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Monumento a Júlio Dinis, no Porto. - Fonte: https://pt.wikipedia.org/. |
Ontem, a chuva caiu abundantemente em Mira - Sintra. Sendo Domingo, Dia do Senhor- conforme aprendi com os meus saudosos pais - não é dia de "fazer muitas coisas"...apenas as estritamente necessárias. Sendo assim procurei descansar e repousar um pouco, no cadeirão, oferecido pelo filho Zé, para esse fim. Antes, procurei três livros, -livros não faltam cá em cssa - então foi fácil encontrar assuntos do meu interesse: De Almeida Garrett - Oitavo livro da Obras Completas De Júlio Dinis - Serões da Província - uma edição de 1948 e, ainda. com um tema bem diferente...Spurgeon - THE EARLY YEARS - Por sinal, um livro encantador..
Foi um tempo precioso e muito proveitoso!
Soube-me muito bem!
Dos três, o último que me passou por as mãos, foi Serões da Província de Júlio Dinis.
Ali, na página 320, encontrei um poema tocantemente belo e singelo!
Hoje, relembrando o momento, decidi partilhá-lo com os bons amigos que têm a gentileza de por aqui passar.
Ei-lo:
Fugi andorinhas; em mais longas plagas
Buscai outras praias, florestas e céu.
Que é triste o bramido que soltam as vagas.
E, um vento presago nos bosques gemeu.
Fugi, namoradas das flores e estrelas,
Olhai: estes campos sem flores estão,
E cedo os espaços, à voz voz das procelas,
Sinistros, cerrados, sem luz ficarão.
Fugi, apressai-vos, alados viajantes,
Em bandos ligeiros os mares cruzai.
Por outros países, por selvas distantes,
Mais flores e aromas, mais luz procurai.
Deixai estes montes de neves c´roados,
As selvas despidas, e as follhas sem cor,
As grossas torrentes e os troncos quebrados
E os vales cobertos de denso vapor.
E quando mais tarde, na verde campina
As rosas voltarem com viço a florir.
E as serras despidas da intensa neblina,
Virentes, formosas se virem surgir;
E quando deslizem na praia arenosa
Mais lentas, mais brandas, as vagas do mar,
e das larangeiras de copa frondosa
Caírem as flores no chão do pomar;
E quando fugirem, informes, pesadas,
As nuvens sombrias que se erguem do sul,
Correndo dispersas e em flocos rasgadas
Nos plainos imensos de um límpido azul:
Voltai, que de novo serão florescentes
As selvas, os prados, os montes, os vergéis;
Quietas as brisas, as águas dormentes
Nos lagos tranquilos de novo vereis.
Se eu, que vos sigo com vistas saudosas
Ao vosso desterro, dos mares além,
Já quando no prado brotarem as rosas,
Talvez não reviva co´as rosas também.
Ai, não, não revivo, que o vento do outono,
Gemendo angustiado, nas brenhas do val,
Convida-me ao leito do plácido sono
E as nénias ento do meu funeral.
Eu morro! Nas chamas do sol que declina
Bem sinto o preságio de um próximo fim.
Se um dia voltardes à nossa colina,
Ó doces amigas! Lembrai-vos de mim;
Daquela que triste, vagando no olmedo
O adeus da partida vos veio dizer.
Quem sabe das campas o oculto segredo?
Talvez vossos cantos eu possa entender.
Talvez que, ao ouvir-vos a queixa sentida
Quebrando das noites a triste mudez;
A sombra dos cedros da escura avenida
Acorde, a escutar-vos ainda uma vez.
(Júlio Dinis - no livro - Serões da Província)