Universidade Estadual de Gois Unidade Universitria de Cincias Exatas e Tecnolgicas Qumica Industrial Operaes Unitrias I

Filtrao

Acadmico: Frederico Venncio Martins

Anpolis, maro de 2009

1- Introduo A separao de partculas slidas presente em um fluido atravessando um meio filtrante onde os slidos se depositam chama da de filtrao. O fluido pode ser um lquido ou um gs. Em filtraes industriais o contedo de slidos pode variar de traos a uma porcentagem elevada. 1 O fluido circula atravs do meio filtrante em virtude de uma diferena de presso no meio. Este aspecto classifica os filtros como aqueles que operam com alta presso sobre o meio, os que operam em presso atmosfrica e os que operam a baixas presses (vcuo). Presses acima da atmosfrica podem ser conseguidas por ao da fora da gravidade atuando sobre uma coluna de lquido, por meio de bombas e compressores, bem como pela ao da fora centrfuga. Em um filtro de gravidade, o meio filtrante pode no ser mais fino que uma peneira ou um leito de partculas grossas, tal como a areia. As aplicaes industriais de filtros de gravidade se restringem separao de guas-mes de cristais grossos, clarificao da gua potvel e ao tratamento de guas residuais. 1 A maioria dos filtros industriais so filtros de presso ou de vcuo. Podem ser contnuos ou descontnuos, dependendo se a descarga dos slidos filtrados se realize de forma continua. Em boa parte do ciclo de operao de um filtro descontinuo o fluxo do fluido atravs do mesmo continuo, interrompendo apenas para a descarga dos slidos acumulados. Em um filtro continuo, a descarga do fluido e dos slidos ocorre ininterruptamente enquanto o equipamento funciona. 1 Os filtros se dividem em dois grupos: filtros clarificadores e filtros de torta. Os clarificadores retiram pequenas quantidades de slidos para produzir um gs claro ou lquido transparente. Os filtros de torta separam grandes quantidades de slidos na forma de uma torta de cristais ou um lodo. 1 2- Fundamentos da filtrao Na filtrao, a resistncia do meio ao fluxo do fluido aumenta com o passar do tempo medida que o meio filtrante vai sendo obstrudo ou quando se forma uma torta. As principais magnitudes de interesse so a velocidade do fluxo atravs do filtro e a queda de presso na unidade. medida que o processo ocorre, diminui a velocidade do fluxo ou aumenta a queda de presso. Na chamada filtrao a presso constante, a queda de presso permanece constante e velocidade do fluxo vai diminuindo com o tempo. Menos freqente o aumento progressivo da presso para obter uma filtrao velocidade constante. 1 A partir desses fatores fundamentais obtm-se uma expresso envolvendo constantes que podem ser determinadas experimentalmente. As equaes de projeto so desenvolvidas a partir de ensaios em escala reduzida.
2

A velocidade de operao dada pela relao:

(1)

A fora propulsora a soma da queda de presso na torta e no meio filtrante. As resistncias podem ser consideradas em srie e desta forma teremos uma resistncia da torta e uma do meio filtrante. A resistncia da torta varia com o tempo devido ao aumento de sua espessura e a resistncia do sistema (meio filtrante + canais do filtro) permanece constante ao longo do processo. Para o equacionamento ser considerado o processo de filtrao com formao de torta incompressvel. 2

Figura 1: Seo transversal de uma torta e do meio filtrante.2

2.1- Clculo de P1 (resistncia da torta): Admitindo: - fluxo unidimensional; - velocidade constante.

(2) Considerando a Lei de Darcy para o escoamento de um fluido em um meio poroso e baseando-se principalmente na queda de presso do sistema. 2

(3) Onde dP1 queda de presso atravs da torta e k a permeabilidade da torta. Nestas condies a massa de slidos (dm) na camada da torta (4)

s: massa especfica dos slidos; A: rea; : porosidade do meio poroso.

(5)

Substituindo 5 em 3,

(6) Se,

(7)

: resistividade especfica da torta (m/kg)

(8) Integrando,

(9) 2.2- Clculo de P2 (resistncia do sistema):

(10) P2: queda de presso atravs do filtro Integrando,

(11) Lm: espessura do meio filtrante = constante Como,

(12) Rm: resistncia do meio filtrante (m )

Logo, (13) A queda total de presso (P) est expressa pela equao abaixo: (14) Substituindo as equaes 9 e 13 em 14,

(15) Seja, Cs = concentrao da suspenso

(16) e

(17) Substituindo 16 e 17 em 15,

(18) Rearranjando,

(19) Considerando a filtrao com presso constante podemos separando os termos e introduzir as constantes Kp e B desta forma: 2

(20)

Onde as unidades no SI para Kp so s/m6 e para B s/m3.

(21.a)

(21.b) Para filtrao a presso constante, constante (torta incompressvel) e V e t so as nicas variveis da equao. 2

(22)

(23) Dividindo a equao por V temos:

(24)

Figura 2: Grfico para determinao de e Rm em um ensaio de filtrao a presso constante.2

Para determinar os valores de e Rm utilizamos a equao 24. Em um ensaio determinamos o volume de filtrado correspondente a diferentes tempos (t) de filtrao. A partir dos dados experimentais plotados usando-se a relao t/V vs. V como mostra a Figura 2 determinamos as resistncias da torta e do meio filtrante. Os valores obtidos para estes parmetros so constantes e so utilizados no processo de filtrao em maior escala. 2

2.3- Determinao do tempo de lavagem e do tempo do ciclo de operao (tco) A lavagem da torta aps a filtrao ocorre pelo o deslocamento do filtrado e por difuso. A quantidade de liquido de lavagem deve ser suficiente para proporcionar o efeito desejado. Para determinar as taxas de lavagem, assume-se que as condies durante o processo de lavagem so as mesmas que as existentes ao final do processo de filtrao. Pode-se considerar que a estrutura da torta no afetada quando o liquido de lavagem substitui o liquido contido na torta. Se os filtros so lavados seguindo o fluxo utilizado durante a filtrao e considerando a mesma presso utilizada ao longo do processo, a taxa final de filtrao pode ser determinada pela equao: 2

(25) Onde (dV/dt)f = a taxa de lavagem e Vf o volume total de filtrado para todo o perodo ao final da filtrao em m3. 2 Para os filtros de placas e quadros o liquido de lavagem passa atravs do dobro da espessura da torta e a rea de filtrao somente a metade da rea originalmente utilizada. Por esta razo a taxa de lavagem da taxa de final de filtrao, logo: 2

(26) Aps o procedimento de lavagem ser finalizado um tempo adicional (tmd) necessrio para remover a torta, limpar o filtro e remont-lo. O tempo do ciclo de operao (tco) a soma dos tempos, logo: tco = t(filtrao) + t(lavagem) + tmd. 2 2.4- Processos a vazo constante. Considerando o processo de filtrao a vazo constante (dV/dt= cte) e rearranjando a equao 15 temos que: 2

(27) Plotando-se a queda de presso P pelo volume de filtrado coletado obtm-se uma reta para a taxa constante (dV/dt) onde a inclinao da linha Kv e C a interseco no eixo das ordenadas. 2 2.5- Processos com tortas compressveis.

Se independente de P a torta incompressvel. Usualmente aumenta com P, pois a torta e compressvel. Uma equao emprica utilizada : 2 (28) Onde e s so constantes empricas; s=0 para tortas incompressveis e para tortas compressveis encontra-se entre 0,1 e 0,8. 2 2.6- Equaes para filtrao contnua Em um filtro operando continuamente, como os filtros rotatrios a vcuo, as taxas de alimentao, de filtrado e a formao da torta esto em estado estacionrio. No processo de filtrao continua a queda de presso mantida constate. A formao da torta estabelece uma modificao continua nas condies de filtrao e a resistncia do meio filtrante pode ser negligenciada (B=0). Integrando a equao 22 com B=0 temos: 2

(29) Onde t o tempo necessrio para formao da torta. Em um filtro rotatrio, o tempo de filtrao menor que o tempo de ciclo completo (tc) assim: 2 (30) Onde f a frao do ciclo utilizada na formao da torta. Em um filtro rotatrio f a frao submersa do equipamento (tambor) na suspenso a ser filtrada. Substitudo a equao 29, 30 na equao 21.a e considerando a taxa de filtrao como: V/A*tc temos: 2

(31) A verificao experimental da equao xx mostra que a taxa de filtrao varia com o inverso da viscosidade elevado na potencia 0,5 e do tempo do ciclo de filtrao. 2 3- Equipamento para filtrao: filtro-prensa O filtro-prensa, um dos mais frequentemente utilizados filtros nos primeiros anos da indstria qumica, e so ainda largamente empregados. Muitas vezes referidos (erroneamente) como filtro de placa-

moldura, tem provavelmente mais de 100 desenhos e variaes, disponveis em uma ampla gama de materiais. . 3.1- Filtro de placa-moldura Essa prensa uma montagem de placas cobertas de ambos os lados com um meio filtrante, normalmente um tecido, e quadros ocos que proporcionam espao para acumulao da torta durante a filtrao (Figura 3). A alimentao entra por um extremo do acoplamento das placas-molduras. Passando por um canal que percorre longitudinalmente o acoplamento por um dos cantos das placas- molduras. Existem canais auxiliares para transportar a suspenso do canal de entrada at cada uma das outras placas. Os slidos se depositam sobre o tecido que recobre a face das placas. 2, 3

Figura 3: Filtro-prensa de placa-moldura. 3

Filtro de prensas so feitas em chapas de tamanhos a partir de 10 por 10 cm (4 a 4 in) a 1,5 por 1,8 m (61 por 71 in). A espessura varia de 0,3 a 20 cm (0,125 - 8 in). Presses operacionais de at 689 kPa (100 psig) so comuns, com algumas prensas concebidos para 6,9 MPa (1000 psig). Presso mxima molduras de madeira ou de plstico 410 a 480 kPa (60 a 70 psig). 3 O filtro imprensa tem a vantagem da simplicidade, baixo custo de capital, flexibilidade e capacidade de operar em alta presso em qualquer torta-filtro ou como uma aplicao de clarificador. Necessidades de espao e rea por unidade de filtro so pequenas, e a capacidade pode ser ajustada pela adio ou remoo de placas e molduras. Filtros-prensas so limpos com facilidade, e o meio filtrante facilmente substitudo. 3

H vrios inconvenientes graves, incluindo lavagem imperfeita devido densidade varivel da torta, vida til relativamente curta do tecido-filtro devido ao desgaste mecnico de esvaziamento e limpeza da prensa (que muitas vezes envolvem raspagem do tecido), e alta exigncia de mo-de-obra.
3

3.2- Filtro de placa e carcaa Esta prensa semelhante ao da placa-quadro na aparncia, mas constituda apenas por placas (Figura 4). Ambas as faces de cada placa so encamisadas para formar uma cmara para acumulao da torta entre as placas adjacentes. Este projeto tem a vantagem cerca de metade do nmero de articulaes de um prato-moldura, fazendo um encerramento mais apertado e correto. Ar pode ser introduzido por detrs do pano de ambos os lados de cada placa para ajudar na remoo da torta. usado para filtraes com presses superiores s usadas em filtros-prensa de placa-moldura, para reduzir a mo-de-obra, ou quando se quer uma filtrao mais eficaz. 2, 3

Figura 4: Filtro de placa e carcaa. 2

4- Meio Filtrante 4.1- Filtrao de superfcie O meio filtrante caracterizado por possuir uma superfcie porosa, muito fina e com caminhos tortuosos. 4 O mecanismo de separao das partculas neste caso de bloqueio mecnico/fsico. O efeito de reteno de partculas devido ao dimetro destas serem maiores que o dos poros do meio/material filtrante. Neste processo, as partculas que no podem passar atravs dos poros de um meio filtrante, so retidas em uma camada a qual torna cada vez menor ou com mais resistncia.
4

4.2- Filtrao por profundidade

 caracterizada pela espessura do meio filtrante. A maioria dos filtros so feitos por deposio de materiais particulados como perlitas, diatomitas, celulose e algodo, unidos por ao mecnica de fluxo passante e depositados sobre uma peneira metlica, os chamados elementos filtrantes. A formao destas camadas de auxiliar filtrante, d a este uma espessura considervel e fornece um longo e tortuoso caminho ao fluido. 4 5- Auxiliares filtrantes A sua escolha, caracterstica, origem, homogeneidade e forma de emprego impactam grandemente nos resultados de filtrao, no somente em termos de qualidade do filtrado como em produtividade do processo. Os auxiliares filtrantes so um grupo de substncias em forma de p classificadas conforme sua origem. 4 Durante o processo de preparo dos filtros, so depositados por sobre os elementos filtrantes do equipamento, durante o procedimento de preparo da pr-camada, formando um gradiente de permeabilidade, bloqueando a passagem de substncias insolveis pelos efeitos de filtrao por superfcie e por profundidade que j discutimos. Existem vrios tipos, caractersticas e fornecedores de auxiliares filtrantes disponveis. A seleo dos diferentes tipos para cada produto em questo leva em considerao uma srie de estudos avaliando, por exemplo: a caracterstica que ser a base do processo de filtrao, as especificaes do produto que se deseja obter, o tipo de instalaes disponveis e sua condio de operao. 4 5.1- Diatomita A diatomita pode ser utilizada calcinada ou ao natural. Ao natural teremos partculas muito finas o que ocasionar uma filtrabilidade baixa, resultando em ciclos de filtrao muito curtos, no entanto com alto poder de reteno. 4 Para se obter partculas maiores, com um maior grau de permeabilidade, a diatomita calcinada em um forno altas temperaturas. 4 Durante este processo de calcinao, internas do produto, fazendo variar aos mais diversos graus suas caractersticas de permeabilidade, reteno e fluxo. A mistura/combinao destes mais graus, atendero as necessidades variveis e comuns dos sistemas de filtrao modernos. 4 5.2- Perlita Ainda de acordo com a matria, a perlita um mineral de origem vulcnica composta principalmente de silicato de alumnio hidratado. O mineral resfriou-se e petrificou-se rapidamente, ocorrendo o aprisionamento de pores de gua em suas molculas, denominada de gua de constituio ou de cristalizao. Essa rocha triturada, seca, classificada, e aquecida a 900C. 4 Isto provoca uma grande expanso, que gera um material levssimo, com partculas que podem chegar a 20 vezes seu volume original. Em seguida modo e classificado de acordo com seu uso especfico atendendo a maior ou menor reteno de slidos presentes em uma mistura, durante uma filtrao.Veja figura abaixo. 4

Devido sua baixa densidade, a Perlita ocupa um espao muito maior em relao a diatomita dentro dos filtros , forma uma torta de baixa compressibilidade e muito porosa e no possui porosidade interna, portanto no filtra por ao de profundidade tendo maior dificuldade de reter partculas pequenas. 4 5.3- Celulose O auxiliar filtrante composto de celulose consiste de um produto obtido atravs da polpa de madeira e fibras de algodo. No so polpas ou fibras comuns. Devem ter tamanhos, resistncia e elasticidade especficas para esta aplicao, o que os transforma em produtos muitas vezes de preo elevado. 4 Normalmente sua utilizao se resume 5% do total usado no sistema de auxiliares filtrantes. 4 Apresenta algumas caractersticas que conforme a aplicao pode trazer significativos resultados em algumas aplicaes: forma uma pr-camada muito regular ajudando na distribuio das partculas, ajuda na clarificao. 4 Como possui cargas eletricamente carregadas atrai certos tipos de partculas de cargas opostas. Esta caracterstica no existe nas perlitas e diatomitas e por isso constitui um diferencial em certas aplicaes. 4 A utilizao de celulose em composio com a terra, d ao meio filtrante uma maior elasticidade e portanto o leito filtrante resistir mais a variaes de presso. 4 As fibras de celulose so utilizadas como auxiliares filtrantes em combinao com diatomitas e perlitas proporcionando maior versatilidade aos controles dos parmetros da filtrao. As fibras de celulose misturadas as diatomitas, so elementos que modificam a permeabilidade do meio e aumentam o grau de reteno do mesmo. Por exemplo, em geral, os auxiliares filtrantes grossos tm alta permeabilidade e coeficiente de reteno baixo. O inverso ocorre com os auxiliares filtrantes finos. Se agregarmos teores entre 10 a 20% de fibras de celulose a estes auxiliares, sero modificados os respectivos graus de reteno e permeabilidade. 4 Os graus de diatomita grossa (permeabilidade > 0,9 darcies) vo ter aumentados o seu poder de reteno. Esta a principal vantagem das fibras de celulose. 4 Deve-se levar em conta que para utilizar as fibras de celulose, alm dos graus ideais de diatomita que vamos utilizar como base, existem uma srie de tipos de celulose que se diferem por longitude, dimetro e grau de permeabilidade das fibras. 4

6- Referencias bibliogrficas 1- MCCABE, W. L.; SMITH, J. C.; HARRIOT, P.; Operaciones unitrias en ingenieria quimica. Madrid: MacGraw-Hill, 1991. 2- Disponvel em: http://www.enq.ufsc.br/muller/operacoes_unitarias_qm/filtracao2.pdf. Acesso em:18 jun. 2009. 3- PERRY, R. H.; GREEN, D. W.; Perrys chemical engineers handbook. MacGraw-Hill, 1999. 4- SISTEMA BRASILEIRO DE RESPOSTAS TCNICAS. Resposta Tcnica SBRT 6963. Disponvel em: http://sbrtv1.ibict.br/upload/sbrt6963.pdf? PHPSESSID=6af42de09712d9cfc46debbb9751a8eb. Acesso em: 20 jun 2009.