Há uma voz dentro das sombras da noite
a chamar por mim.
Uma voz a atravessar o silêncio
e a sussurrar repetidamente
uma frase, uma pequena frase
densa e subtil.
Desencantadamente
ouço a maré negra das palavras
que ondulam roucas e sem brilho.
Já perdi a memória aos dias brancos.
Agora, seguro o instante junto ao peito.
O instante intemporal é quase,
quase sempre [im]perfeito.
No turbilhão dos instantes, sonho...
Sonho
que enquanto das nuvens se desprendem
chuvas de corações, de rosas,
de pássaros azuis,
eu,
com o vagar dos sem tempo,
amontoo, pedra sobre pedra,
os sentires e os sabores
da passagem até ao instante final.
Já não sei onde estou...perdi-me de mim.
Se me encontrar
vou erguer uma cabana
no alto da minha pequenez
para poder enxergar o mar...
Maripa
Imagens: Paul David Bond