Sebenta Direito Constitucional
Sebenta Direito Constitucional
Sebenta Direito Constitucional
DIREITO CONSTITUCIONAL
Texto de apoio correspondente às aulas
leccionadas ao 1º Ano da Faculdade de Direito
da Universidade do Porto com última revisão em
Agosto de 2005
Luísa Neto
Prof. Auxiliar da FDUP
Direito Constitucional 1º
Ano
Nota Prévia
Os elementos de estudo que ora se apresentam visam apenas fornecer mais um apoio para os alunos
do 1º Ano.
Estes alunos, recém-entrados na Faculdade, sentem-se não raras vezes perdidos, depois de um
empenhado e longo processo de candidatura.
De facto, são confrontados com um tipo de ensino distinto daquele a que vêm habituados do Ensino
Secundário, em termos de exigências, de vastidão dos programas, de estilo de exposição e modo de
leccionação, e daí decorrem inevitáveis dificuldades.
Que estas dificuldades devem contar, sempre, com o apoio dos docentes, e mormente daqueles que
têm a seu cargo disciplinas do 1º Ano, parece evidente e não merece aqui referência de maior.
Mas umas das dificuldades mais recorrente está porventura relacionada com a triagem que é suposto
fazerem, da bibliografia indicada.
Isto é tanto mais verdade no que tange ao Direito Constitucional, disciplina que convoca exigentes
competências técnicas mas que apela de modo incondicional a um enquadramento cultural mais
profundo.
O objectivo que aqui se tenta cumprir é tão só o de fornecer um roteiro consistente das aulas, onde
possam os alunos buscar arrimo seguro para as leituras dos manuais, monografias e outras fontes
indicadas, que obviamente estes elementos não substituem ou minimizam, e que antes devem fazer
parte de um caminho de busca, investigação e crítica pessoal que deve ser fomentada desde os
primeiros instantes da vida universitária.
Assim, estes elementos correspondem a uma versão muito simplificada – e que tem merecido
scessivas revisões – das aulas por mim leccionadas ao 1º Ano da Faculdade de Direito da
Universidade do Porto. Precisamente por isso se apresentam em estilo muito próximo do da linguagem
coloquial, opção que aqui se assume e que corresponde não só aos objectivos enunciados como
também ao tempo de que se dispôs para a sua apresentação. Apresenta-se igualmente uma
bibliografia desenvolvida da disciplina bem como sugestões jurisprudenciais que permitem colorir e
integrar os conhecimentos teóricos.
Cumpre-me agradecer – e faço-o com gosto -, a três pessoas. À Dra Anabela Leão, que enquanto
monitora da disciplina me auxiliou na organização da bibliografia e sugestões de jurisprudência, e que,
enquanto docente da disciplina, se encarregou da primeira revisão do texto. À também já licenciada
Mariana Tavares de Oliveira, que enquanto aluna, me fez o favor de me facultar o acesso aos seus
apontamentos, para que os cruzasse com os meus.
E ao Sr. Miguel Coelho, que teve a paciência – e, mais importante, o cuidado! – de dar uma primeira
forma informatizada aos elementos que ora se apresentam.
Que este trabalho conjunto possa servir os seus propósitos, são os meus votos.
Luísa Neto
Prof. Auxiliar da FDUP
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Ano
DIREITO CONSTITUCIONAL
Programa da disciplina
Bibliografia...........................................................................................................................................144
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Ao contrário dos vários grupos humanos (ex. associação académica), o Estado é uma
sociedade de fins gerais (que se dedica a uma pluralidade de fins), e que visa a
realização temporal das necessidades colectivas. Até agora apenas o Estado tem
poder coercitivo. A ONU pode ter esse poder coercitivo através do Conselho de
Segurança, mas apenas sobre os Estados em geral (numa decisão dependente da
vontade dos membros efectivos).
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O Estado:
• é uma das formas de sociedade política;
• é objecto de estudo da ciência do Direito Constitucional;
• é abalado e/ou condicionado por factores internos e externos.
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Sociedade em geral
Sociedades políticas
Estado
Estado Moderno
Ora uma
A raiz etimológica da palavra Estado resulta do verbo latino “sto, stas, are, aui,
statum” (permanecer). De facto, o Estado dura no tempo. Mudam os governantes, os
titulares, mas o Estado é a realidade política que permanece.
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Ou seja, o Estado é aqui uma instituição que corresponde a uma realidade histórica e
que existe apesar das mutações históricas.
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Ano
O objecto de uma Constituição material diz respeito aos princípios gerais do Estado
(regras de ocupação do poder político e regras de cidadão e de Estado). O artigo 16º
da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão referia que uma Constituição,
para o ser, não poderia prescindir de regular os direitos das pessoas e a separação
de poderes, o que ainda hoje podemos dizer que corresponde ao conteúdo mínimo
essencial de uma Constituição.
A Constituição formal (escrita) surge das revoluções liberais do séc. XVIII. Com elas
surge um diferente tipo de Estado, precisamente chamado de “Constitucional”.
5- Territorialidade ou sedentariedade:
Correspnde à necessidade de um espaço físico para que o Estado realize o seu poder
(espaço físico de actuação).
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A actual teorização da soberania pode dizer-se ter sido realizada por Jean Bodin
(Les six livres de la République), numa altura em que o aparecimento de
fronteiras territoriais exíguas fazem da centralização do poder uma condição
“sine qua non” para a existência e sobrevivência do próprio Estado. O poder
político centralizado evita a desagregação do Estado em pequenas unidades
territoriais e é o garante da unidade política estadual, surgindo:
♦ como uma necessidade de afirmação para com outros Estados europeus;
♦ como uma necessidade de comunicação com Estados mais longínquos
(Como nota marginal refira-se por exemplo que cessa de ser utilizada a
expressão “povo bárbaro” que passa a ser substituída pela de “povo
estrangeiro”).
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2- Estado = Nação
Podemos encontrar num Estado uma só Nação ou várias Nações, assim como
podemos encontrar uma Nação dividida em vários Estados. Mas no Estado Moderno
a um Estado corresponde tendencialmente uma Nação, e a Nação define-se por
relação e em relação com o Estado.
3- Estado laico
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- Estado absoluto:
• Há uma progressiva centralização do poder durante a fase do Estado
Estamental, até que deixa de haver limitação das ordens representativas por
haver uma centralização total do poder na figura do monarca.
• Monarquia de Direito Divino – Séc. XVII
• Justificação divina para a centralização e exercício do poder político: o Rei é
a personificação de um mandato divino para governar (Luís XIV – “L’État c’est
moi” – glorificação e deificação do poder político).
• Se a classificação do exercício do poder político da Antiguidade clássica
distinguia Monarquia, Aristocracia e Democracia, Maquiavel considera apenas
duas classificações do exercício do poder político:
• Monarquia – exercício do poder político por um órgão singular por via
hereditária ou electiva;
• República – o poder executivo cabe ou a um órgão colectivo ou a um
órgão singular desde que este esteja limitado por uma assembleia.
• Despotismo esclarecido – Séc. XVIII
• A justificação do exercício do poder político é a razão – deificada e mitificada
(na esteira aliás dos ideais iluministas).
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Por Estado de Direito se quer fazer expressar que o único critério de actuação
possível é o critério legal, o critério do Direito, a Lei. Em termos incipientes esta
ideia vem desde a Antiguidade Clássica (e já Platão referia que melhor que um
governo de homens será um governo de leis, porque estas estabelecerem
normas de conduta que pautam a sociedade).
- cumpre-se a lei seja ela qual for; - considera a ideia de Direito que está
em causa;
- é mais do que um estado de
legalidade;
- considera os valores subjacentes a
determinada lei;
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Marxistas
A supraestrutura do Estado é determinado pela infraestrutura económica, e a
alternância decorre da articulação que se verifica entre os modos sociais de
produção.
- Hoje não podemos prescindir de uma ideia de consenso / não falamos de contrato,
mas antes de base consensual (Contratualistas).
- A ideia de Estado existe em toda a sociedade (Institucionalistas).
- Interessa um Estado que incorpore princípios gerais e imutáveis que fazem parte da
filosofia dos valores (Jusnaturalistas).
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Concepções de povo
1ª Para uma concepção democrático – liberal o que interessa é o vínculo jurídico.
2ª Para uma concepção Marxista o povo equivale ao povo trabalhador – ex.: URSS
3ª Para uma concepção próxima do Nacional-Socialismo /Fascismo, o povo terá a ver
com raça ou com as noções de Pátria e Nação.
4ª Para uma concepção próxima do fundamentalismo islâmico o factor de
identificação de povo é de ordem religiosa.
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• ius soli (direito do solo) – adquire a cidadania aquele que nascer em território
desse Estado.
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Estados soberanos:
•Estados unitários
integralmente regionais
1. Regionais parcialmente regionais –
Portugal (artigo 6º CRP)
2. Não Regionais
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• Estados compostos
Há várias unidades com poder dentro do Estado.
• Confederação – Associação de vários estados que se associam entre si,
formando um Estado composto, mas apenas em termos de uma partilha
horizontal de poderes.
- Estados confederados – são estados semi-soberanos que fazem parte da
confederação.
Estados semi-soberanos:
Confederação
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• Exíguos – Estados com território reduzido que por si só não têm soberania
externa completa e têm necessidade de associação a um outro Estado numa
ordem externa (ex.: Andorra, Mónaco, Liechtenstein).
União
Federação
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3. Poder constituinte – O Estado faz para si próprio uma constituição (ou seja,
autodota-se de uma Constituição). Mesmo os Estados federados (não
soberanos na ordem externa) têm poder constituinte.
4. Estado detém todos os poderes – político, executivo, jurisdicional e
legislativo.
5. Possibilidade de delegação de poderes por:
- desconcentração – o Estado atribui poderes a outras entidades, mas elas
existem dentro da pessoa colectiva Estado.
- descentralização – o Estado atribui poderes, mas cria outras / novas pessoas
colectivas.
Esta descentralização pode ser
• Administrativa :
– territorial – dá origem às autarquias locais: Freguesias,
Municípios, Regiões Administrativas.
- Institucional – dá origem a institutos públicos.
• Política – dá origem a regiões políticas – órgãos de governo próprio,
poder legislativo (Açores, Madeira).
Quanto ao que identifica verdadeiramente os Estados, para além destas cinco notas,
têm os autores discutido se é:
• o poder fazer leis – Locke / Rousseau
• o poder fazer executar coercitivamente essas leis – Thomas
• o poder tributário
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N.B. Consultar “Ciência Política”, de Jorge Miranda, obra citada na Bibliografia, no que
respeita a sistemas eleitorais e de partidos.
Famílias Constitucionais:
• Antes de 1914 o grande modelo de Estado é o Estado liberal.
• Duas excepções no panorama europeu Rússia
Turquia
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Direito Constitucional 1º
Ano
Não encontramos aqui uma constituição britânica formal ou um texto escrito em que
se incorporem os princípios básicos. A Grã-Bretanha tem uma Constituição
consuetudinária – com base no costume (consuetudo = costume) -, apesar de hoje
encontrarmos um movimento de compilação e codificação de determinadas normas.
E existem ainda assim vários textos que podem servir de fonte para identificação
desses princípios básicos:
- 1215 – Magna Carta (constitui sem dúvida um embrião da Constituição, onde pela
primeira vez um monarca aceita auto-limitar-se).
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3. 1832 – actualidade
Instituições britânicas:
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- Governo
A este órgão se dá no sistema britânico o nome de “Gabinete” (e portanto “sistema de
Gabinete”), por razões históricas, já que resulta de um órgão que existia para
aconselhar o rei. No Reino Unido o Primeiro-Ministro tem normalmente uma pasta a
seu cargo e tem ainda funções de coordenação dos restantes membros do Governo.
O sistema britânico assenta num sistema eleitoral de círculos uninominais (por cada
círculo é eleito um deputado). Por outro lado, não há representação proporcional, mas
sim maioritária, ou seja, o partido que tiver maioria dos votos no círculo elege o
representante para o Parlamento (o que implica que não há representação de
pequenas maiorias).
Este sistema maioritário a uma volta – “the first past the post” leva à existência e
funcionamento de dois partidos (Bipartidário), de forte ideologia.
Hoje o Rei tem apenas poder simbólico de representação do Estado e do poder – “the
Queen reigns but does not rule”.
A Câmara dos Lordes tem um poder diminuto: é um forum de discussão e funciona
como Tribunal de Recurso de algumas decisões jurisdicionais.
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escrita
Constituição histórica
elástica – na versão original tem sete artigos e estes foram
sofrendo um trabalho de interpretação e actualização por
parte dos órgãos jurisdicionais.
É também uma constituição rígida e não flexível, na medida em que está previsto um
modo de alterar a constituição que difere do procedimento legislativo ordinário.
No seio da Constituição dos EUA há lugar para a teoria dos poderes implícitos,
importante em termos de interpretação e de relacionamento entre as competências da
Federação e dos Estados Federados.
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Nos EUA há então lugar para a verdadeira separação de poderes advogada por
Montesquieu, não esquecendo que este autor defendia que para além de uma
repartição deveria existir também uma fiscalização e coordenação recíproca dos
vários órgãos e poderes.
poderes - sociedade
- grupos sociais que se articulam com o Estado
- sistema federalista
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- expresso
- Veto
- de bolso / de gaveta (não é tomada nenhuma atitude)
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Quanto à eleição para o Chefe de Estado, a importância dos partidos reside nas
primárias que têm como objectivo a confrontação de várias pessoas dentro do partido
para saber quem são os candidatos às presidenciais.
Nos EUA ao lado dos partidos aparecem “lobbys” e grupos de pressão com grande
importância.
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- Japão
- Países escandinavos
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1. Não há bipartidarismo.
2. Não é maioritário, mas antes proporcional, o que leva ao
pluripartidarismo (maior instabilidade).
• papel da lei vista como sinónimo de razão, que é instrumento racional que
exprime a vontade geral (doutrinas iluministas e jusracionalistas) e que está
ligada ao princípio democrático – é o Parlamento que elabora as leis.
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Ano
Como resultado:
• reforço dos poderes do Presidente da República.
• apelo à participação democrática.
• três órgãos activos de poder
Sistema Semi-Presidencial :
• A principal característica é a de o Governo ser duplamente responsável
perante o Parlamento e o Presidente da República ou Chefe de Estado, o que
significa que o Governo pode ser destituído por estes dois órgãos.
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Direito Constitucional 1º
Ano
- Parlamento
- Parlamentarismo 2 órgãos activos
- Governo
- Chefe de Estado
- Presidencialismo - Parlamento 2 órgãos activos
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Ano
Em Portugal, entre 1976 e 1982 havia no sistema órgãos alheios aos modelos
tradicionais, como por exemplo o Conselho de Revolução. Em Portugal, houve
sempre uma coabitação apenas interrompida em 1995 com a eleição de Jorge
Sampaio para a Presidência da República. Alguns autores consideram mesmo que
uma não coabitação pode neste sistema originar um super presidencialismo.
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• 1918 – 1ª Constituição Russa – feita apenas para a Rússia e não para a União
Soviética (pois esta ainda não existia enquanto Estado composto). É também a
primeira Constituição escrita formal que não se inspira no modelo liberal.
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Constituição.
– 1988 – Presidente – Chefe de Estado singular, mas eleito por sufrágio indirecto.
- 1994 – Chefe de Estado, que é singular, é eleito por sufrágio universal.
Expansão do sistema:
- Chefe de Estado Colegial – sistema directorial da Suíça
- China - 1949
- Mongólia – 1922 difusão do sistema soviético
- Vietname
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Ano
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Ano
A Constituição Austríaca de 1920, elaborada por Hans Kelsen e tendo uma estrutura
positivista e hierarquizada, estabelece uma fiscalização da constitucionalidade através
de um Tribunal Constitucional. (foi suspensa em 1929 e reposta em 1945).
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Ano
Sistema Suíço
O seu estudo interessa pela existência de:
1. Federalismo municipal
2. Mecanismos de democracia directa e semi-directa.
3.Sistema de Governo directorial
1. Federalismo Municipal:
- A Suíça teve duas Constituições, a de 1848 e a de 1874, estabelecendo
ambas formas compostas de Estado.
- A Constituição de 1874 tem no seu texto a base da actual Constituição suíça.
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Ano
Sistema Brasileiro
O Brasil tem já uma história constitucional longa e complexa: foi colónia, Império e
República. Da história constitucional brasileira constam 7 constituições desde a
independência, sendo a de 5 de Outubro de 1988 a mais recente.
Estas constituições são a expressão de que o Brasil é um território muito vasto e com
variedade de situações económicas – heterogeneidade social, económica e política.
• Norte do Brasil – rural e pobre
• Sul do Brasil – urbano e rico
Por exemplo, uma das partes finais da Constituição diz respeito aos índios, sendo
reconhecidos os seus costumes e tradições e introduzindo-se regulamentação que
lhes é directamente relativa.
- 1ª Constituição brasileira:
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- 2ª Constituição Brasileira
• 1891
• Prevê um Federalismo por influência dos EUA.
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- Estados
Governos autónomos
- Municípios
- 3ª Constituição:
• 1934
Tem a mesma estrutura e fontes da (centralizada) Constituição portuguesa de
1933.
- é autoritária de direita e resulta das consequências da crise de 1929, sendo
uma tentativa de cópia do sistema fascista italiano de 1922.
- a figura do Presidente Gertúlio Vargas é muito importante.
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Direito Constitucional 1º
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- 4ª Constituição:
• 1937 – Apesar de ser provocada por um golpe de Estado, os princípios são
os mesmos da anterior.
- 5ª Constituição:
• 1946
– tenta ultrapassar a tendência autoritária de Direita das Constituições de 1934
e 1937 e voltar ao espírito de 1891.
- 6ª Constituição:
• 1967 (concentração de poder)
– segue-se ao golpe de Estado / Revolução de Março de 1964.
- é permanentemente alterada por várias revisões- Actos Constitucionais.
- há constitucionalistas que discutem se o 1º Acto Constitucional não terá sido
ele próprio uma outra Constituição (1971).
- 7ª Constituição:
• 5 de Outubro de 1988
- tenta descentralizar o poder.
- dá importância à ideia de cidadania e dos direitos fundamentais.
- um dos valores fundamentais é o respeito pelo valor do trabalho.
- é uma Constituição social, isto é defende direitos económicos e sociais e
reclama intervenção do Estado para a sua garantia.
- estabelece um Presidencialismo
Duas Câmaras
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Ano
- Outros modelos:
• nada têm a ver com a forma de organização do Estado Moderno de Tipo
Europeu.
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Ano
Os Estados que adoptaram “vias autónomas” acabaram por ser Estados Autoritários,
mas não totalitários.
- limitação dos direitos dos cidadãos, - há uma supressão dos direitos dos
mas não há uma anulação. cidadãos .
- autonomia entre sociedade e - sociedade civil não tem autonomia
exercício do poder político
Constituições
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Ano
• 1ª Geração
- Angola – sistema marxista – leninista
- Moçambique – sistema marxista – leninista moderado
• 2ª Geração
• São Tomé e Príncipe - 1990
• Angola, Moçambique e Cabo Verde – 1992 muito semelhantes
• Guiné – 1993
Sistema de Governo:
- Brasil
- Moçambique Sistema Presidencialista
- todos os outros têm ou um sistema semi-presidencialista ou um parlamentarismo
racionalizado (Cabo Verde)
Forma de Estado:
- Estado composto federal – Brasil.
- todos os outros são unitários
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Direito Constitucional 1º
Ano
Regime económico:
- tendencialmente de economia de mercado, excepto o caso de Moçambique
que é de base colectivista.
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Ano
1. Constitucionalismo liberal
1822
Constituições 1826 – Carta Constitucional (*)
1838
1911
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Direito Constitucional 1º
Ano
(*) – tem esta designação por ter sido outorgada pelo monarca
2. Constitucionalismo Autoritário:
- Constituição: 1933
- Começa pela ditadura militar e prolonga-se com a ditadura pessoal de Oliveira
Salazar e com a intervenção final de Marcello Caetano.
- Há uma restrição das liberdades públicas e uma concentração de poderes na
figura do Chefe de Governo, apesar de na Constituição tal concentração vir
prevista para a figura do Presidente da República.
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Direito Constitucional 1º
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- O regime é autoritário, mas não chega a ser totalitário, já que não absorve
totalmente a sociedade no Estado e não nega as liberdades públicas e
privadas.
3. Constitucionalismo democrático:
- Constituição: 1976
- Só depois de 1974 se estabelece o sufrágio universal (a Constituição mais
próxima desse desiderato terá sido a de 1822); no século XIX, apesar de as
Constituições o não dizerem expressamente, entendia-se que as mulheres não
tinham direito de voto.
- A Constituição procurou realizar a democracia a todos os níveis – económico,
social e cultural.
- A instabilidade constitucional portuguesa advém da existência de inúmeras
constituições, mas também de todas elas (com excepção para as de 1822 e
1838) terem sofrido várias revisões constitucionais.
- Revisões da Constituição de 1976:
- 1982 – extinção do Conselho de Revolução.
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Direito Constitucional 1º
Ano
Constituição de 1822:
• 1ª Constituição portuguesa formal, decorrendo da ideologia revolucionária
liberal francesa.
• apontada como radical e quimérica, quase ingénua.
• é a 1ª Constituição formal que estabelece uma união real.
• no que diz respeito à Forma e Sistema de Governo tem carácter
“para – republicano”.
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Ano
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Ano
Desde 1834 que sempre houve uma dualidade na chefia do Estado e do Governo.
Sempre houve um chefe de Estado e um chefe de executivo.
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Ano
- Mendes Cabeçada
- Gomes da Costa ⇒ Progressiva concentração do poder.
- Carmona e Sinel Cordes
Período Sidonista – Sidónio Pais
(1918 – 1919)
Concentração total do poder.
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Corporativismo - económico
- social
- político – cidadão deve integrar-se numa organização e só
tem direito de sufrágio.
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Ano
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Defende que a luta partidária desgasta o indivíduo, e que portanto se deve acabar
com os partidos Estrutura apartidária.
Sufrágio orgânico
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Direito Constitucional 1º
Ano
Outros autores consideram que estes não foram partidos únicos, nem verdadeiros
partidos. Consideram estes autores que estas estruturas eram auxiliares das eleições
em Portugal, não correspondendo à ideia de partido político, já que não há:
• permanência para além do acto eleitoral;
• um objectivo definido como conquista do poder político, servindo antes
apenas para manter/ conservar o poder;
• uma base de filiados / apoio popular – é uma organização pensada de cima
para baixo e não de baixo para cima.
no que respeita a:
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Direito Constitucional 1º
Ano
Balanço:
• o surgimento do Constitucionalismo autoritário português não é estranho no
contexto europeu, apenas sendo de apontar como surpreendente a
longevidade e estabilidade alcançadas pelo regime;
• os direitos que são mais violentamente restringidos são os que se relacionam
com a liberdade de expressão;
• quanto ao sistema político, não há um reconhecimento da oposição;
• a Câmara Corporativa acaba por funcionar como uma segunda câmara
parlamentar, com extensos poderes.
Constituição de 1976:
• Apresenta algumas características que resultam do processo de elaboração:
- Constituição pós revolucionária: resulta de um processo revolucionário.
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Ano
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Direito Constitucional 1º
Ano
• não aproveita esta lição histórica, pois quer evitar os riscos dos sistemas. E
aproxima-se de um governo semi-presidencial.
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Direito Constitucional 1º
Ano
fundamentais. Acabou por ter vencimento a corrente que dava a primazia à previsão
dos direitos.
Revisão de 1982
• fiscalização da constitucionalidade
Consequências:
• Aproximação ao sistema semi-presidencial no sentido estrito do termo
• Criação de dois órgãos novos
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Direito Constitucional 1º
Ano
Revisão de 1989
Revisão de 1992
Revisão de 1997
Revisão de 2001
Revisão de 2004
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Direito Constitucional 1º
Ano
Por outro lado, e verdadeiramente, introduziu uma verdadeira revolução no que diz
respeito à autonomia legislativa regional, em termos que de alguma forma alteraram
o conceito de unidade de Estado ou de ordenamento jurídico.
Revisão de 2005
Sistematização da Constituição:
• Princípios Gerais
• Parte I – Direitos Fundamentais
• Parte II – Organização Económica
• Parte III – Organização Política
• Parte IV – Garantia da Constituição
- Formalmente – Declaração
Universal dos Direitos do
Homem e princípios
cooperativos (aprovados pela
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Direito Constitucional 1º
Ano
Aliança Cooperativa
Internacional)
A Constituição recebe
Parte I
• Princípios Gerais
• Direitos, Liberdades e Garantias
• Direitos Económicos, Sociais e Culturais
• artigos:
- 12º (em conjugação com o 14º e o 15º).
- 13º
- 16º
• Os Direitos Fundamentais constam:
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âmbito e
qualquer
função do
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Estado
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Ano
objecto duração
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Ano
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Ano
No que tange à recepção material das Leis 8, 16, 18/75, veja-se a relação que se
estabelece entre a previsão da não retroactividade da lei penal no artigo 29º CRP e o
artigo 292º (com a numeração da RC 2004) com a referência à lei incriminatória dos
elementos da ex-PIDE – DGS (derrogação constitucional).
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É o caso do Canadá:
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Direito Constitucional 1º
Ano
• 2 - Transformação do Estado:
• O artigo 146º da Constituição 1949 de Bona, para a RFA previa que em caso
de reunificação esta Constituição deixaria de vigorar. Sucedeu no entanto que
após a reunificação ela vigora também nos territórios da ex. RDA.
• 4- Transição constitucional:
• Mais gradual que a revolução
•1826 (Portugal) – Carta Constitucional (poder preponderante do poder
monárquico)
• 1951 (França)
• Espanha por comparação ao que aconteceu em Portugal em Abril de 1974.
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Direito Constitucional 1º
Ano
- bilaterais
- plurilaterais vontades contrapostas
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Ano
Este poder não é no entanto ilimitado, ao contrário do que se entendeu já. Encontra
assim limites:
Este mesmo poder constituinte tem depois relevância, em termos já não originários
mas derivados, no plano das vicissitudes constitucionais:
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Direito Constitucional 1º
Ano
Formas de Revisão :
1. Constituição flexível (modo de introduzir uma modificação constitucional é
semelhante à elaboração de uma lei ordinária).
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Direito Constitucional 1º
Ano
2. Revisão feita pelo órgão legislativo normal sem exigência de maioria agravada,
mas com exigências especiais de tempo e iniciativa (Constituição 1911).
3. Revisão feita pelo órgão legislativo normal, mas com maioria agravada –
Constituição 1976.
4. O órgão legislativo normal decide fazer uma revisão, é destituído e há
eleições para um novo Parlamento que fará a revisão.
- Constituições de 1822, 1826, 1838.
- França em 1791.
- Norte da Europa.
5. Paralelismo de formas – a forma de revisão depende daquela que foi a sua forma
de elaboração – ex.: EUA.
84
Direito Constitucional 1º
Ano
orgânicos
- promulgar
O Presidente da República quando - vetar - Artigo 136º
perante um diploma ordinário pode - enviar ao TC
- não se refere prazo para promulgação, mas Jorge Miranda defende aplicação
de prazo do artigo 136º por analogia.
- se o que chegar ao Presidente da República como sendo lei de revisão
Constitucional, não o for verdadeiramente, este órgão terá poder de veto
(posição defendida por Jorge Miranda e por Galvão Telles).
85
Direito Constitucional 1º
Ano
Três correntes :
• 1. Não faz sentido estabelecer limites materiais, não é legítimo (retira-se
margem de escolha às gerações vindouras).
• 2. Faz sentido, porque a revisão é a forma de vicissitude parcial, é
modificação constitucional .
• 3. Posição ecléctica – faz sentido a sua existência, mas admite-se que esses
limites possam ser alterados: Como? Através de um processo de dupla revisão:
com uma primeira revisão suprime-se um limite e numa revisão posterior
alterar-se-iam os artigos, que se baseavam no princípio previamente abolido.
• mesmo que sejam retirados do artigo 288º não deixam de ser limites
materiais (ex.: os constantes no artigo 19º, n.º 6).
86
Direito Constitucional 1º
Ano
Normalmente:
exequíveis.
Normas
não exequíveis por si mesmas – necessitam de intervenção
do legislador ordinário.
87
Direito Constitucional 1º
Ano
Houve autores que entenderam que as normas programáticas não eram verdadeiras
normas, e que antes correspondiam a uma mera declaração de intenção da
constituição.
Vezio Crisafulli no entanto deixou claro que as normas programáticas são
verdadeiras e próprias normas constitucionais.
- Estado democrático.
- Unidade do Estado.
88
Direito Constitucional 1º
Ano
Elementos de interpretação:
• literal – directamente expresso na norma;
• histórico;
• sistemático – norma enquanto parte de um todo harmónico;
• teleológico – fim da norma (telos);
• Constituição formal.
89
Direito Constitucional 1º
Ano
Integração de lacunas (situação que devia estar regulada pelo Direito e não está)
- optar pela elaboração de norma pelo intérprete se tivesse que legislar dentro do
espírito do sistema.
90
Direito Constitucional 1º
Ano
Lacuna ≠ Omissão
91
Direito Constitucional 1º
Ano
Esta posição coloca nas mãos dos juizes portugueses a tarefa de indagar sobre quais
são os princípios fundamentais de uma constituição estrangeira.
92
Direito Constitucional 1º
Ano
Relação entre norma ordinária e norma Constitucional (artigo 290º, n.º 2 CRP)
• norma ordinária que contrariava Constituição de 1933
• norma conforme à CRP de 1976 – não há sanação ou confirmação da norma;
não é por ter surgido uma nova Constituição que a norma deixa de ser
inconstitucional face à constituição da altura.
Vigora aqui o princípio tempus regit actum – os actos regem-se pela lei em vigor à
data da sua prática. Tal significa que no caso de ser norma conforme à constituição de
1933 e contrária à CRP de 1976:
• se está em causa uma inconstitucionalidade orgânica é irrelevante.
• se está em causa uma inconstitucionalidade formal é irrelevante.
• se a inconstitucionalidade é material é relevante.
93
Direito Constitucional 1º
Ano
As funções do Estado podem ser vistas tanto no sentido de tarefa como no sentido
de actividade. Enquanto tarefa, falamos de:
• Necessidades colectivas que o Estado tem que assegurar; incumbência do
Estado; um fim do Estado; administração da justiça; da educação.
• Fins do Estado – dependem da caracterização histórica do Estado e resulta
de um enlace entre a sociedade e o Estado.
Enquanto actividade, falamos de meios que o Estado tem para atingir aqueles
fins; ex.: função legislativa, política, jurisdicional.
É este segundo sentido que vai ser objecto do estudo em Direito Constitucional.
94
Direito Constitucional 1º
Ano
• legislativa
Carácter de monopólio do Estado – pode combinar-se com
• governativa
uma delegação em entidades infra ou supra-estaduais.
• jurisdicional supraestaduais.
Duguit assenta no tipo de actos que resultam de cada função e a partir daí faz surgir
as características de cada função.
95
Direito Constitucional 1º
Ano
Marcello Caetano apresenta a Teoria Integral das Funções do Estado, que parece
distinguir entre funções de
Elementos
96
Direito Constitucional 1º
Ano
97
Direito Constitucional 1º
Ano
Os órgãos existem para expressar a vontade das pessoas colectivas. Enquanto que
na pessoa física os órgãos expressam uma vontade real ou psicológica, na
pessoa colectiva trata-se de uma vontade funcional, correspondendo os órgãos
a centros de imputação da vontade dessa pessoa colectiva.
98
Direito Constitucional 1º
Ano
Classificação de órgãos:
1. órgãos singulares ≠ órgãos colegiais
Decisão ≠ Deliberação
No que respeita aos órgãos consultivos, a regra em Direito Público é a de que seja
obrigatório que se peça os seus pareceres, mas que os mesmos não são vinculativos.
99
Direito Constitucional 1º
Ano
100
Direito Constitucional 1º
Ano
A lei determina qual a ordem pela qual o cargo vai ser ocupado.
• Eleição/Sufrágio
Pode ser
• universal
• restrito (censitário ou capacitário)
• igualitário
• não igualitário (a determinadas pessoas cabe mais do que um voto)
• directo
• indirecto
• individual
• listas
101
Direito Constitucional 1º
Ano
• uninominal
• plurinominal
Poderes do PR
1. poderes próprios – artigo 133º CRP
• alínea e) + artigo 172º
• alínea f) + artigo 196º
• alínea g) + artigo 195º
• alínea h)
102
Direito Constitucional 1º
Ano
• Rege-se pela CRP, mas também pelo seu Regimento [artigo 175º a)], o que
corresponde a um poder de auto - organização.
• Tem um carácter permanente enquanto órgão representativo de todos os
cidadãos portugueses (ideia de continuidade da actividade parlamentar ≠
primórdios da actividade parlamentar em que as Cortes funcionavam apenas
por solicitação do monarca).
Isto não significa que haja diariamente plenário – artigo 174º -, mas que por
exemplo fora do período normal de funcionamento funciona a Comissão
permanente – nº3 do artigo 179º (apesar de tudo com competências diminuídas
em relação às da Assembleia da República)
• Vigora entre nós o mandato representativo – artigo 152º, n.º 2 -, por oposição
ao mandato imperativo
• É um parlamento unicameral (na história do Constitucionalismo Português,
nem sempre assim aconteceu).
103
Direito Constitucional 1º
Ano
• Pode funcionar em
Plenário
Comissões (artigo 178º, n.º 2 – todos os deputados pertencem a uma
comissão)
Comissões eventuais criadas a propósito de uma determinada matéria (ad
hoc).
104
Direito Constitucional 1º
Ano
• órgão colegial
• órgão complexo
• para alguns autores o 1º Ministro seria também um órgão autónomo dentro
do Governo
• órgão solidário – artigo 189º
• órgão organizado em termos hierárquicos - artigo 201º, n.º 1 a)
• composição do Governo – artigo 183º
• composição do Conselho de Ministros – artigo 184º
A demissão do Governo prevista no artigo 195º não deve ser confundida com o acto
de exoneração, que consiste no acto do PR que faz terminar as funções do Governo.
A causa de demissão pode ser qualquer uma das previstas no nº1 do artigo 195º, que
opera a demissão automática, e a que se segue o acto formal de exoneração.
105
Direito Constitucional 1º
Ano
As causas previstas nas alíneas d), e) e f) do nº1 do artigo 195º justificam-se tendo
em conta que o Governo é responsável também perante a AR.
4. - Quanto aos Tribunais e estatuto dos juízes vejam-se os artigos 202º, n.º 1 e 215º
e segs.
- independência
-interna – dentro da função jurisdicional
-externa – face a outros órgãos e a outros poderes
- imparcialidade
106
Direito Constitucional 1º
Ano
- 2ª instância
- 1ª instância
• Administrativo – Supremo Tribunal Administrativo
107
Direito Constitucional 1º
Ano
108
Direito Constitucional 1º
Ano
Para Thomas Hobbes a lei está relacionada com uma ideia de efectividade e de
manifestação de poder soberano do Estado. Já para Locke, o essencial é a função da
lei de garantia dos direitos dos cidadãos (liberdade, propriedade e segurança).
Para Kant a lei é expressão da vontade racional; incorporação da razão.
Para Rousseau a lei corresponde à expressão da vontade geral (teoria contratualista
da Constituição) visto que é:
- aplicável a todos (característica da generalidade)
- querida por todos (quem elabora a lei é o Parlamento que representa todos os
cidadãos: vislumbra-se aqui um entendimento estrito do princípio da separação
dos poderes, característico do século XIX. No século XX a função legislativa
está repartida pelo Parlamento e pelo Governo de acordo com um
entendimento mais flexível deste mesmo princípio.)
Também o princípio democrático está associado à ideia de lei, e como se entende que
o princípio democrático assenta na representatividade, é o Parlamento quem faz a lei.
109
Direito Constitucional 1º
Ano
- pode ser lei da Assembleia da República - fórmula legislativa tem que resultar da
ou decreto de lei do Governo (conceito Assembleia da República. (artigos 164º e
mais abrangente). 165º da CRP).
O nº1 do artigo 112º da CRP estabelece o princípio da tipicidade das leis, que é
o mesmo que afirmar que no nosso ordenamento só encontramos três formas
de lei ou de lei em sentido formal:
- positiva / negativa
- activa / passiva
- positiva – os actos com essa força podem revogar actos inferiores (ex.: lei pode
revogar um regulamento).
- negativa – nenhum dos três actos legislativos se deixa revogar por um acto inferior
(ex.: não podem ser revogados por um regulamento).
110
Direito Constitucional 1º
Ano
Torna-se claro que o conceito de lei utilizado pelo legislador constituinte na CRP não é
unívoco, surgindo alternadamente como sinónimo de
1. Todo o Direito, todo o ordenamento jurídico (artigos 203º / 13º).
2. Fonte de Direito intencional (deliberadamente criada).
3. Normas criadas pelos órgãos do poder político (lei associada a conceito
estadual).
4. Norma com efeitos externos – que se aplica aos cidadãos e não apenas
dentro da pessoa colectiva Estado.
Foi Laband quem estabeleceu a dicotomia entre lei material e lei formal, conseguindo
então diferenciar-se três possibilidades:
Para Jorge Miranda o legislador constituinte não esqueceu apesar de tudo a vertente
material. Já no entender de Gomes Canotilho, Marcelo Rebelo de Sousa e Nuno
Piçarra, para o legislador constituinte teria importância determinante a vertente formal
e não o elemento normativo.
111
Direito Constitucional 1º
Ano
• Não são lei em sentido formal porque não constam do artigo 112º, n.º 1
• Serão lei em sentido material ? Segundo Jorge Miranda há equivalência entre
a lei formal e lei material e portanto não são leis em sentido material.
Para Jorge Miranda as leis medidas ainda são leis em sentido material, porque das
duas características, uma sobressai: a generalidade é mais relevante que a
abstracção. Ou seja, mesmo que uma norma não tenha abstracção, ainda que tenha
generalidade é lei em sentido material, é norma. E a generalidade pode ser não
apenas simultânea como sucessiva.
112
Direito Constitucional 1º
Ano
Entre 1926 e 1933 o Governo faz as leis. Recorde-se aliás que a Constituição é de
1933 mas a Assembleia Nacional só entra em funcionamento em 1935.
113
Direito Constitucional 1º
Ano
A Revisão de 1945 estabelece que o Governo e o Parlamento estão num mesmo nível
de paridade legislativa.
114
Direito Constitucional 1º
Ano
1- Decretos regulamentares
São os mais solenes e importantes, de acordo com o artigo 112º. Quando o
contrário não resulte da lei podem ser apenas aprovadas e assinadas pelo
Primeiro-Ministro, não sendo necessário submetê-los a Conselho de Ministros.
2- Resoluções do Conselho de Ministros
Adoptadas pelo Conselho de Ministros. Não pode haver confusão entre
Resoluções do Conselho de Ministros e resoluções da Assembleia da
República (forma residual de actos da AR prevista no nº5 do artigo 166º).
3- Portarias
4- Despachos normativos
As Portarias e os Despachos Normativos são da competência individual dos
Ministros e a sua fórmula inicial sugere que estes agem em representação do
Governo. Mas as primeiras têm carácter mais solene do que os despachos
normativos.
115
Direito Constitucional 1º Ano
ACTOS LEGISLATIVOS
116
Direito Constitucional 1º
Ano
117
Direito Constitucional 1º
Ano
De facto, o Governo nos termos do artigo 198º, n.º 1 a) pode fazer decretos-leis
em matéria não reservada à AR.
Por seu turno, a Assembleia da República, nos termos do artigo 161º c) pode
fazer leis em todas as matérias, salvo as do 198º, n.º 2.
Quanto aos decretos legislativos regionais, até à Revisão de 2004 apenas podiam
versar sobre matéria não reservada aos órgãos de soberania e encontravam-se ainda
ainda sempre limitados pela necessidade de existência de interesse específico,então
previsto no artigo 228º em termos exemplificativos (crítica à RC de 1997).
118
Direito Constitucional 1º
Ano
Podemos aqui criticar a Revisão de 1997: não faz sentido esta distinção operar dentro
do conteúdo das próprias Leis Gerais da República, porque estas deveriam ser
definidas como relevantes no seu todo. Para além disso as Assembleias Legislativas
das regiões autónomas poderiam referir que são (sempre) desrespeitadas as
disposições complementares, cabendo ao intérprete descortinar o que são princípios
fundamentais e o que são disposições complementares.
Mas a Revisão de 2004 foi bastante mais longe no total estilhaçar do princípio da
unidade do ordenamento jurídico, na medida em que veio:
a) fazer desaparecer as leis gerais da República até então previstas no nº5 do
artigo 112º, ora revogado;
b) fazer deparecer a noção de interesse específico, ora substituído por um elenco
de matérias constantes dos estatutos político-administrativos das regiões
autónomas;
c) permitir a possibilidade de autorizações legislativas concedidas pela
Assembleia da República às Assembleias Legislativas das regiões autónomas
nos mesmos termos em que são concedidas ao Governo e portanto em
119
Direito Constitucional 1º
Ano
Podemos distinguir entre leis de valor reforçado específico (p.ex, leis de autorização
e de bases), ou seja, que não se impõem a todos os actos legislativos e apenas estão
numa relação directa de subordinação com os respectivos decretos-leis de
desenvolvimento ou autorizados; e leis de valor reforçado genérico (p. ex. , leis
orgânicas, leis que carecem de aprovação de 2/3) que se impõem genericamente a
todos os actos legislativos.
120
Direito Constitucional 1º
Ano
Há sempre dois vícios - ilegalidade (apenas em casos que não são de matéria
legislativo
- inconstitucionalidade indirecta – 112º, n.º 2, 2ª parte / nº 3.
Não há um preceito material que esteja
directamente a ser violado, mas é violada uma
relação de compatibilização imposta pela CRP.
Tem que haver ainda aqui espaço para referir o instituto da apreciação parlamentar
(apelidado de “recusa de ratificação legislativa” até à Revisão de 1997) previsto no
artigo 169º, e que respeita à possibilidade de certos actos legislativos do Governo
poderem ser apreciados pela AR. De facto, e com excepção dos decretos-leis em
matéria de organização e funcionamento do Governo previstos no nº2 do artigo 198º e
que constituem matéria de reserva exclusiva deste órgão de soberania, pode a AR
avocar a si uma competência de apreciação, desde que o faça até 30 dias depois da
publicação e sob iniciativa de um mínimo de 10 deputados.
De acordo com o nº1 do artigo 169º, podem ser objectivos da apreciação parlamentar
quer a cessação da vigência, quer a alteração do diploma.
121
Direito Constitucional 1º
Ano
Artigo 167º CRP Artigo 168º CRP Artigos 116º e Artigos 136º e Artigo 119º/2
168º CRP 137º CRP CRP
122
Direito Constitucional 1º
Ano
O artigo 167º, nº1 respeita à primeira fase, de iniciativa, que pode ser interna –
tomando o nome de projecto-lei -, ou externa – tomando o nome de proposta de lei.
Uma restrição em sede de iniciativa decorre do artigo 167º, n.º 2, que determina não
poder haver iniciativa que implique aumento de despesas ou diminuição de receitas
no ano económico em curso. Percebe-se a regra, que deriva da chamada lei /
dispositivo travão (que existe desde a 1ª República), tanto mais que o Orçamento de
Estado é uma lei de valor reforçado genérico. A mesma regra vale para iniciativa de
referendo, nos termos do nº3 do mesmo artigo.
Quanto à promulgação, este acto do PR é uma faculdade, que nos termos do artigo
136º o PR tem à sua disposição quando recebe um decreto governamental ou da AR,
tal como a possibilidade de veto ou de envio para o TC para fiscalização preventiva.
Pode ser no entanto
• obrigatória - 286º (lei de revisão constitucional).
• vedada – o artigo 278º, n.º 7 prevê um prazo de 8 dias durante o qual o PR
não pode promulgar um decreto que lhe tenha sido enviado para promulgação
como lei orgânica, para que o Governo ou 1/5 dos deputados possam se assim
entenderem pedir a apreciação preventiva da constitucionalidade (Vejam-se,
para as leis orgânicas, as especificidades resultantes dos artigos 136º, n.º 3,
168º, n.º 5 e 278º, n.º s 4, 5 e 7).
123
Direito Constitucional 1º
Ano
124
Direito Constitucional 1º
Ano
Se nos socorrermos aqui da imagem de uma pirâmide que preveja Constituição, Lei e
Regulamento numa relação recíproca de subordinação, vemos
que daqui resultam ou podem resultar quatro situações:
1ª - lei obedece à CRP, regulamento obedece à lei (ideal).
2ª - lei obedece à CRP, regulamento ilegal (não há inconstitucionalidade
directa, mas ilegalidade e inconstitucionalidade indirecta, desprezando-se em
termos de fiscalização da constitucionalidade).
3ª - lei inconstitucional, regulamento legal (em função da relação com a lei; o
regulamento cai).
4ª - lei inconstitucional, regulamento ilegal.
As 3ª e 4ª situações relevam em termos de fiscalização da constitucionalidade.
125
Direito Constitucional 1º
Ano
Tipos de inconstitucionalidade:
1) Acção ≠ Omissão
2) Total ≠ Parcial
4) Originária ≠ Superveniente
126
Direito Constitucional 1º
Ano
5) Antecedente ≠ Consequente
Nem antecedente
- inconstitucional sempre houve fiscalização
--------- • da constitucionalidade orgânica – referência à vigência da
Constituição
- inconstitucionalidade de 1933. -- •
consequente
127
Direito Constitucional 1º
Ano
- Elementos -
• essenciais
• subjectivos – vontade real
• objectivos – forma e conteúdo da declaração
• funcionais – fim vinculado
• acidentais
128
Direito Constitucional 1º
Ano
In: Marcelo Rebelo de Sousa. O valor jurídico da acto inconstitucional, I, Lisboa, 1998.
Modalidades de fiscalização:
1) Objecto
política
jurisdicional
129
Direito Constitucional 1º
Ano
7) Processo
Principal ≠ Incidental
8) Acção ≠ Omissão
130
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Direito Constitucional 1º Ano
Por outro lado, há cada vez mais Estados compostos ou Unitários regionais -
compatibilização entre direitos provoca também problemas de
inconstitucionalidade.
132
Direito Constitucional 1º Ano
133
Direito Constitucional 1º Ano
A doutrina diverge:
• argumentos a favor da fiscalização difusa:
- só dando esta competência aos
tribunais é que se garante que os tribunais
tenham a sua parcela de soberania – estatuto
de solenidade; é também menos vulnerável a
pressões.
Em Portugal:
• modelo de matriz francesa:
1822
- Constituições monárquicas liberais 1826
1838
- A inconstitucionalidade das normas é aferida pelo Parlamento.
134
Direito Constitucional 1º Ano
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Direito Constitucional 1º Ano
136
Direito Constitucional 1º Ano
Processos de fiscalização
- Fiscalização preventiva - Veja-se a propósito do procedimento legislativo.
• concentrada
• por via principal
• necessariamente abstracta
Ver artigos 62º a 66º da Lei do TC, para regras específicas para fiscalização
sucessiva abstracta.
Efeitos da Declaração:
• Gerais
- Força obrigatória geral (a norma desaparece do ordenamento jurídico e
não mais pode ser aplicada):
- retroactivos – efeitos “ex tunc” – 282º,nº 2 e n.º 1 1ª parte .
138
Direito Constitucional 1º Ano
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Direito Constitucional 1º Ano
Outros casos de omissão em sentido lato vêm previstos na CRP nos artigos
205º, n.º 3 e 242º, n.º 3.
141
Direito Constitucional 1º Ano
A iniciativa está hoje prevista no n.º1 do artigo 283º, e trata-se aqui pois de
verificar o não cumprimento da Constituição por omissão, que deriva da
violação de uma norma específica.
142
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143
Direito Constitucional 1º Ano
I - MANUAIS
II – COLECTÂNEAS
144
Direito Constitucional 1º Ano
IV –TEXTOS CONSTITUCIONAIS
V – JURISPRUDÊNCIA CONSTITUCIONAL
145
Direito Constitucional 1º Ano
a) O Estado na história
TROPER, Michel – Pour une théorie juridique de l’État, Paris, PUF, 1994.
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c) O sistema português
d) As Constituições portuguesas
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f) Direitos Fundamentais
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b) Normas Constitucionais
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b) Actos legislativos
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CAPPELLETTI, Mauro – Les pouvoirs des juges, 11º ed., Paris, Economica,
1990.
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E
Escutas telefónicas: Ac. 198/2004
L
Liberdade de imprensa: Ac. 201/2004
Limites imanentes: Ac. n.º 103/ 87.
Objecto de controlo:
Actos políticos – Ac. n.º 195/ 94.
Cláusulas das convenções colectivas de trabalho – Ac. n.º 172/ 93.
Decisões judiciais (sua exclusão) – Ac. n.º 442/ 91.
Norma – Ac. n.º 26/ 85; Ac. n.º 158/ 88.
Normas privadas – Ac. n.º 472/ 89.
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