A Funcao Notarial-Parte Inicial
A Funcao Notarial-Parte Inicial
A Funcao Notarial-Parte Inicial
COMPETÊNCIA MATERIAL
Compete em geral ao notário, redigir o instrumento público
conforme a vontade das partes, a qual deve indagar, interpretar e
adequar ao ordenamento jurídico, esclarecendo-as do seu valor e
alcance (art. 4.°, nº 1). Compete, em especial, ao notário (art. 4.°,
nº 2):
- Autorizar testamentos
- Elaborar outros instrumentos públicos
- Lavrar termos de autenticação de documentos particulares
- Certificar situações e quaisquer factos que tenha verificado
- Certificar, ou fazer certificar traduções de documentos;
- Passar certidões de instrumentos públicos, de registos e de outros
documentos arquivados
COMPETÊNCIA TERRITORIAL
Há dois princípios aplicáveis no que respeita à competência
territorial do notário:
por um lado, esta competência é limitada à prática de
actos dentro da área do concelho em que se encontra
sediado o respectivo cartório notarial (art. 4.°, nº 3 do CN);
por outro lado, neste limite territorial, o notário pode
praticar todos os actos da sua competência que lhe sejam
requisitados, ainda que respeitem a pessoas domiciliadas
ou a bens situados fora dessa área (art. 4.°, nº 3). Este
princípio tem excepções, como é, por exemplo, o caso do
protesto de letra, que deve ser requerido ao notário do
domicílio indicado na letra para a aceitação ou pagamento
(art. 120.° do CN) e da abertura de testamento depositado,
a qual tem lugar no cartório onde o testamento se encontra
eventualmente depositado (art.s 111.°, nº 2 do CN).
Curso On-line Registos e Notariado 10
A Competência do Notário
O desrespeito das regras legais da competência territorial do
notário origina a incompetência do notário em razão do lugar,
prevista no art.º 71°, resultante do facto de o notário autorizar a
celebração do acto, para além dos limites geográficos da sua área
de competência, invadindo a área de outro cartório. Ovício da
incompetência do notário em função do lugar é, porém, sanável
(artigos 71.º/3 e 73.º do CN).
IMPEDIMENTO LEGAL
Os casos de impedimento legal do notário vêm previstos no art.
5.°, a saber:
1. O notário não pode realizar actos em que sejam partes ou
beneficiários, directos ou indirectos, o próprio notário, o seu
cônjuge ou qualquer parente ou afim na linha recta ou até ao 2.°
grau da linha colateral (nº 1);
2. O impedimento é extensivo aos actos cujas partes ou
beneficiários tenham como procurador ou representante legal
alguma das pessoas compreendidas no número anterior (nº 2).
Exceptuam-se desta regra os casos previstos no n.º 3, do mesmo
artigo 5.º do CN. O impedimento
Curso do notário é extensivo aos
On-line Registos e Notariado 11
ajudantes, conforme prescreve o art. 6.°, nº 1.
O Instrumento Público Notarial
Introdução:
A função do notário tende, em regra, a objectivar-se
através do documento. A regra é a de a actividade notarial
culminar com a outorga do documento. A função notarial,
na sua dupla vertente, pública e privada, tende para o
documento. Com efeito, o contributo do notário para a
realização da certeza e segurança jurídicas é prestada
fundamentalmente através da especial eficácia da
autenticidade e legalidade formal e substancial do
instrumento público.
Instrumento público é o documento autorizado por notário
competente a requerimento da parte, com as formalidades
legais, nos livros de notas ou em papel avulso, e que
contém, revela ou exterioriza um facto, acto ou negócio
jurídico, para sua prova, eficácia ou constituição, assim
como as cópias ou reproduções dele.
Curso On-line Registos e Notariado 12
O Instrumento Público Notarial
Os documentos notariais são os documentos autênticos
exarados com as formalidades legais por notário, não
impedido legalmente para o efeito, e dentro do círculo de
actividades que lhe é atribuído. Não é a qualidade, a
proveniência ou o timbre do papel que o qualifica como
autêntico, o que importa é a origem e a qualidade de quem
o exarou.
São autênticos os documentos lavrados pelas autoridades
públicas, pelo notário ou outro oficial provido de fé pública,
nos limites da sua competência. De entre os documentos
lavrados pelo notário, ou em que ele intervém, distinguem-
se os documentos autênticos, os autenticados e os que têm
apenas o reconhecimento notarial, conforme preceitua o
art.º 35º do CN.
Os documentos notariais têm efeitos probatórios e
executórios privilegiados.
Espécies:
Como já foi referido acima, os instrumentos
notariais dividem-se em instrumentos nas notas e
instrumentos avulsos (fora das notas). Os
primeiros compreendem os testamentos públicos
e as escrituras públicas (art.ºs 80.º e seguintes),
os segundos abrangem os instrumentos de
aprovação de testamentos cerrados e de
testamentos internacionais, instrumentos de
depósito de testamentos e sua restituição (art.ºs
109.° e 110.°), instrumentos de abertura de
testamentos cerrados e de testamentos
internacionais (art.ºs 111.° a 115.°), procurações,
substabelecimentos, consentimentos conjugais
(art.ºs 116.° a 118.°) e protestos (art.ºs 119.° a
130.°).
Curso On-line Registos e Notariado 14
Requisitos do Instrumento Notarial
REQUISITOS
I. COMPARÊNCIA
II. EXPOSIÇÃO
OU ANTECEDENTES
III. ESTIPULAÇÕES OU
PARTE DISPOSITIVA
2. Data e Lugar
I. O primeiro requisito que a lei exige na elaboração do
instrumento notarial é a menção da data e do lugar em
que o mesmo foi lavrado ou assinado (art. 46°, nº 1, al.
a). A indicação da morada completa onde o instrumento é
assinado apenas é necessária, nos actos celebrados fora
do cartório.
II. A falta de menção do dia, mês e ano ou do lugar em
que o acto notarial foi lavrado, provoca a nulidade por
vício de forma (art. 70º, nº 1, al. a). Esta nulidade,
porém, considera-se sanada mediante averbamento
oficioso contendo os elementos em falta, se, pelo texto
do instrumento ou pelos elementos existentes no
cartório, for possível determinar a data ou o lugar da
celebração (art.s 70°, nº 2, al. a) e 132.°, nº 7).
Identificação do representado:
1.°) Pessoa singular, nos termos indicados;
2.°) Sociedades (art. 171.° do CSC) ;
3.º) Demais pessoas colectivas (art. 46.°, nº 1, al. c)
Verificação e menção da qualidade, poderes e
documentos de representação
Representação orgânica: pessoas colectivas sujeitas a
registo (art.º 49.°); outras pessoas colectivas (art.46º, nº
1, al e)
Representação voluntária: há lugar à verificação da
qualidade de procurador
Representação legal: há lugar à menção dos documentos
comprovativos dos poderes de representação e à menção
de terem sido verificados esses poderes (art. 46.°, nº 1,
al. e), excepto no caso dos representantes do menor
serem os respectivos pais (art. 46.°, nº 5);
Verificação da capacidade do representante e do
representado.
Curso On-line Registos e Notariado 19
Requisitos do Instrumento Notarial
Verificação da Identidade
A verificação da identidade dos outorgantes pode ser feita
por alguma das seguintes formas (art. 48.°, nº 1):
a) Pelo conhecimento pessoal do notário;
b) Pela exibição do bilhete de identidade, de documento
equivalente ou da carta de condução, se tiverem sido
emitidos pela autoridade competente de um dos países da
União Europeia;
c) Pela exibição do passaporte;
d) Pela declaração de dois abonadores, cuja identidade o
notário tenha verificado por uma das formas previstas nas
alíneas anteriores.
A alteração da residência constante de documento de
identificação, não obsta a que aquele documento sirva para
verificar a identidade do outorgante (art. 48.°, nº 2).
Curso On-line Registos e Notariado 21
Requisitos do Instrumento Notarial
Verificação da capacidade
O exercício da actividade notarial compreende a
formulação de juízos de valor sobre vários dos seus
pressupostos, como, por exemplo, a capacidade dos
outorgantes, a qualidade e poderes de representação.
Intervenientes acidentais
A lei considera como intervenientes acidentais, os
abonadores, os intérpretes, os peritos, os tradutores, os
leitores e as testemunhas (art.s 65.° e segts). Como a
própria expressão indica, trata-se de pessoas que intervêm
acidentalmente no acto, em circunstâncias especiais: para
identificação das partes (abonadores), para transmissão de
vontades dos outorgantes que não compreendam a língua
portuguesa, ou então, que sejam mudos ou surdos-mudos
(intérprete), para atestar a sanidade mental dos
outorgantes (peritos), para leitura dos actos em caso de
surdez de algum outorgante (leitor), ou para constatarem o
acto, dada a natureza específica deste (testemunhas).
Número de Contribuinte
Menção de documentos
O lugar próprio para a menção dos documentos que servem
para instruir o acto notarial e não respeitem à pessoa dos
outorgantes, é, em princípio, o fecho ou encerramento do
instrumento. Devem ser mencionados os documentos
comprovativos do pagamento de impostos, as certidões
matriciais e prediais, licenças, etc, exibidas ou arquivadas
para instruir o acto (art. 46.°, nº 1, al.s f) e g).
Leitura, explicação do conteúdo e advertências
Após a presença física dos intervenientes, seguem-se a
leitura do instrumento, a explicação do seu conteúdo e as
advertências a que houver lugar. A leitura e explicação do
conteúdo do instrumento levam este ao conhecimento das
partes, habilitando-as assim a dar-lhe o seu consentimento
ou outorga; dado esse conhecimento, deverá o documento
ser assinado de seguida, de modo que nenhuma alteração
lhe seja introduzida. A certeza que a função notarial
prossegue assim o exige. É por isso que o art. 53°, nº 1
determina que a Curso
leitura,
On-line explicação,
Registos e Notariadooutorga e assinatura
34
Requisitos do Instrumento Notarial
Assinaturas
O instrumento notarial deve conter, a seguir ao
contexto, as assinaturas dos outorgantes que
saibam e possam assinar, bem como as de todos
os intervenientes e a assinatura do funcionário,
que será a última. É obrigatória a menção no
documento notarial (art.º 46.°, nº1, al. m) e n).
O instrumento notarial deve ainda ser assinado
por todos os intervenientes acidentais, que caso
não saibam assinar, não poderão intervir
acidentalmente no instrumento notarial.
A falta de assinatura de qualquer outorgante,
interveniente ou do próprio notário, determina a
nulidade do acto notarial, por vício de forma (art.º
70.°, nº 1, als. d), e) e f). Nulidade sanável (art.º
70.º/2 als. c) e d) e 73.º, als. d) e e).
Curso On-line Registos e Notariado 37
Requisitos do Instrumento Notarial
Impressões Digitais
A impressão digital deve ser aposta nos
instrumentos pelos outorgantes que não saibam
ou não possam assinar (art. 51.°). A impressão
digital nos documentos é considerada
usualmente como sucedâneo da assinatura,
envolvendo, do mesmo modo que esta, uma
vinculação jurídica, material e psicológica ao
acto.
Estatística e Conta
A última menção que deve constar dos
instrumentos, já fora do respectivo contexto, é a
indicação dos verbetes estatísticos (art. 185.º), se
a eles houver lugar, e a referência ao número de
registo da respectiva conta.
Curso On-line Registos e Notariado 39
Requisitos do Instrumento Notarial
1. Legalidade
A lei atribui ao documento notarial um especial grau de
eficácia que contrasta com a que atribui ao documento
particular. A par da função estritamente documental, o
notário exerce uma função jurídica que corresponde, além
de outras tarefas, à adaptação, adequação ou conformação
da vontade dos particulares ao ordenamento. Daqui resulta
a presunção de legalidade ou conformidade do conteúdo do
documento notarial à lei.
2. Autenticidade
A lei atribui ao documento notarial um especial grau de
eficácia probatória plena, em virtude da autenticidade da
sua origem e conteúdo, manifestada na impossibilidade de
pôr em dúvida os actos praticados pelo notário ou por ele
constatados. Além de presumivelmente legal, o documento
notarial é, pois, um documento autêntico, ou seja,
verdadeiro, dotado de fé pública, cuja falsidade apenas
pode ser judicialmente provada.
Curso On-line Registos e Notariado 48
Efeitos do Instrumento Notarial
O documento notarial goza de autenticidade corporal, isto
é, prova-se a si mesmo como coisa, de autenticidade
externa, subjectiva ou de autoria, tanto no que respeita ao
notário, como no que concerne às partes, de autenticidade
interna, também chamada autenticidade de fundo,
autenticidade de conteúdo ou autenticidade ideológica,
referida ao pensamento que no documento se expressa
A autenticidade não abrange por igual todas as partes do
documento notarial. É plena e, consequentemente, pleno é
o efeito probatório do documento notarial, no que respeita
aos actos do próprio notário, àquilo que o notário afirma (a
sua presença, a comparência dos intervenientes, a
apresentação de documentos, as advertências legais, a
leitura do documento e a sua outorga, etc), e no que
concerne aos factos que o notário constata através dos
próprios sentidos (presenças, declarações de vontade,
consentimento, aposição da assinatura, entrega de
valores, etc.). Curso On-line Registos e Notariado 49
Efeitos do Instrumento Notarial
Nesta matéria, a verdade contida no documento é imposta pelo
ordenamento erga omnes, até que, porventura, seja declarada
judicialmente a sua inexistência por falsidade da declaração ou
narração que contém. O documento notarial compreende uma
ainda uma outra verdade, constituída fundamentalmente pelo
conteúdo das declarações das partes e restantes intervenientes
no documento e pelos juízos do notário sobre a identidade e
capacidade dos outorgantes, idoneidade dos intervenientes
acidentais, ausência de vícios, legalidade do acto, qualidades e
poderes dos representantes no instrumento, a notoriedade de
factos, cuja verdade é apenas suposta ou presumida juris tantum
e, como tal, susceptível de ser afastada por prova do contrário,
sem necessidade de arguição e prova da falsidade do documento.
3. Força executiva
A lei portuguesa reconhece força executiva ao acto notarial para
qualquer espécie de obrigações. Quer os documentos exarados
por notário (documentos autênticos) quer os documentos lavrados
pelos particulares e autenticados por notário (documentos
autenticados) que importem a constituição ou o reconhecimento
de qualquer obrigação podem servir de base à execução (art. 46.°,
al. b) do CPC). Curso On-line Registos e Notariado 50