As Cantigas de Escárnio

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As cantigas de escrnio

Nessa cantiga, o eu lrico, faz uma crtica (stira) indireta e com duplos sentidos a algum.
Para os trovadores fazerem uma cantiga de escrnio, ele precisa compor uma cantiga falando
mal de algum, ou seja, fazendo uma critica a alguma pessoa, atravs de palavras de duplo
sentido, ou seja, atravs de ambigidades, trocadilhos e jogos semnticos, atravs de um
processo denominado pelos trovadores equvoco.
Essa cantiga capaz de estimular a imaginao do autor, sugerindo-lhe uma nova expresso
irnica.
Vejamos um exemplo de cantiga de escrnio:
Ai, dona fea, foste-vos queixar
que vos nunca louv[o] em meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!

As cantigas de Maldizer.
Esse tipo de cantiga, tambm traz criticas, ou seja stiras diretas, porm no so
acompanhadas de duplos sentidos. normal que ocorra agresses verbais pessoa que est
sendo criticada, ou seja, satirizada, geralmente usa-se at mesmo palavres para compor esse
tipo de cantiga, onde se revela ou no o nome da pessoa que est sendo agredida
verbalmente.
Vejamos um exemplo de cantiga de Maldizer:
Roi queimado morreu con amor
Em seus cantares por Sancta Maria
por ua dona que gran bem queria
e por se meter por mais trovador
porque lhela non quis [o] benfazer
fez-sel en seus cantares morrer
mas ressurgiu depois ao tercer dia!

Outras modalidade satricas


As cantigas stiricas distiguem-se de vrias formas , ou modalidade de cantigas.

As cantigas de joguete arteio e risabelha: so pequenas composies que fazem rir


somente no momento, ou seja, causa um riso imediato, e que no tm nenhuma
crticas s pessoas e nem sociedade.

As cantigas de seguir: so construdas a partir de outra cantiga, ou seja, o tema da


cantiga foi reaproveitado, os versos, as rimas e as msicas.

O sirvents: muito diferente de uma stira personalizada, era composto por um servo
em honra a seu senhor, ou seja, escreveu sobre os inimigos de seu senhor

O desacordo: se diferencia pela irregularidade do esquema mtrico.

As tenses: era como se fosse um desafio onde os trovadores e os jograis tinham que
calcular suas habilidades poticas.

A poesia desta poca compe-se basicamente de cantigas, geralmente com acompanhamento


de instrumentos (alade, flauta, viola, gaita etc.). Quem escrevia e cantava essas poesias
musicadas eram os jograis e os trovadores. Estes ltimos deram origem ao nome deste estilo
de poca portugus.

Mais tarde, as cantigas foram compiladas em Cancioneiros. Os mais importantes Cancioneiros


desta poca so o da Ajuda, o da Biblioteca Nacional e o da Vaticana.
As cantigas eram cantadas no idioma galego-portugus e dividem-se em dois tipos: lricas (de
amor e de amigo) e satricas (de escrnio e mal-dizer).
Do ponto de vista literrio, as cantigas lricas apresentam maior potencial pois formam a base
da poesia lrica portuguesa e at brasileira. J as cantigas satricas, geralmente, tratavam de
personalidades da poca, numa linguagem popular e muitas vezes obscena.
Cantigas de amor
Origem da Provena, regio da Frana, trazidas atravs dos eventos religiosos e contatos entre
as cortes. Tratam, geralmente, de um relacionamento amoroso, em que o trovador canta seu
amor a uma dama, normalmente de posio social superior, inatingvel. Refletindo a relao
social de servido, o trovador roga a dama que aceite sua dedicao e submisso.
Eu-lrico - masculino
Cantigas de amigo
Neste tipo de texto, quem fala a mulher e no o homem. O trovador compe a cantiga, mas o
ponto de vista feminino, mostrando o outro lado do relacionamento amoroso - o sofrimento da
mulher espera do namorado (chamado "amigo"), a dor do amor no correspondido, as
saudades, os cimes, as confisses da mulher a suas amigas, etc. Os elementos da natureza
esto sempre presentes, alm de pessoas do ambiente familiar, evidenciando o carter popular
da cantiga de amigo.
Eu-lrico - feminino
Cantigas satricas
Aqui os trovadores preocupavam-se em denunciar os falsos valores morais vigentes, atingindo
todas as classes sociais: senhores feudais, clrigos, povo e at eles prprios.
Cantigas de escrnio - crtica indireta e irnica
Cantigas de maldizer - crtica direta e mais grosseira
A prosa medieval retrata com mais detalhes o ambiente histrico-social desta poca. A temtica
das novelas medievais est ligada vida dos cavaleiros medievais e tambm religio.

A Demanda do Santo Graal a novela mais importante para a literatura portuguesa. Ela retrata
as aventuras dos cavaleiros do Rei Artur em busca do clice sagrado (Santo Graal). Este clice
conteria o sangue recolhido por Jos de Arimatia, quando Cristo estava crucificado. Esta
busca (demanda) repleta de simbolismo religioso, e o valoroso cavaleiro Galaaz consegue o
clice.
Ao ler um texto potico desse perodo, no podemos ter em mente a tradio moderna e o que
hoje entendemos por poesia. A poesia no era escrita para ser lida por um leitor solitrio. Era
poesia cantada (da o nome de cantiga, que passaremos a usar de agora em diante),
geralmente era acompanhada por um coro e por instrumentos musicais. Seu pblico no era,
portanto, constitudo de leitores, mas de ouvintes. Assim, devemos sempre considerar as
cantigas como poesia intimamente ligada msica, prpria para apresentaes coletivas.

CANTIGA DE AMIGO "ONDAS DO MAR DE VIGO,"

OndasdomardeVigo,
sevistesmeuamigo?**

eaiDeus,severrcedo?

Ondasdomarlevado,
5

sevistesmeuamado?**
eaiDeus,severrcedo?

Sevistesmeuamigo,
oporqueeusospiro?

eaiDeus,severrcedo?

10

Sevistesmeuamado,
oporqueheigramcoidado?
eaiDeus,severrcedo?

VigoNapocamedieval,apenasumapequenapovoaonasRiasBaixasgalegas.

Estamos, mais uma vez, em presena de uma


cantiga

de

amigo,

do
subgneroBarcarolaouMarinha, sugerido pela
presenadomar,elementonaturalaquearaparigase
dirige,pretendosabernovasdoseuamigo,"Ondasdo
mardeVigo,/sevistes...".
Eseesteapeloconstituiotemadestacantiga,h
quedistinguiraexistnciadeduasvertentesdentro
destamesmatemtica:atemticamartima,(ests.Ie

II) e a temtica amorosa, presente nas duas outras


estrofes.
Nas primeiras duas estrofes ou de temtica
martima,encontramosojreferidoapelodamenina,
quequestionaasondasdomarsobreoparadeirodo
seuamigo,visvel,alis,naformaverbal"sevistes"e
igualmentenorefro"severrcedo".
No segundo conjunto de estrofesou temtica
amorosa, a menina expressa os seus sentimentos
maisprofundos
"o por que eu sospiro?" e "o por que hei gram
coidado"reveladoresdasua"coita",dasuaangstia
bemcomodasuapreocupaoedasuasaudadeem
relaoaoamado.
Omarsurgeaquicomoconfidenteemsubstituio
da me ou da amiga embora represente,
simultaneamente,umobstculoqueseinterpeentre
osdoisamados.Porsuavez,omarapresentasecom
ondas, revolto e bravo, constituindo assim um
obstculoacrescido;aindapossvelestabeleceruma
relaoentreoestadodomareoestadodeespritoda
menina, angustiada e desesperada pelaausncia
doamigo.

Aspetosformaisaconsiderar:

1paralelismoperfeito;
2leixaprem**;
4Vocativo/Apstrofe;
5 rima AA / BB / A'A / B'B alternada,
contribuindoparaamusicalidadedotexto;
6dsticosmonorrimos;
7refromonstico;

Outrasnotas:
1todaacantigapoderiaresumirseaosversos1,
2,8,erefro;
2 neste texto no h ao; o discurso
semidirecto (monlogo interior) cujo destinatrio
literrio,ouseja,asondasdomar;
3orefroexteriorizaadvidadadonzela,que
tantoaangustia;
4 personificao das ondas do mar que, no
entanto,noouvemoapelo.

CANTIGA DE AMIGO, ALBA OU ALVORADA "LEVANTOU-S'A VELIDA"

D. Dinis

Levantous'avelida,
levantous'alva,
evailavarcamisas
enoalto,

vailaslavaralva.

Levantous'alouana,
levantous'alva,

evailavardelgadas
enoalto,

10

vailaslavaralva.

[E]vailavarcamisas;
levantous'alva,
oventolhasdesvia
enoalto,

15

vailaslavaralva.

Evailavardelgadas;
levantous'alva,
oventolhaslevava
enoalto,

20

vailaslavaralva.

Oventolhasdesvia;
levantous'alva,
meteus'[a]alvaemira
enoalto,

25

vailaslavaralva.

Oventolhaslevava;

levantous'alva,
meteus'[a]alvaemsanha
enoalto,
vailaslavaralva.

30

Albas ou Alvoradas, subgnero a que pertence esta


cantiga de amigo, so assim designadas por
"acontecerem"aoamanhecer,aonascerdodia.
EstesubgnerofoipoucocultivadoemPortugal.Os
costumes no eram to permissivos como outros,
nomeadamentedaregioprovenal,esituaescomo
a narrada nesta cantiga, dificilmente poderiam
ocorrer.
NestacantigadeD.Dinisfazseadescriodeuma
rapariga que se levanta de madrugada e vai lavar
roupaqueoventoarrasta,deixandoafuriosa.
Fosseestaasimplesleituraetudopareceriainocente
econformeembora,narealidade,estejalongedeo
ser.
Alvasimboliza apureza, a inocncia prpria da

virgindade. No texto,alvapode estar ainda a


substituir o prprio amanhecer ou, como adjetivo,
referirse cor branca, provavelmente da pele da
raparigaqueserjovemecujapelenoestarainda
crestadadosol.
Por esta razo,encontramos os termos "velida"
e"louana"significandoformosaoudebeloaspeto.
Atentesenoterceiroversodaprimeiraestrofe
evailavarcamisas

**camisassoigualmentedesignadasdelgadas

Evailavardelgadas;

Ascamisasconstituamaprimeirapeaderoupaque
se vestia,em linho ou seda, querpara ohomem
querpara a mulher, correspondendo atual roupa

interior; so roupas ntimas, simbolizando a


intimidade.
Assim,considereseoverso

evailavarcamisas

tambmelecarregadodesimbologia.Oatodelavar
camisas,talcomoobanhonupcial,eraumritual
simblicodaexpetativadanoiva;lavarcamisassurge
associandoaguasensualidadefeminina.
Joventosurgenotextocomosimbolizandoum
ambienteagressivoquenoserelacionacoma
delicadezadamenina.Simbolizapreocupaesqueo
amigolheprovocaouosoproflico,isto,uma
relaosexual.
Simbolicamente,estacantigarepresentauma
experinciasexual:acordadospelamanh,umcasal
denamorados,queteropassadoanoitejuntos,irrita
secomonascimentododiaqueobrigaraquese
separem.

Anarraofeitana3pessoa,onarradorno
correspondepessoaquedetmaaonotexto.

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