pela cinta com uma corda, e vem um
mui bem ataviado, e lhe faz uma pratica de seus antepassados; e aca-
d'elles
que está para morrer lhe responde, dizendo que dos
valentes
bada, o
304 APPENDICE

he não temer a moríe, e que elle lambem matáia muitos


dos seus. e
que cá ficam seus parentes que o vingarão, e outras cousas
semelhantes.
E morto cortam-lhe logo o dedo polegar, porque com aquelle tirava as
frechas, e o demais fazem em postas para o comer,
assado c cosido.
Quando morre algum dos seus, põem-lhe sobre a sepultura bacios
cheios de viandas, e huma rede, em que elles dormem, mui bem lava-
porque crêem, segundo dizem, que depois que morrem tornara
da; e isto
a
comer e dcscançar sobre a sepultura. Deitam-os em umas covas redon-
das, e se são Principaes fazem-lhes uma choça de palma. Não tem co-
nhecimento de Gloria, nem Inferno, somente dizem que depois de mor-
rer vão a descançar a um bom lugar, e em
muitas cousas guardam a
lei natural. Nenhuma cousa própria tem que não seja commum, e o que
ura tem ha de partir com os outi'os, principalmente se são cousas de
comer, das quaes nenhuma cousa guardam, para o outro dia, nem curam
de enthesourar riquezas.
A suas filhas nenhuma cousa dão em casamento, antes os genros
ficam obrigados a servir os sogros. Qualquer Christão que entra
em suas
casas dão-lhe de comer do que tem, e huma rede lavada em
que durma.
São castas as mulheres a seus maridos. Tem memoria do diluvio,
po-
rém falsamente, porque dizem que cobrindo-se a terra de
agua, uma
mulher com seu marido subiram em um pinheiro e depois de iningoa-
das as aguas, se desceram, e d'estes procederam todos os homens
e mu-
lheres. Tem mui
poucos vocábulos para lhes poder bem declarar nossa
fé. Mas comtudo damos-llfa a entender o melhor que
podemos, e algu-
mas cousas lhes declaramos por rodeios. Estão mui apegados com as cou-
sas sensuaes. Muitas vezes me perguntam se Deos tem cabeça e corpo, e
mulher; e se come, e de que se veste, e outras cousas semelhantes.
Dizem elles que S. Thomé, a quem elles chamão Zomè, passou por
aqui, e isto lhes ficou por dito de seus passados, c que suas pisadas
estão
signaladas junto de um rio, as quaes eu fui ver por mais certeza da ver-
dade, e vi com os próprios olhos, quatro pisadas mui signaladas com
seus dedos, as quaes algumas vezes cobi^e o rio quando Vnche. Dizem
lambem que, quando deixou estas pisadas ia fugindo dos índios, quo o
queriam frechar, e chegando alli se lhe abrira o rio, e passara iiormeio
(l'clle sem se molhar, e para a índia. Assi mesmo contam
d'alli foi

que, quando o queriam frechar os índios, as frechas se tornavam


para
elles, e os matos lhes faziam caminho por dYnide passasse: outros
contam
CARTAS DO PADRE NOBUEGA 3í)5

isto como por escarneo. Dizem também que lhes prometteo que havia
de tornar outra vez a vêl-os. EUe os veja do Ceo, e seja intercessor por
elles a Deos, para que venham a seu conhecimento, e recebam a Santa

Fè como esperamos. Isto he o que em breve, Charissimos Irmãos meus»


vos posso informar d'esta terra: como vier a mais conhecimento das ou-
tras cousas, que n'eUa ha, não o deixarei mui particularmente de fazer.

Manoel dà Nóbrega.

iiil íi "!ti

{Revista do Instituto, vol. vi, pag. 91.)

CARTA ¥ Ki iíííll íii ....


y 'jJiKofí .oiia /;J

 EL-REI D. JOxVO IH

ínoífítíiOín':'

I H V S

lia graça c amor de Xpo nosso senhor seia com V. A. sempre ãtften» i

Logo que a esta capitania de duarte coelho achegamos outro padre


e eu, escrevi a V. A. dando-lhe algúa informação das cousas desta-
terra, e por ser novo n'esta capitania e não ter tanta experiência dela
me fiquaram por escrever alguas cousas que nesta suprireh
Nesta capitania se vivia muito seguramente nos peccados de todo o
género, e tinhão ho peccar por lei e costume hos mais ou quasi todos nam
comungavam nunqa e ha absolvição sacramental ha recebião perseuerando
em seus peccados, hos eclesiásticos que achei que são cimqo ou seis vi";

uiam amesma_vida e com mais escândalo e algas apóstatas, e por to-


dos assi venerem nam se estranha pecar ha ignorância das cousas da nos-
YOL. n 20
30G APPÉNDICE

sa fé. catholica lie qa muita e parecelhes novidade


n progacão delias,
qaasL todos tem negras forras do gentio e quando querem se
vão ])era'
os seus, fazer-se grandes injurias aos sacramentos que qa
se ministrão,
o sertão esta clieo de íillios de Xpãos grandes e pequenos, machos e fê-
meas com viuerem e se criarem nos costumes do gentio; avia grandes
ódios e bandos: as cousas da igreja mui mal regidas. E as da justiça pelo
conseguinte, finalmente commíxti sunt inter gentes d dídicerunt
opera co-
nm. Começamos com a ajuda de noso senhor a emtender cm todas
es-
tas cousas e faz-se muito fructo e já se evitao muitos peccados de todo
ho género vam-se confessando e emendando e todos querem mudar
seu
máo estado e vestir a Jhú*Xpõ nosso Sor. Os que estavam
em ódio se
com muito amor, vam-se ajuntando os filhos dos Christãos
reconciliarão
que andão perdidos pelo sertão e já são tirados aigus, e espero
que os-
tiraremos todos.
E posto que por todas as outras capitanias ouvesse os mesmos pec-
cados e porém não tão arreigados, como nesta, edeue ser
a causa porque
forão ia mui castigados de nosso senhor, e peccavão
mais a medo, e es-
ta não. Duarte Coelho e sua mulher são tão vertuosos
quanto he há fama
que tem, e certo creo que por elles não castigou a justiça
do altíssimo
tantos males até agora e porém he ia velho e Adta-lhe muito pêra hu
boo regimento da justiça e por isso ha jurisdicção de toda a Costa de-
uia de ser de V. A.
Com os escravos que são muitos se faz muito fructo, os quaes
viuião co-
mo gentios sem terem mais que serem baptizados com pouqa reverencia
i do sacramento, das pregações e doutrina que lhes fazem corre
ha fama
a todo o gentio da terra e muitos nos vem
ver e ouvir ho que de XpH
lhe dizemos e segundo ho fervor e vontade
que trazem parecem dizer ho
que outros gentios desião ha S. Filippe, volumus Jestm
videri; esperam-
nos em suas aldêas e prometem fazerem quanto lhe
disermos.'
Este gentio está mui
aparelhado a se nelle fi-uctificar
por estar ii
mais domestico e ter a terra capitão, que não
consentio fazerem-lhe
agrauos como nas outras partes. Ho converter todo
este gentio he mui f-i-
cil cousa, mas ho sustentaloem boos costumes nam \wde ser senam
com muitos obreiros porque em cousa nenhuma crem
e estão paiid
branco pêra n'ellos se escrever ha vontade se com exemplo e
contiiíui
conversação os sustentarem. Eu quando vij os poucos que
somo'^ e que
nem pêra acudir aos Xpãos abastamos, e ^eio
perder meus piuximo-^
HMSnP •*»,.

CARTAS DO PADRE NOBRIÍGA


àWI •

remédio clamar ao criador


e criaturasdo senhor, ha raingoa tomo por
meus padres e irmãos que ve-
de todos e a V. À. que mandem obreiros e a
recolher todas as moç&â e-
'

uhão Damos ordem a que se faça huma casa pêra


annos que vivem entre os Xpaos
^

mulheres do gentio da terra que ha muitos


branques e os mesmos homens que as tinhao
e não tem filhos dos homens ^

doutrinadas e governadas por algumas velhas e


ordenão esta casa porque ahi

tempo em diante muitas casarão e ao menos vunrao com^


elas mesmas pelo
este he ho melhor meio que nos pareceo
por
menos occasião de peccados, e
muitas de muito conhecimento e se
senão tornarem ao gentio, entre estas ha
confessão e sabem bem conhecer os
peccados em que viuerão e as que
assi d'estas como dos escravos so-'
mais fervor tem pregão as outras e
para os ensinar de maneira qlie asios
mos importunados de continuo
comnosco temos como nos ho principal exercício he^
meninos órfãos que
Com estas forras se ganharão muitas ia Xpãs que pelo ser-i
ensinal-os.

tão andãoe asi muitos meninos


seus parentes do gentio pêra em nos-'
outros muitos proveitos que disto haglo-'
sa casa se ensinarem além de
resultará e ha terra se povoará em temor 6 conheet^^
ria de nosso Sor

mento do criador. .
, ,., , ..

em Portugal' e'vraem^
Por toda esta costa ha muitos homès casados
grandes peccados com muito perjuiso de suas molheres e fdhoá
qâ em
h'iSto^tenhão muito cuidado:
devia V. A. mandar aos Capitães que
todos viuem em peccado com
Nestas partes ha muitos escravos e
fazemos casar outros areceam ficarem
outras escravas, alguns dos tais
e não ousão cíisalos. Seria serviço de nosso senhor'
seus escravos forros
húa prouisão em que declare nam fiquarem forros casan-
mandar V. xV.

do, e ho mesmo se deuia prover


em Santo Thomé, e outras partes on-
de'ha fazendas com muitos escravos. Com ha vinda do bispo ho espera-
A. prouer mso
uamos remediar c agora me parece sit necessário V.

por se euitarem grandes peccados.


Os moradores destas capitanias ajudão com ho que podem ha faze-

rem-se estas casas pêra os meninos do gentio se criarem ;ndas e será

grande meio e breve pêra a conversão do gentio.


Ho colégio da Bahia
seia de V. A. pêra o favorecer porque
está ia bem principiado e averá

vinte meninos pouqo mais ou menos, e mande ao gouernador que


nele
faça casas pêra osmeninos porque as que tem sam feitas por nossas mãos
e são de pouqa dura, e mande dar algus escravos
de Gine ha casa pêra

fazerem mantimentos porque ha terra hc tam fértil que facilmente se


J

308 APPENDICE

manterão e vestirão muitos meninos se tiverem


algus esoravos que fa-
cão roças de mantimentos, e algodoais, e pêra
nos não he nece>^sarío
nada porque ha terra he tal que huú soo
morador he poderoso ha man-
ter a hú de nos.
Para as outras capitanias mande V. A.
molheres oríaas oorquc todas
casarão: nesta nam são necessárias por agora por haverem
muitas filhas
de homens brancos e de índias da terra as
quaes todas agora casarão com
ha ajuda do senhor, e se nam casauão
d^antes era porque consentiam vi-
«er 03 homens mseus peccados livremente, e por isso
nam se cura-
uam tanto de cazar, c alguns dizião que nam
peccavão, porque ho ar-
cebispo do Funchal lhes dava licença.
II
O governador Thomé de Sousa me pedio hum padre
pêra ir com cer-
ta gente que V, A. manda a descobrir
ouro: eu lho prometi porque tam-
bém nos releva descobrilo pêra ho thisouro de Ihu
Xpõ nosso senhor
e ser cousa de que tanto proveito resultará
ha gloria do mesmo senhor'
e bem ha todo ho reino, e consolação a
V. A. e porque haí muitas no-
vas delle 6 parecem certas, pareceme que
irão seia isto também em ha-
juda pêra V. A. mandar padres porque qualquer
que for fará muita falta
no começado se nam vierem padres pêra
o sustentar: e porque por
outra tenho dado mais larga conta e com
a vinda do bispo, que espe-
v\ ramos, a quem tenho escripto ho mais
aguardamos ser soccorridos
Cesso pedmdo a nosso senhor lhe dê sempre
a conhecer sua vontade
santa, pêra que cumprindo seia augmentada
sua fé catholica pcra gloria
do nome santo de Ihu Xpõ, nosso senhor qui cst
hcnediclus in scecula.
Desta vila de Olinda a zvij de Setembro de
VóUl annos.

MAXOEL DA NODREGA.

(Revista do Insliluto, vol. pag. 279, copiada


ii,
com a ortographia
que se diz ser conforme á do manuscripto original, existente no Archivo
Nacienal de Lisboa.)
mmm ^^
mm

CARTA VI

AOS PADRES DA PROVÍNCIA DE PORTUGAL

Em estas partes depois que cá estamos charissinios Padros e Irmãos,


se fez muito fruito. Os gentios, que parece que punham sua bemaventu-
rança em matar os contrários, e comer carne humana, e ter muitas mu-
Ilieres, se vão muito emendando, e todo nosso trabalho consiste em os
apartar d'isto, porque todo o domais he fácil, pois não tem idolos; ainda

que ha entre elles alguns que se fazem Santos, e lhes promettem


saúde, e victoria contra seus imigos. Com quantos gentios tenho falla-

do n'esta costa em nenhum achei repugnância ao que lhes dizia. Todos que-
rem e desejam ser chrístãos; mas deixar seus costumes lhes parece ás-
pero. Vão comtudo pouco a pouco cahindo na verdade. Os escravos dos
Christãos, e os mesmos Christãos muito se tem emendado, e certo que
as Capitanias, que temos visitado, tem tanta differcnça do que d"antes
estavam, assim no conhecimento de Deos, como em obrar virtude,
(jue uma Religião. Fazem-se muitos casamentos entre os Gentios,
parece
òs quaes em a Bahia estão junto á cidade, e tem sua Igreja junto a huma
casa, onde nos recolhemos, em a qual reside agora o Padre Navarro,
Estes determinámos tomar por meio de outros muitos, os quaes- espe-
ramos com a ajuda do Senhor fazer Christãos. Também procm-amos de
haver casamentos entre elles c os Christãos. Nosso Senhor se sirva do
tudo, e nos ajude com sua graça, que trabalhemos que todos venhum. ao>

conhecimento de nossa Santa Fé, e a todos a ensinemos que a queiram


ouvir, e d"clla aproveitar-sc. Principalmente pretendemos ensinar bem
^_/-

310 APPEXniCF.

os moços, porquo estes l^em doiUiinados,


e acostumaaos em virlude,
serão firmes e constantes, os qaaes seus pais
deixam ensinar, e folgam
com isso, e por isso nos repartimos pelas
Capitanias, e com as línguas
que nos acompanham nos occupamos n'isto, aprendendo
pouco a pouco
a lingna, para que entremos pelo sertão
dentro, onde ainda não chega-
ram osChristãos, e tenho sabido de hum homem Gentio,
que están^esta
terra, que vivem em obediência de
quem os rege, c não comem carne hu-
mana. Andam vestidos de pelles. O que tudo he
huma disposição para
mais facilmente se converterem' e sustentarem.
Isto será o primeiro quo
commeteremos como V. R. mandar quem sustente osfoulras
partes, c
as quaes por cada huma das Capitanias tenho ordenado que se fa(;am ca-
sas pêra se recoliíerera e ensinarem os
moços dos Gentios, e também
dos Christãos: e para n"ellas recolhermos algumas
línguas para este ef-
feito. Os meninos órfãos, que nos
mandaram de Lisboa, com seus can-
tares attrahem os filhos dos Gentios, e ediílcam
muito os Christãos Em
esta Capitania de
Pernambuco, onde agora estou, tenho esperança que
se fará muito proveito porque, como he povoada de
multa gente, ha
grandes males, e peccados n'ella. Andam muitos
filhos dos Christãos
pelo sertão perdidos entre os Gentios, e
sendo Christãos vivem em seus
'bestiaes costumeis. Espero, em Nosso Senhor
de os tornar a todos á vir-
tude christãíí, e tíral-os da vida e costume gentílico, e o primeiro que
tenho llràflo' he esse que
lá mando, para que so acharem
seu pai lifo
dêem. Os Gentios aqui vem de mui longe a
ver-nos pela fama, e todos
mostram grandes desejos, líe muito para folgar de os ver na
doutrina,
o não contentes com a geral, sempre nos estão pedindo em
casa que os
ensmemos, e muitos d'elles com lagrimas nos
olhos. Escrevoram-mc
agora da Bahia que á partida se haviam
perdido dous barcos de ín-
dios, que iam a pescar, em os
quaes iam muitos, assi dos que eram
]a Christãos como dos Gentios. E
acontecco que todos os Gentios mor-
reram, e escaparam os Chrislãos todos,
até os meninos, que levavam
comsigo. Parece que Nosso Senhor faz
tudo isto para mais ?u?rncntar
sua Santa Fe., O Governador determina
de ir cedo a correr esta costa c
eu irei com clle, e dos Padres que V. R.
mandar levarei alguns comigo
para deixar as Capitanias providas. El-Roi
Nosso Senhor cscreveo ao (ío-
vernador que lhe escrevesse se havia
já Padres em todas, as quaes sem
licar nenhuma, as temos visitadas, o em todas
estão Padi'es, senão em
esta de Pernambuco, que hc a prín^cipal e
mais povoada, e onde mais

3
HM

CARTAS no PADUE NODREGA 311

tínhamos vindo por falta de em-


aberta está a porta, á qual até aqui níio
d'esta terra tem mais offi-
barcação, e por sermos poucos. Os
Clérigos

clérigos: porque, além do seumáo exemplo,


e cos-
ciode demónios, que de
Cliristo, e dizem publicamente
tumes, querem contrariar a doutrina de
aos homens que lhes he licito estar
em peccado com suas negras, pois
salteados, pois que sao cães,
que são suas escravas, e que podem ter os
semelhantes, por escusar seus peccados, e abominações.
e outras cousas
nos persiga, senão
De maneira que nenhum demónio temos agora que
Querem-nos mal porque lhes somos contrários a seus
máos cos-
estes,
que digamos as missas de graça, em detri-
tumes, e não podem soíTrer
fora pelo favor que temos
mento de seus interesses. Cuido que, se não
assi porque Dèos não o quer
do Governador e principaes da terra, e
tiradas as vidas. Esperamos que venha o
permittir, que nos tiveram jà
proveja com temor, pois nòs outros não podemos por
Bispo, que isto

amor.
ensinar os moços, vai
A casa da Bahia que fizemos para recolher e
sem El-Rei ajudar a nenhuma cousa, somente as esmolas
mui adiante,
virtuosos. Quiz-nos o Senhor de-
do Governador, e de outros homens
fazendo pouco a pouca; tem já
parar hum official pedreiro, e este a vai
tem também cercadas as casas de huma
feito grande parte da casa, e

taipa mui forte. Christo Nosso Senhor nos cerque com a sua graçan'esta
vida para que na outra sejamos recebidos em sua glaríav Amen; m
,'tOjUOq
^. i-rn ,

r>r)
Pernambuco lo 49, *
, ^
•Jlií H(}yJV\ti SÍ í>l>

,') .&í
5! .)h
V) m^M
Manoel da NoBUEGAf^rj tb
.'! r.vncfliicy

n ijíftf.tOlítW
(Rcoisla do Instituto, vqL vi, pag. 104,)

• ) íílM 10'J

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-m-j t/i r,Jklir.ff ofini/ í.ornr.íiíiit .


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^^.t) mo ..í:'}í\v^ ob ki)^' .

8oín'jí tmp 'ifr/i:! uív' ^-fAi ,./,; ,,

v>í!|) O OK,.; f<^ CARDEAL INFANTE D. HENRIQUE

*^^ ^^"'^° '''°''*' Senlior seja sempre em contínuo favor e ajuda


de V.T
O anno passado de i^m me derão Imma
me manda que Hie escreva e avise das cousas
de V. \. em aue me
desta terra, que elle de-
ve saber. E pois assim me
manda, lhe darei conta do que V.
folgara de saber,
A mais
i que he da conversão do gentio,
)1' a qíal depois dí
Vinda d'este Governador Mem de Sá, cresceo
tanto, que por ft ta d
operanos muuos deixamos de fazer
muito fruito, e lodavia com
"se
poucos, que somos, se fizeram
quatro Igrejas em povoações
grandes;on^
"""''^ """''''
tr.^f ^"''?'
^'' «'dem que a isso doa
'^' ^'"^'°' P^'«

out ttT
'™'°' P^^^ ''^'^^ « ^^^Ji^n-
''' ""''''
cL que
ca tem r ao Governador, e em mentes
durar o zcMo d'elle se irão
ganhando m-iitos; mas, cessando em
. breve se acabará tudo, ao
menos
«uretanfo que não tem ainda lançadas
boas raizes na fé, e bons costu-

A causa porque no tempo d'este


Governador se faz isto, c não an-
tes, nao he por agora harer mais gente
na Bahia; mas porque pôde ven-
cer Mem de Sá a contradição
de todos os Christãos cVesla tm
era quererem que os índios
qTo
se comessem, por que
n^isso puiilL
a segurança da terra; e quererem
que os índios se furtassem
aos outros, para elles terem
hu.^
escravos; e querem tomar as
terras aos
índios contra razão e justiça,
e tyranisarcm-n.^s jicr todas
via. e não
qiKiem .pie se ;*juntem para serem
doutrinados, p„r o^ Invni nni^ ,
313
CARTAS DO PADRK NOBKEGA

d-esta n^neira
serviços, e outros inconvenientes
seu propósito, e de seas nc^m que
rcfuTUs elle vence, a qual eu
n^ao tenbo por menor

Senhor lhe deo, c defendeo a


carne humana aos
ns outras que Nosso comia ao
estendia, a qual antes se
Ml os oTonge quanto seu poder se prendendo aos culpados e
dentro n'ella;
edc^ da cdafle, e as vezes
conhecessem seu erro, sem nuncaman-
nd -os p esos té que elles bem
isto só abastou para
subjugar a^--tos, e ^n-
dar mata? ningueml e
lei de natura, como agora se obrigam a ^^Aer
gal-os a viver segundo
a muitos, e por isso ganhar miraigos.
m sstocustou-ll e descontentar

fce 1
a Y. A. que nesta
Governador e humBispo,
terra,
e
mais que nenhuma ou^ra, r.o p
outras pessoas publica, con
-

cntar
deráhum nao con-
e aos homens; e o
mais certo signal de
a Deos Nosso Senhor,
contentar a todos, por estar o mal m.u ia ro-
en^ ar a nÍ)sso Senhor he
Depois succedeo S^e- a - m.-,
duvido na terra por costume. seguro o
por matarem hum índio no caminho do Porto
aual começou
querer Nosso Senhor
cret Te
foi por desastre, ou
por melhor dizer,
sarar; e fo. assi que
feril-os para os curar e
a stLr aquelle' Ilheo., e
ndoosengenhostodosquatroqueimadose roubados, eagenU. recohi-
es
Satllla em muito aperto, foi M o Governador a -oi- com U. con^^^^^^

da Bahia por temerem


dizerem os mais, ou todos
com levar ^^^''fj^f''^^^^
Bahia; mas elle
iam levantar os da
o que
^^^«^i^'^'^;;^^^^?^
he muito para lou^ar a No*so"X,o
no cessava todo este inconveniente: e
monções contrarias para
Se^l o he qu sendo isto no inverno
,
em tempo de
tempo, ejhe veio
fr atííeol ^a hora
que foi embarcado lhe concertou o
nao mai. nem menos, e
ventoprospero,tantoquantolheera necessário, e
dous mezes, que la esteve d^^ou os
lá deoíselão boa mão, que
em menos de
feito, as-
restituíram o mal todo, que tinham
índios sujeitos e tributários, e
refazerem o en-
o passado, e obrigados a
s^ aU le presente, como todo
geXs,en/o comerem c.arnehumana,ereceberemadoutrma,quandoh^^^^^
dos Tup-
que já agora a geração
vessemPadres paralh^adar. De maneira
grande, poderá também entrar no r^ino do. Ceo .

naquins, que he muito


sue
era ido ao soccorro dos llheos,
N'este tempo, que o Governador
desmandaram, e foram pescar as
se
cedeo que uns pescadores da Bahia
índios do Parouassú, os quaes
sempre foram inimigos do>,
terras dos
pazes com o Go-
Christãos, posto que a este tempo alguns tinham feito
pessoas.
vernador, c lã foram tomados, c mortas quatro
mandou pedir os matadores, e
Depois, tornando o Governador, lhes
3'14
APPENDICE

£ ''t
^-
ao grande
'^- ™'™*'- '1"™'»^
»P«"''ios da nossa Companhia l,a
messe como esla. que cada
mi i ?
quanto a suje.ção dos gentios
dia se irá fazendo maior
m
se continuar. Depois,
send o Go™'nad

el o iam poi ser Irara grande


opprobrio dos Cliristãos, sereausados
In-

H) pnncjpai, elle se fazia


prestes apparclljaiklo muitos índios da Itil.i-,
'""'''
™'°- """ » '«»<>' 0^ ^™
)'Í rermrtfdTTf'
',™'"'".'"° "" ''"'^"o "»
'
T'" é
P"""- ""^ F'-™«os lodos
Lutrano F ""'""'° "'8"™^ "P"''""^
Kníni ! ,
'^
'
<la »sla até che»ar ao

pouca de gente em grande peiigo de ser comida


pelos índios c lomi-
!i
El-Ilei, ou os levasse dalli, por não poderem já mais susteniar- e o
smo requeria Vasco Fernandes

-~J
1
Cominl.o por suas ca as- a C^ ir
"'"" ''1 ™"'"°'
t^tzi ':t< ' "'^'™- ^-^°
-'" " '"™''"^'"-^ "" "^« P"''»^'^».
P™ '>™ ^r
tcmno na m
T
i

: " ""° '" "'"'""^ "» "^»°''»


de Janiró 1^ = '1"" ^"l'''' 'i»i«»

do nin ,
"'""'' '" """ P"'' " '"«"'»' f™» do Ilrasil depois
-!'),

se cnamam do Galo, que


alli mandou vir
Vasco Feruandes ,1o Rio <lo
Jancro; entendem-se lambem
com alguns Tupinaquins: e "
í s No l,t
oulias pa.tcs, que os i.onl.a a lodos eni sujeição e obediência,
poder-

3
CARTAS DO PADRE NÓBREGA

porque este he o melhw meio que pôde haver


se-ha fazer muUo trai.0,

assentou-se no »n^lho que


''%'arnoTrÍmos ao Rio de Janeiro, e

;no;°o 1 iuderLos babeis chegar seulo de


dia, com andarem

que Imham coms.go os Ind^o


do mo emqae estavam os Francezes, e
pedir ajuda de gente a
btem Wam de a combaterem, emandaram
primeiro da vinda do Governa-
t^^ZI^s de S. Vicente sabendo
chegavam determmou o Go-
por caminho, e como
dor o R Tvinham contrad.m, por-
vern dor de os comba er;
mas toda a sua gente lh'o
imposswel entrar-
parecia-lhes cousa
espiada tudo, e
arflã á bem
rco^t^o forte, e^obre
Mas eu sobre
isso lhe fizeram
isto
^^^^^^^^
tudo a maior difficuldade
que me
desobediências.
com o Go-
a ver aos Ghristãos da armada tão pouco unidos
chava
em muitos, toda aquella v.agem
'e nad^e 1^ tão pouca obediência

achei presente; e isto nasceo de se dizer P^W.camente,


em que me Vossa Al-
mal acreditado no Remo com
sal?'m que o Go4rnador estava que, com pai.
za e que se havião lá
dado capítulos d^elle por pessoas

S Informarão lá mal a V. A., e


;:que as mais das cousas me passavam
parece
pela
que
mão
com pouca
te-^^^^^
razão,

--
atrela, e poi
por isso quem quer se lhe
Vellas para as remediar, e sua
que favorecessem
di r qí inimigos no Reino, e poucos
tinha lá
de bem governar; mas agora
causa,a que lhe tirou muito a liberdade '

Senhor.
ouça V A as grandezas de Nosso
Governador
me parece que foi dar Nosso Senhor graça ao
i primeira,
tempo saber
prudência para em tal
para saber soíTrer tudo, e dar-lhe tom
contrarias a sua, condescenderem
trazer as vontades de todos tão
lhe inspirava; e foi assim, que
que elle entendia, e Nosso Senhor
aquillo
316
'' APPE.NDICE

a huns por vergorJia, a oiiín^ nnr vnn!-Hi.. ii

metterem a ' ""' "^'''''''^ '^'^^» J« com-


fortaleza

se poderiam recolher ao-! '


'i'™'lo-* ja comu
n,,;».- ,

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3
rARTAS DO PADRE NÓBREGA 317

estuo bem fracas, e os Francezes lançados de todo fora, c os índios se


poderem melhor subjeitar, e para isso mandar mais moradores que sol-

dados, porque de outra maneira pode-se temer com razão ne reJeat im-
mundus spiritus cum nliis sepíem nequioribus se, et sint novíssima peiora

prioribus—; porque a fortaleza que se desmanchou, como era de pedras


c rochas, que cavaram a picão, facilmente se pode tornar a reedificar, e
fortalecer muito melhor.
Depois do tomada a fortaleza dco o Governador em uma aldeã de
índios, e matou' muitos, e não pôde fazer mais porque tinha necessidade

de concertar os navios que das bombardas ficaram mal aviados, e ía-


7el-os prestes para se tornarem, oque veio fazer a estar capitania de
S. Vicente, onde eu fico por assim o ordenar a obediência; o mais que
houver para escrever ao Provincial, que agora é o Padre Luiz de Gr3a
fará da Bahia. Nosso Senhor Jesus Christo dé a V. A. sempre a sua gra-
ça. Araen. De S. Vicente o 1." de Junho de 1360.

Manoel da Nóbrega.

(Remsta do Inslituío, vol. v, pag. 328.)

riM DAS CARTAS


iii y{) ;.í(!(;Ji.!r.)

,1

n
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IFJDiCE GERAL
E AMPLÍSSIMO

líAÍ^ C®t]SAS Si A IS ]^OT.4WS5lS

DESTA CHRONICA

1'ADRE AFFONSO BRAZ

He o primeiro da Companhia que foi á Capitania do Espirilo santo


num. 95.
liv. I,

lie recebido com grande festa dos moradores, liv. i, num. 97.

ALCAIDE JIOR
h ^.oôoílJi /íriííín JíOíiíjTld

Yide António de Oliveira.

PADRE ANTÓNIO PIRES


"
í-M oro]-
Vai pêra o Brasil por companheiro do Padre Manoel da Nóbrega, liv. i,

num. 24.
Visita Pernambuco por commissão do Bispo, hv. i, num 114.
ÍNDICE r.ERAl.
320
ANTÓNIO CARDOSO DE BARllOS

índios C»,c.. liv. u, num. 17.


r«°í.ufr»giò.'c'raor,-c a ufios Oos

ANTÓNIO DE OLIVEIRA

Bahia, liv. i, num. 9i.


Capitão ílc hnma armada pêra a
lie Alcaide mór da Balua, ibid.

PADRE ANTÓNIO RODRIGUES

da vida, liv. iii, num. m.


Sua morte, e dismrso
ANTÓNIO DA SILVEIRA

rporprstufír:Js'Sã:Scrrai^^^^^^^^^
PADRE ANCHIETA

d' Anchieta.
^^^^^ Padre Joseph
Vide
ARMADA

Portugal ã Bahia, liv. i, num. 80.


Chega huma armada de
íóra do
SrSiifDÍ^Calherimma armada ao Brasil pêra lançar
aos Franceses, hv. ii, num. 71.
li R?o de Janeiro
lístacio de Sa.
Vide Mem de Sá, e
ASPILCUETA
Aspilcueta.
Vide Padre João de
AGUA DENTA

da agua benta, liv. i, num. 116.


Bffeitos maravilhosos

IRMÃO ADAM GONÇALVES


íí

e procedeo n'ella,
liv. ii. num, 70
Quem foi, como entrou na Companhia,
lU MBiMBIIl tmmmmm^

DESTA CHP.OMC.V 321

ASSUCAP.

Onde se fez a primeira vez no Brasil, liv. i, num. 63.

AYMOnÉS

Costumes d"estes índios, liv. ii, num. 93.


Inquietão aos moradores dos Ilheos, e Porto seguro com assaltos, Ilv. n,
num. 94.
Fazem guerra aos moradores dos Ilheos, liv. in, num 5t><

PADUE AZEVEDO

Vide Padre Ignacio de Azevedo.


B

BRASIL

Seu descobrimento, liv. i, num. 2.


Avista a frota terra do Brasil, liv. i, num. 27.
Vide Páo brasil.
BLASFEMO

Castiga Deos com hum raio a hum blasfemo, iiv. i, num. 20.
Vide Castigo.
BAHLV

Quem foi seu primeiro descobridor, liv. i, num. 33.


Seu primeiro povoador por ordem d'El-Rei, liv. i, num. 34.
Chega o Governador ao porto da Bahia de todos os Santos, liv. i, num. 27.
Descripção da Bahia, liv. i, num. 28.
Começa-se a edificar a cidade da Bahia, hv. i, num. 40.
Vide Padres da Companhia.
Vide Governador.
BAUTISSiO

Bautismo solemne de cem feiticeiros, !iv. i, num. 5G.


Vide Padre Luis da Gram.
BÁLSAMO
Bálsamo, liv. i, num. 96.
BISPO

D. Pedro Fernandes Sardinha primeiro Bispo do Brasil, liv. í, num. 37.


D. Pedro Leitão segundo Bispo do Brasil, liv. ii, num. 63..
VOL. u 21
índice gkuai.

banquete

Em seus banquetes usuo os índios de carne humana, liv. i, num. 48, e


49, c num. 92.
Dissuadem-nos os Padres da Companhia d'esle cosiume, ibid.

BEP.THOLAMEU ADAJI

Entra na Companbia de Jesu, sua vida, c morie, liv. ii, num. 80.

CASTIGO

Castiga Deos a huma peccadora obstinada, hv. i, num. 12.


Castiga Deos com hum raio a bum. blasfemo, liv. i, num. 20.
Castigo que o Padre Nóbrega deo a bum delinquente, liv. ii, num. 129.
Castiga Deos aos índios Tamoyos, liv. ii, num. 114.
Castigo que Deos deo aos moradores de S. Yicente, liv. ii, num. IG.

CO>iVERSÃO

Converte o Padre Nóbrega buma grande peccadora, bv. i, num. 14.


outros peccadores o mesm.o Padre, liv. i, num. 16, e 17.
)ll Converte
Converte o mesmo Padre bum grande salteador, liv. i, num. 11.
Converte a melhor vida bum grande peccador, liv. i, num. 8Ge 87.
Converte-se, e bautiza-se hum índio de cento e trinta annos, liv. ii,

num. 141.
CONFISSÃO

EíTicacia da confissão contra o demónio, liv. i, num. 2"j.

COMPANHIA DE JESU

I,-
i

Em que tempo começou, liv. i, num 2.

()uando foi ao Brasil, liv. i, num. 3.

Vide Padres da Companbia de Jesu.

COMPANHEIROS

Companheiros que forão pêra o Brasil com o Padre Nóbrega, liv. i, num.
24.
Companheiros na viagem, c morte do Padre Jgnaiit) de .\/.evcdo, liv. iv.

mm. 35.
nmmm Meammmmmfm.

D ESTA CIIRONIGA 323

Vé Santa Theresa entrar no Ceo aos companheiros com o Padre Azevedo^


liv. IV, num. 51.

São celebrados por vários autliores, liv. iv, num. 51 e 52.


Seus nomes e elogios, liv. iv, num. 64 usque ad num. 107.
Autliores que lhes derão titulo de Martyres, liv. ív^ num. 110-
Vide Padre Azevedo. >
,

Vide Padre Nóbrega.


curaSTOVÃo jaquès

He Q primeiro descobridor da Bahia, Uv. i, num. 33.

COSTUMES

Costumes bárbaros dos índios, liv. i, num. 44 e 48.


Aos Portugueses se tinhão pegado muitos costumes dos índios, liV- r,

num. 65.
Vide índios.
Vide Carne humana.
CIDADE

Cidade da Bahia de todos os Santos, íív. i, num. 30.


Funda-se a cidade do Rio de Janeiro, liv. iii, num. 115.
Chama-se de S. Sebastião, liv. in, num. 117.

COLLEGIO
Vide S. Vicente.
Funda-se CoUegio em Piratininga, ou S. Paulo, hv. i, num 148 e 149.
Aperfeiçoa-se, liv. i, num. 202.
Funda-se o Gollegio do Rio de Janeiro, liv. in, num. 115.
Vide Nossa Senhora da Graça.
Funda El-Rei D. Sebastião o Gollegio da Bahia, liv. m, num. 45.

COPAIGBA

Que cousa seja, liv. í, num. 96.

CATIVEIRO

Padecem os Padres da Companhia de Jesu por prohibirem o cativeiro in-


justo dos índios, liv. i, num. 73, e liv. ni, num. 41 a 43.
Pregão os Padres contra o cativeiro dos índios, liv. i, num. HO.
Leis que sobre a liberdade dos índios íizerão os Reis de Portugal, liv.
ui, num. 44.
324 ÍNDICE GERAL

CATIVOS

Resgatão-se huns Castelhanos que eslavão cativos pêra ser comidos dos
índios, liv. I, num.' 132.
Vai hum Padre livrar os cativos, liv. i, num. 78 e 79.

CASTIDADE

Morrem duas mulheres por defensão da castidade, liv. n, num. 112 c


113.
COXFRAIUA

Confraria do Menino Jesu, liv. i, num. 133.


Confraria do Espirito santo, liv. i, num. 185.

CONGREGAÇÃO

Primeira Congregação Provincial no Brasil, liv. iii, num. 112.

CAETliS

)h Dão cruel morte a huns naufragantes, liv. u, num. IG.

CERRA

Cerra notável de Paraná Piacaba, liv. i, num. loO.

CAJIINIIO

Caminho de S. Vicente pêra Piratininga, liv. ii, num. 8o.

CILADA

Descobre-se huma cilada que os inimigos Unhão armado, por meio de


hum pássaro, liv. iii, num. 95.
Successo de outra, liv. ui, num. 9G.
Frustra-se outra quasi milagrosamente, liv. lu, num. 97.

CARIJÓS

Mandão Embaixadores a pedir lenires, (iv. r, num. 198.


d'esta chronica. 325

d. catherina rainha de portugal

Manda huma armada ao Brasil pêra lançar d'elle aos Franceses, liv. ir,

num. 74.
D

DIOGO ALVAJIES

Como foi ao Brasil, liv. i, num. 35.


Como se fez respeitado dos índios, ibid, num. 30.

Faz huma povoação, liv. i, num. 37.


Sua descendência, liv. i, num. 41.

DEMÓNIO

as palavras afugenta o Padre Nóbrega os demónios, liv. r, num.


21.
Com
Pretende desviar os índios da conversão com enganos, liv. i, num. 115,
e liv. II, num. 106.
DUARTE COELHO

Dá-lhe El-Rei D. João o III Pernambuco pêra o povoar, liv. i, num. 100.
Successos que teve com os índios, ibid.

D. DUARTE DA COSTA

Segundo Governador do Brasil, liv. i, num. 135.


Chega ao Brasil com armada, ibid.
Yide Tapuyas.
DIOGO JACOME

Sua morte, e elogio, liv. iii, num. 68 e seg.

DIO

Primeiro cerco de Dio, e seus successos, liv. n, num. 39.


Segundo cerco de Dio, defende D. João Mascarenhas, Uv. ii, num. 41.

IRMÃO DOMINGOS PECORELLA

Sua morte, e vida innocente, liv. i, num. 188,


"^1^/;

326 IXDICF. GERAL

DISCIPLINA

Toma o Padre Aspilcueía huma disciplina publica, liv. i, num 83


Tomando os Padres huma disciplina publica tirão os índios de
comer car-
ne humana, liv. I, num. 117.

PADRE DIOGO LAIAES

segundo Geral da Companhia,


íle eleito liv. n, num. C3.
Sua morte, liv. iir, num. 46.
E

ENGEXHOS DE ASSUCAR

Quantos ha nos arredores da Bahia, liv. i, num. 28.

ESPIRITO SANTO

Descreve-se a Capitania do Espirito santo, liv. i, num. 95.


Quem foi seu primeiro fundador, ibid.
Padre Aflonso Braz lie o primeiro da Companhia que foi a ella, ibid.
He recebido com grande festa dos moradores, liv. i, num. 97.

ESTAGIO DE SÁ

Vai com huma armada ao Rio de Janeiro, e o que lá lhe succedeo, liv
III, num. SG e seg.
Morre de huma ferida, liv. in, num. 10o.

FRANCISCO PEREIRA COUTINHO

(.
'
Morte, e infortúnios de Francisco Pereira Cou linho, liv. i, num. 33
Vide Bahia. •

FEITICEIROS

Convertem-se á Fé oitenta e hum feiticeiros, liv. i, num. 53 e 5G.

S. FUANCISCO XAVIEII

Morre na índia oriental: elogio de sua vida, liv. i, num. 123.


iin » T~i i
nT 'i
,.
^..iij—.—

D ESTA CHRONICA 327

FRANCESES

fortifião-se, liv. n, num. 13.


Entrão no Rio de Janeiro, e
num. 45.
Quem foi-o primeiro Francez que foi ao Brasil,
lu'. ii,

Retirão-se aos matos, liv. n, num.


46.

Vide Mem de Sá.


PADRE FRANCISCO PIRES

Senhora da Ajuda, liv. ii, num. 70.


Levanta a Capella de Nossa

FERNÃO BE SÁ

vencido, e
Vai com armada contra os Tamoyos, vence-os, e depois lie

morto, liv. II, num. 143.

S. FRANCISCO DE BORJA

eleito terceiro Geral da Companhia, liv. m, num. 67.


He
FESTA DAS CANOAS

Sua origem, liv. in, num. 98.


FILHOS

Quantos, e quaes filhos teve El-Rei D. Mo o Terceiro, liv. ir, num. 43.

GOVERNADOR

Primeiro Governador do Brasil, liv. i, num. 3o.


Vide D. Duarte da Costa.
Vide Mem de Sá.
GUERRAS

Guerras com os índios de S. Vicente, liv. ii, num. 119.


Vide Tupis.
Vide Franceses.
Vide Tamoyos.
H
HEREGES

Desacato com que tratarão as cousas sagradas, liv. iv, num. 57.
Vide João Boles.
3'i8 i>;d:ck ci-iUL

PADRE JOSKPH Vi: ANCHIETA

Parle de Líiiboa pêra O Brasil, liv. i, num. 133.


Chega ao Brasi!, ibid.
Escreve as obras, c virtudes do Padre Nóbrega, liv. i num 7
Vai pêra S. Vicente, liv. i, num. tí3.
Successos da viagem, liv. i, num. i4i.
Escreve por sua mão os cadernos nera os discípulos,
liv num 15o i

Juntamente ensma a lingoa Latina, aprende a do


Brasil, compõe' a Arte
'
e Laihecismo, liv. i, num. JSG.
Traduz na lingoa Brasílica cantigas iionesEas, ibid.
num 57
Profecias suas, bv.ii, num.. 80, e liv. in, num.
24 a "^G
Maravilhas que obrou, liv. m, num. 20 c 27.
Vai com o Padre Nóbrega assentar as pazes
com os Tamoyos, e o aue
,
alli lhe succedcoaté volíar, bv. i:i, num 5 e se"-
Volta dos Tamoyos pêra S. Vicente, liv. lu, num.
33
Outras profecias, liv. m, num. i8, e num. 34.
Vai em huma armada, e profetiza cousas futuras,
liv. m, num 73
Vai-se ordenar Sacerdote á Eahia, liv. iii, num.
86 a 88
Visita de caminho a casa, e aldeãs do Espirito santo ibid
Vai pêra o llio com o Padre Visitador, ibid.
Varias outras profecias suas, liv. iii, num. I iO
e <;e'^
Convejte a bum herege que foi jusiicado, liv. m,
nuni jfG
Compõem a Vida de Nossa Senhora, liv. m, num. 22.

PADRK IGXACÍO DE AZEVEDO

He eleito Visitador do Brasil, liv. in, num.


G7.
Ciiega á Bahia, liv. m, num. 88.
Sua viagem, e fruto que fez em Cabo-verde, liv. m. num 89
Leva consigo cinco Rehgiosos, liv. m, num. 9;>.
Estado cm que achou a Província, liv. m, num.
92.
Parte a visitar a Província em companhia do
Governador, liv. ni, num 93
Parte do Rio pêra S. Vicente com o Bispo, liv.
ni, num 109
LivTa-o Deos, e aos companheiros, de hum grande perigo, liv. iii, num.
lu1
Volta da visita á Bahia, he recebido cora
grandes apnlausos, e seu "ran-
de exemplo, liv. m, num. il9.
Parte do Brasil pêra Roma, liv. iir, num.
112.
Chega a Portugal de volta do Brasil, liv. iv, num. 2
Parte da.hí pêra Roma, liv. iv, num. 5.
Volta a Portugal com muitos companheiros,
liv. iv, num. G,
Retira-se a Vai de Rosal comos companheiros:
descrevc-se e^le sílio lív
IV, num. 7.

im
iJBMil»,i1WWHW''W " MH"!!

329
D'EâTA CHRO.NIGA

S IV,
s*a«.r™r;S
num.-'i8.'
ol^^ «ma
^ iJ o 90
sa e -u
» nove companheiros, li,.

Como houverão na viagem, hv. iv, num


se
hereges no mar, liv. iv, num. à^.
São acometidos dos
Morre com seus companheiros á
mão ^os herdes. Iv.iv, num^ 35^
Crueldades que os hereges usarão
com o Padie Azevedo, e seus com
Uv. iv,
Ceo com os quarenta companheiros,
VèS" sSlí TlSesa entrar no
iv,
e virtudes do Padre Igaacio de Azevedo, liv.
EioSf dfVida,
num. 50.
SANTO IGNACIO.

se descobrio o Brasil, Uv.


i, num. 2.
Nasce no mesmo tempo em que
Morre em. Roma, liv. n, num. 19 e seg.

REi D. JOÃO TERCEIRO.

liv. i, num. 3.
7p1o cíue tinha da dilatação da Fé, num. 2G.
e quanto foi 'sentida de
toda a Gonjpar^ua, hv. .,
sSaSe;
e virtudes, hv. n, num. 2J e s.g.
Elogio de sua vida,
Filhos que teve, iiv. u, num. 43.

PADKE JOÃO ASPILCUETA.

lingoa do Brasil, e verteo


al-
O primeiro da Companhia que pregou na
gumas orações n'ella, liv. i, num. 48.
Yai pêra o Brasil, hv. i, num. 24
peccador, hv. ., num. »/.
Traça com que reduzio hum grande
succedeo, hv. i, num. i-u.
Entra ao sertão, o o que lhe
i, num.. i4i.
Confirma Deos sua doutrina com múagres,Jiv.
elogio da vida, liv. i, num. 195.
Sua morte,

índios

liv. i, num. 43.


Impedim.entos que tinhão pêra sua conversão,
Vide Costumes.
Causas de comerem carne humana, hv. i, num.
4J.
^
mim. ou. t se^,.
Querem matar aos Padres por lha prohibu'em, hv. i,^
bautismo lhe o gosto, liv. i, num. 51.
Cuidão que o tira

Como concorrião a ser doutrinados, liv. i, num. 13!.


Maião os contrários muitos quando vinhão, ibid.
num. lou.
Os primeiros que em S. Paulo se ajuntarão, hv.
i,
:?.>

330 I.NDICE GCnAL

Vide Leis.
Convertc-se Iium de 130 annos, liv.
ii, num. 141
Piedade, e modo com que os índios
vivem nas aldeãs, liv. n, num. 9.

ITAGYBA

índio esforçado, liv. i, num. 103.

JOÃO CAIUBI

Conversão, e vida cliristãa deste índio, liv. i, num. IGO,

imiÃÒ JOÃO DE SOUSA

Morte gloriosa deste irmão,


i, num.
liv. 170, c 177
yuem íoj, e sua vida, liv. i, num. 183.

D. JORGE DE MENESES

He morto pelos índios Tupinaquis, liv. n, num. 13.

ILHA DE VILLAGAILHON

Sua descripção, liv. n, num. 77.


ILHEOS

Descripção eporoação dos Ilheos, liv. m, num. 48


e se^ '
Funda-se n'elles Casa da Companhia de Jesu, liv. m, nunir 47.

JORGE DE FIGUEIREDO

Senhor dos Ilheos, e a quem passaram, liv. iii, num. o3.

JOÃO BOLES
í
I,
Hc justiçado no Rio de Janeiro,
liv. iii, num. IIG.

JAQUES SORIA

Apparece com cinco velas, e foge, liv. iv, num 25


tim que teve este herege, liv. iv, num. Gd.
d'eSTA CHRONICA 331

PADKÍí: LEONARDO NUNES

liv. i, mim. 24.


Vai pêra o Brasil com os primeiros Padres,
Vai á Capitania de S. Vicente, liv. i, num. 61.
Seu exemplo, e zelo apostólico, liv. i, num. 64. ^
Hum peccador a quem reprehendia o quiz espancar, liv. i, num. /b.
Livra-o Deos da morte que lhe quenão dar,
liv. i, num. 77.

Vai ao sertão a livrar cativos Europeos, liv. i,


num. 78 e 79.
Procurador geral a Roma, liv. i, num. 167.
He eleito
Parte, e morre cm hum naufrágio, liv. i, num. 168.
Epilogo de sua vida, ibid.
LIBERALIDADE

Liberalidade dos naturaes da Bahia, liv. i, num. 30.

PADRE LUIS DA GRAM

Chega ao Brasil, hv. i, num. 143.


i, num. 147.
Tem os mesmos poderes de Provincial, hv.
Faz profissão solemne, ibid.
hv. i, num. iJó.
Vê-se a primeira vez com o Padre Nóbrega,
Vai ao sertão, liv. i, num. 200 e 201.
Vem-Uie patente de Provincial, liv. ii, num. 63.
Prega contra hum herege, liv, n, num. 67. _
^
Edifica a Gaoella de Nossa Senhora da Ajuda,
hv. ii, num. /u.
pêra ser comidos, hv. ii,
Bautiza, e livra dous índios, que estavão

faz muitos bautismos,


Vaívisitar as Aldeãs, he festejado dos índios, e
liv. II, num. 101 e 123.
hv. m, num. iàó.
Vai visitar Pernambuco, e abre alli Classes,

D. LUIS DE VASCONCELLOS

Successo das náos de saa Armada, liv. iv, num. 112 e seg.

M
PADRE MANOEL DA NÓBREGA

Converte huma grande peccadora, liv. i, num. 14 a 17.


Quanto folgava de padecer, e ser desprezado, hv. i,
num. 18.
21,
Afugenta os demónios com as palavras, hv. i, num..
INDECE í;EUAL

Faz em Portugal varias


missões, e fruto (l'ellas liv
Fervor com que pregava, liv. r num ^' '
1

i, num. 23
ne mandado pêra o Brasil, liv. i,
num 94
tomo se houve na viagem, liv. i,
num. 42'
taz oíficio de Parodio, liv. i,
num. 44
Primeira pratica que faz aos
Missionários, liv. r num 8i
"'""^^^'^^ ''' P°'^^"^---^'
TSfk"' « convSsão^dos índios, liv.

He nomeado Vice-provincial, liv. i, num. 8i


à^rfhnmSrfi^^^^f^^^^^^^^^^^^^^^i-^itava os súbditos, liv. num 8^
Sara hum Padre doente i,
por seu mandado, liv. i, num
Vai a Pernambuco, liv. i, 93
num. 107
U que alíi obrou, liv. i, num. 1 10
Volta á Bahia, liv. i, num. 112.
Visita as Capitanias, liv. i, num' 1^4
Livra-o Deos milagrosamente
de hum naufrágio, liv i num 125
Entra no sertão, e funda huma
Residência, liv. /num 13o'
ínstitae a Confraria do Menino Jesu,
liv. i, num 133
He declarado Provincial, liv. i, num 147
Escreve o Padre Anchieta suas insignes
obras, Hv. i, num 7
Seu nascimento, pais, e estudos, liv. i,
num 8
Resolve-se a ser Religioso, liv. i, num.
9
Entra na Companhia de Jesu, liv. i,
num. 9
Fazem-no em Coimbra pai do próximo,
liv.'i, num 10
^'' '^°' necessitados por sua muita
charidade, liv.
nm^^Sa „,

Su!va'of ' ^' ^- '^"^0"'°' ^'^'- ^«1. 90.


Luuna Indiflf
os Índios Vicente, 'J''
«^r^^'^?'
de S. hv. 11, num 110
"'
Vai emmissão aos índios Tamoyos, liv. iii,
num.' 5 e seg.
1 ratão os índios de o matar, liv. iii, mim.
10.
Volta daqui a S. Vicente, liv. m,
num 17
Dispoe-se pêra a morte, e tem
conhecimento d'ella, liv. i>, num 110.
iv, num. 115
Epjlogo de sua santa vida, liv. IV, •

num 117
Testemunho que d-elle deo o Padre
Anchieta, liv. iv, num. 118
Raro exemplo de sua charidade, liv.
I.
' iv, num l^o

-AlAXGrKS

Arvores do Brasil, liv. r, num. 28.


Usos d"csta arvore, ibid.

-pi
d"esta chuomca 333

martim affonso de sousa

num. G3.
Primeiro fundador da Capitania de S. Vicente,
liv. i,

MARTM AFFONSO INDIO

Valor com que se liouve na tomada do Rio aos Franceses, liv. ii,

num. 81.
Sua fidelidade, liv. ii, num. 134.
Alcança huma grande victoria, liv. ni, num. 130.

MARTIM AFFONSO TACYRICA

Morre grande Chrístão, liv. ii, num. 138.

MUSICA

Levão-se os índios muito da musica, liv. i, num. 18.

MIXAS

Ha muitas na serra de Pirana Piacaba, liv. i, num. 130.

MENINOS índios

Ajudão muito á conversão dos naturaes, liv. i, num. 161.


Fazem-se Seminários d'elles, liv. i, num. 91 a !)3.
Rezando elles as Orações sarão os enfermos, il3id. e 118.

MENDO DE SA

Vai por terceiro Governador do Brasil, liv. ii,


num. 4.
Quem foi, e como se houve no governo, liv. ii, num. 48.
He Governador quatorze annos, ibid.
Toma os exercícios espirituaes na Companhia, liv. n, num. 45.
Dá leis aos índios, hv. ii, num. 8. ^, i
. ,•

Vence, e prende a hum índio poderoso, que não obedecia, hv. ii,

num. S5.
Promulga leis em favor da liberdade dos índios, hv. ii, num, 44.
Castiga asperamente aos índios que não guardavão as leis, liv. ii,

num. 55.
Alcança dos índios de Peraguaçú huma insigne victoria, liv. ii. nuin. 57.
Parte com huma armada pêra o Rio de Janeiro, liv. ii, num. 76.
Chega com ella ao Rio, liv. n, num. 77.
334 I.NDICE ClCKAr.

Entra a barra a pesar dos inimigos, ibid.


Ganha a fortaleza, Hv. n, num. 78.
Volta com a Armada pêra S. Vicente, liv. ii, norn. 82.
Volta d"ahi pêra a Bahia, liv. ii, num. 89.
Manda outra armada ao Rio, e successos d^clla, liv. m. num. 5G
Vai segunda vez ao Rio com armada, e conclue a guerra liv
m num
100, e seg.
V. -MATUELS NOGUEIRA

Sua vida, e virtudes, liv. n, num. 119.

N
NOVIÇOS

Os primeiros que no Brasil entrarão na Companhia, liv. i, num. 70.

NAUFRAniO

Naufrágio miserável, liv. ii, num. 1 í.


Vide Leonardo Nunes.
Vide D. Pedro Fernandes.
NÂO

Rendera os nossos huma náo francesa, liv. ni, num. 136.


Náo San-Tiago he rendida dos Hugonotes, liv. iv, nora. 41.

NICOLAO VILLAGAH^HON

He o primeiro Francez que foi ao Brasil: alcançou terra no Rio de Ja-


neiro, liv. ji, num. 45.
NOSSA SENHORA

Nossa Senhora da Graça da Bahia, como se achou, liv. r, num. 40


Dá-se a sua Ermida aos Religiosos de S. Bento, liv. i. num. 40.
Em Nossa Senhora d"Ajuda edificão a primeira Casa os Padres da Com-
panhia de Jesu, liv. i, num. 40.
Vide Collegio,
Rebenta huma fonte milagrosa em Nossa Senhora dWjudn. liv, ir. num. 70
I)'esta cimONicA. 335

PADRES DA COMPANHIA DE JESU

Vão ao Brasil, e quaes forão os primeiros, liv. i, num. 24.

Saem a primeira vez em terra do Brasil, e dizem missa, liv. i, nmn. 43.
Como forão recebidos em S. Vicente, liv. i, num. G6.
Seu exemplo, e zelo apostólico, liv. i, num. G7.
São perseguidos por prohibirem o cativeiro injusto dos índios,
liv. i.

num. 73.
Cliegão á Bahia outros Padres, liv. i, num. 81.
Empregão-se na reformação dos Portugueses, e conversão dos índios,
liv. I, num. 85.

Vão a Pernambuco, e o que ahi obrarão, liv. i, num. 107.


Vão a varias missões ás aldeias dos índios, liv. i, num. IH.
São calumniados por inimigos, liv. i, num. 126.
Chegão outros mais ao Brasil, liv i, num. 134.
São perseguidos em S. Paulo, liv. i, num. 162.
Como estas perseguições se aplacarão, ibid.
Modo com que doutrinão os índios das aldeias, liv. ii, num. 6, /, e 8.

Chegão outros mais ao Brasil, liv. n, num. 63.


Tratão de reduzir os índios, e estão quatro arriscados a ser mortos, liv.

ni, num. 40.


POBRES

Enganos com que Imns pedião, liv. i, num. 22.

D. PEDRO FERNANDES SARDINHA

Primeiro Bispo do Brasil, hv. i, num. 37.


Chega á Bahia liv. i, num. 114.
Suas partes, e talentos, ibid.
Faz naufrágio voltando ao Reino, liv. ii, num. 14.

PORTO SEGURO

Quem foi seu primeiro povoador, liv. i, num. 142.


Sua descripção, ibid.
Vão a esta Capitania os Padres da Companhia de Jesu, hv. i, num. 140.

PEDRO DE CAMPOS TOURINHO

Primeiro povoador de Porto seguro, liv. i, num. 142.


m^ipifmmmimim •mmmmmm

33G IXDiCE GiT.AL

PEDRO CORGES

Primeiro Ouvidor geral do Brasil, liv. i, num. 42.

lUÃÍÃO PEDRO CORRÊA

Entra na Companhia, e he o primeiro Noviço que entrou no Brasil, liv.

I, num. 70.
Sua ditosa morte, liv. i, num. 170 e 176.
Yai ao sertão, liv. 174. i

Chega á terra dos Carijós, e o que alli fez, liv. i, num. 173.
Quem foi, e os progressos de sua vida, hv. i, num. 175.
Como os índios sentirão sua morte, liv. i, num. 181.

D. PECRO LEITÃO

íío eleito segundo Bispo do Brasil, liv. ii, num. G3.

POBREZA

Vivem OS Padres da Companhia pelo trabalho de suas mãos, liv. i,

num. 72.
PARAGYBÁ

índio muito esforçado, liv. i, num. 103.

TÍV PERNAMBUCO

Suas desgraças forão d'antemão vistas, liv. i, num. 104.


O que n'elle obrarão os Padres da Companhia de Jesu, liv. n, num. Cl.
Sua descripção, liv. i, num. 99.
Quem foi seu prim.eiro povoador, liv. i, num. 100.
Vide Duarte Coelho.
PÃO

Páo brasil, liv. i, num. 99.


PIRATIXINGA
Vide S. Paulo.
S. PAULO

Faz-se Collcgio da Companliia cm S. Paulo, liv. i, num. 148.


Descreve-se o sitio da villa de S. Paulo, o exccUoncias do seu dislricto,
liv. T, num. 128 129.
Muda-sc o caminho de S. Paulo pcra S. Vicente, liv. ii, num. 8o.
saimemmmmtm

D ESTA CHRONICA
337

PnOVINClA

He erigida a Provinda do Brasil,


liv. i, num. 47.

R
RIO

Rios que entrão na Baliia, liv. i, num


28
Rio de Janeiro seu Padroeiro S.
Sebastião, liv. ni, num 72
Descnpçao do Rio de Janeiro, liv. m, ^^ e 97
J7.
num. lOC.

RESIDÊNCIA

Fundão-se varias Residências, liv. ii, num. S.

SEMINÁRIO

Faz-se Seminário de meninos


índios, liv. i, num 71
Funda-se outro, liv. i, num. 91 e 93. '
'

Vao em grande crecimento, liv. I,


num. 118.

PADRE SALVADOR RODRIGUES

He o primeiro da Companhia que


faleceo no Brasil, liv. i, num. 138.
D. SIMÃO DE GASTELBRANCO

Matão os índios Tupinaquis a D. Simão de Castelbranco,


liv. n, num. 13.

D. SEBASTIÃO REI DE PORTUGAL

Funda O Collegio da Bahia dos Padres


da Companhia, liv. m, num. 45.

S. SEBASTIÃO

PADRE SIMÃO RODRIGUES

Quem foi, hv. i, num. 4.


voL. n .
INDICK GERAL
338
i, num 3 e 3.
Tnti (laconversão dos Brasis, liv. _
a elle, hv. i, num. ..
Ses poi^ue El-llei o não deixou ir

SALVAUOU COUREA dô SÁ

.a, num. 10o.


de Estacio de Sá. liv.
Saccede no lagar, e poslo

THOMÉ DE sois A

Brasil, liv. i, num. 25.


Primeiro Governador do
Parte de Lisl^oa, ib.d.
^^^^^.^^^^^

liv.
os Porlugueses,
primeiros índios que ílzerão pazes com
São- os

d^este Índio, liv. >, num. 101.


Esforço, e façanhas

TEMIMINÓS

á Capitania .io Espirito santo. liv. .,

I«V,os povoav iirato


vem «te.
'™'"- -''"
TAPVVAS, TIPINAMBAS

liv. „. num. I.
contra os PorU.gucses.
Lcvaeir.o-se estas nacSes

TORMENTA

terremoto, liv. u, num. 815.


Espantosa tormenta, e
TIPIS

l,v. o. n„m. X
eontva os Purtogueses,
1

Levamão-se estes Imlios


TAMOVOS

,,,,crip™o aa.^n<tas^;a.«;>«.n^-- .;-;;,«,;; ;;,^,,, e conWen-

IW.
Casli,ál)eosestesta,taos,l,v.n.nom.
339
d'eSTA ClinONICA

TUI GO

em S. Vicente, liv. r, num. 62.


Dá-sc

V
VILLA. DE SANTOS

Sua fundação, liv. i, num. 03.

VASCO FERNANDES COUTINHO

santo, liv. "' ™™-^^'^,;..


Primeiro povoador do Espirito
custa, e .ai com outros fidalgos, dml.
Fofaimada á sua

VICTORIA VILLA

ò^ua descripção, liv. i, num. 9G.

VICTORIA

''''
Alcanção os índios Christãos
Imma ^^j'^'^':'^-
num. hl, e.s.,.
n, num. 13d; e liv. i.i,
Victoria insigne, liv.

S. VIGENTE

Vicente, liv. i, num. 62.


Descreve-se a Capitania de S.

FIM

MkkMil^MmH
m mM iwf^ ^t»>m
l

i -
SATISFAÇÃO AOS QUE LÊM

Bem quizeramos que esta edição sahisse tão correcta e expurgada de


erros, que dispensasse a íabella de erratas, a que entre nós raras vezes
escapam ainda as mais aprimoradas. A esse propósito applicámos toda
a diligencia e cuidado que em nós cabiam, revendo miudamente primei-
ra e segunda vez as provas typographicas de cada folha, e de boa von-
tade veríamos a chamada de prelo, se nol-o consentisse a celeridade com
que o editor se empenhava em concluir a im.pressão da obra. Com-
tudo, apezar do trabalho e sacrifícios que empregámos, soem. parte con-
seguimos .lograr o nosso intento, A^encendo as difficuldades de mais de
um género que se nos oppunham.
Examinado agora o livro já todo impresso, e conferido escrupulosa-
mente com a primeira edição, que servira de norma, achámos que na
parte portugueza se tornava a errata de todo desnecessária, pois apenas
se encontrou a troca de uma ou outra letra, e algumas voltadas, o que
em nada deturpa o sentido do texto, e pode ser íacihmamente supprido
pelo leitor benévolo e intelligeníe. Quanto porém ao poema latino do
Padre Anchieta, que n'este volume corre de pag. 139 a pag. 278, nota-
ram-se discrepâncias assas numerosas, bem que de pouco momento, as
quaes nos julgamos obrigado a apontar, com a exphcacão das causas que
as produziram.
Forçado a corrigir á pressa, quasi sempre de noite e mal ajudado da
vista (que cada vez m.ais nos falta) as provas da composição typographi-
ca, entregue a compositores que por menos peritos e totalmente igno-
ran fes do latim, trocavam e alteravam as letras a cada passo, achámo-nos
seriamente embaraçado ao entrar na revisão pelos versos do Padre An-
chieta, que na edição da Chronica de 1663 são impressos em caracteres
itálicos, e tão miúdos, que se nos tornavam de noite inintelligiveis.
^''es-
te embaraço occorreu-nos o expediente de corrigir as provas
pelaouira
edição do mesmo poema, que impresso em typos mais graúdos sahiu
com a Vida do Padre Anchieta, pelo mesmo auctor da Chronica, esíam-
resultado foi, quecon.ron-
T^arta o pralicámos. Porém o
em 1672 Assim
da Cln-onica, appareceram nun-
?ada S.ra a edro actu com o texto l

seguinte vão marcadascum as-


i.sLafVariantes (são as que na tabeliã
todos os erros que escaparam á correcção damos
Ss^o!) D cs^^^^^^^ e de
de nossa cons-
ia exa
p?is CO nta
pois minuciosissima, para inteiro descargo
e mi
exacta'e
ciência
Lea-se
Lea-se Pag. Linh.
Pag. Linh
12 orans oras
* 139 12 pauca'í iticae l)auca moa 103
29 inslus juslus
14 contemerat contumcrata
33 tua tuauí
liO 19 víscera viscere
.
IGI 12 humiliem bumilcm
142 40 fornia forniae
21 hnipbit Ivmpliis
li3 11! tuo lua

1G5 IG Nuliist Kuinit
27 muiitlitia niunditiae
43 concipi et concipiel
44 GratiCcoíiues Gratificnque
1GG 27 ibre imhre
1Í3 6 Coiicremeiít Concremet vicit
1G7 !G \icis
13 crumutit erumpit Davide
168 17 David
18 iiivebitur iuvebitur construcla
28 ronslruclo
, aellira aelbrac
1C9 li fecunda secunda
, 20 nicrsi mersit
20 lata latae
, 32 (liv inani diurnara
170 20 altae alto
40 praestant praestantc apprendit
171 10 appendit
41 oLscure obscuro viscera
14 viseere
or be orbe numinc
21 nomine
líG 3 eximius eximio regale
22 regali
13 vcteses ceste- velcres ccssc-
173 10 Laelurum Laturum
le querela ro ([ucrelae
20 car cor
41 oculis ociíli
31 In terá Interea
147 34 laudet laude piclas
174 6 ]detes
1Í8 12 metuant raeluunt

29 nt quac atque
37 praccepila ;ue prnecipitatque
32 lacta lacte
li9 2 ole facundos olci faccundus
5 llaerct Ilacreto
spcctabis 175
12 spectabilis evebit
22 cvebit
31 l'er[)eluo3 ]'erpeluu3
41 more mora
44 Indu Induo discrimen gran-
insurgunt
42 amor.maxima
i;jo 1 surgunt de pudoris
cura subit
<•
18 tegaiilur legentur peragatur
17G 7 peragatus
K\ 25 ncctarens ncctarens comuiunis
38 caeumiuis
- 152 31 merita mciilas
41 vijs pijs
153 31 Ammae Amissae
9 cxaliaris
cândida 177 cxasfiaris
i;íí G cândido 11 profluil
pro-luit
32 apnus digiius
13 pudicilac pudicitiae
• 3S inlcr ante Elvidium et
178 G El.VIDIUM
40 era ma 31 llagrat
llagrat
41 Tunc Tune Tarlarco
179 40 Tartarea
155 1 Teno Tuue referi
180 3 refertc
157 12 verila vctita
7 Nulla ISullae
Exite 181
18 Exil 9 volutabri."
volutaberis
38 sus suus luniulis
43 luniuli
• 158 33 niullo muilo lionorandati
182 3 lionoranda
• 1!)9 tí sedul scdula raliiiiuí(|uo
17 raiiidnsue
IGO 1 bónus bonis rcvocanl
30 rc\ ocat
* 2 (",oiigi'C,-?cre Congcfscrc
8 natura iiaturac
procul acd 183
21 procula cd lUo
17 lilac
28 Uxtcniliqnc E\1endij(juc
21 favus favos
subjicicuda 1R5
• IGl 3 subjidichda pav et
ISG 2 pa\onl
U3 4 une noh visccre
G viícora
Altellis AUolli.s
11 29 siiiu siiius
è pcdihusquc gciiibusquc
Lea-se
Lea-se Pag. Linh.
Pag. Linli- Sabaeae
213 21 Sabae
fovisti adhaessit adbaesit
187 23 foviste 214 19
es abjecum abjectum
32 est 215 27
Ancilla AnciUae su
sic
34 29
alvuum alvum 9 tul
tui
188 17 216 metuis
feras metus
189 6 serás 20
Yocat somniis
10 \ecat 217 C summus
gravibus periclis
37 gravidus 17 periolis
quot quies
1!)0 8 quod 218 4 qui es
lumina aerumnis aerumnis obruit
191 12 lumiiie 21
vulnerei
n \ix.
vis
benignae
23 vulnerai
liram foram
192 i3 benigna ,, 41
clamorlbvii
clanioribus qrimo primo
193 7 221 2S
licuit culpa culpae
24 licui 222 4
.,
nec juccumbere succumbere
38 ne 18
agit jubeas tnrgen- judeas turgen-
19Í 14 aget 4Í
sublimen s\iMimcm tia
tia
16 plaustra
alta plaustro
23 allae 223
Exequcris populos populus
193 10 líxequereis 7
ti-actantein claudiris
clauderis
11 tranctaiilem 29
est Displicet
40 esi 31 Desplicet
dat viscera viscerc
drt 32
sacia nullo
196 sacrae 38 nuUa
es prinii
est 224 4 premi
Deerat parontis parontis
Deorat
limine liumadum Hiimanum
197 luminc 6
ceu inope inopi
seu 27
alto vilae
198 alie 223 18 vila
novae reconudis recondis
nova 19
ruitura apudor pudor
rutnva
'falia terrao
Talta 30 terra
Vermiculisquc Wubere Nuberet
200 S^ermiculis 226 16
boncstis vincerc
honestits 227 4 vincera
Tegmina aetberis
Tegamina 228 31 aetereis
cunae arandine
arundinu
201 cuna 229 10
tenebrae abdita
tencbra 32 abdilc
adorant Ipsius
adoram 9 Ipsuí
Undo queat 2>0 mulo
203 Undequo ai 37 murto
ardo cumulei cumulei
acto 232 41
foederc obeunda obeundae
foedare 233 jO
Quo geus gens
204 10 Quae 23 í 4
,

divinos vincera vincere


14 divinis 29 tegmino
CS tegmina
203 3 est 43 gressibuí
totius grissibus
206 7 to tus 235 6
eumque donae dona
10 cumquo 42
lllaesura quisquo quiosque
13 lUae sum S36
fores juvenlae
207 19 feres 9 Juventa
riii'"^
208 4 Ou ao Qua 6 teneraerirae tenerae
237 tur
sepera tur
8 sepim
gustus dulciae dulcia
30 gestus 13
illecebras delicli dilecti
209 13 nie cebras 238 27
premis Dulci Dulcia»
210 8 prennis
fiabere dlebus diebus
10 baberi) 239 17
alit mammie mammis
28 ãiii 2i3 13
caterva cerdo corde
211 14 caterva 18
posueie exbalenle exbalante
23 possuere 2S
videm iiivasi
invasil
212 17 vilem 245 37
pauperior 1'ignorc l>ignora
33 paupererior 2í« 2
213 lUa UlB
14
Lca ?e
Pag. Linh.
Lca-se sua
Pag. Linh. 238 21 suae
splendidiorc
lercbraiitur splendiorc
terubantur 230 13 1U03
5)iG 29 suman tues
saumam 2G0 9 sancta
in 23
ollcndit
oílendit
2G2 2't saucta
çcragcbat
31 Oxos peragebae
'>9
sanguinolenta
Vivgincum
sanguiuolenta 38 Virginco
Íi9 2(1 crudfU
\iscevo 4't cvudclis
230 6 'Víscera Domina
divini 36 Doniinac
50 divine 2G3 llumauuraquc
premente Humanaraquc
2;5 prement 2G4 1
El
genibusquo 23 Es
6 genibusgue lacla
232 contulit 'ò~l lala
3 contulis vcsliris
234 nuUo \cstris •
8 nuUa 2GG 4 paterore
Quae Qua 270 22 paterelo
21 quacram
88"^'^
sentis
271 1 quavam
933 15 aeger
die 29 agev
231) 7 dit saio
Tc 073 20 salc
8 Tu Judiciiquo
16 Juc.diíquc
c
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vol. 8.° ir ....'. 300 Os Filhos dos trabalhos, J. em
MENDES LEAL JÚNIOR 4 actos 360
Os Homens de Mármore, d. era Uma Lição de florete, c. d. em 3
3 actos, 2.' ed. 1 vol. 8." fr. 360 actos.' 180
Homem de Oiro, d. em 3actoi, Trabalho ehonra, c. em 3 actos 300
('continuação rios Homens de A Aristocracia e o dinheiro, c. era
Marmoroílvol. 8.°fr 300 3 actos 300
A Herança do Chanceller, c. em ' Coração de ferro, d. phantastico
3 actos'em verso, 1 vol. 8." fr. 400 em'S actos 30O
Pedro. d. em 5 actos, 2.° ed. 1 O Chalé de Cachemira, comedia
voí-S.-fr... -m em um acto, por Alexandre Du-
uins. Traduzida livremente por Dodí mulheres daepoea, roman-
_A. César de Lacerda 12(0 cecontemporâneo 2i6
E' perigoso ser rico, eomedia em O Marido no Prego ,
um acto
c. em um
160 ,/":••••••,
As jóias de ICO
família c. d. em 3 Já nao ha tolosJ.. c. cm um
actos 300 acto
MENDES LEAL ANTÓNIO 50
Nao desprese sem saber , c- em
Poesias, 1 vol soO um
acto 120
Abel e Caim, c. em 3 netos 240 O Colono, c. d. em 3 actos 160
Uma Viclima, á. original em 3 Segredos do Ceracão, e. d. em 3
„aotos 160
Búr e Amor. c d. em 3 ^ actos : 200
actos... 200 O Juízo do Mundo, c. d. em 3
J. DABOIM actos... .'.
2Í0
A' tarde entre a murta, comedia
A Mascara Social, c. d. em 3
era 3 actos «lift
actos 200
O Recommendado de Lisboa, c. A Pelledo Leão, d.em3aclos.
era 1 acto
c. 200
O Homem
80 A Roda da Fortuna , c. d. em 3
poe e Deus dispõe, c. actos
em dois actos ,„ 160
120 ^era tudo que luz é oiro, c. d. em
As nódoas de sangue, d. em 3 3 actos 200
actos 160 O dia 1." de Dezembro de 1C40,
Cada louco com sua mania, c. o heróica, originai em 3 actos.
.
200
original cm um acto 100 O ultimo dia dos Jesuítas cm Por-
I. SI. FEIJOO tugal, drama original histórico
Lamões do Kocio, em 3 actos. o. 300 portugucz em 8 quadros i ac-
A Torre do Corvo, d. em 4 actos um epilogo
tos e
e um prologo oflO
400 JÚLIO CES.\K MACUADÓ, Ê
Carlos ou a Família de um Ava-
rento, c. em
ALFREDO IIOGAN
4 actos 250 A Vida cm Lisboa
Pedro Céiii, c. em 5 actos , c. d. em 4
300 „'^<^^«.s
Bemecbido.o Guerrillicíro 300
, d. Primeiro o deverl c. ,

em 3 actos d. cm 3
300 actos 100
E. BIESTER F. EVARISTO LEOM
Im-Quadro da vida, d. gm S Gemo da Língua Porlugucza.
ácius . . 1:800
^iAJiédempção,
J.C. DOS SANTOfc
c. d. em 3 aclos! 360 O Segredo duma Familíe, c. era
nCuas épocas dá vida, c. èm 2
r 3 aclos 2Í0
a='os
'11
,.
l-ma viagem pclalitteraturacon-
240 O Pae pródigo, comedia cm 3
aclos 200
iemporanea
Asobras de lloracio
200 O rf-,.iciu das Cautelas, c. em 2
imitação, ,
.acios
um acto
comedia em '.
200
. . 12b Gil Rraz de Saiuilhana, comedia
Um homem de Consciência, c. cm 3 actos
em 2 actos.;. . iso
ICO Maria ou o Irmão e a Irmã,'
O Maeslro Favilla, drama em 3
em
,

3 actos
c.

actos iso
200 Uma chávena de chá, c. em um
ALFliEDO HOGÀn" acto 120
As Braziiciràs, c. d. em 3 actos. 300 Convido o coronel!!... c^ em uni
Kinguem jiiigue pelas apparen-
""o • •
100
cias, c. d. cm 3 actos .
3fi0 A Herança do tio Russo c. em
Os Dissipadores, c. cm 4 actos.. 400 3 aclos
,

2''0
E mellior não experimentar, c. HENRIQUE VAN-DEÍTÉRS
em 1 acto 200 Poesias, 1 vol
Memorias do Coração gco
240 Os moedeiros falsos, c. d. origi-
A Irmã de Caridade, c. em 2 nal em 3 actos ifio
aclos ICO Dois cães a um osso, o. cm 1 aclõ 100

S^sTffl»

Trabalhos áe Jesus, por Fr. Thomé de Jesus.


Juramentos bem cumpridos, Romance por Ernesto Mãrecos
Savitri, Lenda indiana, por Erne*''^ Marecos.
Memorias da Mocidade, Romance Cónego Soares Franco 2 vol •
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